Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
SOCIAL
CURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NÔMADES DO TEMPO PRESENTE
Rio de Janeiro
2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
SOCIAL
CURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NÔMADES DO TEMPO PRESENTE
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Psicologia Social da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro como requisito parcial para obtenção do Título
de Doutor em Psicologia Social.
Orientadora: Profa. Dra. Regina Gloria Andrade.
Co-orientadora: Profa. Dra. Héris Arnt.
Rio de Janeiro
2009
ads:
2
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A
F866 Freitas, Adriene Barreto.
Jovens nômades do tempo presente /Adriene Barreto Freitas,
2009.
282 f.
Orientadora: Regina Gloria Andrade.
Co-orientadora: Héris Arnt
Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Instituto de Psicologia.
1. Psicologia do adolescente – Teses. 2.Adolescência –
Teses. 3. Juventude – Teses. I. Andrade, Regina Gloria. II.
Arnt, Héris.. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto de Psicologia. III. Título.
CDU 159.922.8
3
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
SOCIAL
CURSO DE DOUTORADO
ADRIENE BARRETO DE FREITAS
JOVENS NÔMADES DO TEMPO PRESENTE
ORIENTADOR (ES): Profa. Dra. Regina Gloria Nunes Andrade
Profa. Dra. Dra Héris Arnt
BANCA EXAMINADORA:
Profa. Dra Regina Gloria Nunes Andrade (Presidente) – UERJ
Profa. Dra Héris Arnt – UERJ
Profa. Dra Betânia Maciel – UFRPe
Profa. Dra Monica Grin – UFRJ
Prof. Dr Luis Antonio Cunha Ribeiro – UFF
4
Ao meu marido Aloisio, na certeza de que, onde quer que eu
vá, a força do seu amor estará em mim, e, onde quer que ele
esteja, estará no meu pensamento.
À minha filha Ana Carolina, meu presente maior, orgulho e
eternidade. A razão do meu viver.
Aos meus pais, Clara e João Alberto, por ser quem sou.
Além do tempo e espaço.
5
AGRADECIMENTOS
À Profa. Dra. Regina Glória Nunes Andrade, pelas inesquecíveis lições como
orientadora deste trabalho;
À Profa. Dra. Héris Arnt, pelo incentivo e presença durante os encontros de co-
orientação;
Ao meu irmão Rodney e sua querida Isabela, que sempre estiveram ao meu lado;
A minha sobrinha Gabriela, sinônimo de amor e parceria;
À Roberta, sentido do meu trabalho;
Ao Miguel, significado traduzido de amizade;
À Francisca, por não me deixar esquecer do que sou capaz;
Ao Pedro e sua querida família, pelo inesgotável apoio e força;
Aos meus “jovens”, por reinaugurarem em mim a vida e a fé;
Aos meus Anjos da madrugada, pelas bênçãos de coragem e de audácia;
À Fundação CAPES, que deu subsídios para que a concretização da pesquisa se tornasse
realidade.
6
RESUMO:
A presente TESE DE DOUTORADO teve como objetos de investigação os jovens imersos na
contemporaneidade e suas experiências/vivências de vida sócio-cultural e, especialmente, suas
relações com o “tempo e o espaço social”, sob a influência do conceito de “nômades do tempo
presente”, segundo a visão de Alberto Melucci (1998). Este trabalho foi desenvolvido na Pós
Graduação em Psicologia Social, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foram
selecionados por indicação vinte jovens de classe média alta da cidade do Rio de Janeiro,
residentes no bairro da Barra da Tijuca, compreendidos na faixa etária entre 17 e 20 anos.
Para entendê-los, utilizamos o método de “Estudo de Caso”, em que foram reunidos uma série
de procedimentos como entrevistas estruturadas não diretivas, amostras de conveniência e
método de seleção de depoimentos. Foi realizada a análise das entrevistas através de uma
pesquisa qualitativa, que objetivou saber quem são estes jovens, sua relação com a vida, como
eles percebem o tempo, como é sua relação espacial e sua politização frente a sua cidade e ao
seu país. O tema abordado diz respeito à relação da juventude deste novo milênio e sua
conexão com as novas modalidades de relação com a temporalidade, isto é, a vivência da
juventude e do tempo. A fundamentação teórica baseou-se em ampla bibliografia, onde
figuram autores como Gilles Lipovetsky, N. Canclini, N. Elias, S. Zukin, Z. Bauman e outros
teóricos das ciências sociais. Três conceitos-chave foram articulados ao longo do trabalho e
norteadores no aspecto teórico assim como na análise das entrevistas: a cultura juvenil, o
tempo e o espaço social.
Palavras chave: Jovem; Tempo; Espaço; Barra da Tijuca.
7
ABSTRACT
This DOCTORAL THESIS had as its object of investigation the young people immersed in
the contemporary and their social/cultural life experiences and, specifically, their relations
with the "Time and the Social Space", under the influence of the concept of "nomads in the
present time", according to the Alberto Melluci's view (1998). This work was developed on
the Social Psychology Post Graduation School, at the Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. Twenty high/middle class young individuals with ages from 17 to 20, from the Barra
da Tijuca neighborhood, city of Rio de Janeiro, were selected by indication. In order to
understand them, we used the "Case Study" method, where a range of procedures were
combined, such as: non-directive structured interviews, living samples and statements'
selection method. An analysis of the interviews through a qualitative research was done, with
the intent of finding out who are those individuals, their relationship with life, how they
perceive the time, how is their space relationship and their politicization to their city and their
country. The discussed issue focus on the youth's relationship with this new millennium and
its connection with the recent forms of relationship with the temporality, as: the living of the
youth and the time. The theory is based on a wide bibliography, with authors such as Gilles
Lipovetsky, Nestor Canclini, Norbert Elias, Sharon Zukin, Zigmunt Bauman and other social
scientists. Three key concepts were articulated through this work and served as basis for the
theory's aspects and for the analysis of the interviews: the young culture, the time and the
social space.
Key Words: Young; Time; Space; Barra da Tijuca.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................
CAPÍTULO I – CULTURA JUVENIL............................................................
1.1 Conceitos de cultura.....................................................................................
1.2 Cultura juvenil.............................................................................................
1.3 Multiculturalidade e interculturalidade no tempo do momento.............
1.4 Situações da América Latina frente à nulticulturalidade, à
interculturalidade e ao hibridismo...................................................................
1.5 Os diferentes: inclusão/exclusão e desconexão do jovem.........................
1.6 Juventude......................................................................................................
CAPÍTULO II A JUVENTUDE E O TEMPO.............................................
2.1 O tempo.........................................................................................................
2.2 O jovem e a percepção do tempo................................................................
2.3 Tempo psicológico........................................................................................
2.4 A percepção e o tempo.................................................................................
2.5 A questão do tempo e os estudos contemporâneos....................................
2.6 O tempo na era da informação...................................................................
2.7 A sociedade do hiperconsumo.....................................................................
2.8 O turbo consumidor.....................................................................................
CAPÍTULO III – ESPAÇO...............................................................................
3.1 Espaço: definições e tipos............................................................................
3.2 Globalização e espaço..................................................................................
3.3 Cyberespaço..................................................................................................
3.4 Explosão multimídia no ciberespaço..........................................................
3.5 Espaços da tela: Youtube e Orkut..............................................................
12
17
17
20
23
26
28
31
37
37
38
40
41
43
48
49
55
60
60
66
68
70
72
9
CAPÍTULO IV – A ILHA DA FANTASIA.....................................................
4.1 A cidade: um antigo e tradicional espaço humano...................................
4.2 Segregação urbana.......................................................................................
4.3 Cidades-shopping e o fenômeno da “disneificação”.................................
4.4 Condomínios-shopping ou cidadelas fechadas e a nova reorganização
do espaço.............................................................................................................
4.5 Barra da Tijuca: histórico e características..............................................
4.6 Influência da mídia e medo na Barra da Tijuca.......................................
CAPÍTULO V – PESQUISA PSICO-SOCIAL DO JOVEM MORADOR
DA BARRA DA TIJUCA..................................................................................
5.1 Metodologia..................................................................................................
5.2 Objetivo geral e objetivos específicos.........................................................
5.3 Hipóteses formuladas...................................................................................
5.4 Fundamentação teórica...............................................................................
5.5 Metodologia do estudo de caso....................................................................
5.6 Categorias de tempo e de espaço social......................................................
CAPITULO VI – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS.......................................
6.1 Tópico I: sujeito jovem da Barra................................................................
6.2 Tópico II: o tempo e o jovem da Barra......................................................
6.3 - Tópico III: o jovem da Barra e o espaço..................................................
6.4 Tópico IV: juventude, consciência sócio política e práticas culturais.....
CONCLUSÃO....................................................................................................
BIBLIOGRAFIA................................................................................................
APÊNDICE 1......................................................................................................
APÊNDICE 2......................................................................................................
APÊNDICE 3......................................................................................................
ANEXO...............................................................................................................
79
79
82
89
91
92
95
100
100
100
101
102
102
104
110
110
120
137
153
168
177
189
202
207
210
10
QUADROS E TABELAS
Quadro 1 – Síntese das informações fixas sobre os jovens do bairro da
Barra da Tijuca-RJ/Brasil.................................................................................
Quadro II – Critérios para determinação da classe social, segundo a
Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa.............................................
107
109
11
O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Mário Quintana (A cor do Invisível).
12
INTRODUÇÃO
O pensamento é escravo da vida, e a vida, brinquedo do tempo: e o
tempo que avista o mundo inteiro precisa ser detido.
William Shakespeare, Henry IV.
Esta tese tem como objeto o estudo da relação com a vida, da percepção de tempo, da
relação com o espaço, bem como da politização frente à cidade e ao país de jovens
contemporâneos, entre dezessete e vinte anos, de classe média alta, moradores no bairro da
Barra da Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro.
A escolha se justifica, sobretudo, porque a realidade de jovens das classes mais
favorecidas representa um campo ainda pouco explorado em nossos meios acadêmicos.
O título desta tese remete à idéia defendida por Alberto Melucci, na obra Nomads of
the present (1998), em que o autor propõe a figura do “nômade” como metáfora das
trajetórias biográficas contemporâneas, agregando a figura do “nômade do presente”, que
significa a vivência do provisório nas questões sociais e pessoais do tempo de agora.
O primeiro capítulo explora o conceito de cultura, sob o ponto de vista social, para
fundamentar a abordagem de fenômenos culturais próprios do Brasil, nos quais os jovens que
estudamos estão mergulhados.
Ao se estudar a cultura no Brasil, existe uma preocupação em saber qual a importância
dos meios de comunicação de massa na vida do país, além do questionamento sobre a cultura
das diferentes classes sociais, incluindo-se aí a cultura popular.
Nesse capítulo, duas categorias provenientes da cultura merecem destaque, a
multiculturalidade e a interculturalidade.
Como a concepção de multiculturalidade expressa uma forte tendência para a
interseção cultural, será preciso estudar de que forma essa multiculturalidade se engendra na
América Latina e até que ponto se dão a inclusão e a exclusão dos jovens nos processos
culturais, como pontua Canclini, em Diferentes, desiguais e desconectados (2005).
Na análise da inserção dos jovens na cultura, uma primeira hipótese de trabalho é
formulada: os jovens exercem uma função revitalizadora da vida social, são elementos
potencialmente disponíveis para oportunidades que envolvam mudanças no contexto político,
econômico e social do mundo.
Os historiadores Levi & Scmitt entendem a própria juventude como uma construção
social e cultural, ressaltando que em nenhum lugar, em nenhum momento da história, a
juventude poderia ser definida segundo critérios exclusivamente biológicos ou jurídicos.
13
Sempre, e em todos os lugares, ela é investida também de outros valores” (Levi & Scmitt,
1996, p.14).
Segundo a especialista Helena Abramo, “a noção de juventude é socialmente variável.
A definição do tempo de duração, dos conteúdos e significados sociais desses processos
modifica-se de sociedade para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e através
das suas divisões internas” (Abramo, 2004, p.1).
No segundo capítulo, algumas categorias teóricas principais, como o tempo e sua
percepção, serão privilegiadas como pilares da discussão.
O sociólogo Norbert Elias foi o norteador teórico deste trabalho, ao conceber tempo
como uma categoria social, diferente de outras linhas que o colocam como um dado da
natureza. Para Elias, quanto mais avançada a sociedade mais os relógios ocupam um lugar
destacado, pois sua função é reguladora. Porém, não se pode esquecer que eles são apenas
instrumentos representativos do tempo, mas não são o tempo. Para o sociólogo, o tempo não
existe em si; é, acima de tudo, um mbolo social e não pode ser visto como dado objetivo ou
conceito inerente ao ser humano. Elias, em sua obra Sobre o tempo, esclarece:
O que chamamos de ‘tempo significa, antes de qualquer coisa, um quadro
de referência, do qual um grupo humano – mais tarde a humanidade inteira –
se serve para erigir, em meio a uma sequência contínua de mudanças, limites
reconhecidos pelo grupo, ou então para comparar uma certa fase, num dado
fluxo de acontecimentos, com fases pertencentes a outros fluxos, ou ainda
para muitas outras coisas (Elias, 1998, p.60).
A noção de tempo da sociedade não está ligada apenas ao íntimo do indivíduo o
tempo psicológico –, mas também à cultura e à sociedade em que se está inserido. O tempo
psicológico é o tempo que a personalidade assume interiormente; é o tempo filtrado pelas
vivências subjetivas, muitas vezes carregadas com toda a problemática existencial.
Sobre a percepção do tempo, pode-se observar que varia de acordo com o momento de
vida do ser, ou seja, o tempo é percebido de forma variada, a que se denomina relatividade do
tempo.
Nesse ponto, a segunda hipótese elaborada foi: essa relatividade na percepção do
tempo, uma das funções psíquicas mais sensíveis na atualidade, está ligada à aceleração, à
velocidade com que as informações atinge principalmente o jovem.
A rapidez e a velocidade das trocas, bem como a nova temporalização estudada pelo
sociólogo Lipovetsky (2006), também serão aprofundadas.
14
No terceiro capítulo, será trabalhada a categoria espaço e suas mais variadas
conceituações, dentre elas o espaço geográfico.
Assim como os fatos variam no tempo, o espaço acumula-se a partir dos
acontecimentos. As relações sociais são sempre espaciais e existem a partir da construção de
certas espacialidades. Pode-se considerar uma espacialidade efetivamente vivida e
socialmente criada, ou seja, a construção da espacialidade como um produto de processos
sociais e rebatimentos materiais, ao mesmo tempo concreta e abstrata.
Outra categoria é a de hiperespaço. A velocidade com que a tecnologia progride e se
expande no espaço social é um dos principais problemas que se colocam, estabelecendo um
novo espaço de descoberta: a Fronteira Eletrônica. O desenvolvimento da tecnologia oferece
um maior leque de experiências nas residências, nas escolas e nos locais de trabalho, o que
leva o homem ao encontro da experiência virtual, não como observador, mas também
como participante ativo de acontecimentos simulados, integrando-o numa verdadeira
“comunidade virtual” e criando novas concepções do mundo.
O avanço tecnológico permitiu a ampliação e a adaptação do pensamento e da
inteligência, de forma a assimilarem-se e acomodarem-se as informações. Esses elementos
são previamente modificados pelo espaço virtual e, portanto, se relacionam e interagem com
uma informação diferenciada, que exige outras formas de conexões e relações, muito mais em
rede, interconectadas e carregadas de diversidade de opiniões e de formatos intelectuais
distintos.
A globalização e o desenvolvimento tecnológico acarretaram a maior parte das
mudanças e transformações vivenciadas nos últimos anos. Esses dois aspectos estão presentes
na realidade e no pensamento, desafiando grande número de pessoas em todo o mundo e são
componentes de um ciclo contínuo e irreversível.
O conceito de ciberespaço também será discutido e analisado através dos
esclarecimentos de Pierre Levy (1996).
De acordo com o jornalista Dênis de Moraes, professor do departamento de Estudos
Culturais e Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF), em seu artigo Ciberespaço e
mutações comunicacionais (2002), vive-se a era dos fluxos infoeletrônicos. A força invisível
dos sistemas tecnológicos encurta a imensidão da Terra e subverte toda e qualquer barreira.
Dois protagonistas entre os jovens de hoje serão estudados: o YouTube e o Orkut.
A terceira hipótese de trabalho, aqui formulada e investigada, consiste em que o jovem
frequenta assiduamente e vivencia um novo espaço, chamado de virtual.
15
No quarto capítulo, o tema estudado é o espaço urbano, a cidade, que comporta em si
suas transformações e consequências. Através da arquitetura, pode-se contar uma história que
traz registros, como os prédios e estruturas de uma natureza fabricada, que tem o dom de
durar, permanecer, legar ao tempo os vestígios de sua existência. A cidade é um registro, uma
escrita, materialização de sua própria história (Rolnik, 2004, p.9).
O espaço, como um espaço criado, será observado e estudado. Especialmente no que
diz respeito ao objeto da tese, existe uma idealização de um espaço montado, como lugar
perfeito, em que uma programação especial a cumprir, uma tentativa de desprogramar os
elementos negativos. A Barra da Tijuca apresenta uma urbanização peculiar, diversa daquela
dos bairros mais tradicionais.
Nas cidades contemporâneas, fica evidente que os territórios são diferenciados,
divididos em bairros que refletem o poder aquisitivo da classe social. Quando se menciona a
Zona Sul do Rio de Janeiro ou a Baixada Fluminense, sabe-se que são locais totalmente
diversos. “É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças diferenciadas,
onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais” (Rolnik, 2004, p.40).
A ocupação da terra urbana foi determinada pela lógica capitalista com a intervenção
do Estado. O bairro da Barra é também um exemplo disso. O arquiteto Cardoso (1988), em
sua dissertação Construindo a utopia: urbanismo e modernidade no Brasil, afirma que a
Barra da Tijuca “é uma intervenção sobre o urbano, segundo as lógicas e as necessidades da
classe dominante” e cuja forma de expressão se dá “ora através da adequação as novas formas
de consumo, ora na articulação do organismo de planejamento com os interesses imobiliários,
ora ainda na destinação elitista do espaço sob intervenção”.
Assim, uma quarta hipótese pode ser considerada: esta paisagem pós-moderna é
totalmente fabricada, ela ganha vida real; o cenários de sonho onde todos os aspectos estão
voltados para o consumo. Instaura-se um clima de perfeição, onde não existe pobreza,
problema, insegurança, violência. Trata-se de um fenômeno de privatização do espaço
público.
Na verdade, a Barra da Tijuca tem seu cotidiano estabelecido em arquipélagos de ilhas
urbanas: condomínios, shoppings e centros empresariais. A sensação de não violência vem
acompanhada de guaritas e guardas. Tudo garante a ilusão de violência controlada, incluindo-
se a população jovem que se sente protegida com o aparato de vigilância.
Para o sociólogo francês Peretti-Watel, em sua obra La societe du risque, nesse
imaginário os perigos são previsíveis e calculáveis, fazendo com que os sistemas de vigilância
16
e as companhias de seguros acabem substituindo, muitas vezes, o papel da justiça e mesmo da
polícia (Peretti-Watel, 2001, p. 9).
No quinto capitulo será apresentada a metodologia utilizada em uma pesquisa
qualitativa, que integra a tese e busca dar-lhe maior concretude. Ela foi realizada através de
entrevistas com jovens entre 17 a 20 anos, pertencentes à classe média alta da cidade Rio de
Janeiro, moradores da Barra da Tijuca. O objetivo geral desta pesquisa foi procurar
compreender, a partir dessa amostra espacial, esse jovem do milênio, influenciado pelas novas
tecnologias, nascido sob o domínio da “Era da Informação”. Para alcançar este fim, decidiu-se
aplicar a metodologia do Estudo de Caso.
O perfil psico-sócio-cultural levantado teve seu enfoque nos comportamentos sociais
dos jovens, como já explicitado no objeto da tese, em sua relação com a vida, na percepção de
tempo, na relação com o espaço, bem como na politização frente à cidade e ao país.
Os sujeitos foram escolhidos através de indicações sucessivas, feitas pelos próprios
entrevistados. Os participantes foram entrevistados em suas residências, em média com a
duração de uma hora e meia. No total, foram seiscentas horas de entrevistas.
O sexto capítulo trata da análise das entrevistas, que puderam ser desdobradas em
quatro tópicos: I) Sujeito da Barra da Tijuca; II) O Jovem da Barra e o Tempo; III) A Relação
do Jovem da Barra e a Espacialidade; e IV) Juventude, Consciência Sócio-Política e Práticas
Culturais.
As considerações finais vêm comprovar algumas das hipóteses de trabalho. Outras
serão discutidas em futuros trabalhos de investigação. Finalmente, deixo registrada a
relevância da pesquisa com os jovens moradores do bairro da Barra da Tijuca, que espero seja
esclarecedora para o leitor desta Tese de Doutorado.
17
CAPÍTULO I – CULTURA JUVENIL
...todas as reformas revolucionárias são inimagináveis até
acontecerem... e então percebe-se que eram inevitáveis.
Theodore Roszak, 1968.
1.1 Conceitos de cultura
Para dar início a este capítulo, deve-se entender o que é cultura e seu significado.
Cultura é um conceito complexo, em razão de suas múltiplas definições. Autores como o
antropólogo Canclini (2008), em seu livro Culturas híbridas, a definem como:
Produção de fenômenos que contribuem, médiante a representação ou
reelaboração simbólica das estruturas materiais, para a compreensão,
reprodução ou transformação do sistema social, ou seja, a cultura diz
respeito a todas as práticas e instituições dedicadas à administração,
renovação e reestruturação do sentido (Canclini, 2008, p. 27).
o historiador inglês Peter Burke (1989), em seu livro Cultura popular na idade
moderna, assim a conceitua:
O termo cultura tendia a referir-se à arte, literatura e música (...) hoje,
contudo, seguindo o exemplo dos antropólogos, os historiadores e outros
usam o termo ‘cultura’ muito mais amplamente, para referir-se a quase tudo
que pode ser apreendido em uma dada sociedade, como comer, beber, andar,
falar, silenciar e assim por diante (Burke, 1989, p.25).
Cultura é uma palavra de origem latina e, em seu significado original, tinha relação
com as atividades agrícolas. Vem do verbo latino colere, que quer dizer cultivar. Antigos
pensadores romanos ampliaram esse significado e o utilizaram para referirem-se ao
refinamento pessoal, e esse fato está presente na expressão “cultura da alma” (Santos, 2008,
p.27).
Ao se estudar a cultura no Brasil, existe uma preocupação em saber o que seria a
cultura nacional, ou, mesmo, qual seria a importância dos meios de comunicação de massa na
vida do país, ou, ainda, qual a cultura das diferentes classes sociais, incluindo-se a cultura
popular.
18
A partir de uma idéia de refinamento pessoal, a cultura transformou-se na descrição
das formas de conhecimento dominantes nos Estados Nacionais, que se formavam na Europa,
a partir do fim da Idade Média.
A preocupação com a “pureza cultural” fez com que a atenção se voltasse para o
conhecimento erudito, ao qual tinham acesso setores das classes dominantes dos Estados
em formação. O conhecimento erudito contrapunha-se ao conhecimento apresentado pela
maior parte da população, um conhecimento que se supunha inferior, atrasado, superado, mas
que, aos poucos, passou também a ser entendido como uma outra forma de expressão: a
cultura popular.
Entendem-se, por cultura popular, as manifestações diferentes e diversificadas da
cultura dominante, que estão fora das instituições vigentes. Assim sendo, podem-se distinguir:
i) o erudito, marcado pela “branquidade” e europeidade e; ii) o popular, marcado pelas
camadas subalternas, mais criativas, mais abertas à convivência humana e ao atendimento
imédiato das necessidades espirituais; também dita como “vulgar”, por ser recheada de
elementos indígenas e africanos.
No nosso entendimento, a cultura está relacionada ao mundo, pleno de diversidades
humanas, e diz respeito ao modo como os povos se comportam e vivem. Expressa-se na
interação multicultural, que abarca uma gama variada de manifestações espontâneas que
tornam os indivíduos múltiplos em suas ações, constituídos numa sociedade que está sempre
em relação com outras sociedades. Nas palavras de Santos, “cultura diz respeito à humanidade
como um todo e, ao mesmo tempo, a cada um dos povos, nações, sociedades e grupos
humanos” (Santos, op.cit., p.8).
Dessa forma, cultura engloba toda a humanidade e permite ao homem compreender
que ele é um ser social e que faz parte de uma natureza compartilhada. Permanentemente,
somos levados a indagar sobre as razões da realidade social da qual fazemos parte e de como
elas se mantêm e se transformam. “Cada cultura é o resultado de uma história particular, e
isso inclui também suas relações com outras culturas, as quais podem ter características bem
diferentes” (idem, p.12).
Nesse sentido, é preciso assumir a importância da cultura e sua correspondência a um
momento particular, que, aos poucos, se vai transformando através da história da sociedade
que a criou. A cultura acompanha o nível de evolução de cada sociedade, cujos estágios
variam de acordo com o grau de evolução de sua civilização. “A diversidade das culturas
existentes acompanha a variedade da história humana, expressa possibilidades de vida social
19
organizada e registra graus e formas diferentes de domínio humano sobre a natureza” (Santos,
op.cit., p.15).
Na compreensão de uma cultura geral, é possível pinçar uma cultura específica; daí o
destaque aqui dado à cultura de determinado grupo de jovens cariocas.
A sociedade brasileira apresenta classes e grupos sociais bem diferenciados daqueles
de outras regiões físico-geográficas, de características bem distintas. Por ser um país
continental, com dezenas de países fronteiriços, o Brasil tornou-se grande receptor cultural
local e de várias partes do mundo, o que o permite, em contrapartida, refletir, marcantemente,
uma grande influência alienígena no plano cultural nacional. Existem realidades culturais
internas à nossa sociedade que podem ser tratadas, e muitas vezes o são, como se fossem
culturas estranhas (idem, p.18). podemos refletir a sociedade entendendo a diversidade
cultural inserida em seu contexto e, dessa forma, perceber melhor o país em que vivemos. “A
diversidade também se constitui de maneiras diferentes de viver, cujas razões podem ser
estudadas, contribuindo dessa forma, para eliminar preconceitos e perseguições de que são
vitimas grupos e categorias de pessoas” (idem, p.19).
No estudo de culturas é preciso compreender as realidades culturais, de forma a
mostrar que elas diferem em função do contexto da sua própria história e das relações sociais
envolvidas.
Existem duas concepções básicas de cultura, segundo Santos: “A primeira preocupa-se
com todos os aspectos de uma realidade social. Assim, cultura diz respeito a tudo aquilo que
caracteriza a existência social de um povo ou nação, ou então de grupos no interior de uma
sociedade” (idem, p.24). E prossegue: A segunda refere-se mais especificamente ao
conhecimento, às idéias e crenças, assim como às maneiras como se manifestam na vida
social” (ibidem), ou seja, não é possível dissociar-se cultura da sociedade a que se refere.
Todas as formas sociais da existência humana estão envolvidas na cultura e tais definições
encerram com clareza sua natureza e seus princípios.
As sociedades diferem em vários aspectos na organização de sua vida social, na
formação de relacionamentos afetivos ou de matrimônio, nas regras religiosas, por exemplo;
porém, apesar das diferenças, elas vêm partilhando características comuns.
Por mais diferenças que possam existir entre países como Brasil, Peru,
Quênia e Indonésia, todos eles partilham processos históricos comuns e
contêm importantes semelhanças em sua existência social, buscam
desenvolver suas economias dependentes, superar desigualdades sociais
internas e atingir padrões internacionais de qualidade de vida (idem, p.40).
20
A cultura traz em si a dimensão de uma sociedade e, como construção histórica, é um
processo inacabado e em permanente mudança, visto a ocorrência repetitiva de eventos
tradicionais influenciadores das culturas locais.
Outra questão relevante é a elitização da cultura. As classes dominantes, outrora,
possuíam o conhecimento erudito e este conhecimento era antagônico à maior parte da
população, tida como inferior, mas detentora também da cultura popular, formas de
pensamento das camadas mais pobres da população, apesar do poder da elite de, em certa
medida, determinar a própria concepção da cultura popular.
Na sociedade brasileira, existe grande diversificação cultural. Por sua grande extensão
territorial, o país é composto de estados e cidades bem diferenciados, com populações
igualmente distintas, que expressam caracteres específicos de cada região.
As classes sociais se distinguem nas questões de renda financeira, estilos de vida etc.
Existem ainda as diferenças comportamentais entre homens e mulheres, jovens e idosos...
Cada camada da população apresenta visões de mundo diferentes, comporta-se de formas
distintas e manifesta-se em estilos próprios.
Nesta tese, o objeto de pesquisa ficou restrito a uma parcela da população jovens de
17 a 20 anos, moradores da Barra da Tijuca, criados num espaço restrito de condomínios e de
shopping centers, com se tivessem crescido atrás de muralhas que os protegem e lhes
asseguram a integridade física, impedidos de circularem a pelas ruas, devido à longa
distância entre as localidades.
Que tipo de cultura está inserida nessa camada da população? Como eles pensam, se
sentem e se comportam em relação à espacialidade e ao tempo?
1.2 Cultura juvenil
Ao iniciar este item, a idéia foi trabalhar a questão da autonomia da pessoa, sobretudo
dos jovens de hoje. A preocupação é a mudança do tradicional sistema paternalista para outro
sistema, o de autonomia ética, que agora se desenvolve. Autonomia significa
autodeterminação, o poder da pessoa para tomar as próprias decisões, envolvendo sua
integridade físico-psíquica e suas relações sociais. O termo deriva do grego auto (próprio) e
nomos (lei, regra, norma) e refere-se à capacidade de a pessoa estabelecer suas próprias
normas de conduta, ao decidir o que é bom e o que considera adequado para si.
O autônomo tem liberdade de pensamento e seria livre de coações internas e externas,
escolhendo seu caminho. É na juventude que se determina essa autonomia, quando o jovem
21
exercita o poder de liberdade e de capacidade. Nas reflexões de vários teóricos, a questão da
autonomia está sempre presente.
Os estudos teóricos sobre jovens estão se desenvolvendo rapidamente a ponto de
serem conhecidos como estudos da cultura juvenil. Isso porque vários estudiosos que
constituem um grupo de teóricos sociais denominaram suas pesquisas de Estudos Culturais,
dentre eles o cientista Douglas Kellner, que nomeia suas pesquisas como fazendo parte desse
novo grupo de abordagem: “Os estudos culturais (...) desenvolvem modelos teóricos do
relacionamento entre economia, o estado, a sociedade, a cultura e a vida diária, dependendo,
pois das problemáticas da teoria social contemporânea” (Kellner, 2001, p.49).
Os chamados Estudos Culturais são marcados pela valorização de formas culturais tais
como comunicação de mídia, o cinema, a televisão, a música popular, desenvolvendo estudos
a partir das mesmas.
Foi Kellner quem primeiro chamou nossa atenção para os filmes que no final do
século XX apresentavam uma geração em transformação e de certa forma sequencial à
geração dos anos 60. Através do estudo de filmes que expressam os anseios sociais da classe
média e dos trabalhadores, ele investigou o modo como os filmes de Hollywood
transcodificaram os discursos políticos da época. Esses estudos se concentraram na
representação dealegorias que expressam medos, aspirações e esperanças de certas classes e
grupos sociais” (idem, p.164).
Dentre algumas observações de Kellner, estão as que os jovens levam uma vida
“desconexa, desregrada e sem objetivos, a vagar de uma cena e de uma situação a outra, sem
metas e finalidades definidas” (idem p. 184). A juventude se apresenta perdida sem planos ou
projetos de vida e, em longo prazo, o lema é viver o momento. Como diz Kellner, “a
juventude está perdida... vagando pela vida como num sonho sem sonhador” (idem, p.186).
Mais tarde, na obra Diferentes, desiguais e desconectados (2005), Canclini apresenta
as mais variadas definições de cultura e evoca a questão do cinema na contemporaneidade e
suas influências frente à cultura juvenil. A primeira definição é a mais óbvia e amplamente
difundida no senso popular e trata da cultura que se assemelha a educação, ilustração,
refinamento, informação ampla, sendo que o acúmulo de conhecimentos e aptidões
intelectuais e estéticas estão presentes.
Uma outra definição de cultura está ligada a
uma visão mais antropológica e filosófica e foi
construída através das dicotomias natureza versus
cultura e sociedade versus cultura.
22
Interessa-nos a definição de cultura o mais
ampla possível, pois, a partir daí, é que trataremos da
Cultura Juvenil. Assim, a singela definição de que
cultura é tudo aquilo criado pelo homem se adapta a
esta pesquisa. Modelos de comportamento, costumes e
distribuições espaciais e temporais estão envolvidos
nessa definição. Enfim, tudo o que faz parte de nós,
seres humanos, nossas relações com a natureza e com
os animais é cultura, e mais, não categorização de
culturas nem hierarquias. Evidentemente, a juventude
pode ser identificada com essa definição, porque ela
envolve tempo, lassidão e abstração de questões
socioeconômicas e culturais.
Canclini (op.cit.) também apresenta a definição
de cultura que abarca o conjunto dos processos sociais
de significação ou, de um modo mais complexo, a
cultura abarcaria o conjunto de processos sociais de
produção, circulação e consumo da significação na
vida social. Chamada de sociossemiótica, essa
definição é aquela com a qual o autor mais se
identifica no livro citado.
Sob a ótica da cultura sociossemiótica,
Canclini resumiu seus estudos em quatro vertentes de
observação e análise:
1. a cultura como instância na qual cada grupo organiza sua identidade. Observa-se
o sentido de cultura que rompe suas fronteiras possibilitando a produção e a circulação de seu
consumo, consideradas as trocas com outros grupos no âmbito da interculturalidade. A
globalização como influência mundial possibilitou a imposição de canais de comunicação e
associação transnacionais que desagregam ou organizam as identidades possíveis.
2 a cultura é vista como uma instância simbólica da produção e reprodução da
sociedade. Nesse sentido está relacionada com a identificação e incorporação de bens
simbólicos e materiais da sociedade como um processo de formação e realização do indivíduo
e não apenas como lazer e entretenimento. Todas as práticas sociais contêm uma dimensão
cultural, mas nestas práticas sociais nem tudo é cultura.
3. a cultura como uma instância de conformação de consenso e da hegemonia, ou
seja, da cultura política e da legitimidade. Neste ponto a cultura está relacionada com a auto-
representação e com a delegação da representação no jogo do poder, diferenciando as classes
sociais com seus significados culturais próprios.
4. a cultura como dramatização eufemizada dos conflitos sociais. Por isso temos
teatro, artes plásticas, cinema, canções e esportes. A eufemização dos conflitos não se faz
sempre da mesma maneira nem se faz ao mesmo tempo em todas as classes. Estas disjunções
23
provocam os conflitos entre as classes sociais e suas representações na sociedade
contemporânea, ao mesmo tempo em que esta eufemização (termo utilizado por Pierre
Bourdieu) atua como dramatização simbólica do que está acontecendo na sociedade nas
expressões teatro, artes plásticas, cinema, canções e esportes (Canclini, op.cit., p.43-47).
A cultura, segundo os autores Kellner e Canclini, é o foco central da percepção
daqueles que convivem com suas manifestações. Em relação à juventude que, por excelência,
é um grupo com suas próprias compreensões e representações sociais, as suas expressões ou
contenções significam um alerta e um registro das mudanças do tempo. Como se costuma
dizer que os artistas são os mais “antenados” (expressão dos jovens para se referirem àqueles
que percebem rapidamente as mudanças na sociedade e participam das mesmas), o que se
verifica na sociedade contemporânea é que os jovens estão tão antenados que constituem uma
Cultura Juvenil. Parafraseando Canclini (op.cit., p.209), a averiguação do que significa ser
jovem é também uma pergunta pelo tempo. Algumas das características do mundo
contemporâneo nos ajudam na busca do perfil do jovem do momento.
1.3 Multiculturalidade e interculturalidade no tempo do momento
Abordar a interculturalidade é também tratar das três categorias propostas por Canclini
(2005): diferentes, desiguais e desconectados. Segundo este autor, estes modelos não são
excludentes e sim simultâneos e complementares: diferentes/integrados,
desiguais/participantes e conectados/desconectados. Estes polos, que não são nem positivos
nem negativos, caracterizam o pensamento crítico assim como a possibilidade de questionar e
repensar o mundo globalizado.
Os termos multiculturalidade e interculturalidade são muitas vezes utilizados como
sinônimos. Neste contexto empregamos a palavra multiculturalidade para significar uma
realidade marcada pela presença de diferentes grupos culturais numa mesma sociedade. Com
relação à semelhança dos termos, Ricardo Salas, da Universidade Católica Silva Henríquez,
no Chile, já se discute esta questão tentando encontrar as suas diferenças:
Às vezes, em alguns usos mais gerais, se associa à noção de
interculturalidade a multiculturalidade. Entre ambas existem claras relações,
porém consideramos que a interculturalidade admite certos sentidos que lhe
são específicos. Interculturalidade significa que, entre seus sentidos mais
importantes, nas sociedades complexas, as classes e os grupos humanos que
participam da estrutura econômico-social gerem processos identitários
específicos que possuem linguagens, símbolos, digos, práticas e ritos que
levam seus membros a identificarem-se entre si. Interculturalidade não é
24
simplesmente duas culturas em contato que se mesclam e se integram,
porém, é o que tem a ver com múltiplos processos culturais que tendem à
hibridação como sustentam Garcia–Canclini (ou) e Gruzinsky (Salas, 2002,
p.46).
Indicar que a interculturalidade é fruto do hibridismo cultural ao qual está submetida
nossa sociedade é voltar para nossas raízes culturais. Para Salas, a compreensão latino-
americana que revela o hibrismo em nosso continente, acompanha todos os autores de Estudos
Culturais do momento. Vale ressaltar que a análise do autor aponta para uma crise moral em
nosso continente:
A crise moral que afeta nossos países é uma crise de sujeitos individuais e
comunitários, porém é uma crise dos intelectuais que não conseguem
plasmar um discurso que excede á experiência dos sujeitos individuais. Dito
dessa maneira o problema da identidade tem a ver com o que nos constituiu e
como nos constitui como comunidades. Porém o problema é como articulá-lo
com os processos identitários (ibidem).
Se a juventude, segundo os estudos da psicologia, vive em constante crise de
identidade, sob o ponto de vista social, o momento contemporâneo mostra-se especialmente
difícil para o enfrentamento do jovem na sociedade.
Voltando a Canclini, para um esclarecimento da questão das diferenças e da
importância da miscigenação e hibridização da cultura, consultamos seu livro A globalização
imaginada (2003) e seus estudos sobre interculturalidade. Ele
observa que “para dizer quem
pertence a uma nação, ou quem tem o direito à cidadania, deve-se imaginar traços comuns
para pessoas com línguas e modos de vida diversos, modos de pensar que não coincidem, mas
podem ser convergentes”
(
idem, p.99). Esta condição faz diferença com a multiculturalidade,
pois esta representa uma forte tendência para a interseção cultural. Em cada continente revela-
se uma maneira de lidar com esta multiculturalidade, por exemplo:
A França e outros países europeus subordinaram as diferenças à idéia laica
de República. Os Estados Unidos separaram as etnias em bairros e, até em
cidades diferentes. Os paises latino-americanos aderiram ao modelo europeu
no século XIX, mas dando-lhe modulações diferentes, como veremos em três
formatos de “integração nacional”: Argentina, Brasil e México (idem,
p.100).
Observando mais detidamente essa tentativa de compatibilização entre as diferenças,
sobressaem múltiplas facetas de desigualdades e de injustiças. Uma das razões apontadas por
Canclini é a emigração de latino-americanos, asiáticos e africanos para a Europa e para os
Estados Unidos. Esse último impõe sua cultura por meios econômicos e empresariais, pela
25
influência política e acadêmica e, principalmente, pela comunicação de massa que é vetor da
globalização. Como observa o autor:
Essa interculturalidade globalizada não suprimiu os modos clássicos com
que cada nação ajeitava a sua diferença. Mas os s em interação e tornou o
confronto inevitável, os resultados foram diversos quando os movimentos
globalizadores trazem a secularização e o relativismo intelectual, ampliam
nossa capacidade de entender e aceitar o diferente Mas quando a
globalização é a convivência próxima de muitos modos de vida sem
instrumentos conceituais e políticos que propiciem sua coexistência, leva ao
fundamentalismo e a exclusão, acentua o racismo e multiplica os riscos de
limpezas étnicas e nacionais (Canclini, op.cit., p.100).
Essas questões levam a vários problemas. Um deles é o fato de que se desenvolve uma
nova forma de influência imperialista destes países desenvolvidos que pretendem ditar as
tendências e os modos de vida de países subdesenvolvidos. O modelo utilizado pelos países
mais ricos tem como objetivo construir uma cultura sob o domínio de um modo único de
pensar: a globalização unificaria as nações e, de certa forma, anularia as diferenças.
De maneira extremante simplificada, nota-se que as culturas se mesclam e que não
podemos falar de grupos totalmente puros. A hibridação é um dos traços de formação
histórico-cultural. A própria linguagem reflete diretamente esse processo e, dessa forma,
“devemos fazer um estudo aprofundado sobre a linguagem. Temos de entendê-la como fruto
da multiculturalidade e da interculturalidade, próprias do mundo globalizado e subjetivo”
(ibidem).
Por meio dos estudos sobre a linguagem percebem-se, muitas vezes, as diferentes
maneiras como a cultura se traduz. O diferencial linguístico de cada cultura se relaciona com
a formação destas, historicamente. Por exemplo, muitas palavras utilizadas por uma
determinada cultura inexistem em outras. Em algumas, evidenciam-se ltiplos significados.
As palavras de origem latina diferem das palavras de origem germânicas. A palavra mestiço
não existe em inglês, mas está presente em francês, espanhol ou em português, sendo usada
com frequência.
Vejo a ausência da palavra mestiço, com suas possibilidades de designar
mesclas em sentido positivo, hoje frequente nas línguas latinas, como um
sintoma do modo como a questão é tratada em inglês. Convém diferenciar a
metáfora do melting pot usada nos (Estados Unidos) USA, que implica em
purificação e destilação para criar uma nova identidade somente com as
raças de origem européia, da idéia de não multicultural preferida no Canadá,
onde cultura é frequentemente um eufemismo de raça e os diferentes grupos
são integrados dentro da sociedade (idem, p. 101)
26
Observa-se facilmente que as palavras denotam um sentido revelador. Elas podem
existir ou não, de acordo com o contexto sócio-cultural. As palavras indicam em que
determinado grupo alguém se enquadra e ao qual pertence historicamente. gerações, os
jovens criam sua própria linguagem. Seus termos, mesmo que sejam de linguagem
corriqueira, recebem outros significados. As gírias, as expressões características e atualmente
a cyber-escrita, conhecida como internetês, propõem uma nova forma de escrever, presente
nas salas de bate-papo, e hoje em quase todos os ambientes da rede: e-mails, comentários em
blogs, no ´orkut´, mania nacional, e nos programas de conversa on line.
Os internautas, principalmente os mais jovens, usam códigos, por exemplo: Td de bom
p vc. Xau, bju!´, ´Blz, t+! A gtn se fla por aki. Bjaum!´. São os jovens que contaminam os
usuários e que, a despeito de qualquer regra gramatical, criaram um festival de neologismos,
aboliram pontuação, acentuação, uniram e encurtaram palavras. Esta influência vem da
praticidade das redes mundiais de computadores, buscando reduzir o tempo para
simultaneamente possibilitar inúmeras atividades na World Wide Web, para encurtar a “rede
de alcance mundial”. Uma rede de computadores fornece informação em forma de
hipermídia, como vídeos, sons, textos e figuras. Nossa interpretação é que o uso desse
instrumental também cria um código para a juventude.
Na realidade, estes grupos, por vezes discriminados, acabam por pertencer a certos
tipos de uso de “fala” com seus “sotaques”, e eles só se conseguem firmar tornando-se
comunidades, tais como grupos no Orkut, MSN Messenger etc.
1.4 Situações da América Latina frente à multiculturalidade, à interculturalidade e ao
hibridismo
Os países latino-americanos, especialmente Brasil, Argentina e México elaboraram
suas diferenças nacionais e regionais de diversas maneiras. A Argentina, por exemplo,
substituiu a população nativa por imigrantes europeus e se homogeneizou como uma “nação
branca” médiante a enérgica descaracterização das diferenças. No México, “a população
indígena foi subordinada ao projeto nacional crioulo e de modernização ocidental” (Quijada
apud Canclini, 2003, p.107).
Canclini (op.cit.) constata que o Brasil apresenta uma sociedade mais disposta à
hibridação, devido às múltiplas interpenetrações que existem entre os contingentes de
migração que constituíram o país.
27
A globalização tenta compatibilizar as diferenças provocadas pelo hibridismo, porém
encontra extremas dificuldades. Um exemplo clássico para entender este tema é a situação em
que um estrangeiro criado em seu país de origem, por motivos de força maior, passa a morar
em outro, surgindo dificuldades inúmeras de adaptação.
Percebe-se assim, uma primeira dificuldade para generalizar a condição de
imigrante. Alguns problemas são comparáveis: o estranhamento, a custosa
aquisição de direitos na nova sociedade, a divergência entre formas de
pertencimento cultural, jurídico-político e trabalhista. Mas as maneiras de
resolvê-los e articulá-los variam. Talvez a diferença fundamental nestes
tempos esteja na facilidade de se desterritorializar por períodos curtos... que
dá lugar a utilização do nomadismo prazeroso e eletivo como ideologia
justificadora da globalização (Canclini, op.cit., p.110).
Pouquíssimas análises indicam caminho diverso. O indivíduo experimenta um grande
sentimento de desterritorialização. O estrangeiro tem o seu lugar segundo valorações
conforme sua “geografia” e nacionalidade. O subemprego e a condição vulnerável são
categorias com as quais o estrangeiro deve aprender a conviver. Em consequência deste fato,
evidencia-se o fortalecimento das bases mais profundas de suas raízes, seus laços e vínculos
de origem. O sentimento de solidariedade aparece, unindo os iguais compatriotas. Essa
situação ocorre nos mais diversos países. cada vez mais o comprometimento e o
sentimento de patriotismo.
Existem algumas formas de conciliar as múltiplas culturas de como reduzir as
discrepâncias. De acordo com Canclini, existem três tipos de organizações multiculturais: a
européia, a americana e a dos países latino-americanos. Porém, a esses últimos soma-se uma
quarta organização que ele chama de “integração”, quando a multiculturalidade está sujeita ao
discurso da mídia e da indústria cultural.
O autor também oferece duas formas contemporâneas para o enfrentamento da questão
da multiculturalidade:
A primeira consiste em superar o que poderíamos chamar de ‘concepções
opcionais da diferença’ (...) o processamento de uma diferença que deslize
permanentemente dentro de outra (...) cujos limites em vez de barrar as
pessoas, são lugares atravessados constante e ilegalmente (...) A segunda
consiste em recordar o que não se deixa reduzir a mestiçagem nem as
hibridações (...) a diferença não se manifesta como compartimentalização de
culturas isoladas, e sim como interlocução com aqueles com quem estamos
em conflito ou buscamos alianças (idem, p.114-115).
Nessa perspectiva, criam-se várias possibilidades de convívio multicultural, porém
elas devem ser postas em prática através de uma política que possibilite uma adaptação para
28
estas mudanças. Na verdade, o que se deseja é que além de aceitar as diferenças, tente-se
compatibilizá-las. Nesse sentido, trata-se de um processo permanentemente inacabado, em
que os princípios democráticos e a relação dialógica entre as culturas fazem-se necessárias.
Assim, estar-se-á propiciando de fato um processo intercultural.
Canclini, ainda em Diferentes, desiguais e desconectados, volta ao tema da
muticulturalidade e da interculturalidade. Afirma que a consciência do caráter multicultural
de uma sociedade, não leva necessariamente ao desenvolvimento de uma dinâmica social
informada pelo caráter intercultural. “Ambos os termos implicam dois modos de produção do
social: multiculturalidade supõe aceitação do heterogêneo; interculturalidade implica que os
diferentes são o que são em relações de negociação, conflito e empréstimos recíprocos”
(Canclini, 2005, p.17).
Chama igualmente atenção para as culturas juvenis, em que as fragmentações vão de
certa forma substituir os conflitos multi ou interculturais. Assinala que os jovens atuais
convivem com novos objetos e novos funcionamentos dos objetos. As televisões são a cores,
o controle remoto favorece o zapping e quase todos tem acesso ao computador pessoal e a
internet.
O cinema tem sido um dos meios que mais expressam estas dissensões culturais e suas
consequências. Nele estão presentes não uma linguagem jovem, como certos
comportamentos, atitudes e maneiras de percepção da cultura peculiar aos jovens. Frente a
estas questões, Canclini indaga: “Voltamos ao começo: o mal-estar dos jovens é o lugar no
qual todos estamos nos perguntando quanto tempo nos resta” (idem, p.224).
1.5 Os diferentes: inclusão/exclusão e desconexão do jovem
A melhor reflexão sobre a juventude da América Latina é proposta por Canclini em
Simpósio na Universidade de Brasília (UnB) em 2003. Sua percepção é de que essa juventude
se encontra alheia a uma ideologia de esperança. O jovem da América Latina não participa da
construção deste novo mundo marcado por um tempo instantâneo, sem passado e sem futuro.
Ao mesmo tempo em que isto acontece nossos territórios não são demarcados por fronteiras.
A saída seria a globalização como tentativa de homogeneização das culturas.
A consciência da realidade, em geral, é motivada por fatos concretos que explicitam
diferentes interesses, discriminações e preconceitos presentes no tecido social no modo como
ela administra os interesses da política vigente. No caso particular das sociedades capitalistas
29
contemporâneas, revela-se um imaginário social permeado por relações de poder,
historicamente construído e marcado por desigualdades e estereótipos raciais e culturais.
O que se propõe aos jovens, segundo Canclini em texto apresentado durante a
realização da Cúpula Mundial de dia para Crianças e Adolescentes em (2004), é que se
globalizem como trabalhadores e consumidores. No que diz respeito ao trabalho, sugere-se
que se integrem ao mercado de trabalho sem exigências, sem proteções em relação às leis,
incorporando subempregos plenos de vulnerabilidade. No consumo, prevalece a promessa do
cosmopolitismo, totalmente infundada na pobre realidade da América Latina.
A reflexão de Canclini (2005) sobre cultura juvenil é severa e rigorosa, uma vez que
os jovens são colocados como excluídos da sociedade de consumo em nosso continente.
Então, criam-se possibilidades de exclusão do mercado de trabalho, assim como essas
gerações são transformadas nos “outros”, que se revelam em toda a sua concretude. Como os
jovens terceiromundistas são os mais afetados, pois não dominam os códigos da pós-
modernidade, porque não têm acesso ao processo da globalização, eles procuram resistir aos
valores incutidos pela sociedade do consumo. “Ao sabor desta frágil situação trabalhista, uma
parte dos jovens poderá ter acesso à capacitação informática, aos saberes e entretenimentos
avançados que circulam na Internet, enquanto a maioria se limitará à televisão gratuita, aos
discos e vídeos piratas” (idem, p.212).
Para muitos, essa descoberta é altamente ameaçadora, porque os jovens estão fora
deste sistema dito global. A partir disso, surgem então comportamentos e dinâmicas sociais
que constroem um verdadeiro cerco. Ideologicamente, evita-se o contato e criam-se mundos
próprios, sem relações com os diferentes. Provocam-se afastamentos sociais e culturais,
processos de confinamento que, nas grandes cidades latino-americanas, se tornam evidentes e
cada vez mais acentuados.
Um dado alarmante, segundo Canclini, é revelado pelo Sistema Econômico Latino-
Americano (Sela), no seu informe de julho de 2001, ao colocar que cada habitante latino-
americano deve 1.500 dólares ao nascer, ou seja, eles são globalizados como devedores.
O cenário sócio-cultural também é alarmante. Indagamos como pode a juventude,
responsável pelo futuro de um país, nascer com tal estigma? Poderíamos responder que,
observando detidamente, é fácil perceber que a juventude manifesta-se nesta sociedade no
papel do incluído/excluído-devedor.
Sem levar o pessimismo em consideração, pensamos que a juventude sul-americana
deverá enfrentar vários conflitos, mais cedo ou mais tarde. No contexto econômico-social,
encontra-se sem maiores expectativas, o que provoca um mundo em desencantamento. No
30
aspecto cultural, vive um momento de midiatização e interconectividade, atravessando,
ininterrupta e incansavelmente, um tempo volátil e curto.
Apesar da midiatização ser em grande parte um processo de dominação através de
agências de notícias, televisão e meios de comunicação, em geral, a mesma não aproxima os
jovens da realidade, ao contrário, os afasta. A interconectividade diminui as distâncias
provocando maior proximidade processos que acontecem ao mesmo tempo e atinge em sua
maioria, jovens de classe média alta e classe alta, que estão interligados, interconectados e por
assim dizer reforçam suas condições sócio-econômica e cultural. São jovens sem preocupação
econômica e com muito menos preocupações com o futuro e sua participação social. Na
maioria, estão acometidos por múltiplos comportamentos que vêm preocupando muitos
autores de diversas áreas. Não é diferente o que ocorre com os jovens da Barra da Tijuca.
Uma das questões que surgem neste estrato juvenil é a instantaneidade, a velocidade
do aqui e agora que acompanham a vivência desses jovens. Tudo deve ocorrer imédiatamente,
instantaneamente, sem maiores reflexões para as ações. Neles se desenvolve uma ausência de
memória e a consagração do presente. Segundo Canclini:
Nos estudos sobre consumo e recepção, descobrimos que a maioria dos
jovens prefere os filmes de ação e entendia-se com os que tratam dos amplos
planos da subjetividade ou dos processos íntimos. É possível interpretar que,
diante das dificuldades de saber o que fazer com o passado e com o futuro,
as culturas jovens consagram o presente, consagram-se ao instante (idem,
p.218).
Este comportamento vem confirmar a hipótese desse trabalho sobre o tempo e o
manejo do mesmo pelo jovem. Estamos em uma época em que se tem a consciência de que o
mundo passa por transformações profundas. A velocidade do tempo é outra. A maneira de
lidar com o tempo é original e especial. Esta realidade em relação a este manejo provoca em
muitas pessoas e grupos, sentimentos, sensações e desejos contraditórios; alguns de
insegurança e medo, provocadores de apatia e de conformismo, como também de novidade e
esperança. Diríamos que a possibilidade de mobilizarmos as melhores energias e
desenvolver a criatividade. Percebemos que
é
impossível não mudar diante de fenômenos
como a interculturalidade e como a globalização ou mesmo como a transnacionalização
porque se provoca um mundo de intensas trocas culturais.
Na realidade, temos de pensar numa saída para essa frugalidade da juventude e
estimular a consciência crítica que poderia acarretar mudanças para construir uma nova
sociedade em que o retorno de utopias funcionaria para a construção de um mundo diferente,
31
mais humano e solidário, um mundo melhor. Observa-se, na clínica, que estas mudanças,
muitas vezes, não são negativas, mas mobilizadoras e, consequentemente, angustiantes.
Canclini (idem) propõe algumas saídas para a juventude. Em primeiro lugar, pensa que
se deve estimular a crítica política e econômica dos jovens; em segundo, estabelecer políticas
culturais em vários países como uma forma de estimular a percepção cultural e, em terceiro,
através dos processos educativos que favorecem a transformação dos jovens, obter um novo
desempenho cultural na educação. Com relação a esta última proposta, ele cita o caráter
artístico do cinema, equivalente às artes plásticas, os filmes como oferecimento de um
horizonte histórico e estético mais amplo do que entretenimentos domésticos, capacitando os
jovens a compreenderem o mundo com uma consciência crítica da globalização.
1.6 Juventude
Na concepção das sociedades clássicas greco-romanas, a juventude referia-se a uma
idade entre os vinte e dois e os quarenta anos. Juvenil vem de aeoum, cujo significado
etimológico é "aquele que está em plena força da idade". A deusa grega Juventa era evocada
nas cerimônias do dia em que os adolescentes trocavam a roupa simples pela toga, tornando-
se cidadãos de pleno direito.
Hoje, de acordo com a maioria dos organismos internacionais, considera-se como
jovem a faixa de quinze a vinte e quatro anos. No entanto, outras faixas etárias já são
consideradas como parte da juventude. Para Hall: “Nas sociedades tradicionais existe um
ordenamento, o individuo apóia-se nas tradições e nas estruturas pré-existentes, a
valorização do passado por este perpetua a experiência de gerações” (Hall, 2000, p. 25).
Para a Sociologia, a juventude começaria aos quinze e terminaria aos vinte e quatro anos.
Pelos estudos da Biologia, a juventude estaria dividida em duas fases: a pré-adolescência (de 10 a
14 anos) e a adolescência (de 15 a 19 anos). Nos estudos da História o limite é diferente; o
historiador precisa definir o que é ser jovem, conforme o período e a sociedade estudada. Tempo,
espaço e cultura são essenciais para a compreensão do sentido de juventude em história, pois para
entender o significado do momento jamais poderíamos delimitar em idades. Os historiadores
entendem que a juventude é uma construção social e cultural, “em nenhum lugar, em nenhum
momento da história, a juventude poderia ser definida segundo critérios exclusivamente
biológicos ou jurídicos. Sempre e em todos os lugares, ela é investida também de outros valores”
(Levi & Scmitt, 1996, p.14). Segundo a socióloga Helena Abramo, estudiosa da juventude:
32
A noção mais geral e usual do termo juventude refere-se a uma faixa de idade,
um período da vida, em que se completa o desenvolvimento físico do individuo e
uma série de mudanças psicológicas e sociais ocorre, quando este abandona a
infância para processar a sua entrada no mundo adulto. No entanto, a noção de
juventude é socialmente variável. A definição do tempo de duração, dos
conteúdos e significados sociais desses processos
modificam-se de sociedade
para sociedade e, na mesma sociedade, ao longo do tempo e através das suas
divisões internas (Abramo, 2004, p.1).
Pode-se dizer que a juventude situa-se entre a infância e fase adulta; porém, como
dizia o sociólogo carioca, falecido no início do milênio, Herbert de Souza, mais conhecido
como Betinho, “o jovem não é o amanhã, ele é o agora” (Revista Pais & Teen, 1997). Esta
frase é muito marcante porque jovem é aquele em que estão acontecendo mudanças, escolhas
profissionais e afetivas que deflagram o avanço na maturidade pessoal, objetivando sua
independência.
De modo geral, os estudos sobre a juventude no Brasil privilegiam suas manifestações
partindo da década de 1950 em diante. Em cada uma delas, a juventude aparece caracterizada
de uma forma. Por exemplo, na década de 1950 chamada de “anos dourados” a juventude
ficou conhecida como “rebeldes sem causa” ou “juventude transviada”; a década de 1960
“os anos rebeldes” é tida como revolucionária; na década de 1990, fala-se de uma “geração
shopping center”.
Os jovens não podem ser estudados sem se levar em conta sua realidade sociocultural.
Isto significa dizer que, nos países subdesenvolvidos, a maioria da população jovem não tem
as mesmas chances e se localiza fora de um grupo privilegiado ao qual são dadas as
oportunidades. Para este trabalho, pretende-se fazer uma análise da juventude atual e, para
isso, analisar a situação que a cerca. O mundo dito “global” não atinge a todos os jovens,
muito pelo contrário, uma parcela minoritária tem acesso aos meios de comunicação de ponta.
Assim é que uma análise fidedigna deverá levar em conta mudanças que ocorreram a partir do
século XX, em especial nesta última década. Nas últimas duas décadas do século XX, o
mundo se transformou e ainda não sabemos o que de fato essas mudanças provocarão. De
certo é que o passado e o futuro não importam, apenas o presente conta.
O instante é precioso. A sociedade contemporânea apresenta um ritmo acelerado de
vida, em que são tomadas decisões complexas e exigidas inúmeras mudanças tecnológicas,
políticas, econômicas, sociais, culturais que afetam, inclusive, a esfera íntima dos
relacionamentos. A transformação global do planeta Terra impõe-nos o acompanhamento de
uma série de acontecimentos, expostos e absorvidos quase que ao mesmo tempo em que estão
acontecendo. Não existem mais fronteiras geográficas. Em contrapartida, os indivíduos não
33
mais pertencem nem se identificam apenas com o seu lugar de origem. A evolução
tecnológica traz como nova realidade a possibilidade da comunicação sem fronteiras, uma
diminuição das distâncias, uma identificação dos sujeitos com culturas a que eles escolhem
pertencer e uma alteração nas concepções de tempo e espaço.
As referências de espaço sempre situaram o homem perante seus costumes, tradições,
rituais, gostos, formas de entender e de relacionar-se no mundo – entendimento do que somos.
Hoje estão postas novas representações de espaço e, consequentemente, de tempo. A
facilidade e a rapidez de acesso e troca de informações mudam qualitativamente a noção de
tempo e espaço, o que torna essencial rever conceitos para que possamos nos situar melhor na
complexa rede de relações sociais, além de ser fundamental para os modos de subjetivação.
Como diz Homi Bhabha, autor que reflete sobre questões da cultura:
O além não é nem um novo horizonte, nem um abandono do passado...
inícios e fins podem ser os mitos de sustentação dos anos no meio do século,
mas, neste fin de siécle, encontramo-nos no momento de trânsito em que
espaço e tempo se cruzam para produzir figuras complexas de diferença e
identidade, passado e presente, interior e exterior, inclusão e exclusão. Isso
porque uma sensação de desorientação, um distúrbio de direção, no
‘além’ (Bhabha, 2002, p.19).
A hipótese de Bhabha, evidentemente, compreende a pós-modernidade enquanto
espaço híbrido e hibridizante, fase que vive ou sobrevive, com a noção de um “eu”
angustiado, criticamente situado numa fronteira de um “eu” que não é moderno nem pós-
moderno.
Atualmente, existe outra maneira de identificar o mundo. A contemporaneidade reflete
uma sensação de falta de orientação a partir do momento em que perdemos nossas referências
estruturais. A cada instante podemos mudar nossos conceitos ou nossa maneira de nos
percebermos e de entender o que acontece ao redor. A velocidade dos acontecimentos gera
mudanças em nossa rotina, trazendo a visualização e o sentimento de um desequilíbrio
causador de uma enorme insegurança. uma necessidade da plasticidade, de flexibilidade
do indivíduo, pois ele deve se modelar constantemente para acompanhar esse ritmo e atender
a uma sociedade que faz inúmeras exigências de excelência, de felicidade contínua e de
sucesso.
Segundo o geógrafo David Harvey, a experiência mutante do espaço e do tempo tem,
por referência, condições materiais e sociais:
34
A aniquilação do espaço por meio do tempo modificou, de modo radical, o
conjunto de mercadorias que entra na reprodução diária... A implicação geral
é de que, por meio da experiência de tudo comida, hábitos culinários,
música, televisão, espetáculos e cinema –, hoje é possível vivenciar a
geografia do mundo vicariante, como sendo um simulacro (Harvey, 2002, p.
270-271).
Acreditamos ser de extrema importância refletir sobre como esses aspectos influem
tanto no comportamento, em geral, como na construção da subjetividade. O conceito de
desterritorialização, escolhido como uma das vicissitudes deste milênio, é uma categoria
teórica que possibilita a reflexão e a sensação de um mundo cada vez mais comprimido. As
fronteiras ficam sem função. As pessoas sentem que não um território delimitado, vivem
continuamente suas experiências em diferentes contextos tendo a necessidade de criar novas
formas de subjetividade para se adaptarem às exigências de cada espaço novo que encontram.
Observa-se, na clínica psicológica, que a criação de novas formas de subjetividade
gera muita angústia. Há um grande desconforto oriundo do contínuo conflito de arriscar
expressar-se de forma autêntica e, em contrapartida, na necessidade de ser aceito e admirado
socialmente e sem se alienar. Além da angústia vivida pelos jovens, existe também a sensação
embaraçosa de se “colocar” em palavras, gestos e ações em um “não-lugar”, como propôs
Marc Auge. Em outras palavras, falar e agir por meio de metáforas e expressões de uma
determinada cultura num outro espaço onde a subjetividade não encontra ressonância nem
diálogo. De acordo com o teórico Marc Augé:
Os não-lugares são tanto as instalações necessárias para a circulação
acelerada de pessoas e bens como os próprios meios de transporte ou os
grandes centros comerciais, ou também os campos de trânsito prolongado
onde se estacionavam os refugiados do planeta (Augé, 1996 p. 40-41).
A complexidade da vida cotidiana parece ter minimizado o espaço e o tempo que, em
geral, os jovens dedicam a confrontar questões perturbadoras em suas relações interpessoais.
As discussões entre seus pares parecem se tornar superficiais refletindo a busca da
confirmação de premissas pessoais, havendo pouco espaço para ouvir o que é diferente. A
diferença gera angústia que remete ao limite e à repressão, assim como à vivência de
castração. Na primeira teoria da angústia de Freud (1916), estreita ligação entre angústia e
excesso de sexualidade que se modifica no segundo momento de sua teoria, quando escreve o
texto Inibição, sintoma e angústia (1926). Freud propõe um movimento sincrônico: ao mesmo
tempo em que os motivos da angústia se concentram sobre o signo da castração ao mesmo
35
tempo a angústia é vivenciada, opera-se assim uma reinversão radical do “dentro” e do “fora”.
Não é mais o recalque que produz angústia, mas a angústia que produz o recalque.
Outros tipos de comunicação da atualidade são aqueles referentes ao mundo virtual. O
MSN e o Orkut despertam novas formas de sociabilidade promovendo descobertas, prazeres,
ilusões, encontros, desencontros, gerando conflitos e angústias. Nesses espaços vazios (não-
lugares) em que o jovem interage, também pode ter lugar a fuga do risco da interação face a
face, que depende do interesse mútuo. Neste tipo de comunicação, quando um jovem se
desinteressa de falar com o outro, ele pode interromper a conversa a qualquer momento.
A respeito da nova forma de comunicação e chamando a atenção para os sites de
relacionamento, a psicóloga Regina Andrade diz que a angústia pode ser provocada a partir
de três situações: primeiro, quando a escolha do nickname, o apelido, o pseudônimo que
lida com o conflito do anonimato; segundo, a demanda, quando se deixa um recado sem saber
quando alguém vai responder; e terceiro, a perda, o enlace ou desenlace, quando se ‘deleta’,
se marca ou se define um encontro. “De qualquer forma, o território do amor é um não-lugar
com o não-corpo em busca da não-relação” (Andrade, 2003).
Segundo o psicanalista Benilton Bezerra, “vivemos hoje uma nova era dos sujeitos
desamparados e a expressão da moda é o vazio. Buscando entender a contemporaneidade é
necessário falar do vazio para descrever as perdas, faltas e ausências” (Bezerra, 2002).
O sujeito tenta preencher esse vazio com qualquer coisa que lhe ofereça alguma
sensação de estabilidade ou pertencimento. Os jovens de 20-30 anos buscam encontrar, numa
idealização (com referências duras e estáveis), algo que lhes venha dar uma ancoragem. Nesse
sentido, eles visam encontrar, por exemplo, uma satisfação na mudança de aparência ou no
que leve à construção de uma imagem pessoal aceita e legitimada socialmente. O corpo é
trabalhado com ginásticas, expressão corporal, esportes, comida natural, tudo que os leve a
preservar a saúde e, principalmente, a conquistar uma imagem corporal ideal. Em algumas
circunstâncias, a preocupação com a imagem é tão exagerada que eles se submetem a
cirurgias plásticas violentas. Eugène Enriquez observa que:
O corpo é o nosso bem mais precioso, ‘estar bem na própria pele’, tornar-se
saudável, afastar a dor, provar a si mesmo e aos outros que o cuidado do
corpo é um cuidado vital, testemunha de nossas capacidades, de nossa
juventude, faz-nos crer em nossa imortalidade (Enriquez, 2001, p.177).
Nessa crença nossos jovens são formados e criados, com valores e objetivos voltados
para a aparência, a superficialidade da beleza e da saúde como modelo de felicidade e
36
sucesso, evitando a todo custo a reflexão, o contato com o mundo interno e com os problemas
reais como dor, interrogação do ser, busca da verdade, sofrimento e morte.
Neste primeiro capitulo mostramos a importância das noções de cultura e
especificamente da cultura juvenil, para entender as mudanças sócio-culturais-geográficas
(para pontuarmos nosso objeto de análise, ou seja, o jovem da Barra da Tijuca), mostrando, ao
mesmo tempo, o hibridismo a que o jovem está exposto, face à multiculturalidade sócio-
econômica e, principalmente, a interculturalidade regional, tendo em vista as mudanças de
vida de uma pequena parcela da nossa juventude pertencente às classes média alta e alta.
Dando continuidade aos aspectos sócio-culturais que envolvem nosso campo de
estudo, analisaremos no próximo capítulo as questões conceituais que envolvem a juventude,
introduzindo a temática sobre o tempo e o espaço, sobre o fenômeno do consumo e
hiperconsumo, pertinentes aos jovens do tempo presente.
37
CAPÍTULO II – A JUVENTUDE E O TEMPO
Não estamos no tempo histórico; doravante, estamos no
tempo real, e, no tempo real, não mais provas de nada, uma
vez que o tempo real é um gênero de buraco negro onde nada
penetra sem ser esvaziado de sua substância.
Jean Baudrillard, 1997.
2.1 O tempo
A opção teórica de abordagem do objeto de nosso estudo levou-nos a buscar a
compreensão da visão do tempo na sociedade contemporânea, para, num segundo momento,
localizarmos sua repercussão na maneira de pensar do jovem de classe média alta da Barra da
Tijuca. Essa perspectiva remeteu à leitura orientada de Heidegger, cuja súmula segue abaixo.
A profunda reformulação da visão do tempo na contemporaneidade, em que foram
abolidas as fronteiras entre atividade e descanso, trabalho e lazer, fez com que as atividades
profissionais, pessoais e culturais passassem a ser realizadas de forma contínua. A
possibilidade de atividade permanente resulta num impacto do hiperconsumo, na juventude.
Heidegger, em sua obra O ser e o tempo, apresenta uma concepção teórica ontológica
a respeito da categoria Tempo.
Por toda sua vida madura, Heidegger esteve obcecado pela possibilidade de existir um
sentido básico do verbo “ser”, que jaz atrás de sua variedade de usos. Suas concepções quanto
ao que existe é uma ontologia (o estudo do que é, do que existe: a questão do Ser). Escreveu
sobre ansiedade, pensamento, perdão, curiosidade, angústia, cuidado, medo, com certeza não
se referindo à psicologia. Mais ainda, discorreu sobre o homem, sem pretender que suas idéias
estivessem restritas ao campo da sociologia, antropologia ou ciência política. Suas
proposições objetivavam descobrir modos do Ser.
Heidegger aponta o homem do ponto de vista de seu Ser, como Dasein (junção da
palavra da, do alemão, que significa "aí”, com a palavra Sein, também do alemão, que
significa “ser”). A questão fundamental para Heidegger era o homem e sua relação com o
próprio Ser, como enuncia Nunes:
Em primeiro lugar, o Dasein é o ente que compreende o Ser, o que significa
compreendê-lo em sua existência como possibilidade sua, de ser ou de não
ser si mesmo, com a qual está concernido. Se o Dasein é um ente, é um ente
que põe em jogo o seu próprio ser (Nunes, 2002, p.12).
38
Em O ser e o tempo, o propósito declarado de Heidegger é trazer à luz o que significa
o Ser para o homem, ou “como é o Ser”. O que visa na obra é a elaboração da questão do Ser.
Para ele, o ente somos nós mesmos e o homem existe segundo certos fenômenos e de acordo
com os modos como ele está aí, na luz.
Dasein é aquele que, em virtude de seu próprio ser, tem a possibilidade de colocar
questões (...) O Dasein como ente é ser-no-mundo (idem, p.13-14). Isso significa que ser-no-
mundo implica em transcender o mundo. O Dasein não habita o espaço, ele espacializa: abre
o espaço que ocupa como ser no mundo (idem, p.17).
O que gera o presente no Dasein é que este retrovém advindo a si, ou seja, um
movimento entre o passado e futuro. Ele denomina como movimento extático o fora de si
em si e para si mesmo da existência – que se chama temporalidade (idem, p.25). “Na verdade,
o passado ainda está presente, como mostra a retroveniência. O Dasein ainda é o passado sem
deixar de ser presente. E, no presente, está comprimindo o passado; como no passado
antecipa-se o futuro” (idem, p.26).
Heidegger fala de uma temporalidade imprópria, tendendo à infinitude, que ocorre
quando o presente se torna simplesmente agora. Neste momento, o futuro modifica a
expectativa e o passado cai no esquecimento, pois já passou.
Através do presente, Heidegger propõe o intratemporal, que significa o agora, um aqui
dentro do mundo. Olhar o relógio, ver as horas, significa utilizá-lo para a regulação de
atividades, dizendo “agora é tempo de” (idem, p.29).
2.2 O jovem e a percepção do tempo
A narrativa mitológica da Grécia antiga é bastante rica em imagens arquetípicas, que
oferecem metáforas criativas para pensar a experiência e as relações humanas. Para o Tempo,
duas representações, Chronos e Kairós, e essas imagens estão associadas a uma dimensão
da temporalidade humana.
Segundo a mitologia grega, Chronos é filho de Urano e Gaia. Urano ocultava
sistematicamente seus filhos, ao nascerem, no corpo de Gaia. Revoltada, ela convence
Chronos a enfrentar Urano. Ao lutarem, Urano acaba sendo castrado por Chronos, que
assume o poder. Ele se casa com Réia e têm vários filhos. Mas, ao tornar-se o soberano,
Chronos aprisiona seus irmãos e passa a devorar sistematicamente os próprios filhos, logo
após terem nascido, por receio a uma profecia lançada por Urano, segundo a qual Chronos
também seria destronado por um filho. Entretanto, um dos filhos de Chronos, Zeus, nasce e
39
refugia-se numa gruta, onde cresce em segurança. Mais tarde, Zeus enfrenta Chronos, e o faz
libertar os outros filhos que havia engolido.
O termo Kairós refere-se tanto a uma personagem da mitologia, quanto a uma antiga
noção grega para referir-se a um aspecto qualitativo do tempo. A palavra Kairós, em grego,
significa o momento certo. Sua correspondente em latim, momentum, refere-se ao instante,
ocasião ou movimento que deixa uma impressão forte e única para toda a vida .
Na mitologia grega, Kairós é um atleta de características obscuras, que não se
expressa por uma imagem uniforme, estática, mas por uma idéia de movimento.
Metaforicamente, ele descreve uma noção peculiar de tempo, uma qualidade complementar
em relação à noção de temporalidade representada por Chronos.
Kairós é uma experiência temporal, na qual percebemos o momento oportuno em
relação a determinado objeto, processo ou contexto. Em outras palavras, Kairós revela o
momento certo para a coisa certa; simboliza o instante singular que guarda a melhor
oportunidade; representa o momento crítico para agir, a ocasião certa, a estação do tempo
adequada. Sendo assim, o Tempo continua uma categoria relativa (Chronos) e abstrata
(Kairós), na qual os seres humanos, jovens ou velhos, transitam e vivenciam
existencialmente, cada um a seu modo de ser.
Para o jovem, o tempo não limita nem delimita sua vida. Suas ações e expectativas não
são controladas pelo tempo porque sua duração pode parecer infinita. O futuro, por exemplo,
é sentido como muito distante. Quando se pensa o tempo, ele é concebido diferentemente, de
acordo com as idades. Isso quer dizer que a criança ou o idoso tem percepções e vivências
diferentes em relação ao tempo.
várias definições de tempo. De acordo com Ferreira (1986), o tempo é “a sucessão
dos anos, dos dias, das horas, etc, que envolve, para o homem, a noção de presente, passado e
futuro: o curso do tempo; o tempo é um meio contínuo e indefinido no qual acontecimentos
parecem suceder-se em momentos irreversíveis”. A partir dessa definição, torna-se evidente a
irreversibilidade do tempo. Não se volta atrás, não dá para parar, ele é contínuo porque nada o
detém.
A teoria da relatividade de Einstein, o espaço e o tempo estão interligados. Assim,
parecem se coadunar, se combinar, se influenciar intimamente, ganhando o tempo um outro
significado dentro do chamado espaço temporal. Pode-se dizer que passa a existir um binômio
espaço-tempo, que é gerido no ambiente e que gera novas relações entre pessoas, produção e
disseminação de informações, de bens etc. Em velocidade próxima à da luz, a massa de um
corpo aumenta de forma perceptível, o espaço se contrai e o tempo passa mais devagar.
40
2.3 Tempo psicológico
O tempo psicológico é o tempo que a personalidade assume interiormente; é o tempo
filtrado pelas vivências subjetivas, muitas vezes carregadas com toda a problemática
existencial. Assim é que o tempo psicológico se alarga ou se encurta, conforme o estado de
espírito em que se encontra a pessoa.
Esse tempo da subjetividade é também chamado de tempo virtual, porque mudança
e manejo, conforme o momento em que ele é vivido. Em qualquer situação psicológica, o
tempo cronológico é relativizado em confronto com este tempo que varia de acordo com as
vivências emocionais, cognitivas e comportamentais.
Observa-se que, na análise da imagem fotográfica, pode ser captada a subjetividade,
onde os sentimentos e o prazer visual aparecem entrelaçados. Um gesto, um olhar, uma
tensão, etc., captados pela imagem de um filme que nos comove, transmitem uma
possibilidade de vivência real e também virtual do tempo. A imagem tem tal poder. O tempo
subjetivo é um tempo catártico, pois supõe uma suspensão do fluir temporal, porque o que
irrompe na imagem é a própria experiência subjetiva do ator.
Rolland Barthes, no livro Fragmentos de um discurso amoroso (1981), diz que a
espera é um encantamento. “A angústia da espera não é sempre violenta; tem seus momentos
de calma; espero, e tudo que está em volta da minha espera é atingido de irrealidade” (idem,
p.95). para a imagem, propõe a contemplação das fotografias de um álbum familiar, que a
um estranho nada podem comunicar. Sem dúvida, a projeção dos próprios fantasmas do
intérprete faz com que a contemplação de uma fotografia se converta numa atividade de
intensa emoção e intimidade, mas também numa vivência do passar do tempo e do registro do
tempo cronológico, apesar de estar sendo sentida como subjetiva.
O tempo amoroso é tratado por Barthes na categoria do encontro, que significa um
tempo especial:
Esse tempo feliz adquire sua identidade pelo fato de se opor à ‘continuação’:
‘continuação’ é o longo desfile de sofrimentos, mágoas, angústia, aflições,
ressentimentos, desesperos, embaraços e armadilhas, dos quais me torno
presa, vivendo então sem trégua sob a ameaça de uma decadência que
atingiria ao mesmo tempo o outro, eu mesmo e o encontro prodigioso, que,
no começo, nos descobriu um ao outro (Barthes, 1981, p. 84).
41
Um tempo amoroso, um tempo do romance, em que há vivências psicológicas,
afetivas e amorosas; um tempo subjetivo, também qualificado como do afeto, impossível de
tornar-se igual para todos. Será o momento de vivência, de vida vivida pelo tempo, que
determinará o sofrimento ou o gozo.
Por essa razão, em algumas fases da vida, o tempo passa mais devagar. É uma
possibilidade alterar-se o ritmo do tempo? São a experiência e a vivência do ser humano que
mudam a partir de certa idade, e não o tempo. O tempo não muda. Os ponteiros do relógio – o
tempo cronológico do deus Chronos apenas registram numericamente a nossa passagem
dentro do tempo e da vida. O tempo não passa, nós é que passamos dentro dele.
2.4 A percepção e o tempo
A relatividade na percepção do tempo é uma das funções psíquicas mais sensíveis da
experiência humana. Quando estamos profundamente compenetrados em alguma atividade
importante, ou mesmo envolvidos pelo enredo de um bom filme, o tempo "voa". Por outro
lado, enquanto estamos executando uma atividade desagradável, o tempo parece não passar,
olhamos para o relógio de tempo em tempo, causando uma sensação de eternidade. Essa
mudança na velocidade de assimilação do tempo é o que chamamos de virtualidade. No
começo da adolescência, o tempo passa a correr mais rápido, porque é nessa época que a vida
se torna plena de atividades e muitos acontecimentos são vivenciados ao mesmo tempo.
Altera-se totalmente o curso desse “tempo”.
A aparente riqueza de experiências cotidianas é, tão só, fruto da atividade cerebral, que
naturalmente pode mais facilmente encontrar valor em coisas materiais, visíveis e palpáveis,
inteiramente consentâneas com o conceito terreno de espaço e tempo. Nessas circunstâncias,
ocorre a necessidade de saber quem somos nós e para aonde iremos; surgem os
questionamentos em relação à vida e à família. O que estava certo no passado passa a ser
dúvida no presente. Ao mesmo tempo, a revolução temporal nos últimos anos desvia e afasta
esses questionamentos, devido à aceleração, à rapidez das informações, em consequência da
quantidade de opções em todos os sentidos.
A partir da questão da percepção do tempo, várias pesquisas foram
desenvolvidas, envolvendo, sobretudo, a idade e o período de vida que influenciam
essa percepção. Em 1997, os pesquisadores James Tien e James Burnes, do
Instituto Politécnico Rensselaer, em Troy, no Estado de Nova York, mostraram que a
percepção da passagem do tempo não varia somente conforme a idade dos
42
observadores, mas também, e muito, de uma época para outra. Em outras palavras,
o tempo passa muito mais depressa hoje do que uma pessoa da mesma idade o
percebia no passado.
O interesse dos dois pesquisadores surgiu em função de uma reportagem
feita sobre o estudo do psicólogo Peter Mangan, professor da Universidade de
Virgínia (USA) (EUA), no final de outubro de 1997. Em Nova Orleans, no encontro
anual da Sociedade para a Neurociência, em 1998, Mangan fez uma pesquisa com
base na medição da percepção do intervalo do minuto realizada com grupos de
voluntários de quatro diferentes faixas de idade: de 10 a 14 anos, de 20 a 24 anos,
de 45 a 50 anos e de 65 a 75 anos. A pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de
saber como cada grupo percebia passar “um minuto”, para que eles pudessem obter
dados sobre a percepção de cada um. Para o grupo de 10 a 14 anos, o minuto
parecia acabar aos 55 segundos, ou seja, o tempo real parecia ser mais lento do
que o era na realidade. Para o grupo de 20 a 24 anos, houve uma percepção
praticamente igual aos 60 segundos. No grupo de 40 a 45 anos, o minuto real
pareceu ser mais rápido, pois eles só o perceberam após 65 segundos; para os mais
velhos, somente após cerca de 74 segundos, porque eles acharam que se
completavam os 60 segundos. Uma das conclusões dessa pesquisa foi que uma
sensação do tempo que interfere na sua velocidade e que faz com que pareça
passar mais rápido.
Os pesquisadores Tien e Burnes resolveram verificar se a variação da
velocidade de percepção entre 1897 e 1997 (um século) estaria relacionada às
mudanças na educação e na formação geral das pessoas, principalmente em função
das novas tecnologias, ocasionando uma crescente velocidade da percepção da
passagem do tempo de uma geração para outra.
A pesquisa de ambos consistia em trabalhar os dados de produtividade de
escritórios de registros de patentes dos Estados Unidos, nos anos de 1897, 1947 e
1997. Um dos pontos de partida foi os dados relativos à expectativa do número de
patentes para cada um desses anos, com base nos respectivos anos anteriores.
Pela hipótese dos pesquisadores, assim que o número de registros esperado fosse
atingido, os funcionários que processavam as informações sobre os novos inventos
e os novos produtos teriam a vivência e a impressão de que o ano já teria terminado.
Para eles, a percepção de períodos de tempo se principalmente por meio
da realização de um mero previsto de eventos para um determinado intervalo.
43
Com base nos dados coletados, aplicaram modelos matemáticos destinados a
comparar a percepção da mudança no registro do tempo por pessoas de 22, 35 e 62
anos em 1897, 1947 e 1997.
Os resultados obtidos registraram que, para uma pessoa de 22 anos, em 1997, o
ano pareceu passar 8% mais depressa do que para aquela pessoa que tinha a
mesma idade em 1897. Para uma pessoa com 35 anos de idade, nesse mesmo
intervalo de cem anos, a diferença foi de 22%. A variação obtida para pessoas ainda
mais velhas foi muito maior. Segundo a pesquisa, um indivíduo de 62 anos em 1997
percebia o tempo passar 7,69 vezes mais rápido que uma outra da mesma idade
cem anos antes. Ou seja, 69% mais depressa, para comparar com as outras duas
idades (publicado em novembro/2002, revista “Transactions on Systems, Man and
Cybernetics). O trabalho de Mangan e o de Tien e Burnes trataram de assuntos
distintos. O primeiro refere-se à diferença da percepção do tempo de acordo com a
idade em intervalos curtos, de um minuto, por exemplo. O outro trabalho de
pesquisa refere-se à diferença na percepção de períodos longos, como meses e
anos. Porém, esses pesquisadores tem um mesmo interesse em saber como a
percepção de tempo vai se modificar de acordo com a idade.
2.5 A questão do tempo e os estudos contemporâneos
O sociólogo Norbert Elias nasceu em Breslau (Alemanha), em 22 de junho de 1897.
Filho único de Hermann Elias e Sophie Elias, serviu o Exército, em 1915, durante a Guerra
Mundial. Depois estudou Medicina, Filosofia e Psicologia em Breslau, Freiburg e Heildeberg.
Em 1924, defendeu sua tese de Doutorado na Alemanha. Nos anos 30, trabalhou com Alfred
Weber (irmão de Max Weber) e com Karl Mannheim. Foi assistente deste último teórico
quando o mesmo ensinava Sociologia em Frankfurt. Elias teve que fugir da perseguição
nazista, porque sua família era judia, e por esta causa refugiou-se na França e na Inglaterra.
Seu pai faleceu em 1940 e sua mãe foi vítima de um dos campos de extermínio de Auschwitz,
por volta de 1941.
Ele publica seu primeiro livro O processo civilizador em 1939. Nesse livro, Elias
estabelece relações entre a constituição do Estado e a formação da consciência e do
autocontrole do indivíduo, explicitando como a sociedade transforma, ao longo de seu
desenvolvimento, a coação externa em autocoação. Observa que o “processo civilizador”
44
impõe aos indivíduos um aumento das atividades com encadeamento, derivando uma maior
dependência e complexidade nas relações sociais.
No livro Sobre o tempo (1998), ele contrapõe as linhas filosóficas, naturalistas e
históricas, constituindo um modo particular de abordar o tempo, através da superação dos
hiatos produzidos entre as diferentes áreas do conhecimento científico. Norbert Elias não
achava muito misterioso o assunto tempo como fazia várias indagações a respeito desta
categoria discutida por muitos. Logo na introdução de seu livro, ele começa com a seguinte
pergunta: “Quando não me perguntam sobre o tempo, sei o que ele é, dizia um ancião cheio
de sabedoria, quando me perguntam, não sei, então, por que fazer a pergunta?” (idem, p.7).
Elias coloca uma outra questão central que ele tenta responder ao longo deste livro.
“Como medir uma coisa que não se pode perceber pelos sentidos? Uma ‘hora’ é algo
invisível”. Seria o tempo invisível, incomensurável? Neste ponto compreende-se que
realmente o tempo é subjetivo, ou seja, algo que não se vê, não se pode tocar, ouvir etc. Assim
sendo, o autor continua abordando o assunto questionando que os relógios não medem o
tempo e sim a duração de um dia de trabalho, por exemplo.
Determinar a noção do tempo para Elias está além da tentativa de resolver a questão no
plano filosófico ou no campo da Física. De acordo com a Física, o tempo constitui um dado
objetivo do mundo que só se distingue dos demais objetos da natureza por não ser diretamente
perceptível. Para uma certa vertente da Filosofia, representada por Kant, trata-se de uma
forma inata de experiência, uma maneira de captar acontecimentos.
Norbert Elias cita Kant que considerava o espaço e o tempo como representando
formas a priori de toda nossa experiência. Para Kant, o tempo é a forma que a razão
inevitavelmente atribui, no interior, no íntimo de cada ser racional, a suas experiências, que
são assim ordenadas mentalmente segundo a forma de uma sucessão. O tempo, portanto, ao
menos como o sentimos, é uma realidade exclusivamente humana e mental, porém verificada
do mesmo modo em todo ser humano, por apresentarem todos essa característica idêntica em
sua racionalidade. A posição que se contrapõe a essa é aquela que, por sua vez, sustenta que
“o tempo constitui um dado objetivo do mundo criado, e que não se distingue, por seu modo
de ser, dos demais objetos da natureza, exceto justamente, por não ser perceptível” (idem,
p.9). Para as duas concepções, o tempo é objetivo, seja originado na realidade natural do
mundo, seja originado na razão humana.
Para Elias, porém, a auto-regulação “temporal” com que deparamos em quase todas as
sociedades avançadas não é um dado biológico, não é ligado à natureza humana, nem
tampouco um dado metafísico, ligado a algum “a priori imaginário”, porém um dado social,
45
um aspecto da evolução social da estrutura de personalidade, que, como tal, torna-se parte
integrante da individualidade de cada um.
Como ele observa, “toda criança vai-se familiarizando com o ‘tempo’ como símbolo
de uma instituição social cujo caráter coercitivo ela experimenta desde cedo” (Elias, 1998,
p.14). O tempo é instituído de fora para dentro. E pondera então que:
A transformação da coerção exercida de fora para dentro pela instituição
social do tempo num sistema de auto-disciplina que abarque toda a
existência do indivíduo ilustra, explicitamente, a maneira como o processo
civilizador contribui para formar os habitus sociais que o parte integrante
de qualquer estrutura de personalidade (ibidem).
O tempo, para o autor, é uma instituição que varia conforme o estágio de
desenvolvimento atingido pelas sociedades. Quanto mais avançadas as sociedades, mais os
relógios ocupam um lugar destacado, pois sua função é reguladora. Porém não podemos
esquecer que estes podem representar o tempo, mas não são o tempo. Elias diz: “Ao olhar o
relógio, sei que são tantas ou quantas horas, não apenas para mim, mas para o conjunto da
sociedade a que pertenço” (idem, p.16).
O autor afirma que a coerção do tempo é de natureza social. O tempo está relacionado
tanto com características sociais quanto com dados da natureza. Ou seja, percebe-se que na
formação de um individuo nota-se o entrelaçamento entre as forças sociais e os dados
biológicos. Da mesma forma que se desenvolve a personalidade, os fatores que a determinam
são produtos da relação com o meio ambiente, somado aos fatores genéticos. “Essa coerção
do tempo é de natureza social, posto que é exercida pela multidão sobre o individuo, mas
também repousa sobre dados naturais, como o envelhecimento” (idem, p.21).
Neste sentido, ele aponta o caráter irreversível do tempo. O objetivo principal desta
coerção através de relógios e calendários é para que seja garantido a auto-disciplina destes
indivíduos, que passa a ser intrínseca e até parece natural dada a forma sutil como é exercida.
É desse parecer natural do tempo que o autor discorda, afirmando seu caráter social.
A pesquisadora Claudia Perrone-Moises diz que uma das propostas de Elias é tomar a
noção de tempo enquanto individualização de uma regulação social, como um verdadeiro
paradigma do processo civilizador. Acrescenta que sua reflexão sobre o tempo pretende
corrigir a imagem de um mundo cindido entre “indivíduo”, “sociedade” e “natureza” e
proporcionar uma visão da “imbricação mútua e interdependência” entre as três esferas.
46
Esses dois campos (natureza e sociedade) são colocados como
independentes um do outro, como independentes gostariam de ser os grupos
de especialistas que se dedicam ao estudo de um ou do outro. Na realidade, a
humanidade e portanto a ‘sociedade’, a ‘cultura’, etc, não são menos
‘naturais’ nem menos integrantes de um único e mesmo universo do que os
átomos ou as moléculas (Perrone-Moises apud Elias, op.cit.).
Sobre o tema, o autor vai aprofundando-o de maneira a esclarecer e abordar as
questões sociais que estão implicadas à noção de tempo. Ele demonstra:
Esse poder de ntese constitui uma especificidade da espécie humana para
se orientar, os homens servem-se menos do que qualquer outra espécie de
reações inatas e mais do que qualquer outra utilizam percepções marcadas
pela aprendizagem e pela experiência prévia, tanto quanto a dos indivíduos
quanto a acumulada pelo longo suceder das gerações (Elias, op.cit., p.33).
Por síntese, o autor entende o que seria o estabelecimento de relações entre os
acontecimentos. Dentro desta perspectiva, Elias situa o tempo como um meio de orientação do
ser humano e a experiência como o grande formador deste tempo. Através das inúmeras
repetições é que os padrões vão sendo estabelecidos para serem seguidos. Chega-se à hipótese
clara, segundo o autor Norbert Elias, de que o tempo não é natural, ou seja, de que o tempo é
uma instituição social que resulta de um processo de experiência e aprendizagem. No entanto,
o que nos parece é que, existem tantas repetições que ele se torna natural. Ao longo de seu
livro, o autor revela que a noção de tempo tem como constitutivo, um habitus, que é
socialmente construído.
Um dos exemplos que ele apresenta é o de uma pequena aldeia da África Ocidental,
em que a palavra tempo é desconhecida. A maneira como eles escolhem qual o melhor dia
para semear uma plantação é estabelecendo que a colheita está ligada a outros acontecimentos
daquela sociedade. Estabelecido esse código por anos, meses a fio, os eventos ocorrem no
momento preciso, apesar de não existirem formalmente calendários. Confirma, assim, Elias
que o tempo é uma categoria social.
Com relação às sociedades mais industrializadas, sua opinião é que um papel de
continuidade padronizada do tempo:
Nessas sociedades, cada pessoa se distingue de todas as demais não apenas
naquilo que tem de único, mas também por ser capaz de determinar com
precisão a sucessão temporal dos acontecimentos de sua própria vida, em
referência a um outro continuum padronizado e socialmente reconhecido,
como a sucessão dos anos do calendário, por exemplo (idem, p.40).
47
Podemos determinar temporalmente nossas atividades? Para Elias, “em nossas
sociedades, esses ritmos biológicos são regulados e estruturados em função de uma
organização social diferenciada, que obriga os homens a se disciplinarem, até certo ponto,
pautando seu relógio fisiológico num relógio social” (idem, p.42), ou seja, há, desde muito
cedo, “uma escala social etária sumamente precisa, que se torna um elemento importante da
imagem que o indivíduo tem de si mesmo e dos outros’ (idem, p. 57).
Com essa informação, podem-se fazer escalas de comportamento. Uma criança de dez
anos se distingue da de doze em termos comportamentais. Espera-se que cada idade deva se
comportar de uma tal maneira, afetando a identidade pessoal. Cada idade tem elementos de
uma significação biológica social e pessoal.
Elias define o tempo:
O que chamamos de “tempo” significa, antes de qualquer coisa, um quadro
de referencia do qual um grupo humano mais tarde a humanidade inteira
se serve para erigir, em meio a uma sequência continua de mudanças, limites
reconhecidos pelo grupo, ou então para comparar uma certa fase, num dado
fluxo de acontecimentos, com fases pertencentes a outros fluxos, ou ainda
para muitas outras coisas (Elias, 1998, p.60).
Neste caso, devemos destacar a memória, que tem um papel importantíssimo na
estruturação do tempo, pois consegue precisar acontecimentos que não se produzem em um
mesmo instante. A memória possibilita a reprodução de acontecimentos de gerações e
gerações.
Assim Elias reflete que o “passado”, o “presente” e o “futuro” dependem das gerações
vivas do momento, além do que expressam a relação que se estabelece entre uma série de
mudanças e a experiência que as pessoas tem desta experiência. De certa forma, elas
representam um conceito. Estas três palavras estão em constante movimentação, elas se
transformam entre si. Se tivéssemos que substituí-las por outras, seriam aquelas que
significam nascimento e morte.
A sequência de acontecimentos é ininterrupta o tempo não pára. Mas, estas palavras
distinguem a existência dos seres vivos, o passar do tempo e as marcas do tempo para nós
humanos. A palavra “quando” também é um exemplo desta relatividade porque existe
neste mundo temporal, e mesmo assim difere de cultura para cultura. Em cada sociedade, a
percepção de tempo difere e se distingue da outra porque percebemos e analisamos o tempo
do ponto de vista de cada uma delas. Sendo assim na proposta do sociólogo Norbert Elias o
tempo é uma categoria que deve ser analisada em sua função histórica e social.
48
2.6 O tempo na era da informação
Observamos notadamente que os três séculos passados têm sido dominados por uma
única tecnologia. O século XVIII foi a era dos grandes sistemas mecânicos, marcado pelo
desenvolvimento inicial da Revolução Industrial. O século XIX foi a era da máquina a vapor.
O século XX tem sido denominado a era da informação. Associado a isto temos testemunhado
vários avanços tecnológicos em diversas áreas. Dentre elas, duas que têm causado
significativo impacto sobre o modus vivendi das pessoas neste século são a computação e as
telecomunicações, que hoje se associam uma à outra. A velocidade das mudanças é tão
avassaladora que as mais importantes tecnologias do momento não existiam vinte anos: o
telefone celular, o acesso a Internet e os produtos de registro, CD, DVD etc. Neste cenário de
avanços tecnológicos, deparamo-nos com uma carga de informações cada vez maior. O
mundo, em sua globalização tem tirado proveito dessas tecnologias e posto a nossa disposição
um volume cada vez maior de informações.
Alguns dos mais significativos efeitos que a Era da Informação trouxe para a
humanidade provavelmente derivam do estabelecimento de uma nova relação com o tempo e
o espaço. Manuel Castells afirma:
Três processos independentes começam a se gestar no final dos anos 60 e
princípios dos anos 70 e convergem hoje para a "gênese de um novo
mundo". Eles são: 1) a revolução das tecnologias da informação; 2) a crise
econômica tanto do capitalismo quanto do estatismo e sua subsequente
restruturação; 3) o florescimento de movimentos sociais e culturais -
feminismo, ambientalismo, defesa dos direitos humanos, das liberdades
sexuais, etc (Castells, 1999, p.10).
O último volume da trilogia do sociólogo Manuel Castells, intitulado O fim do
milênio, é um texto dedicado aos processos globais de mudança social, induzidos pela
interação entre redes e identidade. Esta obra traz o estudo do colapso da União Soviética,
remontando à sua extinção em grande parte gerada pela incapacidade demonstrada pelo
estatismo industrial de conduzir a transição do país para a era da informação. Sua opinião é
que todos deveriam passar por esta revolução: “nos últimos 25 anos deste século que se
encerra, uma revolução tecnológica com base na informação, transformou nosso modo de
pensar, produzir, consumir, negociar, administrar, comunicar, viver, morrer, fazer guerra e
fazer amor” (ibidem).
O autor tem razão porque as mudanças foram notórias, o rompimento das fronteiras
geográficas alterou o modo de relacionamento entre pessoas aproximando-as, possibilitando-
49
as de conversarem apesar de estarem em continentes distintos o que acarretou uma total
mudança da percepção do tempo. Tudo parece mais rápido no mundo globalizado.
O mundo se tornou on line. O tempo é presente, atual, do momento. Por exemplo, no
conflito entre as Forças Aliadas e Slobodan Milosevic, quando os aviões da Otan erraram o
alvo lançando bombas sobre a Embaixada da China em Belgrado, um grupo de hackers
chineses demonstrou sua ira contra os americanos. Os invasores entraram nos computadores
de uma agência oficial da Marinha dos EUA e estamparam a foto do presidente Clinton com o
bigode de Hitler. Para o pensador francês Paul Virilio, foi um sinal dos tempos.
Pela primeira vez, a história vai acontecer em um tempo único: o tempo
mundial. A história se desenrola no presente, no tempo local, no espaço
local, nas regiões, nas nações. Ou, de uma certa maneira, a globalização e a
virtualização instauram um tempo mundial que prefigura um novo tipo de
tirania (Merconi apud Virilio, 2005)
Ninguém sabe ao certo como será a sociedade do futuro. È difícil até de prever o que
acontecerá dentro de uma década. Mesmo assim, ainda que a física e o calendário provem o
contrário, o tempo parece mais volátil, virou raridade social e o dia parece ter menos de vinte
e quatro horas. Não podemos avaliar se esta virtualidade do tempo acontece graças, ou por
culpa da revolução digital.
Para a juventude, toda esta mudança em relação ao tempo importa. A velocidade de
viver o tempo presente, a raridade do encontro no tempo, ou o fluir do tempo, parece um
desperdício do passado. A informação passa a ser um produto do tempo para os jovens.
2.7 A sociedade do hiperconsumo
A hipervalorizaçao do presente, decorrente, em grande medida, das novas tecnologias,
mas também da atividade comercial permanente, homogeneíza o gosto em uma macro-escala
mundial, criando uma situação de hiperconsumo. O jovem de classe média alta, nosso objeto
de estudo, é um exemplo paradigmático desta situação.
Com o fim da sociedade de consumo, instaura-se uma nova fase em que as
democracias enveredaram por uma nova era de mercantilizarão dos modos de vida, as práticas
de consumo exprimem uma nova relação com as coisas, com os outros e consigo (Lipovetsky,
2006, p.24).
Houve na verdade um novo enfoque nas relações de consumo, as necessidades sendo
modificadas ou, pode-se mesmo dizer, inventadas, fazendo com que indivíduos tenham sua
50
vontade ou desejos baseados no querer mais e sempre mais. Esta nova sociedade que se
instaura, segundo o autor, chama-se de hiperconsumo.
Estas mudanças foram efetuadas aos poucos. Num primeiro momento, o comércio que
simplesmente se baseava na venda de mercadorias do varejista ao consumidor, mudou para
produtos padronizados, empacotados e que agora teriam um nome, o que constitui uma marca.
Segundo Lipovetsky, muda-se a relação de quem compra e com quem vende. O consumidor
moderno compra marcas, influenciado pela publicidade, não mais pelos produtos. Como diz o
autor, “apareceu o consumidor dos tempos modernos comprando o produto sem a
intermédiação obrigatória do comerciante, julgando os produtos a partir de seu nome mais do
que a partir de sua composição, comprando uma assinatura no lugar de uma coisa”
(Lipovetsky, op.cit., p.30).
Neste momento, surgem os magazines que vem com um sistema totalmente novo de
vendas, baseado em apelações comerciais de publicidade e preços baixos, em que se evidencia
uma alta rotação de estoque e um volume de produtos infinitamente maior que o comércio
conseguia suprir. Massificar seria uma palavra adequada, visto que esse movimento faz que a
população de massa torne-se passível de entrar neste mercado, que antes era somente
dominado pela elite.
O autor denomina este momento de primeira revolução comercial. Assim sendo, os
grandes magazines induziram transformações através da publicidade e do marketing, criando
o que o autor chama de “democratização do desejo”. “Os shoppings de hoje, no apelo de
“olhar vitrines”, tornaram-se uma maneira de ocupar o tempo, um estilo de vida das classes
médias” (ibidem).
Na verdade, estes shoppings são ilhas da fantasia, de sonhos e ilusões, onde tudo é
muito lindo, com vitrines apelativas, perfazendo um clima totalmente criado, inventado, com
o objetivo de assimilar o consumidor como parte, nem que seja por algumas horas, daquele
mundo, onde as coisas funcionam, são aparentemente perfeitas e nada de mal acontece. A
população estaria protegida com seus seguranças fardados, dando a impressão de que ali
estaríamos fora de perigo. Como Lipovetsky argumenta:
O grande magazine não vende apenas mercadorias, consagra-se a estimular a
necessidade de consumir, a excitar o gosto pelas novidades e pela moda por
meio de estratégias de sedução que prefiguram as técnicas modernas do
marketing. Impressionar a imaginação despertar o desejo, apresentar a
compra como um prazer, os grandes magazines foram, com a publicidade, os
principais instrumentos da elevação do consumo a arte de viver e emblema
da felicidade moderna (idem, p31).
51
Sabemos que os ditos especialistas costumam legitimar o discurso do marketing.
Fazem-nos acreditar em que sejam verdades absolutas, valem-se do saber lapidado pela
ciência. Vamos usar um exemplo atual. Tem-se um determinado produto: o café. Quando se
deseja que este produto seja mais consumido, pode surgir uma propaganda, embalada por
teorias científicas, afirmando que a bebida faz bem à saúde. E, para estimular seu consumo,
enumeram-se os benefícios que o café poderá trazer para o organismo se consumido no dia-a-
dia.
E, se, pelo contrário, for preciso tirar de linha outro produto, seja por necessidade
econômica ou porque a matéria-prima está em falta, acena-se com uma explicação científica
“fundamentada” para que as pessoas deixem de usá-lo. A manipulação nestes casos fica
notória. Assim, temos de refletir sobre o verdadeiro objetivo desta sociedade. O aumento do
consumo é o objetivo a ser alcançado
A estética da mercadoria O professor de Filosofia Wolfgang F. Haug, da
Universidade de Berlim, em seu livro Crítica da Estética da Mercadoria (1997), ilustra com
vários exemplos como a sociedade do hiperconsumo se revela. Ele observa que a mercadoria
está condicionada a uma forma estética, para que o comprador a deseje e se sinta motivado a
consumir. Por exemplo, o carro é um meio de transporte eficaz. A mensagem subentendida,
porém, é que o veículo é um símbolo de status, de poder e de força. Há uma mensagem
subliminar na publicidade que, com o carro “x” ou “y”, podemos atingir o sucesso e
conseguir o que quisermos. Faz-se uma associação de mensagens implícitas, sensualizando e
subjetivando mercadorias - que deveriam apenas valer por sua utilidade - para estimular o
consumo.
Com isto, tem-se um novo conceito: a tecnocracia da sensualidade, que pode ser
definida como: O domínio sobre as pessoas exercido, em virtude de sua fascinação pelas
aparências artificiais tecnicamente produzidas (Haug, 1997, p. 67).
Marca e rótulo Com isso, está demonstrado, então, o uso do lado mais obscuro do
capitalismo. Hoje, mais do que nunca, consegue-se observar claramente o que se dá, de fato.
Marcas são criadas e se distinguem apenas por um rótulo, não importando o conteúdo. É o
consumo desenfreado, razão de existir do capitalismo, que cria mecanismos de ordem estética
ou cientificista ou ambas que, em última instância, informam-nos o que, como e por que
comprar.
52
O consumo seria a realização de todos os nossos desejos. Haug traz no seu livro um
exemplo fantástico, que ilustra bem esse processo de transformação da simples mercadoria em
objeto de desejo:
Quando o truste Oetker lançou uma nova marca de cerveja no mercado, o
comentarista do caderno econômico do Frankfurter Allgemeine Zeitung
analisou: “E mais uma vez fica claro para nós em que mundo vivemos. Hoje,
uma cerveja é projetada em uma prancheta e construída como sabão em
ou um rádio. Acabou-se o tempo em que o bravo mestre cervejeiro fabricava,
de acordo com as normas dos antigos mestres, nada mais que suco de cevada
(Haug, 1997, p. 84).
Esta sociedade é uma sociedade que inventa nossas necessidades e oferece produtos
feitos em pranchetas. A juventude está sendo absorvida por estes mecanismos e neste trabalho
pretendemos saber com os jovens da cidade do Rio de Janeiro refletem estes sintomas nesta
sociedade que produz nossos desejos. Cita Lipovetsky:
Exaltando os ideais da felicidade privada, os lazeres, as publicidades e as
mídias favoreceram condutas de consumo menos sujeitas ao primado do
julgamento do outro. Viver melhor, gozar os prazeres da vida, não se privar,
dispor do “supérfluo” apareceram cada vez mais como comportamentos
legítimos, finalidades em si (Lipovetsky, op.cit., p.39).
A sociedade legitima e faz tornar estes comportamentos naturais. Este é o processo
que deve acontecer; quem não se comportar desta forma é que será visto como fugitivo de um
comportamento adequado, como desviante.
Outro fator relevante desta sociedade é o fato de que não existem mais as culturas de
classes, como antes era observado, classes então bem claramente diferenciadas. O chique e o
vulgar, o alto e o baixo tendem a se tornar indiscerníveis, ou categorias sem sentido. O autor
descreve que “o culto às marcas é o eco do movimento de destradicionalizaçao, do impulso do
principio de individualidade, da incerteza hipermoderna posta em marcha pela dissolução das
coordenadas e atributos das culturas de classe” (idem, p.50).
Nesse sentido, evidencia-se a necessidade do jovem de aparecer com as marcas
valorizadas pela sociedade, como uma forma de inserção no mundo a que ele diz pertencer, da
mesma forma que sentimos hoje a hipervalorizaçao das viagens de férias, como exemplo de
inclusão numa parcela da sociedade, sob pena de virem à tona sentimentos de inferioridade.
“À hora do hiperconsumo, é preciso apreender esse fenômeno como uma das manifestações
do individualismo igualitário que conseguiu estender suas exigências até o universo
imaginário dos jovens” (idem, p.51).
53
Na sociedade do hiperconsumo o estímulo da individualidade à aquisição de
objetos pessoais como telefone celular, laptop, ipod, máquina digital. Estes produtos sugerem
que estejamos cada vez mais autônomos e independentes, com o forte motivo de facilitar o
ganho de tempo, ter um maior controle do universo de forma geral.
No entanto, as mensagens instantâneas de texto através do celular, do Orkut e do MSN
(messenger short notification),é um tipo de comunicação entre os jovens por meio das quais
eles apenas falam e teclam através do computador. São formas de não-encontros com as
pessoas. O jovem fica atrás de telas de computador, paralisado e, cada vez mais, isolado e
sozinho com seus aparelhos, subtraindo-se à obrigação de cumprir determinadas regras
sociais.
Por trás desta aparente autonomia e independência, o que ocorre com o jovem deste
milênio é a infelicidade da solidão que está sendo suprida nesta sociedade com o ato de
comprar. Naquele momento, extremamente breve, tem-se uma certa compensação, que,
infelizmente, só dura apenas aqueles segundos, sendo, logo depois, seguida pelo vazio.
É comum escutarmos na prática clínica a seguinte frase: eu tenho tudo para ser feliz e
não me sinto feliz. Mas a pergunta a ser feita é a seguinte: o que seria ter tudo naquele
momento? Escapar à solidão, à falta de relacionamentos interpessoais? O amor seria o que
poderia nos preencher? De qualquer modo, a sociedade nos impõe este tipo de vida
aparentemente cada vez mais autônomo, mais centrado no indivíduo, tendo este o poder de
tudo resolver, inclusive suas angústias, como se o consumo “funcionasse também como um
agente de experiências emocionais que valem por si mesmas” (Lipovetsky, op.cit., p.61). Ir ao
shopping passou a ser uma saída, pois o shopping nada mais é do que um paliativo para
aplacar momentaneamente aquilo que sentimos de fato. Como aponta Lipovetsky: “Sofro,
logo, compro: quanto mais o individuo está isolado ou frustrado, mais busca consolos nas
felicidades imédiatas da mercadoria” (idem, p.60).
No entanto, na atualidade, vemos de forma crescente o aumento do consumo em forma
de lazeres. O que vale agora são as experiências vividas, as experiências emocionais. Dessa
maneira, música e viagens, por exemplo, passaram a exercer sobre nós um fascínio. O foco do
consumo hoje esta atrelado ao divertimento e às mercadorias culturais. Como diz Lipovetsky:
“o aumento dos orçamentos e do tempo consagrados aos lazeres, o marketing fornece cada
vez mais uma apresentação experiencial a oferta hedônica” (idem, p.62).
Hoje em dia, observa-se um oferecimento de viver oportunidades sentidas
afetivamente, ligadas diretamente às emoções. A busca pela felicidade por essas pequenas
experiências e momentos emocionais traduz a conduta do hiperconsumidor. São ambientes
54
superficiais, onde a busca de sentimentos de felicidade supera um ambiente esterotipado,
criado artificialmente, desprovido do desconforto e do todo e possível risco e, como cita o
autor “desconectado do real” (Lipovetsky, op.cit., p.64).
Os jovens adolescentes da Barra da Tijuca vivem neste contexto de encantamento,
onde o prazer está ligado completamente a um universo imaginário, de faz de conta que eles
não estão nem para o consumo quando, na verdade, eles passam a maior parte do tempo
consumindo. A Barra de Tijuca foi um espaço planejado, perfeito para essas condições
criadas. O Shopping New York City Center tem um clima de estar fora do Brasil. Chegamos a
nos sentir com se estivéssemos nos Estados Unidos. Como aponta Lipovetsky, “o shopping,
em geral, está mergulhado em uma atmosfera hedonística e recreativa (...) transformar as
zonas de tempo forçado em zonas de tempo-prazer” (idem, p.66-67).
O hiperconsumidor está em busca de prazeres novos, sentimentos e experiências
estéticas diferenciadas e, quanto mais alto for o poder aquisitivo, maior será a demanda por
essas novidades.
Nesta época evidenciada pelo consumo emocional, devemos deixar clara a
importância do tempo existencial, pois o importante neste contexto é a intensificação do
presente vivido.
O indivíduo cada vez mais está na busca do bem estar, acrescentado que o marketing
atual o aterroriza com o fato de envelhecer e a possibilidade de morrer. Isso significa a
hipervalorização do tempo presente, onde temos que aproveitar tudo que está ao nosso
alcance, não podemos deixar nada para depois e procurar coisas que venham a nos trazer esse
bem estar de nos sentirmos mais vivos e mais jovens. Por exemplo, as viagens, segundo
Lipovetsky, formam a juventude. Ele afirma: “O hiperconsumo, este tem a cargo
“rejuvenescer” incessantemente o vivido pela animação de si por experiências novas; é um
hedonismo dos começos perpétuos que alimente o frenesi das compras” (idem, p.70).
Assim sendo, este individuo vive pela busca do sonho de uma juventude eterna, do
presente intensificado e reiniciado a cada instante. Ao mesmo tempo em que acontece com os
mais velhos essa busca pela juventude, os jovens adultos se recusam a crescer, parecem
querer viver ainda numa adolescência eterna como um prolongamento da infância.
Na sociedade do hiperconsumo o lema principal é a consagração social da juventude
como ideal da existência de todos (idem, p.73). Observa-se a impaciência dos jovens em se
tornarem adultos (embora não queiram envelhecer) e a busca de sensações de prazer vividas
na infância, estimulando-se a compra de mercadorias que estejam ligadas à infância. Adultos
comprando cadernos de bichinhos, canetas em forma de bonecas e os próprios bichinhos de
55
pelúcia são produtos que jogam com a nostalgia dos consumidores, ligadas aos apelos afetivos
infantis.
2.8 O turbo consumidor
Nossa sociedade hoje se depara com um fenômeno da hiper-modernidade, notando-se
que encontramos em todos os setores um consumo frenético, o que fez aumentar
absurdamente o consumo. De acordo com Lipovetsky:
Em 1954, 8% das famílias operárias possuíam um automóvel, 0,8%, uma
televisão, 3%, um refrigerador, 8% uma máquina de lavar. Em 1975, essas
porcentagens elevaram-se respectivamente a 73%, 86%, 91%, 77%. No fim
da década, mais de dois terços dos lares estão bem ou muito bem equipados
de linha branca. Nesses mercados, o consumo atinge seu ponto de saturação
(Lipovetsky, op.cit., p.98).
Ou seja, houve uma revolução na aceleração do consumo. Cada vez se compra mais,
como uma regra, o multiequipamento, de aparelhagens sofisticadas e voltadas para si, o que
produz a independência dos jovens e o controle sobre suas próprias vidas, afastando sua
própria família dessa super individualização. Esta sociedade do hiperconsumo produz uma
aparente autonomia individual.
uma transformação desta nova classe adolescente que tem seu principal foco no
“culto prestado aos prazeres privados, às novidades e aos lazeres” (idem, p.100). Esta
evidência ocorre mais nas classes privilegiadas, entretanto, aos poucos está sendo introduzida
também nas camadas populares. “A dimensão da escolha, as motivações individuais, os
fatores psicológicos vão exercer uma influência cada vez mais determinante, estando as
famílias em condição de consumir além da simples cobertura de suas necessidades
fisiológicas” (ibidem).
Neste sentido, observamos a transformação do consumo que entra na era da
individualização e da psicologização de massa, ou seja, impera o domínio do consumo,
determinante em todas as camadas da população. Eles desejam e aspiram supérfluos, moda,
lazeres e férias.
Surge neste momento o auto-serviço, que funciona com um consumidor que não
precisa do vendedor, pois por si mesmo consome. Isso gera a despersonalização da relação
comercial, “o contato entre a oferta e procura é direto, uma lógica de despersonalização que
funciona igualmente como meio de autonomização do consumidor” (idem, p.101). O
56
consumidor passa a ser livre para escolher; a venda se torna independente e auto-suficiente.
Ele gera sua própria satisfação.
Apresenta-se então uma nova sociedade, dominada pela cultura do desejo e da
felicidade, a satisfação tida como imédiata. É um momento de euforia consumista que está
relacionada com as aparentes alegrias de bem estar material. Transmite-se uma idéia de
aproveitar a vida. “Espalha-se toda uma cultura que convida a apreciar os prazeres do
instante, a gozar a felicidade aqui e agora, a viver para si mesmo” (Lipovetsky, op.cit., p 102).
Como cita o autor, cria-se nas pessoas desta sociedade uma paixão pelas férias e o
endividamento das famílias.
Edgar Morin chama este momento de “a classe de idade adolescente”. Atualmente
estamos vivenciando um momento em que passamos à hiper-escolha, ao multiequipamento,
ao consumismo contínuo e ao consumismo hiperindividualista.
Os jovens criam verdadeiras munições, com seus ipods e laptops, organizam suas
vidas privadas com seus telefones celulares, TVs e câmeras digitais, reforçando cada vez mais
a individualização dos ritmos de vida. “Um hiperindividualismo consumidor concretizado em
atividades dessincronizadas, práticas domésticas diferenciadas, usos personalizados do
espaço, do tempo e dos objetos, e isso em todas as idades e em todos os meios” (idem, p.105).
Na verdade, observa-se que esta hiperdividualizaçao gera uma maneira independente
de criar o próprio espaço-tempo do indivíduo. Ele decide o que vai fazer, o que quer fazer, se
vai consumir ou não, na hora que bem entender, como se fosse totalmente livre e
independente de uma sociedade ou de pessoas principalmente. Desse modo, esta sociedade
caminha cada vez mais para esse momento, que se pode chamar de não-encontro, do
afastamento dos relacionamentos e de momentos de viver na solidão, cada um com sua
própria satisfação. Todos esses comportamentos são observados na clínica psicológica, assim
como nas entrevistas aqui apresentadas neste trabalho. O autor assinala: “Cada um com seus
objetos, cada um com seu uso, cada um com seu ritmo de vida” (ibidem).
Houve uma mudança geral no comportamento dos indivíduos marcados por essa
sociedade, que observamos até no setor alimentício. As pessoas procuram cada vez mais se
satisfazerem sozinhas em restaurantes que oferecem um produto que não os faça perder
tempo. Esse comportamento também se traduz na moda.
Vejamos que, antigamente, observávamos um padrão na moda, principalmente dos
adolescentes. Eles compravam suas roupas bem semelhantes umas das outras. As entrevistas
demonstraram que cada jovem hoje tem sua própria maneira de se vestir, aquilo que
individualmente o satisfaz. Nas observações, pode-se analisar que existe uma maior
57
personalização entre os jovens de hoje, porém voltados para si próprios, ou seja, é o
hiperindividualismo citado por Lipovetsky.
A sociedade atual está marcada fortemente por um novo ritmo de vida ligado ao novo
espaço-tempo de consumo. Onde quer que estejamos, o espaço transformou-se em espaço de
consumo. Todos os lugares que frequentamos se tornaram zonas comerciais. Como cita
Lipovetsky, “um espaço-tempo descontínuo é substituído por uma espécie de contínuo
espaço-tempo-comercial” (Lipovetsky, op.cit., p.107).
Neste sentido o que se visa é não parar de se consumir. Seremos sempre levados a
comprar e o tempo passa a ter uma significação comercial, ou seja, consumir e consumir. “A
época do hiperconsumo experiencial é a que privilegia uma abordagem mais qualitativa do
tempo de transporte, a que visa, pelo consumo, a fazer esquecer que as viagens no espaço
levam tempo” (idem, p.108).
Tudo isso nos leva a crer que vivemos um tempo comercial, que estamos nos
defrontando com um universo de alto consumo que funciona de maneira sem limites: não
existem mais feriados, não existe mais descanso aos domingos, todos os dias parecem iguais,
tudo funciona 24 horas.
uma generalização comportamental. Mudamos de país e cada vez menos se sente
um diferencial, a experiência do estrangeiro. Existem sim diferenças culturais, mas em relação
ao aspecto comercial o exterior já não apresenta tantas novidades.
Além disto, não podemos deixar de levantar um outro ponto importantíssimo que o
as compras pela internet. Durante as entrevistas houve vários relatos sobre se comprar objetos
pela internet. Hoje, tudo se faz pela internet, sempre com esse movimento individual, cada um
buscando satisfazer-se sozinho. Pode-se comprar a qualquer hora do dia ou da noite,
informação em tempo real sobre aquilo que se deseja, sem a pressão do tempo, porque a loja
não vai fechar. Não somos mais obrigados a estarmos presentes fisicamente em um lugar, esse
espaço foi abolido.
Outro aspecto observado é que as pessoas, quando vão viajar para outro país, fazem
de antemão suas compras pela internet e dão o endereço onde vão ficar, para que quando elas
cheguem suas compras já estejam feitas.
É realmente uma mudança total das relações comerciais em todos os sentidos e isto é
percebido o tempo todo nos comportamentos desses jovens, que nasceram e cresceram sobre a
influência da tecnologia e globalização. Na verdade, eles até desconhecem outras maneiras de
se relacionar.
58
Outro aspecto marcante é a preocupação excessiva de não perder tempo, pelo
contrário, quer-se resolver as coisas quase que instantaneamente, quase online. De acordo
com Lipovetsky, “nesse contexto de estilhaçamento dos enquadramentos espaços-temporais
do consumo, afirmam-se novos comportamentos, marcados pela exigência de eficácia e de
rapidez, pela preocupação obsessiva de ganhar tempo” (Lipovetsky, op.cit., p.111).
De acordo com o autor, o individuo é apressado e o fator tempo é um referencial
importante, ordenando a organização do cotidiano. Hoje podemos dizer que nosso tempo se
tornou quase que instantâneo. Tudo é ultra- rápido. Os entrevistados desconhecem o que não é
instantâneo, o presente, o agora; cada momento pode ser crucial. Eles interagem ao mesmo
tempo e em qualquer lugar com os outros, mesmo sem vê-los, e existem várias formas de se
conectar.
A velocidade das trocas é absurda. Hoje os jovens não têm paciência para esperar e os
dados levantados confirmam isso. A época do “saber esperar”, em que a experiência da espera
era um elemento de felicidade, recua em favor de uma cultura da impaciência e da satisfação
imédiata dos desejos. Por exemplo, temos as fotos, cujos filmes antigamente comprávamos,
limitados na quantidade de fotos. Tínhamos que esperar para revelar para saber como ficariam
as fotos. Hoje, tiramos uma foto e podemos passá-la por mensagem ou apagá-la quase que
no mesmo instante em que foi tirada. Os serviços são expressos: posso comprar o bilhete de
avião agora e viajo, ou compro um bilhete de trem agora e estou pronta para ir. Ainda,
posso comprar o ingresso para o cinema pela internet e entrar assim que chegar lá.
Na indústria cultural também são observados estes fatos. Se você assiste a um filme
americano, o mesmo ali se retrata. As cenas são absolutamente corridas e de uma passagem
para outra decorrem segundos, diferentemente de um filme europeu que ainda resiste
parcialmente a essa produção em massa de filmes robotizados. Quando um jovem brasileiro
assiste a um filme europeu, ele imédiatamente constata essa diferença e fica impaciente, pois
as cenas acontecem de uma forma natural onde existe a espera.
A sensação que se observa é que um jovem brasileiro de classe média alta consegue o
que quer a hora que quer e onde quiser. Não existem limites. Na prática clínica, podemos
observar famílias assim, tanto pais quanto filhos. Os pais ensinam aos filhos essa nova relação
temporal, pois desde pequenos são satisfeitos a tempo e a hora. Em algumas entrevistas
também ficam bem evidenciados estes fatos: os filhos falam que os pais fazem qualquer coisa
pelos filhos e que satisfazem suas necessidades imédiatas. Eles se acostumaram com o tempo
real, imédiato da instantaneidade, em que o tempo e o espaço foram comprimidos. “A
obstinação em comprimir o tempo foi interpretada como um dos signos do advento de uma
59
nova condição temporal do homem, marcada pela sacralização do presente, por um presente
absoluto, auto-suficiente, cada vez mais desligado do passado e do futuro” (Lipovetsky,
op.cit., p.112).
Durante as entrevistas pude constatar que para os entrevistados o mais importante é o
que se esta fazendo agora, neste momento, na hora do meu desejo compulsivo inconsciente.
Aproveitar ao máximo a vida no tempo instantâneo é quase uma imposição para ser feliz;
ganhar tempo para aproveitar melhor os instantes vivenciais parece ser a tônica hedonística
existencial da nossa sociedade.
Temos, então um efeito duplo como cita o psicólogo e professor João Alberto Barreto,
em sua palestra “Liberdade cronometrada” (2008): “Por um lado, os jovens estão sujeitos a
essa hiper-aceleração do tempo, imposta numa corrida de não se perder tempo; e, por outro
lado, se sentem livres para decidir individualmente as suas necessidades, gerirem seu tempo
no atingimento pleno das suas satisfações pessoais”.
Estamos construindo as categorias necessárias para a explicação de nossas hipóteses
nesta tese. Neste capitulo trabalhamos diversas percepções sobre o tempo, as diversas
maneiras como este se apresenta e relativizamos o tempo enquanto compreendido
psicologicamente. Passaremos agora ao estudo do espaço inclusive do ciberespaço tão
interessante para os jovens.
60
CAPITULO III – ESPAÇO
De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.
A oeste a morte
contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.
Outros
Que contem passo por passo
Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo
É quando...
Vinicius de Moraes
3.1 Espaço: definições e tipos
Este capítulo trata pormenorizadamente do termo espaço, desde seus sentidos mais
latos e corriqueiros que conhecemos, até o sentido que ganhou com a chegada da rede de
telecomunicações, a internet. Falou-se de sentido, mas melhor seria dizer sentidos. Porque são
múltiplos. A internet, ela mesma uma imensa rede espacial, apropriou-se do termo e ampliou
tanto seu sentidos, que o espaço se globalizou de forma virtual e intangível, mas, ao mesmo
tempo, acessível à parte considerável da população do planeta, pelo próprio espaço da
internet. Espaço este abstrato, porque ninguém o vê, mas, é através dele e por seu intermédio,
que se pode ser visto. Espaço que é praticamente infinito, porque capaz de englobar bytes e
mais bytes de informações em praticamente todo e qualquer formato.
O espaço é o avatar (outro termo que ganhou outro sentido, graças ao espaço da SL,
assunto que também é parte de deste capítulo) do século XXI, do mitológico deus Atlas. O
espaço da internet carrega a todos nós numa grande, irresistível e poderosa rede de
informações, contatos e relacionamentos do tamanho do mundo e que se transformou num
universo palpável de culturas. Observe-se o paradoxo: não se pega o espaço, mas ele nos
pega, e mais, engolfa-nos a todos. Somos capazes de falar, de pensar obsessivamente em
relacionamentos ditos virtuais que, porventura, tenhamos.
61
Os jovens, tema principal dessa pesquisa, nascem em meio a essa nova realidade
espacial caoticamente ordenada, chamada pela ciência de tecnologia de telecomunicações, em
que espaço e tempo, tempo e espaço passaram a viver perigosamente juntos, transformando-se
num binômio também paradoxal: Cronos, o deus Tempo, e o deus Atlas, que, segundo a
mitologia combateram entre si, pelo domínio do Olimpo, o lar dos deuses. Mas vejamos:
navegamos no espaço da internet, podemos ver on-line o outro por meio de uma câmera, mas
o outro não vive, e tampouco convive, no nosso espaço e no nosso tempo. Exemplo disso?
Conectemo-nos com alguém no Japão, agora. Noite e dia, conectando-nos on-line, ao mesmo
tempo, num tempo e num espaço diferentes.
Todos estes fatores mexem profundamente com o psiquismo das pessoas, a história
das pessoas e o espaço físico que elas ocupam e em. Mexem com o mundo tal qual o
conhecemos. Conceitos tradicionais de memória, tipos de cultura, economia, sociologia, entre
outros, precisam se reestruturar com os novos usos que se pode fazer do termo espaço e do
espaço propriamente dito.
Espaços como o Orkut, o YouTube, também tratados neste capítulo, e as
consequências do uso que se faz deles e de outros espaços, de que forma vão afetar todos nós,
principalmente os jovens, as mudanças que trazem e ainda trarão são temas candentes para
estudos e pesquisa. Por isso, consideramos importante abordar os sentidos tradicionais de
espaço e os que ele ganhou e por que nomes passou a ser denominado, como Orkut, que nada
mais é do que espaço de relacionamentos, ou YouTube, espaço para gravar, importar, ouvir,
ver música, espetáculos de confecção caseira ou com todo o aparato de um show business,
espaços pelos quais vamos navegando, sem barco e sem mar e num tempo diferente do que
marca nosso relógio de pulso (Oliveira, 2004, p.53).
As relações sociais são sempre espaciais porque pessoas convivem e ocupam espaços
de diferentes matizes: sociais, econômicos, culturais, entre outros. As relações sociais são,
então, formadas, necessariamente pela construção de certas espacialidades. O termo pode ser
entendido como a própria materialização de um espaço. A construção da espacialidade, como
um produto de processos sociais e rebatimentos materiais, pode ser considerada uma
espacialidade efetivamente vivida e socialmente criada, sendo, ao mesmo tempo, concreta e
abstrata. Concreta porque representa a parte física do espaço socialmente construído; abstrata
porque este espaço social se construiu pelas relações interpessoais de cultura, gênero, de
memória, que residem no universo da abstração, do intelecto.
Assim, é impossível ignorar as diversas lutas simbólicas travadas no espaço urbano,
em que está em questão a própria representação de mundo, que o espaço vem se tornando
62
cada vez mais o meio de reprodução das relações sociais: seja ele hierarquizado, seja ele
objeto de investimentos públicos e privados, reserva de valor ou, ainda, deixado ao acaso e
abandonado. Talvez a grande batalha do homem atual seja desvelar, de fato, o espaço, ou
espaços: o que ele próprio representa, o que ele ocupa, o que divide com ou outros, o que está
ocultado e por aí vai.
Não por acaso, o verbete “espaço” ocupa um bom espaço de definições em boa parte
dos dicionários. Vale a pena conhecer algumas delas:
Na obra organizada por André Lalande, Vocabulaire Technique et Critique de la
Philosophie (1956, p.299), que traduzo livremente, o espaço é definido como meio ideal,
caracterizado pela exterioridade de suas partes, no qual estão localizadas nossas percepções e
que contém, por consequência, todas as coisas extensas finitas. Enquanto o espaço geométrico
ou espaço propriamente dito é caracterizado como homogêneo, isotrópico (todas as direções
possuem as mesmas propriedades), contínuo e ilimitado, o que a geometria usual agrega duas
determinações: que possui três dimensões e nele se podem construir figuras semelhantes em
qualquer escala.
Identifica ainda o espaço psicológico, relativo, como é apreendido pelos sentidos ou
ainda espaço fisiológico, limitado ao campo da percepção presente, diferenciado pelas
sensações de alto e baixo, direita e esquerda, verticalidade e horizontalidade.
No Encarta World English Dictionary (1999, p.1714), que também traduzimos
livremente, são dadas as seguintes definições de espaço, dentre outras que não citamos por as
considerarmos menos relevantes:
.Região além da atmosfera da terra e tudo que ela contém, ou ainda, região entre
quaisquer corpos celestes do universo, de densidade normalmente desprezível, definições que
se aproximam do que normalmente se entende por espaço sideral;
.Expansão tridimensional ilimitada em que toda a matéria existe, o que se pode talvez
chamar de espaço físico em geral;
.Área separada para algum uso especial;
.Conjunto de pontos que possuem as mesmas propriedades geométicas, de forma a
obedecerem sempre às mesmas regras (axiomas), o que se pode denominar espaço
geométrico. Assim o espaço geométrico será dito euclidiano, se as regras ou axiomas que o
governam forem aqueles da geometria euclidiana. Cada geometria não-euclidiana apresenta
seus próprios axiomas e regras;
.Liberdade ou oportunidade para a afirmação da própria identidade ou para o
preenchimento de necessidades pessoais, sentido que pode ser aproximado de uma dimensão
63
tanto psicológica quanto social de espaço, tomada aqui a palavra em um sentido bem
diverso;
O espaço de mais de três dimensões se designa hiperespaço, conceito utilizado em
matemática, tendo sido o termo, com outro sentido, adaptado para referir-se ao espaço virtual
da internet, em que tudo pode se conectar com tudo, independentemente de qualquer ordem,
constituindo assim um espaço acentrado ou rizomático. Nesse sentido também se utiliza o
termo ciberespaço. Vamos nos deter um pouco mais na conceituação deste verbete por
considerar que está presente de algum modo e, de algum modo, interfere em todos os tipos de
espaço acima tratados (Comte-Sponville, 2004, anotações/Dicionário Filosófico).
A velocidade com que a tecnologia progride e se expande,
estabelecendo um novo espaço de descoberta que podemos chamar de
fronteira eletrônica, é um fato. Fato para muitos considerado um tento,
enquanto que, para outros, assustador. A atualidade dos média, assim
como o que poderão se tornar, graças à tecnologia, costuma
desencadear sentimentos contraditórios: rejeição e interesse, atenção e
desprezo são alguns deles.
As pessoas temem que as novas formas de tecnologia passem a controlar as suas vidas
e possam modificá-las de um modo que desconhecem. Temem que um novo espaço de
informação, a internet, faça-as emergir em realidades que transcendem a vivência a que foram
habituadas.
Essencialmente, a vida baseia-se na experiência. Desenvolvemo-nos como indivíduos
pelas experiências que temos ao longo da vida. Confrontamo-nos com a experiência real em
cada novo dia: ou como observadores ou parte integrante dos eventos reais. O advento da
tecnologia nas casas, escolas e locais de trabalho propicia um leque experiências de outra
ordem: os média nos levaram ao encontro da experiência virtual, ampliando o quantitativo de
experiências que temos. Somos observadores, mas também somos participantes ativos de
acontecimentos simulados, integrados que estamos numa verdadeira "comunidade virtual",
criando novas concepções do mundo, numa enorme aldeia global, como Mcluhan a imaginou.
A questão que se põe é: Até que ponto estas duas formas de experiência são válidas e quais os
seus efeitos nas nossas tradicionais noções de tempo e de espaço?
Novaes acena com uma resposta, em seu artigo Crepúsculo de uma civilização:
64
É justamente a idéia de tempo que foi a grande transformação trazida pelas
novas tecnologias. Ele diz que o mundo moderno aboliu as duas maiores
invenções da humanidade: o passado e o futuro. E as perguntas que se fazem
são: “O que representa o homem viver em presente eterno? O que significa a
perda do sentido do futuro e do passado?” Se isso é verdade, perdemos a
memória, a história e a possibilidade de projetos (Novaes apud Valéry, 2002,
p.17).
O que ele argumenta é que na sociedade pós-moderna tudo é planejado e o acaso,
abolido. Não brechas para interrogações. Tudo é explicado. Aliás, tudo foi pensado;
foi sabido. Interrompe-se a pluralidade de expressão. O pensamento do que, até então, jamais
foi pensado não existe. O que há é a supervalorização das necessidades, metaforizadas em um
único pensamento: “Eu desejo”. Não qualquer desejo, mas o desejo superlativo: o que importa
é o hiper, os máximos. Analisa Paul Valéry:
Em todos os lugares dominados pelo espírito europeu veêm-se aparecer o
máximo das necessidades, o máximo de trabalho, o ximo de capital, o
máximo de rendimentos, o máximo de ambição, o máximo de potência, o
máximo de modificação da natureza exterior, o máximo de relações e de
trocas (Novaes apud Valéry, op.cit., p.16).
Considerada como a terceira fase da modernidade a hipermodernidade segundo
Lipovetsky caracteriza-se principalmente por esta fase superlativa denominada de “hiper”.
O “super” da modernidade ficou para trás. Tudo é hiper-bonito, hiperinteressante,
hiperespaçoso. Na mesma leva, o hiperconsumo: flagrado neste momento como o agente
que estabelece uma distinção social e é correlacionado com a satisfação que proporciona.
Lipovetsky conceitua hipermodernidade como “uma sociedade liberal, caracterizada pelo
movimento, pela fluidez, pela flexibilidade; indiferente como nunca antes se foi aos grandes
princípios estruturantes da modernidade, que precisaram adaptar-se ao ritmo hipermoderno
para não desaparecer” (Lipovetsky, 2004, p.26).
Sobre este assunto, e segundo Daniela Melaré Vieira Bastos, UNICAMP autores como
Levy (1996) e Horrocks (2004)
1
destacam que se deve saber como o que é virtual e os
elementos que o configuram modificam aspectos globais que influenciam o ser humano.
Especialmente a percepção – que se apresenta visualmente como um espaço de diversidade de
informação e de excesso de movimentos percepção esta que, dentro de um universo/espaço
dito virtual se multiplica em inúmeras possibilidades de seleção, que vão considerar critérios
1
Disponível em:
http://www.virtualeduca.info/ponencias/19/VIRTUAL%20EDUCA%202008%20DANIELA.doc. Acesso em:
Ago/2008.
65
subjetivos tais como gostos, predileções e interesses prévios (ou não). Nesta quase infinita
gama de escolhas, seleções ocorre uma grande estimulação dos sentidos, ampliando-se a
quantidade de informação que chega ao cérebro, que, para processar e sobretudo absorver
todo este conteúdo, necessita de um período de tempo mais extenso.
Outro aspecto interessante sobre o espaço virtual é a forma (ou formas) como
disponibiliza a informação: em formato de textos, de portal, de imagem. Partindo-se desse
aspecto, a percepção deixa de ser somente linear: passa a ser diversificada, permitindo a
assimilação de uma infinidade de formatos da informação. A interatividade também precisa
ser levada em conta neste processo, que a informação virtual propicia e altera a
interpretação dos conteúdos, sons, imagens e estímulos que compõem o emocional de cada
um ao utilizar-se dos recursos multimídia.
De acordo ainda com Levy e Horrocks, o avanço tecnológico permitiu a ampliação e
adaptação do raio do pensamento e da inteligência. Ambos, de alguma forma e em algum
ponto, precisaram se reestruturar a fim de assimilar e acomodar informações de todo tipo,
vindas de todos os jeitos e formatos, carregadas de uma série de elementos que passam, em
fração de segundos, por todos os eixos de percepção, memória e atenção. Estes elementos
chegam do espaço virtual até nós modificados, decodificados e recodificados (e isso ao
mesmo e só tempo). Assim, relacionam-se e interagem, tendo como conteúdo múltiplas
mensagens, formuladas em tipos de informação conexas e desconexas, que têm como
contexto um mundo hipercultural”, ligado a um universo (um espaço) virtual de
possibilidades de percepções. Ora, não é pouca coisa. Este espaço virtual exige de nós outras
formas de conexões e relações, interconectadas e carregadas de uma diversidade de opiniões e
formatos intelectuais distintos.
Segundo Alonso e Gallego (2000), a assimilação se através de um processo
continuo de percepção e exploração ambiental do mundo exterior, médiante a este processo de
percepção e interpretação, e o transforma e incorpora a si mesmo, em sua própria estrutura. A
mente humana através do processo de assimilação incorpora velozmente por estimulação
virtual acarretando uma maior rapidez na leitura e visualização textual, uma maior capacidade
de dar atenção a uma diversidade de opções. Ao mesmo tempo, tais estímulos aguçam mais e
mais a percepção para a seleção de informação, além de permitir o uso da imagem como o
principal referencial, bem como o recurso da visualização do texto como uma imagem.
Um aspecto bastante interessante é que a linguagem sofre modificações estruturais
pelo virtual. Essa ciberlinguagem é composta por uma mescla de códigos/signos/palavras que
foram facilmente reconhecidos como uma linguagem cotidiana. Devido a este fato acessar a
66
internet cria uma cultura virtual que envolve novos espaços sociais, comunicação distintas e
formas de relacionamentos
2
.
3.2 Globalização e espaço
Podemos dizer que é a globalização um processo econômico e social que estabelece
uma profunda integração entre os países e as pessoas do mundo todo, ocupando um espaço
virtual e não virtual, servindo-se cotidianamente desses dois espaços. Quando bolsas de
valores de diferentes países compram e vendem ações em mercados de futuro, o processo é
virtual. Não se vêem ou tocam nos papéis dessas ações como se fazia há menos de 30 anos.
quando se compra um apartamento, por exemplo, com o lucro dessas ações virtuais, e se faz
um cheque pela transação, aquele pedaço de papel palpável, assinado diante de testemunhas
oculares (isto é, presentes), bem como um contrato entre vendedor e comprador. Todo o
processo físico. Tem-se, então, neste pequeno exemplo, o virtual imbricado no não-virtual de
maneira definitiva, resultado de um processo que nos atinge a todos, todo o tempo: a
globalização do mundo e de seus habitantes: vive-se, relaciona-se, compra-se, vende-se sem
fronteiras. Contudo, essas mesmas fronteiras continuam a existir no mesmo lugar: no mundo
físico.
O processo de globalização surgiu visando, sobretudo, a comunicação rápida e sem
entraves entre os países e o barateamento dos meios de transporte. Por intermédio deste
fenômeno tecnológico, pessoas, governos e empresas trocam idéias, informações. Realizam
transações financeiras, comerciais e espalham aspectos culturais pelos quatro cantos do
planeta. O processo vem transformando o mundo em uma aldeia global, a fim de permitir
maiores ganhos para os mercados internos e externos. A globalização é um fenômeno
capitalista e complexo, cuja semente foi plantada pela Revoluçao Industrial e hoje é
considerado como resultado da revolução tecnológica. Suas principais características são a
homogeneização dos centros urbanos, a expansão das corporações para regiões externas a
seus núcleos geopolíticos, a revolução tecnológica nas comunicações e na electrônica, a
reorganização geopolítica do mundo em blocos comerciais regionais, a hibridização entre
culturas populares locais e "universal", entre outros. A globalização é um fenômeno atual e
surgiu com a evolução dos novos meios de comunicação, cada vez mais rápidos e mais
eficazes (Krugman, 1999, p.41).
2
Disponível: http://www.virtualeduca.info/ponencias/19/VIRTUAL%20EDUCA%202008%20DANIELA.doc.
Acesso em: Ago/2008.
67
Como qualquer outra invenção tecnológica, apresenta aspectos positivos e negativos.
No que concerne aos aspectos negativos, a referir a facilidade com que tudo circula, não
havendo grande controle. Gera-se uma “falsa” idéia positiva de que todos, de antemão, estão
em igualdade de condições, com acesso franqueado e democrático a um meio informacional
do mundo, a internet. Não é verdade. O acesso não é igual para todos. Além diusso, não se
pode asseverar que a informação que se acessa é confiável.
Um outro aspecto negativo da globalização é a instabilidade econômica que pode criar
no mundo devido à velocidade de informações: se um boato de quebra de um banco ou
uma empresa num determinado país, imédiatamente a notícia ecoa em outros países, que
muitas vezes têm filiais dessa empresa ou banco (fato muito comum num mundo glabalizado),
causando sérios prejuízos, transformando um boato virtual, em verdade física. O resultado?
Caos entre bolsas, pânico geral entre acionistas e empregados. O processo pode também
resultar em profunda e desnecessária interdependência dos países, pois não como se isolar
(e escapar) e as informações, ao invés de contribuírem para evitar catástrofes econômicas, por
exemplo, ganham um caráter simplesmente assustador. O que realmente os criticos da
globalização apontam é que ainda levará algum tempo até se atinjam critérios uniformes
mundiais de qualidade e confiabilidade das informações que chegam por meio do espaco
virtual.
Como aspectos positivos temos, sem sombra de dúvida, a facilidade com que as
inovações se propagam entre países e continentes, o acesso fácil e rápido à informação e aos
bens. Com a ressalva de que para as classes menos favorecidas economicamente,
especialmente nos países em desenvolvimento, esse acesso é altamente limitado, gerando os
excluídos deste sistema dito global.
Em última análise, esta transferência de capitais para os países em vias de
desenvolvimento devem conduzir a um desenvolvimento do país que vive este processo e
eventualmente a uma uniformização de critérios em termos mundiais. Não se quer confundir
aqui a globalização com a liberalização da economia, que permite a entrada de produtos
mundiais num país, a preços muito baixos, destronando a produção local e causando altos
índices de desemprego. Na verdade, o que se verifica por trás desses produtos vendidos a
preços baixos é que em sua cadeia de produção, os trabalhadores que os produzem, na maioria
das vezes, são submetidos a condições sub-humanas, pelos empregadores. Muitos destes
produtos são resultado de exploração, violação de direitos humanos e ambientais. Além disso,
muitas vezes sua qualidade é questionável, quando comparada a padrões estabelecidos pelas
sociedades desenvolvidas.
68
3.3 Cyberespaço
De acordo com Maia (2006), a globalização e o desenvolvimento tecnológico são os
maiores responsáveis pela maior parte das mudanças e transformações em nossa rotina diária,
que temos vivenciado nos últimos anos. Estes dois processos estão presentes na realidade e no
pensamento, desafiando grande número de pessoas em todo o mundo e compõem um ciclo
continuo e irreversível.
As práticas, atitudes, modos de pensamento e valores estão, cada vez mais, sendo
condicionados pelo novo espaço de comunicação que surge da interconexão mundial dos
computadores: o cyberespaço, uma rede de telecomunicações.
A palavra “cyberespaço” teria sido usada e projetada primeiramente por um escritor de
ficção científica canadense, chamado William Gibson, em seu livro Neuromancer (1984). Na
obra, Case, o protagonista, é viciado em uma droga do futuro e é pego roubando informações
de seus patrões. Não é um bom mocinho cibernético. O termo inglês cyber, inclusive, é o
“nome geral para tudo que se encontra no mundo da internet e significa também sexo
virtual”
3
.
O conceito de ciberespaço foi discutido e pode também ser compreendido com os
esclarecimentos de Pierre Levy (1996). Em sua análise, Lévy descreve o cyberespaço como
sendo uma grande rede interconectada mundialmente, com um processo de comunicação
“universal, sem totalidade”, que segue uma linha interativa de comunicação, possibilitando a
todos os navegantes da grande rede a participar democraticamente desta “teia” de ligações e
imbricações, num modelo interativo, de todos para todos, consolidando a idéia de uma “aldeia
global”, que foi profetizada por McLuhan nos anos 60.
Ainda segundo Lévy, o virtual é uma nova modalidade de ser, cuja compreensão é
facilitada se considerarmos o processo à virtualização, isto é, à moda da virtualização. Lévy
passa, então, a utilizar a distinção entre possível e virtual. O possível associa-se ao real, na
medida em que aquele é este, sem a existência. A realização isto é a passagem do possível
para o real portanto, não envolve ato criativo algum. A diferença entre possível e real reside
no plano da lógica, consistindo em um mero quantificador existencial. O virtual, por outro
lado, distingue-se do atual na medida em que, diferentemente do possível, não contém em si o
real finalizado, mas sim um complexo de possibilidades que, de acordo com as condições e os
contextos, ise atualizar de maneiras distintas. O objetivo de Lévy, ao fazer esta migração
3
Disponível em http://www.babylon.com/ptg/index.php. Acesso em: Nov/2008.
69
entre o par de conceitos possível/real para a ade virtual/atual, é conseguir associar ao
processo de atualização a interação entre o atual e o virtual. De acordo com o autor: "O real
assemelha-se ao possível; em troca o atual em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe"
(Lévy, 1996, p.17).
Portanto, o ciberespaço é considerado uma virtualização da realidade Esta migração
em direção a uma nova espaço-temporalidade estabelece uma realidade social virtual, que,
aparentemente mantendo as mesmas estruturas da sociedade real, não possui,
necessariamente, correspondência total com esta, possuindo seus próprios códigos e
estruturas, haja vista a Second Life a SL – vida paralela, ou segunda vida (para se diferir da
vida real), vivida em ambiente virtual tridimensional que simula alguns aspectos da vida real.
Vende-se, rouba-se e se mora na SL, que possui códigos e até moeda própria, tal qual um país
real, mas seus habitantes são avatares, criados pelo humano que vive na frente da tela de seu
computador. Um avatar é a encarnação de uma divindade sob a forma humana ou animal:
encarna-se uma segunda vida virtual.
Como foi demonstrado nas entrevistas os jovens nômades do tempo presente
cresceram com um controle remoto em uma das mãos, com um mouse na outra,um monitor à
sua frente e um IPOD nos ouvidos. A informação nunca foi tão facilmente encontrada como
na rede de interconexões e de comunicações, a internet. Os internautas se conectam por e-
mails e/ou programas de mensagem instantânea e neste universo virtual compartilham
informações, notícias, confidências, questões profissionais, com uma velocidade sem
precedentes na história.
A grande explosão de internautas jovens, contudo, deu-se com o surgimento do
fenômeno dos blogs entre os seus usuários, uma versão popular de web-logs. Log significa
diário, ou seja, publicações diárias na Web para diferentes usuários, em que manifestam suas
opiniões e falam de si mesmos. Os blogs se expandiram com muita velocidade porque são
fáceis de confeccionar e atualizar, além de poderem ser hospedados de forma gratuita. Ao
contrário do que muitos pensam, os blogs não são apenas brincadeiras de adolescentes, mas
espaços seriamente ocupados por empresários, jornalistas, doutores, acadêmicos e religiosos,
que querem se manifestar na grande rede.Após isso, veio a febre da rede: o Orkut. Trata-se de
um site de relacionamentos que permite que o internauta tenha sempre, a um clique do mouse,
uma lista dos amigos mais chegados e comunidades com perfis semelhantes (Maia, 2006).
Esta cybercultura que emerge, introduzindo novos hábitos de comunicação, provoca
uma mudança radical no imaginário humano, que transforma a natureza das relações dos
homens com a tecnologia e entre si. Pierre Lévy, em 1995, defende uma inter-relação muito
70
próxima entre subjetividade e tecnologia, em que esta influencia aquela de forma
determinante, na medida em que fornece referenciais que modelam nossa forma de
representar e interagir com o mundo. Por intermédio do conceito de “tecnologia intelectual”,
Lévy acredita que a tecnologia afeta o registro da memória coletiva social, pois se o tempo
não é tempo do relógio real e se a memória se constrói pelo tempo, ou melhor, pela lembrança
desse tempo que passou, configurado a um espaço fisicamente determinado, as noções de
tempo e espaço das sociedades humanas vão ser reconceituadas e, sim, duramente afetadas e
reestruturadas pela tecnologia e pelas diferentes formas e meios nos quais os registros se
realizam.
3.4 Explosão multimídia no ciberespaço
O autor Dênis de Moraes, em seu livro Sociedade Midiatizada, relata que vivemos na
era dos fluxos infoeletrônicos. A força invisível dos sistemas tecnológicos encurta a
imensidão da Terra e subverte toda e qualquer barreira. Os modos de comunicação alteram-se
bruscamente, propagando um volume incalculável de conteúdos. Estamos vivendo a era da
convergência entre as tecnologias digitais, multimídia e realidade virtual. Os sinais de áudio,
vídeo e dados, antigamente processados de forma independente, passaram a ser tratados do
mesmo modo, depois de digitalizados, compondo um imensurável conjunto de bits, com
amplo espectro de difusão.
O ciberespaço funda uma ecologia comunicacional: todos dividem um
colossal hipertexto, formado por interconexões generalizadas, que se auto-
organiza e se retroalimenta continuamente. É um conjunto vivo de
significações, no qual tudo está em contato com tudo: os hiperdocumentos
entre si, as pessoas entre si e os hiperdocumentos com as pessoas. A partir da
hipertextualidade, a web põe a memória de tudo dentro da memória de todos
(Moraes, 2006, p.33).
O sistema interativo
Os sites são como infomídias interativas na teia cibernética que estocam, processam e
distribuem os dados e as imagens oriundas dos diversos ramos do conhecimento. As
interfaces tecnológicas instituem um espaço de transação, cujo suporte técnico, em
processamento constante, proporciona comunicações intermitentes, precisas e ultra-rápidas,
numa interação entre todos e todos, e não mais entre um e todos. Cada um é potencialmente
emissor e receptor num espaço qualitativamente distinto no ciberespaço. As pessoas passam a
71
se agregar de acordo com blocos de interesses e afinidades eletivas. Entretanto, o caráter
descentralizado da internet generaliza a circulação de conteúdos, sem submissão a estruturas
hierárquicas. No ambiente virtual, com um mínimo de competência técnica, os usuários
podem atuar, a um só tempo, como produtores, editores e distribuidores de informações
(Moraes, op.cit., p.35).
Lévy acentua que a cybercultura, ao preservar a universalidade dissolvendo a
totalidade, faz com que a nossa espécie tenda a formar, pela globalização econômica e pelo
adensamento das redes de comunicação e transporte, uma única comunidade mundial, ainda
que desigual e conflituosa. Esta megacomunidade, apesar dessa forte dose de globalismos,
prospera por interação, e não por homogeneização e massificação (Lévy, 1996, p.129-149).
Descobrimos um estiramento na noção de totalidade: no ciberespaço, as
partes são fragmentos não-totalizáveis, isto é, não-sujeitas a um todo
uniformizador de linguagens e concentrador de poderes, que anula
inevitáveis disparidades de interpretação. As relações entre as partes
reinventam-se, em densidade e em extensão, sem que umas se sobreponham
ou subjuguem as demais. Diante dessa dinâmica de micrototalidades
emergentes, a imanência mítica e autoritária do todo conhece a variável da
tensão. Cabe à capacidade cognitiva dos indivíduos determinarem como se
vão rearticular as conexões nos acervos digitais. A web inverte a lei das
mídias convencionais: o valor de uso é obtido na relevância de cada ligação,
e não pelo consumo de denominadores comuns, indispensáveis à coesão da
audiência de massa (ibidem).
O real e virtual
Marc Guillaume salienta as confluências possíveis entre os padrões clássicos de
interação social e as redes eletrônicas:
A rede social preexistente pode melhorar seu desempenho através da rede
técnica, mas esta última não pode por si mesma criar uma rede social. Está
claro também que o bom uso das mídias comutativas passa pelas
complementaridades e hibridações, permitindo combinar automatismos e
inteligência humana, rapidez de informação e vagar na assimilação e na
formação (Guillaume, 1999, p.72).
Os processos de significação de antes não se anulam, eles se acrescentam e muitas
vezes se mesclam entre as redes eletrônicas e sociais. A imprensa não suprimiu os
manuscritos e, por isso, o jornalismo impresso coexiste com a televisão, a multimídia e a
realidade virtual.
Vivemos a era da coexistência entre as mídias impressa e digital, com plena ascensão
do cyberjornalismo, onde as notícias são renovadas a cada segundo e recursos audiovisuais
72
são usados para atrair usuários aos noticiários em tempo real. Apesar disso, o jornalismo
impresso continua competitivo no mercado da informação. Por isso, as empresas jornalísticas
precisam ajustar-se às transformações em curso no setor de comunicação, reestruturando-se
cada vez mais como organizações multimídias. Desta forma, a cybercultura não se superpõe
às culturas preexistentes, nem as aniquila. A dialética ativa desdobramentos e remissões. No
lugar de divisões demarcatórias, estabelecem-se os nexos, as bricolagens e as hibridações. É
exatamente o que observamos na internet, visto que o seu ecossistema multimídia revela alto
grau de adaptação a um tipo de comunicação que, combinando modelos da imprensa escrita
com a dinâmica audiovisual, delineia configurações peculiares. Um portal pode somar e
disponibilizar, ao mesmo tempo, televisão, rádio, vídeo, DVD, música, cinema, webcam,
noticiário em tempo real, arquivos sonoros, jogos, livros, revistas, jornais, fotografias, arte
interativa, museus, cartões em 3D, publicidade on-line e comércio eletrônico. Isso significa
que se pode ter todas as mídias numa única plataforma digital. Por isso, um número cada vez
maior de informações está sendo produzido, veiculado, lido e analisado, devido às interseções
possíveis entre real e virtual, dentro de um conjunto de ambientes integrados e auto-
ajustáveis, sob a primazia da inteligência humana. Pode ser um equívoco encarar a internet
como um mercado paralelo e estanque, dissociado das demais mídias e das conjunturas
sociais. Não interligá-la àquelas instâncias equivaleria a entendê-la como fim e não como um
meio para se atingir metas maiores, fazendo com que a internet pudesse perder, aos poucos,
seu significado histórico e sua importância cultural (Moraes, 2006, p.47).
3.5 Espaços da tela: Youtube e Orkut
Com se sabe o Youtube é um portal na internet que permite o compartilhamento de
vídeos, pequenos filmes de no máximo dez minutos, gratuitamente, por qualquer pessoa que
tenha acesso à internet. Recentemente, possou a admitir transmissões de vídeo ao vivo, que
qualquer um pode emitir, usando uma simples câmera, conectada a um computador.
Rapidamente, tornou-se um fenômeno contemporâneo e, hoje, até a Família Real inglesa já
utilizou o portal para a divulgação de uma mensagem de Natal.
Ali se realizam campanhas publicitárias por meio das novas técnicas de publicidade
por contágio. Os jovens são evidentemente os maiores usuários e podem criar perfis para
exibir os vídeos que tenham carregado no site ou mesmo suas preferências dentre os materiais
disponibilizados por outros.
73
Influenciada pelo livro A terceira onda, de Alvin Toffler(2007), e para ilustrar o que
foi exposto acima elegemos uma pergunta com usuários do Youtube, em dezembro de 2008,
postadas na página que temos no Orkut. Utilizamos o mesmo método para demonstrar o
espaço virtual/existencial ocupados pela juventude atual no site de relacionamento do
Orkut,visto que os jovens nômades do tempo presente navegam, surfam, neste cyberespaço
conectando-se nas telas do seu próprio mundo real. Foram inseridas aqui algumas destas
respostas, com o objetivo de demonstrar o que viemos discorrendo sobre o YouTube e seus
efeitos nos usuários.
A pergunta que fizemos foi “Qual a importância do YouTube na sua vida?”,
acompanhada de uma mensagem em que se pedia a colaboração de internautas. A pergunta
ficou na gina pelo período de uma semana. Obtivemos sessenta e sete respostas, em uma
semana tempo. Optamos também por manter as respostas originais que recebemos, isto é, sem
revisão, bem como seu formato, pois, assim, nosso estudo pode apresentar um perfil bem
específico da faixa etária que é assunto desta pesquisa, decifrando a linguagem utilizado pelos
jovens entrevistados.
Em tempo: A metodologia completa utilizada nas entrevistas, bem como o
levantamento do material, o que se priorizou pesquisar e o porquê podem ser consultadas nos
capítulos V, VI e VII.
PERGUNTA INICIAL E MENSAGEM:
Qual a importância do Youtube na sua vida? “Estou precisando que um grande número
de pessoas respondam esta pergunta para uma tese de doutorado, sobre a importância do
Youtube na vida dos jovens hoje em dia. Quem puder, dê uma força. Muito obrigado!”
ALGUMAS DAS RESPOSTAS OBTIDAS:
“ta, pra mim é importante pra conhecer bandas e videos do mundo todo,,, gosto tbm de
ver muitos videos de minhas bandas favoritas... é bom tbm porque podemos compartilhar
nossos videos com todo mundo essa é minha opinião... abração”.
“Entre diversas coisas, eu uso o Youtube como veículo de expressão artística,
divulgação de meus trabalhos e registro para a posteridade, uma vez que trabalho com
oficinas de desenho animado, mantenho um projeto de musicalização eletrônica para músicos
e não músicos e para os meus trabalhos autorais”.
74
“Mas falando quantitativamente, eu procuro regularmente vídeos de humor,
curiosidades (comportamento animal, eventos raros e coisas afins), história com e sem "H"
maiúsculo e claro, para assistir coisas bizarras e moralmente questionáveis (estilo "Vídeos
Incríveis" de acidentes, monstruosidades e coisas do gênero)”.
“Eu acho que é legal deixar registrado aqui, a dificuldade em se encontrar trabalhos
artísticos de modo geral e principalmente de modo específico, pois tenho alguma dificuldade
em encontrar videoclipes e trabalhos de vídeo-arte”.
“Quer dizer, encontrar até encontro, mas em geral por acidente ou fora do contexto
desejado. Bem... espero que ajude”.
O Orkut
Nos últimos dois anos, adolescentes e muitos adultos não falam de outra coisa que não
seja Orkut. Virou uma febre. É verdade que vários outros programas de bate-papo levaram
milhares de pessoas a ficar horas e horas diante do computador, mas o Orkut superou a todos.
Trata-se essencialmente de uma rede social, voltada portanto a relacionamentos entre pessoas.
O Brasil é, de longe, o país com o maior número de usuários, superando, inclusive, os Estados
Unidos (Telles, op.cit., p. 99).
Uma das características do Orkut é que ele é acessado basicamente por jovens.
Segundo o livro citado acima, “aproximadamente 58,47% são pessoas entre 18 e 25 anos”. A
informação pode ser questionada, uma vez que muitos falseiam a idade para acessar o
programa.
Cada usuário do Orkut possui uma conta e um perfil e pode criar uma conta aquele
que é convidado por um membro da rede. No perfil, constam algumas características pessoais
do usuário tais como: foto, estado civil, religião, descrição física, lista de livros e músicas de
sua preferência, álbum de fotos, um texto de apresentação, etc. Além disso, cada usuário pode
inserir no sistema, como seus “amigos”, outros usuários. Nesse aspecto, o Orkut é um grande
banco de dados sobre quem é amigo de quem, ou seja, sobre rede de amizades.
Cada pessoa no Orkut tem um perfil dividido em três partes: social, pessoal e
profissional. O perfil social ou geral tem características como idade, gostos, livros preferidos,
programas de TV, filmes, entre outras coisas. O profissional informa qual é a principal
ocupação da pessoa, fornecendo dados sobre carreira e escolaridade. O pessoal apresenta
75
informações físicas e sobre o tipo de pessoa que o inscrito gostaria de se relacionar ou até
mesmo namorar.
Cada usuário tem um grupo de amigos. O usuário pode classificá-los como:
desconhecidos, conhecidos, amigos, bons amigos e melhores amigos. Cada amigo tem outro
amigo e dessa maneira cada usuário do Orkut é ligado de algum modo com todas as pessoas
por meio desta rede social.
O Orkut é feito também de comunidades virtuais, formadas por grupos de pessoas que
dispõem de uma página exclusiva da comunidade para iniciar tópicos de discussão. Muitas
pessoas apenas entram nas comunidades porque acham o nome ou a proposta interessante ou
porque a comunidade representa um aspecto de sua personalidade. As pessoas podem entrar
em comunidades, que podem funcionar como fóruns de interesses comuns. Por exemplo, se
alguém gosta de capoeira, pode entrar em uma comunidade intitulada “Eu amo capoeira”.
Outras pessoas podem participar desta comunidade também e, assim, poderão discutir
qualquer assunto, geralmente relacionado ao tema. Nas comunidades, existem duas áreas de
interação: o rum e os eventos. O fórum funciona por meio de tópicos. Uma pessoa elabora
um assunto, com um título e um texto, e permite que outros possam lê-lo e deixar alguma
mensagem. É possível conversar no Orkut, porém, não de forma instantânea. Os eventos são
explanações fixas, que normalmente comunicam algum acontecimento. Na maioria dos casos,
os eventos são utilizados para fazer os spams, aquelas mensagens eletrônicas irrelevantes ou
de propaganda de alguma coisa como “fique rico trabalhando em casa” ou “festa em tal bar”
(Telles, 2006, p. 105).
Uma comunidade virtual é aquela que estabelece relações num espaço virtual, pela
utilização de meios de comunicação à distância. Também é um agrupamento de indivíduos
com interesses comuns, que trocam experiências e informações em ambiente virtual, como,
por exemplo, jornalistas e seus leitores. Cada comunidade possui um moderador que pode
autorizar ou não a entrada de um novo usuário, considerando se seu perfil se coaduna com o
resto do grupo, isto no caso de se tratar de comunidade “fechada”. Numa comunidade aberta,
qualquer um pode entrar.
Quando algum membro comete algum ato impróprio na comunidade, ele também pode
ser banido pelo moderador temporária ou infinitamente. A grande maioria das comunidades
não possui moderador, pois, geralmente, um moderador não é capaz de dar conta de tantos
spams e tópicos, que não renderão qualquer tipo de troca de informações entre a comunidade.
76
Instrumento para fazer amizades ou não, o fato é que o serviço da Google é motivo de
discussões acerca da sua capacidade de estreitar laços de relacionamento ou isolar as pessoas
em seu próprio mundo.
Todos os vinte jovens entrevistados acessam o Orkut diariamente, pois a página
possibilita um meio de relacionamento entre amigos que estejam ou não nos lugares. Por
intermédio do Orkut, por exemplo, descobre-se com quem a pessoa se relaciona, quais lugares
frequenta diariamente ou em um único dia. Consegue-se mapear e definir e mapear como é a
vida dos outros usuários. São comuns confidências feitas, com o estratagema de testemunhos
secretos: e a pessoa que contou e a que recebeu a confidência têm acesso ao que foi
confidenciado. É possível deixar recados para que todo mundo veja. Pelo Orkut, podemos
identificar brigas entre namorados e amigos. Se quisermos descobrir alguma coisa sobre o
outro, basta acessar sua página. No fundo, o sistema de relacionamentos é capaz de controlar
nossa vida de forma quase absoluta. Fica-se exposto não somente pelas mensagens deixadas,
mas também pelas fotos que acabam sendo compartilhadas por muita gente. Pessoas que
nunca havíamos visto antes e tampouco conhecíamos. Somos capazes de encontrar essas
pessoas na rua, identificá-las e saber de suas vidas: se passaram no vestibular, se foram bem-
sucedidas no teste da auto-escola. Pelas respostas que obtivemos para esta pesquisa, é possível
constatar que os jovens, por exemplo são os que mais adoram “fuxicar” a vida de seus
próprios amigos.E fazem um controle diário das pessoas que têm interesse.
Os meios de comunicação têm sido pródigos em manchetes sobre conflitos entre
usuários do Orkut e a Google. Além do aumento do número de denúncias de pedofilia e
racismo, crescem também os casos que envolvem agressões e utilização indevida de dados.
Por se tratar de um tipo de relação nova, os aspectos jurídicos ainda dependem de
consolidação.
Com tantas facilidades proporcionadas pela internet, riscos até mesmo quando se
usa o caixa eletrônico de um banco. Isto sem falar na clonagem de cartões de crédito ou de
páginas (perfis) do Orkut. Mas a segurança deve começar de onde se faz o acesso. Sendo
assim, todo cuidado é pouco. A qualquer hora ou lugar podemos ser alvo de espiões e isto não
se aplica apenas ao Orkut.
A título de exemplificar e corroborar o que se comentou até aqui a respeito do site de
relacionamentos Orkut, achamos por bem reproduzir algumas das mensagens que nos
chegaram como resposta à pergunta “Qual é a importância do Orkut na sua vida”, feita na
própria página que temos no Orkut. A pergunta vinha acompanhada de uma mensagem
também reproduzida logo abaixo.
77
Optamos por transcrever os comentários do mesmo jeito que foram postados no Orkut,
por entender que, caso algo fosse modificado (incluído o formato), perderíamos o todo da
mensagem, para nossa análise.
Houve cinquenta e três respostas, em uma semana. A maioria das respostas foi de
jovens do sexo feminino e masculino, com idades entre dezessete e vinte anos.
Selecionamos as respostas consideradas que evidenciaram o objeto deste estudo.
PERGUNTA INICIAL E MENSAGEM:
Qual a importância do Orkut na sua vida? “Estou precisando que um grande número
de pessoas respondam a esta pergunta, para uma tese de doutorado, que trata da importância
do Orkut na vida dos jovens hoje em dia. Quem puder, dê uma força. Muito obrigado!”
ALGUMAS DAS RESPOSTAS OBTIDAS:
“Nossa, o orkut pra mim é tudo, todos os dias antes de qualquer coisa abro meu orkut ,
ñ consigo ficar um dia se quer sem ver meus recadinhos. so apaixonada mesmo! eu e o orkut=
amor eterno. bjux*”
“12:12h, estao pensando em mim -)”
“O amore da minha vida. Nem viveria sem ele.!!!”
“ficar vendo bleach !?!?!?
“Pra mim o orkut é importante pra eu encontrar amigos antigos, ou manter sempre
contato com os amigos. Facilita muito! E uma coisa é fato: o orkut é um vício. Uma vez a
pessoa tendo orkut é muito difícil conseguir se livrar dele... Principalmente por saber que hoje
quase todo mundo tem orkut, ninguém quer ficar de fora, quer ter também. Tento não dar
importância além da conta pro orkut, mas sei que muitas pessoas estão tão viciadas que não
conseguem passar um dia sem ver se tem algum scrap no orkut. Pessoas que tiram foto
pensando no orkut. Ás vezes eu penso no orkut também quando tiro fotos. E várias vezes
durante o dia a gente acaba lembrando de comunidades do orkut com certas situações que
78
acontecem com a gente... então acho que o orkut ocupou um espaço absurdo na vida dos
brasileiros, é impressionante”
“O orkut parece uma coisa superflua, mas não quando nos sentimos distante de
alguem, ou alguem que gostamos muito e está longe!! O Orkut passou a ser meu diário do
qual sempre escrevo com muito carinho tudo aquilo que estou sentindo no momento, e
transmitindo todo meu carinho para as pessoas das quais eu não posso veê-las diariamente...
Nem precisa dizer o quanto significa pra mim não é??
“AMIGOS... PARA MIM A IMPORTANCIA E REENCONTRAR MEUS
AMIGOS...APENAS ISSO...NAO E BEM UM VICIO MAS PR MIM UM PASSA
TEMPO....”
“Eu não sei fica sem fakes x.x”.
“Acho que é uma forma de se relacionar com muitas pessoas sem a chatice e
obrigações de uma vida social ‘real’ ”.
79
CAPÍTULO IV – A ILHA DA FANTASIA
"A cidade e o urbano não podem ser compreendidos sem as
instituições oriundas das relações de classe e propriedade"
Lefebvre, 1991.
4.1 A cidade: um antigo e tradicional espaço humano
No capítulo anterior, foram abordados conceitos e usos de espaços. Neste capítulo
vamos, ainda, de certa forma, tratar do tema. Ora, a cidade é espaço de luta, lazer, poder,
segregação, culturas, inadequação, insegurança, violência, história, memória. A lista é
praticamente interminável. Isto porque é a cidade o espaço definido, determinado e
urbanizado pelo homem para viver, criar os filhos, fazer política, fazer negócios, entre outros.
É o lugar que escolheu para experimentar sensações, desde que deixou seu estado de natureza
e estabeleceu um pacto de convívio com o outro. A cidade é espaço central que atrai a todos
pelas mais variadas razões. A cidade só é cidade porque recebeu o sopro da vida humana.
Na cidade do passado, pontes levadiças, calabouços e enormes portais inibiam o
estrangeiro, considerado quase um inimigo. Nas cidades contemporâneas, acessa-se a internet,
abertas que estão a todo um mundo virtual por onde tudo e todos podem entrar. Mas esta
mesma cidade, tal qual sua congênere de ontem, é capaz de se fechar para quem está logo ali
ao lado, se considerado um não-igual-a-mim. No fundo, as duas se parecem. Com seus
espaços nem sempre fraternos e nem sempre palpáveis de convívio.
“A cidade é uma obra coletiva que desafia a natureza” (Rolnik, 2004, p.8), pois a
cidade é espaço criado, ordenado pelo homem. Por isso, para pensarmos em cidade, temos de
levar em conta o domínio do homem sobre a natureza, que passa a ser seu território, com a
saída desse homem de seu estado de natureza. É na cidade que está contida uma organização
da vida social, de que os indivíduos e a produção destes fariam parte. Seriam, eles, então,
cidadãos, pois cidadão, em seu sentido original, quer dizer “homem livre em sua cidade”
(Novaes et al, 2003,p.91). Cidadão, aquele que possui um espaço concreto, para exercer sua
cidadania, um direito político, portanto. Daí, a polis aristotélica, espaço público de encontro
entre cidadãos. Cidades com suas topografia e arquitetura singulares são caldo de cultura,
lugar de memória, e de poder (e por isso mesmo, meio social e político, que nos propiciam
compor um retrato crítico de qualquer sociedade).
80
A cidade de outras eras era caracterizada por ser fechada e vigiada para defender-se de
inimigos que pudessem vi-la atacar. Embora longo, vale a pena ler o que escreve o historiador
Jean Delumeau, a respeito das imensas dificuldades de se entrar em uma cidade européia de
antanho:
No século XVI, não se entra facilmente à noite em Augsburgo. Montaigne,
que visita a cidade em 1580, maravilha-se diante da ‘porta falsa’, que, graças
a dois guardas, controla os viajantes que chegam depois do pôr-do-sol. (...) O
visitante transpõe uma ponte coberta situada acima do fosso da cidade e
chega a uma pequena praça onde declina sua identidade e indica o endereço
onde ficará alojado. O guarda, com um toque de sineta, adverte então um
companheiro, que aciona uma mola situada numa galeria próxima ao seu
quarto. Essa mola abre, primeiro uma barreira de ferro, depois uma grande
roda comanda a ponte levadiça. Para além da ponte levadiça, abre-se uma
grande porta reforçada com várias lâminas de ferro. Através dela, o visitante
tem acesso a uma sala, onde fica encerrado, só, e sem luz
(Delumeau,
1990, p.11).
A descrição dos obstáculos pelos quais passa o visitante termina com o depósito de
determinada taxa, para custear suas entradas e estada na cidade. Paga-se uma taxa, um
ingresso, para entrar. Tal qual a cidadela espacial Orkut, em que o ingresso, a taxa de entrada
é um “nada a opor” de quem já é “cidadão”.
Não estaríamos, então, tratando, no fundo, tão somente do compartilhamento e da
ocupação de diferentes espaços, por diferentes pessoas (cidadãos livres nos muitos espaços de
suas cidades)? Mas voltemos a polis grega. Por enquanto.
A cidade-estado grega a polis era o espaço físico que melhor expressava a
dimensão política do urbano. Em termos gerais, a polis dividia-se em duas: a acrópole e a
cidade baixa, um grande local aberto de reunião, ágora. Era a ágora que os gregos
consideravam o espaço consagrado à prática política.
Saltando-se para Roma, descobre-se que predominava um tipo de entendimento e
prática semelhante à dos cidadãos gregos. Os romanos chamavam civitas às cidades e, por
extensão, “cidadania”, no sentido da participação do cidadão na vida pública: participação
política, bem entendido. Ser cidadão era poder participar da vida política da cidade. Um
fórum foi então criado, em Roma. O fórum romano era onde pulsava o coração da vida
pública. Era onde as pessoas se reuniam para comprar, conversar, cultuar deuses, viver sua
civitas.
As cidades antigas eram espaço central de poder, poder que centralizavam. Nem
poderia ser diferente. O poder está onde está qualquer embrião de Estado organizado por um
sistema político. O que sabemos é que a cidade está intrinsecamente ligada à organização do
81
território e sua relação com a política. “Ser habitante de cidade significa participar de alguma
forma da vida pública” (Rolnik, 2004, p.21).
Mas será que, atualmente, as cidades representariam os únicos centros de poder?
O fluxo contínuo de informações que temos, a instantaneidade das informações e das
imagens geradas no computador com velocidade acentuada “permitem a existência de
sistemas de controle organizados em estruturas fortemente centralizadas e hierarquizadas, sem
que isso implique necessariamente concentração espacial” (idem, p.24).
O poder estaria se pulverizando, então, em outros espaços e meios? A nosso ver, este
processo, na verdade, seria como um controle de poder dissimulado, menos visível do que o
de antigamente, causando uma falsa sensação de total e completa liberdade, liberdade que os
cidadãos na realidade não têm, pois o sentido de liberdade calcado na cidadania não é
exercido por todos, no que tange ao acesso a outros direitos, como a democratização do
acesso à saúde, por exemplo.
Quando pensamos em cidades, pensamos em grandes centros urbanos nos quais
acorrem aglomerações de pessoas “que intensificam as possibilidades de troca e colaboração
entre os homens” (idem, p.25).
Cidades: centros de mercadorias
Diferentemente das cidades contemporâneas, as cidades antigas geravam seus
produtos para uso próprio, para as necessidades de seus habitantes. “A cidade, ao aglomerar
num espaço limitado, uma numerosa população cria o mercado” (idem, p.26). Num primeiro
momento, os mercados urbanos eram somente locais, circunscritos às cercanias de uma
cidade. Este modelo, porém, deixa de existir, à medida que impérios o se formando no
curso da História. Pequenos povoados e cidades transformam-se e conglomerados urbanos,
passando a produzir trocas de mercadorias entre seus habitantes, expandindo seus mercados.
Forma-se, então, a chamada economia urbana. Um exemplo disso foi a criação do fórum
romano, descrita acima.
Na cidade contemporânea impera hegemonicamente o modelo capitalista, gestado na
Revolução Industrial, em que o excedente da produção é transformado em excesso de
consumo. A cidade está voltada para o mercado e “... é possível dizer que hoje o mercado
domina a cidade.” (Rolnik, 2004, p.29).
Fluxos de mercadorias, pessoas em constante circulação: a cidade contemporânea se
estende e não limites estabelecidos, pois ela não está circunscrita em instância alguma e a
82
tendência seria de expansão e circulação. De acordo com Rolnik em seu livro “O que é
cidade”: “A cidade contemporânea se caracteriza pela velocidade da circulação. São fluxos de
mercadorias, pessoas e capital em ritmo cada vez mais acelerado, rompendo barreiras,
subjugando territórios” (idem, p.9).
Arquitetura
O espaço urbano traz em si suas transformações e consequências. Por intermédio da
arquitetura, pode-se contar uma história que guarda seus registros, como os prédios e
estruturas de uma natureza fabricada, “que têm esse dom de durar, permanecer, legar ao
tempo os vestígios de sua existência. A cidade é um registro, uma escrita, materialização de
sua própria história” (ibidem).
No Rio de Janeiro, por exemplo, o centro histórico é representado e conhecido pelas
construções dos tempos do Império e da República Velha e cuja arquitetura foi preservada.
Nossa cidade foi sede da Corte e depois capital republicana, apresentando-se sempre como
centro de poder e de decisão política e econômica. Não por acaso, era o lugar onde circulava a
alta camada da sociedade. Com a transferência da capital para Brasília e, mais tarde, a fusão
com o Estado da Guanabara, o Rio deixou de ser espaço de decisões que iriam se irradiar por
todo o país. Curiosamente, dois episódios de transferências de espaço de poder político foram
responsáveis por tal perda.
Nossa cidade sobreviveu às perdas de poder, principalmente, graças a seu pendor
cultural e turístico. Foram construídos restaurantes, bares, áreas de lazer e de cultura,
gastronomia, hospedagem. Da mesma forma, criaram-se bairros novos, de apenas trinta anos,
como é o caso da Barra da Tijuca, localidade da qual trataremos mais detalhadamente ainda
neste capítulo, e que hoje abriga uma parcela da classe média alta da cidade. Na região, está
espelhada uma arquitetura nova, inspirada em grandes condomínios, como os dos Estados
Unidos da América. “O desenho das ruas e das casas das praças, além de conter a experiência
daqueles que os construíam, denota o seu mundo” (idem, p.17).
4.2 Segregação urbana
Nas cidades contemporâneas fica evidenciado que os territórios são diferenciados,
divididos em bairros que refletem o poder aquisitivo de determinada classe social. Quando se
menciona a Zona Sul do Rio de Janeiro ou a Baixada Fluminense, sabe-se que são locais
83
totalmente diferentes. “É como se a cidade fosse um imenso quebra-cabeças, feito de peças
diferenciadas, onde cada qual conhece seu lugar e se sente estrangeiro nos demais” (Rolnik,
op.cit., p.40).
A cidade fica demarcada por fronteiras invisíveis, que definem o lugar de cada coisa e
indivíduo. Estas fronteiras podem ser demarcadas por qualquer ponto. Na verdade, elas se
distinguem por si só. No Rio de Janeiro, a região da orla, por exemplo, é uma área
determinante de demarcação. A própria localização espacial e a beleza do lugar determinam
os pontos onde as classes estão divididas.
Outras formas de segregação são os condomínios fechados, que também serão tratados
mais à frente neste trabalho. Dentro dessas cidades, uma população que se protege
intramuros, fechando espaços públicos, transformados, sem qualquer pudor, em espaços de
uso privado, sob a alegação da falta de segurança que campeia nos grandes centros urbanos. A
mesma alegação serve como justificativa para se exercer controle rígido sobre quem pode ou
não entrar nos condomínios. Todo este aparato de segurança nos faz lembrar das cidades
antigas, que eram protegidas por altos e grossos muros, contra seus inimigos externos e nos
remete, de imédiato, àquela descrita por Delumeau.
Outro ponto importante a ressaltar é que a própria administração local - pública - cuida
desses espaços de forma diferenciada - quase privada - privilegiando, de modo geral, os
bairros nobres da cidade. “A segregação espacial começa a ficar mais evidente à medida que
avança a mercantilização da sociedade e se organiza o Estado Moderno (idem, p.47).
A segregação que vemos nos condomínios, direcionada àqueles que não são habitantes
do espaço daquela cidade, não é novidade no Brasil. Vamos tratar, a seguir, de outros
episódios de segregação nestes mesmos moldes.
No Brasil, quando ainda colônia de Portugal, este movimento de segregação surge no
Rio de Janeiro: no bairro de São Cristóvão, com a chegada da Família Real, e sua mudança
para o Paço do local: a então melhor residência do bairro, com padrões de qualidade à altura
de suas Majestades, vindas corridas por Napoleão. Logo surgiria ao redor de São Cristóvão e
do Palácio dos Vice-Reis, na Praça XV, um mobiliário urbano que comporia o cenário da
cidade na metade do século XIX. A elite por ali fincou pé, e atraiu o estabelecimento do
comércio, bem fornido pelo surgimento de uma zona portuária.
Outro fator determinante da segregação nas cidades brasileiras foi a abolição da
escravidão e a expansão do trabalho livre. Sem ter para onde ir, os negros libertos subiram
para morros e subúrbios, onde fizeram seus casebres, esquecidos do poder público. De acordo
com Rolnik, “é interessante observar que se a segregação se impõe ao nível da constituição de
84
territórios separados para cada grupo social, é também sob seu império que se reorganiza o
espaço de moradia” (Rolnik, op.cit., p.49).
Houve também uma modificação e uma redefinição das relações do espaço dentro das
famílias e suas casas. No Rio de Janeiro, em Copacabana, houve uma redistribuição das casas
distantes das ruas, uma compartimentalização dentro das próprias casas com salas e quartos
separados “A vida social burguesa se retira da rua para se organizar à parte,em um meio
homogêneo de famílias iguais a ela” (ibidem).
Este momento é demarcado como uma redefinição de noção de espaço privado e
público, que reflete uma arquitetura de isolamento.
Para a classe de alto poder aquisitivo, qualquer proximidade do território popular
representa um risco. Por isso, o processo de segregação é tão comum. Cria a possibilidade de
organizar um território popular, localizado o mais distante possível, para não oferecer
qualquer risco à segurança daquela classe de abastados. A segregação territorial dos que não
pertencem à mesma estirpe, ao mesmo espaço, ao mesmo território de alta classe se reflete
tanto na economia, quanto na política, a partir dessa geopolítica de reorganização espacial,
que segrega o não-igual-a-mim, pois “(...) quem tem dinheiro se apodera de amplos setores da
cidade, quem não tem precisa dividir um espaço pequeno com muitos” (idem, p.52).
E segregação produz, mais cedo ou mais tarde, conflito social. No caso específico do
Rio de Janeiro, este tipo de conflito é visto em toda a cidade. Coabitam, nos mesmos bairros,
favelas e condomínios ou prédios de luxo. No Leblon, bairro da Zona Sul, uma das regiões
mais ricas da cidade, por exemplo, favelas contrastando com o shopping do bairro, tido
como o shopping mais moderno do Rio. Ricos e pobres convivem num mesmo bairro. Em
São Conrado também se observa fenômeno semelhante: é considerado um dos bairros mais
valorizados da cidade, onde se paga um dos IPTUs mais altos pelos imóveis cobiçadíssimos,
quase colados à maior favela da América Latina: a Rocinha.
A heterogeneidade e a segregação da cidade fazem do território popular uma
região explosiva: a história da cidade é marcada pela violência. A violência
está, antes de mais nada, na espoliação urbana, na existência de um ambiente
urbano. A criminalidade é expressão clara da cidade dividida; na tensão
permanente em que vivemos na cidade (Rolnik, op.cit., p.82).
Na Barra da Tijuca, se formaram minifavelas, embora ainda não tão visíveis, o que
torna o bairro mais procurado exatamente por aparentar ser o mais seguro da cidade: o espaço
da segurança. Pelo menos é isso que pensam os vinte adolescentes entrevistados. Os
entrevistados firmam que um dos pontos fortes da Barra está em ser um lugar mais seguro
85
para morar, com menor índice de violência. Os entrevistados também citaram como
responsável pela segurança o reduzido comércio de rua, substituído pelos shoppings centers,
mais seguros, diminuindo-se, assim, a circulação de pessoas nas ruas.
A ocupação do território urbano foi determinada pela lógica capitalista, com a
anuência do Estado. O bairro da Barra é também um exemplo disto. As ruas, espaço público,
foram substituídas pelos shoppings, espaços privados, num microcosmo mercadológico. A
cidade é o macrocosmo. Não por acaso hoje considerada espaço de circulação de mercadorias,
tem a valorização de seus espaços atrelada a investimentos públicos e privados, dependentes
dos valores cotados pelo mercado imobiliário. Torna-se um espaço de balcão de negócios: os
chamados bens e serviços a usufruir/consumir.
Nestas cidades contemporâneas hoje encontramos a abolição do ambiente-natureza,
com o controle artificial do território. A alteração das medidas de tempoo é mais adequada
aos ritmos da natureza, haja vista o horário de verão, adotado para que liguemos mais tarde
todas as nossas complexas engenhocas tecnológicas que precisam de energia para funcionar.
Não existem mais as estações do ano: o consumidor tem o clima que quer. Frio glacial
prontamente fornecido pelos condicionadores de ar, no verão. Aconchegantes aquecedores, no
inverno. Não existe mais dia ou noite e a informatização gera a eliminação da noção de
espaço e de distância.
A cidade está envolvida em todo o seu universo urbano, por um movimento de
reforma. Reforma do espaço, dos usos e dos hábitos. Com a intensificação do crescimento
urbano, a cidade e as formas de vida urbana apresentam velhos e novos problemas, exigindo
novas soluções. A reforma do espaço público urbano deve, assim, ser entendida como uma
peça num amplo processo de reforma do fenômeno urbano. Para o bairro da Barra da Tijuca,
nosso micro-universo de pesquisa, uma nova forma de organização do espaço foi proposta
como projeto arquitetônico, com o claro objetivo de que o crescimento urbano deveria se dar
forma sustentável, aliado à preservação ambiental. Por intermédio do controle da expansão
urbana, pretendia-se preservar a geografia do lugar, suas belezas naturais, como as praias, as
dunas, restingas e lagoas, que essa seria uma das últimas áreas disponíveis para onde a
cidade poderia se expandir. Não foi o que aconteceu. E as lagoas logo, logo foram inundadas
de dejetos.
Tal fracasso do ponto de vista socioambiental não teria ocorrido na Barra e em outras
cidades consideradas contemporâneas por estarem organizadas em torno do consumo,
voltando-se, sobretudo, para uma tentativa de neutralizar as tensões da vida urbana, dando ao
item segurança prioridade máxima? De acordo com o geógrafo e professor de Geografia
86
Álvaro Henrique de Souza Ferreira em seu artigo “Conflitos no espaço urbano: Labirinto e
Dialética” (2008):
Percebemos o espaço, também, como a história de como os homens, ao
produzirem sua existência, o fazem como espaço da produção, da circulação,
da troca, do consumo, da vida. Logo, convém-nos admitir que cada vez mais
o espaço urbano, a partir da subordinação acelerada da apropriação e das
maneiras de uso ao mercado, é destinado à troca. (...). O espaço torna-se
cada vez mais o meio de reprodução das relações sociais; sendo
hierarquizado, objeto de investimentos públicos e privados, reserva de valor
ou mesmo deixado ao acaso e abandonado
4
.
O arquiteto Cardoso (1988), por sua vez, em sua dissertação de mestrado “Construindo
a utopia: urbanismo e modernidade no Brasil” analisa que a Barra da Tijuca “é uma
intervenção sobre o urbano, segundo as lógicas e as necessidades da classe dominante”. O
bairro, segundo ele, expressa “ora através da adequação, as novas formas de consumo, ora na
articulação do organismo de planejamento com os interesses imobiliários, ora, ainda, na
destinação elitista do espaço sob intervenção”.
A arquiteta Ghirardo é de opinião semelhante e vai um pouco mais além, ao afirmar
que “o espaço público que, otimisticamente, é tido como espaço aberto a todos, tem sido, na
verdade, palco de práticas excludentes por questões de raça, classe social”. É inegável que
cada vez mais o espaço público está sendo privatizado, de acordo com as necessidades de uma
camada específica da população. Em seu livro Arquitetura contemporânea, ela diz:
O que podemos chamar de espaço publico é deixado cada vez mais para os
pobres marginalizados, conceituado como área incontrolável e
potencialmente perigosa, enquanto um tipo elitista e segregado do espaço
público tomou forma para as classes mais privilegiadas (Ghirardo, 2002,
p.122).
Dos comentários de ambos os autores, surge uma indagação, acompanhada pelas
observações de dois outros autores: será que o desejo “comum às teorias urbanas pós-
modernas, de recuperar a riqueza simbólica das formas urbanas tradicionais, baseadas na
maior variedade possível de articulações feitas entre tecido urbano, espaços blicos e
construções” vem sendo atendido? (Santos & Del Rio, 1998, p.8).
Num denso e esclarecedor artigo, tendo como título “O Processo Urbano
Contemporâneo de Privatização do Espaço Público”, Natália Miranda Vieira (2003), na
introdução, afirma que “não é necessário fazer muito esforço para que se perceba a crescente
4
Disponível em: www.ub.es/geocrit/sn/sn-270/sn-270-97.htm. Acesso em: Jan/2009.
87
privatização dos espaços públicos em todos os âmbitos da sociedade contemporânea”. A
autora prossegue seu raciocínio sustentando-se numa série de estudos de consagrados mestres
a respeito, afim de para ampliar e enriquecer o entendimento e a conscientização sobre esse
fenômeno de transformação urbanística físico-social, do público, em privado. De acordo com
Ellin: “O declínio da esfera pública permitiu que o mercado aumentasse a sua influência,
enquanto que a incursão do mercado em nossas vidas contribuiu para o eclipse da esfera
pública” (Ellin, 1996, p.105).
Assim sendo, modificam-se os espaços tradicionais, afastando-se, do centro, o coração
financeiro da cidade, transferindo-se empresas para outras regiões, como foi o caso da Bolsa
de Valores do Rio, fechada e substituída pela de São Paulo. A classe alta, com a justificativa
de se proteger, isola-se em locais que, na verdade, deveriam ser públicos, como parques, ruas,
locais de lazer ou transporte urbano, fechados e submetidos a um plano de uso interditado ao
uso de todos, isto é, público. Diz-nos Mike Davis: “os espaços acabam sendo ‘desvalorizados’
enquanto bem-estar social e redefinidos como problemas de planejamento, que deveriam ser
eliminados ou privatizados” (Davis, 1989, p. 96).
Para explicar este fenômeno Mike Davis utiliza como exemplo uma construção
desenhada John Portman: “Portman apenas construiu grandes ‘viveiros’ para a classe média
alta, protegidos por sistemas de segurança surpreendentemente complexos. Por fora, vastas
superfícies espelhadas refletem não apenas a miséria da grande cidade, mas também sua
vibração irrepreensível e sua luta por autenticidade” (Davis, op.cit., p. 97). Arquiteto de uma
Paris com largas avenidas e praças, demolidor da Paris das ruas medievais sujas e apinhadas
de pobres, mandando-os para subúrbios. No lugar, construiu grandes mansões e demais
grandezas arquitetônicas.
Outro escritor que estuda o fenômeno da privatização do público, para morada das
classes mais abastadas é Manuel Castells. A essa análise, o autor acena com o impacto das
novas tecnologias no contexto do espaço da cidade. Em seu livro A questão urbana (1976),
Castells analisa a implementação de arquitetônicos, a partir de um viés social, pelo fenômeno
urbano. Em outra etapa de seu estudo, o autor adentra pela análise do impacto das novas
tecnologias que irão revolucionar o contexto urbano, com a obra As tecnópolis do mundo
(1994), escrita em colaboração com o geógrafo Peter Hall. No livro, estuda a renovação
industrial das grandes cidades, baseado nas concepções arquitetônicas de Haussmann da
construção de grandes avenidas e parques, transpostas para centros e parques tecnológicos.
Em A cidade informacional (1995), Castells, decide escrever sobre papel destas novas
tecnologias da informação no desenvolvimento de uma nova forma de economia (“o espaço
88
dos fluxos”). Em Local e global (1997), de autoria conjunta com o geógrafo Jordi Borja,
incide na importância da gestão local em um desenvolvimento urbano da era da globalização.
Outro autor que segue linha semelhante é Debord. O autor analisa esta
pseudocoletividade atual, globalizada, em que vivemos isolados em conjunto’. Todos juntos
e sozinhos: seja dentro das fábricas, de centros culturais, de clubes de férias ou, ainda, dentro
da segurança de nossos condomínios fechados e shopping centers (Debord, 1997, p.114).
No que concerne a esse isolamento provocado, Angelo Serpa, doutor em Planejamento
Paisagístico Ambiental, observa como somos prisioneiros do ego numa sociedade onde o
individual se sobrepõe ao coletivo (Serpa, A., 1998, p. 39).
As diferenças comportamentais de classes corroboram esta afirmação. Nos bairros de
classe alta, onde é alto o poder aquisitivo, as relações costumam ser muito seletivas. É mais
difícil se observar qualquer oferecimento ou mesmo um pedido de ajuda. nos bairros mais
humildes, costuma ocorrer o contrário. Observam-se maior solidariedade e disposição de
ajuda entre os vizinhos. Contudo, a privatização do espaço público é um processo que
independe da diferença entre bairros e classes. O que constatamos é um movimento geral de
isolamento indiscriminado. (idem, p.40).
Ellin, em seu livro Postmodern Urbanism, de 1996, observa que “o triunfo da
sociedade de consumo é o triunfo dos objetivos particulares sobre os objetivos públicos”.
Pode-se intuir que, atualmente, a privacidade e a individualidade se sobrepõem ao
coletivo. O espaço público tradicional está cada vez mais relegado a um segundo plano,
trocado que foi pela suposta sensação de segurança e isolamento das tensões e da violência
urbana. Tal idéia pode produzir um efeito tranquilizador, de que tudo está em harmonia, para
esta sociedade pós-moderna e para as classes mais abastadas, em especial, porque se auto-
segregam em um novo tipo de espaço que pode aser público, mas funciona como privado,
moldado que foi para atender às necessidades somente daqueles que dele podem usufruir.
Veja-se o caso de escolas públicas que funcionam dentro de luxuosos condomínios e
privatizam as vagas somente para os empregados que servem aos moradores. A população
extramuros nem mesmo sabe que ali dentro daquela cidadela funciona uma escola pública.
Mas ali dentro é “muito mais seguro de estudar”, costumam argumentar os próprios pais
empregados no condomínio, felizes com a privatização.
89
4.3 Cidades-shopping e o fenômeno da “disneyficação”
Alguns fenômenos resultantes deste processo generalizado de privatização do espaço
público são a disneyficação, as comunidades fechadas e o neo-urbanismo. De acordo com
Sharon Zukin, socióloga do Brooklin College e da City University of New York:
Percebemos que algo mudou na maneira como organizamos o que vemos: o
consumo visual do espaço e do tempo, que está ao mesmo tempo acelerado e
abstraído da gica da produção industrial, obriga a dissolução das
identidades espaciais tradicionais e a sua reconstituição sobre novas bases
(Zukin, 1996, p.81).
Zukin aponta para um nova realidade da pós-modernidade, em que as mudanças dos
conceitos tradicionais de espaço e tempo se liquefazem. Ela observa: “o processo social de
construção de uma paisagem pós-moderna depende da fragmentação econômica das antigas
solidariedades urbanas e da reintegração que é fortemente matizada pelas novas formas de
apropriação cultural” (ibidem). Prossegue a autora: “a genialidade dos investidores
imobiliários neste contexto, consiste em inverter a narrativa da cidade moderna, tornando-a
um nexo fictício, uma imagem que uma larga faixa da população pode comprar, um panorama
onírico de consumo visual” (ibidem).
De acordo com Zukin, uma paisagem urbana pós-moderna não apenas mapeia cultura
e poder, mas sim as forças econômicas. Mapeia também a oposição entre mercado (forças
econômicas que desvinculam as pessoas das instituições sociais estabelecidas) e lugar (formas
espaciais que as ancoram no mundo social, proporcionando a base para uma identidade
estável) (Zukin, op.cit., p.83). Como diz a autora, este processo de mapeamento nos faz
entender a nova paisagem urbana. A partir desse conceito, surgem, então, projetos ex-urbanos
no sentido de criar uma nova cidade com um modelo baseado no mercado de consumo. Dessa
maneira a paisagem pós-moderna toma a forma do Disneyworld, na Flórida. Zukin diz:
O conjunto de temas que representam, sua importância visível em uma
cultura global comum (orientada para o consumo), e a visível destruição
criadora da paisagem que eles causam sob auspícios privados (leia-se
mercado) fazem do enobrecimento e do Disneyworld os mapeamentos s-
modernos essenciais de cultura e poder (ibidem).
Prossegue Zukin:
90
O paradigma de Henry James, de uma civilização de hotel, e a descrição de
Banham, de uma arquitetura de fantasia, sugerem três elementos de uma
paisagem pós-moderna extra-urbana: é um cenário, uma fantasia particular
compartilhada e um espaço liminar que faz a médiação entre a natureza e o
artifício, mercado e lugar (idem, p.91).
Na verdade, esta paisagem pós-moderna ganha vida real, apesar de ser totalmente
fabricada. São cenários de sonho onde todos os aspectos estão voltados para o consumo.
Dessa forma, há um clima em que aparentemente tudo é perfeito e não existe pobreza,
problemas, insegurança, violência. A sensação que nos causa é a de estarmos num mundo à
parte. Os shoppings-cidade da Barra da Tijuca nos causam sensação semelhante, tal qual a
cidade do Mickey Mouse, a Disney. Dentro deles tem-se a sensação de proteção e segurança,
graças ao cenário fictício, como por exemplo é o caso do shopping Downtown. O Downtown
é um shopping-cidade, onde de tudo um pouco, para se consumir. Pode-se passar o dia
inteiro ali, sem precisar sair, como se fôssemos os moradores daquele cidade-mercado-
fechada, sempre iluminada, sempre segura. Assim são também os condomínios fechados:
ilhas da fantasia de segurança ou, se preferirem, a Disneylândia: um mundo seguro para se
bem viver e brincar e comprar as orelhas do Mickey, os sapatos da Minnie, os sapatos da
Cinderela...
O Disney World produz uma paisagem imaginária coerente, que tem sua
base no consumo visual. Mas duas diferenças se separam os espaços
modernos e sua imagem da paisagem pós-moderna do Disney World: apenas
este consegue criar uma paisagem inteira, coerente, uma paisagem que foi
fundada sobretudo para substituir a realidade social (Zukin, op.cit., p.95).
Vemos como exemplo os artigos de consumo que consequentemente surgem a partir
de um ator ou de um desenho animado, produzindo todo tipo de mercadoria.
O que caracteriza bem a contemporaneidade, no sentido de urbanização pós-moderna,
é esse fenômeno chamado “disneyficação”, que seria a criação de vários cenários com suas
histórias vindas do mundo da fantasia, deslocadas de seus espaços geográficos de origem. O
modelo que Zukin utiliza para explicar esse novo modo de utilização de espaço é o parque
temático da Disney World.
A Disney World e outros parques temáticos que seguem o mesmo modelo são
caracterizados por Zukin como uma “paisagem de sonho”, irreal. Irreal? para quem não
pode pagar. O sonho tornou-se, então, acessível apenas a quem detém o poder econômico para
usufruir desta “aventura pagã”. Este consumo visual configura-se também como um tipo de
supremacia e controle sociais, uma vez que somente as pessoas que podem pagar pela
91
locomoção em direção ao espaço de sonho têm acesso à comunicação destas imagens. “Sem
essa mobilidade, outros moradores estão imersos em uma única perspectiva, a de lugar”
(idem, p. 215). Na concepção do espaço destes parques, de acordo com Zukin:
O planejamento urbano da Disney purifica a paisagem material: é assim que
a Rua principal real deveria ter sido sempre”, afirma um imagenheiro que
trabalha para a Disney World. “O que criamos”, diz outro, “é o realismo da
Disney, uma espécie de utopia na natureza, em que desprogramamos todos
os elementos negativos e indesejáveis e programamos apenas os elementos
positivos (idem, p.92).
A rua principal é constituída exclusivamente por atividades consumistas, carecendo de
atividades industriais, pobreza e principalmente de vida política. Isto acontece para que
problemas políticos e econômicos, que podem gerar reações violentas, não perturbem o clima
de normalidade e perfeição do mundo Disney (Ghirardo, 2002, p.51). A grande inovação
destes parques temáticos em relação às simulações do cinema é que, aqui, esta realidade
efêmera do cinema é concretizada na forma de cidade (Sorkin, 1996).
4.4 Condomínios-shopping ou cidadelas fechadas e a nova reorganização do
espaço
Com o fenômeno da privatização do espaço público e observando esse processo de disneyficação,
constatamos a proliferação de comunidades fechadas, que vão desde condomínios até cidades inteiras, onde a
obsessão por segurança e o desenvolvimento de modos de controle e segregação são requisitos essenciais (Del
Rio, 1997, p.696).
O casal de arquitetos Andrés M. Duany e Elizabeth Plater-Zyberk, considerados os pais do neo-
urbanismo americano são os preconizadores do “urbanismo neotradicional”.
O objetivo deste movimento é a defesa da cidade tradicional, por intermédio da “reafirmação de
conceitos como comunidade, lugar, história, memória, uso misto e qualidade ambiental” (Fernandes, 1998, p.18).
Eles defendem um desenho urbano em um outro tipo de escala, que projete cidades para pessoas e não para
carros. Um outro ponto fundamental no tipo de projeto urbano que esses arquitetos defendem é trazer de volta o
ser humano o cidadão e a razão de ser da cidade para ocupação do espaço, o sentido político que toda
cidade guarda.
Aqui no Brasil, propagandas de venda imóveis em centros comercias e condomínios residenciais
valorizam quesitos como localização privilegiada, total segurança, lazer e ecologia, para atrair compradores. Os
condomínios oferecem diversos espaços e tipos de lazer, como quadras de esportes, parques infantis, piscina e
academias de ginástica. Pode-se consumir dentro do próprio condomínio, já que muitos contam com lojas de
conveniência ou até mesmo pequenos malls (shoppings). Os fortes esquemas de segurança, cada vez mais
avançados, oferecidos por esses empreendimentos, alardeiam uma liberdade vigiada a seus condôminos, que
estes acreditam estar a salvo dos perigos externos. As construtoras desses condomínios apregoam valorizar o
92
meio ambiente, oferecendo a seus moradores uma extensa área verde, longe da poluição e do cinza da cidade,
mas não constroem redes de esgoto tão boas quanto o sistema de segurança. Sabe-se, no entanto, que muitos
destes condomínios despejam esgoto in natura em praias e lagoas.
No mesmo jornal que traz anúncios de vendas de imóveis nestas ilhas de segurança e
fantasia, lêem-se notícias, cada vez mais frequentes, de crimes ocorridos no bairro. Roubos de
carros e quadrilhas especializadas em assaltos a residências mostram que, apesar do alto
investimento em segurança, a Barra da Tijuca sofre com os mesmos problemas de outros
locais da cidade, sendo muitos desses crimes cometidos pelos próprios moradores. Brigas
entre vizinhos ou entre grupos jovens rivais, tráfico de drogas, exploração da prostituição e
discriminação racial ocorrem nas dependências dos condomínios, realçando a antítese entre as
promessas de segurança e lazer e a realidade da Barra da Tijuca.
Shopping centers e condomínios fechados apresentam-se, então, como fenômenos
dessa nova cultura de massa segmentada e, ao mesmo tempo globalizada. Passaram a ser
considerados espaços atrativos, voltados para o consumo e lazer, ambos misturados num
lugar, pois o lazer se torna mercadológico. Ao mesmo tempo estes espaços privados
colaboram para várias mudanças na interpretação e na concepção dos limites entre público e
privado, na esfera do espaço
Ainda sobre espaços públicos tornado privatizados, Canclini tem a nos dizer que “seu
peculiar modo de exercer a cidadania consiste em isolar-se da conflituosidade urbana
médiante a privatização de espaços supervigiados e a restrição da sociabilidade ou dos
encontros indesejáveis” (Canclini, 2003, p.163). Nesta ótica, observamos os sentidos de
público e privado são fornecidos pelo medo, pelo consumo e pelo lazer.
4.5 Barra da Tijuca: histórico e características
Por tudo o que se escreveu até aqui, podemos afirmar que o fenômeno do qual fala
Zukin mais acima, isto é, a fragmentação do processo social de construção de uma paisagem,
aconteceu na Barra da Tijuca, nossa região de análise, bem como a privatização do espaço
público. A intensificação do processo de concentração de renda em curso culminou com a
expansão da parte rica da cidade em direção a São Conrado e à Barra da Tijuca.
O Estado teve importante papel neste processo, pois se associou ao capital imobiliário
e investiu maciçamente para a construção da Auto-Estrada Lagoa-Barra. A parceria público-
privada foi fundamental para a construção do espaço da nova via. Abertura de estradas e ruas,
pavimentação, rede de esgotos, iluminação, enfim toda a infra-estrutura necessária para a
93
formação de um bairro, no caso a Barra, resultou de aporte de capital privado, embora o
Estado tenha sido o maior financiador do projeto, com o investimento de grandes somas de
dinheiro na preparação desse novo eixo de expansão da cidade.
A Barra da Tijuca apresenta uma urbanização totalmente diferente da maioria dos
bairros do Rio de Janeiro, com uma predominância de ruas largas de alta velocidade onde
poucos pedestres e ciclistas. Em alguns pontos da cidade, a urbanização ainda se assemelha à
dos bairros mais tradicionais. Chama-nos atenção, contudo a predominante topografia do
bairro onde pouco ou quase nenhum espaço destinado a ruas e praças. As pessoas
praticamente não circulam pelo bairro, não se encontram na rua. A região se caracterizou pela
construção de duas vias principais a Avenida das Américas, que corta a Barra do início ao
fim, e a Avenida Alvorada (atualmente Avenida Ayrton Senna) – que responsáveis pela
ligação de todo o bairro. O bairro costuma receber críticas relacionadas à sua arquitetura,
ausente do significado da sociabilidade dos espaços de um bairro.
A obsessão por segurança pode ser observada em todo bairro, pois presente no dia-a-
dia dos moradores, na forma de casas individuais e até bairros inteiros, encerrados em
gigantescos condomínios, com a presença de sistemas de segurança de altíssima tecnologia de
ponta e padronização de alto luxo. No Condomínio Santa Mônica Jardins, por exemplo,
estabeleceram-se cinco modelos arquitetônicos de casas. O interessado pode escolher a de sua
predileção, que seconstruída, pintada, ajardinada dentro dos mais altos padrões de beleza,
luxo (mais sem muita originalidade). O objetivo é que todo o condomínio se parece com um
bairro planejado, feliz, organizado e seguro, muito seguro, pois o item segurança é sempre
fator marcante para esses condomínios. De acordo com Fernandes (1998), “o território de
controle passa a ser um território de exclusão onde a sociabilidade é vigiada”.
Consequentemente, busca-se sem cessar locais privados, que guardem aspectos
pretensamente públicos: praças em centros comerciais com guaritas de proteção são comuns.
Construídas tais quais as pracinhas mais tradicionais, espaço público por excelência, com
baquinhos de madeira e seus chafarizes artificiais, espaços abertos apenas a quem é
considerado “apto” a transpor a guarita. Entretanto, apesar de todo o cuidado com em deixar
ou não entrar o “não-eu-que-não-me-representa”, encontramos no bairro episódios frequentes
de violência urbana, como acidentes de carros, conduzidos por jovens, além de crimes e
assaltos. Apesar de ser considerada um bairro ultramoderno de uma cidade também
ultramoderna, como o Rio, que é uma metrópole onde tudo funciona 24 horas, onde se
encontra todo o tipo de ultra tecnologia, tanto o Rio como a Barra encontram-se com
profundos sinais de abandono pelos seus governantes.
94
Nos últimos 15 anos, a Barra da Tijuca apresentou um crescimento surpreendente.
Voltando-se os olhos para o período pós-1984, percebemos o que se poderia denominar de
elitização do mercado imobiliário carioca, pois com a crise do Sistema Financeiro de
Habitação (SFH) a produção das grandes empresas passou a se concentrar mais
especificamente na Barra da Tijuca.
Este bairro é objeto de vários estudos por seu planejamento (Plano Piloto para a
Baixada de Jacarepaguá) e pelo rápido crescimento que experimentou no último quarto de
século. Neste tempo, suas grandes avenidas foram alargadas para dar vazão ao crescente
tráfego de automóveis, ganharam semáforos e controladores de velocidade. Suas torres
residenciais e comerciais bem como supermercados, shopping centers e condomínios de casas
se espalharam atraindo novos moradores e trabalhadores. O projeto de Lucio Costa consiste
numa área maior que o Plano Piloto de Brasília. Mas, apesar de datar de 1969, permanece até
hoje inacabado.
Esse rápido crescimento deixou à mostra vários problemas, que na época do projeto
não foram considerados ou justificados como de relevância. O projeto não é compatível com
um sistema eficiente de transporte público, levando o morador a optar sempre que possível
pelo transporte individual. Seu traçado não oferece possibilidade de diferentes trajetos entre
dois pontos, levando-se em conta o que foi construído até o momento. Assim, não como
escapar de um engarrafamento. Seus espaços amplos oprimem o transeunte mais do que
liberam a vista do horizonte. As longas distâncias multiplicam os gastos com infra-estrutura e
são imensos os espaços vazios.
Para o cidadão que não possui carro, vir ao bairro é um transtorno. Para aquele que o
tem, visitar o bairro representa um grande gasto de combustível, que as distâncias são
grandes e um erro de caminho pode levar a uma grande volta para se alcançar o destino. A
Barra é desarticulada do resto da cidade. Seu traçado é exceção no meio da cidade tradicional.
Sua forma e densidade contrastam com os bairros adjacentes, seja Lagoa, Tijuca ou
Jacarepaguá. De acordo com Santos & Del Rio:
No Rio de Janeiro, a Barra da Tijuca é um espaço urbano interessante para a
reflexão por ter sido inicialmente implantado a partir de plano urbanístico
elaborado por Lúcio Costa em 1969 seguindo fielmente os princípios do
modelo progressista, enquanto que hoje apresenta características nitidamente
pertencentes aos processos urbanos contemporâneos (Santos & Del Rio,
1998, p. 9).
95
A formação dos condomínios fechados na Barra da Tijuca foi, de certa forma,
possibilitada pela própria configuração do espaço resultante do Plano de Lúcio Costa, com
taxa de ocupação muito baixa por conta das construções altas e isoladas, permitindo que esse
espaço aberto fosse posteriormente ocupado pelos condomínios. Santos & Del Rio (1998),
apesar de acreditarem que essas condições foram importantes para surgimento do fenômeno,
defendem que a razão principal tenha sido a obsessão por segurança identificada como
característica essencial da cidade contemporânea. Observa-se que os moradores desses bairros
de elite passam a querer controlar, além das pessoas que entram nos condomínios, as pessoas
que passam até pelas ruas do bairro. Na Barra da Tijuca, a construção de uma via expressa
passando pelo bairro e fazendo ligação com o subúrbio, a Linha Amarela, gerou polêmica. Os
moradores do bairro não gostaram de ter que dividir seu espaço da praia e dos shoppings com
os suburbanos (idem, p. 15).
Outra questão emergente, e que já faz parte das inquietações de quem estuda os
fenômenos urbanos da contemporaneidade, é a geração formada dentro dessas bolhas
socioeconômicas’ (Santos & Del Rio, 1998, p.13) por sua falta de preparação para viver no
mundo além das grades. O número de adolescentes crescidos nesses condomínios que
foram a Disneylândia supera em muito do número dos que conhecem o centro da cidade. Os
condomínios são cidades dentro de cidades, funcionando como um refúgio, assim como os
parques temáticos, as cidades americanas neo-urbanistas, os shopping centers, etc.. Ou seja,
vivemos cada vez mais entre o dentro e o fora, abdicando da liberdade em busca de
segurança. A falta de sociabilidade não é mais causada pela ausência de ruas e sim porque a
cidade apresenta cada vez mais situações de segregação ostensiva dos espaços (idem, p. 12).
4.6 Influência da mídia e medo na Barra da Tijuca
De acordo com Ricardo Freitas e Roberta Lessa (2007): “a violência é uma das
temáticas mais presentes na mídia brasileira e, especialmente, na carioca”.
Eles apresentaram um trabalho em que estudaram as argumentações publicitárias e
jornalísticas relacionadas à violência na mídia impressa do Rio de Janeiro, tendo como campo
de análise o bairro da Barra da Tijuca. Ambos afirmam:
“Nesse bairro, proliferam fortalezas urbanas como shopping centers, condomínios
fechados e centros empresariais. Objetivamos levantar que apelos publicitários, em relação
aos argumentos de lazer, de consumo e de segurança, favorecem a permanência dos
moradores nos condomínios fechados, assim como dos consumidores nos shopping centers, e
96
que contradições são sugeridas pelas apurações jornalísticas. Para tanto, foram selecionados
matérias e anúncios sobre a Barra da Tijuca publicados no Jornal O Globo no período de
janeiro de 2003 a abril de 2005“.
Com este estudo, eles queriam discutir as representações midiáticas da violência que
afetam os moradores do Rio de Janeiro, mais especificamente da Barra da Tijuca nos seus
espaços urbanos de circulação, de trabalho e de moradia.
Os autores atentam que, para tanto, estariam envolvidos neste processo o estudo dos
shoppings centers e os condomínios fechados por principalmente congregarem argumentos,
em nome de uma suposta segurança entre paredes, que propõem consumo e lazer como
grandes referências de opção de vida.
Comentam eles: “Encontramos em alguns shoppings uma série de reproduções mal
formuladas de grandes monumentos europeus e norte-americanos, como a Torre Eiffel e a
Estátua da Liberdade, cidades consagradas pela mídia, especialmente pelo cinema, como
Londres e Veneza. Pode-se estar em qualquer lugar do planeta, menos no Rio de Janeiro. A
idéia principal é mostrar as contradições na mídia impressa visto que a propaganda publicada
nos grandes jornais cariocas apresenta um mundo de segurança, o “paraíso eterno” fora de
perigo, enquanto as matérias jornalísticas demonstram que os ambientes entre-muros que se
proliferam na Barra da Tijuca não deixam de fazer parte do mesmo estado de emergência dos
demais bairros da cidade do Rio de Janeiro. (Freitas & Lessa, 2007)
A cultura de consumo que leva os compradores de imóveis da Barra da Tijuca a
associarem o bairro ao lazer é povoado pela fantasia de se poder estar em outra cidade que,
favorecida pelas novas tecnologias e sistemas de segurança, isenta-os do medo e do risco. O
problema e a grande frustração desses consumidores é que o bairro é parte integrante do caos
urbano ainda que sua estética seja diferente da restante do Rio de Janeiro. Povoada por
outdoors luminosos, a Barra da Tijuca convida seu morador ou frequentador a um imaginário
de consumo e lazer que traz a ilusão de ser alternativo aos que podem pagar pela segurança
privada. Sabe-se que, muito tempo, a mídia acaba exercendo um papel de construção e
controle importante nas representações sociais.
A vulnerabilidade e os arquipélagos de proteção da Barra
“A sociedade contemporânea está marcada pelo aumento da violência e o mundo
tornou-se instável, vulnerável”, como diz Zigmunt Bauman em sua última publicação Medo
líquido, Bauman (
2006) afirma que o Iluminismo previu um futuro muito diferente do que o
97
estacionou diante de nós. Para os racionais iluministas, deveríamos todos domar os medos ou
ao menos minimizá-los, diante do desconhecido. Mas o futuro deles, que para nós é um
presente quase passado, mostra-se que não foi possível seguir as orientações dos sábios
enciclopedistas:
No ambiente líquido-moderno, contudo, a luta contra os medos se tornou
tarefa para a vida inteira, enquanto os perigos que os deflagram - ainda que
nenhum deles seja percebido como inadministrável - passaram a ser
considerados companhias permanentes e indissociáveis da vida humana.
Nossa vida está longe de ser livre do medo, e o ambiente liquida-moderno
em que tende a ser conduzida está longe de ser livre de perigos e ameaças
(Bauman, 2008, p.15).
Para que se possa atravessar este momento, a sociedade tenta propor estruturas que
propiciem uma tentativa de proteção e segurança para a sociedade.
Em função desta mudança no mundo precisa-se de um planejamento que seja marcado
pela proteção da população. Cresce, portanto, o número desses condomínios fechados que
vêm atender às necessidades básicas de uma população exigente, à procura de garantias de
proteção para ela própria e sua família. Imobiliárias e seguradoras trataram de resolver tais
aflições, tornando os espaços públicos, privados, com seus guardas nas cancelas dos
condomínios, controlando minuciosamente quem entra e quem sai, dando a impressão que se
está em segurança. Discorre Watel: “Se as sociedades contemporâneas são marcadas pela
proliferação de riscos, isso não significa necessariamente que elas são mais perigosas: é a
nossa relação com o perigo que mudou, ou seja, nossa relação com o mundo, com os outros e
com nós mesmos” (Peretti-Watel, 2001, p. 19).
Watel (2001) estuda a percepção que os sujeitos sociais têm dos riscos produzidos
pelas indústrias e tecnologias modernas, sobretudo, além de seus efeitos danosos à vida em
sociedade. Tais riscos são definidos como eventos negativos, ameaças indesejáveis. Os
sujeitos sociais percebem os riscos de formas diferentes, e procuram evitá-los.
A população carioca vê-se obrigada a pagar os impostos que o governo cobra para
garantir de alguma forma sua integridade. No entanto, o Estado não corresponde com suas
obrigações de manter a integridade das pessoas e dos espaços públicos, obrigando os cidadãos
a criar espaços onde se sintam seguros. Estamos falando de uma classe privilegiada da
população.
Os moradores da Barra da Tijuca tornam-se reféns de seus condomínios, shoppings e
centros empresariais. Experimentando a sensação ilusória de segurança, imaginado que estão
protegidos pelo aparato ostensivo da vigilância. Este simples fato cria a fantasia da liberdade
98
controlada, a ordem assegurada pelo controle diário da violência, através de câmaras e
equipamentos audiovisuais. A título de exemplo, citamos o modelo do panóptico de Foucault
(1926-1984), estamos vigiando e sendo vigiados por um poder central, “um grande olho que
tudo sabe e tudo vê”. Para Peretti-Watel, nesse imaginário, os perigos são previsíveis e
calculáveis, fazendo com que os sistemas de vigilância e as companhias de seguros acabem
substituindo, muitas vezes, o papel da justiça e mesmo o da polícia (Peretti-Watel, 2001, p. 9).
Para Peretti-Watel, nesse imaginário, os perigos são previsíveis e calculáveis, fazendo
com que os sistemas de vigilância e as companhias de seguros acabem substituindo, muitas
vezes, o papel da justiça e mesmo o da polícia (Peretti-Watel, 2001, p. 9). Na análise que faz,
o autor descreve não somente os riscos aos quais os seres humanos podem estar
condicionados como aponta uma ordem inversa: não é mais a policia que garante a segurança,
mas sim através de seguros e vigilância paga como forma de proteção.
Freitas e Lessa (2007) também apontam esses riscos de caráter mais local:
Com os condomínios fechados, o espaço urbano também ganha dimensão
protegida entre-muros, como no caso dos shoppings centers. As novas
gerações de moradores lidam, devido ao medo da violência, como cidades
fechadas. Mas nem por isso as drogas e a violência em geral estão distantes
dessas ilhas: com códigos próprios, os conflitos da cidade aberta entram nos
condomínios, injetando seus valores
5
.
Dessa forma, concluindo o paralelo entre a violência e a segregação dessas áreas, a
geografia e a distribuição da população no Rio de Janeiro é peculiar em relação a outras
cidades brasileiras. “As favelas dividem o mesmo lugar geográfico, elas contrastam com o
cenário de prédios nos quais vivem pessoas com alto poder aquisitivo, estamos revivendo uma
nova idade média”, senhores em seus castelos (protegidos) e os homens comuns (servos),
condenados ao caos urbano e ao desamparo. O Rio é cenário desse contraste; a Barra da
Tijuca ainda não foi atingida pelo fenômeno da favelização.
Esse fato reforça a utopia de segurança seguindo padrões de referencial estrangeiro. O
shopping New York possui a Estátua da Liberdade, o símbolo de Nova York (Estados Unidos
da América), identificando os moradores da Barra da Tijuca com a cultura americana, em
prejuízo da nacional. Resta evidente o fenômeno da Dysneificaçao. Seguindo este fenômeno,
vários condomínios fechados foram construídos no decorrer dos últimos dez anos, remetendo
5
Disponível em: www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0090-1.pdf. Acesso em: Dez/2008.
99
a expressões estrangeiras como Barra Golden Green, Crystal Lake, Santa Mônica (uma cidade
da Califórnia).
Neste capítulo, apontamos algumas incoerências do bairro da Barra da Tijuca onde
moram os jovens entrevistados. O título do capítulo A Ilha da Fantasia remete a um
planejamento ideal frente à problemática da cidade do Rio de Janeiro. Porém, o cotidiano nos
oferece uma juventude limitada a um espaço físico particular que é o bairro propriamente dito.
As questões do transporte público ou mesmo a segurança ilusória podem ser consideradas
como crítica à idéia de um espaço urbano perfeito.
A seguir, passaremos para a parte prática da pesquisa. Vamos apresentar a pesquisa
realizada com os jovens moradores do bairro da Barra da Tijuca.
100
CAPÍTULO V – PESQUISA PSICO-SOCIAL DO JOVEM
MORADOR DA BARRA DA TIJUCA
A construção do conhecimento na pesquisa qualitativa é um
processo diferenciado que avança por rotas e níveis diferentes sobre o
estudado, que encontram seu ponto de convergência no pensamento do
pesquisador.
González Rey, 2002.
5.1 Metodologia
Embasamos as questões teóricas que envolvem o nosso objeto e neste capitulo
trataremos da metodologia do nosso trabalho, das nossas opções e caminhos adotados, para
chegarmos a um resultado.
Nossa investigação foi norteada por um olhar sobre os jovens como sujeitos sociais,
produtores de cultura especificamente alusiva aos jovens moradores do bairro da Barra da
Tijuca, na cidade do Rio de Janeiro, às suas experiências e vivências psico-sócio-culturais, em
relação a própria vida, ao seu país e ao nosso mundo hoje, sem fronteiras tendo como base, as
suas relações simbióticas com o tempo e com o espaço social.
Elegemos uma categoria teórica cunhada por Alberto Melucci, em sua obra Nomads of
the present (1998), onde está construída a figura do nômade, como metáfora das trajetórias
biográficas contemporâneas ressaltando a imagem do nômade presente. E utilizamos como
referencia para intitular o nosso trabalho “a vivência do provisório” nas questões sociais do
tempo de agora. Este estudo, de cunho qualitativo, constituiu-se com base em entrevistas
estruturadas e não-diretivas, realizadas com jovens de dezessete a vinte anos, moradores da
Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, realizadas no período do mês de maio a agosto de 2008. Os
sujeitos foram escolhidos através de indicações sucessivas feitas pelos próprios entrevistados.
5.2 Objetivo geral e objetivos específicos
O objetivo geral desta pesquisa foi compreender o jovem morador do bairro da Barra
da Tijuca, influenciado pelas novas tecnologias, nascidos sob o domínio de uma nova, a “Era
da Informação”. Para alcançar este fim, decidiu-se recrutar de jovens na faixa etária entre 17 e
101
20 anos, pertencentes a classe média alta da cidade Rio de Janeiro, residentes no bairro da
Barra da Tijuca.
O perfil psico-sócio-cultural levantado teve seu enfoque nos comportamentos sociais
dos jovens, como já explicitado no objeto da tese, em sua relação com a vida, na percepção de
tempo, na relação com o espaço, bem como na politização frente à cidade e ao país.
Os objetivos específicos consistem no esforço para elucidar os seguintes aspectos:
1) os fatores de mobilização do jovem na contemporaneidade em relação a ações
sócio-políticas;
2) os modos de percepção do tempo pelo jovem, analisando-se as questões do
imédiatismo e da instantaneidade;
3) as novas linguagens, formas e modos de comunicação;
4) a relação do jovem com a espacialidade urbana;
5) a utilização das novas tecnologias e as relações dos jovens com as mesmas;
6) os comportamentos cotidianos e projetos futuros;
7) o horizonte de expectativa destes jovens.
5.3 Hipóteses formuladas
1- Os jovens exercem uma função revitalizadora da vida social, são elementos
potencialmente disponíveis para oportunidades que envolvam mudanças no contexto político,
econômico e social do mundo.
2- A relatividade na percepção do tempo, uma das funções psíquicas mais sensíveis na
atualidade, está ligada à aceleração, à velocidade com que as informações atinge
principalmente o jovem.
3- O jovem frequenta assiduamente e vivencia um novo espaço, chamado de virtual.
4- A paisagem pós-moderna, característica da Barra da Tijuca, é totalmente fabricada,
ela ganha vida real; são cenários de sonho onde todos os aspectos estão voltados para o
consumo. Instaura-se um clima de perfeição, onde não existe pobreza, problema, insegurança,
violência. Trata-se de um fenômeno de privatização do espaço público.
102
5.4 Fundamentação teórica
A fundamentação teórica está baseada na bibliografia dos cientistas sociais como
Alberto Melucci, Nestor Canclini, Hommi Bhabha, Norbert Elias, Helena Abramo, Zygmunt
Bauman, Stuart Hall, Anthony Gidens, Douglas Kellner, Michel Maffesoli, Gilles Lipovetsky
e acrescida pelos trabalhos de Manuel Castells, Paul Virilio, dentre outros.
5.5 Pesquisa qualitativa
De acordo com González Rey (2002) em seu livro Pesquisa qualitativa em psicologia,
a pesquisa qualitativa se inspira numa epistemologia qualitativa, e se caracteriza pelo seu
caráter dialógico, de construção e interpretação da realidade e pela sua atenção ao estudo de
casos singulares. O processo de construção teórica presente nas ciências humanas e
particularmente na psicologia, tanto ao nível social, como individual, tem que ser
desenvolvido levando em consideração a subjetividade do sujeito inserido no seu contexto
social no qual sua experiência acontece.
A epistemologia qualitativa se apóia em três princípios muito importantes do ponto de
vista metodológico de acordo com González Rey:
1º) O conhecimento é uma produção construtivo-interpretativa - é preciso dar sentido,
interpretar e dar sentido as expressões do sujeito estudado;
2º) O caráter interativo do processo de produção do conhecimento - a interação com o
sujeito pesquisado, é essencial no processo de estudo dos fenômenos humanos;
3º) A significação da singularidade como nível da produção do conhecimento - a
singularidade sempre foi desprezada no conhecimento de base positivista, mas na pesquisa da
subjetividade adquire importante significação qualitativa, que impede de identificá-la com o
conceito de individualidade.
Na pesquisa qualitativa a construção da informação surge ao longo do processo de
construção e interpretação que acompanha todos os momentos da pesquisa; diferente do que
ocorre na pesquisa tradicional em que essa construção se a partir dos dados coletados.
Assim, a fonte das idéias não está nos dados, mas no confronto entre o curso do
pensamento, conduzido por múltiplas vias, e os dados. A importância do dado está em sua
capacidade de produzir "diálogo" com o pesquisador.
Esta metodologia consistiu, precipuamente, no estudo profuso de uma unidade
comportamental individual, tais como: uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição, um
103
evento cultural, uma instituição filantrópica, um sistema educativo etc. Visa conhecer o seu
“como” e os seus “porquês”, evidenciando a sua unidade e identidade própria. Este veículo de
investigação se assenta em quatro tipos de estudo: exploratórios, descritivos, ou explanatórios
(Yin, 1993). Podemos, também, criar e aplicar uma combinação de métodos plausíveis, para
um estudo de caso, como: a observação direta do jovem (comportamento, classe social,
aspecto físico, etc.), registros individuais, familiares e de grupos de amigos.
Nesta pesquisa utilizamos a técnica da entrevista porque além de representar um
poderoso instrumento de coleta de dados, promove a interação entre o pesquisador e o
pesquisado. Durante as entrevistas, os dados pessoais foram incluídos, tais como idade, onde
os jovens estudam, onde moram, com quem moram, se os pais eram casados ou não e também
realizamos um questionário chamado de Critério Brasil para identificar o nível sócio-cultural
dos entrevistados.Os nomes utilizados nas entrevistas são fictícios.
O objetivo das entrevistas foi abordar temas dos mais variados, em torno de sete
grandes eixos desdobrando, como por exemplo, o histórico familiar para analisarmos o tempo
histórico, para saber se eles detinham o conhecimento a respeito da história de suas famílias e
como se dava a relação entre eles e os seus parentes. As perguntas do primeiro eixo dizem
respeito à situação familiar atual, se os pais são casados, separados, se casaram de novo e
como se dava o contato com os pais.
O segundo eixo diz respeito ao nível sócio-cultural. Neste ponto queríamos saber se
houve mudança de bairro, se o jovem nasceu na Barra da Tijuca ou havia se mudado para este
bairro por uma contingência financeira de ascensão social. Neste ponto queríamos saber se
eles gostam do bairro, se é bom morar na Barra da Tijuca e, se é, o por quê. Também foi
importante abordar se eles gostariam de morar em outro bairro. Perguntávamos aonde
estudaram e onde estudam atualmente. Por fim, a classe social que se enquadravam.
O terceiro eixo diz respeito à visão de mundo para este jovem: como eles descrevem
sua cidade e seu país, qual tipo de leitura que faziam e se faziam, se conheciam o Brasil, se
haviam visitado outros estados e se sentiam diferença entre os estados visitados e o Rio de
Janeiro, se conheciam outros países fora do Brasil e que cidades foram visitadas, se sentiam
diferença entre os países e o Brasil e por quê, se praticavam atividades culturais aqui e fora do
país.
Em relação ao quarto eixo as perguntas foram direcionadas à espacialidade nos
interessamos em saber como eles lidavam com o fato de morarem num bairro que é distinto
dos demais em vários aspectos e como eles lidam com a distância, quais as vantagens e
desvantagens de morar neste bairro e sentiam-se mais seguros, quais os bairros que
104
frequentavam se saiam da Barra da Tijuca e se moravam em condomínios fechados, se saiam
desses condomínios e como se sentiam morando neste bairro, se tinham medo de sair da Barra
e se frequentavam outros lugares, quando saíam a noite e se procuravam ficar pela Barra, se
seus parentes moram em outros bairros e qual a frequência de eles saírem da Barra, se
conheciam o centro do Rio de Janeiro.
Para o quinto eixo formulamos perguntas sobre os índices de autonomia, visto que
queríamos entender como eles avaliavam o grau de liberdade que eles tinham, se seus pais
eram controladores ou mais liberais, de como esses pais costumavam controlar esses horários
ou se não controlavam.
O sexto eixo que consideramos principal para nossa investigação foi em relação ao
tempo, em que procuramos saber como o jovem deste milênio lida com o tempo. Perguntas
sobre como ele administra seu tempo, sua rotina, como avalia a quantidade de atividades que
faz, o que ele acha que é muito tempo, se a sensação que ele tinha era de que o tempo passava
muito rapidamente, se eles têm paciência para esperar, o que eles consideram que é velho e
quais suas expectativas e sonhos para o futuro. Neste item queríamos saber sua consciência
temporal.
Finalmente o sétimo eixo se baseou na maturidade e na responsabilidade que também
fizeram parte do universo desta investigação. Queríamos saber se haviam tido alguma
experiência neste eixo da investigação, se tinham algum interesse no momento e qual era a
opinião sobre trabalho, se os pais aprovariam trabalhar formalmente, se incentivariam ou não,
se o importante naquele momento era o estudo. Perguntamos também se eles tinham alguma
responsabilidade em casa, se tinham que exercer alguma tarefa doméstica, quando pretendiam
sair da casa dos pais e se havia alguma pressão por parte dos pais para essa saída.
5.6 Categorias de tempo e de espaço social
Este momento da pesquisa visa uma interatividade progressiva de experiências psico-
sócio-culturais, modeladoras de comportamentos individualizados, que distinguem fortemente
os jovens entre si, como também, enseja grandes semelhanças no seu agir social, segundo as
influências das mesmas experiências contemporâneas. A seguir, um exemplo de uma grande
agregação de situações experimentadas pelos jovens no desenvolvimento e na experiência de
suas vidas:
105
Internet e usabilidade
Viagens e projetos
Profissão e escolha
Expectativas para o futuro
Lazer
Trabalho
Espacialidade
Tempo – como percebem o tempo e como administram
História familiar
106
Quadro 1 – Síntese das informações fixas sobre os jovens do bairro da Barra da Tijuca-
RJ/Brasil
Nome
Idade Escola/faculdade
Profissão dos
pais
Onde mora
Giovana 20 anos Fac.Particular-
moda
Mãe –
comerciante
Pai-empresário
Condomínio
fechado Barra
Da Tijuca
Cassio 20 anos Fac.Particular-
direito
Mãe –
economista
Pai-economista
Condomínio
fechado Barra
da Tijuca
Fernanda 18 anos Fac.Particular-
moda
Mãe –design
Pai-
comerciante
Jardim
Oceânico-
Barra da
Tijuca
Renato 19 anos Fac.Particular-
comunicação
Mãe –estuda
Pai-empresário
Condomínio
fechado Barra
da Tijuca
E.T. 17 anos 1ºano do 2ºgrau
Escola particular
Mãe- médica
Pai empresário
Condomínio
fechado Barra
da Tijuca
Carlos 20 anos Fac.particular-
design
Mãe -
funcionária
pública
Pai-advogado
Jardim
Oceânico-
Barra da
Tijuca
Flavio 18 anos Cursinho pré-
vestibular
Mãe –
desempregada
Pai-Bolsa de
valores SP
Condomínio
Fechado Barra
da Tijuca
Eduarda 18 anos Fac Particular Mãe-
empresária
Pai -
empresário
Condomínio
Fechado-Barra
da Tijuca
Bia 19 anos Fac Pública
Nutrição
Mãe –dá aula
particular
Pai-
proprietário de
empresa de
elevadores
Prédio em
frente ao
Downtown
Barra da
Tijuca
107
Airton 20 anos Fac Particular
Administração
Mãe- artista
plástica
Pai-empresário
Condomínio –
Barra da
Tijuca
Mariana 18 anos Fac.Particular
Comunicação
Mãe-
professora
Pai-analista de
sistemas
Prédio Canal
de Marapendi
–Barra da
Tijuca
Romeu 19 anos Fac.Particular
Comunicação
Mãe-
comerciante
Pai-
comerciante
Condomínio
fechado-barra
da Tijuca
Lis 18 anos Escola Particular
Mãe –dona de
casa
Pai-
comerciante
Condomínio
fechado-Barra
Da Tijuca
Gabriela 18 anos Fac.Particular
Psicologia
Mãe psicóloga
Pai-
administrador
Condomínio
Fechado-Barra
da Tijuca
Carolina 18 anos Fac Particular-
Direito
Mãe-dona de
casa
Pai-engenheiro
Condominio
Fechado-Barra
da Tijuca
Anibal 18 anos Fac.Particular
Engenharia
Quimica
Mãe-contadora
Pai-empresário
Condomínio
Fechado-Barra
Da Tijuca
Guilherme 18 anos Fac.Particular
Administraçao
Mãe-
empresária
Pai-empresário
Condomínio
Fechado-Barra
da Tijuca
Mauana 18 anos Fac Particular
Comunicaçao
Mãe-
comerciante
Pai-informatica
Condomínio
Fechado Barra
da Tijuca
Marco
Roberto
18 anos Fac.Particular
Sist de
informação
Pai-medico
Mãe-dona de
casa
Condomínio
Fechado da
Barra
Patricia 18 anos Fac Particular
direito
Pai-
Financiamento
Mãe-dona de
restaurante
Condomínio
fechado da
Barra
Cristina 18 anos Fac particular
Administraçao
Comercio
Exterior
Pai-empresário
Mãe-
psicopedagoga
Condomínio
fechado da
Barra
108
CRITÉRIO BRASIL:
Para poder determinar classe social, foi utilizado o critério padrão da Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa, que se baseia na posse de alguns utensílios domésticos.
Você tem em sua casa:
Quadro II – Critérios para determinação da classe social, segundo a Associação
Brasileira de Empresas de Pesquisa
Quantidade possuída Você tem em sua casa... Se sim, quantos:
(LER CADA ITEM):
Não
tem
1 2 3 4 ou +
Televisor em cores
0 1 2 3 4
Rádio – pilha, digital, 3 em 1, etc.
0 1 2 3 4
Banheiro
0 4 5 6 7
Automóvel – particular, de passeio. Quais?
0 4 7 9 9
Empregada mensalista
0 3 4 4 4
Máquina de lavar roupa – “Tanquinho” não vale
0 2 2 2 2
Videocassete/ DVD
0 2 2 2 2
Geladeira
0 4 4 4 4
Freezer / Parte superior da geladeira separada = freezer
0 2 2 2 2
Total de pontos: |___|___|
Qual o seu grau de instrução?
E o do chefe da família?
Entrevi
stada
Chefe da
família
(BRASIL)
(42 a 46) A1
Analfabeto/ até 3ª série fundamental ( ) 0
(35 a 41) A2
Primário completo/ 4ª série fundamental ( )
1
(29 a 34) B1
Ginasial/ Fundamental completo ( )
2
(23 a 28) B2
Colegial/ Médio completo ( )
4
(18 a 22) C1
Superior completo ( )
8
(14 a 17) C2
(8 a 13) D
(0 a 7)
E
109
CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Foram realizadas entrevistas individuais, entre os meses de maio e agosto de 2008.
ORÇAMENTO
A pesquisadora foi patrocinada pela CAPES, com bolsa de Estudo do Curso de
Doutorado.
110
CAPITULO VI – ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Queremos ser os poetas de nossa própria vida, e
primeiro, nas menores coisas.
Friederich Nietzsche
Os deuses nos inventam muitas surpresas.
O esperado não acontece.
E um deus abre caminho ao inesperado.
Eurípedes, Medeia
6.1 Tópico I: sujeito jovem da Barra
Conforme definimos a respeito da metodologia utilizada neste trabalho no capítulo
anterior, o campo de análise e o objeto de estudo é o jovem morador da Barra da Tijuca. Neste
capitulo, será feita uma análise profunda das entrevistas realizadas. Para uma compreensão
mais didática dos resultados, esse capítulo foi dividido em picos, uma vez que a
complexidade dos conceitos e respostas exige uma clareza descritiva.
O primeiro tópico trata dos jovens nômades do tempo presente particularizamos quem
é o jovem da Barra da Tijuca, que formação ele recebeu quais são as relações familiares em
que este jovem esta inserido e como estas influencias familiares determinam suas escolhas,
pessoais, profissionais e o pleno exercício de sua autonomia.
O que observamos em nossas entrevistas é que a maioria dos jovens tem uma boa
relação com seus pais, alguns se identificam melhor com a mãe e outros com ambos.
Enfocar a família implica considerar um sistema dinâmico, sempre em
movimento. A família se constitui em um espaço onde se estabelecem
vínculos fundamentais, tradições, crenças e costumes, que falam de um
imaginário comum e que formam as missões, os legados, os pactos, as
heranças e as expectativas, transmitidos de uma geração à outra
6
.
Quando se trata da família, deve-se ter em mente a formação que esta proporciona. De
acordo com o jurista civilista Caio Mário:
6
Disponível em: www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0610327_08_cap_05.pdf . Acesso: nov/2008.
111
Família, em sentido genérico e biológico, é o conjunto de pessoas que
descendem de tronco ancestral comum; em senso estrito, a família se
restringe ao grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é
considerada a célula social por excelência
7
.
O sociólogo
Bauman, em Amor líquido (2004), menciona que na era da modernidade
líquida em que vivemos, esta “célula social em excelência” é um mundo repleto de sinais
confusos e imprevisíveis é fatal para os laços afetivos, o que reflete diretamente na
fragmentação do sujeito em especial dos adolescentes. Os relacionamentos afetivos e
familiares na atualidade podem ser construídos e desconstruídos a qualquer momento,
denunciando a vulnerabilidade dos laços.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o adolescente é aquele indivíduo que se
encontra entre dez e vinte anos de idade. o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
determina no Art. o seguinte: “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até
doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade”. Na
sociedade fragmentada em que estamos vivendo, consideramos que não existe adolescência e
sim adolescências em função do panorama político e social do momento, principalmente para
o jovem que está se preparando para uma mudança física, psíquica, espacial, na medida em
que estas mudanças afetam diretamente o comportamento do jovem, assim como o ambiente
em que ele vive.
Alguns jovens se queixaram de não terem orientação dos pais e que se sentem
“largados”. De acordo com as entrevistas, percebemos que não houve uma unanimidade
quanto ao tipo de relações estabelecidas, porém os jovens que fizeram as entrevistas mantêm
um ótimo relacionamento com as mães, mas com os pais têm um tipo de relacionamento mais
distante, e que conforme a mudança de idade eles vão se distanciando desses pais. A metade
dos pais dos jovens entrevistados é separada e a outra metade está junta. Nesses casais
separados nota-se uma modificação no tipo de estrutura familiar. Quando perguntados como é
seu relacionamento com os pais, as respostas variam, como no exemplo abaixo:
Cássio:
Praticamente, eles separaram quando eu tinha 2 anos. Praticamente
sempre morei com meu pai. Pequeninho, ele cuidava de mim, me levava
para colégio. Buscava no colégio, dava o almoço. Mas eu nunca deixei de
ver a minha mãe sempre. Eu morei um tempo com a minha mãe. A minha
mãe mora no prédio aqui do lado. Às vezes eu morava um pouco com ela,
um pouco aqui. Não tinha uma coisa muito. (...) Hoje em dia o
relacionamento com meu pai está um pouco atípico. Ele está morando fora
do Rio, e só tem vindo no final de semana. Está trabalhando fora do Rio. Até
7
MÁRIO, C. (2007) Disponível em: www.arpenbrasil.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=
1209&Itemid= 83. Acesso: nov/2008.
112
os nossos horários no final de semana não estão batendo muito. Eu tenho
aula de manhã no sábado. Eu acordo e ele já não está em casa. Aí, eu almoço
com ele. Ele acaba de almoçava vai dormir. Quando ele acorda, eu já estou
saindo. No domingo, ele vai embora no horário que estou acordando. Às
vezes, a gente fala pelo telefone. Mas quando a gente morava realmente
junto, convivia assim, era um relacionamento bom.
Fernanda:
Com a minha mãe é muito boa. Ela é a minha melhor amiga,
eu não tenho nada pra reclamar. O meu pai é muito temperamental, ele é
muito cabeça dura, sabe? Eu não sei se é porque eu enfrento ele e tal. Eles
separaram eu tinha 10 anos.
Com relação a sua autonomia, Cássio fala:
Meus pais foram bastante controladores. Hoje em dia eles são tranquilos
em relação a mim. Eles me deixam solto. Porque sabe que eu tenho
responsabilidade. Eu percebo que eles sentem que o meu caráter já está
formado. E acham um caráter e uma personalidade tranquilos a eles. Eu acho
que eles me consideram uma pessoa responsável e que tenho os meus
objetivos profissionais definidos e sabem que eu tenho esse objetivo. E é
isso que vai me fazer feliz, eu não vou tomar certas atitudes que possam me
atrapalhar de atingir esse objetivo.
Autonomia significa autodeterminação, o poder do indivíduo para tomar decisões
sobre si, sobre sua integridade físico-psíquica e suas relações sociais. O termo deriva do grego
auto (próprio) e nomos (lei, regra, norma) e refere-se à capacidade da pessoa de fazer sua
própria lei ao decidir o que é bom e o que considera adequado para si.
A pessoa autônoma tem liberdade de pensamento, é livre de coações internas e
externas e pode escolher seu caminho. È na juventude que se determina esta autonomia e
quando o jovem exercita este poder de liberdade e de capacidade. Na maioria das entrevistas,
vemos que o jovem da Barra teve uma formação familiar bem presente, foram criados com os
pais até uma determinada idade e depois os pais da maioria se separaram. Entretanto, o que se
observa é que eles continuavam a manter relação com esses pais separados. Fernanda tem
excelente relacionamento com a mãe e não se entende bem com o pai; já Cássio se melhor
com o pai a ponto de ter morado com ele desde pequeno. Era o pai quem o controlava,
ficando sua mãe à distância, apesar de morar no mesmo condomínio. Em relação à autonomia
destes dois jovens, ambos têm autonomia de escolhas. Fernanda mantém a mãe informada do
seu dia a dia, apesar da sua liberdade de escolha, percebemos sua dependência emocional
materna. Cássio hoje mora sozinho, pois o pai casou-se de novo e foi morar em outra cidade e
o seu irmão está fora do país. Esses dois entrevistados disseram que essa autonomia foi
conquistada aos poucos, como os teóricos descrevem muitas vezes, dizendo que o jovem, de
um modo geral, vive uma busca intensa de autonomia e, para muitos, é inevitável que esta se
113
através de sua inserção no mundo do trabalho. Não é o caso desses jovens da Barra, pois a
minoria trabalha. Quando falamos de autonomia, estamos falando de liberdade de escolhas e
que eles fazem o que querem. No artigo “Considerações sobre a autonomia na
contemporaneidade”, Reichert e Wagner afirmam:
Estas mudanças estão relacionadas à autoridade, disciplina, estilo de vida,
estilo de educação e de comunicação e, principalmente, de adaptação –
adaptação aqui entendida, segundo Ríos González (2005), a partir de um
novo prisma: sob o olhar do adolescente, saber se localizar, enfrentar os
novos desafios e demandas do período e, sob o olhar dos pais, permitir que
os jovens assumam seus novos papéis, sua autonomia. Isto se tornará
possível se os pais aprenderem a escutar seus filhos, médiante uma escuta
seletiva, se souberem respeitar seus limites e se souberem compreender suas
reações de forma empática
8
.
No caso de E.T, os pais são casados até hoje e, apesar dele trabalhar como DJ (disc
jóquei), ele tem uma certa autonomia. Dos entrevistados, ele é o mais novo, com dezessete
anos. O pai acompanha suas saídas, sempre leva e busca o filho para os lugares aonde vai. A
princípio, esses pais estão acompanhando a formação do filho assim como incentivando seu
novo papel na sociedade.
E.T.:
Meus pais são casados vinte e poucos anos, vinte e seis anos e
minha relação com eles é boa e aberta. Eu falo mais com minha mãe. Tem
coisas que minha mãe não me deixa fazer e meu pai deixa, nunca escondi
nada dos meus pais não. Às vezes, eu vou numa casa de shows e levo meu
pai comigo, levo minha mãe. Eles conhecem as pessoas que eu ando. Eu
montei um estúdio de som em casa e meu pai está sempre com todo mundo
que frequenta, meus amigos.
A estrutura familiar de Carlos já é diferente. Mesmo com os pais separados, ele
encontra nos dois muita confiança e amizade. morou com o pai por diversos anos e se
relaciona muito bem com sua madrasta, assim como esta se muito bem com sua mãe.
Proporcionaram a Carlos uma experiência familiar diferente das demais, criaram-no com
muita liberdade e poder de decisão. Quando menor, era mais controlado por morar na Zona
Sul e quando veio para a Barra encontrou uma liberdade de atitudes que não encontrava no
outro bairro. O pai permitia suas saídas em função de morarem em um condomínio fechado.
Carlos:
Os meus pais se separaram, mas eles são muito amigos mesmo,
assim... Eu me dou muito bem com meus pais, eles me criaram com muita
8
Reichert e Wagner, 2006, Disponível em: www.revispsi.uerj.br/v7n3/artigos/pdf/v7n3a04.pdf 6. Acesso em
dezembro de 2008.
114
liberdade. Tanto que as minhas tatuagens, essas coisas eles não se metem.
Eles sempre me apoiaram e, se eu preciso de alguma coisa, eles vão e me
ajudam mesmo. Eu converso muito com a minha mãe e com meu pai, por
exemplo, eu saí e cheguei hoje de manhã. Eu liguei pra minha mãe: “Como é
que foi ontem?”, eu conto tudo pra ela.
Flavio também encontrou na família muita liberdade na criação. Sempre foi orientado
a fazer o que é certo ou errado. Ele tem uma relação de cumplicidade com os pais. Como ele
mesmo aponta:
“a gente mostra a porta e você atravessa”.
Flavio:
Eu considero minha relação como aberta, boa, com o pai e com a
mãe. A gente conversa de tudo. que é uma relação meio conflituosa, pelo
fato deles serem separados, às vezes acontecem algumas briguinhas entre
eles, às vezes com a gente, mas nada anormal tudo bem. Sempre foi uma
relação baseada em muito diálogo. Conversamos de tudo, muito
entendimento, sempre as coisas foram muito claras, sempre falamos de tudo.
Tem uma relação de cumplicidade, fora o parentesco. Meus pais são muito
liberais, sempre tive a liberdade de falar o que quero, ir para os lugares. Eles
nunca me prenderam, sempre me guiaram, me orientaram, tipo “a gente
mostra a porta e você atravessa”.
Segundo o filosofo e sociólogo Edgard Morin. (1997), o sujeito é autor e ator de sua
história e das diferentes histórias sociais, na medida em que são múltiplas as influências dos
diversos sistemas de que participa. Ser sujeito é tão somente colocar-se no centro do seu
próprio mundo, não é ser consciente nem ter afetividade. É ocupar-se de si: Computo ergo
sum”. Esclarecendo que todo mundo pode dizer “eu”, todavia, cada um de nós pode dizer
“eu” por si próprio (autonomia). É ao mesmo tempo ser autônomo e dependente. Dependente
do meio, que é anterior, e autônomo enquanto ocupa-se de si. Já ser consciente é ter a
capacidade de sair de si, de transcender a centralidade da subjetividade, percebendo, ao
mesmo tempo, que nosso modo de ser é ser o centro de nosso mundo. E não é fácil saber se
somos conscientes ou não. Morin exemplifica o sujeito em transe hipnótico afirmando que
“quantos de nós frequentemente temos a impressão de ser livres, sem ser livres” (idem, p.98).
Eduarda também tem um relacionamento muito bom com a mãe e com o padrasto. O
pai, apesar de distante, mora fora do Rio, mas também tem muito contato com a filha, através
de mensagem de texto pelo telefone. Ela tem autonomia suficiente para suas escolhas; a mãe
incentiva a filha a tomar suas próprias decisões.
Eduarda:
Eu e minha mãe somos muito amigas, conto tudo para mãe, sou
uma pessoa muito calma... Sou muito calma mesmo, meu temperamento, eu
conto tudo para minha mãe, desde quando faço algo errado, o que é muito
raro, é tranquilo, a gente é muito amiga. Minha mãe fala que o casamento
dela foi mais uma amizade do que casamento, até hoje eles são amigos e
115
quando se separaram continuaram a amizade. Meu pai é assim, eu falo que
sou apaixonada por ele apesar de não ter muita convivência. A gente se
pouco, se fala muito... Por semana falo uma vez por telefone, mas a gente
manda mensagem de texto todo dia por telefone. Eu falo que meu pai é
muito frio porque ele perdeu os pais muito cedo, então acho que ele deu uma
bloqueada.
Bia:
De modo geral a minha relação tanto do lado da minha mãe como do
meu pai são boas. Os meus pais se separaram... muito tempo. Eu tinha 5
anos. A minha relação com os meus pais é boa. Eu moro com a minha
mãe. A minha mãe se casou e morou com o meu padrasto junto e tudo mais,
durante seis anos depois eles se separaram. E a família do meu pai, ele
também é casado. Ele tem uma filha que é a minha irmãzinha. Meu padrasto
era legal. Eu tenho a maior sorte, eu falo isso pra todo mundo, eu tenho uma
sorte imensa de ter a melhor madrasta do mundo e o melhor padrasto do
mundo. Às vezes amais do que a minha mãe. Como a minha mãe estava
dentro de casa, acaba brigando mais. E ela é minha amiga, assuntos assim:
“Vamos conversar sobre homem, não sei o quê”... E o meu padrasto também
super interessado na minha vida. Teve uma época que o meu pai estava com
dificuldade pra pagar o QI, o colégio. Ele ajudou. E falou que qualquer
ajuda, ele iria ajudar. No ano do vestibular, ele ajudou muito porque ele
estudava na UFRJ. Ele é formado pela UFRJ. Então, pra ele era um orgulho
a enteada dele passar pra mesma faculdade. Eu até tive uma aula no mesmo
laboratório que ele teve. Então, isso pra ele era o máximo. Porque a filha
dele ainda é pequenininha, ainda tem 10 anos, a idade da minha irmã, do
outro casamento lá. Nossa! O meu pai é o máximo. Meu pai e minha mãe
são incríveis. Eu gosto muito deles, eu amo muito eles. Assim, como eu
moro com a minha mãe a convivência leva muito a brigar mais.
Nestas entrevistas, observamos que existem várias realidades de contexto familiar.
Pais casados, pais separados, com padrasto, com madrasta, pais que se separam e trabalham
juntos. Pais que não se falam, pais que moram longe, mãe que mora perto. O universo destas
entrevistas abrange uma série de contextos diferentes. Porém, o que podemos evidenciar é que
todos os jovens se relacionam bem com os pais e com a família em geral. Apesar da
constituição familiar não ser o modelo tradicional daquela família que se constituía unida e
ficava assim até o fim, todos são acompanhados por estes pais. Eles mostram que quando têm
que pedir conselhos ou orientações, eles recorrem aos seus pais. Os pais são seus pontos de
referência. Diante das diversas modalidades de contexto familiar os jovens convivem com as
multiplas pressões: consumismo, valores incertos, pressão pelo sucesso,pela aparência. Essas
pressões acabam afetando a convivência familiar e estes jovens precisam estar preparados
para lidar com essas questões.
Com as separações, divórcios e novos casamentos, o organograma das famílias
modernas é outro. Nele cabem "o marido da mamãe", "o irmão por parte de mãe", "os filhos
da mulher do papai" e por aí vai, num intrincado quebra cabeças de parentes e meios-parentes,
que especialistas como Garbar e Theodore (2000) batizaram de "família mosaico".
116
Airton:
A minha relação com meus pais é muito boa. Os meus pais estão
casados vinte anos, minha mãe se casou grávida de mim. Fui filho único
durante dez anos. Quando meu irmão nasceu, foi super tranquilo, a minha
mãe até me preparou, disse que viria uma nova pessoa, que eu ia ser mais o
único. Foi super tranquilo. Olha, quando eu nasci, era a única criança da
família. A única criança da família mesmo. Aí era aquela coisa, a única
criança, ganhava muitos presentes. Até os nove anos. veio ela, depois o
meu irmão e depois vários primos. Até hoje nunca parou de ter primos
novos. Eu acho que eles fizeram um com trabalho comigo. Me sinto feliz
comigo mesmo, com os meus objetivos, com minha determinação. Acho que
sou “cabeça feita”, nunca fiz coisas ruins e tenho certeza que nunca vou
fazer isso.
Em relação a sua autonomia
: Total. Eu ligo pra dizer
aonde eu vou quando eu saio de casa e eventualmente minha mãe me liga
também, para saber se está tudo bem. Eu falo para os dois.
Mariana:
A minha relação com meus pais eu acho uma relação boa,
assim, toda relação tem problema, então assim, às vezes... Assim, com meu
pai não é que nem com a minha mãe que eu converso sobre tudo, que eu
tenho mais liberdade de falar as coisas, de chegar quando estou com algum
problema, mãe aconteceu isso, mãe estou com medo disso, sabe? Uma
relação mais aberta e mais intima... ela chega mais, ela percebe mais quando
eu estou triste, aí ela chega mais para me perguntar, as vezes ela chama para
conversar, vamos sair para conversar, vamos sair para jantar em tal lugar,
porque estou sentindo você meio tristinha, queria saber o que está
acontecendo... é uma relação mais assim, ela percebe, eu não preciso ficar
recorrendo, chegando. Meu pai, não percebe tanto assim... Assim, eu conto
tudo para ele também da minha vida, não coisa íntima.
Em relação
a sua autonomia:
Eu acho eles liberais. Comparado aos pais das
minhas amigas, não são tão liberais assim. São mais liberais, exatamente.
(...) A minha mãe não gosta que eu vá pra
z
ona Sul pra sair à noite e voltar
pra Barra. Geralmente só deixa quando eu vou dormir na casa de amiga.
Essas coisas assim eu acho que eles são liberais porque atualmente as coisas
que eu peço eles não negam. (...) E controla pelo celular... Pelo celular, eu
aviso pra onde eu vou, sempre. E com quem eu vou. Ela quer sempre saber
com quem eu vou. E como eu vou e como eu vou voltar.
Airton e Mariana têm o núcleo familiar semelhante; seus pais são casados mais de
vinte anos. Eles foram criados pelos dois com o apoio da família. Airton foi criado como filho
único ate os dez anos de idade, era a única criança da família, ele mesmo diz que foi muito
mimado até o nascimento de seu irmão. Seu relacionamento com os pais é muito bom.
Mariana tem dois irmãos uma mais velha e uma mais nova. Ela tem mais intimidade com a
mãe, pois conta tudo para ela o pai é mais distante, mas tem controle sobre a filha. Eles dois
têm pais liberais, Mariana ainda tem alguns empecilhos, mas Airton nenhum. Ambos têm
autonomia para decidir, no entanto, os pais pedem que avise aonde vai, que horas volta.
Romeu:
Ultimamente os meus pais estão meio que com um problema,
digamos que estão casados entre aspas... É, porque minha mãe agora alugou
um apartamento para morar, eles estão juntos e não estão juntos, entendeu?
Meu pai está aqui comigo, aqui na Barra... Minha mãe está no Recreio, no
117
apartamento. (...) E têm meus avôs que me criaram, que tenho contato muito
próximo. (...) Isso, moro com meu pai. E, de vez em quando, minha mãe vai
lá... Me dou bem com os dois, que eu brigo mais com pai, mas me dou
melhor com ele, porque nossas brigas são pequenas, com minha mãe
geralmente minhas brigas são maiores... Eu sou filho único. (...) Porque o
que acontece, tem vezes que eles não ligam, mas tem vezes que, tem dia que
eles estão ligando o tempo todo, tem que chegar três horas da manhã, mas
tem dia que eu chego sete, oito e eles não falam nada. Esse é o grande
problema. (...) Eles não têm de vez em quando coerência nos argumentos
deles, nas questões, nas perguntas... mas ao mesmo tempo sou paparicado
pelos meus pais eu posso dizer que sou um pouco, assim, às vezes sou,
porque como eu sou filho único é complicado e pela minha avó também,
pelos meus avôs, porque eu fui criado por eles, aí eu sou o neto xodó, porque
minha avó tem quatro... Minha criação foi mais feita com a minha avó e meu
avô por parte de pai e pela minha mãe e meu pai, são essas quatro pessoas
assim.
Em relação a sua autonomia:
Nota de zero a dez, sete. E
como eles costumam controlar você? Telefone celular... A nossa conta é
compartilhada, são três celulares, mas é meu pai que paga a conta total. (...)
Você avisa que vai sair? Aviso. Nesse final de semana, na sexta eu saí, eles
não me ligaram em momento algum, tudo correu bem, eu falei que ia chegar
tarde, eu sempre falo, para eles não se preocuparem... Para os dois. (...)
Romeu se enquadra em outro tipo de estrutura familiar. Os pais foram morar em
casas separadas, mas trabalham juntos os três: pai, mãe e filho. Ele mora com o pai, mas diz
que foi criado pelos avós paternos. Ele apresenta conflito com os pais, pois ora eles aceitam
os horários, ora brigam. Eles não têm muita coerência ao lidar com o filho, muito comum na
adolescência. Em alguns momentos deixam-no livre, em outros controlam muito. Preocupam-
se muito com ele até por ser filho único. Mas, ao mesmo tempo em que recebe todas as
atenções, exigem dele responsabilidade, esperam dele atitudes amadurecidas. Na verdade, este
é o momento de redefinição dos valores pessoais e das relações familiares e de
estabelecimento de novas fronteiras que devem ser suficientemente flexíveis para permitir que
o adolescente busque gradativamente sua independência e se torne responsável pela própria
liberdade. Citando o filósofo existencialista, Jean Paul Sartre:
Certamente, eu não poderia descrever uma liberdade que fosse comum ao
outro e a mim; não poderia, pois, considerar uma essência de liberdade. Ao
contrário, a liberdade é fundamento de todas as essências, posto que o
homem desvela as essências intramundanas as transcender o mundo rumo às
suas possibilidades próprias (Sartre, 1999, p. 542).
A estrutura familiar de Lis diferencia-se das outras, pois ela questiona o papel da mãe
no contexto familiar, ela se sente desprotegida, sua mãe se comporta como amiga, mas não
consegue dar limites à filha, carecendo de parâmetros do que é certo ou errado. Ela sente falta
da imposição de regras. Se sente para a tomada de decisões e, segundo diz, é livre. E
comenta que já fez muitas coisas que a e nem imagina. O adolescente precisa formar esta
118
liberdade, ela vai alcançando com o tempo.
Lis:
A minha mãe é minha melhor amiga. Eu conto tudo. O que acontece:
eu conto pra ela. Conselho de mãe não tem igual Às vezes, eu acho que a
minha mãe não liga muito assim pra mim, sabe? Muito. Completamente,
liberdade é uma coisa que eu tenho muita. Mas eu acho que por não morar
com o meu pai, ele não tem muito como ter controle. O meu pai trabalha
aqui na Barra É. Normalmente eu encontro com ele aqui, eu vou jantar fora,
eu vou comer com ele, vou ao shopping. Essas coisas. Eu não costumo ir a
casa dele. Encontro. Durante a semana no máximo 2 vezes. Ele quase não
me procura muito. Mas o meu pai é extremamente carinhoso. O meu pai
sempre foi mais mãe do que a minha mãe. Quando eles eram casados, o meu
pai era extremamente carinhoso. O meu pai que me levou pela vez pro
cinema, me levou a vez no shopping. O meu pai fazia escova em mim.
Meu pai cozinhava pra mim. O meu pai era uma mãe pra mim. Eu amo a
minha mãe, amo de paixão, minha mãe não tem igual. Mas ela não é aquela
pessoa, é da natureza dela... É, não cuida. Ela não tem, sei lá... Eu moro com
a minha avó tem uns 6 anos. Eles vieram morar aqui quando seu pai saiu de
casa. Foi, quando o meu pai saiu. E depois meio que mudou tudo assim.
Agora eu sou... Livre. É. Eu não sei ao certo, assim. De vez em quando eu
sinto falta, sabe? Às vezes eu falo pra minha mãe: “Eu sinto até saudade de
ficar de castigo”, eu nunca fiquei de castigo na minha vida, nunca. Eu não
sei o que é um castigo. Eu já falei pra minha mãe: “Mãe, eu preciso de um
castigo”... (...) Nunca teve esse problema comigo.
(...)
As relações vão se modificando com o tempo e os pais vão relativizando a sua
liberdade. É como se fosse um crescendo. Quanto mais a idade avança mais ele demonstra
responsabilidade e a confiança torna-se fundamental para ela alcançar liberdade. Sendo assim
o jovem deveria ter uma coerência em sua formação. Adolescência é o momento em que o
jovem solidifica sua identidade, não é mais o que os pais dizem. Ele passa a identificar o que
gosta, o que não gosta, quem é ele, suas opiniões.
Gabriela tem relacionamento saudável com os pais, está conquistando sua autonomia,
porém sente ainda a necessidade de certificação dos pais.
Gabriela:
Muito boa, bem aberta, porque a gente se á bem, eu conto tudo
para ela, e ela me liberdade para eu contar para ela, tipo, ela não briga
comigo por causa das coisas que eu faço, ela me aconselha, me ajuda, ela
não briga comigo... Não. Não... risos... eu aviso para a minha mãe, falo se
vou dormir na casa de uma amiga, ela pede para eu mandar mensagem
quando eu chegar... É, não é uma coisa assim, você tem que chegar uma hora
da manhã, você tem que chegar tal hora... Você decide, mas você tem um
controle... Isso.
Carolina não tem liberdade com os pais, visto que são mais conservadores, o que
aumenta a distância entre eles. Os pais são muito protetores e também não são do Rio de
Janeiro, o que faz uma diferença no relacionamento.
Carolina:
Os meus pais o um pouco controladores, eles são um pouco
119
conservadores. Meu pai é bem, porque são três filhas, ele é bem protetor,
ele não deixa a gente sair muito, não gosta que a gente chegue tarde. Ele
gosta de saber com quem a gente está, onde está, ele é bem controlador. E
minha mãe também, apesar da minha mãe ser bem nova... As minhas duas
avós têm setenta e quatro anos e meu avô tem setenta e seis. Meus pais são
casados a vinte e um anos. A minha mãe não tem um diálogo aberto com a
gente, falar sobre sexo, sobre essas coisas, ela não tem esse diálogo, se um
dia eu fizer, eu nunca vou contar para a minha mãe. Ela não tem esse diálogo
com a gente. Meu pai também, ele é bem bravo assim, ele é todo certinho e
tal, é bem difícil ter diálogo com ele.
Guilherme:
a minha relação com os meus pais é muito boa, muito boa. O
meu pai é um amigão meu. O meu pai e minha mãe também. É coisa de pai e
filho também... O menino com o pai. É uma relação mais amigável. Eu
converso com meu pai sobre certos assuntos. Até porque eu fico a sem
jeito de falar com a minha mãe. Assuntos mais íntimos. É. Isso, isso, mas
sem nenhum problema, eu amo os dois e a gente sempre se deu muito bem,
depende do dia. Tem dia que um é controlador e no outro dia é mais liberal...
Em relação, é mais em relação à bebida mesmo, não sei. Eu sempre aviso o
lugar pra onde estou indo. Mas hora, hora eles atentaram já, mas não tem
como. Eu falo que não tem como porque não sei a hora que vou voltar.
A família de Guilherme é bem tradicional os pais são casados mais de vinte anos,
vieram do interior do Rio, se preocupam muito com ele, mas tem aquele padrão de
relacionamento. Às vezes, quando chega tarde, brigam; às vezes, chega no mesmo horário e
não brigam. É uma situação bem típica desta fase. Tem autonomia na tomada de decisão, mas
também precisa de orientação, principalmente do pai.
Mauana:
os meus pais são separados há muito tempo. Eu moro com
minha mãe e eu entro em contato com meu pai uma vez por semana, a gente
tenta. Porque ele não mora mais aqui. Ele mora na Serra. A gente tenta se ver
uma vez por semana. E talvez a gente se fale por telefone dia sim, dia não.
Ou dois dias sim... Ele sempre pede pra eu ficar mandando mensagem
dizendo como é que eu estou e fazendo. E como é a relação com a sua mãe?
Muito boa, melhor é impossível. Ela é a minha melhor amiga, disparado.
Você fala tudo pra sua mãe? Tudo! A gente tem vontade de ficar junto o
tempo todo. Ela é muito boa. A minha mãe me criou de um jeito muito legal.
Desde pequena ela deixou e foi muito julgada pelos outros porque deixa
fazer tudo o que eu queria. Eu tinha muita liberdade, mas que as pessoas
não viam é que ela me dava liberdade e me dava conselho. Ela falava: “Vai
filha, mas pensa isso, toma cuidado com isso. Será se você não fizer assim
não é melhor?”... Ela botava as cartas na mesa e mostrava o que poderia
acontecer. Ela deixava eu escolher. É. E continua fazendo.
Mauana tem o tipo relação mono-parental: vive com sua mãe, pois seu pai mora numa
fazenda no interior, e o vê muito pouco. A e assume o papel dos dois. Ela fala que sempre
teve muita liberdade com a mãe, que é sua melhor amiga. Ela tem autonomia para decidir sua
vida, mas a mãe sempre acostumou a discutir com ela os problemas e ela tomar suas próprias
decisões.
120
Para os psicólogos especializados em adolescência, como Steinberg (1986) e Fleming
(2005), a autonomia é definida como a habilidade para pensar, sentir, tomar decisões e agir
por conta própria. Nesse sentido, o desenvolvimento da independência é um componente
crucial para sua aquisição. Cabe salientar que autonomia e independência não podem ser
consideradas como sinônimos, na medida em que independência refere-se à capacidade dos
jovens agirem por conta própria. Nesse caso, uma alta independência é realmente necessária
para se tornar autônomo, contudo a autonomia é mais do que ser capaz de ter comportamentos
independentes. A autonomia prevê também as relações que o indivíduo estabelece com os
outros membros da família, seus pares ou pessoas fora do ambiente familiar.
6.2 Tópico II: o tempo e o jovem da Barra
Neste segundo tópico, será abordada a relação desse jovem com a administração de
seu tempo diário, sua consciência temporal, como são constituídos os conceitos do que é
velho, do que é novo, o que é ter muito ou pouco tempo. A abrangência de seu conhecimento
sobre sua historia familiar e o seu passado, suas ansiedades e expectativas e a noção de
instantaneidade do tempo presente.
È necessário para atingir esse objetivo conceituar e entender o Tempo.
O Físico e Matemático Isaac Newton (1643 1727) conceituou o tempo como
absoluto, e definido considerando-o verdadeiro e matemático, que flui constantemente e de
maneira uniforme. O filósofo alemão Immanuel Kant (1724 —1804), contrariamente a Isaac
Newton, supunha o tempo como inteiramente subjetivo, pertencente à natureza humana sem
que o homem tivesse condições de controlá-lo ou modificá-lo. Durante o século XX, Albert
Einstein (1879 1955) elaborou a teoria da Relatividade, segundo a qual o tempo é relativo
porque pode ser “experimentado” de maneira peculiar e única por cada um de nós.
De acordo com o sociólogo e filosofo Norbert Elias (1897 - 1990), quanto mais
avançada as sociedades, mais os relógios ocupam um lugar destacado, pois a função é
reguladora, porém não podemos esquecer que estes podem representar o tempo mas não são o
tempo, mas sim uma representação destas. Para Elias, o tempo não existe em si. Ele é acima
de tudo um símbolo social e não pode ser visto como um dado objetivo ou um conceito
inerente ao ser humano. Como diz Elias:
121
Na verdade, a experiência do tempo como um fluxo uniforme e continuo
se tornou possível através do desenvolvimento social de médiação do tempo,
pelo estabelecimento progressivo de uma grade relativamente bem integrada
de reguladores temporais, como os relógios de movimento contínuo, a
sucessão contínua dos calendários anuais e as eras que encadeiam os séculos
(...). Quando faltam instrumentos, essa experiência do tempo também fica
ausente (Elias, 1994, p.36).
O tempo é uma representação de que a sociedade inteira participa. Será revelado nas
entrevistas a seguir como esse jovem conhece a sua historia familiar, por exemplo, se ele
participa dos fatos ocorridos com sua família no passado ou se a sua convivência é cotidiana.
Cássio:
Sua ligação com seus avós? Seus avós eram casados? Por parte de
pai eram casados e por parte de mãe não. Ah, esqueço de falar um fato do
meu apor parte de mãe: ele faleceu quando eu tinha uns quatro anos e pra
mim ela era “a pessoa” mesmo. Quando a gente é pequeno não tem muita
noção das coisas, mas eu considerava ele um deus. O seu avô? É. Tudo que
eu não podia fazer, que minha mãe e meu pai achavam errado, ele fazia,
aquela coisa de avô. Andar no banco da frente no carro, sentar no colo dele
dirigindo, tudo que não podia. Ele me defendia de tudo, ele era um super
avô, gostava de me levar pra passear, especialmente, em relação aos outros
netos. É, ele realmente pra mim era fantástico. Foi meio chato, apesar de ser
pequeno, eu senti muito a falta dele. Ele morreu de repente? Eu era pequeno,
não tenho muito como definir, mas ele tinha
um
quadro meio complicado
apesar dele não estar com a idade muito avançada na época. Problemas
respiratórios, a parte da família da minha mãe tem este histórico. Asma,
bronquite. Minha atambém faleceu disto. Eu era muito ligado. Se eu for
fazer um raciocínio retroativo, a primeira coisa que eu lembro era do meu
avô, depois vem um buraco, e depois m as coisas de quando eu era mais
velho. Muito. Certas coisas que eu vivi com ele, eu me lembro
perfeitamente.
Cássio conhece sua história familiar teve e tem relacionamento com os avós tanto
paternos como maternos. Lembra da sua infância e da relação de proximidade com seu avô e
tem a lembrança da perda deste. Constatamos que a maioria dos entrevistados tem
conhecimento de suas raízes familiares. Na sua formação familiar encontramos os laços
familiares bem presentes e reconhecidos por todos os adolescentes. O que faz parte dos
pensamentos elaborados por estes jovens entrevistados é que tiveram uma condição familiar
de apoio e a presença da família como uma dinâmica comum, claro que cada um com suas
peculiaridades. A questão “do limite” de um modo geral é traduzida através da condição de
liberdade que cada usufrui, porém seus pais estão bem conscientes de quem são seus filhos,
onde eles vão com quem andam e o que frequentam. Entendemos o conceito de rotina com o
auxílio do Dicionário de Filosofia
(2002
), que define a rotina como os caminhos
percorridos e conhecidos pelo sujeito que, em geral automaticamente, obedece aos horários,
hábitos e procedimentos adquiridos e incorporados, sendo necessária uma diferenciação
122
entre dois tipos de rotina: a mecânica e a estruturante. A rotina estruturante é como uma
âncora do dia-a-dia, capaz de estruturar o cotidiano por representar para a criança e para os
professores uma fonte de segurança e de previsão do que vai acontecer. Ela norteia, organiza e
orienta o grupo no espaço escolar, diminuindo a ansiedade a respeito do que é imprevisível ou
desconhecido e otimizando o tempo disponível do grupo. É um exercício disciplinar a
construção da rotina do grupo, que envolve prioridades, opções, adequações às necessidades e
dosagem das atividades. A associação da palavra âncora ao conceito de rotina pretende
representar a base sobre a qual o professor se alicerça para poder prosseguir com o trabalho
pedagógico.
Cassio:
Como é que você avalia a sua quantidade as atividades que
você faz? Hoje em dia eu posso classificar como “Muito”. Não. Eu o
classifico como muitas atividades. Mas também não são poucas. Talvez em
julho agora vai crescer. Eu vou começar a fazer um curso todo dia... Você
tem a sensação de que o dia deveria ter mais horas pra dar conta de
tudo o que você precisa? Ah tem. Agora eu sou um pouco contraditório.
Porque quando tem muitas coisas, muitas coisas para fazer, eu não acho que
tinha que fazer aquilo mais horas. Às vezes, eu sentia isso. o dia passa
muito rápido. Eu queria ter mais tempo, de repente, se tiver um pouco mais:
“O dia já acabou. Cheguei em casa essa hora. Eu queria ler tal livro”, eu
tenho um monte de livro que não leio... É. A gente fica sonhando por aquele
espaço de tempo, uma semana de férias de tudo, esquecer: “Eu não vou fazer
nada! Nada mesmo. Vou ficar em casa”, fazer o que me der... Eu tenho
amigo que a gente entrou no colégio junto. E a gente é muito amigo mesmo.
Até hoje, a gente tem amizade muito presente. Ah sempre. Duas vezes por
mês assim. A gente sempre se fala sempre pelo MSN. Então, eu sei o que
está acontecendo. É. Mas a gente se vê sim uma ou duas vezes por mês. Tem
um outro também, mas esse é diferente porque ele mora aqui no condomínio.
15 anos.
A motivação para fazer algo é inversamente proporcional à disponibilidade de tempo
para desempenhar tal tarefa. Nunca sei se tenho tempo suficiente para fazer alguma coisa até
terminá-la (ou perceber, dias, meses, anos depois ou nem perceber que sequer se teve
tempo para finalizá-la). Por que, quando a gente quer realmente agir, falta-nos tempo e,
quando nada queremos, tempo de sobra nos resta? Não seria mais fácil se fosse possível
atingir uma espécie de equilíbrio padrão, que se perpetuasse no tempo?
Nossa noção de tempo não está ligada apenas ao nosso íntimo o tempo psicológico;
está relacionada também à cultura e à sociedade em que estamos inseridos. Percebemos sua
passagem também a partir dos pontos de referência demarcados por outras pessoas. Esses
pontos de referência evoluíram muito desde o início da humanidade. O tempo tem, portanto,
uma história.
O tempo psicológico é o tempo que a personalidade assume interiormente; é o tempo
filtrado pelas vivências subjetivas, muitas vezes carregadas com toda a problemática
123
existencial. Assim é que o tempo psicológico se alarga ou se encurta conforme o estado de
espírito em que se encontra a pessoa.
A experiência da sucessão dos nossos estados internos leva-nos ao conceito de tempo
psicológico ou de tempo vivido, também chamado de duração interior A primeira
característica do tempo psicológico é a sua permanente descoincidência com as medidas
temporais objetivas. Uma hora pode parecer para um individuo tão curta quanto um minuto se
ele a vive intensamente; um minuto pode parecer-lhe tão longo quanto uma hora se ele se
encontra entediado. Variável de indivíduo para indivíduo, o tempo psicológico, subjetivo e
qualitativo, por oposição ao tempo físico da natureza, e no qual a percepção do presente se faz
ora em função do passado, ora em função de projetos futuros, é a mais imédiata e mais óbvia
expressão temporal humana.
Cassio:
Quanto tempo é muito pra você? Isso é relativo, depende. Isso é
relativo e depende do ponto de referência. “Muito tempo” em relação a quê?
Em relação a uma amizade, na minha idade, 15 anos é bastante coisa. Pra
determinado fato, às vezes, 1 mês é muita coisa. Às vezes, 1 mês pra pessoa
pedir desculpa por um erro sério que ela cometeu com você, 1 mês é muito
tempo. Então, eu acho que isso é relativo.
Com relação a esta questão, os jovens chegaram a mesma resposta. O tempo é relativo.
Esse tempo da subjetividade é também chamado de tempo virtual, porque uma mudança e
manejo, de acordo com o momento em que ele é vivido. Em qualquer situação psicológica, o
tempo cronológico é relativizado em confronto que este tempo que varia de acordo com as
vivências emocionais. Temos que considerar essa relatividade na percepção do tempo, que é
uma das funções psíquicas mais sensíveis ao tempo. A percepção do tempo varia de acordo
com a idade. Quando éramos crianças, o tempo parecia simplesmente o passar. Tudo era
novo, toda experiência era única. Começamos a crescer e as coisas parecem perder o brilho. A
vida acelera, ficamos constantemente submetidos a pressões externas e metade do que
planejamos sequer se realiza - por falta de tempo, obviamente.
Você acha que viveu muito? Eu posso dizer que minha mãe me
considerasse uma expectativa de vida eu não vivi muito, mas eu acho que
sim. Também depende do parâmetro. Porque já aconteceu muita coisa. A
minha vida já mudou muito assim, colégio, faculdade, trabalho, eu vejo o
quanto eu cresci. O quanto a minha vida mudou. Quanta coisa eu já aprendi.
Ainda tenho muito a aprender, lógico.
Os entrevistados têm a sensação de que vivenciaram muitas coisas, sendo assim,
acham que viveram muito, como Cássio fala: “já aconteceu muita coisa”. Porém, têm a
124
noção exata de que têm muito o que viver e aprender. Ele sabe que tem muito a aprender e
experimentar em sua vida.
Fernanda:
Eu tenho uma avó viva que é a avó materna. E ela tem
quantos anos? 80. E por parte de pai eu não conheci o meu avô. Ele morreu,
eu nem era nascida. E a minha avó morreu quando eu era muito novinha. Eu
devia ter uns 3 anos. Mas eu não lembro muito dela. Então, a sua única avó
viva é essa de 80 anos. É A minha avó mora em Copacabana, eles estão
muito longe. Mas sempre que a gente vai. Não é muito longe, mas não
tenho carro, então, é meio longe pra mim. E a minha a vai pra casa
também. E votem um bom relacionamento com ela. Tenho, super, eu
adoro ela. Os seus avôs eram separados, casados... Eles eram casados. Por
parte de mãe a minha avó é do casamento do meu avô. Exatamente, o que
tem o filho mais velho. Mas eram casados. E por parte do seu pai?
Ficaram juntos a vida inteira. Era o 1º casamento dos dois. E você tem
irmãos? Eu tenho um. Ele é mais novo ou mais velho. Mais novo.
Fernanda, assim como Cássio, tem a consciência da historia familiar. Tem a memória
da família preservada. Com relação as suas atividades, considera-as normais. Apesar do
desejo de que seu tempo parasse para que ela pudesse aproveitar o máximo possível.
Maffesoli não aceita (como era na modernidade) a preocupação com o futuro; e sim o pós,
ao presente. Defende a vida vivida no presente, o que tem importância é viver o hoje e o
agora. O presenteísmo parece ser a característica deste culo”. Afirma que a eternidade
está no presente, no aqui-agora (Maffesoli, 1998). Pergunto a Fernanda se ela não tem a
sensação de que o dia deveria ter mais horas pra dar conta de tudo o que precisa. Sua resposta
é direta: “Tenho, muita”.
Essa sensação é explicada por Lipovetsky: “Em uma época, de consumo emocional, o
importante não é tanto acumular coisas quanto intensificar o presente vivido” (Lipovetsky,
2006, p.70). Devemos deixar clara a importância do tempo existencial, pois, neste contexto, a
intensificação do presente vivido, o momento presente, é o que conta. A importância do
tempo presente está refletida nas entrevistas, do início ao fim. São exemplos de sociedade, em
que o ponto crucial é gozar a vida aproveitar ao máximo tudo o que tem para fazer. Não se
pode perder tempo.
Fernanda:
Você queria que o dia durasse mais tempo? Queria. Eu não
sei nem porque queria que durasse mais tempo, pra dar mais tempo pra fazer
as minhas coisas. Mas é uma coisa minha, é engraçado, eu não quero que
acabe. Nada. Eu não quero que acabe tipo, eu não quero que acabe... o
máximo aproveitar tudo.Eu sei que cada ano que termina é um ano a mais.
Tipo eu não quero ficar velha, eu não quero morrer. Eu gosto muito de viver.
Então, eu não quero que acabe. É assim. E você tem essa sensação de que
passa tudo rápido? Tenho. Passa tudo rápido, a vida passa rápido. Com 4
ou 5 anos eu não lembro. Mas cada ano que passa, passa mais rápido.
125
Essa sensação da Fernanda é explicada. O indivíduo, cada vez mais, está na busca do
seu bem estar, acrescentado que o marketing atual o aterroriza com o fato do envelhecer e a
possibilidade de morrer. Isso significa a hipervalorização do tempo presente, onde temos que
aproveitar tudo que está ao nosso alcance, não podemos deixar nada para depois e procurar
coisas que venham a nos trazer esse bem estar de nos sentirmos mais vivos e mais jovens.
Observa-se a impaciência dos jovens em se tornar adultos, não querem envelhecer, a
busca de sensações de prazer vividas na infância, estimulando a compra de mercadorias que
estejam ligadas à infância.
Embora percebamos o tempo de formas diferentes ao longo da história, ao menos em
termos físicos, ele é sempre o mesmo. Um minuto terá sempre 60 segundos, tenhamos nós 5
anos de idade ou estejamos comemorando 70 anos. Por que, então, percebemos de forma
diferente essa mesma quantidade de tempo ao longo do tempo? Por que 5 minutos para quem
espera parecem uma eternidade, ao passo que os mesmos 5 minutos gastos em diversão
parecem passar tão rápido?
Fernanda:
Você tem amigos de muito tempo? Tenho. Eu tenho uma
amiga, hoje em dia não é tão minha amiga, mas a gente ainda se fala e ela
realmente é desde que nasci, de barriga. As nossas mães eram amigas antes,
a gente foi muita amiga, mas hoje não é tanto não. A minha melhor a
amiga assim hoje de 10 anos atrás, a gente sempre muita amiga. É até hoje.
E quanto é muito tempo pra você? Hoje em dia eu acho que tipo 4 anos é
muito. Por exemplo, assim eu fico vendo que tem um, uma garota que eu
conheço e não sou muita amiga. Ela vai morar 4 anos fora. Eu fico pensando
4 anos a gente tem 19 anos, estamos entrando na faculdade, tem gente que
está no período, em menos de 4 anos vai terminar a faculdade. E cara, em
4 anos ela pode voltar e ter a amiga dela casada. pode ter gente com
filho. Eu posso ser hoje a melhor amiga e daqui a 4 anos nem vou olhar pra
cara. Então, é muito tempo. Eu sei que não é. Num livro de história 4 anos
não é nada, é 1 dia. Mas, pra nossa vida, 4 anos é muito tempo. (...) Você
acha que já viveu muito? Eu acho que já fiz muita coisa. Eu acho. Eu tenho
uma frase que sou apaixonada e foi o Woody Allen que falou, assim, eu amo
essa frase, eu amo, que ele fala assim: Ele poderia viver até 100 anos, mas
pra viver 100 anos teria que desistir de tudo que faz ele querer viver até 100
anos. Eu acho o máximo. Cara, se eu morrer com 40 anos foi porque Deus
quis. Mas eu vou ter que aproveitar muito porque a gente nunca sabe o dia de
amanhã. É o que eu falo. Eu falei pra uma amiga minha e nesse feriado a
gente foi acampar, eu liguei pra ela e ela falou: “Eu não sei se vou. – Como é
que você não sabe? Você já sabe que vai viajar essas mesmas pessoas pra
esse mesmo lugar, tem muita coisa que é única. Isso nunca mais vai
acontecer. E você não pode dizer não”, se for ruim, foi. Mas se for bom você
vai ter uma recordação boa. Essa filosofia é de aproveitar muito. É. A
vida e o tempo. Daqui a 1 ano você vai olhar pra trás: “O que eu fiz esse
ano?”... sim, em 3 anos acontece muita coisa. Mas se o for assim em 3
anos a sua vida não vai mudar.
Por exemplo, as viagens, segundo Lipovetsky, formam a juventude. Ele cita que o
hiperconsumo tem a cargo “rejuvenescer” incessantemente o vivido pela animação de si por
126
experiências novas; “é um hedonismo dos começos perpétuos que alimente o frenesi das
compras” (Lipovetsky, op.cit., p.70). Assim sendo, este indivíduo vive pela busca do sonho de
uma juventude eterna, do presente intensificado e reiniciado a cada instante.
Fernanda
: Você acha que já sabe tudo o que vo precisa? Não.
Ninguém sabe tudo o que precisa. Não. É impossível. A gente está sempre
aprendendo. Você acha que seus pais sabem das coisas? Não. Porque
ninguém sabe de nada. São pessoas que você confia? Pra pedir uma
opinião forte, séria. Eu acho, mas tipo é a opinião deles. Assim, é muito
difícil... A minha mãe eu peço a opinião dela pra tudo. Mas meu pai eu não
sei se concordo muito com o jeito dele, entendeu? É. Você acha que uma
pessoa independente da idade, que tenha 13 anos, vê a vida de um jeito assim
absurdamente bom, você concorda, a opinião dela vai valer muito mais do
que a do meu pai. Eu não concordo muito com as coisas do meu pai. O que
você considera que é velho? Como assim? Uma pessoa velha? Cara, eu
conheço pessoas de 18 anos que são velhas. A pessoa é velha do jeito que ela
vive. Porque se você aceita a sua velhice, você vai ser velho. Tipo tem
preguiça, não faz as coisas você é velha. Não tem espírito de gente jovem. A
minha avó tem 80 anos eu não considero ela velha. Não. Ela é toda
serelepe...Quais são os seus sonhos e expectativas? Cara, o meu sonho é
impossível. O meu sonho mesmo é não ter endereço. O meu sonho é pegar
uma mochila e sair pelo mundo. Esse é o meu sonho. É isso que eu quero pra
minha vida. Era isso que eu queria. Eu queria assim pegar uma mochila:
“Estou 5 dias em Bangkok. Acordei e quero ir pra Paris. Eu vou pra Paris. É
impossível porque tem que ter muito dinheiro. Lógico. Eu vi um filme “Na
Natureza Selvagem”, um cara acabou de se formar e ele tinha QI pra entrar
em Harvard. É uma história real. Ele queria ir pro Alaska, ele cismou...
que ele queria ir como andarilho. Ele tinha 240 mil dólares, ele doou tudo
pra uma instituição, ele tinha 19 anos. Pegou a mochila e foi embora. Foi
correr o mundo. Sem dinheiro nenhum. Eu queria fazer isso pra ter
experiência de vida. Pra ter outro pensamento. Pra conhecer pessoas
diferentes. Não esquecer a minha vida, eu gosto da minha vida. Mas ele fez
isso com uma mochila de camping...
E.T.:
Você poderia descrever um pouco da sua família, por parte de pai
e por parte de mãe. Tenho, meus avós são vivos, por parte de pai e por
parte de mãe. Por parte de mãe, tenho minha bisavó, ela está com 98 anos. E
por parte de pai não tenho bisavós, isso, sei por parte de pai, tenho mais
afinidade com ele, tem 76 anos. Minha a tem 68. Na mesma média
também, acho que minha avó por parte de mãe tem 65. Ah, meu afaleceu
este ano. No início do ano, mas eu não tinha muita afinidade com ele não. Eu
tenho muita com meu apor parte de pai. Quando eu nasci, fiquei mais na
casa dele. Minha mãe não tinha condições de fazer a faculdade. Quando
minha mãe engravidou, estava no segundo período da faculdade de
medicina, então eu fui criado com meu avô e com minha avó. Mas que eu
fui o terceiro neto homem, e meu avô ficou muito agarrado comigo porque
ele perdeu um filho que era parecido comigo num acidente de carro. Então
ele me escolheu pra filho, por isso eu sempre fui muito agarrado com ele.
Eles moravam em Nova Iguaçu? Não, eles moravam no Méier. Eu nasci
em Nova Iguaçu porque minha mãe não tinha condições de pagar o parto e
conhecia a filha do dono do hospital de lá. Ela pediu e minha fez o parto lá,
num quarto para familiares. Meus pais moravam na casa atrás do meu
avô. Era todo dia, até uns 4, 5 anos. Seus avós ainda são casados até hoje?
Não. Meu avô separou da minha avó porque sempre foi um problema dentro
de casa. Ele foi policial federal, então sempre foi muito ciumento com minha
avó, então tinha muita briga em casa por causa de ciúme da minha avó, com
os filhos, e ele sempre cheio de mulher. Mas ele é separado da minha avó,
127
mas fala com ela, ajuda nas coisas de casa, a família é toda separada, mas se
reúnem. Meu avô fala com minha avó normal, não ficou nenhum clima ruim.
Logo que meu avô saiu de eu me mudei para um apartamento em
Jacarepaguá, por isso não notei muita diferença. Como voadministra o
seu tempo? Eu sou hiperativo, faço produção de música vendo televisão,
mexo no computador, tudo ao mesmo tempo. Eu chego de manhã. Hoje eu
fui dormir 7 horas da manhã, acordei as 13:30 e vim pra agora, vou voltar
pra casa e terminar a produção e tenho que fazer show hoje no Estado
Livre, tenho que chegar cedo. Amanhã é domingo e eu tenho que ir para
academia. (...) Como você avalia a sua quantidade de afazeres, muito,
pouco? Eu faço muito porque não gosto de ficar parado descansando, não.
Se eu não tiver nada para fazer, vou ao condomínio correr, vou ao Leblon
comer alguma coisa. Você tem a sensação de que o dia devia ter mais
horas para dar tempo de fazer tudo que você precisa? Tá bom assim,
porque aí cria uma expectativa para o dia seguinte, uma ansiedade.
E.T. se considera hiperativo, ele faz várias atividades ao mesmo tempo, e não se cansa.
Outro aspecto marcante é a preocupação excessiva deo perder tempo, pelo contrário,
querem resolver as coisas quase que instantaneamente, quase online. De acordo com
Lipovetsky, “nesse contexto de estilhaçamento dos enquadramentos espaços-temporais do
consumo, afirmam-se novos comportamentos, marcados pela exigência de eficácia e de
rapidez, pela preocupação obsessiva de ganhar tempo (Lipovetsky, op.cit., p.111).
De acordo com o autor, o indivíduo é apressado e o fator tempo é um referencial
importante, ordenando a organização do cotidiano.
Hoje, podemos dizer que nosso tempo se tornou quase que instantâneo. Tudo é ultra-
rápido. Os entrevistados desconhecem o que o é instantâneo, o presente, o agora, o cada
momento pode ser crucial. Eles interagem ao mesmo tempo e em qualquer lugar com os
outros e existem várias formas de se conectar, através de mensagens de texto no celular, fotos
digitais, DVD, Youtube.
Carlos:
A família por parte de mãe veio do sul, ela não nasceu aqui no
Rio. Meu avô era descendente de alemão. Ele casou com a minha ae teve
4 filhos. Blumenau. Dos 4 filhos, um é a minha mãe, o 2 homens e 2
mulheres. Minha tia e meus 2 tios. A minha mãe ficou no sul até os 25 anos.
Conheceu o meu pai aqui no Rio. Ele foi pra Santa Catarina ficar um tempo
com ela, pediu ela em casamento e se casaram aqui no Rio. E a minha
família por parte de pai, meu a era político, descendente de português,
meu bisavô era português. Ele casou uma vez, teve uma filha. Que é a minha
tia, hoje em dia. Separou e casou com a minha avó, onde teve mais 2 filhos,
o meu pai e o meu tio. E você tinha relacionamentos com seus avôs?
Tenho, tenho. Eu viajava, como a família é do sul, a minha mãe é a única
que mora aqui no RJ. O resto da família toda mora em Santa Catarina. A
gente ia duas vezes por ano, nas férias de janeiro e julho. Ou a gente ia pra
ou eles vinham pra . Era intercalado. Então, eu tinha uma relação bem
próxima dos meus avôs. Da parte de mãe. Parte de mãe, porque agora
acabei de voltar de viagem lá da casa da minha avó. Estive um tempo
agora. E por parte de pai, todo domingo tinha almoço de família. E como eu
morava na
z
ona Sul e eles também, era proximidade. E o meu avô era
128
presidente deliberativo do Vasco também. Como é que voadministra o
seu tempo? A faculdade é a tarde e são horários variados. Tem dia que eu
entro 11h e saio às 7 da noite. Tem dia que saio 1 da tarde... De manhã eu
durmo, acordo e vou pra faculdade. Aí, 2ª, e 6ª eu estava trabalhando no
meu estágio. Trabalhava a tarde toda até de noite. Voltava pra casa, dormia...
Desde os 14, 15 anos, os meus pais não precisavam me acordar cedo... Eu
sempre acordei sozinho. Botava o meu despertador, acordava, tomava o meu
banho, fazia o meu cada manhã. o meu irmão não, se a empregada não
acordar ele, ele não acorda... A minha mãe falava: Você sabe a sua
responsabilidade. Você vai ao jogo hoje e sabe que tem que acordar às 7h da
manhã, quem vai sofrer é você”... Como que você avalia atividades que
você faz? Eu acho que o necessário. Razoável. Porque eu tenho o meu
tempo de estudo na PUC e agora tenho o meu tempo de trabalho. Quando
não tinha o meu tempo de trabalho, (...) dormia de tarde e não fazia nada. E
de noite ficava no computador. Agora não. O horário está bem compacto. Os
tempos livres que eu tinha preenchi com trabalho, com estágio. Geralmente,
10h estou em casa, eu custo pra dormir mesmo, vou dormir às 2h da
manhã. Você dorme tarde? É. Eu durmo tarde. E as minhas aulas no
máximo começam às 11h, eu podia acordar até as 10h que estava tranquilo.
Você tem a sensação de que o tempo deveria ter mais horas por dia?
Não. Eu não acho. O meu tempo está certinho.
A sensação de Carlos é diferente dos outros entrevistados, ele acha que tem o
número de atividades necessárias e que não precisa de mais tempo para adequá-las. Sente-se
satisfeito com tempo que tem para realizar suas tarefas e demonstra ansiedade de expandir sua
rotina por temer perder tempo.
Você tem amigos de muito tempo? As melhores amizades que eu tenho foi
com 14 anos. Tem 6 a 7 anos as maiores amizades que eu tenho. Eu não
tenho nenhum amigo com mais de 10 anos de amizade, não. Quando eu vim
da
z
ona Sul eu perdi muito contato lá. E na Barra era condomínio, eu não
saía de jeito nenhum. Eu perdi muito contato. Quanto tempo é muito pra
você? Eu acho que a vida toda. Não sei. Eu nunca pensei... Você falou que é
muito ansioso. Sou. Eu odeio fila. Odeio ficar parado. Eu prefiro dar a volta
no RJ com o carro, gastar toda a gasolina, mas estar com o carro andando do
que atravessar 1km, sei lá, ficar 1km parado. Então, 5 minutos é muito
parado. Parado é. Parado não, tem videogame, computador... eu saio e vou
na rua, dou uma volta. Muito tempo pra você é quando está parado. É.
Hoje eles não têm paciência para esperar e os dados levantados confirmam isso. A
época do “saber esperar”, em que a experiência da espera era um elemento de felicidade,
recua em favor de uma cultura da impaciência e da satisfação imédiata dos desejos, o que
contribui para a geração espera aflita (Mendes de Almeida, 2007, p.37).
Carlos:
Você acha que já viveu muito? Não. Ainda tenho muita coisa pra
fazer. Vo sabe tudo o que precisa? Não, não, eu não sei de nada.
Quando eu começo a imaginar assim: “Eu estou entendo!”, eu vejo que não
estou entendendo nada e tenho muito o que aprender ainda... <inaudível>...,
não pode parar nunca, porque se eu estagnar aqui agora eu vou ter, tipo, 2
anos atrás. A cultura no momento era grafite, tudo era grafite, todo
mundo: “Grafite! Grafite!”... Os caras que faziam grafite continuaram no
129
grafite. Hoje em dia o grafite ficou pra trás, ele está estagnado... Não
aprenderam uma coisa nova... É que nem medicina, você nunca pode ficar
assim “Eu sei de tudo!”, se você parar, um abraço. Quem teve uma idéia
melhor vai passar você.Você acha que os pais sabem das coisas? Não.
Ninguém sabe de muita coisa não. Todo mundo acha que sabe muito. Eles
sabem mais certas coisas e tem coisas que eu sei mais do que eles. Uma
pessoa velha pra você tem quantos anos? Não precisa ter necessariamente
idade. Eu tenho um amigo com 18 anos e parece que é a pessoa mais velha
que conheço no mundo. Ele não faz nada, está sempre com cara de
aposentado, assim... É horrível. A gente chama ele de velho, idoso, porque
ele não faz nada... A minha avó tem, sei lá, 70 anos, é ativa... A pessoa
velha não tem uma idade. Não tem. É uma idade mais mental.
Flavio:
Como você avalia a quantidade de atividades que faz? Na época
do curso até que era bastante, saía do colégio e ia direto para o curso. E você
sai tarde do colégio, chega aqui 14:30h. E eu não faço educação física
que é até um pouco mais tarde, tinha o curso, malhava de noite. Agora eu
vou parar com o Ibeu e vou começar com um cursinho. E você tem a
sensação de que o tempo passa muito rápido? Depende do dia, quando eu
quero fazer aquela coisa, o dia passa rápido. Quando a gente gosta do que
está fazendo passa rápido, quando é chato, passa devagar. Você tem
paciência para esperar? Tenho. Depende, como assim, no geral? Vocêo
é ansioso. Por eu ser comunicativo, acho que sou meio ansioso, mas não me
atrapalha esperar, eu espero tranquilo. Sou tranquilo, minha ansiedade não
me atrapalha.
Flavio também sente a relatividade do tempo e confirmando a teoria de que ao
estarmos realizando algo que nos motiva o tempo passa rápido e quando lidamos com algo
indesejável o tempo parece não passar.
Flavio:
O que você considera que é velho? Uma pessoa velha teria
quantos anos? Não é isso. Acho que velho, pra mim, não é uma pessoa que
tem muitos anos. Tem muita gente velha com espírito de aventura, com
espírito jovem. Acho que velho é uma pessoa que desiste facilmente das
coisas. Você pode ter cinquenta anos, mas se pensa como um idoso sim
esta pessoa é velha. Mas se uma pessoa que tem oitenta anos e ainda quer
viver, fazer as coisas, pra mim não é velha, é uma pessoa com fome de viver.
Diante da questão acerca do que eles consideram velho, a maioria diz que a velhice é
algo relativo, dependente da motivação que o sujeito possui para viver de forma saudável e
produtiva e é esse o diferencial. Quando o jovem encontra vários objetivos, estes lhe
intensificam a vida. Daí, dão vários exemplos dos avós como pessoas que seriam altamente
ativas cheias de vida, com objetivos contínuos. E alguns deles comentam que têm amigos de
dezenove anos que agem como velhos, sem disposição para nada, que querem ficar em casa o
tempo todo e isso não os caracterizam como deprimidos, e sim uma característica
comportamental.
Simone de Beauvoir, em seu livro clássico sobre a velhice, mostra, entre outras coisas,
que o inconsciente não tem idade e que temos forte tendência a nos comportar, na velhice,
130
como se jamais fôssemos velhos: aos 60 anos, raros são os que se consideram nessa condição
e, mesmo depois dos 80 anos, muitos que acreditam ser de meia-idade e uns tantos que
continuam a se achar jovens (Beauvoir, 1990, p.48).
Eduarda:
Me fala um pouco da sua rotina. Como é o seu dia-a-dia.
Acordo por volta das nove, vou para a academia, volto em cima da hora para
tomar banho, almoço e quando é meio dia tenho que estar no ponto de
ônibus do condomínio para ir para a faculdade. Chegando lá, fico até as sete
e o certo é eu pegar o ônibus do condomínio que passa por volta das sete e
meia, sete e quarenta e cinco. Final de semana? Chego em casa e toda
semana tem uma novidade. Antes quando eu ficava à toa, ficava o dia inteiro
fora com a minha mãe, eu ficava a noite toda na internet, Orkut, ficava até
meia noite ou uma da manhã, vendo filme...
Uma das características do Orkut é que ele é acessado basicamente por jovens.
Segundo dados divulgados no site Google, “aproximadamente 58,47% são pessoas entre 18 e
25 anos”. No caso dos entrevistados, todos acessam o Orkut diariamente e várias vezes ao dia,
como diz Eduarda, que passava a noite toda no Orkut. Evidencia o hábito que se estabelece
dos jovens pertencentes a esta classe social que tem seu tempo disponível para este tipo de
situação (Oliveira, 2004, p.73).
Bia:
Como é que você administra o seu tempo? A minha rotina é muito
pesada. Eu comecei a trabalhar e teve a transição pra faculdade. A faculdade
cobra, mas cobra assim de você e você tem que se cobrar. Até a minha mãe
tem me cobrado: “Tem estudado? Tem prova quando?”... Ela realmente se
interessa. Ela sabe que tenho prova agora na 3ª feira: “Já estudou? A que
hora você vai estudar? Vai trabalhar de dia porque não estuda a noite?” e
nessa transição de faculdade é que eu tive de cobrar muito de mim mesma. E
a minha rotina é essa, a minha faculdade é integral, eu tenho aula de manhã e
de tarde. Com flexibilidade de horário, eu entro às 8, mas tem dias que eu
entro às 10, 11h. Depois eu venho pra casa. Eu tenho um tempo. Eu não vou
direto trabalhar. Não teria esse tempo se eu saísse de às 5h. Mas como eu
peço folga, eu converso com eles, eu tenho folga toda e 5ª. Nesse período
estou saindo muito tarde de lá. Eu vou pra aula e tudo mais, e depois eu vou
trabalhar. Nas minhas folgas, eu tento ver os meus amigos que não são de lá.
Sempre tento marcar com as minhas amigas porque eu sinto saudade. E você
acha que tem muita atividade? Acho. Eu me sinto cansada às vezes. Você
tem a sensação de que o dia deveria ter mais tempo? Acho. Pra quê? Pra
eu descansar mais. Eu sinto falta de dormir mais. Você tem a impressão
que o tempo passa muito rápido? Tenho. Ultimamente, tenho. Quando eu
era mais nova não. Não. Em termos de anos, assim. Quando eu era mais
nova, tinha pouca responsabilidade e fazia pouca coisa, o tempo se arrastava.
Mas ultimamente eu tenho sentido que o tempo tem passado muito mais
rápido. Quanto mais velha eu fico... Eu faço mais coisas, quando você ocupa
o tempo ele passa mais rápido. A não ser que esteja fazendo alguma coisa
chata. Eu acho que esse ano de 2008 passou muito pido. Muito rápido
mesmo. A gente está no Natal de novo. E eu lembro como se fosse ontem
a noite de Natal do ano passado.
131
Bia tem a sensação de que, com o tempo passando, ela vai se dando conta que cada
vez passa mais rápido de acordo com a quantidade de atividades que faz. Ela estuda e trabalha
e faz parte de um grupo minoritário de entrevistados, pois a maioria só estuda, com a
justificativa que os pais acham que a dedicação ao estudo seria o mais importante neste
momento. Não pressão nem incentivo dos pais para que estes jovens trabalhem. Os que
trabalham, o fazem porque querem. Somente um entrevistado trabalha no negócio dos pais.
Bia acredita que a responsabilidade vem com a maturidade. E se ressente do pouco tempo que
dispõe para o lazer e para descansar, e aproveitar mais a vida, que é uma característica desta
nossa sociedade atual.
Segundo Freud: A civilização está obedecendo às leis da necessidade econômica,
visto que uma grande quantidade de energia psíquica que ela utiliza para seus próprios fins
tem de ser retirada da sexualidade” (Freud, 1969, p. 125). Nesse sentido, Freud aponta para a
necessidade de condicionar os sujeitos a trabalhar em prol do bem comum e da ordem social.
Bia:
Você tem paciência pra esperar as coisas? Tenho, antes não. Eu sou
uma pessoa, a minha personalidade é de uma pessoa impaciente. Eu sou mais
uma pessoa impaciente... Mas como cresci e amadureci muito nesse trabalho
que estou há 6 meses. Eu aprendi a ter paciência. Eu aprendi a ter... é
paciência com as pessoas. Você tem amigo de muito tempo? Tenho uma
amiga qualquer foi a minha amiga da vida, falo com ela até hoje. Eu sou
amiga dela até hoje. Quanto tempo é muito pra você? Eu acho que muito
tempo para mim, eu não posso falar depende, mas depende... Depende do
que eu estou fazendo e se aquilo realmente é muito tempo. Por exemplo, eu
crio uma amizade com uma pessoa em pouco tempo te parece que é uma
amizade de muito tempo. Mas outras amizades que m muito tempo, mas
foi contato ou coisa da vida, ou até uma briga, não sei. Eu acho que muito
tempo pra mim são anos. Uns 10 anos é muito tempo. Conta coisa pra
caramba. Mas também, por exemplo, quantas coisas aconteceu nesses 6
meses? Parece que é muito tempo, mas matematicamente falando... Você
acha que viveu muito? Não. Por mais que muita coisa tenha acontecido,
seria hipócrita falar aqui que vivi muito e já construí muita coisa na minha
vida. Porque pessoas mais velhas têm mais experiência, e mais tempo. Não é
à toa pai ensinando o filho, ensinando filho, ensinando filho... E avó
ensinando netos... eu não gosto de fugir muito desse ensinamento de idade e
de conhecimento e de sabedoria. Voacha que sabe tudo o que você
precisa? Não. Porque eu não vivi nada ainda. Eu acho que tenho muita coisa
pra viver, pra aprender, muita gente pra conhecer. Eu acredito que as pessoas
podem ensinar muitas coisas às outras. Você acha que os seus pais sabem
das coisas? Por exemplo, quando voprecisa de uma orientação você
recorre a eles? Acho que sim. São. Uma pessoa velha pra você tem
quantos anos? 80.
Airton:
Me conta um pouco sobre a sua rotina. Meu tempo é bem
corrido, gasto muito tempo indo e voltando pra faculdade. Mas eu preencho
este tempo, eu costumo ler indo e voltando. Não, eu vou de ônibus “frescão”.
De carro eu perco um tempo precioso, eu poderia estar fazendo outra coisa
que eu faço quando eu vou de ônibus. Acordo 5:40h, tomo café, tomo banho
e saio de casa 6:05h, vou até o ponto, pego o “frescão” e chego na faculdade
7:30h e de lá só saio 13:00h. Quando eu não tenho nada para fazer, à tarde eu
132
volto pra casa direto, pego o frescão de volta e chego em casa umas 14:30.
Tenho. Eu chego em casa, almoço, vou para academia direto, passo um
tempo volto e estudo. Academia, faculdade e inglês duas vezes por
semana. E como você avalia a quantidade de atividades que você faz por
dia? Eu acho muito. Você tem a sensação de que o dia deveria ter mais
horas? Tenho, certamente. Pra eu poder dormir um pouco mais. Eu acho que
dormir as 22:00, 22:30h e acordar as 5:40h é muito puxado. Se tivesse que
fazer isso todo dia, todo final de semana, acho que não aguentaria. Você
tem a sensação de que o tempo passa muito rápido? Tenho. Acho que
pelo tanto de coisas que eu faço. Quando você era mais novo, você achava
que o tempo passava muito devagar? Muito devagar. o sei. Quando eu
era criança eu achava que o tempo passava muito devagar, principalmente
nas férias. As tardes em casa, de férias, era uma eternidade muito boa. Você
tem paciência de esperar as coisas? Não, não tenho. Me acho, totalmente
ansioso, pra qualquer coisa. Geralmente quando tem alguma coisa difícil
para fazer no dia seguinte, eu durmo mal. Mas acho que tem um lado
positivo que é quando tenho alguma tarefa difícil para fazer, eu tenho
vontade de terminar logo, acabo superando, gosto de fazer as coisas na hora.
Na entrevista de Airton, mais uma vez, percebemos que atualmente uma
hiper-aceleração do tempo. Hoje o tempo passa muito mais depressa do que uma
pessoa da mesma idade perceberia esse tempo no passado. Portanto, isso varia
com idade, contexto, momento de vida, sua percepção de vida, suas preocupações
com futuro.
Airton:
Quais são seus sonhos e suas expectativas? Constituir uma
família boa, com uma base sólida, ajudar bastante gente e ser bem-sucedido
profissionalmente. Você tem alguma preocupação no momento? Acho que
a gente sempre tem. Minha preocupação é sempre melhorar na faculdade. Eu
acredito que sou um aluno bom.
Mariana:
Fale um pouco da sua rotina. O meu dia-a-dia é muito inútil.
Muito inútil. Depois que eu me tornei sedentária, eu parei o balé, fiquei
sedentária, pra sair de casa... Depois eu fiz academia, malhei um tempo...
<risos>... Eu tentei fazer natação não deu certo. Fui fazer vôlei de praia não
deu certo. Enfim, eu tentei outras coisas. Depois a escola também era a tarde.
Não. Era de manhã. À tarde, eu fazia curso de costura. Mas desde que entrei
agora pra faculdade a minha vida começou a ficar inútil. Porque a minha
faculdade é à tarde, de 1 as 7, então... É horrível. Eu sou sedentária porque
eu adoro dormir. Eu adoro! Como me tornei sedentária, eu comecei adorar
mais ainda dormir. Mas é sim, eu estou falando, eu acordo pra tomar banho,
almoçar e ir pra faculdade. Eu faço isso. E tem a psicóloga que é o meu
único compromisso fora da faculdade. Eu não sou muito ligada em
computador. Entro no Orkut e tal... MSN eu não entro mais. Chego à noite e
janto, a família toda em casa, conversando. Eu sou viciada em novela.
Qualquer novela eu vejo e meus pais também geralmente vêem... Como todo
mundo na casa acorda cedo, acabou a novela vão dormir. Aí, eu não tenho
mais nada pra fazer, eu não ligo pra computador. O computador fica no
quarto do meu irmão. Geralmente eu também vou dormir como todo mundo.
E como gosto muito de dormir, eu durmo até às 10h da manhã. A
quantidade de atividade... É bem pouca. E eu odeio isso. Agora era pra
fazer natação. Já era pra ter entrado. Você tem a sensação que o dia deveria
ter mais horas... Não... Eu já não faço nada. Você tem a sensação de que o
tempo passa rápido? Não. Pra mim passa muito devagar. O dia, mas
133
falando de ano assim pra mim passa voando. Durante o dia parece que se
arrasta, o tempo se arrasta. E fim de semana? Voa.Você tem paciência pra
esperar alguma coisa? Não, nenhuma. Você é muito ansiosa? Muito. Eu
sou muito ansiosa. Não sei. Eu sou muito ansiosa, não sei porquê.
Mariana já faz uma colocação bem diferente dos demais, o fato de estudar e de se
achar preguiçosa a faz se sentir inútil. Ela acha que o tempo passa bem devagar. Não podemos
deixar de acrescentar que esse tempo tem a ver com o contexto na qual Mariana esta inserida
e em seu estado de espírito. Como diz Scherer (2008), em seu artigo “Artes da memória
manhas do esquecimento”, “a juventude tem uma tendência a melancolia em função da
saudade do que ainda o fizeram”. Assim como este tempo de espera que o jovem da classe
média alta tem antes de enfrentar suas responsabilidades.
Romeu:
Quais são seus sonhos e suas expectativas? Meu sonho é ter
muita saúde, meus familiares, as pessoas ao meu redor, ter amigos
verdadeiros, ter uma família legal algum dia...É, casar, ter filhos, viajar, ter
um bom emprego, não ter problemas... Essas coisas, saúde... Você tem
alguma preocupação no momento? Digamos, eu sou preocupado... Eu digo
que não, mais eu tento não me preocupar para não me preocupar, em questão
dos meus pais, dessa separação e eu também estou com preocupação em
relação a minha...
Em relação às expectativas e sonhos dos entrevistados, a maioria aponta o desejo de
formar uma família, casar e ter filhos. Nessa direção Romeu pensa em saúde, família unida,
amigos partilhando da sua vida em valores tradicional. Outros entrevistados colocam o desejo
de ter sucesso profissional e também uma família. Os valores dos entrevistados consideram a
realização de um sonho o fato deles seguirem uma vida como todos os outros, a felicidade é
alcançada a partir da constituição de um lar, assim como poder ter dinheiro e sucesso
profissional.
Lis:
Como é que você administra o seu tempo, a sua rotina?Eu acordo
de manhã e faço as minhas coisas. Eu não tomo café da manhã. Eu não sinto
fome. Eu vou pro colégio. Volto do colégio, se for feira é o dia que eu
tenho curso de redação. Se for feira eu durmo assim, umas 4h, eu
acordo e vou direto pro curso. volta 8h. quando eu volto, janto.
Normalmente, quando tem um trabalho pro colégio, alguma coisa, eu faço
logo.E depois eu fico no computador, depois eu durmo.Você acha que o dia
tinha que ter mais horas? Não. Você tem a sensação de que o tempo
passa rápido. Não também. Eu não faço nada.Você acha que é uma pessoa
paciente? Não. Você ansiosa? Muito. Extremamente ansiosa. Você acha
que viveu muito? Eu acho que já vivi muito. Eu tenho 18 anos, mas eu
acho que já vivi muito.
Lis e Mariana acham que o tempo passa bem devagar em função da quantidade de
134
atividades que fazem. Os jovens de classe média alta têm uma fase de "espera" antes de terem
responsabilidades. Por isso, elas duas se queixam de a vida passar tão devagar, diferentemente
da juventude que se enquadra em outra classe social, cuja necessidade de trabalhar se faz
presente e com urgência pela necessidade de sobrevivência.
Heidegger distingue entre o
tempo originário e finito, movido pelo instante da antecipação, e o tempo vulgar e
infinito, motivado pela sucessão ininterrupta de “agoras”. Enquanto na concepção de
tempo finito estamos diante do porvir e da antecipação de modos de ser, na de tempo
infinito falamos do futuro e da postergação do vir a ser próprio que é jogado para um
tempo vindouro,
no qual acontecimentos esperam por realizações, no qual as decisões
sobre quem somos de modo mais autêntico são adiadas. Na noção de tempo vindouro,
permanecemos na atualização cotidiana de nossas obrigações, postergando o nosso vir-
a-ser mais genuíno para um tempo que ainda virá; nele costumamos dizer que estamos
afastados de s mesmos, vivendo, confundidos com as coisas do mundo. Na
concepção de tempo finito, o futuro não é considerado, porque no porvir, a nica é
dada pelo processo decisório, que acontece na antecipação do vir a ser mais
característico do sujeito como antecipação do instante. Na concepção de tempo
infinito, acreditamos que, quando adiamos uma decisão relativa ao nosso vir a ser mais
próprio, teremos condições de realizar a qualquer hora um
acontecimento adiado,
como se pudéssemos voltar àquele instante e retomá-lo novamente, tal como ele
poderia ter acontecido.
Lis:
Quais são os seus sonhos e suas expectativas?O meu sonho e que
quero muito é uma família, fazer uma família. E fazer eles felizes. Feliz pra
mim é isso que importa, a felicidade. Você tem alguma preocupação no
momento? Qual a sua maior preocupação no momento? Eu me preocupo
muito com a minha mãe. Eu acho que a minha mãe não é feliz. Muitas vezes
eu olho pra minha mãe e falo: “Minha mãe, eu não sei”... O que eu mais
quero agora é sair de casa. Se eu pudesse, eu saia de casa agora.
Gabriela:
Quais são seus sonhos? Eu quero me formar na faculdade, ser
uma profissional bem sucedida, quero casar, ter filhos, ser muito feliz. Vo
tem alguma preocupação atualmente? Sim. Que preocupação? Que meu
intercambio seja muito bom e quando eu voltar para o Brasil, que tudo esteja
no mesmo lugar. Como vose imagina daqui a algum tempo, como vai
estar a sua vida. Muito tempo quanto? Eu na faculdade, namorando... meus
amigos, dirigindo... não sei...
Carolina:
Quais são seus sonhos, suas expectativas?Eu sonho em me
formar, ser uma boa profissional, mudar o mundo... O Brasil pelo menos, me
casar, ter filhos, fazer minha família. Você tem alguma preocupação no
momento?Tenho. O que? Faculdade, estudar, é uma coisa que me
preocupa...
135
Aníbal:
Quais são seus sonhos e expectativas? Conseguir virar uma seta.
Conseguir na verdade parar de me cortar com tudo, unir todos os pontos de
apego que me impõe nesse mundo, eu gostaria de ser um anacoreto, um cara
distante da civilização, da sociedade, eu acho que viveria muito melhor
sozinho. é que está, é o desapego, eu ainda continuo muito apegado,
ainda como moro na Barra estou muito apegado à vaidade, acho que o mal
de todo mundo é isso, fica todo mundo querendo se mostrar, querendo ser o
que não é, não aceitando o crédito dado a nós.Eu gostaria de me tornar a
minha humanidade, gostaria de tornar isso real na minha vida.A princípio
também, mas eu gostaria de ser desapegado da filosofia, aí é que está, eu sou
filósofo... Vonão gostaria de ser preso a nada... Exatamente, nem a
sentimento, pensamento, gostaria de voltar a ser como sempre fui.
Guilherme:
Você tem a sensação de que o tempo passa muito rápido?
Cara, eu não gosto nem de pensar isso. Eu fico acom um negócio dentro
do peito, assim. Quando eu penso nesse negócio de tempo. Eu sei lá. Eu acho
que o tempo passa rápido sim. E agora vai passar muito. Fez os 18, não é?
Todo mundo fica esperando faz os 18. e quando faz os 18, quer parar. Mas
não dá, pô! Você tem paciência pra esperar? Depende. Depende se for
uma coisa que eu quero muito, eu tenho... Quanto tempo é muito pra
você?Ano passa tão rápido hoje em dia. Uns 3 anos.Você acha que viveu
muito?Não. Tem coisa pra caramba, ainda.Você acha que sabe tudo o
que precisa?De forma alguma.Por quê?Eu não sei.
Quais são os seus sonhos, expectativas? Cara!, sei lá. Felicidade e saúde
pra mim é uma coisa que eu levo assim acima de tudo. Eu procuro ser uma
pessoa bem-sucedida... Profissionalmente. Mas além de tudo ser muito feliz.
Se eu for feliz, é isso que eu quero também. Porque não adianta ser um cara
bem-sucedido e não ter felicidade, não ter saúde. Vo tem alguma
preocupação no momento? Tenho... O futuro. É. Eu sou um pouco
preocupado assim com tudo isso aí. Mas eu procuro manter a calma.
Alguns entrevistados demonstraram uma expectativa positiva do futuro. O que parece
é que eles estão encaminhados no caminho profissional, de certa forma seguros de suas
escolhas. O futuro é esperado com ansiedade por alguns e por outros não ficou evidenciado.
Percebemos nas entrevistas alguns jovens com uma preocupação acentuada em relação
ao futuro profissional. Guilherme é um exemplo. Carrega uma incerteza que é característica
da vida contemporânea e também de sua idade, porém, quando descreve essa incerteza, ele
coloca: “Cara, eu não gosto nem de pensar isso. Eu fico até com um negócio dentro do peito,
assim. Quando eu penso nesse negócio de tempo. Eu sei lá. Eu acho que o tempo passa rápido
sim”. A angústia que leva Guilherme a sentir isso pode ser baseada nessa angústia do futuro,
do que está por vir, foi formado dentro de uma sociedade que é marcada pelo presente, onde o
tempo é real, online. Como cita Lipovetsky: “A obstinação em comprimir o tempo foi
interpretada como um dos signos do advento de uma nova condição temporal do homem,
marcada pela sacralização do presente, por um presente absoluto, auto suficiente, cada vez
mais desligado do passado e do futuro” (Lipovetsky, 2006., p.112).
136
Mauana
: Como é que você administra o seu tempo? Fala da sua
rotina... Hoje em dia, não é? Por que o que acontece? A PUC como troca a
todo semestre o horário, tem dias que a gente não tem aula, eles fazem coisas
que muda a rotina toda em 6 meses. Hoje eu estudo de 1 as 7... Eu até estou
estagiando. Durante as férias eu estagiava durante o dia normal. E agora
trabalho de noite. Votrabalhava antes? Não. Na minha área, uma vez
numa rádio. E em outras coisas você trabalhou? Já. E porque você
buscou trabalhar assim? Pra aprender, conhecer. Eu trabalhei em loja
como baby-sitter. Amigas estavam vendendo biquíni, eu ia lá e vendia,
bijuteria, tudo. Você sempre gostou de trabalhar. Sempre.
Quais são os seus sonhos? Ser feliz, conhecer tudo o que eu puder.
Conhecer várias pessoas interessantes, lugares interessante, filmes. Eu acho
que é viver, não tenho nenhuma ambição. Não. A única coisa é ter uma vida
legal. Eu estava até fazendo um texto pra faculdade sobre isso... Eu quero
chegar aos 95, 100 anos e ter construído uma vida legal. Ter feito o bem pros
outros, as pessoas que estão em volta de mim. E ser feliz, viver e aproveitar
muito. Esse é o meu sonho. Você tem alguma preocupação no momento?
Graças a Deus, não.
Patrícia:
Você tem a sensação de que o tempo passa muito rápido?
Tenho. Muito, muito. Porque a primeira coisa que me vem a cabeça é que
parece que foi ontem que eu estava nos EUA, comemorando o ano novo com
os meus parentes. E já passou muito tempo. Vai fazer 9 meses... E parece
que foi ontem. Realmente, eu lembro de todos os mínimos detalhes. E como
você pode lembrar com tantos detalhes uma coisa que aconteceu há 10
meses? Entendeu? Com tudo o que acontece na sua vida como é que você
vai lembrar de uma coisa que está tão distante? Está distante. Mas se você
parar pra pensar realmente está logo ali. Quanto tempo é muito tempo pra
você? Muito tempo pra mim é..., são 13 anos que é desde que uma ir
minha morreu. Eu acho que isso é muito tempo. Isso eu não consigo olhar e
pensar que foi ontem. Mas depois disso, eu consigo olhar e parece que foi
ontem, entendeu? Então, a partir dos meus 5 anos, dos meus 6 anos o tempo
começou a passar mais rápido. Parecia que a gente estava atropelando as
coisas. Atropelando as fases, atropelando tudo.Assim que você sente? É
assim que eu sinto. Eu sinto que a gente poderia aproveitar mais. Talvez,
todo mundo fala: “Quando você aproveita a vida, quando vovive a vida
plenamente, quando você está se divertindo, tudo passa mais rápido”, mas se
você parar pra pensar não é bem assim. Eu acho que realmente o tempo está
passando rápido porque a gente está vivendo muita coisa. E não
necessariamente se divertindo. Mas vivendo muita coisa. Em 2 anos na
minha vida eu já fui pros EUA, eu já fiquei 5 vezes fora do país. Eu já fui pra
faculdade, eu sai da faculdade. Eu entrei no cursinho e estou fazendo
vestibular de novo. É muita coisa. E não necessariamente estou me
divertindo. Eu realmente estou fazendo muita coisa. E isso faz o tempo
parecer mais rápido. Parece a que gente já está atropelando, nadando contra a
maré, tentando fazer tudo o que a gente quer... Como o JK falava: “Vamos
fazer o Brasil de 50 anos em 5”, parece que a gente está querendo fazer a no
vida de 50 anos em 5.
O tempo e o espaço foram comprimidos. Quando a Patrícia diz que estamos
transformando o Brasil de cinquenta anos em cinco, frase do Presidente Juscelino Kubitschek
1902-1976, fica evidenciada esta questão. O discurso de Patrícia exemplifica “a sacralização
do tempo” (Lipovetsky, 2006). É como ela se sente, vivendo muito, intensamente cada
momento e tudo parecendo ser mais rápido, menos concreto, meio sem tempo para pensar no
que se está fazendo, simplesmente vivendo.
137
Patrícia:
Os seus sonhos e as suas expectativas? O meu sonho é passar
no concurso público pra ser promotora ou defensora pública. Ter uma vida
estável em termos financeiros. E ter uma família feliz, com um marido bom
que me ame e eu o ame também, e filhos. Você tem alguma preocupação
no momento? O vestibular. E tirar a minha carteira de motorista
Cristina:
Quais são os seus sonhos suas expectativas? Ser bem sucedida,
conhecer o mundo e ter uma família. Quais são suas preocupações no
momento? Aprender o Maximo que eu puder. Como você se imagina
daqui a um tempo, como vai estar sua vida? Espero estar trabalhando e
encaminhada na minha área.
Constatamos que o nomadismo compõe a construção do vir a ser das identidades
jovens, como afirma o sociólogo Michel Maffesoli:
A errância, finalmente, é apenas um modus operandi que permite abordar o
pluralismo estrutural dado pela pluralidade de facetas do “EU” e do conjunto
Social. E também um modo de vivência. em seu sentido mais restrito é um
“êxtase” que permite escapar simultaneamente ao fechamento de um tempo
individual, ao princípio de identidade e à obrigação de uma residência social
e profissional. Êxtase que está na origem das epidemias de massa, esportivas,
musicais, religiosas, políticas, culturais (Maffesoli, 2001, p.113).
6.3 - Tópico III: o jovem da Barra e o espaço
No tópico III, trataremos da relação do jovem morador da Barra da Tijuca, região
oeste da cidade do Rio de Janeiro, com o Espaço. Criados dentro de condomínios e moradores
de um bairro diferente dos demais no sentido topográfico, em que se encontram apenas em
lugares específicos protegidos contra “violência” de uma cidade sitiada entre favelas, como é
o Rio de Janeiro, de uma forma geral. Sua percepção em relação à localização espacial, ao
reconhecimento de outros bairros da cidade e às suas experiências de viagens.
Sobre os aspectos culturais, Santos define que “cada cultura é o resultado de uma
história particular e isso inclui também suas relações com outras culturas, aos quais podem ter
características bem diferentes”. Ainda, neste tópico, ilustraremos as características destes
jovens que moram dentro deste um bairro diferenciado tanto topograficamente como
culturalmente, ou seja, uma análise deste jovem com a espacialidade.
Traçamos um paralelo entre o comportamento dos jovens do bairro da Barra da Tijuca
e o espaço físico e arquitetônico que estes habitam. Segundo com o filósofo Alain de Botton,
em seu livro Arquitetura da felicidade (2007), “o comportamento social, a contrução do
sujeito e a arquitetura (espacial) não são independentes nem excludentes”. Ele a beleza
como uma das funcionalidades da arquitetura. As contruções: não são desenhadas apenas pela
funcionalidade, mas para refletir um ideal estético e transmitir mensagens. Uma das
138
funcionalidades dos prédios atualmente é de caracter psicológico, pois se busca ambientes que
dêem a sensação de segurança e que passem a impressão de modernidade, riqueza, erudição
ou simplicidade.
Quando entramos no espaço Barra da Tijuca, deparamos com uma regra: “SORRIA
VOCE ESTÁ NA BARRA”. A Barra da Tijuca representa uma parcela da classe média alta
da cidade. Nela se traduz o espelho de uma arquitetura nova baseada em condomínios como
os dos Estados Unidos da América. “O desenho das ruas e das casas das praças, além de
conter a experiência daqueles que os construíam, denota o seu mundo” (Rolnik, 2004, p.17).
O espaço urbano traz em si suas transformações e consequências. Através da
arquitetura pode-se contar uma história que traz em si seus registros como os prédios e
estruturas de uma natureza fabricada “que tem esse dom de durar, permanecer, legar ao tempo
os vestígios de sua existência. A cidade é um registro, uma escrita, materialização de sua
própria história” (idem, p.9).
O Rio de Janeiro tem suas características e traços culturais marcantes e noções de
identidade ligadas ao espaço em que jovem convive entre outros bairros como, por exemplo,
os da Zona Sul se denotam algumas diferenças apontadas pelos jovens da Barra, como
podemos observar abaixo:
Cássio:
Vo sempre morou na Barra da Tijuca? Sempre.Desde que
nasci.Você sempre morou nesse condomínio? Sempre. O que você acha
de morar na Barra?Eu não consigo imaginar outro lugar, pelos próprios
hábitos da Barra. A Barra é um bairro diferente em relação aos outros pelos
costumes, o ambiente. Não tem aquela coisa de você ir a a tal lugar, isso
não tem muito aqui. Eu gosto das coisas amplas...Espaço aberto. O ar mais
puro, eu não sei. Eu acho que é o costume mesmo.
Quais são os pontos fortes e os pontos fracos de morar na Barra? Os
pontos fortes de certa forma está com o tempo não está sendo um ponto tão
forte em relação aos outros a questão da tranquilidade em relação a
violência. Antigamente era melhor. Hoje já não se pode falar isso com tanta
certeza. A questão é a praia que eu gosto, os amigos, o ambiente. É. Pontos
fracos... Sinceramente, eu o consigo ver. A questão do trânsito que está
ficando meio ruim. Está ficando distante do centro. Eu trabalho no centro.
Está ficando meio chato isso, mas por enquanto ainda não é uma coisa assim:
“Eu não quero mais morar na Barra”.
Você gostaria de morar em outro bairro? Sem chance. Eu sempre falo que
não saio da casa dos meus pais se não tiver condição de morar na Barra.
Falando isso talvez a pessoa pensar: “Cresceu nessa redoma, dentro das
grades de condomínio”, muito pelo contrário, eu sempre andei muito. Eu
conheço bem o Rio. Eu sei andar bem. E se me perguntar tal rua no Grajaú,
na Tijucas, em Copacabana, eu conheço, eu ando muito. Mas aqui realmente
é. Eu gosto muito do Rio, mas a Barra é o meu, é a minha casa mesmo.
Qual a diferença da Barra pra Zona Sul, pra você? É o aspecto visual
mesmo. A questão da disposição das ruas. A desigualdade eu acho que
aparece muito mais, principalmente, em Copacabana. Você as pessoas
bem distintas em Copacabana, Ipanema, Leblon. É.Eles se comportam de
maneira diferente do jovem da Barra. São mais preocupados com a aparência
139
parecem ser mais artificiais e metidos. O que eu posso dizer é que é melhor
assim, acho que cada um sabe o que é melhor pra si. Tem gente que ama a
Zona Sul, não larga. Gosta de descer com o cachorro na padaria. E ir no
Cinemateca. Pra minha vida eu considero a Barra melhor. A Barra é onde eu
me sinto em casa. Mas não que eu não goste do resto. Muito pelo contrário,
eu acho que a Barra e a Zona Sul fazem parte de um todo que é o Rio que eu
gosto.
Isso significa que existe um controle de poder dissimulado menos visível do que
antigamente, dando uma sensação de “pseudoliberdade” que os cidadãos na realidade não
têm. Parece, no entanto que o nosso espaço urbano é infinito enquanto estamos presos e
protegidos certamente por muralhas invisíveis.
A relação entre vigiar e punir está no fato de que com ela seria possível “adestrar” as
pessoas para que estas exercessem suas tarefas como bons cidadãos, evitar ao máximo que as
pessoas infringissem as normas estabelecidas pelo poder. Segundo Foucault, em Vigiar e
punir (1977), para a economia do poder seria mais rentável e mais eficaz vigiar do que punir.
Isso pode ser facilmente observado se aplicarmos o panoptismo aos condomínios da Barra,
com seu excesso de câmeras, sistema de vídeos, a ilusão de segurança que vende a uma
liberdade, transformando o bairro num paraíso artificial.
O próprio entrevistado Cássio tem a sensação desta liberdade apesar de ser criado
dentro de condomínio fechado, e o caso dele é bem o específico, porque nasceu e foi criado na
Barra no mesmo condomínio. Ele diz que é um bairro amplo em que ele sente o espaço
aberto. Há vinte anos Cássio vive ali. E apesar de ter vivido a vida inteira na Barra diz que
isso não o impede de conhecer os bairros do Rio de Janeiro e de frequentar todos os lugares.
Cássio não tem medo de sair da Barra. Apesar de ser criado de uma forma diferenciada de
segregação, ele não evidencia isto na sua entrevista. Ele não considera o bairro marcado
politicamente e separado por uma questão de classe social, como afirma Rolnik: “É
interessante observar que se a segregação se impõe a nível da constituição de territórios
separados para cada grupo social, é também sob seu império que se reorganiza o espaço de
moradia” (Rolnik, 2004, p.49).
Concordamos com a autora, quando ela diz que os bairros contêm uma forma de
segregação de acordo com o nível socioeconômico, assim como na própria natureza pode-se
observar, os bairros nobres foram sendo construídos ao longo da orla marítima. A própria
localização espacial e a beleza do lugar determinam os lugares onde as classes estão divididas.
Os entrevistados, de um modo geral, não percebem esta realidade. Eles apenas conhecem a
realidade apresentada pelos pais.
140
Outra questão relevante é que a minoria dos entrevistados nasceu na Barra da Tijuca, a
maioria vieram de outros bairros da cidade, por diversos motivos. Às vezes, pela mudança do
estado civil dos pais, se separaram e vieram para a Barra, assim como alguns vieram por a
Zona Sul ser mais cara e pelo bairro ser novo, havia uma facilidade da compra dos imóveis
que seriam financiados. Como também pelo investimento do mercado imobiliário para este
novo bairro que deveria atingir os objetivos de expansão e comercialização pelo próprio
potencial de crescimento deste bairro.
A ocupação da terra urbana foi determinada pela lógica capitalista com a intervenção
do Estado. O bairro da Barra é também um exemplo disto, as ruas foram substituídas pelos
shoppings. Ou seja, a cidade é hoje considerada como espaço de circulação de mercadorias. E
a valorização de um espaço depende dos investimentos públicos e privados nela. Alterando
completamente o mercado imobiliário.
Fernanda:
A diferença é enorme. Na Zona Sul parece tudo perto e aqui na
Barra parece tudo longe. E a diferença grande da Zona Sul é que todo mundo
gosta de querer conhecer todo mundo. Então, ma Zona Sul nem que seja o
cara do boteco ou o jornaleiro, você passa e bom-dia. Já vira amigo, não
sabe nem o nome, mas...aqui na Barra não. Para mim existem duas Barras,
na verdade 3. Tem o Jardim Oceânico, que é uma Zona Sul, todo mundo se
conhece. Eu vou pra locadora faço sempre o mesmo caminho, todo mundo já
me passando. Eu malho na academia lá. Ali é a Barra normal que seria o
Jardim Oceânico até o Santa Mônica. Porque eu acho o Santa Mônica um
mundo isolado da Barra. Santa Mônica é muito grande, é enorme, é enorme.
E todo mundo no Santa Mônica se conhece. Todo mundo sabe quando vai ter
festa. Em geral, tem Santa Mônica, Mandala, Novo Leblon, eu acho que isso
tudo é uma cidade separada da Barra. Santa Mônica é enorme.
Tem muitos condomínios dentro do Santa Mônica. Exatamente. E se for
parar pra pensar ele começa onde termina o Santa Marina e ele acaba depois
do Malibú que agora é o Jardins que foi construído. Ele tem um espaço
muito grande. E todo mundo se conhece. É impressionante, todos os meus
amigos são do Santa Mônica, todos são os melhores amigos desde pequenos.
Todo mundo mora aqui desde pequeno. nunca ninguém se mudou, nunca
ninguém chegou pouco tempo
Cássio e Fernanda apontam várias diferenças entre os dois bairros. O contraste
principalmente de territórios. Cassio nasceu na Barra e nunca morou em outro bairro apesar
de conhecer o Rio e de não se fixar somente na Barra. Aponta diferenças nos comportamentos
dos jovens da Zona Sul como encontramos também em algumas outras entrevistas. Já a
Fernanda, que morou na Zona Sul até os nove anos, mudou para a Barra em função do
trabalho do pai. Ela acha a própria Barra pode ser constituída por mini bairros, caracterizados
pelos condomínios. E que dentro dos condomínios todos se conhecem. Fernanda praticamente
frequenta a Barra, não sai desse bairro. Mas ela sente um fenômeno que o autor Debord
comenta: “Nós parecemos viver ‘isolados em conjunto’, seja dentro de fábricas, ou de centros
141
culturais, ou de clubes de férias ou, ainda dentro da segurança de nossos condomínios
fechados e shoppings centers” (Debord, 1997, p.114).
Carlos:
Eu gostei muito da Barra porque era aquela coisa assim eu morava
no prédio do meu pai, era um condomínio, então a galera do condomínio não
tinha esse problema. Porque na Zona Sul por mais que tinha Play, tinha que
toda hora ir pra rua. E a minha mãe não gostava. O que eu fazia mais era ir
pra Lagoa, ir pra praia de bicicleta. Não tinha essa coisa de sair com a galera
de noite. De noite eu não saia na Zona Sul porque era pequeno. Não ia
sozinho com os amigos.
É. Era perigoso pegar a bicicleta e ficar batendo papo na lagoa. Até porque
roubavam as nossas bicicletas. Quando eu me mudei pra cá, pela vez, eu
gostei muito porque tinha Play, tinha piscina, eu podia andar pelo Santa
Mônica, pela as ruas. Todo mundo andava de bicicleta. De noite podia
descer e ficar no Play. O meu pai sabia que, os pais aqui tinham segurança,
tudo cheio de grade, porteiros câmeras. Então, quando eu tinha essa idade
pra mim era excelente porque era tudo perto, atravessa a rua já estava no
cinema. E na Zona Sul não tinha muito isso. Apesar de na Zona Sul ser tudo
centrado, quando eu morava no Humaitá, não tinha shopping perto. O mais
perto que tinha era o... Era o Rio Sul. Era o Rio Sul o mais perto do Humaitá.
Não tinha como “Vou andando até o Rio Sul – Eu vou pegar um ônibus até o
Rio Sul”, minha mãe não deixava. E aqui na Barra não.
Foi a idade certa de eu vir morar na Barra. Eu comecei a ter mais
independência, de ir andando pro colégio sozinho. Vou andando pro
cursinho de inglês, que era do outro lado das Américas. Eu vou pro cinema.
E isso foi um ponto muito alto, muito alto assim pra mim. Eu criei as minhas
amizades aqui na Barra, hoje em dia até gosto demorar aqui, mas que cresci
e já tenho carteira de motorista, tenho carro, eu gosto de sair mais pra
Zona Sul. Porque a Barra parece uma cidade que cresceu em torno da
Avenida das Américas. Não tem nada pra você andar assim que nem a Zona
Sul onde você andando gente. Aqui você anda de carro ou de ônibus.
Ou então vai no Barra Shopping dá uma volta. Tem como na Zona Sul que
você vai andando pela rua assim encontrando com as pessoas e tal. Vai num
bar e conhece alguém.
Não. Aqui não tem nada disso. É uma cidade que cresceu as margens da
Avenida das Américas. É perigoso pra caramba. E eu escuto muito da minha
mãe: “Cuidado de noite!”, porque é o maior perigo.
Carlos teve outro aprendizado com a vinda para a Barra visto que, quando pequeno,
morou na
Zona Sul
e tinha limitações quanto à liberdade. Sua mãe tinha preocupação com a
violência. Era difícil para ele sair sozinho em função do medo de assaltos. Com a mudança
para a Barra ele se sentiu livre. Muito interessante este ponto, pois por ser criado em
condomínio poderia dar a sensação de estar preso dentro de um lugar, mas para Carlos ver-se
dentro de um lugar fechado fazia-o sentia-se a vontade para fazer o que quisesse.
Constatamos que é uma liberdade vigiada em que o adolescente aprende a viver dentro
de muros controlados por seguranças, câmeras, propiciando um verdadeiro clima de estar
distante da violência. Além de que a segregação se torna evidente. Os bairros se distinguem
não topograficamente, mas também socialmente, refletindo o poder aquisitivo da classe
social. Morar em condomínio denota sua diferença para os outros passa a sensação de estar
142
melhor. No caso dos condomínios fechados, o espaço público passa a ser privado, como
observa Ghirardo: “O espaço público, que otimisticamente é tido como espaço aberto a todos,
tem sido na verdade palco de práticas excludentes por questões de raça, classe social”
(Ghirardo, 1996, p.45).
Segundo Carlos a Barra parece uma cidade que cresceu em torno da Avenida das
Américas. O ponto central de construção da Barra era a construção de duas vias principais, a
Avenida das Américas e a Avenida Alvorada (atualmente Avenida Ayrton Senna), que fariam
a ligação de todo o bairro, e também limitava os gabaritos para construção dos prédios, dentre
outros aspectos. Definindo os usos do espaço: residencial, comercial, lazer e preservação
ambiental. Já formando os já conhecidos condomínios fechados, que tentam reproduzir dentro
deles um pequeno centro com comércio e serviço, dando segurança a seus moradores.
Flavio:
O que você acha de morar na Barra? Eu não posso falar de uma
experiência em outro local porque morei na Barra, mas eu tenho meu
circulo de amigos, de colégio, futebol, eu gosto de morar aqui, é um bairro
que me agrada. Pontos fortes e pontos fracos? Pontos fortes da Barra. Acho
que aqui tem muitas opções de lazer, bares, shoppings, a praia aqui do lado.
Pontos fracos, apesar de eu gostar dos tipos de edificações modernas, eu
acho que não tem um charme dos bairros antigos, Cosme Velho, Glória, os
prédios antigos, acho bonito. Não tem a famosa esquina.
Você gostaria de morar em algum outro bairro?o, acho que eu ficaria
na Barra mesmo, me criei aqui, é o meu lugar. Você costuma sair da Barra
da Tijuca?Quando você não tem carro fica meio difícil, mas saí. Fui para
chopadas na PUC, na UFRJ. Mas me lugares muito longe não dá pra ir
direito. Vo frequenta a Zona Sul? Normalmente eu vou com meu pai
visitar meus tios, Zona Sul e centro, Glória, Lapa. Eu fico mais na Barra,
mais prático. Em que circunstâncias vocostuma ir a Zona Sul e com
que frequência? Às vezes, quando vai rolar um evento na Gávea, Leblon,
eu vou com a galera, com aluem que tenha carro ou de ônibus.
Flavio apresenta uma realidade semelhante à de Cássio: só conheceu este bairro de
moradia, porém já tem outra experiência. Quase não sai da Barra, pois considera os outros
bairros distantes e o sistema de transportes, falho, dificultando a locomoção e as possíveis
trocas sociais com outros bairros da cidade do Rio de Janeiro. Flavio está resignado a somente
frequentar a Barra da Tijuca por ser mais conveniente. Este comportamento não reflete a
opinião da maioria dos entrevistados.
Eduarda:
E os pontos fortes e fracos de morar na Barra? Ponto forte é
que acho mais tranquilo em relação a violência, já fiz minha vida aqui,
médicos, amigos... Pontos fracos, Zona Sul é Zona Sul... Como assim?Barra
não tem como você ficar andando na rua, tudo tem que ir de carro, tem mais
coisa para fazer, mas eu gosto de morar aqui. Você costuma ir na Zona
Sul? Nunca vou, sou barrense nata, nunca vou para a Zona Sul. E por quê?
Por exemplo, Ipanema é maravilhosa de passear, Leblon, as praias...
Assim, minha mãe só sabe dirigir na Barra, não atravessa o túnel, e o
motorista trabalha de segunda à sexta, e meu padrasto se eu pedir para me
levar no Leblon no sábado, ele vai me olhar com aquela cara de: falando
143
sério?! Então eu nunca fui de fazer programas na Zona Sul, sempre faço aqui
pela Barra, então nunca vou na Zona Sul, quando vou em médico porque
temos alguns médicos lá, mas o motorista leva a gente, a gente passa o dia
no shopping, alguma coisa do tipo, mas como se fosse para a Cidade. Eu
nunca falo assim: “Hoje eu vou fazer um programa na Zona Sul”. Meus
programas são sempre na Barra, se eu vou é porque tenho médico ou alguma
coisa do tipo.
A vinda da família da Eduarda para a Barra foi mais uma conveniência do que uma
escolha, pois o bairro de preferência da família era o Leblon, porém a facilidade de achar
imóveis na Barra os levou para lá. Como citado acima, a Barra se torna opção por uma
estratégia do mercado imobiliário. As facilidades e a promessa de uma vida mais segura, em
que você não precisa sair de seu próprio condomínio para nada, que tudo que você precisa
fazer está aqui. Segundo historiador especializado em urbanismo, Mike Davis, ao
exemplificar o planejamento urbano na América do Norte: “Portman (arquiteto) apenas
construiu grandes ‘viveiros’ para a classe média alta, protegidos por sistemas de segurança
surpreendentemente complexos. Fora, vastas superfícies espelhadas refletem não apenas a
miséria da grande cidade, mas também sua vibração irrepreensível e sua luta por
autenticidade” (Davis, 1989, p. 97).
Bia:
O que você acha de morar na Barra? Eu sou Barrense mesmo. Eu
gosto de morar na Barra. Pontos fortes e pontos fracos? Por mais que todo
mundo fale “Na Barra tudo é longe!”, eu não tenho essa visão. Eu acho que
tem tudo aqui. É um bom lugar. Quando você fala “Tem tudo” é o
quê?Tudo. Por mais que eu estudasse em São Conrado, não era muito longe.
Todos os meus amigos moram, aqui. Por mais que eu estudasse lá. Eu tenho
amigos da Zona Sul, eu tenho amigo em todo lugar. Mas a maioria dos meus
amigos estão aqui, estão pertinho de mim. O meu pai mora aqui, a minha
mãe mora aqui. Por mais que a minha amore lá, tudo bem. Shopping tudo
tem aqui. Lazer... Tudo isso. E uma coisa boa que não tem assim, tem favela
perto, mas não tem favela na Barra. Voparou pra pensar nisso?Não é?
Tem o Rio das Pedras que é ali no Itanhangá... Você gostaria de morar em
algum outro bairro?No Rio não. Por quê? Porque estou satisfeita onde eu
moro. Mas se tivesse uma situação melhor eu acho que moraria no Leblon.
Eu acho um bom bairro. Mas você mudaria? Trocaria a Barra pelo
Leblon? Agora não. Eu não mudaria da Barra, eu acostumei tanto. Você
tem medo de sair da Barra, de ir pra Zona Sul? Não. Medo não. Tanto
que eu vou. Quando foi necessário eu me mudei pra Zona Sul. Eu tive a me
habituar.Foi uma questão de obrigação, você teve que ir. Mas eu digo
assim: Você costuma frequentar a Zona Sul? Eu vou. Você anda na rua?
Eu vou, vou. Não tem medo nenhum. Não. Não tenho medo não.
Bia constata o que foi mencionado anteriormente. O bairro da Barra é ainda um bairro
que pelo distanciamento de favelas os tranquiliza na medida em que dificilmente vê-se
tiroteios, balas perdidas. É um bairro que pelas características topográficas dificulta essa ação
de violência. O fato de não terem ruas na qual circulam pessoas, torna-se mais difícil os
144
assaltos que frequentemente vemos noticiados pelos meios de comunicação nos outros bairros
do Rio de Janeiro. Apesar da Bia já perceber uma modificação nesta tranquilidade, apontando
alguns pontos de desconforto. Ela não demonstra medo de sair do bairro, frequenta a Zona Sul
quando precisa.
Airton
: O que você acha de morar na Barra?Eu gosto muito, acho bem
legal. Você não morou na Zona Sul quando era mais velho, né?
quando era criança. Pontos fortes e pontos fracos da Barra? Como ponto
forte, é que tem bastante entretenimentos, coisas que eu gosto de fazer, ir na
praia, no cinema, no kart, gosto de andar de kart. Acho que aqui tem tudo
que eu gosto de fazer, academia também. O ponto fraco é que você tem que
pegar o carro para fazer tudo, na Zona Sul não tem muito isso, você pode
fazer a pé. Um ponto fraco também é o trânsito que está começando a piorar.
Airton descreve que na Barra da Tijuca temos a sensação de viver em um bairro
perfeito, onde é possível se encontrar tudo do que necessita. Esta paisagem pós-moderna
ganha vida real apesar de ser totalmente fabricada. São cenários de sonho onde todos os
aspectos estão voltados para o consumo.
Dessa forma, é um clima onde aparentemente tudo é perfeito onde não existe pobreza,
problemas, insegurança, violência. A sensação que causa é estar fora num mundo à parte. A
Barra da Tijuca se assemelha este tipo de sensação, pois são criados shoppings-cidade e que
da mesma forma que a Disney tem-se a sensação de proteção, segurança e um cenário fictício.
“O planejamento urbano da Disney purifica a paisagem material: é assim que a Rua principal
real deveria ter sido sempre”, afirma um imagenheiro que trabalha para a Disney World. “O
que criamos”, diz outro, “é o realismo da Disney, uma espécie de utopia na natureza, em que
desprogramamos todos os elementos negativos e indesejáveis e programamos apenas os
elementos positivos” (Zukin, 1996, p.92).
Mariana:
O que você acha de morar na Barra?Eu adoro, mais eu adoro
pela localização que eu moro, tipo, porque é perto da praia, da para ir a
para a praia, não é enfrente, mas eu chego na praia a pé, não preciso de carro,
e é perto do Downtown e do Cittá, então eu tenho um centro comercial perto,
um shopping que tem as coisas... Assim, farmácia, padaria, lojas..., coisas
que você as vezes precisa e eu tenho perto, não precisa pegar um ônibus,
alguma condução, porque como eu não tenho carro, não dirijo, então para
mim estar aqui perto é ótimo. Eu gosto de onde eu moro por isso, eu acho
que se eu morasse num lugar mais longe da praia... E da Barra, do bairro?
Eu gosto. Vogostaria de morar em algum outro bairro? Eu gostaria de
morar em Ipanema, eu adoro, tipo assim, é o que eu falei, eu não acho tão
legal o murmurinho todo, eu acho muito confusão, mas é tudo mais perto,
você desce, na porta da sua casa tem um monte de coisa, pertinho da praia,
eu não gostaria assim, foi o que eu sempre falei para minha mãe, mudaria
para a Zona Sul assim, Ipanema e Leblon, que eu adoraria morar, mas assim,
para morar ali perto da praia, na quadra da praia... aí minha mãe disse que eu
145
estava sonhando muito alto, para mudar para Ipanema, para morar embaixo
daquela confusão toda ali no meio...Então, mais ali é perto da praia... Na
Lagoa também... eu não gostaria de morar ali na principal, muita confusão
ali... Por quê, qual é a diferença?É muito carro, ônibus, buzina... Por que
você gostaria de morar ali? Não sei, ao mesmo tempo que eu fico assim,
muita confusão, aquilo me atrai também, de você andar na rua e encontrar
todo mundo, assim, aqui na Barra por ser tão espalhado, é um lugar, sei lá,
você está na rua você sente mais sozinho, eu não sei, uma coisa mais isolada.
Você tem medo de ir para a Zona Sul? Não, nenhum medo. Andar na
rua... Nenhum medo, eu me sinto mais a vontade também, tanta gente na
rua... Mas em cinco minutos você está no cinema, cinco minutos de
ônibus você está no Leblon... Não precisa nem pegar ônibus, andando você
chega no Leblon, vai andar um pouquinho mais...
Mariana também tem uma idéia de que a Barra é um bairro onde reúne tudo que
precisa e não aponta problemas. Acha um bairro amplo apesar de se sentir um pouco isolada.
Gosta muito de Ipanema e como principal fator é de encontrar pessoas na rua.
Romeu:
Qual a diferença que voentre Zona Sul e Barra? É um
povo que, assim, generalizando ou não generalizando, dizendo que o povo da
Barra é um povo que não era rico e ficou rico, o povo da Zona Sul já é rico e
manteve, e a outra forma de tratar as pessoas. A forma de ser, não é uma
forma de ser arrogante, pedante, mal educado, assim, é a minoria, mais a
minoria acaba chamando atenção, e porque na Zona Sul tudo é perto. Você
vai comprar um pão é perto, aqui na Barra tem essa questão que poderia ser
apontada como um ponto negativo, tudo você tem que pegar um carro, você
tem que discar pelo telefone para vir, na Zona Sul não, você desce pelo
elevador da sua casa, compra, está tudo perto, mais eu gosto de morar aqui,
por enquanto estou bem aqui, não tenho problema nenhum.Como você
percebe as pessoas da Barra? A clientela ali da Barra, ali daquela região, é
muito chata, desculpa o termo, mais são muito chatos. O pessoal reclama de
tudo, votem que ver milhões de coisas, povo mal educado, não espera a
fila, tem que ter tudo na hora, tem que ter troco... Mas você acha que isso é
o perfil daqui do povo da Barra É. Eu acho que é mais daqui sim... Da
Zona Sul não é assim... Porque, como eu morei no Méier, o povo é
educado, pode ter menos poder aquisitivo, mais é educado, e o povo da Zona
Sul também é mais educado, porque eu também convivo lá. O povo aqui da
Barra é muito intransigente, acha que é o mais rico, essas coisas. É, é a
maneira que eu vejo, eu vejo dessa maneira, porque, tipo, eu estou aqui nesse
meio e já vivi em outros meios e posso te dizer que é verdade, porque nesse
ramo de comida que a gente trabalha, que é um ramo meio de fast-food.
Você já o perfil de quem mora aqui na Barra, que já vai fazer a clientela,
reclama de tudo, diz que tudo está ruim, reclama que não tem nada, faz
aquele escândalo, mal educado. Voque o povo que está de passagem
no shopping, que não mora aqui, é outro povo, completamente diferente,
trata bem, mais tem as exceções, eu estou dizendo numa minoria, mais a
minoria acaba chamando atenção...
com quinze você veio para a Barra? Isso, vim para cá. Por que vocês
mudaram para cá?O ponto principal foi segurança. Por quê?A gente
morava numa cobertura no Méier, num apartamento. O que acontece, tipo, a
gente era cercado por favela, nosso apartamento era muito bonito, meu pai
comprou e ele destruiu e fez ele todo, montou, naquela época, o que a gente
podia, o que a gente deslumbrava, era aquilo ali, então a gente fez de tudo de
bom e melhor no apartamento. E ficava perto do trabalho, porque bem ou
mal o Méier é perto do Centro, perto da Zona Sul, perto da Barra, perto de
tudo... E o que acontece, ficava perto da casa da minha avó, tinha
146
proximidade, minha mãe não gostava de negócio de empregado, me deixar
sozinho, e depois de um tempo ficou insustentável por causa da questão da
insegurança. Caíram três balas perdidas em casa, dentro do nosso
apartamento, inclusive a última foi dentro do quarto da minha mãe, minha
mãe estava lendo um livro, caiu do lado da cama dela, isso foi a questão
principal, a gente ficava desesperado. Qualquer tiroteio que tinha no morro, a
gente dormia no corredor, a gente não aguentava mais, e a gente queria se
mudar para cá. que a gente queria ficar como final de semana aqui e ficar
lá como dia de semana, por causa dessa questão de ser longe... Só que depois
disso a gente resolveu mudar para cá de vez.
Romeu relata que o fator violência foi decisivo para sua mudança para o bairro da
Barra da Tijuca, Ele morava no Méier perto de uma favela e na sua casa havia ocorrido
episódios de balas perdidas. A sensação que o bairro da Barra traduz é de segurança. Como
citei acima, a Barra acaba considerada como um mundo a parte do Rio de Janeiro.
Ele aponta diferenças entre as pessoas da Barra e de outros bairros do Rio. Ele acha os
moradores da Barra intransigentes e arrogantes e associa isso com o fato dele achar que esse
bairro é constituído de pessoas que ganharam dinheiro de repente. Ele diz que trabalha no
comércio de fastfood e os clientes mais difíceis são os que moram na Barra.
O espaço está em todos os lugares atravessa camadas sociais, períodos de tempo e
regiões geográficas, representam ideologias e culturas de determinadas sociedades. No
entanto, conforme ressalta Lipovestky, em seu livro Império do efêmero (2006), a idéia de
seguir tendências na escolha de locais de moradia refere-se imédiatamente à idéia de imitação.
Imitação porque a tendência do mercado, diz respeito ao uso generalizado de um espaço
utilizado por um alto número de pessoas. Assim como o cinema os programas de TV e outros
gêneros de comunicação de massa a telenovela fornece modelos de imitação não apenas no
comportamento, como no linguajar e formas de pensamento. De acordo com o novelista
carioca Manoel Carlos, que em suas novelas vinculadas pela maior rede de comunicação
nacional, utiliza o espaço e ambientação no bairro Leblon, Zona Sul do Rio de Janeiro. Como
a maioria dos entrevistados afirma que gostariam de se mudar para o Leblon, isto nos remete
ao fato de estarem influenciados pela mídia e nas palavras do próprio autor: “Quando saio do
Rio, a curiosidade é especulativa, cheia de perguntas feitas com os olhos brilhando. Também
imaginam que o bairro seja uma espécie de Manhattan, ilha da fantasia onde as celebridades
circulam de camiseta, bermudas e havaianas. Muita gente faz essa idéia do Leblon”. Os
jovens da Barra têm a fantasia da telenovela em que o bairro Leblon se torna ideal, perfeito,
ou seja, trocam uma ilha da fantasia por outra seguindo o apelo desta mídia poderosa.
Lis:
O que você acha de morar na Barra? Eu gosto. Assim, eu sempre
gostei da Barra, sempre. Mas depois que eu fui crescendo e fui conhecendo a
147
Zona Sul, os outros lugares mesmo, até aqui na Barra mesmo, o Jardim
Oceânico e tal. Eu fui vendo que, cheguei a conclusão que a Zona Sul é bem
melhor. Porque é tudo perto.estou com fome, eu desço ali, rapidinho eu
como. Tudo é mais rápido. Aqui não, tem que pegar o carro. pra ir a pé,
mas... Esse é o ponto fraco pra voda Barra. Eu gosto muito da praia.
Mas a praia da Zona Sul é melhor, eu acho. Praia é uma coisa que eu gosto
muito.
Mas você costuma ir na Zona Sul? Eu frequento a praia da Zona Sul. E
você gostaria de morar em outro bairro? O meu pai morava em Ipanema.
E eu gostava muito quando ele morava em Ipanema. Porque a praia de
Ipanema é muito boa. É muito boa. Ele morava no posto 8. Eu ia na janela
ficava assim. Eu adoro janela, eu adoro paisagem... Por mim, eu morava em
Ipanema. Eu gosto de descer e estar nos lugares. Outro ponto fraco da Barra
é o preconceito. (...) Tem uma diferença enorme entre os adolescentes da
Zona Sul e da Barra. Não sei se é pela classe social, não sei se é por isso,
mas eu vejo bastante diferença. Classe social eu não acho não. Eu vejo
bastante diferença. Porque tem assim grupos de adolescentes. Isso é muito
comum. E a maioria dos grupos de adolescentes da Zona Sul, são todos mais
arrumadinhos, mauricinhos. Eles se arrumam pra sair. Aqui na Barra não,
algumas garotas, amigas minhas mesmo assim não ligam muito, sabe? Elas
se vestem pra se sentir bem. Não pra ficar completamente arrumada, bonita,
se preocupa extremamente com esse negócio de roupa. É. eu acho que na
Zona Sul eles se preocupam mais com isso. Eu vejo bastante diferença entre
a Zona Sul e a Barra. Coisas de marca que você diz? Também. Eu vejo
bastante. Você outras diferenças, fora isso? De estudo, cultura... Não.
Aí já não. É mais na roupa. Eu acho que sim. As tendências que eles pegam
de roupas assim vêm dos EUA. E chega, parece, primeiro na Zona Sul. Essa
moda do All Star quando começou usavam as pessoas da Zona Sul
primeiro. Aqui na Barra é uma coisa horrível, grunch usava All Star,
ninguém podia usar. grunge usava All Star? É. O que todo mundo
pensava era isso. Mas na Zona Sul não. Todo mundo usava. E aqui ainda
tinha essa idéia de que grunge que usava. Você acha que a moda vem de
lá? Eu acho isso. Eu juro que eu acho.
Lis gosta de morar na Barra, mas gostaria de morar na Zona Sul, próxima às coisas;
tudo é perto aqui, tudo é longe. A casa que ela mora no condomínio fechado é muito
distante da saída. para ela sair do condomínio leva de quinze a vinte minutos andando. Ela
aponta também diferenças das pessoas da Zona Sul e Barra, ela acha as pessoas da Barra
preconceituosas, e acha que a Zona Sul impõe a moda nos adolescentes.
Gabriela:
Em que ano vocês vieram morar na Barra?Noventa e sete.
Porque se deu essa mudança? Porque a gente resolveu morar em casa,
numa casa com piscina tudo mais, eu era criança ainda. Você tinha quantos
anos? Sete. O que você acha de morar na Barra? Pontos fracos e pontos
fortes. Eu gosto de morar na Barra, eu acho a Barra segura, eu gosto da vida
lá, que tem uma coisa que desfavorece muito de morar na Barra, que é a
distancia, tudo você tem que pegar carro, obrigatoriamente assim, você não
pode ir na padaria, ir num shopping sem pegar um carro, acho que isso é
muito ruim.Esse é o ponto fraco... É. Ponto forte? Eu acho seguro. É a
segurança? Eu acho. Você gostaria de morar em algum outro bairro?
Qual? Às vezes, eu gostaria de morar em Ipanema. Por quê? É tudo mais
fácil, tudo perto, você vai em todos os lugares a pé, você vai no shopping, na
padaria, na praia, você pode ir em todos os lugares a pé, uma facilidade de se
locomover muito grande.
148
Gabriela tem o mesmo discurso da segurança. O bairro é procurado pela tranquilidade,
morar em condomínio fechado traz essa sensação de segurança. Gabriela adora andar nos
shoppings para passear acha que ela ali se encontra tranquila e longe da possibilidade de
assaltos. Adora o shopping Downtown. Gosta dos cinemas, dos restaurantes. Não precisa sair
dali para nada. Caracteriza-se por ser um shopping-cidade em que se encontra tudo
relacionado ao consumo. O indivíduo não precisa sair deste local, é como se fosse um bairro
fechado. Assim também se assemelham aos condomínios fechados, que têm o mesmo sentido
de proteção e segurança. Muitas vezes, o bairro eleito por seus moradores como seguro, não
tem favelas, não tem mendigos, ou ao menos eles se espalham, ao contrário da Zona Sul em
que as favelas se confundem com os próprios bairros.
Carolina:
Vocês quando vieram para o Rio, porque escolheram a
Barra da Tijuca? Vosabe?Na verdade, quando a gente chegou para ficar
aqui, um amigo do meu pai, amigo de muitos anos estava se mudando, e
falou, fica com a minha casa, que era no finalzinho da Barra, era mais perto
do Recreio, fica morando aqui até arrumar um apartamento, ai a gente ficou
alugando a casa. Ai, depois minha mãe resolveu que queria ir para um
apartamento, e olhou o Península, mais ele sempre quis a Barra, porque a
Zona Sul, além de ser mais cara que a Barra, os apartamentos são menores, a
família é grande, ai a gente prefere a Barra, também é mais segura do que a
Zona Sul.A escolha foi por isso, primeiro que é mais barato que a Zona
Sul, segundo que encontrava apartamento mais novo, num preço
melhor... Isso. Qual o ano que você veio para o Rio? Em 2005. Vai fazer
quatro anos. O que você acha de morar na Barra?Eu preferia morar na
Zona Sul. Então vamos lá, me diga os pontos fracos e pontos fortes da
Barra.Os pontos fortes porque é mais seguro..., na verdade eu acho isso
da Barra...Você se sente mais segura aqui... É, eu me sinto mais segura
aqui. A Zona Sul tudo é mais perto, mais fácil, eu não gosto muito de ficar
andando de carro, eu gosto mais de andar a , e aqui não da para fazer isso.
Pontos fracos da Barra? O fato de ter que andar de carro, isso.Você
gostaria de morar em algum outro bairro?Leblon ou Ipanema. Por
quê?Porque tem a cara do Rio, é mais charmoso, da Zona Sul são os dois
melhores bairros, também acho bonito, as pessoas são bonitas, não sei, eu
gosto de lá.
Carolina tem a mesma sensação que Gabriela da segurança como o ponto forte da
Barra e os shoppings. Porém gostaria de morar na Zona Sul pelo fato de ter tudo perto, acha
um bairro mais charmoso, menos artificial. “O paradigma de Henry James, de uma civilização
de hotel, e a descrição de Banham, de uma arquitetura de fantasia, sugerem três elementos de
uma paisagem pós-moderna extra-urbana: é um cenário, uma fantasia particular
compartilhada e um espaço liminar que faz a médiação entre a natureza e o artifício, mercado
e lugar” (Zukin, 1996, p.91).
149
Aníbal: O
que vo acha de morar na Barra?Agora eu acho
maravilhoso, todos os meus amigos estão aqui, tudo dentro do bairro é muito
bom, determinadas opções culturais são falhas, tem muitas lacunas, mas tem
melhorado, está construindo o centro da música aqui perto, assim, a Barra
tem opções interessantes. Pontos fracos da Barra? Seria legal se tivesse um
ponto de andar na rua, seria bom um contato, tipo umas lojinhas na rua. Aqui
é privilegiado o sistema de carro, se não tiver carro não vai a lugar nenhum,
esse contato na rua mesmo, de calor humano, ver o pessoal andar na rua
passeando com filhos, cachorro... E você gostaria de morar em algum
outro bairro? Com certeza, principalmente sozinho. E qual bairro?
Leblon, Jardim Botânico ou Gávea, principalmente Jardim Botânico, eu
adoro passear por lá, acho que esse bairro é muito bom. Tem a opção de
passear pelo Jardim Botânico a pé, assim, eu estudo na PUC e estou ali do
lado, de vez em quando eu vou, fico um tempo, leio um livro, eu gosto
muito de lá. E está mais perto do Centro, a Barra é muito isolada de tudo, o
contato com os outros bairros fica muito restrito, muito isolado. Todo mundo
da Barra fica na Barra, por isso que na Barra todo mundo se conhece. Tem
essa vantagem e grande equívoco também. Qual são as diferenças entre a
Barra e a Zona Sul?A Zona Sul todo mundo é mais junto, até uma
linearidade de pensamento, de vivência, assim como na Barra, mas como
sempre vivi na Barra estou imerso nesse mundo, e não no outro, e quando
chego no outro <?> diferentes, destoantes, mas até gosto de estar com esse
tipo de pessoa. A Zona Sul tem um tipo de pessoa diferente da Barra.E como
é?Na Barra é um pessoal que tem certo esnobismo muito grande, de se
projetar maior que é, acho que na Zona Sul eu vejo isso com menos
frequência, as pessoas são mais humanas, mais afetivas. Voacha o povo
aqui muito mais metido? Sim. Voltados mais para si, para as coisas que
tem. Com certeza, marcadamente. Os seus amigos estão na Barra? Estão,
são meus amigos, mesmo alguns tendo determinadas características eu
consigo levar isso porque são meus amigos, por eles eu topo. Mas você pode
fazer amizade com alguém da Zona Sul. Eu posso fazer amizade para a
Barra.
Aníbal veio para a Barra porque sua mãe veio trabalhar aqui e diz gostar muito do
bairro, ele acha tudo dentro do bairro bom, fez amizades aqui. Acha a Barra pobre no sentido
cultural, poucos teatros, agora ele fala da cidade da música que estão construindo.
Não podemos deixar de chamar a atenção que a Barra da Tijuca apresenta pouco ou
quase nenhum espaço de ruas e praças. As pessoas não circulam pelo bairro não encontro
de pessoas devido à estrutura do mesmo.
Cita também diferenças entre as pessoas daqui e de outros bairros da cidade do Ri de
Janeiro , ele qualifica as pessoas da Barra da tijuca como esnobes, e que estas aparentam ser
mais do que realmente são. Ele acha que os moradores, especialmente os da Zona Sul do Rio
de Janeiro, são mais humanos, mais afetivos. Constatamos, através do discurso desses jovens,
a presença do “estigma” de moradores da Barra da Tijuca, vistos como pessoas diferentes,
egocêntricas e narcisistas. A idéia veiculada, inclusive através da mídia, é que Barra é
sinônimo de pessoas que enriqueceram rapidamente, não têm valor cultural, em contraponto
com as da Zona Sul, onde a riqueza e o requinte advêm da tradição e da aristocracia.
150
Guilherme:
Você diferença entre a Zona Sul e a Barra?Vejo. Eu
vejo diferença em tudo, do público, do lugar, da música, de tudo. Quais são
as diferenças que vovê, apesar de morar aqui, não é? É. Você não se
identifica com o pessoal aqui da Barra. Não. Eu tenho muitos amigos aqui.
Mas do condomínio só. Como se fosse um bairro fechado.É. Mas acaba
tendo até muitos amigos fora do condomínio. Mas são mais amigos de jogar
bola e tal. E aqui na Barra eu conheço muita gente. Conheço bastante gente
mesmo. Só que pra sair aqui acaba que a maioria das pessoas daqui...
E o que você acha de morar na Barra? Eu acho muito mais tranquilo do
que morar assim na Zona Sul. E vantagem de morar aqui?Além da
tranquilidade... Tranquilo que você diz é violência? É. Então, você se
sente seguro. É. É verdade. Lá na Zona Sul em alguns lugares é cercado por
várias favelas, torna o lugar mais perigoso.Vo tem medo de ir pra
Zona Sul? Não. Por isso mesmo, eu não tenho medo. Mas é o desconforto.
Mas eu não vejo nenhum problema passar por ali...
Você diferença das pessoas da Barra e das pessoas da Zona Sul? A
gente acaba notando diferença... Que tipo de diferença? Diferença no modo
de se vestir ou no modo de pensar, não sei, mas... É que é engraçado, não sei
se isso, acho até que dos meus amigos, minha e tal, mas o negócio e que
quando a gente pensa numa menina, a gente pensa numa menininha
bonitinha da Zona Sul, a princesinha da Zona Sul, entendeu... Vo acha
que as barrenses não se vestem bem, o são tão bonitas... Depende,
porque aqui na Barra é muita mistura, é muita mistura por ser mesmo e vem
muita gente de outros lugares, porque aqui é mais Zona Oeste, então vem
uma galera diferente para cá. De outros bairros... É, que é diferente da
gente, que a maioria das meninas da Barra que andam comigo, que eu
conheço assim, procuram ser que nem as meninas da Zona Sul, não sei se é
proposital ou se pensam da mesma forma, se acabam indo para as mesmas
lojas, mas se você for ver, as meninas quando querem sair elas acabam indo
para Zona Sul, quando elas querem comprar roupas, hoje em dia nem tanto,
até com o Rio Design, foi o que abriu as portas para elas, você pode ter
certeza que as meninas da Barra iam fazer compras no Fashion Mall, sei
lá, na vea... porque ninguém ia para o Barra shopping comprar roupa,
isso você pode ter certeza, isso com certeza, o Rio Design foi o que trouxe
um shopping aqui para elas.Então vo acha que a Zona Sul impõe a
maneira de se vestir...A moda, com certeza. Até para os homens também.
Os meninos de hoje em dia compram roupa aonde aqui? Não tem lugar.
Compra fora, compra na Zona Sul, a gente acaba descobrindo algumas
marcas, eu sempre estou procurando ver as marcas que ninguém conhece... É
mesmo.... Hoje minha mãe estava no Fashion Mall, queria ir lá, porque eu
descobri que tem uma loja lá que revende uma marca que eu gosto. Entendi.
Você acha que quem dita a moda do Rio é a Zona Sul? É, status está tudo
lá, a galera que se veste bem, pelo menos a imagem que vem... Vopode
dizer assim que o povo rico do Rio está na Zona Sul? Hoje em dia eu acho
que está bem dividido, Barra, Zona Sul. É que a Barra cresceu agora, são os
ricos ou que vieram da Zona Sul ou a galera que foi crescendo e veio para
cá, sei lá. Não sei, é aquele negócio, aqui é um negócio mais aberto, tem os
condomínios, você não tem uns condomínios desses lá na Zona Sul.
Para o Guilherme, o principal fator de morar na Barra é o próprio condomínio, que
sente como um bairro. Ele diz que não há violência na Barra, acha um bairro seguro,
principalmente seu condomínio. Porém, para sair ele se identifica com o pessoal da Zona Sul,
só sai por lá. Acha as meninas mais bonitas, mais bem vestidas e diz que quem dita a moda no
Rio são elas. Acha que na Barra tem muita mistura de pessoas que vieram de outros bairros.
151
Acha os shoppings ótimos, porém gosta de lojas mais modernas com coisas diferentes. Disse
que o melhor shopping é o Rio Design, pois você encontra lojas da Zona Sul.
Mauana: Você nasceu aqui na Barra e vive até hoje aqui, 18 anos. As
minhas amigas mais próximas duas moram na Barra. Suas melhores
amigas. Isso. Mas pra sair, jantar, tudo, eu faço na Zona Sul. É mesmo?
Por quê? Eu não gosto dos lugares daqui. Você gosta de morar na Barra?
Não muito. Quais os pontos fortes e fracos da Barra? Eu gosto de morar
aqui, exatamente aqui no Itanhangá porque é uma parte residencial, não tem
muita circulação. E ao mesmo tempo está perto da Barra e está perto da Zona
Sul. Eu gosto da minha casa, gosto da vista que eu tenho também. Isso é uma
coisa difícil na Zona Sul. Vo morou aqui a vida inteira... Exatamente.
Durante 5 anos eu cheguei a morar na Zona Sul. Por quê?A minha mãe
casou com um homem e a gente foi morar com ele. Depois a gente voltou
pra cá. Eu gosto de morar aqui. Tem a praia... Vo gosta da praia da
Barra? Gosto. Mas eu prefiro ir na Zona Sul pelas pessoas. Eu não me
identifico com as pessoas aqui da Barra. Não. Eu gosto muito de cinema, eu
acho os cinemas muito bons, mas porque antigamente não tinha tantos
cinemas bons na Zona Sul. Agora tem um ou dois cinemas que eu vou na
Zona Sul. E o Shopping da Gávea. São os que eu vou. O Fashion Mall já não
sei se é Zona Sul... Mas aqui não se compara: Downtown, NY... São muito
melhores. Com certeza. Então, a sua frequência na Zona Sul é muito
grande. É. Quantas vezes por semana? Eu vou todos os dias... Fora a
faculdade. Então, só fim de semana.
Mauana sente-se tal como Guilherme, identifica-se com as pessoas da Zona Sul. Gosta
de morar no lugar onde está, pois ela fica perto da Zona Sul e da Barra. Para ela, o que tem de
bom são os shoppings que tem os melhores cinemas.
Marco Roberto:
Mas por que escolheram a Barra, já que moraram a
vida inteira na Zona Sul? A gente estava vendo na Zona Sul, que na
Zona Sul o apartamento de quatro quartos são muito caros, aí a gente se
mudou para cá, no primeiro ano que eu mudei para foi f.. Por quê? Não
sei, eu fiquei sem sair do meu quarto, ficava no meu quarto o dia inteiro, não
estudava... Não fiquei deprimido nem nada não, quando me chamavam para
sair logo no início que eu me mudei, eu saia e tal. Mas depois cansa, porque
tinha que ficar indo de ônibus para a Zona Sul... Você diferença entre
as pessoas da Barra e as pessoas da Zona Sul? Francamente, acho que o
pessoal da Barra é mais marrento do que o pessoal da Zona Sul. A Zona Sul
o pessoal é mais tranquilo, na dele, você vai andando aqui na Barra, de carro
mesmo você vê, sempre passa um playboyzinho com som alto, tirando onda,
fechando, correndo... Por quê? Não sei, sei lá, tipo, confusão não tem mais,
não acontece mais, ainda bem... Sei lá, o pessoal mesmo, eu vou na (?),
desde que eu comecei a sair aqui na Barra de novo, que meu irmão vai para
lá. conheço os garçons, é agradável para caramba, estou familiarizado,
agora está indo um monte de pela-saco. vi um pessoal arrumando
confusão.
Marco Roberto viveu sua vida inteira na Zona Sul, não ponto forte nenhum de
morar na Barra, acha queé tudo distante e que depende de carro para tudo, pois também os
transportes para a Barra são muito escassos. Além disso, acha as pessoas da Barra muito
152
esnobes. Ele diz: “Francamente, eu acho que o pessoal da Barra é mais marrento do que o
pessoal da Zona Sul. A Zona Sul o pessoal é mais tranquilo, na dele, você vai andando aqui
na Barra, de carro mesmo você vê, sempre passa um playboyzinho com som alto, tirando
onda, fechando, correndo...”
Patrícia:
E por que vocês escolheram a Barra para morar? É porque a
Barra está desenvolvendo muito nos últimos tempos, tem tido muito menos
assalto e perigo como tem Ipanema, Leblon. Então a gente sabe que pode
contar com a segurança dentro dos condomínios muito maior, porque, como
você vê, em vários condomínios da Barra, tem uma infra-estrutura já criada
ao redor, tanto quanto as padarias dentro dos condomínios, os supermercados
já são próximos, aquela historia que tem que pegar carro para todos os
lugares às vezes é verdade, às vezes não... No caso de um condomínio
desse, o precisa porque está tudo ali...Exatamente, tem shopping, os
melhores shoppings estão na Barra, então assim, o lazer da Barra é muito
bom.Você gosta de morar na Barra?Gosto muito, porque, assim, minha
vida toda é lá, acho que a Zona Sul já é outro mundo completamente
diferente, ainda mais para Copacabana, Botafogo já outro mundo mais
ainda.Por quê?acho que..., não as pessoas são diferentes, mas o estilo de
vida muda muito, eu acho que é aquela historia de barzinho e cinema o
tempo todo, assim, mais para Copacabana e Botafogo, acho que o estilo da
noite muda muito para o da Barra, que eu tenho opção tanto dos barzinhos e
cinema, quanto restaurantes muito gostosos, boates muito boas, quanto a
praia, que muitas vezes não está poluída, como a de Ipanema, do Leblon.
Então eu acho que é um ponto muito favorável, as praias, os shoppings, o
lazer de modo geral.
Patrícia aponta o bairro da Barra como o melhor do Rio, pela falta de violência, que
observa em outros bairros. “Então a gente sabe que pode contar com a segurança dentro dos
condomínios muito maior, porque, como você vê, em vários condomínios da Barra, tem uma
infra-estrutura criada ao redor, tanto quanto as padarias dentro dos condomínios, os
supermercados são próximos”. Para ela, os melhores shoppings estão na Barra. Para ela, a
diferença entre a Zona Sul e a Barra está no fato de que as pessoas são diferentes. “As pessoas
estão querendo ir para a Barra porque está vendo que está desenvolvendo bastante. O Rio
Design é prova disso, um shopping de primeira categoria, que é uma característica muito
presente no Leblon, Ipanema, aquele shopping que engloba o lado elitista da Barra. As
pessoas estão procurando mais isso, mais a segurança e mais uma mistura da elite e da classe
média e média alta”.
Seu discurso lembra o que a autora Zukin diz com relação à “disneificação”; um
ambiente todo programado para que todos os elementos indesejáveis sejam retirados de perto,
propiciando um clima de paisagem que não tem calor nem frio, tudo é artificial com “ares” de
normalidade. Normalidade está mantida às custas de uma arquitetura própria da Barra da
Tijuca, com avenidas largas, poucas praças, poucos lugares de encontro a interação social
153
prejudicado, o que dificulta as trocas culturais e a construção de cidadania. Segundo Canclini:
“O peculiar modo de exercer a cidadania consiste em isolar-se da conflituosidade urbana
médiante a privatização de espaços super vigiados e a restrição da sociabilidade ou dos
encontros indesejáveis” (Canclini, 2003, p.163).
Cristina:
O que acha de morar na Barra? Quais os pontos fortes e fracos?
Eu gosto muito da minha casa, mas odeio ter que pegar carro pra tudo que eu
vou fazer e sempre ter que depender de alguem. Com certeza o ponto mais
fraco e a dificuldade pra se locomover e todo o tempo que tem que ser gasto.
Por exemplo, pra ir pra minha faculdade no centro da cidade levo
aproximadamente 1 hora e meia de onibus. O ponto forte acho que e a
proposta de segurança que temos no nosso condomínio e também poder
morar em uma casa, ter cachorros, etc.
6.4 - Tópico IV: juventude, consciência sócio política e práticas culturais
O objeto de investigação deste tópico é a relação dos jovens moradores da Barra da
Tijuca RJ e sua consciência política, no sentido de como em sua cidade e seu país, sua
participação direta ou indireta em atividades políticas, consciência crítica e participação na
vida cultural da cidade.
Os jovens da atualidade cresceram num mundo de realidade imédiata, programática,
com pouco espaço para os idealistas.
Para o professor de Sociologia e Política da PUC-Rio, Ricardo Ismael, alguns dos
fatores que poderiam explicar esta falta de interesse dos jovens são:
Primeiro, há uma grande quantidade de políticos envolvidos com escândalos,
eles aparecem de uma forma negativa. Muitos querem se eleger para ganhar
dinheiro e ter foro privilegiado. Outro fator, é que a geração de agora vive
uma realidade que a política não consegue melhorar
9
.
Cássio:
Como é que você descreve o seu país e a sua cidade? E a que
você associa. O Brasil é um continente, então, tem de tudo. Vários aspectos
climáticos e sociais, costumes mesmo. Eu considero um país muito
diversificado e muito desigual. Eu acho que tem muita coisa pra melhorar
ainda. No Rio, a minha cidade, como é que eu posso..., deixa pensar... Como
é que você pensa do Rio? É a mesma coisa, assim um pouco esse raciocínio
da Barra de me sentir em casa, é uma cidade muito bonita, mas os problemas
estão cada vez mais incomodando. E denegrindo de certa forma a cidade, a
cara da cidade, a identidade da cidade pras outras pessoas que não são daqui.
A questão da violência, realmente, está crescendo muito. E eu acho que a
cidade está crescendo de uma forma completamente desordenada, sem
planejamento. A questão por exemplo do metrô, então, quem anda na rua
9
Disponível em: www.vivafavela.com.br/publique/cgi/public/cgilua.exe/web/templates/htm/.../
view_rev_0010.htm?infoid... Acesso em: Jan/2009.
154
assim a desigualdade, a falta de planejamento é um absurdo. Vo vai no
subúrbio, o descuido da Prefeitura com o asfalto, é um exemplo bobo. Mas
você a diferença como os investimentos estão se canalizando pra uma
determinada região e o resto está ficando esquecido como se fosse uma outra
cidade, uma outra administração. Eu acho que isso tem me incomodado
bastante essa desigualdade. E os efeitos da desigualdade na questão social
mesmo que...E você não vê isso. É exatamente o contrário. Você vê cada vez
mais a desigualdade. Daqui a pouco, o Rio está crescendo de uma forma, que
daqui a pouco está a cidade completamente louca que nem SP. Cheio de
rodízio de carro, um dia não pode sair tal carro em tal horário, cada placa.
Isso pra mim é um desestímulo, é um ponto caótico de chegar a esse ponto
de rodízio de carro é porque realmente a cidade cresceu...
Cássio adora a cidade do Rio de Janeiro, porém aponta vários problemas que são
enfrentados no nosso dia a dia, demonstrando uma consciência critica do que ele sente. Ele
esta consciente que o Rio é uma cidade que cresceu desordenadamente e desorganizada, que a
violência é um dos pontos mais críticos da cidade do Rio de Janeiro, e que a visão dos outros
estados é de uma cidade identificada com o reforço diário nos meios de comunicação com a
violência.
Cássio observa: “Você vai no subúrbio, o descuido da Prefeitura com o asfalto, é um
exemplo bobo. Mas você a diferença como os investimentos estão se canalizando pra uma
determinada região e o resto está ficando esquecido como se fosse uma outra cidade, uma
outra administração”. Nesse sentido, os lugares considerados privilegiados, onde a classe
média alta se concentra, tem mais recursos do Governo enquanto que os bairros onde se
encontram as classes menos privilegiadas são abandonadas por parte do Estado.
Segundo o Cientista Político Dayrell, em seu artigo sobre o papel do jovem como ator
social, a inquietude política dos jovens encontra atualmente outro ambiente de recepção. O
campo da ação política hoje apresenta-se menos definido pelo confronto da sociedade de
classes. São notórias as marcas da redefinição das fronteiras entre a esfera pública e privada,
da valorização da cultura, das identidades e do meio ambiente como novos espaços de
expressão política. O antropólogo
Souza Santos o projeto da modernidade a partir do
equilíbrio entre emancipação e regulação:
O pilar da regulação é constituído por três princípios: o princípio do Estado
(Hobbes), o princípio do mercado (Locke), e o princípio da comunidade
(Rousseau). O pilar da emancipação, por sua vez, é constituído pela
articulação entre três dimensões da racionalidade: a moral-prática (direito
moderno), a cognitivo-experimental (ciência e técnicas), e a estética
expressiva (artes e literatura) (Santos, 1995, p.236).
Com base no referencial teórico de Souza Santos percebemos a fragilidade na
construção das bases para emancipação dos jovens, em função do lamentável vazio ético-
155
moral em que vivemos na sociedade brasileira, do total descaso estatal em relação aos
movimentos sociais e ao baixo apoio e fomento das atividades culturais e das expressões
artísticas.
Muito se diz sobre o desinteresse da Juventude brasileira como um todo pela política,
cultura, literatura e participação social, Essa aparente apatia alimenta-se dos lamentáveis
exemplos diários de corrupção, escândalos nos altos escalões governamentais e a impunidade
como marca indissociável da sociedade brasileira.
Desde os chamados “Caras Pintadas”, os quais muitos afirmam que foram personagens
determinantes para a retirada de Fernando Collor de Mello da Presidência da Republica em 30
de setembro de 1992, não vemos mais nenhum grande movimento político desses cidadãos
brasileiros. poucos dias, a taxa básica de juros sofreu novo aumento e aproveitando o
momento, nosso atual Presidente Luiz Inácio Lula” da Silva disse que os brasileiros
sabem reclamar, mas não fazem nada para mudar esse cenário.
Segundo o cientista político da USP, Dr. Fernando Abrucio, os recorrentes escândalos
pioram a imagem que os brasileiros têm dos políticos - que não é das melhores. Diante da
avalanche de denúncias, uma parte da população opta pela apatia. Outra adota uma postura
cínica, segundo a qual "todos fariam o mesmo se estivessem lá". A visão de mundo que os
mais velhos passam para as futuras gerações é a peça-chave para criar uma sociedade melhor
no futuro.
Compreendemos a necessidade da prática da leitura para os jovens, como instrumento
fundamental na construção da consciência sociopolítica, principalmente quando conceituamos
a leitura como o despertar do sujeito para a realidade que o cerca. Os educadores Bezerra,
Loureiro e Maldonado, em seu livro Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas
leituras, afirmam que “a leitura é, enquanto prática de letramento, um meio de conhecimento
e compreensão de uma realidade social que ultrapassa a idéia de simplesmente codificar
símbolos gráficos” (Bezerra, Loureiro & Maldonado, 2001, p.21).
É através da prática da leitura que construímos uma visão reflexiva e crítica da
realidade na qual estamos inseridos. Essa concepção de leitura é descrita pelos novos
parâmetros curriculares nacionais (MEC, 1999) e as novas diretrizes curriculares para o
ensino médio, que propõem uma articulação entre as práticas de leitura escolar e as práticas
sociais para que o aluno aprenda de forma contextualizada e desenvolva a crítica ao ler o
mundo e ao escrever sobre ele.
Cássio:
Qual foi o livro que vomais gostou de ler? m vários. Um
livro que me marcou muito era um livro chamado “Éramos Seis”. Conta a
história de uma família... Esse livro eu li muito tempo e gostei muito, eu
156
estava mais acostumado nessa época, eu era pequeno. Eu devia ter 12 anos.
Eu lia mais assim livros de aventuras. E foi um livro assim mais romântico e
que contava a história de uma família que foi acabando aos poucos, cada um
pro seu canto. Fulano morria, beltrano sumia o mundo, não lembro. Foi um
livro que até aluguei na biblioteca do colégio e comentei isso com uma
amiga minha.
Cássio é um jovem que tem interesse por leitura, o escolhido foi mais em função de
uma relação afetiva de quando ele era criança.
Fernanda:
Como é que você descreve o seu país e a sua cidade? Em
termos de política não posso descrever porque eu não sei nada de política.
Não acompanho, eu não sei nada. Eu acho que o Brasil é um país que tem
tudo para ser uma superpotência. A gente tem muita matéria prima, a gente
tem muito verde, é um país bonito. Na parte de turismo ele é bom. Não se
compara aos EUA porque tem a Disneylândia, tem aqueles parques. Na
Europa tem aqueles mil museus. Não se compara, é outro tipo de turismo.
Mas eu acho que o Brasil tem de tudo, o Brasil uma superpotência. Eu não
entendo de política, falam que governam mal, eu não seio o que é. Eu acho
que ele tem tudo para ser muito bom. Cara, o Brasil é lindo, sempre falei que
não moraria em nenhum outro lugar no mundo. Eu sou apaixonada pelo
Brasil. Eu sou apaixonada pelo Rio, eu amo a minha cidade. Tem tudo que
eu gosto. Eu sou apaixonado por praia, é só atravessar a rua estou na praia.
Fernanda demonstra total falta de interesse pela parte política em que estamos
inseridos. Acha o Brasil um país muito bonito com muitas riquezas naturais. E o Rio também
ama porque tem as coisas que gosta. De acordo com o que citamos acima, o jovem não tem
muito interesse pelo que está acontecendo politicamente, seja por descrédito ou desesperança.
Fernanda:
Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Livro? Um
quando eu era criança e li na escola. Eu não lembro o nome. Mas eu cheguei
a ler até três vezes. Não lembra o nome do livro? Não. Era sobre uma
menina. Eu não lembro o nome. Era uma menina que estava numa escola e
começa a se apaixonar por um garoto. Não é o livro mais construtivo que eu
já li, mas eu gosto muito de ler. E o último qual foi? O último foi "Bandidos
(?)", nada de mais.
Fernanda também não tem interesse em leituras.
Renato:
Como você descreve seu país e sua cidade?Acho que falando do
aspecto natural é um país muito bonito, pode-se encontrar de tudo em sua
extensa área, mas acho que falta uma organização maior. Em termos de
quê? Em termos de tudo, politicamente falando e na cidade mesmo, podia
ter uma melhora. Mas desorganização, como assim? Desorganização do
espaço da cidade, acho muito feio, muito sujo. O Rio ou o Brasil? O Rio.
Você acha nossa cidade suja? Eu acho uma cidade suja, mas maltratada,
mal cuidada. Acho que podia ter boas melhoras, em tudo. Até para manter as
belezas que tem. Sente falta de uma boa administração, é isso. Sim, isso.
157
Renato descreveu o Rio e o Brasil pelos aspectos naturais de beleza natural, não
apontou nenhuma crítica em relação à administração do país ou da cidade. É um rapaz que se
interessa por livros e costuma ler bastante.
Renato:
Qual foi o livro que você mais gostou e ler? Eu gostei de um
livro do Paulo Coelho, O Alquimista. Foi o que mais te marcou? Sim, todo
mundo ficava falando que era ruim e eu decidi ler, gostei. Pra mim foi o
livro que gostei muito, foi o primeiro que veio agora.
E.T.
O que você acha do Rio? O Rio o pessoal diz que é a cidade
maravilhosa, sei lá. Mas você mudando de bairro. Você acha que um
contraste de mundos? É, do Recreio pra Barra é contraste, da Barra pra
Jacarepaguá é outro. Por que você diz isso?Aqui na Barra o pessoal é
mais ligado ao estudo, os adolescentes da Barra estudam mais. O pessoal do
Recreio é uma outra galera mais nova, são pais novos que tiveram filhos
novos, você a mudança de um bairro pro outro. E o Brasil? Não nem
pra falar, se de um bairro para outro já tem diferença, de um estado pro outro
deve ser uma coisa absurda. A violência está em todo lugar, eu que quero ser
policial, vejo pela televisão, pela Internet, a violência muda o nome da
facção, muda o rosto do bandido. Você associa o Brasil à violência? Em
todo lugar tem violência, todo lugar tem droga, a gente não fala daqui porque
a gente mora aqui. Se a gente botar numa Discovery, num canal americano, a
gente vai ver o esquema do EUA. Aqui eu acho que é igual a todo país.
E.T. apontou as diferenças de bairro e a violência no Brasil e no Rio, parece um pouco
já estigmatizado este pensamento.
E.T.:
Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Não suporto ler
livros, eu li poucos livros. Teve algum que te marcou? Eu li Mente
Milionária, porque eu comecei a trabalhar com meu pai um pouco, para ver
como é a firma dele e comprei. Eu só gosto de ler o que eu sou interessado, o
que o colégio mandou eu nunca gostei de ler. Mas também no que eu me
concentro eu vou embora. Eu li um livro de 375 páginas em um dia, em 4
horas. Eu li Mentes milionárias, que fala de comércio e num final de semana
li mais de dez livros sobre comércio, eu gosto muito de comércio. O que eu
mais gostei foi o livro de comércio e agora A Elite da Tropa que fala
justamente do Rio de Janeiro, da parte da polícia, dos bandidos, da política,
ele retrata o Rio de janeiro uma parte que a gente não vê.
E.T. não interesse por leitura, mas já leu dois livros por que se interessou bastante
.
Carlos:
Como você descreve o seu país e a sociedade? Eu gosto muito do
Brasil. Antigamente, quando eu era menor e tinha uns 15 anos, eu odiava o
Brasil. O meu sonho era ir embora do Brasil e ir morar nos EUA, não voltar
nunca mais. Eu acho tudo errado. Hoje em dia, ainda acho errado, mas eu
gosto muito do Brasil e do RJ. Eu viajo em cidades e o RJ é perfeito. O
problema que o Brasil é uma bagunça assim tipo igualdade social, violência,
no carnaval ninguém está nem
Carlos diz que, quando menor, o seu sonho era ir embora do Brasil, queria morar nos
158
EUA, pois acha que no Brasil tudo é errado. Aponta desigualdade social e a violência,
conceitos já padronizados. Não demonstra muito interesse em leitura.
Qual o livro que você mais gostou de ler? Eu não gosto muito de ler.
Porque me dá sono, às vezes. Um livro que eu li que eu achei que ia ser um
saco, mas que eu adorei eu tive a ler pro colégio foi Capitães de Areia. Eu
gostei muito da narrativa de (?) que me prendeu. Eu acho livro meio chato,
muita palavra. Eu gosto que a coisa seja direto assim: “Ele entrou na sala” e
não assim: “Ele entrou e a parede era assim, a cortina e tinha duas camas”,
começa a enrolar muito. É. Eu não gosto de ficar imaginando. Mas “Capitães
de Areia” foi um livro que gostei de ler.
Flavio:
Como você descreve seu país e sua cidade? Quando você pensa
no Brasil, como você vê?Acho que o Brasil é mal administrado, o que
acontece na nossa cidade é fruto disso, de uma estrutura deficiente. Não tem
recursos para todo mundo, por iss as favelas cada vez aumentando mais,
cada vez um fluxo de pessoas aqui no Rio de Janeiro, vindas do nordeste,
contribui muito pra este movimento de favelização, as pessoas roubando. É
um país que é para os ricos, o povo pobre não é muito defendido, não brigam
muito pelos direitos deles. E o Rio de Janeiro? O Rio tem seus pontos
ótimos, as praias, seus recursos naturais, mas é uma cidade muito violenta.
Acho que é fruto de uma administração, maus investimentos em
segurança, muito investimento de fachada: botar policial nas ruas no PAN,
não é por que vai acabar com isso. A questão da violência é muito mais
profunda do que isso, tem que ser tratada muito mais séria do que isso, não é
botando policiais aqui e ali que vai parar. Muita segregação social, muita
desigualdade social. São Conrado tem o IPTU mais caro da cidade do lado
da maior favela da América Latina, é impressionante.
Flavio apresenta maior conhecimento crítico em relação ao que se passa aqui. Diz que
o problema do Brasil e do Rio é administrativo, comenta que é uma estrutura deficiente, não
tem recursos e que cada vez aumenta mais o numero de favelas, diz que é um país para os
ricos, que os pobres não têm defesa. Afirma que o problema não é colocar guardas, que o
problema é a injustiça social, muita segregação social e da o exemplo da rocinha e o bairro de
São Conrado. Flavio se interessa muito por leitura.
Flavio:
Qual o livro que você mais gostou de ler?Eu gostei muito de ler
Dom Casmurro, um clássico e contos de Mário de Andrade. Gostei de ler
também Falcão – Meninos do Tráfico, que fala muito disso, da origem destas
crianças no tráfico, do Mv Bill e do Celso Athayde. Você gostou muito
deste livro. Gostei, eu leio mais revistas, mas eu gosto de livros.
Eduarda:
Como vodescreve seu país e sua cidade? O que voacha
do Brasil?Eu amo o Brasil na verdade. Uma vez meu padrasto recebeu uma
proposta de trabalhar em Paris, eu me revoltei, não quis ir de jeito nenhum.
Eu acredito que é bom conhecer outros lugares, eu nunca fui para fora do
país, acredito que deva ser muito bom, mas morar a gente sente falta de falar
nossa ngua, de comer nossa comida, eu adoro o Brasil apesar dos
problemas... Que problemas que você identifica? Problemas políticos, o
159
Rio em si, a violência, mas eu não moraria em outro país. E o Rio, apesar da
violência que está muito grande, chega a dar medo de sair na rua
Eduarda fala que o maior problema do Brasil e do Rio é a violência. Não se interessa
muito por leitura.
Eduarda:
Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Eu não sou de
ler muito. Minha mãe nunca teve o hábito de ler, então nunca tive nada
disso, gosto muito de ver filme, ultimamente eu tenho até lido alguma coisa,
porque meu padrasto lê muito, ele me influencia muito, mas o livro que acho
que me marcou bastante, que eu li no colégio foi “Depois daquela viagem”,
que é a história de uma garota que pega AIDS, é uma história real, ela pegou
AIDS em uma viagem e ela conta a história de como sobreviveu com a
AIDS, foi um livro que me marcou, achei uma boa história de vida.
Bia:
Como é que você descreve o seu país e a sua cidade?O meu país eu
acho que passa por muitas dificuldades, porque o país, o povo né, são as
pessoas. E não adianta nada a gente se espelhar como que essas crianças vão
ter um futuro se espelhando nessas pessoas que não no Brasil, como em
outras partes do mundo, pessoas de índole, de mau caráter. Têm pessoas
boas também, mas num país capitalista as pessoas querem muito dinheiro e
tudo mais. Eu acho que no Brasil, ele está melhorando e tudo o mais, mas eu
não estou muito satisfeita com o Brasil não. Tanto que eu quero ir pra
França. Quer ir embora daqui. Eu quero morar na França. Eu não sei se
quero morar lá, mas eu quero passar um tempo lá. Tenho família lá, eu gosto
de lá. Eu tenho muita vontade de conhecer. Eu acho um país incrível, lindo.
Você não conhece? Não conheço. Eu nunca sai do Brasil. E do Rio?Já. Eu
conheço alguns estados, não muitos. Quais? Bahia, SP, MG, ES, SC e
Paraná.
Bia fala das pessoas, dos brasileiros, diz que o problema do Brasil é o povo. Quer ir
embora do Brasil e morar na França. Não demonstra interesse por leitura e não soube me dizer
um livro que leu.
Bia:
Qual o livro que você mais gostou de ler? Ih, eu não sou muito de ler
não. Não sou muito de ler. Teve algum que te marcou na escola... Eu não
estou me lembrando. Eu não sou muito de ler. Eu prefiro cinema.
Airton:
falando sobre Brasil, o que você acha do Brasil, como você
descreve o seu país e a sua cidade?Bom, eu acho que o Brasil tem muita
coisa para melhorar, é uma situação alarmante, isso me entristece de certa
maneira. Que pontos você acha? Em educação, em infra-estrutura. Acho
que basicamente educação, conscientização, uma série de coisas que o Brasil
não tem. Acho que nunca ninguém mudou isso e eu certamente vou fazer a
minha parte e vou influenciar outras pessoas para mudarem o país também.
Você, com sua carreira em administração, pensa em fazer alguma coisa
que mude na base da estrutura? Com certeza. De que forma você pensa
em fazer isso? Eu acho que a educação é a principal coisa a se melhorar em
nosso país. Eu não sei ainda, tenho que estudar mais para saber como posso
fazer minha parte, ainda não tenho uma idéia muito concreta sobre isso. Mas
você tem este desejo. Com certeza. E o Rio? Eu acho que o Rio é um
reflexo do Brasil inteiro. A gente têm bairros ricos, como a Zona Sul, Barra e
160
inúmeras favelas espalhadas pela cidade, da pra ver toda divergência que
existe. Tem coisas muito boas aqui, mas também tem coisas horríveis, como
a violência, é isso que eu associo. Quando eu penso no Rio, eu penso que é
uma cidade que eu gosto muito, uma cidade muito bonita em primeiro plano,
mas em segundo plano eu certamente penso na violência.
Airton tem uma consciência crítica em relação à situação do Brasil, ele acha que o
problema principal é a educação, fala de conscientização e tem o interesse em fazer alguma
coisa que contribua para mudar a situação do país. Diz que o Rio é um reflexo do Brasil, fala
da desigualdade e injustiça social. Airton leu vários livros, tem um grande interesse pela
leitura.
Airton:
Qual foi o livro que vo mais gostou de ler? Não posso
escolher um. Então fala os preferidos, os de cabeceira. Eu gosto muito
do “Os Sete Hábito das Pessoas Altamente Eficazes”, eu gosto muito de uma
série chamada “Pai Rico, Pai Pobre”, têm muitos livros e eu já li uns seis ou
sete.“Pai Rico, Pai Pobre”. Eu gosto de livros de grandes empresários, o
primeiro que eu lembro de ter lido foi o do Roberto Justus, achei bem legal.
Já li do Donald Trump também, de investidores...
Mariana:
Como você descreve o seu país e a sua cidade? Aí, que
difícil... <risos>... O meu país?...Seu país..., o Brasil. Eu acho maravilhoso.
Eu amo morar aqui, adoro. Eu adoro as praias, assim, mas eu fico muito
triste com esse negócio da violência... Você fala a violência no Brasil ou no
Rio? No Brasil me abala mais ver esse negócio de corrupção, pobreza, sabe?
A gente vive aqui no nosso mundinho, na nossa vida maravilhosa, eu
consegui estudar na PUC, estou super feliz. Mas às vezes a gente n pára pra
pensar nas outras coisas... Às vezes passa na televisão coisas tão ruins, sabe?
Tão triste. Um país tão grande, tão bonito, tão sabe? Às vezes me choca. A
realidade do RJ, Barra da Tijuca com o resto do Brasil... pro sertão,
as crianças passando fome. Porque você não isso aqui. Tudo bem, você
atravessa o túnel e depara ali com a Rocinha que é uma realidade dura e tal.
No Rio o que me incomoda muito é a violência, tipo, apesar que nunca
passei por nenhuma situação ruim como sequestro na família ou assalto. Até
a família já foi assaltada, mas assim, por pivetinho de rua. Mas você se sente
insegura de sair na rua. Eu tenho várias amigas na Zona Sul, às vezes cara
quando eu vou sair na Zona Sul de madrugada pra ir numa boate, eu não
volto pra Barra... Fica insegura. Exatamente. A Barra é um bairro que não
tem tanta criminalidade. Aqui não tem favela. Não tem
.
Mariana diz adorar o país e o Rio. Mas comenta sobre a violência, corrupção pobreza.
Estuda na PUC, e se encontra em outro universo completamente distante da realidade
brasileira. “Às vezes passa na televisão coisas tão ruins, sabe? Tão triste. Um país tão grande,
tão bonito, tão sabe? Às vezes me choca pro sertão, as crianças passando fome. Porque
você não isso aqui. Tudo bem, você atravessa o túnel e depara ali com a Rocinha que é
uma realidade dura e tal...” Mariana faz uma comparação da pobreza do Rio com a miséria do
Nordeste, mas é como se não estivesse envolvida com nada disso. Neste sentido, percebe-se
que, para os jovens entrevistados, a situação brasileira está muito distante da realidade deles,
161
cada um vive realmente seu mundo individualista como se não fizesse parte da história.
Diferentemente dos jovens de outras gerações que tinham por que lutar, uma ideologia, parece
que eles realmente vivem para si, dentro de uma sociedade cada vez mais individualizada. Na
sociedade do hiperconsumo, o estímulo da individualidade, da aquisição de objetos
pessoais como telefone celular, laptop, ipod, máquina digital. Esses produtos sugerem
autonomia e independência, com o forte motivo de facilitar o ganho de tempo, de ter maior
controle do universo, de forma geral. E que esses jovens não saiam de seus lugares vendo o
mundo através das telas de seus computadores.
Romeu:
Como você descreve seu país e sua cidade? Meu país eu
descrevo como um país bonito, um país cheio de belezas tropicais, naturais,
mais com muita gente, acho que o biótipo do brasileiro em geral é querer se
achar o esperto, malandro, querer tentar tudo dar a volta por cima dos outros.
E se a gente fosse um povo mais unido, mais patriota, brasileiro fala muito
em patriotismo, mais patriotismo em copa do mundo e olimpíadas. Falam
dos Estados Unidos, que eles são horríveis, mas o povo americano está na
posição dele, pode ter sido por meio de guerra, pode ser por meio de tudo,
mais acho que mais pelo patriotismo dele, por eles lutarem por aquilo, por
eles acreditarem no país, por eles ajudarem mais o próximo do que a gente..
Um dia a gente acaba sendo desenvolvido. Sobre a cidade não tenho o que
queixar, eu gosto muito de morar no Rio, eu acho que nós cariocas somos o
povo mais legal do Brasil, única questão que a gente coloca ai é a violência,
mais todo lugar tem violência. Têm lugares que pode ser mais acentuada e os
outros menos, só que nossa cidade assim não tem nada que queixar, já
conheci vários outros lugares, que sempre você acaba querendo voltar
para cá. O Rio é muito bonito e você está acostumado a essa beleza, o
carioca sai do trabalho, vai pra praia beber com seus amigos, ou interagir
com seus amigos, tem varias questões, tem a praia no final de semana, tem a
questão do futebol..
Romeu, assim como Bia, acha que o problema é o povo brasileiro O problema, para
ele, encontra-se na cultura brasileira ou o que ele acha a respeito disso. Acha o país, assim
como o Rio, cheio de riquezas naturais e aponta a violência do Rio como o maior problema da
cidade.
Lis:
Como é que você descreve o teu país e sua cidade? Como vo
descreve o Brasil?O Brasil tem tudo pra ser um país em harmonia. Eu não
vou dizer que é um país rico assim, não acho que seja um país com infra-
estrutura boa de capital. Agora um país em harmonia. Se o presidente Lula
trabalhar, eu não sei, tem tanta coisa que eu nem sei me expressar direito. O
Brasil assim ele tem floresta... É um país muito rico.Muito rico. Mas que
não é... Aproveitado.Exatamente. E acho que a pobreza também é uma coisa
que destrói. Se eu pudesse mudar alguma coisa no Brasil, eu ia focar na
pobreza. O que você faria?Eu ia dar condição pras pessoas pra ter um
estudo bom. Educação. Educação pra ter bons profissionais e crescer. Ter
empregos e sim, vai crescer o país.com emprego cresce o país..Tem que
ter profissionais. E o RJ você gosta? Pô, eu gosto muito do RJ. Eu acho que
é um país maravilhoso. O Rio é uma cidade. É uma cidade maravilhosa.
que eu acho que tem muito preconceito.
162
Qual foi o livro que você mais gostou de ler?Eu gostei muito de ler o livro
que MV Bill fez com Celso é sobre Meninos do Tráfico o nome. É sobre um
documentário que foi pra TV, mas eu li bem antes. O livro é um
documentário escrito, eu adorei, adorei. Se eu pudesse ler mais sobre esse
negócio de tráfico assim...
Lis acha que o Brasil tem tudo para viver em harmonia. Ele tem florestas, mas não é
aproveitado, diz que a pobreza o destrói. Que, se pudesse fazer alguma coisa, iria focar na
pobreza, dando condições para as pessoas terem um estudo bom, educação profissionalizante,
empregos para o país crescer. Em relação ao Rio, acha a cidade maravilhosa. Sobre os livros
que ela leu, refere-se a um que fala sobre os meninos do tráfico, um documentário que foi
para a TV. Ela disse que gosta de ler coisas fora da realidade dela para saber como é.
Gabriela:
Como você descreve seu país e sua cidade? E o que vo
associa?Eu acho um país muito pobre, assim, eu acho que o Brasil tem gente
muito pobre e gente muito rica, acho que por ser muito grande, não é uma
coisa igual, todo mundo tem mais ou menos a mesma renda e tal, no Brasil é
bem... Desigualdade social... É isso?É isso. Porque você diz que tem uma
desigualdade muito grande? Você mora no Rio, na Barra da Tijuca...
Tudo bem, mas, por exemplo, você vai a Salvador, ai você vai e fica num
hotel bom, e você vai no Pelourinho, você aquela pobreza ao extremo, e
você vai num shopping, ai aquela coisa bonita, ai você vai no elevador
Lacerda e ver aquela pobreza extrema, numa mesma cidade... Você está
falando da Bahia, e no Rio de Janeiro? Onde você isso? Esse
contraste? Voestá ali na Gávea, é um bairro nobre, ou até São Conrado
mesmo, tem a Rocinha, tem aqueles prédios lindos e tem a vista da Rocinha,
é um contraste social muito grande. E você acha que isso é devido ao
que?A roubalheira de nossos políticos. Você acha que é porque eles
roubam? Acho. Você acha que eles poderiam colocar o dinheiro aonde?
Investir em educação, segurança, em milhões de coisas que eles não gostam
dinheiro... Eles gastam dinheiro roubando, eles gastam dinheiro fazendo
obras, pegam metade do dinheiro para eles.
Gabriela aponta sua cidade e seu país com um contraste de desigualdades. Ricos e
pobres convivendo numa mesma cidade. Dá também o exemplo de Salvador. Atribui a
desigualdade à roubalheira dos políticos. Gabriela não tem interesse em leitura e lembra de
ter lido Harry Poter.
Carolina:
Como você descreve falando de Brasil, como você descreve
seu país e sua cidade? Olha, eu vou começar pelo Rio, o Rio é maravilhoso,
eu adoro as pessoas daqui, são bem diferentes das de Minas, mais fechadas e
tal, cheguei aqui todo mundo me recebeu muito bemE aqui no Rio? Aqui no
Rio, eu lembro quando cheguei, uma amiga veio falar assim: “Oi tudo bem,
você é de Minas e eu também, me seu MSN”, já foi de cara assim, apesar
de ela ser mineira, mais ela tem bem o jeito carioca. Eu adoro esse lado do
Rio, mais a violência é totalmente, é um absurdoO que me incomoda é a
violência, a violência que eu não convivo. Eu vejo na televisãoVocê acha
a Barra um bairro mais seguro? Exatamente. Mais quando eu estou na
Zona Sul eu nunca vejo, ainda bem, do tempo que eu estou indo para eu
163
nunca via nada de violência, sei de amigas que foram assaltadas andando na
Zona Sul, mais eu nunca vi nada. E no Brasil eu vejo a mesma coisa,
violência em qualquer lugar, corrupção, é até um pouco disso que eu estou
fazendo direito, eu sei que é quase impossível mudar o país, mais eu sonho
em fazer isso, eu quero muito fazer isso... O quê? Mudar, mudar o país,
acabar com essa corrupção, violência...
Carolina veio de Minas, acha que as pessoas no Rio são mais abertas, e o que
incomoda no Rio é a violência, que ela mesma diz não conviver porque é moradora da Barra.
Diz que as amigas foram assaltadas na Zona Sul. O Brasil ela descreve também como o
Rio, violência e corrupção. Tem o sonho de mudar o país, está estudando Direito e gostaria de
acabar com a corrupção e violência.
Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Caçador de pipas. Porque
você gostou mais desse? Eu acho que foi pela historia mesmo, foi um livro
que eu não conseguia parar de ler, eu li ele em um dia, passei o dia todo
lendo o livro. Mas eu não sei, acho que a história, o modo de escrever, eu
gosto mais de livros realistas.
Carolina tem interesse em leituras.
Aníbal:
E como você descreve seu país e sua cidade?Para um não-
nacionalista muito bom. Não tenho qualquer tipo de identificação com o meu
país, mas também acho que nacionalidade não é importante, além de...O país
deixa um pouco a desejar pela infra-estrutura e assim, tenho que admitir que
sou da cultura dele, eu nasci aqui, acho que seria impactante se eu tivesse
que ir para outro país. E minha cidade, sou apaixonado apesar de não ser
carioca, mas gosto muito da cidade e seria difícil largar dela.Pontos fortes e
fracos do Rio?Por incrível que pareça são as praias, apesar de ser fanático
por olhar, visualizar, a paisagem do Rio é impactante. Quando eu estou a
caminho da faculdade, passo pelo Elevado do Joá e é fantástico, aquilo ali é
a melhor visão do Rio de Janeiro.
Aníbal diz não ter qualquer identificação com o nosso país: Adora o Rio, apesar de ter
nascido em Niterói.
E qual foi o livro que você mais gostou de ler?“O mundo como vontade de
apresentação” ShopenhauerPor que foi tão importante?Me mostrou uma
forma de visualização de mundo totalmente diferente da que eu tinha, e
qualquer, acho que não conseguiria em um mundo experimentalista
visualizar tudo o que ele me trouxe de carga de visualização, de capacidade
mesmo, passei a entender certos aspectos.Fez vo pensar em muitas
coisas, abriu sua cabeça, é isso?De fato é isso.E você teve interesse por
Schopenhauer a partir desse professor fantástico de filosofia no
passado?Na verdade não, foi um amigo que me deu um livro <?>. Li esse
livro e gostei das idéias que ele tinha. Na verdade eu tento enquadrar na
filosofia para explicar o que eu não consigo, é uma forma de conhecimento
mais profundo, eu ainda continuo afirmando que sou fanático pela <?>, acho
que qualquer outro opção de vida fora essa é inócua, não vai me levar a lugar
nenhum.
164
Aníbal é extremamente culto, adora ler. É um dos seus principais hobbies. A partir da
década de 70, a Literatura acadêmica e o incentivo aos jovens a prática habitual da Leitura,
com vistas à construção de uma consciência sócio-política buscam encontrar soluções para o
desafio da “crise de representação política” que vivemos. Elites políticas encasteladas, apatia
política dos cidadãos em geral e da juventude em especial são vistas como características dos
problemas centrais que o sistema político democrático vem enfrentando ao longo do final
século XX e dos primeiros anos do século XXI.
A partir deste diagnóstico, a mobilização popular em prol da ação política passou a ser
valorada positivamente. A fim de resgatar a legitimidade dos sistemas políticos democráticos,
novas formas de canalizar a participação política para intervir nas decisões estatais foram
desenvolvidas, assim como se ampliaram as esferas de controle social sobre o Estado.
Esse processo de mudança originou-se em duas fontes distintas e
complementares: se, por um lado, ampliou-se a demanda dos movimentos
sociais por maior participação nas decisões estatais, por outro, o próprio
Estado tornou-se mais permeável criando canais, institucionalizados ou não,
para a intervenção direta de setores articulados da sociedade
10
.
Inúmeras áreas das ciências humanas, entre elas a Psicologia Social, o Direito, a
sociologia, a ciência política, a educação e o serviço social vêm se dedicando a investigaras
novas formas de participação política nas democracias contemporâneas.
Guilherme: Como
você descreve o seu país e a sua cidade? Quando
eu penso no Brasil, eu penso num negócio bem alegre, meio festivo. Boa. Eu
não troco a minha cidade por nada. Eu não falo nem país, eu não troco a
cidade por nada. Não troco RJ por nada. Pode falar que vai me levar pra
Florianópolis ou pros EUA, eu não gostaria de mudar. Eu me vejo aqui e
acabou. Você adora a cidade. Eu adoro. Eu adoro morar aqui. Eu gosto
muito. Mas aqui no Brasil É difícil, né? em viver é impossível. É um
país com alta taxa de imposto. É o país que tem a maior taxa de juros no
planeta. Não dá oportunidade pra você crescer.
Guilherme aponta o Brasil como um país alegre, festivo. Adora o Rio de Janeiro e diz
que não troca essa cidade por nenhuma outra do mundo. O único ponto que destaca é que aqui
as taxas de juros são as mais altas do planeta.
Guilherme:
Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Livro?!? Eu
não estou nem me lembrando de livro... Eu não lembro, verdade. Vosabe
quem é Daniel Dantas? Sei. É o banqueiro dono da Opportunity. Ele foi
pego aí fazendo umas transações indevidas. Eu não sei muito bem. Mas eu
10
CIVITAS. Revista de Ciências Sociais, v. 4. n. 2, jul.-dez. 2004.
165
sei que ele, mas também <inaudível>..., o cara quer crescer e não tem muita
oportunidade porque aqui a quantidade de impostos que você tem que pagar
é absurda. Um negócio pra você crescer é muito absurdo. E ele acabou sendo
pego aí...
Guilherme não tem interesse em leitura, não lembra de nenhum livro. Muitos jovens se
sentem como Guilherme e Carolina, sem interesse em leitura, parecem “perdidos’ e sem
esperanças... Acreditamos que participação política e social pode ser uma saída para os jovens
apáticos e pouco interessados em literatura e manifestações culturais. Segundo o reconhecido
escritor, Renato Tapajós, autor de obras como A infância acabou e Em câmara lenta:
O jovem, nesse período que vai da adolescência ao começo da idade madura,
tem uma imensa energia para gastar. Ele está descobrindo o mundo e
descobrindo a si próprio. Ele tem uma grande variedade de escolhas que
pode fazer: praticar esporte radical, montar uma banda de rock, editar um
fanzine, pôr no ar uma rádio, se dedicar a atividades políticas.
Particularmente, creio que a participação política é a melhor dessas escolhas.
Costumo dizer em minhas palestras aos jovens leitores de meus livros que o
único pecado verdadeiro que eles podem cometer é o conformismo. E nada
como a participação política e social para combater o conformismo
11
.
Mauana:
Como é que você descreve o seu país e a sua cidade?Eu adoro
o Brasil. Eu acho que o Brasil até tem uma propaganda das Havaianas com
Lázaro Ramos Ele está na praia com Havaianas e fala pro vendedor num
quiosque... “As suas Havaianas são que nem as minhas. A sorte é que você
pode usar todos os dias diferente de mim que pra usar de vez em
quando”, esqueci as falas, aí, eles falam do Brasil. Fala que o país é muito
triste com tanta violência, um país tão lindo... Tem um argentino escutando a
conversa e fala: “É mesmo, um país tão bonito. Eu não entendo como tem
tantos problemas”, os dois brasileiros falam: “O que é isso que o Brasil
tem problemas? O Brasil é muito bom”. Então, na verdade é assim todo
mundo é muito apaixonado, quem é brasileiro ama ser brasileiro. Mas tem
todos os problemas assim da violência, as diferenças sociais... Eu gosto
muito. Eu acho que é um país muito lindo
A fala de Mauana reflete um comportamento cada vez mais atípico do jovem de classe
média alta: a noção de que depende da participação ativa e o engajamento da sociedade como
um todo para diminuírem-se as diferenças sociais e garantir a qualidade de vida de todos os
cidadãos.
A participação juvenil consciente, realizada atualmente, está fortemente associada a
ações de caráter social, ou nas palavras de Novaes, “próprias de instituições da sociedade
civil, principalmente as envolvidas com a pobreza (ONGs, instituições religiosas, grupos
comunitários etc.). Seu caráter não é definido necessariamente pelo local de atuação, mas
pelos objetivos e formas de ação” (Novaes, 2000, p.46)
11
TAPAJÓS, Renato. Entrevista disponível no site da Editora Ática, em www.atica.com.br/entrevistas/?e=94 -
24k. Acesso em: dez/2008.
166
Mauana diz que adora o país assim como a cidade. Ela se sente nacionalista. Ela acha
que os brasileiros amam o Brasil. Diz que o Brasil é cheio de recursos naturais, é lindo, mas
ao mesmo tempo aponta a questão da desigualdade e injustiça social e, no Rio, ela aponta a
questão da violência. Mauana não tinha o hábito de ler, porém a faculdade de Comunicação
incentivou-a ao hábito e hoje ela está adorando.
Mauana
: Qual foi o livro que você mais gostou de ler? Não tem um
livro assim... Algum que voachou impactante... Antes da faculdade eu
não tinha hábito de ler. Comecei a ler agora... Eu estou lendo: “Comer, amar
e rezar”, estou amando, estou na metade. o terminei ainda de ler. Eu li
também o Caçador de pipas” na viagem e me emocionou muito, “As
travessuras da menina má”...
Marco Roberto:
Como vo descreve seu país e sua cidade? Bom,
meu país eu penso a mesma coisa que minha cidade. É maravilhoso, não
existe lugar no mundo igual ao Brasil, amo o Brasil, amo o Rio de Janeiro.
que tem aqueles problemas todos, política, violência, aquela ladainha de
sempre. Eu amo essa terra, eu quero morar aqui, eu quero conhecer outros
países, mas só para conhecer mesmo, eu quero morar aqui no Rio de Janeiro,
eu amo a cidade, é a cidade maravilhosa. Apesar de tudo, de todos os
problemas que tem aí, eu amo minha cidade, sempre tentando fazer o
possível para melhorar. Vo ouviu falar nesse caso do Daniel
Dantas?Não, não ouvi. De repente eu ouvi, que eu sou muito ruim com
nome.
Marco Roberto descreve o Brasil e o Rio como todos os outros entrevistados: o Brasil
e o Rio de Janeiro são maravilhosos, porém tem a questão da violência e dos políticos
corruptos. No caso, ele nunca ouviu falar da Daniel Dantas, disse que era ruim de nomes. Tem
interesse por leitura.
Marco Roberto:
Qual foi o livro que você mais gostou de ler?Anjos e
Demônios. Dan Brown, é o mesmo do Código da Vince. que eu preferi
bem mais Anjos e Demônios. Os dois são muito bons, que, eu achei mais
interessante, eu sempre fui ateu, quer dizer, eu estudei em colégio católico,
fiz primeira comunhão, mas sempre fui ateu, aí quando eu era mais novo
tinha aquela raivazinha da igreja, nada sério não... É.quando eu li o livro,
a conspiração da igreja, que era tudo uma mentira, eu adorei o livro.
Patrícia:
Como você descreve seu país e sua cidade?Eu acho que meu
país ele é muito democrático para algumas coisas, mas ele às vezes, assim, a
gente ainda parece que vive numa ditadura, porque algumas coisas eles
repreendem demais. O exemplo disso é a lei seca, acho que ás vezes, talvez
isso não seja a solução para o problema de beber e dirigir, então, ao mesmo
tempo que eu posso lutar pelas dificuldades do país, de me engajar mais nos
problemas sociais, então como tem muitos jovens aí que chamam de ONGs,
que chamam de projetos sociais, projetos até mesmo do próprio bairro e tal,
do próprio condomínio, às vezes eu sinto uma desilusão muito grande,
porque eu sei que não vai adiantar muito, porque eu acho... É, eu estou um
pouco sem esperança. Porque eu acho que as pessoas acomodam... Eu sou
167
uma pessoa muito acomodada com a situação do meu país, tanto que a única
razão que eu veria para solucionar todos os problemas do país seria me
mudando daqui. Então, isso seria uma solução para o sintoma, não para as
causas, então é aquele negócio, eu não consigo pensar numa solução para as
causas e realmente solucionar, porque eu acho que isso depende de todo
mundo, não só de mim, depende de cento e oitenta milhões de pessoas, então
acho que seria muito difícil... E principalmente dos governantes... Isso. Eu
acho que isso é o que me deixa mais desiludida, que a gente cada dia que
passa mais corrupção, mais enganação, eles pensam neles mesmo... E o
Rio de Janeiro? O Rio de Janeiro eu acho maravilhoso, eu acho que é meu
orgulho de ser brasileira, porque, tudo bem, eu teria outros motivos para me
orgulhar de ser brasileira, mas com certeza o maior, 90% do meu orgulho é
por eu morar no Rio, que é uma cidade maravilhosa, mesmo com a violência.
O que mais ressalta mesmo é a beleza, aquele jeitinho do carioca, aquele
prazer de viver acima das dificuldades, acima das diferenças, de todo mundo
estar sempre sorrindo. Você pode ver a pessoa mais pobre assim que está
perto de você, ao mesmo tempo ela está sempre sorridente, porque é a
felicidade, é a cidade maravilhosa, então todo mundo é feliz de poder
contemplar todas as belezas daqui. Então eu acho que isso é fundamental,
além das praias, da natureza, que é tão presente. Você pode estar mais triste
que você estiver, pode ser uma droga morar aqui, você pode ter sido
assaltado, mas se você ir no Bondinho e ver a vista do Pão de Açúcar, você
vai , sabe..., engolir tudo e dormir feliz.
Patrícia acha que no Brasil encontramos democracia e ditadura ao mesmo tempo.
Eu posso lutar pelas dificuldades do país, me engajar mais nos problemas
sociais, como tem muitos jovens que chamam de ONGs, que chamam de
projetos sociais, projetos até mesmo do próprio bairro e do condomínio. Às
vezes, eu sinto uma desilusão muito grande, porque eu sei que não vai
adiantar muito, porque eu acho... É, eu estou um pouco sem esperança. Eu
acho que isso é o que me deixa mais desiludida, que a gente cada dia que
passa mais corrupção, mais enganação, eles pensam neles mesmo e as
pessoas se acomodam... Eu sou uma pessoa muito acomodada com a
situação do meu país.
A “acomodação” a que se refere Patrícia pode e dever ser enfrentada através do
incentivo da participação social dos jovens de classe média. Novaes chama atenção para a
importância de os jovens participarem como voluntários de algum projeto social:
A participação social de jovens das classes médias, em ões de voluntariado
junto a setores populares, tem, sim, uma conotação política importante, embora
não no sentido de constituir uma cidadania coletiva, mas apenas com o
propósito de contribuir para uma “socialização cidadãque favoreça trajetórias
e escolhas pessoais mais solidárias (Novaes, 2000, 47).
Nesse contexto, Novaes afirma que os jovens estão de afinados com o “espírito de seu
tempo”, pois a ação social agora é entendida como “ação pontual”, em que as pessoas se
mobilizam apenas para obter um efeito imédiato.
168
CONCLUSÃO
A tese desenvolvida, ao longo de quatro anos, foi o resultado de uma busca incessante
e incansável de conhecimento. Estudar uma amostragem de jovens que vivem os anos 2000-
2009, no Rio de Janeiro, especificamente na Barra da Tijuca, foi um privilégio e um desafio.
Vivenciei o espírito desse novo tempo, da nova sociedade, apontada como a “sociedade do
hiperconsumo”.
Através das entrevistas feitas, pude sentir as relações e dinâmicas familiares que hoje
estão estruturadas diferentemente daquelas do passado. É uma geração tocada pelas
necessidades individuais, com sonhos de formar família, casar, ter filhos e estabelecer uma
condição profissional que lhe permita viver intensamente.
Três conceitos-chave foram articulados em todo o trabalho: cultura juvenil,
espaço/tempo e categorias pregnantes, que, articulados ao novo milênio, tomaram corpo e
constituíram o principal foco de atenção.
Em razão do uso da metodologia do estudo de casos e da pesquisa qualitativa, houve
necessidade de restringir-se o espaço amostral manejado. Dessa forma, não poderia eu
pretender formular conclusões definitivas e finais. Trago, assim, algumas reflexões que
poderão subsidiar futuros trabalhos que partilhem o objeto escolhido ou que com ele guarde
semelhança. Igualmente relevante é o fato de que, na pesquisa qualitativa, a vivência do
pesquisador interfere inevitavelmente, pois é pela sua sensibilidade e esforço que se
interpretam os dados, o sendo possível alcançar o ideal de absoluta neutralidade, associado
à tradicional concepção do que seja Ciência.
Dentre as observações que pude fazer, chama atenção a afinidade dos jovens com a
tecnologia. Eles lidam com a tecnologia como se estivessem impregnados delas.
Consequentemente, possuem domínio do espaço virtual produzido por meios eletrônicos, o
que não parece impedir, ao contrário do que se poderia pensar, seu vínculo com o espaço real
da Barra da Tijuca, de onde eles tiram todas as referências.
As entrevistas permitiram-me observar que esses jovens parecem ser bem
individualizados. Eles estão sempre com seus ipods ou em frente a uma tela de computador,
conectando-se com o mundo, relacionando-se com amigos do mundo inteiro, através de jogos,
falando no MSN, mandando mensagens instantâneas pelo Orkut ou pelo celular,
comportamentos frequentemente simultâneos.
169
Quanto à compreensão do espaço urbano, sabe-se que a obsessão por segurança está
presente em todos os níveis sociais e faz parte do dia-a-dia da população. Não se instalam
sistemas de segurança de alta tecnologia nas residências particulares, como também nos
condomínios e nos bairros. As classes mais abastadas buscam locais privativos para morar,
com aspectos pretensamente públicos. Neste sentido, foram identificados, através das
entrevistas, esses aspectos básicos que determinam a visão de mundo desses jovens, conforme
propusemos como hipótese a ser investigada (quarta hipótese de trabalho), no início deste
trabalho, e reafirmamos nesta conclusão.
Creio que os resultados obtidos denotam, de forma bastante clara, a relativa segurança
que eles sentem enquanto moradores da Barra. A maioria aponta ser essa a maior vantagem de
morar no bairro. O que percebi nas entrevistas é que, apesar de encontrarem alguns pontos
onde ocorrem assaltos, eles se sentem mais protegidos do que em qualquer outro bairro.
Quando fazem suas compras acham que o melhor lugar é o shopping, pois reúne as
marcas que eles desejam, tem maior conforto e segurança. Percebe-se, assim, uma nova forma
de lidar com o espaço: buscam espaços fechados, exclusivos, artificialmente montados,
controlados e monitorados. Há, evidentemente, um componente de medo, muito presente,
mas que se mantém, de certo modo, “sob controle” diante das opções por esses espaços.
Os aspectos culturais foram outra linha de investigação. As entrevistas confirmam a
linha investigativa de que cada cultura é o resultado de uma história construída pelo conjunto
das histórias familiares e individuais, sempre mergulhadas na história da cidade.
Foi analisada a relação do jovem morador da Barra da Tijuca com o seu meio
ambiente mais próximo, ou seja, a vida dentro dos condomínios fechados num bairro peculiar
no sentido topológico. Analisamos sua percepção em relação à localização espacial,
reconhecimento de outros bairros da cidade e suas experiências de viagens. Houve o
contraponto com as diferenças por eles atribuídas aos jovens da Zona Sul do Rio de Janeiro.
Como a maioria estuda em universidades da Zona Sul, eles frequentam a região com
esse determinado fim e, às vezes, aproveitam a noite em Ipanema ou no Leblon, restringindo-
se, quanto ao mais, à Barra. Essas observações, naturalmente, reforçam a noção de que o
jovens criados num sistema de proteção, mesmo que tenham viajado pelo mundo e circulado
fora da cidade e do estado.
No que tange às relações familiares, vejo que esses jovens mantêm um relacionamento
que consideram satisfatório com as mães e mais distante com os pais, observando-se que,
conforme a mudança de idade, vão distanciando-se ainda mais.
170
Metade dos entrevistados tem pais separados, embora se relacionem bem com a
família em geral. Apesar de sua constituição familiar não ser exatamente o modelo de família
que se constituía unida e ficava assim até o fim, todos são acompanhados pelos pais. Eles
afirmam que, quando têm que pedir conselhos ou orientações, recorrem aos pais. Este,
portanto, são forte referência.
Os filhos gozam de relativa autonomia, no sentido de que possuem liberdade para
fazerem escolhas importantes (estudo, estágios, trabalhos, viagens, amigos, tipo de lazer),
decidindo, em grande parte, o que querem.
Identifiquei nestes jovens a necessidade de se sentirem livres para fazer suas escolhas
e, ao mesmo tempo, a necessidade de serem controlados”, acompanhados pelos pais. Eles
querem que os pais saibam da vida deles e querem compartilhar a vida com ambos. Apesar
dos núcleos familiares serem diferentes pais separados e pais casados mais de vinte
anos –, o que senti nesses jovens é que eles buscam, e obtêm, um convívio próximo com
ambos os pais.
O desenvolvimento da independência traz consigo outro componente crucial: a
conquista da autonomia. Autonomia e independência não podem ser consideradas sinônimas,
na medida em que independência refere-se à capacidade de agir por conta própria, e todos os
entrevistados, mesmo os que trabalham, são financeiramente dependentes.
A maioria dos entrevistados observa que, quando mais novos, pediam permissão para
sair e discutiam certas questões, aos poucos, contudo, foram adquirindo a confiança dos pais.
Quanto mais novos, mais dependentes, pois os pais exercem maior controle sobre sua
locomoção, destinos e companhias. Eles sentem, porém, liberdade para contar suas aventuras
aos pais e têm consciência dos limites estabelecidos pelos pais.
Constatamos que a maioria dos entrevistados tem conhecimento de suas raízes
familiares. O que faz parte do universo desses jovens entrevistados é que tiveram uma
condição familiar de apoio e a presença da família imprime uma dinâmica comum, a par das
suas peculiaridades.
Quanto à percepção do tempo, creio que o contato com o universo virtual da internet
ao jovem uma certa consciência do tempo psicológico, do tempo interior. Os mais jovens
têm dificuldade de limitar o tempo passado na internet, mas têm consciência da necessidade
de administrar esse tempo interior. Todos os entrevistados afirmaram que o tempo é relativo.
Esse tempo da subjetividade é também chamado de tempo virtual, porque mudança e
manejo, de acordo com o momento em que é vivido. No entanto, se o tempo virtual
condiciona a maneira de vivenciar a temporalidade, não elimina a consciência das condições
171
temporais objetivas. Não é tão comum a queixa de falta de tempo para realizarem todas as
atividades cotidianas.
Observo que eles têm tempo para realizar suas atividades, uma vez que a atividade
laborativa não é cobrada do jovem dessa classe social. Eles pertencem a uma camada social,
cuja prioridade para os pais é o estudo e, posteriormente, os estágios em suas respectivas
carreiras. Estes jovens mostraram ter consciência do que querem profissionalmente no futuro.
De qualquer modo, todos pensam no futuro e trazem expectativas bem tradicionais: querem
casar e ter filhos, desejam uma situação profissional que lhes garanta um padrão de vida
semelhante ou superior ao que eles têm no presente. Em suas histórias familiares, relatam que
seus pais tiveram de trabalhar muito para alcançar certo padrão de vida e que já nasceram, em
sua maioria, numa condição privilegiada, ao menos superior à que os pais experimentaram em
suas juventudes. Eles conhecem certos confortos da vida e não se veem apenas como
trabalhadores, mas também como pessoas que querem aproveitar a vida o quanto puderem,
revelando uma tendência mais hedonista e a visão de que o trabalho excessivo é um fardo a
ser evitado.
A história familiar, a proximidade com avós e parentes, aos jovens a percepção do
tempo cronológico. Todos os entrevistados conhecem, em certa medida, seus históricos
familiares, sendo que parte deles mostra interesse na preservação da memória familiar. Esse
grupo tem grande percepção do envelhecimento, do passar do tempo, daí também a urgência
de aproveitar ao máximo o tempo e os prazeres da vida. A urgência de viver o presente
aparece em todas as entrevistas.
A importância do tempo presente para esses jovens é bem nítida. Parecem ser mesmo
exemplos da sociedade centrada no gozo da vida, em aproveitar ao máximo tudo o que
para fazer. “Não se pode perder tempo” foi a frase mais ouvida ao longo das entrevistas. Os
entrevistados parecem quase desconhecer o que não é instantâneo, presente, agora, e cada
momento pode ser crucial.
Entre os jovens que trabalham, a maioria tem a sensação de que o tempo passa cada
vez mais rápido, de acordo com a quantidade de atividades que exerce. Porém, a maioria
estuda e justifica-se dizendo da importância disso, para os pais, embora mostre inquietação
quanto a começar a trabalhar. Não pressão nem incentivo dos pais para que estes jovens
trabalhem. Os que trabalham, o fazem porque escolheram.
Duas das entrevistadas fazem uma observação que destoou das demais. Acham que o
tempo passa bem devagar, e atribuem este fato à quantidade de afazeres que exercem. Uma
delas se acha, mesmo, preguiçosa, e se sente inútil. Aprofundando a entrevista, dentro de uma
172
ótica de entrevista qualitativa, percebemos que tal estado de espírito está ligado ao tempo de
espera que a jovem ainda tem de suportar até poder enfrentar as responsabilidades
profissionais.
Em relação aos sonhos para o futuro, a maioria dos entrevistados aponta o desejo de
formar uma família, casar e ter filhos, tanto os rapazes como as moças. Alguns pensam em
saúde, família unida, amigos partilhando a vida. Outros expressam o desejo de ter sucesso
profissional e também uma família. Os valores dos entrevistados indicam claramente um
caminho: a realização dos sonhos, a felicidade seria alcançada a partir da constituição de um
lar, assim como da condição financeira e do sucesso profissional.
A preocupação com o futuro é relativa. Alguns demonstraram expectativa bem
positiva do futuro. Parece que eles estão encaminhados no campo profissional e, de certa
forma, sentem-se seguros com suas escolhas. O futuro é esperado com ansiedade por alguns e
com angústia por outros, mas nem todos compartilham isso. Repito, aqui, uma das frases de
um dos entrevistados, que é paradigmática dessa ansiedade: “Cara, eu não gosto nem de
pensar isso. Eu fico até com um negócio dentro do peito, assim. Quando eu penso nesse
negócio de tempo”.
A maioria dos entrevistados não nasceu na Barra da Tijuca; veio de outros bairros ou
cidades, por diversos motivos: mudança do estado civil dos pais, que se separaram; busca
familiar por moradias menos caras e pela facilidade na compra de imóveis financiados na
Barra, pela própria expansão do mercado imobiliário e do grande potencial de comércio em
um bairro em crescimento.
Os jovens entrevistados apontaram várias diferenças entre a Barra e a Zona Sul, sendo
o principal delas o contraste dos territórios. Entre os que raramente saem da Barra estão
aqueles que apresentam todas as suas referências de forma local e estão totalmente satisfeitos
com os condomínios onde moram e os locais que frequentam. Alguns reclamam da falta de
lugares de encontro, de passearem nas ruas, encontrar pessoas, de sentir o movimento da
cidade.
Dentro da própria área da Barra, eles estabelecem uma distinção não topográfica,
mas também social, refletindo o poder aquisitivo das classes. Morar em condomínio fechado
denota diferenciação econômica em relação aos outros. Os entrevistados que não moram em
condomínios fechados, mas frequentam com os amigos, identificam esses espaços como áreas
privadas de espaço indevidamente subtraídas ao público.
Dentre os entrevistados muitos identificam o aspecto artificial do Bairro. Um dos
entrevistados exprime claramente que é apenas uma ilusão a idéia de que a Barra é um bairro
173
perfeito, mas, ao contrário, tudo é voltado para o consumo. um clima onde aparentemente
tudo é perfeito, não existe pobreza, problemas, insegurança, violência. A sensação é a de
estar-se fora, num mundo à parte. Muitos jovens, contudo, identificam locais onde
violência e se sentem inseguros com isso.
Sobre a aprovação de morar na Barra da Tijuca, percebemos respostas contraditórias.
Muitos gostam do bairro e saem muito raramente dali; por outro lado, um grande número de
entrevistados afirmou que gostaria de se mudar. Um das entrevistadas afirmou claramente que
gostaria de morar no Leblon, onde tudo é perto, “aqui tudo é longe”.
Dentre os entrevistados que frequentam a Zona Sul, a maioria identificou diferenças
significativas na maneira de ser das pessoas da Barra e de lá. Os jovens acham esnobes as
pessoas da Barra e mais humanas e afetivas as da Zona Sul. Constatamos que os jovens
carregam o preconceito dos próprios moradores da Barra, pois os estigmatizam como pessoas
diferentes, egocêntricas e narcisistas. A idéia veiculada, inclusive através da mídia, é que a
Barra é uma localidade onde residem pessoas que enriqueceram rapidamente, de baixo teor
cultural e voltadas para atividades de preparo físico, enquanto que na Zona Sul, a riqueza e o
requinte advêm da tradição.
Os entrevistados apontaram pontos fracos e pontos fortes do bairro. A maioria diz que
o ponto forte da Barra é a segurança. Não se sentem presos nem vigiados, pelo contrário, se
sentem livres. Frequentam outros bairros e a maioria conhece o Centro pelo comércio do
Saara, embora muito poucos conheçam a Zona Norte. Não têm medo de sair da Barra e
gostam de Ipanema e do Leblon, pois dizem que podem andar nas ruas, onde pessoas
circulando.
O último tópico de nossa investigação diz respeito aos valores e consciência política
dos entrevistados, num sentido amplo, e sua participação direta ou indireta em atividades
políticas, consciência crítica e participação na vida cultural. Uma das hipóteses de trabalho
(quarta hipótese) envolvia identificar a relação entre um bairro novo, programado, com certa
homogeneidade de classes sociais e as questões sócio-políticas e culturais da cidade e do país.
Muito se diz sobre o desinteresse da juventude brasileira, como um todo, por política,
cultura, literatura e participação social. Nossa análise mostrou um aspecto mais sutil da
situação. Pudemos perceber que o jovem do nosso campo de análise faz certos
questionamentos, mas se satisfaz com as respostas oferecidas pelo marketing político. um
bom número de respostas prontas”, posso afirmar que eles “consomem” o que recebem de
informação, sem maiores questionamentos.
174
Mais da metade dos entrevistados tem um discurso complacente, faz observações no
sentido de adorar a cidade, “a cidade e o país são muito lindos”. Apontam que os problemas
do Rio de Janeiro se devem ao crescimento desordenado e que a violência é um dos pontos
mais críticos da cidade, embora reafirmem adorar o Rio de Janeiro, num reforço do discurso
midiático. A outra metade é completamente indiferente.
A maioria das entrevistas reflete um tipo de desinteresse pelas questões sócio-
culturais. Dos vinte entrevistados, somente dois demonstram interesse em melhorar o país.
Um deles identifica a administração da cidade e do país e constata uma estrutura
deficiente, o que se refletiria, por exemplo, no aumento constante do número de favelas. Diz
que é um país para os ricos, que os pobres não têm defesa. Afirma que o problema não é
colocar a polícia nas ruas, e sim a injustiça social, a segregação social, dando o exemplo da
Rocinha e do bairro de São Conrado. Outro demonstrou consciência crítica em relação à
situação do Brasil. Pensa que o problema principal é a falta de educação e de conscientização
do povo, mostrando interesse por fazer algo que contribua para mudar tal condição. Diz que o
Rio é um reflexo do Brasil, fala da desigualdade e da injustiça social.
A fala de ambos reflete um comportamento cada vez mais atípico do jovem de classe
média alta: a noção de que depende da participação ativa e do engajamento da sociedade
como um todo para debelarem-se as diferenças sociais e garantir-se qualidade de vida a todos
os cidadãos.
Mesmo os jovens que se referiram aos problemas políticos, os focalizam a partir de
dois temas: a violência e a corrupção. Alguns poucos falam da pobreza. O depoimento de uma
estudante da PUC pode ser paradigmático dessa visão de mundo: “Às vezes, passa na
televisão coisas tão ruins, sabe? Tão tristes. Um país tão grande, tão bonito, tão... sabe? Às
vezes, me choca”. A situação brasileira parece muito distante da realidade deles, em que cada
um vive seu mundo individualista, como se não fizessem parte do contexto histórico atual.
Outro dado que permite fazer um quadro dessa juventude privilegiada diz respeito à
leitura. A maioria dos entrevistados não gosta de ler nem se interessa por livros.
Nos quatro anos de aprofundamento teórico e de estudo do instrumental metodológico,
reunimos elementos que nos permitisse levar à frente a iniciativa de nossa tese: procurar
entender os mecanismos de construção do pensamento cio-cultural dos jovens de classe
média alta de um bairro privilegiado do Rio de Janeiro. Quanto às hipóteses de trabalho, passo
a abordá-las uma a uma.
Nossa primeira hipótese foi a de que os jovens exercem uma função revitalizadora da
vida social, são elementos potencialmente disponíveis para oportunidades que envolvam
175
mudanças no contexto político, econômico e social do mundo.
Creio que essa hipótese não foi confirmada, na medida em que percebi o desinteresse
dos jovens em relação à política, chegando até a indicar um grande grau de distanciamento.
A segunda hipótese elaborada foi:essa relatividade na percepção do tempo, uma das
funções psíquicas mais sensíveis na atualidade, está ligada à aceleração, à velocidade com que
as informações atinge principalmente o jovem.
Creio poder afirmar que essa hipótese foi confirmada, pois eles realmente vivem numa
aceleraçao total, empreendendo múltiplas atividades ao mesmo tempo, sendo a percepção do
tempo instantâneo uma premissa. Eles são articulados no tempo do momento.
A terceira hipótese de trabalho, que foi formulada e investigada, consiste em que o
jovem frequenta assiduamente e vivencia um novo espaço, chamado de virtual.
Essa hipótese também foi claramente confirmada, na medida em que eles estão
fortemente mergulhados no mundo da internet. Não querendo tirar conclusões definitivas,
parece que eles são a consequência da virtualidade que vivem dentro e fora do espaço, não há
fronteiras quando se sentam diante das suas telas de computador. Os resultados que obtive
levam a crer que os jovens entrevistados se assemelham àqueles nômades do tempo presente a
que me referi. Eles navegam por todos os lugares, não se fixam em nenhum, pois este espaço
não tem fronteiras e quase é infinito.
A quarta hipótese girou em torno da afirmação provisória de que esta paisagem pós-
moderna é totalmente fabricada, ela ganha vida real; são cenários de sonho onde todos os
aspectos estão voltados para o consumo. Instaura-se um clima de perfeição, onde não existe
pobreza, problema, insegurança, violência. Trata-se de um fenômeno de privatização do
espaço público.
De acordo com as entrevistas, pude confirmar que esses jovens se sentem mais seguros
por morarem na Barra da Tijuca. Eles parecem associar a violência aos outros bairros da
cidade. Com relação a esse “clima de perfeição”, percebe-se que esses cenários de ficção
fazem parte da vida deles. Eles incorporaram essa realidade. Os shoppings, os bares, os
condomínios dão a “ilusória” sensação de se sentirem protegidos. Eles de fato não se mostram
preocupados com a pobreza e vivem como se estivessem distantes dessa realidade, uma vez
que estão geograficamente afastados da violência.
Confesso que, quando iniciei a pesquisa, pensei que fosse encontrar jovens diferentes
na Barra, jovens crescidos sob um aparato de segurança e de pais que, com facilidades
financeiras, garantiriam uma super proteção sem limites. Porém, creio ter encontrado jovens
com características semelhantes às de jovens de outros bairros, principalmente aos que
176
pertencem à mesma classe social.
Posso dizer que o diferencial entre um jovem e outro é estabelecido por marcas bem
mais profundas que as dimensões territoriais, como a dinâmica familiar, com suas relações ou
não de afetividade, as tendências genéticas, particulares, e os ambientes de convivência em
que estão inseridos, considerando amizades, colégios, clubes... O lugar onde moram ou a
condição de vida na sociedade hipermoderna o os torna essencialmente diferentes, e sim
apenas participantes do mundo, como outro jovem qualquer. É claro que a pesquisa restringe-
se aos que têm garantida a possibilidade de viver bem. Portanto concluo que os jovens são
jovens assim como fomos um dia.
177
BIBLIOGRAFIA:
ABRAMO, H. Participação e organizações juvenis. Recife projeto redes e juventudes:
Fundação Kellogg, 2004.
ABRUCIO, F. O fim do troca-troca de partido não garante a representação democrática.
2007. Disponível em:
revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,EDG79568-8722-491,00.html - 47k –
Acesso em novembro 2008.
ALMEIDA, M.I.M.; TRACY, K.M.A. Noites nômades. Rio de Janeiro: Rocco, 2003.
ALONSO, C.M.; GALLEGO, D.J. Aprendizaje y ordenador. Madrid: Dykinson, 2000.
ANDRADE, R.G.N. Personalidade e cultura. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
______. A cena iluminada: psicanálise e cinema. Escola de Comunicação. Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Tese defendida em Rio de Janeiro, 1988.
AUGÉ, M. Los “no lugares”. Espacios del anonimato: una antropologia de la sobre
normalidad. Barcelona: Gedisa, 1996.
BARRETO, J.A. “Liberdade cronometrada”. Palestra proferida na Universidade Veiga de
Almeida, Rio de Janeiro, 2008.
BASTOS D. M.V., UNICAMP disponível em:
http://www.virtualeduca.info/ponencias/19/VIRTUAL%20EDUCA%202008%20DANIELA.
doc, acesso em: 13 de agosto de 2008
BAUMAN, Z. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2005.
______. Europa. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2006.
______. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2007.
______. Amor líquido. Rio de Janeiro: Jorge ZAHAR Editor, 2004.
BARTHES, R. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1981.
BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.
BEZERRA, A., LOUREIRO, L. & MALDONADO, B. (2001). Álbum cultural do recife: a
utilização de imagens como objeto de leitura. Em V. M. Ribeiro. Educação de jovens e
adultos: novos leitores, novas leituras. Campinas: Mercado de letras.
BHABHA, H.K. Local da cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
BOGDAN, R; BIKLEN, S.K. Qualitative research for education. Boston: Allyn and Bacon,
Inc., 1982.
BOYER, M. C. Palestra proferida no Seminário de Desenho Urbano. UFBA: 1998.
178
BOTTON, A. A arquitetura da felicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
BURKE, Peter. Cultura popular na idade moderna. São Paulo: Companhia das Letras,
1989.
CASTELLS, M. A era da informação: economia, sociedade e cultura. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1999.
CANCLINI, G.N.A. Globalização imaginada. São Paulo: Iluminuras, 2003.
______. América Latina: mercados audiências e valores no mundo globalizado. Texto
apresentado durante a realização da Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e
Adolescentes, Rio de Janeiro, Brasil, 19 – 23 de abril de 2004. MULTIRIO. Disponível em:
http://www.riosummit2004.com.br/noticias_full.asp?id_noticias=1614&idioma=por&forum.
Acessado em 14 de janeiro de 2007.
______ Diferentes, desiguais e desconectados. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006.
______ Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: EDUSP,
2003.
CARDOSO, A. Construindo a utopia: urbanismo e modernidade no Brasil. Rio de Janeiro:
Dissertação de Mestrado, 1988.
COMTE-SPONVILLE, A. Dicionário filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
DAVIS, M. A renovação urbana e o espírito pós-moderno. In: Espaço & Debates, n.27,
1989, p. 92-97
DAYRELL, J. O jovem como sujeito social. Revista Brasileira de Educação.
Set/out/ nov /dez 2003, n.24. Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa ED.
ANEPED
DEBORD, G.A Sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.
DEL RIO, Vicente. Considerações sobre o desenho da cidade pós-moderna. In: Anais da
VII ANPUR. Recife: 1997. p. 685-714.
DEL RIO, V. & SANTOS, A.C. A outra urbanidade. A construção da cidade pós-moderna e o
caso da Barra da Tijuca. In: Arquitetura: pesquisa & projeto. Vicente Del Rio (org) São
Paulo: Pro editores; Rio de Janeiro: FAU UFRJ, 1998 (coleção Proarq).
DELUMEAU, J. A história do medo no Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
ELLIN, N. Postmodern urbanism. Oxford: Blackwell Publishers ltd., 1996.
ELIAS, N. O processo civilizador - formação do estado e civilização. Rio de Janeiro: Zahar,
vol.1, 1993.
______. O processo civilizador - uma história dos costumes. Rio de Janeiro: Zahar, vol.2,
1994.
179
______. Sobre o tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
ENRIQUEZ, E. Subjetividade e organizações. In: DAVEL, E.; VERGARAS, S. Gestão com
pessoas e subjetividades. São Paulo: Atlas, 2001.
FERNANDES, A. Cidades neotradicionais: exemplo ou contra-exemplo? In: Programa do II
Seminário Internacional de Conservação e Desenvolvimento Urbano Sustentável. Recife:
CECI/UFPE, 1998.
FERREIRA, Alvaro. A (re)produção do espaço urbano: confrontos e conflitos a partir da
construção do espaço social na cidade do Rio de Janeiro. In: RUA, João (Org.). Paisagem,
espaço e sustentabilidades: uma perspectiva multidimensional da Geografia. Rio de Janeiro:
PUC-Rio, 2007.
_______. Conflitos no espaço urbano: labirinto e dialética. Disponível em:
www.ub.es/geocrit/sn/sn-270/sn-270-97.htm -Acesso em novembro de 2008
FERREIRA, A. Orkut-Reflexo da Cibercultura.
Disponível em www.hapaxmédia.net/ibercom/pdf/FerreiraAlexandra.pdf. Acesso em
janeiro de 2009
FOUCAULT, M., Vigiar e Punir. Petrópolis: Vozes, 1977,
FRAGA, P.C.P.; IULIANELLI, J.A S. Jovens em tempo real. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
FREITAS & LESSA. Para além das grades a mídia e a violência nas fortalezas da Barra
da Tijuca. Artigo publicado na Intercom 2007. Disponível em:
www.intercom.org.br/papers/nacionais/2005/resumos/R0090-1.pdf. Acesso em outubro de
2008.
FREUD, S. Sobre o narcisismo. (1914). Obras psicológicas completas de Sigmund Freud.
Edição Standard Brasileira (ESB) Rio de Janeiro: Imago, 1976.
_____. Inibição, sintoma e angústia. (1926). In: ESB, Op. cit.
_____. O mal-estar da civilização. (1930). In: ESB, Op.cit.
FLEMING, M. Adolescent autonomy: desire, achievement and disobeying pares between
early and late adolescence. Australian Journal of Education and Developmental Psychology,
Australia, n. 5, p. 1-16, 2005.
GARBAR,C., THEODORE,F., Família mosaico, São Paulo: Augustus, 2000.
GHIRARDO, D. Architecture after modernism. Singapore: CSGraphics, 1996.
______. Arquitetura contemporânea. Uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes,
2002.
GIDDENS, A. O mundo em descontrole, o que a globalização está fazendo de nós. Rio de
Janeiro: Record, 2003.
180
______. As consequências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991.
GONZALEZ REY, F.L. ,Pesquisa qualitativa em Psicologia:caminhos e desafios, São
Paulo: Thompson Pioneira, 2002.
GUILLAUME, M.
L’empire des réseaux. Paris: Descartes & Cie, 1999.
HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2000.
______. Da diáspora. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
HARVEY, D. Condição pós-moderna uma pesquisa sobre as origens da mudança
cultural. São Paulo: Loyola, 2002.
HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes, parte I, 1988.
KELLNER, D.A Cultura da mídia. São Paulo: EDUSC, 2001.
KRUGMAN, P. Globalização e globobagens. São Paulo: Campus, 1999.
HORROCKS
,
C.
Marshall Mcluhan y realidade virtual. Barcelona: Gedisa, 2004.
LEVI & SCHMITT. História dos Jovens 1: da antiguidade a era moderna. São Paulo:
Companhia das Letras, 1996.
LEVY, P. O que é o virtual? São Paulo: 34, 1996.
LIPOVETSKY, G. Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla, 2004.
______. A felicidade paradoxal. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
______. Império do efêmero. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
LUDKE, Menga; ANDRE, Marli E.D.A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.
São Paulo: EPU, 1986.
MAFESOLI, M. Sobre o nomadismo. Rio de Janeiro: Record, 1997.
______. O instante eterno. São Paulo: Zouk, 2003.
_______. Deixar de odiar o presente. In: Ética e estética na antropologia. Florianópolis:
Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC/CNPq, 1998.
MENDES A., M.V.L.A. Educação: a espera aflita. Rio Janeiro: Dom das Letras, 2008.
MELUCCI, A. Nomads of the present. London: Hutchinson, 1998.
MERCONI, D. Bem-vindo à era digital, 2005. Disponível em:
htpp//www.terra.com.br/istoe/digital/vidadigital.htm
MORAES, D. Sociedade midiatizada. Rio de Janeiro: Mauad, 2006.
______. Ciberespaço e mutações comunicacionais. Disponivel em:
www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos/eno201120021p.htm - 31k -
Acesso em dezembro de 2008
MORIN, E. (1996). A noção de sujeito. In: D.F. Schnitman (Org.). Novos paradigmas,
cultura e subjetividade. Porto Alegre: Artes Médicas.
181
______. O método I: a natureza humana. Portugal: Europa América, 1997.
______. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996.
NICOLACI-COSTA, A.M. Cabeças digitais. Rio de Janeiro: PUC; São Paulo: Loyola, 2006.
NOVAES, A. et al. A crise do Estado Nação. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2003.
NOVAES, R. Juventude e participação social: apontamentos sobre a reinvenção da política.
In: ABRAMO, H.W.; FREITAS, M.V; SPOSITO, M.P. (orgs.) Juventude em debate. São
Paulo: Cortez, 2000.
OLIVEIRA, M. Orkut. Rio de Janeiro: Bradsport, 2004.
PERETTI-WATEL, Patrick. La société du risque. Paris: La découverte, 2001.
PERRONE-MOISES, C. Norbert Elias e o dilema do tempo. Jornal da Tarde. Caderno de
sábado, 09/01/1999. Disponível em: htpp//www.kuwi.uni-linz.ac.at/hyperelias/z-
ellas/abstracts/abstract 2-por- 1998-T por 2.htm.
RIBEIRO, F. L. Revista eletrônica da Universidade Nacional de Brasília. nepnf@pobox.com ,
2002. Acessado em 2001.
RIBEIRO, V. M. Educação de jovens e adultos: novos leitores, novas leituras.
BEZERRA, A.; LOUREIRO, L. & MALDONADO, B. Álbum cultural do Recife: a
utilização de imagens como objeto de leitura. Campinas: Mercado de Letras, 2001.
REICHERT, C. B. Autonomia na adolescência e sua relação com os estilos parentais.
2006. Dissertação Doutorado em Psicologia) - Instituto de Psicologia: PUC-RS, Porto Alegre.
REZENDE, Vera et al. O Plano Piloto para a Barra da Tijuca e Baixada de Jacarepaguá:
o urbanismo e sua sobrevivência entre a proteção ambiental e a ocupação humana. Cópia
xerox.
ROLNIK, R. O que é a cidade. São Paulo: Brasiliense,2004.
ROUSSEL,A. ,DUROZOI.G., Dicionário de filosofia, Campinas: Papirus, 2002.
SALAS, R. Discurso accion e contextos conflitivos. Santiago: Concórdia 41.2002.
______. Religion étnica, mordenizacion y processos identitários em América Latina. In:
Revista Nova América, n 93, 2002.
SANTOS, J.L. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2008.
SARTRE, J. P. O ser e o nada. Petrópolis: Vozes, 1999.
SOUZA SANTOS, B. Pela mão de Alice; o social e o político na pós-modernidade. São
Paulo: Cortez, 1995.
182
SCHERER, A. Artes da memória manhas do esquecimento. 2008. Disponível em:
www.maxwell.lambda.ele.candidomendes-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/4675_1.PDF?NrOcoSis=11332&CdLinPrg=pt. Acesso em: Jan/2009.
SERPA, A. Urbana baianidade, baiana urbanidade. Salvador: [s.n.], 1998.
SIDEKUM, A.(org) Alteridade e multiculturalismo.
SALAS, R. Ética intercultural e pensamento latino americano. Ijuí: Inijuí, 2003.
SILVA, L. Barra da Tijuca ontem e hoje: o concebido e o realizado. In: Anais do VI
Congresso Brasileiro de Geógrafos. Goiania.
STEINBERG, L.; SILVERBERG, S. B. The vicissitudes of autonomy in early adolescence.
Development, Madison, n. 57, p. 841-851, 1986.
SODRE, M. As estratégias sensíveis. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.
SORKIN, M. See you in Disneyland. In: FAINSTEIN, Susan S.; CAMPBELL, Scott (Org.).
Readings in Urban Theory. Oxford: Blackwell Publishers Ltd, 1996.
TELLES, A. Orkut.com. São Paulo: Landscape, 2006.
TOFFLER, A. A terceira onda. Rio de Janeiro: Record, 2007.
VIEIRA, N. A imagem diz tudo? O espaço urbano como objeto de consumo: Análise &
Dados, Salvador-BA, v. 9, n. 2, p. 39-44, 1999.
VIEIRA, N. O urbanismo contemporâneo e a (des)construção da identidade cultural.. In: XIX
Conferência Latino americana de Escolas e Faculdades de Arquitetura, 2001, São Paulo. XIX
CLEFA 2001. Comunicações, 2001.
_______. O processo urbano contemporâneo de privatização do espaço publico. Disponível
em:
salu.cesar.org.br/arqbr/servelet/newsstorm.noticia.apresentaçao.ServeletDeNoticia?codigoDa
Noticia...atual – 57k. Acesso em: Out/2008.
ZUKIN, Sharon. Paisagens urbanas pós-modernas: mapeando cultura e poder. Cidadania.
Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Rio de Janeiro, n. 24, 1996, p.
205.
HEMEROGRAFIA
COM CIÊNCIA - VELHICE
www.comciencia.br/reportagens/envelhecimento/texto/env01.htm.
183
O TEMPO NÃO PÁRA
blog.uncovering.org/archives/uploads/2004/o_tempo_nao_para.pdf.
BARRA DA TIJUCA – HISTORIA
www.birafitness.com/barra_da_tijuca/historia_da_barra.htm.
ESTUDOS E PESQUISAS EM PSICOLOGIA - <B>CONSIDERAÇÕES SOBRE A
AUTONOMIA
pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-
42812007000300004&lng=pt&nr.
CONSIDERAÇOES FINAIS
www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0610327_08_cap_05.pdf .
ARPEN BRASIL - IBDFAM ACADÊMICO - PATERNIDADE SÓCIO-AFETIVA: O
www.arpenbrasil.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1209&Itemid=83.
CIBERESPAÇO E MUTAÇÕES COMUNICACIONAIS
br.geocities.com/mcrost11/oi034_ciberespaco_e_mutacoes_comunicacionais.doc.
ESTILO DE USO DO ESPAÇO VIRTUAL
www.virtualeduca.info/ponencias/19/VIRTUAL%20EDUCA%202008%20DANIELA.doc
A CIBERCULTURA E O SURGIMENTO DE NOVAS FORMAS DE SOCIABILIDADE.
www.cfh.ufsc.br/~guima/ciber.html.
A DIVERSIDADE CULTURAL DO BRASIL
www.brasilescola.com/brasil/a-diversidade-cultural-no-brasil.htm.
BARRA DA TIJUCA – UM ESTUDO PRIVATIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS.
www.fau.ufrj.br/prolugar/arq_pdf/diversos/artigos_vera%20tangari/CBA-2003-Eppinghaus-
Popper-Tangari.pdf.
184
SEGUNDA CRÔNICA.
segundacrônica.blogspot.com/-59k.
ADITAL - ELIXIR DA ETERNA JUVENTUDE
www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=23389.
ESTUDANTENET - SITE OFICIAL UNE E UBES
www.une.org.br/home/cultura___out_2004/4__bienal_da_une/m_5585.html.
JUVENTUDE PRORROGADA
www.planetanews.com/news/2004/10296.
TEMPO SOCIAL - RETRATOS DA JUVENTUDE BRASILEIRA
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702005000200020.
A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA
democracyreport.undp.org/Downloads/Ideas_e_contribucoes.pdf.
CARREIRAS - EMPREGOS.COM.BR
carreiras.empregos.com.br/comunidades/executivos/artigos/240504-
multiculturalidade_idevan.shtm.
MULTICULTURALIDADE E FORMAÇÃO PARA OS VALORES
ecampus.esefrassinetti.pt/moodle/course/program.php?id=63.
JANUS 2003 | MULTICULTURALIDADE E MULTICULTURALISMO NO PÓS
www.janusonline.pt/2003/2003_2_2_8.html.
ARTIGO18
www.propp.ufms.br/ppgedu/geppe/artigox18a.htm.
A REDE MESTIÇA: NOTAS SOBRE CIBERMESTIÇAGEM E HIBRIDISMO DIGITAL
http://www.facom.ufba.br/ciberpesquisa/404nOtF0und/404_30.htm
185
INVESTIMENTOS ESTADÃO 2005 - WWW.ESTADAO.COM.BR
www.estadao.com.br/investimentos/revista/7/entre.htm.
TEMPO SOCIAL - TOWARDS A NEW MEANING OF THE FUTURE: SOCIAL
CHANGE
www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-20702005000200003&script=sci_arttext.
ONDA JOVEM
ondajovem.terra.com.br/plano_de_aula.asp?ID_Materia=158 .
MIDIATIVA - A ADOLESCÊNCIA QUE NÃO SE VÊ NA TV
www.midiativa.org.br/index.php/midiativa/content/view/full/1190/.
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA - IFCS -
UFRJ
www.ifcs.ufrj.br/~ppgsa/curso/programa_segunda20042_2.html.
TESES - SAÚDE PÚBLICA
portalteses.cict.fiocruz.br/transf.php?script=thes_chap&id=00002903&lng=pt&nrm=isso.
OS URBANITAS :::: ISSN 1806-0528. Ano 1, vol. 1, n0.1, maio/junho
www.aguaforte.com/osurbanitas/niveasilveiracarpes-b012004.html.
POR UMA HISTÒRIA DA JUVENTUDE BRASILEIRA
www.proec.ufg.br/revista_ufg/juventude/juventude.html.
A JUVENTUDE NO BRASIL
www.geocities.com/Athens/Aegean/5389/juv.pdf.
TEXTOS COMPLETOS - CADERNOS, JUVENTUDE
www3.bireme.br/bvs/adolec/P/cadernos/capitulo/cap01/cap01.htm.
SIMON SCHWARTZMAN'S ARTICLES AND BOOK CHAPTERS
www.schwartzman.org.br/simon/pub_artigos.htm.
186
A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE JUVENTUDE NA ÁREA DE
EDUCAÇÃO.
www.hottopos.com/harvard4/marilia.htm.
PERFIL DA JUVENTUDE BRASILEIRA: QUESTÕES SOBRE CULTURA POLÍTICA E
www.interthesis.cfh.ufsc.br/interthesis2/artigo3.pdf.
OBSERVATÓRIO DA JUVENTUDE.
www.ics.ul.pt/investiga/projectos/opj/.
PUBLICAÇÕES :: TESES, DISSERTAÇÕES E MONOGRAFIAS
www.psicologia.ufrj.br/nipiac/teses.php.
COM CIÊNCIA - O FUTURO DA INTERNET
www.comciencia.br/reportagens/internet/net16.htm.
VIDA DIGITAL. www.terra.com.br/istoe/digital/vidadigital.htm.
NOTÍCIAS :: UNESP : CAMPUS DE SOROCABA.
www.sorocaba.unesp.br/noticias/artigos/?a=41.
PERIGOS DA ERA DA INFORMAÇÃO [ ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO
]usabilidoido.com.br/perigos_da_era_da_informacao.html.
FOLHA ONLINE - SINAPSE - O TEMPO NÃO PÁRA - 16/12/2003
www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u699.shtml.
ONDA JOVEM
ondajovem.terra.com.br/plano_de_aula.asp?ID_Materia=157.
CADA VEZ MAIS ACELERADO
br.geocities.com/mcrost07/20050530a_cada_vez_mais_acelerado.htm.
187
CES - CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS
www.cesjf.br/cesjf/index.php?centro=diretoria_gera9&lado=lado_inst.
A QUESTÃO DO TEMPO PARA NORBERT ELIAS
www2.uel.br/ccb/psicologia/revista/textov2n14.htm.
ENSAIO SOBRE O TEMPO
www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/160.pdf.
NORBERT ELIAS-ABSTRACT: SOBRE O TEMPO 1998) (2)
hyperelias.jku.at/abstracts/abstract2-por-1998-T-por-2.htm.
SÓCULTURA.COM. www.socultura.com/socultura-espiritualidade2.htm.
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
observatório.ultimo segundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=269DAC002.
PARTE 4: EM DIREÇÃO À UMA NOVA TEXTUALIDADE
www.unb.br/fac/ncint/site/parte45.htm.
CIÊNCIA HOJE ON-LINE.
cienciahoje.uol.com.br/53460.
GRAPHE DE CENA.
www.arte.unb.br/graphe/stage/graphe0.htm.
FILOCOM. www.eca.usp.br/nucleos/filocom/ae17.html.
INTRODUÇÃO.
www.iscsp.utl.pt/~cepp/investiga/novtec/novtec01.html.
URBI ET ORBI.
www.urbi.ubi.pt/000328/edicao/op_cat.html.
POS.ECO EM REVISTA - WFSECTION-CORPOS E ESPAÇOS VIRTUAIS
188
www.pos.eco.ufrj.br/revista/modules/wfsection/article.php?articleid=26.
INTRODUÇÃO AOS SISTEMAS OPERATIVOS
so.tagus.ist.utl.pt/public04-05/bibliografia/acetatos/ppt/01-introducao.ppt.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA DOUTORADO
INTERDISCIPLINAR.
www.cfh.ufsc.br/~dich/ICH%204019.pdf.
SUA VOZ.
www.educacaopublica.rj.gov.br/suavoz/sv04.htm.
MORPHEUS - ANO V - no.09 - 2006.
www.unirio.br/morpheusonline/numero09-2006/bessa.htm.
UNTITLED DOCUMENT.
www.uoc.edu/in3/hermeneia/sala_de_lectura/adair_de_aguiar_texto_a_hipertexto.htm.
EMPRESA MUNICIPAL DE MULTIMEIOS - MULTIRIO
www.multirio.rj.gov.br/sec21/chave_artigo.asp?cod_artigo=1086.
SÓCULTURA.COM
www.socultura.com/socultura-espiritualidade2.htm.
OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA
observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=269DAC002.
PARTE 4: EM DIREÇÃO À UMA NOVA TEXTUALIDADE
www.unb.br/fac/ncint/site/parte45.htm.
CONSIDERAÇOES SOBRE AUTONOMIA NA CONTEMPORANEIDADE
www.revispsi.uerj.br/v7n3/artigos/pdf/v7n3a04.pdf
189
ANEXO
190
Tempo Perdido
Legião Urbana
Composição: Renato Russo
Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...
Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder...
Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem! Selvagem!
Selvagem!...
Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos...
Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo...
Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens...
Tão Jovens! Tão Jovens!...
191
APÊNDICE I
192
QUESTIONÁRIO
I - Perfil
1) Aonde você nasceu? (cidade e bairro)
2) Quantos anos você tem?
3) Qual a profissão dos seus pais?
4) Em que local da Barra você mora?
II - Histórico familiar –tempo histórico
5) Você poderia descrever um pouco a respeito da sua família parte de pai e mãe?
Tem ou teve contato com seus avós? Como era essa relação?
E com tios e primos?
6) Como é sua relação com seus pais? Como descreveria esta relação (boa, ruim, aberta,
controladora...). Por quê?
Se você tivesse um filho, você faria alguma coisa diferente do que seus pais
fizeram? O quê? Por quê?
7) Seus pais são casados há quanto tempo? Se separados:
Estão separados há quanto tempo?
Com quem você mora? Tem contato com seu pai/ mãe? Com que frequência o(a)
vê? Como avalia essa relação?
8) E seus avós, são/ foram casados ou separados?
9) Você tem irmãos? O que fazem?
Como é sua relação com eles?
III - Nível sociocultural - qual geração ficou classe média alta
10) Vocês sempre moraram na barra da tijuca? Se não:
De que bairro vocês vieram?
Quando vocês vieram morar na barra?
Qual o ano da mudança e porque se deu a mudança?
11) O que acha de morar na Barra? Quais os pontos fortes e fracos?
12) Gostaria de morar em algum outro bairro? Qual? Por quê?
13) Qual colégio você estuda/ estudou?
1) Se ainda estuda Em que ano você está?
2) Se já se formou O que está fazendo agora? (cursinho, faculdade...)
14) Você se enquadra em que classe social?
IV - Visão de mundo para o jovem de classe média alta
15) Como você descreve seu país e a sua cidade, ao que você associa?
16) Qual foi o livro que mais gostou de ler?
17) Quais as disciplinas que você prefere? Ou que curso você faz ou pretende seguir?
Porque?
18) Você gosta de esportes? Você pratica algum?
Se sim Qual? Porque escolheu este?
Se não Porque não?
19) Qual seu time de futebol?
193
20) Você costuma viajar? No Brasil?
Para onde já foi?
O que achou deste(s) lugar(es)?
Você percebeu alguma diferença cultural entre este(s) lugar(es) e o Rio? Qual? O
que você acha disso?
E diferenças sociais?
21) Você já viajou para fora do Brasil? Para que países?
Quando você viaja para fora, você costuma fazer alguma atividade cultural, como: ir
a livrarias, museus, exposições, filmes, concertos, teatros?
Se sim, quais? Por quê costuma fazer estas atividades? (porque gosta, ou não gosta,
mas sabe que é importante, para acompanhar outras pessoas, fazia parte do pacote...)
Você percebe alguma diferença cultural entre o Brasil e esse(s) país(es)? Qual? O
que você acha disso?
E diferenças sociais?
De modo geral, o que você vê de pontos fortes e fracos do Brasil, em comparação a
estes lugares?
V - Espacialidade
22) Você costuma sair a noite? Quais são os lugares que você frequenta?
23) Você costuma sair da Barra da Tijuca? Frequenta a Zona Sul?
Se sim Em que circunstâncias você costuma ir à Zona Sul? Com que frequência?
24) Percebe alguma diferença entre a Barra e a Zona Sul? Se sim, qual? Isso é bom ou ruim?
Por quê?
25) Onde moram seus familiares? Têm familiares que moram fora da Barra da Tijuca?
Quais os bairros que você frequenta?
26) A família por parte de pai mora onde?
27) E a família por parte de mãe?
28) Você conhece o centro da cidade?
29) E o Centro Histórico do Rio de Janeiro?
30) Quais os pontos turísticos que você conhece aqui no Rio?
31) Você tem consciência que o Rio é considerado uma cidade histórico-geográfica?
V - Índices de autonomia
32) Como você avalia o grau de liberdade que seus pais lhe dão? Você considera que são
mais liberais ou mais controladores? Porquê? (exemplos)
Que tipo de coisas os seus pais costumam controlar (horários para chegar em casa,
afazeres, amizades, namoro...)
Pra quem tem pais separados Como essas questões são decididas?
33) Como você escolheu sua profissão?
VI - Tempo
34) Como você administra seu tempo?
Me fale um pouco sobre a sua rotina (o que costuma fazer durante a semana e fins
de semana)
35) Como você avalia a quantidade de afazeres/ atividades que você faz? (muito, pouco,
razoável...)
194
Você tem a sensação de que o dia deveria ter mais horas para dar conta de tudo o
que precisa/ gostaria de fazer? Por exemplo?
Você tem a sensação que o tempo passa muito rápido? Porque?
Você tem paciência para esperar alguma coisa? Porque?
36) Você tem amigos de muito tempo? Quanto tempo?
37) Quanto tempo é muito para você? Meses, anos?
38) Você acha que viveu muito ?
39) Você acha que já sabe tudo o que você precisa?
40) Você acha que seus pais sabem das coisas?
41) O que você considera que é velho?
42) Uma pessoa velha para você teria quantos anos?
43) Qual sua percepção sobre passado, presente e futuro?
44) Como você esta se sentindo neste momento com a mudança do colégio para a
faculdade?
45) Quais são os seus sonhos suas expectativas?
46) Quais são suas preocupações no momento?
47) Como você se imagina daqui a um tempo, como vai estar sua vida?
48) O que você mais gosta de fazer?
49) Tem alguma coisa que faz mas não gosta?
VII - Maturidade
50) Você trabalhou ou trabalha atualmente?
Se sim Há quanto tempo trabalha? Com o que você trabalha? Porque começou
a trabalhar (necessidade, opção...)?
Se não Porque ainda não trabalha? (Se sente jovem? Não precisa? Prefere se
dedicar integralmente aos estudos? Os pais não gostariam? Dificuldades no
mercado de trabalho?) Com quantos anos você pretende trabalhar?
51) O que você pensa a respeito do trabalho?
52) E atividades em casa? Você faz alguma?
53) Você tem alguma tarefa domestica que é de sua responsabilidade?
54) Você pretende sair de casa? Com que idade? Porquê?
55) Quando você imagina que deveria sair? Sente algum tipo de expectativa ou pressão dos
seus pais quanto a isso?
195
APÊNDICE II
196
A Título de Síntese
Entrevista: Airton
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Gávea
Idade
20 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: O pai é
empresário e a mãe
é artística plástica.
Os pais são
casados há 20
anos.
Quantos anos
moram na Barra
Mudou-se
diversas vezes,
dentre elas 3
vezes morou na
Barra.
SUJEITO
Relações
Familiares
Os pais são
casados. Tem uma
relação muito boa
tanto com o pai,
quanto com a mãe.
Foi filho único até
os 10 anos e única
criança da família
até os 9, por isso
considera que
sempre foi muito
mimado. Tem um
irmão de 10 anos e
tem uma boa
relação com ele
também.
Interesses
culturais
Não tem muito
interesse cultural.
Quando viaja não
costuma ir a
museus,
exposições etc.
Segundo ele “tem
coisas mais
interessantes
para se fazer
quando viaja
para fora”.
Autonomia
Ele considera os
pais totalmente
liberais.
Normalmente ele
liga avisando
quando vai sair de
casa e
eventualmente sua
mãe e seu pai
ligam, perguntando
alguma coisa.
Politização
Ele disse que a
diferença mais
gritante para ele
entre o Brasil e os
paises em que ele
visitou é que
“tudo funciona”
nos paises de
primeiro mundo.
Tudo é limpo, as
pessoas são mais
educadas, entre
outras coisas.
TEMPO
Administração do
Tempo
Ele considera seu
número de
atividades como
“muitas”. Disse
também que, se
pudesse, gostaria
de ter mais horas
Consciência
Temporal
Para ele, 8 anos
podem ser
considerados
“muitos anos”.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: O
avô paterno faleceu
há 5 anos, mas a
avó paterna é viva.
Tem bastante
contato com a avó,
ele disse que ela vai
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa
extremamente
ansiosa. Por
exemplo, ele disse
que quando tem
uma coisa difícil
197
no seu dia. muito a casa dele e
ele vai muito a casa
dela.
Família da Mãe:
Por parte de mãe o
avô faleceu quando
ele tinha 13 anos e
a avó ainda é viva.
Tem uma relação
muito forte com a
avó. Tem duas tias
e um tio materno.
Tem vários primos,
mas todos são bem
menores que ele.
para fazer no dia
seguinte, ele
dorme muito mal.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Quando nasceu,
morava num
condomínio
fechado na Barra,
depois se mudou
para o Leblon,
depois voltou
para a barra,
depois foi morar
em São Conrado
e, hoje em dia,
mora num
condomínio
fechado na Barra.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse que vai à
Zona Sul com certa
frequência visitar a
avó que mora lá,
cerca de uma vez
ao mês. Conhece o
Centro do Rio e o
Centro Histórico
também. Disse
conhecer todos os
pontos turísticos do
Rio.
Experiência de
viagens
Para dentro do
Brasil foi para:
Bahia, Minas
Gerais e alguns
lugares dentro do
estado do Rio na
Região dos
Lagos.
Para fora do
Brasil: Canadá,
EUA e Chile.
CONSCIÊ-
NCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Considera
que o Brasil tem
muita coisa a
melhorar em
relação à
educação e infra-
estrutura.
Considera o
Brasil numa
situação
Participação da
vida cultural
Frequência:
Pouca participação
na vida cultural,
porém grande
interesse em
negócios.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
pois diz não
precisar. Disse
também que seu
pai sempre frisou
que sua
prioridade agora
é estudar e não
trabalhar.
198
alarmante.
Rio de Janeiro:
Ele considera o
Rio um reflexo do
Brasil. Ele disse
que no Rio
podemos
encontrar bairros
muito ricos, mas
ao mesmo tempo
muitas favelas,
ele disse que no
Rio podemos
notar toda a
divergência que
existe.
Jovem sexo masculino, 20 anos, mora com os pais, que são casados. Nasceu Na
Gávea, mora na Barra da Tijuca, em condomínio fechado. Estudou a vida toda em colégio
particular e hoje estuda numa universidade particular. Considera-se pertencente à classe
média alta.
199
A Título de Síntese
Entrevista: Aníbal
PERFIL
Local de
nascimento
Niterói
Santa Rosa
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
contadora e o pai é
empresário.
Os pais são
separados.
Quantos anos
moram na Barra
4 anos
SUJEITO
Relações
Familiares
Os pais são
separados a 15
anos.Ele mora com
a mãe. O pai mora
em Brasília e tem
outro filho do
segundo
casamento. Ele não
tem muito contato
com o pai, só em
período de férias.
Ele tem uma irmã
de 25 anos filha do
mesmo pai e da
mesma mãe. Ele
tem pouca
convivência com a
família do pai, que
é bem pequena,
apenas uma tia e
duas primas. Tanto
o avô como a avó
paternos já
faleceram.
Em relação a
família da mãe,
mesmo sendo muito
grande ele tem
muita ligação. Ele
tem 3 tias, 1 tio e
Interesses
culturais
Quando foi a
Argentina não
foi com a
intenção de
fazer
programas
culturais,
porém tem
planos de
conhecer a
Europa com
esse intuito
cultural. Dentro
do Rio já foi a
alguns dos
principais
pontos
culturais.
Autonomia
Ele considera os
pais
paradoxalmente
liberais. Pois ao
mesmo tempo em
que eles permitem,
eles impõem
diversas coisas.
Politização
Dentro dos
Estados e
Cidades que
visitou no Brasil
ele disse ter
notado diferenças
culturais muito
marcantes como
modo de falar,
modo de se
expressar e modo
de ver a vida.
200
muitos primos. A
avó materna é viva,
mas o avô paterno
já faleceu a 2 anos.
Ele tinha uma
ligação muito forte
com o avô.
TEMPO
Administração do
tempo
Ele acha que faz
muitas tarefas, ao
ponto de ser
sobrecarregado.
Em relação ao dia
ter mais horas, ele
disse que para fazer
tudo o que ele tem
para fazer não
precisaria ter mais
horas, mas para
fazer tudo que ele
gostaria de fazer
sim, ele precisaria
de mais horas.
Consciência
Temporal
Para ele 1 ano
pode ser
qualificado
como muito
tempo.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Por parte de pai
disse ter uma
família muito
pequena. Apenas
uma tia e duas
primas, as quais ele
não tem quase
nenhum contato.
Tanto a avó, quanto
o avô já faleceram.
Família da Mãe: A
família da mãe é
muito grande. Ele
tem três tias e um
tio. A avó é viva,
mas o avô faleceu a
dois anos atrás.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se
muito paciente e
ansioso apenas
com aquilo que
gostaria de ter.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que se
mudou para a
Barra, ele mora
em condomínio
fechado.
Primeiro ele
morou em um
condomínio no
final da Barra,
e agora ele
mora em um
condomínio no
meio da Barra.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Conhece a Zona Sul
apenas por estudar
lá. Em relação ao
Centro da cidade,
disse conhecer
apenas as opções
culturais: o Paço
da Cidade e o
antigo Museu do
Senado. Sobre os
pontos turísticos do
Rio, disse conhecer
todos.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
ele disse conhecer
quase todos os
Estados do
Nordeste, Sul,
Centro-Oeste e
um pouco do
Sudeste.
Para fora do
Brasil ele foi para
a Argentina.
201
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Crítica
Brasil: Como
um não
nacionalista,
ele considera o
Brasil um país
muito bom. Ele
diz não ter
nenhuma
identificação
com o Brasil e
acha a infra –
estrutura
precária, porém
admira muito a
cultura do
nosso país.
Rio de Janeiro:
Ele diz ser
apaixonado
pela cidade,
mesmo não
tendo nascido
no Rio. Mesmo
não gostando
muito de praias,
ele diz ser esse
um dos pontos
fortes da
cidade. Ele
disse também
que as pessoas
no Rio são
muito
acaloradas e
abertas a
possibilidades.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Muito
interessado em
cultura nas mais
diversas formas,
tanto leitura, como
musica, filme,
museus e
exposições.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
pois nunca achou
essencial por não
ter tido
necessidade.
Porém, disse que
procura trabalhar
urgentemente,
pois isso lhe dará
independência.
Jovem sexo masculino, 18 anos, mora com a mãe. Nasceu em Niterói, mora em
condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 2 anos. Estudava em colégio particular e,
atualmente, estuda numa faculdade particular. Considera-se pertencente à classe média alta.
202
A Título de Síntese
Entrevista: Bia
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Botafogo
Idade
19 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
dona de casa. E o
pai é dono de
uma empresa de
elevadores.
Os pais são
separados há 14
anos.
Quantos anos
moram na Barra
Desde que os pais
se separaram: 14
anos.
Porém morou 1 ano
com a avó materna
em Copacabana.
SUJEITO
Relações
Familiares
Os pais são
separados e se
casaram de
novo. Ela tem
uma ótima
relação tanto
com o padrasto
(hoje em dia o
padrasto está
separado da
mãe) como com
a madrasta. Ela
disse que a
madrasta é a
sua melhor
amiga. Tem
uma ótima
relação tanto
com o pai como
com a mãe. Mas
disse que por
morar com a
mãe acaba
tendo mais
brigas com ela.
Interesses
culturais
Não tem muito
interesse por
leitura. Na escola
as matérias que
mais se interessava
eram Ciências, e
dentro de Ciências
o que ela mais
gostava era
Biologia e Historia.
É uma menina
muito curiosa e
interessada.
Autonomia
Avalia seu grau
de autonomia
como muito bom.
Pois ao mesmo
tempo que seus
pais lhe dão toda
a liberdade,
sempre estão
preocupadas com
o que ela vai
fazer ou não.
Politização
Ela considera o
estilo de vida do
Rio, muito diferente
dos demais estados
que ela visitou. Ela
considera o
Sudeste, uma
região mais voltada
ao trabalho,
enquanto que as
cidades no
Nordeste , estão
mais divididas
entre festa e
trabalho.
203
TEMPO
Administração
do tempo
Ela considera
sua rotina
muito pesada,
pois sua
faculdade é
integral e ela
ainda trabalha,
até muito tarde.
Acha que o dia
deveria ter mais
horas, pois
muitas vezes ela
se sente muito
cansada e
acaba não
tendo tempo
para relaxar,
devido a
quantidade de
atividades que
ela faz.
Consciência
Temporal
Ela considera a
quantidade de
tempo relativa ao
referencial. No
entanto para ela 10
anos pode ser
considerado um
grande período.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
O avô paterno
morreu há pouco
tempo. A avó
materna também
já faleceu, mas
como o avô havia
se casado de
novo, ela
considera a
segunda esposa
do avô como avó,
que ainda está
viva. Ela tem dois
tios por parte de
pai. Tem um
relacionamento
ótimo com eles e
com os filhos
deles também.
Família da Mãe:
O avô materno já
morreu há 10 ou
11 anos. Ela tem
muita ligação
com a avó
materna, chegou
até a morar um
ano com ela e
com o tio
materno, quando
a mãe se separou
do padrasto.
Atemporalidade
Presenteismo
Disse ser uma
pessoa
naturalmente
impaciente, porém
depois que
começou a
trabalhar ela
amadureceu muito,
e disse que hoje se
considera uma
pessoa muito mais
paciente.
204
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Primeiramente
morou em Vargem
Grande quando os
pais ainda eram
casados, depois
disso se mudou
para um
condomínio
fechado onde viveu
a maior parte de
sua vida.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Frequenta a Zona
Sul sempre que
necessário, pois
tem amigas que
moram por lá.
Conhece o Centro
da cidade, mas
não muito.
Conhece alguns
pontos turísticos,
mas não muito, a
maioria apenas
de passar em
frente, mas nunca
de visitar.
Experiência de
viagens
Nunca viajou para
fora do país.
Conhece vários
estados no Brasil,
entre eles: Bahia,
SP, MG, ES, SC e
Paraná.
CONSCIÊ-
NCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Ela acha
que o Brasil hoje
enfrenta muitas
dificuldades, uma
delas é que como o
Brasil é um país
capitalista, as
pessoas só estão
interessadas em
dinheiro.
Rio de Janeiro: ...
Participação da
vida cultural
Frequência:
Média. Não gosta
muito de ler e não
tem muito
interesse em
visitar museus,
exposições etc.
Trabalho Externo
A 6 meses ela
trabalha em um
restaurante.
Começou a
trabalhar, não por
necessidade e sim
para ter seu
próprio dinheiro.
Ela disse que
nesses 6 meses
além de ganhar
dinheiro, ela
cresceu muito e
amadureceu muito.
Jovem sexo masculino, 19 anos, mora com a mãe. Nasceu em Botafogo, mora em
prédio na Barra da Tijuca, cerca de 1 ano. Estudava em colégio particular e, atualmente,
estuda numa faculdade pública. Considera-se pertencente à classe média.
205
A Título de Síntese
Entrevista: Carlos
PERFIL
Local de nascimento
Gávea
Rio de Janeiro
Idade
20 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: O pai é
advogado e a mãe é
funcionaria publica
do estado.
Os pais são
separados há 16
anos.
Quantos anos
moram na Barra
7 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Os pais são separados
há 16 anos, porém
tem um
relacionamento ótimo
entre si. O pai casou
de novo, tem uma
filha pequena com a
nova esposa. A mãe
não casou de novo,
porém teve um
relacionamento serio
por 10 anos. A mãe e
a madrasta são
melhores amigas.
Interesses
culturais
Quando viaja
para fora tem
costume de ir
a museus
exposições
etc., pois o
pai por gostar
e apreciar
muito arte
sempre o
influenciou.
Autonomia
Ele considera o nível
de liberdade que ele
recebe dos pais muito
bom, pois disse
sempre ter tido o
nível de liberdade
condizente a idade
que ele tinha.
Conforme os anos,
por sempre se
mostrar responsável
e consciente, foi
adquirindo mais
liberdade.
Politização
Em relação a
diferenças
culturais entre o
Brasil e a
Argentina ele
disse ter reparado
no cuidado e
preservação de
monumentos
históricos,
prédios ao
contrario do que
vemos, por
exemplo, no
Centro do Rio.
Nessa sua viagem
para a Argentina
disse ter notado
muita pobreza
também, assim
como no Brasil.
206
TEMPO
Administração
do Tempo
Ele considera
sua quantidade
de atividades
como razoável.
Disse que não
seria necessário
ter mais horas
durante o dia
para poder fazer
tudo o que tem
para fazer,
mesmo tendo
um horário
bastante
compacto.
Consciência
Temporal
Ele disse
considerar
muito tempo,
“uma vida
toda”.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: Por
parte de pai o avô já
havia sido casado
antes e tinha uma
filha. Do segundo
casamento que foi
com a sua avó
paterna, eles tiveram
o seu pai e um tio. O
avô faleceu em 2004
e a avó ainda é viva.
Tem uma relação
muito boa com a avó
paterna. É muito
ligado ao tio paterno.
Família da Mãe: A
família por parte de
mãe é do Sul,
inclusive ela mesma.
Tem dois tios e uma
tia. O avô faleceu a
algum tempo atrás e
a avó ainda é viva.
Como a família é
toda do Sul, eles
tinham o costume de
ir cerca de duas vezes
ao ano visitar os
parentes, ou seja,
sempre teve convívio
com a família
materna. Não tem
nenhum contato com
os tios maternos,
apenas com a tia.
Atemporalidade
Presenteismo
Disse ser uma
pessoa
extremamente
ansiosa e que
odeia ficar
parado. Para ele
5 minutos parado
é uma eternidade.
207
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Desde que se
mudou para a
Barra, ou
seja, a 7 anos,
sempre morou
em
Condomínio
Fechado.
Reconhecimento de
bairros da cidade
Depois que entrou na
faculdade tem muito
costume de ir a Zona
Sul, pois a maioria de
seus amigos moram
lá.
Disse também
conhecer o Centro da
cidade e quase todos
os principais pontos
turísticos do Rio,
porém disse não
conhecer muito do
Centro histórico.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
conhece: Santa
Catarina, São
Paulo, Rio
Grande do Sul e
Pernambuco.
Disse também
conhecer todo o
litoral do Brasil
até Recife, pois
ele fez uma
viagem de carro,
do Rio ao Recife.
Para fora do
Brasil foi para:
EUA e Argentina
CONSCIÊ-
NCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil:
Quando era
menor, disse
que não
gostava do
Brasil e tinha
vontade de ir
morar fora.
Hoje, porém,
diz adorar o
Brasil,
tirando os
fatores
negativos,
como
desigualdade
social e
violência.
Rio de
Janeiro:
Disse que se
identifica
Participação da vida
cultural
Frequência:
Média. Se interessa,
por museus e
exposições, porém
não gosta de muito de
leitura.
Trabalho
Externo
Hoje em dia faz
estagio, na sua
própria área,
porém antes
quando tinha 17
anos trabalhou
em uma loja
durante o período
do Natal.
208
muito com a
cidade e não
a trocaria por
nenhuma
outra no
mundo, ele diz
se sentir
muito bem no
Rio. Tem
vontade de
morar um
tempo fora,
mas não para
sempre.
Jovem sexo masculino, 20 anos, mora com a mãe, os pais são separados. Nasceu na
Gávea, mora em Condomínio fechado na Barra da Tijuca cerca de 7 anos. Estudava em
colégio particular e, atualmente, estuda numa universidade particular. Considera-se
pertencente à classe média alta.
209
A Título de Síntese
Entrevista: Carolina
PERFIL
Local de nascimento
Minas Gerais,
Iguatama
Idade
18 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
dona de casa e o
pai é engenheiro.
Os pais são
casados.
Quantos anos
moram na Barra
4 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Tem uma boa relação
tanto com o pai
quanto com a mãe,
porém disse os
considerar muito
controladores. Tem 2
irmãs que são filhas
do mesmo pai e da
mesma mãe. Disse ter
uma relação muito
boa com ambas,
porém é mais
próxima da mais
velha, pois segundo
ela sua irmã mais
nova é mais fechada.
Interesses
culturais
Quando visitou
NY, foi ao
Metropolitam e
viu algumas
peças na
Broadway,
porém disse que
não se interessa
muito por isso,
devido ao fato
de não ser uma
grande
entendedora de
arte. Todavia
ela disse gostar
muito de ler.
Autonomia
Ela considera
seus pais bem
controladores e
conservadores.
Ela disse que seu
pai é muito
protetor, não
gosta que ela e as
irmãs saiam
muito, nem muito
menos cheguem
tarde em casa.
Politização
Em relação aos
outros paises em
que ela esteve,
disse ter notado
uma grande
diferença entre a
educação do povo
brasileiro e a
educação dos
outros paises em
que ela visitou.
Disse também se
sentir muito mais
segura nesses
outros paises, do
que no Brasil. Em
relação ao Rio e
as outras cidades
no Brasil em que
ela visitou, disse
ter notado uma
pobreza muito
grande e
aparente,
principalmente
nas cidades do
Nordeste.
210
TEMPO
Administração do
tempo
Ela considera que
tem muitos afazeres
durante o dia. Ela
acha que o dia
deveria ter mais
horas, para poder
descansar, e fazer
outras atividades que
não fossem
relacionadas à
faculdade.
Consciência
Temporal
Ela considera
meses como
“muito tempo”.
Por exemplo:
disse que em 6
meses sua vida
pode mudar.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
Tanto o avô,
quanto a avó por
parte de pai são
vivos. Ela tem 4
tios paternos,
sendo que 2
moram em BH e
dois moram em
SP. Disse ter
contato com a
família paterna
apesar da
distância.
Família da Mãe:
Sua mãe é a mais
nova de 4 filhos.
Seu avô paterno
faleceu quando a
mãe tinha apenas
10 anos, porém,
mesmo após o
falecimento do
avô, sua mãe, avó
e tios sempre
viveram muito
bem. A avó é
costureira e mora
em Minas Gerais.
Todos os tios
maternos moram
em Minas Gerais.
Ela disse ter uma
ligação bem forte
com a avó
materna, por ter
morado na
mesma cidade
que ela por 14
anos.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa paciente,
porém muito
ansiosa. Disse ser
assim por sempre
fazer tudo no
tempo certo.
211
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. Disse usar a
internet muito pouco,
apenas para checar
email e orkut.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que veio
de Minas para o
Rio, ela mora
em condomínio
fechado.
Primeiro ela
morava em um
Condomínio de
casas no final
da Barra e hoje
em dia ela mora
na Península
que se localiza
no meio da
Barra.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Não vai com
muita frequência
a Zona Sul, pois o
pai não deixa, por
achar que na
Zona Sul existe
muita violência.
Ou ela vai pela
manhã, pois sua
faculdade é em
Botafogo, ou
cerca de 3 em 3
meses com os
pais para
passear. Ela disse
conhecer o centro
do Rio e todos os
principais pontos
turísticos.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
ela disse ter
visitado todas as
capitais do
Nordeste, alem de
Minas (onde ela
morou 14 anos).
Fora do Brasil
ela conhece EUA
e Argentina.
CONSCIÊ-
NCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil / RJ:
Ela considera o
Rio uma cidade
maravilhosa.
Comparando
com a cidade
em que ela
morava, disse
que as pessoas
aqui são muito
mais receptivas.
Porém, acha a
violência no Rio
absurda.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Média. Mesmo
não gostando
muito de
frequentar
museus e
exposições, tem
muito interesse
em livros e filmes.
Trabalho
Externo
Ela disse que
nunca trabalhou e
que seu primeiro
trabalho vai ser
como mesária nas
eleições. Em
relação a estágio
ela disse que no
momento por ela
não precisar, ela
não quer se
preocupar com
isso.
Jovem sexo feminino, 18 anos, mora com os pais. Nasceu em Iguatama (Minas
Gerais), mora em Condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 2 anos. Estudava em
colégio particular e, atualmente, estuda numa faculdade particular. Considera-se pertencente à
classe média alta.
212
A Título de Síntese
Entrevista: Cássio
PERFIL
Local de nascimento
Rio de Janeiro
Barra da Tijuca
Idade
20 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: Ambos
economistas.
Os pais são
separados desde que
ele tem 2 anos.
Quantos anos
moram na
Barra
Desde que
nasceu: 20 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Desde a separação
dos pais, sempre
morou com o pai e
em alguns momentos
chegou a morar com
a mãe. Hoje em dia o
pai foi morar fora do
Rio, e ele tem sentido
a diferença, pois
mora sozinho.
Nunca deixou de ver
a mãe, pois ela mora
no mesmo
condomínio e chegou
a morar algum tempo
com ela.
Interesses
culturais
Dentro do País
viajou para
diversos lugares
como:
Fortaleza,
Salvador,
Recife, São
Paulo, Brasília,
entre outros
lugares. Fora
do Brasil
conhece
Amsterdã e
Orlando.
Quando foi a
Amsterdã, fez
questão de fazer
um roteiro,
para conhecer
todos os museus
e pontos mais
importantes da
cidade.
Autonomia
No passado os pais
foram bem
controladores, mas
hoje em dia eles o
deixam bem “solto”,
pois o consideram
muito responsável e
com objetivos
determinados.
Politização
Diferenças
entre o Brasil e
outros países:
As diferenças
sociais não são
visíveis como
aqui no Brasil.
Além disso, ele
ficou
impressionado
com a educação
das pessoas de
fora, em
relação por
exemplo o
respeito aos
pedestres.
213
TEMPO
Administração
do Tempo
Classifica-se
como uma
pessoa que faz
muitas tarefas.
Tem a sensação
de que
precisaria ter
mais horas para
fazer tudo o que
tem para fazer.
Consciência
Temporal
Acha que o
tempo é
relativo,
levando em
conta o ponto
de referencia.
Por exemplo,
ter uma
amizade de 15
tendo 20, é uma
amizade de
muito tempo.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: Os
avos sempre foram
casados.
Não conheceu o avô
paterno pois ele
sumiu quando o pai
dele ainda era
criança. Com a avó
paterna tem um bom
relacionamento desde
que nasceu, porém
hoje ela já esta tem
82 anos. Tem um tio e
uma tia por parte de
pai, mas não tem
muito contato,
apenas em encontros
de família.
Família da Mãe: Os
avós eram separados.
A avó faleceu em
2005, mas não
morava no Rio, desde
pequeno teve um bom
relacionamento com
ela, porém na
adolescência
começaram a haver
alguns atritos. Tinha
muita ligação com o
avô materno, que
faleceu quando ele
tinha apenas 4 anos,
mas mesmo assim ele
sentiu muita falta do
avô, por ser o
predileto. Ele o
considerava como “a
pessoa”. Tem uma tia
e um tio por parte de
mãe. A tia tem dois
filhos, os quais ele
não tem muito
contato. O tio tem
Atemporalidad
e
Presenteismo
...
214
três filhos e uma
filha, os quais ele tem
muito contado. Um
dos filhos do tio,
apesar de bem mais
velho, tem uma
ligação muito forte
com ele e mesmo
quando morava fora,
eles nunca perderam
o contato.
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Sempre morou
no mesmo
condomínio,
desde que
nasceu.
Como ponto
forte, achava
que
antigamente a
Barra era muito
segura, mas
hoje não tem
tanta certeza
disso, como um
ponto forte,
podendo as
vezes até
considerar a
segurança como
um ponto fraco.
Reconhecimento de
bairros da cidade
Conhece bem os
bairros da cidade,
mas diz que não
trocaria a Barra por
nenhum outro bairro.
Disse também que a
Barra se adapta
totalmente ao estilo
de vida dele.
Ele acha que a
diferença entre a
Barra e a Zona Sul é
mais pelo aspecto
visual. O que ele leva
em conta é que a
diferença social da
Zona Sul está mais a
vista do que na
Barra.
Experiência de
viagens
Já viajou
bastante pelo
Brasil, entre as
cidades estão:
Fortaleza,
Salvador,
Recife, SP ,
Brasília,
Florianópolis,
varias cidades
em Minas
Gerais. No Rio:
Petrópolis,
Teresópolis,
Búzios, Cabo
Frio entre
outras.
Fora do País já
visitou Orlando
e Amsterdã.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil:
Considera o
Brasil como um
país muito
diversificado e
ao mesmo
tempo muito
Participação da vida
cultural, frequência:
Muita. Tem vários
livros que gostou de
ler, mas o preferido
foi “Éramos Seis”.
Sua disciplina
favorita era Historia.
Trabalho
Externo
Faz faculdade
de Direito na
PUC, e faz
estagio com
direito penal.
215
desigual. Ele
acha que o país
ainda tem muito
o que melhorar.
Rio de Janeiro:
Ele considera a
cidade muito
bonita, mas os
problemas estão
incomodando
cada vez mais.
A violência esta
crescendo muito
e a cidade vem
crescendo de
uma maneira
totalmente
desordenada e
sem
planejamento.
Jovem sexo masculino, 20 anos mora sozinho, os pais são separados. Nasceu na Barra
da Tijuca, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 20 anos. Estudava
em colégio particular e, atualmente, estuda direito numa Universidade Particular. Considera-
se pertencente à classe média alta.
216
A Título de Síntese
Entrevista: Cristina
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Tijuca
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
Piscopedagoga e o
pai é empresário do
mercado
financeiro.
Os pais são
casados a 20 anos.
Quantos anos
moram na Barra
13 anos
SUJEITO
Relações
Familiares
Tanto os avos por
parte de pai como
por parte de mãe
são vivos e
casados, porém ela
disse que os avôs
paternos viveriam
melhor se tivessem
se separado na
juventude. Tem uma
relação muito boa
tanto com os avos
paternos como
maternos, mas é
mais próxima dos
avós maternos.
Ela tem um irmão
mais novo de 14
anos e eles tem um
relacionamento
muito bom.
Interesses
culturais
Dependendo do
país ela disse
fazer as mais
diversas
atividades
culturais, como:
livrarias,
museus,
exposições,
teatros. Ele se
disse muito
interessada por
determinadas
culturas e disse
também que
para ela a
melhor forma
de entender a
respeito dessas
culturas é
através, do
cinema, artes e
leitura.
Autonomia
Ela disse ter uma
relação muito boa
com os pais, pois
ao mesmo tempo
em que eles se
preocupam com
ela, eles confiam
nela. Deixando-a
livre para fazer o
que quiser com
responsabilidade.
Politização
Em relação a
diferenças
culturais entre os
paises em que ela
visitou e o Brasil,
ela disse que o
que mais a
impressionou foi
a culinária, a
maneira de tratar
as pessoas e de se
comportar das
sociedades em
questão. Em
relação as
diferenças
sociais, ela disse
ser gritante e que
ao visitar esses
paises ela disse
que fica claro o
quanto o Brasil
ainda tem que
melhor em termos
de infra-estrutura
e distribuição de
renda.
217
TEMPO
Administração do
tempo
Ela considera que
em relação a
atividades ela faz
de razoável a
muitas. E que se o
dia pudesse ter
mais horas ela
gostaria sim, para
ter mais horas de
lazer, mais tempo
para ver as amigas
e o namorado.
Consciência
Temporal
Para ela 20
anos podem ser
considerados
como muito
tempo.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Tanto o avô como
os avôs paternos
são vivos e
casados. Por parte
de pai ela tem uma
tia e um primo
pequeno.
Família da Mãe:
Tanto o avô como
os avôs maternos
são vivos e
casados. Ela tem
dois tios mais
velhos que a mãe,
um mora em
Petrópolis e o outro
em Florianópolis.
Ela tem 5 primos
por parte de mãe,
porém não tem
muito contato com
eles, por eles
morarem longe.
Atemporalidade
Presenteismo
...
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Desde que se
mudou da
Tijuca para a
Barra, sempre
morou em
condomínios
fechados. Por
muitos anos
morou em um
condomínio no
final da Barra,
e hoje em dia
mora em um
condomínio
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Vai com frequência
a Zona Sul, pois
tem muitos amigos
que moram por lá.
Conhece o Centro
da cidade pois
estuda lá, mas
conhece o centro
histórico também.
Nunca visitou
nenhum ponto
turístico do Rio de
Janeiro.
Experiência de
viagens
No Brasil ela já
foi a: Natal,
Recife, Maceió,
Florianópolis,
São Paulo e
Curitiba.
Fora do país ela
já foi:
EUA,
França,Itália,
Bélgica, Suíça,
Espanha,Inglater
ra,Holanda,
México,Argentina
218
muito próximo
ao o que
morava
anteriormente.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil, Rio de
Janeiro: Disse
que, de um
ponto de vista
estético, tanto o
Brasil como o
Rio são lindos,
mas ainda têm
muito que
melhorar e
crescer. Acha
que a pobreza e
a violência
ainda aparecem
em índices
muito elevados.
Como ponto
fraco em
comparação ao
EUA e a
Europa, temos
os transportes
que ainda não
são eficientes,
saúde e comida
para todos etc.
Como ponto
forte, é
indiscutível a
alegria do
brasileiro, o
que não é muito
visto em alguns
países da
Europa, assim
como a cultura,
comida e
paisagens
brasileiras.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Gosta muito
de ler, ver
exposições, tem
muito interesse em
museus, línguas e
filmes dos mais
diversos estilos.
Trabalho
Externo
Ela nunca
trabalhou, e disse
que por enquanto
prefere se dedicar
aos estudos, mas
que pretende
começar a
trabalhar em
mais ou menos
um ano.
219
Jovem sexo feminino, 18 anos, mora com os pais. Nasceu na Tijuca, mora em
condomínio fechado na Barra da Tijuca, aproximadamente 13 anos. Estudava em colégio
particular e, atualmente, estuda numa faculdade particular. Considera-se pertencente à classe
média alta.
220
A Título de Síntese
Entrevista: Eduarda
PERFIL
Local de nascimento
Valença
Rio de Janeiro
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe fazia
faculdade de Letras,
mas não terminou e
hoje em dia é
empresaria e o pai é
empresário e tem
uma loja de carros.
Os pais são
divorciados há 13
anos.
Quantos anos
moram na Barra
6 anos.
SUJEITO
Relações Familiares
Os pais são
separados há 13
anos, porém tem uma
relação muito boa
entre si. A mãe casou
de novo, logo após a
separação e está
casada até hoje. Ela
tem um irmão mais
novo de 13 anos, tem
um relacionamento
muito bom com ele.
Tem uma ligação
muito forte com a
mãe e um
relacionamento muito
bom com o pai
também, mesmo ele
não morando no Rio.
Interesses
culturais
Não tem
muito
interesse por
leitura, pois
disse que sua
mãe nunca a
incentivou
muito, porém
se interessa
muito por
filmes.
Autonomia
Ela disse que a mãe
costumava ser muito
controladora assim
que elas se mudaram
para o Rio, pois tinha
medo da violência,
mas hoje em dia, por
confiar muito nela,
disse que a mãe a
deixa livre para fazer
o que quiser, mas é
claro que com
responsabilidade.
Politização
Disse não ter
notado muitas
diferenças
sociais, porém
muitas diferenças
culturais nas
cidades em que
visitou no Brasil
em relação ao
Rio de Janeiro.
221
TEMPO
Administração
do Tempo
Considera que
faz muitas
atividades
durante o dia e
tem custado
para
administrar seu
tempo. Disse
que gostaria de
ter mais horas
no seu dia, para
poder dar uma
“relaxada”.
Consciência
Temporal
Ela disse
considerar
meses como
“muito
tempo”.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: O
pai perdeu toda a
família muito cedo.
Os avôs paternos já
faleceram e seu único
tio paterno também.
Nunca teve nenhum
contato com a família
do pai.
Família da Mãe: A
família da mãe é
muito grande porém
muito unida. O avô
materno faleceu,
quando sua mãe
ainda era pequena,
porém a avó materna
ainda é viva e mora
com ela.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa muito
ansiosa e
impaciente para
determinadas
coisas.
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim. Entra
diariamente na
internet.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que se
mudou para a
Barra, sempre
morou no
mesmo
condomínio
fechado.
Reconhecimento de
bairros da cidade
Não tem costume
nenhum de ir a Zona
Sul, se considera uma
“barrence nata”.
Disse ter ido algumas
vezes ao Centro do
Rio, porém nenhuma
ao centro histórico.
Disse também nunca
ter ido a nenhum dos
pontos turísticos do
Rio.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
já viajou para
Fortaleza, Porto
Seguro, Itapema
entre outras
cidades na
Região do Lagos.
Disse nunca ter
ido para fora do
Brasil devido a
problemas
financeiros.
222
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil:
Considera o
Brasil um país
maravilhoso e
disse que não
se mudaria
daqui por
nada, apesar
dos
problemas,
como por
exemplo, os
políticos.
Rio de
Janeiro:
Considera a
violência no
Rio muito
grande,
porém disse
que nunca
voltaria a
morar em
Barbacena, a
cidade em que
nasceu e
morou ate os
13 anos, pois
depois de
morar em
uma cidade
grande ela
disse ser
impossível
voltar para
uma cidade
pequena.
Participação da vida
cultural
Frequência:
Pouca. Não tem
interesse em leitura,
nem tem costume de
ir a museus e
exposições, mas
gosta muito de ver
filmes.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
pois disse que
nunca precisou e
sempre teve tudo
o que queria.
Jovem sexo feminino, 18 anos mora com a mãe, os pais são separados. Nasceu em
Valença, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 6 anos. Estudava no
colégio particular e, atualmente, estuda em universidade particular. Considera-se pertencente
à classe média.
223
A Título de Síntese
Entrevista: E.T
PERFIL
Local de nascimento
Nova Iguaçu
Rio de Janeiro
Idade
17 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: O pai é
empresário e a mãe é
medica.
Os pais são casados.
Quantos anos
moram na Barra
7 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Os pais são casados,
e disse ter uma ótima
relação com ambos,
as vezes é claro um
pouco conflituosa por
estar na
adolescência. Porém
disse conversar mais
com a mãe. Ele é
filho único.
Interesses
culturais
Disse ser
muito ligado a
artes. Gosta
de pintura,
desenho e
outras coisas
do gênero.
Disse também
nunca ter sido
influenciado
por ninguém.
Faz curso de
desenho a 8
anos e adora.
Autonomia
Considera que os
pais lhe dão
liberdade com
limites, porém quase
nunca dizem não.
Politização
Em suas viagens
pelo Brasil disse
ter notado
algumas
diferenças em
relação ao Rio de
Janeiro. Uma
delas é que, por
exemplo, no Sul,
ele disse achar
as pessoas muito
mais educadas,
“civilizadas” do
que aqui no Rio.
Disse também que
a pobreza no Rio
é muito mais
aparente do que a
pobreza no Sul.
224
TEMPO
Administração
do Tempo
Ele disse que
faz muitas
atividades
durante o dia,
pois não gosta
de ficar parado.
Disse também
que acha a
quantidade de
horas que ele
tem no dia
ótima, pois
assim ele pode
criar uma
expectativa
para o dia
seguinte.
Consciência
Temporal
Ele disse
achar muito
tempo
relativo, às
vezes para ele
5 minutos
podem ser
considerados
muito tempo.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: Os
avôs paternos são
vivos e ele tem muita
afinidade com eles,
principalmente com o
avô. Os avôs são
separados, porém
tem um bom convívio.
Tem três primos por
parte de pai e é bem
ligado a eles. Tem
três tios por parte de
pai.
Família da Mãe: O
avô materno faleceu
há um ano, mas a avó
materna é viva e
ainda tem uma bisavó
viva que tem 98 anos.
Porém não tem muita
proximidade com a
avó, nem tinha com o
avô. Tem dois
primos por parte de
mãe e duas tias.
Atemporalidade
Presenteismo
É hiperativo e se
considera uma
pessoa muito
ansiosa.
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que se
mudou para a
Barra, sempre
morou no
mesmo
condomínio
Fechado.
Reconhecimento de
bairros da cidade
Disse não gostar
muito de sair da
Barra. Não vai com
frequência à Zona
Sul, mas adora ir ao
Centro da cidade
fazer
compras.
Não
conhece muito bem o
centro histórico do
Rio, foi apenas em
passeios com a
escola. Quanto aos
pontos turísticos do
Rio, não os conhecer.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
conhece Santa
Catarina, São
Paulo e algumas
cidades na
Região do Lagos.
Nunca viajou
para fora do
Brasil, e disse que
tem vontade, mas
não agora.
225
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil, Rio de
Janeiro: Ele
disse que
enquanto
todos acham o
Rio de
Janeiro a
cidade
maravilhosa,
ele já não a
considera
assim. Ele
disse haver
uma mudança
de mundos ao
você mudar
de bairro.
Alem de ver
uma diferença
muito grande
entre os
bairros, ele
diz também
perceber uma
diferença
maior ainda
de estado,
para estado
no Brasil.
Disse também
só haver
violência pelo
Brasil, em
todas as
regiões.
Participação da vida
cultural
Frequência:
Pouca. Não se
interessa por
atividades culturais,
nem por leitura.
Trabalho
Externo
Trabalha como
DJ desde os 10.
Sempre
trabalhou, pois
sempre se
interessou por
musica. Disse que
por o pai ter uma
empresa de
maquinas de som,
ele sempre
montou o seu
próprio som. Ele
disse também que
além de gostar,
sempre se
espelhou muito
nos pais, que
sempre
trabalharam
muito.
Jovem sexo masculino, 17 anos mora com os pais, que são casados. Nasceu em Nova
Iguaçu, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 7anos. Estuda em
colégio particular e considera-se pertencente à classe média.
226
A Título de Síntese
Entrevista: Fernanda
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Gávea
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
formada em direito,
mas não exerce
mais. Hoje em dia é
Design
Fotográfica.
O pai é
comerciante.
Os pais são
separados desde
que ela tinha 10
anos.
Quantos anos
moram na Barra
9 anos
SUJEITO
Relações
Familiares
Não tem uma
relação muito boa
com o pai. Acha o
pai muito
temperamental e
cabeça dura, não
sabe se isso ocorre
por ela sempre
enfrentar ele. O pai
casou-se de novo
com uma mulher
muito mais nova, a
qual ela não gosta
e por isso houve um
distanciamento
maior com o pai.
Tem um
relacionamento
muito bom com a
mãe. A considera
sua melhor amiga e
diz que não tem
nada a reclamar.
Interesses
culturais
Dentro do Brasil
viajou para
Búzios, Ilha
Grande, São
Paulo, Salvador e
Ilhéus. Fora do
Brasil foi para o
EUA, Chile e
México. Visitou
os principais
pontos turísticos,
mas não foi a
muitas feiras,
exposições e
museus. Quando
foi a NY foi ao
Metropolitan e a
alguns
espetáculos da
Broadway. Disse
que talvez se
tivesse ido sem os
pais, não teria
visitado pontos
culturais.
Autonomia
Considera tanto o
pai como a mãe
muito liberais, pois
confiam muito nela.
A mãe da bastante
autonomia a ela, só
pede que ela avise
horários e coisas
do gênero.
Politização
Ela sente uma
diferença muito
grande quando
viaja para fora,
principalmente
entre o povo
americano e o
povo brasileiro.
Ela acha o povo
americano mais
frio, enquanto
que o brasileiro é
receptivo, sempre
tentando fazer
amizades. Ele
considera os
americanos
“tapados” e
ignorantes. Sentiu
uma diferença
cultural muito
grande ao fazer
essas viagens
para fora do país.
Porém dentro do
país
227
disse não sentir
diferenças, nem
como por
exemplo SP e
Salvador.
TEMPO
Administração do
tempo
Avalia a sua
quantidade de
afazeres e tarefas
por dia como
“normal”, nem
muitas e nem
poucas. Mas ao
mesmo tempo acha
que o tempo
deveria ter mais
horas para ela
fazer tudo que ela
gostaria.
Consciência
Temporal
Para ela 4 anos
pode ser
considerado um
período muito
longo, “muito
tempo”. Para ela
num período de 4
anos podem
acontecer muitas
coisas.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Por parte de pai ela
tem um tio, uma tia
e muitos primos. O
pai dela e a tia são
brigados, enquanto
que o tio é super
próximo. Tanto a
avó, como os avôs
paternos já
faleceram.
Família da Mãe:
Ela considera a
família da mãe,
mesmo não sendo
muito grande
“muito família”.
Ela tem apenas um
tio, mas que era
brigado com a mãe
dela até a pouco
tempo atrás, por
isso não tem muito
contato. Tem
contato com a avó
materna, mas não a
visita muito, pois
ela considera que
elas moram
“longe”. O avô
materno já faleceu.
Atemporalidade
Presenteismo
228
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Morou 2 semanas
e Copacabana e
depois morou até
os 9 anos em
Ipanema. Com
nove anos veio
morar na Barra
em um
condomínio
fechado. Após a
separação dos
pais, morou mais
algum tempo
nesse condomínio
com a mãe e o
irmão e depois
disso se mudou
para um edifício
do Jardim
Oceânico com a
mãe e o irmão.
Enquanto isso o
pai se mudou
para um
condomínio de
prédios, na Barra
mesmo.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Foi apenas uma vez
a Lapa e não se
considera uma
pessoa que foi a
muitos pontos
turísticos da
cidade. Disse que
não tem o costume
de sair a noite pela
zona sul e que
prefere sair pela
barra, pois
primeiro que ela
ainda não tem
carteira e segundo
porque prefere os
ambientes da barra.
Porém costuma sim
ir a zona sul, pois
sua avó materna
mora lá , e ela
também tem o
costume de ir a
Universidade PUC
“visitar” algumas
amigas.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
não viajou muito,
conheceu cidades
como São Paulo,
Salvador, Ilhéus,
Ilha Grande,
Búzios entre
outras. E fora do
país foi para
diversas cidades
como
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil: Em
termos políticos
se considera leiga
por isso não
prefere falar a
respeito. Porém
ela acha que o
Brasil tem tudo
para ser uma
superpotência.
Acha o Brasil um
país bonito e que
Participação da
vida cultural
Frequência:
Média. Gosta de
ler, mas não lê
muitos livros. Não
frequenta muito
museus, exposições
e teatros.
Trabalho
Externo
Já trabalhou em
vários lugares. O
primeiro emprego
foi como
vendedora no Top
Fashion Bazar,
mas não quis
levar adiante.
Também fez Work
Experience e
trabalhou na
cozinha de um
restaurante de um
229
tem um pouco de
tudo. Ela disse
que não se
mudaria do Brasil
por nada.
Rio de Janeiro:
Gosta muito da
cidade, do clima,
e das pessoas.
parque no EUA.
Mas hoje em dia
não trabalha
apenas estuda.
Ela esta fazendo
cursinho pré-
vestibular. Está
se preparando
para prestar
vestibular para
Desenho
Industrial na
PUC.
Jovem sexo feminino, 18 anos, mora com a mãe, os pais são separados. Nasceu na
Gávea, mora em prédio na Barra da Tijuca, há cerca de 4 anos. Estudava em colégio particular
e, atualmente, faz curso pré-vestibular. Considera-se pertencente à classe média alta.
230
A Título de Síntese
Entrevista: Flavio
PERFIL
Local de nascimento
Rio de Janeiro
Humaitá
Idade
18 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: O pai é
Corretor da Bolsa
de Valores de SP
e a mãe
atualmente está
desempregada.
Os pais são
separados há 14
anos.
Quantos anos
moram na Barra
Desde que
nasceu: 18 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Considera a relação
com os pais boa e
aberta. Disse
conversar sobre tudo
tanto com o pai
quanto com a mãe.
Os pais são
separados e ele mora
com a mãe, porém, vê
o pai todos os finais
de semana têm
apenas um irmão e
disse hoje em dia ter
uma ótima relação
com ele, o que não
acontecia
antigamente.
Interesses
culturais
Quando viajou
para fora disse
não ter feito
muitas atividades
culturais. No
EUA, disse não
ter feito por ter
ido muito
pequeno e no
Chile e Argentina
disse ter comido
apenas comidas
típicas e ter
ouvido historias
locais.
Autonomia
Considera os pais
muito liberais,
tanto liberdade
verbal, quanto
liberdade de fazer
o que quer.
Politização
Disse que, por
exemplo, ao
viajar pela Bahia,
ter percebido que
os baianos têm
muito mais
orgulho e vontade
de expor a
cultura deles, do
que os nascidos
no Rio de
Janeiro. Disse
também ter
notado muita
pobreza e
desorganização
na Bahia, o que
disse não ter visto
tão
aparentemente
nas cidades em
que conheceu no
Sudeste.
231
TEMPO
Administração
do Tempo
Considera suas
tarefas como
muita. Não
acha que
precisaria ter
mais horas
durante o seu
dia para fazer
tudo o que tem
para fazer.
Consciência
Temporal
Ele disse
considerar
“muito tempo”
relativo. Às vezes
1 ano, ou as vezes
até mesmo 5 dias.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
Não conheceu
nem o avô, nem a
avó. Por parte de
pai tem um tio e
uma tia. Tem um
primo apenas,
porém não tem
muita ligação
com ele, pois
assim como as
tias, ele os vê
eventualmente
aos finais de
semana, quando o
pai vem ao Rio.
Família da Mãe:
Por parte de mãe
conheceu tanto o
avô, quanto a
avó, que ainda
são vivos, chegou
até conhecer até
a bisavó que
faleceu no ano
passado. Tem
muito contato
com os avôs
maternos, vai
jantar pelo menos
uma vez por
semana com eles.
Por parte de mãe
tem 2 tias.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se
bastante ansioso,
mas não acha que
isso o atrapalhe
de forma alguma.
232
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Sempre morou em
Condomínios
fechados.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Não vai com
tanta frequência a
Zona Sul, acha
mais “pratico”
ficar pela Barra.
Quando vai a
Zona Sul, vai
apenas visitar
alguns parentes
com o pai.
Já foi ao Centro
da cidade, mas
não tem o
costume de
frequentar essa
área da cidade.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
conhece: Santa
Catarina, São
Paulo, Minas
Gerais, Bahia e
Alagoas.
Para fora do
Brasil foi para o
EUA, Argentina e
Chile.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Considera
o Brasil um país
muito mal
administrado e
com uma
estrutura muito
deficiente. Disse
também que o
Brasil é um país
para ricos, pois o
povo pobre não é
muito defendido.
Rio de Janeiro:
Acha que o Rio
tem pontos
ótimos, como
suas belezas
naturais, porém
considera a
cidade muito
violente. Acha
que tudo que
acontece no Rio é
Participação da
vida cultural
Frequência:
Média. Gosta de
literatura, porém
não tem o
costume de
frequentar
museus,
exposições e ver
filmes.
Trabalho
Externo
Disse nunca ter
trabalhado por
falta de interesse
e comodismo.
Disse também que
os trabalhos que
ele encontrava
não estavam a
altura do que ele
procurava.
233
decorrente de
uma má
administração.
Jovem sexo masculino, 18 anos mora com a e, os pais são separados. Nasceu no
Humaitá, mora na Barra da Tijuca, em condomínio fechado na Barra da Tijuca, há cerca de 18
anos, estuda em colégio particular. Considera-se pertencente à classe média.
234
A Título de Síntese
Entrevista: Gabriela
PERFIL
Local de nascimento
Rio de Janeiro
Botafogo
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
psicóloga. E o pai
era administrador
de empresas (já
faleceu).
Os pais foram
casados, até o pai
falecer.
Quantos anos
moram na Barra
11 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Considera sua
família muito
pequena, não tem
irmãos e tem poucos
primos. Tem uma
ligação muito forte
desde pequena com
os avos maternos, ao
menos uma vez na
semana procura ver
ou falar com eles.
Tem um tio e dois
primos pequenos por
parte de mãe, os
quais não tem tanto
contato. Por parte de
pai ela tem duas
primas e um tio. Uma
das primas ela tem
muito contato, mesmo
não morando na
mesma cidade, ela a
considera como irmã.
Interesses
culturais
Já viajou muito
tanto para
dentro do Brasil
quanto para
fora. Em todas
as viagens sua
mãe sempre fez
questão de levá-
la a museus,
exposições e
pontos
históricos das
cidades. Na
época ela não
gostava muito,
mas hoje da
muito valor e
disse que
repetiria tudo
outra vez. A
mãe sempre a
incentivou a
leitura, mas ela
nunca gostou
muito.
Autonomia
Ela considera sua
mãe muito liberal,
mas acha uma
liberdade saudável,
pois ao mesmo
tempo em que ela
pode fazer tudo a
um certo controle.
Sua mãe sempre
pede para que ela
avise quando ela
chega, quando vai
dormir em casa de
amigas e outras
coisas do gênero.
Politização
Em relação aos
outros paises e
estados que ela
visitou, ela disse
ter notado muitas
diferenças, tanto
culturais como
sociais. Uma das
coisas que ela
mais ficou
impressionada foi
o incentivo a
cultura, que
ocorre nos mais
diversos paises,
principalmente na
Europa. Outra
coisa que a
deixou bastante
impressionada
foram as
diferenças
sociais, coisa que
é muito visível no
Brasil e não é tão
visível nos outros
países em que ela
visitou. Em
relação a
diferenças entre
235
os outros estados
brasileiros e o
Rio de Janeiro,
ela disse ver uma
diferença gritante
não apenas
cultural, mas sim
social.
TEMPO
Administração do
tempo
Ela acha que faz
poucas atividades
durante o dia, pois
ela estuda de tarde, o
que ela acha que
complica um pouco.
Para ela tem dias que
ela acharia
necessário ter mais
horas, mas
normalmente não.
Consciência
Temporal
Para ela
“muito tempo”
é relativo. Ela
disse que
dependendo da
situação, um
mês pode ser
muita coisa,
como às vezes
um mês pode
não ser nada.
Porém
avaliando o
tempo, ela disse
que se tivesse
que estipular
quanto é muito
tempo, ela diria
20 anos.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Quando ela nasceu
os avôs paternos já
haviam falecido,
porém mesmo não
morando na mesma
cidade que os tios e
primos paternos,
ela sempre teve
muito contato. Ela
tinha uma tia (que
já faleceu) e um tio
paternos. Com a tia
ela tinha uma
relação muito boa,
como se fosse de
avó e neta. Ela
tinha um primo
(que já faleceu) e
duas primas.
Quando era
criança tinha muito
contato com ambas
as primas, mas hoje
em dia tem apenas
com uma que é bem
mais velha, mas ela
a considera como
uma irmã.
Principalmente
após o falecimento
do pai dela, quando
a família se tornou
menor ainda.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa bastante
ansiosa.
236
Família da Mãe:
Por parte de mãe
tanto a avó, quanto
o avô são vivos e
ela tem muito
contato com eles.
Eles são casados há
50 anos, e ela disse
que ao menos uma
vez na semana, ela
vai visitá-los ou
telefona para eles.
Ela tem um tio
materno e dois
primos pequenos
gêmeos. Porém não
tem muito contato,
ela os vê apenas em
reuniões familiares.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. Entra no
computador todos os
dias, e fica na
internet ao menos 1h
por dia.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Ela nasceu em
Botafogo,
morou lá até os
5 anos, com 5
anos foi morar
em Ipanema e
aos 7 veio
morar na Barra
em um
condomínio
fechado, aonde
mora até hoje.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Ela disse
frequentar bastante
a Zona Sul, pois
além de seus avos
morarem lá, ela
fazia faculdade na
Gávea. Conhece a
Lapa, e muito
pouco do Centro da
cidade. Não
conhece todos os
pontos turísticos do
Rio, mas considera
que já foi em
alguns dos mais
importantes.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
já foi para:
Salvador, Recife,
Fortaleza, Natal,
Florianópolis,
São Paulo, Ouro
Preto, Teresina e
algumas cidades
dentro do estado
do Rio de
Janeiro.
Fora do Brasil já
foi: EUA,
Inglaterra,
Espanha, França,
Itália, Grécia,
Holanda, Bélgica.
237
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Acha o
Brasil um país
repleto de
riquezas
naturais, e com
tudo de
necessário para
se tornar uma
grande
potencia, porém
por ter um
extenso
território e por
ser mal
administrado
não vai para
frente. Ela disse
que o povo
brasileiro não
tem igual,
mesmo com
todas as
dificuldades e
diferenças, esse
povo não perde
a alegria de
viver, o que os
diferencia dos
demais povos
do mundo.
Rio de Janeiro:
Ela considera o
Rio uma das
cidades mais
bonitas do
mundo, porém
cheia de
problemas,
como outra
metrópole
qualquer. O
maior problema
para ela do Rio,
não são os
problemas
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Mesmo não
tendo muito
interesse pela
leitura, ela gosta e
sempre foi a
museus, exposições
e pontos turísticos.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
mas esta
interessada em
começar a
estagiar o quanto
antes, em algo
relacionado à sua
área.
238
decorrentes de
qualquer
grande cidade,
e sim a forma
como os
governantes
lidam com eles.
Mas dentro do
Brasil, ela disse
não ter vontade
de morar em
nenhuma outra
cidade além do
Rio.
Jovem sexo feminino, 18 anos, mora com a mãe. Nasceu em Botafogo, mora em
condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 11 anos. Estudava em colégio particular
e, atualmente, estuda numa faculdade particular. Considera-se pertencente à classe média alta.
239
A Título de Síntese
Entrevista: Guilherme
PERFIL
Local de nascimento
Barra Mansa
Rio de Janeiro
Idade
18 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: Tanto o
pai quanto a mãe
trabalham com
posto de gasolina.
Os pais são
casados.
Quantos anos
moram na Barra
10 anos.
SUJEITO
Relações Familiares
Disse ter uma
relação muito boa
com os pais, mas em
relação a alguns
assuntos fica com um
pouco de vergonha
de conversar com a
mãe e por isso
prefere conversar
com o pai. Tem duas
irmãs uma mais velha
de 20 anos e uma
mais nova de 11
anos, disse ter uma
relação ótima com
elas também.
Interesses
culturais
Disse que quando
viaja para fora
não tem tempo
para fazer
atividades
culturais, pois
acaba se
interessando mais
em conhecer
outras cidades e
coisas do tipo.
Autonomia
Disse que
dependendo do
dia os pais são
mais
controladores e
outros dias são
mais liberais.
Politização
Em relação a sua
visita a outros
paises, ele disse
que a diferença
que o chamou
mais atenção foi
a educação das
pessoas. Disse
também que tudo
se começa pela
educação.
Considera que se
melhorarmos a
“base” do Brasil
poderemos
melhorar o resto.
240
TEMPO
Administração
do Tempo
Considera que
faz poucas
atividades.
Considera-se
um garoto
muito
preguiçoso.
Consciência
Temporal
Ele acha que
muito tempo é
relativo, porém
de certa maneira
3 anos pode ser
considerado
como muito
tempo para ele.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
Por parte de pai
disse não ter uma
ligação muito
grande com a
família, devido a
distancia. Tem
um tio e uma tia
que não moram
no Rio. Tem um
primo de 20 anos
que é muito
ligado a ele.
Família da Mãe:
A família por
parte da mãe é
muito ligada, pois
todos moram no
mesmo
condomínio. Os
avôs maternos
são vivos e ele
tem dois tios, um
solteiro e outro
casado. Tem dois
primos mais
novos. Ele disse
ter uma ligação
muito forte com a
avó, disse que ela
sempre o escuta.
Atemporalidade
Presenteismo
Disse ter
paciência para
esperar, quando
quer muito uma
coisa.
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados
Desde que se
mudou para
Barra, ou seja, a
10 anos sempre
morou em
Condomínio
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse sair muito
pela Zona Sul,
pois de identifica
mais com os
lugares e com o
publico de lá.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
disse conhecer a
Bahia e SP.
Para fora do
Brasil já foi para:
México,
241
Fechado. Disse também
conhecer o
Centro da cidade
e alguns dos
principais pontos
turísticos.
Argentina, EUA e
Canadá
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil, Rio de
Janeiro: Disse
que quando pensa
no Brasil, pensa
em um lugar
muito alegre e
festivo. Disse que
não se mudaria
do Brasil por
nada e disse
também achar a
mesma coisa a
respeito de sua
cidade.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Pouca. Não tem
muito interesse
por leitura e
quando viajou
para fora nunca
se interessou em
visitar museus
exposições etc.
Em relação a
cinema disse ir
apenas com a
namorada.
Trabalho
Externo
Desde os 13 anos
a família sempre
quis que ele
trabalhasse
porém ele nunca
trabalhou.
Primeiramente,
pois se achava
muito novo. Disse
que ele é muito
curioso, e se for
para trabalhar
em algo que ele
goste, ele quer
porém não sabe
ao certo quando
vai começar a
trabalhar.
Jovem sexo masculino, 18 anos, mora com os pais, que são casados. Nasceu em Barra
Mansa, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 10 anos. Estudava em
um colégio particular e, atualmente, estuda numa universidade particular. Considera-se
pertencente à classe média alta.
242
A Título de Síntese
Entrevista: Lis
PERFIL
Local de nascimento
Miami
EUA
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: A mãe
trabalha com o
padrasto numa
empresa de aluguel
de maquinas e o pai
trabalha na Bolsa.
Os pais são
divorciados há 8
anos.
Quantos anos
moram na
Barra
16 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Os pais são
separados a 8 anos.
Desde então ela mora
apenas com a mãe.
Tem um irmão mais
velho de 27 anos,
porém não mora mais
com ela.
Disse ter um
relacionamento bom
com os pais, porém
as vezes se considera
um pouco “largada”
pela mãe, pois tem a
liberdade que quer.
Vê o pai no máximo
duas vezes por
semana, porém ela
disse que ele também
não a procura muito.
Interesses
culturais
Quando viaja
para fora
costuma fazer
atividades
culturais como ir
a museus etc.
Disse
primeiramente ter
ido, pois sua mãe
a levou, porém
hoje em dia se
voltasse sozinha,
ela disse que iria
novamente.
Autonomia
Considera-se
extremamente livre,
disse até que às
vezes sente falta
que tenha alguém
para impor certos
limites.
Politização
Ao viajar para
fora disse ter
notado uma
diferença em
relação à
população, por
exemplo, disse
que na França ao
contrario do
Brasil as pessoas
são mais frias e
antipáticas.
Em relação a
diferenças sociais
ela disse ter visto
muitos ciganos,
mas poucos
mendigos.
243
TEMPO
Administração do
Tempo
Não se considera
uma pessoa com
muitas atividades,
pelo contrario, acha
até que tem poucas.
Não acha que seria
necessário o dia ter
mais horas.
Consciência
Temporal
Ela considera que
muito tempo pode
ser classificado
pela quantidade
de coisas que
você faz.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
A família paterna é
muito grande, ela
tem cinco tios e
cada tio tem cerca
de quatro filhos. A
família morava
toda no Recife, por
isso ela não tem
contato com alguns
dos primos, a outra
parte da família
que mora aqui no
Rio, ela vê
ocasionalmente em
festa e eventos
familiares. Os avôs
paternos são
casados, e ela disse
ter contato com
eles.
Família da Mãe:
Por parte de mãe o
avô já faleceu
porém ela tem
muito contato com
a avó que é viva e
mora com ela.
Disse ter uma
relação ótima e
contar tudo para
ela. Tem um tio
materno, que
também mora com
ela.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa
extremamente
impaciente e
ansiosa.
244
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. O computador
faz parte de sua rotina
diária.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Desde que se
mudou para o
Brasil sempre
morou no mesmo
condomínio
fechado na Barra
da Tijuca.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse ir muito
pouco à Zona Sul
em média de três
vezes ao mês. Disse
também conhecer o
centro da cidade, o
centro histórico e
alguns dos
principais pontos
turísticos do Rio.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
foi apenas para
Minas Gerais.
Para fora do
Brasil foi para:
África do Sul,
França e EUA.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma
Consciência
Critica
Brasil: Considera
o Brasil um país
muito rico, porém
pouco
aproveitado. Ela
disse também que
se pudesse mudar
alguma coisa no
Brasil seria a
pobreza e para
isso começaria
com a educação.
Rio de Janeiro:
Considera o Rio
uma cidade
maravilhosa,
porém com uma
população muito
preconceituosa.
Também disse se
preocupar muito
com a questão da
violência no Rio.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Tem
interesse por
exposições, museus,
cinema e leitura.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou
porém disse ter
uma vontade
enorme de
trabalhar,
principalmente
nas horas em que
não esta fazendo
nada, ela pensa
que poderia estar
trabalhando.
Jovem sexo feminino, 18 anos, mora com a mãe, os pais são separados. Nasceu no
EUA, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, há cerca de 16 anos. Estuda em
colégio particular. Considera-se pertencente à classe média alta.
245
A Título de Síntese
Entrevista: Marco Roberto
PERFIL
Local de nascimento
Rio de Janeiro
Gávea
Idade
20 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: O pai é
medico e a mãe é
dona de casa.
Eram casados, se
divorciaram e
voltaram a morar
juntos.
Quantos anos
moram na Barra
5 anos.
SUJEITO
Relações Familiares
Ele disse não ter
muito contato com a
família, disse
conviver apenas com
os pais e os irmãos.
Tem um irmão mais
velho de 25 e uma
irmã mais nova de
16.
Disse ter um bom
relacionamento com
os pais, mas melhor
com a mãe, disse
também que o pai é
meio distante, talvez
pela profissão.
Interesses
culturais
Não visita muito
museus etc., mas
gosta muito de
ver filmes e
também de ler.
Autonomia
Considera os pais
bastante liberais.
Ele diz que os
considera mais
ainda, quando os
compara com os
pais dos amigos.
Continua avisando,
aonde vai para a
mãe, mas por ter 18
anos, sua mãe, já
deixa por sua conta
a hora de voltar
etc.
Politização
Em relação a
cidades que
visitou no Brasil
disse notar muita
diferença social.
Em Salvador ele
disse notar uma
pobreza muito
maior que no Rio,
enquanto que em
SP ele disse notar
uma riqueza
muito maior que
no Rio.
Outra diferença
que ele notou
entre o Rio e
Salvador foi a
educação das
pessoas. Ele disse
que as pessoas de
Salvador são bem
mais calmas e
educadas. Em SP
ele disse achar os
homens meio
infantis e as
mulheres muito
maduras.
246
TEMPO
Administração
do Tempo
Avalia sua
quantidade de
atividades como
poucas.
Gostaria de
fazer mais
atividades
durante o dia.
Consciência
Temporal
Ele considera três
anos como muito
tempo.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Tinha dois tios, mas
ambos morreram
recentemente. Tem
uma tia. Porém não
tem muito contato
com eles. O avô
paterno faleceu
antes dele nascer,
porém a avó está
viva e ele gosta
muito dela, a
considera uma
“vosona”.
Família da Mãe:
Por parte materna
não tem muito
contato com a avó,
apenas com o avô.
Ele disse ir as vezes
ver o avô, almoçar
com ele etc.
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa muito
paciente, com é
claro alguns dias
de exceção.
ESPAÇO
Virtual-
Conectado
Sim. Ele utiliza
muito o
computador.
Usa todos os
dias pela
manhã em casa,
a tarde na
faculdade (pois
ele faz
faculdade de
informática) e a
noite quando
chega em casa.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
A vida toda
morou na Zona
Sul, porém desde
que se mudou
para a Barra,
sempre morou no
mesmo
condomínio
fechado.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Ele diz frequentar
muito a Zona Sul,
pois todos os seus
amigos de colégio
moram por lá. Ele
disse que passa
50% do seu tempo
na Zona Sul e os
outros 50% na
Barra.
Conhece o Centro
Histórico do Rio,
apenas por ter ido
a passeios da
escola. Em relação
aos pontos
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
conhece: Bahia e
São Paulo.
Nunca viajou
para fora do país.
Tem muita
vontade de
conhecer a
Europa, muito
mais que o EUA,
devido acervo
cultural que se
encontra na
Europa.
247
turísticos já foi em
quase todos.
CONSCIÊ-
NCIA
SOCIAL
Participação
político-
acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil, Rio de
janeiro:
Ele diz achar a
mesma coisa
tanto do país,
quanto da cidade.
Disse não achar
lugar melhor no
mundo para se
viver. Disse
também
obviamente não
gostar da
violência, política
etc., mas não se
mudaria daqui de
jeito nenhum. Ele
disse até querer
conhecer outros
paises, mas
morar não.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Média. Não tem
costume de ir a
museus, exposições
etc., porém gosta
muito de ver filmes
e ler.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
por nunca ter
precisado do
dinheiro, mas
agora esta
querendo
começar a
trabalhar, para ir
adquirindo
experiência e
começar a ganhar
um dinheiro.
Jovem sexo masculino, 20 anos, mora com os pais, que são casados. Nasceu na Gávea,
mora na Barra da Tijuca, em condomínio fechado, cerca de 5 anos. Estudava em colégio
particular e, atualmente, estuda numa Universidade particular. Considera-se pertencente à
classe média alta.
248
A Título de Síntese
Entrevista: Mariana
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Humaitá.
Idade
18 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: O pai é
analista de
sistema e a mãe
é professora.
Os pais são
casados.
Quantos anos
moram na Barra
14 anos
SUJEITO
Relações
Familiares
Disse ter uma boa
relação tanto com o
pai quanto com a
mãe, porem tem
uma relação mais
aberta, mais intima
com a mãe. Tem
uma irmã mais
velha e um irmão
mais novo. Disse
ter uma ótima
relação tanto com a
irmã, quanto com o
irmão, porem é
mais ligada a irmã.
Disse contar tudo a
ela, como sua
melhor amiga
mesmo.
Interesses
culturais
Não tem costume
de ir a museus,
exposições e
coisas do gênero,
mas se interessa
por teatro e
“coisas mais
naturebas”, como
aquários etc.
Autonomia
Considera os pais
bastante liberais,
mas quando
comparados aos
pais das amigas,
não os considera
tão liberais assim.
Ela disse que eles a
deixam fazer quase
tudo o que quer e
não põe
empecilhos.
Politização
Disse que ao
visitar o EUA, a
diferença que
mais chamou sua
atenção foi à
limpeza
impecável nas
ruas, a
organização e a
educação das
pessoas.
TEMPO
Administração do
Tempo
Considera sua
quantidade de
atividades como
“muito poucas” e
não acha
Consciência
Temporal
Para ela 3 ou 4
anos já podem ser
considerados
muitos.
História de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: Os
avôs paternos são
vivos e ela também
tem contato com
eles. Por parte de
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa muito
ansiosa, mas não
entende o porquê.
249
necessário ter mais
horas durante o seu
dia.
pai ela tem uma tia
e um tio, mas
ambos moram no
exterior. Tem uma
prima por parte de
mãe, com quem ela
tem muito contato,
mesmo sendo mais
velha.
Família da Mãe:
Por parte de mãe
tem três tios, a mãe
dela é a filha mais
nova. Um dos tios é
bipolar e nunca se
casou, o outro tio
casou e se separou.
O terceiro tio é
casado e tem 3
filhos mais velhos
que ela. Ela tem 4
primos maternos.
Tem muito contato
com os avôs
maternos, pois
disse ter sido
criada com eles.
Disse também que
considera a avó
materna como
realmente sua
segunda mãe.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. Mas não é
muito ligada a
computador. Entra,
às vezes, apenas
para chegar e-mail,
orkut e coisas do
gênero.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Morou em
Jacarepaguá até
ter uns 3 anos,
depois se mudou
para Barra, no
mesmo
condomínio e
prédio que mora
ate hoje em dia.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse frequentar
bastante a Zona
Sul, principalmente
por estudar lá.
Disse também
conhecer o Centro
da cidade.
Conhece muitos dos
principais pontos
turísticos do Rio.
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
já foi para:
Bahia,
Pernambuco, SP,
Minas Gerais e
algumas cidades
no Sul.
Para fora do
Brasil já foi para:
EUA e Argentina
250
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Considera
o Brasil um país
maravilhoso, do
qual ela nunca se
mudaria (apenas
para fazer
intercambio).
Algumas das
coisas que a
deixa abalada em
relação ao Brasil
são: a violência,
corrupção e a
pobreza.
Rio de Janeiro:
Considera o Rio
de Janeiro um
reflexo do Brasil.
Uma cidade
muito bonita,
porem repleta de
problemas nas
mais diversas
partes.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Pouca. Não tem
muito interesse por
museus, exposições,
nem outras coisas
do gênero. Também
não é muito ligada
a leitura.
Trabalho
Externo
Nunca trabalhou,
pois disse nunca
ter precisado e
também por se
achar meio
imatura. A mãe
também nunca
concordou muito
que ela
trabalhasse, pois
como ela já
apresentava um
resultado ruim no
colégio, a mãe
tinha medo que
ela largasse de
vez.
Jovem sexo feminino, 18 anos mora com os pais, que são casados. Nasceu no
Humaitá, mora na Barra da Tijuca, em condomínio fechado na Barra da Tijuca, há cerca de 14
anos. Estudou a vida toda em colégio particular e hoje estuda numa universidade particular.
Considera-se pertencente à classe média.
251
A Título de Síntese
Entrevista: Mauana
PERFIL
Local de nascimento
Rio de Janeiro
Botafogo
Idade
18 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: O pai é
analista de
sistema e a mãe é
comerciante. .
Os pais são
divorciados há 16
anos.
Quantos anos
moram na Barra
18 anos
SUJEITO
Relações Familiares
Ela é filha única e os
pais são separados
há 16 anos. Não tem
muito convívio com o
pai, pois ele não
mora no Rio. Tenta
falar com o pai pelo
menos uma vez por
semana, apenas para
informar se está tudo
bem e outras coisas
do gênero. Tem uma
relação excelente
com a mãe, disse ser
sua melhor amiga
disparada, disse
também ter vontade
de ficar com ela o
tempo todo e falar a
respeito de tudo com
ela, uma relação bem
diferente do que a
que tem com o pai.
Interesses
culturais
Sempre quando
viaja costuma
fazer programas
culturais, como ir
a museus,
exposições etc.
Ela disse que no
principio ela ia
“guiada” pela
mãe, pois ela não
tinha muito
interesse, porem
com o passar dos
anos ela começou
a se interessar e
mesmo sozinha
ela começou a
frequentar.
Autonomia
Considera sua
mãe muito
liberal. Disse que
sua mãe sempre
lhe deu liberdade,
com
responsabilidade,
e por isso muitas
vezes foi julgada
pelos outros.
Politização
Em relação aos
outros paises que
ela visitou, disse
sentir um
“baque” muito
grande, em
relação à
estrutura, em
relação ao
cotidiano e a
segurança. Disse
que quando teve o
atentado de
Londres ela
estava lá, e as
pessoas se
comportaram
normalmente,
enquanto que
para a imprensa
aqui no Brasil foi
um escândalo.
Ela disse que
assim como nós
achamos
“normal” vermos
um tiroteio, eles
acham “normal”
esse tipo de coisa.
252
Em relação a
diferenças sociais
ela disse em
alguns paises ter
notado mais
pobreza que o
Brasil, como no
caso de Marrocos
e em outros
países, muito
menos pobreza
que no Brasil
como no caso da
Inglaterra.
TEMPO
Administração do
Tempo
Em relação as suas
atividades ela
considera que
poderia fazer mais.
Porem ela gostaria
que o dia tivesse mais
umas 10 horas, para
poder fazer mais
cursos, esportes e
outras coisas que a
interessam.
Consciência
Temporal
Ela disse não ter
muita noção de
tempo, disse
também que se
considerar o
tempo em que ela
já viveu, ou seja,
18 anos, 15 anos,
por exemplo, é
muito.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
Por parte de pai o
avô já faleceu,
mas a avó ainda é
viva. Ela disse ter
bastante contato
com ela, disse
também tentar
dormir ao menos
uma vez por mês
na casa dela. Tem
uma tia e dois
primos. Um dos
primos ela tem
muito contato,
por ter quase que
a mesma idade
que ela.
Família da Mãe:
Por parte de mãe
tem um tio e dois
primos pequenos,
disse ter muito
contato com eles,
principalmente
por eles morarem
no mesmo
condomínio que
Atemporalidade
Presenteismo
Considera-se uma
pessoa muito
impaciente, desde
pequena. Disse
também que sua
mãe sempre
tentou ajudá-la
em relação a isso.
253
ela. A avó
materna faleceu,
quando ela era
pequena e o avô
materno é vivo e
se casou de novo.
Disse ter contato
com o avô.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que nasceu
mora no mesmo
condomínio
fechado na Barra
da Tijuca.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Ela disse que sua
vida é mais na
Zona Sul do que
na Barra.
Primeiramente
porque ela estuda
lá, segundo
porque ela
prefere os lugares
para sair de lá e
terceiro porque a
maiorias de seus
amigos moram lá.
Disse conhecer o
centro do Rio de
Janeiro, e já ter
ido lá varias
vezes.
Experiência de
viagens
Dentro do país já
foi para: Bahia,
Pernambuco, São
Paulo e Santa
Catarina.
Fora do país já
viajou para:
Portugal, França,
Inglaterra,
Irlanda, Escócia,
Finlândia,
Noruega, Rússia,
Marrocos,
Dinamarca,
Grécia, Republica
Tcheca, Holanda,
Alemanha,
Bélgica, EUA
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Disse
gostar muito do
Brasil. Considera
o Brasil um país
muito bonito,
porem com
grandes
problemas como
a desigualdade
social e a
violência.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Tem muito
interesse tanto em
exposições,
museus e outras
coisas do gênero
como em cinema,
teatro etc.
Trabalho
Externo
Já trabalhou nas
mais diversas
coisas, como por
exemplo: baby
sitter, já vendeu
biquínis, bijuteria
etc. Ela disse que
sempre procurar
trabalhar onde
quer que ela
esteja, por
exemplo quando
254
Rio de Janeiro:
Apesar de achar
o Rio uma cidade
muito violenta
disse que acha
um bom lugar
para viver, disse
também que
moraria em SP.
ela fez
intercambio ela
trabalhou. Disse
também que a
iniciativa sempre
foi dela, que
sempre gostou de
adquirir
conhecimento.
Jovem sexo feminino, 18 anos mora com a mãe, os pais são separados. Nasceu em
Botafogo, mora na Barra da Tijuca, em Condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de
18 anos. Estudou a vida toda em colégio particular e hoje estuda numa universidade
particular. Considera-se pertencente à classe média alta.
255
A Título de Síntese
Entrevista: Patrícia
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Botafogo
Idade
18 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: O pai
trabalha com
empréstimo a
aposentados e
pensionistas e a
mãe é dona de um
restaurante.
Os pais são
casados há 25
anos.
Quantos anos
moram na Barra
10 anos.
SUJEITO
Relações
Familiares
Por parte de mãe,
ela tem 2 tias e 3
primos. As duas
tias moram no EUA
e 2 primos também.
O avô materno já
faleceu e a avó
materna ainda é
viva. Ela tem muito
contato com a
família materna,
mesmo morando
longe e a avó
sempre passa
temporadas em sua
casa.
Por parte de pai ela
tem 2 tios e 6
primos, porem não
tem uma relação
muito próxima a
eles, devido a
brigas etc. A avó é
viva, mas o avô
não. Porem ela
considera seu
“avodrasto” como
Interesses
culturais
Sempre quando
viaja procura ir a
museus, teatros e
livrarias. Ela
disse que
principalmente
em NY, onde se
encontra tudo
isso com mais
facilidade. Ela
tem preferência
por livrarias,
teatro e cinema.
Autonomia
Ela considera os
pais liberais, porem
disse que o pai é
um pouco mais
controlador,
tentando sempre
que ela volte mais
cedo etc. Mas eles
sempre chegam a
um consenso.
Politização
Quando foi a New
Orleans, achou
uma semelhança
muito grande com
o Brasil, por ser
uma parte mais
pobre do EUA.
Também achou o
povo de New
Orleans mais
caloroso, mais
unido, diferente
do resto do EUA
e mais parecido
com o Brasil.
256
avô, pois quando
ela nasceu eles já
eram casados.
Tem uma ótima
relação, tanto com
o pai, quanto com a
mãe, porem com a
mãe tem mais
liberdade para
conversar os mais
diversos assuntos.
Tem 2 irmãs, uma
mais velha e uma
mais nova, se da
muito bem com as
duas apesar da
diferença de idade.
TEMPO
Administração do
Tempo
Considera que faz
muitas atividades
durante o dia,
porem ela diz não
ter do que
reclamar, afinal ela
se sente muito
“útil”. Ela diz
aproveitar muito
bem seu tempo.
Consciência
Temporal
Ela classifica
como “muito
tempo” 13 anos,
que foi desde que
a irmã dela
morreu. Ela disse
ter sentido o
tempo voar desde
então, e disse
também que não
consegue pensar
nesse fato como
se fosse ontem,
por ela considera
como “muito
tempo”.
História de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai: O
avô paterno já
faleceu porem ela
não tinha muito
contato com ele,
pois a avó paterna
já tinha um
segundo marido
quando ela nasceu,
e esse sim ela
considera de avô.
Tanto a avó, quanto
o “avô” paterno
são vivos. Tem dois
tios e seis primos.
Porem não tem
muito contato com
a família do pai.
Família da Mãe: O
avô materno
faleceu em 2002,
pois já estava
doente a 20 anos. A
avó materna ainda
é viva e ela tem
muito contato com
Atemporalidade
Presenteismo
Disse ser uma
pessoa paciente
dependendo da
situação. Como
por exemplo,
para coisas que
ela sabe que vão
demorar a
acontecer, porem
para esperas a
curto prazo, disse
ser uma pessoa
impaciente.
257
ela. Tem duas tias
que moram no EUA
e 3 primos. Dois
que moram no EUA
e uma que mora
com a avó materna
aqui no Brasil. Tem
uma grande ligação
com a família
materna.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. Passa algumas
horas do dia no
computador,
checando e-mails,
orkut e msn.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Primeiramente
ela morou na
Lagoa, depois em
Laranjeiras,
depois voltou
para a Lagoa,
depois morou um
curto período em
Copacabana na
casa da avó, ate
ela e a família
encontrarem o
apartamento na
Barra.
Apartamento esse
no qual ela mora
desde os 8 anos.
Este apartamento
se situa em um
Condomínio
Fechado.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse conhecer
muito bem o Centro
da cidade e o
centro histórico do
Rio. Disse também
conhecer a maioria
dos pontos
turísticos.
Vai com muita
frequência a Zona
Sul, pelo menos
uma vez por
semana, pois seus
pais gostam de aos
finais de semana,
passear por lá.
Experiência de
viagens
No Brasil
conhece:
Salvador,
Fortaleza, Porto
Alegre, Gramado,
Canela, Curitiba,
Florianópolis,
São Paulo,
Santos..
Fora do Brasil
conhece: EUA e
Argentina
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Considera
o Brasil um país
muito
democrático em
alguns aspectos,
porem em outros
considera que
ainda vivemos em
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Está sempre
interessada em
livros, cinema e
teatro, no entanto
não é muito ligada
a museus,
exposições etc.,
Trabalho
Externo
Trabalhou
durante 2 meses
no restaurante da
mãe como
secretaria, porem
hoje não trabalha
mais. Ela alega
que parou, pois o
258
uma “ditadura”.
Sente uma
desilusão e uma
falta de
esperança muito
grande, em
relação a
mudanças.
Rio de Janeiro:
Acha a cidade
maravilhosa e diz
que um dois
maiores orgulhos
de ser brasileira é
por morar no Rio.
Diz que ama viver
no Rio, apesar da
violência. Ela
disse gostar muito
desse “jeitinho
carioca” de viver,
alem das
paisagens
exuberantes que o
Rio oferece.
mesmo sempre
procurando ir.
trabalho estava
prejudicando seus
estudos.
Jovem sexo feminino, 18 anos mora com os pais, que são casados. Nasceu em
Botafogo, mora na Barra da Tijuca, em condomínio fechado, cerca de 10 anos. Estudava
em colégio particular e, atualmente, faz cursinho pré-vestibular. Considera-se pertencente à
classe média alta.
259
A Título de Síntese
Entrevista: Renato
PERFIL
Local de
nascimento
Rio de Janeiro
Tijuca
Idade
19 anos
Nível de
instrução dos
pais e situação
civil
Os pais: A mãe é
dona de casa e
estudante. E o pai
é aposentado da
Policia Federal e
hoje em dia
trabalha do
Dufree.
Os pais são
casados.
Quantos anos
moram na Barra
7 anos.
SUJEITO
Relações
Familiares
Disse ter uma
relação boa tanto
com o pai quanto
com a mãe, mas se
da melhor com a
mãe.
Interesses
culturais
Quando viaja
para fora tem
costume de
fazer atividades
culturais. Essas
atividades são
feitas por
interesse
próprio do
entrevistado.
Ele acha que
existe uma falta
de incentivo
cultural dentro
do país, ao
contrario do
que acontece
nos países fora,
nos quais ele
visitou.
Autonomia
Considera os pais
liberais, devido a
confiança que
eles tem nele.
Politização
Sentiu diferenças
culturais e sociais
entre a cidade do
Rio e algumas
cidades que ele
visitou no Nordeste.
Observou
diferenças na
valorização e
incentivo a cultura
fora do país, o que
não acontece no
Brasil. Fora do
país disse que
sentiu as pessoas
um tanto o quanto
soberbas, pois eles
acham que a
pobreza esta muito
longe deles.
260
TEMPO
Administração do
tempo
Acha que a
quantidade de
tarefas que ele faz
no dia é razoável.
Ele avalia a
quantidade de
horas do dia boa,
disse que não
precisava de mais
nem menos horas
para cumprir todos
os seus afazeres.
Consciência
Temporal
Para ele “muito
tempo” depende
do referencial,
mas 10 anos já
poderia ser
considerado
com bastante
tempo.
Historia de
família
Conhecimento
do passado
Família do Pai:
Nunca teve muito
contato com a
família por parte
de pai. Quando
ele nasceu a avó
já tinha falecido e
o avô ele viu
apenas uma ou
duas vezes. Tem
dois tios por
parte de pai, mas
não tem contato
algum com eles.
Família da Mãe:
Sempre teve
muito contato
com a família da
mãe, tanto com os
avôs , como tios e
primos. A avó
ainda é viva, mas
o avô já faleceu.
Tem 5 tias e 3
tios. Não tem um
contato muito
próximo com
nenhum primo.
Atemporalidade
Presenteismo
Se considera uma
pessoa ansiosa e as
vezes até bastante
impaciente.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim. Disse usar o
computador de 30
minutos a 1h por
dia.
Localização
espacial.
Condomínios
Fechados.
Desde que se
mudou para
Barra mora no
mesmo
condomínio
fechado, há 7
anos.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Costuma sair pela
zona sul, pois
todos os seus
amigos da
faculdade moram
lá. Acha que a
diferença entre a
barra e a zona sul
é que na Barra
Experiência de
viagens
Não viaja muito.
No Brasil conhece
algumas cidades do
Nordeste e algumas
cidades no Rio
mesmo. Fora do
Brasil conhece:
EUA, Inglaterra,
Espanha, Holanda
261
para tudo você
precisa pegar o
carro, ao
contrario do que
acontece na Zona
Sul. Foi a Lapa
apenas uma vez
na vida e não
gostou muito.
Conhece o centro
histórico do Rio,
e alguns pontos
turísticos.
e Portugal.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil: Como
ponto forte do
Brasil, ele
considera a
alegria dos
brasileiros,
todavia como
ponto critico ele
considera que
essa alegria as
vezes é
exagerada
demais, e que o
povo brasileiro
deveria ser um
pouco mais
serio. Acha o
Brasil um país
muito bonito
com uma
extensa área
onde pode se
encontrar de
tudo, mas certa
falta de
organização.
Rio de Janeiro:
Acha a cidade
muito bonita,
mas com uma
extrema
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Têm
interesse em
exposições,
museus etc. Seu
livro preferido é o
Alquimista de
Paulo Coelho.
Trabalho Externo
Nunca trabalhou,
mas gostaria de já
estar estagiando no
momento. Ao
mesmo tempo em
que gostaria de
estar trabalhando
se sente muito
jovem e
inexperiente, mas
acha que o trabalho
o ajudaria a ganhar
experiência.
262
desorganização
do espaço. Acha
a cidade suja,
maltratada, mal
cuidada, com a
falta de uma
boa
administração.
Jovem sexo masculino, 19 anos, mora com os pais. Nasceu na Tijuca, mora em
condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 7 anos. Estudava em colégio particular e,
atualmente, estuda numa faculdade particular. Considera-se pertencente à classe média alta.
263
A Título de Síntese
Entrevista: Romeu
PERFIL
Local de nascimento
Lins
Rio de Janeiro
Idade
19 anos
Nível de instrução
dos pais e situação
civil
Os pais: Tanto o
pai como a mãe são
comerciantes.
Os pais são
casados.
Quantos anos
moram na Barra
4 anos.
SUJEITO
Relações Familiares
Os pais são casados,
mas no momento
estão dando um
“tempo”. Nesse
tempo ele tem
morado com o pai, no
apartamento da
Barra e a mãe tem
morado no Recreio.
Porem ele disse ver
sua mãe de 3 a 5
vezes por semana.
Disse ter um
relacionamento muito
bom com os pais,
porem melhor com o
pai, apesar de brigar
mais com ele.Disse
que quando briga
com a mãe as brigas
são mais serias, ao
contrario do que
acontece com o pai,
pois eles brigam
sempre, mas se
resolvem
rapidamente. Ele é
filho único.
Interesses
culturais
Quando viajou
para fora,
procurou fazer
programas de
caráter
cultural, pois
além dele se
interessar, sua
mãe gosta
também.
Autonomia
Disse que às vezes
os pais impõem
muitos limites o
tratando como uma
criança, porem as
vezes o deixam livre
para fazer o que
quiser, ele disse ser
difícil para ele
definir seu grau de
autonomia.
Politização
Quando viajou
para a Argentina
notou uma grande
diferença em
relação ao
patriotismo do
povo. Disse
considerar a
Argentina um
país com um
engajamento que
o povo brasileiro
não tem. Disse
também que se,
por exemplo, os
impostos deles
aumentarem, eles
vão para as ruas
protestar, ao
contrario do que
acontece aqui no
Brasil, em que a
população fica
parada e aceita.
264
TEMPO
Administração do
Tempo
Considera que faz
bastantes atividades
durante o dia, porem
não gostaria de ter
horas a mais se
pudesse ter.
Consciência
Temporal
Considera
“muito tempo”
relativo,
dependendo da
frequência e
intensidade do
que as coisas
acontecem.
Historia de família
Conhecimento do
passado
Família do Pai:
Tem muito contato
com a família
paterna. Disse que
cresceu com os
avôs paternos, os
quais são casados
até hoje. Tem dois
tios paternos, e
primos, os quais ele
tem muito contato.
Família da Mãe: O
avô materno
faleceu quando ele
tinha apenas 2
anos, porem a avó
materna é viva e ele
tem muito contato
com ela.Os avôs
eram separados a 6
anos, quando o avô
faleceu. Teve
contato também
com a bisavó
materna, que
faleceu a pouco
tempo. Tem um tio
materno, mas não
tem muito contato
com ele, pois ele
mora em SP.
Atemporalidade
Presenteismo
Se considera
paciente, porem
muito ansioso.
ESPAÇO
Virtual-Conectado
Sim.
Localização
espacial
Condomínios
Fechados
Desde que se
mudou para a
Barra, sempre
morou no
mesmo
condomínio
fechado.
Reconhecimento
de bairros da
cidade
Disse não ir com
muita frequência a
Zona Sul, talvez de
duas em duas
semana.
Disse conhecer o
Centro do Rio e
Experiência de
viagens
Dentro do Brasil
já foi para: Santa
Catarina, São
Paulo, Rio
Grande do Sul,
Bahia, Espírito
Santo e Ceara.
265
também o centro
histórico.
Conhece todos os
pontos turísticos da
cidade.
Fora do Brasil
ele conhece a
Argentina.
CONSCI-
ÊNCIA
SOCIAL
Participação
político-acadêmica
Nenhuma.
Consciência
Critica
Brasil:
Considera o
Brasil muito
bonito, repleto
de belezas
tropicais,
porém também
o considera um
país nem um
pouco patriota.
Disse que
diversas
pessoas fazem
criticas ao
EUA, mas eles
conseguiram
tudo o que
conseguiram
por serem
unidos e
patriotas.
Rio de Janeiro:
Disse não ter
muito do que se
queixar do Rio,
disse que,
obviamente,
não aceita a
violência,
embora ela se
encontre em
qualquer lugar.
Participação da
vida cultural
Frequência:
Muita. Costuma ir
a museus,
exposições, ler
livros e ver filmes.
Trabalho
Externo
Trabalha na
lanchonete dos
pais, pois diz que
assim vai adquirir
mais experiência
e também ganhar
dinheiro. Disse
que no principio
ele trabalhava
por que queria,
mas depois o pai
começou a
colocar mais
pressão.
Jovem sexo masculino, 19 anos mora com os pais, que são casados. Nasceu no bairro
do Lins, mora em condomínio fechado na Barra da Tijuca, cerca de 4 anos. Estudava em
colégio particular e, atualmente, estuda numa universidade particular. Considera-se
pertencente à classe média.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo