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educação e o destino dos meninos ocuparam boa parte do Relatório do Mordomo Arnaldo
Lopes da Silva Lima, sugerindo:
[...] que se mandasse fazer na entrada do Asylo de N.S. da Misericórdia, ao lado da
Capella, um commodo com dous pavimento onde no primeiro andar fossem
accomodados os expostos que forem attingindo a edade de 12 annos, com a pessoa
encarregada de os dirigir, que deverá ser de reconhecida moralidade, sob a
fiscalização da irmã superiora e do respectivo mordomo, com regulamento especial.
No pavimento térreo se estabelecera uma officina de carpina ou de marcenaria, onde
deverão elles se applicar aos trabalhos dessa arte, preparando peças de obras à
proporção que se forem habilitando. Poderá também haver uma secção de pedreiro,
de onde saião para as obras do mesmo Asylo, de S.João de Deus e do Hospital de
Caridade, devendo ser acompanhados dos respectivos mestres para isso
contractados, tanto na ida como na volta. A comida para elles nestes lugares, deverá
ser fornecida pelo estabelecimento em que estiveram trabalhando.
Poder-se-há também crear officinas de sapataria e de alfaiataria, bem como uma
banda de musica, cujos instrumentos pertencerão a Santa Casa, estimulando assim o
gosto dos mesmos expostos para as artes. Logo que tenhão direito a receber qualquer
quantia pelo seu trabalho, será a quantia dividida em tres partes, uma para as
despesas do estabelecimento, outra para indemnizar a importância da ferramenta que
lhes ficará pertencendo, sendo-lhes entregue o restante, e a última será recolhida a
caixa Econômica garantida pelo Governo, para seu pecúlio que lhes sera entregue
quando atingirem a maioridade, epocha em que se poderão retirar do estabelecimento,
caso queirão, e dispor do seu pecúlio. (ASCMB, Relatório..., 1888-1889, p. 46).
Eram proposições eivadas de boa vontade, mas que se repetiam ao longo dos anos,
sem que nada mais efetivo ocorresse que a destinação dos meninos para outras entidades
assistenciais. Nem mesmo com o novo Regulamento do Asylo, aprovado em 1914, a situação
dos meninos se modificou: o estribilho é repetido no Relatório da Mesa de 1918, sob a
Provedoria de Isaias de Carvalho Santos e a Superiora Amélia Rodrigues:
[...] sabido como é que o Asylo é o repositório de todos os enjeitados, qualquer que
seja o móvel inspirador do agente do depósito feito no estabelecimento, o que é fora
de dúvida ´e que ahi recebe-se de tudo, de bom e mão, doentes de todas as espécies,
tarados, defeituosos em grande número; pouquíssimos perfeitamente bons.
Estes adolescentes e adultos alguns existiam refractarios à acção educativa. Pois
bem: a assiduidade do moromo no visitar o estabelecimento, os seus conselhos
paternaes, o carinho a todos dispensado e até as guloseimas que distribuiu, tudo isso,
conjugado com o esforço da Superiora e de suas dedicadas auxiliaes, veiu
produzindo os seus salutares e admiráveis resultados.
Fomentar o estimulo dos asylados, aconselhar-lhes, premiar os bons, não é pequena
tarefa a obtenção de resultados satifaz compensando o sacrifício voluntário.
A distribuição do serviço é feita com regularidade, ordem e disciplina; sem prejuiso
de ensino os asylados prestam, segundo suas idades e tendências, serviços compatíveis
com suas forças nas diversas secções: costura, cosinha, copa, creche, enfermaria e
lavanderia, revezando-se [...] (ASCMB, Relatório..., 1917-1918, p. 117).
A constatação das dificuldades é registrada pelo Mordomo Arthur Newton de Lemos,
que, em seu Relatório referente ao biênio 1923-1924, fez duras críticas à educação dos