58
Segundo o autor, a ilegitimidade original do latifúndio o acompanhou pelos quatro
séculos que se passaram. A formação do latifúndio representou uma verdadeira hecatombe
para a população indígena e a própria ordem jurídica instituída em defesa dos direitos dos
índios à terra foi desrespeitada em favor da formação da propriedade privada latifundiária.
Deste modo, os quatro séculos de latifúndio são também quatro séculos de atrocidades contra
o indígena, que lutou, desde o início da colonização, contra a implantação dessa forma de
propriedade da terra.
Uma palavra que resume a abordagem do autor é continuidade, e continuidade de tudo
o que significaria obstáculo para o desenvolvimento do país. O ponto central da obra é sua
concepção sobre a existência do modo de produção feudal ao longo da história brasileira.
Embora ele caracterize o latifúndio como uma instituição inicialmente feudal, que, mais tarde,
se tornou semifeudal, considera também que ele nunca se desvencilhou desta condição, em
razão das relações de poder com que foi marcado deste o início. Para Guimarães, o poder que
emanava do latifúndio possuía uma dimensão extra-econômica (Guimarães, 1968:35),
decorrente da influência que os latifundiários exerciam além dos limites de suas terras. A
perenidade desse poder é explicada pela dependência da maioria da população em relação ao
latifúndio e pelo fato de que, no Brasil colônia, esta forma da produção absorveu todas as
atenções.
A dimensão extra-econômica acima mencionada refere-se ao coronelismo, o qual,
como já nos demonstrou Victor Nunes Leal, fez parte da vida brasileira durante a Primeira
República. Porém, para Guimarães, este fenômeno não ficou circunscrito a esse período e,
com algumas modificações, preservou-se em sua essência até o momento em que ele escreveu
seu livro. Portanto, o efeito social negativo do latifúndio, expresso no poder dos latifundiários,
é visto por Guimarães como algo permanente, arraigado no país, como herança do
latifundismo feudo-colonial.
Guimarães compara as duas formas típicas de latifúndio, o engenho e a fazenda de
gado. O engenho, segundo ele, era mais absorvente, especialmente em relação à mão-de-obra,
que era necessariamente escrava. Já a fazenda de gado podia ser considerada um latifúndio
um pouco mais suscetível a mudanças, ou seja, era um latifúndio que, além de empregar mão-
de-obra livre, podia ser parcelado, o que para o autor era o mais importante (Guimarães,
1968:69, 70). No entanto, o parcelamento deste tipo de latifúndio também não ocorreu.
Para Guimarães, do ponto de vista social e econômico, com o advento da lavoura
cafeeira, a forma absorvente do latifúndio colonial açucareiro não se modificou em essência.
Diferenciando duas etapas do latifúndio cafeeiro, ele demonstra que, na primeira, o latifúndio
Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software
http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.