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FERNANDO SIMÕES ANTUNES JUNIOR
A INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA DAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA NO
TELEJORNALISMO GAÚCHO
Dissertação apresentada como requisito para obtenção
do título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, área de concentração:
Práticas Profissionais e Processos Sociopolíticos nas
Mídias e na Comunicação das Organizações.
Orientadora: Profª Drª Cristiane Finger
Porto Alegre, 2009
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2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Antunes Junior, Fernando Simões.
A influência ideológica das assessorias de imprensa no telejornalismo gaúcho
[manuscrito] / por Fernando Simões Antunes Junior. 2009.
170 f.
Dissertação (mestrado) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Pós-
graduação em Comunicação Social. 2009.
"Orientação: Profª Drª Cristiane Finger"
1. Comunicação 2. Telejornalismo 3. Assessoria de Imprensa 4. Ideologia. I. Título.
II. Finger, Cristiane.
CDD 070.4
CDU 070.45
Bibliotecária Responsável
Gilmara Freitas Gomes CRB-10/1367
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3
FERNANDO SIMÕES ANTUNES JUNIOR
A INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA DAS ASSESSORIAS DE IMPRENSA NO
TELEJORNALISMO GAÚCHO
Dissertação apresentada como requisito para obtenção
do título de Mestre no Programa de Pós-Graduação em
Comunicação Social da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, área de concentração:
Práticas Profissionais e Processos Sociopolíticos nas
Mídias e na Comunicação das Organizações.
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Orientadora: Profª Drª Cristiane Finger
___________________________________________
Prof. Dr. Luiz Artur Ferraretto
___________________________________________
Profª Drª Magda Rodrigues da Cunha
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, colega e amiga Cristiane Finger, grande incentivadora nesta
trajetória acadêmica e profissional, bem como ao professor Juremir Machado da Silva,
homem justo, de visão iluminada pelo conhecimento, o qual tenho o privilégio de chamar de
mestre desde os tempos da faculdade.
Ao professor Jaider Batista da Silva, jornalista que ateou a primeira chama para que
este trabalho fosse iniciado, e ao professor José Valentim Peixe, jornalista e irmão do além-
mar que não deixou que esta chama se apagasse ao longo do caminho.
Aos amigos da Assessoria de Imprensa da Rede Metodista de Educação do Sul,
cuja cumplicidade me proporcionou desenvolver minhas pesquisas com segurança e firmeza
mesmo nos períodos mais turbulentos.
Aos amigos do Instituto Leonardo Murialdo, que me fizeram redescobrir o
verdadeiro papel de um jornalista na atualidade.
Aos meus queridos colegas Marcelo Wasserman e Roberta Mânica Cardoso,
confidentes e amigos que guardarei para sempre no coração.
Às minhas amadas irmãs Andréia, Adriana e Alessandra, bem como aos meus
lindos sobrinhos Gabriela, Juan Pablo e Natan, pela alegria nos momentos de respiro.
Aos meus pais Fernando Simões Antunes e Aparecida de Lurdes da Fonseca
Antunes, que mesmo nos momentos mais difíceis, sempre estiveram incondicionalmente ao
meu lado.
E por fim, à minha amada mulher Amanda Fontoura, companheira de todas as
horas, por todo o amor, apoio, dedicação, e por ser uma luz nas madrugadas de exaustivas
pesquisas para que este trabalho fosse concluído.
5
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Reunião JA em 12/01 ....................................................................................... 71
Tabela 2 - Reunião JA em 14/01 ....................................................................................... 71
Tabela 3- Reunião JA em 16/01 ........................................................................................ 72
Tabela 4 - Reunião SBT Rio Grande em 22/01.................................................................. 72
Tabela 5 - Reunião SBT Rio Grande em 27/01 ................................................................ 73
Tabela 6 - Reunião SBT Rio Grande em 29/01 ................................................................ 73
Tabela 7 - Reunião TVE em Dia em 28/01......................................................................... 74
Tabela 8 - Reunião TVE em Dia em 29/01......................................................................... 74
Tabela 9 - Reunião TVE em Dia em 30/01......................................................................... 75
6
RESUMO
Estudo sobre como as assessorias de imprensa influenciam ideologicamente os
telejornais gaúchos durante os processos de escolha, produção e edição de reportagens, tendo
por base o conceito de ideologia como o uso das formas simbólicas para estabelecer ou
sustentar relações de dominação. A partir de uma análise hermenêutica, baseada nos conceitos
de John Thompson e aplicada a dados coletados através da observação participante, os
programas Jornal do Almoço, SBT Rio Grande e TVE em Dia são investigados como
construtos simbólicos a serviço da ideologia, alimentados por assessorias de imprensa de
instituições públicas e privadas com interesses específicos em conquistar a opinião pública.
Palavras-chave: Comunicação. Telejornalismo. Assessoria de Imprensa. Ideologia.
Hermenêutica de Profundidade.
7
ABSTRACT
Study about how the press assessorships influence ideologically the gauchos
broadcasts during the choice, production and edition processes of news articles, having as
base the ideology concept as the use of the symbolic forms to establish or to sustain relations
of domination. From a hermeneutic analysis, based in the concepts of John Thompson and
supported from data collected from participant observation, the programs Jornal do Almoço,
SBT Rio Grande and TVE em Dia are investigated as symbolic constructions working for the
dominant ideology, fed for the press assessorships of public and private institutions with
specific interests in conquering the public opinion.
Word-key: Communication. Broadcast news. Press Assessorship. Ideology. Hermeneutics of
Depth.
8
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS........................................................................................................ 5
RESUMO............................................................................................................................ 6
ABSTRACT........................................................................................................................ 7
DADOS PESSOAIS............................................................................................................11
INTRODUÇÃO...................................................................................................................12
1 TELEJORNALISMO.......................................................................................................17
1.1 Uma nova linguagem.........................................................................................17
1.2 O nascimento da tecnologia...............................................................................18
1.3 O videotape........................................................................................................19
1.4 O satélite e a censura......................................................................................... 20
1.5 O fim da mordaça e as experimentações........................................................... 23
1.6 O jornalismo de rua e o denuncismo................................................................. 25
1.7 A revolução digital e a voz do cidadão..............................................................27
1.8 O fenômeno televisão no RS............................................................................. 28
1.9 O telejornalismo gaúcho....................................................................................32
1.9.1 Jornal do Almoço............................................................................. 34
1.9.2 SBT Rio Grande............................................................................... 35
1.9.3 TVE em Dia..................................................................................... 36
9
2 ASSESSORIA DE IMPRENSA...................................................................................... 38
2.1 O início.............................................................................................................. 38
2.2 Assessoria de Imprensa versus RP – uma questão brasileira............................ 41
2.3 As características de uma Assessoria de Imprensa hoje....................................44
2.4 Conflitos éticos.................................................................................................. 46
2.5 As assessorias de imprensa frente ao telejornalismo.........................................48
2.6 As assessorias de imprensa sob a ótica dos telejornais gaúchos....................... 52
3 IDEOLOGIA, UMA LINGUAGEM EM COMUM........................................................57
3.1 Legitimação....................................................................................................... 60
3.2 Dissimulação......................................................................................................61
3.3 Unificação..........................................................................................................62
3.4 Fragmentação.....................................................................................................62
3.5 Reificação.......................................................................................................... 63
4 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA................................................................................ 65
5. A INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA NA PRÁTICA.......................................................... 69
5.1 Discussão de Dados........................................................................................... 70
5.2 Análise das Reportagens....................................................................................78
5.2.1 Jornal do Almoço – aumento na venda de automóveis.................... 78
5.2.2 SBT Rio Grande – aumento na venda de automóveis......................82
5.2.3 SBT Rio Grande – vistoria camelódromo........................................ 84
5.2.4 TVE em Dia – vistoria camelódromo...............................................85
5.2.5 SBT Rio Grande – início das comemorações de navegantes........... 87
5.2.6 TVE em Dia – início das comemorações de navegantes..................89
5.2.7 TVE em Dia – municipalização de posto de saúde.......................... 73
5.2.8 SBT Rio Grande – reforço na fiscalização de turistas estrangeiros. 93
5.2.9 SBT Rio Grande – barreira sanitária contra a febre amarela............95
10
5.2.10 TVE em Dia – barreira sanitária contra a febre amarela................97
5.2.11 SBT Rio Grande – material escolar nos supermercados................ 97
5.2.12 TVE em Dia – material escolar nos supermercados.......................99
5.2.13 Jornal do Almoço – Fenavinho.......................................................100
5.2.14 SBT Rio Grande – memorial do legislativo................................... 104
5.2.15 TVE em Dia – memorial do legislativo..........................................106
5.2.16 TVE em Dia – preparação para o encerramento de navegantes.....108
6.INTERPRETAÇÃO - REINTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS............................113
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 123
APÊNDICES....................................................................................................................... 127
ANEXOS.............................................................................................................................171
11
DADOS PESSOAIS
Nome: Fernando Simões Antunes Junior
Data de nascimento: 15/08/79
Registro Profissional: Mtb 11.142
Telefone: (51) 9994.0095
Resumo curricular
Possui graduação em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (2002) e é bolsista da CAPES/MEC. Atualmente é assessor de imprensa do
Instituto Leonardo Murialdo Associação Protetora da Infância. Já trabalhou como chefe da
assessoria de imprensa da Rede Metodista de Educação do Sul e atuou como repórter free
lancer do telejornal SBT Rio Grande. Tem experiência na área de comunicação, com ênfase
em assessoria de imprensa, telejornalismo, produções audiovisuais, jornalismo especializado
(empresarial, comunitário e científico), fotojornalismo e webjornalismo. Venceu o Gramado
Cine Vídeo 2002 na categoria Melhor Vídeo Reportagem e foi ouro e prata no Prêmio
Sinepe de Comunicação 2008 nas categorias Veículo Impresso Institucional e Melhor Vídeo
Institucional, respectivamente.
12
INTRODUÇÃO
Porque os telejornais são sempre iguais? Esta é uma pergunta freqüente entre
críticos e telespectadores do telejornalismo. Passam-se os anos, novas idéias surgem, mas a
impressão é de que, no fim, tudo volta a uma mesma fórmula, a uma mesma linguagem, a um
mesmo “eixo” de fontes de informação. O que mais impressiona é que esta sensação de
mesmice é historicamente legitimada pelos índices de audiência, sinônimo de sucesso para os
grandes conglomerados televisivos.
Neste círculo vicioso, a televisão é hoje o principal meio pelo qual os brasileiros
procuram se manter informados e atualizados no dia-a-dia. Por mobilizar os sentidos humanos
da visão e da audição, a imagem em movimento exerce grande fascínio sobre os indivíduos,
sendo uma das representações simbólicas com maior grau de realidade dentre os meios de
comunicação de massa. A penetração instantânea do elemento visual transmite uma “ilusão de
verdade”, que leva o receptor a rejeitar a tese de manipulação na mídia televisiva porque
acredita no que viu, testemunhou com seus próprios olhos. Uma sensação pouco presente nos
outros meios de comunicação. (MARCONDES FILHO, 1989).
No Brasil, a televisão ganha mais importância pela falta de opções de lazer,
entretenimento e conhecimento, aliada à má distribuição de renda, concentração da
propriedade das emissoras, homogeneização cultural e educação precária, decorrentes dos
regimes ditatoriais e das políticas equivocadas que assolam o Brasil desde a década de 60
(REZENDE, 2000).
Ao mesmo tempo em que é o meio mais popular, é também o mais complexo na
concepção do jornalismo, pois impõe determinadas barreiras, como o fator espaço-tempo, um
desafio para tratar com justiça e assegurar os diversos pontos de vista de um fato noticioso.
13
Se não bastassem os paradigmas técnicos, o telejornalismo enfrenta uma crise de
credibilidade desde o seu surgimento. Justamente por causa da “ilusão de verdade” ante ao
fator espaço-tempo, a desconfiança sobre a manipulação da opinião pública alimentou por
décadas a crítica de teóricos e pesquisadores dos mass media.
Misturar informação com entretenimento, espaço comercial com espaço jornalístico
e interesses públicos com interesses privados é algo que o telejornalismo faz sem qualquer
pudor. Ciente deste contexto, surge o assessor de imprensa - jornalista a serviço dos interesses
de alguém, seja uma empresa, um governo ou qualquer outra instituição público-privada -
cada vez mais presente na cadeia produtiva da informação.
Até 30 anos atrás, o trabalho de assessoria de imprensa no Brasil era desenvolvido
majoritariamente por profissionais que se autodeclaravam Relações Públicas (DIAS, 2002).
Hoje, esta função está quase que integralmente na mão de jornalistas. Esta mudança aconteceu
de forma paralela à redemocratização do país, o que pode ser uma simples coincidência, ou
talvez não.
As idéias de editores e produtores ainda é o grande motor das redações, ou seja, é
das percepções e da filtragem deles que surgem a maioria das pautas dos telejornais. Mas a
crescente aceitação dos materiais de assessoria de imprensa pode levar a entender as
alterações que o meio jornalístico tem sofrido nos últimos anos. Entre elas o enxugamento de
pessoal nas empresas jornalísticas e a migração dos profissionais para as assessorias de
imprensa.
Segundo o ex-presidente do sindicato dos jornalistas no RS, José Carlos Torves
1
,
em 2005 o mercado de assessoria de imprensa absorveu mais de 60% dos jornalistas
empregados do Estado. Esta exigência mercadológica favoreceu o surgimento, nos últimos
anos, de disciplinas específicas sobre a atividade nas universidades que oferecem cursos de
jornalismo.
Conforme alguns pesquisadores do tema, o principal objetivo de uma assessoria de
imprensa é tentar convencer as redações da importância de seu cliente para a opinião pública.
Com a ampliação do setor, os jornais, de uma forma geral, têm se alimentado destas fontes de
informação constantemente.
Ao mesmo tempo, as redações jornalísticas sofrem um enxugamento em todas as
mídias. Com tecnologia mais avançada, encurtamento de jornadas de trabalho, equipes
1
Anotações do autor em seminário realizado no Centro Universitário Metodista em 21/09/2005
14
reduzidas e o conseqüente acúmulo de funções, o repórter de hoje dispõe de menos tempo
para fazer apurações, pesquisas e levantamentos necessários para produzir uma boa pauta.
Assim, os veículos assumem o papel de “fábricas” de notícias, atuam em ritmo industrial e
colocam a relevância e a credibilidade das informações à mercê das regras de mercado.
No caso dos veículos impressos e de radiodifusão, a produção apoiada em
assessorias é mais evidente. Jornais reproduzem releases inteiros como notícias próprias,
inclusive com fotos de divulgação, como se fossem reportagens produzidas por uma equipe da
redação. No rádio não é diferente. Locutores lêem ao vivo materiais produzidos por
assessorias sob o tom de informações recolhidas in loco, e repórteres que tiveram o
trabalho de tirar o telefone de gancho disputam prêmios de jornalismo com releases embaixo
do braço.
Na televisão, estes efeitos também começam a ser sentidos, apesar de o processo de
produção da notícia ser mais complexo por exigir maior aparato tecnológico e mão de obra
especializada. Mas a necessidade de dispor de imagens em movimento, que até pouco tempo
era um obstáculo para assessores de imprensa, começa a ser superada com a democratização
das tecnologias.
Uma evidência deste novo contexto é a utilização dos materiais produzidos pelos
chamados “jornalistas cidadãos”, pessoas que se utilizam de um celular, uma máquina digital
ou uma câmera portátil para registrar flagrantes, fatos e acontecimentos que geram interesse
da mídia televisiva. A possibilidade de interação que a tecnologia digital provou ser capaz
pela internet uma noção do que é possível fazer em termos de troca de informação entre
telespectadores, fontes e emissoras de TV.
Esta mudança na forma de produzir informações, que anteriormente eram
unilaterais e massificadas, ganhou força no ciberespaço com a criação do site Youtube
2
em
2004. Telejornais já fazem uso de vídeos e montagens que se tornaram populares no Youtube
como notícias. E os assessores de imprensa não estão alheios a estas mudanças.
Mas o telejornalismo não implica somente o domínio tecnológico. É preciso
compreender a linguagem, a significação, os processos que padronizam e tornam rotineiras as
práticas de produção que caracterizam a noticiabilidade da informação televisiva. Wolf (2005)
destaca que na produção de informação de massa existe, de um lado, a cultura profissional do
jornalista permeada de retórica, estereótipos, símbolos, padronizações latentes,
2
www.youtube.com
15
representações de papéis, rituais e convenções que culminam numa ideologia que se traduz
em paradigmas e práticas profissionais adotadas como naturais – e de outro existem restrições
ligadas à organização do trabalho, sobre as quais se constroem convenções profissionais que
determinam a definição de notícia, gerando assim um conjunto de critérios que definem a
noticiabilidade ou não dos eventos. No caso da televisão, estes critérios permeados pela
ideologia se aplicam de forma determinante, pois vão definir o que vira ou não notícia.
A proposta desta pesquisa, alicerçada nas idéias de John Thompson (1995), é
entender como a ideologia opera na relação entre jornalistas e assessores de imprensa, sendo
ela a maneira pela qual o sentido serve para estabelecer e sustentar relações de dominação.
Ao entender que os assessores de imprensa fazem uso dos conhecimentos dos
critérios e da tendência ideológica que norteiam o trabalho dos jornalistas para obter
penetração nos veículos de comunicação, a compreensão dos conceitos de Thompson vai
possibilitar a interpretação da receptividade ao trabalho dos assessores de imprensa nas
redações, bem como tornar perceptível de que forma estes profissionais se inserem na cadeia
produtiva do telejornalismo.
Para isto, este trabalho não poderia se limitar apenas aos processos funcionais ou
momentâneos que cercam o telejornalismo. Faz-se necessária uma contextualização sócio-
histórica da relação entre jornalistas e assessores de imprensa, bem como um estudo sobre a
forma como um compreende o outro na produção de notícias, de forma a possibilitar
interpretações sobre a influência que os assessores exercem nas redações. Por este
entendimento, acredita-se que a Hermenêutica de Profundidade, proposta por Thompson, seja
a estratégia metodológica mais adequada para embasar este estudo.
O objeto desta pesquisa, para tanto, foi delimitado ao funcionamento de três
redações de Porto Alegre, que possuem representação de emissoras nacionais e se encontram
em diferentes níveis de investimento técnico e profissional. Foram selecionados os programas
SBT Rio Grande (SBT), Jornal do Almoço (RBS TV) e TVE em Dia (TVE), três noticiosos
locais que são concorrentes numa mesma faixa de horário e são estratégicos na disputa pela
audiência dos gaúchos.
A escolha do SBT Rio Grande se justifica por ser um telejornal jovem da televisão
do Rio Grande do Sul, e que, portanto, enfrentou severas dificuldades de investimentos até se
firmar entre o segundo e o terceiro lugar
3
em audiência na faixa de horário destinada à
3
Segundo informações divulgadas pelo departamento comercial da própria emissora
16
programação local. A opção pelo Jornal do Almoço é mais óbvia. O programa do Grupo RBS
é líder de audiência mais de 20 anos. Concentra o maior número de profissionais
contratados e é referência em tecnologia e inovação no Estado. Por sua vez, o TVE em Dia
serve como terceira referência por ser produção de uma empresa estatal, submetida às
políticas da Fundação Piratini, que se alternam de quatro em quatro anos, conforme as
mudanças de governo.
A seleção do material analisado foi determinada por dados colhidos através da
observação participante, técnica que permite ao pesquisador o acompanhamento in loco do
objeto pesquisado, que indicou com exatidão algumas reportagens originadas a partir da
sugestão de assessorias de imprensa. O período de análise selecionado foi o mês de janeiro de
2009, mais especificamente do dia 12 ao dia 30, em que as três redações foram visitadas, cada
uma delas, em três datas distintas, de acordo com a disponibilidade dos editores e
responsáveis pelos programas.
Como procedimento decidiu-se acompanhar as reuniões de pautas do Jornal do
Almoço nos dias 12/01, 14/01 e 16/01; do SBT nos dias 22/01, 27/01 e 29/01; e do TVE em
dia nos dias 28/01, 29/01 e 30/01, sendo que os programas analisados foram os subseqüentes
transmitidos no dia seguinte às reuniões de pauta. Também foram realizadas entrevistas
com alguns dos responsáveis por cada programa, com o intuito de possibilitar uma
contextualização mais precisa entre os telejornais pesquisados e as assessorias de imprensa.
Partindo da organização das informações obtidas in loco nestes três telejornais,
algumas reportagens foram selecionadas e analisadas à luz da ideologia proposta por
Thompson (1995), de forma que possibilitasse averiguar como e em que medida ocorreu
influência das Assessorias de Imprensa na elaboração destas pautas.
A expectativa não é de encontrar explicações definitivas para as angústias que
rondam os críticos do telejornalismo, como a sensação de mesmice descrita anteriormente.
Mas talvez encontrar vestígios que apontem para a necessidade de se construir para uma
relação mais séria e criteriosa entre jornalistas e assessores de imprensa.
Para tanto, cabe antes desvendar as origens desta relação no Brasil e no Rio Grande
do Sul, resgatar como ela atravessou períodos conturbados da política e da sociedade até se
constituir como uma forma constante de produzir informação. E esta reconstituição deve
começar pelo regate sócio-histórico do telejornalismo e das assessorias de imprensa, temas
dos primeiros capítulos desta pesquisa.
17
1 TELEJORNALISMO
1.1 Uma nova linguagem
Até a invenção da prensa de Gutenberg, a escrita era um código dominado por
poucos. Para saber escrever, os indivíduos necessitavam ter acesso a dois tipos de tecnologia.
A tecnologia material, como o papel, a tinta, a caneta; e a tecnologia didática, que viabilizava
o aprendizado através de um professor ou de um manuscrito único ao qual somente os nobres
e letrados tinham acesso.
Conhecer a linguagem da escrita passou a ser fundamental para que os indivíduos
pudessem obter um conhecimento maior do que aquele fornecido apenas pelo contexto
histórico, verbal e social. Quem tivesse acesso à tecnologia da escrita poderia ir além das
barreiras tribais para expandir os horizontes em busca de novos saberes.
Com o passar dos anos, o ser humano desenvolveu novas formas de se comunicar,
de interagir socialmente, resultando em diversas novas linguagens. A imprensa sem dúvida é
uma delas, que, assim como escrita, possui regras próprias, com determinadas variações,
diferentes dialetos, mas uma forma bastante peculiar de produção, transmissão e recepção de
mensagens, que a difere de todos os outros tipos de linguagens.
Podemos considerar, dentro desta lógica, que o telejornalismo é uma linguagem
específica, nascida do hibridismo entre outras matrizes de produção de linguagem, no caso a
sonora, a verbal e a visual (SANTAELLA, 1980). Uma linguagem que, assim como a escrita
antes de Gutenberg, é recebida por muitos, mas produzida por poucos, justamente pelo
empecilho de se ter acesso às tecnologias material e didática necessárias para a produção,
transmissão e entendimento do telejornalismo. Como bem salienta Rezende, a
18
mensagem visual televisiva ou cinematográfica é
“multidimensional” quanto à forma e “multissensorial” em relação
aos sentidos, distinguindo-se da mensagem impressa e radiofônica.
Por não ser arbitrária, a ligação imagem-signo dispensa o referente
e prende-se diretamente ao seu significado. Se, no vídeo, aparece
uma “estrela” do cinema ou dos esportes, o telespectador poderá
identificá-lo prontamente. A informação impressa requer o
conhecimento da língua para operar a construção do sentido, a partir
do signo oral ou escrito, indispensável para a compreensão da
mensagem que se recebe (2000, p.39).
Nesta contextualização, vale resgatar como nasceu a linguagem do telejornalismo no
Brasil, e entender porque, desde o início, a TV se tornou a principal fonte de informação dos
brasileiros.
1.2 O nascimento da tecnologia
A televisão no Brasil teve sua pré-estréia no dia 3 de Abril de 1950, com a
apresentação de Frei José Mojica. As imagens não passaram do saguão dos Diários
Associados, onde havia alguns aparelhos de TV instalados. A inauguração oficial foi em 18
de setembro de 1950, em São Paulo(SP), através da TV Tupi, canal 6. Dois dias depois, em 20
de setembro do mesmo ano, a TV Tupi lançava a edição inaugural de seu primeiro telejornal:
Imagens do Dia. Segundo a reconstituição histórica de Rezende (2000), o noticiário ia ao ar
todas as noites, basicamente composto de uma seqüência de filmes dos últimos
acontecimentos locais, sendo o desfile cívico-militar pelas ruas de São Paulo a primeira
reportagem filmada exibida. O noticiário ia ao ar entre 21h30 e 22h, sem horário fixo. A
primeira equipe do primeiro telejornal brasileiro foi composta pelo redator e apresentador Ruy
Resende e os cinegrafistas Jorge Kurjian, Paulo Salomão e Afonso Ribas (XAVIER, 2000). O
segundo telejornal brasileiro, o Telenotícias Panair, surgiria dois anos mais tarde, pela mesma
TV Tupi, produzido pela equipe de jornalismo da emissora.
Mas o telejornalismo só começa a tomar forma própria a partir daquele que viria a se
tornar o principal noticiário da TV brasileira dos anos 50, o Repórter Esso. Oriundo do rádio,
o programa ganhou sua versão televisiva ao fazer uso de técnicas do cinema para a construção
de suas reportagens. Com versões distintas em cada região do país, o programa foi
comandado no Rio de Janeiro inicialmente por Luís Jatobá e logo em seguida por Gontijo
Teodoro. Em São Paulo, Kalil Filho era o apresentador. A versão mineira, transmitida pela
TV Itacolomi, foi comandada por Luiz Cordeiro. na capital gaúcha Porto Alegre, o jornal
era narrado por Helmar Hugo (REZENDE, 2000).
19
Sob a epopéia do Repórter Esso, os anos 50 foram marcados pela aprendizagem. Os
recursos eram primários, com o equipamento mínimo suficiente para manter a estação no ar e
a maior parte dos profissionais trabalhava dentro dos conhecimentos que haviam adquirido no
rádio, no cinema ou no teatro.
As reportagens eram feitas em condições precárias, mais lidas que ilustradas e
utilizando como fonte de informação notícias recortadas dos jornais locais. Era o que se
conhecia humoristicamente como “gilete-press. As poucas reportagens externas eram
realizadas com câmeras de cinema de 16 milímetros, sem som direto, pois os equipamentos de
televisão, muito grandes e pesados, não permitiam a agilidade de coberturas diárias.
Utilizavam-se os equipamentos de TV em externa apenas para a transmissão de esportes.
Pelas dificuldades de captação de imagens externas, os primeiros telejornais
constituíam-se prioritariamente do que hoje se chama “nota simples”, lida pelo apresentador
sem o uso de imagens, o que acentuou a linguagem radiofônica nos noticiosos televisivos.
Com o início da força de comunicação da televisão, as agências publicitárias
intensificaram as pesquisas de opinião para conhecer os hábitos de consumo do telespectador
e qual o melhor horário para veicular seus produtos. Criado em 1954, o IBOPE - Instituto
Brasileiro de Opinião e Pesquisa - fornecia a audiência. Acelerava-se o fator que viria a se
transformar na força dominante da televisão: a publicidade (APOLINÁRIO in PEREIRA
JUNIOR, 2002, p. 79).
1.3 O videotape
O videoteipe (VT) foi usado pela primeira vez no Brasil em 1958, com a
apresentação de O Duelo, de Guimarães Rosa, pelo programa de teleteatro TV de Vanguarda,
da TV Tupi de São Paulo. A estréia do novo equipamento foi precária, pois não havia
possibilidade de montagem. No entanto, esta inovação seria vital para o aprimoramento da
agilidade e, portanto, da linguagem no telejornalismo.
A tecnologia permitiu maior agilidade e maior alcance da informação, possibilitando
o uso de equipamentos mais leves, que uniam já na captação as matrizes de som e imagem na
gravação de fatos noticiosos. A facilidade para editar o material em videotape também foi
determinante na consolidação do telejornalismo como representação máxima da realidade.
20
Mas, segundo Rezende (2000), o avanço maior do telejornalismo dessa época
decorreu não da novidade tecnológica, e sim porque entrava numa fase de grande criatividade
e expansão intelectual. O símbolo dessa mudança seria o Jornal de Vanguarda, da TV
Excelsior, de 1962, dirigido por Fernando Barbosa Lima. Entre as novidades estava a
participação de jornalistas como produtores e de cronistas como apresentadores, fato até então
inédito no telejornalismo nacional. Conforme pesquisou Rezende
A qualidade jornalística desse noticiário causou impacto enorme pela
originalidade de sua estrutura e forma de apresentação distinta de
todos os demais informativos. O Jornal de Vanguarda, além do
prestígio no Brasil, obteve reconhecimento no exterior. Recebeu, na
Espanha, em 1963, o prêmio Ondas, como o melhor telejornal do
mundo e foi utilizado por McLuhan um dos teóricos da
comunicação de maior projeção – em suas aulas sobre comunicação
(2000, p.107)
O potencial de projeção mundial do telejornalismo brasileiro viria a esbarrar, no
entanto, no golpe de 1964 e na edição do Ato Institucional Nº 5, que estabeleceu a censura no
Brasil e submeteu toda e qualquer produção televisiva do País às exigências da Ditadura
Militar. Diante do rígido controle político, o telejornalismo brasileiro assume um modelo
menos crítico e mais comercial, aproximando-se do estilo norte-americano (BONI, 2000).
Na mesma época, dois gêneros de programas contribuíram para que a TV se tornasse
um fenômeno de comunicação de massa no país: o programa de auditório (com a introdução
dos comunicadores) e a telenovela. A popularização do meio através destes programas fez
com que o telejornalismo, mesmo cerceado pela ditadura, também ganhasse popularidade, o
que mais tarde resultaria na preferência do grande público pela TV como principal meio de
acesso às informações políticas, sociais e culturais do país.
O Estado investiu na propagação da televisão: construiu um moderno sistema de
microondas com o dinheiro arrecadado pelo Fundo Nacional de Telecomunicações e
gerenciado pela recém-criada Embratel; abriu crédito para a compra de receptores e forneceu
infra-estrutura para a sua expansão. A Embratel tinha a função de prestar serviços no setor das
comunicações nacionais, implantando, mantendo, explorando e expandindo o sistema
nacional (REZENDE, 2000).
1.4 O satélite e a censura
Nesta nova fase, três fatos são determinantes para a definição de uma linguagem
própria do telejornalismo brasileiro: a extinção da TV Excelsior, o fim do Repórter Esso e a
21
criação do Jornal Nacional, da TV Globo, ideologicamente alinhada com o regime militar
(REZENDE, 2000, p.109).
O Jornal Nacional foi ao ar pela primeira vez no dia de Setembro de 1969, como
primeiro programa regular a ser transmitido em rede nacional, marcando o início das
operações em rede no Brasil. O programa, apresentado pelos locutores Hilton Gomes e Cid
Moreira, inaugurou assim um novo estilo de jornalismo na TV brasileira (JÚNIOR, 2001).
Sustentada pelo capital estrangeiro do grupo norte americano Time-Life, que investiu
mais de cinco milhões de dólares em assistência técnica e administrativa, compra de
equipamentos e treinamento de pessoal no estrangeiro, a Globo mostrou todo o seu poderio de
cobertura nacional com o novo noticiário (CAPARELLI, 1982). Ao mesmo tempo, as
maquinações e confabulações para burlar a legislação brasileira, que proibia a intromissão de
capital estrangeiro nos meios de comunicação do País, deixaram clara qual seria a linha
ideológica e editorial do jornal e de todos os outros programas da emissora.
Os planos da Globo consistiam na criação de um conglomerado, com
objetivos comerciais, na mobilização da opinião pública em favor do
governo da revolução e em servir de canal para entrada do capital
estrangeiro no País, como acontecera nos outros países da
América Latina.(GUARESCHI, 1981, p.47)
Além do progresso tecnológico, o rigor no planejamento da produção identificava o
novo modelo de telejornalismo imposto pelo Jornal Nacional, que não permitia a
improvisação e empregava redatores selecionados para escrever as notícias e comentários.
Mas logo na estréia, ficou claro que a originalidade do JN ficaria restrita à qualidade técnica,
uma vez que o conteúdo estava sacrificado pela interferência da censura.
Como contrapeso para suas virtudes técnicas, o Jornal Nacional,
logo no início, teve de enfrentar o estigma que perseguia a TV Globo
por muitos anos: a afinidade ideológica com o regime militar. Na
edição de estréia, o locutor Hílton Gomes anunciava, como manchete
do dia, que o governo do país passava temporariamente o controle
aos três ministros militares, por causa da doença do presidente da
República, o general Costa e Silva. O acaso evidenciava o que para
muitos significava muito mais do que uma simples coincidência. A
integração nacional pela notícia, via Jornal Nacional, e o
endurecimento da ação do governo militar começavam no mesmo
dia. (REZENDE, 2000, p. 110)
Com a transmissão via satélite, novas redes se fortaleceram, e novas propostas de
telejornais surgiram. Dentre eles destaca-se o Titulares da Notícia, da TV Bandeirantes de
São Paulo, que trazia como atrativo a dupla sertaneja Tonico e Tinoco para apresentar
informações relativas ao interior do estado de São Paulo; o Rede Nacional de Notícias, nova
22
investida da TV Tupi após o fim do Repórter Esso, transmitido ao vivo para várias capitais do
país a partir do cenário de uma sala de redação; e o A Hora da Notícia, da TV Cultura de São
Paulo, considerado a primeira incursão de uma emissora pública no telejornalismo, que
priorizava o depoimento popular a respeito dos problemas da comunidade.
Dentre as vertentes oficialesca da TV Globo, populista da TV Bandeirantes e
engajada da TV Cultura, a censura não hesitou em intimidar os produtores do A Hora da
Notícia, líder de audiência na época pela forte ligação com os problemas do telespectador.
Esta intimidação culminou com a prisão do então diretor de jornalismo substituto da TV
Cultura, Wladmir Herzog, levado para os porões da ditadura onde foi torturado e assassinado.
Com a morte de Herzog, morreu também o desenvolvimento crítico do
telejornalismo brasileiro, que ceifado pela censura, caracterizava-se por ser ao mesmo tempo
informativo e de entretenimento.
As transmissões via satélite encurtaram distâncias e reduziram o país e o mundo à
preconizada aldeia global de Marshall Mcluhan (1998). O universo de público atingido pelo
veículo cresceu assustadoramente, pois tornou-se possível informar com imediatismo e
credibilidade de qualquer ponto do planeta, com o telespectador testemunhando o fato
ocorrido em tempo real.
A conquista da cor, em 1972, exigiu a instalação de novos equipamentos técnicos
que, menores e mais aprimorados, permitiram mudanças inclusive na linguagem da televisão
ao utilizar com grande freqüência os novos efeitos eletrônicos aliados ao videotape.
Quem mais se aproveitou dos avanços tecnológicos foi a Rede Globo, com o
aperfeiçoamento da qualidade de suas produções traduzido pela expressão “padrão global”. O
maior exemplo deste planejamento primoroso, que seguia o que João Rodolfo Prado chamou
de ideologia do “mostrar para entreter” (1973, p. 22), era o Fantástico Show da Vida. Para
autores como Rezende (2000), o programa simbolizava uma mudança radical na programação
das noites de domingo, mediante uma combinação harmoniosa de entretenimento e
jornalismo; para outros como Caparelli (1982, p. 127) a atração era a síncope da
espetacularização a serviço da ideologia dominante.
Ao adotar o modelo norte-americano de telejornalismo, a Globo estabeleceu
parâmetros na forma e na apresentação das notícias e explorou plenamente as potencialidades
da linguagem da televisão. A criteriosa seleção dos locutores e apresentadores, como Cid
Moreira e Sérgio Chapelin no Jornal Nacional, aliada a uma rigidez de cenário e um
23
abundante uso de videotapes e efeitos especiais, era a fórmula para a construção de um
modelo de apresentação que Lins da Silva chamou de “requintado, frio e pretensamente
objetivo” (1983, p. 34). Para buscar uma aparente neutralidade, os repórteres eram
submetidos ao mesmo modelo de apresentação. Mas como ressalta Rezende
se no plano da forma tudo ia bem, êxito igual não se obtinha quanto
ao conteúdo. A riqueza plástica não encontrava compatibilidade com
o trabalho jornalístico. Durante a fase de censura mais aguda, o
telejornalismo, sobretudo o praticado na Globo, líder de audiência,
acabou se afastando da realidade brasileira. Despolitizada, a
emissora encontrava nos programas de entretenimento o atalho para
se aproximar afetivamente de sua audiência (2000, p. 115).
1.5 O fim da mordaça e as experimentações
Nos anos 80, o fim da ditadura e o processo de redemocratização do país trouxeram
novos horizontes ao telejornalismo. Além das grandes coberturas esportivas nacionais e
internacionais, a televisão foi responsável por transmissões de grande repercussão social no
país, como as campanhas de mobilização popular por eleições diretas, a anistia política, a
reforma constituinte e o crescimento dos movimentos sindicais. Mas a queda da mordaça
ditatorial não foi imediata. Acostumado ao crivo dos censores, o telejornalismo brasileiro, que
se fortaleceu durante a ditadura militar, demorou a assimilar a própria liberdade de imprensa.
Rezende fez uma breve reconstituição dos experimentos do telejornalismo após a
queda da ditadura. Na TV Tupi, ele relata que Fernando Barbosa Lessa transformou o
programa semanal Abertura em símbolo dos novos tempos. O programa recebeu, entre muitos
convidados, exilados políticos que voltavam ao país após a anistia. Uma das principais
atrações do programa, no entanto, estava na forma, na linguagem totalmente inovadora
implementada pelo cineasta Glauber Rocha, que com uma câmera “nervosa, inquieta e suja”,
pulverizou a estética acrílica e falsa do padrão global para assumir uma postura totalmente
“engajada, opinativa e quente” na produção das reportagens e entrevistas (2000, p. 117).
Mas com a falência da TV Tupi, em agosto de 1980, o programa Abertura deixou de
existir, levando o jornalista Fernando Barbosa Lima a apostar num novo empreendimento na
TV Bandeirantes, o Canal Livre. Na mesma trilha da libertação democrática, o programa
acolhia um entrevistado por edição, geralmente uma personalidade política que antes não
tinha acesso à televisão, permanecendo no ar até 1983.
24
Para tentar tratar temas com maior profundidade, a emissora de Roberto Marinho
apostou no Globo Repórter, criado ainda na década de 70 por cineastas, como programa de
telejornalismo mais engajado. Mas a herança do regime militar impeliu ao programa uma
certa auto-censura, e seus produtores abriam mão de assuntos políticos para tratar de temas
como ecologia e investigações policiais paralelas (MUNIZ, 2001).
Mesmo com as inovações estéticas promovidas por um jornalismo mais engajado na
televisão, o formato límpido e rigoroso do Jornal Nacional não perdeu a massiva preferência
do telespectador brasileiro. A estratégia da Rede Globo de inserir o noticioso entre as novelas
das sete e das oito impediu que a popularidade do programa caísse. Pelo contrário. Postado
entre os dois programas de maior audiência da televisão brasileira, o JN alcançou recordes de
audiência, beirando os 70% na predileção dos telespectadores, o que estimulava a emissora a
investir em jornalismo pela perspectiva mercadológica, como uma pródiga fonte de recursos
publicitários. Não é a toa que os cinco minutos de intervalo do programa se tornaram os mais
caros da publicidade na televisão brasileira.
Não como reflexo da censura, a superficialidade do noticiário
explicava-se, assim, como resultado de uma diretriz editorial baseada
na agilidade do estilo “manchetado”, que se ajustava ao perfil da
audiência do programa. Essa orientação continua a ser adotada até
hoje pelo Jornal Nacional e noticiários de outras emissoras
veiculadas no horário nobre da TV (REZENDE, 2000, p. 116)
Assim, outros telejornais surgiram ao longo da década na grade de programação da
emissora, como o Jornal Hoje, que vai ao ar no horário do almoço; o Jornal da Globo,
veiculado no final da noite; e o Bom Dia Brasil, no início da manhã.
Apesar da irrefutável relevância da Globo, o telejornalismo brasileiro ganhou outros
protagonistas importantes após a ditadura militar. Da concorrência pública dos canais da TV
Tupi, por exemplo, duas novas cadeias de televisão projetaram-se no cenário nacional: o
Sistema Brasileiro de Televisão SBT, do empresário e radialista Sílvio Santos, e a Rede
Manchete, do grupo Bloch. No entanto,
em termos ideológicos, a chegada das novas redes parecia não
representava qualquer alteração de percurso, porque os vencedores
da concorrência davam mostras de compatibilidade com o poder
dominante.(REZENDE, 2000, p 121)
Na linguagem telejornalística, no entanto, a Manchete vinha com idéias novas,
inspiradas em experiências da televisão norte-americana e européia, arriscando-se a colocar
duas horas de programa jornalístico em horário nobre com o Jornal da Manchete. A ousadia
rendeu ao grupo Bloch oito pontos no Ibope, índice considerado bastante significativo numa
25
época em que o jornal concorria com a novela de maior audiência da história da televisão
brasileira, Roque Santeiro.
O início do SBT no telejornalismo foi um pouco mais complicado. Programas como
o Cidade 4, 24 horas, Noticentro e Últimas Notícias não obtiveram o sucesso esperado. Foi
então que a emissora jogou suas fichas na concepção de um telejornal que fugia ao padrão
meramente informativo, e foi com Boris Casoy que o Telejornal Brasil concebeu um modelo
mais opinativo de fazer jornalismo televisivo. Além de ler as notícias e conduzir o noticiário,
Casoy passou a fazer entrevistas e emitir comentários pessoais sobre os fatos noticiados.
Nos mesmos moldes do TJ Brasil, Carlos Nascimento, no Jornal da Cultura da TV
Cultura de São Paulo, e Marília Gabriela, no Jornal da Bandeirantes, consagraram-se como
jornalistas críticos em oposição à postura indiferente dos âncoras dos principais telejornais do
país (VIEIRA, 1991).
Mas, ao contrário da imprensa escrita, que segundo Rezende (2000) gozava da
liberdade conquistada com o término da ditadura, nenhuma emissora de televisão se arriscou a
bater de frente com o poder dominante na década de 80. Pelo contrário, todas buscavam
legitimar a transição confusa promovida pelo governo para a redemocratização do país. A
força da comunicação televisiva deu início a um sutil processo de formação de opinião que
culminou, no final da década, com a eleição de um político desconhecido para a presidência
do país, eleito pela força de manipulação daquela que se tornou a mais poderosa emissora de
televisão do país, a Rede Globo.
1.6 O jornalismo de rua e o denuncismo
No final da década de 1980, a Central Globo de Jornalismo, sob o comando de
Alberico Souza Cruz, iniciou um processo de substituição progressiva do “jornalismo de
estúdio” por um jornalismo mais externo, “de rua” (REZENDE, 2000, p. 130). É neste mesmo
período que a emissora intensifica suas apostas na cobertura internacional, no sentido de
valorizar a instantaneidade.
O formato, menos rigoroso na produção textual e mais comprometido com o “ao
vivo” foi visto por algumas emissoras como uma chance de explorar novas linguagens. O
SBT ressentia-se de não ter um jornalismo com a cara da emissora, que fosse compreensível
tanto para a dona de casa quanto para o empresário-patrão, esta linguagem culminou na
26
criação do programa Aqui Agora, como uma transposição do jornalismo popular do rádio para
a televisão.
Versão brasileira do Nuevediario, o Aqui Agora, além da influência
da linguagem radiofônica, usava o recurso do plano-seqüência para
dar mais realismo e suspense às histórias que narrava. O sucesso foi
instantâneo, ultrapassando, em pouco mais de um ano, a faixa de 20
pontos no Ibope em São Paulo.(REZENDE, 2000, p.131).
Não foi por acaso que a década de 90 ficou marcada pelas denúncias de todo tipo,
que passaram a fazer parte dos noticiários diários ao se perceber que o sensacionalismo
aumentava a audiência. O telejornalismo foi um dos maiores responsáveis por esse tipo de
veiculação. Atrações especiais foram criadas para exibir notícias de desgraças, exploradas
com detalhes mórbidos e cruéis, que tiveram grande audiência.
As igrejas evangélicas, que conseguiram eleger diversos parlamentares e receberam
do governo federal a concessão de emissoras independentes de rádio e televisão em todo o
país, tornando-se grande força de mobilização religiosa e social, também fizeram uso do
sensacionalismo para atrair audiência e fiéis. O fato obrigou a igreja Católica a iniciar uma
ofensiva que acabou se transformando na criação da Rede Vida de Televisão. Ao lado da
Rede Família (pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus) essas duas corporações se
tornaram as maiores do gênero.
O grande empreendimento em comunicação das igrejas evangélicas, no entanto, se
deu em 9 de novembro de 1989, quando a TV Record, pertencente ao Grupo Silvio Santos e a
Paulo Machado de Carvalho, foi vendida ao empresário Edir Macedo, Bispo da Igreja
Universal do Reino de Deus. Com o slogan "de volta pro futuro", a emissora surpreendeu
tanto as concorrentes quanto os críticos ao desvincular sua programação de qualquer cunho
religioso explícito. As intenções de Edir Macedo ficaram mais evidentes quando a Record
empatou em audiência com a Rede Globo em outubro de 1990. Segundo a página oficial da
emissora na internet, "em 1991, a mudança do controle acionário deu início a uma nova fase.
A Record ampliou sua programação, mantendo o jornalismo como carro-chefe e iniciou a
formação de uma rede nacional de emissoras"
4
. A aposta de Edir Macedo trouxe resultado, e
na virada do século, a Record já brigava pelo segundo lugar na preferência do público.
Nas TVs à Cabo, em franca expansão no país, programas específicos de violência,
com agressões familiares, acidentes, catástrofes, crimes e outros apelos produzidos pelas
redes norte-americanas, foram exibidos exaustivamente ao público brasileiro. A tendência de
4
www.rederecord.com.br, acessado em julho de 2008.
27
exploração da violência foi um marco no telejornalismo, e o público, por sua vez, manteve um
ávido interesse por esse tipo de notícia.
Num círculo vicioso, a procura pela audiência da televisão se
transformou em obsessão pelo espetáculo. (...)Com a sofisticação dos
métodos de pesquisa de opinião, a televisão passou a transformar o
espetáculo num acontecimento do cotidiano (BRASIL, 2002, p.304).
O descrédito gerado pelo sensacionalismo diário indicava a necessidade de
mudanças no telejornalismo, que submerso no mundo do espetáculo a qualquer custo, perdia
em informação e utilidade pública. Foi quando as emissoras iniciaram o processo de
reformulação, colocando jornalistas de formação, e não mais produtores e locutores, à frente
dos noticiários.
Este processo, que iniciou com Boris Casoy no TJ Brasil e no Jornal da Record, e
que foi seguido por Hermano Henning nos mesmos jornais, levou a Globo a substituir, em
1996, os apresentadores símbolos do Jornal Nacional Cid Moreira e Sérgio Chapelin pelos
jornalistas William Bonner e Lílian Witte Fibe.
No mesmo ano, Paulo Henrique Amorim passou a acumular as funções de editor,
repórter e apresentador do Jornal da Bandeirantes e de um programa semanal nas noites de
domingo, Fogo Cruzado.
Mesmo com uma aparente qualificação dos telejornais, o sensacionalismo não
chegou nem perto de abandonar a televisão brasileira. Programas específicos, como o Linha
Direta e o Você Decide absorveram a audiência cada vez maior para temas polêmicos e
controversos, e evidenciaram um novo potencial para a televisão, meio até então puramente
emissor de mensagens: a possibilidade de interação com o público.
1.7 A revolução digital e a voz do cidadão
No final dos anos 90 uma nova linha editorial começou a se estabelecer nos
telejornais brasileiros. Rezende descreve como marco desta tendência um fato que tornou-se
emblemático no Jornal Nacional: o trabalho do repórter Marcelo Rezende sobre a truculência
policial em Diadema, na Grande São Paulo.
A notícia baseava-se em gravação em vídeo da pancadaria feita por
um anônimo cinegrafista amador. Além do horror das cenas, as
imagens quebravam toda a rigorosa assepsia visual estabelecida,
durante anos, pelo padrão global de qualidade. O valor jornalístico
impunha-se à concepção notícia-espetáculo. Foi um acontecimento
28
estrondoso que despertou incontáveis análises (REZENDE, 2000, p.
140-141).
A matéria seria um marco por abrir o JN com a palavra do cidadão e não mais de
políticos ou experts. Era o prenúncio dos novos ares do telejornalismo do século 21, onde a
participação da população se intensificaria mediante a democratização das tecnologias
audiovisuais.
O rompimento com a preocupação estética excessiva em favor do imediatismo e da
visão popular teve seu ápice com os atentados de 11 de setembro, cuja cobertura nacional e
global do telejornalismo primava pela reprodução infindável e incansável de flagrantes
produzidos por cinegrafistas amadores, que mostravam o choque dos aviões contra o World
Trade Center de diversos ângulos.
A capacidade de cobertura dos atentados às torres gêmeas e o poder de compra de
notícias enviadas pelas grandes agências internacionais não foi prioridade apenas para a Rede
Globo. A Rede Record, que apostou na contratação de jornalistas e apresentadores da rival
líder de audiência, investiu pesado em seu telejornalismo, e entrou no novo século como a
principal concorrente do conglomerado de Roberto Marinho na disputa pela audiência.
Preocupado com a perda do segundo lugar, Sílvio Santos promoveu uma série de
mudanças na programação do SBT, e tentou reforçar o telejornalismo da emissora usando a
mesma estratégia de buscar nomes consagrados na Rede Globo, como Carlos Nascimento e
Ana Paula Padrão. Na Rede Bandeirantes, ou Band, como passou a denominar-se a emissora
na virada do século, o telejornalismo crítico proposto por Carlos Boechat e Fernando Mitre
teve que disputar espaços com o sensacionalismo de José Luiz Datena e Roberto Cabrini
(REZENDE, 2000).
A disputa de audiência passou então a ser acompanhada por uma disputa de
credibilidade, e no troca-troca entre apresentadores, ficou difícil para o público distinguir e
perceber as diferenças entre os telejornais das principais emissoras do país.
Paralelamente à corrida por credibilidade na televisão, o século 21 caracterizou-se
pela popularização da internet como fonte de informação, e numa tendência de convergência
entre os meios, a TV deixou de ocupar apenas as ondas de transmissão do ar para navegar
também na digitalidade do ciberespaço.
29
Esta mudança tecnológica veio a interferir diretamente na estética do meio, que até
então empregava esquemas consagrados e traduzia uma mentalidade conservadora para
chegar às massas.
Uma das principais mudanças estéticas proporcionadas pelo ciberespaço é o que
poderíamos chamar de desconstrucionismo televisivo, uma característica pós-moderna que,
segundo David Harvey (1992), faz do receptor da mensagem também autor a partir da
desapropriação de uma criação original para manipulá-la, transformá-la e reinventá-la num
novo produto, conceito ou arte.
Esta mudança no jeito de produzir televisão ganhou força com a criação do site
Youtube em 2004, de onde diversos vídeos saíram do anonimato para serem reproduzidos nos
telejornais, como o escândalo do vídeo que mostrava a modelo Daniela Cicarelli transando na
praia e, mais recentemente, de garotas norte-americanas que aprisionaram e espancaram uma
colega de aula com o propósito de ficarem famosas no Youtube.
A internet também passou a ser uma ferramenta para que as emissoras fizessem
alguns estudos de recepção, e se tornou um meio de troca de informações entre emissor e
receptor, quebrando a passividade até então imposta pelos meios de comunicação de massa.
1.8 O fenômeno televisão no RS
Como esta pesquisa pretende um recorte regional sobre o telejornalismo, é
importante entendermos como ele desenvolveu-se no Rio Grande do Sul, apesar da escassez
de bases teóricas sobre o tema.
A história das emissoras gaúchas revela que o Estado sempre esteve atrasado em
relação ao eixo Rio - São Paulo, tanto no aspecto tecnológico quanto no aspecto de linguagem
técnica.
Hoje o Rio Grande do Sul tem em operação seis canais abertos de televisão, sendo
um estatal (TVE-RS), e cinco privados (TV Record, Rede Pampa, SBT, Band e RBS).
Praticamente todas elas possuem algum tipo de relação com redes nacionais, diferente do
início da história da televisão no Estado, quando houve uma série de iniciativas para a criação
de emissoras locais.
30
Paralelamente às incursões de Assis Chateaubriand no centro do país, o primeiro
interesse no RS pela televisão partiu de Arnaldo Balvê, que, em 1951, obteve uma promessa
do então Presidente Getúlio Vargas de receber a concessão de um canal de TV.
Mas a primeira emissora gaúcha só foi ao ar pelas mãos do dono da Tupi em 1959,
quando em 20 de setembro passou a ser transmitida a programação da TV Piratini. A exemplo
do que aconteceu na maior parte dos primeiros canais de TV, a Piratini absorveu a linguagem
radiofônica para tratar de temas locais. Vinham também da TV Tupi programas prontos,
reapresentados com bastante atraso pela emissora gaúcha (REIS, 1995).
Em 1962, foi a vez da TV Gaúcha, produto da aliança entre Balvê e Maurício
Sirotsky, iniciar suas transmissões com características distintas: ser genuinamente local e
constituir-se num negócio melhor organizado comercialmente. Conforme pesquisou Kilpp,
Mais moderna do que a Piratini em tecnologia e gerenciamento
comercial, a Gaúcha planeja, em sua instalação, tornar-se
produtora de programas, contando de saída com equipamento de VT
que a outra não tinha ainda. (...) A competição instalou-se aqui,
então, em 1962, entre as duas emissoras “locais” (2000, p. 30).
Mas o alto custo de produção dos programas locais e o advento do videotape
levaram as duas emissoras a apostar na reprodução das televisões do centro do país. A Piratini
veiculava programas da Tupi e a Gaúcha, da TV Excelsior. Como bem observou Rezende
(2000), os investimentos locais não obtiveram tanto sucesso comercial, e as TVs regionais
tornaram-se cada vez mais reféns dos grupos associados.
Os investimentos do Governo em telecomunicações no final da década de 1960
viabilizaram os projetos de TV em tempo real com as estações e rastreadores de satélite,
fazendo surgir em 1969 mais uma TV no Estado, a Difusora, iniciativa dos Freis Capuchinhos
de Santo Antônio, que no mesmo ano assinaram um protocolo de intenções com a Rede
Globo, de Roberto Marinho, que desde 1965 expandia-se no mercado televisivo com uma
nova estratégia de subordinação programática e comercial.
O êxito da televisão brasileira advinha, em grande parte, da
consolidação do sistema de rede, na década de 1970 até meados da
de 80. Se, porventura, trouxe alguns benefícios, sobretudo quanto à
melhoria da qualidade técnica dos programas, as redes-
especialmente a Globo pelo controle quase absoluto do mercado
nacional – causaram um prejuízo irreparável às emissoras regionais.
Por questões financeiras e mercadológicas, os concessionários de
canais de TV se viram forçados a abandonar suas produções locais e
transformaram suas emissoras, praticamente sem exceção, em meras
estações retransmissoras da programação realizada invariavelmente
no Rio de Janeiro e em São Paulo (REZENDE, 2000, p.118).
31
Apesar do acordo de intenções entre a Difusora e a Globo, é a TV Gaúcha que se
submete às exigências da emissora de Roberto Marinho para dar origem, em 1972, à Rede
Brasil Sul (RBS). Os pesados investimentos das organizações Globo fizeram com que a RBS
desse um salto de qualidade desolador para as concorrentes no que se refere a poder de
geração e transmissão de sinais. A Difusora, por sua vez, passou a comprar programa da TV
Bandeirantes.
Paralelo às dificuldades das TVs Piratini e Difusora, surge em 1978 a TV Guaíba,
empreendimento de Breno Caldos, que chegava como nova esperança de uma TV
genuinamente gaúcha, com uma plataforma de programação regional e intensa, de caráter
cultural. Mas o investimento do grupo Caldas Júnior foi tardio.
Embora no início a TV Guaíba tivesse de fato viabilizado alguns
programas importantes, especialmente na área do telejornalismo e da
cobertura cultural jornalística, ela ruiu junto com a Caldas Júnior,
num mercado já monopolizado. (KILPP, 2000, p. 38).
A última tentativa de se criar uma emissora gaúcha ocorreu em 1980, quando a TV
Piratini fecha as portas junto com a TV Tupi e lugar ao surgimento da TV Pampa. Mas o
empreendimento só resistiu por três anos, e logo a emissora teve que sucumbir à tendência das
incorporações às grandes redes, integrando-se à Manchete, do grupo Bloch, surgida do espólio
das Associadas junto com o SBT, que ficou com o canal 5 de Porto Alegre a partir de 1981.
Com a extinção do grupo Manchete, no início dos anos 90, a TV Pampa ficou três
anos no ar com uma programação totalmente local, que consistia basicamente em programas
de auditório com cantores regionais pouco conhecidos. Logo depois, afiliou-se à Rede Record
e uniu-se ao grupo de retransmissoras. Apenas a TV Guaíba resistia às emissoras nacionais e
continuou com uma programação local terceirizada, vendendo espaços a grupos de
comunicadores independentes que não seguiam qualquer padrão de qualidade e veiculavam
informações à revelia.
Em meados de 2007, a Rede Record anunciou investimentos no Rio Grande do Sul.
Todos davam como certa a compra da Rede Pampa pelo grupo de Edir Macedo, que era a
retransmissora do canal em Porto Alegre. Mas a emissora surpreendeu ao optar pela compra
da TV Guaíba
5
, e a Pampa não teve alternativa a não ser se afiliar à Rede TV, emissora jovem
que mantém basicamente programas e noticiosos sobre famosos e celebridades.
5
http://www.direitoacomunicacao.org.br, acessado em 01/12/2008
32
1.9 O telejornalismo gaúcho
Inúmeros programas considerados fundamentais na história da cobertura jornalística
regional influenciaram na emergência de um modelo tipicamente gaúcho de se fazer
telejornalismo. Kilpp (2000) cita como exemplo os programas Portovisão, que ia ao ar meio-
dia, e o Câmera 10, que, veiculado no final da noite, foi líder de audiência entre 1969 e 1973.
Segundo a autora, os dois programas eram espaços locais de expressão por onde se
espelhava o nosso dia-a-dia” (2000, p.52).
Na mesma linha de regionalização, em 19 de fevereiro de 1972, a Difusora foi a
primeira emissora brasileira a realizar transmissão ao vivo, em cores, diretamente da
solenidade da Festa da Uva, de Caxias do Sul. Foi uma transmissão histórica em todo País,
inaugurando um novo momento da TV brasileira. No dia seguinte, para confirmar o êxito da
iniciativa, a Difusora transmitiu, novamente ao vivo e com imagem colorida, o jogo entre
Grêmio e Associação Caxias. Este pioneirismo deu grande credibilidade à emissora na época
6
.
Paralelo ao surgimento e consolidação dosprincipais telejornais gaúchos, o Governo
do Rio Grande do Sul fazia as tratativas com a União para criar um canal de televisão com
fins educativos, a exemplo do que contecia em outros estados da federação. Das intenções de
criação, em 1961, até a consolidação do projeto foram 13 anos de intensos processos
burocráticos. Eis que no dia 29 de março de 1974, nas dependências do prédio da Faculdade
dos Meios de Comunicação da PUCRS, o Centro de Televisão Educativa (CETEVE) iniciou
suas transmissões. O empreendimento seria a base do que hoje é a TVE-RS, emissora estatal
com grande volume de produção local em meio ao sucateamento de estrutura e equipamentos
(DUVAL, 2002).
Na mesma época, a RBS TV ampliava os investimentos na aquisição de
retransmissoras no interior e investia na produção do seu Jornal do Almoço, tradicionalmente
exibido em torno do meio-dia. O programa está no ar desde 1972 , e ao longo dos anos se
consolidou como líder de audiência nas faixas reservadas para as programações locais.
O monopólio empregado pela RBS TV, alicerçado no padrão Globo de qualidade,
viria a sacramentar as tendências do estilo telejornalístico no Rio Grande do Sul a partir dos
anos 80. Além do Jornal do Almoço, a emissora conseguiu ocupar uma faixa de horário no
início da manhã, com o Bom Dia Rio Grande; aproveitou a faixa de horário que a Globo
reservava às afiliadas às 19h com o RBS Notícias; e ainda conquistou a faixa da meia-noite
6
Segundo dados da própria emissora, publicados no site www.bandrs.com.br, consultado em julho de 2008.
33
com o extinto Jornal da RBS, posteriormente ocupado pelo Jornal da Globo no final dos anos
90. A emissora ainda mantém um informativo semanal que vai ao ar nos domingos, o
Teledomingo, no ar desde 1997.
Por ser a empresa de televisão de maior audiência e penetração no Estado, a
emissora da família Sirotsky é a afiliada da Rede Globo que mais produz programação
própria, algo que gira em torno de 20%, enquanto as demais afiliadas atingem no máximo
10% (FINGER, 2002).
A força da RBS resultou em outro marco do telejornalismo gaúcho, que foi a
criação, em 1995, da TV COM, canal UHF que produz notícias mais regionalizadas e
totalmente voltadas para a comunidade, entiludado como primeiro canal comunitário do
Brasil.
Diante do poderio do Grupo RBS, as outras emissoras encontraram maior
dificuldade para furar o bloqueio do chamado “bolo publicitário” de forma a conseguirem
produzir noticiosos locais. A resistência dos anunciantes só começou a se dissipar no final dos
anos 90, quando surgem os programas SBT Rio Grande, no SBT, ancorado pela ex-repórter
Cristiane Finger, e o Band Cidade, na TV Bandeirantes, apresentado pelo jornalista Felipe
Vieira. Mais tarde surgiria também o Pampa meio-dia, da Rede Pampa, com Vera Armando
no comando do programa.
Frente ao avanço do jornalismo comercial, os noticiosos da TVE-RS seguiam a
senda de “programas a serviço do governo do dia” (FINGER, 2002), justamente por serem
produções de uma televisão sob controle público, mantida pelas verbas do governo estadual.
Apesar das constantes mudanças no executivo gaúcho, a TVE-RS conseguiu manter, durante
mais de 10 anos, dois telejornais de qualidade em sua grade de programação: o Jornal da TVE
edição, que ia ao ar ao meio-dia, e o Jornal da TVE edição, veiculado na faixa de
horário das 21h. Hoje os principais noticiários da emissora são o TVE em Dia, que entrou no
lugar do antigo Jornal da TVE – 1ª edição, e o Jornal da TVE, que se tornou edição única em
substituição ao Jornal da TVE – 2ª edição.
A última grande transformação no panorama do telejornalismo gaúcho foi a chegada
da Rede Record ao Estado pela compra da TV Guaíba, que deu uma aquecida na concorrência
e passou a disputar a audiência com as outras emissoras regionais. Com a mudança de
controle da emissora gaúcha, a rede paulista elaborou um plano de investimento no Canal 2,
34
que envolveu equipamentos de última geração, construção de uma moderna redação e
cooptação de profissionais especializados na área técnica, comercial e jornalística
7
.
Os noticiosos da emissora no Estado são o Rio Grande no Ar, que é transmitido no
início da manhã; o Balanço Geral, que ocupa a faixa do meio-dia; e o Rio Grande Record,
que vai ao ar às 19h30. Os três telejornais regionais ocupam as mesmas faixas de horário
ocupadas pela RBS TV, o que não deixa dúvidas sobre as intenções de Edir Macedo de brigar
pela liderança da audiência no Estado.
1.9.1 Jornal do Almoço
O Jornal do Almoço é o principal noticioso da RBS TV, que tradicionalmente vai ao
ar ao meio-dia em 95% das cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Com uma
proposta mais parecida com uma revista eletrônica, as notícias do dia-a-dia são intercaladas
com atrações musicais, matérias de entretenimento e entrevistas ao vivo. Segundo José Pedro
Villalobos, editor-chefe do noticioso,
o Jornal do Almoço é um jornal que tem como principal característica
tentar não ser um jornal clássico, aquele telejornal mais formal,
aquela coisa mais dura, como é o perfil do RBS Notícias. Ele tem um
lado de procurar ser um programa de televisão, com todas as
vertentes que isto pode ter, como um musical, uma entrevista na área
de cultura, matérias mais leves de variedades, coisas engraçadas,
comentaristas, claro tudo isto sem abrir mão do factual, sem abrir
mão da notícia, sem abrir do foco sobre o que está acontecendo no
dia-a-dia das pessoas
8
.
O formato do programa oportuniza às diversas sucursais da RBS TV espalhadas pelo
interior do Estado apresentarem reportagens locais para serem transmitidas às regiões onde
estão situadas. A maioria das emissoras da RBS TV produzem dois blocos locais que são
transmitidos em suas regiões de cobertura. A exceção está em Pelotas, Santa Maria, Caxias do
Sul e Santa Cruz do Sul, que produzem, cada uma, outra versão inteira do programa voltada
para a respectiva região, intercambiando matérias com a redação de Porto Alegre.
A redação do Jornal do Almoço na capital funciona de forma integrada com todos os
outros programas da RBS TV no departamento de jornalismo. Os terminais onde trabalham
pauteiros, produtores, editores e repórteres servem inclusive de estúdio para outros programas
7
http://pt.wikipedia.org/wiki/TV_Record_Porto_Alegre, acessado em 03/12/2008.
8
Nota do Autor, conforme entrevista do Apêndice A
35
da emissora. Ao redor do imenso saguão, oito ilhas de edição lineares
9
e mais duas não-
lineares
10
se distribuem em pequenas salas.
O telejornal é apresentado pelas âncoras Cristina Ranzolin e Rosane Marchetti. Os
jornalistas Lasier Martins e Paulo Sant'Ana atuam como comentaristas diários, e a jornalista
Ana Amélia Lemos faz participações especiais direto de Brasília com as principais decisões
políticas de interesse para o Estado.
Quem coordena a produção é o editor-chefe José Pedro Villalobos, que está à frente
do programa desde 2002. Ele é responsável por uma equipe com mais de 40 pessoas, entre
repórteres, produtores, cinegrafistas, editores e equipes de externa
11
.
Em um Seminário promovido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI), o
diretor de jornalismo da RBS TV, Raul Costa Júnior, chegou a afirmar que disponibiliza de
mais de 20 equipes de reportagem por dia em todo o Estado, sendo a maioria dedicada a
produção dos noticiosos Jornal do Almoço e RBS Notícias
12
.
Villalobos diz que, na capital, são quatro equipes de externa, sendo cada uma delas
composta por um repórter, um cinegrafista e um motorista, que ás vezes também desempenha
o papel de iluminador.
1.9.2 SBT Rio Grande
O SBT Rio Grande é o único telejornal local da filiada TV SBT Canal 5 de Porto
Alegre, integrada o Sistema Brasileiro de Televisão do grupo Sílvio Santos, sendo o principal
programa da emissora em âmbito regional. É apresentado de segunda à sexta-feira, sempre às
12h45, com inserções de reprises especiais das principais manchetes do dia ao longo da
programação diária.
As edições veiculam, basicamente, notícias de interesse estadual sobre
acontecimentos na política, economia, segurança pública, saúde, cultura, lazer e serviços. Para
tanto, conta com três equipes de reportagem - duas para cobertura local e uma para cobertura
de rede
13
- divididas por turnos, sendo cada uma constituída basicamente por um repórter, um
cinegrafista e um motorista, sendo que no período da tarde dois repórteres se revezam com a
9
edição analógica, feita direto com os VTs
10
edição digital, feita em computador
11
Nota do Autor, conforme entrevista do Apêndice A
12
Nota do Autor em Seminário ARI sobre novas tecnologias realizado em junho de 2006.
13
Matérias produzidas no RS que são de interesse nacional segundo critérios da emissora
36
equipe de externa. Como apoio, existe uma equipe de dois produtores, dois editores e três
estagiários, responsáveis por apurar e produzir pautas. No comando da equipe está a jornalista
Cristiane Finger, editora regional e apresentadora do telejornal.
O SBT Rio Grande também dá suporte para a produção de matérias no Estado que
sejam de interesse nacional, para serem veiculadas nos jornais de rede do SBT, como o SBT
Brasil, com Carlos Nascimento, e o Jornal do SBT, também apresentado por Nascimento ao
lado de Cynthia Benini. Para isto, conta com uma equipe de rede para produzir matérias de
nível nacional que também são aproveitadas pelo programa
14
.
Por ter uma equipe mais reduzida em comparação aos concorrentes, a redação do
SBT Rio Grande conta muito com a tecnologia da internet. A produtora e editora Simone
Müller revela que a ferramenta ajudou muito na evolução do programa, principalmente na
elaboração de pautas e no contato com o público, contribuindo para a definição da linha
editorial do programa, visto como essencialmente de serviço
15
.
1.9.3 TVE em Dia
O TVE em Dia é o mais novo programa da TVE-RS. Veiculado ao meio-dia, tendo
como âncora o jornalista Marcelo Bergter, o noticiário foi criado em 2008 para disputar a
faixa de horário do meio-dia.
Segundo o site da Fundação Piratini
16
, o TVE em Dia dá ênfase ao que acontece em
Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, sendo aberto a todos os campos da informação como
política, economia, cultura, comportamento, esportes e demais temas do dia a dia. Jorge
Seadi
17
, diretor de jornalismo da emissora, esclarece que apenas a editoria de polícia não é
contemplada pelo programa. Maria Emília Portella
18
, editora-chefe do programa, o descreve
como um jornal de informação que trata a notícia de forma aprofundada por dispor de um
tempo maior que as emissoras comerciais
Pelas dificuldades burocráticas inerentes a uma estatal, é de se esperar que a TVE
hoje sofra um processo de sucateamento de sua estrutura pessoal e tecnológica, potencializado
pelas constantes mudanças de governo e utilização do canal como braço político. No entanto,
14
Nota do Autor, conforme entrevista do Apêndice E
15
N.A., conforme entrevista do Apêndice F
16
http://www.tve.com.br, acessado em 06/01/09
17
N.A., conforme entrevista do Apêndice D
18
N.A., conforme entrevista do Apêndice C
37
os profissionais que trabalham no TVE em Dia garantem que a proposta do programa é
minimizar esta relação o máximo possível, que não é possível eliminá-la. Conforme relata
Vitor Dalla Rosa, chefe de reportagem do programa,
o jornalismo do TVE em Dia é independente como outro qualquer,
mas assim como no veículo comercial existe um compromisso, um
vínculo com a direção da empresa que o gerencia, na TVE também
existe um vínculo com o governo. Não uma interferência direta,
mas existe um vínculo e, dependendo do interesse, este vínculo deve
ser atendido
19
.
O programa se abastece diariamente de informações oriundas das mais diversas
fontes, como internet, rádio, jornais impressos e fontes exclusivas cultivadas por cada
repórter. O que entra ou não no noticioso é decidido conforme os acontecimentos do dia, mas
o processo de escolhas das pautas ocorre sempre ao término da edição, numa reunião entre
produtores, repórteres, o chefe de reportagem Vitor Dalla Rosa, a editora-chefe Maria Emília
Portella e o diretor de jornalismo Jorge Seadi
20
.
19
Nota do Autor., conforme entrevista do Apêndice C
20
N.A., conforme entrevista do Apêndice C
38
2 ASSESSORIA DE IMPRENSA
2.1 O início
As mudanças provocadas pela globalização, a institucionalização generalizada de
ações, interesses e pessoas, sobretudo a dinamização dos fluxos e circuitos de informação,
levaram instituições públicas e privadas a desenvolverem um papel relevante na interferência
da realidade. Conseqüentemente, esta interferência despertou o interesse do maior difusor de
informações da história da humanidade: o jornalismo (DUARTE, 2002, p.33).
Num contexto de acirrada competição política e econômica, potencializada no final
do século XIX pela chamada “era de ouro” dos Estados Unidos, que ao longo dos cem anos
seguintes espalhar-se-ia pelo mundo sob o modelo organizacional do livre comércio, o
jornalismo firmou-se como um defensor dos interesses do povo, um mecanismo questionador
das conseqüências provocadas por um capitalismo cada vez mais selvagem.
Com isto, a opinião pública passou a travar um embate feroz contra políticos e
empresários, os quais pioravam a própria situação por não saberem como se desvencilhar
do olhar crítico dos jornalistas e se relacionar com a mídia. Até que em 1906, época em que a
hostilidade do grande público era muito acentuada contra o big business americano, um
jornalista norte-americano chamado Ivy Lee resolveu abandonar a profissão de repórter para
estabelecer o primeiro escritório de relações públicas do mundo. Localizado em Nova York, o
empreendimento começou com o intuito de defender o mais popular homem de negócios dos
EUA, John Rockefeller, da alcunha de empresário monopolista, sanguinário e inescrupuloso
no trato com concorrentes e com o público.
Segundo Duarte (2002), com a ajuda de Ivy Lee, Rockefeller passou de um homem
ganancioso e odiado a um respeitado empresário de sucesso, bem quisto pela opinião pública.
Como escreve Hebe Wey (1986, p.30-31), os grandes capitalistas, “denunciados, acusados e
39
acuados, encontram em Ivy Lee o grande caminho para evitar denúncias, a partir de uma nova
atitude de respeito pela opinião pública”, na qual primava pelo trato respeitoso com a
imprensa e pelo repasse de informações corretas, de interesse e de importância para o público,
evitando assim denuncismos e mal-entendidos.
Partindo do pressuposto da confiabilidade, Lee estabeleceu um conjunto de regras
ético-morais, comprometendo-se, segundo Hebe Wey (1986), a fornecer notícias apenas
notícias e a colocar-se à disposição dos jornalistas, sempre que solicitado, para respostas
honestas e verdadeiras. Outros autores, como Cândido Teobaldo de Andrade (1983),
questionam a benevolência de Ivy Lee, que também seria o pai da “operação fecha-boca”,
nome dado à oferta de magníficos empregos aos jornalistas, para que não atacassem as
empresas e ao mesmo tempo as defendessem. De qualquer forma, Lee ficou conhecido por
sua Declaração de Princípios, que dizia o seguinte:
Este não é um departamento de imprensa secreto. Todo o nosso
trabalho é feito às claras. Pretendemos divulgar notícias, e não
distribuir anúncios. Se acharem que o nosso assunto ficaria melhor
como matéria paga, não o publiquem. Nossa informação é exata.
Maiores pormenores sobre qualquer questão serão dados
prontamente e qualquer redator interessado será auxiliado, com o
máximo prazer, na verificação direta de qualquer declaração de fato.
Em resumo, nossos planos, com absoluta franqueza, para o bem da
empresa e das instituições públicas, são divulgar à imprensa e ao
público dos Estados Unidos, pronta e exatamente, informações
relativas a assuntos com valor e interesse para o público.(KOPPLIN
& FERRARETTO, 2001, p.21)
Entre as regras ético-morais sugeridas por Lee - que dariam base à moderna
atividade de assessoria de imprensa - e as condutas e manobras escusas que ele mesmo criou e
que minavam as redações dos Estados Unidos, as agências de Relações Públicas se
multiplicaram até 1929, quando a crise econômica assolou os Estados Unidos e todos os fatos
e acontecimentos passaram a ser questionados pela opinião pública, incluindo o trabalho
dos assessores de imprensa nas organizações. Isto porque
a propaganda da fartura e dos altos salários foi substituída pela
realidade do desemprego, que atingiu 12 milhões de trabalhadores.
(...) E os patrões, que os jornalistas travestidos de relações-públicas
(ou vice-versa) conseguiram, na época próspera, transformar em
quase deuses, passaram a ser hostilizados, por empregados e
desempregados. E odiados pelos acionistas. (CHAPARRO in
DUARTE, 2002, p.39)
É neste momento de crise que as assessorias de imprensa encontram novas
oportunidades para se firmar, e ganham força não entre empresários, como também entre
políticos, sendo o presidente Franklin Roosevelt, eleito em 1932, o maior símbolo desta nova
40
ascensão. Líder carismático, Roosevelt fez uso das técnicas de comunicação para promover
um amoldamento da opinião pública para os objetivos de uma política de reerguimento
nacional.
Neste contexto, o jornalismo norte-americano inova seus formatos diante da
exigência da sociedade americana em não apenas mais saber, mas também compreender o que
estava acontecendo. A demanda social de informações foi devidamente aproveitada pelos
setores de relações públicas, que cresceram e sofisticaram-se desde então.
Na área governamental, a Primeira Guerra Mundial fez com que Estados Unidos e
Grã-Bretanha também criassem setores específicos para a divulgação de informações oficiais,
uma prática que seria repetida com mais força durante a Segunda Guerra (KOPPLIN &
FERRARETTO, 2001).
A percepção da importância estratégica das assessorias de imprensa na década de
1930 levou as universidades de Yale, Harvard e Columbia a criarem disciplinas para formar
especialistas em opinião pública, que nas estruturas do ensino ficaram veiculadas ao campo da
Administração.
Na década seguinte, por volta de 1940, políticos e empresários do Canadá também
adotaram a atividade de relações públicas como um setor estratégico, e seis anos mais tarde,
em 1946, a função aporta na Europa por meio das petrolíferas Esso Standard e Shell, com
filiais na França. Daí por diante, o contágio foi rápido.
Em 1950, existiam agências e/ou departamentos de RP em outros sete países do
velho continente, mas a função se difundiu com características diferenciadas do modelo
americano.
A experiência européia se caracterizou pelo predomínio da
divulgação propagandística, a confirmar uma vocação de origem,
que relações públicas jamais rejeitaram, a de ser linguagem de
propaganda, assumindo-a como essência de sua natureza
(CHAPARRO in DUARTE, 2002, p. 40).
Esta diferença entre o modelo europeu, mais propagandístico, e o modelo
americano, mais noticioso e jornalístico, tornam-se fundamentais para uma certa distinção
entre o trabalho dos profissionais de Relações Públicas e o trabalho dos Assessores de
Imprensa.
41
À margem das diferenças entre o modos operandi, a atividade de assessoramento de
empresas e personalidades cresceu de maneira vertiginosa nos anos 50 e 60. Segundo
Chaparro, Monique Audras dimensionou em números este crescimento nos Estados Unidos:
(...) em 1936, naquele país, seis em cada grupo de 300 empresas
possuíam serviço de relações públicas; em 1961, a relação era de
250 em 300. E, segundo ela, no livro que escreveu em 1970,
“podemos supor que hoje em dia a proporção deve beirar os 100%”
(in DUARTE, 2002, p. 41).
No Brasil, as relações públicas chegam no pós-guerra, com a eleição de Juscelino
Kubitschek, grande incentivador da abertura do mercado para as multinacionais, cujas
fábricas trouxeram na bagagem a prática de assessoria de imprensa. Dentre as pioneiras está a
The São Paulo Tramway Light and Power, a popular Light, que estruturou um Departamento
de Relações Públicas para repassar informações ao público; e o Serviço de Informação e
Divulgação do Ministério da Agricultura, que misturava divulgação e comunicação
institucional (KOPPLIN & FERRARETTO, 2001).
2.2 Assessoria de Imprensa versus RP – uma questão brasileira
A primeira vez que o governo brasileiro preocupou-se, oficialmente, com o
atendimento à imprensa foi em 1938, quando foi promulgado o Decreto nº3371, de de
dezembro, que atribuía esta função ao secretário da Presidência da República, como Chefe de
Gabinete Civil. O então presidente Getúlio Vargas havia instaurado o Estado Novo, durante o
qual criou o Departamento de Imprensa e Propaganda, que misturava divulgação,
comunicação institucional e a censura (KOPPLIN & FERRARETTO, 2001).
Em 1964, durante a ditadura militar, a atividade de relações públicas no Brasil se
fortalece. Tanto que quatro anos mais tarde, em 1968, a área de RP ganha regulamentação de
enorme abrangência, e é vinculada como carreira e setor de estudo nos cursos de comunicação
das universidades brasileiras.
O processo é estimulado pela estratégia de propaganda do governo militar, que cria
no mesmo ano a Assessoria Especial de Relações Públicas da Presidência da República
(Aerp), com status de super ministério, que adota práticas de barganha por deter vasto poder
sobre verbas e vagas no serviço público. Este potencial de troca de favores com a imprensa
brasileira foi amplamente administrado em favor da imagem popular do governo militar e
tornou-se modelo para governos estaduais, municipais e empresas de grande porte como
ferramenta de propaganda.
42
Nesse veio surgiu um atrativo mercado para jornalistas. Eles eram
generosamente solicitados a ocupar o espaço crescente das
assessorias de imprensa, sob a tutela formal e/ou cultural de
departamentos de relações públicas, para trabalhos que nem sempre
exigiam presença física. E sem precisar afastar-se das redações, para
que se viabilizasse o jogo duplo do duplo emprego (CHAPARRO in
DUARTE, 2002, p. 44).
A dupla jornada de jornalistas nas redações e nos departamentos de RP, aliada ao
tom propagandístico implementado pelo regime militar e à enxurrada de press-releases que
invadiam diariamente as redações - exaltando e adjetivando assessorados com informações
sem qualquer interesse público - acabou por gerar uma crise de credibilidade na atividade de
Relações Públicas. Com isto surgiria o epíteto de “chapa branca”, usado pejorativamente para
identificar jornalistas que assessoravam o governo militar pós-1964 (KOPPLIN &
FERRARETTO, 2001).
Eis que em 1971 surge a Unipress, uma agência de assessoria de imprensa baseada
num modelo preocupado mais com o valor público da informação do que com a promoção das
instituições que contratavam o serviço. A Unipress nasceu do trabalho conjunto dos
jornalistas Reginaldo Finotti e Alaor José Gomes. Eles abandonaram carreiras promissoras de
repórteres da Record e do Última Hora respectivamente para assumir a assessoria de imprensa
da Volkswagen no Brasil, que orientada jornalisticamente, tornou-se fonte de consulta
obrigatória para editores, pauteiros e repórteres de Economia das grandes redações. Segundo
os próprios Reginaldo e Alaor relataram (DUARTE, 2002, p.48-49), a Unipress foi fundada
com objetivo de ser não uma agência de RP, mas uma sucursal das redações, em especial dos
jornais do interior.
Assim, a Unipress rompia com um modelo propagandístico de assessoria de
imprensa para consolidar um modelo mais jornalístico, menos preocupado com a promoção
dos assessorados e mais atuante como alimentadora de pauta das redações. Nesse mesmo
molde, outras agências foram surgindo, “criando a base para um movimento de autonomia
dessa atividade em relação às estruturas, teorias e práticas de relações públicas”
(CHAPARRO in DUARTE, 2002, p. 46).
Esta rebeldia desenvolveu-se em duas vertentes: a sindical, estabelecida em 1980
pela Comissão Permanente e Aberta dos Jornalistas em Assessorias de Imprensa do Sindicato
dos Jornalistas de São Paulo; e a dos jornalistas-empresários, resultante da Associação
Nacional de Empresas de Assessoria de Imprensa, criada em 1986, pelos fundadores da
Unipress.
43
As duas vertentes tinham em comum o fato de enxergarem a assessoria de imprensa
como uma função jornalística, e não propagandista, como defendiam os Relações Públicas da
Europa e da Ditadura Militar. Segundo Chaparro, o manual da vertente sindicalista estabelecia
que:
os profissionais de assessoria de imprensa são, antes de tudo,
jornalistas. Eles vieram preencher uma lacuna atendida
indevidamente por profissionais de outros setores, entre eles recursos
humanos, marketing e promoções. Seu trabalho visa contribuir para o
aperfeiçoamento da comunicação entre a instituição, seus
funcionários e a opinião pública. Dentro de uma perspectiva social
que privilegia essa última, a assessoria de imprensa agiliza e
complementa o trabalho do repórter, subsidia-o e lhe oferece
alternativas adequadas, garantindo o fluxo de informações para os
veículos de comunicação – porta-vozes da opinião pública (in
DUARTE, 2002, p.46-47).
Da mesma forma, a vertente jornalístico-empresarial estabelecia regras para suas
empresas associadas onde não era permitido a elas o funcionamento sem no mínimo terem em
seu quadro de colaboradores dois profissionais de imprensa reconhecidos pelo sindicato dos
jornalistas de seus respectivos estados.
É do movimento destas duas representações profissionais, aliada à crise econômica
dos anos 90, que o Brasil inicia uma ruptura entre o trabalho de assessoria de imprensa e a
profissão de Relações Públicas, consolidando uma experiência de assessoria de imprensa
jornalística única no mundo. (KOPPLIN & FERRARETTO, 2001).
O processo de ocupação jornalística nas assessorias de imprensa tornou-se a partir
de então um processo irreversível, tanto que em 1995 um estudo feito pelo Dieese no
Sindicato dos Jornalistas de São Paulo apontava que, naquele ano, um terço dos jornalistas
profissionais com carteira assinada trabalhavam fora das redações, ou seja, nas fontes
(CHAPARRO in DUARTE, 2002).
Esta proporção veio a aumentar nos últimos anos, revelando uma mudança de
relacionamento entre a imprensa e as fontes, que para alguns implica num conflito ético sem
precedentes no mundo, e para outros, significa a dinamização e evolução no processo de
informação.
Esta mudança mercadológica veio a consolidar diferenças significativas entre o
trabalho dos Relações Públicas, mais propagandístico e institucionalizado; e o trabalho dos
assessores de imprensa, que visa antes dos interesses particulares, o entendimento entre o
setor político-privado e a opinião pública.
44
2.3 - As características de uma Assessoria de Imprensa hoje
Embora as redações tenham variadas fontes de informação para elaboração de
pautas, a assessoria de imprensa é a única que, fora das redações, apresenta um profissional
consciente dos interesses jornalísticos. Dentro desta perspectiva, dois tipos de assessoria de
imprensa são detectados pelos profissionais que trabalham em redações: um que serve a
órgãos públicos e político-partidários, e outro que está a serviço da iniciativa privada
21
.
Geralmente, o primeiro tipo é encarado pelos jornalistas como uma barreira a ser
superada pelo repórter, já que os serviços prestados pelo poder público são de maior interesse
da população e, portanto, são os mais fiscalizados e cobrados. O segundo tipo caracteriza-se
pelo caminho inverso, pois tenta eliminar barreiras entre o assessorado e os jornalistas, de
forma a pautar a imprensa aproveitando os contextos e situações que envolvam o cliente.
As posturas de “facilitador” e “dificultador”, no entanto, podem ser adotada em
ambos os casos. Como acredita José Pedro Villalobos
o assessor de imprensa teria que ser em tese um facilitador, o cara que
faz o meio de campo entre a empresa, entre o órgão público, entre a
instituição e os veículos de comunicação, e muitas vezes, isto até
notadamente na questão do esporte, dos clubes de futebol, o assessor
de imprensa age quase como se fosse um RP do clube ou da
instituição. Ele age mais preocupado em defender interesses desta
instituição do que propriamente em fazer o meio de campo e agendar
uma entrevista, passar informações sobre um novo contratado do
clube ou sobre o novo diretor
22
.
Dentro deste quadro, a maioria dos executivos ainda confunde os papéis do assessor
de imprensa com o de Relações Públicas, que desenvolve um outro tipo de trabalho na
construção da imagem da empresa. Apesar desta distorção, é consenso que a principal função
do assessor – esteja ele trabalhando num setor interno, dentro da empresa, ou numa prestadora
de serviços especializada é gerar notícias que, direta ou indiretamente, facilite o diálogo
entre a instituição a qual serve e a imprensa.
Vera Dias (1994) explica que o trabalho do assessor consiste em provocar o contato
com a imprensa, tentando juntar o interesse jornalístico ao empresarial, deixando a decisão de
cobertura sempre a critério do veículo de comunicação, sem a utilização de recursos
mercadológicos ou de barganha, como sugere a prática de RP consagrada nos Estados Unidos.
21
Nota do Autor, conforme entrevistas dos Apêndices A a F
22
N.A., conforme entrevista no Apêndice A
45
Partindo deste pressuposto, Dias acredita que o bom assessor de imprensa é aquele
que consegue manter um certo distanciamento da empresa a qual serve para analisar com
critérios jornalísticos a noticiabilidade ou não de determinado assunto, mesmo que ele esteja
totalmente engajado nos processos de produção.
Reforçando este conceito, Kopplin & Ferraretto definem as atividades de assessoria
de imprensa como sendo principalmente
o relacionamento com os veículos de comunicação, abastecendo-os
com informações relativas ao assessorado (através de releases,
press-kits, sugestões de pautas e outros dispositivos), intermediando
as relações de ambos e atendendo às solicitações dos jornalistas de
quaisquer órgãos de imprensa (2001, p. 13).
Neste processo, excluí-se qualquer intermediação comercializada, paga ou induzida
por interesses comerciais e econômicos. Dias acrescenta ainda que
o executivo deve desconfiar da seriedade de qualquer profissional de
assessoria que lhe der garantias de publicação de matérias, em
veículos específicos e com datas previstas, e/ou assegurar total
controle dos espaços editoriais. (...) quem lida com essa matéria-
prima sabe o quanto de risco é inerente a essa atividade. Tem
consciência de que o trabalho de assessoria apenas provoca o
contato com a imprensa, tentando juntar o interesse jornalístico ao
empresarial, mas que o seu resultado é critério do veículo de
comunicação (1994, p. 93).
Diante desta prática, fica evidente que o principal motor do relacionamento entre
assessores de imprensa e jornalistas é a credibilidade que o primeiro tem com o segundo. Sem
credibilidade, o assessor torna-se uma “peça estragada”, um ruído na engrenagem da
informação que circula entre as instituições e a opinião pública. “Um assessor de imprensa
jamais deve se propor a ‘vender’ como notícia qualquer fato, proposta ou plano que não tenha
apelo jornalístico. Sabe que, se o fizer, estará queimado na imprensa e no meio empresarial”
(DIAS, 1994, p. 94).
O jornalista Omar Monteiro Mendes afirma que a ética dos jornalistas deve ser uma
tanto para assessores quanto para quem trabalha dentro das redações, justamente porque o
interesse prioritário para ambos deve ser o interesse público.
No Brasil, jornalista que faz Assessoria de Imprensa é considerado
jornalista. Faz parte de uma tradição brasileira, com apoio dos
sindicatos e dos profissionais atuantes nos meios de comunicação. Ao
assumir a AI como jornalismo, é possível apresentar um trabalho
comprometido com o interesse público, ao menos nas instâncias
filosóficas e da deontologia da profissão. O “Código de Ética”
46
expressa quais devem ser as preocupações dos jornalistas,
trabalhando em redações ou em assessorias.
23
Do modelo jornalístico de assessoria de imprensa instituído no Brasil surge a
pergunta: Como é possível que um assessor de imprensa pago por uma instituição com
interesses específicos, priorize a opinião pública ao invés dos interesses privados que o
sustentam? É o que veremos a seguir.
2.4 - Conflitos éticos
Na citação acima, destacada a deontologia, a qual se refere Mendes, é a corrente da
ética jornalística inspirada nas idéias de Immanuel Kant (1724-1804), para quem uma regra de
conduta pode ser eticamente aceita se for universal, isto é, se tiver validade tanto para o
agente como para todos os outros seres racionais. Conforme explica Eugênio Bucci,
a conseqüência do ato já não importa. O que importa é o que o ato se
revista das características de um imperativo categórico universal,
quer dizer, que o ato se apóie em princípios que tenham a mesma
validade para todos. (...) Dizer a verdade é um autêntico imperativo
categórico kantiano, pois corresponde a um princípio passível de
universalização. Se ninguém mentir, tanto melhor. Pois bem: para o
jornalista, dizer a verdade é um imperativo categórico fundador.
Azar das conseqüências (2000, p.22).
Partindo deste pressuposto, subentende-se que não é por ser empregado da iniciativa
privada que o jornalista de assessoria de imprensa tem maior ou menor obrigação de ser ético
em relação ao jornalista das redações, até porque o jornalista das redações também está sujeito
aos mesmos dilemas éticos ao se deparar com exigências e critérios dos donos do jornal no
qual trabalha. Ou seja, primar pela verdade é obrigação de assessores, jornalistas e de
qualquer profissional no mundo do trabalho.
Apesar de obrigações iguais, alguns autores consideram que talvez seja mais difícil
para o jornalista da assessoria de imprensa exercitar a ética, pois ele deve cultivar duas
lealdades: “à sociedade, como jornalista que é, e à instituição, como seu servidor” (CHAGAS
in DUARTE, 2002, p.211-212).
Para criar uma situação hipotética, Chagas usa o exemplo do caso watergate a fim
de esclarecer os limites éticos do jornalista assessor. O que um assessor deve fazer diante do
assédio de denúncias de que o candidato ao qual serve participou de operações pouco
ortodoxas, destinadas a destruir um concorrente a qualquer custo, utilizando de recursos
23
www.ascomemdebate.com.br, acessado em 10/03/2008
47
escusos como espiões, grampos telefônicos e assaltantes? Para esta situação delicada, o autor
defende que
Se puder, e se não estiver mentindo, o jornalista deve demonstrar ter
sido a operação criminosa uma iniciativa de pessoas e de grupos que
agiram à revelia da instituição ou do candidato. Dando o maior dos
seus esforços para tornar clara a não-participação dos em quem
confia. (...) Pode até calar-se diante das indagações que deixariam
mal o candidato e a instituição. (...) Agora, se de sua atenção na
assessoria de imprensa o jornalista tiver concluído pela existência do
crime, da falha, da culpabilidade dos que deve promover, lhe
restará uma saída: afastar-se. (In DUTRA, 2002, p.213).
Dias (1994), por sua vez, entende que a melhor maneira de evitar os conflitos éticos
é deixar o empregador plenamente ciente das obrigações do assessor de imprensa como
facilitador dos veículos de imprensa, e não da empresa contratante. Vera chega a apoiar a
idéia de que são as próprias assessorias que deveriam dar em primeira mão também as más
notícias de seus clientes, com o objetivo de evitar os costumeiros denuncismos que esquentam
as pautas diárias dos jornais.
Isso não significa, entretanto, que tudo deva ser dito à imprensa, que
todos os segredos empresariais devam ser desvendados nas páginas
dos jornais, sejam elas impressas ou eletrônicas. Não. Estabelecer
esse canal de mão dupla significa ter uma relação franca e objetiva
com o meio jornalístico a fim de possibilitar, inclusive, explicar o
motivo para, em um dado momento, a empresa não poder se
pronunciar sobre um determinado assunto. (DIAS, 1994, p.6).
É claro que, na prática, esta relação está longe de acontecer. Assim como muitos
assessores de imprensa continuam a fazer papel de defensores dos seus assessorados, muitos
veículos aceitam este papel sem questionar. Wilson da Costa Bueno (2005) faz uma dura
crítica a esta realidade quando diz que
muitos veículos jornalísticos, que não estão num recanto perdido do
País, mas acomodados em salas refrigeradas com vistas para a praia
de Copacabana, para a Avenida Paulista ou para as marginais de São
Paulo, andam fazendo o mesmo: confundindo informação com
propaganda (não a boa propaganda, mas a de gosto e ética
discutíveis), produzindo os malditos “publieditoriais” e “projetos de
mercado”, com a cumplicidade de agências e assessorias que mais
parecem advogados de porta de cadeia (BUENO, 2005, p.63-64).
Fora os desvios éticos da profissão, hoje o trabalho realizado pelas assessorias de
imprensa no Brasil tem sido bastante valorizado nas redações. Se em alguns casos o assessor é
visto como um obstáculo a ser superado, em outros o profissional é encarado como um
facilitador, um parceiro (mesmo que não autêntico) a postos para colocar as fontes de
informação em contato com os repórteres o mais rápido possível (BUENO, 2005).
48
2.5 - As assessorias de imprensa frente ao telejornalismo
Thompson denomina como bem simbólico toda e qualquer forma simbólica a qual
foi atribuído um valor econômico. Ele observa que algumas valorizações levam maior peso do
que outras em função do indivíduo que as oferece e da posição da qual fala; e alguns indivíduos estão
em uma melhor posição do que outros para oferecer valorizações e, se for o caso, impô-las” (1990, p.
204).
A história e o contexto tanto das assessorias de imprensa quanto do telejornalismo
brasileiros se enquadram na teoria de Thompson, pois estão intrinsecamente ligados à história
política e econômica do Brasil, ou seja, aos poderes dominantes de cada período.
Na época da introdução da televisão no País a economia se abria ao mercado dos
Estados Unidos, adotando o modelo americano para realizar as produções televisivas
nacionais. No período da ditadura militar, a censura limitou os meios de comunicação e fez do
governo a principal fonte de informação dos telejornais, regrando e fiscalizando tudo que
atentasse contra o interesse dos militares por meio de seu Departamento de Comunicação e
Relações Públicas.
Após a redemocratização, no final da década de 80, uma censura velada foi exercida
pelo poder econômico das empresas privadas em acordo com interesses políticos, que até hoje
determinam o grau de legitimação dos bens simbólicos. Na órbita desta relação entre os
poderes político e econômico com a mídia, a história do telejornalismo se entrelaça com a da
assessoria de imprensa no momento em que a técnica televisiva é disseminada pelas novas
tecnologias.
Este fator se deve em parte pela democratização dos meios tecnológicos e pelo
advento da internet, mas também pelo fato de o mercado televisivo estar totalmente
monopolizado, cada vez mais concorrido e saturado, o que implica em baixos salários para
grande parte dos jornalistas e profissionais de televisão.
Sem perspectiva de crescimento ou de melhora financeira, a saída para muitos
profissionais do jornalismo foi oferecer seus serviços às assessorias de imprensa e qualificar a
produção de informações com o objetivo de atrair as redações televisivas. Assim,
cinegrafistas, editores, produtores e repórteres encontraram nos departamentos de
comunicação de governos e empresas privadas um novo fôlego ante a desvalorização imposta
pela saturação do mercado.
49
Como visto anteriormente, existem critérios que compõem uma linguagem comum
entre jornalistas e assessores de imprensa. No caso da televisão, esta linguagem entrelaça-se
com a necessidade da construção de bens simbólicos constituídos de imagens em movimento.
O trabalho do assessor de imprensa, a grosso modo, consiste em inserir o
assessorado no que Tuchman (TRAQUINA, 2005) chama de “rede noticiosa”, a cadeia
formada por jornalistas e fontes noticiosas no seio da sociedade. Mauro Wolf (1987) destaca
que esta rede de fontes estabelecida com os órgãos de informação reflete, por um lado, a
estrutura social e de poder existente e, por outro, organiza-se a partir das exigências dos
procedimentos produtivos.
Teoricamente, para os jornalistas, qualquer pessoa envolvida, conhecedora ou
testemunha de determinado acontecimento ou assunto pode ser uma fonte de informação.
Mas, segundo Traquina (2005), as fontes também são, geralmente, pessoas interessadas. Por
isto, é necessário avaliar a fiabilidade da informação, e os jornalistas se utilizam para isto de
diversos critérios de avaliação desta fonte, como autoridade, produtividade e credibilidade.
O jornalista pode utilizar a fonte mais pelo que é do que pelo que
sabe. A maioria das pessoas acredita na autoridade da posição.
Quanto mais prestigioso for o título ou a posição do indivíduo, maior
será a confiança das pessoas na sua autoridade. Chama-se a isso a
hierarquia da credibilidade. (TRAQUINA, 2005, p.191)
A autoridade da fonte é um critério fundamental para os jornalistas. O fator de
respeitabilidade refere-se justamente à preferência em fazer referência às fontes oficiais ou
que ocupam posições institucionais de autoridade. Diante deste panorama, cabe ao assessor
colocar seu assessorado em disputa com as fontes oficiais de forma a torná-lo também uma
fonte de respeito, autoridade e credibilidade.
Para tanto, o assessor faz uso dos seus conhecimentos sobre a rotina do trabalho
jornalístico, bem como das predileções dos jornalistas por determinadas pautas e fontes. A
idéia é aproximar o assessorado dos critérios valorizados dentro das redações por meio de
construtos simbólicos remetidos aos meios de comunicação, como press-releases
24
, sugestões
de pauta, e-mails e contatos telefônicos.
No caso da televisão, a valorização da fonte está atrelada ao potencial de imagem
que ela proporciona. Como bem exemplificou José Mitchel, pauteiro do Jornal do Almoço,
24
Texto produzido por assessores de imprensa em linguagem jornalística, de maneira a informar o jornalista da
redação sobre determinada pauta na tentativa de atraí-lo para um cobertura.
50
“não adianta apenas sugerir uma fonte sem proporcionar imagens que ilustrem o que esta
fonte está dizendo”
25
.
Segundo Wolf, a notícia televisiva é resultado de um processo organizado, que
implica uma perspectiva prática sobre os eventos. Ela está estreitamente ligada aos processos
que padronizam e tornam rotineiras as práticas de produção, mesmo que o produto os
acontecimentos do mundo seja uma matéria-prima de natureza extremamente variável e
imprevisível (2005, p.196-197).
Hierarquicamente, participam do processo de produção de um telejornal o diretor
de jornalismo, o editor-chefe, o editor-executivo, as chefias de produção, a reportagem e a
redação. O diretor de jornalismo é responsável editorialmente pelo programa e todos os
profissionais estão subordinados a ele. O editor-executivo é quem finaliza o telejornal
(MACIEL, 1995). O editor-chefe controla as editorias, revisa os textos, a palavra final
sobre o que entra no programa (seguindo a linha editorial da emissora) e faz a avaliação final
do produto em conjunto com os outros editores.
Já o chefe de produção comanda os editores de texto e de imagens – que finalizam e
editam as reportagens que serão exibidas aos telespectadores. O chefe de reportagem
coordena as equipes de reportagem, dando orientações e escolhendo quais delas devem cobrir
os diferentes acontecimentos (YORKE, 1998). Geralmente, o chefe de reportagem tem
auxiliares, como sub-chefes e uma equipe de produtores. Ele também chefia os repórteres,
pauteiros e produtores – todos com a função de prover o veículo de informação
(BITTENCOURT, 1993).
A chefia de reportagem é a parte mais importante do
levantamento e da produção de matérias para o telejornalismo.
É, pode-se dizer, o coração de todo o processo de produção de
notícias com imagens e entrevistas, na retaguarda e no palco
da ação. [...]É deste setor que parte a decisão final de cobrir
ou não um determinado assunto. O responsável pela chefia, de
acordo com as necessidades dos editores-chefes dos telejornais
e em concordância com a Direção de Jornalismo, é quem
organiza a cobertura diária dos assuntos pautados, orienta os
jornalistas na maneira adequada de abordar os temas e indica
qual o aspecto deles que interessa naquele momento. Ele tem
também a incumbência de informar aos repórteres qual a
duração aproximada das matérias e também a variação
possível para as suas entradas ao vivo. (SQUIRRA, 1990, p.
83)
25
Nota do autor, conforme entrevista do Apêndice B
51
As escolhas dos assuntos que serão veiculados no telejornal são resultado de
reuniões entre produtores, editores, chefe de reportagem, chefe de redação e diretor de
telejornalismo. Depois, é decidida a ordem, a duração, e a divisão em blocos das reportagens
que vão ao ar (MACIEL, 1995).
Conhecedor destas rotinas, o assessor de imprensa, na teoria, sabe que o critério de
seleção do que é notícia é muito particular em televisão. A idéia de que “uma imagem vale
por mil palavras” é ainda uma das principais prerrogativas da TV. No entanto, também é
sabido que outros fatores são decisivos para as escolhas feitas pelos editores de telejornais,
como os aspectos políticos, econômicos, culturais, psicológicos e sociais.
O número de informações que chegam às redações através de press-releases,
revistas, jornais, fac-símiles, serviços de escutas, folhetos, telefonemas de telespectadores, e
rondas junto aos órgãos públicos é muito grande. Assim, o chefe de reportagem verifica
criteriosamente os acontecimentos que possam ser transformados em matérias televisivas, se
vale a pena enviar uma equipe até o local tendo em vista que os custos operacionais da TV
são muito altos. (BITTENCOURT, 1993).
Com o conhecimento destes processos, as assessorias de imprensa elaboram
estratégias de forma que seus materiais sejam encarados dentro das expectativas dos
jornalistas. Embora as redações tenham variadas fontes de informação para elaboração de
pautas, a assessoria de imprensa destaca-se por ser fruto do trabalho de um profissional
consciente dos interesses e das rotinas que imperam nas redações.
Tendo ciência dos modos de produção de um telejornal e dos objetivos de uma
assessoria de imprensa, faz-se necessário entender de que forma a relação entre assessores e
jornalistas ocorre na prática. Para tanto, é imperativo recolocar esta pesquisa no recorte
anteriormente proposto, junto aos telejornais selecionados.
Para entender a influência das assessorias de imprensa nos telejornais, é preciso
compreender como os “jornalistas assessores” conseguem penetração para eleger suas pautas
dentro das redações, bem como detectar que valores de noticiabilidade orientam as equipe de
reportagem. O conhecimento das regras do jornalismo e, mais especificamente, da televisão, é
um ponto crucial neste processo, que é o que veremos a seguir.
52
2.6. As assessorias de imprensa sob a ótica dos telejornais gaúchos
Uma pesquisa realizada em 2003 pelo Comunique-se, durante um Congresso de
Jornalismo Empresarial em São Paulo, revelou que a maioria dos jornalistas da imprensa de
hoje vêem sem preconceito a atividade de assessoria (BUENO, 2005, p. 72-73), ao contrário
do que acontecia na época do jornalismo “chapa branca”, como vimos anteriormente.
A reclamação maior, segundo a pesquisa, não é o posicionamento do assessores,
mas sim o excesso de material sem qualidade, sem foco, e a falta de conhecimento por parte
das assessorias sobre a dinâmica de funcionamento dos veículos.
Da parte das assessorias, a reclamação é que os telejornais, ao contrário de outras
mídias, não dão os devidos créditos às fontes sob a alegação da imparcialidade. Bueno (2005)
cita o exemplo da Rede Globo, que utiliza fontes de instituições privadas mas não as credita
da forma adequada, citando a empresa.
Evidentemente, a Globo tem uma explicação para este equívoco:
“como se trata de um programa jornalístico, identificar a fonte
(sobretudo uma empresa) significa fazer propaganda gratuita”. Logo,
não se permite fazer isto na “casa” (BUENO, 2005, p.81).
A postura é considerada hipócrita por Bueno, pois não se pode atribuir à opinião de
um executivo de determinada empresa a mesma opinião de todos os empresários do
segmento.
As críticas específicas de ambos os lados, no entanto, são encaradas como “parte do
jogo”. O relacionamento entre assessores de imprensa e jornalistas, a priori, é complexo, pois
pode oscilar entre cooperação e conflito num curto espaço de tempo, sendo que um sempre
vai precisar do outro para que a rede noticiosa continue a funcionar.
Os dados coletados em entrevistas com editores, chefes de reportagem e pauteiros
dos telejornais pesquisados revelam uma postura similar nas redações gaúchas. A maioria dos
profissionais consultados entende que, em maior ou menor grau, o papel desempenhado pelos
assessores de imprensa é de parceria, mas o profissional ao mesmo tempo é visto com cautela.
Esta relação se reflete em alguns números citados pelos entrevistados. No Jornal do
Almoço, por exemplo, José Pedro Villalobos afirma que 10% da produção do programa é
oriunda de materiais enviados por assessorias de imprensa. Isto sem contar o auxílio dado por
assessores na obtenção de fontes para pautas surgidas dentro da própria redação
26
.
26
Nota do autor, conforme entrevista do Apêndice A
53
Já no SBT Rio Grande, que possui uma equipe reduzida e estrutura inferior, Simone
Muller e Tatiana Mocellin, produtoras do telejornal, atribuem a influência das assessorias de
imprensa em 30% de tudo o que é produzido pelo programa. No TVE em Dia o chefe de
reportagem Vitor Dalla Rosa acredita que esta influência chegue a até 40%, também sem
contar o auxílio dos assessores quando estes são procurados pelos jornalistas
27
.
Apesar dos indicadores, nenhum dos entrevistados assumiu qualquer dependência
de seus veículos em relação às assessorias de imprensa. Maria Emília Portella, editora-chefe
do TVE em Dia, com 27 anos de atuação no mercado televisivo, também nega esta
dependência por parte do programa no qual trabalha. Porém, é mais cautelosa quando fala do
telejornalismo de uma maneira geral.
A TVE e os grandes veículos têm estrutura para se manter numa
suposta ausência das assessorias de imprensa. Agora no caso da
imprensa do interior a realidade é diferente. Lá os veículos
sobrevivem por causa das assessorias de imprensa, seja de qual meio
for. Mas onde existem empresas consolidadas, os veículos nunca se
tornarão dependentes das assessorias de imprensa. Não vai existir um
momento do jornalismo brasileiro em que as assessorias vão
comandar as redações. É claro que existe um comodismo, mas que
ocorre por dois motivos. Ou é provocado por uma faixa de
profissionais que estão desiludidos com a carreira, ou por aqueles
muito jovens, que estão chegando sem muita certeza do que estão
fazendo, que chegam ao jornalismo pelo glamour, e que se retraem
diante do trabalho
28
.
Em Porto Alegre, a profissão é mal vista quando desempenhada de maneira a
proteger ou blindar o assessorado quando há a inversão de interesses, onde a imprensa é quem
busca a fonte. É o caso de pautas esportivas que necessitam de entrevistas com os jogadores
dos clubes de futebol, um exemplo citado tanto por José Pedro Villalobos, editor-chefe do
Jornal do Almoço, quanto por Jorge Seadi, diretor de jornalismo da TVE
29
. Para Villalobos
o assessor de imprensa teria que ser em tese um facilitador, o cara
que faz o meio de campo entre a empresa, entre o órgão público,
entre a instituição e os veículos de comunicação, e muitas vezes, isto
até notadamente na questão do esporte, dos clubes de futebol, o
assessor de imprensa age quase como se fosse um RP do clube ou da
instituição. Ele age mais preocupado em defender interesses desta
instituição do que propriamente em fazer o meio de campo e agendar
uma entrevista, passar informações sobre um novo contratado do
clube ou sobre o novo diretor. Claro que isto vale também para
outras áreas, como a área política, onde as assessorias acabam
também assumindo este caráter de defesa da sua secretaria, do seu
órgão público. Eu acho um desvirtuamento, mas também sei por outro
27
Nota do Autor., conforme entrevistas dos Apêndices C, E e F
28
N.A., conforme entrevista do Apêndice C
29
N.A., conforme entrevistas dos Apêndices A e D
54
lado que muitas vezes isto é exigido do profissional, e esta pode ser a
diferença entre ter o emprego ou não ter o emprego. E aí, é claro, não
vou condenar ninguém por fazer isto.
30
Jorge Seadi, profissional mais antigo em atividade entre os entrevistados, com mais
de 35 anos de atuação no telejornalismo, encara o assessor de imprensa mais como um
obstáculo do que como um parceiro. Ele entende que
as assessorias de imprensa funcionam como intermediárias para
atender às solicitações dos jornalistas e marcar as entrevistas com as
fontes que assessoram. E isto pode ser bom e ruim, dependendo do
caso. Antigamente, (...)o mérito de conseguir as entrevistas era todo
do repórter. Hoje existe o filtro das assessorias de imprensa, que na
maioria das vezes, atrapalha, barra o trabalho dos jornalistas. No
futebol isto é bastante evidente. Hoje o assessor escolhe que jogador
vai falar, marca uma coletiva e todos os veículos ficam com suas
matérias parecidas. Por outro lado as assessorias têm facilitado
bastante nas secretarias e órgãos públicos. Ou seja, a intermediação,
quando funciona a favor da imprensa, é boa. Às vezes a figura pública
não entende a nossa insistência, desconfia, e o assessor ajuda a
desmistificar a urgência da televisão.
31
No SBT Rio Grande, único dos telejornais pesquisados que não tem cobertura
esportiva externa (exceto comentários de cronistas esportivos sobre imagens cedidas por
outras emissoras), a relação com as assessorias de imprensa parece mais harmoniosa, apesar
de também não raras vezes ser problemática. Simone Müller, jornalista que acumula os cargos
de produtora e editora do turno da tarde, costuma dizer que as assessorias são um “mal
necessário”. Para ela
muitos lugares onde antes era difícil conseguir a informação, hoje já
é bem mais fácil. Em alguns lugares os assessores de imprensa
conseguem abrir portas que antes era impensável, pois fazem um
trabalho de conscientização dos seus assessorados da importância de
serem transparentes com a opinião pública.
32
As pesquisas realizadas nas três redações mostram que os telejornais recebem os
materiais enviados pelas assessorias de imprensa praticamente do mesmo jeito. Na maioria
dos casos é por e-mail, em forma de release, e manchetado de acordo com os critérios
jornalísticos de noticiabilidade. Segundo José Mitchel, pauteiro do Jornal do Almoço, que
chega a receber quase 600 e-mails por dia
33
, ainda existe muita dificuldade das assessorias de
imprensa do Rio Grande do Sul em lidar com o telejornalismo justamente pela prática de
disseminar informações indiscriminadamente, sem considerar as peculiaridades de cada
30
Nota do Autor, conforme entrevista do Apêndice A
31
N.A., conforme entrevista do Apêndice D
32
N.A., conforme entrevista do Apêndice F
33
N.A., conforme entrevista do Apêndice B
55
veículo e, em particular, da televisão. O problema apontado por Mitchel também é averiguado
por Bueno (2005, p.73) como sendo uma prática comum em todo o Brasil.
Esta massificação de informações por e-mail é vista pelos próprios profissionais de
redação como um fator negativo tanto no trabalho das assessorias de imprensa quanto no uso
da internet como fonte de informação. Para Simone Müller, a disseminação massiva de
informações
por um lado democratizou o acesso às fontes entre os veículos, mas
por outro tornou os jornais muito parecidos. Principalmente nas
denúncias. Alguém vai lá, grava alguma coisa e todos recebem.
Acaba que todo mundo faz a mesma matéria. Todo mundo usa
imagem de câmeras de vigilância. Todo mundo usa a denúncia de
algum deputado ou do vice-governado. E assim todos têm que ter,
pois quem não der a notícia fica por fora. Para quem acompanha
todos os jornais, ficou sem graça.
34
A equidade editorial entre os telejornais é atribuída por Jorge Seadi como uma
conseqüência direta do trabalho das assessorias de imprensa. Ele recorda que, em determinada
época
cada repórter tinha suas fontes. A equipe da TVE tinha seus contatos
diretos, que eram diferentes dos contatos diretos da RBS, que se
diferenciavam dos contatos de outros veículos e assim por diante.
Hoje os assessores difundem as informações de forma homogênea.
Todos recebem a mesma informação e conversam com as mesmas
fontes.
35
Neste contexto, algumas assessorias de imprensa tentam lidar com o meio
televisivo estruturando departamentos de produção audiovisual para não apenas fornecer
possibilidades de pautas, mas conteúdos prontos e editados, de forma a “facilitar” ainda mais
o trabalho dos jornalistas das redações. A prática tem se mostrado eficiente principalmente na
divulgação do trabalho de órgãos públicos, como destaca Tatiana Mocellin, produtora e
editora do turno da manhã do SBT Rio Grande. Conforme ela descreve, às vezes
pode ser complicado de chegar a tempo em alguma pauta e
conseguir imagem. Quando sabe-se que uma equipe própria da
fonte perdida produziu algo, como uma coletiva do prefeito ou
da governadora do Estado, sempre vale ligar e tentar alguma
coisa.
36
O uso deste tipo de material, porém, ainda causa controversa entre os profissionais
gaúchos. José Pedro Villalobos garante que aboliu o uso de imagens cedidas por órgãos
34
N.A., conforme entrevista do Apêndice F
35
N.A. conforme entrevista do Apêndice D
36
Nota do Autor, conforme entrevista do Apêndice E
56
públicos e privados, que segundo ele próprio, há quatro anos era comum na redação do Jornal
do Almoço.
Esta foi uma decisão editorial, uma decisão de empresa, de procurar
o máximo possível não ser dependente deste tipo de material. E hoje
em dia para dizer que raramente se utiliza algum material cedido
por assessoria de qualquer órgão público ou privado. se for
alguma coisa muito importante. Mas se foi importante e a gente
perdeu aí é porque temos algum problema na produção do processo, e
o dever de jornalista não está sendo cumprido como deveria
37
.
O temor de parecer favorável a determinado grupo, pensamento ou ideologia é
muito presente no contexto do telejornalismo gaúcho, a exemplo do que também acontece em
nível nacional, como constatou Bueno (2005), quando analisou a postura da Rede Globo
diante das fontes de informação.
Talvez esta pesquisa ajude a desvendar se esta é realmente uma preocupação
relevante.
37
Nota do.Autor, conforme entrevista do Apêndice A
57
3 IDEOLOGIA, UMA LINGUAGEM EM COMUM
As características da linguagem telejornalística, muito particulares e específicas, são
apontadas por diversos autores como uma fórmula precisa, que visa atingir um objetivo bem
definido: a audiência. Antônio Cláudio Brasil, por exemplo, afirma que os ingredientes de um
telejornal “incluem pautas previsíveis, assuntos tratados sempre da mesma maneira e uma
constante superficialidade dos conteúdos das matérias produzidas” (2002, p.174), tudo porque
a produção de notícias necessita de um ritmo industrial. Segundo ele,
Com a sofisticação dos métodos de pesquisa de opinião, a televisão
passou a transformar o espetáculo num acontecimento do cotidiano.
Uma mudança profunda no próprio conceito de espetáculo; tudo e
todos se resumem a um processo sistemático de transformação
espetacular e sensacionalista. (2002, p. 304).
Na mesma linha, Sebastião Squirra faz uma crítica a sobreposição do objetivo de
informar pelo objetivo de vender do telejornalismo diário. Para ele,
O que inibe veículos que poderiam ser difusores de conhecimento,
como o jornal, o rádio e a televisão, é que, motivados basicamente
por interesses capitalistas, eles despersonalizaram seu principal
‘produto’: a notícia. As notícias se tornaram produtos de consumo,
como qualquer outro colocado à disposição da população nos pontos
de acesso existentes (1990, p. 13).
O tratamento da notícia como produto seria o resultado da espetacularização dos
acontecimentos, que segundo Brasil (2002) é induzida pelos índices de audiência. Como
observou o autor
Com a sofisticação dos métodos de pesquisa de opinião, a televisão
passou a transformar o espetáculo num acontecimento do cotidiano.
Uma mudança profunda no próprio conceito de espetáculo; tudo e
todos se resumem a um processo sistemático de transformação
espetacular e sensacionalista. (2002, p.304)
58
Apesar de ter sido potencializado pelos índices de audiência da televisão, o
sensacionalismo sempre esteve presente no jornalismo, tanto que foi amplamente pesquisado
e estudado ao longo da história dos meios de comunicação de massa.
Sérgio Caparelli (1982) chegou a criar algumas categorias a partir de conceituações
de diversos autores sobre o telejornalismo, onde além do sensacionalismo, encontram-se
também a descontextualização, a diluição ou banalização de fenômenos, a etiquetagem de
personagens e outras características específicas do meio.
Mas para esta pesquisa serão utilizados conceitos um pouco mais críticos, mais
profundos, que extrapolam as estratégias para alcançar e manter índices de audiência. Aqui a
linguagem televisiva estará ligada aos conceitos que Thompson (1995) formulou acerca da
ideologia. Para ele, a construção de bens simbólicos, não na televisão, mas nos meios de
comunicação de massa em geral, não possuem apenas os fins comerciais que os altos índices
de audiência podem proporcionar. Servem também para, em circunstâncias sócio-históricas
específicas, estabelecer e sustentar relações de dominação.
É através dos meios de comunicação de massa que opera e se propaga a ideologia.
E o telejornalismo, enquanto bem simbólico deste meio, seria um dos agentes mais
legitimadores da ideologia dominante, que no Brasil contemporâneo, como em quase todo o
resto do Mundo, seria a ideologia do mercado e do consumo.
Como visto anteriormente, instituições públicas e privadas têm investido na
contratação de jornalistas para se colocarem estrategicamente na rede noticiosa que abastece
os meios de comunicação. Indiretamente, isto quer dizer que estas instituições não querem
apenas repassar aos meios de comunicação suas idéias. Querem é ser legitimadas como fontes
sobre diversos assuntos e, indiretamente, conquistar o apoio da opinião pública e gerar uma
reserva de boa vontade (NOGUEIRA, 1999).
Esta concepção se alinha ao conceito de ideologia, que de acordo com a formulação
de Thompson, chama a nossa atenção para as maneiras como o sentido é mobilizado a serviço
dos indivíduos e grupos dominantes. Isto é, as maneiras como o sentido é construído e
transmitido pelas formas simbólicas e serve, em circunstâncias particulares, para estabelecer e
sustentar relações sociais estruturadas das quais alguns indivíduos e grupos se beneficiam
mais que outros (THOMPSON, 1995).
Atrelar este conceito ao jornalismo pode parecer estranho num primeiro momento,
por ser o jornalismo a síncope da expressão livre da opinião, uma imprensa independente, o
59
meio mais importante através do qual uma diversidade de pontos de vista poderia ser
expressa. “Por muito tempo, a prática jornalística foi entendida como a manifestação de uma
opinião pública esclarecida, através da qual os abusos do poder do estado praticados por
governos corruptos e tirânicos poderiam ser fiscalizados” (THOMPSON, 1995, p.324).
A defesa do jornalismo como arauto da democracia, no entanto, passou a ser
contestada conforme os avanços das pesquisas científicas sobre comunicação. A conceituação
de Thompson sobre as formas de operação da ideologia é uma destas contestações, pois ela
identifica nos meios de comunicação de massa diversos modos sob os quais a ideologia pode
operar.
Apesar de esta pesquisa ser bastante clara no objetivo de identificar a influência de
assessorias de imprensa no telejornalismo, a simples constatação da presença de órgãos
públicos ou privados nas pautas dos telejornais não seria suficiente para dimensionar esta
influência. É preciso identificar a linguagem que liga assessores de imprensa e jornalistas, que
na concepção desta pesquisa, está solidamente ligada aos modos de operação da ideologia.
Thompson (1995) descreve as formas simbólicas midiáticas como agentes a serviço
da ideologia. Ele entende como “formas simbólicas” um amplo espectro de ações e falas,
imagens e textos, que são produzidos por sujeitos e reconhecidos por eles e outros como
construtos significativos, onde estão inseridas, entre tantas outras, as formas simbólicas
produzidas pelo telejornalismo.
Ao definir ideologia como uma forma de dominação e poder da classe dominante,
estabelecida e sustentada por formas simbólicas de mobilização de sentidos que operam por
meio de estratégias específicas, Thompson acabou também por descrever, não de forma
definitiva, mas propositiva, a linguagem dos meios de comunicação de massa.
Sendo um bem simbólico produzido pelos mass media, o telejornalismo é costurado
pela ideologia dominante, que no conceito de Thompson, pertence à sociedade de consumo,
de mercado, a ideologia do capitalismo que acelera a tecnologia e a massificação de bens
simbólicos.
Thompson afirma, em sua concepção de ideologia, que ela está primeiramente
interessada nas maneiras como as formas simbólicas se entrecruzam com as relações de
poder, “nas maneiras como o sentido é mobilizado, no mundo social, e serve, por isso, para
reforçar pessoas e grupos que ocupam posições de poder” (1995, p. 76).
60
Inserido como agente promotor da indústria cultural, o telejornalismo propõe a
ideologia como o sentido mobilizado pelas formas simbólicas que serve para estabelecer e
sustentar relações de dominação, através de um contínuo processo de produção e recepção
destas formas simbólicas no cotidiano (THOMPSON, 1995).
Neste sentido, entende-se que os interesses do telejornalismo, assim como os
interesses privados, antes de qualquer ideal utópico de responsabilidade social e compromisso
com a verdade, são perpassados pela lógica da dominação, ou seja, pela lógica de mercado.
Thompson descreveu cinco modos gerais através dos quais a ideologia pode operar:
legitimação, dissimulação, unificação, fragmentação e reificação. Estes modos de operação
serão as categorias que possibilitarão identificar similitudes entre os interesses de assessores
de imprensa e o trabalho dos jornalistas de televisão. Elas são as características que podem
indicar de que forma as assessorias de imprensa influenciam o telejornalismo.
3.1 Legitimação
Segundo as idéias de Thompson, as relações de dominação podem ser sustentadas
pelo fato de serem representadas como legítimas, isto é, como justas e dignas de apoio.
“Weber distinguiu três tipos de fundamentos sobre os quais
afirmações de legitimação podem estar baseadas: fundamentos
racionais (que fazem apelo à legalidade de regras dadas),
fundamentos tradicionais (que fazem apelo à sacralidade de
tradições imemoriais) e fundamentos carismáticos (que fazem
apelo ao caráter excepcional de uma pessoa individual que
exerça autoridade) (THOMPSON, 1995, p.82).
Ao recorrer às idéias de Max Weber, Thompson estabelece três estratégias típicas
de construção simbólica de legitimação, que aqui aplicamos como sendo também estratégias
presentes no telejornalismo: racionalização, universalização e narrativização.
A racionalização preconiza uma cadeia de raciocínio que procura defender, ou
justificar, um conjunto de relações, ou instituições sociais, e com isso persuadir uma
audiência de que isso é digno de apoio (THOMPSON, 1995).
a estratégia de universalização apresenta acordos institucionais, que servem aos
interesses de alguns indivíduos, como sendo acordos a serviço dos interesses de todos. “Esses
acordos são vistos como estando abertos, em princípio, a qualquer um que tenha a habilidade
e a tendência de ser neles bem sucedido” (THOMPSON, 1995, p.83).
61
Por sua vez, a narrativização legitima o presente como parte de uma tradição eterna
e aceitável. Thompson lembra que histórias são contadas tanto pelas crônicas oficiais como
pelas pessoas no curso de suas vidas cotidianas, servindo para justificar o exercício de poder
por aqueles que o possuem e servindo, também, para justificar, diante dos outros, o fato de
que eles não têm poder (THOMPSON, 1995).
3.2 Dissimulação
Thompson (1995) diz que relações de dominação também podem ser estabelecidas
e sustentadas pelo fato de serem ocultadas, negadas ou obscurecidas, ou pelo fato de serem
representadas de uma maneira que desvie a atenção, ou passe por cima de relações e
processos já existentes.
Isto pode ocorrer por meio de três estratégias típicas de construção simbólica de
dissimulação, as quais o autor denomina como deslocamento, eufemização e tropo, estratégias
estas também perceptíveis na construção simbólica do telejornalismo.
A estratégia de deslocamento fica constatada quando “um termo costumeiramente
usado para se referir a um determinado objeto ou pessoa é usado para se referir a um outro, e
com isso as conotações positivas ou negativas do termo são transferidas para outro objeto ou
pessoa” (THOMPSON, 1995, p.83).
A eufemização se daria por meio de uma tentativa de despertar valoração positiva
para ações, instituições ou relações sociais que são escritas ou redescritas com este propósito.
Thompson cita exemplos bastante conhecidos deste processo, como a supressão violenta de
protestos, que são descritos como “restauração da ordem”; prisões ou campos de concentração
que são descritos como “centros de reabilitação”; e desigualdades institucionalizadas,
baseadas em divisões étnicas, que são descritas como “desenvolvimento paralelo”. Para o
autor, “a eufemização pode se dar através de uma mudança de sentido pequena ou mesmo
imperceptível” (THOMPSON, 1995, p.84).
A última estratégia de dissimulação Thompson denomina de tropo, que seria o uso
figurativo da linguagem ou, mais em geral, das formas simbólicas. Entre as formas mais
comuns de tropo estão a sinédoque, que envolve a junção semântica da parte e do todo, como
se alguém usasse o termo que está no lugar de uma parte a fim de se referir ao todo, ou usa
um termo que se refere ao todo a fim de se referir a uma parte; a metonímia, que envolve uso
de um termo que toma o lugar de um atributo, de um adjunto, ou de uma característica
62
relacionada a algo para se referir à própria coisa (embora não haja conexão necessária entre o
termo ou à coisa à qual alguém possa estar se referindo); e a metáfora, que implica na
aplicação de um termo ou frase a um objeto ou ação à qual ele, literalmente, não poderia ser
aplicado, mas o é para dissimular relações sociais através de sua representação, ou da
representação de indivíduos e grupos nelas implicados, como possuidoras de características
que elas, literalmente, não possuem, acentuando, com isso, certas características às custas de
outras e impondo sobre elas um sentido positivo ou negativo.
3.3 Unificação
Construir, no nível simbólico, uma forma de unidade que interliga os indivíduos
numa identidade coletiva, independente das diferenças ou divisões que possam separá-los
também é uma estratégia para estabelecer e sustentar relações de dominação.
Na construção de bens simbólicos, a unificação utiliza-se de dois tipos de estratégia
para operar: a padronização e a unidade.
Seguindo as proposições de Thompson (1995), na padronização as formas
simbólicas são adaptadas a um referencial padrão, que é proposto como um fundamento
partilhado e aceitável de troca simbólica. Na construção simbólica do telejornalismo, é
possível perceber a unificação por padronização ao se estabelecer que o dialeto carioca seja a
linguagem padrão do telejornalismo brasileiro.
a estratégia de unidade envolve a construção de símbolos de unidade, de
identidade e de identificação coletivas, que são difundidas através de um grupo, ou de uma
pluralidade de grupos. Aqui pode-se utilizar como exemplo a retratação feita pelo
telejornalismo em época de Copa do Mundo, onde as diferenças regionais, econômicas,
políticas e sociais dos brasileiros são suplantadas pela representação do brasileiro através da
seleção brasileira de futebol.
3.4 Fragmentação
Ao contrário da unificação, segmentar indivíduos e grupos que possam ser capazes
de se transformarem num desafio real aos grupos dominantes, bem como dirigir forças de
oposição em direção a um alvo que é projetado como mau, perigoso ou ameaçador também
podem ser um modo de operação para estabelecer e manter relações de dominação. Nesta
63
concepção, duas estratégias são identificadas como sendo estratégias típicas de construção
simbólica de fragmentação e, portanto, são também estratégias identificáveis no
telejornalismo: a diferenciação e o expurgo do outro.
Na diferenciação, a ênfase é dada às distinções, diferenças e divisões entre pessoas
e grupos, apoiando as características que os desunem e os impedem de constituir um desafio
efetivo às relações existentes, ou um participante efetivo no exercício do poder.
no expurgo do outro, a estratégia envolve a construção de um inimigo, seja ele
interno ou externo, que é retratado como mau, perigoso e ameaçador e contra o qual os
indivíduos são chamados a resistir coletivamente ou a expurgá-lo. Algo parecido com o que,
segundo Thompson, os nazistas fizeram com comunistas e judeus durante a Segunda Guerra
Mundial.
3.5 Reificação
Retratar uma situação transitória, histórica, como se fosse uma situação
permanente, natural ou atemporal pode contribuir para estabelecer e sustentar relações de
dominação. Neste tipo de construção simbólica, processos são retratados como coisas, ou
como acontecimentos de um tipo quase natural, de tal modo que o seu caráter social e
histórico é eclipsado.
A ideologia como reificação envolve, pois, a eliminação, ou a
ofuscação, do caráter sócio-histórico dos fenômenos ou,
tomando emprestada uma frase sugestiva de Claude Lefort, ela
envolve o restabelecimento da “dimensão da sociedade ‘sem
história’,, no próprio coração da sociedade histórica”
(THOMPSON, 1995, p.87-88).
Quatro estratégias típicas de construção simbólica de reificação são destacadas por
Thompson, as quais também podem ser identificáveis no telejornalismo: naturalização,
eternalização, nominalização e passivização.
A naturalização significa retratar um estado de coisas que seja uma criação social
ou histórica como um acontecimento natural ou como um resultado inevitável de
características naturais, do mesmo modo como, por exemplo, a divisão socialmente instituída
do trabalho entre homens e mulheres pode ser retratada como um resultado de características
fisiológicas nos sexos, ou de diferenças entre sexos.
64
Na estratégia de eternalização, os fenômenos sócio-históricos são esvaziados de
seu caráter histórico ao serem apresentados como permanentes, imutáveis e recorrentes.
Costumes, tradições e instituições que parecem prolongar-se
indefinidamente em direção ao passado, de tal forma que todo
traço sobre sua origem fica perdido e todo questionamento
sobre sua finalidade é inimaginável, adquirindo, assim, uma
rigidez que não pode ser facilmente quebrada (THOMPSON,
1995, p.88).
A nominalização acontece quando sentenças, ou parte delas, descrições da ação e
dos participantes nelas envolvidos, são transformadas em nomes, como quando o
telejornalismo adota falas do tipo “o banimento das importações”, ao invés de “o Primeiro-
Ministro decidiu banir as importações”.
Por sua vez, a estratégia de passivização se dá quando verbos são colocados na voz
passiva, como quando o telejornalismo diz que “o suspeito está sendo investigado”, ao invés
de “os policiais estão investigando o suspeito”.
Thompson destaca que a nominalização e a passivização concentram a atenção do
telespectador em certos temas com prejuízos de outros. “Elas apagam os atores e a ação e
tendem a representar processos como coisas ou acontecimentos que ocorrem na ausência de
um sujeito que produza essas coisas” (THOMPSON, 1995, p. 88).
65
4 ESTRATÉGIA METODOLÓGICA
Sendo o telejornalismo uma construção simbólica significativa, que exige
interpretação, e partindo dos pressupostos teóricos que nos induzem a uma contextualização
sócio-histórica tanto do telejornalismo como da assessoria de imprensa, bem como a uma
análise formal da linguagem jornalística em televisão e o domínio desta linguagem por parte
das assessorias de imprensa, a opção pela Hermenêutica de Profundidade (HP) de John
Thompson é a escolha entendida como mais adequada para embasar a estratégia metodológica
empregada nesta pesquisa.
O enfoque da HP deve aceitar e levar em consideração as maneiras em que as
formas simbólicas são interpretadas pelos sujeitos que constituem o campo-sujeito-objeto, ou
seja, a hermenêutica da vida quotidiana ou da doxa é o ponto de partida primordial para o
enfoque da HP. Esse enfoque deve basear-se, o quanto possível, sobre uma elucidação das
maneiras como as formas simbólicas são interpretadas e compreendidas pelas pessoas que as
produzem e as recebem na sua vida cotidiana. As três fases do enfoque da HP podem ser
descritas como análise sócio-histórica, análise formal ou discursiva, e interpretação-
reinterpretação.
Segundo Thompson (1995), o objetivo da análise sócio-histórica é reconstruir as
condições sociais e históricas de produção, circulação e recepção das formas simbólicas. Para
tanto, são destacados cinco níveis: 1) as situações espaço-temporais, que exige uma
reconstrução dos ambientes onde as formas simbólicas foram construídas ao longo do tempo;
2) os campos de interação, que seriam um conjunto de trajetórias que determinam relações
entre pessoas e trajetórias determinantes ao objeto estudado; 3) as instituições sociais, que
objetiva reconstruir os conjuntos de regras, recursos e relações que moldaram o objeto de
estudo; 4) a estrutura social, que visa estabelecer critérios, categorias e princípios que
66
subjazem as diferenças e assimetrias, dentro das instituições sociais e os campos de interação;
5) os meios técnicos de construção da mensagem e de transmissão, que conferem às formas
simbólicas determinadas características, certo grau de fixidez, certa possibilidade de
participação para os sujeitos que integram o meio (THOMPSON, 1995).
A análise sócio-histórica, bem como todos os seus cinco níveis, está anteposta nos
capítulos 1 e 2. No caso desta pesquisa, foram reconstruídas as condições sociais e históricas
do telejornalismo e das assessorias de imprensa, bem como da forma que as duas áreas se
relacionam no espaço-tempo. Nesta reconstrução, identificou-se os campos de interação que
foram determinantes para a relação hoje existente entre as assessorias de imprensa e as
redações, tanto em nível nacional quanto no recorte regional aqui proposto. Também
delimitou-se as regras, recursos e relações que envolvem as instituições sociais aqui
pesquisadas, no caso a RBS TV, o SBT e a TVE-RS. Nesta contextualização, foi possível
conhecer os critérios, as categorias e os princípios que estruturam socialmente esta relação,
bem como os meios técnicos de construção da mensagem, que aqui não faz referencia
somente ao produto final do telejornalismo, mas à forma como os construtos são elaborados a
partir de contribuições que chegam carregadas de intenções particulares pela internet.
Os objetos e expressões que circulam nos campos sociais, dentre elas as
informações televisivas, são também construções simbólicas complexas que apresentam uma
estrutura articulada. Essa característica, diz Thompson, exige uma segunda fase de análise,
que pode ser descrita como formal ou discursiva. Para realizar tal trabalho ele sugere cinco
tipos de investigação: análise semiótica, da conversação, sintática, narrativa e
argumentativa.
No caso deste trabalho, a técnica utilizada é a análise argumentativa, que o
objetivo é reconstruir e tornar explícitos os padrões de inferência que caracterizam o discurso
comum entre o telejornalismo e as assessorias de imprensa. Segundo Thompson (1995), a
análise argumentativa é útil para o estudo de falas ou discursos apresentados em forma de
argumento, uma série de proposições ou asserções, tópicos ou temas encadeados,
conjuntamente, de uma maneira mais ou menos coerente e procurando, muitas vezes com a
ajuda de adornos retóricos, persuadir uma audiência. Desta forma, a análise formal ou
discursiva serve para identificar as características estruturais das formas simbólicas que
facilitam a mobilização do significado.
67
Na exploração do material, ocorrerá a codificação dos dados brutos das mensagens
jornalísticas, através do recorte, da enumeração e da agregação, de forma a elaborar uma
descrição das características pertinentes ao conteúdo desta pesquisa.
Diante dos resultados, será possível então passarmos para a terceira e última fase do
enfoque da HP, que Thompson chama de interpretação-reinterpretação. A interpretação
implica um movimento novo de pensamento, ela procede por síntese, por construção criativa
de possíveis significados. Segundo o autor,
por mais rigorosos e sistemáticos que os métodos de análise
formal ou discursiva possam ser, eles não podem abolir a
necessidade de uma construção criativa do significado, isto é,
de uma explicação interpretativa do que está representado ou
do que é dito." (1995, p. 375).
Com isso em mente, é possível distinguir três aspectos ou campos objetivos que
Thompson denomina de "enfoque tríplice" para descrever as formas simbólicas mediadas
pelos meios de comunicação de massa. O primeiro aspecto é o da produção e transmissão ou
difusão das formas simbólicas, o segundo é a construção da mensagem dos meios de
comunicação e o terceiro são a recepção e a apropriação das mensagens dos meios. Sendo
assim, Thompson afirma que
a análise da produção e transmissão é essencial à interpretação do
caráter ideológico das mensagens, pois ela lança uma luz sobre as
instituições e as relações sociais dentro das quais essas mensagens
são produzidas e difundidas, bem como sobre as afirmações e
pressupostos dos produtores. O estudo da construção das mensagens
é essencial porque ele examina as características estruturais em
virtude das quais elas se constituem em fenômenos simbólicos
complexos, capazes de mobilizar o significado. Finalmente, o estudo
da recepção e a apropriação das mensagens é essencial porque ele
toma em consideração tanto as condições sócio-históricas em que as
mensagens são recebidas pelas pessoas, como as maneiras como
essas pessoas entendem as mensagens e as incorporam em suas vidas
(THOMPSON, 1995, p. 395-396).
Como o presente trabalho objetiva apenas interpretar de que forma ocorre a
influência das assessorias de imprensa no telejornalismo, e não como esta influência é
percebida pelo telespectador, cabe manter o foco no primeiro aspecto, de produção e difusão
da mensagem.
Esta análise será feita com base em pressupostos teóricos permeados por operações
estabelecidas a partir das rotinas de produção dos telejornais, como o cultivo de fontes de
informação, o tratamento e a relação entre jornalistas e assessores de imprensa, os critérios de
68
seleção de pautas, o peso da imagem nas escolhas dos editores e a maneira como as sugestões
de pautas são tratadas na versão final das matérias que vão ao ar.
Para isto, utilizou-se a observação participante, que é a técnica que permite ao
pesquisador recolher os dados no próprio ambiente que é objeto de estudo através da
observação sistemática de tudo do que acontece, ou de entrevistas e conversas com as pessoas
responsáveis pela produção dos telejornais pesquisados.
A observação participante é orientada por pressupostos teóricos precisos, definidos
pelo investigador (WOLF, 1994). Dessa forma, foi feita a coleta de informações e dados sobre
as rotinas produtivas dos três telejornais pesquisados por pelo menos três dias aleatórios para
cada um deles no período de 21 dias, através da observação do ambiente de produção durante
as reuniões de pauta, momento onde o suposto contato entre assessorias de imprensa e
redação é efetivado pelas escolhas do que vai entrar no telejornal; e também através de
entrevistas com editores e produtores destes telejornais.
O material gravado passou por uma filtragem a partir de dados obtidos pela técnica
da observação participante nas redações dos telejornais pesquisados, que possibilitou
identificar, de forma incontestável, quais as reportagens que se originaram a partir de
sugestões de assessorias de imprensa.
Delimitadas as áreas de análise dentro do período estipulado, com base nos dados
coletados junto às redações, segue-se a segunda fase da Hermenêutica de Profundidade, que
vai mostrar como opera a influência das assessorias de imprensa no telejornalismo.
69
5 A INFLUÊNCIA IDEOLÓGICA NA PRÁTICA
Para proceder com a análise, o material coletado foi organizado de forma a
identificar a fonte geradora das pautas, o bloco em que estas pautas foram inseridas no
telejornal e o tempo destinado a cada uma delas.
Através da observação participante, foram acompanhadas as reuniões de pauta dos
telejornais conforme segue:
Jornal do Almoço: 12/01 (segunda-feira), 14/01 (quarta-feira), 16/01 (sexta-feira)
SBT Rio Grande: 22/01 (quinta-feira), 27/01 (terça-feira) e 29/01 (quinta-feira)
TVE em Dia: 28/01 (quarta-feira), 29/01 (quinta-feira) e 30/01 (sexta-feira)
As datas foram assim escolhidas por divergências de calendário ou por opção das
chefias de cada um dos telejornais. Nestas reuniões, tomou-se nota de todas as pautas
sugeridas pelos participantes, as quais, sempre que possível, tiveram sua origem identificada,
conforme notas dos apêndices G a O.
Partindo-se das datas propostas em comum acordo com os veículos pesquisados
para o acompanhamento das reuniões de pauta, optou-se por analisar imediatamente os
programas do dia seguinte a cada uma destas datas, de maneira a identificar que pautas
efetivamente se tornaram notícias em cada um dos telejornais.
Excetuam-se aqui as edições de sábado do Jornal do Almoço, pelo fato de o SBT
Rio Grande e o TVE em Dia não irem ao ar no final de semana, o que dificultaria qualquer
comparação entre os veículos. Apesar de constar nos apêndices, também iremos desconsiderar
a reunião de pauta do dia 30/01 do TVE em Dia, por ser ela referente à construção das edições
70
dos dias 31/01 e 02/02, datas que não estavam previstas no calendário proposto para esta
pesquisa.
Conforme visto em capítulos anteriores, uma das práticas das assessorias de
imprensa, que vale ressaltar, foi bastante criticada pelos profissionais de televisão
entrevistados durante a pesquisa
38
, é massificar as informações sobre seus assessorados, de
forma que todos os veículos recebam suas sugestões. Diante desta perspectiva, será
considerado para esta análise que toda pauta comprovadamente enviada a uma das três
redações pesquisadas também foi direcionada às outras duas que não tiveram
acompanhamento na respectiva data. Ou seja, se a observação participante realizada no dia 12
de janeiro no Jornal do Almoço constatou que a Assessoria de Imprensa da SMIC enviou uma
pauta para a redação da RBS, será considerado que a mesma pauta também foi direcionada
para as redações do TVE em Dia e do SBT Rio Grande, salvo quando ficar constatada a
exclusividade para qualquer uma das emissoras.
Sendo assim, cabe uma pré-análise dos dados obtidos por meio da observação
participante, que vai delimitar que reportagens serão analisadas posteriormente segundo os
pressupostos de Thompson (1995).
5.1 Discussão de Dados
Como a proposta inicial era analisar os programas subseqüentes às reuniões de
pauta, no período de 12 a 30 de janeiro de 2009, começamos a triagem do material
selecionando edições do Jornal do Almoço, do SBT Rio Grande e do TVE em Dia veiculadas
nos dias 13/01 (terça-feira), 15/01 (quinta-feira), 19/01 (segunda-feira), 23/01 (sexta-feira),
28/01 (quarta-feira), 29/01 (quinta-feira) e 30/01 (sexta-feira).
Os espelhos de todos estes programas estão em anexo, e foram cruzados com as
pautas elencadas nas tabelas de 1 a 9, elaboradas conforme as anotações feitas nas reuniões de
pauta dos três telejornais. As pautas em negrito são sugestões identificadas como sendo
originárias de assessorias de imprensa.
38
Ver Capítulo 2.6
71
Tabela 1 - Reunião JA em 12/01
39
Pauta
Origem
1
Motoqueiros reclamam do valor do seguro
obrigatório para motocicletas
SUGESTÃO EQUIPE
2
Início do Big Brother Brasil para participantes
gaúchos
SUGESTÃO EQUIPE
3
Denúncia sobre cobrança indevida das Casas
Bahia
DENÚNCIA TELESPECTADOR
4
A popularização da esfoliação de pele
SUGESTÃO EQUIPE
5
Os cuidados da família com parentes da 3ª
idade na direção
SUGESTÃO EQUIPE
6
Manifestação de palestinos em Porto Alegre
contra bombardeios de Israel
ESCUTA DE RÁDIO
7
Crise financeira na Ulbra
SUGESTÃO EQUIPE
8
Ministério Público pede providências para
abertura do camelódromo
ASSESSORIA DE IMPRENSA DO MP
Tabela 2 - Reunião JA em 14/01
40
Pauta
Origem
1
Primeira audiência pública sobre a
duplicação da BR 116
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA
FEPAM
2
Entrega do Prêmio Felizardo
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA SMC
3
RS vende o dobro de carros da média
brasileira
ASSESSORIA DE IMPRENSA DO
SINDICATO DOS REVENDEDORES DE
AUTOMÓVEIS DO ESTADO
4
Saldo de apenas três meses no cartão TRI de
ônibus
SUGESTÃO EQUIPE
5
Viaduto da Avenida Nilo Peçanha cheio de
mendigos
SUGESTÃO EQUIPE
6
Assaltos a condomínio. Como evita-los?
SUGESTÃO EQUIPE
39
Conforme Apêndice G
40
Conforme Apêndice H
72
Tabela 3- Reunião JA em 16/01
41
Pauta
Origem
1
Índios prestam vestibular na UFRGS
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA
UFRGS
2
O uso de cinto de segurança em ônibus é
possível?
SUGESTÃO EQUIPE
3
Jogadores do Brasil de Pelotas que nunca
mais poderão jogar em virtude das lesões
SUGESTÃO EQUIPE
4
Vistorias de barcos e preparativos para a
Procissão de Navegantes
ASSESSORIA DE IMPRENSA CÚRIA
METROPOLITANA
5
Entrega da chave da cidade ao Rei Momo
do Carnaval de Porto Alegre
ASSESSORIA DE IMPRENSA SMC
6
Reunião entre metalúrgicos e empresários
sobre demissões na Gerdau
ASSESSORIA DE IMPRENSA DO
SINDICATO DOS METALÚRGICOS DO
RS
7
Reunião para debater a municipalização do
Posto de Saúde Murialdo
ASSESSORIA DE IMPRENSA SMS
9
Portabilidade na telefonia móvel
SUGESTÃO EQUIPE
10
Primeiro final de semana com sol na praia
SUGESTÃO EQUIPE
11
Planeta Atlântida Santa Catarina
SUGESTÃO EQUIPE
Tabela 4 - Reunião SBT Rio Grande em 22/01
42
Pauta
Origem
1
Cidade vazia
SUGESTÃO EQUIPE
2
Túnel da Conceição com infiltração
SUGESTÃO EQUIPE
3
Denúncia contra a Caixa Econômica Federal
de senhora que não consegue FGTS do
marido
DENÚNCIA TELESPECTADOR
4
Preparativos para o carnaval
JORNAIS IMPRESSOS
5
Roubo de peças em hidrantes da capital
JORNAIS IMPRESSOS
41
Conforme Apêndice I
42
Conforme Apêndice J
73
Tabela 5 - Reunião SBT Rio Grande em 27/01
43
Pauta
Origem
1
Polícia Rodoviária Federal recebe reforços
para fiscalizar Argentinos em visita ao
Brasil
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA PRF
2
Governo amplia número de municípios que
devem se vacinar contra a Febre Amarela
ASSESSORIA DE IMPRENSA SES
3
Crise afeta até catadores de materiais
recicláveis
JORNAIS IMPRESSOS
Tabela 6 - Reunião SBT Rio Grande em 29/01
44
Pauta
Origem
1
Movimento de Justiça e Direitos Humanos
divulga documentos sobre morte de Jango
CONTATO DIRETO
2
Contraponto de sindicatos às medidas
anunciadas pelo governo Yeda
ASSESSORIA DE IMPRENSA
GOVERNO DO ESTADO RS
3
Fenavinho
ASSESSORIA DE IMPRENSA
FENAVINHO
4
Vistoria camelódromo para inauguração
ASSESSORIA DE IMPRENSA MP
5
Ato público de funcionários da ULBRA
CONATO DIRETO
6
Pesquisa da Associação Gaúcha de
Supermercados sobre venda de material
escolar
ASSESSORIA DE IMPRENSA AGAS
7
Seminário da Associação Gaúcha de
Emissoras de Rádio e TV
ASSESSORIA DE IMPRENSA AGERT
8
Feriados em dias úteis em 2009
JORNAL IMPRESSO
9
O que funciona e o que não funciona no
Feriado de navegantes
ASSESSORIA DE IMPRENSA
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE
10
Assembléia inaugura Memorial do
Legislativo
ASSESSORIA DE IMPRENSA AL
43
Conforme Apêndice K
44
Conforme Apêndice L
74
Tabela 7 - Reunião TVE em Dia em 28/01
45
Pauta
Origem
1
Vistoria camelódromo quinta-feira
ASSESSORIA DE IMPRENSA MP
2
Preparativos e vistorias nos barcos da
procissão de navegantes na sexta-feira
ASSESSORIA DE IMPRENSA DA
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE
3
Corte de verbas no CNPQ
INTERNET
4
Ministério Público cobra Governo para
reduzir carroças em Porto Alegre
ASSESSORIA DE IMPRENSA MP
5
Aumento da tarifa de ônibus em Porto Alegre
JORNAIS IMPRESSOS
6
Obras no viaduto da BR 116 em Novo
Hamburgo
JORNAIS IMPRESSOS
7
Comitiva da FIFA visita Beira-Rio e
Aeroporto no sábado
INTERNET E JORNAIS IMPRESSOS
8
Polícia Federal toma novos depoimentos da
Operação Rodin
CONTATO DIRETO
9
Obras de extensão do Trensurb
CONTATO DIRETO
10
Crescimento das escolas técnicas PUCRS e
Senai
CONTATO DIRETO
Tabela 8 - Reunião TVE em Dia em 29/01
46
Pauta
Origem
1
Preparação para a Procissão de Navegantes
ASSESORIA DE IMPRENSA
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE
2
Como fica o trânsito durante a procissão na
segunda-feira
ASSESORIA DE IMPRENSA
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE
3
Vistoria Camelódromo
ASSESORIA DE IMPRENSA
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE
4
Restauração do Memorial da AL e coletiva
sobre novos documentos da morte de Jango
ASSESSORIA DE IMPRENSA AL E
CONTATO DIRETO MJDH
5
Confraria feminina para investir na bolsa de
valores
SUGESTÃO EQUIPE
6
Coletiva da FIFA no sábado
INTERNET E JORNAIS IMPRESSOS
7
Futebol no domingo
SUGESTÃO EQUIPE
8
Cidade vazia no feriadão
SUGESTÃO EQUIPE
45
Conforme Apêndice M
46
Conforme Apêndice N
75
Tabela 9 - Reunião TVE em Dia em 30/01
47
Pauta
Origem
1
Posse do novo presidente da Assembléia
Legislativa
ASSESSORIA DE IMPRENSA AL
2
Revitalização do Centro de Porto Alegre
ASSESSORIA DE IMPRENSA SEC.
PLANEJAMENTO
3
Movimentação na Praia do Lami, em Porto
Alegre
SUGESTÃO EQUIPE
4
Camelódromo sem habite-se
ASSESSORIA DE IMPRENSA MP
5
Futebol domingo
SUGESTÃO EQUIPE
Do cruzamento das tabelas acima com os espelhos dos programas pesquisados
foram selecionadas 33 matérias que, de acordo com os dados da observação participante,
foram sugeridas por assessorias de imprensa. As matérias foram separadas abaixo por
programa, e os quadros indicam, na seqüência, o assunto da matéria, o repórter e a origem da
pauta.
Por motivos que serão explicados a seguir, nem todas as 33 matérias foram
analisadas. Os assuntos excluídos da análise estão em itálico.
JORNAL DO ALMOÇO -15/01/09
VT venda veículos no RS superior à média
nacional
Patrícia
Cavalheiro
Assessoria de Imprensa
da Sincodiv
SBT RIO GRANDE – 15/01/09
VT Vistoria no camelódromo
Ediene Ferigollo
Assessoria de Imprensa
do Ministério Público
VT Venda de automóveis no RS é o dobro da
média nacional
Wilson Rosa
Assessoria de Imprensa
Sincodiv
TVE EM DIA – 15/01/09
VT sobre providências e vistoria para liberação
do camelódromo
Elisabete
Lacerda
Assessoria de Imprensa
da SMIC
SBT RIO GRANDE - 19/01/09
VT homenagens navegantes
Wilson Rosa
Assessoria de Imprensa
Cúria Metropolitana
TVE EM DIA - 19/01/09
VT Municipalização do posto de Saúde
Murialdo
Marta Kroth
Assessoria de Imprensa
SMS
47
Conforme Apêndice O
76
VT festa de navegantes
Simone Feltes
Assessoria de Imprensa
Cúria Metropolitana
SBT RIO GRANDE - 28/01/09
VT Reforço da fiscalização para estrangeiros
nas rodovias gaúchas
Ediene Ferigollo
Assessoria de Imprensa
PRF
VT sobre barreira sanitária contra Febre
Amarela
Daniela Silva
Pinto
Assessoria de Imprensa
da Secretaria Estadual
da saúde
TVE EM DIA - 28/01/09
Nota pelada + VT entrevista sobre municípios
em risco de Febre Amarela e preservação dos
Bugios no RS
Marcelo Bergter
Assessoria de Imprensa
da SES
Nota Pelada PRF recebe reforços para fiscalizar
motoristas estrangeiros
Marcelo Bergter
Assessoria de Imprensa
da PRF
SBT RIO GRANDE - 29/01/09
Pesquisa sobre material escolar AGAS
Assessoria de Imprensa
AGAS
Memorial do Legislativo Gaúcho Conheça a
sua Cidade
Leo Sant´anna
Assessoria de Imprensa
AL
TVE EM DIA - 29/01/2009
Lapada sobre aumento das passagens de ônibus,
Ministério Público cobra governo municipal sobre
redução de carroças, alerta sobre óculos escuros
Marcelo Bergter
Assessoria de Imprensa
do Ministério Público
VT sobre aumento de vendas do material escolar e
preferência do consumidor pelos supermercados
Marta Kroth
Assessoria de Imprensa
AGAS
JORNAL DO ALMOÇO - 30/01
VT Fenavinho
Cristina
Ranzolin
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo + VT sobre a produçãode
vinho no Estado
Cristina
Ranzolin Giana
Cunha
Ticiana Fontana
Mateus
Rodighero
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo de Lasier Martins sobre a
história do vinho em Bento Gonçalves
Lasier Martins
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo sobre bonecos da Fenavinho
Cristina Ranzolin
e Iotti
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo sobre história do evento
Lasier Martins
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo + entrevista com enólogo
Marisol Santos
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP ao vivo + entrevista com presidente da
Fenavinho
Lasier Martins
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP da Fenavinho sobre corrida de carrinho
de lomba
Iotti
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP + entrevista sobre espetáculo “A ópera
popular do vinho”, na Fenavinho
Marisol Santos
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
VT sobre o SPA do vinho em Bento Gonçalves
Vanessa Botoli
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
Stand UP sobre o mercado de vinho no Brasil
Lasier Martins
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
77
Fenavinho
Apresentação ao vivo do Coro Polifônico da Itália
Cristina Ranzolin
Assessoria de Imprensa
Fenavinho
SBT RIO GRANDE - 30/01/09
VT Agenda sobre Seminário da AGERT em Osório
---
Assessoria de Imprensa
AGERT
VT Anote sobre o que funciona e o que não
funciona no Feriado de Navegantes
---
Assessoria de Imprensa
Prefeitura de Porto
Alegre
TVE EM DIA - 30/01/2009
VT sobre a procissão de Navegantes
Nilton Schüler
Assessoria de Imprensa
da Cúria Metropolitana
VT sobre vistoria da Marinha aos barcos da
procissão de Navegantes
Bianca Zuchetto
Assessoria de Imprensa
da Cúria Metropolitana
Stand UP + entrevista ao vivo sobre estrutura
da festa de navegantes (1ª do local do fato)
Nilton Schüler
Assessoria de Imprensa
da Cúria Metropolitana
Lapada sobre anúncio de novo chefe da Polícia
Civil do RS, operação conjunta da BM e Policia
Civil no Centro e documentos uruguaios que
mostram que Jango foi vigiado no exílio
Marcelo Bergter
Movimento de Justiça e
Direitos Humanos
(notícia sobre
documentos uruguaios)
VT sobre o Memorial do Legislativo Gaúcho
Elisabete
Lacerda
Assessoria de Imprensa
da AL
Dos 33 VTs originados por sugestão de pauta das assessorias de imprensa, excluiu-
se da análise discursiva a maioria dos VTs do Jornal do Almoço do dia 30/01, transmitidos
direto da Fenavinho, em Bento Gonçalves, pela impossibilidade de precisar com 100% de
certeza se o jornal teve 2/3 (dois terços) do programa dedicado ao evento por decisão
editorial influenciada por assessoria de imprensa ou por algum acordo comercial, a exemplo
do que aconteceu com o SBT, conforme constatado na observação participante do dia
29/01
48
. Apenas a abertura e a primeira matéria do programa entraram na análise para que o
material não fosse totalmente excluído, já que ficou constatado que a assessoria de imprensa
da Fenavinho enviou sugestão de pauta sobre o evento para os telejornais pesquisados.
Também eliminou-se da análise discursiva os VTs de curta duração, considerados
meramente informativos, superficiais, como notas simples
49
, notas cobertas
50
e lapadas
51
.
Feita a justificativa da seleção do material, segue-se a segunda parte da Análise proposta por
Thompson.
48
Conforme Apêndice L
49
Leitura textual feita pelo âncora do programa, sem imagens de cobertura
50
Vídeos de curta duração cobertos por imagens
51
Vídeo de curta duração que aborda dois ou mais assuntos em forma de notas cobertas
78
5.2 Análise das Reportagens
Para proceder com a análise argumentativa das reportagens, serão usadas as
operações ideológicas identificadas por Thompson (1995) como sendo estratégias para
estabelecer e sustentar relações de dominação: legitimação, dissimulação, unificação,
fragmentação e reificação.
Foi visto em capítulos anteriores que as relações entre as redações dos telejornais
gaúchos e as assessorias de imprensa são, num primeiro momento, de cautela
52
. Um dos
argumentos para isto seria o interesse dos assessores em defender o ponto de vista de seus
assessorados e a proteção que, eventualmente, criam para legitimá-los em momentos de crise,
postura esta vista com desconfiança pelos jornalistas.
A intenção é verificar se, na prática, esta cautela é empreendida na produção das
matérias, tendo em vista que as assessorias de imprensa são responsáveis por uma boa parcela
de pautas utilizadas nos telejornais.
5.2.1 Jornal do Almoço – aumento na venda de automóveis
Escalada:
APRESENTADORA CARLA FACHIM (VV)
VENDAS EM ALTA TAMBÉM NA ÁREA DE VEÍCULOS./
APRESENTADORA DANIELA UNGARETTI (VV)
AS CONCESSIONÁRIAS DO ESTADO REGISTRAM RESULTADOS
POSITIVOS NESTE INÍCIO DE ANO.///
A escalada é a abertura do telejornal. Ela é a reunião das manchetes das principais
notícias da edição. Lida pelos apresentadores, representa o que foi considerado mais
importante por quem tem poder de decisão dentro da redação. Esta hierarquização leva em
conta critérios muito particulares, que variam de programa para programa. Mas o objetivo é
um só: atribuir importância a determinadas manchetes de forma a atrair o telespectador para
que veja o jornal até o fim (SQUIRRA, 1990).
No caso da escalada do Jornal do Almoço do dia 13 de janeiro, o crescimento das
vendas de automóveis no Estado foi considerado um dos assuntos de destaque do programa.
Aqui uma legitimação do sucesso do setor em meio à crise financeira mundial como algo
de interesse público.
52
Ver capítulo 2.6
79
Reportagem:
APRESENTADORA (VV)
E NA CONTRAMÃO DA CRISE AS REVENDAS DE VEÍCULOS
COMEMORAM OS EXCELENTES RESULTADOS DA INDÚSTRIA
NO ANO PASSADO./ AS INDÚSTRIAS DE ÔNIBUS, POR
EXEMPLO, VENDERAM QUASE 50% A MAIS DO QUE NO ANO
ANTERIOR./ E DEPOIS DE CINCO ANOS, O RIO GRANDE DO
SUL VENDE MAIS CARROS QUE A MÉDIA DO BRASIL./ EM
2008, FOI A VEZ DE MUITOS GAÚCHOS SAIREM DE CARRO
NOVO.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O DENTISTA FLÁVIO APROVEITOU AS VANTAGENS
OFERECIDAS NO FIM DO ANO PASSADO PARA COMPRAR O
CARRO DOS SONHOS./ E AINDA PODE NEGOCIAR
ACESSÓRIOS./ ELE FICOU TÃO EMPOLGADO QUE ATÉ
PERSONALIZOU O VEÍCULO.///
SONORA C/ MOTORISTA
PRA MIM ACHO QUE FOI O MOMENTO, E ERA O CARRO QUE
EU QUERIA COMPRAR./ E ISTO É UMA DAS COISAS
FUNDAMENTAIS PRA MIM NA HORA DA ESCOLHA DE UM
CARRO, NÉ?/ É O VALOR DE REVENDA DO CARRO.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
ESTE É UM DOS QUASE 160 MIL CARROS VENDIDOS NO ANO
PASSADO NO RIO GRANDE DO SUL./ SÓ A VENDA DE CARROS
IMPORTADOS DOBROU./ AO TODO, O CRESCIMENTO FOI DE
26,8% EM RELAÇÃO A 2007.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
REVENDA DE VEÍCULOS)
AS VENDAS GAÚHAS FICRAM MUITO ACIMA DO QUE A MÉDIA
NACIONAL, QUE FOI DE 14%./ AS ESTATÍSTICAS MOSTRAM
QUE EXISTE UM CARRO PARA CADA 2,5 HBITANTES NO
ESTADO.///
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DE ACORDO COM O SINDICATO DE DISTRIBUIDORES DE
VEÍCULOS O AUMENTO NO VOLUME DE NEGÓCIOS FOI POR
CAUSA DA REDUÇÃO DO IPI, O IMPOSTO SOBRE PRODUTOS
INDUSTRIALIZADOS, QUE CHEGOU A ZERO PARA CARROS
POPULARES./ E TAMBÉM, POR CAUSA DAS PROMOÇÕES DE
FÁBRICAS, E AS FACILIDADES DE CONSEGUIR CRÉDITO./
SONORA C/ PRESIDENTE SINCODIV
EU ACHO QUE O CONSUMIDOR GAÚCHO TEVE UMA RENDA,
UM CRESCIMENTO DE RENDA SUPERIOR À MÉDIA NACIONAL
E COM ISSO A SUA PROCURA POR VEÍCULOS, POR
AUTOMÓVEIS ESPECIFICAMENTE, FOI O DOBRO, O
CRESCIMENTO FOI O DOBRO EM RELAÇÃO AO BRASIL.///
REPÓRTER PERGUNTA : PORQUÊ AS DEMISSÕES ENTÃO?///
80
RESPOSTA PRESIDENTE SINCODIV: NÓS CREDITAMOS AS
DEMISSÕES COMO AJUSTES OPERACIONAIS, É EVIDENTE
QUE O MERCADO SOFREU MUITO NO FINAL DO ANO, COM A
CRISE, NÃO É, MAS CADA MONTADORA TEM A SUA
EXPLICAÇÃO.///
OFF4 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
MAIS CARROS E MENOS MOTOS./ AS MOTOCICLETAS
VENDERAM 1% A MAIS DO QUE EM 2007./ O PROBLEMA
ESTARIA NA DISTRIBUIÇÃO E NA PRÓPRIA OPÇÃO DO
CONSUMIDOR, QUE ESTARIA DANDO PREFERÊNCIA AOS
CARROS./ MAS O SETOR COMEMORA AS VENDAS DE
CAMINHÕES, QUASE 30% MAIORES./ A EXPLICAÇÃO DOS
ESPECIALISTAS ESTÁ NO DESENVOLVIMENTO DA ECONOMIA
DO ESTADO./ O NÚMERO DE COMERCIALIZAÇÃO DE ÔNIBUS
É QUASE 50% MAIOR./ SERIA POR CAUSA DOS
INVESTIMENTOS FEITOS PELAS PREFEITURAS./ E PARA 2009,
A PERSPECTIVA É DE QUE O CRESCIMENTO DA VENDA DE
VEÍCULOS, EM GERAL, SEJA MENOR./ NO MÁXIMO 5%.///
PÉ (COMENTÁRIO PÓS VT)
APRESENTADORA CARLA FACHIM (VV)
AGORA ESTA NOTÍCIA, POR ENQUANTO, DANIELA,
TRANQUILIZA QUEM TRABALHA NAS MONTADORAS AÍ, QUE
VIVE ESSE ASOMBRO DA CRISE.///
APRESENTADORA DANIELA UNGARETT (VV)
AGORA É MUITO BOM PRA QUEM VENDE, É MUITO BOM PRA
QUEM COMPRA, MAS TAMBÉM TEM QUE DAR MAIS ATENÇÃO
PARA O TRÂNSITO E TODOS OS PROBLEMAS PORQUE SE
CONTINUAR ASSIM, NÉ, AS CIDADES NÃO VÃO CONSEGUIR
MAIS SUPORTAR O MOVIMENTO, NÉ? MAS QUE BOM, QUE
CONTINUE ASSIM.///
Ao longo do texto dito pelo repórter e pelos entrevistados é possível identificar
diversos modos pelos quais opera a ideologia na construção da reportagem.
Na cabeça da matéria, que é o texto de introdução da reportagem narrado pelo
apresentador do telejornal, a frase o Rio Grande do Sul vende mais carros que o Brasil torna
perceptível duas estratégias. A primeira é a dissimulação, pela estratégia de tropo sob a forma
de sinédoque, que consiste na junção semântica da parte e do todo, na inversão das relações
entre coletividades e suas partes (THOMPSON, 1995) que, no caso, é o Estado do Rio Grande
do Sul sendo usado para representar os revendedores de automóveis. A segunda estratégia
identificada na oração é a de unificação, pela simbolização de unidade do suposto sucesso de
todos os revendedores gaúchos, ignorando a possibilidade de fracasso de alguns revendedores
mesmo diante da média positiva. Ainda no mesmo off observa-se a oração em 2008 foi a vez
de muitos gaúchos saírem de carro novo, em que percebe-se uma legitimação por meio da
universalização, em que os interesses de alguns indivíduos são apresentados como servindo
81
aos interesses de todos, ou disponível a qualquer um que tenha a habilidade e a tendência de
neles ser bem sucedido (THOMPSON, 1995, p.83). A expressão muitos gaúchos também
aproveita-se da simbolização de unidade que representa o “ser gaúcho” para promover a
unificação.
O primeiro off e a sonora inicial, usados para iniciar a matéria, apresentam
novamente a sinédoque para caracterizar a estratégia de tropo, um dos meios de operação da
dissimulação, pois um único comprador de automóvel é usado como exemplo do que
supostamente aconteceu a muitos gaúchos em 2008.
A identificação do comprador citado como apenas um dos 160 mil carros de 2008
aparece no segundo off, que chama a atenção por utilizar outro meio de operação da ideologia,
a reificação por meio da nominalização, que oculta o sujeito da ação ao utilizar a oração a
venda de carros importados dobrou. Afinal, quem vende os carros? Que fez as vendas
dobrarem? A quem serve a venda dos carros?
Na passagem da repórter ainda é impossível identificar sujeitos para a ação de
venda, que recebe novamente a conotação gaúchas, promovendo a unificação. Esta estratégia
ainda é reforçada pela reafirmação da identidade coletiva pela proporção numérica de um
carro para cada 2,5 habitantes, que tenta passar a idéia de que os gaúchos são grandes
consumidores de automóveis. Esta média provoca uma distorção, pois remete à situação de
que 1/3 (um terço) dos gaúchos possuem automóvel, e esquece que o bem referido não é um
privilégio de todos, antes pelo contrário, é o privilégio de uma minoria se comparada à toda a
população do Rio Grande do Sul.
O primeiro sujeito a aparecer na construção simbólica é o sindicato dos
revendedores de automóveis, no terceiro off, mas apenas como um legitimador dos índices
apresentados, de forma a atestar que os resultados são positivos para os gaúchos, e que estes
resultados só foram possíveis graças à ação do Governo ao reduzir impostos e das
revendedoras em realizar promoções, caracterizando a estratégia de racionalização.
A sonora subseqüente personifica a opinião do sindicato na figura do presidente da
instituição, que atribui o sucesso do setor a um suposto aumento de renda do consumidor
gaúcho em relação ao resto do País, o que teria impulsionado as vendas. Aqui, além do tropo
de sinédoque que utiliza a imagem de um consumidor gaúcho bem sucedido para se referir
aos consumidores do Rio Grande do Sul, outra estratégia percebida é a fragmentação, que
opera de forma a promover uma diferenciação entre os gaúchos e o resto do País. Logo após a
82
pergunta da repórter sobre o porquê das demissões, a fragmentação novamente é percebida,
só que desta vez pela estratégia do expurgo do outro, quando o presidente do sindicato diz que
o motivo das demissões não seria uma causa comum, mas uma especificidade de cada
montadora.
Numa análise mais subjetiva, neste ponto a reportagem constrói um paradoxo. Ela
identifica os consumidores gaúchos como grandes beneficiados pelas vendas de automóveis, e
despersonifica os alvos das demissões, que não são os gaúchos, mas (os funcionários de)
algumas montadoras.
No quarto off, a repórter aponta o crescimento de 1% nas venda de motos como um
problema, e afirma que o setor comemora as vendas de caminhões quase 30% maiores. Além
de caracterizar a categoria de dissimulação por meio da eufemização, a expressão legitima a
lógica de mercado e de consumo como benéfica.
A eufemização do setor automotivo também ocorre no encerramento, quando as
apresentadoras do Jornal do Almoço dizem que a notícia tranqüiliza quem trabalha nas
montadoras e é muito bom para quem vende e muito bom para quem compra. O único
contraponto aparece no comentário final da reportagem, em que a apresentadora Daniela
Ungaretti alerta para os problemas que o excesso de automóveis pode provocar nas ruas, mas
logo em seguida ela mesma diminui a importância de seu comentário ao finalizar com a frase
mas que bom, que continue assim.
5.2.2 SBT Rio Grande – aumento na venda de automóveis
Escalada:
APRESENTADORA CRISTIANE FINGER (VV)
LOUCOS POR CARROS./ OS GAÚCHOS SÃO OS PRINCIPAIS
CONSUMIDORES DO SETOR AUTOMOTIVO./ AS VENDAS NO
ESTADO FORAM O DOBRO DA MÉDIA NACIONAL EM 2008.///
A exemplo do que aconteceu na reportagem feita pelo Jornal do Almoço, o SBT Rio
Grande também destacou a matéria sobre o bom desempenho do setor automotivo como uma
das mais importantes da edição. Aqui a expressão loucos por carros remete à metáfora, uma
das formas de tropo como estratégia para a dissimulação. Ao mesmo tempo, a expressão
recebe uma conotação positiva, uma eufemização para legitimar o fato de as vendas do
Estado serem o dobro da média nacional como algo positivo. Ainda na escalada é perceptível
83
a estratégia de unificação quando a apresentadora afirma que os gaúchos são os principais
consumidores do setor automotivo.
Reportagem:
APRESENTADORA CRISTIANE FINGER (VV)
OS GAÚCHOS SÃO OS QUE MAIS COMPRAM CARROS NO PAÍS./
SEGUNDO O BALANÇO DAS REVENDEDORAS DIVULGADO
ESTA MANHÃ, AS VENDAS AUMENTARAM 27% NO ANO
PASSADO EM RELAÇÃO A 2007.///
BOLETIM DE PASSAGEM (O REPÓRTER APARECE)
COM A REDUÇÃO DE IMPOSTOS E O CRÉDITO FACILITADO
DO ANO PASSADO, A VENDA DE AUTOMÓVEIS NO RIO
GRANDE DO SUL CRESCEU 27% NA RELAÇÃO COM 2007./
AGORA NA COMPARAÇÃO COM OUTROS ESTADOS DO PAÍS, O
AUMENTO FOI DE 14%./ CONFORME O BALANÇO DO SETOR
DIVULGADO ESTA MANHÃ, AQUI NO ESTADO FORAM
VENDIDOS 132 MIL AUTOMÓVEIS EM 2008, UMA MÉDIA DE 11
MIL CARROS POR MÊS./ E PARA 2009 A EXPECTATIVA DO
SETOR É MANTER O RITMO DE CRESCIMENTO.///
SONORA PRESIDENTE SINDICATO
A VENDA DE AUTOMÓVEIS É VINCULADA À RENDA E À
SEGURANÇA DO CONSUMIDOR./ ENTÃO O CONSUMIDOR,
QUANDO ELE TEM RENDA, QUANDO ELE TEM SEGURANÇA
NO SEU TRABALHO, NO SEU EMPREGO, ELE COMPRA
VEÍCULOS AUTOMÓVEIS./ E ISTO NÓS ESTAMOS VENDO./ EU
ACHO QUE O GAÚCHO, ELE TEVE UM CRESCIMENTO NA SUA
RENDA E UM CRESCIMENTO NA SUA SEGURANÇA PESSOAL
MAIOR QUE NO RESTANTE DO PAÍS, E ISTO REPERCUTIU NA
VENDA DE AUTOMÓVEIS.///
APRESENTADORA (VV)
TOMARA MESMO QUE A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL NÃO
AFETE O SETOR AUTOMOBILÍTICO POR AQUI.///
Tanto na chamada da matéria feita pela apresentadora quanto na sonora do
presidente do sindicato dos revendedores de automóveis é constatada a estratégia de
unificação pela simbolização de unidade, onde o gaúcho é usado como uma descrição de
comportamento padrão para designar o coletivo.
A racionalização desenvolvida pelo repórter para explicar os motivos que fizeram a
venda de automóveis no Rio Grande do Sul ser maior que em outros estados legitima a ação
de redução de impostos, ação esta que só é possível de ser executada pelo Governo.
A opinião do presidente do sindicato, que disse achar que o gaúcho teve um
crescimento na sua renda e um crescimento na sua segurança, é usada como explicação para
o crescimento das vendas. Aqui é perceptível uma sinédoque de tal modo que uma parcela da
84
população (a que teve um aumento de renda e pode comprar um carro) tome o lugar do
coletivo, do gaúcho enquanto símbolo do Estado do Rio Grande do Sul, provocando assim a
dissimulação pela estratégia de tropo.
O comentário final da apresentadora, uma torcida para que a crise financeira
mundial não afete o setor automotivo por aqui reflete um tipo de universalização dos
interesses das montadoras, legitimando-os como interesses de toda a população.
5.2.3. SBT Rio Grande – vistoria camelódromo
Reportagem:
APRESENTADORA (VV)
TÉCNICOS DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL FAZEM UMA
VISTORIA NO CENTRO POPULAR DE COMPRAS DA CAPITAL./
OS COMERCIANTES RECLAMAM DE RACHADURAS E
INFILTRAÇÕES.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DURANTE MAIS DE UMA HORA OS FISCAIS PERCORRERAM OS
CORREDORES E AS OUTRAS ÁREAS DO CAMELÓDROMO./ A
AÇÃO ACONTECEU POR CAUSA DAS DENÚNCIAS DE
SUPOSTAS IRREGULARIDADES NA CONSTRUÇÃO, COMO
INFILTRAÇÕES E RACHADURAS./ UM GRUPO DE
VENDEDORES ACOMPANHOU A VISTORIA E RECLAMA DA
INFRA-ESTRUTURA DO PRÉDIO./
SONORA VENDEDORA 1
A GENTE SENDO OBRIGADO A VIR PRA SEM
CONDIÇÕES NENHUMA./ ISTO AQUI NÃO TEM ESTRUTURA
NENHUMA.///
SONORA VENDEDORA 2
FUI PREMIADA COM UMA BANCA NO SOL E OU NA CHUVA./
DIA DE SOL TOMO SOL./ DIA DE CHUVA TOMO CHUVA.///
APRESENTADORA (VV)
OS INTEGRANTES DO MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
AFIRMAM QUE NÃO RISCOS NA ESTRUTURA DO CENTRO
POPULAR DE COMPRAS, MAS ENCAMINHARAM UMA
RECOMENDAÇÃO À PREFEITURA DE PORTO ALEGRE./ OS
TÉCNICOS PEDEM QUE SEJA FEITA UMA PRÉVIA VISTORIA,
ANTES DA LIBERAÇÃO DO HABITE-SE./ A INAUGURAÇÃO DO
CHAMADO CAMELÓDROMO ESTÁ PREVISTA PARA O DIA 26.///
A reportagem do SBT começa com uma situação de denúncia feita por
comerciantes, que estavam prestes a sair da irregularidade (a venda ambulante nas ruas do
centro de Porto Alegre), sobre as más condições identificadas por eles no novo ponto de
venda para o qual foram obrigados a se instalar, o complexo construído pelo poder público
batizado de Centro Popular de Compras. Logo na abertura da matéria uma legitimação do
poder do Ministério Público para averiguar as denúncias.
85
No off, nota-se utilização do termo camelódromo, usado em referência à
denominação pejorativa dada aos comerciantes de rua. Ou seja, mesmo com a regularização
da situação dos vendedores de rua, há o deslocamento das conotações negativas do termo para
se referir aos comerciantes instalados naquele complexo, caracterizando a estratégia de
dissimulação.
Apesar das reclamações de dois comerciantes nas sonoras, a nota com
comentário da apresentadora legitima novamente o Ministério Público como a autoridade
competente para falar da situação real do prédio, que na avaliação de seus técnicos, não
oferece riscos aos comerciantes, dando a impressão de que as denúncias têm pouco
fundamento.
5.2.4 TVE em Dia – vistoria camelódromo
Escalada:
APRESENTADOR (VV)
AS EXIGÊNCIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA LIBERAR O
CENTRO POPULAR DE COMPRAS EM PORTO ALEGRE.///
Como visto na matéria do SBT Rio Grande, fundamentos tradicionais de atribuição
de poder fiscalizatório ao Ministério Público é caracterizado por Thompson (1995) como um
modo de operação da ideologia pela legitimação. A colocação da reportagem na escalada
também lhe atribui uma maior importância em relação ao restante do telejornal.
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
O MINISTÉRIO PÚBLICO EXIGE PROVIDÊNCIAS PARA A
LIBERAÇÃO DO CAMELÓDROMO DE PORTO ALEGRE, ENTRE
ELAS A APROVAÇÃO DA SMOV E UMA SOLUÇÃO PARA AS
INFILTRAÇÕES QUE APARECERAM DEPOIS DOS TEMPORAIS./
COM ISTO A INAUGURAÇÃO ATRASA NOVAMENTE.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
REVOLTADOS, OS REPRESENTANTES DOS 800 CAMELÔS
MOSTRAM FENDAS LATERAIS SEM PROTEÇÃO, POR ONDE,
SEGUNDO ELES, PASSARIA UMA CRIANÇA./
RECLAMAÇÕES TAMBÉM DA ÁGUA ACUMULADA NO PISO
PELAS INFILTRAÇÕES DA COBERTURA DO SEGUNDO ANDAR./
SONORA COMERCIANTE
NÃO É POSSÍVEL QUE A GENTE SAIA DA RUA E UM DOS
MOTIVOS PRINCIPAIS É A QUESTÃO DA CHUVA E DO SOL E
VIR PARA DENTRO DE UM CAMELÓDROMO QUE VAI SER
86
PAGO, E NUM VALOR NÃO MUITO BAIXO, E CONTINUAR
CHOVENDO EM CIMA DOS NOSOS BOXES.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O TERCEIRO PISO VAI SERVIR DE ESTACIONAMENTO PARA
260 CARROS./ NO LOCAL SÃO VISÍVEIS AS FENDAS, QUE
SERIAM NORMAIS SEGUNDO A EMPRESA RESPONSÁVEL PELA
OBRA./ UM ISOLAMENTO DE BORRACHA JÁ FOI INSTALADO, E
AGORA ESTÃO SENDO FEITOS TESTES PARA AVALIAR A
OCORRÊNCIA DE INFILTRAÇÕES.///
SONORA ENGENHEIRO RESPONSÁVEL
O QUE EXISTIA DE INFILTRAÇÃO É PORQUE A
IMPERMEABILIZAÇÃO NÃO ESTAVA CONCLUÍDA, E AGORA
QUE ESTÁ CONCLUÍDA NÃO MAIS ESTAS
INFILTRAÇÕES E ATÉ QUE SEJA DO NOSSO CONHECIMENTO
NÃO HOUVE PERDA DE MERCADORIA DE NENHUM
COMERCIANTE AQUI NO INTERIOR, E SE HOUVESSE ALGUMA
PERDA SERIA RECUPERADA.///
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
PREVISTA PARA A PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA, DIA 19, A
INAUGURAÇÃO DO CAMELÓDROMO FOI ADIADA PARA O DIA
26 DE JANEIRO.///
SONORA DIRETOR DA SMIC
NÓS ESTAMOS ESPERANDO A CARTA DE HABITAÇÃO, NÉ?/
SEM OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS PARA QUE A
ATIVIDADE ENTRE EM FUNCIONAMENTO, NÓS ESTAMOS
AGUARDANDO DOIS DOCUMENTOS, AINDA./ A CARTA DE
HABITAÇÃO E MAIS A LICENÇA DE OPERAÇÃO DA SMAM./ DE
POSSE DESTES DOCUMENTOS NÓS FAREMOS A
INAUGURAÇÃO.///
Como percebe-se na introdução feita pelo apresentador, na matéria do TVE em Dia
o Ministério Público assume o ar carismático de denunciante das irregularidades do
camelódromo, mais um indicativo da legitimação. Também a ocultação do sujeito na
expressão a inauguração atrasa novamente. Quem atrasa a inauguração? Esta ausência
caracteriza a reificação operando por meio da nominalização.
Aos comerciantes, verdadeiros autores da denúncia para a qual o Ministério Público
foi acionado, resta novamente a denominação pejorativa de camelôs, mesmo que não estejam
mais nesta condição, caracterizando a dissimulação operado por deslocamento. No primeiro
off ainda percebe-se, mesmo que sutilmente, a estratégia de fragmentação quando a repórter
diz que os camelôs mostram fendas laterais sem proteção por onde, segundo eles, passaria
uma criança. Mesmo com a imagem mostrando uma criança passando pela referida fenda, a
reclamação do perigo é atribuída como uma percepção apenas deles, os camelôs.
87
No segundo off a empresa responsável pela obra é evocada a dar sua versão,
segundo a qual as fendas visíveis no andar superior são normais. Na seqüência observa-se
novamente a estratégia de reificação na oração um isolamento de borracha foi colocado e
agora estão sendo feitos testes para avaliar a ocorrência de infiltrações, onde não a
presença do sujeito. Quem vai fazer os testes? Quem vai fazer o isolamento?
Na sonora do engenheiro responsável a construção de uma cadeia de raciocínio
de forma a justificar as falhas apresentadas pelos comerciantes, uma racionalização de
forma a legitimar as ações da construtora.
No terceiro off, a oração a inauguração do camelódromo foi adiada também
caracteriza a ocorrência de reificação por nominalização/passivização pela ausência de
sujeito. Quem adiou?
A reportagem do TVE em Dia, apesar de ser maior e mais explicativa que a do SBT,
não foge à tendência de legitimação do poder, pelo contrário, usa um espaço maior para isto.
5.2.5 SBT Rio Grande – início das comemorações de navegantes
Escalada:
APRESENTADOR (VV)
AS COMEMORAÇÕES DE NOSSA SENHORA DE
NAVEGANTES./ A IMAGEM DA SANTA ESTÁ NA IGREJA
DO ROSÁRIO, NO CENTRO DE PORTO ALEGRE, PARA AS
PRIMEIRAS HOMENAGENS.///
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
COMEÇAM AS HOMENAGENS A NOSSA SENHORA DOS
NAVEGANTES./ MILHARES DE FIÉIS ACOMPANHARAM A
PROCISSÃO DE TRANSLADO DA IMAGEM DA SANTA PELAS
RUAS DA CAPITAL./
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
SEGUNDO A BRIGADA MILITAR, TRÊS MIL PESSOAS
PARTICIPARAM DA ROMARIA QUE MARCA O INÍCIO DAS
COMEMORAÇÕES DOS 134 ANOS DA FESTA DE NOSSA
SENHORA DE NAVEGANTES./ NO CAMINHO, UMA CHUVA DE
PEPEL PICADO./ FAMÍLIAS INTEIRAS AGUARDAVAM A
IMAGEM PASSAR, CARREGADA PELOS REMADORES./ SEU
JOSÉ VAI COMPLETAR 77 ANOS NO DIA DOIS DE FEVEREIRO,
DIA DE NAVEGANTES, E SEMPRE SE EMOCIONA AO VER A
IMAGEM.///
88
SONORA SEU JOSÉ
EU SAI DE UMA CIRURGIA COMPLICADA AGORA./ ENTÃO
NESSAS ALTURAS EU VIM AGRADECER./ SEMPRE VENHO
PEDIR POR SAÚDE SÓ, NÉ?/ O RESTO NADA MAIS./ MAS
AGORA VAMOS AGRADECER A SAÚDE, NÉ?/
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DURANTE O TRAJETO NA AVENIDA FARRAPOS, MORADORES
ACOMPANHARAM A PROCISSÃO DAS SACADAS E JANELAS./
MUITOS PREFERIRAM FICAR MAIS PERTO DE NOSSA
SENHORA PARA ORAR E FAZER PEDIDOS./ SÉRGIO LEVOU UM
BARQUINHO COM A IMAGEM PARA PAGAR UMA PROMESSA./
SONORA SERGIO
PELA SAÚDE DE MINHA MÃE, PORQUE ELA É DIABÉTICA,
ENTÃO EU TROUXE ESTE BARQUINHO PRA NOSSA SENHORA
PRA QUE ELA SAÚDE PRA MINHA MÃE E SEMPRE ESTEJA
COM ELA./
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
NO INÍCIO DA NOITE A ROMARIA CHEGOU NO CENTRO DA
CAPITAL SOB UMA CHUVA FINA./ MESMO CANSADOS, OS
DEVOTOS VIBRARAM COM A CHEGADA DA IMAGEM AO
SANTUÁRIO DA IGREJA DO ROSÁRIO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (O REPÓRTER APARECE)
E NO DIA DOIS DE FEVEREIRO A IMAGEM RETORNA AO
SANTUÁRIO DE NAVEGANTES, E NESTA EDIÇÃO UMA
NOVIDADE./ DEPOIS DE 20 ANOS A PROCISSÃO VOLTA A SER
PELO GUAÍBA.///
SONORA PÁROCO DE NAVEGANTES
NÓS, DURANTE ESTES VINTE ANOS, FOMOS ESTUDANDO A
MANEIRA MELHOR COMO VOLTAR./ E ESTE ANO ESTAMOS
FAZENDO UMA PROVA, UM TESTE, PARA VER SE DE FATO
ESTA SEGURANÇA PODE SER ASSEGURADA PARA NÓS, POR
TODOS AQUELES QUE VEM PELA ÁGUA.///
A reportagem sobre a abertura das festas em homenagem a Nossa Senhora de
Navegantes ocorre quase que inteiramente pela estratégia de narrativização, que segundo
Thompson, promove o modos operandi de legitimação pela exigência de histórias que contam
o passado e tratam o presente como parte de uma tradição eterna e aceitável, “de forma a
justificar o exercício de poder por aqueles que o possuem” (1995, p.83). Aqui, no caso, o
poder é da Igreja Católica.
Ao longo da matéria também se percebe a ideologia como dissimulação, operando
por meio da estratégia de tropo na forma de sinédoque, onde alguns fiéis devotos e eufóricos
tomam o lugar do todo. A notícia encerra com o depoimento do pároco, representação de
89
autoridade religiosa e carismática entre os devotos, mais uma vez, caracterizando a
legitimação.
A própria imagem da santa em si caracteriza um modos operandi da ideologia por
meio da unificação, que neste caso é caracterizada pela criação de um símbolo que provoca
unidade, uma identificação coletiva de fiéis e devotos.
5.2.6 TVE em Dia – início das comemorações de navegantes
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
UMA DEMONSTRAÇÃO DE NA CAPITAL./ UMA MULTIDÃO
ACOMPANHOU NESTE DOMINGO A PRIMEIRA ETAPA DA
MAIOR FESTA RELIGIOSA DO ESTADO./ A IMAGEM DE NOSSA
SENHORA DOS NAVEGANTES FOI LEVADA DA ZONA NORTE
PARA O CENTRO DE PORTO ALEGRE.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DEPOIS DE 35 DIAS, MAIS UMA VEZ A IMAGEM DE NOSSA
SENHORA DOS NAVEGANTES É ORNAMENTADA COM FLORES
E COLOCADA EM UM BARCO PARA SEGUIR VIAGEM./ A
DESPEDIDA REUNIU CENTENAS DE FIÉIS EM SUA CASA, O
SANTUÁRIO DOS NAVEGANTES./ DO LADO DE FORA, O
TAPETE É AZUL./ HORTÊNSIAS COLHIDAS NO BAIRRO BELÉM
NOVO HÁ 50 ANOS SÃO CUIDADOSAMENTE DISPOSTAS PELOS
DESCENDENTES DA FAMÍLIA GALDINO./ NA SAÍDA DA
IGREJA, A SANTA É CONDUZIDA PELOS FESTEIROS./ SOBRE O
TAPETE OS FIÉIS JOGAM MAIS FLORES, ENQUANTO OS
REMADORES ASSUMEM A CONDUÇÃO DA SANTA./ SÉRGIO
TAMBÉM VAI LEVAR UM BARCO COM A IMAGEM DE NOSSA
SENHORA DOS NAVEGANTES POR TODA A PROCISSÃO PARA
PEDIR PELA SAÚDE DA MÃE.///
SONORA SÉRGIO
TINHA PRESSÃO ALTA, ELA SAIU EM COMA VÁRIAS VEZES DE
CASA HOJE DURANTE O ANO./ EU TO AQUI PRA PEDIR A
SAÚDE DELA, SÓ ISSO./
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A MULTIDÃO VAI RECOLHENDO MAIS PESSOAS E FORMANDO
UM CAMINHO DE FÉ, CADA UM COM SUA HISTÓRIA DE
AMOR À SANTA.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE)
EMBORA MUITA GENTE PENSE QUE A NOSSA SENHORA DE
NAVEGANTES SEJA A PADROEIRA DE PORTO ALEGRE, ELA
NÃO É./ OFICIALMENTE A PROTETORA DA CAPITAL É NOSSA
SENHORA MÃE DE DEUS./ MAS ESSA DEVOÇÃO QUE LEVA
TODOS OS ANOS A IMAGEM ATÉ O CENTRO DA CIDADE PARA
QUE FIQUE MAIS PRÓXIMA DOS FIÉIS FAZ DE NOSSA
90
SENHORA DOS NAVEGANTES A PADROEIRA AFETIVA DE
PORTO ALEGRE.///
SONORA PÁROCO DO SANTUÁRIO
SÃO 134 ANOS./ REALMENTE, SE HOJE NÓS OLHÁSSEMOS, É A
PADROEIRA./ MAS A IGREJA TEM COMO PRINCÍPIO QUE A
PRIMEIRA IGREJA CONSTRUÍDA NUMA CIDADE PASSA A SER
A PADROEIRA DA CIDADE./ ENTÃO NESSE CASO, NÃO É./ MAS
O NOSSO POVO A TEM COMO GRANDE PADROEIRA./
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DAS JANELAS AS PESSOAS AGUARDAM E FESTEJAM A
PASSAGEM./ LOGO, UMA CHUVA DE PAPÉIS PICADOS E
BALÕES./ ESSA É UMA TRADIÇÃO, QUE TATIANA E O MARIDO
LUIS HENRIQUE, QUE É REMADOR E FAZ FORÇA NA
CONDUÇÃO DA IMAGEM DA SANTA, VIVEM HÁ ANOS, E
AGORA ENSINAM ÀS FILHAS.///
SONORA TATIANA
A GENTE TRAZ ELAS VESTIDAS DE ANJINHOS, COMO TODOS
AFILHADOS... SOBRINHOS TAMBÉM VEM./
OFF4 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
PRÓXIMO DO CENTRO, NO FIM DA AVENIDA FARRAPOS, A
NOITE TAMBÉM COMEÇA A CHEGAR E ABRAÇA OS FILHOS
DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES./ NA CHEGADA AO
SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO, EMOÇÃO QUE
VALE O ESFORÇO DE TRÊS HORAS DE CAMINHADA./
SONORA FIEL
AS PESSOAS FAZEM PROMESSAS, TEM SENHORAS DE 60, 70,
80 ANOS, NÉ?/ É UMA FORMA DE EXPRESSAR DEVOÇÃO,
CARINHO POR NOSSA SENHORA.///
OFF5 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
POR 15 DIAS, A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DOS
NAVEGANTES VAI FICAR NESSE ALTAR, ATÉ VOLTAR NO DIA
02 DE FEVEREIRO.///
A construção da reportagem do TVE em Dia é praticamente a mesma do SBT Rio
Grande. A eternalização de tradições inventadas para criar o sentido de devoção enquanto
valor comum de unificação é refletida em descrições como a das hortênsias dispostas 50
anos pela família Galdino, ou a dos remadores que assumem a condução. Tudo faz parte da
narrativização como estratégia de operação da legitimação do poder da santa sobre os fiéis e,
num segundo plano, da Igreja Católica.
A ideologia também opera na matéria pela dissimulação na forma de tropo, que em
alguns momentos fica mais evidente pela sinédoque, quando exemplos de milagres e de fiéis
são usados para justificar a devoção à santa, e em outros pela metáfora em expressões como a
noite também começa a chegar e abraça os filhos de nossa senhora dos navegantes.
91
também uma dissimulação pela eufemização dos adjetivos empregados na edição da
reportagem, como maior festa religiosa do Estado.
Uma outra estratégia percebida na construção do TVE em Dia é a da reificação por
meio da estratégia de naturalização. Fatos que ocorrem durante a procissão são narrados
como acontecimentos naturais ou inevitáveis, como a adesão de fiéis ao longo do percurso, os
papéis picados pelas janelas e o encantamento de quem assiste à procissão.
5.2.7 TVE em Dia – municipalização de posto de saúde
Escalada:
APRESENTADOR (VV)
PREFEITURA DE PORTO ALEGRE COMPLETA A
MUNICIPALIZAÇÃO DOS POSTOS DE SAÚDE.///
A chamada da reportagem sobre a municipalização do Posto de Saúde Murialdo na
escalada do TVE em Dia chama a atenção pelo destaque dado ao assunto, que sequer foi pauta
nos outros dois telejornais pesquisados. A conotação positiva do verbo completar atribui um
sentido de missão cumprida pela Prefeitura de Porto Alegre, caracterizando a estratégia de
dissimulação através da eufemização.
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
UMA REIVINDICAÇÃO ANTIGA DA COMUNIDADE NA ÁREA DA
SAÚDE ESTÁ ATENDIDA A PARTIR DE HOJE./ DESDE O
COMEÇO DA DÉCADA DE NOVENTA MORADORES DA REGIÃO
LESTE DE PORTO ALEGRE QUERIAM A MUNICIPALIZAÇÃO
DO POSTO DE SAÚDE DO MURIALDO./ NESTA MANHÃ,
ESTADO E MUNICÍPIO ASSINARAM ACORDO COM ESTE
OBJETIVO./ //
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A MUNICIPALIZAÇÃO DAS UNIDADES DE SAÚDE DO
MURIALDO É UMA REIVINDICAÇÃO ANTIGA DA
COMUNIDADE E DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE./ O CENTRO,
JUNTO COM OITO POSTOS DE SAÚDE DA REGIÃO, ATENDE
UMA POPULAÇÃO DE APROXIMADAMENTE 80 MIL PESSOAS./
NO ANO PASSADO, OS FUNCIONÁRIOS DO MURIALDO
FIZERAM VÁRIAS MANIFESTAÇÕES, DENUNCIANDO A FALTA
DE CONDIÇÕES MATERIAIS PARA ATENDER OS PACIENTES./
MARIA LETÍCIA, DO CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE, DIZ
QUE A MUNICIPALIZAÇÃO ANUNCIADA HOJE VEM COM MAIS
DE QUINZE ANOS DE ATRASO./ OS INTEGRANTES DO
CONSELHO CRITICAM A SECRETARIA DA SAÚDE POR NÃO
TEREM SIDO CONSULTADOS NA DEFINIÇÃO DO PROCESSO.///
92
SONORA MARIA LETÍCIA
O CONSELHO DISTRITAL DE SAÚDE DO PARTENON ACABA DE
NOS DIZER QUE O SERVIÇO DE SAÚDE, UM DOS QUE TEM
MAIS PROBLEMAS, QUE É O POSTO DE SAÚDE DA VILA
VARGAS, CONTINUA FECHADO./ EU GOSTARIA DE SABER
QUANDO E EM QUE PRAZO ESTES POSTOS ESTARÃO
FUNCIONANDO E A POPULAÇÃO DEVERÁ SER ATENDIDA./ EU
NÃO SEI SE VOCÊS SABEM QUE OS INDICADORES DAQUELA
REGIÃO DO MURIALDO SÃO OS PIORES.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O CENTRO DE SAÚDE MURIALDO ERA A ÚNICA UNIDADE DE
SAÚDE DE PORTO ALEGRE GERENCIADA PELO ESTADO./
ALÉM DE PRESTAR ATENDIMENTO EM CINCO
ESPECIALIDADES MÉDICAS, O CENTRO TAMBÉM FUNCIONA
COMO CLÍNICA ESCOLA./ COM A MUNICIPALIZAÇÃO, ESTADO
E MUNICÍPIO VÃO TER AS FUNÇÕES DIVIDIDAS.///
SONORA OSMAR TERRA – SECRETARIO DA SAÚDE
O SERVIÇO VAI SER FEITO PELO MUNICÍPIO E O ESTADO
FICA ENCARREGADO DA PARTE DE ENSINO./ O ESTADO CEDE
OS FUNCIONÁRIOS QUE TINHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO,
MAIS DE CEM FUNCIONÁRIOS./ VAI PAGAR O SALÁRIO
DESTES FUNCIONÁRIOS./ CEDE OS PRÉDIOS, DOA PRÉDIOS./
E REPASSA 300 MIL REAIS POR MÊS PARA A PREFEITURA PRA
AJUDAR NA ESTRUTURAÇÃO DA MUNICIPALIZAÇÃO./ UMA
DECISÃO POLÍTICA DE APRESSAR POR PARTE DO
MUNICÍPIO./ O ESTADO SEMPRE ESTEVE DISPONÍVEL PRA
FAZER ISTO, NÃO É?/ E AGORA CHEGAMOS A UM ACORDO.///
Além da eufemização do ato de municipalização como um desejo atendido, a
introdução da matéria traz uma sinédoque ao se referir a uma parte dos moradores da Zona
Leste de Porto Alegre como representação de toda a comunidade, caracterizando o modo de
operação da ideologia de dissimulação.
A municipalização referida no texto na verdade diz respeito ao acordo de divisão de
responsabilidades entre os governos estadual e municipal na administração do posto de saúde,
o que é lançado na reportagem como algo positivo para os cidadãos, ou seja, um acordo
institucional apresentado como de interesse de todos, estratégia típica de universalização para
operar a legitimação das relações de poder.
O contraponto é dado na sonora da representante do conselho municipal de saúde,
que reclama de postos de saúde fechados e da forma como o acordo foi fechado, no entanto, o
protesto fica perdido, isolado em meio às operações ideológicas que se sucedem no texto.
93
5.2.8 SBT Rio Grande – reforço na fiscalização de turistas estrangeiros
Escalada:
APRESENTADOR (VV)
MAIS RIGOR./ POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL REFORÇA A
FISCALIZAÇÃO NOS POSTOS DE FRONTEIRA./ EM DOIS DIAS
OS TURISTAS ESTRANGEIROS PAGARAM 160 MULTAS, BEM
MAIS DO QUE EM TODO O ANO PASSADO.///
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
MAIS RIGOR COM OS ESTRANGEIROS./ A PARTIR DE HOJE A
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL VAI REFORÇAR A
FISCALIZAÇÃO NOS PRINCIPAIS POSTOS DA FRONTEIRA./ EM
APENAS DOIS DIAS FORAM PAGAS 160 MULTAS, ENQUANTO
QUE EM TODO O ANO PASSADO, FORAM PAGAS APENAS
115.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O ARGENTINO ÉLBIO PRETENDIA VOLTAR AINDA NESTA
TERÇA-FEIRA PARA CASA, DEPOIS DE PASSAR UMA SEMANA
DE FÉRIAS NO LITORAL DO RIO GRANDE DO SUL./ QUE
ANTES DE DEIXAR O BRASIL, TERÁ QUE PAGAR SETE MULTAS
EM ATRASO./ INFRAÇÕES COMETIDAS EM OUTRAS VIAGENS
FEITAS POR AQUI./ VALOR TOTAL: QUATRO MIL REAIS.///
SONORA MOTORISTA ARGENTINO
MUITO DINHEIRO, MUITO DINHEIRO, E AGORA NÃO TENHO
PORQUE ESTOU VOLTANDO AO MEU PAÍS./ NÃO TENHO
DINHEIRO PARA PAGAR, NÃO SEI COMO FAZER.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
MAS NÃO ADIANTA RECLAMAR./ O TRIBUNAL REGIONAL
FEDERAL DETERMINOU QUE TODAS AS MULTAS VENCIDAS,
APLICADAS A ESTRANGEIROS, SEJAM QUITADAS ANTES QUE
ELES SAIAM DO PAÍS./ É QUE DE 2006 A 2008, APENAS 4%
PAGARAM PELAS INFRAÇÕES COMETIDAS NAS ESTRADAS
GAÚCHAS./ O ACERTO, AGORA, DEVE SER FEITO NOS
BANCOS.///
SONORA CHEFE DE COMUNICAÇÃO DA POLÍCIA
RODOVIÁRIA FEDERAL
TEM QUE SE ADAPTAR AO HORÁRIO BANCÁRIO./ OS
ESTRANGEIROS QUE FOREM PASSAR NA FRONTEIRA, SE NÃO
TIVEREM PAGO AS MULTAS, DEVEM PERMANECER NO
BRASIL, PAGAR AO LONGO DO DIA, E DEPOIS DEIXAR O
PAÍS, APRESENTANDO O COMPROVANTE DE PAGAMENTO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE)
SEGUNDO A POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL, ALÉM DE
DIMINUIR A INADIMPLÊNCIA, O OBJETIVO É CONSCIENTIZAR
OS MOTORISTAS DOS PAÍSES VIZINHOS, PRINCIPALMENTE
SOBRE OS PERIGOS DO EXCESSO DE VELOCIDADE./ EM 2008,
94
ELES FORAM RESPONSÁVEIS POR 418 ACIDENTES NAS
RODOVIAS GAÚCHAS./ NOVE PESSOAS MORRERAM./
NESTE INÍCIO DE ANO FORAM REGISTRADAS QUATRO
MORTES.///
OFF 3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
NOS DOIS PRIMEIROS DIAS DE BLITZ, 160 VEÍCULOS
FISCALIZADOS TINHAM MULTAS EM ATRASO./ A MAIORIA
POR EXCESSO DE VELOCIDADE E ULTRAPASSAGEM EM
LOCAL PROIBIDO./ A PARTIR DESTA QUARTA-FEIRA, O
POLICIAMENTO SERÁ REFORÇADO NOS TRÊS PRINCIPAIS
POSTOS DE FRONTEIRA./ EM SANTANA DO LIVRAMENTO, SÃO
BORJA E URUGUAIANA./ QUEM NÃO PAGAR TERÁ O VEICULO
RETIDO ATÉ QUE A DÍVIDA SEJA QUITADA./ E NÃO ADIANTA
RECLAMAR QUE AS INFRAÇÕES FORAM COMETIDAS PELO
ANTIGO PROPRIETÁRIO DO CARRO.///
SONORA POLICIAL RODOVIÁRIO
TANTO O ESTRANGEIRO COMO O BRASILEIRO PODE
CONSULTAR NO SITE DO DETRAN, TODAS AS MULTAS
ESTADUAIS E NACIONAIS ESTÃO NO SITE./ PROCURAR NO
SITE DETRAN.RS.GOV.BR, CONSULTE INFRAÇÕES./ COLOCA A
PLACA E APARECE A INFRAÇÃO./
OFF 4 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
HUGO, É CLARO, NÃO GOSTOU./ MAS VAI TER DE
DESEMBOLSAR DOIS MIL REAIS PARA SALDAR SEIS MULTAS
SE QUISER VOLTAR À ARGENTINA COM O VEÍCULO.///
SONORA MOTORISTA ARGENTINO
NÃO ME PARECE BOM QUE NÃO TENHAM ME AVISADO COM
ANTECEDÊNCIA, PORQUE EU DESCOBRI QUE TENHO MULTA
DE 2003 AÍ./ EU NÃO SABIA DE NADA.///
APRESENTADORA (VV)
OLHA, PRA QUEM ACHA QUE É MUITO RIGOR BASTA
LEMBRAR QUE O TRATAMENTO É O MESMO NOS PAÍSES
VIZINHOS PARA OS BRASILEIROS./ ISSO QUANDO AINDA NÃO
ACONTECE A QUESTÃO DA PROPINA AOS POLICIAIS DE LÁ.///
A construção simbólica do SBT Rio Grande faz um apelo à legalidade de regras
dadas para justificar o rigor policial com os turistas estrangeiros e assim legitimar a ação
fiscalizatória. A retratação dos estrangeiros como transgressores das leis brasileiras também
remete ao modo de operação da ideologia pela fragmentação por meio do expurgo do outro.
Aqui os estrangeiros, em especial os Argentinos, são os baderneiros que causam a desordem,
responsáveis por 418 acidentes nas rodovias gaúchas. Ou seja, além de expurgar os turistas
estrangeiros, uma estratégia secundária de unificação ao apelar ao gauchismo como
símbolo de unidade.
95
O tratamento rigoroso em nenhum momento é questionado pela reportagem, exceto
quando os próprios turistas dão seus depoimentos, mas o exagero policial é dissimulado como
uma restauração da ordem por meio da eufemização.
Ao término da reportagem é possível identificar novamente o modos operandi de
fragmentação pelo expurgo do outro, quando a apresentadora lembra que o tratamento é o
mesmo nos países vizinhos para os brasileiros, e também pela estratégia de diferenciação
quando a apresentadora cita a questão da propina aos policiais de como algo que
diferencia o modo de operação dos policiais estrangeiros em relação aos daqui.
Vale salientar que o SBT Rio Grande foi o único telejornal a dar destaque para o
assunto, que transformou-se apenas em nota simples
53
no TVE em Dia e nem sequer foi citado
no Jornal do Almoço.
5.2.9 SBT Rio Grande – barreira sanitária contra a febre amarela
Escalada:
APRESENTADOR (VV)
CORDÃO SANITÁRIO./ OUTROS 23 MUNICÍPIOS GAÚCHOS
ENTRAM NA ZONA DE RISCO DA FEBRE AMARELA./ TODA A
POPULAÇÃO DESTAS CIDADES DEVE SER VACINADA.///
Aparentemente uma matéria de serviço, a reportagem sobre o aumento do número
de municípios considerados zonas de risco da febre amarela ganhou destaque na edição do
SBT Rio Grande por sua inclusão na escalada do jornal. No entanto, logo no início se
percebe um modo de operação da ideologia pela dissimulação, através da estratégia de
metáfora, em referência à expressão cordão sanitário como se a inclusão dos municípios na
zona de risco aumentasse a proteção da população em relação à doença.
Reportagem:
APRESENTADORA (VV)
AUMENTA O NÚMERO DE MUNICÍPIOS GAÚCHOS EM ALERTA
CONTRA A FEBRE AMARELA./ O GOVERNO INCLUIU NA LISTA
CIDADES ONDE NÃO HOUVE O REGISTRO DA MORTE DE
BUGIOS./ O OBJETIVO É CRIAR UMA BARREIRA SANITÁRIA
CONTRA A DOENÇA.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O NÚMERO DE MUNICÍPIOS NA ÁREA DE RISCO PASSOU DE
111 PARA 134./ SÃO CIDADES DO NORTE, NOROESTE E
53
Informações apenas lidas pelo apresentador
96
CENTRO DO ESTADO./ NESTAS REGIÕES, CERCA DE 1 MILHÃO
E 400 MIL PESSOAS, CERCA DE 90% DA POPULAÇÃO, FORAM
VACINADAS CONTRA A FEBRE AMARELA SILVESTRE, E AGORA
A META É IMUNIZAR 95% DOS MORADORES COM A CHEGADA
DE UM REFORÇO DE 300 MIL DOSES.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE)
A INICIATIVA TEM CARÁTER PREVENTIVO./ SEGUNDO A
SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE, NOS MUNICÍPIOS
INCLUÍDOS NA LISTA NÃO HOUVE REGISTROS DE MORTES DE
BUGIOS./ MAS OS LOCAIS FICAM PRÓXIMOS ÀS ÁREAS ONDE
PODE OCORRER A CIRCULAÇÃO DO VÍRUS./ //
SONORA SECRETÁRIO DA SAÚDE OSMAR TERRA
NÓS ESTAMOS TOMANDO UMA MEDIDA ATÉ EXAGERADA./
NÓS ESTAMOS FAZENDO UM CINTURÃO DE MUNICÍPIOS EM
VOLTA DE TODA A ÁREA DE RISCO, QUE SÃO VIZINHOS DOS
VIZINHOS DOS MUNICÍPIOS ONDE APARECEU UM BUGIO
INFECTADO./ ENTÃO OS VIZINHOS DOS VIZINHOS TAMBÉM
NÓS VAMOS BLOQUEAR .///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O SECRETÁRIO TAMBÉM FEZ UM PEDIDO À POPULAÇÃO
PARA QUE NÃO MATEM OS BUGIOS, E LEMBROU QUE OS
MACACOS SERVEM DE ALERTA./ NOS LOCAIS ONDE ESSES
ANIMAIS APARECEM MORTOS OU DOENTES, RISCO DE
CONTAMINAÇÃO POR FEBRE AMARELA SILVESTRE./ EM
TODO O ESTADO FORAM NOTIFICADAS MAIS DE 920 MORTES
DE BUGIOS.///
SONORA SECRETÁRIO DA SAÚDE OSMAR TERRA
O CAUSADOR DA DOENÇA É O MOSQUITO, QUE TÁ EM
SUPERPOPULAÇÃO NESTA REGIÃO DE MATA CILIAR./ ENTÃO
ELE TÁ MATANDO OS BUGIOS COMO PODE MATAR AS
PESSOAS SE NÃO SE VACINAREM.///
A construção da reportagem do SBT Rio Grande é feita de forma a justificar a
iniciativa do Governo do Estado de incluir mais 23 municípios na zona de risco da febre
amarela. Estabelece-se uma cadeia de raciocínio que tenta explicar os benefícios da ação
para a população, caracterizando uma racionalização de forma a persuadir a audiência a
legitimar o ato.
Em alguns pontos é possível identificar o sentido de unificação dos habitantes das
regiões citadas em torno de objetivos comuns, como erradicar o risco de contaminação da
febre amarela por meio da vacina e a preservação dos bugios enquanto sentinelas da doença.
Mesmo de maneira mais sutil, numa pauta que é de interesse público e que, pelos
critérios jornalísticos, visa a saúde e o bem-estar social, a operação da ideologia para
estabelecer e manter relações de dominação e poder também está presente.
97
5.2.10 TVE em Dia – barreira sanitária contra a febre amarela
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
O NÚMERO DE MUNICÍPIOS EM RISCO DEVIDO À FEBRE
AMARELA SUBIU DE 110 PARA 133./ MESMO COM ESTE
AUMENTO O SECRETÁRIO DA SAÚDE DO ESTADO GARANTE
QUE A SITUAÇÃO ESTÁ SOB CONTROLE./ PARA EVITAR MAL
ENTENDIDOS, AGORA COMEÇA UMA CAMPANHA DE
PRESERVAÇÃO DOS BUGIOS./
SONORA SECRETÁRIO DA SAÚDE OSMAR TERRA
TUDO INDICA É QUE A TENDÊNCIA É HAVER UM DECLÍNIO
DO RISCO DE INFECÇÃO PELA QUANTIDADE DE PESSOAS
VACINADAS./ NÓS ESTAMOS CHEGANDO NOS MUNICÍPIOS DA
ÁREA DE RISCO, NOS 111, PRÓXIMO A MAIS DE 90% DAS
PESSOAS SENDO VACINADAS, PROTEGIDAS./ E ESTAMOS
TENDO UM DECLÍNIO IMPORTANTE DOS CASOS SUSPEITOS./
O QUE ESTAMOS FAZENDO AGORA, PRA AMARRAR BEM A
PROTEÇÃO DA POPULAÇÃO, PRA FECHAR BEM A PROTEÇÃO
DA POPULAÇÃO É FAZER MAIS UM CÍRCULO EM VOLTA DA
REGIÃO DE RISCO NOS MUNICÍPIOS QUE SÃO VIZINHOS DOS
VIZINHOS AONDE SURGIU BUGIOS MORTOS POR FEBRE
AMARELA./ É IMPORTANTE ALERTAR A POPULAÇÃO QUE O
BUGIO NÃO É RESPONSÁVEL PELA DOENÇA NEM ELE A
TRANSMITE./ O BUGIO NA VERDADE É VÍTIMA DA FEBRE
AMARELA COMO O SER HUMANO, ENTÃO NÃO SE DEVE
ELIMINAR O BUGIO./ O BUGIO É IMPORTANTE QUE ELE VIVA
PORQUE ELE É UM SENTINELA, QUANDO ELE ADOECE OU
MORRE É SINAL QUE A FEBRE AMARELA PODE ESTAR
PRESENTE ALI E NOS ALERTA PARA VACINAR A POPULAÇÃO./
SE NÃO TIVER BUGIO NÓS VAMOS FICAR DESPROTEGIDOS.///
Mesmo a versão simplificada da cobertura feita pelo TVE em Dia evidencia que a
ideologia opera também por meio da legitimação da ação do governo na reportagem sobre o
aumento dos municípios em zona de risco da febre amarela. Aqui, a ação que num primeiro
momento representaria preocupação, é legitimada como benéfica pelo discurso do Secretário
da Saúde do Rio Grande do Sul, usado como representação de autoridade.
5.2.11 SBT Rio Grande – material escolar nos supermercados
Escalada:
APRESENTADORA (VV)
MESMO COM A CRISE./ SUPERMERCADOS ESPERAM
AUMENTAR EM 11% AS VENDAS DE MATERIAL ESCOLAR EM
RELAÇÃO AO ANO PASSADO.///
Reportagem:
98
APRESENTADORA (VV)
O SUPERMERCADO É UMA BOA OPÇÃO PARA QUEM PRECISA
COMPRAR MATERIAL ESCOLAR./ A EXPECTATIVA DO SETOR É
VENDER 11% A MAIS DO QUE NO ANO PASSADO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (O REPÓRTER APARECE NA
IMAGEM)
A PESQUISA DA ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE SUPERMERCADOS
APONTA QUE 62% DOS CONSUMIDORES NÃO DESCARTA A
POSSIBILIDADE DE COMPRAR MATERIAL ESCOLAR NESTES
ESTABELECIMENTOS./ ENTRE OS MOTIVOS CITADOS ESTÃO A
COMODIDADE, FACILIDADE DE COMPRAR NO CARTÃO E A
VARIEDADE DE PRODUTOS./ ALÉM DE PROMOÇÕES, OS
SUPERMERCADISTAS GAÚCHOS APOSTAM EM PREÇOS MAIS
BAIXOS./ O SETOR PRETENDE AUMENTAR EM 11% A VENDA
DE MATERIAL ESCOLAR NA COMPARAÇÃO COM O ANO
PASSADO.///
SONORA GERENTE EXECUTIVO AGAS
NORMALMENTE OS SUPERMERCADOS ESTÃO ABRINDO UM
ESPAÇO MAIOR NOS SEUS PONTOS DE VENDA PARA
EXPOSIÇÃO DESTES PRODUTOS./ COM ILHAS, COM
PROMOÇÕES, COM ESPAÇO REALMENTE ATRATIVO PARA
QUE O CONSUMIDOR POSSA ESCOLHER E REALIZAR SUAS
COMPRAS./
REPÓRTER PERGUNTA: PREÇOS MAIS BAIXOS NO
SUPERMERCADO?
ESTE ANO TEM UMA EXPECTATIVA ATÉ ABAIXO DA
INFLAÇÃO./ O MATERIAL ESCOLAR SUBIU ALGO EM TORNO
DE 3 A 4% EM MÉDIA./ A INFLAÇÃO A GENTE SABE QUE
SUBIU MAIS DE 6%./ ENTÃO, NA COMPARAÇÃO COM O ANO
PASSADO OS MATERIAIS ESTÃO DEFLACIONADOS, MAIS
BARATOS QUE NO ANO PASSADO///
APRESENTADORA (VV)
OLHA, É PRECISO FICAR EM ALERTA./ ESSA PESQUISA É DA
PRÓPRIA ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE SUPERMERCADOS, OU
SEJA, É O SETOR FAZENDO UMA PESQUISA PARA O SETOR./
MELHOR MESMO É FAZER UMA PESQUISA PESSOALMENTE,
GASTAR SOLA DE SAPATO, E COMPARAR OS PREÇOS, PARA AÍ
SIM ENCONTRAR ALGO MAIS EM CONTA.///
A perspectiva de aumento nas vendas de material escolar nos supermercados ganha
destaque na escalada do SBT Rio Grande como um setor de resistência à crise econômica
mundial. A divulgação da pesquisa também aponta a preferência dos consumidores pelo
supermercado pelas supostas vantagens que ele oferece como comodidade, facilidade de
comprar no cartão e a variedade de produtos. A estratégia de legitimação por meio da
racionalização é evidente, pois a reportagem tenta construir uma cadeia de raciocínio de
forma a convencer os consumidores de que comprar material escolar nos supermercados é
mais vantajoso.
99
No discurso do presidente da AGAS também nota-se uma tentativa de dissimulação
por meio de deslocamento quando ele diz que os preços estarão mais baixos do que no ano
passado. Na verdade os produtos estarão 4,5% mais caros, só que ao comparar o aumento com
o índice de inflação de 6%, na ótica do supermercadista, justificaria o uso da expressão mais
baratos.
No final da matéria ocorre um processo interessante. A apresentadora contesta a
legitimidade das informações transmitidas pela própria matéria que ela mesma anunciou, de
maneira a minimizar a pesquisa à sua real importância, como algo que diz respeito somente
aos supermercadistas. Há aqui uma forma de resistência à presença da ideologia na construção
simbólica apresentada.
5.2.12 TVE em Dia – material escolar nos supermercados
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
A ASSOCIAÇÃO GAÚCHA DE SUPERMERCADOS DIVULGOU
AGORA PELA MANHÃ UM ESTUDO SOBRE AS EXPECTATIVAS
DE VENDA DO MATERIAL ESCOLAR NOS SUPERMERCADOS
GAÚCHOS.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
ESSA GRANDE REDE DE SUPERMERCADOS OFERECE 24
ITENS NA CESTA BÁSICA DE MATERIAL ESCOLAR POR 29
REAIS E 99 CENTAVOS./ CADA ITEM CUSTA EM MÉDIA UM
REAL E 24 CENTAVOS./ A EXPECTATIVA É SUPERAR EM 15 %
AS VENDAS DO ANO PASSADO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE)
NOS MESES DE FEVEREIRO E MARÇO, OS SUPERMERCADISTA
PRETENDEM VENDER 35 MILHÕES DE REAIS EM MATERIAL
ESCOLAR./ OS PRINCIPAIS ATRATIVOS SÃO A COMODIDADE
DE COMPRAR NO CARTÃO DE CRÉDITO DO PRÓPRIO
SUPERMERCADO E TAMBÉM OS PREÇOS COMPETITIVOS.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
OS DADOS FORAM DIVULGADOS HOJE PELA AGAS./
SEGUNDO O PRESIDENTE DA ENTIDADE, OS PREÇOS ESTE
ANO VÃO TER UM ACRÉSCIMO DE 4,5% SE COMPARADOS A
2008.///
SONORA PRESIDENTE AGAS
O FATOR PREÇO TEM DETERMINADO A PREFERÊNCIA./ OS
SUPERMERCADOS TEM AMPLIADO MUITO O MIX EM
VARIEDADE DE PRODUTOS, TANTO QUE OS
SUPERMERCADOS, ESSE ANO.../ OU SEJA A EXPECTATIVA DE
100
VENDA QUE NÃO FOQUE-SE MUITO EM GRIFES OU
PERSONAIS, NÉ./ QUE OS PRODUTOS MAIS BARATOS SEJAM
OS PREFERIDOS, E QUE NISSO OS SUPERMERCADOS TEM
MUITAS OPÇÕES DE CADERNOS E CANETAS COM PREÇOS
ACESSÍVEIS.///
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A AGAS TAMBÉM COMEMORA DADO DA PESQUISA QUE
APONTOU PELO SEGUNDO ANO CONSECUTIVO O
SUPERMERCADO COMO LOCAL DE PREFERÊNCIA DO
CONSUMIDOR PARA A COMPRA DE MATERIAL ESCOLAR.///
SONORA PRESIDENTE AGAS (COBERTA POR IMAGENS
DOS PRODUTOS)
A CONVENIÊNCIA DE PODER COMPRAR O MATERIAL
ESCOLAR AOS OUTROS PRODUTOS DA NECESSIDADE DO LAR
FAZ COM QUE OS SUPERMERCADOS, PELO SEGUNDO ANO,
ASSUMAM ESSA POSIÇÃO DE LÍDER NA PREFERÊNCIA DE
COMPRAS DOS CONSUMIDORES, E DANDO OPÇÃO ÀS
CRIANÇAS, QUE 80% DA DECISÃO NA COMPRA DO
MATERIAL ESCOLAR ESTÁ NA MÃO DAS CRIANÇAS E ISSO FAZ
COM QUE ELAS TENHAM POSSIBILIDADE DE IR AO
SUPERMERCADO./ A QUESTÃO DO PRAZO E CONVENIÊNCIA
DE PREÇOS TAMBÉM FACILITA MUITO.///
A estratégia de legitimação por meio da racionalização é mais acentuada na
reportagem do TVE em Dia se comparada ao material do SBT Rio Grande, pois ela constrói
uma cadeia de raciocínio ao longo de todo o texto, de forma a convencer os consumidores de
que comprar material escolar nos supermercados é mais vantajoso.
Na sonora, o presidente da AGAS não fala como representante dos
supermercadistas, mas também como autoridade perante os consumidores ao querer delimitar
o que é ou não vantajoso na hora de comprar material escolar. A intenção caracteriza uma
sinédoque para estabelecer a estratégia de tropo a fim de estabelecer uma dissimulação, pois
ele se utiliza de uma pesquisa do setor supermercadista para representar a opinião dos
consumidores.
5.2.13 Jornal do Almoço – Fenavinho
O Jornal do Almoço especial sobre a Fenavinho começou de forma diferente das
edições tradicionais, o que reforça a hipótese de que esta edição do programa foi construída
com base em acordos comerciais, e não apenas em decisões editoriais, como é de costume. A
escalada deu lugar a um clipe de abertura com imagens de Bento Gonçalves intercaladas com
a da apresentadora Cristina Ranzolin e do humorista Iotti andando de motocicleta pela cidade.
101
O áudio começa com uma música típica da cultura italiana, para dar lugar à fala dos dois
apresentadores quando descem da moto.
APRESENTADORA CRISTINA RANZOLIN
AIAIAIAIAI...///
APRESENTADOR IOTTI
AIAI, CHEGAMOS, CRISTINA!/ DEPOIS DE 130 KM TE TROUXE
AÍ. FENAVINHO PRA TI./ FALCÃO, CUIDEI DIREITINHO.///
APRESENTADORA CRISTINA RANZOLIN
FIQUEI MEIO ASSUSTADA MAS CONFESSO QUE CHEGUEI
BEM./ TA BEM, IOTTI./ MEU DEUS DO CÉU./ E OLHA SÓ,
VIEMOS RÁPIDO./ CHEGAMOS CEDO NA FESTA./ AFINAL A
FENAVINHO SÓ ABRE OS PORTÕES ÀS SEIS HORAS DA
TARDE./ MAS QUE ESTAMOS POR AQUI VAMOS MOSTRAR
UM POUQUINHO DO QUE TEM NESTES 58 MIL METROS
QUADRADOS DE PAVILHÕES./ TEM VINHO, MUITO VINHO./
VINHO DE TODAS AS REGIÕES PRODUTORAS DO PAÍS./ SÃO
MAIS DE TRÊS MIL RÓTULOS DIFERENTES./ TAMBÉM FEIRAS
DE ARTESANATO, FEIRA DE MÁQUINAS E IMPLEMENTOS
AGRÍCOLAS, PRODUTOS TÍPICOS ITALIANOS, MUSEU DO
VINHO.../ A GENTE VAI MOSTRAR TUDO ISTO NO PROGRAMA
DE HOJE./ E CLARO QUE TAMBÉM TEM AS NOTÍCIAS DO DIA./
VAMOS VER COMO É QUE ESTÁ A SITUAÇÃO DOS
MORADORES LÁ DA ZONA SUL DO ESTADO QUE ESTÃO
AINDA CONTABILIZANDO OS PREJUÍZOS COM O TEMPORAL
DA ÚLTIMA QUARTA-FEIRA./ VAMOS LÁ!/FENAVINHO, VAMOS
LÁ!/
VINHETA DE ABERTURA DO JORNAL
Logo na abertura do telejornal uma tentativa de justificar um por que da edição
ser especial sobre a Fenavinho. A apresentadora enumera inúmeras atrações do evento no
sentido de que muito a ser mostrado, caracterizando uma tentativa de racionalização dos
motivos que levaram o Jornal do Almoço a ser transmitido de Bento Gonçalves, uma forma
de persuadir a audiência de que esta decisão é digna de apoio, e que, portanto, a Fenavinho é
um evento legitimado pelos gaúchos.
APRESENTADORA CRISTINA RANZOLIN (VV IMAGEM
DA APRESENTADORA SE INTERCALA COM IMAGENS DO
AMBIENTE)
AGORA SIM ESTAMOS AQUI DENTRO DOS PAVILHÕES DA
FENAVINHO QUE ESTÁ RECEBENDO OS ÚLTIMOS RETOQUES
PRA FESTA DE LOGO MAIS./ BENTO GONÇALVES É A MAIOR
PRODUTORA DE UVA E DE VINHOS FINOS DO PAÍS./ AQUI
ESTÃO INSTALADAS 78 VINÍCOLAS./ NA ÚLTIMA SAFRA
FORAM PRODUZIDOS 570 MILHÕES DE QUILOS DE UVA E
QUASE 320 MILHÕES DE LITROS DE VINHO./ MAS O QUE A
GENTE QUER MOSTRAR PRA VOCÊ AGORA E QUE ESTA
PRODUÇÃO DE UVA E DE VINHOS ESTÁ ESPALHADA POR
102
DIVERSAS REGIÕES HOJE EM DIA AQUI NO NOSSO ESTADO./
CONFIRA AÍ.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
UMA BEBIDA ENCORPADADE HISTÓRIAS E EMOÇÕES.///
SONORA COM APRECIADOR
PRA DESCONTRAIR NÉ./ CRIAR AQUELE AMBIENTE
ROMÂNTICO.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
É TAMBÉM NOSTALGICA./ TRAZ A LEMBRANÇA DE COMO
TUDO COMEÇOU COM OS IMIGRANTES ITALIANOS NO
SÉCULO 19./ A BEBIDA ERA FEITA DE FORMA RÚSTICA E
ARTESANAL./ MAS OS DESCENDENTES SOUBERAM
APROVEITAR O POTENCIAL, E HOJE O VINHO É UMA DAS
BASES DA ECONOMIA DA REGIÃO./ GERA EMPREGOS./ ATRAI
TURISTAS./
SONORA TURISTA
EU ESPERO QUE TODOS VENHAM VER ISSO AQUI PORQUE
ISSO AQUI É UMA MARAVILHA./
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
UM DOS ENCANTOS É AMASSAR AS UVAS COM OS PÉS, COMO
FAZIAM OS IMIGRANTES./ DAS 728 VINÍCULAS REGISTRADAS
NO ESTADO, QUASE TODAS ESTÃO ENTRE OS VALES DA
SERRA./ 78 EM BENTO GONÇALVES.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
VINÍCOLA DE BENTO GONÇALVES)
NA SERRA SÃO PRODUZIDOS EM MÉDIA 270 MILHÕES DE
LITROS POR ANO./ 100 MILHÕES EM BENTO GONÇALVES
ENTRE OS VINHOS FINOS E OS COMUNS.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
VINÍCOLA DE BAGÉ)
NA REGIÃO DA CAMPANHA PELO MENOS TRÊS GRANDES
VINÍCOLAS ESTÃO INSTALADAS./ A ÚLTIMA DELAS
INAUGURADA AQUI EM BAGÉ NO FINAL DO ANOS PASSADO./
UM INVESTIMENTO DE DOIS MILHÕES DE REAIS QUE JÁ ESTÁ
TRAZENDO RETORNO./ A PRIMEIRA SAFRA DE VINHOS E
ESPUMANTES PODE SER ENCONTRADA NO MERCADO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
VINÍCOLA DE SANTA MARIA)
NA REGIÃO CENTRAL DO ESTADO O DESTAQUE É O
MUNICÍPIO DE JAGUARI, COM CINCO VINÍCOLAS QUE
JUNTAS FABRICAM CERCA DE 750 MIL LITROS POR ANO./ A
CANTINA MAIS ANTIGA TEM 77 ANOS./ JÁ EM SANTA MARIA, A
PRODUÇÃO INDUSTRIAL É BEM MAIS JOVEM, INICIOU A
POUCO MAIS DE 20 ANOS./ SÃO TRÊS VINÍCOLAS./ A MAIOR É
ESTA, QUE ALÉM DA PRODUÇÃO PRÓPRIA, TERCEIRIZA A
FABRICAÇÃO./ O VINHO DAQUI É DESTINADO
PRINCIPALMENTE A UM MERCADO REGIONAL.///
103
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
VINÍCOLA DE CARAZINHO)
AQUI NA REGIÃO DO PLANALTO MÉDIO, QUE REÚNE 70
MUNICÍPIOS, A PRODUÇÃO ANUAL DE VINHO É DE CERCA
DE 700 MIL LITROS./ AS PRINCIPAIS VARIEDADES DE UVAS
UTILIZADAS NA FABRICAÇÃO DA BEBIDA SÃO NIAGARA,
ISABEL E BORDOUT./ O PROCESSO SE INDUSTRIALIZOU
DURANTE OS ANOS 90, E HOJE UMA PARTE DA PRODUÇÃO É
VENDIDA PARA OUTROS ESTADOS, COMO PARANÁ E GOIÁS.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE NUMA
VINÍCOLA DE BENTO GONÇALVES)
A SOMA DE TODA A PRODUÇÃO DO ESTADO É EM MÉDIA DE
300 MILHÕES DE LITROS POR ANO./ 90% VÃO PARA A MESA
DOS BRASILEIROS./ OS OUTROS 10% EXPORTADOS VÃO
PRINCIPALMENTE PARA OS ESTADOS UNIDOS, ALEMANHA E
INGLATERRA./ DESDE 2006 AS EXPORTAÇÕES DUPLICAM A
CADA ANO.///
OFF4 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
MAS A CRISE INTERNACIONAL PODE RETRAIR O MERCADO./
UM DESAFIO A MAIS PARA O SETOR QUE ENFRENTA O
PROBLEMA DO ESTOQUE./ A IMPORTAÇÃO SEM CONTROLE E
O CONTRABANDO PRINCIPALMENTE DA ARGENTINA
GERARAM UM EXCEDENTE DE 150 MILHÕES DE LITROS DE
VINHO./ ESTRATÉGIAS FORAM PLANEJADAS PARA VALORIZAR
O PRODUTO E CONQUISTAR MERCADOS.///
SONORA COM PRODUTOR DE VINHOS
GANHAR ESPAÇO EM SUPERMERCADOS, PORQUE
GANHANDO ESPAÇO EM GÔNDOLA O CONSUMIDOR
ENXERGA O PRODUTO NACIONAL DE IGUAL QUALIDADE AOS
VINHOS IMPORTADOS.////
OFF5 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
UMA ALIADA É A QUALIDADE DO PRODUTO./ OS CONCURSOS
TÊM COMPROVADO./
SONORA ENÓLOGO DIRETOR DA IBRAVIN
SÃO QUASE DUAS MIL PREMIAÇÕES NA ÚLTIMA DÉCADA,
NÉ./ E INCLUSIVE NAS DEGUSTAÇÕES ÀS CEGAS FICOU
COMPROVADO QUE QUANDO AS PESSOAS NÃO SABEM A
ORIGEM E NÃO SABE DAONDE OU EXATAMENTE QUAL É A
VINÍCOLA QUE PRODUZ, COM MAIS FACILIDADE ELA
IDENTIFICA O VINHO BRASILEIRO COMO UM PRODUTO DE
QUALIDADE.///
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
UMA QUALIDADE FEITA DE SABOR, AROMA, COR, MUITO
TRABALHO E HISTÓRIA.///
Na chamada da matéria há vários indícios de operação da ideologia por
dissimulação. Quando a apresentadora diz que Bento Gonçalves é a maior produtora de vinho
faz a junção semântica da parte – as vinícolas localizadas na cidade – e do todo – a população
104
do município o que caracteriza a estratégia de tropo por meio de sinédoque. A utilização de
números na casa dos milhões não deixa de ser também uma espécie de eufemização da
produção de vinho como algo grandioso.
A dissimulação segue presente no início do VT, quando o primeiro off usa uma
expressão metafórica para se referir ao vinho como uma bebida encorpada de histórias e
emoções. Na seqüência, há uma narrativização da história do início da produção do vinho no
Estado como uma tradição que atravessa gerações, legitimando-a como algo digno de apoio
porque gera empregos e atrai turistas.
A seqüência de boletins de passagem em diferentes lugares do Estado tendem a
indicar uma certa onipresença da produção vinícola, de forma a construir um raciocínio lógico
para demonstrar a importância do setor para a economia do Rio Grande do Sul, o que é
atestado por especialistas e produtores, o que também caracteriza uma legitimação por
racionalização.
Ao final da matéria, novamente se percebe a metáfora na oração uma qualidade
feita de sabor, aroma, cor, muito trabalho e história, característica da dissimulação enquanto
meio de operação da ideologia.
5.2.14 SBT Rio Grande – memorial do legislativo
Escalada:
APRESENTADORA (VV)
HISTÓRIA E POLÍTICA./ ESTÃO QUASE PRONTAS AS OBRAS DE
RESTAURAÇÃO DA PRIMEIRA SEDE DO LEGISLATIVO
GAÚCHO./ O CASARÃO ROSA VAI FICAR ABERTO AO
PÚBLICO.///
Reportagem:
APRESENTADORA (VV)
UM ENDEREÇO HISTÓRICO./ ACONTECE ESTA TARDE A
ENTREGA DAS OBRAS DO PRÉDIO QUE FOI A PRIMEIRA SEDE
DA ASSEMBLÉIA./ O CASARÃO ROSA VAI ABRIGAR O
MEMORIAL LEGISLATIVO GAÚCHO./ VEJA A REPORTAGEM
ESPECIAL DA SÉRIE CONHEÇA A SUA CIDADE.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
PARA OS DESAVISADOS A PERGUNTA ATÉ QUE É DIFÍCIL./
QUEM PASSA PELO MODERNO E ARROJADO PALÁCIO
FARROUPILHA NEM PENSA QUE OS DEPUTADOS
DESPACHARAM DE UM OUTRO ENDEREÇO./ VOCÊ SABE
ONDE ERA?/
105
ENQUETE TRANSEUNTES
BAH, EU NÃO./ NÃO SEI./ A ANTIGA ASSEMBLÉIA? ERA ALI,
MAIS ADIANTE./
BOLETIM DE PASSAGEM (O REPÓRTER APARECE)
PARA ACERTAR A RESPOSTA AI VÃO ALGUMAS DICAS./ A
PRIMEIRA SEDE DO PARLAMENTO GAÚCHO ESTÁ
LOCALIZADA EXATAMENTE EM FRENTE AONDE HOJE FICA A
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA./ BASTA ATRAVESSAR A RUA./ E SE
VOCÊ ESTIVER JUNTO AO PALÁCIO PIRATINI, NEM PRECISA./
É DO LADO, NAQUELE CASARÃO ROSA NA DUQUE DE
CAXIAS./ O PRÉDIO MAIS ANTIGO EM PORTO ALEGRE AINDA
DE PÉ.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A CONSTRUÇÃO ERGUIDA EM 1790 NEM SEMPRE FOI ASSIM./
NA ÉPOCA DO IMPÉRIO TINHA APENAS UM PAVIMENTO EM
ESTILO BARROCO COLONIAL./ O LOCAL QUE SERVIU DE
PALCO PARA IMPORTANTES EPISÓDIOS DA HISTÓRIA
GAÚCHA, COMO A CRIAÇÃO DA PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO
ESTADUAL, ALÉM DAS DISPUTAS POLÍTICAS QUE
CULMINARAM NA GUERRA DOS FARRAPOS.///
SONORA HISTORIADOR
O PRESIDENTE DA PROVÍNCIA, FERNANDES BRAGA, ACUSOU
OS DEPUTADOS RIOGRANDENSES, DOS QUAIS ESTAVA
PRESENTE BENTO GONÇALVES, DE ARMAREM UMA
REBELIÃO CONTRA O IMPERADOR./ E A PARTIR DESTE
DISCURSO DO IMPERADOR FERNANDES BRAGA É QUE SE
DESENROLOU, DESENCADEOU A REVOLUÇÃO
FARROUPILHA.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A ÚLTIMA SESSÃO NO VELHO PLENÁRIO POR ONDE
PASSARAM BENTO GONÇALVES E GETÚLIO VARGAS
ACONTECEU EM 1967./ MAS ELE VAI SER RECONSTITUÍDO
PARA ABRIGAR O MEMORIAL DO LEGISLATIVO./ AS OBRAS DE
RESTAURAÇÃO COMEÇARAM EM 2005./ CUSTARAM 2
MILHÕES DE REAIS./ LUGAR QUE VAI PRESERVAR
DOCUMENTOS HISTÓRICOS E MAIS DE 5 MIL FOTOS./ SERÁ O
ROTEIRO OBRIGATÓRIO PARA QUEM QUER CONHECER
MELHOR O PASSADO DO RIO GRANDE DO SUL.///
SOBE SOM (MÚSICA SOBRE IMAGENS)
APRESENTADORA (VV)
NÃO DATA PARA A ABERTURA DO MEMORIAL DO
LEGISLATIVO AO PÚBLICO. AINDA FALTA A COLOCAÇÃO DE
PARTE DO MOBILIÁRIO E DO ACERVO.///
A narrativização da história da antiga sede do parlamento gaúcho confere-lhe
legitimidade de forma a justificar o exercício do poder que os deputados possuem, um poder
que transcende as experiências de conflito, da diferença e da divisão que permeiam a história
do Rio Grande do Sul. A importância histórica agregada ao memorial é usada também como
106
forma de justificar um gasto de dois milhões e 400 mil reais do dinheiro público, portanto, é
descrita de modo a despertar uma valoração positiva do investimento e desviar a atenção do
público, o que caracteriza a dissimulação.
O destaque da reportagem aos episódios dentro do parlamento que culminaram na
Revolução Farroupilha, que colocou os gaúchos em guerra contra o império, também é um
modo de operação da ideologia por meio da unificação, pois relembra a construção de um
símbolo de unidade, de identidade e de identificação entre os gaúchos.
5.2.15 TVE em Dia – memorial do legislativo
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
MEMORIAL DO LEGISLATIVO GAÚCHO ESTÁ ABERTO À
POPULAÇÃO./ APESAR DA ENTREGA DA OBRA, O MEMORIAL
NÃO ESTÁ TOTALMENTE PRONTO./ ESTA É A MAIS ANTIGA
CONSTRUÇÃO DA CAPITAL
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
INAUGURADO ANTES MESMO DA INSTAURAÇÃO DA
REPÚBLICA NO BRASIL, O EDIFÍCIO DA AVENIDA DUQUE DE
CAXIAS GUARDA PARTE DA TRAJETÓRIA POLÍTICA DO RIO
GRANDE DO SUL./ POR ESTES CORREDORES CIRCULARAM
IMPORTANTES FIGURAS DA HISTÓRIA NACIONAL./
SONORA PRESIDENTE DA ASSEMBLÉIA
A PASSAGEM POR ESTE PRÉDIO QUANDO ESTIVER PRONTO É
UMA AULA DE UM JOGO DE HISTÓRIA QUE A PESSOA PODE
TER EM UMA HORA E MEIA, DUAS HORAS./ ALÉM DISSO, ESTE
PRÉDIO, A HISTÓRIA DELE, VAI REPRESENTAR PARA OS
PARLAMENTARES QUE OCUPARÃO ESTA CASA DORAVANTE,
COMO ALGO QUE FAZ RECUPERAR A SUA
RESPONSABILIDADE PARLAMENTAR PELA HISTÓRIA
ANTIGA.///
BOLETIM DE PASSAGEM (O REPÓRTER APARECE)
ESTE PRÉDIO FOI CONSTRUÍDO EM 1790 E FUNCIONOU
COMO A SEDE DO LEGISLATIVO ATÉ 1967./ CONSIDERADO A
MAIS ANTIGA CONSTRUÇÃO DE PORTO ALEGRE, O NOVO
ESPAÇO PASSOU DE 750 PARA 1392 METROS QUADRADOS,
COM A UTILIZAÇÃO DESTE SUBSOLO E DOS MEZANINOS.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
ORÇADO EM 2 MILHÕES E 400 MIL REAIS, A OBRA LEVOU
QUATRO ANOS PARA SER CONCLUÍDA./ PARA TERMINAR A
REFORMA, ALGUMAS DIFICULDADES FORAM SUPERADAS./
107
SONORA PRESIDENTE DA COMISSÃO DE OBRAS JOSÉ
SPEROTTO EM OFF (FALA É COBERTA POR IMAGENS)
A DIFICULDADE MAIOR FOI NO LIDAR DE UMA OBRA
DIFERENCIADA, NÃO É?/ NÓS TEMOS AQUI UMA JÓIA RARA./
É MUITO IMPORTANTE O QUE NÓS ESTAMOS PRESERVANDO
AQUI./ O PASSADO, EM TERMOS DE ARQUITETURA, É
PATRIMÔNIO HISTÓRICO ARQUITETÔNICO, NÃO É?/ ONDE
ESTÁ AQUI O SISTEMA CONSTRUTIVO DA ÉPOCA, ALVENARIA
DE TIJOLO ASSENTADO COM ARGAMASSA DE BARRO E DE
CAL./ NÃO EXISTIA NA ÉPOCA O CIMENTO, NÃO EXISTIA
CONCRETO./
OFF3 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A PRESERVAÇÃO DA ARQUITETURA E A DIVULGAÇÃO DE
DOCUMENTOS QUE CONTAM PELO MENOS 50 MIL DIAS DA
HISTÓRIA DA ASSEMBLÉIA, SERÃO ATRAÇÕES DO MEMORIAL,
DIVIDIDOS EM QUATRO ANDARES DE ACERVO./
SONORA COORDENADORA DO PROJETO
NESTE ANDAR INFERIOR, QUE NÓS CHAMAMOS DE SUBSOLO,
FICARÁ O ARQUIVO DOS PROCESSOS LEGISLATIVOS E DOS
PROCESSOS ADMINISTRATIVOS DE CARÁTER HISTÓRICO./ NO
ANDAR SUPERIOR SÃO AS OBRAS RARAS, BIBLIOGRAFIA
HISTÓRICA, A PARTE ADMINISTRATIVA, A SALA DO DIRETOR
DO MEMORIAL DO LEGISLATIVO, O ACERVO DA FOTOGRAFIA
E DA TV ASSEMBLÉIA./ NO PRIMEIRO ANDAR O PLENÁRIO./ E
NO ÚLTIMO ANDAR, QUE É O SÓTÃO, UMA SALA DE 107
METROS QUADRADOS, É UMA SALA PREDESTINADA À
PESQUISA, AO RESTAURO, É UMA SALA BELÍSSIMA, E QUE
TEREMOS UM ESPAÇO PARA PODER DISPONIBILIZAR PARA
SERVIÇOS INTERNOS, INCLUSIVE DO PRÓPRIO MEMORIAL,
QUE VAI EXIGIR UM ESPAÇO DESTE TEOR.///
SOBE SOM (MÚSICA SOBRE IMAGENS)
A exemplo do que foi mostrado no SBT Rio Grande, a valoração da história
também é usada para legitimar, por meio da narrativização, as relações de poder e dominação
que se estabeleceram no Rio Grande do Sul a partir das decisões do parlamento gaúcho, o que
justificaria um alto investimento na recuperação da antiga sede deste poder como mais um
símbolo de unidade entre os riograndenses.
Uma construção diferenciada caracterizada na reportagem do TVE em Dia é o
prolongamento da história do legislativo gaúcho indefinidamente, que teria sido inaugurado
antes mesmo da instauração da república no Brasil, e que se projeta aos tempos atuais de
forma permanente, natural e atemporal, remetendo assim a outro modo de operação da
ideologia, a reificação.
108
5.2.16 TVE em Dia – preparação para o encerramento de navegantes
Escalada
APRESENTADOR
PORTO ALEGRE SE ORGANIZA PARA A SUA MAIOR FESTA
RELIGIOSA.///
STAND UP REPÓRTER
VAMOS SABER COMO FICARÁ O TRÂNSITO E A EXPECTATIVA
DA ORGANIZAÇÃO DA FESTA DE NAVEGANTES.///
A cobertura do TVE em Dia sobre os preparativos para o encerramento das
festividades de Nossa Senhora dos Navegantes surpreende pelo destaque destinado ao
assunto, que a festa ainda não aconteceu. A idéia inicial é de que a pauta seja de serviço,
que vai informar a população sobre as atrações da festa e as alterações que a procissão
implicará no trânsito. No entanto, logo na escalada já se percebe a dissimulação operando por
meio da estratégia de tropo sob a forma de sinédoque, quando o apresentador diz que Porto
Alegre se organiza para a sua maior festa religiosa. Na frase também a legitimação da
Igreja como autoridade religiosa.
Reportagem:
APRESENTADOR (VV)
TUDO PRONTO PARA A MAIOR FESTA RELIGIOSA DA CAPITAL
GAÚCHA./ A PROCISSÃO DE NOSSA SENHORA DOS
NAVEGANTES, ESTE ANO, RETOMA A ROMARIA PLUVIAL,
INTERROMPIDA 20 ANOS./ A PROCISSÃO DOS
NAVEGANTES É UM MOMENTO A MAIS PARA ORAR E PAGAR
PROMESSAS A NOSSA SENHORA.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
DONA MÁRCIA FOI HOJE COM O NETO PAGAR UMA
PROMESSA NO SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DOS
NAVEGANTES./ SEIS ANOS ATRÁS, A FILHA DELA QUASE
FICOU NA MESA DE PARTO.///
SONORA DONA MÁRCIA
EU PEDI PRA ELA./ PRA ELA AJUDAR NO PARTO, NA HORA DO
PARTO./ QUE ELE NASCESSE SADIO, FORTE E SEM NENHUM
DEFEITO./ E GRAÇAS A DEUS, GRAÇAS A ELA, TAÍ UM
GURIZÃO FORTE, ARTEIRO./ ME ATRASEI UM POUQUINHO
MAS TO PAGANDO.///
VOZ DE DONA MÁRCIA EM OFF (COBERTO COM
IMAGENS)
É UM MANTO AZUL, NÉ, DE ELE ENTRAR NA PORTA E
CHEGAR NO ALTAR./ EU VOU DOBRAR E ELE VAI BOTAR NO
ALTAR.///
OFF2 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
A DEVOÇÃO DE DONA MÁRCIA É A MESMA DE MILHARES DE
FIÉIS QUE, TODOS OS ANOS, NESTA ÉPOCA, PARTICIPAM DA
PROCISSÃO DE NAVEGANTES./ UMA FESTA RELIGIOSA QUE
TEM 134 ANOS./ FOI CRIADA POR UM GRUPO DE
AÇORIANOS RESIDENTES EM PORTO ALEGRE./ A PROCISSÃO,
109
QUE ERA FEITA POR BARCO, PASSOU A SER TERRESTRE EM
1989, POR CAUSA DO ACIDENTE COM O BATEAU MOUCHE NO
RIO DE JANEIRO.///
BOLETIM DE PASSAGEM (A REPÓRTER APARECE)
HOJE, VINTE ANOS DEPOIS, A PROCISSÃO FLUVIAL VAI SER
RETOMADA EM CARÁTER OFICIAL./ A IMAGEM DA SANTA VAI
SEGUIR POR ÁGUA, E NÃO POR TERRA./ UMA DECISÃO QUE
GEROU MUITA POLÊMICA.///
SONORA PÁROCO DO SANTUÁRIO
HOUVE, MAS APÓS LONGAS DISCUSSÕES ACHAMOS QUE,
COMO EU DIZIA ANTES, A TÍTULO DE EXPERIÊNCIA, VAMOS
TENTAR ESSE ANO.///
PERGUNTA REPÓRTER: E NO ANO QUE VEM PODE SER
QUE ELA SIGA POR TERRA?
PÁROCO: OLHA./ A AVALIAÇÃO É QUE VAI FALAR MAIS
ALTO.///
O início da reportagem mostra uma grande carga ideológica ao explicitar duas
estratégias para estabelecer e sustentar relações de dominação. A reificação por meio da
nominalização/passivização ao ocultar o sujeito da expressão é um momento a mais para orar
e pagar promessas à nossa senhora. Para quem pagar? Para quem orar? Também é
perceptível a eufemização como estratégia de dissimulação quando o apresentador faz uma
super valoração da procissão como sendo a maior festa religiosa da capital gaúcha.
No primeiro off da matéria, o repórter apresenta uma personagem que, no decorrer
do texto, será descrita como um exemplo de milhares de fiéis devotos de Nossa Senhora de
Aparecida. É a dissimulação novamente operando por meio de tropo em forma de sinédoque.
A história introduz a narrativização da tradição de navegantes, que segundo Thompson, é
uma das estratégias de legitimação para reafirmar o poder da crença católica.
A notícia encerra com o depoimento do pároco, a exemplo do que aconteceu em
matérias anteriores, como representação de autoridade religiosa e carismática entre os
devotos, mais uma vez, caracterizando a estratégia de legitimação. Na seqüência, o
apresentador chama outra reportagem sobre as vistorias da marinha nos barcos que
participariam da procissão.
APRESENTADOR (VV)
E A MARINHA VISTORIOU CINCO BARCOS QUE VÃO
PARTICIPAR DA PROCISSÃO FLUVIAL DE NOSSA SENHORA
DOS NAVEGANTES./ UM REBOCADOR VAI TRANSPORTAR A
IMAGEM DA SANTA.///
OFF1 (O TEXTO É COBERTO POR IMAGENS)
O BARCO QUE VAI CONDUZIR A IMAGEM DE NOSSA SENHORA
DOS NAVEGANTES FOI VISTORIADO NESTA TARDE./ A
MARINHA VERIFICOU SE A EMBARCAÇÃO TEM CONDIÇÕES
DE REALIZAR O PERCURSO./ O REBOCADOR ALMIRANTE
110
SALDANHA DA GAMA VAI LEVAR TAMBÉM 30 REMADORES
QUE ACOMPANHAM A PROCISSÃO.///
SONORA COMANDANTE DA MARINHA
QUANTO AO MATERIAL DE SALVAGEM, É NECESSÁRIO QUE
ESTEJA A BORDO O NÚMERO DE COLETES SUFICIENTE, DE
ACORDO COM A LOTAÇÃO DA EMBARCAÇÃO.///
PERGUNTA REPÓRTER: COLETE SALVA-VIDAS?
VOZ DO COMANDANTE EM OFF (TEXTO COBERTO COM
IMAGENS)
COLETE SALVA-VIDAS./ ESTÁ PREVISTO O INÍCIO DA
PROCISSÃO NO PORTÃO CENTRAL, COM DESLOCAMENTO
ATÉ O PARQUE NÁUTICO./ A MARINHA CONTARÁ COM
EQUIPES EM TERRA, ACOMPANHANDO O EMBARQUE E O
DESEMBARQUE DE PASSAGEIROS E COM DUAS EQUIPES
EMBARCADAS, ACOMPANHANDO O TRANSCURSO DA
PROCISSÃO./ CONTAREMOS TAMBÉM COM UMA EQUIPE
EMBARCADA EM UMA AERONAVE QUE PRESTARÁ APOIO
AÉREO.///
A segunda reportagem sobre a procissão de navegantes destaca a retomada de uma
tradição, de conduzir a imagem da santa pelas águas do Guaíba. A idéia da procissão como
algo que prolonga-se em direção ao passado, cuja explicação dos motivos se perde ao longo
da história, nos remete à eternalização enquanto uma estratégia de reificação. A cobertura
segue com uma entrada ao vivo direto do santuário de Navegantes.
APRESENTADOR (VV)
E AGORA VAMOS AO VIVO ATÉ O SANTUÁRIO DE NOSSA
SENHORA DOS NAVEGANTES ONDE ESTÁ O REPÓRTER
NILTON SCHÜLER./ BOA TARDE, NILTON.///
STAND UP REPÓRTER (VV)
BOA TARDE, MARCELO./ ESTÁ TUDO PRONTO PARA A FESTA
DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES QUE COMEÇA NA
PRÓXIMA SEGUNDA-FEIRA./ JUARES CARDOSO VASQUES É O
COORDENADOR DA FESTA./ QUAL É A INFRA-ESTRUTURA
QUE ESTÁ SENDO MONTADA PARA OS FIÉIS?///
SONORA COORDENADOR FESTA (VV)
OLHA, NÓS ESTAMOS FINALIZANDO OS PREPARATIVOS PARA
ESTA GRANDE FESTA QUE RECEBE CENTENAS DE MILHARES
DE ROMEIROS./ NÓS ESTAMOS COM O PESSOAL
FINALIZANDO AQUI O PARQUE DE DIVERSÕES DOS PALCOS,
A PRAÇA DE ALIMENTAÇÃO, OS SALÕES E A ACOLHIDA À
NOSSA SENHORA COM A COOPERAÇÃO, A COLABORAÇÃO E A
PARTICIPAÇÃO EFETIVA DA BRIGADA MILITAR, DOS
BOMBEIROS, DA EQUIPE DE VIGILÂNCIA DE ALIMENTOS DA
SECRETARIA DA SAÚDE, DO SAMU, DO OITAVO BATALHÃO
LOGÍSTICO, COM UMA BARRACA-HOSPITAL AQUI, PARA CASO
ACONTEÇA ALGUMA EMERGÊNCIA, NÓS ESTAMOS COM A
SMOV, DEPARTAMENTO DE ILUMINAÇÃO, COM O DMAE,
COM O DMLU, ENFIM, PORTO ALEGRE INTEIRO, OS ÓRGÃOS
DE PORTO ALEGRE ESTÃO AQUI COLABORANDO PARA QUE
111
NÓS POSSAMOS DAR UMA BOA ACOLHIDA À TODOS QUE VEM
A NAVEGANTES.///
PERGUNTA REPÓRTER: E EM FRENTE AO SANTUÁRIO AS
BARRACAS JÁ ESTÃO SENDO MONTADAS...///
RESPOSTA PÁROCO: É, AS BARRACAS DE COMERCIANTES
ESTÃO SENDO MONTADAS, ESTÃO SENDO SUPERVISIONADAS,
O SEU LICENCIAMENTO, PARA QUE NÃO HAJA NEM UMA
DIFICULDADE, PRA QUE NÃO HAJA NENHUM PROBLEMA PRA
SAÚDE DOS ALIMENTOS./ NÓS ESTAMOS COM TUDO
PREPARADO E ORGANIZADO PARA SEGUNDA-FEIRA.///
STAND UP REPÓRTER (VV)
OK, MUITO OBRIGADO PELA SUA PARTICIPAÇÃO./ AGORA
NÓS VAMOS CONVERSAR COM O COORDENADOR DO POSTO
DE CONTROLE AVANÇADO DA EPTC, GUILHERME
COUTINHO./ QUAL SERÁ O TRAJETO DA PROCISSÃO?///
SONORA COORDENADOR EPTC
A PROCISSÃO PARTE DA RUA VIGÁRIO JOSÉ INÁCIO, A
PARTIR DA VIGÁRIO JOSÉ INÁCIO ELA VAI ATÉ A AVENIDA
MAUÁ./ PEGA A CONTRAMÃO DA AVENIDA MAUÁ ATÉ A RUA
DA CONCEIÇÃO./ NA RUA DA CONCEIÇÃO ELA FAZ UM
PEQUENO DESVIO DE PERCURSO PELA AVENIDA
PRESIDENTE CASTELO BRANCO, VEM PELA MÃO CERTA DA
AVENIDA PRESIDENTE CASTELO BRANCO ATÉ A AVENIDA
SERTÓRIO, E DA AVENIDA SERTÓRIO CHEGANDO ATÉ O
SANTUÁRIO DE NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES./
DURANTE ESTE TRAJETO NÓS TEREMOS, A PARTIR DAS SETE
E TRINTA DA MANHÃ O BLOQUEIO DA AVENIDA MAUÁ, DA
AVENIDA CASTELO BRANCO./ TAMBÉM OS VEÍCULOS
PROVENIENTES DA AVENIDA OSWALDO ARANHA, JOÃO
PESSOA, TODOS QUE VEM PELO TÚNEL DA CONCEIÇÃO, NO
SENTIDO DO BAIRRO PRO CENTRO SERÃO DESVIADOS NA
ALTURA DA ESTAÇÃO RODOVIÁRIA PARA A AVENIDA
GARIBALDI E AVENIDA ALBERTO BINS, RETORNANDO AO
QUADRILÁTERO CENTRAL DE PORTO ALEGRE./ AQUI NA
IGREJA, CHEGANDO AQUI JUNTO AO SANTUÁRIO DE
NAVEGANTES, JÁ COMEÇA A PARTIR DA UMA HORA DA
MANHÃ DA SEGUNDA-FEIRA, DO DIA DOIS MESMO, O
BLOQUEIO DA AVENIDA SERTÓRIO, ENTRE A PRESIDENTE
ROOSEVELT E A VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA.///
PERGUNTA REPÓRTER: E QUAL É A RECOMENDAÇÃO
PARA OS MOTORISTAS E ÀS PESSOAS QUE VIRÃO À FESTA
POR MEIO DE TRANSPORTE COLETIVO?///
COORD. EPTC: BOM./ O QUE NÓS RECOMENDAMOS É QUE
AS PESSOAS NÃO DEIXEM EM CIMA DA HORA PRA VIR À
FESTA, VENHAM COM UM POUCO DE ANTECEDÊNCIA,
ESTACIONEM SEUS VEÍCULOS NAS PROXIMIDADES DO
SANTUÁRIO OU NAS PROXIMIDADES, PARA QUEM VAI
ACOMPANHAR A PROCISSÃO, DA IGREJA DO ROSÁRIO, A
ALGUMAS QUADRAS, TRÊS QUADRAS, QUATRO QUADRAS
DESTES LOCAIS E SE DESLOQUEM A PÉ, EVITANDO ASSIM O
TRANSTORNO COM OS BLOQUEIOS E O ACÚMULO TAMBÉM
112
DE VEÍCULOS EM CIRCULAÇÃO QUE, COM CERTEZA, VAI
ESTAR BASTANTE CARREGADO DEVIDO AO GRANDE
NÚMERO DE ROMEIROS QUE PARTICIPAM DESTA FESTA.///
REPÓRTER: OK, OBRIGADO POR SUAS ORIENTAÇÕES./
MARCELO.///
Nesta terceira parte da cobertura feita pelo TVE em Dia percebe-se a legitimação da
festa por parte das autoridades fiscalizadoras de saúde e de trânsito de Porto Alegre, que
justificam suas relações com a festa religiosa como algo de interesse para toda a comunidade.
113
6 INTERPRETAÇÃO - REINTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS
A partir do resgate sócio-histórico do telejornalismo e das assessorias de imprensa,
e de uma análise discursiva acerca do produto resultante da relação entre estes dois campos da
comunicação, é possível construir alguns significados relevantes acerca da influência das
assessorias de imprensa sobre o telejornalismo. No entanto, cabe aqui ressaltar que
estamos no campo da mudança de sentido e das relativas
desigualdades, da ambigüidade e do jogo de palavras, de diferentes
graus de oportunidade e acessibilidade, da decepção e da
autodecepção, do ocultamento das relações sociais e do próprio
processo de ocultamento. Aproximar-se desse campo com a
expectativa de que alguém possa apresentar análises incontestáveis é
como usar um microscópio para interpretar um poema (THOMPSON,
1995, p.95-96).
Sob esta perspectiva, diante das análises realizadas, é possível afirmar, porém nunca
de forma incontestável, que as assessorias de imprensa exercem uma forte influência sobre o
telejornalismo. Conforme as matérias que surgiram a partir de press-releases enviados por
instituições públicas e privadas que representam o poder econômico, político e intelectual da
sociedade de consumo, esta influência não existe como pode ser exercida e operada por
meio da ideologia.
Pela lógica dos objetivos das assessorias, a intenção de promover o assessorado de
forma a receber apoio e gerar uma conseqüente reserva de boa vontade junto à opinião pública
foi atingida em todas as reportagens, que destacaram supostas qualidades, valorações ou
virtudes dos assessorados, amplamente usados como fontes de informação pelos repórteres e
apresentadores.
Em termos quantitativos, pode-se dizer que as assessorias de imprensa exercem uma
maior influência sobre os veículos com menor estrutura e aporte financeiro, tendo em vista
114
que a TVE apresentou 12 reportagens comprovadamente originadas a partir de releases e
sugestões enviadas por assessorias, enquanto que o SBT utilizou este tipo de fonte nove vezes
e a RBS apenas duas vezes, excetuada a cobertura da Fenavinho que, como explicado
anteriormente, ficou parcialmente de fora da análise pela impossibilidade de precisar sua
origem.
A resistência do Jornal do Almoço às assessorias, no entanto, não fica comprovada.
Isto porque, cabe ressaltar, muitas sugestões de pauta são guardadas como pautas de gaveta,
ou seja, reportagens atemporais que são utilizadas em dias de poucos acontecimentos factuais.
Ao analisar apenas os programas subseqüentes às reuniões de pauta observadas durante a
pesquisa de campo, abriu-se mão de uma quantificação mais precisa sobre o volume de
ocorrências.
Também é salutar constatar que, hoje em dia, são raros os órgãos públicos que não
possuem um setor de comunicação estruturado, e que são os assessores de imprensa neles
empregados os responsáveis pela disseminação de informações de interesse público. O
mesmo acontece com grandes empresas e entidades de classe com forte representação
econômica e política. Ou seja, as evidências de que outras pautas do material analisado
tenham surgido de assessorias de imprensa são muito fortes, mas ficaram de fora da análise
por não terem sua origem comprovada pela observação participante.
Por outro lado, é evidente também que o Jornal do Almoço possui grande força pela
capacidade de cobertura no interior do Estado, e isto pode ser apontado como um fator que
valoriza os acontecimentos factuais, apesar de as sucursais também receberem influência de
assessorias de imprensa. A capacidade do programa de cobrir acontecimentos factuais in loco
nas mais variadas regiões, como o acidente com o ônibus do Brasil de Pelotas e as enchentes
provocadas pelas chuvas na metade sul do Estado, conferem ao programa uma autonomia
ímpar em relação aos concorrentes.
Assim como deixa incertezas quanto à independência do Jornal do Almoço, a
pesquisa também não possibilita precisar se maior dependência do TVE em Dia e do SBT
Rio Grande em relação às assessorias de imprensa, exceto pelos números citados pelos
próprios produtores destes telejornais, conforme explanado no capítulo 2.
É visível que ambos utilizam com maior freqüência o auxílio das assessorias. No
caso do programa da TVE, percebe-se um amplo espaço para informações oriundas de órgãos
públicos. no noticioso do SBT nota-se uma ênfase nas sugestões de pauta que ofereçam
115
serviços à população. Mas, como dito anteriormente, o material analisado é insuficiente para
interpretações quantitativas mais precisas.
Qualitativamente, no entanto, a influência das assessorias de imprensa mostrou-se
bastante semelhante em todos os veículos. As pautas foram tratadas de forma parecida,
algumas inclusive com as mesmas operações ideológicas, e o fator imagem demonstrou ter
menos relevância do que o alegado pelos profissionais do meio, exceto quando entra em
contradição com o que é descrito.
Mesmo nos assuntos considerados meramente informativos, a presença da ideologia
ficou constatada como forma de estabelecer e sustentar relações de dominação e poder.
Dentre as 15 reportagens analisadas, foram poucos os momentos de contestação às fontes
sugeridas pelas assessorias.
Se um dos objetivos das assessorias é legitimar seus assessorados como fontes de
informação, talvez não tenha sido coincidência que o modos operandi de maior incidência no
material analisado seja a legitimação. Isto pode significar que as relações de dominação
estabelecidas e sustentadas pelas instituições assessoradas foram apresentadas e entendidas
pelos jornalistas como justas e dignas de apoio. Ao menos foi assim que eles caracterizaram
estas fontes perante os telespectadores.
Deste modo, as categorias emergentes e eleitas para a análise, interpretação e
reinterpretação fora confirmadas ao longo do trabalho e se mostraram pertinentes para o
estudo amparado na Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 1995).
É claro que, para um bem simbólico televisivo, que obrigatoriamente incorre em
justaposição de som e imagens, que implica numa linguagem particular determinada por
ângulos, cores, planos, seqüências e edições complexas, a análise das características
estruturais internas das mensagens pode ser considerada um tanto limitada. Mas a riqueza de
interpretações as quais um telejornal possibilita deixa a certeza de que um aspecto relevante
da relação entre assessores de imprensa e jornalistas começa a ser percebido: as interações no
campo ideológico.
Esta pesquisa indica que os assessores de imprensa fazem uso dos conhecimentos
que possuem sobre os critérios e as tendências ideológicas que norteiam o trabalho dos
jornalistas para obter penetração nos veículos de comunicação. Mais do que isto, indica
também que os jornalistas aceitam e legitimam esta relação como parte do processo de
construção de bens simbólicos televisivos.
116
Longe de ser um jornalista “chapa branca”, o assessor de imprensa de hoje
desempenha um importante papel na cadeia produtiva do telejornalismo. Talvez isto não seja
suficiente para caracterizar uma dependência por parte das redações, mas com certeza coloca
este profissional como peça chave na construção simbólica diária dos meios de comunicação
de massa.
Esta aceitação fica praticamente evidente como um padrão que os repórteres
dispensam às fontes de informação promovidas por assessores de imprensa, elevadas a um
grau de importância muito superior ao que a sociedade às atribuía antes da exposição na
mídia. O pároco de navegantes deixa de ser apenas padre para se tornar o líder da maior festa
religiosa da cidade. O presidente da AGAS, de executivo, passa a ser o arauto dos preços
baixos na venda de material escolar. A indústria automotiva, de apenas um setor da economia,
é elevada a símbolo de resistência gaúcha à crise econômica mundial. E a Fenavinho é um
evento tão importante para o Rio Grande do Sul que merece um programa inteiro dedicado a
ela.
Os exemplos são muitos. Todos carregados da linguagem característica do meio
televisivo, que apela à espetacularização e explora histórias pessoais ou singulares para criar
estereótipos a serviço da ideologia.
Dentro desta perspectiva, esta análise impossibilita dizer em que momento são os
jornalistas que recebem influência dos assessores de imprensa durante a construção simbólica,
ou quando são os assessores que, precisando ganhar a confiança das redações, são induzidos
pelo modos operandi da televisão na construção de personagens e situações que se encaixam
nos perfis procurados pelos jornalistas.
Para obter um mapeamento mais profundo desta relação, seriam necessários outros
estudos e outros métodos, de forma a identificar o início da cadeia produtiva. Uma observação
participante em escritórios de assessorias de imprensa, associada a coleta de dados mais
precisa e constante dentro das redações, por exemplo, poderia responder a muitos
questionamentos que aqui ficaram em aberto.
Mesmo assim, pode-se dizer que os objetivos desta pesquisa, de identificar como e
em que medida as assessorias de imprensa influenciam os telejornais gaúchos, pelo menos
dentro do recorte proposto, foram alcançados. Mais do que isto, foi possível perceber que as
operações ideológicas constituem-se quase que numa linguagem comum aos jornalistas, sejam
eles assessores, repórteres ou editores.
117
E, ainda, que os critérios jornalísticos de isenção, imparcialidade e equilíbrio são
freqüentemente sobrepostos por esta linguagem a serviço da ideologia dominante, de forma a
sustentar e manter relações de dominação.
118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Estudar o fenômeno jornalístico somente a partir da análise dos bens simbólicos
produzidos por ele ou a partir das redações é bastante limitante, tendo em vista que o processo
está alastrado por todos os setores da sociedade. A linguagem jornalística está cada vez
mais dominada, caracterizando a imprensa como nada além de uma peça na engrenagem das
relações de poder.
Em meio ao intrincado sistema que se estabelece entre fontes, emissores e
receptores, está o assessor de imprensa, que possui um objetivo maior dentro de seu papel:
introduzir pessoas e instituições na corrente noticiosa que abastece os veículos de
comunicação.
Nesta teia de informações, a televisão desenvolve papel determinante na construção
do perfil da sociedade de consumo: dita regras de comportamento, tendências da moda,
estabelece o que é bom e o que é ruim para a política e a economia, julga, condena e executa
de forma que seu veredicto se torna incontestável, exceto quando ela própria permite uma
mudança de veredicto.
A supremacia do meio televisivo na cultura nacional torna a relação entre
jornalistas e assessores de imprensa bastante peculiar, tendo em vista que são os assessores os
responsáveis pela disseminação da imagem que instituições e personalidades querem propagar
neste meio.
Através da análise sócio-histórica foi possível entender como estes dois campos de
interação operam nas situações espaço-temporais de forma a legitimar instituições sociais
dentro da estrutura social. Esta relação evoca uma preocupação que foi pouco abordada ao
119
longo desta pesquisa, mas que devido a sua relevante importância exigiria um outro estudo
totalmente dedicado a ela: a questão ética.
Na reconstrução sócio-histórica desta pesquisa é possível observar que o jornalismo
de televisão sempre foi determinante para manter e sustentar relações de dominação e poder, e
que sua relação com as assessorias de imprensa foi alicerçada e construída sem grandes
contestações, como visto nos capítulos 1 e 2.
Talvez, no caso específico da televisão, o desejo de isenção e imparcialidade dos
jornalistas da redação sempre esteve subjugado pela necessidade de ocupar o espaço-tempo
do telejornal num ritmo de produção de reportagens que fosse suficiente a este propósito,
mesmo que isto resulte numa alienação ante aos interesses de instituições públicas e privadas.
Assim, o maior trunfo do telejornalismo, a imagem, é também seu maior carrasco,
pois obriga os jornalistas a encontrarem soluções que sejam rápidas, facilitadoras e que
estejam de acordo com os formatos consagrados da linguagem televisiva. Há uma
mecanização dos processos jornalísticos, que acaba por obrigar repórteres e produtores a
recorrerem às informações antepostas por assessores de imprensa de forma a facilitar e
agilizar seu trabalho.
Se em um jornal impresso uma pauta cai, o processo para substituí-la é menos
complicado. Um repórter ou editor pode tentar resolver o problema por telefone, tentando
encontrar outras fontes ou, em último caso, ele pode até diminuir o número de páginas do
jornal. No telejornalismo isto é mais complicado. Não para cortar o tempo do programa.
Existe uma faixa de horário que precisa ser cumprida. Isto quer dizer que deslocar uma equipe
de reportagem simboliza um investimento de alto risco, pois não é possível recuperar o tempo
que se emprega na captação de imagens não como regravar por telefone ainda mais
com um número reduzido de equipes de externa, realidade dos telejornais aqui pesquisados.
Assim, a relação com as assessorias de imprensa se fortalece. A certeza de pautas
mais “seguras”, que preencham os requisitos da noticiabilidade e da linguagem televisiva,
acaba por estreitar o relacionamento entre jornalistas e assessores de imprensa. Ao mesmo
tempo, esta comodidade, impulsionada pelos avanços tecnológicos, que permitem a
massificação de informações e a produção de conteúdo para todas as mídias em grande escala,
acaba por incorrer na mesmice, na falta de fontes alternativas e na constante repetição de
assuntos.
120
Deste processo produtivo surgem indícios de que o que é mostrado pelos telejornais
talvez não seja o mais importante para a sociedade e tampouco reflita a realidade que pretende
retratar. Esta relação remete a algumas idéias de Thompson, em seu livro A mídia e a
modernidade (1998), onde ele constatou que os ideais políticos e morais sustentados por
alguns dos primeiros empreendedores dos mass media foram substituídos por critérios de
eficiência e lucratividade. Com isto, os produtos da mídia teriam se tornado cada vez mais
padronizados e estereotipados.
Ao denominar como bem simbólico toda e qualquer forma simbólica a qual foi
atribuído um valor econômico, Thompson observa que algumas valorizações levam maior peso
do que outras em função do indivíduo que as oferece e da posição da qual fala; e alguns indivíduos
estão em uma melhor posição do que outros para oferecer valorizações e, se for o caso, impô-las”
(1990, p. 204).
Sente-se a ausência do jornalismo questionador, que forneça
um espaço simbólico dentro do qual os indivíduos possam cultivar sua imaginação e reflexão
crítica, de forma a desenvolver sua individualidade e autonomia. Mas ao contrário disto, cria-
se um universo mercantilizado, que canaliza a energia dos indivíduos para um consumo
coletivo de bens padronizados.
Nesta linha, os questionamentos éticos sobre os produtos de mídia são feitos como
a qualquer outro bem de consumo. Para Thompson, isto é um equívoco sem precedentes, pois
seria preciso desenvolver uma teoria sobre a ética que faça justiça às novas circunstâncias, sob
as quais as questões morais surgem hoje.
Deve-se começar reconhecendo a intercomunicabilidade do mundo
moderno, onde a proximidade espacial e temporal perdeu sua
relevância como medida de importância ética. Deve-se admitir um
sentido de responsabilidade pelos outros não somente um sentido
formal de responsabilidade, de acordo com o qual um indivíduo
responsável é aquele que se responsabiliza pelas próprias ações, mas
um sentimento mais forte e substantivo, de acordo com o qual os
indivíduos têm responsabilidade pelo bem-estar de outros e partilham
obrigações mútuas para tratar os outros com dignidade e respeito.
(THOMPSON, 1998, p.227).
Ao valorizar a engrenagem, a necessidade de levar informações diárias aos
telespectadores, e não o bem resultante da responsabilidade pelo próximo de que trata
Thompson, o telejornalismo cai em descrédito enquanto promotor da democracia. uma
irresponsabilidade ética, principalmente por se tratar de televisão, onde as dramáticas imagens
podem ser manipuladas e exploradas com a finalidade de mobilizar simpatia ou antipatia.
121
Os conceitos de ética de Thompson, baseados num sentido de responsabilidade pelo
próximo, que estabelece uma relação toleravelmente coerente com as realidades de um mundo
em crescente interconexão, poderiam ser complementados aqui pela corrente da ética
jornalística inspirada nas idéias de Immanuel Kant (MORIN, 2002), para quem uma regra de
conduta pode ser eticamente aceita se for universal, isto é, se tiver validade tanto para o
agente como para todos os outros seres racionais, e que desenvolva valores como liberdade,
equidade, solidariedade, verdade e bondade.
Na cadeia produtiva do telejornalismo, quem possuir um assessor de imprensa pode
ampliar suas chances de ganhar voz perante a opinião pública, como os vários exemplos
citados nas análises desta pesquisa, em que a religião católica se sobrepõe às demais na festa
de Nossa Senhora dos Navegantes (que é festa de Iemanjá para os umbandistas, por exemplo),
em que os resultados positivos da indústria automotiva no Estado são mais importantes e
notórias que a controversa onda de demissões no setor (fato minimizado nas reportagens), ou
os supermercadistas que oferecem mais comodidades, promoções e facilidades na compra de
material escolar se comparado a outros estabelecimentos (que outros estabelecimentos? E as
livrarias, os sebos, as lojas de 1,99? Eles sequer entraram na pesquisa encomendada pelos
próprios supermercadistas).
Nestas construções simbólicas uma distorção ética. É difícil encontrar eqüidade
e solidariedade. A verdade de grupos dominantes é retratada como verdade absoluta e os
interesses particulares se tornam sinônimos de bondade com o próximo.
A verdade é tida como um valor, um ideal inerente ao jornalista. Mas será ela
suficiente? De qual verdade falar quando se trata de construtos simbólicos como o
telejornalismo? O que dizer então dos bens produzidos por assessores de imprensa? Nas
reportagens analisadas não qualquer indício de inverdades. “As imagens não mentem”.
Tampouco inverdades nos materiais enviados pelas assessorias de imprensa (salvo os
exageros que tentam “esquentar” assuntos pouco interessantes), pois sem isto o risco do
descrédito com jornalistas e a conseqüente perda de eficiência frente aos assessorados. Que
verdades deveriam buscar os jornalistas? E em qual eles se apóiam hoje?
Durante a pesquisa de campo, a cautela no relacionamento com assessores de
imprensa foi o comportamento mais defendido pelos jornalistas, apesar de reconhecerem o
caráter de “parceria” destes profissionais no processo produtivo. Mas onde está esta cautela?
Nas análises percebeu-se total conivência com as intenções de se “criar uma reserva de boa
vontade”, como preconizam os teóricos da assessoria de imprensa.
122
Num contexto globalizado de relações quase-mediadas, o dever ético estabelece um
paradoxo, pois ao mesmo tempo em que o telejornalismo é constituído de construtos que
estabelecem e sustentam relações de dominação legitimados pelos índices de audiência, dele é
exigido uma postura ética de religação dos indivíduos baseada no altruísmo, na justiça e na
moralidade.
Esta disfunção entre o dever e a prática traz uma carga de hipocrisia,
principalmente quando o discurso da ética como aqui exposta é defendido pelos próprios
jornalistas, que alheios às armadilhas da engrenagem a que estão imersos, continuam a
disseminar informações tendenciosas e a produzir bens simbólicos que estabelecem e
sustentam relações de dominação e poder.
Depois do caminho percorrido por esta pesquisa, depois destas constatações,
caberia ainda outros questionamentos a cerca das percepções de todas estas mensagens por
parte do receptor. O público percebe a influência de assessorias de imprensa nos produtos da
mídia? Os telespectadores sequer sabem que esta profissão existe? Se a cadeia produtiva aqui
exposta pudesse ser repassada a quem assiste aos telejornais diários, isto poderia mudar a
forma como estes programas são recebidos? Estes são questionamentos alimentados pelas
análises aqui expostas que somente outras pesquisas poderiam responder.
A constatação de que as assessorias de imprensa exercem influência na produção
dos telejornais, independente das necessidades específicas do meio, é apenas o início de uma
discussão muito mais complexa que tende a ganhar maior amplitude com a revolução
tecnológica que ainda está por vir.
123
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127
APÊNDICES
128
APÊNDICE A
ENTREVISTA JOSÉ PEDRO VILLALOBOS – EDITOR CHEFE DO JORNAL DO
ALMOÇO - 06/01/2009
1) Há quanto tempo chefia o Jornal do Almoço?
José Pedro: Há 6 anos
2) Como você define a linha editorial do telejornal?
José Pedro: O Jornal do Almoço é um jornal que tem como principal característica tentar não
ser um jornal clássico, aquele telejornal mais formal, aquela coisa mais dura, como é o perfil
do RBS Notícias. Ele tem um lado de procurar ser um programa de televisão, com todas as
vertentes que isto pode ter, como um musical, uma entrevista na área de cultura, matérias
mais leves de variedades, coisas engraçadas, comentaristas, claro tudo isto sem abrir mão do
factual, sem abrir mão da notícia, sem abrir do foco sobre o que está acontecendo no dia-a-
dia das pessoas. E como são 45 minutos diários, a gente acredita que tem espaço para tudo
isto no jornal.
3) Você o definiria então como uma revista eletrônica?
José Pedro: Esta é a definição clássica, né? É a definição que a gente aprende na faculdade...
revista eletrônica...
129
4) Como são definidas as pautas de cada edição? Quem tem poder de decisão?
José Pedro: O poder de decisão é meu. A decisão é minha. É claro que o processo de
discussão é com todo o grupo do jornal, e mais o grupo de produção, por que aqui estes
grupos são separados, né? Nós temos a área de produção da TV, e nós temos a área de... as
edições dos jornais (SIC). No jornal do almoço, além das duas apresentadoras nós temos
mais quatro editores além de mim. Então este grupo se reúne todos os dias depois do jornal e
a gente faz uma discussão onde é apresentada uma agenda dos fatos do dia seguinte. Cada
um traz uma sugestão de pauta, que não precisa ser necessariamente uma coisa factual, e a
gente coloca na roda e discute bem abertamente, sem esta coisa “de cima para baixo”, de “o
chefe mandou” ou “o chefe não mandou” e tal. É discussão de igual para igual. que no
fim, claro, tem uma hora que tem que decidir as coisas e eu bato o martelo. E assim é o
nosso processo.
5) Quais são as principais fontes de pautas para o JA?
José Pedro: Vem por todas as fontes possíveis. Ou é alguma coisa que alguém leu numa
revista, ou é algum material que foi passado por alguma assessoria, ou alguma que está na
Zero Hora, onde a gente pode fazer um avanço para não fazer a matéria igual ao do jornal.
Ou observação do dia-a-dia, como por exemplo “ta cheio de lixo na beira do Guaíba, vamos
mostrar isto ou vamos aproveitar pra cobrar da Prefeitura porque que não limpam aquilo
lá”... Enfim, a pauta nasce deste grupo de 10 a 11 pessoas que participam da reunião sempre
depois do JA.
6) Como você enxerga a profissão de assessor de imprensa na relação com o jornalista de
redação?
José Pedro: Se eu for muito purista nesta questão eu vou dizer que hoje em dia está havendo
uma distorção do papel do assessor de imprensa. O assessor de imprensa ele teria que ser em
tese um facilitador, o cara que faz o meio de campo entre a empresa, entre o órgão público,
entre a instituição e os veículos de comunicação, e muitas vezes, isto até notadamente na
questão do esporte, dos clubes de futebol, o assessor de imprensa age quase como se fosse um
RP do clube ou da instituição. Ele age mais preocupado em defender interesses desta
instituição do que propriamente em fazer o meio de campo e agendar uma entrevista, passar
informações sobre um novo contratado do clube ou sobre o novo diretor. Claro que isto vale
130
também para outras áreas, como a área política, onde as assessorias acabam também
assumindo este caráter de defesa da sua secretaria, do seu órgão público. Eu acho um
desvirtuamento, mas também sei por outro lado que muitas vezes isto é exigido do
profissional, e esta pode ser a diferença entre ter o emprego ou não ter o emprego. E aí, é
claro, não vou condenar ninguém por fazer isto.
7) Você enxerga o assessor de imprensa como um parceiro ou como um obstáculo a ser
superado?
José Pedro: Depende do caso. Tem horas que o assessor de imprensa é um ótimo parceiro, é
alguém que realmente te dá boas idéias, manda pautas, avisa coisas interessantes que vão ser
feitas pela empresa ou pela instituição. Noticiam descobertas e coisas interessantes. As
nossas universidades aqui têm um serviço muito interessante de assessoria de imprensa, por
exemplo. Mas tem horas que o assessor de imprensa é um chato, é um cara que realmente
bloqueia a informação, ele age como uma barreira entre a informação que é de interesse
público. Por exemplo, um desastre ambiental envolvendo determinada empresa. Ao invés
do assessor de imprensa ser o primeiro a convencer os diretores de que é preciso se
comunicar e dar a versão da empresa sobre aquilo que está acontecendo, o cara já trata de
agir como um freio, como um muro e um dificultador da relação, e isto é ruim, isto é péssimo.
8) Se fosse possível quantificar, quanto do Jornal do Almoço é produzido a partir das
sugestões de pautas enviadas por assessorias de imprensa?
José Pedro: É difícil quantificar. Tem muita coisa que é aproveitada, mas a maioria não é
aproveitável, porque justamente envolve interesses econômicos. A gente dificilmente vai fazer
uma pauta sobre uma loja que está lançando um tipo de produto, ou uma nova marca que
chega ao mercado. Isto em televisão, pra nós pelo menos, não existe. Agora a gente pode
fazer uma matéria sobre o mercado de automóveis, por exemplo, e não vai nos interessar
falar sobre o novo lançamento da Ford ou da GM, mas daqui a pouco nos interessa
informações sobre automóveis “Flex”, né, automóveis que utilizam mais de um tipo de
combustível, daí a assessoria de imprensa funciona, nos interessa. O conteúdo pode nos
interessar, mas a marca não nos interessa. Por isto que daria pra dizer que apenas uns 10%
de nossas pautas venham de assessorias de imprensa.
131
9) Algumas assessorias hoje dispõem de equipamentos e material especializados em
produzir material para TV. O JA usou este tipo de material? Da mesma forma,
quanto de material finalizado enviado por assessorias é aproveitado (vídeos, imagens)
José Pedro: Antigamente, até uns quatro ou cinco anos atrás, a gente usava bastante material
da Assembléia Legislativa, da Câmara de Vereadores. Depois a gente foi tendendo para um
caminho de não usar mais este material e trabalhar com material próprio. Esta foi uma
decisão editorial, uma decisão de empresa, de procurar o máximo possível não ser dependente deste
tipo de material. E hoje em dia para dizer que raramente se utiliza algum material cedido por
assessoria de qualquer órgão público ou privado. Só se for alguma coisa muito importante. Mas se foi
importante e a gente perdeu é porque temos algum problema na produção do processo, e o dever
de jornalista não está sendo cumprido como deveria.
10) Como é feita a seleção dos materiais enviados por assessorias de imprensa e como são
classificados dentro da redação?
José Pedro: Às vezes este material chega em mim direto e às vezes chega ao nosso setor de
pautas, que integra a parte de produção do jornal. Neste setor nós temos um pauteiro, quatro
produtores e três chefes de reportagem, o que oito pessoas. Esta é a via de entrada, daí
eles fazem uma tr4iagem, pois tem assuntos que tem mais a ver com o JA, outros tem mais a
ver com o RBS Notícias, com Teledomingo, Vida e Saúde... E este pessoal mais ou menos
distribui a coisa antes. Mas eu recebo algum material direto e até gosto de receber.
11) Existe algum grau de dependência da produção do JA em relação aos materiais
enviado pelas assessorias de imprensa?
José Pedro: Nenhuma. Se ninguém mandasse nada nós conseguiríamos manter o jornal
tranquilamente. Até pelo número que eu te dei, pois apenas 10% do que produzimos é
originado das assessorias.
12) Utilizar material produzido por jornalistas assessores compromete a qualidade das
informações noticiadas?
José Pedro: Acho que o material sempre deve passar por uma avaliação criteriosa antes de
ser utilizado. Aqui na RBS TV procuramos ter um padrão de imagem que dependendo do que
132
chega da rua (assessorias) não é compatível. Nunca vai chegar algo e ser utilizado sem
avaliação. Mas a princípio não entra no ar, por aquelas questões editoriais que ter falei, pois
estamos cada vez menos dependentes do material de assessorias.
13) Com quantas equipes de reportagem o Jornal do Almoço trabalha por dia e quantas
pessoas se envolvem na produção do programa?
José Pedro: Quatro. E cada equipe é comporta por um repórter, um cinegrafista e um
motorista que faz as vezes de iluminador também. Mas o processo total de pessoas envolvidas
no JA, desde a produção, pegando pessoal de técnica e estúdio, vai umas 40, 45 pessoas
envolvidas.
14) Como você enxerga o telejornalismo gaúcho, em termos de qualidade, audiência e
recursos?
José Pedro: Acho que evoluiu muito. A entrada dos equipamentos digitais nivelaram muito em
aspectos que antes eram grandes diferenciais, como a qualidade de imagem. Tua via
claramente as diferenças entre uma imagem da globo em relação às outras emissoras. Hoje
não. Hoje pra dizer que praticamente todas as emissoras tem uma qualidade técnica
semelhante. O que vai diferenciar daí é a qualidade do profissional. Tem cinegrafistas mais e
menos criativos, cenários mais ou menos elaborados, e isto vai influenciar na forma de
apresentação de um telejornal. Mas de um modo geral a diferença técnica diminuiu bastante.
É claro que também conta a linha editorial. Tem emissoras que apostam numa linha mais
popularesca, de exploração da violência, da tragédia, etc. A gente procura fazer um
jornalismo mais equilibrado. Tem a tragédia, mas também tem o jornalismo em geral. Mas
retomando a história do telejornalismo local,acho que está todo mundo diante de um grande
desafio, um desafio talvez como nunca tenha sido visto até então, que é a questão da TV
Digital, que é uma coisa muito maior do que tu ter simplesmente uma qualidade de imagem.
É uma coisa que envolve interatividade, a possibilidade de a pessoa poder acessar no celular
uma TV móvel, a possibilidade da pessoa poder selecionar e editar seus conteúdos da forma
como quiser, ver trechos de um determinado jornal, excluindo aqueles conteúdos que na
TV aberta é obrigado a assistir por uma questão de grade de programação. Realmente é um
desafio enorme a gente produzir um material atrativo para que este futuro
telespectador/editor decida nos selecionar para assistir. A tendência de convergência dos
133
meios é inexorável, imutável e irreversível. Quem achar que isto não existe está fora do
mercado em dois anos.
15) Você acha que a televisão perdeu audiência com a popularização da internet?
José Pedro: A TV aberta perdeu muito, não dúvida, porque alguns nichos bem específicos
migraram para a TV a cabo e para a internet. O jovem vai para o Youtube, que é
maravilhoso, que é democrático, é amplo, e é outro padrão de qualidade, que para nós é
importante, mas para quem assiste ao YouTube pouco importa. E outra coisa, existem fatos
que estão surgindo pelo Youtube. Cantores que se popularizam antes neste canal e depois
estouram nas rádios.
134
APÊNDICE B
ENTREVISTA JOSÉ MITCHEL – PAUTEIRO DO JORNAL DO ALMOÇO -
06/01/2009
1) Há quanto tempo você trabalha no Jornal do Almoço?
Mitchel: Há mais de 20 anos
2) Como você percebe o trabalho das assessorias de imprensa ao longo dos anos?
Mitchel: O trabalho evoluiu bastante, mas ainda percebo uma certa incapacidade das
assessorias de imprensa em produzir pautas para a televisão. Às vezes recebo pautas que
seriam ótimas para um impresso, mas que para a TV não funciona. A questão da imagem é
importante.
3) Como assim?
Mitchel: Não pra fazer, por exemplo, matérias cujas imagens sejam de pessoas sentadas
assistindo a outra meia dúzia falando, como acontece em palestras e seminários. Isto não
quer dizer também que este tipo de evento não renda pautas. Uma vez recebemos uma sobre
um congresso de estudos do clima em que um especialista em raios iria apresentar um vídeo.
Pudemos aproveitar o material que ele tinha e fizemos uma bela reportagem. Mas são
exceções. Geralmente não há esta preocupação com a imagem quando nos sugerem pautas.
135
4) Quantos releases você recebe por dia?
Mitchel: Ao todo chega a mais de 600 releases por dia, mas não se aproveita quase nada
disto.
5) O que você faz com este material?
Mitchel: Tento ler o máximo possível. Faço uma filtragem do que é mais interessante e ligo
para as fontes para averiguar as informações e pegar mais detalhes. Aquilo que eu sinto que
pode render uma boa matéria eu levo para nossa reunião de pauta.
136
APÊNDICE C
ENTREVISTA MARIA EMÍLIA PORTELLA – EDITORA CHEFE DO TVE EM DIA,
E VITOR DALLA ROSA – CHEFE DE REPORTAGEM DO TVE EM DIA -
15/01/2009
1) Há quanto tempo vocês trabalham com televisão?
Maria Emília: Eu tenho 27 anos de profissão.
Vitor: Eu tenho quase 15 anos de estrada.
2) Como vocês definem a linha editorial do TVE em Dia?
Maria Emília: O TVE em dia é um jornal de informação, mas por sermos TV pública e
educativa, a nossa idéia é tratar a notícia de forma esclarecedora por termos um espaço
maior que as TVS comerciais. Então a gente o assunto que as TVs comerciais apenas
pincelam de uma maneira aprimorada, de forma aprofundada.
3) Por ser uma empresa estatal, existe alguma obrigação por parte da TVE em cobrir os
eventos de governo?
Vitor: Em princípio nós exercemos um jornalismo independente como outro qualquer, mas
assim como no veículo comercial existe um compromisso, um vínculo com a direção da
empresa que o gerencia, na TVE também existe um vínculo com o governo. Não uma
137
interferência direta mas existe um vínculo e, dependendo do interesse, nós temos que atender
este vínculo.
Maria Emília: Mas este vínculo ocorre sempre de uma forma jornalística e informativa. Assim
como numa TV comercial existe o vínculo com o dono da empresa, aqui existe o vínculo com
quem nos paga. A TVE não é uma Estatal, ela é um órgão público. Ela é uma TV pública que,
atualmente, é financeiramente gerida pelo dinheiro do Estado. Então realmente existe o
vínculo, mas não existe aquela obrigação. A gente pode apontar os dois lados de uma
questão. Pode e deve.
4) Como são definidas as pautas de cada edição? Quem tem poder de decisão?
Maria Emília: Nós fazemos uma reunião de pauta logo depois do término do jornal entre
produtores, repórteres, chefe de reportagem, editor-chefe e diretor de jornalismo. Quem tem
o poder de decisão são estes três últimos que eu citei.
5) Quais são as principais fontes de pautas para o TVE em Dia?
Maria Emília: Não existe uma fonte específica. Internet, rádio, jornal, pessoas que ligam, e
tem as fontes exclusivas de cada repórter né? Muitos cultivam fontes e recebem informações
periodicamente.
6) Como vocês percebem a relação entre o jornalista de redação e o assessor de
imprensa?
Maria Emília: Acho que evoluiu bastante. Houve uma época em que o assessor de
imprensa era visto com um certo preconceito. Era o famoso “chapa branca”, aquele
jornalista que queria a todo custo defender os interesses do patrão, fosse quem fosse. Hoje
acho que a coisa mudou bastante. Eu trabalhei numa época em que existia uma
diferenciação entre o jornalismo da capital e jornalismo do interior. O interior ele vive e
sobrevive essencialmente de assessoria de imprensa. Daí surge uma outra preocupação do
jornalista sério, que é buscar e exigir, junto dos sindicatos, dos órgãos jornalísticos, uma
qualidade cada vez maior de redação dos releases, que este é um dos grandes problemas das
assessorias de imprensa. Se criou um mito, se criou um estigma no passado, e agora os
releases estão se tornando notícia. Antes não havia isso, então acho que mudou bastante,
138
que durante tanto tempo se fez release de um jeito errado, se criou um preconceito. Então
acho que mudou esta relação, tende a mudar cada vez mais, mas ainda existe u m certo
preconceito com as assessorias de imprensa. Mas as fontes de jornais e rádios do interior é
essencialmente de assessorias de imprensa.
Vitor: O Assessor de Imprensa vai determinar pro veículo a imagem do assessorado.
Dependendo do assessor de imprensa, a gente sabe que tem determinados órgãos,
determinadas instituições que, pra tua chegar (na fonte) é muito difícil. Então isto acaba
dificultando a visibilidade do assessorado.
Maria Emília: Muitos assessores de imprensa não percebem que o trabalho deles é
justamente de criar este vínculo de amizade e de troca entre o veículo e o assessorado. Têm
assessores que entendem que o papel deles é barrar a imprensa e não facilitar para a
imprensa. Alguns casos, eu acho assim... por exemplo, um governador do Estado, um Jorge
Gerdau da vida, tem que ter um assessor que filtre este trabalho, que delimite o que pode e o
que não pode passar, quem pode e quem não pode entrar numa coletiva, isto é inerente ao
trabalho dele. O papel que estas personalidades exercem na sociedade exige um filtro, mas
também não uma barreira, não um muro. O assessor que faz isto pensa que está ajudando,
mas na verdade ele está prejudicando o seu assessorado. O assessor tem que desenvolver um
trabalho de parceria, tem que ser parceiro dos veículos. Isto dá credibilidade para o assessor
e para o assessorado, resulta na construção de uma boa imagem junto aos veículos.
7) Vocês conseguiriam quantificar quanto do TVE em Dia é produzido a partir do
trabalho das assessorias de imprensa?
Vitor: No nosso caso este percentual ficaria entre 30% e 40%. Depende do período, da
época. Às vezes nada está acontecendo na cidade e você tem aquele espaço que precisa ser
preenchido. Nestes casos as assessorias de imprensa desenvolvem um papel bem relevante na
hora de sugerir conteúdos.
8) E sem este trabalho das assessorias vocês conseguiriam colocar o jornal no ar com o
mesmo ritmo de trabalho?
Maria Emília: Eu acredito que sim. Ainda não se firmou uma dependência das assessorias de
imprensa. A TVE e os grandes veículos tem estrutura para se manter numa suposta ausência
139
das assessorias de imprensa. Agora no caso da imprensa do interior a realidade é diferente.
Lá os veículos sobrevivem por causa das assessorias de imprensa, seja de qual meio for. Mas
onde existem empresas consolidadas, os veículos nunca se tornarão dependentes das
assessorias de imprensa. Não vai existir um momento do jornalismo brasileiro em que as
assessorias vão comandar as redações. É claro que existe um comodismo, mas que ocorre
por dois motivos. Ou é provocado por uma faixa de profissionais que estão desiludidos
com a carreira, ou por aqueles muito jovens, que estão chegando sem muita certeza do que
estão fazendo, que chegam ao jornalismo pelo glamour, e que se retraem diante do trabalho.
9) Alguns órgãos público e muitas empresas conseguem dispor de uma produtora de
conteúdo televisivo dentro dos seus departamentos de comunicação. Quanto deste tipo
de material é utilizado na produção do TVE em Dia?
Maria Emília: Muito pouco. se for um assunto muito importante e que a gente não
conseguiu acompanhar ou se nos é oferecido algo com exclusividade que seja também muito
interessante do ponto de vista jornalístico. Acho que seria cerca de 1% do que usamos ao
longo de um mês inteiro.
10) O uso de materiais produzidos por assessores de imprensa pode comprometer a
credibilidade do telejornal?
Maria Emília: Depende. Sempre é preciso avaliar o que está sendo usado. É preciso
averiguar se as informações são verdadeiras ou se há exagero.
11) A tecnologia digital, o seu poder de interatividade e a democratização tecnológica nos
levam a pensar em receptores-emissores, como acontece hoje no Youtube. Esta é uma
realidade próxima para a TVE ou ainda é algo muito distante?
Maria Emília: Se está próximo ou não, não sabemos, mas acho que vai ser mais uma opção
disponibilizada pela tecnologia digital. Porém, não acredito que o modelo tradicional do
telejornalismo deixará de existir por causa disto. Sempre vai existir um mediador entre a
informação e o público. Acho que o que vai mudar são as redações. Vai haver uma maior
interação, barreiras serão derrubadas, e as assessorias terão que desempenhar um papel
ainda mais diferenciado.
140
12) Vocês acreditam que alguns cargos e funções do telejornalismo estão deixando de
existir em virtude do trabalho das assessorias de imprensa?
Maria Emília: Na capital não, mas no interior sim. Acredito que este fenômeno ocorra mais
por causa das novas tecnologias, que permitem, no caso das câmeras que se tornaram mais
leves e fáceis de manusear, por exemplo, eliminar até o cinegrafista de uma equipe. Eu sei
que no canal Rural eles utilizam muito esta estratégia. O repórter mesmo faz papel de
câmera, repórter e motorista. Mas são exceções à regra. Acho que na maioria dos casos a
tecnologia elimina funções e exige a criação de outras.
141
APÊNDICE D
ENTREVISTA JORGE SEADI – DIRETOR DE JORNALISMO DA TVE - 28/01/2009
1) Há quanto tempo você trabalha com televisão?
Seadi: Já fazem mais de 35 anos. Comecei ainda em 1974, pela extinta TV Difusora.
2) Como você vê o trabalho das assessorias de imprensa?
Seadi: Entendo que as assessorias de imprensa funcionam mais como intermediárias para
atender às solicitações dos jornalistas e marcar as entrevistas com as fontes que assessoram.
E isto pode ser bom e ruim, dependendo do caso. Antigamente, quando comecei a trabalhar
com o jornalismo, nossos contatos eram diretos com a fonte. O mérito de conseguir as
entrevistas era todo do repórter. Hoje existe o filtro das assessorias de imprensa, que na
maioria das vezes, na minha opinião, atrapalha, barra o trabalho dos jornalistas. No futebol
isto é bastante evidente. Hoje o assessor escolhe que jogador vai falar, marca uma coletiva e
todos os veículos ficam com suas matérias parecidas. Por outro lado as assessorias têm
facilitado bastante nas secretarias e órgãos públicos. Ou seja, a intermediação, quando
funciona a nosso favor, é boa. Às vezes a figura pública não entende a nossa insistência,
desconfia, e o assessor ajuda a desmistificar a urgência da televisão.
3) Esta urgência se difere dos outros veículos?
Seadi: Com certeza. Nós trabalhamos sempre tentando prever o dia seguinte. Temos a
questão da imagem. Então é fundamental que o assessor saiba diferenciar um veículo do
142
outro. Nossas necessidades consistem em unir informação, imagem e sonoras. Quanto mais
compreenderem isto, mais conseguirão disseminar informação na televisão.
4) Alguns profissionais da área entendem que os telejornais de hoje ficaram muito iguais
por causa do trabalho das assessorias de imprensa. Você concorda com esta hipótese?
Seadi: Concordo. No jornalismo esportivo isto é muito evidente. Como eu disse antes, na
minha época cada repórter tinha suas fontes. A equipe da TVE tinha seus contatos diretos,
que eram diferentes dos contatos diretos da RBS, que se diferenciavam dos contatos de outros
veículos e assim por diante. Hoje os assessores difundem as informações de forma
homogênea. Todos recebem a mesma informação e conversam com as mesmas fontes.
5) Diante desta perspectiva, você acha que o telejornalismo gaúcho melhorou ou piorou?
Seadi: Tecnicamente melhorou bastante. Mas editorialmente tá complicado. Para se
diferenciar muitos veículos estão usando recursos que do ponto de vista ético são
questionáveis, como é o caso das matérias com câmeras escondidas. Como diferencial neste
panorama resolvemos adotar um jornalismo que fuja do sensacionalismo e seja mais
aprofundado. Para tanto tratamos de todos os assuntos, menos de polícia. Nosso foco é mais
na saúde, educação, pesquisas científicas, esporte, economia, agricultura... Polícia a gente
dá, mas só em caráter meramente informativo.
6) Qual o papel da internet para o telejornalismo moderno?
Seadi: É mais uma ferramenta neste processo. No TVE em Dia, por exemplo, usamos as
informações da internet abertamente para dar as manchetes nacionais, pois não temos um
jornal de rede neste horário.
7) Como a TVE tem se preparado para a era digital? Você acredita na convergência dos
meios?
Seadi: Acredito que a convergência vai acontecer, mas ainda deve demorar. Por isto a
adaptação da TVE deve acompanhar esta evolução mais lentamente. Hoje nossos
143
equipamentos são todos digitais, temos uma boa estrutura e uma parceria com a TV Cultura
de São Paulo que nos permite uma boa programação via satélite.
144
APÊNDICE E
ENTREVISTA TATIANE MOCELLIN –PRODUTORA DA MANHÃ DO SBT RIO
GRANDE – 20/01/2009
1) quanto tempo você trabalha no SBT Rio Grande e como você define a linha
editorial do SBT Rio Grande?
Tatiana: Eu estou aqui desde 2007. Diria que a linha editorial do telejornal é variada. Mas
com ênfase em política, economia, cotidiano e matérias factuais.
2) Como são definidas as pautas e quem tem poder de decisão?
Tatiana: O poder de decisão é da Cristiane Finger, nossa editora. Eu e a editora da tarde
fazemos um levantamento do que está acontecendo. Nós avaliamos dentro dos critérios do
jornal aquilo que pode virar matéria e ela toma a decisão final.
3) Quais as principais fontes de pautas do SBT Rio Grande?
Tatiana: Hoje em dia é tudo. E-mail que as pessoas mandam, é rádio, jornal, denúncias dos
telespectadores, idéias do pessoal do jornalismo, internet...
4) Destas pautas elaboradas diariamente, você poderia quantificar quantas são oriundas
de assessorias de imprensa, seja de órgãos públicos ou privados?
145
Tatiana: Acho que uns 30%. É difícil quantificar, pois de assessoria recebemos mais de cem
e-mails por dia. Por trás de quase tudo que recebemos sempre tem um assessor... Mas como
eu cuido mais das pautas da manhã, antes do jornal entrar no ar, eu lido mais com o factual.
Então este número no meu trabalho deve ser menor. As sugestões das assessorias devem ter
um peso maior para a equipe da tarde, que fazem matérias mais elaboradas. Eu tenho que
ficar muito mais ligada no rádio, por exemplo, do que nos e-mails...
5) Como você enxerga a relação do assessor de imprensa com o jornalista de redação?
Tatiana: Acho que às vezes é problemática, às vezes funciona. Falta para muitos assessores
ter uma experiência dentro de um veículo para saber como funcionam as coisas aqui dentro.
Muitas vezes a gente corre contra o tempo para fazer uma matéria e precisamos falar com
alguém com urgência, e alguns assessores não entendem isto. Alguns agilizam muito, fazem
um meio de campo fantástico, entendem a nossa urgência, mas tem vezes que não somos
entendidos. Enfim, poderia haver um entendimento maior nesta relação. Acho que o bom
assessor é aquele que sempre um jeito, que sempre faz o possível e o impossível para
atender a imprensa.
6) Algumas assessorias dispõem de todo um aparato para produzir material televisivo
sobre seus assessorados. O SBT Rio Grande faz uso deste tipo de imagem? Se sim, em
que situação?
Tatiana: Como a gente não tem muita equipe, às vezes pode ser complicado de chegar a
tempo em alguma pauta e conseguir imagem. Quando sabe-se que uma equipe própria da
fonte perdida produziu algo, como uma coletiva do prefeito ou da governadora do Estado,
sempre vale ligar e tentar alguma coisa. tentei em outras assessorias mas eles não
fizeram. Acho que ainda tem pouco suporte para audiovisual na maioria das assessorias.
7) Vocês sentem uma necessidade então de que, tanto os órgãos públicos ou privados
dispusessem mais imagens?
Tatiana: Seria muito bom. Por exemplo, quando a Brigada Militar está numa operação vai
um deles para fazer imagem, e é muito bom porque a gente sempre aproveita alguma
coisa. Como a gente muitas vezes não consegue estar numa pauta, quando tem é muito bom.
146
8) Você acha que o uso deste tipo de imagem pode comprometer a credibilidade do
material que vocês, jornalistas de redação, estão produzindo?
Tatiana: Acho que não. A gente usa, credita estas imagens, indicando que elas foram cedidas,
e tudo é checado. Nós nunca vamos usar um material de assessoria como eles editam. Se
achamos que aquilo vai render, usamos, senão não.
9) Na busca de pautas, você acha que existe algum grau de dependência por parte do SBT
Rio Grande em relação às assessorias de imprensa?
Tatiana: Eu acho que é bom o trabalho das assessorias. Nos ajuda bastante. Mas acho que
depender disto não. Acho que o jornal perderia um pouco, mas não que isto fosse
comprometer a qualidade dele. Hoje por exemplo temos duas pautas, uma delas é da polícia
rodoviária e outra é uma coletiva...
10) A pauta sugerida pela polícia é de algum policial que é fonte ou foi a assessoria de
imprensa da corporação que sugeriu?
Tatiana: Não, agora quem ligou foi a assessoria de imprensa da polícia rodoviária... Isto é
uma coisa que, no caso dos órgãos públicos, a assessoria ajuda muito. Eles são facilitadores,
estão sempre à disposição, é bem legal.
11) Com quantas equipes de reportagem o SBT Rio Grande trabalha hoje?
Tatiana: Temos uma equipe na manhã, com motorista, cinegrafista e repórter, e temos um
cinegrafista e um motorista à tarde, à disposição de dois repórteres no mesmo período. Mas
efetivamnte, com poder de deslocamento, é uma equipe por turno.
12) E quantas pessoas se envolvem na produção do jornal?
Tatiana: Acredito que umas 15 pessoas, fora o pessoal da técnica.
13) Que avaliação você faz do telejornalismo gaúcho hoje?
147
Tatiana: Acho que o telejornalismo gaúcho tem evoluído bastante. Eu percebo que as
entradas dos VTs daqui em jornais de rede nacional são muito significativas, o que mostra
uma evolução. A gente nota que depois das principais praças, como São Paulo, Rio e
Brasília, o Rio Grande do Sul é um dos que mais entra, e isto se deve à qualidade dos
profissionais que temos aqui e da qualidade das pautas que elaboramos por aqui.
14) Você acha que o SBT Rio Grande perde em qualidade para a concorrência?
Tatiana: Eu acho que na parte estrutural até perdemos, mas na qualidade do jornalismo não.
Pelo contrário. Conseguimos manter um bom material de qualidade mesmo com todas as
dificuldades técnicas que enfrentamos. Nossa credibilidade compensa. Tanto que sempre
oscilamos entre o segundo e o terceiro lugar em audiência.
15) Como você percebe a internet em relação à televisão?
Tatiana: Eu peguei a fase do telejornalismo que utiliza muita a internet como fonte de
informação. A internet, assim como o rádio, torna tudo muito instantâneo, muito rápido.
Então quem está na internet está bem informado. Isto nos ajuda na elaboração de pautas,
facilita o nosso trabalho, mas é claro que sempre existe a preocupação de perda de
audiência, principalmente junto ao público mais jovem. Mas fora isto, a internet é uma
ferramenta que veio para somar.
148
APÊNDICE F
ENTREVISTA COM SIMONE MÜLLER – EDITORA E PRODUTORA DA TARDE
DO SBT RIO GRANDE – 20/01/2009
1) Há quanto tempo você trabalha com televisão?
Simone: Trabalho desde 1991. Dá quase 18 anos.
2) Como você define a linha editorial do SBT Rio Grande?
Simone: É um jornal de notícias do dia e de serviços para a população. Temos mais notícias
de geral, alguma coisa de polícia, de política, mas o principal é serviço para a população.
3) Como são definidas as pautas e quem tem poder de decisão?
Simone: Todos podem sugerir pautas, mas quem bate o martelo em mais de 90% dos casos é
a editora-chefe Cristiane Finger. Em determinadas situações a gente (editoras) também toma
decisões.
4) Quais as principais fontes de pautas do SBT Rio Grande?
Simone: Quando eu levo uma idéia eu já tenho a matéria em mente, já tenho pra quem ligar,
pra onde “atirar”. Tem muita gente que nos liga, e averiguamos... Mas minha fonte geradora
de idéias são os releases que recebo, os jornais e revistas que eu leio e o que o público nos
sugere. Hoje a informática também facilita muito este trabalho.
149
5) A internet facilita de que jeito?
Simone: Antes contávamos com o rádio e com o telefone. Depois veio o fax, que facilitou
muito o envio de sugestões principalmente por parte das assessorias, mas ainda assim era
limitante. Como a linha ficava ocupada a cada envio, recebíamos uma sugestão de cada vez.
Hoje recebemos mais de 100 e-mails por dia. É tanta informação que não conseguimos dar
conta. Muitas vezes nos ligam dizendo que está voltando o e-mail. A internet fez com que
todas as redações recebessem muita informação o tempo todo, e todos os veículos recebem as
mesmas informações. A polícia começa uma operação, todos recebem o mesmo release
informando a ação. Do ponto de vista da diversidade é ruim, mas agora todos os veículos
recebem as informações ao mesmo tempo, e isto é bom.
6) Mas e para a qualidade do jornalismo?
Simone: Por um lado democratizou o acesso às fontes entre os veículos, mas por outro tornou
os jornais muito parecidos. Principalmente nas denúncias. Alguém vai lá, grava alguma
coisa e todos recebem. Acaba que todo mundo faz a mesma matéria. Todo mundo usa imagem
de câmeras de vigilância. Todo mundo usa a denúncia de algum deputado ou do vice-
governado. E assim todos têm que ter, pois quem não der a notícia fica por fora. Para quem
acompanha todos os jornais, ficou sem graça. Antes eram feitas coisas diferentes, e eu acho
bom quando o nosso não faz o que todo mundo faz.
7) Como você vê o papel das assessorias de imprensa neste processo?
Simone: Eu admiro a capacidade das assessorias de imprensa de vender seus assessorados.
Às vezes eles vendem umas porcarias, com títulos chamativos e textos bem escritos, e quando
você vai ver não é bem menos do que nos foi colocado. Mas eu acho que eles são como a
internet. Veio e ficou. Então acho que o trabalho deles é um mal necessário. Muitos lugares
onde antes era difícil conseguir a informação, hoje já é bem mais fácil. Em alguns lugares os
assessores de imprensa conseguem abrir portas que antes era impensável, pois fazem um
trabalho de conscientização dos seus assessorados da importância de serem transparentes
com a opinião pública.
8) Você acha que o assessor é mais um facilitador ou um obstáculo a ser vencido?
150
Simone: Acho que assim como facilita, também pode atrapalhar. No dia-a-dia as assessorias
da iniciativa privada são mais fáceis de lidar, por exemplo. No poder público é aquela coisa.
O assessor não trabalha um minuto sequer além do horário dele. Nem ele e nem os seus
assessorados. E nesta época de férias é cinco da tarde e todo mundo já foi embora. Na sexta-
feira então, é quatro da tarde e você não encontra mais ninguém. É mais burocrático, é mais
difícil. Mas é importante o trabalho do assessor de imprensa para fazer o meio de campo com
as fontes. A gente costuma dizer que o jornalista sabe de tudo um pouco por lidar com
diversos assuntos diariamente. o assessor eu acredito que sabe muito de alguma coisa
mais específica.
9) Se fosse possível quantificar quanto do SBT Rio Grande é produzido a partir de pautas
sugeridas por assessorias de imprensa, você chutaria em quanto?
Simone: Não é muito não. Pensando no jornal de hoje teve uma de assessoria para a
procissão de navegantes. Hoje à tarde produziremos mais uma sobre a febre amarela que foi
sugerida por release. Mas é social, é saúde, é público. Então somando as assessorias de
órgãos públicos e privados eu diria que 30% do jornal é produzido com a ajuda das
assessorias de imprensa.
10) Hoje muitas assessorias conseguem produzir material para TV, pois contam com todo
o aparato técnico e pessoal para isto. Vocês utilizam este tipo de material? Se sim,
você acha que este uso compromete de alguma forma a credibilidade das matérias?
Simone: A Polícia Federal nos material com freqüência, a Brigada Militar nos
material também. Não acho que o uso destas imagens comprometa a credibilidade de nossas
matérias. Agora da iniciativa privada é muito difícil usarmos alguma coisa, exceto quando é
pauta cultural de algum espetáculo ou show que chega à cidade. Usamos muito cinema.
Também damos preferência para imagens que seria impossível para nós produzirmos, como
as imagens aéreas que usamos da Usina de Candiota, fornecida pela assessoria de imprensa
da empresa. Mas são casos muito excepcionais. No caso de notícia factual é importante esta
ajuda, se é uma coisa bombástica. Mas a “propaganda” é muito difícil entrar.
151
11) Você acha que existe algum grau de dependência por parte do SBT Rio Grande em
relação ao trabalho desenvolvido pelas assessorias de imprensa?
Simone: Não. As assessorias te dão subsídios, facilitam o trabalho, mas não somos
dependentes não. pra fazer tranquilamente. Temos rondas, contatos diretos, internet, ou
seja, muitas outras fontes de notícias.
12) Como você percebe o telejornalismo gaúcho na questão da qualidade, credibilidade e
audiência?
Simone: O nosso jornalismo é muito forte. Existe uma concorrência local que hoje é muito
forte. Todos têm alta qualidade e credibilidade. Tanto que se compararmos com outras
praças (estados), entra muito mais coisa daqui em rede nacional. Eu sou de Santa Catarina,
onde também ocorrem coisas importantes, e sai mil vezes menos coisas em rede do que o que
acontece no Rio Grande do Sul, exceto, é claro, no caso de catástrofes como foi o caso das
chuvas que devastaram SC. Eu acho que isto se deve à qualidade dos profissionais que atuam
aqui. Outro fator que contribui para isto é a questão geográfica. O estado faz fronteira com
os principais parceiros do Brasil no Mercosul, acho que isto também é relevante.
13) Você acha que o assessor de imprensa contribui para um certo enxugamento nas
redações?
Simone: Eu nunca pensei nisto, mas eu acho que não.
14) Como você a relação do telejornalismo com a internet frente à convergência dos
meios?
Simone: Eu vejo a internet mais como um meio de entretenimento. É claro que facilitou o
resgate de muitas produções da televisão. Se você quer ver uma matéria de novo basta
acessar o site do telejornal e rever. Acho que a convergência pode acontecer, mas não
saberia te dizer quando.
152
APÊNDICE G
Anotações sobre a reunião de pauta do Jornal do Almoço realizada em 12 de janeiro de
2009
Tão logo os créditos do programa começaram a subir na tela, o editor-chefe do
jornal, José Pedro Villalobos, saiu apressadamente da sala do suíte para a reunião de pauta
que iria definir as matérias do dia seguinte. Ao chegar à sala o editor-chefe foi avisado da
ausência do pauteiro José Mitchel por problemas de saúde. Foi neste momento que informou
aos presentes da presença do pesquisador. Questionado sobre a possibilidade de gravação
da reunião, Villalobos consultou os presentes, que deram risada e, cordialmente, se
opuseram na maioria.
Em clima bastante descontraído, os 13 presentes, entre editores, pauteiros,
repórteres e apresentadores, iniciaram a reunião fazendo uma avaliação da edição que
acabara de ir ao ar. Aos olhos dos leigos nada de anormal foi perceptível, mas por questão
de menos de 10 segundos o JA não estourou o tempo destinado pela Rede Globo à
programação local da RBS TV.
Villalobos chamou a atenção para a distorção no som de uma matéria enviada por
Pelotas e transmitiu a crítica da direção de jornalismo sobre um termo usado por um
repórter para descrever um garoto sem braços e pernas como “atração por onde passava”.
Villalobos disse que o tom da matéria foi similar a um “circo dos horrores”, e pediu mais
atenção aos editores na hora de orientar as praças locais. Críticas feitas, o editor convocou a
equipe para pensar nos assuntos do dia seguinte.
153
Nesta reunião, nenhum dos participantes tinha qualquer anotação prévia ou
material impresso, exceto as revistas nacionais que já estavam em cima da mesa de reuniões.
Os assuntos sugeridos para o JA do dia 13 de janeiro foram os seguintes:
1) Motoqueiros reclamam do valor do seguro obrigatório para motocicletas
2) Início do Big Brother Brasil para participantes gaúchos
3) Denúncia sobre cobrança indevida das casas Bahia
4) A popularização da esfoliação de pele
5) Os cuidados da família com parentes da 3ª idade e a direção
6) Manifestação de palestinos em Porto Alegre contra bombardeios de Israel
7) Crise financeira na Ulbra
8) Ministério Público faz vistoria no camelódromo
Destas sugestões, as de número 1, 4 e 7 aparentemente surgiram a partir de
contatos pessoais de membros da equipe. A sugestão número 2 e 5 seriam continuações de
pautas tratadas anteriormente no jornal. A sugestão 3 foi enviada por uma telespectadora e
as sugestões 6 teria origem em escutas de rádio por parte dos editores. A pauta 8 foi sugestão
da assessoria de imprensa do Ministério Público (MP).
Villalobos solicitou então a produção imediata das pautas 1, 2 e 5, e determinou
que os produtores do jornal averiguassem a veracidade das informações das pautas de
número 3 e 8. A pauta número 4 foi descartada por ter sido considerada “sem novidades”. E
para as pautas 6, 7 e 8 ele solicitou que os produtores aguardassem o desenrolar dos
acontecimentos.
A repórter Shirley Paravisi questionou o editor a respeito de uma matéria sobre
sapateado que estava engavetada. Villalobos autorizou a exibição da matéria na edição do
dia seguinte.
Escolhidos os temas, a reunião foi encerrada.
154
APÊNDICE H
Anotações sobre a reunião de pauta do Jornal do Almoço realizada em 14 de janeiro de
2009
Neste dia resolvi chegar mais cedo e acompanhar a equipe de produção durante a
exibição do jornal. Todos estavam muito agitados. José Pedro Villalobos pediu desculpas por
não poder me dar muita atenção naquele momento, pois a edição estava, como ele mesmo
descreveu “com cara de delegacia”. Muitos VTs tinham sido fechados de última hora em
virtude de acontecimentos recentes de homicídios e acidentes.
Acompanhei o jornal ao lado de Villalobos, direto da sala de corte. O espelho trazia
as manchetes na seguinte ordem:
1) Lapada
2) VTs Big brother
3) Esporte com Paulo Britto (Stand ups de Grêmio e Inter)
4) Garota Verão – Maquiagens com protetor solar
5) Nota coberta acidente de carro
6) VT jovem de 16 anos morta
7) Nota pelada ladrão semáforo
8) Nota pelada assassinato em São Leopoldo
9) Nota pelada colisão automóveis
10) Nota pelada caminhão com contrabando
11) VT Recicladores de lixo hospitalar
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12) Stand UP ao vivo sobre lixo no Guaíba e previsão do tempo
13) Entrada ao vivo de estúdio com músico Delcio Tavares
14) Entrada Ana Amélia Lemos ao vivo de Brasília
15) VT consórcio eletrodomésticos
16) VT assalto no bairro Menino Deus
17) VT chacina em Santa Rosa
18) VT assalto churrascaria
19) VT pesquisa sócio-econômica da secretaria de educação
20) Comentário Lasier Martins sobre VT anterior
21) Stand UP ao vivo com mais previsão do Tempo
22) Stand UP ao vivo de Capão da Canoa para encerramento
Ao acompanhar as matérias, percebi que três delas (11, 15 e 19) possuíam elementos
que pudessem indicar serem elas oriundas de sugestões de assessorias de imprensa.
Questionei imediatamente o editor-chefe sobre esta possibilidade, mas ele não soube
informar. Isto tornou evidente que José Pedro Villalobos não possui total controle sobre a
origem das pautas que chegam às reuniões diárias do Jornal do Almoço.
Ao término do jornal, perguntei ao pauteiro José Mitchel sobre a origem das pautas.
Ele confirmou que a matéria sobre o lixo hospitalar (11) foi sugestão da assessoria de
imprensa do DMLU, mas não soube informar qual a origem das outras duas matérias, ambas
produzidas pela repórter Luciana Kraemer.
Seguimos então para a reunião de pauta. Após as avaliações, José Mitchel informou
o que havia encontrado de mais importante na sua opinião dentre os mais de 500 e-mails e
releases que recebeu nas últimas 24h. As pautas citadas por Mitchel foram as seguintes:
1) 1ª audiência pública sobre a duplicação da BR 116
2) Entrega do Prêmio Felizardo da cultura
3) RS vende o dobro de carros da média brasileira
A pauta 1 foi sugerida pela Fepam. A pauta 2 pela assessoria de imprensa da
Secretaria Municipal da Cultura e a pauta 3 saiu do Sindicato dos Vendedores de Automóveis
156
do Estado. José Pedro Villalobos gostou das 3 sugestões, e pediu que se averiguassem os
dados. Outras pautas sugeridas pela equipe foram:
4) Saldo de apenas 3 meses no cartão TRI de ônibus
5) Viaduto da Nilo cheio de mendigos
6) Assaltos a condomínio. Como evitar?
As pautas 4, 5 e 6 foram sugestões aparentemente surgidas a partir de experiências e
testemunhos pessoais da equipe. Villalobos solicitou que a pauta 6 fosse produzida e que um
especialista em segurança fosse chamado para uma entrevista ao vivo em estúdio. O editor-
chefe também solicitou mais informações sobre as pautas 4 e 5, mas não demonstrou muita
empolgação pelas mesmas.
Pré-estabelecidos os assuntos do dia seguinte, a reunião foi encerrada.
157
APÊNDICE I
Anotações sobre a reunião de pauta do Jornal do Almoço realizada em 16 de janeiro de
2009
Repeti a experiência de chegar mais cedo à redação do Jornal do Almoço para
acompanhar a edição da mesa de corte. Diferente dos outros dias, o clima na redação era de
afobação, quase um desespero, acompanhado de muita tristeza. José Pedro Villalobos logo
pediu desculpas por não poder me dar qualquer atenção. Tão logo começou o jornal entendi
os motivos. Na madrugada anterior a delegação do time de futebol Brasil de Pelotas sofrera
um acidente ao retornar de um amistoso, e o fato inusitado fez com que todo o planejamento
do dia anterior fosse abandonado. Além da tensão do retrabalho, todos estavam nitidamente
abalados pelo acidente, que vitimou fatalmente três jogadores do clube.
A corrida contra o tempo implicou em muitas entradas ao vivo direto de Pelotas e do
local do acidente, aumentando os imprevistos de bastidores como falhas de comunicação
entre as equipes técnicas e estouro de tempo. Mesmo assim, para quem viu de fora o
programa, aparentemente nada de falhas foi perceptível.
Ao término do jornal, Villalobos e a equipe do JA se dirigiram para a reunião, na
qual fizeram uma avaliação positiva da edição. Aos olhos do editor-chefe, apesar dos
problemas de bastidores, a cobertura do acidente foi excelente.
Dando seqüência à reunião de pauta, Villalobos lembrou que a equipe deveria
pensar em pautas para sábado (17/01) e também para segunda (19/01), que ele estava
saindo de férias. As sugestões para sábado foram as seguintes:
1) Índios prestam vestibular na UFRGS
2) O uso de cinto de segurança em ônibus é possível?
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3) Jogadores do Brasil de Pelotas que nunca mais poderão jogar em virtude das
lesões
A pauta 1 foi citada por José Mitchel e foi enviada à produção do JA pela assessoria
de imprensa da UFRGS. As pautas 2 e 3 seriam seqüenciais à tragédia com o ônibus do
Brasil de Pelotas. Villalobos sugeriu então que um dos repórteres viajasse no mesmo dia a
noite com uma câmera escondida para averiguar as exigências do uso de cinto de segurança
nos ônibus. Sobre as outras duas sugestões nada ficou determinado na reunião.
Para a segunda-feira, a equipe levantou sete possibilidades. São elas:
1) Vistorias de barcos e preparativos para a Procissão de Navegantes
2) Entrega da chave da cidade ao Rei Momo do carnaval de Porto Alegre
3) Reunião entre metalúrgicos e empresários sobre demissões na Gerdau
4) Reunião para debater a municipalização do Posto de Saúde Murialdo
5) Portabilidade na telefonia móvel
6) 1º final de semana com sol na praia
7) Planeta Atlântida Santa Catarina
A pauta número 1 foi sugerida pela assessoria de imprensa da Cúria Metropolitana
e apresentada na reunião por José Mitchel, assim como a pauta 2, enviada pela Secretaria da
Cultura de Porto Alegre. Mitchel ainda trouxe as pautas 3 e 4 como sugestões oriundas das
assessorias de imprensa do sindicato dos metalúrgicos do RS e da Secretaria da Saúde de
Porto Alegre, respectivamente. A pauta 5 foi sugerida pela editora Cristiane Pastorini. A
pauta 6 surgiu da central de previsão do tempo da RBS e a pauta 7 entrou como espécie de
“pauta 500”, por ser o referido evento uma produção da rádio jovem do Grupo RBS. Diante
das opções, José Pedro pediu que todas fossem averiguadas e, dependendo do potencial de
cada uma, que fossem produzidas para segunda-feira, encerrando assim a reunião.
159
APÊNDICE J
Anotações sobre a reunião de pauta do SBT Rio Grande realizada em 22 de janeiro de
2009
As reuniões de pauta do SBT Rio Grande ocorrem logo após a exibição do jornal.
Normalmente ela é realizada entre a editora-chefe, Cristiane Finger, e as produtoras da
manhã e da tarde. Mas neste dia, excepcionalmente, toda a equipe do departamento de
jornalismo foi convocada, totalizando 10 pessoas, para uma avaliação antes da abordagem
aos assuntos da edição do dia seguinte.
Finger demonstrou insatisfação com o teor do jornal, que na sua opinião estava
fraco, pouco questionador e muito conservador. Cobrou os repórteres por estarem muito
dependentes do material de apoio da produção e pouco ousados na busca de informações na
rua. Para a eidtora-chefe o SBT Rio Grande estava perdendo a identidade por cair em
obviedades e não conseguir se diferenciar dos demais veículos. A produtora Karina Chaves
se disse frustrada porque não conseguiu enviar nenhuma pauta produzida pela equipe para o
jornalismo de rede do SBT. O repórter Wilson Rosa complementou a avaliação dizendo que a
equipe estava muito presa a jornais e à internet.
Finger retomou a palavra para cobrar profundidade nos assuntos abordados.
Segundo ela, não para enviar um equipe de reportagem para uma pauta e a mesma
retornar com um minuto e 20 segundos (1’20”) de matéria. A repórter Edilene Ferigolo
relatou dificuldades de entrevistar fontes com pouco conhecimento, para as quais muitas
vezes se obriga a mostrar o release enviado pela assessoria de imprensa da própria fonte.
Finger sugeriu que, sempre que isto ocorrer, a repórter jogue com a contra-informação, que
160
não se conforme com o que está no release. Para Finger, o release é o começo, nunca
pode ser o fim.
Dando seqüência à reunião, Finger solicita sugestões de pautas dos presentes. Neste
momento observou-se uma insegurança da equipe em sugerir pautas abertamente. A
produtora Simone Müller então entrega nas mãos da editora-chefe um apanhado de papéis
com os releases, matérias de jornal e textos de internet que ela considerou como possíveis
pautas para o dia seguinte. Feita a leitura e após um breve debate com os presentes, cinco
pautas foram elencadas na reunião. São elas:
1) Cidade vazia
2) Túnel da Conceição com infiltração
3) Denúncia contra a Caixa de senhora que não consegue FGTS do marido
4) Preparativos para o carnaval
5) Roubo de peças em hidrantes da capital
As pautas 1 e 2 foram sugeridas por repórteres do jornal. A pauta 3 surgiu de uma
denúncia por telefone de uma telespectadora e as pautas 4 e 5 surgiram de recortes de
jornais impressos. Finger solicitou que a equipe da tarde averiguasse as informações sobre
as pautas e ficasse atenta ao factual. Imediatamente, a produtora Simone Müller foi para o
computador providenciar material de apoio. Nada mais havendo a tratar a reunião foi
encerrada.
161
APÊNDICE K
Anotações sobre a reunião de pauta do SBT Rio Grande realizada em 27 de janeiro de
2009
Tão logo terminou a transmissão do jornal a editora-chefe Cristiane Finger iniciou a
reunião de pauta para definir os assuntos do dia seguinte. Diferente da primeira vez em que
este processo foi acompanhado para esta pesquisa, o encontro se caracterizou mais como
uma conversa entre Finger e a produtora Simone Müller, acompanhada de perto pelo
repórter da manhã, Wilson Rosa.
Simone novamente entregou uma gama de papéis, entre fotocópias de jornais,
anotações de escutas de rádio e releases, para a avaliação de Finger. Enquanto isto, Wilson
Rosa informava que um de seus contatos na polícia havia confirmado a história contada por
um homem que o parou na rua, de que uma casa de bingos funcionava clandestinamente no
centro da cidade. Cristiane solicitou que Wilson negociasse a exclusividade da cobertura em
troca da denúncia para as autoridades.
De volta à conversa com a produtora Simone, a editora-chefe selecionou três
assuntos que poderiam entrar no jornal do dia seguinte. São eles:
1) Polícia Rodoviária Federal recebe reforços para fiscalizar Argentinos em visita
ao Brasil
2) Governo amplia número de municípios que devem se vacinar contra a Febre
Amarela
3) Crise afeta até catadores de materiais recicláveis
162
A pauta 1 surgiu de release enviado pela Assessoria de Imprensa da PRF e seria a
continuação de uma matéria já mostrada no jornal. A pauta número 2 foi um release enviado
pela Secretaria Estadual da Saúde e a pauta 3 surgiu de uma matéria no jornal Diário
Gaúcho. Cristiane determinou que a pauta sobre a febre amarela se transformasse apenas em
uma nota coberta, e que a matéria da sucata só fosse produzida para a manhã seguinte, caso
nada de factual aparecesse. Em pouco mais de 10 minutos a reunião de pauta foi encerrada.
163
APÊNDICE L
Anotações sobre a reunião de pauta do SBT Rio Grande realizada em 29 de janeiro de
2009
A reunião de pauta do SBT Rio Grande começou em clima tenso. Tanto o SBT
quanto todas as concorrentes locais acabaram de noticiar grandes estragos provocados pela
chuva Região Sul do Estado. Pela limitação de equipe, Cristiane Finger perguntou para a
produtora de rede, Karina Chaves, se ela havia conseguido negociar imagens com alguma
outra emissora. Em resposta obteve a confirmação de imagens conseguidas com a emissora
Pampa, mas que a transmissão destas imagens ainda estava em tratativas com a RBS TV de
Pelotas.
Como primeira pauta para o dia seguinte, a editora-chefe pediu que a produção
trabalhasse na repercussão dos incidentes em Pelotas. Em seguida iniciou uma conversa com
a produtora Simone Müller sobre outras possíveis pautas para a edição seguinte. Após
analisar releases, fotocópias de jornais e anotações de rádio escuta, sete pautas foram
comentadas com destaque na conversa:
1) Movimento de Justiça e Direitos Humanos divulga novos documentos sobre a
morte do presidente Jango
2) Contraponto de sindicatos às medidas anunciadas pelo governo Yeda
3) Fenavinho
4) Vistoria camelódromo para inauguração
5) Ato público de funcionários da ULBRA
6) Pesquisa Associação Gaúcha de Supermercados sobre venda de material escolar
164
7) Seminário da Associação Gaúcha de Emissoras de Rádio e TV
8) Feriados em dias úteis em 2009
9) O que funciona e o que não funciona no Feriado de navegantes
10) Assembléia reinaugura memorial legislativo
As pautas 2, 3, 4, 6 e 7 surgiram a partir de releases enviados, respectivamente,
pelas assessorias de imprensa do Governo do Estado do RS, da organização da Fenavinho,
da Prefeitura de Porto Alegre, da Associação Gaúcha de Supermercados e da Associação
Gaúcha de Emissoras de Rádio e Televisão. As pautas 1 e 5 surgiram de contato direto entre
a produção e as fontes das respectivas pautas. A pauta 8 é originária de uma matéria
publicada em um jornal diário do Estado, a pauta 9 foi enviada pela assessoria de imprensa
da Prefeitura de Porto Alegre e a pauta 10 foi enviada pela Assembléia Legislativa Gaúcha.
Diante das possibilidades, Cristiane Finger eliminou a pauta sobre o camelódromo,
sob a alegação de que daria notícia sobre o empreendimento depois que o mesmo fosse
inaugurado. A pauta sobre a Fenavinho ficou para ser produzida pela equipe que estaria de
plantão no final de semana, pois havia um acordo comercial para a divulgação do evento em
um programa especial previsto para o sábado (31/01).
As pautas sobre o ex-presidente João Goulart e a pesquisa de material escolar
deveriam virar matérias junto com os estragos da chuva na metade sul do Estado. A pauta
sugerida pela AGERT entraria no quadro “Agenda” como nota coberta por gráfico. Para as
outras pautas não houve definições e a reunião foi encerrada.
165
APÊNDICE M
Anotações sobre a reunião de pauta do TVE em Dia realizada em 28 de janeiro de 2009
A exemplo do que acontece no Jornal do Almoço e no SBT Rio Grande, todas as
reuniões de pauta do TVE em Dia começam pela avaliação da edição que acabara de ir ao
ar. A peculiaridade do telejornal da Estatal é que a reunião é feita dentro da sala do Diretor
de Jornalismo, Jorge Seadi, que faz questão de opinar sobre as pautas.
No espaço, que possui pouco mais de 2m_, amontoam-se em volta da mesa de Seadi
a editora-chefe, Maria Emília Portella, o chefe de Reportagem, Vitor XXXXX, além de
repórteres e apresentador. O comando da reunião fica por conta do próprio Seadi, que inicia
o encontro dando dicas ao repórter esportivo sobre como fazer stand ups ao vivo, que o
programa estava em início de processo de cobertura esportiva.
Em seguida Seadi solicitou ao chefe de reportagem que elencasse as pautas mais
importantes do dia. Vitor elegeu os seguintes assuntos:
1) Vistoria camelódromo quinta-feira
2) Preparativos e vistorias nos barcos da procissão de navegantes na sexta-feira
3) Corte de verbas no CNPQ
4) Ministério Público cobra Governo para reduzir carroças em Porto Alegre
5) Tarifa de ônibus em Porto Alegre
6) Obras no viaduto da BR 116 em Novo Hamburgo
7) Comitiva da FIFA visita Beira-Rio e Aeroporto no sábado
166
O próprio diretor de jornalismo citou ainda outros três assuntos que poderiam virar
pauta. São eles:
8) Novos depoimentos da Operação Rodin
9) Obras de extensão do Trensurb
10) Crescimento das escolas técnicas da PUCRS e Senai
Questionado sobre a origem das pautas, o chefe de reportagem informou que as
pautas 1 e 2 foram sugeridas pelas assessorias de imprensa da Prefeitura de Porto Alegre. A
pauta 3 surgiu de informações obtidas pela internet. A pauta 4 veio da assessoria de
imprensa do Ministério Público. As pautas 5, 6 e 7saíram da leitura de jornais e sites de
internet. Por sua vez, Jorge Seadi disse que as pautas que ele sugeriu se originaram de
contatos diretos, fontes dele dentro dos respectivos órgãos citados nas pautas 8, 9 e 10.
Diante de tantos assuntos, Seadi pediu que algumas pautas fossem reservadas para o
final de semana. Confirmada para a tarde ficou apenas a pauta 3, onde um pesquisador
deveria ser chamado para entrevista em estúdio e um VT deveria ser fechado junto à UFRGS
para saber como os cortes no CNPQ afetariam as pesquisas da universidade. O restante das
pautas seria avaliado ao longo do dia, conforme informações obtidas pela produção. Sem
mais assuntos, Seadi encerrou a reunião.
167
APÊNDICE N
Anotações sobre a reunião de pauta do TVE em Dia realizada em 29 de janeiro de 2009
Neste dia cheguei um pouco mais cedo para a reunião de pautas do TVE em Dia.
Antes tinha assistido ao Jornal do Almoço para acompanhar os estragos causados pela chuva
na metade sul do estado, e deduzi que o telejornal da TVE também estaria às voltas com a
cobertura do incidente. Quando cheguei à emissora, o jornal ainda estava no ar, e me dirigi
ao saguão para poder acompanhar a transmissão. Ao chegar lá, me surpreendi ao encontrar
o repórter de esportes dando um boletim ao vivo com as últimas informações de Grêmio e
Internacional. Mais tarde o chefe de reportagem, Vitor XXXX, me explicou que os boletins ao
vivo davam mais dinâmica ao jornal, mas que quando chovia ficava difícil de transmitir o
sinal da rua. Geralmente o repórter fazia aquele boletim do estacionamento da própria
emissora e, quando possível tecnicamente, direto do local de treinos dos clubes da capital.
Ou seja, naquele momento, as últimas informações “da rua” sobre a dupla grenal eram
dadas ao vivo de dentro da própria emissora.
Ao término do jornal, fui convidado por Maria Emília Portella para me dirigir à
sala de Jorge Seadi, onde novamente aconteceria a reunião de pauta do dia. Quando entrei
na sala, Seadi já fazia uma análise da edição que acabara de ir ao ar. Ele lamentava não ter
conseguido um carro extra para enviar uma equipe de reportagem à Pelotas, mas disse que
dentro do que era possível a cobertura dos estragos na metade sul foi feita a contento. No
entanto, questionou o chefe de reportagem, Vitor XXXX, se havia alguma posição da
Defesa Civil em enviar um helicóptero para sobrevoar a área atingida, e se seria possível o
acompanhamento da equipe da TVE. Vitor respondeu que ainda não havia confirmações, e
estava no aguardo de uma resposta do órgão público. De qualquer forma, Seadi tentaria
enviar uma equipe durante a madrugada para cobrir a repercussão dos estragos.
168
Dando seqüência à reunião, Maria Emília e Vitor elencaram as pautas que
poderiam render matéria no dia seguinte. São elas:
1) Boletim ao vivo sobre a preparação de navegantes
2) Como fica o trânsito durante a procissão na segunda-feira
3) Vistoria Camelódromo
4) Restauração do Memorial da Assembléia Legislativa e coletiva sobre novos
documentos a cerca da morte de Jango
5) Confraria feminina para investir na bolsa de valores
6) Coletiva da FIFA no sábado
7) Futebol no domingo
8) Cidade vazia no feriadão
As pautas 1 e 2 se originaram do release da Prefeitura e haviam sido discutidas
no dia anterior, bem como as pautas 3 e 6, também surgidas de release da prefeitura e das
notícias nos jornais impressos sobre a visita da FIFA. A pauta 4 surgiu de um release da
Assembléia Legislativa e do aviso sobre a apresentação dos documentos por parte da
presidência do Comitê de Justiça e Direitos Humanos. A pauta 5 originou-se de um contato
pessoal do chefe de reportagem com uma das associadas. A pauta 7 já estava no cronograma
de cobertura do telejornal desde o início do campeonato gaúcho e a pauta 8 foi sugerida pela
editora-chefe, Maria Emília Portella, tendo em vista o feriadão.
Jorge Seadi orientou a equipe para que distribuíssem as pautas entre os jornais de
sexta e sábado, conforme a urgência de cada uma, exceto as pautas 5 e 8, para as quais
pediu mais detalhes antes de autorizar a produção. Definido o trabalho de produção do dia,
a reunião foi encerrada.
169
APÊNDICE O
Anotações sobre a reunião de pauta do TVE em Dia realizada em 30 de janeiro de 2009
Tão logo começou a reunião de pauta entre repórteres, produção e chefias, o diretor
de jornalismo Jorge Seadi tomou a palavra para criticar o que chamou de “falta de
humanidade” nas matérias da edição que acabara de ir ao ar.
A editora-chefe Maria Emília Portella concordou, dizendo que alguns repórteres
estavam tratando de forma muito distante pautas que seriam mais calorosas. Seadi
complementou a avaliação reclamando que os repórteres de hoje em dia “estão muito mal-
acostumados com produções de mão-beijada”. Feitas as críticas, o diretor de jornalismo,
juntamente com o chefe de reportagem, elencou as pautas do dia na seguinte ordem:
1) Posse do novo presidente da Assembléia Legislativa
2) Revitalização do Centro de Porto Alegre
3) Movimentação na Praia do Lami, em Porto Alegre
4) Camelódromo sem habite-se
5) Futebol domingo
A pauta 1 teve ampla divulgação por rádio, jornais e pela Assessoria de Imprensa da
Assembléia Legislativa. A pauta 2 foi sugerida pelo chefe de reportagem a partir de
informações divulgadas pela Assessoria de Imprensa da secretaria de Planejamento da
cidade alguns dias. A pauta 3 foi sugerida por uma das repórteres da redação. A pauta 4
surgiu do monitoramento da produção da TVE sobre a inauguração do camelódromo,
sugerida anteriormente pela assessoria de imprensa da Prefeitura de Porto Alegre. A pauta 5
170
já estava agendada quando da divulgação do cronograma do campeonato gaúcho. Avaliadas
as pautas, Jorge Seadi pediu a produção de todas elas e encerrou a reunião.
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