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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DA UFBA
NÚCLEO DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
NPGA/UFBA
MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO
LAÍLA RODRIGUES SOARES
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
Uma Análise de Modelos Teórico
-
Conceit
uais
SALVADOR
2008
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LAÍLA RODRIGUES SOARES
RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL:
Uma Análise de Modelos Teórico
-
Conceituais
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Administração da Escola de
Administração da UFBA como requisito parcial
para a obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Orientador: Prof. Dr. José Célio Silveira
Andrade
Salvador
2008
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Aos meus pais, com todo amor que houver nessa vida.
AGRADECIMENTOS
Foram muitos os que de alguma forma contribuíram para que, mais do
que uma dissertação, um ciclo se completasse.
Ao orientador Célio, pela imensa atenção e disponibilidade com que
sempre me recebeu quando o procurei.
Ao professor Nelson Oliveira, pela referência na vida acadêmica e na
estrada da vida.
A Dacy e Anaélia, pelo apoio e atenção.
Agradeço imensamente, como sempre, aos meus pais, pelo apoio
incondicional nas minhas escolhas, o respeito a minha individualidade, a
compree
nsão, o carinho e o interesse pelas minhas coisas. Pelo exemplo
paterno de autenticidade, respeito ao outro e dedicação ao que se crê ser o
certo. Pelo exemplo materno de mulher forte e doce, guerreira e singela,
determinada e sensível, subversiva em tudo
o que faz.
Ao irmão e amigo Gabriel, pelas idas à EAUFBA atrás de livro, xerox,
professor, colega e tudo mais quanto eu precisei nesses dois anos. Mas, em
especial, por se fazer sempre presente, pelo cuidado à sua maneira, pelo
silêncio que não constrange, pelas impagáveis noites de conversa fiada, pela
sensação eterna de que pra nada na vida estarei só.
Ao companheiro de tantas jornadas João Gabriel, sempre presente,
sempre cuidando, sempre abrigo; pelo apoio e atenção desde o dia da decisão
de tentar o mestrado até hoje (e sempre). Por saber tão direitinho do que
por aqui além do que se vê.
Aos queridos colegas e agregados do BanSol e DAADM, pela
construção da visão de mundo que tanto influencia esse trabalho.
Às queridas do Clube da Luluzinha, pelas conversas infindáveis e pela
renovação do ânimo sempre.
Aos amigos PCN, contra-administradores, sonhadores, revolucionários
e, cada um à sua maneira, esperança de um mundo melhor.
Aos amigos Gabriel Campos, Rafael ‘Guma’ e Cecília Sarno, pela
co
mpreensão independente de qualquer entendimento; pelo apoio no que não
concordam; por serem tão incondicionalmente amigos.
Aos colegas mais que queridos da Colivre, por me apresentarem um
mundo tão novo e mostrarem como é no dia-a-dia que se faz a diferença. Pela
muita crença, poucos discursos, coerência e tanta ação.
À amiga Neide, com seu cafezinho certeiro, e a disponibilidade de
sempre para se perder no Vale do Canela levando um trabalho e pra revirar o
mundo atrás daquele texto que eu esqueci e
m algum lugar...
Ao mais que amigo Tiago-
da
-
casa
-azul, pela companhia constante nos
últimos anos, pelo sarcasmo que não me deixa parar de sorrir, pelo carinho e
atenção de sempre, pelo ombro amigo, por saber consolar sem chororô, pelos
comentários mais inconvenientes, as tiradas mais inteligentes, os escaldes
mais pertinentes, o abraço apertado, as bebidinhas ruins e eficientes, as
verdades que não devem ser ditas, as conversas nos momentos de ansiedade
e tanto, tanto mais companheirismo que o fez tão importante no ‘encarar a vida’
ultimamente.
A todos que mandaram e-mail com alguma coisa que ‘pode servir pra
sua dissertação’, que procuraram saber dela, que revisaram meus trabalhos...
ou que de alguma forma se interessaram pelo meu Mestrado nesses dois a
nos.
E, em especial, àqueles que acreditam que eu ainda viro hippie, mega-
executiva, atriz, mãe de família... ou que de alguma forma se interessam pelo
que há de vir por aí.
Obrigada!
“E
eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o
número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho
desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à
desgraça invencível, à penúria absoluta,
para produzir um rico?”
Almeida Garrett
RESUMO
Com base na questão em que medida os modelos conceituais de
Responsabilidade Social Empresarial refletem as práticas empresariais
identificadas na pesquisa do Instituto Akatu? desenvolveu-se este trabalho,
cujo objetivo principal é analisar a relação entre os principais esquemas
conceituais de Responsabilidade Social Empresarial e as práticas empresariais
encontradas na pesquisa do Instituto Akatu. Alguns são os modelos que se
propõem a definir essa responsabilidade social empresarial, contudo, esses
modelos não derivam de práticas de responsabilidade social adotas pelas
empresas no contexto brasileiro, derivam, sobretudo, da observação desse
movimento por uma responsabilidade social empresarial e a reação das firmas
a este movimento em contextos internacionais. Após ampla revisão da
literatura sobre o tema, foram escolhidos sete modelos teórico-conceituais de
análise do fenômeno da responsabilidade social que por sua vez foram
confrontados com dados fornecidos por pesquisa do Instituto Akatu junto às
empresas sobre suas ações de Responsabilidade Social Empresarial. Assim,
puderam
-se identificar a adequação de cada um deles, com suas dimensões
de análises, pressupostos ideológicos e categorizações para o enten
dimento
do movimento de responsabilidade social no Brasil. A pesquisa, de caráter
exploratório, identificou que as categorizações pertinentes a esta realidade não
se encontram em extremos de adoção ou não de uma Responsabilidade Social
Empresarial, e que os modelos que mais se aproximam desta realidade dão
conta de que a responsabilidade social das empresas pesquisadas não
significa comprometimento social, nem tampouco se restringe ao cumprimento
de leis, mas se pauta numa busca por um bom relacionamento com as forças
de mercado para a manutenção e potencialização da finalidade da empresa.
Palavras
-
chave:
Responsabilidade Social Empresarial, Responsabilidade
Social no Brasil.
ABSTRACT
From the central question How much the conceptuals models of social
responsibility of the firms reflect the firms practices showed by Akatu Institute’s
research?
this work was developed, and the purpose of which is to analyze the
relationship between the main conceptuals schemes of social responsibility of
the firms and the firms practices showed by Akatu Institute’s research. There
are some models that try to define this social responsibility of the firms, however
these models are not based on Brazilians firms practices, but on the
observation of the movement for a social responsibility of the firms and its
reactions to this into international contexts. After a large literature review, seven
theoretical
models developed to analyze the social responsibility phenomena
were chosen to be confronted by some data brought by the Akatu Institute’s
research with the Brazilians firms about its practices in the social responsibility
ways. So, the pertinence of each conceptual model could be analyzed, with
each one’s dimensions of analyzes, ideological purposes and cla
ssifications
adequate for the understanding of the social responsibility movement in Brazil.
This work, an exploratory research, identified that the classifications pertinent
to this reality aren’t in extremes of being or not socially responsibly, and tha
t the
models that get close to this reality explain that de social responsibility of the
researched firms do not mean social engagement, or even represents only the
fallowing formal obligations as laws, but are pointed by a search for a good
relationship
with the market agents to maintenance and maximization of the
firm’s objectives.
Key words:
Social Responsibility of the Firms, Social Responsibility in Brazil.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
-
Lista de visões de RSE x Autores
22
Quadro 2
-
Princípios de RSE
24
Quadro 3
-
Ações tidas como foco de responsabilidade social pelas empresas
45
Quadro 4
-
Ações nã
o tidas como foco de responsabilidade social pelas
empresas...............................................................................................................
..49
Quadro 5
-
Análise comparativa entre os modelos conceituais
68
LISTA DE FIGURAS
Figura 1-
Modelo analítico de Quazi e O’Brien
27
Figura 2-
Modelo de síntese da atuação social das empresas
29
Figura 3-
Modelo analítico de Melo Neto e Froes
30
Figura 4: Motivações e conseqüências das ações de Responsabilidade Social
com enfoque instrumental
35
Figura 5 - Motivações e conseqüências das ações de Responsabilidade Social
com enfoque ético
36
Figura 6 Distribuição da amostra de pequenas e médias empresas
pesquisadas, por setor de atuação
56
Figura 7 Distribuição da amostra de pequenas e médias empresas
pesquisadas, por localização geográfica
57
Figura 8 - Ações desenvol
vidas por grupo
62
Figura 9 -
66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ADCE Brasil
-
Associação de Diri
gentes Cristãos de Empresas do Brasil
ANPAD
- Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em
Administração
BNDES
-
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
ENANPAD - Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em
Administração
ONG
-
Organização Não
-
Governamental
PIB
-
Produto Interno Bruto
RSE
-
Responsabilidade Social Empresarial
SEBRAE
-
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
14
2 REVISÃO DE LITERAT
URA
21
2.1 EVOLUÇÃO DA IDÉI
A DE RESPONSABILIDAD
E SOCIAL EMPRESARIAL
21
2.2 RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS: DELINEANDO UM
CONCEITO
26
2.3 MODELOS DE ANÁLISE DA RESPONSABILIDADE SOCIAL
EMPRESARIAL (RSE)
32
2.3.1 O Modelo de Sethi
32
2.3.2 O modelo de Carroll 34
2.3.3 O modelo de Wood
3
6
2.3.4 O modelo de Quazi e O’Brien 38
2.3.5 O modelo de Curado 4
0
2.3.6 O modelo de melo Neto e Fróes
42
2.3.7 Os esquemas críticos 44
3 CONSIDERAÇÕES METO
DOLÓGICAS
51
4.
AN
ÁLISE DOS DADOS
55
4.1 AÇÕES DE RESPONS
ABILIDADE SOCIAL DAS
EMPRESAS
58
4.2 AÇÕES DAS EMPRESAS E OS MODELOS DE A
NÁLISE DA
RESPONSABILIDADE SOC
IAL EMPRESARIAL
69
4.2.1 O modelo de Sethi
70
4.2.2 O
modelo de Carroll 71
4.2.3 O modelo de Wood
73
4.2.4 O modelo de Quazi e O’Brien
74
4.2.5 O modelo de Curado 76
4.2.6 O modelo de Melo Neto e Froes 7
8
4
.2.7 Os esquemas críticos 79
4.3 ANÁLISE COMPARAT
IVA
81
5 CONCLUSÕES
87
REFERÊNCIAS 94
ANEXO
QUESTIONÁRIO APLICADO PELO INSTITUTO AKATU (2004) 9
8
1 INTRODUÇÃO
A Responsabilidade Social Empresarial sempre me causou alguma
inquietação. Se a empresa existe para gerar lucros aos seus acionistas, pode
existir também para promover o bem-estar social? Se o lucro aumenta quando
os gastos diminuem, os acionistas estariam dispostos a ser socialmente
responsáveis? Se a regulação do mercado consumidor tem o poder de impor
às empresas a adoção de uma responsabilidade social, porque não o teria para
reivindicar outras questões de interesse mais direto? Se a responsabilidade
social serve apenas como mais um instrumento para o aumento de lucros, essa
responsabilidade é para com o social? E se é instrumento para algo, a quem
ele serve prioritariamente? E muitas, muitas outras questões despertaram meu
interesse
para o tema.
O fato é que, um movimento das empresas no sentido de assumir
uma responsabilidade social, o que quer que isso signifique. E é justo a
inquietação sobre o que isso significa, o que as motiva, como isso determina as
ações desenvolvidas, quais são as ações desenvolvidas, os impactos delas na
forma de atuação da firma; que culmina com a questão que guia este trabalho,
com a busca por um entendimento conceitual do que vem a ser esse
fenômeno.
Após a Revolução Industrial inglesa (século XVIII), o mundo viu
consolidar
-se, de forma tão rápida quanto intensa, o que chamamos de modo
de produção capitalista. De forma bastante sucinta, o capitalismo caracteriza-
se, essencialmente, pela acumulação e riqueza gerada pela diferença entre o
capital investido na produção e o valor da negociação do produto ou serviço no
mercado. Mais à fundo, o capitalismo caracteriza-se então pela compra, pelo
capitalista, da força de trabalho do operário e a venda do produto desta, por
valor superior, aos consumidores.
Essa
característica traz consigo uma tensão entre interesses de
trabalhadores e capitalistas, aqueles desejando ser melhor recompensados
pela venda de sua
força de trabalho, estes almejand
o o inverso, à medida que
quanto menor a remuneração dos fatores produt
ivos, maior seu ganho.
Tal característica marca ainda o sistema capitalista como um sistema de
desigualdades, dada que a riqueza produzida por todos não é assim
distribuída: quanto menos ao exército de operários, mais ao seleto clube dos
investidores. Para que um possa ter mais, outro terá que necessariamente ter
menos. E é este o cerne das transformações da ordem social desde a tal
Revolução.
A exploração da classe trabalhadora, as desigualdades de toda ordem
geradas pelo sistema capitalista (para além da esfera econômica, e
determinadas por esta), dentre outras externalidades negativas deste modo de
produção, geraram movimentos de protesto. Alguns, pela sua superação,
outros, por sua reforma.
Os movimentos por uma reforma do sistema capitalista não demonst
ram
interesse em substituir o sistema por um outro mais justo ou igualitário, mas
torná
-lo mais ‘humano’, além de diminuir incômodos decorrentes deste:
desequilíbrio ambiental, violência urbana exacerbada pelo consumismo e
desigualdades sociais, guerras motivadas por interesses econômicos,
marginalização dos não ‘aptos’ a inserir
-
se no sistema, dentre outros.
Alguns destes movimentos passam por um fortalecimento do poder do
Estado frente aos interesses capitalistas, equacionando-os com os interesses
de trabalhadores e cidadãos de maneira geral. Tal via passa pela elaboração
de legislação de proteção ao trabalho e meio ambiente, fiscalização de seus
cumprimento, criação de regras e instituições que garantam o desenvolvimento
das atividades de acumulação dentro de determinados parâmetros de
desigualdade e exclusão aceitos pela sociedade: a chamada regulação.
Tais movimentos parecem considerar o Estado um ente neutro,
ignorando o papel estatal ao longo da história do século XX como fiador e
parceiro instituciona
l do processo de desenvolvimento do sistema capitalista.
Outro movimento surge no sentido de apaziguar as relações entre
capitalistas e o todo social, através de uma maior participação deste na riqueza
gerada: o da Responsabilidade Social Empresarial. A idéia é que a empresa
retribua a sociedade pelo uso de seus recursos (humanos, ambientais,
institucionais, etc.) e colaboração no desenvolvimento de suas atividades. Aqui,
o cumprimento de exigências básicas, em forma de lei, para o funcionamento
da firma é condição para a observância de uma responsabilidade da empresa
com o todo social, embora não contemple a idéia de responsabilidade social
empresarial. Tal idéia se afirma na medida que a empresa, para além do
exigido pela coerção do Poder Público, assuma formas de condução do seu
negócio aceitas e até mesmo exigidas na relação com a sociedade como um
todo. Assim, além da imposição regulamentar de limites à atuação, a
possibilidade de a sociedade civil, através do poder do consumo, regular a
conduta empre
sarial.
Três premissas parecem nortear a idéia de uma responsabilidade social
empresarial:
1
– A de que as empresas, enquanto parte do todo social, devem
assumir a responsabilidade pelo seu desenvolvimento e bem
-
estar;
2
A de que essa responsabilidade ultrapassa seu bom desempenho
econômico e a geração de postos de trabalho,e;
3
A sociedade regulará o comportamento das empresas através de
hábitos de consumo, legislação, movimentos sindicais, etc.
Alguns são os modelos que se propõem a definir essa respo
nsabilidade
social empresarial, seu grau de abrangência, possibilidades de atuação,
motivações para adoção, dentre outras variáveis. Contudo, esses modelos não
derivam de práticas de responsabilidade social adotas pelas empresas no
contexto brasileiro, tam
pouco da percepção da sociedade/consumidores acerca
destas práticas. Eles derivam, sobretudo, da observação desse movimento por
uma responsabilidade social empresarial, representado, em especial, pela
atuação de ONG’s e algumas Fundações beneficentes ligadas a grandes
empresários ou grupos empresariais; e a reação das firmas a este movimento,
mas em contextos internacionais.
O Instituto Akatu - voltado para a conscientização do consumidor
brasileiro do seu protagonismo na construção de uma sustentabilidade
sócio
-
ambiental
- realizou em 2004 uma pesquisa junto às empresas brasileiras para
conhecer suas práticas de responsabilidade social empresarial e o seu grau de
comprometimento com esse movimento. A pesquisa foi realizada em parceria
com o Instituto Ethos, e sua amostra contemplou empresas de diferentes
portes, ramos de atuação e localização geográfica.
Enquanto mapeamento do que vem a ser a responsabilidade social
empresarial na realidade brasileira, a pesquisa é bastante rica. Além de elencar
as ações desenvolvidas pelas empresas enquanto práticas de RSE, traz dados
interessantes como temas não discutidos pelas empresas para
desenvolvimento de ações de RSE, diferenças de comportamento de acordo
com o porte das empresas, “portas de entrada” das empresas no compromisso
com a responsabilidade social, dentre outros. Tais dados permitem, além de
uma visão geral do que está dado como RSE no meio empresarial, algumas
análises e reflexões sobre a natureza dessas ações, contradições entre a
proposta de RSE e as ações desenvolvidas, grau de comprometimento social
das empresas, e com os modelos analíticos de RSE apresentados na produção
acadêmica sobre o tema, por exemplo.
É vasta a literatura, inclusive nacional, acerca da responsabilidade social
da empresa. A maior parte dos trabalhos versa sobre os retornos desta para a
empresa; a elaboração do balanço social; avaliação e implantação de
programas de RSE. Ainda, poucos trabalhos apresentam uma visão generalista
da manifestação dessa responsabilidade social das empresas brasileiras, mas
centram sua análise em estudos de caso ou estudos comparativos com
empresas de determinados setores, o que pode ser observado nos anais de
encontros de pesquisa em Administração, bem como no acervo da produção
da pós
-
graduação na área n
o Brasil.
Contudo, alguns trabalhos, em especial artigos e ensaios apresentados
em encontros de Administração, trazem interessantes reflexões e inquietações
para análise da natureza do fenômeno no contexto de uma economia de
mercado de forma mais ampla e suas possibilidades de reflexo na prática
empresarial nacional.
O tema da Responsabilidade Social Empresarial começa a aparecer nos
encontros da ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Administração - no ano de 1998, com apenas um artigo, contudo o assunto
principal ainda não era a responsabilidade social das empresas, mas o
instrumento do balanço social. (ENANPAD, 1998) O mesmo ocorre no ano de
1999. (ENANPAD, 1999)
É no ano de 2000 que o termo responsabilidade social aparece como
tema exclusivo de um artigo no evento, dividindo espaço com artigos ainda
versando sobre o balanço social e o investimento social. (ENANPAD, 2000)
Mas em 2002 o tema ganha relevância no universo dos temas tratados por
artigos do encontro com mais de 10 trabalhos apresentados. (ENANPAD,
2002)
A partir de 2002 o número de trabalhos apresentados sobre o tema
tornou
-se a cada ano mais significativo, indicando um interesse dos estudiosos
da Administração pelo fenômeno. (ENANPAD, 2002; 2004; 2006) Tal interesse
parec
e se justificar pelo aumento das ações desenvolvidas pelas empresas
brasileiras sob o rótulo da responsabilidade social empresarial.
Válido observar ainda que um bom número destes trabalhos trata da
responsabilidade social em relação com outros temas, como o marketing e a
satisfação dos funcionários; mas que também aparecem nesse meio alguns
(poucos) trabalhos que propõe alguma reflexão sobre o que vem de fato a ser
essa “responsabilidade” que a empresa assume, e as possibilidades e
limitações que a própria organização política, ideológica e, especialmente,
econômica da sociedade impõem a um compromisso social por parte da
empresa.
Contudo, persiste a ausência de trabalhos que relacionem o que as
empresas praticam enquanto responsabilidade social empresarial
e os modelos
conceituais apresentados pela literatura acadêmica. sim, interessantes
contribuições para um debate acerca da possibilidade de uma RSE no sistema
de produção capitalista, mas não alguma análise sobre as construções teórico-
conceituais que
reflitam as práticas de responsabilidade social no Brasil.
Com base nessa observação, este trabalho se propõe a analisar
em
que medida os modelos conceituais de Responsabilidade Social Empresarial
refletem as práticas empresariais identificadas na pesquis
a do Instituto Akatu?
Assim, tem-se como objetivo geral analisar a relação entre os principais
esquemas conceituais de Responsabilidade Social Empresarial e as práticas
das empresas brasileiras encontradas na pesquisa do Instituto Akatu; e como
específicos
:
1
analisar os modelos conceituais de RSE;
2
- identificar divergências e similaridades entre os modelos e conceitos
propostos para o tema;
3
- identificar a compatibilidade entre os modelos e a prática de RSE
trazida pela pesquisa;
4
- identificar modelos mais adequados para a análise empírica de
Responsabilidade Social.
Finalmente, para além de trazer conclusões sobre a questão que o guia
e os objetivos relacionados a ela, este trabalho busca também reforçar a
atenção para o debate acerca da ideologia por trás de todas as ações
organizacionais, fugindo do que parece ser a tendência de considerar as
práticas empresariais como neutras e puramente instrumentais; e analisá-
las
em termos de efetividade e resultado apenas, ignorando os seus impactos para
os
arranjos nas relações de trabalho, com consumidores e poder púbico, os
arranjos sócio-econômicos que determinam em função do peso e do papel da
empresa no contexto institucional e econômico atual.
O trabalho encontra
-
se dividido em cinco seções. Após brev
e introdução,
segue
-se o capítulo de revisão bibliográfica em Responsabilidade Social
Empresarial, bem como resgate do contexto histórico de seu surgimento e das
tentativas de construção deste conceito. Neste capítulo é feito um esforço de
sistematização e caracterização dos modelos teóricos e conceituais de RSE
consolidados na literatura, pesquisa e trabalhos acadêmicos sobre o tema.
Em seguida, têm-se as considerações metodológicas do trabalho, que
se desenvolve com base em dados secundários. Trata-se de uma pesquisa
exploratória a partir de observações desses dados e confrotamentos com os
modelos analíticos revisados no capítulo anterior.
A pesquisa não pôde ser muito aprofundada por conta das limitações de
informações decorrentes do uso de uma fonte de dados não produzidos de
acordo com os objetivos deste trabalho. Além disso, se teve acesso aos
dados agregados, o que impossibilitou a realização de cruzamentos que
permitissem maior aprofundamento do nível de análise. Assim, o trabalho
caracteriza
-se por uma análise de um perfil mais generalista das ações
desenvolvidas, tendo como principal contribuição a exploração de caminhos e
possibilidades no desenvolvimento de análises sobre o tema, dado o ineditismo
do estudo de modelos de análise essencialmente para entendimento do
contexto nacional.
Contudo, o trabalho traz subsídios relevantes para a reflexão proposta,
abrindo um caminho promissor para o surgimento de pesquisas mais
aprofundadas sobre a temática da natureza do fenômeno da responsabilidade
social empresarial no Brasil, suas variáveis, dimensões de análise e modelos
conceituais adequados para sua compreensão. Ainda, traz como subproduto a
identificação de pontos relevantes para pesquisas futuras sobre o tema, como
recortes possíveis para amostras, informações determinantes do processo a
serem levantadas, possibilidades de análises mais qualitativas com base em
informações acerca das motivações das empresas, dentre outros.
O capítulo seguinte é dedicado à análise dos dados oriundos da
pesquisa do Instituto Akatu realizada junto às empresas em 2004 acerca de
suas práticas de Responsabilidade Social. Essa análise é feita à luz dos
esquemas conceituais de RSE, numa busca por conexões e dissonâncias entre
as práticas empresariais e os conceitos até e
ntão desenvolvidos.
Por fim, são trazidas algumas considerações finais sobre os resultados
encontrados, o desenvolvimento do trabalho, suas limitações e alguns
questionamentos decorrentes de sua execução.
2 REVISÃO DE LITERA
TURA
2.1 Evolução da Idéia de Responsabilidade Social Empresarial
As primeiras idéias de uma Responsabilidade Social das empresas
datam do século XX (DUARTE e DIAS, 1996), no período de lucros crescentes
que seguiu da chamada Segunda Revolução Industrial até o início da Primeira
Guerra Mundial. A aplicação da energia elétrica na produção, o método de
produção em massa proposto por Henry Ford e a administração científica de
Taylor, acarretaram uma mudança de paradigmas na produção industrial
mundial com conseqüências extremamente positivas do ponto de vista do lucro
das corporações. (MARTINS, 2006)
Neste período, empresários e proprietários de grandes corporações
começaram a demonstrar interesse na distribuição dos lucros da organização
não apenas para seus acionistas, mas para trabalhadores e outros grupos que
julgavam merecedores da atenção das empresas.
Assim, em 1916, Henry Ford resolve investir parte dos lucros em ações
de cunho social, sob a justificativa de justamente remunerar os trabalhadores
que
possibilitaram tal retorno, motivando-os para o trabalho; e de estar
investindo na imagem da organização ao desenvolver atividades filantrópicas.
Em 1919 Ford é acionado judicialmente por um grupo de acionistas que se
sentiu prejudicado pelo investimento, ao invés da distribuição dos dividendos.
(ASHLEY, 2002)
Em 1936, Edsel Ford e outros dois executivos da Ford Motors criam a
Fundação Ford, com o intuito de “arrecadar e administrar recursos para fins
científicos, educacionais e de caridade, visando o bem-estar coletivo”.
(FUNDAÇÃO FORD, 2007). A iniciativa segue o modelo filantrópico das
existentes Fundação Rockefeller (fundada em 1913 por Jonh Rockefeller,
proprietário a Standard Oil) e a Fundação Carnegie (fundada em 1905 pelo
também empresário Andrew Carnegie). (FUNDAÇÃO CARNEGIE, 2007;
FUNDAÇÃO ROCKEFELLER, 2007).
Se tais Fundações demonstram alguma consciência dos homens de
negócios com a sua responsabilidade social, não chegam ainda a representar
ações de Responsabilidade Social das empresas. Contudo, são as ações
filantrópicas e as primeiras preocupações éticas dos homens de negócios os
primeiros passos para o comprometimento das organizações com o seu
entorno sócio-ambiental, aumentando a aceitação do tema nos meios
acadêmico e empresarial.
Ass
im, em 1942, 120 empresários ingleses assinam um manifesto
afirmando a responsabilidade da empresa para com o bem-estar de seus
funcionários e da sociedade em geral. Tal documento é considerado o primeiro
apoio significativo do meio empresarial à idéia de Responsabilidade Social da
empresa. (TORRES, 2002, p.132)
Nas palavras de Duarte e Dias (1986, apud TORRES, 2002, p.132):
Em 1942, a idéia aparecia num manifesto subscrito por 120
industriais ingleses, onde se afirmava sem rodeios: ‘A
responsabilidade dos que dirigem a indústria é manter um equilíbrio
justo entre os vários interesses do público como consumidor, dos
funcionários e operários como empregados e dos acionistas como
investidores. Além disso, dar a maior contribuição possível ao bem-
estar da nação como um todo’. (DUARTE & DIAS, 1986, apud
TORRES, 2002, p.132).
A difusão do tema no meio acadêmico é marcada pela publicação de
Social Responsabilities of the Businessman”, de Howard Bowen, em 1953. O
livro é considerado a primeira tentativa de discussão acadêmica e
sistematização acerca da responsabilidade social das corporações,
repercutindo nos meios universitário e empresarial. A partir de então a década
de 50 é marcada por uma profusão de debates, seminários, pesquisas e
trabalhos sobre o tema.
(MACEDO, 200, p.32)
Outro marco no desenvolvimento e consolidação da idéia de uma
responsabilidade social corporativa foi a atuação a sociedade civil organizada.
Movimentos sociais, em especial o sindicalista, feminista e em defesa das
minorias étnicas passaram a pressionar os mais diversos setores e
principalmente as corporações a posicionarem-se de forma ética quanto aos
seus funcionários, consumidores e a sociedade em geral, combatendo
preconceitos, discriminação e a super exploração do trabalho.
O espaço alcançado por estes movimentos junto à sociedade e seu
trabalho de conscientização começaram a surtir efeitos mais efetivamente
durante a década de 60, quando consumidores e sociedade em geral passam a
cobrar das corporações posturas éticas nas suas relações seja com seus
funcionários, consumidores, políticos e a comunidade. O papel da empresa na
estrutura da sociedade industrial capitalista e os impactos de suas atividades
na comunidade em que se insere passam a ser mais claramente percebidos
pela sociedade civil, que exige então deste ente atitudes comprometidas com o
bem
-
estar comum.
Os maiores opositores, no meio acadêmico, da idéia de uma
responsabilidade social das empresas, são os pensadores neoliberais, dentre
os quais o maior expoente é Milton Friedman. Na discussão acerca da função
da empresa na sociedade, Friedman afirma que o verdadeiro papel da empresa
é o de atingir lucros crescentes e bem remunerar seus proprietários, e qualquer
bem
-estar que possa oferecer ao todo social decorre das atividades na busca
por estes objetivos. Para Friedman, qualquer destinação do lucro da empresa
que não investimento em aumento de capacidade ou distribuição de dividendos
aos seus acionistas significa apropriação indébita do capital dos investidores.
(ASLHEY,
2002, p.10)
Mas, a não aceitação da Guerra do Vietnã, com queda nas ações e
boicote aos produtos de empresas de alguma forma envolvidas com o conflito,
contribuiu para que as organizações assumissem posturas socialmente
responsáveis, tratando melhor seus funcionários, negociando de forma mais
justa com seus fornecedores, atentando para o conteúdo das mensagens de
seus anúncios publicitários, desenvolvendo ações filantrópicas, evitando poluir
o meio ambiente, dentre outros. (TORRES, 2002, p.133).
Assim, nos meados da década de 70, a idéia de uma responsabilidade
social das empresas já estava bastante difundida e aceita nos meios
acadêmicos e sociedade civil, embora as suas práticas ainda não fossem
predominantes no meio empresarial.
No Brasil, o marco da difusão da idéia de uma responsabilidade social
das empresas dá-se em 1965, quando a Associação de Dirigentes Cristãos de
Empresas do Brasil (ADCE Brasil) divulgou uma Carta de Princípios do
Dirigente Cristão de Empresas, em que trata, dentre outros temas,
da
responsabilidade social das corporações. No mesmo ano é criada a Fundação
Odebrecht, mantida pelo grupo Odebrecht, se destacando como marco do
início do movimento de práticas de responsabilidade social pelas empresas
brasileiras. Contudo, esta ainda é u
ma ação isolada.
É no final dos anos 80 que as empresas brasileiras de um modo geral
passam a praticar a idéia da responsabilidade social e se preocupar com
comportamentos éticos. Alguns fatores influenciaram decisivamente a adoção
desta postura por parte das organizações, como a promulgação da
Constituição de 1988 e o despertar da cidadania no país; atuação das ONG’s
na defesa do meio ambiente e dos direitos sociais dos indivíduos, bem como
sua colaboração para a difusão destes temas.
Nas palavras de Tor
res (2002, p. 145),
todo esse processo se deu por uma conjunção de interesses pessoais
de alguns empresários; cobrança por parte da sociedade organizada;
disputas de poder; e da necessidade do meio empresarial de adaptar-
se às transformações nacionais e gl
obais (TORRES, 2002, p.145)
O mais recente marco no tocante à responsabilidade social das
empresas no Brasil foi a fundação, em 1998, do Instituo Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social. Criado por empresários, o instituto tem a missão de
mobilizar,
sensibilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma
socialmente responsável, tornando-as parceiras na construção de uma
sociedade sustentável e justa. A organização contava, em julho de 2008, com
1.346 empresas filiadas, de diferentes tamanhos e setores. Juntas, têm
faturamento anual correspondente a aproximadamente 35% do PIB (Produto
Interno Bruto) brasileiro e empregam cerca de dois milhões de pessoas.
(ETHOS, 2008) O Ethos atua em cinco linhas: ampliação do movimento de
responsabilidade social empresarial;
aprofundamento de práticas em RSE;
influência sobre mercados e seus atores mais importantes, no sentido de criar
um ambiente favorável à prática da RSE;
articulação do movimento de RSE com políticas públicas; produção de
informação. O grande número de filiados da organização alcançado em poucos
anos aponta para a consolidação da idéia de uma responsabilidade social das
empresas no cenário brasileiro.
Outro indicador deste fato é o crescente número de empresas que
publicam periodicamente o seu Balanço Social, uma espécie de relatório
contendo informações diversas acerca do tratamento que a empresa dispensa
aos seus funcionários, ações sociais realizadas, relação com o meio ambiente,
etc. Segundo relatório institucional do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), o Balanço Social,
é o nome dado à publicação de um conjunto de informações e de
indicadores dos investimentos e das ações realizadas pelas
empresas no cumprimento de sua função social junto aos seus
funcionários,
ao governo e às comunidades com que interagem,
direta e indiretamente. (BNDES, 2000, p.6)
Esse tipo de balanço tornou-se obrigatório inicialmente na França,
quando em 1977, lei estabeleceu a publicação compulsória para empresas com
mais de 750 funcionários. Em 1982 a lei foi estendida a todas as empresas
com mais de 300 funcionários, tendo se tornado um hábito das empresas
daquele país (BNDES, 2000, p.7).
No Brasil, em 1997, as então deputadas federais Marta Suplicy, Maria da
Conceição Tavares e Sandra Starling apresentaram projeto de lei (ainda em
tramitação) versando acerca da obrigatoriedade de publicação de Balanço
Social para as empresas privadas com mais de 100 funcionários e para todas
as empresas públicas ou prestadores de serviços públicos. Apesar da não
obrigatoriedade, parte das grandes e médias empresas situadas no Brasil
publicam balanço social periodicamente, de maneira estratégica, que este
motiva funcionários, traz ganhos de imagem, atrai investidores e contribui para
a valorização de suas ações negociadas em bolsas de valores. (BNDES, 2000,
p.7
-
8)
A sociedade organizada, que tão importante foi na consolidação de
posturas socialmente responsáveis das empresas, tem ratificado esta postura
em alguns momentos através de suas escolhas na
hora do consumo. Casos de
protestos e boicotes a produtos são cada vez mais comuns. Um dos mais
conhecidos e emblemáticos é o caso da Nike, fabricante de materiais
esportivos que foi denunciada por organizações internacionais de defesa dos
direitos humanos por utilizar mão-
de
-obra infantil nas suas fábricas na Ásia,
bem como de manter trabalhadores em regime de trabalho semi-escravo no
mesmo continente. Por conta do boicote dos consumidores aos seus produtos
a empresa chegou a acumular US$ 1,4 bilhão de produtos em estoque e teve
que vender mais barato para poder escoar sua produção; além de demitir
funcionários da alta gerência. (TORRES, 2002, p.138)
Outro indicador importante da consolidação da idéia de uma
responsabilidade social empresarial foi a crescente valorização das ações das
empresas socialmente responsáveis nas principais bolsas de valores. A Dow
Jones, uma das maiores bolsas de negociação de ações do mundo, criou, em
1999, índice de avaliação de ações baseado na sustentabilidade das
organizações, abrangendo suas ações sociais. Tal índice apresenta, na média,
valorização superior aos outros criados pela mesma bolsa. (MACEDO, 2000,
p.45
-
46)
Segundo SOARES, G. (2006),
existem investidores que consideram que a prática da
responsabilidade social é uma forte evidência da sua provável
perpetuação, pois esta prática melhora a imagem da empresa
perante seus consumidores e a mantém à frente de seus
concorrentes na adaptação a regulamentações cada vez mais
restritivas a atividades ambientalmente degradantes ou socialmente
indesejáveis, fazendo com que a empresa que controla
satisfatoriamente estes riscos, tenha maiores possibilidades de se
perenizar, correspondendo a um investimento menos arriscado no
longo prazo. (SOARES, G., 2006, p.48)
Embora não seja unânime entre acadêmicos e empresários, a idéia de
uma responsabilidade social das empresas está consolidada nestes meios, se
tornando recorrente enquanto prática.
2.2 Responsabilidade Social das Empresas: delineando um conceito
O conceito de Responsabilidade Social melhor se delineia com o
entendimento das idéias de filantropia corporativa e ética empresarial. A
filantropia corporativa se refere basicamente a ações voluntárias e doações
realizadas pelos executivos das empresas, não representando uma política
institucionalizada de ação social da organização. Para o Instituto Ethos,
a filantropia é basicamente uma ação social externa da empresa,
que tem como beneficiário principal a comunidade em suas diversas
formas (conselhos comunitários, organizações não-
governamentais,
associações comunitárias, etc.) e
organizações. (ETHOS, 2007)
Já a ética corporativa refere
-
se aos meios utilizados pela organização no
decorrer de suas atividades, os caminhos escolhidos para realizar seus fins e
as conseqüências dessas escolhas (SOARES, B., 2005, p.78). Assim, a ética
nos negócios está ligada ao relacionamento da empresa com seus
funcionários, fornecedores, parceiros, meio ambiente, consumidores e outros
grupos de uma forma transparente, correta, honesta e justa. Respeitar as leis,
não agredir o meio ambiente, remunerar de forma justa seus funcionários, não
produzir bens que possam causar algum dano aos seus consumidores;
independentemente de prescrições legais, são ações relacionadas à ética
corporativa.
Pode
-se encarar a ética corporativa ainda em termos de escolha por
uma racionalidade substantiva em lugar à instrumental. A racionalidade
instrumental assemelha-se à lógica de que os fins justificam os meios, a busca
por objetivos e finalidade é suprema quanto aos caminhos percorridos para
tanto, é a lógica da eficiência. a racionalidade substantiva guia o agente de
forma a atentar para todo o caminho, e não o fim. (RAMOS, 1989). Esta é a
idéia da ética nos negócios.
A adoção de posturas éticas pelas organizações não parece mais do
que a obrigações destas, em se tratando de respeito ao meio ambiente, às
pessoas e outras organizações. Contudo, a posição em favor da ética nos
negócios não é unanimidade no meio empresarial, onde muitos gestores
acreditam ser
a empresa um ente desprovido de moral, à parte do todo em que
se insere, e, assim, desprovido de consciência ou questionamentos éticos. A
ética é uma questão de caráter da pessoa, não se estendendo à empresa.
(NASH, 2001)
De toda forma, a ética nos negócios não representa um compromisso
com a transformação social ou com outros objetivos que não o lucro, mas é um
primeiro passo para a compreensão de um outro papel da empresa, diferente
da idéia de um ser desarticulado do todo social. Se o lucro aqui ainda não é
meio para promoção do bem-estar social (e não apenas dos acionistas), não
é visto como único elemento relevante no mundo empresarial (SOLOMON,
1997).
Esta parece ser a idéia de uma Responsabilidade Social das Empresas.
O termo responsabilidade, segundo o dicionário Houaiss (2005), é definido
como: “1 obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros; 2 caráter
ou estado do que é responsável”. (HOUAISS, 2005)
Daí é possível apreender a idéia de responsabilidade social como a
tomada para si da responsabilidade, das obrigações, compromisso para com o
social. Contudo, no meio acadêmico, a conceituação do termo não é tão
simples, nem tampouco una. Votaw (1973 apud MACEDO, 2000, p.49-
50),
afirma que:
o termo responsabilidade social é um termo brilhante. Ele significa
algo, mas nem sempre a mesma coisa, para todos. Para alguns, ele
representa a idéia de responsabilidade ou obrigação legal; para
outros, significa um comportamento responsável no sentido ético;
para outros ainda, o significado transmitido é o de responsável por,
num modo casual. Muitos simplesmente comparam-no a uma
contribuição caridosa; outros tomam-no pelo sentido de socialmente
consciente; muitos daqueles que o defendem mais fervorosamente
vêem
-no como um simples sinônimo de legitimidade (...); uns poucos
vêem
-no como uma espécie de dever fiduciário, impondo aos
administradores de empresa padrões mais altos de comportamento
que aqueles impostos aos cidadãos em geral. (VOTAW, 1973 apud
MACEDO, 2000, p.49
-
50).
Assim, faz-se necessária a apreciação de conceitos diversos de
autores/pesquisas do campo para apresentação das dimensões que dão
unidade ao conceito e refletem sua essência.
Para MACEDO (2000), o termo responsabilidade social é sinônimo de
cidadania empresarial, que define:
a prática da cidadania empresarial é reforçada quando a empresa se
engaja na luta pela criação de uma sociedade melhor, em busca de
uma distribuição de renda mais justa e de uma melhor qualidade de
vida para todos, tornando os processos empresariais coerentes com
os princípios de justiça e desenvolvimento sustentável. (MACEDO,
2000, p.47
-
48)
E ressalta que a cidadania da empresa só se completa quando se
completa a cidadania dos indivíduos. O mesmo autor afirma que
A responsabilidade social fundamenta-se num novo tipo de relação
entre os fatores de produção capital e trabalho, trazendo consigo
uma nova concepção do papel social a ser representado pela
empresa e a oportunidade para humanização da economia
(MACEDO, 2000, p.47
-
48).
Melo Neto e Fróes (2001) encaram a Responsabilidade Social em
termos de ações orientadas para a comunidade como uma decisão gerencial
estratégica da organização. Os autores citam a filantropia (decisão individual
do empresário, empenhando seu tempo e seus recursos) como origem d
essas
ações, que assumem novas características com a conscientização empresarial.
A responsabilidade social seria então um novo estágio destas ações
filantrópicas, caracterizado pelo desenvolvimento de programas e projetos
voltados para uma postura ética da organização nas suas relações com
clientes, fornecedores, funcionários, governos; bem como para a promoção dos
direitos dos cidadãos. Nas palavras dos autores:
a Responsabilidade Social busca estimular o desenvolvimento do
cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva. Sua ética social
é centrada no dever cívico (...). As ações de responsabilidade Social
são extensivas a todos os que participam da vida em sociedade
indivíduos, governo, empresas, grupos sociais, movimentos sociais,
igreja, partidos políticos e outras instituições. (MELO NETO e
FROES, 2001, p.26
-
27).
SOARES, G. (2006), acrescenta mais um nível ao esquema de MELO
NETO e FROES (2001), que considera representar mais fielmente a idéia de
Responsabilidade Social: o do compromisso social enquanto decisão
empresarial. Segundo ele,
nesse nível, o objetivo principal das organizações combinaria a
busca do lucro com um grau diferenciado de priorização do interesse
social, como resultado de uma maior regulação, pressão da
sociedade civil e uma maior conscientização dos próprios acionistas.
(SOARES, G. 2006, p.45)
O Instituto Ethos também segue a tendência da Responsabilidade Social
enquanto compromisso social, ao encará-la além dos programas e projetos
sociais, mas como uma forma de gestão, voltada para a consecução de metas
relacionadas com a justiça social e a sustentabilidade sócio
-
ambiental:
responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se
define pela relação ética e transparente da empresa com todos os
públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de
metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável
da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a
redução das desigual
dades sociais. (ETHOS, 2007)
Ainda nesse sentido, Jaramillo e Angel (1996, apud ASHLEY, 2002, p.7)
definem: “responsabilidade social pode ser também o compromisso que a
empresa tem com o desenvolvimento, bem-estar e melhoramento da qualidade
de vida dos
empregados, suas família e comunidade em geral.”.
Definição parecida é trazida pelo Banco Mundial, que afirma;
RSE é o compromisso empresarial de contribuir para o
desenvolvimento econômico sustentável, trabalhando em conjunto
com os empregados, suas famílias, a comunidade local e a
sociedade em geral para melhorar sua qualidade de vida, de maneira
que sejam boas tanto para as empresas como para o
desenvolvimento (BANCO MUNDIAL, 2002).
Para ASLHEY (2002, p.6), “a responsabilidade social leva, no âmbito
interno da empresa, à constituição de uma cidadania organizacional e, no
âmbito externo, à implementação de direitos sociais”.
A autora sugere ainda duas linhas na conceituação do termo: a ética e a
instrumental. A primeira deriva de princípios religiosos e normas sociais
vigentes, implicando que a empresa, como membro do todo social, comporte-
se de acordo com estes valores e normas, “de maneira socialmente
responsável por ser a ação moralmente correta, mesmo que envolva despesas
improdutivas para a companhia” (ASHLEY, 2002). a linha instrumental
considera a relação positiva entre investimento social e desempenho financeiro
da empresa como motivação principal para as práticas de responsabilidade
Social Empresarial.
BNDES (2000), apresenta visão tendendo
à linha instrumental ao afirmar
que,
o exercício da responsabilidade social corporativa está associado à
noção de sustentabilidade, que visa conciliar as esferas econômica,
ambiental e social na geração de um cenário compatível à
continuidade e à expansão das atividades das empresas, no
presente e no futuro. (BNDES, 2000, p.4)
Assim também sugere BORGER (2001), apresentando a
responsabilidade social como uma estratégia baseada nos anseios da
sociedade para garantir a sobrevivência da empresa. MOLLICONI
(2003)
sugere que
o que se propõe é que as empresas atuem com Responsabilidade
Social (...), com fim nos lucros futuros, sem comprometer em muito
os lucros presentes, de uma forma compromissada, ética e humana,
de modo a garantir a sustentabilidade da sociedade onde está
inserida (MOLLICONI, 2003, p.46).
Kreitlon (2004) sugere três abordagens para o conceito de
Responsabilidade Social Empresarial, a saber;
Ética ou normativa: a empresa não é vista com um ente
despersonalizado, mas como provida de valores e princípios morais,
assim como os indivíduos. Por isso, a empresa deve agir de forma
correta, com base nos princípios éticos, assumindo o que a autora
chama de responsabilidade moral.
Social ou contratual: a empresa e a sociedade são vistas como
interdepe
ndentes na tentativa de equalizar suas demandas e recursos.
Com isso, ambas assumem uma espécie de contrato social, em que
estipulam o que desejam, o que podem oferecer e o que esperam da
outra parte. Ações de Responsabilidade Social das empresas são
compr
eendidas neste âmbito como demanda social em contrapartida
pelo uso de seus recursos humanos e naturais pelas empresas para
consecução de suas atividades.
Gerencial ou estratégica: esta abordagem sugere o desenvolvimento de
práticas e ferramentas de gestão social para otimizar as ações
necessárias para o cumprimento do contrato social trazido pela
abordagem contratual. As ações de responsabilidade social são
encaradas como estratégias de relacionamento com os
stakeholders
em
geral, devendo então ser o mais eficientes possível para reverter seus
custos em benefícios para as empresas, sejam lucros, melhora de
imagem, vantagem competitiva, novas oportunidades.
As três abordagens propostas por Kreitlon (2004) não são excludentes, mas
complementares para a compreensão e análise do conceito e práticas de
responsabilidade social empresarial. A abordagem ética ou normativa se
confunde com a idéia de ética empresarial apresentada nesta seção, sendo
considerada, na perspectiva deste trabalho, a base da responsabilidade social,
as primeiras ações no sentido da promoção do bem-estar geral, mas
representando a postura de agir com correção nas suas atividades uma
obrigação da empresa, assim como é dos indivíduos.
Ackerman e Bauer (1976 apud DUARTE e DIAS, 1986), apresentam três
fases do comprometimento das empresas com ações de Responsabilidade
Social:
1
Fase Política: representa o despertar da consciência da alta gerência para
o tema. Contribuições da empresa se resumem a eventuais apoios a atividades
sociais desenvol
vidas pelos executivos;
2
Fase Técnica: a empresa define-se pela ação social, com temas prioritários
e programas e projetos regulares;
3
Fase de Institucionalização: a empresa assume um compromisso de
atuação socialmente responsável, incluindo o tema no seu planejamento, bem
como cria na sua estrutura órgãos exclusivamente responsáveis pelas ações
de responsabilidade social, com recursos humanos e financeiros alocados para
este fim.
Estas fases propostas por Ackerman e Bauer coincidem com a própria
evo
lução histórica da idéia de responsabilidade social das empresas,
caminhando da filantropia ao compromisso social.
Os modelos analíticos de RSE trazidos neste trabalho são sete, e foram
escolhidos por se prestarem a refletir sobre este fenômeno, indo além de
análises sobre sua operacionalidade e gestão (avaliação de programas e
projetos, impactos sociais, mensuração de ganhos de imagem e retorno
financeiro, etc.); perpassando pelas motivações das organizações, a ideologia
relacionada ao fenômeno, o papel da empresa no sistema social e outros
determinantes de sua atuação socialmente responsável ou não.
Os modelos em questão são o de Sethi (1975), Carroll (1979), Wood
(1991), Quazi e O’Brien (2000), Curado (2003), Melo Neto e Froes (2001) e o
esquema crítico
capitaneado pelas idéias de Jones (1996).
São estes os modelos que serão utilizados para a análise das ações de
Responsabilidade Social das Empresas declaradas na pesquisa do Instituto
Akatu.
2.3 Modelos de análise da responsabilidade Social Empresarial
(RSE)
É usual encontrar na produção bibliográfica acerca de RSE esforços de
autores para sugerir ferramentas de gestão da Responsabilidade Social
Empresarial, no tocante ao planejamento, condução, exploração mercadológica
e avaliação das ações. Mesmo na
produção científica grande parte dos estudos
ainda está associada à avaliação das ações empresariais e seus impactos.
Contudo, alguns trabalhos concentram esforços no sentido de refletir
acerca do discurso da RSE. Tais trabalhos dispensam especial atenção para
suas motivações e implicações, não somente para a firma e seus stakeholders,
mas para o modelo sócio-econômico vigente (em termos de relações de poder,
sociedade civil, e do próprio papel da corporação na sociedade) ganharam
notoriedade no meio acadêmico pelo impacto trazido para a análise do
fenômeno da Responsabilidade Social Empresarial. É a partir da revisão dos
modelos teóricos de alguns destes autores que se dará a análise das práticas
de RSE proposta neste trabalho.
2.3.1 O Modelo de Sethi
Sethi (1975) é um dos primeiros autores a propor um modelo teórico-
conceitual consistente para análise do fenômeno da Responsabilidade Social
Empresarial. Para ele, o desenho de um quadro analítico da RSE deveria
contemplar duas propriedades:
- estabilidade na classificação das atividades corporativas, para que, mesmo
com as mudanças que as ações sofram, as categorias propostas possam ainda
dar conta de sua natureza, possibilitando uma comparação histórica entre
estas categorias;
- significados estáveis, de forma que as categorias contemplem a natureza das
ações mesmo em diferentes tipos de empresas, contextos culturais e sistemas
sociais, possibilitando análises comparativas entre modelos econômicos e
setores industriais.
Nas considerações que precedem a proposta do modelo, Sethi (1975)
afirma que o comportamento social das corporações é culturalmente e
temporalmente determinado. Em suas palavras, a specific action is more or
less socially responsible only within the framework of time, environment, and
the
nature of the parties involved” (Sethi, 1975, p.59). Como exemplo, ele cita a
diferenciação no tratamento dispensado pelas firmas japonesas aos seus
funcionários no Japão ou em filiais em outros países. Frisa que, embora o
tratamento dispensado aos trabalhadores nas suas fábricas fora do Japão seja
menos ‘favorável’ do que nas fábricas japonesas, estas empresas não são
consideradas socialmente irresponsáveis nos países em questão, por estarem
atendendo às suas demandas sócio-culturais, no tocante às relações de
trabalho (Sethi, 1975).
Na visão do autor, a empresa, como todas as instituições sociais, é uma
parte da sociedade, e dela depende sua existência, continuidade e
crescimento. Assim, devem estar sempre atentas quanto ao uso de recursos,
suas atividades, resultados produzidos e a distribuição destes entre a
sociedade em busca de uma legitimidade para que sua existência continue a
ser aceita e corroborada pelo todo social.
Para ele,
letimization involves not only the type of corporate activities, but al
so
the process of internal decision making: the perception of external
environment; the manipulation of external environment physical,
social, and political
to make it more receptive to corporate activities;
and the nature of accountability to other social institutions in the
system
” (Sethi, 1975, p.60)
Percebe
-se então que para Sethi o fenômeno da Responsabilidade
Social Empresarial se refere a um comportamento das corporações no sentido
de legitimar suas atividades dentro de um sistema socioeconômico qualquer
que as envolva, garantir uma não-repulsa à sua lógica de operação e suas
atividades. Pode-se interpretar então que para Sethi (1975) a RSE se refere,
num campo ideológico, à idéia de legitimação, e não de transformação.
O autor classifica em três os possíveis comportamentos empresariais
nessa busca pela legitimação:
A
obrigação social, quando a empresa apenas cumpre prescrições legais,
seja por pressões mercadológicas ou imposições do Poder Público.
Contudo, embora indispensável, esta dimensão não é suficiente para
garantir a sobrevivência da empresa: the corporations that flouts them will
not survive. However, the mere satisfaction of these criteria does not insure
the continued existence of a corporation
” (Sethi, 1975, p.62);
A
responsabilidad
e social, caracterizada pela adoção de posturas que
não choquem com os valores morais da comunidade, evitando prejuízos
financeiros e de imagem. Aqui, a empresa adere a práticas filantrópicas,
mas procura manter-se distante de posicionamentos, evitando
con
trovérsias.
While the concept of social obligation is proscriptive in
nature, the concept of social responsibility is prescriptive in nature(Sethi,
1975, p.62);
A
responsividade social, quando a empresa adota comportamento
proativo frente a questões sóc
io
-ambientais, integrando estas dimensões ao
seu planejamento com mesmo destaque da dimensão econômica,
privilegiando posições favoráveis à sustentabilidade empresarial e social e
atuando nas áreas relacionadas e/ou impactadas pelas atividades da
empresa.
While the social responsibility relates activities are prescriptive in
nature, activities related to social responsiveness are anticipatory and
preventive in nature” (Sethi, 1975, p.64).
Para Sethi, o comportamento empresarial próximo da responsividade so
cial
evita que outras forças, insatisfeitas com as atitudes corporativas, unam seu
poder para contestar o imenso poder da corporação de decidir sobre o uso de
recursos, relevância da produção de determinados bens ou serviços em
detrimento de outros e distribuição de riquezas; colocando em risco assim a
sobrevivência da corporação e do próprio modo de produção em que se insere.
2.3.2 O modelo de Carroll
Carroll (1979) traz um esforço para definição da Responsabilidade Social
das corporações a partir da categorização das dimensões trazidas por outros
autores. O modelo proposto se traduz na tentativa de sintetizar estes aspectos
levantados por outros pesquisadores em macro-dimensões representativas do
comportamento da empresa na busca do cumprimento da RSE.
As contribuições categorizadas por Carroll (1979) são representadas no
Quadro 1 abaixo:
VISÃO DE RSE
AUTOR
Geração de lucro apenas
Friedman
Ir além da geração de lucro
Davis, Backman
Ir além das exigências econômicas e
legais
McGuire
Atividades volun
tárias
Manne
Aspectos legais, econômicos e
atividades voluntárias
Steiner
Círculos concêntricos de dimensões
diversas
CED, Davis e Blomstrom
Preocupação com uma expansão e
controle do sistema social
Eells e Walton
Responsabilidade com algumas
questões
sociais problemáticas
Hay, Gray e Gates
Comprometimento com a
responsividade social
Ackerman e Bauer, Sethi
Quadro 1
-
Lista de visões de RSE x Autores
Fonte: Adaptado de Carroll (1979)
Com base nos aspectos levantados, Carroll sugere então que as
respo
nsabilidades sociais das empresas podem ser categorizadas em quatro
grupos: responsabilidades econômicas, legais, éticas e discricionárias
.
Estas dimensões não se excluem, mas, do contrário, juntas completam aquelas
que o autor julga serem as responsabilidades da empresa para com a
sociedade, as responsabilidades sociais empresariais (Carroll, 1979).
Para Carroll, as
responsabilidades econômicas
são as primordiais, por
serem a razão da existência das corporações. Produzir bens e serviços, gerar
riqueza e empregos são a principal responsabilidade da empresa para com a
sociedade. Do caminho percorrido para atingir esses objetivos, decorrem as
outras responsabilidades.
As
responsabilidades legais estão baseadas no que Carroll chama de
contrato social entre empresa e sociedade; ou seja, para que aquela possa
existir, utilizar-se de recursos e realizar suas atividades, deve seguir
determinadas normas consensuadas na sociedade.
As
responsabilidades éticas se referem às normas sociais impostas
pelo comportamento cultural e opinião pública não necessariamente
convertidas em lei, até mesmo pelas diferentes dinâmicas do processo formal
de mudanças legislativas x mudanças sociais.
Por fim, as responsabilidades discricionárias são aquelas não
claramente demandadas pela sociedade, representando um engajamento
voluntário da organização com a resolução de problemas sociais. O autor
chega a afirmar que esta não é propriamente uma responsabilidade da
empresa, mas que dado o papel ocupado na sociedade e o poder concentrado
pelas corporações esta dimensão deve ser considerada. Carroll deixa assim
em aberto o debate acerca do papel e das funções da empresa no sistema
social em que se insere.
Carroll (1979) inclui ainda a questão temporal em sua análise, ao afirmar
que the social responsibility of business encompasses the economic, legal,
ethical and discretionary expectations that society has of organizations at a
given point of time
” (Carroll, 1979, p.500).
Shermerhorn (1999) aplica a proposta de Carroll (1979) ao planejamen
to
empresarial, apresentando uma tipificação de estratégias relacionadas aos
quatro grupos de responsabilidades sociais das empresas propostos por Carroll
(1979). Ele sugere quatro tipos de estratégia:
Pro ativa, quando a organização assume iniciativas sociais abrangendo
tanto a responsabilidade econômica quanto a legal, ética e discricionária;
Acomodativ
a, quando a organização, além das preocupações econômicas
e legais se dispõe a fazer o mínimo exigido pela ética, evitando assim
sanções mercadológicas;
De
fensiva
, faz-se o mínimo exigido em lei, evitando assim sanções
regulatórias;
Obstrucionista, quando a organização atende apenas as
responsabilidades econômicas e combate às demandas sociais para que
estas não atrapalhem o negócio.
Assim, Shermerhorn (1999) valida o modelo de Carroll (1979) ao
demonstrar sua aplicabilidade tanto para a interpretação como para nortear as
ações corporativas.
2.3.3 O modelo de Wood
Wood (1991) propõe um modelo analítico de RSE a partir de três
dimensões: princípios, processos e resultados. Segundo a autora, tais
dimensões permitem uma análise completa do fenômeno, por se referir tanto
às suas motivações quanto às questões gerenciais e impactos das ações
(Wood, 1991).
Com relação ao debate do papel da empresa no sistema social em que
se insere, logo de suas responsabilidades para com ele, Wood (1991) avança
menos que Sethi (1975) e Carroll (1979). A autora cita Eberstadt (1977):
“at the
present, business has seldom enjoyed so much power with so little
responsibility
(Eberstadt, 1977 apud Wood, 1991). Wood (1991) afirma que
Responsabilidade Social traz consigo a idéia de que a empresa, para além de
seus objetivos econômicos, tem a obrigação de trabalhar para a melhoria
social, não apresentando, contudo, seus fundamentos teóricos ou ideológicos
para tal firmação.
Os princípios da RSE propostos por Wood (1991) podem ser observados
em três níveis: institucional (relativo a todo o mundo dos negócios),
organizacional (referindo-se a determinadas organizações
individualmente) e individual (relacionado com os gestores tomadores de
decisão)
.
Nas palavras da autora,
[there are] expectations placed on all business because of their roles
as economic institutions, expectations placed on particular firms
because of the way they are and what they do, and expectations
placed on managers (and others) as moral actors within the firm.
(Wood, 1991, p.695)
Os princípios se referem aos valores que motivam os atores destes
níveis a agir de forma socialmente responsável. O Quadro 2 abaixo ilustra o
s
princípios de RSE propostos por Wood (1991).
PRINCÍPIO
FOCO
INSTITUCIONAL
Legitimidade
Obrigações,
expectativas e possíveis
sanções
ORGANIZACIONAL
Responsabilidade
Pública
Relações ambientais de
responsabilidade sobre
seus
outcomes
INDIVIDUAL
Discri
cionariedade
Gerencial
Escolhas, possibilidades
e responsabilidade
individual
Quadro 2
-
Princípios de RSE
Fonte: Adaptado de Wood (1991)
os processos das empresas na adoção de uma RSE podem ser
categorizados em avaliação ambiental, gestão dos
stakeh
olders
e gestão
das questões sociais
.
O processo de avaliação ambiental se refere à escolha da firma por
estudar o ambiente externo, suas demandadas e pressões, para que possa
respondê
-las ou mesmo modifica-las. A gestão de
stakeholders
se refere
ao mapeamento das relações da empresa com seus diversos grupos de
interesses e escolha da melhor forma de relacionamento com cada um deles.
Por fim, a gestão das questões sociais está associada à identificação e
estudo destas para desenvolvimento de respostas adequadas por parte da
corporação.
Como
outcomes
, Wood (1991) percebe os impactos sociais e
programas e políticas de RSE; vistos como ações propostas enquanto
respostas às questões identificadas nos processos de RSE.
Percebe
-se que os processos propostos por Wood (e seus
outcomes
,
enquanto conseqüências destes) estão intimamente ligados aos princípios e
motivações que propõe, pela busca de legitimidade por parte das corporações
enquanto instituições, da adaptação pelas organizações ao procurar responder
às
demandas mapeadas, e a criação de uma cultura de escolhas éticas com a
consideração de interesses diversos aos da organização no processo
decisório.
2.3.4 O modelo de Quazi e O’Brien
Os autores Quazi e O’Brien (2000) propõem um modelo bidimensional
par
a o entendimento do fenômeno da Responsabilidade Social Empresarial.
Num plano do esquema, os autores percebem a RSE enquanto variante das
duas visões ideológicas mais fortes acerca do papel da empresa na sociedade:
ofertar bens e serviços, criar empregos e gerar riqueza, trazendo assim bem-
estar; engajar-se na solução dos problemas sociais e promoção ativa de uma
sociedade melhor, como qualquer outra parte integrante da sociedade (Quazi e
O’Brien, 2000).
A outra dimensão se refere à relação custo x benefício da adoção de
uma responsabilidade social por parte das empresas, também apresentando
duas grandes correntes como extremos: a de que a empresa deve assumir as
responsabilidades sociais independentemente de uma relação positiva entre
investimento finance
iro x retorno financeiro e de imagem; e a de que a empresa
deve pautar sua decisão acerca de RSE nesta relação (Quazi e O’Brien, 2000).
Pelo cruzamento destas duas dimensões, Quazi e O’Brien (2000),
chegam a dois tipos de responsabilidade social das corporações, situados nos
quadrantes extremos: a responsabilidade ampla e a
responsabilidade
estreita
.
O esquema proposto pelos autores é claramente visualizado na Figura 1
abaixo. Cada quadrante apresenta uma possibilidade de análise de RSE
através do cruzamen
to dos extremos das duas dimensões propostas:
A
visão clássica, segundo a qual a única responsabilidade da empresa é
gerar lucros, e que as ações de RSE só devem ser tomadas se seus custos
puderem ser traduzidos em retorno financeiro considerável para a
co
rporação;
A
visão sócio-econômica, segundo a qual a empresa pode desempenhar
os dois papéis, assumindo que a empresa tem uma responsabilidade mais
ampla para com a sociedade, e que o investimento em ações nesse sentido
traz benefícios para a empresa, ainda que não de ordem financeira e numa
perspectiva imediata;
A
visão moderna, para a qual a adoção da responsabilidade social
empresarial significa a manutenção de uma boa relação com o tecido social,
o que traz vantagens para a organização tanto no curto quanto no longo
prazo. Tal visão se aproxima da idéia de gestão dos
stakeholders
proposta
por Wood;
A
visão filantrópica
, segundo a qual a empresa deve comprometer-
se com
a solução de questões sociais independentemente da relação custo x
benefício, por ser este o comportamento correto das partes integrantes da
sociedade, como a corporação.
Quazi e O’Brien, (2000) apresentam valiosa contribuição para o
entendimento do fenômeno da Responsabilidade Social Empresarial,
englobando a dimensão da visão de mundo, a ideologia por trás de possíveis
ações de RSE de forma determinante e clara.
No tocante aos autores anteriormente apresentados, nota-se que o modelo
de Quazi e O’Brien (2000) se aproxima em alguns aspectos do de Wood
(1991), podendo se traçar um paralelo entre a visão moderna e a gestão dos
stakeholders
.
Benefícios das
ações de RSE
Figura 1
-
Modelo analítico de Quazi e O’Brien
Fonte: Adaptado de Quazi e O’Brien (2000)
Ainda, pode-se perceber uma relação entre a visão sócio-
econômica
e a
ava
liação ambiental; mas sem deixar de notar o avanço do esquema de Quazi
e O’Brien (2000) em relação aos autores anteriores, seja em termos de clareza
ou de pertinência na categorização das dimensões.
2.3.5 O modelo de Curado
A autora brasileira Isabela Curado (2003) inova ao trazer três correntes
de percepção da empresa na sociedade, com base em contribuição de
Guimarães (1984). Segundo ela, as responsabilidades sociais das corporações
podem ser:
1. Produzir bens e serviços e gerar riqueza;
Visão Filantrópica
Visão Moderna
Visão sócio
-
econômica
Visão Clá
ssica
Custos das ações
de RSE
Respon
-
sabi
-
lidade
Ampla
Responsa
-
bilidade
Estreita
2. Gerar também um benefício social, através da distribuição da riqueza pelo
uso dos recursos coletivos (baseada numa visão marxista);
3. Retornar para a sociedade que a sustenta alguma parte dos lucros obtidos,
sem assumir uma forte função redistributiva.
A partir destas abordagens, Curado (2003) sugere um esquema de RSE
enquadrando
-a como uma atitude entre os extremos da
Responsabilidade
Legal
(onde a empresa apenas cumpre as leis, não assumindo
responsabilidade outra que não a geração de lucro); e o Compromisso Social
(onde a empresa se compromete ideologicamente com a distribuição dos seus
resultados e a transformação social).
Com base neste modelo analítico, a empresa pode assim assumir a RSE de
três formas:
como imagem, como negócio e como cidadania
.
Enquanto
image
m, o foco da RSE é o público externo, e a preocupação
do gestor é com o Marketing Social. “O marketing para causas sociais pode ser
definido como uma ferramenta estratégica de marketing e posicionamento, que
associa uma empresa (ou marca) a uma questão ou
causa social relevante, em
benefício mútuo (Curado, 2003, p.10)”. Ou seja: a Responsabilidade Social
Empresarial seria uma chave para gestão da imagem da corporação.
Enquanto
negócio
, a RSE foca tanto o público interno quanto o externo,
e a preocupação do gestor é transformar a atuação social em fonte de
vantagem competitiva, seja pelo ganho de imagem ou de motivação/inovação
entre os funcionários. Esta vertente preocupa-se então com a gestão dos
stakeholders
da corporação, com intuito de obter facilidades
para o negócio.
Finalmente, enquanto
cidadania
, a RSE foca a sociedade em geral, e a
preocupação do gestor é com o desenvolvimento de atividades que tragam
lucros para a empresa e desenvolvimento social.
Neste caso, a atuação envolve uma nova postura empresarial, onde
a empresa investe recursos financeiros, tecnológico, humanos,
conhecimentos, etc., em projetos de interesse público, visando
melhorar a sociedade como um todo (Curado, 2000, p.11).
O esquema proposto por Curado (2003) é melhor visualizado na Figura
2 abaixo:
Figura 2
-
Modelo de síntese da atuação social das empresas
Fonte: Curado (2003)
Contudo, a idéia de RSE enquanto cidadania não se confunde com o
conceito de compromisso social, que engloba o sentido de parceria entre
empresa e sociedade para a transformação desta com base em princípios de
cooperação e coletividade substituindo os de competição e individualismo.
Curado (2003) traz significativa contribuição para a análise da
Responsabilidade Social Empresarial ao perceber RSE como meio termo,
como adequação às pressões sociais (indo além da responsabilidade legal)
sem um comprometimento ideológico da base do capitalismo (busca única pela
acumulação do capital).
2.3.6 O modelo de melo Neto e Fróes
Melo Neto e Froes (2001) também incorporam uma inovação ao seu
modelo de análise da Responsabilidade Social Empresarial ao focar sua
análise somente na dimensão das responsabilidades da empresa para com
seus públicos internos e externos. A relação com o público interno, tratada com
pouco destaque nos modelos anteriores, é crucial na análise proposta pelos
autores.
Contudo, os autores não pautam a discussão acerca do papel da
corporação na sociedade, e, as funções e responsabilidades derivadas desse
papel, baseando sua análise puramente no conceito de RSE enquanto decisão
gerencial para um relacionamento ético com os seus
stakeholders
. Assim,
ignoram as motivações da organização (comprometimento, busca por
legitimidade, etc.) e os impactos da idéia de uma Responsabilidade Social
Empresarial no
sistema produtivo.
A partir do cruzamento das dimensões público interno x externo, Melo
Neto e Froes (2001) derivam os possíveis comportamentos das empresas
quanto à RSE. Os quadrantes referem
-
se ao exposto na Figura 3 seguinte.
No
quadrante 1 encontram-se empresas com baixo grau de RSE; não
atentando para o atendimento das demandas sociais, nem para o bem
-
estar de
seus funcionários. Pode-se inferir que neste grau a empresa ainda não assume
suas responsabilidades sociais, limitando-se a seguir normatizações legais e
evitar sanções.
No
quadrante 2 encontram-se as empresas que apresentam baixo grau
de comprometimento com o bem-estar do público interno, evidenciando
ausência de interesse para com o desenvolvimento social e cidadão. Nesta
categoria a RSE é vista como necessária para que a corporação atinja suas
finalidades lucrativas, assim, ações de responsabilidade social são planejadas
de forma a dar visibilidade à organização, consolidar posicionamento junto a
determinado público e obter retorno financeiro
a partir dessas ações.
No
quadrante 3 estão as empresas que realmente demonstram
consciência cidadã, que além de atuar de forma ética junto ao seu público
externo, também dispensa este tratamento ao seu blico interno, concedendo
benefícios que aumentam
o bem
-
estar de funcionários e dependentes.
Pela análise dos autores não é possível afirmar que empresas inseridas
no quadrante 3 percebam a RSE enquanto compromisso social. Mas, pode-
se
dizer que assumem a idéia de que a empresa, enquanto membro da
socied
ade, deve se comportar de acordo com os princípios e valores morais
comuns ao tecido social em que se insere como a ética, a transparência e a
justiça.
No
quadrante 4 estão as organizações em estágio inicial de atenção
para com a responsabilidade social empresarial, preocupando-se primeiro em
estabelecer relações transparentes e éticas com seus funcionários para então
expandir este padrão de relacionamento para seus outros públicos.
Figura 3
-
Modelo analítico de Melo Neto
e Froes
Fonte: Melo Neto e Froes (2001)
2.3.7 Os esquemas críticos
Jones (1996) traz uma grande contribuição para a análise do fenômeno
da Responsabilidade Social das Empresas ao incorporar fundamentos teóricos
marxistas para uma apreciação crítica da própria possibilidade da existência de
uma responsabilidade empresarial para com as questões sociais.
Para Jones (1996) as externalidades negativas geradas pela natureza
do sistema capitalista (concentração de riqueza, desigualdade de
oportunidades, alienação do trabalho) trazem para o sistema a necessidade de
QUADRANTE 2
Alto grau de RSE externa e
baixo grau de RSE interna
QUADRANTE 1
Baixo grau de RSE
externa e baixo grau de
RSE interna
QUADRANTE 3
Alto grau de RSE externa e
alto grau de RSE interna
QUADRANTE 4
Baixo grau de RSE externa e
alto grau d
e RSE interna
Grau de RSE
externa
Grau de
RSE interna
‘convencer’ a sociedade de que as corporações são necessárias para ela, que
têm uma funcionalidade indispensável, e que por isso aquela (a sociedade)
deve contribuir para a continuidade e crescimento das empresas. Ou seja:
através de estratégias diversas, as corporações buscam legitimidade para suas
ações e sua existência perante a sociedade. A RSE, segundo o autor, pode ser
vista como uma destas estratégias de legitimidade, como um
Band
-Aid over
d
eep capitalist scars
” (Jones, 1996, p.8).
Assim, Jones (1996) centra sua análise na relação do fenômeno da
Responsabilidade Social Empresarial com o escopo de economia política do
sistema capitalista. Para ele, os princípios citados por Wood (1991) não se
referem apenas a princípios de RSE, mas de toda ação da firma capitalista. A
legitimidade corresponderia ao princípio da economia política capitalista (nível
institucional). A responsabilidade pública ao princípio da organização
burocrática capitalista (nível organizacional) e a discricionariedade gerencial ao
princípio de uma moral, ou consciência capitalista (nível individual) (Jones,
1996, p.9).
O autor foca o entendimento da legitimidade como fundamental para a
percepção do fenômeno da RSE. Segundo ele, a legitimação é fator crucial
para as corporações atuantes em sistemas democráticos, onde as pessoas
devem participar das decisões que a afetam. Contudo, este princípio parece
ser contraditório, que, ao mesmo tempo em que a corporação precisa se
legi
timar, a distorção entre seu poderio econômico e o poder de cada cidadão,
a habilita como determinante na decisão das questões determinantes para a
vida do cidadão (mercado de trabalho, de produtos, e até mesmo,
indiretamente, taxas de câmbio, níveis de poluição, dentre outros). A questão
da legitimidade assume então uma outra face, não a de conseguir aceitação da
sociedade para existência e continuidade das organizações, mas para sua
crescente (e determinante) concentração de poder. (Jones, 1996).
Jones (1996) propõe a reflexão que, antes de tentativas de
categorização e sistematização de possíveis responsabilidade sociais das
empresas, deve-se pensar o poder ideológico do discurso da RSE; que boa
parte da produção literária atribui à RSE uma atitude de mudança de postura
por parte das corporações, enquanto esta se apresenta justo como estratégia
de continuidade e legitimação de sua lógica funcionalista e utilitarista.
O fenômeno da RSE seria então um dos fatores de manutenção da
possibilidade de reprodução das existentes instituições e relações sociais
capitalistas (Jones, 1996, p.21). Por isso, para o autor, o discurso da
Responsabilidade Social Empresarial, para ser entendido na sua essência,
deve ser analisado sob as dimensões ideológica e materia
l.
Use of the phrase ‘social responsibility discourse’ thus signifies both
the ideological core of the social responsibility concept (including its
principles and outcomes) and the material sites in which this concept
is produced, disseminates, and practi
ced.
(Jones, 1996, p.24)
Como exemplo de dimensão material da RSE, Jones (1996) cita as
escolas de Administração, where the discourse is produced as well as
disseminated through teaching, researching, and consulting activities(Jones,
1996, p.25).
Ven
tura (2003) também propõe uma análise da RSE a partir de sua
correlação com a estrutura do sistema capitalista de forma mais enfática; já que
“as ações de RSE não têm conseqüências somente para a própria empresa ou
para seus beneficiários diretos, mas para a sociedade como um todo, pois
podem influir na distribuição de poder político na própria sociedade”
(VENTURA, 2003, p.3).
Com base em obra de Boltanski e Chiapello (1999), a autora argumenta
que o capitalismo precisa de um ‘espírito’ que torne possível o engajamento
das pessoas na produção e desenvolvimento dos negócios sem o uso da força,
o que corresponde, em parte, ao conceito de legitimidade trabalhado pelos
autores aqui visitados.
Contudo, críticas ao sistema continuam a existir, levando a uma
cons
tante transformação deste espírito. Assim, as críticas às externalidades
negativas do modo de produção capitalista levam o sistema a procurar um
novo espírito do capitalismo, que a simples geração de empregos e riquezas
já não garante o engajamento da s
ociedade para com ele.
“O espírito, então, é a ideologia que justifica o compromisso com o
capitalismo” (VENTURA, 2003, p.9). Assim, a RSE é vista nessa leitura como
resultado de uma crítica às externalidades negativas do sistema, como
ideologia que desmantela tal crítica ao colocar a firma enquanto, para além de
provedora de empregos, bens e serviços, promotora do bem-estar social
(Ventura, 2003).
Após considerar as questões de legitimidade, distribuição do poder e
democracia e a lógica do sistema capitalista (maximização da acumulação de
capital), Jones (1996) conclui que no sistema capitalista não é possível a
existência de uma Responsabilidade Social Empresarial enquanto forma de
gestão orientada para objetivos econômicos e sociais.
Para ele, o que pode haver são benefícios sociais promovidos pelas
corporações tanto como forma de aumentar seus lucros como de legitimação
social.
Em suas palavras: in any organization, particulary a for-profit one, all
resource allocation decisions must be justified in terms of some kind of positive
return to the organizations
” (Jones, 1996, p.28).
A partir desta análise, que fundamenta o seu posicionamento, Jones
(1996) divide em duas correntes os esforços analíticos de uma possível RSE
feitos até então: a ética e a instrumental. As correntes pospostas por Jones
(1996) servem de inspiração para a construção de um conceito de RSE feita
por Ashley (2002), já citada neste capítulo.
Para Jones (1996), a corrente instrumental se baseia na idéia de que a
empresa só deve assumir responsabilidades sociais se estas puderem ser
traduzidas em retorno para a corporação; ou seja, se contribuem para o seu
objetivo de maximização dos lucros. Esta visão se afina com a do próprio autor,
que descarta a possibilidade de adoção de atividades pelas corporações com
finalidade diferente do acúmulo de capital. The instrumentalist position is base
don the notion that acting in a socially responsible manner accrues benefits to
the firm as well as the society
” (Jones, 1996, p.28).
Jones afirma ai
nda que:
In many cases, it simply makes good economic sense for large
corporations to spend money on socially responsible activities
because it represents a good investment. These activities are
essentially high-profile public relations advertisements that the
organization uses to differentiate itself from its competitors and
preempt government regulations (Jones, 1996, p.29)
.
Ou seja, investimentos em RSE, na visão instrumental, só são realizados
na medida em que se apresentam enquanto bons negócios, pelo retorno
financeiro e por questões mercadológicas.
Miyashita e Azeredo (2006) também visualizam os esquemas analíticos
da RSE sob estas duas visões. Segundo os autores, as ações de RSE de
cunho instrumental,
levam a benefícios sociais de curto prazo e alcance limitado, com
efeitos temporários (somente durante a aplicação dos investimentos)
e benefícios econômicos indiretos devido ao acesso a fontes de
financiamento diferenciados, melhoria de imagem junto a agências
classificadoras de risco e de sustentabilidade (Miyashita e Azeredo,
2006, p.2).
Ou seja, as ações realizadas sob uma orientação instrumental tendem a
levar em consideração prioritariamente (quando não somente) a visibilidade
que o investimento pode trazer para a corporação, deixando para seg
undo
plano impactos e melhorias sociais. Ou seja, o compromisso com a
transformação social aqui é nulo. Kanitz (2006, apud Miyashita e Azeredo,
2006) afirma que “a maioria das empresas ao primeiro sinal de recessão corta
30% da propaganda, 50% do treinamento e 90% dos projetos sociais.
Justamente quando os problemas sociais tendem a aumentar” (Kanitz, 2006,
apud Miyashita e Azeredo, 2006, p.2).
A figura 4 abaixo ilustra as motivações e conseqüências das ações de
RSE sob a ótica instrumental na visão de Miy
ashita e Azeredo (2006).
Figura 4
-
Motivações e conseqüências das ações de Responsabilidade Social com
enfoque instrumental
Fonte: Miyashita e Azeredo (2006)
a corrente ética defende que a empresa, por usar recursos de
propriedade coletiva, deve distribuir de forma mais justa e transparente seus
resultados com a sociedade. Assim, investimentos, ainda que sem retorno ou
improdutivos, devem ser realizados no desenvolvimento social, não por
trazerem benefícios para a empresa, mas porque esta é a ação correta (Jones,
1996).
A abordagem ética inclui ainda uma mudança de racionalidade das
organizações, equalizando sua orientação para a consecução de finalidades
com a atenção para os meios empregados para tal.
A idéia não é que a RSE enquanto atitude ética não possa contribuir
para o aumento do valor de mercado da corporação, mas que este não seja a
motivação de suas ações. Para Jones (1996) esta distinção traz importantes
conseqüências materiais, como, por exemplo, acerca dos critérios para
investimentos
sociais adotados pelas organizações, o grau de participação das
comunidades na formulação das políticas sociais advindas das corporações.
Nas palavras de Miyashita e Azeredo (2006), “o enfoque ético de
responsabilidade social tem como elemento principal a atitude do gestor frente
a decisões que envolvem um impacto sobre as pessoas com quem a empresa
se relaciona”. Ou seja: pensar a administração da firma com base nos
interesses e necessidades de todos que dela sofrem impactos, não somente
com base nos inte
resses da firma. Tal idéia se expressa na figura 5 abaixo.
Figura 5
-
Motivações e conseqüências das ações de Responsabilidade Social com
enfoque ético
Fonte: Miyashita e Azeredo (2006)
Para ambas as correntes, a essência da RSE seria a de um fenômeno
de regulação da relação mercado x sociedade.
Mesmo os autores aqui apresentados podem ter seus modelos re-
classificados, com manutenção de sua essência, entre as correntes ética e
instrumental. No esquema de Melo Neto e Froes (2001), por exemplo,
podemos
identificar os quadrantes 3 e 4 numa abordagem ética da RSE, por
quanto o quadrante 2 caracteriza uma abordagem instrumental. Neste exemplo
as implicações materiais da distinção analítica de uma RSE ética ou
instrumental ficam claras. A empresa situada no quadrante 2 do esquema de
Melo Neto e Froes (2001) aceita a responsabilidade social da empresa
somente por questões utilitaristas, tanto que, as ações menos perceptíveis pelo
mercado consumidor (logo, menos impactantes nas finanças organizacionais)
são des
prezadas.
No esquema de Curado (2003), podemos interpretar a Responsabilidade
Legal e o Compromisso Social como extremos de uma abordagem instrumental
e ética, respectivamente, das responsabilidades da empresa para com a
sociedade. A implementação de ações de RSE apenas como forma de evitar
sanções e obter vantagens, característica da corrente instrumental, se
apresenta nas noções de RSE como imagem e como negócio no esquema de
Curado (2003). a RSE apresenta enquanto cidadania se enquadra na
abordagem ética, por considerar que a empresa deve agir de forma
comprometida com o desenvolvimento social por ser esta a obrigação de cada
parte dentro do todo social.
As quatro visões trazidas por Quazi e O’Brien (2000) também podem ser
interpretadas como 2 extremos das abordagens ética e instrumental (as visões
filantrópica e clássica, respectivamente); e duas dimensões mais mescladas, a
sócio
-
econômica e a moderna.
A sistematização de Jones (1996) das correntes de RSE (instrumental e
ética); pode ser interpretada considerando que o fenômeno da RSE visto sob
uma ótica instrumental implica na idéia de que a única responsabilidade que a
empresa assume com a sociedade é aquela ligada à consecução de objetivos
econômicos, o que não exclui a possibilidade de ações soci
ais por parte destas
organizações. Ou seja; um real comprometimento da organização para com o
social só se torna possível numa abordagem ética.
São estes modelos apresentados que servirão de tela para a análise das
práticas de Responsabilidade Social Empresarial das empresas pesquisadas;
bem como de base para uma reflexão acerca da pertinência de adequação
desta literatura às práticas empresariais.
3 CONSIDERAÇÕES METODOLÓGICAS
O presente trabalho versa sobre o tema da Responsabilidade Social das
Empresas, numa perspectiva crítica de análise do fenômeno para além de suas
questões operacionais. A idéia que o guia é a de uma reflexão conceitual sobre
a RSE: motivações; possibilidades e limites do comprometimento da empresa
com o bem-estar social; o papel assumido pela firma na sociedade; o discurso
que justifica a adoção de uma responsabilidade social empresarial; os critérios
para ações de RSE; enfim, variáveis que determinam a forma que tomam os
programas de responsabilidade social empresaria
l.
A reflexão proposta se dá em três etapas:
1.
Estudo dos modelos conceituais de análise da responsabilidade social
empresarial.
Boa parte do trabalho concentra-se na revisão de literatura acerca do
surgimento da idéia de uma responsabilidade social empresarial, o discurso
que justifica sua adoção, o conceito trazido por entidades e estudos ligados
ao tema e, principalmente, no resgate de modelos analíticos das ações de
responsabilidade social empresarial.
A reflexão teórica com base nos modelos mostra-se fundamental na
busca pela apreensão do sentido do surgimento, difusão e manutenção das
práticas de responsabilidade social tais como se configuram.
A escolha por tais modelos justifica-se pelo propósito do trabalho de
refletir sobre o perfil das práticas de
RSE e não sobre as questões ligadas à
gestão destas práticas, como elaboração de projetos, avaliação,
contribuição para a imagem da organização ou outros benefícios, por
exemplo.
2.
Análise dos dados empíricos
Os dados empíricos analisados consistem no resul
tado de uma pesquisa
realizada pelo Instituto Akatu em parceria com o Instituto Ethos no ano de
2004. A pesquisa buscou caracterizar as ações de responsabilidade social
das empresas pesquisadas, bem como conhecer o grau de enraizamento
de uma cultura de RS
E dentre estas mesmas empresas.
Como subproduto a pesquisa traz também dados sobre as ações que as
empresas não discutem enquanto ação de responsabilidade social
empresarial, ou seja, aquelas que não consideram como do âmbito de suas
atividades.
Embora não tenha sido realizada com os mesmos objetivos deste
trabalho no tocante a uma apreensão conceitual da responsabilidade social
das empresas tal como é praticada, a pesquisa do Instituto Akatu (2004)
traz dados e elementos substanciais para o alcance dos objetivos deste
trabalho: ações praticadas pelas empresas, grupos mais afetados por estas,
ações não discutidas pelas empresas, grupos excluídos de suas ações de
RSE mesmo nas empresas mais avançadas em termos de ações
implantadas, dentre outros.
A partir desta base empírica, a reflexão feita neste trabalho parte em
dois sentidos:
- fazer inferências sobre a lógica que guia as ações das empresas nas
práticas de RSE: motivações, objetivos, público-alvo, áreas de atuação,
possíveis contradições na adoção de pro
gramas e valores e;
- analisar a pertinência dos modelos teórico-conceituais de
responsabilidade social das empresas para análise desta realidade prática,
percebendo sua capacidade de refletir e explicar as ações da empresa em
RSE.
Assim, o trabalho não se caracteriza pela produção de dados para
conhecimento ou mapeamento de algum fenômeno, mas por uma reflexão
teórica, com o embasamento de dados empíricos, acerca de um fenômeno
com vistas a contribuir para uma análise menos operacional e mais
conceitual de
ste.
3.
Analise da relação entre os modelos analíticos estudados e os dados
empíricos
Para alcance dos objetivos deste trabalho, faz-se necessário o confronto
entre os modelos de análise trazidos pela revisão de literatura e a análise
dos dados empíricos oriu
ndos da pesquisa do Instituto Akatu.
O principal objetivo desta etapa é conhecer a aderência dos modelos de
análise propostos à realidade das práticas de responsabilidade social das
empresas pesquisadas. Para tanto, busca
-
se refletir sobre questões como:
- as categorizações propostas pelos autores como descritivas do
fenômeno da responsabilidade social das empresas são adequadas para
refletir as práticas das empresas pesquisadas?
- os pressupostos ideológicos sugeridos pelos autores para motivação
de desenvolvimento de ações de RSE (comprometimento social, retorno
para a sociedade, busca por legitimidade, etc.) parecem se confirmar?
- as dimensões de análise propostas para análise do fenômeno parecem
válidas?
- as variáveis dadas como determinantes/condicionantes da expressão
da responsabilidade social das empresas assim aparecem nas práticas das
empresas pesquisadas?
Enfim, busca-se refletir acerca da pertinência dos modelos teórico-
conceituais visitados enquanto modelos de análise de um fenômeno.
A análise dos dados nesse sentido centra-se bastante não somente nas
práticas declaradas pelas empresas como de responsabilidade social
empresarial, mas também nos temas que as empresas declararam não
discutir enquanto foco de ações de sua responsabilidade social.
Os temas elencados como focos de desenvolvimento de ações de
responsabilidade social podem indicar motivações para a adoção de
práticas de RSE, os públicos prioritários e o que se busca com essas ações,
por exemplo. Além disso, sugerem o que a empresa e seus gestores
encaram como a responsabilidade social demandada por consumidores e
outros grupos, bem como o grau de compromisso que as organizações
estão dispostas a assumir com algumas temáticas.
os temas declarados como não sendo focos das ações de
respo
nsabilidade social das empresas revelam possíveis contradições na
postura das empresas com relação a um mesmo tema, ou mesmo com a
idéia da adoção de uma responsabilidade social. Estes dados indicam ainda
que a empresa não se sente responsável por determinadas ações, o que
pode excluir de imediato algumas análises e categorizações de RSE no
tocante às práticas das empresas pesquisadas.
Importante observar que a pesquisa empírica da qual se utiliza este
trabalho não é uma pesquisa censitária, mas amostral. Dessa forma, não
foram pesquisadas todas as empresas brasileiras, mas uma amostra deste
universo. A caracterização da amostra (explicitada no capítulo referente à
análise dos dados) no tocante aos números de pequenas, médias e
grandes empresas pesquisadas; bem como sua distribuição por setor de
atuação e localização geográfica,, apresenta uma boa visão das práticas e
do entendimento das empresas no que se refere à responsabilidade social
empresarial, embora não permitam generalizar os resultados apresentados
para o universo das empresas brasileiras.
Dessa forma, as conclusões alcançadas pelo desenvolvimento deste
trabalho podem ser consideradas como analíticas desta abrangência: as
práticas e entendimento de RSE das empresas pesquisadas.
Ainda sobre o desenvolvimento metodológico do trabalho, algumas
adaptações devem ser feitas no direcionamento da pesquisa em função da
natureza dos dados disponíveis. Embora a pesquisa do Instituto Akatu
(2004) forneça os dados substanciais para o desenvolvimento da análise
pr
oposta, os objetivos da mesma diferem dos deste trabalho, logo, a
pesquisa não é direcionada para as questões aqui propostas. Algumas
análises poderiam ser mais aprofundadas, através de questionamentos que
buscassem, por exemplo, contradições ou diferenciações de tratamento de
temáticas materialmente iguais, mas com diferentes impactos
mercadológicos; custos embutidos ou diminuídos em decorrência das ações
de RSE; grau de envolvimento dos públicos-alvos das ações nas decisões
relacionadas a elas. Contudo, a ausência destes aspectos não compromete
a análise dos modelos conceituais, em especial pela existência das
informações acerca das ações rejeitadas enquanto foco de RSE,
possibilitando inferências acerca dos aspectos citados.
Por ser um trabalho eminentemente reflexivo e baseado em
observações e inferências, as conclusões e análises realizadas devem estar
sempre muito bem justificadas para tornarem-se válidas. Longe de buscar
uma neutralidade científica” e assumindo a interferência de determinada
visão de mundo no debate proposto, o cuidado em evitar afirmações pouco
embasadas e por demais intuitivas perpassa o desenvolvimento deste
trabalho.
4.
ANÁLISE DOS DADOS
Conforme os objetivos deste trabalho, a análise dos dados trazidos pela
pesq
uisa do Instituto Akatu acerca das práticas de RSE das empresas
brasileiras busca possibilitar fazer inferências sobre as relações entre os
modelos teórico-conceituais de Responsabilidade Social Empresarial e a
prática das empresas pesquisadas.
Para tanto, a análise dos dados da pesquisa será feita em quatro
etapas: análise do perfil das empresas pesquisadas; da caracterização geral
das ações de RSE das empresas pesquisadas; análise comparativa com a
análise realizada pelo Instituto Akatu e análise destas práticas à luz dos
esquemas elencados no capítulo anterior deste trabalho.
A base de dados utilizada é uma pesquisa realizada em 2004 pelo
Instituto Akatu, com apoio do Instituto Ethos. O Instituto Akatu (Instituto Akatu
pelo Consumo Consciente) é uma organização sem fins lucrativos, cujo
embrião ” surgiu no ano 2000, a partir do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, a partir da percepção de seus dirigentes de que as
empresas só se engajariam de forma mais consistente e durado
ura em práticas
de Responsabilidade Social (RSE) quando estas fossem valorizadas pelo
consumidor na hora de decidir a sua compra. (AKATU, 2008)
A missão do Instituto é “conscientizar e mobilizar o cidadão brasileiro
para seu papel protagonista, enquanto consumidor, na construção da
sustentabilidade da vida no planeta.” (AKATU, 2008) Para tanto, o Akatu
desenvolve ações em 6 eixos: site e centro de referência, empresas
disseminadoras, publicidade, meio de comunicação, comunidades em geral e
Instituições Ed
ucacionais. (AKATU, 2008)
Dentro deste trabalho, foi concebida a pesquisa aqui utilizada, realizada
com o objetivo de conhecer a percepção das empresas brasileiras acerca da
responsabilidade social empresarial, bem como suas ações nesse sentido.
A pesquisa foi realizada através da aplicação de questionários, por
telefone, com 630 empresas, de pequeno, médio e grande portes de todas as
regiões do Brasil. A amostra, delineada com apoio do SEBRAE (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), contemplou ainda os
diversos setores produtivos, de forma a caracterizar o universo das empresas
brasileiras. Os questionários foram preenchidos por funcionários do setor
responsável pelas ações de RSE, quando existente; ou por funcionários da alta
gerência.
A proporção do porte das empresas pesquisadas na amostra foi de
110 grandes empresas (17%); 199, médias (32%) e 321, pequenas (51%). As
grandes empresas pesquisadas foram escolhidas de uma lista elaborada pelo
Jornal valor Econômico com as 1000 maiores empresas por setor e ramo de
atividade. A amostra escolhida buscou as melhores posicionadas em cada
ramo.
as 520 pequenas e médias empresas escolhidas em conjunto com o
SEBRAE estão distribuídas conforme a figuras 6 em termos de setor de
atuação:
Figura
6
Distribuição da amostra de pequenas e médias empresas pesquisadas, por
setor de atuação
Fonte: Akatu (2004)
De forma sintética, a pergunta que guiou a pesquisa foi: o quanto a
cultura da responsabilidade social ganhou corpo na prática efetiva das
emp
resas e em que medida se pode utilizar uma avaliação sistêmica destas
ações para orientar empresas e consumidores?
(Instituto Akatu, 2004).
O questionário, elaborado em consonância com esta questão, elencou
71 ações ligadas ao tema da responsabilidade social. Destas, 16 seriam
aplicadas somente com as grandes empresas, e 55 com todas. São estas 55
que servem de base para os dados analisados nesta seção. As 71 ações que
integram o questionário são fruto de algumas experiências e pesquisas
anteriores do Instituto Akatu, e de informações oriundas dos indicadores Ethos
de Responsabilidade Social Empresarial.
A distribuição geográfica das pequenas e médias empresas pesquisadas
seguiu o exposto na Figura 7 abaixo. As grandes empresas, conforme já
explicitado, foram escolhidas por critérios de relevância no setor de atuação e
na economia nacional, independente de segmentação geográfica.
Figura 7
Distribuição da amostra de pequenas e médias empresas pesquisadas, por
localização geográfica
Fonte: Akatu (2004)
Ainda, as 71 ações indicadas no questionário foram baseadas nas sete
áreas de atuação levantadas pelo Instituto Ethos na construção de seus
indicadores, a saber: Público Interno, Fornecedores, Consumidores/Clientes,
Meio Ambiente, Comunidade, Valores/Transparência e Governo/Política. A
análise que se segue neste capítulo levou em consideração essas áreas, pela
pertinência na categorização dos grupos de interesse/atuação relacionados às
ações da empresa.
Para cada ação listada no questionário, sete respostas eram possíveis:
“nunca discutimos este tema na empresa”; “a empresa chegou a discutir o
assunto, mas não chegou a nenhuma conclusão”; “a empresa debateu o
assunto no passado e decidiu não realizar nenhuma ação”; “este tema está
sendo discutido neste momento pela empresa”; “este tema foi discutido pela
empresa e pretendemos implementar ações”; ”estamos em processo de
implementação de projetos nesta área”; “já temos ações implementadas e
consolidadas nesta área”.
As opções de resposta foram pensadas de forma a refletir a importância
dada ao tema pela empresa, a prioridade que a empresa julga ter o tema no
âmbito de suas atividades.
Um dos objetivos da pesquisa era mapear as ações que estavam sendo
desenvolvidas pelas empresas sob a alcunha da responsabilidade social, que
culmina com os objetivos desta análise. Segunda a publicação, “deveria ter
uma abrangência suficiente para realmente mapear a diversidade de ações em
curso, independente da localização geográfica, do ramo de atividade e do porte
das empresas” (AKATU, 2004, p.15). A pesquisa inclusive traz resultados
relacionando o desenvolvimento das ações de RSE e o tamanho das
empresas, setor de atuação, dentre outros, que, por conta dos objetivos desta
análise, não foram considerados neste trab
alho.
4.1 Ações de Responsabilidade Social das Empresas
As preocupações e o comprometimento das organizações pesquisadas
com uma responsabilidade social podem ser traduzidos nos dados através de
duas variáveis: os temas que são foco das empresas e aqueles pelas quais
elas não demonstram interesse. Os primeiros foram identificados na pesquisa
através da resposta se existem ações consolidadas/em desenvolvimento neste
sentido; já os segundos, através da resposta se os assuntos nunca foram
discutidos pela org
anização.
Os temas apresentados como foco das empresas, com a respectiva
porcentagem de respondentes com ações consolidadas/em desenvolvimento
estão apresentados no Quadro 3 a seguir:
Ações pesquisadas %
Rotinas para garantir o fornecimento de notas fisca
is
62
Sistema de relacionamento com os clientes no ponto de
venda
53
Adoção de critérios de compra com garantia de procedência
lícita
42
Estímulo à participação de funcionários em
congressos/eventos
41
Programas de racionalização e otimização do uso de energia
38
Adoção de critérios específicos para uso de informações
sobre clientes
38
Orientação aos consumidores para uso correto de seus
produtos
38
Adoção de novas tecnologias visando benefício ao
consumidor ou meio ambiente
36
Canais de relacioname
nto com sindicatos de trabalhadores
33
Facilitação de trocas no caso de produtos com defeitos
33
Extensão de benefícios às famílias dos funcionários
31
Programas de racionalização e otimização do uso da água
31
Adoção de mecanismos para ouvir sugestões
/reclamações
de
stakeholders
29
Adoção de práticas anticorrupção e propinas nos processos
de vendas
29
Programas de aperfeiçoamento dos recursos humanos da
empresa
28
Código de ética escrito e divulgado
27
Quadro 3
-
Ações tidas como foco de responsabi
lidade social pelas empresas
Fonte: Adaptado de Akatu (2004)
Nota-se que a maioria das ações empreendidas (sete) foca o
relacionamento com clientes, a saber: rotinas para garantir o fornecimento de
notas fiscais, sistema de relacionamento com clientes nos pontos de venda,
adoção de critérios específicos para uso de informações sobre clientes,
orientação aos consumidores para uso correto de seus produtos, adoção de
novas tecnologias visando benefício ao consumidor ou meio ambiente,
facilitação
de trocas no caso de produtos com defeitos e adoção de praticas
anticorrupção e propinas nos processos de vendas.
Algumas destas ações estão ligadas a imposições ou resguardo de
possíveis sanções legais, como a garantia de fornecimento de notas fiscais, a
adoção de critérios para uso das informações sobre clientes e orientação para
uso correto dos produtos, que danos causados pelo mau uso podem
comprometer a empresa em termos legais e de imagem.
Além disso, o item “adoção de novas tecnologias visando benefício ao
consumidor ou meio ambiente” pode não estar associado diretamente ao bem-
estar do consumidor, mas ao meio ambiente. E, ainda neste caso, a adoção
dessas novas tecnologias pode não representar responsabilidade ambiental,
ma
s adequação à legislação e redução de custos.
Ainda sobre as ações de relacionamento com consumidores, temos que
a segunda ação mais praticada pelas empresas nesse sentido é a manutenção
de sistemas de relacionamento com os clientes no ponto de venda (53%). A
caracterização desta ação como de responsabilidade social empresarial é
duvidosa, já que tal ação é listada nos manuais de marketing como etapa
primordial da fidelização de cliente, dentro do chamado Marketing de
Relacionamento (KOTLER, 2000); embora também esteja relacionada ao bem-
estar do comprador.
A facilitação de trocas no caso de produtos com defeitos pode ser
interpretada como uma ação de responsabilidade e comprometimento com o
bem
-estar do consumidor, evitando que o mesmo seja lesado por um descuido
da empresa.
Chama atenção o fato de a adoção de práticas anticorrupção no
processo de vendas (29%) ser considerada uma ação de responsabilidade
social, dado que se trata de evitar uma conduta ilegal.
Depois do grupo “consumidores”, as empresas focam suas ações de
RSE quantitativamente no grupo “público interno”, com as quatro ações:
estímulo à participação de funcionários em congressos/eventos, canais de
relacionamento com sindicatos de trabalhadores, extensão de benefícios às
famílias dos funcionários, programas de aperfeiçoamento dos recursos
humanos da empresa.
Destas ações, apenas duas parecem estar intimamente relacionadas ao
aumento de produtividade/qualidade do trabalho (participação em
congressos/eventos
41% - e programas de aperfeiçoamento de pessoal
28%). As outras duas ações podem ser interpretadas como um compromisso
com o bem-estar dos funcionários, embora a extensão de benefícios possa
estar indiretamente ligada ao aumen
to da produtividade.
A análise do incentivo á participação em congressos/eventos seria mais
completa se fossem conhecidos os critérios para participação do funcionário
nestes eventos (escolha do tema, compensação de carga horária, etc.), o que
poderia indicar comprometimento com o desenvolvimento pessoal e
profissional do funcionário (aliado às atividades da empresa) ou puramente a
instrumentalização deste para melhor realização do seu trabalho na
organização.
A manutenção de canal de diálogo com os funcionários demonstra
interesse da empresa na satisfação das demandas destes, saindo do
posicionamento clássico de negociar melhores condições com os
trabalhadores quando estes ameaçam as condições de acumulação. Pode ser
encarada tanto como uma ação preventiva como uma ação de garantia de
bem
-estar no trabalho; abordagens complementares.
Os grupos “valores e transparência” e “meio ambiente” parecem com
duas ações indicadas cada. No primeiro grupo, estão consolidadas as ações:
adoção de mecanismos para ouvir sugestões/reclamações dos
stakeholders
(29%) e código de ética escrito e divulgado (27%). Tais ações podem ser
interpretadas como o início de uma preocupação com a responsabilidade social
da organização, uma vez que ainda não são ações direcionadas a algum
compromisso, mas afirmação de princípios e busca por relacionamento com
outros grupos de interesse.
no grupo “meio ambiente” as ações de RSE consolidadas são:
programas de racionalização e otimização do uso de energia (38%) e do uso
da água (31%). Tais ações, embora significativas para a questão ambiental,
não necessariamente se traduzem em responsabilidade ambiental, pois podem
(e na maioria dos casos estão) estar fortemente relacionadas ao
controle/diminuição de custos, ou seja, práticas ligadas à eco-eficiência. Uma
análise mais completa poderia ser feita com o questionamento das fontes de
matéria
-prima, programas de reciclagem, uso de energias renováveis dentre
outros, além de questionamentos acerca dos custos de investimento e
oportunidades destas iniciativas. Contudo, este não foi o foco da pesquisa em
questão.
O grupo “fornecedores” teve apenas uma ação relacionada consolidada:
a adoção de critérios de compras com garantia de procedência lícita (42%), o
que também pode ser questionado enquanto compromisso social, que se
trata do não-envolvimento com atividades ilícitas, ilegais. De toda forma, pode-
se interpretar que o funcionamento de acordo com a lei seja um sinal de
responsabilidade e respeito para com a sociedade.
13%
43%
6%
13%
25%
Valores e
Transparência
Consumidores
Fornecedores
Meio Ambiente
Público Interno
Figura 8
-
Ações desenv
olvidas por grupo
Fonte: elaboração própria
Não foram citadas ações de RSE relacionadas aos grupos “comunidade”
e “governo/política”. Tais grupos parecem representar aqueles menos
diretamente ligados aos interesses da empresa, e mais diretamente ligados ao
s
interesses sociais. Assim, as ações de RSE desenvolvidas pelas empresas
concentram-se em seus públicos e grupos de interesse relacionados, não
desenvolvendo ações pra além do seu âmbito de interesse, como
comprometimento com educação infantil, inclusão digital, ou outras causas de
interesse social mais abrangente.
Os temas apresentados como não sendo foco das empresas, com a
respectiva porcentagem de respondentes que nunca discutiram tais assuntos
são apresentados no Quadro 4 a seguir :
Ação pesquisada
%
Critérios para apoiar campanhas eleitorais
81
Programas para busca de contratação de ex
-
presidiários
79
Punição a funcionários envolvidos em corrupção
79
Critérios para o uso de subsídios governamentais
79
Adoção de programas de proteção a áreas
ambie
ntalmente prioritárias
73
Uso de incentivos fiscais para atividades
culturais/esportivas
73
Combate à utilização de trabalho infantil por fornecedores
72
Participação em projetos sociais governamentais
71
Implantação de sistemas de comunicação com
com
unidade do entorno
67
Seleção de fornecedores considerando critérios de
responsabilidade social
66
Projetos visando a promoção dos direitos humanos
66
Normas e processos para combater situações de assédio
sexual
65
Política formal contra propaganda não ética
(preconceituosa/sexista)
64
Certificação SA 8000 ou outras certificações de RH
63
Promoção da diversidade étnica, sexual e religiosa dentro
da empresa
64
Plano de gerenciamento ambiental
64
Programas de prevenção e tratamento para dependência
de
drogas/álcool
63
Aperfeiçoamento de embalagens (para benefício do
consumidor ou meio ambiente)
63
Busca de fornecedores na comunidade local
60
Quadro 4
-
Ações não tidas como foco de responsabilidade social pelas empresas
Fonte: Adaptado de Akatu (200
4)
Dentre os temas que não são foco de ações de RSE pelas empresas
pesquisadas destacam-se os relacionados aos grupos “governo/política” e
“púbico interno”.
No tocante ao grupo “governo/política” chama atenção a não adoção de
ações de punição para funcionários envolvidos com corrupção (79%), que,
conforme a quadro anterior, as empresas preocupam-se em evitar práticas de
corrupção e propina dos processos de venda (29%); bem como adotam
códigos de ética (27%). Tal contradição parece indicar um não compro
misso
com a questão, mas adoção de ações nesse sentido ligadas aos públicos
externos para preservação/melhora de imagem.
A não preocupação com o uso de incentivos fiscais para atividades
culturais/esportivas (73%) e a não adoção de critérios para uso de s
ubsídios
governamentais (79%) podem ser mais uma vez interpretados como ausência
de compromisso com um retorno a sociedade, um não compromisso com
questões concernentes ao todo social. As ações de RSE desenvolvidas pelas
empresas pesquisadas, na concepção destas, não perpassam por
compromisso com investimentos e desenvolvimento de programas sociais ou
atuação por uma prática política honesta.
As ações não tidas como prioritárias no tocante ao grupo “público
interno” estão diretamente ligadas ao bem-estar do funcionário, como o
tratamento contra dependência de drogas/álcool (63%), prevenção de assédio
sexual (65%) e promoção da diversidade (64%). Em análise conjunta com o
Quadro 3, percebe-se que no tocante ao público interno as empresas
equilibram suas ações entre aumento da produtividade e bem-estar do
funcionário.
O grupo fornecedores” aparece com três temas tidos como não
prioritários para ações de RSE pelas empresas pesquisadas: combate à
utilização de trabalho infantil por fornecedores (72%), seleção de fornecedores
considerando critérios de responsabilidade social (66%) e busca de
fornecedores na comunidade local (60%).
A não preocupação com adoção de RSE por parte dos fornecedores
pode ser interpretada também como uma não preocupação das empresas
quan
to ao compromisso com essas ações ao longo da cadeia produtiva,
preocupando
-se apenas em ser (ou parecer) uma organização socialmente
responsável. Assim, admite-se que práticas duvidosas continuem a existir na
sociedade (inclusive alimentando-as na sua cadeia produtiva), deste que estas
não estejam diretamente ligadas à organização.
Assim, as ações menos prioritárias em termos de RSE para as
empresas pesquisadas são aquelas relacionadas aos grupos menos ligados
aos seus interesses e/ou menos visíveis ao seu público principal,
“consumidores”.
Chama atenção o fato de a grande maioria das empresas não terem
nunca discutido preservação de áreas de proteção e ambientalmente
prioritárias (73%) ou desenvolverem planos de gerenciamento ambiental (64%).
Tais dados indicam um não compromisso com a responsabilidade ambiental.
Analisando estes dados em conjunto com os do Quadro 3, podemos inferir que
as ditas ações de responsabilidade social empresarial acerca da otimização do
uso de água e energia não indicam responsabilidade ambiental, mas podem
estar ligadas a questões de custos e imagem, e prevenção de sanções legais.
O grupo “consumidores/clientes” foi relacionado a apenas um ação não
discutida pelas empresas, o aperfeiçoamento de embalagens (63%). Contudo,
esta ação pode ser considerada mais ligada ao meio ambiente do que ao
consumidor, o que explicaria a pouca atenção dada ao tema pelas
organizações.
O grupo “comunidade” teve dois temas citados entre os não prioritários:
o desenvolvimento de projetos visando a promoção dos direitos humanos
(66%) e a implantação de sistemas de comunicação com a comunidade do
entorno (67%). Contudo, outros temas listados como não-prioritários estão
diretamente ligados ao grupo comunidade, a saber: utilização de incentivos
fiscais para atividades culturais/esportivas (73%) e a busca de fornecedores na
comunidade local (60%).
O tema dado como nunca discutido relacionado ao grupo “valores e
transparência” é a política formal contra propaganda não ética (64%). De
acordo com o Quadro 3, ações contra propaganda enganosa são foco das
ações de RSE das empresas, contudo, a adoção e divulgação de códigos de
ética escritos ainda não englobam a maioria das empresas, o que pode explicar
que a propaganda não ética ainda não seja foco de ações de R
SE.
O não interesse por temas ligados a investimentos e desenvolvimento de
programas sociais por parte das empresas fica claro neste Quadro 4, segundo
o qual nem mesmo a participação em projetos sociais governamentais é
discutida pelas empresas. Parece que a prática de RSE das empresas
pesquisadas está mais relacionada à forma como conduz seus negócios do
que à interferência em questões sociais ou relacionamento com comunidade e
governo, não assumindo a chamada cidadania empresarial.
5%
5%
16%
11%
26%
11%
26%
Valores e
Transparência
Consumidores
Fornecedores
Meio Ambiente
blico Interno
Comunidade
Governo/Política
Figura 9
-
Ações não
discutidas por grupos
Fonte: elaboração própria
A análise trazida pela publicação da pesquisa do Instituto Akatu
concentra
-se na incorporação da cultura de Responsabilidade Social
Empresarial pelas empresas brasileiras.
Os dados foram analisados para compreensão de relações entre o porte
da empresa e os públicos contemplados pelas ações; quais ações configuram
o início da preocupação das empresas com a RSE; públicos prioritários; por
exemplo. Não confronto entre os dados apresentados nos dois quadros
anteriores, ou busca por possíveis contradições e interpretações que
ultrapassem as informações obtidas com o questionário.
A análise do Instituto Akatu interpreta a preocupação com os clientes
como uma porta de entrada para as empresas na área da responsa
bilidade
social empresarial, que considera “que o é surpreendente dado que grande
parte do sucesso das empresas depende dessa relação”. (AKATU, 2004, p.19)
Tal afirmação se afina com a análise feita neste trabalho, de que o grupo
“consumidores”, por conta de sua influência sobre as atividades da empresa, é
o prioritário nas ações desenvolvidas por esta, inclusive as de responsabilidade
social.
Embora de forma geral não se atenha às contradições identificadas pela
pesquisa, a publicação chama atenção para a não preocupação das empresas
com o combate ao uso de trabalho infantil pelos seus fornecedores ou com a
adoção de critérios de RSE para escolha destes. Na interpretação do Akatu
(2004), isto se deve ao fato de as empresas ainda não terem incorporado de
forma mais profunda o sentido da adoção de práticas de responsabilidade
social.
Esta interpretação se afina com a consolidada neste trabalho, de que a
responsabilidade social das empresas está sendo desenvolvida como forma de
gestão de seus negócios, e não
enquanto compromisso social.
Um dos focos de análise da pesquisa é a diferença de comportamento
entre grandes e pequenas e médias empresas no tocante à responsabilidade
social; com base na qual a pesquisa parece sugerir que à medida que os
volumes de negócios das empresas aumentam (e assim a utilização de
recursos e relacionamento com grupos diversos), aumenta também o grau de
comprometimento destas com a responsabilidade social.
As ações indicadas pelo Quadro 4 como não sendo foco de atuação das
empresas
não sofrem grandes modificações quando a análise foca somente
grandes empresas. A idéia de que as grandes empresas seriam mais
comprometidas encontra suporte apenas nos dados referentes à adoção de
práticas de RSE, mas parece não se confirmar quando se analisa as
responsabilidades que as empresas não tomam como suas. De toda forma, a
análise segmentada por porte não foi contemplada neste trabalho dado o seu
caráter exploratório quanto ao perfil das ações de responsabilidade social
desenvolvidas pelas empre
sas.
Recortes com base em diferentes variáveis (tamanho da empresa, ramo
de atuação, tempo de mercado, dentre outros) podem ser desenvolvidos em
trabalhos futuros, de forma a aprofundar a reflexão acerca das variáveis que
interferem no comportamento socialmente responsável das empresas
pesquisadas e, logo, nos modelos mais apropriados para sua análise.
A análise do Instituto Akatu (2004) traz uma interessante separação das
empresas em níveis de RSE, separados em função da quantidade de ações
desenvolvidas
pela organização. No quarto e mais elevado nível com as
empresas de maior número de ações de RSE implantadas – ainda não é
verificada a adoção de ações voltadas para os blicos “governo” e
“comunidade”, indicando que mesmo as empresas mais engajadas na
responsabilidade social no contexto brasileiro não a relacionam a estes grupos.
Este agrupamento contribui para a interpretação de que um
entendimento das empresas sobre quais responsabilidades sociais adotar, e
que a adoção ou não de algumas ações dependem deste entendimento, e não
necessariamente de um grau de adoção de RSE.
Da separação em níveis decorre ainda uma interessante análise acerca
da incidência de ações direcionadas a cada um dos grupos, dentro de cada um
dos quatro níveis.
Interessante observar que, dentro do nível 4 (segundo categorização da
publicação), o número de ações relacionadas à valores e transparência é 330%
maior do que no nível 1 aquele com o número de empresas com menos
ações de RSE implantadas. Parece ser contraditório que as empresas adotem
ações de responsabilidade social e, somente após a implantação de
considerável número de ações a respeito, desenvolvam ações para
consolidação de valores de conduta; ao invés de ter tais valores como guias
para sua ação socialmente responsável. Uma análise possível é que tais
valores não sejam entendidos pelas empresas como guias, ou subsídios, mas
como mais um
outcome
do processo de adoção da RSE.
Concluindo a análise do perfil das empresas do nível 4, a publicação do
Akatu (2004) traz que “nesse nível as empresas evoluem dos temas mais
‘utilitários’, voltado a público interno e consumidores/clientes, para aqueles
mais conceituais, voltados a valores e transparência” (AKATU, 2004, p.30).
Esta afirmação confirma a idéia implícita na análise de que a não adoção de
ações direcionadas a determinados públicos não se dá, ainda, por conta de um
baixo ‘grau’ de RSE das empresas pesquisadas, uma baixa incorporação da
cultura de responsabilidade social. Por conta do argumentado no parágrafo
ante
rior, o perfil das práticas ligadas a valores e transparência não se
assemelha ao de uma abordagem conceitual do tema.
Contudo, é necessário ressaltar que a pesquisa realizada pelo Instituto
Akatu não se caracteriza como uma pesquisa acadêmica, mas como um
mapeamento de ações. O objetivo maior da pesquisa não perpassa por
categorizações acerca do fenômeno da responsabilidade social empresarial no
Brasil.
Embora algumas premissas possam ser percebidas ao longo da análise
dos dados trazida pela publicação do Akatu (2004), não por trás dela um
modelo analítico conceitual, estando as análises baseadas apenas na
observação das inferências quantitativas trazidas pela tabulação e cruzamento
de dados. Não busca pela compreensão por motivações e ideologia por trás
do fenômeno da RSE, mas pelas formas e práticas através das quais se
manifesta.
4.2 Ações das empresas e os modelos de análise da Responsabilidade
Social Empresarial
A análise dos dados segue para um terceiro momento: análise à luz dos
modelos conceituais de responsabilidade social empresarial visitados neste
trabalho. Os modelos em questão são o de Sethi (1975), Carroll (1979), Wood
(1991), Quazi e O’Brien (2000), Curado (2003), Melo Neto e Froes (2001) e o
esquema crítico capitaneado pelas idéias d
e Jones (1996).
Tal confronto se deve ao objetivo geral da pesquisa que é o de analisar
a relação entre os principais esquemas conceituais de Responsabilidade Social
Empresarial e as práticas das empresas pesquisadas. Assim, os dados trazidos
pela pesquisa do Instituto Akatu (2004) serão analisados em separado com
base em cada um dos modelos estudados, para posterior análise comparativa
e a busca por respostas à pergunta que guia o trabalho.
4.2.1 O modelo de Sethi
Para Sethi, a natureza das ações de RSE é a busca por legitimidade de
suas atividades dentro da estrutura social em que se insere, através de três
comportamentos: a obrigação social, a responsabilidade social e a
responsividade social.
Analisando o Quadro 3 pode-se inferir que o comportamento das
empresas no tocante a RSE se concentra entre a obrigação social e a
responsabilidade social, tendendo mais à segunda categoria.
Das 16 ações de RSE citadas como prioritárias pelas empresas
pesquisadas, 3 (19%) estão diretamente ligadas ao cumprimento de
imposições legais, enquanto 4 (25%), além do bom relacionamento com
consumidores, parecem visar evitar sanções legais decorrentes de danos
relacionados aos bens/serviços produzidos, ou ao meio ambiente.
Percebe
-
se então que no entendimento das empresa
s o cumprimento de
obrigações legais é considerado ações de responsabilidade social, ao contrário
do pensamento de Sethi (1975), para quem o comportamento caracterizado
como de responsabilidade social ultrapassa a obrigação legal; abrigando
práticas filant
rópicas e ações sociais.
Ainda segundo a Quadro 4, apenas 2 (12,5%) das ações de RSE das
empresas estão diretamente ligadas à idéia de responsabilidade trazida por
Sethi (1975). Contudo, uma grande gama de ações, relacionadas a clientes e
público interno, podem ser interpretadas dessa forma, o que restringiria o
conceito de responsabilidade social do autor a ações sociais relacionadas
apenas a este público. Tais ações, embora não revelem um compromisso da
empresa com questões sociais, evidenciam preocupações com bem-estar de
alguns grupos que vão além da obrigação social.
A responsividade social trazida pelo autor não encontra ações listadas
entre as prioritárias para as empresas pesquisadas que desenvolvem ações de
RSE. Do contrário, as ações ligadas ao comprometimento com questões
sociais, engajamento político e desenvolvimento sócio-econômico não são
tidas como foco das ações de RSE das empresas. Os dados trazidos pela
Quadro 4 indicam que planos que não o econômico, ou ligados diretamente a
ele (como ações voltadas para o público interno ou clientes) não fazem parte
do planejamento de ações das empresas pesquisadas.
Observa
-se então que, o disposto como obrigação social para Sethi
(1975) é o que caracteriza o entendimento de ações de responsabilidade s
ocial
das empresas pesquisadas; e que o conceito de responsividade social
desenvolvido pelo autor não encontra representação nas práticas destas
empresas, que, ao contrário, as refutam enquanto temas de sua alçada.
4.2.2 O modelo de Carroll
Para Carroll (1979), as responsabilidades sociais das empresas podem
ser categorizadas em responsabilidades econômicas, legais, éticas e
discricionárias. As responsabilidades econômicas não requerem ações
específicas das empresas, coincidindo com sua existência e o des
envolvimento
de suas atividades.
As ações de responsabilidade social desenvolvidas pelas empresas
pesquisadas parecem abarcar, além das econômicas, o que Carroll (1979)
denomina responsabilidades legais e éticas, entendendo responsabilidades
éticas como aquelas derivadas de pressões mercadológicas e sociais para o
seguimento de determinados valores/padrões.
Nesse sentido, é interessante observar que as responsabilidades éticas
assumidas pelas empresas se resumem ao não envolvimento em situações
eticamente
duvidosas, mas não implica o combate do comportamento antiético.
Por exemplo, enquanto as empresas elaboram código de ética e adotam
critérios específicos para uso de informações sobre clientes; não discutem
punição a funcionários envolvidos com corrupção ou selecionam fornecedores
com base em critérios de responsabilidade social.
Assim, tem-se a impressão de que as responsabilidades éticas são
assumidas na medida da visibilidade da ação, o que reforça a idéia de Carroll
(1979) de que tais ações se referem à imposições mercadológicas e da opinião
pública.
as responsabilidades discricionárias, relacionadas a um engajamento
voluntário das empresas na resolução de problemas sociais, não se refletem
nas práticas das empresas pesquisadas. O compromisso com
as
responsabilidades discricionárias se aproxima do comportamento definido por
Sethi (1975) como de responsividade social, que, como visto, representa as
ações tidas como não prioritárias pelas organizações pesquisadas.
As responsabilidades legais trazidas por Carroll (1979) assemelham-
se
às obrigações sociais categorizadas por Sethi (1975), que parecem prevalecer
entre o que o empresariado brasileiro considera como responsabilidade social
empresarial, qual seja: o estrito cumprimento das normas que a s
ociedade
impõe através de leis para o funcionamento da empresa em seu seio.
Dos quatro tipos de estratégia traçados pro Shermerhorn (1999) com
base na contribuição de Carroll (1979) (pro ativa, acomodativa, defensiva e
obstrucionista), as empresas pesquisadas parecem adotar a acomodativa,
quando além do cumprimento das normas legais se assume o mínimo exigido
pela ética, evitando prejuízos mercadológicos.
As outras opções são descartadas pelas informações trazidas pelas
Quadros 3 e 4, pelas quais se observa que as organizações nem assumem
iniciativas sociais, nem se furtam de toda e qualquer ação além do
cumprimento das leis, ainda que o atendimento a algumas demandas se
para evitar pressões que atrapalhem o negócio.
Tem
-se então que as empresas pesquisadas, através de suas práticas
de RSE, assumem as responsabilidades legais, econômicas e éticas tais como
sugeridas por Carroll (1979). Além disso, as responsabilidades discricionárias,
ou seja, o engajamento voluntário com a melhoria do quadro social e a
resolução de seus problemas, não fazem parte do escopo do foco das
empresas pesquisadas no tocante a RSE, que as mesmas não discutem o
desenvolvimento de ações direcionadas aos públicos cruciais para este
engajamento: Comunidade, Governo/Política e Meio Ambiente (conforme o
Quadro 4).
4.2.3 O modelo de Wood
Wood (1991) sugere a existência de três processos nas empresas que
adotam uma responsabilidade social: a avaliação ambiental, a gestão dos
stakeholders
e a gestão das questões sociais.
A avaliação ambiental se difere da gestão dos
stakeholders
por se
propor não a responder, mas modificar demandas sociais, enquanto o
segundo processo preocupa-se mais com relacionamento com grupos de
interesse. a gestão das questões sociais sugere uma resposta de
adequação da corporação às pressões sociais, mais num sentido de evitar
danos de imagem do que transformar tal ação numa vantagem competitiva, ou
eliminar ameaças, como na avaliação ambiental.
De acordo com os dados do Quadro 3, as empresas parecem adotar o
processo de gestão dos
stakeholders
. Dentre as 16 ações de RSE elencadas
como prioritárias por estas organizações, 11 (68,75%) estão diretamente
ligadas à gestão do relacionamento com
stakeholders
, em especial clientes,
fornecedores e público inter
no/funcionários.
Além disso, ações como otimização do uso de água e energia estão de
alguma forma ligadas à gestão dos
stakeholders
, em especial consumidores,
Poder Público e os acionistas, já que as reduções de custos decorrentes
destas ações contribuem
para o aumento da remuneração do capital.
Observando o Quadro 4, percebe-se que o processo de gestão das
questões sociais, representado pelas ações de engajamento em projetos e
políticas sociais, é refutado pelas empresas como foco de ações de RSE. O
mes
mo acontece com a avaliação ambiental. A partir dos dados do Quadro 4
têm
-se a impressão de que as empresas, além de não se comprometer com
transformações sociais, não vão além das demandas trazidas pelos grupos de
interesse com os quais se relacionam diretamente, e estritamente em função
de suas atividades produtivas.
Dado que os processos de avaliação ambiental e gestão das questões
sociais perpassam pela existência de pressões sociais para seu
desencadeamento, pode-se inferir que a não adoção de ações mais engajadas
e comprometidas com a transformação social não sejam vistas pelos
consumidores e opinião pública com de responsabilidade da empresa, motivo
pela qual ela não estaria adotando tal postura.
Ainda com base no modelo de Wood (1991), temos como
outcomes
das
ações de responsabilidade social empresarial os impactos sociais e os
programas e políticas de RSE.
As ações que trariam mais impactos sociais são justamente as refutadas
pelas empresas como foco de sua responsabilidade social, como o
engajam
ento por práticas políticas corretas e transparentes, participação em
projetos sociais, utilização dos incentivos governamentais para promoção de
esporte e cultura, combate ao trabalho infantil, por exemplo.
os programas e políticas de RSE parecem realmente ser o
outcome
proposto pelas empresas através de suas ações de responsabilidade social,
conforme a Quadro 3: programas de relacionamento, de garantia de emissão
de notas fiscais, de racionalização do uso de recursos naturais, de qualificação
de pesso
al, etc.
Assim, percebe-se que as práticas das empresas pesquisadas
apresentam sua percepção de responsabilidade social empresarial como
gestão dos
stakeholders
, segundo modelo de Wood (1991). Mais uma vez
pode
-se observar que não é o engajamento ou compromisso social (discurso
que justifica a adoção e surgimento do fenômeno da RSE) que marca as ações
de RSE das empresas pesquisadas, mas a gestão do relacionamento com
grupos de interesse que possam vir a causar prejuízos (financeiros ou de
imagem) à organi
zação.
4.2.4 O modelo de Quazi e O’Brien
Quazi e O’Brien (2000) propõem quatro visões da responsabilidade
social das empresas: a moderna, a sócio
-
econômica, a clássica e a filantrópica.
As visões clássica e filantrópica são os extremos do modelo proposto
,
representando, respectivamente, responsabilidade estreita e ampla da
organização para com as questões sociais.
A visão clássica proposta pelos autores parece não encontrar respaldo
entre as ações de RSE das empresas pesquisadas. Dentre as 16 ações tidas
como foco dessas ações, apenas duas (12,5%) podem ser traduzidas em
retorno financeiro imediato considerável: a racionalização e otimização dos
usos de água e energia.
Da mesma forma, a visão filantrópica o aparece refletida nessas
ações. Do contrário, como observado, as ações indicativas de engajamento
social foram elencadas como nunca discutidas enquanto foco de ações de RSE
das empresas, indicando um entendimento destas de que este engajamento
não é de sua responsabilidade.
A visão sócio-
econômi
ca, mais intermediária, se aproxima da realidade
trazida pela pesquisa. Contudo, tal visão parece referir-se à adoção de ações
sociais, refutada pelas empresas segundo o Quadro 4. O Quadro 3 indica
preocupações além das de ordem produtiva, o que se aproxim
a da visão sócio
-
econômica de Quazi e O’Brien (2000), contudo ainda bastante ligadas à
prevenção de sanções legais ou mercadológicas.
Tal caracterização aproxima as ações tidas como foco da
responsabilidade empresarial pelas empresas pesquisadas da visão
moderna
de RSE. Tal visão se aproxima bastante da idéia de gestão dos
stakeholders
trazida por Wood (1991).
A visão moderna se reflete na busca por vantagens competitivas através
do bom relacionamento com os grupos com os quais interage. Os dados
trazidos
pelo Quadro 3 deixam clara essa opção. Das 16 ações listadas, 11
(68,75%) estão ligadas ao relacionamento com os grupos mais ligados (e mais
influentes) ao sucesso da empresa: clientes, público interno e fornecedores.
Algumas ações, como manutenção de sistema de relacionamento com
clientes em pontos de vendas e canais de comunicação com sindicatos, além
de responderem a demandas destes grupos, traduzem
-
se em vantagens para a
organização, decorrentes da fidelização de clientes (programas de Marketing
de Relacionamento) ou pelo comprometimento dos funcionários com os
objetivos organizacionais.
Os dados trazidos pelo Quadro 4 evidenciam a visão moderna da RSE
(tal como proposta por Quazi e O’Brien) pelas empresas pesquisadas, que
se referem, em sua maioria, ao grupo “governo/política”, que menos influencia
diretamente seu sucesso. Alguma preocupação com este aspecto é ligada ao
cumprimento de leis, que não se traduz necessariamente em políticas de
governo.
Embora o mesmo quadro revele que o grupo “fornecedores” também
não é foco de ações de RSE, é importante observar que as ações ligadas a
este grupo na quadro em questão estão ligadas não ao relacionamento com
estes, mas com a garantia de que adotem ações de RSE ou combatam o
trabalho infantil, por exemplo.
Assim, pode-se inferir que, dentro do modelo proposto por Quazi e
O’Brien (2000), as ações de responsabilidade social empresarial são
entendidas pelas empresas pesquisadas segundo uma visão moderna,
bastante próxima do que Wood (1991) denomina gestão de
st
akeholders
, e que
também foi caracterizada pela pesquisa em estudo.
4.2.5 O modelo de Curado
Curado (2003) também adota dois extremos para a adoção de uma
responsabilidade social empresarial: a responsabilidade legal (cumprimento
das leis) e o compromisso social (ideologia). Entre estes dois pontos, a autora
sugere três abordagens para a RSE: enquanto imagem (mais próxima da
responsabilidade legal), enquanto negócio (abordagem intermediária) e
enquanto cidadania (mais próxima do compromisso social).
De acordo com os dados trazidos pela pesquisa, em especial os do
Quadro 4, pode-se descartar o entendimento de responsabilidade social das
empresas pelas organizações enquanto cidadania. Não sinais de
comprometimento ideológico mesmo com causas tidas como c
onsensuais
como a erradicação do trabalho infantil, da discriminação étnica e do assédio
sexual.
Além disso, não sinais também de compromisso com causas sociais,
ainda que ideologicamente não apresentem contradição com a lógica de
acumulação da empresa, como desenvolvimento de comunidades locais,
promoção de cultura e esporte e integração de ex
-
presidiários.
O entendimento da RSE enquanto negócio parece perpassar as práticas
das empresas pesquisadas, ou seja: uma atuação social focada para a
obtenção de vantagens competitivas. Percebe-se que o que as empresas
entendem como focos de ações de RSE concentra-se na adequação a
demandas trazidas por consumidores e público interno.
De um lado, busca
-
se vantagem mercadológica, traduzida em ganhos de
imagem e preferência pelo consumidor em função das ações de RSE. De
outro, as vantagens decorrentes de maior satisfação no trabalho e
comprometimento dos funcionários (mais eficiência, ganhos com inovação e
poucas perdas relacionadas a doenças, absenteísmo e rotatividade de
pessoal).
A Quadro 4 confirma a identificação das ações de RSE pesquisadas
com a abordagem de RSE enquanto negócio trazida por Curado (2003).
Os
temas elencados como não sendo foco das ações de responsabilidade da
empresa são aqueles não diretamente relacionados ao seu negócio, que não
trariam vantagens para a empresa, mas impactos sociais externos.
Bom exemplo é o caso de “punição a funcionários envolvidos em
corrupção”, refutado por 79% das empresas como foco de ações de RSE,
apesar de demonstrar no Quadro 3 forte preocupação com seu quadro de
funcionários. Pode-se inferir então que o critério da ‘preocupação’ seja os
impactos de tal nos negócios da organização.
A visão de RSE enquanto imagem, voltada apenas para o Marketing
Social (tal como trazido por Curado, 2003), não parece ser a idéia que guia as
ações das empresas pesquisadas. Nessa abordagem as ações de RSE
estariam voltadas apenas para o exterior da empresa, buscando ganhos de
imagem e gerenciando seu posicionamento mercadológico.
Embora
as ações elencadas pelas empresas pesquisadas estejam
bastante ligadas ao gerenciamento de imagem, a associação da marca da
empresa a causas sociais não parece ser o foco das mesmas.
Assim, tem-se que, pelo modelo de Curado (2003) as empresas
pesquisadas
encaram a responsabilidade social empresarial como um negócio,
ou como parte de seu negócio, utilizando-se de tais ações para melhoria de
seu desempenho. Observa-se ainda que a idéia de empresas comprometidas
com questões sociais (responsabilidade social e
mpresarial enquanto cidadania)
não é identificada como guia das ações de RSE das empresas pesquisadas.
4.2.6 O modelo de Melo Neto e Froes
Melo Neto e Froes (2001) analisam o grau de responsabilidade social
das empresas através da análise de suas relações com seus públicos interno e
externo (ilustradas através de um gráfico cartesiano).
A análise dos dados trazidos pela pesquisa do Instituto Akatu à luz do
modelo de Melo Neto e Froes (2001) torna-se um pouco complexa à medida
que os autores consideram os níveis de RSE interna e externa como ‘alto’
ou ‘baixo’, não havendo níveis intermediários. Além disso, não temos
indicadores claros acerca do que caracterizaria esses níveis nos planos interno
e externo. Contudo algumas pistas podem ser encontradas nos dados da
pesquisa.
O que os autores chamam de ‘quadrante 1’, representando as empresas
com baixo grau de RSE interna e externa, pode ser descartado no caso das
empresas pesquisadas. Embora não seja possível perceber até que ponto vai a
preocupação das empresas respondentes com o bem-estar de seus
funcionários, não se pode afirmar, com base na Quadro 3, que estas não
estejam em alguma medida compromissada scom isto.
O que os autores caracterizam-se como quadrante 2 e o que Curado
(2003) chama de responsabilidade social como imagem, com alto grau de RSE
externa e baixo grau de RSE interna. Pelo motivo citado no parágrafo anterior,
esse quadrante parece não caracterizar as ações de RSE das empresas
pesquisadas. Ainda, a Quadro 4 não caracteriza propriamente um alto grau de
responsabilidade social externa das empresas pesquisadas, não atentando
estas para relações éticas com campanhas eleitorais, preocupação com
desenvolvimento comunitário, com a erradicação do trabalho infantil e do
assédio sexual nas empresas, e
tc.
De toda forma, as empresas apresentam alguma responsabilidade social
externa, ao menos no seu relacionamento com clientes (fornecimento de notas
fiscais, instrução para uso adequado dos produtos, canais de relacionamento,
política de uso das informaçõ
es, etc.).
O quadrante 3, caracterizado pelos autores como de alto grau de RSE
interna e externa também não parece traduzir a ação das empresas
pesquisadas. Embora o Quadro 3 apresente considerável preocupação das
empresas com o bem-estar dos funcionários, não se pode afirmar que elas
tenham propriamente um alto grau de RSE interna se, por exemplo, não punem
funcionários envolvidos em casos de corrupção ou se o promovem a
diversidade e combatem as situações de assédio sexual.
Os mesmos argumentos expostos na análise do quadrante 2 no tocante
à RSE externa das empresas pesquisadas cabem na análise deste quadrante
3. Vale ressaltar, no entanto, o entendimento de que a RSE externa destas
organizações tende a um baixo grau. a interna parece situar-se num n
ível
mais intermediário.
O último e quarto quadrante de Melo Neto e Froes (2001) caracteriza as
organizações como de baixo grau de RSE externa e alto grau de RSE interna.
Conforme exposto, as práticas das empresas pesquisadas ainda não podem
ser relacionadas como de alto grau de RSE interna, nem mesmo baixo grau de
externa, embora focada em públicos específicos.
Assim, percebe-se que o esquema de Melo Neto e Froes (2001) não
reflete as práticas de responsabilidade social das empresas pesquisadas, com
açõ
es intermediárias tanto no tocante à responsabilidade social externa quanto
interna. Além disso, a ausência de indicadores para mensurar os graus ‘alto’ e
‘baixo’ tornaria por demais subjetiva uma categorização das ações de RSE
trazidas pela pesquisa segui
ndo este modelo analítico.
4.2.7 Os esquemas críticos
Uma abordagem bastante crítica para análise do fenômeno da
responsabilidade social empresarial é trazida por Jones (1996), que a
categoriza como ética ou instrumental. Tais abordagens são claramente
en
tendidas nos esquemas visuais elaborados por Miyashita e Azeredo (2006).
A abordagem ética não pode ser apontada como entendimento das
empresas pesquisadas acerca de sua responsabilidade social. Um dos
processos associados a esta abordagem é a contribuição para o bem-estar de
toda a sociedade, com o desenvolvimento de capital social. As ações que
contribuiriam para tal processo não são listadas pelas empresas pesquisadas
como foco de suas ações de responsabilidade social, conforme o Quadro 4.
As ações de responsabilidade social empresarial numa abordagem ética
teriam um sentido de continuidade, perenidade de impacto, como por exemplo,
investimentos em cultura, desenvolvimento de comunidades locais, campanhas
contra preconceito e discriminação.
Ainda, estas ações, no tocante aos
stakeholders
da empresa, se
direcionariam a todos os grupos, independente do seu grau de envolvimento e
capacidade de influência nas atividades produtivas da empresa. Tal
comportamento, conforme análise prévia do Quadro 3, não se traduz na ação
das empresas pesquisadas, que têm como foco de suas ações de RSE os
públicos “consumidores” em especial e “público interno” em menor medida.
Já a categorização de Miyashita e Azeredo (2006) para abordagem
instrumental da RSE parece se aproximar do que as empresas pesquisadas
entendem como ações de responsabilidade social empresarial.
As ações de responsabilidade social nesta abordagem buscam
visibilidade externa, tais como boa parte das elencadas no Quadro 3. Os dados
do Quadro 4 corroboram tal busca pela visibilidade externa, ao evidenciar que
assuntos não diretamente ligados aos públicos estrategicamente mais
importantes para a organização não são tidas pelas empresas pesquisadas
como foco de ações de RSE.
Como exposto anteriormente, mesmo contradição de formas de
relacionamento em um mesmo grupo (como “fornecedores” e “público interno”),
aparentemente em função da visibilidade da ação.
Nesta abordagem os
outcomes
das ações de RSE seriam benefícios
sociais de alcance limitado e benefícios econômicos indiretos (Miyashita e
Azeredo, 2006). Conforme também visto anteriormente, as ações de RSE
das empresas pesquisadas não alcançam benefícios sociais profundos, do
contrário, trazem na maioria das vezes o estrito cumprimento das leis como
benefí
cio social, além de alguma proteção ao meio ambiente.
Da mesma forma, análise anterior demonstra que boa parte das ações
elencadas no Quadro 2, em especial no tocante ao público “consumidores”
dizem respeito a ações ligadas ao Marketing de Relacionamento,
trazendo
grandes benefícios mercadológicos para as empresas. Além disso, alguns
benefícios econômicos diretos parecem nortear essas práticas, como no caso
da otimização do uso de água e energia.
Assim, as práticas de responsabilidade social das empresas
pe
squisadas caracterizam uma visão instrumental da RSE, de acordo com a
abordagem crítica baseada em Jones (1996).
4.3 Análise Comparativa
Com base nas análises anteriores referentes a cada um dos modelos,
temos as caracterizações das ações de responsabilidade social das empresas
pesquisadas conforme o Quadro 5 abaixo.
Modelo /
Autor
Não aderências às práticas
analisadas
Aderências às práticas analisadas
Sethi (1975)
O que Sethi (1975) chama de
“Responsabilidade Social”
propriamente não reflete as
prática
s pesquisadas: não foi
verificada adesão das
empresas a causas e práticas
filantrópicas. O mesmo para o
comportamento tido como
“Responsividade Social”,
que as empresas não
demonstraram compromisso
e engajamento ativo com a
resolução de problemas
sócio
-
ambientais.
A categorização de “Obrigação
Social”. Aqui, as ações de
responsabilidade social resumem-
se
ao cumprimento das obrigações
legais, por pressões mercadológicas
ou imposições do Poder Público.
exceções nas práticas analisadas
quanto a este asp
ecto,
ultrapassando obrigações legais,
mas verifica-se uma forte
aproximação desta categorização de
Sethi (1975) com as ações
desenvolvidas.
Carroll (1979)
Não foi identificado o
comportamento ligado a
As chamadas “Responsabilidades
legais, econômicas e éticas”. As
responsabilidades
“Discricionárias”. As
empresas pesquisadas não
demonstram engajamento
voluntário com temas, ainda
que socialmente relevantes,
não claramente demandados
pelos seus grupos de
relacionamento. Isto fica mais
claro após análise do Quadro
4; onde vê-se que o
comprometimento até com
temas como cultura e esporte
não é discutido pelas
empresas.
ações de RSE englobam os
aspectos econômico (geração de
riqueza e emprego); legal
(cumprimento das leis); éticas
(desenvolvimento de posturas
soc
ialmente exigidas, quando existe
ameaça de sanções
mercadológicas).
Wood (1991)
A “Avaliação ambiental”,
enquanto forma de modificar
pressões e demandas para
aliviar as obrigações da
empresa não foi identificada
como prática na análise da
pesquisa. Ainda, a “Gestão
das questões sociais” se
distancia da prática
analisada, que não se
caracteriza por uma gestão
de questões sócio-
ambientais
relacionadas à empresa ou
seu contexto social, mas de
demandas específicas de
seus
stakeholders
.
A Gestão
dos
stakeholde
rs
”. As
ações de responsabilidade social
são vistas como estratégias de
relacionamento com os diversos
grupos de interesse da empresa,
para neutralizar ameaças
ambientais e obter vantagens
competitivas.
Quazi e
O’Brien
As visões “Clássica” e
“Filan
trópica”, extremos do
A “Visão moderna” da
responsabilidade social empresarial.
(2000)
modelo, não aderem às
práticas em estudo; que nem
ignoram demandas sociais,
nem refletem uma postura
proativa das empresas
quanto a elas. a visão
“Sócio
-econômica” não se
aproxima tanto das ações
quanto a moderna, já que não
indícios de uma
responsabilidade ampla (tal
qual descrita pelos autores)
da empresa para com as
questões sociais, mas
desenvolvimento de ações
mais superficiais e ligadas
especificamente aos
stakeholders
da organização.
A RSE é uma estratégia de bom
relacionamento com o tecido social,
a fim de evitar sanções
mercadológicas e obter vantagens
que colaborem para a perenidade
da empresa.
Melo Neto e
Froes (2001)
O modelo não reflete a
prática das empresas
pesquisadas, por não possuir:
- categorizações flexíveis,
mas apenas os graus ‘alto’ e
‘baixo’ e;
- não trazer maiores
características para análise
do que seriam essas
gradações.
-----
Curado
(2003)
A RSE vista enquanto
“imagem” não pareceu
adequada
para análise das
práticas em estudo por estas
se mostrem associadas a
A idéia de “RSE como negócio”. As
ações de RSE são voltadas tanto
para o público interno quanto o
externo, na busca de obtenção de
vantagens competitivas.
questões que não somente
as de gestão da imagem.
a RSE enquanto “cidadania”
não se observa pela ausência
de comprometimento da
empresa com a associação
da busca por lucro
empresarial
e
desenvolvimento social.
Jones (1996)
Uma abordagem “Ética” da
responsabilidade social, tal
como trazida por Jones, não
encontra reflexos nas práticas
analisadas.
A abordagem “Instrumental”. As
ações de responsabilidade social,
qual sejam suas formas, são um
meio, um ‘instrumento’ estratégico
para alcance da finalidade primordial
da empresa: gerar lucr
os.
O não aparecimento de uma RSE
ética nas práticas analisadas
converge com a idéia do autor que
este comportamento é incompatível
com a forma capitalista de
produção.
Quadro 5
-
Análise comparativa entre os modelos conceituais
Fonte: Elaboração própria
Observa
-se que o modelo de Melo Neto e Froes (2001) é o único que
não demonstra adequação para análise das práticas de RSE das empresas
pesquisadas, conforme argumento exposto no Quadro 5. o modelo de Sethi
(1975), embora apresente uma categorização que se aproxima bastante da
maioria das ações implementadas pelas empresas pesquisadas, não
contempla algumas ações que parecem motivadas por pressões
mercadológicas, mas que ainda não se enquadram no que o autor caracteriza
como responsabilidade social.
A contribuição de Carroll (1979) também apresenta pertinência enquanto
modelo de análise da prática das empresas pesquisadas, embora o que chama
de responsabilidades éticas, embora se apresentem de forma sutil, não
cheguem a caracterizar o perfil de ação de responsabilidade social das
empresas no Brasil.
Os modelos de Curado (2003), Quazi e O’Brien (2000) e Wood (1991)
trazem categorização muito semelhantes para o perfil de ação das empresas
pesquisadas, relacionando a responsabilidade social empresarial a um
relacionamento estratégico com públicos diversos a fim de neutralizar
ameaças, atender novas demandas que extrapolam a produção de
bem/serviços e obter vantagens para as empresas.
Além disso, as categorizações trazidas em especial por Quazi e O’Brien
(2000) e Wood (1991) parecem refletir com bastante pertinência os fatores que
influenciam as decisões de RSE, os possíveis entendimentos da empresa
sobre suas responsabilidades e a ideologia por detrás de suas ações.
O esquema crítico, baseado nas idéias de Jones (1996), contempla a
análise das práticas de responsabilidade social empresarial das empresas
pesquisadas, englobando inclusive os conceitos de gestão dos
stakeholders
,
RSE como negócio e visão moderna de RSE trazido pelos autores conforma o
Quadro
5.
Tal modelo não contempla possibilidades ou graus de adoção de ações
de RSE, mas contempla o fenômeno apenas na sua dimensão ideológica.
Assim, toda e qualquer ação de responsabilidade social empresarial,
desenvolvida sob qualquer formato, estaria enquadrada na abordagem
instrumental; e a adoção de um efetivo compromisso social – que o autor
considera impossível, por não ser a transformação social a razão de ser de
uma firma capitalista
-
, numa abordagem ética.
Assim, em ordem crescente (do menos para o mais aderente) temos a
seguinte classificação da adequação dos modelos conceituais de
responsabilidade social empresarial para análise do perfil de ação das
empresas pesquisadas pela pesquisa do Instituto Akatu (2004):
1.
Melo Neto e Froes (2001), com a ausência de categorizações flexíveis
que contemplem uma gradação no desenvolvimento das práticas de
RSE;
2.
Sethi (1975), cuja categorização de Obrigação Legal ainda não
contempla a totalidade das ações desenvolvidas;
3.
Carroll (1979), que resume a motivação para adoção das
responsabilidades éticas à possibilidade de sanções mercadológicas;
4.
Curado (2003), que embora se aproxime muito das análises de Quazi e
O’Brien (2000) e Wood (1991), foca a idéia de RSE enquanto negócio na
obtenção de vantagens competitivas, enquanto as práticas analisadas
se aproximam também de evitar sanções mercadológicas, e busca por
perenidade da organização;
5.
Quazi e O’Brien (2000), que, além dos aspectos trazidos por Curado
(2003), incorpora a reflexão sobre a busca por sustentabilidade da
empresa;
6.
Wood (1991), que com a categorização da gestão dos
stakeholders
consegue abarcar os fatores trazidos por outros autores ligados tanto às
obrigações legais, como demandas e possíveis sanções mercadológicas
e a obtenção de vantagens competitivas inclusive justificando a adoção
de uma RSE forte junto ao público interno da empresa;
7.
Jones (1996), que mesmo a não aderência da abordagem ética
contempla o modelo de análise desenvolvido pelo autor, segundo o qual
esta abordagem realmente não seria passível de ser adotada dentro da
lógica da firma capitalista.
O pensamento de Jones (1996) abarca as outras abordagens de uma
forma mais generalista, se mostrando o mais pertinente para uma abordagem
conceitual do fenômeno da responsabilidade social empresarial. Contudo, são
os modelos de Wood (1991), Curado (2003) e Quazi e O’Brien (2000), com
algumas categorizações bastante próximas, que se mostram mais adequados
para uma análise das práticas de RSE enquanto tais (a lógica de operação das
empresas com relação a estas práticas), muito embora sua fundamentação
conceitual e ideológica esteja adequadamente explanada por Jones (1996).
5 CONCLUSÕES
Com base na revisão de literatura e análise dos dados realizada ao
longo deste trabalho, tentou-se responder a questão em que medida os
modelos conceituais de Responsabilidade Social Empresarial refletem as
práticas empresariais encontradas na pesquisa do Instituto Akatu
?”.
As práticas de Responsabilidade Social das empresas pesquisadas
foram analisadas à luz de sete modelos conceituais do fenômeno da RSE, não
se atendo à questões de operacionalização de programas, mas à natureza do
fenômeno, a ideologia por trás deste, suas premissas e limites.
Os resultados encontrados contrariam o discurso dominante de que a
respon
sabilidade social da empresa reflete um compromisso da organização,
enquanto membro do conjunto social, com o bem-estar do todo. Ainda, se
afinam com a idéia de que as práticas de RSE visam legitimar as atividades da
empresa e evitar sanções mercadológicas e legais, garantindo assim seu
objetivo maior, qual seja: a geração de dividendos para seus proprietários.
Assim, a responsabilidade social das empresas pesquisadas aparece
como um meio, uma forma de conduzir seus negócios. As ações de RSE
seriam mais uma parte da gestão empresarial, como o marketing, a gestão dos
recursos humanos. Tal responsabilidade não se apresenta como uma
finalidade da organização, ou seja, não está entre os objetivos das empresas
assumir um compromisso com o desenvolvimento social ou a resolução de
problemáticas que não estejam relacionadas às suas atividades.
O confronto dos dados da pesquisa do Instituto Akatu (2004) com os
modelos de RSE aqui estudados confirma essa conclusão.
Os modelos analisados trazem, de alguma forma, três abordagens para
a RSE: uma que a nega, afirmando que tais investimentos não devem ser feitos
pela firma, que deve apenas realizar investimentos produtivos; uma que afirma
ser um compromisso da organização o engajamento em questões sociais e
pela ética nos negócios; e uma abordagem intermediária, que admite que as
empresas assumam certas responsabilidades sociais ligadas ao seu negócio,
que, se não se traduzem em ganhos financeiros, contribuem para a
sustentabilidade da organização pelas questões de marca e
imagem.
Em nenhum dos casos, o perfil das ações de responsabilidade social
das empresas pesquisadas coincidiu com os extremos trazidos pelos autores,
mas com abordagens intermediárias e fortemente ligadas ao negócio.
Nos casos dos modelos de Sethi (1975) e Carroll (1979), o
comportamento de responsabilidade social das empresas pesquisadas se afina
com o que os autores caracterizam como obrigações sociais: o cumprimento de
leis e a não adoção de práticas lesivas aos grupos com as quais as empresas
se relacionam. O que os autores categorizam como ações pro ativas diante da
resolução de questões de interesse social não se reflete nas práticas das
empresas pesquisadas.
Já nos modelos de Wood (1991), Quazi e O’Brien (2000) e Curado
(2003), as ações de responsabilidade social das empresas pesquisadas estão
bem próximas do que o primeiro autor denomina gestão dos
stakeholders
, e
que Curado (2003) deixa mais claro com a terminologia “responsabilidade
social empresarial enquanto negócio”.
As ações de RSE nessa caracterização objetivam manter um bom
relacionamento entre a organização e os grupos de interesse ligados ao seu
negócio, evitando assim situações prejudiciais aos objetivos estratégicos da
empresa. Essa abordagem não traz o compromisso social enquanto finalidade
da empresa, mas uma atuação socialmente responsável na medida em que lhe
é exigida pelos
stakeholders
de forma a não comprometer (e até potencializar)
a atividade produtiva da firma.
O modelo de Melo Neto e Froes (2001), justo por não contemplar es
se
perfil de ação intermediário, que não perpassa nem pelo compromisso, nem
pela indiferença, parece inadequado para analisar as ações de
responsabilidade social das empresas pesquisadas.
Já o modelo crítico, baseado nas idéias de Jones (1996) e melhor
ope
racionalizado no modelo de análise de Miyashita e Azeredo (2006), parece
abarcar as categorizações anteriores, com predominância da abordagem
instrumental nas ações de RSE das empresas pesquisadas. Como o próprio
termo sugere, a responsabilidade social assumida pelas empresas se
enquanto instrumentalização para consecução de suas finalidades, e não em
termos de ética/ideologia da empresa.
Tais conclusões se baseiam, em especial, em cinco grandes
características das ações de responsabilidade social das em
presas
identificadas pela pesquisa do Instituto Akatu (2004). Essas características são:
1.
Caracterização do estrito cumprimento das leis como ação de
responsabilidade social empresarial. As empresas pesquisadas focam
suas ações de responsabilidade social em aspectos ligados à garantia
do cumprimento de aspectos legais.
Alguns desses aspectos eram comumente ignorados por grande parte
das corporações na condução de seus negócios (emissão de notas fiscais,
cumprimento da legislação trabalhista e social, por exemplo). Nesse
contexto de usual desrespeito às normas legais, a garantia de seu
cumprimento pode ser interpretada como uma sinalização de respeito das
empresas à sociedade, levando a uma supervalorização da obrigação social
e aproximando-a da responsabilidade social, tais como trazidas Sethi
(1975).
Tal característica reforça ainda uma consideração trazida pelo mesmo
autor, de que a responsabilidade social das empresas está fortemente
ligada ao contexto cultural em que elas se inserem, no papel que
desempe
nham no ideário coletivo e as expectativas decorrentes deste.
No contexto brasileiro parece que as expectativas com relação ao papel
e as responsabilidades da empresa não ultrapassam o respeito às leis,
funcionários, consumidores e, em alguma medida, ao meio ambiente; o que
justificaria a adoção de programas ligados a essas questões pelas
empresas.
2.
Ações de responsabilidade social ligadas diretamente aos interesses do
negócio. O desenvolvimento de ações de responsabilidade social das
empresas pesquisadas está ligado à condução dos seus negócios. A
grande maioria das ações foca a relação com os atores que mais
diretamente interferem no sucesso ou não da empresa: clientes e
público interno. Dessa forma, as ações se confundem com as políticas
de Marketing e Gestão de Pessoas das organizações. Se o voltadas
para ganhos de imagem e produtividade, tais ações parecem buscar
evitar sanções nesse sentido por parte destes públicos.
Além disso, as empresas claramente excluem a comunidade e o
governo como focos de sua responsabilidade, indicando que esta se refere
à uma forma correta de conduzir seus negócios apenas.
Em última análise, a empresa não chega a assumir uma
responsabilidade social, mas um comportamento socialmente aceitável, que
não comprometa o desenvolvimento de suas atividades. Pode-se inferir
ainda que a adoção de RSE por parte das empresas pesquisadas não
busque propriamente legitimidade para suas ações, justificativa; mas
puramente não causar rejeição a seus públicos.
3.
Alguma preocupação em agir eticamente, sem empenho na propagação
destes valores. As empresas parecem buscar seguir os valores de
conduta considerados corretos pela sociedade, mas não se
comprometer com que estes prevaleçam nas relações. Ou seja: embora
aceitem tal conduta e não a desafiem, não assumem sua difusão como
finalidade da organização.
Ainda assim, a adoção de tais valores pelas empresas dá-se de forma
bastante superficial, que não parece guiar a forma como as empresas
desenvolvem seus negócios, mas pontuar algumas ações.
Tal
característica é bastante visível na relação das empresas com
fornecedores, onde as empresas evidenciam que, embora afirmem possuir
códigos de ética, não incorporam tais valores na sua conduta independente
da visibilidade dos mesmos.
Mais uma vez, pode-
se
interpretar que as ações relacionadas à ética
empresarial são tomadas na medida em que são exigidas pelos
stakeholders
da organização de forma a evitar sanções e prejuízos. Dessa
forma, a preocupação em agir eticamente e não militar nesse sentido seria
a atitude esperada e, por isso, a adotada pelas empresas. Tal conduta
reafirma o posicionamento da responsabilidade social das empresas
pesquisadas como instrumentalização para conduta de seus negócios,
como gestão do seu relacionamento com
stakeholders
.
4.
Não engajamento com alguma transformação social. Esta característica
está relacionada com as anteriores, à medida que as ações de
responsabilidade social das empresas pesquisadas são caracterizadas
como ligadas aos interesses dos negócios e não extensivas ao longo da
cadeia produtiva.
As empresas pesquisadas não enxergam o compromisso com a
resolução de problemas sociais como de sua alçada. Os focos elencados
como nunca discutidos pelas empresas para ações de responsabilidade
social estão, em sua grande maioria, ligados ao envolvimento com
problemas sociais.
Mesmo as ações ligadas a questões consensuais, como erradicação do
trabalho infantil e combate ao preconceito não são levadas em
consideração pelas empresas, que parecem não querer se envolver com
temas polêmicos ou assumir posicionamentos político-ideológicos de
caráter algum.
Ainda, atitudes como incentivo ao esporte e cultura, não ligados à
bandeiras e posicionamentos políticos, mas diretamente às comunidades,
não são foco das ações de RSE da empresa, o que solidifica a idéia de que
estas não se sentem responsáveis pela promoção do bem
-
estar social.
5.
Responsabilidade ambiental sem comprometimento com a causa. As
ações desenvolvidas pelas empresas pesquisadas na relação com o
meio ambiente parecem ser motivadas por a) redução de custos; b)
evitar sanções legais; c) evitar sanções mercadológicas.
A análise deste item não pôde ser mais aprofundada dado o perfil da
pesquisa que subsidiou as análises, contudo pode-se observar que não é
demonstrada preocupação com o equilíbrio ecológico, nem mesmo
decorrente das atividades produtivas da empresa.
Além disso, a preservação de áreas ambientalmente protegidas é
elencada como não sendo foco das ações de responsabilidade social das
empresas.
Com base nessas características e na análise dos dados da pesquisa do
Instituto Akatu (2004) à luz dos modelos analíticos da responsabilidade social
empresarial pode-se tentar responder o questionamento que direciona este
trabalho.
Percebe
-se que os modelos de RSE aqui visitados, à exceção do de Melo
Neto e Froes (2001), contemplam a realidade das práticas de responsabilidade
social empresarial no Brasil de alguma forma.
Além de apresentar categorizações que refletem tais práticas, os
modelos apresentam interessantes subsídios para compreender o que e por
que as empresas refutam enquanto de sua responsabilidade social, bem como
as responsabilidades que assumem.
As gradações apresentadas, com suas peculiaridades, em cada um dos
modelos, contemplam a dimensão político-ideológica que motivariam ações de
adoção ou não de responsabilidades sociais, o que parece adequá-los à
realidade empírica.
Num plano ideológico, os modelos caminham entre as idéias mais
liberais, para as quais o único bem-estar advindo da existência da empresa
decorre da geração de trabalho, bens, serviços e riquezas; até aquelas que
consideram que a empresa pode/deve assumir a responsabilidade de promover
o bem
-
estar social.
As categorizações que se adequam às práticas das empresas
pesquisadas situam-se justamente entre estes dois extremos, contudo
assumindo fortemente que as empresas adotam ações de responsabilidade
social como parte de seu negócio. A visão de Jones (1996) não contempla uma
abordagem intermediária, mas sua abordagem correspondente às idéias
liberais (de que a empresa não tem responsabilidades sociais) recebe uma
leitura marxista, afirmando que algumas responsabilidades podem ser
assumidas, mas não por questões de comprometimento social. Tal leitura
aproxima suas abordagens da realidade empírica das empresa
s pesquisadas.
Contudo, como discutido no capítulo anterior, as categorizações
trazidas em especial por Quazi e O’Brien (2000) e Wood (1991) parecem
possibilitar com mais pertinência a análise das práticas de RSE,
operacionalizando de forma bastante adequada fatores determinantes para a
ação de RSE, as variáveis ligadas ao desenvolvimento desta responsabilidade
enquanto prática.
O pensamento de Jones (1996), mais generalista, se mostra o mais
pertinente para uma abordagem teórica do fenômeno da responsa
bilidade
social empresarial e as possibilidades de sua manifestação; trazendo uma
fundamentação conceitual e ideológica que inclusive subsidia análises com
base nos modelos de Wood (1991), Curado (2003) e Quazi e O’Brien (2000).
A principal dificuldade encontrada ao longo do trabalho para esta análise
relaciona
-se com o perfil da pesquisa que o subsidiou. Embora de grande valia
para a compreensão das práticas de responsabilidade social das empresas
pesquisadas, a pesquisa foi realizada para objetivos outros que não os deste
trabalho, o que em alguns momentos significa não ter os dados que se deseja.
Contudo, os dados disponíveis mostraram-se suficientes para uma análise
exploratória mais conceitual dos modelos propostos.
O caráter do trabalho, de uma análise exploratória e inicial, para
conhecimento genérico dos modelos de análises pertinentes para o perfil geral
de ações de RSE desenvolvidas pelas empresas pesquisadas, possibilitou a
observação, ao longo do seu desenvolvimento, de diversas dimensões e
recor
tes que enriqueceriam conclusões mais aprofundadas sobre o tema.
Uma análise interessante poderia ser feita através do cruzamento dos
dados desta pesquisa com aqueles oriundos de pesquisa com consumidores
acerca de suas expectativas de comportamento social das empresas, e o peso
disso em suas atitudes de consumo. O resultado seria bastante útil para uma
reflexão mais aprofundada acerca das causas da adoção de uma
responsabilidade social empresarial, o que em grande medida determina sua
forma.
Ainda, pode-se pensar em trabalhos com foco na decisão gerencial do
desenvolvimento de práticas de responsabilidade social empresarial: momento
e critérios de decisão, participação ou não da comunidade, tratamento de
custos, setor responsável pelo planejamento e desenvolvimento da atividade,
etc. Tais dados revelariam muitas questões relacionadas à motivações da
empresa (questões de imagem, ganhos de vantagem competitiva, de
produtividade do público interno, etc.) determinantes para uma categorização
das ações de RSE.
Além disso, análises a partir de diferentes variáveis como tamanho da
empresa, ramo de atuação, tempo de mercado, grau de internacionalização,
dentre outros, podem ser objeto de trabalhos futuros, como já exposto no
capítulo anterior. Isso possibilitaria maior reflexão sobre variáveis que
interferem no comportamento socialmente responsável das empresas e, logo,
nos modelos mais apropriados para sua análise.
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718, 1991.
ANEXO
QUESTIONÁRIO APLICADO PELO INSTITUTO AKATU (2004)
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