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presença exclusiva de semas específicos na linguagem denotativa e a de semas virtuais
na conotação.
Imbuído de um propósito didático, depois de apresentar certos detalhes teóricos
que talvez sejam de difícil compreensão para um leitor não-especializado, Othon Garcia
se propõe, à guisa de um de balanço final, a executar uma definição mais clara:
Quando uma palavra é tomada no seu sentido usual, no sentido dito "próprio", isto
é, não figurado, não metafórico, no sentido "primeiro" que dela nos dão os
dicionários, quando é empregada de tal modo que signifique a mesma coisa para
mim e para você, leitor, como para todos os membros da comunidade sócio-
lingüística de que ambos fazemos parte, então se diz que essa palavra tem sentido
denotativo e referencial [...]
Se, entretanto, a significação de uma palavra não é a mesma para mim e para você,
leitor, como talvez não o seja também para todos os membros da coletividade de
que ambos fazemos parte, e não o é por causa da interpretação que cada um de nós
lhe possa dar, se a palavra não remete a um objeto do mundo extralingüístico mas,
sobretudo, sugere ou evoca, por associação, outra(s) idéia(s) de ordem abstrata, de
natureza afetiva ou emocional, então se diz que seu valor, i.e., seu sentido é
conotativo ou afetivo. (GARCIA, 1996. p. 162).
Em linhas gerais, pode-se dizer que a definição que retiramos do livro didático se
encontra dentro da formulação de Othon, a qual se mostra mais abrangente. Ambas,
contudo, apresentam certos pontos extremamente discutíveis, sobretudo se levarmos em
conta idéias genericamente difundidas pelas análises do discurso, pela pragmática e até
mesmo pela lexicografia moderna. Uma das definições levantadas por Othon Garcia e
seguida pelo livro didático que apresentamos se relaciona à questão do dicionário: o
sentido denotativo estaria presente neste, enquanto o conotativo consistiria no uso
estritamente contextual. Aqui existe pelo menos uma grande falha conceitual, que é a
de considerar o dicionário como uma instância totalmente descontextualizada.
Antes de mais nada, qualquer bom dicionário registra, além do chamado sentido
denotativo, várias acepções, numa escala que atinge até usos mais metafóricos ou
metonímicos e, portanto, mais conotativos. Othon Garcia admite isso, ao relacionar
denotação ao sentido “primeiro”, de onde se pressupõe haver sentidos secundários.
Freqüentemente os verbetes apresentam-se em contextos frasais dos mais variados,
cujas ocorrências se prestam a dirimir as dúvidas dos leitores acerca de seus empregos
específicos.
A esse respeito, José-Alvaro Porto Dapena comenta que para determinados
lingüistas, como Eugenio Coseriu, não haveria exatamente dicionários de língua – aqui
entendida aproximadamente como a langue de Saussure –, já que esta é vista como uma
virtualidade; seria, antes, mais apropriado falar de dicionários de "norma" ou "fala",