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Portanto, a partir daí nossa hipótese é que Corra Lola Corra está modelado
como um produto da cultura da mídia, marcadamente pós-moderna quando se vê o
filme através de uma de suas estratégias narrativas mais importante: a flexibilidade
da identidade. Lola escolhe não viver as experiências até o fim, caso o fim não seja
como ela deseja. ‘Nega-se’ a morrer na primeira história. Nega a morte do namorado
na segunda. A experiência fragmentada e desconexa de Lola também são
características da pós-modernidade. Segundo Douglas Kellner:
(...) Os teóricos pós-modernos afirmam que os sujeitos implodiram, formando
massas (Baudrillard 1983b), que a característica fundamental da cultura pós-moderna
é um modo de experiência fragmentado, desconexo e descontínuo, tanto em seus
aspectos subjetivos quanto em seus textos (Jameson, 1983, 1991). Argumenta-se
que na sociedade pós-moderna da informação e da mídia somos, no máximo, um
“termo no terminal” (Baudrillard, 1983c), ou um efeito cibernetizado de “fantásticos
sistemas de controle”. Deleuze e Guattari (1977) festejam as dispersões nômades e
esquizóides do desejo e da subjetividade, valorizando exatamente a desintegração e
a dispersão do sujeito da modernidade. Segundo essas teorias, a identidade é muito
mais instável e, para alguns, desapareceu pura e simplesmente do ‘cenário pós-
moderno’ (...) (2001: 298-299)
Na pós-modernidade a identidade não desaparece, como pode dar a
impressão. Ao contrário disso, a identidade está simplesmente sujeita a novas
determinações e a novas forças, ao serem oferecidas outras possibilidades de
identidades construídas na velocidade da cultura da imagem. Isso cria identidades
instáveis e, ao mesmo tempo, oferece diferentes possibilidades para as constantes
“atualizações” da imagem do sujeito no mundo.
Vivemos em constante estado de busca por identidades no que se refere, por
exemplo, à aparência, imagem, estilo de vida, jeito de ser etc. Douglas Kellner utiliza
Michael Jackson e Madonna como exemplos de figuras da mídia que mostram que
identidade é construto, que pode ser constantemente modificada, redefinida e
reestruturada. Identidade, neste caso, é uma questão de imagem.
Michael Jackson desfaz as fronteiras entre negro e branco, mulher e homem, adulto e
jovem. Em alguns de seus videoclipes ele aparece como negro; em outros, como
branco; em outros ainda, é indeterminado. As vezes parece muito masculino, as
vezes mais feminino, e as vezes, andrógino. Em algumas ocasiões aparece como