Lenda do Lobisomem
Segundo Câmara Cascudo (2001) o mito do Lobisomem (figura 10) é um mito
universal. Na África existe a tradição sagrada de transformações animais, homens-lobos,
homens-tigres, homens-hienas. Nasce-se lobisomem: em alguns lugares são os filhos do
incesto, mas, em geral, a predestinação não vem senão do acaso e liga-se com o número
que a astrologia acádia ou caldaica tornou fatídico- o número 7. O Lobisomem é um filho
que nasceu depois de uma série de sete filhas. Aos 13 anos, numa terça ou quinta-feira, sai
de noite e, topando com um lugar onde um jumento se esponjou, começa o destino. Daí por
diante, todas as terças e sextas-feiras, da meia noite às duas horas, o Lobisomem tem de
fazer a sua corrida, visitando sete adros (cemitérios) de igreja, sete vilas acasteladas, sete
partidas do mundo, sete outeiros, sete encruzilhadas, até regressar ao mesmo espojadouro,
onde readquire a forma humana. Sai também ao escurecer, atravessando na carreira as
aldeias onde os lavradores recolhidos não adormecem ainda. Apaga todas as luzes, passa
como uma flecha, e as matilhas de cães, ladrando, perseguem-no até longe das casas...
Quem ferir o Lobisomem quebra-lhe o destino; mas que não se suje no sangue, de outro
modo herdará a triste sorte. Esses elementos criaram o Lobisomem, o lubisome, no Brasil.
Há modificações regionais. Transforma-se em um bicho grande, bezerro de alto porte, com
imensas orelhas, cujo rumor é característico. Procura sangrar crianças, animais novos e, na
falta deles, a quem encontrar antes do quebrar da barra, antes que o dia se anuncie. Para
desencantá-lo basta o menor ferimento que cause sangue. Ou bala que se unte com cera de
vela que ardeu em três missas de domingo ou na missa do galo, à meia noite de Natal. Há
centenas de depoimentos afirmando encontros e lutas pessoais com o Lobisomem, o mais
popular dos animais fabulosos, com a maior área geográfica de influência e crédito
tradicional. O Lobisomem sai na sexta-feira no ‘‘ponto da meia-noite’’. Seu lugar predileto
são as encruzilhadas. Come galinha, assusta cachorros. Seu corpo é peludo, suas presas
(dentes) crescem e fica em posição de quatro. Após essa transformação, sai correndo à
procura de animais ou pessoas para devorá-los ou assustá-los.
O Lobisomem, ou tecnicamente licantropo (palavra derivada do nome do rei mítico
Licaão),de acordo com Câmara Cascudo (2002), é um ser lendário, com origem em
tradições européias, segundo as quais, um homem pode se transformar em lobo ou em algo
semelhante a um lobo, em noites de lua cheia, só voltando à forma humana, novamente,