Cronologia
Contexto social, político e econômico
Contexto urbano
O Saara
Forma urbana/
arquitetônica
Iconografia
Século XX
Rio Distrito Federal
A cidade no início do século já possui uma população de
500.000 habitantes.
O impedimento das importações desencadeado pela
Primeira Guerra Mundial agravou a situação para os
grandes mercados que foram perdendo sua razão de ser.
A indústria brasileira tem sua primeira fase de
aceleração com a Primeira Guerra Mundial de 1914-
1918, quando a importação de produtos manufaturados
se torna difícil, cessando muitas vezes e quando a
redução simultânea da taxa de câmbio diminui a
concorrência estrangeira.
A cidade, então Capital Federal, configurava-se como o
maior centro comercial do país e vive uma fase de
grande desenvolvimento. Inicia-se um forte movimento
de imigração de sírios, libaneses e judeus.
Na primeira década do século XX, os problemas de
crescimento da cidade do Rio de Janeiro passam a ser
motivo de atenção do poder público.
A existência de uma burguesia que reivindica, sob
inspiração européia, condições mais confortáveis de vida
faz surgir em 1907 o Projeto de remodelação e
embelezamento da cidade do Rio de Janeiro,
encomendado pelo Presidente Rodrigues Alves ao
Prefeito Pereira Passos.
No início do Séc. XX o Rio era uma cidade sufocada de
problemas. O centro havia estagnado e se tornado
inviável. Um emaranhado de caminhos traçados mais ou
menos ao acaso de um crescimento anárquico. Apesar de
tudo, era o cartão-postal do país e da república.
Reforma Pereira Passos (1903-1906): tendo como meta
a realização de obras de saneamento e melhoramentos da
Capital Federal, foi um período de grandes mudanças,
motivadas pela necessidade de adequar o espaço urbano
da cidade de acordo com as novas demandas de ordem
econômica e social. As então características coloniais da
área central não poderiam coexistir com a sede do poder
político da nação. No entanto, desprezou-se tudo que
estivesse associado ao passado histórico materializado na
arquitetura e expresso na cultura dos habitantes. Largas e
extensas avenidas foram abertas onde antes existiam ruas
estreitas ladeadas por sobrados do período colonial,
criando espaço para a construção de prédios de estilo
eclético, devido à mistura de estilos e influências européias
diversas.
A principal realização foi a abertura da Avenida Central,
inaugurada em 1905.
1930 – Plano Agache: baseado na idéia da transformação
do Rio de Janeiro em uma cidade monumental, através do
ordenamento e embelezamento, previa inúmeras
mudanças para o bairro do Sacramento (onde se
localizava o Saara), pois considerava ultrapassadas as
formas do período colonial, e que deveriam desaparecer.
O plano previa a livre expansão do centro comercial da
cidade em direção à Estação Central e para isso via como
indispensável à supressão do morro de Santo Antônio.
As questões relativas ao tráfego viário são preponderantes
neste plano, havendo propostas para o
“descongestionamento de artérias”, ou seja, o alargamento
de uma série de vias consideradas fundamentais para a
melhoria dos fluxos e para a expansão do centro comercial
da cidade em direção à estação central. Dentre elas a Rua
da Carioca, Senhor dos Passos, Tomé de Souza, e o
prolongamento da Avenida do Mangue até a Igreja da
Candelária (mais tarde Avenida Presidente Vargas).
1940 – Abertura da Avenida Presidente Vargas:
instituída no plano Agache, a abertura da avenida surgiu
como um demanda necessária com o aumento
demográfico dos bairros periféricos da cidade e também
pelo aumento dos investimentos e negócios na área
central, visando facilitar o acesso ao centro pela população
que vinha das zonas oeste e norte da cidade.
1941 – Aprovação do Projeto da Avenida Diagonal:
parte integrante de um projeto que pretendia implantar um
conjunto de avenidas que cortavam o centro da cidade,
incluindo uma parte do atual Saara. O projeto tinha como
objetivos fazer a ligação direta da Lapa à Central do Brasil
e dar aspecto de uniformidade à urbanização de toda a
área pela qual passaria.
A Avenida Diagonal seria a principal delas e cortaria, numa
reta em diagonal à malha urbana existente, a área
compreendida entre o Morro de Santo Antônio, a Rua do
Lavradio, o Campo de Santana e a Praça Tiradentes. Na
área do atual Saara cortaria as Ruas Buenos Aires, Senhor
dos Passos e Alfândega, entre o Campo de Santana e a
Rua Regente Feijó. A desapropriação de vários imóveis
estava prevista, bem como uma nova configuração
espacial para toda essa área.
Para sua realização seriam desapropriados e demolidos
cerca de 750 imóveis, sendo 133 no Saara: 26 na Rua da
Alfândega, 53 na Senhor dos Passos, 49 na Buenos Aires
e na Tomé de Souza.
O desenvolvimento da indústria têxtil provoca a mudança
do comércio na Rua da Alfândega. As indústrias
passaram a vender diretamente para o comércio e a
venda a varejo foi ganhando espaço.
Os árabes se fixaram principalmente nas imediações da
Praça da república e da Rua da Alfândega. Os sobrados
haviam sofrido grande desvalorização e a população
mais abastada tinha se mudado para bairros distantes do
centro, o que permitia aos recém-chegados e sem
recursos aí se instalarem.
A chegada dos imigrantes, que em sua maioria começam
a trabalhar como vendedores ambulantes, estimula o
comércio e ampliam o mercado consumidor. A
proximidade com a Central do Brasil contribuiu para o
desenvolvimento da região, pois facilitava o acesso aos
subúrbios e ao interior, destino dos vendedores
ambulantes. Também tornavam aquelas ruas um
caminho obrigatório para os trabalhadores que vindos do
subúrbio se dirigiam ao centro ou a zona sul.
Com a Reforma Passos a região do atual Saara, que até
então estava dentro dos limites da freguesia do
Sacramento, sofre algumas modificações, como as obras
de alargamento das ruas Uruguaiana e do Sacramento,
passando esta a se chamar Avenida Passos em
homenagem ao prefeito. No entanto, a maioria dos
sobrados da Rua da Alfândega, Senhor dos Passos e
ruas adjacentes no trecho da Avenida Passos ao Campo
de Santana foram poupados, mas não impediu que a
freguesia como um todo sofresse um decréscimo
populacional entre os anos de 1890 e 1906, que pode ser
interpretado como efeito da renovação urbana sobre as
freguesias centrais de forma geral.
Verifica-se que de acordo com as proposições do plano
Agache, o conjunto arquitetônico onde atualmente está
situado o Saara estava fadado à extinção. Embora a
maioria de suas proposições não tenham sido
executadas na época, o plano teve claro desdobramento
sobre muitas das decisões posteriores de projeto
ocorridas na cidade.
1940 – Abertura da Avenida Presidente Vargas: a
construção da avenida provocou a eliminação de um
conjunto de quadras situadas entre as ruas General
Câmara e São Pedro, no bairro do Sacramento. Além de
4 das mais antigas igrejas da cidade, foram demolidas
525 edificações, onde coexistiam os usos residencial e
comercial. Considera-se que a partir daí, devido à
iminência dos comerciantes perderem suas casas, inicia-
se o processo de deslocamento do uso residencial do
Saara para outras áreas da cidade.
Os impactos provocados por esse arrasamento que
destruiu boa parte dessa zona comercial, ficam
expressamente evidenciados pela identificação entre os
fragmentos urbanos e arquitetônicos remanescentes do
conjunto, em ambos os lados da avenida (Rua Marechal
Floriano e SAARA), como também pelo rastro de vazios
que deixa ao longo de sua extensão.
A Rua Marechal Floriano, que até então pertencia à
Freguesia do Sacramento torna-se uma estreita faixa
fragmentada e tem seu comércio enfraquecido. A região
do Saara foi mais favorecida nesse ponto, pois embora
ainda apresente uma faixa de vazios que o acompanha
por quase toda sua extensão na Avenida Presidente
Vargas, manteve-se como uma parcela maior dessa
divisão, mais tarde conseguindo se consolidar como
núcleo comercial.
A construção da avenida foi um marco na memória de
vários imigrantes do Saara, pois causou grandes
mudanças nas suas vidas pessoais e comerciais. Muitos
faliram, pois tinham suas lojas nas ruas que foram
eliminadas e outros transferiram seus negócios para
Até os anos 50 os sobrados reuniam
negócios e residências. Embaixo as
lojas, atrás ou em cima as moradias,
que abrigavam muitas vezes mais de
uma família. Quase todos os prédios
tinham escadas na frente que dava
acesso independente ao segundo
andar.
A mudança do sistema de vendas
mudou também o aspecto das ruas,
com a proibição do trânsito de veículos
nas ruas estreitas e as mercadorias
passaram a ser colocadas em bancas
do lado de fora das lojas para atrair os
fregueses.
A partir da Reforma Passos o centro
do Rio passa por um processo de
remodelação, que resultou em áreas
embelezadas e modernizadas e outras
bastante degradadas devido às
inúmeras demolições ocorridas em
função das intervenções urbanísticas.
Mapa dos melhoramentos de Passos em 1905.
Fonte: Borde, 2006.
Alargamento da Rua Uruguaiana
Fonte: AGCRJ.
Avenida Passos em antes de seu alargamento
em 1903. Fonte: CIEC.
Avenida Passos depois do alargamento. Fonte:
CIEC.
Rua Buenos Aires em 1904. Fonte:CIEC.