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vem em termos de curso, coisas de municípios, os primeiros que vem, vem
pra comunidade quilombola. Hoje o Alto Alegre é bem visto na Prefeitura.
Por exemplo, nós tem o grupo de dança. O grupo de dança vai se apresentar
em tal canto, a gente pede a Prefeitura, e a Prefeitura manda aquele
transporte. Ah, a comunidade precisa disso, vai na Prefeitura, a Prefeitura tá
dando um apoio bem forte.
Aquino, Sousa e Monteiro (2008) afirmam que a questão identitária dos
moradores do território quilombola se transformou ao longo dos anos, a partir da
interação com outros grupos e instituições, modificando também, o sentimento das
pessoas em relação a “ser negro”, como revelam, respectivamente, um senhor de meia
idade, uma jovem daquela localidade e Valquíria:
A minha tia parecia que ela estava algemada, ela se sentia avergonhada da
cor dela, de tá no meio dos brancos. Eu não me sentia avergonhado, mas eu
tinha aquela cisma, sinceramente, eu tinha aquela cisma, mas hoje, graças a
Deus, parece que quebrou as algemas da gente. Nós vivemos bem alegres,
bem folgados, graças a Deus, e hoje eu me sinto feliz, me sinto o nego mais
bonito de Horizonte.
Porque a maioria da negrada tinha um racismo. Não todos, mas a maioria do
pessoal que morava aqui tinha vergonha dos negros. Eu acho que isso aí,
depois de 2005, que houve, que os africanos vieram, vamos dizer, que
resgataram o Alto Alegre, e a gente sabia, que eram descendentes de
quilombolas, eu acho que isso aí mudou muita coisa.
A gente, nós mesmo tinha preconceito com a gente mesmo. E às vezes a
gente tinha certas participações, que a gente tinha que ir pra outro canto, que
surgia o preconceito. “Ah, neguim do Alto Alegre!”. Hoje não. Hoje, vamos
receber a Comunidade Quilombola (voz enfática). Já muda, todo mundo fica
curioso, quem é os quilombola? Todo mundo fica ansioso. E é assim. Eu
vejo pessoas comentando que hoje eles se orgulham de ser negro.
Depois do reconhecimento oficial da comunidade, inúmeras iniciativas,
como cursos profissionalizantes e seleções de pessoal para novos empreendimentos,
passaram a ser direcionadas prioritariamente às comunidades do distrito de Queimadas,
onde moram as famílias consideradas descendentes.
O próprio projeto “Alinhavando Sonhos / Construindo Realidades” foi uma
dessas propostas, deixando como herança, além da vivência relatada pelas mulheres,
toda uma estrutura de móveis, equipamentos e instrumentos que foram utilizados
posteriormente em outras turmas de capacitação em costura e que hoje pertencem à
associação comunitária.
Aquino, Sousa e Monteiro (2008) afirmam que ainda não existem dados
quantitativos sobre os resultados de todas essas ações. Por exemplo, não há informações
fidedignas acerca da melhoria ou não da qualidade de vida dessas pessoas, em termos de