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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Mariana Sequeira Telles
Relações entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias
alimentares em crianças de uma creche do município de São Paulo
MESTRADO EM FONOAUDIOLOGIA
SÃO PAULO
2009
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Mariana Sequeira Telles
Relações entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias
alimentares em crianças de uma creche do município de São Paulo
Mestrado em Fonoaudiologia
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de Mestre
em Fonoaudiologia, sob a orientação da
Profª. Drª. Maria Claudia Cunha.
SÃO PAULO
2009
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BANCA EXAMINADORA
___________________________________
___________________________________
___________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a
reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de
fotocopiadoras ou eletrônicos.
__________________________________
São Paulo
_______________________________________________DEDICO
Aos meus
pais e à minha irmã.
_____________________________________AGRADECIMENTOS
À Profª Drª. Maria Claudia Cunha, pela a orientação e apoio durante todo o
mestado.
À Profª Drª Ruth Palladino, pelos valiosos comentários durante o exame de
qualificação.
À Profª Drª Suelly Limongi, pelas valiosas contribuições durante o exame de
qualificação.
Aos professores do PEPG em Fonoaudiologia, e em especial à Profª Drª
Suzana Maia, pelas discussões durante as aulas que tanto ajudaram nesse
trabalho, e à Profª Drª slie Piccolotto pelo aprendizado e apoio durante o
mestrado.
Aos meus colegas de mestrado, mas em especial à Daniely Borges, pela
amizade desde a graduação, pelas conversas, risadas, compreensão e ajuda
durante todo esse tempo; e à Camila Loiola, por ser uma pessoa muito
especial, que tive a sorte de conhecer durante o curso.
Aos meus pais, que fizeram esse momento possível e por terem me apoiado
durante toda a minha vida.
À minha irmã, Andrea, por existir.
À creche onde realizei a pesquisa, pelo espaço que me foi cedido e pela boa
vontade dos seus funcionários. Aos sujeitos da pesquisa, por terem colaborado
com a mesma.
À Capes, pela bolsa concedida.
vi
RESUMO
Os problemas alimentares são queixas comuns em crianças e apesar de,
geralmente, não aparecerem como queixa inicial e/ou explícita no discurso
familiar na clínica fonoaudiológica; costumam surgir durante o processo
terapêutico. Tradicionalmente, a Fonoaudiologia aborda a alimentação na
perspectiva das funções do sistema estomatognático: sucção, mastigação,
deglutição e respiração (MACHADO, 2007). Mas, pesquisas recentes na área
fonoaudiológica tem levado a pensar esses problemas à partir de uma visão
diferente, através do conceito de oralidade. Essas pesquisas sugerem a co-
ocorrência entre problemas alimentares e de linguagem oral, com destaque
para a incidência de idiossincrasias alimentares.Objetivo: é investigar as
possíveis co-ocorrências entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias
alimentares em crianças de uma creche do município de São Paulo. Método: A
pesquisa contou com a participação de 34 crianças, entre 2,0 e 4,4 anos, de
uma creche do município de São Paulo. Um questionário foi enviado aos seus
responsáveis e cuidadoras da creche para verificar se havia queixa de
problemas de linguagem oral e/ou problemas alimentares. Os sujeitos foram
avaliados em situação dialógica, no contexto lúdico, durante 20 minutos. Após
a observação, o registro do funcionamento da comunicação foi feito através do
PROC (ZORZI, HAGE, 2004) e um álbum de fonemas (VOLPE, 2005). Todos
os sujeitos foram observados durante uma cena alimentar cotidiana da creche
(almoço). A observação foi realizada a cada mesa, durante o período da
refeição. O registro da cena alimentar foi realizado através do protocolo de
Jorge e Rizzo (2006) adaptado. Resultados: Não houve relação entre
problemas (de linguagem oral e/ou idiossincrasias alimentares) e idade.Foi
observado que a porcentagem de ocorrência de idiossincrasias alimentares é
maior nas crianças com problemas de linguagem oral (95%) do que nas
crianças sem problemas de linguagem oral. Conclusão: Os resultados obtidos
nessa pesquisa reafirmam os de outros estudos recentes, evidenciando a
importância de que a abordagem fonoaudiológica não dicotomize os atos de
falar e comer. Ao considerar os sintomas manifestos na zona oral como
transtornos na oralidade, isto é, associados à erogenização dessa região
corporal; aspectos orgânicos e psíquicos passam a ser contemplados nas
intervenções. O que, a nosso ver, favorece a eficácia do método clínico no
decorrer dos processos terapêuticos fonoaudiológicos.
Descritores: Linguagem infantil, Fonoaudiologia, Seletividade Alimentar,
Comportamento Alimentar.
vii
Relations between oral language problems and eating idiosyncrasies in
children of a day care from São Paulo district
ABSTRACT
Eating problems are normal complains in children, and although they don’t
appear as a explicit or initial complain from the family to the speech therapist
they usually come up on the therapeutic process. Traditionally speech therapy
approaches the matter on the perspective of the functions of the stomatognathic
system, suction, chewing, agglutination and breathing (MACHADO, 2007).
Recent researches on the speech therapy area are leading to think about this
problems in a different point of view, through the concept of orality. This studies
suggests the co-occurrence between feeding disorders and orality disorders,
with a distinction on the incidence of eating idiosyncrasy. Objective: to
investigate the possible co-occurrence between oral language problems and
eating idiosyncrasies on children of a day care in São Paulo. Method: The
research was made with 34 children, between the ages of two and four and four
months years of age from a day care in São Paulo. A questionnaire was sent to
the people responsible for the children and their care takers from the day care
to verify if there were any complains about oral language and/or feeding
disorders. The children were evaluated on a dialogic situation, on the ludic
context, during twenty minutes. After the observation, the functioning record of
communication was made through PROC (ZORZI, HAGE, 2004) and a
phoneme album (VOLPE, 2005). All children were evaluated during an
everyday feeding scene (lunch). The observation was made in each table,
during the eating period. The record of the eating scene was made by Jorge e
Rizzo (2006) adapted protocol. Results: There were no relations between the
disorders (oral language and/or feeding idiosyncrasy) and age. It was observed
that a percentage of the idiosyncrasy occurrences was higher on the children
with oral problems (95%) in comparison to the children with out oral language
problems. Conclusion: The results obtained on this research reaffirm that the
recent studies, showing the importance of the speech therapy approach doesn’t
dichotomize the acts of speaking and eating. Considering the expressed
symptoms on the oral zone as oral disorders, associated with the erogenization
of this corporal zone; organic and psychic aspects begging to be contemplated
on the interventions. Which on our point of view, favors the efficacy of the clinic
method on the course of speech therapeutic process.
Key Words: children language, speech therapy, food selection, eating behavior
viii
SUMÁRIO
Introdução...............................................................................................1
Capítulo 1- Transtornos da Oralidade: alimentação e linguagem......................7
Capítulo 2 Problemas Alimentares: a questão das idiossincrasias..................13
Método..............................................................................................................21
1.Casuística...........................................................................................21
2.Procedimento – Coleta e Registro dos Dados.............................22
3.Critérios de interpretação dos resultados...................................23
Resultados e Discussão................................................................................. 26
1.Problemas de linguagem oral, idiossincrasias alimentares e idade.....26
2.Problemas de linguagem oral, idiossincrasias alimentares e sexo......29
3.Problemas de linguagem oral: tipologia.............................................30
4.Idiossincrasias alimentares: topologia..................................................31
5.Problemas de linguagem oral e Idiossincrasias Alimentares...............33
6.Queixas dos pais quanto à linguagem oral..........................................35
7.Queixas dos pais quanto à alimentação........................................37
8.Queixas das cuidadoras quanto à linguagem.................................38
10.Queixa cuidadoras quanto à alimentação......................................39
Considerações Finais.................................................................................41
Referências Bibliográficas..............................................................................42
Anexos..............................................................................................................47
Anexo I...........................................................................................47
Anexo II...........................................................................................50
Anexo III..........................................................................................51
Anexo IV........................................................................................52
Anexo V..........................................................................................55
ix
Lista de Figuras
Figura 1 Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência
de idiossincrasias alimentares em crianças com e sem problemas de linguagem
oral..........................................................................................................34
Figura 2- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas dos pais em relação à linguagem em crianças com e sem problemas
de linguagem oral.....................................................................................36
Figura 3- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas dos cuidadoras em relação à linguagem em crianças com e sem
problemas de linguagem oral...................................................................39
Figura 4- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas das cuidadoras em relação à alimentação em crianças com e sem
idiossincrasia alimentar............................................................................40
x
Lista de Tabelas
Tabela 1 Estatísticas descritivas para a idade nos grupos com e sem
problemas de linguagem oral ....................................................................... 26
Tabela 2 Estatísticas descritivas para a idade nos grupos com e sem
idiossincrasias alimentares.......................................................................27
Tabela 3 Freqüências e porcentagens de ocorrências de problemas de
linguagem oral nos dois sexos.................................................................30
Tabela 4 Freqüências e porcentagens de ocorrências de idiossincrasias
alimentares nos dois sexos................................................................................30
Tabela 5 – Freqüências e porcentagens observadas de cada um tipos de
problemas nas 20 crianças com problema de linguagem oral........................31
Tabela 6 – Freqüências e porcentagens observadas de cada um tipos de
idiossincrasia nas 28 crianças com idiossincrasia alimentar........................32
Tabela 7 Freqüências e porcentagens de ocorrências de idiossincrasias
alimaentares em crianças com e sem problemas de linguagem oral...............33
Tabela 8 – Freqüências e porcentagens de ocorrências de queixas dos pais em
relação a linguagem dos filhos.................................................................35
Tabela 9 Freqüências e porcentagens de ocorrências de queixas das
cuidadoras em relação à linguagem em crianças com e sem problemas de
linguagem oral.........................................................................................38
xi
1
INTRODUÇÃO
______________________________________________________
A opção por estudar as relações entre problemas alimentares e de
linguagem oral surgiu durante a graduação em Fonoaudiologia, quando tive a
oportunidade de participar de discussões de casos clínicos relativos a esse
tema.
Portanto, foi a partir da atividade clínica que pude entrar em contato com
diferentes maneiras de abordar estes problemas co-ocorrentes, principalmente
com referenciais teóricos vindos da psicanálise, que trazem uma perspectiva
peculiar para a abordagem fonoaudiológica dos sintomas manifestos na
alimentação e na linguagem oral.
Os problemas alimentares são abordados em diversas áreas correlatas:
Medicina (MADEIRA I.R.; AQUINO L.A, 2003), Psicologia (GUSMÃO, 2002),
Psicanálise (GOLSE B.; GUINOT M., 2004); além da Fonoaudiologia
(MARIOTTO, 2003, PALLADINO, SOUZA E CUNHA, 2004 e 2007). E, a
maioria destes trabalhos aponta para a natureza do vínculo mãe-filho envolvida
nas manifestações desses problemas.
Particularmente na Medicina, na versão DSM-IV (Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais, p.93, 1995) encontra-se uma sessão
relativa aos transtornos alimentares na infância, os quais são definidos como
“perturbações persistentes no comportamento alimentar”. Nessa categoria, são
incluídos: Pica
1
, Transtorno de Ruminação
2
e Transtorno de Alimentação na
1
Pica é caracterizada pelo “consumo persistente de substâncias não nutritivas por um período
de pelo menos 1 mês”. (Op. Cit., p.93). As substâncias podem variar, mas tipicamente são:
tinta, reboque, folhas, fezes de animais e terra.
2
Primeira Infância
3
. Observa-se que nas versões anteriores da DSM havia
referência apenas aos quadros de bulimia e anorexia nervosa.
Ainda na Medicina, também o CID 10 (Classificação Estatística
Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 1993, p.281)
apresenta a classificação e definição de transtornos alimentares na infância, a
saber: “transtorno de alimentação com manifestações variadas, usualmente
específico da infância. Geralmente ele envolve recusa de alimento, dengos
extremos na presença de fornecimento adequado de comida, de alguém
razoavelmente competente cuidando da criança e ausência de doença
orgânica. Pode haver ou não ruminação associada (regurgitação repetida sem
náusea ou doença gastrintestinal)”.
Marca-se que ambos os manuais referem-se aos transtornos
alimentares na infância como distúrbios comportamentais. Logo, não
referência a etiologia orgânica envolvida na manifestação destes problemas.
Por outro lado, estudos baseados na psicanálise têm contribuído para
gerar novas formas de analisar essa questão, pressupondo-se a
indissociabilidade entre os funcionamentos orgânico e psíquico.
Nessa abordagem, o periódico francês de fonoaudiologia Réeducation
Ortophonique, publicou em 2004 um volume temático sobre problemas
alimentares na infância, onde se constata a articulação entre problemas
alimentares e de linguagem oral, sob o ponto de vista de uma concepção de
corpo sobredeterminado pelo psiquismo.
2
Transtorno de Ruminação consiste na “repetida regurgitação e remastigação de alimentos,
que se desenvolve em um bebê ou criança após um período de funcionamento normal e dura
pelo menos 1 mês”. (Op.Cit., p.95).
3
Transtorno de Alimentação na Primeira Infância é caracterizado pela “(...) persistente falha em
comer ou mamar adequadamente, que se reflete como um fracasso significativo para ganhar
peso ou uma perda de peso significativa ao longo de pelo menos 1 mês. (...) a perturbação na
alimentação não é melhor explicada por um outro transtorno mental (por ex., Transtorno de
Ruminação) ou pela indisponibilidade de alimentos”. (Op.Cit., p. 96).
3
Nessa publicação, diferentes autores, de diferentes áreas da saúde,
(GOLSE B.; GUINOT M., ABADIE V., MERCIER A., PUECH M., VERGEAU D.,
2004) argumentam a favor da necessidade de uma abordagem da boca (órgão)
para além do fisiológico em direção ao simbólico, a partir da noção de
oralidade, a qual articula o comer e o falar. Em poucas palavras: a oralidade
seria o conjunto de funções orais que se originam na boca (THIBAULT, 2006).
Explicitando: na concepção psicanalítica, o recém-nascido vem para o
mundo em um estado de desamparo inicial, que para sobreviver lhe falta a
maturação orgânica necessária. Portanto, é preciso que ele se submeta à
pessoa que lhe oferece os cuidados necessários para tal, ou seja, ao indivíduo
que desempenha a função materna (MARIOTTO, 2003).
E é particularmente na situação da alimentação que as relações entre
bebê e mãe são estabelecidas e organizadas. Durante o contato entre a boca e
o seio materno, o bebê vai organizar suas experiências sensoriais e começar a
situar o dentro-fora corporal. Surge, então, o conhecimento do mundo e o afeto.
(GUSMÃO, 2002).
Um dos momentos mais importantes da vida do be é a fase oral.
Segundo Laplanche e Pontalis (2004, p.184) é a
primeira fase da evolução libidinal. O prazer sexual está
predominantemente ligado à excitação da cavidade bucal e dos
lábios que acompanham a alimentação. A atividade de nutrição
fornece as significações eletivas pelas quais se exprime e se
organiza a relação de objeto; por exemplo, a relação de amor
com a mãe será marcada pelas significações seguintes: comer,
ser comido
.”
4
Assim, os problemas alimentares seriam uma maneira do be
demonstrar que algo que ainda não foi suficientemente firmado no vínculo
mãe-filho, e que os limites entre o orgânico e o simbólico ainda estariam
embaçados. (MARIOTTO, 2003).
A alimentação do bebê sofre diversas mudanças que nem sempre são
por ele aceitas, na transição do seio para o desmame, isto é, para a
alimentação pastosa e sólida. Conseqüentemente, podem surgir problemas
derivados das dificuldades que surgem ou mesmo da não-aceitação de
mudanças no processo de desmame. (GUSMÃO, 2002).
Especificadamente, no campo fonoaudiológico, Palladino, Cunha e
Souza (2007, p.206), ao estudarem a co-relação entre problemas alimentares e
de linguagem oral, a partir de achados clínicos, sugerem que
“(...) falar e comer são acontecimentos implicados entre si,
como pontos de humanização que emergem numa sofisticada
trama psíquica, constituindo-se em espaços nodais que ilustram
o funcionamento simbólico. Isto é, a linguagem e a alimentação
comparecem como articuladas e constitutivas dos sujeitos e,
como tal, solicitam uma equação causal outra para o
esclarecimento dos transtornos que as afetam”.
Nesse mesmo trabalho, analisaram uma população de 35 crianças para
verificar a co-ocorrência de problemas de linguagem e alimentares, o que se
evidenciou em 100% dos casos estudados.
Nessa perspectiva, os mesmos autores, propõem a classificação dos
problemas de linguagem oral e alimentares que se segue, na qual baseiam a
análise dos resultados obtidos:
5
- problemas de linguagem oral: ausência de oralidade e alterações na
linguagem oral (dificuldades de elaboração discursiva e distúrbios fonológicos)
- problemas alimentares: disfagia (com alterações em uma ou mais fases
da deglutição, com e sem refluxo gastro-esofágico); deglutição atípica (nos
casos em que tal disfunção pode ser associada a perturbações nas rotinas
alimentares); obesidade e sobrepeso; anorexia e desnutrição; e idiossincrasias
alimentares (grifo meu).
As idiossincrasias alimentares são definidas pelos mesmos autores, em
trabalho anterior, como “pequenos rituais ou peculiaridades que ocorrem nas
cenas de alimentação”, (PALLADINO, SOUZA e CUNHA, 2004, p.104), como,
por exemplo: “só comer doces, não comer à mesa; não obedecer a horários de
refeições (só comem uma vez ao dia ou várias e seguidas vezes); preferir
alimentos pouco consistentes, frios, em quantidades limitadas ou exacerbadas
etc.”.
Apesar do aumento das pesquisas sobre os problemas alimentares, há
poucos que tratam, especificamente, das idiossincrasias alimentares. Contudo,
elas são comumente observadas na clínica fonoaudiológica.
Nessa direção, ao avaliar e classificar transtornos alimentares nos
quadros de autismo e psicose, Machado, Cunha e Mori (2006), fizeram um
estudo com 16 sujeitos com idades entre 8 e 27 anos, e a análise dos dados
revelou que 100% desses sujeitos apresentavam idiossincrasias alimentares.
Dentre elas, as autoras destacaram as mais recorrentes: recusa a
determinados alimentos, velocidade acelerada na ingestão dos alimentos e
postura corporal inadequada no ato de alimentar-se.
6
Em síntese, os resultados apresentados em pesquisas recentes,
desenvolvidas no campo fonoaudiológico sugerem a co-ocorrência entre
problemas alimentares e de linguagem oral, com destaque para a incidência de
idiossincrasias alimentares.
Sendo assim, o objetivo deste trabalho é investigar as possíveis co-
ocorrências entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias alimentares
em crianças de uma creche do município de São Paulo.
7
Capítulo 1
Transtornos da Oralidade: alimentação e linguagem
______________________________________________________
Os problemas alimentares são queixas comuns em crianças e apesar
de, geralmente, não aparecerem como queixa inicial e/ou explícita no discurso
familiar na clínica fonoaudiológica; costumam surgir durante o processo
terapêutico.
Tradicionalmente, a Fonoaudiologia aborda a alimentação na perspectiva
das funções do sistema estomatognático: sucção, mastigação, deglutição e
respiração (MACHADO, 2007).
Nessa abordagem, a etiologia desses problemas baseia-se na distinção
entre causas orgânicas e não-orgânicas (psiquicas e/ou ambientais). Contudo,
observa-se na atividade clínica, que tal dicotomia torna-se reducionista, que
na maioria dos casos, ocorre uma interação de fatores orgânicos e não-
orgânicos (ROMMEL, N., DE MEYER, A., FEENSTRA, L., VEEREMAN-
WAUTERS, G., 2003; DRENT, L.V., PINTO, E. A. L. C., 2007).
Ao estudar distúrbios alimentares em bebês, Mariotto (2003), chama a
atenção para a importância do nculo mãe-filho subjacente aos sintomas
manifestos. Segundo Machado (2007), considerar o vínculo afetivo mãe-filho
envolvido nos quadros nutricionais, é admitir a existência de aspectos
subjetivos envolvidos nas condições de alimentação do sujeito.
Nesse contexto, introduz-se o conceito psicanalítico de oralidade.
Segundo Abadie (2004), ele traduz a existência de um conjunto de funções
orais desenvolvidas na boca, um órgão que agrega a alimentação, a linguagem
e os afetos. Sendo assim, comer e falar estão inevitavelmente conectados.
8
Pombo (2008) separa o conceito de oralidade em dois: primária e
secundária. A oralidade primária é marcada pela alimentação da criança, a
sucção e o prazer que a criança tem durante esse ato. Segundo a autora, “o
alvo da pulsão oral aqui é duplo: de um lado está a estimulação agradável da
zona erógena bucal, e de outro, o desejo de incorporar o objeto que predomina
(o seio). Aqui, a língua pode investir ‘livremente’ sobre o espaço bucal”
(POMBO, 2008, p.32).
Segundo a mesma autora, a oralidade secundária começa quando
houve uma maturação neuropsicológica e a língua pode aprender a comer e
a falar. A linguagem surge com a função alimentar como base, é a partir de
uma necessidade biológica (de se nutrir) que surge um registro que faz parte
do desejo.
Durante a amamentação ocorre um contato muito íntimo entre a mãe e o
bebê, a mãe vai oferecer para seu filho um ambiente facilitador, definido por
Winnicott (2002, p.20) como: “um ambiente em que os processos evolutivos e
as interações naturais do bebê com o meio podem desenvolver-se de acordo
com o padrão hereditário do indivíduo.” A experiência do holding materno faz
com que se manifeste uma sensação de unidade entre a mãe e o bebê e,
segundo o mesmo autor, isto fará com que o bebê tenha
“a oportunidade de ser, a partir da qual podem surgir as coisas
seguintes, que têm a ver com a ação, o fazer e o deixar que
façam por ele. Aqui estão os fundamentos daquilo que,
gradualmente, se torna para o bebê uma existência
fundamentada na autopercepção.” (Winnicott, 2002, p.5).
Freud, em “Três ensaios sobre a sexualidade” (1905/1996), ao comentar
sobe o chuchar da criança (o ato infantil de sugar com prazer), diz que este é a
9
busca de um prazer que já foi vivenciado (a amamentação) e através da
memória este ato é relembrado.
Desta maneira, os lábios da criança se comportam como uma zona
erógena, assim definida pelo mesmo autor:
“trata-se de uma parte da pele ou da mucosa em que certos
tipos de estimulação provocam uma sensação prazerosa de
determinada qualidade. Não dúvida de que os estímulos
produtores de prazer estão ligados a condições especiais que
desconhecemos” (Freud, 1905/1996, p.172).
E prossegue, afirmando que a configuração dessa zona de satisfação
erógena associa-se, primordialmente à necessidade de alimento, isto é, à
nutrição, ou seja, se os lábios do bebê são uma zona erógena e, durante a
amamentação, o fluxo de leite quente junto ao ato de sugar, dão prazer à
criança. Primeiramente este prazer estava ligado ao ato de se alimentar, saciar
a fome. Mas, na seqüência, “a necessidade de repetir a satisfação sexual
dissocia-se então da necessidade de absorção de alimento uma separação
que se torna inevitável quando aparecem os dentes e o alimento não é
exclusivamente ingerido por sucção, mas é também mastigado” (Freud,
1905/1996, p.171). Assim sendo, estabelece-se o caráter pulsional da
alimentação. Como o alimento vai começar a ser mastigado, a criança procura
outro objeto para chuchar, ela deixa de recorrer a um objeto exterior e começa
a usar seu próprio corpo.
A cena alimentar da amamentação é marcada pelo vínculo mãe-filho:
mãe e o bebê mantém contato visual, o bebê pode sentir o cheiro e o calor
materno, sentindo-se acolhido. Segundo Teperman (2005, p.193)
10
“sabemos que não é de leite que o bebê se nutre quando
mama, mas também de significantes, e que este momento o
marca para além de suas necessidades alimentares, a partir
daquilo que o Outro como tesouro dos significantes antecipa
e significa para ele. Assim, não é sem conseqüências para o
bebê se a mãe supõe em seu choro sempre fome e introduz o
seio em sua boca ou se começa a matizar o choro, introduzindo
outras possíveis leituras e ações diante deste”.
Ao amamentar, a mãe também conta histórias para seu filho, canta
canções, o percebe como sujeito e desta maneira o insere na linguagem. Neste
momento o bebê depende inteiramente da mãe, ou da pessoa que exerce a
função materna, para sobreviver. Ao realizar as tarefas da função materna
como, por exemplo, cuidar, alimentar e limpar o bebê, essa pessoa vai inseri-lo,
gradualmente, na linguagem, produzindo efeitos simbólicos que vão começar a
moldar a vida psíquica dessa criança. (SALES, 2005).
Pombo (2008), ao comentar sobre as fases da dinâmica pulsional, afirma
que “a estruturação do corpo por parte de uma cadeia significante o ordena em
um olhar, ao escutar, ao receber, ao entregar, etc., em que as funções
nutricionais ou excrementícias cedem lugar as este ordenamento simbólico do
corpo, sempre operado por um outro, que o reaciona em uma posição
imaginária”. (POMBO, 2008, p.28).
Depois, a mãe pode começar a alternar momentos de ausência e
presença com o bebê, polaridade que aumenta com o desmame. Esses
momentos de ausência o precisam ser literais, a mãe começa a abrir um
espaço para que o bebê comece a se perceber como indivíduo e vai “emergir
enquanto sujeito do desejo e da linguagem”. (Sales, 2005, p.118).
11
Segundo Dolto (1984/2004), o desmame seria a castração oral, e
quando ocorre adequadamente, resulta no desejo infantil de falar; isto é,
surgem novas formas de comunicação entre o bebê e sua mãe, além da
interação corporal. Assim, ocorre uma transferência do prazer solitário de sugar
o leite, para um prazer compartilhado com seus pais e outras pessoas.
Ainda no mesmo trabalho, a autora afirma que essa castração ocorre
também na mãe, e esta precisará buscar uma nova maneira de se comunicar
com seu filho além da alimentação; ou seja, também através da linguagem.
Assim, a mãe vai “guiar” esse bebê pelo mundo da linguagem, vai dar
significado aos seus balbucios, aos seus primeiros fonemas e interpretar tais
manifestações simbolicamente; o que gera prazer no bebê.
Nessa direção, a autora enfatiza que a relação entre a mãe e bebê é
erotizante, no contato que se dá entre os corpos durante a amamentação. Mas,
o desmame marca uma nova etapa, uma comunicação que faz parte do meio
circulante. A criança começa a ser feliz em outros braços que não somente os
de sua mãe. Segundo Sales (2005), o importante nesse momento é que a
criança suporte a separação do corpo materno, suporte as novas trocas que
serão feitas e a convocação para ser inserida no seu meio cultural.
Segundo Dolto (1984/2004), a partir do desmame o bebê se separa do
objeto parcial, o seio da mãe, e do seu primeiro alimento, o leite, para ter uma
alimentação mais variada e com maior consistência.
Neste momento, pode ocorrer a introdução de alimentos sólidos, o que,
em alguns casos pode gerar um problema ou alteração alimentar. Segundo
Sales (2005), o momento do desmame vai marcar psiquicamente a história
alimentar desta criança. Outros autores (WINNICOTT, 1998; GUSMÃO, 2002)
12
também ressaltam que problemas com o desmame e dificuldade em introduzir
alimentos sólidos podem levar a problemas alimentares.
13
Capítulo 2
Problemas Alimentares: a questão das idiossincrasias
______________________________________________________
“Como é possível não ver que aquilo que é
mais biológico o sexo, a morte é ao mesmo
tempo aquilo que está mais embebido de
símbolos, de cultura. As novas atividades
biológicas mais elementares, o comer, o beber,
o defecar, estão estreitamente ligadas a
normas, a proibições, a valores, a símbolos, a
mitos, a ritos, quer dizer, a tudo que há de mais
especificamente cultural”.
Edgar Morin
A alimentação é um fenômeno complexo no qual estão envolvidos
aspectos biológicos, psíquicos e sociais. Na antiguidade, muitas das atividades
humanas eram sacramentadas com bebidas e comidas. A alimentação
estrutura os grupos, e feita coletivamente, estabelece relações de amizade,
lealdade e acordo entre as pessoas. Por sua vez, alimentar-se isoladamente
era visto como um ato hostil e de discriminação/ diferenciação social
(Rebouças, 2004)
Nas Ciências Sociais, a Antropologia da Alimentação, estuda esses
aspectos. Nessa abordagem, a alimentação humana possui dois
condicionantes que podem ser flexíveis: primeiro, seria o fato do ser humano
ser “onívoro”, isto lhe é imposto biologicamente, assim, sobra um espaço de
liberdade a ser preenchido pelos aspectos culturais; o segundo seria os
condicionantes ecológicos, que depois se transformam em econômicos, estes
mudam nas sociedades industrializadas, se reduzem conforme se controla a
natureza através da tecnologia. Entre esses dois condicionantes, existe o
espaço social alimentar (Poulain,J.P.;Proença,R.P.C.,2003).
14
O espaço social alimentar delimita as dimensões sociais da alimentação.
Dentro deste espaço estão os hábitos de consumo, que englobam desde as
quantidades e freqüências dos alimentos consumidos, até as formas de
cozinhá-los e de consumi-los (Baião, M.R., Deslandes S.F., 2006).
Apesar da abundância de substâncias naturais que o ser humano pode
potencialmente, utilizar como alimento, pode-se observar que o consumo tende
a ser restrito a algumas delas. Essas substâncias são selecionadas pelos
grupos de indivíduos e variam de cultura para cultura (Poulain, J.P. Proença,
R.P.C. 2003).
Segundo os mesmos autores, “a alimentação é a primeira aprendizagem
social do pequeno homem” (p.253), o comportamento alimentar da criança
começa a ser moldado por condicionantes biológicos, como, por exemplo,
sensação de fome, saciedade, abundância, etc. A mãe, durante os momentos
de interação com seu filho, começa a regular o comportamento da criança
inserindo ritmos sociais, como a noite, o dia, horário de atividades e descanso.
Os autores afirmam ainda que ‘ao comer segundo uma forma
socialmente definida, a criança aprende o senso do íntimo e do público (aquilo
que ela pode mostrar da sua mecânica alimentar e aquilo que ela deve
esconder), bem como as regras de partilha e de privilégio que refletem a
hierarquização social, enfim, o senso do “bom”, mais exatamente do que é bom
para o grupo ao qual ela pertence. Ao comer, ela interioriza os valores centrais
de sua cultura, os quais se exprimem nas maneiras à mesa (p.254).
15
A noção de idiossincrasia alimentar pode ser articulada com a de
seletividade alimentar e “picky eating”
4
, na medida em que se configura em
peculiaridades individuais relativas à maneira de consumir-se os alimentos,
mais especificamente o tipo de alimento selecionado, a maneira como este é
preparado e etc. Mas, segundo Kachani et al (2005) ainda não
uniformização quanto à nomenclatura de seletividade alimentar entre médicos
e nutricionistas.
Para compreender melhor as preferências alimentares foi revisado o
texto de Rigal (2004), sobre a construção do gosto na criança. Neste texto, a
autora define gosto, etimologicamente, como a sensação do órgão língua. A
autora classifica essa sensação em: primeiro o gosto-paladar, que seria a
capacidade de perceber os quatro sabores de base (doce, salgado, ácido e
amargo). Depois, o gosto-sabor, que seriam as sensações gustativas, olfativas
e da textura do alimento. Por último, o gosto-hedonista, que seria o senso
estético do gosto, que resultaria em afirmações do tipo, “eu amo” eu “não amo”
determinado alimento.
Segundo a mesma autora, o patrimônio genético vai determinar as
peculiaridades dos gostos de cada um, “a partir de uma simples atração pelo
açúcar e uma rejeição da acidez e do amargo, a criança vai aprender a
diversificar a sua alimentação para satisfazer sua condição de onívoro”.
(RIGAL, 2004, p.11)
Rigal afirma que existe um gosto infantil comum, referindo o exemplo
das crianças francesas que apreciam, preferencialmente, os alimentos
açucarados (frutas e doces) e os alimentos salgados habituais (arroz, batata
4
O termo “picky eating” é amplamente usado em artigos internacionais ao tratar da seletividade alimentar
e pode ser traduzido literalmente como alimentação seletiva.
16
frita, pão; carnes bovinas e de frango) e laticínios. A autora também faz uma
lista dos alimentos rejeitados comumente nessa população, tais como:
entranhas de animais, a maioria dos legumes e verduras, grãos e alimentos
com sabores muito marcantes (azeitona, queijos fortes, cebola e pimenta).
A autora diz que as manifestações, em maior ou menor grau, dessas
tendências depende da individualidade de cada criança, mas que com o tempo,
os legumes e alimentos de sabor forte, tornam-se mais aceitáveis de maneira
geral. os alimentos como carnes e entranhas animais, continuam a ser
rejeitados e isso pode acentuar-se devido a valores culturais em relação à
origem do produto. Isto é, a crueldade com que a carne pode ser produzida, a
condição de vida dos animais antes de serem abatidos, etc.
Rigal (2004) afirma que quando as crianças apresentam neofobia, isto é,
receio em relação ao consumo de alimentos desconhecidos, elas precisam
reconhecer esses alimentos em outros contextos. A autora sugere duas
maneiras para tal: a curto prazo, a criança deve ajudar na preparação da
refeição para ter um contato mais íntimo com a comida; a longo prazo, deve ser
exposta repetidamente ao mesmo alimento.
Em estudo sobre os “picky eaters”
5
, Carruth et al (1998), caracterizam-
nos como indivíduos que limitam o número de escolhas alimentares, recusam-
se a experimentar novos alimentos (neofobia), evitam completamente alguns
grupos alimentares e exibem fortes preferências alimentares, o que pode incluir
as diferentes maneiras de apresentação e método de preparação de um
mesmo alimento.
5
Este termo deriva do termo “picky eating”, referindo-se as pessoas que comem seletivamente.
17
Nesse mesmo estudo, as mães das crianças consideradas “picky eaters”
descreveram seus comportamentos restritivos: aceitam alguns alimentos,
não comem nada além de, por exemplo, manteiga de amendoim e geléia ou
comem o mesmo alimento repetidamente. Em relação à preparação da comida,
foi relatado que em alguns casos, um alimento familiar preparado de forma
diferente da habitual resultava em problemas de aceitação. Além disso,
algumas crianças evitavam por completo alguns grupos alimentares,
predominantemente os vegetais.
Por sua vez, a neofobia alimentar é, segundo Rigal (2004), o medo de
provar alimentos novos, este medo seria universal a todos os onívoros, e é
baseado tanto numa crença de intoxicação (alimentos desconhecidos podem
ser venenosos) quanto numa crença mágica (do tipo, você é o que você come,
e assim sendo, quem consome um alimento novo pode sofrer transformações).
A autora coloca algumas hipóteses para explicar a neofobia em crianças: uma
fase de oposição aos pais (‘fase do não’), a procura de um lugar de segurança
dentro do domínio alimentar, como conseqüência da autonomia crescente e de
uma percepção mais acurada dos alimentos (nessa fase da vida, a criança
percebe que, existem tantos alimentos novos quanto maneiras diferentes de
preparar o mesmo alimento).
Wright et al (2007), em estudo sobre as relações entre problemas,
comportamentos e preferências alimentares com o crescimento, classificam os
tipos de alimentos como: viscoso, crocante, mastigável, aguado, de aparência
desordenada, misturado, forte e não familiar
6
. Nos resultados, os tipos
comumente rejeitados/não apreciados foram os viscosos e os não familiares.
6
No original: “slimy, crunchy, chewy, sloppy, messy, mixed, strong and unfamiliar” (tradução minha).
18
Um número significativo de crianças rejeitou alimentos
“quebrados/danificados”
7
, por exemplo, biscoitos quebrados ou esfarelados e
poucos rejeitaram com base na marca da comida.
No mesmo estudo, em relação ao comportamento alimentar, os autores
propuseram as seguintes categorias de análise: a criança come uma variedade
limitada de comida, prefere bebidas a comida, come devagar, tem desinteresse
em relação aos alimentos e não come sólidos. Os resultados indicam a ordem
citada como dos comportamentos achados no estudo, do mais para o menos
freqüente.
Skinner et al (2002) em estudo longitudinal sobre as preferências
alimentares de crianças, afirmam que os alimentos mais apreciados foram:
pães, sobremesas, salgadinhos e as carnes disponíveis em lanchonetes de
“fast food”. Foi realizada uma lista de 24 tipos diferentes de alimentos
marcados como rejeitados/não apreciados, dos quais 17 eram vegetais e
legumes, dentre eles cebola e tomate crus e cogumelos.
No mesmo estudo, foi possível observar a coincidência entre as
preferências e neofobias alimentares das crianças e as de suas respectivas
mães. O estudo durou em torno de 8 anos e durante esse período o número de
alimentos apreciados não mudou de maneira significativa, mas o número de
alimentos rejeitados/não apreciados aumentou e o número de alimentos nunca
provados diminuiu, ambos significantemente.
Guidetti e Cavazza (2007) realizaram um estudo verificando as relações
entre as preferências alimentares de pais e filhos, os resultados sugeriram que
o repertório alimentar dos pais funciona como base para o de seus filhos. As
7
No original: “damaged” (tradução minha).
19
crianças deste estavam mais inclinadas a imitar do que recusar o repertório
alimentar de seus pais, e também, ao explorar novos alimentos, seguiram os
apreciados pelos seus pais. As similaridades alimentícias entre pais e filhos
não ocorreu somente devido a cultura compartilhada, mas sim, ao ambiente
familiar.
Outros fatores que podem influenciar na rejeição do alimento, segundo
Batsell et al (2002), são os episódios de alimentação forçada. Esse tipo de
episódio, segundo o estudo, é comum e ocorre em mais da metade da
população. Os participantes dessa pesquisa que tiveram esse tipo de episódios
na infância, consideraram-se como adultos mais “picky eaters” do que a os
sujeitos do grupo controle.
Ainda de acordo com os autores, o cenário mais comum para esses
episódios de alimentação forçada é o da figura de autoridade forçando alguém
mais novo a consumir uma substância que esse não deseja. Esse mesmo
cenário tem algumas características básicas: a criança é forçada a comer
algum alimento que não deseja ou que é desconhecido, se ela prontamente
não consome esse alimento, algumas técnicas de coerção podem ser utilizadas
(como ameaças e suborno) para levar ao consumo do alimento. Usualmente, a
criança chega a consumi-lo, mas mesmo assim, anos depois de tal
acontecimento, muitos participantes da pesquisa ainda rejeitavam os mesmos
alimentos.
Este estudo chega à conclusão de que a situação de alimentação
forçada é irônica: ao forçar a criança a consumir um alimento, o adulto espera
aumentar as escolhas alimentares delas, mas devido a esse cenário de
20
coerção e conflito interpessoal, comumente o que ocorre é justamente o
contrário, isto é, a criança tende a rejeitar esses alimentos no futuro.
Com base nos estudos apresentados, podemos resumir as
características das idiossincrasias alimentares: limitações no número de
escolhas alimentares, neofobia, rejeição a alguns grupos de alimentos
(predominantemente vegetais), fortes preferências alimentares (incluindo
apresentação da comida e método de preparação), com destaque para
guloseimas (ou mesmo a substituição das refeições pelas mesmas), não come
à mesa, o obedece horários de refeições, prefere alimentos pouco
consistentes, em pequena ou grande quantidade, prefere bebida a comida,
come devagar e demonstra falta de interessa na comida.
21
MÉTODO
______________________________________________________
Essa pesquisa seguirá as normas éticas estabelecidas para pesquisas
com seres humanos. Os nomes dos pacientes, assim como o de seus
familiares não serão revelados, preservando-se o sigilo, conforme explicitado
no termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos pais ou
responsáveis (Anexo I).
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética do Programa de Estudos de
Pós-graduados em Fonoaudiologia na PUC-SP (protocolo 206/2008) (Anexo
II).
Trata-se de pesquisa de natureza clínico - quantitativa.
1. Casuística
Nesta pesquisa participaram 34 crianças, sendo 16 do sexo masculino e
18 do feminino, com idades entre 2,0 e 4,4 anos, que freqüentam uma creche
filantrópica da cidade de São Paulo.
O critério de inclusão dos sujeitos foi a faixa etária, de acordo com
Palladino, Cunha e Souza (2007), que destacam que nessa fase de
desenvolvimento, as crianças revelam gradativa independência em relação ao
adulto quanto à hábitos alimentares; além de condutas interacionais mais
ativas quanto à aquisição e desenvolvimento da linguagem oral.
Todas as crianças dentro dessa faixa etária fizeram parte da pesquisa.
Observa-se que na creche as crianças são divididas em grupos de
acordo com o ano em que nasceram: berçário I, berçário II, minigrupo e
22
primeiro estágio. As crianças do berçário I não fizeram parte desta pesquisa
por terem menos de 2 anos.
2. Procedimento – Coleta e Registro dos Dados
Esta pesquisa foi realizada em 3 fases:
1. Os pais e/ou responsáveis e as cuidadoras em atividade na
creche foram consultados, através de um questionário (Anexo
III), visando obter-se informações sobre queixas de problemas
de linguagem oral e/ou alimentares (somente para observar se
havia ou não queixa em um desses aspectos). Os
questionários foram enviados como cartas para os pais e
cuidadoras através da creche. Portanto, essas queixas foram
registradas por escrito.
2. Todos os sujeitos foram avaliados em situação dialógica, no
contexto lúdico durante 20 minutos. Foram usados os mesmos
brinquedos para todos os sujeitos (objetos cotidianos
miniaturizados, bonecos, animais, lápis de cor e papel). Após a
observação, o registro do funcionamento da comunicação foi
feito através do PROC (Protocolo de Observação
Comportamental) de Zorzi e Hage (2004), (Anexo IV) e um
álbum de fonemas com figuras para nomeação de Volpe (2005)
(Anexo V).
3. Todos os sujeitos foram observados durante uma cena
alimentar cotidiana na creche (o almoço), refeição que consistia
de variedade de alimentos. Esta refeição ocorria no refeitório
23
da creche, atendendo cada classe em um horário específico.
As crianças permaneciam sentadas em mesinhas, em grupos
de 3 ou 4. A refeição durava aproximadamente meia hora. A
observação foi realizada a cada mesa, durante o período da
refeição. O registro da cena alimentar foi realizado através do
protocolo de Jorge e Rizzo (2006) adaptado. (Anexo VI).
3. Critérios de interpretação dos resultados
Os resultados, a saber: queixas familiares, dos cuidadores e avaliação
fonoaudiológica (linguagem e alimentação) foram cruzados para efeito da
descrição e quantificação das co-ocorrências. Foram calculadas estimativas
pontuais e por intervalo das prevalências de problemas de linguagem oral e
idiossincrasias alimentares. Considerando as crianças com problemas de
linguagem, foram calculadas as porcentagens de ocorrência de cada problema
específico. Para as crianças com idiossincrasias alimentares, foram calculadas
as porcentagens de ocorrência de cada problema alimentar.
Na comparação entre as médias das idades nos grupos com ou sem
problemas de linguagem oral, e nos grupos com ou sem idiossincrasias
alimentares foi adotado o teste t-Student para amostras independentes (Fisher
e van Belle, 1993).
Na avaliação da associação entre duas variáveis categorizadas (por
exemplo, problema de linguagem oral e idiossincrasias alimentares) foi
24
aplicado o teste quiquadrado, ou o teste exato de Fisher. Em cada teste de
hipótese foi fixado nível de significância de 0,05.
Os problemas de linguagem oral foram classificados a partir dos
parâmetros tabelados no PROC (2004). As tabelas deste livro demonstram o
desenvolvimento normal da linguagem dentro da faixa etária estudada e nos
seguintes aspectos: sintaxe, fonologia, semântica léxico e pragmática.
As idiossincrasias alimentares foram classificadas a partir das categorias
propostas na bibliografia:
Limitações no número de escolhas alimentares (CARRUTH ET
AL, 1998; RIGAL, 2004; WRIGHT ET AL, 2007).
Neofobia (CARRUTH ET AL, 1998; RIGAL, 2004; WRIGHT ET
AL, 2007).
Rejeição a alguns grupos de alimentos (predominantemente
vegetais). (CARRUTH ET AL, 1998; SKINNER ET AL, 2002;
RIGAL, 2004).
Fortes preferências alimentares (incluindo apresentação e método
de preparação da comida, preferência por guloseimas e
substituição de refeição pelas mesmas). (CARRUTH ET AL, 1998;
PALLADINO, SOUZA E CUNHA, 2004; WRIGHT ET AL, 2007).
Preferência por alimentos pouco consistentes. (PALLADINO,
SOUZA E CUNHA, 2004; WRIGHT ET AL, 2007).
Preferência por não comer à mesa (PALLADINO, SOUZA E
CUNHA, 2004)
Costume de não obedecer horários de refeições (PALLADINO,
SOUZA E CUNHA, 2004).
25
Preferência por alimentos em quantidades limitadas ou
exarcebadas. (PALLADINO, SOUZA E CUNHA, 2004).
Preferência por bebida à comida. (WRIGHT ET AL, 2007).
Costume de comer devagar (WRIGHT ET AL, 2007).
26
RESULTADOS E DISCUSSÃO
______________________________________________________
A amostra consiste de 34 crianças com média de idade de 3,0 anos
(desvio padrão de 0,6), sendo 18 (52,9%) do sexo feminino e 16 (47.1%) do
masculino.
Do total, 20 (58,8%; intervalo de confiança de 95%: [0,41;0,75])
apresentaram problema de linguagem oral e 28 (82,4%; intervalo de confiança
de 95%: [0,65;0,93]) idiossincrasias alimentares.
1 – Problemas de linguagem oral, idiossincrasias alimentares e idade
Na Tabela 1, temos os valores de estatísticas para a idade, com e sem
considerar a divisão nos grupos definidos pela ocorrência de problema de
linguagem oral. Não foi detectada diferença significativa entre as médias das
idades nos dois grupos (p=0,344). Na Tabela 2, temos os valores das mesmas
estatísticas, para os grupos definidos pela ocorrência de idiossincrasia
alimentar. Também não foi detectada diferença significativa entre as médias
das idades nos dois grupos (p=0,429).
Tabela 1- Estatísticas descritivas para a idade nos grupos com e sem
problemas de linguagem oral
Problema de
lingaguem oral
N Média Desvio padrão
Mínimo
Mediana Máximo
Não 14 2,8 0,7 2 3 4,3
Sim 20 3,1 0,6 2,2 3,1 4,3
Total 34 3,0 0,6 2 3,1 4,3
27
Tabela 2- Estatísticas descritivas para a idade nos grupos com e sem
idiossincrasias alimentares
Idiossincrasias
alimentares
N Média Desvio padrão
Mínimo
Mediana Máximo
Não 6 3,2 0,8 2,2 3,4 4,3
Sim 28 2,9 0,6 2 3 4,3
Total 34 3,0 0,6 2 3,1 4,3
Skinner et al (2002) tinha a hipótese de que o número de alimentos
apreciados pelas crianças iria aumentar com a idade, o que não pode ser
observado em sua pesquisa.
este trabalho não foi longitudinal e,
portanto não poderia observar o
aumento de alimentos apreciados pela mesma criança, mesmo se levando em
consideração a sua idade, que não houve diferença significativa entre as
idiossincrasias alimentares e as idades.
Teperman (2005) crê que os transtornos alimentares (e pela sua
descrição, a idiossincrasia alimentar também) podem ser caracterizados como
“dificuldades alimentares transitórias” (p.192).
A seguinte tabela demonstra a porcentagem de crianças com cada tipo
de problema de linguagem oral, segundo um bloco de idade.
Retardo
Ceceio
Lateral
Disturbio
fonologico
Disfluencia
Total de
crianças
2 a 3
anos 31,25%
0%
25%
0%
16
3a 4 anos
7%
13%
40%
7%
15
4 a 5
anos 33%
0%
33%
0%
3
28
Apesar de todas as crianças estarem em processo de aquisição de
linguagem e desse processo ser contínuo algumas alterações foram notadas.
Todas as crianças com problemas dentro da faixa etária de 2,0 a 2,3 anos
apresentavam retardo de aquisição de linguagem oral. As crianças de 2,8 a
2,10 meses que apresentaram distúrbio fonológico tinham alterações que não
eram esperadas para a idade, como algumas simplificações e assimilações.
Uma criança de 3,3 meses apresentou disfluência, que foi considerada
como uma alteração e não parte da dita disfluência comum que pode ser
observada durante o processo de aquisição de linguagem. Isto ocorreu, pois
segundo Merçon e Nemr (2007), apesar das quebras de fluência serem
habituais, a partir dos 2 anos de idade podem surgir quebras de fluência em
fones e sílabas que não fazem parte da disfluência comum (a quebra ocorre na
palavra inteira, sintagma ou sentença). Assim, a gagueira infantil consiste de
repetições de fone e sílabas dentro de uma mesma palavra, repetições de
parte de palavras e ocorrem prolongamentos de fones e bloqueios. As pausas
preenchidas também podem ser freqüentes. Pode haver tensões facias e
corporais ligadas ao momento de disfluência que não ocorrem na comum.
A seguinte tabela demonstra a freqüência de cada tipo de idiossincrasia
alimentar relacionada as faixas etárias.
29
Limitaçõe
s no n de
escolhas
alimentar
es
Rejeição de
grupos de
alimentos
Comer devagar
prefere
alimentos
pouco
consistente
s
Fortes
preferenci
as
alimentare
s
(incluindo
modo de
preparaçã
o de
comida)
Prefere
aliment
os em
qtdes
limitas
Total de
crianças
2 a 3
anos
25%
50%
13%
25%
6%
13%
16
3 e 4
anos
20%
47%
27%
20%
0%
20%
15
4 a 5
anos
0%
67%
33%
0%
0%
67%
3
2 – Problemas de linguagem oral, idiossincrasias alimentares e sexo
Para avaliar a associação entre ocorrência de problema de linguagem
oral e de idiossincrasia alimentar com o sexo, foram construídas as tabelas 3 e
4, que apresentam as freqüências e porcentagens de ocorrência desses
problemas observadas em crianças dos dois sexos. Na Tabela 3, observamos
que 6 (33,3%) meninas apresentaram problemas de linguagem, enquanto que
14 meninos (87,5%) têm esse problema. Pelo teste quiquadrado, existe
associação entre sexo e problema de linguagem oral (p=0,001) e podemos
dizer que a probabilidade de um menino apresentar problemas de linguagem
oral é maior que nas meninas. Na Tabela 4, vemos que a totalidade dos
meninos apresentam alguma idiossincrasia alimentar, enquanto que cerca de
67% das meninas apresentam esses problemas. Pelo teste exato de Fisher, foi
detectada associação entre sexo e ocorrência de idiossincrasia alimentares
(p=0,020), e portanto a porcentagem de meninos com alguma idiossincrasia
alimentar é maior que nas meninas.
30
Tabela 3- Freqüências e porcentagens de ocorrência de problemas de
linguagem oral nos dois sexos
Sexo Total
Problema de
linguagem oral
Feminino
Masculino
Não Freqüência 12 2 14
% 66,70% 12,50% 41,20%
Sim Freqüência 6 14 20
% 33,30% 87,50% 58,80%
Total Freqüência 18 16 34
% 100,00%
100,00% 100,00%
Tabela 4- Freqüências e porcentagens de ocorrência de idiossincrasias
alimentares nos dois sexos
Sexo Total
Idiossincrasia
alimentar
Feminino
Masculin
o
Não Freqüência 6 6
% 33,30% 17,60%
Sim Freqüência 12 16 28
% 66,70% 100,00%
82,40%
Freqüência 18 16 34
% 100% 100% 100%
Segundo Shriberg et al (1999), Wertzner e Oliveira (2002) e Wertzner
(2004) as pesquisas sobre distúrbio fonológico demonstram, na maioria dos
casos, a predominância desse quadro no sexo masculino.
3 – Problemas de linguagem oral: tipologia
Considerando as 20 crianças com algum problema de linguagem oral, foi
construída a Tabela 5, na qual observamos o número e a porcentagem de
crianças que apresentaram cada um dos tipos de alterações elencados.
Observamos que o distúrbio fonológico foi o quadro observado com maior
freqüência na amostra. Vale lembrar que uma mesma criança pode apresentar
31
mais de um tipo de problema. O número máximo de alterações observado em
uma mesma criança da amostra foi igual a 2. São também fornecidos, na
Tabela 5, intervalos de confiança de 95% para a porcentagem de cada tipo
problema na população de crianças com problemas de linguagem oral.
Tabela 5- Freqüências e porcentagens observadas de cada um tipos de
problemas nas 20 crianças com problema de linguagem oral
Problema de
Linguagem Oral
Número de crianças
% Intervalo de confiança de
95%
Retardo de
aquisição de
linguagem
7 35 (15,4;
59,2)
Distúrbio
Fonológico
11 55 (31,5;
76,9)
Ceceio Lateral 3 15 (3,2;
37,9)
Disfluência 1 5 (0,1;
24,9)
4 – Idiossincrasias alimentares: topologia
Na Tabela 6 temos o número de crianças (28) e o tipo de idiossincrasia
alimentar apresentado. Vemos que a idiossincrasia alimentar observada com
maior freqüência na amostra foi a rejeição a alguns grupos de alimentos
(predominantemente vegetais). Intervalos de confiança de 95% para a
porcentagem de cada idiossincrasia na população de crianças com esse
distúrbio alimentar são também apresentados nessa tabela.
32
Tabela 6- Freqüências e porcentagens observadas de cada um tipos de
idiossincrasia nas 28 crianças com idiossincrasia alimentar
Idiossincrasia Número de
crianças
% Intervalo de confiança de 95%
Limitações 6 21,4 (8,3;
41,0)
Rejeição 16 57,1 (37,1;
75,5)
Pouco
Consistentes
7 25,0 (10,7;
44,9)
Come Devagar 8 28,6 (13,2;
48,7)
Fortes Preferência
1 3,6 (0,1;
18,3)
Quantidades
Limitadas
9 32,1 (15,9;
52,4)
Os resultados encontrados estão de acordo com a revisão bibliográfica
apresentada no segundo capítulo deste trabalho. Carruth et al (1998), Skinner
et al (2002) e Rigal (2004), comentam em seus artigos sobre a rejeição de
crianças a alguns grupos alimentares, principalmente os vegetais. Segundo
Carruth et al (1998) isso poderia ocorrer devido a um baixo número de
exposição a esse tipo de alimento, e sugere que com o aumento dessas
experiências ocorreria uma maior aceitação desse grupo alimentar.
Isso não poderia ser aplicado aos sujeitos desse trabalho, que na
creche as crianças são expostas diariamente a legumes e vegetais.
Algumas das categorias de idiossincrasias alimentares apresentadas no
método não puderam ser observadas devido ao ambiente restrito da creche.
Neste local uma certa rigidez quanto ao horário, o lugar onde é realizado,
onde as crianças sentam, e etc. Desta maneira os seguintes itens foram
inobserváveis: neofobia, preferência por não comer à mesa, costume de não
obedecer horários de refeições e preferência por bebida à comida. Apesar de
não terem sido observados neste trabalho, os mesmo foram mantidos no
33
método devido a revisão de bibliografia e com a idéia de criar uma topologia
para as idiossincrasias alimentares mais ampla.
5 – Problemas de linguagem oral e Idiossincrasias Alimentares
Para avaliar a associação entre as ocorrências de problemas de
linguagem oral e idiossincrasias alimentares foram construídas a Tabela 7 e a
Figura 1. Nelas vemos representadas as porcentagens de ocorrência de
idiossincrasias alimentares em cada uma das categorias de ocorrência de
problemas de linguagem oral (Não e Sim). Observamos, na amostra, que a
porcentagem de ocorrência de idiossincrasias alimentares é maior nas crianças
com problemas de linguagem oral (95%) do que nas crianças sem esses
problemas (64,3%), sugerindo associação entre as duas variáveis. Pelo teste
exato de Fisher foi obtido um valor de p marginal, igual a 0,061. Concluímos
que os indivíduos com problemas de linguagem oral tendem a ter maior
probabilidade de ter alguma idiossincrasia alimentar do que os que não têm
problema de linguagem.
Tabela 7- Freqüências e porcentagens de ocorrência de idiossincrasias
alimentares em crianças com e sem problemas de linguagem oral
Idiossincrasia Total
Problema de linguagem
oral
Não Sim
Não Freqüência
5 9 14
% 35,70%
64,30%
100,00%
Sim Freqüência
1 19 20
% 5,00% 95,00%
100,00%
Total Freqüência
6 28 34
% 17,60%
82,40%
100,00%
34
Figura 1- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
idiossincrasias alimentares em crianças com e sem problemas de
linguagem oral
Porcentagem
Problema linguagem
Idiossincrasia
SimNão
SimNãoSimNão
100
80
60
40
20
0
Esses achados estão de acordo com a literatura pesquisada, Palladino,
Souza e Cunha (2007), encontraram a co-ocorrência de problemas de
linguagem oral e problemas alimentares em 100% da população estudada.
Nesse mesmo estudo, dentre os problemas alimentares, houve um alto índice
de idiossincrasias alimentares.
O estudo de Machado, Cunha e Mori (2006), apresentado na introdução
também evidenciou 100% de co-ocorrência entre problemas de linguagem oral
e idiossincrasias alimentares.
35
Esses achados reafirmam a possibilidade de olhar esses dois problemas
como transtornos da oralidade e não como problemas dissociados.
6 – Queixas dos pais quanto à linguagem oral
Na Tabela 8 e Figura 2, são apresentadas as porcentagens de
ocorrência de queixas dos pais em relação à linguagem dos filhos com e sem
problemas de linguagem oral. Observamos que nenhum dos pais de crianças
sem problemas apresentou queixa, enquanto que 35% dos pais de crianças
com problemas apresentaram queixas em relação à linguagem. Pelo teste
exato de Fisher (p=0,026), foi detectada associação entre ocorrência de queixa
e ocorrência de problema, e concluímos que a porcentagem de pais que se
queixam de crianças com problema de linguagem é maior do que em crianças
sem esse problema.
Tabela 8- Freqüências e porcentagens de ocorrência de queixas dos pais em
relação à linguagem dos filhos
Queixa Pais Total
Problema de
linguagem oral
Não Sim
Não Freqüência
14 14
% 100,00%
100,00%
Sim Freqüência
13 7 20
% 65,00% 35,00%
100,00%
Total Freqüência
27 7 34
% 79,40% 20,60%
100,00%
36
Figura 2- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas dos pais em relação à linguagem em crianças com e sem
problemas de linguagem oral
Porcentagem
Problema linguagem
Queixa dos pais
SimNão
SimNãoSimNão
100
80
60
40
20
0
A relação queixas dos pais e constatação de problemas de linguagem
oral pode ter sido relativamente baixa devido as idades das crianças. Alguns
pais podem ter tido a dúvida de se seus filhos tinham dificuldade na fala devido
a um problema ou se é normal para a idade, que estas crianças estão em
fase de aquisição de linguagem oral.
Segundo Wertzner (2004), grande parte das crianças são diagnosticadas
entre quatro e oito anos, pois essa faixa etária coincide com o ingresso na pré-
37
escola. Neste momento, há um aumento do contato social, o que poderia tornar
um problema de linguagem oral mais evidente.
Ieto e Cunha (2007) marcam a diferença entre queixa e demanda. A
queixa é a “percepção consciente do sofrimento por parte do sujeito”, enquanto
a demanda é o que “impulsiona a procura de ajuda, implicando o sujeito na sua
parcela de responsabilidade em relação ao sintoma e motivando, efetivamente,
o vínculo terapêutico.” (IETO, V.; CUNHA, M.C, 2007, p. 330). Nessa
perspectiva, o baixo número de queixas leva a pensar que não há demanda.
7 – Queixas dos pais quanto à alimentação
Não houve queixa dos pais em relação à alimentação de seus filhos.
Segundo Cathey e Gaylord (2004), a idiossincrasia alimentar pode ser
considerada como um processo de desenvolvimento normal. Conforme a
criança cresce ela tem necessidade de nutrientes diferentes, ocorre a transição
do desmame para os alimentos sólidos, o que pode levar a uma neofobia e
outros problemas alimentares.
A idiossincrasia alimentar poderia ser considerada como uma
“dificuldade alimentar transitória” (TEPERMAN, 2005, p.192). Dessa maneira,
os pais podem percebê-la como uma fase normal no desenvolvimento do seu
filho, não constituindo assim uma queixa.
38
8 – Queixas das cuidadoras quanto à linguagem
As porcentagens de ocorrência de queixas das cuidadoras em relação à
linguagem em cada categoria de ocorrência de problema de linguagem oral são
apresentadas na Tabela 9 e Figura 3. Assim como os resultados obtidos para
os pais, 35% das cuidadoras de crianças com problemas de linguagem oral
apresentaram alguma queixa. O teste exato de Fisher detectou associação
entre as duas variáveis (p=0,026) e concluímos que a porcentagem de
cuidadoras que se queixam em crianças com problema de linguagem é maior
do que em crianças sem esse problema.
Tabela 9- Freqüências e porcentagens de ocorrência de queixas das
cuidadoras em relação à linguagem em crianças com e sem problemas de
linguagem oral
Queixa Cuidador Total
Problema de linguagem
oral
Não Sim
Não Freqüência 14 14
% 100,00% 100,00%
Sim Freqüência 13 7 20
% 65,00% 35,00%
100,00%
Total Freqüência 27 7 34
% 79,40% 20,60%
100,00%
39
Figura 3- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas dos cuidadoras em relação à linguagem em crianças com e sem
problemas de linguagem oral
Porcentagem
Problema linguagem
Queixa Cuidador
SimNão
SimNãoSimNão
100
80
60
40
20
0
10 – Queixa cuidadoras quanto à alimentação
No estudo da associação entre queixa da cuidadora em relação à
alimentação e idiossincrasia alimentar, foram construídas a Tabela 10 e a
Figura 4. Observamos que as porcentagens de queixas das cuidadoras são
semelhantes nas crianças com e sem idiossincrasia alimentar: 16,7% nas sem
idiossincrasia e 17,9% nas com idiossincrasia, ou seja, a maioria das
cuidadoras não apresenta queixa de alimentação, independentemente do fato
40
da criança ter ou não alguma idiossincrasia alimentar. Não foi detectada, pelo
teste exato de Fisher, associação entre as duas variáveis (p>0,999), e
concluímos que o fato da criança apresentar idiossincrasia alimentar não
interfere na porcentagem de cuidadoras que se queixam da alimentação.
Tabela 10- Freqüências e porcentagens de ocorrência de queixas das
cuidadoras em relação à alimentação em crianças com e sem idiossincrasia
alimentar
Queixa Cuidador Total
Idiossincrasia
alimentar
Não Sim
Não Freqüência
5 1 6
% 83,30% 16,70%
100,00%
Sim Freqüência
23 5 28
% 82,10% 17,90%
100,00%
Total Freqüência
28 6 34
% 82,40% 17,60%
100,00%
Figura 4- Gráficos de barras representando as porcentagens de ocorrência de
queixas das cuidadoras em relação à alimentação em crianças com e sem
idiossincrasia alimentar
Porcentagem
Idiossincrasia
Queixa Cuidador
SimNão
SimNãoSimNão
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
______________________________________________________
A co-ocorrência entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias
alimentares foi significativa (95%) nos sujeitos estudados.
Quanto às idiossincrasias alimentares, a alta incidência na faixa etária
estudada aliada aos dados da literatura, sugerem que tais condutas
alimentares estão associadas ao processo natural de desenvolvimento das
crianças quanto à alimentação.
Em outras palavras: ao se alimentar a criança pequena vai,
inevitavelmente, se deparar com alimentos novos, podendo vir a estranhá-los
ou não considerá-los atraentes ao olhar, ao olfato e/ou ao tato. E isso pode
levá-la a recusas alimentares. Ou mesmo, após experimentar alguns alimentos
elegê-los como exclusivos para a sua nutrição.
De qualquer forma, tais condutas infantis tendem a gerar angústia nos
pais, promovendo conflitos entre os mesmo e seus filhos.
Os resultados obtidos nessa pesquisa reafirmam os de outros estudos
recentes, evidenciando a importância de que a abordagem fonoaudiológica não
dicotomize os atos de falar e comer.
Ao considerar os sintomas manifestos na zona oral como transtornos na
oralidade, isto é, associados à erogenização dessa região corporal; aspectos
orgânicos e psíquicos passam a ser contemplados nas intervenções. O que, a
nosso ver, favorece a eficácia do método clínico no decorrer dos processos
terapêuticos fonoaudiológicos.
42
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
______________________________________________________
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PALLADINO, R. R. R.; SOUZA, L.A.P.; CUNHA, M.C. Os transtornos de
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Revista de Atualização Cientifica. Barueri, v.19, n°2, julh/2007. p. 205-214.
POMBO, A.M. O tratamento da sialorréia na clínica fonoaudiológica:
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Fonoaudiologia – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.
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45
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Comportamental. São José dos Campos: Pulso Editorial, 2004.
47
ANEXOS
______________________________________________________
Anexo I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Caro(a) Senhor(a)
Eu, Mariana Sequeira Telles, fonoaudióloga, portadora do CRFa 16220,
cujo telefone de contato é (11) 8174-8757, vou desenvolver uma pesquisa cujo
título é “Co-ocorrências entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias
alimentares em crianças”.
O objetivo deste estudo é de aprofundar a investigação das possíveis
co-ocorrências entre problemas de linguagem oral e idiossincrasias alimentares
em crianças, e necessito que o Sr.(a). forneça informações à respeito de
seu(sua) filho(a), cujas perguntas estão em anexo, devendo ocupá-lo(a) por 05
minutos para completar as respostas e de uma avaliação clínica em que
realizarei, em seu(sua) filho(a) os seguintes procedimentos:
1) Será feita uma avaliação fonoaudiológica, em situação dialógica, no
contexto lúdico (brincando) durante 20 minutos. Serão usados os mesmos
brinquedos para todas as crianças (casinhas, bonequinhos, lápis de cor, papel,
etc). Após a avaliação, o registro das alterações de linguagem oral será
registrado em um protocolo.
2) A criança será observada durante uma cena alimentar cotidiana na
creche, durante o almoço. A observação será feita uma mesa por vez, durante
o período da refeição. O registro da cena alimentar será feito por escrito
através de um protocolo.
A participação do(a) seu (sua) filho(a) nesta pesquisa é voluntária e a
avaliação clínica não determinará qualquer risco ou desconforto.
A participação do(a) seu(sua) filho(a) não trará qualquer benefício direto
mas proporcionará um melhor conhecimento à respeito da co-ocorrência entre
os problemas de linguagem oral e as idiossincrasias alimentares em crianças,
que em futuros tratamentos fonoaudiológicos poderão beneficiar outras
crianças ou, então, somente no final do estudo poderemos concluir a presença
de algum benefício.
Não existe outra forma de obter dados com relação ao procedimento em
questão e que possa ser mais vantajoso.
Informo que o Sr(a). tem a garantia de acesso, em qualquer etapa do
estudo, sobre qualquer esclarecimento de eventuais dúvidas. Se tiver alguma
consideração ou dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato com a
fonoaudióloga, Mariana, no telefone (11) 8174-8757, como referido
anteriormente.
Também é garantida a liberdade da retirada de consentimento a
qualquer momento e deixar de participar do estudo, sem qualquer prejuízo à
continuidade do tratamento do(a) seu(sua) filho(a) na instituição
48
Garanto que as informações obtidas serão analisadas em conjunto com
outras crianças, não sendo divulgado a identificação de nenhum dos
participantes.
O Sr(a). tem o direito de ser mantido atualizado sobre os resultados
parciais das pesquisas e caso seja solicitado, darei todas as informações que
solicitar.
Não existirá despesas ou compensações pessoais para o participante
em qualquer fase do estudo. Também não compensação financeira
relacionada à participação do(a) seu(sua) filho(a). Se existir qualquer despesa
adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.
Eu me comprometo a utilizar os dados coletados somente para pesquisa
e os resultados serão veiculados através de artigos científicos em revistas
especializadas e/ou em encontros científicos e congressos, sem nunca tornar
possível a identificação do(a) seu(sua) filho(a).
Anexo está o consentimento livre e esclarecido para ser assinado caso
não tenha ficado qualquer dúvida.
49
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Acredito ter sido suficiente informado à respeito das informações que li
ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Co-ocorrências entre
problemas de linguagem oral e idiossincrasias alimentares em crianças”.
Eu discuti com a fonoaudióloga Mariana Sequeira Telles sobre a minha
decisão em permitir a participação de meu (minha) filho(a) nesse estudo.
Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos
a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes.
Ficou claro também que a participação do(a) meu(minha) filho(a) é
isenta de despesas e que tenho garantia do acesso aos resultados e de
esclarecer minhas dúvidas a qualquer tempo. Concordo voluntariamente em
permitir a participação do(a) meu(minha) filho(a) deste estudo e poderei retirar
o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem
penalidade ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter
adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço.
___________________________________ Data:
______/_____/_____
Assinatura do pai (mãe) ou responsável
Nome:
Fone: ( )
___________________________________ Data:
______/_____/_____
Assinatura do(a) pesquisador(a)
Nome da criança:
__________________________________________________
50
Anexo II
51
Anexo III
CONSULTA A RESPONSÁVEIS
NOME: _________________________________________________________
D.N.: ___________ IDADE: _________
RESPONSÁVEL: _________________________________________________
( ) MÃE ( ) PAI ( ) OUTROS – ESPECIFICAR: ________________
Por favor, responda as perguntas abaixo:
1) A criança tem problemas/ dificuldades de linguagem?
( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, quais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
2) A criança tem problemas/ dificuldades de alimentação?
( ) SIM ( ) NÃO
Se sim, quais?
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
_____________________________________________________________
Obrigada,
Mariana Telles
PEPG em Fonoaudiologia – PUC-SP
Tel para contato: (11) 8174-8757
52
Anexo IV
53
54
Anexo V
55
Anexo V
PROTOCOLO DE LEVANTAMENTO DE CONDUTAS
ALIMENTARES
NOME: ______________________________________________________ DATA: _____________
D.N.: ___________ IDADE: ____________
DESCRIÇÃO DA CENA:____________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
I. Consistência dos alimentos
a. Aceita líquidos?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
b. Aceita pastosos?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
c. Aceita sólidos?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
II. Alimentos salgados e doces
a. Aceita Salgados?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
b. Aceita Doces?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
III. Alimentos cozidos e crus
a. Aceita cozidos?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
b. Aceita crus?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
IV. Alimentos frios e quentes
a. Aceita frios?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
b. Aceita quentes?
Sim ( ) Não ( ) Obs:_____________________________________________
56
V. Quantidade de alimentos
a. Aceita a porção oferecida?
Sim ( ) Não ( )
Se não, pede mais ( ), dispensa a maior parte ( ), Obs: _________________
VI. Alimentos substitutos
a. Substitui refeições por guloseimas e/ou algum alimento específico?
Sim ( ) Não ( )
Se sim, quais? :____________________________________
VII. Rituais de Alimentação
a. local: _____________________________
b. postura: __________________________
c. autonomia:________________________
d. hábitos:
Sim ( ) Não ( )
Se sim, brinca com o alimento ( ), coloca a mão na boca ( ), morde repetidamente
a porção de alimento ( ), tira e coloca o alimento na boca ( ), mastiga muito tempo
( ), Outros ( ):
_______________________________________________________________
Obs:_______________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________
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