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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
O JOGO DE REGRAS NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA:
APROPRIAÇÕES PELO PROFESSOR DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Milene de Fátima Soares
Brasília, 2009
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
O JOGO DE REGRAS NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA:
APROPRIAÇÕES PELO PROFESSOR DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Milene de Fátima Soares
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da Faculdade
de Educação da Universidade de
Brasília/UnB como parte dos requisitos para
obtenção do título de Mestre.
Brasília, março de 2009
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O JOGO DE REGRAS NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA:
APROPRIAÇÕES PELO PROFESSOR DO ENSINO
FUNDAMENTAL
Milene de Fátima Soares
Aos meus pais, Antônio e Gerelina, pelas parcerias nas vivências lúdicas.
AGRADECIMENTOS
A Deus pela constante luz e presença em minha vida.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) pela grande
contribuição, por meio da bolsa, possibilitando assim, a efetivação desse sonho e dessa
pesquisa.
À Universidade de Brasília (UnB) pelo grande apoio e oportunidade de conviver nesse espaço
de crescimento pessoal e profissional.
Ao professor doutor Antônio Villar Marques de Sá, meu orientador, muito obrigado pela
orientação, por suas palavras de encorajamento e pela inestimável tranquilidade.
Ao professor doutor Cristiano Alberto Muniz pela grandiosa colaboração, apoio, amizade e
exemplo construídos nesse caminho.
À equipe da Escola Pública do Distrito Federal que me acolheu e possibilitou a realização da
pesquisa, em especial, à professora participante e às crianças do 3º ano, turma de 2008, pela
colaboração, aprendizagem e convívio tão primordiais.
Aos meus pais, Antônio Soares de Almeida e Gerelina de Fátima Soares Almeida, pelos
exemplos de vida e perseverança, tão necessários às minhas conquistas.
Aos meus irmãos que mesmo distantes se fizeram presentes constantemente.
Aos meus avós, Henrique e Umbelina pelo estímulo e valor atribuído à educação.
Ao querido Wagner pelo apoio e companheirismo a fim de efetivar a concretização desta tão
sonhada busca.
Aos grandes mestres, Thereza Bordoni e Walter Mariano pelo incentivo e provocações.
Às amigas, Alessandra, Carliene, Cleidemar, Isabel e Paola que estiveram presentes ao
longo desses dois anos.
A todos os membros do grupo de orientação coletiva de Educação Matemática da Faculdade
de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB) pelos momentos ricos de escuta e troca
nas discussões de nossos projetos.
Aos professores-membros da banca examinadora do projeto pelas valiosas e pertinentes
contribuições ao desenvolvimento da pesquisa, professora doutora Albertina Mitjáns Marnez,
professor doutor Cristiano Alberto Muniz e professora doutora Tizuko Morchida Kishimoto.
Aos professores-membros da banca examinadora da dissertação, professor doutor Cristiano
Alberto Muniz, professora doutora Is Maria Marques Zanforlin Pires de Almeida e professor
doutor Simão Francisco de Miranda.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação pela oportunidade de
conhecer novos caminhos nesse processo.
À Amanda, Eliene, Joana, Lady, Miliane, Roberta e Verônica pelas valiosas contribuições.
À equipe de atendimento do Programa de Pós-Graduação pela dedicação e presteza.
Não serve para nada um amor pedagógico que jamais é levado
pela observação da própria vida infantil a abdicar do ímpeto e
prazer que sente, na grande maioria dos casos, em corrigir a
criança, baseado em presumível superioridade intelectual e
moral. Esse amor é sentimental e vão. Mas à observação e
somente aqui começa a educação toda ação e gesto infantil
transformam-se em sinal.
Benjamin, 1928, p. 115.
RESUMO
Esta pesquisa teve como objetivo investigar a apropriação do jogo de regras pelo
professor das séries iniciais do Ensino Fundamental para o favorecimento da
aprendizagem matemática. O trabalho de investigação trouxe as terminologias
relacionadas ao brincar e ao jogo, o jogo educativo, o jogo de regras e por fim, o jogo de
regras para favorecer a aprendizagem matemática, sendo este último, normalmente
concebido, criado e proposto pelo professor e que está além do material manipulável, se
constituindo também na dimensão imaginária. O referencial teórico apoiou-se nas ideias
de Brougère (1998a, 1998b, 2002), Huizinga (1954), Kishimoto (1998, 2002, 2005),
Piaget (1964) ao tratar das categorias lúdico, brincadeira e jogo, jogo de regras e,
aproximando da perspectiva de aprendizagem em Vigotski (1933, 1935), corroborando
com Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b) ao pesquisar o jogo, a aprendizagem
matemática e o processo de mediação, bem como Bruner (1972, 1996) e Benjamin
(1928) destacando a potencialidade da criança. Com esses referenciais, realizou-se uma
pesquisa de campo a partir da perspectiva qualitativa em uma instituição pública de
Brasília DF, com a participação de uma professora do 3º ano. Para isso, houve o
acompanhamento das atividades com jogos desenvolvidas por ela, desde a escolha e a
elaboração do planejamento à execução, sempre conversando com as crianças e com
ela as a atividade com cada jogo, utilizando observações e entrevistas. A alise e
interpretação dos dados apontaram três grandes categorias que correspondem a
momentos e situações associados à apropriação do jogo pela professora: 1) a
necessidade da noção de imprevisibilidade ao desenvolver atividades com jogos, 2) os
processos suscitados pelo jogo na aprendizagem matemática e, 3) a reflexão do
professor sobre sua prática pedagógica a partir do jogo. O estudo mostrou que,
inicialmente, a professora se apropriava dos jogos para a recreação e fixação de
conteúdos matemáticos e, ao longo do processo de participação na investigação passou
a observar a construção do pensamento matemático das crianças, refletindo sobre seu
fazer pedagógico. Diante desse novo olhar, ela começou a discursar acerca de uma
abertura no planejamento, atentando-se para o acompanhamento da construção de cada
criança e para suas futuras atuações. Assim, a apropriação dos jogos se efetivou a partir
do momento que ela assumiu-os como instrumentos de mediação pedagógica,
transformando cada jogo de modo a garantir certas aprendizagens na matemática.
Palavras-chave: Jogo de regras. Aprendizagem matemática. Aprendizagem lúdica.
Mediação pedagógica.
ABSTRACT
The goal of this work was investigate the rules game used by the teacher in the first years
of elementary school in order to teach mathematics. The investigation brought the
terminologies related to playing and the game, the educative game, the rules game and,
at last, the rules game to support the mathematics learning, being the ladder generally
created and proposed by the teacher and it is beyond the material that can be
manipulated and it also constitutes the imaginary dimension.The theoretical referential is
based on Brougères ideas (1998a, 1998b, 2002) (1954), Kishimotos (1998, 2002, 2005),
Piagets (1964) when approaching the ludic categories, playing and the game, rules
game, approaching the Vigotski’s learning perspective (1933, 1935), confirming with
Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b) when making researches about the games, the
mathematics learning and the mediation process, as well as Bruner (1972, 1996) and
Benjamin (1928) highlighting the child potentiality. Based on these referentials, a field
research on the qualitative perspective was performed in a public institution of Brasilia
DF and a 3rd grade teacher of elementary school has participated. All the activities
applying games developed by her were monitored, including the whole process: the
choice, the creation, the planning and the execution. After each activity using a game, the
teacher and the children were interviewed. The data analysis and understanding
indicated three huge categories that correspond to situations associated to the game
usage by the teacher: 1) the necessity of unpredictability notion when developing activities
with games. 2) the processes brought by the game to the mathematic learning and, 3) the
teacher reflection about the pedagogical practice when using a game. This study showed
that, at the beginning, the teacher used the games to recreation and assimilation of math
contents and, through the process of participation in the investigation she started to
observe the math thought construction of the children, reflecting about game pedagogical
role. With this perspective, she started to speech about the planning opening, focusing on
the monitoring of each child construction and on her future performances. This way, the
games usage was deployed at the moment she has formalized the games as instruments
for pedagogical mediation, transforming each game to guarantee some learning in
mathematics.
Key words: Rules game. Mathematic learning. Ludic learning. Pedagogical mediation.
LISTA DE DIAGRAMAS
Diagrama 1: Integração entre o lúdico, a brincadeira e o jogo, o jogo educativo e o jogo
de regras............................................................................................................................30
Diagrama 2: Referencial trico.........................................................................................33
Diagrama 3: Visualização da constituição da pesquisa.....................................................63
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Atividades desenvolvidas ao longo do 2º semestre de 2007............................59
Quadro 2: Atividades desenvolvidas ao longo do 1º semestre de 2008............................65
Quadro 3: Momentos e instrumentos constituintes da pesquisa.......................................75
LISTA DE IMAGENS
Imagem 1: Jogos catalogados e disponíveis na sala dos professores..............................67
Imagem 2: Escolhendo o jogo o grande construtor”.........................................................70
Imagem 3: Jogando quantos azulejos cabem na parede?..............................................70
Imagem 4: Mediação durante o jogo “matematicando com as compras..........................71
Imagem 5: Manuseando e conversando sobre o jogo o grande construtor”....................72
Imagem 6: Brincando com o material dourado e as peças do jogo batalha
matemática.......................................................................................................................77
Imagem 7: À direita, jogo reproduzido pela professora ....................................................85
Imagem 8: Momento da apresentação do jogo pela professora........................................86
Imagem 9: Apresentando cada peça do jogo batalha matemática..................................87
Imagem 10: Curiosas para conhecer o jogo matematicando com as compras...............91
Imagem 11: Mediação durante a resolução do desafio multiplicativo................................99
Imagem 12: Manuseando e conversando sobre o jogo aprendendo com as frutas......118
Imagem 13: Cartas elaboradas para o jogo patinhos na lagoa.....................................129
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Conhecimentos matemáticos trabalhados pelos jogos de regras.....................92
Gráfico 2: Recursos materiais utilizados durante as atividades com jogos de regras.......93
Gráfico 3: Recursos que propiciavam contextos lúdicos aos jogos de regras...................94
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Associação de Pais e Mestres APM
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAPES
Distrito Federal DF
Parâmetros Curriculares Nacionais PCN
Universidade de Brasília UnB
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA: CAMINHOS PERCORRIDOS.................................................16
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................17
CAPÍTULO I - VIVÊNCIAS E ORIGEM DA PESQUISA: BRINCAR E JOGAR................................20
1.1 MINHA INFÂNCIA E AS RELAÇÕES COM O BRINCAR E O JOGAR: ANTES DA ESCOLA..........................20
1.2 APRENDIZAGEM NO CONTEXTO ESCOLAR: CADÊ AS BRINCADEIRAS E OS JOGOS?..........................21
1.3 MUDAAS E ESCOLHAS PROFISSIONAIS....................................................................................23
1.4 AVAOS: CONQUISTAS PESSOAIS, PROFISSIONAIS E A BUSCA DE FORMAÇÃO PERMANENTE.........23
CAPÍTULO 2 - OBJETO DE PESQUISA, OBJETIVOS E RELEVÂNCIAS.......................................27
2.1 DELIMITANDO O OBJETO DE PESQUISA: APONTAMENTOS..............................................................27
2.2 OBJETIVO GERAL E OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA PESQUISA..........................................................31
2.2.1 Objetivo geral..................................................................................................................31
2.2.2 Objetivos específicos......................................................................................................31
2.3 RELEVÂNCIA DO ESTUDO: POR QUE DESENVOLVER ESSA PESQUISA?...........................................31
CAPÍTULO 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: CONSIDERAÇÕES A PARTIR DO JOGO...........34
3.1 A BRINCADEIRA E O JOGO.........................................................................................................34
3.2 O JOGO DE REGRAS E A APRENDIZAGEM MATEMÁTICA.................................................................42
3.3 A POTENCIALIDADE INFANTIL, O JOGO DE REGRAS NA APRENDIZAGEM MATEMÁTICA E O PAPEL DO
PROFESSOR...................................................................................................................................47
CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA: ORGANIZAÇÃO E PROCESSO.................................................53
4.1 PRIMEIRO CONTATO NA INSTITUIÇÃO PÚBLICA: REAFIRMANDO QUESTIONAMENTOS........................54
4.2 CONHECENDO A INSTITUIÇÃO DE PESQUISA................................................................................55
4.3 MINHAS PRIMEIRAS OBSERVAÇÕES............................................................................................58
4.4 O SUJEITO DA PESQUISA...........................................................................................................60
4.5 A PESQUISA DE CAMPO EM 2008...............................................................................................61
4.6 COMO ACONTECEU A ORGANIZAÇÃO DO CAMINHO.......................................................................62
4.7 O PROCESSO DA PESQUISA.......................................................................................................68
4.7.1 A escolha e a adaptação dos jogos pela professora......................................................69
4.7.2 A interação das crianças com os jogos..........................................................................70
4.7.3 A mediação da professora durante as jogadas..............................................................71
4.7.4 O ouvir as crianças depois da atividade com os jogos...................................................72
4.7.5 A fala da professora após a atividade com jogos...........................................................72
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E ANÁLISES: A APROPRIAÇÃO DO JOGO..................................74
5.1 IMPREVISIBILIDADE: PRESEA CONSTANTE NO JOGO.................................................................77
5.2 JOGO E APRENDIZAGEM MATEMÁTICA: NOVAS POSSIBILIDADES....................................................84
5.3 JOGO E MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA: UM OLHAR ATENTO À CRIANÇA..................................................95
5.4 JOGO E AVALIAÇÃO: DOIS BONS ALIADOS, VAMOS TENTAR?.......................................................101
5.5 JOGO E FAZER PEDAGÓGICO: REFLEXÕES................................................................................106
5.6 JOGO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: BUSCA DE VINCIAS E APRENDIZAGENS........................113
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................121
1. Implicações pedagógicas...........................................................................................................121
2. Como aconteceu a apropriação do jogo de regras?..................................................................125
3. E como foi pesquisar a apropriação do jogo?............................................................................132
REFERÊNCIAS..............................................................................................................................134
APÊNDICES...................................................................................................................................138
Apêndice 1: Jogo da velha matemática..........................................................................................138
Apêndice 2: Mavi - matemática aplicada à vida.............................................................................139
Apêndice 3: Batalha matemática....................................................................................................140
Apêndice 4: Casa da matemática: em busca do ábaco perdido....................................................141
Apêndice 5: Jogo do sorvete..........................................................................................................143
Apêndice 6: Corrida dos gulosos....................................................................................................144
Apêndice 7: Corrida da tábua.........................................................................................................145
Apêndice 8: Matematicando com as compras................................................................................146
Apêndice 9: Conte e ande..............................................................................................................147
Apêndice 10: Descubra o segredo.................................................................................................148
Apêndice 11: Goleando a matemática...........................................................................................149
Apêndice 12: Bafo..........................................................................................................................151
Apêndice 13: O grande construtor..................................................................................................151
Apêndice 14: Aprendendo com as frutas.......................................................................................153
Apêndice 15: Quantos azulejos cabem na parede?.......................................................................154
Apêndice 16: O barato das continhas............................................................................................155
Apêndice 17: Patinhos na lagoa.....................................................................................................156
Apêndice 18: Carta de autorização................................................................................................157
Apêndice 19: Roteiro da vivência de jogos....................................................................................158
Apêndice 20: Roteiro de entrevistas...............................................................................................159
Apêndice 21: digos das entrevistas e gravações.......................................................................160
Apêndice 22: Os quatro momentos práticos de acompanhamento da pesquisa...........................161
Apêndice 23: Exemplo de organização dos indicadores da pesquisa...........................................170
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA: CAMINHOS PERCORRIDOS
Brincadeira, jogo, criança, aprendizagem matemática, fazer pedagógico: palavras
de grande sentido, significação e questionamento em minha vida e pesquisa. Contexto
rico, mágico, provocador de descobertas e grandes estudos, de grande valia para a vida
e, consequentemente, para a educação.
Por acreditar no poder mágico do brincar e do jogo na aprendizagem escolar,
busquei por meio desta pesquisa investigar a apropriação do jogo de regras pelo
professor nas séries iniciais do Ensino Fundamental para o favorecimento da
aprendizagem matemática.
Para melhor clareza e desenvolvimento de idéias, a pesquisa está organizada por
meio de uma introdução, cinco capítulos, considerações finais, referências e apêndices.
A introdução traz uma construção, envolvendo a concepção dessa pesquisa, bem
como uma abordagem histórica do reconhecimento da criança e da valorização das
brincadeiras e dos jogos a fim de destacar a apropriação do jogo de regras no ambiente
escolar, em especial, na aprendizagem matemática.
O primeiro capítulo aborda minhas vivências lúdicas, escolares, avanços pessoais
e profissionais, incluindo o grande desejo de compreender melhor o brincar na
aprendizagem escolar por meio do jogo, chegando à conquista acamica como
pesquisadora.
Prosseguindo, no segundo capítulo apresento a delimitação do objeto de estudo,
os objetivos e as relevâncias da pesquisa.
O terceiro capítulo estabelece algumas articulações teóricas sobre o tema
estudado, abordando a aprendizagem matemática, a criança e o fazer pedagógico.
Para compreender como aconteceu a pesquisa, no quarto capítulo apresento a
metodologia, destacando os caminhos dessa construção.
Na sequência, o quinto capítulo traz as análises e os resultados da pesquisa,
apresentando as categorias obtidas.
E, finalmente, as considerações finais; com um texto enfatizando as implicações
pedagógicas do jogo de regras na aprendizagem matemática escolar e, em seguida,
algumas reflexões e questionamentos sobre a pesquisa a fim de abrir caminhos para
construirmos novos olhares sobre o papel do professor ao se apropriar do jogo de regras
nesse contexto.
INTRODUÇÃO
Se respeitarmos os modos de pensar da criança em
crescimento, se formos suficientemente corteses para
traduzir o material para suas formas lógicas, e
suficientemente capazes de desafiá-las a tentar progredir,
então será possível introduzi-la precocemente às iias e
estilos que, na vida posterior, fazem um homem educado.
Bruner, 1972, p. 48.
Atualmente, estudos sobre brincadeiras e jogos, especificamente os jogos na
educação estão em foco, merecendo um olhar mais atento e reflexivo no ambiente
escolar, assim como, na formação de professores. Apesar do tema jogo ser bastante
tratado no cotidiano, é importante ressaltar que em termos de pesquisa voltada a
aprendizagem ainda existem caminhos a trilhar.
A concepção da pesquisa aqui apresentada surgiu em minha cidade natal Patos
de Minas, no interior de Minas Gerais, por meio de observações e vivências cotidianas ao
longo de minha formação docente e prática pedagógica em instituições públicas e
particulares de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental.
Durante as experiências, percebia que o brincar e o jogar não eram aspectos
infantis que se estudavam ou se refletiam na prática educativa, e, quando considerados,
não havia um olhar diferenciado e construtivo. Assim, ao deparar com a necessidade de
um maior aprofundamento na área não tinha subsídios em minha formação para
compreender melhor o jogo de regras na aprendizagem. Esse jogo é complexo devido às
estruturas que mobiliza na criança e tamm no professor exigindo reflexão sobre seu
fazer pedagógico. O desejo de conhecer mais sobre a brincadeira e o jogo de regras foi
ampliado durante a pós-graduação em Psicopedagogia, curso em que tive acesso a
novos conhecimentos e que, posteriormente, contribuiu para a proposta dessa pesquisa
aliada às vivências profissionais.
Assim, o presente estudo busca investigar a apropriação (concepção e utilização)
do jogo de regras pelo professor nos anos iniciais para o favorecimento da aprendizagem
matemática escolar. É primordial ressaltar que a palavra apropriação designa, nesse
estudo, a concepção e a forma que o professor faz uso do jogo de regras para a
aprendizagem matemática. Essa apropriação inclui o conhecimento necessário para que
o professor faça intervenções durante as atividades com jogos e implica também que o
jogo seja um aliado da aprendizagem matemática se desenvolvido de forma crítica,
considerando os conhecimentos prévios da criança construídos antes mesmo do
processo de escolarização.
18
A conceituação do que seja jogo nesse estudo e sua relação com a aprendizagem
da matemática será discutida nos próximos capítulos no intuito de oferecer uma clareza
de qual tipo de jogo e aprendizagem a pesquisa está discutindo.
Deste modo, cabe relembrar estudos de grandes pesquisadores da história da
infância como Rousseau (1712-1778), Pestallozzi (1746-1827), Fröbel (1782-1852),
Dewey (1859-1952), Montessori (1870-1952), Decroly (1871-1932), Benjamin (1928),
Vigotski (1933, 1935), Piaget (1964), Chateau (1954), Ariès (1960) e autores da
atualidade. São pesquisas e estudos que envolvem o desenvolvimento da criança, seja:
físico, social, cognitivo, emocional, lúdico, assim como suas contribuições na área
educacional.
De acordo com Broure (2002), os textos de Richter, Hoffmann e Fröbel,
introduzem um novo pensamento, ao compreender o processo de desenvolvimento da
criança sob outro prisma, com regras e ritmo próprios, diferenciando-a do adulto em
miniatura. A partir destas idéias há uma valorização e reposicionamento da criança na
sociedade. Percebem-se então, o lugar do lúdico, da brincadeira e do jogo, próprios do
universo infantil. A visão sobre o jogo retrata, de certa forma, a visão sobre a criança,
sobre o homem, sua historicidade e cultura, possibilitando assim, reflexões e pesquisas.
Na atualidade, os pesquisadores Brenelli (1996), Broure (1998a, 1998b, 2002),
Bruner (1972, 1996), Grando (1995, 2000, 2004, 2007), Kamii (1990), Kishimoto (1998,
2002, 2005), Miranda (2000, 2001), Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b), entre
outros tratam da importância da valorização do brincar e dos jogos no contexto
educacional e suas contribuições para a aprendizagem. Os autores nos levam a pensar
seriamente sobre as relações entre o jogo e a educação e como o jogo contribui para a
aprendizagem das crianças.
Na educação matemática, tem-se, por vezes, utilizado novas estratégias a fim de
possibilitar uma aprendizagem mais prazerosa, driblando também o estigma social da
disciplina que é concebida como difícil para se aprender e ensinar. De acordo com o
pesquisador Muniz (2001), há certa tendência positiva para utilizar jogo a fim de favorecer
a aprendizagem matemática da criança, ressaltando que, esse jogo é aquele
manipulável, criado e produzido pelo adulto, inclusive esse é o objeto do presente estudo.
No entanto, cabe refletir sobre o espaço deste material na sala de aula de modo que não
seja apropriado visando somente o reforço de atividades, mas como espaço de
aprendizagem, de oportunidade para que o professor investigue e descubra como a
criança elabora o processo de construção da aprendizagem matemática.
19
Afinal, o jogo quando bem trabalhado, pode possibilitar uma aprendizagem
dimica, prazerosa, oferecendo ao professor novas oportunidades de compreender a
construção do conhecimento da criança: Será que nós, professores temos conhecimento
da importância de um trabalho reflexivo com jogos e fazemos as mediações necessárias
durante a apropriação? Como inter-relacionamos o jogo ao conhecimento da criança? É
importante nesse sentido, ressaltar as iias de Brougère (2002), quando adverte que é o
olhar do professor sobre a atividade da criança, durante o jogo, que dá sentido à ação.
Portanto, apresento como problema de pesquisa: O lúdico mobiliza professor e
aluno no contexto escolar. Como o professor pode desenvolver um trabalho reflexivo por
meio do jogo de regras na educação matemática a fim de valorizar o pensar e as
construções da criança, contribuindo na formação deste ser matemático?
Pensando na aprendizagem matemática, o jogo propicia uma nova visão acerca
do fazer matemático, no qual a criança aprende se divertindo, conflitando com novas
iias por meio também da interação com os colegas e com o professor. E, cabe ao
professor observar as crianças atentamente a fim de conhecer como pensam, elaboram e
sistematizam o conhecimento matemático. Mas, como será que o professor se apropria
dos jogos de regras na aprendizagem matemática das crianças? Como ele observa a
criança para então fazer as mediações necessárias entre a ação de jogar e a construção
dos conhecimentos matemáticos? Como os jogos de regras participam do processo de
avaliação por parte do professor?
Diante desses questionamentos, cabe compreender o porquê da escolha deste
tema para pesquisar, considerando minhas vivências acerca do brincar e do jogar. No
capítulo a seguir, apresento-as desde minha infância, passando pela escolha e atuação
profissional até a busca da formação permanente.
20
CAPÍTULO I - VINCIAS E ORIGEM DA PESQUISA: BRINCAR E
JOGAR
A infância é, portanto, a aprendizagem necessária à vida
adulta. Estudar na infância somente o crescimento, o
desenvolvimento das funções, sem considerar o brinquedo,
seria negligenciar esse impulso irresisvel pelo qual a
criança modela sua própria estátua.
Chateau, 1954, p. 14.
Na infância experimentamos diversas situações envolvendo brincadeiras e jogos,
que nos remetem às descobertas, ao mundo adulto e às regras. Por meio das palavras
de Chateau (1954), eu inicio a história e o percurso destes aspectos ao longo de minha
vida com grande entusiasmo e alegria, lembrando do significado destes momentos e o
que me proporcionaram.
1.1 Minha infância e as relões com o brincar e o jogar: antes da escola
Emília ficou muito admirada de saber
que Dona Benta já havia sido criança.
_ Mas então a senhora tamm já foi criança, das
pequeninas? - perguntou.
_ Está claro, Emília. Que pergunta!
_ E tia Nastácia, tamm?... Que interessante!
_ Está aí uma coisa que nunca me passou pela cabeça.
E ficou pensativa, imaginando como seriam as duas
velhas quando criancinhas.
Lobato, s.d., p. 43.
Ao longo de minha infância na fazenda, no interior de Minas Gerais,
especialmente, antes do processo de escolarização, pude experimentar diversas
situações permeadas do brincar e do jogar, duas ações distintas, porém, inter-
relacionadas.
Na fazenda, tive grandes experiências construindo brinquedos e, brincando com
meu amigo imaginário, com primos, outras crianças da vizinhança e meus pais. Gostava
muito de conversar e brincar com meus personagens imaginários. Lembro-me que
sempre que ia à casa de minha avó, pelo caminho representava pais, brincando de
faz-de-conta. Vivia momentos muito agraveis e de grande prazer, como a criança dos
estudos de Piaget (1964), convivia com minhas produções imaginárias, vivenciava o
mundo real e as representações dele, aprendia novas regras e me constituía pelo brincar.
Criava meus próprios brinquedos e tinha também a ajuda de meus pais, pois
naquela época não tinha acesso aos brinquedos industrializados. Lembro-me de meu pai
21
construindo e ensinando-me a criar vaquinhas, boizinhos, carrinhos feitos de verduras e
cabacinhas, e de minha mãe ajudando a colocar roupas nas bonecas. Gostava muito de
brincar na areia de faz-de-conta, usar pedaços de madeira, gravetos e muita imaginação
para criar castelinhos, fazendas, cidades, bonequinhos de areia, enfim, dava vida aos
objetos.
Lembro-me com muita saudade da primeira boneca que ganhei de minha mãe;
uma para mim e outra para minha irmã caçula. Eram daquelas bonecas grandes que se
podia dar banho, trocar de roupa e brincar na areia. Foi uma grande felicidade. Depois de
algum tempo, no Natal, minha irmã e eu ganhamos duas bonecas lindas de minha
madrinha que morava na cidade, eram pequeninas e com um corpo de pano. Lembro-me
que não podia brincar com ela na areia, pois segundo minha mãe, sujava e estragava.
Tanto que num belo dia, brinquei, escondida, com a boneca de minha irmã e a estraguei.
Como de costume, nas fazendas haviam as novenas de santos católicos. Adorava
ir porque me reunia com muitas crianças e podia brincar e jogar bastante o que não era
possível, pois minha irmã era muito pequena. Nessas novenas brincávamos de roda,
esconde-esconde, pega-ladrão, além de jogarmos baliza, adedonha, jogo de varetas,
jogo da velha e baralho.
Não me esqueço do primeiro jogo de tabuleiro que joguei com meus primos. O
jogo era o detetive. Um jogo de regras com tabuleiro, cheio de acessórios coloridos,
brinquedos em miniatura, pinos e cartas, inclusive cartas surpresas, o que nos deixavam
ainda mais curiosos.
Este foi um período muito feliz, de descobertas, experiências, movimentos e
liberdade, sem grandes compromissos, diferente do período de inserção na escola,
marcado pelo silêncio e distanciamento das brincadeiras e jogos.
1.2 Aprendizagem no contexto escolar: cadê as brincadeiras e os jogos?
O brincar é potencialmente um excelente meio de
aprendizagem.
Moyles, 2002, p. 29.
A expectativa para o primeiro dia de aula foi muito intensa. ia eu com uma
sacolinha plástica rosa, um caderno, lápis de colorir, de escrever e a tesoura grande de
minha mãe. Não me lembro de nada significativo da aula, apenas do desejo de ir para a
escola.
Meus primeiros anos escolares foram positivos no que diz respeito ao contato com
a leitura e às possibilidades abertas por ela, como a descoberta de outros lugares,
22
mundos e contextos diferentes através dos livros e das histórias. As relações com a
matemática foram mais rígidas, distantes da realidade, cheias de continhas e cópias; mas
a “má utilização da matemática não parou por aí.
Uma vez, fiquei de castigo, estava com vergonha porque ainda não sabia muito
bem pular corda. A professora que poderia ter brincado comigo, criado outra experiência,
mandou que eu fosse para sala de aula e ficasse escrevendo de 1 a 100. Veja, então, o
papel rígido, punitivo a que também servia a matemática.
Na escola, fui perdendo o contato com o lúdico, os jogos e as brincadeiras antes
presentes em mim e que naquele espaço foram esquecidos. Aos poucos, esse prazer
deu lugar ao distanciamento infantil, ao corpo quieto, às cópias do quadro, ao silêncio, à
abstração das letras, dos meros, das operações matemáticas desvinculadas do real.
Hoje me pergunto: será que nós, professores, priorizamos os jogos, o brincar e os
conhecimentos prévios das crianças? Será que, ao iniciar o processo de escolarização,
não negligenciamos o desenvolvimento da criança e como ela vê o mundo? Acredito que
é necessário valorizarmos esses aspectos para que a escola tenha sentido e aguce a
curiosidade.
Quando terminava a aula, demorávamos a chegar em casa, pois ficávamos
jogando baliza, um jogo com regras em que eram arremessadas nas mãos quantidades
crescentes de pedrinhas, começando de um a dez. Ganhava quem conseguia
arremessá-las na sequência correta mais vezes, sem que elas caíssem.
Lembro-me do meu desejo em aprender; mas ao mesmo tempo, parecia que
faltava algo, e faltava! Faltava os professores nos verem como crianças e adaptarem os
conteúdos de ensino à nossa realidade, deixar a aprendizagem com mais sentido e
significado, possibilitar mais trocas, aproximar, ouvir cada criança e compreender seu
mundo para propiciar atividades envolventes e desafiadoras, produzidas também por nós.
O processo de escolarização poderia ser mais alegre, participativo, com conexões
entre a realidade de mundo e infantil, e os conteúdos desenvolvidos em cada ano
escolar. Como professora, percebo a necessidade de oportunizar às crianças momentos
nos quais representem papéis, troquem idéias, conheçam regras, envolvam o imaginário,
tragam informações sociais e culturais, se coloquem em diversas realidades e
experiências, porque nessas interações adquirem conhecimentos e são desafiadas.
Dessa forma, a presença de novas estratégias de ensino, concepções de aprendizagem
e reflexões sobre o fazer pedagógico possibilitariam a construção de uma educação mais
envolvente, criativa e promissora.
23
1.3 Mudanças e escolhas profissionais
Os docentes precisam desenvolver capacidades de
aprendizagem da relação, da convivência, da cultura do
contexto e de interação de cada pessoas com o resto do
grupo...
Imbernón, 2006, p. 18.
Na fazenda o acesso à escola era muito difícil; então para continuar os estudos,
aos 13 anos, fui morar na cidade de Patos Minas MG. Durante três anos cuidei e
brinquei com duas crianças, uma de dois anos e outra de seis. Gostava muito daquele
contato, o que aguçava minha curiosidade sobre o desenvolvimento e a aprendizagem
infantil.
No Ensino Médio só havia Curso Técnico e Magistério. Escolhi o Magistério, pois
queria ser professora e gostava bastante de brincar e ensinar as crianças.
Por três anos, conheci as técnicas para se dar aula, metodologias e didáticas,
participei do estágio que foi uma experiência essencial para contato direto com o que
estuvamos e para minha segurança profissional.
Noto que a prática é necessária nos cursos de formação de professores e merece
um olhar mais atento por parte dos formadores no sentido de desenvolver ações que
provoquem e possibilitem vivências na realidade educativa. Comecei a ter muita vontade
de aprofundar meus conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento da criança e o
papel do professor em sala de aula, o que me fez buscar a Pedagogia.
1.4 Avanços: conquistas pessoais, profissionais e a busca de formão
permanente
Na construção da identidade do docente busca-se
reelaborar os saberes inicialmente tomados como
verdades, em confronto com as descrições das práticas
cotidianas, que se tornam auxiliares nesse processo e em
relação à teoria prática.
Pimenta e Anatasiou, 2002, p. 113.
Ao final do último ano de Magistério, 1999, passei no vestibular para o curso de
Pedagogia em uma faculdade particular da cidade. Com muitos desafios, consegui me
manter e concluir o curso. Durante estes anos tive acesso a novos estudos e avanços
que iam além das técnicas e da reprodução de conhecimentos. Pude conhecer mais e
24
perceber, na prática, a dualidade entre o que se ensinava ao professor e o que realmente
ele desenvolvia na sala de aula.
Durante a graduação, atuei como estagiária na rede pública municipal com a
Educação Infantil e posteriormente na rede particular, também, com a Educação Infantil,
anos iniciais do Ensino Fundamental e coordenação pedagógica. Aprendi a valorizar a
criança como um ser em desenvolvimento, afinal, essa fase é uma etapa da vida que
precisa não só de cuidados, mas de um olhar atento à sua evolução em todos os
aspectos, físico, emocional e cognitivo, valorizando seu interesse, sua criatividade e
agindo a partir de observações sobre o fazer pedagógico. Porém, senti pouca abordagem
e segurança por parte de muitos professores no que diz respeito ao jogar, ao brincar e ao
desenvolvimento da criança. Embora houvesse um ambiente propício em termos físicos e
materiais na escola, faltava um olhar atento às peculiaridades no que diz respeito a ações
e concepções pedagógicas. Os jogos e os brinquedos ficavam no almoxarifado, ou na
brinquedoteca empilhados em ordem” ou controlados pelos professores na hora de
manus-los. Assim, esses lugares quase não eram frequentados, ademais, o brincante
deveria deixá-lo da mesma forma que encontrou, e isso significava trabalho.
Contudo nesse período, tive tamm aprendizagens muito significativas a partir do
contato com excelentes profissionais da educação, grandes mestres que me
envolveram por meio de suas posturas metodológicas e dos desafios e conflitos
cognitivos propiciados. Em 2004, decidi fazer a Especialização em Psicopedagogia.
Aprofundei meus conhecimentos sobre a infância, a aprendizagem e o papel do professor
neste processo, inclusive sobre o papel dos jogos na educação.
Desenvolvi, com o apoio de um grande mestre, um trabalho de campo
desafiador como pesquisadora na rede pública estadual com professoras dos anos
iniciais do Ensino Fundamental. Nos encontros, refletíamos sobre a prática educacional,
os jogos, o cotidiano escolar e seus desafios, por meio do relato de acontecimentos e
discussões. Percebi o quanto a escuta, a troca de iias e vivências com as professoras
eram reveladoras e estimulantes.
Durante minha formação de pedagoga e psicopedagoga, envolvida diretamente
com a prática escolar, pude destacar e dar vida ao brincar e aos jogos de regras também
no contexto educacional onde atuava. Questionava-me: Como um professor pode
trabalhar com crianças sem considerar seu potencial criativo por meio do brincar e dos
jogos de regras?
Criei muitos jogos e, durante a monitoria (atividade extraclasse oferecida pela
escola em horário inverso à aula destinada às crianças consideradas com dificuldade de
25
aprendizagem) das disciplinas de Português e Matemática nos anos de 2004 e 2005,
junto às crianças do 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Dessa forma, pude aprofundar
minhas reflexões ao ser confrontada com o desafio de colocar em prática minhas idéias
sobre a potencialidade do lúdico e dos jogos na aprendizagem.
Essa experiência representou, de fato, um grande desafio. Afinal, tinha somente
duas horas por semana com grupos de crianças de cada uma das turmas e não queria
repetir o que era desenvolvido pelos professores, na sala de aula. Como o prazer na
aprendizagem fazia parte de minha concepção, comecei a criar e testar jogos com as
crianças para desenvolver atividades de Portugs e Matemática. Essas novas
abordagens foram recebidas com alegria e fascínio pelas crianças e receio pelas famílias.
Cada criança contribuía com seu conhecimento, aprendia com os colegas, sem medo de
errar, se divertindo, muitas vezes jogando um mesmo jogo. Aos poucos, as aulas
começaram a repercutir positivamente no ambiente escolar e familiar. Outros colegas
daquelas crianças, espontaneamente, começaram também a participar.
Por meio do apoio e contato permanente com as professoras de cada turma foi
desenvolvido um trabalho com melhoria na aprendizagem e interesse da maior parte das
crianças. Com o passar do tempo, fui percebendo que tinha necessidade de ampliar
meus conhecimentos sobre o jogo, não queria utilizá-lo só para assimilação de
conteúdos, mas me apropriar dele para valorizar a construção do conhecimento das
crianças nas disciplinas; eis aí o desafio!
Durante as atividades com jogos, as crianças ficavam diante de situações novas
de elaboração do conhecimento matemático, construções essas muito diferentes do
modelo sistematizado na sala. Estava diante das muitas matemáticas possíveis. Era a
própria elaboração do conhecimento.
Muitas vezes, não sabia como intervir e mediar aquelas situações. Porém,
intrigava-me a capacidade e a liberdade de pensamento das crianças. Ficava a pensar o
quanto era importante considerar aquela construção também no coletivo a fim de
possibilitar mais descobertas, e de compreender como o jogo poderia contribuir para a
aprendizagem. Assim, passei a buscar informações de instituições onde pudesse avançar
enquanto profissional porque faltava conhecimento para sustentar o que estava fazendo.
Estava diante de dois dilemas: o ensino matemático já esquematizado pelo professor e
as fantásticas construções das crianças. Como também fui escolarizada para receber
informações prontas e não pensar em novas possibilidades, percebi o grande desafio a
vencer: não destruir a motivação das crianças ao construírem seus conhecimentos a
26
partir do jogo. Qual seria então o papel do professor na aprendizagem das crianças? O
professor possui uma formação crítica para acompanhá-las nestas construções?
Decidi, então, estudar o jogo na aprendizagem matemática dos anos iniciais, esta
matemática, muitas vezes, trabalhada pelos professores de forma rápida e repetitiva.
Percebi a necessidade de estudar e conhecer mais sobre o jogo, seus processos e suas
possibilidades diante da aprendizagem, considerando assim, a criança em seus diversos
aspectos: cognitivo, individual, social, emocional, afetivo. Passei a refletir tamm sobre a
busca de novos conhecimentos e o papel do professor ao trabalhar com o jogo, pois,
percebia que quando as crianças estavam mais livres, elas construíam sem medo. Assim,
tive conhecimento da Universidade de Brasília (UnB) e reuni todas as forças em busca
dessa nova vida e aprendizagem me inserindo no campo de investigação acadêmica.
Dessa forma, cabe relembrar, minha trajetória de experiências com jogos e
brincadeiras até a constituição profissional docente, prosseguindo pela busca de uma
formação permanente, refletindo sobre o significado de cada vivência e o movimento
gerado por elas, bem como a aprendizagem infantil.
A partir desse momento, é primordial conhecer com detalhes o objeto de estudo,
os objetivos, os questionamentos levantados, bem como discutir sobre a importância do
desenvolvimento dessa pesquisa, assim, o capítulo seguinte tratará desses aspectos.
27
CAPÍTULO 2 - OBJETO DE PESQUISA, OBJETIVOS E
RELEVÂNCIAS
A noção de jogo é tomada como uma fonte por excelência
da criação e de resolução de situações-problema de
matemática para seus participantes. O jogo é vasto como
um instrumento de aquisição da cultura, do seu contexto
social, cultura que engloba conhecimento e representação
acerca da matemática, seus valores, sua aprendizagem,
seus poderes.
Muniz, 2008a, p. 6.
Em seguida, serão apresentadas a delimitação do objeto, os objetivos e o porquê
do desenvolvimento desse estudo a fim de compreendermos aspectos primordiais da
pesquisa.
2.1 Delimitando o objeto de pesquisa: apontamentos
O mundo é do tamanho do conhecimento que temos dele.
Alargar o conhecimento, para fazer o mundo crescer, e
apurar seu sabor, é tarefa de seres humanos...
Rios, 2001, p. 24.
Abordaremos um breve resgate da história da criança à explicitação das relações
entre a brincadeira e o jogo e destes na aprendizagem, com o intuito de apresentar, em
seguida, a perspectiva do jogo de regras tratada neste estudo.
Cabe recuperar a história da criança e da inserção das brincadeiras e dos jogos
no ambiente escolar e que, durante o Renascimento, essa criança passou a ser
concebida positivamente, como um ser em desenvolvimento e não mais como um adulto
em miniatura. Dessa forma, esse reconhecimento expandiu nos âmbitos sociais e
familiares, bem como no espaço educacional e, assim, começaram a surgir estudos
tratando de seu desenvolvimento, sua aprendizagem e suas peculiaridades, inclusive a
valorização de situações que envolviam o brincar e o jogar.
Nesse sentido, vários pesquisadores deram suas contribuições ao estudarem a
criança, a educação e a inclusão do lúdico na escola. Dentre eles, destacam-se:
Rousseau (1712-1778) e Pestallozzi (1746-1827), que ressaltaram o desenvolvimento
natural infantil, passando a Fröbel (1782-1852), precursor de Pestallozzi, que enfatizou
uma educação com intuito de respeitar a evolução natural da criança, abrindo espaço
para o brincar. Foi ele quem criou o primeiro jardim de infância, e defendeu que os
currículos escolares se fundamentassem nas atividades e interesses de cada fase da
vida.
28
Além desse olhar para uma educação mais significativa, apoiamos nas idéias de
Dewey (1859-1952) que considerava a visão de educar a criança como um todo,
abrangendo o crescimento físico, emocional e intelectual. Dessa forma, a escola deveria
proporcionar práticas conjuntas e promover situações cooperativas, em vez de lidar com
ela isoladamente. Diante dessas concepções, nos aproximamos de Decroly (1871-1932)
que, além de valorizar o desenvolvimento da criança, estimulava o uso de objetos
concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. A partir dessa
abordagem, ao olharmos para a criança, apoiamo-nos em Benjamin (1928) que, mesmo
com uma concepção romântica, apreciou a idéia positiva acerca do potencial infantil. Este
autor escreveu sobre vários temas, inclusive sobre a educação, retratando o brinquedo e
o relacionamento entre o adulto e a criança.
Já Piaget (1964), pesquisou a criança brincando e registrou suas ações e
palavras, acompanhando-a em seu processo de aprendizagem e desenvolvimento,
enquanto Vigotski (1933, 1935) foi além, estudou o processo de desenvolvimento da
linguagem e da aprendizagem, considerando a criança em seu brincar, suas interações e
avanços com o outro, que não somente o objeto. Essas abordagens contribuíram para o
desenvolvimento e prosseguimento dos estudos acerca da criança até a atualidade.
Imeros trabalhos investigam a criança e a aprendizagem no ambiente escolar e,
isso implica pensar na construção de sua aprendizagem, considerando seu potencial,
inclusive, tratando a partir de seus aspectos naturais como o brincar e os jogos.
Como em outros países, na sala de aula brasileira, já é corroborado por meio de
várias pesquisas, entre outras, as mais recentes como Brenelli (1996), Cunha (2007),
Grando (1995, 2000, 2004, 2007), Kishimoto (1998, 2002, 2005), Macedo e
colaboradores (2005), Miranda (2000, 2001), Moura (1994), Muniz (2001, 2006, 2008a,
2008b) que, quando o professor se apropria do lúdico, por meio do brincar e dos jogos o
aluno se envolve mais e se sente desafiado com a atividade. Porém, para estabelecer
essa apropriação no contexto escolar, em especial, na aprendizagem matemática da
criança, onde está nosso foco, precisamos compreender as relações entre o lúdico, o
brincar e o jogo, o jogo educativo, considerando-os como categorias imbricadas e com
suas especificidades a fim de abarcarmos no jogo de regras.
Cabe enfatizar que muito se utiliza o termo lúdico, no entanto, não existe na
literatura, uma conceituação definida acerca dessa grande área, bem como da
brincadeira e do jogo, categorias imbricadas e com suas diferenciações. Diante da
indefinição, traremos ao longo desse estudo a palavra lúdico para se referir às situações,
ações e/ou atividades que envolvem o imagirio, a diversão e o prazer.
29
A brincadeira implica ato, seja real ou imaginário, com ou sem regras, num espaço
interativo, assim, cabe atentarmos às concepções de Vigotski (1933, 1935) e seu
destaque ao brincar, como surgido do imagirio para as situações de regras,
provocando no sujeito, modificações internas e, consequentemente, tomada de decisão e
aprendizagem.
Quanto à conceituação de jogo, ressaltam-se as palavras de Brougère (1998a,
1998b) ao enfatizar que não existe na literatura um conceito pronto e acabado, assim,
faz-se necessário construir caminhos que levem à compreensão do objeto em estudo no
contexto de aprendizagem escolar.
Para isso, nos unimos a Kishimoto (2005, p. 36) quando ressalta o surgimento da
dimensão educativa do jogo quando as situações lúdicas são intencionalmente criadas
pelo adulto com vistas a estimular certos tipos de aprendizagem. Assim, o brincar e o
jogo como categorias imbricadas ao lúdico podem ganhar espaço dentro da escola como
fontes propulsoras da aprendizagem infantil, mantendo a liberdade de cada criança
diante delas. O jogo educativo, existente há vários séculos, e tamm definido por
Kishimoto (2005) como recurso que ensina, desenvolve e educa de maneira prazerosa
vem afirmar nossa iia de jogo dentro da proposta desse estudo.
Por meio do jogo educativo, concebemos o jogo de regras para o favorecimento
da aprendizagem matemática. Muniz (2008a, p. 3) corrobora da apropriação do jogo para
a aprendizagem matemática e reforça que, apesar da existência de regras ser um
componente fundamental para a atividade ser considerada jogo, elas podem ser
discutidas, “(re) criadas e (re) elaboradas a partir das interpretações, das representações
e das conveniências dos jogadores. Afinal, durante o jogo, a criança lida para além das
situações reais e, constrói suas estruturas imagirias, remetendo à tomada de decisão
por meio da construção e resolução das situações-problema.
Diante dessas concepções e aproximações, explicitamos jogo ao longo do estudo
proposto a partir da seguinte idéia: O jogo de regras para favorecimento da
aprendizagem matemática é, normalmente concebido, criado e proposto pelo professor e
está além do material manipulável, ele se constitui tamm na dimensão imaginária.
Enquanto a dimensão concreta do jogo envolve o que é palpável, o cativar pelo
manuseio, pelas cores e a interação, o imaginário é abstrato, traz a espontaneidade e
extrapola o controle, pois desafia o conhecimento, prevalecendo assim, o desejo e a
criação. Esse jogo envolve as duas dimensões, porém, tem regras e objetivos prévios
desde o momento em que é criado e apropriado pelo professor para levar as crianças no
30
ambiente escolar. Existem objetivos diferentes ou conflitantes: de quem cria o jogo, de
quem se apropria dele e de quem o joga.
A partir dessas perspectivas, passamos à apresentação do objeto de pesquisa
descrito sob forma de diagrama para entendimento da integração existente entre as
partes: lúdico, brincadeira e jogo, jogo educativo, passando ao jogo de regras a favor da
aprendizagem matemática.
Diagrama 1: Integração entre o lúdico, a brincadeira e o jogo, o jogo educativo e o jogo de
regras
mod
Fonte: Elaborado pela pesquisadora, 2008
Nesse sentido, temos primeiramente o lúdico e sua amplitude, envolvendo a
brincadeira, o jogo, o jogo educativo e o jogo de regras. A brincadeira e o jogo estão
presentes na vida infantil, imbricados nesse contexto e podem, no ambiente escolar, abrir
espaço para o jogo educativo e o jogo de regras, conforme a visão do professor acerca
da criança e da aprendizagem. Assim, o jogo de regras pode se tornar uma grande
estratégia a favor da aprendizagem matemática no Ensino Fundamental.
Dessa forma, apresentam-se a seguir, o objeto da pesquisa e sua relevância, de
modo a compreendermos o que será estudado no jogo de regras para favorecimento da
aprendizagem matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Lúdico
Jogo Brincadeira
Jogo de regras
Jogo educativo
31
2.2 Objetivo geral e objetivos específicos da pesquisa
É o objetivo que define, de modo mais claro e direto, que
aspecto da problemática mais ampla anteriormente exposta
constituiu o interesse central da pesquisa.
Alves-Mazzotti e Gewandsznajder, 2004, p. 155.
Nesse momento, faz-se necessário compreendermos os objetivos desta pesquisa
que assim seguem.
2.2.1 Objetivo geral
Investigar a apropriação do jogo de regras pelo professor das séries iniciais do
Ensino Fundamental para o favorecimento da aprendizagem matemática.
2.2.2 Objetivos específicos
Analisar como o professor seleciona e se apropria dos jogos de regras no
planejamento pedagógico.
Analisar por que e como ocorre a adaptação dos jogos de regras pelo professor.
Investigar as mediações pedagógicas realizadas durante a apropriação dos jogos
de regras.
Identificar como os jogos de regras participam do processo de avaliação do
professor.
2.3 Relevância do estudo: por que desenvolver essa pesquisa?
Eu percebi a vontade e a empolgação deles em criar com
as peças do jogo, durante o jogo mesmo! E eu percebendo
isso, o dava para não deixar brincar!
Professora, 2 de julho de 2008.
Em contextos gerais, as brincadeiras e os jogos sempre foram objetos de estudo
de diversos pesquisadores no mundo todo. Entre os autores estrangeiros, destacamos:
Huizinga (1954) que estudou o jogo nas mais variadas culturas, Piaget (1964) colaborou
para o estudo e a diferenciação do jogo infantil, Vigotski (1933, 1935) trouxe um olhar
32
diferenciado para o jogo do pré-escolar, Brougère (1998a, 1998b, 2002) contribuiu com o
lúdico e o brincar trazendo a dimensão européia desse tema. No Brasil, destacam-se as
pesquisas acerca do brincar e dos jogos, enfatizando as contribuições de Brenelli (1996)
e os jogos de regras, Cunha (2005), com jogos pedagógicos; Grando (1995, 2000, 2004,
2007), com pesquisas sobre o jogo matemático a partir do 6º ano do Ensino
Fundamental, com brincadeiras e jogos na Educação Infantil por meio de Kishimoto
(1998, 2002, 2005); tratando do jogo matemático na aprendizagem como Moura (1994),
Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b) e a relação do brincar e do jogo na
aprendizagem matemática infantil, entre outros.
Dessa forma, é essencial lembrar que a utilização de brincadeiras e jogos na
educação é bastante divulgada, porém, ainda existem poucas produções no Brasil
abordando a aprendizagem escolar, a maioria delas envolve o brincar e o jogo em uma
perspectiva psicológica. Cordazzo e colaboradores (2007, p. 129) pesquisaram artigos
científicos (PsyInfo APA; Scielo e Index Psi) a fim de construir um panorama do que
vem sendo pesquisado sobre o tema e afirmam:
Alguns registros de estudos com humanos especificam o tipo de
brincadeira estudada (n=48) enquanto outros não focam ou não dão
ênfase a essa informação (n=113). Daqueles que focalizam algum tipo
de brincadeira, 23 estudam o faz-de-conta; 14 o brincar livre; 3 o brincar
turbulento; 3 estudam os jogos e 5 estudam outros tipos de brincadeiras.
A partir do levantamento bibliográfico realizado, esses autores destacam que há
necessidade de um maior mero de pesquisas empíricas nacionais, além de existirem
poucas que relacionam as brincadeiras e os jogos à aprendizagem.
Assim, faz-se necessário destacar essa pesquisa em termos contributivos, pois
vem tratar do jogo na perspectiva do professor, de como é que o professor dos anos
iniciais do Ensino Fundamental se apropria dele para a aprendizagem matemática das
crianças. Como ele seleciona os jogos? Se ele adapta ou produz, como acontece? Se
esse professor abre espaço para priorizar essa aprendizagem e o avanço da criança
buscando compreender como ocorre esse processo, se e como acompanha a construção
do conhecimento a partir dessa estratégia pedagógica, ou se apenas ocupa o tempo de
aula disponibilizando o jogo para a recreação das crianças. Nesse sentido, buscamos
pesquisar, considerando as palavras de Muniz (2006, p. 164), a aprendizagem
matemática requer ação cognitiva que implica a manipulação de ferramentas e objetos
que merecem ser objeto de estudo científico da educação matemática.
As contribuições da presente pesquisa buscam reflexões sobre a apropriação do
jogo pelo professor na aprendizagem matemática no ambiente escolar, objetivando
33
valorizar a construção matemática pela criança, a mediação e o olhar observador por
parte do professor. Assim, seria possível, enfatizar uma aprendizagem mais prazerosa,
propondo o jogo a favor do conhecimento e o conhecimento a favor do jogo com um olhar
reflexivo do professor dos anos iniciais, gerando questionamentos a futuros
pesquisadores.
Por entender que a apropriação do jogo no espaço educacional é um assunto de
extrema relevância no que diz respeito à aprendizagem matemática das crianças, bem
como as reflexões e mediações dos professores acerca desse processo, e as novas
possibilidades de avaliação, são algumas razões que me levaram a propor o estudo
deste tema.
Desse modo, faz-se necessário, conhecer além dos tricos que tratam do
lúdico, das brincadeiras e dos jogos, buscar referenciais que tratam da criança, ser ativo
no processo de aprendizagem as percepções acerca do ensino da matemática, o
processo de aprendizagem infantil e a avaliação, finalizando com as reflexões sobre o
fazer pedagógico e a necessidade de uma ampliação da formação do professor a fim de
conceber o lúdico e suas implicações no ambiente educacional.
Diagrama 2: Referencial teórico
Fonte: Elaborado pela pesquisadora, 2008
34
CAPÍTULO 3 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA: CONSIDERÕES A
PARTIR DO JOGO
A indeterminação do jogo é sem nenhuma dúvida seu
interesse e, ao mesmo tempo, seu limite.
Brougère, 1998b, p. 208.
Os textos buscam um aprofundamento na construção trica enfatizando as
relações conceituais e epistemológicas do jogo e da aprendizagem matemática voltadas
ao contexto escolar a partir das idéias dos autores apresentados ao longo do texto.
3.1 A brincadeira e o jogo
Bruner, como Vigotski relaciona a cultura e o uso de
ferramentas ao desenvolvimento da inteligência.
Kishimoto, 2002, p. 146.
Nesse momento, é importante discutir acerca da brincadeira e do jogo para
compreender suas imbricações e polissemias, afinal não existem conceitos prontos e
seus significados envolvem tamm as relações com a cultura de cada país.
Como já abordado, o termo lúdico é bastante utilizado no ambiente escolar e
possui uma amplitude no que diz respeito às imeras situações que podem designá-lo,
envolvendo o imagirio, a diversão e o prazer.
Dessa forma, acompanhamos as iias de Kishimoto (2005) quando trata da
apropriação de ações lúdicas pelo professor no contexto escolar para provocar na criança
desenvolvimento e aprendizagem e, nesse sentido, temos as brincadeiras e os jogos. As
brincadeiras e os jogos fazem parte da história humana. Existem registros desde a época
de Aristóteles, porém, na atualidade sua utilização tem ganhado mais um espaço diretivo,
retirando, muitas vezes, a liberdade do processo que envolve o brincar.
Broure (1998b) enfatiza que quando a criança brinca seu objetivo é apenas
brincar para interagir. Ela não brinca pensando em aprender, está livre para experimentar
situações. O brincar faz parte da vida de meninos e meninas e mobiliza diversas
estruturas em seus cérebros que propiciam diversão, socialização, troca de iias e
aprendizagens novas. Porém, segundo ele, ainda que o brincar seja ligado ao frívolo, seu
valor educativo tem sido mais evocado nos últimos tempos.
Assim, acolhem-se as concepções de Vigotski (1933) ao destacar o brincar da
criança, criado a partir de seu contato com a realidade social, do imaginário para as
35
situações de regras, provocando modificações internas. De acordo com suas idéias
(1933, p. 117):
O brincar cria uma zona de desenvolvimento proximal. No brinquedo, a
criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua
idade, além de seu comportamento diário; no brincar é como se ela
fosse maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de
aumento, o brinquedo contém todas as tendências do desenvolvimento
sob forma condensada, sendo, ele mesmo, uma grande fonte de
desenvolvimento.
Nesse sentido, entendemos que o brincar cria zona de desenvolvimento proximal
também a partir da ação mediatizada pelo professor durante o ato da criança com o
objeto ou o jogo. Assim, verifica-se que Vigotski (1935, p. 97) não hesitou em abordar o
brincar no que se refere à zona de desenvolvimento proximal:
Ela é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma
determinar através da solução independente de problemas, e o nível de
desenvolvimento potencial, determinado através da solução de
problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes.
Reflete-se, assim, sobre o jogo e a zona de desenvolvimento proximal. Durante o
jogo, a criança supera seu conhecimento inicial, desafiando seus próprios limites, ações e
pensamentos por meio de sua interação com outra criança e com o próprio jogo.
Enquanto joga a criança está em um processo interativo e desafiador, pois constrói o
pensamento a partir de relações culturais, intra e interpessoais, interagindo com seus
próprios conhecimentos e, com a troca junto do outro, o brincar ganha novos desafios e
possibilidades que propiciam o avanço na aprendizagem.
Vigotski (1933, p. 118) lembra que na idade escolar, o brinquedo não
desaparece, mas permeia a atitude em relação à realidade, diante desse apontamento
nota-se que não impossibilita o professor de negar essa dimensão no processo de
escolarização, inclusive nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Kishimoto (1998, p. 7) conceitua brincadeira como uma conduta estruturada, com
regras. Dessa forma, cabe pensarmos que durante o brincar a criança desenvolve vários
aspectos como a motricidade, a socialização, a afetividade, o ouvir, as relações
cognitivas, entre outros e avança, construindo sua relação com o mundo num processo
contínuo de aprendizagem tamm por meio das regras.
Considerando a utilização do brincar na escola, Kishimoto (s/d) ressalta que nesse
espaço observam-se dois momentos merecedores de reflexão. De um lado, alguns
36
professores empregam o brincar de forma livre e espontânea, sem se preocupar que ao
brincar é necessário objetos, parcerias e conteúdos. De outro, é importante destacar que
o brincar é um processo que ajuda no desenvolvimento da criança; e isso implica que a
escola se prepare para criar espaços de brincadeira. Segundo essa autora, os
brinquedos, os materiais, as regras e as informações devem fazer parte da formação do
profissional, pois se ele não tiver claro essa iia da brincadeira como forma de
desenvolvimento infantil, ele utilizará somente como recreação, pois não saberá como
proceder, deixando a criança brincar para preencher o tempo.
Quando trazemos esses pensamentos para a aprendizagem matemática,
corroboramos com Muniz (2008b, p. 2), quando destaca que no caso da criança, o
espaço mais importante de construção do conhecimento matemático no contexto não
escolar, ainda é o brincar. Nós consideramos aqui o brincar como um elemento cultural
que caracteriza universalmente a vida infantil. Segundo o autor, no jogo a criança pode
criar suas próprias situações problemas, impor situações aos demais participantes,
discutir seus problemas, resolvê-los e validá-los no grupo, desenvolvendo uma atividade
matemática enquanto brinca. Assim, concebe-se o brincar como ato, seja real ou
imaginário, com ou sem regras, podendo ser aliado da criança na construção de novas
estruturas e conceitos acerca da matemática quando visto pelo professor como estratégia
pedagógica aberta ao acompanhar e ouvir a criança como ser criativo.
Nesse sentido, adentramos no conceito de jogo que está intimamente ligado ao
brincar; porém, é primordial destacar que essa palavra não é utilizada em todas as
civilizações com o mesmo significado. Em alguns países europeus, como a França,
designam a palavra jeu para se referir ao jogo e a brincadeira, o que muitas vezes, gera
confusão, pois são utilizadas como sinônimo, desconsiderando as diferenças existentes
entre eles.
Assim, vários pesquisadores de diversas áreas, como antrologos, filósofos,
matemáticos, pedagogos, psicanalistas, psicólogos, sociólogos buscaram estabelecer
condições e características para o jogo, como as que seguem: o jogo como uma
atividade voluntária, a existência de regras, os jogadores, a situação a ser resolvida, os
limites de tempo e espaço, a incerteza e a imprevisibilidade e sua condição humana.
Contudo, nosso objetivo não é esgotar o tema ou buscar uma definição única, mas
compreender e discutir o jogo na sua diversidade a fim de tê-lo como estratégia
pedagógica no ensino da matemática.
Huizinga (1954, p. 34) enfatiza que:
37
Em todos os povos encontramos o jogo, e sob formas extremamente
semelhantes, mas as línguas desses povos diferem muitíssimo, em sua
concepção do jogo, sem o conceber de maneira tão distinta e tão ampla
como a maior parte das línguas européias.
Dessa forma, é primordial relembrar as palavras de Brougère (1998a, 1998b) para
enfatizar que não existe na literatura um conceito pronto e acabado acerca dessa
definição.
Kishimoto (1998, p. 7) também alerta para a dificuldade de conceituação do jogo
em nosso país:
O que oferece dificuldade para a conceituação de jogo é o emprego de
vários termos como sinônimos. Jogo, brinquedo e brincadeira têm sido
utilizados com o mesmo significado. (...) O sentido usual permite que a
língua portuguesa referende os três termos como sinônimos. Essa
situação reflete o pouco avanço dos estudos na área.
No entanto, traremos algumas abordagens e nos aproximaremos do pensamento
de alguns tricos. Huizinga não nos oferece um conceito pronto, mas enfatiza algumas
características. Para o autor (1954, p. 16) o jogo representa:
Atividade livre, conscientemente tomada como não-séria e exterior à
vida habitual, mas ao mesmo tempo capaz de absorver o jogador de
maneira intensa e total. É uma atividade desligada de todo e qualquer
interesse material, com a qual não se pode obter qualquer lucro,
praticada dentro dos limites espaciais e temporais próprios, segundo
uma certa ordem e certas regras.
O autor destaca pontos característicos que permeiam o jogo em diversas culturas
e nos aproxima de uma compreensão. Assim, complementa-se essa concepção com
Broure (1998b) ao corroborar também essa indefinição do jogo defendendo que este é
mais social que natural, já que a criança brinca na infância mais por não ter um trabalho a
fazer. Com a palavra o autor (1998a, p. 28):
Na realidade, jogo quando a criança dispõe de significações, de
esquemas em estruturas que ela constrói no contexto de interações
sociais que lhe o acesso a eles. Assim ela co-produz sua cultura
lúdica, diversificada conforme os indivíduos, o sexo, a idade, o meio
social. Efetivamente, de acordo com essas categorias, as experiências e
as interações serão diferentes. Meninas e meninos não farão as mesmas
experiências e as interações (como com os brinquedos que ganham) o
serão as mesmas. Então, portadores de uma experiência lúdica
acumulada, o uso que farão dos mesmos brinquedos será diferente.
Assim sendo, o jogo espontâneo, aquele não proposto pelo adulto, faz parte da
realidade infantil e possibilita à criança vivenciar várias situações e desempenhar papéis
38
diferenciados. Cada criança em sua cultura experimenta e interage com essas situações,
inclusive representando o mundo adulto. Toda esta experiência auxilia em sua
constituição por meio das interações sociais. Ele ressalta tamm que o jogo na
atualidade ainda está muito ligado ao relaxamento, há um distanciamento da infância em
relação ao brincar e sua seriedade.
É oportuno refletir sobre as palavras de Broure (1998a, p. 29):
Limitamo-nos à cultura lúdica infantil, mas existe tamm uma cultura
lúdica adulta, e é preciso igualmente sit-la dentro da cultura infantil,
isto é, no interior de um conjunto de significações produzidas para e
pela criança. A sociedade propõe numerosos produtos (livros, filmes,
brinquedos) às crianças. Esses produtos integram as representações
que os adultos fazem das crianças, bem como os conhecimentos sobre
a criança disponíveis numa determinada época. Mas o que caracteriza a
cultura lúdica é que apenas em parte ela é uma produção da sociedade
adulta, pelas restrições materiais impostas à criança. Ela é igualmente a
reação da criança ao conjunto das propostas culturais, das interações
que lhe são mais ou menos impostas. Daí advém a riqueza, mas
também a complexidade de uma cultura em que se encontram tanto as
marcas das concepções adultas quanto a forma que a criança se
adapta a ela...
Quando pensamos na escola, o jogo de regras, nosso objeto de estudo, aquele,
normalmente concebido, criado e imposto pelo adulto para fins de aprendizagem escolar,
é, muitas vezes, adaptado da cultura lúdica; assim, poderia ter como objetivo propiciar
trocas entre as crianças e o professor, gerando novas aprendizagens, além de ser um
novo espaço de observação da produção do conhecimento pela criança. Afinal, segundo
o autor (1998b, p. 49) a frivolidade do jogo não impede que nele se veja um lugar de
educação.
No entanto, ao lidar com esse jogo é preciso que o professor seja cauteloso.
Apenas a oferta de produtos culturais às crianças não é suficiente para uma
aprendizagem específica escolar, mas essa poderá ocorrer por meio das mediações
realizadas pelo professor. A mediação é um grande diferencial para o avanço na
aprendizagem, assim como, a forma que se apropria do jogo para acompanhar o
desenvolvimento integral da criança. Ademais, é importante ressaltar que a mediação
revela as concepções do professor sobre a criança, a aprendizagem e, em especial,
sobre o que é tamm construir matemática. A mediação para Vigotski (1984) diz
respeito à constituição do indivíduo, das funções psicológicas e da internalização,
envolvendo a interação com o outro, o meio, o objeto. Nesse caso, criança tem o jogo
como motivador e objeto de seus processos cognitivos e sociais que, o professor pode
39
intervir e, desse modo oportunizar o desenvolvimento de processos mentais superiores,
provocando a zona de desenvolvimento proximal.
Faz-se necessário a busca de um espaço para que o professor possa criar seus
jogos levando em conta a diversão e a aprendizagem, no intuito de conhecer melhor seu
aluno e como aprende. Mas é fundamental, também, analisar o que o adulto produz para
a criança, no caso do professor, quais jogos disponibiliza e qual a natureza das
mediações realizadas por meio deles. Broure (1998b, p. 57) deixa claro: ao pedagogo
cabe fornecer um método, dando-lhe a forma de um jogo, ou selecionar entre os jogos
disponíveis na cultura lúdica infantil aqueles cujo conteúdo corresponde a objetivos
pedagógicos identificáveis.
Diante dessas aproximações teóricas e indefinições acerca do jogo, refletim-se as
iias de Piaget (1964) quando trata do jogo infantil e quando abordar o desenvolvimento
cognitivo de cada criança, enquadrando-o em várias etapas.
Esse autor ressalta que o jogo é essencial na vida da criança, caracterizando-o
desde a fase de be com os jogos de exercício, que aparecem por volta dos primeiros
dezoito meses, caracterizado pela repetição de sequências de ações e manipulações.
Em seguida, tratando do jogo simbólico, que surge durante o segundo ano de vida
que tem como característica o surgimento da representação e da linguagem e que vai
além da manipulação.
O outro tipo de jogo estudado é o jogo de regras, que se aproxima desta pesquisa
e se faz presente na infância dos sete até por volta dos 11 anos. Segundo ele, a regra
implica a interação de dois indivíduos e a integração ao grupo social. Assim, é importante
a criança experimentar e interagir com objetos.
Dessa forma, a partir da visão do jogo de regras trazida por Piaget (1964) cabe
apropriar-se dessa perspectiva no sentido de sua importância no ambiente escolar,
desenvolvendo na criança suas experimentações, suas percepções, sua inteligência e
afetividade, além de valorizar o erro dentro desse processo de construção. Nota-se que
este possibilita as experiências simbólicas e sensório-motoras, cognitivas, emocionais e
que a escola pode apropriar desde o jogo espontâneo ao jogo de regras para trabalhar
com situações desequilibradoras e promover a construção do conhecimento. Mesmo com
o jogo de regras pode ser possível vislumbrar a espontaneidade, pois o pensamento
durante o jogar não está sob controle.
No entanto, não corroboramos com esse autor ao enfatizar que o
desenvolvimento do jogo na criança ocorre em estágios predeterminados por idades,
considerando que na atualidade, vivenciamos e observamos este desenvolvimento na
40
criança de forma diferenciada de sua idéia. Desde a fase de bebê, a criança desenvolve-
se na interação com o meio em que vive, com os estímulos, assim, avança e sua zona de
desenvolvimento é ativada; então, buscamos suporte em Vigotski (1933, 1935) que abre
outros horizontes acerca do desenvolvimento infantil, para além dos aspectos
maturacionais.
Ademais, por meio das construções das crianças nas brincadeiras, durante o jogo
e em atividades diversas fica evidente que extrapolam esses padrões estabelecidos
acerca da aprendizagem sob forma de currículo, em especial, no período de
escolarização. As crianças vão além do que é proposto na organização curricular. Esse é
um ponto de reflexão na teoria de Piaget atualmente. Como reconhecer o potencial e o
conhecimento de cada criança? Será que ao utilizar jogos devem-se oferecer somente
àqueles destinados a uma faixa etária pré-determinada? Os jogos quando bem
trabalhados não superam esta visão?
Bruner (1972, 1996) tamm concebe a brincadeira como relevante, pois aponta
para a aquisição da linguagem e a descoberta das regras. O autor enfatiza a importância
da descoberta no processo de construção do conhecimento e a relação entre o
conhecimento e a ação. Nesse sentido, as brincadeiras e os jogos vêm contribuir para o
desenvolvimento, pois envolve a criança no processo de descoberta durante as tentativas
para solucionar os desafios.
As idéias do autor se relacionam às de Vigotski (1933, 1935), pois incluem a
brincadeira como ferramenta cultural para o desenvolvimento da inteligência, valorizando-
a como elemento fundamental da constituição infantil, priorizando o processo da
descoberta e a intervenção do adulto a fim de estimular a exploração, o que mobiliza
novas aprendizagens. Nesse sentido, o jogo está imbuído de descobertas, tanto nas
regras como nas diversas possibilidades de se construir o conhecimento.
Tanto Piaget (1964), quanto Vigotski (1933, 1935) e Bruner (1972, 1996) lançaram
bases tricas com um novo olhar para a escola, bem como para as brincadeiras e os
jogos como elementos pedagógicos, desencadeando assim, novas pesquisas acerca
deste tema.
Kishimoto (1998, 2002, 2005) traz contribuições sobre o brincar e o jogo no
espaço educacional, enfatizandos-os na educação infantil. Segundo a autora (2005), o
brinquedo educativo está presente desde o Renascimento, tem crescido na educação
infantil a partir deste século e é entendido como recurso que ensina, desenvolve e educa
de forma prazerosa, se materializando em quebra-cabeças, tabuleiros, brinquedos de
encaixes e nos mais variados brinquedos e brincadeiras. Para ela, ao assumir o
41
brinquedo educativo, deve-se considerar sua função lúdica, que gera diversão, prazer e
até mesmo o desprazer, e a sua função educativa, que ensina; assim, a polêmica da
utilização na escola deixa de existir quando se respeita a natureza do ato lúdico. Com a
palavra Kishimoto (1998, p. 22):
Ao permitir a manifestação do imagirio infantil, por meio de objetos
simbólicos dispostos intencionalmente, a função pedagógica subsidia o
desenvolvimento integral da criança. Neste sentido, qualquer jogo
empregado na escola, desde que respeite a natureza do ato lúdico,
apresenta caráter educativo e pode receber também a denominação
geral de jogo educativo.
Nesse sentido, o jogo educativo permite a exploração da situação e do material
concreto organizado pelo professor com vistas à aquisição de novos conceitos,
aprendizagens e/ou treino de conteúdos.
A partir do jogo educativo, concebe-se o jogo de regras para o favorecimento da
aprendizagem matemática. Esse jogo propicia à criança construir novas estruturas de
forma prazerosa, interativa e desafiadora. Durante as jogadas ela tem a possibilidade de
conversar sobre as regras e modificá-las se também for interesse do grupo, além de abrir
novas formas para construir o pensamento matemático e estar livre para definir como
solucionar o desafio que lhe foi apresentado. Enquanto joga está extremamente
envolvida, não só com o aspecto competitividade, mas com o próprio desafio do
conhecimento. Assim, chamamos para as descobertas de Muniz (2008a, p. 5):
A criança desenvolve esta atividade em sua realidade ontológica como
possibilidade: de manifestar seus sentimentos e suas formas mais
espontâneas de pensar; explorar seu meio sico/social/cultural a partir
do estabelecimento de regras implícitas e explícitas; comunicar com o
meio sociocultural, fenômeno ligado à noção de metacognição
(comunicação consigo mesmo, articulando o real e o imagirio) e, de
uma coexistência dialética do imagirio com a realidade.
Dessa forma, se traz o jogo de regras para favorecer a aprendizagem matemática
a fim de possibilitar ao professor olhar para a criança em seu processo de construção,
enquanto está livre e envolvida por sua magia. Como apresentado anteriormente, o jogo
de regras em questão é, normalmente, concebido e proposto pelo professor e envolve
desde a dimensão material à imaginária, pois os objetos provocam o pensamento e
extrapolam as possibilidades imagirias.
A partir desse momento, discutiremos o jogo de regras e as suas relações com a
aprendizagem matemática no sentido de favorecer a aprendizagem da criança.
42
3.2 O jogo de regras e a aprendizagem matemática
Cada pessoa tem um modo de aprender, um estilo cognitivo
de processar a informação que recebe.
Imbernón, 2006, p. 17.
O presente estudo trata do jogo de regras a favor da aprendizagem matemática
no ambiente escolar como uma estratégia pedagógica. Nesse sentido, partimos das
iias sóciointeracionistas, quando pressupõem que a criança aprende e se desenvolve
no que diz respeito às estruturas cognitivas ao lidar com o jogo de regras. Por meio dele,
a criança socializa, interage socialmente com seu conhecimento, com o outro e tem a
possibilidade de resolver situações que lhe impõem desafios e tomada de decisão, o que
a aproxima da realidade escolar, pois permite contato com os conteúdos culturais e o
desenvolvimento de seu pensamento. Assim, como já explicitado abordaremos o jogo de
regras como sendo criado por um adulto e apropriado pelo professor na sala de aula a
fim de favorecer a aprendizagem matemática da criança. Antes de aprofundar no
assunto, será feita uma breve apresentação do ensino de matemática na escola ao longo
das últimas décadas por meio das contribuições de Fiorentini (2005).
Nesse sentido, salienta-se que a matemática ainda é vista socialmente como um
bicho papão e, muitas vezes, apresentada como sinônimo de inteligência e passível de
medição. Antes mesmo do período de escolarização, é concebida pela criança como algo
muito difícil e rigoroso, que exige muito estudo. Assim, ela adquire conhecimentos prévios
negativos acerca desse ensino, porém, o conhecimento matemático, de mundo, ela já
possui, tratando-se apenas de o professor considerá-lo e buscar sua sistematização, o
que nem sempre é possível, porque na maioria das vezes o conhecimento tratado na
escola está desvinculado da vivência.
Nos últimos anos, vários pesquisadores brasileiros, entre eles, D’ Ambrósio (2001)
vem discutindo questões que envolvem Educação Matemática, bem como o que ensina,
como e onde se ensinam, com o objetivo de propiciar uma educação matemática de
sentidos e significados e não a partir de conhecimentos prontos e acabados, o que tem
transformado o contexto escolar.
De acordo com Fiorentini (1995) a primeira tenncia de ensino da matemática no
Brasil diz respeito à formalista clássica, e surgiu logo após a segunda Guerra Mundial.
Segundo ele, a ênfase era dada na sua forma clássica, a partir do modelo euclidiano,
vinculada a demonstrações lógicas e com rigor. Já a segunda tendência, empírico-
ativista, surgiu em oposição à anterior na qual o professor era o orientador e facilitador da
43
aprendizagem e considerava a ação, a manipulação ou a experimentação como
fundamentais e necessárias para a aprendizagem.
A terceira tendência apontada por Fiorentini (1995) foi marcada pelo Movimento
da Matemática Moderna, que retomou ao formalismo matemático, ao rigor, a uma
matemática autosuficiente na qual o aluno aplicava as formas estruturais de pensamento
inteligente, dentro e fora da matemática. A quarta tendência denominada Ensino
Tecnicista é citada pelo autor por ser sido muito presente no Ensino Médio, reduzindo a
matemática a um conjunto de técnicas e regras.
A tendência posterior foi a construtivista e para o autor essa tendência propiciou a
valorização do processo de construção e da compreensão da matemática resultante da
interação humana. Assim, o professor era facilitador e mediador da aprendizagem,
intervindo e trabalhando tamm a partir do erro.
Fiorentini (1995) descreve a última tendência como socioetnocultural, trazendo
como ponto de partida para a aprendizagem da matemática a realidade. Nesse sentido, a
realidade cultural passa a ser valorizada no ambiente escolar e ganham espaço as
brincadeiras e os jogos relativos a cada cultura, competindo ao professor valorizar a
realidade vivida a fim da aprendizagem. Kishimoto (1998) contribui explicitando os jogos
dentro dessas realidades culturais, procurando explicitar o jogo infantil inserido em cada
cultura e pesquisando esse cotidiano.
Diante dessas tendências, é necessário pensar sobre a presença da matemática
no cotidiano, permitindo atividades envolventes nas quais a criança entende seu uso e
“matematize o conhecimento de forma aberta e com sentido. Aos poucos, o ensino da
matemática é abordado de forma mais interativa e como parte da realidade de vida,
valorizando, inclusive a construção por meio do próprio corpo, referência primeira da
criança ao construir seu conhecimento.
Pensando nas contribuições expostas por Fiorentini (1995), Grando (2007) relata
a partir das tendências o papel do jogo. A partir desse momento, será utilizada somente a
palavra jogo para se referir ao objeto em estudo, o jogo de regras para favorecimento da
aprendizagem matemática. Na primeira tendência, Grando (2007) enfatiza que o jogo
ainda não era visto como parte da vida infantil, como possibilidade de extrapolar os
limites do conhecimento e trabalhar vários conteúdos e a condição humana, permeada
por questões sociais, cognitivas, motoras e os valores. Posteriormente, a tendência na
qual o ensino da matemática valorizava a manipulação, o jogo passou a ser utilizado para
esse fim sem um planejamento, uma intencionalidade ou uma observação por parte do
professor, por faltar o conhecimento de suas potencialidades e limites para a criança,
44
bem como no ambiente educacional. Quando o ensino retoma ao formalismo, a autora
faz referência a proposta de jogo utilizada neste período por Diénes, um estudioso
matemático, que trabalhava com os blocos lógicos, jogos que muitas vezes
apresentavam regras extensas e complexas que confundiam o aluno. Segundo Grando
(2007), nessa forma de ensino da matemática o professor recomendava o jogo,
observava o aluno na ação do jogo e depois, guardava-o e seguia com a aula expositiva
tradicional. Já no Ensino Tecnicista, essa autora destaca a utilização de jogos como
dominó, bingo, perguntas e respostas e grande parte de jogos computacionais para
abordar a memorização de uma regra ou fixação de um conteúdo. Porém, a partir da
tendência construtivista no ensino, o jogo começa a ser concebido como espaço de
criação, tentativas, elaborações mentais e trocas entre os sujeitos.
A partir da tendência socioetnocultural, que tem como ponto de partida a
aprendizagem da matemática por meio da realidade, passam a ser valorizados no
ambiente escolar as brincadeiras e os jogos relativos a cada cultura, incumbindo ao
professor valorizar a realidade vivida a fim da aprendizagem das crianças. Dessa forma,
segundo Grando (2000, p. 16), o jogo de regras possibilita à criança a construção de
relações quantitativas ou lógicas que se caracterizam pela aprendizagem em raciocinar e
demonstrar, questionar o como e o porq dos erros e acertos. Assim enquanto joga a
criança hipotetiza, elabora e estrutura o conhecimento matemático, pensando sobre esse
processo de construção contando também com a mediação pedagógica do professor,
desse modo, temos o jogo de regras como uma das estratégias metodológicas a favor da
aprendizagem matemática.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática de 1ª a 4ª série (1998, p.
46) apontam para a necessidade de utilizar estratégias diticas diferenciadas para a
transformação do ensino da matemática e destacam o jogo como estratégia pedagógica
estimuladora de aprendizagem. Segundo este documento:
Os jogos constituem uma forma interessante de propor problemas, pois
permitem que estes sejam apresentados de modo atrativo e favorecem a
criatividade na elaboração de estratégias de resolução e busca de
soluções. Propiciam a simulação de situações-problema que exigem
soluções vivas e imediatas, o que estimula o planejamento das ações;
possibilitam a construção de uma atitude positiva perante os erros, uma
vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas
de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas.
Assim, ressalta-se que a aprendizagem matemática por meio do jogo é o caminho
percorrido desde o momento, por exemplo, que a criança é desafiada, seja pela situação-
45
problema ou carta surpresa, à estruturação do pensamento, resolução e devolução do
que ela pensou sozinha, junto ao grupo e tamm com a intervenção do professor. Dessa
forma, voltamos à Piaget (1964) quando aborda a construção do conhecimento pela
estruturação do pensamento e a Vigotski (1933, 1935) e sua concepção acerca da
aprendizagem infantil, considerando-a como interativa e dimica, para relembrar o jogo
de regras. Kamii (1990) propõe o jogo de regras como meio para o aluno estabelecer
relações e avançar na construção do pensamento matemático. Segundo ela, o professor
deve ser encorajador da criança na aprendizagem matemática, estimulando-a a pensar
espontaneamente de forma ativa e autônoma em todas as situações, porém, enfatiza
essa dificuldade nos professores, afinal, fomos formados para obter das crianças
respostas certas e, nessa perspectiva, trabalhar com o objetivo de desenvolver a
autonomia torna-se um novo caminho a trilhar. A partir destas iias é imprescindível
pensar na forma em que nós, professores, apresentamos a matemática para a criança.
Queremos mesmo aquela resposta certa? Como podemos propiciar a autonomia da
construção matemática? O jogo facilitaria este processo? O jogo na matemática deixaria
a aprendizagem mais prazerosa e lúdica, abordando as situações do dia-a-dia?
Envolvido nesse processo de aprendizagem está o professor que não é o indutor
da aprendizagem, mas o mediador, facilitador, é aquele que muitas vezes cria o jogo ou
se apropria dele, faz as adaptações e pode observar como acontece a interação da
criança com esse jogo e o conhecimento, notando seus avanços e sua aprendizagem.
A intervenção do professor é um grande diferencial para o avanço na
aprendizagem, assim como a forma como se apropria o jogo para acompanhar o
desenvolvimento integral da criança. É importante ressaltar que a mediação revela as
concepções do professor sobre a criança, a aprendizagem e o que é construir
matemática. Durante a mediação o professor deve utilizar materiais concretos para
manipulação e contagem por parte da criança, assim, ela é desafiada e vai elaborando
seu conhecimento a partir de estruturas físicas e estimuladoras da criatividade, abrindo
espaço para a liberdade, autonomia e tomada de decisão.
Nesse sentido, buscamos as contribuições de Bruner (1972,1996) quando aborda
a aprendizagem e o papel do professor no processo de mediação. Segundo ele, a
aprendizagem implica o processo de descoberta pela criança, e o professor é quem
media esse movimento que envolve o descobrir a partir dos recursos disponíveis
culturalmente. O mediador ao interagir com a criança ajuda a criar conexões com os
conhecimentos e assim, produzir os seus próprios, pois relaciona o conhecimento à ação.
A criança é curiosa diante do novo, do conhecimento, assim, por que não valorizar o jogo
46
considerando que aguça suas possibilidades de descoberta por meio dos desafios e
novas formas de resolução, inclusive junto de outro colega?
Nessa visão, trazemos Vigotski (1935) e a zona de desenvolvimento proximal,
sendo o professor também um mediador ao desafiar a criança, possibilitando o avanço
em sua aprendizagem.
Corroboramos das idéias de Muniz (2001, p. 41) ao destacar que:
O papel do professor enquanto mediador constitui, assim, um elemento
curricular importante que pode nos permitir ver como se realiza a
aquisição de conhecimentos escolares e como a forma de mediação
construída pelo professor influencia na construção pelo aluno da
representação social do objeto de conhecimento.
A partir das contribuições desse autor, ressalta-se que o professor mediador
deveria se envolver com a criança, acompanhando sua construção e o desenvolvimento
de seu pensamento. Miranda (2001, p. 74) em sua pesquisa enfatiza o papel do professor
durante as atividades com jogos juntos às crianças. Para ele, participar do jogo como
orientador, juiz ou um ser brincante poderá proporcionar a descoberta de seus
horizontes criativos. Assim, a mediação pedagica a partir da perspectiva de Bruner
(1972, 1996) implica acompanhar, desafiar e conhecer criança durante a interação, seja
com o professor, seja com outra criança ou objeto, em especial, o jogo em questão.
Dessa forma, o jogo de regras pode contribuir para a aprendizagem matemática
por causa das possibilidades de interação entre as crianças, a troca de informações, a
autonomia, a tomada de decisão, a construção de novas estruturas cognitivas, inter e
intrapessoal e a possibilidade do professor conhecer como se processa a elaboração
matemática.
Desse modo, relembramos as palavras de Broure (2002, p. 6): não nos
enganemos: não é o jogo que é educativo, é o olhar que analisa diretamente a atividade
da criança, com novas noções e valores [...]. O professor é quem diferencia este
instrumento e passa a entender melhor a construção da criança por meio da forma como
o concebe e se apropria dele, este é o grande desafio ao trabalhar com esse jogo no
contexto de aprendizagem escolar.
Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b) em suas pesquisas traz contribuições ao
destacar seis possibilidades e limites do jogo na matemática. A primeira delas é a quando
uma transferência do jogo espontâneo para uma situação escolar. Nessa
possibilidade, o professor admite que durante a aula de matemática as crianças realizem
espontaneamente o jogo sem sua intervenção e ele é apenas o observador. Outra
possibilidade é a realização de debate sobre o jogo espontâneo após a realização da
47
atividade lúdica, na qual o professor é o animador do debate acerca das ações
desenvolvidas durante a atividade. A terceira possibilidade envolve a transferência do
jogo espontâneo a uma situação escolar onde o aluno é questionado e deve responder
às questões colocadas pelo professor ao longo da atividade. Ao tratar da quarta
possibilidade, o autor aborda a transferência do jogo espontâneo à sala de aula ou outro
espaço escolar, e nesse caso o professor é um dos jogadores e participa como jogador
na constituição e desenvolvimento da atividade lúdica, bem como, na estruturação das
regras. Outra possibilidade trata da ação de o professor adaptar o jogo que era
espontâneo e presente na cultura lúdica infantil e não intervir durante o jogo. A adaptação
acontece segundo objetivos educacionais, buscando garantir certas atividades
matemáticas na atividade lúdica, nessa situação o que importa é a aprendizagem. A
sexta possibilidade contributiva desse autor em relação ao jogo é aquela na qual o
professor cria e oferece um jogo às crianças que é totalmente novo em função de um ou
mais objetivos educativos. O professor intervém durante o jogo para garantir o respeito
das regras que são forçosamente por ele estabelecidas e que devem ser respeitadas a
fim de garantir a realização de certas atividades matemáticas.
Diante dessas abordagens, é primordial refletir sobre como o professor olha para
a criança e como concebe sua aprendizagem, assim, discutiremos a seguir a relação
entre o jogo de regras em questão e a potencialidade da criança como construtora do
conhecimento.
3.3 A potencialidade infantil, o jogo de regras na aprendizagem matemática
e o papel do professor
A criança exige do adulto uma representação clara e
compreensível, mas não infantil.
Benjamin, 1928, p. 55.
Ao falar da potencialidade infantil, em especial, do jogo de regras, objeto desta
pesquisa, buscam-se possibilidades a favor da construção matemática da criança, no
intuito de valorizar sua disposição natural ao brincar e jogar. No ambiente escolar pode
ser possível criar espaços para que este jogo seja concebido e criado pelo professor,
como tamm junto da criança. Afinal, ela é sujeito ativo no processo, e durante a
elaboração de um jogo existem imeras formas de observar e acompanhar cada
criança, pois ela está em movimento, no entanto, como nós professores, olhamos para
isso no que diz respeito à aprendizagem matemática?
48
Benjamin (1928) nos impulsiona a refletir sobre a potencialidade da criança em
seus estudos educacionais, retratando o brinquedo e o brincar no relacionamento entre o
adulto e criança. O autor dialoga sobre essa relação e a historicidade dos brinquedos, a
autonomia da criança, de forma clara e contagiante, fazendo-nos reviver imeras
experiências infantis num momento conflituoso da história, a primeira guerra mundial.
Benjamin (1928, p. 85) retrata bem a modificação no pensamento social referente
à nova concepção de criança, destacando o brincar como humano e não somente infantil,
quando destaca:
Não se trata de uma regressão maciça à vida infantil quando o adulto se
vê tomado por um tal ímpeto de brincar. Não dúvida que brincar
significa sempre libertação. Rodeadas por um mundo de gigantes, as
crianças criam para si, brincando, o pequeno mundo próprio; mas o
adulto, que se vê acossado por uma realidade ameaçadora, sem
perspectivas de solução, liberta-se dos horrores do real mediante a sua
reprodução miniaturizada. A banalização de uma existência insuportável
contribuiu consideravelmente para que o crescente interesse que jogos
e livros infantis passaram a despertar após o final guerra.
Se referindo a realidade histórica na Alemanha em relação à 1ª Guerra Mundial, o
pensamento do autor remete ao caráter de libertação que o brincar permite. Ele trata da
importância de um olhar sobre a criança enquanto ser pleno, cheio de paz, que brinca e
que este brincar é sério.
Esse autor tem uma concepção romântica e positiva acerca do potencial da
criança que tem senso de seriedade e sinceridade, assim, exige do adulto uma
representação clara e compreensível, mas não infantil (1928, p. 55). Muitas vezes,
tendemos a banalizar as ações e pensamentos da criança, como se precisasse de
facilidades, ao contrário, tem um potencial extraordinário que nem sempre valorizamos.
Seria o jogo na aprendizagem matemática, um momento possível de observação e
valorização da criança nesse contexto de aprendizagem? Como o professor olha para
esses aspectos?
Ainda para Benjamin (1928) a criança brinca livre, imagina e cria. Ele lembra que
mesmo uma simples pedrinha ou qualquer outro objeto oferece oportunidades de brincar,
focando o desejo desta de sempre repetir, viver a emoção intensamente. Para ele, a
essência do brincar não é apenas um fazer como se, mas um fazer sempre de novo,
como algo prazeroso, dando vida ao jogo, repetindo a brincadeira. Apoia ainda a
aprendizagem por meio do lúdico, enfatizando, a brincadeira como algo prazeroso, que
não se esquece. O fascínio do brincar na criança é, assim, notório e construtor de
conhecimentos. Seria importante considerar esta repetição prazerosa, se apropriando do
49
jogo, como possibilidade de uma aprendizagem sem medos, pré-conceitos e
desfragmentada?
Cabe destacar que enquanto a criança brinca, entra em conflito e tem a
possibilidade de ludicamente resolver os desafios, sem medo de errar e sem pensar que
está sendo analisada, construindo assim suas estratégias e conhecimentos. O desafio se
torna parte da criança. Desse modo, seria interessante utilizá-lo dentro do jogo a favor da
aprendizagem matemática com intuito de mobilizar as estruturas e esquemas para a
resolução, buscando desde situações reais às imaginárias. As brincadeiras e jogos estão
presentes no cotidiano da criança, então, como nós concebemos esta vivacidade e
prazer para produzir conhecimentos na escola?
Concordamos com Benjamin (1928, p. 115) quanto enfatiza:
Não serve para nada um amor pedagógico que jamais é levado pela
observação da própria vida infantil a abdicar do ímpeto e prazer que
sente, na grande maioria dos casos, em corrigir a criança, baseado em
presumível superioridade intelectual e moral. Esse amor é sentimental e
vão. Mas à observação e somente aqui começa a educação toda
ação e gesto infantil transformam-se em sinal.
O autor destaca a importância do olhar observador do professor sobre a vida da
criança e que de nada adianta ter somente amor, desprovido de reflexão sobre o fazer
pedagógico, pois pode-se correr o risco de desenvolver situações insignificantes e
maçantes, desmotivando a curiosidade e a aprendizagem.
Dessa forma, nos voltamos para o contexto de aprendizagem escolar, no qual o
professor poderia se atentar à criança, conhecer suas descobertas e, junto dela
desenvolver uma parceria considerando a possibilidade, por meio do jogo, trabalhando
imeras vivências cotidianas que têm seu espaço e podendo se conectar ao ensino da
matemática. Ademais, será que o professor tem claro o quanto a observação da vida
infantil facilita a compreensão de como estas constroem as iias, conceitos e
procedimentos?
Bruner (1972,1996) também compartilha dessa visão positiva do potencial infantil.
Como salientado, o autor prioriza o processo da descoberta, além da motivação natural
da criança para aprendizagem, considerando suas experiências anteriores. Assim,
refletimos que os sujeitos em situação de jogo podem estar mais livres para tentar e
testar ações e comportamentos que nem sempre seriam possíveis diante de um adulto,
neste caso, voltamos especificamente ao professor. A criança tem menos receio de tentar
quando se sente mais livre, assim, vai além do que lhe é proposto, pois é menos
cobrada; é o que pode acontecer quando joga. Desse modo, cabe retomar à zona de
50
desenvolvimento proximal e suas possibilidades para a aprendizagem matemática
infantil. O professor tem o jogo de regras como estratégia de desafio e conhecimento
dessa aprendizagem por meio da observação em ato, ou seja, acompanhar a construção
da criança e intervir em sua zona de desenvolvimento proximal.
Pode-se ter o jogo como ferramenta cultural incentivadora da descoberta, das
interações, da construção de esquemas e facilitadora da aprendizagem. Afinal, essa
aprendizagem pode ocorrer prazerosamente, sem recompensas como balas e outros
objetos, pois para jogar não há necessidade de prêmios ou punições para quem ganha
ou perde, é o desafio ao conhecimento que prevalece. Ganhar e perder envolve
interações e representações do mundo social. O que deve ser bem trabalhado com as
crianças, não é a rivalidade, mas a busca de soluções aos desafios. Cabe refletir sobre
as iias de Benjamin (1928) e Bruner (1972, 1996) no contexto educacional, pensando
na valorização do potencial da criança, na construção da aprendizagem e no papel do
professor diante dessa perspectiva. Contudo, por meio do jogo, como já abordado por
Piaget (1964) é possível a criança ir além de seus esquemas já prontos.
Hoffmann (2006, p. 101) traz a necessidade de reflexão sobre o olhar avaliativo do
professor, bem como, pensar a avaliação mais interativa e compromissada, com uma
maior aproximação com o aluno. Segundo ela, a avaliação é um processo contínuo de
acompanhamento das aprendizagens dos alunos para suscitar novas aprendizagens.
A autora aborda três momentos de extrema importância para reflexão da
avaliação a partir do jogo. São os tempos de admiração, tempo de reflexão e tempo
de construção. Penso o jogo a partir desses momentos. O primeiro momento tempo de
admiração envolve o primeiro olhar do professor para a criança, no caso do jogo,
enquanto ela joga, observando suas ações e construções. Assim, olhar se torna um
desafio já que é necessário se atentar a cada criança, seus conhecimentos prévios e
suas formas de aprender.
Ainda, segundo a autora, o tempo de reflexão exige, silêncio, tolerância, diálogo
e uma postura investigativa. No jogo podemos pensar nos momentos da jogada nos
quais troca de iias, de hipóteses e o professor ouve, pensa, media e registra como
cada criança articula seu pensamento, como estabelece conexões entre a vida e os
processos exigidos enquanto joga e interage com os colegas. Diante dessa perspectiva,
o tempo de reconstrução envolve, segundo Hoffmann (2006), a reflexão sobre a própria
ação docente. Durante o momento de jogo o professor tem a possibilidade de conhecer e
agir sobre a aprendizagem matemática da criança, avaliando como matematiza,
51
reconhecendo as potencialidades cognitivas e refletindo sobre suas futuras ações
pedagógicas.
Nesse sentido, cabe enfatizar a aceitação da imprevisibilidade, presente no jogo,
como essencial, pois por meio dela é possível acompanhar como acontece a construção
do conhecimento. O professor deve ser quem primeiro reconhece esse aspecto ao se
apropriar do jogo, pois a partir dessa percepção poderá ser possível desenvolver um
trabalho reflexivo e próximo da criança, observando suas ações e a tomada de decisão
durante as jogadas. Através dessa abordagem, o professor passa a pensar sobre seu
fazer pedagógico porque a forma que planeja e concebe a atividade com o jogo pode ser
permeada pela imprevisibilidade na ação da criança e gerar um novo movimento.
Quando se fala no fazer pedagógico, no pensar sobre a ação, principalmente no
que diz respeito ao jogo, refletimos sobre a formação do profissional da educação que
atuará com crianças, pois este tem diversas possibilidades de propiciar o avanço na
aprendizagem. Segundo Imbernón (2006) o professor tem a capacidade de gerar
conhecimento pedagógico por meio da prática educativa, assim, por meio da reflexão, há
possibilidades de crescimento e desenvolvimento de novas atividades. Para o autor
(2006, p. 38):
Um fator importante na capacitação profissional é a atitude do professor
ao planejar sua tarefa docente não apenas como técnico infalível, mas
como facilitador de aprendizagem, um prático reflexivo, capaz de
provocar a cooperação e a participação dos alunos.
Schön (2000) traz suas contribuições quando enfoca a importância de um novo
currículo conduzido pelo ensino prático reflexivo, que oportunize aos alunos aprender
fazendo, vivenciando durante as ações e a partir delas colocar o conhecimento em ação.
Assim, a formação dos profissionais da educação para o reconhecimento das
brincadeiras e dos jogos no espaço educacional merece destaque nos cursos de
formação inicial e permanente. É importante conhecer o papel desses aspectos para o
desenvolvimento e aprendizagem infantil a fim de valorizá-los no contexto escolar, pois a
partir do momento que se adquire conhecimentos, o profissional pode se tornar reflexivo
diante da prática pedagógica, passando a interpretar e compreender o ambiente no qual
está inserido. Nesse sentido, Pimenta (2008, p. 20) enfatiza que colaborar no processo
de passagem dos alunos de seu ver o professor como aluno ao ver-se como professor” é
um desafio colocado aos cursos de formação inicial. Assim, nos aproximamos de
Fiorentini (2008, p. 124) ao ressaltar que:
52
Pensar a constituição do professor somente no período da formação
inicial, independente da continuada, isto é, daquela que acontece no
próprio processo de trabalho, é negar a história da vida do futuro
professor; é negá-lo como sujeito de possibilidades.
O professor está em constante formação, pois suas experiências estão vinculadas
ao movimento de autoconhecimento e formação permanente. A partir do fazer
pedagógico e da reflexão se constitui e pode desenvolver novas ações e atividades,
priorizando seu próprio desenvolvimento e, consequentemente, produzindo conhecimento
junto da criança. Em que medida o jogo contribui para essa mudança?
Diante desses olhares, nos atentaremos no capítulo seguinte ao desenvolvimento
da pesquisa de campo e seus processos.
53
CAPÍTULO 4 - METODOLOGIA: ORGANIZAÇÃO E PROCESSO
Geralmente o pesquisador desenvolve a sua investigação
passando por três etapas: exploração, decisão e
descoberta.
Lüdke e André, 1986, p. 15.
A pesquisa, como já apresentada, teve como objetivo investigar a apropriação do
jogo de regras pelo professor nas séries iniciais para o favorecimento da aprendizagem
matemática e aconteceu em uma instituição pública com uma professora do 3º ano do
Ensino Fundamental na cidade de Brasília DF.
O desenvolvimento desse trabalho envolveu a associação entre um olhar e escuta
sensíveis do professor, a observação atenta enquanto as crianças jogavam e uma
análise e interpretação, já que o jogo envolveu o imaginário e as construções a partir da
realidade vivida e dos significados.
Durante a pesquisa de campo, houve um acompanhamento da prática, do fazer
pedagógico no intuito de analisar como a professora deu sentidos e significados a sua
ação por meio do jogo de regras a favor da aprendizagem matemática. Para isso, foi
fundamental pensar no método já que existia um ambiente natural de jogo na escola,
logo que a comunidade educacional favorecia a inserção desta organização pedagógica.
Para conhecer essa realidade foi escolhida uma abordagem de estudo de caso, pois
segundo Lüdke e André (1986, p. 17):
O caso se destaca por se constituir numa unidade dentro de um sistema
mais amplo. O interesse, portanto, incide naquilo que ele tem de único,
de particular, mesmo que posteriormente venham a ficar evidentes
certas semelhanças com outros casos ou situações.
É primordial informar que a direção da escola autorizou a pesquisa e que os pais
assinaram uma carta (Apêndice 18), autorizando a participação de seus filhos neste
estudo. As crianças receberam nomes fictícios para garantir sua individualidade e, apesar
de utilizar imagens no decorrer do texto, desfocamos ou fizemos cortes nas mesmas para
preservar o anonimato dos sujeitos, já que o objetivo ao ilustrar com fotos é representar a
ação ou situação descrita.
A partir desses subsídios apresenta-se, na sequência, o espaço pesquisado e
como se desenvolveu este estudo, oferecendo informações desde o primeiro contato na
escola antes de ingressar no mestrado até a organização dos instrumentos de
investigação, o olhar para os sujeitos e a realização das atividades.
54
4.1 Primeiro contato na instituição pública: reafirmando questionamentos
nossas reflexões e significações sobre o que sabemos,
fazemos e dizemos podem constituir-se em algo formativo
para cada um de nós.
Fiorentini, 2008, p. 128.
Em dezembro de 2005 me mudei para Brasília com o objetivo de buscar
conhecimentos mais aprofundados sobre o brincar e os jogos, buscando compreender o
jogo de regras na aprendizagem matemática e a apropriação deste pelo professor do
Ensino Fundamental para além da repetição de conteúdos e, assim, contribuir
profissionalmente e possibilitar novas pesquisas nesta área.
Durante o período que cursava a disciplina: Tópicos em Educação Matemática
como aluna especial do curso de mestrado, estive junto do professor pesquisador
Cristiano Alberto Muniz e alguns alunos da graduação em Pedagogia da Universidade de
Brasília. Presenciei a criação, a confecção e a validação dos jogos matemáticos
elaborados pelos estudantes e que, posteriormente, foram doados com o objetivo de
desenvolver a aprendizagem matemática para a escola pública onde este pesquisador
desenvolve o Projeto Mediação do Conhecimento Matemático: (Re) Educação
Matemática:
Um projeto de pesquisa-ação da Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília, orientado em função da resolução de
problemas relativos ao quadro de situação de dificuldade na
aprendizagem da matemática, nas séries inicias, e com objetivos de
transformação dessa realidade. Para tanto, tem buscado a cooperação e
interação entre pesquisadores e membros da Escola, visando a
mudanças no processo de intervenção ditica realizada pelos
professores (SAKAY, 2007, p. 62).
Fui até a escola, juntamente com os alunos e jogamos com as crianças. É
importante ressaltar que a Manhã de jogos matemáticos, como é chamada, acontece
uma vez por semestre e nessa man alguns graduandos em Pedagogia doam os jogos
criados para a escola e jogam com as crianças. Pude experimentar e observar momentos
riquíssimos de troca com as crianças que estavam fascinadas pelos jogos. Foi um
momento que oportunizou a cada criador observar a interação de diversas crianças com
o jogo. Senti muita vontade de partilhar daquele universo para entender como o professor
se apropria dos jogos na educação matemática, afinal, sabemos que muitas escolas
possuem jogos e surgem então os questionamentos: Existe apropriação dos jogos por
parte dos professores? Como os professores concebem essa apropriação e como
reagem enquanto as crianças jogam?
55
Esses conhecimentos me deixaram mais curiosa e desejosa, pois me identifiquei
com aquela realidade, afinal, caso fosse aprovada na seleção do mestrado teria um
ambiente propício ao desenvolvimento da pesquisa de campo.
Obtive êxito para a concretização do projeto de mestrado e fui desenvolver a
pesquisa nesta instituição, dessa forma, cabe apresentá-la, trazendo algumas
informações acerca de sua realidade e funcionamento.
4.2 Conhecendo a instituição de pesquisa
O projeto político-pedagógico tem sido constantemente
discutido pelos professores e conselho escolar. A direção
da escola tem uma postura democrática e trabalha de
maneira firme no sentido de fazer com que as decisões
tomadas nas reuniões, encontros, conselhos e outros
espaços sejam assumidas e cumpridas.
Sakay, 2007, p. 54.
Era uma instituição pública localizada em Brasília, capital da República,
especificamente na Asa Norte, local acessível e central, atendendo crianças de diversos
contextos familiares. A escola tinha matriculadas aproximadamente 350 crianças nos
anos do Ensino Fundamental, no turno matutino e vespertino. Eram três turmas de 2º
ano, quatro de 3º ano, quatro de 4º ano, e três de 5º ano. A escola tinha uma grande
equipe em seu quadro funcional, desde a equipe da direção aos professores. Na escola
eram desenvolvidos projetos pedagógicos relevantes para as crianças e para a
comunidade que contava ainda com uma Associação de Pais e Mestres (APM) e um
Conselho Escolar bastante ativos nesta instituição. É importante ressaltar que os pais
eram bem informados e participativos na escola, além de acompanharem diretamente as
crianças, afinal, a nova abordagem matemática intrigava-os. Contribuíam tamm nas
atividades realizadas pela escola, em especial, reuniões de pais, Conselho Escolar e
atividades festivas.
Era uma escola com um ambiente receptivo, alegre, aberto à pesquisa. Um local
onde as crianças se sentiam felizes em permanecer durante praticamente 5 horas diárias.
A escola contava com parceiros como: os amigos da escola, monitores de cursos de
graduação de faculdades particulares, estudantes do curso de Pedagogia da
Universidade de Brasília (UnB) e da pós-graduação coordenados pelo professor
pesquisador da Faculdade de Educação dessa universidade.
A equipe pedagógica era comunicativa, acessível e contava com profissionais que
buscavam um trabalho cooperativo. A equipe participava, entre outros, do Projeto de
56
Mediação do Conhecimento Matemático: (Re) Educação Matemática, já citado. Havia um
trabalho conjunto de troca de aprendizagens entre e com as professoras em sala de aula,
nos planejamentos, inclusive, com reuniões nas quais professoras, coordenadora,
supervisoras e estagiárias participam dialogando sobre o trabalho desenvolvido em sala
de aula junto às crianças. Eram professoras com formação inicial em Pedagogia,
Psicologia, Matemática, Letras e outras áreas. Há também uma diversidade quanto ao
tempo de atuação de cada professora, algumas já possuem vários anos de atuação e
outras começaram há poucos anos e chegaram a esta instituição no ano de 2008,
buscando se adaptar à realidade escolar.
Existia na escola uma prática interessante o Conselho das crianças, momento
no qual as crianças de cada ano eram ouvidas acerca de suas aprendizagens, de seus
professores e da escola. A orientadora e a supervisora iam a cada turma e realizavam
essa atividade, registrando inclusive as falas das crianças que muito falavam da diversão
propiciada pelo jogo na matemática.
A escola possuía um bom espaço físico constituído de uma sala de professores
ampla e aconchegante com três computadores conectados à internet, uma sala para a
coordenação pedagógica, uma biblioteca, um laboratório de informática, uma sala de
apoio para atendimento pedagógico às crianças, outra para direção, uma sala para
secretaria, uma cantina e um pátio ao centro que dava acesso às sete salas de aula que
tinham um pequeno espaço ao fundo para plantio. A instituição contava tamm com um
espaço recreativo aberto após o portão de entrada no qual as crianças ficavam livres,
com maiores possibilidades de correr e se movimentar durante o recreio, a recreação e
as atividades planejadas pelas professoras ao ar livre.
Para uma compreensão do ambiente pesquisado, é necessário apresentar a
turma do 3º ano (2ª série) e a professora, sujeito ativo da pesquisa a fim de entender a
apropriação pelo jogo na aprendizagem matemática.
A turma era composta de 14 crianças, 7 meninos e 7 meninas. Havia um mero
reduzido por causa de duas crianças que necessitavam de uma atenção e dedicação
especial no acompanhamento das atividades, inclusive uma delas recebia apoio em sala
de aula por uma profissional da área de Psicologia.
Todas as crianças eram alegres, atentas, participativas e comunicativas, mesmo
as mais tímidas. Eram crianças advindas de diversos contextos sociais e familiares,
algumas moravam com os pais, outras com os avós e/ou com o pai ou a mãe.
Eram crianças bem comunicativas e que gostavam muito de brincar e jogar em
grupos, seja na recreação ou na hora do recreio. Pela sala, entre as crianças, circulavam
57
às escondidas cartas oriundas de pacotes de alimentos industrializados que todas
estavam sempre a brincar.
A professora estava sempre desafiando cada uma delas e encorajando-as a
solucionar os problemas, fossem eles escolares ou pessoais, haja vista que ela era uma
pessoa que se preocupava com a formação de cada uma delas.
A sala de aula era colorida, com cartazes e informações. As carteiras estavam
sempre organizadas em forma de U de modo que as crianças e a professora circulavam
tranquilamente pela sala. Cada criança tinha sua caixinha matemática, organizada por
elas logo no início do ano letivo contendo diversos materiais para as atividades
matemáticas, como palitos, moedinhas e dinheirinho, ligas elásticas, fita métrica, régua,
botões, tampinhas, material dourado entre outros. Havia também o cofrinho, até o final
do ano cada criança levaria R$ 25,00 em moedas ou cédulas menores para uma
atividade coletiva realizada ao final do ano, assim, iam contando e registrando os valores
individuais aos poucos. Quando levavam suas moedinhas, faziam a contagem e
acrescentavam os valores; a professora utilizava sempre estes momentos para trabalhar
com todos, fazer “montinhos de moedas iguais para saber quanto tinham, entre outros e
registravam desafios matemáticos no caderno. Além disso, havia na sala jogos
separados pela professora para as crianças jogarem em momentos de recreação, bem
como um som, as crianças adoravam cantar e ouvir histórias. As aulas de matemática
envolviam atividades no livro, registros no caderno, desafios surgidos no momento, jogos,
dobraduras, desenhos e simulações de situações cotidianas seja em registro ou faz-de-
conta.
Durante os jogos praticamente todas se colocavam nas situações e desafios. A
alegria, a frustração, o companheirismo, o riso, o choro, o não falar, o barulho faziam
parte das relações e das jogadas. Relações vibrantes e sinceras, que se tornavam mais
visíveis durante os momentos de jogo, em que se entregavam ao novo, aos desafios e às
trocas, contribuindo para uma análise e compreensão dos jogos dentro do ambiente
escolar, especialmente na aprendizagem matemática, já que todas gostavam da
matemática.
58
4.3 Minhas primeiras observões
Preciso calar um pouco, deixar de ser a professora que
comanda tudo, ouvir mais que falar.
Professora, 13 de maio de 2008.
Durante o segundo semestre de 2007, tive meus primeiros contatos, participando
do cotidiano escolar e das atividades desenvolvidas por meio de atividades com jogos
matemáticos junto ao grupo de professoras.
Nesse período visitava a escola duas vezes por semana e fazia registros
fotográficos e no caderno de campo, a partir do planejamento das atividades e momentos
de discussões acerca das atividades realizadas com as crianças junto ao coordenador do
projeto, da equipe pedagógica e das professoras. Participava, inclusive de reuniões
pedagógicas com os pais que se mostravam ansiosos diante da nova abordagem no
ensino de matemática, diferente das vivências deles. Falavam de suas angústias e
receios, pois muitas vezes não sabiam o que fazer diante do pensamento e da resolução
dos filhos, nesse sentido a escola promovia encontros com o professor pesquisador,
porém, em muitos momentos a presença dos pais era mínima. Diante dessa diversidade,
buscava, em especial, identificar os espaços e os momentos pedagógicos que os jogos
se faziam presentes. Geralmente essas atividades aconteciam dentro ou fora da sala de
aula e o planejamento era produzido pelas professoras em parceria com o professor
pesquisador
Nesta escola havia, semanalmente, um trabalho no qual todas as professoras
planejavam com o pesquisador e participavam de uma atividade desenvolvida por meio
de jogos e brincadeiras voltados à aprendizagem matemática na sala de aula de uma
colega do turno inverso. Esta participação incluía a elaboração conjunta dos materiais
utilizados, bem como a intervenção junto às crianças durante a aula.
Após a atividade, havia uma discussão com o grupo de professores. Neste
momento, o grupo conversava sobre o que foi observado no desenvolvimento da
atividade com jogos e brincadeiras, inclusive os avanços das crianças, bem como
sugeriam posteriores trabalhos para a professora com sua turma.
Eram momentos ricos de discussões e reflexões sobre a atuação pedagógica, o
processo ensino-aprendizagem com um olhar mais próximo da construção do
conhecimento social e matemático infantil.
E para compreender como aconteciam as ações pedagógicas em sala de aula foi
importante uma observação constante das atividades desenvolvidas, com os jogos
escolhidos pelas professoras. Se haviam momentos e atividades nas quais o jogo
59
espontâneo (livre e sem a proposta do adulto) e os jogos de regras (proposto pelo
professor) estavam presentes, associados ao desenvolvimento de diálogos com os
participantes na busca dos significados das atividades para cada um, no que diz respeito
ao favorecimento da aprendizagem.
Lembro-me da primeira observação de aula em 2007, junto da professora que,
posteriormente se disponibilizou ao estudo, acompanhei a atividade com os seguintes
jogos: jogo da velha matemática e “mavi: matemática aplicada à vida (Apêndices 1 e
2). Pude notar que eram jogos bastante atrativos fisicamente, cheios de cores e formas,
cartas diferentes e recursos concretos para auxiliar na resolução matemática. A
professora circulava pelas duplas, sem a pretensão de observar como aconteciam os
processos cognitivos durante os jogos, pois seu objetivo era somente recreação e fixação
dos conteúdos matemáticos. É importante destacar que a forma como o professor se
apropria do jogo não é a mesma concebida inicialmente pelo autor deste e, sobretudo, é
bem diferente em relação a maneira como a criança desenvolve a atividade lúdica. O
jogo pode ganhar novas perspectivas através da ação planejada do professor e, em
contato com o pensamento da criança este adquire novo sentido, acrescentando à
organização estipulada.
Assim, passei a acompanhar diversas aulas, desta e de outras professoras até o
final de 2007. Nesse sentido a seguir, há um quadro-resumo das atividades iniciais
acompanhadas na escola durante o segundo semestre desse mesmo ano.
Na seqncia apresenta-se o quadro geral de atividades iniciais acompanhadas
na escola durante segundo semestre do ano de 2007.
Quadro 1: Atividades desenvolvidas ao longo do semestre de 2007
Atividades
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Acompanhamento das reuniões
pedagógicas com o pesquisador da
UnB
X
X
X
X
Observações na sala de aula das
atividades com jogos
X
X
X
X
60
4.4 O sujeito da pesquisa
Parece que o jogo não é estudo, não é escola, a criança
resolve com tranquilidade. Preciso conhecer melhor e ter
mais coragem de quebrar a barreira de criar jogos com
eles. Já tive experiências de criar jogos... mas não gosto
muito de barulho e no fazer, a agitação é maior que no
jogar. Preciso deixar as crianças criarem.
Professora, 14 de março de 2008.
O principal sujeito desta pesquisa foi uma professora do 3º ano do Ensino
Fundamental de uma escola pública da cidade de Brasília. Uma professora aberta ao
novo, dinâmica, curiosa, com formação em Magistério, Pedagogia e com anos de
experiência na área educacional com Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental. Nos últimos anos tem se envolvido em cursos de formação continuada
voltados aos anos iniciais de escolarização, além de participar das reuniões pedagógicas
com o pesquisador da UnB em sua escola.
Em março de 2008, fiz uma entrevista inicial para conhecer um pouco mais a
professora (Apêndice 20). Durante nossa conversa, contou suas experiências lúdicas
desde sua infância, pois segundo ela brincou muito, gostava de brincadeiras de rua, de
brincar de casinha, jogar peteca e queimada, além de gostar muito de ouvir histórias. Era
casada, tinha filhos, inclusive, as filhas ganharam de presente as bonecas de sua
infância e o soldadinho que o marido tamm dera. Costumava jogar com as filhas
jogos de tabuleiro que têm em casa imagem-ação, war, banco imobiliário e perfil.
Quando a gente joga parece criança, se envolve demais, disse ela ao se referir à
expectativa de ganhar ou perder e buscar estratégias de resolução dos desafios
apresentados no jogo.
Essa professora desenvolveu atividades lúdicas desde o período que atuou na
educação com as crianças da Educação Infantil. Conforme ela, sempre trabalhou as
atividades intuitivamente, e se sentiu bem ao estar em uma escola que se interessava por
essas questões e aberta à aprendizagem, dessa forma teve orientações e leituras
referentes ao lúdico na educação. Havia sete anos que estava lecionando nesta escola e
três anos participava do Projeto de Pesquisa (Re) Educação Matemática que
acontecia neste local.
Sua relação com a matemática sempre foi positiva, mostrava bastante entusiasmo
ao desenvolver as atividades com as crianças, gostava de desafiá-las e encorajá-las a
resolver, utilizando bastante material concreto.
61
4.5 A pesquisa de campo em 2008
Quando o sujeito pesquisado se defronta com a pesquisa
em uma situação nova geradora de múltiplos estados
emocionais, que vão desde a curiosidade até a ansiedade;
por isso se requer primeiro estabelecer uma relação que lhe
permita sentir-se bem e motivar-se com o trabalho que tem
adiante.
González Rey, 2005, p. 80.
No primeiro semestre de 2008, retornei à escola para iniciar a coleta de
informações com as professoras interessadas, pois o período de imersão facilitou a
organização da pesquisa de campo. Algumas professoras foram remanejadas em relação
ao ano letivo anterior, e a maioria das professoras presentes eram novas na escola e no
Projeto de (Re) Educação Matemática. Tinha interesse em pesquisar no 2º e 3º anos
para acompanhar o fazer pedagógico das professoras exatamente no processo inicial da
relação infantil com a matemática escolar, porém, não houve interesse por parte de
algumas possíveis colaboradoras. Assim, falei ao corpo docente sobre minha pesquisa
na sala de professores e, após a fala, quatro professoras foram conversar comigo
demonstrando interesse em participar do estudo. Entre elas, estava a professora que eu
havia acompanhado as atividades em 2007, novamente no 3º ano, e tinha grande
interesse em pesquisá-la, pois trabalhava com jogos há algum tempo. Os critérios para
definir tamm as demais colaboradoras reuniram desde o entusiasmo com o
desenvolvimento de atividades por meio dos jogos, o interesse em participar e a
disponibilidade de cada uma. Assim, das outras três professoras, acompanhei apenas
uma professora do 3º ano e outra do 4º ano, no período da manhã. As demais não
participaram porque uma delas sairia da escola no mês seguinte, em decorrência do
contrato temporário e a outra do 4º ano lecionava no período da tarde. Considerando o
processo longo do estudo de caso e da minuciosa organização de informações e de
análise, mantive como sujeitos uma professora do 3º ano e outra do 4º ano, porém,
continuei em contato com as demais.
Tudo transcorria bem, já havia realizado as entrevistas iniciais, as primeiras
observações e registros, inclusive com as crianças, até que a professora do 4º ano
decidiu sair da escola. Como já não era possível iniciar o trabalho com outra professora
em virtude do tempo restante e da análise dos dados, decidi prosseguir somente com a
professora do 3º ano, uma pessoa bastante envolvida com seu trabalho e com a
pesquisa. Essa professora já utilizava jogos a favor da aprendizagem matemática e
desenvolvia seu trabalho alguns anos nesta escola, o que possibilitou uma pesquisa
de campo próxima e cheia de reflexões também por parte da professora. Havia uma
62
rotina, toda quinta e sexta-feira jogavam e, quando não cumprida, as crianças
solicitavam.
Essas observações dizem respeito ao que presenciei durante um ano e meio de
contato direto na escola e em média com a permanência de 110 horas. Acompanhei
também a implantação do programa do governo Escola Integral, objetivando a
permanência das crianças na escola nos dois turnos diários. A comunidade escolar se
mobilizou, inclusive com a doação de alimentos, afinal, não receberam uma estrutura
adequada para essa implantação. Em um dos turnos, as crianças tinham aula e no outro
participavam de atividades pedagógicas e oficinas, inclusive com a inserção dos jogos no
planejamento. Nesse contexto da Escola Integral, os jogos ganharam um novo espaço de
acesso e exploração por parte das crianças que se divertiam bastante, pois nem todos os
professores da escola se apropriavam deles em sala de aula; realidade que se modificou
um pouco, pois até os mais receosos começaram a levá-los para as atividades de
matemática.
4.6 Como aconteceu a organizão do caminho
O importante o é o que o sujeito diz, mas como o diz.
González-Rey, 2005, p. 78.
Para desenvolver esta pesquisa foi importante considerar o movimento, o
processo durante seu desenvolvimento, bem como novos olhares e adaptações; como
destaca Viana (2007, p. 98): a observação, no contexto de uma pesquisa, visa, no caso,
gerar novos conhecimentos e não a confirmar, necessariamente, teorias. Todo este
processo exigiu um pesquisador atento às falas, expressões, registros, movimentos das
crianças e concepções e mediações dos professores, não se anulando, já que a
neutralidade na pesquisa não existe. De acordo com González Rey (2005, p. 57), o
pesquisador, além de ser sujeito participante, converte-se em sujeito intelectual ativo
durante o curso da pesquisa. Ele produz conhecimento e está vivo nas relações, muitas
vezes, eu estava vibrando e tamm mediando as relações durante os jogos já que o
fascínio e a forma de entender como a criança pensa instigam.
A seguir, um esboço geral da pesquisa de campo, bem como dos
procedimentos e instrumentos de coleta das informações para clareza do que aconteceu
durante seu desenvolvimento.
63
Diagrama 3: Visualização da constituição da pesquisa
Fonte: Elaborado pela pesquisadora, 2008
Como já mencionado, a pesquisa procurou investigar a apropriação do jogo de
regras pelo professor nas séries iniciais para o favorecimento da aprendizagem
matemática.
Assim, foi necessário um olhar mais atento à apropriação dos jogos enquanto
estratégia pedagógica. Procurei compreender como a professora utilizava esta estratégia,
investigando as mediações realizadas durante as jogadas com as crianças, observando
também como concebia a aprendizagem e o pensar por meio dos jogos, além de ouvir as
crianças.
Ademais, identifiquei, por meio de observações e de entrevistas semi-
estruturadas, se e como acontecia o processo de avaliação no contexto dos jogos,
pensando nestes como aliados do processo. Afinal, pressuponho que os jogos
possibilitam ao professor acompanhar as construções das crianças, identificando
avanços e situações a serem desafiadas por meio da zona de desenvolvimento proximal.
Eles propiciam a aprendizagem e o avanço das crianças na construção de esquemas
mentais de forma prazerosa, sem sentirem medo de errar, o que socialmente é visto
como negativo e feio.
64
Reflexões, diálogos e novas possibilidades emergiram durante o estudo. O
pesquisador se constitui enquanto pesquisa e passa a caminhar com mais abertura para
entender seu objeto de estudo e seus questionamentos. Assim, como já destacado, pude
atentar mais às falas, aos gestos e aos questionamentos trazidos durante este período,
considerando que a relação pesquisador/pesquisado manteve-se tranquila e segura.
Nesse sentido, os instrumentos utilizados na pesquisa de campo foram muito importantes
para a compreensão de todo o processo.
Ainda segundo González Rey (2005, p. 56):
Os instrumentos da pesquisa adquirem um sentido interativo. O
instrumento não é importante só pelo que o sujeito responde ou realiza,
mas pelas conversações que suscita, pelas expressões do sujeito
diante dele, pelas perguntas que formula durante sua execução, pelas
características da execução etc.
A entrevista semi-estruturada possibilitou abertura à fala da professora, retirando-
a de situações totalmente formais, estabelecidas e desconfortáveis. Além disso, foi
possível perguntar o que não ficava claro durante as observações ou entrevistas e não
ficar presa num roteiro fechado. Conforme dke e André (1986, p. 34): a grande
vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e
corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de informante e sobre
os mais variados tópicos.
As entrevistas semi-estruturadas permitiram maior liberdade à professora para
falar livremente sobre trabalho com jogos, seus avanços, dificuldades. As entrevistas
foram facilitadas, pois, por causa do contato quase diário no ambiente pesquisado, as
oportunidades surgiam espontaneamente, o que não acarretava motivos de formalidades
na relação pesquisador/pesquisado.
É primordial refletir sobre o papel do pesquisador, do pesquisado, da relação
entre ambos e com o objeto de estudo para a efetivação de um trabalho mais harmonioso
e proveitoso para todos, lembrando sempre das novas possibilidades que podem surgir
durante a pesquisa.
A seguir um quadro geral com as atividades que aconteceram no primeiro
semestre do ano de 2008, porém, o contato com a professora permaneceu as este
período, pois ela assistiu aos vídeos e sempre conversávamos.
65
Quadro 2: Atividades desenvolvidas ao longo do semestre de 2008
Atividades
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Catalogação dos
jogos
X
X
Observações na
sala de aula
X
X
X
X
X
X
Entrevistas com
a professora e
as crianças
X
X
X
X
Após a permanência durante o segundo semestre de 2007 para conhecer a
instituição e as atividades desenvolvidas por meio dos jogos, retornei à escola em
fevereiro de 2008. Conforme apresentado no quadro 2, o primeiro passo foi analisar
aproximadamente 65 jogos, presentes no contexto escolar, ressaltando que todos eles
são oriundos da Faculdade de Educação (FE) da Universidade de Brasília (UnB),
produzidos pelos alunos de graduação em Pedagogia nas disciplinas Educação
Matemática I e II, sob responsabilidade do professor pesquisador do Projeto de (Re)
Educação Matemática. Dentre estes jogos, escolhi quarenta, por critérios visuais da parte
externa da caixa (mistério, cores, palavras, imagens, figuras que remetessem à vida
cotidiana), abordagem do conhecimento matemático (situações-problema; desafios;
manipulação de material concreto para auxiliar na resolução que envolviam adição,
subtração, multiplicação, divisão; geometria, entre outros) contexto cultural (dinheiro,
moedas, supermercado, construções, domis, baralhos) e imaginário infantil (faz-de-
conta, brinquedos, carta surpresa, quebra-cabeça). Organizei a catalogação de cada um
deles, pois havia na escola esta grande quantidade de jogos sem identificação. Registrei
a composição de cada um deles, desde a parte externa da caixa ao conteúdo interno, os
acessórios e as regras, a partir da proposta de Muniz (1999, p. 293):
Cela impose à la méthodologie deux moments également importants
pour l’analyse du jeu, une analyse a priori, le jeu comme proposition, et
une deuxième analyse a posteriori, le jeu comme activité développée par
les sujets:
1) une analyse a priori : description, interprétation et analyse matérielle
du jeu comme une proposition de l’adulte, analyse a priori qui possède
comme point de départ la boîte (des images, des messages, des
66
couleurs, des dimensions, l’âge proposé, etc.), le plateau (les
dimensions, les formes, les images, les couleurs, les messages, les
sens et les directions, les numérations, etc.), les accessoires (les pions,
les cartes, les couleurs, les formes, les quantités, les messages, les
valeurs, les représentations) le tme du jeu et les règles proposées.
2) une analyse a posteriori : l’analyse du jeu est fondée sur les actions
des sujets, comme leurs règles, son organisation sociale, les utilisateurs
de la structure physique, les utilisations des règles (reproduction,
(ré)interprétation, changements), les situations-problèmes construites et
les processus de résolution, les discussions et/ou les négociations, les
stratégies et les tactiques révélées par les actions sur les accessoires.
Segundo o autor (tradução livre):
Isto impõe à metodologia dois momentos igualmente importantes para a
análise do jogo, uma análise prévia, o jogo como proposta, e uma
segunda alise posterior, o jogo como atividade desenvolvida pelos
sujeitos.
1 uma análise prévia: descrição, interpretação e alise material do
jogo como uma proposta de um adulto, análise prévia que tem como
ponto de partida a caixa (as imagens, as mensagens, as cores, as
dimensões, a idade proposta, os meros, etc.), o tabuleiro (as
dimensões, as formas, as imagens, as cores, as mensagens, os sentidos
e as direções, os meros, etc.), os acessórios (os piões, as cartas,
dados/roletas, as cores, as formas, as quantidades, as mensagens, os
valores, as representações) o tema do jogo e as regras propostas.
2 uma análise posterior: a análise do jogo é fundamentada sobre as
ações dos sujeitos, como suas regras, sua organização social, a
estrutura física, as utilizações das regras (reprodução, reinterpretação,
mudanças), as situações-problema construídas e os processos de
resolução, as discussões e/ou negociações, as estratégias e as táticas
reveladas pelas ações sobre os acessórios.
A partir dessa proposta, cataloguei cada jogo considerando o item 1, alise
prévia. Diferente do autor, que pesquisou a ação das crianças no jogo, procurei por meio
da análise posterior acompanhar a apropriação do jogo pelo professor.
Esses 40 jogos (caixa e conteúdo interno) foram fotografados, catalogados e
arquivados em uma pasta que foi reproduzida e entregue para as professoras de cada
ano escolar a fim de conhecerem, analisarem e escolherem jogos para seu cotidiano em
sala de aula. Os jogos que antes ficavam somente com as professoras interessadas ou
nos armários da sala de coordenação ganharam um espaço. Na sala dos professores,
ficavam expostos acessíveis a todos, juntamente com uma pasta de empréstimos.
67
Imagem 1: Jogos catalogados e disponíveis na sala dos professores
Após solicitação da coordenação pedagógica e da direção, realizei uma vivência
(Apêndice 19) com os professores a partir dos jogos existentes na escola. A vivência
contou com a participação do grupo de seis professoras que lecionavam à tarde e a
coordenadora pedagógica. A participação foi calorosa, a partir do momento que
começaram a brincar, pois no início ao chegarem à sala disponibilizada para a atividade,
estavam tímidas e quietas. Começamos a brincar e todas se soltaram” e se envolveram
na brincadeira, e, posteriormente, com os jogos.
Pareciam as crianças jogando, agitadas, participativas, cheias de alegria e
diversão, livres; nada de rigidez, a relação foi de equipe e parceria para solucionar as
questões de cada jogo, mesmo sendo questões matemáticas para as crianças. Não
queriam parar de jogar, porém, prosseguimos com a fala mediante a situação vivida, as
professoras enfatizaram questões ligadas ao prazer de jogar e brincar com os jogos, os
conhecimentos matemáticos trabalhados, o barulho que fizeram, comparando-se aos
alunos e a necessidade de se encorajar e levar aqueles jogos para as crianças.
Envolveram-se com menor interesse na etapa anterior, que era analisar os jogos desde o
estímulo da caixa aos seus aspectos físicos, matemáticos, imaginários, incluindo novas
adaptações. Foi um momento produtivo que gerou no grupo maior interesse em utilizar os
diversos jogos que estavam à disposição delas e das crianças.
Posteriormente, houve a tentativa de desenvolver com as professoras do período
matutino, porém, não foi possível em virtude da dificuldade de reunir todas as professoras
ao mesmo tempo e em função do grande mero de atividades a serem desenvolvidas
após o mês de maio de 2008 pelas professoras dentro e fora da escola, inclusive, com a
implantação da Escola Integral e com cursos oferecidos pela Secretaria de Educação
do Distrito Federal.
No mês de maio, a pedido da direção, orientei os monitores (alunos de graduação
de faculdades particulares do Distrito Federal que estagiavam na instituição) na
68
catalogação dos outros jogos que foram disponibilizados nos computadores da sala dos
professores.
Já em meados do agosto de 2008, os jogos catalogados pelos monitores foram
disponibilizados a cada professora para que escolhessem os que lhe interessassem e
permanecessem na sala de aula até o final do semestre, enquanto os jogos que foram
catalogados e organizados na sala dos professores continuassem em circulação por toda
a escola.
4.7 O processo da pesquisa
Eu acho que a criança tá mais livre durante o jogo, é como
se ela não estivesse na escola... fala muito, expõe o
pensamento dela sem sentir que tá sendo vigiada,
avaliada... então, sai naturalmente o que ela sabe e a gente
percebe claramente o que ela sabe ou o... Jogo pra eles
é natural, não tem nada a ver com cobrança, não existe
menção para eles... jogo é pra jogar... é brincar.
Professora, 28 de maio de 2008.
Considerando a importância de conhecer e acompanhar a prática pedagógica da
professora participante da pesquisa acerca da apropriação do jogo de regras na
aprendizagem matemática, utilizaram-se os seguintes instrumentos de coleta de
informações: diário de campo, filmagem das entrevistas semi-estruturadas com a
professora e com as crianças, bem como das jogadas. Esse processo oportunizou um
acompanhamento desde a escolha dos jogos pela professora até a escuta das crianças
após cada jogo. Ao final, suscitou espontaneamente na professora o desejo de assistir a
filmagem da atividade com o jogo e a escrever a partir dessas observações.
A cada momento com os jogos foi estabelecido uma organização (observava o
planejamento com os jogos escolhidos e acompanhava o desenvolvimento da aula, ouvia
as crianças e a professora após a atividade com jogo). Porém, após duas entrevistas
durante a escolha dos jogos constatei que a professora trabalhava somente com o
objetivo de recreação e não para observação e acompanhamento do processo de
construção do pensamento matemático da criança. Percebi que ela não planejava
considerando os aspectos abordados na entrevista (Apêndice 20), entretanto, as
entrevistas oportunizaram a ela pensar em outras possibilidades para os jogos.
Durante a pesquisa de campo, acompanhei momentos marcantes de observação
da professora e suas escolhas e apropriações dos jogos que serão descritos
(Apêndice 23):
69
A escolha e a adaptação dos jogos pela professora.
A interação das crianças com os jogos.
A mediação da professora durante as jogadas.
O ouvir as crianças depois da atividade com os jogos.
A fala da professora após a atividade com os jogos.
4.7.1 A escolha e a adaptação dos jogos pela professora
No processo identifiquei como a professora escolhia os jogos e se apropriava
destes no planejamento pedagógico por meio de observações e entrevistas a fim de
compreender os objetivos ao desenvolver as atividades com jogos. O acompanhamento
desta apropriação envolveu também a adaptação e/ou produção de jogos pela
professora, buscando compreender como e o porquê de suas escolhas.
A observação durante a entrevista de planejamento com jogos e o fazer
pedagógico da professora foram extremamente importantes porque comecei a conhecer
sua intencionalidade e percebi que se apropriava dos jogos para a recreação das
crianças, sem observar o que se passava enquanto elas jogavam. Levava jogos
diferentes para as crianças se divertirem e para reforçar o conteúdo que estavam
estudando. Só depois compreendi que em função da entrevista ela passou a planejar e
olhar para o que as crianças estavam fazendo, assim pude entender o porq da escolha
e das adaptações dos jogos, quais eram seus objetivos e expectativas quanto ao jogar
das crianças, suas reações aos jogos, suas aprendizagens matemáticas e como ela
percebia a avaliação por meio deles.
Na maioria das vezes, ficávamos na sala dos professores, local onde estavam os
jogos catalogados e a professora escolhia os jogos e lá mesmo jovamos e
conversávamos sobre cada um deles. Ela escolhia entre os jogos já catalogados e ia até
a sala onde os outros jogos ainda não catalogados estavam e pegava o que lhe
interessava. Os momentos de diálogos e planejamento das atividades com jogos sempre
chamava a atenção de outras professoras da escola que estavam na sala e que,
posteriormente, acabaram influenciadas pelo desenvolvimento de atividades com jogos e
conversavam muito com a professora, inclusive organizavam atividades em que as
turmas jogavam juntas.
70
Imagem 2: Escolhendo o jogo o grande construtor (Apêndice 13)
4.7.2 A interação das crianças com os jogos
No momento de jogo, as crianças e a professora ficavam quase sempre dentro da
sala de aula, colocavam as carteiras no fundo e aproveitavam todo o espaço do chão
para realização das atividades lúdicas e quando o jogo exigia mais movimento iam para o
tio. Eu observava as crianças jogando e o papel da professora durante o jogo.
Acompanhava como ela apresentava o jogo e suas regras, como conduzia as crianças e
mediava as jogadas.
O jogo desafiava as crianças a solucionar as situações-problema, respeitando
determinadas regras, impulsionando a ir além e não a ter medo de hipotetizar e tentar. Ao
longo dos encontros, observava as crianças como reagiam a cada jogo e como iam
evoluindo em relação à construção do conhecimento matemático.
As crianças estavam sempre envolvidas com os jogos, curiosas, inquietas e
trocando idéias e hipóteses com os colegas enquanto a professora mediava alguma
criança em sua jogada ou, de acordo com o desafio apresentado, todas elas mantinham-
se atentas na resolução do mesmo.
Imagem 3: Jogando quantos azulejos cabem na parede? (Apêndice 15)
71
4.7.3 A mediação da professora durante as jogadas
Enquanto as crianças jogavam, a professora circulava nos grupos a fim de
acompanhar e provocá-las na resolução. Na maioria dos momentos, ela acompanhava
somente um dos grupos, isso ocorria quando escolhia mais de um jogo, a turma se
dividia. E, em atividades posteriores alternava as observações em outros grupos para
acompanhar cada criança. Cabe destacar que o(s) grupo(s) era(m) constituído(s) de
crianças diferentes a cada encontro, de modo que sempre ela estava circulando e em
contato com todas.
Quando as crianças decidiam no grupo modificar algumas regras, a professora
apenas questionava o porquê da decisão, porém, muitas vezes não deixava efetuarem
mudanças. Estava presente e mediando também nos processos de ganhar ou perder
quando as crianças ficavam bastante inquietas, porém, se resolviam bem, na grande
maioria das vezes, reclamavam pelo tempo não ter sido suficiente e diante disso da
forma de decisão do ganhador do jogo ser injusta.
A mediação para a professora foi se consistindo em acompanhar e auxiliar o
processo de resolução matemática das crianças por meio da fala e da utilização de
recursos materiais para manipulação. Ela buscava disponibilizar outros materiais para
manipulação além dos existentes na caixa de jogo, provocando e desafiando as crianças,
propiciando o avanço na aprendizagem por meio de sua interação, da interação com o
jogo e seus componentes e entre cada uma das crianças.
Imagem 4: Mediação durante o jogo matematicando com as compras (Apêndice 8)
72
4.7.4 O ouvir as crianças depois da atividade com os jogos
Esses momentos após a atividade com jogos e a partir da entrevista semi-
estruturada eram tranquilos, abertos às crianças que desejassem falar e havia uma
participação ativa, pois eram bastante comunicativas. Conversava com elas sobre o que
gostaram no jogo, como a professora acompanhava as jogadas e como resolviam os
desafios. Assim, podia compreender como as crianças vivenciavam aqueles momentos,
aprendiam e como acontecia a mediação da professora por meio dos jogos.
As entrevistas aconteciam após o término das atividades com jogos, íamos para
outro espaço da escola, que não a sala de aula, e conversávamos. Ao longo da pesquisa,
passei a levar os jogos para o momento das entrevistas, a fim de que as crianças
manipulassem e tivessem maior motivação ao contar como foi jogar, bem como no que a
professora acompanhava-os.
Imagem 5: Manuseando e conversando sobre o jogo o grande construtor (Apêndice 13)
4.7.5 A fala da professora as a atividade com jogos
Após cada atividade com jogos, conversava com a professora sobre o momento
de jogo e as jogadas das crianças. As entrevistas aconteciam no período da tarde,
horário inverso à aula, momento no qual ela tinha disponibilidade. Reuníamos na sala dos
professores ou na biblioteca e falávamos sobre cada jogo escolhido, as jogadas das
crianças, os momentos imprevisíveis ocorridos, as aprendizagens, o processo de
mediação e a avaliação do conhecimento por meio dos jogos. Eram momentos ricos, de
troca e reflexões sobre o fazer pedagógico.
Esses quatro momentos descritos foram de grande relevância para a pesquisa,
pois destacaram processos importantes tamm para a professora pesquisada,
desencadeando reflexões de ordem trica e prática.
73
Todas as entrevistas com a professora contribuíram para a descoberta e a
compreensão de sua apropriação pelos jogos. Essas entrevistas possibilitaram também a
reflexão acerca da escolha, da adaptação e da produção desses jogos para as crianças.
Além de compreender a apropriação dos jogos pela professora, observar suas mediações
com as crianças propiciava refletir sobre como concebia o jogo de regras na
aprendizagem matemática.
Durante a entrevista com a professora, as as atividades com os jogos,
retomávamos o que havia acontecido durante as jogadas e ela refletia sobre sua ação
pedagógica, descobrindo a necessidade de observar as crianças durante esses
momentos e de dar continuidade ao que foi tratado durante aquelas atividades, pois eram
muito ricas em trocas de conhecimento e acompanhamento da elaboração do
pensamento matemático infantil.
Tudo isso suscitou na professora desejos e desafios. Ela sentiu vontade de
assistir aos vídeos de cada atividade desenvolvida com as crianças e começou a
escrever sobre suas reflexões. Cabe ressaltar que este interesse surgiu da professora,
acredito que em decorrência do movimento causado pela pesquisa. Fiquei muito feliz e
comecei a repassar para ela os vídeos referentes a cada atividade acompanhada e,
pretendo ainda ler suas reflexões acerca desses momentos.
A partir desses esclarecimentos, faz-se necessário conhecer as categorias
oriundas da pesquisa de campo. Na sequência, apresentam-se as análises e as
discussões acerca dessas categorias, considerando os objetivos desse estudo.
74
CAPÍTULO 5 - RESULTADOS E ANÁLISES: A APROPRIAÇÃO DO
JOGO
Há que existir, portanto, na prática docente, espaço para a
palavra do professor e do aluno, para o exercício da
argumentação e da crítica.
Rios, 2001, p. 129.
A imersão em um ambiente propício à pesquisa, ao brincar e ao jogar possibilitou
a realização dessa pesquisa, iniciada em agosto de 2007, período em que fui conhecer e
participar efetivamente das atividades pedagógicas desenvolvidas na instituição pública
voltada aos anos iniciais do Ensino Fundamental, 2º ao 5º ano.
As atividades acompanhadas envolviam reuniões e coordenações com a
presença das professoras, do pesquisador e de alguns alunos da UnB, às segundas-
feiras e sextas-feiras. Em seguida, também iniciei o acompanhamento das aulas a fim de
identificar os sujeitos da pesquisa, observava aulas de professoras que propunham
atividades com jogos para desenvolver a aprendizagem matemática das crianças sendo
que, ao final, a pesquisa aconteceu somente com um sujeito, a professora do 3º ano.
Nesse momento é primordial relembrarmos o conceito de jogo abordado nesse
estudo: o jogo de regras para favorecimento da aprendizagem matemática é
normalmente concebido e proposto pelo professor e está além do material manipulável,
ele se constitui também na dimensão imaginária. Enquanto a dimensão concreta envolve
o cativar pelo manuseio, pelas cores, interação e o que é palpável, o imagirio traz a
espontaneidade, extrapola o controle, é abstrato, pois desafia o conhecimento,
prevalecendo assim, o desejo e a criação. Esse jogo de regras envolve as duas
dimensões, porém, tem regras e objetivos prévios desde o momento em que é criado e
apropriado pelo professor até as jogadas das crianças no ambiente escolar. Existem
objetivos diferentes ou conflitantes: de quem cria o jogo, de quem se apropria dele e de
quem o joga.
É importante ressaltar que, as a pesquisa de campo, organizar os dados e
definir as categorias foi um processo longo e difícil em razão da quantidade, diversidade
e da riqueza de dados e momentos acompanhados (Apêndice 23). Nesse sentido,
retomei aos seguintes objetivos do estudo para identificar os momentos mais
significativos e desenvolver as análises:
Investigar a apropriação do jogo de regras pelo professor das séries iniciais do
Ensino Fundamental para o favorecimento da aprendizagem matemática.
75
Analisar como o professor seleciona e se apropria dos jogos de regras no
planejamento pedagógico.
Analisar por que e como ocorre a adaptação dos jogos de regras pelo professor.
Investigar as mediações pedagógicas realizadas durante a apropriação dos jogos
de regras.
Identificar como os jogos de regras participam do processo de avaliação do
professor.
Como já destacado, acompanhei quatro momentos diferenciados da ação
pedagógica da professora: a escolha e planejamento das atividades com jogos (criados
por alguns estudantes do curso de Pedagogia da UnB) para desenvolver a aprendizagem
matemática; a observação, em sala de aula, das atividades planejadas; a entrevista semi-
estruturada com as crianças as as atividades com jogos; e a entrevista semi-
estruturada com a professora depois de desenvolvidas essas atividades.
A diversificação de instrumentos utilizados ocorreu em virtude da necessidade de
compreender como acontece a seleção e a apropriação dos jogos pela professora, bem
como ela media e avalia a aprendizagem das crianças. Procurei ouvir tamm as
crianças durante o processo a fim de acompanhar o envolvimento destas com as
atividades e entender a prática pedagógica da professora ao se apropriar de cada jogo.
Nesse sentido, apresento um quadro com a descrição dos momentos
acompanhados juntos da professora e das crianças e os instrumentos utilizados para
compreender como se dava a apropriação pelos jogos.
Quadro 3: Momentos e instrumentos constituintes da pesquisa
Momentos
Instrumentos
Escolha dos jogos e planejamento da atividade
Entrevista semi-estruturada
Atividade com jogos Observação
Conversa com as crianças após a atividade Entrevista semi-estruturada
Conversa com a professora após a atividade Entrevista semi-estruturada
76
Todos os momentos foram registrados: a escolha dos jogos, o planejamento das
atividades e a entrevista com a professora foram gravados e abordados no caderno de
campo, enquanto a observação da atividade e a entrevista com as crianças foram
filmadas. Ao longo da pesquisa de campo fui refinando o olhar para o objeto em questão,
com dificuldades porque estava bastante envolvida com o ambiente escolar, o objeto de
estudo e a professora participante.
Aos poucos, as gravações e entrevistas foram degravadas, lidas, ouvidas ou
assistidas. Posteriormente, foram criadas as categorias obtidas na pesquisa por meio das
observações e das entrevistas, envolvendo as ações da professora tamm junto das
crianças e suas falas. Assim, apresento a síntese, com as seguintes categorias e pontos
que envolvem cada uma delas:
1. A necessidade da noção de imprevisibilidade ao desenvolver atividades com jogos
O jogo e seus momentos imprevisíveis envolvendo a interação entre as
crianças, o conhecimento matemático, a imaginação e o planejamento do
professor.
2. Os processos suscitados pelos jogos na aprendizagem matemática
O jogo propicia a aprendizagem matemática por meio da construção do
pensamento pela criança, através da utilização do corpo e dos materiais
concretos, da mediação do professor durante as jogadas, intervindo na
zona de desenvolvimento proximal. Além disso, o jogo possibilita ao
professor acompanhar e conhecer a aprendizagem da criança, se
tornando um instrumento de uma avaliação natural e sem receios.
3. A reflexão do professor sobre sua prática pedagógica a partir do jogo
O jogo oportuniza o professor refletir sobre seu fazer pedagógico,
buscando novas formas de ação junto a produção do conhecimento
matemático das crianças.
Diante das categorias, apresenta-se a seguir as discussões suscitadas acerca das
análises realizadas para compreensão de como aconteceu a apropriação do jogo pela
professora neste estudo.
77
5.1 Imprevisibilidade: presença constante no jogo
Eu vou ter que planejar um jogo por grupo... Separar os
grupos e cada semana estar com um grupo... o tempo do
jogo é maior do que a gente prevê.
Professora, 2 de junho de 2008.
Segue abaixo, a descrição do momento após a apresentação do jogo batalha
matemática (Apêndice 3) à turma e leitura das regras pela professora pesquisada, que
era habituada a trabalhar com jogos.
O primeiro contato das crianças com o material foi surpreendente para a
professora que ficou ansiosa. Elas começaram a manusear e
brincar com o material; deixando para jogar depois... A professora
ficou bem apreensiva com a agitação no manuseio das peças e as
modificações propostas pelas crianças no jogo.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
Nesse caso, a professora estava ansiosa com o jogo escolhido para as crianças,
desejando que elas imediatamente jogassem. Porém, antes de lerem as regras no grupo,
as crianças, espontaneamente, começaram a manusear as peças antes de decidirem ler
e jogar, o que causou frustração na professora, pois esperava a leitura das regras e,
imediatamente, o início da jogadas.
Imagem 6: Brincando com o material dourado e as peças do jogo batalha matemática
Somente após manusearem os componentes do jogo que eram diversos e
atrativos, se organizaram e jogaram. Em um dos grupos, as crianças modificaram
algumas regras, deixando o jogo mais demorado, o que não causou desistência por parte
78
de nenhum jogador do grupo. Elas permaneceram até o final do tempo destinado ao jogo
atentas a cada desafio e resolução dos colegas. Já a professora demonstrou sua
frustração diante do manuseio das peças e também dizendo que elas haviam mudado as
regras, porém, sentou junto de um dos grupos para acompanhar as jogadas e se
envolveu.
Confirma-se assim, o que Huizinga (1954, p. 13) enfatiza: o jogo lança sobre s
um feitiço: é fascinante, cativante. Absorve inteiramente a criança na abstração e no
imaginário, cativa e desafia seu conhecimento, além de envolver também a própria
professora, à medida que ela se dispõe a observar e participar do jogo. No estudo
observa-se que este é o diferencial da professora que, ao se ver na situação não
planejada, observa e decide jogar com as crianças para compreender o que, e como
estavam realizando aquele jogo. A respeito dessa situação, disse ela:
Mas objeto chama atenção, não da forma que chamou, não sei, ele deve
criar um mundo, alguma coisa no imaginário dele... o material
dourado tem que ver a gracinha que ele fica brincando.---Ele usa o
material como brinquedo. É só mexendo... mexendo. Ele é muito de
ficar mexendo ali naquela estante, lá tem letras, tem tampinhas,
ábaco---.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo batalha matemática, 9 de maio
de 2008)
Olhar para o jogo, sua imprevisibilidade e seu poder cativante ims desafios para
a pesquisa e também para a professora, já que o objeto estudado envolveu também o
imaterial, não simplesmente o jogo na caixa, mas como era percebido e sentido por cada
criança e pela professora. O jogo está presente em toda a vida humana, apesar de na
fase adulta reprimirmos nossa ludicidade, seria importante trabalhá-la no ambiente
escolar, a favor de diversos conteúdos, inclusive da matemática, ainda vista como uma
grande vilã. Tudo isso, em decorrência da forma pela qual é vista socialmente e também
trabalhada pela escola, muitas vezes, desconectada das situações cotidianas e que
fazem sentido a cada criança.
Com o concreto mesmo. Manusear mesmo e isso deu uma frustração na
gente. A gente vai com a expectativa do jogo, a gente não esperava
essa reação deles. A gente não planeja, sei lá... acho que vou tentar
planejar e deixar um momento para eles brincarem sem o objetivo, para
eles conhecerem as peças, ter um momento para isso. A gente--- fica
frustrada. (rss) Nós temos uma mania de querer dominar as coisas,
de querer dar conta de tudo.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo batalha matemática, 9 de maio
de 2008)
79
A professora diferenciou o brincar e o jogar, enfatizando que ao ir com a
expectativa do jogo, com um planejamento organizado e com regras já pré-definidas pelo
criador do mesmo, sentiu-se mais segura e no controle da situação, no entanto, quando
as crianças brincaram, ficou frustrada, afinal, as regras foram quebradas por elas e a
experimentação ganhou espaço. Essa situação inesperada provocou a professora que
ficou intrigada e pensativa.
Dessa forma, é primordial refletir sobre o papel do professor ao trabalhar com
esse jogo, pois deve estar aberto ao novo e ao imprevisível, considerando que está
lidando com o conhecimento e a construção da criança a partir do desafio, desta que
dispõe do desejo e do imagirio. Na situação apresentada anteriormente, a professora
após pensar sobre o ocorrido refletiu sobre sua postura e visão esperada acerca do jogo.
É nesse aspecto que Huizinga (1954, p. 5) afirma ainda que no jogo existe
alguma coisa em jogo que transcende as necessidades imediatas da vida e confere um
sentido a ação. Isso vem ao encontro com outra fala da professora:
Observar o jogo porque a gente não tá trabalhando só aquilo ali
[referindo-se a matemática] tem mais coisas envolvidas. Por isso
que tem que tá atento e observar mais. O jogo te dá mil
possibilidades de trabalhar.
(Entrevista com a professora após a aula, jogos casa da matemática: em busca
do ábaco perdido; jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 2 de junho de 2008)
Por meio dessa fala norteada pelos jogos casa da matemática: em busca do
ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos (Apêndices 4, 5 e 6), a
professora nos propôs a reflexão sobre as jogadas das crianças que estavam em contato
com diversos conhecimentos matemáticos e situações cotidianas que envolviam outras
áreas de conhecimento. Assim, pensamos também em sentimentos presentes durante o
jogo, como incerteza, medo, frustração, ouvir, esperar o outro e ganhar ou perder.
Nota-se que a apropriação do jogo pelo professor e seu olhar sobre a
imprevisibilidade de forma crítica propiciou reflexão o que contribuiu para a prática
pedagógica e avanços na aprendizagem infantil, permeando o processo de avaliação, ou
seja, observar as jogadas da criança, jogar junto, conhecer suas estratégias, como
estabelece conexões e construir o pensamento. Além disso, possibilitaria novas
descobertas e tentativas, trabalhando com as regras, o contato com o próprio
conhecimento e com o conhecimento do outro, sem algo determinado, pronto e acabado
no intuito de propiciar aprendizagens.
80
Isso nos revela o quanto o professor deve conhecer as possibilidades do jogo
para o favorecimento da aprendizagem matemática a fim de se apropriar dele e oferecer
às crianças oportunidades diferenciadas de construção do pensamento. Trabalhar com
jogos no contexto escolar, como já enfatizado nos capítulos anteriores, requer do
professor um conhecimento acerca de suas implicações e desafios. A partir do momento
que o professor conhece o jogo, joga-o e se apropria dele, começa a observar a interação
das crianças com o mesmo, podendo, assim, construir novas formas de se aproximar
destes sujeitos matemáticos e desenvolver atividades produtivas e interessantes.
Trabalhar com jogos de forma crítica demanda o professor estar aberto ao próprio
processo de descoberta e desenvolvimento de seu fazer pedagógico. Abaixo, segue
relato sobre o jogo criado pela professora corrida da tábua (Apêndice 7). Neste jogo, as
crianças, em dupla, resolveram a tabuada a partir de cartas multiplicativas utilizando um
relógio ou uma ampulheta para marcar o tempo de jogada de cada um e, além disso,
conferiram junto com o colega o resultado da multiplicação e, depois, trocaram as cartas
com outras duplas.
Eu pensei que fosse mais pido [ri meio nervosa], mas não deu certo
o! Mas agora eles “tão entendendo, agora o que é que
acontece...
(Fala espontânea da professora durante o recreio, 5 de junho de 2008)
A professora se deparou como em momentos anteriores de jogadas com a
imprevisibilidade e com a reflexão sobre seu planejamento pedagógico e ação junto às
crianças quando percebeu que o jogo as envolveu bastante e o foi possível terminar
antes do recreio. Além de as duplas resolverem no jogo a multiplicação, teriam de medir
o tempo, os procedimentos que exigem atenção, estruturação do pensamento e rapidez,
o que muitas vezes confundiram as crianças ou fizeram com que maioria delas apenas
jogasse com as cartas, já que era mais envolvente que contar o tempo.
No relato de Bianca acerca do jogo, nota-se que a professora apesar de trabalhar
algum tempo com jogos tentava controlar as crianças durante esses momentos.
Pesquisadora: Se vocês fossem chamar as outras crianças da 2ª série
para jogar, o que vocês iam falar desse jogo?
Bianca: Que é legal se quiser fazer uma mudança pode.
Pesquisadora: Pode fazer mudança?
Bianca: Se a tia deixar pode.
(Entrevista com as crianças após o jogo corrida da tábua, 5 de junho de 2008)
81
Percebe-se que a professora foi provocada pela imprevisibilidade durante as
jogadas e ficou em processo de reflexão sobre seu fazer pedagógico, porém, ainda
tentava controlar as crianças durante as atividades com jogos a fim de manter um
controle do que está acontecendo, como no relato abaixo, as uma atividade com os
jogos “matematicando com as compras (Apêndice 8) e descubra o segredo (Apêndice
10).
Pesquisadora: E teve surpresas? Você disse que não, ?
Professora: É, não teve surpresas. Acho que eu “tô ficando
preparada (rs). Eu “tô morrendo de medo desse aqui do futebol
[referindo ao jogo que levará na aula seguinte para a turma] porque eu
sei que eles o ficar empolgassimos.
Pesquisadora: Medo em relação a que?
Professora: Ah, como é que eles o reagir no início, vão juntar todo
mundo querendo... tô tentando elaborar daqui pra quinta-feira.
(Entrevista com a professora após a aula, jogos matematicando com as
compras e descubra o segredo, 10 de junho de 2008)
Ao longo das atividades com jogos, a professora foi percebendo a presença da
imprevisibilidade no jogo e buscando trabalhar com essa questão dentro do planejamento
como intenção de aprendizagens específicas. Acompanhei, durante a pesquisa, vários
momentos em que a imprevisibilidade se fez presente e, nas últimas observações, a
professora se apresentava mais integrada com o imprevisível, reconhecendo-o como
parte do jogo.
Dessa forma, a situação a seguir retrata sua tranquilidade quanto à manutenção
do que planejou ao escolher os jogos quantos azulejos cabem na parede?; o barato
das continhas e patinhos na lagoa (Apêndices 15, 16 e 17):
Eu tinha separado três jogos, esse e mais dois [referindo ao jogo
quantos azulejos cabem na parede?”] para dividir entre eles. Aí eu
percebi que todas as crianças queriam jogar quantos azulejos
cabem na parede? e o tempo só ia dar para um jogo, deixei eles
brincarem com as peças.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo quantos azulejos cabem na
parede?, 2 de julho de 2008)
Assim, é primordial destacar que um dos desafios educacionais é se apropriar dos
jogos no contexto da aprendizagem escolar e reconhecer a imprevisibilidade, porém,
considerando que, muitas vezes, o professor deseja e tenta ter o controle das crianças e
do planejamento pedagógico. No entanto, a imprevisibilidade envolve o não-esperado, o
82
que não se tem controle e, nesse caso, diz respeito ao conhecimento com o imaginário.
O jogar abrange o imprevisível no sentido de não saber o que e qual sentimento e
conhecimento serão provocados. Essa característica tamm deixa o jogo mais
envolvente e intrigante, e o professor para desenvolver um trabalho crítico com jogo deve
ter essa clareza, pois não é instigante somente por sua composição concreta, mas pela
provocação e imprevisibilidade propiciadas. A dimensão imaginária no jogo ganha espaço
e escapa ao controle, ao planejamento estabelecido. Mas vale ressaltar que o brincar
está imerso nas crianças que buscam sempre prazer, diversão e, nesse sentido, cabe
enfatizar as idéias de Huizinga (1954, p. 10) as crianças e os animais brincam porque
gostam de brincar, e é precisamente em tal fato que reside sua liberdade. Diante dessa
realidade, seria interessante o professor se apropriar do brincar a favor da educação,
propiciando à criança aprendizagem prazerosa, desafiadora e criativa. Dessa forma, na
escola seria relevante tamm o professor dispor de momentos nos quais as crianças
possam brincar livremente com jogos diversos, bem como os jogos de regras.
É importante que o brincar não seja concebido somente como um meio de
recreação, mas tamm um meio propiciador de trocas e aprendizagens tamm entre o
professor e a criança. Por meio do jogo, em especial o jogo de regras, vivem-se diversas
situações do mundo adulto e infantil e, na escola, temos a possibilidade de perpassar por
vários aspectos humanos geradores de aprendizagem assistemática, tais como: a
socialização, o desenvolvimento emocional, afetivo, cognitivo, permeando o individual e o
coletivo. Nesse sentido, esse jogo seria uma ferramenta cultural que propicia à criança
uma aprendizagem prazerosa, favorecendo seu conhecimento e autonomia.
Huizinga (1954, p. 6) destaca ainda que: “reconhecer o jogo é, forçosamente,
reconhecer o espírito, pois o jogo, seja qual for sua essência, não é material. Nota-se,
portanto, que há outra dimensão nessa concepção cultural, voltada ao imaginário e que
não está ao controle do professor. Assim, é importante considerar ao ter o jogo como um
instrumento cultural e, consequentemente, como estratégia pedagógica, sua
imprevisibilidade e que por meio dele é possível conhecer a criança e seu
desenvolvimento nos aspectos emocionais, sociais e cognitivos, bem como cria novas
situações e formas de resolução e aprendizagem. Dessa forma, a escola deveria se
atentar a essa perspectiva e suas possibilidades. O imaginário faz parte da vida infantil,
daí o desafio de interligá-lo à aprendizagem escolar para propiciar aprendizagens
significativas.
O imprevisível não está ao alcance e controle do adulto, não faz parte da
dimensão concreta, mas sim da dimensão imaginária e abstrata que trata do sentido e do
83
desafio que aquele jogo ou desafio do jogo traz para a criança que está jogando e que o
professor ou o adulto não dominam, pois envolve o conhecimento e as estratégias de
cada jogador. Mesmo diante das regras a obedecer, o jogador é desafiado também por si
mesmo, pelo conhecimento e pelo outro, desenvolvendo estratégias e possibilidades de
resolução.
Em situações escolares, muitas vezes, professores do Ensino Fundamental não
se apropriam do jogo como ferramenta cultural por receio, pois tê-lo como estratégia
pedagógica implica lidar com a ansiedade e o novo em virtude do imprevisível, ao não ter
controle do que pode acontecer.
Momentos, situações e processos imprevisíveis se destacaram durante a
pesquisa:
No próprio jogo de regras em seus aspectos físicos e cognitivos. Alguns
exemplos de aspectos físicos: não saber em qual casa o peão vai cair,
no caso das trilhas; não ter controle dos dados, cartas desafio e cartas
surpresa. E, nos aspectos cognitivos, no sentido de como desenvolver a
resolução e nesse sentido cada criança buscava um recurso concreto
diferente: dedo, palito, material dourado, registro no papel, seja em
meros ou desenhos.
A professora em situações inesperadas diante do conhecimento das
crianças, reconhecendo-as em seu pensar e suas potencialidades,
inclusive quem era considerado com dificuldade de aprendizagem”.
A ansiedade e outros sentimentos da professora diante das reações das
crianças ao ver o jogo (alegria, frustração) e, durante as jogadas
mobilizando, posteriormente, uma reflexão sobre seu fazer pedagógico.
O tempo do jogo no que diz respeito à duração, ao seu início e término,
pois quase sempre extrapolava o tempo planejado.
O reconhecimento da necessidade de o planejamento ser adaptado e
replanejado a partir da imprevisibilidade nas interações entre o
conhecimento das crianças.
84
Diante desses momentos, cabe refletir sobre a existência da imprevisibilidade no
jogo e que não se limita apenas quanto ao cumprimento das regras e, contudo, o
professor deve estar ciente da presença desta característica, que constitui o jogo como
atividade lúdica, inclusive que permeia nossa vida. Ao conceber a imprevisibilidade ligada
ao jogo, o fazer pedagógico se torna um meio para conhecer o pensar da criança e
acompanhar sua aprendizagem.
A partir dessas apreciações, prosseguiremos para a próxima categoria a fim de
compreender o espaço dos jogos na educação matemática e como foram apropriados
pela professora.
5.2 Jogo e aprendizagem matemática: novas possibilidades
No processo educativo, teoria e prática se associam e a
educação é sempre prática intencionalizada pela teoria.
Pimenta e Anastasiou, 2002, p. 17.
Nesse momento, cabe atentarmos aos objetivos do presente estudo a fim de
prosseguirmos as alises e as discussões a partir da pesquisa de campo.
Já na primeira observação de aula em 2007, observei a apropriação da professora
pelos seguintes jogos: jogo da velha matemática e “mavi: matemática aplicada à vida.
Pude notar por meio da regularidade nas observações e, posteriormente pela própria fala
que ela escolhia os jogos pelo atrativo físico e conteúdo trabalhado, sem a pretensão de
observar atentamente como aconteciam os processos cognitivos das crianças durante
as jogadas, seu objetivo era somente recreação e fixação de conteúdos matemáticos.
O primeiro jogo que acompanhei em 2008 foi batalha matemática escolhido por
ela em função da diversidade de acessórios e estrutura física diferente dos jogos até
então conhecidos pelas crianças daquela turma, esse jogo trazia aproximações ao
xadrez, um tabuleiro com distribuição diferenciada. Além disso, o jogo possibilitava a
resolução de desafios multiplicativos de uma forma prazerosa e imprevisível, utilizando
vários recursos materiais para obter as soluções, um deles, o material dourado que foi
inserido no jogo pela professora com objetivo de desafiar as crianças durante o processo
de elaboração do conhecimento matemático. Para que todos pudessem jogar, ela
reproduziu durante o planejamento o jogo a partir de objetos e sucatas. Embora a
professora ainda não houvesse trabalhado com o conceito de multiplicação, decidiu
desafiar as crianças e observar como resolveriam as situações. É primordial salientar que
85
ela sempre trabalhou com desafios, sejam eles orais, em forma de brincadeiras, durante
a rodinha junto às crianças e registrados no caderno.
A professora contou que conheceu o jogo e achou muito interessante e
decidiu dividir a turma em dois grupos. Perguntou as crianças quantas
eram e quantas ficariam em cada grupo. Marcos disse que o que
estava espalhado no chão era somente um tipo de jogo e já
conhecia como jogava. Ela abriu espo para que ele contasse
como se jogava. Marcos disse que conheceu o jogo na “Manhã de
jogos matemáticos... A professora fez perguntas a ele sobre o jogo e
também para que utilizaria cada material... As crianças estavam
inquietas nas carteiras querendo manusear os componentes do jogo.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
Imagem 7: À direita, jogo reproduzido pela professora
Nesse momento, a professora tentou controlar o desejo de conhecer e manusear
o jogo com o objetivo do jogar imediato por parte das crianças o que não ocorreu, pois
elas queriam conhecê-lo e ouvir a experiência do colega que conheceu o jogo quando ele
foi doado à escola, na “man de jogos matemáticos. Mesmo mantendo as crianças
sentadas, ainda nas carteiras, a professora não conseguiu controlar a ação das crianças,
assim, posteriormente, deixou a situação acontecer naturalmente. Notamos nessa
situação sua necessidade de controlar” o prosseguimento das atividades de acordo com
os objetivos planejados. Além disso, constatamos que o jogo, mesmo com as regras, não
é atividade psicologicamente controlada, pois o movimento entre a interação das crianças
e ele é imprevisível e não está no controle do adulto, ou seja, do professor, mas sim do
grupo que desenvolve a atividade.
No dia da atividade a professora se mostrava bem apreensiva. Logo no início do
jogo, uma das equipes decidiu mudar a regra de movimentação no tabuleiro o que
provocou ansiedade na professora, porém, acompanhou as jogadas da equipe
tranquilamente.
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Imagem 8: Momento da apresentação do jogo batalha matemática pela professora
Mesmo que o professor tenha seus objetivos ao levar jogos para a sala de aula,
existe a incerteza causada pelo ato e pela ação cognitiva de cada criança. Caberia então
ao professor buscar as ferramentas culturais - brincadeiras, jogos e brinquedos,
estratégias pedagógicas - que valorizassem e propiciassem momentos de investigação e
conhecimento a fim de conhecer como as crianças pensam e desenvolvem a matemática.
Nesse sentido, é primordial a inserção de desafios e adaptações no jogo no intuito de
ampliar a zona de desenvolvimento proximal e possibilitar o avanço cognitivo da criança.
Nesse sentido, a professora ao levar o jogo para as crianças inseriu um objeto
para manipulação, representação simbólica e resolução durante as jogadas, ou seja, o
material dourado.
Marcos disse que os palitos que estavam na caixa do jogo seriam
usados para resolver a multiplicação. A professora disse: É... palito
não... Vocês o usar hoje o quê? Olha o que eu trouxe? disse
apresentando o material dourado. As crianças reconheceram o
material.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
Vê-se a inserção pela professora de outro recurso material no jogo com o objetivo
de desafiar as crianças na resolução tornando o jogo mais próximo do material
pedagógico, estimulando o pensamento abstrato e a representação simbólica para além
daquela suscitada pela estrutura do jogo, além de oportunizar uma nova forma de
contagem e registro dos pontos obtidos nas jogadas.
Essa adaptação aconteceu mesmo sem ter apresentado o conceito de
multiplicação, o que possibilitou às crianças tentarem, agirem e criarem naturalmente
outras formas de agrupamentos até obter a resolução, sem um modelo predeterminado.
Ademais, diante desse material concreto, Muniz (2001, p. 60) ressalta: a simples
presença de estrutura matemática no brincar não garante a realização de certas
87
atividades matemáticas, e mais, a presença de certa atividade matemática não garante a
existência de aprendizagem [...]. Assim, pudemos constatar suas iias, pois a garantia
da aprendizagem matemática no brincar está ligada à participação das regras
matemáticas nas regras do brincar e do jogar.
Imagem 9: Apresentando cada peça do jogo batalha matemática
Dessa forma, o professor deveria, como revela nossa professora participante,
sempre pesquisar e buscar novos desafios para as crianças, assim, o jogo de regras
contribuiria para trabalhar os diversos conhecimentos, elaborações e resoluções,
livremente. É importante enfatizar que, mesmo que a apropriação do jogo pelo professor
seja intencional e com objetivos, no momento em que ocorre a interação deste objeto
concreto com o pensamento das crianças ele ganha novo sentido e significação. O jogo
motiva, envolve e desafia o pensamento e não é mais o professor quem controla a partir
desse objeto, diante disso, retomamos as palavras de Huizinga (1954) quando diz que no
jogo há algo que transcende.
Lembramos também de Kishimoto (2005) ao destacar que, quando o adulto
intencionalmente cria situações lúdicas para estimular a aprendizagem, surge a dimensão
educativa, lembrando sempre da importância de manter a vontade da criança de brincar.
A autora afirma que o jogo aproxima a criança do conhecimento científico e permite que
ela vivencie situações diversas, desde a imitação até a resolução de problemas. A
criança experimenta situações adultas e aprende a criar e lidar com as regras. Kishimoto
(2005, p. 37-38) acrescenta que:
A utilização do jogo potencializa a exploração e a construção do
conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do lúdico, mas
o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a
influência de parceiros bem como a sistematização de conceitos em
outras situações que não jogo.
88
A criança deseja buscar novos conhecimentos e, nesse caso, se tornam
significativos e o professor tem a possibilidade de desenvolver um trabalho mais rico,
interativo, criando outros contatos com o brincar e os jogos, como estimuladores da
criatividade e facilitadores da aprendizagem.
A partir dessas iias, ressaltamos Muniz (2001) ao destacar que o brincar não é
algo pronto e que construções cognitivas, divertimento, imprevisibilidade, coletividade,
situações que remetem ao nosso cotidiano, gerando novas aprendizagens. Em suas
pesquisas (1999), salienta que devemos atentar para não utilizarmos jogos com objetivo
de camuflar os problemas diticos do ensino da matemática sem resolvê-los. Segundo
ele, o jogo deve surpreender, intrigar e desafiar a criança, além de possibilitar a resolução
de problemas.
Acrescenta ainda que é necessário ter cuidado ao trabalhá-los para não
utilizarmos o prazer natural das crianças pelos jogos para desenvolver situações de
atividades matemáticas pouco significativas. Isso desestimularia as crianças e,
consequentemente, produziria uma aprendizagem mecânica, sem sentido e destituída de
desejo, as expectativas das mesmas seriam desconsideradas. O autor nos faz refletir
sobre aquilo que s, adultos, propomos à criança no jogo e aquilo que realmente
acontece no momento que joga, assim, enfatizamos que a atividade matemática está no
jogo realizado pela criança.
Pesquisadora: E quais as principais aprendizagens matemáticas
realizadas ali?
Professora: É o conceito da multiplicação e a memorização pra quem
já tem o conceito.
Pesquisadora: Os Escravos de Jó?
Professora: É... (rs) o próprio folclore, as cantigas, a brincadeira e eu
acho também as relões, vo estar com o outro, vo estar
brincando com o outro porque não foi escolha sua aquele parceiro,
foi o jogo que fez. Aprende a estar com o outro... Tá vendo que a
gente conversar sobre o que aconteceu vale a pena! A gente acaba
lembrando das coisas... ---
Pesquisadora: O que é que foi positivo naquela atividade?
Professora: Positivo porque eles ficaram envolvidos, eles “tavam
tranquilos em relação ao jogo, brincando no jogo tranquilo. Deu
tempo de eu observar algumas crianças.
A gente precisa “tá a par do jogo para entender o que a criança
“tá fazendo porque mesmo vo conhecendo o jogo previamente,
costuma ter algumas modificações e se vo não “tá
acompanhando desde o icio, vo acaba não entendendo o que
“tá sendo feito. E nesse como era igual pra todo mundo, tava
tranquilo acompanhar.
(Entrevista após a aula, jogos casa da matemática: em busca do ábaco
perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 2 de junho de 2008)
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A professora percebeu que o brincar, o jogar e a aprendizagem matemática
estavam muito próximos e que por meio deles podiam ocorrer diversas interações e
aprendizagens não só na matemática; assim, agiu com mais naturalidade, sem tentar
controlar tanto. Isso possibilitou que ela acompanhasse cada criança, o que, até aquele
momento, não estava tão nítido ao se apropriar dos jogos. Além disso, reconheceu a
importância de relembrar o que acontecia durante as atividades, pensava e falava sobre
a prática, remetendo a reflexões e olhares ainda não definidos.
Assim, o processo de aprendizagem pode ser prazeroso, e o jogo ser uma
estratégia que complemente a aprendizagem matemática. Vigotski (1933) ressalta que os
jogos traduzem um mundo imagirio. O jogo possui elementos do mundo da criança e
do adulto, envolve novas aprendizagens e conhecimentos matemáticos, aprendidos ou
não na escola.
Temos expectativas ao criar e/ou se apropriar dos jogos e devemos, no entanto,
atentar à utilização de recursos para manipulação durante as resoluções e as mediações
realizadas, compreendendo as estratégias diferenciadas que surgirão das crianças
acerca do que esperamos. Vê-se ainda a necessidade do professor ter objetivos e
conhecer mais sobre as estruturas que o jogo pode despertá-las, bem como as
possibilidades de aprendizagem e construção cognitiva, favorecendo a descoberta de
novos conhecimentos através do contexto sociocultural.
Desse modo, o jogo é produtivo ao professor, pois por meio desta ferramenta
cultural, facilitadora da aprendizagem, possibilita-se às crianças o desenvolvimento da
autonomia, da capacidade de pensar, criar, elaborar resoluções e estratégias, testar,
levantar hipóteses, desafiar seu conhecimento e vivenciar situações reais e/ou
imaginárias durante as jogadas.
É necessário, portanto, buscarmos o conhecimento sobre o que é jogo, o que ele
propicia, bem como a forma de desenvolvê-lo para que não se torne somente uma
estratégia pedagica para atender a repetições e respostas pré-elaboradas. O jogo deve
ser bem organizado desde a estética aos desafios e possibilidades de estratégias,
objetivando a criança avançar em suas elaborações enquanto joga.
Nesse sentido, cabe refletirmos sobre o papel exercido pelo professor no cotidiano
escolar no que diz respeito à apropriação de jogos, em especial, na matemática. O
professor deveria ser mais investigador e conhecer as implicações dessa apropriação,
assim, possibilitaria novos olhares e concepções, trazendo melhorias à aprendizagem por
meio do jogo. Ao lidar com jogos, o professor, segundo Muniz (2001), deve buscar a
criatividade da criança e não ter respostas prontas e desejadas. Assim, é importante
90
também trabalhar criticamente com os jogos e suas possibilidades, conforme afirmação
da professora pesquisada:
No jogo a gente tem a possibilidade de enxergar cada um no seu
tempo, na hora que está jogando. Fazer a mediação no tempo que
tem que ser feito e as crianças estarem jogando e aprendendo a
matemática de uma forma mais lúdica, não é um massacrar de
repetições de exercícios, elas estão ali jogando e aprendendo.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo aprendendo com as frutas, 27
de junho de 2008)
Isso nos faz lembrar que em geral temos uma realidade educacional reprodutora,
que muitas vezes trabalha a repetição e que o valoriza a criação, o pensamento da
criança, pois não há muitos professores com formação que considere esta abordagem de
forma reflexiva. Entretanto, a matemática não deveria ser reconhecida e tratada no
cotidiano de forma prazerosa e com sentido?
A aprendizagem matemática foi sendo concebida pela professora como um
processo de construção do pensamento da criança e, por meio do jogo, procurava
oportunizar momentos interativos entre as crianças nos quais pudessem desenvolver
seus conhecimentos matemáticos. Aos poucos ela foi percebendo que o jogo além de
propiciar momentos de elaboração dos conceitos matemáticos pelas crianças,
oportunizava a ela a observação e a escuta durante as jogadas. Quando observava,
ouvia e interagia com as crianças compreendia como elaboravam, construíam e
sistematizavam o pensamento matemático na escola, inclusive, através da manipulação
de material concreto.
Pesquisadora: Como você vê a aprendizagem matemática no jogo
quantos azulejos cabem na parede??
Professora: As formas, ligando e encaixando uma na outra, a questão da
subtração, adição ou multiplicação além da contagem, conservação,
posso observar o processo de resolução das crianças.
(Entrevista após a aula com a professora, jogo quantos azulejos cabem na
parede?, 2 de julho de 2008)
Enquanto a criança jogava sozinha ou em grupo, estava diante de desafios e,
para resolvê-los, buscava suas estratégias, criando maneiras de solucio-las. Durante
esses momentos a professora acompanhava seu raciocínio e suas construções passo a
passo, percebendo avanços e dificuldades. E a partir dessas observações ela passou a
desenvolver novas estratégias de trabalho, objetivando o desenvolvimento cognitivo de
cada criança, além de acompanhar outros processos subjetivos e sociais. Na educação
matemática, o jogo desafia o ser matemático.
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Nos anos iniciais, a educação matemática necessitaria ser concebida e tratada
com outros olhares, por meio da ludicidade, do concreto. Para isso, seria fundamental um
conhecimento acerca do jogo a fim de uma maior reflexão sobre sua apropriação no
cotidiano. Diante disso, haveria uma valorização do conhecimento da criança e suas
formas de apreensão dos conceitos matemáticos, sem rotulação ou exigências de
conceitos memorizados e prontos, afinal, o lúdico também envolve o imagirio, o jogar,
como nos salienta a observação seguinte.
A pedido da professora, Marcos buscou o outro jogo que estava na mesa
dela. A caixa era um baú pequeno feito de bambu. Ele pegou-a para
levar ao centro da roda e começou a cantar:
Vou levar os doces para a vovozinha...
Deixou o baú no centro da roda. As crianças ficaram entusiasmadas e
já foram abrindo. Bianca disse:
Ohhhh, um tesouro!!!
As crianças estavam curiosas, falantes e foram aproximando-se na
rodinha que foi ficando cada vez menor, pois queriam ficar perto do
baú e ver o que tinha dentro dele. A professora logo pediu que se
afastassem, mas não resolveu, de repente, estavam todas bem
próximas ao baú.
(Entrevista com a professora após a aula, jogos matematicando com as
compras e descubra o segredo, 10 de junho de 2008)
Imagem 10: Curiosas para conhecer o jogo matematicando com as compras”
Nota-se, portanto, que a criança sente um maior desejo e curiosidade ao
experimentar e encontrar situações significativas e investigativas, o que é possível por
meio do jogo, pois ao iniciar o processo de escolarização ela demonstra um grande
interesse pelas brincadeiras, jogos e o faz-de-conta, porém, muitas vezes, ignoramos
estes aspectos ou abordamos abstratamente e sem observação. Durante as atividades, a
professora participante foi se apropriando dos jogos a fim de cativar e envolver as
crianças na aprendizagem matemática, desafiando-as e provocando a construção do
conhecimento por meio de materiais concretos e da mediação pedagógica.
92
Nesse sentido, pode-se notar que o gráfico abaixo representa os conhecimentos
matemáticos trabalhados nos dezessete jogos escolhidos pela professora (Apêndices 1 a
17).
Gráfico 1: Conhecimentos matemáticos trabalhados pelos jogos de regras
Nota-se que a maioria dos jogos escolhidos pela professora envolviam conceitos e
conhecimentos trabalhados no Ensino Fundamental, especialmente, no 3º ano (2ª série),
inclusive inserindo situações lúdicas e desafiadoras. As situações-problema eram
apresentadas de forma lúdica e instigante, pois envolviam objetos, cartas e outros
atrativos motivadores que faziam parte da realidade infantil. Por meio dos jogos a
professora abria espaço para o registro do pensamento matemático escrito, seja
numericamente ou representado por desenhos e estava sempre desafiando as crianças.
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Gráfico 2: Recursos materiais utilizados durante as atividades com jogos de regras
Como mostra o gráfico, a professora trabalhava com recursos concretos nas
situações de resolução matemática tendo o corpo como referência, concebendo assim, a
aprendizagem como algo dimico, corporal e interativo. Além de conter recursos para
manipulação nas caixas de jogos, ela inseria sempre o material dourado a fim de desafiar
o raciocínio das crianças. Ve-se então, a necessidade de propiciar na educação a
manipulação do material concreto, de recursos acessíveis às crianças e que fazem parte
do contexto lúdico e social, considerando sua conexão com a aprendizagem e a interação
das crianças, desafiando também a zona de desenvolvimento proximal. Aprender
matemática abrange o corpo, a realidade, os desafios e a interatividade com o outro e
também com o objeto. Assim, relembramos Vigotski (1993, 1935) e a zona de
desenvolvimento proximal e a mediação, processos cognitivos e sociais que caminham
junto da aprendizagem.
94
Gráfico 3: Recursos que propiciavam contextos lúdicos aos jogos de regras
É importante ressaltar que as caixas de jogos eram compostas de vários materiais
concretos e que inclusive, extrapolavam ao imagirio, conforme mostra o gráfico acima.
Todos os jogos envolviam o faz-de-conta e as situações imagirias. A presença de
recursos materiais presentes no cotidiano das crianças motivava o contexto lúdico e
propiciava envolvimento, desse modo, jogar estava além de resolver operações ou
problemas para a professora. Naqueles momentos de jogo, não prevalecia o fazer para a
professora mas o desafio ao próprio conhecimento de forma divertida e interativa,
permitindo o avanço na zona de desenvolvimento proximal e um olhar mais próximo à
criança por parte da professora.
Assim, a seguir, compreenderemos como acontecia o processo de mediação
pedagógica durante as atividades com jogos de regras a favor da aprendizagem
matemática desenvolvidas pela professora participante.
95
5.3 Jogo e mediação pedagógica: um olhar atento à criança
A tarefa do professor é a de encorajar o pensamento
espontâneo da criança...
Kamii, 1990, p. 41.
Na situação a seguir, Márcio pegou uma carta com situação-problema e se viu
diante de um momento que mobilizou noções de divisão. Percebe-se por meio da fala
que ele já possuía um conhecimento prévio do que seria a divisão, pois ao se deparar
com um desafio, ainda não recomendado para sua etapa de desenvolvimento, ou melhor,
pelo currículo, mostrou-se admirado.
- Ih, é difícil! É divio!!! disse Márcio.
Ela disse que ele poderia resolver e que o ajudaria.
A professora colocou no chão cinco papéis em branco para simbolizar os
cinco grupos e, Márcio que já estava com a representação do
mero 85 no material dourado foi dividindo as barrinhas. Ao sobrar
3, trocou-as por cubinhos e finalizou a resolução sem receios, enquanto
a professora, ansiosa ajudava-o a trocar .
(Observação de aula, jogos casa da matemática: em busca do ábaco perdido,
jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 29 de maio de 2008)
A professora não excluiu a carta do jogo por ser uma situação-problema
envolvendo a divisão e, quando Márcio pegou essa carta no monte, foi motivado a
solucionar o desafio. Ela mediou a situação por meio do concreto, no caso o material
dourado, bastante manipulado pelas crianças, facilitando assim o raciocínio de Márcio
que resolveu com tranquilidade e entusiasmo ao descobrir, as o encorajamento da
professora, que não era difícil como imaginou. Tudo isso nos leva a refletir sobre a
implicação da mediação pedagógica no contexto de jogo.
Isso nos faz lembrar a perspectiva de Bruner (1972, 1996) que buscou
compreender a aprendizagem por meio de estruturas e esquemas mentais, enfatizando a
descoberta no processo de aprendizagem, bem como a relação entre o conhecimento e a
ação. Para esse autor, o brincar deixa a criança mais livre para criar, e, no caso, o jogo
dispõe de grandes momentos imprevisíveis, produtivos e envolventes. Ele reforça que a
educação deve ser permeada pela cultura, e as experiências por meio do brincar
contribuem para a aprendizagem, pois é uma ferramenta cultural que pode ser trabalhada
com diferentes crianças, desde que exista a mediação do adulto, tão importante no
processo de descoberta. Além disso, para esse autor, a mediação do adulto pode dar
forma aos conteúdos no processo escolar e também mobilizar a descoberta e a tentativa.
96
É assim que o jogo pode ser inserido no ambiente escolar, como ferramenta
cultural e apropriado pelo professor a favor da aprendizagem. A aprendizagem
matemática na escola pode ser compreendida e trabalhada de forma lúdica e acontecer
efetivamente na interação entre a criança e seus conhecimentos prévios, as outras
crianças, o objeto (jogo) e o adulto (professor) e a resolução de problemas.
Júnia joga o dado e anda até a casa “Jardim”, pega a carta
correspondente a trilha. Lê calmamente e depois pega o dinheirinho.
Separa 248 reais, utilizando duas notas de 100 reais, duas de 20
reais, uma de 5 reais, uma de 1 real e outra de dois reais. Nesse
momento, a professora foi perguntando a ela o que estava fazendo.
Júnia separou 8 reais e quando a professora perguntou quantos peixes
ela ainda poderia comprar, esta pegou na caixa do jogo o bloco de papel
e o lápis para resolver. Assim, ela utilizou também os dedos para
auxiliar na contagem. A professora foi mediando:
Lindinha, o que vo fez aqui. Vo pegou um peixe, certo?
disse ela mostrando os 8 reais que Júnia separou.
Com 20 quantos posso comprar? mostrando a nota de 20 reais.
Põe aqui ...um peixe. tem um peixe aqui. E com 20 reais, vo
vai comprar quantos?
Dois! responde ela.
Dois! Então e aí mais dois. Sobrou?
Então e aí mais dois peixes.
Júnia ainda estava com 100 reais nas os. Assim, ela retirou 20
reais, ficou com 80, acrescentou mais 8 peixes e calculou quanto
seria possível comprar com 20. Depois, registrou no papel:
1+2+2+1= 6
6+10+10+2+2+1= 31
Foi agrupando e contando assim:
6+10+10+2+2+1= 31
10 +10 = 20 + 6= 26 + 4 (2+2) = 30 + 1= 31
A professora disse a Júnia:
Muito bem!
(Observação de aula, jogos casa da matemática: em busca do ábaco perdido,,
jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 29 de maio de 2008)
Diante desse momento, percebe-se a professora mais uma vez como mediadora
do conhecimento da criança de acordo com as exincias da jogada. Este conhecimento
foi construído a partir das vivências cotidianas infantis até uma estruturação mais
elaborada na qual a professora desafiou o conhecimento matemático de Júnia,
impulsionando-a na resolução, seja através do cálculo mental, da utilização de materiais
concretos, ao registro escrito ou desenhado. Ela propiciou à Júnia pensar sobre o que
estava fazendo e solucionar o desafio utilizando o apoio concreto, o dinheirinho, seu
corpo (contagem nos dedos) e o registro processual no papel, agrupando as somas,
considerando os valores em ordem decrescente. Assim, relembramos as investigações
de Vigotski (1935) sobre a zona de desenvolvimento proximal, no sentido de perceber
97
que aquilo que uma criança não é capaz de fazer sozinha, poderá resolver com a ajuda
da professora ou até mesmo de outra criança que esteja adiante em termos de
aprendizagem.
O acompanhamento das construções da criança durante o jogo de forma
investigativa foi essencial para entender como cada uma pensava e construía a
matemática e propiciar, inclusive, a reflexão da professora sobre suas novas ações a
favor da aprendizagem, afinal a aprendizagem matemática ocorria de várias formas e em
vários momentos na sala de aula. Acompanhar as crianças não significou perder o
objetivo da atividade e o controle da turma, pois mesmo durante as mediações, as
crianças que não estavam resolvendo um desafio se envolviam no jogo de outras formas,
como, experimentando e brincando com os materiais, reelaborando desafios,
conversando sobre algo interessante ou difícil vivenciado nas jogadas e, no caso de
jogos com pontos, verificando a marcação.
Ao pensarmos na aprendizagem diante do jogo é importante que o professor
vivencie os pais de observador e jogador, como ressalta Muniz (2008a), com o objetivo
de conhecer a criança e seu processo de construção do pensamento matemático,
valorizando a utilização do corpo e dos materiais concretos. Além disso, compreender
que a criança não resolve os desafios para o professor, mas para jogar de novo.
Pesquisadora: Em relação a aprendizagem...
Professora: Então... o que a gente pode observar é o seguinte, tem
criança que “tá tranquila e têm outras que a gente tem que “tá ali
junto, mediando ou “tá questionando mesmo o que é que “tá
sendo feito pra ele ter o conhecimento que a gente quer em relação a
multiplicação.
Pesquisadora: O que seria esse mediando?
Professora: Tá tirando dele o que é que ele “ta fazendo... talvez,
tentando fazer ele entender o que “tá fazendo, tentando questioná-
lo, perguntá-lo pra ele poder entender o que “tá sendo feito.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo o grande construtor, 26 de junho
de 2008)
Em mais um momento, a professora refletiu sobre seu papel de mediadora
durante o jogo, de forma que, por meio dele, ela acompanhou e observou as crianças em
seus diferentes processos de aprendizagem matemática. Para ela, a mediação consistia
na interação e no diálogo entre professor e aluno durante as jogadas, e, nesse sentido,
ambos deveriam ter clareza dos processos matemáticos ocorridos. Nota-se que a
aprendizagem se fez num processo aberto, com questionamentos e autonomia, no qual
ouvir constituiu um ato de grande valia.
98
Assim, Rafaela falou do papel da professora no momento de jogo:
A professora observa a gente jogando, como a gente “tá se
saindo na matemática. Às vezes têm muitos grupos e ela fica
revezando, ajudando nas vidas... Quando a gente errava, ela não
fazia pra gente, ela explicava até a gente entender e dava palitos,
dinheirinho e material dourado.
(Entrevista com as crianças após o jogo o grande construtor, 26 de junho de
2008)
Dessa forma, é importante destacar o papel da professora participante junto às
crianças no momento do jogo. A partir da fala de Rafaela, nota-se que a professora
desenvolveu um papel de mediadora do conhecimento das crianças, propiciando
momentos conflitivos e desafiantes, porém, sem repassar a forma de resolução, mas
oferecendo-lhes materiais concretos a fim de criarem estratégias e solucionarem o
desafio matemático. Observou-se tamm que a professora motivou as crianças na
resolução matemática se colocando como parceira do processo de aprendizagem e no
jogo.
Diante dessas reflexões, o professor tem a possibilidade de, durante as jogadas,
observar, indagar e conflitar a criança no intuito de compreender como está construindo a
resolução matemática. É uma postura adotada pela professora pesquisada que estava
sempre desafiando as crianças não só nos momentos de jogos.
Em uma das jogadas, Carlos tirou 6 e 4 nos dados, ou seja, 6 x 4. A
professora perguntou quanto dava. Ele pegou palitos e foi separando
no chão os seis grupos com quatro palitos em cada. Quando terminou foi
contando os palitos que estavam em cada grupo e disse que era vinte,
mostrando cinco grupos, depois juntou com o último grupo e disse 24. A
professora pediu que contasse e ele foi dizendo, agrupando de 8 em
8: _ 8 + 8 é 16!
Ela pediu para tirar os dezesseis e perguntou quanto ainda tinha.
Ele não entendeu, e a professora foi contando e apontando em cada
grupo: _ 1 x 4, 2 x 4, 3 x 4...
Ela contou com Carlos e disse que tinha um palito a mais, pediu para
guar-lo e fazer novamente a contagem, assim ele chegou ao resultado
vinte e quatro. Enquanto Carlos representava o resultado com
material dourado, as outras crianças envolvidas no jogo conferiam
as pontuações entre si.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
Na situação acima, a professora acompanhou e mediou a situação, e enquanto
isso as outras crianças continuam envolvidas no jogo, não necessariamente na resolução
do colega, mas a partir de seus interesses nas jogadas. As iias de Muniz (2001, p. 39)
99
ilustram bem: o mediador ajuda a criança a dar sentido à sua ação e a criar ligações com
saberes anteriores e faz pensar sobre a estruturação de seu pensamento. O jogo instiga
a criança ao mesmo tempo em que desafia seu conhecimento e mobiliza saberes e
novas resoluções.
Imagem 11: Mediação durante a resolução do desafio multiplicativo
Desse modo, aprender por meio do brincar se torna agravel, considerando que
faz parte da vida infantil. No ambiente escolar, tanto os jogos espontâneos e/ou
educativos trabalham a matemática na vida com distração e divertimento as crianças e,
ao professor traz a possibilidade de uma observação mais específica de como a criança
matematiza. É desafiante trabalhar com jogos nesse contexto, porém exige do professor
um bom planejamento, organização e um olhar diferenciado sobre o brincar e o jogo.
Como já enfatizado, a partir da pesquisa de Muniz (1999) a criança em situação
de jogo, está mais livre para tentar, o que nem sempre seria possível diante do professor,
pois, nesse momento, a criança não sente que tem de resolver para o professor, como
acontece muitas vezes em atividades de registro no caderno. Ela tem menos receio de
tentar quando se sente mais livre e vai além do que lhe é proposto, pois não há tantas
cobranças. É o que prevalece durante o brincar e o jogar, pois mesmo que tenham sido
indicados pelo professor, não podem ser controlados por causa das diferentes formas
de construção do pensamento e do imagirio que está presente durante estes
momentos.
O jogar envolve essa estruturação do pensamento, bem como a assimilação de
novas idéias e conceitos relativos ao conhecimento e a vida sem a criança
necessariamente pensar que está aprendendo. Podemos ter assim o jogo como
100
estratégia incentivadora da descoberta, das interações, da construção de esquemas e
facilitadora da aprendizagem que é contínua e acontece em várias situações.
Apoiamos nas idéias de Benjamin (1928) e Bruner (1972, 1996) no contexto
educacional, ao valorizar o potencial da criança na construção da aprendizagem e o
papel mediador do professor diante dessa perspectiva. Como s professores
concebemos e mediamos a partir desta concepção?
Pesquisadora: E a mediação?
Professora: A mediação é justamente questionar quando eu tenho
vida, “tá ali perguntando, querendo saber como foi resolvido e
quando a criança tá em dificuldade eu tentar mostrar pra ela
como pode ser resolvido, dar ferramenta, material pra que ela possa
resolver, entendeu. É porque muitas vezes, a gente espera da criança
pelo cálculo e se você o material, ela te a resposta manuseando,
te mostrando como é que pensou, sem ser só com meros. Nessa
idade, eles ainda precisam muito do material concreto e,
principalmente, aquela criança que tem dificuldade, ali ela “tá
construindo. A questão da mediação é essa. Você tem que “tá ali no
momento, “tá presente. Existe uma certa dependência das crianças
de você estar ali o tempo todo acompanhando. Existe autonomia na
grande maioria e algumas têm que estar com elas.
(Entrevista durante o planejamento, jogos quantos azulejos cabem na parede?,
o barato das continhas e patinhos na lagoa, 1 de julho de 2008)
Conforme as concepções da professora, a mediação envolveu presença,
comunicação e interatividade com as crianças, inclusive, ouvindo-as quando ela não
compreendia o raciocínio. Assim, oferecia possibilidades de resolução do desafio a fim de
conhecer como processavam o conhecimento matemático, de uma maneira tranquila e
autônoma, escolhendo o caminho, seja por meio da utilização de materiais concretos,
desenhos, registros numéricos e/ou cálculos mentais. E que a mediação acontecia pelas
ações junto aos jogos e possibilitava acompanhar as crianças que estavam em processo
de construção do pensamento, já que cada uma delas se encontrava em momentos
diferentes de aprendizagem. Porém, cabe refletir que o professor pode desenvolver a
autonomia nas crianças já que muitas vezes, elas podem ficar dependentes de sua
presença no momento da resolução.
Diante dessas colocações, cabe pensarmos a partir da fala da professora sobre a
importância da mediação na educação matemática, pois, segundo Muniz (2001, p. 41):
O papel do professor mediador constitui, assim, um elemento curricular
importante que pode nos permitir ver como se realiza a aquisição de
conhecimentos escolares e como a forma de mediação construída pelo
professor influencia na construção pelo aluno da representação social do
objeto de conhecimento.
101
É primordial ressaltar que a mediação oportuniza a compreensão de como se a
elaboração do pensamento matemático e que o professor esteja atento às suas ações e
falas no sentido de desenvolver a autonomia na criança durante as jogadas.
Em vários momentos, a professora destacou a importância da mediação no
momento das jogadas, bem como o papel contributivo do jogo na aprendizagem
matemática, no sentido de uma nova possibilidade de interação com o conhecimento da
criança, eis aí um deles:
Pesquisadora: O que foi positivo?
Professora: Fazer a mediação no tempo que tem que ser feito e as
crianças jogarem, aprendendo a matemática de uma forma mais
divertida.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo o grande construtor, 26 de junho
de 2008)
Diante dessa perspectiva, cogitando o jogo como aliado de novas construções e
descobertas, mesmo que a criança jogue várias vezes o mesmo jogo, ela poderá
construir novas hiteses a cada jogada. O professor pode adaptar e/ou acrescentar
materiais concretos e desafios nos jogos, como fez várias vezes a professora no intuito
de criar novas intervenções e provocações enquanto as crianças jogam. Pois ao adaptar
os jogos a professora tinha seus objetivos e ao jogar, muitas vezes, as regras eram
modificadas pelas crianças, pelo fato de lidar com o conhecimento e o raciocínio. Assim,
foi possível notar que a criança vai além da informação que lhe é dada e a transforma.
Por meio desses apontamentos, teremos no próximo subitem da categoria 2: os
processos suscitados pelos jogos na aprendizagem matemática um olhar sobre como se
constituiu avaliar através dos jogos.
5.4 Jogo e avaliação: dois bons aliados, vamos tentar?
No cerne de tudo, discute-se avaliação para tentar melhorar
a aprendizagem dos alunos, quando se deveria fazer
exatamente o inverso: discutir a aprendizagem dos alunos
para aperfeiçoar o processo avaliativo e a educação.
Hoffmann, 2006, p. 67.
A criança é um ser ativo, alegre, cheio de emoções e criatividade. Será que ao
desconsiderarmos o lúdico, o brincar, não estamos tamm coibindo a inteligência, a
criatividade e o desejo de aprender natural da criança? Como o jogo, enquanto uma
estratégia pedagógica auxilia na construção do conhecimento matemático?
102
Cabe ressaltar que na situação a seguir, a professora pesquisada refletiu sobre a
avaliação no momento de elaboração do planejamento com os jogos casa da
matemática: em busca do ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, a
partir da observação das crianças:
Eu acho que a criança “tá mais livre durante o jogo, é como se ele
não estivesse na escola... fala muito, exe o pensamento dela sem
sentir que “tá sendo vigiada, avaliada...então, sai naturalmente o
que ela sabe e a gente percebe claramente o que ela sabe ou não...
Vai ajudar muito, jogo pra eles é natural, não tem nada a ver com
cobrança, não existe menção para eles... jogo é pra jogar... é
brincar.
(Entrevista planejamento com a professora, jogos casa da matemática: em
busca do ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 28 de maio
de 2008)
A fala da professora nos remeteu a uma visão sobre outra possibilidade de
avaliação no contexto escolar, sua percepção e seu papel junto da criança no consenso
avaliativo, valorizando a espontaneidade infantil ao demonstrar seus conflitos e suas
elaborações durante o jogo. Refletimos nessa fala as palavras de Freitas (1995, p. 264)
ao destacar que é fundamental reinventar a avaliação no interior da sala de aula e da
escola, desse modo a avaliação é um processo que necessita ser assumido pelo
professor e pelo aluno conjuntamente, além de ser um instrumento gerador de
desenvolvimento.
Na situação a seguir, a professora escolheu o jogo considerando o interesse da
criança para se aproximar e conhecer melhor como elaborava seu pensamento,
avaliando, assim, o conhecimento e a aprendizagem:
O jogo do sorvete eu escolhi porque nos fizemos uma tabela em
que as crianças falaram sobre a comida preferida, time de futebol---
e a do Artur é sorvete. E o Artur eu tô tentando... achar alguma
estratégia que eu tô buscando para perceber o conhecimento dele
e fazer que ele participe, ele está muito isolado---então eu tô
tentando que ele participe mais por isso escolhi o jogo do
sorvete.
(Entrevista planejamento com a professora, jogos casa da matemática: em
busca do ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 28 de maio
de 2008)
Nesse caso, a professora tentou utilizar do interesse e da espontaneidade infantil
para trabalhar com jogos e compreender o processo de cada uma. Ela foi quem
diferenciou este instrumento para entender, a partir de um olhar mais próximo, a
construção da criança pelo modo como concebeu e se apropriou do jogo, e este é o
103
grande desafio, em especial, na aprendizagem matemática. Por isso, a necessidade de
um olhar mais cuidadoso ao lúdico e aos jogos desenvolvidos em contextos escolares. O
jogo não deveria ser utilizado pelo professor com mero instrumento ou passatempo e sim
apropriado para acompanhar as descobertas e construções da criança realizando as
necessárias mediações.
A avaliação também por meio do jogo pode ser um caminho de conhecimento da
criança, de como pensa e estrutura o pensamento e não um marcador de pontos. Nesse
sentido, a professora participante ressaltou (Entrevista após a aula, jogo o grande
construtor”, 26 de junho de 2008) na avaliação... preciso saber o que ela sabe, observar
onde está e o que está precisando. A criança... é ela ali envolvida mais no jogo que no
problema. Nota-se, então, a possibilidade natural de avaliar e acompanhar o
desenvolvimento da aprendizagem matemática da criança por meio do lúdico, pois ela
está brincando e não jogando porque tem de aprender. Assim retomamos a Hoffmann
(2006) abordando os possíveis momentos propiciados pelo jogo, envolvendo o tempo de
admiração, o tempo de reflexão e o tempo de construção como na fala a seguir da
professora a partir da observação das crianças jogando, refletindo sobre o que vem a ser
a avaliação nessa abordagem e, posteriormente, ao tempo de construção. No caso, a
professora acompanhou o desenvolvimento do pensamento matemático e construiu
novas ações pedagicas; para ela, a avaliação se constituiu durante as jogadas, por
meio da observação da criança:
Pesquisadora: E a avaliação?
Professora: Penso na avaliação como observação das crianças
durante o jogo. A avaliação é justamente isso, se a criança “tá ali
jogando, manuseando os materiais, dando a resposta com
entendimento, eu “tô vendo que ela “tá aprendendo.
(Entrevista planejamento, jogos quantos azulejos cabem na parede?, o barato
das continhas e patinhos na lagoa, 1 de julho de 2008)
Neste momento de reconstrução, a professora refletiu sobre seu fazer pedagógico
e teve a possibilidade de desenvolver novas atividades a partir do jogo, trazendo novas
provocações às crianças, dialogando sobre as construções e validações junto ao grupo.
Nessa perspectiva, além de propiciar aprendizagem e prazer de forma significativa, o
jogo não seria um grande aliado da avaliação?
Dessa forma, para Muniz (2001, p. 84):
104
Um objetivo primeiro e maior da avaliação matemática via observação
deve ser o de identificar as estruturas lógicas de pensamento do aluno,
seus conceitos em processo de constituição, os esquemas de
pensamento em ato, os algoritmos pessoais e alternativos que o(s)
aluno(s) lança(m) para operar (em) cognitivamente em situações
matemática.
Assim, lembramos Broure (2002, p. 6) quando se refere que não é o jogo que é
educativo, é o olhar que analisa diretamente a atividade da criança que dá sentido [...] e
significado, assim, como já tratado, o professor é quem pode olhar para esse instrumento
e procurar compreender como ela constrói seu pensamento, eis aí, um grande desafio ao
usar jogos no contexto escolar.
Esse olhar cuidadoso acerca da mediação pedagógica a partir da concepção de
Bruner (1972, 1996), da avaliação e do papel do jogo no contexto escolar são pontos
fundamentais na formação do professor, em especial do professor dos anos iniciais,
afinal, neste período as crianças chegam à escola com seus conhecimentos prévios
acerca da matemática e conforme esta é apresentada e desenvolvida pode modelar o
pensamento e inibir a autonomia de construção. São questões que merecem ser
discutidas e desenvolvidas na escola, juntamente com os pais, que, muitas vezes ao se
depararem com a nova matemática, sem formatação de modelos de pensamentos se
veem perdidos diante dos filhos e ficam sem saber como lidar com a situação, inclusive
ao acompanhar as atividades que vão para casa.
Avaliar, dessa forma, exige certo distanciamento do rigor matemático em prol de
um conhecimento processual da construção do pensamento infantil, valorizando, assim, o
que ela constrói, incentivando a continuar reforçando tamm sua autoconfiança e auto-
estima. Enfatizando ainda que, avaliar durante as jogadas é compreender como se
elabora o conhecimento matemático, utilizando também o diálogo como meio de
aproximação do que vem a ser aprender matemática. Isto pode ocorrer em momentos
alternados, pois durante um jogo nem sempre é possível acompanhar cada criança na
sala de aula, assim, seria primordial existir momentos nos quais o professor, como
ocorreu na pesquisa, jogasse com a turma um mesmo jogo e ouvisse mais que falasse, a
fim de avaliar pelo jogo.
Assim, a professora abordou essa avaliação:
Pesquisadora: E a avaliação?
Professora: Penso na avaliação como observação das crianças
durante o jogo.
(Entrevista com a professora durante o planejamento, jogos matematicando com
as compras e descubra o segredo, 10 de junho de 2008)
105
Para esse tipo de avaliação, é importante, primeiramente, conce-la distanciada
de punição, de quantificação e de um resultado final. A avaliação pode ocorrer durante o
desenvolvimento do trabalho escolar para propiciar ao professor, ao aluno e aos pais o
conhecimento do processo de elaboração e construção do conhecimento, afinal para se
chegar ao resultado é fundamental se atentar para a criação e mobilização de esquemas
até que isso aconteça. Os jogos em questão nesse estudo podem tornar possível uma
avaliação diferenciada, natural, sem receios e com a participação da criança e do
professor contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento de atividades posteriores
significativas. Além de provocar a criança e a professora a conhecer mais, o jogo motivou
uma avaliação processual e sem receios, valorizando o conhecimento construído por ela
na matemática. Como o professor olha para a elaboração, a resolução e a validação do
que a criança construiu matematicamente?
A seguir, tem-se a fala das crianças acerca do jogo, destacando que, enquanto
jogavam, estavam livres como se estivessem brincando. Assim, como o momento
envolveu as crianças, foi necessário a professora observá-las com maior atenção,
acompanhando seu pensamento e considerando a naturalidade do processo, pois elas
não tinham receios de tentar.
Pesquisadora: O que vocês falariam para outras crianças do jogo?
Raquel: Que a gente aprende brincando.
Pesquisadora: O que é aprender brincando?
Bianca: O jogo é uma brincadeira só que a gente tá aprendendo a
fazer continha brincando.
Pesquisadora: E brincar aprende?
Bianca: Aprende.
Bianca: Por exemplo, a Rafaela não sabe entradinha, ela ainda
“tá treinando.
Pesquisadora: O que é entradinha?
Bianca: Pular corda. Tem duas pessoas batendo a corda e não tem
ninguém lá, aí tem que entrar dentro da corda.
(Entrevista com as crianças após o jogo corrida da tábua, 5 de junho de 2008)
Várias atividades podem ser trabalhadas considerando o brincar e os jogos no
acompanhamento da elaboração de esquemas, permitindo a transposição do
conhecimento abstrato sob a forma de registros, sejam orais, com materiais concretos,
com textos, esquemas ou sob forma de desenhos. É fundamental à criança construir
abstratamente e concretamente suas elaborações e estratégias experimentadas durante
o jogo. O desafio é registrar o processo percorrido por cada jogador, um material de
grande valia para a estruturação do pensamento infantil e observação do professor ao
fazer matemático. Temos imeros desafios em relação à organização do trabalho
106
pedagógico; e a apropriação de jogos no ambiente escolar é um deles, porém, traz
possibilidades de uma avaliação diferenciada.
Desse modo, cabe ressaltar o reconhecimento da zona de desenvolvimento
proximal retratada por Vigotski (1935), ao acompanhar e avaliar a aprendizagem infantil a
fim de perceber a construção do conhecimento pela criança. Assim, a seguir, faz-se
necessário pensar também na constância do fazer pedagógico de forma crítica e reflexiva
com intuito de crescimento tanto do professor, como da criança, abrindo caminhos no
contexto de aprendizagem escolar.
5.5 Jogo e fazer pedagógico: reflexões
A experiência docente é espaço gerador e produtor de
conhecimento, mas isso não é possível sem uma
sistematização que passa por uma postura crítica do
educador sobre as próprias experiências. Refletir sobre os
conteúdos trabalhados, as maneiras como se trabalha, a
postura frente aos educandos, frente ao sistema social,
político, econômico, cultural é fundamental para se chegar à
produção de um saber fundamentado na experiência.
Pimenta e Ghedin, 2008, p. 135.
Ao longo da pesquisa de campo, a professora foi desenvolvendo seu olhar diante
da seleção e da apropriação dos jogos, buscando-os a favor dos objetivos dispostos no
currículo, com um novo olhar para o processo de cada criança. Assim, ela passou a
considerar o brincar durante as jogadas, percebendo que controlar psicologicamente as
ações infantis durante as jogadas era impossível, afinal as crianças se envolviam com os
jogos, seus acessórios e desafios, brincando antes de decidirem ler as regras.
Inicialmente, isso provocou uma ansiedade e, posteriormente, a reflexão sobre como
concebia a relação entre o jogo e o conhecimento da criança.
Isso é coisa mesmo de criança de estar ali mesmo mexendo,
brincando, acho que é o imaginário deles, de estarem conhecendo
mesmo. --- Não era interesse deles ali naquela hora saber o que era o
jogo, começar a jogar, era conhecer mesmo. --- E s já conhecíamos
como um jogo de matemática que foi colocado na frente da gente,
com alguns objetivos e eles não. Então a gente tem que ter essa
vio no nosso planejamento.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo batalha matemática, 9 de maio
de 2008)
107
É assim que, no início das observações, a professora se mostrava ansiosa diante
do manuseio dos componentes do jogo pelas crianças antes de jogarem. Aos poucos, ela
começou a pensar sobre como se processava o brincar e o jogar durante as atividades
com jogos, afinal, antes não observava como acontecia a elaboração e a interação das
crianças no momento das jogadas. Notou-se que a professora ao propor os jogos tinha
seus objetivos específicos, porém, na interação com as crianças estes interferiam no
andamento do planejamento proposto, o que a fez pensar sobre seu fazer pedagógico. O
professor, por meio de sua prática docente pode refletir e construir um novo olhar sobre a
aprendizagem das crianças. Assim, segundo Ghedin (2008, p. 135):
A experiência docente é espaço gerador e produtor de conhecimentos,
mas isso não é possível sem uma sistematização que passa por uma
postura crítica do educador sobre as próprias experiências. Refletir sobre
os conteúdos trabalhados, as maneiras como se trabalha, a postura
frente aos educandos, frente ao sistema social, político, econômico,
cultural é fundamental para se chegar à produção de um saber fundado
na experiência.
O jogo, quando em contato com o conhecimento de cada criança, aguçava a
experimentação, o brincar, a criatividade, o imagirio, as trocas de informações e as
estratégias de resolução. As crianças não realizavam a atividade apenas fisicamente,
mas cognitiva e imaginariamente, o que fugia ao controle e ao planejamento da
professora. Neste caso, a professora passou a observar que as crianças jogavam
impulsionadas pelo desejo e não como é o objetivo do professor, para aprender a
matemática, ou seja, a visão do professor ao propor o jogo é diferente da criança ao jogar
e ele não controla o conhecimento.
Observou-se tamm que a professora adaptava e criava jogos no intuito de
desafiar o conhecimento matemático infantil, trabalhar novos conceitos e provocar o
avanço na aprendizagem a partir de situações e de resoluções novas, seja por meio de
materiais concretos e de contagens diversas, provocando interações entre as diferentes
crianças. Relembramos Schön (2000) ao enfocar a necessidade de um currículo voltado
ao ensino prático reflexivo, propiciando às crianças oportunidades de experimentação,
troca e construção do conhecimento. Nota-se que a professora oferecia momentos nos
quais as crianças vivenciavam situações práticas e cotidianas que envolviam a educação
matemática e que, buscava compreender seu próprio fazer pedagógico e reorganizá-lo.
Na situação a seguir, a professora criou o jogo corrida da tábua a partir de um
dos jogos disponíveis na sala dos professores e tamm porque outra professora estava
confeccionando para trabalhar a multiplicação.
108
Pesquisadora: Em relação à aula de amanhã, qual vai ser o jogo?
Professora: O jogo que tinha ali eu pensei em refazê-lo, não lembro o
nome [referindo a jogo o barato das continhas]... com o resultado
atrás, igualzinho ao que a professora do ano tá fazendo, olha...
(Entrevista planejamento com a professora, jogo corrida da tábua, 4 de junho
de 2008)
Ao criar este jogo a partir da estrutura física do o barato das continhas, a
professora objetivava desenvolver a multiplicação mais uma vez e trabal-la de forma
divertida, de modo que as crianças interagissem, trocassem de cartas e, posteriormente,
de duplas a fim de mobilizar conhecimentos e aprendizagens novas. Ela produzia uma
prática pedagógica oportunizando a troca entre as crianças e, assim, passava a
acompanhar o que cada dupla fazia e de que forma resolvia as situações multiplicativas.
Durante os encontros e entrevistas com a professora percebia que refletir sobre
seu fazer pedagógico durante o jogo implicava pensar sobre o que vinha a ser o papel
mediador e como este poderia ser desenvolvido para permitir à criança vivenciar a
aprendizagem matemática de forma alegre e crítica. Ela desafiava cada criança em sua
zona de desenvolvimento proximal, percebendo o que não faziam sozinhas, auxiliando-as
por meio de suas mediações diante de cada situação de jogo. Aos poucos, a professora
notava seu papel como facilitadora das interações entre a criança, o jogo e a construção
do conhecimento a partir da zona de desenvolvimento proximal, se colocando como
participante e trabalhando o impulso controlador.
Professora: É... e tem os desafios que puxam um pouquinho mais as
crianças e se não tiver um adulto perto pra incentivar, mediar...
talvez eles não tivessem dado conta.---
Pesquisadora: Por exemplo, a divisão do Márcio, ele disse: Ah, eu não
sei dividir e você foi lá e fez a mediação.
Professora: Então, foi fácil, ele foi lá e dividiu... Ele usou o material
dourado --- ele ia trocar as barrinhas pelos toquinhos, estava
contando de 5 em 5... --- eu devia ter deixado ele trocar, na hora a
gente fica querendo adiantar tudo (rs).
(Entrevista após a aula com a professora, jogos casa da matemática: em busca
do ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 2 de junho de 2008)
A cada momento de jogo a professora refletia sobre seu papel ao acompanhar e
mediar e como o jogo poderia facilitar a aprendizagem matemática das crianças,
buscando novas ações pedagógicas. Nesse sentido, temos as palavras de Pimenta
(2008, p. 27) nas práticas docentes estão contidos elementos extremamente
importantes, como a problematização, a intencionalidade para encontrar soluções, a
experimentação metodológica, o enfrentamento de situações complexas, as tentativas....
Desse modo, acompanhamos a professora em seu fazer pedagógico, bem como suas
109
tentativas e busca por novas possibilidades. Na situação seguinte, após a aula com os
jogos casa da matemática: em busca do ábaco perdido, jogo do sorvete e corrida dos
gulosos ela falou sobre a necessidade real de destinar um tempo maior para as crianças
jogarem porque na maioria das vezes, não encerravam as jogadas devido ao tempo.
Professora: A questão é a seguinte... o tempo que a gente está
destinando ao jogo está sendo muito pouco. A gente vai ter que
aumentar, não deu tempo de terminar o jogo. Foi uma hora não foi?
Pesquisadora: Foi uma hora e 20. --- Agora o brincar... tudo aconteceu,
mas não deu tempo de terminar o jogo. --- e brincar com o ábaco.---
Professora: --- Agora tenho que apresentar pra eles. Talvez peça a
Bianca pra apresentar pra eles... alguma coisa assim... que gere o
conhecimento... de como a gente usa.--- Eu posso partir do que ela
fez, apresentar da forma delas e ir questionando as crianças.--- A gente
não precisa apresentar pronto e acabado, pode ser construído.
(Entrevista após a aula, jogos casa da matemática: em busca do ábaco
perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos, 2 de junho de 2008)
Neste caso, a professora poderia fazer a adaptação do jogo para um tempo menor
ou realmente aumentá-lo, reconstruindo o tabuleiro, o que o ocorreu. As jogadas
duravam em média duas horas e mesmo diante desse tempo, as crianças continuavam
motivadas e ligadas ao jogo sem se dispersarem, porém, poucas vezes chegaram ao
final da trilha nos jogos de tabuleiro.
Ela reconheceu a participação das crianças durante a apresentação das regras ao
falar como poderia desenvolver junto delas e tentar nova estratégia nos próximos jogos.
Nos momentos após cada atividade com jogos refletia sobre como poderiam ser
desenvolvidas outras atividades, percebendo o jogo mesmo pronto fisicamente como
algo a ser construído no contato direto com as idéias das crianças a partir do disposto na
caixa. Ao longo dos encontros, a professora passou a discursar acerca de uma abertura
maior no planejamento, incluindo suas apresentações e mediações no jogo, se atentando
para futuras atuações práticas. Desse modo, foi reorganizando sua ação pedagógica a
partir de suas reflexões acerca do ocorrido a cada atividade com jogo.
No caso do jogo goleando a matemática (Apêndice 11), a professora pensou
além dos objetivos matemáticos. Ela atentou-se para o acompanhamento das crianças
durante as jogadas, tomou novas decisões em relação ao planejamento, inclusive a
proposta de interligar o que era trabalhado nos jogos para as atividades de registro em
sala de aula, não existindo o momento de jogo separado do registro e desenvolvendo um
olhar criterioso no que diz respeito à observação. Neste dia, ela disse que gostaria de
assistir as filmagens das jogadas, então, conversamos e disponibilizei o material que
orientaria suas reflexões e escritas.
110
Pesquisadora: Seus objetivos foram alcançados?
Professora: Eu queria ver eles calculando e não consegui porque
coloquei poucas cartas no tabuleiro e eles não chegaram a marcar o gol.
Deixei eles decidirem quem ganhou, disseram que seria quem
estivesse mais perto do gol. Então, após essa atividade decidi
trabalhar o jogo novamente porque percebi falhas minhas em
relação ao jogo, como por exemplo: ter virado poucas cartas, ter
dado um tempo menor. A proposta era dar mais tempo e mais cartas
no campo. Por meio dos jogos, observo os avanços e as
dificuldades apresentadas por algumas crianças na matemática.
Sinto necessidade de desenvolver o registro nas crianças que
solucionam oralmente, por meio do cálculo mental. Eu queria mais
tempo para estar com eles. A gente percebe algumas coisas que
precisam ser trabalhadas e a gente não consegue tempo para encaixar
essas coisas. A gente percebe mesmo que 5 horas na sala de aula não
está sendo suficiente. Mas é uma questão de planejamento, de saber
lidar com o tempo e trabalhar. Replanejar... a gente planeja, observa
e replaneja.
Pesquisadora: Como você acha que poderia reorganizar?
Professora: Vo poderia me passar essas fitas para eu assistir!
(Entrevista após a aula com a professora, jogo goleando a matemática, 13 de
junho de 2008)
Percebemos que a professora estava cada vez mais envolvida no processo
reflexivo, em conhecer como as crianças pensavam, agindo com tranquilidade, além de
abrir espaço para que elas decidissem mais, pois apesar de tentar controlá-las desde o
início decidiam seus interesses no jogo.
A seguir, acompanharemos uma fala que retrata o reconhecimento pela
professora do papel dos jogos na aprendizagem das crianças e as possibilidades
oferecidas para prosseguimento das atividades matemáticas a partir do replanejamento
de outro momento com o jogo goleando a matemática. A professora oportunizou outro
momento com o mesmo jogo no qual decidiu colocar uma quantidade maior de cartas
distribuídas no tabuleiro e acompanhar todas as crianças no desenvolvimento das
estratégias de resolução, além de perceber que algumas não necessitavam de sua
mediação, pois, muitas vezes, o jogo desempenhava esse papel. Ela percebeu a
possibilidade de conectar o jogo às atividades de registro, bem como outros contextos de
aprendizagem, não visualizando-o como momento separado da aula.
Professora: Quando a gente busca atividades de registro... é muito dos
livros ou do cofrinho da sala [utilizado para guardar o dinheiro que as
crianças vão levam ao longo do ano] e o que eu percebo é que esses
jogos estão ajudando muito, as crianças o calculando muito, a
questão de ler e entender as cartas, isso traz muito para as
atividades de matemática que é justamente isso, saber o que está
lendo e responder.
111
Pesquisadora: E em termos pedagógicos?
Professora: Quero conhecer mais jogos e levar para eles. Fazer
atividades de registro relacionadas aos jogos, alguma coisa xerocada
a partir deles.
(Entrevista após a aula com a professora, jogo goleando a matemática, 16 de
junho de 2008)
No discurso da professora, notamos mudança sobre a maneira de enxergar o
jogo, vislumbrando suas possibilidades que podem nortear situações posteriores de
registros, de situações-problema e escrita. A seguir, observamos outra mudança no modo
de apresentar o jogo às crianças as o grande construtor” a partir do qual refletiu sobre
sua ação pedagógica e também modificou seu planejamento posterior:
Eu leio as regras e falo por alto, só explico. A questão da regra é bom
eu passar para uma criança ler tudo, para ver se eles modificam
alguma coisa porque quando eu apresento o jogo... eu apresento e já
explico, sem ler as regras.
(Entrevista após a aula com a professora, jogo o grande construtor, 1 de julho
de 2008)
Adiante, a professora não estava somente com o discurso de mudança sobre seu
fazer pedagógico no momento de jogo, como tamm refletiu e modificou sua forma de
agir diante da apresentação dos jogos.
Após desenvolver a atividade com o jogo o grande construtor”, ela abriu espaço
para as crianças lerem as regras, entenderem o jogo e decidirem as jogadas com
autonomia, não dizendo o que fazer, mas observando suas ações diante do jogo.
Para a aula seguinte, ela escolheu três jogos quantos azulejos cabem na
parede? o barato das continhas e quantos patinhos cabem na lagoa (Apêndices 15, 16
e 17), por critério de conteúdo trabalhado e estímulo para jogar (cores, formas e
imaginário), inclusive no último jogo criou e acrescentou cartas com novas situações-
problema.
Na sala de aula, toda a turma decidiu jogar primeiramente o jogo quantos
azulejos cabem na parede? por causa do atrativo físico e da possibilidade de construir a
parede, assim, foi o único jogado naquele dia, ficando os outros dois para a próxima
atividade. Percebi que a professora acompanhou o desenvolvimento daquela atividade e
a tomada de decisão pelas crianças com maior naturalidade e espontaneidade. Elas
agiam com autonomia, liam as regras enquanto a professora fazia perguntas acerca dos
componentes do jogo, as formas geométricas: quadrados, triângulos, retângulos de
diversos tamanhos, envolvendo estimativas de quantidades e outros questionamentos
matemáticos.
112
Desta vez as crianças escolheram com qual colega desejavam jogar, porém, cabe
lembrar que a professora procurava várias maneiras delas se organizarem, propiciando
as trocas. Leram as regras, conversaram sobre elas e jogaram com alegria e disposição,
formando o mosaico com as peças. Ao final do jogo, o medalhão da sorte decidiu a
equipe vencedora por meio da quantidade de peças utilizadas, o que não frustrou as
crianças porque formar o mosaico em conjunto era superior ao ato de ganhar. O
medalhão não fez com que elas parassem, continuaram brincando com as peças e
criando desenhos. A professora ficou entusiasmada ao perceber aquela ação e
oportunizou tempo para que cada criança criasse. Após formarem os desenhos as
crianças começaram a contar as peças e depois criar histórias orais acerca do que
haviam construído, e em rodinha todos acompanharam a fala de cada colega e
mantiveram-se envolvidos até o término da aula.
Nesse processo de a professora olhar sua prática, ela desenvolveu sua própria
segurança ao perceber que o momento de jogo é de troca e interações que não é
possível conter as crianças. O envolvimento delas no jogo era maior que seu desejo de
controlar o barulho e a organização da sala e que durante esse barulho aconteciam
conflitos, interações e resoluções de forma instigante e lúdica.
Ademais, a professora, começou a perceber o que era o jogo e o brincar na
aprendizagem das crianças e como aprimoraria seu planejamento.
Foi legal levar esse tipo de jogo. A gente sente que precisa levar
mais porque está acrescentando para eles tantas coisas, o
manuseio, o brincar e, nesse jogo teve mais retorno do que eu
apresentar, como fazia em outros jogos.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo quantos azulejos cabem na
parede?, 2 de julho de 2008)
A professora reconheceu a importância do momento de jogo ser mais aberto e
desafiador para as crianças no sentido de ação, tomada de decisão, resolução de
situações que vão além da matemática propriamente dita e dos objetivos
preestabelecidos. A partir de sua compreensão do que o jogo propiciou no espaço da
aprendizagem matemática das crianças por meio da avaliação, ou seja, a possibilidade
de acompanhar o processo de pensamento, elaboração e estruturação matemática, a
professora abriu seu planejamento, refletindo e replanejando seu fazer pedagógico sem
receios do imprevisível tão presente no jogo.
113
A partir dessas reflexões e apontamentos abordaremos o desafio de uma
formação de professores voltada à concepção do jogo como ferramenta cultural da
aprendizagem infantil na escola.
5.6 Jogo e formão de professores: busca de vivências e aprendizagens
As transformações das práticas docentes só se efetivam na
medida em que o professor amplia sua consciência sobre a
própria prática, a de sala de aula e a da escola como um
todo.
Pimenta, 2008, p. 7.
Imeros desafios são apresentados considerando a apropriação de jogos na
aprendizagem matemática. Desafios que surgem desde a concepção de educação, do
lúdico, do jogo na aprendizagem até a apropriação que se faz dele no contexto escolar,
envolvendo tamm a formação do professor para um olhar mais cuidadoso ao brincar no
processo educacional.
Na situação a seguir, a professora participante pensa acerca do brincar dentro das
jogadas das crianças e percebe as possibilidades propiciadas pelo jogo como a
interação, a troca de conhecimentos e a aprendizagem matemática em questão em um
contexto lúdico.
Eu acho que ao brincar ao mesmo tempo a criança aprende. Por
exemplo, a Daniele parecia não entender o que seria a multiplicação,
então, ali ela já foi tentando, caminhando para isso, com a ajuda do
colega, o Marcos apoiou, fez mediação --- para ela poder fazer essa
coisa, entendeu? Eles até falaram que aprenderam a multiplicação, só
que eles já sabiam--- E aí eu fico olhando assim... é brincando
realmente que eles conseguiram aprender alguma coisa ali e já
também já sabiam muita coisa.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
A professora pensa sobre como a criança aprende a partir do jogo e da interação
com o outro colega, que juntas tentando solucionam os desafios apresentados no jogo.
Percebe que Daniele teve possibilidades de avançar em contato com o jogo e aprender
com o colega Marcos, não necessariamente com a professora, pois já possuía os
conhecimentos prévios acerca da matemática por meio das vivências cotidianas e,
através do manuseio do material concreto, no caso, o material dourado, resolveu o
desafio que parecia, a princípio, complexo para a professora devido a sua dificuldade de
114
aprendizagem”. A aprendizagem sistematizada dos conceitos se dá na escola por meio
dos conhecimentos advindos da realidade de cada criança e que são mediatizados pelo
professor. Nesse sentido, o jogo possibilitou as tentativas e as elaborações por Daniele
levando-a a desafiar seu próprio conhecimento e não recebendo modelos
predeterminados pelo professor. É importante o professor refletir sobre sua ação durante
a apropriação do jogo no ambiente educacional, para não limitá-lo à simples fixação de
conteúdos e modelos, exigindo, assim, uma formação voltada para as reflexões acerca
do papel do lúdico dentro do espaço escolar.
Pensar na formação de professores envolve a constituição destes, as várias
vivências que deveriam ser propiciadas e discutidas nos cursos de formação inicial e
continuada, bem como a formação permanente dentro da própria ação pedagógica, do
que compreende o brincar e o jogar na aprendizagem das crianças.
Poucos são os cursos de formação que têm um olhar aberto a essas
possibilidades, o que, muitas vezes, ocasiona ao professor a reprodução de iias sem
considerar o ser em desenvolvimento que é a criança e as implicações reais a partir de
seus interesses durante esse processo.
Cabe lembrar as iias de Miranda (2000, p. 88):
O professor, portanto, precisa estar naturalmente convencido do
abundante valor pedagógico compreendido no jogo e, ainda, transpirar
um ser lúdico contido nas suas estruturas celulares. Como “conter” é um
termo polissêmico, cabe nesta crítica igualmente o sentido de “refrear”.
Quantos de nós, adultos, não mantemos contido o espírito lúdico mais
cândido? Quem se arvora a levar para seus passatempos atividades
lúdicas que costumava realizar quando criança? A verdade é que
traçamos uma escie de Tratado de Tordesilhas entre os dois planos:
para trás, por melhor que tenham sido, e estão as ternas lembranças
dos jogos da infância; deste lado da fronteira, por mais enfadonhos que
sejam, nossos jogos de adultos. para tanto, uma solução viável: uma
progressiva e paciente reeducação do professor em relação ao entrave
exposto. É uma condição prévia para que ele possa penetrar de s
desnudos no território sagrado do jogo infantil, tocar o que for
concreto, cheirar o que for volátil, e portanto melhor dirigir as
experiências, que também serão suas.
Vale refletir ainda sobre qual a representação social que o professor em formação
inicial ou permanente tem sobre a matemática. Será que a matemática é concebida como
difícil, inacessível, instigante? Como os professores percebem o jogo no ambiente
educacional, como recreação somente, como algo a ser observado e vivido junto ao
aluno? É relevante discutir sobre todas estas impressões, o que acarretam e o que pode
ser trabalhado na formação do pedagogo e do matemático dentro das faculdades e das
universidades para que se tenha uma educação com maior qualidade e embasada na
115
realidade infantil, produzida a partir do que é significativo. Assim, a professora
participante pensou no que seria o jogo para as crianças, e como teria como facilitador do
processo:
Quando eles estão jogando, eles o eles, não estão preocupados
em dar a resposta que eu quero, dão a resposta da cabeça deles, a
questão é o momento que eu tenho ali para parar, ouvir e
questionar, né. A questão é enxergar cada um na sua jogada, na sua
forma de caminhar durante o jogo.
(Entrevista planejamento com a professora, jogos quantos azulejos cabem na
parede?; o barato das continhas e patinhos na lagoa, 1 de julho de 2008)
É o que este estudo nos revelou que a formação deveria envolver a reflexão e o
desejo acerca do conhecimento que será tratado. Schön (2000, p. 228) enfatiza o
trabalho a partir de projetos e que se deve cultivar atividades que conectem o
conhecimento e a reflexão na ação dos profissionais competentes com as teorias e
técnicas ensinadas como conhecimento profissional nas disciplinas acamicas. Seria
interessante que nos cursos de formação docente investissem mais na prática durante o
curso para que os professores refletissem sobre o processo educacional e suas
peculiaridades, pensassem mais sobre a criança, o desenvolvimento, o brincar, a
construção do pensamento, o processo de ensino-aprendizagem e a avaliação.
Assim, para desenvolver um trabalho crítico na educação matemática, no qual a
criança é ativa no processo, será indispensável que o professor tenha uma formação de
qualidade e tenha clareza dos conteúdos. Desse modo, seria possível desenvolver um
processo de ensino-aprendizagem mais participativo junto às crianças e acima de tudo
aberto ao conhecimento. Na atual perspectiva da educação matemática seria
fundamental o professor ser um mediador de novos conhecimentos, e a criança sentir-se
livre para construir seus esquemas e solucionar problemas. Muniz (2001, p. 14) enfatiza
que o professor deve:
Ser um eterno explorador, questionador, problematizador das situações
corriqueira do dia-a-dia pode nos tornar um bom professor, pois nestas
condições nos constituímos aluno-permanente querendo sempre
aprender mais. Devemos, pois buscar nas situações caseiras, do
comércio, dos esportes, das artes, do mundo lúdico, a compreensão
matemática das relações que constituem essas situações.
A professora destacou na fala seguinte, os momentos de reflexão acerca de sua
ação pedagógica, seu movimento próprio, sua constituição profissional dentro da prática
116
desenvolvida e uma necessidade de mudança constante que foi, segundo ela processual
e insistente.
Eu “tô vendo as coisas acontecerem e “tô percebendo... existem
algumas coisas que vêm insistindo, mas que tem que ser mudado e
a gente percebe que as mudanças não ocorrem de um dia para o
outro. A gente vai mexendo, vai mexendo (rs) aí a gente começa a
colocar pra fora pra acontecer a mudança.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo quantos azulejos cabem na
parede?, 2 de julho de 2008)
É importante que se tenha na formação do professor da Educação Infantil e dos
anos iniciais do Ensino Fundamental os conhecimentos necessários acerca do
desenvolvimento da criança, envolvendo desde o conhecimento trico, a interação
pedagógica e os momentos reflexivos sobre o papel mediador desse professor.
No momento que cheguei as crianças estavam bastante envolvidas
nas jogadas dos colegas. Percebi que elas haviam mudado as
regras, não estavam jogando para destruir as peças da outra equipe, o
tabuleiro servia para os soldados movimentarem na mesma linha, um na
cor roxa e outra na cor verde e mexerem somente a quantidade total da
multiplicação. Decidiram que ganharia o jogo a equipe que chegasse
primeiro aos cem pontos.
(Observação de aula, jogo batalha matemática, 9 de maio de 2008)
Muitas vezes, a professora se frustrou e pensou perder o foco da atividade pelo
fato de as crianças mudarem as regras do jogo. Entretanto, consideramos que ela não
perdeu seu objetivo pedagógico, pois as interações entre as crianças, as novas regras e
os acessórios que são os componentes do jogo, impulsionaram as resoluções
matemáticas.
E, nesse processo de trocar idéias e modificar as regras, elas estavam em
constante elaboração e organização do pensamento, além de desenvolverem os
aspectos individuais, sociais e emocionais, enfim, sua integralidade, porque o jogo
trabalhou para além dos aspectos cognitivos.
Professora: Quando vo tem a proposta de levar o jogo é porque
vo vai observar alguma coisa dentro dos objetivos do jogo. E
quando vo leva o jogo vo tem uma resposta, eles estão ali
brincando e... vo atinge seu objetivo quando elas jogam. Queria
trabalhar os desafios e o desafio maior deles, o bicho-papão é a divisão
e quando eles estão jogando resolvem a divisão tranquilos. Então é
acabar com esse mito de que é um bicho-papão. Eles estão
brincando ali, resolvendo junto com o material, a jogada, juntos
com os colegas que eles o perceber que não tem nada de bicho-
papão.
117
Pesquisadora: Após essa atividade você pretende desenvolver alguma
outra, em termos de registro em sala de aula?
Professora: (rs)... Eu tenho que fazer isso... porque é uma forma de
eu perceber a questão deles, da estruturação que eles têm pra
jogar, pra me dar uma resposta em relação ao registro. Então... eles
têm que fazer essa ligação, do que eles estão aprendendo, jogando
e da questão da resolução.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo aprendendo com as frutas, 27
de junho de 2008)
Nesse aspecto, é essencial destacar as iias de Kishimoto (1998) quando trata
do jogo educativo e seus objetivos pautados em suas funções: lúdica e educativa. A
função lúdica propicia prazer, diversão, desprazer quando escolhido voluntariamente e a
função educativa quando o jogo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seus
saberes e conhecimentos.
Quando a professora se apropriou desse jogo na aprendizagem matemática, tinha
seus objetivos lúdicos e pedagógicos a atingir, porém, as crianças ao interagirem com o
jogo não tinham o desejo de imediatamente jogá-lo, mas experimentá-lo, brincar com a
caixa e os acessórios antes de ler as regras e jogar. Como o professor tem o objetivo
pedagógico, muitas vezes, como principal, não compreendendo o valor do brincar, ele se
frustra quando não é cumprido no primeiro momento. Essa frustração aconteceu com a
professora que, ao perceber que não conseguia controlar esse desejo nas crianças,
começou a refletir o porquê daquele interesse e ao compreender a necessidade natural
de brincar, experimentar e manipular os componentes do jogo passou a planejar
destinando um tempo para que elas brincassem com o jogo, olhando para além de seus
objetivos matemáticos.
Assim, cabe enfatizar que a aprendizagem matemática foi concebida pela
professora como processo, e o jogo se constituiu em um meio de conhecer como a
criança aprende e avança em relação aos seus conhecimentos.
Com a palavra a professora participante:
As crianças estão aprendendo muito, esperar a vez do outro,
enxergar o outro e as questões mesmo da matemática, por exemplo,
dar uma resposta diferente daquilo que eu quero, que explique como
elas fizeram e as crianças perceberem, não só o professor perceber
que existem caminhos e respostas diferentes.
(Entrevista com a professora após a aula, jogo aprendendo com as frutas, 27
de junho de 2008)
Isso nos remete quanto, durante o processo de construção da aprendizagem
matemática, o professor deveria se colocar como observador e participante ativo,
valorizando e discutindo as idéias elaboradas pelas crianças, como nos sugere (Muniz,
118
2008b). A interação entre as crianças, o professor e os objetos reais ou simbólicos
presentes deveriam ser considerados sempre, pois é por meio dessa relação que existe a
troca de idéias, informações e os conflitos que propiciam a construção do pensamento.
A professora teve o papel de provocar a zona de desenvolvimento proximal das
crianças, citada por Vigotski (1935) como a distância entre o que a criança já sabe e com
a ajuda de outro consegue solucionar e avançar. Ademais, esse autor enfatiza o papel da
aprendizagem no desenvolvimento humano e valoriza a criança, a escola e o papel do
professor neste contexto. Quando pensamos essa concepção no ambiente escolar,
temos a intervenção intencional no processo de aprendizagem. As crianças traduzem no
jogo as situações da vida cotidiana e compreendem o que vivenciam no jogo e, dessa
forma, apreendem, assimilam e constroem novas aprendizagens, conforme as falas a
seguir:
Pesquisadora: E o que vocês aprenderam com aquele jogo?
Márcio: Matemática!
Pesquisadora: O que na matemática?
Raquel: A gente aprendeu jogando...
Márcio: Ah! dinheiro.
Raquel: Tipo assim... quando a gente for no mercado, a gente sabe o
troco que a gente vai receber... o tanto que a gente vai gastar...
Júnia: E também, a gente aprendendo, pode ensinar para outras
crianças ou outras pessoas.
(Entrevista com as crianças após o jogo aprendendo com as frutas, 27 de junho
de 2008)
Imagem 12: Manuseando e conversando sobre o jogo aprendendo com as frutas
Diante dessa perspectiva, o professor tem a possibilidade de, por meio do brincar,
desenvolver atividades e jogos que desafiem a criança, em especial, jogos com regras,
propiciando diversas aprendizagens e agindo prazerosamente sobre a zona de
desenvolvimento proximal, pois viabiliza a ação cognitiva. Um fator importante são as
regras presentes no brincar, obedecidas rigorosamente e com satisfação pelas crianças o
119
que transpõe a realidade adulta. A regra torna-se desejo como destaca Vigotski (1933, p.
111-112):
Assim, o atributo essencial do brincar é que uma regra torna-se um
desejo. As noções de Spinoza de que uma iia que se tornou um
desejo, um conceito que se transformou numa paixão, encontram seu
protótipo no brinquedo, que é o reino da espontaneidade e liberdade.
Satisfazer as regras é uma fonte de prazer. A regra vence porque é o
impulso mais forte... o brincar cria na criança uma nova forma de
desejos. Ensina-a desejar, relacionando seus desejos a um eu ficcio,
ao seu papel no jogo e suas regras.
O autor salienta a importância do avanço na aprendizagem infantil e para isso
contamos com a contribuição do professor que articula a mediação pedagógica durante
as construções da criança e do grupo, propiciando o avanço na zona de desenvolvimento
proximal. Conforme já retratado, o professor pode utilizar o potencial do jogo de modo
que tenha significado, já que este envolve a cultura e o imaginário infantil.
Corroboramos com a visão de Vigotski (1933, p. 118) ao dizer que sob o ponto de
vista do desenvolvimento, a criação de uma situação imaginária pode ser considerada
como um meio para desenvolver o pensamento abstrato..., portanto, enquanto as
crianças jogavam, elas estruturavam seu pensamento abstratamente para colocá-lo em
prática por meio das hiteses, manipulações do material concreto e registros,
construindo a aprendizagem matemática.
Diante dessa perspectiva, o jogo pode ser uma ferramenta cultural possibilitando
novas estratégias de aprendizagem no ambiente escolar de uma forma crítica, com
objetivos de acompanhar e mediar a criança em suas construções e não de propriamente
fixar conteúdos trabalhados na matemática. Nesse sentido, é primordial oferecer cursos
de formação inicial e continuada que valorizem e propiciem vivências e reflexões sobre o
papel do lúdico, em especial, dos jogos na aprendizagem escolar da criança.
Pimentel (2004) retratou em sua pesquisa um projeto realizado com professores
abordando o lúdico no processo educacional. A autora constatou uma reflexão maior
acerca do bimio jogo e ensino nos professores o que era desacreditado no início do
projeto. A partir do momento que a realidade passou a ser vivenciada pelos professores
do projeto houve mudanças na postura diante do jogo em ambiente escolar. Isso nos
mostra a necessidade de informação e formação prática neste âmbito com o objetivo de
criar nos cursos de formação inicial e continuada um currículo que mais valor ao
lúdico, criando momentos nos quais a relação jogo e educação sejam trabalhados.
Vale lembrar as reflexões de Pimenta e Anastasiou (2002) acerca das dificuldades
enfrentadas tamm no ensino superior. Segundo elas, na maioria das instituições há um
120
predomínio no despreparo e até um desconhecimento científico do que vem a ser o
processo de ensino e aprendizagem. Seria relevante, tamm, discutir os objetivos que
se têm com a graduação no país. Se queremos uma educação básica de qualidade, não
seria necessário um maior rigor junto aos cursos de graduação que se expandem pelo
país?
Para Pimentel (2004, p. 16):
É de suma importância, também, que a formação continuada conote
formação permanente. Isso representa uma significativa mudança nas
relações entre a escola e os centros de formação/investigação rumo a
uma política de integração e ação cooperada. Nessa linha de
pensamento, é fundamental que a Escola e a Universidade se tornem
parceiras. Uma parceria que não é de mestre e aprendiz, mas de
vínculo mutuamente colaborativo, cuja finalidade é apoiar o
desenvolvimento profissional do educador para sedimentar,
continuamente, concepção e prática educativas que primem pela
qualidade de ensino...
De acordo com a pesquisa já existem movimentos em algumas das principais
universidades brasileiras valorizando esta abordagem na formação de professores. Cabe
destacar que o curso de Pedagogia da Universidade de Brasília já possui em seu
currículo disciplinas que enfocam um olhar para o lúdico na educação. Assim, têm-se
caminhos traçados, pesquisadores e professores que buscam refletir mais sobre o papel
do brincar na educação, em especial, na Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Com o olhar mais aberto ao papel do brincar na educação, pode-se enfatizar o
jogo tamm dentro da aprendizagem escolar. Como ressalta Miranda (2001, p. 70): o
jogo motiva porque propõe situações que provocam a curiosidade das crianças, levando-
as a questionarem-se e, assim, a construir e reconstruir o conhecimento. O jogo na
educação matemática não pode ser fascinante e propiciar a elaboração do
conhecimento?
O professor então poderá desenvolver em sua prática docente planejamentos
diferenciados que propiciem a problematização na matemática e não a repetição de
modelos por meio de exercícios de fixação. Ademais, é primordial refletir sobre o jogo,
considerando que enquanto a criança joga não está jogando para aprender, mas para se
divertir, se sente livre para pensar e tentar.
Diante das constatações obtidas por meio da pesquisa, adentraremos a seguir
nas considerações finais.
121
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A essência do brincar não é um fazer como se, mas um
fazer sempre de novo, transformação da experiência mais
comovente em hábito.
Benjamin, 1928, p. 102.
Nesse momento, é importante apresentar as considerações e contribuições a
partir do desenvolvimento da pesquisa, das apropriações do jogo de regras pela
professora, bem como indagações a futuras pesquisas. O texto a seguir traz uma reflexão
ampla sobre o jogo na educação, abordando possibilidades e limites.
1. Implicações pedagógicas
Como educadores vivemos proezas e frustrações diante do
disponível que a instituição escolar tem para oferecer. Mas
a grandeza da alma infantil, que transforma o pouco em
suficiente, e dali seu instrumento de evolução.
Miranda, 2000, p. 44.
Diante da amplitude de contextos sociais e culturais, temos a escola como um
espaço de transformação das pessoas, no qual, crianças, adolescentes, jovens e adultos
interagem, trocando seus conhecimentos, aprendendo e modificando. Assim, ao observá-
la notamos sua dimensão, sua responsabilidade social e especificidades, percebendo sua
complexidade e diversidade, tanto como instituição, quanto na maneira em que, muitas
vezes, se processa nela a construção do conhecimento e da aprendizagem. Deparamo-
nos com uma visão autoritária em relação ao conhecimento, como se este ocorresse de
forma linear e muitas vezes no silêncio da criança.
No entanto, é fundamental salientar que, na atualidade, a globalização trouxe
consigo grandes mudanças sociais, e a educação tem tido alguns entraves diante dessa
nova situação, abriu-se um mundo diverso diante de uma escola normatizada e, muitas
vezes, com um projeto político pedagógico desvinculado da realidade e do significado.
Nesse sentido, Gimeno Sacristán (2007) trata das novas mudanças mundiais
diante da globalização, retratando que a imprevisibilidade é característica das sociedades
modernas, tecendo reflexões acerca da educação. Para o autor (2007, p. 25):
A educação pode ser um instrumento para dar consciência desta
realidade e ajudar a esmiuçá-la. Este seria o novo horizonte para o
moderno princípio de educar para a vida que requer agora uma
alfabetização cultural mais exigente, com um olhar muito mais amplo.
122
Nessa perspectiva, é importante ressaltar o surgimento de desafios que abarcam
as novas mudanças educacionais, voltadas à integração da escola com a realidade,
sendo esta conectada ao mundo, no intuito de mobilizar novas aprendizagens,
propiciando a construção de um indivíduo mais criativo, reflexivo e atento ao outro e à
vida.
Assim, cabe refletir, pois estamos diante de uma situação provocadora e de um
mundo interligado. Faz-se necessário, além da reorganização de questões burocráticas,
a mobilização de novas práticas e estratégias educacionais neste contexto globalizado
que requer um indivíduo com vários conhecimentos de mundo. Os desafios da educação
são diversos e vão desde a hierarquização do sistema, a estrutura física da escola, a
desvalorização dos professores, até a melhoria na prática pedagógica, na qual seja
possível um vínculo maior com a realidade, a fim de uma aprendizagem mais prazerosa.
Moraes (2004, p. 261) entende que o fundamental em educação é:
Poder viver a experiência do trajeto, da descoberta do caminho,
vivenciar o processo, o aqui e agora de cada momento de
aprendizagem... Existe apenas o caminho que é feito pelos passos de
cada um, demonstrando assim que o ser humano o é passivo diante
do mundo, já que o interpreta e o reconstrói na medida em que vai
experimentando, construindo, reconstruindo e desconstruindo o seu
mundo e sendo, simultaneamente, construído e reconstruído também
por ele.
Pensando no que Moraes (2004), aponta é indispensável refletir sobre a educação
no âmbito escolar, objetivando mudanças na organização do trabalho pedagógico para a
melhoria da aprendizagem. Dessa forma, destacamos que, apesar de a escola se ligar a
uma estrutura político-social ampla, cada coordenador pedagógico e/ou professor pode e
deve buscar melhorias na organização de seu trabalho pedagógico com vistas a uma
maior qualidade educacional e ao crescimento do aluno.
Nesse sentido, refletimos sobre a inserção de jogos de regras como estratégia
pedagógica no intuito de o professor conhecer a criança, como ela pensa e organiza o
pensamento matemático a fim de desafiá-la e possibilitar diversas experiências
relacionadas à formação humana. Afinal, o jogo de regras não envolve somente o
conhecimento matemático, mas a relação da criança consigo, com seu conhecimento,
com o outro, com as outras áreas do conhecimento, com o erro e o acerto, o ganhar e o
perder, o frustrar e a alegria, enfim, aspectos individuais, sociais, emocionais, cognitivos
e afetivos que norteiam a condição humana.
Diante dessa vasta relação de vivências possibilitadas pelo jogo, o professor
poderia apropriar-se dele na aprendizagem matemática, de modo que seja uma
123
estratégia para observar a aprendizagem e buscar o desenvolvimento de novas
atividades visando ao avanço da criança.
Esse jogo possibilita também uma aprendizagem mais cooperativa, apesar da
noção de ganhar ou perder, a criança é livre para ajudar o colega no desafio de construir
uma resolução. Afinal, foi corroborado por esse estudo que, diante dessas noções, a
criança se sente desafiada primeiramente pelo próprio conhecimento, assim ela quer
resolver a situação, mesmo que seja problema do outro. O estudo revelou que durante
as situações nas quais a criança joga, percebem-se grande atenção, estímulo e
envolvimento para solucionar o desafio, inclusive uma grande cooperação entre os
membros do grupo, que geralmente respeitam bem as regras. Os jogos de regras para o
favorecimento da aprendizagem matemática extrapolaram esse estudo, permitindo outras
formas de a criança aprender, pensar e fazer matemática.
A cada jogada, a criança, naturalmente, se colocou à disposição do olhar crítico
do professor. Olhar que acompanhou as ações da criança diante de seu conhecimento,
do outro jogador, bem como as estratégias construídas para resolução do desafio, as
tomadas de decisão e as formas de expressar a resolução sejam por meios pictóricos,
orais ou registros escritos.
Cabe refletir que, de fato, não é fácil trabalhar com jogos, pois implica mudança
na postura do professor diante do conhecimento da criança, de como concebe a
aprendizagem, retirando-o da posição de controlador e transmissor, trazendo-o ao papel
de mediador, participante, observador e tamm jogador. Lembrando que o jogo é
imprevisível e lidar com essa perspectiva, considerando o pensamento e a aprendizagem
matemática da criança exige diálogo e um olhar mais atento do professor, além de uma
nova organização no espaço da sala de aula. A apropriação do jogo de forma crítica,
mediada encontra outros desafios, como a grande quantidade de alunos por turma,
porém, não impede que este trabalho seja desenvolvido inclusive em grupos e que o
professor organize outras maneiras de experimentação.
Trabalhar a partir de jogos e brincadeiras envolveu perder o controle das ações
e modelos pré-definidos, não no sentido disciplinar, mas na imposição de limites à
descoberta do conhecimento da nova matemática e à nova estratégia pedagógica que
pode inovar as atividades escolares. Muitas vezes, o professor se mostra inseguro e
receoso, afinal, a compreensão do que é matemática e do que é apren-la foi arraigada,
de forma rígida e modelada. Então, cabe a ele compreender a riqueza imagiria,
material e de conhecimentos que está disponível no jogo e buscar o desenvolvimento do
papel de mediador, companheiro também de descobertas e aprendizagens.
124
Nesse sentido, foi notório o fato de que a professora participante se apropriava do
jogo, mesmo que, inicialmente, com objetivos voltados para a recreação e fixação de
conteúdos matemáticos pelas crianças. Aos poucos, foi desenvolvendo um olhar mais
atento aos processos propiciados pelo brincar, vislumbrando também o jogar dentro
dessa perspectiva. Na citação a seguir, ela falou do desejo das crianças em brincar com
o jogo após o término da jogada e de sua ação. Cabe ressaltar que, nesse momento, ela
ouviu as histórias das crianças após criarem seus desenhos utilizando as figuras
geométricas, componentes do jogo.
A questão final do jogo foi mudada por eles que brincaram com as
peças e criaram. Eu percebi a vontade e a empolgação deles em criar
com as peças durante o jogo mesmo. Eu percebendo isso, não dava
pra não deixar brincar.
(Entrevista após a aula com a professora, jogo quantos azulejos cabem na
parede?, 2 de julho de 2008).
Ao longo da pesquisa, observou-se que a professora começou a analisar o que
acontecia durante o jogar das crianças, o que e como reagiam e resolviam as situações
matemáticas propostas no jogo, passando a melhor conhecer o processo de
aprendizagem de cada uma delas e outros aspectos possibilitados. Seu ato de pensar
sobre o que acontecia naqueles momentos e participar com as crianças, bem como olhar
para seu fazer pedagógico lhe conferiram mais autonomia, segurança e abertura no
processo, vislumbrando informações importantes e aprendizagens das crianças ainda
não percebidas e valorizadas.
Diante dessa realidade, por meio de um trabalho voltado para a formação inicial e
permanente acerca desse tema, poderiam envolver-se os professores no conhecimento e
na valorização dessa ferramenta cultural que pode ser apropriada como estratégia
pedagógica na aprendizagem infantil dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Ademais,
é imprescindível lembrar que o professor enfrenta desafios para trabalhar com jogos,
afinal, exige-se dele uma reflexão maior sobre a criança, a elaboração do conhecimento
matemático e a aprendizagem.
Desafiar cada criança foi essencial, inclusive, propondo a cada aula momentos e
situações diferenciadas do que seria fazer matemática, envolvendo tamm sua
formação integral. Cabe destacar a idéia de que a professora não foi somente
observadora, mas que transitou por outros papéis como o de jogador e percebeu as
diferentes maneiras de cada criança se colocar diante do jogo, sem que as atividades se
tornem exaustivas. Pois, para a criança, o brincar é natural e jogar implica se divertir,
mesmo que o jogo seja criado e proposto pelo adulto.
125
No presente estudo, o brincar e o jogo revelaram-se grandes aliados na
aprendizagem matemática, sendo necessário o professor ter objetivos claros, um olhar
diferenciado e abertura ao conhecimento da criança e ao imprevisível, desafiando-a na
busca de conhecimento, inclusive, na sua formação enquanto ser humano e propondo a
cada aula momentos e situações diferenciadas.
Tivemos o cuidado para não reprimir a criança logo no início da escolarização,
porém, foi primordial desenvolver atividades matemáticas que facilitassem a
aprendizagem e provocassem o desejo nas crianças. De nada adianta querer ensinar
como se elas fossem adultas, elas são crianças e têm sua história e desejos. Afinal, o ato
de aprender pressupõe sempre a relação com o outro e o que é repassado tamm por
meio das relações afetivas. E é neste processo de transferência e encontro que foram
provocados o desejo e a produção de novos conhecimentos. Portanto, faz-se necessário
resgatar a criança no professor. Nós, profissionais da educação, o deveríamos nos
entregar somente às técnicas, devemos conhecer e valorizar a criança a fim de
propiciarmos um processo de ensino-aprendizagem significativo na escola.
Em geral, a escola ainda tem uma estrutura fechada e, muitas vezes, não
possibilita a movimentação e a interação entre grupos. No entanto, caberia ao professor a
utilização de novas estratégias para que o jogo não se tornasse apenas passatempo para
ele, sem observações necessárias para conhecer como a criança pensa. O estudo
mostrou que é importante o mesmo se organizar para trabalhar com outras metodologias
a fim de propiciar novas experiências.
Portanto, é imprescindível buscar novos instrumentos e estratégias metodológicas,
bem como a prática da pesquisa pelo professor e sua presença no espaço escolar a fim
de propiciar momentos de reflexão, de fala sobre a prática docente, sobre os medos e os
desejos, como ocorreu na pesquisa, bem como aos pais para que familiarizem com essa
educação matemática que pode ser permeada tamm pelo brincar e pelos jogos.
2. Como aconteceu a apropriação do jogo de regras?
As transformações das práticas docentes só se efetivam na
medida em que o professor amplia sua consciência sobre a
própria prática, a de sala de aula e a escola como um todo.
Pimenta, 2008, p. 7.
Desde os primeiros encontros com a professora e com as crianças, tentei conter
minha felicidade e empolgação diante de todos os momentos e descobertas junto deles,
muitas vezes chegava a interferir nas jogadas. O entusiasmo não se findou. Senti
126
vontade de continuar pesquisando, pois a professora a cada encontro conhecia mais
suas crianças e se envolvia na busca por novos desafios e tamm se via diante deles.
Ela foi desenvolvendo a escuta das crianças durante as jogadas e se intrigava com o
conhecimento que construíam (antes não observado atentamente) e que muitas vezes
não era esperado, no entanto, havia espanto e alegria ao visualizar as elaborações
matemáticas durante os jogos por ela apropriados.
Vários momentos de reflexão e aprendizagem ocorreram conosco. Percebo que o
autoconhecimento, o pensar sobre o fazer pedagógico e a aceitação do imprevisível são
primordiais para nosso avanço. A professora, com seu movimento, intrigava suas
colegas, que nos observavam durante as entrevistas e iam conhecer os jogos e aos
poucos se entusiasmavam por eles, inclusive, uma delas foi completamente mobilizada
pela professora participante. Depois de terminar a pesquisa de campo, quase sempre ia à
escola, assim, pude acompanhar seu entusiasmo durante as falas diante da nova
abordagem junto das crianças. As duas professoras e seus alunos passaram a
desenvolver atividades coletivas com jogos.
No entanto, no meio desse processo fascinante, tive de me afastar daquele
ambiente para compreender e analisar as informações conseguidas a fim de tentar
responder os questionamentos:
Como o professor se apropria do jogo de regras para desenvolver a aprendizagem
matemática na criança? Ele adapta e produz novos jogos?
Como o professor acompanha a construção desse ser matemático durante as
atividades com jogos?
Os jogos de regras participam do processo de avaliação por parte do professor?
Como?
Desse modo, pesquisei o referencial trico, principalmente em Brougère (1998a,
1998b, 2002), Grando (1995, 2000, 2004, 2007), Huizinga (1954), Kishimoto (1998, 2002,
2005), e Muniz (1999, 2001, 2006, 2008a, 2008b) no que diz respeito ao jogo, buscando
outros autores importantes para articular as comunicações entre a criança, a
aprendizagem e a formação docente.
A essa abordagem foi destinado o estudo de caso, propiciando o conhecimento da
realidade em questão em seus vários aspectos e, a partir das informações advindas da
pesquisa de campo, busquei organizar, analisar e interpretá-las.
Ao longo da investigação foi possível acompanhar o processo de seleção e
apropriação dos jogos pela professora pesquisada para o favorecimento da
aprendizagem matemática das crianças que, inicialmente, priorizava o divertimento, a
127
fixação de conteúdos desenvolvidos em sala de aula, sem o objetivo de observar como
cada criança construía a matemática.
Com o desenrolar das atividades e de nossos encontros, ela foi se interessando
em conhecer o processo, como cada uma delas construía e registrava seu pensamento,
observava e mediava, percebendo o desenvolvimento, os avanços e dificuldades de cada
uma; assim, além do divertimento e da fixação, houve a inserção de jogos para trabalhar
conteúdos matemáticos novos.
Nos momentos de planejamento, que se tornaram mais reflexivos após cada
encontro, a professora selecionava os jogos a partir dos seguintes critérios:
Interesse da criança: escolhia os jogos considerando as preferências das
crianças: comidas, brincadeiras, cultura lúdica com situações simulando a
vida real e objetos que gostavam de brincar como: dados, tabuleiros,
cartas, piões, entre outros que compunham quase todos os jogos.
Tipos de conhecimentos matemáticos desenvolvidos pelo jogo (Apêndice
24): escolhia os jogos que envolviam desafios, conceitos que estavam
sendo trabalhados com as crianças e conceitos novos, como multiplicação
e divisão. Além disso, escolhia jogos com estrutura física e componentes
diferentes, por exemplo, xadrez (batalha matemática), futebol (goleando a
matemática) e ábaco (casa da matemática: em busca do ábaco perdido)
que não foram explorados, já que somente ao final do jogo a criança era
desafiada a resolver com ele e isso aconteceu unicamente com Bianca.
Ela utilizou-o sem mediação por parte da professora, apenas contou
somando as bolinhas, juntando uma quantidade em cima e outra embaixo
e depois contando todas.
A adaptação e/ou produção de jogos pela professora acontecia em algumas
situações específicas, afinal, não foram produzidos por ela e sim por alguns alunos do
curso de Pedagogia da UnB. Sendo assim, os objetivos dos criadores de cada jogo não
eram os mesmos de quem se apropriaria deles, no caso, a professora do 3
o
ano do
Ensino Fundamental, ou seja, a apropriação é reelaborante: cria um novo jogo.
128
Adaptação do jogo: adaptava os jogos considerando seus objetivos com as
crianças:
1. No caso do jogo batalha matemática, ela reproduziu mais um para
que toda a turma jogasse simultaneamente.
2. Nos jogos conte e ande (Apêndice 9) e aprendendo com as
frutas (Apêndice 14), retirou-se a marcação de tempo para que o
jogador solucionasse a situação, sugerida por quem o criou.
3. Nos jogos batalha matemática, jogo do sorvete, aprendendo
com as frutas, conte e ande, patinhos na lagoa e quantos
azulejos cabem na parede?, a professora acrescentou o material
dourado para desafiar as crianças a utilizá-lo da forma
convencional. No caso, do jogo casa da matemática: em busca do
ábaco perdido propiciou-se a manipulação do ábaco sem a
mediação pedagógica e em nenhum outro momento foi
disponibilizado esse recurso.
4. No jogo patinhos na lagoa, ela criou novas cartas com situações-
problema acerca da subtração, pois o que estava elaborado não
possibilitaria avanço para as crianças.
129
Imagem 13: Cartas elaboradas para o jogo patinhos na lagoa
Produção de jogo: criou o jogo corrida da tábua e suas regras,
confeccionou-o, objetivando trabalhar a memorização da multiplicação. Ela
inseriu relógio e ampulheta para marcar o tempo de resolução da operação
multiplicativa de cada jogador na dupla, o que não ocorreu durante as
jogadas, pois as crianças se envolveram tanto no ato de solucionar a
operação que estes instrumentos foram esquecidos. A criança que teria
que marcar o tempo do colega também se sentia desafiada, então, ficava
pensando e ajudando-o a contar e assim esquecia essa marcação.
O processo de mediação pedagógica era concebido pela professora como
intervenções junto às crianças com objetivo de acompanhar e auxiliá-las na resolução
das situações e desafios matemáticos. Esse momento possibilitava apreciar o processo
de aprendizagem, ou seja, como as crianças construíam seus conhecimentos, quais
estratégias utilizavam durante as jogadas e resoluções e, além disso, conhecia em que
deveriam avançar. Dessa forma, acompanhava como cada criança estava diante da
matemática e poderia desenvolver atividades e estratégias para adiantar a
aprendizagem, permitindo às crianças brincar” com a matemática.
Retomando as idéias de Pozo (2002) quando enfoca que o professor deve ser
quem pensa e quem se conscientiza das dificuldades de aprendizagem no sentido de ser
130
mediador, é necessário destacar que a professora ao longo da pesquisa foi tomando
consciência de seu papel junto às crianças e se colocando como parceira. Ela não se
eximiu do seu papel de mediadora, pois durante as jogadas das crianças estava quase
sempre atenta às construções, provocando-as e oferecendo outras possibilidades de
resolução dos desafios, por meio dos materiais concretos para manipulação já dispostos
na caixa de jogo e outros acrescentados por ela. Ao disponibilizar outros materiais
concretos para as crianças no momento de resolução, a professora mostrou
compreender a riqueza propiciada por cada um deles no processo, além de desenvolver
conhecimentos matemáticos que não estavam explícitos nas regras dos jogos. Por meio
do jogo de regras, como é possível o professor desenvolver novas estratégias para ligar a
elaboração do conhecimento matemático às outras atividades? Como o professor pode
registrar a partir do jogo?
Ao longo desse estudo, foi possível constatar que os jogos se tornaram
instrumentos de avaliação do conhecimento matemático. A professora permitiu conhecer
como as crianças pensavam e resolviam as situações matemáticas. Esse processo gerou
a reflexão acerca do fazer pedagógico dessa professora que percebeu a necessidade de
presenciar, ouvir e dialogar com as crianças no momento das jogadas. Ela descobriu
também que era primordial avançar e desenvolver atividades de registro a partir dos
jogos. Afinal, os jogos estavam o tempo todo na fala e no brincar das crianças, desde a
sala de aula, as cartas de jogo que circulavam escondidas da professora que ainda não
havia considerado possibilidades a partir delas, o Conselho das crianças, abordado
anteriormente, até as conversas durante as entrevistas realizadas no decorrer da
pesquisa. E o processo de avaliação por meio do jogo de regras, como pode ser
norteado?
Nota-se nesse estudo que existe um processo dinâmico em torno do jogo, de suas
possibilidades e limites que carece de reflexão e principalmente informação para que
possa tê-lo como estratégia criativa de produção do conhecimento matemático. O
professor reflexivo revelou-se como aquele que ouve, pensa e reinventa seu fazer
pedagógico, objetivando a troca entre as crianças e as possibilidades abertas por cada
atividade proposta na escola. E, segundo Pimenta (2008, p. 23) só a reflexão não basta,
é necessário que o professor seja capaz de tomar posições concretas.... O jogo de
regras pode ser uma estratégia de grande valia no processo educacional, desde que
concebido como facilitador, alargando as possibilidades de aprendizagem. O professor
além de levar jogos de regras para a sala de aula, não poderia também desenvolvê-los
junto às crianças?
131
Aprender por meio do brincar se torna agravel além de fazer parte da vida
infantil. Tanto os jogos espontâneos e/ou de regras podem trabalhar a matemática com
distração e divertimento, quanto possibilitar ao professor uma observação mais específica
de como a criança matematiza. Foi desafiante trabalhar com jogos no contexto escolar e
isso exigiu da professora um bom planejamento, organização e um olhar diferenciado
sobre o brincar e o jogo na aprendizagem matemática; aprender matemática dessa forma
pode ser muito divertido.
Como já destacado, ao pensar na formação de professores que atuam ou atuarão
nos anos iniciais do Ensino Fundamental é extremamente importante destacar a relação
do lúdico na constituição destes seres, além de propiciar maiores aproximações com o
papel do brincar na escola, o que poderá trazer melhorias na qualidade educacional, bem
como uma satisfação maior das crianças com o entusiasmo em aprender.
O lúdico, como já enfatizado, permeia toda a vida e consequentemente, podendo
receber uma valorização no processo escolar. Porém, será que a formação inicial e
continuada de professores oferece e discute momentos nos quais há um olhar sobre este
aspecto da infância? Ao nos tornarmos adultos não brincamos, o jogamos mais, como
podemos pensar essa relação entre o jogo e o conhecimento tratado na escola?
É importante destacar que a forma como o professor se apropria do jogo junto da
criança não é a mesma concebida inicialmente pelo autor deste e, sobretudo, é bem
diferente em relação à maneira como a criança desenvolve a atividade lúdica. O jogo
ganha novas perspectivas por meio da ação planejada do professor, e em contato com o
pensamento da criança este adquire novo sentido.
Dessa forma, ressaltamos o olhar e a concepção dos pais ao se intrigar e
questionar a escola que valoriza o brincar na aprendizagem e que percebe a necessidade
de conhecer essa matemática de sentidos, afinal ela é diferente da experimentada por
eles e também exige uma nova postura sobre o que vem a ser aprender e fazer
matemática. Qual a concepção dos pais acerca dessa nova matemática, cheia de vida e
possibilidades de construção do conhecimento? Dessa forma, como conceber como séria
a escola que se constitui a partir do jogo da criança promovido pela professora?
132
3. E como foi pesquisar a aproprião do jogo?
É nesta relação entre a prática e a teoria que se constrói
tamm o saber docente.
Ghedin, 2008, p. 134.
Ao relembrar minha historicidade e as relações construídas a partir do contexto
lúdico, reflito sobre minha constituição profissional e meu caminhar até aqui. Relaciono
esses aspectos vividos, comparando-os aos andaimes e a cada jogada em um jogo: aos
andaimes remeto a força e a coragem para subi-los processualmente ao longo de minha
vida, alcançando a cada passo degraus não conhecidos e cheios de novas possibilidades
e, quanto a cada jogada, faço referência às descobertas, medos, crescimentos e também
o lidar com a imprevisibilidade, que permeia cada instante de nossa vida.
Meu caminhar foi constituído a partir de desafios internos e da busca de soluções.
Desafios e cartas surpresas que ao longo dessa pesquisa impulsionaram a descobrir-
me e tomar decisões diante da imprevisibilidade. Constituir-me como professora e
também pesquisadora é um processo permanente de entrega, tentativas, resgates,
autoconhecimento e possibilidades. E, durante esses momentos, torna-se inevitável se
abrir ao mundo, olhar para si e escutar, pois mesmo diante da construção da dissertação
somos levados a resgatar nossa visão de mundo. Escrevê-la não foi um processo fácil,
porém prazeroso. Pesquisar um objeto e analisá-lo implica aproximação também consigo
mesmo em outros aspectos da vida e o reconhecimento de nossos limites, do tempo, da
busca de conhecimentos, chegar ao final desse processo desejando a continuidade
desse fazer.
Investigar o jogo de regras para o favorecimento da aprendizagem matemática foi
fantástico, apesar de compreender que este foi um ato difícil. Fantástico porque os
questionamentos práticos acerca do jogo de regras advindos do meu fazer pedagógico
foram reveladores e cheios de novas aprendizagens nesse estudo e difícil, pois o jogo se
relaciona às dimensões reais e imaginárias, à busca incessante e à relação com a
pesquisa, que não é neutra. Pelo contrário, esse caminho é cheio de afeições, desejos,
imprevisibilidades e descobertas. A pesquisa foi um processo de diálogo, de trocas e
compartilhamento de idéias e sentimentos. Envolvi-me bastante na relação com a
professora e as crianças, bem como com os jogos existentes na escola, afinal, não era
somente algm que estava ali para pesquisar.
Afinal, estamos sempre aprendendo e recomeçando o jogo, é o que pude
perceber ao longo de minha vida profissional e também na pesquisa. Foi encantador
pesquisar o jogo de regras, desde o primeiro contato na escola (espaço aberto à
133
pesquisa), as jogadas das crianças, o diálogo, o acompanhamento do processo de
elaboração e reelaboração do fazer pedagógico da professora diante das atividades com
jogos, propiciaram momentos ricos em vivências e reflexões acerca da ludicidade no
ambiente escolar.
A pesquisa teve seus desafios teóricos, metodológicos, porém, contou com um
sujeito, carta surpresa ao longo de cada encontro. Sujeito esse tamm que se abriu
para si e para o outro, possibilitando a realização do estudo. Temos, às vezes, uma
realidade institucional que diz não ao novo, desse modo, dizer sim as possibilidades pode
abrir caminhos desconhecidos e interessantes. Assim como no jogo, vibramos e tamm
nos frustramos com a educação, porém, temos o desejo e o desafio como
impulsionadores da busca e das tentativas. Retomo os questionamentos levantados e,
como nada está pronto, consequentemente, outros emergirão a partir dessa pesquisa:
Por meio do jogo de regras, como é possível o professor desenvolver
novas estratégias para ligar a elaboração do conhecimento matemático às
outras atividades? Como o professor pode registrar a partir do jogo?
E o processo de avaliação por meio do jogo de regras, como pode ser
norteado?
O professor além de levar jogos de regras para a sala de aula, não poderia
também desenvolvê-los junto às crianças?
Será que a formação inicial e continuada de professores oferece e discute
momentos nos quais um olhar sobre este aspecto da infância? Ao nos
tornarmos adultos não brincamos, não jogamos mais, como podemos
pensar essa relação entre o jogo e o conhecimento tratado na escola?
Qual a concepção dos pais acerca dessa nova matemática, cheia de vida
e possibilidades de construção do conhecimento? Dessa forma, como
conceber como séria a escola que se constitui a partir do jogo da criança
promovido pela professora?
134
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138
ANDICES
Apêndice 1: Jogo da velha matemática
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas crianças ou duas duplas para cada tabela
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Oito tabelas grandes com o jogo;
Seis tartaruguinhas;
Seis golfinhos;
Quatro saquinhos com material em E.V.A para contagem (bolinhas, estrelas, corações, flores);
1 dado convencional, de cor branca, com bolinhas indefinidas.
OBJETIVOS DO JOGO:
O objetivo do jogo é formar a velha, ou seja, três sequências de bichinhos iguais, em uma das posições:
vertical, horizontal ou diagonal. A criança neste jogo tem a possibilidade de fazer a operação inversa (adição,
subtração, multiplicação), ou seja, parte do resultado para procurar a operação correspondente. Além disso,
um contato facilitado da criança com as operações matemáticas feitas através da brincadeira.
REGRAS DO JOGO:
Primeiro, jogue o dado. Quem tirar o maior número começa o jogo. Depois, o ganhador escolhe o golfinho ou
a tartaruguinha para jogar. Quem começar jogando, escolhe uma ficha e coloca no seu espaço o bichinho de
tamanho pequeno que tiver. O jogador resolve a operação e coloca o bichinho de tamanho grande no
quadradinho da tabela em que conter o resultado. O outro jogador escolhe uma ficha e marca com seu
bichinho de tamanho pequeno. Depois marca o resultado da operação no quadradinho correspondente da
tabela. Ganha o jogo quem completar a velha. Se o jogador escolher uma ficha que não tiver o resultado na
tabela, ele passa a vez para o outro. Se em uma rodada ninguém fizer velha é porque houve empate.
Ganha o jogo quem marcar as três sequências em uma das posições: vertical, horizontal ou diagonal.
139
Apêndice 2: Mavi - matemática aplicada à vida
AUTORAS: Margareth Vieira Silva Lopes e Patrícia Lopes do Nascimento
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas duplas ou dois trios
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro com trilha;
Um dado de cor branca, com bolinhas;
Seis pinos, sendo dois amarelos, dois vermelhos e dois verdes;
54 cartas coloridas, sendo 9 de cor rosa, nove de cor amarela, nove de cor roxa, nove de cor vermelha,
nove de cor verde e nove de cor branca;
Material dourado planificado, sendo 10 centenas, 53 dezenas e 165 unidades;
15 estrelas coloridas;
49 palitos de picolé;
fichas para o placar de pontos.
140 notas de dinheiro sem valor comercial, sendo:
20 de R$ 1,00;
20 de R$ 2,00;
20 de R$ 5,00;
20 de R$ 10,00;
20 de R$ 20,00;
20 de R$ 50,00;
20 de R$ 100,00;
54 moedas sem valor comercial, sendo:
12 de R$ 0,01;
sete de R$ 0,05;
sete de R$ 0,10;
sete de R$ 0,25;
nove de R$ 0,50;
12 de R$ 1,00.
140
OBJETIVOS DO JOGO:
É um jogo pedagógico que trabalha a matemática de forma cooperativa visando trabalhar com as crianças
situações-problema encontradas no cotidiano e estabelecer relações sócio-cognitivas entre si. As crianças
devem resolver o maior número de situações e realizar micos acumulando pontos. Essas situações serão
desenvolvidas por meio de materiais sugeridos (material dourado planificado, palitos, canudos, moedas e
dinheirinho e estrelas. Ganha o jogo quem chegar primeiro ao final da trilha.
REGRAS DO JOGO:
Para começar, cada equipe começa o jogo com 10 pontos. Começa a jogar a dupla ou trio que tirar a maior
quantidade no dado. A equipe vencedora deverá lançar o dado novamente para que possa percorrer o
tabuleiro.
As casas que estão contidas no tabuleiro são representadas por cinco cores: amarelo, rosa, vermelho, verde,
branco e roxo e, cada cor corresponde a uma carta. A equipe que parar em uma determinada casa deverá
retirar uma carta da cor corresponde. Nas cartas podem ser encontradas situações matemáticas, micos ou
paradas obrigatórias. As cartas possuem pontos que variam de zero a cinco, lembrando que nas cartas de
parada obrigatória a equipe não ganhará, nem perderá pontos. Nas situações-problema, a dupla ou trio que
não responder ou não acertar o que foi proposto não ganhará os pontos descritos na carta e, no caso dos
micos, os participantes que não realizarem a tarefa perderão os pontos. Para a resolução das situação-
problema, serão dadas nas cartas sugestão de materiais (palitos de picolé, canudos, material dourado
planificado, estrelas, moedas ou dinheirinho) que poderão ser utilizados. A forma que cada equipe determinar
para a solução das situações deverá ser explicada para a outra equipe final de jogo: Assim que uma das
equipes chegar ao final do tabuleiro, soma-se todo os seus pontos ganhos e vence o jogo aquela que obtiver
a maior pontuação.
Apêndice 3: Batalha matemática*
*Jogo reproduzido pela professora
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a quatro crianças individuais ou duas equipes com até três crianças cada.
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro personalizado (8 x 8 casas);
Quatro soldados coloridos (vermelho, preto, amarelo e azul);
Uma caixa de material dourado para cada jogador ou equipe;
Duas tabelas verdes para marcar a pontuação;
141
11 capacetes de ferro;
Um dado de cor rosa com meros de 1 a 6;
Um dado colorido com seis cores e com números 0, 2, 3, 4, 5,6.
OBJETIVOS DO JOGO:
O jogo consiste na eliminação das peças do oponente, oportunizando a matematização de forma lúdica,
trabalhando o acúmulo de pontos e a representação por meio de palitos e material dourado. Vence o jogo, o
jogador ou a equipe que solucionar todas as resoluções multiplicativas e ultrapassar os obstáculos até
derrubar todas as peças da tropa inimiga.
REGRAS DO JOGO:
Cada participante posicionará seus soldados nas casas de cor marrom escuro da primeira fila em relação ao
jogador. Um participante joga primeiro o dado de cores que selecionará a cor do soldado que movimentará e,
em seguida, o dado de cor rosa para sortear um mero, porém, a movimentação só é possível com o êxito
na multiplicação dos dois números. O resultado da multiplicação se estiver correto, não apenas habilita o
soldado avançar casas, mas acumular pontos que serão registrados por cada jogador na tabela com material
dourado, podendo haver a promoção de cada soldado a sargento e, posteriormente, a capitão. Ao ficar de
encontro com a peça do adversário, ganha a casa e elimina o oponente aquela peça que tiver maior patente.
Se for da mesma patente, ganha a peça que possui o maior número de pontos acumulados, para isso,
retorne à tabela de pontuação e verifique as quantidades. Vence aquele jogador que derrubar todo o exército
inimigo, dominando o campo de batalha matemática.
Hierarquia:
Soldado: de 0 a 9 unidades. Movimentação e ataque: só para frente.
Sargento: de 10 a 99 unidades. Movimentação e ataque: para frente.
Capitão: de 100 a 999 unidades. Movimentação e ataque: ambos para frente e para trás.
Apêndice 4: Casa da matemática: em busca do ábaco perdido
RECOMENDADO PARA: 4º ao 5º ano
PARTICIPANTES: no mínimo três crianças, sendo que uma delas deverá ser juiz.
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro retangular com trilha numérica e casas surpresas;
Um envelope contendo operações de adição com até 3 algarismos, subtração com até 2 algarismos e,
multiplicação e divisão com um algarismo para a casa números;
142
Um envelope com cartas situações-problema e outro com respostas para a casa quarto;
Um envelope um com cartas de situações-problema e outro com respostas para a casa jardim;
Um envelope um com cartas de situações-problema e outro com respostas para a casa sala;
Um envelope um com cartas de situações-problema e outro com respostas para a casa banheiro;
Um envelope um com cartas de situações-problema e outro com respostas para a casa cozinha;
13 placas em E.V.A com centésimos do material dourado;
35 placas em E.V.A com decimais do material dourado;
Um saquinho com unidades do material dourado;
Quatro pedrinhas coloridas (peões);
Um dado de cor branca com números de 1 a 6;
100 palitos;
50 canudinhos coloridos;
Duas cartelas de dinheirinho;
Três blocos para rascunho;
Um ábaco retangular pequeno colorido.
OBJETIVO DO JOGO:
Resolver situações-problema envolvendo adição com até 3 algarismos, subtração com até 2 algarismos,
multiplicação e divisão com 1 algarismo, utilizando alguns materiais de contagem específicos (canudinhos,
dinheirinho, palitos, material dourado, bloco, ábaco) e chegar ao final da trilha. O jogo permite à criança se
colocar em várias situações de faz-de-conta ou envolvidas à realidade.
REGRAS DO JOGO:
O juiz será responsável por sortear os probleminhas dos envelopes e conferir as respostas. Para começar,
cada jogador deve escolher um peão e colocar no início do jogo. Começa quem tirar o maior número no
dado. Cada participante deverá jogar o dado na sua vez. O número que sair no dado indica a quantidade de
casas que deverá avançar. Sempre que cair nas casas de números o participante deve sortear uma fichinha
do envelope números e resolver a operação matemática. Caso erre, ele fica uma rodada sem jogar. Quando
cair em alguma parte da casa, o participante deve sortear uma fichinha do envelope correspondente e
resolver o probleminha. (Atenção! Alguns probleminhas solicitam material para resolver). Caso erre, ficará
uma rodada sem jogar. Na casa final Enigma do Ábaco, o participante sorteará uma fichinha do envelope
números e resolver a operação utilizando o ábaco. Se acertar, será o campeão. Caso erre, deverá esperar a
próxima rodada para sortear outra fichinha. É importante lembrar que as fichinhas retiradas do envelope
números deverão retornar para ele depois de resolvidas.
143
Apêndice 5: Jogo do sorvete
AUTORES: Ana Luisa Knop, Gabriela Reyes, Luiz Guilherme e Mariana Castro
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a seis crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um dado convencional de cor verde, com bolinhas;
Um dado de cor vermelha, com bolinhas em posições indefinidas;
10 cartas com situações-problema, envolvendo multiplicação e divisão com 1 algarismo;
32 metades de bolas de sorvete de cor rosa, em E.V.A;
22 metades de bolas de sorvete de cor laranja, em E.V.A;
18 metades de bolas de sorvete de cor amarela, em E.V.A;
Duas metades de bolas de sorvete de cor verde, em E.V.A;
Seis casquinhas de sorvete em papelão.
OBJETIVO DO JOGO:
Resolver as situações-problema envolvendo adição e subtração com até 2 algarismos, multiplicação e divisão
com 1 algarismo e montar uma casquinha de sorvete com 15 metades de bolas. As crianças têm a
possibilidade de fazer de conta e brincar com os sorvetes durante o jogo.
REGRAS DO JOGO:
Cada participante coloca as metades das bolas de sorvete na sua casquinha conforme o resultado da
operação que realiza com números obtidos nos dados. É uma operação por rodada, intercalando soma e
subtração. Ao completar sete bolas, o participante deve tirar uma carta e responder a situação-problema. Se
a resposta estiver correta, o jogo segue normalmente, caso contrário, o jogador perde uma metade da bola
de sorvete por cada participante e o jogo continua. Ganha o jogo quem primeiro montar uma casquinha com
15 metades da bola de sorvete.
144
Apêndice 6: Corrida dos gulosos
AUTORA: Viviane de Sousa Martins
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas crianças ou duas equipes com duas crianças cada
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro médio com trilhas em E.V.A;
Um dado colorido com comandos de deslocamento espacial (direita, esquerda, para frente, para trás);
Um dado colorido com comandos de deslocamento em passos (1 passo, dois passos...);
Dinheirinho;
Moedinhas;
Duas tartaruguinhas de brinquedo;
15 marcadores com desenho de guloseimas e seus respectivos valores em dinheiro embaixo desses
marcadores.
OBJETIVOS DO JOGO:
O jogo possibilita brincar com duas tartarugas que estão participando da Corrida dos gulosos. A medida que
cada uma come uma guloseima, o jogador ganha em dinheiro o valor da comida. No final, quando não sobrar
nenhuma comida no tabuleiro, ganha quem conseguir adquirir o maior valor em dinheiro. Além disso, o jogo
possibilita trabalhar a orientação, deslocamento, noções de contagem, decimais.
REGRAS DO JOGO:
Cada jogador deve posicionar a tartaruga na saída. Depois, distribuir as fichas no tabuleiro de acordo com as
descrições correspondentes e jogar os dados. De acordo com o valor que sair nos dados, locomover a
tartaruga no tabuleiro. Caso a tartaruga pare onde estiver a ficha, o participante pega-a e troca pelo dinheiro
que vale a guloseima. O valor correspondente está debaixo da ficha. Ao final do jogo, ganha o jogador que
conseguir adquirir o maior valor em dinheiro.
145
Apêndice 7: Corrida da tábua*
*Jogo criado pela professora
AUTORA: Professora participante
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
11 cartas com a multiplicação do 0;
11 cartas com a multiplicação de 10;
11 cartas com a multiplicação do 100;
11 cartas com a multiplicação do 1;
11 cartas com a multiplicação do 2;
11 cartas com a multiplicação do 3;
11 cartas com a multiplicação do 4;
11 cartas com a multiplicação do 5.
OBJETIVOS DO JOGO:
Trabalhar a tabuada a fim de desenvolver a memorização de forma divertida. Propiciar a interação entre as
crianças e a utilização de instrumentos de medida do tempo como o relógio e a ampulheta.
REGRAS DO JOGO:
O jogo deve ser jogado em duplas. Inicialmente, para decidir a formação dessas duplas, a professora brinca
primeiro com as meninas e depois, somente com os meninos a brincadeira Escravos de Jó”. As crianças
utilizam as cartas da tabuada e, ao final da brincadeira, a menina e o menino que saíram com as mesmas
cartas formam uma dupla para jogar. As crianças escolhem o relógio ou a ampulheta para medirem o tempo
de jogada de cada jogador da dupla. As duplas organizam as cartas na mesa na ordem crescente, em forma
de escadinha deixando as operações viradas para baixo. As crianças decidem a regra para começar o jogo.
As essa decisão, cada uma delas, uma de cada vez, vira a carta, lê a operação e fala o resultado.
Enquanto isso, o outro colega marca o tempo de jogada. Assim que cada jogador da dupla terminar a
resolução, as crianças trocam de cartas com outras duplas da turma.
146
Apêndice 8: Matematicando com as compras*
*Jogo escolhido pela professora entre os jogos o catalogados
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a quatro equipes com dois componentes cada
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro retangular com trilha;
Quatro piões;
20 cartas verdes com situações-problema, envolvendo adição e subtração com 2 e 3 algarismos;
12 cartas azuis com situações-problema, envolvendo multiplicação e divisão com 1 algarismo;
13 notas de R$1,00;
cinco notas de R$ 2,00;
nove notas de R$ 5,00;
dez notas de R$ 10,00;
duas notas de R$ 20,00;
cinco notas de R$ 50,00;
cinco notas de R$ 100,00;
Um dado convencional de cor amarela, com bolinhas;
Moedas de 1 centavo, 5 centavos, 10 centavos e 50 centavos.
OBJETIVOS DO JOGO:
Resolver as situações-problema e terminar o percurso primeiro.
REGRAS DO JOGO:
Cada equipe ou jogador deve ter lápis, papel e borracha para efetuar contas. Cada equipe iniciará o jogo com
R$150,00. Devem jogar o dado para ver quem começa. Ao iniciar o jogo o jogador ou a equipe deve andar
com as peças pelo tabuleiro de acordo com o número obtido no dado. Caso caiam nas casas onde tem carta
verde ou carta azul devem pegar a carta e comprar o que foi solicitado. Há cartas que dão produtos de graça
(não custam nada, assim às equipes que tirarem estas não gastarão com esses produtos) e cartas que dão
dinheiro. As equipes devem efetuar as contas ao ganharem ou perderem dinheiro, assim como, entregar
dinheiro ao monte ou pegar. Se for necessário trocar notas no monte, as equipes adversárias devem
acompanhar. Exemplo: trocar uma nota de R$50,00 por 5 de R$10,00. A equipe que efetuar uma conta
errada volta um espaço, ou seja, uma casa. Exemplo: a equipe tem R$150,00 e compra um produto de
147
R$3,00, então, deve ficar com R$144,50. Se tiver mais ou menos do que isso errou na conta e deve voltar.
Se as equipes desejarem, podem jogar com os valores inteiros, ou seja, podem jogar sem as moedas e sem
levar em conta os números depois das vírgulas. Exemplo: R$13,90 será só R$13,00. Assim, ganha o jogo, o
participante ou a equipe que chegar primeiro ao final da trilha.
Apêndice 9: Conte e ande
O gatinho escondeu um tesouro na floresta, e só é capaz de encontrar esse tesouro, o bichinho que for um
gênio em matemática. Para isso, o gatinho elaborou probleminhas que levam ao caminho mais rápido de
onde ele foi escondido. Qual bichinho da floresta será capaz de encontrar o tesouro do gato com maior
rapidez?
RECOMENDADO PARA: crianças de 2º ao 4º ano
PARTICIPANTES: até cinco crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro com trilha;
Um dado convencional de cor azul, com bolinhas indefinidas;
24 cartas amarelas;
24 cartas azuis;
Três joaninhas e duas borboletas;
50 palitos.
OBJETIVO DO JOGO:
As crianças devem levar as joaninhas e as borboletas até o final do tabuleiro e, para isso, precisam resolver
os desafios (surpresas, adição, subtração e multiplicação) dispostos ao longo da trilha, possibilitando assim,
uma aprendizagem prazerosa e divertida.
REGRAS DO JOGO:
As crianças escolhem um bichinho para representá-las. Inicia o jogo aquele jogador que tirar a maior
quantidade no dado. A partir desse momento, o adversário pegará a carta que o tabuleiro indicar e lerá para a
outra criança. As casas contendo um ponto de interrogação com o rosto de um gatinho correspondem às
cartas azuis, as casas contendo apenas o ponto de interrogação, correspondem às cartas amarelas. Dentre
148
as cartas azuis, algumas tamm terão o rosto de um gatinho. Se acontecer do gatinho do tabuleiro ser
intico ao gatinho da ficha, a criança andará uma casa independente de acertar ou não o resultado do
problema, ignorando o comando da resposta errada. Acertando o resultado do problema, o participante
andará a quantidade de casas indicadas na carta e mais uma casa correspondendo ao rosto do bichinho. Se
acontecer de a carta sorteada conter o rosto do gatinho diferente do tabuleiro, a criança deve fazer o que está
indicado na ficha (caso acerte ou não o resultado do problema) e depois permanecer sem jogar, naquela que
seria sua próxima vez. Caso a carta azul não contenha nenhum rosto de gatinho, essa carta se iguala as
cartas amarelas, devendo ser feito apenas o que for por elas. Caindo nas demais casas (que não contém o
ponto de interrogação) nada acontecerá. Ganha o jogo quem chegar primeiro ao final da trilha com seu
bichinho. Cada participante terá o prazo de um minuto contando no relógio para resolução do problema.
Excedendo esse tempo, a falta de uma resposta será tratada como erro.
Apêndice 10: Descubra o segredo*
*Jogo escolhido pela professora entre os jogos o catalogados
RECOMENDADO PARA: 1º ao 4º ano
PARTICIPANTES: cinco crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
cinco tabuleiros medindo 16 cm x 16 cm (cada um de uma cor);
40 peças medindo 5 cm x 5 cm (sendo que cada 8 peças pré estabelecidas na cor de um dos tabuleiros)
OBJETIVOS DO JOGO:
As crianças devem obter a soma de cada lado do tabuleiro igual ao mero que se encontra no centro. Este
jogo trabalha a soma de forma interativa e divertida.
REGRAS DO JOGO:
Pode-se montar um grupo de cinco jogadores, um tabuleiro para cada ou um grupo por tabuleiro. Coloque as
peças sobre o tabuleiro, respeitando a correspondência das cores e disponha de forma que a soma de cada
um dos quatro lados seja igual ao número fixo que está no centro.
149
Apêndice 11: Goleando a matemática*
*Jogo escolhido pela professora entre os jogos o catalogados
AUTORAS: Juliana de Oliveira Campos e Vanessa Santana Xavier
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
PARTICIPANTES: oito crianças ou duas equipes com quatro crianças cada.
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro retangular (80 cm x 60 cm);
Oito peões (quatro do time amarelo e quatro do time azul);
Um dado convencional com bolas de futebol;
Um dado convencional com bolas de futebol e números;
Um dado para deslocamento (direita, esquerda, diagonal, frente, trás...);
Um placar;
Duas traves;
Quatro envelopes com as cartas das operações: azul (divisão), verde (subtração), vermelho
(multiplicação) e alaranjada (adição);
Seis cartões de time (três amarelos e três azuis);
Um cartão vermelho e um cartão amarelo;
30 bolinhas para representar o número de gols de cada jogador.
OBJETIVO DO JOGO:
Baseado no jogo de futebol, através da superação dos obstáculos que são as operações sicas, os
participantes deverão marcar o maior número de gols. Este jogo possibilita a criança se envolver com a
matemática de forma lúdica, prazerosa e interativa, respeitando também, as regras do jogo de futebol.
REGRAS DO JOGO:
A escolha do time será feita através das cartas de time do seguinte modo:
Separa-se o número de cartas correspondentes ao número de jogadores. Exemplo: se a quantidade de
jogadores for quatro, devem ser separadas as cartas 1 e 2 de cada cor (azul e amarelo).
Em seguida, embaralhe e coloque as cartas viradas de forma que nenhum jogador veja o número.
Cada jogador deve retirar uma carta de forma aleatória, podendo ser mostrada para os demais jogadores.
A cor do número define o time. O número indica a ordem dos jogadores dentro do time. A escolha do time
que iniciará a partida fica a critério dos participantes. Sugestão: par ou ímpar, maior ou menor número no
150
dado. Exemplo: o time amarelo começará o jogo. O primeiro jogador será aquele que sorteou a carta número
1 azul. O terceiro jogador será aquele que sorteou a carta 2 amarela e assim por diante.
Os peões representam os jogadores individualmente, o time e os goleiros. A bola de futebol representa o
time: bola amarela representa o time amarelo e a bola azul representa o time azul. As bases coloridas
diferenciam os jogadores entre si. Os peões que possuem a bola e a base da mesma cor são os goleiros do
time.
Na sua vez, cada jogador irá lançar os três dados que indicarão a direção e a quantidade de quadrantes
que ele irá percorrer, resultante da soma dos dados com números.
Quando o jogador parar no quadrante que possui uma operação, ele deverá proceder da seguinte forma:
sem olhar o que está escrito, entregará a carta para que um colega leia a operação. Se ele optar em não
responder, leva um cartão amarelo e a resposta é revelada. Acertando a resposta, permanece no mesmo
quadrante. Errando, ele volta um quadrante para trás, no mesmo sentido que chegou. Em qualquer uma
destas situações a carta deve ser substituída preferencialmente por outra da mesma cor, pois outro jogador
pode vir a parar no mesmo quadrante. Caso o jogador receba o segundo cartão amarelo, automaticamente
ele leva um cartão vermelho, que implica em ficar uma rodada sem jogar. Os cartões amarelos o são
acumulativos: a cada dois recebidos, a contagem é zerada.
As escolher as operações que serão trabalhadas, distribuem-se as cartas viradas no tabuleiro de forma
que fique somente uma em cada quadrante e na área azul do gol. Não é necessário utilizar todas as cartas.
Atenção! O número de cartas em cada campo deve ser o mesmo!
Os peões devem ser posicionados na primeira fileira de quadrantes a partir da linha que divide o campo.
Podem ocupar qualquer um destes quadrantes. No início, apenas um jogador por quadrante.
Quando o jogador chegar na área azul, independente do número tirado no dado, deverá escolher uma
carta que será lida por outro jogador. Se ele acertar, é feito o gol e todos os jogadores devem voltar para o
meio do campo. O jogador recebe uma fichinha que representa o seu gol e marca pontos para o seu time no
placar! Mas se errar a operação, somente ele volta para o meio de campo. A carta também deve ser
substituída.
O time vencedor será aquele que obter o maior número de gols e o jogador vencedor é o artilheiro, ou
seja, aquele que marcou o maior número de gols durante a partida. Havendo empate entre os jogadores,
decide-se o resultado através da morte súbita, onde quem marca o gol primeiro vence.
151
Apêndice 12: Bafo
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a quatro crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
20 cartas douradas com operações multiplicativas;
19 cartas com operações e resultados no verso.
OBJETIVO DO JOGO:
Resolver as operações multiplicativas de forma interativa e prazerosa, obedecendo às regras do Bafo ou
buscando uma nova organização.
REGRA DO JOGO:
Distribuir as cartas para bafar no co. Cada criança tentará bafar uma carta e falar o resultado da
operação. Caso o acerte, passará a vez para o outro jogador resolver. Ganha quem bafar mais cartas no
jogo.
Há no jogo outras cartas que podem ser utilizadas para jogar. Elas possuem operações nas quais os
jogadores leem e falam o resultado. Após o jogador falar o resultado, o colega do lado, pega a carta e
verifica o resultado no verso. Ganha quem tiver mais cartas resolvidas.
Apêndice 13: O grande construtor
152
AUTORA: Thatiana Nascimento Ferreira
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a seis crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro de trilha;
Um pacote com 18 figuras de quadrados;
Um pacote com 18 figuras de triângulos;
Um pacote com seis figuras de círculos;
Um pacote com seis figuras de losangos;
Um pacote com três figuras de trapezios;
Um pacote com quatro figuras de retângulos pequenos;
Um pacote com duas figuras de retângulos grandes;
Dinheirinho;
Seis encaixes de casa nas cores; amarelo, vermelho, laranja, azul, verde e preto;
36 cartas com perguntas diversas;
Seis carrinhos nas cores; amarela, vermelha, laranja, azul, verde e preta;
Um dado convencional de bolinhas.
OBJETIVOS DO JOGO:
As crianças devem montar uma casa com as formas geométricas. Ganha o jogo quem montar a casa
primeiro. Esse jogo estimula a criança a conhecer as formas geométricas de forma lúdica, bem como,
reforçar os conhecimentos sobre adição, subtração, multiplicação e divisão.
REGRAS DO JOGO:
Cada jogador seleciona uma cor, pega o carrinho e o encaixe da casa corresponde à cor escolhida. O
encaixe da casa fica com o jogador e o carrinho é posicionado no tabuleiro onde está escrito início.
Embaralhe as perguntas e coloque-as viradas para baixo em cima do tabuleiro. Cada jogador recebe a
quantia necessária em dinheiro para comprar todas as peças para montagem da casa, sendo: 12 reais em
notas de 1 real; 12 reais em notas de 2 reais, 50 reais em notas de 5 reais, 80 reais em notas de 10 reais, 60
reais em notas de 20 reais, 200 reais em notas de 50 reais e 200 reais em notas de 100 reais; totalizando
614 reais. Cada jogador lança o dado uma vez. Quem tirar o maior número será o primeiro a jogar. Quem
tirar o segundo maior número será o segundo a jogar, e assim sucessivamente. Caso haja empate entre dois
ou mais jogadores, estes deverão lançar o dado novamente. O primeiro jogador lança o dado e avança seu
carrinho pelo caminho, de acordo com o número tirado no dado. O jogador ao andar pelo caminho deve
comprar as peças descritas pelas quais passou. Exemplo: se ele tirar três e passar pelas casas onde estão
escritas 1 círculo, 3 quadrados e 1 losango, deverá comprar todas essas peças, de acordo com os preços
especificados. Quando algum jogador parar na casa das perguntas, o jogador da direita deve pegar uma
carta e ler a pergunta. Se o jogador acertar, deverá avançar uma casa, e se errar ficará onde está. O jogador
que leu a pergunta verificará se a resposta está correta. Ganha o jogo aquele jogador que percorrer todo o
caminho e construir a casa primeiro. Podem ser acrescentadas outras perguntas de acordo com o interesse
do grupo. Os encaixes, bem como as formas geométricas poderão ser utilizados como quebra-cabeças. As
perguntas poderão ser substituídas por atividades corporais, como por exemplo: pular, correr, assoprar
balões, etc.
153
Apêndice 14: Aprendendo com as frutas
AUTORAS: Alanna Mohn e Ruth Batista
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a quatro crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Um tabuleiro com trilha de frutas;
Quatro pinos coloridos;
Um dado convencional com bolinhas;
20 cartas verdes com situações-problema envolvendo adição e subtração;
12 cartas vermelhas com situações diversas;
32 cartas azuis com situações-problema envolvendo multiplicação e divisão;
24 fichas de cada fruta (banana, morango, pera, maçã, laranja e uva);
100 palitos de picolé.
OBJETIVOS DO JOGO:
O jogo estimula a resolução de questões que envolvem adição, subtração, multiplicação e divisão, que são as
operações sicas da matemática, bem como possibilita a interação e socialização dos alunos, auxiliando no
desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático. Por se tratar de um caráter lúdico, o jogo possibilita o faz-
de-conta, a imaginação e a criatividade do aluno. Ao final do tempo estipulado para a realização do jogo, o
jogador que tiver o maior número de frutas adquiridas é o vencedor.
REGRAS DO JOGO:
No jogo haverá cartas específicas com diferentes operações e problemas. Essas cartas serão diferenciadas
por cor, sendo as cartas verdes para os alunos do 2º e 3º ano e as cartas de cor azul para 4º e 5º ano. O
tempo estipulado para resolver as questões para o 2º e 3º ano, indicamos ser de dois minutos e para o 4º e
5º ano de um minuto, mas isso fica a critério de quem está disponibilizando o jogo. Cada jogador é
representado por pinos de cores diferentes. Inicialmente, cada criança lança o dado e, quem tirar o maior
número começa o jogo. Em seguida, o primeiro jogador lança o dado e, de acordo com o número que sair,
avança o mero de casas correspondente. À medida que for parando em cada casa, retira-se uma carta e
resolve o desafio. Acertando a questão, o jogador ganha a fruta da casa correspondente à pergunta; o
acertando, não ganha a fruta e permanece na casa que está. A casa que tem uma interrogação serve para
ajudar ou não o jogador, dependendo única e exclusivamente de sua sorte. Quando o pino parar nessa casa,
o jogador deve retirar uma carta e assim, terá uma surpresa! Ao final do jogo, quem tiver a maior quantidade
de frutas será o vencedor.
154
Apêndice 15: Quantos azulejos cabem na parede?
RECOMENDADO PARA: 1º ao 5º ano
AUTORA: Anamaria Rosa Pereira
PARTICIPANTES: duas crianças ou duas equipes adversárias
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
Dois retângulos grandes (50 cm x 50 cm);
Um medalhão da sorte vermelho (+ e -)
20 figuras de triângulos coloridos;
90 figuras de quadrados coloridos;
70 figuras de retângulos coloridos.
OBJETIVOS DO JOGO:
Levar a criança a perceber noções de adição, subtração, multiplicação e divisão, na medida em que descobrir
quantos azulejos (peças geométricas) cabem na parede a cada rodada, ou seja, os seus múltiplos e
submúltiplos. O jogo também contribui para a percepção espacial, inclusive através da necessidade de se
elaborar na parede um belo e criativo mosaico. O quadro de um a 100 que está dentro da tampa da caixa
serve para auxiliar as crianças que ainda não dominam a sequenciação numérica. Trata-se de uma medida
preventiva tendo em vista que não interesse de ocorrer um entrave no desenvolvimento na percepção
espacial e na percepção da multiplicidade das figuras geométricas. Ganha o jogo quem tiver a quantidade de
peças estipuladas pelo medalo da sorte.
REGRAS DO JOGO:
Primeiramente, cada jogador ou equipe deve pegar sua parede branca, ou seja, o retângulo. A parede será
preenchida com azulejos coloridos, as figuras geométricas. Para começar o jogo, os adversários devem
escolher aleatoriamente um dos tipos de azulejos (figuras geométricas) do jogo.
Quando os jogadores estiverem com as paredes completamente cobertas, deverão fazer a contagem para
descobrirem quantos azulejos cabem na parede. O medalo da sorte vai decidir quem é o vencedor do jogo:
aquele que utilizou mais ou menos azulejos para cobrir a parede. As a contagem, devem jogar o medalhão
para que a sorte decida o vencedor: aquele que gastou mais ou menos azulejos. Os jogadores unidos
deverão montar um lindo e criativo mosaico.
155
Apêndice 16: O barato das continhas
RECOMENDADO PARA: 3º ao 5º ano
PARTICIPANTES: duas a seis crianças
COMPOSIÇÃO DO JOGO:
45 cartas com operações multiplicativas;
40 cartas com resultado de operações;
33 bolinhas amarelas.
OBJETIVO DO JOGO:
Solucionar operações multiplicativas de forma divertida a partir da brincadeira de baralho. Ganha o jogo quem
tiver mais pontos ao acabarem as cartas.
REGRAS DO JOGO:
São distribuídas cinco cartas para cada participante, uma de cada operação e quatro de algarismos. Cada
participante deve tentar encontrar o resultado de sua operação. É possível, na sua vez, trocar a operação e
ou algarismo. Ao acabarem as cartas ganha quem tiver mais pontos.
Pontuação: Carta azul: 1 ponto; Carta verde: 2 pontos; Carta amarela: 3 pontos; Carta alaranjada: 4 pontos.
Ao acabarem as cartas, ganha quem tiver mais pontos.
156
Apêndice 17: Patinhos na lagoa
RECOMENDADO PARA: 1º ao 4º ano
PARTICIPANTES: quatro crianças
COMPOSICAO DO JOGO:
Um tabuleiro (80 cm x 40 cm) em T.N.T;
Um pato grande;
Nove patinhos coloridos;
Quatro varinhas de madeira com barbante para pescar;
100 palitos;
10 cartas com desafios e prendas;
Um dado com números.
OBJETIVOS DO JOGO:
Trabalhar a sequência de números e a compreensão prática das operações de soma, subtração e
multiplicação de forma divertida e lúdica.
REGRAS DO JOGO:
Os patinhos estão aprendendo a nadar e precisam ser salvos pela mamãe pato. Eles possuem em sua
base, um número a ser trocado por palitos. Os jogadores devem jogar o dado e quem tirar o maior número
começa a pescaria. Em seguida, devem pegar a quantidade de palitos que está descrita embaixo de cada
patinho. As pegar os palitos cada um deles deve tirar uma carta do monte. Quando todos os participantes
pescarem um patinho, devem começar a responder as cartas. Se a criança não fizer o que é pedido na carta,
deve pagar uma prenda, que será determinada pelos colegas e, assim, prossegue as jogadas. As crianças
organizam a regra para determinar quem vence o jogo.
157
Apêndice 18: Carta de autorização
Carta de autorização para os pais das crianças do 3º ano do Ensino Fundamental
Senhores pais e ou responsáveis,
Sou Milene de Fátima Soares, pedagoga, psicopedagoga e atualmente, mestranda em educação pela
Universidade de Brasília (UnB). Considerando a realidade pedagógica dessa escola classe que trabalha com
uma abordagem mais lúdica na aprendizagem matemática e a importância dos jogos no processo de
aprendizagem, estou desde agosto de 2007 desenvolvendo minha pesquisa intitulada: O jogo de regras na
aprendizagem matemática: apropriações pelo professor do Ensino Fundamental
Para o melhor desenvolvimento dessa pesquisa faço observações em sala de aula, entrevistas com as
professoras e com as crianças.
A autorização da família é muito importante nesta pesquisa. Assim, solicito sua autorização para que a
participação de seu (a) filho (a) seja concedida, bem como, sua imagem, já que utilizarei vídeo e fotos. E
importante lembrar que o material registrado na escola será utilizado somente para a dissertação. As crianças
serão identificadas por nomes ficcios, e não se pretende compará-las, mas sim, ouvi-las durante as
atividades com jogos.
Atenciosamente,
_____________________________ _________________________________
Mestranda: Milene de Fátima Soares Orientador: Antônio Villar Marques de Sá
_______________________________ _________________________________
Diretora: Roberta Callaca Gadioli Farage Coordenadora: Sueli Brito Lira de Freitas
--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Por gentileza, assine abaixo, autorizando a participação e utilização das imagens de seu (a) filho (a)
na pesquisa O jogo de regras na aprendizagem matemática: apropriões pelo professor do Ensino
Fundamental. Ressalto mais uma vez que as crianças não serão identificadas e o material registrado
na escola será utilizado somente para a dissertação.
Nome da criança: ______________________________________________________
Série: __________ Turma: _________
______________________________________________________________________
Assinatura dos pais e/ou responsável
158
Apêndice 19: Roteiro da vivência de jogos
Data: 03.04.2008 Duração: 2h
COMO ACONTECE A VINCIA?
ü Dar boas vindas às professoras. Mostrar, na sala dos professores, o novo espaço destinado aos jogos
existentes na escola, doados por alguns alunos do curso de Pedagogia da Universidade de Brasília (UnB)
e que estão disponíveis para serem levados às salas de aula como uma estratégia na aprendizagem
matemática.
ü Convidar seis professoras para jogar.
ü Organizar as participantes em dois grupos utilizando cartas de baralhos com números. Pedir para virarem
as cartas e se agruparem por números pares e meros ímpares. Brincar com a dança das cadeiras
para decidir qual grupo escolhe o jogo preferido (2º momento).
ü Depois de se organizarem, todo grupo receberá o jogo batalha matemática. Jogarão em média, 30 min.
ü As a jogada, as professoras falarão sobre a experiência vivenciada.
ü Em seguida, poderão escolher, conhecer e jogar outros jogos catalogados.
ü Logo depois da jogada, receberão uma folha em branco para registrarem suas impressões sobre o jogo.
ü Ao registrarem, receberão uma folha com critérios para analisar o jogo. São eles: alise da parte externa
do jogo (caixa); dos objetivos; dos procedimentos matemáticos, do jogo em sua totalidade, do valor deste
jogo para a aprendizagem matemática e oferecerem adaptações e/ou sugestões para o jogo.
ü As a análise, cada grupo apresentará seu jogo e a análise.
ü Reforçar a apresentação dos jogos catalogados, nas salas dos professores, bem como entregar a pasta
catálogo com os 40 jogos disponíveis. Mostrá-las o caderno para registro do empréstimo que ficará
acessível junto aos jogos para que as outras professoras saibam com quem está o jogo e quando
devolverão.
159
Apêndice 20: Roteiro de entrevistas
Primeira entrevista semi-estruturada:
Objetivo: Identificar a concepção de jogo da professora, bem como sua relação com a aprendizagem
matemática e conhecer seu processo de formação profissional.
Você é natural de Brasília?
Você brincava muito em sua infância? Onde morava neste período? Brincava de quê? O que mais
gostava de fazer? Com quem? E na escola? Tinha brinquedos? Quem dava? Guarda algum até
hoje?
Já brincou com jogos? Lembra-se como foi esse contato?
Tem jogos em sua casa?
Tem algum jogo preferido? Fale sobre ele.
O que sente quando joga? Você gosta? Por quê? Com quem? Quando?
O que mais gosta no jogo ou quando está jogando? Por quê?
E o que não gosta muito? Por quê?
Como aconteceu seu contato escolar com a matemática?
Como você vê a matemática hoje?
Vê dificuldades no ensino da matemática? Quais? Por quê?
Em sala de aula, como vê a matemática?
Já utilizou alguma estratégia diferente para trabalhar conteúdos matemáticos?
Já utilizou jogos? Fale sobre essa experiência.
Já leu algum texto, livro sobre jogos na educação? O que pensa sobre o assunto?
Para você, é possível aliar os jogos no processo de aprendizagem?
Qual sua formação?
Há quanto tempo leciona?
Segunda entrevista semi-estruturada:
Objetivo: Identificar durante o planejamento pedagógico os objetivos da professora ao escolher determinados
jogos de regras já que estes foram elaborados por outras pessoas, alunos do curso de Pedagogia da UnB.
Quando utiliza jogos com sua turma? De quais tipos? Em quais aulas? Qual objetivo? Geralmente,
como utiliza?
Como as crianças recebem esse tipo de atividade?
Como reagem enquanto jogam?
Enquanto as crianças jogam, como você se vê no papel de professora? Que tipo de mediação você
faz ao longo do jogo?
O que considera positivo ao elaborar uma atividade com jogos?
Quais facilidades e ou dificuldades sente enquanto utiliza jogos no ambiente escolar?
Como pretende trabalhar com este(s) jogo(s)?
Como pensa que as crianças reagirão enquanto jogarem?
Por que escolheu este jogo?
Quais seus objetivos ao utilizar este jogo?
Como vê a aprendizagem matemática por meio desse jogo?
Como concebe a mediação?
E a avaliação?
160
Terceira entrevista semi-estruturada:
Objetivo: Ouvir as crianças após a realização da atividade com jogos a fim de entender como elas interagiram
e apreenderam a proposta colocada pela professora no jogo.
O que vocês fizeram na aula hoje?
Gostaram de jogar? Por quê?
O que foi mais interessante no jogo?
Teve alguma coisa difícil? Por quê?
O que aprenderam? Como foi?
Se fossem jogar novamente, o que mudariam no jogo?
O que faz a professora durante a aula com jogo?
Que tipo de ajuda você teve da professora no jogo?
Quarta entrevista semi-estruturada:
Objetivo: Acompanhar as reflexões da professora após o desenvolvimento da atividade com jogos de regras.
Como as crianças reagiram ao jogo? E enquanto jogavam?
Como interagiram umas com as outras?
O que foi possível acompanhar sobre a aprendizagem matemática das crianças?
O que foi positivo nesta atividade? Por quê?
Seus objetivos foram alcançados?
O que pretende fazer pedagogicamente após essa atividade?
Quais mudanças foram feitas em relação ao que estava planejado?
Quais foram suas surpresas?
O que alteraria para uma futura aplicação?
Quais principais aprendizagens matemáticas realizadas?
O que mais eles aprenderam?
Apêndice 21: Códigos das entrevistas e gravações
P: pesquisadora
PR: professora
(rs) risos da professora
(rss) risos da professora e da pesquisadora
--- não compreensão da fala na gravação
____ interrupção da fala pela professora ou pesquisadora
... pausa
.... pausa longa
...? vida
/// interrupção por alguém da escola
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Apêndice 22: Os quatro momentos práticos de acompanhamento da pesquisa
1- PLANEJAMENTO DA AULA COM OS JOGOS: CORRIDA DOS GULOSOS, CASA DA
MATEMÁTICA: EM BUSCA DO ÁBACO PERDIDO, JOGO DO SORVETE
DIA: 27.05.2008 PERÍODO: 15h30min às 17h
Antes da entrevista, estávamos conversando sobre a atividade com jogos e a professora disse que
iria trabalhar na próxima atividade com desafios junto ao grupo de crianças que estavam avançando mais.
Ela disse que dividiria as crianças nos três jogos:
Jogo do sorvete: Flávia, José, Rafaela, Tatiane, Raquel.
Casa da matemática: Marcos, Márcio, Bianca, Júnia, Juliano.
Corrida dos gulosos: Ricardo, Igor, Daniele, Carlos.
P: Por que você escolheu estes jogos?
PR: Cada um tem uma história. O jogo do sorvete eu escolhi porque nos fizemos uma tabela em que as
crianças falaram sobre a comida preferida, time de futebol--- e a do Artur é sorvete. E o Artur eu tô tentando
achar alguma estratégia, eu tô buscando para perceber o conhecimento dele e fazer que ele participe, ele
está muito isolado---então eu tô tentando que ele participe mais por isso escolhi o jogo do sorvete.
P: E na corrida dos gulosos?
PR: Na corrida dos gulosos tem o sistema monetário e ele tem alimentos... por causa do cofrinho, eles
estão empolgadíssimos --- o real é mais tranquilo para eles que os centavos. A busca pelo jogo é que na
última semana a gente tá mexendo muito com dinheiro. Já no jogo casa da Matemática: em busca do
ábaco perdido o nome ábaco me chamou a atenção porque tem uma estante no fundo da sala e lá s
temos seis ábacos. O Artur foi o primeiro a ficar mexendo e depois as outras crianças também. Elas ficavam
mexendo e eu mandava guardar e um dia me deu um clique e eu fiquei pensando: porque estes meninos
estão mexendo tanto com o ábaco? Um dia no final da aula eu perguntei sobre o ábaco e brinquei com eles,
justamente para conhecer. Estou na tentativa de tentar mexer com o ábaco.
P: E como é que você pretende trabalhar com eles?
PR: Formar grupos de acordo com o número de participantes de cada jogo e ir verificando as relações deles
e até mesmo o comportamento para formar esses grupos.
P: Em termos de aprendizagem matemática como você vai separar os grupos?
PR: Pois é, no jogo do sorvete eu pensei primeiro no Artur porque é a comida preferida dele e eu quero ver
o que vai acontecer. Assim... na casa da matemática eu pensei... no conhecimento, nos que têm uma
habilidade maior é... porque ele puxa mais um pouquinho. Na corrida dos gulosos são as crianças um
pouquinho mais agitadinhas (rs), eu deixei esse grupo separado, eu acredito que certo porque eles estão
mexendo com o dinheiro e o vai ter problema o.
P: E em termos de objetivos? Quais o seus objetivos?
PR: Nos três jogos... é verificar mesmo como eles estão, ver como eles estão ao tentar resolver as atividades
com autonomia.--- Muitos dos desafios a gente percebe que dão dicas: use o material dourado. Então, são
estratégias, dicas que eles colocam que facilitam pra criança, .
P: E como é que você pensa que as crianças o reagir ao jogo, por exemplo o jogo do sorvete?
Como vai ser a receptividade?
PR: Dessa vez eu vou deixar eles mexerem primeiro no material. (rss). (rs) Deixar mexer no material, verificar
primeiro o que tem pra depois pedir para jogar... eu acho que vai ser tranquilo.(rs)
P: E em relação a corrida dos gulosos?
PR: O José e o Igor eu vou deixá-los pra ver o material, tentem ler, ver qual o objetivo do jogo para ver se
eles apoderam e realizam a atividade com mais autonomia. Porque... a gente percebe que a agitação deles é
tão grande que ... às vezes quem tá conduzindo são outras pessoas--- Eu vou verificar se eles conduzindo o
jogo... conseguem. A Casa da matemática é tranquilo. Essa turma tem crianças interessadas, que gostam
da matemática, de desafios, então, pra eles não tem problema nenhum.
P: E o Juliano?
PR: Ah, o Juliano. (rs) É aquela criança que tem dificuldade de perder... quando tá jogando quer ganhar
sempre! Desta vez não tem ganhar, nem perder, ele vai ficar como juiz e eu quero ver a reação dele.
P: E como é que você vê a aprendizagem matemática por meio destes jogos? Como você imagina?
PR: E o que a gente tá trabalhando, tem os desafios com as quatro operações, mesmo não estando
trabalhando a divisão, tem a divisão aqui, a gente ainda não tá trabalhando, mas eu acredito que eles vão
resolver. --- Pelo raciocínio, pela estratégia deles, eles vão conseguir resolver, ainda mais com o material.
P: Você acha que essa questão do material concreto facilita?
PR: Facilita... Muitas vezes eles vão resolvendo com o material concreto___
162
P: E o imaginário... você acha que o material é chamativo?
PR: É chamativo sim, os materiais --- eles vão viajar. ---
P: E a mediação, como vo concebe nestas jogadas?
PR: Observando, ouvindo o que eles têm pra dizer... e só mediar as possibilidades de resolução quando for
preciso. E... a gente perceber como a criança tá caminhando... é observar e ouvir. Porque às vezes, eles
têm o caminho que o é o mesmo da gente e aí... --- então, deve deixar a criança falar.
P: E em termos da avaliação da aprendizagem... Como é que você tá vendo isso, como é que você
mesmo antes de acontecer?
PR: Eu acho que a criança tá mais livre durante o jogo, é como se ele não estivesse na escola... fala muito,
exe o pensamento dela sem sentir que tá sendo vigiada, avaliada...então, sai naturalmente o que ela
sabe e a gente percebe claramente o que ela sabe ou não.
P: E você acha que esses jogos o auxiliar nisso?
PR: Muito... Muito... Vai ajudar muito, jogo pra eles é natural, não tem nada a ver com cobrança, não existe
menção para eles... jogo é pra jogar... é brincar.
P: Tem alguma coisa que você acha que pode acontecer? Alguma coisa imprevisível?
PR: ... Acho que no jogo do sorvete eles podem terminar mais rápido e querer minha atenção e eu estar em
outro jogo... vou levar outro jogo, o equilíbrio geométrico, eles gostam muito, se caso terminarem de jogar.
P: Tem alguma outra coisa que vo queira falar?
PR: ... (rs) Não. --- Pra jogar é preciso jogar... Nosso medo, nosso anseio é deixar começar... perder o
controle da turma toda.
4. OBSERVAÇÃO DA AULA COM OS JOGOS: CASA DA MATEMÁTICA, JOGO DO
SORVETE, CORRIDA DOS GULOSOS
DIA: 29.05.2008 PERÍODO: 10h30 min às 12h
A professora convidou as crianças para jogarem. Ela levou os jogos para a sala e deixou-os ao seu
lado. Algumas crianças começaram a manusear os componentes dos jogos e a professora guardou-os nas
caixas. Em uma grande roda, mostrou os jogos às crianças e depois, pediu que se distribuíssem em três
grupos de acordo com o interesse em determinado jogo.
As crianças que escolheram o jogo do sorvete se organizaram tranquilamente para jogarem. As
crianças que jogavam sozinhas o jogo corrida dos gulosos estavam bem envolvidas com o fato de
ganharem dinheiro.
A professora estava com o grupo que jogava casa da matemática: em busca do ábaco perdido. As
crianças estavam bem agitadas e começaram a disputar entre si para saber quem leria as regras. Marcos
perguntou a professora quem do grupo iria ler. Enquanto isso, seus colegas abriam a caixa do jogo e
brincavam com as peças. Eles abriam o tabuleiro, reconheciam as peças e escolhiam os peões para
representá-los. A professora pediu Juliano para ser o juiz, mas ele não aceitou.
De , junto ao grupo, a professora chama a atenção das crianças:
_Meninos, meninas! Pronto? Já viram?
_ Vocês já sabem como joga? Começar a jogada?
_Não. disseram as crianças.
_ Então, como e que já estão brigando pelas pecinhas, se não sabem jogar?
A professora disse:
_O Juliano disse que quando jogou este jogo foi juiz, então ele não quer ser mais o juiz.
Assim, a professora fez a troca retirando Juliano deste grupo e trazendo Ricardo que aceitou jogar
no grupo.
_Quem é que já brincou com esse jogo aqui? perguntou a professora mostrando o jogo casa da
matemática.
Ela perguntou as crianças como fazer par jogar e Júnia sugeriu a leitura das regras. Como as
crianças estavam brincando com os componentes do jogo e estava muito envolvidas, a professora pediu para
lhe entregarem as pecinhas. Em seguida, Júnia começou a ler as regras, os colegas se organizaram e
acompanharam a leitura atentos.
Depois, a professora releu as regras, explicando, e pediu silencio para as crianças. Ela perguntou ao
juiz Ricardo como fariam para começar o jogo. Ele disse:
_ Eu vou escolher?
_ Você vai escolher? disse a professora.
_Mas que juiz mais autoritário!
Todas as crianças riram e ele ficou sem jeito.
A professora que estava com a caixa de jogo, segurou os peões nas mãos e pediu que cada criança
escolhesse o seu, porém, ela se lembrou que Ricardo era quem distribuiria e pediu-os de volta as crianças.
Assim, ele deu um peão para cada criança o que causou insatisfação, já que ninguém escolheu o que queria.
163
Marcos queria começar a jogada, mas Ricardo disse que o dado decidiria para quem tirasse o maior
número. Quando houve empate, a professora perguntou como decidiria, ele disse que jogariam o dado. As
crianças estavam apreensivas e vibravam a cada número sorteado.
A professora pediu para as crianças reorganizarem na roda pela ordem numérica retirada no dado.
Elas estavam brincando o tempo todo com o dinheirinho.
Júnia começa a jogada andando três casas. A professora pediu para observar a seta no tabuleiro
que estava indicando a terceira casa, jardim. O juiz pegou o envelope de cartas correspondentes ao desafio
do tabuleiro e começou a ler.
TENHO 248 REAIS PARA COMPRAR PEDRAS E COLOCAR NO LAGUINHO DO JARDIM. QUANTOS
PEIXES COMPRAREI SE CADA UM VALE OITO REAIS? RESOLVA COM DINHEIRO.
Júnia pediu a carta para ler. Os colegas ficaram observando e o juiz dizendo que a outra carta no
envelope era mais difícil (1000 reais). Ela pegou o dinheirinho, separa 248 reais, utilizando duas notas de 100
reais, duas de 20 reais, uma de 5 reais, uma de 1 real e outra de dois reais. Nesse momento, a professora foi
perguntando a ela o que estava fazendo. Júnia separou 8 reais e quando a professora perguntou quantos
peixes ela ainda poderia comprar, esta pegou na caixa do jogo o bloco de papel e o lápis para resolver.
Assim, ela utilizou também os dedos para auxiliar na contagem. A professora foi mediando:
_Lindinha, o que você fez aqui. Você pegou um peixe, certo? disse ela mostrando os 8 reais que
Júnia separou.
_Com 20 quantos posso comprar? mostrando a nota de 20 reais.
_ Põe aqui ...um peixe. Já tem um peixe aqui. E com 20 reais, você vai comprar quantos?
_Dois! responde ela.
_Dois! Então e aí mais dois. Sobrou?
_Então e aí mais dois peixes.
Assim, a professora prosseguiu tranquilamente a mediação, auxiliando Júnia na construção e no
registro matemático, com o dinheirinho e a contagem nos dedos. Além disso, propiciou a ela pensar sobre o
que estava fazendo e não receber uma resposta pronta. A professora utilizou suas mãos para auxiliar na
contagem dos peixes que ia sobrando com cada nota. Ao final, sobraram duas notas de 100 reais. Ela
perguntou:
_ 100 reais dá muito peixe?
_ Dá!
_Quanto você estima... você acha que ? A gente vai fazer as contas. Júnia o respondeu.
_ Pra você comprar 10 peixes... 8 de 10 dá o q?
_8 de 10? Júnia ficou pensativa.
A professora mostrou suas mãos para Júnia e pediu para ela contar. Ela chegou a 80 e a professora
perguntou:
_ Então, com 80 reais você compra quantos peixes?
Júnia não compreendeu; algumas crianças deram à resposta. A professora pediu que Marcos
ajudasse. Ele calculou mentalmente e deu a resposta 14.
Nesse instante, a professora disse:
_Não é com 100 reais, é com 80?
_E 14. disse ele.
_ 14? perguntou a professora.
_14.
_ Você acha que pra comprar 14? Como é que a gente pode confirmar? falou ela já pegando o
material dourado.
Júnia pegou oito barrinhas do material dourado e a professora perguntou:
_ Cada peixe custa quanto?
_ 8. disse ela pegando uma barrinha e brincando como se estivesse tirando 8 das 10 divisões da
barrinha.
_ E aí, você vai quebrar?
_Não.
Júnia pegou os cubinhos na caixa e começou a trocar as barrinhas. A professora ajudou a separar
os 8 cubinhos correspondentes a cada peixinho, enquanto Márcio observava a ação. Enquanto isso, as
outras crianças que participavam do jogo brincavam com o ábaco e com o dinheirinho. Júnia ainda estava
com 100 reais nas mãos. Assim, ela retirou 20 reais, ficou com 80, acrescentou mais 8 peixes e calculou
quanto seria possível comprar com 20.
Assim, ela registrou no papel:
1+2+2+1= 6
6+10+10+2+2+1= 31
Foi agrupando e contando assim:
6+10+10+2+2+1= 31
10 +10 = 20 + 6= 26 + 4 (2+2) = 30 + 1= 31
164
A professora disse a Júnia:
- Muito bem!
Chega a vez de Marcos jogar e ele leu a carta:
ESTE ANO COLHI NA MINHA HORTA 80 REPOLHOS. QUERO DAR 5 PARA CADA UM DE MEUS
VIZINHOS. QUANTOS VIZINHOS TENHO AO TODO?
_Ah, tá fácil! diz Márcio todo alegre.
_ Tá. Quanto ?
Márcio ficou pensativo e tentou resolver mentalmente.
Os colegas tentaram resolver. Enquanto isso ele colocou suas mãos no chão e começou a contar
nos dedos. A professora disse que ele poderia usar qualquer material para resolver, mas ele o aceitou.
No outro grupo, jogavam jogo do sorvete. As crianças estavam interagindo bem entre si,
juntamente com a auxiliar de Tatiane. O jogo era bastante colorido e possibilitava a criança ganhar várias
bolas de sorvete ao mesmo tempo e resolver a situação problema com satisfação. Voltando ao outro grupo,
Marcos ainda o havia resolvido o desafio, assim, a professora fez uma intervenção.
_Gente, o Márcio esta dando a resposta de 16. Vamos contar de cinco em cinco pra ver se dar 16.
Quem vai me ajudar com as mãos para contar.
As crianças participantes deste jogo ficaram felizes e colocaram suas mãos no chão ao centro da
roda para auxiliarem na contagem.
Então ela foi apontando para cada dedo e contando com o auxílio das crianças.
_Um de 5 dá ?
_5 !
_Dois de 5 ?
_ 10 ... - contaram até chegar 80.
_ Ela elogiou Márcio e continuou o jogo.
Na rodada seguinte Bianca andou três casas no tabuleiro e ficou com o desafio do envelope
Jardim. Márcio disse para Ricardo (juiz) pegar uma carta fácil. Ricardo tirou do envelope a seguinte carta:
MAMÃE TEM 4 VAZINHOS DE PLANTAS PARA PLANTAR MARGARIDAS, ROSAS, GIRASSÓIS E
BROMÉLIAS. DE QUANTAS FORMAS POSSO PLANTAR ESSAS FLORES NOS DIFERENTES VASOS?
Bianca ficou indecisa inicialmente. A professora fez uma intervenção e pediu a ela para pegar papel
e lápis e desenhar as flores. Ela fez a correspondência.
Bianca preferiu resolver com o ábaco a soma de possibilidades de cada vaso. Primeiramente, foi
separando em quatro linhas do ábaco, 4 marcadores, depois somou tudo e obteve 16 meros como no
registro. Nesse momento, a professora o explorou o material que era a grande curiosidade das crianças.
No grupo do jogo corrida dos gulosos as crianças estavam bastante envolvidas. Ganhar dinheiro
durante o jogo mobilizou-as ainda mais a participar e resolver os desafios. O movimento da tartaruga no
espaço do tabuleiro a fim de conseguir alimentos envolveu a escolha das crianças, a lateralidade e a
imprevisibilidade do valor conseguido em dinheiro para cada alimento.
No jogo casa da Matemática: em busca do ábaco perdido Júnia fez sua jogada e parou em uma
casa onde o poderia jogar o que causou desânimo.
Márcio fez sua jogada e parou no tabuleiro na casa de meros, assim recebeu um desafio para
resolver. Ficou ansioso aguardando o juiz ler sua carta. O juiz pegou a carta dele, olhou para ele sorrindo,
disse que era muito fácil e entregou a carta. Ao pegar a carta Márcio começou a rir e leu a operação 36 + 25.
Perguntei por que estavam rindo e as crianças disseram que era muito fácil. Ele resolveu a operação com
tranquilidade utilizando o material dourado.
Márcio foi o próximo a jogar e disse:
_Ih, é difícil! É divisão!
A professora disse que ele poderia resolver e que o ajudaria.
As crianças ainda não aprenderam na escola a resolver esse tipo de operação, percebi então que
Márcio colocou em ação seu conhecimento social acerca desse conceito.
A professora colocou no chão cinco papéis em branco para simbolizar os grupos e Márcio estava já
estava com a representação do número 85 em material dourado e já foi trocando as barrinhas. A professora
perguntou se aquelas barrinhas não poderia ser divididas nos grupos sem fazer a troca pelos cubinhos.
Assim, Márcio percebeu que essa possibilidade era possível, porém, ao final, sobrou um cubinho.
Como já estava no final da aula, a professora pediu que as crianças guardassem os jogos. Elas
reclamaram muito e decidiram que o ganhador do jogo seria quem estivesse mais a frente no tabuleiro.
165
3- ENTREVISTA COM AS CRIANÇAS APÓS A ATIVIDADE COM JOGOS
DIA: 05.06.2008 PERÍODO: 12h às 12h25min
P: O que vos fizeram na aula de hoje?
Bianca: Jogamos um jogo.
P: Que jogo?
Bianca: Esse aqui. - mostrando o tabuleiro e os outros materiais do jogo.
P: E vos, gostaram de jogar?
Bianca: A gente ainda nem terminou de jogar! se referindo ao jogo, a professora pediu para as crianças
guardarem o jogo, pois estava no fim da aula, porém continuaram jogando enquanto eu os entrevistava.
P: Ah, mais vos gostaram até agora?
Júnia: Sim!
P: Por quê?
Júnia: Por que... aqui tem é ... mostrando o dinheirinho.
Márcio: Assim, tipo uma corrida e eu gosto de corrida. mostrando o tabuleiro e a trilha.
P: Ah, mas o que vos têm que fazer nesta corrida?
Júnia: A gente tem que ... A gente tem que somar.
P: Ah, vos tem que resolver alguma coisa?
Júnia: A gente tem que somar ... multiplicar ...
Marcos: E chegar no ábaco mágico.
P: E como é que vocês vão somar dividir? Como é que vocês estão fazendo isso?
Júnia: A gente vai ...
Marcos: Aprende com o material...
P: Que material?
Júnia: Dinheiro! E esse negocinho aqui! mostrando o ábaco.
P: E que necio é esse?
Marcos: As perguntinhas ...
Márcio: Ábaco.
P: E isso aí?
Júnia: São os canudinhos pra gente contar!
Bianca: E o material dourado!!!
P: O que vos estão achando mais interessante neste jogo?
Márcio: O material dourado!
Marcos e Bianca: As continhas!
Bianca: O dinheiro.
P: O que foi mais difícil fazer?
Bianca: As operações.
P: O que é que foi difícil resolver?
Bianca: As operações
P: Mas por que foi difícil?
Bianca: É porque elas são tão difíceis que a gente tem que resolver e demora um pouquinho.
P: Mas com o jogo foi legal ou não?
Bianca: Foi
P: É melhor resolver no jogo ou só no caderno?
Júnia: No jogo!
P: Por quê?
Bianca: Porque a gente ganha dinheiro! Falou mostrando nas mãos notas de 100, 50 e 2.
P: E vos ganham dinheiro?
Bianca: Aí oh... ganhei dinheirinho!
Júnia: As operações ficaram mais fáceis.
P: Mas você achou difícil?
Júnia: Só um pouquinho!
P: Mas o que vo usou que ajudou?
Júnia: Foi um lápis e bloquinho (risos)
P: Ah, bloquinho te ajudou?
Bianca: Ela fez a conta no papel.
P: E o que mais ajudou você?
Bianca: Eu? Eu usei o material dourado e o dinheiro e esse negocinho aqui. falou mostrando o ábaco.
P: Que negocinho é esse?
Bianca: É ... deixa eu ver. ela olhou no tabuleiro e procurou na trilha o nome do material.
Bianca: Ábaco
P: Legal! E você Ricardo. Gostou de ser juiz?
166
Ricardo: Sim!
P: Por quê? Por que vo gostou mais de ser juiz? Vo queria ter sido juiz ou queria ter jogado?
Ricardo: Jogado.
P: Por quê?
Ricardo: Porque sim.
P: Mas eu não entendi, queria ter jogado, por quê?
Ele não respondeu, então prossegui.
Vocês tiveram ajuda da professora?
Bianca: Sim.
P: Foi legal, foi bom ou não precisava da ajuda dela?
Bianca: Acho que o precisava.
P: Não?
P: Você acha que precisava? perguntei ao Márcio.
Márcio: Mais ou menos.
P: Marcos, você acha que precisou da ajuda da professora?
Marcos: Não.
P: E você Márcio, precisou?
Márcio: Precisei.
P: Foi bom ou você não precisava dela?
Bianca: Eu precisei.
P: E foi bom ela ter ajudado ou não?
Bianca: Foi, porque eu não tava conseguindo.
P: Ela te ajudou a fazer o quê?
Bianca: Ela me ajudou a fazer a operação!
P: Ah, ela te ajudou a fazer a operação?...
P: Se vos fossem falar deste jogo para outras crianças como é que falariam para elas?
Ricardo: Lendo as regras.
P: Por que é pra ele jogar?
Bianca: Pra ele se divertir.
P: Por quê? O que você acha mais divertido?
Bianca: As continhas!
P: Mesmo sendo difícil foi divertido resolver?
Bianca: Foi.
Ricardo: É.
P: É legal mudar de casa ou não?
Júnia: É legal.
P: Marcos, você gostou de ser pirata aí? referindo-me ao po que ele escolheu.
Marcos: Sim ele ganhou!
P: Até agora é ele que ganhou?
Márcio: Eu é que ganhei, cheguei aos 25. pegou o seu peão e levou até a casa 25.
Marcos: Retirou e devolveu o peão a casa onde realmente estava.
Ao final, a professora ajudou a recolher os jogos, guardou-os e deu os avisos finais antes do término da aula.
CONVERSA COM AS CRIANÇAS QUE JOGARAM CORRIDA DOS GULOSOS
P: O que vos fizeram na aula de hoje?
Juliano: Jogamos a corrida dos gulosos.
P: Gostaram de jogar? Por quê?
Igor: Muita matemática e coisa boa!
Juliano: Legal, a tartaruga!
P: O que foi mais interessante no jogo?
Igor: Ganhava muito dinheiro, cachorro-quente, batata frita, salada ...
Juliano: A tartaruga! Colocava ela pra correr. Parava num negocio de salada, tinha o valor e a tartaruga
ajudava a fazer. Tinha dois dados, um pra jogar [com números] e tinha outro de lugar, tinha que andar pra
frente e pra trás, direita, esquerda. Tinha o banco com o dinheiro, 5 reais só de 1 real, trocava.
167
4 - ENTREVISTA APÓS A ATIVIDADE COM JOGOS JUNTO À PROFESSORA: CASA DA
MATEMÁTICA EM BUSCA DO ÁBACAO PERDIDO; JOGO DO SORVETE E CORRIDA DOS
GULOSOS
DIA: 02.06.2008 PERÍODO: 15h 20min às 16h 20 min
P: Nós vamos conversar sobre o que aconteceu naquele dia na aula e quais suas percepções em
relação ao manuseio das crianças com o material, ao tipo de interação que eles tiveram com o jogo.
Num primeiro momento como vo acha que eles reagiram?
PR: Eles estavam super curiosos, interessados em conhecer os jogos. E... ficaram empolgados... assim, é ...
Parece-me que alguns já tinham lido... é... da vez que eu fui jogar com a outra professora da 2ª série e já
tinham conhecido alguns deles. O Juliano já conhecia e ele não quis de jeito nenhum ser o juiz. Parecia que
ele conhecia o jogo.
P: Ele não falou por quê?
PR: Eu acho que ele já tinha brincado, só que sem a mediação de ninguém. Como eles jogaram sozinhos,
talvez ele não tinha dado conta de resolver as atividades.
P: Isso por que não houve mediação?
PR: É... e tem os desafios que puxam um pouquinho mais as crianças e se não tiver um adulto perto pra
incentivar, mediar...talvez eles não tivessem dado conta e ...ele não quis participar.
P: Mas de forma geral, você acha que houve isso?
PR: Não. Houve interesse. O Artur ao menos abriu um sorriso, uma coisa assim... pra conhecer o jogo do
sorvete . E o outro foi a corrida dos gulosos. Achei ótimo! Ele é um jogo simples para eles fazerem,
jogarem sozinhos, sem precisar da mediação. Tinham esse entendimento em relação ao dinheiro... reais e
centavos. Levei este jogo para a 3ª série e eles jogaram sem a minha mediação.
P: Você percebeu alguma coisa no jogo que chamou a atenção deles?
PR: Talvez seja a questão do alimento, da compra, da troca. ---
P: Interessante quando uma criança disse: __Professora! Esse jogo poderia ter diagonal também...
PR: Ou seja, ela inserindo mais esforço ao jogo... e talvez se tivesse na diagonal poderia ganhar mais rápido
o jogo.
P: E na sala de aula... com o jogo que você acompanhou como eles jogaram?
PR: Estava na casa da matemática. Tinham várias crianças--- tinha o Márcio, ele é inseguro demais, mas aí
ele vai fazer e resolver super tranquilo. É uma criança muito esperta, muito inteligente, mas num primeiro
momento ele nega... --- A Júnia se entrega muito aos desafios e às vezes eu acho que ela acaba se
cansando enquanto joga. Ela queria se divertir mais e não ter que resolver muito (rs)--- O Marcos é muito
bom na matemática, mas aquele dia eu tive que falar muito com ele... ele estava muito impaciente, tive que
mediar no comportamento, nas regras para ele obedecer, entendeu? É uma criança que é tranquila na
matemática, mas você tem que tá perto para ele prestar atenção. --- A Bianca adorou. Ela adora desafios,
ela gosta, não tem receios. E o Ricardo que ficou juiz, mas aquele juiz (rs) ficou sem fazer nada... (rs) ele é
tranquilão.
P: Em relação a interação entre as crianças mesmo, você percebeu algum tipo de interação?
PR: É... Desta vez o Marcos estava mais pra brincar mesmo... ele não ajudou o outro, o. O Marcos estava
brincando...
P: Mas ele estava brincando com o material criando dentro do contexto...
PR:--- É... a gente tem que prestar mais atenção mesmo nisso, eu estava olhando só quem estava
resolvendo.
P: Em termos de aprendizagem matemática... foi possível você acompanhar?
PR: Foi... foi. Os desafios aqui eram maiores, a criança tinha que colocar a mão na massa, usar o material...
para resolver.
P: Por exemplo, a divio do Márcio, ele disse: __Ah, eu não sei dividir e vo foi lá e fez a mediação.
PR: Então, foi fácil, ele foi lá e dividiu... Ele usou o material dourado --- ele ia trocar as barrinhas pelos
toquinhos, estava contando de 5 em 5, aí eu perguntei pra ele--- eu devia ter deixado ele trocar, na hora a
gente fica querendo adiantar tudo.(rs)
P: E em relação a Bianca e ao Marcos, essa interão na aprendizagem matemática...
PR: Deixa eu lembrar aqui da Bianca... A Bianca gosta de desafio...
P: Lembra na hora que ela resolveu a subtração tirando do menor o maior?
PR: Ah, lembro... inclusive estes dias eu vi o mesmo caso da resolução da subtração no caderno dela. Mas
ela resolveu... ali ela resolveu e ficou em dúvida, ela tirou duas quantidades...aí você mediou. Ela é tranquila
quanto ao manuseio.--- Ela tirou o primeiro número que era quatrocentos e pouco e já retirou dele o outro
número (que era maior) .
P: E o Ricardo... como é que vo viu ele no papel de juiz?
PR: Ricardo... (rs) ele é bem autoritário. (rss) E aquele autoritário amigo de todos... (rs) ele quer ficar bem
com todo mundo. Colocou a fala dele e todo mundo aceitou. --- (rss)
168
P: --- Como você viu o papel dele?
PR: ---Ele começa a atividade dele e se disperça, ele vai e volta na atividade ...
P: Num momento era juiz e outro ficava ali olhando o jogo... --- talvez trocar ele de papéis para
observar melhor... De forma geral, nessa atividade o que é que vo viu de positivo? Conseguiu
alcançar seus objetivos?
PR: Eu achei. Apesar de a Bruna querer deixar num determinado momento... eu achei super produtivo,
tiveram de movimentar mais, pensar mais pra resolver os desafios. Alguns desafios que eles acreditassem
que não conseguissem resolverem sozinhos ali... Ah, o, não dou conta! Tentaram resolver e resolveram.
Eu gostei porque a gente acaba com esse medo deles de pensar que o da conta ---
P: E em termos de objetivos... que vo propôs antes foram alcançados?
PR: A questão é a seguinte... o tempo que a gente está destinando ao jogo es sendo muito pouco. A gente
vai ter que aumentar, não deu tempo de terminar o jogo. Foi uma hora não foi?
P: Foi uma hora e 20. --- Agora o brincar... tudo aconteceu, mas não deu tempo de terminar o jogo. ---
e brincar com o ábaco.
---
PR: --- Agora tenho que apresentar pra eles. Talvez peça a Bianca pra apresentar pra eles... alguma coisa
assim... que gere o conhecimento... de como a gente usa.--- Eu posso partir do que ela fez, apresentar da
forma delas e ir questionando as crianças.--- A gente não precisa apresentar pronto e acabado, pode ser
construído.
P: Em termos pedagógicos, o que você faria depois dessa atividade? Seria essa proposta?
PR: Sim, porque o direcionamento do jogo foi em função do ábaco...--- mas eu tenho que fazer as atividades,
corrigir as operações. A minha intenção é de fazer como eu fiz com ela, dar a operação e deixar eles
resolverem...
P: E em relação ao que estava planejado o que modificou?
PR: Eu vou ter que planejar um jogo por grupo... Separar os grupos e cada semana estar com um grupo... o
tempo do jogo é maior do que a gente prevê, né.---
P: --- o Artur foi colocando as bolinhas de sorvete, a metade de cada uma e formando uma bolinha,
depois foi contado até 8 e não conseguiu chegar ao 10...
PR: Ele fazendo as bolinhas desse jeito, ele não viu, ninguém fez desse jeito? ... porque talvez ele vendo o
objeto...apesar que ele interage mais com o objeto.
P: As mudanças em relação ao que foi planejado você acha que foi só o tempo?
PR: Isso.
P: Teve alguma coisa que aconteceu no jogo que te surpreendeu?
PR: O Juliano... ficou empolgadíssimo, animado com o jogo.
P: O Igor falou tanto, tanto sobre o jogo. Os meninos aqui falaram muito?
PR: Não. ____ (rss) Acho que eles trabalharam muito aqui. (rs)---A imaginação quase virou realidade de tanto
querer [se referindo ao ganhar dinheiro no jogo corrida dos gulosos]
P: Eu observei no jogo que eles não pensaram na estratégia de para onde deixariam a cabeça da
tartaruga virada, indicando uma direção.---
PR: Mas é uma questão... não está escrito, eles tem que pensar isso.
P: Se você fosse trabalhar com aquele jogo de novo, você modificaria alguma coisa?
PR: Esse do jogo da matemática, depois que eu sentei e joguei é que percebi que as operações eram para
ser resolvidas no ábaco e eu não tive esse entendimento... então talvez isso, ter usado o ábaco. A questão
de ter chamado atenção do ábaco o era só no final, seria no processo todo... Mas aí por que eu não
coloquei o ábaco? Porque eles o conheciam.
P: Da forma convencional?
PR: Da forma convencional. Eu poderia ter lançado a proposta da Bianca e ter feito do jeito dela.
P: Quais as aprendizagens matemáticas aprendidas?
PR: Eu acho que trabalhou as quatro operações, o ábaco... e, questão de lateralidade, foi? E a quantidade do
tanto que tinha que andar mesmo nos quadradinhos que é uma questão de... respeito, de jogar
honestamente. Eu to tentando, mas não entendi o Marcos porque às vezes, ele quer se dar bem e nesse
jogo foi assim... foi observá-lo em outros jogos... Agindo como espertalhão... pular casinhas.
P: Burlar.
PR: Levemente, percebi... tem o desafio de estar na frente e não de resolver que é tranquilo pra ele.---
Percebi isso no outro dia num desafio que fiz no quadro, quando ele percebeu que não era o mero que
tinha falado quis mudar. Essas coisas pequenas que estão acontecendo que quero perceber porque ele esta
fazendo isso. A gente tem que ser mais esperta que ele. (rs)--- Tenho até que ver com a coordenadora para
ficar melhor entendido a situação dele--- Observar no jogo porque a gente não tá trabalhando só aquilo ali
[referindo a matemática] tem mais coisas envolvidas.
P: No jogo vo acompanha só a aprendizagem matemática?
PR: De jeito nenhum, de jeito nenhum! Por isso que tem que tá atento e observar mais. O jogo te mil
possibilidades de trabalhar com o jogo.--- Essa questão da divisão, aí você vai lá pega e resolve e vê que a
divisão é isso.
169
P: Tem alguma coisa que queira falar sobre a aula?
PR: (rs)---
P: Naquele primeiro encontro a gente conversou, como é que tá isso agora?
PR: A gente tem que tá atenta no brincar com as crianças no jogo. Então quando você começa a perceber
algumas coisas, a insegurança do Marcos.--- Eu fiquei tão atenta no jogo que não atende todos. --- O Juliano
faz birra, então... o deu trabalho de comportamento.
P: E você, ficou mais tranquila?
PR: Fiquei. (rs)
P: Você disse que ia deixar eles brincarem.
PR: Da outra vez eu queria porque queria que eles jogassem e dessa vez eu deixei que eles se
organizassem no grupo, cada grupo que abriu, mexeu na sua caixinha...
P: Teve alguma coisa de forma geral que vo mudaria no contexto de sala de aula?
PR: Acho que o tempo. Eu tenho que me organizar em relação à observação. Eu não posso ficar presa só em
um grupo e ao mesmo tempo é necessário observar de mais perto. ---
170
Apêndice 23: Exemplo de organização dos indicadores da pesquisa
Entrevista com a professora as a atividade com os jogos casa da matemática: em busca do ábaco
perdido, jogo do sorvete e corrida dos gulosos
CONTEXTO
ANALISE
PR:
Eles estavam super curiosos, interessados em
conhecer os jogos. E... ficaram empolgados... assim,
é ... Parece-me que alguns já tinham lido... é... da vez
que eu fui jogar com a outra professora da 2ª série.
*Jogar.jogo
a professora
fala do interesse das
crianças quanto ao jogo.
*Jogo.apropriação a professora se apropriou do
jogo e fez suas observações com as crianças.
PR: É...
e
tem os desafios que puxam um
pouquinho mais as crianças e se não tiver um
adulto perto pra incentivar, mediar... talvez eles o
tivessem dado conta e ...ele o quis participar.
*Olhar.criança
a professora observa as crianças e
pensa sobre os desafios do jogo.
*Jogo.mediação a professora fala sobre a
necessidade de mediação durante o jogo.
PR:
Houve interesse. O Artur ao menos abriu um
sorriso, uma coisa assim... pra conhecer o jogo
do sorvete”. E o outro foi a corrida dos gulosos.
Achei ótimo! Ele é um jogo simples para eles
fazerem, jogarem sozinhos, sem precisar da
mediação. Tinham esse entendimento em relação ao
dinheiro... reais e centavos. Levei este jogo para a 3ª
série e eles jogaram sem a minha mediação.
*Jogo.prazer
a professora percebe nas crianças o
interesse pelo jogo, pelo sentido que lê faz para as
crianças.
*Jogo.autonomia a professora percebe a
autonomia das crianças ao jogar.
*Jogo.conhecimento matemático a professora
reúne conhecimento matemático e jogo.
PR: Estava na casa da matemática. Tinham várias
crianças--- tinha o Márcio, ele é inseguro demais,
mas aí ele vai fazer e resolver super tranquilo. É
uma criança muito esperta, muito inteligente, mas
num primeiro momento ele nega... --- A Júnia se
entrega muito aos desafios e às vezes eu acho que
ela acaba se cansando enquanto joga. Ela queria
se divertir mais e não ter que resolver muito (rs)---
O Marcos é muito bom na matemática, mas aquele
dia eu tive que falar muito com ele... ele estava
muito impaciente, tive que mediar no
comportamento, nas regras para ele obedecer,
entendeu? É uma criança que é tranquila na
matemática, mas você tem que tá perto para ele
prestar atenção. --- A Bianca adorou. Ela adora
desafios, ela gosta, não tem receios. E o Ricardo
que ficou juiz, mas aquele juiz (rs) ficou sem fazer
nada... (rs) ele é tranquilão.
*Olhar.criança
a professora reflete sobre cada
criança, incluindo não só o conhecimento matemático,
mas o que permeia o jogo.
*Jogo.ZDP a professora percebe o desafio
matemático como algo que exige mais da criança.
*Jogo. mediação a professora fala sobre a
mediação realizada com as crianças.
*Experimentar.papéis a professora reflete sobre a
experimentação de papéis na sala de aula.
P: Em relação a interação entre as crianças mesmo,
você percebeu algum tipo de interação?
PR: E... Desta vez o Marcos estava mais pra
brincar mesmo... ele não ajudou o outro, não. O
Marcos estava brincando...
P: Mas ele estava brincando com o material criando
dentro do contexto.
PR:--- É... a gente tem que prestar mais atenção
mesmo nisso, eu estava olhando só quem estava
resolvendo.
*Percepção.brincar
a professora percebe o brincar
durante a atividade das crianças.
*Jogo.olhar.ouvir a professora percebe a
necessidade de um olhar mais cuidadoso e próximo à
criança durante o jogo.
171
CONTEXTO
ANALISE
P: Em termos de aprendizagem matemática... foi
possível você acompanhar?
PR: Foi... foi. Os desafios aqui eram maiores, a
criança tinha que colocar a mão na massa, usar o
material... para resolver.
*Jogo.ZDP
a professora percebe a necessidade de
agir sobre a ZDP e utilizar o material concreto.
P: Por exemplo, a divio do Márcio, ele disse:
_Ah, eu não sei dividir e vo foi lá e fez a
mediação.
PR: Então, foi fácil, ele foi lá e dividiu... Ele usou o
material dourado --- ele ia trocar as barrinhas pelos
toquinhos, estava contando de 5 em 5, aí eu
perguntei pra ele--- eu devia ter deixado ele trocar,
na hora a gente fica querendo adiantar tudo.(rs)
*Jogo.med
iação
a professora incentiva a criança na
tentativa de resolução.
*Controle.reflexão a professora reflete sobre sua
práxis.
P: Lembra na hora que ela resolveu a subtração
tirando do menor o maior?
PR: Ah, lembro... inclusive estes dias eu vi o
mesmo caso da resolução da subtração no
caderno dela. Mas ela resolveu... ali ela resolveu e
ficou em vida, ela tirou duas quantidades... aí
vo mediou. Ela é tranquila quanto ao manuseio.---
Ela tirou o primeiro número que era quatrocentos e
pouco e já retirou dele o outro número (que era maior)
*Olhar.criança
a professora reflete sobre o
conhecimento da criança e seus avanços na
aprendizagem.
*Intervenção.pesquisador a professora lembra do
momento no qual intervi na jogada e mediei a criança.
P:
Num momento era juiz e outro ficava ali olhando
o jogo... --- talvez trocar ele de papéis para
observar melhor... De forma geral, nessa atividade o
que é que você viu de positivo? Conseguiu alcançar
seus objetivos?
PR: Eu achei. Apesar de a Bianca querer deixar num
determinado momento... eu achei super produtivo,
tiveram de movimentar mais, pensar mais pra
resolver os desafios. Alguns desafios que eles
acreditassem que não conseguissem resolverem
sozinhos ali... Ah, não, não dou conta! Tentaram
resolver e resolveram. Eu gostei porque a gente
acaba com esse medo deles de pensar que não dão
conta ---
*
Intervenção.pesquisador
sugiro momentos no
jogo nos quais a professora pode sugerir troca de
papéis para conhecer melhor as crianças.
* Jogo.ZDP a professora considera a participação
das crianças e a necessidade de desafios.
*Jogo.avalião a professora avalia a
aprendizagem e o conhecimento das crianças através
do jogo, incentivando-as a tentar sem medos.
*Jogo.mediação a professora incentiva as crianças
a tentarem resolver os desafios sem medos.
PR: A questão é a seguinte... o tempo que a gente
está destinando ao jogo está sendo muito pouco.
A gente vai ter que aumentar, não deu tempo de
terminar o jogo. Foi uma hora o foi?
P: Foi uma hora e 20. --- Agora o brincar... tudo
aconteceu, mas não deu tempo de terminar o jogo. ---
e brincar com o ábaco.---
PR: --- Agora tenho que apresentar pra eles. Talvez
peça a Bianca pra apresentar pra eles... alguma
coisa assim... que gere o conhecimento... de como
a gente usa.--- Eu posso partir do que ela fez,
apresentar da forma delas e ir questionando as
crianças.--- A gente não precisa apresentar pronto
e acabado, pode ser construído.
*Jogo.reflexão.ação
a professora reflete sobre sua
atuação e organização do trabalho pedagógico com o
jogo.
*Olhar.criança a professora tem um olhar
diferenciado sobre a criança, considerando seu
conhecimento.
*Interação.crianças a professora reflete sobre sua
práxis e tenta valorizar uma relação mais próxima as
crianças.
P: E em relação ao que estava planejado o que
modificou?
PR: Eu vou ter que planejar um jogo por grupo...
Separar os grupos e cada semana estar com um
grupo... o tempo do jogo é maior do que a gente
prevê, né.---
*Interação.jogo
a professora procura favorecer a
interação das crianças em grupos diversos.
*Jogo.reflexão.ação a professora reflete sobre sua
práxis e planeja mudanças.
*Jogo.imprevisibilidade a professora percebe a
imprevisibilidade do jogo.
172
CONTEXTO
ANALISE
P: Eu observei no jogo que eles não pensaram na
estratégia de para onde deixariam a cabeça da
tartaruga virada, indicando uma direção.---
PR: Mas aí é uma questão... não está escrito, eles tem
que pensar isso.
* Jogo.ZDP
a professora fala da importância de agir
sobre a ZDP; a criança ver o que não está explícito.
P: Se você fosse trabalhar com aquele jogo de novo,
você modificaria alguma coisa?
PR: Esse do jogo da matemática, depois que eu
sentei e joguei é que percebi que as operões
eram para ser resolvidas no ábaco e eu não tive
esse entendimento... então talvez isso, ter usado o
ábaco. A questão de ter chamado atenção do
ábaco não era só no final, seria no processo todo...
Mas aí por que eu não coloquei o ábaco? Porque
eles não conheciam.
*Jogo.reflexão.ação
a professora reflete sobre sua
ação a partir do momento que vivencia o jogo.
* Jogo.imprevisibilidade a professora tenta se
justificar quanto à descoberta feita a partir do
momento que jogou.
---
Observ
ar o jogo porque a gente não tá
trabalhando só aquilo ali [referindo a matemática]
tem mais coisas envolvidas. Por isso que tem que
tá atento e observar mais. O jogo te dá mil
possibilidades de trabalhar com o jogo.
*Olhar.criança
a professora percebe que o jogo
permite conhecer a criança em sua integralidade, o
trabalha apenas o conhecimento matemático.
*Avaliação.jogo a professora percebe as inúmeras
possibilidades integradas ao jogo.
PR: Da outra vez eu queria porque queria que eles
jogassem e dessa vez eu deixei que eles se
organizassem no grupo, cada grupo que abriu, mexeu
na sua caixinha...
*Jogo.reflexão.ação
a professora reflete sobre seu
fazer pedagógico e vai mudando suas ações.
*Jogo.autonomia.criança a professora viu que o
jogo propicia o desenvolvimento da autonomia infantil.
P: Teve alguma coisa de forma geral que você
mudaria no contexto de sala de aula?
PR: Acho que o tempo. Eu tenho que me organizar
em relação à observação. Eu não posso ficar presa
só em um grupo e ao mesmo tempo é necessário
observar de mais perto. ---
*J
ogo.reflexão.ação
a professora reflete sobre sua
práxis e procura mudanças.
*Jogo.avalião a professora percebe o jogo como
um momento de conhecimento e avaliação da criança.
*Jogo.olhar.criança a professora percebe cada
criança e seu desenvolvimento como únicos.
*Jogo.imprevisibilidade a professora fala de não
ser pega de surpresa, ainda não refletindo sobre a
imprevisibilidade do jogo.
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