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Universidade
Estadual de
Londrina
EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU
DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL NA
ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG
LONDRINA
2009
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EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU
DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL NA
ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG
Dissertação apresentada ao Departamento
de Língua e Literatura Vernáculas da
Universidade Estadual de Londrina como
requisito parcial para obtenção do título de
mestre em Estudos da Linguagem.
Orientador: Prof.
Dr.
Ludoviko C. dos Santos
LONDRINA
2009
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EMÍLIA REZENDE RODRIGUES DE ABREU
DESCRIÇÃO DO SISTEMA PRONOMINAL
NA ESTRUTRURA FRASAL EM KAINGANG
NATUREZA DO TRABALHO
Trabalho de Análise Lingüística e Descritiva de
Língua Indígena.
COMISSÃO EXAMINADORA
Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos
Universidade Estadual de Londrina
Profa. Dra Esther Gomes de Oliveira
Universidade Estadual de Londrina
Prof. Dr Rogério Vicente Ferreira
Universidade Federal de Campo Grande
Londrina, 16 de março de 2009.
ABREU, Emília Rezende Rodrigues. Descrição do sistema pronominal na
estrutura frasal em Kaingang. 2009. 117fls. Dissertação (Mestrado em Estudos da
Linguagem) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2009.
RESUMO
Este trabalho descreve os pronomes da língua kaingang e sua posição na estrutura
frasal.
Através de análise verificamos que, ao usarmos pronomes pessoais no SN sujeito,
ocorriam algumas variações na estrutura frasal dessa língua. Com o
desenvolvimento do estudo, abordamos todo o sistema pronominal e buscamos
elaborar uma breve descrição de todos os pronomes existentes em kaingang. A
primeira etapa do trabalho descreve os pronomes nas orações simples e, na
segunda etapa, os pronomes em um texto.
Para a coleta dos dados foram utilizados questionários constituídos de orações, em
português, com a estrutura do objeto de análise. Nossos informantes foram
professores bilíngües, da escola localizada na Terra Indígena Apucaraninha.
Em kaingang, a estrutura canônica, nas orações simples é S O V. Com o uso de
pronomes, variação nessa estrutura frasal. Porém, algumas vezes, ela se
mantém. Na maioria dos exemplos com sujeito pronominal temos a estrutura O V S.
Os pronomes possessivos são usados em estruturas S O V ou O V S, dependendo
do sujeito, seja ele nominal ou pronominal. Com os pronomes demonstrativos, bem
como com o pronome indefinido {ũn}, com os pronomes interrogativos {ne - hẽ- ũ},
com o pronome reflexivo {vẽnh} e o pronome recíproco {jagnẽ} ocorreram várias
estruturas frasais diferentes: S O V, O S V, S V, V S O. Nas orações subordinadas
relativas adjetivas, o pronome relativo {ũn} iniciava as orações ou, então, foi usado o
pronome demonstrativo {ẽn}, funcionando como um pronome relativizador.
Palavras Chaves: Pronomes. Kaingang. Estrutura Frasal.
ABREU, Emília Rezende Rodrigues. Description of the pronominal system in the
phrasal structure in Kaingang language. 2009. 117 sheets. Dissertation (Master’s
Degree in Language Studies) – State University of Londrina, Londrina, 2009.
ABSTRACT
This work describes pronouns in the Kaingang language and their position in phrasal
structure. We verified through analysis, when personal pronouns in the SN subject
are used, there occur some variations in the phrasal structure of the language. With
further study and development, we verified the entire pronominal system and sought
to elaborate a brief description of the existing pronouns in Kaingang. The first step of
the work describes pronouns in simple sentences and, in the second part, pronouns
in a text.
In our fact finding, we used questionnaires from simple sentences in Portuguese with
the purpose of analyzing structure. Our subjects were bilingual teachers from a
school located in an indigenous area of Apucaraninha.
In Kaingang, the canonic structure in simple sentences is S O V. With the use of
pronouns, there is a variation of this phrasal structure. However, at times, there is no
change. In the majority of examples with pronominal subjects we have the O V S
structure. Possessive pronouns are used in the S O V or O V S structures
depending on the subject, whether it is nominal ou pronominal. With demonstrative
pronouns as well as indefinite {ũn}, interrogative {ne- hẽ- ũ}, reflexive {vẽnh}, and
reciprocal {jagnẽ} ones, there occur various different phrasal structures: S O V, O S
V, S V, V S O. In subordinate clauses with relative adjectives, the relative pronoun
{ũn} begins the phrase or the demonstrative pronoun, ẽn, functioning as a relative
pronoun.
Key words: Pronouns. Kaingang. Phrasal structure.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus que me capacitou e esteve sempre comigo em todas as
etapas desta dissertação. Sem Ele, nada seria possível. Também dedico ao meu
querido esposo, meu incentivador fiel em tudo que faço na minha vida.
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho seria impossível sem a ajuda de várias
pessoas que me auxiliaram em muitas das etapas, até que conseguisse chegar ao
seu final.
Agradeço ao meu marido, Robson e aos meus filhos, Juliana e
Daniel, que suportaram os meus momentos de reclusão para estudos, leituras,
análises, etc. e foram privados dos momentos de “família reunida”.
A minha colega de trabalho, Lissandra Wust, amiga fiel, com quem
sempre pude contar e ter total apoio. Foram várias as horas, em que ela carregou o
“fardo”, sozinha.
Ao meu orientador, prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos, o qual, com
seu conhecimento me contagiou e incentivou à pesquisa e ao estudo da língua
kaingang. Agradeço sua paciência, amizade e pela forma natural e simples, de me
dizer aspectos importantes de minha vida acadêmica de aluna/ pesquisadora, que
me fizeram refletir e tentar mudar. Levarei tudo isto por toda minha vida.
Aos informantes indígenas, professores da Escola Indígena Luiz
Penky Pereira, na reserva indígena Apucaraninha. Por sua preciosa paciência
durante as coletas dos dados.
Ao colégio PGD, (que me contratou, ainda no início do mestrado) por
seu interesse em meu desenvolvimento acadêmico, demonstrado através da
compreensão nas horas da dispensa do colégio para as aulas, enquanto aluna deste
programa.
Aos meus pais, Isaías e Emília Rezende, que sempre me
incentivaram aos estudos e ao crescimento intelectual.
A todos os meus professores deste curso: Prof. Dr. Adja Balbino A.
B. Durão, Prof. Dr. Regina Maria Gregório, Prof. Dr Vanderci de Andrade Aguilera,
Prof. Dr Luiz Carlos Migliozzi que partilharam seu saber, proporcionando-me novos
horizontes de oportunidades para descobertas e crescimento pessoal contínuo.
SÍMBOLOS E ABREVIATURAS
Adv. = advérbio
Benef.= benefactivo
Conj.= conjunção
Dat. = dativo
Fem.= feminino
Fut.= futuro
Ind. a.= indicador de aspecto
ind. circ.= indicador de circunstância
Ind. exp. indicador de existência
Ind. m. = indicador de modo
Ind. o.= indicador de opinião
Ind. p.= indicador de pergunta
Ind. suj. top. = indicador de sujeito tópico
Ind. suj.= indicador de sujeito
Ind. top.= indicador de tópico
M. suj.= marcador de sujeito
Masc.= masculino.
Neg.= negação
p. =pessoa
p.poss.= pronome possessivo.
p. rel.= pronome relativo.
p.p.= pronome pessoal.
p.poss.= pronome possessivo
Pl.= plural
Posp.= posposição.
Prep.= preposição
Pron. dem.= pronome demonstrativo
Pron. ind.= pronome indefinido
Pron. int.= pronome interrogativo
Pron. ref.= pronome reflexivo
Sg.= singular
Suj. ag.= sujeito agente
v.= verbo
?= na glosa, indica dúvida.
1= primeira
2=segunda
3= terceira
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................10
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA E LINGUAGEM..........................................13
3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS NAS LÍNGUAS ÍNDIGENAS ...............16
4 ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA KAINGANG..............................................................20
5 TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA............................................................24
6 CONSIDERAÇÕES SOBRE A LÍNGUA NO MOMENTO DE SUA DESCRIÇÃO E
CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE PRONOMES ..................................................26
7 PRONOMES EM KAINGANG....................................................................................36
7.1 PRONOMES PESSOAIS ................................................................................................36
7.2 PRONOMES POSSESSIVOS ..........................................................................................45
7.3 PRONOMES INTERROGATIVOS .....................................................................................57
7.4 PRONOMES INDEFINIDOS ............................................................................................66
7.5 PRONOMES DEMONSTRATIVOS....................................................................................74
7.6 PRONOMES REFLEXIVOS.............................................................................................85
7.7 Pronomes Recíprocos .............................................................................................89
7.8 PRONOMES RELATIVOS ..............................................................................................92
8 PRONOMES ANALISADOS EM UM TEXTO ............................................................99
CONCLUSÃO ...............................................................................................................111
REFERÊNCIAS.............................................................................................................114
ANEXOS .......................................................................................................................116
ANEXO A – Mapa da Distribuição das Línguas do Tronco Macro-Jê (Brasil) ...............117
10
1 INTRODUÇÃO
Das 180 línguas indígenas faladas no Brasil, muitas delas têm sido
estudadas graças a projetos de Educação que estão privilegiando este aspecto
cultural. Contudo, estas pesquisas realizadas não são amplamente estudadas e há
grande carência de descrições das mesmas.
Rodrigues (1999) em um de seus artigos diz que “qualquer língua
que seja falada por menos de 100 mil pessoas tem sua sobrevivência ameaçada”.
Ora, todas as línguas indígenas do Brasil são faladas por menos de 40 mil falantes,
e a maior, a língua da tribo Tikuna, não passa de 30 mil falantes.
1
Fica evidente o
perigo de extinção e podemos concluir, portanto, que a tarefa de pesquisa, estudo,
análise e descrição destas línguas são de grande urgência. Por outro lado, podemos
verificar que os estudos realizados, têm cooperado imensamente com as línguas
indígenas, pois contribuíram para a expansão do conhecimento dos mecanismos
que regulam as línguas naturais.
um bom número de material existente em estudos da escrita
Kaingang e de sua gramática, porém, faltam estudos didático-pedagógicos que
auxiliem os professores a ministrarem aulas desta língua. Nas visitas à Terra
Indígena no Apucaraninha, foram realizadas algumas aulas pelo professor Ludoviko,
com o objetivo de ajudá-los pedagogicamente. Verificou-se então a carência de um
material que os auxilie em seu trabalho como professores. É de suma importância a
pesquisa desta língua e, principalmente, a elaboração de um material pedagógico
que atenda as necessidades das escolas indígenas.
Em suas escolas, os kaingang, a partir da série, têm aulas tanto
em português, como em kaingang. Sabemos que esta oportunidade de se tornarem
bilíngües amplia a sua riqueza cultural e suas perspectivas sociais. No entanto, a
chance de sucesso das escolas kaingang será maior se tiverem um material
pedagógico adequado, em sua língua nativa.
Ao longo da trajetória de graduação, pesquisas sobre a língua
Kaingang constituíram-se foco central dos meus interesses e sempre tive desejo de
aprofundar um pouco mais o que vinha estudando algum tempo. Inicialmente,
1
Sugestão para conhecer as etnias indígenas brasileiras e seus nomes: o livro Povos Indígenas no
Brasil 2001/ 2005 do Instituto Sócio Ambiental.
11
a pesquisa visava à variação dos verbos e suas formas longas e curtas. Este estudo
resultou no trabalho apresentado no 12º Simpósio Internacional de Iniciação
Científica da USP (2004), intitulado “A Variação dos Verbos na Língua Kaingang”,
juntamente com duas graduandas e o professor Ludoviko dos Santos. Num segundo
momento, a pesquisa voltou-se para a variação na estrutura frasal e o uso de
pronomes resultando no trabalho “Pronomes em Kaingang”, no XVIII Seminário do
CELLIP (2005), em Guarapuava.
Em 2007, como parte do programa de mestrado, foi estudado e
apresentado o trabalho sobre a possibilidade do {ag} ser um morfema de plural nos
pronomes. O título do trabalho era “Podemos considerar o morfema {ag} como
morfema flexional de plural em kaingang?”. No mesmo ano, foi apresentado no VI
SEPECH o trabalho intitulado “Os Pronomes e Sua Função Dêitica”.
No ano de 2008, o trabalho “Apontamento sobre o Sistema
Pronominal em Kaingang” foi apresentado no VII SEPECH, e apenas uma pequena
parte das análises dos dados desta dissertação compôs o corpus daquele trabalho.
no início dos estudos sobre os pronomes, verificou-se que
ocorriam algumas variações na estrutura frasal. A partir disso, surgiu a questão
norteadora para a escolha do tema da presente dissertação: a variação na estrutura
frasal do kaingang quando se utiliza sujeito pronominal. certas mudanças que
parecem ser por causa do uso dos pronomes. Entretanto, algumas vezes, verificou-
se a mesma estrutura tanto com sujeito nominal como com o sujeito pronominal.
Com o desenvolvimento dos estudos e das análises o tema foi ampliado. Todo o
sistema pronominal passou a ser parte dos estudos e das análises e buscou-se
elaborar uma breve descrição dos pronomes existentes nesta língua. Foi preciso
levantar várias hipóteses e analisar vários dados, a fim de verificar o que realmente
acontece para haver a variação estrutural nesta língua.
O objetivo desta dissertação é descrever os pronomes na língua
Kaingang e as modificações que ocorrem na estrutura padrão desta língua - S O V.
Pretende-se também obter conhecimentos para o projeto de elaboração da
gramática pedagógica da língua Kaingang, coordenado pelo professor Ludoviko C.
dos Santos, o qual consistirá na descrição das classes de palavras e das orações
simples do kaingang.
A estrutura deste trabalho foge ao estilo dos trabalhos tradicionais
acerca de línguas indígenas, nos quais se observa, em geral, uma descrição
12
sistemática da fonologia, morfologia e sintaxe da língua estudada. O viés pretendido
é a descrição dos pronomes e a sua posição na estrutura frasal desta língua,
procurando verificar certas hipóteses que foram emergindo a partir das análises dos
dados coletados.
Na Introdução, discorremos acerca da grande necessidade de
estudos sobre as línguas indígenas e o que realizamos nas pesquisas sobre a
língua kaingang durante a participação no Projeto de Pesquisa voltado para a
elaboração de uma gramática pedagógica nesta língua. Foram apontados o objetivo,
justificativa e a questão norteadora deste trabalho. Tratou-se também das definições
de língua e linguagem e também comentários sobre línguas indígenas e os estudos
já realizados nesta área e as dificuldades encontradas.
Esta língua tem sido analisada e pesquisada desde o século XIX,
mas ainda faltam estudos que sistematizem esse conhecimento de forma didática.
As bases em que se apóiam este estudo, o referencial teórico das
análises dos pronomes, a visão da língua e seu funcionamento serão discutidos no
momento da descrição. Tratar-se-á ainda, através de uma abordagem descritiva
funcionalista, as várias formas possíveis de um enunciado nos quais são usados
pronomes. Serão abordados os conceitos de pronomes e sua função em uma
oração, e também alguns exemplos de como algumas línguas usam esta classe
gramatical.
Os dados coletados mostraram como são usados os pronomes
nesta língua e por meio das análises, possíveis hipóteses serão apontadas. Serão
descritos os pronomes pessoais, possessivos, interrogativos, indefinidos,
demonstrativos, reflexivos e relativos.
Na conclusão, faremos o resumo das possíveis hipóteses levantadas
neste trabalho. E as referências trarão as obras citadas e todas as que serviram de
apoio para que fosse possível a realização deste estudo.
13
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE LÍNGUA E LINGUAGEM
A linguagem é uma faculdade muito antiga da espécie humana.
Dizem alguns estudiosos que talvez seja até mais antiga que a descoberta de muitas
das criações humanas: ferramentas, vestuário, armas... Se não fosse a linguagem, o
ser humano não poderia, nem mesmo mentalmente, formular quaisquer
pensamentos ou explicitá-los. Não se sabe de nenhuma sociedade humana que
tenha existido sem a capacidade de comunicação.
Não é difícil encontrarmos palavras que definem os termos “língua e
linguagem”. Em algumas línguas temos uma mesma palavra usada para definir
ambos os termos. Por exemplo, em inglês, temos somente a palavra language que
significa tanto língua como linguagem. Em francês, a palavra langage é usada como
linguagem em geral, e a palavra langue é usada para as diversas línguas que
existem. Em português, nós temos uma diferenciação entre estas palavras, usamos
a palavra língua para nos referirmos ao idioma e linguagem para definir o meio de
comunicação.
Alguns estudiosos deixaram suas definições de linguagem e de
língua e serão mencionadas algumas delas, obtidas no livro de John Lyons (1987)
Linguagem e Lingüística – Uma Introdução.
Conforme Sapir (apud LYONS, 1987, p. 3) “A linguagem é um
método puramente humano e não instintivo de se comunicarem idéias, emoções, e
desejos por meio de símbolos voluntariamente produzidos”.
Bloch e Tager (apud LYONS, 1987, p. 3), em seu livro Outline of
linguistics Analysis (1942, p. 5) postulam que: “Uma língua é um sistema de
símbolos vocais arbitrários por meio dos quais um grupo social co-opera”.
Diferentemente da definição de Sapir, eles (Bloch e Tager) somente fazem menção
da função comunicativa da linguagem, a língua falada. Esta pode ser uma visão
muito limitada da linguagem, pois sabemos que é possível comunicar, sem usar a
fala. Nós podemos usar gestos, posturas, olhares e comunicarmos muito bem o que
desejamos.
Em seu livro Essay on Language, Hall (apud LYONS, 1987, p. 4) nos
diz que “Linguagen é a instituição, pela qual os humanos se comunicam e interagem
14
uns com os outros por meio de símbolos arbitrários orais- auditivos habitualmente
utilizados”.
Tanto Hall como Sapir tratam a linguagem como uma instituição
humana e a visão da língua como instrumento de uma sociedade. Os termos
“habitualmente e voluntariamente” remetem à época em que a linguagem era vista
como resposta a um estímulo, baseadas nas teorias behavioristas. Hoje, porém, a
linguagem não é vista dessa forma. Não produzimos um enunciado, simplesmente,
por uma questão de hábito. Não se pode prever a conexão entre uma palavra usada
e uma situação. Podemos usar a mesma palavra em inúmeras situações, sem que
haja nenhuma relação entre elas.
Robins (apud LYONS, 1987, p. 5) nos oferece a definição de que “As
línguas são sistemas de símbolos [...] quase totalmente baseados em convenções
puras ou arbitrárias”. Com estes termos “convenções puras ou arbitrárias”,
percebemos a flexibilidade e a adaptabilidade da linguagem. Um sistema de hábitos
pode ser alterado com o tempo, pois seus usuários tendem a mudar este sistema de
acordo com suas necessidades. Um dos alvos da lingüística é o de investigar se
limites para a realização de modificações e, se houver, quais seriam.
Outra definição de língua e linguagem é a de Chomsky (apud
LYONS, 1987, p.5), que diz “Uma linguagem é um conjunto (finito ou infinito) de
sentenças, cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto
finito de elementos”. De acordo com Chomsky, toda língua natural, seja na forma
falada, seja na forma escrita, possui um número finito de sons e um número finito de
letras, embora possa haver um infinito número de sentenças. Cada uma delas será
representada por este número finito de letras. A definição de Chomsky se diferencia
das demais, pois não trata a linguagem como uma função comunicativa. Ele chama
a atenção da linguagem apenas como estudo dos sistemas estruturais da mesma. A
sua maior contribuição para a lingüística foi a de demonstrar a dependência
estrutural entre os processos pelos quais se constroem as sentenças nas línguas
naturais e, ter formulado uma teoria de que tais propriedades podem ser estudadas
precisamente.
Para Câmara Júnior (1979) “[...] a língua... é, antes de tudo, no seu
esquema, uma representação do universo cultural em que o homem se acha, e,
como representa este universo, as suas menifestações criam a comunicação entre
os homens que vivem num mesmo ambiente cultural. [...] língua oral é que é ponto
15
inicial, a verdadeira essência da linguagem, e a língua escrita é uma modalidade que
a civilização desenvolveu para estabelecer uma comunicação visual”.
A maioria dos lingüistas define língua como um sistema de signos
projetados para a realização da comunicação (Fala).
A ngua é independente da fala e a fala é muito anterior à escrita.
Esta é a posição de muitos lingüistas. Deve-se fazer uma diferença entre os signos
lingüísticos (a língua como sistema) e onde e quando tais signos se realizam (a
linguagem). Para melhor entendimento do estudo da linguagem, temos desde
Sausurre (1915) a dicotomia entre língua e fala: langue e parole. O que ele chamou
de langue foi todo o sistema lingüístico, algo virtual, pois não apresenta uma
estrutura física e que governa os eventos da fala. Ele definiu parole como sendo o
discurso, ou seja, os eventos da fala. Para ele, a língua é um sistema de valores
depositado como produto social na mente de cada falante de determinada língua. Já
a fala é um ato individual e está sujeito a fatores externos, logo, o passível de
análise. Segundo Saussure (apud LYONS, 1987, p. 8), é impossível conceber a
linguagem (fala-parole) sem a língua (langue), pois a linguagem tem seu lado
individual e seu lado social. A língua é algo dinâmico, que está em constante
evolução, através de seus falantes.
Quando um linguista se propõe a descrever determinada língua, ele
precisa considerar tanto a língua escrita como a falada, como se fossem mais ou
menos isomórficas, isto é, que teriam a mesma estrutura interna. Não poderiam ser
absolutamente isomórficas pelo fato de que seria impossível representar todas as
distinções da fala.
Todas as línguas, estudadas ou não, possuem um sistema de
comunicação complexo e desenvolvido. É o que se percebe quando se estuda uma
língua indígena. [...] “Cada nova língua que se investiga traz novas contribuições à
lingüística; cada nova língua é outra manifestação de como se realiza a linguagem
humana” [...]. (RODRIGUES, 1986, p. 5).
16
3 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS ESTUDOS DAS LÍNGUAS INDÍGENAS
“Os índios brasileiros não são um povo são muitos povos”
(RODRIGUES, 1986, p. 17). Cada um deles tem seus costumes, suas crenças, sua
organização social, que são resultado de experiências vividas por muitos anos. As
línguas indígenas são reflexos e parte integral de sua identidade. Embora diferentes,
pouco conhecidas e difundidas, possuem o que qualquer língua do mundo tem:
manifestações da capacidade de se comunicar pela linguagem.
O interesse pelas línguas indígenas teve início no século XVIII,
marcado pelo Iluminismo Europeu. Seus adeptos queriam descobrir todo
conhecimento das atividades do saber humano e desejavam ampliar todos os temas
e domínios da natureza humana. Dessa forma, as línguas de outros povos passaram
a ser, também, objeto de pesquisa. Porém, tais pesquisas eram meramente
normativas, onde se buscava falar e escrever bem.
Atualmente no Brasil temos, em média, 180 línguas indígenas. O
número não é preciso, pois não foi possível incluir as que ainda não estão no
recenseamento oficial brasileiro de informações lingüísticas, nem informações
acerca de povos indígenas. Provavelmente, na chegada dos europeus, o número de
línguas indígenas era mais do que o dobro do que temos hoje. A extinção de muitas
destas línguas se deve ao extermínio dos povos indígenas, pela morte de seus
falantes por epidemias e doenças contagiosas, etc. Podemos verificar que, onde
houve mais colonização é justamente o local em que mais línguas indígenas
desapareceram: Regiões Nordestes, Sul, Sudeste. Algumas das línguas
desaparecidas foram registradas de forma mais ou menos ampla e outras tiveram
apenas pequenos registros. Porém, a grande maioria desapareceu sem que nenhum
estudo fosse feito sobre ela.
No início dos estudos das línguas indígenas, havia somente o
interesse por vocábulos e não havia uma sistematização gramatical. O objetivo de
se ter esta lista de vocábulos era, principalmente, um estudo etnológico. Era por
meio de certos conjuntos semânticos que se chegava à cultura de um povo. Quando
em uma pesquisa o havia certos vocábulos, que eram correspondentes à língua
do pesquisador, eram coletados locuções ou grupos frasais.
17
Ainda no século XIX, encontramos outra forma de análise das
línguas indígenas, e que podemos chamar de classificação tipológica (criada pelo
linguista August Schleicher), indicando que, as línguas se classificariam em: línguas
isolantes, aglutinantes e flexionais, conforme o tipo preferencial de vocábulo. Para
Câmara Júnior, esta classificação contém “pontos fracos, vagos insatisfatórios e a
incorretos”, pois Schleicher considerou a classificação baseada somente nos
estudos históricos (CÂMARA JÚNIOR, 1979, p. 141). Destas atividades tivemos em
línguas indígenas, o Mitriades, de Aldeung, e o Catálogo de línguas, do jesuíta
Hervás. Mas a classificação era apenas no léxico, sem nenhum estudo na
gramática, ou nos sons e nos tipos frasais.
Segundo Câmara Júnior (1979), um dos problemas no estudo destas
listas de vocábulos era que “Os pesquisadores nunca se propunham a uma análise
mórfica rigorosa e sistemática, capaz de fornecer as formas mínimas da língua, que
são os elementos fundamentais para o conhecimento de sua estrutura”. Por meio
dos morfemas de uma língua é que se tem a noção do quadro gramatical e, é por
meio dos lexemas que se pode fazer uma comparação de língua para língua e,
desta forma, classificá-la e interpretá-la. Além do mais, no estudo dos morfemas e
semantemas, podemos verificar como os vocábulos se reúnem e somente a partir
deste ponto, analisar conjuntos formais de uma língua a outra. Durante algum
tempo, a falta de análise mórfica prejudicou os estudos das línguas indígenas, pois
como muitas delas incorporavam afixos e as separações dos vocábulos não eram
coerentemente conduzidas, apenas separadas por hífens, a visão de um núcleo
vocabular era mascarada por este método.
Os estudos nas línguas indígenas, no passado, muitas vezes
confundiam-se com estudos históricos. Como os estudos etnológicos se serviam dos
estudos lingüísticos, a necessidade de se depreender relações entre línguas
indígenas impedia um estudo minucioso e um exame descritivo com precisão e
segurança nas conclusões comparativas.
Depois vieram os pesquisadores que se dedicaram às análises com
transcrições fonéticas: Von den Steinen, Koch- Grünberg, Ehrenreich, Nimuendaju,
[...] Porém, nesta época, não havia como captar os sons linguisticos com exatidão e,
a preocupação em registrar o som que se ouvia era muito grande, resultando em
muitas variantes posicionais, sons autônomos dentro de uma língua, prejudicando
assim, um verdadeiro sistema de fonemas.
18
Com o passar do tempo, a orientação na pesquisa das línguas
indígenas foi mudando e, dentre os estudiosos, podemos ressaltar Rosário Mansur
Guérios, um professor de português, interessado na lingüística geral e que estudou
as línguas indígenas do Paraná e Santa Catarina. Dele temos um ensaio de
dicionário das divisões lingüísticas e tribais dos índios brasileiros (1948- 1949). Da
mesma forma, cabe mencionar os estudos do lingüista Aryon Dall’ Igna Rodrigues,
que conduziu de forma diferente os estudos do Tupi - Guarani, com idéias novas
sobre estas línguas (1958).
Como parte no avanço dos estudos, surge o Formulário dos
Vocábulos Padrões para Estudos Comparativos Preliminares das Línguas Indígenas
(do SIL - Summer Institute of Linguistics), que uniformiza a transcrição fonética,
propondo três sistemas: o da Sociedade Fonética Internacional, o do norte
americano Kenneth Pie e o de Câmara nior (1957). Com isto, as pesquisas são
conduzidas de uma forma mais organizada, buscando itens em frases pequenas,
onde se percebe melhor a estrutura sintática, melhor percepção de fatos
gramaticais, como tempo e modo verbais, técnica de funcionamento de pronomes
etc.
Nos anos 60, temos a lingüística estruturalista de Joaquim Mattoso
Câmara Júnior. Nesta época é criado o Setor de Lingüística do Departamento de
Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Foi um dos primeiros programas de
lingüística, na modernidade, voltado para o estudo das línguas indígenas brasileiras.
O programa teve entre as figuras principais os lingüistas do SIL (Summer Institute of
Linguistics), que objetivaram a descrição das línguas, a confecção de dicionários e a
classificação genética das línguas.
As línguas indígenas brasileiras são classificadas em um tronco
lingüístico, do ponto de vista da classificação genética. Nesta classificação genética,
podem-se reunir as línguas que tenham origem numa outra língua mais antiga. As
línguas são agrupadas em famílias, classificadas como pertencentes ao tronco Tupi,
Macro-jê e Aruak. Algumas línguas indígenas, entretanto, não puderam ser
identificadas como relacionadas a nenhum destes troncos, que são as línguas:
Karib, Pano, Maku, Yanoama, Mura, Tukano, Katukina, Txapakura, Nambikwara e
Guaikuru. Ainda outras que não puderam ser classificadas pelos lingüistas dentro
de nenhuma família, permanecendo não-classificadas ou isoladas, como a língua
falada pelos Tükúna, a língua dos Trumái, a dos Irântxe etc. O tronco Tupi
19
compreende dez famílias, e o Macro-Jê abrange doze famílias, dentre elas a família
jê, a qual pertence a língua kaingang.
Os estudos tipológicos, propriamente ditos, começaram nos anos 80.
Estas pesquisas entraram na UnB através de Aryon Rodrigues, o mesmo
acontecendo na UNICAMP, UFPE, UFSC, UFPA. Inicia-se um grande
desenvolvimento em diversas universidades. Surgem as teorias gerativas. É
lançado, em 1987, o Programa de Pesquisa Científica sobre as Línguas Indígenas.
Na década de 90, temos a reformulação do setor de Lingüística do
Museu Nacional. Ocorre um avanço nos estudos tipológicos, retomados por
trabalhos gerativistas, embora a prática metodológica permaneça.
Os trabalhos, de um modo geral, são parciais e raramente surge
uma gramática completa. Infelizmente, ainda não temos nenhum banco de dados
que centralize as informações sobre projetos, pesquisas e textos.
O estudo em línguas indígenas anda a passos lentos no Brasil.
Quase todas as línguas indígenas faladas no Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil
desapareceram. A tarefa dos lingüistas de documentar, analisar, comparar e tentar
reconstruir a trajetória destas línguas é de suma importância nos dias atuais.
20
4 ESTUDOS SOBRE A LÍNGUA KAINGANG
Como foi dito anteriormente, a língua kaingang pertence ao tronco
lingüístico Macro-Jê. As evidências que se tem para o reconhecimento deste tronco
são menos claras das que se tem para o tronco lingüístico Tupi. A constituição deste
tronco é ainda hipotética. Algumas das línguas que compõe este tronco ainda são
faladas, como Maxacali, Boróro, Karajá, Guató, Ofayé, as quais têm sido estudadas.
Outras deixaram de ser faladas e se tem documentos do passado, os quais são
muitas vezes precários.
As línguas do tronco Macro-Jê, conforme Rodrigues (1986) dividem-
se em doze famílias e somam trinta e cinco línguas faladas. São elas: Jê, Kamakã,
Maxacali, Krenák, Purí, Karirí, Yatê, Karajá, Ofayé, Bororó, Guató e Rikbaktsá. Estas
línguas se espalham no território brasileiro no sul do Pará, Maranhão, estado de
Goiás, Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O maior
constituinte do tronco Macro-Jê é a família lingüística Jê. Esta família se subdivide
nas seguintes línguas: Timbira, Canela Ramkokamekrã, Canela Appaniekrã, Gavião,
Piokobjé, Gavião Parakatejé, Krinkati, Krahô, Krenjê, Apinajé, Kayapó, A’ukré,
Gorotire, Kararaô, Kikre-tum, Kokraimoro, Kubenkrankén, Mekrangnoti, Metuktíre,
Xicrin, Panará, Suyá, Tapayúna, Xavante, Kaingang, Xokléng. No anexo 1 consta o
mapa do tronco Macro-Jê.
A língua kaingang é uma das línguas com maior número de falantes
entre as línguas indígenas do Brasil. O povo kaingang está espalhado em muitas
regiões ao longo dos três estados do sul do Brasil e no interior de São Paulo,
totalizando mais de 29 mil falantes. no estado do Paraná são mais de sete mil
falantes. Como estão bem espalhados, desenvolveram vários dialetos, que diferem
apenas na pronúncia e em algumas palavras do léxico. No Paraná são reconhecidos
apenas dois dialetos: um nas regiões ao norte do Rio Iguaçu (Rio das Cobras,
Marrecas, Ivaí, Faxinal, Queimadas, Mococa, Apucaraninha, Barão de Antonina e
São Jerônimo da Serra) e outro nas regiões abaixo do Iguaçu (Mangueirinha e
Palmas).
Desde os primeiros contatos, os kaingangs foram alvo das ações
catequéticas da Igreja Católica. Os estudos da língua Kaingang tiveram seu início
pouco antes do século XIX. O primeiro lingüista a publicar um estudo do dialeto
21
Kaingang foi Mansur Guérios, num trabalho acerca do dialeto de Palmas (PR), na
década de 1940. o primeiro estudo amplo da língua, da
fonologia à sintaxe, se deve à lingüista Ursula Wiesemann.
O dialeto do kaingang no Paraná é bem distinto em relação aos
Xokleng de Santa Catarina. Também difere dos kaingang da Serra do Chagu e de
outros lugares, porém não são diferenças fundamentais. A maior diferença está na
pronúncia.
2
muitos anos, estudiosos vêm pesquisando a língua kaingang,
porém, muitos desses trabalhos são apenas listas de vocabulário. Abaixo traremos
uma lista de alguns:
1) 1852- “Vocabulário da Língua Bugre” - esboço de um vocabulário.
São 15 páginas com mais de 650 entradas que não se resumem a
intens lexicais, mas, uso dos termos, seguido da tradução em
português. O autor foi provavelmente um missionário, devido aos
termos religiosos muito freqüentes.
2) 1869- Hensel: 33 itens lexicais feitos com base no alemão.
3) 1888- Taunay: 600 itens lexicais e mais de 60 frases reunidas como
parte de sua monografia “Os índios Caingangues Coroados de
Guarapuava”.
4) 1894- Juan Bautista Ambrosetti “Los Índios Kaingangues de San
Pedro (Misiones)”. São 853 itens lexicais, sendo 252 verbos e 71
frases.
5) 1894- Edmundo Barros: 100 itens lexicais.
6) 1896- Juan Bautista Ambrosetti: “Materiales para El Estúdio de Las
Lenguas Kaingangue (Alto Paraná)”. o 600 itens lexicais, com
dezenas de pequenas orações.
7) 1867- “Noções sobre os Indígenas da Província do Paraná”. São 90
palavras e 16 frases, com a especificação de pronúncias.
8) 1902 – Adam- “Le Parler des Caingangues”. Reúne e analisa diversos
vocábulos já conhecidos. São 140 itens lexicais.
2
Os índios Xokleng dizem entender o kaingang, mas não falam esta língua (fonte: Instituto Sócio
Ambiental povo xokleng).
22
9) 1903 Dulley: Uma lista vocabular com 201 itens lexicais, orações
simples. Há algum agrupamento temático e classe de palavras.
10) 1905- Morsch: Um vocabulário com 47 termos em kaingang.
11) 1909 Chevalier. “Vocabulário dos Índios Bugres de Nonoai”. São
240 palavras organizadas por assuntos e classes de palavras.
12) 1918 - Frei Mansueto Barcatta de Val Floriana: “Ensaio de
Grammatica Kainjgang”. Um trabalho sobre fonologia, morfologia e
sintaxe da língua kaingang.
13) 1920 - Frei Mansueto Barcatta de Val Floriana: “Diccionarios
Kainjgang- Portuguez e Portuguez- Kainjgang”. o 3.500 entradas
e mais de 1.500 em português, ou seja, mais de 5.000 verbetes.
14) 1936 Oliveria: “O Vocabulário dos Índios de Coroados”. São 73
termos.
15) 1942- Mansur Guérios. Realizou estudos sobre a língua kaingang,
notas históricas comparativas (dialeto de PAlmase Dialeto de
Tibagi, Paraná).
16) 1945 Mansur Guérios: “O Xókrén é idioma Caingangue”. Trabalho
em que demonstra a relação lingüística entre estas línguas.
17) 1947 Wanda Hanke: “Vocabulário del Dialecto Caingangue de la
Serra Chagu, Paraná”. São 180 itens lexicais e uma dúzia de frases.
18) 1950- Wanda Hanke: “Ensayo de Uma Gramática de Idioma
Caingangue de los Caingangues de La Serra de Apucarana,
Paraná, Brasil”.
19) 1933 Nimuendajú: Coletânea dos kaingang de São Paulo com 65
itens lexicais apresentados em dois vocabulários comparativos: 54
com a língua Xokleng e onze com a língua Caiapó do Araguaia.
20) 1959- Wiesemann: “Notas sobre o proto-Kaingang: em estudo de
quatro dialetos”. É o estudo público sobre a língua kaingang em
uma reunião da ABA.
21) 1967- Wiesemann: ela estabelece uma sugestão de ortografia e
inicia a produção de cartilhas para a alfabetização nesta língua.
22) 1971- Ursula Wiesemann: Dicionário Kaingang- Português,
Português- Kaingang (SIL). São mil verbetes na parte kaingang,
representado especialmente, pelo dialeto do Paraná.
23
23) 1978- Ursula Wiesemann: “Os Dialetos da Língua Kaingang e o
Xokleng”.
alguns estudos mais recentes na área de morfossintaxe, entre
eles pode-se destacar:
1) 1987- CAVALCANTE, Marita Pôrto: Fonologia e Morfologia da
Língua Kaingang: o Dialeto de São Paulo Comparado com o do
Paraná”. É uma tese de Doutorado em Lingüística da Unicamp.
Orientador: Dr. Aryon Dall’ Igna Rodrigues.
2) 1995 NASCIMENTO, Silvia Helena Lovato: Aspectos
Morfológicos e Sintáticos e Marcação de Caso da Língua
Kaingang”. Tese de Mestrado da UFSC (Lingüística). Orientador:
Prof. Dr. Carlos Mioto
3) 1996- SILVA, Célia Ribeiro: “História Crítica da construção da
escrita do Kaingang”. Tese de Mestrado - UEL. Orientadora: Prof.
Dr. Vanderci Andrade Aguilera.
4) 2006- TABOSA, Luciana Pereira: Construções Causativas na
Língua Kaingang”. Orientador: Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos.
5) 2008 ALMEIDA, Leriana A marcação de (tempo), modo e
aspecto na língua kaingang: uma proposta de análise”.
Orientador: Prof. Dr. Ludoviko C. dos Santos.
Podemos verificar que, nas universidades, estudos sobre o
kaingang, surgem apenas a partir de 1980. Entretanto, a grande maioria deles
mantém-se na área da fonologia.
Em todos os trabalhos efetuados a favor da língua kaingang, seja
qual for a entidade, podemos verificar que ainda grande carência de ferramentas
para as escolas indígenas e seus professores bilíngües.
24
5 TRABALHO DE CAMPO E METODOLOGIA
Qualquer língua em si, não precisa de um lingüista para existir.
Língua e linguagem preexistem a qualquer estudo ou análise a seu respeito. Ora,
ainda temos muitas línguas ágrafas em nosso planeta. O trabalho de um lingüista é
descrever uma língua e a sua realidade. Contudo, a língua em si não é algo
observável, mas sim as suas produções lingüísticas. É no cérebro de um falante que
a língua toma forma por meio de suas enunciações, de suas produções.
Para analisar linguisticamente expressões, frases, textos, muitas
vezes o lingüista precisa ser sociólogo, pois a língua é um produto social. Nesta
descrição da língua, é necessário seguir alguns princípios e um deles é observar o
seu objeto de estudo, a língua.
Para isto, é necessário coletar dados que sejam pertinentes à
pesquisa que está sendo feita. A maneira de coletá-los também é importante, a fim
de que a descrição seja feita de maneira adequada, baseada em dados empíricos.
Para realizar este trabalho, foram coletadas várias sentenças com
uso de pronomes, que serviriam como base para todas as demais existentes nesta
língua. Segundo Câmara Júnior, existe, em cada língua, o que podemos chamar de
“frases nucleares” e a partir delas, se criam outras que seriam as ampliações ou
combinações destes núcleos frasais.
A escolha do corpus foi feita devido à necessidade de se analisar a
posição dos pronomes em frases nas quais eles fossem usados na função de sujeito
e de objeto. Para ser representativo, foi necessário ter certa quantidade de frases,
dentro e fora de um texto, para que fosse possível verificar a coincidência de certas
posições dos pronomes nas frases em kaingang.
Segundo Rodrigues, em seu artigo “Sobre as Línguas Indígenas e
Sua Pesquisa no Brasil”, para se ter uma boa pesquisa é necessário alguns anos de
coleta para uma descrição.
[...] Em condições boas de pesquisa, quatro ou mais anos para
produzir uma boa descrição gramatical e um dicionário com registro
amplo do vocabulário que cubra todos os domínios semânticos
relevantes da cultura nativa. (2005, p. 36).
25
Nossos informantes eram professores bilíngües. Pelo fato deles nos
darem frases à sua escolha, algumas vezes surgiam dificuldades, pois, nas análises
dos dados havia sentenças que mostravam a sua espontaneidade. Com isso, o risco
de se ter erros era significativamente maior.
Mesmo assim, os dados coletados foram, de certa forma,
controlados, pois foram produzidos por falantes competentes. Mesmo sendo
espontâneos, eram direcionados para o objetivo da pesquisa.
Todos estes dados foram obtidos desde os anos da graduação,
enquanto participante do projeto de pesquisa. A partir do momento em que se
decidiu que o foco da pesquisa repousaria sobre a descrição de toda a classe
pronominal, as coletas passaram a ter um objetivo mais assertivo e direcionado aos
pronomes, em geral, da língua kaingang.
Sabemos que todo estudo realizado em uma língua indígena
encontra mais dificuldades do que o estudo de uma língua que tenha disciplina
gramatical. Na pesquisa de uma língua indígena, temos um campo totalmente
estranho e, mesmo com auxílio de informantes, pisa-se em terreno totalmente novo
e cheio de surpresas. Mas isto não significa que seja uma língua ininteligível ou mal
organizada.
26
6 CONSIDERÕES SOBRE O FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA NO MOMENTO
DE SUA DESCRIÇÃO E CONCEITOS SOBRE OS TIPOS DE PRONOMES
A linha teórica na elaboração deste trabalho apóia-se nos preceitos
da lingüística descritiva e do funcionalismo. Seguindo a linha da lingüística
givoniana, neste trabalho serão descritas as produções lingüísticas atestadas entre
os falantes do kaingang. Dessa forma, sem buscar determinar regras ou padrões,
documenta-se a língua e seu funcionamento no momento da descrição. Observa-se
os princípios e características que regulam as estruturas lingüísticas analisadas,
neste caso, o kaingang. Segundo Givón “A comunicação humana é
multiproposicional, na qual o discurso imediato e o tema do contexto geral controlam
a maior parte das escolhas dos mecanismos gramaticais”. (GIVÓN, 1984, p. 10).
Em outras palavras, o estudo lingüístico envolve o falante e o
ouvinte, o contexto no qual estão inseridos e as escolhas que ambos fazem para
produzir seus enunciados. O estudo da sentença é o primeiro passo para identificar
o inventário dos códigos lingüísticos que constroem a estrutura morfossintática de
uma língua. O objetivo lingüístico, a partir desta visão é elucidar como os
mecanismos são usados na comunicação. Portanto, a primeira etapa do trabalho é
descrever as orações e a segunda etapa, o estudo de um texto. Ainda conforme este
autor, com a análise descritiva de sentenças, pode-se perceber quais estruturas são
possíveis na língua estudada, mas não se pode saber nada sobre o contexto no qual
ela foi usada. Também não como saber com que freqüência outras sentenças,
com mesmo significado podem ocorrer. Através da coleta de dados, modelos
experimentais são formados, hipóteses são levantadas e outras descartadas.
Seguindo uma abordagem funcionalista, serão observadas e
descritas várias formas possíveis de um enunciado. Cada análise das coletas
efetuadas procurará estabelecer os princípios das estruturas escolhidas pelo falante
indígena. Segundo Mussalim:
A abordagem funcionalista a linguagem como um sistema não-
autônomo. Ela nasce a partir de uma necessidade de comunicação
entre os membros de uma comunidade, que está sujeito às
limitações impostas pela capacidade humana de adquirir e processar
o conhecimento e que está continuamente se modificando para
27
cumprir novas necessidades comunicativas. (MUSSALIN, 2001, p.
211).
Portanto, nas análises dos enunciados em Kaingang serão
considerados tanto o falante como o ouvinte, e suas necessidades comunicativas
que permearão estes enunciados. Quando um falante nativo fala, ele escolhe, faz
opções e são estas variações que serão descritas.
Para estabelecer um ponto de partida, algumas frases serão
utilizadas como frases “padrões” (ou gabaritos) para que sejam estabelecidas as
variações e, a partir delas, descrever as possíveis variações. Assume-se que a
possibilidade de diversas alternativas para a ordenação dos constituintes em uma
sentença. Não haveria uma única ordem possível, mas uma coexistência de vários
padrões. Este trabalho, porém, seguirá certa estrutura, para que a partir dela,
possamos determinar outras variações possíveis. O que acontece com os elementos
constitutivos de uma sentença dependerá de diversas funções comunicativas
diferentes. A ordenação dos constituintes de uma frase dependerá do falante e a
avaliação que ele faz do seu ouvinte; ele organiza sua fala para provocar uma
mudança nesse conjunto de informações, fornecendo algo novo ao seu destinatário.
Para abordar os pronomes e a variação na estrutura frasal, deve-se
recorrer à concepção de dêixis. Segundo Shopen: “Todo enunciado lingüístico se
realiza num lugar particular e num tempo particular: ocorre numa certa situação
espaço-temporal”. (SHOPEN, 1985b, p. 290). Falante e ouvinte são distintos um do
outro, contudo, estão numa mesma situação espaço-temporal. O enunciado,
portanto, contará com sujeitos do discurso.
Lyons (1979) postula que o termo dêixis foi introduzido para indicar
“traços orientacionais” na ngua. Os dêiticos determinam o tempo e o lugar de um
enunciado. Por exemplo, os chamados pronomes pessoais são categorias dêiticas,
pois eles apontam, indicam alguém em um tempo e espaço de um determinado
enunciado. A situação de um enunciado é egocêntrica: o falante diz “eu e seu
ouvinte é o “você”, mas se seu ouvinte diz eu”, o falante torna-se “você”. O falante
estará sempre no centro da enunciação, no centro de um sistema dêitico, para
referir-se a si mesmo e aos participantes do enunciado. Os dêiticos também
28
funcionam como adjuntos adverbiais de tempo e de lugar, como aqui, acolá, lá,
agora, etc.
Também de acordo com Stephen e Anderson (apud SHOPEN,
1985a, p. 261) “[...] In fact, the choice of language register is usually deictic in our
sense”.
Sabemos que os pronomes podem referir-se tanto a pessoas como
a animais, mas isto não é relevante sintaticamente. Além da situação de
egocentrismo existente em um enunciado, Lyons (1979) fala que nos pronomes
pessoais, a categoria de pessoa também se define com clareza pela noção de
papel. Quando o falante se estabelece como a pessoa, ele mesmo é o objeto do
discurso. A pessoa é usada para referir-se ao seu ouvinte. A pessoa é usada
para se referir às pessoas ou coisas que não sejam o falante e seu ouvinte. Ainda
segundo este autor, a pessoa também é considerada como um membro negativo
no enunciado. Negativo, pois não participa do enunciado. Já ae a 2ª pessoas são
membros positivos, pois fazem parte ativa do enunciado.
Segundo este mesmo autor, “Os pronomes de primeira e segunda
pessoa são necessariamente definidos (+ def.), ao passo que os de terceira pessoa
podem ser definidos ou indefinidos (± def.)”. (LYONS, 1979, p. 292).
Com relação aos elementos dêiticos, em sua função gramatical, eles
podem funcionar como sujeito e como objeto direto ou indireto, incluindo as formas
possessivas e os vocativos. Em algumas línguas, os dêiticos podem ser formas
independentes, um clítico ou formas pronominais, ou afixos flexionais.
Nossa compreensão depende não somente de uma parte do
discurso que podemos localizar, mas principalmente em outros níveis que incluem a
sintaxe, a fonologia e o vocabulário. Pode-se citar o uso do pronome relativo:
“Façam de conta de que tudo quanto eu disse é bobagem”. O pronome relativo
“quanto” se refere àquilo que o locutor havia dito anteriormente.
Ainda segundo Anderson e Keenan, (apud SHOPEN, 1985b, p. 261)
considerar a terceira pessoa pronominal como um dêitico é mais complicado, pois
pelo fato de não participarem do enunciado, podem apontar para algo indefinido. Por
outro lado, os pronomes demonstrativos, em inglês this/these/ that/those”, são
considerados adjetivos demonstrativos, com ou sem especificação de lugar, como
por exemplo: this dooror that door over there”. Eles são, claramente, elementos
dêiticos locativos.
29
Os pronomes de terceira pessoa, em inglês: “He/ she/ it - they
mesmo sendo considerados como elementos dêiticos, são usados, no entanto, como
elementos anafóricos, mais do que como elementos dêiticos. Por isso, podem ser
caracterizados como weak deictics”, segundo Anderson e Keenan (apud SHOPEN,
1985a).
Em relação ao número, Lyons (1979) também afirma que a
pessoa do plural não é o plural da pessoa do singular (eu ≠ nós), pois, “nós” pode
indicar eu + outras pessoas que não somente o seu ouvinte. Por isso, o “nós
inclusivo” (eu + o seu ouvinte) e o “nós exclusivo” (eu – outros, + o(s) ouvinte (s)).
A distinção morfêmica entre a primeira pessoa do singular (eu) e a
primeira pessoa do plural (nós) é algo presente em todas as línguas. Porém, esta
distinção entre “nós inclusivo e nós exclusivo”, somente algumas a fazem. Como
exemplo, podemos citar a Malgaxe
3
(Malagasy-língua malaio-polinésia, falada em
Madagascar).
Exemplo de nós inclusivo e nós exclusivo
H andaha izahay
Fut ir nós (excl.)
Ny trano - nay
A casa nossa (excl.)
Nós (mas não você) iremos A nossa casa (mas não de vocês)
H- andeha isika
Fut ir nós (incl.)
Ny trano- tsika
A casa nossa (incl.)
Nós (incluindo vocês) iremos A nossa casa (inclunido vocês)
Um dos exemplos de maior distinção conhecido com os pronomes
pessoais na função de sujeito é a língua Fijian
4
.
3
Exemplo da língua Malgaxe retirado do livro Language Typology and Syntactic Description, v.3,
p. 265
4
Fijian- uma das línguas faladas nas ilhas Fiji.
30
Pessoa
Número Primeira Segunda Terceira
Singular Su Iko Koya
Dual Inclusivo
Exclusivo
Kedaru
Keiru
Kemudrau Rau
Trial Inclusivo
Exclusivo
Kedatou
Keitou
Kemudou Iratou (Eratou)
Plural Inclusivo
Esclusivo
Keda
Keimani
Kemuni Ira (Era)
Segundo Anderson e Keenan, muitas formas alternativas existem
em outras línguas. Nos exemplos acima citados, podemos verificar que as
terminações ru/aru estão relacionadas a duas pessoas e as terminações ou/ tou
estão relacionadas a três pessoas.
Nesta questão de distinção de número em pronomes pessoais,
ainda segundo os autores Anderson e Keenan (apud SHOPEN, 1985b, p. 164) é
mais comum falhar na distinção de segunda pessoa do que na primeira. Contudo, no
inglês, não distinção na pessoa na função de sujeito. A forma “you” é usada
tanto para a forma singular como para a plural. Nos pronomes reflexivos,
distinção, pois a forma singular é “yourself,” e a do no plural é “yourselves”.
Outro aspecto importante, em relação a número na classe dos
pronomes, é que a maioria das línguas tende a fazer distinção em relação ao
singular mais do que fazem em relação ao plural. Podemos observar este fato na
língua inglesa. Temos “He/ she/ it” para a terceira pessoa no singular e somente
“they” para a terceira pessoa no plural.
Estes pronomes: “He/ she/ it e they” também se distinguem por
traços não dêiticos de gênero: He (ele), she (ela) e it (neutro) que são neutralizados
na pessoa do plural they (plural de He, she e it). Esta distinção também acontece
no alemão e no russo. Porém, em outras línguas românicas, como por exemplo, o
francês e o português, a distinção no plural é mantida: elles (elas), ils (eles) e eles/
elas. Os pronomes de pessoa em Kaingang também possuem esta distinção de
gênero, tanto no singular: ti (ele), fi (ela) como no plural: ag (eles) e fag (elas).
31
Esta característica de distinção dos pronomes de 3ª pessoa ele/ ela,
He/ she e it, torna-os diferentes dos pronomes indefinidos, onde temos:
somebody/alguém e something/algo. na língua turca, a categoria definida é
marcada por um sufixo nos pronomes de 1ª, 2ª pessoa no acusativo.
No capítulo 7.2, dos pronomes possessivos, trataremos do morfema
{ag} como morfema de plural, além de ser o morfema de 3ª pessoa do plural. Para
entendermos melhor o {ag} como morfema de plural, vamos discorrer um pouco
sobre este assunto. Segundo Gleason Júnior [...] a segunda unidade básica do
sistema de expressão é o morfema. [...] Morfema é a unidade do plano da expressão
da linguagem que entra em relação com o nível do conteúdo (1978, p. 58).
Uma palavra resulta da combinação de morfemas, que podem ser
lexicais ou gramaticais. A análise morfológica das línguas demonstra que os
processos morfológicos podem ser de vários tipos. Para descobri-los, é necessária
uma análise destas partes mínimas que formam uma palavra, os morfemas.
Portanto, numa análise morfêmica, descobre-se os morfemas aditivos de uma
língua, que são os radicais e os afixos. O radical, que é o morfema lexical, é o
elemento mínimo de significado lexical. Os morfemas gramaticais são os que se
juntam ao morfema lexical, formando uma nova palavra. Esta formação pode ocorrer
pelo processo de flexão ou de derivação. No processo de flexão, que é o processo
fechado, concatenado, temos a flexão de mero, onde há a distinção entre o
singular e o plural. Em português, segundo Câmara Júnior (1997), a marca de plural,
em geral, é sempre {-s}. Com a ausência do {-s}, temos o singular. Esta ausência
determina um morfema zero. O morfema gramatical zero (ø) é, portanto, a ausência
de um morfema em oposição regular a outro. O fato do morfema {ag} ser um
morfema de plural é a que nos pronomes onde há sua ausência, ocorra um morfema
zero. Para isso, é necessário efetuar uma análise mórfica, um processo de
depreensão das formas mínimas, ou seja, os morfemas que constituem um
vocábulo. Uma depreensão de formas mínimas resume-se, em atribuir a dado
segmento fônico uma parcela de conjuntos significativos que determinada forma
lingüística carreia em si. As análises com o morfema {ag} serão feitas
posteriormente, no capítulo dos pronomes possessivos.
Os dêiticos pessoais também carregam informações concernentes a
status social do falante, do ouvinte ou de uma terceira pessoa a quem eles possam
se referir. Também podem carregar informações de diferenças sociais, sexo, idade
32
do grupo, intimidade entre os falantes etc. Nestes termos também podemos citar os
pronomes de tratamento, cujo significado transmite status social, religioso, respeito.
Para se reconhecer estas distinções, é necessária uma interpretação sentica
própria das frases que contenham estas expressões de honra em referência ao
ouvinte.
Em muitas línguas, não distinção entre os pronomes
demonstrativos e os pronomes de pessoa, como no caso do turco, a tradução de
he, she, e it seria {o}. No latim clássico e no grego, nem havia um pronome de
pessoa, a referência a “um pronome” seria a referência a alguma parte do discurso,
que não fosse o falante nem o seu ouvinte, e era usado o demonstrativo hic, iste ou
ille. Além destes três, havia um is”, para apontar a proximidade do falante
relativamente ao ouvinte, mas nunca era usado com sujeito gramatical. Segundo
Lyons (1979), todos os pronomes de 3ª pessoa das línguas românicas provêm dos
pronomes demonstrativos, e o mesmo se com os pronomes de pessoa no
inglês e no alemão. Nestas línguas, o artigo definido o/a/ os/as (no português), the
(no inglês), le, la, les (no francês), originam-se de um pronome demonstrativo. Esta
seria a razão da existência das três pessoas do discurso: quem fala, com quem se
fala e de quem se fala. Em todas estas línguas, há a distinção de: o homem/ the
man, this man/ este homem, that man/ aquele homem e he/ ele (3ª pessoas que são
definidas), que se difere de someone/ alguém (3ª pessoa indefinida). Mas não
distinção em relação à proximidade, como podemos ver na distinção entre the man/
o homem e this man/ este homem (3ª pessoa próxima) e that man/ aquele homem
(3ª pessoa distante). Com a classificação de artigos, pronomes pessoais e pronomes
demonstrativos esta distinção não fica muito clara. Como foi dito, para Lyons
(1979), os pronomes demonstrativos possuem características iticas como os
advérbios de lugar. Tanto a pessoa como a proximidade é determinada por um
elemento do enunciado, por exemplo, no inglês, this/ este e here/ aqui indicam a
relação de proximidade com o falante. Mas, isto é perdido no pronome pessoal de
pessoa, não há neste pronome uma significação em relação à proximidade. O
português e o turco estabelecem uma clara relação em um sistema de
“demonstrativos” quando se difere a proximidade com os pronomes este/ esse/
aquele e em turco bu/ su/ o.
33
O português e o espanhol distinguem três pronomes demonstrativos,
(também podemos chamá-los de pronomes adjetivos ou substantivos). A distinção
entre os pronomes está relacionada à distância entre o falante:
Este-próximo ao falante;
Esse (port.) / ese (esp.) – para itens longe do falante;
Aquele (port.) / aquel (esp.) para itens bem remotos, mas
visíveis tanto do falante quanto do ouvinte.
Em kaingang, como veremos mais adiante, temos os seguintes
pronomes demonstrativos: fi a, essa lá, tag isto aqui, ẽn- aquilo lá, ti~ -n isso lá,
esse lá, fag- essas lá/ o casal lá, ag- esses lá, tag ti= isto aqui, este aqui, tag fi= esta
aqui, ẽn ti = aquele lá, en fi= aquela lá, tag ag= estes aqui, tag fag= estas aqui, en
ag= aqueles lá, ẽn fag= aquelas lá/ aquele casal lá. Veremos também que para
destacar a distância entre o falante e os itens mencionados, geralmente, é usado um
advérbio de lugar.
Um aspecto interessante que podemos notar nas formas
pronominais é que, nos pronomes relativos e interrogativos não distinção de
pessoa como há nos pronomes pessoais. Eles são de certa forma, neutralizados.
Em quase todas as línguas, como dissemos, não marca de
pessoa nos pronomes interrogativos. Se ela existe, como podemos ver no exemplo:
“Quem chegou?”, a resposta poderia ser do próprio autor da pergunta. Em kaingang
temos o exemplo do pronome interrogativo ”quem” neutralizado:
Ũ ne ã jiji
Quem o que você nome
Como você chama?/ Qual é o seu nome?
Nos pronomes reflexivos, algumas línguas usam formas básicas
como, por exemplo, o inglês, russo e o hebreu. Em outras línguas existe uma
forma que serve para todas as pessoas, é o que ocorre com as línguas Hindi,
Canada (ou Canarês), Malaio
5
. Em kaigang, temos somente duas formas jagnẽ- um
ao outro e vēnh - de si mesmo, também usado como pronome recíproco.
5
Canada/ Canarês - uma das línguas dravídicas faladas ao sul da Índia; Hindi- Língua indo-ariana
falada ao norte e centro-oeste da Índia; Malaio- Língua oficial da Malásia.
34
Em relação ao gênero, a maioria das línguas apresenta o masculino
e o feminino e algumas o neutro, o que não acontece com a língua kaingang nem
com o português. Segundo Anderson e Keenan (apud SHOPEN, 1985a, p. 268) as
distinções de gêneros o provavelmente menos comuns em pronomes de primeira
pessoa do que em segunda pessoa. Parece ser verdadeiro que a marca de gênero
em primeira pessoa é possível se o gênero também é marcado na segunda
pessoa. Concordamos com esta afirmação, pois é o que ocorre na maioria das
línguas. Porém, “[...] and second person forms only distinguish gender if third person
forms do as well”. (apud SHOPEN, 1985a, p. 269). No português, temos marca de
gênero em terceira pessoa (ele (s) /ela(s)) e não temos na primeira nem na segunda.
O mesmo acontece no kaingang: temos as formas para terceira pessoa: (ti/ fi sg.
Ag/ Fag – pl.) e somente {inh} para primeira pessoa e {ã} para segunda pessoa.
Ainda segundo esses autores, mesmo nos casos em que as formas
pronominais não distinguem gêneros entre elas, contudo, estas distinções são
claramente atestadas em marcas flexionais de pessoa. Entretanto, tanto o hebreu
quanto o francês têm somente um pronome de primeira pessoa, mas uma
concordância de gênero direciona a uma única leitura de gênero masculino ou
feminino, conforme os exemplos:
HEBREU
Ani medaber
Eu falo (msc. sg)
Eu (masc.) falo
Ani medaberet
Eu falo (fem. sg.)
Eu (fem.) falo
FRANCÊS
Je suis vieux
I am old (masc. sg.).
I (masc.) am old
35
Je suis vieille
I am old (fem. sg.)
I (fem) am old
Neste estudo da ngua kaingang, teremos uma pequena limitação
quanto à descrição do uso dos pronomes, pois muito pouco tem sido escrito acerca
deles, principalmente em um estudo histórico do seu uso.
36
7 PRONOMES EM KAINGANG
7.1 PRONOMES PESSOAIS
Os pronomes, como foram citados no referencial teórico,
caracterizam-se pela noção gramatical de pessoa. Os pronomes pessoais em
português podem ser do caso reto, são as formas usadas como sujeito de um verbo
e os do caso oblíquo, que funcionam como objeto direto ou indireto. Eles podem ser
um adverbal, isto é, como forma dependente junto a um verbo, sendo um enclítico
ou proclítico. Como exemplo, temos: me, nos; te, vos; o, a ou lhe; os as ou lhes.
Outras formas oblíquas seriam as partículas que funcionam sob subordinação de
uma preposição: com (co) migo, (com) tigo, (co) nosco, (com) vosco, entre outros.
Os pronomes em Kaingang funcionam da mesma forma tanto na
posição de sujeito como na posição de objeto. Abaixo, temos a classificação dos
pronomes pessoais:
1ªp.sg.Inh/ Isỹ
1ª p. p. Ẽg.
2ª p. sg. Ã
2ª p. p. Ãjag.
3ª p. sg Ti (masc.) / Fi (fem.).
3ª p. p. Ãg/Fag.
Frase Nominal
1. Gĩr vỹ gãr tu
Menino m. suj. milho carregar.
O menino carregou milho
A estrutura padrão da sentença nominal, em kaingang, é SOV como
podemos verificar no dado 1. Esta estrutura também ocorre mesmo quando
dois tipos de objetos: direto e indireto, como veremos nos exemplos 3 a 10.
37
2. Gãr tu inh
Milho carreguei 1p.sg.
Eu carreguei milho
Ao ser usado o pronome, a estrutura padrão sofre uma variação
como podemos perceber nos dados 2 a 30.
3. Gĩr sĩ vỹ inh m gãr tu
Menino pequeno m. suj. 1 p.sg. posp milho carregar.
O menino carregou milho para mim
S OI OD V
1ª Pessoa do Singular
Pronome na posição de sujeito
4. Kamó tatĩn inh
Bananas carregar 1 p.sg.
Eu carreguei bananas
Pronome na posição de objeto
5. Vẽnh m inh mannỹ vã
Pr. Ref. posp 1p.sg. banana carregar (sg.)
Eu carreguei bananas para mim. (cacho)
OI posp. S OD V
Pronome na posição de sujeito
6. Ti mỹ inh manỹnỹ vã
3p.sg. posp 1p.sg. banana carregar
Eu carreguei bananas para ele
7. Inh mỹ ti manỹnỹ vã
1p.sg. posp 3p.sg. banana carregar
Ele carregou banana para mim.
38
8. Rãké tá inh mĩg ten
Ontem 1p.sg. onça matar
Eu matei a onça ontem.
9. Mĩg tén inh, rake tá
Onça matar 1p.sg., ontem.
Ontem, eu matei a onça.
2ª Pessoa do Singular
Pronome na posição do sujeito
9. Ã mỹ gãr vã
2p.sg. posp milho carregar.
Você carregou milho.
Pronome na posição do objeto
(modelo)
10. Gĩr vỹ ã mỹ gãr vã
Menino m. suj. 2p.sg. posp milho carregar.
O menino pegou milho para você.
Quando o sujeito da sentença é nominal e há objeto direto e indireto,
a estrutura permanece SOV, como vemos nos exemplos 3 e 10. Os dois objetos
posicionam-se entre o sujeito e o verbo e a posposição entre os objetos e não entre
o objeto e o sujeito, como na sentença pronominal.
Entretanto, nos dados 8 e 9, percebemos que a estrutura que
parecia ser a mais comum quando se tem uma sentença pronominal OVS muda
quando nela um advérbio. O advérbio parece atrair o pronome para junto de si,
por isso, a sentença pode ter a estrutura padrão SOV, quando se posiciona o
advérbio no início da sentença. O sujeito pronominal acompanha o advérbio.
Pronome na posição de sujeito
11. Â m gój mã
2 p.sg. posp água carregou
Você carregou água?
39
12. Gój mã ã
Água carregar 2 p.sg.
Você carregou água.
Pronome na posição de objeto
(modelo)
13. Gĩr vỹ ã mỹ gój vã
Menino m. suj. 2 p.sg. posp água carregar.
O menino carregou água para você
6
(modelo)
14. Jũm vỹ mĩg tén
João m. suj. onça matar
João matou a onça
3ª Pessoa do Singular
Pronome na posição de objeto
15. João matou ela (a matou)
(sem resposta)
7
(modelo)
16. Rãké tá Jũm vỹ mĩg fi ten
Ontem, João m. suj. onça fem. matar
João matou a onça ontem.
Pronome na posição de sujeito
17. Kamó tatĩn ti
Banana carregar 3 p.sg.
Ele carregou banana.
Pronome na posição de objeto
6
No dado nº. 13 tivemos que acrescentar que era “carregar, no balde”.
7
Ao tentar coletar o dado nº. 15, o informante desse dado falou que não se pode usar pronomes
pessoais para animais, somente para pessoas. Fato confirmado por mais dois informantes.
40
18. Fi mÿ ti manỹnyỹ
3 p.sg. posp 3 p.sg. banana carregar.
Ele carregou bananas para ela.
Pronome na posição de sujeito
19. Gãr tu ti.
Milho carregar 3 p.sg.
Ele carregou milho.
Pronome na posição de objeto
20. Ti m ti gãr tỹ
3 p.sg. posp 3 p.sg. milho carregar (no cesto).
Ele carregou milho para ele.
Pronome na posição de sujeito
21. Mĩg tãnh inh
Onça matar 1p.sg.
Eu matei a onça.
Pronome na posição de objeto
22. Fi tén inh
3 p.sg.matar 1p.sg.
Eu matei ela. (= Eu a matei).
8
23. Räké tá inh fi tén
Ontem, 1p.sg. 3p.sg. matei.
Eu matei ela ontem. (= Eu a matei, ontem).
Pronome na posição de sujeito
24. No téj va inh
Espingarda pegar 1 p.sg.
Eu peguei a espingarda
8
O informante desde dado, disse que não se usa pronome pessoal para animais.
41
Pronome na posição de objeto
25. Fi va inh
3p.sg.pegar 1 p.sg.
Eu peguei ela. (= Eu a peguei).
Dos dados 2 a 25 foram usados verbos transitivos. Podemos
perceber que a estrutura mais comum com o uso dos pronomes é OVS, pois ela
ocorre nos dados 2, 4, 9, 12, 17, 19, 21, 22, 24, 25. Porém, quando na sentença há
o pronome na posição de sujeito e na posição de objeto, a estrutura padrão Oi S OD
V, como vemos nos dados 5, 6, 7, 18, e 20. O objeto indireto posiciona-se no início
da sentença, seguido da posposição, como mostram estes exemplos. O objeto direto
segue o sujeito da sentença.
Inicialmente, um dos informantes havia dito que não era possível o
uso de pronomes para animais ou coisas/ objetos, porém, outro informante passou
os dados 16, 22, 23 e 25. Quando ele usou o pronome {fi} para a palavra onça, o
informante acrescentou que deduziríamos que {fi} era para onça, pelo contexto. Este
fato foi confirmado, pois três informantes. Mas, alguns ainda traduziram a sentença
para o kaingang, usando o pronome para animal e objetos. É preciso uma
verificação posterior se isto ocorreu pelo próprio contexto da coleta de dados, ou se
realmente não se usa pronomes para animais e objetos.
Pronome na posição de sujeito
26. Paula fi vỹ ẽkrẽnh sór mũ
Paula fem. m. suj. querer ind.a.
Paula está querendo caçar.
27. Ēkrẽnh sór fi mũ ũri (só se for hoje).
Querer caçar 3 p.sg.ind.a. hoje
Ela está querendo caçar, hoje.
Pronome na posição de objeto
28. Paula fi vỹ tóg fi mré ẽkrénh sór mũ
Paula fem. m. suj. suj. a. 3p.sg. posp querer caçar ind. a.
Paula está querendo caçar com ela.
42
Pronome na posição do sujeito
29. Ēkrẽnh sór fi mũ
Querer caçar 3p.sg. ind.a.
Ela está querendo caçar.
Pronome na posição de objeto
30. Ti mré fi tóg ẽkrénh sór
3 p.sg.posp 3p.sg.suj. ag. querer caçar ind.a.
Ela está querendo caçar com ele.
Nos dados 26 a 30, temos a locução verbal “querer caçar” e
percebemos que a estrutura SOV, na sentença nominal, permanece. Na sentença
pronominal, o objeto indireto parece sempre posicionar-se no inicio da sentença,
seguido da posposição e logo após o sujeito da sentença, como vemos no dado 30.
Nas sentenças pronominais não vemos o uso das partículas, que
geralmente aparecem nas sentenças nominais, marcando o sujeito, o modo, entre
outros.
Com os exemplos acima, podemos verificar que o sujeito pode
posicionar-se tanto no início como no meio ou no final da sentença.
Abaixo, seguem alguns exemplos dos pronomes, em kaingang no
plural:
Posição de sujeito
31. Gãr fãn ẽg
Milho colher 1p.pl.
Nós colhemos milho.
Posição de Objeto
32. Ũn gré vỹ ẽg mỹ gãr tu.
Homem m. suj. 1p.pl. posp milho carregar.
O homem carregou milho para nós.
Posição de sujeito
43
33. Mĩg tãnh ẽg
Onça matar 1p.pl.
Nós matamos a onça.
Posição de Objeto
34. Ũn gré vỹ ẽg m mĩg tãnh
Homem m. suj. 1p.pl. posp onça matar.
O homem matou a onça para nós.
Posição de Sujeito
35. No téj va ãjag
Espingarda pegar 2p.pl.
Vocês pegaram a espingarda.
Posição de Objeto
36. Ũn gré vỹ ẽg mỹ no va
Homem m. suj. 1p.pl. posp espingarda carregar.
O homem pegou a espingarda para vocês
Na sentença com sujeito nominal e com a presença de dois objetos
(direto e indireto), o sujeito inicia a sentença e os objetos ficam separados pela
posposição S Oi posp. Od V, como vemos nos dados 32, 34, 36.
Posição de Sujeito
(modelo)
37. Ẽkrénh tĩ ag vỹ mĩg ag
Caçadores pl. m. suj onça m. pl.
Os caçadores mataram as onças.
Posição de Sujeito
38. Mĩg ag kyggrẽ ag
Onça pl. matar 3p.pl.
Eles mataram as onças.
44
Posição de Objeto
39. Eles mataram elas (as mataram).
(Sem resposta)
Posição de Sujeito
40. Gãr rĩ ag
Milho carregar 3p.pl.
Eles carregaram milho
Posição de Objeto
41. Fag mỹ inh kamó tatĩn
3p.pl. posp 1p.sg. bananas carregar.
Eu carreguei bananas para elas.
Posição de Sujeito – Frase Nominal
(modelo)
42. Manoel mré Jandira fag vỹ kamó tatĩn
Manoel com Jandira (casal) m.suj. bananas carregar
Manoel e Jandira carregaram bananas.
Posição de Sujeito
43. Kamó tatĩn fag
Bananas carregar 3p.pl./casal
Eles (o casal) carregaram bananas.
Posição de Objeto
44. Vẽnh mỹ fag manỹnỹ gé
Pron. ref. posp 3p.pl.(casal) banana levar
Eles (o casal) carregaram bananas para eles
Posição de Sujeito
45. Kamó tatĩn ag
Bananas carregar 3p.pl.
Eles carregaram bananas
45
Os verbos usados nestes dados com pronomes pessoais no plural
são transitivos e podemos verificar que a mesma estrutura acontece com as
sentenças com sujeito pronominal OVS, como vemos nos dados 31, 33, 35, 38, 40,
43 e 45.
Posição de Objeto
46. Fag mỹ ag kamó tatĩn
3p.pl. posp 3p.pl. bananas carregar
Eles carregaram banana para elas
Posição de Objeto
47. Fag m ti kamó tatĩn
3p.pl. posp 3.p.sg. bananas carregar
Ele carregou banana para elas
Na verificação dos pronomes na posição de objeto, observamos que
o sujeito posiciona-se entre os objetos da sentença, assim como nos pronomes no
singular, sendo sempre o objeto indireto o que inicia a sentença. Este fato se baseia
nos dados: 41, 46 e 47.
Como nos dados de 1 a 30, não se vêem partículas, algo tão comum
e freqüente nas sentenças nominais. Nos exemplos acima, não se vêem o uso de
partículas nas sentenças pronominais.
7.2 PRONOMES POSSESSIVOS
Os pronomes possessivos indicam posse sobre o nome ao qual se
referem. Porém, eles funcionam, na verdade, como adjetivos e determinam,
predicam este nome. Eles são formas adjetivas dos pronomes pessoais,
propriamente ditos. Eles possuem caráter determinador, definidor, individualizador.
Os pronomes possessivos em kaingang são os mesmos pronomes
usados como pessoais. Possuem a mesma forma, porém, funções diferentes,
conforme a posição na locução nominal.
46
1ªp.sg. Inh/ Isỹ - 1 p. poss. sg.
9
1ª p. pl. Ẽg- 1 p. poss. pl.
2ª p. sg. Ã- 2 p. poss. pl.
2ª p. pl. Ãjag- 2 p. poss. pl.
3ª p. sg. Ti/ Fi- 3 p. poss. sg.
3ª p. pl. Ãg/Fag – p. poss. pl.
Vejamos alguns exemplos dos pronomes possessivos no singular e
no plural. Nas sentenças, foram utilizados verbos transitivos, intransitivos.
Vyr- ir (transitivo)
Góv/ Góvgóv – quebrar (intransitivo).
Gãm/ Gógãm - quebrar (transitivo).
Jar/ Janjar (intransitivo)
Jan/ Janjãn (transitivo).
Jarn ké - rasgar (transitivo)
1ª pessoa do singular (meu/minha)
Posição de sujeito
48. Ijóg vỹ ĩn jẽ
10
1 p. poss.sg- pai m. suj. casa ind.a.
Meu pai tem casa.
A partícula {vỹ} foi usada com este pronome possessivo {ijóg}, como
vemos neste dado de nº 48 e veremos no dado 51.
Posição de objeto
49. Ijóg ĩn ra inh vyr
11
9
Temos o pronome {Isỹ} como um possessivo ({I} + {sỹ}), será explicado posteriormente.
10
Temos a palavra {Ijóg}, neste dado. O prefixo {I}, “parte do pronome de pessoa do singular”,
juntou-se à palavra “jóg” (pai). Poderíamos supor que ocorre o processo de prefixação de posse
inalienável. A prefixação, segundo Bechara (2001), Cunha e Cintra (1985), é um dos processos de
formação de palavras que consiste na adição de um prefixo ao tema, com a função de formar uma
nova palavra. O termo inalienável usado em análise gramatical indica um tipo de relação permanente
ou extremamente necessária entre o item e o seu possuidor. Porém, temos poucos dados para provar
esta hipótese.
47
1 p. poss sg- pai casa posp 1p.sg. ir.
Eu fui à casa do meu pai.
50. Inh nỹ fi ĩn ra inh vyr.
1p.poss.sg. mãe fem. casa posp 1p.sg. ir.
Eu fui à casa da minha mãe.
Conforme este dado, percebemos que o pronome {inh} ocorre com a
mesma forma fonológica, para expressar tanto o pronome pessoal quanto o
pronome possessivo. Como pronome possessivo, {inh} se posiciona antes do cleo
SN objeto e como pronome pessoal ocorre antes do verbo como núcleo do SN
sujeito - SOV.
Posição de sujeito
51. Ijóg vỹ ĩn tũ nĩ
12
1p. poss.sg.-pai m. suj. casa não.
Meu pai não tem casa.
52 (a). Isỹ vẽ, kre tag ti
1 p.poss.sg. ind.a., cesto pron. dem. (este).
Este cesto é meu.
13
Em texto narrativo – usa-se a partícula {vỹ}
52. (b) Kre tag vÿ tÿ isỹ nï.
Cesto pron. dem. m. suj. ind.top. 1 p.poss.g. ind.a.
Este cesto é meu.
Neste dado 52 (a/b), temos como pronome possessivo a palavra
{Isỹ} como pronome possessivo de 1ª pessoa do singular. O pronome posicionou-se
tanto no início da sentença (seguido da partícula vẽ) como no final (seguido da
partícula de aspecto nĩ).
11
No dado nº 51. O {I} do {Ijóg} é possessivo.
12
Com os dados 48 e 51, o foram usados verbos, mas temos os indicadores de aspecto {je} e {nĩ},
que, segundo Wiesemann (2002), indicam posse. A estrutura em kaingang destes dados é S O.
13
Este exemplo 52 foi dado como resposta à pergunta “De quem é este cesto”? “Ũ tũ nẽ, kre ẽn ti”.
48
Posição de sujeito
53. Inh pratu vỹ góv
1 p.poss.sg. prato m. suj. quebrar
Meu prato quebrou.
Posição de objeto
54. Gĩr vỹ inh pratu gãm
Menino m. suj. 1p.poss.sg. prato quebrar
O menino quebrou meu prato
Posição de sujeito
55. Inh pratu ag góv góv
1p.poss. sg. prato pl. quebrar (pl.)
Meus pratos quebraram
Posição de objeto
56. Gĩr vỹ inh pratu ag gógãm
Menino m. suj 1p.poss.sg. prato pl. quebrar (pl.)
O menino quebrou meus pratos.
Posição de sujeito
57. Inh tẽja vỹ jar
1p.pos.sg. rede m. suj. rasgar (sg.)
Minha rede rasgou
Posição de objeto
58. Gĩr vỹ inh tẽja jan
Menino m. suj. 1p.poss.sg. rede rasgar (sg.)
O menino rasgou minha rede
Nos dados 53 a 58, o pronome de 1ª pessoa do singular {inh}
posicionou-se antes do núcleo do SN sujeito e do cleo SN objeto: inh pratu, inh
tẽja.
49
Posição de sujeito
59. Inh tẽja ag vỹ janjar
1p. poss.sg. rede pl. m. suj. rasgar (pl.)
Minhas redes rasgaram
Posição de objeto
60. Gĩr vỹ inh tẽja ag janjãn
Menino m. suj. 1p.poss.sg. rede pl. rasgar (pl.)
O menino rasgou minhas redes
2 ª pessoa do singular – (seu/sua/de você)
a) Seu (de você)
Posição de sujeito
Seu prato quebrou
Posição de objeto
O menino quebrou seu prato
b) Seus (de você)
Posição de sujeito
Seus pratos quebraram
Posição de objeto
O menino quebrou seus pratos
61. Ã pratu vỹ góv
2 p.poss.sg. prato m. suj. quebrar (pl.)
62. Gĩr vỹ ã pratu gãm
Menino m. suj. 2 p.poss.sg prato quebrar (sg.)
63. Ã pratu ãg vỹ góvgóv
2 p.poss. sg prato pl. m. suj. quebrar (pl.)
64. Gĩr vỹ ã pratu ag gógãm
Menino m. suj. 2 p.poss. sg prato quebrar (pl.)
50
c) Sua (de você)
Posição de sujeito
Sua rede rasgou
Posição de objeto
O menino rasgou sua rede
d) Sua
Posição de sujeito
Suas redes rasgaram
Posição de objeto
O menino rasgou suas redes
Os dados 61 a 68 demonstram o pronome de 2 ª pessoa do singular
{ã} como pronome possessivo (de você) e o mesmo ocorre em seu posicionamento,
ou seja, antes do núcleo do SN sujeito: “Ã pratu vỹ...” (nº. 61) e antes do núcleo do
SN objeto “ã pratu gãm” (nº.62), “Ã tēja vỹ” (65) e “ã tẽja jan/ janjãn (nº. 66 e 68).
Consideramos o morfema {ag}, nos dados 63, 64, 67, como morfema
de plural e não como pronome. Podemos verificar que, em kaingang, a forma {ag} é
usada tanto como pronome de terceira pessoa do plural como morfema de plural.
Para a verificação do {ag} como morfema de plural em kaingang,
faremos uma análise comparativa com os dados 37 e 38.
65. Ã tẽja vỹ jar
2 p.poss.sg rede m. suj. rasgar (sg.)
66. Gĩr vỹ ã tẽja jan
Menino m. suj. 2 p.poss.sg rede rasgar (sg.)
67. Ã tẽja ag vỹ janjar
2 p.poss.sg rede pl. m. suj. rasgar (pl.)
68. Gĩr vỹ ã tẽja janjãn
Menino m. suj. 2 p.poss.sg rede rasgar (sg.)
51
37. Ēkrénh tĩ ag vỹ mĩg ag
caçadores pl. m. suj onça m. pl.
Os caçadores mataram as onças.
Para a formação da palavra “caçadores”, foi usado o {ag} como
morfema sufixal de plural. O mesmo acontece para pluralizar a palavra {mĩg} - onça.
38. Mĩg ag kyggrē ag
Onça pl. matar 3 p.pl.
Eles mataram as onças.
O morfema {ag} após a palavra {mĩg} ocorre como morfema sufixal
de plural. Na mesma sentença, temos o {ag} como pronome de terceira pessoa do
plural – “eles”.
Portanto, podemos verificar que na língua kaingang temos a mesma
forma fonológica para o pronome de terceira pessoa {ag} e o morfema sufixal de
plural {ag}.
3ª pessoa do singular (dele/dela)
Posição de sujeito
69. Ti pratu vỹ góv
3 p. poss.sg. prato m. suj. quebrar (sg.)
O prato dele quebrou.
Posição de objeto
70. Gĩr vỹ ti pratu gãm
Menino m. suj. 3 p. poss.sg. prato quebrar (sg.)
O menino quebrou o prato dele
Posição de sujeito
A rede dela rasgou
Posição de objeto
71. Fi tẽja vỹ jar
3 p. poss.sg. rede m. suj. rasgar (sg.)
52
O menino rasgou a rede dela.
Ele foi para casa dele
O pescador pescou um peixe.
Ele começou a casa dele.
(modelo)
78. Jandira fi mãrtéra vỹ vãfor
Jandira m.f. martelo m. suj. sumir (sg.)
O martelo da Jandira sumiu
79. Ti mãrtéra vỹ vãfor
3 p. poss. sg. martelo m.suj. sumir (sg
O martelo dele sumiu.
72. Gĩr vỹ fi tẽja ty jarn ké
Menino m.suj. 3 p.poss. sg. rede ? rasgar (sg.)
73. Ti ĩn ra ti vyr
3 p. poss.sg. casa posp 3 p. sg. ir.
74. Vim ke tĩ vỹ pirãsam
Pescador ind.a. m.suj. peixe
75. Vim ke tĩ vÿ pirã tỹ ti nÿ fi mỹ nĩm
Pescador ind.a. m. suj. peixe ? 3 p. poss.sg. mãe fem. posp dar.
O pescador deu um peixe para mãe dele.
76. Manuel vỹ ti ĩn penjẽg
Manuel m. suj. 3 p. poss.sg. casa começar (sg.)
O Manuel começou a casa dele.
77. Ti ĩn pẽnjẽg ti
3 p. poss.sg. casa começar (sg.) 3 p. sg..
53
O pronome possessivo de 3ª pessoa do singular {ti} “seu” e {fi} “sua”
indicam posse, posicionando-se antes do núcleo SN sujeito e do núcleo SN objeto,
conforme os dados 69, 71 (núcleo SN sujeito) e 70, 72, 73, 75, 76 77, 79 (núcleo SN
objeto). O morfema {fi} ocorre como pronome possessivo quando antecede o nome,
como observamos no dado 71. Mas, quando segue o nome, funciona como marca
de gênero feminino, como vemos no dado 78.
Nos dados nº 78 e 79, verificamos que o nome do possuidor
antecede o objeto possuído “Jandira fi mãrtera...”. Podemos levantar a hipótese de
que, conforme estes dados, tanto o nome como seu respectivo pronome antecedem
o objeto possuído. A estrutura destas sentenças é semelhante:
78. Jandira fi mãrtéra vỹ vãfor
Jandira m.f. martelo m. suj. sumir (sg.)
O martelo da Jandira sumiu.
S V
79. Ti mãrtéra vỹ vãfor
3 p.poss.sg. martelo m.suj. sumir (sg.)
O martelo dele sumiu.
S V
1 ª pessoa do plural (Nosso/nossa)
Posição de sujeito
Nosso prato quebrou
Posição de objeto
O menino quebrou nosso prato
Posição de sujeito
Nossa rede rasgou.
80. Ẽg pratu vỹ góv
1 p.poss. pl. prato m. suj. quebrar (sg.)
81.Gĩr vỹ ẽg pratu gãm
Menino m. suj. 1 p.pos. pl. prato quebrar (sg.)
82. Ẽg tẽja vỹ jar
1 p.poss. pl. rede m. suj. rasgar (sg.)
54
Posição de objeto
83. Gĩr vỹ ẽg tẽja gãm
Menino m. suj. 1 p.poss. pl. rede rasgar (sg.)
O menino rasgou nossa rede.
Posição de sujeito
84. Ẽg tẽja ag vỹ janjar
1 p.poss. pl. rede pl. m. suj. rasgar (pl.)
Nossas redes rasgaram.
Posição de objeto
O menino rasgou nossas redes.
O pronome possessivo de 1ª pessoa do plural é {ẽg} e nos dados 80
a 85 podemos verificar que, assim como os demais pronomes em kaingang, ele se
posiciona antes do núcleo do SN sujeito e antes do SN objeto. Também, com estes
dados, não se verifica a concordância com o núcleo pluralizado, como se nos
dados 84 e 85. A reduplicação verbal é a marca de plural do verbo, como veremos
nos dados 94 e 95. Conforme Cavalcante (1987), uma das formas da pluralização
verbal em kaingang é a reduplicação da última sílaba do tema verbal.
2 ª pessoa do plural (de vocês)
Posição de Sujeito
86. Ãjag tẽja vỹ jar
2 p.poss.pl. rede m. suj. rasgar (sg.)
A rede de vocês rasgou
Posição de Objeto
O menino rasgou a rede de vocês.
85. Gĩr vỹ ẽg tẽja ag janjãn
Menino m. suj. 1 p.poss. pl. rede pl. rasgar (pl.)
87. Gĩr vỹ ãjag tẽja jan
Menino m. suj. 2 p.poss.pl. rede rasgar (pl.)
55
Posição de Sujeito
Os pratos de vocês quebraram.
Posição de Objeto
O menino quebrou os pratos de vocês.
Como vemos nos dados 86 a 89, o pronome possessivo de 2ª
pessoa do plural é {ãjag} e ocorre como pronome “de vocês”. Seu posicionamento
na sentença, em kaingang, também é antes do núcleo SN sujeito e antes do núcleo
SN objeto. Nestes dados o nome “rede” -{tẽja} está no singular, podendo significar
que a rede é de todos e ela foi rasgada. Nos dados 90 e 91, como o nome rede está
pluralizado pelo morfema {ag}, o significado é que cada um possui a sua rede e
todas elas foram rasgadas.
Portanto, até aqui podemos verificar que o morfema {ag} funciona
como:
Morfema de plural;
Pronome pessoal de 3ª pessoa do plural e função de
pronome possessivo.
Posição de Sujeito
As redes de vocês rasgaram.
Posição de Objeto
O menino rasgou as redes de vocês
88. Ãjag pratu ag vỹ gógóv
2 p.poss. pl. prato pl. m. suj. quebrar (pl.)
89. Gĩr vỹ ãjag pratu ag gógãm
Menino m. suj. 2 p.poss.pl. prato pl. quebrar (pl.)
90. Ãjag tẽja ag v janjar
2 p.poss.pl. rede pl. m. suj. rasgar (pl.)
91. Gĩr vỹ ãjag tẽja janjãn
Menino m. suj. 2 p.poss.pl. rede rasgar (pl.)
56
3 ª pessoa do plural (deles/delas)
Posição de Sujeito
92. Ag pratu vỹ góv
3 p.poss. pl. prato m. suj. quebrar (sg.)
O prato deles quebrou.
Posição de Objeto
O menino quebrou prato deles.
Posição de Sujeito
Os pratos deles quebraram
Posição de Objeto
O menino quebrou os pratos deles.
Como pronome possessivo, sua posição, na sentença, é antes do
núcleo SN sujeito e antes do núcleo SN objeto, como se verifica nos dados 92 a 95.
Posição de Sujeito
A rede delas rasgou.
Posição de Objeto
97. Gĩr vỹ fag tẽja jan
Menino m. suj. 3 p.poss. pl. rede rasgar (sg.)
O menino rasgou a rede delas
93. Gĩr vỹ ag pratu gãm
Menino m. suj. 3 p.poss.pl. prato quebrar (sg.)
94. Ag pratu vỹ gógóv
3 p.poss.pl. prato m. suj. quebrar (pl.)
95. Gĩr vỹ ag pratu gógãm
Menino m. suj. 3 p.poss. pl.prato quebrar (pl.)
96. Fag tẽja vỹ jan
3 p.poss.pl.rede m. suj. rasgar (sg.)
57
O posicionamento na sentença do pronome de 3ª pessoa do plural
{fag} é antes do núcleo SN sujeito e antes do núcleo SN objeto, como vemos nos
dados 96 e 97.
Posição de Sujeito
98. Fag tẽja vỹ janjar
3 p.poss. pl. rede m. suj. rasgar (pl.)
As redes delas rasgaram.
Posição de Objeto
O menino rasgou a rede delas.
Os pronomes possessivos de pessoa, tanto do plural como no
singular, diferenciam-se dos demais, em relação à concordância de número e
também em relação ao gênero. Todos os outros apresentam a mesma forma tanto
para o masculino como para o feminino, como podemos verificar nos dados 53 e 55,
56 e 58, 61 e 65, 69 e 71, 80 e 82, 88 e 90. os pronomes de pessoa do
singular e do plural são os únicos que apresentam duas formas diferentes, a forma
do pronome feminino e a forma do pronome no masculino, como vemos abaixo:
Ti- 3 p.sg./ 3p.pess.sg.;
Fi- 3 p.sg./ 3p.pess.sg (fem.);
Ag- 3 p.pl./3 p.pess. pl.;
Fag- 3 p.pl/p.pess.pl. (fem).
7.3 PRONOMES INTERROGATIVOS
Entre os pronomes, os que se usam para interrogar o que não se
é definido. Em português, são usadas palavras como: que, quem, quando, quanto,
99. Gĩr vỹ fag tẽja janjar
Menino m. suj. 3 p.poss.pl. rede rasgar (pl.)
58
quem, qual. Podem ocorrer interrogações diretas ou indiretas: “Como você voltou?”
ou “Quis saber como você voltou.”.
Da mesma forma, os pronomes interrogativos em kaingang são
usados nas perguntas de informações em geral. São eles:
Ũ - quem
Ne - O que
Hẽ - o qual
Algumas sentenças foram coletadas, a fim de verificar como se
comporta a estrutura frasal com estes pronomes. Vejamos abaixo alguns exemplos:
Primeiramente, vamos analisar o pronome interrogativo “o que?”
{ne}:
a) Com a 1ª pessoa do singular
100. Inh ne han
1p.sg. pron. int. fazer
O que eu fiz?
101. Ã mũ ijỹ fi mỹ isỹ ne han ja to
2.p.sg. ind.a. mãe fem. posp 1p.sg. pron. int fazer ind. m.
Você disse para minha mãe o que eu fiz?
102. Inh hã ne vẽnh mỹ han
1.p.sg.ind. o. pron. int pron. ref. posp fazer
O que eu fiz para mim mesmo?
b) Com a 2 ª pessoa do singular
103. Â tỹ ne han nẽ
2p.sg. ind. top. pron. int fazer ind.a.
O que você está fazendo?
(modelo)
104. Mário vỹ ã mỹ ne han
Mario m. suj. você posp pron. int fazer
59
Mário fez o que para você?
105. Ti ã mỹ ne han ‘
3p.sg. 2p.sg. posp. pron. int fazer
Você fez o que para ele?
106. Ti tỹ ã m ne han
3p.sg. ind top. 2p.sg. posp pron. int fazer
Você está fazendo o quê para ele?
c) Com a 3 ª pessoa do singular
107. Ne nẽ?
pron. int ind.a.
O que é?
108. Ne hã vỹ nĩ
O que ind. o. m.s. ind.a. (redondo)
O que é isto?
109. Â mỹ ti tỹ ne han mũ ki kanhró
2p.sg. ind. p. 3p.sg. ind. top. pron. int fazer ind. a. saber
Ele sabe o que você está fazendo?
110. Mesa tỹ hẽ krẽm
Mesa ind. top. pron. int embaixo?
14
Debaixo de qual mesa?
111. Isỹ ne han ke tóg tũ tĩ
1p.sg. pron. int
fazer fut. ind. suj. ag. não ind.a.
Eu não sei o que fazer.
14
No dado 110, não podemos considerar {krẽm} como verbo, pois seu significado, segundo
Wiesemann (2002) como verbo é estar abaixo em posição de hierarquia, como por exemplo, “abaixo
do cacique”, não usado com objetos, seres inanimados.
60
112. Ti tá ne han ke mũ nĩ
3p.sg. lá pron. int fazer fut. ind. m. ind. a.
O que ele costuma fazer lá?
d) Com a 1 ª pessoa do plural - NÓS
113. Ẽg hỹn ne han
1p.pl. ind.a. pron. int. fazer
O que nós fizemos?
114. Mario vỹ ẽg mỹ ne han
Mario ind. suj. 2p.pl. posp pron. int. fazer
Mário fez o que para nós?
e) Com a 2ª pessoa do plural – VOCÊS
115. Ãjãg ne han
2p.pl. pron. int. fazer
Vocês fizeram o quê?
116. Mario vÿ ãjag mÿ ne han
Mario ind.suj. 2p.pl. posp pron.int. fazer
O que Mario fez para vocês?
f) Com 3ª pessoa do plural – ELES
117. Ag hỹn ne han
3p.pl. ind.a. pron. int. fazer
Eles fizeram o quê?
118. Mário hỹn ag mÿ ne han
Mario ind.o. 3p.pl. posp pron. int. fazer
Mário fez o quê para eles?
Nas sentenças de nº: 100, 101, 102, 103, 104, 111, 112, 113, 114,
115, 116, 117, 118 temos a estrutura S (O) Pr. Int. V. Verificamos que nelas, o
61
sujeito sendo pronominal ou nominal, tendo ou não objeto, o pronome interrogativo
posicionou-se sempre ao lado do verbo da sentença.
Nas sentenças 105, 106 e 109, a estrutura foi O S V, mas o pronome
interrogativo {ne} permaneceu próximo ao verbo.
Não estudamos as partículas neste trabalho, mas um fato importante
surgiu ao coletarmos as sentenças com o uso do pronome interrogativo {ne}. Nas
senteças dadas, o informante nos disse que dependendo da forma do objeto
apontado, a pergunta usaria uma partícula diferente. Por isso, estes dados têm
quase a mesma estrutura, diferenciando, somente a última partícula: Pron. int. +
part. + m.s. + part. Também podemos verificar que é usada a partícula marcadora de
sujeito, que é comum somente após os nomes. Neste caso, o pronome interrogativo
{ne} funciona como um pronome substantivo.
108 . Ne hã vỹ nĩ
O que ind. o. m.s. ind.a. (redondo)
O que é isto?
108. (a) Ne hã vỹ jẽ
O que in.d.o. m.s. ind.a. (em pé)
O que é isto?
108. (b) Ne hã vỹ nã
O que in.d.o. m.s. ind.a. (comprido)
O que é isto?
108. (c) Ne hã vỹ nĩ
O que in.d.o. m.s. ind.a. (deitado)
O que é isto?
O pronome interrogativo “quemem kaingang é {Ũ}. Abaixo, seguem
alguns dados coletados a fim de analisarmos sua posição na estrutura frasal desta
língua.
119. Ũ nẽ ã jiji
pron. int ind.a. 2p.sg. nome
62
Quem nome é você? (= Como você chama?).
120. Ã ũ mỹ presente ti nĩm
2p.sg. pron. int posp presente fem. dar
Você deu o presente para quem?
121. Ũ t hẽ nỹ
pron. int ind. top. pron. int suj. top.
Foi quem?
122. Ũ nẽ
pron. int ind.a.
Quem é?
123. Ũ ĩn nẽ
pron. int casa ind.a.
É a casa de quem?
124. Ũ, t nẽ
pron. int, ind. top. ind.a.
É a coisa de quem?
125. Kre ẽn vỹ tỹ ũ tũ nĩ
Balaio pron. dem. m. suj. ind. top. pron. int. coisas ind.a.
Aquele balaio é de quem?
126. Manoel mré Jandira fag ĩn ẽn han
Manoel posp Jandira (casal) casa pron.dem. fazer
Manoel e Jandira construíram a casa.
127. Ũ nỹ ĩn ẽn han
Pron. int ind. s. top. casa pron.dem. fazer
Quem construiu aquela casa?
63
128. Ũn regre fag ĩn ẽn ti han
Os dois (casal) casa pron.dem. fazer.
Ambos (Manoel e Jandira) construíram a casa.
129. Ũ nỹ ã mỹ tag han
pron. int ind. top 2p.sg. posp pron.dem. fazer
15
Quem fez isto para você?
130. Ũ tũ nẽ, kre tag ti
Pron. int coisas ind.a., cesto pron.dem.
De quem é este cesto?
131. Ũ tũ nẽ, kre ẽn ti
Pron. int. coisas ind.a., balaio pron.dem.
De quem é este balaio?
O pronome interrogativo {ũ} (quem) pode posicionar-se das
seguintes formas:
No início da sentença como nos dados de : 119, 121, 122,
124, 127, 129, 130, 131;
Após o sujeito, como no dado nº. 120;
Na mesma posição de um pronome possessivo, antes do
nome, quando se pergunta quem o possui, como vemos nos
dados 123 e 125.
Observamos que houve uma combinação deste pronome
interrogativo {ũ} e o numeral dois {regre} no dado 128: “Ũn régre”, para se referir ao
casal “Manuel e Jandira”, citados no momento da coleta deste dado.
Hẽ – Qual
132. Ũ tỹ hẽ nẽ
Pron. Int. ind. top. pron. int. ind.a.
Qual é?
15
Nỹ- indicador de sujeito tópico na pergunta, segundo Wiesemann (2002).
64
132. (a) Ĩn tỹ hẽ nẽ
Casa ind. top. pron. int. ind.a.
Qual é a casa?
133. Jandira fi mỹ kanhgág ẽn fi ki kanhró nĩ
Jandira fem. ind. p. kaingang pron. dem. fem. saber ind. a.
Jandira sabe sobre aquela kaingang?
134. Ti hẽ ri ke
3p.sg. pron. int igual coisas
Como ele é?
135. Ã mỹ ti jykre ki kanhró nĩ
2p.sg. ind. p. 3p.sg. costume saber ind. a.
Você sabe como ele é? (Você sabe o jeito dele?).
136. Hẽ kã tá
Pron. int adv.
Aonde/ De onde? (literalmente= Qual dentro?).
137. Jandira fi, fi fẽgja ki kanhró
Jandira fem., 3p.sg. ? saber ind. a.
Jandira sabe de onde ela é.
138. Hẽ kã
Pron. int dentro de
Em que?
139. Jandira fi ĩn tỹ hẽ tá kasor jẽg ki kanhró nĩ
Jandira fem. casa ind. top. pron. int. longe cachorro ? saber ind. a.
Jandira sabe em qual casa o cachorro está.
65
140. Ĩn tỹ hẽ krẽn ã ẽmã nĩ
Casa ind. top. pron. int. ? 2p.sg. morar ind.a.
Em qual casa você mora?
141. Ã mỹ inh ĩn ki kanhró
2p.sg. ind. p. 1p.sg. casa saber ind. a.
Você sabe qual é minha casa?
O pronome interrogativo qual” {hẽ}, com base nos dados acima,
pode posicionar-se das seguintes formas:
No final da estrutura frasal como no dado 132 e 132(a).
No dado 132, verificamos que pode ele (hẽ) pode ser usado
numa mesma sentença com outro pronome interrogativo {ũ};
No início da estrutura frasal como nos dados 134 (após o
sujeito pronominal), 136 e 138;
Na estrutura canônica S O V, no dado n 139 ele posiciona-se
entre o sujeito e verbo.
Não foi usado o pronome interrogativo nos dados de 133, 135,
137 e 141, onde temos o verbo “ki kanhró” (saber), da mesma forma que não foi
usado com o verbo “katĩg” (não saber), no dado 111.
16
No dado 134, o pronome {hẽ}, podemos observar que ele
também tem o significado de “como”.
Segundo Wiesemann (2002, p. 24), o pronome interrogativo {hẽ}
quando próximo de um advérbio de lugar, significa “onde/ aonde” (exemplos 136 e
138).
16
Será preciso coletas posteriores com uso destes verbos: {ki kanhró} -saber e {ki katĩg} - não saber,
para verificação se eles são verbos que restringem pronomes interrogativos.
66
7.4 PRONOMES INDEFINIDOS
Os pronomes indefinidos, assim como o próprio nome diz,
transmitem incerteza. Em português temos os pronomes indefinidos apenas
substantivos: alguém, ninguém, outrem, algo, nada, tudo. Estes podem ocorrer como
substantivos ou adjetivos: nenhum, muito, pouco, bastante, todo (s), outro (s), vários;
os somente adjetivos: cada, certo, qualquer; os advérbios: algures (em algum lugar)
alhures (em outro lugar), nenhures (em nenhum lugar), sempre, nunca, outrora,
pouco/ muito e as locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um, qualquer
um e qualquer outro.
Em inglês, os pronomes indefinidos são: anyone, someone,
somethinh, anything. O morfema {- one} a idéia de indeterminação e o morfema
{thing} a idéia da pessoa.
Em Francês temos quelqu’un, onde quelq (alguém) e un (um)=
alguém, quelque chose, quelque (alguém) + chose (coisa)= algo/ alguma coisa.
Em kaingang os pronomes indefinidos são:
Ū= alguém.
Vẽnh= de alguém.
Ag kar= Todos
17
Os dados coletados para descrição destes pronomes são:
142. Ũ nẽ vỹ f
Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar
Alguém chorou
143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a.
Ninguém chorou. (lit. Alguém não chorou).
17
Este pronome não está na lista dos pronomes indefinidos no dicionário de Wiesemann (2002).
67
(modelo)
144. Jandira fi vỹ garĩnh totón.
Jandira fem. m. suj. galinha fritar (sg).
Jandira fritou galinha.
145. Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ
Jandira fem. coisa pron. ind. fritar neg. ind.a.
Jandira nada fritou. (lit. Jandira não fritou coisa alguma).
146. Ũ kasoro nẽ
Pron. ind. cachorro ind.a.
De quem é este cachorro?
147. Vẽnh nũg vẽ
Pron. ref. barriga ser
É barriga de alguém
148. Ũ vẽg tũ inh
Pron. ind. ver (sg.)não 1 p.sg. ind. a.
Eu não vi ninguém.
149. Ũ f ja ki isóg kanhró nĩ
Pron. ind. chorar ind. m. ? suj. ag. saber ind. a.
18
Eu sei que alguém chorou.
150. Ũ fỹ mẽg isóg mũ
Pron. ind. chorar escutar ind. ag. ind.a.
Eu ouvi alguém chorando.
151. Ũ kre nẽ hỹn
Pron. ind. cesto ind. a. ind. o.
19
Este cesto é de alguém?
18
No dado 149- {já} indicador de modo algo já terminado.
19
Indicador de opinião= de certo, provavelmente.
68
152. Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a.
Ninguém fritou galinha.
153. Ĩn ka ki ti nén tũ tavĩ nĩ
Casa dentro de masc. coisa neg. ind. m. ind. a.
Nada ficou na casa.
154. Ag kar vỹ ĩn krẽm nỹtĩ
Eles todos m.suj. casa adv. ind. a.
Todos ficaram na casa.
155. Ag kar vé inh ĩn krẽm
20
Eles todos ver 1p.sg. casa adv.
Eu vi todos na casa.
156. Ĩn krẽm inh ag kar vé
Casa adv. 1p.sg. eles todos ver
Eu vi todos na casa casa.
157. Vẽjẽn vỹ tũ kãn
Alimento m.suj. coisas acabar
Toda comida acabou.
158. Tũg kãn ti
Acabar alimento pron.dem.
Tudo acabou.
159. Tỹ ti ũ e kãn
Suj. top. 3p.sg. coisas de alguém muito acabar.
Ele acabou com tudo.
20
Krẽm (adv.) = embaixo. As casas, usadas ao coletar estes dados, estavam abaixo do local de
onde eu e meu informante estávamos.
69
160. Vẽjẽn ko kãn ti
Alimento comer acabar 3p.sg.
Ele comeu toda comida.
Conforme os dados acima, podemos dizer que o pronome indefinido
em kaingang {ũ} possui algumas características que o difere dos demais. Uma delas
é a presença de uma partícula que marca o sujeito, a partícula {vỹ}. Nos dados de
142, 143, 152 e 154 verificamos que o pronome interrogativo {ũ} funciona como um
pronome substantivo, pois ele possui a partícula marcadora de sujeito {vỹ}, que é
dada somente aos nomes, em kaingang. Esta partícula é uma das estruturas
presentes em orações nominais, como vemos nos dados de 1, 3, 10, 13, 14, 16,
26, 28, 32, 34, 36, 37, 42, 48, 51, 53, 54, 56, 58, 60, de 61 a 68, 69 a 72, 74, 75, 76,
66,78, etc. As sentenças pronominais em que se usou a partícula {vỹ} tinham verbos
intransitivos: {fỹ} - chorar (afirmativas e negativas), e o verbo {totór} fritar
(negativa), como veremos abaixo. Talvez, na língua kaingang, o pronome indefinido
{ũ} seja tratado como nome e não como pronome.
142. Ũ nẽ vỹ f
Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar
Alguém chorou
143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a.
Ninguém chorou.
152. Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a.
Ninguém fritou galinha.
Em alguns dados, podemos observar que a partícula marcadora do
sujeito {vỹ} não ocorrre em todas as sentenças com pronome indefinido, pois nos
dados 146, 147, 148, 149, 150, 151 e 153 ela o aparece. Nestes dados há
70
sentenças de negação (145, 148, e 153), interrogativas (146 e 151), com a partícula
indicadora de aspecto {vẽ} (147), {nĩ} (146, 149 e 153).
Nota-se também que em todos os exemplos em que foi usado o
pronome indefinido {ũ}, ele foi o primeiro constituinte da sentença. (142, 143, 146,
148, 149, 150, 151 e 152). Nestas sentenças também temos a ordem oracional S V
(142, 143 e 148), S O V (152), que é a estrutura padrão, principalmente, em
sentenças com sujeito nominal.
A maioria das sentenças que utilizaram os outros pronomes
indefinidos, possue a mesma estrutura padrão SOV, como vemos nos dados 147
{vẽnh}, 154 e 156 {ag kar}, que é a estrutura canônica.
O pronome {ag kar} (presente nos dados de 154, 155 e 156),
aparece no dicionário da Wiesmann com a definição de “todos”. Por isso, ele está
sendo considerado, neste trabalho, um pronome indefinido.
Com os dados de 145 e 153, o pronome indefinido “nada” não
possui uma palavra específica que o determine, mas vemos a expressão {nén ũ} ou
{nén} seguido de {tũ} “coisa não”, usada para designá-lo. Em ambas as sentenças,
foram usadas a partícula {nĩ}.
145. Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ
Jandira fem. coisa alguém fritar neg.
Jandira nada fritou
153. Ĩn ka ki ti nén tũ tavĩ nĩ
Casa dentro de masc. coisa neg. ind. m. ind. a.
Nada ficou na casa.
Nas sentenças interrogativas nas quais se usava a pergunta sobre
posse “’De quem?”, o pronome indefinido {ũn} se posicionou da mesma forma que o
pronome possessivo, como vemos no dado 123: o nome próximo ao pronome.
123. Ũ ĩn nẽ
Pron. ind. casa ind.a.
É a casa de quem?
71
Nos dados de sentença negativa, observamos que a partícula em
kaingang que indica negação, está sempre posicionada após o verbo, como
podemos ver nos dados: 143, 145, 148, 152,
143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. chorar neg. ind.a.
Ninguém chorou.
145. Jandira fi nén ũ totón tũ nĩ
Jandira fem. coisa alguém fritar neg. ind.a.
Jandira nada fritou
148. Ũ vẽg tũ inh nĩ
Pron. ind. ver (sg.) não 1 p.sg. ind. a.
Eu não vi ninguém.
152. Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ
Pron. ind. m. suj. galinha fritar neg. ind.a.
Ninguém fritou galinha.
No dado de nº 150, observamos dois verbos lado a lado. Do dado de
149 para o 150, o tempo verbal mudou: de tempo não marcado para tempo de
situação inacabada. Mesmo assim, o pronome indefinido {ũ} continua no início da
sentença. No dado 150, a estrutura da sentença é a mesma das orações simples
com sujeito pronominal O S V. Observem:
149. Ũ f ja ki isóg kanhró nĩ
Pron. ind. chorar ind. m. ? suj. ag. saber ind. a.
21
Eu sei que alguém chorou.
150. Ũ fỹ mẽg isóg mũ
Pron. ind. chorar escutar ind. ag. ind.a.
21
No dado 149- {já} indicador de modo algo já terminado.
72
Eu ouvi alguém chorando.
O pronome {ũ} está sempre como o primeiro constituinte da
sentença, é o que vemos em todas as sentenças em que ele foi usado:
Nas sentença afirmativas:
142. Ū nẽ vỹ fỹ
Pron. ind. ind.a. m. suj. chorar
Alguém chorou
149. Ũ fỹ ja ki isóg kanhró nĩ
Pron. ind. chorar ind. m. ind.circ. ind. suj. saber ind. a.
Eu sei que alguém chorou.
150. Ũ fỹ mẽg isóg mũ.
Pron. ind. chorar escutar ind. suj. ind.a.
Eu ouvi alguém chorando.
Nas sentenças negativas:
143. Ū vỹ fỹ tũ nĩ
Pron. ind. m. suj. chorar neg. ind.a
Ninguém chorou.
148. Ũ vẽg tũ inh nĩ
Pron. ind. ver (sg.) não 1p.sg. ind. a.
Eu não vi ninguém.
152. Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ
Pron. ind. m.suj. galinha fritar neg. ind.a.
Ninguém fritou galinha.
Nas sentenças interrogativas:
146. Ũ kasoro ẽ
Pron. ind. cachorro ind.a.
De quem é este cachorro?
73
151. Ũ kre nē hn
Pron. ind. cesto ind. a. ind. o.
Este cesto é de alguém?
As sentenças nos dados de nº 143 e 152 possuem estrutura
semelhante: ambas têm o pronome {ũ}, mais a partícula negativa, significando
“ninguém”. Observem:
Pron. m. suj. O V. neg.
152. Ũ vỹ garinh tótor tũ nĩ.
Pron. ind. m. suj. galinha fritar neg. ind a.
Ninguém fritou galinha.
Pron.m. suj. O. V. neg.
A palavra {krẽm} foi dada, próxima ao nome {ĩn} casa, afirmando
que a casa é a de baixo. Porém, este advérbio de lugar não havia sido pedido. É
muito importante, ao coletarmos dados, observarmos cada pormenor, não somente
da língua a qual estamos investigando, como também o lugar onde estamos fazendo
as perguntas, pois mesmo sendo algo externo tem grande influência nos dados
obtidos.
Investigando a possibilidade de haver nesta língua os pronomes
indefinidos referentes a “tudo, toda”, foram pedidas as sentenças que estão nos
dados de nº: 157, 158, 159 e 160.
157. Vẽjẽn vỹ tũ kãn
Alimento m. suj. neg. acabar.
A comida acabou.
158. Tũg kãn ti.
Morrer acabar pron.dem.
Tudo acabou.
143. Ũ vỹ fỹ tũ nĩ
Pron. ind. m. suj. chorar neg. ind.a.
Ninguém chorou.
74
159. Tỹ ti e kãn
Ind. suj. top. 3p.sg. coisas de alguém muito acabar.
Ele acabou com tudo.
160. Vējēn ko kãn ti.
Alimento comer acabar 3p.sg.
Ele comeu toda comida.
Podemos notar que não foi usada a palavra {ag kar} referente a
todos, nem uma variação dela.
No dado 160, como foi usado o pronome pessoal {ti}, a estrutura é
OVS, a mais comum quando se usa os pronomes pessoais.
Com isto, podemos levantar a hipótese de que não existe em
kaingang, uma palavra específica para “tudo, toda”. Somente a expressão “ag kar”
que se refere a todos, usada para pessoas e não para objetos e coisas.
7.5 PRONOMES DEMONSTRATIVOS
A origem e a definição dos pronomes demonstrativos foi um dos
assuntos abordados no capítulo seis. Porém, iremos discorrer um pouco mais sobre
eles.
“Os pronomes demonstrativos têm a função de indicar a posição no
espaço, de um elemento bio-social, tratado na língua como “ser”, ou como um
“nome”. (CÂMARA JÚNIOR, 1997, p. 122). Estes pronomes sempre são usados em
referência ao falante.
Cada língua do mundo possui o seu sistema em relação à distância
ou proximidade do falante e do item a que se refere. No inglês, temos um sistema
dicotômico, que marca como próximo ou distante do falante usando a oposição com
os pronomes: “this/ that” (este/aquele). no português, temos um sistema
tricotômico, em que se leva em conta também o ouvinte, usando os pronomes: este
(próximo ao falante), esse (próximo ao ouvinte) e aquele (longe do falante e do
75
ouvinte). Entretanto este sistema tricotômico tem mudado, na nossa língua coloquial.
Percebemos que, atualmente, na fala, existe somente um sistema dicotômico, na
grande maioria dos estados brasileiros: este (ou esse - dependendo do lugar) X
aquele.
Em português, os pronomes demonstrativos m função adjetiva e
função substantiva, como podemos ver nos exemplos:
Este livro – função adjetiva.
Este não é meu livro - função substantiva.
Como foi dito anterirormente, o papel dos demonstrativos é
essencialmente dêitico. Porém, conforme Said Ali (apud Câmara Júnior, 1997, p.
123) eles também têm o papel de serem anafóricos. Não tratam apenas do mundo
bio - social, mas do que foi dito ou vai ser dito em um contexto lingüístico. Nossas
gramáticas costumam usar este – o que vai ser dito; esse - o que acaba de ser dito e
aquele - o que já foi dito há algum tempo ou em outro contexto.
Segundo Wiesemann (2002, p. 161), em kaingang, “os pronomes
demonstrativos podem substituir os substantivos ou então os seguem para modificá-
los”.
Os pronomes demonstrativos em kaingang são:
Tag – isto;
Ti  -n - isso, esse, o;
Fi – essa, a;
Ẽn – aquilo;
Ag – esses, os;
Fag – essas, o casal, as;
Abaixo seguem alguns pronomes demonstrativos que também foram
retirados do dicionário bilíngüe de Wiesemann, onde existem algumas combinações.
São eles:
22
Tag ti = isto aqui, este aqui.
22
Ao lado de todos esses pronomes ocorre um advérbio de lugar. Nos dados verificou-se que é muito
usado um advébio de lugar, para demonstrar a relação de distância entre o item e o falante.
76
Tag fi= esta aqui.
Ẽn ti= aquilo lá, aquele lá.
Ẽn fi= aquela lá.
Tag ag= estes aqui.
Tag fag= estas aqui, este casal aqui.
Ẽn ag= aqueles lá
Ẽn fag= aquelas lá, aquele casal lá.
Os exemplos seguintes nos ajudam a verificar como estes pronomes
funcionam na língua kaingang.
3ª Pessoa do Singular:
Posição de Sujeito:
161. Ag kã t hẽ t ter nỹ tag
3 p.pl. ind.circ. ind.exp. pron.int.l. ind. suj. top. perg. morrer ind. suj. top pron.dem.
Tã tá n ẽn vó
Lá longe. ind. suj. top pron.dem. ind. o.
23
Qual dos dois morreu? Este ou aquele?
A coleta deste dado foi usada para observar a diferença, na língua
kaingang, entre o uso dos pronomes “este” {tag} e “aquele {ẽn}. O pronome
referente a “este” {tag} foi usado na primeira parte da sentença e o pronome
demonstrativo “aquele” {ẽn} foi usado na segunda parte da sentença. O advérbio de
lugar {tã tá} (lá longe) foi usado para indicar a distância do falante em relação à
pessoa de quem se falava. O {tag} foi posicionado como último constituinte na
estrutura, logo após a partícula {nỹ}, que é indicadora do sujeito tópico na pergunta.
Da mesma forma o pronome {ẽn}. Os dois eram constituintes tópicos na pergunta.
Tanto na primeira como na segunda sentença os pronomes foram posicionados
antes do verbo.
23
Com as glosas, a frase toda do dado 161 não coube em uma só linha.
77
162. Kanhgág ẽn ve
Kaingang pron.dem. ser
É aquele kaingang.
163. Kanhgág ẽn fi vẽ
Kaingang pron.dem. fem ser
É aquela kaingang.
Nos dados 162 e 163, vemos o pronome demonstrativo {ẽn} e {ẽn fi}
referentes aos pronomes em português “aquele / aquela”. O pronome é usado após
o nome kaingang. Vamos observar esta mesma posição, no dado 165, o pronome
{ẽn} posiciona-se após o nome substantivo {fog} e o seu adjunto adnominal {ũ}: “fog
ũ ẽn”. Ao passar o pronome para o feminino, no dado 166, a partícula que indica o
gênero feminino {fi}, foi usada após o pronome, da mesma forma que ela é usada
com nomes: Jandira fi, nỹ fi (mãe),entre outros.
164. Tã tá, n ẽn ter
Lá longe ind.a. pron.dem. morrer.
Aquele que morreu.
Nesta sentença “Aquele que morreu”, temos um pronome e uma
oração adjetiva. Novamente, para demonstrar a distância do falante em relação a
quem se falava foi usado o advérbio de lugar {tã ta}. Como na sentença 161, ele foi
usado após a partícula {nỹ} e antes do verbo.
165. Fóg ũ ẽn v
Não índio pron.int. pron.dem. ser.
Aquele outro é não índio.
166. Fog ũ ẽn fi vẽ
Não índia. pron.dem. ser
É aquela não índia.
78
167. Ĩn ẽn vỹ mrá to he
Casa pron.dem. m.suj. quebrada (cair).
Aquela casa caiu (quebrou).
Posição de Objeto/ Predicado:
168 (a). Kanhgág ẽn fi ve inh
Kaingang pron.dem. fem ver 1p.sg.
Eu vi aquela kaingang
Quando usado como pronome na posição de objeto em uma
sentença, como observamos neste dado, o pronome posicionou-se após o nome
kaingang e seguido da partícula que indica o gênero feminino. Logo após, o
informante falou outra frase, mas desta vez usando o advérbio {tã }, como
corrigindo a si próprio ao pronunciar esta frase em kaingang. Podemos observar que
o pronome pessoal mudou sua posição na estrutura frasal, ficando próximo ao
advérbio, porém, o pronome demonstrativo continua no mesmo lugar nesta
estrutura, após o nome, seguido da partícula de gênero e do verbo.
168 (b). Tã tá inh kanhgág ẽn fi ve
Lá longe 1p.sg. kaingang pron.dem. fem ver.
Eu vi aquela kaingang.
169 (a). Kanhgág ẽn ve inh
Kaingang pron.dem. ver 1p.sg.
Eu vi aquele kaingang.
169 (b) Tã tá inh kanhgág ẽn ve
Lá longe 1p.sg. kaingang pron.dem. ver.
Eu vi aquele kaingang.
No dado 169, a estrutura é a mesma. não é usada a partícula
feminina {fi}, pois em kaingang o masculino é um gênero não marcado. Portanto o
pronome também não recebe a marca de gênero masculino.
79
A ordem oracional nos dados 168(a) e 169 é O V S. Já no dado 168,
(b) onde vemos o acréscimo do advérbio {tã tá}, a estrutura é S O V.
Algo que foi freqüente nos dados é a posição do pronome
demonstrativo ser usado após o nome a que se refere como vimos nos dados de nº:
162, 163, 165, 166, 167, 168 (a/ b), 169 (a/ b) e veremos nos dados: 171, 173, 174,
175, 182, 183, 184, 185, 186, 189. Isto acontece tanto nas sentenças afirmativas
como nas interrogativas.
170. Tag mỹ há
pron.dem. ind. p. bem
Este está bem?
Posição de Objeto/ Predicado:
171. Kanhgág tag fi ẽn fi vê inh
Kaingang pron.dem. ver 1p.sg.
Eu vi esta/ aquela índia.
172. Ne nẽ, tag ti
Pron. int., coisa isto
O que é isto?
No dado de 172 ocorre uma inversão. O pronome demonstrativo
{tag} posiciona-se antes do pronome {ti}. Talvez seja uma forma comum usada em
sentenças interrogativas.
Posição de Sujeito:
173. Garafa ẽn mỹ sĩ jẽ
Garrafa pron.dem. ind. p. pequena ind. a.
Aquela garrafa é pequena?
O informante, ao falar esta sentença, acrescentou uma explicação
sobre as partículas usadas. Porém, neste trabalho não irei me ater aos estudos das
partículas usadas, pois teria que trilhar por um caminho longo e me desviar da
descrição simples do sistema pronominal em kaingang.
80
Posição de Objeto/ Predicado:
174. Jandira fi tã tá kanhgág ẽn ve
Jandira fem. lá longe kaingang pron.dem. ver.
Jandira viu aquele kaingang.
175. Ã mỹ tã ta kanhgág ẽn ve
2p.sg.suj dat. lá longe kaingang pron.dem. ver
Você viu aquele kaingang?
Nas sentenças 174 e 175 vemos a diferença entre uma sentença
nominal afirmativa e a interrogativa com sujeito pronominal. A estrutura de ambas as
sentenças é S O V. As duas têm o advérbio que demonstra a distância do falante de
sobre quem se fala {tã tá}.
(modelo)
176. Gãr tu inh
Milho carregar 1p.sg.
Eu carreguei milho
177. Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn tu inh
Milho suj. top. tá longe ind. a. pron.dem. carregar 1p.sg.
24
Aquele milho foi eu que carreguei.
Comparando os dados 176 e 177, percebemos que ao adicionar o
pronome demonstrativo “aquele” {ẽn}, a sentença mudou não apenas com o
acréscimo do pronome, mas foi adicionado também o advérbio {tã tá}, a partícula {jẽ}
e a partícula {tỹ}. Estas estruturas ficaram no meio da sentença anterior como vemos
abaixo e o pronome demonstrativo posicionou-se afastado do nome que ele
modifica:
r tu inh.
r tỹ ta tá jẽ ẽn tu inh.
24
No dado 173, usou-se a partícula {jẽ}. Meu informante me disse que não podia usar partícula {nĩ},
porque garrafa é coisa comprida. Porém, se a garrafa estivesse deitada a partícula seria {na}. {Na},
portanto, é partícula marcadora de coisa deitada.
81
Posição de Sujeito:
(modelo)
178. Ludo vỹ móra nig tũ
25
Ludo m.suj. bola chutar não ind.a.
Ludo não chutou a bola
179. Tã tá jẽ ẽn vỹ mora nig tũ nĩ
Lá longe ind.a. pron.dem.m. suj. bola chutar (sg) neg. ind.a.
Aquele lá não chutou a bola.
Para verificarmos a posição de um pronome demonstrativo numa
sentença negativa, coletamos os dados 178 e 179. Mais uma vez, podemos
observar o advérbio de lugar sendo usado para indicar a distância com relação de
quem se fala. No dado 179 vemos o acréscimo da partícula {jẽ} e a partícula
marcadora do sujeito {vỹ}. A partícula {vỹ} geralmente é usada com sujeitos
nominais, mas nesta sentença ela é usada numa frase de sujeito pronominal. Com
isto, podemos ver que o pronome demonstrativo {ẽn} está na função de substantivo.
As sentenças com pronomes demonstrativos no plural, na posição
de sujeito, mantêm a mesma ordem oracional que as sentenças com pronomes
demonstrativos no singular, como podemos verificar nos dados de nº. 164, 167, 173,
179, onde a estrutura é S V, SV, SV e S O V, respectivamente.
180 (a). Nén há vẽ
Coisa boa ser
Isto é bom (lit. A coisa é boa).
180(b) Tag vỹ tỹ nén há nĩ
Pron.dem. ind. suj. top.coisa boa ind.a.
Isto é bom. (lit. Esta coisa é boa).
Nos dados 180 (a/ b), temos duas sentenças que foram usadas com
o mesmo significado. O ajudante kaingang disse que as duas sentenças estavam
25
Dado usado como modelo para contrastar.
82
corretas, porém, percebemos que somente a 180 (b) faz uso do pronome {tag} (isto
aqui). Assim como no dado 179, vemos a partícula que marca o sujeito {vỹ} sendo
usada numa sentença de sujeito pronominal. Também é acrescentada a partícula
{tỹ} e no final da sentença a partícula usada é a {vẽ} muda para a partícula {nĩ}.
181. Gĩr tag fi gãr tu
Menina pron.dem. milho carregar
Essa/ esta menina carregou milho.
Em kaingang, parece não haver diferença entre os pronomes
essa/esta, como temos na língua portuguesa. Pois neste dado para ambos os
pronomes foi dada a mesma sentença. Como observamos anteriormente, até
mesmo para diferenciar a distância de que se fala foi usado o advérbio {tã tá} (lá
longe).
Posição de Objeto/ Predicado
182. Jandira fi gĩr tag fi m gãr tu
Jandira fem. menina pron.dem. posp milho carregar
Jandira carregou milho para essa/ esta menina.
3ª Pessoa do Plural:
Posição de Sujeito:
183. Kanhgág ag ag vỹ gãr rĩg tĩ
Kaingang pron.dem. ind. suj. milho levar (nas costas)
Estes kaingang carregam milho.
Posição de Objeto:
184. Mário vỹ gãr tag ag tu
Mario ind. suj. milho pron.dem. carregar
Mário carregou estes milhos.
Na posição de objeto, neste dado, o pronome demonstrativo
posiciona-se após o nome a que se refere e a estrutura é S O V.
Quando o pronome {tag fi} (esta aqui) foi usado como sujeito, ele
posicionou-se após o nome {Gĩr} (dado 181). A partícula indicadora do gênero
83
feminino, quando usada juntamente com um pronome demonstrativo, posiciona-se
logo após o pronome. Esta é a seqüência usada quando temos um pronome junto
ao nome: nome+ pronome demonstrativo+ partícula de gênero feminino (181. r tag
fi...). Esta mesma seqüência é usada quando temos o pronome na posição de objeto
(182... gĩr tag fi...). É interessante notar que, ao acrescentarmos o sujeito nominal
“Jandira”, o nome é o primeiro constituinte da sentença, junto com a partícula de
gênero {fi}, seguido da sentença completa do dado 184, porém com o acréscimo da
posposição {mỹ} (para).
r tag fi gãr tu.
Jandira fi gĩr tag fi mỹ gãr tu.
Posição de Sujeito
185. Tag fag vỹ gãr rinh tĩ.
Pron.dem. ind. suj. milho carregar (pl.) ind. a.
Estas aqui carregaram milho.
Nos dados 183 e 185, temos a estrutura S O V. A diferença entre
eles é o pronome sendo usado acompanhando o nome (Kanhgág tag ag) e o
pronome sozinho (Tag fag), em ambos os exemplos, na posição de sujeito. Nas
duas sentenças também podemos ver que eles fazem parte dos primeiros
constituintes da sentença, somente o verbo carregar (pl.) que muda de {rĩg} (183)
para {rinh} (185).
Posição de Objeto
186. Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn ag tu inh.
Milho ind. top. lá longe ind. a pron.dem. pl.carregar 1p.sg.
Eu carreguei aqueles milhos.
Este dado possui a mesma estrutura do dado 177 O V S. O que
difere é o pronome demonstrativo no plural. Em ambas as sentenças, o pronome
demonstrativo não está próximo ao nome, como em sentenças anteriores. Entre eles
temos as partículas {tỹ} (ind. top.), o advérbio de lugar {tã tá} e a partícula {jẽ}
(ind.a.). Observe abaixo:
84
Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn tu inh.
Gãr tỹ tã tá jẽ ẽn ag tu inh.
Posição de Sujeito
187. Tã tá nỹtĩ ẽn ag vỹ mora nignig tũ nĩ
Lá longe ind.a. pron.dem. lá m. suj. bola chutar (pl.) não ind.a.
Aqueles lá não chutaram a bola.
Posição de Objeto
188. Kanhgág ẽn fag ve inh
Kaingang pron.dem. ver 1p.sg.
Eu vi aquelas kaingang.
Comparando os dados 168(a) - pronome demonstrativo no singular
{ẽn fi} e 188 {ẽn fag}, podemos ver as sentenças com a mesma estrutura oracional O
V S. Quando o pronome {ẽn fi} é passado para o plural, vemos a união do fi + ag =
fag. Ocorre a junção da vogal final do morfema de marca de gênero com a vogal “a”
inicial do morfema de plural em kaingang {ag}. Podemos ver que ocorre um
metaplasmo por sinalefa.
26
189. Kanhgág ẽn ag vê inh
Kaingang pron.dem. ver 1p.sg.
Eu vi aqueles kaingang.
Nos dados de nº 183 a 189, temos os pronomes demonstrativos no
plural {tag ag} (estes aqui), {tag fag} (estas aqui), ẽn ag (aqueles lá), ẽn fag (aquelas
lá).
A mesma estrutura ocorre com os dados 189 e 169 (a) O V S. No
dado 189, ocorre a pluralização do pronome usado no dado 169: {ẽn} para {ẽn ag}
(189). No dado 189, não foi usado o advérbio de lugar {tã ta}, como no dado 169 (b).
26
Sinalefa é o fenômeno de fusão através do qual duas emissões se confundem numa (1),
através de elisão. Uma das vogais desaparece” (DAVID, 2000).
85
7.6 PRONOMES REFLEXIVOS
De acordo com Shopen (1985a, p. 27):
[...] Reflexive pronouns are pronouns wich are
interpreted as coreferential with another nominal,
usually the subject; of the sentence or clause in with
they occur.
No inglês, há duas formas para os pronomes reflexivos: {sef/ selves}
que correspondem ao singular/ plural, respectivamente: “Peter shaved himself/ Peter
and Bob shaved themselves”.
Ainda segundo o autor acima citado, algumas línguas, que
distinguem pronomes reflexivos e não-reflexivos de terceira pessoa, não fazem
distinção para as outras pessoas. Ao invés disto, usam o mesmo pronome para a
primeira e a segunda pessoa, reflexiva e não-reflexivamente. Vejamos os exemplos:
Ils me voient
Eles me vêem
(They see me)
Je me vois
Eu me vejo
(I see myself)
Ils te voient
Eles te vêem / Eles você ver
Eles vêem você (They see you)
Tu te vois
Você você ver
Você vê você mesmo (You see yourself)
Ils les voient
Eles eles vêm (They see themselves)
Outras línguas que não possuem pronomes reflexivos ou nomes que
são interpretados como reflexivos, o sentido de ação reflexiva é expresso por um
86
sufixo verbal {- ic’ i-}, como podemos ver nos exemplos da língua Tswana (SHOPEN,
1985a, p. 29).
Ke- tla- i -thêk- êla selêpê
Eu fut. refl. comprar benef. machado
Eu deveria comprar um machado para mim mesmo.
Segundo o dicionário de Wiesemann, os pronomes reflexivos em
kaingang são:
Vẽnh- de si mesmo.
Os dados abaixo foram coletados para verificação das estruturas em
sentenças com o uso destes pronomes.
a) 1ª Pessoa do Singular
190. Goj ki inh vẽnh kypé.
Água dentro 1p.sg. pron. ref. dar banho.
Eu me lavo nome no rio.
b) 2ª Pessoa do Singular
191. Goj ki ã vẽnh ky
Água dentro 2p.sg.pron. ref. lavar.
Você se lava no rio.
c) 3ª Pessoa do Singular
192. Jandira fi vỹ vẽnh rem
Jandira fem m. suj. pron. ref. pentear.
Jandira penteou-se
193. Vẽnh rem fi
Pron. ref. pentear 3p.sg.
Ela penteou-se.
Comparando os dados 192 e 193, podemos observar que o pronome
reflexivo é posicionado como o primeiro constituinte da sentença que tem o sujeito
pronominal. O verbo segue o pronome reflexivo em ambas as sentenças, mesmo as
87
sentenças sendo diferentes em suas estruturas: uma com sujeito nominal e a outra
com sujeito pronominal.
194. Vẽnh kypé fi.
Pron. refl. tomar banho 3p.sg.
Ela se lava no rio.
195. Jandira fi vỹ vẽnh kypé.
Jandira fem. m. suj. pron. ref. lavar.
Jandira lavou-se no rio.
196. Manoel vỹ vẽnh so há nĩ.
Manoel m. suj. pron. ref. ? gostar in.d a.
Manoel gosta dele mesmo.
197. Jandira fi vỹ vẽnh so há nĩ.
Jandira fem m. suj. pron. ref. ? gostar ind. a.
Jandira gosta dela mesma.
d) 1ª Pessoa do Plural
198. Goj tá ẽg vẽnh kypé.
Água lá 1p.pl. pron. ref. lavar
Nós nos lavamos lá no rio.
e) 2ª Pessoa do Plural
199. Goj ki ajãg vẽnh kypé.
Água dentro 2p.pl. pron.ref. lavar.
Vocês se lavam no rio.
f) 3ª Pessoa do Plural
200. Kanhgág ag vỹ goj ki vẽnh kypé.
Kaingang pl. m. suj. água dentro pron. ref. lavar.
Os kaingang se lavam no rio.
201. Vẽnh kypé ag tĩ.
Pron. ref. lavar 3p.pl. ind.a.
88
Eles se lavam no rio.
Podemos observar que o pronome reflexivo {vẽnh} é usado em
todas as pessoas, como vemos nos dados 190 (1ª p.sg.), 191 (2ª p.sg.) 192(3ª
p.sg.), 193 (3ª p.sg.), 194 (3ª p.sg.), 195 (3ª p.sg.), e 196 (3ª p.sg.), 197 (3ª p.sg.),
198 (1ª p.pl.), 199 (2ª p.pl.), 200 (3ª p.pl.), 201 (3ª p.pl.), e ainda veremos no dado
203 (3ª p.pl.).
Em todas as sentenças acima citadas, o pronome {vẽnh} foi
posicionado antes do verbo. Também, na maioria das sentenças, este pronome
reflexivo seguiu o sujeito pronominal. É o que vemos nos dados 190, 191, 198, e
199. Contudo, nas sentenças em que o sujeito é nominal, ele foi posicionado após a
partícula que marca o sujeito, a partícula {vỹ}, como podemos notar nos dados de nº.
192, 195, 196 e 197.
Nos dados 190, 191, 194 e 198, vemos a mesma estrutura-O S V,
em frases com sujeito pronominal e que denotam a mesma ação: tomar banho
(verbo kypé). Os pronomes, nessas sentenças, são referentes às 1º e pessoas,
tanto no plural como no singular. Contudo, podemos notar que, quando o pronome
reflexivo {vẽnh} é usado em referência à 3ª pessoa, tanto do singular como do plural,
a estrutura da sentença é outra. É o que vemos nos dados 194 e 201. As sentenças
com a pessoa do singular e do plural são sentenças mais simples, isto é, não têm
as palavras {gój ki, gój ta}. Elas usam somente o verbo, o pronome pessoal e o
reflexivo. No dado 201 foi usada a partícula {tĩ} no final da sentença, o que não
aconteceu com a sentença com o pronome pessoal referente à pessoa do
singular.
A mesma estrutura usada nos dados 194 e 201: Pr. ref. V S pron. é
usada na sentença de nº. 193.
A mesma ação dos dados 190, 191, 194, 198 é repetida no dado de
200, porém, com sujeito nominal. Comparando estes dados podemos notar que,
quando a sentença tem um sujeito nominal, ele é posicionado como o primeiro
constituinte da sentença, seguido da expressão {gój ki}, e somente depois o
pronome reflexivo e o verbo.
89
7.7. Pronomes Recíprocos
Pronomes recíprocos, assim como os pronomes reflexivos, são
pronomes que expressam ações mútuas, condições, etc. (SHOPEN, 1985a). Em
inglês temos as expressões: “each other, one another”, que em português
correspondem a “um ao outro, cada um”.
Os pronomes reflexivos e os recíprocos são frequentemente
relacionados e em algumas línguas podem ocorrer certa ambigüidade. É o caso do
francês. Observemos os exemplos abaixo:
27
Ils se flattent
Eles refle/rec lisonjear
Eles lisonjearam a si mesmos/ Eles lisonjearam um ao outro.
Para não haver esta ambigüidade, é preciso adicionar à sentença a
expressão “L” um l’ autre (um ao outro):
Ils se flattent l’ um l’ auntre
Eles refl/ rec lisonjear um ao outro
Eles se lisonjearam um ao outro
Câmara Júnior (2004, p. 164), em seu dicionário de Lingüística e
Gramática, amplia o assunto sobre pronomes reflexivos e recíprocos, nomeando
esta construção de “voz medial”. De acordo com este autor, voz medial corresponde
na língua portuguesa, a uma forma adverbal átona, que se une ao verbo na voz
ativa, contudo, o somente como uma forma pronominal, mas como uma voz que
marca a presença do sujeito na ação do verbo. Alguns exemplos de voz medial
dados por este autor são:
28
Medial reflexiva: o objeto parte de uma ação verbal transitiva.
Exemplo: Eu me feri. Com a construção não pronominal, o
27
Exemplos retirados do livro Language Typology and Syntactic Description. (SHOPEN, 1985a).
28
Exemplos retirados do dicionário de Câmara Júnior “Dicionário de Linguística e Gramática” (2004).
90
objeto é autônomo e não alteração no significado: Eu o
feri.
Medial dinâmica: o objeto é o centro de uma ação verbal
transitiva, que parte dele, mas não sai do seu âmbito.
Exemplo: Eu me levantei. Com a construção não pronominal
o significado é alterado: Eu o levantei (= o suspendi).
Medial expletiva: a pessoa do sujeito fica como o centro de
uma ação verbal intransitiva e intensamente marcado. É uma
forma estilística de marcar a ação do sujeito. Exemplo: Eu me
ri. Na construção não pronominal não alteração na
significação verbal, porém, não ênfase na ação do sujeito.
Exemplo: Eu ri.
Segundo o dicionário de Wiesemann, os pronomes reflexivos em
kaingang são:
Jagnẽ - usado como pronome recíproco= um ao outro.
A partir dos dados 202, temos este pronome {jagnẽ} sendo usado
nas sentenças, como pronome recíproco, indicando ações onde o sujeito pratica e
recebe a ação, não dele mesmo, mas de outro.
O significado dos pronomes reflexivos e recíprocos é bem próximo.
Contudo, as ações que os pronomes recíprocos expressam, não são com uma
mesma pessoa, mas sim pessoas diferentes que executam ações concomitantes,
mútuas (como já foi citado, anteriormente).
202. Ag juju kỹ jagnẽ kóké
3p.pl. briga conj. pron. rec. estragar.
Na briga, eles se machucaram.
203. Kanhgág ag vỹ jagnẽ vẽnh so há nỹtĩ
Kaingang pl. m. suj. pron. rec. pron. ref. ? gostar ind.a.
Os kaingang sabem muito de si mesmos.
91
204. Kanhgág ag vỹ jagnẽ so há nytĩ
Kaingang pl. m. suj. pron. rec. ? gostar ind. a.
Os kaingang sabem muito um do outro.
Notamos que, na sentença de nº. 202, o pronome {jagnẽ} demonstra
esta ação mútua. O pronome {jagnẽ} também foi posicionado antes do verbo da
mesma forma que o pronome reflexivo {vẽnh}. A mesma posição na estrutura da
sentença ocorre no dado 204. Porém, vemos que nesta sentença, onde o sujeito é
nominal, o pronome foi usado após a partícula que marca o sujeito {vỹ}.
Comparando os dados 203 e 204, podemos notar que as duas
sentenças o bem semelhantes, porém, na sentença em que o sentido foi “de si
mesmos”, foram usados os dois pronomes {jagnẽ} e {vẽnh}, lado a lado. Na
sentença em que a ação era de “um com o outro” foi usado somente o pronome
{jagnẽ}. No dado 203, o informante, ao usar os dois pronomes, deu o significado de
que os kaingang sabem de si mesmo e de outros kaingang. A estrutura de ambas as
sentenção são: S pr. V.
205. Kanhgág ag ãjag vẽme tãvĩ hã tó
Kaingang pl. 3 p.pl. mesmos histórias muito ind. o. contar ind. a.
Os kaingangs contam muitas histórias deles mesmos.
O pronome {ajãg} foi usado como pronome reflexivo na sentença de
nº. 205. Segundo Wiesemann (2002), este pronome é usado somente no dialeto dos
kaingang do Paraná e sempre na pessoa do plural. Este pronome foi posicionado
antes do verbo e após o sujeito nominal. Nesta sentença não se o marcador do
sujeito, a partícula {vỹ}, como foi usada nas sentenças 203 e 204.
206. Jagnẽ mỹ ag tóg vĩ
Pron. recip posp 3p.pl. suj. ag. falar
Eles falaram um com o outro com raiva
207. Jagnẽ to ag há n
Pron. recip posp 3p.pl. bom ser
Eles se amam.
92
208. Jagnẽ tũ vóg ag tóg
Pron. recip. coisa tocar 3p.pl. suj.ag.
Eles roubam coisas (um do outro).
209. Jagnẽ mré ag tóg rárá tĩ
Pron. recip posp 3p.pl. suj. ag. lutar ind.a.
Eles lutam um com outro
Na sentença de nº. 208, na qual não se usa posposição, o sujeito
pronominal foi posicionado depois do verbo, como o último constituinte da estrutura.
Temos, então, as seguintes estruturas com o pronome {jagnẽ}:
Pron. rec. S V - nos dados 206, 207, 209.
Pron. rec. O V S - no dado 208.
Nos dados de nº. 206 a 209 vemos o pronome recíproco {jagnẽ}
sendo usado para expressar ações mútuas. Ele é o primeiro constituinte nestas
sentenças. No dado 206, 207 e 209, após o pronome recíproco, vemos as
posposições: {mỹ}, {to} e {mré}, respectivamente. O sujeito pronominal após as
posposições e no final destas sentenças, os verbos.
7.8 PRONOMES RELATIVOS
São chamados de pronomes relativos, pois fazem referência a
algum termo anteriormente mencionado no texto, chamado antecedente. Com isto,
exercem uma relação de natureza anafórica.
Os pronomes relativos na língua portuguesa são:
Substantivos: que, quem, quanto (precedido de tudo, todos);
Adjetivos: cujo (e flexões - do qual ou de quem);
Substantivos ou adjetivos: o qual (e flexões a qual/ as/ os
quais);
Advérbios: como, quando, onde;
93
Este termo antecedente do pronome relativo pode ser:
29
Um substantivo:
Dêem-me as cigarras que eu ouvi um menino”.
(Manuel Bandeira)
Um adjetivo:
As opiniões têm como as frutas o seu tempo de madureza em
que se tornam doces de azedas ou astringentes que dantes eram”.
(Marquês de Maricá)
Um pronome:
Aquele que partiu no brigue Boa Nova e na barca Oliveira, anos
depois, voltou...”.
(Antônio Nobre).
Um advérbio:
“ Lá, por onde se perde a fantasia
No sonho da beleza; lá, aonde
A noite tem mais luz que o nosso dia...”
(Antero de Quental)
Uma oração: (resumida pelo demonstrativo “o”):
Estou muito nervoso, o que é mau”.
(Antônio Nobre)
Os pronomes relativos exercem sempre uma função sintática nas
orações que eles iniciam, ao contrário dos conectivos, que são simplesmente meros
conectores. Esta função sintática não tem nada a ver com a função de seu termo
antecedente. Ela é indicada pelo papel que o pronome irá desempenhar na oração
subordinada na qual ele estará inserido.
Sintaticamente, os pronomes relativos podem exercer a função de:
Sujeito:
Quero ver do alto do horizonte,
Que foge sempre de mim”.
(Olegário Mariano)
29
Exemplos retirados do livro Gramática do Português Contemporâneo. (CUNHA, 1970, p. 241- 243).
94
Objeto Indireto:
“Eu aguardava com uma ansiedade medonha esta cheia de que
tanto se falava”.
(José Lins do Rego)
Objeto Direto:
Penas que eu próprio busquei,
Como agora as deixarei?”“.
(Guimarães Rosa)
Predicativo:
Não conheço quem fui no que sou hoje”.
(Fernando Pessoa)
Adjunto adnominal:
pessoas cuja aversão e desprezo honra mais que os seus
louvores e amizade”.
(Marquês de Maricá)
Complemento Nominal:
Denunciava João Nunes tão sincera alegria que cheguei a
acreditar nas maravilhas estupendas de que é capaz um esquisito”.
(Camilo Castelo Branco)
Adjunto adverbial:
“Enamorado de si próprio morreu Narciso à beira dum regato
onde se mirava”.
(Miguel Torga)
Agente da passiva:
Sim, adorável pupila, a quem amo, a quem idolatro e por quem
sou correspondido com igual ardor”.
(Aluísio de Azevedo)
Em kaingang, segundo o dicionário de Wiesmann (2002), temos um
único pronome relativo {ũn} - aquele que.
Alguns dados foram escolhidos para descrever este pronome em
kaingang. Nos exemplos foram usados somente verbos intransitivos, a fim de que
não surgissem partículas, ou outros elementos na estrutura frasal, em kaingang, que
95
impedissem a visualização das oraçãos: principal e subordinada e a posição do
pronome relativo nessa língua.
Vejamos os exemplos abaixo:
210. (a) Ter ti
Morrer 3p.sg.
Ele morreu.
210. (b) Ũn ter mũ ki inh kagtĩg nĩ
Pron. rel. morrer ind. a. ind. circ. 1p.sg. não saber ind.a.
Eu não conheço o homem que morreu.
210. (c) Kanhgág ter mũ ẽn ki ẽg kanhró n
Kaingang morrer ind.a. pron.dem. ind. cir. 2p.pl. saber ind.a.
30
Nós conhecemos o índio kaingang que morreu.
No exemplo 210 (a), temos uma oração simples, com a estrutura S
V, a que ocorre na maioria das sentenças com sujeito pronominal.
Nas orações contidas no exemplo 210 (b), a oração subordinada é a
primeira na corrente das orações. O pronome relativo {ũn} inicia esta sentença. Ele
posiciona-se antes do verbo, sendo o único elemento no SN sujeito. Na oração
principal temos a estrutura S V. O sujeito está entre o verbo ki kagtĩg “ki inh kagtĩg”.
No exemplo 210 (c) temos duas orações, na qual a primeira tem um
sujeito nominal e sua estrutura frasal é S V. Não foi usado o pronome relativo {ũn},
mas conectando as duas orações temos o pronome demonstrativo {ẽn} que funciona
como um pronome relativizador. A segunda oração, que é a principal, tem a
estrutura S V, também com o pronome pessoal de segunda pessoa do plural
intercalado entre o verbo ki kanhró: “ki ẽg kanhró”.
A estrutura das duas orações é:
30
{mũ}= ação única, aspecto narrativo.
96
Oração Simples
Ter ti
(Pronome Relativo)
Oração Subordinada Pronome Oração principal
Ũn ter mũ Ki inh kagtĩg nĩ
Kanhgág ter mũ ẽn ki ẽg kanhró nỹtĩ.
Vemos nestas orações uma dependência catafórica, pois a oração
principal é a última na corrente das orações.
211. (a) Jun fi
Chegar 3p.sg.
Ela chegou.
211. (b) Jandira fi vỹ tóg, ũn jun mũ fi ki kagtĩg nĩ
Jandira fem.m.s. suj.ag., p.rel. chegar ind.a. fem. não saber ind.a.
Jandira não sabe quem chegou.
211. (c) Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn ki kagtĩg nĩ
Jandira fem p.rel. ind.a. andar pron.dem. não saber ind.a.
Jandira não conhece o homem que saiu.
No exemplo 211 (a) temos uma oração simples, com sujeito
pronominal e estrutura V S.
Na sentença 211 (b), a oração principal iniciou a corrente das
orações e também terminou. Intercalada, posicionou-se a oração subordinada, que
foi iniciada pelo pronome relativo {ũn}, na posição de sujeito (único elemento do SN
sujeito). A estrutura da oração subordinada foi S (pr.rel.) V. A segunda parte da
oração principal (a final), repetiu-se o pronome pessoal (3ª p. sg.) {fi} antes do verbo.
A estrutura da oração principal foi S (S) V.
No dado 211 (c) foi usado o pronome relativo {ũn}. O sujeito da
oração principal e o sujeito da oração subordinada estão lado a lado como os
primeiros constituintes das duas orações: principal e subordinada, respectivamente.
O verbo da oração subordinada posicionou-se após os dois sujeitos e o verbo da
oração principal, no final, seguido da partícula de aspecto {nĩ}. Antes do verbo da
97
oração principal foi usado o pronome demonstrativo {ẽn}. Esse pronome, conforme
Wiesemann (2002) significa “aquele que já foi mencionado”.
Nestes exemplos, a orações subordinadas estão posicionadas no
meio das orações principais.
A estrutura das orações é:
Oração Simples
Jun fi
Or. Princ. (suj.) (Pron. Rel.) Or. Subord. Pronome Or. Principal
Jandira fi vỹ tóg ũn jun mũ Fi ki kagtĩg nĩ
Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn ki kagtĩg nĩ.
Pode-se perceber que na sentença, em kaingang, a palavra homem
{ũn gré} não aparece na oração subordinada.
Se fosse usada a palavra “mulher” {ũn tỹtá}:
212. Jandira fi ũn tĩ mũ ẽn fi ki kagtĩg nĩ
Jandira fem p.rel. ind.a. andar pron.dem. não saber ind.a.
Jandira não conhece a mulher que saiu.
O dado de nº. 212 tem a mesma estrutura do dado 211 (c). A única
diferença é a partícula de gênero feminino usada após o pronome {ẽn}. Também não
foi usada a palavra mulher {ũn tỹyá}, na sentença, em kaingang.
213. Ũn tĩ mũ ẽn ki inh kagtĩg nĩ
P. rel. ind.a. andar pron.dem. 1p.sg. não saber ind.a.
Eu não conheço o homem que saiu.
No dado acima (213), o pronome relativo inicia a corrente das
orações. Foi usado novamente o pronome demonstrativo {ẽn}. A oração principal
teve o seu sujeito posicionado no meio das palavras que formam a expressão verbal
“não saber” - ki inh kagtĩg.
A estrutura dessa oração é:
(Pronome Relativo) Oração Subordinada Pronome Oração Principal
98
Ũn tĩ mũ ẽn ki inh kagtĩg nĩ
Pode-se perceber que neste dado, a palavra homem {ũn gré}
também não aparece na oração subordinada.
Se no exemplo fosse usada a palavra “mulher” {ũn tỹtá}:
214. (a) Ũn tỹtá fi vỹ nũr
Mulher fem. m.suj. dormir.
A mulher dormiu.
214. (b) Ũn nũr mũ ki inh kagtĩg nĩ
P. rel. dormir ind.a. 1p.sg. não saber ind. a.
Eu não sei quem dormiu.
215. Jandira fi tỹ vestido kajãm mũ ẽn fi mỹ há nĩ
Jandira fem.ind.top. vestido comprar ind.a. pron.dem. gostar ind.a.
Jandira gostou muito do vestido que comprou.
Ao analisar o exemplo acima temos duas orações:
Jandira fi tỹ vestido kajãm mũ
Ẽn fi mỹ há nĩ.
Nestas orações não é usado o pronome relativo {ũn}, mas temos o
pronome demonstrativo, funcionando como pronome relativizador. Conforme os
outros dados, a oração subordinada precede ou está inserida no meio da oração
principal. Neste exemplo, não temos como deduzir, com certeza, qual é a oração
subordinada e qual é a principal. Se considerarmos o fato do pronome {ẽn} estar
referindo-se à palavra vestido, podemos considerá-la, a última oração, como a
oração subordinada. A estrutura da primeira oração é S O V e da segunda é S V.
Uma das dificuldades nas análises das orações subordinadas é
saber, exatamente, qual a marca da oração principal, se é que ela existe. Mas isto
ficará para um trabalho posterior.
217. Isỹ ũn m documentos vin mũ fi vỹ secretaria fi nĩ
1.p.sg. p.rel. posp documento dar ind.a. ela m.suj. secretária fem. ind.a.
A pessoa a quem entreguei os documentos é a secretária.
99
O sujeito da oração subordinada e o pronome relativo {ũn} estão no
início das orações, lado a lado (como no exemplo 211(c)). A oração subordinada
está, também, no início da corrente de duas orações. A posposição {mỹ} segue o
pronome relativo. O verbo da oração subordinada {vin} - dar está posicionado após o
objeto “documentos”. Este verbo está no plural, concordando com o objeto
(documentos). O pronome relativo, sujeito da oração subordinada, refere-se à
palavra secretária. Também temos, neste dado, uma dependência catafórica, pois a
oração principal é a última. A estrutura destas duas orações é:
8 PRONOMES ANALISADOS EM UM TEXTO
Antes de analisarmos os pronomes em um texto, vamos,
primeiramente, tratar sobre o que é um texto e como ele pode ser composto,
organizado e de que forma os pronomes, em kaingang, são usados, interagindo com
outros elementos nas orações. Todos os constituintes de uma sentença formam um
todo, chamado texto, têm um único objetivo, que é dar sua significação.
Um texto não é simplesmente, uma sequência de palavras ou uma
simples sucessão de frases, mas sim, relações entre frases de vários níveis, que
através de elos, geram uma(s) informação (ões). Todos os elementos de um texto
mantêm-se interligados a um tema, os quais condicionam o processo de expansão
deste tema. Mesmo em um eixo de sucessividade, os elementos constitutivos do
texto executam um movimento de “vaivém” (antecipação ou retroação), permitindo
desta forma não somente distinguí-los, como também captar a significação presente
nesse texto.
Com isto, em um texto, uma solicitação constante de que o leitor
pere reagrupamentos de elementos distanciados entre si, um destes elementos são
os pronomes. Eles dão ao leitor, através de uma rede de relações, a capacidade de
captar o sentido do texto.
Segundo Guimarães (2006, p. 14), a palavra texto significa:
Oração subordinada Oração Principal
Isỹ ũn mỹ documentos vĩn mũ
Fi vỹ ty secretaria fi nĩ.
100
Um enunciado qualquer oral ou escrito, longo ou breve, antigo ou
moderno. [...] São textos, portanto, uma frase um fragmento de um
diálogo um provérvio, um verso, uma estrofe,... Quando não limitado
às fronteiras da linguagem verbal, no plano semiótico, de sentido
multidimensional, texto ou discurso é sinônimo de processo que
engloba as relações sintagmáticas de qualquer sistema de signos.
O texto é produzido, segundo regras de um sistema gramatical,
dentro de um contexto, e se esse contexto não for conhecido pelo receptor, sua
mensagem poderá ser não tão claramente, inteligível.
Segundo Guimarães (2006, p. 36), os pronomes pessoais (também
considerados pró formas) são substitutos textuais, eles são elementos endofóricos
(dentro do texto), em uma função anafórica. Os pronomes de primeira e segunda
pessoa são usados em função contextual (função exofórica), aos participantes do
ato comunicativo. Os pronomes de terceira pessoa também podem cumprir o papel
em função exofórica, mas participam endoforicamente. Quando se usa o “eu” em um
texto, não se refere a um termo antecedente, mas refere-se ao falante. A mesma
coisa acontece com a segunda pessoa. Os de terceira pessoa são substitutivos de
elementos intratextuais. Por exemplo: “Robson e Emília ganharam um presente. Ele
gostou muito do presente”.
Para que um texto possa ter sentido, ter significação é preciso que
haja coesão e coerência. Koch e Travaglia (1999, p. 11 e 13) definem como
Coerência: “[...] algo que se estabelece na interação, a interlocucação,
numa situação entre dois usuários... a possibilidade de estabelecer, no texto, alguma
forma de unidade ou relação”.
Coesão: “É explicitamente revelada através de marcas lingüísticas,
índices formais na estrutura de sequência lingüística e superficial do texto, sendo,
portanto, de caráter linear,... é sintática e gramatical”
Todo texto nos pistas que nos permitem calcular seu sentido, sua
coerência. Desta forma, leitor e texto iniciam um relacionamento. Porém, esta
relação, dependerá, algumas vezes, do conhecimento de mundo deste leitor
(receptor) e do conhecimento dos elementos lingüísticos para que o sentido do texto
seja descoberto. O conhecimento do mundo é como uma espécie de dicionário e de
cultura arquivado na memória do leitor.
101
De acordo com Halliday e Hasan (apud KOCH; TRAVAGLIA, 1999,
p. 13) a coesão é a relação semântica entre um elemento do texto e outro elemento
que é crucial para sua interpretação. “[...] A coesão é interna (linguística) e a
coerência, externa, pois diz respeito aos contextos de situação”.
A coerência coloca em funcionamento processos cognitivos que
estão além dos meros traços do texto. Van Dijk (apud KOCH; TRAVAGLIA, 1999, p.
19) postula que “a coerência não é apenas uma propriedade do texto, mas se
estabelece numa situação comunicativa entre usuários que têm modelos cognitivos
comuns ou semelhantes, adquiridos em dada cultura”. Com isto, concluímos que um
texto pode ter diversos significados, dependendo do seu receptor. Nosso
conhecimento de mundo tem papel decisivo no estabelecimento da coerência.
Ao lermos um texto, em outra língua e cultura, pode ser que esse
texto não produza um sentido claro, caso seus elementos lingüísticos e
conhecimentos exteriores ao texto sejam desconhecidos por nós. Ao lermos um
texto em kaingang, pode ser que ele não tenha tanto significado, pois não temos
tanto conhecimento sobre esta cultura.
A partir de agora, analisaremos os pronomes, em kaingang, em um
texto, a fim de verificarmos a posição na estrutural frasal, como um todo, e não
simplesmente, em uma única sentença.
O sentido do texto precisa do elemento “pronome”, pois eles
remetem aos participantes dos atos deste discurso, a recuperação de nomes, a
indicação de posses, de locais, de definições ou indefinições, etc.
O texto que será analisado foi retirado da revista Catálogo de
Cestarias Kangáng- KRE kygfy- traçado em kaingang”. (2007). Terra Indígena do
Apucaraninha. Texto de Marlene de Oliveira. Tradução Kaingang Manuel Norég Mág
Felisbino.
(1) “Tag ki, kanhgág ag jamã tỹ karỹnĩnh ki, kanhgág fag
Dentro de, Kaingang pl. moradia ind. top Apucaraninha em, kaingang 3
p.pl.
Dentro das terras do Apucaraninha, as kaingang
102
(2) vãgfỹ ti vỹ tóg fag jygkre pẽ nĩ,
trançado pron.dem. m.suj. ind. suj. top 3p.pl. sistema muito ind.a.
Conhecem muito bem o desenho sobre o sistema dos trançados
(3) fag vãgfy rágrá ti mré há. Kỹ tóg
3p.pl. trançados desenhos pron.dem. posp. bem. Conj. ind. suj. ag.
(4) nén ũ tugtó jykre mẽ nỹtĩ,
alguma coisa contar sistema muito ind. a. (ser),
(5) há kỹ fag tóg nén kar to jykrén kỹ
bem conj. 3p.pl. ind. suj. ag. coisa todos posp sistema conj.
(6) kãgran tĩ, fag kren ki.
desenhar ind.a., 3p.pl. cesto dentro
Então, elas pensam bem e desenham coisas acerca do sistema nos cestos.
(7) Hã kỹ fag tỹ. Hã ki fag krẽ, krẽ’ ti vỹ
Conj. 3p.pl. ind. erg. Conj. 3p.pl. descendentes, descendentes pron.dem.
m. suj.
Por isso, elas ensinam com o que está no cesto e seus descendentes
aprendem o que elas ensinam.
(8) tóg ki kanhrãnrãn mũ ge,
ind. suj. ag. dentro ensinar (pl.) ind.a. também,
103
Eles ensinam também,
(9) fag tỹ kre tỹ rãnhrãj mũ tag ti tỹ.
3p.pl. ind. top balaio ind. top trabalhar ind. a. pron.dem. ind. top.
Elas trabalham com balaio como este aqui
(10) Tỹ fag tóg, nén ti mi ránrán tĩ gé.
Ind. top. 3p.pl. ind. top. coisa pron.dem. pequenino escrever ind.a.
também
(11) Fag rãnhrãj tag ti vỹ tóg tỹ, kanhgág jykre
3p.pl. trabalhar pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. ind. top kaingang
sistema
Estes aqui trabalhados por elas representam muito o sistema
31
(12) pẽ nĩ, hã kỹ tóg tỹ nén ũ
muito ind.a., conj. ind. suj.ag. ind. top. alguma coisa
(13)há pẽ nĩ, hã kỹ fag tóg tỹ tũ’,
Agora muito ind.a., conj. 3p.pl. ind. suj. ag. ind. top. não
(14) he pẽ han sór tũ nĩ sir.
Dizer muito fazer querer fazer não ind.a. ind.o.
31
Seria esta sentença um exemplo de voz passiva? Porque o m. suj. está após o pronome
demonstrativo, como se o Pron Pessoal+ verbo+ Pron. Dem. fosse uma expressão substantivada.
Porém, não iremos tratar, neste trabalho, sobre voz passiva ou expressão substantivada. Será um
assunto para uma pesquisa posterior.
104
E é coisa muito importante para elas e, por isso, elas não deixam acabar
com os desenhos nos cestos
(15) Hã kaki jagnẽ kanhkã ti
Igual desenho pron. rec. família pron.dem.
(um ao outro)
(16) vỹ tóg, jagnẽ ki kanhrãnrãn tĩ ge, ag tỹ vẽnh
m. suj. ind. top. pron. rec. dentro ensinar ind.a. também 3p.pl. ind. top pron. refl
.
(um ao outro) (de si mesmo)
Estes desenhos ensinam e também faz com que as famílias se conheçam
(17) ránrán ti tugrĩn.
escrever pron.dem. conj.
por causa deste (sistema).
(18) Hã vỹ tóg tỹ, kamẽ mré kanhru ti nỹtĩ sir.
Igual m. suj. ind. suj. ag. in. top. Kamẽ posp. Kairu pron.dem. ind.a.
ind.o.
Sendo, então. Kamẽ e Kairu.
(19) Tag tugrĩn kanhgág ag
Pron.dem. conj. kaingang pl.
(20) vỹ jagnẽ ki kanhrãnrãn tĩ, ag kanhkã ti ki.
m. suj. pron. rec. dentro ensinar (pl.) ind.a., 3.p.pl. família pron.dem. dentro
105
Por causa deste sistema os kaingang ensinam um ao outro e às suas famílias
(21) Kamẽ ag ti vỹ tóg tỹ rá joj nĩ.
Kamẽ pl. sinal pron.dem.igual m. suj. ind. suj. ag. ind. top. sinal risco comprido
ind.a.
Igual este sinal dos kamẽ é um sinal de risco comprido
(22) Jãvo kanhru ag ti vỹ tóg tỹ rá kutu
Em oposição kairu pl. sinal pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. sinal redondo
Em oposição este sinal dos kairu é um sinal redondo
(23) nĩ sir. Ag tỹ ũ mĩ ránrán ẽn ti
ind. a. ind.o. 3p.pl. ind. top. pron.ind. dentro escrever pron.dem.
(24) vỹ tóg, ag tỹ jagnẽ mỹ nén ũ to jafã nỹgtĩ.
ind. suj. ag. 3p.pl. ind. top. pron. rec. posp alguma coisa posp coisa para fazer ind.a.
Eles escrevem alguma coisa para estes desenhos trasnmitirem alguma coisa.
(25) Kre mĩ ránrán ẽn ti vỹ tóg tỹ sẽ ag rágrá
Balaio dentro escrever pron.dem. m. suj. ind. suj. ag. caça pl. desenho
(v.t. pl.)
Aquilo escrito dentro do balaio pode representar caça, pode fazer sarar/
(26) to hyn han kỹ nỹtĩ gé, ẽkré ag mré hã,
posp fazer sarar então ind.a. também, plantação pl. posp. parecido/ igual(curar)
106
pode fazer sarar/ curar, também representar plantações é certo que semelhante
(27) kanhgág ag jykre ti ki mỹr.
kaingang pl. sistema pron.dem. dentro verdade/ é certo
ao sistema kaingang (=representam o sistema).
(28) Vãgfy ag kar ti, kre ror, kre rur ag ke ge.
trançado todos pron.dem., balaio redondo, balaio baixos pl. dizer também
Todos estes balaios, balaios redondos, balaios baixos, representam / dizem
(29) Ag rágrá to tóg hyn han kỹ nỹtĩ,
3p.pl. desenho posp ind. suj. ag. fazer sarar conj. ser (ind.a.)
(30) he ja nĩgtĩ kre ag kar ti.
dizer ind. m. ind.a balaio pron.ind. pron.dem.
Todos os desenhos deles (cestos) têm alguma coisa representada neles.
(31) Vãrsỹ tóg ge ti, he ja nĩgtĩ, ẽg jóg,
Faz tempo ind. suj. ag. também pron.dem. dizer ind. m. ind.a., 2p.pl.
antepassados,
(32) jóg ag jykre ti”.
Antepassados pl. sistema pron.dem.”.
muito tempo, também, este sistema expressa os nossos antepassados, o
sistema dos nossos antepassados”.
107
Dentro do sistema de representações visuais, os objetos trançados
são uma especialidade cultural entres os kaingang da T.I. do Apucaraninha e
constitui na expressão artística de maior relevância na atualidade. As mulheres são
as detentoras do conhecimento e técnicas desta arte, sendo elas as responsáveis
pela continuidade deste saber por várias gerações. Produzem um elenco de objetos
variados e que são denominados como: os wogfy- trançados em geral, que podem
ser os kre- cestos de diversos tamanhos e os kygfy- trançados aplicados em
utensílios.
Os objetos revelam formas e motivos gráficos que estão ligados a
outras esferas da vida social e cultural deste grupo e que estão vinculados a
metades exogâmicas, personificados nos heróis míticos: kamé e kainrú-kré, que se
opõe e se complementam. Cada metade possui uma pintura corporal distinta. Os
kamé possuem pintura de riscos, os Kainru-kré, círculos.
Cada objeto traz impresso consigo importantes significados como
um código cultural de comunicação entre o grupo. Os motivos e/ou os desenhos
contidos nas cestarias podem referir-se a animais, plantas e outros seres
cosmológicos, inclusive os sobrenaturais, todos pertencentes ao padrão cultural
kaingang. A cnica dos trançados (compridos e abertos ou fechados) e o tamanho
dos cestos classificados de (kre téj, comprido ou kre ror, redondo ou baixo) também
estão ligados às metades exogâmicas.
(1)
Fag - Pronome demonstrativo, posicionado após o nome, no SN sujeito.
(2)
Ti - Pronome demonstrativo, posicionado após o objeto, no SN objeto.
Fag – Pronome possessivo, posicionado antes do nome, no SN objeto.
(3)
108
Fag – Pronome possessivo, antes do nome, n SN objeto.
Ti – Pronome demonstrativo, após o nome, no SN objeto.
(5)
Fag – Pronome pessoal, Sujeito no SN sujeito.
(6)
Fag – Pronome possessivo, posicionado antes do nome, no SN objeto.
(7)
Fag – Pronome pessoal, sujeito no SN sujeito.
Fag - pronome possessivo, posicionado antes do nome no SN sujeito.
(9)
Fag – Pronome pessoal, no SN sujeito.
Tag ti – pronome demonstrativo, funcionando como sujeito no SN sujeito.
(10)
Fag – Pronome Pessoal, sujeito no SN sujeito.
Ti – Pronome demonstrativo, posicionado após o nome, no SN objeto.
(11)
Fag – Pronome Pessoal, sujeito no SN sujeito.
Tag ti - Pronome demonstrativo no SN sujeito.
(13)
Fag – Pronome pessoal sujeito, no SN sujeito.
(15)
Jagnẽ - Pronome recíproco (referindo à palavra família), antes do nome no SN
sujeito.
(16)
Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado antes do verbo,.
Ag – Pronome pessoal, sujeito no SN sujeito.
Vẽnh - Pronome reflexivo, antes do verbo no SN sujeito.
(17)
Ti – Pronome demonstrativo- usado sem o nome no SN objeto.
32
(18)
Ti – Pronome demonstrativo, posicionado após o nome no SN sujeito.
(19)
32
Na maioria dos exemplos, o pronome demonstrativo estava sempre junto ao nome, posicionando-
se após ele.
109
Tag= Pronome demonstrativo, posicionado antes do nome.
(20)
Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado após o nome, no SN sujeito, antes do
verbo.
Ti – Pronome demonstrativo, posicionado após o nome no SN objeto.
(23)
Ag – Pronome pessoal no SN sujeito.
Ũn - Pronome Indefinido, no SN sujeito.
Ẽn ti Pronome demonstrativo, usado sem o nome a que se refere, usado no SN
sujeito.
(24)
Ag- Pronome pessoal no SN sujeito.
Jagnẽ - Pronome recíproco, posicionado antes do verbo, no SN sujeito.
(25)
Ẽn ti Pronome demonstrativo, não próximo do nome a que se refere no SN sujeito,
com partícula marcadora do sujeito após ele.
(27)
Ti – Pronome Demonstrativo, posicionado após o nome, no SN objeto.
(29)
Ag – Pronome demonstrativo, posicionado antes do nome {rágrá}, no SN sujeito.
33
(30)
Ag kar – Pronome indefinido, após o nome {kre}.
34
(31)
Ti – Pronome demonstrativo, longe do nome a que se refere, no SN sujeito.
Ẽg – Pronome possessivo, posicionado antes do nome {jóg} no SN sujeito.
(32)
Ag Pronome possessivo, posicionado após o nome {jóg}, no SN sujeito, no SN
sujeito.
35
Analisando os pronomes no texto, podemos verificar que, a maiorida
deles, mantém a mesma posição que observamos nas sentenças simples.
33
Na maioria dos exemplos anteriores, o pronome demonstrativo posicionava-se após o nome.
34
Diferente dos exemplos de nº. 154 e 155, o pronome /ag kar/ se refere à palavra balaio /kre/.
35
Na maioria dos exemplos o pronome possessivo posicionou-se antes do nome. Pode ser que neste
caso tenha sido usado após o nome, como uma forma estilística.
110
O pronome demonstrativo foi o único que se posicionou de maneira
diferente das observadas nas orações simples. Nas orações deste texto em que ele
foi usado, sua posição era após o nome a que se referia.
Observemos os exemplos abaixo, as posições em que ele foi usado:
Na sentença 17, o pronome {ti} foi usado longe do nome a que
se referia.
O pronome {tag} usado na sentença 19 foi posicionado antes do
nome.
Na sentença 23, o pronome {ẽn ti} foi usado sem o nome e com
a partícula marcadora do sujeito, funcionando como um
pronome substantivo.
{Ẽn ti}, no exemplo 25, também não se posicionou próximo ao
nome que se referia e com partícula marcadora de sujeito {vỹ}.
36
Na sentença 29, o pronome {ag} foi usado antes do nome,
assim como na sentença 19.
O pronome {ti} foi usado longe do nome a que se referia.
O pronome indefinido {ag kar}, que nos exemplos com sentenças
simples, referia-se somente a pessoas e não a objetos e animais. Neste texto, ele se
refere à palavra {kre} (balaio).
36
Esse fato também ocorreu somente nos exemplos 179 e 180.
111
CONCLUSÃO
O objetivo principal deste trabalho foi descrever na estrutura frasal,
toda a classe pronominal em kaingang na estrutura frasal em kaingang. Para
alcançarmos nossa meta, procuramos coletar um bom número de exemplos a fim de
que pudéssemos visualizar a posição dos pronomes em sentenças simples,
subordinadas (usando os pronomes relativos) e, por último, os pronomes em um
texto. Alguns temas surgiram no meio destes exemplos, abrindo portas para
pesquisas posteriores acerca da morfossintaxe na língua kaingang.
Nesta descrição dos pronomes pessoais, verificamos que a estrutura
padrão, em kaingang, sofre uma variação, quando se tem um sujeito pronominal. A
estrutura canônica é S O V. Geralmente, com um sujeito pronominal temos a
estrutura O V S. Se na sentença, temos objeto direto e indireto, esse se posiciona no
início da sentença. Outro fato, é que, na sentença em que se usava um advérbio, o
pronome posicionava-se, sempre ao seu lado. O sujeito pronominal acompanha o
advérbio. Também, nas sentenças com sujeito pronominal não vemos o uso de
partícula marcadora de sujeito {vỹ}.
Os pronomes possessivos possuem a mesma forma fonológica que
os pronomes pessoais, porém, com função diferente. Eles posicionam-se antes do
núcleo do SN sujeito e antes do núcleo SN objeto. o se verificou a concordância
do pronome com o núcleo pluralizado. A reduplicação verbal é a marca de plural do
verbo (dados 94 e 95). Com o pronome possessivo de p.s. {inh} + a palavra {jóg}
ocorre o processo de prefixação de posse inalienável. Também a forma {sỹ}
funciona como pronome de p.s. A forma {ag} funciona tanto como pronome de
p.p. (exemplo 38) como morfema de plural (exemplo 37). O pronome possessivo {fi}
indica posse quando antecede o nome. Mas, quando segue o nome funciona como
marca de gênero feminino (exemplo 78).
Usando o pronome interrogativo {ne} (o que) verificamos que, o
sujeito sendo pronominal ou nominal, tendo ou não objeto, o pronome interrogativo
posicionou-se sempre ao lado do verbo da sentença, na maioria dos exemplos.
Usando esse pronome interrogativo, na pergunta: “O que é isto”, dependendo da
forma do objeto apontado, usaria-se uma partícula diferente: {nĩ, jẽ, na, nỹ}. O
pronome interrogativo {ũ} foi usado no início da sentença; após o sujeito; na mesma
112
posição de um pronome possessivo (antes do nome) quando se interroga quem
possui um objeto. O pronome interrogativo {hẽ} foi posicionado no final da estrutura
frasal; pode ser usado com outro pronome interrogativo, como ocorreu no exemplo
132 (usado com pronome {ũ}; na estrutura canônica S O V, esse pronome
posicionou-se entre o sujeito e o verbo, da mesma forma que o pronome
interrogativo {ne}.
Conforme os dados, podemos verificar que o pronome indefinido
{ũn} possui algumas características que o difere dos demais. Uma delas é a
presença da partícula que marca o sujeito {vỹ}. Ao ter esta marca após ele, podemos
dizer que ele funciona como um pronome substantivo. Buscando a possibilidade de
haver em kaingang uma palavra para os pronomes: nada, tudo, todos, verificamos
que não existe uma forma de palavras específicas para esses pronomes, somente
expressões, como por exemplo: {nén tũ} (coisa não= nada). A expressão {ag kar} se
refere a todos, e nas sentenças foi usada somente para pessoas. No texto em
kangang, foi usada para objeto (a palavra balaio- {kre}).
Os pronomes demonstrativos, usados como dêiticos, posicionam-se,
em kaingang, após o nome, tanto no SN sujeito como no SN objeto. Quando se usa
a partícula que marca o gênero feminino, ela se posiciona após esse pronome:
nome+ pron. dem. + fem. Para mostrar a distância em relação ao falante, foi usado
um advérbio {tã tá} (lá longe) na maioria dos exemplos dados. Diferentemente, do
pronome pessoal, o pronome demonstrativo, não muda sua posição quando na
sentença um advérbio (176 e 177). Como os nomes masculinos, os pronomes
masculinos não são marcados (morfema masculino Ø).
Podemos observar que em kaingang, o pronome reflexivo {vẽnh} é
usado para todas as pessoas (singular e plural). Nos exemplos, ele posicionou-se
antes do verbo. Em alguns dados, ele foi o primeiro constituinte da sentença com
sujeito pronominal (192 e 193). Temos a estrutura O S V, com sujeito pronominal,
nos dados 190, 101, 194 e 198. O pronome recíproco {jagnẽ} usado para expressar
ações mútuas, também se posicionou como primeiro constituinte, na maioria das
sentenças. Nas sentenças, as quais foram usadas posposições, esse pronome
posicionou-se após ela.
Os pronomes relativos, usados em orações subordinadas adjetivas,
exercem uma função anafórica. Em kaingang o pronome relativo é {ũn}. Nos
exemplos obtidos, as orações subordinadas eram as primeiras na corrente das
113
orações. O pronome relativo iniciava essa oração subordinada. Ele posicionava-se
antes do verbo, sendo, o único elemento no SN sujeito, como vemos no exemplo
210 (b). Em outro exemplo, não foi usado esse pronome, mas sim o pronome
demonstrativo {ẽn} funcionando como um pronome relativizador, unindo oração
principal + oração subordinada (exemplo 210 (c)). A oração subordinada pode vir
intercalada, no meio da oração principal, como ocorreu no exemplo 211 (b). Nesse
dado, a oração principal iniciou e terminou a corrente das orações. O pronome
relativo {ũn} foi o único elemento do SN sujeito. Portanto, verificamos que as
orações subordinadas podem vir iniciadas pelo pronome relativo {ũn} ou pelo
pronome demonstrativo {ẽn} funcionando como pronome relativizador.
Analisando os pronomes no texto, verificamos que, na maioria dele,
manteve a mesma posição observada nas orações simples. O pronome
demonstrativo foi um dos únicos que mudou sua posição, posicionando-se: longe do
nome a que se referia, antes do nome (e não após, como na maioria dos dados),
sem o nome e com a partícula marcadora de sujeito {vỹ}, funcionando como
pronome substantivo.
Cremos ter dado uma contribuição, ainda que modesta para a
elaboração da gramática pedagógica do prof. Ludoviko C. dos Santos, que consistirá
na descrição de classes das palavras em kangang.
A carência de material didático das escolas indígenas e de seus
professores bilíngües, ainda é grande.
Esperamos que este trabalho seja usado como uma forma de
despertamento para dar continuidade a outras pesquisas nesta língua.
114
REFERÊNCIAS
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WIESEMANN, Úrsula. Dicionário bilíngüe Kaingang-Português. Curitiba:
Evangélica Esperança, 2002.
116
ANEXOS
117
ANEXO A
Mapa da Distribuição das Línguas do Tronco Macro-Jê (Brasil)
Fonte: http://macroje.aokatu.com.br/linguas.html
1.
Kaingang (RS, SC, PR, SP)
2. Xokleng (SC)
3. Ofaié (MS)
4. Krenak (MG, SP)
5. Xakriabá (MG)
6. Maxakali (MG)
7. Pataxó (BA)
8. Pataxó Hã-hã-hãe (BA)
9. Yatê / Fulniô (PE)
10. Guató (MT)
11. Umutina / Bororo (MT)
12. Bororo (MT)
13. Xavante (MT)
14. Rikbaktsa (MT)
15. Panará (PA)
16. Suyá (MT)
17. Tapayuna (MT)
18. Kayapó -
Mebengokre (PA, MT)
19. Karajá (GO, MT, TO)
20. Xerente (TO)
21. Krahô (TO)
22. Apinayé (TO)
23. Krikati (MA)
24. Pukobyé (MA)
25. Apaniekra (MA)
26. Rankokamekra (MA)
27. Kreyê (PA)
28. Parakateyê (PA)
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