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eram bem assim sabe, eles tinham bastante cursinho pra gente, ensinavam mesmo, não
tinha aquela coisa assim... A gente estudava mesmo, não era nem... era só coisinha,
materinha de 3ª de 4ª série. A gente só se aprofundava nisso, no que a gente ia fazê. Ah, era
muito bom, eu gostava demais do magistério! Ajudou, nossa, ótimos professores. Estou
muito satisfeita com os resultados até agora, pena que eu vou sair (risos), mas estou muito
satisfeita, é o que eu esperava. Tipo assim, a gente faz o que a gente pode, né. Tem muitos
que a gente sabe que não vai conseguir, não é por culpa, não é porque nós falhamos, é
porque às vezes mesmo, né, já tá muito tempo sem ir na escola, problema da idade que eu
acho. Porque eu falei com o Gonçalo (coordenador), e ele falou pra mim, nem todos, não
adianta passar sem saber ler mesmo, pelo menos o básico, né. Tem muitos que não tem
como... Eu vou estar prejudicando eles. (professora KCSM – 31 anos)
Nem só com essa turma, como com as outras, né. Porque quando você tá fazendo o curso,
quando era o magistério, você achava que sabia tudo, né. Quando você passa a estudar e
fazer uma Pedagogia que foi o que eu fiz, é... você vai aprendendo, o que você aprende lá
como trabalhar com criança você quer desenvolver na sua sala. Então é isso aí, deu base.
Eu não vou dizer assim que eu fiquei tão satisfeita, porque foi pouco tempo que eu fiquei
com eles, e não deu tempo assim pra mim é... chegar até... porque o objetivo deles era
aprender ler e aprender escrever, aprender a contar e eu não consegui o suficiente. Um
pouco eu sei, eu reconheço, a gente mesmo faz um exame de consciência, né. Foi o que fiz,
eu sei que eles conseguiram algo. Até quando você é... esticava um pouco , eles já ficavam...
Eh! Credo agora ficou difícil! Coisa de 1ª série que eu passava pra eles era muito difícil,
mas eu acho que teve a base e foi também, eu acho que teve aproveitamento. Pelo pouco
tempo que eu fiz, gostaria de ter feito mais, não pude. (professora MLCS – 53 anos)
Pude constatar na fala da professora KCSM, a fragilidade da sua formação, a mesma
não possui nível superior, mas acredita que sua formação em nível de Magistério, segundo
ela “era só coisinha, materinha de 3ª e 4ª série”, lhe deu base para desenvolver sua prática
de forma satisfatória, especialmente com esta turma. Nota-se a dificuldade de aplicar
princípios políticos-pedagógicos defendidos pela EJA, até mesmo, por falta de discussões
que levem à uma construção coletiva dos mesmos.
Destaco ainda na fala da professora KCSM, o momento em que ela afirma fazer o
que pode, mas que os próprios alunos também são responsáveis por não haver um melhor
aproveitamento, como o tempo fora da escola e a idade avançada. Afirma ainda que, se não
os reprovar, estará prejudicando-lhes. Em relação à reprovação ou não, é um assunto que
tem gerado muitas discussões na área educacional, visto que, as opiniões se divergem entre
os professores, mas os estudos têm mostrado que a reprovação é a pior saída para resolver o
problema do não aprendizado do aluno, ao contrário, gera atraso e exclusão do indivíduo
face ao seu processo de desenvolvimento social e cognitivo.