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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Centro Biomédico
Faculdade de Enfermagem
Andreia Fontes da Paz
Relação entre fatores de risco no ambiente hospitalar e a saúde dos
trabalhadores de enfermagem
Rio de Janeiro
2009
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1
Andreia Fontes da Paz
Relação entre fatores de risco no ambiente hospitalar e a saúde dos trabalhadores de
enfermagem
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre, ao
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem,
da Universidade do Estado Rio de Janeiro.
Área de concentração: Enfermagem, Saúde e
Sociedade.
Orientadora: Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro
Rio de Janeiro
2009
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2
CATALOGAÇÃO DA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CBB
P348 Paz, Andreia Fontes da.
Relação entre fatores de risco no ambiente hospitalar e a saúde dos
trabalhadores de enfermagem / Andreia Fontes da Paz. - 2009.
105 f.
Orientador: Maria Yvone Chaves Mauro.
Dissertação (Mestrado em Enfermagem) Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, Faculdade de Enfermagem.
1. Fatores de risco. 2. Saúde e trabalho. 3. Enfermagem do trabalho. I.
Mauro, Maria Yvone Chaves, 1937. II. Universidade do Estado do Rio
Janeiro. Faculdade de Enfermagem. III. Título.
CDU
614.253.5
Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta
dissertação.
_______________________________ ____________________
Assinatura Data
3
Andreia Fontes da Paz
Relação entre fatores de risco no ambiente hospitalar e a saúde dos trabalhadores de
enfermagem
Dissertação apresentada, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre,
ao Programa de Pós-Graduação em
Enfermagem, da Universidade do Estado
Rio de Janeiro. Área de concentração:
Enfermagem, Saúde e Sociedade.
Aprovado em 24 de março de 2009.
Banca Examinadora
___________________________________________
Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro (Orientadora)
Faculdade de Enfermagem da UERJ
___________________________________________
Profª. Drª. Regina Célia Gollner Zeitoune
Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ
___________________________________________
Profª. Drª. Norma Valéria Dantas de Oliveira Souza
Faculdade de Enfermagem da UERJ
___________________________________________
Profª. Drª. Sheila Nascimento Pereira de Farias
Escola de Enfermagem Anna Nery da UFRJ
___________________________________________
Prof. Dr. Elias Barbosa de Oliveira
Faculdade de Enfermagem da UERJ
Rio de Janeiro
2009
4
DEDICATÓRIA
À minha irmã Adriana (in memoriam) que me ensinou a perseguir os meus sonhos. Espero
que, onde estiver, continue se orgulhando de mim e participando das minhas conquistas. Você
será sempre eterna na minha vida.
Aos meus pais José Francisco e Lucia, pelo amor incondicional, sempre me apoiando e
ajudando a trilhar os caminhos da minha vida. Sem vocês eu não conseguiria chegar até aqui.
Ao meu irmão Alexandre, por sua amizade verdadeira e fiel, que sempre compartilha das
minhas dificuldades, meus sonhos e conquistas.
Ao meu filho Daniel, meu presente de Deus, o meu maior amor e razão da minha caminhada.
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, a Deus, pelo dom da vida, pela coragem e força, por me permitir
trilhar esse caminho e finalizar essa etapa.
À Prof
a
. Dr
a
. Maria Yvone Chaves Mauro, por acreditar e investir em mim deste o
inicio da minha graduação. Por ser um exemplo de professora, enfermeira, pesquisadora e
mulher. Por compartilhar seus conhecimentos, pela sensibilidade e compreensão nos
momentos mais difíceis. Sobretudo pela sua amizade, dedicação e paciência com as minhas
dificuldades.
Às Professoras, Dr
a
. Regina Célia Gollner Zeitoune, Dr
a
. Norma Valéria Dantas de
Oliveira Souza, Dr
a.
Sheila Nascimento Pereira de Farias e o Prof
o
. Dr
o
. Elias Barbosa de
Oliveira, pela participação na Banca Examinadora, e por suas valiosas contribuições que
enriqueceram este trabalho.
À Ergonomista Carla Christina Chaves Mauro, pela consultoria e apoio durante a
coleta e tratamento dos dados, que foi imprescindível para o êxito do trabalho.
Aos acadêmicos de enfermagem: Caroline F Marques, Fernanda Henriques da Silva,
Natasha de Almeida S. Lima,Viviane Gomes Silva, Bruna B. Lindemayer de Camillis, Hélio
Henrique da Silva,Stéphannie L. Torres Costa, Michely Alexandrino S. Lima, Laila Eugenio
de Oliveira, Flávia Nascimento Teixeira, Larissa Porto Batista, pelo valioso apoio e
participação na coleta e tratamento dos dados.
Á minha mãe Lucia, pelo apoio, incentivo e pelas muitas vezes que cuidou do meu
filho durante todo este processo.
Ao meu tio Armando, pelas contribuições na revisão de português, sempre me
ajudando com seus talentos.
Às amigas Cláudia Sá e Elissa, pela convivência, por dividir comigo as alegrias e
angústias deste processo. É bom saber que colheremos juntas as alegrias dessa conquista.
A todos os familiares e amigos que me apoiaram e torceram pela concretização deste
sonho.
A todos os colegas de enfermagem, os que passaram e os que continuam ao meu lado,
pois me ensinaram com suas vidas, a enxergar a beleza e as dificuldades da nossa profissão,
me motivando a estudar e buscar melhores condições de trabalho.
A todos os trabalhadores de enfermagem que aceitaram participar desta pesquisa,
compartilhando o seu saber; sem eles este trabalho não seria possível.
A todos que contribuíram direta ou indiretamente com o êxito deste trabalho.
6
--"Existem homens que lutam um dia e são bons;
existem outros que lutam um ano e são melhores;
existem aqueles que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém, existem os que lutam toda a vida. Estes são os imprescindíveis."
Bertolt Brechet
7
RESUMO
PAZ, Andreia Fontes. Relação entre fatores de risco no ambiente hospitalar e a saúde dos
trabalhadores de enfermagem. 2009. 105f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
Trata-se de um estudo não experimental apoiado na ergonomia, epidemiologia e
bioestatística. Utilizou-se uma abordagem quantitativa, descritiva e transversal. Apresenta
como objeto de estudo a percepção dos trabalhadores de enfermagem de um Hospital
Universitários sobre os fatores de riscos no trabalho e sua relação com os seus problemas de
saúde. Teve como objetivo avaliar a relação entre os fatores risco no trabalho e os problemas
de saúde dos trabalhadores de enfermagem no ambiente hospitalar. Foi desenvolvido em um
Hospital Universitário do estado do Rio de Janeiro, com uma amostra constituída de 296
trabalhadores de enfermagem das enfermarias, no ano de 2008. Utilizou-se para coleta de
dados um questionário de Mauro adaptado de Boix e Vogel (1997). Os dados foram
analisados através do Programa Statical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 12.0.
Foram evidenciados neste estudo os conceitos que fundamentam as características pessoais e
profissionais do trabalhador de enfermagem, a organização, o conteúdo e as condições de
trabalho, além das situações política, jurídica e social vivenciada no cotidiano dos
trabalhadores. Dentre os resultados destacam-se como fatores de riscos por ordem de maior
incidência, o risco biológico, os riscos ergonômicos e psicossociais, o riscos mecânicos ou de
acidentes, o risco químico e o risco físico. Tais riscos configuram um ambiente inadequado,
capaz de produzir reflexos na saúde dos trabalhadores caso não sejam controlados ou
eliminados. Em relação aos problemas de saúde evidenciados, os que se destacaram como
relacionados com o trabalho, foram os distúrbios osteomusculares, representados pelas
lombalgias, lesões da coluna vertebral, as varizes e os problemas psicossociais, como estresse
e depressão. Conclui-se que a hipótese levantada neste estudo de que os fatores de risco
interferem nos problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem é verdadeira no hospital
estudado. Recomenda-se a discussão dos resultados com os trabalhadores e gerentes, assim
como a criação de um Comitê de Ergonomia, para avaliar e implementar mudanças de
melhorias no ambiente de trabalho do HU.
Palavras chave: Risco Ocupacional. Saúde do Trabalhador. Trabalho de enfermagem.
8
ABSTRACT
It’s about a no experimental study bent on ergonomics, epidemiology and biostatics.
It was used a quantitative approach, descriptive and transverse. It is presented as a study target
the nursing employees’ perception from a university hospital about the work risk factors and
its relation with the health problems. The goal was to evaluate the relation between risk
factors and the nursing employees’ health. It was developed at the university hospital from the
State of Rio de Janeiro, with a sample consisting of 296 nurses from the nursing department,
in 2008. It was used for the data collect a questionnaire from Mauro adapted from Boix and
Vogel (1997). The data were analyzed through the Statical Package for the Social Sciences
Program (SPSS) version 12.0. It was pointed in this study the concepts that support the
professional and personal features of the nursing worker, the organization, the content and the
job conditions, besides the political, legal and social situation lived by the workers day by
day. Among the results it is highlighted as risk factors by order of incidence, the biological
risk, the ergonomics and psychosocial risks, the mechanical or accident risks, the chemical
and physical risk. The so called risks create a inadequate environment, capable of producing
reflexions on the worker’s health in case they are not controlled or eliminated. In relation to
the health problems highlighted here, the ones related to the work, were the musculoskeletal
troubles, represented by back pains, injuries in the spine, as varicose veins, and the
psychosocial problems, as stress and low-spiritedness. It is concluded that the hypothesis
raised on this study that the risk factors interfere on the health problems of the nursing
workers is true in the studied hospital. It is recommended the discussion of the results with the
workers and managers, as well as the creation of a Ergonomics committee to evaluate and
implement changes and improvements in the work environment of the university hospital.
Key words: Occupational risk. Worker’s health. Nursing work.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 1
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de
existência e frequencia de fatores de risco do ambiente de trabalho
(sempre, frequentemente, às vezes) do HU 2008 ................................
57
Figura 1
-
Demonstrativo do risco biológico segundo percepção dos
trabalhadores de enfermagem no HU 2008 .........................................
58
Figura 2
-
Demonstrativo dos riscos ergonômicos e psicossociais segundo
percepção dos trabalhadores de enfermagem no HU 2008 .................
59
Figura 3
-
Demonstrativo dos riscos mecânicos ou de acidentes segundo a
percepção dos trabalhadores de enfermagem no HU 2008 .................
61
Figura 4
-
Demonstrativo do risco químico segundo a percepção dos
trabalhadores de enfermagem, no HU 2008 ........................................
62
Figura 5
-
Demonstrativo do risco físico segundo a percepção dos trabalhadores
de enfermagem no HU 2008 ...............................................................
63
Gráfico 2
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de
existência e frequência de fatores de risco do ambiente de trabalho
(sempre) do HU 2008 ..........................................................................
65
Gráfico 3
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de
existência e frequência de fatores de risco do ambiente de trabalho
(frequentemente + às vezes) do HU 2008 . .........................................
66
Gráfico 4
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de
existência e frequência de fatores de risco do ambiente de trabalho
(não acontecem) do HU 2008 ..............................................................
67
Gráfico 5
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de
desconhecimento de existência de fatores de risco do ambiente de
trabalho do HU 2008 ...........................................................................
68
Gráfico 6
-
Distribuição proporcional de existência de problemas de saúde nos
trabalhadores do HU 2008 ...................................................................
71
Gráfico 7
-
Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo detalhamento
(provocado, agravado, não relacionado) dos problemas de saúde no
HU 2008 ..............................................................................................
73
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
-
Caracterização sociodemográfica dos trabalhadores de enfermagem do
HU 2008 ..............................................................................................
48
Tabela 2
-
Caracterização profissional dos trabalhadores de enfermagem em
relação à categoria profissional, qualificação, serviço, contrato de
trabalho e número de vínculos no HU 2008 ........................................
50
Tabela 3
-
Demonstrativo do tipo de jornada, carga horária e renda mensal no
HU 2008 ..............................................................................................
54
Tabela 4
-
Demonstrativo da Escala de Fatores de Risco do Ambiente de
Trabalho (RAT) segundo a percepção dos trabalhadores de
enfermagem no HU 2008 ....................................................................
69
Tabela 5
-
Distribuição dos trabalhadores segundo a categoria em relação à
escala de trabalho no HU - 2008 (N = 197) ...........................................
70
Tabela 6
-
Distribuição dos trabalhadores segundo o setor de trabalho em relação
à escala de trabalho no HU - 2008 (N = 199) ........................................
70
Tabela 7
-
Demonstrativo da Avaliação da Escala de Intensidade de Problemas
de Saúde (PRS) da Enfermagem do HU 2008 ....................................
78
Tabela 8
-
Distribuição dos trabalhadores segundo a categoria em relação à
escala de saúde no HU - 2008 (N = 196) ..............................................
79
Tabela 9
-
Distribuição dos trabalhadores segundo o setor de trabalho em relação
à escala de saúde no HU 2008 (N = 199) ............................................
79
Tabela 10
-
Distribuição dos trabalhadores segundo o sexo em relação à escala de
saúde no HU - 2008 (N = 191) ..............................................................
80
Tabela 11
-
Distribuição dos trabalhadores segundo a faixa etária em relação à
escala de saúde no HU - 2008 (N = 194) ...............................................
80
Tabela 12
-
Distribuição dos trabalhadores segundo o número de vínculos em
relação à escala de saúde no HU - 2008 (N = 176) ................................
81
Tabela 13
-
Distribuição dos trabalhadores segundo o tipo de jornada em relação
à escala de saúde no HU - 2008 (N = 198) ............................................
81
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................
12
1
REVISÃO DA LITERATURA ...........................................................................
18
1.1
O trabalho e suas transformações históricas ....................................................
18
1.2
A relação do trabalho e saúde e o adoecimento do trabalhador em
enfermagem ...........................................................................................................
21
1.3
O Meio Ambiente e as Condições de Trabalho ..................................................
28
1.4
Fatores de risco no trabalho hospitalar ..............................................................
32
1.5
A Ergonomia e o Trabalho de Enfermagem ......................................................
36
2
METODOLOGIA .................................................................................................
39
2.1
Campo de pesquisa ...............................................................................................
39
2.2
População e amostra .............................................................................................
41
2.3
Instrumento de coleta de dados ...........................................................................
43
2.4
Coleta de dados .....................................................................................................
45
2.5
Organização e tratamento dos dados ..................................................................
45
2.6
Aspectos éticos .......................................................................................................
47
3
APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..............................
48
3.1
Caracterização do perfil sociodemográfico e profissional da amostra ............
48
3.2
Avaliação dos fatores de risco no trabalho .........................................................
56
3.2.1
Identificando os fatores de risco no ambiente de trabalho .....................................
56
3.2.2
Avaliação da escala de fatores de risco no trabalho ...............................................
69
3.3
Problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem ...................................
71
3.3.1
Identificando os problemas de saúde ......................................................................
71
3.3.2
Avaliação dos problemas de saúde com base na escala PRS .................................
78
4
CONCLUSÕES .....................................................................................................
83
REFERÊNCIAS ....................................................................................................
88
APÊNDICE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ...............................
96
ANEXO A - Autorização dos autores para utilização do questionário de Boix e
Vogel (1997) ...........................................................................................................
97
ANEXO B - Instrumento de coleta de dados .........................................................
98
ANEXO C - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa ...................................
103
ANEXO D - Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa para o Projeto Matriz .
104
12
INTRODUÇÃO
As relações entre trabalho e saúde formam um mosaico, coexistindo múltiplas
situações de trabalho que se caracterizam pela tecnologia, organização, gestão, relações e
formas de contrato de trabalho, que se refletem sobre o viver, o adoecer e o morrer dos
trabalhadores. (BRASIL, 2001).
Nesse sentido, sabe-se que o trabalho pode favorecer a saúde ou a doença do
trabalhador (DEJOURS, 1992). De acordo com a Política Nacional de Saúde e Segurança no
Trabalho PNSST (BRASIL, 2000), a saúde dos trabalhadores é condicionada por fatores
sociais, econômicos, tecnológicos e organizacionais, relacionados ao perfil de produção e
consumo, além de fatores de risco presentes nos processos de trabalho particulares.
A Lei 8080 (BRASIL, 1990) enfatiza que os níveis de saúde da população expressam
a organização social e econômica do país, uma vez que a saúde é determinada e condicionada
pela alimentação, moradia, saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a
educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais.
O trabalho se materializa através do processo de trabalho, que engloba as condições
objetivas, como os instrumentos e materiais utilizados e as condições subjetivas, que
compreendem as aspirações, desejos e possibilidades exercitadas pelo trabalhador de acordo
com o significado e o sentido que o trabalho adquire em sua vida. (AGUIAR, 2008).
Castillo et al. apud Santiago e López (2000) definem condições de trabalho como o
conjunto de elementos e circunstâncias de caráter material, psíquico, biológico e social que,
influenciados e determinados por vários fatores de ordem econômica, técnica e
organizacional, se inter-relacionam e interatuam, constituindo o meio e a forma em que se
desenvolve a atividade laboral.
Os fatores de riscos ocupacionais são elementos constituintes das condições de
trabalho e estão inerentes a todo trabalho, entretanto podem ser reconhecidos ou não pelos
trabalhadores. Laurell e Noriega (1989) conceituam “riscos” como elementos presentes no
centro do trabalho, os quais podem causar danos ao corpo do trabalhador.
O trabalho no ambiente hospitalar sofreu influências econômicas e culturais, ao longo
da história. Nos meados do século XIX, com a Revolução Industrial, e a expansão do
capitalismo, surgiram novas tecnologias, as quais geraram mudanças no papel do hospital, que
deixa de ser um depósito de excluídos da sociedade para ser um local de cuidado, reabilitação
e cura, determinando mudanças no processo de trabalho dos profissionais de saúde
(ALMEIDA; ROCHA, 1989). Assim, se o hospital deve ser um local em que se busca a saúde
13
do cliente, torna-se incoerente ser um local determinante de problemas de saúde para os
trabalhadores de saúde.
Para Mauro (2006), em todos os países do mundo, os trabalhadores da saúde
constituem uma categoria profissional numerosa e diversificada que precisa ser valorizada.
No entanto, inversamente a outros meios de trabalho, o sistema de saúde tem demonstrado
tardiamente seu interesse pelos conteúdos de cargas de trabalho, obrigações e riscos a que
estão expostos os trabalhadores, bem como sua capacidade de suportar as dificuldades
daqueles que são objeto de seu cuidado (o cliente). Para a autora, existe uma grande
necessidade de humanização no trabalho e na atenção especial à própria saúde do trabalhador,
que precisa ser garantida com sua saúde otimizada.
Nos últimos anos, vários estudos ergonômicos foram desenvolvidos no Brasil, que
demonstraram que as condições de trabalho da equipe de enfermagem são inadequadas e
desfavorecem a saúde desses trabalhadores. (GUEDES, 2000; HIPOLITO, 2005; MAURO et
al., 2004; PAZ, 2002).
As condições de trabalho nas instituições públicas vêm se demonstrando desfavoráveis
à saúde dos profissionais de saúde. Nicola e Anselmi (2005) destacam que a crise no sistema
de saúde brasileiro, principalmente nas organizações hospitalares públicas, não é novidade, e
está associada à conjuntura econômica do país e ao descaso dos gestores públicos em relação
à administração da saúde. Enfatizam ainda que a gravidade se tornou maior após a reforma
do Estado, cujas diretrizes básicas, como a redução de despesas, principalmente do
quantitativo de funcionários públicos (responsabilidade fiscal), trouxeram um efeito imediato
na política de recursos humanos na saúde, gerando dificuldades assistenciais e gerenciais, que
afetaram diretamente o quantitativo de pessoal nas instituições.
Durante minha trajetória profissional, tive a oportunidade de participar de alguns
estudos na área de saúde do trabalhador, inicialmente como acadêmica bolsista de Iniciação
Científica (PIBIC/UERJ), estudando os problemas posturais dos estudantes de enfermagem
durante desempenho de atividades hospitalares. (MAURO; PAZ; MAURO C, 1996).
Posteriormente, como residente de enfermagem, realizei um estudo sobre os riscos
ocupacionais no serviço de clínica médica de um Hospital Universitário, no qual se
destacaram como determinantes dos riscos, a sobrecarga de trabalho gerada pela falta de
recursos humanos, os recursos materiais, os equipamentos de proteção individual, a
comunicação, a estrutura física e a deficiência dos serviços auxiliares (rouparia, almoxarifado,
encaminhadores etc). Ao se analisarem os determinantes de riscos, ficou claro que a política
14
administrativa da instituição precisava mudar para melhorar as suas condições de trabalho.
(PAZ, 2002).
Atualmente, como enfermeira de uma unidade de internação de um Hospital
Universitário, vivencio diariamente condições de trabalho desfavoráveis para o trabalho da
equipe de enfermagem com repercussões para sua saúde, além disso, percebo a presença de
vários fatores de risco no ambiente de trabalho que poderiam ser controlados através de
melhorias das condições de trabalho hospitalar. Participando do Núcleo de Pesquisa em
Saúde, Trabalho e Meio Ambiente NUEST/UERJ, no Departamento de Enfermagem de
Saúde Pública da Faculdade de Enfermagem da UERJ DESP/FENF/UERJ, aumentaram
minhas inquietações e a necessidade de aprofundar estudos acerca das condições de trabalho
da equipe de enfermagem em instituições hospitalares públicas.
Assim, de acordo com a minha vivência profissional e como pesquisadora, iniciei o
Mestrado de Enfermagem na Linha do Trabalho e me incorporei ao projeto da professora
orientadora, intitulado Inovação de Gestão das Condições de Trabalho em Saúde para
Hospitais do Sistema Único de Saúde SUS/BRASIL, que se insere na Linha de Apoio: 1.2.
do Edital MCT/CNPq/ MS-SCTIE-DECIT nº023/2006, integrando a linha temática Estudos
sobre as formas de Gestão do Trabalho (riscos) em Saúde, que visa a estabelecer um modelo
de aplicação de uma metodologia inovadora de avaliação e gestão de riscos no trabalho
hospitalar. (MAURO, 2006).
Considerando-se que um grande número de trabalhadores da área da saúde pertence à
equipe de enfermagem, em condições de trabalho inadequadas e desfavoráveis a sua saúde,
definiu-se como objeto deste estudo, a percepção dos trabalhadores de enfermagem de um
Hospital Universitários sobre os fatores de riscos no trabalho e sua relação com os seus
problemas de saúde.
Propõe-se, desse modo, o seguinte problema de pesquisa:
Qual a relação entre os fatores de risco no trabalho e os problemas de saúde do
trabalhador de enfermagem?
Mendes e Dias (1999) destacam que, para melhorar a situação de saúde dos
trabalhadores de saúde no Brasil, é fundamental, dentre outros fatores, a busca da
compreensão das relações (nexo causal) entre Saúde X Trabalho, propondo como base o
diagnóstico das condições de trabalho, com a finalidade de estabelecer as bases para os
programas de promoção, prevenção, tratamento, reabilitação e controle dos problemas.
A adoção de novas tecnologias e métodos gerenciais e a instabilidade no emprego
facilitam a intensificação do trabalho, modificando o perfil de adoecimento e sofrimento dos
15
trabalhadores. O surgimento de novas formas de adoecimento mal caracterizadas configura
situações que exigem mais pesquisas e conhecimento para que se possam traçar propostas
coerentes e efetivas de intervenção (BRASIL, 2001). Isto é possível através da análise do
processo de trabalho.
A ergonomia, o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o
ambiente, objetivando intervenções e projetos que visem a melhorar, de forma integrada, a
segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas (ABERGO, 2003), é
uma das formas de analisar o processo de trabalho.
Castillo e Villena (1998) esquematizam algumas categorias de variáveis necessárias à
análise das condições de trabalho, considerando a complexidade das conexões entre os
fatores, em três níveis, que se relacionam, a saber:
nível I condições de trabalho que incluem as características do operador, os
objetivos e as condições de execução das atividades;
nível II atividades do operador; e
nível III efeitos das atividades caracterizados pelas conseqüências para o operador
(cargas) e para o rendimento do trabalho.
Este estudo se limitou à analise dos fatores do nível I, enfatizando os riscos
ocupacionais, e uma parte do nível III, com destaque para as conseqüências para o operador,
enfocando os problemas de saúde relacionados.
Justificou-se o estudo pela necessidade de identificar com mais clareza as condições
de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores de enfermagem, com a intenção de
visualizar os fatores de riscos no ambiente hospitalar e as doenças a eles relacionadas,
segundo a percepção dos trabalhadores.
A participação dos trabalhadores é importante na identificação e controle dos fatores
de risco e problemas de saúde a eles relacionados. Segundo Boix e Vogel (2004), o processo
de saúde-doença vai além de um simples diagnóstico e envolve um componente importante
que é a percepção dos trabalhadores. Desse modo, uma ação preventiva orientada para as
causas dos problemas não pode ser realizada exclusivamente por especialistas e requer a
participação imprescindível dos trabalhadores.
Boix e Vogel (2004) fundamentam a participação dos trabalhadores para a prevenção
dos riscos laborais, em três argumentos:
a) razão democrática (é um direito dos trabalhadores);
b) razão metodológica (eles são fontes primárias de dados porque conhecem as condições
de trabalho e os efeitos sobre sua saúde);
16
c) razão de eficácia para a própria prevenção, pois o papel passivo e a falta de controle
sobre o próprio trabalho são, por si mesmos, fontes de estresse e, portanto, um
problema de saúde.
À medida que se realiza um diagnóstico sobre os fatores de risco e os problemas de
saúde, é possível discutir, com os gerentes e os trabalhadores, as propostas para melhorar as
suas condições de trabalho, as quais se refletirão numa melhor condição de saúde e na
qualidade de vida desses trabalhadores de enfermagem, trazendo, assim, contribuições que
favoreçam o seu processo de trabalho.
O presente estudo tem como objetivo geral:
Avaliar a relação entre os fatores risco no trabalho e os problemas de saúde dos
trabalhadores de enfermagem no ambiente hospitalar.
Para orientação do estudo, foram definidos como Objetivos Específicos:
Descrever o perfil sociodemográfico e profissional dos trabalhadores de
enfermagem;
Identificar os fatores de risco presentes no ambiente de trabalho hospitalar e na
percepção dos trabalhadores de enfermagem;
Estimar os problemas de saúde que acometem os trabalhadores de
enfermagem, de acordo coma sua percepção;
Analisar a relação entre os fatores de riscos percebidos e os problemas de
saúde apontados pelos trabalhadores de enfermagem no contexto hospitalar.
Este estudo apresenta a hipótese de que os fatores de risco no trabalho interferem nos
problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem do HU.
Considera-se relevante este estudo, porque os acidentes e doenças relacionadas ao
trabalho são agravos previsíveis e, portanto, evitáveis. No entanto, o atual sistema de
segurança e saúde do trabalhador carece de mecanismos que incentivem medidas de
prevenção que responsabilizem os empregadores, propiciem o efetivo reconhecimento dos
direitos dos segurados, diminuam a existência de conflitos institucionais, tarifem de maneira
mais adequada às empresas e possibilitem um melhor gerenciamento dos fatores de riscos
ocupacionais. (BRASIL, 2000).
Além disso, a PNSST (BRASIL, 2000) enfatiza que a escassez e inconsistência das
informações sobre a real situação de saúde dos trabalhadores dificultam a definição de
prioridades para as políticas públicas. Atualmente, as informações disponíveis referem-se
apenas aos trabalhadores empregados e cobertos pelo Seguro de Acidentes do Trabalho (SAT)
17
da Previdência Social, que representam cerca de um terço da população economicamente
ativa.
Ressalta-se que a atual política de saúde do trabalhador enfatiza que a produção de
normas e protocolos próprios para o SUS, na área de Saúde do Trabalhador, também é
escassa, com pouco trabalho na ótica da vigilância em saúde e da qualidade da atenção à
saúde, no seu sentido amplo e não apenas assistencial. Persiste assim a necessidade de melhor
definir conceitos e concepções, especialmente os de vigilância, de educação e promoção em
saúde, aplicados às intervenções em saúde do trabalhador.
Mauro (2006) destaca que é necessário investir na construção de um corpo de
conhecimentos que sustentação a um novo modelo de gestão de riscos para saúde, menos
tecnicista, mais humanista, envolvendo o próprio trabalhador no processo, com sua
participação em decisões relativas ao seu processo de trabalho.
A partir do estudo das condições de trabalho e de suas relações com o processo
trabalho-saúde-doença, torna possível ao trabalhador e às instituições de saúde identificar os
problemas e, através da discussão, propor mudanças no processo de trabalho que contribuam
com a melhoria das condições de trabalho, influenciando a construção de sua saúde.
O presente estudo visa à produção de conhecimentos relativos às condições de
trabalho e aos problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem, com a finalidade de
propor mudanças para melhorar tais condições, de modo a favorecer a saúde desses
trabalhadores.
Pretende-se sensibilizar os trabalhadores de enfermagem e os gerentes dos serviços de
saúde para uma reflexão sobre as condições de trabalho, buscando estratégias para um meio
ambiente de trabalho seguro e saudável, que contribua para a promoção da saúde dos
trabalhadores do hospital.
Os resultados deste estudo integrarão o projeto de pesquisa intitulado: Inovação de
Gestão das Condições de Trabalho em Saúde para Hospitais do Sistema Único de Saúde
SUS/BRASIL”, que tem como objetivo estabelecer um modelo de aplicação da metodologia
inovadora de avaliação e gestão de riscos no trabalho hospitalar.
18
1 REVISÃO DA LITERATURA
1.1 O trabalho, suas transformações históricas e a saúde do trabalhador
O Trabalho é toda atividade pela qual o homem utiliza suas forças físicas e mentais
para a produção de um bem ou serviço. Como forma de sobrevivência, o trabalho é inerente
ao homem, no sentido de esforço comum e de um dever a ele incumbido dentro da sociedade,
pela sua dignidade, segurança e progresso. (MACHADO, 1997).
Segundo Beck (2001), o trabalho é uma ação que integra a vida das pessoas como
elemento produtor de sua humanização e vem se transformando, ao longo da história, visando
a atender às demandas sociais e particulares. O trabalho como ação humana favorece as trocas
entre os homens e permite sua relação com a natureza, possibilitando o desenvolvimento
humano. O trabalho humano situa o trabalhador numa hierarquia social de valores, que
determina prestígio social e remete a diferentes possibilidades de consumo, felicidade,
adoecimento e morte (SAMPAIO, 1985). Assim, o trabalho atende às necessidades biológicas
de sobrevivência, propicia o aplauso social, alivia a tensão emocional e estimula a imaginação
e ativa a criatividade, favorecendo o progresso e o bem-estar humano. (MIELNIK, 1976).
Mauro et al. (2004) asseveram que o trabalho constitui uma das práticas mais
importantes da vida do ser humano, porque é através dele que o homem tira os elementos de
sua subsistência e da sua família. Para a autora, o homem não deve trabalhar apenas pelo
salário, mas também para alcançar uma satisfação pessoal.
De acordo com a literatura consultada, o trabalho vem sofrendo modificações ao longo
da história. Na Idade Média, o modelo produtivo era o feudalismo, que associa a posse da
terra à riqueza. Os donos dos meios de produção eram os senhores feudais (clero e nobreza) e
os trabalhadores, os servos eram explorados e viviam em condições miseráveis.
(HUBERMAN, 1986).
No final desse período, inicia-se o mercantilismo, que tem o comércio como principal
fonte de riqueza (produtos exóticos, especiarias, sedas, tempero, ouros, prata, negros). Esse
modelo produtivo estendeu-se até à idade moderna. (HUBERMAN, 1986).
O capital acumulado com os lucros exorbitantes do mercantilismo foi o alicerce para a
Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra, no século XIX, pautado na organização de
um sistema fabril, graças a excepcionais avanços na área tecnológica, com a invenção das
19
máquinas a vapor, novas ferramentas de trabalho e a criação de equipamentos para a indústria
têxtil. (HUBERMAN, 1986).
De acordo com Ornellas e Monteiro (2006), grandes e significativas mudanças
ocorreram com a substituição do trabalho rural e do artesanato pelas atividades industriais. O
trabalhador abandonou o meio rural ou o ateliê e veio ser um operário nas cidades e nos
ambientes das fábricas. Além disso, a Revolução Industrial reuniu modificações ideológicas,
econômicas e sociais que transformaram uma sociedade exclusivamente agrária em
verdadeira sociedade industrial e urbana, nascendo com ela o capitalismo.
Para os capitalistas, as máquinas representavam um investimento com o qual se
preocupavam mais do que com os agentes da execução do trabalho, que eram os próprios
homens. Pagavam os menores salários possíveis, pois buscavam o ximo de força de
trabalho pelo mínimo necessário de dinheiro. Neste sentido, utilizavam a mão-de-obra de
mulheres e crianças, que recebiam menos, enquanto isso, o homem ficava em casa,
frequentemente sem ocupação. (HUBERMAN, 1986).
As indústrias exploravam os trabalhadores, com jornadas de trabalho de 16 horas
ininterruptas, os setes dias da semana. Os salários, as condições laborais e a moradia dos
trabalhadores eram desumanas, gerando morbi-mortalidade elevadíssima, que resultou na
diminuição da produtividade e na redução do lucro. (HUBERMAN, 1986).
Neste cenário, em 1700, era publicado em Modena/Itália, a primeira edição do livro
De Morbis Artificum Diatriba - As doenças dos trabalhadores escrito pelo médico
Bernadino Ramazzini que, a partir da seguinte pergunta aos trabalhadores, Qual é a sua
ocupação? descrevia as doenças comuns a trabalhadores de mais de 50 ocupações. Esse fato
deu origem à relação entre trabalho e saúde, que subsidiou os estudos posteriores e mudanças
nos modelos de atenção à saúde do trabalhador. (RAMAZZINE, 1971).
Segundo Rutherford T. Johnstone, o contexto de trabalho nas questões de saúde e
produtividade era controlado pela Higiene Industrial, preocupada apenas com as questões
ambientais (JOHNSTONE, 1955). Para tentar solucionar a baixa produtividade dos
trabalhadores, devido às grandes morbi-mortalidades geradas pelas péssimas condições de
trabalho, surgiu a Medicina do Trabalho, como serviço de saúde desenvolvido por pessoas
de inteira confiança dos empresários, dos quais defendiam os interesses, preocupando-se com
a doença dos trabalhadores. (MENDES; DIAS, 1991).
Após a segunda guerra mundial, com transformações significativas da tecnologia
industrial, que incluíram novos processos de trabalho, inovação de equipamentos, máquinas e
produtos químicos diferentes, cria-se o termo Saúde Ocupacional, dando ênfase também à
20
doença, mas fortalecendo a higiene industrial e os riscos ambientais dos trabalhadores,
enquanto permaneciam nos seus postos de trabalho. Nesse momento, a saúde do trabalhador
passa a ser de responsabilidade de uma equipe multiprofissional, integrando, além da
engenharia de segurança, medicina e enfermagem do trabalho, profissionais especialistas de
química, de epidemiologia, de ergonomia dentre outros. Apresenta uma concepção
multicausal da doença como determinante social do processo saúde-doença com centralidade
no trabalho. (MENDES; DIAS, 1991; ROGERS, 1994).
A Saúde do Trabalhador surgiu na década de 90, no Brasil, devido a várias
mudanças cio-econômicas, como automação, informática, reformulação de valores sociais,
questionamentos sobre o sentido da vida e do trabalho, propiciando mudanças radicais no
processo e na organização do trabalho para atender ao trabalhador na sua integridade.
(MENDES, DIAS, 1991).
Uma das características que diferencia a Saúde do Trabalhador da Medicina do
Trabalho e Saúde Ocupacional é a participação do trabalhador como sujeito ativo do
processo saúde-doença, deixando ele de ser simplesmente um objeto da atenção à saúde, tal
como era nos modelos anteriores. Além disso, apresenta a construção de um saber e de uma
prática interdisciplinar que se diferenciam de uma ação centrada no saber médico. (NADIR,
2002).
Historicamente, no Brasil, os ambientes de trabalho e a saúde do trabalhador eram
competências exclusivas do direito do trabalho consolidado, cujas normas de segurança e
medicina de trabalho foram reunidas na Consolidação das Leis do Trabalho CLT em 1943,
fiscalizadas pela União, através do Ministério do Trabalho. A atenção à saúde dos
trabalhadores foi normatizada e prestada pelo Instituto Nacional de Previdência Social
INAMPS, do Ministério da Previdência e Assistência Social MPAS, e, posteriormente,
transferida e incorporada ao Sistema Único de Saúde, mediante o Decreto Federal 99.060
de 1990. (BRASIL, 2001
O Sistema Único de Saúde (SUS) incorporou o conceito de saúde do trabalhador,
definindo-o na Lei nº 8.080 (1990), parágrafo 3º, como:
um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e
vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à
recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos
advindos das condições de trabalho [...]. (BRASIL, 1990).
No conceito de saúde do trabalhador, para o controle das situações de risco à saúde e
melhoria dos ambientes de trabalho, são necessárias várias etapas como identificação das
condições de risco presentes no trabalho, caracterização da exposição e quantificação destas
21
condições, discussão e definição de propostas para eliminação ou controle dos riscos e
implementação e avaliação das estratégias utilizadas. (BRASIL, 2001).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) destaca, dentre as principais dificuldades para
o estabelecimento da relação trabalho-doença, a ausência ou imprecisão na identificação de
fatores de riscos e do seu potencial, assim como o conhecimento insuficiente quanto aos
efeitos dos fatores de risco na saúde do trabalhador.
Atualmente, o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) dispõe de uma lista de doenças
relacionadas ao trabalho, destinada ao uso clínico e epidemiológico, permitindo o
desencadeamento de ações dirigidas à promoção e à proteção da saúde dos trabalhadores, as
quais reforçam a necessidade da prevenção dos agravos nos processos e ambientes de trabalho
e possibilitam a identificação das doenças.
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2005) optou por trabalhar com a compreensão ampla
de “doenças relacionadas com o trabalho”, utilizando a classificação proposta por Schlling,
em 1984, que inclui, pelo menos, três categorias:
a. Grupo I: doenças em que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas “doenças
profissionais”, strictu sensu, e pelas intoxicações profissionais agudas;
b. Grupo II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas não
necessário, exemplificadas por todas as doenças “comuns”, mais freqüentes ou mais
precoces em determinados grupos ocupacionais e que, portanto, o nexo causal é de natureza
epidemiológica;
c. Grupo III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente ou agravador
de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa, tipificadas pelas doenças
alérgicas de pele e respiratórias. (BRASIL, 2005, p.10).
Para García, Benavides e Ruiz-Frutos (2004), o principal objetivo da saúde do
trabalhador é identificar e eliminar os fatores relacionados com o trabalho que prejudicam a
saúde dos trabalhadores, assim como potencializar aqueles fatores que beneficiam a saúde e o
bem-estar do trabalhador.
1.2 A relação do trabalho e saúde e o adoecimento do trabalhador de enfermagem
O trabalho não é apenas a produção de um serviço e recebimento de salário; e muito
menos é somente um fator de doença. O trabalho deve ser a fonte de satisfação psíquica de
realização pessoal e de status. O trabalho representa um componente da personalidade e fator
de segurança do indivíduo. (MAURO, 1996).
Paraguay (2003) não considera o trabalho apenas como mero instrumento de
subsistência, mas um meio para satisfazer necessidades de vários níveis, necessidades não
22
excludentes, que orientariam tanto a capacidade para o trabalho e a saúde, como o
comportamento, as atitudes, o estilo e a vida das pessoas.
O homem constrói sua qualidade de vida e saúde a partir das relações consigo mesmo
e com o ambiente. Pires do Rio e Pires (2001, p.23) refere que “a saúde é condição sine qua
non para o desempenho e a produtividade ótimos”.
De acordo com Mendes (2003), o trabalho é determinante na construção e
descontrução da saúde. Para o autor, o trabalho se torna nocivo quando a organização do
trabalho constrange o trabalhador e reduz suas possibilidades de construção da saúde, que é
dependente das possibilidades que o trabalhador tem para evitar os riscos, atenuá-los ou
eliminá-los durante a realização de suas tarefas.
A saúde do trabalhador reflete-se no seu trabalho cotidiano, e o trabalho influencia a
sua saúde. Entre uma pessoa e seu ambiente de trabalho material, psicológico e social, existe
uma interação permanente que pode influenciar positiva ou negativamente a saúde da pessoa,
uma vez que o bem-estar físico e mental do trabalhador interfere na sua produtividade.
(MARIN, 2000).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2001) reconhece o papel do trabalho na
determinação e evolução do processo saúde-doença dos trabalhadores com implicações éticas,
técnicas e legais, que se refletirão no processo de organização e o provimento de ações de
saúde para os trabalhadores e na rede de serviços de saúde.
Os determinantes da saúde do trabalhador compreendem os condicionantes sociais,
econômicos, tecnológicos e organizacionais responsáveis pelas condições de vida e os fatores
de risco ocupacionais que estão presentes nos processos de trabalho. Por isso, as ações de
saúde do trabalhador têm como foco as mudanças que contemplem as relações saúde-trabalho
em toda a sua complexidade. (BRASIL, 2001).
Elias e Navarro (2006) destacam que as transformações ocorridas nas últimas décadas
no mundo do trabalho têm repercutido na saúde dos indivíduos e do coletivo de trabalhadores.
A intensificação laboral é traço característico da atual fase do capitalismo. A insegurança
gerada pelo medo do desemprego faz que as pessoas se submetam a regimes e contratos de
trabalho precários, recebendo baixos salários e arriscando suas vidas e saúde em ambientes
insalubres, de alto risco.
Atualmente, tem merecido especial atenção de autoridades e instituições internacionais
a relação entre estresse, trabalho e desemprego associados à globalização econômica, e seus
efeitos sobre a saúde. (AZAMBUJA; MENDES, 2003).
23
A saúde e doença não são fenômenos isolados que possam ser definidos em si
mesmos, porque estão profundamente vinculados ao contexto sócio-econômico-cultural.
(SILVA, 2000).
Nesse sentido, os trabalhadores compartilham os perfis de adoecimento e morte da
população em geral, em função da sua idade, do gênero ou do grupo social. Além disso,
podem adoecer ou morrer por causas relacionadas ao trabalho, como consequências da
profissão ou pelas condições adversas em que seu trabalho é ou foi realizado. (BRASIL,
2001).
Também os profissionais de enfermagem que atuam em hospitais, estão expostos a
condições de trabalho precárias que, aliadas às suas condições de vida, potencializam as
possibilidades de adoecimento. (ELIAS; NAVARRO, 2006).
Discutem-se a seguir alguns problemas de saúde mais prevalentes nos trabalhadores de
enfermagem, como os distúrbios osteomusculares e os distúrbios psicossociais, que, nas
inúmeras pesquisas sobre condições do trabalho de enfermagem, aparecem com destaque
entre os demais, desde 1976, de acordo com os estudos de Mauro et al. (2004).
Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são considerados em vários
estudos, riscos para a saúde dos trabalhadores de enfermagem, devido à movimentação e ao
transporte de pacientes (GERGUEIRA; ALEXANDRE; CORREA FILHO, 2003;
RADOVANOVIC; ALEXANDRE, 2002; ZANON; MARZIALE, 2000).
Os estudos de Gergueira, Alexandre e Correa Filho (2003) demonstram que é elevada
a ocorrência de sintomas músculo-esqueléticos em múltiplas regiões corporais, atingindo
principalmente a região lombar, os ombros, os joelhos e a região cervical.
Segundo Iida (2005), o manuseio de cargas pesadas, posturas inadequadas e repetições
exageradas de movimentos são as principais causas de dores musculares.
Os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (DORT) incluem as lesões por
traumas cumulativos (LTC) e as lesões por esforços repetitivos (LER). o responsáveis pela
maior parte de afastamentos dos trabalhadores, devido a doenças e lesões no sistema músculo-
esquelético. (IIDA, 2005).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2000) destaca vários fatores de risco no trabalho que
podem concorrer para o surgimento das Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/ Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT): repetitividade de movimentos,
manutenção de posturas inadequadas por tempo prolongado, esforço físico, invariabilidade de
tarefas, pressão mecânica sobre determinados segmentos do corpo, trabalho muscular estático,
24
choques e impactos, vibração, frio, fatores organizacionais e psicossociais. Esses fatores
precisam estar associados à intensidade, duração e freqüência.
Segundo o Ministério da Saúde (BRASIL, 2000), as LER/ DORT representam um dos
grupos de doenças ocupacionais mais prevalentes, de acordo com estatísticas referentes à
população trabalhadora segurada, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Socia em
1997 (BRASIL, 2000). São causas de incapacidade laboral temporária ou permanente e
resultam da superutilização das estruturas anatômicas do sistema músculo-esquelético e da
falta de tempo de recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas como dor,
parestesia, sensação de peso e fadiga, que podem ser concomitantes ou não, com o início
insidioso, geralmente nos membros superiores.
Alguns estudos destacam os distúrbios osteomusculares como fator principal de
absenteísmo e procura de auxílio médico pela equipe de enfermagem. (GERGUEIRA;
ALEXANDRE; CORREA FILHO, 2003; PARADA; ALEXANDRE; BENATTE, 2002).
Zanon e Marziale (2000) destacam que a maioria dos trabalhadores de enfermagem
tem consciência não dos esforços e desgaste físicos necessários para realizar a atividade de
movimentação de pacientes acamados como também do despreparo em relação ao uso correto
de técnicas de movimentação.
Iida (2005) refere que o manuseio de cargas, determinado pela grande variação
individual das capacidades físicas e treinamentos insuficientes, é responsável por grande parte
dos traumas musculares entre os trabalhadores. Ao levantar um peso com as mãos, o esforço é
transferido para a coluna vertebral e desce pela bacia e pernas. Quando o trabalhador assume
a posição inclinada, existe uma força perpendicular ao eixo da coluna vertebral, chamada
cisalhamento, essa força tem efeito “cortante”, que é extremamente prejudicial à coluna.
Recomenda-se, então, que o levantamento de cargas seja realizado sempre com a coluna na
posição vertical, utilizando a musculatura das pernas, que são mais resistentes.
O transporte de cargas pode provocar uma sobrecarga nos músculos da coluna e dos
membros inferiores e estresse postural, que aumentam o gasto energético e problemas
músculo-esqueléticos, gerando desconforto, fadiga e dores. Neste sentido, recomenda-se
manter a carga o mais próximo junto ao corpo, na altura da cintura, conservando os braços
estendidos. (IIDA, 2005).
O trabalho de enfermagem exige o manuseio e transporte de cargas através da
mobilização de pacientes acamados para procedimentos no próprio leito ou, quando
necessário, mudança do leito para macas ou cadeiras. Ressalta-se que esse manuseio pode ser
25
necessário várias vezes e em diferentes pacientes pelos mesmos trabalhadores de
enfermagem, durante um turno de trabalho.
Zanon e Marziale (2000), durante análise da postura dos trabalhadores de
enfermagem, através de filmagens, observaram que os trabalhadores gastam 97% do tempo
utilizado para a execução dos procedimentos em posturas penosas, que podem causar danos
ao sistema osteomuscular.
O trabalhador frequentemente assume posturas inadequadas devido ao projeto
deficiente das máquinas, equipamentos, postos de trabalho e exigências da tarefa. Ressalta-se
que, quando o trabalhador precisa inclinar-se para levantar cargas a partir de uma superfície
baixa, esse tipo de trabalho pode provocar lesões musculares. (IIDA, 2005).
Vários autores enfatizam que grande parte das agressões à coluna vertebral em
trabalhadores de enfermagem está relacionada a fatores ergonômicos inadequados e
originários de mobiliários, posto de trabalho e equipamentos, além de falta de treinamento e
de pessoal, o que envolve fatores ambientais e organizacionais. (ALEXANDRE, 1998;
PARADA; ALEXANDRE; BENATTE, 2002; ZANON; MARZIALE, 2000).
Grandejean (1998) destaca que a escolha correta da altura para os locais de trabalho é
de grande importância, pois se a área de trabalho é muito alta, os ombros são erguidos para
compensar, levando a contrações musculares dolorosas na altura das omoplatas, nuca e costas.
Quando a área de trabalho é muito baixa, as costas o sobrecarregadas pelo excesso de
curvatura do tronco, gerando queixas de dores nas costas. Neste sentido, a altura das mesas
de trabalho deve estar de acordo com as medidas antropométricas, tanto para o trabalho em pé
quanto para o trabalho sentado.
O planejamento dos postos de trabalho é importante no sentido de melhorar a postura,
promover redução da fadiga, dores corporais e, consequentemente, reduzir os afastamentos do
trabalho e as doenças ocupacionais. (IIDA, 2005).
Segundo Alexandre (1998), os enfermeiros devem participar do planejamento do
ambiente físico hospitalar, visando a evitar erros na estrutura física do ambiente de trabalho
que possam proporcionar danos ao trabalhador de enfermagem.
Grandejean (1998) recomenda a alternância do trabalho sentado com uma postura em
pé nos locais de trabalho, pois os músculos utilizados na postura de pé e na sentada não são os
mesmos, então a alternância da postura significa o alívio de determinados grupos de
músculos.
Quanto aos distúrbios psicossociais, os estudos demonstram uma estreita relação
entre transtornos psicoemocionais e manifestações clínicas oriundas das condições de
26
trabalho. Além disso, a falta de adaptação do trabalhador aos estressores da vida moderna
possibilita o surgimento de surtos de transtorno mental. (MAURO, 1996).
Rocha e Glima (2000) verificam entre os distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho
a presença da fadiga mental e física, adotando-se a expressão de cansaço geral, ou fadiga
crônica ou patológica, as quais compreendem distúrbios do sono, irritabilidade, desânimo, e,
às vezes, dores diversas e perda de apetite.
Iida (2005) conceitua fadiga como efeito de um trabalho continuado, que provoca uma
diminuição reversível da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa do trabalho.
Pode ser causada por inúmeros fatores, que são cumulativos e complexos. Dentre esses
fatores, destacam-se os fatores fisiológicos (relacionados à intensidade e duração do trabalho
físico e mental), os psicológicos (monotonia e falta de motivação), os ambientais (iluminação,
ruídos, temperaturas) e os sociais (relacionamento com a chefia e com os colegas de trabalho).
Como consequência, a pessoa fatigada tende a aceitar menores padrões de precisão e
segurança (simplificando a tarefa e eliminando tudo o que não é essencial), diminuir força,
velocidade, movimentos e precisão.
No trabalho de enfermagem, percebe-se um número significativo de trabalhadores que
apresenta fadiga por questões organizacionais do trabalho, o que se reflete no processo e
resultado do seu trabalho.
Rocha e Glima (2000) assinalam, no trabalho, a presença de desgastes que, atingindo a
identidade, ameaçando valores e crenças e ferindo a dignidade e a esperança do trabalhador,
estão associados a vivências conectadas à gestão e à organização do trabalho. Identifica-se
nesse processo a falta de percepção do trabalhador de um reconhecimento social pelo
desempenho, bem como as decepções a respeito de sua ascensão funcional.
Silva (2000) ressalta que o número de doenças diretamente relacionadas com o
estresse está aumentando, afetando diretamente a execução de tarefas e desenvolvimento do
trabalho. Os enfermeiros vivenciam estressores relacionados aos fatores intrínsecos ao
trabalho, às relações no trabalho, aos papéis estressores e à estrutura organizacional.
(STACCIARINI; TRÓCOLI, 2001).
Rocha e Glima (2000) consideram que os eventos em si não são estressantes e sim a
forma como os interpretamos e a eles reagimos. Neste sentido, o que é estressor para uma
pessoa pode não ser para outra, porque somos diferentes em função de nossa história de vida e
personalidade e temos a tendência de interpretar os eventos do cotidiano de forma diferente.
Assim sendo, os estressores de cada trabalhador precisa ser valorizado e respeitado.
27
Santos, Oliveira e Moreira (2006) destacam como situações de desgaste e a
precariedade das condições de trabalho, em relação aos recursos humanos e materiais, podem
ser responsáveis pelo estresse, que é um fator de risco para a saúde do enfermeiro que atua no
CTI.
Spindola e Santos (2005) afirmam que o profissional de enfermagem é
reconhecidamente polivalente e tende a envolver-se com a dinâmica da organização
hospitalar, em geral, por falta de delimitação do seu campo de atuação. Esse fato, associado a
fatores como remuneração insuficiente, desvalorização do seu trabalho, cobrança excessiva
por eventuais falhas no atendimento e falta de incentivo para capacitação, pode levá-lo a
sentir angústia e sofrimento no exercício de suas funções.
O ritmo laboral frenético da enfermagem contribui significativamente para o desgaste
psíquico da enfermagem no ambiente hospitalar, interferindo no processo saúde-doença,
conduzindo ao adoecimento físico e/ou psíquico. (SOUZA; LISBOA, 2005).
Devido ao ritmo laboral aumentado da enfermagem, Souza e Lisboa (2005)
observaram alterações como irritabilidade, ansiedade, tristeza, insônia, frustração,
hipertensão, taquicardia e modificação do fluxo menstrual.
A sobrecarga de trabalho e o pouco tempo destinado ao descanso são situações que
comprometem a saúde mental do trabalhador de enfermagem, podendo acarretar problemas
pessoais, nas relações interpessoais e no desempenho de suas atividades profissionais.
(ELIAS; NAVARRO, 2006; MAURO, 1996; SILVA; YAMADA, 2008).
Destaca-se no trabalho de enfermagem a grande parte de tempo que os profissionais
passam com os pacientes e seus familiares. As relações interpessoais, carregadas de emoções,
tensões e inclusive frustração e hostilidade, podem conduzir ao aparecimento do burnout entre
o grupo profissional, isso é percebido principalmente quando cuidam de pacientes com
enfermidades terminais, ocasião em que o sentimento de frustração pode ser altamente
incrementado. (MORILLEJO; MUÑOZ, 2004).
Rocha e Glima (2000, p. 355) conceituam Burnout como uma síndrome
caracterizada por exaustão emocional, despersonalização e sentimento de pouca realização e
satisfação pessoal”. Caracterizado por perda de autocontrole emocional, irritabilidade,
perturbações do sono, manifestações depressivas e agressividade, o burnout é o tipo mais
insidioso de estresse no trabalho e ocorre frequentemente em profissões de ajuda
(enfermeiras, assistentes sociais, médicos e psicólogos).
Os trabalhadores que apresentam Burnout tendem a avaliar-se negativamente quanto
ao resultado do seu trabalho, sentem-se insatisfeitos consigo mesmos e com o impacto de sua
28
produção laboral. Este sentimento caracteriza uma falta de realização pessoal no trabalho, que
afeta as suas habilidades e a sua relação com as pessoas as quais atendem. (SILVA, 2000).
O Burnout é um risco ocupacional significativo que pode ser entendido como produto
de uma interação negativa entre o local, a equipe de trabalho e os clientes. (SILVA, 2000).
1.3 O Meio ambiente e condições de trabalho nos hospitais públicos
O meio ambiente de trabalho é tudo o que está relacionado às condições físicas,
químicas, biológicas e ambientais e que pode produzir fatores condicionantes sobre as
atividades dos trabalhadores (SANTOS; FIALHO, 1995). Logo, quando se fala das condições
de trabalho, não se refere apenas às condições físicas (calor, ruído, postura, iluminação etc),
mas também às condições sociais do trabalho, a vida social, o salário e as perspectivas do
trabalhador.
Santiago e López (2000) definem como condições de trabalho todas as características
de uma situação em que o trabalhador desenvolve sua atividade, obrigado pelo seu contrato de
trabalho.
Na maioria das vezes, o contrato de trabalho define, em parte, as condições de
trabalho, compreendendo a carga horária, a jornada, as atividades, a remuneração e outros
aspectos. Entretanto, existem aspectos que não estão implícitos no contrato de trabalho, como
as tensões, cobranças, o clima organizacional que o trabalhador vai desvendando no seu dia-a-
dia de trabalho.
Meylan apud Santiago e Lopez (2000) classifica as questões relativas às condições de
trabalho como as associadas: às condições materiais de trabalho que contemplam higiene,
segurança e ambiente de trabalho; à organização do trabalho, compreendendo implantação e
concepção dos postos de trabalho, fixação de normas, reestruturação de tarefas, organização
do comando e informação e associação entre trabalhadores e gerentes; à duração do trabalho
e organização dos horários; a modos de remuneração do trabalho; e ao desenvolvimento das
profissões e aspectos da empresa.
Marin (2000) reafirma os diferentes aspectos que interferem no meio laboral, como:
as jornadas de trabalho, as formas de remuneração, a organização e o conhecimento do
trabalho, a higiene e segurança no trabalho, a ergonomia, os serviços sociais para o
trabalhador, os sistemas de relação laborais, os aspectos individuais dos trabalhadores, as
circunstâncias econômicas, políticas e sociais do país, a situação prática e jurídica do
trabalhador como empregado e as suas condições de vida.
29
Jódar e Benach (2004) destacam como componentes das condições de trabalho, as
condições gerais (processo de trabalho, organização, materiais do trabalho), condições
específicas da atividade (que compreendem as atividades e a situação de trabalho) e os postos
de trabalho (ambiente).
O interesse pelas condições de trabalho tem diversos fatores, destacando-se a
possibilidade de aumentar a produtividade e qualidade do trabalho, a valorização dos recursos
humanos com melhorias das condições de trabalho e da prevenção dos riscos laborais e
melhoras nas condições de vida dos trabalhadores. (JÓDAR; BENACH, 2004).
Marín (2000) destaca que, para discutir condições e ambiente de trabalho, é necessário
um enfoque global, porque o trabalhador não é apenas um receptor de ordem para executar
uma tarefa; no trabalhador também estão presentes seus problemas individuais, que ele não
deixa na porta do trabalho. De fato, a história familiar e social do trabalhador, a situação
econômica individual, a situação política e a situação jurídica laboral fazem parte da realidade
de sua vida diária. Isso acontece porque o trabalho interfere na vida do trabalhador, assim
como este interfere no seu ambiente de trabalho, seja positiva ou negativamente. Trata-se de
uma relação dialética e bidirecional.
Existe uma estreita relação entre condições sociais de vida e de trabalho. Em primeiro
lugar, a classe social de cada indivíduo tem relação com determinantes de sua condição de
trabalho, uma vez que os aspectos econômicos, o local de sua residência e o comportamento
em relação à sua saúde (como dieta, exercício físico e consumo de drogas) afetam o seu
estado de saúde e da sua família. Assim, os trabalhadores de classes sociais com melhor
situação econômica e com maior nível educativo possuem também trabalhos mais
qualificados com condições de trabalho que trazem mais benefícios a sua saúde. Em segundo
lugar, cada trabalhador traz para o seu meio de trabalho os problemas gerados pela sua
situação econômica, influências de sua vida diária com repercussões no seu meio ambiente de
trabalho. (JÓDAR; BENACH, 2004).
No meio ambiente de trabalho, a vida do trabalhador sofre a influência do processo de
trabalho em vários aspectos de ordem social como organização do trabalho, distância da
residência, constrangimento no trânsito, inexistência de creches, responsabilidade exagerada
do cargo, despersonalização das relações entre trabalhador e patrão, apreensão ante a
possibilidade de demissão ou aproximação da aposentadoria (pela perda do status), redução de
gastos da empresa (situação econômica), provocando sensação de fadiga e aborrecimentos.
(MAURO, 1996).
30
Para Marin (2000), não basta apenas apontar a medicina, utilizando a higiene e a
segurança para garantir um ambiente laboral saudável, é necessário contar com a colaboração
de outras ciências (Psicologia, Sociologia, Direito etc) e a participação dos trabalhadores para
estudar as condições e os ambientes de trabalho.
Gárcia, Benavides e Ruiz-Frutos (2004) apontam diferentes níveis para elementos
presentes no processo de mudança do trabalho e das condições de trabalho, como nível
macroeconômico (terceirização e globalização), nível demográfico (envelhecimento da
população e feminilização do trabalho) e mercado de trabalho (desemprego, precariedade,
economia, crescimento de trabalhadores autônomos e novas tecnologias).
Marín (2000) afirma que as más condições de trabalho podem produzir danos às
pessoas, à máquina e ao produto. Ressalta como danos à saúde dos trabalhadores os acidentes
de trabalho, as enfermidades, o estresse laboral, a fadiga, a insatisfação no trabalho e o
envelhecimento precoce. Os danos à saúde do trabalhador vão refletir-se diretamente no
trabalho, seja no desenvolvimento das suas atividades, seja no produto do seu trabalho. O
trabalhador não é neutro, e suas características individuais interferem no coletivo do seu
trabalho.
Mauro (1996) destaca como condições inadequadas de natureza física a temperatura, a
umidade, a iluminação e a acústica; as de natureza química, a presença de substâncias nocivas
que contaminam o meio ambiente; as de natureza biológica, os micro-organismos
patogênicos, muito comuns no trabalho em saúde, os trabalhadores habitualmente se alienam
desta realidade. Considera ainda a presença de fatores ergonômicos relacionados ao trabalho
em turnos, trabalho monótono, repetitivo e adoção de posturas inadequadas, enfim, uma série
de condições que exige muito esforço de adaptação do trabalhador e que, na maioria das
vezes, é ignorada pela empresa e pelo próprio trabalhador.
Nas últimas décadas, a assistência à saúde da população tornou-se cada vez mais
sofisticada, complexa, exigindo mais equipamentos, profissionais mais capacitados, fatores
que levam à consequente elevação dos custos dos procedimentos. Em contraponto, há a
redução das receitas, corte dos recursos humanos, com consequente sobrecarga das atividades
dos profissionais de saúde. A distância entre as duas pontas do processo é tão grande que
cada uma passa a ver apenas a sua atuação, a sua necessidade, a sua realidade. (MAURO et
al., 2004).
A crise econômica, social e política que atinge os serviços de saúde, atinge também os
hospitais, gerando ambientes inadequados para o trabalho e comprometendo o trabalho dos
profissionais de saúde.
31
Para Beck, Denardin e Gonzales (2005), o universo hospitalar é permeado por
situações geradoras de crises, pois é composto por pessoas enfermas, em situações mais ou
menos graves e que têm suas estruturas física, emocional, psíquica e espiritual abaladas no
momento da internação também é formado por trabalhadores de saúde, que se deparam,
cotidianamente, com dificuldades inerentes às suas próprias características e ao seu processo
de trabalho. Este quadro cria sentimentos ambíguos, como esperança e desesperança, tristeza
e alegria, dentre outros, tanto na vida pessoal quanto no trabalho das enfermeiras.
Marziale e Carvalho (1998), através de um estudo sobre condições ergonômicas do
trabalho da equipe de enfermagem em unidade de internação de cardiologia, apontaram
condições insatisfatórias e problemas enfrentados pelos trabalhadores relacionados com a
inadequação de fatores como salários, relacionamento interpessoal, organização de trabalho,
formação e atividades executadas.
A precariedade das condições de trabalho e os problemas relacionados às deficiências
de recursos, em particular os humanos, foram evidenciados por Nicola e Anselmi (2005) num
hospital universitário público.
Para Spindola e Santos (2005), a assistência de enfermagem nas instituições públicas,
em geral, tem sido penalizada com a deficiência dos recursos humanos e materiais, o que
interfere diretamente na qualidade da assistência prestada à população, gerando insatisfação
nos profissionais que se sentem impotentes e frustrados com a situação.
Nicola e Anselmi (2005) observaram, num levantamento do percentual de ausências
não previstas da equipe de enfermagem, a licença por problemas de saúde como o principal
motivo. Para as autoras, isso indica a possibilidade de estar ocorrendo sobrecarga de trabalho,
bem como deficiência na assistência, em decorrência do número reduzido de enfermeiros.
Percebe-se no contexto da prática hospitalar que a deficiência de recursos humanos
aumenta muito a sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem. Como o trabalho
desenvolvido pela enfermagem não pode ser acumulado para o outro dia, mesmo com
quantitativo insuficiente, a equipe de enfermagem tenta cumprir todas as suas atividades, o
que gera uma sobrecarga de trabalho e compromete a qualidade da assistência de
enfermagem, causando permanente cansaço mental e físico ao trabalhador de enfermagem, o
que pode resultar no seu afastamento, aumentando ainda mais a deficiência de recursos
humanos.
Os contextos social, político e econômico também interferem na organização e na
regulação das relações de trabalho e, consequentemente, nas políticas de recursos humanos
das organizações, fazendo que seus gestores, na tentativa de equacionar seus problemas
32
financeiros, optem pela redução do quantitativo de recursos humanos ou pela adoção de
medidas de flexibilização das relações de trabalho, afetando o trabalho dos profissionais de
saúde. (FREITAS; FUGULIN; FERNANDES, 2006).
Para Dejours (1992), o sofrimento dos trabalhadores pode se expressar ou pela
insatisfação ou pela ansiedade. Ainda em conformidade com o autor, a satisfação e a
insatisfação do trabalhador estão vinculadas a condições de trabalho (ambiente físico, químico
e biológico, condições de higiene e segurança) e organização do trabalho (divisão do trabalho
e das tarefas, relações de poder, questões de responsabilidade, habilidade para cuidar de
pacientes graves que estabelecem limites/possibilidades diversas dos demais, relacionamento
entre as pessoas etc).
As crises pelas quais passam os profissionais de Enfermagem podem ser originadas
em várias situações, sendo decorrentes de situações inerentes ao trabalhador ou da
organização do próprio trabalho.
Destacam-se aqui as situações relacionadas a organização do trabalho, que são de
natureza institucional, como carência de força de trabalho (em decorrência do número e
qualificação inadequados), equipamentos, sistema de saúde com muitos entraves,
desvalorização da profissão, baixos salários, carreiras profissionais sem muitas possibilidades
de ascensão, etc.
1.4 Fatores de riscos no trabalho hospitalar
Marin (2000) conceitua risco ocupacional como a probabilidade de o trabalhador
perder a saúde devido às condições em que se desenvolve o trabalho. Em geral, são
consequências da exposição dos trabalhadores a fatores nocivos, presentes no ambiente de
trabalho.
Para Mauro et al. (2004), os riscos ocupacionais têm origem nas atividades insalubres
e perigosas, aquelas em que a natureza, condições ou métodos de trabalho, assim como
mecanismos de controle sobre os agentes biológicos, químicos, físicos e mecânicos do
ambiente hospitalar, podem provocar efeitos adversos para a saúde do trabalhador.
Santiago e López (2000) assinalam como fatores de risco as características do trabalho
que podem aumentar a possibilidade de produzir acidentes ou afetar a saúde dos
trabalhadores. Os autores apontam os seguintes grupos:
a) fatores ligados às condições de segurança aqueles que influenciam os acidentes;
33
b) fatores ligados ao meio ambiente do trabalhador incluem-se neste grupo os
agentes físicos (ruídos, vibrações, iluminações, ...), os agentes químicos (gases, vapores,
aerossóis, ...), agentes biológicos (constituídos por microrganismos, como bactérias, vírus,
protozoários etc), causas de enfermidades profissionais;
c) fatores derivados das características do trabalho os quais incluem as exigências
que a tarefa impõe ao trabalhador (esforços, manipulação de cargas, posturas, ...), tanto física
como mental;
d) fatores derivados da organização do trabalho fatores organizacionais temporais
(jornada e ritmo do trabalho, trabalho em turnos ou noturno etc); e
e) fatores dependentes das tarefas (autonomia, comunicação e relações, status,
possibilidade de promoção, competitividade, monotonia etc).
O Ministério da Saúde (BRASIL, 2001, p.27) classifica os fatores de riscos para a saúde e
segurança dos trabalhadores relacionados com o trabalho, em cinco grandes grupos, a seguir:
FÍSICOS: ruído, vibração, radiação ionizante e não-ionizante, temperaturas extremas (frio e
calor), pressão atmosférica anormal, Dentre outros;
QÚIMICOS: agentes e substâncias químicas, sob a forma líquida, gasosa ou de partículas e
poeiras minerais e vegetais, comuns nos processos de trabalho [...];
BIOLÒGICOS: vírus, bactérias, parasitas, geralmente associados ao trabalho em hospitais,
laboratórios, na agricultura e pecuária [...];
ERGONÕMICOS E PSICOSSOCIAIS: decorrem da organização e gestão do trabalho,
como, por exemplo, da utilização de equipamentos, máquinas e mobiliário inadequados,
levando a posturas e posições incorretas; locais adaptados com más condições de iluminação,
ventilação e de conforto para os trabalhadores; trabalho em turnos e noturnos; monotonia ou
ritmo de trabalho excessivo, exigências de produtividade, relações de trabalho autoritárias,
falhas no treinamento e supervisão dos trabalhadores, entre outros;
MECÂNICOS E DE ACIDENTES: ligados à proteção das máquinas, arranjo físico, ordem
e limpeza do ambiente de trabalho, sinalização, rotulagem de produtos e outros que podem
levar a acidentes de trabalho.
Otero (1993) destaca que os profissionais de saúde estão expostos a riscos físicos,
químicos, biológicos, psíquicos e sociais.
Os riscos físicos estão presentes nos hospitais, através dos incêndios (devido ao mau
uso de gases anestésicos, oxigênio e outros líquidos infláveis), acidentes de origem elétrica
(presença de vários equipamentos), explosões, traumatismos e feridas (principalmente devido
à fadiga ao final da jornada, características arquitetônicas do hospital, o levantamento de
cargas através do manuseio de pacientes), risco de trauma sonoro (ruídos de alarmes,
telefones, pacientes, equipe de saúde, e outros), as radiações ionizantes e radiações não
ionizantes. (OTERO, 1993).
Segundo Iida (2005), o ruído é um estímulo auditivo desnecessário que constitui a
principal causa de reclamação sobre as condições ambientais, embora haja grande variação
individual em relação ao grau de tolerância ao ruído. Os níveis de ruído entre 70 e 90 dB
dificultam a conversação e a concentração e podem provocar aumento dos erros e redução do
34
desempenho, é ideal que se conserve o ruído ambiental abaixo de 70 dB. Ruídos acima de 90
dB provocam estresse e fadiga, tendem a prejudicar tarefas que exigem atenção, concentração
ou velocidade e precisão de movimentos. (IIDA, 2005).
Atualmente, a aplicação e o uso das radiações ionizantes estão presentes na medicina
para diagnóstico e tratamentos. Os efeitos da radiação variam de acordo com a intensidade da
exposição e incluem náuseas, vômitos, diarréia, envelhecimento da pele, fadiga, mal-estar
geral e hemorragias, câncer induzido por radiações ionizantes, abortos, malformação
congênita, atraso do crescimento e retardo mental. (GARCÍA; GARCÍA, 2004).
Os riscos químicos acontecem nos hospitais pela grande quantidade de substâncias
químicas. Nem sempre o profissional tem conhecimento do que está manipulando, podendo
um bom número de substâncias ocasionar irritações, sensibilizações alérgicas, danos sobre
diversos órgãos, má formação congênita, mutações e inclusive câncer. (OTERO, 1993).
Dentre as várias substâncias que se utilizam nos hospitais e cujos efeitos nocivos para
a saúde são conhecidos, merecem especial atenção, o glutaraldeído, o formol e o óxido de
etileno, utilizados para desinfecção e esterilização, os citostáticos e os gases anestésicos.
(OTERO, 1993).
Os riscos biológicos manifestam-se através da Hepatite B, principalmente no inicio do
exercício profissional e nos serviços que têm contato frequentes com sangue. Existem
medidas de prevenção, com barreiras físicas, químicas e biológicas. Observa-se também o
risco de contágio com a hepatite C, SIDA e Hepatite A (principalmente nas enfermarias de
pediatria). Dentre as enfermidades bacterianas, o autor destaca a tuberculose pulmonar e a
rubéola, esta última é um problema atual de saúde pública e pode ser prevenida através da
vacinação. Existe ainda o risco de outras infecções como sarampo, parotidites, conjuntivites,
herpes simples, varicela-zoster e outras. (OTERO, 1993).
Os riscos psíquicos podem ser representados pelo alcoolismo, uso de drogas,
depressões e visitas frequentes ao psiquiatra e que podem ser explicados pelo excesso de
trabalho, estresse e ansiedade, pelo cil acesso as drogas, o que determina seu maior uso
pelos profissionais de saúde. O trabalho em turnos origina problemas tanto pessoais como de
relação familiar e social. (OTERO, 1993).
Os riscos sociais são evidenciados pelo risco de agressões físicas ou verbais aos
profissionais de saúde. (OTERO, 1993).
Nos últimos anos, muitos estudos foram desenvolvidos sobre a saúde do trabalhador
em ambientes hospitalares, enfatizando os riscos ocupacionais. Segundo Silva (2000, p.24),
35
dentro dos hospitais, no trabalho de enfermagem, encontram-se diferentes riscos
ocupacionais, tais como:
as lesões por esforço repetitivo de segurar e levantar um paciente várias vezes ao dia, os
efeitos do ruído da aparelhagem das unidades intensivistas, as condições de estresse
associada ao atendimentos de urgência onde a vida de cada trabalhador é subestimada pela
vida do paciente, as precárias condições de trabalho, a baixa remuneração, a insegurança
salarial, a irregularidade na oferta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), o que
somados geram legiões de trabalhadores na enfermagem acometidos de algum tipo de
sofrimento físico ou mental.
Os distúrbios provocados no trabalhador de saúde, em função dos riscos, evidenciam
sintomas objetivos e/ou subjetivos, oriundos da falta de condições ambientais e das suas
condições ergonômicas (MAURO, 1991).
Os profissionais da saúde, especialmente o coletivo de enfermagem, são vulneráveis
aos riscos derivados de seu trabalho. As demandas de trabalho na saúde implicam um ritmo
excessivo de trabalho, atenção a demasiadas tarefas ao mesmo tempo ou trabalho por muitas
horas seguidas, o que pode favorecer transtornos relacionados com o estresse laboral e outros
transtornos psicológicos (depressão, ansiedade etc). Entre os fatores físicos no hospital, estão
o manejo de cargas pesadas, a adoção de posturas incômodas durante um tempo continuado
ou a realização de movimentos repetitivos. (MORILLEJO; MUÑOZ, 2004).
Os trabalhadores de enfermagem estão mais expostos ao risco de traumas e lesões por
levantamentos de pacientes acamados, risco de sensibilização alérgica (devido à
administração de antibióticos) e aumento da atividade mutagênica (citostáticos). Além disso,
o contato com grande quantidade de substâncias químicas gera um aumento de eczemas. Há
também o risco infeccioso, com destaque para hepatite C e SIDA, associado a frequentes
contatos com sangue e instrumentos cortantes. Evidencia-se ainda o estresse emocional
principalmente em unidades de pacientes intensivos. (OTERO, 1993).
No trabalho em serviços de saúde, os agentes e fatores de risco são assumidos pela
maioria dos profissionais de saúde como peculiaridades naturais do meio laboral,
descontextualizados, por conseguinte, das razões e da origem dos acidentes e doenças no
trabalho. Assim, é imputado aos trabalhadores o ônus por acidentes e doenças, concebidos
como decorrência de ignorância e negligência, o que caracteriza uma c dupla punição do
trabalhador.
Bulhões (1998, p.51) salienta que o trabalhador de enfermagem é mais vulnerável aos
riscos pelos seguintes fatores:
[...] é o maior grupo individualizado de profissionais de saúde; presta assistência ininterrupta,
24 horas por dia; é responsável pela execução de cerca de 60% das ações de saúde; é a
categoria que mais entra em contato físico com os doentes;... por ser bastante diversificada
em sua formação.
36
Uma vez detectados a vulnerabilidade e os riscos que estão presentes no trabalho de
enfermagem, precisamos discutir medidas de proteção e prevenção para minimizá-los ou
eliminá-los.
Nesse sentido, um desafio se impõe aos pesquisadores da área de saúde do
trabalhador, que é a avaliação do contexto do trabalho para visualizar as condições em que ele
se realiza, permitindo, posteriormente, a indicação de intervenções que podem ser deflagradas
para a redução dos fatores de risco.
Para Marin (2000), a prevenção acontece quando evitamos um dano provocado por
uma má condição de trabalho. Isso se processa através de uma análise sistemática de todos os
aspectos de uma atividade laboral e da identificação das possibilidades de eliminar os
elementos perigosos ou da utilização de medidas de proteção para controlar os riscos.
Na prática, percebemos que o trabalhador de enfermagem banaliza os riscos inerentes
à sua profissão e pouco tem feito para mudar essa realidade, pois se acostumou a conviver e
trabalhar em ambientes inadequados para o seu trabalho. Entretanto a evolução do cuidado de
enfermagem suscita novas pesquisas sobre o processo e a organização da nossa prática.
1.5 A ergonomia e o trabalho de enfermagem
A necessidade de responder a problemas gerados por situações de trabalho
insatisfatórias originou a Ergonomia. (WISNER, 1998). Para Pires do Rio e Pires (2000), as
transformações socioeconômicas e tecnológicas que surgiram no mundo do trabalho
apontaram para a origem e evolução da Ergonomia, que tem sido uma das mais importantes
vertentes da saúde ocupacional.
A ergonomia é nasceu pelo envolvimento de uma serie de disciplinas como a
psicologia, a fisiologia, a segurança e higiene e as ciências técnicas, as quais avaliam o
individuo no seu trabalho a partir de diferentes pontos de vista. ( CAVASSA, 1991).
A Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO) (2007), define Ergonomia como
o estudo das interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente,
objetivando intervenções e projetos que visem melhorar de forma integrada e não dissociada a
segurança, o conforto, o bem-estar e a eficácia das atividades humanas.”
O objetivo principal da ergonomia é a atividade concreta do homem aplicado ao
trabalho utilizando meios técnicos; seu objetivo de investigação é o sistema homem-máquina-
meio ambiente. (CAVASSA, 1991).
37
A estrutura funcional do sistema homem-máquina-meio ambiente é formada não
somente pelo que se denomina fatores humanos, mas também por fatores organizacionais ( de
estrutura), fatores informativos ( de comunicação) e fatores territoriais ( de espaço).
CAVASSA, 1991).
Para Cavassa (1991) a ergonomia é uma disciplina científica-técnica e de desenho que
estuda integralmente o homem e seu marco de atuação, relacionado com a utilização de
equipamentos e máquinas, dentro de um ambiente de trabalho específico, otimizando os três
sistemas (homem- máquina meio ambiente), através de estudos do indivíduo, da técnica e da
organização do trabalho. ( CAVASSA, 1991).
As propriedades ergonômicas dos fatores homem, máquina e meio ambiente nasce de
uma série de índices integrais (fisiológicos, psicológicos, técnicos) que representam aspectos
diferentes, mas se interrelacionam em suas propriedades. No estudo ergonômico do fator
humano, estão relacionados: os sistemas sensorial, visual, auditivo, ósseo, além da
antropométria, a biomecânica e a fadiga. (CAVASSA, 1991).
O campo de ação da ergonomia é bastante amplo, cruzando os limites e integrando
muitas disciplinas científicas e profissionais. A ergonomia utiliza-se das ciências biológicas,
das ciências sociais (modelos organizacionais), do campo da segurança, do comportamento
humano, da teoria da aprendizagem e da analise do meio ambiente ( ajustando o trabalho, a
tarefa, os equipamentos e o ambiente do indivíduo). (CAVASSA, 1991).
A metodologia em ergonomia apresenta uma multiplicidade de metodologias, que
variam em função das suas circunstâncias para intervenção. Para se definir uma metodologia
em ergonomia, é preciso situar a natureza do problema, os prazos e meios utilizados, além da
situação prática e da atividade profissional que a investigação requer (WISNER,1998).
A Ergonomia pode contribuir para minimizar os riscos no trabalho e, promover a
melhoria do ambiente laboral, visando a saúde do trabalhador, o que reflete na qualidade do
trabalho e na sua produtividade. ( CAVASSA, 1991).
Para Wisner (1998) a Ergonomia contribui com recomendações baseadas nos prejuízos
sociológicos e psicológicos derivados do trabalho. O mesmo autor conceitua a ergonomia
como um conjunto de conhecimentos relativos ao homem e necessário à concepção de
máquinas e instrumentos para ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e
eficiência.
Vidal (2003), em documento encaminhado à Associação Brasileira de Ergonomia
(ABERGO), destaca a Ergonomia como uma ciência e uma tecnologia capaz de contribuir
38
significativamente para aumentar o trabalho decente no país, melhorando a performace do
trabalho no Brasil.
Nos ambientes hospitalares a ergonomia vem facilitar o estudo da quantidade e a
interação de fatores pessoais (fadiga, boa forma, idade, treinamento) e circunstâncias
(organização do trabalho, escalas, formato de piso, mobiliário, equipamentos, comunicação,
apoio psicológico dentro da equipe de trabalho) que interferem no desenvolvimento do
trabalho. A observação ergonômica de dias inteiros de trabalho e da coleta de informações
objetivas, permite identificar o trabalho real desempenhado pelos trabalhadores da área da
saúde. São as informações sobre movimentação, postura, desempenho cognitivo e controle
emocional que ajudam a identificar os fatores responsáveis por um trabalho eficaz, seguro,
confortável e saudável. ( ESTRY- BEHAR, 1996).
Marziale e Robazzi (2000), destacam que a aplicação dos princípios ergonômicos na
Enfermagem podem contribuir para o desenvolvimento da profissão, pois na enfermagem, um
corpo de conhecimento científico que está sendo construído, e que vislumbra não apenas a
técnica, mas o embasamento teórico dos modelos assistenciais contextualizados na realidade,
do momento sócio-político e econômico.
Para Mauro et al (2004) a enfermagem ainda não está mobilizada o suficiente para
aplicar as medidas de segurança em favor de sua própria saúde, da produtividade do serviço,
do seu melhor desempenho e satisfação no trabalho. Para a autora é importante a
implementação de medidas ergonômicas e de biossegurança para a proteção dos enfermeiros e
demais profissionais de saúde, assim como as medidas de higiene mental que possam garantir
um ambiente saudável e obtenção do equilíbrio emocional do grupo.
Os estudos de enfermagem utilizando a abordagem ergonômica são necessários para
ajudar na concepção de modelos que favoreçam a organização do trabalho, a utilização
adequada de equipamentos e espaços no processo de trabalho e a participação do trabalhador
neste processo, visando melhor adaptação do trabalho ao trabalhador de enfermagem.
39
2 METODOLOGIA
Trata-se de um estudo, apoiado na epidemiologia, bioestatística e ergonomia, não
experimental, transversal, que utiliza a estatística descritiva e inferencial.
As ferramentas da estatística descritiva permitem ao pesquisador reduzir, resumir,
organizar, avaliar, interpretar e comunicar a informação numérica. (POLIT; HUNGLER,
1998).
Utilizou-se a estatística inferencial para, através do teste do Qui-quadrado, estabelecer
a relação de dependência entre algumas variáveis do estudo, permitindo demonstrar se os
resultados obtidos no estudo não foi devido ao “acaso”. (POLIT, HUNGLER, 1998).
Segundo Medronho et al. (2004), a epidemiologia estuda os determinantes e as
condições de ocorrências de doenças e agravos à saúde em populações humanas, através de
diversos métodos e técnicas, de acordo com suas próprias visões de mundo, posicionamentos
teóricos, e propósitos, imediatos ou não, de seus estudos, auxiliando, assim, a identificação
dos determinantes e das condições de ocorrências de doenças e agravos à saúde da população
estudada, de acordo com a percepção do trabalhador, com os posicionamentos teóricos e os
propósitos da pesquisa.
A Bioestatística contribuiu com seus instrumentos para a identificação dos resultados
do estudo, pois é a ciência da estatística aplicada às ciências que estudam aspectos vitais
(referentes à vida), destacando entre elas a enfermagem. (ARANGO, 2005).
A Ergonomia contribuiu com o estudo das interações entre os trabalhadores com a
tecnologia, a organização e o ambiente de trabalho, no sentido de compreender as condições
de trabalho e suas relações com a segurança, o conforto e bem-estar do trabalhador em seu
posto de trabalho.
Utilizou-se uma abordagem quantitativa, para estabelecer um diagnóstico das
condições de trabalho capazes de influenciar no aparecimento de problemas de saúde dos
trabalhadores de enfermagem. Polit e Hungler (1998) destacam que o método quantitativo
inicia-se com idéias pré-concebidas acerca do objeto do estudo, utiliza procedimentos
estruturados e instrumentos formais para coletar informações mediante condições de controle,
enfatiza a objetividade e analisa as informações numéricas através de procedimentos
estatísticos.
2.1 Campo de pesquisa
O estudo foi desenvolvido num Hospital Universitário de grande porte, com cobertura
assistencial estimada de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, e considerado centro de
40
excelência e referência para o estado nas áreas de assistência, ensino e pesquisa. Situa-se na
zona norte do município do Rio de Janeiro, fazendo parte da rede de serviços de saúde da
Área Programática 2.2. Funciona com 600 leitos e 16 salas cirúrgicas, onde são realizadas
internações e cirurgias em mais de 60 especialidades e subespecialidades da área médica,
conforme informação da direção do hospital.
O Hospital tem como função “prestar assistência integrada, humanizada e de
excelência à saúde, sendo agente transformador da sociedade através do ensino, pesquisa e
extensão”. Como Hospital Universitário (HU), serve de campo de aprendizado para o ensino
de graduação na área de saúde e de aperfeiçoamento dos conhecimentos para graduados.
Anualmente, passam por ele cerca de 1500 alunos de graduação e de pós-graduação de todas
as áreas, bem como 350 docentes, que exercem suas atividades nas diversas unidades de
ensino. (HOSPITAL..., 2008).
Os profissionais de enfermagem exercem seu trabalho em diferentes unidades
hospitalares, que são organizadas em serviços de acordo com suas especialidades, a saber:
Serviço de Enfermagem Clínica (SECLIN), Serviço de Enfermagem Cirúrgica (SECI),
Serviço de Enfermagem da Mulher e Criança (SEMC) e Serviço de Enfermagem de Pacientes
Externos (SENPE). Todos os serviços estão subordinados a uma mesma Coordenadoria de
Enfermagem.
Os serviços de enfermagem apresentam algumas especificidades:
SECLIN - abrange cerca de 15 unidades de internação, com 13 enfermarias
clínicas (quatro, destinadas à clínica médica geral e as demais, a especialidades
médicas) e duas unidades fechadas, destinadas a pacientes em tratamento
intensivo.
SECI abrange 12 enfermarias, definidas por especialidades, todas com o
objetivo de intervenção cirúrgica. Destinam-se a internações de pacientes em
pré e pós-operatório, de acordo com suas especialidades médicas. Possuem
uma unidade intensiva de médio porte para alguns atender a pacientes de pós-
operatório mais complexos e um centro de tratamento intensivo cardíaco.
SEMC abrange 3 enfermarias que se destinam a internações infantis até 12
anos, uma unidade intensiva de médio porte para pacientes até 12 anos e ainda
um Núcleo Perinatal (maternidade hospitalar).
SEMPE abrange os ambulatórios e serviços de métodos e exames
diagnósticos.
41
Considerando a complexidade e a especificidade de alguns setores e serviços do
hospital, optou-se pelo estudo dos cenários das enfermarias, excluindo-se alguns setores,
como unidades fechadas (Centro de Tratamento Intensivo, Centro Cirúrgico e outras), Serviço
de Enfermagem de Pacientes Externos (ambulatórios e serviços de exames e diagnósticos) e
Núcleo Perinatal, que devem ser avaliados de forma diferenciada.
Neste sentido, definimos como local do estudo as enfermarias do HU, que são
ambientes de assistência e ensino, destinados a internações de pacientes de baixa e média
complexidade com a finalidade de diagnósticos e tratamentos.
Cada unidade de internação tem um lado feminino e um masculino. A quantidade de
leito de pacientes nas unidades varia entre 15 e 20 pacientes de ambos os sexos. Os ambientes
físicos não são padronizados e foram sendo feitas adaptações para cada enfermaria, de acordo
com os recursos disponíveis e necessidades identificadas pelo gerente. A partir do estudo da
demanda, percebeu-se que a maioria das enfermarias apresenta uma planta física inadequada
para o trabalho, pouca iluminação, ventilação insuficiente, espaço físico inadequado,
equipamento e mobiliário antigos e precários, o que dificulta o trabalho de enfermagem.
As equipes de enfermagem variam entre 2 a 4 auxiliares de enfermagem, de acordo
com a complexidade e o número de leitos das enfermarias. Para cada unidade, há uma equipe
de enfermagem chefiada por um enfermeiro. Todos os enfermeiros chefes de enfermaria são
subordinados a um enfermeiro chefe de Serviço e ao Coordenador de enfermagem. Na
maioria das enfermarias não existe o enfermeiro líder durante 24 horas, ficando sob
responsabilidade de um enfermeiro supervisor para cada serviço (atendendo a todas as
enfermarias do serviço) durante 24 horas. Ressalta-se que as enfermarias são campos de
ensino-aprendizagem para residentes de enfermagem, acadêmicos e internos de enfermagem,
os quais participam das atividades assistenciais e gerências da enfermaria.
2.2 População e amostra
A população do estudo foi constituída por trabalhadores de enfermagem do HU que
atuam em enfermarias. Atualmente, o hospital dispõe de 1237 trabalhadores de enfermagem
(211 enfermeiros, 1026 auxiliares de enfermagem), segundo dados fornecidos pela
Coordenadoria de Enfermagem. Destaca-se que as enfermarias do HU concentram 70
enfermeiros e 540 auxiliares de enfermagem, segundo levantamento realizado pela autora a
partir das escalas de serviço em dezembro de 2007.
Para elaboração do estudo, utilizou-se uma amostra estratificada constituída de
diferentes categorias e serviços, com a intenção de tornar mais uniforme e fidedigna a amostra
42
representativa dos trabalhadores de enfermagem, respeitando, no entanto, os diferentes
serviços e categoria. Segundo Medronho et al. (2004), a representatividade da amostra
significa que ela é um “espelho”, uma “miniatura” da população.
Para a amostra, usou-se o apoio estatístico, a partir dos cálculos dos seguintes extratos:
Para uma população de 295 auxiliares de enfermagem do SECLIN, calculou-se uma
amostra de 188;
Para uma população de 73 auxiliares de enfermagem do SEMC, calculou-se uma
amostra de 46;
Para uma população de 172 de auxiliares de enfermagem do SECI, calculou-se uma
amostra de 110;
Para uma população de 40 enfermeiros do SECLIN, calculou-se uma amostra de 25;
Para uma população de 13 enfermeiros do SEMC, calculou-se uma amostra de 8;
Para uma população de 17 enfermeiros do SECI, calculou-se uma amostra de 11.
No geral, a amostra compreendeu um total de 344 auxiliares de enfermagem e 44
enfermeiros.
A amostragem foi realizada por conveniência, convidando todos os trabalhadores que
estavam presentes nos setores durante os dias de coleta de dados a participar da pesquisa,
respeitando-se os critérios de inclusão e exclusão, abaixo:
Critério de inclusão: ser trabalhador de enfermagem de ambos os sexos, atuar pelo
menos há 6 meses nas enfermarias do Hospital, e aceitar participar da pesquisa.
Critérios de exclusão: ser trabalhador de enfermagem, atuando nos serviços excluídos
pelo estudo, estando em férias/licença durante o período de coleta de dados ou recusando-se a
participar da pesquisa.
Inicialmente pensou-se incluir na amostra os trabalhadores licenciados por período de
seis meses, através do convite por correspondência, com envio de uma carta-resposta. No
entanto, devido às limitações de tempo para o estudo, não foi possível incluir esses
trabalhadores.
Participaram do estudo 296 trabalhadores, 37 enfermeiros (84% da amostra) e 259 de
auxiliares de enfermagem (75% da amostra). Ressalta-se que não se conseguiu atingir o que
foi estipulado para cada extrato da amostra, pelos seguintes motivos:
O local do estudo é um hospital universitário, no qual existe um número muito grande
de pesquisas em andamento, esgotando o trabalhador de enfermagem, que se cansa e se
recusa a participar de várias pesquisas;
43
A sobrecarga de trabalho, que, muitas vezes, impedia o trabalhador de participar da
pesquisa por absoluta falta de tempo;
Muitos trabalhadores estavam de licença, ou sendo substituídos por outros
trabalhadores, que tinham respondido à pesquisa em outro plantão ou que não se
enquadravam nos critérios de inclusão;
40 trabalhadores responderam ao teste-piloto e não foi possível computar esses
questionários;
Alguns trabalhadores contratados não tinham o tempo mínimo (6 meses) estipulado para
participar da pesquisa.
2.3 Instrumento de coleta de dados
O instrumento de coleta de dados foi uma adaptação dos questionários desenvolvidos a
partir dos Guias de Avaliação de riscos nos lugares de trabalho em indústria, criados por Boix
e Vogel (1997) e baseados na experiência sindical de diversos países europeus.
O instrumento completo, designado “Instrumentos para la gestión sindical de la
evalución de riesgos laborales”, é composto de 5 seções, a saber: (1) Diagnóstico de la
situación; (2) Identificación preliminar de riesgos; (3) Cuestionario sobre riesgos y danõs;
(4) Observación de problemas; (5) Propuesta de soluciones. As seções 1, 3, 4 foram
utilizadas no projeto matriz denominado Inovação de Gestão das Condições de Trabalho em
Saúde para Hospitais do Sistema Único de Saúde SUS/BRASIL” coordenado pela
orientadora deste estudo.
Os três instrumentos originais citados estão em processo de validação, após terem sido
adaptados para uso no Brasil. O instrumento desta pesquisa é o da seção 3 Questionário
sobre Riscos e Danos. Ressalta-se que a aplicação do questionário tem como objetivo não
levantar as condições de trabalho de enfermagem nas enfermarias selecionadas do hospital
como também completar o processo de validação desse instrumento. As demais seções do
instrumento serão aplicadas pela equipe de pesquisadores do projeto matriz, que se desdobra
em outros projetos concomitantes.
Para utilização desse instrumento foi solicitada a autorização de Boix e Vogel
(Anexo A). O processo passou pela tradução do material do espanhol para o português e
posterior adaptação para o trabalho hospitalar. Foi realizada avaliação da tradução, que foi
previamente utilizada como experiência piloto num Hospital de Volta Redonda RJ.
(AGLIARDE; SANTOS, 2002).
44
Após a experiência, os questionários, considerados testados, serviram de
instrumento para outros estudos em hospitais públicos e privados nos municípios do Rio de
Janeiro, Caxias e Campos de Goytacazes, o que assegura confiabilidade no processo, embora
cada aplicação sugerisse algumas alterações para sua melhoria.
Neste sentido, o instrumento atual ainda sofreu algumas mudanças para otimizar a
validação e atender aos objetivos da pesquisa. Destacam-se:
1) readaptação dos questionários, incluindo uma escala de Likert com 5 alternativas de
respostas (eram inicialmente duas), visando a interpretar a intensidade dos problemas
percebidos pelos trabalhadores;
2) avaliação por pesquisadores da área de saúde do trabalhador, para verificar sua
clareza, objetividade e conteúdo.
De acordo com Polit e Hungler (1998), a escala de Likert consiste em vários
enunciados declarativos que expressam um ponto de vista sobre determinado assunto,
permitindo caracterizar a opinião das pessoas com pontos de vista diferentes.
Durante o processo de readaptação desse instrumento, foram realizados dois testes-
piloto. O primeiro, em outra unidade hospitalar, que suscitou mudanças, sendo necessário um
segundo teste-piloto, realizado no hospital do estudo, anteriormente ao início da coleta de
dados, embota não tenham sido utilizados os resultados na pesquisa.
Descrevem-se a seguir algumas características do instrumento de coleta de dados
(Anexo B), após adaptação para a pesquisa:
a) Utilização de um questionário para caracterização do perfil sócio-demográfico e
profissional dos trabalhadores de enfermagem, com questões envolvendo as seguintes
variáveis: sexo, idade, tempo de trabalho, atividade funcional, setor de trabalho,
qualificação profissional, jornada de trabalho e faixa salarial, visando a atender ao
primeiro objetivo da pesquisa;
b) Aplicação da escala de Likert, para caracterização das condições de trabalho, incluindo
o levantamento dos riscos ocupacionais na percepção dos trabalhadores, para atender
ao segundo objetivo;
c) Aplicação de um instrumento que visa à identificação de problemas de saúde dos
trabalhadores e a sua relação com as condições de trabalho, na percepção da
população estudada, considerando se o evento foi “provocado” ou “agravado” pelo
trabalho, para atender ao terceiro objetivo.
45
2.4 Coleta de dados
A coleta de dados teve a participação de acadêmicos de enfermagem, que participam
como bolsistas de iniciação científica PIBIC e CNPq, da Profª. Dr
a.
Maria Yvone Chaves
Mauro, em projetos de pesquisa do Núcleo de Pesquisa em Saúde, Trabalho e Meio Ambiente
NUEST/UERJ do Departamento de Enfermagem de Saúde Pública da Faculdade de
Enfermagem da UERJ DESP/FENF/UERJ.
Os acadêmicos de enfermagem foram treinados para realização da coleta de dados,
visando a normatizar as atividades, garantindo assim uma uniformidade dos dados coletados,
tendo sido supervisionados durante todo o período de coleta pela ergonomista Carla Christina
Chaves Mauro.
O treinamento dos acadêmicos iniciou-se com a participação deles em pesquisa
anterior com instrumento de coleta de dados semelhante, em Unidades Básicas de Saúde.
Além disso, foram realizados seminários para informações sobre os objetivos da pesquisa,
leitura e discussão do instrumento de coleta de dados, orientação sobre abordagem aos
trabalhadores de enfermagem, discussão sobre as questões éticas em pesquisa e informação
sobre o ambiente hospitalar e o trabalho de enfermagem, com a possibilidade de discussão
sobre as dificuldades na coleta regularmente.
A coleta de dados aconteceu no período de maio a setembro de 2008. Para os
trabalhadores do período diurnos, foi utilizado o horário das visitas e horários (alternativos)
sugeridos pelos trabalhadores. Quanto aos trabalhadores do período noturno, utilizou-se como
estratégia a entrega dos questionários no início do plantão, os quais deveriam ser devolvidos
no dia seguinte pela manhã, ao final do plantão.
2.5 Organização e tratamento dos dados
Foi elaborado um banco de dados, no Programa Statical Package for the Social
Sciences (SPSS) versão 12.0, sob supervisão de um consultor de estatística do projeto matriz.
A inserção dos dados coletados no banco de dados foi realizada pelos acadêmicos bolsistas
sob supervisão.
Ressalta-se que algumas questões do instrumento de coleta de dados não foram
preenchidas por alguns trabalhadores. Assim sendo, para analise foram consideradas todas as
questões respondidas em cada variável do estudo, o que gerou uma variação no total de cada
variável analisada, que está descrito na apresentação das tabelas.
46
Utilizou-se a análise descritiva dos dados, com emprego de estatística simples e da
estatística inferencial para os cruzamentos de dados entre variáveis.
No cruzamento entre variáveis, utilizou-e o teste de Qui-quadrado de Pearson para se
verificarem as diferenças estatísticas. De acordo com Siegel (1956), o teste Qui-quadrado é
usado para avaliar associação entre variáveis em tabelas de contingência, o teste permite
também avaliar o grau e a significância da associação encontrada. Todavia quando não existe
significância estatística o resultado pode ser devido ao “acaso”, ou seja, se repetida a pesquisa
pode ser encontrado um resultado diferente, uma vez que não existe uma associação
estatística entre as variáveis. No texto, essas diferenças apenas são mencionadas quando são
estatisticamente significativas (p<0,05).
A partir das escalas de Likert, utilizadas nos dois questionários para avaliação das
condições de trabalho e os problemas de saúde, foram elaboradas duas escalas por tercis, a
primeira, uma escala de Risco no Ambiente de Trabalho (RAT) e a segunda, uma escala de
problemas de saúde (PRS). Posteriormente, foi realizado o cruzamento das escalas com
algumas variáveis.
As escalas RAT e PRS foram criadas a partir da soma dos escores obtidos nas
respostas das perguntas referentes aos blocos “Fatores de riscos do ambiente de trabalho” (46
questões) e “Problemas de saúde dos profissionais” (30 questões), respectivamente.
No caso da escala “RAT”, as cinco opções de resposta eram “sempre”,
“frequentemente”, “às vezes”, “raramente”, “não acontece” e “desconhece”. Cada uma dessas
opções recebeu uma pontuação em ordem de importância que variava de 0 a 5, sendo 0 a pior
pontuação correspondendo a “desconhece” e 5, a melhor pontuação correspondente a
“sempre”.
De posse dessa soma de escores, classificaram-se as respostas dos trabalhadores de
acordo com os tercis da distribuição da soma da pontuação obtida por cada respondente.
Assim, a escala foi dividida em três categorias: 1. baixa, quando a pontuação obtida ficou
abaixo do primeiro tercil; 2. moderada, quando a pontuação obtida ficou entre o primeiro e o
segundo tercil; e 3. alta, após o segundo tercil.
A escala de condições de trabalho foi cruzada segundo as variáveis função e setor de
trabalho, e a escala de problemas de saúde foi cruzada segundo as variáveis: função, setor de
trabalho, sexo, idade, número de vínculos empregatícios e tipo de jornada.
Todo tratamento estatístico foi assegurado por um profissional dessa área contratado
para a pesquisa.
47
Os dados coletados são apresentados em gráficos e tabelas e discutidos a partir da
literatura existente.
2.6 Aspectos éticos
Atendendo às determinações da Resolução nº 196 de 10 de outubro de 1996, do
Ministério da Saúde, o projeto (2011-CEP/HUPE) da pesquisa foi entregue e aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa de um Hospital Universitário CEP, em todas as suas etapas
(Anexo C).
Foram respeitados os direitos dos trabalhadores em querer ou não participar do estudo,
sendo entregue, antes da aplicação dos instrumentos, um termo de consentimento livre e
esclarecido (Apêndice), com os objetivos da pesquisa e todas as informações pertinentes, que
deveria ser assinado pelo respondente e pelo pesquisador em duas vias, conforme orienta a
Resolução nº 196.
Ressalta-se que foi garantido o anonimato dos participantes da pesquisa, que não
tiveram custos e nem serão prejudicados. Os trabalhadores não tiveram nenhuma
compensação financeira ou nenhum outro benefício, a não ser o resultado da pesquisa.
Os trabalhadores foram informados de que a divulgação dos resultados ocorrerá em
eventos e/ou publicações cientificas, além de um relatório que será encaminhado à
Coordenação de Enfermagem, com cópia para a Direção do Hospital.
48
3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
3.1 Caracterização do perfil sociodemográfico e profissional da amostra
Apresenta-se inicialmente a caracterização do perfil sociodemográfico dos
trabalhadores de enfermagem do HU, através de um quadro sumarizado.
Tabela 1 Caracterização sociodemográfica dos trabalhadores de
enfermagem do HU - 2008
Distribuição dos trabalhadores segundo sexo
Frequência
%
Masculino
54
18,4
Feminino
238
81,6
Total
292
100
Distribuição dos trabalhadores segundo faixa etária
Frequência
%
20-29
28
9,6
30-39
61
20,9
40-49
142
48,6
50e+
61
20,9
Total
292
100
Distribuição dos trabalhadores segundo estado civil
Frequência
%
Solteiro ou similar
93
31,4
Casado ou similar
150
50,7
Divorciado/desquitado
43
14,5
Viúvo
10
3,4
Total
296
100
*Foram desconsideradas as respostas em branco
A amostra compreendeu um total de 296 trabalhadores de enfermagem, com
predominância feminina de 81,6% contra apenas 18,4% da amostra masculina. Isso reflete
uma característica da profissão de enfermagem, cuja massa trabalhadora é predominantemente
do gênero feminino.
O trabalho feminino compreende algumas peculiaridades. Um estudo realizado por
Spindola e Santos (2005) destaca que um número elevado de mulheres vive a complexidade
de ser mãe e profissional de enfermagem, e conciliar a atividade remunerada com o cotidiano
familiar nem sempre é uma tarefa simples. Todavia, cada vez mais, a mulher está inserida no
mercado de trabalho, conquistando espaços, delimitando novos horizontes nesse universo de
possibilidades, apesar dos percalços do caminhar.
Destaca-se a faixa etária adulta com 48,6% entre 40-49 anos, seguida de 20,9%, nas
duas faixas etárias entre 30-39 anos e acima de 50 anos. A predominância da faixa etária
adulta pode se justificar pela estabilidade profissional que os trabalhadores apresentam numa
49
instituição pública, o que sugere mais uma vez a ausência de concursos públicos dificultando
a entrada de jovens trabalhadores. Além disso, pode justificar a incidência de alguns
problemas de saúde que ocorrem com esses trabalhadores de enfermagem.
Quanto ao estado civil, prevalece o item casado com 50,7%, seguido de 31,4%,
solteiro. O aumento da condição de casado pode implicar o aumento das responsabilidades
domésticas e familiares, uma vez que a maioria dos trabalhadores é do sexo feminino. Assim,
esta característica pode refletir dupla jornada de trabalho, que aumenta a sobrecarga de
trabalho para a mulher moderna.
O estudo com enfermeiras-mães, realizado por Spindola e Santos (2005), destacou que
a maioria vivencia dupla jornada de trabalho, o que foi apontado como uma das causas de
cansaço e estresse, sobrecarregando a mulher com o acúmulo de funções.
Breilh (1991) assinala que o trabalho feminino apresenta uma tripla carga,
caracterizada pelo trabalho remunerado, o trabalho doméstico e a reprodução biológica. Para
o autor, as funções sociais da mulher, definidas aparentemente como naturais, interferem no
seu trabalho.
O trabalho doméstico pode ser chamado de “trabalho invisível”, pois numa sociedade
capitalista, todas as atividades domésticas, que vão do mais elementar cuidado afetivo até às
complexas atividades políticas e intelectuais, não são valorizadas. Entretanto, o trabalho
feminino remunerado, acrescido ao trabalho doméstico, apresenta muitas exigências e
sobrecarga, que são estressores destrutivos à saúde da mulher. (BREILH, 1991).
No trabalho feminino, a dupla e muitas vezes tripla jornada de trabalho é um fator de
agravamento do cansaço e queima de energias. (BARRETO, 2002).
Nesse sentido, em relação ao perfil sociodemográfico da amostra, verificou-se que a
maioria dos profissionais da instituição é do sexo feminino (81,6%), na faixa etária adulta
entre 40 a 49 anos (48,6%) e casada (50,7%). Esses aspectos podem sinalizar um aumento das
responsabilidades e atividades diárias, uma vez que, na sociedade atual, a mulher ainda tem
que se dividir entre o trabalho e a responsabilidade de cuidar das tarefas domésticas e
familiares, gerando aumento da jornada de trabalho e sobrecarrega para a trabalhadora de
enfermagem.
50
Tabela 2 - Caracterização profissional dos trabalhadores de enfermagem em
relação à categoria profissional, qualificação, serviço, contrato de
trabalho e número de vínculos no HU 2008
Distribuição dos trabalhadores segundo categoria
Frequência
%
Enfermeiro
37
12,5
Técnico Enfermagem
98
33,1
Auxiliar Enfermagem
161
54,4
Total
296
100
Distribuição dos trabalhadores segundo qualificação técnica
Frequência
%
Auxiliar de Enfermagem
161
62,2
Técnico de Enfermagem
98
37,8
Total
259
100
Distribuição dos trabalhadores segundo setor de trabalho
Frequência
%
SCM
174
58
SMI
44
14,7
SMC
82
27,3
Total
300
100
Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de contrato
Frequência
%
Estatutário federal
3
1
Estatutário estadual
185
63,1
Contrato CLT
7
2,4
outros contratos
89
30,4
Cooperativa
9
3,1
Total
293
100
Distribuição dos trabalhadores segundo número de vínculos
Frequência
%
1
140
51,3
2
120
44
3
11
4
4
2
0,7
Total
273
100
*Foram desconsideradas as respostas em branco
Observa-se na tabela 2 uma predominância da categoria de técnicos e auxiliares de
enfermagem, com cerca de 87,5% da amostra, seguida de 12,5% de enfermeiros.
O processo de trabalho da enfermagem, influenciado pelo capitalismo, tem como
característica a divisão técnica do trabalho, que parcela tarefas, procedimentos e
responsabilidades diferentes de acordo com os agentes. (ALMEIDA; ROCHA, 1989).
Justifica-se assim a existência de diferentes categorias neste estudo.
O presente estudo retrata a realidade do quantitativo de trabalhadores de enfermagem
do HU, equivalente à do Brasil, que tem um número maior de trabalhadores auxiliares e um
quantitativo muito reduzido de enfermeiros.
Com a divisão de trabalho, a enfermeira passou a assumir o controle administrativo,
gerenciando a assistência de enfermagem e, até mesmo, a organização institucional. De
acordo com Almeida e Rocha (1989), a instituição espera da enfermeira mais conhecimento
do que execução de tarefas no trabalho de enfermagem, o que permite reduzir o número desse
51
profissional e possibilita o aproveitamento da situação com menor gasto pelo empresário
hospitalar.
Na instituição pesquisada, a redução das enfermeiras se destacou e interfere no
processo de trabalho de enfermagem. O quantitativo reduzido de enfermeiros concentra-os em
funções administrativas e gerenciais; exige-se da categoria auxiliar assistência integral aos
pacientes, independentemente do seu grau de complexidade. Para reafirmar essa realidade, a
maioria das enfermarias do HU não possui enfermeiros do setor o tempo integral,
particularmente no período noturno e nos finais de semana, quando as enfermarias contam
apenas com o enfermeiro supervisor, para atender os problemas que os auxiliares de
enfermagem não conseguem resolver durante o período.
De acordo com a Lei 7498/86 (COFEN, 1986), que dispõe sobre o exercício
profissional da enfermagem no Brasil, cabe ao profissional auxiliar apenas exercer atividade
de média complexidade e de natureza repetitiva, envolvendo serviços auxiliares sob
supervisão, além da sua participação em nível de execução simples nos processos de
tratamento.
No inicio deste século, iniciou-se no Brasil um processo de qualificação dos auxiliares
de enfermagem em técnico de enfermagem. Conforme descrito na resolução COFEN
276/2003, apenas é garantida habilitação definitiva para o técnico de enfermagem,
considerando-se o curso de formação de auxiliar de enfermagem como um curso em extinção.
Essa alteração aconteceu em razão das mudanças ocorridas na legislação que regulamenta a
estruturação dos cursos técnicos de nível médio no país.
Os resultados deste estudo mostram que 62,2% dos auxiliares de enfermagem ainda
não possuem qualificação técnica, o que pode se justificar pela ausência da categoria de
técnicos de enfermagem no quadro de pessoal desta instituição hospitalar. Esta realidade
exige uma reflexão, uma vez que um número significativo de 37,8% dos auxiliares são
técnicos, mas não foram promovidos ainda no trabalho e continuam recebendo como auxiliar
de enfermagem. A ausência da promoção no trabalho reflete a falta de reconhecimento do
trabalhador, o que pode contribuir para o seu desgaste psíquico e desestimulá-los para o
estudo e crescimento profissional, descritos nos estudos de Rocha e Glima (2000) como
desgastes psíquicos que atingem a identidade, ameaçando valores e crenças, e ferem a
dignidade e a esperança do trabalhador.
No contexto estudado, destaca-se um número maior de trabalhadores no Serviço de
Enfermagem Clínica (SECLIN) com 58% dos trabalhadores, seguida de 27,3% do
Serviço de Enfermagem Cirúrgica (SECI) e, por último, apenas 14.7% no Serviço de
52
Enfermagem da Mulher e Criança (SEMC). Pode-se justificar a concentração de trabalhadores
no SECLIN por o serviço agrupar o maior número de enfermarias (13) que participam como
cenário deste estudo. Essas enfermarias possuem um grande número de pacientes
dependentes, o que requer necessidade maior de trabalhadores para atender às demandas do
serviço. Em seguida, destaca-se o SECI, serviço que também agrupa muitas enfermarias (11).
No entanto, nos últimos anos, o SECI tem apresentado redução no número de procedimentos
cirúrgicos e até redução de leitos, devido a diferentes crises econômicas e políticas na
instituição hospitalar. O serviço de SEMC possui número menor de trabalhadores devido à
sua especificidade, com apenas 4 enfermarias, e compreende o Núcleo Perinatal, que não
participou do cenário do estudo. Observa-se que o estudo alcançou amostra significativa de
todos os serviços de enfermagem do hospital, caracterizando uma boa representatividade dos
trabalhadores de enfermagem.
A amostra de trabalhadores de enfermagem do estudo distribui-se em diferentes
formas de contratos. Observa-se um número maior de estatutário estadual, com cerca de
63,1%, seguido de um número significativo de outros contratos, que chega a 30,4%.
A inserção dos trabalhadores no hospital iniciou-se através de contratos filiados a uma
fundação. Devido a mudanças políticas e econômicas nos serviços públicos, os trabalhadores
passaram a regime de trabalho estatutário. Atualmente, a inserção dos profissionais se
através de concursos públicos. Assim, o aumento do número de estatutários condiz com a
realidade da instituição pública. No entanto, a entrada de novos contratos temporários no
serviço público decorre de questões políticas e econômicas, que adiam a realização de
concursos públicos, o que veio permitir a terceirização e precarização do vínculo de trabalho.
Antunes (2005) destaca que, nas últimas décadas, o capitalismo contemporâneo
vivencia mundialmente uma crise estrutural que acentua a sua lógica destrutiva, apresentando
destaque para o universo do trabalho. Neste contexto, apresenta-se como tendência a
substituição do padrão produtivo taylorista e fordista pelas formas produtivas flexibilizadas e
desregulamentadas, o que tem acarretado um monumental desemprego e uma enorme
precarização do trabalho.
A década de 90 do século XX foi marcada pelo medo da perda do emprego. Muitos
trabalhadores e trabalhadoras, principalmente jovens, mulheres, maiores de 40 anos e casados
perderam seus empregos no mercado formal. Enquanto isso, o mercado informal continuou
crescendo, como estratégia de sobrevivência para os pobres, caracterizada por atividades
irregulares e precárias, com maior jornada no trabalho, baixa produtividade, baixos salários e,
consequentemente, precarização do trabalho. (BARRETO, 2002).
53
Mundialmente, assistiu-se a um incremento do que a crítica denomina trabalho
precarizado, os “terceirizados”, subcontratados, part-time entre tantas outras formas
semelhantes, que proliferam em inúmeras partes do mundo. (ANTUNES, 2005).
A TERCEIRIZAÇÃO expressa o recurso gerencial pelo qual uma empresa transfere
parte do seu processo produtivo (atividade-fim) para outra empresa, que opera interna ou
externamente aos limites espaciais da empresa contratante e que mantém independência
administrativa e de capital, visando a atingir uma flexibilidade da produção e do trabalho. Os
fundamentos contrários justificam a geração do trabalho precário e paternalista como
consequência dessa prática institucional. (RUDUIT, 2002).
Entende-se por TRABALHO PRECÁRIO aquele que se exerce na ausência dos
direitos trabalhistas e de proteção social, ou seja, o que é desprovido da devida cobertura por
normas legais e não garante os benefícios (aposentadoria, férias, 13◦ salário e licenças
remuneradas de diversos tipos), que dão segurança e qualidade de vida ao trabalhador.
(ISTAS, 2005). A precariedade afeta muito negativamente a saúde dos trabalhadores e agrava
objetivamente a exposição aos riscos laborais.
No campo onde foi realizado este estudo, encontram-se a terceirização e o trabalho
precário, através dos contratos temporários. Tais contratados institucionais podem
permanecer apenas por 3 anos, não possuem carteira assinada e não se lhes garantem alguns
benefícios do trabalhador, como aposentadoria e algumas licenças remuneradas. O regime
de contratação na instituição é regido pelo disposto no artigo 37, inciso IX da Constituição
da República, no artigo 77, inciso XI da Constituição do Estado do Rio de Janeiro e na Lei
n
o
4.599, de 27 de setembro de 2005.
Percebe-se outro agravante desse problema: os gastos permanentes da instituição com
a qualificação do servidor temporário, que se renova a cada três anos e gera novos gastos com
treinamentos, interferindo economicamente na qualidade do trabalho realizado nesta
instituição.
Elias e Navarro (2006) destacam que as transformações ocorridas nas últimas décadas
no mundo do trabalho têm repercutido na saúde dos indivíduos e do coletivo de trabalhadores.
A intensificação laboral é traço característico da atual fase do capitalismo. A insegurança
gerada pelo medo do desemprego faz que as pessoas se submetam a regimes e a contratos de
trabalho precários, recebendo baixos salários e arriscando sua vida e saúde em ambientes
insalubres e de alto risco.
O contexto social, político e econômico interfere na organização e na regulação das
relações de trabalho e, consequentemente, nas políticas de recursos humanos das
54
organizações, fazendo que seus gestores, na tentativa de equacionar seus problemas
financeiros, optem pela redução do quantitativo de recursos humanos ou pela adoção de
medidas de flexibilização das relações de trabalho, incluindo o trabalho dos profissionais de
saúde. (FREITAS; FUGULIN; FERNANDES, 2006).
O estudo destacou o número de vínculos empregatícios, no quadro 2, mostrando que
51,3% possuem apenas um emprego, seguido de um grupo significativo de 44%, que
possuem dois empregos. O número de trabalhadores que apresentam dois empregos reflete
a realidade do duplo vínculo na enfermagem, o que expõe ainda mais esses trabalhadores aos
riscos ocupacionais, e aumenta a sobrecarga de trabalho, gerando danos ao corpo do
trabalhador.
Tabela 3 Demonstrativo do tipo de jornada, carga horária e renda mensal no HU
2008
Distribuição dos trabalhadores segundo tipo de jornada
Frequência
%
diário
9,7
plantão diurno
54,0
plantão noturno
36,2
Total
100
Distribuição dos trabalhadores segundo carga horária semanal nesta unidade
Frequência
%
20 horas
1,4
30 horas
51,6
40 horas
17
60 horas
4,6
outra
25,4
Total
100
Distribuição dos trabalhadores segundo carga horária semanal em outra unidade
Frequência
%
20 horas
4,7
30 horas
33,3
40 horas
20,9
60 horas
3,9
outra
37,2
Total
100
Distribuição dos trabalhadores segundo faixa salarial
Frequência
%
1-2 salários mínimos
29,7
3-5 salários mínimos
33,6
6-8 salários mínimos
20,6
9-11salários mínimos
11,2
12 salários mínimos ou mais
4,9
Total
100
* Foram desconsideradas as respostas em branco
55
O tipo de jornada dos trabalhadores no HU que se destaca é o plantão diurno, com
54% dos trabalhadores, seguido de 36,2%, que realizam plantão noturno e apenas 9,7%, que
são diaristas. A predominância na amostra do serviço diurno pode se justificar pelo aumento
das atividades de trabalho no período. No entanto, vale ressaltar que no serviço diurno não
existe apenas um incremento de trabalhadores, mas também a presença de acadêmicos de
enfermagem, professores e residentes de enfermagem, uma vez que se trata de um HU; esse
incremento de pessoal leva a uma divisão de atividades do serviço diurno, o que não acontece
no serviço noturno, pois os alunos e professores não exercem atividades nesse período. A
redução dos trabalhadores no período noturno pode resultar numa sobrecarga de trabalho para
os trabalhadores, que, com a redução da equipe, acabam se sacrificando para dar conta do
trabalho, com reduzida possibilidade do repouso noturno e pausas importantes, para
satisfazerem suas necessidades físicas e psicológicas.
Seligmann-Silva (2009) destaca que o trabalho noturno atua com repercussões na
saúde geral e mental, resultando em um cansaço acentuado que tem impacto na vida social do
trabalhador. O trabalhador noturno tem insuficiência do sono de boa qualidade, e pode
desenvolver uma fadiga patológica, devido o acúmulo do cansaço de dias mal dormidos.
Apresenta ainda uma irritabilidade muito grande, que prejudica seu relacionamento tanto no
trabalho como na família. As pessoas ficam isoladas e a solidão pode levar ao adoecimento
mental.
Outro ponto de destaque é a quantidade reduzida de trabalhadores com jornada diária,
que a maioria encontra-se em regime de plantão. Esse dado pode indicar uma redução das
possibilidades de lazer para os trabalhadores, uma vez que os plantonistas trabalham inclusive
nos feriados e finais de semana.
Apresentando dados sobre a carga horária semanal realizada pelos trabalhadores no
HU, destaca-se que 51,6%, realizam uma carga horária de 30 horas, seguido de 25,4%
com outra carga horária não descrita. A carga horária não descrita pode ter sido um viés da
pesquisa, porque, oficialmente, a carga horária da instituição é de 32,5h, surgindo assim a
possibilidade de dúvidas aos trabalhadores que responderam à questão.
Para se compreender melhor a carga horária semanal de trabalho da amostra do
estudo, foi necessário questionar os trabalhadores quanto aos outros vínculos empregatícios,
perguntando-lhes qual a carga horária semanal realizada na outra instituição. Do total de 129
trabalhadores da amostra que possuem mais de um vínculo empregatício, um número
significativo de 33,3% realiza em outra instituição cerca de 30h semanais, seguido de
20,9% que realizam 40h de trabalho. Vale ressaltar que, somados às 30h que prevalecem na
56
instituição em estudo, tais trabalhadores podem chegar até 60, ou 70h de trabalho semanal, o
que caracteriza uma sobrecarga de trabalho considerável e que pode ser responsável por
vários problemas de saúde dos trabalhadores.
A informação sobre a renda salarial dos trabalhadores demonstra que 33,6% recebem
entre 3-5 salários mínimos
1
, seguidos de 29,7%, que recebem 1 a 2 salários mínimos. Sabe-
se que, na atual situação econômica do país, esse salário é insuficiente e não atende todas as
necessidades dos trabalhadores e seus familiares, o que pode direcionar o trabalhador para o
duplo vínculo de trabalho e à aceitação de sua precarização, o que pode gerar danos à saúde.
Vale ressaltar que os baixos salários podem ser também devido ao fato de a maioria da
amostra ser composta de auxiliares de enfermagem, com um número significativo de
contratos temporários e salários menores.
3.2 Avaliação dos fatores de risco no trabalho
3.2.1 Identificando os fatores de risco no ambiente de trabalho
Visando a identificar a frequência e a intensidade dos fatores de risco no ambiente de
trabalho, utilizou-se uma escala de Likert, com seis classificações: a) “sempre” aqueles
observados diariamente no ambiente de trabalho; b) “frequentemente”; c)“às vezes”; d)
“raramente”; e) “não acontece”; e f) “desconhecem”. Optou-se por definir anteriormente os
critérios de classificação para os participantes do estudo, a fim de tentar diminuir as variações
pessoais em relação à classificação desses fatores.
Embora parecendo exaustiva a demonstração de todos os fatores relacionados nas
tabelas sobre fatores de risco, este formato torna-se necessário, no sentido de visualizar a
ocorrência dos fatores e de destacar os mais incidentes, tendo em vista que o conjunto deles,
inter-relacionados, é que a dimensão das condições de trabalho existentes no setor. Nesse
sentido, consideram-se existentes os fatores classificados como “sempre”, “freqüentes” e “às
vezes”, conforme descrito no gráfico 1, a seguir.
1
O salário mínimo vigente no país em 01/03/08 era de R$ 415,00.
57
64,5
42,1
43,4
49,6
53,8
53,1
71,6
26,8
19,3
42,2
27,6
54,0
55,2
51,1
40,0
86,2
70,0
53,4
36,8
53,9
73,5
53,1
73,4
62,6
73,1
78,4
42,7
32,4
48,6
72,9
19,0
77,5
29,5
23,7
17,3
33,8
43,7
51,1
10,5
19,2
25,1
47,5
68,8
69,0
68,2
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0 100,0
1. Má distribuição do espaço físico (N = 293)
2. Ordem e limpeza insuficientes (N = 293)
3. Sinalização de saídas de emerncia (N = 292)
4. Risco de queda no ambiente de trabalho (N = 295)
5. Risco de queda de materiais (N = 292)
6. Choques contra objetos móveis/imóveis (N = 297)
7. Risco de tropeçar em objetos (N = 294)
8. Risco por sobrecarga de trabalho (N = 296)
9. Risco por contato etrico (N = 298)
10. Risco de Incêndio ou explosão (N = 295)
11. Exposição á temperatura inadequada (N = 294)
12. Exposição à umidade excessiva (N = 293)
13. Ventilação insuficiente/inadequado (N = 296)
14. Iluminação insuficiente (N = 293)
15. Exposição à ruído (N = 295)
16. Exposição à radiação (N = 290)
17. Risco de contrair infecção/doença (N = 296)
18. Exposição à risco biológico (N = 294)
19. Lesão por material pérfuro cortante (N = 292)
20. Exposição a gases, vapores ou aerosóis (N = 294)
21. Risco de contato com substâncias químicas (N = 293)
22. Falta de equipamentos de proteção individual (N = 298)
23. Má utilização de Equipamento de Proteção (N = 288)
24. Esforço físico que produz fadiga (N = 293)
25. Manipulação de cargas pesadas (N = 297)
26. Desconforto pela postura adotada por muito tempo (N = 294)
27. Posturas forçadas para realização de alguma tarefa (N = 296)
28. Duração excessiva da jornada de trabalho (N = 293)
29. Organização insatisfatória de horário (N = 293)
30. Tarefas rotineiras ou motonas (N = 292)
31. Ritmo de trabalho acelerado (N = 288)
32. Trabalho isolado que dificulta contato com companheiros (N = 290)
33. Recursos insuficientes para realizar o trabalho (N = 292)
34. Conflito com clientes ou pacientes (N = 294)
35. Conflito entre trabalhadores (N = 287)
36. Conflito com chefia ou encarregados (N = 289)
37. Pouca oportunidade de decisão sobre a realiz do trabalho (N = 284)
38. Pouca oferta de formão contínua (N = 288)
39. Pouca possibilidade de promoção (N = 288)
40. Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho (N = 287)
41. Situação de discriminação no trabalho (N = 293
42. Desconhec/Form insufic sobre riscos do próprio trabalho (N = 294)
43. Risco de contamin/segurança no ambiente externo (N = 288)
44. Exposição ao vírus HIV (N = 289)
45. Exposição ao vírus da Hepatite (N = 291)
Gráfico 1 Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de existência e freqüência de fatores de risco
do ambiente de trabalho (sempre + frequentemente + às vezes) do HU 2008.
Observaram-se como existentes nas enfermarias do HU, em ordem decrescente, os
riscos biológicos, riscos ergonômicos, riscos mecânicos ou de acidentes, o risco químico e os
riscos físicos. Apresentaremos a seguir os fatores percebidos pelos trabalhadores agrupados
nos diferentes riscos, de acordo com a classificação do Ministério da Saúde (BRASIL, 2001).
O risco biológico foi o que primeiro se destacou neste ambiente de trabalho, através
dos seguintes fatores:
58
Figura 1 Demonstrativo do risco biológico segundo percepção dos trabalhadores de enfermagem no
HU, 2008.
No ambiente hospitalar, os riscos biológicos manifestam-se através da Hepatite B,
hepatite C, SIDA e Hepatite A. Dentre as enfermidades bacterianas, as que mais se destacam
são a tuberculose pulmonar e a rubéola, mas existe ainda o risco de outras infecções como
sarampo, parotidites, conjuntivites, herpes simples, varicela-zoster etc. (OTERO, 1993).
Morillejo e Munoz (2004) também apontam em uma unidade de internação o risco
elevado para a exposição a agentes biológicos, destacando a importância dos comportamentos
preventivos recomendados.
O contato do trabalhador de enfermagem com sangue, secreções e materiais
contaminados expõe este grupo aos riscos biológicos diariamente. Para a proteção dos
trabalhadores, é necessário programar e adotar medidas de precaução padrão através do uso
de EPI (luvas, capotes, máscaras, óculos, gorro etc), sempre que necessário,
independentemente do diagnóstico do paciente. Outras medidas específicas devem ser
tomadas, de acordo com o modo de transmissão da doença, diante de diagnósticos prévios e
através de EPI específicos conforme recomendações do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças, Atlanta, EUA (CDC/Center of Disease Control and Prevention).
Para o controle dos riscos biológicos, ressalta-se a importância do cumprimento da NR
32, que dispõe sobre a segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde, a primeira
regulamentação específica de proteção à saúde dos trabalhadores em estabelecimentos de
saúde, no Brasil e no mundo. Ela visa a estabelecer as diretrizes básicas para a implementação
de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem
como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral,
discutindo todas as medidas necessárias para o controle desses riscos. Além disso, ressalta-se,
59
na NR 32, a importância da vacinação contra tétano, difteria, hepatite B e outros para os
trabalhadores. (BRASIL, 2008).
Em segundo lugar nesta pesquisa, aparecem os Riscos Ergonômicos e Psicossociais,
com inúmeros fatores que interferem diretamente no trabalho de enfermagem.
Figura 2 Demonstrativo dos riscos ergonômicos e psicossociais segundo percepção dos trabalhadores de
enfermagem no HU, 2008.
Os fatores ergonômicos que foram evidenciados no estudo, como a manutenção de
posturas inadequadas por tempo prolongado, esforço físico, fatores organizacionais e
psicossociais, quando associados com a intensidade, duração e frequência, podem concorrer
para o surgimento de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT).
(BRASIL, 2001).
Um estudo de revisão sobre as relações de trabalho de enfermagem e os distúrbios
músculo-esqueléticos evidenciou um crescimento do adoecimento do trabalhador de
enfermagem ligado à inadequação das condições de trabalho (MAGNO; LISBOA; GRIEP,
2008). Vários autores enfatizam que grande parte das agressões à coluna vertebral em
trabalhadores de enfermagem está relacionada a fatores ergonômicos inadequados de
mobiliário, posto de trabalho e equipamento, além de falta de treinamento e de pessoal que
envolvem fatores ambientais e organizacionais. (GUEDES, 2000; MAGNO; LISBOA;
GRIEP, 2008; MORILLEJO; MUNOZ, 2004).
60
Grandjean (1998) considera trabalho pesado o manuseio de cargas, em especial o
levantamento de cargas, justificando que uma carga elevada sobre a coluna pode gerar
complicações patológicas futuras. Para o autor, o principal problema no manuseio de cargas
não é tanto a exigência dos músculos, mas sim o desgaste dos discos intervertebrais. Os danos
aos discos intervertebrais, com suas consequências na coluna e nas pernas, são um problema
pessoal e econômico, pois provocam dores, limitam a mobilidade e vitalidade das pessoas.
Neste estudo, 62% dos trabalhadores associam o manuseio de cargas pesadas ao
manuseio de pacientes acamados com frequência nas enfermarias. Segundo Grandjean
(1998), o manuseio de cargas pode conduzir a uma ausência prolongada do trabalho e
configurar uma das principais causas de invalidez prematura. Destaca-se ainda que 73,5% dos
trabalhadores perceberam a falta de equipamentos de proteção individual, e 53,1%, a
utilização desses equipamentos, dois fatores que podem contribuir para aumentar o risco
biológico no ambiente de trabalho.
Morillejo e Munoz (2004) referem que a necessidade de atender a várias tarefas ao
mesmo tempo nas unidades de internações dificulta o cumprimento das normas de
biossegurança. Os trabalhadores revelaram ainda o descumprimento das normas, devido a não
disposição dos meios necessários, à complexidade de tais normas ou ao desconhecimento de
todas as medidas a tomar, destacando-se, assim, a importância das variáveis estruturais e
organizacionais (cursos de formação, dotação de mais recursos e meios que ajudem a colocar
em prática tais medidas de segurança).
Neste sentido, considera-se importante disponibilizar recursos materiais e humanos
adequados que permitam o cumprimento das normas de biossegurança aos trabalhadores de
enfermagem. Além disso, é necessária a promoção de atualização sobre as medidas de
precaução, padrão e específicas, através de cursos.
Quanto aos riscos psicossociais, o estudo demonstrou que o ritmo de trabalho
acelerado foi percebido por 72,9% dos trabalhadores. Souza e Silva (2005) classificam o
ritmo laboral da enfermagem como frenético, contribuindo significativamente para o desgaste
psíquico no ambiente hospitalar, interferindo no processo saúde-doença, e conduzindo-os ao
adoecimento físico e/ou psíquico.
Na maioria das vezes, o ritmo intenso da enfermagem se deve ao acúmulo de funções,
devido à inadequação dos recursos humanos e materiais, que exige do trabalhador uma
energia muito maior para desenvolver as suas atividades, gerando, desse modo, uma
sobrecarga com repercussões físicas e psíquicas no corpo do trabalhador.
61
De acordo com o ISTAS (2005), os riscos psicossociais são agravados nas mulheres
pela dupla jornada de trabalho. Isso acontece porque a mulher é responsável por grande parte
do, se não de todo, trabalho doméstico e familiar, o que implica exigências que deve assumir
de forma simultânea com as do trabalho remunerado. Assim, a organização do trabalho de
uma empresa pode dificultar para a mulher a conciliação dos dois trabalhos, afetando a saúde
mental da mulher.
Observou-se que o risco de sobrecarga de trabalho foi evidenciado por 71,6% dos
trabalhadores. Percebe-se que, além do ritmo acelerado, essa sobrecarga pode ser evidenciada
também pelas características inerentes ao trabalho feminino como a dupla e até tripla jornada,
que compreende cerca de 81,6% da amostra.
Destaca-se ainda que 55% dos trabalhadores perceberam uma iluminação insuficiente.
O nível de iluminação interfere diretamente no mecanismo fisiológico da visão e na
musculatura que comanda os movimentos dos olhos. A fadiga visual pode ser intensificada
pela má iluminação. (IIDA, 2005).
Para Iida (2005), um bom sistema de iluminação no trabalho pode produzir um
ambiente onde as pessoas trabalhem confortavelmente, com pouca fadiga, pouca monotonia e
poucos acidentes, e tenham uma produtividade mais eficiente.
A pouca oportunidade de promoção percebida por 55% da amostra pode ser
justificada, dentre outros fatores, pela ausência do reconhecimento do tulo de técnico em
enfermagem, na instituição. Conforme descrito no perfil profissional, 37,8% dos
trabalhadores são técnicos de enfermagem, mas ainda encontram-se na categoria de auxiliar
de enfermagem, sem mudanças no seu salário e nas suas funções.
Em terceiro lugar, a pesquisa mostrou que os trabalhadores percebem os riscos
mecânicos ou de acidentes, descritos a seguir:
Figura 3 Demonstrativo dos riscos mecânicos ou de acidentes segundo a percepção dos
trabalhadores de enfermagem no HU, 2008.
62
O item falta de organização do espaço físico do trabalho, caracterizado por alguns
fatores percebidos pelos trabalhadores, indica risco mecânico ou de acidentes no trabalho de
enfermagem.
O acidente de trabalho é responsável pelo afastamento legal do trabalhador por
períodos curtos ou longos. Sempre que possível, ele deve ser evitado com a prevenção de
doenças e proteção da saúde do trabalhador.
Mendes (2003, p.34) apresenta o conceito de acidente de trabalho, de acordo com o
Ministério da Previdência Social como “o que ocorre durante o exercício do trabalho, que
provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, perda ou redução
permanente ou temporária da capacidade para o trabalho”.
A pesquisa aponta em quarto lugar o risco químico:
Figura 4 Demonstrativo do risco químico segundo a percepção dos trabalhadores de
enfermagem, no HU, 2008.
Sabe-se que, no ambiente hospitalar, o trabalhador de enfermagem se expõe ao risco
químico pelo contato com medicamentos, inclusive os antibióticos e os quimioterápicos.
Além disso, encontra-se um grande número de substâncias tóxicas utilizadas para limpeza e
desinfecção dos ambientes hospitalares e outros fins.
Segundo Otero (1993), para os profissionais de enfermagem, a administração de
medicamentos apresenta risco de sensibilização alérgica (antibióticos) e aumento da atividade
mutagênica (citostáticos). Para o autor, nem sempre o profissional tem conhecimento do que
está manipulando, o que o prejudica ainda mais. A NR 32 também ressalta recomendações
importantes para o controle do risco químico em estabelecimentos de saúde, destacando-se os
cuidados com a rotulagem, o armazenamento e a capacitação do trabalhador para o manuseio
do produto químico. (BRASIL, 2008).
Em quinto lugar, a pesquisa indica os riscos físicos:
63
Figura 5 Demonstrativo do risco físico segundo a percepção dos trabalhadores de enfermagem no
HU, 2008.
Morillejo e Munoz (2004) destacam a presença do risco físico no ambiente hospitalar,
através de variáveis como a iluminação, o ruído ou as vibrações e as altas temperaturas.
Dentre os trabalhadores do estudo, 51,1% percebem a exposição ao ruído. García e
García A (2004) destacam como principais efeitos da exposição ao ruído no trabalho a perda
da capacidade auditiva, o estresse, a interferência nas comunicações, doenças subjetivas e os
acidentes de trabalho.
Grandjean (1998) afirma que o ruído pode provocar perturbações da atenção, do sono
e sensações de incômodos. Além disso, o ruído perturba a comunicação das pessoas. Essa
dificuldade de compreensão de uma conversa é prejudicial para o desenvolvimento do
trabalho em equipe, que o trabalho de enfermagem é desenvolvido em equipe, e a
comunicação é essencial para a obtenção de um bom resultado.
Grandjean (1998) refere também que os ruídos prejudicam os trabalhos mentais
complexos, bem como determinadas produções com grandes exigências na destreza e na
análise de informações. Além disso, o ruído pode dificultar o aprendizado, e altos níveis de
ruído (acima de 90 dB) podem diminuir o desempenho mental.
A proteção ao ruído acontece através do planejamento de um local de trabalho
(evitando-se ruídos externos), diminuição do ruído na fonte (substituições de equipamentos),
amortecimento da dispersão do som (através da forração de salas com placas acústicas) e
proteção individual da audição (protetores auriculares e capacetes isoladores de som). Além
disso, os exames audiométricos dos trabalhadores em trabalhos ruidosos podem contribuir
para proteção ao ruído, visando a identificar lesões devido ao ruído e estabelecer uma base
para as medidas de segurança. (GRANDEJEAN, 1998).
De acordo com 42,2% dos trabalhadores, existe exposição à temperatura inadequada.
Iida (2005) enfatiza que a primeira condição para o conforto é o equilíbrio térmico, que é
influenciado por diversos fatores de natureza ambiental, pessoal e ocasionais, caracterizados
pela temperatura do ar, temperatura radiante média, umidade e velocidade do ar, vestimenta e
intensidade do esforço físico.
64
Quando o calor aumenta no ambiente, podem acontecer gradativamente perturbações
psíquicas (como desconforto, aumento da irritabilidade, falta de concentração e queda de
capacidade para trabalhos mentais), a seguir, perturbações psicológicas (aumento das falhas,
queda da produção e aumento dos acidentes) e, por último, podem ocorrer até perturbações
fisiológicas (fadiga aumentada, elevação da frequência cardíaca e pressão arterial, diminuição
da atividade dos órgãos de digestão, aumento da temperatura da pele e da produção de calor).
(GRANDJEAN, 1998).
Grandjean (1998) recomenda a adoção de medidas técnicas de redução do calor, que
incluem a instalação de equipamentos de ventilação e a melhoria das condições naturais de
ventilação.
Para Iida (2005), as condições ambientais desfavoráveis, como excesso de calor,
ruídos, vibrações e iluminação insuficiente geram tensões no trabalho e causam desconforto,
aumentando o risco de acidentes e provocando danos à saúde do trabalhador.
Os trabalhadores de enfermagem e a gerência devem discutir e planejar a estrutura
física hospitalar, visando a (re)organizar o meio ambiente de trabalho, minimizar danos ao
trabalhador e melhorar o resultado do seu trabalho.
Uma apreciação na intensidade dos eventos citados identifica como “sempre” os itens
presentes no gráfico 2.
65
13
21,2
15,3
13
17,5
17,7
31,4
5
5,4
16,7
7,8
25,3
23,5
15,9
11,4
49,3
35,7
23,3
13,3
21,5
28,5
15,6
32,1
25,6
25,9
31,1
14
11,9
14,7
21,9
5,2
28,8
7,1
3,8
3,8
8,5
14,2
33
4,2
3,8
4,4
17,7
28,7
30,2
40,6
0 10 20 30 40 50 60
1. Má distribuição do espaço físico (N = 293)
2. Ordem e limpeza insuficientes (N = 293)
3. Sinalização de saídas de emerncia (N = 292)
4. Risco de queda no ambiente de trabalho (N = 295)
5. Risco de queda de materiais (N = 292)
6. Choques contra objetos móveis/imóveis (N = 297)
7. Risco de tropeçar em objetos (N = 294)
8. Risco por sobrecarga de trabalho (N = 296)
9. Risco por contato etrico (N = 298)
10. Risco de Incêndio ou explosão (N = 295)
11. Exposição á temperatura inadequada (N = 294)
12. Exposição à umidade excessiva (N = 293)
13. Ventilação insuficiente/inadequado (N = 296)
14. Iluminação insuficiente (N = 293)
15. Exposição à ruído (N = 295)
16. Exposição à radiação (N = 290)
17. Risco de contrair infecção/doença (N = 296)
18. Exposição à risco biológico (N = 294)
19. Lesão por material pérfuro cortante (N = 292)
20. Exposição a gases, vapores ou aerosóis (N = 294)
21. Risco de contato com substâncias químicas (N = 293)
22. Falta de equipamentos de proteção individual (N = 298)
23. Má utilização de Equipamento de Proteção (N = 288)
24. Esforço físico que produz fadiga (N = 293)
25. Manipulação de cargas pesadas (N = 297)
26. Desconforto pela postura adotada por muito tempo (N = 294)
27. Posturas forçadas para realização de alguma tarefa (N = 296)
28. Duração excessiva da jornada de trabalho (N = 293)
29. Organização insatisfatória de horário (N = 293)
30. Tarefas rotineiras ou motonas (N = 292)
31. Ritmo de trabalho acelerado (N = 288)
32. Trabalho isolado que dificulta contato com companheiros (N = 290)
33. Recursos insuficientes para realizar o trabalho (N = 292)
34. Conflito com clientes ou pacientes (N = 294)
35. Conflito entre trabalhadores (N = 287)
36. Conflito com chefia ou encarregados (N = 289)
37. Pouca oportunidade de decisão sobre a realiz do trabalho (N = 284)
38. Pouca oferta de formão contínua (N = 288)
39. Pouca possibilidade de promoção (N = 288)
40. Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho (N = 287)
41. Situação de discriminação no trabalho (N = 293
42. Desconhec/Form insufic sobre riscos do próprio trabalho (N = 294)
43. Risco de contamin/segurança no ambiente externo (N = 288)
44. Exposição ao vírus HIV (N = 289)
45. Exposição ao vírus da Hepatite (N = 291)
Gráfico 2 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de existência e frequência de fatores de risco
do ambiente de trabalho (sempre) do HU - 2008.
Dentre todos os fatores de risco citados, cinco, presentes todos os dias na vida do
profissional de enfermagem, foram classificados com “sempre” pelos trabalhadores, como se
no gráfico 2: a) risco de contrair infecção/doença (49,3%); b) distribuição do espaço
físico (40,3%); c) exposição a risco biológico (35,7%); d) pouca possibilidade de promoção
(33%); e) risco por sobrecarga de trabalho (31,4%).
Em seguida, avaliam-se os que se apresentam muitas vezes e que também precisam de
controle imediato apresentados no gráfico 3.
66
51,5
20,9
28,1
36,6
36,3
35,4
40,2
21,8
13,9
25,5
19,8
28,7
31,7
35,2
28,6
36,9
34,3
30,1
23,5
32,4
45,0
37,5
41,3
37,0
47,2
47,3
28,7
20,5
33,9
51,0
13,8
48,7
22,4
19,9
13,5
25,3
29,5
18,1
6,3
15,4
20,7
29,8
40,1
38,8
27,6
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0
1. Má distribuição do espaço físico (N = 293)
2. Ordem e limpeza insuficientes (N = 293)
3. Sinalização de saídas de emerncia (N = 292)
4. Risco de queda no ambiente de trabalho (N = 295)
5. Risco de queda de materiais (N = 292)
6. Choques contra objetos móveis/imóveis (N = 297)
7. Risco de tropeçar em objetos (N = 294)
8. Risco por sobrecarga de trabalho (N = 296)
9. Risco por contato etrico (N = 298)
10. Risco de Incêndio ou explosão (N = 295)
11. Exposição á temperatura inadequada (N = 294)
12. Exposição à umidade excessiva (N = 293)
13. Ventilação insuficiente/inadequado (N = 296)
14. Iluminação insuficiente (N = 293)
15. Exposição à ruído (N = 295)
16. Exposição à radiação (N = 290)
17. Risco de contrair infecção/doença (N = 296)
18. Exposição à risco biológico (N = 294)
19. Lesão por material pérfuro cortante (N = 292)
20. Exposição a gases, vapores ou aerosóis (N = 294)
21. Risco de contato com substâncias químicas (N = 293)
22. Falta de equipamentos de proteção individual (N = 298)
23. Má utilização de Equipamento de Proteção (N = 288)
24. Esforço físico que produz fadiga (N = 293)
25. Manipulação de cargas pesadas (N = 297)
26. Desconforto pela postura adotada por muito tempo (N = 294)
27. Posturas forçadas para realização de alguma tarefa (N = 296)
28. Duração excessiva da jornada de trabalho (N = 293)
29. Organização insatisfatória de horário (N = 293)
30. Tarefas rotineiras ou motonas (N = 292)
31. Ritmo de trabalho acelerado (N = 288)
32. Trabalho isolado que dificulta contato com companheiros (N = 290)
33. Recursos insuficientes para realizar o trabalho (N = 292)
34. Conflito com clientes ou pacientes (N = 294)
35. Conflito entre trabalhadores (N = 287)
36. Conflito com chefia ou encarregados (N = 289)
37. Pouca oportunidade de decisão sobre a realiz do trabalho (N = 284)
38. Pouca oferta de formão contínua (N = 288)
39. Pouca possibilidade de promoção (N = 288)
40. Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho (N = 287)
41. Situação de discriminação no trabalho (N = 293
42. Desconhec/Form insufic sobre riscos do próprio trabalho (N = 294)
43. Risco de contamin/segurança no ambiente externo (N = 288)
44. Exposição ao vírus HIV (N = 289)
45. Exposição ao vírus da Hepatite (N = 291)
Gráfico 3 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de existência e frequência de fatores de risco
do ambiente de trabalho (frequentemente + às vezes) do HU - 2008.
Destacam-se os seguintes fatores de risco: ordem e limpeza insuficientes (51,5%),
ritmo de trabalho acelerado (51%), recursos insuficientes para realizar o trabalho (48,7%),
posturas forçadas para realização de alguma atividade (47,3%) e desconforto pela postura
adotada por longo tempo (47,2%). Tais riscos também se destacam em relação aos outros e
devem ser controlados imediatamente visando a melhorar as condições de trabalho.
Ao avaliar o resultado do estudo, concluiu-se que todos os fatores de risco
pesquisados foram encontrados no trabalho de enfermagem. No entanto, apresentaram
variações significativas em relação à intensidade, de acordo com a percepção do trabalhador.
Para identificarem-se os riscos menos percebidos pelos trabalhadores, consultamos
novamente o gráfico 3, no qual se destacaram com menor frequência os seguintes fatores:
67
agressividade, assédio sexual ou violência (10,5%), conflitos com chefia ou encarregados
(17,3%), trabalho isolado que dificulta contato com o grupo (19%), situação de discriminação
no trabalho (19,2%) e risco de incêndio ou explosão (19,3%).
Para confirmar esse resultado, avaliam-se, aqui, as questões classificadas pelos
trabalhadores, como as que “não acontecem”, através do gráfico 4.
11,3
14,0
20,3
17,5
12,8
12,9
12,5
30,2
32,2
25,5
29,7
23,3
20,1
18
20,3
4,1
10,5
14,7
26,9
17,4
13,4
14,9
9,6
13,1
8,8
6,4
24,9
34,1
21,9
10,1
41
6,8
23,8
25,8
30,8
27,8
24
19,8
32,1
33,1
35,4
18,4
12,1
10,3
15
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
1. Má distribuição do espaço físico (N = 293)
2. Ordem e limpeza insuficientes (N = 293)
3. Sinalização de saídas de emerncia (N = 292)
4. Risco de queda no ambiente de trabalho (N = 295)
5. Risco de queda de materiais (N = 292)
6. Choques contra objetos móveis/imóveis (N = 297)
7. Risco de tropeçar em objetos (N = 294)
8. Risco por sobrecarga de trabalho (N = 296)
9. Risco por contato etrico (N = 298)
10. Risco de Incêndio ou explosão (N = 295)
11. Exposição á temperatura inadequada (N = 294)
12. Exposição à umidade excessiva (N = 293)
13. Ventilação insuficiente/inadequado (N = 296)
14. Iluminação insuficiente (N = 293)
15. Exposição à ruído (N = 295)
16. Exposição à radiação (N = 290)
17. Risco de contrair infecção/doença (N = 296)
18. Exposição à risco biológico (N = 294)
19. Lesão por material pérfuro cortante (N = 292)
20. Exposição a gases, vapores ou aerosóis (N = 294)
21. Risco de contato com substâncias químicas (N = 293)
22. Falta de equipamentos de proteção individual (N = 298)
23. Má utilização de Equipamento de Proteção (N = 288)
24. Esforço físico que produz fadiga (N = 293)
25. Manipulação de cargas pesadas (N = 297)
26. Desconforto pela postura adotada por muito tempo (N = 294)
27. Posturas forçadas para realização de alguma tarefa (N = 296)
28. Duração excessiva da jornada de trabalho (N = 293)
29. Organização insatisfatória de horário (N = 293)
30. Tarefas rotineiras ou motonas (N = 292)
31. Ritmo de trabalho acelerado (N = 288)
32. Trabalho isolado que dificulta contato com companheiros (N = 290)
33. Recursos insuficientes para realizar o trabalho (N = 292)
34. Conflito com clientes ou pacientes (N = 294)
35. Conflito entre trabalhadores (N = 287)
36. Conflito com chefia ou encarregados (N = 289)
37. Pouca oportunidade de decisão sobre a realiz do trabalho (N = 284)
38. Pouca oferta de formão contínua (N = 288)
39. Pouca possibilidade de promoção (N = 288)
40. Agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho (N = 287)
41. Situação de discriminação no trabalho (N = 293
42. Desconhec/Form insufic sobre riscos do próprio trabalho (N = 294)
43. Risco de contamin/segurança no ambiente externo (N = 288)
44. Exposição ao vírus HIV (N = 289)
45. Exposição ao vírus da Hepatite (N = 291)
Gráfico 4 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo a percepção de existência e frequência de fatores de risco
do ambiente de trabalho (não acontecem) do HU - 2008.
De acordo com o gráfico 4, pouca é a freqüência dos fatores “não percebidos” pelos
trabalhadores; nesse sentido, se destacam “o trabalho isolado que dificulta o contato” (41%);
“desconhecimento sobre riscos” (35,4%); “organização insatisfatória de horário” (34,1%);
“situação de discriminação no trabalho” (33,1%); “agressividade, assédio sexual ou violência
68
no trabalho” (32,1%); e “risco de contato elétrico” (30,2%). A não percepção desses fatores
tanto poderá ser positiva se se considera que a organização preserva a saúde dos
trabalhadores, como pode ser negativa, se se verifica que poucos são os trabalhadores que
caracterizam esses fatores.
Destacam-se ainda os principais problemas que os trabalhadores desconhecem
apontados no gráfico 5.
Gráfico 5 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo percepção de desconhecimento de
existência de fatores de risco do ambiente de trabalho do HU 2008.
De acordo com gráfico 5, grande parte dos trabalhadores não reconhece no seu
cotidiano a “agressividade, assédio sexual ou violência no trabalho” (51,6%) como um dos
fatores de risco do ambiente de seu trabalho. A “situação de discriminação no trabalho”
(38,2%) representa o segundo aspecto mais comum de desconhecimento desses fatores em
situação laboral. Bem perto desse item, revelam-se a “sinalização das saídas de emergência”
69
(37,3%) e o risco de incêndio ou explosão” (33,9%) como fatores de risco desconhecidos
pelos trabalhadores .
Bulhões (1998) destaca que o risco ocupacional pode estar oculto, por ignorância, falta
de conhecimento ou de informação, o que faz com que o trabalhador não suspeite do risco.
Ressalta-se que o desconhecimento sobre tais situações, pode não ter significado que
estes fatores não acontecem, mas sim, que os trabalhadores não possuem informações
suficientes ou não querem opinar sobre estes aspectos. Moura (1998) salienta, todavia, que,
para a eliminação dos riscos, implica primeiramente conhecê-los, para, em seguida,
programarem-se medidas de remoção das condições adversas.
3.2.2 Avaliação da escala de fatores de risco no trabalho
Para avaliação dos riscos ocupacionais no ambiente de trabalho foi construída uma
escala baseada nos tercis. Foram dados os mesmos pesos para cada pergunta que compôs a
escala, encontraram-se os seguintes resultados.
Tabela 4 Demonstrativo da Escala de Fatores de Risco
do Ambiente de Trabalho (RAT) segundo a
percepção dos trabalhadores de enfermagem
no HU 2009
Classificação
Freqüência
%
Baixa
67
33,7
Moderada
62
31,2
Alta
70
35,2
Total
199
100
*Foram desconsiderados os que deixaram respostas em branco
Observou-se que a maioria apresenta alto grau de percepção para fator de risco no
ambiente de trabalho, com cerca de 35,2% que, quando associado ao moderado, compreende
cerca de 66,4% da amostra, o que evidencia a presença de um número grande de fatores de
risco no ambiente de trabalho de enfermagem.
Em nenhuma das escalas criadas foi evidenciada diferença estatisticamente significativa ao
nível de 5% entre as categorias.
Em relação à escala de avaliação de fatores de risco no ambiente de trabalho,
realizaram-se dois cruzamentos: o primeiro, em relação à categoria (tabela 4), para avaliar se
os diferentes níveis de formação profissional podem influenciar na percepção do risco no
ambiente de trabalho; e o segundo, em relação ao setor de trabalho (tabela 5), para avaliar se
70
existem diferenças na percepção do risco em relação ao setor de trabalho, ou seja, se um
determinado serviço pode abrigar mais riscos ocupacionais que outro. Os resultados serão
apresentados e discutidos a seguir:
Tabela 5 - Distribuição dos trabalhadores segundo a categoria em relação à escala de trabalho no
HU - 2009 (N = 197)
Categoria
Escala RTA
Baixa
Moderada
Alta
Total
Enfermeiro
N
3
6
19
28
%
10,7
21,4
67,9
100,0
Tec/Aux. de Enfermagem
N
64
56
49
169
%
37,9
33,1
29,0
100,0
Sub-Total
N
67
62
68
197
%
34,0
31,5
34,5
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco.
Verificou-se com a escala RAT que 67,9% dos enfermeiros perceberam um nível alto
no seu ambiente de trabalho, enquanto que, apenas 29% dos Téc/aux. de enfermagem
perceberam o nível alto para os mesmos fatores no seu ambiente de trabalho. Pode ser que o
grau de instrução e a qualificação maior do enfermeiro o permitam identificar melhor os
fatores de risco presentes em seu trabalho. Justifica-se, portanto, a importância de orientar os
técnicos e auxiliares de enfermagem (Tec/Aux. de Enfermagem) para a identificação dos
fatores de risco no seu trabalho, uma vez que o curso de formação de nível médio é mais
reduzido que o do enfermeiro, o que pode justificar a ausência do conhecimento sobre os
riscos no trabalho.
Ressalta-se que não foi possível aplicar teste de qui-quadrado por serem células com
baixos valores; logo, não se pode descartar que este resultado seja devido ao acaso.
Na tabela 6, realiza-se o cruzamento dos setores de trabalho com a escala de RAT.
Tabela 6 - Distribuição dos trabalhadores segundo o setor de trabalho em relação à escala
de trabalho no HU - 2008 (N = 199)
Setor de Trabalho
Escala de Risco do Ambiente de Trabalho
Baixa
Moderada
Alta
Total
SECLIN
N
35
42
45
122
%
28,7
34,4
36,9
100,0
SEMC
N
11
9
6
26
%
42,3
34,6
23,1
100,0
SECI
N
21
11
19
51
%
41,2
21,6
37,3
100,0
Sub-Total
N
67
62
70
199
%
33,7
31,2
35,2
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
71
Quanto ao setor de trabalho, a escala de RAT foi considerada pelos trabalhadores mais
alta no SECI, com 37,3%, seguida no SECLIN (36,9%) e, por último, no SEMC (23,1%).
Quando somados os valores de moderada e alta, observou-se um predomínio dos dois itens,
com mais da metade das percepções dos trabalhadores em todos os serviços. Verifica-se que
os riscos estão presentes com pequenas variações em todos os serviços de enfermagem, ou
seja, não é um privilegio de nenhum dos serviços, sendo necessárias a avaliação e a prevenção
de risco em todos as enfermarias do HU. Aplicado o teste de qui-quadrado, as associações não
foram significativas ao nível de significância de 5%.
3.3 Problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem
3.3.1 Identificando os problemas de saúde
Os problemas de saúde dos trabalhadores são apresentados através de dois gráficos (6
e 7). O primeiro (gráfico 6) demonstra quais são os problemas de saúde.
Gráfico 6 - Distribuição proporcional de existência de problemas de saúde nos trabalhadores do HU -
2008.
72
Observa-se que os problemas oculares, com 56,1%, as varizes, 52,9%, e problemas
osteomusculares através das lombalgias, com 51,1% foram os que receberam maior destaque
por parte dos trabalhadores. Os males psicossociais, como estresse e depressão, 42,2%,
também foram muito referidos. Registraram-se ainda a dor de cabeça freqüente (36,3%), os
problemas de articulação (35,3%), transtornos do sono (34,5%), lesão da coluna vertebral
(32,2%), Hipertensão (30%), e dores musculares crônicas (29,3%) como itens frequentemente
citados pelos trabalhadores entre os problemas que interferem em sua saúde.
Para responder ao objetivo deste estudo e discutir a relação dos problemas de saúde
com o trabalho, não basta apenas identificar a existência dos problemas de saúde, é preciso
saber qual é a relação destes problemas com o trabalho. Então, valorizando-se a percepção
dos trabalhadores, questionou-se se o problema assinalado por eles tinha relação com o seu
trabalho ou se foi provocado e agravado pelo trabalho. Tais dados, de relevância para este
estudo, serão apresentados no gráfico 7.
73
Gráfico 7 - Distribuição proporcional dos trabalhadores segundo detalhamento (provocado,
agravado, não relacionado) dos problemas de saúde no HU - 2008.
No gráfico 7, observou-se que nem todos os problemas de saúde informados pelos
trabalhadores no gráfico 6 estão relacionados com o seu trabalho, de acordo com a sua
percepção. Nesta categoria, destacam-se os problemas oculares (63%). Este problema de
saúde pode estar relacionado com a idade, uma vez que, 68,6% dos trabalhadores da amostra
têm 40 anos ou mais. Entretanto, apesar de não estar relacionado com o trabalho, esse
74
problema afeta diretamente o trabalhador de enfermagem e pode ser responsável pelo
incremento de dores de cabeça freqüentes, influenciando a qualidade de vida dos
trabalhadores. Além disso, os problemas oculares podem conduzir a erros no trabalho de
enfermagem.
A idade acelera a fadiga visual, exigindo mais esforço para focalizar detalhes, o que
torna aconselhável o uso de óculos para prevenção da fadiga visual. Além disso, a idade
reduz o tamanho da pupila, diminuindo a quantidade de luz que penetra nos olhos, assim, as
pessoas idosas precisam de mais luz para prevenir a fadiga visual. As pessoas idosas, no
entanto, continuam aptas para o trabalho, apesar da redução da capacidade visual. Os
eventuais problemas oculares podem ser corrigidos ou minorados pelo uso de óculos e pela
melhoria da iluminação. (IIDA, 2005).
A fadiga visual que ocorre, principalmente, nos trabalhos que exigem grande
concentração visual, pode ser intensificada pela iluminação e por fatores organizacionais,
como rigidez de rotinas e longos períodos de trabalho sem pausas (IIDA, 2005). Em graus
avançados, além de irritação e lacrimejamento, provoca dores de cabeça, náuseas, depressão
e irritabilidade emocional, gerando quedas do rendimento e da qualidade do trabalho.
Ressalta-se que 55,2% perceberam entre os fatores de risco a iluminação insuficiente, o que
pode contribuir para a existência ou agravamento desse problema de saúde.
Grandejean (1998) destaca que, para um bom desempenho visual, necessita-se de
melhoria do foco, sensibilidade de contrastes e velocidade de percepção. São condições
preliminares para uma boa visão nos locais de trabalho a intensidade de iluminação no local
de trabalho, a distribuição dos brilhos no campo visual, o tamanho dos objetos, as luminâncias
(determinadas pelo grau de reflexo do objeto e a intensidade de iluminação do ambiente), o
contraste entre os objetos, o tempo disponível para a percepção e a idade do trabalhador. Para
Marin (2000), entre o trabalhador e o ambiente existe uma interação permanente, podendo
influenciar positiva ou negativamente a saúde do trabalhador. Enfatiza ainda que o
trabalhador também influencia o seu ambiente de trabalho.
É importante, portanto, valorizar e promover a atenção à saúde ocular, facilitando o
acesso ao diagnóstico e tratamento oculares aos trabalhadores de enfermagem, o que
certamente vai melhorar a sua qualidade de vida.
Dentre os 10 problemas que mais foram destacados no gráfico 6 pelos trabalhadores,
e qualificados no gráfico 7 como provocados pelo trabalho, destacam-se as lombalgias (55%),
lesões da coluna vertebral (52%), as varizes (44%) e o estresse/depressão ( 25%). Estes dados
corroboram os estudos científicos existentes na área de enfermagem do trabalho.
75
Quanto às lombalgias e lesões da coluna, são doenças osteomusculares relacionadas
ao trabalho. De acordo com o INSS (1997), os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao
Trabalho (DORT) representam um dos grupos de doenças ocupacionais mais prevalentes,
causando incapacidade laboral temporária ou permanente. Alguns estudos na enfermagem
destacam também os distúrbios osteomusculares como principal fator de absenteísmo e
procura por auxílio médico. (GERGUEIRA; ALEXANDRE; CORREA FILHO, 2003).
As varizes fazem parte do grupo de doenças do sistema circulatório relacionadas ao
trabalho (BRASIL, 2005). Esse distúrbio pode ser causado pelas inúmeras atividades
realizadas em pé, no trabalho de enfermagem, sem intervalos de descanso e pausa. Ressalta-se
que alguns fatores de risco percebidos pelos trabalhadores neste estudo, como posturas
forçadas (78,4%) e desconforto pela postura adotada por muito tempo (73,1%), podem
contribuir para o desenvolvimento de varizes. Hipólito (2005) observou nos trabalhadores de
enfermagem grande incidência de problemas músculo-esqueléticos e vasculares, os quais
associou às posturas inadequadas no trabalho (muitas horas em pé e andando).
Na comunidade européia, uma série de estudos ergonômicos nos ambientes
hospitalares, desenvolvidos por Estryn-Behar (1996) evidenciou que os enfermeiros passam a
maioria do seu trabalho em ou em posições desconfortáveis, o que pode provocar ou
agravar os problemas circulatórios e osteomuscular.
As DORT resultam da superutilização das estruturas anatômicas do sistema músculo-
esquelético e da falta de tempo de recuperação (BRASIL, 2001), muito comum no trabalho de
enfermagem. Vários estudos (ALEXANDRE, 1998; GUEDES, 2000; MAURO; PAZ;
MAURO, 1999; PARADA; ALEXANDRE; BENATTE, 2002; ZANON; MARZIALE, 2000)
enfatizam que grande parte das agressões à coluna vertebral em trabalhadores de enfermagem
está relacionada a fatores ergonômicos inadequados de mobiliários, posto de trabalho e
equipamentos, além de falta de treinamento e de pessoal, os quais envolvem fatores
ambientais e organizacionais. Nesse sentido, Alexandre (1998) destaca a importância da
enfermagem participar do planejamento do ambiente físico hospitalar.
Os trabalhadores deste estudo perceberam no seu ambiente de trabalho vários riscos
ergonômicos, como a manutenção de posturas forçadas para realização de alguma tarefa
(78,4%), desconforto pela postura adotada por muito tempo (73,1%), esforço físico (73,4%),
manipulação de cargas pesadas (62,6%) e outros fatores organizacionais e psicossociais, que,
quando associados com intensidade, duração e frequência, podem resultar em DORTs, de
acordo com o Ministério da Saúde. (BRASIL, 2001).
76
Seligmann-Silva (2009) ressalta que muitos trabalhadores apresentam Doenças
Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho e procuram o clínico geral com queixas de dores
na coluna, nos ombros, na cabeça e são medicados pelo médico de sua empresa com
tranqüilizantes. O mesmo acontece quando a pessoa está se sentindo muito triste, confundem
tristeza com depressão. No entanto, não se oportunidade de mudar a situação no trabalho,
não se procura resolver a causa do problema, e assim continuam sendo pressionadas a dar
uma produtividade incompatível com o seu organismo. Logo, ficam cansadas, tensas e são
medicadas. Para a autora os trabalhadores estão tomando muito antidepressivos e
tranqüilizantes, quando o que eles precisariam é ter possibilidades de discutir a maneira como
elas são obrigadas a trabalhar.
O estresse e a depressão englobam-se aos distúrbios psicossociais com destaque nos
últimos anos. Stacciarini e Trocóli (2001) destacam que a enfermagem foi classificada pela
Health Education Authority como a quarta profissão mais estressante no setor público.
Hipólito (2005) observou nos trabalhadores de enfermagem o estresse associado ao excesso
de tensão e responsabilidades.
Segundo Guerrer e Beanchi (2008), a maioria dos enfermeiros apresenta nível médio e
de alerta para estresse. O estudo dos autores identificou como estressores, para os enfermeiros
assistenciais, recursos inadequados, atendimento ao paciente, relações interpessoais e carga
emocional; para os enfermeiros administrativos, foram apontados os recursos inadequados
relacionados à assistência, relações interpessoais, cobranças, sobrecarga de trabalho,
reconhecimento profissional e poder de decisão.
As demandas de trabalho da enfermagem implicam um ritmo excessivo de trabalho e
atenção a muitas tarefas ao mesmo tempo, o que pode desenvolver transtornos relacionados
com o estresse laboral. Intimamente relacionado com o estresse e outros transtornos
psicológicos (depressão, ansiedade etc), estão os fatores relativos ao desempenho de funções
a ambigüidade, o conflito e a sobrecarga de função e outras variáveis grupais e
organizacionais, como a falta de participação na tomada de decisões, a escassa autonomia no
trabalho, a monotonia, a perspectiva pouco otimista de desenvolvimento profissional e a
escassa oportunidade para o controle do trabalho e os conflitos grupais. (MORILLEJO;
MUÑOZ, 2004).
Neste estudo, 72,9% dos trabalhadores destacaram o ritmo de trabalho acelerado e
71,6%, o risco por sobrecarga de trabalho, riscos ergonômicos que podem ser responsáveis
pelo estresse laboral. Além disso, 81,6% da amostra é do sexo feminino, na faixa etária adulta
e casada, o que pode provocar o aumento das responsabilidades da trabalhadora com as
77
atividades domésticas associadas ao trabalho hospitalar gerando sobrecarga, pela dupla e até
tripla jornada de trabalho, como foi evidenciado em diferentes estudos científicos
(BARRETO, 2002; BREILH, 1991; SPINDOLA; SANTOS, 2005). Vale ressaltar também
que cerca de 48,7% de trabalhadores da amostra apresentam mais de um vínculo
empregatício, o que pode ser considerado outro fator de sobrecarga de trabalho, contribuindo
para o incremento do estresse nestes trabalhadores.
Silva e Yamada (2008) enfatizam que, no cotidiano da enfermagem, a sobrecarga de
trabalho e o pouco tempo destinado ao descanso são situações que comprometem a saúde
mental do trabalhador, acarretando problemas pessoais nas relações interpessoais e no
desempenho de suas atividades profissionais.
Elias e Navarro (2006) referem que a sobrecarga de trabalho é evidente e parece ser
inevitável às profissionais de enfermagem, pois é comum para elas o cuidar do outro, seja no
hospital, ou na família, no entanto o cuidar de si própria, quase sempre está em último plano,
pois o tempo que lhes resta é muito pequeno, e parece haver pouca consciência da
importância dessa atitude.
Uma das características do trabalho de enfermagem é a grande parte de tempo que os
profissionais passam com os pacientes e seus familiares. Essas relações interpessoais,
carregadas de emoções, tensões e inclusive frustração e hostilidade, podem conduzir ao
aparecimento do burnout neste grupo profissional. E isso é mais evidente, se somado com a
atenção prestada a pacientes com enfermidades terminais, quando o sentimento de frustração
pode ser altamente incrementado. (MORILLEJO; MUÑOZ, 2004).
Spindola e Santos (2005) destacam que a assistência de enfermagem nas instituições
públicas tem sido punida com a deficiência dos recursos humanos e materiais, os quais
interferem diretamente na qualidade da assistência e na saúde mental das enfermeiras.
Apontam ainda que a deterioração do ambiente de trabalho da enfermagem é responsável pela
evasão de muitos trabalhadores de seus setores de trabalho, o que tem promovido aumento do
desgaste físico e mental dos trabalhadores que permanecem na atividade, uma vez que as
tarefas precisam ser redistribuídas entre aqueles que permanecem, sem possibilidades de
manutenção da qualidade de assistência de enfermagem prevista.
Nesta pesquisa, registrou-se que 77,5% dos trabalhadores perceberam recursos
insuficientes para realização do seu trabalho, 73,5%, a falta de equipamentos de proteção
individual, e 51,1%, pouca possibilidade de promoção. Esses e outros fatores identificados
podem ser motivos de desgaste físico e mental, repercutindo negativamente na saúde mental
dos trabalhadores de enfermagem.
78
As conclusões da Dra. Madeline Estryn-Béhar, no estudo Santé et satisfaction des
soignants au travail em France et em Europe, referem que os trabalhadores de saúde estão
submetidos a uma forte pressão, pelo seu envolvimento no trabalho, com inúmeros riscos para
sua saúde (problemas músculo-esqueléticos, riscos de infecção, em particular acidentes por
exposição ao sangue, riscos psicossociais, como burnout e horários atípicos). A saúde e a
promoção da saúde dos trabalhadores em hospital devem ser consideradas prioridade para os
gestores do sistema de saúde. Com efeito, a eficácia das instituições sanitárias e sociais
depende fortemente das equipes que asseguram seu funcionamento. (ESTRYN-BÉHAR,
2008).
3.3.2 Avaliação dos problemas de saúde com base na escala PRS
Com a finalidade de estimar a intensidade dos problemas nos trabalhadores de
enfermagem no hospital estudado, criou-se uma escala de intensidade de problemas de saúde
(PRS) de enfermagem, baseada em cálculo por tercis. Foram dados os mesmos pesos para
cada problema que compôs a escala.
Tabela 7 Demonstrativo da Avaliação da Escala de Intensidade de
Problemas de Saúde (PRS) da Enfermagem do HU 2008
Classificação
Freqüência
%
Baixa
87
43,7
Moderada
52
26,1
Alta
60
30,2
Total
199
100
* Foram desconsideradas as respostas em branco
De acordo com a avaliação da escala de tercis dos problemas de saúde, observa-se que
mais da metade dos trabalhadores apresenta grau alto e moderado de problemas de saúde,
que somados chegam a 56,3%.
Para avaliar o grau de frequência dos problemas de saúde, realizaram-se cruzamentos
de algumas variáveis com a escala de PRS, os quais serão apresentados a seguir.
Com o objetivo de verificar se existem diferenças na escala PRS em relação à
categoria profissional, realizou-se o cruzamento das variáveis, apresentado na tabela 7.
79
Tabela 8 - Distribuição dos trabalhadores segundo a categoria em relação à escala de saúde no
HU - 2008 (N = 196)
Categoria profissional
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
Enfermeiro
N
11
8
7
26
%
42,3
30,8
26,9
100,0
Tec/ Aux de Enfermagem
N
74
44
52
170
%
43,5
25,9
30,6
100,0
Sub-Total
N
85
52
59
196
%
43,4
26,5
30,1
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
Destaca-se que 42,3% dos enfermeiros, e 43,5% dos auxiliares de enfermagem,
apresentam um resultado com Baixo grau na escala de PRS. Entretanto, um número
significativo dos profissionais apresenta índices moderados e altos. Quando se verifica a
ocorrência do grau mais alto, observa-se que ele apresenta incidência maior nos Téc/aux. de
enfermagem (30,6%). Aplicado o teste de qui-quadrado, as associações mostram-se
significativas, ao nível de 5%, p-valor <0,01. Isso justifica uma associação das variáveis,
concluindo-se que a categoria profissional pode influenciar a intensidade de ocorrência dos
problemas de saúde, como se observa entre os téc/aux. de enfermagem.
A avaliação da possível influência dos diferentes setores de trabalho no resultado dos
PRS está apresentada na tabela 9.
Tabela 9 - Distribuição dos trabalhadores segundo o setor de trabalho em relação à
escala de saúde no HU 2008 (N = 199)
Setor de Trabalho
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
SECLIN
N
51
30
33
114
%
44,7
26,3
28,9
100,0
SMC
N
14
9
11
34
%
41,2
26,5
32,4
100,0
SEC
N
22
13
16
51
%
43,1
25,5
31,4
100,0
Sub-Total
N
87
52
60
199
%
43,7
26,1
30,2
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
Observa-se ser bastante semelhante a distribuição da escala PRS, nos diferentes
setores, pois, quando somados, mais da metade dos resultados está entre moderada e alta,
em todos os serviços. Nesse sentido, conclui-se que todos trabalhadores apresentam
problemas de saúde, independentemente dos serviços. A idéia de que um determinado serviço
80
pode ser mais nocivo à saúde não é verdadeira, neste hospital. Aplicado o teste de qui-
quadrado, as associações não foram significativas ao nível de significância de 5%, logo
cientificamente os resultados podem ser devido ao “acaso”.
Com o objetivo de avaliar se o sexo interferia nos resultados da escala PRS, apresenta-
se a tabela 10.
Tabela 10 - Distribuição dos trabalhadores segundo o sexo em relação à escala de saúde no HU
- 2008 (N = 191)
Sexo
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
Masculino
N
1
1
1
3
%
33,3
33,3
33,3
100,0
Feminino
N
82
49
57
188
%
43,6
26,1
30,3
100,0
Sub-Total
N
83
50
58
191
%
43,5
26,2
30,4
100,0
*Foram desconsideradas as respostas em branco
Em relação ao sexo feminino, observa-se que 43,6% apresentam grau baixo na escala
de PRS; no entanto, mais da metade concentra-se nos graus moderado e alto. Aplicado o teste
de qui-quadrado, separadamente, as associações são significativas ao nível de significância de
5%, para o Feminino. Este resultado permite concluir que existe uma dependência do sexo
feminino em relação à escala de PRS, ou seja, mais da metade das mulheres tem uma
intensidade de problemas de saúde entre moderado e alto.
Quanto ao sexo masculino, observa-se uma distribuição semelhante nos graus da
escala. No entanto, devido às baixas frequências nas células, não foi possível aplicar o teste
qui-quadrado, o que não permite concluir se esse resultado é devido ou não ao acaso.
Para avaliar a relação da idade dos trabalhadores e seus PRS apresentamos a tabela 11.
Tabela 11 - Distribuição dos trabalhadores segundo a faixa etária em relação à escala de
saúde no HU - 2008 (N = 194)
Faixa etária
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
20 - 29
N
17
8
1
26
%
65,4
30,8
3,8
100,0
30 - 39
N
22
13
12
47
%
46,8
27,7
25,5
100,0
40 - 49
N
34
19
34
87
%
39,1
21,8
39,1
100,0
50 e +
N
13
10
11
34
%
38,2
29,4
32,4
100,0
Sub-Total
N
86
50
58
194
%
44,3
25,8
29,9
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
81
Observa-se que, com o aumento da idade, existe um incremento do grau da escala de
PRS, chegando a 39,1% na faixa etária de 40-49 anos. Entretanto não foi possível aplicar o
teste qui-quadrado, devido às baixas frequências em algumas células, logo, não se pode
afirmar se esse resultado tem significância estatística.
Visando avaliar se o número de vínculos influenciava na escala de PRS, apresenta-se a
tabela 12.
Tabela 12 - Distribuição dos trabalhadores segundo o número de vínculos em relação à
escala de saúde no HU - 2009 (N = 176)
Número de vínculos
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
1
N
46
17
25
88
%
52,3
19,3
28,4
100,0
2
N
23
27
28
78
%
29,5
34,6
35,9
100,0
3
N
5
2
3
10
%
50,0
20,0
30,0
100,0
Sub-Total
N
74
46
56
176
%
42,0
26,1
31,8
100,0
* Foram desconsideradas as respostas em branco
Destaca-se nos resultados que, com o aumento de vínculos empregatícios, existe um
incremento da escala de PRS, chegando a 35,9% nos que possuem dois vínculos. No entanto,
devido às baixas freqüências em algumas células, não foi possível realizar o teste do qui-
quadrado para comprovação estatística.
Com o objetivo de avaliar se o tipo de jornada influenciava na Escala de Problemas de
Saúde, foi construída a tabela 13.
Tabela 13 - Distribuição dos trabalhadores segundo o tipo de jornada em relação à escala de
saúde no HU - 2009 (N = 198)
Tipo de jornada
Escala de Problemas de Saúde
Baixa
Moderada
Alta
Total
Diário
N
7
6
6
19
%
36,8
31,6
31,6
100,0
Plantão Diurno
N
46
25
40
111
%
41,4
22,5
36,0
100,0
Plantão Noturno
N
34
21
13
68
%
50,0
30,9
19,1
100,0
Sub-Total
N
87
52
59
198
%
43,9
26,3
29,8
100,0
* Foram desconsiderada as respostas em branco.
82
De acordo com os resultados, os plantonistas diurnos apresentam um índice mais alto
de problemas de saúde na escala, com cerca de 36% da amostra, o que pode ser justificado
pelo aumento das atividades no período, com o aumento do ritmo de trabalho e sobrecarga das
atividades. Aplicado o teste de qui-quadrado, as associações não são significativas ao nível de
significância de 5%, p-valor <0,01. Logo esse resultado pode ser devido ao “acaso”.
83
5 CONCLUSÕES
O presente estudo buscou avaliar a relação dos fatores de risco e a saúde dos
trabalhadores de enfermagem, apresentando resultados que corroboram a literatura
consultada.
A apresentação e análise dos fatores de risco permitiram compreender os problemas de
saúde dos trabalhadores de enfermagem e suas repercussões sobre o seu processo de trabalho.
Os conceitos que fundamentam as características pessoais e profissionais do
trabalhador de enfermagem, a organização, o conteúdo e as condições de trabalho, além das
situações política, jurídica e social vivenciada no cotidiano dos trabalhadores, foram
abordados neste estudo.
Os resultados encontrados baseiam-se na metodologia participativa da abordagem
ergonômica, valorizando a opinião dos trabalhadores, a partir de sua percepção em relação às
condições de trabalho e seus problemas de saúde provocados ou agravados pelo trabalho.
Considera-se, assim, a participação dos trabalhadores como um direito do trabalhador e uma
necessidade para se identificarem os riscos presentes na realidade dos trabalhadores. Além
disso, a valorização da participação dos trabalhadores nesta pesquisa contribuiu para levá-los
a uma reflexão sobre suas condições de trabalho e sua saúde, o que poderá suscitar
contribuições deles para o seu processo de trabalho.
O trabalhador de enfermagem deste estudo apresenta características profissionais que
podem refletir-se no seu processo de saúde-doença, como o duplo vínculo, a carga horária
excessiva de trabalho, o baixo rendimento mensal, o trabalho em turnos, entre outros.
O estudo evidenciou que é inerente ao trabalho de enfermagem o trabalho feminino
com a sua dupla ou tripla jornada de trabalho, aumentando a sobrecarga de trabalho que
repercute na saúde destes trabalhadores.
As modificações sociais, culturais e econômicas no mundo do trabalho atual atingiram
a instituição e o trabalho da enfermagem. Destacam-se nessas mudanças a terceirização e a
precarização do contrato de trabalho, que submetem o trabalhador a formas flexibilizadas e
desregulamentadas de trabalho, trazendo insegurança ao trabalhador, com sentimentos de
medo e ansiedade, que vão refletir no processo de trabalho e na saúde do trabalhador de
enfermagem.
Nesse sentido, o resultado deste estudo aponta a necessidade de novos concursos
públicos para aumentar o quantitativo de enfermagem com contratos seguros de trabalho, para
diminuir a precarização, assim como a sobrecarga de trabalho, resultando na diminuição dos
riscos ergonômicos e psicossociais. Sabe-se que, para a realização de concursos públicos, é
84
necessário vultoso investimento financeiro, no entanto o retorno desse investimento é certo,
refletindo-se na qualidade do serviço prestado à comunidade, na saúde do trabalhador de
enfermagem, na redução de gastos com enfermidades e nos afastamentos do trabalhador.
Dentre os fatores de risco, foram indicados por ordem de maior incidência:
1) risco biológico exposição à infecção/doença, com destaque para vírus da
hepatite e HIV;
2) riscos ergonômicos e psicossociais posturas forçadas, recursos insuficientes,
falta de equipamentos de proteção individual( EPI), esforço físico, desconforto
pela postura, ritmo de trabalho acelerado, risco de sobrecarga, manipulação de
cargas pesadas, iluminação insuficiente, utilização de EPI, ventilação
insuficiente e pouca possibilidade de promoção;
3) riscos mecânicos ou de acidentes distribuição do espaço físico, ordem e
limpeza insuficientes, choques contra objetos, risco de tropeçar, risco de
quedas;
4) risco químico risco de contato com substâncias químicas; e
5) risco físico exposição a ruído e temperatura inadequada.
Esta caracterização configura um ambiente inadequado, capaz de produzir reflexos na
saúde dos trabalhadores, caso não sejam controlados ou eliminados os diversos tipos de risco.
Destacou-se, segundo a percepção dos trabalhadores, a intensidade de alguns fatores
de riscos: risco de contrair infecção/doença, distribuição do espaço físico, exposição a
risco biológico, pouca possibilidade de promoção, risco por sobrecarga de trabalho.
Nos fatores de riscos ocupacionais, destacaram-se, com maiores repercussões para a
saúde do trabalhador, aqueles relacionados com a organização do trabalho de enfermagem.
Esses riscos são determinados pelas mudanças atuais no mundo do trabalho, que atingem
também o serviço público, interferindo nos fatores organizacionais do trabalho, através da
quantidade insuficiente de recursos materiais e humanos, inadequação de mobiliários e
equipamentos, e outros. Tais fatores aumentam as exigências e o ritmo de trabalho, gerando
sobrecarga, o que influencia a saúde psíquica e física dos trabalhadores de enfermagem.
Todos os fatores de risco apresentados aos trabalhadores foram percebidos, a intensidade dos
riscos, todavia, foi variada, de acordo com a percepção deles. Os riscos que menos se
destacaram foram agressividade, assédio sexual ou violência, conflitos com chefia ou
encarregados, trabalho isolado, dificultando o contato com o grupo, situação de discriminação
no trabalho e risco de incêndio ou explosão. Em relação a este último aspecto, pode-se dizer
talvez ele se dê em razão da falta de informações e treinamentos específicos para a prevenção
85
de acidentes, portanto, fica claro que ações de treinamento devem ser priorizadas pela
organização.
Destacam-se os dez problemas de saúde mais incidentes neste estudo: problemas
oculares, varizes, lombalgias, estresse e depressão, dor de cabeça frequente, problemas de
articulação, transtornos do sono, lesão da coluna vertebral, hipertensão e dores musculares
crônicas, caracterizando uma situação de saúde complexa, que pode afetar o desempenho das
atividades do trabalhador.
Dos problemas que se destacaram, alguns foram relacionados com o trabalho, segundo
a percepção dos trabalhadores. Nesse sentido, se destacaram os distúrbios osteomusculares,
representados pelas lombalgias, lesões da coluna vertebral, as varizes e os problemas
psicossociais, como estresse e depressão.
Os distúrbios osteomusculares foram relacionados no estudo como fatores de risco
ergonômicos e físicos, que devem ser controlados para minimizar os danos à saúde, evitando-
se o seu agravamento e os inúmeros afastamentos provocados por tais problemas.
Quanto aos problemas psicossociais, evidenciou-se a relação com fatores ergonômicos
e psicossociais do trabalho de enfermagem, principalmente os relacionados à organização do
trabalho, marcados pelas necessidades econômicas da sociedade atual.
No que concerne à relação entre os fatores de risco e os problemas de saúde dos
trabalhadores de enfermagem, ficou evidenciada a dependência entre os dois contextos.
Verificou-se a influência dos diferentes fatores de riscos físicos, químicos, mecânicos,
biológicos e ergonômicos, variando a intensidade dos eventos.
À medida que se reconhecem os problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem
e os fatores de risco associados, é possível implementar medidas de promoção e proteção à
saúde do trabalhador, que se refletirão no resultado do seu trabalho.
Ressalta-se que alguns problemas não foram relacionados ao trabalho, como os
problemas oculares, no entanto os trabalhadores informaram nos fatores de risco a iluminação
insuficiente, o que pode, sim, contribuir para o agravamento do problema. Além disso, ainda
que não tenham sido relacionadas com o trabalho, medidas de proteção à saúde e prevenção
em relação a esse risco devem ser tomadas, visando a atender as necessidades de saúde dos
trabalhadores, pois ao se melhorar o ambiente, para a realização do seu trabalho,
principalmente em relação à iluminação, evita-se o agravamento do problema existente.
Considera-se urgente o controle desses riscos, porque a promoção da saúde e a
proteção dos trabalhadores na instituição devem ser consideradas uma prioridade
administrativa dos gestores.
86
Pelo exposto, conclui-se que a hipótese levantada de que os fatores de risco interferem
nos problemas de saúde dos trabalhadores de enfermagem é verdadeira no hospital estudado,
pois os problemas de saúde apresentados pelos trabalhadores e relacionados com o trabalho
são influenciados diretamente pelos fatores de risco que foram destacados por eles, no cenário
de estudo.
Os fatores de risco direcionam as mudanças necessárias ao processo de trabalho para a
melhoria da saúde do trabalhador. Assim, é necessário que se promovam mudanças na
instituição, com enfoque na organização do trabalho, para minimizar ou eliminar os fatores de
risco apresentados, o que contribuirá com a promoção e proteção da saúde do trabalhador de
enfermagem.
Para que algumas mudanças aconteçam são necessários investimentos financeiros que
permitam melhorar as condições de trabalho, como modificações nos postos de trabalho,
aquisição de materiais, equipamentos e mobiliários que contribuam com o trabalho
desenvolvido e que minimizem os danos ao corpo do trabalhador. Esse investimento tem uma
compensação financeira, uma vez que se reduzem os gastos com a saúde do trabalhador,
prevenindo acidentes e afastamentos de curto e longo prazo e garantindo um trabalhador mais
saudável com um melhor resultado do seu trabalho.
A partir dos resultados, conclui-se que os objetivos propostos para este estudo foram
alcançados. Ressalta-se, mais uma vez, que os fatores de risco no ambiente de trabalho podem
interferir na condição de saúde do trabalhador, visto como determinam problemas de saúde
que poderiam ser evitados ou controlados.
Recomendações
Realização de concursos públicos para aumentar o quantitativo de trabalhadores de
enfermagem, através de formas de contrato seguras;
Adoção de medidas que respeitem o trabalho feminino, através de ferramentas e
normas que minimizem a sobrecarga no trabalho;
Criação de um espaço de discussão desses resultados entre os gerentes e trabalhadores
para a elaboração de um programa que vise ao desenvolvimento de promoção e
proteção da saúde dos trabalhadores de enfermagem;
Realização de atualizações para o trabalhador em relação a diversos enfoques,
destacando-se a importância do controle dos riscos ocupacionais; promoção de saúde
do trabalhador; medidas de biossegurança para controle dos riscos biológicos e
químicos; medidas ergonômicas para o controle dos riscos ergonômicos;
87
Implementação de melhorias no ambiente de trabalho com a participação efetiva dos
trabalhadores nas estratégias de mudança;
Criação de um Comitê de Ergonomia para operacionalizar o processo de avaliação e
implementação das melhorias no HU;
Desenvolvimento permanente dos trabalhadores, com o apoio do Comitê de
Ergonomia, através de programas de capacitação para o reconhecimento de riscos no
trabalho e promoção de medidas para o alcance de uma saúde ótima ( trabalhador
saudável) e de prevenção de acidentes e doenças junto aos trabalhadores de
enfermagem;
Implementação de medidas de controle específico dos diferentes riscos evidenciados, a
saber:
o Riscos Biológicos realização de atualizações permanentes sobre as medidas de
biossegurança; disponibilização de recursos suficientes para o cumprimento das
normas de biossegurança, como a oferta de equipamentos de proteção individual e
coletiva;
o Riscos Ergonômicos adoção de medidas ergonômicas, com mudanças no
processo de trabalho, equipamentos e utensílios; atualização do trabalhador para as
posturas corretas no trabalho;
o Riscos Psicossociais promoção de mudanças organizacionais no trabalho;
fortalecimento de estratégias de enfrentamento dos trabalhadores para os riscos
psicossociais;
o Riscos Mecânicos ou de Acidentes promoção de mudanças no ambiente de
trabalho orientadas por um ergonomista ou engenheiro de segurança, respeitando a
participação dos trabalhadores, visando à construção de um ambiente seguro para
o trabalho; atualização das noções de primeiros socorros e condutas em caso de
acidentes;
o Riscos Químicos atualização dos trabalhadores em relação ao manuseio das
substâncias químicas; estocagem e armazenamento adequado das substâncias
químicas; e
o Riscos Físicos realização de mudanças físicas no ambiente de trabalho, através
do planejamento da área física, com apoio de um ergonomista e participação dos
trabalhadores.
88
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96
APÊNDICE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
97
ANEXO A - Autorização dos autores para utilização do questionário de Boix e Vogel (1997)
98
ANEXO B Instrumento de coleta de dados *
* Mauro adaptado de Boix e Vogel (2008)
99
ANEXO B- Instrumento de coleta de dados* (continuação)
* Mauro adaptado de Boix e Vogel (2008)
100
ANEXO B Instrumento de coleta de dados* ( continuação)
* Mauro adaptado de Boix e Vogel (2008)
101
ANEXO B Instrumento de coleta de dados* (continuação)
* Mauro adaptado de Boix e Vogel (2008)
102
ANEXO B- Instrumento de coleta de dados * (conclusão)
* Mauro adaptado de Boix e Vogel (2008)
103
ANEXO C Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa
104
ANEXO D Aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa para o Projeto Matriz
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