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Délia Ribeiro Leite
ESTUDO PROSÓDICO SOBRE AS
MANIFESTAÇÕES DE FOCO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Lingüística Teórica e Descritiva.
Área de Concentração: Linguística Teórica e Descritiva
Linha de Pesquisa: Organização Sonora da Comunicação
Humana
Orientador: Prof. Dr. José Olímpio de Magalhães
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2009
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2
Dissertação defendida por DÉLIA RIBEIRO LEITE em 30/03/2009 e aprovada
pela Banca Examinadora constituída pelos Profs. Drs. relacionados a seguir:
Jose Olímpio Magalhães - UFMG
Orientador
Sandra Madureira - PUC/SP
Thaïs Cristófaro Alves da Silva - UFMG
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3
Não podemos construir nenhum trabalho sozinhos, porque nunca
estamos realmente sós. Aqueles que nos acompanham,
que contribuem para que sejamos pessoas melhores
e que nos guiam em nosso caminho sempre falam dentro de nós.
Por isso, dedico este trabalho àqueles que,
por existirem em minha vida, existem também dentro de mim:
Meu pai Pio, minha mãe Nelma, meu amor Thiago, minha irmã Thaís.
4
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador José Olímpio de Magalhães, pela paciência em seus ensinamentos,
por ter acreditado e confiado em mim e pelo estímulo em todas as etapas desta
conquista.
À Adriana Maria de Figueiredo, pelos trabalhos que solidificamos juntas, quando me
indicou os caminhos da pesquisa acadêmica, e, principalmente, por, naqueles
momentos, me mostrar que à conquista profissional pode se estender a amizade.
Aos professores Thaïs Cristófaro Silva, Fábio Bonfim Duarte, Rui Rothe Neves e César
Reis, pelos ensinamentos e contribuições.
À Ceriz e à Natália, pela ajuda, sem a qual este trabalho não seria possível.
À Cláudia, pelo apoio e companhia durante esse período.
Ao Pablo Arantes, por me ceder ferramentas que muito facilitaram a análise dos dados.
Ao CNPq, pelo financiamento parcial da pesquisa, por meio da concessão de bolsa de
estudos.
A todos os amigos e familiares, por me impulsionarem e por tornarem o caminho desta
conquista menos árduo.
5
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.................................................................................................... 4
SUMÁRIO.....................................................................................................................5
ÍNDICE DE TABELAS................................................................................................... 7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES.......................................................................................... 10
RESUMO.................................................................................................................... 12
ABSTRACT ................................................................................................................ 13
INTRODUÇÃO............................................................................................................ 14
CAPÍTULO 1 – PROSÓDIA ........................................................................................ 17
1.1. FONÉTICA ACÚSTICA ............................................................................... 20
1.1.1. Frequência fundamental .......................................................................... 23
1.1.2. Intensidade.............................................................................................. 23
1.1.3. Duração................................................................................................... 24
1.2. FONOLOGIA MÉTRICA .............................................................................. 26
1.3. FONOLOGIA PROSÓDICA......................................................................... 29
CAPÍTULO 2 – FOCO................................................................................................. 32
2.1. FOCO E ORGANIZAÇÃO INFORMACIONAL................................................. 32
2.2. VARIAÇÕES NA NOMENCALTURA ........................................................... 35
2.3. DEFINIÇÕES E ABORDAGEM ADOTADAS NESTE TRABALHO............... 38
2.4. PADRÕES DE FOCO PROSÓDICO............................................................ 39
2.5. PERCEPÇÃO DO FOCO PROSÓDICO E DA ÊNFASE............................... 45
2.6. FOCO PROSÓDICO E ÊNFASE NO PORTUGUÊS DO BRASIL................. 47
2.7. FOCO SINTÁTICO ...................................................................................... 54
CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA ................................................................................ 58
3.1. O CORPUS ................................................................................................. 58
3.2. OS INFORMANTES .................................................................................... 60
3.3. COLETA DOS DADOS................................................................................ 61
3.4. ANÁLISE DOS DADOS ............................................................................... 61
3.4.1. Identificação das Ocorrências do Foco Prosódico Contrastivo............. 61
3.4.2. Marcação das Co-Ocorrências de Foco Prosódico e Sintático............. 62
3.4.3. Marcação dos domínios....................................................................... 64
3.4.4. Análise Acústica .................................................................................. 65
3.4.4.1. Frequência fundamental .................................................................. 66
3.4.4.2. Variação de f0.................................................................................. 66
3.4.4.3. Intensidade ...................................................................................... 67
3.4.4.4. Duração........................................................................................... 68
3.4.4.5. Pausas............................................................................................. 70
3.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................. 70
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................... 72
4.1. ANÁLISE DO FOCO PROSÓDICO CONTRASTIVO ................................... 74
4.1.1. Pausas ................................................................................................ 77
4.1.2. Diferença de intensidade entre a palavra focalizada e a palavra anterior
79
4.1.3. Frequência fundamental ...................................................................... 80
4.1.4. Duração............................................................................................... 86
6
4.2. ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO FOCO SINTÁTICO NO PADRÃO DO FOCO
PROSÓDICO CONTRASTIVO................................................................................ 91
4.2.1. Pausas ................................................................................................ 92
4.2.1.1. Pausa antes da palavra focalizada .................................................. 92
4.2.1.2. Pausa depois da palavra focalizada................................................. 94
4.2.2. Diferença de intensidade entre a palavra focalizada e a anterior ......... 98
4.2.3. Frequência fundamental .................................................................... 101
4.2.3.1. f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura ............................... 101
4.2.3.2. f0 máxima da palavra focalizada e sua relação com f0 máxima do
enunciado ..................................................................................................... 103
4.2.3.3. f0 na tônica lexical da palavra focalizada e nas três pré-tônicas .... 106
4.2.4. Duração............................................................................................. 108
4.2.5. Sumário dos resultados obtidos......................................................... 111
4.3. O FOCO PROSÓDICO NA GRAMÁTICA .................................................. 112
CONCLUSÃO........................................................................................................... 115
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 120
ANEXO I – TABELA TESTES ESTATÍSTICOS ........................................................ 125
ANEXO II – ENUNCIADOS ...................................................................................... 127
7
ÍNDICE DE TABELAS
TABELA 1: CODIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS ESTUDADAS – Código adotado para as
amostras “foco prosódico contrastivo”, “foco prosódico”; e “foco prosódico e sintático”,
com o respectivo número de ocorrências de dados de cada amostra......................... 72
TABELA 2: PALAVRAS FOCALIZADAS POR ENUNCIADO Frequência e
porcentagem de um palavra focalizada e de mais de uma palavra focalizada por
enunciado para a amostra Foco prosódico contrastivo (FPC)..................................... 74
TABELA 3: CATEGORIA SINTÁTICA Ocorrências e porcentagem da categoria
sintática da palavra focalizada em Foco prosódico contrastivo (FPC)......................... 76
TABELA 4: POSIÇÃO NO ENUNCIADO Ocorrências, porcentagem e porcentagem
válida da palavra focalizada nas posições inicial, medial e final do Foco prosódico
contrastivo (FPC)........................................................................................................ 76
TABELA 5: PAUSA– Frequência e porcentagem de ocorrência e não ocorrência de
pausa antes, depois, e antes e depois da palavra focalizada para Foco prosódico
contrastivo (FPC)........................................................................................................ 77
TABELA 6: ESTATÍSTICA DESCRITIVA DURAÇÃO DA PAUSA Média e desvio
padrão da pausa antes e da pausa depois da palavra focalizada no Foco prosódico
contrastivo (FPC)........................................................................................................ 78
TABELA 7: DURAÇÃO DA PAUSA– Comparação entre as pausas antes e depois da
palavra focalizada por meio do teste
Wilcoxon (Medianas e p-valor) para Foco
prosódico contrastivo (FPC)........................................................................................ 78
TABELA 8: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE DIFERENÇA DE INTENSIDADE
SIGNIFICATIVA ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A PALAVRA ANTERIOR
Ocorrências, porcentagem e porcentagem válida da diferença de intensidade
significativa entre a palavra focalizada e a anterior para Foco prosódico contrastivo
(FPC).......................................................................................................................... 79
TABELA 9: ESTATÍSTICA DESCRITIVA FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL média e
desvio padrão de f0 máxima e mínima do enunciado, tessitura, f0 máxima da palavra
focalizada, diferença entre f0 máxima do enunciado e da palavra focalizada. Amostra
Foco prosódico contrastivo (FPC)............................................................................... 81
Tabela 10: FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL Teste-t (média e p-valor) aplicado para
se comparar f0 máxima do enunciado com f0 máxima da palavra focalizada. Amostra
Foco prosódico contrastivo (FPC)............................................................................... 81
TABELA 11: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL – Média e
desvio padrão para f0 da tônica lexical da palavra focalizada e das três pré-tônicas
para Foco prosódico contrastivo (FPC)....................................................................... 83
TABELA 12: POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA DA
PALAVRA FOCALIZADA E PRÉ-TÔNICAS Ocorrências, porcentagem e
porcentagem válida do maior valor de f0 em relação à tônica lexical da palavra
focalizada e às pré-tônicas, para Foco prosódico contrastivo (FPC)...........................84
TABELA 13: VALOR MAIOR DE F0 INCIDINDO EM PRÉ-TÔNICA DA PALAVRA
FOCALIZADA OU NA PALAVRA ANTERIOR Ocorrências, porcentagem e
porcentagem válida do maior dos casos em que o maior valor de f0 encontra-se em
pré-tônicas da palavra focalizada ou na palavra anterior, para Foco prosódico
contrastivo (FPC)........................................................................................................ 85
TABELA 14: OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS VOCÁLICOS Segmento vocálico
com seu respectivo número de ocorrências em contexto de foco, bem como
quantidade de ocorrências verificadas em contexto sem foco, que permitiram obter
média e variância........................................................................................................ 87
TABELA 15: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES DA PALAVRA
FOCALIZADA Número de ocorrências e porcentagem dos casos em que e não
pausa antes da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e para Foco
8
prosódico e sintático (FPS)......................................................................................... 92
TABELA 16: ESTATÍSTICA DESCRITIVA DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA
PALAVRA FOCALIZADA Média, variância e desvio-padrão da pausa antes da
palavra focalizada nas amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático
(FPS). ......................................................................................................................... 93
TABELA 17: DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA
Comparação entre as amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático
(FPS) quanto ao parâmetro duração da pausa antes da palavra focalizada, por meio
do teste Mann-Withney (Medianas e p-valor)............................................................. 94
TABELA 18: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA DEPOIS DA PALAVRA
FOCALIZADA Número de ocorrência e porcentagem de casos em que e não
pausa depois da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e
sintático (FPS). ........................................................................................................... 95
TABELA 19: ESTATÍSTICA DESCRITIVA DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA
PALAVRA FOCALIZADA – Média, variância e desvio-padrão da pausa depois da
palavra focalizada nas amostras FP e FPS. ............................................................... 96
Tabela 20: DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA
Comparação entre as amostras FP e FPS quanto ao parâmetro duração da pausa
depois da palavra focalizada, por meio do teste
Mann-Withney (Medianas e p-valor)96
TABELA 21: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES E DEPOIS DA
PALAVRA FOCALIZADA Número de ocorrências, porcentagem e porcentagem
válida de ocorrência de pausa antes e depois da palavra focalizada para Foco
prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS). ................................................... 97
TABELA 22: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE DIFERENÇA DE
INTENSIDADE SIGNIFICATIVA ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A PALAVRA
ANTERIOR Ocorrência, porcentagem e porcentagem válida de diferença de
intensidade significativa entre a palavra focalizada e a anterior para Foco prosódico
(FP) e Foco prosódico e sintático (FPS). ................................................................... 99
TABELA 23: ESTATÍSTICA DESCRITIVA DIFERENÇA DE INTESNIDADE ENTRE
A PALAVRA FOCALIZADA E A ANTERIOR Média, variância e desvio-padrão da
diferença de intensidade entre a palavra focalizada e a anterior nas amostras FP e
FPS. ......................................................................................................................... 100
TABELA 24: DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
ANTERIOR – Comparação entre as amostras FP e FPS quanto ao parâmetro duração
diferença de intesnidade, por meio do teste Mann-Withney (Medianas e p-valor).... 100
TABELA 25: ESTATÍSTICA DESCRITIVA F0 MÁXIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO
E TESSITURA Média e desvio padrão de F0 máxima e mínima do enunciado e
tessitura para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).................... 102
TABELA 26: F0 XIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO E TESSITURA Mediana e p-
valor de f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura. Amostras Foco prosódico (FP)
e Foco prosódico e sintático (FPS). .......................................................................... 102
TABELA 27: ESTATÍSTICA DESCRITIVA F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA
E DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA PALAVRA
FOCALIZADA – Média e desvio padrão para as amostras Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS)....................................................................................... 104
TABELA 28: F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA Comparação entre as
amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) para o parâmetro f0
máxima da palavra focalizada por meio do teste t (médias e p-valor). ...................... 104
TABELA 29: DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA
PALAVRA FOCALIZADA Comparação entre as amostras Foco prosódico (FP) e
Foco prosódico e sintático (FPS) para o parâmetro diferença entre f0 máxima do
enunciado e f0 máxima da palavra focalizada por meio do teste Mann-Withney
(medianas e p-valor)................................................................................................. 105
TABELA 30: POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM REALAÇÃO À TÔNICA DA
PALAVRA FOCALIZADA E ÀS PRÉ-TÔNICAS Ocorrência, porcentagem e
porcentagem válida do maior valor de f0 em relação à tônica e às pré-tônicas para
Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS). ......................................... 106
9
TABELA 31: ESTATÍSTICA DESCRITIVA F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA
FOCALIZADA E NAS TRÊS PRÉ-TÔNICAS– Média e desvio padrão para f0 da tônica
lexical da palavra focalizada e das três pré-tônicas para Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS)....................................................................................... 107
TABELA 32: F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA FOCALIZADA E EM ATÉ TRÊS
PRÉ-TÔNICAS – Comparação das amostras Foco prosódico e Foco prosódico e
sintático quanto aos parâmetros f0 da tônica lexical da palavra focalizada, da primeira,
da segunda e da terceira pré-tônica.......................................................................... 108
TABELA 33: ESTATÍSTICA DESCRITIVA DURAÇÃO NORMALIZADA Média e
desvio padrão da duração normalizada dos segmentos alongados para Foco prosódico
(FP) e Foco prosódico e sintático (FPS). .................................................................. 110
TABELA 34: DURAÇÃO NORMALIZADA - Comparação entre as amostras Foco
prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) para o parâmetro duração
normalizada por meio do teste
Mann Withney (medianas e p-valor)......................... 110
10
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
ILUSTRAÇÃO 1: TELA DO PROGRAMA PRAAT- Tela do programa Praat, da
sentença “A vida existe no interior da escola”, com foco em “existe”. Pode-se visualizar
o Oscilograma (acima) e o espectograma de banda larga (abaixo), com a curva de f0
(azul) e a de intensidade (amarela)................................................................................. 65
ILUSTRAÇÃO 2: TELA DO
PRAAT: ARQUIVO DE SOM (WAV) E DE TEXTO
(
TEXTGRID), COM A ETIQUETAGEM DAS VOGAIS DA PALAVRA
FOCALIZADA Oscilograma (acima), espetograma de banda larga (meio) e etiquetas
(abaixo). Na primeira etiqueta, vê-se a segmentação das vogais da palavra focalizada
“existe”, e na segunda, o enunciado “A vida existe no interior da escola”.................... 68
ILUSTRAÇÃO 3: COMPOSIÇÃO DAS AMOSTRAS Organização das amostras
FPC, FP e FPS, com as respectivas freqüências de dados.............................................. 73
GRÁFICO 1: OCORRÊNCIA E PORCENTAGEM DE DADOS POR INFORMANTE
Ocorrência e porcentagem de dados por informante para Foco prosódico contrastivo
(FPC) .............................................................................................................................. 74
GRÁFICO 2: DOMÍNIO FONOLÓGICO Porcentagem de cada domínio fonológico
em que a palavra focalizada tem escopo na amostra Foco prosódico contrastivo (FPC).
........................................................................................................................................ 75
GRÁFICO 3: COINCIDÊNCIA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0
MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA Ocorrências e porcentagem de casos em
que a f0 máxima do enunciado incide e não incide na palavra focalizada, para Foco
prosódico contrastivo (FPC)........................................................................................... 82
GRÁFICO 4: MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA E PRÉ-TÔNICAS
Ocorrências e porcentagem válida do maior valor de f0 em relação à tônica e às pré-
tônicas da palavra focalizada, para Foco prosódico contrastivo (FPC).......................... 84
GRÁFICO 5: PORCENTAGEM DE SEGMENTOS ALONGADOS Ocorrências e
porcentagem de segmentos alongados e não alongados para Foco prosódico contrastivo
(FPC). ............................................................................................................................. 88
GRÁFICO 6: PALAVRAS FOCALIZADAS COM ALONGAMENTOS – Ocorrência e
porcentagem de palavras focalizadas em que houve e em que não houve alongamento de
algum segmento, para Foco prosódico contrastivo. ....................................................... 89
GRÁFICO 7: POSIÇÃO DO SEGMENTO ALONGADO EM RELAÇÃO À TÔNICA
Ocorrência e porcentagem em que o segmento alongado encontra-se na sílaba tônica
lexical da palavra focalizada, pré-tônica ou pós-tônica. Amostra Foco prosódico
contrastivo (FPC)............................................................................................................ 90
GRÁFICO 8: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE FOCO PROSÓDICO ........ 91
GRÁFICO 9: OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA
Porcentagem de ocorrência de pausa antes da palavra focalizada para Foco prosódico
(FP) e Foco prosódico e sintático (FPS)......................................................................... 93
GRÁFICO 10: OCORRÊNCIA DE PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA
Porcentagem de ocorrência de pausa depois da palavra focalizada para Foco
Prosódico (FP) e Foco Prosódico e Sintático (FPS)....................................................... 95
GRÁFICO 11: OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES E DEPOIS DA PALAVRA
FOCALIZADA Porcentagem válida de ocorrência de pausa antes e depois da palavra
focalizada para Foco Prosódico (FP) e Foco Prosódico e Sintático (FPS)..................... 97
GRÁFICO 12: DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA
FOCALIZADA E A ANTERIOR Porcentagem válida de diferença de intensidade
(positiva, negativa e sem diferença) entre a palavra focalizada e a anterior para Foco
Prosódico (FP) e Foco Prosódico e Sintático (FPS)....................................................... 99
11
GRÁFICO 13: PORCENTAGEM DE COINCIDÊNCIA ENTRE F0 MÁXIMA DO
ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA –Porcentagem de
casos em que o f0 máxima do enunciado incide e não incide na palavra focalizada, para
Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS)............................................. 103
Gráfico 14: MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA E PRÉ-TÔNICAS -
Porcentagem válida do maior valor de f0 em relação à tônica e à pré-tônica da palavra
focalizada, para Foco prosódico e sintático (FPS) e Foco prosódico (FP)................... 106
GRÁFICO 15: POSIÇÃO DO SEGMENTO ALONGADO EM RELAÇÃO À
TÔNICA Porcentagem de ocorrência do segmento alongado na sílaba tônica lexical
da palavra focalizada, pré-tônica e pós-tônica para Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS)........................................................................................... 109
GRÁFICO 16: PORCENTAGEM DE ENUNCIADOS EM QUE OCORRE
ALONGAMENTO Porcentagem de enunciados em que houve e em que não houve
alongamento de algum segmento na palavra focalizada, para Foco prosódico (FP) e
Foco prosódico e sintático (FPS).................................................................................. 109
12
RESUMO
Este trabalho objetivou analisar o padrão prosódico das manifestações de foco no
Português Brasileiro. Especificamente, pretendeu identificar, por meio da análise dos
parâmetros acústicos frequência fundamental, intensidade, duração e pausas, o padrão
do foco prosódico contrastivo, bem como verificar se este é modificado devido à sua co-
ocorrência com o foco sintático.
O corpus constitui-se do PROJETO POBH, proposto por Magalhães (2000). Foram
identificadas as ocorrências de foco prosódico contrastivo e, destas, foram separados os
casos em que o foco foi atribuído somente pela prosódia daqueles em que houve co-
ocorrência do foco prosódico com o sintático. Depois de realizada a análise acústica dos
dados, observando os parâmetros prosódicos acima elencados, os resultados obtidos nas
sentenças em que houve somente foco prosódico foram comparados com aqueles
referentes às sentenças em que co-ocorrem o foco prosódico e o sintático, a fim de
verificar se há influência da co-ocorrência no padrão prosódico.
Os resultados confirmaram que o foco prosódico contrastivo acarreta o aumento nos
valores da f0 e ainda indicaram que a duração é um parâmetro relevante para a
atribuição do fenômeno. A co-ocorrência do foco sintático com o prosódico, por sua
vez, modifica o padrão prosódico do foco contrastivo, pois ocasiona a elevação dos
valores de f0. Com base nos resultados obtidos, propôs-se, por fim, a caracterização do
fenômeno do foco.
13
ABSTRACT
This study objectified to analyze the prosodic pattern of the manifestations of focus in
Brazilian Portuguese. Specifically, we aimed identify, through analysis of acoustic
parameters of fundamental frequency, intensity, duration and pauses, the pattern of the
prosodic contrastive focus and see if it is modified due to its overlap with the syntactic
focus.
The corpus is constituted of POBH PROJECT, proposed by Magalhães (2000). We
identified the occurrence of prosodic contrastive focus, and were separated where it was
attributed only by prosody those in which there was overlap with the syntactic prosodic
focus. After performed the acoustic analysis of data, observing the prosodic parameters
listed above, the results in sentences in which there was only prosodic focus were
compared with those co-occurring prosodic and syntactic focus in order to verify if the
overlap influence of the prosodic pattern.
The results confirmed that the prosodic contrastive focus involves the increase in the
values of f0 and also indicated that the duration is a relevant parameter for the
phenomenon. The overlap with the syntactic focus, in turn, alters the pattern of prosodic
contrastive focus, it causes the elevation of the values of f0. Based on the results, it was
proposed then the characterization of the phenomenon of focus.
14
INTRODUÇÃO
O fenômeno da focalização tem sido estudado por uma gama de pesquisadores que,
muitas vezes, abarcam-no sob perspectivas diferentes, o que provoca divergências ao
conceituá-lo e caracterizá-lo. Por ser uma manifestação que engloba vários âmbitos da
gramática, os recortes de estudo costumam privilegiar por vezes a pragmática, por vezes
a sintaxe e, ainda, a prosódia ou a morfologia.
Quando o enfoque principal é pragmático, busca-se uma caracterização da estrutura
informacional do discurso (PRINCE, 1981; CHAFE, 1974), na qual, na maioria dos
estudos, é contraposta informação nova à dada. quando se privilegia a sintaxe, os
estudos formais procuram explicar a motivação que leva o constituinte focalizado a ser
movido para uma posição sintática específica (SZENDRŐI, 2001; PUSKAS, 1997). Por
fim, quando se investiga primariamente a manifestação prosódica do foco, busca-se um
padrão prosódico o qual indique que um constituinte/palavra está sendo focalizado em
uma determinada língua.
O que perpassa todos esses estudos, porém, é o consenso de que a Focalização diz
respeito ao destaque que se a elementos durante a produção lingüística, bem como
que foco constitui informação nova. Para Gonçalves (1998), Focalização é “o ato de
focalizar, ou seja, de acentuar, de ressaltar, de pôr em relevo/realce/evidência um
determinado item do texto” (GONÇALVES, 1997: 32).
15
Outro problema muito comum nas análises sobre o fenômeno se refere à conceituação.
São utilizados os termos foco contrastivo, estreito, largo, neutro ou informacional, bem
como a expressão ênfase. Mostra-se importante, portanto, demonstrar clareza quanto ao
fenômeno investigado. Nesse sentido, o trabalho aqui depreendido pretendeu investigar
a manifestação prosódica do foco contrastivo, considerando-o o destaque dado a uma
palavra ou constituinte por meio da prosódia, de forma a indicar que esse trecho compõe
informação nova e contrastá-lo com a informação dada que o circunda.
As línguas do mundo demonstram, porém, que é possível focalizar um elemento de
formas variadas, por meio de expedientes morfológicos, prosódicos ou sintáticos. Por
esse motivo, neste trabalho, o termo “focalização” referir-se-á à capacidade geral de se
destacar um elemento, seja por meio de estratégias gramaticais ou mesmo não
gramaticais, gestuais, por exemplo.. “Foco”, por sua vez, indicará a forma específica
que foi utilizada para garantir esse destaque, seja ela, no âmbito gramatical, sintática,
prosódica ou morfológica. Assim, embora a focalização seja um fenômeno geral, nela
estão incluídas as manifestações específicas: foco sintático, foco prosódico e/ou foco
morfológico. Este trabalho objetiva identificar o padrão do foco prosódico contrastivo
no Português de Belo Horizonte, sem deixar de investigar como se a formação do
foco prosódico na estrutura da gramática para o Português Brasileiro. Assumiu-se como
hipótese, para tanto, que o padrão do foco prosódico contrastivo pode ser identificado
por meio dos parâmetros prosódicos frequência fundamental, duração e pausas, bem
como se pretendeu verificar se a intensidade é aumentada quando ocorre o foco.
Embora as línguas tenham uma tendência na escolha de um mecanismo prosódico,
sintático ou morfológico –, é comum haver a co-ocorrência deles em uma mesma
língua. É o caso do Português Brasileiro (doravante PB) (GONÇALVES, 1997), no qual
16
a focalização sintática muitas vezes co-ocorre com a prosódica. Para o PB, portanto,
mostra-se relevante, ao se pesquisar o Foco, investigar não a atribuição prosódica do
mesmo, mas também a co-ocorrência dos mecanismos prosódicos e sintáticos, tanto
para a compreensão mais ampla do fenômeno, quanto para o aprofundamento da relação
prosódia/sintaxe dentro dos estudos lingüísticos. Este trabalho, nesse sentido, visou
verificar se a co-ocorrência do foco sintático influencia o padrão do foco prosódico,
assumindo como hipótese que a co-ocorrência das duas formas de focalizar modifica,
por meio de algum parâmetro acústico, o padrão do foco prosódico contrastivo.
No Capítulo 1, é realizada uma incursão na Fonologia Prosódica, bem como na Fonética
Acústica, que oferece arcabouço para o desenvolvimento das teorias fonológicas e da
própria fonética. Esse Capítulo, portanto, oferece embasamento teórico para o
desenvolvimento do estudo. No Capítulo 2, por sua vez, é realizado um levantamento
sobre os estudos existentes acerca do foco prosódico, tanto para o Português Brasileiro
quanto para outras línguas. Os estudos assumem posicionamentos teóricos e
procedimentos metodológicos variados, o que, muitas vezes, dificulta a comparação dos
resultados neles obtidos. no Capítulo 3, são descritas as estratégias metodológicas
adotadas neste estudo, com vistas a acatar ou refutar as hipóteses adotadas, atingindo,
assim, os objetivos do trabalho. Os resultados são descritos e discutidos no Capítulo 4,
com base no levantamento bibliográfico depreendido, bem como no desenrolar da
prática da pesquisa. Por fim, na Conclusão são sumarizados os resultados obtidos,
demonstrando de que forma os objetivos foram atingidos e em que este trabalho
contribui para as investigações acerca do fenômeno do foco prosódico.
17
1. CAPÍTULO 1 – PROSÓDIA
Quando se fala, são utilizados elementos variados para transmitir a mensagem
formulada. Fora o conhecimento da sintaxe e da semântica, há, ainda, a organização
sonora da fala, a qual permite que sejam formulados e articulados os sons que formarão
as palavras a serem transmitidas e, assim, a própria mensagem.
Os fones que compõem as palavras estão relacionados ao aspecto segmental da fala,
mas há ainda mecanismos suprassegmentais. A prosódia encontra-se em um nível
suprassegmental, pois “prosodic patterns usually extend over several sucessive
phoneme episodes or segments”
1
(PICKETT, 1999: 77). Roach (2002) define a prosódia
como a adição de traços suprassegmentais da fala aos sons, mas esses traços não são
opcionais, e sim intimamente ligados ao discurso. De acordo com Cagliari (1993), “A
função básica dos elementos prosódicos na linguagem oral é a de realçar ou reduzir
certas partes do discurso” (CAGLIARI, 1993: 46).
Kent e Read (1992) definem, como traços suprassegmentais da fala, os parâmetros
acústicos de frequência fundamental (f0), intensidade e duração física. Esses traços são
percebidos, respectivamente, como pitch, altura e duração percebida (length) e
apresentam como correlatos físicos frequência, amplitude e tempo.
Os traços prosódicos podem ser utilizados para estabelecer distinções gramaticais ou
mesmo para sinalizar as atitudes e emoções do falante. Os elementos prosódicos
1
“Padrões prosódicos normalmente se estendem sobre sucessivos episódios de fonemas ou segmentos”.
18
exercem as funções gramatical, atitudinal, informacional, indexal e ilocucionária
(GONÇALVES, 1997). Assim, as variações prosódicas podem ser utilizadas lingüística
ou expressivamente, como prevê Pickett (1999):
Both in everyday conversation and in formal discourse these prosodic
variations are used linguistically for what we say and expressively for
emphasis, attitudes, and intentions about what we are saying
(PICKETT, 1999: 75)
2
.
Vários aspectos da fala, tais como entonação, melodia, ritmo, acento, qualidade de voz,
taxa de fala, podem ser investigados levando-se em conta os traços prosódicos
(ROACH, 2002: 62).
Os termos prosódia e entonação, porém, são comumente igualados na literatura, embora
representem níveis diferentes. A entonação se refere aos padrões de subida e de descida
de pitch em uma determinada língua. Assim, a entonação é parte da prosódia, que a
prosódia abrange, ainda, outros fenômenos ocasionados pelos efeitos de tempo (pausa e
lentidão) e volume (KENT & READ, 1992:149).
Melodia, por sua vez, é “a matter of the train of relative pitch values that the listener
perceives in the succession of syllables that make up the utterance, within the
framework of the speaker’s assumed pitch range”
3
(LAVER, 1994: 457. Na análise da
melodia, considera-se que há dois usos fonológicos diferentes do pitch: aquele que
ocorre nos sistemas tonais e o que ocorre nos sistemas entoacionais. Nos sistemas
tonais, os padrões de pitch servem para diferenciar unidades no nível das palavras e das
sílabas individuais. Já nos sistemas entoacionais, o pitch serve para identificar entidades
lingüísticas nos níveis acima do da palavra, os da frase e da sentença. O Português
encaixa-se no segundo grupo, o dos sistemas entoacioanais.
2
“Tanto nas conversações diárias quanto no discurso formal, essas variações prosódicas são usadas
linguisticamente para aquilo que dizemos e expressivamente para ênfases, atitudes e intenções sobre o
que nós queremos dizer”.
3
“um tópico essencial nos valores relativos de pitch percebidos pelo ouvinte na sucessão de sílabas que
formam as sentenças, dentro do âmbito da extensão de pitch assumida pelo falante”.
19
Percebemos na fala, ainda, a recorrência, no tempo, de uma dada unidade de ritmo. Essa
recorrência não é objetiva, ou seja, ela não reflete uma isocronia, mas sim uma
tendência à isocronia (LAVER, 1994: 524). A percepção do ritmo deve-se à
coincidência, no léxico e no uso pragmático que é feito desse léxico em uma língua, de
sonoridade segmental, peso silábico e acento lexical (LAVER, 1994: 527). Dessa forma,
“Speech is perceived as a sequence of events in time, and the word rhythm is used to
refer to the way these events are distributed in time” (ROACH, 2002:67)
4
.
Para Morton e Tathan (2006), “As the term suprasegmental implies we are concerned
with phenomena which either linearly span or hierarchically dominate segments”
5
.
(MORTON e TATHAN, 2006: 121). Assim, importantes para o estudo da prosódia são
as relações de proeminência e de hierarquia.
A proeminência se refere à capacidade de percebermos certas sílabas como mais
notáveis que as outras (ROACH, 2002: 61). Laver (1994) considera que a sílaba
percebida como mais proeminente, em uma generalização, é a que demanda maior
esforço muscular por parte do falante para pronunciar seus segmentos. A proeminência
pode ser caracterizada por três fatores: manipulação do grau de acento lexical, o peso da
sílaba e a sonoridade dos segmentos que fazem parte da sílaba (LAVER, 1994).
Ladefoged (1975) destaca que uma sílaba tônica é mais destacada do que uma átona,
que é pronunciada com mais energia (LADEFOGED, 1975: 231). No que se refere ao
acento, há, além do acento lexical, o acento nuclear, o qual é usado para indicar a
localização da sílaba mais proeminente na frase. o acento enfático serve para “to call
4
“A fala é percebida como uma sequência de eventos no tempo, e a palavra ritmo é usada para se referir
ao modo como esses eventos são distribuídos no tempo”.
5
“O termo suprassegmental implica que estamos nos referindo a um fenômeno que tanto se estende
linearmente como domina hierarquicamente segmentos”.
20
the listener's attention to a given syllable or word with greater insistence than is
afforded merely by neutral patterns of intonation or lexical stress”
6
(LAVER, 1994, p.
515). O acento enfático pode ser usado para sinalizar o grau de intensidade sentida pelo
falante sobre o tópico tema da conversação, bem como para destacar uma sílaba que
normalmente não recebe acento lexical. Para Pickett (1999), o acento enfático é aquele
“used by speakers to empathize words or phrases considered to be especially
significant” (PICKETT, 1999, p. 78).
Tendo em vista que as línguas do mundo utilizam os traços prosódicos para criar
padrões próprios, várias teorias têm sido criadas dentro da fonologia de forma a captar e
explicar esses padrões. Este trabalho utilizará os pressupostos teóricos da Fonologia
Prosódica, que busca explicações para a organização hierárquica dos constituintes
prosódicos. Antes, porém, far-se-á uma incursão na Fonética Acústica, com o objetivo
de se delinear mais claramente os parâmetros prosódicos que serão aqui abarcados.
1.1.FONÉTICA ACÚSTICA
Apesar do estudo da fala pela fonética abranger três áreas – a fonética acústica, a
fisiológica e a perceptiva –, elas estão intimamente interligadas, pois, para se
compreender a organização acústica da fala, é necessário saber de sua formação no
corpo humano. Da mesma forma, o entendimento da percepção da fala prevê
conhecimentos sobre sua produção (KENT & READ, 1992).
A fala humana é produzida por meio do aparelho fonador, o qual se constitui dos
subsistemas respiratório, laríngeo e articulatório. A corrente de ar formada no pulmão é
6
“usado pelos falantes para enfatizar palavras ou consideradas especialmente significantes”.
21
expelida para a cavidade laríngea, onde as pregas vocais vibram-se, fazendo com que a
corrente assuma um aspecto periódico. Ela, então, vai para a cavidade oral (se o som for
nasal, a corrente será dividida também para a cavidade nasal), e lá serão determinadas as
propriedades de ressonância do som que o caracterizarão. O resultado, portanto, é uma
onda sonora cujas propriedades acústicas são frequência, intensidade e tempo.
A análise acústica visa decompor os sons nessas unidades, a fim de propiciar sua análise
objetiva. Assim, a fonética acústica descreve os sons da fala e como eles são formados
acusticamente (PICKETT, 1999: 5). Para Roach (2002), a fonética acústica concerne o
estudo físico do sinal da fala: “when sound travels through the air from the speaker's
mouth to the hearer's ear it does so in the form of vibrations in the air”
7
(ROACH, 2002:
3).
Hoje, essa análise é possível graças aos programas de análise acústica que possibilitam
a visão do sinal da fala pelo oscilograma (gráfico com intensidade na abscissa e tempo
na ordenada) e pelo espectograma (gráfico com frequência na abscissa, tempo na
ordenada e intensidade como acúmulo de energia
8
). A evolução dessa ciência, porém,
começou na década de 20 do último século, quando surgiram os primeiros
oscilogramas. Na década de 40 é que se desenvolveu o espectograma, e o
processamento digital só foi possível por volta dos anos 70 (SOARES, 2007).
Para Pickett (1999), a fonética acústica é a ciência que enfoca os padrões acústicos dos
sons e suas funções na linguagem:
The scientific study of speech sounds is acoustic phonetics, which
focuses especially on the sound patterns that function in language. In
other words, acoustics phonetics is the language science dealing with
the sound code of speech
9
. (PICKETT, 1999: 5)
7
“o som viaja através do ar da boca do falante até o ouvido do ouvinte sob a forma de vibrações do ar”.
8 No espectograma, a intensidade pode ser visualizada pelo maior destaque na cor.
9
“O estudo científico dos sons da fala concerne à fonética acústica, que enfoca principalmente os padrões
22
Na produção da fala, a influência de fatores intrínsecos e extrínsecos. Quanto aos
fatores intrínsecos, como os sons são produzidos por meio do aparelho vocal, através da
vibração das cordas vocais, da ressonância nas cavidades oral e nasal (no caso dos sons
nasais) e das interrupções e fricções, os segmentos apresentam duração e f0
influenciadas por esses padrões de produção. Além disso, são influenciados pelos sons
vizinhos, fazendo com que haja co-articulação, e agrupados em sílabas. Assim, Laver
(1994) destaca que:
The influence of local linguistic structure can be exercised on the
segment in terms of the articulatory characteristics of its neighboring
segments, the segmental structure of the syllable, the place of the
syllable in the overall utterance (initial, medial or final in the
utterance), and the number and type of syllables making up the local
rhythmic unit concerned
10
. (LAVER, 1994: 432)
os fatores extrínsecos abarcam desde o estado emocional, intenções, até velocidade
de fala.
A co-articulação e as próprias características da produção da fala fazem com que, na
análise acústica, os sons não sejam facilmente demarcados, mas sim que haja um
contínuo no sinal. Isso porque a produção da fala é muito rápida e há a sobreposição dos
traços acústicos de um fonema nos outros (PICKETT, 1999: 7). Mesmo assim, os
linguistas que se utilizam das análises acústicas buscam os traços acústicos em comum
nos fones, a fim de caracterizá-los linguisticamente.
Os parâmetros acústicos, como explicitado acima, são frequência fundamental,
intensidade e duração. Abaixo, será feita uma descrição de cada um deles.
de sons que têm função na linguagem. Em outras palavras, a fonética acústica é a ciência da
linguagem que delineia o código dos sons da fala”.
10
“A estrutura linguística local pode exercer influência no segmento em termos de características
articulatórias dos segmentos que são seus vizinhos, da estrutura segmental da sílaba, do local em que a
sílaba se encontra na sentença (inicial, medial ou final), e do número e tipo de sílabas rítmicas locais
que compõem a unidade em questão”.
23
1.1.1. Frequência fundamental
A frequência fundamental é o correlato acústico do pitch e caracteriza-se pela
frequência, ou taxa, de vibração das pregas vocais durante o vozeamento dos
segmentos. A frequência fundamental (f0) é medida em ciclos por segundo e sua
notação é Hertz (Hz) (LAVER, 1994: 450). Assim, Pickett (1999) afirma que “The
frequency spacing depends on the repetition rate of the pulses in the glottal wave”
11
(PICKETT, 1999: 55).
Pickett (1999) destaca que f0 depende da tensão das pregas vocais, da distribuição da
massa nessas pregas e da pressão subglotal. Dessa forma, como os valores de f0 estão
intimamente ligados à configuração do trato vocal, eles variam entre homens, mulheres
e crianças. Enquanto, para homens o valor é de aproximadamente 120 Hz, para as
mulheres é de 220 Hz e para as crianças, de 330 Hz. O ouvido humano, por sua vez, é
capaz de perceber alterações acima de 1 Hz (LAVER, 1994: 451).
1.1.2. Intensidade
A intensidade é o correlato físico da amplitude (valor da distância entre a pressão zero e
a pressão máxima da onda), e diz respeito à força da corrente de ar utilizada para a
produção da fala. Sua medida é feita em decibéis (dB). Assim, “quanto maior for a
amplitude de vibração das partículas, maior é a quantidade de energia transportada por
estas e maior é a sensação auditiva de intensidade do som” (MIRA MATEUS, 2004: 6).
11
A frequência depende da taxa de repetição dos pulsos na onda glótica”.
24
Embora os valores de intensidade não possam ser condicionados pela individualidade
do aparelho vocal (como as médias dos valores de pitch entre homens, mulheres e
crianças), vários fatores os influenciam, como o acento da comunidade sociolingüística,
o tom de voz ou a posição no turno conversacional:
Within such sociolinguistic constraints, a speaker’s loudness will
vary with relatively direct linguistic relevance such as the place of the
utterance in the speaking-turn, with paralinguistic factors such as the
tone of voice used, and extralinguistic factors such as the physical
and social location in which the conversation is taking place, and the
distance apart of the participants
12
. (LAVER, 1994: 500)
O ouvido humano é sensível às variações de intensidade acima de 1 dB (KENT &
READ, 1992: 11), sendo que esse valor corresponde a uma mudança de 10% (RUSSO
& BEHLAU, 1993: 10). O dobro da intensidade, por sua vez, corresponde a uma
diferença de 3 dB (LAVER, 1994: 502).
1.1.3. Duração
Duração é a quantidade de tempo demandado em um evento da fala, que pode ser um
som, sílaba ou enunciado. A duração, na fonética acústica, é geralmente medida em
milisegundos (ms). Em numa perspectiva articulatória, a duração envolve o controle dos
articuladores da língua e dos lábios em coordenação com a presença ou ausência de
fonação (PICKETT, 1999: 86). A expressão duração percebida (length) é comumente
utilizada para denotar a sensação auditiva da duração (ROACH, 2002: 23). Quanto à
percepção, em condições experimentais favoráveis, o sistema auditivo humano é capaz
de registrar diferenças temporais de duração muito finas (LAVER, 1994: 431).
12
“Dentro dessas restrições sociolinguísticas, a intensidade irá variar com relação a fatores cuja
relevância linguística é relativamente direta, como o local da sentença no turno convesacional, com
fatores paralinguisticos, como o tom de voz usado, e extralinguisticos, como a localização física e
social em que a conversação é realizada e a distância entre os participantes”.
25
A duração também é condicionada por uma série de variáveis, tanto intrínsecas quanto
extrínsecas. A duração intrínseca permite que um segmento ou traço seja percebido
como tal. os fatores extrínsecos incluem o acento, o tempo total e a continuidade da
sentença, bem como o estado paralinguistico do falante. Influências estruturais também
são importantes, tais como características articulatórias dos segmentos vizinhos, a
estrutura segmental da sílaba na qual o segmento está incluído, se essa sílaba é
acentuada ou não, o local da sílaba na sentença (inicial, medial ou final), e o número e
tipo de sílabas envolvidas na unidade rítmica local (LAVER, 1994: 432). Pickett (1999)
ainda enumera outros fatores: “the number of the syllables; the location of stress;
emphasis; boundaries between words, between phrases, between clauses, and between
sentences; and the influence of word importance and meaning/content”
13
(PICKETT,
1999: 86).
Tendo em vista as variáveis que influenciam a duração, optou-se neste trabalho por
realizar o procedimento de normalização dos segmentos a fim de diminuir as
influências extrínsecas e intrínsecas, já que tal procedimento
minimiza os efeitos de duração intrínseca (um segmento pode durar
mais simplesmente porque é, em média, intrinsecamente mais longo)
e a variabilidade da duração (um segmento pode durar mais
simplesmente porque é mais elástico, variável). (BARBOSA, 2006:
169).
Assim, a normalização é feita por meio do procedimento estatístico z-score, cujo
resultado é obtido em unidades de desvio-padrão, ou seja, ele especifica a distância do
valor medido de uma média do mesmo. O z-score apresenta a seguinte fórmula
(BARBOSA, 2006: 169):
z = dur - i μi
√ ∑i vari
13
“o número de sílabas; o local do acento; ênfases, fronteiras entre palavras, entre constituintes, entre
orações e entre sentenças; e a influência da importância da palavra no singificado/conteúdo”.
26
Sobre a fórmula, Barbosa (2006) explica que
A variável dur é a duração da unidade VV em milissegundos. O
par
(μi,; vari), média e variância de cada fone que compõe a
unidade VV, é tomado de uma tabela montada a partir do
cálculo desses dois descritores estatísticos de um
corpus com os
fones em todos os contextos fônicos que a fonotaxe da língua admite.
(BARBOSA, 2006: 169)
Embora Barbosa (2006) faça uso do z-score para normalizar as unidades VV, as quais
correspondem ao intervalo entre duas vogais, o procedimento pode ser usado
semelhantemente para segmentos individuais. Neste trabalho, o processo de
normalização será feito por meio de um script para o Praat
14
, de Arantes (2007), o qual
fornece os valores de duração e normalização dos segmentos presentes nas etiquetas
feitas manualmente no Praat. Os valores das médias e das variâncias dos segmentos
compõem-se da notação Sampa-PB, proposta por Arantes (no prelo), para segmentos
que ocorreram pouco em contexto focalizado, e, para aqueles que ocorreram com mais
freqüência nesse contexto, foram obtidas médias e variâncias dos mesmos segmentos
em contextos não focalizados, no próprio corpus.
1.2.FONOLOGIA MÉTRICA
A Fonologia Métrica surgiu formalmente com Lieberman e Prince (1977), visando
analisar o acento e as relações de proeminência por meio de uma concepção de
hierarquia, expressa pelas árvores e grades métricas. O modelo buscava formalizar a
relação rítmica das proeminências observada na literatura, como destaca Moraes
(1998): “Perceived as early as 1895 by Said Ali, this rhythmic alternations often extends
beyond the boundaries of single word, influencing the stress pattern of a prosodic group
14 Um software livre, de análise acústica, desenvolvido por Paul Boersma e David Weenink, doInstitut
of Phonetics Sciences
” da Universidade de Amsterdam.
27
(PG) consisting of more than one word”
15
(MORAES, 1998: 181).
Para Barbosa (2006), a Teoria Métrica tem “como pedras de toque as noções de
proeminência relativa, definida em termos de uma hierarquia de constituintes, e a de
ritmo lingüístico, definida pela via do alinhamento de material lingüístico com uma
grade métrica” (BARBOSA, 2006: 107).
As propostas inicias de Lieberman e Prince (1977) foram reformuladas posteriormente
por autores como Hayes, Selkirk, Prince, Kager e Goldsmith, os quais focavam
elementos mais específicos da teoria original (BARBOSA, 2006; REIS, 2006).
Na Teoria Métrica, o acento é considerado uma propriedade de caráter relacional e
aplicado tanto no nível da palavra, quanto no nível da frase. São formados constituintes
binários, dos quais um deve ser caracterizado como forte (strong s), e o outro, como
fraco (
weak w). Essa relação é formalizada nas grades métricas. Para Hernandorena
(2001), a grade métrica permite visualizar o ritmo, que organiza “em colunas, as
relações entre os elementos e, assim, expressa também a força relativa desses
elementos: quanto mais extensa for a coluna, maior será a sua força”
(HERNANDORENA, 2001: 78). A relação expressa é tal que um elemento receberá
o acento principal, e será aquele que carrega forte em todos os níveis. Abaixo, um
exemplo de representação na grade e árvore métricas:
15
“Percebida desde 1895 por Said Ali, essas alterações rítmicas frequentemente se estendem além da
fronteira de uma única palavra, influenciando o padrão acentual do Grupo Prosódico (PG) que
consiste de mais de uma palavra”.
28
Pedro es tu da na U ni ver si dade de A ra ra quara
(MASSINI-CAGLIARI, 2001: 77)
No exemplo acima, de Massini-Cagliari (2001), a sílaba “qua” [] receberá o acento
principal, pois é a única que apresenta forte (s) em todos os níveis, desde o silábico até o
da sentença. Convém destacar que tal sílaba apresenta forte em todos os níveis na
posição default do PB, isto é, em PB o acento nuclear tende a se posicionar à direita, e,
por esse motivo, essa posição constitui a default na língua.
Neste trabalho, será utilizado o pressuposto da Teoria Métrica pelo qual a sílaba que
carrega acento nuclear é a que apresenta forte em todos os níveis. Considerar-se-á a
estrutura default como a que apresenta o acento nuclear à direita do enunciado. Porém,
defender-se-á que essa estrutura não é fixa no PB, ou seja, no nível mais alto, a
atribuição do valor forte é flexível, variando de acordo com a organização
informacional e pragmática.
29
1.3.FONOLOGIA PROSÓDICA
A Fonologia Prosódica foi proposta por Nespor e Vogel (1986), seguindo o escopo de
Selkirk (1980). Ela prevê que a fala é organizada hierarquicamente em até sete
constituintes prosódicos, os quais são abaixo representados:
U enunciado
ru
I (I) frase entoacional
ru
Φ (Φ) frase fonológica
ru
C (C) grupo clítico
ru
ω (ω) palavra fonológica
ru
(∑)
ru
φ (φ) sílaba
Os seguintes princípios regem a hierarquia prosódica:
i) cada unidade da hierarquia prosódica é composta de uma ou mais
unidades da categoria imediatamente mais baixa;
ii) cada unidade está exaustivamente contida na unidade
imediatamente superior de que faz parte;
iii) os constituintes são estruturas n-árias;
iv) a relação de proeminência relativa, que se estabelece entre nós
irmãos, é tal que a um se atribui o valor forte (s) e a todos os
demais o valor fraco (w). (BISOL, 2001: 231)
A sílaba (σ) é a menor categoria prosódica, sendo, assim, “categoria basilar da
hierarquia prosódica e seu domínio é a palavra fonológica, ainda que intermediada pelo
pé métrico” (BISOL, 2001: 231). Ométrico (∑), por sua vez, constitui-se de duas ou
mais sílabas, das quais uma é o cabeça e as outras são o recessivo.
a palavra fonológica (ω) é o “nível em que se faz a interação entre os componentes
fonológico e morfológico da gramática” (BISOL, 2001: 233), assim, “a palavra
30
prosódica integra traços prosódicos como o acento e tem características que a
aproximam da palavra morfológica mas pode não coincidir com ela” (MIRA MATEUS,
2004: 14). Ela domina o em uma relação de proeminência tal que somente um
pode ser considerado forte. Isso acarreta que haverá um acento primário na palavra
fonológica. Seu domínio é igual à palavra terminal de uma árvore sintática ou menor do
que ela (BISOL, 2001).
O grupo clítico (C), por sua vez, segue a palavra fonológica e, muitas vezes, é
considerado como elemento da palavra fonológica. No Português, os clíticos
apresentam, ao mesmo tempo, certa dependência e independência da palavra adjacente
(BISOL, 2001), tanto que, para Mira Mateus (2004), “os recentes estudos de prosódia
sobre o português consideram que o Pé Métrico e o Grupo Clítico não encontram
justificação na organização rítmica da língua” (MIRA MATEUS, 2004: 8).
O constituinte que se segue é a frase fonológica (Φ), sobre a qual Nespor e Vogel
(1986) propuseram as seguintes regras de construção:
a) Domínio de (Φ)
O domínio de (Φ) consiste em um C que contém o cabeça lexical (X)
e todos os Cs de seu lado não recursivo até o C com outro cabeça fora
da projeção máxima de X.
b) Construção de (
Φ)
Junte em um (Φ) de constru
ção n-ária todos os Cs incluídos em uma
cadeia delimitada pela definição de domínio de (
Φ).
c) Proeminência relativa
Em línguas cujas árvores sintáticas são ramificadas à direita, o
mais à direita é rotulado
s; em línguas cujas árvores sintáticas são
ramificadas à esquerda, o mais à esquerda é rotulado
s. Todos os
nós irmãos de
s são rotulados w. (BISOL, 2001: 237)
A frase entoacional (I) é o domínio acima da frase fonológica e caracteriza-se por um
contorno entoacional identificável. A estruturação de um enunciado em frases
entoacionais está relacionada à velocidade de fala e a aspectos semânticos. Assim, em
uma seqüência de frases fonológicas (Φs) que constituam uma frase entoacional (I), a
31
frase fonológica forte é marcada devido a valores semânticos e “é variável, isto é, o
valor semântico pode mudar de foco” (BISOL, 2001: 239).
Por fim, o enunciado (U), constituinte prosódico mais alto, é delimitado pela extensão
de um constituinte sintático e deve abarcar uma proeminência relativa entre seus
componentes mais baixos (Is), que, no PB, caracteriza-se por portar forte o mais à
direita.
Cabe ressaltar que os constituintes prosódicos, embora possam coincidir com os
sintáticos, obrigatoriamente não necessitam de fazê-lo, ou seja, não uma relação
direta e unívoca entre os constituintes sintáticos e os prosódicos.
Neste trabalho, a Fonologia Prosódica será utilizada para se delimitar o domínio no qual
se encontra o elemento focalizado, que pode ir desde a palavra fonológica até o
enunciado.
32
2. CAPÍTULO 2 – FOCO
Este capítulo dedica-se a explorar os estudos existentes quanto à focalização
especificamente no que se refere aos focos prosódico e sintático e à ênfase, no PB e
em outras línguas. Para tanto, é necessário, primeiramente, elucidar a relação entre foco
e organização informacional e buscar um posicionamento quanto à variação da
nomenclatura para o fenômeno.
2.1.FOCO E ORGANIZAÇÃO INFORMACIONAL
Um mesmo enunciado pode ser ambíguo quanto a seu conteúdo informacional. Moraes
(2006) destaca as seguintes possibilidades de organização informacional para uma
mesma frase, o que pode ser evidenciado pelo chamado “teste de perguntas”:
(1)[Quais as novidades?] [José pintou o muro
ontem]R
(2)[O que José fez?] [José]T [pintou o muro
ontem]R
(3)[O que José pintou?] [José pintou]T [o muro
ontem]R
(4)[Quando José pintou o muro?] [José pintou o muro]T
[ontem]R
(5)[Quem pintou o muro ontem?] [José]R [pintou o muro
ontem]T
(6)[Que houve com o muro ontem?] [José pintou]R o muro
[ontem]T
(7)[O que foi feito com o muro ontem?] [José pintou o muro]R
[ontem]T
16
(MORAES, 2006: 280)
Heldner e Strangert (2001) consideram que “single words or larger constituents in
utterances (...) can be put in focus by the speaker to indicate that they are new or
16 T refere-se a tema, e R, a rema.
33
otherwise informative to the listener”
17
(HELDNER & STRANGERT, 2001: 330). Para
Jong (2004), “Within the signal, various attributes must be due to systemic
considerations in production, while others must be due to the encoding of linguistic
information”
18
(JONG, 2004: 495).
Em uma produção lingüística, o falante tem como objetivo transmitir informações.
Assim, ele estrutura seu discurso de forma que os enunciados sejam considerados
textos, e não somente frases isoladas. Os estudos que se dedicam a investigar a
composição informacional dos textos costumam dividir as informações de forma
bipartida, utilizando-se, para tanto, de uma ampla terminologia: dado/novo; velho/novo;
tema/rema; pressuposição/foco; fundo/figura; tópico/comentário. Mas as definições para
cada um dos componentes da dicotomia podem gerar interpretações variadas. Prince
(1981) destaca que três níveis por meio dos quais se podem analisar as distinções
entre dado/novo: a sentença, o discurso e o modelo discursivo dos participantes.
No que se refere à relação entre dado/novo e foco prosódico, os estudos tendem a
utilizar como base o nível situacional. Para Moraes (2006), o enunciado apresenta uma
estrutura informacional, na qual tema diz respeito à “porção que constitui a informação
previamente dada, ou inferível, portanto não (ou menos) relevante para a comunicação”;
enquanto rema refere-se à “parte que corresponde a sua informação central, nova”
(MORAES, 2006: 279). Makino e Medeiros (2001) defendem que o Foco ou a
informação focada constitui sempre informação nova, enquanto o que não é focado é
dado. Heldner e Strangert (2001) apresentam visão semelhante, bem como Kennedy
(1999), o qual também considera que o elemento focalizado é novo no discurso, não
presumível.
17
“Palavras sozinhas ou constituintes maiores no enunciado (...) podem ser colocados em foco para
indicar ao ouvinte que eles são novos ou informativos”.
18
“No sinal, vários atributos podem se dever a considerações sistêmicas da produção, enquanto outros
podem se dever à codificação da informação linguística.
34
Gonçalves (1997), da mesma forma, considera que o elemento focalizado constitui
sempre informação nova, apoiando-se no fato de a estratégia de enfatizar propor-se a
destacar/realçar elementos do enunciado, bem como de a porção focalizada constituir-se
da mais informativa e relevante do texto. Assim, o autor considera o que está fora do
foco como dado, ao passo que aquilo que é focalizado é novo. Mas, para ele, o elemento
é novo não necessariamente porque não foi enunciado anteriormente, mas sim porque
“o falante tende a interpretar como não susceptível de recuperação (a) nem a partir do
texto precedente (co-texto); e (b) nem por meio do contexto pragmático (situacional)
imediato” (GONÇALVES, 1998: 33).
Há, porém, controvérsias no que se refere à divisão bipartida dos constituintes
informacionais. Prince (1981) propõe uma divisão tripartida, utilizando a terminologia
“Familiaridade Assumida”. A “Familiaridade Assumida” pode, de acordo com a autora,
ser subdividida em: Novo, Inferível e Evocado, cada um dos quais apresentando,
também, subdivisões. Há, ainda, considerações sobre a organização informacional na
forma de um contínuo.
Nota-se, portanto, que as abordagens sobre Focalização e organização informacional
baseiam-se em uma divisão bipartida, a qual considera que, de um lado, há a informação
nova e, de outro, a dada
19
. As unidades informacionais de que se constitui a informação
focalizada são consideradas novas, em contrapartida àquelas não focalizadas, as quais
são, em geral, classificadas como dadas. Com isso, pode-se considerar o foco prosódico
sinalizador de informação nova nas línguas em que a principal manifestação da
focalização é a prosódia, como o PB.
19
Uma lacuna nos estudos sobre o fenômeno é a investigação se a organização informacional pode ser
considerada categórica (novo versus dado), ou se segue um contínuo, bem como a relação dessa
investigação com a manifestação prosódica.
35
2.2.VARIAÇÕES NA NOMENCALTURA
uma variação quanto à nomenclatura utilizada para definir o ato de se destacar um
constituinte ou uma palavra por meio da prosódia. Alguns autores optam por adotar
como terminologia Foco (SWERTS, KRAHER & AVESANI, 2002; D'IMPERIO,
2003; SZENDRŐI, 2001; LECUMBERRI & ABREU, 2003; FROTA, 1994;
LUCENTE & BARBOSA, 2008; MORAES, 2006; MAKINO & MEDEIROS, 2001),
outros, Ênfase (BATISTA, 2007; LADD & MORTON, 1997, SOARES, 2007), e
outros, ainda, igualam os dois termos sem estabelecer entre eles uma distinção (JONG,
2004; XU & XU, 2005; GONÇALVES, 1997).
Para melhor delimitá-los, Hirst e Di Cristo (1998) estabelecem que o foco relaciona-se
mais à organização informacional dos elementos na sentença, assumindo, portanto, uma
noção mais sintagmática. Já a ênfase, para os autores, relaciona-se ao contraste e
assume, assim, uma noção mais paradigmática. Os autores destacam que é possível que
uma palavra sozinha seja enfatizada, enquanto o foco, por pressupor uma relação de
contraste de informações, não permite que isso ocorra. Também para Batista (2007),
foco está relacionado à estruturação sintática e semântica do enunciado, caracterizando-
se, dessa forma, como um fenômeno estrutural. ênfase é “Uma saliência prosódica
opcional relacionada à estruturação pragmática do discurso, com a função de chamar
e/ou dirigir a atenção do ouvinte para determinados termos do enunciado” (BATISTA,
2007: 78). Esses termos enfatizados não têm necessariamente que constituir foco, ou
seja, não precisam desempenhar a função de reestruturação de informação.
Para Gonçalves (1998), porém, enquanto o foco assume uma noção mais paradigmática,
a articulação tema/rema é um fenômeno mais sintagmático. Assim, para ele, é o foco
36
que pode incidir em uma palavra sozinha, enquanto a articulação tema/rema não.
Apesar disso, o autor destaca que o foco relaciona-se necessariamente com um elemento
novo.
Outros termos constantemente utilizados na literatura são foco estreito (Narrow focus),
foco largo (Broad focus) e foco informacional (Informational focus).
O foco estreito é aquele em que presença de contraste ligado à organização
informacional, “apresentando um local específico de mudança no movimento melódico
para destacar uma palavra, identificando uma informação nova no contexto
conversacional (relaciona-se ao novo)” (BATISTA, 2005, p. 71). O termo foco
contrastivo é usado de maneira semelhante a foco estreito, podendo, ainda, referir-se a
um contraste ocasionado pela correção de um termo antes enunciado (MORAES, 2006).
o foco largo também é determinado pela estrutura, mas faz referência ao acento
normal, “sendo a sílaba em destaque a última sílaba tônica não possuindo, pois,
proeminência acentual (relaciona-se ao dado)” (BATISTA, 2005, p. 71). Assim, no foco
largo destaca-se todo o constituinte ou a sentença, sem que haja um elemento específico
focalizado. O termo foco neutro (Neutral focus) também é utilizado com esse mesmo
sentido.
O foco informacional, por sua vez, relaciona-se, da mesma forma, à estrutura e diz
respeito à parte da sentença que constitui informação nova, geralmente captada por uma
pergunta ou pelo contexto informacional prévios. Nesse sentido, o foco informacional
pode se compor tanto de constituintes como da sentença toda. Geralmente o termo “foco
informacional” é contraposto a foco contrastivo.
37
Swerts, Kraher e Avesani (2002) separam, em seu estudo, informação nova de
contrastiva, embora destaquem que há controvérsia se os dois tipos de acento que
marcam essa organização são entoacionalmente distintos em holandês. Xu & Xu
(2005) utilizam as expressões foco estreito e foco neutro. Na definição de foco, porém,
os autores, de certa maneira, igualam-no à ênfase, pois afirmam que “focus refers to an
emphasis on some part of a sentence as motivated by a particular discouse situation”
20
(XU & XU, 2005: 161).
O que é visível, portanto, é uma grande variação de terminologia para explicar o
fenômeno do foco prosódico, muitas vezes ocasionando problemas de conceituação e de
comparação entre os estudos. Ao mesmo tempo, foco e ênfase frequentemente não são
bem delimitados, e a separação proposta assume mais um viés pragmático do que
propriamente fonético/fonológico. Nesse sentido, Lieberman (1968) propõe que a
ênfase é uma proeminência que não é pré-ditada pelo ciclo do acento, e Moraes (1998)
destaca que o desvio do ritmo em certa palavra pode ser usado para enfatizá-la.
Além das dificuldades conceituais acima enumeradas, um agravante é que a maioria das
pesquisas acerca do foco prosódico utiliza como corpus sentenças controladas por meio
de testes de perguntas ou de experimentos. A dificuldade de se analisar os fenômenos na
fala espontânea ou semi-espontânea aumenta, pois se misturam ênfase e foco e é difícil
separá-los, já que tanto foco quanto ênfase fazem referência ao ‘highlighting’ do falante
em parte da sentença. (HIRST & DI CRISTO, 1998: 31).
20
“foco se refere a uma ênfase em alguma parte da sentença motivada por uma situação discursiva
particular”.
38
Mostra-se imperativo, portanto, buscar uma melhor separação entre esses dois
fenômenos, bem como um posicionamento claro quanto à ampla nomenclatura utilizada
para caracterizar o foco. Neste estudo, considera-se que foco assume uma relação de
contraste de informações, o que não é obrigatório para a ênfase.
2.3.DEFINIÇÕES E ABORDAGEM ADOTADAS NESTE TRABALHO
Os casos de foco prosódico investigados neste trabalho referem-se a foco contrastivo,
ou seja, aquele em que o destaque de uma informação nova no contexto
informacional, por meio do contraste com as outras informações presentes no
enunciado. Considera-se que o foco contrastivo se contrapõe ao foco neutro, no qual
não há o destaque de um constituinte informacional novo, ou seja, na sentença não há o
destaque de uma parte específica. Neste trabalho, assume-se que o foco neutro é
representado pela estrutura default do PB (BATISTA, 2007; FROTA, 1994; MORAES,
1998), na qual o acento nuclear recai à direita do grupo prosódico.
Assim, é importante ressaltar que o posicionamento teórico assumido neste trabalho é
que toda sentença apresenta foco, sendo que as sentenças default constituem-se, a priori,
de foco neutro, por apresentarem organização informacional. As sentenças que
apresentam foco contrastivo, por sua vez, pressupõem uma marcação que indique o
termo ou constituinte a ser destacado informacionalmente em relação aos demais.
Assumimos que essa marcação se por meio da prosódia, como propõe Gonçalves
(1998) e Moraes (1998, 2006), o que permite, inclusive, que uma sentença default deixe
de apresentar foco neutro e passe a apresentar foco contrastivo, ou seja, passe a
destacar, por meio de uma marcação prosódica, o último termo do grupo prosódico.
Esse é o fenômeno investigado neste trabalho, uma vez que as marcações das
39
ocorrências de foco prosódico contrastivo foram feitas por meio da percepção das
sílabas ou palavras destacadas, e, em alguns casos, estas se localizaram na posição a
priori default, ou seja, à direita do enunciado.
Julga-se, portanto, que os elementos destacados aqui investigados foram focalizados
prosodicamente e constituem informação nova e contrastiva. Nesse sentido, buscar-se-á
verificar como se a marcação do foco contrastivo, bem como o status de tal
fenômeno na organização gramatical do PB.
2.4.PADRÕES DE FOCO PROSÓDICO
Os estudos sobre a forma como as línguas utilizam a prosódia para focalizar um
elemento da sentença variam no que se refere aos objetivos. Alguns se atêm mais à
produção, enquanto outros se dispõem a clarificar melhor a percepção do fenômeno.
Neste trabalho, investigou-se a produção, por meio da análise dos parâmetros acústicos,
bem como a percepção, que se analisaram as palavras que foram marcadas
perceptivamente como focalizadas.
Em busca de um padrão fonológico que explique a produção do foco, Frota (1994) e
Szendrői (2001) utilizam os pressupostos da Teoria Métrica. Szendrői (2001) ainda
estende sua análise à corrente teórica da Teoria da Otimalidade. Lecumberri e Abreu
(2003) escolhem como embasamento a Teoria do Governo. E D’Imperio (2006), assim
como Grice e Savino (2003), optam pela Teoria Autossegmental. Xu e Xu (2005) e
Jong (2004), ao contrário, apresentam um estudo mais relacionado à fonética. Xu e Xu
(2005) ainda propõem uma explicação para o foco baseada em um modelo que leva em
40
consideração a perspectiva articulatória, o modelo PENTA
21
. Este trabalho, por sua vez,
realiza uma investigação fonética das manifestações prosódicas do foco, além de
investigar a composição do fenômeno na gramática, utilizando, para tanto, os
pressupostos teóricos da Fonologia Prosódica.
Além disso, os estudos variam quanto à amplitude das generalizações. Alguns autores
buscam uma explicação para o fenômeno no que se refere à língua específica com a
qual trabalham, enquanto outros ampliam sua análise, tentando explicar o fenômeno de
uma forma geral, que possa abarcar as línguas do mundo. Este trabalho investiga as
manifestações prosódicas do foco em PB, não objetivando, portanto, estender a análise
às línguas em geral.
Para Xu e Xu (2005), há, na verdade, os dois aspectos. Eles propõem que as línguas que
utilizam o foco prosódico fazem, em geral, ajustamentos na extensão do pitch
diretamente relacionados ao foco. Cada língua, porém, escolhe a forma como são
atribuídos os alvos de pitch na sílaba tônica da palavra focalizada.
Szendrői (2001) propõe dois princípios que norteiam a caracterização do foco nas
línguas em geral. O primeiro princípio dispõe que o foco de uma sentença será qualquer
constituinte que contenha o acento principal da frase entoacional correspondente à
sentença. o segundo prediz que o material que não constitui o acento principal é
dado. Dessa forma, o foco de um IP corresponde ao constituinte contendo o acento
principal desse IP. Szendrői (2001) destaca que toda língua tem um padrão acentual
neutro, não marcado, dado pela regra de acento nuclear (nuclear stress rule (NSR)). Ela
propõe que o foco ocorre na interface e é uma operação opcional de subida de acento,
21 PENTA é a abreviatura de Parallel Encoding and Target Approximation, modelo que será abordado a
seguir.
41
sujeita à economia, pois se aplica caso o elemento a ser destacado não seja o mais
proeminente na aplicação de NSR. Assim, toda sentença apresentará foco, que se
constituirá do elemento que apresente o acento principal.
Szendr
ői (2001) ainda propõe, no escopo da Teoria da Otimalidade, que as línguas
focalizam um elemento por meio de três restrições: prosódica, sintática e mapeamento.
Enquanto na restrição prosódica o acento nuclear é deslocado para o elemento
focalizado, na sintática é o elemento focalizado que se desloca para a posição de acento
nuclear. Por fim, no mapeamento,
a organização das estruturas sintática e prosódica é
alterada de modo que o elemento a ser focalizado apareça em uma borda relevante do
domínio fonológico para receber o acento principal.
A autora analisa o húngaro, o inglês e
o italiano, e a diferença entre as três línguas estaria no ranqueamento dessas restrições.
A maioria dos estudos sobre o foco prosódico, porém, não busca generalizar os
resultados obtidos para as línguas em geral, mas sim encontrar um padrão que
represente o foco prosódico na língua à qual se refere. Abaixo, são apresentados estudos
relativos à focalização prosódica no português europeu, inglês, italiano e espanhol
castelhano.
Frota (1994) pesquisa a interferência do foco na construção de constituintes fonológicos
em português europeu e a caracterização prosódica do foco, no que se refere à
proeminência e à entonação. Ao investigar evidências segmentais, duracionais e
entoacionais, a autora constata que o foco não afeta a construção dos constituintes
fonológicos em Português Europeu. Frota (1994) destaca que a tônica do elemento
focalizado é mais longa e mais intensa, o que a caracteriza como um acento a um nível
superior ao da palavra, o do sintagma
42
No âmbito da Teoria Métrica, a autora propõe que o constituinte focalizado apresenta
proeminência forte, enquanto outros nós irmãos apresentam proeminência fraca. Assim,
por tratar-se de uma proeminência forte, o constituinte focalizado vem sempre
associado a um acento tonal, o qual é específico do Foco caso haja somente o foco
prosódico. No Português Europeu esse acento assume a forma tonal H*+L, ou seja,
um acento tonal alto na sílaba tônica seguido de um tom baixo.
Lecumberri e Abreu (2003) investigam a manifestação fonológica do foco em espanhol
castelhano. As autoras utilizam dados obtidos por meio de perguntas que direcionam o
informante a focalizar, na resposta, o sujeito, o verbo, todo o predicado ou o objeto. As
perguntas são construídas de forma que o foco a ser obtido caracterize informação nova,
e não contrastiva. A proposta das autoras assemelha-se à de Frota (1994) e Szendrői
(2001), que, na grade métrica, foco equivale, no domínio do grupo prosódico, ao
núcleo e é obrigatório, enquanto dado, opcional, equivale a onset. Em espanhol
castelhano, o núcleo é alinhado à direita do grupo prosódico. Os resultados mostram,
ainda, que o abaixamento de f0 característico de downstep
22
é um dos sinais
entoacionais de foco naquela língua.
Swerts, Krahmer e Avesani (2002) investigam a marcação prosódica do status
informacional em holandês e italiano, em NPs. As autoras objetivam primeiramente
descrever a forma como as duas línguas marcam a organização informacional,
comparando-as. Para tanto, analisam o padrão da curva melódica para cada um dos
contextos informacionais: informação nova, dada ou contrastiva. Os resultados
demonstram que as duas línguas diferem quanto à forma de sinalizar prosodicamente a
22 Abaixamento interativo entre sucessivos pontos altos na unidade entoacional sem intervenção de tons
baixos (HIRST & DI CRISTO, 1998: 21)
43
organização informacional. Enquanto no holandês o padrão acentual é o que melhor
discrimina a informação nova da contrastiva, sendo a informação dada desacentuada, no
italiano a prosódia parece não marcar o status informacional, resultado que difere do
proposto por Lecumberri e Abreu (2003).
D’Imperio (2003) investiga a estrutura tonal das sentenças afirmativas em que foco
estreito, em italiano napolitano. Ela nota que, nesses casos, há um vale medial entre dois
tons altos (H), semelhantemente ao que ocorre nas sentenças interrogativas parciais nas
quais constituintes são focalizados. A autora analisa sentenças afirmativas em que o
constituinte focalizado contém uma, duas ou três palavras e os resultados demonstram
que a melhor estrutura tonal para caracterizar essas sentenças é LH, ou seja, um tom
baixo seguido de um alto, o que comprova a similaridade entre as sentenças afirmativas
e as interrogativas.
Grice e Savino (2003) tomam como objeto de estudo as interrogativas e a relação que
estas estabelecem com a organização informacional. Assim, elas buscam padrões que
diferenciem, no italiano de Bari, as questões polares do tipo sim-não que se referem à
informação nova daquelas que se referem à informação dada. O material utilizado para a
análise é obtido por meio de um jogo, e o pressuposto teórico utilizado é a Teoria
Autossegmental e Métrica. As autoras concluem que, naquela língua, há uma clara
distinção entoacional entre as questões polares que perguntam sobre informação nova e
aquelas que perguntam sobre informação dada, com padrões definidos dentro do
pressuposto teórico que assumem (L+H*, para informação nova, e H*+L ou H+L*, para
informação dada).
44
Xu e Xu (2005) criticam o enfoque dado ao fenômeno da focalização nas teorias
fonológicas Autossegmental e Métrica e de tom nuclear. Eles argumentam que essas
teorias preocupam-se mais com a forma dos tons do que com a função pragmática por
eles exercida, além de não abarcarem o alinhamento tonal. Os autores propõem, assim,
um modelo alternativo baseado na perspectiva articulatória, o modelo PENTA, o qual
organiza os componentes comunicativos da melodia da fala baseado na função, e não na
forma. O objeto de estudo é a realização fonética do foco em sentenças declarativas com
diferentes condições de foco (inicial, medial e final) e taxa de fala (normal e rápida), em
inglês. Os autores utilizam dados coletados por meio de teste de perguntas, ou seja, são
feitas perguntas que direcionam o falante a focalizar determinado elemento da sentença.
Os resultados mostram que a extensão do pico de f0 aumenta na sílaba tônica da palavra
focalizada, enquanto no item pós-focal a extensão é comprimida e abaixada. Já nos itens
pré-focais, ela se mantém neutra. A posição do pico de f0, no entanto, é, em grande
medida, a mesma com ou sem foco estreito. Há, ainda, picos de f0 pós-focais que se
relacionam com a sílaba tônica lexical das palavras. Quanto ao alinhamento, o vale de
f0 alinha-se com o ataque da sílaba tônica, e o pico de f0 com o final da sílaba tônica
quando esta não é focalizada. Ao contrário, quando foco e a sílaba final da palavra é
tônica ou encontra-se no final da sentença, o pico de f0 ocorre antes do final da sílaba
tônica.
Também Jong (2004) investiga o foco em inglês, buscando elucidar as diferenças
formais entre foco e tonicidade, pesquisando especificamente o parâmetro duração. Para
o autor, ambos os fenômenos podem ser definidos em termos de uma hiperarticulação,
em que o falante atenta mais para a informação lingüística do que para pressões
relativas à economia na articulação. O autor conclui que foco e tonicidade são
45
fenômenos semelhantes na forma, o que os distingue, porém, é a função. A tonicidade
assume um aspecto convencional entre os falantes de uma determinada língua, já o foco
relaciona-se mais à situação discursiva.
O que perpassa a maioria dos estudos acima apresentados é a consideração de que foco
refere-se à informação nova e de que sua manifestação pode ser caracterizada por uma
elevação de pitch (com exceção do espanhol castelhano, no qual o abaixamento de
pitch, em um fenômeno de downstep, representa, em alguns contextos, o foco). Este
trabalho considera que foco diz respeito à informação nova, e pretende investigar se se
aplica ao PB a elevação de pitch ocasionada pelo fenômeno. Além disso, todos os
estudos apresentados trabalham com dados coletados de forma controlada, por meio de
experimentos ou teste de perguntas, ao contrário deste estudo, que contribui para a
investigação ao utilizar dados de fala semi-espontânea.
2.5.PERCEPÇÃO DO FOCO PROSÓDICO E DA ÊNFASE
No que se refere à percepção, Ladd e Morton (1997) tomam como objeto de pesquisa a
ênfase, no inglês, e buscam verificar se a diferença entre o acento normal e o enfático é
gradiente ou categórica. que a ênfase se caracteriza como uma elevação da curva de
f0, os autores investigam se o aumento gradativo dessa curva acarretaria uma percepção
categórica ou contínua da ênfase. Se categórica, à medida que se aumentassem os
valores de f0 na sílaba, deveria haver um ponto em que o ouvinte passaria a percebê-la
como enfática.
Os resultados demonstram que, apesar de haver uma tendência para se interpretar o
fenômeno como categórico, a percepção não pode ser assim considerada, pois o ponto
46
de mudança não fica bem definido. A fronteira entre as categorias enfático/normal no
continuum do pico de f0 fica mais clara quando o alinhamento da curva de f0 é tardio
23
,
o que sugere que o alinhamento tardio é mais enfático. Além disso, os autores destacam
que a percepção de similaridade entre duas sentenças com um acento nuclear, que
diferem somente quanto aos valores de f0, depende fortemente da ordem em que as
sentenças são apresentadas.
Quanto à ordem de apresentação de sentenças, Swerts, Krahmer e Avesani (2002)
obtiveram resultado semelhante em um de seus experimentos sobre foco prosódico em
holandês e italiano. As autoras ainda investigaram se as diferenças no padrão acentual
para informação nova, dada ou contrastiva se refletem na percepção da ênfase. Já que no
holandês os acentos para marcar informação nova e contrastiva são foneticamente
diferentes, o acento contrastivo é percebido como mais enfático. Quanto ao italiano,
como, para as autoras, não uma distinção entre os padrões de acento, elas afirmam
que parece haver uma tendência de que os falantes da língua utilizem diferenças de
gradiência para distinguir entre o acento da informação dada e o da informação nova.
Por fim, as autoras mostram, por meio de um teste perceptivo, que os ouvintes
holandeses são capazes, na maioria dos casos, de reconstruir a história do diálogo com
base apenas nas propriedades prosódicas das sentenças, o que não ocorre com os
ouvintes italianos.
Este trabalho, apesar de não ter realizado testes perceptivos, utilizou como
procedimento metodológico a marcação perceptiva das ocorrências de foco, o que
indica que as análises aqui depreendidas refletem o fenômeno não demarcado pela
produção, mas principalmente pela percepção.
23 No alinhamento tardio, o pico de f0 é alinhado com o final da sílaba tônica.
47
2.6.FOCO PROSÓDICO E ÊNFASE NO PORTUGUÊS DO BRASIL
Gonçalves (1998) pesquisa a focalização no Português Brasileiro e apresenta seus
resultados separados de acordo com a classificação que propõe para os tipos de foco
prosódico. Ele os subdivide em três grupos maiores: a Ênfase Contrastiva, aquela em
que “o elemento enfatizado contrasta com outro, previamente expresso na sentença ou
inferido a partir do contexto situacional” (GONÇALVES, 1998: 203); a Ênfase
Intensiva, quando um “mecanismo prosódico-entoacional é utilizado para intensificar
unidades lexicais suscetíveis de quantificação” (GONÇALVES, 1998: 215); e a Ênfase
por Silabação, na qual “os falantes literalmente “escandiram” as sílabas dos vocábulos,
colocando em relevo seu conteúdo semântico basicamente através (a) do Ritmo e (b) da
Pausa” (GONÇALVES, 1998: 221). Cada grupo, porém, apresenta outras subdivisões,
que são apresentadas abaixo, bem como o padrão prosódico encontrado em cada uma
delas:
Ênfase Contrastiva Unilateral: ocorre se “somente um dos membros do contraste
for marcado prosodicamente (isto é, receber Acento Enfático)” (GONÇALVES,
1997: 208). O Acento Enfático manifesta-se, principalmente, por meio de
elevação de f0. Nesse caso, a posição canônica (que demonstra uma tendência)
para o Acento Enfático é a segunda pré-tônica e a atuação conjunta de f0 e
intensidade, enquanto a duração não se mostra relevante.
Ênfase Contrastiva Bilateral: se “os dois membros em confronto forem
marcados prosodicamente” (GONÇALVES, 1997: 208). A manifestação do
Acento Enfático se dá, no caso da primeira palavra focalizada, da mesma forma
que na Ênfase Unilateral, enquanto com a segunda palavra focalizada, f0 atua
48
negativamente e sempre na tônica, ao passo que intensidade e duração não
atuam.
Ênfase Intensiva Com Marcador Focal: nesse caso, a presença de um
intensificador textual, como marcador focal, advérbio, quantificador ou afixo.
Há a elevação de f0 na tônica do intensificador e declínio da mesma na tônica do
intensificado, reforçados por aumento de intensidade em ambas as tônicas,
sendo maior na do intensificador, e não atuação significativa do parâmetro
duração.
Ênfase Intensiva Sem Marcador Focal: a focalização manifesta-se somente por
meio da Prosódia, sem atuação concomitante da Sintaxe. O parâmetro mais
marcante aqui é a duração, pois um alongamento “exagerado” da tônica do
item lexical focalizado. A f0 se apresenta alta na pré-tônica, espraiando-se
para a tônica, e a intensidade atua concomitantemente na tônica.
Vocábulos naturalmente enfáticos: o autor destaca como vocábulos que
carregam a ênfase no seu sentido lexical “péssimo, terrível, ótimo, adorar,
maravilhoso, fantástico, incrível, horror”, e assim os considera naturalmente
enfáticos. Neles a elevação de f0 na primeira sílaba (átona ou tônica) da
palavra, e nas demais sílabas a frequência declina. Há a atuação concomitante da
intensidade na primeira sílaba e a duração não é um parâmetro relevante nesses
casos.
Ênfase por Silabação: a pausa entre as sílabas do item lexical enfatizado faz com
que se passe de um ritmo acentual para silábico. Tanto a duração quanto a
49
intensidade são relativamente constantes nas sílabas do vocábulo e a primeira
sílaba apresenta os índices mais altos de f0, embora o nível elevado se sustente
em todas as sílabas.
Nota-se, portanto, pelos resultados obtidos por Gonçalves (1997), que é mais recorrente,
dentro das suas subdivisões, haver a elevação de f0 nas sílabas pré-tônicas, e a
intensidade é o parâmetro que atua em conjunto na maioria dos casos, ao contrário da
duração.
Makino e Medeiros (2001) investigam o foco utilizando como variáveis quatro
modalidades sintáticas (imperativa, declarativa, interrogativa total e interrogativa
parcial) e três posições acentuais na palavra focalizada (proparoxítona, paroxítona,
oxítona). Os resultados obtidos foram de que “(i) o foco atrai o f0 mais alto para sílabas
tônicas nas proparoxítonas e nas paroxítonas, e para pré-tônicas, nestas últimas e nas
oxítonas, ao que chamaremos de regra de antecipação do pitch e (ii) promove o
contraste entre as sílabas através de uma grande variação de f0”.
Moraes (2006) propõe uma outra divisão para os casos de foco prosódico: 'Focalização
neutra', 'Focalização contrastiva com valor exclusivo' e 'Focalização contrastiva com
valor não-exclusivo'.
A focalização neutra diz respeito à “entonação dada ao enunciado, fazendo com que ele
seja capaz de veicular uma informação (Rema) solicitada numa pergunta feita
previamente pelo interlocutor” (MORAES, 2006: 280). O autor agrupa as possíveis
formas de se focalizar em três grupos, quanto à organização de tema e rema: enunciado
monorremático (todo enunciado constitui rema), tema anteposto e rema anteposto. No
50
que se refere à focalização neutra, mostra que, no enunciado monorremático, não
uma ruptura melódica rígida. Caso tema seja anteposto, a curva de f0 mostra-se
ascendente sobre a tônica final do tema e descendente sobre a tônica final do rema. Se,
ao contrário, o rema vier anteposto, f0 se mostrará descendente sobre a tônica final do
rema e sobre a tônica final do tema.
A focalização contrastiva com valor exclusivo diz respeito a “um contraste entre um
elemento do enunciado e um outro referido anteriormente, com a finalidade específica
de retificar ou contradizer uma informação, supostamente errada, que vem a ser
fornecida pelo ouvinte” (MORAES, 2006: 284). Nesse caso: (i) a tônica do item lexical
enfatizado apresenta nível melódico médio (ou médio-baixo); (ii) o nível melódico da
pré-tônica é alto (frequentemente extra-alto); (iii) não há alteração significativa do
padrão melódico na parte do enunciado que precede o item lexical enfatizado; (iv)
quando comparada à sílaba correspondente do enunciado neutro, a sílaba tônica do
vocábulo enfatizado apresenta intensidade e duração maiores (MORAES, 2006).
Por fim, a focalização contrastiva com valor não exclusivo é considerada “mais tênue,
em que o falante contesta o que foi dito com pouca força, de maneira menos incisiva”,
pois “embora haja contraste, pode-se admitir a verdade simultânea do que diz o falante e
do que foi anteriormente dito pelo interlocutor” (MORAES, 2006, p. 286). Aqui, o
elemento enfatizado ocupa a posição inicial do enunciado, o que não ocorre na
focalização exclusiva. O autor mostra que, no que se refere à curva melódica, uma
modulação ascendente na primeira tônica, para um tom alto, a qual se mantém, “numa
espécie de platô”, até a pré-tônica final, havendo, em seguida, um declínio da curva
melódica, que volta ao nível baixo sobre a última tônica do enunciado.
51
Fernandes (2007) compara o padrão tonal das sentenças neutras e das sentenças com
foco estreito no sujeito, utilizando como escopo a Teoria Autossegmental e Métrica. Os
dados são coletados de forma controlada e os resultados indicam que, enquanto nas
sentenças neutras é opcional que se tenha um acento tonal associado com todas as
palavras prosódicas (ωs), quando foco estreito no sujeito, duas condições definem o
padrão encontrado;
i) Quando a frase fonológica (φ) que contém o sujeito não é ramificada, sempre
um acento tonal associado com a sílaba tônica da palavra fonológica (ω),
e pode haver um acento associado com a fronteira direita da φ.
ii) Quando a frase fonológica (φ) que contém o foco é ramificada:
a) pode haver um acento tonal associado com cada palavra fonológica (ω) contida
na φ, e ainda é opcional um acento tonal associado à fronteira direita da φ;
b) haverá um acento tonal associado ao cabeça do φ e é opcional um acento
associado à fronteira direita da φ.
Batista (2007), por sua vez, investiga a ênfase prosódica na locução do telejornalista,
sob o escopo da Teoria do Grupo Tonal de Halliday. Ela considera a ênfase uma
proeminência acentual e ocupa-se em diferenciar a sílaba tônica enfática (TE) da sílaba
tônica saliente (TS) no Grupo Tonal, bem como da sílaba tônica rítmica (TR). Foram
utilizados como parâmetros a intensidade, o intervalo melódico (variação da frequência
fundamental medida na vogal da sílaba), o contorno melódico (referente à subida,
descida ou ausência de variação de f0 no intervalo melódico), os valores finais e iniciais
de f0 e a duração.
52
De acordo com os resultados obtidos por Batista (2007), a intensidade não se mostrou
significante para a atribuição da ênfase. No que se refere ao contorno melódico, o
predominante na sílaba tônica enfática foi o ascendente, mas a autora destaca que esse
não é um parâmetro que possibilita a diferenciação da TE das outras tônicas (TS e TR),
pois a tônica rítmica também apresentou como padrão o contorno melódico ascendente,
e a tônica saliente apresentou variações entre o contorno ascendente e o descendente.
o intervalo melódico foi considerado significativo para diferenciar a TE das outras
tônicas analisadas, que a tônica enfática apresentou a maior amplitude melódica
quando comparada às demais, e a diferença entre a TE e as TR e TS, quanto a esse
parâmetro, é estatisticamente significativa. Também o valor inicial de f0 foi considerado
válido para identificação da tônica enfática, pois, tanto no contorno melódico
ascendente quanto no descendente e no nivelado, houve um aumento do valor inicial de
f0 quando comparado com as outras tônicas. O mesmo ocorreu no que se refere ao valor
final de f0. Por fim, quanto à duração, a autora destaca que “apesar dos resultados terem
sido bastante sugestivos sobre a tendência da duração ser um parâmetro de grande
importância na produção enfática, diferenciando essa das demais sílabas tônicas os
achados não foram conclusivos” (BATISTA, 2007: 154).
Também Soares (2007) investiga a ênfase no telejornalismo. A autora obtém os casos
de ênfase por meio da marcação auditivo-perceptiva de uma trecho jornalístico em off.
Ela utiliza como parâmetros de análise acústica f0, duração e intensidade. Os resultados
indicam a importância da variação dos três parâmetros na sílaba enfática.
Lucente e Barbosa (2008) investigam o foco estreito no Português Brasileiro utilizando
o sistema de notação entoacional ToBiPi
24
. Os autores utilizam um corpus de fala
24 Transcription of Brazilian Portuguese Intonation.
53
espontânea. Os resultados mostram que, em posição medial, o foco estreito se realiza
por meio do padrão de subida LH, ou seja, por um pico de f0 alto posicionado no meio
da sílaba tônica e precedido por um tom baixo. Ele também pode se realizar, porém, por
meio do padrão HLH, no qual dois tons altos em sílabas adjacentes, com o segundo
menor que o primeiro e, ao mesmo tempo, mais alto do que a descida entre eles. Em
posição final, o foco é representado pelo padrão HL, cujo tom baixo se alinha com o
meio da sílaba tônica, e pelo padrão LHL, no qual dois tons altos e o segundo é
sempre mais baixo que o tom precedente. Os autores destacam, ainda, que, em posição
final, o padrão LHL é usado nos casos em que uma focalização fraca, enquanto o
padrão HL representa uma focalização mais enfática.
As investigações sobre o padrão prosódico do foco em PB, portanto, por considerarem-
no uma proeminência, destacam que o aumento nos valores da f0, fazendo com que
haja modificações na curva melódica. Parece haver uma tendência à antecipação de
pitch (nos termos de Makino e Medeiros (2001)), como demonstram a maioria dos
resultados de Gonçalves (1997), os padrões encontrados por Moraes (2006) para a
focalização contrastiva com valor exclusivo, e por Makino e Medeiros (2001) para as
paroxítonas e oxítonas focalizadas.
Quanto à duração, não um consenso, que Gonçalves (1997) não a considera um
parâmetro relevante na maioria dos casos por ele investigados, enquanto Batista (2007)
assume haver uma tendência de importância da duração, e Soares (2007) considera a
duração um parâmetro relevante para a atribuição da ênfase. no que se refere à
intensidade, Soares (2007) a considera um parâmetro relevante, assim como Gonçalves
(1997), na maioria dos casos, enquanto Batista (2007) defende o contrário.
54
Este trabalho objetiva investigar se se confirma a elevação de f0 na palavra focalizada,
utilizando como domínio de estudo o enunciado e, ainda, utilizando um corpus
composto por fala semi-espontânea. Além disso, pretende suprir a lacuna do papel da
duração na atribuição do fenômeno, por meio do procedimento de normalização, que
valida os resultados obtidos. Investiga, também, se a pausa pode indicar o fenômeno, o
que não é abarcado nos outros estudos realizados sobre o PB. Por fim, preocupa-se
com a relação entre sintaxe e prosódia, ao verificar se a co-ocorrência do foco prosódico
com o sintático influencia o padrão prosódico do foco contrastivo, abordagem que não
foi enfocada nos outros estudos sobre o fenômeno.
2.7.FOCO SINTÁTICO
Variações na estrutura sintática também podem ser consideradas mecanismos de
focalização. línguas em que uma estrutura sintática específica a qual sinaliza que
um elemento está sendo focalizado. Um exemplo seria o húngaro (PUSKAS, 1997;
SZENDRŐI, 2001). nas línguas em que o foco não é atribuído primariamente pela
sintaxe, são outros módulos que garantem o fenômeno, mas isso não impede que haja
um reforço da sintaxe para se focalizar. Nesse sentido, uma estrutura sintática que não
seja a default na língua pode ser sobreposta aos mecanismos prosódicos de focalização.
É o caso do Português Brasileiro (GONÇALVES, 1997).
O PB é considerado uma língua cuja estrutura sintática básica apresenta a ordem
Sujeito-Verbo-Objeto. Estruturas sintáticas em que essa ordem seja quebrada, fazendo
com que haja inversões, são consideradas mecanismos sintáticos de focalização. São
exemplos desses mecanismos a topicalização e o deslocamento à esquerda, bem como a
clivagem de sentenças.
55
Nesse sentido, a topicalização ocorre quando “alteração na seqüenciação “canônica”
dos elementos do enunciado, que são deslocados para a posição inicial para (i) efeitos
de contraste ou para (ii) introduzir novo tópico discursivo” (GONÇALVES, 1997: 125).
Nos resultados de Gonçalves (1998), 18,7 % dos casos de focalização constam de
topicalizações adicionadas ao foco prosódico. Para Moraes e Orsini (2003), o Tópico é
caracterizado como “o sintagma nominal anterior, externo à sentença, normalmente
ativado no contexto discursivo, sobre o qual se faz uma proposição por meio de uma
sentença-comentário” (MORAES & ORSINI, 2003: 262).
Callou et al. (1996) consideram que Topicalização e Deslocamento à Esquerda dizem
respeito a sentenças em que o SN é externo e inicial. A separação entre os dois
fenômenos, para os autores, refere-se à presença de um elemento pronominal no interior
da sentença: enquanto nos casos de Topicalização o pronome não se mostra presente,
havendo uma categoria vazia co-indexada ao SN, no Deslocamento à Esquerda, o
elemento pronominal existe. Assim, a frase “A casa, eu comprei” seria um exemplo de
Tópico, enquanto “A casa, eu a comprei”, o seria de Deslocamento à Esquerda.
Para Gonçalves (1997), na clivagem de sentenças, a modificação da ordem canônica
dos elementos das sentenças, sendo utilizadas sentenças relativas. Por isso, as clivadas
“caracterizam-se formalmente por apresentarem o auxiliar 'ser' seguido de um elemento
QU (ou precedido dele, no caso das pseudoclivadas)” (GONÇALVES, 1997: 119). Um
exemplo é a seguinte construção: “Foi ele que disse aquilo”. Os informantes de
Fernandes (2007), para garantirem o foco estreito no sujeito, em PB, não utilizam
estratégias de clivagem. Isso se dê, talvez, devido à coleta do corpus, que é controlada
por meio de perguntas que direcionam, na resposta, o foco no sujeito. Nos dados de
Gonçalves (1997), porém, em 46,7% dos casos em que foco prosódico, há, também,
56
a sobreposição com sentenças clivadas.
Gonçalves (1997) ainda destaca outros casos de construções nos quais considera haver
Focalização Textual
25
. Para o autor, “determinados advérbios, como 'mesmo' e 'muito',
por exemplo, funcionam, em Português, como autênticos marcadores focais”. Da
mesma forma, “também funcionam como “gatilhos de Focalização Textual” (ou
Marcadores Focais) alguns quantificadores como 'todos', 'nenhuma', 'qualquer' e 'algum',
entre outros” (GONÇALVES, 1997: 136). 13,2 % dos casos de focalização analisados
pelo autor constituem-se de advérbios focais e de quantificadores sobrepostos ao foco
prosódico.
Também Ilari (1993) considera advérbios como 'autenticamente', 'exatamente', 'mesmo',
'justamente' focalizadores. Mas o autor estabelece quando é que uma expressão
adverbial exerce uma operação de focalização:
(8)aplicada a um segmento da oração ...
(9)--- explicita que esse segmento fornece informações mais
exatas que a média do texto, em decorrência de uma operação
prévia de verificação...
(10)... que por sua vez implica um roteiro próprio, por exemplo, a
comparação implícita com algum modelo ou parâmetro
recuperável no co(n)texto.
(ILARI, 1993: 196)
Frota (1994) divide os dados de sua pesquisa em Declarativas Neutras, Frases-Q,
Frases-D e Frases-F. O último refere-se ao Foco Livre (somente foco prosódico).
Frases-D dizem respeito aos casos em que um constituinte deslocado. E Frases-Q
referem-se aos casos em que são utilizados quantificadores. Assim, também para a
autora, os quantificadores podem ser considerados mecanismos sintáticos de
focalização, assim como os deslocamentos.
25 Gonçalves (1997) agrupa sob o nome de Focalização Textual os casos de: clivagem de sentenças,
topicalização e deslocamento à esquerda, advérbios focais e quantificadores, marcação de grau e
estruturas comparativas, ou interrogativas QU- e interrogativas alternantes. Com tal terminologia, o
autor se refere a mecanismos morfossintáticos, e não somente sintáticos, o que pode ser visualizado
pela marcação de grau por meio de sufixos, mecanismo claramente morfológico.
57
Neste trabalho, serão consideradas formas de se focalizar sintaticamente um elemento: a
topicalização e o deslocamento à esquerda; as sentenças clivadas; os advérbios
focalizadores (GONÇALVES, 1998; ILARI, 1993); e os quantificadores.
58
3. CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA
A metodologia adotada visou comprovar ou refutar as hipóteses adotadas, ou seja,
verificar se o padrão do foco prosódico contrastivo pode ser identificado por meio dos
parâmetros frequência fundamental, intensidade, duração e pausa, bem como se ele é
modificado quando a co-ocorrência do foco prosódico com o sintático. Nesse
sentido, o procedimento metodológico de análise acústica mostra-se adequado ao
estudo, já que permite a análise de cada um dos parâmetros acima descritos.
Neste trabalho, optou-se por utilizar dados de fala semi-espontânea, ao contrário da
maioria dos estudos sobre o assunto, que utilizam dados controlados por meio de
experimentos ou testes de perguntas. Com isso, procura-se aproximar da fala mais
natural possível, e verificar se os resultados diferem quando se utiliza essa outra
modalidade de fala. Abaixo, são descritos os procedimentos realizados.
3.1.O CORPUS
O corpus deste trabalho constitui-se do PROJETO POBH (modalidade culta), proposto
por Magalhães (2000), o qual apresenta os seguintes objetivos:
* Construir um banco de dados para uma pesquisa sobre a
modalidade culta do português de Belo Horizonte.
* Estabelecer uma história (ou fazer uma análise, um estudo) do
padrão sonoro do português culto falado em Belo Horizonte, em
diferentes gerações.
* Promover investigações científicas sobre a
modalidade falada
culta
do português de Belo Horizonte.
O corpus de tal projeto supre a falta de estudos específicos sobre o dialeto mineiro, uma
vez que projetos como NURC (Projeto da Norma Urbana Culta) e a Gramática do
Português Falado não incluíram Belo Horizonte em seus estudos.
59
No corpus, foram gravadas três modalidades de inquérito para cada informante à
semelhança do Projeto NURC –, quais sejam: elocução formal, em que o informante
discorre sozinho sobre os temas propostos; diálogo entre documentador e informante; e
diálogo entre dois informantes. Cada uma das modalidades apresenta aproximadamente
uma hora de gravação com cada informante, o que perfaz um total de aproximadamente
três horas por informante e 72 horas de gravações (já que foram gravados 24
informantes). Os temas propostos para discussão foram: escola, profissão, religião,
família/amor, lazer e Belo Horizonte.
Este trabalho utilizou-se da modalidade de inquérito “Elocução Formal” (em que o
informante discorre sozinho sobre os temas propostos), para investigar o fenômeno do
foco prosódico.
Inicialmente, cogitou-se utilizar a modalidade “Diálogo entre dois informantes”,
principalmente para verificar o status informacional do elemento focalizado no discurso,
o que poderia ser mais fácil com o contexto informacional bem delineado por meio de
questões, como ocorre no diálogo. No entanto, depois de ampla revisão bibliográfica,
resolveu-se considerar as palavras focalizadas como constituindo obrigatoriamente
informação nova, já que, como destaca Gonçalves (1998), a porção focalizada constitui-
se da mais informativa e relevante do contexto.
Soma-se, ao posicionamento teórico adotado, uma breve consideração de ambos os
dados (aproximadamente uma hora de cada modalidade: elocução formal e diálogo
entre dois informantes), feita pela pesquisadora, em que não foi verificada muita
diferença entre as duas modalidades quanto ao fenômeno. Como o diálogo, porém,
apresenta muitas sobreposições de fala, o que poderia prejudicar a futura análise
60
acústica, optou-se definitivamente pela elocução formal.
3.2.OS INFORMANTES
No projeto POBH, os informantes estão distribuídos em três faixas etárias, com cinco
homens e cinco mulheres de cada faixa
26
. Eles foram escolhidos levando-se em conta as
seguintes variáveis:
Faixa etária: 25-35 anos, 36-55 anos e 56 em diante;
Sexo: feminino e masculino;
Nível de formação: todos os informantes possuem formação universitária;
Cidade natal: os informantes são naturais de Belo Horizonte;
Estadia em Belo Horizonte: os informantes não se afastaram da cidade por mais de
um ano consecutivo.
Para este trabalho, foram escolhidos três informantes do sexo masculino, um de cada
faixa etária. Inicialmente, cogitou-se utilizar seis informantes (três homens e três
mulheres). As marcações dos casos de foco desses seis informantes, porém, perfizeram
um total de 1525 dados, número demasiado extenso para o tempo disponível para a
análise. Optou-se, então, em restringir a análise a somente três informantes do sexo
masculino, pois a escolha de um sexo evita diferenças ocasionadas pelo gênero,
principalmente na análise acústica da frequência fundamental.
26
Para a terceira faixa etária, não se conseguiram todos os informantes previstos.
61
3.3.COLETA DOS DADOS
A coleta de dados do POBH foi feita no LABFON (Laboratório de Fonética) da
FALE/UFMG
27
, a partir de 2001. As gravações foram feitas em cabine dessonorizada
do Laboratório de Fonética, utilizando-se microfone unidirecional
Leson, o qual se
manteve fixo à mesa, procedimento que não permite o controle de sua distância da boca
do informante. As ondas sonoras foram, primeiramente, estocadas em gravador digital
(DAT), e posteriormente transpostas ao computador e armazenadas em arquivos de som
do formato
wav. Soma-se um total de 72 horas de gravação, com aproximadamente 3
horas para cada informante.
Como neste trabalho serão utilizados três informantes, o nosso corpus compõe-se de três
horas e treze minutos de gravações.
3.4.ANÁLISE DOS DADOS
3.4.1. Identificação das Ocorrências do Foco Prosódico Contrastivo
Primeiramente, foram identificados os casos de ocorrência do foco prosódico
contrastivo. Nessa etapa, as gravações foram ouvidas utilizando-se o programa
Windows Media Player, ao mesmo tempo em que se acompanhava o texto da
transcrição das respectivas falas. As sílabas ou palavras percebidas como
destacadas/realçadas eram, então, marcadas no texto da transcrição.
27 Faculdade de Letras/Universidade Federal de Minas Gerais
62
Esse procedimento foi realizado por três ouvintes: dois pesquisadores da área
28
e um
graduando do curso de Letras. Batista (2007), em seu trabalho, compara as marcações
das sílabas tônicas enfáticas realizadas por ouvintes experientes na área (no caso dela,
fonoaudiólogos) com aquelas realizadas por ouvintes não experientes (estudantes). Os
resultados, apesar de demonstrarem haver diferenças na identificação das ênfases entre
os dois grupos, não foram consistentes quanto à melhor capacidade de pesquisadores
experientes identificarem o fenômeno. Isso solidificou a escolha de, neste trabalho,
utilizarem-se ouvintes experientes e não experientes.
As três marcações de cada informante foram, em seguida, comparadas e foram
consideradas as coincidências de, pelo menos, dois dos ouvintes.
3.4.2. Marcação das Co-Ocorrências de Foco Prosódico e Sintático
O procedimento seguinte compõe-se da verificação se os elementos focalizados
prosodicamente apresentam também focalização sintática, de forma a se descobrir a
porcentagem dos casos em que co-ocorrência e se a mesma influencia nos padrões
prosódicos.
De posse dos dados obtidos na etapa anterior, ou seja, dos elementos sinalizados pelos
ouvintes como focalizados prosodicamente, foi verificado se também havia a presença
de foco sintático. Foram consideradas estratégias de se focalizar sintaticamente um
termo:
28 Dois mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade Federal de Minas
Gerais, cuja linha de pesquisa equivale à deste projeto: Organização Sonora da Comunicação
Humana. Cabe ressaltar que um deles é a própria pesquisadora.
63
Topicalização/ Deslocamento à esquerda;
Clivagem de sentenças;
Advérbios e adjetivos focais
29
e quantificadores.
Convém considerar que, para identificação de sentenças clivadas e de advérbios e
adjetivos focais e quantificadores, não é necessária a audição das sentenças. Ao
contrário, para se identificarem os casos de topicalização e deslocamento à esquerda,
além de se considerar o deslocamento de constituintes sintáticos, em alguns casos é
necessário verificar aspectos prosódicos.
Callou et al. (1996) consideram que a prosódia “é um traço distintivo nas construções
tópico-comentário vs. sujeito-predicado, sendo, por vezes, o único fator a distinguir as
duas estruturas” (CALLOU ET AL. 1996: 353). Pelas autoras, enquanto as construções
do tipo tópico-comentário apresentam, em sua maioria, o padrão entoacional ascendente
simples, as do tipo sujeito-predicado optam mais por não apresentarem modulação.
Além disso, a incidência de pausa é maior no primeiro grupo do que no segundo.
Assim, considerou-se, na marcação das sentenças como Tópico/Deslocamento à
Esquerda, primeiramente se houve a modificação da ordem canônica dos elementos.
Caso o elemento topicalizado tenha sido o sujeito, considerou-se a presença de
modulação ascendente na curva melódica e/ou a incidência de pausa. Tal verificação foi
feita por meio do programa de análise acústica Praat, versão 5.0.34.
29
Os advérbios e adjetivos considerados focais foram: mais; apenas; mesmo; grande (s); menos; sempre;
muito; só; jamais; raramente; tão; nem; vários; infelizmente; melhor; menor; nunca
64
3.4.3. Marcação dos domínios
Procedeu-se, então, à verificação do domínio de cada um dos elementos marcados pelos
ouvintes como realçados. Os domínios variaram entre a palavra fonológic
a (ω) e o
enunciado (U), de acordo com a estruturação prosódica e a quantidade de elementos
marcados em um mesmo enunciado. Assim, se em um enunciado houvesse mais de
um elemento destacado, seria previsto o domínio de cada elemento. O exemplo (1)
abaixo indica um caso em que o domínio não foi o enunciado, por haver mais de um
elemento marcado pelos ouvintes:
(1) [[[a vida também]φ [PODE se constituir]φ [como uma ESCOLA]φ]I ]U
30
(HRP)
Apesar de terem sido verificados os domínios de cada elemento, a análise dos dados
deu-se sempre no domínio do enunciado. Assim, no exemplo acima, o enunciado “[a
vida também PODE se constituir como uma ESCOLA]” foi analisado duas vezes: uma
correspondente à palavra focalizada “pode”, e outra, à palavra focalizada “escola”.
Além da marcação dos domínios de cada elemento, verificou-se ainda a posição desse
elemento no enunciado (inicial, medial ou final), bem como de qual categoria sintática
ele se constitui (determinante
31
, nome (categoria ampla que inclui substantivos,
pronomes e numerais), verbo, adjetivo, advérbio, quantificador ou núcleo funcional
32
),
para futuras comparações estatísticas das possíveis influências dessas variáveis na
constituição dos padrões prosódicos.
30 Neste trabalho, as palavras focalizadas serão indicadas, na transcrição, por meio de caixa alta.
31
Incluem-se em determinantes artigos e pronomes demonstrativos.
32
São considerados núcleos funcionais aqueles elementos cuja função não é lexical, ou seja, não
apresentam um significado lexical, mas sim funcional, servindo para formar a estrutura sintática das
sentenças. O termo advém da sintaxe gerativa e abarca categorias gramaticais como preposição,
conjunção e interjeição.
65
3.4.4. Análise Acústica
A análise acústica dos dados realizou-se por meio do programa Praat, versão 5.0.34. As
gravações foram transpostas ao programa e, então, foram segmentados os enunciados.
Com a segmentação, cada enunciado, contendo o elemento destacado, passou a
constituir um arquivo de som do tipo wav, devidamente arquivado.
Foram analisados o espectograma de banda larga, com as curvas da freqüência
fundamental (Hz) e da intensidade (dB), bem como o oscilograma, conforme demonstra
a Ilustração 1, abaixo. Com isso, obtiveram-se os valores de frequência fundamental,
intensidade, duração dos segmentos vocálicos e das pausas, os quais contabilizaram os
dados quantitativos utilizados na análise.
ILUSTRAÇÃO 1: – TELA DO PROGRAMA PRAAT- Tela do programa Praat, da sentença “A
vida existe no interior da escola”, com foco em “existe”. Pode-se visualizar o Oscilograma (acima) e
o espectograma de banda larga (abaixo), com a curva de f0 (azul) e a de intensidade (amarela).
66
3.4.4.1. Frequência fundamental
Para a análise deste parâmetro, foram verificados os valores f0 na sílaba tônica lexical
da palavra focalizada e em até três pré-tônicas, sendo estas parte ou não da palavra
focalizada. Para tanto, foi retirado o valor de f0 no centro da vogal da sílaba (em caso de
rima ramificada, considerou-se o centro da rima), visando evitar valores referentes à co-
articulação.
Com esse procedimento, pretendeu-se descobrir em qual dessas sílabas (tônica ou pré-
tônicas) incide o valor maior de f0, para clarificar a incidência da regra de antecipação
de pitch proposta por Makino e Medeiros (2001). Além disso, nos casos em que não é a
tônica que carrega o valor maior de f0, preocupou-se em contabilizar se a pré-tônica que
o carrega faz parte da palavra focalizada ou se está contida na palavra anterior. O
exemplo (2) a seguir mostra o procedimento aqui descrito:
(2) então eu NÃO aprendi (JPA)
Valor de f0 em /aNw/, de /naNw/: 151,5 Hz
Valor de f0 em /ew/: 225,6 Hz
Valor de f0 em /aNw/, de /iNtaNw/: 232,1 Hz
Valor de f0 em /iN/, de /iNtaNw/: 191 Hz
O valor maior de f0 no enunciado “Então eu NÃO aprendi” incide na segunda pré-tônica, que
não faz parte da palavra focalizada.
3.4.4.2. Variação de f0
Verificou-se a variação de f0 no enunciado por meio da tessitura (valor máximo de f0
menos valor mínimo). Além disso, foram obtidos os valores máximos de f0 nas palavras
focalizadas.
67
Procedeu-se, então, à subtração do valor máximo de f0 no enunciado pelo valor máximo
da f0 na palavra focalizada, a fim de se verificar se é essa palavra que carrega o maior
valor de f0 do enunciado. (3), abaixo, exemplifica a análise depreendida.
(3) eu já fui ASSALTADO (MMM)
Valor máximo de f0 no enunciado: 154,79 Hz;
valor mínimo de f0 no enunciado: 98,37 Hz;
f0 máxima na palavra focalizada: 154,79 Hz.
Tessitura: 56,42 Hz (154,79-98,37)
f0 máxima do enunciado menos f0 máxima da palavra focalizada: 0 Hz
3.4.4.3. Intensidade
O parâmetro da intensidade foi analisado por meio da subtração do valor máximo de
intensidade no grupo clítico que contém a palavra focalizada com o valor máximo de
intensidade na palavra anterior a esse grupo. Esse procedimento visou diminuir os
possíveis efeitos causados pelo não controle da distância entre o microfone e a boca do
informante quando da coleta dos dados. Assim, não foram considerados os valores
absolutos de intensidade, mas sim a comparação entre valores próximos. Justamente por
serem comparados valores próximos, considera-se que tenha havido pouca ou nenhuma
variação da distância entre o microfone e a boca do informante. Foram consideradas
relevantes as variação acima de 1dB ou abaixo de -1 dB (KENT & READ, 1992;
RUSSO & BEHLAU, 1993). Segue um exemplo da análise dos valores de intensidade:
(4) cidadania inclui CONVÍVIO (HRP)
Diferença do valor máximo de intensidade da palavra focalizada “convívio” com a palavra
anterior “inclui”: 7,09 dB
Cabe ressaltar que a medida da intensidade não foi possível quando a palavra focalizada
ou o grupo clítico em que estava contida era inicial no enunciado, que, nesse caso,
não havia palavra anterior para se compararem os valores.
68
3.4.4.4. Duração
O parâmetro duração foi verificado por meio de etiquetagem das vogais da palavra
focalizada (nos casos de rima ramificada, considerou-se toda a rima) e posterior
normalização das mesmas. Para etiquetagem, utilizou-se a notação SAMPA PB,
proposta por Arantes (no prelo). Os procedimentos utilizados serão descritos a seguir.
Primeiramente fez-se a etiquetagem dos segmentos analisados (vogais ou rimas) no
programa Praat, criando-se um arquivo de extensão TextGrid
33
. A Ilustração 2, a seguir,
exemplifica a tela de um arquivo de som e de texto no programa
Praat:
ILUSTRAÇÃO 2: TELA DO PRAAT: ARQUIVO DE SOM (WAV) E DE TEXTO (TEXTGRID),
COM A ETIQUETAGEM DAS VOGAIS DA PALAVRA FOCALIZADA – Oscilograma (acima),
espetograma de banda larga (meio) e etiquetas (abaixo). Na primeira etiqueta, vê-se a segmentação
das vogais da palavra focalizada “existe”, e na segunda, o enunciado “A vida existe no interior da
escola”.
33 TextGrid é um tipo de objeto do Praat usado para anotação (segmentação e rotulagem).
69
Os procedimentos de normalização foram realizados por meio de um script para o Praat
(ARANTES, 2007) que procede, por meio das etiquetas do arquivo de texto com seu
respectivo arquivo de som, à normalização do segmento, utilizando, para tanto, de z-
score
34
.
Como o objetivo de se realizar a normalização era identificar se houve um alongamento
dos segmentos vocálicos da palavra focalizada, quando comparados com aqueles em
que não houve foco prosódico, a normalização dos segmentos das palavras focalizadas
foi feita tomando como base média e variância dos mesmos segmentos em contextos
não focalizados.
Para tanto, verificou-se a frequência de ocorrência de cada segmento em contextos de
foco. Para os segmentos que apareceram menos de dez vezes em contextos de foco,
utilizou-se média e variância proposta por Arantes (2007) para a notação SAMPA PB.
para aqueles que apresentaram uma frequência superior a dez, foram retirados os
valores de duração em contextos não focalizados de uma amostra significativa de cada
segmento, e, depois, retirados média e variância dos resultados obtidos para serem
utilizados na normalização dos mesmos segmentos em contexto de foco. Para essa
etapa, foi necessário realizar rotulagem dos dados das vogais ou rimas das palavras nos
contextos em que não houve foco.
Com base na média e variância obtidas para cada segmento
35
em contextos sem foco,
foi realizada a normalização dos segmentos vocálicos focalizados, a fim de verificar se
houve alongamento dos mesmos. Depois de realizada a normalização, consideraram-se
34 Vide o “Capítulo I – Prosódia”, subseção “1.3 – Duração”, para uma explicação mais minuciosa do
procedimento de
z–score.
35
A “TABELA 14: OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS”, constante do Capítulo 4, subseção 1.4, indica
quais foram os segmentos analisados, bem como média e variância encontradas para cada um deles.
70
alongados os segmentos que apresentaram resultado maior que 1 escore z
36
. Em
seguida, foi realizada a normalização dos segmentos que não se encontravam em
contexto de foco (dos quais foram retiradas média e variância para cada segmento), e
procedeu-se à comparação estatística entre os valores obtidos com os valores referentes
aos segmentos considerados alongados em contexto de foco. Com isso, pretendeu-se
confirmar se os segmentos considerados alongados realmente o foram.
3.4.4.5. Pausas
Para a análise das pausas, verificou-se se havia pausas antes e/ou depois da palavra
focalizada e os valores de duração das mesmas. Esse procedimento, porém, só foi
realizado caso a palavra focalizada não fosse nem inicial nem final, pois não se
consideraram pausas fora do domínio do enunciado.
3.5.ANÁLISE ESTATÍSTICA
Primeiramente os dados foram tabulados nos programas Excel e Minitab
37
, para
posterior análise. O objetivo da análise estatística era comparar as amostras “foco
prosódico” com “foco prosódico e sintático” para cada parâmetro analisado. Para
realizar essa comparação, foi necessária a escolha do teste estatístico apropriado, que se
encontra representada no Anexo I.
36
A normalização gera como resultado um valor chamado escore z, “que indica, em unidades de desvio
padrão, o sentido e o grau com que um dado escore bruto se afasta da média da distribuição a qual
pertence” (LEVIN, 1978: 90).
37
Foram utilizados os dois programas porque o Excel, ao contrário do Minitab, possibilita se realizar o
teste t para duas amostras não-pareadas (Teste t presumindo variâncias diferentes). Os outros testes,
Wilcoxon e Mann Withney (não paramétricos), foram realizados no Minitab.
71
Optou-se por considerar as amostras como independentes, apesar de terem sido retiradas
dos mesmos sujeitos, por se considerar o fenômeno como característico da população
que fala o Português Brasileiro. O foco do trabalho não está na maneira específica e
idiossincrática de cada falante analisado utilizar a prosódia para focalizar um elemento,
mas sim nos padrões prosódicos utilizados nos enunciados tanto no caso de foco
somente prosódico, quanto no caso de haver co-ocorrência entre o foco prosódico e
sintático. Além disso, as amostras “foco prosódico” e “foco prosódico e sintático” eram
não-pareadas (desiguais).
Passou-se, então, a verificar se o teste a ser utilizado seria paramétrico ou não-
paramétrico. Como os testes paramétricos pressupõem distribuição normal, foi
necessário verificar primeiramente se a distribuição de cada parâmetro, em cada uma
das amostras, era normal, por meio do Teste de normalidade Kolmogorov-Smirnov.
Para comparação entre as amostras “foco prosódico” e “foco prosódico e sintático”
optou-se, então, pelo teste paramétrico teste t para amostras independentes e não-
pareadas para os parâmetros cuja distribuição foi normal, e pelo teste não paramétrico
Mann-Whitney para os parâmetros em que a distribuição não foi normal.
Além disso, realizou-se a extração da porcentagem de ocorrência quanto: aos casos em
que o valor máximo de f0 do enunciado incide na palavra focalizada; à localização do
valor maior de f0 quanto à tônica e às pré-tônicas; à diferença de intensidade negativa
ou positiva; se o valor maior de f0 faz parte da palavra focalizada (quando incide em
pré-tônica).
Quanto à duração, foram contabilizados os casos em que houve alongamento do
segmento, obtidos por meio do procedimento de normalização.
72
4. CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram contabilizadas e analisadas 909 ocorrências de foco prosódico contrastivo, das
quais 752 constituíram-se de foco somente prosódico e 157 de co-ocorrência do foco
prosódico com o sintático.
Foram obtidas, então, três amostras de dados, quais sejam: foco prosódico contrastivo
(todas as ocorrências de foco prosódico, independente de co-ocorrência com o foco
sintático); foco prosódico (foco prosódico contrastivo em que não há co-ocorrência com
o foco sintático); foco prosódico e sintático (foco prosódico contrastivo com co-
ocorrência com o foco sintático). As amostras foram codificadas conforme a tabela e a
ilustração abaixo, a fim de facilitar a análise dos dados. Doravante, cada amostra será
referida por seu respectivo código.
CODIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS ESTUDADAS
Código Amostra Ocorrência de dados
FPC (Foco prosódico
contrastivo)
Foco prosódico contrastivo 909
FP (Foco prosódico) Foco prosódico 752
FPS (Foco prosódico e
sintático)
Foco prosódico e sintático 157
TABELA 1: CODIFICAÇÃO DAS AMOSTRAS ESTUDADAS – Código adotado para as amostras
“foco prosódico contrastivo”, “foco prosódico”; e “foco prosódico e sintático”, com o respectivo
número de ocorrências de dados de cada amostra.
73
ILUSTRAÇÃO 3: COMPOSIÇÃO DAS AMOSTRAS – Organização das amostras FPC, FP e
FPS, com as respectivas freqüências de dados
Com a análise da amostra Foco prosódico contrativo (FPC), objetivou-se analisar os
parâmetros prosódicos levando-se em consideração todas as ocorrências de foco
prosódico contrastivo. Assim, procedeu-se à análise dos parâmetros observados, o que
constitui a subseção 1 deste capítulo.
As amostras FP e FPS foram comparadas com vistas a verificar se interferência do
foco sintático nos padrões prosódicos do foco prosódico. Essa análise encontra-se na
subseção 2 deste capítulo. na subseção 3, teoriza-se sobre a formação do foco na
composição da gramática, com base nos dados obtidos.
FPC
(909)
FPS
(157)
FP
(752)
COMPOSIÇÃO DAS AMOSTRAS
74
Ocorrência e porcentagem de dados por informante
291
32%
234
26%
384
42%
HRP (24-35 anos)
MMM (35-55 anos)
JPA (acima de 55 anos)
4.1.ANÁLISE DO FOCO PROSÓDICO CONTRASTIVO
Como observado acima, foram identificadas 909 ocorrências de foco prosódico no
corpus analisado. Abaixo, no gráfico, está a porcentagem de dados advindos dos
informantes selecionados no corpus POBH (norma culta):
GRÁFICO 1: OCORRÊNCIA E PORCENTAGEM DE DADOS POR INFORMANTE –
Ocorrência e porcentagem de dados por informante para Foco prosódico contrastivo (FPC)
A maioria dos dados, portanto, provieram do informante JPA, da terceira faixa etária.
Na maioria dos casos (68,6%), o enunciado analisado continha apenas uma palavra
marcada como focalizada, conforme indica distribuição da tabela abaixo.
PALAVRAS FOCALIZADAS POR ENUNCIADO
Foco prosódico contrativo (FPC)
Frequência Porcentagem
Uma palavra focalizada por
enunciado
624 68,6%
Mais de uma palavra focalizada
por enunciado
285 31,4%
Total
909 100,0%
TABELA 2: PALAVRAS FOCALIZADAS POR ENUNCIADO – Frequência e porcentagem de um
palavra focalizada e de mais de uma palavra focalizada por enunciado para a amostra Foco
prosódico contrastivo (FPC)
75
Domínio fonológico
3,1
2
18,6
7,9
68,4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
palavra
fonológica
grupo clítico frase
fonológica
frase
entoacional
enunciado
Porcentagem
A distribuição apresentada na tabela acima se reflete na porcentagem do domínio
fonológico em que a palavra focalizada tem escopo
38
, como pode ser visualizado no
gráfico a seguir.
GRÁFICO 2: DOMÍNIO FONOLÓGICO – Porcentagem de cada domínio fonológico em que a
palavra focalizada tem escopo na amostra Foco prosódico contrastivo (FPC).
O enunciado é o escopo da maioria das palavras focalizadas (68,4%), seguido da frase
fonológica (18,6%) e da frase entoacional (7,9%). Isso demonstra que, neste trabalho, a
estruturação informacional se deu, geralmente, no nível mais alto de domínio
fonológico.
A maior porcentagem de palavras focalizadas constituiu-se de nomes (41,8%), seguidas
de verbo (19,4%) e adjetivo (17,2%), conforme indica a distribuição na tabela abaixo.
38
Neste trabalho, considera-se como escopo o domínio máximo no qual a palavra focalizada contraste
com o restante da informação. Assim, nos enunciados em que uma palavra focalizada, o escopo
se dará no nível do enunciado. nos enunciados em que mais de uma palavra tiver sido focalizada, o
escopo se dará em níveis inferiores, dependendo da estruturação prosódica e do número de palavras
focalizadas no enunciado.
76
CATEGORIA SINTÁTICA
Foco prosódico contrativo (FPC)
Ocorrências Porcentagem
nome
380 41,8%
verbo
176 19,4%
adjetivo
156 17,2%
advérbio
73 8,0%
núcleo funcional
53 5,8%
determinante
37 4,1%
quantificador
34 3,7%
Total
909 100,0%
TABELA 3: CATEGORIA SINTÁTICA – Ocorrências e porcentagem da categoria sintática da
palavra focalizada em Foco prosódico contrastivo (FPC)
Além disso, a palavra focalizada esteve predominantemente em posição medial (67%
dos casos válidos), como pode ser observado na tabela a seguir
39
.
POSIÇÃO NO ENUNCIADO
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Ocorrências Porcentagem Porcentagem
válida
inicial
93 10,2% 10,4%
medial
600 66,0% 67,0%
final
203 22,3% 22,7%
Não válidos
13 1,4% 100,0%
909 100,0%
Tabela 4: POSIÇÃO NO ENUNCIADO – Ocorrências, porcentagem e porcentagem válida da
palavra focalizada nas posições inicial, medial e final do Foco prosódico contrastivo (FPC)
A seguir, serão apresentados os padrões encontrados na amostra Foco prosódico
contrastivo (FPC) para cada um dos parâmetros prosódicos analisados (pausas,
diferença de intensidade, frequência fundamental e duração).
39
Não válidos, na tabela, referem-se aos casos em que o enunciado constitui-se de apenas uma palavra
fonológica ou de um só grupo clítico.
77
4.1.1. Pausas
Foram analisadas as pausas silenciosas antes da palavra focalizada, as pausas depois da
palavra focalizada e as pausas antes e depois da palavra focalizada, a fim de verificar se
a pausa indica a presença do foco prosódico contrastivo. Como os outros estudos sobre
o fenômeno realizados sobre o PB não abarcaram esse parâmetro, os resultados aqui
apontados não podem ser comparados, mostrando-se, assim, experimentais.
Ocorreram pausas antes da palavra focalizada em 14,9% dos dados, depois da palavra
focalizada em 11,8% e antes e depois da palavra focalizada em 3% dos dados, como
indica a tabela abaixo
40
. Nota-se, portanto, que a pausa não é um parâmetro utilizado
com muita freqüência para se focalizar um elemento, mas, quando ocorre, é mais
comum que seja antes da palavra focalizada.
PAUSA
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Pausa antes Pausa depois Pausa antes e
depois
N % N % N %
Ocorrência de pausa
135 14,9% 107 11,8% 27 3%
Não ocorrência de pausa
774 85,1% 802 88,2% 882 97%
Total
909 100% 909 100% 909 100%
TABELA 5: PAUSA– Frequência e porcentagem de ocorrência e não ocorrência de pausa antes,
depois, e antes e depois da palavra focalizada para Foco prosódico contrastivo (FPC)
Com relação à duração das pausas, a tabela abaixo indica a média de duração e o desvio
padrão das pausas antes da palavra focalizada (que ocorrerem em 14,9% dos dados) e
das pausas depois da palavra focalizada (que ocorreram em 11,8% dos dados).
40
N, na tabela, refere-se ao número de ocorrências.
78
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Média (ms) Desvio Padrão
Pausa antes da palavra
focalizada
704,4 566,9
Pausa depois da palavra
focalizada
740,3 504
TABELA 6: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA – Média e desvio padrão da
pausa antes e da pausa depois da palavra focalizada no Foco prosódico contrastivo (FPC).
A pausa depois da palavra focalizada, portanto, possui uma média maior que a pausa
antes do foco. Foi aplicado, então, o teste estatístico Wilcoxon
41
para verificar se haveria
diferença estatisticamente significativa entre as amostras. Assumiu-se como hipótese
nula que as amostras não se difeririam quanto ao parâmetro analisado, e como hipótese
alternativa que a duração da pausa depois da palavra focalizada seria mais longa que a
duração da pausa antes da palavra focalizada, tomando por base as médias encontradas
em cada caso, demonstradas na tabela acima. O resultado indica que não podemos
considerar que a pausa antes e a pausa depois da palavra focalizada são estatisticamente
diferentes (p-valor>0,05), conforme demonstra a tabela abaixo.
DURAÇÃO DA PAUSA
Mediana (ms)
p-valor (Pausa antes X
Pausa depois)
Pausa antes
563
0,097
Pausa depois
597
Tabela 7: DURAÇÃO DA PAUSA– Comparação entre as pausas antes e depois da palavra
focalizada por meio do teste
Wilcoxon (Medianas e p-valor) para Foco prosódico contrastivo (FPC)
Pode-se concluir, portanto, que a pausa não é um parâmetro que indica o foco prosódico
contrastivo, que foi utilizada pouco (23,7% dos casos analisados). Quando ocorre, é
mais comum que seja inserida uma pausa antes da palavra focalizada (14,9% dos
dados). Não há, porém, diferença significativa entre a duração da pausa antes e depois
da palavra focalizada.
41
O teste estatístico Wilcoxon é um teste não paramétrico aplicado em amostras pareadas cuja
distribuição não é normal. Vide anexo I as exigências observadas para a escolha do teste estatístico.
79
4.1.2. Diferença de intensidade entre a palavra focalizada e a
palavra anterior
Cabe ressaltar que foram consideradas relevantes as diferenças de intensidade acima de
1dB ou abaixo de -1dB (KENT & READ, 1992; RUSSO & BEHLAU, 1993). Na
diferença positiva (>1dB), houve um aumento de intensidade na palavra focalizada
quando comparada com a anterior, ao contrário da diferença negativa (<-1dB), em que
houve uma diminuição da intensidade. Quando os valores se localizaram entre -1 e 1dB,
considerou-se não haver diferença significativa de intensidade entre a palavra focalizada
e a anterior. Abaixo, encontra-se a tabela que representa a porcentagem de ocorrência de
cada caso.
DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
PALAVRA ANTERIOR
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Ocorrências Porcentagem Porcentagem
válida
Diferença positiva (>1dB)
472 52% 63%
Diferença negativa (< -1dB)
104 11% 14%
Sem diferença
173 19% 23%
Não-válidos
42
159 18%
Total
909 100% 100%
TABELA 8: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE DIFERENÇA DE INTENSIDADE
SIGNIFICATIVA ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A PALAVRA ANTERIOR –
Ocorrências, porcentagem e porcentagem válida da diferença de intensidade significativa entre a
palavra focalizada e a anterior para Foco prosódico contrastivo (FPC).
A diferença positiva, ou seja, maior que 1dB, predominou nos dados (63%), como pode
ser evidenciado na tabela. A diferença negativa, por sua vez, a qual indica diminuição
de intensidade na palavra focalizada, foi minoritária, constituindo-se de apenas 14% dos
dados. Pode-se considerar, portanto, que houve um aumento de intensidade na palavra
focalizada (quando comparada com a anterior), para sinalizar o foco prosódico. Esse
aumento foi de, em média, 2,5dB (desvio-padrão de 3,8).
42
Consideram-se não válidos os casos em que o enunciado inicia-se com a palavra focalizada ou o grupo
clítico que contém a palavra focalizada.
80
Apesar de diferir quanto aos procedimentos metodológicos dos outros estudos
(GONÇALVES, 1997; BATISTA, 2007) realizados sobre o foco prosódico em
Português Brasileiro, os resultados obtidos dialogam com os de Gonçalves (1997), que
considera a intensidade um parâmetro relevante na maioria dos casos por ele
pesquisados, e divergem de Batista (2007), que defende o contrário. Cabe ressaltar,
porém, que o procedimento adotado nesta pesquisa permitiu verificar somente a
elevação da intensidade quando comparada a palavra focalizada com a sua anterior. Não
se pode defender firmemente, porém, que ela seja importante para a manifestação do
foco, que não foram obtidos valores absolutos, assim como não foi comparada a
intensidade da palavra focalizada com o restante do enunciado. Devido a essas
restrições metodológicas, resta concluir que uma tendência da importância da
intensidade na manifestação do foco prosódico contrastivo.
4.1.3. Frequência fundamental
Para a frequência fundamental, foram verificados os valores de: f0 máxima do
enunciado; f0 mínima do enunciado; tessitura; f0 máxima da palavra focalizada;
diferença entre f0 máxima do enunciado e f0 máxima da palavra focalizada; e f0 na
tônica lexical da palavra focalizada e em até três pré-tônicas.
Com relação aos valores máximo e mínimo do enunciado e valor máximo de f0 da
palavra focalizada, a tabela abaixo indica média e desvio padrão de cada parâmetro.
81
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Média (Hz) Desvio Padrão
F0 máxima do enunciado
221,9 56,8
F0 mínima do enunciado
97,6 17,2
Tessitura
124,2 57,3
F0 máxima da palavra focalizada
195,5 51,9
Diferença entre f0 máxima do enunciado
e f0 máxima da palavra focalizada
28,1 42,4
TABELA 9: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL – média e desvio
padrão de f0 máxima e mínima do enunciado, tessitura, f0 máxima da palavra focalizada, diferença
entre f0 máxima do enunciado e da palavra focalizada. Amostra Foco prosódico contrastivo (FPC)
As médias da f0 máxima do enunciado e da f0 máxima da palavra focalizada são
bastante próximas (221,9Hz e 195,5Hz, respectivamente), o que se reflete em uma
diferença média pequena entre seus valores (28,1Hz). Isso comprova que a palavra
focalizada apresenta valores altos de f0. Foi aplicado, então, o teste t, com intervalo de
significância de 0,05, para verificar se as médias são estatisticamente diferentes. O teste
indicou que, apesar de possuírem valores próximos, as médias são estatisticamente
diferentes, conforme indica a tabela a seguir.
FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Média (Hz)
p-valor (f0 máxima do enunciado X f0
máxima da palavra focalizada)
f0 máxima do enunciado
221,9
-24
1,65 x 10
f0 máxima da palavra
focalizada
195,5
Tabela 10: FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL – Teste-t (média e p-valor) aplicado para se
comparar f0 máxima do enunciado com f0 máxima da palavra focalizada. Amostra Foco prosódico
contrastivo (FPC).
Como as médias referentes à f0 máxima do enunciado e à f0 máxima da palavra
focalizada mostraram-se estatisticamente diferentes, passou-se a verificar a
porcentagem de casos em que a diferença entre os dois valores era igual a zero, ou seja,
os casos em que a f0 máxima da palavra focalizada coincide com o f0 máxima da
sentença. O gráfico abaixo indica essa distribuição.
82
Coincidência entre f0 máxima do enunciado e f0
máxima da palavra focalizada
352
39%
557
61%
f0 máxima do enunciado
incide na palava focalizada
f0 máxima do enunciado não
incide na palavra focalizada
GRÁFICO 3: COINCIDÊNCIA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA
PALAVRA FOCALIZADA – Ocorrências
43
e porcentagem de casos em que a f0 máxima do
enunciado incide e não incide na palavra focalizada, para Foco prosódico contrastivo (FPC).
Pelo gráfico, pode-se visualizar que, na maioria dos casos (61%), a f0 máxima do
enunciado não coincide com a palavra focalizada. Talvez pela extensão do domínio
analisado, o pico de f0 da palavra focalizada na maioria dos casos não se constituiu do
ponto mais alto de f0 do enunciado. Isso indica que o foco não ocasiona a diminuição
dos valores de f0 de outros acentos presentes no enunciado, assim como proposto por
Xu e Xu (2005), e que os resíduos pré e pós-focais não precisam necessariamente
apresentar menores valores de f0 que o foco. A diferença entre a f0 máxima do
enunciado e a f0 máxima da palavra focalizada indicou, porém, que, apesar de, na
maioria das vezes, a palavra focalizada não se constituir do ponto mais alto de f0 do
enunciado, ela apresenta valores elevados de f0, o que confirma que a freqüência
fundamental é um parâmetro importante para a manifestação do fenômeno (XU & XU,
2005; FROTA, 1994; D’IMPERIO, 2003; GRICE & SAVINO, 2003; LADD &
MORTON, 1997; GONÇALVES, 1997; BATISTA, 2007).
43
A soma dos dados fica em 902 porque 6 casos foram não válidos, isto é, não foi subtraído o valor
máximo do enunciado pelo da palavra focalizada porque o enunciado compunha-se de apenas uma
palavra.
83
A diferença dos resultados obtidos neste trabalho quanto ao pico de f0, quando
comparado a outros estudos do fenômeno, pode estar justamente no domínio analisado,
que nem sempre é o enunciado (como é neste estudo), bem como ao fato de as análises
se constituírem, em sua maioria, de dados coletados em contexto de fala não
espontânea. Neste trabalho, porém, o enunciado foi o escopo a priori do foco
prosódico
44
, o que justifica que a análise se baseie nele.
Ainda no que se refere à frequência fundamental, passou-se a investigar se, em relação à
tônica lexical da palavra focalizada, o maior valor de f0 incidiu na tônica ou nas pré-
tônicas. A tabela abaixo indica as médias obtidas para cada um dos parâmetros.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Média (Hz) Desvio Padrão
F0 da terceira pré-tônica
143,5 35,9
F0 da segunda pré-tônica
147,5 59,3
F0 da primeira pré-tônica
147,4 41,3
F0 da tônica lexical da palavra focalizada
173,9 45
TABELA 11: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – FREQUÊNCIA FUNDAMENTAL – Média e desvio
padrão para f0 da tônica lexical da palavra focalizada e das três pré-tônicas para Foco prosódico
contrastivo (FPC)
Quando comparados os valores de f0 para a tônica lexical da palavra focalizada com os
valores das três pré-tônicas, nota-se que, em média, as pré-tônicas tiveram média de f0
bem próxima (143,5, 147,5 e 147,4Hz), enquanto a tônica lexical apresentou uma média
mais elevada de f0 (173,9). Isso pode ser comprovado pela porcentagem de ocorrência
do valor maior de f0 na tônica lexical da palavra focalizada quando comparada com as
pré-tônicas, conforme indicam o gráfico e a tabela a seguir.
44
Vide, neste mesmo capítulo, a seção 1.
84
Maior valor de f0 em relação à tônica e pré-tônicas
522
62%
106
13%
107
13%
96
12%
tônica
primeira pré-tônica
segunda pré-tônica
terceira pré-tônica
POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM REALAÇÃO À TÔNICA DA
PALAVRA FOCALIZADA E ÀS PRÉ-TÔNICAS
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Ocorrências Porcentagem Porcentagem válida
tônica
522 57,4% 62,8%
primeira pré-tônica
106 11,7% 12,8%
segunda pré-tônica
107 11,8% 12,9%
terceira pré-tônica
96 10,6% 11,6%
Não válidos
45
78 8,6%
Total
909 100,0% 100%
TABELA 12: POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA DA PALAVRA
FOCALIZADA E PRÉ-TÔNICAS – Ocorrências, porcentagem e porcentagem válida do maior
valor de f0 em relação à tônica lexical da palavra focalizada e às pré-tônicas, para Foco prosódico
contrastivo (FPC).
GRÁFICO 4: MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA E PRÉ-TÔNICAS –
Ocorrências e porcentagem válida do maior valor de f0 em relação à tônica e às pré-tônicas da
palavra focalizada, para Foco prosódico contrastivo (FPC).
Este trabalho, portanto, divergiu dos achados de Makino e Medeiros (2001) e Gonçalves
(1997), para os quais há uma tendência de aumento de f0 nas pré-tônicas devido ao foco
prosódico. Isso porque, em 62% dos casos válidos, o maior valor de f0 recaiu na tônica,
e não nas pré-tônicas. Makino e Medeiros (2001) utilizaram dados de fala controlada, o
que pode ter ocasionado a divergência quanto aos resultados. Além disso, os autores
destacam que o número de sílabas da palavra focalizada influencia nessa tendência, o
45
Foram considerados não válidos os casos em que o enunciado se iniciava com a tônica lexical da
palavra focalizada, caso em que não havia pré-tônicas a serem comparadas.
85
que não foi investigado neste trabalho. Gonçalves (1998), por sua vez, utilizou dados de
fala semi-espontânea e espontânea, e, dessa forma, não há uma explicação quanto a isso
para as divergências nos resultados obtidos. O autor, porém, analisa os dados
subdividindo-os. Assim, apesar de a maioria das subdivisões indicar uma tendência de a
f0 maior se posicionar em pré-tônicas, não se sabe se o maior número de dados dessa
forma se mostrou.
Além disso, neste trabalho, quando o valor maior de f0 recaiu em pré-tônicas, em
apenas 36,7% dos casos a pré-tônica fazia parte da palavra focalizada, conforme indica
a tabela abaixo
46
.
VALOR MAIOR DE F0 INCIDINDO EM PRÉ-TÔNICA DA PALAVRA
FOCALIZADA OU NA PALAVRA ANTERIOR
Foco prosódico contrastivo (FPC)
Ocorrências Porcentagem Porcentagem válida
palavra focalizada
113 12,4% 36,7%
palavra anterior
195 21,5% 63,3%
Não válidos
601 66,1%
Total
909 100,0% 100%
TABELA 13: VALOR MAIOR DE F0 INCIDINDO EM PRÉ-TÔNICA DA PALAVRA
FOCALIZADA OU NA PALAVRA ANTERIOR – Ocorrências, porcentagem e porcentagem
válida do maior dos casos em que o maior valor de f0 encontra-se em pré-tônicas da palavra
focalizada ou na palavra anterior, para Foco prosódico contrastivo (FPC).
Quanto ao parâmetro frequência fundamental, podemos, pois, concluir que a palavra
focalizada apresenta valores elevados de f0, mas não necessariamente contém nela o
pico de f0 do enunciado, o que diverge da maioria dos estudos sobre o fenômeno, mas
dialoga com Xu e Xu (2005). A tônica da palavra focalizada apresenta, na maioria dos
dados (62% dos casos válidos), valores maiores de f0 que as pré-tônicas, o que diverge
dos achados de Makino e Medeiros (2001) e Gonçalves (1997).
46
Não são válidos os casos em que o maior valor de f0 incide na tônica lexical da palavra focalizada ou
aqueles em que o enunciado inicia-se pela tônica lexical.
86
4.1.4. Duração
Para verificar a importância da duração na atribuição do foco prosódico, objetivou-se
identificar se houve alongamento dos segmentos vocálicos
47
da palavra focalizada,
quando comparados com aqueles em que não houve foco prosódico. A duração foi
analisada por meio do procedimento de normalização, que permitiu verificar se o
segmento vocálico apresentou uma duração maior ou menor que a média do mesmo,
considerando a variância da distribuição
48
. A normalização diminui a influência, nos
resultados, de fatores intrínsecos e extrínsecos e, dessa forma, possibilita a comparação
dos resultados de segmentos diferentes. A normalização dos segmentos vocálicos das
palavras focalizadas foi feita tomando como base média e variância dos mesmos
segmentos em contextos não focalizados. Dessa forma, quando o resultado obtido pela
normalização foi positivo, indicou que o segmento vocálico era mais longo que a média
do mesmo segmento em contexto não focalizado. Consideraram-se alongados os casos
em que o resultado foi maior que 1 escore z, ou seja, em que a segmento vocálico
afastou-se mais de 1 desvio padrão de sua média em contexto não focalizado. Optou-se,
com isso, considerar os segmentos que realmente foram alongados, que 1 desvio
padrão é uma medida de posicionamento considerável.
Alguns segmentos vocálicos, porém, ocorreram pouco (menos de dez vezes) nas
palavras focalizadas, e, assim, optou-se por utilizar, para a normalização deles, a tabela
de média e duração proposta por Arantes (no prelo), devido à dificuldade que se teria
em obter uma amostra deles, que são: [
Nw], [uj], [aj], [εw], [oj], [iw]. [Iw]
49
, [w].
47
Cabe ressaltar que foram retiradas as medidas de duração das rimas das sílabas da palavra focalizada, e,
quando a rima foi ramificada, não se constitui de um único segmento vocálico, mas sim de uma
seqüência de segmentos. Apesar disso, optou-se por utilizar o termo
segmento vocálico neste texto,
como uma generalização que visa facilitar a exposição dos resultados.
48
A variância indica a distância, em geral, dos valores brutos para o valor esperado, ou seja, quanto, em
média, os valores brutos oscilam em torno da média (LEVIN, 1977).
49
[i] ocorre em posição pré-tônica e tônica; e [I], em posição pós-tônica.
87
Os outros segmentos vocálicos, que se encontram exemplificados na tabela a seguir
50
,
tiveram uma ocorrência maior que 10 em contextos de foco, e, por isso, foi medida a
duração dos mesmos segmentos em contextos em que não houve foco e, dos valores
obtidos, foram retiradas média e variância, as quais foram, posteriormente, utilizadas
para a normalização dos segmentos vocálicos focalizados.
OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS VOCÁLICOS
Segmento
vocálico
Ocorrência
foco
Sem foco Média (ms) Variância
[a]
307 65 112 2341
[i]
241 63 78 3772
[e]
173 64 130 4392
[ε]
56 42 130 4392
[]
70 53 144 3881
[o]
128 60 90 941
[u]
80 59 79 979
[iN]
30 38 113 1668
[eN]
75 58 114 2206
[aN]
67 56 109 2182
[oN]
34 39 132 3882
[uN]
11 13 131 6724
[I]
77 32 90 2297
[]
167 62 77 826
[U]
119 64 76 1238
[ej]
18 16 126 1190
[aj]
17 19 188 6317
[ew]
21 18 154 17305
[ow]
11 10 155 6985
[aw]
22 29 169 7447
[aNw]
28 31 174 6390
TABELA 14: OCORRÊNCIA DOS SEGMENTOS VOCÁLICOS – Segmento vocálico
51
com seu
respectivo número de ocorrências em contexto de foco, bem como quantidade de ocorrências
verificadas em contexto sem foco, que permitiram obter média e variância.
50
“Sem foco” refere-se ao número de vezes em que foi medida a duração do segmento em contexto sem
foco, para posteriormente terem sido retiradas média e variância. Além disso, os segmentos vocálicos
/
/, /I/, /U/ referem-se à posição átona final.
51
[i] e [u] ocorrem em posição pré-tônica e tônica; e [I] e [U], em posição pós-tônica.
88
Porcentagem de segmentos alongados
660
33%
1328
67%
segmentos alongados
segmentos o
alongados
Foram contabilizados 1988 segmentos vocálicos em contexto de foco, que foram
submetidos à normalização. Depois de realizada a normalização, consideraram-se
alongados os segmentos que apresentaram resultado maior que 1 escore z, que
contabilizaram 660 segmentos vocálicos.
Como dito anteriormente, os segmentos vocálicos alongados constituíram 660 dos 1988
segmentos vocálicos que compunham as palavras focalizadas e que foram submetidos à
normalização, o que representa 33%, conforme indica o gráfico a seguir.
GRÁFICO 5: PORCENTAGEM DE SEGMENTOS ALONGADOS – Ocorrências e porcentagem
de segmentos alongados e não alongados para Foco prosódico contrastivo (FPC).
Assim, a porcentagem de segmentos alongados dentre todos os que compunham as
palavras focalizadas é minoritária. Quando se verifica, porém, a quantidade de palavras
focalizadas em que pelo menos um segmento vocálico foi alongado, nota-se que a
maioria das palavras focalizadas apresenta alongamento (58%), como mostra o gráfico
abaixo.
89
Segmentos vocálicos alongados por palavra
focalizada
389
43%
401
44%
103
11%
16
2%
nenhum segmento
alongado
um segmento alongado
dois segmentos
alongados
três segmentos
alongados
GRÁFICO 6: PALAVRAS FOCALIZADAS COM ALONGAMENTOS – Ocorrência e
porcentagem de palavras focalizadas em que houve e em que não houve alongamento de algum
segmento, para Foco prosódico contrastivo.
Dessa forma, embora a porcentagem de segmentos vocálicos que foram alongados tenha
sido baixa quando se leva em consideração todos aqueles que compõem as palavras
focalizadas, é recorrente que, ao se tomar como base a palavra focalizada, um segmento
vocálico seja alongado, o que ocorre em 44% dos casos, enquanto dois segmentos são
alongados em 11% dos caos e 3 o são em 2%. Isso mostra que o aumento da duração é
um fenômeno comum na atribuição do foco prosódico contrastivo, que foi utilizado
na maioria das palavras focalizadas.
Além disso, dos segmentos vocálicos alongados, a maioria (76%) encontra-se na sílaba
tônica lexical, como pode ser evidenciado no gráfico abaixo.
90
Posição do segmento alongado em relação à
tônica
69
10%
498
76%
93
14%
pré-tônica
tônica
s-tônica
GRÁFICO 7: POSIÇÃO DO SEGMENTO ALONGADO EM RELAÇÃO À TÔNICA –
Ocorrência e porcentagem em que o segmento alongado encontra-se na sílaba tônica lexical da
palavra focalizada, pré-tônica ou pós-tônica. Amostra Foco prosódico contrastivo (FPC).
Assim, pode-se concluir que a uma tendência de a duração ser um parâmetro
relevante para a atribuição do foco prosódico contrastivo, uma vez que a maioria das
palavras focalizadas (57%) apresenta pelo menos um segmento alongado que, na
maioria das vezes (76%), encontra-se na sílaba tônica lexical. A conclusão ainda é
validada por se considerarem alongados os segmentos cujo escore z obtido pela
normalização foi acima de 1, o que indica que os segmentos alongados se distanciaram
pelo menos um desvio padrão da média dos mesmos, um alongamento considerável.
Além disso, a média de escore z obtida para os segmentos alongados foi de 2,5, o que
indica que o alongamento dos segmentos, apesar de não ser frequente, é grande: os
segmentos vocálicos que são alongados se distanciam muito da média de duração dos
mesmos segmentos em contexto não focalizado. Dessa forma, apesar de a porcentagem
de ocorrência de segmentos alongados indicar uma tendência da importância da duração
na atribuição do fenômeno, nos casos em que ela atuou, foi bastante significativa.
91
FP
FPS
8
2
,
7
%
1
7
,
3
%
2
1
,
4
%
7
8
,
6
%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Ocorrência de foco prosódico e foco prosódico e
sintático
Gonçalves (1997)
Resultados obtidos
nesta pesquisa
4.2.ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO FOCO SINTÁTICO NO PADRÃO DO
FOCO PROSÓDICO CONTRASTIVO
52
Das 909 ocorrências de foco prosódico contrastivo, apenas 157 apresentam co-
ocorrência com o foco sintático. Nesse sentido, os resultados divergem firmemente dos
obtidos por Gonçalves (1997), conforme indica o gráfico abaixo:
GRÁFICO 8: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE FOCO PROSÓDICO
E DE FOCO PROSÓDICO E SINTÁTICO – Comparação dos resultados obtidos por Gonçalves
(1997)
53
e nesta pesquisa, para a porcentagem de ocorrência de foco somente prosódico e de co-
ocorrência entre foco prosódico e sintático
A comparação entre as amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático
(FPS) teve como hipótese nula que elas não se difeririam em termos dos parâmetros
analisados; a hipótese alternativa era de que ambas diferir-se-iam quanto aos
parâmetros.
52
Embora o presente estudo não tenha como objetivo uma investigação sociolinguística, foi observada
variação quanto à porcentagem de casos para cada informante e faixa etária em ambas as amostras.
Enquanto o informante JPA (terceira faixa etária acima de 55 anos) apresentou mais dados em FP
(44,4%), o informante HRP (primeira faixa etária – 24 a 35 anos) apresentou mais dados em FPS
(42,7%).
53
Essa proporção de ocorrência de Gonçalves (1998) refere-se aos dados por ele classificados como
“Ênfase Contrastiva”. Para maiores detalhes das subdivisões de Gonçalves, vide Capítulo II, subseção
5.
92
A escolha do teste estatístico adequando a cada parâmetro pautou-se em algumas
exigências: tipo de amostra, tipo de dado e teste de normalidade. A tabela constante no
Anexo I mostra, para cada parâmetro, o teste estatístico adotado, bem como as
exigências observadas para cada escolha.
Nas subseções seguinte, são apresentados os resultados obtidos para cada um dos
parâmetros analisados.
4.2.1. Pausas
Quanto ao parâmetro pausa, foram analisadas as pausas antes, depois e antes e depois da
palavra focalizada. Os resultados obtidos encontram-se nas subseções abaixo.
4.2.1.1. Pausa antes da palavra focalizada
A ocorrência de pausa antes da palavra focalizada foi minoritária tanto para FP quanto
para FPS, conforme indicam tabela e gráfico abaixo:
PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA
Foco prosódico (FP) Foco prosódico e sintático
(FPS)
Número Porcentagem Número Porcentagem
Ocorrência de pausa
112 14,9% 23 14,6%
Não ocorrência de pausa
640 85,1% 134 85,4%
Total
752 100% 157 100%
TABELA 15: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES DA PALAVRA
FOCALIZADA – Número de ocorrências e porcentagem dos casos em que há e não há pausa antes
da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e para Foco prosódico e sintático (FPS).
93
Com
pausa
Sem
pausa
Foco Prosódico
1
4
,
6
0
%
8
5
,
4
0
%
1
4
,
9
0
%
8
5
,
1
0
%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pausa antes da palavra focalizada
Foco Prosódico
Foco prosódico e
sintático
GRÁFICO 9: OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA – Porcentagem
de ocorrência de pausa antes da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e
sintático (FPS).
Como demonstrado na tabela e no gráfico acima, a porcentagem de ocorrência de pausa
antes da palavra focalizada foi bastante semelhante para FP e para FPS. Assim, a
porcentagem de ocorrência da pausa não se mostrou um parâmetro relevante para
diferenciar as duas amostras.
Passou-se, então, à comparação entre as amostras FP e FPS por meio do teste Mann-
Withney, a fim de verificar se os valores provenientes das duas amostras podem ser
considerados como advindos de populações diferentes. Primeiramente, porém, foi
verificada a média de cada amostra, para definir a hipótese alternativa a ser adotada para
o teste. Os resultados referentes à análise estatística descritiva encontram-se na tabela
abaixo.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA PALAVRA
FOCALIZADA
Média (ms) Desvio-padrão
Foco prosódico (FP)
716,9 575,5
Foco prosódico e sintático (FPS)
643,4 530,9
TABELA 16: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA PALAVRA
FOCALIZADA – Média, variância e desvio-padrão da pausa antes da palavra focalizada nas
amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
94
Como a amostra FP apresentou uma média maior que a amostra FPS, a hipótese nula
adotada para a aplicação do teste Mann-Withney foi que as amostras não eram
diferentes, enquanto a hipótese alternativa foi que a amostra FP apresenta valores
maiores que a FPS. Os resultados obtidos no teste encontram-se na tabela abaixo:
DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA
Mediana (ms) p-valor (FP X FPS)
Foco prosódico (FP)
570,5 0,3053
Foco prosódico e sintático
(FPS)
528
TABELA 17: DURAÇÃO DA PAUSA ANTES DA PALAVRA FOCALIZADA – Comparação
entre as amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) quanto ao parâmetro
duração da pausa antes da palavra focalizada, por meio do teste Mann-Withney (Medianas e p-
valor)
O teste indica que a hipótese nula não pode ser rejeitada ao nível de significância de
0,05, pois o valor-p encontrado é superior a 0,05. Dessa forma, as amostras não diferem
quanto ao parâmetro duração da pausa da palavra focalizada.
Em suma, o parâmetro pausa antes da palavra focalizada não é significativo para
diferenciar o foco somente prosódico (FP) da co-ocorrência do foco prosódico com o
sintático (FPS). Isso porque não diferenças significativas tanto para a porcentagem
de ocorrência da pausa nesse contexto, quanto para a duração das pausas.
4.2.1.2. Pausa depois da palavra focalizada
A porcentagem de ocorrência de pausa depois da palavra focalizada para as amostras FP
e FPS também é bastante semelhante, como pode ser visualizado na tabela e no gráfico
abaixo:
95
Com
pausa
Sem
pausa
Foco Prosódico
1
4
%
8
6
%
1
1
,
3
0
%
8
8
,
7
0
%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
Porcentagem
Pausa depois da palavra focalizada
Foco Prosódico
Foco prosódico e
sintático
PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA
Foco prosódico (FP) Foco prosódico e sintático
(FPS)
Número Pocentagem Número Porcentagem
Ocorrência de pausa
85 11,3% 22 14%
Não ocorrência de pausa
667 88,7% 135 86%
Total
752 100% 157 100%
TABELA 18: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA DEPOIS DA PALAVRA
FOCALIZADA – Número de ocorrência e porcentagem de casos em que há e não há pausa depois
da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
GRÁFICO 10: OCORRÊNCIA DE PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA –
Porcentagem de ocorrência de pausa depois da palavra focalizada para Foco Prosódico (FP) e Foco
Prosódico e Sintático (FPS).
Da mesma forma que a pausa antes da palavra focalizada, a porcentagem de ocorrência
da pausa depois da palavra focalizada também foi bastante semelhante para as duas
amostras. Assim, esse não se revelou um parâmetro significativo para diferenciar FP de
FPS.
O procedimento seguinte foi verificar se as amostras se diferenciavam quanto à duração
da pausa depois da palavra focalizada. Para tanto, foi aplicado o teste Mann-Withney
tomando-se como hipótese nula que não haveria diferença estatisticamente significativa
96
entre as amostras quanto ao parâmetro. A hipótese alternativa adotada foi que FP
apresentaria durações maiores para as pausas do que FPS, que a média de FP para as
pausas foi maior que a de FPS, conforme indica a tabela abaixo.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA
PALAVRA FOCALIZADA
Média (ms) Desvio-padrão
Foco prosódico (FP)
744,8 469,4
Foco prosódico e sintático (FPS)
722,9 632,9
TABELA 19: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA PALAVRA
FOCALIZADA – Média, variância e desvio-padrão da pausa depois da palavra focalizada nas
amostras FP e FPS.
O p-valor obtido quando da aplicação do teste a um nível de significância de 0,05 foi de
0,2147 (p>0,05), conforme demonstra a tabela abaixo. Assim, a hipótese nula não pôde
ser rejeitada, e, estatisticamente, as amostras não diferem quanto ao parâmetro duração
da pausa depois da palavra focalizada.
DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA
Mediana (ms) p-valor (FP X FPS)
Foco prosódico (FP)
597 0,2147
Foco prosódico e sintático
(FPS)
616,5
Tabela 20: DURAÇÃO DA PAUSA DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA – Comparação entre
as amostras FP e FPS quanto ao parâmetro duração da pausa depois da palavra focalizada, por
meio do teste
Mann-Withney (Medianas e p-valor)
Dessa forma, o parâmetro pausa depois da palavra focalizada não é expressivo para
diferenciar o foco somente prosódico (FP) do foco prosódico e sintático (FPS) nem
quanto à porcentagem de ocorrência nem quanto à duração das pausas.
97
Pausa
antes e
depois
Pausa
antes ou
depois
Foco Prosódico
4
,
7
0
%
9
5
,
3
0
%
1
4
,
9
0
%
8
5
,
1
0
%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Pausa antes e depois da palavra focalizada
Foco Prosódico
Foco prosódico e
sintático
4.2.1.3. Pausa antes e depois da palavra focalizada
Quanto ao parâmetro pausa, por fim, foram analisados os casos em que ocorre pausa
tanto antes quanto depois da palavra focalizada. Nesse sentido, a porcentagem de
ocorrência é diferente para a amostra FP e a FPS, conforme indicam a tabela e o gráfico
abaixo.
PAUSA ANTES E DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA
Número Porcentagem Porcentagem válida
FP FPS FP FPS FP FPS
Pausa antes e
depois
25 2 3,3% 1,3% 14,9% 4,7%
Pausa antes ou
depois
143 41 19% 26,1% 85,1% 95,3%
Não-válidos
54
584 114 77,7% 72,6%
Total
752 157 100% 100% 100% 100%
TABELA 21: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES E DEPOIS DA
PALAVRA FOCALIZADA – Número de ocorrências, porcentagem e porcentagem válida de
ocorrência de pausa antes e depois da palavra focalizada para Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS).
GRÁFICO 11: OCORRÊNCIA DE PAUSA ANTES E DEPOIS DA PALAVRA FOCALIZADA –
Porcentagem válida de ocorrência de pausa antes e depois da palavra focalizada para Foco
Prosódico (FP) e Foco Prosódico e Sintático (FPS).
54
Consideram-se não-válidos os casos em que não foi observada ocorrência de pausa nem antes nem
depois da palavra, pois nessa situação seria impossível ocorrer pausa antes e depois da palavra
focalizada.
98
Houve, portanto, variação na porcentagem de ocorrência de pausa antes e depois da
palavra focalizada para o foco somente prosódico (FP) e a co-ocorrência entre foco
prosódico e sintático (FPS). Levando-se em consideração os dados válidos, ou seja,
aqueles em que houve a manifestação de pausa (seja antes, depois, ou antes e depois), o
Foco prosódico (FP) apresentou uma porcentagem de ocorrência de pausa antes e
depois da palavra focalizada 10,2% maior que o Foco prosódico e sintático (FPS). No
entanto, essa manifestação constitui apenas 3,3% e 1,3% para cada amostra,
respectivamente, quando se leva em consideração também os dados não válidos.
Dessa forma, pode-se concluir que, embora não seja um fenômeno recorrente o uso da
pausa antes e depois da palavra para focalizar, quando ocorre, ele se mostra mais
comum no foco somente prosódico (FP).
4.2.2. Diferença de intensidade entre a palavra focalizada e a
anterior
Quanto ao parâmetro diferença de intensidade, a hipótese nula adotada era que as
amostras não se difeririam quanto a esse parâmetro. Foram consideradas relevantes as
diferenças de intensidade acima de 1dB ou abaixo de -1dB. Abaixo, encontra-se a tabela
e o gráfico que representam a porcentagem de ocorrência de cada caso.
99
<
-
1
d
B
S
e
m
d
i
f
e
r
e
n
ç
a
>
1
d
B
Foco Prosódico
1
4
,
7
%
2
2
,
5
%
6
2
,
8
%
1
3
,
7
%
2
3
,
2
%
6
3
,
1
%
0%
20%
40%
60%
80%
Diferença de intensidade entre a palavra
focalizada e a anteiror
Foco Prosódico
Foco prosódico e
sintático
DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
PALAVRA ANTERIOR
Ocorrência Porcentagem Porcentagem válida
FP FPS FP FPS FP FPS
Diferença positiva
(>1dB)
391 81 52% 51,6% 63,1% 62,8%
Diferença negativa
(< -1dB)
85 19 11,3% 12,1% 13,7% 14,7%
Sem diferença
144 29 19,1% 18,5% 23,2% 22,5%
Não-válidos
55
132 28 17,6% 17,8%
Total
752 157 100% 100% 100% 100%
TABELA 22: PORCENTAGEM DE OCORRÊNCIA DE DIFERENÇA DE INTENSIDADE
SIGNIFICATIVA ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A PALAVRA ANTERIOR –
Ocorrência, porcentagem e porcentagem válida de diferença de intensidade significativa entre a
palavra focalizada e a anterior para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
GRÁFICO 12: DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
ANTERIOR – Porcentagem válida de diferença de intensidade (positiva, negativa e sem diferença)
entre a palavra focalizada e a anterior para Foco Prosódico (FP) e Foco Prosódico e Sintático
(FPS).
Como se na tabela e no gráfico, não houve uma variação significativa na
porcentagem de ocorrência de cada contexto para as amostra FP e FPS. Predominou a
diferença positiva, o que indica que na palavra focalizada, quando comparada à palavra
anterior, há uma elevação do valor de intensidade na maioria dos casos.
55
Consideram-se não-válidos os casos em que o enunciado inicia-se com a palavra focalizada ou o grupo
clítico que contém a palavra focalizada.
100
Já no que se refere aos valores da diferença de intensidade para cada amostra, a hipótese
nula adotada foi que as amostras seriam iguais quanto a esse parâmetro. Como a média
do Foco prosódico (FP) foi maior que a do Foco prosódico e sintático (FPS), conforme
indica a tabela abaixo, a hipótese alternativa foi que FP apresentava valores maiores que
FPS para diferença de intensidade.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A
PALAVRA FOCALIZADA E A ANTERIOR
Média (dB) Desvio-padrão
Foco prosódico (FP)
2,49 3,86
Foco prosódico e sintático (FPS)
2,34 3,65
TABELA 23: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DIFERENÇA DE INTESNIDADE ENTRE A
PALAVRA FOCALIZADA E A ANTERIOR – Média, variância e desvio-padrão da diferença de
intensidade entre a palavra focalizada e a anterior nas amostras FP e FPS.
A aplicação do teste Mann-Withney demonstrou que a hipótese nula não poderia ser
rejeitada, ou seja, as amostras não diferem significativamente quanto ao parâmetro
diferença de intensidade. Em um nível de significância de 0,05, o p-valor obtido foi de
0,290, como pode ser visualizado na tabela a seguir.
DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
ANTERIOR
Mediana (dB) p-valor (FP X FPS)
Foco prosódico (FP)
1,77 0,290
Foco prosódico e sintático
(FPS)
1,86
TABELA 24: DIFERENÇA DE INTENSIDADE ENTRE A PALAVRA FOCALIZADA E A
ANTERIOR – Comparação entre as amostras FP e FPS quanto ao parâmetro duração diferença
de intesnidade, por meio do teste Mann-Withney (Medianas e p-valor)
Quanto ao parâmetro diferença de intensidade, sumarizando, tanto no foco somente
prosódico (FP) quanto na co-ocorrência entre foco prosódico e sintático (FPS), houve,
na maioria dos casos (63,1% e 62,8%, respectivamente), um aumento significativo de
intensidade da palavra anterior para a focalizada. A porcentagem de ocorrência de
101
diferença positiva, negativa e de não diferença não diferiu significativamente para as
duas amostras. Além disso, os valores da diferença de intensidade também não se
mostraram estatisticamente diferentes para FP e FPS. Conclui-se, portanto, que a
diferença de intensidade não é parâmetro significativo para diferir o Foco prosódico
(FP) do Foco prosódico e sintático (FPS).
4.2.3. Frequência fundamental
Para a frequência fundamental, a hipótese nula era que as duas amostras (FP e FPS) não
se diferiam quanto a esse parâmetro. Foram comparados os valores de frequência para
f0 máxima e f0 mínima do enunciado, tessitura, f0 máxima da palavra focalizada,
diferença entre f0 máxima do enunciado e f0 máxima da palavra focalizada, f0 na tônica
lexical da palavra focalizada e em até três pré-tônicas. Nas subseções abaixo estão os
resultados obtidos para cada um desses parâmetros.
4.2.3.1. f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura
Foram verificadas as médias de f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura para as
amostras.
102
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 MÁXIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO E
TESSITURA
Foco prosódico (FP) Foco prosódico e sintático
(FPS)
Média (Hz) Desvio
padrão
Média (Hz) Desvio
padrão
F0 máxima do enunciado
219 55,7 235,7 60,2
F0 mínima do enunciado
97 17,4 100,7 16,1
Tessitura
122 55,8 135 63,5
TABELA 25: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 MÁXIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO E
TESSITURA – Média e desvio padrão de F0 máxima e mínima do enunciado e tessitura para Foco
prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
Pela tabela acima, pode-se verificar que as médias para os parâmetros analisados são
maiores no Foco prosódico e sintático (FPS) do que no Foco prosódico (FP). Dessa
forma, a hipótese nula adotada para a comparação dos valores foi que as amostras (FP e
FPS) não se diferiam quanto aos parâmetros analisados, enquanto a hipótese alternativa
adotada foi que a amostra FPS possuía valores maiores de f0 que a amostra FP. Com a
aplicação do teste Mann-Withney foram obtidos os resultados indicados na tabela
abaixo.
F0 MÁXIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO E TESSITURA
Mediana (Hz) p-valor (FP X FPS)
FP FPS
F0 máxima do enunciado
214,15 224,86 0,0012
F0 mínima do enunciado
101,51 94,56 0,0007
Tessitura
120,55 114,73 0,0188
TABELA 26: F0 MÁXIMA E MÍNIMA DO ENUNCIADO E TESSITURA – Mediana e p-valor de
f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura. Amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e
sintático (FPS).
Para os três parâmetros analisados, o teste indicou que as amostras são
significativamente diferentes, num intervalo de confiança de 0,05. Dessa forma, pode-se
rejeitar a hipótese nula em favor da alternativa, isto é, pode-se assumir que as amostras
Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) diferem quanto aos parâmetros
f0 máxima e mínima do enunciado e tessitura. Esses parâmetros, portanto, são
relevantes para diferenciar o foco somente prosódico da co-ocorrência entre foco
prosódico e sintático.
103
f
0
m
á
x
i
m
o
=
f
o
c
o
4
7
,
8
5
2
,
2
3
7
,
1
6
2
,
9
0
10
20
30
40
50
60
70
Porcentagem de coincidência entre f0 máximo do
enunciado e f0 máximo da palavra focalizada
Foco prosódico
Foco prosódico e
sintático
4.2.3.2. f0 máxima da palavra focalizada e sua relação com f0
máxima do enunciado
Foram verificados os valores de f0 máxima da palavra focalizada. Posteriormente, esses
valores foram subtraídos dos valores máximos de cada enunciado a fim de verificar se a
f0 máxima do enunciado incidia na palavra focalizada. Esse procedimento foi realizado
para as duas amostras e a porcentagem dos casos em que o valor máximo do enunciado
coincidia com a palavra focalizada, para cada amostra, está expresso no gráfico abaixo:
GRÁFICO 13: PORCENTAGEM DE COINCIDÊNCIA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO
E F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA –Porcentagem de casos em que o f0 máxima do
enunciado incide e não incide na palavra focalizada, para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e
sintático (FPS).
O Gráfico indica que houve uma variação significativa quanto à porcentagem de casos
em que a f0 máxima do enunciado coincide com a f0 máxima da palavra focalizada na
comparação entre as amostras FP e FPS. Foco prosódico e sintático (FPS) apresenta
uma porcentagem significativamente maior de casos em que o f0 maior do enunciado
está localizado na palavra focalizada (10,7% de casos a mais que FP). Dessa forma, esse
parâmetro indica uma diferença entre as amostras.
104
Além da análise da diferença entre a porcentagem de ocorrência, depreendida acima,
procedeu-se, também, à verificação se houve diferença estatisticamente significativa
quanto aos valores obtidos para os parâmetros f0 máxima na palavra focalizada e
diferença entre f0 máxima do enunciado e f0 máxima da palavra focalizada. No
primeiro caso foi utilizado o teste t e, no segundo, o teste
Mann-Withney. A hipótese
nula adotada era que as amostras não se diferiam quanto aos parâmetros analisados.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA E
DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA
PALAVRA FOCALIZADA
Foco prosódico
(FP)
Foco prosódico e
sintático (FPS)
Média
(Hz)
DP Média
(Hz)
DP
F0 máxima da palavra focalizada
191,9 51 212,3 53,2
Diferença entre f0 máxima do enunciado e
f0 máxima da palavra focalizada
29,1 43 23,4 39,3
TABELA 27: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA E
DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA PALAVRA
FOCALIZADA – Média e desvio padrão para as amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e
sintático (FPS).
A hipótese alternativa era que FP apresentava valores menores que FPS para f0 máxima
da palavra focalizada e valores maiores que FPS para a diferença entre f0 máxima do
enunciado e f0 máxima da palavra focalizada, conforme indicam as médias expressas na
tabela acima. Para o primeiro parâmetro, a aplicação do teste t resultou nos valores
abaixo:
F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA
Média (Hz) p-valor (FP X FPS)
FP FPS
F0 máxima da palavra focalizada
191,9 212,3 0,00001
TABELA 28: F0 MÁXIMA DA PALAVRA FOCALIZADA – Comparação entre as amostras Foco
prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) para o parâmetro f0 máxima da palavra
focalizada por meio do teste t (médias e p-valor).
105
O resultado do teste indica, portanto, que diferença estatisticamente significativa
entre as amostra FP e FPS para o parâmetro f0 máxima na palavra focalizada, sendo que
a amostra FPS apresenta valores mais elevados que a amostra FP.
Quanto á diferença entre a f0 máxima do enunciado e a f0 máxima da palavra
focalizada, a aplicação do teste Mann-Withney resultou nos valores expressos na tabela
abaixo.
DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA
PALAVRA FOCALIZADA
Mediana (Hz)
p-valor
(FP X FPS)
FP FPS
Diferença entre f0 máxima do enunciado e
F0 máxima da palavra focalizada
2,08 10,67 0,0112
TABELA 29: DIFERENÇA ENTRE F0 MÁXIMA DO ENUNCIADO E F0 MÁXIMA DA
PALAVRA FOCALIZADA – Comparação entre as amostras Foco prosódico (FP) e Foco prosódico
e sintático (FPS) para o parâmetro diferença entre f0 máxima do enunciado e f0 máxima da
palavra focalizada por meio do teste Mann-Withney (medianas e p-valor).
De acordo com o teste aplicado, quanto à diferença entre f0 máxima do enunciado e f0
máxima do foco as amostras também divergem (p<0,05), sendo que a amostra FP
apresenta valores maiores que a FPS para esse parâmetro.
Em suma, os valores de f0 máxima da palavra focalizada são estatisticamente maiores
nos casos em que ocorre co-ocorrência entre foco prosódico e sintático quando
comparados com os casos em que ocorre somente foco prosódico. Quanto à diferença
entre o valor máximo de f0 do enunciado e o valor máximo de f0 da palavra focalizada,
quando ocorre co-ocorrência entre foco prosódico e sintático, o pico de f0 do enunciado
localiza-se mais frequentemente na palavra focalizada e os valores da diferença, nesse
contexto, são menores que os valores encontrados para o foco somente prosódico.
106
t
ô
n
i
c
a
p
r
i
m
e
i
r
a
p
r
é
-
t
ô
n
i
c
a
s
e
g
u
n
d
a
p
r
é
-
t
ô
n
i
c
a
t
e
r
c
e
i
r
a
p
r
é
-
t
ô
n
i
c
a
Foco prosódico e
sintático
5
9
,
8
%
1
3
,
5
%
1
4
,
1
%
1
2
,
5
%
7
7
,
1
%
9
,
0
%
6
,
9
%
6
,
9
%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
Maior valor de f0 em relação à tônica e pré-tônicas
Foco prosódico e
sintático
Foco prosódico
4.2.3.3. f0 na tônica lexical da palavra focalizada e nas três pré-
tônicas
Por fim, quanto à freqüência fundamental, foram comparados os valores de f0 na tônica
lexical da palavra focalizada e em até três pré-tônicas. A incidência de maior valor de f0
quando comparadas as sílabas foi, para cada amostra, a indicada na tabela e no gráfico
abaixo.
POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM REALAÇÃO À TÔNICA DA PALAVRA
FOCALIZADA E ÀS PRÉ-TÔNICAS
Ocorrência Porcentagem Porcentagem válida
FPS FP FPS FP FPS FP
tônica
111 411 70,7% 54,7% 77,1% 59,8%
primeira pré-tônica
13 93 8,3% 12,4% 9,0% 13,5%
segunda pré-tônica
10 97 6,4% 12,9% 6,9% 14,1%
terceira pré-tônica
10 86 6,4% 11,4% 6,9% 12,5%
Não válidos
56
13 65 8,3% 8,6%
Total
157 752 100% 100% 100% 100%
TABELA 30: POSIÇÃO DO MAIOR VALOR DE F0 EM REALAÇÃO À TÔNICA DA
PALAVRA FOCALIZADA E ÀS PRÉ-TÔNICAS – Ocorrência, porcentagem e porcentagem
válida do maior valor de f0 em relação à tônica e às pré-tônicas para Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS).
Gráfico 14: MAIOR VALOR DE F0 EM RELAÇÃO À TÔNICA E PRÉ-TÔNICAS - Porcentagem
válida do maior valor de f0 em relação à tônica e à pré-tônica da palavra focalizada, para Foco
prosódico e sintático (FPS) e Foco prosódico (FP).
56
Foram considerados não válidos os casos em que o enunciado se iniciava com a tônica lexical da
palavra focalizada, caso em que não havia pré-tônicas a serem comparadas.
107
Nota-se que, no Foco prosódico e sintático (FPS), a sílaba tônica lexical da palavra
focalizada foi mais frequentemente a que apresentou maior valor de f0 quando
comparado com FP (17% a mais que em FP). Assim, no Foco prosódico (FP), foi mais
comum a antecipação do pitch (nos termos de Makino e Medeiros (2001)), que ocorreu
em 40,2% dos casos.
Foi realizada, então, a comparação dos valores obtidos em cada sílaba para ambas as
amostras. A hipótese nula adotada era que os valores de f0 na tônica, primeira, segunda
e terceira pré-tônica seriam iguais para as duas amostras. Abaixo se encontram média e
desvio padrão encontrado para cada um dos parâmetros.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA
FOCALIZADA E NAS TRÊS PRÉ-TÔNICAS
Média (Hz) Desvio Padrão
FP FPS FP FPS
f0 da terceira pré-tônica
142 151 35,4 37,7
f0 da segunda pré-tônica
147,7 146,6 63,3 33,8
f0 da primeira pré-tônica
146,9 149,4 42,3 36,1
f0 da tônica lexical da palavra focalizada
170,7 189,4 44,7 43
Tabela 31: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA
FOCALIZADA E NAS TRÊS PRÉ-TÔNICAS– Média e desvio padrão para f0 da tônica lexical da
palavra focalizada e das três pré-tônicas para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático
(FPS).
A hipótese alternativa adotada para os testes
57
foi que FPS, quando comparado com FP,
apresentaria maiores valores de f0 para a tônica, a terceira e a primeira pré-tônicas, mas
apresentaria valores menores para a segunda pré-tônica. Os resultados obtidos
encontram-se na tabela abaixo.
57
Com exceção da tônica lexical, para a qual foi aplicado o teste t, para todos os outros parâmetros a
comparação entre as amostras foi feita por meio do teste
Mann-Withney. Para maiores detalhes das
exigências observadas para a escolha de cada teste estatístico, vide Anexo II.
108
F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA FOCALIZADA E NAS TRÊS PRÉ-
TÔNICAS
Mediana (Hz)
p-valor
(FP X FPS)
FP FPS
f0 da terceira pré-tônica
133,7 140,7 0,0030
f0 da segunda pré-tônica
136,6 140,7 0,2079
f0 da primeira pré-tônica
139,6 137,6 0,0684
Média (Hz)
f0 da tônica lexical da palavra focalizada
170,7 189,4 0,000001
TABELA 32: F0 NA TÔNICA LEXICAL DA PALAVRA FOCALIZADA E EM ATÉ TRÊS PRÉ-
TÔNICAS – Comparação das amostras Foco prosódico e Foco prosódico e sintático quanto aos
parâmetros f0 da tônica lexical da palavra focalizada, da primeira, da segunda e da terceira pré-
tônica.
Os resultados dos testes indicam que as amostras FP e FPS diferem somente quanto aos
parâmetros valor de f0 na terceira pré-tônica e na tônica lexical da palavra focalizada.
Portanto, a antecipação do pitch, isto é, os valores das pré-tônicas serem maiores que os
da tônica é mais comum para o Foco prosódico (FP). quanto aos valores de f0 nessas
sílabas, as amostras diferem somente para as terceiras pré-tônicas e para as tônicas.
4.2.4. Duração
Foram contabilizados 562 segmentos alongados no Foco prosódico (FP) e 96 segmentos
alongados no Foco prosódico e sintático. Em ambas as amostras predominou o
alongamento da tônica lexical da palavra focalizada, como mostra o gráfico a seguir.
109
c
o
m
a
l
o
n
g
a
m
e
n
t
o
s
e
m
a
l
o
n
g
a
m
e
n
t
o
5
2
%
4
8
%
6
0
%
4
0
%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Porcentagem de enunciados em que ocorre
alongamento
Foco prosódico
Foco prosódico e
sintático
tônica
pré-tônica
s-
tônica
8
0
%
4
%
1
6
%
7
5
%
1
2
%
1
4
%
0%
20%
40%
60%
80%
Posição do segmento alongado em relação à
tônica
Foco prosódico
Foco prosódico e
sintático
GRÁFICO 15: POSIÇÃO DO SEGMENTO ALONGADO EM RELAÇÃO À TÔNICA –
Porcentagem de ocorrência do segmento alongado na sílaba tônica lexical da palavra focalizada,
pré-tônica e pós-tônica para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
O gráfico acima demonstra que a amostra Foco prosódico (FP) apresentou uma maior
porcentagem de casos em que o segmento focalizado não se encontra na sílaba tônica
lexical (5% a mais que FPS).
Dos 752 enunciados que compunham a amostra Foco prosódico (FP), 449 apresentaram
alongamento de segmento. no que se refere ao Foco prosódico e sintático (FPS), dos
157 enunciados, em 82 houve alongamento, conforme indica o gráfico a seguir.
GRÁFICO 16: PORCENTAGEM DE ENUNCIADOS EM QUE OCORRE ALONGAMENTO –
Porcentagem de enunciados em que houve e em que não houve alongamento de algum segmento na
palavra focalizada, para Foco prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS).
110
Como pode ser evidenciado no gráfico acima, o Foco prosódico (FP) apresenta mais
enunciados em que alongamento do que o Foco prosódico e sintático (diferença de
8%).
Por fim, para comparar se os valores de escore z, obtidos pela normalização, das duas
amostras são significativamente diferentes, foi aplicado o teste Mann Withney. A
hipótese nula era que FP e FPS não se diferiam quanto aos valores de escore z.
ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO NORMALIZADA
Média (escore z) Desvio padrão
Foco prosódico (FP)
2,589 2,156
Foco prosódico e sintático (FPS)
2,718 2,066
TABELA 33: ESTATÍSTICA DESCRITIVA – DURAÇÃO NORMALIZADA – Média e desvio
padrão da duração normalizada dos segmentos alongados para Foco prosódico (FP) e Foco
prosódico e sintático (FPS).
A hipótese alternativa adotada, com base no valor das médias demonstrado na tabela
acima, foi que o Foco prosódico e sintático apresenta alongamento maior dos segmentos
do que o Foco prosódico. O resultado do teste estatístico encontra-se na tabela abaixo.
DURAÇÃO NORMALIZADA
Mediana (escore z)
p-valor
(FP X FPS)
FP FPS
Duração normalizada
1,929 2,098 0,0968
TABELA 34: DURAÇÃO NORMALIZADA - Comparação entre as amostras Foco prosódico (FP)
e Foco prosódico e sintático (FPS) para o parâmetro duração normalizada por meio do teste
Mann
Withney
(medianas e p-valor).
O resultado do teste estatístico indica que a hipótese nula não pode ser rejeitada. Dessa
forma, as amostras FP e FPS não diferem significativamente quanto à duração dos
segmentos alongados.
111
Em resumo, não diferença significativa na duração do segmento alongado quando
somente foco prosódico e quando a co-ocorrência entre o foco prosódico e o
sintático. No Foco prosódico e sintático (FPS), porém, menos enunciados que
apresentam alongamento, e o alongamento ocorre mais frequentemente na tônica lexical
da palavra focalizada, quando comparado com o Foco prosódico (FP).
4.2.5. Sumário dos resultados obtidos
Os resultados das comparações depreendidas para cada parâmetro entre as amostra Foco
prosódico (FP) e Foco prosódico e sintático (FPS) indicam que o parâmetro relevante
para se diferenciar ambas as amostras é a frequência fundamental, sendo que o Foco
prosódico e sintático apresenta valores de f0 mais elevados que o Foco prosódico (FP).
Dessa forma, a co-ocorrência do foco prosódico com o sintático ocasiona elevação dos
valores de f0.
Os resultados dialogam com a maioria das investigações quanto ao padrão prosódico do
Foco, que, por considerarem-no uma proeminência, destacam que o aumento nos
valores da f0, fazendo com que haja modificações na curva melódica. (XU & XU, 2005;
FROTA, 1994; D’IMPERIO, 2003; GRICE & SAVINO, 2003; LADD & MORTON,
1997; GONÇALVES, 1997; BATISTA, 2007). Esses estudos consideram, portanto,
que a manifestação do foco prosódico pode ser caracterizada por uma elevação de pitch.
Esta pesquisa confirmou a afirmação dos pesquisadores acima de que o foco prosódico
ocasiona a elevação dos valores de f0, mas ainda contribuiu com essas considerações ao
demonstrar que o padrão da frequência fundamental do foco prosódico é modificado
quando há a co-ocorrência entre o foco prosódico e o sintático, havendo um aumento da
f0 quando as duas formas de focalizar se unem.
112
4.3.O FOCO PROSÓDICO NA GRAMÁTICA
Neste trabalho, foi analisado o fenômeno do foco prosódico contrastivo, que se refere ao
destaque dado a uma palavra ou constituinte por meio da prosódia, de forma a indicar
que esse trecho constitui informação nova e contrastá-lo com a informação dada que o
circunda. Assumiu-se, porém, que o foco prosódico contrastivo se contrapõe ao foco
prosódico neutro, o qual se refere ao padrão default e não apresenta o destaque de uma
parte específica da sentença.
Primeiramente, pretendeu-se comparar as estruturas default que apresentam foco neutro
no corpus, ou seja, aquelas que não foram identificadas como contrastivas pelos
ouvintes, com as sentenças default, que apresentam foco contrastivo, isto é, as que
foram identificadas pelos ouvintes.
Foram segmentadas sentenças default com foco neutro, mas, no momento da análise
acústica, verificou-se que a maioria das sentenças não apresentava qualidade acústica
que as permitisse analisar. Como a posição default é em final de enunciado, na maioria
das vezes a última palavra do enunciado não é completamente pronunciada, ou, se o é, a
qualidade realmente compromete a análise.
Esse fator, por si só, indica uma diferença entre as duas formas de foco prosódico:
quando foco contrastivo, a palavra pode não ser totalmente pronunciada (ou seja,
pode haver apagamento das sílabas átonas finais), mas a pronúncia é clara até o fim do
enunciado e a qualidade do sinal é boa, ao contrário de quando foco neutro. Embora
isso não seja suficiente para indicar com detalhes as diferenças entre os dois casos,
considera-se que comprova a contraposição entre o foco contrastivo e o neutro,
reforçando a existência de ambos.
113
No entanto, embora se tenha definido o padrão prosódico do foco contrastivo e visto
que ele, de certa forma, contrapõe-se ao foco informacional, ainda resta investigar a
formação desses fenômenos na composição da Gramática.
A formação do foco neutro dá-se pela própria organização prosódica da língua, uma vez
que tal fenômeno refere-se às sentenças default. Assim, na perspectiva da Fonologia
Métrica, as marcações de forte se dão, em PB, da direita para a esquerda a partir da
palavra fonológica, o que acarreta que a sentença com foco neutro apresenta o acento
nuclear na tônica lexical da última palavra do enunciado.
Assim, toda sentença do PB, apresentaria, a priori, o foco neutro indicado pelo acento
nuclear na última palavra do enunciado, o que demonstra que, naquela sentença, não
o destaque de um termo ou constituinte em relação aos demais. Quando o falante
pretende destacar um elemento, porém, ele se utiliza do foco contrastivo.
Szendrői (2001 investiga o fenômeno utilizando os pressupostos teóricos da /fonologia
Métrica e da Teoria da Otimalidade. A autora propõe três formas de as línguas no
mundo focalizarem um elementos: o acento nuclear é deslocado para o elemento
focalizado; o elemento focalizado se desloca para a posição de acento nuclear; ou
o
elemento a ser focalizado aparece em uma borda relevante do domínio fonológico para
receber o acento principal. Partindo da proposta da autora, iremos verificar qual dessas
formas o PB utiliza.
Neste trabalho, a análise dos dados demonstrou que a palavra focalizada varia entre a
posição inicial, medial e final do enunciado (10,4%; 67%; 22,7% para cada posição,
respectivamente). Portanto, a palavra focalizada não se concentra na posição de acento
nuclear (final do grupo prosódico, em PB), nem em uma borda do domínio fonológico, seja
114
esquerda ou direita. Dessa forma, pode-se concluir que o Português Brasileiro é uma língua
em que o acento nuclear é deslocado para a palavra focalizada, o que defende também
Gonçalves (1997), ao propor que o PB é uma língua que pode ser caracterizada como [-
sintática/ + fonológica] para o foco, ou seja, no PB a prevalência dos elementos
prosódicos para focalizar um elemento.
As considerações acima acarretam que, para a atribuição do foco contrastivo, a
modificação do padrão métrico do foco neutro, fazendo com que o valor forte no nível
mais alto, o do enunciado, passe a incidir sobre a palavra focalizada. Dessa forma, o
foco contrastivo faz com que o valor forte, na grade métrica, não seja mais atribuído da
direita para a esquerda, mas incida em todos os níveis na palavra focalizada, o que
também é predito por Szendrői (2001), Frota (1994) e Lecumberri e Abreu (2003).
Assim, a estruturação rítmica é modificada. No entanto, quando a palavra a ser
destacada pelo foco contrastivo já se encontra à direita do enunciado, em posição
default, a modificação do padrão prosódico que a permite identificar como
contrastiva, e não neutra, o que defende Frota (1994). Dessa forma, a estrutura métrica
não é fixa, mas sim varia de acordo com a organização informacional e pragmática.
Em suma, todo enunciado, ao ser gerado, recebe a priori o foco neutro, com a estrutura
fonológica default, cuja organização informacional não destaca um termo ou
constituinte. Se, ao contrário, um termo é destacado, há a modificação rítmica do
enunciado, fazendo com que o acento nuclear se desloque para a palavra focalizada, e,
com essa reestruturação, ele passa a não mais transmitir o foco neutro, mas sim o
contrastivo.
115
5. CONCLUSÃO
Este trabalho investigou a manifestação prosódica do foco contrastivo, por meio da
análise acústica dos parâmetros prosódicos frequência fundamental, intensidade,
duração e pausas. Foram identificadas 909 ocorrências de foco prosódico contrastivo, e
os resultados indicam que, dentre esses parâmetros, a frequencia fundamental e a
duração têm importância principal na caracterização do fenômeno.
Tendo em visa que o enunciado foi o escopo da maioria das palavras focalizadas
(68,4%), esse nível mais alto da hierarquia prosódica foi utilizado como unidade de
análise das sentenças em que houve foco prosódico contrastivo. Talvez pela extensão do
domínio analisado, o pico de f0 da palavra focalizada na maioria dos casos não se
constituiu do ponto mais alto de f0 do enunciado. Isso indica que o foco não ocasiona a
diminuição dos valores de f0 de outros acentos presentes no enunciado, assim como
proposto por Xu e Xu (2005), e que os resíduos pré e pós-focais não precisam
necessariamente apresentar menores valores de f0 que o foco. A diferença entre a f0
máxima do enunciado e a f0 máxima da palavra focalizada indicou, porém, que, apesar
de, na maioria das vezes, a palavra focalizada não se constituir do ponto mais alto de f0
do enunciado, ela apresenta valores elevados de f0, o que confirma que a freqüência
fundamental é um parâmetro importante para a manifestação do fenômeno (XU & XU,
2005; FROTA, 1994; D’IMPERIO, 2003; GRICE & SAVINO, 2003; LADD &
MORTON, 1997; GONÇALVES, 1997; BATISTA, 2007).
116
O presente trabalho ainda divergiu de achados anteriores (GONÇALVES, 1997;
MAKINO & MEDEIROS, 2001; MORAES, 2006) quanto à antecipação do pitch, uma
vez que os resultados apontaram que, na maioria das palavras focalizadas (62% dos
casos válidos), a sílaba tônica lexical da palavra focalizada apresenta valores mais
elevados de f0, quando comparada com as pré-tônicas. Isso pode ter sido ocasionado
pelos procedimentos metodológicos adotados, especificamente por terem sido utilizados
dados de fala semi-espontânea, e não dados controlados, o que demonstra a necessidade
de se ampliarem os estudos pautados em dados de fala semi-espontânea e espontânea.
O procedimento metodológico utilizado para a análise da duração, a normalização,
permitiu concluir que a duração é um parâmetro relevante na atribuição do foco
prosódico contrastivo, que a maioria das palavras focalizadas (58%) apresentou pelo
menos um segmento vocálico alongado, quando comparado com a média do mesmo
segmento nos contextos em que não houve foco. Os segmentos vocálicos alongados na
palavra focalizada encontram-se, na maioria das vezes (76%), na sílaba tônica lexical.
Esse achado, validado pelo procedimento metodológico adotado, tem importância cabal,
pois os estudos anteriores (GONÇALVES, 1997; BATISTA, 2007) divergiam acerca do
papel da duração na atribuição do fenômeno.
a pausa não pode ser considerada relevante para indicar o foco prosódico contrastivo,
uma vez que foi utilizada com pouca frequência (23,7% dos casos analisados).
Por fim, quanto à intensidade, não foi possível confirmar sua importância na atribuição
do foco prosódico contrastivo devido a restrições metodológicas, especificamente por,
no momento da gravação do corpus, não ter sido controlada a distância entre o
microfone e a boca do informante. Tentou-se, porém, minimizar essa restrição ao se
117
utilizar, para a análise do parâmetro, valores referentes à diferença entre as medidas de
intensidade de duas palavras próximas, o que diminui as conseqüências do problema
acima descrito. Mesmo assim, é possível afirmar que uma tendência da
importância da intensidade na manifestação do foco prosódico contrastivo.
Este trabalho ainda pretendeu clarificar como a co-ocorrência do foco sintático com o
prosódico pode modificar o padrão prosódico do foco contrastivo. Para tanto, foram
comparados os enunciados em que houve somente foco prosódico contrastivo, com
aqueles em que houve co-ocorrência com foco sintático.
Das 909 ocorrências de foco prosódico contrastivo, apenas 157 apresentam co-
ocorrência com o foco sintático, o que diverge firmemente de Gonçalves (1997), que
no estudo demandado por esse autor na maioria dos casos (82,7%) houve co-ocorrência
do foco prosódico com o sintático. O parâmetro prosódico que se mostrou mais
relevante para diferenciar a co-ocorrência do foco somente prosódico foi a frequência
fundamental.
Nesse sentido, o foco prosódico e sintático difere do foco somente prosódico quanto aos
parâmetros f0 máxima e mínima do enunciado, tessitura, f0 máxima da palavra
focalizada e valor de f0 nas tônicas e terceiras pré-tônicas das palavras focalizadas.
Cabe ressaltar que foi verificado o aumento dos valores de f0 quando a co-
ocorrência. Dessa forma, a co-ocorrência do foco prosódico com o sintático modifica o
padrão prosódico do foco contrastivo porque ocasiona a elevação dos valores de f0.
Além disso, a antecipação do pitch é mais comum quando somente o foco prosódico
do que quando há a co-ocorrência do foco prosódico com o sintático, ou seja, quando há
118
a co-ocorrência, a sílaba tônica lexical da palavra focalizada apresenta mais
frequentemente valores mais elevados de f0 quando comparada com as pré-tônicas.
os parâmetros pausas, intensidade e duração não se mostraram relevantes para
diferenciar o foco somente prosódico do foco prosódico e sintático, embora neste haja
menos palavras focalizadas que apresentam alongamento, quando comparado com
aquele.
Os resultados aqui obtidos, em certo ponto, dialogam com os de Gonçalves (1997), ao
se comparar os fenômenos por ele nomeados como Ênfase Intensiva Com Marcador
Focal e Ênfase Intensiva Sem Marcador Focal. Enquanto no primeiro a presença de
um intensificador textual, como marcador focal, advérbio, quantificador ou afixo, no
segundo a focalização manifesta-se somente por meio da Prosódia, sem atuação
concomitante da Sintaxe. O autor conclui que, na Ênfase Intensiva Com Marcador
Focal, a elevação de f0 na tônica do intensificador e não atuação significativa do
parâmetro duração. na Ênfase Intensiva Sem Marcador Focal, um alongamento
“exagerado” da tônica do item lexical focalizado e a f0 se apresenta alta na pré-
tônica, espraiando-se para a tônica. Cabe ressaltar que Gonçalves (1997), apesar de
descrever os dois padrões, não os compara a fim de verificar se eles se diferem
significativamente quanto aos parâmetros analisados, o que é depreendido neste
trabalho.
Os resultados deste trabalho indicam que uma tendência de que a tônica lexical da
palavra focalizada apresente o maior valor de f0 que as pré-tônicas no foco prosódico e
sintático, quando comparado com o foco somente prosódico, que apresenta mais
frequentemente a antecipação do pitch. Mas ainda acrescentam que os valores de f0
mostram-se diferentes nos dois casos, com valores maiores quando há a co-ocorrência.
119
Este trabalho também indica que as palavras focalizadas dos enunciados que apresentam
somente foco prosódico manifestam mais alongamentos de segmentos vocálicos que as
palavras focalizadas dos enunciados em que co-ocorrência do foco prosódico com o
sintático. No entanto, demonstra que, quando comparados estatisticamente, os valores
de duração nas duas amostras não se mostram significativamente diferentes, o que se
contrapõe à afirmação de Gonçalves (1997) de que, quando o foco manifesta-se
somente por meio da Prosódia, um alongamento “exagerado” da tônica do item
lexical focalizado.
Esta pesquisa, portanto, contribui para a investigação do fenômeno ao comparar os
enunciados em que co-ocorrência de foco prosódico contrastivo e foco sintático com
aqueles em que somente o foco prosódico contrastivo, o que permite demonstrar em
que aspecto a ação conjunta da Sintaxe influencia o padrão prosódico.
Com base nos resultados obtidos, passou-se, então, a investigar como se a formação
do foco prosódico na estrutura da gramática para o Português Brasileiro. Assumiu-se
que o foco contrastivo, investigado neste trabalho, contrapõe-se ao foco neutro, o qual
se refere ao padrão default e não apresenta o destaque de uma parte específica da
sentença. Como o foco neutro refere-se às sentenças default, a sentença com foco neutro
apresenta o acento nuclear na tônica lexical da última palavra do enunciado. Para o foco
contrastivo, porém, o acento nuclear é deslocado para a palavra focalizada e
a
modificação do padrão métrico do foco neutro.
120
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125
ANEXO I – TABELA TESTES ESTATÍSTICOS
TESTE ESTATÍSTICO (FP X FPS)
Parâmetro Tipo de
amostra
Tipo de dado Teste de
normalidade
58
Significância
Teste adotado
FP FPS
pausa antes da palavra
focalizada
Independente
não-pareada
ordinal 0,003 0,010
Mann-Withney
pausa depois da palavra
focalizada
Independente
não-pareada
ordinal 0,038 0,010
Mann-Withney
diferença de intensidade entre a
palavra focalizada e a anterior
Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,000 Mann-Withney
f0 máximo do enunciado Independente
não-pareada
ordinal 0,197 0,001 Mann-Withney
f0 mínimo do enunciado Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,027 Mann-Withney
tessitura Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,000 Mann-Withney
f0 máximo na palavra
focalizada
Independente
não-pareada
ordinal 0,200
0,200
Teste t
difere
nça entre f0 máximo do
enunciado e f0 máximo da
palavra focalizada
Independente
não-pareada
ordinal 0,060 0,000 Mann-Withney
f0 maior na terceira pré-tônica Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,000 Mann-Withney
f0 maior na segunta pré-tônica Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,004 Mann-Withney
f0 maior na primeira pré-tônica Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,000 Mann-Withney
f0 maior na tônica lexical Independente
não-pareada
ordinal 0,200 0,200 Teste t
duração normalizada Independente
não-pareada
ordinal 0,000 0,000 Mann-Withney
58
No teste de normalidade, para que a distribuição seja considerada normal, o valor de significância
obtido deve ser maior que 0,05, que foi adotado um intervalo de confiança de 95%. Nos casos em
que em somente uma das amostras apresenta distribuição normal (como para a diferença de
intensidade entre a palavra focalizada e a anterior), opta-se pelo teste não-paramétrico.
126
TESTE ESTATÍSTICO (FPC)
Parâmetro Tipo de
amostra
Tipo de dado Teste de normalidade
Significância
Teste adotado
f0 máximo do enunciado Dependente
pareada
ordinal 0,200
f0 máximo na palavr
a
focalizada
Dependente
pareada
ordinal 0,200
Teste t
127
ANEXO II – ENUNCIADOS
59
FOCO PROSÓDICO CONTRASTIVO (FPC)
FOCO PROSÓDICO (FP)
HRP
a escola é o espaço pra FORMAÇÃO da cidadania
HRP
a escola é um ESPAÇO de formação pra vida
HRP
a escola PODE e deve ser espaço pra esse pra o desenvolvimento dessa noção de cidadania né
HRP
a fim de que os indivíduos que saem dali possam pensar criticamente a vida DELES
HRP
a gente nota na relação da sala de aula as pessoas que si AFINIZAM.com a nossa área de
trabalho
HRP
a gente TRASFORMA pessoas
HRP
a verdade qualquer que seja ela é uma conquista ABSOLUTAMENTE experencial
absolutamente individual
HRP
a verdade só pode ser acessada PELO indivíduo através do indivíduo com outros indivíduos
HRP
a verdade qualquer que seja ela é uma conquista absolutamente experencial
ABSOLUTAMENTE individual
HRP
a vida também é um ESPAÇO de formação do indivíduo
HRP
a vida também PODE se constituir como uma escola
HRP
a vida também pode se constituir como uma ESCOLA
HRP
agora sou AUTOR da vida de pessoas
HRP
ao logo do tempo foram surgindo sistemas organizados LÍDERES
HRP
ao saber dessas necessidades nesse ATO de auto-amor
HRP
ao saber dessas necessidades nesse ato de AUTO-amor
HRP
aqui nessa terra HOJE coberta de asfaltos bancas bares e mc donalds
HRP
as pessoas que têm o CUNHO literário o cunho social
HRP
as pessoas que têm o cunho literário o CUNHO social
HRP
através dos mais diferentes instrumentos que se POSSAM apresentar à minha mão
HRP
BASTA olharmos pra cima
HRP
belo horizonte é o MEU coração aberto de horizontes aberto de possibilidades de vôo e de
imaginação
HRP
belo horizonte é o meu coração ABERTO de horizontes aberto de possibilidades de vôo e de
imaginação
HRP
belo horizonte é o meu coração aberto de horizontes ABERTO de possibilidades de vôo e de
imaginação
HRP
BOLAR
HRP
BUSCAM uma afinidade
HRP
caso contrário em algum momento em algum lugar com alguém vou me sentir FRUSTRADO
HRP
cidadania inclui CONVÍVIO
HRP
com isso formando desenvolvendo TRAÇOS da sua personalidade da sua individualidade
HRP
como eles vão se tornar pessoas ÍNTEGRAS
HRP
DANDO prosseguimento à tensão que elas sofriam enquanto no veículo carnal
HRP
DEGUSTANDO paulatinamente CADA momento
HRP
DESDE que o ser humano se constituiu enquanto tal
HRP
dizer que eu PARTICIPO de uma religiosidade de um modo de religação
HRP
dizer que eu participo de uma religiosidade de um MODO de religação
HRP
do que dizer que eu PARTICIPO de uma religião
HRP
e ACHO que esse é o trabalho dos GRANDES mestres que passaram pela humanidade.
HRP
e ali ele começava a ensaiar o seu respeito pelas pelas grandes POTESTADES
HRP
é o ESPAÇO da nova possibilidade
HRP
é um espaço pra formação da personalidade do INDIVÍDUO
HRP
é a oportunidade que nós temos de desen desenvolver determinadas POSSIBILIDADES de
manifestação do eu
59
Amostras, enunciados e informantes (HRP, MMM e JPA).
128
HRP
e a partir daí engendram a formação de um TERCEIRO indivíduo a prole os filhos
HRP
é a tristeza BONITA de uma cecília de meireles
HRP
e a vida EXISTE no interior da escola
HRP
é alguém que tem noções sobre cultura sobre COMO agi
HRP
e alguém se dirige a nós pela singular alcunha de PROFESSOR
HRP
é caminhar pelas RUAS num domingo a tarde
HRP
e coincidência ou NÃO já recebeu até o nome de cidade jardim
HRP
e ele acontece NO amor
HRP
é essa maneira de pensar que a qual eu eu PREFIRO me manter ligado
HRP
e estou formando OUTRO como pessoa também
HRP
e FORA dele uma das minhas predileções continua sendo a leitura
HRP
e isso só pode ser feito através de uma interferência INFRAESTRUTURAL na economia na
educação
HRP
e isso só pode ser feito através de uma interferência infraestrutural NA economia na educação
HRP
e isso só pode ser feito através de uma interferência infraestrutural na economia NA educação
HRP
e lá estava eu EX-coltecano retornando à casa
HRP
e não precisa necessariamente passar pelo viés FORMAL de uma instituição
HRP
E nas minhas horas vagas continuo compondo música
HRP
e nas minhas horas vagas CONTINUO compondo música
HRP
e nesse movimento DIALÉTICO não há uma resolução
HRP
é nesse tempo nessas LONJURAS no tempo que a gente encontra a formação da família
HRP
é o benefício de ser acomodado por essas MONTANHAS
HRP
e o que FAZÊ com esse convívio
HRP
é PURA opinião
HRP
e qual É a função
HRP
e qual é a FUNÇÃO
HRP
e qualquer um que se considere DONO da verdade é por por definição não dono dela
HRP
e qualquer um que se considere dono da verdade é por por definição não DONO dela
HRP
e quando eu VOLTO a minha atenção pra mim
HRP
e que faz as coisas NESSE sentimento
HRP
e que FAZ as coisas nesse sentimento
HRP
e que não são MENORES seres humanos
HRP
e se revelou com toda a sua FORÇA e esplender no final do segundo
HRP
e SER do coração de minas significa guardar no próprio coração as coisas que são tão queridas
tão caras a minas gerais
HRP
e tudo isso vai ser de CAPITAL importância pra sua formação pro resto da vida
HRP
é um dos espaços onde os valores ANTES de serem mudados deturpados podem ser criticados
analisados
HRP
é um dos espaços onde os valores antes de serem mudados deturpados podem ser CRITICADOS
analisados
HRP
É verdade?
HRP
é VERDADE?
HRP
ela ia sê REDONDA igual a um arraial
HRP
ela me educou atra TANTO através de gestos e palavras quanto através de silêncios também
HRP
ele COMEÇA na família através dos processos educativos
HRP
ele COMEÇAVA a perceber que era um grão de areia em face dos mistérios do universo
HRP
ele vai ter que corrigir DIÁRIOS
HRP
EM belo horizonte eu aprendi a sê belo horizontino
HRP
então AO me amar eu me conheço
HRP
então GOSTO di estar sempre envolvido com a criatividade com a produção de coisas novas
com o novo enfim
HRP
então gosto di estar sempre envolvido com a criatividade com a produção de coisas novas com
o NOVO enfim
HRP
então nós estamos no reino da DÓXA
HRP
então o religamento PASSA pela questão do auto-conhecimento
129
HRP
essa DESVALORIZAÇÃO que nasce de ba de cima pra baixo
HRP
esse é um maiores ENTRAVES
HRP
esse novo ser resultante do encontro de outros dois vai sofrer a INJUNÇÃO dos efeitos
educativos daquela daquele casal
HRP
eu acho que a educação é fator PRIMORDIAL na formação do indivíduo
HRP
eu acho que o lazer é o ESPAÇO do novo
HRP
eu diria até que eles são muito melhores do que EU
HRP
eu diria que ANTES de ser a célula básica da sociedade ela poderia ser considerada a célula
básica do indivíduo
HRP
eu diria que antes de ser a célula BÁSICA da sociedade ela poderia ser considerada a célula
básica do indivíduo
HRP
eu diria que antes de ser a célula básica da sociedade ela poderia ser considerada a célula
BÁSICA do indivíduo
HRP
eu estudei lá de NOVENTA a noventa e dois
HRP
EU por exemplo procuro fazer de cada um das minhas atividades de trabalho atividades onde a
diversão seja um um um ponto comum
HRP
eu por exemplo procuro fazer de cada um das minhas atividades de trabalho atividades onde a
diversão SEJA um um um ponto comum
HRP
eu PRECISO de falar dos benefícios de si estar em belo horizonte
HRP
eu sabia que ia me CONFRONTAR com um punhado de questões sociais políticas humana etc
e tal
HRP
eu sei o que eu PRECISO
HRP
eu sempre tive como atividades prediletas pra fazer dando continuidade as minhas atividades de
trabalho A atividade da leitura
HRP
eu simplesmente m mudei a MANEIRA como eu vou exercer a atividade
HRP
eu só vou me sentir SAUDÁVEL
HRP
eu sou alguém que BUSCA esse sentimento no convívio com os outros
HRP
eu tenho que SABER do que eu preciso
HRP
eu vou ao encontro das minhas necessidades do que eu PRECISO pra viver
HRP
eu vou percebendo novas maneiras de me relacionar com os OUTROS
HRP
existe muito mais DISTINÇÃO
HRP
FAZER exercícios
HRP
FAZER provas
HRP
FORMANDO caráter
HRP
FORMANDO personalidade
HRP
GOSTO de estar sempre buscando essa verdade no meu interior
HRP
há pessoas que olham o DEDO
HRP
hoje em dia os professores estão mais ou menos antenados PREOCUPADOS em fazer essa
relação entre vida e escola
HRP
hoje em dia os professores estão mais ou menos antenados preocupados em fazer essa
RELAÇÃO entre vida e escola
HRP
isso deveria ser ponto muito PACÍFICO
HRP
isso quer dizer que nós somos seres diversos diferenciados em NÓS mesmos
HRP
isso significa dizer que a gente só está bem quando está fazendo as coisas QUE a gente
gosta QUANDO a gente gosta com quem a gente gosta
HRP
isso significa dizer que a gente SÓ está bem quando está fazendo as coisas que a gente gosta
QUANDO a gente gosta com quem a gente gosta
HRP
mas BELO horizonte é um arraial com medo de deixar de ser arraial
HRP
mas belo horizonte é um ARRAIAL com medo de deixar de ser arraial
HRP
mas no MODO de operar diferente
HRP
meu interesse na área de letras nasceu VIA meu tio
HRP
modelos de criação ALI aparecem.
HRP
modelos de professores são INTROJETADOS
HRP
muitas vezes NÃO são atividades lúdicas de fato
HRP
muitas vezes não SÃO atividades lúdicas de fato
130
HRP
muitas vezes não são atividades LUDICAS de fato
HRP
muitos dos nossos alunos entendem a ÍSCOLA como um espaço separado da vida como um
espaço distanciado da realidade deles
HRP
muitos dos nossos alunos entendem a escola como um espaço separado da vida como um
espaço DISTANCIADO da realidade deles
HRP
não há STATUS em ser professor
HRP
não o FAÇO dizendo que os que dela participam são seres menores
HRP
não FUNDARAM religião
HRP
ninguém dirá OH quando você diz. sou um professor
HRP
nos CARROS que passam
HRP
NÓS somos mal pagos
HRP
nós temos EXCELENTES exemplos de seres absolutamente dedica dos à religião
HRP
nós vamos estar formando cidadões que não vão ter CONDIÇÕES de escolher
HRP
o amor é a força que me mantém VIVO no presente desejando o presente ávido pelo presente
HRP
o amor é a força que me mantém vivo
no presente desejando o presente AVIDO pelo presente
HRP
o amor foi é o traço foi fo foi o traço mais DISTINTIVO na criação de minha mãe
HRP
o homem ao temer o trovão fazia a sua PRIMEIRA religação com o criador através do medo
HRP
o que importa é que o indivíduo CONSIGA em algum momento se desenvolver enquanto
indivíduo
HRP
o que pra mim é essencial e SAUDÁVEL
HRP
o ser humano busca incessantemente REALIIZAR esse amor
HRP
o transeunte pode ser o seu primo que é primo do seu amigo que é AMIGO do seu tio que é tio
do seu avô que é avô da sua mãe
HRP
o transeunte pode ser o seu primo que é primo do seu amigo que é amigo do seu tio que é TIO
do seu avô que é avô da sua mãe
HRP
o transeunte pode ser o seu primo que é PRIMO do seu amigo que é amigo do seu tio que é tio
do seu avô que é avô da sua mãe
HRP
ÓBVIO que a nossa cultura se espalha em torno de minas gerais
HRP
óbvio que a nossa cultura se ESPALHA em torno de minas gerais
HRP
OH fulano há quanto tempo não te via
HRP
ou definem família como uma célula BÁSICA da sociedade
HRP
OU o caminho é s absolutamente solitário
HRP
ou puder faze-lo de alguma FORMA caber na palma da mão do meu raciocínio da minha
inteligência da minha emoção
HRP
ou puder faze-lo de alguma forma caber na PALMA da mão do meu raciocínio da minha
inteligência da minha emoção
HRP
ou SI o apresentam
HRP
outra possibilidade que me vem à mente é que o lazer É simplesmente fazer algo diferente
daquilo que eu estava fazendo
HRP
para orientar o meu ouvinte com relação a um grupo mais amplo de de INCLINAÇÕES
religiosas
HRP
para que eu possa desenvolver em mim o AMOR
HRP
partindo do pressuposto que eu não que eu não POSSO me religar com alguma coisa que eu não
sei
HRP
PEQUENA como um arraial
HRP
PODE ser que a escola seja responsável por isso
HRP
pode ser que ela seja a canalizadora dessas reflexões
HRP
poderia dizer que ele foi meu PATRONO cultural
HRP
por exemplo o nosso presidente que É um professor
HRP
por ter o seu coração PLANTADO fincado com raízes seguras firmes e fundas
HRP
por ter o seu coração plantado fincado com raízes seguras FIRMES e fundas
HRP
por ter o seu coração plantado fincado com raízes seguras firmes e FUNDAS
HRP
porque não vão ter TIDO instrução
HRP
porque não vão ter tido INSTRUÇÃO
HRP
porque vai consumir a maior PARTE dos seus esforços e aspirações
131
HRP
porque vai consumir a maior parte dos seus ESFORÇOS e aspirações
HRP
porque vai consumir a maior parte dos seus esforços E aspirações
HRP
posso dizer que ela agrupou NELA as figuras masculina e feminina
HRP
pra minha SUPREMA alegria
HRP
qual é as potencialidades DESSI espaço
HRP
quando EU escolhi ser professor
HRP
quando eu PROCURO saber de mim
HRP
quando o componente amoroso afetivo de AUTO-realização de satisfação estiver atravessando a
minha vida de lado a lado
HRP
que por sua vez vão preparar MAL ((tosse)) os seus governados
HRP
que só PODE ser obtida através da imersão em si
HRP
que a gente devia amar A GENTE primeiro
HRP
que as calçadas não mais dão CONTA de pessoas sentadas falando da vida
HRP
que ISPERA dele algum retorno
HRP
que não sejam aquelas DEBAIXO da pressão do trabalho das imposições do capitalismo das
exigências do mercado
HRP
que não sejam aquelas debaixo da PRESSÃO do trabalho das imposições do capitalismo das
exigências do mercado
HRP
que não sejam aquelas debaixo da pressão do trabalho das IMPOSIÇÕES do capitalismo das
exigências do mercado
HRP
que tentaram de alguma forma IXPLORAR de maneira mais sistemática mais próxima a
questão do religare
HRP
que tentaram de alguma forma explorar de maneira mais sistemática mais PRÓXIMA a questão
do religare
HRP
recomeça aí um NOVO ciclo
HRP
reconheço os grupos as tribos as roupas os DISCOS da juventude aquele negocio todo
HRP
reconheço os grupos as tribos as roupas os discos da JUVENTUDE aquele negocio todo
HRP
são REPRESENTANTES de religiões..
HRP
SÃO benefícios que qualquer um talvez pudesse enumerar tendo nascido em qualquer outra
capital
HRP
são LÍDERES religiosos
HRP
são os MIL vidrilho da noite
HRP
SÊ belo horizontino é ir pro parque municipal
HRP
SÊ de belo horizonte é vê esse sol reluzindo tinindo nas vidraças de aço
HRP
se não adotarmos reconhecermos DE vez que é preciso um tempo necessário para desempenhar
as várias atividades que alguém pode desempenhar
HRP
se somos seres gerados no AMOR em algum momento em algum tipo de afeto
HRP
seguindo ESSE ou aquele mestre religioso
HRP
seguindo esse ou aquele MESTRE religioso
HRP
sei de pessoas que tomaram outros rumos a partir do envolvimento DELES com os seus
professores
HRP
seu olhar ESTÁTICO diante da pedra
HRP
SURGE o momento da fruição
HRP
SURGE o prazer
HRP
talvez eu eu pudesse dizer que falta na minha personalidade determinados TRAÇOS da
presença da figura paterna
HRP
talvez o que mais tenho REPERCUTIDO em mim no meu convívio com a minha mãe tenha sido
os silêncios dela e a atitude dela diante da vida
HRP
tentando desenvolver uma noção eh mais SOFISTICADA da participação do aluno no contexto
em que ele vive
HRP
tentando desenvolver uma noção eh mais sofisticada da PARTICIPAÇÃO do aluno no contexto
em que ele vive
HRP
tentando desenvolver uma noção eh mais sofisticada da participação DO aluno no contexto em
que ele vive
HRP
tudo que elas fazem muitas vezes é é dar compe é dar prosseguimento a situações de estress
132
NEGATIVO
HRP
um país que que NECESSITE de crescer e se desenvolver precisa de apostar na educação
HRP
um PAÍS que necessite de crescer e se desenvolver precisa de apostar na educação
HRP
vamos permanecer oprimidos pela rotina do mercado pela rotina dos PROBLEMAS privados
pela rotina das nossas PRÓPRIAS angústias
HRP
vão continuar DANDO continuidade a ao ciclo de exploração e miséria da qual todos nos
somos vitimas
HRP
vão continuar dando continuidade a ao CICLO de exploração e miséria da qual todos nos somos
vitimas
MMM
e preparei pra vestibular num super INTENSIVO
MMM
PASSEI no vestibular da ufmg na primeira vez
MMM
só alguns algumas TAREFAS
MMM
existia uma um RESPEITO muito grande
MMM
RARAMEMTE acontecia algum ATRITO
MMM
o rendimento é muito ALTO
MMM
as as crianças CAPTAM melhor
MMM
a parte de engenharia civil entrou na matemática PROFUNDA
MMM
num precisa de tanta TÉCNICA
MMM
acho que a universidade tinha que voltar mais pro POVO né
MMM
e atender mais os anseios do POVO os desejos do povo
MMM
e atender mais os anseios do povo os desejos do POVO
MMM
eu acho que a DIDÁTICA hoje em dia é muito evoluída
MMM
que DÁ um progresso muito maior
MMM
e a pessoa tem TEM mais vontade de estudar
MMM
num sei se é por causa do da CRIMINALIDADE
MMM
mexendo mais com mais com LITERATURA
MMM
ou talvez até MESCLE hoje em dia num sei
MMM
porque a sistemática a evolução o COMPUTADOR tudo isso vai somando
MMM
APESAR da da do problema da criminalidade
MMM
e eu ficava fazendo a parte toda a parte de de PINTURA de manutenção de madeira
MMM
e eu ficava fazendo a parte toda a parte de de pintura de manutenção de MADEIRA
MMM
fui mexer na área de manutenção manutenção de RUA manutenção de escola manutenção de
posto de saúde
MMM
fui mexer na área de manutenção manutenção de rua manutenção de ESCOLA manutenção de
posto de saúde
MMM
ACHATA o seu salário
MMM
e a gente tende a a PULÁ
MMM
procura outros MEIOS de de sobreviver
MMM
os contratos de empreiteira tem muito mais VALOR
MMM
a gente com aquela tendência de tê conhecimento de de MEDIÇÃO um monte de coisa
MMM
cálculos até de vez em quando até cálculos até DIFÍCEIS de de fazer
MMM
é LEVANTÁ alguns custos na prefeitura
MMM
ele sempre vai mexer com a lei de SOLOS
MMM
e tinha um certo me RECEIO de entrar numa obra
MMM
pra ESMIUÇÁ
MMM
depois que esse pessoal da oposição tomou POSSE na prefeitura
MMM
houve um achatamento ABSURDO de de salário
MMM
na verdade a gente vê é o OPOSTO
MMM
isso na na no no de FATO n n num existe não
MMM
o que que existe hoje em dia é uma gastação um um INCRÍVEL.
MMM
eu tenho muita TRISTEZA
MMM
o trabalho que eles tão olhando é é um uma PANELINHA deles
MMM
é a força nossa a nossa FORÇA na do nosso voto na eleição como funcionário é muito pouco
MMM
eu num tô conseguindo mais MANTÊ o meu nível meu nível de de salarial
MMM
ele tem muitas opções pra DESENVOLVÊ na sua área
133
MMM
e a pessoa eh se ESFORÇA pra manter aquele conhecimento
MMM
mexer com COMPUTADOR
MMM
vai sempre ter a tendência melhor de fazer REDAÇÃO
MMM
que ela vai utiliza aquilo que ela GOSTA
MMM
tem VÁRIAS MÚLTIPLAS chances no mercado
MMM
se ela num num se ENCAIXÁ no no que está acontecendo
MMM
UNIVERSIDADE
MMM
e a gente está ESCALADO pra fazer um uma um seminário um um curso de aperfeiçoamento
MMM
e a gente está escalado pra fazer um uma um SEMINÁRIO um um curso de aperfeiçoamento
MMM
e a gente está escalado pra fazer um uma um seminário um um curso de
APERFEIÇOAMENTO
MMM
a própria plano diretor de belo horizonte MUDOU
MMM
a lei da legislação a lei do solo MUDOU
MMM
e tem MUDADO
MMM
o MOVIMENTO
MMM
o MOVIMENTO a a se se interagir
MMM
se você ficar QUIETO
MMM
e os apóstolos sendo os primeiros PAPAS né
MMM
que tenha um caminho muito certo muito bem DEFINIDO
MMM
e esse TEMPO todo que esses apóstolos conheceram a religião
MMM
depois vem os PAPAS né
MMM
conheceu je DEUS
MMM
tenho MEDO
MMM
a gente vê tanto rituais ESTRANHOS
MMM
um ou outro foi pra uma outra religião aí principalmente na hora de uma uma CRISE
MMM
e foi senti senti a verdadeira presença presença de DEUS
MMM
EVITÁ guerra
MMM
acho que são os dois fundamentos BÁSICOS da da religião
MMM
aí que nasce essas guerras intermináveis que a gente tem assistido aí anos e anos DESDE da
época dos faraós
MMM
a gente vê essa GUERRA interminável de religiosa aí
MMM
e os sheiques foram os REIS da da na europa durante muito tempo
MMM
e os sheiques foram os reis da da na europa durante muito TEMPO
MMM
foi mui muita MORTE
MMM
parece que o mundo passa por fases né de de de de CONFLITOS
MMM
por QUE por que isso
MMM
a gente vê que sempre existe uma certa sintonia entre o poder político e e a e a e o poder
ECLESIÁSTICO
MMM
eu acho que deve existir assim um um CONCENSO né um consenso de convívio entre religião e
política
MMM
acho que o PRINCIPAL é é o povo
MMM
porque ela é é um é um jeito de de se MANTÊ de se manter aquele aquele quadro no poder
MMM
ou então LEVANTÁ levantar uma uma guerra
MMM
a pessoa que que tem uma família as bem CENTRALIZADA num sei
MMM
uma família bem FORMADA
MMM
ela vai se uma pessoa que vai ter um certo inteligência uma inteligência EMOCIONAL né
MMM
a criança acaba tendo um dificuldade enorme pra SUPERÁ mais tarde os os os problemas que
vai tendo durante a vida
MMM
nem sempre a mulher vai lá pra mexer com com PEDRA e tijolo
MMM
um problema com o PAI com a mãe
MMM
que deu EXEMPLO de trabalho
MMM
apesar deu se entender que sou muito BITOLADO
MMM
eu quando acho uma coisa e e enf e e CERTA é aquilo ali aquele caminho
MMM
qualquer ATRITO
MMM
então segui segui todos aqueles aqu aqu ab aqueles PASSOS de namoro e e noivado casamento
134
tudo
MMM
então segui segui todos aqueles aqu aqu ab aqueles passos de NAMORO e e noivado
casamento tudo
MMM
então segui segui todos aqueles aqu aqu ab aqueles passos de namoro e e NOIVADO
casamento tudo
MMM
então segui segui todos aqueles aqu aqu ab aqueles passos de namoro e e noivado
CASAMENTO tudo
MMM
uns relacionamentos um pouco mais DISPRENDIDOS né
MMM
o RESPEITO uns pelo ser humano né
MMM
a necessidade a VONTADE de de de viver aquele aquele talvez um amor muito grande muito
profundo
MMM
se você também está bem FINANCEIRAMENTE
MMM
ou se você num está tendo grandes PROBLEMAS
MMM
se ele GOSTA da pessoa
MMM
se ele AMA profundamente a pessoa
MMM
você vai tentar primeiramente de defender o seu a sua a sua PARTE aquilo que você gosta
MMM
eu acho muito TRISTE
MMM
casais que se agridem por causa de de de de ciúme ESTÚPIDO
MMM
porque quando você PISA nu nu nu outro
MMM
quando você TOCA num num ponto por prazer de de ter ciúme
MMM
aquele ponto CHAVE ali do
MMM
tem um ponto CRÍTICO que o ciúme pode ir
MMM
eu tenho minhas REVISTA meus apetrechos
MMM
outra coisa que eu gosto é ouvir músicas antigas músicas TRADICIONAIS sertanejas antigas
MMM
ADORO aqueles aqueles carreiros e carreirinho e outros compositores muito antigos
MMM
adoro aqueles aqueles CARREIROS e carreirinho e outros compositores muito antigos
MMM
é a FORMA de fazer a música
MMM
é a FORMA de compor
MMM
o conteúdo das composições que eram antigas ANTIGAS
MMM
aquele TIPO de tocar uma viola
MMM
aquele tipo de TOCAR uma viola
MMM
eu fico o tempo procurando MÚSICAS gravações cds dessa turma aí antiga muito antiga
MMM
eu fico o tempo procurando música gravações cds dessa turma aí ANTIGA muito antiga
MMM
é a a FORMA de cantar
MMM
e a HISTÓRIA que é cont narrada
MMM
aquele jeito de RESPEITÁ as pessoas
MMM
aquele jeito de de TRATÁ os animais e a natureza
MMM
que fala sempre muito em negócio de dor dor de cotovelo de abandono de da MULHER
MMM
aquele negócio que cai muito na na MESMICE
MMM
e SEI fazer
MMM
pra falar a verdade é uma das poucas coisas que eu sei cozinhar PEIXE
MMM
como é que se FAZ uma um tipo de peixada com algum outro molho com algum tempero
MMM
como é que se faz uma um tipo de PEIXADA com algum outro molho com algum tempero
MMM
não sou muito bom de fazer CHURRASCO essas outras coisas
MMM
já vi muitos filmes INTERESSANTES né
MMM
desde aquele filme eh o vento LEVOU
MMM
como pode ter naquela época montado um uma ESTRUTURA um filme tão tão fascinante
uma coisa tão grande
MMM
como pode ter naquela época montado um uma estrutura um filme tão tão FASCINANTE
uma coisa tão grande
MMM
machado de ASSIS
MMM
ADORAVA né
MMM
mas eu acho que ele tem uma certa IRONIA
MMM
num sei se ele é meio DEBOCHADO
MMM
é impressionante como ele tem certa uma certa IRONIA
135
MMM
na ÉPOCA o brasil era devia sê uma mata danada
MMM
mas é um um conteúdo IMENSO
MMM
teve a AUDÁCIA né
MMM
o ESCRITOR chega naquilo
MMM
eu achava que muitas vezes que literatura é uma coisa um pouco CHATA
MMM
e eu acho que a redução do da jornada de trabalho seria o IDEAL
MMM
e essa pessoa enquanto num VÊ enquanto num vê um sentido de ganhar um salário decente
MMM
então eu acho que isso aqui é uma coisa IMPORTANTÍSSIMA
MMM
é um tema que eu acho que tem que sê APROFUNDADO
MMM
pelo menos uma PARTE disso num sei
MMM
que TEM que sê criado uma mais oportunidade de emprego
MMM
eles MUDAM
MMM
eu sentia muito muito ISSO
MMM
a pessoa é sempre um REVOLTADO
MMM
então isso é uma coisa IMPORTANTÍSSIMA
MMM
eles FALAM aí na televisão emprego emprego
MMM
eles ESQUECE
MMM
CARRO principalmente
MMM
e depois ônibus depois a PÉ
MMM
GOSTO de andar a pé
MMM
porque é um jeito da gente extravasar extravasar os PROBLEMAS
MMM
a gente REFLETI
MMM
eu PASSO um dia melhor quando eu ando bastante
MMM
eu num aconselho ninguém pegar ônibus nesse HORÁRIO
MMM
o trânsito ENTUPIDO de carro
MMM
depois um passar por um MASSACRE daquele
MMM
cidade que tem mil e uma oportunidade de lazer de de de de CULTURA
MMM
belo horizonte é uma cidade que já está no circuito de TEATRO muito
MMM
já tem grandes TEATROS grandes grandes grandes cinemas
MMM
já tem grandes teatros grandes grandes grandes CINEMAS
MMM
então é um povo que que ADORA cultura
MMM
final de semana aí com vinte trinta MORTOS aí
MMM
HOMICÍDIOS né
MMM
esse negócio vai acabá sobrando pra FAMÍLIA da gente pra gente
MMM
eu já fui ASSALTADO
MMM
já tive AMEAÇA
MMM
e trazer um SERVIÇO
MMM
que normalmente são próximas a FAVELAS né
MMM
pessoas que já tão vivendo em estado PRECÁRIO de de de habitação
MMM
e INCENTIVA a pessoa
MMM
eu acho uma co muito DIFÍCIL né
MMM
como você vai contornar essa essa MÁFIA distribuindo drogas e tudo mais
MMM
eu acho que o governo tem o o de DEVER o direito tudo
MMM
qual o sentido que ela vai ter ganhando uma uma MISÉRIA daquela
MMM
porque nós vamos chegar num ponto que vai sê quase IMPOSSÍVEL atravessar uma rua
MMM
se num tiver uma ação rápida uma ação INTELIGENTE da polícia do governo da sociedade
MMM
se num tiver uma ação rápida uma ação inteligente da POLÍCIA do governo da sociedade
MMM
se num tiver uma ação rápida uma ação inteligente da polícia do GOVERNO da sociedade
MMM
se num tiver uma ação rápida uma ação inteligente da polícia do governo da SOCIEDADE
MMM
a gente vai ter MORTE todo dia né morte de parente assalto sequestro de pessoas próximas à
família da gente
MMM
a gente vai ter morte todo dia né morte de parente ASSALTO sequestro de pessoas próximas à
família da gente
MMM
mineiro é um camarada mais PACATO né?
JPA
a DIRCE no outro quarto
136
JPA
a revolução vai começar AGORA mesmo
JPA
à UMA hora da manhã fomos pro hotel
JPA
acompanhando a linha de trem de ferro até general carneiro A PÉ.
JPA
agora você vai calcular a raiz CÚBICA do número tal
JPA
ah fui fundar o ginásio lá de CARMO da mata
JPA
deu um número DESTE tamanho sabe
JPA
aí ele me deu uma RAIZ quadrada
JPA
aí foi aquela FESTA maravilhosa
JPA
aí no no ter no segundo ano REPETENTE eu vim pra de manha
JPA
veio uma bala e atingiu o VASO sanitário sabe
JPA
aí vieram uns senhores ENCAPOTADOS sabe com revólver com aquele negócio todo
JPA
aí vieram uns senhores encapotados sabe com REVÓLVER com aquele negócio todo
JPA
ali tinha a escola TÉCNICA
JPA
ali tinha CASA nenhuma né
JPA
apesar de QUE desde o primeiro ano desde a quarta série atual que eu trabalhava de dia e
estudava à noite
JPA
apesar de que DESDE o primeiro ano desde a quarta série atual que eu trabalhava de dia e
estudava à noite
JPA
APRESSADA
JPA
arranjava COMIDA
JPA
ARREBENTA tudo né
JPA
AVISEM que nós estamos chegando
JPA
BELZONTE
JPA
cada um num TOM num num num num timbre de ronco e num tom e numa altura diferente né
JPA
cada um num tom num num num num TIMBRE de ronco e num tom e numa altura diferente né
JPA
caixotes com ah material de LABORATÓRIO de ciência biblioteca material de secretaria
JPA
capangas com as mãos cruzadas assim naquela CAPA de boiadeiro sabe
JPA
você já ouviu falá em CEFET?
JPA
você tem que ler DEZENAS e dezenas de relatório
JPA
você tem que ler dezenas e DEZENAS de relatório
JPA
tinha o colégio estadual chamava ginásio MINEIRO
JPA
chegamos de MADRUGADA em general carneiro no outro dia com o barco cheio
JPA
chegamos lá DOIS minutos antes das onze
JPA
chegou LÁ no alto da serra descendo pra itamarandiba
JPA
chegou lá no alto da serra DESCENDO pra itamarandiba
JPA
como a distinta colega eh pergunTOU no intervalo
JPA
como por exemplo o ECOLOGISTA
JPA
como por exemplo o GENETICISTA né
JPA
coronel batista o senhor está usando CAPANGA aqui numa festa
JPA
coronel batista o senhor está usando capanga aqui numa FESTA
JPA
CRIEI
JPA
daí a não sei quantos anos era OBRIGADO comungar outra vez
JPA
DAÍ a pouco quando eu estou na varanda lá
JPA
de FÍCUS?
JPA
DENTRO das ciências biológicas tem o morfologista
JPA
depois tenho FOTOS grandes
JPA
DESDE aquela época né
JPA
desde catorze anos de idade que eu CLIQUE
JPA
DESDE catorze anos de idade que eu clique
JPA
dia dos reis MAGOS né
JPA
e ficava DUAS horas papeando sabe
JPA
e ficava duas HORAS papeando sabe
JPA
e aí os meus padrinhos eduardo rios neto onofre gabriel de castro pessoas muito importantes
FORAM-se ao senhor bispo
JPA
E almoçamos na casa do prefeito
137
JPA
e aquilo FICAVA aquela beleza até lá no alto da afonso pena
JPA
e aquilo ficava aquela beleza ATÉ lá no alto da afonso pena
JPA
e chegou o prefeito com QUATRO capangas
JPA
e chegou o prefeito com quatro CAPANGAS
JPA
e cheguei aqui no dia CINCO
JPA
é essa história que eu conto num outro ambiente com muito mais riqueza de detalhes e com mais
MÍMICA e com mais dramatização né
JPA
é essa história que eu conto num outro ambiente com muito mais riqueza de detalhes e com mais
mímica e com mais DRAMATIZAÇÃO né
JPA
e dava a VOLTA na avenida do contorno em duas horas
JPA
e dava a volta na avenida do contorno em DUAS horas
JPA
e DECIDIMOS ir para general carneiro perto de sabará
JPA
e descemos o rio das velhas ATÉ santa luzia
JPA
e dia SEIS
JPA
e ele então foi fazendo o INQUÉRITO
JPA
e ele levan POXA
JPA
e ele mesmo acabando-se cheio de câncer por todo LADO
JPA
e eles BRAVOS sabe
JPA
e eles fazia DIARIAMENTE a sua avaliação
JPA
e eles fazia diariamente a sua AVALIAÇÃO
JPA
e eles pegaram SESSENTA e quatro temas
JPA
e então não TIVE problema até o fim do ano
JPA
e especialmente porque nós temos o apoio dos filhos de uma maneira assim INTEGRAL né
JPA
e esse clique está com MILHARES de fotografias
JPA
e eu DIARIAMENTE entregava aos alunos
JPA
e eu era um desses CATECÛMINOS né
JPA
e eu ficava DEBRUÇADO no muro
JPA
e eu ganhava CINCO mil réis por mês né
JPA
e FINGIU que num sabia de nada
JPA
e havia MUITO POUcos colégios
JPA
e houve um CASO muito sério que causou essa repetição do segundo ano sabe
JPA
e houve um caso muito sério que CAUSOU essa repetição do segundo ano sabe
JPA
e houve um caso muito sério que causou essa repetição DO segundo ano sabe
JPA
e já havia mais de vinte escolas em minas GERAIS
JPA
e LOGO no princípio da instituição
JPA
e naquele tempo havia um tal de TIRO de guerra
JPA
e naquele tempo havia um tal de tiro de GUERRA
JPA
e nós RINDO
JPA
e nós tínhamos um irmão que estava com um armazém lá uma VENDA uma mercearia né
JPA
e nós tínhamos um irmão que estava com um armazém lá uma venda uma MERCEARIA né
JPA
e nós viemos NA lenha
JPA
e nós viemos na LENHA
JPA
e o irmão dele era MEDICO e professor de matemática
JPA
e o irmão dele era medico e professor de MATEMÁTICA
JPA
e para mim NESSA idade provecta de setenta e e seis anos o meu lazer é limitado
JPA
e para mim nessa idade PROVECTA de setenta e e seis anos o meu lazer é limitado
JPA
outra coisa que eu gostaria de falar em dois minutos é que os SISTEMAS de avaliação do de
então eram absurdamente rigorosos né
JPA
outra coisa que eu gostaria de falar em dois minutos é que os sistemas de avaliação do de
então eram ABSURDAMENTE rigorosos né
JPA
e que não TEM paciência de coisa nenhuma
JPA
E repeti o segundo
JPA
E REPETI o segundo
JPA
e sujava todo de BARRO sabe
JPA
e TRANCHÃ
138
JPA
e VI que a que as provas que os alunos me entregaram estão diferente da do xérox que eu
tinha tirado no dia da prova
JPA
e vi que a que as provas que os alunos ME entregaram estão diferente da do xérox que eu
tinha tirado no dia da prova
JPA
e vi que a que as provas que os alunos me entregaram estão diferente DA do xérox que eu
tinha tirado no dia da prova
JPA
É então
JPA
é POSITIVO cem por cento né
JPA
é positivo CEM por cento né
JPA
e IMPLANTEI metodologias de ensino moderno dinâmico
JPA
ele é uma ALMA maravilhosa né
JPA
ele ganhou LÁ
JPA
ele GANHOU lenha cada tora de lenha deste tamanho
JPA
ele ganhou lenha cada TORA de lenha deste tamanho
JPA
ele ganhou lenha cada tora de lenha DESTE tamanho
JPA
ele me EXCOMUNGOU
JPA
ele me OBRIGOU a apoiar a minha mulher na criação dos filhos
JPA
ele tem trinta e tantas FICHAS de avaliação
JPA
eles APLAINARAM lá os barrancos todos e tal.
JPA
eles então MONTAVAM as provas
JPA
eles ficaram HONESTOS
JPA
ELES porque nós num tava conseguindo dormi né
JPA
em dezembro agora fiz quarenta e cinco anos NUMA boa
JPA
em inglês só a BRITÂNICA a última edição da britânica
JPA
em inglês só a britânica a última edição da BRITÂNICA
JPA
em que nós trabalhamos CENTRANDO o ensino no aluno
JPA
ENCHEU o barco
JPA
ENCHEU o caminhão de lenha
JPA
então cê sabia muita coisa sobre os SERES vivos
JPA
então começou o RONCO
JPA
então é obrigação PROFISSIONAL nossa
JPA
então eles TERRAPLANARAM a região onde hoje é a praça raul soares
JPA
então era uma cidade tranqüila muito FLORIDA né
JPA
então eu fui lá fazer METODISTA né
JPA
então eu NÃO aprendi
JPA
então eu pegava o o o o mecânico de automóveis LÁ bem debaixo do do carro
JPA
então eu tenho uma caixa enorme lá com FOTOS pequenas
JPA
então eu tinha que IR lá no perto do mercado onde era a oficina de bondes
JPA
então eu tinha que VIAJÁ
JPA
então fomos daqui a carmo da mata numa estrada de TERRA
JPA
então nessas viagens aconteciam coisas INCRÍVEIS né
JPA
então nós temos que BOLAR estratégias para que ele aprenda cada vez mais
JPA
então nós temos que bolar estratégias para que ele APRENDA cada vez mais
JPA
então tem LIVRO que eu preciso de lê à vontade
JPA
então tem livro que eu preciso de LÊ à vontade
JPA
então veio a primeira a primeira prova PARCIAL
JPA
era uma pensão de MEIAS paredes
JPA
eram PROVAS verdadeiro
JPA
essa juventude MALUCA desvairada que está por
JPA
estava dando FEBRE por todo lado
JPA
eu cheguei ao ponto de PEDIR os aluno que fizessem as provas montassem as provas
JPA
eu cheguei ao ponto de pedir os aluno que FIZESSEM as provas montassem as provas
JPA
eu devo ter comido um CACHO de banana né
JPA
eu e mais SETENTA pessoas né
JPA
eu estudava de TARDE
139
JPA
eu estudei QUATRO anos quase cinco na aliança francesa
JPA
eu estudei SETE Anos na cultura inglesa
JPA
eu estudei SEte ANOS na cultura inglesa
JPA
eu ficava BABANDO sabe?
JPA
então eh eu fui mandado para LEOPOLDINA por causa de uma enchente que deu lá
JPA
então eh eu fui mandado para leopoldina por causa de uma ENCHENTE que deu lá
JPA
eu fui PRESIDENTE do sindicato dos professores de minas gerais
JPA
eu fui DIRETOR do secimig
JPA
eu fui PRESIDENTE da campanha nacional de escolas da comunidade em minas gerais
JPA
eu gosto mais de AFETO
JPA
eu ia LÁ na frente e voltava
JPA
eu institui aqui no colégio militar depois na no bacharelado e na pós-graduação da ufmg um
um uma esquema de DINÂMICA de grupo
JPA
EU já te falei da outra vez
JPA
eu já te falei que eu não gosto dessa palavra AMOR
JPA
EU não tinha condições ainda de fazer cpor
JPA
EU num aceito
JPA
EU num aceito
JPA
eu NUM aceito
JPA
eu passava por regiões INTEIRAS sem casa nenhuma
JPA
eu quero falar sobre LAZER
JPA
eu recebia trezentas quatrocentas QUESTÕES da prova
JPA
eu tenho muita experiência em CLASSIFICAÇÃO de bichos né?
JPA
eu tenho CENTENAS daqueles albinhos
JPA
eu tinha CUMPRIR uma obrigação
JPA
eu tô meio ZONZO ainda sabe?
JPA
eu vim fazê a prova de segunda época de QUÍMICA
JPA
fazendo um curso de ALTO nível da metodologia da biologia
JPA
fazíamos uma verdadeira AUTO-AVALIAÇÃO
JPA
FOMOS pra itamarandiba num jeep
JPA
fomos pra itamarandiba NUM jeep
JPA
FOTOGRAFAMOS
JPA
FOTOS da família
JPA
FOTOS de outros parentes
JPA
FOTOS de do trabalho
JPA
FOTOS pessoais meus
JPA
FUI outra vez
JPA
gastou TRÊS horas pra descer o rio de general carneiro a santa luzia
JPA
GOSTAM de si próprio né?
JPA
hotel não PENSÃO
JPA
ia LÁ na frente e voltava
JPA
íamos DISCUTIR aquelas melhores respostas
JPA
imagine que eu cheguei a avaliar meus alunos com FICHAS de auto-avaliação
JPA
isso é UM tipo
JPA
LÁ houve a festa solenidades discursos meus senhores aquele negício todo né
JPA
lá houve a festa solenidades DISCURSOS meus senhores aquele negício todo né
JPA
mas a noiva É religiosa
JPA
mas com um MEDO danado né?
JPA
mas durante a minha preparação DESDE o pri primário né? eu tive problemas
JPA
mas então esse esse a primeira FASE de quinta a oitava eu não tive problema
JPA
mas então sobre o tema escola eu queria RECOLOCAR alguns problemas
JPA
mas eu fiquei MAGOADO com esse negócio
JPA
mas eu tenho que falar sobre sobre a MINHA profissão
JPA
mas havia SONS incríveis
JPA
mas havia sons INCRÍVEIS
140
JPA
mas na VOLTA da excursão de ônibus ou de trem o professor que eu esqueci o nome agora
inventou essa música sabe
JPA
mas o doutor wilson veado era juiz de direito em CORAÇÃO de jesus
JPA
mas quando eu estava na ATIVA
JPA
mas que rapaz BURRO
JPA
me RAPTOU lá em casa um dia
JPA
mesmo que eu seja professor de CIÊNCIAS biologia zoologia
JPA
minha MÃE com quarenta e oito anos
JPA
MONTO minhas fitas né?
JPA
NA boléia estava a mulher dele e os três filhos
JPA
na verdade isso é um DESRESPEITO aos filhos
JPA
NÃ aqui num precisa não
JPA
não FICHAS de avaliação
JPA
não PODE confessar
JPA
NÃO posso casar
JPA
não senhor professor DEFINITIVAMENTE
JPA
NEGATIVO
JPA
nessa segunda prova DEU as questões
JPA
no alto NÃO até na no no início da subida depois do parque
JPA
mas que eu também adotei de outros autores como george bill no livro dele de LIERANÇA
JPA
NO primeiro ano do segundo grau ele usava livros em espanhol
JPA
NÓS chegamos a fundar em belo horizonte oito escolas
JPA
nós chegamos a fundar em belo horizonte OITO escolas
JPA
nós continuávamos NÃO indo na boléa
JPA
nós tínhamos uma compreensão PROFUNDA do mundo inteiro né?
JPA
nós usávamos um SAPO macho
JPA
num digo hoje mas há uns vinte anos atrás a quantidade de escolas era ENORME
JPA
o afeto é muito mais CONCRETO
JPA
o aluísio pimenta era MEU professor de quimica lá no anchieta
JPA
o aluísio pimenta era meu professor de QUIMICA lá no anchieta
JPA
o aluno é que é o é o APRENDIZ
JPA
o amor fica na base do do SEXO
JPA
o caminhão DAVA um arranque
JPA
o colégio anchieta foi o PRIMEIRO colégio a ter um curso noturno
JPA
o colégio santo agostinho tava sendo fundado naquele ANO
JPA
o irmão do professor aluisio pimenta que foi REITOR da ufmg
JPA
o que era a avenida afonso pena com a PLANTAÇÃO
JPA
o trabalhador intelectual do MEU caso é fita de vídeo fita cassete
JPA
o trabalhador intelectual do meu caso é FITA de vídeo fita cassete
JPA
o trabalhador intelectual do meu caso é fita de vídeo FITA cassete
JPA
os TRENS passando com convocados pra revolução sabe?
JPA
os trens PASSANDO com convocados pra revolução sabe?
JPA
outra vez me convidaram pra fazer no isabela hendrix
um curso de METODOLOGÍA moderna
JPA
outra vez me convidaram pra fazer no isabela hendrix um curso de metodología MODERNA
JPA
outros CARRASCOS com si próprio dava zero um
JPA
outros carrascos com si próprio dava ZERO um
JPA
outros carrascos com si próprio dava zero UM
JPA
padre laje que foi PRESO na revolução comunista
JPA
para ele comprar sacos de arroz sacos de feijão saco disso saco daquilo TAMBOR de qu
erosene
e isso e aquilo e fruta sabe? banana e tal
JPA
PASSEI a conhecer belo horizonte como a palma da mão né?
JPA
PEGAMOS um avião da panair
JPA
pegamos um avião da PANAIR
JPA
perguntinhas não perguntas de ALTO nível
JPA
pode SENTAR
141
JPA
PODEM continuar
JPA
pois bem então de lá pra cá houve uma formação DESGALHADA das profissões
JPA
pois bem então eu tenho MILHARES de fotografias milhares de negativos
JPA
pois bem então eu tenho milhares de fotografias MILHARES de negativos
JPA
pois bem então por causa desse tiro de guerra eu levei BOMBA
JPA
pois bem então você vê que eu conheço belo horizonte DESDE aquela época
JPA
PORQUE em mil novecentos e trinta
JPA
porque em mil novecentos e TRINTA
JPA
porque eu tive que fazer o EXÉRCITO
JPA
porque no DIA seguinte um inspetor federal iria lá
JPA
porque as provas antigas eram ABSURDAS né?
JPA
POXA os gêneros tão acabando aqui
JPA
pra fundar DUZENTAS e doze escolas em minas gerais
JPA
pra mostrar PIONEIRISMO
JPA
PRAZEROSAS
JPA
ah em janeiro lá pelo dia cinco ou seis ou sete por aí PRINCÍPIO de janeiro
JPA
pu xa nós podíamos ser MORTOS aqui né?
JPA
PÚBLICAS e particulares né?
JPA
PÚBLICAS foram fundadas as escolas municipais escolas estaduais em quase todos os bairros
de belo horizonte né
JPA
quando eu fiz TIRO de guerra em mil novecentos e quarenta e três
JPA
quando eu fiz tiro de guerra em mil novecentos e quarenta e TRÊS
JPA
quando chegou na PRAÇA lá em itamarandiba
JPA
pra dizer que que ela é o o TRIPÉ da sociedade né?
JPA
que EU criei
JPA
que isso é um DESASTRE
JPA
que ocê SABE ou não sabe e pronto né?
JPA
levando almoço pors irmãos que trabalhavam em OFICINAS
JPA
que são as VIAGENS que eu fiz
JPA
que tem a MACROPEDIA micropedia e a enciclopedia
JPA
que tem a macropedia MICROPEDIA e a enciclopedia
JPA
que tem a macropedia micropedia e a ENCICLOPEDIA
JPA
que eu saía do bar das famílias na avenida do contorno com itajuBÁ
JPA
ele deve pro providenciar tudo que seja AUXILIAR
JPA
não tinha lugar em belo horizonte pra tanta gente que vinha gente de outras cidades e de outros
ESTADOS
JPA
referenciando aqueles sessenta e quatro tópicos NOS sessenta e quatro livros
JPA
resultado é TRANCHÃ
JPA
REZA menino
JPA
são PROBLEMAS que surgem na ao longo da vida da gente né?
JPA
saudades da pampulha e um CÉU sempre azul
JPA
sei que ele já é FORMADO
JPA
setenta ESTUDANTES que estávamos fazendo a revolução da da a revolução da
educação sanitária em belo horizonte né?
JPA
sou BELZONTINO
JPA
sou FUNDADOR do secimig
JPA
tava eh NEBLINANDO garoando né?
JPA
TEM uma caneta aí?
JPA
terminei o curso primário de MANGA de calça curta
JPA
tinha ESCOLA por todo lado né?
JPA
tinha o colégio ARNALDO
JPA
tô CLIQUI
JPA
todo mundo chegando de CAPA guarda chuva capote o escambau né?
JPA
todo trabalhador braçal tem um instrumento de trabalho enxada isso aquilo aquilo outro picareta
né chave de FENDA
142
JPA
todos de FUZIL aquele negócio todo
JPA
ÚLTIMA vez definitiva sabe?
JPA
um dia fizeram um congresso NACIONAL congresso eucarístico nacional
JPA
um dia fizeram um congresso nacional congresso eucarístico NACIONAL
JPA
um FRIO
JPA
um POEIRÃO infernal
JPA
chegamos uma BANDA de música parataximparatata e foguete pa pa pa e palmas de todo
mundo pra nós né
JPA
chegamos uma banda de música parataximparatata e foguete pa pa pa e PALMAS de todo
mundo pra nós né
JPA
uma planta ligada a outra pela pela pela FRONDE
JPA
uma quantidade INCRÍVEL de pessoas fazia isso
JPA
uma vez eu fiz uma palestra LÁ em bom jesus do amparo não sei a onde
JPA
VAI lá na serra na rua tal
JPA
vai LÁ na serra na rua tal
JPA
você ALTEROU a sua prova
JPA
você é BURRO
JPA
você é muito BURRO
JPA
você já viu ISSO barco no rio das velhas
JPA
você já viu isso barco no rio das VELHAS
JPA
você tem que fazer CIÊNCIAS biológicas
JPA
você tinha mineralogia petrografia geologia PALEONTOLOGIA biologia botânica zoologia
genética evolução
FOCO PROSÓDICO CONTRASTIVO (FPC)
FOCO PROSÓDICO E SINTÁTICO (FPS)
HRP
a ENORME serpente de metal que é a afonso pena no meio-dia
HRP
a gente então vai entender que que talvez o cara que tenha PLANEJADO niemayer etc e tal eles
tenham querido transformar belo horizonte num grande arraial
HRP
a plasmar a possibilidade de aquele ALGUM dia
HRP
agora éh sou EUo que istá dispensando informações
HRP
amor e saber então são duas coisas que se fundem nu ATO do religar
HRP
AMOR e saber são pólos que em algum momento si intersectam
HRP
APENAS um curral que se que acreditava que tinha até crescido mui to
HRP
apesar de sem restrições NENHUMA
HRP
belo horizonte é o nome dessi arraial MODERNOSO
HRP
belo horizonte é uma tristeza di istar acolchoada entre as MONTANHAS
HRP
belo horizonte poderia ser SIMPLESMENTE um nome bonito
HRP
cidadania é OUTRO compromisso da escola
HRP
começando pelas penurias em poderia dizer que é uma profissão na qual você JAMAIS jamais se
ocupa com ela somente no local onde voce a exerce
HRP
DEGUSTANDO paulatinamente CADA momento
HRP
dessa forma os TÓPIC OS que dizem respeito a vida dos alunos são tangenciados explorados
estudados amplamente nas salas de aula
HRP
e a HISTÓRIA da humanidade é história do ser humano
HRP
e ACHO que esse é o trabalho dos GRANDES mestres que passaram pela humanidade.
HRP
e indicá um caminho MENOS ofrível
HRP
e apesar disso nos ainda percebemos que ixiste uma GRANDE diferença
HRP
e de repente EU que fui resultado desse processo
HRP
e de repente eu que fui RESULTADO desse processo
HRP
é direcionar a minha mente pra OUTRA ocupação
HRP
e ELES fizeram diferença na nossa vida
HRP
e eles FIZERAM diferença na nossa vida
143
HRP
e nos meus momentos de lazer eu vou buscar lê OUTRAS coisas
HRP
e o PRÓPRIO chegar mais perto denunci a um sentimento de auto-estima
HRP
e que o amor pode tornar GRANDES diferenças entre pessoas mais suportáveis
HRP
e ser do coração de minas significa guardá no PRÓPRIO coração as coisas que são tão queridas
tão caras a minas gerais
HRP
e ser do coração de minas significa guardá no próprio coração as coisas que são TÃO queridas
tão caras a minas gerais
HRP
e vê aquele ENORME contingente de pessoas
HRP
em belo horizonte TODOS se conhecem como numa grande cidade do interior
HRP
em belo horizonte todos se conhecem como numa GRANDE cidade do interior
HRP
entã como isso não se dá absolutamente NUNCA na vida
HRP
estar envolvido com material humano é algo SEMPRE enriquecedor
HRP
eu MESMO fui resultado desse processo
HRP
GRANDES amizades são ali formadas
HRP
isso significa dizer que a gente SÓ está bem quando está fazendo as coisas QUE a gente gosta
QUANDO a gente gosta com quem a gente gosta
HRP
mas belo horizonte é APENAS um curral
HRP
mas percebo também que a religião presta ENORMES favores à humanidade
HRP
MENOS sou um professor
HRP
na sua relação com os professores e MESMO com os conteúdos o indivíduo é levado a
estabelecer relações de CAUSA e efeito contraste comparação
HRP
na sua relação com os professores e MESmo com os conteúdos o indivíduo é levado a
estabelecer relações de CAUsa e efeito contraste comparação
HRP
não se aprende APENAS sobre conteúdos disciplinares
HRP
o amor ele acaba éh sendo TRANSMITIDO ele acaba contaminando tudo aquilo que a gente
faz na vida
HRP
o amor ele acaba éh sendo transmitido ele acaba contaminando TUDO aquilo que a gente faz
na vida
HRP
o componente AFETIVO que geralmente é mais predominante acredito naqueles que têm a sua
criação influenciada principalmente pela mãe em mim é algo visível
HRP
o processo de formação do OUTRO é também um processo próprio de formação do professor
HRP
o processo de formação do outro é também um processo PRÓPRIO de formação do professor
HRP
os MESTRES deles esses sim
HRP
os mestres deles esses SIM
HRP
percebendo que MUITAS coisas podem ser relativas
HRP
pode ser MESMO uma atividade intelectual
HRP
por MAIS redun o mais redundante que isso possa parecer
HRP
que altaneira observa os belo horizontinos se refugiando em MAIS um domingo
HRP
são os MÚLTIPLOS bares
HRP
sou QUALQUER outra coisa
HRP
talvez trabalhe até MAIS fora da iscola
HRP
TODAS as outras profissões necessitaram de um professor
HRP
todas as outras profissões NECESSITARAM de um professor
HRP
TODOS são parentes e conhecidos
HRP
um dos aspectos MAIS importantes na formação do ser humano é a educação
HRP
um INDIVÍDUO para que ele possa amar-se
HRP
um indivíduo para que ele POSSA amar-se
HRP
uma das metas da escola e DA educação é educar o indivíduo pra vida
HRP
uma vez que NÓS os mamíferos somos o que somos a raça somos os o o tipo que detém mais
qualidades de ordem afetiva
HRP
uma vez que nós os mamíferos somos o que somos a raça somos os o o tipo que detém MAIS
qualidades de ordem afetiva
144
HRP
vamos permanecer oprimidos pela rotina do mercado pela rotina dos PROBLEMAS privados
pela rotina das nossas PRÓPRIAS angústias
MMM
a gente num vê TAN tão puxado não
MMM
a escola na minha época a escola de primeiro grau na mina época era uma escola PUXADA
MMM
a gente entra em cálculos que a gente num num NEM nunca ia imaginá na vida
MMM
APESAR da da de do número de de alunos por por sala é muito alto
MMM
aquele jeito é que me FAS FASCINA
MMM
como pode tê naquela época montado um. uma ESTRUTURA um filme tão tão
FASCINANTE uma coisa tão GRANDE
MMM
depois que o pessoal da do PETE tomou posse da prefeitura foi terrível
MMM
depois que o pessoal da do pete tomou posse da PREFEITURA foi terrível
MMM
depois que o pessoal da do pete tomou POSSE da prefeitura foi terrível
MMM
e a gente num sabe porque se mata TANTO
MMM
é MUITA gente
MMM
e os PAPAS parecem todos são têm a mesmo doutrina né?
MMM
e os papas parecem todos são têm a mesmo DOUTRINA né?
MMM
ela tenta jogá em conflito conflito com OUTRAS religiões
MMM
ele se tornou uma pessoa tão maleável uma pessoa TÃO eh eh tão fascinante
MMM
ele SEMPRE vai entra
MMM
ele tem MUITA muita chance de de evoluí
MMM
eu achei que o meu pai mudou TANTO no final
MMM
eu acho que a criminalidade no brasil ela tem um fator MUITO grande nisso aí
MMM
foi TANTA religião que eu acho que eu num sei nem numerá
MMM
hoje em dia é é o MAIS importante
MMM
isso tem que se numa CERTO limite
MMM
o matemático SEMPRE se ele caí em qualquer tipo de emprego
MMM
o profissional hoje em dia de qualquer área ele tem umENE opções
MMM
praticamente TODOS já morreram
MMM
quanto à à questão de de medo de ser TRAIDO o probelma do ciume ne isso aí é natural
MMM
quanto à à questão de de medo de ser traido o probelma do CIUME ne isso aí é natural
MMM
quanto à à questão de de MEDO de ser traído o probelma do ciume ne isso aí é natural
MMM
que normalmente a pessoa que tem fé ela RESPEITA respeita o próximo
MMM
que normalmente a pessoa que tem fé ela respeita RESPEITA o próximo
MMM
que eu num precisava tanto me me dedicá TANTO
MMM
RARAMENTE acontecia algum ATRITO
MMM
RARAMENTE cê cê vai se adaptá a esse sistema de ônibus aí
MMM
SEMPRE tem
MMM
SEMPRE tem alguma coisa
MMM
tanto a participação da MASCULINA como feminina na formação da de cada indivíduo né? isso
aí é importante
MMM
tem VÁRIAS MÚLTIPLAS chances no mercado
MMM
tem VÁRIOS teatros
MMM
tô SEMPRE me controlando
MMM
VÁRIOS budas
JPA
aí eu tinha que EU avalia
JPA
colocamos TUDO em cima das mesas
JPA
com aquele EMBRULHO enorme né eu ia levá
JPA
é claro que esse tópico LAZER envolve o esporte
JPA
e do trabalhador néTODOS
JPA
e eu fiquei en ENTUSIASMADOquando eu soube que os dois jks o john kennedy e o juscelino
kubitschek todos dois liam mais de duas mil palavras por minuto
145
JPA
e eu fiquei en entusiasmado quando eu soube que os dois jks o john kennedy e o juscelino
kubitschek todos dois liam mais de DUas mil palavras por minuto
JPA
e eu fiquei en entusiasmado quando eu soube que os dois jks o john kennedy e o juscelino
kubitschek todos dois liam mais de duas MIL palavras por minuto
JPA
e havia muito POUCOS colégios
JPA
e houve um caso MUITO sério que causou essa repetição do segundo ano sabe
JPA
e na área de ciências biológicas existem MUITAS especializações modernas
JPA
e PRINCIPALMENTE eu mexo com fotografia né?
JPA
e sujava TODO de BARRO sabe
JPA
ele deve pro providenciar TUDO que seja auxiliar
JPA
Ele é que tinha combinado TUDO
JPA
Ele é que tinha combinado TUDO
JPA
então essas diciplinas de LETRAS de linguas são instrumental pra todo mundo
JPA
então essas diciplinas de letras de linguas são instrumental pra TODO mundo
JPA
então essas diciplinas de letras de LÍNGUAS são instrumental pra todo mundo
JPA
então houve uma separação ENORME de muitas áreas profissionais
JPA
então houve uma separação enorme de MUITAS áreas profissionais
JPA
então não tenho a MENOR preocupação de ordem religiosa de nenhum modo de crença de coisa
alguma sabe
JPA
então não tenho a menor preocupação de ordem religiosa de NENHUM modo de crença de coisa
alguma sabe
JPA
EU coloco na área biológica todos os exemplos
JPA
fui trabalhá no GRANDE camiseiro
JPA
INFELIZMENTE eu deixava a família de lado né?
JPA
mas principalmente eu tenho a MELHOR coleção de negativos que você possa imaginar
JPA
mas de literatura geral tem MUITO livro
JPA
mas um GRANDE colega
JPA
na escolha do CURSO que vai fazer
JPA
não há a MENOR possibilidade
JPA
NUNCA mais eu estudo matemática sabe?
JPA
o barco era ENORME
JPA
porque em seguida nós íamos ver a MELHOR resposta de cada pergunta sabe?
JPA
porque nós na faculdade vi excurcionava TODO fim de semana
JPA
porque TODO trabalhador intelectual tem uma caneta
JPA
professor romanelli é um GRANDE espírita brasileiro né?
JPA
que ta são os GRANDES livros do mundo
JPA
se tinha espermatozóide do SAPO eh a mulher estava grávida
JPA
temos que divulgar junto à à juventude os cursos que existemem TODAS as áreas
JPA
TODAS as profissões eu mencionei o que que o camarada faz possibilidades de melhoria né
JPA
todas as profissões eu mencionei o que que o camarada FAZ possibilidades de melhoria né
JPA
TODO mundo tem que fazer
JPA
TODO professor nos nos níveis elementares eh o primeiro grau segundo grau devem ajudar os
alunos na escolha da profissão
JPA
todo professor nos nos níveis elementares eh o primeiro grau segundo grau DEVEM ajudar os
alunos na escolha da profissão
JPA
todo professor nos nos níveis elementares eh o primeiro grau segundo grau devem ajudar os
alunos na ESCOLHA da profissão
JPA
um padre muito NEURASTÊMICO nervosíssimo eu cheguei assim ele falou
JPA
um prédio ENORME de dois pavimentos com oficinas e tudo
JPA
você é MUITO burro
JPA
você não vai fazer NADA?
146
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