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Volume 1
Helena Aparecida Ayoub Silva
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo para obtenção de grau de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Almeida
São Paulo, 2004
Abrahão Sanovicz: o projeto como pesquisa
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Para
Diva.
Eduardo, Marcelo e Roberto.
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR
QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA,
DESDE QUE CITADA A FONTE.
ASSINATURA:
E-MAIL: lena.ay[email protected]
S i l va, Helena Aparecida Ayo u b
S586a A b rahão Sanovicz: o projeto como pesquisa - Vol I / Helena A p a r e c i d a
Ayoub Silva. - São Paulo, 2004.
Volume 1: il.
Tese (Doutorado) - FAU U S P.
Orientador: Eduardo Luiz Paulo Riesencampf de A l m e i d a .
1 . A r q u i t e t u r a moderna - Brasil 2. Sanovicz, A b r ahão Ve l v u ,
1934-1999 I. T í t u l o
CDU 72.036(81)
Capa: Reprodução da prova escrita apresentada por Abrahão Velvu Sanovicz para o Concurso de
Livre Docência do Departamento de Projetos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, realizado em 1997 e reprodução de desenho de Abrahão Velvu Sanovicz.
Agradecimentos
Ao Eduardo de Almeida, meu orientador, pelo apoio e
incentivo constantes.
Aos professores Rebeca Scherer e Arnaldo Antônio
Martino, pelos comentários durante o exame de
qualificação.
Ao Julio Roberto Katinsky, pelos esclarecimentos e
incentivo.
À Diva Sanovicz, à Lucia Suane, ao Nachman Falbel ao
Edson Elito, ao João Honório de Mello Filho e ao Paulo
Mendes da Rocha, pelo apoio.
Aos bibliotecários e funcionários das diversas bibliotecas
consultadas, pela acolhida e auxílio inestimáveis.
Ao Atílio Brunacci pela cuidadosa revisão do texto do
Volume 1.
À Ana Carolina Corberi Famá Ayoub Silva, Gustavo André
Jorge Rodrigues, Gustavo Madalosso Kerr, Igor Dias Rogovschi,
Mayra Aquino Ferreira, Sabrina Studart Fontenele e Thiago
Corberi Famá Ayoub Silva, pela dedicação e apoio.
Ao Dailson de Jesus Alves pela dedicação, apoio e
esmero na execução dos desenhos.
À Camila Lisboa e à Mariana Alves de Souza pelo projeto
gráfico.
Aos amigos Aragão Rambelli, Dirceu Furquim, Lélio
Bittencourt, Mauro Magliozzi, Milton Norio Sogabe e
Mirela Geiger de Mello pelo incentivo, proveitosas
conversas e sugestões.
Aos colegas, professores da FAUUSP e da Anhembi
Morumbi, pelo privilégio do convívio e do debate cotidiano.
Por fim, ao João Roberto Rodrigues, meu companheiro,
pela presença, leituras e discussões.
Síntese A trajetória pessoal de Abrahão Velvu Sanovicz, sua obra
de arquitetura e sua atuação como professor, permite
identificar em seus projetos, aquela que foi sua principal
tese: o projeto como pesquisa.
Abrahão, nascido em Santos SP, em 1933, formou-se ar-
quiteto, em 1958, pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo, onde foi professor de 1962 a
1999, atividade que exerceu até os últimos dias de sua vida.
Ao estabelecer as determinações que orientaram o arqui-
teto a cada obra analisada; ao explicitar as condições e refle-
xões que o levaram à realização das propostas; ao investigar
o que há de comum, permanente ou essencial na postura de
Abrahão Sanovicz quando elabora seus projetos; e, ainda, ao
investigar como ocorreu a síntese dos conhecimentos na
invenção do objeto - a arquitetura; busca-se a compreensão
da totalidade do processo de elaboração do projeto.
Abstract The personal life path of Abrahão Velvu Sanovicz,
his work in architecture and his performance as professor,
allow us to identify among his projects the one that was his
main proposition:
tthhee pprroojjeecctt aass aa rreesseeaarrcchh..
Abrahão was born in Santos (SP) in 1933, he
graduated as bachelor in Architecture in 1958 by the
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo in the Universidade
de São Paulo, where he worked as professor from 1962 until
1999, work he performed untill the very last days of his life.
Through the establishment of the procedures that would
guide the architect for each work analysed; clarifying the
conditions and reflections that conducted to the
accomplishment his proposals; investigating the common
grounds, enduring or essential in Abrahão Sanovicz´s attitude
when creating his projects; and moreover, through the
investigation of how the synthesis of all knowledge in the
creation of the object - the Archictecture; we will search a wide
understanding of the whole elaboration process of the project.
Sumário
Introdução
Formação
Projetos
Docência
Conclusão
Referências Bibliográficas
Bibliografia
01
07
63
271
289
295
303
Introdução
A sistematização da prática na arquitetura como forma de
produzir novos conhecimentos tem sido uma preocupação
constante em todas as épocas.
A evolução dos conhecimentos científicos e tecnológicos
fez com que a maioria dos campos disciplinares, que corres-
pondiam a práticas profissionais, ampliasse a reflexão sobre
seu fazer. Possibilitou a criação de instrumentos conceituais
que, além da função explicativa, colocavam novas questões:
a relação entre a prática e a teoria (operacionalidade) e a
relação entre a ética e a prática (legitimidade).
Tal realidade teve importante conseqüência no desen-
volvimento do saber arquitetônico, muitas vezes recorrendo-
-se a disciplinas aparentemente estranhas ao seu próprio fazer
(semiótica, teoria geral dos sistemas, ciências cognitivas,
cibernética, informática, entre outras) para sua explicação e
aprofundamento.
Tais constatações orientaram a escolha inicial do tema de
pesquisa para o programa de doutorado: "A Questão do
Método na Arquitetura".
O objetivo era aprofundar os temas levantados e discutidos
no programa de mestrado, entendendo que a "pesquisa é sem-
pre a mesma", ou seja, aquela que complementa a formação
do professor de projeto e realimenta sua atuação profissional.
Em abril de 1999, época da inscrição para o doutorado,
sob a orientação do professor Dr. Abrahão Velvu Sanovicz,
procurava-se aprofundar a discussão do método na
arquitetura, a partir da análise de projetos e obras da arqui-
tetura contemporânea brasileira. A idéia era revelar os proces-
sos percorridos pelos arquitetos na realização dessas obras.
Todavia, o orientador faleceu e a pesquisa sofreu uma pe-
quena alteração no que se referia ao seu objeto. Definiu-se
um novo recorte: a questão do método seria enfocada a partir
da análise da obra do arquiteto e professor Abrahão Sanovicz,
e não mais versaria sobre obras da arquitetura contemporânea.
Com efeito, a importância de sua contribuição profissional
pode ser aquilatada pelos seguintes valores: o seu intenso
comprometimento com formação de gerações de arquitetos;
o volume de produção e inovação nos campos da arquitetura
e do desenho industrial; e a preocupação no registro de suas
certezas e convicções. Aquilatada também, pela conduta
atuante nos órgãos representativos dos arquitetos,
principalmente o Instituto de Arquitetos do Brasil.
Na realização da pesquisa, um novo enfoque pareceu-nos
mais apropriado: uma questão que Abrahão sempre defendeu
passou a ser assumida como tema do doutorado: "o projeto
como pesquisa".
Introdução
3
Acrescente-se a essa questão o pressuposto de que o
projeto de arquitetura seria aqui tratado na justa medida de
seu comprometimento social e, consequentemente, histórico.
Aliás, nosso ex-orinetador assim ensinava:
O projeto, em geral, é demonstração e exercício da soberania.
É através dele que podemos contribuir para racionalizar os
caminhos para o desenvolvimento, o que só poderá ser
alcançado através do contínuo exercício profissional dos téc-
nicos brasileiros. Este cuidado com o projeto nada mais é do
que a visão histórica, com a devida antecipação, do desejo de
equipar nossas cidades (edificações e urbanização), nossa pai-
sagem (estradas, pontes, viadutos, planos regionais) com
obras esteticamente belas, programática e tecnologicamente
funcionais, para que nossas cidades e seus entornos se
tornem agradáveis para o uso e a vida (SANOVICZ, apud
Katinsky, 1983, p. 945).
Dessa maneira, a análise dos processos percorridos por
Abrahão para a realização de seus projetos servirão de ponto
de partida para serem identificados os elementos que
confirmam os estudos materializados na presente tese.
A análise do percurso que baliza nosso estudo pode ser
aqui sintetizada nas seguintes propostas: estabelecer as
determinações que orientaram o arquiteto a cada obra
analisada; explicitar as condições e reflexões que o levaram à
realização das propostas; identificar o que há de comum -
permanente ou essencial - na postura de Abrahão Sanovicz
quando elabora seus projetos; e, ainda, investigar como
ocorreu a síntese dos conhecimentos na invenção do objeto -
a arquitetura. Em suma, busca-se a compreensão da
totalidade do processo de elaboração do projeto.
Esse processo é aqui abordado da mais ampla maneira,
posto que incorpora sua formação e contribuição didática à
análise da sua atividade de profissional do projeto. Não há
como tratar um dos temas sem o entendimento dos outros.
Cabe salientar que a questão do "projeto como pesquisa",
ou seja, a pesquisa em arte e em arquitetura, tem sido objeto
de estudo de diversos autores. Assim é que há quem coloque
a prática do projeto como método próprio de investigação e
produção de conhecimento em arquitetura, como, por
exemplo, constatamos nas palavras do professor José Cláudio
Gomes:
O objeto é o projeto. Isto é: o operar artístico. O fazer de arte.
Nem é a reflexão "sobre" o projeto, ou "a respeito", mas a própria
fabricação de algo que, ao se constituir, reflete sobre o objeto
constituído: sobre o projeto. Portanto, o objeto da pesquisa em
projeto não pode ser algo que lhe seja externo ao próprio ato
projetual (GOMES, 1990, p. 29).
O professor Arnaldo Martino, por sua vez, em texto
avulso, preparado para discussão pelo Grupo de Disciplinas
de Projeto de Edificações do Departamento de Projetos da
Introdução
4
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo, argumenta:
O projeto elaborado com intenção criadora, percorre em seu
caminho a indagação, o questionamento, o entendimento, a
escolha, a proposta e a formalização das idéias enquanto
expressão artística. Estes caminhos, embora pautados por
sistematizadas metodologias, envolvem grande número de
dados e de novas situações e têm seus percursos dificilmente
repetidos. Cada caso, cada projeto em Arquitetura pode revelar-
se um fato novo. A ação de projetar, a obra realizada, geram
novos conhecimentos, que se acumulam como experiência e
base para outros projetos. Então, o projeto assim desenvolvido,
isto é, simultaneamente ao objetivo da obra, tem por finalidade
a descoberta de novos conhecimentos e enquanto processo
(contínuo, plural, etc.) em arquitetura. Deveria ser compreendido
como uma das suas formas mais importantes e legítimas de
pesquisa. (MARTINO, 1985, s.p.).
Abrahão Sanovicz sempre compartilhou essas idéias, que
ficaram consignadas em textos, entrevistas e, até, na maneira
como deixou organizado seu acervo de projetos.
Ao pressuposto baseado no comprometimento social e
histórico que integra a carreira profissional de Abrahão,
podemos acrescentar ainda como principal justificativa do
presente trabalho: o empenho em explicitar, na obra do
arquiteto, a unidade da teoria com a prática, no domínio da
elaboração do projeto de arquitetura, visando o ensino, a
formação e a atuação profissional.
O trabalho é constituído por dois volumes.
O primeiro, a tese, desenvolve-se em três capítulos:
Formação: são apresentados aspectos relativos à sua
formação, a partir da reflexão do significado da exposição da
obra de Sanovicz realizada na Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo - FAUUSP em
1997.
Projetos: foram selecionados e analisados os projetos
considerados mais significativos no sentido de melhor
exprimir a tese "o projeto como pesquisa".
Docência: de sua carreira docente foram identificadas
suas principais preocupações. Encerra o capítulo o relato
sobre a exposição final comemorativa do cinqüentenário da
FAU, que teve como curador Abrahão Sanovicz.
O segundo volume reúne documentos que deram
suporte à pesquisa e que complementam as reflexões apre-
sentadas na tese.
Introdução
5
Formação
O aprendizado da arte
Pássaro da Liberdade
O aprendizado da arquitetura
18
39
41
Formação
8
Por iniciativa dos alunos do Grêmio da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo - GFAU, foi realizada na Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo -
FAUUSP a exposição da obra do professor Abrahão Velvu
Sanovicz.
Foi o primeiro dos eventos comemorativos do cinqüen-
tenário dessa Faculdade. Sua realização teve o apoio da
Associação dos Ex-Alunos e da Diretoria da FAUUSP.
Os textos da professora Odiléa Toscano e do professor
Eduardo de Almeida, registrados a seguir, nos relatam alguns
traços da arte do professor Abrahão. Eles foram extraídos do
catálogo que apresentava a referida exposição.
Relata-nos a professora Odiléa:
FAU Maranhão: formandos de 1958.
Não éramos apenas uma classe, mas uma família permitida
pelo número restrito de alunos.
Todos desenhávamos - que futuros arquitetos devem ser, de
alguma forma, desenhistas - mas alguns de nós
trabalhávamos para além das tarefas da escola ...
Criamos os “artistas de domingo, e a mania de rabiscar já
fazia parte de nosso cotidiano.
Abrahão seguiu quase que sistematizando esse saudável
hábito e, em conseqüência, temos aí os “desenhos de
reunião, nenhum tempo perdido.
Passando das figuras humanas e nus, dos registros de
vegetação, ao desenho do arquiteto inventando espaços e
explicando outros, Abrahão imprime sua visão vigorosa e
Formação
9
singular dos temas que o preocupam. Seu traço gestual,
colorido e livre vai organizando objetos e temas com fluência
e generosidade, sem economia.
A despeito da unidade que caracteriza seus desenhos,
permitem uma classificação - embora flexível - por temas,
escala, maneira de direcionar os gestos e criar tensões e
mesmo pela subjetividade de alguns deles.
Escolher desenhos para essa mostra foi tarefa complicada de
um tirar e por mais complicado ainda. Os alunos se
encarregaram dela. Ajudei pouco.
É olhar, decifrar e fruir (TOSCANO, O., 1997).
Professor Eduardo, por sua vez registrou:
A obra de Abrahão Sanovicz fala de todos nós, colegas da FAU
e arquitetos formados nos anos 50 em São Paulo, embora
talvez nenhum outro arquiteto daquela geração tenha
manifestado com seus projetos um compromisso tão forte
com a cultura brasileira (presença de Mário de Andrade...) e
uma disciplina tão rigorosa no exercício do “ato de projetar”.
Trabalhando e pensando como um arquiteto de nosso tempo,
ele questiona seu papel na História, povoando seu universo de
referências essenciais: Breuer, Mies, Wright, Terragni, Lúcio
(Costa, é lógico), Oscar (mais ainda Reidy e outros “cariocas”),
Artigas (respeitosamente) e muito, mas muito Le Corbusier.
E ainda Picasso, as gravuras de Segall, os “Stabile” de Calder.
Completam o quadro, suas preocupações com as questões do
design
, (que aprofundou com Nizzolli em Milão), e da
comunicação visual (com Buffoni em São Paulo). Alimentando
esse universo com sua sensibilidade e seu conhecimento
teórico e técnico, Abrahão Sanovicz realiza uma arquitetura
forte, coerente, precisa e admirável, não apenas pela sua
obstinação em evitar os efeitos especiais”, a grandiloqüência,
o discurso vazio mas, principalmente pelo rigoroso cuidado em
trabalhar com o desenho da construção do espaço, elevando-o
a nível da verdadeira obra de Arte (ALMEIDA, E., 1997).
Formação
10
Exposição Abrahão Sanovicz - 1997
FAUUSP | Salão Caramelo
vistas gerais
foto: Cândida Maria Vuolo
A escolha feita pelos alunos foi a mais apropriada, já
que, sem dúvida, identificaram quem tão bem poderia
representar a Escola, pela diversidade de sua atuação.
Com efeito, a organização espacial proposta por
Abrahão Sanovicz e equipe de alunos foi a que melhor
interpretou o espaço - e dele se apropriou - do prédio
projetado por João Batista Vilanova Artigas para a Faculdade.
Reforçando sua continuidade espacial, criou espaços
apropriados para discussões sobre os projetos fixados nas
paredes brancas; conformou "salas tradicionais" onde eram
expostas as gravuras; fez no Caracol um painel onde
desenhou "cenas do dia a dia" e da vida na FAU; montou
uma parede transparente e sinuosa, no Salão Caramelo,
junto à empena do Museu onde estavam, no dizer de Odiléa
Toscano, "os desenhos de reunião - nenhum tempo
perdido"; e, os "desenhos de figuras humanas, nus e registros
de vegetação" que, ampliados ao máximo, foram fixados
sobre grandes painéis brancos pendurados na grelha da
cobertura, dando ao Caramelo uma nova escala.
Formação
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Exposição Abrahão Sanovicz - 1997
FAUUSP | Museu e Caracol
gravuras e “cenas do dia a dia”
foto: Cândida Maria Vuolo
Formação
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Formação
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Formação
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Exposição Abrahão Sanovicz - 1997
FAUUSP | Museu
foto: Cândida Maria Vuolo
Formação
15
Com esse projeto para uma exposição, a equipe
idealizadora reafirmou as intenções de Vilanova Artigas para
a FAU, cuja essência Miguel Antonio Buzzar, em sua
dissertação de mestrado sobre a obra de Artigas no período
entre 1938 e 1967, toma emprestado de Manfredo Tafuri:
[...] a arquitetura, pela sua própria natureza, permite já aquela
tomada de consciência por parte da coletividade, que Brecht
exigia ao seu público: uma fruição que consinta o relaxamento
e a reflexão por parte das pessoas interessadas na realização
cênica. Isto é arquitetura, cidade e teatro épico pretendem
todos uma extrema transparência dos processos que
conduziam à sua elaboração, para os revelar a quem
acompanhe com distanciação as suas narrações (TAFURI,
1979, apud BUZZAR, 1996, p. 117).
Aliás, a obra de Abrahão Sanovicz, cobrindo quase
quatro décadas de atividade profissional nos campos da
arquitetura, do urbanismo, do desenho industrial, na
comunicação visual e nas artes plásticas, é, inegavelmente a
expressão do profissional que sempre se desejou formar na
FAUUSP.
A trajetória desse arquiteto é permeada de inquietações
que remontam à sua adolescência.
Formação
16
Perspectiva Vila Residencial Porto Primavera
fonte: acervo biblioteca da FAUUSP
Abrahão Sanovicz nasceu em Santos em 1933, no bairro
de Vila Mathias, onde viveu até os 17 anos.
Enquanto cursava o ginásio, estimulado pela família
freqüentou um curso de desenho técnico e trabalhou em um
escritório de desenho, onde teve seus primeiros contatos
com a arquitetura.
Nesse escritório, era responsável pelas aprovações de
projetos. Com isso, era obrigado a ir freqüentemente a São
Paulo para verificar os processos junto ao Departamento de
Engenharia Sanitária da Secretaria de Saúde do Estado.
Aproveitava as viagens para visitar as exposições de arte e
arquitetura que aconteciam no Museu de Arte São Paulo -
MASP.
Em 1950, tendo completado o ginásio, muda-se para São
Paulo a fim de freqüentar a Escola Técnica Federal, curso de
técnico em edificações - equivalente ao antigo científico -
com vistas ao vestibular em arquitetura. Acreditava que,
cursando a escola técnica, poderia, em suas palavras,
"queimar etapas" na faculdade.
Na oportunidade de uma série de entrevistas conce-
didas a Catharine Gati, pesquisadora do Centro Cultural
São Paulo - CCSP, entre 1987 e 1988, Abrahão declarou:
Em Santos, já conhecia as revistas "Acrópole" e "Habitat", e
também a obra de Niemeyer, que já naquela época (final dos
anos 40), trazia todo esse carisma próprio dele (talvez, não
fosse bem compreendido, mas já despertava a sensação de
ser alguém que apresentava uma qualidade muito especial).
Ele havia projetado a Pampulha, o Pavilhão da Feira de Nova
York, além de outros projetos. Foi, enfim, quando eu conheci
as primeiras obras modernas. Santos contava com alguma
coisa moderna sendo construída. Assim, o que me chamou
mais a atenção foram duas casas do Artigas, uma na ilha
Porchat e outra na rua Castro Alves (isso, talvez, me tenha
influenciado até hoje, a casa que projetei para mim, por
exemplo, é justamente uma casa-caixote). Na ilha Porchat,
havia também duas casas projetadas por Oswaldo Bratke.
Como jovem, tinha toda essa inquietação e acompanhava tudo
isso com muito interesse, as publicações, o que se construía
etc. Essa aproximação com a arquitetura se deu quase
naturalmente (DPCA, 1987 - 1988).
A vivência em ambientes e eventos artísticos que ocorreu
nesse período não só foi decisiva na formação do arquiteto
Abrahão Sanovicz, como também, e ao mesmo tempo,
alimentou uma inquietação que o marcou definitivamente,
como confessou na referida entrevista:
Apesar de sofrer uma grande dúvida a vida inteira entre
seguir a vida de artista (ou seja, pintor ou desenhista) ou fazer
arquitetura, acabei me definindo pela arquitetura” (DPCA,
1987 - 1988).
Formação
17
1. O aprendizado da arte
O interesse pela arte levou Abrahão Sanovicz a procurar,
no ano de 1952, a recém-criada Escola de Artesanato do
Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM. Concorreu a
uma vaga como bolsista cuja obtenção permitiu freqüentar o
curso à noite.
Ainda em entrevista com Catharine Gati, discorreu sobre
a vida em São Paulo no período:
Na época, anos 50, São Paulo era uma maravilha, tinha uma
escala ótima, com seus quase 3,5 milhões de habitantes. Já era
uma metrópole, já não tinha mais a garoa, mas o movimento
cultural era muito intenso: os novos museus, Museu de Arte
Moderna MAM e Museu de Arte São Paulo MASP; a primeira
Bienal; a criação da cinemateca. Era uma ebulição artística: as
revistas estimulavam polêmicas sobre arte.
A vida cultural girava em torno da Praça da República.
Muito de arte se produziu no período, novas escolas, o grupo
concreto, os tachistas, o rebatimento aqui das discussões que
aconteciam nas escolas européias.
Acredito que esta explosão tenha sido preparada, e sempre
encontramos, de alguma forma, a figura de Mario de Andrade
envolvido nessas manifestações (DPCA, 1987 - 1988).
Resgatar o histórico da constituição da Escola de Artesa-
nato é recuperar o ambiente cultural da cidade de São Paulo,
salientado na citação, e que remonta à criação do MAM.
Paulo Mendes de Almeida, em sua obra
De Anita ao
Museu
, apresenta como a pré-história do MAM a Semana de
Arte Moderna de 1922, "rebelião no terreno das artes e do
pensamento", que encontrou ressonância nacional no campo
da literatura: "vozes entusiásticas, de início isoladas, se arregi-
mentavam em grupos, deitando manifestos como era de mo-
da, e lançando jornais e revistas" (ALMEIDA, P., 1976, p. 213).
Contudo, no campo das artes plásticas, foi somente em
São Paulo que se formaram movimentos coletivos
organizados, ainda que, no Rio de Janeiro dois importantes
acontecimentos devam ser mencionados: a XXXVIII
Exposição Geral de Belas Artes, organizada por Lucio Costa
em 1931 - conhecida como o "Salão Revolucionário" ou
"Salão dos Tenentes" - aberta pela primeira vez a artistas de
orientação moderna; também em 1931, a criação do
Núcleo Bernardelli, constituído por jovens artistas que não
aceitavam o tipo de ensinamento ministrado pelos mestres
da Escola Nacional de Belas Artes. Tidos como a ala
moderada do modernismo, entre eles estavam José Pancetti,
Milton Dacosta, Joaquim Tenreiro e Yoshiya Takaoka.
1.1. A Sociedade Pró-Arte Moderna
Na capital paulista, um desses movimentos organizados
resultou na Sociedade Pró-Arte Moderna - SPAM, fundada
Formação
18
em fins de 1932. Tinha como programa fundamental estreitar
as relações entre artistas e "as pessoas que se interessavam
por toas as suas manifestações", no dizer de Almeida (1976,
p.42). Para tanto, promoveriam exposições, concertos,
conferências, reuniões literárias. Instalariam sede social com
salão de exposições, sala de leitura e ateliê para os artistas.
Um jornal seria criado A Vida de SPAM, com direção de
Alcântara Machado, Mário de Andrade e Sergio Milliet.
O quadro dos trinta e nove membros fundadores, com-
punha-se de representantes de todas as artes, excetuando-se
o teatro e o cinema. Eram eles Anita Malfalti, Antonio Gomide,
Camargo Guarnieri, Chinita Ullman, Gregori Warchavichik,
Guilherme de Almeida, Lasar Segall, Mário de Andrade,
Paulo Mendes de Almeida, Paulo Prado, Paulo Rossi Osir,
Sergio Milliet, Victor Brecheret, Tarsila do Amaral, entre outros.
Para obter fundos a fim de cumprir o programa proposto
para a SPAM, realizou-se um baile carnavalesco, em
fevereiro de 1933, nos salões do Trocadero, à Rua
Conselheiro Crispiniano, denominado "Carnaval na Cidade
de SPAM". Com projeto e direção de arte de Lasar Segall,
houve a colaboração de muitos outros artistas na confecção
da decoração e fantasias. A música ficou a cargo do maestro
Camargo Guarnieri. O convite, desenhado por Segall,
contou com versos de Mário de Andrade.
O baile divulgou o nome da Sociedade Pró-Arte
Moderna, ampliou o quadro social e auferiu renda suficiente
para que fosse alugada metade do quinto andar do Palacete
Campinas à Praça da República.
Enquanto a sede era reformada, decidiram realizar a
Primeira Exposição de Arte Moderna da SPAM, aberta ao
público em 28 de abril de 1933, apresentando uma centena
de obras. O local escolhido para a exposição foi o piso térreo
de um edifício à Rua Barão de Itapetininga, onde hoje se
encontra a Galeria Guatapará.
Sobre a exposição, comentou o referido Paulo Mendes de
Almeida:
Pode dizer-se, sem exagero, ter sido a mais importante mostra
de arte moderna até então realizada em toda a América do Sul.
Ali figuraram, ao lado dos artistas da SPAM, peças de grandes
pintores e escultores contemporâneos, pertencentes a
coleções particulares de São Paulo, notadamente as de D.
Olivia Guedes Penteado, Samuel Ribeiro, Paulo Prado, Mário
de Andrade e Tarsila do Amaral. Pela primeira vez, com certeza,
o grande público via, "em pessoa", um Picasso ou um Léger,
um Lipchitz ou um Brancusi. Dos artistas estrangeiros
expostos era a seguinte a relação: Lhote, Léger, Picasso,
Chirico, Csako, Delaunay, Dufy, Foujita, Gleizes, Juan Gris,
Marie, Laurencin, Sara Afonso, Vuillard, Pompon, Brancusi,
Lipchitz e Le Corbusier. Como se vê, um razoável acervo, em
que aparecem alguns dos principais nomes em evidência no
momento. Exibir tal coleção ao público, constituiu, naquela
Formação
19
altura, empresa quase temerária, pois que a hostilidade, então
existente contra a arte moderna, punha em risco autênticas
preciosidades (ALMEIDA, P., 1976, p. 56).
Em agosto desse mesmo ano, inaugurou-se a sede: um
grande salão de exposições, de concertos e de conferências;
com palco cênico e iluminação apropriada; ateliê, onde
eram realizadas sessões com modelo vivo; biblioteca e sala
de leitura; secretaria; e bar.
Em fins de 1933, ocorreu mais uma exposição também
com grande repercussão, desta vez participaram artistas
radicados no Rio de Janeiro: Portinari, Di Cavalcanti,
Cardoso Júnior, Guignard, Lechovsky, Octavio Pinto,
Rothkirk, Silvia Meyer, Teruz, Zangert e Cecília Meireles.
Todavia, logo a SPAM se encontrou em dificuldades
financeiras. Um novo baile de carnaval foi realizado, "Uma
Expedição às Selvas da Spamolândia", dessa vez em um
rinque de patinação à Rua Martinico Prado, de novo sob os
cuidados de Lasar Segall que transformou o espaço numa
enorme selva.
A festa restabeleceu as finanças da instituição, mas,
poucos meses depois, por desentendimentos entre os
diretores, foi convocada uma assembléia no início de 1935,
declarando extinta a Sociedade.
1.2. O Clube dos Artistas Modernos
Contemporâneo à Sociedade Pró-Arte Moderna,
surgiu o Clube dos Artistas Modernos - CAM, que tinha como
figura central o polêmico arquiteto e artista Flávio de
Carvalho. Sabendo que as tratativas para a constituição da
SPAM seriam um pouco demoradas, e porque suspeitava que
teria um caráter elitista, ele entendeu ser mais prático fundar
o CAM em novembro de 1932.
Concorreu para isso o fato de dividir com Di
Cavalcanti, Carlos Prado e Antonio Gomide um imóvel na
Rua Pedro Lessa, nº. 2, junto ao Viaduto Santa Ifigênia, onde
mantinham seus ateliês.
Não se limitou a realizar exposições de artes.
Realizou, da mesma forma, exposições de cartazes
soviéticos, de desenhos de loucos e de crianças. Organizou
concertos de música moderna, de recitais de cantos
populares, conferências e palestras.
Em pouco tempo, o CAM tornou-se ponto de
encontro obrigatório para quem estivesse na cidade ou que
tivesse algum interesse pelas artes.
Em novembro de 1933 o Clube instalou no térreo desse
imóvel o "Teatro de Experiência", com capacidade para 275
espectadores; foi inaugurado com a peça "Bailado do Deus
Formação
20
Hotel Esplanada
fonte:www.patrimoniosp.com.br/sampa
hotelesplanada.html visitada em 12/12/2003
"Bailado do Deus Morto" (Flávio de Carvalho)
fonte:www.antaprofana.com.br/Grupos
1.2.htm visitada em 12/12/2003
Morto", de autoria de Flávio de Carvalho. Depois da terceira
apresentação, o teatro foi fechado pela polícia. Essa
intervenção policial gerou protestos de intelectuais, mas sem
que houvesse qualquer repercussão.
Tal fato causou sérios prejuízos ao CAM, que se extinguiu
logo depois.
Cumpre salientar, no entanto, que a Sociedade Pró-Arte
Moderna e o Clube dos Artistas Modernos se completavam,
como atestam as palavras de Paulo Mendes de Almeida:
A primeira, um tanto aristocrática, porém mais sólida, mais
"séria", no bom sentido da palavra. O CAM, democrático,
largado, mas apresentando, indiscutivelmente, uma
vivacidade maior. Um grande e vibrante movimento de arte e
de inteligência que dificilmente se repetirá (ALMEIDA, P.,
1976, p. 84).
1.3. O Salão de Maio
Um evento importante para criação do Museu de Arte
Moderna - MAM e, conseqüentemente, para a Escola de
Artesanato, foi o Salão de Maio. Idealizado pelos cronistas e
críticos de arte Quirino da Silva e Geraldo Ferraz, em 1937,
foi criado para exibir a produção dos artistas modernos que
não tivessem um espaço próprio de exposição.
Realizado no
grillroom
do Hotel Esplanada, em 25 de
Formação
21
Catálogo do 2º Salão de Maio - 1938
fonte: ZANINI, 1983, p. 584.
maio de 1937, o primeiro salão teve expostas obras de trinta
artistas brasileiros ou estrangeiros aqui residentes,
destacando-se os que depois iriam colaborar com a Escola
de Artesanato: Tarsila do Amaral, Nelson Nóbrega e Livio
Abramo.
Acompanhando a mostra, foram realizadas várias
conferências como de Anton Giulio Bragaglia - fundador do
teatro experimental italiano - sobre "As Tendências
Modernas da Cenografia", e a de Flávio de Carvalho,
denominada "O Aspecto Mórbido e Psicológico da Arte
Moderna".
O evento obteve grande êxito e repercussão junto aos
meios culturais e artísticos.
Com o Salão de Maio, recolocava-se a discussão sobre a ar-
te moderna versus a arte acadêmica, que dominava o mercado.
A segunda edição do Salão aconteceu em 27 de junho de
1938, novamente no Esplanada Hotel. Um catálogo
acompanhava a exposição, com textos assinados por Sérgio
Milliet, Mário de Andrade, Jorge Amado, Flávio de Carvalho,
Lasar Segall e Vittorio Gobbis.
Destaque especial se deveu à presença de artistas
ingleses surrealistas e abstratos, como Ceri Richards, Ben
Nicholson e Penrose. De igual modo de artistas mexicanos,
Formação
22
como o gravador Leopoldo Mendez e o pintor Díaz de Leon,
além de uma expressiva participação nacional.
O terceiro e último Salão, agora realizado na Galeria Itá,
contou com a participação de trinta e nove artistas, incluin-
do pintores, desenhistas, gravadores e arquitetos. Houve
também participação estrangeira, como Alexander Calder,
Alfredo Magnelli e Josef Albers.
Para Mendes de Almeida a representação de artistas
estrangeiros nos Salões de Maio antecipava-se às futuras
Bienais do Museu de Arte Moderna, "justificando-se sua
inclusão, sob esse aspecto também, naquela série de
movimentos coletivos de irrecusável e inestimável função
pioneira e precursora" (ALMEIDA, P., 1976, p. 84).
1.4. A Família Artística Paulista
Enquanto se idealizava o Salão de Maio, outro
importante movimento acontecia na cidade: A Família
Artística Paulista - FAP.
A FAP contou com a participação de vários artistas,
dentre os quais os do Grupo Santa Helena.
O Grupo Santa Helena surgiu da união espontânea de
alguns artistas que, inicialmente, tinham seus escritórios ou
ateliês no antigo Palacete Santa Helena, que foi demolido no
Formação
23
Palacete Santa Helena
fonte: SIMÕES, 1990, p. 26.
início da década de 1970 para a construção da Estação Sé do
Metro. Lá o grupo desenvolvia diferentes atividades profis-
sionais, mas se organizaram em função do seu interesse
artístico. Criaram ali um ambiente de troca de conhecimentos
técnicos, sessões de modelo vivo, de organização de excur-
sões aos subúrbios da cidade, nos fins de semana, para pintu-
ra ao ar livre. Era onde os artistas discutiam sobre a participa-
ção em exposições e salões de arte, ou sobre a remessa de o-
bras para esses eventos. Todavia estavam relativamente afasta-
dos do meio artístico da época. Foi com as exposições orga-
nizadas pela Família Artística Paulista que o Grupo ganhou
visibilidade.
A Família Artística Paulista absorveu a contribuição do
modernismo, mas não rompeu com a tradição artística.
Demonstrava certa reação ao vanguardismo e
experimentalismo - característicos de outros grupos artísticos
da época - mas revelava um grande interesse pelo estudo da
técnica e pelo aperfeiçoamento do métier. Essa preocupação
com o ofício era estimulada pelas figuras dos artistas Paulo
Rossi Osir e Vittorio Gobbis que, segundo Mário de Andrade,
eram "homens capazes de conversar sobre as diferenças de
pinceladas de um Rafael e de um Ticiano e sabendo o que é
ligar uma cor à sua vizinha" (ANDRADE, 1971, p. 155). Já
para Geraldo Ferraz - um dos idealizadores do Salão de Maio
- citado por Leite (1999) eram "tradicionalistas, defensores do
carcamanismo artístico da Paulicéia, a morrer de amores
pelos processos de Giotto e Cimabue".
Por esta época, Paulo Rossi Osir abre uma empresa de
azulejaria, a Osiarte. Com a finalidade de produzir os
azulejos desenhados por Candido Portinari para o Ministério
de Educação e Saúde, recebia seguidas encomendas de
arquitetos e artistas, além de produzir alguns padrões criados
por ele próprio. Assim agindo questiona, os comentários de
Geraldo Ferraz. Mediante sua preocupação com o
aprimoramento do métier, e graças ao seu rigor técnico,
viabilizava a possibilidade de um novo meio de
manifestação artística.
1
A Família Artística Paulista realizou três exposições: a pri-
meira em novembro de 1937, no Hotel Esplanada, com a par-
ticipação dos artistas plásticos Aldo Bonadei, Alfredo Volpi,
Anita Malfatti, Arnaldo Barbosa, Arthur Krug, Clóvis Graciano,
Francisco Rebolo Gonzales, Fúlvio Pennacchi, Hugo Adami,
Humberto Rosa, Joaquim Figueira, Manuel Martins, Mario
Zanini, Paulo Rossi Osir e Valdemar da Costa, entre outros.
Dois anos depois, a segunda exposição teve lugar no
Automóvel Clube, na Rua Libero Badaró, 287, onde estavam
Formação
24
expostos, além de nomes já conhecidos da primeira mostra,
vários outros que só então aderiam à Família: Candido
Portinari, Alfredo Ruilio Rizzotti, Domingos Viegas de Toledo
Piza, Renée Lefevre, Nelson Nóbrega, Ernesto de Fiori e João
Batista Vilanova Artigas.
No ano de 1939, após visita à exposição organizada pela
Família Artística Paulista, Mário de Andrade identifica e tenta
conceituar pela primeira vez a existência de uma "Escola
Paulista", caracterizada por seu modernismo moderado.
Enfatiza, como elemento de unificação entre os expositores,
a preocupação com o apuro técnico, a volta à tradição do
fazer pictórico e o interesse pela representação da realidade
concreta. Faz também algumas críticas:
Ora, pois o que falta a toda esta paulista família? Falta o
estouro, falta o estalo de Vieira, falta a coragem de errar. O
verdadeiro estádio de cultura não é propriamente saber, mas
saber ignorar em seguida. Toda esta nossa forte e
consangüínea Família Paulista já sabe eruditamente pintar,
mas ainda não aprendeu a coragem de ultrapassar a sabença
e conquistar aquele trágico domínio da expressão pessoal,
sem o qual não existe arte. Todos estes artistas já sabem
caminhar com firmeza, mas é lastimável que na terra que criou
a Vasp, a única empresa nacional de aviação, eles não se
arrisquem a voar (ANDRADE, 1971, p. 155).
Sobre esse texto de Mário de Andrade, Flávio Motta, no
artigo "Textos Informes: A Família Artística Paulista", observa:
Ora, o Mário de Andrade era bem uma expressão de 22. É
verdade que era renovador ou um “revolucionário metodizado,
procurando dar sentido e organização tanto ao mundo das
coisas como aos processos de agir no Brasil. Foi muito
provavelmente - e isso vale como hipótese de trabalho - pelo
mesmo respeito ao trabalho que reconheceu o novo na Família
Paulista. E esse novo, temos para nós, é um novo tido como
uma nova situação para o homem nos processos de
transformação. Esse admirável reconhecimento que um poeta
erudito faz de um grupo de artistas simples em arte e em
origem, nos dá a chave, um outro ângulo de verificação do
problema da Família Artística, ao mesmo tempo que
restabelece uma tese proposta pelo próprio Mário de
Andrade, qual seja, a relação erudito e popular. Aliás, essa
tese, especialmente para os arquitetos, é da maior valia.
Poderíamos a guisa de exemplo, formulá-la a partir da seguinte
consideração:
1. Em que medida determinadas formas ou determinadas
soluções, ou ainda determinados símbolos são elaborados
para responder a um determinado contexto?
2. Como esses símbolos,transferidos para outro contexto,
ainda mantêm a referência a alguns significados originais?
3. Em que medida, quando esses elementos são usados já
sem recorrência aos seus significados originais, mas como
simples “matéria prima” - a serviço de uma cultura com
sentido novo e fundamento popular?
Aí está portanto, outra ordem de consideração, de
preocupação que poderia esclarecer e dinamizar uma análise
da “linguagem” das nossas obras de arte, para que não falte a
essa “razão analítica em movimento” um sentido histórico.
Num certo sentido, com o encontro do erudito com o popular,
o que se busca é compreender as direções de uma história já
feita e uma por fazer ou se fazendo (MOTTA, F., 1971, p. 140).
A terceira e última exposição ocorreu em 1940, no Rio de
Formação
25
Janeiro, com novas participações que incluíam, entre outros,
os nomes dos artistas plásticos Carlos Scliar, Paulo
Sangiuliano, Vicente Mecozzi e Bruno Giorgi. Pouco depois
a Família Artística Paulista deixava de existir, sobrepujada
pelo aparecimento de novos movimentos. Cumpriu, pois,
sua missão, como escreveu Paulo Mendes de Almeida:
Ela inseriu, de maneira definitiva, na lista de nossos melhores
artistas, meia dúzia de nomes pelo menos, que servirão para
recomendá-la aos exegetas da evolução das artes plásticas no
País. Lembrar Volpi, Zanini, Rebolo, Bonadei ou Graciano, aqui
mencionados sem preocupações de hierarquia, é lembrar a
Família - aquela "Paulista Família", em cujo seio se formaram e
foram revelados ao mundo da paleta e do pincel (ALMEIDA, P.,
1976, p. 125 e 126).
Nesse mesmo período, organizou-se um outro
importante grupamento de artistas de origem japonesa, com
afinidade de interesses com o Grupo Santa Helena. Criaram
um espaço de discussão que promovesse o aprimoramento
técnico e a divulgação de suas obras. Organizados de 1935
a 1972, com intervalo nas atividades no período da Segunda
Guerra Mundial, o Grupo Seibi, como era chamado, era
integrado originalmente por Hajime Higaki, Shigeto Tanaka,
Takahashi, Tamaki, Tomoo Handa e Yoshiya Takaoka; mas
logo teve a adesão de Tomie Ohtake, Manabu Mabe e Flávio
Shiró, entre outros.
Em 1941, Quirino Silva organizou o "1º Salão de Arte" da
Feira Nacional de Indústrias, acontecimento inédito, onde,
segundo Paulo Mendes de Almeida:
Os homens da produção, os homens da indústria e do
comércio, os homens de negócios, em suma, vinham ao
encontro dos artistas, propiciando-lhes, dentro de sua
organização um lugar para uma parada das artes plásticas
(ALMEIDA, P., 1976, p. 186).
A exposição foi realizada no Parque da Indústria Animal,
na Água Branca. Mesmo com critérios pouco rigorosos para
escolha das obras, apresentou um panorama bastante amplo
e representativo dos meios artísticos.
Em 1947 apareceria novo movimento associativo, o
chamado Grupo dos 19, que realizaria uma única
exposição, com a presença de jovens pintores, entre os quais
Aldemir Martins, Antonio Augusto Marx, Lothar Charoux,
Flávio Shiró, Jorge Mori, Marcelo Grassmann, Maria
Leontina, Mário Gruber, Otávio Araújo, Odetto Guersoni e
Luís Sacilotto.
Antes disso, em 1945, foi inaugurada a seção de arte da
Biblioteca Municipal, como conseqüência do projeto para
um museu de arte moderna em São Paulo que tinha como
idealizadores, desde o final dos anos de 1930, Mário de
Andrade e Sérgio Milliet.
Formação
26
Sobre essa proposta, comenta Lisbeth Rebollo Gonçalves:
A idéia de um Museu de Arte Moderna veiculada por Mário de
Andrade e Sérgio Milliet tem, porém, um lado mais amplo: vai
além da aglutinação de artistas e aproximação do "público de
arte moderna", voltando-se para a comunidade em geral. O
objetivo é a formação cultural do público em compasso com a
contemporaneidade. Não é “festa”, mas uma ação organizada
dentro da plataforma modernista de atualizar a inteligência
artística brasileira, dentro também de uma orientação política
que impregna a intelectualidade paulista voltada para os ideais
liberais democráticos, depois da Revolução de 1932. A idéia de
criar um Museu de Arte Moderna tem mais a ver com a
política cultural que favoreceu o surgimento do Departamento
de Cultura. Aliás, tanto Mário como Sérgio pensam o museu
ligado ao Departamento. Para Mário, sua forma seria a de um
museu popular, de reproduções para Sérgio, o Museu
preserva o sentimento tradicional da instituição que compõe
um acervo significativo e propicia ao público o contato com os
bens culturais. Mário quer a “desaristocratização da obra-
prima”, vê o museu popular “com o destino de por as suas
coleções ao alcance de qualquer compreensão, através de
reproduções. Sérgio quer o modelo tradicional de museu, mas
prega a necessidade paralela de uma ação pedagógica
(GONÇALVES, 1992, p.77).
1.5. O Museu de Arte Moderna
Em 1946, a cidade de São Paulo recebeu do presidente do
Museum of Modern Art de Nova York - MoMA, Nelson
Rockfeller, a doação de sete obras de arte para a constituição
de um museu. Inicialmente, ficam sob a guarda do Instituto
de Arquitetos do Brasil - IAB; depois vão para a Biblioteca
Municipal, onde, nesse mesmo ano, são expostas ao público.
Amplia-se, então, o empenho para a criação do Museu
de Arte Moderna. São realizadas reuniões no IAB, com a
participação de artistas, intelectuais e empresários. O
jornalista Assis Chateaubriand, fundador dos "Diários e
Emissoras Associados" e o industrial Francisco Matarazzo
Sobrinho são sensibilizados pela campanha.
Na entrevista de Vilanova Artigas a Lisbeth Rebollo
Gonçalves está registrado:
Mas, ao que consta, a decisão de acolher o apoio de
Matarazzo se dá com o aval americano. Segundo depõe o
arquiteto Vilanova Artigas, a palavra final que leva ao
encaminhamento do processo de criação do Museu de Arte
Moderna de São Paulo sob a liderança de Matarazzo surge
numa reunião de Nova Iorque, da qual ele participa, quando
bolsista nos Estados Unidos. Carleton Sprague Smith é o
porta-voz de Rockfeller, falando do seu interesse pela
participação daquele empresário no projeto (GONÇALVES,
1992, p. 77).
Abre-se, assim, o processo para se constituir o Museu de
Arte Moderna de São Paulo. Matarazzo Sobrinho e sua
esposa, Yolanda Penteado, começam comprar importantes
obras de arte internacionais, visando a criação de um acervo
para o Museu.
A 15 de junho de 1948, sessenta e oito pessoas com-
parecem para assinar a ata de constituição do MAM. Na lista
Formação
27
predominam os nomes de arquitetos: entre eles, Aldo Calvo,
Carlos Cascaldi, Eduardo Kneese de Mello, Galiano Ciam-
paglia, Gilberto Junqueira Caldas, Giuseppe Severo Giaco-
mini, Gregori Warchavchik, João Batista Vilanova Artigas,
Jacob Maurício Ruchti, Léo Ribeiro de Moraes, Luís Saia,
Manilo Cosenza, Miguel Forte, Roberto de Cerqueira César,
Roger Henri Weiler, Rino Levi, Salvador Candia e Virgílio Isola.
As palavras de Paulo Mendes de Almeida a esse respeito:
Havia uma razão para isso, dado que, entre as artes plásticas,
foi a arquitetura aquela em que as novas tendências e
concepções mais cedo conseguiram encontrar acolhida junto
ao grande público. Os arquitetos, portanto, sentiam de modo
mais concreto, se assim se pode dizer, as vantagens até
mesmo materiais de uma arregimentação (ALMEIDA, P., 1976,
p. 205).
Maria Cecília França Lourenço, em sua obra
Museus
Acolhem o Moderno
, comenta:
A implantação dos MAMs, após a Segunda Guerra Mundial,
colabora para fomentar modificações nas condições culturais
e também, coaduna-se com alguns ideais político-econômicos
relacionados ao fenômeno da metropolização, industrialização,
desenvolvimentismo e alianças com os Estados Unidos.
Nesse panorama, São Paulo assume papel ímpar pela
concentração de atividades econômicas, em especial na
questão industrial, enquadrando-se a abertura do MAM como
parte explicitadora de uma imagem que se almeja atingir
(LOURENÇO, 1999, p. 103).
Se a constituição do MAM ocorreu em junho de 1948,
suas atividades se iniciaram em março de 1949, com sede à
Rua 7 de abril, nº. 230, no prédio dos Diários Associados.
Nesse local funcionava, desde 1947, o Museu de Arte São
Paulo - MASP. O MAM teve projeto de adaptação do espaço
de Vilanova Artigas e modelo museográfico do Museum of
Modern Art - MoMA de Nova York.
Maria Cecília Franca Lourenço, acima citada, servindo-se
da documentação fotográfica existente nos arquivos do
MAM, assim descreve o projeto de Artigas:
Privilegiando a circulação em “U”, bastante despojada se
comparada ao modelo dos museus novecentistas,
caracterizado pela concentração de peças e horror ao vazio. As
obras são dispostas com base em painéis, funcionando como
fundo neutro, paralelos às paredes para as pinturas e formas
geométricas regulares para esculturas, com cuidado de
projetar vitrines inclinadas para fruição adequada de desenhos
e gravuras (LOURENÇO, 1999, p.109).
Pelos seus estatutos, o Museu de Arte Moderna tinha os
seguintes objetivos:
a. Adquirir, conservar, exibir e transmitir à posteridade obras de
arte moderna do Brasil e do Estrangeiro; b. incentivar o gosto
artístico do público, por todas as maneiras que forem julgadas
convenientes, no campo da plástica, da música, da literatura, e
da arte em geral, oferecendo a seus sócios e membros a
possibilidade de se receber gratuitamente ou com descontos,
todos os serviços organizados da associação, nas condições
estabelecidas pelo Regulamento Interno (NASCIMENTO, 203,
p.249).
Formação
28
O conselho de administração era composto por Villanova
Artigas, Luís Saia, Sérgio Milliet, Antonio Candido Mello e
Souza, Almeida Salles, Lourival Gomes Machado e Mário
Bandeira, entre outros. A direção artística coube a Leon
Dégrand.
Dégrand, francês conhecido por difundir a arte abstrata
praticada em seu país, organizou a exposição inaugural "Do
Figurativismo ao Abstracionismo", onde se aprofundava a
discussão que começara anos antes, sobre a oposição entre
a arte figurativa, tida como retrógrada, e a arte abstrata,
considerada "a vanguarda" das artes plásticas.
Aracy Amaral, em sua obra
Arte Para Que?
, assim
comenta o evento:
Sintomaticamente, porém, essa exposição abre as atividades
do museu que trazendo as bienais internacionais para São
Paulo, a partir de 1951, seria o mais eficaz veiculador das
novas informações internacionalistas, em particular o
abstracionismo, que florescia tanto no Rio como em São
Paulo, a partir desse estímulo externo, e fazendo surgir na
capital paulista, a partir dos anos 50, dois grandes grupos: o
dos abstracionistas vinculados ao “Atelier Abstração, de
Samson Flexor, e o dos abstracionistas geométricos, liderados
por Waldemar Cordeiro, a partir do manifesto "Ruptura"
(AMARAL, 1987, p. 237).
Em 1950, já sob a direção do filósofo e crítico de arte
Lourival Gomes Machado, coube ao MAM organizar a
participação brasileira na Bienal de Veneza. Foi, talvez, em
função dessa participação, que se resolveu a criação de uma
Bienal no Brasil.
Em 21 de outubro 1951 inaugurou-se a I Bienal do
Museu de Arte Moderna de São Paulo, com vinte e três países
participantes. O evento ocupou o belvedere do Parque
Trianon, onde havia um antigo salão de baile. Aproveitando-
se da estrutura do salão, Eduardo Kneese de Mello e Luís
Saia, ambos que assinaram a ata de constituição do MAM,
projetaram um polígono de madeira perfazendo uma área de
cinco mil metros quadrados, de maneira a poder receber as
1.854 obras expostas.
O êxito da I Bienal confirmou a capacidade de realização
da equipe do MAM se constituindo no mais importante
evento artístico no Brasil.
O projeto do MAM apresentava-se com um caráter
didático. Isso fazia parte das intenções de estreita identidade
com o que Mário de Andrade e Sérgio Milliet propagavam há
mais de uma década, ou seja, educar o público, acostumado
com os valores estéticos tradicionais, para o novo conceito
de arte moderna. Nesse sentido, eram freqüentes palestras e
conferências, organizadas como atividades paralelas às
exposições.
Formação
29
Como menciona Vera D'Horta: "logo é sentida a
necessidade de se ensinar, na prática, o que era arte
moderna" (D'HORTA, 1995, p. 31).
1.6. A Escola de Artesanato
Em julho de 1950, a imprensa paulista divulgava a
criação da Escola de Iniciação Artesanal e Artística do MAM.
Foi festejada por muitos intelectuais como a instituição que
viria substituir a primeira escola de arte moderna de São
Paulo, a "Escola Livre de Artes Plásticas", criada no MASP por
Flávio Motta e pelo artista plástico Poty (Napoleon Potyguara
Lazzarotto). Com vida efêmera, a Escola Livre permaneceu
funcionando alguns meses, em 1949.
A proposta da Escola do MAM era despertar nos jovens o
amor pelo ofício e constituir-se como um centro de pesquisa
em arte, sem se ligar a princípios rígidos ou doutrinas
estéticas exclusivistas.
As informações que seguem foram obtidas pela leitura de
artigos e notícias de alguns jornais da época (décadas de
1940 e de 1950). São recortes de jornais que fazem parte do
Arquivo Histórico Wanda Svero,Fundação Bienal de São
Paulo, e da coleção de recortes de jornais de Lucia Suane,
viúva de Nelson Nóbrega.
Formação
30
Folheto de divulgação da
Escola de Artesanato
fonte: acervo de Lucia Suane
Convite da exposição de alunos da Escola de Artesanato em junho de 1953
fonte: acervo de Lucia Suane
Os cursos de artes plásticas nela ministrados tinham
como objetivo principal, a aplicação prática e profissional
da arte escolhida pelo aluno. Já os cursos artesanais, por sua
vez, eram mantidos em constante referência com as artes
plásticas afins.
Assim, os cursos de desenho e pintura visavam o ensino
da pintura mural e decorativa; o curso de cerâmica
possibilitava a iniciação à escultura ou a criação de
componentes para a construção civil, como revestimentos e
louças. O de artes gráficas se dedicava à gravura e
programação visual. Mantinha-se, dessa forma, o ensino do
ofício, ao mesmo tempo preservando e estimulando as
fontes puras da criação artística.
Havia o entendimento de que se fazia urgente formar
equipes de artistas especializados a fim de que, com o amor
ao seu ofício, pudessem ser o contraponto da produção
mecânica industrial, conservando nos objetos por eles
criados, emoção e sensibilidade.
Como método de ensino, adotava-se o aprendizado
direto de mestre a discípulo, em convivência no ateliê, o que
acentuaria ainda mais a ligação entre o elemento
profissional e o artístico.
A previsão inicial era que esta escola iniciasse suas
Formação
31
Desenhos de Abrahão Sanovicz
Escola de Artesanato
fonte: acervo de Diva Sanovicz
atividades já no segundo semestre de 1950. Porém, somente
em 10 de junho de 1952 foi inaugurada a Escola de
Artesanato - EDA, à Praça Roosevelt, nº. 227, sob a direção
do pintor Nelson Nóbrega, com um selecionado grupo de
professores: Antonio Gomide, Yllen Kerr, Georges Nasturel,
Wolfgang Pfeiffer, Gian Domenico De Marchis e seu
assistente Vittorio Sinaglia. Mais tarde vão juntar-se a esse
grupo, ou substituir alguns deles: Helou Motta, Georges
Nasturel, Mário Gruber, João Rossi e Livio Abramo.
Quirino da Silva - em artigo publicado em julho de 1952
- , entusiasmado com a recém-criada escola, exagerando na
crítica à industrialização e creditando esse seu julgamento
aos objetivos da EDA, ou ainda procurando estabelecer um
debate com o Instituto de Arte Contemporânea IAC do
MASP, escreveu:
Com o quase desaparecimento do artífice, veio, é claro, o
desamor do homem pela matéria por ele usada.
A industrialização do trabalho na febricitante ganância de
maiores lucros, desintegrou esse mesmo homem da sua
verdadeira missão. O material, para ele não mais suscita
aquele sincero afeto, aquele amor, mesmo, de que era
impregnado todo o objeto por ele feito. Sim, porque esse
objeto após longa e carinhosa permanência com o homem,
tomava, naturalmente a sua personalidade, o seu feitio, sem
com isso perder a sua nobreza de origem. Dava-lhe, antes, em
virtude dessa afetuosa convivência entre ambos, uma
Formação
32
Desenhos de Abrahão Sanovicz
Escola de Artesanato
fonte: acervo de Diva Sanovicz
sedução e compreensão que, ainda hoje - apesar do tempo
decorrido - se percebe na superioridade de um e na
obediência de outro: o material e o homem se integravam, e
se harmonizavam numa deliciosa poesia. Essa obediência do
material não era, decerto conseguida pela rapidez das
maravilhosas máquinas de hoje, as quais muito embora
representem numerosa produção, desrespeitam a integridade
da matéria, desvirtuando-lhe, sempre, o destino. Obrigando-a
a serviços subalternos, enxovalhando-lhe, enfim, a sua
nobreza.
Mais uma escola que forme um punhado de artífices - como a
que já existe no Museu de Arte - vem como o bíblico ramo de
oliveira, anunciar que muito em breve teremos artífices
capazes de exumar esse amor pelo ofício e pela matéria usada
(SILVA, Q. 1952).
Este não era o pensamento dos idealizadores da Escola
de Artesanato, tanto que em entrevista para o jornal Última
Hora, Nelson Nóbrega declarou:
[...] despertar nos jovens o amor pelo ofício artístico e ao
mesmo tempo dotá-los de uma sólida base de conhecimentos
indispensáveis às suas futuras criações artísticas. É de nosso
desejo cooperar com todos os que trabalham pela melhoria do
nível de nossos meios artísticos, fazendo ao mesmo tempo,
com que se desenvolva o sentido da estreita ligação entre as
artes plásticas contemporâneas e as artes aplicadas. Os
alunos recebem certificado de conclusão dos cursos após
dois anos e já se prevê a instituição de cursos de
especialização e cursos livres que serão organizados com o
objetivo de difundir o gosto pelas artes (MARTINS, 1952).
A Escola de Artesanato teve ajuda financeira da Prefeitura
de São Paulo, mediante convênio escolar que oferecia vinte
Formação
33
Desenhos de Abrahão Sanovicz
Escola de Artesanato
fonte: acervo de Diva Sanovicz
e cinco bolsas de estudo por ano aos candidatos que
aliassem à precária situação econômica aptidão e aplicação.
A EDA contava com dois cursos básicos: o de desenho e
o de história da arte. O primeiro, ministrado por Antônio
Gomide, contemplava o desenho geométrico, decorativo,
ilustrativo, à mão livre, e de modelo vivo; o segundo, minis-
trado por Wolfgang Pfeiffer, quando os alunos entrariam em
contato com as significativas realizações artísticas da huma-
nidade, a fim de que aprendessem a responsabilidade que
lhes cabia na preservação e enriquecimento desse grande
acervo espiritual.
Duas oficinas artesanais iniciaram suas atividades: a de
cerâmica, dirigida por De Marchis, que se dedicava desde os
estudos rudimentares da terra-cota aos trabalhos mais
especializados em esmalte e porcelana; e a de artes gráficas,
confiada a Yllen Kerr, que deveria desenvolver no aluno o
gosto pela gravura em geral, dedicando-se mais à litografia,
compreendendo ainda aulas de paginação de livros e
jornais, tricromia e ilustração a cores.
A instituição passou por períodos de dificuldade
financeiras. Além disso, em 1958 o MAM muda-se para o
Parque do Ibirapuera, Francisco Matarazzo insistindo em que
a Escola se mudasse também. Alunos e professores, por sua
vez, insistiam em continuar nas instalações originais.
No início de 1959, por essas e por outras, a diretoria do
MAM resolve encerrar as atividades da Escola de Artesanato.
Entre os alunos - e aqui se inclui de Abrahão Sanovicz -
diversos importantes artistas por lá passaram, como: Antonio
Henrique Amaral, Doroty Bastos, Flávio Império, Savério
Castellano, entre outros.
Aracy Amaral, em
Arte Para Quê?
, quando trata da
abertura do MAM, remete à matéria de Ibiapaba Martins no
Correio Paulistano
"Duas Entrevistas Oportunas", onde o
jornalista comenta que, para a primeira diretoria
empossada:
[...] o caráter “popular” do Museu de Arte Moderna, em
contraposição ao elitismo que rodeava o Ambiente do MASP,
evidencia-se na medida em que “qualquer pessoa” pode dele
se associar "mediante módica mensalidade" e isso "sem
distinção de classe" (MARTINS, 1958 apud AMARAL, 1987, p.
237).
Essa importante referência desperta o interesse para a
reflexão sobre o caráter do Museu de Arte São Paulo - MASP
e sobre o Instituto de Arte Contemporânea - IAC.
Formação
34
Formação
35
1.7. O Museu de Arte São Paulo - MASP
Sobre a fundação do Museu de Arte São Paulo Assis
Chateaubriand, escreveu Renata Vieira da Motta:
A fundação do MASP só foi possível pela coincidência histórica
de uma idéia e o aparecimento daqueles que a colocariam em
prática: o encontro de Assis Chateaubriand com Pietro Maria
Bardi e Lina Bo Bardi. Se a idéia de um novo museu de arte não
era nova, remontando aos anos 1920 e configurando uma
discussão mais ampliada nos anos 1930, o jornalista
nordestino, dono dos Diários Associados - o Chatô - seria o
primeiro a concretizá-la (MOTTA, 2003, p.18).
O casal Bardi, vindo da Itália, chegou ao Brasil no
segundo semestre de 1946. Logo, Assis Chateaubriand
convidou Pietro Maria para, junto com o jornalista Frederico
Barata, estudar a criação de um museu que, por
determinação do próprio Chateaubriand, deveria instalar-se
em São Paulo, à Rua 7 de Abril, no Edifício dos Diários
Associados, de autoria do arquiteto Jacques Pilon.
O MASP foi oficialmente criado em 10 de março de
1947, constituído por uma sociedade civil composta de trinta
membros, a maior parte deles pertencente à "sociedade
paulistana" da época: fazendeiros, industriais e banqueiros.
Inaugurado no dia 2 de outubro de 1947, ocupava
metade do segundo andar daquele edifício, com projeto de
adaptação do espaço realizado por Lina Bo Bardi.
No que se refere à constituição de seu acervo o MASP
não se alinhava com as posições de combate aos museus
tradicionais, nem tinha no Museu de Arte Moderna de Nova
York - MoMA sua maior referência. O desafio era constituir
um acervo o mais significativo de todas as expressões de arte
do Brasil e do mundo. Por outro lado, insistia Bardi na idéia
de criar um centro cultural atingindo e educando um público
ampliado, rejeitando o modelo tradicional, dando ênfase aos
departamentos não-curatoriais: biblioteca, publicações,
exposições itinerantes, educativo.
Em 1950, o Museu de Arte São Paulo passou a ocupar
mais três andares, dando margem a uma nova inauguração.
A este respeito as palavras de Renata Motta:
Desfrutando de mais espaço e tendo se estruturado nesses
três primeiros anos, as iniciativas do MASP cresceram
consideravelmente, incluindo as escolas de desenho industrial
(o Instituto de Arte Contemporânea IAC), propaganda,
jardinagem, dança, além dos seminários de cinema (MOTTA,
R., 2003, p. 23).
1.8. O Instituto de Arte Contemporânea
O nº. 3 da revista
Habitat
, de 1951, na matéria "Instituto
de Arte Contemporânea" noticiava a criação de uma Escola
de
Design
no Museu de Arte São Paulo cujo objetivo era a
formação de jovens que se dedicassem à arte industrial.
A congregação IAC contava com a participação de arqui-
tetos e artistas: Alcides da Rocha Miranda, Clara Hartoch,
Eduardo Kneese de Mello, E. Hanner, Elizabeth Nobiling,
Enrico Bernachi, F. Kosnta, Giancarlo Palanti, Jacob Ruchti,
Lasar Segall, Lina Bo Bardi, Pietro Maria Bardi, Oswaldo
Bratke, Roberto Burle Marx, Rodolfo Klein, Thomas Farkas,
Poty e Flávio Motta. Esses dois últimos haviam participado da
curta experiência da Escola Livre de Artes Plásticas, também
no MASP.
As referências do curso vinham da Bauhaus, por intermé-
dio da adaptação à nossa realidade dos conteúdos formulados
para o Instituto de
Design
de Chicago em 1937, por Moholy-
Nagy e Walter Gropius, que havia idealizado a escola alemã.
Marlene Milan Acayaba, em
Branco e Preto,
esclarece
que, o objetivo do IAC era que seus alunos:
Se mostrassem capazes de desenhar objetos, nos quais o
gosto e racionalidade das formas correspondessem ao
progresso e à mentalidade contemporânea. Para tanto era
preciso desenvolver a consciência da função social do desenho
industrial, contestando a reprodução fácil e nociva dos estilos
superados e do diletantismo decorativo. E, ainda, destacar o
sentido da função social que cada projetista, no campo da arte
aplicada, deveria ter em relação à vida (ACAYABA, 1994, p.36).
O curso era dividido em duas etapas. Na primeira, o alu-
no recebia formação básica sobre cultura e conhecimentos
técnicos e artísticos.
Para essa etapa do curso, a autora supracitada assim
opina:
Essa primeira etapa, semelhante a qualquer curso de
arquitetura, visava à formação de desenhistas industriais com
a mentalidade de arquitetos. Isso porque o desenhista
industrial deveria trabalhar da mesma forma que o arquiteto,
pois, embora não projetasse prédios, projetaria rádios,
automóveis, geladeiras etc., com o mesmo respeito pelos
materiais, pela função e pela técnica, como aquele que o
arquiteto empregava em seus projetos (ACAYABA, 1994, p.38).
Na segunda etapa, os alunos aplicavam esses
conhecimentos à solução de projetos de equipamentos que
deveriam ser produzidos industrialmente; projetos de
comunicação visual; e desenvolviam experiências com a
fotografia, com a publicidade e com o cinema.
Não se pretendia formar especialistas, mas desenvolver
nos alunos a capacidade de resolver qualquer problema
técnico ou artístico na área do desenho industrial.
À indústria brasileira não interessava absorver os
profissionais formados pelo IAC, comprometidos em criar
uma linguagem nacional. "Aos poucos as patentes de
produtos internacionais eram adquiridas e desejadas por
Formação
36
uma sociedade eternamente sequiosa do que se produzia
fora" (ACAYABA, 1994, p.39).
Os alunos do IAC procuraram nas artes plásticas e
desenho gráfico outros caminhos; porém ficaram para
sempre marcados pelos conteúdos apreendidos no curso,
dando a perceber certa "identidade de princípios" na
produção profissional - ainda que muito diversificada -
desses antigos alunos. Freqüentaram o IAC: Alexandre
Wollner, Antonio Maluf, Emilie Chamie, Ludovico Martino,
Maurício Nogueira Lima, e muitos outros.
Os acontecimentos aqui relatados salientam a
"efervescência cultural" em que se vivia na capital paulista
quando Abrahão Sanovicz mudou-se para cá e logo
procurou participar dessa efervescência. De igual modo
esses fatos revelam o compromisso de muitos arquitetos na
constituição de instituições que transformaram de maneira
radical a vida cultural da cidade e do país, assim como a
importante contribuição que tanto MAM, através da Escola
de Artesanato, quanto o MASP com o Instituto de Arte
Contemporânea, tiveram na formação de grandes artistas.
Formação
37
Cartaz da I Bienal
autor: Antonio Maluf
fonte: www.globo.com/bienal
visitada em 12/12/2003
Sobre esse momento da cidade, Aracy Amaral comenta:
Vivia-se em São Paulo em período de ebulição cultural,
ambiente em que coexistiam vários críticos de arte oriundos
da literatura, como Sérgio Milliet, José Geraldo Vieira, Geraldo
Ferraz, Luiz Martins, da sociologia, como Lourival Gomes
Machado, ou ainda do jornalismo e pintura, como Quirino da
Silva, ou simplesmente do jornalismo, como lbiapaba Martins
(AMARAL, 187, p.245).
Sobre a experiência da Escola de Artesanato e sobre a
vida na cidade que o acolhia, declarou Abrahão Sanovicz ao
pesquisador do Centro Cultural São Paulo, arquiteto Marcos
Cartum:
Quando cheguei, estava para acontecer a I Bienal de Arte de
São Paulo (as primeiras bienais, por sinal, foram maravilhosas).
A I Bienal foi no Trianon, um projeto feito por Luís Saia e
Eduardo Kneese de Melo. Nessa época, ainda garoto, já
manifestava muito interesse pelas exposições de arte
organizadas, por exemplo, pelo MASP (ainda situado na rua 7
de Abril). Então, tive oportunidade de acompanhar exposições,
como a de Le Corbusier, Max Bill, Lasar Segall e Portinari. Havia
ainda a revista "Habitat", da Lina Bo Bardi. Nessa época, o
MASP criou o Instituto de Arte Contemporânea para a
formação de artistas gráficos, um curso que já manifestava a
preocupação com o
design
, mas relacionado com os aspectos
bidimensionais. Havia uma equipe de europeus que aqui
chegou no pós-guerra, agitando muito esse centro artístico que
havia na 7 de Abril. Havia o pessoal da fotografia, estandes,
cartazes etc. Veio muita gente para atuar nessas áreas durante
as comemorações do IV Centenário da cidade, em 54. Era,
enfim, um novo mercado que se abria.
Nessa época, também, começavam a aparecer algumas
galerias de arte moderna. Na praça da República, havia a galeria
Domus e o pessoal da loja Ambiente. Eu, enfim, continuava a
freqüentar o curso de Edificações, quando o Museu de Arte
Moderna abriu inscrições para uma nova escola chamada
Escola de Artesanato montada na Praça da Roosevelt, uma
iniciativa de Ciccilo Matarazzo. Essa escola tinha um sentido
diferente do curso criado pelo MASP, que objetivava, na
verdade, formar gráficos (um profissional que seria, por assim
dizer, precursor do
designer
), além de outros cursos, como o
de gravura e o de formação de artistas. Eram cursos livres. Já
a Escola de Artesanato formava fundamentalmente gravadores
e ceramistas. Acabei fazendo um teste para concorrer a uma
vaga de bolsista; fui aprovado e comecei a freqüentar o curso
(à noite). Era uma coisa maravilhosa devido ao ambiente de
trabalho, ao contato com os colegas, muitos dos quais viriam a
se tornar artistas importantes de São Paulo, além de grandes
professores. Citaria, por exemplo, Yllen Kerr, que depois se
tornou um excelente fotógrafo no Rio, o Mário Gruber, que já
conhecia de Santos e o Lívio Abramo. Havia também os
professores de Desenho Artístico: o Antonio Gomide, o Jorge
Nasturel e o Pfeiffer, que dava aulas de História da Arte
(SANOVICZ, 1997, p. 144).
Formação
38
Formação
39
2. Pássaro da Liberdade
Em São Paulo, no período que estudava na Escola Téc-
nica, de 1951 a 1953, Abrahão Sanovicz participou de um
movimento juvenil sionista, socialista e
kibutziano
2
, o
Dror
3
.
A apresentação do livro
Pássaros da Liberdade
, de autoria
de Carla Bassanezi Pinsky, relaciona algum nomes que
participaram do movimento:
O que é que têm em comum o maestro Isaac Karabtchevsky,
o economista Paul Singer, o jornalista Alberto Dines, a
psicanalista Anna Verônica Mautner, a pianista Clara Sverner, o
ator Abrão Farc, o sociólogo Gabriel Bolaffi, o psiquiatra
Richard Kanner, a joalheira Betty Loeb, o professor Bernardo
Kucinski, além de serem cidadãos de destaque em suas áreas
de atuação? O fato de terem pertencido, há quase cinqüenta
anos, a um grupo de jovens socialistas radicais, o
Dror,
que
negava os valores da sociedade burguesa em que viviam e
pretendia socializar o mundo a partir de pequenas unidades
agrícolas igualitárias, os kibutzim (PINSKY, 2000, capa).
Várias experiências e tradições deram conteúdo
ideológico ao
Dror
: os sionistas socialistas europeus, a vida
dos primeiros
kibutzim
, os movimentos juvenis e pioneiros no
fim do Século XIX e início do XX; sobretudo o
Wandervogel
4
,
como destacou o historiador e filósofo Dr. Nachman Falbel,
amigo pessoal de Abrahão e companheiro deste movimento
juvenil, cuja experiência relatou em entrevista
5
.
Os valores preconizados pelo
Wandervogel
atraíram
grandes massas da juventude alemã: a volta à natureza, o
combate ao desmatamento e à destruição das populações
aborígines e do
habitat
selvagem; a crítica às aglomerações
urbanas e conseqüente alienação do homem em relação à
natureza; a educação através do trabalho prático; a va-
lorização das atividades esportivas; e alteração nos costumes
como não fumar, não beber, uma ética de vestuário (mas sem
uniformes). Ao mesmo tempo, promovia valorização da idéia
de que essa é a etapa da vida em que se deva experimentar
total independência de ideologias ou credos.
Essa foi a matriz do movimento juvenil judaico que agre-
gou a estes valores a problemática judaica, na medida em que
surge o nacionalismo judaico, chamado "movimento sionista".
O
Dror
originou-se na Polônia, na década de 1910, e
adquiriu maior relevância a partir da colonização judaica
moderna da Palestina, fruto do entendimento de que a
juventude constitui uma etapa de vida em si, independente e
com valores próprios.
Relata-nos Pinsky:
À semelhança de jovens de outros paises, que, na segunda
metade dos anos 40 e por toda a década de 1950, engros-
saram as fileiras dos movimentos judaicos, eles fizeram-se
herdeiros de uma tradição européia do início do século que en-
globa o sionismo socialista, os movimentos juvenis e os ideais
pioneiros. Acreditando que o problema da discriminação con-
tra os judeus seria resolvido com a participação destes em ati-
vidades produtivas dentro de um estado nacional judaico -
Israel - em colônias coletivas - os
kibutzim
-, os jovens do
Dror
politizaram-se, questionaram a ordem burguesa e os papeis a
eles oferecidos pelo meio em que viviam e prepararam-se para
uma nova vida na terra distante, buscando servir de exemplo
para a criação de uma sociedade mais justa e igualitária no
mundo (PINSKY, 2000, p.9).
No Brasil, o movimento surgiu primeiramente em
São Paulo, em 1945, com o nome de
Freiheit
6
, que logo
passou a ser chamado
Dror
e, em pouco tempo se espalhou
para as comunidades jovens judaicas de outros Estados.
Como descreve o citado Nachman Falbel:
Em fins do mesmo ano de 1945, em 29 de dezembro, o
Jornal
Israelita
, e no dia 31 a
Aonde Vamos
? publicavam nota sobre a
fundação da Organização Juvenil Sionista Socialista
Freiheit
em
São Paulo, tradicional movimento europeu que já existia na
Argentina desde 1934, na qual se informava a constituição de
uma comissão provisória[...] O
Dror
, nome que substituiu o
iídiche
Freiheit
, teria assim como os demais movimentos
sniffim
(filiais)em outras capitais do país, tornando-se um catalisador
dos anseios da juventude judaica após a guerra. A história dos
movimentos juvenis no Brasil ainda está por ser escrita, mas ela
encerra um dos capítulos mais importantes que a juventude
judaico-brasileira desempenhou na disseminação de ideais so-
ciais, não somente no âmbito restrito de sua comunidade, mas
na sociedade brasileira como um todo (FALBEL, 1996, p. 88 e
89)
7
.
Participavam do
Dror
crianças e jovens de 7 a 20 anos,
organizados por faixas etárias. Adotou-se uma pedagogia
apropriada para cada uma destas faixas, de maneira a
prepará-los para viverem nas colônias agrícolas de Israel. Se,
por um lado, deveriam estar habilitados a viver do próprio
trabalho na agricultura, por outro, como a maior parte deles
pertenciam a segunda ou terceira geração de emigrantes, de-
veriam estudar o hebraico, o folclore de seus antepassados e
a geografia da "Terra de Israel". Para isso, os educadores do
Dror
desenvolviam métodos apropriados: organizavam ex-
cursões, acampamentos e seminários. Eventos que visavam a
formação judaica, ideológica e espiritual dos jovens.
Muitos deles foram viver em Israel. Outros, no dizer de
Falbel, "pela insistência dos pais ou por acreditarem que sem
título universitário não sobreviveriam" ficaram no Brasil.
Abrahão Sanovicz foi um dos que ficou. Falbel salienta a
importância do movimento como o "vírus" da militância e
idealismo que se implantou na juventude e acompanhou o
amigo Abrahão por toda a vida.
O jornalista Alberto Dines, na apresentação do livro de
Carla Pinsky, sintetiza esse sentimento com precisão:
[...] foi talvez a passagem mais importante da minha vida. Mais
de meio século depois, verifico que os outros têm a mesma
sensação. Com Romain Roland no coração, estávamos
convencidos de que o mundo melhor começaria a a partir de
nós mesmos (PINSKY, 2000, capa).
Formação
40
Formação
41
3. O aprendizado da arquitetura
3.1. Origem
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo foi criada pela Lei nº. 104, de 21 de junho de
1948, a partir do curso de arquitetura da Escola Politécnica,
ministrado desde 1894 formando engenheiros arquitetos.
A iniciativa resultou de um processo social marcado por
debates, manifestações e movimentos, desenvolvido ao lon-
go de várias décadas.
Vilanova Artigas comenta o panorama do ensino da ar-
quitetura no Brasil no Século XIX no documento "Contribui-
ção para o Relatório sobre o Ensino de Arquitetura", que
encaminhou, em 1974, à Comissão de Ensino Superior da
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e
Cultura - UNESCO:
Em 1886 já dispúnhamos em São Paulo e no Rio de Janeiro de
uma Escola Politécnica e da Escola de Belas Artes fundada pela
Missão Francesa. Entretanto, não cumpriam o papel que delas se
esperava. A Politécnica porque era exatamente teórica e a Belas
Artes porque não dispunham de qualquer recurso para a instrução
de arquitetos sobre o domínio da natureza com os recursos do
conhecimento técnico já existente (ARTIGAS, 1993, p. 133).
Nesse mesmo documento, Artigas cita as preocupações
colocadas pelo Instituto Politécnico Brasileiro, entidade
criada no Rio de Janeiro em 1862, no ofício que encaminhou
ao Governo Imperial:
Dá-se ainda um outro fato que reclama também uma
providência do Governo Imperial: é a notável disparidade dos
respectivos cursos na Escola Politécnica e na Academia de
Belas Artes ... naquela o curso não é contemplado com a
precisa instrução prática, e nesta subsiste a ausência radical e
a mais completa de certos conhecimentos científicos,
atualmente indispensáveis ao engenheiro arquiteto, em
conseqüência da diversidade de elementos, que a arte
moderna aplica às construções(ARTIGAS, 1993, p. 133).
O ofício do Instituto Politécnico Brasileiro não teve
qualquer repercussão prática.
Até o fim da primeira metade do Século XX, os cursos e
escolas de arquitetura eram poucos, e o número de
profissionais era muito pequeno.
Para consolidar seu papel na sociedade brasileira, os
poucos arquitetos procuraram reunir forças, apoiando-se nos
movimentos de arte moderna que começavam a acontecer
no país.
A esse respeito, Artigas ilustra:
Daí o caminho que a Arquitetura brasileira teve que aceitar para
restabelecer no Brasil o prestígio histórico da arte de projetar,
o "caminho heróico" como já é costume chamá-lo entre nós. Alia-
Formação
42
ram-se os arquitetos aos movimentos de arte moderna, aos pin-
tores, escultores, aos artistas da palavra(ARTIGAS, 1993, p. 134).
Assim, os acontecimentos artísticos ocorridos em São Pau-
lo a partir de 1922, aliados à atuação de Lucio Costa, Gregori
Warchavichik e Flávio de Carvalho, publicando manifestos ou
escandalizando no dizer de Artigas (1993, p.133) "o provin-
cianismo da época construindo casas modernas" deram
importância à discussão sobre a formação do arquiteto.
Lucio Costa, nomeado em 1930 diretor da Escola de Belas
Artes, tentou empreender uma reforma radical no currículo
dessa instituição, convidando novos professores, como, por
exemplo, Gregori Warchavchik, Leo Putz, Celso Antonio e A.
Budeus. Porém, não obteve êxito, conforme relata Mindlin
(1999, p. 26), "um incidente em sala de aula deu aos
elementos reacionários o pretexto para demitir o jovem
diretor em menos de um ano". Os alunos se organizaram nu-
ma greve em defesa das novas idéias artísticas e esboçaram a
proposta de criação de uma escola independente.
Os protagonistas desses acontecimentos concorreram
para a "descoberta" da arquitetura moderna brasileira.
A arquitetura brasileira já era reconhecida interna-
cionalmente, por meio da exposição
Brazil Builds
, realizada
em 1943, no Museu de Arte Moderna de Nova York e
Capa. fonte: MINDLIN, 1999 p. 11
Primeiras páginas.
fonte: GOODWIN, 1943 p. 2 (acima), 3 e 5.
Formação
43
mediante o lançamento do livro de Phillip Godwin com
mesmo nome. Os arquitetos brasileiros, agora prestigiados,
começaram a discutir e planejar a educação e formação dos
novos profissionais.
O I Congresso Brasileiro de Arquitetos, organizado pelo
Departamento de São Paulo do Instituto de Arquitetos do
Brasil, IAB-SP, realizado, portanto, em São Paulo, em janeiro
de 1945, apontava, em suas conclusões, a urgente
autonomia dos cursos de arquitetura em relação às escolas
Politécnica e de Belas Artes.
O ensino da arquitetura deveria ser reformulado de
maneira a garantir aos novos arquitetos uma formação
compatível com o processo de modernização da sociedade
brasileira, absorvendo questões relativas à industrialização e
aos novos campos de trabalho que se abririam para esses
profissionais.
Nesse contexto, o curso de Arquitetura da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo deu lugar à
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
A história registra como principais protagonistas desse
acontecimento: o professor Luiz Ignácio Romeiro de Anhaia
Mello, fundador da FAU, e os irmãos Armando e Sílvio
Álvares Penteado, doadores do edifício da Rua Maranhão,
nº. 88, para a Universidade de São Paulo. A doação teve o
objetivo precípuo de se constituir a Faculdade de
Arquitetura.
Julio Roberto Katinsky, em entrevista concedida à autora
do presente estudo, aponta como heranças da Politécnica:
A Politécnica queria não um arquiteto em especial, queria
formar com a visão do socialismo utópico francês. Quer dizer,
o técnico da Politécnica é um servidor do Estado, o servidor é
um cidadão, é um técnico cidadão.
[...]
Queríamos transformar a sociedade brasileira, e isso vinha da
Politécnica, não vinha exclusivamente, mas vinha muito da
Politécnica.
A primeira maneira era contribuir para o avanço tecnológico,
esse era o primeiro ponto, tanto que nós acabamos
contribuindo mesmo. Por exemplo, se você pegar uma porção
de obras, no início da obra do Abrahão, você vai ver que há
uma especulação em torno das estruturas. Nós procurávamos
sempre dar uma contribuição pessoal.
O currículo da nova escola conservou o programa de
ensino técnico que caracterizava o curso da Politécnica,
incorporando a formação urbanística, também ministrada
naquela escola, e disciplinas da Escola de Belas Artes: a
plástica, modelagem, arquitetura de interiores, pequenas e
grandes composições, entre outras.
Inicialmente, a organização da Faculdade previa a
existência de dois cursos: o de graduação em arquitetura,
Formação
44
com duração de 5 anos, e o de graduação em urbanismo,
que se daria em 2 anos. Este último não chegou a ser
implantado.
A estrutura do curso de arquitetura permaneceu
basicamente a mesma de 1948 a 1962, ou seja:
1º ano: matemática superior; geometria descritiva e
aplicações; arquitetura analítica; composição de arquitetura
- pequenas composições; normografia; desenho artístico; e
plástica.
2º ano: mecânica racional; materiais de construção;
topografia - elementos da astronomia de posição; teoria da
arquitetura; composição de arquitetura - pequenas
composições; desenho artístico; e plástica.
3º ano: resistência dos materiais e estabilidade das
construções; construções civis - organização dos trabalhos e
prática profissional - higiene dos edifícios; física aplicada;
mecânica dos solos - fundações; composições de arquitetura
- grandes composições; composição decorativa; e plástica.
4º ano: concreto simples e armado; economia política -
estatística aplicada - organizações administrativas;
hidráulica: hidráulica urbana e saneamento; grandes
estruturas; composições de arquitetura - grandes
composições; composição decorativa; e plástica.
5º ano: história da arte e estética; arquitetura no Brasil;
urbanismo; arquitetura paisagística; composições de
arquitetura - grandes composições; composição decorativa;
e plástica.
Apesar da importância atribuída à criação do curso de
arquitetura, o conteúdo programático adotado não alcançou
plenamente a expectativa de alguns de seus precursores.
Artigas, demonstrando tal inquietude, assim se expressou:
O currículo composto foi, inevitavelmente, uma somatória de
disciplinas. O modelo de arquiteto que pretendíamos não
podia ser compreendido. O amadurecimento deste modelo
ainda precisava e talvez precise ainda algum esforço
(ARTIGAS, 1993, p. 134).
1.3.2. A Graduação de Abrahão Sanovicz: 1954
- 1958
Abrahão Sanovicz prestou vestibular em 1953. Na entre-
vista que concedeu a Marcos Cartum, comentou o vestibular:
Havia 152 candidatos para 30 vagas. Foram aprovados 37 que
acabaram sendo absorvidos pela escola. Fiquei em 29º lugar.
No vestibular teve uma prova de desenho que consistia no
seguinte: um vaso e um plano para serem desenhados. Com
minha formação em desenho e gravura, acabei fazendo
alguma coisa que preenchia todo o plano da folha, como um
Formação
45
gravador que estivesse gravando a madeira. A minha nota foi
6,5, e eu estranhei, porque achava que poderia obter uma nota
melhor. Mas quando fui verificar as provas consideradas
melhores, percebi que elas eram as mais simples em termos
de solução de desenho. As melhores notas, enfim, foram para
candidatos que haviam feito o cursinho da FAU, orientados
pelos alunos dessa faculdade. Isso foi em 53, mas já se podia
notar que havia certa estrutura de encaminhamento numa
direção. Há uma diferença muito grande entre o meio em que
os orientadores são artistas, pintores e gravadores e o meio
em que eles são arquitetos: uma diferença de diretrizes. Na
FAU, comecei a tomar contato com outro tipo de pessoas. Era
uma escola aristocrática e, assim, entrei em contato com a
aristocracia e com todo o tipo de conhecimento de que ela
pode lançar mão. A FAU já contava com uma grande
biblioteca, e a gente passava a maior parte do tempo nessa
biblioteca (SANOVICZ, 1997, p. 144).
Para matricular-se era necessário apresentar o certificado
de conclusão do Curso Técnico, que deveria ser obtido junto
ao Ministério da Educação, no Rio de Janeiro. Lá Abrahão
pôde conhecer as obras que tanto admirava no
Brazil Builds
:
além do Ministério, visitou a Associação Brasileira de
Imprensa e o Instituto de Resseguros do Brasil.
Na entrevista na qual relata o vestibular, Abrahão se
refere aos colegas Ludovico Martino e Eduardo de Almeida
que foram os melhores classificados na prova desenho.
Ludovico Martino freqüentou o curso do Instituto de Arte
Contemporânea - IAC do MASP. Por adotar referências do
curso da Bauhaus, o IAC tinha maior identidade com a
Ministério da Educação e Saúde.
Projeto dos arquitetos Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Afonso Reidy,
Carlos Leão, Jorge Moreira e Ernani Vasconcelos.
Consultor: Le Corbusier. 1937
fonte: GOODWIN, 1943 p. 106 e 110.
Instituto de Resseguros do Brasil
Projeto dos arquitetos Marcelo e Milton Roberto, 1942
fonte: MINDLIN
,
1999 p. 225.
Formação
46
orientação conceitual da FAU do que a Escola de Artesanato.
O fato confirma a asserção de Abrahão, sobre a diferença de
abordagem feita no meio artístico e no arquitetônico.
Nas palavras de Lucio Costa:
[...] se arquitetura é fundamentalmente arte, não o é menos,
fundamentalmente, construção. É, pois, a rigor, construção
concebida com intenção plástica. Intenção esta que a
distingue, precisamente, da simples construção.
Ela não atua, porém, essa intenção plástica, de uma forma
abstrata, mas condicionada sempre por fatores de natureza
variável de tempo e lugar, tais como a época, o meio físico e
social, os materiais empregados, a técnica decorrente desses
materiais, o programa, etc. Pode-se, assim, definir arquitetura
como construção concebida com uma determinada intenção
plástica, em função de uma determinada época, de um
determinado meio, de um determinado material, de uma
determinada técnica e de um determinado programa (COSTA,
1962, p. 112 e 113).
No ano de 1954, os calouros, quando começaram a
cursar o primeiro ano, encontraram os alunos da Escola
ainda muito ressentidos, porque, dois anos antes, tinham
saído derrotados na chamada "greve Niemeyer".
Oscar Niemeyer que, na época, morava em São Paulo tra-
balhando no projeto do Parque do Ibirapuera, havia se candi-
datado a uma vaga de professor na Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo, mas teve seu no-
me vetado pelo Conselho Universitário. Os alunos fizeram
Associação Brasileira de Imprensa ABI.
Projeto dos arquitetos Marcelo e Milton Roberto, 1938
fonte: GOODWIN, 1943 p. 113.
uma greve que se prolongou por três meses até que a Escola
fosse ocupada.
Esse primeiro ano de escola foi bastante conturbado: os
professores de projeto só tiveram suas recontratações efeti-
vadas no meio do ano. Não puderam contar com a participa-
ção do professor Artigas, o qual, em 1953, tinha sido obrigado
a voltar a dar aulas na Politécnica, retornando à FAU somente
em 1956. Portanto, no primeiro semestre de 1954, só foram
cursadas as cadeiras técnicas.
Iniciado o segundo semestre, morre, em agosto, o Presi-
dente da República Getúlio Vargas. Uma greve geral da
Universidade, contra o propósito de haver uma intervenção
que prejudicasse a autonomia universitária, fez com que
poucas atividades tivessem acontecido naquele ano.
A partir de 1955 os alunos começaram a se reorganizar
em torno do GFAU, Grêmio da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da USP.
O GFAU, fundado no dia 5 de novembro de 1948,
preocupado com a formação dos alunos, promovia
atividades culturais complementares ao currículo da
Escola, como, por exemplo viagens, exposições, mostras de
cinema.
Na entrevista à Catharine Gati, Abrahão comenta:
Esse clima criava um interesse constante: tudo era novo e a
vontade de aprender sem limite.
Nossa Escola era muito pequena, 150 alunos no total. A cada
evento na cidade algum aluno sempre produzia um cartaz para
divulgação na FAU, era quase uma disputa, cada um queria
fazer o cartaz mais bonito.
Para a exposição do Volpi no Museu de Arte Moderna, fiz um
cartaz com uma ilustração que lembrava uma das janelas que
ele tinha desenhado, usando azul e cor-de-rosa, tão presentes
na obra do artista.
Para os cartazes também tínhamos nossas referências, graças
às publicações que encontrávamos na Biblioteca da FAU, a
influência maior eram a dos cartazistas poloneses e do suíço
Celestino Piatti (DPCA, 1987 e 1988)
8
.
Formação
47
Logotipo da Associação dos Arquitetos Paisagistas
Cartaz para uma Cooperativa
autor: Celestino Piatti
fonte:
Graphis
, nº66, jul/ago 1956, p.315 e 320
Formação
48
Os estudantes, interessados pelo estudo do folclore
vinculado à cultura brasileira, a partir das idéias lançadas por
de Mário de Andrade, Lucio Costa e Luís Saia, criaram o
Centro de Estudos Folclóricos - CEF que, mais tarde, passou
a se denominar Centro de Estudos Brasileiros - CEB. Este
organismo influiu, sem dúvida, na constituição e na
orientação do Departamento de História da FAU.
O Centro dedicava-se a atividades culturais e artísticas,
tanto por meio de pesquisas, quanto pela documentação da
arquitetura tradicional e da arquitetura que se produzia no
Brasil naquele momento, assim como por publicações.
Sobre seu interesse, comentou Abrahão:
Faziam-se pesquisas, a partir das quais comecei a me indagar
sobre a Arquitetura Moderna, querendo entender melhor o
processo da arquitetura moderna no Brasil (até hoje a crítica da
arquitetura moderna brasileira não é muito clara, como não era
muito clara na nossa cabeça naquela época). Queríamos
conhecê-la com maior profundidade. Acreditávamos que
conhecendo melhor seu processo, isso nos ajudaria a
caminhar um pouco mais à frente. Começamos então a fazer
pesquisas em arquitetura, tomando a obra de Lucio Costa
como ponto de partida.
[...]
Eu e o Katinsky começamos a fazer o levantamento da obra de
Lucio Costa desde o período neocolonial até o período
imediatamente anterior à Brasília (que naquela época ainda
não havia sido construída). Também foram com a gente
Eduardo de Almeida e Ludovico Martino (por sinal, foram eles
os que tiveram as melhores notas na prova de desenho a que
me referi acima). Não existia xerox, portanto, tivemos que ir à
sede do jornal "A Noite", no Rio, e ficamos manuscrevendo,
copiando tudo o que havia sobre Aleijadinho, texto de Lucio
Costa. Essa série de pesquisas, além do trabalho junto ao
Grêmio, nos possibilitou conhecer, tomar contato com todos
os grandes arquitetos da época. Fomos até o prédio do
Ministério da Educação, onde um senhor alto, magro, que
cuidava do Arquivo, nos atendeu. Explicamos que estávamos
pesquisando a obra de Lucio Costa, e ele foi muito atencioso
com a gente, fornecendo-nos um vasto material de pesquisa.
Esse senhor era simplesmente Carlos Drummond de Andrade
(SANOVICZ, 1997, p. 145).
Nesse período, os alunos acreditavam que para entender
a arquitetura que era produzida na época, no Brasil,
deveriam buscar suas origens nos anos 1930. Nesse sentido,
texto de Lucio Costa "Razões da Nova Arquitetura", de 1930,
teve singular importância:
Na evolução da arquitetura, ou seja - nas transformações
sucessivas por que tem passado a sociedade, os períodos de
transição se têm feito notar pela incapacidade dos
contemporâneos no julgar o vulto e alcance da nova realidade,
cuja marcha pretendem, sistematicamente deter. A cena é,
então, invariavelmente , a mesma: gastas as energias que
mantinham o equilíbrio anterior, rompida a unidade, uma fase
imprecisa e mais ou menos longa sucede, até que, sob a
atuação de forças convergentes, a perdida coesão se restitui e
o novo equilíbrio se restabelece.
[...]
Formação
49
Filia-se a nova arquitetura, isto sim, nos seus exemplos mais
característicos - cuja clareza e objetividade nada tem do
misticismo nórdico - às mais puras tradições mediterrâneas,
àquela mesma razão dos gregos e latinos, que procurou
renascer no Quatrocentos, para logo depois afundar sob os
artifícios da maquilagem acadêmica - só agora ressurgindo,
com imprevisto e renovado vigor. E aqueles que, num futuro
talvez não tão remoto como o nosso comodismo de
privilegiados deseja, tiverem a ventura - ou o tédio - de viver
dentro da nova ordem conquistada, estranharão, por certo,
que se tenha pretendido opor criações de origem idêntica e
negar valor plástico a tão claras afirmações de uma verdade
comum.
Porque, se as formas variam - o espírito ainda é o mesmo, e
permanecem, fundamentais, as mesmas leis (COSTA 1962, p.
17, 40 e 41).
Entre os alunos que, no período, se envolviam com a
produção das publicações, além de Abrahão Sanovicz,
estavam: Benedito Lima de Toledo, Gustavo Neves da Rocha
Filho, João Walter Toscano, João Xavier, Julio Roberto
Katinsky e Nestor Goulart Reis Filho.
O cuidado com o projeto gráfico destas publicações era
evidente, como comentou Abrahão, continuando a
entrevista com Catharine Gati:
A Biblioteca da Escola sempre foi uma maravilha, o que
estimulava os alunos. Recebia as revistas como: "Stile /
Industria", "L'Architecture D'Aujourd'hui", "Casabella",
"Domus", "L'architettura", "L'Architettura, Cronaca e Storia"
dirigida por Bruno Zevi, "Arts and Architecture", "Ghaphis",
"Gebrauch Graphik" e a "Du".
Nessas publicações eram apresentadas obras do nascente
design
do pós-guerra, o que despertou grande interesse por
parte dos alunos da FAU pelo assunto.
A preocupação com o desenho gráfico já se demonstrava nas
publicações editadas pelo GFAU, o cuidado que tínhamos com
a qualidade gráfica, a procura do que era fundamental,
essencial, colocado de uma forma direta, desenhado de uma
forma direta e com a maior economia de meios, característica
que se esboçava na Escola e, que começamos a desenvolver
desde alunos. Identifico um certo ascetismo presente na
minha obra com essas preocupações que iniciaram desde a
nossa formação (DPCA, 1987 e 1988).
As publicações do Centro de Estudos Folclóricos - tidas
como realização dos estudantes no sentido de
complementar as atividades didáticas - inauguraram uma
tradição que permanece até hoje, como, por exemplo: a
revista
Estudos; Coleção Depoimentos CEB; Publicação 1, 2,
3 ...;Tema; Boletins do CPEU (Centro de Projetos e Estudos
Urbanos); Desenho; Ou; Caramelo; Cogumelo; Jornal do
GFAU; 1:1.000;
e muitas outras publicações.
Dessa primeira fase, três publicações foram aqui
selecionadas para ilustrar os conteúdos de interesse e a
atenção com o projeto gráfico.
A
Publicação 5
do Centro de Estudos Folclóricos, de
1950, traz em sua primeira parte, "A ASCORAL e sua VI
Secção", uma série de extratos traduzidos do livro
Manière
Formação
50
de Penser L'Urbanisme
, de Le Corbusier. Segue-se a
reprodução do texto de Artur Ramos, "Conceito de Folclore"
e, por fim, apresenta a Carta de Atenas do Congresso
Internacional de Arquitetura Moderna - CIAM de 1933.
A autoria do projeto gráfico não vem explicitada no
volume, apenas uma referência à figura da capa que é de
Mario Cravo.
O texto "O Neo-Plasticismo", de Piet Mondrian,
originalmente publicado em 1920 e incluído em 1924 na
coleção "Bauhausbücher", foi reeditado pelo GFAU em
1954, com tradução de Vilma De Katinszky. Dada a
relevância do conteúdo, foi aqui reproduzido um pequeno
trecho:
Se arte, por um lado é expressão plástica de nossa emoção
estética, não podemos, por isto concluir que a arte seja
apenas "a expressão estética de nossas sensações
subjetivas".
Quer a lógica que a arte seja a expressão plástica de todo o
nosso ser: que seja, pois a aparição plástica do não individual,
o que lhe é a oposição absoluta e anuladora e, por outro lado,
seja a expressão direta do universal em nós, isto é a aparição
exata do universal fora de nós.
Assim compreendido, o universal é o que é e permanece
sempre: o mais ou menos inconsciente para nós, em
oposição ao mais ou menos consciente - o individual, que se
renova e se repete.
Publicação 5 do Centro de Estudos Folclóricos, de 1950
fonte: biblioteca da FAUUSP
Formação
51
[...]
É possível que na "totalidade do nosso ser" domine o individual
ou o universal, ou ainda que o equilíbrio esteja próximo dos
dois. É esta última possibilidade que nos permite sermos
universal enquanto indivíduo: isto é exteriorizar o inconsciente
conscientemente, É então que vemos e percebemos
universalmente, pois nos elevamos acima do domínio do mais
exterior (MONDRIAN, 1954, s.p., destaques no original).
Para a capa, como era costume, foi promovido um
concurso entre os estudantes, sendo vencedor o projeto de
Ludovico Martino. No projeto Ludovico Martino fez uma
releitura de trabalhos de Mondrian.
O Centro de Estudos Folclóricos publicou, em 1955, o
"Curso de Filosofia e História da Arte" e o "Anteprojeto do
Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional" de
Mário de Andrade.
O Curso de Filosofia e História da Arte foi, inicialmente,
ministrado na Universidade do Distrito Federal, em 1938.
Da exposição na aula inaugural sobre "O Artista e o Artesão"
foi extraído o seguinte trecho final:
Há uma incongruência bem sutil em nosso tempo. Na história
das artes estamos num período que muito parece ter
pesquisado, e que, no entanto, é dos mais afirmativos, dos
mais vaidosos, dos menos humildes diante da obra de arte.
Há por certo, em todos os artistas contemporâneos, uma
desesperada, uma desapoderada vontade de acertar. Mas a
à esq.
árvores de Piet Mondrian
fonte:
Du
, nº2, fev 1956, p.17 e 18
abaixo
Publicação GFAU, 1954
capa: Ludovico Martino
fonte: biblioteca da FAUUSP
Publicação GFAU, 1955
capa: Abrahão Sanovicz e Júlio Roberto Katinsky
fonte: biblioteca da FAUUSP
Formação
52
inflação do individualismo, a inflação da estética experimental,
a inflação do psicologismo, desnortearam o verdadeiro objeto
da arte. Hoje, o objeto da arte não é mais a obra de arte, mas
o artista. E não poderá haver maior engano.
Faz-se necessário urgentemente que a arte retorne às suas
fontes legítimas. Faz-se imprescindível que adquiramos uma
perfeita consciência, direi mais, um perfeito comportamento
artístico diante da vida, uma atitude estética disciplinada,
apaixonadamente insubversível, livre mas legítima, severa
apesar de insubmissa, disciplina de todo o ser, para que
alcancemos realmente a arte. Só então o indivíduo retornará
ao humano. Porque na arte verdadeira o humano é a fatalidade
(ANDRADE, 1955, s.p.).
A autoria da capa da publicação é de Abrahão Sanovicz
e Julio Robeto Katinsky. As fotografias acrescentadas ao
texto, no esforço para tornar mais claro o pensamento do
autor, foram escolhidas no acervo da biblioteca da FAU, por
Katinsky e Paulo Bastos.
Por essa época, a União Nacional de Estudantes - UNE
organizou em Petrópolis um encontro sobre a imprensa uni-
versitária. Como o Grêmio da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo não editava um jor-
nal, as publicações esparsas foram reunidas numa exposição.
Com isso, os organizadores alteraram as características gerais
do encontro, passaram a discutir, além dos conteúdos, os
meios, o formato e a forma da imprensa universitária. Veio daí
o que posteriormente se convencionou chamar "estilo GFAU".
Formação
53
3.3. Dois projetos
Os documentos pesquisados, sobre os projetos que
Abrahão realizou enquanto estudante, dão a entender os que
ele se refere com mais entusiasmo: a "casa" que fez no 3º ano;
o projeto para um concurso patrocinado pela União Estadual
dos Estudantes - UEE, em 1956, a Colônia de Férias em Cam-
pos do Jordão, em equipe com Julio Katinsky, 1º lugar no con-
curso; um outro concurso, patrocinado pelo GFAU, em 1957,
uma Colônia de Férias em Ilhabela, em equipe com João
Rodolpho Stroeter, 3º lugar; e, também, em 1957, o Núcleo
Residencial para a Refinaria Presidente Bernardes, Município
de Cubatão que representou a FAU no Concurso Interna-
cional para Escolas de Arquitetura da IV Bienal do Museu de
Arte Moderna de São Paulo, realizada nesse mesmo ano.
É de se lamentar que foram localizados registros de
apenas dois destes projetos, a "casa", que preservou em seu
acervo e o Núcleo Residencial para a Refinaria Presidente
Bernardes, registrado em publicação especial da FAU.
Formação
54
A "Casa"
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
"O melhor projeto que fiz individualmente, como
estudante, foi uma casa, para Cadeira de Técnicas das
Construções, ministrada por Ariosto Mila", relata Abrahão à
sua entrevistadora Catharine Gati.
A Cátedra de Nº. 9 da FAUUSP, sob responsabilidade do
professor Ariosto Mila, continha os seguintes conteúdos
programáticos: Técnica das Construções, Organização dos
Trabalhos e Prática Profissional, Higiene dos Edifícios,
Noções de Mecânica dos Solos e Fundações. Era ministrada
em dois anos, no 3º e no 4º, e abordava todas as etapas do
projeto, desde a avaliação do terreno até a elaboração de
editais para concorrência e contratos para obra.
O método de ensino estabelecia que a cada módulo
teórico, correspondesse um exercício prático.
Analisando o programa da disciplina depreende-se que o
objetivo, ao final do 3º ano, era fornecer ao aluno elementos
para executar de um projeto arquitetônico completo. No 4º
ano, o intuito era capacitar o estudante para resolver as
questões da prática profissional e para a organização dos
trabalhos.
O projeto de Abrahão foi elaborado para o primeiro
Formação
55
módulo da disciplina, "Planejamento Arquitetônico", onde
eram discutidos os seguintes conteúdos:
Do terreno: ocorrências superficiais; aspectos
topográficos; natureza do solo; serviços de utilidade pública;
aspecto econômico - noções sobre avaliação de terrenos.
Leis e regulamentos: Código Civil - do direito de
construir - das águas - do direito de condomínios.
O programa: esquemas funcionais.
Movimento de terra, adaptação das superfícies.
Abertura de valas, processos de terraplenagem.
Insolação: percurso aparente do sol. Diagramas,
exigências legais. Dispositivos para controle da insolação.
O trabalho prático consistia na elaboração do
anteprojeto de uma casa, dados um terreno e um programa
de necessidades.
Seu projeto era assim delineado: um jogo de
volumes, justapostos em ângulo; linhas que marcam a
integração do espaço interno com o externo; um pequeno
desnível; o recurso de paredes e muros que desenham os
espaços desejados. Os desenhos, muito bonitos, fazem
registrar a importância da Escola de Artesanato na sua
formação.
O Núcleo Residencial para a
Refinaria Presidente Bernardes
fonte: FAUUSP, 1958
O Regulamento do III Concurso Internacional para Esco-
las de Arquitetura da IV Bienal do Museu de Arte Moderna
de São Paulo propunha como tema: o projeto para um
núcleo residencial para os trabalhadores de um centro
industrial, que empregasse de mil a duas mil pessoas. A pro-
posta deveria prever, além da habitação, os serviços de
recreação, educação, etc. A região onde implantar essa
proposta seria definida pelos autores, necessariamente no
país de onde procedia o trabalho.
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, contava no início com duas equipes, as quais,
mesmo antes de começar o trabalho, e por iniciativa de Israel
Sancoviski, resolveram fundir-se. O grupo ficou assim
formado: Abrahão Sanovicz, Heberto Lira, Hélio Penteado,
Israel Sancovski, Jaguanhara Toledo Ramos, Jerônimo Esteves
Bonilha, João Carlos Rodolfho Stroeter, José Caetano Mello
Filho, Julio Roberto Katinsky e Lúcio Grinover.
Procuraram, inicialmente, Luís Saia e Vilanova Artigas
como orientadores do trabalho. O primeiro propôs um
estudo urbanístico no bairro da Penha; Artigas, um núcleo
habitacional para a Refinaria Presidente Bernardes, do
Conselho Nacional do Petróleo.
Nessa época, o país vivia um clima de otimismo em
relação ao seu próprio destino e um sentimento nacionalista
em ascensão. Os alunos da FAU, sempre engajados nas
causas progressistas de cunho nacionalista, elegeram a
Refinaria Presidente Bernardes para implantação do projeto.
Desde o começo, o tema foi encarado como de
planejamento, procurando sempre a integração do núcleo
proposto ao complexo urbano de Cubatão.
Sendo um projeto de grande envergadura, os aspectos
que necessariamente devessem ser desenvolvidos
(demografia, clima, solo, processos e materiais de
construção) foram aprofundados de modo suficiente para
subsidiar a proposta até a fase de projeto que se
comprometiam apresentar.
No caderno do projeto publicado pela FAUUSP, está
registrado que a equipe afirmava ser a preocupação
fundamental do trabalho discutir:
O processo da expansão gigantesca que o país atravessa, e os
múltiplos problemas que enfrenta, devido ao fenômeno da
industrialização, os quais ameaçam tornar obsoletas e
inoperantes as estruturas tradicionais de nossas cidades
(FAUUSP, 1958, s.p.).
Formação
56
Justificavam eles a escolha de Cubatão pelo fato de ser um
local onde o aparecimento das preocupações ocorreriam
num intervalo de tempo bastante curto, e a escolha da
Refinaria Presidente Bernardes, pelo impacto e significado de
sua instalação, daria um impulso decisivo na industrialização
do município.
A escolha da área onde implantar o núcleo e, de maneira
mais ampla, a reflexão para onde Cubatão devesse se expan-
dir, estava limitada a duas possibilidades: de um lado, os mor-
ros escarpados da Serra do Mar e, de outro, as áreas de man-
gue. Optaram pela ocupação dos manguezais, após serem
resolvidas as questões de recuperação e de saneamento.
A proposta de apropriação dos manguezais previa a
execução de pôlderes com cota 2,60m acima do mar.
O núcleo ficaria numa posição intermediária entre o
centro do município e a zona industrial, ligado a ambos por
transporte coletivo, como explicam no texto de apresentação
do projeto:
A longa extensão em que se desenvolve a zona industrial exige
a existência do transporte coletivo e afasta, desde logo, a
possibilidade de localização ao lado de cada indústria, da
respectiva vila-operária. Por outro lado, a vinculação direta
desta à indústria é indesejável, por favorecer o controle e a
alienação do trabalhador pela habitação. O operário deve antes
ser um cidadão de Cubatão do que o morador de uma
Formação
57
determinada vila operária (FAUUSP, 1958, s.p.).
O núcleo foi situado no lado oeste da Via Anchieta, entre
o Morro Marzagão e o Morro Piassaguera, ocupando uma
área de 144 hectares. A densidade bruta era de 65 habitantes
por hectare (adotando o número de 1,4 funcionário por
família - número utilizado pela Companhia Siderúrgica
Paulista - COSIPA na época).
A proposta previa 8 "unidades de residência", cada uma
com 13 edifícios de apartamentos e uma unidade de
serviços com: jardim de infância, lavanderia, comércio
diário, sala de reuniões e, eventualmente, restaurante.
Em cada "unidade de residência", os edifícios de
apartamento foram agrupados em conjuntos de 3, 4 ou 5
edifícios, em torno dos quais o terreno seria pavimentado e
ajardinado, estando previstas áreas para reuniões, descanso,
exercícios e jogos. Esses conjuntos eram separados por
bosques de eucaliptos que, além de drenar o solo, visavam
tornar seu uso mais flexível e contribuir para a melhoria do
microclima e para a criação de zonas de sombra. Os
bosques eram destinados a passeios e, através deles,
passavam os caminhos para pedestres e ciclistas que se
dirigiriam ao centro.
A descrição do projeto das "unidades de residência" deixa
Formação
58
evidente tratar-se uma referência às superquadras de Brasília.
O tráfego de veículos seria feito por vias principais
expressas, que contornam o perímetro do núcleo, fazendo a
ligação com a cidade e o setor industrial, e com os outros
eventuais núcleos. Das vias principais sairiam as vias
secundárias de distribuição e coleta, que atingiriam o centro,
delimitando as unidades de residência. Finalmente, vias de
acesso aos conjuntos de edifícios, terminando em cul-de-sac,
que partiam das vias de distribuição.
A proposta considerava que os moradores do núcleo não
teriam automóveis. Aliás, a indústria automobilística brasi-
leira estava, nessa época, ensaiando seus primeiros passos.
A solução previa, para os apartamentos, um edifício
com térreo em pilotis, mais três pavimentos. Assim, não
seria necessária a instalação de elevadores. A construção
seria industrializada, com modulação que pudesse
acomodar satisfatoriamente famílias com diferentes
números de membros.
O centro comunal iria reunir as atividades que
caracterizam o espaço cívico (referência aos Congressos
Internacionais de Arquitetura Moderna - CIAM's) e aquelas
que surgem especificamente do aglomerado humano: lojas,
mercado, cinema, igreja, biblioteca pública, centro de saúde,
Formação
59
edifício de administração, clube náutico, teatro de arena ao
ar livre, terminal de ônibus e escola primária.
O centro comunal foi localizado na península formada
por um braço do estuário santista e se situa no centro do
conjunto. A península é cercada em toda a volta, por
pôlderes de largura variável, sobre os quais acontecem os
passeios para pedestres.
Na proposta, o centro comunal está elevado e é consti-
tuído por três pequenas praças em níveis diferentes, interliga-
das por escadarias. As diversas atividades foram encaradas
como igualmente importantes e apenas relações funcionais
de aproximação determinaram a localização dos edifícios.
Algumas atividades não foram previstas por serem
específicas da escala de cidade, como ensino secundário e
industrial, hospital, etc.
Com este projeto, a Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo da Universidade de São Paulo recebeu - com outras
três Universidades: École Speciale d'Architecture - Paris Fran-
ça, Faculdad de Arquitectura y Urbanismo de la Universidad
Central da Venezuela e Waseda University Graduate School
of Tokyo - o Primeiro Prêmio "Ex-Aequo" do III Concurso
Internacional para Escolas de Arquitetura da IV Bienal do
Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1957.
Formação
60
Sobre o projeto, comentou Julio Katinsky em entrevista
com a autora do presente estudo:
Acatamos então a proposta do professor Artigas, e aí algumas
teses foram importantes se desenvolver, digamos assim, bem
característica do mundo paulista. Primeiro lugar: o conjunto
habitacional tinha que ter um Centro Cívico, e quem definiu
isso muito bem foi Hélio Duarte: o Centro Cívico tem que ter
uma vida cultural e uma vida física, tudo misturado.
A outra coisa que foi muito importante, e nisso Abrahão deu
uma grande contribuição foi a sistematização das fachadas
dos edifícios. Foram feitos todos com três andares, além do
pilotis, para não ter elevador.
A gente trabalhou nesse projeto com um entusiasmo louco.
Para mim foi muito bom, eu desembaracei muito. Abrahão e
eu ficamos responsáveis pelo projeto do clube náutico: todo
mundo ficou impressionado, porque em vez de ser um
retângulo, como todos os outros, resolvemos com uma
articulação de quadrados, ficou muito bonito. E nós já
estávamos estudando a obra do Oscar. Bom, é tudo um pouco
ingênuo, trabalho de estudante.
Outra coisa muito bonita foi a maquete, foi tudo calculado, tão
trabalhado: os blocos não foram pintados de branco, foram
pintados num leve cor-de-rosa, porque diziam para nós que se
fosse cor-de-rosa o contraste seria maior. As árvores são
pregos, ficou muito bonito. A maquete foi feita pelos
funcionários.
Com o prêmio, Abrahão concorreu a uma bolsa
concedida pelo Circolo Italiano de São Paulo para trabalhar
em um escritório de desenho industrial em Milão, para onde
foi logo que se formou.
Formação
61
NOTAS
1 Para os azulejos do Ministério da Educação e Saúde "a técnica
utilizada é a do baixo esmalte ou 'biscoito': a pintura é feita sobre o
azulejo não esmaltado. Após o desenho sobre a superfície porosa, que
absorve a tinta com extrema rapidez e exige uma elevada exatidão do
traço, os azulejos de 15 x 15 cm são armazenados e levados para o
trabalho de esmaltagem e queima nas Indústrias Reunidas Francisco
Matarazzo" in Itaú Cultural. Enciclopédia das Artes Visuais. Verbete
Osiarte. www.itaucultural.org.br.
2 Relativo ao
kibutz
(plural
kibutzim
) comunidade autônoma com
base em trabalho agrícola ou agroindustrial, caracterizada por uma
organização igualitária e democrática, obtida pela propriedade coletiva
dos meios de produção.
3
Dror
significa "Pássaro da Liberdade", em hebraico. Movimento
juvenil sionista e socialista fundado na década de 1910, originário da
Polônia.
4
Wandervogel
"pássaros errantes", em alemão, foi um movimento
juvenil que surgiu no fim do Século XIX, com preocupações ecológicas,
culturais, políticas e econômicas. Sua principal característica era a
independência política, ideológica e religiosa, como comentou Falbel.
5 Entrevista de Nahman Falbel concedida à autora. Ver Volume 2 da
tese.
6
Freiheit
significa liberdade, em alemão.
7 Aonde Vamos? Revista judaica editada no Rio de Janeiro. E Jornal
Israelita era ditado no Rio de Janeiro.
8 Celestino Piatti: nasceu em 1922 na Suíça, em Wangen, cidade
próxima de Zurique, onde freqüentou por um ano a "School of Arts and
Crafts", depois durante quatro anos trabalhou numa gráfica, onde
aprofundou seus conhecimentos em artes gráficas. De 1944 a 1948
trabalhou no ateliê de Fritz Bhüler. No inverno de 1948 / 49 abre seu
próprio ateliê em sociedade com sua mulher, a ilustradora Marianne
Piatti-Stricker. O trabalho de Celestino Piatti marcou gerações de artistas
gráficos.
Formação
62
Projetos
67
75
85
95
105
113
121
129
137
141
145
151
159
Iate Clube de Londrina
Desenho Industrial - A experiência no escritório de
Marcello Nizzoli 1959
Centro Cultural e Teatro Municipal de Santos
Equipamentos Públicos e Sinalização para os Jardins de
São Paulo - 1967/69
Estações de Piscicultura de Promissão e Salto Grande
Residência Abrahão Sanovicz
Fórum de Bragança Paulista
Sede do Banespa Recife
Quatro Escolas
Grupo Escolar Embaúba
Ginásio Estadual em Santos
Escola Professor Caetano de Campos
Escola Estadual de Primeiro Grau Bairro 120
Edifícios de Apartamentos
Edifício Abaeté
Edifícios residenciais, modulados e repetitíveis
Edifício Fiandeiras
Edifício Teixeira da Silva
Conjuntos Habitacionais
Conjunto Residencial Nova Cidade
Parque Habitacional CECAP Serra Negra
Parque Habitacional CECAP Sumaré
Vila Residencial da CESP Porto Primavera
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio e Conjunto
Habitacional Celso dos Santos
Casas Bi-Nucleares
Residência André Mehes
Residência Maia Rosenthal
165
167
175
181
191
197
201
209
221
229
237
247
253
263
6 5
O que é o ato de projetar?
É uma atividade tão criadora como qualquer outra atividade
humana. Não tem nada de especial nem de excelso e se
insere junto com as demais no processo vital, tendo algumas
características específicas.
Cada vez que somos solicitados a resolver algum programa e
temos de lançar os primeiros esboços no papel, o que
fazemos? Procuramos montar algumas relações no cérebro.
Para mon-las, contamos com certo estado de pré-
consciência do projeto. Elaborado neste estado e por um
mecanismo próprio do cérebro, que é comum a todas as
pessoas, ele atinge o estado da consciência. Rapidamente,
pegamos um papel e um lápis e lançamos um pequeno
esboço. Conhecemos bem o gesto simples de uma cruz que
define uma cidade e que hoje é uma capital.
É muito difícil sermos observadores daquilo que estamos
pensando e que ainda permanece no estado da pré-
consciência.
Porém na medida em que lançamos o esboço no papel,
começamos a fazer perguntas para o mesmo, procurando
respostas aos problemas propostos.
Na medida em que essas respostas atendem aos nossos
desejos, paulatinamente temos a certeza daquele nosso
primeiro ato intuitivo: se as respostas vierem certas, estamos
atingindo nosso objetivo; se as respostas não vierem, ou a
pergunta está errada, ou o projeto precisa ser corrigido.
A partir da certeza que aqueles traços interpretam o projeto
que s tínhamos - interpretam um determinado
acontecimento social a ser configurado no espaço, ancorado
ou não - podemos então ampliar as escalas do projeto e
usarmos
todas as técnicas que conhecemos.
O ato de projetar (a passagem do estado da pré-consciência
para o estado da consciência do projeto) é por demais
conhecido.
O projeto (resultado deste processo) é desconhecido, é a
pesquisa (SANOVICZ, 1990, p. 110).
Com estas palav r as A b r ahão Sanovicz revela seu pensa-
mento sobre o processo do projeto.
Os projetos apresentados procuram exprimir a tra j e t ó r i a
do arquiteto e a diversidade de problemática que enfrentou.
Mas, sobretudo, estão entre aqueles que melhor ilustram seu
p e n s a m e n t o .
Iate Clube de Londrina - 1959
Av. Higienópolis, Londrina, PR
fonte [desenhos] Toscano, 2002, p. 36 - 39.
6 8
O Iate Clube de Londrina, em 1958, procurou apoio do
Instituto de Arquitetos do Brasil - IAB para promover um
concurso de âmbito nacional para o projeto de sua sede.
A equipe constituída por A b r ahão Sanovicz, João Wa l t e r
Toscano e Julio Roberto Katinsky se inscreveu no certame.
O Clube se implantaria junto ao lago artificial formado
pelo represamento das águas do Ribeirão Cambé.
Pa r a um terreno de 123.660 m
2
, o programa de neces-
sidades sugerido no edital estabelecia: administrão – dire-
toria, secretaria, copa e sanitários; salão de baile; salão de
jogos; biblioteca;
salão de estar; restaurante; boliche; audi-
rio; sanitários; vestiários com sala de fisioterapia; er e
abrigo para barcos; e esportes ao ar livre (quadras poliespor-
t i vas, piscinas e hipismo).
O ri, constituído pelo IAB, foi composto pelos
arquitetos: Ernani de Vasconcelos, que participou do projeto
do Ministério de Educação e Saúde, Eduardo Corona e
Rubens Meister, que era de Curitiba, e tinha sido autor do
projeto do teatro Guaíra, dessa cidade.
O melhor projeto selecionado foi o dos jovens arquitetos
A b r ahão Sanovicz, João Walter Toscano e Julio Roberto
K a t i n s k y. “Quando escolheram o projeto, acreditaram ser de
um grupo c
arioca e se surpreenderam quando souberam que
a equipe ve n c e d o ra era composta por jovens e
desconhecidos arquitetos paulistas” (DPCA, 1987 e 1988),
comentou A b r ahão. O mérito da escolha também pode ser
avaliado pelas palav r as de To s c a n o :
Concorremos com gente importante, como Sérgio Bernardes.
Os organizadores pensavam que era uma equipe mais
experiente e quando chegamos ao aeroporto, três recém-
formados, eles perguntaram se éramos nós mesmos os
autores do projeto, que não foi todo construído. A inspiração
foi o Iate Clube de Pampulha, parecia um barco, pois
estávamos ligados à arquitetura moderna brasileira. Esse
projeto foi muito divulgado e obteve bastante repercussão na
época (TOSCANO, J., 2003).
A proposta de implantação considerava a Ave n i d a
Higienópolis e a margem do lago como eixos principais para
a implantação do empreendimento. O acesso natura l ,
Iate Clube da Pampulha - Belo Horizonte, MG, 1942
projeto: Oscar Niemeyer
fonte: NIEMEYER, 1977, p. 47.
6 9
p a r alelo ao lago, definiu a localização do bloco principal,
c e n t r alizador das atividades que constituem o núcleo do
Clube, distribuídas em três pav i m e n t o s .
A cavaleiro do terreno, implantado perpendicularmente
ao lago, esse bloco iria definir e organizar as dive r s a s
a t i vidades.
Vi s l u m b r ava ainda o projeto: blocos edificados,
elementos de circulação, espaços livres e esplanadas
ordenariam os espaços externos.
Entre as quadras e a piscina, a meio caminho, um outro
bloco pequeno semi-enterrado, previa a instalação dos
vestiários para as atividades esportivas, das salas para
f i s i o t e rapia e do salão de boliche. O bloco se abria para a
esplanada, desenhada
pelo edifício principal de um lado e
piscina olímpica do outro.
Da praça de chegada à meia altura entre o térreo e o
primeiro andar, o acesso ao prédio seria feito por ra m p a s .
Nesse mesmo espaço térreo, a proposta localizava o bar
e o restaurante, que tamm deveriam abrir-se para a
esplanada; a sala de jogos (pingue-pongue e bilhar); os
vestiários para as práticas do iatismo e hipismo; e o abrigo
p a r a barc o s .
No primeiro andar, na chegada da rampa, o ve s t í b u l o
previsto seria o espaço de acolhimento e organização do
p r o g rama definindo, em um lado, a administração, a
biblioteca, a sala para jogo d
e cartas e os sanitários. No outro
lado, separado por uma membrana curva, o salão de baile e
o terraço coberto. No eixo de circulação horizontal, um
segundo terraço, sobre o restaurante, se volta para a
e s p l a n a d a .
Um grande espaço estava desenhado no segundo andar:
vestíbulo e salão nobre, divididos apenas por uma cortina
p e s a d a .
Nesse cenário, a circulação vertical interna seria
resolvida com uma generosa escada helicoidal.
A solução construtiva para o bloco principal constitui-se
em estrutura mista, ou seja: os pilares e as lajes são em
concreto armado; a cobertura metálica apoiada em quatro
pilares de concreto.
Toscano come
nta mais uma ve z :
A cobertura foi resolvida como um lençol atiranta d o ,
sustentado por sete cabos de aço engastados nas duas
grandes vigas metálicas, que transferem os esforços para
quatro cabos, dois ancorados na terra e outros dois ancorados
no balanço da laje do salão de baile. Assim as quatro colunas
de concreto da cobertura o solicitadas somente por
esforços verticais (TOSCANO, J., 2002, p. 36).
7 0
Sobre as referências de projetos além da mencionada por
Toscano, A b r ahão tece os seguintes comentários:
[...] as referências são muito evidentes: parece a síntese entre
o pensamento do Oscar (Niemeyer) com algumas soluções do
Artigas, como a “receita do pilar”.
[...]
Nossas preocupações fundamentais eram com a implantação
e com a leveza do edifício, e nesse sentido dois projetos de
Oscar Niemeyer nos impressionavam o do Iate Clube da
Pampulha e uma casa que tínhamos visitado em 1958, um
lençol com quatro pilares, em Pedro do Rio.
O projeto de Londrina tem muito da arquitetura carioca:
a implantação perpendicular ao lago; o percurso no terreno
até o edifício; o desenho dos pilares; a maneira como
“mordem a laje”... (DPCA, 1987 e 1988).
Consultado, pessoalmente, para definir com suas próprias
p a l av r as o que era “receita de pilar”, o professor Katinsky,
preferiu responder delineando o desenho que apresentamos.
Antes,
porém, lembrou outra importante referência, que foi o
Iate Clube do Rio de Ja n e i r o .
Na pesquisa dessas referências apontadas pelos autores,
o u t r as tantas foram selecionadas e incorporadas, como se
pode ver nas imagens que seguem.
Desenho de Julio Katinsky - “Receita de Pilar”
Iate Clube Rio de Janeiro - Rio de Janeiro, 1945
projeto: Oscar Niemeyer
fonte: NIEMEYER, 1977, p. 62.
7 1
7 2
planta térreo
corte transversal
7 3
corte longitudinal
planta 1
o.
andar planta 2
o.
andar
7 4
Igreja Nossa Senhora de Fátima - Brasilia, DF, 1958
projeto: Oscar Niemeyer
fonte: NIEMEYER, 1977, p.186-187.
Residência Cavanelas - Rio de Janeiro, RJ, 1954
projeto: Oscar Niemeyer
fonte: NIEMEYER, 1977, p.124-125.
Referências de Projeto
Desenho Industrial
A experiência no escritório de Marcello Nizzoli
1959
Milão, Itália
fonte [imagens] acervo da biblioteca da FAU U S P
[desenhos] acervo de Diva Sanov i c z
7 6
A equipe de estudantes da FAU recebeu, com outras três
u n i versidades, o já citado Primeiro Prêmio “Ex-Aequo” do III
Concurso Internacional para Escolas de A r q u i t e t u ra da IV
Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1957.
A b r ahão Sanovicz, um dos componentes dessa equipe,
recebeu uma bolsa, oferecida pelo Circolo Italiano, para
estagiar num escritório de d e s i g n em Milão.
Sobre seu interesse pelo desenho industrial, declarou
p a r a Marcos Cartum:
[...] essa história de desenhar objeto surgiu na FAU com um
grande impacto. Os italianos começaram antes, tiveram a
sabedoria de vender esse produto, não para a Itália mas
para o mundo. Eles publicavam insistentemente aquilo que
produziam, lutando pela conquista do mercado. Nessa época,
nós não entendíamos isso com essa profundidade, porque
costumávamos apenas ver as figurinhas nas revistas. Mas
atrás dessas figurinhas, atrás desse impacto editorial, havia
um grande desejo de conquista mercadológica. E o que mais
nos impressionava nisso tudo era o Olivet
ti Style, que foi
marcante na época. Isso foi surgindo naturalmente na escola
e, entre os alunos, havia certa preocupação em desenhar o
objeto. Era até encantadora a proposta do ponto de vista
social. A gente faria um objeto bem estudado, capaz de ser
produzido, repetido, e ele ia ser usado indistinta m e n t e ,
vendido nas lojas, e tal. Seria gratificante entrar em uma casa
onde se estivesse comendo com talheres que você havia
desenhado! Havia um pouco esse sentido romântico que
poderia ser melhor conduzido. Ficou no romantismo,
quando poderia haver maior objetividade. (SANOVICZ, 1997, p.
146).
O primeiro problema que teve que enfrentar foi procura r
um profissional para acolhê-lo em Milão. Bramante Buffoni,
artista gráfico radicado no Brasil, indicou o escritório do
d e s i g n e r M a r cello Nizolli, e foi onde A b rahão estagiou.
M a r cello Nizzoli nasceu na cidade italiana de Boretto em
1887. Freqüentou o curso de pintura da escola de Belas A r t e s
de Parma onde se formou pintor, no
início do culo XX.
G r aças à sua pesquisa sobre arte abstrata, aproximou-se
do movimento ra c i o n a l i s t a .
Dedicou-se, inicialmente, à arte aplicada, desenhando
mosaicos, tapeçarias, estamparia para tecidos e projetos de
d e c o r a ç ã o .
No ano de 1923, participou da Mostra Internacional de
Arte Decora t i va da cidade de Monza, Itália, onde seu
t r abalho foi reconhecido. Por essa razão, foi trabalhar para as
indústrias Campari, Fiat e Montecatini.
Sua trajetória artística e profissional registra ainda a
c o l a b o ração com muitos arquitetos protagonistas da “nova
a r q u i t e t u ra italiana”, como, por exemplo, Te r ra g n i ,
Baldessari, Figini e Po l l i n i .
Em 1940 f
oi convidado para trabalhar no escritório de
publicidade da Olivetti como artista gráfico. Em pouco
tempo tornou-se um de seus principais desenhistas
7 7
industriais. São projetos de Nizzoli para Olivetti a
c a l c u l a d o r a Divisumma 24 (1956) e as máquinas de escreve r
Lexikon 80 (1946-1948), Lettera 22 (1950), expostas na
coleção permanente de d e s i g n do Museu de Arte Moderna
de Nova Yo r k .
Além de suas próprias criações, elaborou releva n t e s
projetos de arquitetura com os arquitetos G. M. Olivetti, A .
Fi o c chi e G. A. Bernasconi.
Devido ao extraordinário currículo desse artista que
acolheu o brasileiro A b r ahão Sanovicz, ele recebeu, em
1966, o título de Doutor Honoris Causa em A r q u i t e t u r a do
Politécnico de Milão.
Esse foi um pálido esboço” biográfico de Marc e l l o
Nizzoli em cujo escri
rio A b r ahão estagiou por seis meses.
D u r ante sua permancia na Itália, A b rao teve
oportunidade de estar em contato bem próximo com o
t r abalho de outros importantes d e s i g n e r s italianos como, por
exemplo, Gio Ponti, Marco Zonuso, os irmãos Costiglioni,
Pinin Farina, “Nuccio Bertoni, e Ettore Sottsass. A
c o nv incia com este ambiente nos leva a crer que
influenciou de modo significativo o pensamento de A b r a h ã o .
Com eleito, Bertoni assim expressa a essência do
pensamento desses d e s i g n e r s:
Todo o empreendimento humano é caracterizado por uma fase
inicial de intensa concentração e grande criatividade. É o
momento mais delicado e estimulante, é quando se cria a
idéia, o projeto. Em seguida vem o desenvolvimento do
projeto, os ensaios, a prodão, as quinas, os
computadores, os robôs... No início de tudo, somente o
homem com seu pensamento, sua alma e seu
profissionalismo, capaz de ter intuições grandes e frágeis, ao
mesmo tempo simples e complexas (BERTONI, 2003, p. 7).
Cumpre registrar de igual modo que no estágio com
Nizzoli, A b r ahão participou do projeto de um interfone, uma
quina de café, um distribuidor de gasolina para Agip e
algumas marcas para empresas estatais.
Dessa experiência comenta ele próprio:
E é interessante observar a relação do designer com a
indústria na Itália. Existe por parte do empresário um
interesse, um cuidado especial que vai desde a programação
visual, passando pelos logotipos e papéis de carta da indústria,
até o produto fabricado por ela. Citaria o exemplo da Olivetti.
Divisumma 24, Lexikon 80 e Lettera 22
projetos: Marcello Nizzoli
fonte: www.olivetti.com e www.tribu-design.com
(acesso 11 de dez. de 2003)
7 8
O Nizzoli trabalhava justamente para a Olivetti, que na época
não tinha ainda um escritório próprio de design. Um dia, ele
me apresenta a marca da máquina de escrever Underwood,
pedindo para que eu fizesse uma nova marca, porque o
presidente da Olivetti embarcaria no dia seguinte para Nova
York, onde deveria adquirir 25% das ações da Underwood, e
pretendia levar pronta a nova marca (SANOVICZ, 1997, p. 147).
A b r ahão não observou a maneira respeitosa como a
indústria italiana tra t ava o d e s i g n , mas também percebia a
m a n e i r a como a sociedade italiana assimilava seus artistas, e
isso, sem dúvida, marcou a partir daí suas manifestações. A
esse respeito, na mesma entrevista ele afirma:
[...] você pega os artistas mais interessantes do Renascimento
e percebe que isso é uma coisa que eles têm profundamente
arraigado, que está no sangue. Para nós, assumir uma postura
de artista fica algo difícil, quase esquisito. Para eles, é uma
coisa normal; o artista não é diferente dos outros. Aqui, é visto
como um ser diferenciado que passa pelo mundo como um
iluminado, sempre soltando raios e coisas assim... Enfim,
senti um choque muito grande, quando fui à Itália e percebi a
diferença de tratamento num contexto social do que é ser um
arquiteto e um artista lá, do que é ser um arquiteto e artista
aqui. Completamente diferente. Lá, é algo normal, existe um
espaço para ele. Quando se trabalha lá fora, sentindo o tipo de
encomenda qu
e lhe fa zem, o tipo de relacionamento
profissional e social que se estabelece, quando você volta,
sente um imenso degrau. Sei lá... país novo, capitalismo
selvagem, economia predatória, falta de critérios culturais,
coisas desse gênero (SANOVICZ, 1997, p. 146).
Dos projetos desenvolvidos juntamente com Nizolli,
f o r am localizados alguns croquis e as cópias heliográficas de
suas versões finais. O material disponível orientou a
apresentação desses preciosos documentos, destacando a
importância do esboço no processo de pensar e resolver o
p r o j e t o .
Uma exposição realizada em 1984 no Museu Lazar Segal
- A linguagem do Arquiteto: o Croquis” - tratou com muita
propriedade o assunto.
Do catálogo dessa exposição extraímos um trecho do
texto do arquiteto e professor Luiz Car
los Daher:
O esboço poderá crescer lenta ou rapidamente, definir-se
compacto ou em formas distribuídas. Mas assim que a
imagem lançada no papel se torna significativa, parece induzir
a um movimento pendular, qualquer coisa de e q u i l í b r i o
instável permanente, se a expressão não for pedante ou
pseudo-científica. Porque por um lado o esboço multiplica
seus contornos: raramente é possível abarcar de imediato a
multiplicidade de fuões imposta pelo programa de
necessidades. Mas por outro lado, o trabalhador da imagem
deverá retornar ao esboço inicial para manter a relação dos
d e t alhes com o todo: a satisfação das necessidades
contingentes não pode prejudicar a integridade e a percepção
primeira da imagem.
O retorno ao esboço aos novos espaços imaginados; e esta
modificação por seu turno sugere novos contornos... o
processo é inesgotável, enquanto o arquiteto disser: - eis a
imagem que importa materializar.
[...]
D eve have r, certamente, quem descreva melhor esse
7 9
pensamento arquitetônico, no qual a lógica verbal interfere de
forma ainda pouco esclarecida. Quando se observa o esboço
vê-se a passagem do indeterminado para o determinado, do
desejado pelo cliente para o desejado por ele e pelo arquiteto.
Ambos têm papeis representativos na sociedade onde o
projeto aparece. Extrapolando, o esboço mostra aquilo que
uma sociedade formula no plano afetivo e intelectual; como
Fernando Pessoa, o arquiteto pode dizer: o que está em mim
está pensando(DAHER, 1984, s.p.).
A b r ahão participou da exposição supracitada, apresen-
tando os desenhos elaborados para o projeto de um conjunto
habitacional em Porto Primave ra. Deixou registrado seu pen-
s a m e n t o :
O primeiro risco é sempre fruto da intuição.
Pode demorar bastante tempo para aparecer. Pode ser rápida
gestação.
Pr o j e t ado este primeiro esboço num papel, me torno
observador do que está desenhado.
É menos penoso do que observá-lo dentro de minha cabeça.
Como analista atento, passo a reconhecer o que propus.
Faço perguntas a este tosco croquis.
Quanto mais completas são as respostas mais me convenço
da exatidão da proposta.
É um processo de indagações e solução emergentes, até um
ponto no qual o projeto adquire vida própria.
Ele como que ordena as soluções necessárias para seu
aperfeiçoamento.
A partir de então, sobra tempo para identificar quais projetos e
situações anteriores me induziram a determinada solução.
O fato artístico / intu i t i vo é
reconhecido e então
explicitado.(SANOVICZ, 1984, s. p.).
8 0
8 1
8 2
8 3
Referência
Pinha - Le Corbusier
fonte: L’architecture d’Aujourd’hui, número hors serie p.35.
Centro Cultural e Teatro Municipal de Santos
1960/68
Avenida Senador Pinheiro Machado com Avenida Francisco Manoel,
Santos, SP
fonte [desenhos|imagens] acervo da biblioteca da FAUUSP
8 6
Os arquitetos A b r ahão Sanovicz, Julio Roberto Katinsky e
O s waldo Corrêa Gonçalves o os autores do projeto de
Centro Cultural e Teatro Municipal de Santos.
O s waldo Corrêa Gonçalves nasceu em Santos em 1917.
Foi o único de sua turma a se formar engenheiro arquiteto
pela Escola Politécnica da USP, em 1941.
Foi professor da Faculdade de A r q u i t e t u ra e Urbanismo
da Universidade de São Paulo em 1954 e 1955, assistente de
Ícaro de Castro Mello, na disciplina Grandes Composições.
Presidiu o Departamento de São Paulo do Instituto de
Arquitetos do Brasil - IAB SP, de 1961 a 1963
, entidade que
ajudou a fundar e construir.
O artigo Documento, publicado no nº. 59 da revista AU,
foi dedicado à obra de Oswaldo Corrêa Gonçalves. O texto
t r az o seguinte destaque:
Se existem arquitetos que se caracterizam pela fidelidade, ao
longo do tempo, à expressão de um ideário numa linguagem
arquitenica constante, outros que, para ex p r e s s a r
princípios que seguem com constância, empregam linguagens
diversas, tornando menos imediata a correlação obra-autor.
Oswaldo Corrêa Gonçalves pertence ao segundo grupo. A
parceria freqüente com arquitetos de formação e geração
diversas resultou num conjunto de obras que se apresenta ao
olhar como um leque de projetos da mesma raiz, mas de
florações diversas. Ao mesmo tempo, a convivência entre
aquela geração de arquitetos imbuídos de intenções e
indagações afins propiciou o entrelaçamento de informações
(e, por que não? de influências) recíprocas num processo que
impulsionou – vivificando – a pesquisa e a produção modernas
em São Paulo (DOCUMENTO, 1995, p.81-82).
A maneira de trabalhar acima descrita é ilustrada com
um exemplo concreto: trata-se do convite que fez aos jove n s
arquite
tos A b r ahão Sanovicz e Julio Roberto Katinsky, para
participarem com ele da elaboração do projeto do Iate Clube
de Santos. Como anteriormente foi referido, Sanovicz e
K a t i n s k y, juntamente com Toscano, foram os vencedores do
concurso de projetos para o Iate Clube de Londrina.
Assim pode ser descrito o projeto do Iate Clube de
Santos: uma grande cobertura em concreto armado que se
p r o j e t a va sobre o mar, constituída por vigas-vagão inve r t i d a s ,
com vão de 50 metros e balanços de 20 num sentido, e 25
metros no outro, apoiadas sobre quatro pilares. Essa estrutura
foi calculada pelo engenheiro Roberto Rossi
Zuccolo.
Infelizmente, todavia, o projeto não chegou à sua fase
e x e c u t i va .
Pela mesma época, Oswaldo foi convidado para elabora r
o projeto do Centro Social do setor Politécnico e Pra ç a
C i r cundante, desenvolvido pela mesma equipe. Em seguida
surge outro convite, agora o Teatro Municipal de Santos.
Dessa feita, a mesma equipe enfrenta um programa bastante
e x t e n s o .
8 7
Em 1961, o crítico Sabato Magaldi fez uma matéria para
a revista H a b i ta t sobre o Teatro Municipal e Centro de A r t e
em Santos. Comentava ele na ocasião:
A construção do Municipal é de fato uma exigência para
Santos. O antigo Coliseu não apresenta condições acústicas
satisfatórias para o gênero declamado, e nem veio tendo boa
conservação, a fim de que parecesse acolhedor para o público.
O Independência, depois de curto serviço prestado ao teatro,
t r a n s formou-se em cinema, necio mais rendoso... O
auditório do Centro Português prestou ótimas colaborações ao
II Festival Nacional de Teatro de Estudantes, por exemplo, mas
pelas próprias exigências da coletividade a qual pertence, não
pode ter aproveitamento permanente (MAGALDI, 1961, p. 24).
D e v e-se salientar que a carência da cidade era ainda
maior e não existiam edifícios dedicados a outra s
manifestações artísticas. Dessa maneira, foram eno
i n c o r p o r adas outras atividades ao programa do teatro,
criando, assim, um centro artístico e cultural que
c o m p r e e n d i a :
a. teatro de comédia (tradicional), com 600 lugares;
b. balé
;
c. ópera de câmara ;
d. teatro elizabetano, no qual a área de representação
rodeia em parte a platéia;
e. teatro ltiplo com três palcos simultâneos
representando-se cenas sincronizadas;
f. teatro de arena onde o palco é cercado pelas platéias;
g. espaço para sessões cinematográficas de filmes de arte;
h. locais para exposição de artes plásticas, pintura, escul-
t u r a, grav u ra, desenho, arquitetura, bem como preleções
sobre artes, feitas por especialistas;
i. escola de balé.
O terreno reservado para a implantação do projeto
l o c a l i z ava-se inicialmente na confluência da Avenida A n a
Costa, Rua Alexandre Herculano e Avenida Genera l
Francisco
Glicério.
Oswaldo Corrêa Gonçalves, Abrahão Sanovicz e Julio Roberto Katinsky
VI Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo, 1961.
Exposição Internacional de Arquitetura com o projeto Centro Cultural e
Teatro Municipal de Santos
fonte: acervo de Diva Sanovicz
8 8
Como partido de projeto, todas as atividades fora m
reunidas num único bloco. Isso porque os autores tive ram a
preocupação e o cuidado de integrar o edifício à praça que
lhe servia de suporte. Assim sendo, vindo de qualquer uma
das ruas, atingia-se uma plataforma um pouco elevada, local
das bilheterias, da administração e acesso para a sala de
e s p e r a do teatro. Esta laje, prolongava-se até o jardim latera l ,
onde estaria o estacionamento, ficando a cavaleiro de um
espelho d’água.
O segundo pavimento previa um espaço para exposições
com a respectiva administração e os sanitários.
Iluminad
a e ventilada zenitalmente, a escola de bafoi
projetada para ficar sobre a platéia.
A consultoria cenotécnica foi de Aldo Calvo e a do
sistema eletroacústico de Igor Serenevsky.
A ampla caixa do palco foi desenhada de maneira a
acomodar toda a parte mecânica, bem como as coxias
l a t e r ais para o deslocamento dos cenários. No palco, dois
g i r atórios permitiriam a troca instantânea dos cenários. Fo r r o
e paredes da platéia receberam tratamento de maneira a se
obter o melhor rendimento acústico.
A estrutura, calculada pelo Escritório cnico Fe i t o s a
Cruz e De Lucca, era constituída de
seis grandes vigas que
s u p o r t a vam as cargas da cobertura e, parcialmente, da laje
do museu, descarregando na parede do ciclorama e em
pilares embutidos nas parede de fecho da platéia. A laje da
sala de espera descansava sobre vigas em balanço, com
secção va r i á v el, acompanhando o forro.
O fechamento do volume seria feito pelas empenas
l a t e r ais e por paredes de vidro protegidas do sol por grelhas
de alumínio.
A revista carioca M ó d u l o, em sua edição nº. 7, de julho
de 1962, assim se refere ao projeto:
Os arquitetos, compreendendo o caráter dinamogênico que
com certeza terá o edifício para a cultura de Santos,
procuraram tradu
zir o espírito que anima a arte
contemporânea e a arquitetura brasileira numa fo r m a
compacta e homogênea que possa exprimir o nosso comum
anseio de progresso (TEATRO, 1962, p.17).
É importante consignar que o prefeito eleito em 1960,
Luiz La Scala Júnior, grande entusiasta do projeto, morreu
antes de assumir o cargo.
Por esse motivo o empreendimento foi interrompido e só
foi retomado em 1968 portanto, após longos oito anos
em outro terreno bem maior, na Avenida Senador Pinheiro
M a c hado com Avenida Francisco Manoel, e incorpora n d o
o u t r as atividades no programa: um centro de vivência, bibli-
8 9
oteca municipal e uma escola de arte.
Nesse novo cenário, o desafio do desenvolvimento do
projeto ampliou de modo significativo os conhecimentos dos
ainda jovens arquitetos. Desafios e conhecimentos
expressados pelas palav ras do próprio A b r a h ã o :
Quando o projeto foi retomado tivemos que nos assenhorar de
todas as técnicas intervenientes: cenotécnica; sistema de ar
condicionado; instalações; estruturas protendidas; curvas de
visibilidade; materiais de impermeabilização; tratamento de
juntas de dilatação; além de nos aprofundar nas diferentes
m a n i fe s t ações teatrais, como a ópera, o teatro
shakespeareano e o elizabetano. Foi uma oportunidade de nos
aprofundarmos em complexas e diferentes áreas do
conhecimento (DCPA, 1987 e 1988).
A b r ahão indicou como influências marcantes na elabora -
ção dessa obra: o Teatro Nacional de Brasília, com suas vigas
protendidas na cobertura; e o projeto qu
e Vi l a n o va A r t i g a s
apresentou para o concurso do Clube Paulistano, especifi-
camente o edifício do auditório, um prisma ch a n f r ado, um
único apoio e a platéia em balanço.
A conv i ncia com Oswaldo Corrêa Gonçalves, mereceu
o seguinte comentário junto à Catharine Gati:
Ele teve uma grande confiança em dois jovens arquitetos nos
dando a oportunidade de, no início da carreira, trabalharmos
com problemas tão complexos. Oswaldo é um trabalhador
incansável, sabe como perseguir o projeto, como levá-lo para
frente, se cercar de todas as técnicas necessárias, resolver os
entraves, e, isso tudo, aprendemos com ele (DCPA, 1987 e
1988).
9 0
implantação
elevação frontal
9 1
elevação lateral elevação posterior
9 2
planta teatro
9 3
corte transversal
corte londitudinal
9 4
Teatro Nacional de Brasília
projeto: Oscar Niemeyer
fonte: Acrópole, n
o.
277, dezembro de 1961, p.15.
Referências de Projeto
Concurso Clube Atlético Paulistano, 1957.
Auditório
projeto: João Batista Vilanova Artigas
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
Equipamentos Públicos e Sinalização para os
Jardins de São Paulo - 1967/69
fonte [imagens|desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
9 6
A Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura do Município
deo Paulo convidou, em 1967, as arquitetas Mira n d a
Magnoli e Rosa Kliass para elaborarem projetos de imera s
p r as na cidade.
Pa r a o projeto dos equipamentos, elas conv i d a r am A b ra -
o Sanovicz, professor da disciplina de desenho industrial
da Faculdade de A r q u i t e t u r a e Urbanismo da Unive r s i d a d e
de São Paulo, alguns anos após ele ter passado pela expe-
riência de estágio na Itália e ter podido estar em contato com
e x p r e s s i vos d e s i g n e r s. Na realidade a escolha se justificava
porque era necessário projetar equipamentos que pudessem
ser produzidos em escala indust
rial.
Pa r a o desafio dessa nova empreitada, A b r ahão convo c o u
seu companheiro Julio Katinsky, o arquiteto Massayo s h i
K a m i n u r a e o desenhista industrial Bramante Buffoni.
Ambos, conheciam Buffoni desde estudantes, quando o
c o n v i d a r am como júri de um daqueles concursos internos
p a r a escolha de um cartaz ou capa de publicação.
Decio Bramante Buffoni, nasceu em Milão em 1890. Na
Itália, trabalhou com Marcello Nizzoli, que recebeu A b r a h ã o
em seu escritório, conforme relatado anteriormente. Ve i o
p a r a o Brasil em 1955 onde realizou trabalhos de desenho
industrial, artes gráficas e muitos mura i s .
A arquiteta Isabel Coelho, em sua dissertação de
m e s t r ado Painéis em
Mosaico na Arquitetura Moderna
Pa u l i s ta : 1945 – 1964 o b s e r v a :
B u ffoni transita através de ltiplas técnicas, aliando o
envolvimento com o lado artesanal da arte à criação plástica
mais comprometida, “brincandocom a descoberta. Sem ser
necessariamente um mosaicista, conseguiu algumas das mais
importantes experiências em mosaico produzidas em São
Paulo no período estudado. O percurso artístico estudado
demonstra, afinal, uma livre, experimental, e ao mesmo
tempo profunda preocupação técnica (COELHO, 2001, p. 206).
Cartazes desenhados por Bramante Buffoni
fonte: Habitat, n
O
.
13, dezembro de 1953, p. 62.
9 7
A Prefeitura cedeu uma área de cerca de 200m
2
n o
Viveiro de Plantas Manequinho Lopes instalado no Pa r q u e
I b i ra p u e ra, para que as equipes responsáveis pelo projeto de
paisagismo e desenho dos equipamentos urbanos
t r abalhassem. Durante dois anos de 1967 a 1968 todas
as manhãs A b rahão, Buffoni, Katinsky e Massayoshi reuniam-
se nesse local.
E l a b o r a r am quase uma centena de projetos de
equipamentos públicos: bancos, postes de iluminação,
l i x e i r as, taças, espelhos d’água, relógios, brinquedos para
crianças, uma publicação sobre plantas bra s i l e i ras, cartazes,
elementos de sinalização e muitos outros.
C h a m avam de “desing for the community”.
Essa epopéia foi assim comentada por A b r a h ã o :
[...] nem em Londres se enfrentou um programa como esse.
Foi um trabalho muito interessante: nos preocupávamos em
usar materiais e técnicas simples, soluções fáceis para
ancoragem, elementos de fácil reposição e estocagem. O
resultado do trabalho deveria ser algo que pudesse interessar
a indústria dada a escala de aplicação. O projeto foi concluído,
poucas peças foram produzidas, como de costume em nosso
país.
Foi uma reaproximação de nosso trabalho com os órgãos
governamentais. Na época, discutíamos a validade de se
trabalhar para um prefeito nomeado, entendemos que a
relevância do programa superava esse tipo de relação, afinal as
pessoas passam e os trabalhos ficam (DPCA, 1987 e 1988).
Além dos equipamentos públicos fizeram juntos dois
outros projetos: de umaquina de escrever para a Olive t t i
e um ventilador para a A e r o m a r. Os projetos fora m
concluídos e muito bem aceitos pelos contratantes, mas,
sendo as duas indústrias multinacionais, não conseguiram a
a p r o vação das matrizes para produzí-los.
Painéis em mosaico desenhados por Bramante Buffoni
fonte [acima] Habitat, n
O
.
50, set/out de 1958, p.28.
[abaixo] Habitat, n
O
.
13, dezembro de 1953, p.62.
9 8
9 9
1 0 0
cestas de lixo basculantes para jardins em ferro e tela metálica
cesta pequena para poste
1 0 1
cestas de lixo basculantes para jardins em ferro e tela metálica
cesta grande com suporte ancorado no piso
1 0 2
bancos pré-fabricados em concreto armado, com encosto, para um ou
três lugares.
1 0 3
banco de ferro e madeira para três lugares.
1 0 4
tubos e taças em concreto armado, para espelhos d’água.
Estações de Piscicultura de Promissão e Salto
Grande - 1972
Estado de São Paulo
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 0 6
No ano de 1972, A b r ahão Sanovicz foi chamado pela
Companhia Energética de São Paulo CESP para elabora r
dois projetos de estações de piscicultura a serem executados
junto às represas de Promissão e Salto Grande, na região
centro-oeste do Estado de São Pa u l o .
Tra t ava-se de um programa incomum, uma vez que
a b r angia elementos que fugiam da rotina profissional de
A b r ahão, tais como grandes tanques enterrados, com dife-
rentes dimensões para abrigar os peixes em todo seu desen-
volvimento. Desse modo deveria prever: ventilação constan-
te, mas controlada; captação da água da represa e descarte;
iluminação noturna especial que atraísse insetos; paisagismo
com espécies frutíferas; e edificação para o labora t ó r i o .
As áreas disponíveis para implantar as estações era m
muito grandes, cerca de 350.000m
2
. Além de resolver o
problema do número de tanques, era necessário solucionar
a recomposição da paisagem.
Assim, foram definidos, em projeto, todos os processos e
os procedimentos que a empreiteira deveria obedecer: desde
a limpeza do terreno, a organização do canteiro e os
todos construtivos até a limpeza final da obra .
Como o programa dos laboratórios era o mesmo, servia
p a r a a
s duas estações, a implantação de ambos foi feita com
um único projeto.
Os partidos adotados para as duas estações de
p i s c i c u l t u ra foram estabelecer um eixo principal em cada
uma delas, a partir do laboratório, e dispor os tanques em
ordem crescente nas suas dimensões, ao longo desses eixos.
Na estação de piscicultura de Promissão esse eixo é
p a r alelo à barragem e à estrada estadual; e os tanques
acompanham-no perpendicularmente, num desenho
ordenado, sem competir com a paisagem ao redor.
A presença da estação é visível apenas por causa do
edifício do laboratório e pela vegetação, principalmente a
que sombreia os tanq
ues e serve de alimentação para os
p e i x e s .
Na estação de piscicultura de Salto Grande, o eixo é
também paralelo à estrada e à barragem; porém, os tanques
f o r am dispostos de ambos os lados deste eixo, formando um
desenho mais liv r e .
A topografia do terreno, mais movimentada, permite uma
visão total do conjunto, a partir do patamar do labora t ó r i o ,
colocado a cavaleiro da estação.
Em cada um dos projetos, um grande lago, de desenho
l i vre, conforma o conjunto e recebe as águas servidas dos
tanques.
1 0 7
Em ambas as estações, a captação de água para os
tanques é por gravidade, feita desde a tomada de água
instalada na barra g e m .
Por último cabe ainda ressaltar que os projetos não fora m
concebidos somente como estações reprodutoras de peixes,
mas como áreas de lazer organizado.
Sobre um trabalho com programa tão “exótico”, A b r a h ã o
o b s e r v o u :
A equipe com quem eu trabalhei nesses projetos era muito
boa, assim, mesmo com um programa pouco freqüente, logo
pudemos dominar totalmente o problema. Assim (brincando),
bem assessorado, me tornei especialista em piscicultura.
Sempre digo que somos especialistas gerais”, não sabemos
nada em profundidade, mas a responsabilidade pelo espaço
construído deve ser sempre nossa. Qualquer que seja o
programa, se bem apoiados por outros profissionais, temos
sempre condões de, compreendendo o todo, nos
assenhorarmos do problema e chegar à melhor solução
(DPCA, 1987 e 1988 comentário de Catharine Gati).
1 0 8
Estação de Promissão - implantação
1 0 9
Estação de Salto Grande - implantação
1 1 0
Laboratórios - planta, elevações e corte.
1 1 1
Residência Abrahão Sanovicz - 1976/77
Rua Alexandre Marcondes Ferreira, 33
São Paulo, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 1 4
Em 1976 fiz o projeto da minha casa, é o fim de um processo.
É uma caixa de concreto apoiada em 4 pilares, me lembra
muito o primeiro projeto moderno que eu vi construído, a casa
do Artigas na Ilha Porchat.
Ela é tudo que sempre admirei: planta livre; estru tu r a
independente; conjugação dos espaços; pés direitos duplos; a
escada uma escultura; terraços; compreensão da totalidade do
espaço; implantação elevada; faz cantar os pontos de apoio.
Aparece então o velho desenho: uma caixa pesadíssima que
sensação de leveza. É toda vazada, não se sabe onde
começa e onde acaba (DCPA, 1987 e 1988).
Com essas palav r as A b r ahão demosntra a essência do
projeto que desenhou para sua família.
A casa da família Sanovicz, em três níveis, foi implantada
num lote urbano tradicional e plano, no bairro do Butantã,
área da várzea aterrada para a retificação do Rio Pinheiros.
Com uma projeção de 125m
2
, insere-se no rol das casas
em que a solução estrutural é dada por: quatro apoios,
empenas de
concreto (0,15 x 6 m), e lajes tipo caixão
p e r d i d o .
As empenas, no comprimento maior da planta, definem
as aberturas no outro sentido. No nível do pilotis, um vo l u m e
solto abriga a lavanderia e dependência de empregada. Sala
e cozinha ficam no pavimento intermediário.
Pa r a dar ao acesso principal – uma continuidade espacial
com a área externa vale-se de um aterro, desenhado no
pilotis pelos muros de contenção, que apóia uma pequena
parte do piso da va r anda de ch e g a d a .
A cozinha e lavabo, num volume solto, paralelo a uma
das empenas, a escada e o direito duplo quali
ficam e
definem os ambientes.
No nível superior, um bloco fixo, constituído pelos dois
banheiros, e divisórias leves permitem algumas possibi-
lidades de ocupação.
Um agra d á v el jogo de va randas, ora limitadas pelas
paredes, mas descobertas, ora cobertas e abertas, reforçam a
continuidade espacial interna.
Como referência, além da casa projetada por A r t i g a s ,
A b r ahão indica um projeto de 1933, de Figini & Polini a
“Casa de Figini” em San Martino, na Itália.
Quando as referências dos projetos nos são apresentadas,
à primeira vista, chegamos a confundir os projetos.
Analisando com mais atenção, percebemos que, apa
ren-
temente iguais, são muito diferentes. O que ocorreu foi o
entendimento pelo arquiteto, da essência do espaço refe-
r e n c i a l .
A esse respeito, João Walter Toscano falando sobre seu
projeto, elaborado em 1959, para a Faculdade de Fi l o s o f i a
de Itu observa :
1 1 5
Em minha tese de doutorado, comparo esse projeto com
outros que ficaram em minha memória, como a obra de Reidy
em Pedregulho, no Rio. É diferente, mas tem o jeito do
espaço, a rampa que sobe em pé-direito duplo, elementos
vazados de um lado (TOSCANO, J. 2003).
Num diálogo muito interessante, reproduzido abaixo,
A b r ahão comenta com Catharine Gati o que significou o
projeto da Residência Sanov i c z :
Abrahão Sanovicz - É uma síntese, lição do estudante de
arquitetura, arquiteto Abrahão Sanovicz.
Catharine Gati - É sua expressão amadurecida diante do
projeto?
Abrahão - Acho que sim, é o reconhecimento da condição de
ter uma linguagem própria.
Catharine - O que é muito bonito, porque você, que sempre
declara suas referências, passa a ser referência.
Abrahão - Numa certa medida sim, mas aí tenho mais
liberdade para recorrer a outras tantas referências. O trabalho
e o processo são sempre os mesmos, mas a partir desse
projeto com muito maior liberdade (DPCA, 1987 e 1988).
1 1 6
1 1 7
planta nível 98.95
planta nível 101.70
planta nível 104.65
1 1 8
elevação 01 elevação 02
elevação 03 elevação 04
1 1 9
corte AA
corte BB
1 2 0
Casa Hirsh Shor - Ilha Porchat, Santos, SP, 1950 (demolida)
projeto: Vilanova Artigas
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
Casa al villaggio dei giornalisti a Milano ou Casa de Figini - San
Marino, Italia, 1933/34
projeto: Figini e Pollini
fonte imagem: acervo de Dirceu Furquin
fonte desenho: www.icar.poliba.it/storiacontemporanea/autori/figini/
villgiorn/schedope.htm (acesso 11 de dez de 2003)
Referências de Projeto
Fórum de Bragança Paulista - 1985
Bragança Paulista, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 2 2
A realização desse projeto representou o encontro de
t raj etórias e vivências de vários arquitetos. A b ra h ã o
S a n o vicz, líder da equipe, e à maneira de Oswaldo Corrêa
G o n ç a l ves, constituiu um consórcio de escritórios,
c o n vidando, inclusive, profissionais da região de Bra g a n ç a
Paulista, para com ele participarem da elaboração do
projeto. A equipe assim formada contou com Affonso Risi
Ju n i o r, Edson Jorge Elito, Leo To m c h i n s k y, João Carlos Monte
Claro Vasconcellos e José Diaulas Pimentel de A l m e i d a .
O programa previa: acessos (principal, de presos e para
juízes); portaria; protocolo; administração; cartórios; posto
bancário; salas para: assistência social (p
sicólogo e assistente
social), assistência jurídica, testemunhas, oficiais de justiça,
promotoria; salas de audiência; administração e
almoxarifado; arquivo; biblioteca, sala de reunião, salão do
ri, sala de jurados; cela; sanitários; vestiários; lanch o n e t e ;
g a r agens; e vestíbulos de espera.
Com área de 2.000m
2
, dois volumes abrigam o extenso
p r o g r ama. No maior estão as atividades de maior afluxo de
blico, no anexo, o salão do júri, cela e sala de jura d o s
ficam no nível superior, e arquivo e garagem no térreo.
Colocado a meio nível em relação outro, o anexo ao mesmo
tempo em que toma partido da top
ografia do terreno,
condições que se crie um direito maior no pav i m e n t o
s u p e r i o r.
A circulação, a partir do acesso principal, é o elemento
ordenador e que hierarquiza a ocupação do edifício e, ao
mesmo tempo, facilita a compreensão do espaço.
A solução construtiva é a tradicional: fundações em
estacas, estrutura de concreto moldada in loco, alvenaria de
tijolos maciços aparentes, portas de madeira pintadas de
várias cores, diferenciando funções de cada espaço, piso de
ardósia e caixilhos basculantes, por questões de segura n ç a .
O acesso principal, uma va r anda com 7 m de pé direit
o
e o fechamento do bloco anexo recebem um tra t a m e n t o
especial, paredes sinuosamente desenhadas executadas em
tijolo maciço.
Este desenho, aliado à iluminação zenital dos espaços
nos remetem ao projeto de Eero Saarine para a capela do
M a s s a c hussets Institute of Te c hnology MIT.
O jornalista José Wolf, na matéria da revista AU de nº. 43,
resume as intenções dos autores do projeto:
A gênese do projeto, do princípio até sua tradução final em
espaço revela, em síntese, alguns pontos essenciais.
A "planta miesiana", ou seja, existe uma estrutura, não importa
a modulação ou material empregado, que torna possível
distribuir sobre ela os espaços de maneira solta para se
1 2 3
atender ao programa de necessidade.
O segundo elemento é a caracterização espacial que não se
vê, mas se sente. Em outras palavras: uma arquitetura sem
grande retórica. E com "economia de meios".
ainda aqui uma referência histórica, da própria Arquitetura
Moderna dos anos 40, quando teve início o uso de elementos
c o n s t ru t i vos para se criar um "micro-clima" de confo r t o
a m b i e n t al, como brises soleils horizo n t ais ou ve r t i c a i s ,
varanda, utilizados pelos mestres.
D e ve-se enfatizar também a generosidade dos espaços
internos, dos corredores amplos, de um projeto implantado
numa região de clima quente, espaços com ventilação nas
duas extremidades, para maior conforto do usuário.
E, finalmente, a utilização do tijolo de barro maciço. Ele possui
uma característica particular na questão da manutenção, ao
eliminar a pintura, e, ao mesmo tempo, é "um material comum
no nosso cotidiano" (WOLF, 1992 p. 49 - 50).
1 2 4
implantação
1 2 5
planta nível 818.35
corte AA
1 2 6
planta nível 814.50
corte BB
corte CC
1 2 7
elevação 01
elevação 02
1 2 8
Capela do Massachussets Institute of Technology
projeto: Eero Saarine
móbili: Harry Bertoia
fonte: LArchitettura Cronache e Storia, mar. / abr. 1956, p. 931 e 935.
Referências de Projeto
Sede do Banespa Recife - 1986
Avenida Conde da Boa Viagem com Rua do Hospício, Recife, PE
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 3 0
A matéria “Recorrendo à Linguagem da História
Presente” da revista Pro j e t o nº. 126 apresentou a obra para o
edifício sede do Banco do Estado de São Pa u l o .
Um projeto é o resultado de projeto ou projetos
anteriores” (GOMES, 1989, p.78). Com esta afirmação usual
de A b r ahão Sanovicz, o jornalista Geraldo Gomes iniciou
m a t é r i a .
A forma do terreno aliada às restrições impostas pela
legislação municipal definiram o desenho da planta.
O edifício com área de 2.142,00 m
2
, em três pav i m e n t o s ,
abriga, no térreo a agência bancária, parte dela com pé-
direito duplo; no mezanino ficam o atendimento a clientes
especiais e área
de suporte; no último pavimento, a sede
r e g i o n a l .
G e r aldo Gomes lembra que na década de 1980, os
edifícios mais suntuosos que se constrram nas cidades bra -
s i l e i r as foram os bancos. A arquitetura evidenciava a crise
por que passáva m o s .
No entanto, esse não era o caso da Sede Regional
Banespa Recife, primeiro pela escala, depois pelas soluções
e n c o n t r adas por A b r a h ã o .
E m b o r a dotado de sistema de ar condicionado, as
paredes externas do prédio constituem uma proteção real. A s
paredes levemente onduladas dominam as fachadas leste e
sul, dão ao edifício uma certa graça, além de promover a
reflexão dos raios solares.
No
térreo, na fachada sul, a mais longa, uma rgula de
concreto surge, independente e solta do corpo do edifício,
mas servindo a ele já que protege as janelas. É um elemento
essencial do projeto, porque, junto ao pé-direito duplo,
recoloca a escala.
O espo interno é franco e de fácil apreensão visual.
G e r aldo Gomes afirma:
Em suma, é um edifício ainda moderno, nestes tempos
i c o n o c l a s t as, como a demonstrar os sete fôlegos do
modernismo. Pr ova também que novas receitas são
prescindíveis para uma boa arquitetura. Ainda bem (GOMES,
1989, p.81).
Pa r a o projeto para sede do Banespa na cidade do Recife,
A b r ahão contou com a colaboração da arquiteta Marilena
Fa j e r s t a j n .
1 3 1
implantação
1 3 2
planta 1
o.
andar
1 3 3
planta 2
o.
andar
1 3 4
corte AA corte BB
1 3 5
1 3 6
Quatro Escolas
1 3 8
A convivência da Arquitetura Brasileira com a problemática da
educação é cada vez maior e mais profundamente
compreendida. Ela vai criando novas técnicas; assimila novos
programas e se exprime cada vez com volumes mais
claramente definidos e melhor propriedade poética. Sua
experncia, que inclui também o conhecimento das
vicissitudes e insuficiências do processo para o qual constrói
novos espaços, se reflete nas formas que aos poucos vai
selecionando para o seu repertório. Repertório poético do
desejo humano do mundo subdesenvolvido de banir de seu
universo o atraso cultural. Assim ela se modifica, se enriquece,
rejeitando ou aproveitando verbos e adjetivos de concreto
armado, empregados por ideários que cumpriram o seu
papel histórico (ARTIGAS, 1986, p. 114).
A construção escolar é um dos exemplos mais
s i g n i f i c a t i vos da arquitetura paulista. Dos exemplos das
o b r as da Primeira República aos recentes Centros Educa-
cionais Unificados – CEUS, inúmeros arquitetos envo l ve r a m -
se com a problemática. A b r a
hão Sanovicz foi um deles,
tendo realizado mais de cinqüenta projetos de escolas.
Entre eles, foram selecionados quatro que serão, a seguir,
apresentados, dois do início da carreira de A b rahão, uma
proposta elaborada com o arquiteto Paulo Mendes da Roch a ,
apresentada no concurso de projetos para a escola Caetano
de Campos e um projeto realizado em 1991. A seleção
procurou identificar os projetos, que trouxessem elementos
que subsidiassem a discussão da pesquisa na área do
p r o j e t o .
Nas entrevistas de A b r ahão a Catharine Gati (DPCA ,
1987 e 1988), quando se refere à escola onde estudou, o
Grupo Escola
r Cesário Bastos, construída em Santos no ano
de 1911, o arquiteto salienta os aspectos simlicos das
escolas da Primeira República.
De fato, a história da edificação escolar no Brasil passa a
ter expressão com a proclamação da República. As obra s
construídas nas primeiras três décadas do novo regime
refletiam o ideal republicano, de afirmação da identidade
n a c i o n a l .
Vi l a n o va Artigas, no artigo “Sobre Escolas ...publicado
na revista Ac r ó p o l e em 1970 e posteriormente incluído na
antologia Caminhos da Arquitetura Moderna, talvez seja o
primeiro arquiteto brasileiro a desenvo l v er considera ç õ e s
EE Dr. Cesário Bastos, 1911
projeto: Manuel Sabater
fonte: CORRÊA, 1991, p. 163 e 169.
a b r angentes acerca da arquitetura escolar. Comenta o signi-
ficado que este tipo de edificação teve no início do sistema
republicano:A Escola e o Relógio como que se tra n s -
f o r m a r am em mbolos do ardoroso ideário republicano
aparecendo nas praças mais novas em substituição da Igreja
e do coreto” (ARTIGAS, 1986, p.110).
São de Artigas dois projetos considerados por A b r a h ã o
lições e modelos de arquitetura, o Ginásio de Itanhaém e o
de Guarulhos.
Referências arquitetônicas assumidas por A b r ahão e por
g e rações de arquitetos – que sobre elas comentou:
Artigas antes de iniciar o projeto conversou com os
responsáveis da Secretaria de Educação, queria saber o que
pensavam sobre como educar um menino, como deveria ser o
espaço da escola e quais os objetivos que tinham em relação
à formação desse futuro cidadão.
Incorpora ao programa um auditório e propõe uma solução
inusitada: o espaço flui; não há entrada ou saída; a estrutura de
concreto é independente e lança mão da solução em pórticos;
cria um sistema de caixilhos fixos, mas com ventilação
permanente, respeitando o clima do litoral; racionaliza a
construção e o emprego de materiais; e, convida Francisco
Brenand, artista pernambucano, para executar um mural.
A experiência de Itanhaém amadurece no projeto para o
Ginásio de Guarulhos. Lá explicita o sistema construtivo e faz
dele sua Arquitetura (DPCA, 1987 e 1988).
Uma outra referência importante, mas pouco estudada, é
a arquitetura de Richard Neutra, especificamente a
publicada em 1948, que reunia projetos do arquiteto para o
1 3 9
Ginásio de Itanhaém, 1959.
Itanhaém, SP
projeto: João Baptista Vilanova Artigas
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
Ginásio de Guarulhos, 1960.
Guarulhos, SP
projeto: João Batista Vilanova Artigas
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
1 4 0
p r o g r ama de Educação e saúde do governo de Porto Rico:
A r c h i t e c t u re of social concern in region of mild climate.
Recorrendo mais uma vez ao texto “Sobre Escolas ...” de
Vi l a n o va A r t i g a s :
Nessa procura de rumos, em cada fase da luta pela educação
nacional, constroem-se escolas cuja arquitetura reflete, talvez
melhor do que qualquer outra categoria de edifícios, as
passagens mais empolgantes de nossa cultura artística; os
recursos técnicos que tivemos à disposição; as idéias culturais
e estéticas dominantes; tudo condicionado a um projeto
nacional de desenvolvimento. Conhecendo estas passagens
pode, a arquitetura brasileira, não só valorizar corretamente os
sucessos dos pontos nodais de sua história, como escolher
caminhos novos (ARTIGAS, 1986, p. 108).
Plano para escola urbana com 8 salas de aula
projeto: Richard Neutra
fonte: NEUTRA, 1948, p. 89.
Grupo Escolar Embaúba - 1959
Avenida São Sebastião e Avenida São Benedito, Cajobi, SP
fonte [desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 4 2
A b r ahão Sanovicz e Julio Roberto Katinsky são os autores
do projeto para o Grupo Escolar Embaúba.
No ano de 1949, foi elaborado o Plano de ão do
G o verno Carvalho Pinto. Nele verifica-se a carência de
construções escolares. O Governo convoca, então, os
arquitetos para participarem da elaboração destes projetos,
a t r avés do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo
I P E S P.
O IPESP restringia o uso de materiais “telhados com
telhas de barro ou de cimento amianto; paredes
autoportantes, áreas mínimas” (DPCA, 1987 e 1988). O
p r o g r ama de necessidades estabelecido limitava-se a: 6 salas
de aula; 1 sala
para o pré-primário; gabinete dentário; sala de
professores; secretaria; diretoria; recreio coberto; cozinha; e
s a n i t á r i o s .
O terreno é estreito (36m) e bastante comprido (99m);
fazendo frente para as duas avenidas paralelas. O projeto
r e s o l v e o programa didático; administra t i vo e refeitório em
três blocos distintos, articulados pelo quarto bloco que
abriga a área de viv ê n c i a .
Os elementos de fechamento da cobertura, em “asa de
borboleta”, dão unidade ao conjunto.
A escala, o uso de cores fortes e o recurso da aplicação
de paredes executadas com tijolos trançados são elementos
que caracterizam a
edificação.
O projeto do Grupo Escolar Embaúba é do mesmo ano
do Ginásio de Itanhaém de Artigas, destacado por
A b r a h ã o :
No entanto, houve um projeto de um arquiteto, que por sua
história profissional, conseguiu propor uma nova solução para
o problema: o projeto de Artigas para o Ginásio de Itanhaém.
Artigas mostrou que era posvel e até mesmo a
administração do IPESP se encantou com o resultado do
projeto. A partir desta obra muitas outras interessantes foram
realizadas pelo Instituto (DPCA, 1987 e 1988).
1 4 3
implantação
corte longitudinal
1 4 4
fachada sul
corte transversal corte transversal
Ginásio Estadual em Santos - 1961
Rua Aristóteles Menezes, 367, Santos, SP
fonte [desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 4 6
O Instituto de Previdência do Estado de São Paulo
I P E S P, com as experiências dos Ginásios de Itanhaém (1959)
e de Guarulhos (1960), altera r a os limites que impunha
a n t e r i o r m e n t e .
O terreno é praticamente uma pra ç a .
Com maior liberdade, A b r ahão enfrentou para o Ginásio
Estadual de Santos um programa que previa: 8 salas de aula;
auditório para 46 lugares; secretaria; diretoria; sala de
professores e do orientador; gabinete dentário; biblioteca;
grêmio; copa; e sanitários.
O edifício, organizado em blocos lineares, tem o recreio
coberto o local para onde convergem todas as ativ i d a d e s ,
como um espaço único,
sob a mesma cobertura, em
concreto armado.
As alvenarias são soltas da estrutura como vo l u m e s
a b r i g a d o s .
Sobre este projeto, A b rahão comentou suas referências:
[...] fiz um projeto para um Ginásio em Santos, era 1961 ou
1962, a planta tinha uma referência muito grande ao Ginásio
de Itanhaém, do Artigas, as fachadas lembravam a FAU,
apesar de o prédio ser térreo. Julio olhou os desenhos disse
que estavam muito bonitos, mas que era um pasticho (DPCA,
1987 e 1988)
1
.
(1) Julio Katinsky informou a autora o se lembrar desse
comentário.
Planta do Ginásio de Itanhaém
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
Edifîcio da FAU
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
1 4 7
implantação
1 4 8
planta
corte longitudinal
1 4 9
corte transversal
corte longitudinal
corte transversal
1 5 0
elevação norte elevação sul
elevação leste
elevação oeste
Escola Professor Caetano de Campos - 1976
Rua Pires da Mota, São Paulo, SP
fonte [desenhos] acervo do escritório Paulo Mendes da Rocha
1 5 2
No ano de 1976, a Companhia de Construções Escolares
do Estado de São Paulo CONESP convidou alguns
arquitetos para participarem de um concurso fechado. O
o b j e t i vo do concurso era a elaboração do projeto da Escola
Professor Caetano de Campos.
A b r ahão Sanovicz e Paulo Mendes da Rocha elabora ra m
juntos uma proposta.
O terreno, com cerca de 20.000m
2
, tinha uma situação
tal que, levou os arquitetos recomendarem a incorpora ç ã o
de terrenos adjacentes e o remanejamento de algumas vias.
O programa previa: pré-escola, primeiro grau, biblioteca
e curso de formação de professores.
Na proposta de implantação o edi
fício ficava ao longo da
Rua Pires da Mota, reservava uma faixa de área externa de
modo a ampliar a via neste trecho, possibilitando, assim, um
embarque e desembarque de alunos mais facilitado, além,
do espaço para parada de ônibus.
O edifício divide-se, como que em blocos: a pré-escola;
o primeiro grau; e formação de professores mais biblioteca.
Uma galeria, elevada, organiza e une estes aparentes blocos.
É ela que marca definitivamente o caráter do edifício.
Sobre a experiência A b r ahão comentou:
Há alguns anos, participando com Paulo Mendes da Rocha do
concurso para o novo Caetano de Campos, começamos
estudando alguns projetos do Hannes Meyer, que tinham
soluções muito interessantes, a escola quase uma praça.
Cheg
amos a uma proposta. Foi quando entu s i a s m a d o
exclamei: “faz tanto tempo que não faço um projeto com
partido!” (DPCA, 1987 e 1988).
1 5 3
1 5 4
planta nível 101,50
1 5 5
planta nível 105,50
1 5 6
seção C
seção D
seção E
1 5 7
elevação norte - rua Pires da Mota
elevação leste
1 5 8
Projeto de Escola
projeto: Hannes Meyer
fonte: MEYER, 1972, p. VIII - IX.
Referências de Projeto
Escola Estadual de Primeiro Grau Bairro 120
1991
Santana do Parnaíba, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 6 0
Implantada em um terreno irregular de um morro, com
área de 10.363,87m
2
, em meio a uma paisagem pica de
periferia, a Escola Estadual de Primeiro Grau Bairro 120
destaca-se pela maneira que se apropria das condições
n a t u r ais do terreno.
O projeto teve como partido a construção de dois blocos
distintos: o de salas de aula (em três pavimentos) e o de
v i vência, administração e zeladoria num único pavimento. A
ligação ente os dois blocos é feita por meio de uma passarela
que vai do recreio coberto para o vel intermediário das
salas de aula.
As salas de aula estão volt
adas para leste, aproveitando a
insolação matinal.
O bloco mais baixo, ocupado com ambientes menores
em seu perímetro tem, na parte central, um grande pátio,
parte coberto parte descoberto, delimitando com estes
vazios as áreas de usos diferenciados. As ligações deste
bloco com as áreas externas o muito bem definidas,
evitando assim as intervenções posteriores, que gera l m e n t e
ocorrem, resultado dos cuidados adicionais com a
s e g u r a n ç a .
A solução construtiva adotada foi a da estrutura principal
(vigas e pilares) em concreto, lajes mistas, alvenaria aparente
de vedação e o telhado em telhas de fibrocimento.
A quadra de esportes,
situada ao lado da entra d a
principal e separada dos blocos do edifício, pode ser
ocupada pelos alunos sem prejudicar o andamento dos
t r abalhos pedagógicos. A caixa d'água cria um ponto de
referência no conjunto.
O jornalista José Wolf, na matéria “Escolas A r q u i t e t u ra
da Pedagogia” da revista AU nº 62, escreve u :
Através de uma "planta miesiana", se faz uma reinterpretação
do repertório da arquitetura escolar e dos antigos pátios de
escolas da Primeira República, criando pequenos labirintos de
circulação que, além de funcionarem como abrigo contra a
ch uva, permitem espaços-surpresa, compensando, dessa
forma, os ambientes fechados e as áreas externas protegidas
por muros ou grades e portões de ferro.
[...]
Comparado ao projeto de Artigas, percebem-se as mudanças
que sofreram os programas escolares, com a diminuição de
equipamentos e espaços, como os laboratórios (WOLF, 1995,
p. 50).
Pe r cebe-se a referência ao projeto realizado com Pa u l o
Mendes da Rocha, porém, com excesso de ascese,
decorrência dos limites e restrições est
abelecidos pela
instituição contra t a n t e .
A partir do ano de 1987 a Fundação para o
D e s e n volvimento da Educação - FDE passou a ser a
1 6 1
r e s p o n s á vel pelos recursos sicos da Secretaria de Educação
do Governo do Estado de São Pa u l o .
Sobre os programas escolares, A b rahão comenta:
Houve uma perda da dignidade do projeto, isto significa que os
programas empobreceram, tanto os de caráter coletivo como
individual.
Se verificarmos as publicações brasileiras dos anos 1930 aos
1960, constataremos que os arquitetos brasileiros puderam
fazer um trabalho altamente criador, os programas eram os
mais variados. A partir de então, constata-se um recuo nos
programas e, conseqüentemente, uma perda da dignidade do
projeto.
Se analisarmos as escolas dos anos 60 e as feitas mais tarde,
verificamos que os programas recentes se restringem ao
mínimo. Os terrenos planos, disponíveis anteriormente, hoje,
nos novos loteamentos, são as áreas destinadas aos
equipamentos institucionais, normalmente as mais
problemáticas e com pior topografia. Resta ao arquiteto,
identificar dentro de limites tão adversos, a melhor solução
para o projeto, não esquecendo ainda das restrições de ordem
econômica.
[...]
Comparando os programas vemos que houve um certo recuo,
justificado por razões de ordem econômica e também pela
quantidade de obras a realizar. (DPCA, 1987 e 1988).
1 6 2
1 6 3
implantação / planta térreo
planta primeiro andar
planta segundo andar
1 6 4
corte longitudinal
corte transversal
elevação
Edifícios de Apartamentos
1 6 6
Em 1963 A b r ahão fez seu primeiro projeto para um
prédio de apartamentos, o Edifício Abaena Rua Pará, na
cidade de São Paulo, SP.
Começou a pesquisar, neste primeiro projeto alguns
conceitos referentes à racionalização e industrialização da
construção: estrutura regular e modulação rígida permitem
otimizar os procedimentos no canteiro de obras; ve d a ç õ e s
estandardizadas possibilitam sua produção em gra n d e
escala; a utilização de painéis divisórios pré-fabricados
concorre para uma obra limpa e rápida; etc.
A solão para tais preocupações, A b rao va i
d e s e n vo l v er no projeto de 1969 para o Edifício Ubirama, na
Ru
a Te i x e i r a da Silva, 392, na mesma capital paulista.
Retoma, depois, nos trabalhos que desenvo l v eu junto à
C o n s t r u t o r a Formaespaço, nos projetos para os modulares e
conjuntos habitacionais.
As soluções foram aprimoradas nos projetos para os
edifícios Fi a n d e i r as e Te i x e i ra da Silva (que não foi
construído) e para os conjuntos habitacionais que realizou
p a r a o Governo do Estado e Prefeitura de São Pa u l o .
Algum tempo depois, A b r ahão comentou:
O problema de nossa vida profissional é a fa l t a de
continuidade. Com os Modulares estávamos continuando um
trabalho que começou com a experiência da Pará, mas não há
reflexão sobre este caminho (DPCA, 1987 e 1988).
Edifício Abaeté - 1963/68
Rua Pará, São Paulo, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 6 8
Voltando ao Brasil (já no início dos anos 60), que não era
possível trabalhar em design, continuei fazendo projetos de
arquitetura e, paralelamente, projetos gráficos.
[...]
Com todas essas experiências (frustradas), começamos a
levar a idéia de design para a edificação. E o primeiro
momento em que conseguimos fazer com que um novo tipo
de caixilho fosse um produto seriado, foi no projeto para um
edifício residencial em Higienópolis, São Paulo (SANOVICZ,
1997, p. 147, comentário do autor).
O projeto para o Edifício Abaeté coloca as premissas
iniciais para a futura elaboração dos projetos posteriores. São
elas: o cuidado com a modulação da estrutura, a redução e
padronização dos caixilhos detalhados e fabricados pelo
escultor Luiz Sacilotto e o uso do quebra-sol, produzido
i n d u s t r i a l m e n t e .
Implantado num terreno de 1.100 m
2
, o edifício com 16
andares de apartamento, rreo e garagem enterrada, tem
7.254 m
2
de área total construída. Dois apartamentos por
andar têm 200 m
2
c a d a .
A estrutura é constituída por pilares na periferia e uma
linha de apoio no centro. As lajes são do tipo caixão.
O volume central onde estão as circulações ve r t i c a i s ,
banheiros, e dormitório de empregada, organiza, no sentido
maior o prédio: do lado noroeste, os quartos e, do lado
sudeste, a área de serviço e a cozinha. A sala ocupa toda a
extensão da fachada menor.
Entre as lajes foram colocados caixilhos de piso ao teto.
Como A b r ahão observo u :
[...] não é uma fachada do Mies, porque os caixilhos ficam
entre os pilares e vigas, que a margem de erro nas nossas
construções é muito grande, e, assim poderíamos fazer
desaparecer possíveis desalinhamentos. Um desenho que se
classificaria como feio, porque na arquitetura devemos ter
grandes linhas (DPCA, 1987 e 1988).
Detalhe do Edifício Seagram 1954-1958
projeto: Mies van der Rohe
fonte: JOHNSON, 1960, p.205.
1 6 9
A b r ahão, como de costume, submeteu o projeto às
criticas de Julio Katinsky, que chamou a atenção para o
resguardo de alguns ambientes. A observação do amigo ve i o
confirmar a necessidade dos b r i s e s - s o l e i l s , que, se por um
lado, protegem as fachadas mais sacrificadas pela insolação,
por outro, funcionam como venezianas para os quartos.
Uma outra solução foi a aplicação de chapas cegas de
fibrocimento em substituição ao vidro, no pano que vai da
a l t u r a do peitoril até o piso.
Interessante destacar que os b r i s e s são móveis. “Tudo foi
feito no plano da sensibilidade, sem grandes cálculos: o sol
se movimenta assim, port
anto a melhor solução será tra t a r
estas e aquelas porções da fachada ...(DPCA, 1987 e 1988).
No mesmo ano de 1963 aconteceu a VII Bienal de São
Paulo. A b r ahão conheceu a obra do premiado escultor
concretista Ya c o v Agan, que apresentou na mostra peças que
se mov i m e n t avam, formando várias composições.
Entusiasmado, A b rahão comentou com um dos
fundadores do Grupo Ruptura, o artista Waldemar Cordeiro,
que com os brises móveis do Edifício Abaeté que fazem
com que a fachadas se alterem o tempo todo – faria um A g a n
g i g a n t e s c o .
Projetado em 1963, o edifício da Rua Pará foi constrdo
em 1968. Interessante que, apesar
de ser uma obra tão
importante e referencial para muitos estudantes e
pesquisadores de arquitetura, foi publicado em 1990 na
revista Pro j e t o nº. 136, quando recebeu Menção Especial
Categoria Habitação no concurso “O Fibrocimento na
A r q u i t e t u r a Bra s i l e i r a ” .
No edifício Ubirama, projeto de 1969, um avanço na
Trecho da fachada do edifício Abaeté
Obra de Yacov Agan
fonte: Aujourd’hui, Paris, nº. 26, abril 1960, p. 22.
1 7 0
solução dos caixilhos, que também vão do piso ao teto. São
sobrepostos à fachada, requadrados em perfis de alumínio, o
que resultou em melhor solução. Pa r a utilizar o mesmo
desenho de caixilho em diferentes ambientes, estes são
d ivididos em panos de vidro, cego e veneziana nos quartos.
Fachada do edifício Ubirama
foto: Helena Aparecida Ayoub Silva
1 7 1
planta andar tipo
implantação
1 7 2
elevação lateral / corte
1 7 3
elevação frontal
Edifícios residenciais, modulados e repetitíveis
1970/72
São Paulo, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 7 6
A Construtora Formaespaço, no fim da década de 1960,
entusiasmada com as possibilidades que o Banco Nacional
da Habitação BNH colocava para o mercado imobiliário,
c o n vidou alguns arquitetos para elaborarem projetos de
edifícios de apartamentos para a classe média. A Construtora
c o l o c ava alguns condicionantes: as soluções de projeto
contemplariam a previsão de que pudessem ser repetidos em
diferentes terrenos; deveriam ser procurados todos
c o n s t r u t i vos racionalizados e componentes industrializados
de modo a tornar a constrão mais econômica; e, os índices
de aproveitamento deveriam ser menores que os
estabelecidos
pelas posturas municipais, já que a Construtora
p r o c u r aria terrenos em bairros mais novos, portanto mais
b a r a t o s .
A b r ahão Sanovicz foi um dos arquitetos conv i d a d o s .
Quase sete anos após a experiência do Edifício Abaeté, po-
deria, então, retomar algumas experiências lançadas naquela
o b r a .
Atendendo as normas estabelecidas pelo BNH, de acordo
com as faixas de financiamento, a Construtora definiu dois
tipos de apartamento:
maior com área útil de 125 m
2
, atenderia ao seguinte
p r o g r ama: sala, três quartos, dois banheiros, sendo um deles
conjugado a um dos quartos, cozinha com pequena copa,
área de serviço e
quarto e banheiro para empregada. Pa r a
este tipo de apartamento previa-se um edifício com dois
apartamentos por andar, de onze a quatorze andares,
dependendo das dimensões do lote. A área total construída
não deveria ultrapassar quatro vezes a área do lote. Orreo
abrigaria as áreas comuns e de serviço do edifício e o sub-
solo a gara g e m .
O menor teria área total útil de 75 m
2
, sendo seu
p r o g rama: sala, três quartos, um banheiro, cozinha e área de
serviço. O edifício comportaria dois apartamentos por andar,
teria três pavimentos sobre pilotis, o necessitando, assim
de eleva d o r. Estes edifícios estaria
m localizados em regiões
periféricas das cidades.
Da experiência anterior, A b rahão estabeleceu algumas
p r e m i s s a s :
Planta livre de pilares internamente, para possibilitar
diferentes arra n j o s .
E s t r u t u r a na periferia do edifício, com os que não
solicitassem recursos sofisticados como a laje nervurada ou
o caio perdido.
C i r culação vertical no meio do edifício, de maneira a
criar duas habitações por andar, simétricas.
1 7 7
A eliminação de corredores internos, resultando em um
desenho que, a partir de um eixo paralelo à maior dimensão
do apartamento, distribuísse de um lado, alinhados, quartos
e serviço, e do outro, a sala livre e os banheiros quase como
um volume “solto”.
Os pilares vigas e lajes concretados de uma ve z
formam o arcabouço do prédio.
Os vãos deixados entre as vigas-peitoril, permitiu que os
caixilhos chegassem na obra praticamente prontos.
As divisórias internas são executadas com painéis de
gesso pré-moldados, com 7 cm de espessura, 50 cm de
l a r g u r a e o comprimento igual ao pé direito.
As instalações hidráulicas foram
reduzidas a poucas
p r u m a d a s .
A modulação estrutural, permitindo o reaprove i t a m e n t o
das formas e a padronização das dimensões das dive r s a s
partes da estrutura, de maneira a possibilitar que toda a
f e r ragem, racionalizada, fosse produzida fora do canteiro.
No volume Sistematização Crítica da Obra de A r q u i t e t u r a
para Obtenção do tulo de Livre Docente, A b ra h ã o
c o m e n t a :
A construção começa então a se tornar montagem de suas
partes, num compromisso entre o sistema tradicional
construtivo e as possibilidades industriais do mercado.
Os elementos de "acabamento" da obra são os normais do
mercado.
Os elementos essenciais do projeto, racionalizados,
p o s s i b i l i t am aos setores de planejamento de obra
determinarem com precisão maior, os custos e os tempos de
execução da mesma (SANOVICZ, 1997, p.
51).
Maria Isabel Imbronito apresentou à FAU U S P, em 2003,
sua dissertação de mestrado, Três Edifícios de Habitação para
a Fo r m a e s p a ç o : M o d u l a re s , Gemini e Pro t ó t i p o . Na
dissertação, estudou a atuação da Construtora Fo r m a e s p a ç o :
o período em que surgiu e atuou e qual o conjunto edificado
que realizou. Sobre os Modulares Maria Isabel afirma:
A apreciação dos edifícios Modulares e a descrição de sua
construção evidenciam a imbricação do desenho industrial e
arquitetura no trabalho de Abrahão Sanovicz. Revelam ainda
que o desenvolvimento do sistema construtivo não se resolve
enquanto condição desvinculada da arquitetura (IMBRONITO,
2003, p. 28).
1 7 8
implantacão
planta andar tipo
1 7 9
corte transversal
1 8 0
Edifício Fiandeiras - 1972
Rua Fiandeiras, São Paulo, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 8 2
No conjunto de entrevistas que concedeu a Catharine
Gati, A b r ahão declara :
As experiências com os Modulares e os conjuntos
habitacionais para a Formaespaço formam a primeira geração
de projetos. o Fiandeiras é a segunda geração. propus
uma solução universal, um pré-moldado que resolvesse a
vedação de todos os ambientes (DPCA, 1987 e 1988).
Também financiado pelo Banco Nacional da Habitação
BNH, para o projeto, a Construtora Carraresi Dell’Acqua
estabeleceu como programa, apartamentos de 90m
2
c o m
dois quartos.
Uma limitação foi colocada logo de início: o terreno on-
de foi implantado o Edifício Fi a n d e i ras fazia fundos com o
Córrego Uberabinha, canalizado no fim da década de 1990,
dando lugar à Avenida Hélio Pe l l e g r i n o .
Na ép
oca, nos períodos de ch u v a, o córrego sempre
i n u n d ava os imóveis lindeiros. Por esse motivo, a gara g e m
ocupa o nível térreo.
Uma laje elevada abriga o acesso principal, casa de
z e l a d o r, salão de festas e área para o lazer infantil.
Acima deste piso, foram constrdos oito andares com
quatro apartamentos por andar.
A planta do prédio é quadrada, com a circulação ve r t i c a l
na sua parte centra l .
A b r ahão resolveu com um único elemento pré-moldado,
toda a vedação dos apartamentos, que m poucas paredes
internas, praticamente só nos volumes hidráulicos, o que dá
margem a vários arranjos, que se valeu de armári
os para
d i vidir a sala dos quartos.
1 8 3
planta térreo - garagem
1 8 4
planta primeiro andar
1 8 5
planta andar tipo
1 8 6
corte
1 8 7
elevação
1 8 8
elevação - elemento pré-moldado
escala: 1/25
1 8 9
corte AA
escala: 1/25
perspectiva
1 9 0
Edifício Teixeira da Silva - 1974
Rua Teixeira da Silva, São Paulo, SP
fonte [desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
1 9 2
O Edifício Te i x e i ra da Silva não foi construído. Seria
implantado em um lote de 300 m
2
, previa garagem no sub-
solo, no rreo o acesso principal e casa do zelador, nove
andares com dois apartamentos de um quarto, com de 50m
2
de área útil cada. No décimo andar, o apartamento de
c o b e r t u r a ocupava o piso todo.
Uma planta tipo com 8,10m por 14,75 m foi resolvida
com uma estrutura em concreto armado muito simples. A
parede da circulação vertical de um lado, e, do outro, no
subsolo e térreo, duas colunas, substituídas, nos andares
superiores, por pilares chatos embutidos nas paredes,
suportam o
s esforços de vigas que apóiam as lajes maciças.
A planta do apartamento, tanto quanto no Edifício Fi a n -
d e i r as, tem paredes construídas em alvenaria apenas nos blo-
cos hidráulicos, restando sala e quarto em um espaço único.
A sugestão do arquiteto era que, se necessário, um armário
servisse como div i s ó r i a .
Como resultado das experiências anteriores, apresentou
uma evolução no desenho do caixilho que fecha as fach a d a s
nordeste e sudoeste do piso ao teto.
1 9 3
planta subsolo
planta térreo
1 9 4
planta andar tipo
planta 10
o.
andar
1 9 5
corte transversal corte longitudinal
1 9 6
elevação frontal elevação lateral
Conjuntos Habitacionais
1 9 8
A b r ahão Sanovicz realizou mais de uma dezena de
projetos para conjuntos habitacionais.
Os primeiros foram para a Construtora Fo r m a e s p a ç o .
D e s t i n avam-se à faixa de renda, estabelecida pelas linhas de
financiamento do Banco Nacional da Habitação, em que a
área máxima construída seria de 75m
2
. Da experiência,
destacou-se o projeto do Conjunto Habitacional Nova
C i d a d e .
Num segundo momento, realizou os projetos para as
cidades de Serra Negra e Sumaré, contratados pela Caixa
Estadual de Casas para o Povo – CECA P.
Mais tarde, elaborou a proposta para a Vila Residencial
de Porto Primave r a, para a Companh
ia Energética de São
Paulo – CESP.
Em 1995, realizou os projetos para os Conjuntos
Habitacionais Pascoal Melantônio e Celso dos Santos, no
plano de desfavelamento do Programa de Saneamento
Ambiental da Bacia do Guara p i ranga, contratado pela
Secretaria de da Habitação e Desenvolvimento Urbano da
P r e f e i t u r a do Município de São Pa u l o .
Sempre que A b r ahão se manifestava sobre os seus
projetos para os conjuntos habitacionais, apontava duas
referências a partir das quais se dava a discussão inicial: as
casas em renque de Mies van der Rohe e o Conjunto
Habitacional Zezinho Magalhães Prado, sem dúvida, um
m a r co da arquitetura bra s i l e i r a .
O Conjunto Habitacional Z
ezinho Magalhães Pra d o ,
c o n t r atado pela CECA P, em 1968, teve como coordenadores
os arquitetos João Batista Vi l a n o va Artigas, bio Penteado e
Paulo Mendes da Rocha e, como colaboradores, A r n a l d o
Martino, Geraldo Vespaziano Puntoni, Giselda Cardoso
Visconti, Renato Nunes e Ruy Gama.
Casas em renque
projeto: Mies van de Rohe
fonte: JOHNSON, 1960, p. 178 e 179.
1 9 9
O projeto previa atender uma população de 55.000
pessoas num terreno de 130 hectares, junto à Via Dutra, em
G u a r u l h o s .
Portanto, além dos 10.600 apartamentos, o programa a
ser atendido previa: oito grupos escolares; três ginásios;
escola industrial; hospital geral; pronto-socorro; centro de
saúde; posto de puericultura; estádio para 10.000 pessoas;
dois cinemas; hotel; teatro; comércio; igreja; clube;
entreposto de abastecimento; caixa de água e gasômetro.
Muitos outros profissionais fora convocados para compor
a equipe e dar conta de programa tão extenso.
Num debate promovido pelo Centro de Estudos
B r a
sileiros CEB, em 1968, o arquiteto Fábio Penteado, falou
sobre o plano gera l :
O conceito básico adotado no plano foi a abertura de áreas as
mais generosas possíveis e nos entornos destas áreas a
colocação, de maneira compacta, daquilo que no nosso
projeto passou a se chamar de freguesia. Cada freguesia,
densamente construída, mas em termos de ocupação de área
r a zo avelmente satisfatória, passa a ser atendida por um
conjunto de atividades cotidianas a uma distância de 150
metros.
[...]
Estes 150 metros resultam num centro de abertura da
freguesia para um espaço de comércio e outras utilizações,
cada uma delas, por sua vez, se comunica com um grande
espaço aberto que é para onde se convergem todos os
movimentos.
A tendência deste plano é concentrar nesta grande área
central, aberta, um grande movimento de toda a população do
entorno (CUMBICA, 1973, s.p.).
Os edifícios de apartamentos são sobre pilotis, preve n d o -
se utilizar as áreas ligadas aos planos de acesso de cada
prédio para atividades recreativas, verdadeiros passeios que
conduzem, naturalmente, ao comércio, à escola e aos
pontos de ônibus. Era proposta da
equipe que os pilotis
seriam utilizados como estacionamento.
Implantação do conjunto habitacional Zezinho de Magalhães Prado -
Guarulhos, SP, 1967
projeto: Fábio Penteado, João Batista Vilanova Artigas, Paulo Mendes
da Rocha e equipe.
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
2 0 0
Pa r a todas as edificões a proposta era da
industrialização e racionalização da construção ao máximo:
formas deslizantes; esquadrias produzidas industrialmente;
elementos pré-moldados para vedão ou circ u l a ç ã o
vertical, etc. Os arquitetos ch e g a r am a projetar os fogões e
g e l a d e i r as como elementos da construção.
Mantendo uma coerência com suas preocupões
iniciais, expressas nos primeiros projetos de edifícios
habitacionais, A b r ahão incorpora, em seus projetos para
conjuntos habitacionais, as soluções adotadas Conjunto
Habitacional Zezinho Magalhães Prado, relativas à
industrialização e racionalização dos sistemas construtivo s .
Planta da unidade habitacional do conjunto Zezinho Magalhães Prado -
Guarulhos, SP, 1967
projeto: Fábio Penteado, João Batista Vilanova Artigas, Paulo Mendes
da Rocha e equipe.
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
Conjunto Residencial Nova Cidade - 1970
Jundiaí, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 0 2
A configuração do terreno, praticamente um triângulo,
com o lado maior paralelo à Estrada de Ferro Santos - Ju n d i a í ,
e o acesso principal pelo vértice oposto, sugeriram a
implantação dos blocos perpendicularmente ao lado maior,
definindo, no centro do terreno uma grande área de lazer,
ajardinada, com plena visão da Estrada de Fe r r o .
A área total do terreno é de 29.000m
2
e, nele, estão 144
unidades habitacionais divididas em 24 blocos.
O pavimento rreo de cada bloco foi destinado ao
estacionamento de veículos dos moradores. Sobre o pilotis,
três andares com dois apartamentos por an
dar, com 74 m
2
úteis cada, respondem ao programa: sala, cozinha, área de
serviços, banheiro e três quartos.
Os blocos sempre agrupados dois a dois e colocados
p a r alelos e a meio nível um do outro, dividem a circ u l a ç ã o
vertical por escada.
O sistema construtivo é o mesmo para todo o conjunto.
Consiste em uma estrutura de concreto armado, com pilares
dispostos na periferia e lajes maciças suportadas por vigas
altas aparentes que contraventam o sistema. O bloco
hidráulico é unificado a cada prumada de apartamentos. A s
paredes internas são executadas em painéis pré-moldados de
g e s s o .
Sobre este projeto Maria Isabel Imbron
ito comentou:
O conjunto inaugura o sistema estru tural que A b r a h ã o
Sanovicz utilizou nos edifícios modulares. As fachadas que
contêm as aberturas são formadas pelos pilares e vigas de
concreto. Aos vãos encaixam-se os caixilhos. (IMBRONITO,
2003, p. 23).
2 0 3
implantação
2 0 4
2 0 5
planta andar tipo
2 0 6
corte transversal
2 0 7
Parque Habitacional CECAP Serra Negra - 1975
Serra Negra, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 1 0
O projeto de A b rahão Sanovicz teve a colaboração do
arquiteto José Carlos Olzon.
O terreno onde foi implantado o Parque Habitacional
C E CAP Serra Negra tem cerca de onze hectares. Fica a meia
encosta, com acentuada declividade, em torno de 20%.
Extensa mata natural e nascentes foram preserva d a s .
Fo r am construídas 248 unidades habitacionais: 50 casas,
em lotes isolados e 198 apartamentos divididos em sete
b l o c o s .
As casas foram implantadas na parte alta e regular do
terreno, local originalmente mais plano. Ficam a cava l e i r o
do conjunto. Cada unidade tem 50m
2
de área útil sendo
geminadas duas a d
uas. A solução contemplou dois quartos,
banheiro e, conjugados, os espaços da sala, cozinha e área
de serviços. Um volume solto, construído para envo l ver a
g e l a d e i r a, define as áreas da lavanderia e da sala.
Os apartamentos têm 60m
2
cada, com sala, cozinha,
área de serviço, banheiro e três quartos voltados para o
n a s c e n t e .
O bloco hidráulico é concentrado a cada prumada de
apartamentos. As vedações sob os caixilhos, inicialmente
previstas como armários pré-moldados em argamassa
armada, foram executadas no local.
Os blocos foram dispostos paralelamente às curvas de
n í vel. Têm o rreo livre para estacionamento ma
is três
andares de apartamentos. A circulação vertical, num vo l u m e
externo ao bloco, serve a dois apartamentos por andar.
O projeto paisagístico de Fernando Chacel resgatou para
as áreas alteradas do terreno a integração desejada com as
partes preserva d a s .
2 1 1
2 1 2
2 1 3
2 1 4
implantação
2 1 5
bloco de apartamentos - elevação
2 1 6
planta apartamento tipo
2 1 7
corte transversal elevação
2 1 8
2 1 9
casa tipo - planta elevação
corte
Parque Habitacional CECAP Sumaré - 1976
Sumaré, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 2 2
O Parque Habitacional CECAP Suma, não foi
construído. O terreno previsto, ficava junto à avenida que
liga o centro da cidade de Sumaré ao bairro de Nova Ve n e z a .
Com desenho triangular, é delimitado nos outros dois lados
por um córrego e um lago. Fica a meia encosta, com
acentuada declividade, em torno de 20%.
Pa r a o conjunto previam-se 180 unidades habitacionais
com 81m
2
cada: 66 casas, em lotes isolados e 114
apartamentos divididos em três blocos.
A organização geral do Parque reunia um bloco de
apartamentos e um conjunto de vinte a vinte e quatro casas,
constituindo três núcleos, implantados sempre
p a r alelam
ente às curvas de níve l .
As casas são geminadas duas a duas. A solução
contemplou quatro quartos, dois banheiros, sala, cozinha e
área de serviços. Na parte central, a sala de um lado e o
volume dos banheiros, cozinha e serviço, organizam uma
planta que prevê, no outro sentido, dois quartos de cada
l a d o .
Os apartamentos respondem ao mesmo programa das
casas. Os quartos ficam todos numa mesma fachada. Neste
caso, porém, o volume constituído por banheiros, cozinha e
serviços fica posicionado longitudinalmente à sala.
Os blocos têm o térreo livre para estacionamento mais
três andares de apartamentos.
A circulação vertical, num
volume interno ao bloco, serve a dois apartamentos por
a n d a r.
2 2 3
2 2 4
implantação
2 2 5
apartamento - elevação dormitórios
2 2 6
apartamento tipo - planta
2 2 7
apartamento - corte
2 2 8
casa - planta
corte
elevação
Vila Residencial da CESP Porto Primavera - 1979
Porto Primavera, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 3 0
O projeto de A b rahão Sanovicz teve a colaboração do
arquiteto José Carlos Olzon.
O conjunto, que não foi construído, destinava-se à
m o r adia dos funcionários especializados e dos profissionais
e s t r angeiros que participariam da montagem da Usina de
Porto Primave ra. Previa 60 apartamentos divididos em cinco
blocos e edifício de vivência comum.
O terreno, relativamente plano, possibilitou que a
implantão dos blocos se acomodasse nos níveis do
terreno, por meio de suaves ra m p a s .
Nesse projeto também, o pilotis dos edifícios destinava - s e
ao estacionamento de vculos, contando com mais três
andares de apartamentos. A circulação v
ertical, por escadas,
s e r v e dois apartamentos.
Como programa da unidade habitacional sala, três
quartos, três banheiros, cozinha e área de serviço.
Fo r am previstos dois blocos hidráulicos: o primeiro, um
volume solto, onde ficam dois banheiros, organiza de um
lado a sala e do outro os quartos; o segundo, colocado no
outro sentido, junto à entrada do apartamento, onde estão a
cozinha, a área de serviços e o terceiro banheiro.
A solução estrutural foi projetada em concreto armado,
com pilares na periferia e laje nervura d a .
2 3 1
2 3 2
2 3 3
2 3 4
2 3 5
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio
Rua Pascoal Melantônio com Francisco Felippe Agosti, São Paulo, SP
Conjunto Habitacional Celso dos Santos
Avenida Celso dos Santos com Rua da Retificação, São Paulo, SP
1995
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 3 8
Os projeto para os Conjuntos Habitacionais Pa s c o a l
Melantônio e Celso dos Santos foram realizados pela equipe
de arquitetos composta por: A b r ahão Sanovicz, Edson Jo r g e
Elito, Jo Honório de Mello Filho, Luiz Guimarães Soares e
M a r cos José Carrilho.
O Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do
G u a r a p i ranga previa o reassentamento de famílias que
m o r avam em favelas ou lotes clandestinos nas áreas de
proteção aos mananciais. Assim, estabelecia para o conjunto
Pascoal Melantônio, a construção de 102 unidades
habitacionais e para o Celso dos Santos 160. A área dos
apartamentos em ambos os conjuntos é de 42,68m
2
,
compreendendo sala conjugada com a cozinha, dois
qu
artos, banheiro e área de serviço.
Os terrenos eram pequenos e com acentuada
d e c l i v i d a d e .
A proposta foi a mesma para os dois casos: concentra r
todos os apartamentos em dois blocos, implantados contra as
c u r v as de nível. Assim, criou-se um pavimento intermediário
l i vre, no nível do acesso principal da rua, onde estão as áreas
de uso comunitário e as prumadas de circulação vertical, por
escadas. A partir do nível intermediário foram construídos
quatro andares para cima e quatro andares para baixo,
prescindindo do uso de eleva d o r e s .
O sistema construtivo adotado foi o da alvenaria armada
em blocos de concreto estr
uturais, visando a utilização de
técnica pouco sofisticada, custo reduzido e a rapidez de
execução da obra .
2 3 9
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio - implantção
2 4 0
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio - planta andar tipo
2 4 1
Conjunto Habitacionail Pascoal Melantônio - cortes
2 4 2
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio - cortes
2 4 3
Conjunto Habitacional Pascoal Melantônio - planta apartamento tipo
2 4 4
Conjunto Habitacional Celso dos Santos - implantação
2 4 5
2 4 6
Conjunto Habitacional Celso dos Santos - planta apartamento tipo
Casas Bi-Nucleares
2 4 8
Nos projetos para as residências André Mehes, na cidade
de São Paulo e Maia Rosenthal em Atibaia, A b rahão retoma
a proposta colocada pelo arquiteto Marcel Breuer, pela
p r i m e i r a vez, em 1944, com a Geller House I.
A proposta de Breuer era que a Geller House fosse o
protótipo da casa pré-fabricada.
Esse projeto foi apresentado em um concurso promov i d o
pela revista California A rts & A r c h i t e c t u re, que objetivava a
construção de moradias no pós-guerra, para receber os
soldados que vo l t avam do f ro n t. As propostas deve r i a m
p r e v er uma construção barata e que pudesse ser construída
ra p i d a m e n t e .
O projeto de Marcel Breuer disti
nguia, por sua separa ç ã o
em dois volumes, as áreas blicas e priva d a s ” ,
correspondentemente áreas diurnas e noturnas. As unidades
s e p a r adas eram conectadas por um corredor. Na ala diurna
e s t avam a sala e a cozinha, enquanto a outra acomodava os
quartos.
Este foi o primeiro projeto bi-nuclear de Marcel Breuer,
que passou a ser uma característica da sua obra .
A revista California A rts & A r c h i t e c t u re publicou as notas
de Breuer sobre o projeto. Estes comentários fazem uma
análise geral das funções da casa nas quais o sistema bi-
nuclear é baseado:
Uma zona seria para vivência comum: comer, esportes, jogos,
jardinagem, visitas, isto é, para uma vivência dinâmica do dia
a dia. A outra, em uma ala separada seria para concentração:
trabalhar e dormir. Os quartos são projetados e dimensionados
para que sirvam também como área de estudo pessoal.
Entre
as duas zonas existiria um pátio externo, com plantas e flores;
visualmente conectado às duas alas, da unidade ao conjunto.
(DRILLER, 2000, p.149).
Segundo Driller (2000, p. 146) trata-se de um
documento mostrando uma crença tecnológica e de
progresso social de certa forma ingênua”.
2 4 9
Robinson House, Williamstown, Massachusetts, 1946/47
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 118.
Geller House I em Nova York, 1944
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 225.
2 5 0
Grieco House, Andover, Massachusetts, 1954/55
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 190 e 191.
Clark House, Orange Connecticut, 1954
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 193.
2 5 1
Starkey House, Duluth, Minnesota, 1954/55
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 163.
Hooper House, Baltimore, Maryland, 1959/60
projeto: Marcel Breuer
fonte: BREUER, 1962, p. 72 e 73.
2 5 2
Casa Soriano, Greenwich, Connecticut, 1969.
projeto: Marcel Breuer
fonte: PAPACHRISTOU, 1970, p. 182 e 183.
Residência André Mehes - 1973
Rua Berlioz, 440, São Paulo, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 5 4
A b r ahão resolveu o programa da casa em um único
p avimento. A p r o veitando a topografia, coloca sob o balanço
da casa, abrigo de carros e depósito.
Com o alteamento do terreno e a proposta paisagística do
arquiteto Fernando Chacel, promove uma continuidade
espacial com a rua.
D ividida em duas alas, que bi-nuclear, um vo l u m e
i r r e g u l a r, que abriga os setores de serviço e dependências de
empregada, faz contraponto ao volume regular dos quartos e
s a l a .
A estrutura da casa, em concreto armado, cara c t e r i z a - s e
por lajes nervuradas, invertidas (tetos planos), apoiadas
perifericamente em cortinas, também de concreto.
Os v
edos externos constituem-se de panos de vidro e
paredes de bloco de concreto.
2 5 5
implantacão
2 5 6
planta garagem
2 5 7
2 5 8
corte AA
2 5 9
corte BB
corte CC
2 6 0
elevação AA
elevação BB
2 6 1
elevação CC
elevação DD
Residência Maia Rosenthal - 1980
Estância Parque Atibaia, Atibaia, SP
fonte [imagens] acervo do escritório Elito Arquitetos
[desenhos] acervo da biblioteca da FAUUSP
2 6 4
A residência Maia Rosenthal, foi implantada a meia
e n c o s t a .
D ivide seus 315 m
2
em dois núcleos. De um lado ficam
três quatros, dependência de empregada e lavanderia. Do
outro a cozinha, o quarto principal e a sala, que se abre para
um tio externo onde está a ch u r ra s q u e i r a e a piscina.
A estrutura da casa, em concreto armado, cara c t e r i z a - s e
por lajes nervuradas, invertidas (tetos planos, protegidos por
telhas de fibrocimento), apoiadas perifericamente em pilares
de concreto embutidos nas paredes de alvenaria; quando
nos vãos centrais, os pilares são em concreto aparente e
sempre destacados dos vedos ou
divisões internas.
Os vedos externos constituem-se de panos de vidro e
paredes tijolo de barro aparente. Internamente as paredes de
tijolo são reve s t i d a s .
2 6 5
implantação
2 6 6
corte AA
corte BB
2 6 7
corte CC
2 6 8
elevação 01
elevação 02
2 6 9
elevação 03
elevação 04
Docência
O ingresso de Abrahão Sanovicz no mundo acadêmico
ocorreu da seguinte maneira: o diretor da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
professor Lourival Gomes Machado, em ofício dirigido ao
Magnífico Reitor Professor Antonio Barros de Ulhôa Cintra -
às folhas 02 do processo 5898/62 - datado de 7 de março de
1962, solicita a nomeação do arquiteto Abrahão Velvu
Sanovicz para o cargo de assistente, lotado na Cadeira nº. 22
"Composição Decorativa". A solicitação foi acolhida pelo
Reitor e encaminhada ao Governador do Estado Carlos
Alberto A. de Carvalho Pinto que assinou a nomeação em 9
de abril do mesmo ano.
O ano de 1962 marcou profundas mudanças no ensino
da FAU como observou Abrahão na série de entrevistas a
Catharine Gati:
A maioria dos professores titulares da FAU eram engenheiros
vindos da Escola Politécnica, tanto que, nos primeiros anos o
único diretor arquiteto, foi também seu fundador, Professor
Anhaia Mello. O Conselho Universitário, que indicava os
diretores da Escola, no início dos anos 1960, designou para o
cargo um professor da Faculdade de Filosofia, professor de
política, profundo conhecedor da história da arte, especialista
em barroco mineiro, destacado intelectual que havia dirigido
algumas bienais, Professor Lourival Gomes Machado, que
tivera intenso contato com Mario de Andrade. Era o que a FAU
poderia ter recebido de melhor.
O programa da FAU vinha do compromisso entre a Escola
Politécnica e a Escola de Belas Artes, numa somatória de
conteúdos. Professor Lourival convocou os professores
arquitetos para que reformulassem o programa de ensino, no
sentido de atualizá-lo e de colocar a Escola à serviço do
atendimento das novas necessidades colocadas pelo país.
(DPCA, 1987 e 1988).
Cinco anos antes, mais precisamente em 1957, uma
comissão formada pelos professores João Batista Vilanova
Artigas, Rino Levi, Helio Duarte e Abelardo de Souza, foi
encarregada de reformular o ensino da FAU, tendo como
objetivo superar a tradição politécnica e compatibilizar a
forma de ensino e os conteúdos com a realidade do país.
Os trabalhos desse colegiado provocaram forte reação
por parte dos docentes ligados à Escola Politécnica, como
lembra o professor Carlos Barjas Milan:
[...] esta comissão, tendo em vista as dificuldades de uma
reforma mais radical, que reconhecia necessária, propôs para
aplicação imediata apenas a modificação na seriação das
cadeiras do currículo oficial (MILAN. 1965, s.p.).
Assim, poucas alterações foram implantadas: uma série
crescente de matérias de ordem cultural e uma série
decrescente de matérias técnicas, estruturadas pelas
disciplinas de projeto.
Além de poucas, essas alterações na estruturação do
curso estavam longe de responder aos anseios de alunos e de
Docência
273
professores arquitetos.
Lourival Gomes Machado assumiu a direção da Escola no
ano de 1962. Criou, então, as condições para que uma um
novo projeto de ensino fosse implantado.
Sob a liderança do professor Artigas, se propôs a efetivar
a "Reforma de 62", como ficou conhecida.
Sobre este processo e sobre a participação de Artigas,
Abrahão comenta:
Voltando um pouco, depois da greve Niemeyer
1
houve o afas-
tamento de alguns professores, que foram mandados de volta
para a Politécnica. O Artigas foi um deles. Não foi a primeira
vez que o puseram de castigo. Quando voltou à FAU, em 56 ou
57, vivia um momento muito interessante: participara do
concurso de Brasília que premiou Lucio Costa, depois
participou do grupo de arquitetos que reformulou a Cidade
Universitária e projetou o prédio da FAU. E foi justamente
nessa época que ocorreu a reforma de ensino. Ele conseguiu
entender o processo de modernização que o país estava
precisando em matéria de ensino (SANOVICZ, 1997, p. 148).
Para a organização do ensino foram criados três
departamentos: Projeto, História e Tecnologia. O Depar-
tamento de Projeto, por sua vez, era formado por quatro
seqüências de disciplinas, compreendendo áreas de
interesse e de atuação do arquiteto.
O professor Flávio Motta no texto "Subsídios para o
Relatório sobre ensino de Arquitetura UIA
2
UNESCO",
descreve as áreas de interesse:
[...] subdividiu o campo de trabalho, sem anular as áreas de
interesse recíproco, necessárias a uma visão de totalidade do
arquiteto. São as seguintes áreas:
a) Comunicação Visual, cuja tônica recai sobre problemas
da linguagem;
b) Desenho Industrial, onde dominam as preocupações
sobre objetos, produtos e sistemas industriais;
c) Edifício, com a sistematização de problemas de
construção, na área de edifícios e espaços habitáveis;
d) Urbanismo, e suas implicações com os problemas das
cidades, metrópoles, paisagismo e ocupação territorial
(MOTTA, F., 1993, p. 138).
Outra importante novidade incluída na reforma foi a cria-
ção do Museu, órgão encarregado de coordenar as atividades
dos departamentos e divulgar a produção da Escola, pro-
movendo, para tanto, exposições de arte e de projetos,
debates acadêmicos e culturais e publicações.
Luiz Carlos Daher sintetizou a "Reforma de 62" nos
seguintes termos:
Duas tradições vicejavam no país: a oriunda da Escola
Politécnica de São Paulo e a da Escola de Belas Artes do Rio de
Janeiro. A Reforma de 62, singelamente, ultrapassava essa
dupla tradição, depois de décadas de batalhas acadêmicas e
profissionais. Além disso, estabelecia, em definitivo, a noção do
fazer, do projetar, como eixo, em torno do qual se organizam os
diversos conhecimentos (DAHER, 1993, p. 156).
Com efeito, a "Reforma de 62" não só transformou
Docência
274
radicalmente o ensino da FAU, como serviu de referência
para a formação de muitas outras escolas no país.
Toda essa trajetória de transformações acadêmicas
também foi percorrida por Abrahão Sanovicz que participou
ativamente dos processos de alteração do ensino, desde
estudante, como atestam documentos arquivados na
biblioteca da FAU.
Como acima referido, iniciou sua atividade docente na
FAU em 1962. Sua primeira experiência, portanto, se
engajava na nova estrutura de ensino proposta. Atuou na
seqüência de Desenho Industrial, que tinha como
professores os arquitetos Hélio de Queiroz Duarte, Marlene
Picarelli e Lúcio Grinover, responsáveis pelo 1º ano; Ernest
Robert de Carvalho Mange, João Baptista Alves Xavier e
Cândido Malta Campos Filho, responsáveis pelo 2º ano; José
Maria da Silva Neves, o próprio Abrahão Sanovicz e Luiz
Gastão de Castro Lima, responsáveis pelo 3º ano; e Roberto
Cerqueira César, Luiz Roberto Carvalho Franco e Dario
Imparato, responsáveis pelo 4º ano.
Essa primeira experiência na nova estrutura de ensino
está documentada na publicação
Desenho Industrial 1962
,
que exprime, em sua introdução, os objetivos da sequência:
D.I. é o estudo do objeto e do seu uso. O raciocínio
empregado na solução dos problemas de
“Design
não é em
absoluto estranho ao arquiteto, mas sim paralelo ao
pensamento empregado: nos problemas de edificação e
planejamento. O arquiteto na sociedade de hoje atua numa
gama muito ampla de processos, abrangendo a produção
industrial, identificando-se com ela e contendo em si o
Designer”
.
Este por sua vez, não deve ser confundido com o inventor,
mas sim deve ser encarado e preparado como criador cujo
espírito de análise e de síntese oriente com segurança as
linhas de desenvolvimento do nosso D.I. O resultado dessa
intervenção deverá ser um
"Design"
caracteristicamente
brasileiro, ligado nitidamente ao nosso patrimônio artístico
popular e erudito (FAUUSP, 1963).
A disciplina do 3º ano, em cujo grupo de professores
Abrahão estava incluído programou dois temas como
trabalho prático para os alunos: jogo de xadrez e isqueiro.
O primeiro consistiu no reestudo de um jogo de xadrez,
compreendendo: estudo do relevo de um jogo de xadrez
existente; projeto das seis peças (rei, dama, bispo, cavalo,
torre e pião); projeto do tabuleiro; projeto do estojo; projeto
da embalagem; relevo e desenho do jogo proposto;
apresentação visual do trabalho; maquete em tamanho
natural e relatório.
Do resultado desse exercício os professores do grupo
comentaram na publicação acima referida:
Docência
275
Docência
276
Trabalhos dos alunos do 3º ano - jogo de xadrez
em cima [da esq. para a dir.]
Adauto Ribeiro da Silva | Ivan Romano Batistio |Mutsutaka Shimizu |
Paulo Rocha Queiroz | Wilson Rodrigues Netto | Yoiti Kataquiri
Antonio Célio Silva | Ari Antonio da Rocha | Arnaldo Antonio Martino |
Carlos Henrique Heck | Conrado Jorge Heck | Marina Bernardini Donelli
Carlos Augusto Welker | Célio Pimenta | Luisa Toscano | Maria Helena
C. de Abreu | Yasuko Tominaga | Antonio Domingos Battaglia
Alfredo Benito Parlato | Armenio Iranik Arakelian | Eurico João Salviati|
Savério Henrique Castellano | Décio Verneck Moreira
embaixo [da esq. para a dir.]
Adolpho Yutaka | Dora Heinrici | Helena Sula | Tetsuo Hori | Takudo
Takada | Angela Maria T. Alma Filiset
Ismael Gonzales | Jorge Alberto Silva Novo | José Ayrton Ferraz |
Mario Yoshinaga | Raul Guardia Sanchez | Vicente P. Borges Bicudo
Adilson Costa Macedo | Danilo Bassani | Marta Mello Rosseto |
Massimo Fiocchi | Tetsuo Uema
Como resultado final, constatou-se tendência geral de
abandono das reminiscências artesanais de dar às peças
formas figurativas correspondentes a seus nomes,
completamente ultrapassadas pelos modernos conceitos de
xadrez posicional deixando de considerá-lo como batalha e
sim como jogo de relações.
Tomaram entre as peças características outras, como as de
movimentação, apresentando maior coerência com as novas
técnicas de produção.
Quanto ao aspecto de comunicação visual observa-se a
necessidade de maior sedimentação do problema para
obtenção de nível qualificado nos próximos exercícios. O
resultado geral obtido é mérito dos alunos, cabendo
didaticamente aos professores apenas a orientação e a
preocupação da continuidade do trabalho (FAUUSP, 1963).
O segundo trabalho, definido pelos professores como
bastante simplificado, consistia no projeto de um isqueiro a
partir de um mecanismo existente. No caso, o objetivo era
"caracterizar a distinção entre
'Design'
e invenção
mecânica" (FAUUSP, 1963).
Abrahão participou da seqüência de Desenho Industrial
de 1962 a 1969.
Em 1969 a FAU mudou-se para a Cidade Universitária,
tendo ampliado o número de vagas de oitenta para cento e
cinqüenta alunos por ano.
Em abril de 1969, o Presidente da República, General
Artur da Costa e Silva, amparado no Ato Institucional nº 5,
decretado em 13 de dezembro de 1968, que lhe concedia o
Docência
277
Trabalhos dos alunos do 3º ano - isqueiro
direito de por em recesso o Congresso Nacional, decretar in-
tervenção em Estados e Municípios, suspender direitos políti-
cos, proibir manifestações sobre assuntos políticos, aplicar o
curioso princípio da liberdade vigiada e suspender a garan-
tia do habeas-corpus, aposentou compulsoriamente, entre
muitos outros professores e servidores públicos, João Batista
Vilanova Artigas, Jon Maitrejean e Paulo Mendes da Rocha,
professores da FAU.
As cassações aliadas às prisões dos também professores
Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre no início da década de 1970
fragilizaram muito a Escola.
A partir de 1970, Abrahão Sanovicz, após participar da a
seqüência de Desenho Industrial, passou a integrar a que,
mais tarde, passou a ser o Grupo de Disciplinas de Projeto
de Edificações do Departamento de Projetos da FAUUSP. Di-
versos fatores concorreram para isso: o processo por que pas-
sava a Escola, algumas mudanças de objetivos na seqüência
de Desenho Industrial e o entendimento de que a contri-
buição de Abrahão seria mais bem aproveitada na área de
projeto.
No mesmo ano, Abrahão e o amigo Julio Katinsky parti-
ciparam da estruturação da Faculdade de Arquitetura e Urba-
nismo de Santos - FAUS; o primeiro conceituando o curso de
Programação Visual e o segundo o curso de Desenho
Industrial. Nessa Faculdade foi titular da Cadeira de
Mensagem.
A experiência na estruturação e as atividades didáticas
realizadas na FAUS resultaram no convite pelo Instituto de
Arquitetura da Universidade de Brasília, em 1976, para que
esses dois professores conceituassem os cursos de Desenho
Industrial e Comunicação Visual dessa instituição.
O documento elaborado por Abrahão e Julio - resultante
da conceituação realizada - foi publicado, em 1977, pela
Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura ABEA, sob o
título
Desenho Industrial e Programação Visual para Escolas
de Arquitetura.
Foi considerado pela Comissão de Ensino de
Arquitetura e Urbanismo - CEAU, órgão do Ministério da
Educação, documento de referência para discussão pelas
escolas de arquitetura.
Nesse estudo, Abrahão introduz sua proposta deli-
mitando, em relação à formação do arquiteto, a área de
atuação da programação visual numa faixa compreendida
pela sinalização viária ou rodoviária, de um lado e, de outro,
a propaganda. A partir dessa visão geral do problema,
desenvolve e conceitua o curso e desenvolve as ementas
para cinco disciplinas.
Docência
278
No texto ele expõe os objetivos gerais:
O nosso desejo é formar um profissional mais completo, aten-
to às indagações do meio social e apto a decifrá-las quando
estuda a organização dos espaços, sua configuração e os
meios do inter-relacionamento humano (SANOVICZ, 1977).
Em 1972, Abrahão apresentou sua tese de doutoramento
com o título:
Projeto e Produção - Por Uma Aproximação
Metodológica.
Nela apresentou doze projetos, isto é,aqueles
que melhor definiam suas preocupações fundamentais.
A variedade de propostas que reuniu, demonstrando um
acúmulo e uma diversidade de experiências, permite afirmar
que há uma linha mestra orientando seu trabalho. Em suas
palavras, essa linha se caracterizava:
Seja pelo valor social da arquitetura, dos modos de produzi-la;
Seja pelas preocupações com o relacionamento dos valores
plásticos;
Seja pelo sentido que assume, entre nós, a industrialização da
moradia;
Seja, mesmo, o fenômeno da construção ligado ao pleno
reconhecimento dos valores na paisagem (SANOVICZ, 1972).
Pela ordem cronológica, os projetos apresentados em sua
tese são os seguintes:
Núcleo Residencial para a Refinaria Presidente
Bernardes, Cubatão, SP - 1957.
Anteprojeto para Concurso do Iate Clube de Londrina,
Londrina PR - 1959.
Distribuidor de Gasolina Agip, realizado no estágio em
Milão, Itália - 1959.
Linha de Móveis para Escritório Escriba, São Paulo, SP
- 1962.
Teatro Municipal e Centro Cultural de Santos, Santos,
SP - 1960 e 1968.
EdificIo de Apartamento na Rua Pará, São Paulo, SP -
1963.
Projeto de Equipamento para Parques e Jardins do
Município de São Paulo, SP - 1967 a 1969.
Edifícios de Apartamentos Modulares, São Paulo, SP -
década de 1970.
Conjunto Habitacional Nova Cidade, Jundiaí, SP - 1970.
Edifício de Apartamentos na Rua das Fiandeiras, São
Paulo, SP - 1972.
CESP - Estação de Piscicultura de Salto Grande, SP -
1972.
CESP - Estação de Piscicultura de Promissão, SP - 1972.
Os projetos comentados na tese, pela sua diversidade,
pelos seus processos construtivos, pela sua possibilidade de
realização, encerram um objetivo: a intervenção do arquiteto
como elemento indispensável, que reúne e sintetiza todos os
dados que se apresentam para uma correta solução, que
Docência
279
atenda desde os mínimos atos individuais, até as complexas
atividades comunitárias.
Concluindo, esse trabalho acadêmico Abrahão afirma:
A atividade do arquiteto não é rotineira.
A atividade do arquiteto não é especializada.
Esta atividade, que assume experiências anteriores, se renova
a cada projeto.
A elaboração do projeto considera fatores reais de programa,
analisados e constantemente reelaborados.
A elaboração do projeto considera fatores econômicos, de
possibilidades técnicas e tecnológicas de produção,
instrumental humano e pelo homem dominado.
A elaboração do projeto considera fatores sociais.
As sínteses dos fatores acima considerados são formalizadas
num produto final, onde se processam as atividades humanas.
Sendo estas atividades infinitas, as formas das experiências
estéticas são também infinitas, donde a riqueza das
possibilidades é interminável.
O ideal é que possibilite a todo ser humano uma livre
movimentação no espaço (configurando pela sociedade no
seu atuar-se), onde pode e deve desenvolver sua atividade
criadora, ou seja, libertar-se" (SANOVICZ, 1972).
Após a obtenção do título de doutor mediante a defesa de
sua tese, continuou no Grupo de Disciplinas de Projeto de
Edificação, ministrando sempre tanto as disciplinas obrigató-
rias do terceiro ano, quanto as optativas. Coordenou várias ve-
zes o antigo Trabalho de Graduação Interdisciplinar - TGI, que
correspondia ao atual Trabalho Final de Graduação - TFG.
Jamais deixou de participar ativa e criticamente, de todos
os fóruns e processos de reestruturação do ensino da FAU.
No curso da pós-graduação, além do número de
alunos que orientou, cumpre também destacar o curso que
ministrou com o professor Flávio Motta "O Conhecimento
Arquitetônico e a Construção", tendo como objeto a
discussão da arquitetura dos anos 1950. Das aulas
ministradas nesse curso restam ainda sessenta cassetes
gravados que não foram transcritos até agora.
Em 1990, Abrahão foi convidado pela professora Bianca
Bottero responsável pelo
Corso de Composizione
Architettonica, do Dipartimento do Programmazione,
Progettazione e Produzione Edilizia do Politecnico di
Milano
, para, no período de 25 de abril a 14 de junho de
1990, participar do trabalho desenvolvido pelos alunos do
ateliê de projetos.
Essa participação foi possível graças ao apoio da
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo -
FAPESP que patrocinou a viagem.
A experiência adquirida na sua estada junto aos alunos
desse ateliê levou-o a propor o estabelecimento de um
intercâmbio entre o Politécnico de Milão e a FAU. Tal
intercâmbio se baseou em algumas premissas discutidas com
a direção do Politécnico e contidas no relatório que
Docência
280
apresentou à FAPESP. São as seguintes:
1 - Os professores visitantes deviam trabalhar no ateliê
acompanhando os exercícios dos estudantes, conjuntamente
com os professores responsáveis pela disciplina, na escola
visitada.
2 - Os professores de ambas as escolas deveriam elaborar um
elenco de programas, temas, métodos construtivos ou
sistemas de projetos realizados por eles mesmos, para
efetuarem seminários conjuntos com o objetivo de conhecer
as respectivas obras.
3- Os professores de ambas as escolas deveriam realizar
seminários onde seriam apresentados os exercícios dos
alunos, os métodos usados para tanto e os produtos finais,
para confronto, análise e discussão.
4- Os professores de ambas as escolas deveriam realizar
durante o período de permanência um projeto de arquitetura
em conjunto. Os programas deste projeto deveriam ser de
complexidade tal que pudessem absorver vários professores,
sendo os temas abrangentes e de interesse do país visitado
(SANOVICZ, 1997, p. 184).
Assim propondo, ele acreditava que o intercâmbio, além
da troca de experiência e aperfeiçoamento didático, não só
abriria espaço para o início de uma crítica arquitetônica, em
relação à universidade, como também proporcionaria
independência no tocante à produção corrente no mercado.
"A sistematização desta crítica - dizia ele - poderia ser
rebatida à prática profissional e seu subsídio poderia trazer
benefícios para a didática do projeto e para a qualidade da
arquitetura" (SANOVICZ, p. 1997, p. 184).
Mais recentemente, ou seja, em 1997, Abrahão se inscre-
veu no concurso de Livre-Docência aberto junto ao Depar-
tamento de Projetos da FAUUSP. Para tanto, apresentou sua
Sistematização Crítica da Obra de Arquitetura
. Nela reuniu
uma série de projetos e textos, seguindo uma ordem
cronológica. Alguns projetos eram acompanhados de
extensos memoriais, necessários na ocasião em que foram
elaborados; outros, contendo apenas pequenos verbetes.
Todos foram selecionados e organizados a partir do material
existente, após criteriosa organização de arquivos.
Os desenhos incluídos na Sistematização eram, na sua
quase totalidade, documentos de trabalho, guardados
durante o processo de elaboração dos projetos.
A coletânea dos projetos e textos deixa claro que, para
Abrahão Sanovicz, projetar e ensinar é única e mesma
atividade.
O item Explicação Necessária introduz a tese. Nele,
Abrahão sintetiza suas preocupações e o rebatimento na
prática da arquitetura e do ensino. Assim redigiu ele:
A simplicidade procurada no projeto e no texto, como uma
postura didática é ato normal para um professor, a fim de que
o aluno possa avaliar o dito em sala de aula e a correspondente
Docência
281
produção que informa e lastreia a atividade de ensinar.
Sobre os projetos, sempre os fiz com referências. Ato difícil de
explicar quando nos bancos da escola, porém, com o
caminhar da vida profissional, na maturidade, este processo
torna-se claro. Os graus de liberdade se ampliam, o programa
se enriquece a partir da "lista de necessidades", guardando do
mesmo uma distância enorme. O material construtivo cada
vez mais torna-se um meio, não um fim,o que me dá liberdade
para interpretar cada programa com a linguagem específica
necessária, sem sacrificar a coerência do conjunto dos
projetos e textos elaborados ao longo desse percurso. O
desenho como forma de linguagem. Sempre desenhei e
continuo desenhando, somente passo o projeto para o papel
quando já o tenho claro na minha cabeça. Não fico procurando
a solução na folha branca. Projetando-o, consigo fazer todas as
leituras que necessito para compreender a solução. E por que
não, compreender-me também (SANOVICZ, 1977, p. 2).
Aulas ministradas, teses e dissertações, orientações a pós-
graduandos, intercâmbios didáticos, reestruturação do
ensino, e várias outras tarefas por ele realizadas no mundo
acadêmico fazem parte de sua biografia de professor.
Testemunha eloqüente dessa trajetória foram as atividades
para comemorar o cinqüentenário da FAU que ilustraram
com muita propriedade a atividade docente de Abrahão.
Com efeito, o primeiro dos eventos comemorativos foi a
exposição de sua obra, realizada em 1997. Organizada pelos
alunos, eles escolheram um professor, que, pela diversidade
de atuação representasse, com fidelidade o "espírito da FAU".
Uma outra exposição deveria encerrar o conjunto de
eventos pelo jubileu de ouro da Escola. O diretor da FAU,
nessa época professor Julio Roberto Katinsky, convidou
Abrahão para a curadoria desse último evento.
Previa-se que, na exposição, fossem apresentados
trabalhos de arquitetos formados pela FAU. Selecioná-los era
tarefa muito difícil. Para tanto Abrahão convocou cinco ex-
alunos, subcuradores por cada década: Jon Maitrejean -
1948 a 1958; Maria Helena Flynn - 1959 a 1968; Roberto
Portugal Albuquerque - 1969 a 1978; Milton Braga - 1979 a
1988 e Fernanda Barbara - 1989 a 1998. Com eles
identificou os projetos mais significativos elaborados pelos
alunos formados em cada um desses períodos.
As duas exposições, - a que inaugurou e a que encerrou
as comemorações do cinqüentenário - conseguiram
apresentar a diversidade de atuação que tanto caracteriza o
curso. Foram, as duas exposições, Aulas de Arquitetura do
professor Abrahão Sanovicz.
Docência
282
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Texto de abertura da exposição do
cinqüentenário da FAUUSP
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Fotos da exposição do cinqüentenário da FAUUSP
fonte: acervo da biblioteca da FAUUSP
fotos: Odair Toledo
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287
Notas:
1 Greve Niemeyer como citado no Capítulo Formação: Oscar
Niemeyer candidatou-se, em 1952, a uma vaga de professor na
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
mas teve seu nome vetado pelo Conselho Universitário. Os alunos
fizeram uma greve que se prolongou por três meses até que a Escola
fosse ocupada.
2 UIA: União Internacional de Arquitetos
Conclusão
Um antigo provérbio latino, prenhe de sabedoria, as-
segura: Ars longa, vita brevis.
"A arte é longa, a vida é curta".
Sabemos que o conteúdo de sabedoria de um provérbio
traz consigo uma verdade que se relaciona com uma refle-
xão de natureza prática ou moral. Um dos atributos - se é
que podemos dar esse rótulo - da verdadeira sabedoria é seu
caráter universal cuja dimensão extrapola o tempo e o espa-
ço e não se submete às rígidas leis dos calendários.
Estes comentários vêm a propósito do personagem em
torno do qual foi desenvolvido o presente estudo: Abrahão
Sanovicz. Com efeito, se esse provérbio é antigo e tem um
caráter universal, a verdade que contém se aplica com in-
comum perfeição à figura daquele que deixou suas marcas
na arquitetura em seu tempo de estudante, em sua carreira
profissional e em suas atividades docentes.
Abrahão teve uma vida curta, todavia, foi tempo
suficiente para deixar uma herança cujo patrimônio não se
limitou aos aspectos culturais e arquitetônicos. Como se po-
de observar em seus projetos, ele fazia questão de demons-
trar que a materialidade arquitetônica pode ser transformada
pelo arquiteto em mensagem de humanismo.
Um comentário de Larousse (s/d., p. 46) a respeito do
referido provérbio garante: "É um provérbio que será exces-
sivamente triste se o sábio, o inventor não desejar que outra
pessoa siga seus traços para continuar os seus trabalhos".
Tal comentário, com certeza não se aplica ao sábio
arquiteto Abrahão Sanovicz. Conscientemente, ele deixava
clara em suas obras e propostas a intenção de que outros
profissionais seguissem seus traços, não tanto para continuar
os seus trabalhos, mas, principalmente, para prolongar seus
ideais de conteúdo social e humanístico.
Nesse pano de fundo de sua vida, fica evidente a cons-
tante procura de expressar seu ideal na explicitação dos pro-
cessos de projeto. E isso ocorreu em toda a trajetória pessoal
de Abrahão, a qual teve início já nos primeiros anos de estu-
dante na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, e se esten-
deu pelo campo de suas atividades profissionais e pelo
desempenho da docência na própria Faculdade.
A análise da trajetória delineada na presente pesquisa
permitiu tirar as conclusões a serem expostas a seguir.
1. Como estudante na FAU:
Viajou para o Rio de Janeiro com um grupo de colegas,
para levantar a obra de Lucio Costa, seus projetos e textos. O
objetivo era procurar entender, a partir desses documentos,
como se deu o surgimento da arquitetura moderna no Brasil.
Conclusão
290
E justificava: "Acreditávamos que conhecendo melhor seu
processo, isso nos ajudaria a caminhar um pouco mais à
frente" (SANOVICZ, 1997, p. 145);
atuava no Grêmio da FAU (GFAU) e no Centro de Es-
tudos Folclóricos na organização e elaboração de publi-
cações sobre arte e arquitetura;
fez parte da equipe que representou a FAU na IV Bienal
Internacional do Museu de Arte Moderna, em 1957. A equi-
pe deixou consignadas, na publicação que preparam com o
registro do projeto para o Núcleo Residencial da Refinaria
Presidente Bernardes, as intenções e reflexões havidas na
elaboração do projeto.
2. Na fase após a graduação em arquitetura:
Uma vez formado arquiteto, as questões inicialmente
colocadas se ampliaram, ficando cada vez mais forte sua
característica de documentar o processo de trabalho,
conforme se pode observar nos exemplos descritos a seguir.
No projeto para o Iate Clube de Londrina, tanto no me-
morial como em manifestações posteriores sobre essa obra,
pôs em evidência a conceituação do problema e as inten-
ções, e declarou os projetos e soluções formais adotados co-
mo referência para a proposta.
Da experiência em Milão, no escritório de Marcello
Nizolli, trouxe farto material sobre os projetos de que parti-
cipou. Esse material possibilitou percorrer os caminhos trilha-
dos até a conclusão de cada desenho que objetivava realizar.
Os croquis e desenhos finais que recolheu durante esse
estágio demonstram questões que mais tarde foram reto-
madas e aprofundadas na exposição em que Abrahão esteve
presente com outros cinco arquitetos - Antonio Luis Dias de
Andrade, Bruno Roberto Padovano, Eurico Prado Lopes,
Minoru Naruto e Paulo Mendes da Rocha - "A Linguagem do
Arquiteto: o Croquis", realizada em 1984 no Museu Lasar
Segall. O material apresentado na mostra - coleção de
croquis elaborados para cada projeto - são elementos que
raramente vêm a público. São as primeiras idéias que,
lançadas no papel, confirmam e orientam o percurso do
projeto. Trazem elementos com os quais o arquiteto dialoga.
Para o Teatro de Santos, além das referências e dos escla-
recimentos sobre o processo do projeto, sempre destacou a
maneira como se deu a apropriação de novas áreas de co-
nhecimento (mecânica cênica, estruturas protendidas, so-
fisticado sistema de ar condicionado). Outro importante
aspecto ressaltado nos textos sobre o projeto refere-se ao
aprendizado na convivência com um profissional mais
Conclusão
291
experiente, o arquiteto Oswaldo Corrêa Gonçalves.
Com o projeto para os Equipamentos Públicos e Sina-
lização para os Jardins de São Paulo, um novo desafio: a ela-
boração de projetos para quase uma centena equipamentos
que pudessem ser produzidos em escala industrial.
Dos elementos que marcaram esse trabalho destacam-se: a
diversidade de abordagem; as considerações préestabelecidas
pela equipe no que se refere à escolha de materiais e técnicas
de simples execução e à facilidade de manutenção, de
reposição e estocagem; a importância da realização de um
trabalho que consideravam
design of community
; e a
experiência de trabalho com Bramante Buffoni.
Nas manifestações sobre os projetos para as duas
Estações de Piscicultura da CESP, Abrahão discute duas im-
portantes questões: a crítica à especialização em arquitetura
e o compromisso do arquiteto com espaço construído e sua
responsabilidade por esse espaço.
A residência Abrahão Sanovicz é a síntese de tudo que
sempre admirou e procurou cumprir: o espaço fluido, a
planta livre, a estrutura independente.
No Fórum de Bragança, a experiência em liderar uma e-
quipe formada por seis arquitetos e as novas experimentações
formais são destacadas nos documentos sobre o projeto.
Para a sede do Banespa em Recife PE, a afirmação
recorrente de Abrahão: "Um projeto é o resultado de projeto
ou projetos anteriores" (GOMES, 1989, p.78).
Nas primeiras propostas de Abrahão para edifícios esco-
lares, percebe-se a influência dos projetos dos ginásios de
Itanhaém e de Guarulhos, de João Batista Vilanova Artigas.
Em 1976, uma proposta inusitada para a Escola Professor
Caetano de Campos, realizada com Paulo Mendes da Rocha,
mais tarde retomada no projeto da Escola Estadual Bairro 120.
Nos projetos para os edifícios de apartamentos,
identificam-se, seguramente, um processo e uma experimen-
tação, que se iniciam com o Edifício Abaeté, na Rua Pará e
se encerram com o Teixeira da Silva, compreendendo ques-
tões como a racionalização e industrialização da construção
e a procura de elementos e componentes padronizados.
Para os conjuntos habitacionais, marcam as soluções en-
contradas: as referências ao Conjunto Zezinho Magalhães
Prado, de Vilanova Artigas e equipe, e as referências às propos-
tas elaboradas por Mies van der Rohe, aliadas às preocupa-
ções explicitadas nos projetos para edifícios de apartamentos.
Nas casas bi-nucleares, retoma as propostas adotadas por
Marcel Breuer a partir de 1944 na Geller House I,
adequando a uma nova realidade e a um outro programa.
Conclusão
292
3. No exercício da docência:
O professor Abrahão Sanovicz sempre se pautou pelo
compromisso em "estabelecer a integração entre o projeto e
a produção - essa produção entendida como produção do
projeto propriamente dito, com seus elementos gráficos e es-
critos, orientadores da obra a ser edificada" (SANOVICZ,
1997, p. 102) e pelo rebatimento de sua atividade de pro-
fissional do projeto no ensino e na pesquisa.
4. Enfim ...
Em todos os registros de seus projetos, constantemente
buscou esclarecer o trajeto percorrido até a proposta final.
De igual modo, procurou identificar aquilo que de um traba-
lho anterior está presente na obra seguinte, declarando sem-
pre as obras referenciais que ilustraram a solução. Tal atitude
não foi pontual. Acompanhou-o durante toda a sua trajetória,
caracterizando, portanto, um comportamento que sempre
mereceu a admiração de todos.
Essa maneira de trabalhar e de registrar o caminho do
projeto, tão característica de Abrahão Sanovicz, nos permite
afirmar que, sem dúvida, projeto é pesquisa.
Entretanto, esta postura não é generalizada. Ela pressupõe
um método, uma atitude consciente e deliberada anterior ao
próprio projeto.
Abrahão construiu, ao longo de seu trabalho como arqui-
teto e professor de projeto, os mecanismos para registrar o fa-
zer de sua obra de arquitetura, de modo a tornar, tanto sua
postura como seus projetos, referências para muitos outros
arquitetos.
Conclusão
293
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Parque da cidade de Campinas. A equipe, coordenada por Jorge Wilheim contava com a participação dos arquitetos Jo r g e
Zalszupim, Roberto Coelho Cardoso, Rosa Grena Kliass, Wlademir K
liass e o engenheiro A. C. Vasconcelos, consultor estrutura l ) .
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(Projeto de: Jorge Wilheim (coord.), A b r ahão Sanovicz, Paulo Zimbres (arquitetos) e Miguel Juliano. Consultor estrutural: A l u i s i o
D á v i l a ) .
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EXPOSIÇÃO DE PRODUTOS INDUSTRIAIS BRASILEIROS DE BOM DESENHO. P r oduto e Linguagem, São Paulo, nº 1, 1965,
p. 15. (Artigo sobre a contribuição de A b r ahão Sanovicz, entre outros, para a realização do l Seminário sobre o Ensino do Desenho
3 1 1
Industrial, a realização da l Exposição Nacional de Desenho Industrial e a primeira publicão cultural dedicada exclusiva m e n t e
aos problemas do desenho industrial da ABDI – Associação Bra s i l e i ra de Desenho Industrial. A b rahão participou da exposição com
“Linha de Móveis ‘Escriba’ para Escritório”).
C O R O NA, Eduardo. Equipamentos para jardins públicos. A c r ó p o l e, São Paulo, 357, dez. de 1968 p. 34 a 40.
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C o n s t r u t o r a Formaespaço, consequentemente dedica parte do texto aos projetos de A b r ahão Sanovicz para os Modulares e o
Conjunto Habitacional Nova Cidade).
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ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Bra s i l. São Paulo: Instituto Walter Moreira Sales: Fundação Djalma Guimarães,
1 9 8 3 .
Volume 2
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Anexos
Helena Aparecida Ayoub Silva
Tese apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade de São Paulo para obtenção de grau de Doutor.
Orientador: Prof. Dr. Eduardo de Almeida
São Paulo, 2004
Abrahão Sanovicz: o projeto como pesquisa
simples peças da carpintaria - artesanato - do obrar artístico.
Assim, a pesquisa em projeto de arquitetura pode se va-
ler, ou não, pode convocar ou prescindir de saberes alheios
e estranhos à fabricação artística do projeto, cuja natureza é
sempre maior, ou menor, do que o conjunto do diversos
saberes parcelares.
3
Do método da pesquisa
A natureza do objeto da pesquisa determina o seu méto-
do próprio de investigação . A pesquisa em arte nunca é dire-
ta e linear. Resultado de múltiplas determinações, o seu
método é incerto, empírico, exploratório, errático tateante.
Procede por aproximações e envolvimentos. Vai da análise à
síntese e volta à analise. Mas pode partir de uma
“iluminação” (Benjamim) e daí organizar uma (ou várias)
linhas de análise. E, nem por isso é menos rigoroso e exato
que o método da ciência.
Além do mais o método em projeto de arquitetura não é
genérico, aplicável a todo e qualquer pesquisador. É proce-
dimento individual, privado e particular na medida que cui-
da do singular e do especifico. Ele se faz e refaz a cada inves-
tida que o pesquisador opera para desvelar o real.
Em termos de procedimento metodológico é sempre mais
prudente deixar que ele flua do problema especifico que
obsessiona o pesquisador colocando o método como
conseqüência do objetivo a ser alcançado do que o
contrário. Pois método é “caminho” a percorrer para se
atingir um “objetivo”.
4
Da linguagem da pesquisa
Como a linguagem do projeto é a linguagem não verbal,
icônica, segue-se que a linguagem da pesquisa em projeto
é a linguagem do discurso visual, não verbal. O que não
quer dizer que não se possa usar do discurso verbal, ou
mesmo, do discurso verbo-visual, mas que a linguagem
privilegiada, enquanto comunicação preferencial da
informação, é a do discurso icônico que se vale, se e
quando necessário, de outras linguagem acessorias que
venham esclarecer, reforçar ou iluminar um discurso cuja
matriz é visual.
Depoimentos e Textos
102
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
Sumário
Introdução
Entrevistas
Depoimentos e Textos
Organização do Acervo de Projetos
Desenhos, Gravuras e Projetos
Imagens Referenciais
01
09
81
117
153
249
Introdução
Este volume reúne documentos que deram suporte à pes-
quisa e que complementam as reflexões apresentadas na tese.
São textos e desenhos de relevante interesse e que, por
suas peculiaridades, são de acesso limitado. Compreendem
entrevistas, depoimentos e textos inéditos, ou publicados
em edições esgotadas ou, ainda, em periódicos de cir-
culação restrita, além de documentos e trabalhos do acervo
pessoal do arquiteto.
São eles: informações sobre a formação, a atuação
profissional e a obra de Abrahão Sanovicz; textos e
depoimentos sobre o processo do projeto, considerados
desde o início da pesquisa como fundamentais para
condução dos trabalhos; proposta de organização do acervo
de projetos; reunião de desenhos, gravuras e projetos de sua
autoria; e imagens referenciais.
O material apresentado segue uma organização por
categoria, existindo em cada uma delas, o ordenamento
cronológico dos documentos.
Entrevistas
Abrahão Sanovicz a Marcos Cartum
O arquiteto Marcos Cartum, pesquisador da Divisão de
Pesquisas do Centro Cultural São Paulo, entrevistou o
arquiteto e professor Abrahão Sanovicz, em 1984. O
enfoque principal da entrevista é a experiência do arquiteto
com o desenho industrial, contudo, sem deixar de levantar
aspectos importantes relativos à sua formação.
Abrahão Sanovicz a Catharine Gati
A arquiteta Catharine Gati, pesquisadora da Divisão de
Pesquisas do Centro Cultural São Paulo, por meio do Centro de
Documentação sobre Produtores Culturais de Arquitetura em
São Paulo, realizou entre agosto de 1987 e novembro de 1988,
nove sessões de entrevistas com Abrahão Sanovicz, abordan-
do diferentes aspectos de sua formação e atuação profissional.
Abrahão Sanovicz a José Wolf: Uma Pedra no
Caminho ... Escola Paulista
Na procura dos fragmentos do discurso arquitetônico
paulista, o jornalista José Wolf revisita a geração Artigas,
procurando entender a identidade que caracterizou a obra
Introdução
3
destes arquitetos. Entrevistou, entre outros, Abrahão
Sanovicz para Revista
AU
nº 17 em 1988.
Julio Roberto Katinsky a Helena Aparecida Ayoub Silva
Em janeiro de 2001 o arquiteto e professor Julio Roberto
Katinsky concedeu entrevista à arquiteta Helena Ayoub Silva,
com o objetivo de relatar aspectos relevantes da formação
profissional de sua geração.
Nachman Falbel a Helena Aparecida Ayoub Silva
Em julho de 2004, o historiador e professor Nachman
Falbel concedeu entrevista à arquiteta Helena Aparecida
Ayoub Silva, relatando a experiência que teve com Abrahão
Sanovicz no movimento juvenil sionista socialista, o
Dror
.
Depoimentos e Textos
Arquitetura e Desenvolvimento Nacional:
Depoimentos de Arquitetos Paulistas
Em 1979, os grupos de trabalho do Instituto de Arquitetos
do Brasil - Departamento de São Paulo “Análise da Produção
Arquitetônica” e “Tecnologia” organizaram nos meses de maio
e junho de 1979 um ciclo de depoimentos e debates, com a
participação de várias gerações de arquitetos. Buscava-se
com isso divulgar as experiências acumuladas de maneira a
permitir o debate e a reflexão sobre os resultados alcançados.
A par da necessária avaliação dessas experiências, espe-
rava-se que os depoimentos discutissem a mudança das con-
dições de atuação dos arquitetos e que formulassem propostas
que resultariam, ao conjunto dos arquitetos, uma atuação útil à
sociedade e voltada para as necessidades da população.
Foram seis encontros, com a participação dos seguintes
arquitetos:
1. Eduardo Kneese de Mello, Vilanova Artigas, Lina Bo
Bardi e Oswaldo Bratke;
2. Salvador Candia, Ruy Gama, Rubens Alberto Botti, Pedro
Paulo de Mello Saraiva, Miguel Juliano e Joaquim Guedes;
3. Abrahão Sanovicz, Rodrigo Lefèvre, Ubyrajara Gilioli,
Araken Martinho e João Walter Toscano;
4. Luiz Gastão de C. Lima, Antônio Sérgio Bergamin;
Sérgio Zaratin e Siegbert Zanettini;
5. Alessandro Ventura, Sylvio Sawaya, Marlene Yurgel,
Edgar Gonçalves Dente e Ermínia Maricato; e,
6. César Luiz Mazzacoratti, Wilhelm Rosa, Flávio
Gordon, Luiz Fingerman e Joaquim Augusto de Mello.
Introdução
4
Diferentes posições sobre os problemas da categoria, a pro-
dução arquitetônica ou o desenvolvimento do país, revela-
ram o amplo quadro de inquietações em que os arquitetos se
situavam perante os impasses com que se deparavam em sua
função social.
O Croquis
O Museu Lasar Segall promoveu, em 1984, a exposição
A Linguagem do Arquiteto: o Croquis”, trazendo para o pú-
blico um tipo material que raramente é apresentado. Convi-
dou seis arquitetos: Abrahão Sanovicz, que apresentou os
desenhos para um conjunto habitacional em Porto
Primavera, SP; Antonio Luis Dias de Andrade, com os de-
senhos de levantamento de aspectos da arquitetura da região
do Vale do Paraíba; Bruno Roberto Padovano, com duas
residências em Alphaville; Eurico Prado Lopes, com o Centro
Cultual São Paulo; Minoru Naruto com desenhos de
mobiliário urbano; e, Paulo Mendes da Rocha, que apre-
sentou o plano piloto de urbanização das áreas marginais do
Rio Cuiabá.
Dada a relevância dos temas abordados, são
reproduzidos os textos de Abrahão Sanovicz e Luis Carlos
Daher, que constam no catálogo da exposição.
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
A Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
de São Paulo, organizou nos dias 29 e 30 de março de 1990
o seminário Natureza e Prioridades de Pesquisa em
Arquitetura e Urbanismo, com apoio da FUPAM - Fundação
para a Pesquisa Ambiental e FAPESP - Fundação de Amparo
a Pesquisa do Estado de São Paulo.
O seminário tinha como proposta: discutir a natureza e os
objetivos prioritários de pesquisa em Arquitetura e Urbanismo;
delinear o panorama atual da pesquisa nessas áreas, avalian-
do-o, no sentido de informar a escolha de prioridades; e, con-
tribuir para o esclarecimento e desenvolvimento da pesquisa
sobre a organização do espaço em suas diferentes escalas.
Dos Anais deste seminário, dois importantes textos
contribuíram fundamentalmente para o desenvolvimento da
tese: “A Pesquisa na Área de Projeto”, de Abrahão Sanovicz
e “A Pesquisa no Projeto de Arquitetura e Urbanismo: Sete
Paradigmas” de José Cláudio Gomes.
O texto de Arnaldo Martino “Pesquisa Enquanto Projeto”
foi elaborado como base para discussão do Grupo de Disci-
plinas de projeto de Edificações do Departamento de Projetos
da FAU. Dada a importância do texto, compõe este conjunto
Introdução
5
de trabalhos que abordam a questão do projeto e da pesquisa.
Crítica Arquitetônica - Recuperando a Dignidade do
Projeto
Texto de Abrahão Sanovicz, publicado na Revista
Projeto
nº 181, p. 83 em dezembro de 1994 e posteriormente na
Projeto Design
nº 215 de 1997. Passando por mais um dos
períodos de escassez de trabalho, num desabafo, Abrahão se
ressente da falta de crítica e de trabalho.
E Pur Si Muove
Em 1996, por iniciativa da Diretoria da FAUUSP, com
apoio do GFAU e da Comissão de Graduação, foi
organizada uma exposição dos trabalhos dos alunos.
Abrahão Sanovicz elaborou o texto de apresentação, onde
aborda aspectos relevantes da história da Escola.
Estado da Profissão
Entendendo que a perda do prestígio profissional é
causada pela transformação do projeto, de fato cultural em
mera mercadoria, sujeitando-se às empíricas regras de um
marketing competitivo e oportunista, Abrahão Sanovicz se
manifestou, em 1997, na Revista Palimpesto, editada pela
Universidade Federal do Ceará.
O que é o Projeto
Prova escrita de Abrahão Sanovicz, apresentada no
Concurso de Livre Docência junto à FAUUSP, realizada em
1997. Nela o professor sintetiza as considerações que
formulou ao longo de sua vida profissional e docente.
5 Décadas de Arquitetura: uma Leitura
O professor Abrahão Sanovicz foi curador da exposição
“Cinco Décadas de Arquitetura”, realizada em 1998, no
Museu Brasileiro da Escultura, comemorativa do
cinqüentenário da FAUUSP. No texto de abertura da
exposição, Abrahão faz a leitura desses 50 anos.
Organização do Acervo de Projetos de
Abrahão Sanovicz
Em 2003, a Biblioteca da FAUUSP recebeu, em doação,
o acervo de projetos de Abrahão Sanovicz. No desen-
volvimento da pesquisa, a classificação desse material foi
fundamental para que se pudesse relacionar o percurso de
trabalho de Abrahão. Neste volume é apresentado o
resultado do ordenamento metodológico desenvolvido.
Introdução
6
Reunião de Desenhos, Gravuras e Projetos
Complementarmente à organização do acervo, foram fo-
tografados e digitalizados inúmeros projetos, desenhos e gra-
vuras. A seleção desse material considerou a importância e
representatividade no conjunto da obra do arquiteto, além
das condições das bases originais.
Imagens Referenciais
Abrahão Sanovicz, em todas as suas manifestações,
sempre se reportou a suas referências arquitetônicas e
artísticas. No desenvolvimento da pesquisa a reunião de
muitas destas referências contribuiu para o maior e melhor
entendimento de suas preocupações. As referências
arquitetônicas comparecem no Volume 1 da tese. Neste
volume estão apresentadas imagens citadas nos documentos
que também o compõem.
Estes elementos possibilitaram identificar a gênese,
evolução e prognóstico do objeto de estudo, ou seja, a obra
do arquiteto e professor Dr. Abrahão Sanovicz, considerada
a partir da reflexão daquela que foi sua principal tese “O
Projeto como Pesquisa”.
Introdução
7
Entrevistas
Abrahão Sanovicz a Marcos Cartum
Abrahão Sanovicz a Catharine Gati
Abrahão Sanovicz a José Wolf
Julio Roberto Katinsky à Helena Aparecida Ayoub Silva
Nachman Falbel à Helena Aparecida Ayoub Silva
11
30
64
68
75
Abrahão Sanovicz a Marcos Cartum
Marcos Cartum (MC) - Como ocorreu sua formação esco-
lar e como você acabou se direcionando para a arquitetura?
Abrahão Sanovicz (AS) - Nasci em Santos em 1933. Em
dezembro de 1950, com 17 anos de idade, tendo com-
pletado o curso ginasial, vim para São Paulo a fim de prestar
exame para a Escola Técnica Federal (que formava técnicos
em edificações, curso equivalente ao científico). Já trazia
uma experiência de desenho, pois enquanto cursava o giná-
sio em Santos, fazia um curso noturno de desenho e, à tarde,
trabalhava em um escritório de um desenhista onde cuidava
de aprovação de plantas. E, dessa forma, fui pegando contato
com esse lado profissional. Cheguei então a São Paulo, mas
já com planos de fazer arquitetura (achava que com o curso
profissionalizante poderia “queimar” etapas na formação em
arquitetura). De fato, depois de concluir o curso de
Edificações, prestei vestibular para a FAU e passei.
MC - E o que o levou, na verdade, a essa decisão?
AS - Quando cheguei, estava para acontecer a I Bienal de
Arte de São Paulo (as primeiras bienais, por sinal, foram
maravilhosas). A I Bienal foi no Trianon, um projeto feito por
Luís Saia e Eduardo Kneese de Melo. Nessa época, ainda
garoto, já manifestava muito interesse pelas exposições de
arte organizadas, por exemplo, pelo MASP (ainda situado na
rua 7 de Abril). Então, tive oportunidade de acompanhar
exposições, como a de Le Corbusier, Max Bill, Lasar Segall e
Portinari. Havia ainda a revista “Habitat”, da Lina Bo Bardi.
Nessa época, o MASP criou o Instituto de Arte Contem-
porânea para a formação de artistas gráficos, um curso que
já manifestava a preocupação com o design, mas relacio-
nado com os aspectos bidimensionais. Havia uma equipe de
europeus que aqui chegou no pós-guerra, agitando muito es-
se centro artístico que havia na 7 de Abril. Havia o pessoal da
fotografia, estandes, cartazes, etc. Veio muita gente para atuar
nessas áreas durante as comemorações do IV Centenário da
cidade, em 54. Era, enfim, um novo mercado que se abria.
Nessa época, também, começavam a aparecer algumas
galerias de arte moderna. Na praça da República, havia a
galeria Domus e o pessoal da loja Ambiente. Eu, enfim,
continuava a freqüentar o curso de Edificações, quando o
Museu de Arte Moderna abriu inscrições para uma nova
escola chamada Escola de Artesanato montada na praça
Roosevelt, uma iniciativa de Ciccilo Matarazzo. Essa escola
Entrevistas
11
tinha um sentido diferente do curso criado pelo MASP, que
objetivava, na verdade, formar gráficos (um profissional que
seria, por assim dizer, precursor do designer), além de outros
cursos, como o de gravura e o de formação de artistas. Eram
cursos livres. Já a Escola de Artesanato formava fundamen-
talmente gravadores e ceramistas. Acabei fazendo um teste
para concorrer a uma vaga de bolsista; fui aprovado e co-
mecei a freqüentar o curso (à noite). Era uma coisa mara-
vilhosa devido ao ambiente de trabalho, ao contato com os
colegas, muitos dos quais viriam a se tornar artistas
importantes de São Paulo, além de grandes professores. Cita-
ria, por exemplo, Yllen Kerr, que depois se tornou um exce-
lente fotógrafo no Rio, o Mário Gruber, que já conhecia de
Santos e o Lívio Abramo. Havia também os professores de
Desenho Artístico: o Antonio Gomide, o Jorge Nasturel e o
Pfeiffer, que dava aulas de História da Arte. Acontece que mi-
nha aproximação com a arquitetura, como disse, já havia
começado antes de chegar a São Paulo...
MC - Poderia falar sobre isso?
AS
- Em Santos, já conhecia as revistas “Acrópole” e
“Habitat”, e também a obra de Niemeyer, que já naquela é-
poca (final dos anos 40), trazia todo esse carisma próprio
dele (talvez, não fosse bem compreendido, mas já
despertava a sensação de ser alguém que apresentava uma
qualidade muito especial). Ele havia projetado a Pampulha,
o Pavilhão da Feira de Nova York, além de outros projetos.
Foi, enfim, quando eu conheci as primeiras obras
modernas. Santos contava com alguma coisa moderna
sendo construída. Assim, o que me chamou mais a atenção
foram duas casas do Artigas, uma na ilha Porchat e outra na
rua Castro Alves (isso, talvez, me tenha influenciado até
hoje, a casa que projetei para mim, por exemplo, é
justamente uma casa-caixote). Na ilha Porchat, havia
também duas casas projetadas por Oswaldo Bratke. Como
jovem, tinha toda essa inquietação e acompanhava tudo
isso com muito interesse, as publicações, o que se
construía, etc. Essa aproximação com a arquitetura se deu
quase naturalmente. Apesar de sofrer uma grande dúvida a
vida inteira entre seguir a vida de artista (ou seja, pintor ou
desenhista) ou fazer arquitetura, acabei me definindo pela
arquitetura.
MC - E o exame na FAU?
AS - Havia 152 candidatos para 30 vagas. Foram
Entrevistas
12
aprovados 37 que acabaram sendo absorvidos pela escola.
Fiquei em 29º lugar. No vestibular teve uma prova de
desenho que consistia no seguinte: um vaso e um plano para
serem desenhados. Com minha formação em desenho e
gravura, acabei fazendo alguma coisa que preenchia todo o
plano da folha, como um gravador que estivesse gravando a
madeira. A minha nota foi 6,5, e eu estranhei, porque achava
que poderia obter uma nota melhor. Mas quando fui verificar
as provas consideradas melhores, percebi que elas eram as
mais simples em termos de solução de desenho. As melhores
notas, enfim, foram para candidatos que haviam feito o
cursinho da FAU, orientados pelos alunos dessa faculdade.
Isso foi em 53, mas já se podia notar que havia certa estrutura
de encaminhamento numa direção. Há uma diferença muito
grande entre o meio em que os orientadores são artistas,
pintores e gravadores e o meio em que eles são arquitetos:
uma diferença de diretrizes. Na FAU, comecei a tomar
contato com outro tipo de pessoas. Era uma escola
aristocrática e, assim, entrei em contato com a aristocracia e
com todo o tipo de conhecimento de que ela pode lançar
mão. A FAU já contava com uma grande biblioteca, e a gente
passava a maior parte do tempo nessa biblioteca.
MC - E como era o ambiente da FAU nessa época?
AS - Quando entrei na FAU, a escola se encontrava num
período um tanto crítico, porque dois anos antes havia perdido
uma greve chamada greve Niemeyer, isso em 52. A greve
ocorreu porque Niemeyer havia se candidatado para professor
da FAU na época em que se encontrava em São Paulo,
projetando os prédios do CNI e o Ibirapuera. O Conselho
Universitário, no entanto, não aceitou sua admissão por
razões políticas. Então os alunos entraram em greve, que se
prolongou por três meses, até a ocupação da escola.
E, assim, ao ingressar na faculdade, encontrei um clima
de sentimento de perda. Os alunos haviam perdido a greve
e a escola estava quase parada. Os professores de Projeto só
foram recontratados no meio do ano. Do começo do ano
até esse momento, só tivemos aulas das cadeiras técnicas.
Quando a FAU começou a se movimentar novamente,
aconteceu a morte de Getúlio e, com isso, o segundo
semestre também ficou praticamente perdido. Além disso,
houve nesse momento a intenção de se intervir na
autonomia universitária, o que motivou outra greve geral
universitária em São Paulo. De 55 em diante, a FAU
começou a andar um pouco mais tranqüilamente e os
Entrevistas
13
alunos começaram a organizar eventos, trazendo propostas
interessantes.
MC - E o que mudou em sua cabeça?
AS - Havia o Centro de Estudos Folclóricos que depois
originou o Departamento de História. Faziam-se pesquisas, a
partir das quais comecei a me indagar sobre a Arquitetura
Moderna, querendo entender melhor o processo da
arquitetura moderna no Brasil (até hoje a crítica da
arquitetura moderna brasileira não é muito clara, como não
era muito clara na nossa cabeça naquela época). Queríamos
conhecê-la com maior profundidade. Acreditávamos que
conhecendo melhor seu processo, isso nos ajudaria a
caminhar um pouco mais à frente. Começamos então a fazer
pesquisas em arquitetura, tomando a obra de Lucio Costa
como ponto de partida. Participavam desse grupo de
trabalho Gustavo Neves da Rocha Filho, Nestor Goulart Reis
Filho, Julio Katinsky e Benedito Lima de Toledo. Eu e o
Katinsky começamos a fazer o levantamento da obra de
Lucio Costa desde o período neocolonial até o período
imediatamente anterior a Brasília (que naquela época ainda
não havia sido construída). Também foram com a gente
Eduardo de Almeida e Ludovico Martino (por sinal, foram
eles os que tiveram as melhores notas na prova de desenho
a que me referi acima). Não existia xerox, portanto, tivemos
que ir à sede do jornal “A Noite”, no Rio, e ficamos
manuscrevendo, copiando tudo o que havia sobre
Aleijadinho, texto de Lucio Costa. Essa série de pesquisas,
além do trabalho junto ao Grêmio, nos possibilitou
conhecer, tomar contato com todos os grandes arquitetos da
época. Fomos até o prédio do Ministério da Educação, onde
um senhor alto, magro, que cuidava do Arquivo, nos
atendeu. Explicamos que estávamos pesquisando a obra de
Lucio Costa, e ele foi muito atencioso com a gente,
fornecendo-nos um vasto material de pesquisa. Esse senhor
era simplesmente Carlos Drummond de Andrade.
MC - Essa pesquisa, portanto...
AS - Através dessas pesquisas, enfim, fomos nos
inteirando sobre a arquitetura moderna brasileira. E
descobrimos que essa pesquisa sobre Lucio Costa, na
verdade, estava ocorrendo em vários lugares do país. Era
preciso entender o processo, tínhamos que voltar aos anos
30. Ao mesmo tempo, a nossa turma, o pessoal que
Entrevistas
14
freqüentava a FAU, era muito inquieta e interessada. Nós
tínhamos o mundo todo na Biblioteca. Havia revistas
como a “Graphis”, “L’Architecture d’Aujourd’hui”, a “Stile
& Industria” etc. e, com isso, você ficava sabendo como era
feita a arquitetura no resto do mundo e como se fazia a
parte gráfica dessas publicações. Produzíamos cartazes,
por exemplo. Volpi ia expor na MAM/SP, então fazíamos
um cartaz para Volpi. Tivemos ainda a Semana Mario de
Andrade (é importante lembrar a formação mário-
andradina de Luís Saia, que na época dirigia o Patrimônio
Histórico, e de Artigas que, quando moço, fazia parte da
família paulista, onde Mário ocupava o papel de carro-
chefe do movimento intelectual-artístico. A preocupação
com toda essa matéria histórica, o estudo do folclore, a
criação do Centro de Estudos Folclóricos, tudo isso tem
raízes e ligações profundas com Mário de Andrade. O
prédio da FAU, na rua Maranhão, era da família Álvares
Penteado e foi doado para ser uma escola de Arquitetura.
Os cartazes para essas exposições, a quais me referi, eram
feitos de maneira muito primorosa (naquela época não
havia letraset, e as letras eram recortadas uma por uma).
Participamos de concursos de capas de revistas, de
publicações etc.
MC - E o interesse pelo objeto, como surgiu?
AS - O interesse pelo objeto foi algo que surgiu ainda
dentro da faculdade. Estava fortemente impressionado com o
que as publicações traziam de fora. Havia uma revista norte-
americana chamada “Arts & Architecture” em que a casa era
mostrada como um problema de design. Ela tinha um
programa interessante chamado “Case Study House”, pelo
qual a cada ano era chamado um arquiteto para desenvolver
o projeto de uma casa e, assim, iam publicando em
seqüência todos os croquis, os projetos, os detalhes, até à
obra.
Outra revista interessante era a “Stile & Industria”, que já
mencionei. Ela publicava o que de melhor se fazia no design
italiano. Os italianos, aliás, foram muito inteligentes nesse
processo de promoção do design. Quer dizer, artistas quase
por natureza (você pega os artistas mais interessantes do
Renascimento e percebe que isso é uma coisa que eles têm
profundamente arraigado, que está no sangue). Para nós,
assumir uma postura de artista fica algo difícil, quase
esquisito. Para eles, é uma coisa normal; o artista não é
diferente dos outros. Aqui, é visto como um ser diferenciado
que passa pelo mundo como um iluminado, sempre
Entrevistas
15
soltando raios e coisas assim. Aqui, talvez, essa imagem de
“arquiteto-artista” tenha a ver um pouco com a experiência
de Flávio de Carvalho. A dificuldade de se olhar o arquiteto
de frente, de não diferenciá-lo dessa imagem de “artista”,
deve ter aí uma de suas origens históricas. Apesar do Flávio
ter sido um grande desenhista, um grande pintor, não acho
tão fundamental assim o trabalho dele de arquiteto. Acho
mais importante o de desenhista, pintor e cenógrafo. Ele é
menos conhecido pelo trabalho de pintor, mas considero de
grande densidade - um belo Kokochka. Mas tinha essa
atitude demolidora, e isso atrapalhou muito. Enfim, senti um
choque muito grande, quando fui à Itália e percebi a
diferença de tratamento num contexto social do que é ser um
arquiteto e um artista lá, do que é ser um arquiteto e artista
aqui. Completamente diferente. Lá, é algo normal, existe um
espaço para ele. Quando se trabalha lá fora, sentindo o tipo
de encomenda que lhe fazem, o tipo de relacionamento
profissional e social que se estabelece, quando você volta,
sente um imenso degrau. Sei lá... país novo, capitalismo
selvagem, economia predatória, falta de critérios culturais,
coisas desse gênero.
MC - E continuando...
AS - Sim, essa história de desenhar objeto surgiu na FAU
com um grande impacto. Os italianos começaram antes,
tiveram a sabedoria de vender esse produto, não só para a
Itália mas para o mundo. Eles publicavam insistentemente
aquilo que produziam, lutando pela conquista do mercado.
Nessa época, nós não entendíamos isso com essa
profundidade, porque costumávamos apenas ver as
figurinhas nas revistas. Mas atrás dessas figurinhas, atrás
desse impacto editorial, havia um grande desejo de
conquista mercadológica. E o que mais nos impressionava
nisso tudo era o Olivetti Style, que foi marcante na época.
Isso foi surgindo naturalmente na escola e, entre os alunos,
havia certa preocupação em desenhar o objeto. Era até
encantadora a proposta do ponto de vista social. A gente
faria um objeto bem estudado, capaz de ser produzido,
repetido, e ele ia ser usado indistintamente, vendido nas
lojas, e tal. Seria gratificante entrar em uma casa onde se
estivesse comendo com talheres que você havia desenhado!
Havia um pouco esse sentido romântico que poderia ser
melhor conduzido. Ficou só no romantismo, quando poderia
haver maior objetividade.
MC - E o mercado?
Entrevistas
16
AS - São Paulo já contava com algumas lojas que
produziam móveis. Havia a Ambiente, o Tenreiro, o Branco
e Preto (montada pelos arquitetos Miguel Forte, Roberto
Aflalo, Jacob Ruchti, Plínio Croce, Carlo Fongaro, Cheng
Hwa e Carlos Milan) e, inclusive, uma firma que produzia
sem licença os desenhos do finlandês Alvar Aalto. Falava-se
muito sobre a Bauhaus, psicologia da gestalt, mas ninguém
sabia muito bem o que significava. As propostas levantadas
pela Bauhaus foram estudadas e compreendidas num
período posterior. Estava também começando a surgir a
escola de Ulm (o Max Bill esteve em São Paulo no início dos
anos 50 para convidar pretendentes para a escola que
dirigia). Mas com Brasília em via de ser construída, todos nós
queríamos de alguma maneira participar desse projeto...
MC - Brasília?
AS - O tipo de problema enfrentado pela FAU até esse
momento era em escala muito reduzida, modesta.
Problemas de urbanismo que surgiam, significavam, no
máximo, uma quadra de área. Com Brasília, as escalas
ficaram bem maiores. Era uma cidade inteira sendo
projetada. A Bienal de 57, enfim, havia aberto um concurso
para as escolas de Arquitetura, de âmbito internacional.
Montamos uma equipe, com dez alunos (cinco do 4º ano e
cinco do 5º) e fizemos um projeto para o Núcleo
Habitacional para funcionários da Refinaria de Cubatão. A
equipe se inscreveu com esse projeto, e ganhamos o
primeiro prêmio. Naquela época, a Bienal era de fato um
acontecimento. O mundo inteiro comparecia. Os membros
do júri eram Marcel Breuer, Kenzo Tange, Philip Johnson,
Sílvio de Vasconcelos e Jacob Ruchti. Esse júri nos premiou,
juntamente com outras três escolas (França, Japão e
Venezuela). Sílvio Vasconcelos tinha dado um voto
separado. Ele achava que o prêmio devia ser nosso, sem ser
dividido com outras escolas. Ficamos chateadíssimos: ou o
prêmio seria somente de nossa equipe ou a gente ia recusar
a premiação. Lourival Gomes Machado (que depois se
tornou diretor da FAU) era o diretor da Bienal. Durante um
bate-papo em sua casa, ele nos convenceu que deveríamos
receber o prêmio. Na hora da premiação, toda a equipe (os
dez) foi receber o prêmio das mãos de Juscelino Kubitschek,
o homem que estava construindo Brasília. Quase todos
ganharam bolsa de estudos para o exterior (coisa rara
naqueles tempos). Como não estava interessado em
Planejamento (Urbanismo), abriu-se uma oportunidade de
Entrevistas
17
conseguir uma bolsa através do Circolo Italiano. Assim,
solicitei uma bolsa para Milão, não para estudar, mas para
trabalhar em algum escritório de desenho industrial. O
único nome italiano conhecido no Brasil era o de Gio Ponti,
que á havia passado por aqui. Porém, eu conhecia o
trabalho de um gráfico maravilhoso chamado Buffoni, que
havia vindo ao Brasil. Nessa ocasião, o chamamos para
julgar os trabalhos gráficos de alguns alunos da FAU que
haviam participado de um concurso de artes gráficas. Ele foi
muito crítico, apontando, ao analisar trabalho por trabalho,
todas as falhas técnicas. Quando ganhei a bolsa (eu e o Júlio
Katinsky), consultamos o Buffoni que nos indicou o
escritório de Marcelo Nizzoli, um
designer
que trabalhava
para a Olivetti.
MC - E como foi essa experiência em Milão?
AS - Bem, antes de viajar para a Itália, resolvi participar
de um concurso de projetos para o Iate Clube de Londrina
(junto com Júlio Katinsky e João Toscano). Isso foi em 59. E
nosso projeto foi vencedor. Nesse intervalo, o meu pedido
de bolsa foi aprovado. E, assim, embarquei com minha
esposa (havia casado há pouco tempo) para Milão, onde
comecei a percorrer os escritórios de
design
da época.
Procurei o Nizzoli, que me havia sido indicado pelo
Buffoni, e foi lá que passei quase um semestre, colaborando
no desenvolvimento de um projeto para interfone, um
projeto para máquina de café e um distribuidor de gasolina,
e algumas marcas para empresas estatais. Tive que voltar,
porque meu filho estava para nascer. Mas, tudo que havia
visto aqui, lá eu pude acompanhar de perto, vendo
acontecer de fato. E é interessante observar a relação do
designer
com a indústria na Itália. Existe por parte do
empresário um interesse, um cuidado especial que vai
desde a programação visual, passando pelos logotipos e
papéis de carta da indústria, até o produto fabricado por ela.
Citaria o exemplo da Olivetti. O Nizzoli trabalhava
justamente para a Olivetti, que na época não tinha ainda um
escritório próprio de
design
. Um dia, ele me apresenta a
marca da máquina de escrever Underwood, pedindo para
que eu fizesse uma nova marca, porque o presidente da
Olivetti embarcaria no dia seguinte para Nova York, onde
deveria adquirir 25% das ações da Underwood, e pretendia
levar pronta a nova marca.
MC - E ao retornar ao Brasil?
Entrevistas
18
AS - Voltando ao Brasil (já no início dos anos 60), já que
não era possível trabalhar em
design
, continuei fazendo
projetos de arquitetura e, paralelamente, projetos gráficos.
O primeiro trabalho que consegui pôr na rua, foi a primeira
linha da Escriba, em 62, isso porque o José Serber era meu
amigo de infância, e a Escriba (na época chamava-se Play-
Arte Decorações) desejava especializar-se em móveis para
escritórios. Minha atuação maior como
designer
, enfim, foi
na área de artes gráficas, executando principalmente
logotipos. Hoje há campo para o
designer
, mas em 62, 63,
era muito difícil você se impor como profissional nessa
área, não havia mercado de trabalho. O nome Escriba,
enfim, foi dado por Geraldo de Barros e o logotipo
desenhado por Alexandre Wollner. Fizemos várias
tentativas de desenhar objetos, mas não foram adiante. A
experiência na Escriba, contudo, foi para mim um
verdadeiro passaporte. O problema do
designer
é que ele
não depende somente de seu projeto, mas requer um
investimento por parte da indústria, depende de
financiamentos para a pesquisa de desenvolvimento de
produto, os riscos são muito grandes. Depois dessa
experiência com móveis, fizemos uma linha de fogões, que
não foi adiante, não saiu do projeto.
MC - Mas, com certeza, essas experiências abriram
novos caminhos?
AS - Com todas essas experiências (frustradas),
começamos a levar a idéia de
design
para a edificação. E o
primeiro momento em que conseguimos fazer com que um
novo tipo de caixilho fosse um produto seriado, foi no
projeto para um edifício residencial em Higienópolis, São
Paulo. Outra experiência importante foi quando, mais tarde ,
no início dos anos 70 (época do “milagre”econômico), tive a
oportunidade de projetar um edifício modular com planta
única, para ser reproduzido em pequena série. Quando
comecei a projetar esses prédios, o mercado de trabalho
acabava de se recuperar de uma grande estagnação. Nesse
momento, havia terminado de fazer um trabalho interessante
com Julio Katinsky e o Buffoni para a Prefeitura de São Paulo.
Era um projeto de equipamentos para parques e jardins,
bancos, floreiras, pisos, relógios, cabines telefônicas, paradas
de ônibus, quadros de aviso, etc. No final, o projeto acabou
sendo arquivado, tendo sido produzido apenas alguns
bancos e um bebedouro. Nessa mesma época, fizemos um
projeto para uma publicação sobre plantas brasileiras, que
deveria ser distribuída nas escolas primárias. Por volta de 66,
Entrevistas
19
o Buffoni que estava desenvolvendo projetos para a Olivetti,
convidou a mim e ao Katinsky para fazermos juntos um
projeto para uma máquina de escrever da Olivetti - a Studio
44, que seria produzida no Brasil. Também desenvolvemos o
projeto de um ventilador que deveria ser produzido por uma
multinacional, mas todos eles acabaram engavetados.
MC - E depois desses trabalhos?
AS - Aí começamos a projetar para a Formaespaço, cujo
diretor pretendia construir um prédio modulado, que pudes-
se ser reproduzido. Fiquei entusiasmado com a idéia, que es-
tava na minha cabeça já há alguns anos, desde 63. Enfim, os
prédios estão aí, muito limpos, no sentido de terem apenas o
essencial. Com esse projeto, eu tinha um protótipo, e estava
finalmente conseguindo mostrar que era possível levar todo
aquele conhecimento da arquitetura também para pessoas
desconhecidas. Enfim, tínhamos feito uma coisa muito lim-
pa, asséptica, visando fazer o mais econômico, mas manten-
do a qualidade. Havia conseguido, finalmente, levar essa
experiência para o edifício e pretendia ir adiante. O in-
teresse, enfim, que tínhamos em projetar objetos para a in-
dústria foi se transferindo paulatinamente para a edificação.
Para nós, o projeto nunca é um trabalho terminado em si, ele
é sempre fruto de trabalhos anteriores, ligados prospectiva-
mente aos projetos que virão, nem que levem 20 ou 30 anos
para serem retomados. É o sentido maior da palavra projeto. É
tentar reconhecer um problema em sua forma mais simples,
de maneira a que tenha um sentido didático. Todo o projeto é
uma forma de aprendizado mesmo que o resultado não seja
uma coisa brilhante. Com isso, pode-se entender como é que
nos encontramos hoje, numa posição de desejos e vontades.
Alguns projetos nos mostraram o que é possível fazer. Enfim,
nos encontramos como um pianista que não consegue dar
concertos, enquanto vai cada dia dedilhando seu instrumento.
E eu digo que até o piano, muitas vezes, tiram da gente.
MC - Voltando à reforma de ensino que se processou na
FAU em 62, quando se implantou essa nova mentalidade
vinculada ao
design
, e que marcou sua geração, como você
expôs claramente, poderia fazer um retrospecto de como
ocorreu a implantação dessa reforma? E como se estabelece
a conexão entre o
design
e o ensino?
AS - O Conselho Universitário, em 62, escolheu o
professor de Política e História da Arte, Lourival Gomes
Entrevistas
20
Machado (formado pela Faculdade de Filosofia, e que havia
sido diretor da Fundação Bienal por ser também um crítico
de arte) para substituir o diretor da Faculdade de Arquitetura,
o professor Anhaia Mello (professor de Urbanismo que
desempenhou papel importante na formação da FAU-USP e
que, inclusive, tinha sido prefeito de São Paulo, além de
decano da universidade). Lourival sofreu toda uma influência
de Mário de Andrade e da família paulista. Ele permaneceu
pouco tempo na direção da escola, mas reuniu os
professores e criou condições para que se fizesse uma
reforma de ensino na FAU, que foi comandada pelo Artigas,
que atravessava um período especialmente maravilhoso.
Voltando um pouco, depois da greve Niemeyer houve o
afastamento de alguns professores, que foram mandados de
volta para a Politécnica. O Artigas foi um deles. Não foi a
primeira vez que o puseram de castigo. Quando voltou à
FAU , em 56 ou 57, vivia um momento muito interessante:
participara do concurso de Brasília que premiou Lucio Costa,
depois participou do grupo de arquitetos que reformulou a
Cidade Universitária e projetou o prédio da FAU. E foi
justamente nessa época que ocorreu a reforma de ensino. Ele
conseguiu entender o processo de modernização que o país
estava precisando em matéria de ensino. E criou três novos
departamentos: Projeto, História e Tecnologia (e as quatro
seqüências de projeto), introduzindo no currículo as palavras
Desenho Industrial, Comunicação Visual, além de Projeto e
Planejamento.
MC - Com certeza, uma inovação pioneira, em termos de
Brasil...
AS - Artigas convidou uma garotada, que havia se
formado alguns anos antes, com alguma experiência,
criando condições para que todos eles fossem trabalhar na
FAU, começando a formar um corpo de doutrina. Do ponto
de vista do ensino superior, foi a primeira escola do Brasil
que colocou o problema da formação de quadros para
ministrar o ensino de desenho de objetos para a indústria,
para se poder desenhar bidimensionalmente as informações,
com o estudo necessário. Isto é, a parte da comunicação
visual, que não se restringe somente à área da propaganda.
Naquela fase desenvolvimentista em que estava entrando o
país, era necessário formar quadros que pudessem preparar
os objetos para a indústria, preparar os edifícios, os desenhos
das cidades, porque já começava a mudar a relação cidade-
campo. A nossa geração saiu da escala do edifício e
Entrevistas
21
começou a enfrentar todas essas novas escalas. Na
Universidade, deveriam surgir as inquietações, que se
transformariam depois em necessidades da vida prática.
Antes da reforma, existiam cadeiras com intenções muito
subjetivas, coisas como Composição Decorativa, Plástica.
Com a reforma, pretendíamos também despertar a
consciência de outras escolas, no sentido de poder formar
profissionais dentro desses novos padrões.
MC - Na realidade, pretendia-se atingir todo o país?
AS - Essa reforma, na verdade, foi aceita em sua
totalidade, por assim dizer, no eixo Rio-São Paulo, onde
existia indústria. Porém, muitos não conseguiam conceber
um curso de desenho industrial nas faculdades de
arquitetura do Nordeste, por exemplo. Mas achávamos que,
na realidade, para se fazer
design
, não era necessário ter uma
indústria à disposição. Entendíamos o conceito de
design
como algo mais amplo. Podíamos, assim, fazer um
design
absorvendo toda a riqueza formal brasileira, pois temos todo
um repertório popular a ser aproveitado. Esse grupo
convidado a participar do processo de reforma da FAU tinha
uma preocupação com o ensino, numa nova consciência
profissional. Assim, pretendia-se formar entidades, através
das quais fosse possível sensibilizar nosso futuro cliente, que
era o industrial, por meio da Federação das Indústrias. Em
63, fomos para um congresso de
design
em Paris, como
professores (Stroeter, Cauduro, Lucio Grinover e eu). Em
seguida, fomos para Ulm, visitando uma exposição de
Design
em Stuttgart, passando por Zurique, onde visitamos o
estúdio de Max Bill. Retornando ao Brasil, entramos em
contato com a Organização Internacional de
Design
e
começamos a montar a Associação Brasileira de Desenho
Industrial, que por desejo nosso deveria ficar junto com o
IAB-Instituto dos Arquitetos do Brasil. De fato, ela começou
no IAB, mas aos poucos foi se desligando. Acontece que ao
lado de pessoas que estavam realmente interessadas em
Desenho Industrial, surgiram outras com interesses paralelos.
Conseguimos, apesar de tudo, formar um pequeno grupo,
mas para que tivesse consistência seria necessário que se
formassem profissionais e que a indústria, por outro lado,
absorvesse a produção desses profissionais. Como mostrei, a
Itália é um bom exemplo dessa ligação da indústria com o
profissional, mas aqui isso não ocorreu. Na realidade, muito
pouco se fez de
design
. O desenho da máquina, por
exemplo, não foi feito. Fez-se apenas alguma coisa no setor
Entrevistas
22
do mobiliário. O móvel é uma coisa muito particular, pode
ser desenvolvido semi-artesanalmente. Isso não ocorreu
somente com o
design
. A arquitetura sofreu o mesmo
processo. Por razões políticas, econômicas, sociais, não foi
possível formar os quadros que se pretendia. A partir dos
anos 60, as coisas começaram a andar para trás, até que o
país passou a atravessar uma crise e praticamente se parou
de trabalhar. O desenho industrial não chegou a acontecer
no país. O que vemos são coisas isoladas, episódicas. E isso
veio a se refletir no ensino. Se na arquitetura, sentimos que
houve uma quebra no processo de elaboração de temáticas,
no
design
isso se fez sentir com mais força. Não quer dizer
que os cursos deixaram de existir, mas o tipo de investigação
que se passou a fazer dentro desses cursos, foi talvez uma
investigação de sentido filosófico, uma análise de linguagem,
fazendo um paralelo com a crítica literária. E começaram a
incluir o estudo da semiologia, aspectos de comportamento,
porque o lado prático não estava acontecendo. Porém, o
compromisso aconteceu.
MC - Mas houve outras contribuições positivas?
AS - Outra contribuição importante da reforma foi, sem
dúvida, a de ter criado condições para que se sistematizasse
toda uma linguagem em três dimensões. E, além disso, fora
do âmbito do edifício, como Brasília havia nos mostrado a
dar o salto em escala, o Planejamento foi absorvido como
investigação, o que representou um avanço para além do ur-
banismo. Naquele momento, em 62, nós afirmávamos que o
arquiteto deveria ter uma visão completa do processo. Mes-
mo que se dedicasse na vida profissional somente ao dese-
nho do edifício ou ao planejamento ou à comunicação
visual, deveria conhecer todas as outras referências em rela-
ção ao espaço construído. Conhecendo o geral, teria condi-
ções de aperfeiçoar melhor o particular. Poderia ser um
de-
signer
, mas com a consciência de todo o processo. A sabe-
doria desta postura está em que nenhuma dessas possibi-
lidades poderia sobreviver isoladamente. Historicamente,
nós tínhamos tido as experiências da Bauhaus, a partir das
experiências históricas do Deutsche Werkbund que Gropius
leva para a Bauhaus, onde o termo
design
era também
levado pela mão dos arquitetos. Nós considerávamos,
portanto, que o
design
, a comunicação, o edifício ou o
planejamento não poderiam existir isoladamente. Então, a
nossa escola estava se transformando em escola de
design
,
no plano mais completo.
Entrevistas
23
MC - Você continua enfocando a questão da abrangência
da formação do
designer
dessa maneira?
AS - Acho que o problema do
design
não está desligado
do problema da arquitetura. Isso não quer dizer que nos anos
80 fosse necessário formar um arquiteto-
designer
-
comunicador, ainda que seja difícil fazer essa divisão. Se nos
anos 60 era necessário, por razões históricas, pegar a Bahaus
e trazer para o Brasil, se era necessário formar um profissional
que pudesse pensar em todas as escalas, isso se justificava
porque ainda não havia essa noção de que o trabalho devia
ser entendido desde o planejamento até o objeto. Quer dizer
que o planejador deve ter a cabeça ciclada para pensar em
uma escala que vai de 1:50.000 e desce para 1:10.000 até
1:5.000. Ele vai até o momento em que ainda não é possível
se colocar uma cota, quando começa a se colocar a cota, isso
já pertence ao campo do arquiteto. De desenho urbano para
o edifício. Vamos conversar melhor sobre essa questão de
escala. Isso apareceu na minha cabeça quando começaram
aquelas reuniões sobre planejamento no IAB, nos anos 70,
quando se vociferou, se transpirou planejamento por todos os
lados. O resto ficou lá por baixo. Todo mundo pesquisou e,
na faculdade, revirou-se favela pelo avesso, chegando-se à
conclusão de que na favela havia favela, de que lá havia gente
morando, que ela aumentava cada vez mais, que a favela era
feita de restos de madeira, que as pessoas improvisavam
aquelas soluções todas, até que se acabou achando um certo
sabor na favela. Um estrangeiro que passasse por aqui, ficaria
admirando a favela e tal (é claro que um ser humano, quando
estabelece um cantinho para viver, procura pelo menos
aquecer um ou outro ponto de seu entorno mais próximo)...
Voltando ao problema das escalas. A cabeça desse pessoal de
planejamento vai até uma certa escala. O pessoal de edifício
parte de 1:5.000, que já é uma coisa rara, 1:2.000 ou 1:1.000,
1: 500, precisa colocar uma cotasinha, precisa detalhar um
perfil, e vai descendo...1:100, 1:50. Quando começa o
problema da pormenorização, da escala maior, 1:10, 1:5, 1:1,
já se começa a pensar em produção em série, em coisas que
dizem respeito à máquina, começa a pensar no objeto. E o
objeto, em geral, é alguma coisa feita em escala natural. Aliás,
a pormenorização tem uma escala ao contrário, é 2:1, coisa
assim. Quem começa a pensar no objeto, começa muitas
vezes a tomar contato com detalhes técnicos, materiais ou
mecanismos nos quais precisa assentar sua lente de aumento
para poder entender, coisa que o arquiteto passa por cima,
porque para ele é um problema menor. Uma caixa de luz, por
Entrevistas
24
exemplo, como funciona lá dentro, não é nem tarefa dele.
Quando alguém tiver que estudar o
design
de uma caixa de
luz, como se monta e como se desmonta, como se coloca na
parede etc., isso já é um problema de indústria, são coisas
que só podem ser projetadas em escala natural. Até o modelo
não é como a maquete do arquiteto, há uma diferença. A
maquete exige sempre uma abstração. Aliás, o próprio
projeto exige essa abstração; você pensa nele, e ele pode
aumentar 100, 200 vezes, mas o objeto não. A noção de
modelo exige uma escala natural.
Também no caso do pessoal da comunicação a coisa é
feita em escala natural. E talvez acontençam certos tipos de
trabalho em que essas coisas se interpenetram. Por exemplo,
quando os americanos (acho que no MIT) fizeram um
trabalho em que reduziram toda a ergonometria a ábacos,
uma coisa maravilhosa. Esse trabalho feito pela universidade,
que levou dez anos, foi orientado por um bom comunicador
visual e um bom
designer
. Essas coisas podem acontecer em
países ricos, em países periféricos raramente acontecem.
Não há capital e não há cabeça. Para que isso seja possível,
torna-se necessário que uma porção de gente tenha sua
inteligência desenvolvida. E a inteligência aqui é
desenvolvida em nível bacharelesco. Discursa-se muito, há
idéias luminosas, faz-se um pouco de demagogia às vezes,
mas a produção é muito pequena, produz-se pouco nesse
sentido consultivo. Isso serve para eles afinarem melhor a
produção deles. A luta pelo mercado é uma coisa muito
séria, os românticos têm que aprender isso.
MC - Em relação às características que você menciona
quanto ao
design
italiano, e que podem ser consideradas
ideiais, como fica a perspectiva do
design
brasileiro?
AS - O europeu, por fruto da necessidade, aprendeu a
não desperdiçar. Ele enfrentou guerras etc. e não desperdiça,
isso é uma coisa impressionante. O sujeito fazia um
desenhinho e isso valia, se não valesse naquele momento,
um dia ia valer. A cabeça pensou, é trabalho. Esse
desperdício, o valor do trabalho me impressionou muito.
Vemos um pouco disso em nossos imigrantes, ao passo que
em certos grupos, como se vê muito na FAU, há muito
desperdício de trabalho e de tempo. Nada se acumula e isso
me deixa chateado.
MC - Proporia a questão em outros termos. A produção
para que aconteça, baseia-se na sensibilização do cliente.
Entrevistas
25
Há a necessidade de que quem disponha de recursos aposte
no projeto. Quanto ao desenho industrial no Brasil, isso
deixa de acontecer por não haver por parte do empresário a
sensibilidade ou consciência necessária em relação à
importância disso em seu produto. Parte da responsabilidade
por esse quadro não recai no próprio profissional de
design
que não soube desencadear esse processo de
conscientização?
AS - O empresário sabe muito bem o que é
design
. Ele
viaja para o exterior todo o ano e sabe exatamente o que
significa
design
. Acontece que ainda não chegou o momento
dessas coisas serem exigidas pelo consumidor. A hora em
que o mercado se transformar em um mercado de verdade,
então ou ele se organiza ou rua. Isso aconteceu com o
mercado de tecidos. A turma do tecido que não se reciclou,
continuando a usar os mesmos teares dos tempos do pós-
guerra, caiu fora do mercado. O profissional que se reciclou
está aí, suou muito. Se há um campo do
design
muito
interessante porque leva em consideração a questão da
moda; é o do tecido, que conta com uma organização de
âmbito internacional. Começa pelo “pool” de empresas que
trabalham com cores, tudo começa aí, passando pelos
desenhistas de tecidos, os modelistas, etc. Eles estabelecem
quais as cores da moda e só produzem isso. Começa na
ponta da pirâmide, todos os anos. Então, a gente percebe
que é um problema de mercado. Com certeza, é um
processo que vai se iniciar aqui, quando se sentir
necessidade, aí vai surgir esse profissional do
design
.
MC - Enquanto for mais barato copiar o produto de fora
que desenvolvê-lo aqui...
AS - Mas copiar, não é assim tão fácil. Se fosse assim tão
simples, copiar-se-ia tudo absolutamente. É difícil copiar.
Quando o pessoal traz um produto para cá e tenta colocar
tecnologia que nós temos aqui, sempre acontece alguma
coisa. Cito um exemplo que tenho acompanhado de perto,
no mundo dos plásticos. Pega-se um produto inglês ou
escandinavo, alguém traz e mostra para um moldador para
se fazer o molde. E surge uma dificuldade, sempre tem
alguma coisa que não se consegue igualar, sempre é preciso
redesenhar alguma coisa que não se consegue igualar. Na
tecnologia, eles estão adiante, não é fácil.
MC - Há três coisas que você falou e que valeria a pena
Entrevistas
26
salientar pela sua importância. A primeira é a questão do
artista, do
designer
italiano, daquele profissional que traz um
“sentido” de arte aplicada muito evoluído (em decorrência de
uma cultura que já traz isso enraizado desde, por exemplo, o
Renascimento, para não ir muito longe). Outro ponto refere-
se ao problema da falta de objetividade entre os arquitetos
brasileiros durante a arrancada rumo ao
design
que acabou
por se frustrar _ uma atitude romântica que turvou a
caracterização de sua presença no mercado. E o terceiro
ponto, a visão de que o problema do mercado quase que
antecede qualquer discussão sobre
design
e seu
comparecimento na indústria. Como você amarraria esses
pontos, ainda pensando nas perspectivas do
design
brasileiro?
AS - Vamos ter que fazer um
design
brasileiro. Ou a
gente faz parecido com o que empatizamos - o
design
italiano, o escandinavo - ou tentamos criar uma coisa que
tenha o sentido de nosso contorno social, da textura social
daqui. Em termos de gráfica, uma coisa que me deixava, e
ainda me deixa entusiasmado, é a ilustração da literatura
de cordel. Essas ilustrações revelam uma força tão grande,
da qual é possível tirar algumas coisas. O pouco da
cerâmica popular que se fazia por necessidade, os objetos
de uso (a Lina Bo Bardi pegou muito bem isso tudo), as
pipas, até o refugo da indústria que é reaproveitado, são
coisas com um valor enorme e fruto da necessidade. A
cerâmica tipo Vitalino começou a ser feita para as crianças
brincarem e depois virou peça de museu, porque em um
ou outro caso tinha qualidade artística. O Vitalino era um
gênio cuja cabeça funcionava de uma forma diferenciada
pela temática; ele sabia pegar o cotidiano etc. E a gente
sempre trabalha a partir de exemplos. falei no caso
específico do Nordeste, mas se pode falar do que vem da
imigração do Sul ou da miscigenação de São Paulo ou das
coisas das montanhas de Minas.
MC - Segundo seu pensamento, a questão que se polariza
entre ser regional ou universal, a busca de uma linguagem
supostamente brasileira versus a tendência de uma estética
sem fronteiras, cosmopolita, se resolveria pelo incentivo à
produção, que naturalmente reflete a cultura da qual se
origina, sem que seja preciso um esforço externo...
AS - O que não existe é uma definição por decreto: “O
design
será brasileiro”. Existe uma porção de coisas fortes,
que são fruto da necessidade, e de onde a gente pode pinçar
elementos que nos servirão de inspiração. Então, eu acho
Entrevistas
27
que nessa medida se atinge uma dimensão universal. Esse
design
que acaba surgindo é algo necessariamente brasileiro
também. À semelhança do que se passa na pintura, que
apesar de toda a influência, expressa uma temática brasileira.
Por exemplo, o Rebolo é um pintor paulista. Morandi, um
pintor italiano. Não se trata de compará-los para ver quem é
melhor. Morandi pintava suas paisagens em Bolonha, suas
garrafinhas cheias de poeira, preocupado em descobrir a cor
atrás daquela história toda, às vezes explicitando o branco (o
que deixava a gente meio deslumbrado), depois escurecia
tudo aquilo, texturizava...Quando fazia seu pequeno
trabalho, estava no fundo expressando um sentido universal.
Não quero compará-lo com o Rebolo. O que sei é que o
Rebolo olhava o Morandi com muita atenção. Se você pega
as paisagens do Rebolo (um homem que não tinha nada de
sofisticado, não era erudito, mas um cara de origem
humilde, jogador de várzea, filho de imigrantes e que foi
pintor de paredes), encontrará algo profundamente paulista.
Ele documentou muito bem as matas do Morumbi, até no
sentido de nos proporcionar uma leitura do que foi feito
daquilo, que era uma mata maravilhosa. A cor dele é escura.
É escura porque São Paulo sempre teve esse aspecto
carregado. Quando vai ao Nordeste, é incrível, a tela
explode e fica clara. A retina dele é obrigada a se fechar de
tanta luz. Você vê isso em sua pintura. Rebolo é uma pintura
paulista, como Volpi é uma pintura paulista (o pessoal do
grupo Concreto tentou ver Volpi como um pintor concreto,
mas ele não é um pintor concreto, é um pintor paulista, com
origem semelhante à de Rebolo). Todo esse grupo da família
paulista pintava de uma forma semelhante, um se adiantava
mais, outro menos, mas é uma coisa que funcionou como
um corpo único. A impressão que tenho é que eles se
escudavam uns nos outros e, assim, avançavam juntos, isso
acontece em qualquer manifestação... Um pintor
pernambucano é outra coisa, fortemente marcado por esses
aspectos da gravura popular e essa coisa toda...
Voltando à questão do
design
, acho que o dia em que
surgir aqui um
design
, vai ter que partir da arte popular. Na
Escandinávia foi assim também. Aí, a gente chama meia
dúzia de sociólogos mais uns críticos e essas coisas todas e
então vão descobrir, vão escarafunchar etc., porque eles só
vêm depois; a gente faz e eles explicam, não é? Se a gente
quiser explicar tudo também, acaba não fazendo nada,
perde mais tempo explicando que fazendo, então o melhor
é ir fazendo, depois se vê o que acontece. Também não acho
ruim, é importante ter gente que faça como gente que
Entrevistas
28
explique. Então, esse é o tal do problema do
design
nacional. Depois que ele surgir, vamos descobrir o que
informou essas coisas e elaborar um corpo de doutrina.
Havia um pessoal aí preocupado que confundia o
design
de
objeto com leitura do objeto, causando a maior confusão.
Não se vende poesia a um homem de indústria, a não ser
que você dedique a ele um livro de poemas e ele resolva
pagar a produção, não é assim não. Esse negócio de eternas
vanguardas é coisa de periferia. Se pegar outros lugares do
mundo, Nova York, por exemplo, encontrará alguém que
canta blues desde os anos 40 e que continua cantando. Tem
o mercado dele, faz o melhor que sabe e cada vez melhor.
Faz algumas modificações, mas continua sendo o mesmo
blues. Neste país aqui, que chamam de periférico, há sempre
a necessidade do panfleto e essas coisas não constroem,
sabe? Não se joga a história pela janela.
Entrevista de Abrahão Sanovicz, concedida ao arquiteto Marcos
Cartum, pesquisador da Divisão de Pesquisas do Centro Cultural São
Paulo, em 1984. In SANOVICZ, Abrahão. S
istematização crítica da obra
de arquitetura
para obtenção do título de livre docente junto à Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1997.
Entrevistas
29
Entrevistas
30
Abrahão Sanovicz a Catharine Gati
O Centro Cultural São Paulo CCSP, através do Centro de
Documentação sobre Produtores Culturais de Arquitetura
em São Paulo, realizou no fim da década de 1980 uma
série de entrevistas.
Abrahão Sanovicz foi entrevistado pela pesquisadora e
arquiteta Catharine Gati, em nove sessões, entre agosto de
1987 e novembro de 1988.
Estas entrevistas foram transcritas, mas nunca foram
publicadas.
Procurou-se editá-las de maneira um tanto “livre” e, para
garantir o conteúdo completo dos registros, uma cópia das
transcrições foi depositada na Biblioteca da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo.
Registro 01 - 18 e 19 de agosto 1987
Catharine Gati (CG) - Neste primeiro encontro vou listar
algumas questões para que você discorra sobre elas na
ordem que achar mais interessante:
Por que você decidiu ser arquiteto?
Na época em que tomou essa decisão que imagem
tinha do arquiteto e que imagem tem hoje?
Como estudante, quais os professores que te influen-
ciaram na FAU?
O que é a arquitetura no seu entender?
Qual o significado do projeto?
Como você projeta?
Gostaria que fizesse uma avaliação da sua produção,
que falasse de um ou diversos projetos que são especiais
para você.
Você afirmou que está reformulando seu trabalho, fale
um pouco sobre isso.
Abrahão Sanovicz (AS) - Fui obrigado a reformular meu
trabalho, não que eu quisesse. Os últimos anos no país foram
de uma dificuldade muito grande de trabalho, notadamente
a partir de 1978.
Trabalhar com arquitetura em nosso país requer um
esforço muito grande,a situação é de grande adversidade.
Nos países mais ricos a arquitetura faz parte do cotidiano
a ponto de, pessoas que não são arquitetos se interessarem
pela arquitetura, vivem esse processo como coisa que
enriquece sua vida.
Nos últimos anos tem sido muito difícil conseguir um
trabalho, realizá-lo e fazer com que seja construído de
maneira mais eficiente.
Houve uma perda da dignidade do projeto, isto significa
que os programas empobreceram, tanto os de caráter
coletivo como individual.
Se verificarmos as publicações brasileiras dos anos 1930
aos 1960, constataremos que os arquitetos brasileiros
puderam fazer um trabalho altamente criador, os programas
eram os mais variados. A partir de então, constata-se um re-
cuo nos programas e, conseqüentemente uma perda da
dignidade do projeto.
Se analisarmos as escolas dos anos 60 e as feitas mais tar-
de, verificamos que os programas recentes se restringem ao
mínimo. Os terrenos planos, disponíveis anteriormente,
hoje, nos novos loteamentos, são as áreas destinadas aos
equipamentos institucionais, normalmente as mais pro-
blemáticas e com pior topografia. Resta ao arquiteto,
identificar dentro de limites tão adversos, a melhor solução
para o projeto, não esquecendo ainda das restrições de
ordem econômica.
Os trabalhos que foram feitos para o Instituto de
Previdência do Estado de São Paulo IPESP, durante o plano
de ação do Governo Carvalho Pinto, inicialmente, tinham
como restrições definidas pelo contratante: telhados com
telhas de barro ou de cimento amianto; paredes
autoportantes, áreas mínimas. No entanto, houve um projeto
de um arquiteto, que por sua história profissional, conseguiu
propor uma nova solução para o problema: o projeto de
Artigas para o Ginásio de Itanhaém.
Artigas mostrou que era possível e até mesmo a
administração do IPESP se encantou com o resultado do
projeto. A partir desta obra e muitas outras interessantes
foram realizadas pelo Instituto.
Num levantamento recente feito pela Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo CONESP para
a manutenção e restauro de algumas dessas obras, verificou-
se que os projetos eram de altíssima qualidade.
Comparando os programas vemos que houve um certo
recuo, justificado por razões de ordem econômica e também
pela quantidade de obras a realizar.
O esforço da CONESP em sistematizar processos constru-
tivos, componentes e materiais, foi muito importante, mas não
conseguiram incorporar a esta iniciativa as melhores con-
dições de projeto e de qualidade dos materiais. As obras cons-
truídas recentemente quando são inauguradas já estão velhas.
Se compararmos essas obras com as escolas da Primeira
República, como o Caetano de Campos ou o Grupo Escolar
Entrevistas
31
onde estudei em Santos, estes últimos estão perfeitos, com
seus espaços generosos.
Vemos então que houve um retrocesso que não é da
arquitetura, ela é um meio e não um fim, não se deve
portanto dizer que a arquitetura está em crise.
Nossos colegas da CONESP lutam e lutaram
desesperadamente para conquistar pequenas coisas, como a
estrutura independente, por exemplo, mas isto é muito
pouco se considerarmos as experiências anteriores.
Tomo como exemplo as escolas porque fiz muitos
projetos escolares, principalmente nos últimos 10 anos, o que
foi sempre um grande desafio. O diálogo que tinha com os
colegas da CONESP era maravilhoso porque eles entendiam
as propostas, ainda que fossem necessários alguns recuos.
Não me envergonho das implantações que fiz, ao
contrário, todas elas foram feitas da melhor maneira possível,
com as informações as mais detalhadas, revisões precisas,
era aquilo que tínhamos à mão para fazer.
Outro fator que contribuiu para esta perda de dignidade
foi a relação arquiteto - cliente, na medida em que foram
montadas organizações empresariais, onde pelo excesso de
processos burocráticos, não se reconhece mais a autonomia
tanto do arquiteto como do cliente.
Hoje o arquiteto passou a se relacionar com o preposto
do cliente, e essa relação cria conflitos, limita decisões, e vai
dissolvendo, “aguando”, o projeto.
A arquitetura é uma profissão tão digna, tão humana e tão
normal, como qualquer outra atividade humana. Não acho
que tenha nada de excelso, insere-se perfeitamente ao lado
de outras atividades humanas no espaço cultural.
Dizendo isso pretendo modificar a imagem que tínhamos
dos arquitetos até os anos 1960, herdada, possivelmente dos
panfletários dos anos 20. Com a distância do tempo, percebe-
se o esforço que foi, no período entre guerras, estabelecer e
afirmar a profissão de arquiteto, foram necessárias
manifestações panfletárias e até excêntricas, que hoje já não
têm mais razão, ao contrário, hoje talvez até atrapalhem.
O arquiteto tem que considerar tudo o que é objeto da
arquitetura: as técnicas; a construção; o programa; a
natureza do solo; as condicionantes térmicas e acústicas; as
condicionantes culturais, estéticas e éticas; e, a história da
arquitetura que o informa.
Todo projeto é fruto do projeto ou projetos anteriores.
A arquitetura é uma profissão que se modifica em
constante continuidade, tanto que, muitas vezes,
percebemos que os projetos de determinado período ou
Entrevistas
32
geração se assemelham porque as condicionantes eram
semelhantes.
CG - Como foi o debate da arquitetura nesse período?
Até que ponto o amortecimento do debate contribuiu para o
empobrecimento das propostas?
AS - O debate da arquitetura sempre foi vigoroso quando
os programas e as soluções propostas eram vigorosos.
O maior debate que se dá entre arquitetos é através de
seus projetos.
Por que se perdeu o hábito de debater?
Sobre o que debater se há tão pouco para mostrar.
CG - Como foi sua relação com o cliente individual,
particular?
AS - Eu fiz muito poucas residências, minha maior
atividade para cliente particular foi através dos prédios de
apartamentos.
Em todos esses prédios moram arquitetos o que é motivo
de orgulho para mim.
CG - Gostaria que você fizesse um pequeno histórico da
colaboração com a Formaespaço.
AS - Com a Formaespaço havia uma relação familiar: um
americano que quando veio para o Brasil casou com a prima
de minha mulher. Dono de uma pequena firma construtora,
uma pessoa muito inteligente, ativa e culta. Formado em
literatura, não cursou arquitetura ou engenharia.
Quando aqui chegou, montou a construtora, pois sabia
da importância da arquitetura. Entusiasmou-se com as
possibilidades colocadas pelo Banco Nacional da Habitação
BNH, ou seja, levantar financiamento para construção de
edifícios habitacionais. Colocou, de saída algumas
premissas: gostaria de construir prédios que pudessem ser
repetidos, alguma coisa que pudesse fazer a construção ser
mais econômica, teria como público alvo a classe média, e
procuraria terrenos em bairros mais novos, onde não
precisasse usar o índice máximo de aproveitamento dos
terrenos. Dizia: “Quero fazer alguma coisa que seja um
design
na construção”.
Eu, por outro lado, tinha algumas experiências com
design, umas deram certo, mas a maior parte não, porque
não podemos afirmar que o
design
tenha grande expressão
Entrevistas
33
no Brasil.
Foi uma conjunção de interesses, àquela época
(1968/1969), já achava que o único lugar onde se poderia
aprofundar a experiência do
design
seria na construção.
Fiquei animadíssimo.
A primeira experiência foi uma série de casas
abobadadas, o Conjunto Jardim Prudência.
O partido desse conjunto, “o côncavo e o convexo”,
levou ao de uma casa para um dos diretores da
Formaespaço: a parte côncava era dos dormitórios, a
convexa a sala. Terreno na Granja Viana, o lugar é muito
bonito, a parte da sala, leva para o espaço exterior.
A cobertura é um lençol com dois tímpanos, o partido era
inovador porque ao contrário do que sempre fez Marcel
Breuer que reunia sala e serviços num volume separado dos
quartos, nesta casa, o volume separado era o dos serviços,
com laje plana.
De certa maneira retomei este partido na residência
André Mehes Filho, na Rua Berlioz, Alto de Pinheiros.
Com a obra do Conjunto Jardim Prudência, os construtores
pretendiam “fazer dinheiro”, enquanto isso, segui estudando o
famoso “modular”, o que levou quase sete meses.
A área do apartamento era a maior que se podia fazer,
atendendo as normas do BNH, no máximo 160 m
2
de área
total, sendo 127 m
2
de área útil. Tem três quartos, dois
banheiros, sala (com três ambientes: jantar, estar e música) e
serviços (cozinha, área de serviço, quarto e banheiro de
empregada). Garagem para um carro, salão de festas e área
para atividades das crianças.
Não usava o índice máximo de densidade estabelecido
pela Prefeitura, pois assim, conseguia maior elegância dos
prédios em relação ao terreno.
Eram terrenos relativamente baratos, os primeiros em
Moema e, depois em Perdizes.
Sistematizei a estrutura, os pilares e vigas no perímetro
externo já desenhavam a fachada.
As formas foram racionalizadas porque eram iguais de
baixo até em cima, cada elemento estrutural tinha sempre o
mesmo tamanho: vigas altas e lajes vencendo grandes vãos.
As paredes internas eram de gesso, uma técnica nova,
tivemos assessoria de profissionais da Argentina, que tinham
vasta experiência. Eram painéis de 7 x 50 cm, encaixados
tipo macho-fêmea, com furos de 3 cm na longitudinal. Foi
necessário elaborar um manual para obra: como colar,
rasgar, embutir conduites, etc.
Havia um aspecto de pioneirismo, porque se adotava
Entrevistas
34
soluções não convencionais.
Com o primeiro prédio construído, era como se eu tivesse
um protótipo feito em escala natural e sendo usado, com isso
íamos aperfeiçoando a idéia. Fiz algumas alterações e
poderia ter feito outras, mas essas empresas no Brasil, por má
gestão ou mudança de enfoque, logo aparecem os
problemas mais controvertidos, de repente invertem seu
objetivo, que inicialmente tinha um caráter social e o desejo
de construir algo que tivesse permanência.
Os processos econômicos ocorridos a partir dos anos 70,
mais a ganância, a má gestão, a incapacidade técnica dos
profissionais que intervinham na construção, ou o desamor,
o desconhecimento do objeto de seu trabalho, o fato é que
essas firmas não agüentaram.
Pelo inusitado do projeto, comparado ao que se fazia na
época, acredito que os modulares atendiam melhor.
Apesar do meu esforço, já que também era responsável
pela execução da obra, não acho que foram bem
construídos.
Muitas vezes passava os domingos nos
stands
de vendas e
ouvia os compradores perguntando, por exemplo, como minha
filha vai sair do quarto para ir ao banheiro de penhoar? (sobre
as portas dos quartos que se abrem diretamente para a sala).
Quando projetamos uma obra assim, não se sabe quem é
o cliente, o que é um risco. Mas tenho certeza de que estava
fazendo arquitetura.
A força do projeto permanece e, com ela, questionava os
estilos todos, que vendiam gato por lebre.
Quando comecei a desenvolver o projeto desenhei todas
as vistas, pendurei nas paredes e disse: “Eu gostaria que
qualquer colega meu olhasse esse projeto e dissesse: ‘ eu
posso fazer a mesma coisa’”.
Com esse projeto quis me identificar com meus colegas,
que cada um deles pudesse sentir que poderia fazer o
mesmo. A idéia era de criar um processo, um embrião, se o
país tivesse um ritmo econômico normal...
Não me agrada a idéia de que esses edifícios são
pioneiros, seria mais interessante que tivéssemos um ritmo
normal de trabalho.
O modular não deve ser encarado como projeto único,
mas como um sistema que se desdobra, como no conjunto
habitacional Nova Cidade, em Jundiaí, com unidades de 75
m
2
, prédios de três andares com a mesma linguagem.
A primeira geração dos modulares era totalmente
despida, uma espécie de “pé-de-boi”, referência ao
Volkswagen, quando tiraram uma série de acessórios para
Entrevistas
35
barateá-lo. Depois houve uma segunda e terceira geração,
quando apareceram caixilhos com quebra-sol, como no
prédio da Pará (Edifício Abaeté à Rua Pará, Higienópolis,
São Paulo SP).
A idéia norteadora era pensar um sistema que pudesse
baratear a edificação e construir em larga escala. Devia-se,
portanto, despir totalmente o edifício, e, à medida que
fossem sendo construídos, poderiam ir incorporando outros
elementos.
Depois dos modulares fiz algumas experiências com pré-
moldados no edifício Fiandeiras, que foi das últimas expe-
riências em prédios de apartamentos para cliente particular.
Fiz alguns conjuntos habitacionais para o Caixa Estadual
de Casas para o Povo - CECAP, nestas obras, é evidente a
referência ao Zezinho Magalhães Prado, de Artigas,
sobretudo a solução de planta, no entanto, implantados em
terrenos com topografia bastante movimentada, não tiveram
a implantação tão cartesiana como no Zezinho.
Essas minhas obras, por sua visibilidade, são mais co-
nhecidas, mas, acredito que outros projetos realizados no
interior do Estado representam uma produção mais densa.
Para analisar os modulares, seria interessante voltar para é-
poca da escola, especificamente, sobre um projeto que par-
ticipei junto com uma equipe de estudantes e que represen-
tou a FAU na IV Bienal do Museu de Arte Moderna, em 1957
Os membros do júri eram: Kenzo Tange, Marcel Breuer,
Philip Johnson, Silvio Vasconcelos e Jacob Ruchti. Daí a
importância que era dada a estes concursos, jogávamos a
vida nesses trabalhos.
CG - Voltando a nossas perguntas do início, que imagem
você tinha da arquitetura e como era a FAU?
AS - Acho interessante relatar um pouco da minha
experiência artística antes da FAU, como ela foi sendo
substituída pelo interesse pela arquitetura, pela gráfica e o
design
. Voltei, recentemente, a fazer gravura, algo que devia
a mim mesmo.
Por aí podemos ter uma idéia do que era a Escola, do
movimento cultural. Eu e Flávio Motta fizemos interessantes
experiências no curso de pós-graduação: uma série de
seminários sobre os anos 50, Artigas, Lucio Costa. Foram
feitas umas 60 fitas.
Importante falarmos sobre a vida cultural em São Paulo e
sobre a imagem que tínhamos da FAU.
Com isso é mais fácil perceber minha atitude no trabalho,
Entrevistas
36
como fomos inventando nossa vida e como ela foi se
transformando, tanto por contingências internas, nossas,
como por contingências externas.
CG - Há um poder transformador pela arquitetura?
AS - Acredito que projetar, ou seja, o resultado do projeto
encerra sempre uma intenção ideológica, que em
determinadas condições ele tem uma capacidade
transformadora.
Quando é que surge o partido novo que se diz
transformador?
Quando o relacionamento social se transforma. Então, o
arquiteto é intérprete dessa transformação. Por exemplo:
desaparecimento do fundo de quintal pelo surgimento dos
processos mecânicos de lavagem, secagem e tratamento
químico das roupas, fez com que os partidos dos projetos se
modificassem, além de liberar o tempo despendido para
esses serviços, o que pode fazer com que a pessoa que se
ocupava desses afazeres pudesse usar esse tempo numa
atividade criadora. Não é o projeto que provoca essa
mudança, ele absorve e propõe novas soluções.
Qual a grande contribuição de Mies van der Rohe?
A limpeza das paredes de uma edificação: a Farnsworth
House é o máximo no mínimo, um retângulo com uma
linha. Ele retira as paredes que dividem os ambientes,
quando reconhece que não precisa mais dela, já que o
relacionamento entre as pessoas também não, ou seja, o
comportamento social se modificou, evoluiu. Destaca-se
ainda nessa obra a concentração das instalações ,a
simplicidade da planta.
A arquitetura é intérprete e ao mesmo tempo geratriz.
Não existia a planta da Farnsworth antes. Interpreta na
medida em que entende que as paredes não são mais
necessárias e é geratriz porque cria as condições para que
efetivamente estas relações aconteçam.
Se há uma coisa que me orgulho, e que é privilégio de
um grupo que se formou naquela época, Katinsky (Julio
Roberto Katinsky), Toscano (João Walter Toscano) e eu, a
preocupação que sempre tivemos por uma arquitetura
social, as casas, para mim são exercícios de estilo,
experimento alguns partidos, reformulo outros, mas a maior
parte de nosso trabalho, pelos próprios programas que
obedecia, tinha uma grande preocupação social.
Alguém perguntou numa aula: “Como se reconhece se
uma obra tem ou não qualidade? Se ela permanece ou é
Entrevistas
37
datada?”.
Respondi: uso um critério muito simples, quer dizer, passo
e olho a obra, se tenho vontade de vê-la novamente, e, cada
vez que a vejo a vontade de revê-la aumenta, acho que esta
obra interpretou bem seu tempo, portanto não é datada. A
obra datada é aquela que depois de vê-la não interessa mais.
Registro 02 - 2 de setembro de 1987
Catharine Gati (CG) - São Paulo tem jeito?
Abrahão Sanovicz (AS) - Acho que existe uma grande
diferença entre planejamento e desenho urbano. O
planejamento é feito numa escala 1:20.000 ou 1:50.000,
onde não se pode pormenorizar, dimensionar, metrificar; ao
passo que no desenho urbano você é obrigado a dimensionar.
São Paulo sofre por dois tipos de intervenções: de um
lado a engenharia viária, que obedece a critérios fruto dos
cálculos, e de outro, ao planejamento que trabalha a nível de
diretrizes e conceitos, são dois extremos.
O desenho urbano, quantificado, levando em consi-
deração todos os aspectos de cada região, intervenção feita
passo a passo, medida, rigorosa, que não gera comoções, que
não destrói a imagem da cidade, que pense no destino, no
significado de cada ato para o usuário. É isso que nos falta.
Um bom exemplo é o da cidade de Hamburgo no pós-
guerra, parcialmente destruída, discutiu-se por dois anos o
que era necessário fazer para reconstruí-la, de maneira que
não sofresse descontinuidade a cada governo.
O trabalho deveria ser feito em diferentes níveis, em
várias escalas, e estar tudo muito bem coordenado, já que
são inúmeros os intervenientes: abastecimento, infra-
estrutura, transportes, mas isso não acontece.
Sempre existe uma sabedoria anterior no estabelecimento
de um caminho. Trata-se de entender o projeto que está
subjacente e explicitá-lo, o que exige uma visão bastante
abrangente, uma grande experiência profissional e de vida.
CG - Fale um pouco de seu trabalho.
AS - A maior parte do meu trabalho é para o Governo do
Estado de São Paulo. Cada gestão dura 4 anos, no primeiro
planejam, segundo e terceiro, trabalham, no quarto,
inauguram.
Se fizermos uma leitura dos projetos, programas,
materiais empregados e linguagem, podemos identificar a
Entrevistas
38
situação econômica e sócio-política a cada momento da
história brasileira.
Defino as importantes fases dessa história: a da formação
e da experiência com a bolsa para um estágio em Milão, na
Itália, que vai até meados de 1960; um período de crise,
retoma-se a produção de 1967 a 1975; uma nova fase que
vem com o “milagre” até 1978; uma forte crise até 1984;
com um pequeno avanço neste último governo.
Seria interessante se a cada fase pudesse discorrer sobre
os projetos realizados, mostrar uma espécie de gênesis de
cada grupo de trabalhos mais significativos.
Antes, gostaria de falar que o mais importante foi a
formação e, principalmente o espírito da FAU.
Importante para entender como cheguei na FAU foram as
experiências na Escola Técnica e da formação artística na
Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna MAM.
Na época, anos 50 (1950), São Paulo era uma maravilha,
tinha uma escala ótima, com seus quase 3,5 milhões de ha-
bitantes. Já era uma metrópole, já não tinha mais a garoa, mas
o movimento cultural era muito intenso: os novos museus,
Museu de Arte Moderna MAM e Museu de Arte São Paulo
MASP; a primeira Bienal; a criação da cinemateca. Era uma e-
bulição artística: a revistas estimulavam polêmicas sobre arte.
A vida cultural girava em torno da Praça da República.
Muito de arte se produziu no período, novas escolas, o
grupo concreto, os tachistas, o rebatimento aqui das
discussões que aconteciam nas escolas européias.
Acredito que esta explosão tenha sido preparada. Sempre
encontramos, de alguma forma a figura de Mario de Andrade
envolvido nessas manifestações.
São Paulo estava desprovincianizada: íamos à escola,
depois a um museu, ao Teatro Municipal, uma nova peça no
Teatro Brasileiro de Comédia TBC, o cinema brasileiro
explodia com O Cangaceiro.
Os arquitetos em torno do Instituto de Arquitetos do Brasil
IAB eram poucos, mas com uma produção muito interessante.
Mudei de Santos para São Paulo em 1950, depois de ter
terminado o ginásio, para cursar o curso de nível médio,
correspondente ao científico, na Escola Técnica Federal, onde
fiz o Curso de Edificações que equivalia ao “geômetra” da
Itália, era projetista, mas também tinha ligações com a obra.
Penso, às vezes que se tivesse feito científico poderia ter
uma cultura geral mais ampla.
Antes, porém, com 13 ou 14 anos fiz um curso de
desenho arquitetônico, queria ter uma profissão, gostava de
desenhar e fui aconselhado por meus familiares, e acabei me
Entrevistas
39
profissionalizando. Na época era um mau aluno do ginásio,
era importante logo ter uma profissão para ganhar a vida de
maneira mais tranqüila... Descobri muito depois que a forma
menos tranqüila de ganhar a vida é escolhendo a profissão
de arquiteto.
CG - Já que gostava de desenhar, você não pensou que
poderia ser artista?
AS - Pensei, tanto que, enquanto cursava a Escola
Técnica, matriculei-me no curso de gravura da Escola de
Artesanato do MAM, como bolsista, mas sempre ficava a
dúvida: arte ou arquitetura. Cheguei até a pensar em fazer
Belas Artes para aprender pintura.
Mesmo não sendo o melhor aluno, tanto o curso primário
como o ginasial foram muito bons, o que se refletiu no meu a-
proveitamento na Escola Técnica, onde demonstrava uma
grande curiosidade em relação à arquitetura e à arte, fiz o cur-
so com certa facilidade. Era período integral e ainda conseguia
me dedicar às noites ao curso de gravura no primeiro e
segundo ano, e, no terceiro ano ao cursinho pré-vestibular.
A Escola de Atesanato funcionava numa casa doada por
Cicillo Matarazzo na Praça Roosevelt. Forno e
equipamentos foram também doados. A Prefeitura de São
Paulo arcou com as bolsas.
No concurso para as bolsas, constituído de prova escrita
e desenho, o Diretor da Escola, Nelson Nóbrega, apresentou
aos candidatos a artista que selecionaria os bolsistas: uma
senhora bonita, com o rosto todo maquiado com pancake
branco, cabelo dividido ao meio, muito elegante. Era Tarsila
do Amaral.
O primeiro professor de gravura foi Yllen Kerr, gravador
italiano, mais tarde mudou-se para o Rio de Janeiro e
dedicou-se à fotografia, morreu muito cedo. Era ótimo artista
e professor, nos dava toda a liberdade.
Outros professores foram: Lívio Abramo; Mario Gruber,
que já conhecia de Santos, um dos maiores artistas
brasileiros, demonstra um profundo domínio das técnicas
além de sempre fazer uma pintura temática, era professor de
desenho artístico; Antonio Gomide, da “Família Paulista”;
Georges Nasturel, pintor impressionista; e Wolfgang Pfeiffer,
professor de história da arte.
Os três anos vividos em São Paulo, antes da FAU foram
muito intensos. Ainda guardo os desenhos que fiz nessa
época em uma pasta.
Continuei desenhando muito e sempre, quase compul-
Entrevistas
40
sivamente, no começo, ainda como estudante de arquitetura
alguns colegas até diziam que eu dispersava. Ainda hoje
sempre que posso afirmo que todos devemos pelo menos
fazer um desenho por dia.
Passados mais de trinta anos, eu voltei a fazer gravura,
período em que fiquei fazendo basicamente arquitetura e
desenhando quase que sem compromisso. Com a volta para
a gravura parece que resolvi alguma coisa que fiquei me
devendo, e que tenho pago em módicas prestações: uma
gravura por mês.
Em Santos, já tinha contato com alguma coisa de
arquitetura moderna: trabalhava em um escritório de desenho
arquitetônico e até fazia despacho de prefeitura. O escritório
em que trabalhava, recebia as revistas “Acrópole” e “Habitat”.
Conhecia o projeto da Pampulha, as primeiras casas do
Artigas e algumas obras de Oswaldo Bratke em Santos.
Vinha sempre à São Paulo para algum serviço, aprovação
de projetos junto à Secretaria da Saúde, o que fazia com
grande alegria, pois aproveitava para visitar o MASP e depois
o MAM. Pude ver as exposições de Corbusier, Max Bill,
Portinari, Segall, entre outras.
Para matrícula na FAU fui obrigado a apresentar o
diploma da Escola Técnica, que deveria ser obtido junto ao
Ministério da Cultura no Rio de Janeiro, que já conhecia
através do “Brazil Build’s”, o que me fez visitar também a ABI
e o Instituto de Resseguros.
Entrei na FAU em 1954, mas sentia que, apesar de certa
informação sobre arquitetura que trouxera da experiência no
escritório de desenho em Santos e do Curso Técnico, me
faltava estruturar e aprofundar esses conhecimentos. Isto só
poderia ser possível através do espírito, da cultura, que só
uma escola aristocrática poderia fornecer, afinal, inclusive,
funcionava na antiga casa do Conde e Condessa Álvares
Penteado. O ambiente, as pinturas do saguão já mudavam a
maneira de como víamos o mundo.
Apesar de muito nova, a FAU já tinha história, tinha
ocorrido a “greve Niemeyer” porque o Conselho
Universitário, em 1951, não concordara com a contratação
de Oscar Niemeyer como professor da Escola. Os alunos
tomaram a FAU, que foi fechada por um tempo, Artigas
voltou a dar aulas na Politécnica, como uma espécie de
exílio. A Escola estava do avesso, ainda não se restabelecera
da crise, enquanto os alunos, sobretudo os recém ingressos,
sentíamos a necessidade de nos congregar: organizamos
concursos de cartazes e exposições. Já havia uma tradição de
publicações do Grêmio com a Revista Estudos e os textos
Entrevistas
41
editados pelo Centro de Estudos Folclóricos. Organizamos
outras publicações, como a dos textos de Gropius.
Era importantíssimo descobrir como surgiu a arquitetura
brasileira. Começamos estudar a obra de Lúcio Costa. Fomos
ao Rio, entrevistamos o Mestre, estudamos todos os seus
projetos, que passamos a conhecer profundamente,
reunimos muitos documentos, mais tarde, parte deles foi
cedida ao Xavier
1
para a edição de “Sobre Arquitetura”.
Tivemos ótimos professores, freqüentemente lembro das
colocações feitas por eles. Os que mais me marcaram,
foram:
Archimedes Dutra, professor de desenho do 1º ano,
muito influenciou em minha formação como desenhista.
Abelardo de Souza, professor de projeto, tinha Jon
Maitrejean como assistente. Era o segundo ano que Jean
lecionava, ele foi o primeiro aluno a voltar para a Escola.
Renina Katz, convidada por Abelardo de Souza, era
professora de plástica.
Plínio Crocce, um “senhor trabalhador”, sentava-se à
prancheta conosco, e analisava profunda e demoradamente
cada projeto.
Professor Telemaco H. M. van Langendonck de
estruturas.
No 5º ano, tínhamos os arquitetos mais importantes do
Estado como professores, João Batista Vilanova Artigas e Rino
Levi.
O melhor projeto que fiz individualmente, como
estudante, foi uma casa, para Cadeira de Técnicas das
Construções, ministrada por Ariosto Mila.
CG - Quais eram suas referências projetuais?
AS - Minha referência era a arquitetura moderna, a
brasileira e a internacional. Às vezes “Artiguiana”, bem
comportada, as “casas caixote”, uma forma mais sinuosa de
Oscar Niemeyer, qualquer coisa à la Neutra, Mies ou
Corbusier.
Depois de estudar Lucio Costa, precisávamos afirmar a
arquitetura brasileira, esse era nosso ideário.
Por exemplo, se analisarmos o projeto para o concurso
para o Iate Clube de Londrina, que fiz com João Toscano e
Julio Roberto Katinsky, as referências são muito evidentes:
parece a síntese entre o pensamento do Oscar (Niemeyer)
com algumas soluções do Artigas, como a “receita do pilar”.
Na FAU estudávamos com toda atenção os projetos dos
Mestres, era essa, fundamentalmente, nossa preocupação.
Entrevistas
42
Tanto que podemos dizer que, primeiro, nosso trabalho teve
grande influência de Le Corbusier e, depois, dos primeiros
arquitetos modernos brasileiros.
Havia ainda o grupo dos Wrightianos, com quem
brigávamos por não conseguirmos entender que a divisão
entre a arquitetura orgânica e racionalista, naquela época,
era puramente didática. Quando tive a oportunidade de
conhecer a obra de Frank Loyd Wright e de Antonio Gaudi
reconheci que eles estão entre os maiores artistas do século.
Se há um espaço que foi inventado, é sem dúvida
alguma, o do Museu Guggenheim em Nova York.
(1) Alberto Xavier, aluno da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade do Rio Grande do Sul e com o apoio do Centro dos
Estudantes Universitários de arquitetura, organizou e editou, em 1962,
“Sobre Arquitetura” reunindo textos e obras do arquiteto Lúcio Costa.
Registro 3 - 24 de setembro de 1987
Abrahão Sanovicz (AS) -Voltemos à São Paulo, que nos
anos 50 tinha uma escala muito boa, tudo girava em torno
do centro da cidade. O Centro Velho tinha se deslocado
para o Novo, em torno da Praça da República; a Avenida
Paulista apenas despontava; a Rua Augusta começava a
mostrar sua vocação.
Tudo convergia para o centro: o trabalho; as grandes
escolas, inclusive a Universidade de São Paulo estava
espalhada em torno do centro; os museus; os cinemas,
principalmente aqueles que lançavam os filmes.
A vida cultural era muito intensa, havia um grande
interesse, um surto de desenvolvimento.
Na realidade se vivia com pouco dinheiro e mesmo assim
podíamos desfrutar dos espetáculos no Teatro Municipal,
onde vi se apresentarem, entre outros, Arthur Rubinstein e
Tito Gobbi.
Esse clima criava um interesse constante: tudo era novo e
a vontade de aprender sem limite.
Nossa Escola era muito pequena, 150 alunos no total. A
cada evento na cidade algum aluno sempre produzia um
cartaz para divulgação na FAU, era quase uma disputa, cada
um queria fazer o cartaz mais bonito.
Para a exposição do Volpi no Museu de Arte Moderna, fiz
um cartaz com uma ilustração que lembrava uma das janelas
que ele tinha desenhado, usando azul e cor-de-rosa, tão
presentes na obra do artista.
Para os cartazes também tínhamos nossas referências,
graças às publicações que encontrávamos na Biblioteca da
FAU, a influência maior eram a dos cartazistas poloneses e
Entrevistas
43
do suíço Celestino Piatti.
A Biblioteca da Escola sempre foi uma maravilha, o que
estimulava os alunos, recebia as revistas como: “Stile /
Industria”, L’Architecture D’Aujourd’hui”, “Casabella”,
“Domus”, “L’architettura”, “L’Architettura, Cronaca e Storia”
dirigida por Bruno Zevi, “Arts and Architecture”, “Ghaphis”,
“Gebrauch Graphik” e a “Du”.
Nessas publicações eram apresentadas obras do nascente
design
do pós-guerra, o que despertou grande interesse por
parte dos alunos da FAU pelo assunto.
A preocupação com o desenho gráfico já se demonstrava
nas publicações editadas pelo GFAU, o cuidado que
tínhamos com a qualidade gráfica, a procura do que era
fundamental, essencial, colocado de uma forma direta,
desenhado de uma forma direta e com a maior economia de
meios, característica que se esboçava na Escola e, que
começamos a desenvolver desde alunos. Identifico um certo
ascetismo presente na minha obra com essas preocupações
que iniciaram desde a nossa formação.
A UNE organizou um encontro sobre a imprensa
universitária no Quitandinha, Petrópolis, Rio de Janeiro. Já
que não produzíamos um jornal no Grêmio da FAU, GFAU,
reunimos as publicações numa exposição, o que fez com
que os organizadores alterassem as características gerais do
encontro, discutindo além dos conteúdos também a forma
das publicações, o que chamaram de “o estilo GFAU”.
Catharine Gati (CG) - De onde vinha todo esse
entusiasmo, esse “fogo sagrado”, como vocês chamavam?
AS - Vinha da possibilidade de participar da construção
de um país, com grandes recursos naturais, e que começava
a chamar a atenção do mundo.
A arquitetura brasileira conquistava posições de destaque
no cenário internacional. Ser arquiteto, e arquiteto moderno,
naquela época era coisa que nos orgulhava muito.
De um lado, o país, de outro a Escola que tinha suas
bases no movimento moderno e em Mário de Andrade a
figura máxima, nos estimulavam muito. Éramos a sétima
turma da FAU, e tínhamos uma grande curiosidade para
saber o que os colegas formados estavam fazendo, qual era
o estilo que aflorava da Escola.
A maioria dos professores titulares da FAU eram
engenheiros vindos da Escola Politécnica, tanto que, nos
primeiros anos, o único diretor arquiteto foi também seu
fundador, Professor Anhaia Mello
1
. O Conselho Univer-
Entrevistas
44
sitário, que indicava os diretores da Escola, no início dos
anos 1960, designou para o cargo um professor da
Faculdade de Filosofia, professor de política, profundo
conhecedor da história da arte, especialista em Barroco
Mineiro, destacado intelectual que havia dirigido algumas
bienais, Professor Lourival Gomes Machado, que tivera
intenso contato com Mario de Andrade. Era o que a FAU
poderia ter recebido de melhor.
O programa da FAU vinha do compromisso entre a
Escola Politécnica e a Escola de Belas Artes, num somatório
de conteúdos. Professor Lourival convocou os professores
arquitetos para que reformulassem o programa de ensino, no
sentido de atualizá-lo e de colocar a Escola à serviço do
atendimento das novas necessidades colocadas pelo país.
Com a liderança de Vilanova Artigas se propôs a
“Reforma de 62”
2
(1962), a partir do conhecimento das
experiências de ensino realizadas na Europa, entre as duas
guerras, notadamente a da Bauhaus, das inquietações e
manifestações de alunos e professores e do entendimento do
tipo de profissional que o país necessitava.
A reforma criou os três departamentos: Projetos, História
e Tecnologia; o Museu
3
, organismo vivo encarregado de
promover exposições, publicações e era também afeto à
oficina de modelos. O Departamento de Projetos se dividiria
em quatro seqüências: projeto, comunicação visual,
desenho industrial e planejamento.
Criou-se também o Ateliê Interdepartamental
4
, onde
alunos e professores pudessem desenvolver os grandes
projetos em que estariam presentes todas as áreas do
conhecimento.
A transformação da Escola foi muito grande e fica
evidente a assimilação das inquietações e discussões por
parte dos alunos ocorridas até 1960.
Era necessário reconhecer que os cursos universitários
profissionalizantes deveriam estar aptos a atender às
necessidades do país que buscava sua emancipação.
O projeto, em geral, é manifestação de soberania, deveria
então, surgir a partir da Escola o projeto para a indústria, o
edifício, o planejamento e a comunicação, e, os meios pelos
quais se deveria fazer executar este projeto seria com a
tecnologia mais apropriada.
(1) Luiz Inácio de Anhaia Mello
(2) O documento “Relatório de Atividades de 1962” apresenta no
item 2.1.5 a criação de quatro departamentos: Composição, Histórico-
Crítico, Ciências Aplicadas e Disciplinas Técnicas; e a criação de quatro
linhas de desenvolvimento didático: expressão gráfica ou comunicação
visual, desenho industrial, arquitetura de edifícios e planejamento.
Entrevistas
45
(FAUUSP, 1962).
(3) No mesmo documento, item II “Política de fins”, é relatada a
criação do Departamento do Museum, incumbido de coordenar as
atividades curriculares, extracurriculares e complementares do ensino,
visando estimular o interesse do aluno pelas artes gráficas, cenografia;
pela miniatura de projetos através de modelos em gesso e madeira; pela
arte fotográfica; e, pelo desenho industrial. (FAUUSP, 1962).
(4) Nos documentos consultados, disponíveis na Biblioteca da
FAUUSP, o Ateliê Departamental AI só aparece em “Forum de Debates
1968 - Documentos e Relatórios das Comissões e Sub-Comissões”, que
coloca como objetivos do AI a promoção de trabalhos executados com
a participação de professores e alunos, em atividades de pesquisa em
arquitetura, que tenham caráter de trabalho interdepartamental. O
Museu figura como órgão de direção executiva do AI (FAUUSP, 1968)
Registro 4 - 28 de outubro de 1987
Abrahão Sanovicz (AS) - O trabalho do arquiteto é a
reflexão da situação. Cada projeto é a conseqüência de um
programa que espelha essa situação. O projeto é a
interpretação ou re-interpretação desse programa.
A “Reforma de 62” tratou basicamente do binômio so-
berania-emancipação, mas isso só ficou claro depois da di-
vulgação do texto “O Desenho” de Vilanova Artigas. Onde,
a partir da palavra “
design
” trabalha desde os aspectos histó-
ricos e etimológicos até seu rebatimento na construção do país.
A Reforma colocava uma nova perspectiva de se abrir o
campo profissional para que o arquiteto pudesse enfrentar as
questões do projeto em todas as escalas possíveis.
A Escola absorve as inquietações colocadas pelos estu-
dantes e, ao absorvê-las, a intenção foi primeiro entendê-las,
depois assumí-las e explicitá-las porque, no fundo, elas
traduziam necessidades colocadas pela sociedade.
A questão soberania-emancipação pode ser entendida
mais facilmente quando pensamos na arquitetura, já que o
arquiteto tem condição plena de soberania em relação ao
problema. É ele quem é obrigado a tomar decisões, para isso
se acerca de todos os dados possíveis, existe, então o
momento de reflexão em que todas as informações sobre o
problema ficam retidas na cabeça do profissional, num
estado latente, quase de pré-consciência. Aí ele projeta, ele
joga para frente, fica então numa posição muito mais
cômoda do que aquela de olhar para dentro de si. Passa a ser
observador de um projeto que está diante dele. Espera-se que
do croqui surjam as respostas às suas preocupações. Quanto
mais respostas corretas vierem, mais certeza ele tem de que
a interpretação que deu para o problema, naquele instante e
de acordo com as possibilidades é a mais correta. Faz então
outras perguntas, se as respostas continuarem corretas, se
toma de confiança para seguir o trabalho em frente. Se as
respostas não vierem, o trabalho está errado, ou a pergunta.
Entrevistas
46
Passada a fase da primeira síntese, do estado de pré-
consciência para o primeiro croqui, é aí que se dá a
soberania, é ele quem comanda o projeto, neste momento se
consegue reconhecer a personalização do projeto. Em todo
projeto deveríamos poder localizar e destacar essa
interpretação pessoal, que é resultado de inúmeros fatores:
culturais, estéticos, econômicos, de conforto, etc.
Se pegarmos um caso particular e extrapolarmos para o
universo todo da projetação, passamos a ter o domínio do
processo.
Mas a soberania não basta, é preciso conquistar os meios
pelos quais se possa materializar o projeto. É assim que se
alcança a emancipação.
Esse mito soberania-emancipação estava esboçado na
“Reforma de 62”, na medida em que ampliava os horizontes
dos arquitetos, já que poderiam intervir nas diferentes
escalas. Surge, então, o Departamento de Projetos da FAU e
as quatro seqüências: planejamento, projeto,
design
e
comunicação visual (que deveria cuidar também dos
aspectos de linguagem das demais seqüências). Este era o
cerne da Reforma.
O texto do Flávio Motta sobre desenho, tanto quanto o do
Artigas, ressaltava a questão da soberania. Era necessário
formar profissionais que pudessem colaborar no
desenvolvimento nacional, que se preocupassem com o
desenho industrial brasileiro, pudessem instrumentar a
indústria com seus projetos.
Esta era a tese, ambiciosa e necessária ao país. Era o
momento que reunia condições para isso: existia o
arcabouço teórico, a necessidade social, a inquietação dos
jovens e a inquietação da indústria.
Houve certa comoção na época: certas cadeiras foram
reformuladas, outras extintas. Colocados novos conteúdos e
objetivos era necessário aprimorar a estrutura didática
existente, adequá-la à ampliação do universo de trabalho e
incrementar a crítica.
Pretendia-se que essa tese fosse levada para o resto do
país, que se pudesse tomar consciências das possibilidades
jacentes, poderíamos entender melhor todo o repositório
formal brasileiro. Nos perguntávamos: que
design
sairá disso?
Por esse período, e não por acaso, Lina Bo Bardi montou
na Bahia o Museu do Unhão, formado pelas peças de
artesanato que recolheu no interior e sertão daquele estado.
Dando-lhes um caráter museológico, mostrava peças fruto
de uma invenção que não era erudita, mas que mostrava a
força do espaço que cercava aquele artista: era de lá que se
Entrevistas
47
alimentava para criar, determinado meio social, certa forma
de vida, certa história.
O que se procurava com a Reforma era um salto
qualitativo na arquitetura. O Departamento de Tecnologia
teria a responsabilidade de fazer as coisas funcionarem. A
crítica, teríamos através do Departamento de História e
Crítica, que daria o respaldo histórico, mas faria a crítica do
que se produzisse, criando assim uma consciência crítica.
Esperava-se ainda, no que se refere ao projeto do edifício,
que dominando as técnicas construtivas existentes,
pudéssemos criar novas técnicas de maneira a enfrentar a
questão da construção em grande escala. Deveríamos
considerar não só os aspectos construtivos mas também os
equipamentos que compõem a edificação. Criou-se até uma
terminologia: equipamentos ancorados e não ancorados. Os
ancorados eram os equipamentos sanitários, as áreas
molhadas; os não ancorados eram, por exemplo, o
mobiliário.
Catharine Gati (CG) - E o discurso formal?
AS - A beleza é uma das funções, não é absoluta, mas
tem história e não é fácil fazer com que as pessoas entendam
esta afirmação, de fato a forma tem história, conseguimos lê-
la a cada época.
Se existe história e uma experiência acumulada, temos
sempre que considerá-la, verificar as possibilidades técnicas
e tecnológicas que podem levar a resultados que
anteriormente não se conseguia e, depois pesquisar os
comportamentos de ordem programática que levaram a
soluções inesperadas até então. A forma final é o resultado
de todos esses fatores, daí podermos dizer que todo projeto
é resultado de projeto ou projetos anteriores, mas que deve
passar pelo crivo daquele estado de pré-consciência, onde
recebe uma interpretação que é pessoal e fruto da época
que se está vivendo.
CG - A discussão da forma não é pouco objetiva?
AS - Seria pouco objetiva se você encarasse apenas a
forma apreendida pelo primeiro olhar. Mas acredito que os
melhores projetos são aqueles que melhor interpretam sua
época, são aqueles que uma vez colocados no espaço você
olha e tem vontade de voltar a olhá-los várias vezes. Eles
permanecem.
Entrevistas
48
CG - Quando há uma ruptura em seu trabalho?
AS - Nem sempre sou capaz de perceber quando há uma
ruptura e como ela se deu. Sempre trabalhamos num
processo que avança nos vazios deixados por outros projetos.
Todo projeto resolve determinados problemas, mas
sempre deixa em seu cerne espaço vazio para novas
soluções. Isso é quase a interpretação da dinâmica da
sociedade. Quando a arquitetura deixa de avançar é porque
a sociedade está parada.
Infelizmente acho que vivemos uma fase em que a
arquitetura não tem avançado. O relacionamento do
arquiteto com o cliente e com o usuário ficou
despersonalizado, não se discute mais os programas,
atendemos simplesmente a índices quantitativos.
Há alguns anos, participando com Paulo Mendes da
Rocha do concurso para o novo Caetano de Campos,
começamos estudando alguns projetos do Hannes Meyer,
que tinham soluções muito interessantes, a escola quase
uma praça. Chegamos a uma proposta. Foi quando
entusiasmado exclamei: “faz tanto tempo que não faço um
projeto com partido!”.
Registro 5 - 21 de março de 1988
Abrahão Sanovicz (AS) (lendo a transcrição dos registros
anteriores)
Lucio Costa teve grande influência no nosso trabalho.
O movimento da arquitetura moderna no Brasil se deu a
partir do Rio de Janeiro pelo chamado grupo carioca. Mesmo
se considerarmos as obras de Warchavchik
1
e Flávio de
Carvalho, que são importantes referências da arquitetura
moderna brasileira, mas que considero como manifestações
isoladas que não frutificaram.
O Ministério de Educação e Saúde MES é sem dúvida o
marco do início da arquitetura moderna no Brasil, que se
estrutura a partir dos anos 30 (1930) e tem a primeira
grande repercussão internacional com a exposição “
Brazil
Builds
” de 1943.
No MES uma das mais destacadas qualidades foi a de
liberar o térreo, com esta implantação não se rouba o espaço
público. Neste projeto podemos encontrar já um pouco
desenvolvido o germe da estrutura independente, a planta
livre, mas é maravilhosa a esplanada que foi ganha com a
simples solução de levantar o edifício.
Até hoje os dois grandes expoentes do grupo carioca,
Lucio Costa e Oscar Niemeyer, octogenários, continuam
Entrevistas
49
com grande vitalidade de trabalho.
Lucio Costa, com muito cuidado, com um carinho todo
especial, com uma dedicação especial à cultura tem
balizado nos momentos certos o desenvolvimento da
arquitetura brasileira.
Quando convidou Le Corbusier para o projeto do MES,
não o fez por uma questão estética, mas porque Corbusier
tinha desenvolvido conceitos universais que seriam muito
benéficos para a arquitetura brasileira
2
.
Nos formamos enquanto se construía Brasília, que é
coroamento de um processo e símbolo de um novo alento
para o país, a bandeira do desenvolvimentismo liderada por
Juscelino Kubitschek de Oliveira.
O ambiente de discussão sobre arquitetura, aqui em São
Paulo, era muito intenso, apesar do pequeno grupo de
arquitetos mais atuantes: Vilanova Artigas, Rino Levi
3
,
Oswaldo Bratke, Ícaro de Castro Melo e Eduardo Kneese de
Melo
4
. Estes arquitetos criaram as bases para constituição de
nossas entidades representativas.
Esse grupo de arquitetos tinha esboçado uma
linguagem, organizado o Instituto de Arquitetos do Brasil IAB
e preparado os profissionais que participaram da
constituição das novas escolas de arquitetura.
Catharine Gati (CG) - Como a sociedade via os arquitetos
desse período, como você sempre diz: aqueles que
prepararam o terreno para sua geração?
AS - Os arquitetos eram muito bem aceitos pela
intelectualidade, como responsáveis pelo projeto e na
relação com a produção da obra. Eles souberam fazer valer
a sua presença, tanto que, em 1953, construíram o prédio do
IAB
5
, que é um dos prédios mais bonitos da cidade.
Sem dúvida Brasília é o coroamento de um processo, e o
grupo de arquitetos de São Paulo no final dos anos 1950
eram pioneiros na conquista da consolidação da profissão.
Acontece um fato que vem reforçar a necessidade do
trabalho do arquiteto: Carvalho Pinto assumiu o Governo do
Estado de São Paulo, visita Brasília, se encanta com as obras
realizadas por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, e, de volta,
prepara o “Plano de Ação”, coordenado por Plínio de Arruda
Sampaio.
Para concretizar o Plano, lançou mão de verbas do
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo IPESP e
convocou os arquitetos paulistas, que começam a trabalhar
em maior escala. Foi quando começou a se constituir o que
chamamos de “escola paulista”.
Entrevistas
50
Isso só pode acontecer depois de Brasília, portanto, sem
a “escola carioca” não existiria a “escola paulista”.
Foi com o Plano de Ação que aconteceu uma
importantíssima intervenção de Vilanova Artigas, o Ginásio
de Itanhaém, lição e modelo de arquitetura.
Artigas antes de iniciar o projeto conversou com os
responsáveis da Secretaria de Educação, queria saber o que
pensavam sobre como educar um menino, como deveria ser
o espaço da escola e quais os objetivos que tinham em
relação à formação desse futuro cidadão.
Incorpora ao programa um auditório e propõe uma so-
lução inusitada: o espaço flui; não há entrada ou saída; a es-
trutura de concreto é independente e lança mão da solução
em pórticos; cria um sistema de caixilhos fixos, mas com ven-
tilação permanente, respeitando o clima do litoral; raciona-
liza a construção e o emprego de materiais; e, convida Fran-
cisco Brenand, artista pernambucano, para executar um mural.
A experiência de Itanhaém amadurece no projeto para o
Ginásio de Guarulhos. Lá explicita o sistema construtivo e
faz dele sua Arquitetura.
Estes projetos dão as diretrizes para o desenvolvimento
da chamada “escola paulista”, que os jovens arquitetos logo
absorvem e tocam em frente.
CG - É desse período o projeto do Iate Clube de Londrina?
AS - Em 1958 João Toscano, Julio Katinsky e eu
ganhamos o concurso de projetos para a sede do Iate Clube
de Londrina. Nossas preocupações fundamentais eram com
a implantação e com a leveza do edifício, e nesse sentido
dois projetos de Oscar Niemeyer nos impressionavam o do
Iate Clube da Pampulha e uma casa que tínhamos visitado
em 1958, um lençol com quatro pilares, em Pedro do Rio.
O projeto de Londrina tem muito da arquitetura carioca:
a implantação perpendicular ao lago; o percurso no terreno
até o edifício; o desenho dos pilares; a maneira como
“mordem a laje”...
O concurso foi julgado em Londrina pelos arquitetos:
Ernani de Vasconcelos que participou do projeto do MES,
Eduardo Corona e Meister, que era de Curitiba. Quando
escolheram o projeto, acreditaram ser de um grupo carioca
e se surpreenderam quando souberam que a equipe
vencedora era composta por jovens e desconhecidos
arquitetos paulistas.
Interessante como esse projeto ilustra o que comentamos
anteriormente: sem a “escola carioca” não existiria a “escola
paulista”.
Entrevistas
51
O projeto foi todo detalhado, apoiados pelas
experiências de Frei Otto, resolvemos a exaustão todos os
pormenores das estruturas tenseis.
Infelizmente o Iate Clube de Londrina não foi construído.
CG - Como vocês passaram desse projeto que tem
referências tão explicitas, para a procura do caminho
pessoal?
AS - Julio Katinsky e eu fomos sócios e, mesmo depois,
fizemos alguns trabalhos juntos. A cada trabalho discutíamos
e conceituávamos exaustivamente, o que resultou sempre
trabalhos de grande densidade.
Além de ótimo profissional o Julio é um grande estudioso,
acho até que todos nós nos beneficiamos dessa sua
qualidade: ele coloca sempre as coisas em seu justo lugar. É
uma das pessoas mais importantes para a Escola.
Oswaldo Correa Gonçalves nos convidou, no início dos
anos 1960, para participarmos com ele do projeto de um iate
clube em Santos, tínhamos acabado de ganhar o concurso
de Londrina. Depois houve o projeto do Teatro, também em
Santos.
Julio e eu fizemos, entre outros projetos, o da máquina de
escrever da Olivetti e dos Equipamentos Públicos para São
Paulo com o Buffoni
6
.
Mesmo quando não éramos mais sócios sempre consultei
o Julio. Ele sempre sugeria ou criticava com muita
propriedade. Por exemplo: fiz um projeto para um Ginásio
em Santos, era 1961 ou 1962, a planta tinha uma referência
muito grande ao Ginásio de Itanhaém, do Artigas, já as
fachadas lembravam a FAU, apesar de o prédio ser térreo.
Julio olhou os desenhos disse que estavam muito bonitos,
mas que era um “pasticho”
7
.
Logo depois surgiu o projeto da Rua Pará, procurei uma
solução mais contida, ortogonal e simples. O resultado me
parece mais maduro, com estrutura de concreto e fachadas
todas encaixilhadas, mas não é uma fachada do Mies
8
,
porque os caixilhos ficam entre os pilares e vigas, já que a
margem de erro nas nossas construções é muito grande, e,
assim poderíamos fazer desaparecer possíveis desali-
nhamentos. Um desenho que se classificaria como feio,
porque na arquitetura devemos ter grandes linhas.
Mesmo sendo um edifício isolado, a intenção era
procurar desenvolver alguns conceitos de industrialização e
racionalização da construção: reaproveitamento de formas,
painéis de vedação.
Entrevistas
52
Como os caixilhos iam de piso ao teto, Julio Katinsky cha-
mou a atenção para o resguardo necessário em certos am-
bientes, o que veio a confirmar a aplicação dos brises-soleils.
Tudo foi feito no plano da sensibilidade, sem grandes
cálculos: o sol se movimenta assim, portanto a melhor
solução será tratar estas e aquelas porções da fachada.
Tinha ido visitar a uma exposição de um escultor
concretista de Israel, Yacov Agam, suas peças tinham
movimento. Comentei com Waldemar Cordeiro que iria
fazer um Agam gigantesco: os brises da Pará são móveis, o
que faz com que a fachada se altere o tempo todo.
Os caixilhos foram detalhados por Luiz Sacilotto, escultor
concretista, que era dono de uma fábrica de caixilhos.
Bramante Buffoni fez o painel da entrada.
O prédio da Pará tem uma alta densidade de informações
fruto da experiência concreta de novas soluções.
Na mesma época Paulo Mendes da Rocha tinha
projetado o edifício
9
da Haddock Lobo, discutimos um
pouco as diferenças de postura: eu acreditava que quando se
trata de construção em altura e com solução multiplicada, ou
melhor, superposta, é fundamental a simplificação do
canteiro e uma boa parte dos componentes deve ser feita fora
e montada na obra.
(1) Gregori Warchavichk
(2) Num comentário paralelo AS relata uma experiência quando
estava estagiando em Milão: “fui visitar um conjunto habitacional com
uma colega italiana. Comentei que o espaço era interessante, mas me
sentia cercado. Ela disse: ‘vocês brasileiros são muito livres, tenho
certeza que levantariam os edifícios no solo’. Foi muito interessante
verificar que a arquiteta identificou o térreo livre como uma postura dos
arquitetos brasileiros. E é bem correta esta identificação, o cuidado que
temos com a implantação dos edifícios, o respeito pelo espaço
circundante, com o domínio visual através do espaço livre.
(3) AS comenta a grande preocupação de Rino levi com a construção
que pode ser comprovada na qualidade dos prédios que projetou.
(4) Para AS Eduardo Kneese de Melo foi o grande lutador pelas
causas da profissão.
(5) Prédio do Departamento de São Paulo do IAB na Rua Bento
Freitas com General Jardim.
6 Bramante Buffoni.
(7) Julio Katinsky esclareceu a autora dizendo que não se lembra
desse comentário e acredita que pudesse ter sido feito por João Walter
Toscano.
(8) Mies van der Rohe.
(9) Edifício Guaimbé.
Registro 6 - 19 de março de 1988
Abrahão Sanovicz (AS) - Gostaria de retomar uma
presença que foi fundamental para minha formação que foi
a do arquiteto Oswaldo Correa Gonçalves.
Ele tinha convidado Julio Katinsky e eu para fazermos o
projeto de um iate clube em Santos. Era uma estrutura
fenomenal, calculada pelo Zúccolo
1
: uma grande cobertura
Entrevistas
53
em concreto armado que avançava sobre o mar; viga vagão
invertida, apoiada sobre quatro pilares; a planta livre.
Oswaldo nos convidou também para fazer o Centro
Social da Escola Politécnica e o Teatro Municipal de Santos.
Ele teve uma grande confiança em dois jovens arquitetos
nos dando a oportunidade de, no início da carreira,
trabalharmos com problemas tão complexos. Oswaldo é um
trabalhador incansável, sabe como perseguir o projeto, como
levá-lo para frente, se cercar de todas as técnicas necessárias,
resolver os entraves, e, isso tudo, aprendemos com ele.
O primeiro projeto do Teatro foi implantado num terreno
muito acanhado.
O convite para o projeto tinha sido feito pelo Secretário
de Obras La Scala. Infelizmente, eleito Prefeito, Scala morreu
sem tomar posse.
Em 1968 a Prefeitura de Santos resolveu retomar o pro-
jeto, mas em outro terreno, bem maior. O programa também
foi ampliado: além do teatro, um centro de vivência, a biblio-
teca municipal, a escola de artes, enfim, um centro cultural.
Vejo como influências marcantes no projeto, o Teatro de
Brasília, com suas vigas protendidas na cobertura, e o projeto
de Vilanova Artigas para o concurso do Clube Paulistano A
proposta de Artigas era muito inteligente, uma nova
linguagem. O auditório tinha uma forma muito interessante,
um prisma chanfrado: um apoio e o auditório em balanço,
mas ancorado no chão. O Ginásio tinha um corte que
lembrava o Museu de Caracas, porém com a cobertura em
concreto, sobre vigas-vagão, mas sua planta não era
quadrada como em Caracas, era circular, o volume, um
tronco de cone, uma maravilha.
Quando o projeto do Teatro de Santos foi retomado tive-
mos que nos assenhorar de todas as técnicas intervenientes:
cenotécnica; sistema de ar condicionado; instalações;
estruturas protendidas; curvas de visibilidade; materiais de
impermeabilização; tratamento de juntas de dilatação; além
de nos aprofundar nas diferentes manifestações teatrais,
como a ópera, o teatro shakespeareano e o elizabetano. Foi
uma oportunidade de nos aprofundarmos em complexas e
diferentes áreas do conhecimento.
A obra ainda não foi totalmente concluída, funcionam: o
teatro, a escola de balé e o centro de exposições.
(1) Roberto Rossi Zuccolo.
Registro 7 - 15 de abril de 1988
Abrahão Sanovicz (AS) - Após o Golpe de 1964, ficamos
Entrevistas
54
quase sem trabalho, nem nos aproximávamos dos
organismos governamentais à busca de novos contratos.
Nesse período fiz alguns trabalhos de artes gráficas.
Em 1967, Miranda Magnoli e Rosa Kliass foram
convidadas pela Divisão de Parques e Jardins da Prefeitura
para elaborarem uma série de projetos de praças em São
Paulo. Não tinha sentido desenhar equipamentos especiais
para cada praça. Era necessário uma solução de projeto para
que fossem produzidos em série.
Buffoni, Julio Katinsky, Massayoshi
1
,que é colaborador do
Toscano, e eu ficamos responsáveis pela elaboração dos
projetos destes equipamentos e de diversos elementos de
comunicação visual.
A Prefeitura cedeu uma área de cerca de 200m
2
no
Viveiro de Plantas Manequinho Lopes, onde, durante dois
anos, todas as manhãs, essa equipe elaborou cerca de uma
centena de projetos de equipamentos públicos para as praças
de São Paulo: bancos (fizemos até um banco para gestantes),
postes, taças, espelhos d’água, relógios, brinquedos para
crianças, uma publicação sobre plantas brasileiras, cartazes,
elementos de sinalização, e muitos outros.
Chamávamos de “
desing for the community
”, nem em
Londres se enfrentou um programa como esse. Foi um
trabalho muito interessante: nos preocupávamos em usar
materiais e técnicas simples, soluções fáceis para
ancoragem, elementos de fácil reposição e estocagem. O re-
sultado do trabalho deveria ser algo que pudesse interessar a
indústria dada a escala de aplicação. O projeto foi con-
cluído, poucas peças foram produzidas, como de costume
em nosso país.
Foi uma reaproximação de nosso trabalho com os órgãos
governamentais. Na época, discutíamos a validade de se
trabalhar para um prefeito nomeado, entendemos que a
relevância do programa superava esse tipo de relação, afinal
as pessoas passam e os trabalhos ficam.
Além dos equipamentos públicos fizemos juntos dois
outros projetos: de uma máquina de escrever para a Olivetti
e um ventilador para a Aeromar. Os projetos foram
concluídos e muito bem aceitos pelos contratantes, mas,
sendo as duas indústrias multinacionais, não conseguiram a
aprovação das matrizes para produzí-los.
O
design
parecia não avançar em nosso país, mesmo a
experiência da Escriba, que foi uma linha de móveis para
escritório e que ficou no mercado por um longo tempo, foi
uma experiência isolada.
Na Escola também o curso de desenho industrial propos-
Entrevistas
55
to na Reforma de 62 (1962) começava a se descaracterizar.
Pensei que talvez devêssemos procurar o lugar do
design
brasileiro. Cada país descobriu como aplicá-lo com maior
eficiência: os alemães no mundo dos objetos utilitários, os
italianos
dappertutto
, os escandinavos no mobiliário, os
ingleses nos equipamentos urbanos e os americanos
disseminaram uma coisa chamada
styling
. Talvez nosso
design
devesse se voltar à construção, do desenho dos
componentes à edificação.
Surge aí a experiência “Formaespaço”. O programa
estabelecido pelos construtores era um edifício que
atendesse à classe média e a um determinado valor de
construção que respeitasse os limites estabelecidos para
financiamento pelo Banco Nacional da Habitação BNH,
numa perspectiva futura, pensariam atingir faixas de renda
mais baixas. Edifício deveria ter de onze a treze pavimentos,
dois apartamentos por andar, em terrenos urbanos, mas
localizados em bairros em vias de transformação.
A construção tinha que ser muito rápida, solicitaram então
que procurasse uma solução modulada. Foi uma grande coin-
cidência, porque, do ponto de vista teórico estava pensando
que a construção seria a saída para o nosso
design
.
Comecei a estudar o problema, lembrei do tempo em que
os arquitetos entregavam para os engenheiros as plantas sem
estrutura e, estes últimos colocavam os pilares
aleatoriamente, dentro das paredes, para não “atrapalhar a
planta”. Acostumados com os pilares chatos e compridos
sabia que os engenheiros não poriam qualquer objeção a
uma solução estrutural mieseana
2
: modulada com pilares no
perímetro da planta. Os lotes urbanos dessas regiões,
Moema e Perdizes, tinham pouca frente e muita
profundidade, para um lote de 15 x 45m era preciso adquirir
três casas. A conformação dos lotes indicava que os prédios
deveriam ser esticados, colocados lateralmente no terreno,
circulação central, pilares na periferia, na pele, peitoris de
concreto, o que deixava as fachadas praticamente prontas. A
planta, depois de algumas tentativas, descobri que poderia
fazer o terceiro quarto se abrindo para sala, com isso o
prédio ficou com 7,5 m de largura, fino e elegante, com uma
caixa d’água alta. Tinha o cerne do edifício da Rua Pará, era
um redesenho em escala menor. Fiquei muito contente com
o resultado, tinha conseguido configurar um produto que
atendia às necessidades.
A legislação permitia construir quatro vezes a área do
terreno, mas, tanto eu como os construtores preferimos um
coeficiente menor, 2,9 vezes, assim poderíamos colocar no
Entrevistas
56
térreo algum equipamento coletivo.
Catharine Gati (CG) - O Edifício da Pará tem como
característica marcante a utilização dos brises, como você
resolveu o problema de orientação nos modulares?
AS - Como podíamos virar o edifício, sempre prevalecia
a orientação dos dormitórios. Na sala e serviços usamos
caixilho com vidro, para os dormitórios vidro e venezianas
de correr que já eram feitas pela indústria, em plástico ou
alumínio.
A indústria começava a produzir caixilhos com gaxetas
de borracha que aproveitamos e aplicamos, sugerimos
também os armários modulados.
Os banheiros eram revestidos com fórmica e as peças
eram todas brancas. A exceção das áreas molhadas que
tinham paredes em alvenaria, todas as outras divisões eram
em painéis de gesso. O piso era cerâmico nas zonas
molhadas e carpete em todo o resto. Não havia forro, lajes e
vigas eram aparentes.
Interessante comparar com o que se estava construindo
na mesma época, os modulares tinham a linguagem da
arquitetura moderna, da escola paulista.
Quando fiz esses projetos sempre pensava que gostaria
que, quando um colega meu passasse por um dos prédios,
sentisse que faria a mesma coisa, que os prédios refletissem
um interesse universal.
Foram executados vários prédios, mas a administração da
Formaespaço passou para as mãos de pessoas que por
ganância ou ignorância não entenderam a proposta e o
processo. Também no canteiro tiveram muita dificuldade,
mesmo sendo todas as peças retas e ortogonais, os técnicos
que se ocupavam da construção eram inexperientes.
Resultado: a construtora fechou.
Enquanto desenvolvia os Modulares fiz outros projetos
para Formaespaço, apartamentos para moradores com menor
poder aquisitivo, um conjunto habitacional em São Bernardo
e o Nova Cidade em Jundiaí. Eram apartamentos de 70 m
2
para moradores recém chegados da zona rural, com jardins
de Burle Marx, espelho d’água e equipamentos comunitários.
Em Jundiaí, com prédios de três andares sobre pilotis,
conseguimos uma projeção no terreno de 20 ou 22%,
sobrando praticamente 80% de área livre. É junto da linha do
trem, para onde se voltam os edifícios que têm a mesma
solução de estrutura e acabamento dos modulares.
As experiências com os Modulares e os conjuntos
Entrevistas
57
habitacionais para a Formaespaço formam a primeira
geração de projetos. Já o Fiandeiras é a segunda geração.
propus uma solução universal, um pré-moldado que
resolvesse a vedação de todos os ambientes.
São quatro apartamentos por andar com circulação
central, cada unidade com dois quartos, poucas paredes
internas, uma planta muito simpática que dá margem a
vários arranjos, porque aí também usei armários para dividir
os ambientes.
Acho que esses projetos não são datados, vejo neles um
sentido de permanência. Samuel Szpiegel me disse: “O mais
gozado é que esse seu trabalho é um clássico, não tem data”.
Depois fiz os projetos para o CECAP, com grande
influência do Zezinho Magalhães Prado, que tem uma planta
modelo. O que fiz foi fazer um pequeno aperfeiçoamento na
parte de serviço e usei a mesma planta com toda a
tranqüilidade, como se estivesse me apropriando de
qualquer outro elemento: uma janela, uma porta ...
Voltando à tese inicial, a saída é levar o
design
para o
edifício. No fim 1987, fiz um projeto de desfavelamento para
CDH no Jardim Calux
3
: 1200 habitações, 800 apartamentos
e 400 casas. Os apartamentos tinham cerca de 37m
2
, dois
quartos sala, cozinha, banheiro e área de serviço, as casas
com mesmo programa 40 m
2
.
Há que se pensar não só os componentes da construção,
mas equipamentos que sejam acoplados a esses espaços: a
geladeira não pode ser a mesma, os armários a mesa. Esse
tipo de edificação tem que ser totalmente repensado.
CG - Você sempre chama a atenção para o respeito ao
cliente, como isso acontece nesses projetos onde o cliente é
desconhecido?
AS - É nesse respeito que reconheço a arquitetura.
Estudamos as referências, apresentamos soluções e é como
se o seu risco não fosse só seu, mas fruto de uma experiência
acumulada de arquitetura.
Você se sente fazendo parte de um processo. A sensação
é muito agradável.
(1) Massayoshi Kamimura
(2) Como as de Mies van der Rohe.
(3) São Bernardo do Campo SP
Registro 8 - 10 de novembro de 1988.
Abrahão Sanovicz (AS) - O problema de nossa vida
Entrevistas
58
profissional é a falta de continuidade. Com os Modulares
estávamos continuando um trabalho que começou com a
experiência da Pará, mas não há reflexão sobre este
caminho.
Em 1972 fui chamado pela CESP para elaborar dois pro-
jetos para as estações de piscicultura à beira das represas de
Promissão e Salto Grande. Um programa exótico: grandes
tanques enterrados, com diferentes dimensões para abrigar
os peixes em todo seu desenvolvimento e com ventilação
constante, mas controlada; a captação das águas; uma ilu-
minação que atraísse insetos; o paisagismo que deveria pre-
ver espécies frutíferas que pudessem servir de alimento aos
animais; e uma edificação para o laboratório.
Os terrenos muito grandes, com área de 300.000,
350.000m
2
, era necessário, além de resolver o número de tan-
ques a implantar, recompor a paisagem. Assim tínhamos que
detalhar inclusive como a empreiteira deveria proceder para
a limpeza do terreno, a organização do canteiro e a maneira
de executar a obra, para minimizar as feridas na paisagem.
Catharine Gati (CG) - Fale sobre o projeto do laboratório.
AS - O mesmo projeto do laboratório foi usado nas duas
estações de piscicultura, já que o programa era idêntico e
muito simples: um salão com depósitos e frigoríficos; e
acomodações para os biólogos.
A equipe com quem eu trabalhei nesses projetos era
muito boa, assim, mesmo com um programa pouco
freqüente, logo pudemos dominar totalmente o problema.
Assim (brincando), bem assessorado, me tornei especialista
em piscicultura.
Sempre digo que somos “especialistas gerais”, não
sabemos nada em profundidade, mas a responsabilidade pelo
espaço construído deve ser sempre nossa. Qualquer que seja
o programa, se bem apoiados por outros profissionais, temos
sempre condições de, compreendendo o todo, nos
assenhorarmos do problema e chegar à melhor solução.
Uma coisa gostaria de ressaltar: em Promissão a estação
foi construída junto com a usina, por uma grande
empreiteira, em Salto Grande, a usina era bastante antiga, foi
contratada uma empreiteira menor. Os projetos foram
resolvidos com os mesmos detalhes, e a diferença de
execução foi muito grande, tanto que, passados alguns anos
a estação de Salto Grande sofreu uma significativa reforma.
Muito me preocupa como vêm sendo executadas as
construções, principalmente as contratadas pelo poder pú-
blico, Se somos os responsáveis pela qualidade do espaço
Entrevistas
59
construído e não temos tido condições de alterar a maneira
como vem sendo construído o patrimônio da Nação, é por-
que temos antes que refletir sobre o estado da nossa profissão
e sobre como nossos governos têm tratado a questão.
Esta questão não se restringe à construção dos edifícios,
mas se estende ao desenho das cidades, aos programas de
habitação, não é um problema estético. Devemos, inclusive,
discutir o significado dos investimentos do Estado, para exigir
a qualidade máxima de todas as obras, o que vai exigir de
nós um envolvimento muito maior na formação dos
profissionais que respondam à essa exigência.
Registro 9 - 29 de novembro de 1988.
Abrahão Sanovicz (AS) - Junto com as Estações de
Piscicultura fiz o prédio da Rua das Fiandeiras, depois minha
casa de praia.
A casa é muito simples, poucos detalhes, praticamente
um barracão, sala e cozinha integradas, três quartos com ba-
nheiros, quase sem janelas, já que o recuo lateral é som-
breado por uma pérgula sobre um jardim, para onde é toda
aberta. Ela não carrega para a praia os problemas da cidade.
Externamente é toda sisuda, fechada, mas quando se
entra percebe-se toda aberta, o pergolado e o jardim passam
a integrar tudo.
Fiz então a casa do André Mehes, no Alto de Pinheiro, o
velho partido bi-nucleado: sala e quartos num bloco e
serviços no outro, um redesenho da casa do Frank Gunther.
Catharine Gati (CG) - Por que você optou por este
partido?
AS - Achava que a casa devia ser sala, quartos e
banheiros, o serviço vai pouco a pouco saindo dela. Cheguei
a pensar em colocar uma mesa quente na sala, as pessoas
compram comida pronta...
CG - Nesse período, início dos anos 70 (1970), qual
projeto você pode destacar como mais representativo?
AS - Foi uma época dura porque o país estava
complicado, com a mentira do milagre, e que coincidiu com
minha tese de doutoramento que fiz com muita dificuldade:
juntei 12 projetos e falei sobre eles.
Aconteceu então de ser convidado pelo Artigas para
Entrevistas
60
trabalhar no projeto de reurbanização do Vale do
Anhangabaú. Foi uma experiência incrível, porque assistia
um grande arquiteto trabalhar, um homem que não
procurava soluções, eles as elaborava e colocava com a
naturalidade de quem vai enfrentando e trabalhando o
espaço continuamente. É a interação do problema e da
solução na cabeça do arquiteto.
O projeto indicava uma solução particular para o Vale,
contida numa proposta maior para a cidade, ia do Rio
Pinheiros ao Tietê.
A cada proposta, discutíamos os conceitos, por exemplo,
como se vence o tráfego da avenida, com passarelas que,
então, não devem ser simples passagem, mas local de estar,
com isso aumenta-se a escala e o significado.
O projeto foi abandonado pelos poderes públicos. Mais
tarde foi realizado um concurso público, com cujo resultado
não consigo concordar: um enorme sacrifício para retirar os
carros da superfície, procurando criar um lugar de encontro
que nunca vai ser.
Fiz depois os projetos para o CECAP
1
, Serra Negra e
Sumaré, que são praticamente o redesenho da experiência
do Zezinho Magalhães Prado da equipe do Artigas.
Começam então, os projetos das escolas para a
CONESP
2
. A partir de 1976 fiz muitas escolas, tendo como
parâmetro de projeto a sistematização de detalhes e
componentes criada pelos técnicos da CONESP.
Em 1976 fiz o projeto da minha casa, é o fim de um
processo. É uma caixa de concreto apoiada em 4 pilares, me
lembra muito o primeiro projeto moderno que eu vi
construído, a casa do Artigas na Ilha Porchat.
Ela é tudo que sempre admirei: planta livre; estrutura
independente; conjugação dos espaços; pés direitos duplos;
a escada uma escultura; terraços; compreensão da totalidade
do espaço; implantação elevada; faz cantar os pontos de
apoio. Aparece então o velho desenho: uma caixa
pesadíssima que dá sensação de leveza. É toda vazada, não
se sabe onde começa e onde acaba.
CG - Poucas portas...
AS - Sim, todos falam do fato de os banheiros não terem
portas, mas junto aos quartos é um ambiente só. O Mario
Botta faz a mesma coisa.
A solução dessa casa é muito semelhante à projetada por
Figini & Pollini, arquitetos do racionalismo italiano de 1927
na Vila dei Giornalist.
Entrevistas
61
É uma síntese, lição do estudante de arquitetura, arquiteto
Abrahão Sanovicz
3
.
CG - É sua expressão amadurecida diante do projeto?
AS - Acho que sim, é o reconhecimento da condição de
ter uma linguagem própria.
CG - O que é muito bonito, porque você, que sempre
declara suas referências, passa a ser referência.
AS - Numa certa medida sim, mas aí tenho mais
liberdade para recorrer a outras tantas referências. O
trabalho e o processo são sempre os mesmos, mas a partir
desse projeto com muito maior liberdade.
Fiz, depois, o projeto da Tecelagem Grisbi em Pirapora,
Minas Gerais: em pré-moldado de concreto, uma
preocupação muito especial com o clima.
Outros projetos interessantes foram o da Sede Regional
do DER em Taubaté e o Centro de Farmacologia Clínica da
Faculdade Paulista de Medicina, mas não foram construídos.
Era 1978 e tivemos uma crise violenta, Paulo Maluf assume
o governo do Estado e paralisa todas as obras.
Nesse período fiz algumas residências e o Terminal
Rodoviário de Campos de Jordão, cuja construção ainda não
terminaram, e alteraram bastante o projeto. O partido era
bem interessante, mesmo tendo que obedecer à Legislação
Municipal, que indica que as construções devem seguir o
estilo suíço (nem na Suíça se faz mais essa arquitetura). Fiz
uma série de concessões, mas o interessante foi separar o
salão da gare num volume fechado, do embarque /
desembarque, espaço aberto protegido por um muro de
pedras.
Depois fiz outros projetos que gostaria de destacar:
Uma casa em Itatiba para Arnaldo Goldman, triangular,
com uma implantação muito simpática, uma planta com
pouca área, mas com espaço grande.
A reciclagem do Grande Hotel de Campos de Jordão.
Residência Edgar Blucher.
Residência Antero Aciero.
Senac Tatuapé.
O Terminal Turístico de Bertioga.
Banespa Recife.
Fórum de Bragança Paulista.
O projeto de desfavelamento no Jardim Calux, São
Bernardo do Campo.
Entrevistas
62
O redesenho da Usina de Algodão de Aguaí.
Dois projetos de restauro e reciclagem de lojas, em
Maceió e Recife.
(1) Caixa Estadual de Casas para o Povo
(2) Companhia de Construções Escolares do Estado de São Paulo.
(3) Referência ao título da publicação “Caderno de poesias do aluno
Oswald de Andrade.
Entrevistas
63
Entrevistas
64
Abrahão Sanovicz a José Wolf: Uma Pedra no
Caminho ... Escola Paulista
Professor da FAU, onde se formou em 1958, Abrahão
Sanovicz recorda. Certa vez, num seminário, ele também
levantou a mesma questão a Lúcio Costa. Respondeu que
não sabia se era escola carioca ou escola paulista, mas uma
Arquitetura feita em São Paulo, outra no Rio. Vamos por aí
(sugere Sanovicz); só assim podemos desmanchar alguns
problemas de especificação.
Acontece o seguinte (explica): a arquitetura moderna,
diria mais, contemporânea, feita em São Paulo, só acontece
porque existiu uma experiência anterior feita no Rio. E é bom
falar em reportagem, porque seria difícil um estudo mais
introspectivo, pelo seguinte: no Brasil ainda se faz
reportagem de arquitetura, não crítica; não temos essa
tradição por falta, talvez, de recursos.
Voltando, então, ao início, a AU já levantou os dados da
“escola carioca” ou da arquitetura feita no Rio, que se
convencionou chamar de arquitetura moderna brasileira,
algo que começou lá pelos anos 30, quando o Brasil
começava a industrializar-se. Pode-se estar a favor ou contra,
mas havia um projeto nacional capaz de criar todas as
condições para esse processo. O grande maestro desse
processo é, sem sombra de dúvida, Lúcio Costa. Seria difícil
entender o Oscar sem ele; existe aí uma questão de
precedência e uma questão de procedência. E é bonito vê-
los trabalhar juntos, às vezes até estremecidos. Mas, no
fundo, os arquitetos dialogam através de seus projetos.Uma
linguagem que pode ser do
atelier
, da cidade, pode ser inter-
regional e até internacional.
Tudo isso, veja bem, acontece num período em que o
mundo estava em guerra. Enquanto lá fora estavam destruin-
do, nós aqui estávamos construindo. E se você pegar a Arqui-
tetura do Rio, verá: quase toda ela é feita para organismos
governamentais, que começavam a criar seus espaços, suas
estruturas. Como o MEC, que se tornou um prédio-padrão.
Mas, quando a gente entrou na escola, havia certo
marasmo. Em 53, tinha havido o estouro do
boom
imobiliário, não havia trabalho. Aqui e no Rio também, tanto
que tentaram trazer Niemeyer para a escola e não deixaram;
depois ele foi convidado para o projeto do Parque do
Ibirapuera. Nessa época, enfim, a gente procurava entender
todo esse fenômeno, esse período moderno. O Katinsky e eu
pedimos até para o Lúcio um roteiro, e ele apresentou três
casas. Com elas, descobrimos um mundo.
Antes dessa crise (dando continuidade a seu relato), havia
em São Paulo um conjunto de manifestações que não se
pode ignorar, como o Oswaldo Bratke. O Bratke, o Rino Levi,
o mais importante dessa época. Ele vem com uma tradição
da escola italiana, aos poucos se transformou, inserindo-se
no espaço da Arquitetura brasileira. E havia um grupo que
gravitava em torno do Rino, o “Branco e Preto”, com Miguel
Forte, Jacob Ruchti, Ciampaglia, Croce, Aflalo, Cândia ou
Milan, o mais jovem deles. Havia ainda alguns arquitetos
europeus, vindos durante a Guerra, como Bernard Rudofsky,
trazendo algum novo tipo de informação. O logotipo da
Fotóptica, por exemplo, um símbolo bauhausiano. Havia
também o Daniele Calabi, que faz algumas casas
racionalistas italianas com pátio. Depois da Guerra, chegam
a Lina, o Palanti. E, lutando pela organização da classe,
estavam o Eduardo Kneese de Melo, Ícaro de Castro Melo,
Oswaldo Correa Gonçalves, entre outros.
Esse era o panorama de nossa arquitetura, quando a gente
entrou na escola.
Mas, de repente, acontecem o plano-piloto de Brasília e
o surto desenvolvimentista, trazendo uma nova perspectiva.
Brasília, então, é o coroamento de um processo que
começou com projetos de edifícios isolados, onde se
apontam certos aspectos de integração à cidade. O MEC,
com sua área de projeção no térreo aberta, respeitando o
espaço do pedestre. Então, a tal leveza (reflete Sanovicz) não
é um problema formal, um fato estético.
Nunca a arquitetura se reduz a um fato estético, sempre
traduz alguma intenção anterior, uma postura ética. O
desejo de se projetar uma cidade contemporânea que já
começava a se esboçar na obra desses arquitetos passa por
Pampulha e se corporifica em Brasília. Ela absorve várias
experiências anteriores, tem seus desdobramentos e rebate
em São Paulo. Por que? Antes de Brasília, havia aqui uma
produção variada, isenta de unidade, cada arquiteto
procurando sua linguagem, um processo ainda em
transformação.
Acontece que nessa meio-tempo se elege Carvalho Pinto.
Ele prepara um Plano de Ação coordenado por Plínio Arruda
Sampaio. Carvalho Pinto já tinha ido a Brasília, onde se
encontrou com Juscelino, que lhe mostrou o trabalho dos
arquitetos. Ele entendeu esse fenômeno. Se quisesse ter o
mesmo resultado, seria necessário usar os quadros que tinha
em São Paulo. Foi uma época maravilhosa. Os arquitetos, de
repente, tiveram de se preparar para um novo momento, que
se iniciava com a construção de fóruns, escolas, etc.
O processo que havia acontecido no Rio ocorre, anos
Entrevistas
65
depois, em São Paulo. O Estado mostra-se o grande cliente e
o trabalho fica mais ágil: em vez de você correr, com sua
pastinha, capinando um projeto, era chamado para trabalhar.
E qual o desenho que se esboça, aqui?
A arquitetura feita em São Paulo é um desenho que pega
essa experiência carioca e a desenvolve dentro de
características regionais daqui. Ela procura seus aspectos
programáticos, uma linguagem própria. E esse plano
começa, via IPESP, com pedidos muito contidos para a
construção de escolas. “Faça alvenaria de tijolo, tesouras de
madeira, telhas de barro, no máximo, de fibrocimento”. Um
tipo de construção quase rural.
Mas (ressalta), no meio disso, aparece um projeto (a
escola de Itanhaém), de Vilanova Artigas, abrindo certos
graus de liberdade. A planta livre, as estruturas
independentes, o grande vão. Uma semente? Como
protótipo da arquitetura que acontece nessa época é, sem
dúvida, um modelo. Ele começa, enfim, a mudar a
linguagem. Sob alguns aspectos, contém influências do
Museu do Reidy, no Rio. Ele coloca até uma ilustração, um
painel de Francisco Brennand, um artista do Recife. O
mesmo que ocorreu no MEC, quando se pegou um Portinari,
um Bruno Giorgi. Há muitas semelhanças de atitudes, porém
já com outra linguagem, de maior simplificação.
Em resumo, queria dizer que Artigas é um discípulo da
“escola carioca”, o grande discípulo de Oscar Niemeyer, no
Brasil. Não no sentido de pegar aspectos formais, mas a
essência, através de sua própria visão.
E como se dá essa transformação? Artigas faz uma
inversão do processo, na medida em que começa a explicitar
a arquitetura através de sua estrutura. Porém como meio, não
fim; não se trata, portanto, de uma arquitetura do concreto.
O concreto é apenas um material à disposição. Ele começa
a se explicitar através da estrutura. Tinha formação de
engenheiro também, era da Póli. Ele trouxe isso mais a
experiência da “escola carioca”, de organização do espaço.
Então, você vê essa continuidade espacial, na FAU, por
exemplo. Onde começa, onde acaba?
Com sua formação filosófica, construída dentro desse
“caldo cultural”, sua convivência com os intelectuais, com
um Mário de Andrade, Artigas regionaliza, cria uma
linguagem paulista. E consegue, tanto é que a AU está
pesquisando isso. A partir desse projeto, abre-se uma nova
perspectiva e todos os arquitetos mais jovens começam a
projetar com base nele. Sua arquitetura, em termos de
materiais, consegue também enxugar a experiência carioca.
Entrevistas
66
Faz-se um imóvel com pouco material, abole-se o
revestimento, usa-se um piso só para todos os espaços,
começa-se a usar o mínimo de tipo de caixilhos. O
less is
more
também funcionou na simplificação dessa linguagem.
A nossa geração, enfim, pegou o bonde andando. Era
uma época maravilhosa, como disse. Quando começamos a
trabalhar, isso tudo já estava sistematizado, ao contrário do
que aconteceu com outras gerações. Cada um de nós, dentro
desse panorama, procurou absorver essa linguagem e
desenvolvê-la através de seus projetos.
Vocês, então, foram discípulos de Artigas? Não, fomos
seus alunos; porém, ele teve discípulos: o Sérgio Ferro,
Rodrigo Lefévre, Flávio Império. O aluno absorve e continua
a linguagem do mestre, enquanto o discípulo a absorve e a
reelabora.
E hoje? Continuamos a andar (de bonde, diz Sanovicz,
sorrindo). Cada um dentro de suas possibilidades.
Wolf, José. Uma Pedra no Caminho ... Escola Paulista in
AU
, São
Paulo, nº17, abril / maio,1988 p. 55 e 56.
Entrevistas
67
Julio Roberto Katinsky a Helena Aparecida
Ayoub Silva
Em 18 de janeiro de 2001 o Professor Doutor Julio
Roberto Katinsky concedeu entrevista à Professora Helena
Aparecida Ayoub Silva, com o objetivo de relatar aspectos
relevantes da formação de sua geração na FAU.
Julio Katinsky (JK) - Eu preciso dar ir até o escritório do
Edson Elito
1
, porque eu quero ver a obra mais recente do
Abrahão. A obra antiga eu fiz uma parte com ele. Essa eu co-
nheço bem, até digamos 1968/69, época que a gente estava
fazendo a tese de doutorado. Mas depois, nos últimos dez
anos, digamos assim, eu não acompanhei muito bem o que
ele andou fazendo, de modo que eu gostaria de dar uma
olhada com mais atenção. Ah! Eu falei para a Diva
2
, e ela
concordou: eu não vou fazer um trabalho sobre o Abrahão,
eu vou fazer um trabalho sobre a minha geração. O Abrahão
entrou porque ele era uma figura. Eu não vou fazer esse tipo
de trabalho que o pessoal faz por ai. Fica exaltando a figura
como se ele fosse um Michelangelo, quando na realidade ele
não é. Quer dizer, fazer um negócio desse com o Oscar, que
é um gênio, já é duro; imagine com o Abrahão, que é um
bom arquiteto, mas guardadas as proporções, não foi um gê-
nio. Mas se a gente reunir todos os arquitetos da sua geração
nós podemos traçar um esboço dessa ideologia. Aliás, eu aca-
bei de ler uma entrevista, peguei a terceira edição, a última
edição do livro do Artigas, onde o Julinho Artigas acrescentou
muito material inédito. E eu achei engraçado porque um
pouquinho antes dele morrer, em 1984, ele falou umas coisas
que ele nunca tinha falado: sobre o ataque ao movimento
moderno, eu tinha me manifestado a respeito em 1987 no
livro “Depoimentos de uma Geração”. Artigas fala, até com
mais contundência, de que no fundo o movimento moderno
era atacado por ser considerado judaico e bolchevista.
Artigas sempre foi muito virulento, o pessoal do Rio foi
bem mais generoso, brigou menos, desaforou muito menos.
Lembro que Artigas criticava muito o Bratke, o que era
muito desagradável, porque aprendeu pra burro com o velho
Oswaldo.
O Bratke é um arquiteto típico de corte antigo: “eu faço
a vontade do freguês”; “quer neocolonial? Eu faço”.
Ele tinha um estilo moderno, mas moderado. A gente na
FAU também criticava muito: às vezes a solução do projeto
resultava num negócio muito liso no andar de cima, e umas
pedras que a gente chamava de “canjica” em baixo, a cober-
tura, um telhado com uns cachorros. Esse era o estilo que ele
Entrevistas
68
fazia. Mas ele fazia qualquer um, era só pedir, mostrar na
revista, que ele fazia. Quer dizer, não é o tipo de arquiteto
que a Politécnica queria.
A Politécnica queria não um arquiteto em especial,
queria formar com a visão do socialismo utópico francês.
Quer dizer, o técnico da Politécnica é um servidor do Estado,
o servidor é um cidadão, é um técnico cidadão. E eles
cumpriram esse modelo na França? Depois de 1870 eles
entortaram tudo, viraram reacionários, se fecharam. A defesa
do Estado virou a defesa da burguesia. Mas até 1870 os
engenheiros franceses eram todos socialistas. Os professores
da Politécnica eram todos socialistas. Esse espírito de servir a
cidade, servir o País permaneceu.
O Bratke, que se formou no Mackenzie, lá a formação é
americana, formação de belas artes, é o patrão que decide,
o arquiteto é somente um técnico como qualquer outro,
entre os milhões de técnicos, e está lá para servir, que é a
mentalidade da escola de belas artes.
Helena Aparecida Ayoub Silva (HAAS) - E a formação de
vocês na FAU?
JK - Foi a do arquiteto-cidadão.
HAAS - Fica a impressão de que a FAU da tua geração é
uma FAU que tinha forte ligação com o IAB.
JK - Tinha ligação com o problema da cidadania. Nós
achávamos que iríamos participar de um processo no qual
nós iríamos contribuir para o progresso do país. Nós
evidentemente eu, o Abrahão... Nós não entramos na jogada
do partidão. Tínhamos uma ligação muito forte com a arte
moderna naquela época.
Acreditávamos no socialismo, que na época era uma
crença geral: o mundo caminha para o socialismo, é só
questão de tempo.
Queríamos transformar a sociedade brasileira, e isso
vinha da Politécnica, não vinha exclusivamente, mas vinha
muito da Politécnica.
A primeira maneira era contribuir para o avanço
tecnológico, esse era o primeiro ponto, tanto que nós
acabamos contribuindo mesmo. Por exemplo, se você pegar
uma porção de obras, no início da obra do Abrahão, você vai
ver que há uma especulação em torno das estruturas. Nós
procurávamos sempre dar uma contribuição pessoal.
O segundo ponto importante era a necessidade de
integrar a arquitetura à cidade. Então quando é um prédio só,
Entrevistas
69
um prédio em um lote, a gente resolve de maneira a ampliar
os espaços urbanos, quer dizer: não contribuir para a rua-
corredor, essa rua que é uma muralha, ou seja, de alguma
maneira fazer com que essa rua penetre no espaço privado.
Desenhar a cidade não era só fazer resolver a utopia, a
cidade de 3.000.000 de habitantes, era também resolver um
lote. Isso vem do Rio de Janeiro: um simples prédio muda
toda uma quadra.
HAAS - Você lembra do projeto que vocês fizeram,
enquanto estudantes, para representar FAU na IV Bienal?
JK - Claro! Isso aí já é superquadra de Brasília. Então,
quando você recebia um terreno para fazer um projeto de
um prédio, a luta era de alguma maneira caminhar nesse
sentido: fazer prédio com pilotis e jardim entrando sob o
prédio. Isso é típico na obra de Pedro Paulo Saraiva. O Paulo
Mendes nessa coisa já não é tão impositivo, é mais paulista,
mais privatista neste sentido. Nesse momento Pedro Paulo
vai fazer uma série de edifícios para o Rubens Paiva e eles
têm como referência o 5
ª
Avenida.
A terceira coisa que nós tínhamos era a ligação com a
vanguarda francesa. A Renina nunca me perdoou: ela era
professora e nós éramos alunos, e ela se alinhava com o
Realismo Socialista, aquela coisa de operários espancados
na Praça da Sé, e nós dizíamos: “isso aí não é conosco”, a
gente estava fazendo edição do Mondrian, neoplasticismo.
Mário de Andrade criticou a arquitetura soviética na
época, no Curso de Filosofia ele aproxima a arquitetura
soviética da arquitetura nazista. Ficaram desesperados, o
Partidão ficou desesperado, pois o Mário de Andrade era
intocável para os intelectuais de esquerda. Como ele poderia
aproximar o “realismo socialista” da estética nazista?
Nós éramos contra qualquer direção “a priorística” da
atividade artística (lição do Mário)! Aí veio em 1956 (já tinha
vindo) um informe do Kruschev condenando aquela
arquitetura que a gente chamava de “Arquitetura de Bolo de
Noiva”, que depois vai ser valorizada pela mulher do
Roberto Venturi.
O Lúcio Costa tem uma observação muito boa, muito
inteligente sobre o Edifício da Universidade em Moscou, que
nós nunca tínhamos percebido e ele percebeu. Ele foi à
Rússia em 1963/64 e comentou que aquele prédio único era
muito adequado para o clima. Já imaginou um tipo de
universidade espalhada num campus, numa região onde a
temperatura cai a menos 50ºC? Fazer tudo num só bloco é
Entrevistas
70
altamente inteligente, independentemente de toda aquela
“bulostroca” que eles puseram em cima do prédio, a verdade
é que aquele prédio se justifica. Num certo sentido o
Minhocão tem um pouco esse espírito, é muito econômico
o Minhocão.
As coisas mais ou menos caminhavam nesse sentido, e
essas preocupações vão ser jogadas todas nesse projeto.
HAAS - E como essas preocupações aconteciam na FAU?
JK - Nós não tínhamos um Departamento de História,
mas tínhamos já uma disciplina que primeiro foi do Lourival
Gomes Machado e quando eu estava no fim do curso ficou
sob a responsabilidade de Flávio Motta.
Flávio fez uma coisa muito inteligente e muito bonita, ele
dava umas aulas de leitura de texto, à noite, fora do horário
normal das aulas, então a gente ia à Faculdade, e ele
convidava Mário Wagner para falar, então nós estávamos
lendo Giedion “Espaço - Tempo e Arquitetura”, claro nada
mais que um capítulo ou dois.
E acho que foi um pouco com Flávio Motta que eu
aprendi a ler, sempre gostei muito de ler, mas foi com Flávio
que aprendi relacionar um texto com o outro. O Giedion
falava muito em matemática barroca, então Flávio convidava
o “Camargão”
3
para falar sobre matemática, ele que era
muito positivista, falava: “Que, matemática barroca? Isso não
existe!” e, começávamos aí uma discussão
Ou quando ele chamou o Mario Wagner que além de e-
conomista era também sociólogo, e fez toda a amarração en-
tre a sociedade renascentista e a perspectiva, uma coisa
lindíssima.
As coisas aconteciam dessa maneira. Isso mais nossas
preocupações, as colocações do Luís Saia sobre o folclore, a
arquitetura popular brasileira, etc. coisas que vêm do Mário
de Andrade, tanto que o cartaz do Centro de Estudos Fol-
clóricos era um monte de losangos em vermelho e verde, me
lembro bem! Era um cartaz para apresentar o Centro de
Estudos Folclóricos, que tinha no centro esses losangos,
arlequinal.
Estudar arquitetura para nós era viajar para Ouro Preto,
Salvador e fazer slide, ninguém sabia o que era isso no Brasil,
só nós em São Paulo que tínhamos o hábito de fazer slide o
que possibilitou o início da slideoteca na FAU, que comprou
os slides do Grêmio.
Os nossos professores, engenheiros que vieram da
Politécnica, víamos todos como cientistas e ao mesmo
Entrevistas
71
tempo eles procuravam ter uma visão liberal, o mais que eles
podiam, tanto que chegaram a indicar o Oscar Niemeyer,
eles queriam trazer aqueles grandes arquitetos do Rio de
Janeiro para dar aula na FAU; quem podou foi o
“Camargão”, mas também ficou muito mal visto na
Universidade por causa disso. Ele deu um golpe...
Sobre este projeto lembro de algumas histórias
interessantes: nós organizamos uma equipe e começamos a
fazer o projeto. Da nossa equipe inicial participavam: eu, o
Abrahão, o Hélio Penteado, o Heberto Lira, o Zé Caetano e
o João Stroeter. Uma outra equipe se constituiu com: Lúcio
Grinover, Israel Sancovski, Jaguanhara Ramos e Jerônimo
Bonilha. Israel sugeriu que as equipes se juntassem assim,
além de juntar forças, evitaríamos uma disputa indesejável
para representar a FAU na IV Bienal. Era a “união da
burguesia contra o imperialismo”.
Então nós fomos consultar duas pessoas que, digamos
assim, estavam meio marginalizadas na FAU: um era o Saia
e o outro o Artigas, este tinha sido mandado embora para a
Politécnica em 53, voltando só em 56.
O Saia nos propôs um estudo urbanístico para o bairro da
Penha, aquela área que até hoje está mal ocupada. O Artigas
colocou uma outra hipótese: nacionalismo em ascensão
poderíamos enfrentar uma proposta para a refinaria que nem
era da Petrobrás ainda era do Conselho Nacional de Pesquisa
de Petróleo, que era Arthur Bernardes. Até hoje a Petrobrás é
um símbolo brasileiro, imagine naquela época, era tudo!
Acatamos então a proposta do professor Artigas, e aí al-
gumas teses foram importantes se desenvolver, digamos as-
sim, bem característica do mundo paulista. Primeiro lugar: o
conjunto habitacional tinha que ter um Centro Cívico, e quem
definiu isso muito bem foi Hélio Duarte: o Centro Cívico tem
que ter uma vida cultural e uma vida física, tudo misturado.
A outra coisa que foi muito importante, e nisso Abrahão
deu uma grande contribuição foi a sistematização das
fachadas dos edifícios. Foram feitos todos com três andares,
além do pilotis, para não ter elevador.
A agente trabalhou nesse projeto com um entusiasmo
louco, eu particularmente, para mim foi muito bom, eu
desembaracei muito. Abrahão e eu ficamos responsáveis
pelo projeto do clube náutico: todo mundo ficou
impressionado, porque em vez ser um retângulo, como
todos os outros, resolvemos com uma articulação de
quadrados, ficou muito bonito. E nós já estávamos estudando
aquela obra do Oscar. Bom, é tudo um pouco ingênuo,
trabalho de estudante.
Entrevistas
72
Outra coisa muito bonita foi a maquete, foi tudo
calculado, tão trabalhado: os blocos não foram pintados de
branco, foram pintados num leve cor-de-rosa, porque diziam
para nós que se fosse cor-de-rosa o contraste seria maior. As
árvores são pregos, ficou muito bonito. A maquete foi feita
pelos funcionários da FAU.
Nós ganhamos o prêmio máximo, e também aí é um
outro capítulo, porque o Jacob Ruchti foi contra o nosso
projeto, quem defendeu o nosso projeto foi Silvio
Vasconcelos.
HAAS - Tem uma manifestação dele na ata de julgamento
do concurso.
JK - Eu não sabia que ele tinha tido a coragem de
enfrentar o júri. O Jacob era um cara, anticomunista, então
tudo que vinha do Oscar era mal visto.
Ganhamos o prêmio máximo junto com a Universidade
de Waseda e com a Faculdade de Paris, que por sinal o
projeto deles tinha a mesma tese no Centro Cívico,
igualzinho ao nosso. Agora Waseda, eu não me lembro o
projeto. O Artigas elogiou muito o projeto de Waseda,
quando fomos reclamar, “que absurdo, ganhar o prêmio ‘ex-
aequo’ com os japoneses”. Artigas respondeu: “ah, não é
tanto assim, é um projeto poético”.
Existe um pequeno detalhe que é importante, a Bienal
seguindo orientação que acho que vinha do MoMA, fazia
esses concursos de estudantes para pressionar as escolas de
arquitetura, estava tudo em grande parte do mundo
dominadas pelo pessoal mais acadêmico, claro! Então eles
queriam mudar, aproveitavam a Bienal para fazer isso, quer
dizer, quem ganhava o prêmio na Bienal era prestigiado e de
fato você vê, de todos esses caras que estão aí, uma série
deles virou professor.
Somos da geração do “finca-pé”, nós percebemos que o
combate ao movimento moderno era um combate que não
era em relação aos aspectos negativos, era justamente aos
aspectos positivos, e que nós tínhamos obrigação de
defender essa coisa, isso foi muito claro, a minha geração
furou o cerco. Aqueles arquitetos que você conhece
procuraram exatamente fazer isso: defender todas aquelas
teses que nós apresentamos no projeto para a refinaria.
HAAS - Como acontecia na FAU a discussão estética, por
exemplo, sobre a proposta dos concretistas, do Mauricio
Nogueira Lima?
Entrevistas
73
JK - Por que o Mauricio foi ser professor na FAU? Toda
essa discussão acontecia lá. A preocupação forte do concre-
tismo, do neoplasticismo, do estilo holandês, é exatamente
essa. O interesse pelo mundo moderno pela adequação da
estética com a ética, que domina toda a vanguarda do século
da primeira guerra mundial, e que Mário de Andrade
reproduz naquele texto maravilhoso dele em 1937 “O Artista
e o Artesão”, onde está presente toda esta problemática da
ética e da estética dentro da cidade, que é o Schiller, que ele
cita diretamente. Engraçado, eu tinha editado esse texto, que
eu acho maravilhoso, e não tinha percebido essa ligação que
ele põe explicitamente no texto: “A Educação Estética do
Homem”, estética no sentido da totalidade, da globalidade
do ser humano e, portanto, obrigatoriamente democrático.
Todo o pensamento iluminista é democrático e isso começa
a ser combatido já na década de 1960. É muito esclarecedor
o texto de Lucio Costa: “O Novo Humanismo Científico
Tecnológico”, ele vai lá no M.I.T. defender os iluministas.
Quer dizer, a questão já não era mais atacar o Marx ou o
Rousseau, o Diderot, e o D’Alambert, esse pessoal que fez a
enciclopédia e tinha esse sentido do conhecimento
universal, conhecimento democrático, conhecimento para
toda a população.
Nós na FAU, durante vinte anos agüentamos uma
“estética atrasada”, primeiro porque tinha suas referências na
Belas Artes, depois pela crítica que contrapunha o projeto ao
canteiro. Agora devemos recuperar essa estética da
“solidariedade”, mas em outra “chave”, sem dogmatismos.
(1) O arquiteto Edson Elito foi, durante muitos anos, colaborador de
Abrahão Sanovicz, permanecendo em seu escritório, até 2003, toda o
acervo de projetos de Abrahão.
(2) Diva Sanovicz viúva de Abrahão Sanovicz.
(3) José Otávio Monteiro de Camargo.
Entrevistas
74
Entrevistas
75
Nachman Falbel a Helena Aparecida
Ayoub Silva
Em 29 de julho de 2004, o Professor Dr. Nachman Falbel
concedeu entrevista à Professora Helena Aparecida Ayoub
Silva.
O Dr. Falbel é Professor Titular do Curso de História da
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Uni-
versidade de São Paulo, amigo de Abrahão Sanovicz,
participaram do movimento
Dror
na década de 1950.
Helena Aparecida Ayoub Silva (HAAS) - O que foi o
movimento
Dror
?
Dr. Nachman Falbel (NF) - É movimento juvenil, um
fenômeno muito próprio do judaísmo na Europa. Fruto de
uma concepção de que a juventude constitui uma etapa em
si, independente e com valores próprios. Na verdade, o que
precedeu o movimento juvenil judaico foi um encontro
inicial, também de jovens, na Alemanha no final do Século
XIX chamado
Wandervogel
(pássaro errante, em alemão),
que tinha como pensamento a volta à natureza, no sentido
de se encontrar numa atmosfera mais limpa, não urbana,
mais pura. Esses jovens tinham como
slogan “A nossa falta
de objetivos é a nossa força”
. Realmente, uma das
características principais dos
Wandervogel
era a sua
independência relativamente a qualquer organização
política ou religiosa.
Essa concepção incluía um romantismo próprio, sau-
dosista nos valores da idade média e, ao mesmo tempo, pro-
movia a valorização da etapa da vida que se chamava juven-
tude, como uma etapa que tem que ser vivenciada
independentemente da fase adulta. Esta seria a matriz do mo-
vimento juvenil judaico que mais tarde surgiria, agregando a
esses valores a problemática judaica, na medida que surge o
nacionalismo judaico chamado movimento sionista.
A partir do I Congresso de 1897, com uma liderança já
muito forte, começam a se destacar personalidades como
Theodor Herzl reforçando o nacionalismo judaico que gerou
várias correntes, porque, conceber a criação do estado judeu
era um desafio do ponto de vista ideológico. Não havia
nenhuma unidade nesse sentido. Havia várias posturas,
várias concepções influenciadas pelas próprias ideologias da
época no continente europeu. E, nesse sentido, o movimento
juvenil acabou sendo na verdade ala juvenil de partidos que
se constituíram a partir de correntes ideológicas e políticas, e
que se formaram dentro do judaísmo, que atravessava essa
Entrevistas
76
fase de definição nacionalista na Europa. Esse fenômeno se
pode entender estudando a história dos judeus no período e
a partir daí é possível justificar a existência do movimento de
jovens que se organiza com o padrão de
Wandervogel
, que
antecedeu o segundo padrão, o movimento
scoutico
1
de
Baden-Powell
2
. O escotismo também se preocupava com
uma vida mais ligada à natureza, e, por outro lado, preparar
o jovem para os desafios que estavam por vir, tendo
autonomia frente aos obstáculos e às dificuldades que a vida
oferece. Endurecer frente à vida, seria o termo, o que exige
não só resistência espiritual, mas física.
Havia de certa forma alguma coisa muito próxima com o
paramilitar, porque o movimento
scoutico
que teve origem
inglesa, se inspirou também na experiência de Powell na
guerra na África do Sul, mas formulou uma pedagogia e um
sistema educativo. Então, esse fenômeno amplo, que dá o
contexto para entender o movimento juvenil judaico, na
medida em que os judeus se sentiram envolvidos com uma
idéia nacionalista da formação de um estado próprio, após
2000 anos de exílio e diáspora.
Surge então o primeiro movimento,
Hashomer Hatzair
3
,
que significa “jovem guarda”. Era inspirado diretamente nos
dois paradigmas:
Wandervogel
e
scoutico
, com a mesma
metodologia educativa, com a mesma organização interna,
mas com uma matriz judaica, voltando-se para uma
identidade religiosa nacional.
O nosso movimento, agora dando um grande salto, foi o
Dror
, que surgiu na Europa, no final dos anos 1920. De
início, era a ala jovem do partido político sionista-socialista,
isto é um nacionalismo que visava fundir duas ambições do
ponto de vista político: criava o estado judeu, mas criava o
estado judeu socialista.
Esse partido chamava
Poalei Tsion
(os operários de Sion),
onde, naturalmente, a preocupação dos mais velhos era
formar e preparar quadro de juvenis que estavam ligados à
própria atuação do partido.
Mais tarde, os próprios jovens chegaram à conclusão de
que eles deveriam criar um movimento com marca própria,
seguindo uma doutrina pedagógica inspirada naquelas que
conheciam do passado. Surge então o movimento
Dror
,
também com uma sistemática próxima ao
Hashomer Hatzair
que o precedeu.
No
Dror
se adotou uma pedagogia apropriada para cada
uma das diferentes faixas etárias, que começaram com me-
ninos de sete anos até jovens entre 18 e 20 anos. A principal
idéia era preparar esses jovens para irem à terra de Israel
como membros voluntários em colônias agrícolas. Então, to-
do o preparo desse movimento era em função: da proleta-
rização; tornar os jovens agricultores; e, habilitá-los a viver do
trabalho próprio, criando as condições necessárias para a
constituição de um futuro do estado judeu. Era a colonização.
Esse movimento de início chamou-se
Freiheit
, que
significa liberdade em iídiche e alemão. No hebraico, o
termo foi traduzido como
Dror
, que significa pássaro,
andorinha; símbolo de liberdade.
Esse movimento surgiu em todo o mundo com as
denominações bastante diferenciadas na Europa. Veio para a
América do Sul nos anos 1930: na Argentina em 1934 e
depois em 1945 se formou no Brasil.
Por esse movimento passaram milhares de jovens, ao
lado de outros movimentos que tinham diferentes nuances
ideológicas. Às vezes são sionistas-socialistas (mas o
problema: que socialismo?, isto fazia muita diferença),
marxistas, o nosso era filiado à social democracia,
obviamente identificado com a social democracia austro-
alemã, a chamada II Internacional de Karl Kautsky, marxistas,
mas não eram bolcheviques ou leninistas.
O
Hashomer Hatzair
, no decorrer do tempo, mudou de
postura ideológica: começou como um movimento
scoutico
,
e foi se radicalizando e assumiu o ideário marxista leninista.
Depois, com as crises do comunismo, obviamente, eles
também tiveram que se adaptar.
Este é o tipo de movimento que teve uma influência
muito grande sobre a juventude judaica no Brasil, e fez com
que muitos fossem viver em Israel em
kibutzim
, que era a
sociedade representativa do sionismo socialista, para o qual
o movimento educava. Eram filhos da classe média que
caracterizavam muito a imigração judaica no momento em
que ela se acentuou, e com isso podemos dizer que teve uma
influência poderosa sobre as pessoas.
O movimento marcou profundamente mesmo aqueles
que ficaram, porque, primeiro, os acontecimentos da juven-
tude criam laços de amizade muito fortes, depois, porque era
um movimento preocupado com cultura, ideologia, idéias.
Era um período decisivo para a formação do estado judeu
após o holocausto, com representação ideológica muito
grande e de fermentação espiritual, cultural e intelectual para
os jovens que vivenciaram aqueles anos pós-guerra.
Isso deu de certa forma a esses jovens um cabedal
extraordinário. Boa parte dos professores judeus saiu desses
movimentos, porque era um fermento que levava a um
interesse cultural muito grande, as pessoas abandonavam as
Entrevistas
77
78
Entrevistas
escolas para ficarem nas bibliotecas. Isto aconteceu com o
“China”
4
que era da minha geração.
HAAS - Quando Abrahão se engajou no movimento
Dror
?
NF - Quando veio estudar em São Paulo.
O movimento, na época, chegou ter até 1.200 membros,
compreendendo várias camadas etárias, tinha um poder de
atração muito forte, porque, de um lado, o impacto da guerra
e o holocausto e, do outro a perspectiva da criação do estado
judeu, atraíram e marcaram esses jovens que queriam dar
alguma contribuição.
Foi um período formador de personalidades. Esse
movimento juvenil foi a grande incubadora, nesse sentido, o
“China” como nós todos, teve uma participação muito ativa
no
Dror
, o que nos marcou profundamente.
No início da década de 1950 o movimento decidiu
coletivamente que os mais velhos deveriam ir para Israel e
abandonar os estudos. Foi um impacto muito doloroso, era
uma verdadeira revolução na vida dos pais daqueles jovens,
que tanto idealizaram a formação universitária de seus filhos.
Muitos não conseguiram assumir a responsabilidade e tomar
essa decisão, “China” foi um deles. Vencer a resistência dos
pais e ainda superar a cultura de que “só se vence na vida
com um título”, foi tarefa impossível para muitos.
Mas, foi o movimento
Dror
que fez nascer o germe da mi-
litância político ideológica, que estava plantado no coração
de todo esse pessoal. Quando o “China” decidiu ficar, pas-
sou para o movimento chamado Casa do Povo, que era niti-
damente de esquerda. Coerente como sempre foi, não con-
seguiu mais permanecer no
Dror
, já que tinha tomado uma
decisão pessoal e contrária à estabelecida pelo movimento.
“China” continuou a militância política porque o vírus já
estava implantado. E eu acho que o movimento teve grande
importância na vida dele, porque sempre foi um idealista.
Tinha aquela auréola do militante permanente que ele nunca
deixou de ser. Acho que esse registro é muito importante e
que deve ser apontado num trabalho ligado à obra, biografia
e a alma do “China”.
HAAS - Como o
Dror
era organizado?
NF - Era organizado em camadas por faixas etárias: de 7
a 11 anos, de 11 a 14, de 14 a 17 e, de 17 a 20. Havia uma
secretaria geral e diretórios locais, numa estrutura piramidal.
79
Entrevistas
Educadores desenvolviam métodos apropriados para a-
tuar junto a cada faixa etária: realizavam excursões, acam-
pamentos, seminários ideológicos, eventos que visavam a
formação judaica, ideológica e espiritual dos jovens.
O aprendizado do hebraico, o conhecimento do folclore
e da geografia da “Terra de Israel” eram meios de aglutinação
desses jovens, que tinham um mesmo interesse. Através das
canções e da literatura os aproximavam do novo Israel que
estava nascendo.
A cultura hebraica estava se formando e esta era a
maneira de preparar os jovens para viver naquele país, e,
acima de tudo, fortalecer sua identidade judaica.
Já que pertenciam à segunda ou terceira geração de
emigrantes, esses jovens já não falavam mais o língua dos
pais, o iídiche da Europa Oriental, tinham assimilado os
costumes e a cultura brasileiros. O movimento deveria
oferecer todos os elementos necessários para que pudessem
imigrar para Israel.
(1)
Scoutico
de
scout
, movimento escoteiro.
(2) Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (1857, 1941), inglês, foi
quem lançou o movimento do escotismo.
(3)
Hashomer Hatzair,
movimento juvenil judaico
kibutziano
(relativo
ao kibutz, plural kibutzim; comunidade autônoma com base em trabalho
agrícola ou agroindustrial, caracterizada por uma organização igualitária
e democrática, obtida pela propriedade coletiva dos meios de produção)
originário da Polônia, na região da Galitzia, em 1913. Em 1918, formou
seu primeiro grupo destinado a emigrar para a Palestina com o objetivo
de trabalhar na terra. Desde 1919, seus membros começaram a se
estabelecer na terra de Israel, desempenhando um papel relevante no
desenvolvimento dos kibutzim.
(4) China era como os amigos chamavam Abrahão Sanovicz.
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Depoimentos e Textos
Arquitetos de uma Geração
O Croquis
Abrahão Sanovicz
Luiz Calos Daher
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
Abrahão Sanovicz
Arnaldo Martino
José Cláudio Gomes
Por uma Crítica Arquitetônica
Pela Recuperação da Dignidade Perdida no Projeto
E Pur Si Muove
O “Estado da Profissão
O que é o Projeto
Cinco Décadas de Arquitetura
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Arquitetos de uma Geração
Abrahão Sanovicz
Cursamos a FAU-USP de 1954 a 1958 e agora, como ob-
servador, com alguma distância no tempo, posso afirmar
que, através da Faculdade e da Universidade daqueles anos,
minha geração se formou e adquiriu os elementos com os
quais ela passou a atuar na vida profissional como arquitetos.
A FAU era, desde a sua formação, uma escola moderna. Não
foi preciso lutar como nossos colegas e vizinhos do Macken-
zie (eram as duas únicas Faculdades no Estado), para termos
o direito de riscar um projeto em linhas modernas. Tendo sua
origem na Politécnica e montada como mais uma Faculdade
na nossa Universidade, que naquela época já estava sensi-
bilizada pelas obras de arquitetura brasileira, pode-se dizer
que ela se iniciava com uma linguagem já existente. Nossa
formação não vem da linha direta dos impactos do movi-
mento europeu entre as duas guerras, hoje acervo universal.
Porém, já se nutriu e profundamente, dos desenhos, dos
programas, dos partidos, dos projetos e das obras executadas
em nosso país pelas três gerações que nos antecederam e
que continuam até hoje atuantes na produção arquitetônica,
quando há projetos a fazer, bem entendido.
Porém, nada acontece tão linearmente, e passamos, as
vezes, momentos difíceis. Quando ingressamos na FAU,
entusiasmados com o projeto arquitetônico, cujo re-
conhecimento fazíamos através das revistas “Acrópole” e
“Habitat”, que tiveram na nossa geração uma importância
muito grande (porque através delas conseguimos saber o que
se estava projetando naquele momento) e estabeleceram
uma espécie de diálogo muito gostoso para os arquitetos. Os
arquitetos sempre dialogaram através dos seus projetos.
Quando tive conhecimento dessas revistas, cursava, na
época, uma escola técnica de edificações de grau médio.
Ingressamos na FAU entusiasmados e a escola ainda
estava resfriada pelos acontecimentos de 1952, referentes à
não contratação do arquiteto Oscar Niemeyer para a cadeira
de grandes composições do 5º ano. O ambiente era muito
parado e acreditávamos, como alunos, ter de fazer algo para
ajudar a tirá-la da inércia. O ano de 1954 foi de grande
agitação política: o suicídio do Presidente Vargas e as suas
decorrências. A partir de 55 e nos anos seguintes, através do
Grêmio da FAU, fizemos uma pesquisa da obra do arquiteto
Lúcio Costa, pois dizíamos: “Se tudo começou lá, vamos
começar pelo princípio”. Conseguimos chegar até o mestre,
o que não era tão difícil assim, e modestamente ele nos deu
Depoimentos e Textos
83
não mais do que uma relação de três ou quatro projetos seus.
Levantamos os mesmos e, de indicação em indicação,
perguntando de um proprietário a outro, essa coisa toda,
descobrimos um mundo de textos e projetos, que nosso
Grêmio cedeu ao colega José Xavier, do Rio Grande do Sul,
hoje professor da FAUUSP. Foi uma colaboração do nosso
Grêmio ao seu livro “Sobre Arquitetura” que me parece ser a
única edição que nós temos com textos completos de Lúcio
Costa até Brasília. Por essa época se realizava o concurso de
Brasília. A documentação sobre Brasília hoje é muito farta.
Para nós, na escola, realmente foi um salto qualitativo. O
grande fato era a ampliação da escala do arquiteto, isto é, -
desenhar uma cidade. Não era mais 1:100, 1:200, 1:50,
1:20, 1:1, era 1:1000, 1:2000, 1:5000 - que sei eu. Hoje,
acho bom essa passagem de escala se ter dado quando
éramos estudantes. Os modelos são melhor absorvidos
assim, menos penosamente.
Foi com coragem, inclusive, que no ano seguinte
enfrentamos a Bienal Internacional “Ex-Aequo”, juntamente
com mais quatro escolas. Racharam o prêmio entre quatro
países. A Faculdade apresentava os frutos do seu ensino. Já
havia, inclusive, experiência anterior na nossa escola. Nosso
tema era um Núcleo Habitacional para 2 mil operários para
a Refinaria de Cubatão, em 1957. Das quatro escolas que
participavam - do Japão, da Venezuela, da França e nós - três
tinham abordado assuntos de habitação ligados a Petróleo.
Curioso. Mas é uma observação que fizemos na época. A
biblioteca, inclusive, guarda até hoje publicação a respeito.
Falando em biblioteca, a nossa sempre foi a parte da Fa-
culdade que mais estimamos. A escola, a nossa época, já se
interessava pela caraterística e pelo desenho de objetos. Esse
interesse era manifestado pelos alunos através dos concursos
de capas de publicações, cartazes, e alguns modestos
contatos com pequeníssimas indústrias para elaborar
concursos de objetos. Isso - a mim, pessoalmente - me fez
tentar uma bolsa de desenho industrial em Milão, que
usufruí no segundo semestre de 1959.
São Paulo saía, por essa época, de uma violenta crise
após o “
boom
” imobiliário de 1953.
Entusiasmado com as obras de Brasília, o Governo do
Estado convocou arquitetos a colaborar num plano de ação,
projetando obras - escolas principalmente - em substituição
ao famigerado projeto padrão de então, cujos erros de
implantação e de programas, superados, ainda hoje se pode
constatar em várias regiões do nosso Estado. Essa foi uma
época de forte estímulo cultural: as Bienais do Museu de Arte
Depoimentos e Textos
Arquitetos de uma Geração
84
Moderna, os movimentos artísticos, em particular o
movimento concreto liderado por Waldemar Cordeiro, já
falecido; o Museu de Arte de São Paulo, onde entrávamos
cheios de cuidado, dada a ordem ali reinante; o IAB, cuja
ligação até física com a FAUUSP era fácil (bastava descer a
Rua Major Sertório). Era e continua sendo fundamental essa
ligação com o IAB porque temos um lugar onde podemos
nos reunir. Isso foi muito bom, inclusive todo esse trabalho
que a geração anterior preparou para nós, nos criou a
bandeja onde a gente pudesse participar dos movimentos
culturais aos quais o IAB, até hoje, continua se engajando.
Por essa época, a FAU dá um salto qualitativo: a im-
plantação da “Reforma Artigas” em 62. É bom colocar assim
em linhas gerais o que foi a “Reforma Artigas”, pelo menos
para aqueles que hoje são alunos das faculdades. O curso de
projeto se estrutura em quatro sequências e a sequência
passou a ser a unidade mínima de decisão dentro do
departamento. Essas quatro sequências são as sequências de
projeto, de planejamento (que reuniu Urbanismo e
Paisagismo), de desenho industrial e de comunicação visual.
A FAU passa a ter quatro departamentos: o de Projeto, que
dizíamos ser a espinha dorsal do curso; o de História e
Crítica, posteriormente História e Estética do Projeto,
absorvendo o acervo do antigo Centro de Estudos Folclóricos
do Grêmio da Faculdade; e os Departamento de Ciências e
de Técnicas, hoje reunidos em um departamento único de
Tecnologia.
Fazia-se necessário mostrar que o campo de atuação
profissional estava para se ampliar e que se devia formar os
quadros para enfrentar as tarefas que víamos necessárias: do
objeto à cidade e à região, passando pelo edifício, suas for-
mas de representação e informação necessárias para pos-
sibilitar uma eficiência de uso. (No que se refere ao curso de
Desenho Industrial, essa experiência de 62, fizemos uma pu-
blicação dos trabalhos e ela se encontra depositada na
biblioteca da FAU). O corpo docente se ampliou. A abertura
de atuação significa educar vários tipos de profissional, fosse
aquele que passava do geral ao particular, se assim o dese-
jasse, fosse aquele que se fixasse num ou noutro campo, po-
rém sem perder a visão do conjunto e perceber que sua atua-
ção específica se insere num quadro geral. Esse projeto
permanece até hoje porque os anos seguintes foram difíceis
e de pouca possibilidade de atuação.
A escola sempre se nutre da atividade exercida no meio
social e vice-versa. No meu caso pessoal, professor de
desenho industrial, somente por volta de 1967/68 consegui
Depoimentos e Textos
85
Arquitetos de uma Geração
realizar alguns projetos de equipamentos públicos para
jardins de São Paulo, em colaboração com dois colegas
meus, o pintor Buffoni, de formação européia, e o arquiteto
Julio Katinsky. Eram cerca de 50 objetos e a gente
denominava os projetos de desenho para a comunidade
porque eram objetos de uso público e comum para inserir
em jardins de São Paulo. Esses projetos, ainda hoje,
continuam à espera de implantação. Somente poucos foram
feitos. Como sempre, a gente faz uma publicação, deposita
na FAU, essa coisa toda.
E vieram as cassações de 69. O nosso departamento se
viu, de repente, sem a colaboração de três dos nossos
melhores professores, em especial a sequência de projetos.
Quero ressaltar que às vezes sucede a escola deixar de
contar com a colaboração de professores que dela se afastam
por motivos vários e até ocasionam renovação de quadros
algumas vezes. Porém, era a primeira vez que isso acontecia
dessa forma e na época, sem a visão de retorno. Foi uma
violência. E daí por diante outras perdas se verificaram. Essa
ausência até hoje é sentida. A escola perdeu substância e até
hoje faz esforço para se reestruturar.
Os organismos chamados seqüências, aos quais eu tinha
me referido como estrutura mínima, para se continuar a filo-
sofia de ensino implantada em 1962, foram paulatinamente
transformados em conjuntos de disciplinas com pouco poder
de decisão como grupo, uma vez que a unidade mínima na
Universidade de hoje é o Departamento. Em casos
específicos, como o de ensino da arquitetura, o estatuto da
Universidade não conseguiu ainda prever a continuidade da
existência das seqüências. Tal fato, paulatinamente, foi
enfraquecendo a visão de conjunto da escola, o que levou a
nos concentrarmos cada vez mais nas nossas próprias
disciplinas e cada um de nós na responsabilidade da
condução dos nossos respectivos cursos, firmamos como
meta de ensino aquilo no qual acreditamos. Razão pela qual
eu assumo inteira responsabilidade pelos programas que
norteiam minha atuação como professor do 3
º
ano da
disciplina de projetos. O que faz essa disciplina até hoje, é
tentar estabelecer uma integração entre o projeto e a
produção - essa produção entendida como produção do
projeto propriamente dito, com seus elementos gráficos e
escritos, orientadores da obra a ser edificada.
Por essa época surgiu na Faculdade, por razão estatuária,
a necessidade de se fazer os concursos de doutoramento.
Alguns de nós fizemos esse concurso para poder assumir a
responsabilidade da condução de algumas disciplinas. Esses
Depoimentos e Textos
86
Arquitetos de uma Geração
trabalhos estão na Biblioteca da FAU.
Entendemos que no nosso estágio atual de possibilidade
da construção, esta se situa numa faixa na qual, de um lado,
conta com o artesanato e as experiências de construção que
passam, na maior parte das vezes, de uma para outra mão
por transmissão oral do vasto repertório popular, isto é, não
erudito, através dos usos e costumes; e de outro lado, do
repertório industrial, quando possível - a nossa tecnologia.
Durante esses anos todos fizemos os projetos que nos foi
possível. Para a indústria, muito poucos; de programação
visual, alguma coisa; edificações, a parcela maior. A parte de
edificações foi a parcela mais significativa do trabalho de
nossa geração, acredito eu, com algumas poucas incursões
no urbanismo. Eu me refiro a alguns conjuntos habitacionais
e, no meu caso em particular, posso até dizer que tive o
privilégio, de prestar colaboração ao prof. Artigas no
redesenho do Vale do Anhangabaú. Esse projeto é muito im-
portante porque pega exatamente o centro da cidade, o eixo
representativo da cidade. Foi elaborado numa faixa compre-
endida entre o Tietê e o Pinheiros e devolve ao Vale a sua
condição original, ou seja, readquire o uso de Parque no
centro da cidade. É curioso notar que esse projeto não lança
mão de nenhuma desapropriação, se outros méritos não
tivesse. É difícil a preservação; destruir é rapidíssimo. Vimos
implosões até pela televisão.
Eu gostaria de me referir a uma experiência do início dos
anos 70. Neste caso, uma experiência numa área das mais
comprometidas, que foi a da especulação imobiliária.
Consegui elaborar alguns projetos nos quais certa
experiência de racionalização e possibilidade de posterior
produção em série, aliada a um trabalho artesanal, foram
elaborados. Tratava-se de levar a uma certa camada da
população, usuários que não conhecíamos pessoalmente,
pois eram apartamentos e casas para serem vendidos após o
término da obra, aquela linguagem a que me referia
anteriormente. Estas obras, boas ou más, aí estão, como
tentativa de, no projeto e na produção, absorver as
experiências, não só do projeto de edificação propriamente
dito, mas de como o desenho industrial se funde com ela,
uma vez que a pura e simples atividade de desenhar objetos
para indústria, do guardanapo ao automóvel, parecem
fechadas enquanto grande parte dos mesmos tiverem o seu
poder de decisão numa esfera fora do nosso contexto social.
Com a preocupação de precisar melhorar a experiência
acumulada, participamos da montagem do departamento de
projetos da FAU-Santos, a convite de Oswaldo Gonçalves, e
Depoimentos e Textos
87
Arquitetos de uma Geração
estruturamos a cadeira de mensagem. Posteriormente, a
Universidade de Brasília pediu ao Katinsky e a mim que
fizéssemos um trabalho sobre um curso de Programação
Visual e Desenho Industrial. Isso foi publicado e lá
procuramos deixar esclarecido como se dá o ato de projetar
e os modelos que nós elegemos anteriormente para poder
montar toda essa filosofia, fruto inclusive de nossa atividade
de ensino em Santos.
Passamos tempos razoáveis e passamos tempos difíceis.
Na realidade, os atuais são bem difíceis.
Acredito que somos uma geração de construtores,
acredito que construímos quando estamos construindo.
Quando nos falta trabalho, isso se reflete em nossas demais
atividades. O processo todo e o projeto continuam aberto, à
espera de realizações.
Acredito que estamos a meio caminho, até pela nossa
faixa etária, e acredito que os muitos que somos hoje podem
constituir a nossa força num país em que tudo está por ser
projetado. Isto já ouvimos há bastante tempo e continuamos
com a mesma convicção.
Eu dizia no início que nos nutríamos da experiência
anterior de poucos. Trata-se de entender os processos pelos
quais essa atuação se deu, com a precisão histórica
necessária, e como levá-la adiante a camadas cada vez mais
amplas do povo. Esses exemplos nos são muito caros. Não
podemos, em hipótese alguma, nos dar ao luxo de jogá-los
pela janela, pois são os modelos que mostram o que é
possível e o que muitas vezes não é. Se às vezes os caminhos
parecem fechados, temos que identificar suas possíveis
aberturas. Não saberia dizer de outra forma. Acredito no
projeto como uma das manifestações de soberania e como
uma contribuição precisa ao projeto nacional, que se faz
necessária. Arquitetura é um meio de vida, porém não é a
própria vida.
Pergunta - Em que medida, nos dias de hoje, podemos
dizer que o profissional de arquitetura está fazendo o
encaminhamento de uma visão voltada para a investigação
científica sistemática dentro das áreas do projeto,
urbanização e planejamento regional? Quais as formas de
participação neste campo?
Alguém aqui na mesa levantou o problema do que foi a
investigação de planejamento feita em moldes científicos
nesses 15 anos, a partir do plano Roberto Campos, e citou
que tudo deu em papel pintado. É uma opinião muito
Depoimentos e Textos
88
Arquitetos de uma Geração
pessoal minha, que moro aqui na cidade de São Paulo e
conheço algumas regiões deste país - muito pouco passou do
papel pintado. Na realidade, o que temos visto na nossa
cidade não passa de engenharia municipal. Os traçados das
ruas, das avenidas ligando vários extremos, o desenho do
metrô que tem descaracterizado a nossa cidade. Isto não me
parece ser uma investigação científica, mas um trabalho anti-
científico, na medida em que passamos por uma certa região
e, dois meses depois, meu Deus do Céu, a arrasaram. Eu
tinha colocado, em referência ao trabalho do Anhangabaú,
essa preocupação em se preservar o que é a memória da
cidade, que nesse sentido até se pode preservar, chamar de
científico, contra essa desurbanização. Por outro lado,
voltando um pouco à referência aos modelos, nós podemos
chamar no nosso caso, de desenho urbano, de urbanismo.
No que se refere ao desenho urbano, temos visto muito
pouca coisa. Nos últimos 15 anos, em matéria de desenho
urbano, o que me chama ainda mais a atenção como
significado, como forma de resolver e como programa é, a
cidade de Brasília e, mais recentemente, a continuação do
projeto do Rio de Janeiro em que se considera Copacabana
e toda zona norte como dado existente e se mostra a
expansão da cidade para a região da baía de Sernambetiba.
Parece-me que qualquer tentativa de desenho urbano
nesse sentido terá que lançar mão, desde que se trate de
desenho, ainda desses modelos.
Outros realmente não me chamam tanto a atenção talvez
até por desconhecer sua importância. Faço, nesse sentido,
uma distinção entre a investigação científica, de um lado, e
o desenho urbano do arquiteto, do outro.
INSTITUTO DE ARQUITETOS DO BRASIL, DEPARTAMENTO DE
SÃO PAULO.
Arquitetura e desenvolvimento nacional depoimentos de
arquitetos paulistas
. São Paulo: IAB SP, 1979, p. 57 a 59
Depoimentos e Textos
89
Arquitetos de uma Geração
Depoimentos e Textos
90
O primeiro risco é sempre fruto da intuição.
Pode demorar bastante tempo para aparecer. Pode ser
rápida gestação.
Projetado este primeiro esboço num papel, me torno
observador do que está desenhado.
É menos penoso do que observá-lo dentro de minha
cabeça.
Como analista atento, passo a reconhecer o que propus.
Faço perguntas a este tosco croquis.
Quanto mais completas são as respostas mais me
convenço da exatidão da proposta.
É um processo de indagações e solução emergentes, até
um ponto no qual o projeto adquire vida própria
Ele como que ordena as soluções necessárias para seu
aperfeiçoamento.
A partir de então, sobra tempo para identificar quais
projetos e situações anteriores me induziram a determinada
solução.
O fato artístico / intuitivo é reconhecido e então
explicitado.
SANOVICZ, Abrahão. S / Tit. In ASSOCIAÇÃO MUSEU LASAR
SEGALL.
A linguagem do arquiteto: o croquis
. São Paulo: Museu Lasar
Segall, 1984.
O Croquis
Exposição realizada no Museu Lasar Segall - 1984
Depoimentos e Textos
91
Sobre o Desejo - Digo, o Desenho - do
Arquiteto
Luiz Calos Daher
1
Além do desenho técnico, informando ao mestre-de-obra
as dimensões e disposição dos materiais a serem empre-
gados, o arquiteto utiliza vários instrumentos de repre-
sentação do seu projeto. Um exemplo banal é o chamado
desenho de apresentação, com o qual exibe ao cliente o as-
pecto geral da obra que pretende realizar. Menos persuasivo,
existe o desenho em esboços didáticos, no qual o arquiteto
representa as opções desenvolvidas ao resolver o programa
de necessidades. Há quem registre, nesses desenhos ligeiros,
inclusive as soluções não aproveitadas, caso notório de
Oscar Niemeyer. E também há quem prefira explicar seus
projetos com ‘cortes’ e ‘plantas’ esquemáticos.
Há também um tipo notável de desenho de observação,
vez por outra necessário para compreender um sítio ou uma
obra já existente, onde se prevê uma reforma, uma restaura-
ção, ou mesmo um projeto novo. Então o arquiteto inicia por
um desenho de apresentação sensível dos espaços dados, ar-
ranjando sua sensibilidade para a intervenção. Mesmo certas
maquetes, simples, feitas com papel e cartolina sobre a pran-
cheta, no momento em que a equipe do arquiteto discute
uma alternativa, podem ser consideradas desenhos de con-
figuração do espaço desejado. Um modo de prefigurar.
2
Mas não se trata de estabelecer uma tipologia rigorosa
desses saberes do arquiteto (mas que dele: da imaginação
humana). O que se pretende é observar a germinação do tipo
mais instigante de desenho, aquele que nasce do diálogo do
arquiteto (sozinho ou em equipe) com o programa de neces-
sidades para a criação de um novo espaço. Lançados os
dados do problema arquitetônico, como é gerado o projeto?
Sabemos que na cumplicidade da imaginação com a
mão que corre no papel manteiga, há um momento espe-
cífico do pensamento. As formas iniciais surgem tateantes, o
esboço fica mais forte quando o arquiteto escreve pequenos
números, imprime no desenho indicações sobre a escala, as
proporções daqueles rabiscos misteriosos. Minto: misteriosos
para o leigo, porque para o autor são sinais que estavam
apenas adormecidos à espera da sua hora. Assim parece
quando o arquiteto consegue retirá-los do silêncio, num
processo tranqüilo, ou sofrido ou prazeroso.
O Croquis
Depoimentos e Textos
92
O esboço poderá crescer lenta ou rapidamente, definir-se
compacto ou em formas distribuídas. Mas assim que a ima-
gem lançada no papel se torna significativa, parece induzir a
um movimento pendular, qualquer coisa de “equilíbrio ins-
tável permanente”, se a expressão não for pedante ou
pseudo-científica. Porque por um lado o esboço multiplica
seus contornos: raramente é possível abarcar de imediato a
multiplicidade de funções imposta pelo programa de neces-
sidades. Mas por outro lado, o trabalhador da imagem
deverá retornar ao esboço inicial para manter a relação dos
detalhes com o todo: a satisfação das necessidades con-
tingentes não pode prejudicar a integridade e a percepção
primeira da imagem.
O retorno ao esboço aos novos espaços imaginados; e
esta modificação por seu turno sugere novos contornos... o
processo é inesgotável, enquanto o arquiteto não disser: - eis
a imagem que importa materializar.
Será tudo isso um momento da vida das formas, articu-
lação incessante de estruturas multiplicadas e sintetizadas,
encaminhada pela necessidade de ampliar os espaços: o es-
paço real, espaço imaginário, espaço social. Se seu trabalho
frutificar no meio competitivo do mercado capitalista, o ar-
quiteto verá nessas imagens realizadas uma continuidade de
intenções e experiências. Poderá contemplar uma imagem
como previsão em relação à outra.
Deve haver, certamente, quem descreva melhor esse pen-
samento arquitetônico, no qual a lógica verbal interfere de
forma ainda pouco esclarecida. Quando se observa o esboço
vê-se a passagem do indeterminado para o determinado, do
desejado pelo cliente para o desejado por ele e pelo arqui-
teto. Ambos têm papeis representativos na sociedade onde o
projeto aparece. Extrapolando, o esboço mostra aquilo que
uma sociedade formula no plano afetivo e intelectual; como
Fernando Pessoa, o arquiteto pode dizer: “o que está em mim
está pensando”.
3
Bem que se vê que o arquiteto não desenha sozinho -
porque não deseja sozinho. Não pode desenhar a partir de
nada, não é miniatura de Deus. Antes que o lápis desça sobre
o papel manteiga, já a evolução da ciência doou seus cons-
trangimentos; a lei da gravidade, os materiais disponíveis e o
orçamento possível são limites certos à fantasia. O triunfo é
relativo: “O privilégio único da arquitetura, entre todas as
artes, quer ela construa residências, igrejas ou embarcações,
não é abrigar um espaço vazio conveniente e rodeá-lo de
O Croquis
Depoimentos e Textos
93
garantias, mas construir um mundo interior com espaço e luz
determinados segundo as leis de uma geometria, de uma
mecânica e de uma ótica que estão contidas, neces-
sariamente, na ordem natural, mas com a qual a natureza
não faz nada”, diz Henri Focillon.
Na sociedade também lavra o desejo do privilégio, que
ocupará seu espaço entre o esboço e a obra construída. O
desenho “de execução” transmite informações para procedi-
mentos de produção da obra, mas junto carrega a hierarqui-
zação do trabalho no canteiro. Levando em conta a divisão
social do trabalho, esses desenhos são muitos: os desenhos
técnicos do concreto, os desenhos com as indicações das
instalações elétricas e hidráulicas, os desenhos com porme-
nores das vedações, das aberturas, dos equipamentos e
revestimentos. Em situações excepcionais, a divisão do tra-
balho tende a diminuir. Por exemplo: a alvenaria armada dis-
pensa a carpintaria e a armação do concreto, visto que a fer-
ragem é arrumada pelo próprio pedreiro nos vazios dos
blocos. Mas a tendência predominante é pela especialização
das tarefas, ainda quando a maior parte dos componentes da
construção se industrializa.
Nas construções pequenas, é possível constituir relações
de trabalho amenas, porque as encomendas são mais pes-
soais e os prazos mais elásticos. Lembraríamos várias resi-
dências construídas com cerca de meia dúzia de folhas de
desenhos de execução, e número semelhante de operários.
Mas nas construções maiores, os prazos rigorosamente
ditados pelo mercado e a organização “racional” do trabalho
(às vezes socialmente irracional) favorecem o anonimato da
produção e o distanciamento dos produtores da significação
dos seus gestos. Estranhamento. Tanto quanto se sabe, a
reversão desse processo é uma tarefa de economia política,
não exclusiva de economistas e políticos, e vem sendo
possível nos países onde se visualiza um avanço nas relações
de trabalho. Portanto, é inútil cobrar a conta em endereço
errado, atribuindo aos arquitetos uma suposta cumplicidade
com a geometrização opressiva nos canteiros. Quanto mais
não fosse, porque a eles não interessaria desvalorizar os
materializadores dos seus esboços. Não deve ser por acaso
que a Comissão Julgadora da Premiação Anual do IAB / SP
(Instituto dos Arquitetos do Brasil, seção São Paulo), agora em
1983, premiou dois jovens arquitetos (José Mario e Afonso
Rizzi Jr.) cuja obra desempenha uma apropriação amorosa
da experiência dos pedreiros no canteiro de obras. Os
arquitetos, como todos os artistas, desejam agradar à mente
e aos sentidos. E a má apropriação de qualquer trabalho nos
O Croquis
traz uma impressão prévia de desagrado, como lembrou
Manoel Querino ao querido Flavio Motta.
DAHER, Luiz Carlos. Sobre o Desejo - Digo, o Desenho - do Arquiteto.
In ASSOCIAÇÃO MUSEU LASAR SEGALL.
A linguagem do arquiteto: o
croquis.
São Paulo: Museu Lasar Segall, 1984.
Depoimentos e Textos
94
O Croquis
Depoimentos e Textos
95
A Pesquisa na Área de Projeto
Abrahão Sanovicz
Em nosso país, temos de educar a todos, o tempo todo,
para conquistar o direito de fazer um projeto. Projetar, hoje,
é uma aventura.
Talvez nunca tenhamos discutido em profundidade o
projeto como pesquisa.
É um problema que ao final das contas, volta e meia
surge nas faculdades e na cabeça dos arquitetos.
No momento, uma boa parte de nossas pranchetas estão
desativadas, ou brancas. E isto é mau para o país. Na medida
em que estamos trabalhando e que nossas pranchetas estão
ocupadas, cada traço que fazemos significa trabalho para
bastante gente. São os materiais que se usa, é a mão-de-obra
empregada, o transporte necessário, a indústria ativada,
coisas assim. Nosso trabalho é de ponta. Quando dese-
nhamos dois traços, isto ativa toda uma população. É
necessária a consciência do desdobramento dos mesmos. É
um dos aspectos do nosso trabalho.
Por outro lado, projetos, uma vez construídos, são
usufruídos pelas pessoas que os construíram, ou outras. Na
maior parte das vezes, outras...
A partir da obra construída, pode ser feita a leitura de
quais foram as condicionantes ideológicas que nos levaram
a configurá-la. (Houve época quando dizíamos, condi-
cionantes estéticas, filosóficas, sociológicas e essa coisa
toda). Como artistas, intérpretes do contorno social, nós as
traduzimos em espaços a serem construídos e tudo isso que
estamos dizendo com palavras bonitas são os frutos dos
mencionados traços.
Fazemos uma abstração para ser construída cem,
duzentas vezes maior. É como se organiza a nossa cabeça.
Se a organizamos bem, nossa formação está de parabéns; se
há alguma falha neste sentido, tem de ser revista (a nossa
formação ou a nossa cabeça).
Após a obra construída, passeamos no seu entorno, a
apreciamos e dizemos: Que queríamos fazer aqui?
Queríamos que as pessoas quando passassem sob esta
passarela sentissem a referência daquela antiga entrada de
estação. É como se disséssemos: “Isto tem passado, tem
presente, tem futuro” - só para exemplificar.
1
O que é o ato de projetar?
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
Seminário realizado na FAUUSP - 1990
Depoimentos e Textos
96
É uma atividade tão criadora como qualquer outra
atividade humana. Não tem nada de especial nem de
excelso e se insere junto com as demais no processo vital,
tendo algumas características específicas.
Cada vez que somos solicitados a resolver algum
programa e temos de lançar os primeiros esboços no papel,
o que fazemos? Procuramos montar algumas relações no
cérebro. Para montá-las, contamos com certo estado de pré-
consciência do projeto. Elaborado neste estado e por um
mecanismo próprio do cérebro, que é comum a todas as
pessoas, ele atinge o estado da consciência. Rapidamente,
pegamos um papel e um lápis e lançamos um pequeno
esboço. Conhecemos bem o gesto simples de uma cruz que
define uma cidade e que hoje é uma capital.
É muito difícil sermos observadores daquilo que estamos
pensando e que ainda permanece no estado da pré-
consciência.
Porém na medida em que lançamos o esboço no papel,
começamos a fazer perguntas para o mesmo, procurando
respostas aos problemas propostos. Na medida em que essas
respostas atendem aos nossos desejos, paulatinamente temos
a certeza daquele nosso primeiro ato intuitivo: se as respostas
vierem certas, estamos atingindo nosso objetivo; se as
respostas não vierem, ou a pergunta está errada, ou o projeto
precisa ser corrigido.
A partir da certeza que aqueles traços interpretam o
projeto que nós tínhamos - interpretam um determinado
acontecimento social a ser configurado no espaço, ancorado
ou não - podemos então ampliar as escalas do projeto e
usarmos todas as técnicas que conhecemos.
O ato de projetar (a passagem do estado da pré-
consciência para o estado da consciência do projeto) é por
demais conhecido.
O projeto (resultado deste processo) é desconhecido, é a
pesquisa.
Cada vez que nos encomendam um projeto, ficamos
curiosos para saber o que vai surgir de nossas cabeças. Na
distância do tempo e com o projeto já elaborado, dizemos:
“É assim que pensávamos o uso deste espaço?”. Fazemos a
leitura do projeto e descobrimos alguns avanços, ou alguns
recuos. Mas podemos descobrir outras coisas interessantes.
Projetar é sempre um ato individual, sempre alguém dá o
partido do projeto e o seu desenvolvimento é um ato
coletivo.
Como observadores percebemos as condicionantes
anteriores e as informações que nos sensibilizaram e
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
reconhecemos este ato individual, fruto de um pensamento
coletivo, pois, em cada geração os projetos se assemelham.
Esse processo é comum a todos nós. O método para usar
este mecanismo, cada um de nós tem o seu, porém, a
pesquisa, efetivamente, está na configuração do projeto.
Sendo pesquisa, não significa excepcionalidade, ao
contrário, à medida que mais arquitetos se formam a
atividade torna-se “democratizada”: há um avanço, pela
quantidade de arquitetos atuantes.
O movimento moderno tentou colocar um mundo novo
e os projetos eram diferenciados. O esforço deles era muito
maior e foram panfletários, inclusive. Porém, toda essa
linguagem já esta assimilada e trata-se de ir à frente.
Pode-se avançar, como em outros ramos do
conhecimento, desde que se reconheça o objeto do nosso
trabalho - o projeto.
Assim sendo, é uma pesquisa e dela podemos tirar al-
gumas conclusões. Uma pesquisa não é uma atividade dife-
renciada, mas sim pequenas partes que configuram o todo. É
necessário desmistificar o desejo que temos em relação a
este projeto, colocá-lo na sua justa medida e, repito,
“democraticamente” ao lado das outras atividades humanas.
Do contrário, vamos repetir o que alguns de nós fizemos até
agora: tentamos fazer uma interpretação econômica, sem
sermos economistas, tentamos fazer uma interpretação
sociológica, sem sermos sociólogos, e assim por diante.
Temos que fazer a interpretação do projeto como
arquitetos, e ao fazer sua leitura, o reconhecermos
(1) Exemplo destacado de um projeto do arquiteto João Valente, por
ocasião da apreciação de sua dissertação de mestrado “Arquitetura e
espaço Urbano, sendo orientador o Prof. Gian Carlo Gasperini.
SANOVICZ, Abrahão. A pesquisa na área de projeto. In SEMINÁRIO
NATUREZA E PRIORIDADES DE PESQUISA EM ARQUITETURA E
URBANISMO, São Paulo.
Anais ...
São Paulo, FAUUSP, 1990, p 109 a 111
(Texto elaborado, originalmente, como base para discussão no Grupo de
Disciplinas de Projeto de Edificações, 1985).
Depoimentos e Textos
97
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
Pesquisa Enquanto Projeto
Arnaldo Martino
A pesquisa na Universidade formou-se e estabeleceu
larga tradição e sistematização metodológica na área das
ciências, onde os processos do desenvolvimento do
conhecimento apoiam-se no método científico, na
racionalidade, na lógica, na correlação entre causa e efeito.
Na arquitetura e no seu projeto, co-existem componentes
científicos e artísticos e no estudo visando o seu
desenvolvimento deverão co-existir diferentes formas de
pesquisa.
Algumas destas formas de pesquisa, apoiadas mesmo na
metodologia científica, tem contribuído para o
aprimoramento da arquitetura e do seu ensino e realizadas
com alto valor acadêmico.
Trataremos aqui de uma forma específica de pesquisa em
arquitetura relacionada à ação do projeto.
O Projeto como Processo de Descoberta de Conhecimento
Ressalva-se que não se trata de qualquer projeto, ou ao
seu significado restrito de representação projetiva de algo a
ser construído, mas aquele projeto realizado como instru-
mento de descoberta e vanguarda da produção cultural.
O termo projetar contém dois sentidos co-relacionados:
Aquele ligado ao desígnio, ao intento e aquele de “atirar
adiante”, ou seja, lançar à frente novas idéias e soluções.
Pesquisa define-se como o conjunto de atividades que
tem por finalidade a descoberta de conhecimentos novos, no
domínio científico ou artístico.
O projeto elaborado com intenção criadora, percorre em
seu caminho a indagação, o questionamento, o enten-
dimento, a escolha, a proposta e a formalização das idéias
enquanto expressão artística.
Estes caminhos embora pautados por sistematizados
metodologias, envolvem grande número de dados e de
novas situações e tem seus percursos dificilmente repetidos.
Cada caso, cada projeto em arquitetura pode revelar-se um
fato novo. A ação de projetar, a obra realizada, geram novos
conhecimentos, que se acumulam como experiência e base
para outros projetos.
Então, o projeto assim desenvolvido, isto é, que
simultaneamente ao objetivo da obra, tem por finalidade a
descoberta de novos conhecimentos e, enquanto processo
(contínuo, plural, etc.) em arquitetura, deveria ser
compreendido como uma das suas formas mais importantes
Depoimentos e Textos
98
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
e legítimas de pesquisa.
A Arquitetura Enquanto Arte
Define-se arquitetura como a arte de conceber e realizar
(construir) os espaços edificados.
O objetivo da arquitetura é inventar os espaços para as
atividades do homem: lugar, equipamento e abrigo
adequados e belos.
Abrange todas as escalas destes espaços, do pequeno
componente ao urbano.
Na concepção e apreciação da arquitetura
simultaneamente intervêm: a finalidade (utilidade); a técnica
e a estética. E porque ela não se restringe a exigências de
ordem tecnológica ou programática, mas tem permanente
compromisso com a procura da beleza, é uma arte.
A pesquisa enquanto projeto em arquitetura entendida
como arte, necessita de outros métodos além do científico,
porque as idéias, a concepção artística não podem limitar-se
pela lógica linear e racional.
Não deve existir em arte uma teoria que preceda ou
subjugue a prática (estas foram fórmulas do acadêmico e do
totalitarismo).
A pesquisa voltada para a produção da arte está na
própria experimentação da criação. Para tanto, a liberdade
sempre será condição fundamental.
Os processos de criação inventam as soluções, as teorias
tentam explicá-las (e são úteis no sentido de ampliar
socialmente a sua compreensão).
As referências da arquitetura: o belo, o ideário, a técnica,
são parâmetros dinâmicos, cujos conceitos, modelos e
conhecimentos estão permanentemente se modificando.
Portanto a pesquisa em projeto é condição essencial e
intrínseca à idéia de contemporaneidade ou modernidade
em arquitetura.
Admitindo-se que o projeto de arquitetura elaborado com
o objetivo de descobrir novos caminhos e conhecimentos é
uma das formas válidas da pesquisa em arquitetura, deve-se
elaborar uma sistematização de sua apresentação como
trabalho Universitário, ou seja, estas pesquisas centradas no
projeto devem ser formalizadas em uma sistemática da
exposição dos seus processos e resultados, explicitando as
condições, as metodologias e reflexões que levaram às
propostas apresentadas.
Desta forma se ampliará a sua compreensão e será mais
facilmente possível somar as suas experiências ao trabalho
coletivo de criação, tão importante em arquitetura.
Depoimentos e Textos
99
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
O Projeto Enquanto Processo e Enquanto Proposta
Ao projeto é inerente a proposta e pela qualidade e origi-
nalidade destas propostas um projeto pode vir a configurar-se
como uma tese. Assim, o projeto enquanto processo pode es-
truturar-se como pesquisa. O projeto enquanto proposta origi-
nal, defendida e comprovada pode constituir-se em uma tese.
A pesquisa em projeto em nosso meio, já ocorre no
trabalho profissional de projetos cotidianamente realizados,
cujos objetivos extrapolam à obra na medida que são de
altíssimo valor artístico, técnico e cultural e têm contribuído
com a sua experiência ao estudo e ao desenvolvimento da
nossa arquitetura.
Estes trabalhos porém, tem ocorrido a maior parte das
vezes de maneira individual e isolada e de difícil divulgação
e assimilação pela coletividade. Cabe à Universidade
superar estas deficiências, incorporando, documentando e
divulgando estes trabalhos de reconhecido valor.
Um Centro de Pesquisa em Projetos de Arquitetura
A consciência da importância da pesquisa enquanto
projeto e o volume da produção desenvolvida tornarão
imprescindível a criação de um laboratório de projetos -
espaço adequado ao desenvolvimento deste estudos como
parte integrante da FAU.
O Centro de Pesquisa em Projetos ensejará um trabalho
interdisciplinar e de equipe de docentes e pesquisadores,
com a participação de alunos como estagiários, e será
dedicado à prestação de serviços à comunidade e à pesquisa
pura, na forma de projetos experimentais e modernizadores,
voltados ao desenvolvimento da Arquitetura e do
Urbanismo.
Conclusão:
Ressalvado o valor das outras formar de pesquisa em
Arquitetura, aqui procuramos desenvolver o conceito de
pesquisa enquanto projeto, cuja importância vale agora
relevar, pois faz parte da produção dos arquitetos professores
e profissionais envolvidos com o ensino e a pesquisa na FAU,
e cuja experiência desejamos sistematicamente integrada ao
processo Universitário.
MARTINO, Arnaldo.
Pesquisa enquanto projeto.
Texto inédito
elaborado como base para discussão no Grupo de Disciplinas de Projeto
de Edificações, 1985
Depoimentos e Textos
100
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
A Pesquisa no Projeto de Arquitetura e
Urbanismo: Sete Paradigmas
José Cláudio Gomes
Je ne cherche, je trouve.
Picasso
1
Do objeto da pesquisa no projeto.
O objeto é o projeto. Isto é: o operar artístico. O fazer
de arte. Nem é a reflexão “sobre” o projeto, ou “a respeito”
do projeto, mas a própria, fabricação de algo que, ao se
constituir, reflete sobre o objeto constituído: sobre o
projeto. Portanto, o objeto da pesquisa em projeto não
pode ser algo que lhe seja externo ao próprio ato projetual
(à sociologia do projeto, por exemplo, ou à economia
política do projeto, etc.).
Além do mais, como o projeto ainda não é a coisa feita,
o objeto construído, a obra realizada, mas apenas deter-
minações enviadas ao canteiro para que o objeto se cumpra
de acordo com o especificado, isto é, como o projeto é um
simulacro da obra construída segue-se que a tarefa de pes-
quisa em projeto é a de investigação das suas determinações
internas, dos mecanismos internos ao próprio ato projetual.
Assim, o objeto da pesquisa na área do projeto de arquitetura
e urbanismo é a investigação dos elementos constitutivos do
projeto, da forma como eles se articulam para, em de-
terminadas situações específicas, constituírem o modelo a
ser realizado na obra. E, finalmente, o objeto da pesquisa em
projeto é a indagação que o pesquisador remete, per-
manente, ao projeto e cuja resposta alimenta novas
perguntas estabelecendo-se assim, um dialogo sem fim.
2
Da natureza da pesquisa em projeto
Mas este diálogo entre pesquisador e projeto é, perma-
nentemente, atravessado por todo o tipo de indagações do
saber humano, pelas ciências do homem, da natureza, da
vida, desde que respondidas dentro do universo da arte.
A natureza da pesquisa em projeto de arquitetura não é
interdisciplinar como comumente se afirma. É pesquisa es-
pecificamente disciplinar ente ao universo de um saber sin-
gular: do saber artístico. Os saberes parcelares não consti-
tuem um novo saber, por hipótese “interdisciplinar”, mas são
Depoimentos e Textos
101
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
simples peças da carpintaria - artesanato - do obrar artístico.
Assim, a pesquisa em projeto de arquitetura pode se va-
ler, ou não, pode convocar ou prescindir de saberes alheios
e estranhos à fabricação artística do projeto, cuja natureza é
sempre maior, ou menor, do que o conjunto do diversos
saberes parcelares.
3
Do método da pesquisa
A natureza do objeto da pesquisa determina o seu méto-
do próprio de investigação . A pesquisa em arte nunca é dire-
ta e linear. Resultado de múltiplas determinações, o seu
método é incerto, empírico, exploratório, errático tateante.
Procede por aproximações e envolvimentos. Vai da análise à
síntese e volta à analise. Mas pode partir de uma
“iluminação” (Benjamim) e daí organizar uma (ou várias)
linhas de análise. E, nem por isso é menos rigoroso e exato
que o método da ciência.
Além do mais o método em projeto de arquitetura não é
genérico, aplicável a todo e qualquer pesquisador. É proce-
dimento individual, privado e particular na medida que cui-
da do singular e do especifico. Ele se faz e refaz a cada inves-
tida que o pesquisador opera para desvelar o real.
Em termos de procedimento metodológico é sempre mais
prudente deixar que ele flua do problema especifico que
obsessiona o pesquisador colocando o método como
conseqüência do objetivo a ser alcançado do que o
contrário. Pois método é “caminho” a percorrer para se
atingir um “objetivo”.
4
Da linguagem da pesquisa
Como a linguagem do projeto é a linguagem não verbal,
icônica, segue-se que a linguagem da pesquisa em projeto
é a linguagem do discurso visual, não verbal. O que não
quer dizer que não se possa usar do discurso verbal, ou
mesmo, do discurso verbo-visual, mas que a linguagem
privilegiada, enquanto comunicação preferencial da
informação, é a do discurso icônico que se vale, se e
quando necessário, de outras linguagem acessorias que
venham esclarecer, reforçar ou iluminar um discurso cuja
matriz é visual.
Depoimentos e Textos
102
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
5
Da pesquisa e do ensino
O objeto, a natureza e os objetivos da pesquisa e do
ensino são diversos.
A pesquisa busca, fundamentalmente, a produção de co-
nhecimento novo, enquanto o ensino busca a transmissão
para o aluno do conhecimento já elaborado. Além disto, ins-
titucionalmente, pesquisa e ensino têm tempos e ritmos dife-
rentes: o ensino se pauta por horários, cronogramas,
timings
” e sequenciamentos de complexidades crescentes,
ao passo que a pesquisa se pauta por tempos e ritmos sujei-
tos a imprevistos e vicissitudes dificilmente programáveis.
Respeitadas estas especificidades da pesquisa e do ensino
de projeto de arquitetura será sempre possível algum tipo de
aproximação entre ambas atividades. Aproximação em ter-
mos de informação e de intercâmbio de noticias entre o uni-
verso do ensino e o da pesquisa, através do estabelecimento
de sessões programadas, seminários, encontros, etc.
6
Da pesquisa e da instituição
Deverá a pesquisa em projeto estar, necessária e obri-
gatoriamente, subordinada à instituição de ensino (Univer-
sidade) ou pesquisa (Centro de Pesquisa)? Será indispensável
à produção de pesquisa em projeto de arquitetura a sua in-
serção no interior do universo acadêmico? É este universo o
único, ou mais adequado, espaço para a produção de pes-
quisa em projeto de arquitetura? Em que medida pesquisas
em arquitetura se desenvolveram, historicamente, fora dos
quadros da Universidade ou dos Centros de Pesquisa institu-
cionalizados? Em que medida será conveniente investigar-se
formas e espaços alternativos para produção de pesquisa em
projeto de arquitetura? Qual o real incentivo que a Universi-
dade, enquanto instituição, traz à prática da produção de
pesquisa em projeto?
7
Da pesquisa e do exercício profissional
O exercício profissional em projeto de arquitetura é o
instante por excelência do envolvimento total do profissional
com o real. Só por isto esta prática poderá qualificar a
atividade de pesquisa inserindo-a, permanentemente, no real
dos problemas sociais. Mesmo historicamente, ou
principalmente, numa visada histórica, a teoria e a prática do
Depoimentos e Textos
103
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
ensino Universitário só pode encontrar o “material” de
ensino no chão da realidade social e da prática profissional
que lhe é conexa. Isto é: o trabalho do profissional de projeto
é, historicamente, queiramos ou não, gostemos ou não, o
“material”, a “base”, o “fundamento” para o ensino do
projeto de arquitetura nas Instituições Universitárias.
Como conseqüência, não poderia a articulação pesquisa
- profissão ser reformulada em novas bases?
GOMES, José Cláudio. A pesquisa no projeto de arquitetura e
urbanismo: sete paradigmas”. In SEMINÁRIO NATUREZA E
PRIORIDADES DE PESQUISA EM ARQUITETURA E URBANISMO, São
Paulo.
Anais ...
São Paulo, FAUUSP, 1990, p. 29 e 30.
Depoimentos e Textos
104
A Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo
Por uma Crítica Arquitetônica
Pela Recuperação da Dignidade Perdida no
Projeto
Abrahão Sanovicz
Curioso como a branca escuridão das pranchetas (ou
como quiserem, a substituição dos “
layers
” de arquitetura
por joguinhos de computador como passatempo), nos obriga
a fazer um corte e projetar um painel da produção
arquitetônica - mais desenho arquitetônico do que
arquitetura, mercadologia ao invés de qualidade do espaço
construído e menos riqueza programática.
“Eta” ofício complicado - um dia se acerta a mão, no
outro não. Há sempre uma senoidal na produção global do
arquiteto. Daí ao se analisar uma obra isolada de uma
produção, resulta sempre uma conclusão parcial.
É curioso como tendo projetado tanto somos profissionais
de um projeto só, embora haja aparente diversidade entre
eles. Cada um trabalha no universo que conhece, o que mais
gosta ou com qual melhor se identifica - este é o meu
universo.
Houve uma perda de qualidade de arquitetura a partir do
pós-guerra. O movimento pós-moderno surgiu no final dos
anos 50, na Europa, como uma premonição do desequilíbrio
deste violento final de século.
Com a perda gradual de qualidade de vida houve
igualmente uma perda de qualidade no projeto. A diferença
entre um país uniformemente pobre, porém de uma pobreza
digna (se é que se pode chamar a pobreza de digna), e um
país com enormes bolsões de miséria, é que no segundo
caso não há desenho que resista, por mais belo que seja.
Ao fazermos um projeto, a passagem do estado de pré-
consciência para o estado da consciência é o momento da
nossa contribuição pessoal. O antes e o após são infor-
mações, experiências, técnicas e tecnologias à disposição.
Logo, a crítica arquitetônica dando por reconhecidas as
condicionantes visuais (o que se vê), aparelhada com sua
linguagem impressionista, deve mergulhar fundo no espaço
orgânico delimitado pelos contornos do projeto e suas
referências, verificar se há uma correspondência
humanística (palavra gasta mas de significado...), ir em
frente, acreditar no progresso do tecido social, de suas
possibilidades, eis o cerne da arquitetura a analisar. É a ótica
do que chamamos bom desenho e necessita de grande
esforço de expansão, pois trabalhamos ainda pelos vazios do
apenas esboçado movimento moderno. As aparentes
Depoimentos e Textos
105
rupturas com a história escondem de um lado, falta de
clareza ou talento como quiserem, informação, e do outro
escondem interesses que se sobrepõem à qualidade do
espaço construído, sendo ungido, o espaço e o produtor à
sua frente como mercadoria passível de troca. Independente
da sua propriedade pública ou privada a qualidade do
espaço construído é patrimônio da comunidade e da Nação.
Que belas seriam nossas cidades se fossem mais simples.
É doloroso elaborarmos uma crítica arquitetônica pois
estamos analisando produtos e produtores, sendo difícil,
fazendo com que na maior parte das vezes, cercados de alta
retórica, plantas, cortes e fachadas, belas fotos e alguns
créditos, se dê o nome de arquitetura.
O reconhecimento do exercício do objeto do nosso
trabalho é uma atividade humana (já escrevi sobre isso antes,
vide Revista Projeto n° 109, “Pesquisa, um problema na
cabeça dos Arquitetos”, pág. 42).
Nada a temer quando oferecemos o fruto de nossas pran-
chetas para uma crítica mais profunda e não mero des-
critismo ou exaltação. Houve uma “democratização” da
profissão. Esta expansão está gerando a apreciação de arqui-
teturas que aparentemente não se destacam na paisagem. Ao
contrário, com ela dialogam, se prolongam e se acomodam.
Para muitos de nós até de difícil entendimento.
Volto ao já dito, não se trata de proezas tecnológicas de
países melhor equipados. Eis o mistério - ou não mistério.
Com menor ou maior equipamento, como reconhecer um
espaço qualificado?
Todos precisamos do esforço coletivo para nos
individualizarmos, e igualmente romper os engessamentos
que fazem segurar a crítica e, pelo fator tempo, tornam o
processo um atraso ( sempre é um processo, pois não se
parou de riscar nunca).
Aqui há de se reconhecer o elo entre o histórico recente e
a produção das sucessivas gerações a partir do movimento
moderno. Há também de se reconhecer a confusão de leitu-
ra, criada pela mercadologia de um lado e pelo exótico do
outro, algumas dessas manifestações até bem intencionadas,
o que me obrigo a reconhecer sem concessões.
Espero esteja aberta a polêmica. Que cada um mostre os
seus projetos e os seus desenhos, ou como quiserem os seus
desenhos e o que o canteiro produziu.
Para as jovens gerações não basta mais o tubo embaixo
do braço, carregado de informações sobre o papel. Sabem
que ao(s) comitente(s) isto não basta. Projeto e produção
tornam-se um só. Construir além de pré-pensar a construção,
Depoimentos e Textos
106
Por uma Crítica Arquitetônica
paulatinamente passa para o domínio da arquitetura.
Obrigará a repensar programaticamente nosso ensino e
nossas escolas. Será o renascimento delas - das escolas e do
exercício profissional digno.
Mudam-se as relações sociais, mudam-se os projetos. É
um processo e não é tão simples.
Qual a cara desta arquitetura emergente? Quais as
linguagens dos projetos de programas especiais e os do
cotidiano? - Do cotidiano sabemos; os especiais, certamente
não serão excepcionais.
Ainda permanece a pergunta - são várias as caras desta
arquitetura, há que garimpá-las, pois apesar da confusão
criada pela mercadologia, arquitetura continua sendo
questão da cultura.
Agrava o fato de se reduzir este processo de cultura a
mera mercadoria de licitação, orientada por quem “não do
ramo”, como se pudesse adquirir qualidade do espaço em
fardos, donde pela porta de pseudo moralidade da licitação,
o projeto se torna a mesma mercadoria que a mercadologia
oferece. Entre os dois um fio fino de equilibristas.
SANOVICZ, Abrahão. Por uma crítica arquitetônica: pela recuperação
da dignidade perdida no projeto.
Projeto,
São Paulo, nº. 181, dezembro,
1994, pg. 83.
Depoimentos e Textos
107
Por uma Crítica Arquitetônica
E Pur Si Muove
Abrahão Sanovicz
... E ao ser criada foi batizada com o nome de Faculdade
de Arquitetura e Urbanismo.
E, ao sair da Escola Politécnica carregou consigo a
“cadeira” de Urbanismo. O que significa urbanização,
atribuição do arquiteto. Neste quase meio século, a Escola
tem uma história depositada. É impossível para quem
investiga e assume a tarefa de formalizar, tridimen-
sionalmente, o que sucede no espaço social, não sentir os
conflitos que surgem na prancheta/computador.
Faz-se necessária, portanto, uma metodologia quanto ao
específico das nossas atividades, específico que certamente
não se basta com a imaginação criadora, qualidade inerente
a todo ser humano.
As diversas transformações programáticas e os diversos
ciclos de interesse para os quais se dirigiram a Escola, e os
alunos, podem ser alinhados com as diversas fases sócio-
políticas que vive o país.
A partir de um grande interesse pela história e pela teoria
de arquitetura, motivada ainda pelo impacto do movimento
moderno entre as duas grandes guerras, por um lado, e o
interesse pelo “folclore” do outro, na boa tradição mario-
andradina, a Escola passa a estudar o fenômeno Movimento
Moderno no Brasil. E com ascese, ensaia uma continuação
desse processo, através de seus vazios (problemas a resolver).
Esboça-se então, uma linguagem própria. Uma postura ética
lastreando a sua estética. E igualmente a preocupação com
as habitações de menor custo - Casa Popular.
Mas, há uma industrialização acelerada do país e a
necessidade de qualificar uma demanda que se esboça -
com Brasília, até a escala dos exercícios propostos aos
alunos, se ampliam.
Pela matriz bauhausiana, o estudo do objeto, a
ordenação de informações e o planejamento, englobando
urbanismo e paisagismo, substituem “cadeiras artísticas” que
se cursava dentro de grande dose de subjetividade.
A Escola alinha-se com a “
nueva vision
” de um mundo
em transformação. E torna curriculum o que já era
inquietação do corpo discente.
Com coragem, disposição, juventude e um mundo
melhor como desejo na cabeça, seguimos em frente.
As brecadas se sucedem a partir dos anos violentos. E, em
1968 o sonho perdeu espaço para a realidade. A reforma de
62 durou até 69. “Sete anos”. Não é pouco. A matriz
Depoimentos e Textos
108
(Bauhaus) durou quatorze.
Nesse período, da casa popular, o interesse passou para o
mutirão. Invertia-se a proporção de população campo-
cidade para cidade-campo, e se implantava o inchaço e a
metástase urbana, com o desenvolvimento de enormes
bolsões de miséria substituindo a pobreza uniforme, dos
anos 40/50.
Da pobreza à miséria a qualidade programática se
esgarça. O planejamento, com grande dificuldade, tenta
acompanhar esta desordenada ocupação urbana que se
espalha como se fosse mancha de óleo. Desinteressado pela
sua emancipação, o parque industrial se desinteressa pelo
estudo do objeto. Sem o amparo necessário de laboratórios
à disposição (indústria e seus departamentos de pesquisa de
produtos), o desenho industrial se volta para problemas de
linguagem como que dizendo, se não posso produzir um
concerto pelo menos pratico o solfejo ao piano.
A comunicação tem como vento a favor a propaganda,
de um lado e a inquietação artística, do outro.
O tardio conhecimento dos ensaios pós-modernos e a
aparente ruptura com a história próxima, lançam a Escola
num empirismo que a transporta para os anos 90.
Com a queda das grandes ideologias começa-se,
paulatinamente, a recolher os salvados dos diversos fogos e
a reconstruir o enxoval já com as diversas linguagens que se
queira exercitar. Afinal, são exercícios de aula. E esta
exposição é, com certeza, uma primeira manifestação deste
novo desejo...
Texto de Abrahão Sanovicz elaborado para a exposição conjunta dos
trabalhos dos alunos da FAUUSP de Abrahão Sanovicz, em 1996. In
SANOVICZ, Abrahão.
Sistematização crítica da obra de arquitetura
para
obtenção do título de livre docente junto à Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1997, p.226.
Depoimentos e Textos
109
E Pur Si Muove
O “Estado da Profissão”
Abrahão Sanovicz
A perda do prestígio profissional causada pela
transformação do projeto como fato cultural em mera
mercadoria, sujeitando-se às empíricas regras de um
marketing
competitivo e oportunista, leva-me a tecer
algumas considerações:
O étimo da palavra prestígio é magia, encanto, influência
exercida por pessoa, coisa, instituições que provocam
admiração ou respeito. Já a palavra profissão nos remete à
palavra professar, reconhecer publicamente, adotar.
A perda dessa condição, redundando, significa a queda
do reconhecimento público pela instituição, pessoa ou
coisa que provoca ou provocava, no meio social, admiração
ou respeito.
Retomando o parágrafo inicial, a arquitetura representa
para nós um fato cultural porque qualifica o espaço
edificado, balizado pela história acumulada. Assim penso eu.
É preciso entender o que sucede hoje, no chamado
estado avançado de comercialização ou pós-cultura, quando
a civilização é substituída pela comunicação e a informação
transmitida por ondas, somente dialoga entre fonte emissora
e receptora, com privilégio de poucos. A não ser que algum
travesso fure essa onda.
A perda do prestígio gerou uma perda de qualidade na
qual é espoliado o profissional e é espoliado o cliente
quando da confecção da mercadoria projeto: a diferença
consiste em que o primeiro sente a espoliação, o segundo
nem sequer tem consciência dela.Tentamos educar o
arquiteto para atender a uma demanda qualitativamente até,
em certos estabelecimentos de ensino, mas não é feito
esforço idêntico para aquele que está do outro lado da mesa,
seja governo, seja semipúblico ou seja o privado, apesar de
esta qualidade do espaço construído independente de quem
tenha a sua escritura de posse ser patrimônio da Nação. Já
escrevi várias vezes esta frase.
Longo caminho temos a percorrer novamente, ainda mais
quando estamos também reivindicando, além do projeto, a
coordenação técnica da obra, que é uma atividade
preventiva e não uma tentativa de reparar eventuais erros de
interpretação do desenho.
O resto já conhecemos...As pranchetas estão brancas, os
computadores ociosos, etc,etc,etc,...
O que fazer? Educar o cliente, como?
Conscientizar os governos sobre uma legislação com
Depoimentos e Textos
110
regulamentação profissional que contemple igualmente os
aspectos culturais do nosso ofício, bem como as relações
econômicas do mesmo. No plano do ensino, alargar a
formação profissional entendendo que projeto e produção é
uma unidade. A ninguém mais satisfaz o rolo de papel
debaixo do braço ou os disquetes na pasta.
Os organismos representativos da classe que hoje se
encontram multiplicados, cada um com sua vocação de
formação, seja profissional, mercadológica ou cultural,
disputando os poucos espaços entre si, necessitam de um
repensar a respeito dos objetivos comuns que possam nos
levar a uma unidade de atuação nunca se esquecendo que
para que haja a produção de uma estética é necessário uma
atitude ética. Coletiva ou individualmente, pois, para nos
individualizarmos, precisamos do coletivo.
SANOVICZ, Abrahão.
Sistematização crítica da obra de arquitetura
para obtenção do título de livre docente junto à Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1997, p.228.
Depoimentos e Textos
111
O “Estado da Profissão
O que é o projeto.
Abrahão Sanovicz
O projeto é o conjunto de documentos - desenhos me-
moriais quantitativos e qualitativos, e normas de proce-
dimento que ordenem a organização do canteiro de obras.
Os referidos documentos, desenhos, textos, ou outros
quaisquer são o suporte de uma série complexa de decisões
tomadas durante o ato de projetar.
E o que é o ato de projetar - é uma atividade tão criadora
como qualquer outra atividade humana. Não tem nada de
especial nem de excelso e, se insere junto com as demais no
processo vital, tendo algumas características específicas.
Cada vez que somos solicitados a resolver algum
problema e temos que lançar os primeiros esboços no papel,
o que fazemos? Procuramos montar algumas relações no
cérebro. Para monta-las, contamos com certo estado de pré-
consciência do Projeto. Elaborado neste estado e por um
mecanismo próprio do cérebro, que é comum a todas as
pessoas, ele atinge o estado da consciência. Rapidamente,
pegamos um papel e um lápis e lançamos um pequeno
esboço. Conhecemos bem o gesto de uma cruz que define
uma cidade e que hoje é uma capital.
É muito difícil, somos observadores daquilo que estamos
pensando e que ainda permanece no estado de pré-
consciência.
Porém, a medida em que lançamos o esboço no papel,
começamos a fazer perguntas para o mesmo, procurando
respostas aos problemas propostos. Na medida em que essas
respostas atendem aos nossos desejos, paulatinamente temos
a certeza daquele nosso primeiro ato intuitivo: se as respostas
vierem certas, estamos atingindo nosso objetivo; se as
respostas não vierem, ou a pergunta está errada, ou o projeto
precisa ser corrigido.
A partir da certeza que aqueles traços interpretam o pro-
jeto que nós tínhamos - interpretam um determinado acon-
tecimento social a ser configurado no espaço, ancorado ou
não - podemos então ampliar as escalas do projeto e usar-
mos todas as técnicas que conhecemos.
O ato de projetar (a passagem do estado da pré-
consciência para o estado da consciência do projeto) é por
demais conhecido.
O projeto (resultado desse processo) é desconhecido, é a
pesquisa.
Cada vez que nos encomendam um projeto, ficamos
curiosos para saber o que vai sair de nossas cabeças. Na
Depoimentos e Textos
112
distância do tempo e com o projeto já elaborado, dizemos:
“É assim que pensávamos o uso deste espaço?”. Fazemos a
leitura do projeto e descobrimos alguns avanços, ou alguns
recuos. Mas podemos descobrir outras coisas interessantes.
Projetar é sempre um ato individual, sempre alguém dá o
partido do projeto e o seu desenvolvimento é um ato coletivo.
Como observadores, percebemos as condicionantes
anteriores e as informações que nos sensibilizam e
reconhecemos esse ato individual, fruto de um pensamento
coletivo, pois em cada geração os projetos se assemelham.
Esse processo é comum a todos nós.
O método para usar esse mecanismo cada um de nós tem
o seu, porém, a pesquisa, efetivamente está na configuração
do projeto. Sendo pesquisa, não significa excepcionalidade,
ao contrário, à medida que mais arquitetos se formam, a
atividade torna-se democratizada; há um avanço pela
quantidade de arquitetos atuantes.
O movimento moderno tentou colocar um mundo novo
e os projetos eram diferenciados. O esforço deles era muito
maior e foram panfletários, inclusive. Porém, toda essa
linguagem já está assimilada e trata-se de ir em frente.
Pode-se avançar como em outros ramos do
conhecimento, desde que se reconheça o objeto do nosso
trabalho - o projeto.
Assim sendo, é uma pesquisa e dela podemos tirar
algumas conclusões. Uma pesquisa não é uma atividade
diferenciada, mas sim pequenas partes que configuram o
todo. É necessário desmistificar o desejo que temos em
relação a este projeto, colocá-lo na sua justa medida, repito,
“democraticamente” ao lado das outras atividades humanas.
Do contrário, vamos repetir o que alguns de nós fizemos até
agora: tentamos fazer uma interpretação econômica, sem
sermos economistas, tentamos fazer uma interpretação
sociológica, sem sermos sociólogos, e assim por diante.
Temos que fazer a interpretação do projeto como
arquitetos e, ao fazer sua leitura, o reconhecermos.
Este texto sobre o que é ato de projetar, que explica a
existência do conjunto de documentos necessários ao
canteiro e que consta do volume “Sistematização Crítica da
Obra de Arquitetura para Obtenção do Título de Livre
Docente” é minha opinião elaborada sobre este processo.
Dependendo do grau de complexidade de cada projeto,
são necessárias intervenções pontuais de outras técnicas, as
quais reunimos sob o nome de “projetos complementares”,
sempre sob a coordenação do arquiteto autor do projeto,
que verifica as intervenções e o grau de profundidade
Depoimentos e Textos
113
O que é Projeto
máxima, sempre exigidos.
Prever com a devida antecipação, que é a gênese da
palavra projeto é sempre necessário, no geral e no particular
de cada ato interveniente. Temos a certeza de que a obra
acusará e devolverá o “insulto” de um ato mal pensado, não
considerado ou julgado desnecessário.
Porém, aqui quero documentar uma característica do
desenvolvimento de um projeto que não havia feito até então.
Trata-se do momento durante este processo em que se
sente que o projeto adquire vida própria e ele começa a
comandar de dentro, organicamente, o seu seguimento.
O projeto nos diz quais são os pormenores que necessita
para a sua configuração total, tem vida própria. Está nos
trilhos, como costumam dizer. É o segundo momento alta-
mente gratificante do processo.
O terceiro é o canteiro. É onde acontece o pleno de-
sempenho do projeto. No todo e nas suas partes, ordenando
cronologicamente a sucessão de serviços desde a implan-
tação da obra, preparo do solo, sua infra e superestrutura e
os demais serviços, este conjunto de desenhos e textos
orienta e permanece até a consecução final das atividades.
O processo não para aí.
O projeto agora, já com suas diversas fases, acertos e
modificações que se fizerem durante a obra, permanece
como documento de consulta do histórico deste percurso.
Logo, concluímos que, o projeto é o início, o meio e não
o final de um processo pois permanece como objeto de
consulta durante a vida útil do construído, e pelo seu sentido
de permanência. (O investimento, seja na menor célula, é
sempre alto), podemos imaginar a vida útil não só da obra,
mas também do projeto.
Prova escrita, apresentada para obtenção do Título de Livre Docente
junto à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, 1997.
Depoimentos e Textos
114
O que é Projeto
Cinco Décadas de Arquitetura
Abrahão Sanovicz
Público ou privado, a qualidade do espaço construído é
patrimônio da comunidade e da nação. O projeto sempre é
fruto de projeto ou projetos anteriores, leva em conta a
história acumulada, logo, arquitetura é cultura ao lado das
demais manifestações artísticas.
Qual o objetivo - um desenho físico para o espaço social
nas suas diversas formas de intervenção.
O problema a resolver, então, é o da educação.
Educação na escola.
Educação dos órgãos responsáveis pela qualidade do
espaço construído.
Educação da sociedade.
Donde, surge a qualidade dos programas.
Mudam-se as relações sociais, mudam-se os desenhos
dos espaços.
Uma crítica arquitetônica que seja exercida
organicamente, isto é, a partir do interior do projeto e da
obra construída que balize os caminhos a trilhar terá como
aspecto fundamental não o edifício como objeto, mas, sim o
edifício e sua dimensão urbana.
Numa determinada época, com a distância do tempo
vemos que os projetos se assemelham. Arquitetura se
“democratiza”.
A excepcionalidade herdada do movimento moderno,
panfletário inclusive se dissolve e sua contribuição torna-se
patrimônio universal.
O sentido de permanência da arquitetura faz com que
todo esse processo tenha obrigatoriamente um grande
espaço de maturação, sendo o processo lento e contínuo.
Não nos assustemos se eu disser que em um futuro pró-
ximo, e até a médio prazo, o exercício da profissão e a sua
linguagem não serão muito diversos daquela que apenas vi-
mos apontada pelo movimento moderno entre as duas
guerras. Seu repositório programático e formal é denso.
Sendo o exótico fruto de uma mercadologia esdrúxula na
maior parte das vezes, tem a sua embalagem cobrindo a
fraqueza ideológica do produto, alimentado por uma voraz
necessidade editorial. Cabe neste caso menção especial ao
tufão “pós-moderno” hoje apenas uma leve brisa.
Voltando ao início, é sempre um problema de educação.
Esta é uma tarefa penosa e depende de um sistema
econômico-social mais justo, o que nos deixa intranqüilos. A
aparente confusão do desenho das cidades, não é da
Depoimentos e Textos
115
arquitetura, que é um meio - o objetivo é o bem-estar social
através dos espaços qualificados.
Projetar é um ato tranqüilo.
Sua estética surge de uma postura ética.
É o que esperamos desta leitura.
Texto de apresentação da exposição “Cinco Décadas de
Arquitetura”, realizada no Museu Brasileiro da Escultura em
comemoração ao cinqüentenário da Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo, 1988.
Depoimentos e Textos
116
Cinco Décadas de Arquitetura
Organização do Acervo de Projetos
Acervo de Projetos de Abrahão Sanovicz
Uma Proposta de Organização
A Biblioteca da FAUUSP recebeu, como acervo, a obra
do Professor Abrahão Sanovicz, em 2003. São 59 caixas-
arquivo, 44 envelopes, 180 tubos e 6 projetos encaminhados
no formato digital “plt”, onde podem ser identificados os
processos percorridos pelo arquiteto na busca da solução de
quase todos os projetos. Abrahão tinha a qualidade de
manter a memória de quase a totalidade de seus trabalhos.
O material de cada projeto do acervo é apresentado em
diferentes suportes: cópias heliográficas, desenhos em papel
vegetal, desenhos para publicação, fotolitos, desenhos em
papel manteiga ou croquis, o verso de um envelope aberto,
ou um pequeno guardanapo. Não há como organizá-los por
projeto, enquanto material físico, o que só será possível
depois de digitalizados.
O primeiro contato com esse material foi feito por tipo de
embalagem onde estavam acondicionados, a partir daí
elaborou-se uma tabela, por projeto, identificando a
localização no acervo e levantando informações
consideradas fundamentais para a organização da obra: ano
do projeto; tipo; nome do projeto; local; e, observações
quanto ao contratante, finalidade, equipe, e demais
pormenores considerados importantes.
Organização do Acervo de Projetos
119
Organização do Acervo de Projetos
120
1989
1956
1957
1957
1959
1959
Residência
Lazer
Lazer
Concurso
Desenho
Industrial
Lazer
Residência - Trabalho para
disciplina de projeto no 3°
ano da FAU
Colônia de Férias
Colônia de Férias
Projeto do Núcleo
Residencial para a Refinaria
Presidente Bernardes
Distribuidor de Gasolina
AGIP
Iate Clube de Londrina
Campos do Jordão, SP
Ilhabela, SP
Cubatão, SP
Londrina, PR
1o lugar no Concurso patrocinado pela União
Estadual de Estudantes e organizado pelo Grêmio
da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo
Projeto com o colega Júlio Roberto Katinsky.
3o lugar no Concurso, organizado pelo Grêmio da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo.
Projeto com o colega João Rodolpho Stroeter
1o prêmio “Ex-Aequo”, no 3o Concurso
Internacional para Escolas de Arquitetura na IV
Bienal do Museu de Arte Moderna de São Paulo
Projeto em equipe com: Herberto Lira, Hélio
Penteado, Israel Sancovski, Jaguanhara Toledo
Ramos, Jerônimo Esteves Bonilha, João C. Rodolfo
Stroeter, José C. Mello Filho, Júlio Roberto Katinsky
e Lúcio Grinover
Realizado como estagiário sob a orientação do
Professor Marcelo Nizzoli Milão, Itália.
1o lugar no Concurso Nacional de Anteprojetos
para o Iate Clube de Londrina
Co-autoria: arquitetos João Walter Toscano e Julio
Roberto Katinsky
envelope 08
Memorial
1
Memorial
Sistematização
2
Memorial
Memorial
tubo 20
Memorial
caixa 27
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
Organização do Acervo de Projetos
121
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1959
1959
1960**
1960**
1960**
1960**
1960**
1960**
1960**
Edifício
Residencial
Ensino
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Indústria
Apartamento
Edifício
Comercial
Escritórios
Edifício
Residencial
Condomínio Edifício Porto
Grupo Escolar Embaúba
Mimeógrafo
Máquina de café
Indústria de Papel Paraíba
Prates
Lojas IF
Sede da ABDI
Edifício Bela Cintra
Rua Alexandre Martins,
15 no Bairro do Embaré,
Santos, SP
Distrito de Cajobi, São
Paulo, SP
Vila Carmozina, Itaquera,
São Paulo, SP
Rua Prates, São Paulo, SP
Rua Barão de
Itapetininga, São Paulo,
SP
Rua Major Sertório com
Rua Araújo e Avenida
Ipiranga, São Paulo, SP
Rua Bela Cintra, São
Paulo, SP
Apartamentos para veraneio.
Co-autoria:arquiteto Julio Roberto Katinsky
Contratante: IPESP - Instituto de Previdência do
Estado de São Paulo
Co-autoria: arquiteto Julio Roberto Katinsky
** década de 60
** década de 60
Contratante: Indústria de Papel Paraíba
Área total construída 813,40 m
2
** década de 1960
Reforma com área total construída 130,00m
2
** década de 1960
Contratante: Lojas IF
Loja + 5 andares de salões
** década de 1960
Contratante: ABDI
** década de 1960
Contratante: Construtora Ambiente
Área total construída 4.800,00m
2
** década de 1960
Memorial
tubo 12
Memorial
tubo 20
tubo 20
tubo 33
tubo 33
tubo 33
tubo 33
tubo 33
Organização do Acervo de Projetos
122
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1960**
1960**
1960**
1960
1960
1960
1960*
1961
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
e Comercial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Ensino
Comércio
Cultura
Edifício
Residencial
Edifício Floriano Peixoto
Edifício Afonso Pena
Edifício Pernambuco
Edifício Neto de Araújo
Grupo Escolar Atlântida
Padaria Westphalia
Centro Cultural e Teatro
Municipal de Santos
Edifício Lorena
Rua Floriano Peixoto, São
Paulo, SP
Rua Afonso Pena, São
Paulo, SP
Rua Pernambuco, São
Paulo, SP
Rua Bartolomeu de
Gusmão, São Paulo, SP
Distrito de Flórida
Paulista, São Paulo, SP
Rua das Margaridas, 206,
Brooklin Novo, São
Paulo, SP
Av. Senador Pinheiro
Machado, confluência
com Av. Francisco
Manoel, Santos, SP
Alameda Lorena, 968 São
Paulo, SP
Contratante: Construtora Ambiente
Área total construída 1439,10 m
2
** década de 1960
Área total construída 1.280,00m
2
- loja e 7
apartamentos
** década de 1960
Contratante: Construtora Ambiente
Área total construída 4.032,00m
2
** década de 1960
Contratante: Abam Zyman
Co-autoria arquiteto Julio Roberto Katinsky
Contratante: IPESP - Instituto de Previdência do
Estado de São Paulo
Co-autoria: arquiteto Julio Roberto Katinsky
Contratante: Padaria Westphalia
Co-autoria: arquiteto Julio Roberto Katinsky
Contratante: Prefeitura Municipal de Santos,
através da PRODESAN – Progresso e
Desenvolvimento de Santos SA.
* o projeto foi contratado em 1960 e modificado
em 1968 (alteração do terreno e programa)
Co-autoria: arquitetos Julio Roberto Katinsky e
Oswaldo Correa Gonçalves.
Contratante: Construtora Ambiente
Área total construída 6.527,87m
2
tubo 33
tubo 33
tubo 33
tubo 33
Memorial
caixa 10
tubo 53
Sistematização
Memorial
caixa 05
tubo 131
caixa 06
tubo 05 a 08
Organização do Acervo de Projetos
123
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1961
1961
1961
1962
1962
1962
1962
1962*
1962
Desenho
Industrial
Instituição
Pública
Ensino
Instituição
Pública
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Edifício
Residencial
Linha de Mobiliário
Fórum de Guararapes
Ginásio Estadual em Santos
Centro Social do Setor
Politécnico
Linha de Móveis
Linha de Móveis
Projetor de Slides
Linha de Fogões residenciais
Edifício Veiga Filho
Guararapes, SP
R. Aristóteles Menezes,
367 no Bairro do Macuco
Santos, SP
Cidade Universitária
Armando Salles de
Oliveira“ São Paulo, SP
Rua Veiga Filho, São
Paulo, SP
Contratante: Móveis L´Atelier
Co-autoria: arquitetos Julio Roberto Katinsky
Contratante: IPESP - Instituto da Previdência do
Estado de São Paulo
Escultura de Luis Sacilotto
Contratante: IPESP - Instituto da Previdência do
Estado de São Paulo
Contratante: Universidade de São Paulo
Co-autoria: arquitetos Julio Roberto Katinsky e
Oswaldo Correa Gonçalves
Contratante: ESCRIBA - Indústria e Comércio de
Móveis Ltda
Contratante: Móveis Alfa
Co-autoria: arquitetos Julio Roberto Katinsky
Contratante: Indústria e Comércio DAKO do
Brasil S.A.
* e 1963
Obs: projeto da parte externa dos fogões
Contratante: Construtora Ambiente
Área total construída 5.440,00 m
2
tubo 19
caixa 20
tubo 32
caixa 01
Memorial
Sistematização
Memorial
tubo 19
tubo 22
tubo 20
Memorial
caixa 02
tubo 09 e 10
tubo 33
Organização do Acervo de Projetos
124
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1963
1963
1963*
1963
1963
1964
1965
1966
1966
Residência
Residência
Desenho
Industrial
Residência
Edifício
Residencial
Desenho
Industrial
Edifício
Comercial
Edifício
Residencial
Cultura
Residência Luis Jorge
Residência de veraneio
Horácio Salgado
Linha de Mobiliário
Residência Roberto
Namman
Edifício Abaeté
Linha de Mobiliário
Edifício José Paulino
Edifício Praia – Bel
Sede do ICIB – Instituto
Cultural Israelita Brasileiro
***
Jardim Virgínia, Enseada,
Guarujá, SP
Morumbi, São Paulo, SP
Rua Pará, São Paulo, SP
Rua José Paulino, 340,
São Paulo, SP
Av. Epitácio Pessoa,
esquina com a R.
Marechal Rondon, Bairro
do Embaré, Santos, SP
Rua Três Rios, São Paulo,
SP
Contratante: Luis Jorge
*** não há indicação do local
Contratante: Horácio Salgado
Área 147,00 m
2
Contratante: Companhia Teperman de
Estofamentos* e 1964
Contratante: Roberto Namman
Colaborador: Dario Montesano
Contratante: Construtora Ambiente
* o projeto iniciado em 1963 foi concluído em
1968
Painel de Bramante Buffoni
Colaborador: Dario Montesano
Contratante: Play-Arte
Área total construída 1.019,30m
2
Contratante: Condomínio Praia-Bel
Contratante: ICIB – Instituto Cultural Israelita
Brasileiro
tubo 32
tubo 32
tubo 18
tubo 32
Sistematização
Memorial
caixa 03
envelope 03
pasta 32
tubo 03 e 03ª
tubo 19
tubo 33
Memorial
caixa 06
tubo 29
tubo 119
Organização do Acervo de Projetos
125
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1966
1966
1966
1966
1967
1967
1967
1967
1967
1967
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Edifício
Residencial
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Redesenho de Máquina de
Escrever
Cruz e Elementos para
Decoração de Natal
Componíveis Suporte para
Sistema de CV
Edifício Bandeirantes
Sistema de Sinalização para
Praça dos Andradas
Símbolo para Rio Tietê
Símbolo para Cidade de
Joinville
Símbolo para Cidade de
Guarulhos
Símbolo para Cidade de
Natal
Símbolo para Cidade de
Osasco
Rua Bandeirantes, São
Paulo, SP
Praça dos Andradas,
Santos, SP
Contratante: Olivetti do Brasil S. A.
Co-autoria: projeto com arquiteto Julio Roberto
Katinsky e com o designer Bramante Buffoni
Contratante: Construtora Ambiente
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados /
PRODESAN
Colaborador: Cláudio Farah
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados
Contratante: Serete SA Engenharia
Contratante: Serete SA Engenharia
Memorial
caixa 02
tubo 16 e 20
tubo 20
tubo 20
tubo 32
caixa 20
tubo 21
tubo 21
tubo 21
envelope 04
tubo 21
envelope 05
tubo 21
Organização do Acervo de Projetos
126
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1967
1967
1967
1967
1967
1967*
1968
1968
1968
Comunicaçã
o Visual
Comunicaçã
o Visual
Interiores
Lazer
Desenho
Industrial
Desenho
Industrial
Residência
Residência
Residência
Símbolo para Cidade de São
José dos Campos
Símbolo para Banco do
Brasil
Decoração da Boate do
Clube A Hebraica
Clube de Praia do Santos
Futebol Clube
Ventilador de Mesa
Equipamentos Públicos e
Sinalização para os Jardins
de São Paulo / SP
Residência Deri Twiaschor
Residência de Veraneio
Abrahão Scazufca
Residência Nívio Terra
São Paulo, SP
Jardins do Parque
Balneário, Santos, SP
Rua Oswaldo Leite
Ribeiro, 276 Morumbi
São Paulo, SP
Ponta da Praia, Santos, SP
Rua Urbanizadora, 11,
Sumaré, São Paulo, SP
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados
Contratante: Jorge Wilheim Arquitetos Associados
Contratante: A Hebraica
Co-autoria: arquiteto Jorge Wilheim
Contratante: Santos Futebol Clube
Co-autoria: Julio Roberto Katinsky e Oswaldo
Correa Gonçalves
Contratante: Aeromar – Controles Automáticos S.A.
Co-autoria: arquiteto Julio Roberto Katinsky e
designer Bramante Buffoni
Contratante: Prefeitura Municipal de São Paulo
* de 1967 até 1969
Co-autoria: arquiteto Julio Roberto Katinsky e
designer Bramante Buffoni
Contratante: Zélia Deri Twiaschor
Contratante: Abrahão Scazufca
Contratante: Nívio Terra
Área total construída 234,30m
2
tubo 21
tubo 21
caixa 20
Memorial
Memorial
Sistematização
Memorial
caixa 03 e 04
tubo 16
Sistematização
Memorial
caixa 01
tubo 30
Memorial
caixa 58
tubo 27 e 28
Memorial
caixa 59
tubo 01
Organização do Acervo de Projetos
127
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1968
1968*
1969
1969
1969
1969
1969
1970**
Conjunto
Habitacional
Interiores
Ensino
Edifício
Residencial
Conjunto
Residencial
Residência
Conjunto
Residencial
Concurso
Conjunto Habitacional São
Miguel
Especificação do mobiliário
para a Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo
Grupo Escolar em Dumont
Edifício Ubirama
Conjunto Jardim Prudência
Residência Franklin
Kuperman
Conjunto Residencial
Jacatirão
Centro Comercial, Mercado
Municipal do Portão
São Miguel Paulista, São
Paulo, SP
FAUUSP Cidade
Universitária “Armando
Salles de Oliveira” , São
Paulo, SP
Ribeirão Preto, SP
Rua Teixeira da Silva, 392
- São Paulo, SP
Rua Bolívia, Jardim
Prudência, São Paulo, SP
R. Faveiro s/ no, Jardim
do Embaixador, Campos
do Jordão, SP
Rua Jacatirão, Chácara
Monte Alegre, São Paulo,
SP
Rua das Palmeiras com
Av. Kennedy Curitiba, PR
Contratante: Olga Garbin Pinto
Área de 44.492,73m
2
Convite: FAUUSP
* e 1969
Contratante: FECE - Fundo Estadual de Construções
Escolares
Contratante: Julio Cossoy Silva e Carmine Felice de
Março
Área total construída 4.335,47 m
2
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Contratante: Franklin Kuperman
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Área total construída 569,22 m
2
Promotor: IAB PR
** década de 1970
caixa 59
tubo 32
Memorial
Memorial
tubo 33
Memorial
tubo 24, 26 e 66
Sistematização
Memorial
caixa 06
tubo 13 e 26
Memorial
caixa 58
tubo 14 e 14A
caixa 06
tubo 17
Organização do Acervo de Projetos
128
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1970**
1970**
1970
1970
1970
1970
1970
1970
1970*
Interiores
Desenho
Industrial
Instituição
Pública
Concurso
Túmulo
Instituição
Pública
Conjunto
Habitacional
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Escritórios Magnum Turismo
Mesa de Centro
Diretoria Regional Agrícola
Sorocaba
Osaka
Túmulo Clara Blucher
Equipamentos Comunitários
para Conjunto Habitacional
COHAB Bororé
Conjunto Residencial Jardim
Quatro Marias
Edifício Olímpia
Edifício Modular Alfa –
Graúna
Sorocaba, SP
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Jardim das Quatro Marias,
São Bernardo do Campo,
SP
R. Alferes Bonilha,esquina
com R. FreiGaspar, São
Bernardo do Campo, SP
Rua Graúna, 271,
Moema, São Paulo, SP
** década de 1970
Contratante: Alexandre Kalim
** década de 1970
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
Promotor: IAB
Contratante: COHAB
Co-autoria: arquitetos Miguel Juliano e Mássimo
Fiochi
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Apartamento com 3 quartos, pilotis + 3 andares
Área total construída 9.136,00 m
2
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
tubo 99
tubo 99
Memorial
caixa 06
pasta 37
tubo 26 e 51
tubo 23
tubo 178
tubo 25
Memorial
caixa 10
tubo 15
Memorial
tubo 31
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 44, 45, 48,
51 e 52
Organização do Acervo de Projetos
129
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1970*
1970*
1970*
1970*
1970*
1970*
Edifício
Residencial
Escritórios
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício Modular Beta –
Divino Salvador
Sede da Formaespaço
Edifício Modular Gama –
Jurema
Edifício Modular Delta I e II
– Lavandisca
Edifício Modular Epsilon -
Lavandisca
Edifício Modular Dzeta -
Irerê
Av. Divino Salvador, 863,
Moema, São Paulo, SP
***
Av. Jurema, 888, Planalto
Paulista, São Paulo, SP
Rua Lavandisca , 52,
Moema, São Paulo, SP
Rua Lavandisca , 622,
Moema, São Paulo, SP
Rua Irerê, 976, Planalto
Paulista São Paulo, SP
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
*** não há indicação do local
Reforma
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Conjunto de 2 edifícios, cada um com 2 aptos por
andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
1ª fase, ou seja, pilares paralelos à fachada.
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 38, 44, 45,
48, 51 e 52
caixa 10
tubo 11
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 40, 44, 48
e 51
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 41, 44, 48
e 51
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 35
tubo 41, 44, 48
e 51
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 41, 44, 48
e 51
Organização do Acervo de Projetos
130
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1970*
1970*
1970*
1970*
1970*
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Edifício Modular Lambda I e
II – Thomaz Carvalhal
Edifício Modular OmicronI
– Tabapuã
Edifício Modular Eta –
Rodrigues Alves
Edifício Modular Omega I,
II, III e IV – Vieira de Moraes
Edifício Modular Sigma I e II
– Caiubi
Rua Thomaz Carvalhal,
310, Paraíso, São Paulo,
SP
Rua Tabapuã, 281, Itaim,
São Paulo, SP
Av. Conselheiro
Rodrigues Alves, 999, Vila
Mariana, São Paulo, SP
Rua Vieira de Moraes, 60,
São Paulo, SP
Rua Caiubi, 321,
Perdizes, São Paulo, SP
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Conjunto de 2 edifícios, cada um com 2 aptos por
andar, 3 quartos.
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Conjunto de 4 edifícios, sendo 2 com 2 aptos por
andar com 3 quartos; e 2 com 4 apartamentos por
andar com 2 quartos (modulinho).
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Conjunto de 2 edifícios, cada um com 2 aptos por
andar, 3 quartos.
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Sistematização
Memorial
caixa 07
pasta 34 e 36
tubo 44, 48 e 51
Sistematização
Memorial
pasta 34 e 36
tubo 44, 48, 51
e 56
Sistematização
Memorial
caixa 07
pasta 34 e 36
tubo 44, 48, 51
e 56
Sistematização
Memorial
caixa 07
pasta 34 e 36
tubo 44 48 e 51
Sistematização
Memorial
caixa 07
pasta 34 e 36
tubo 44, 48, 51
e 56
Organização do Acervo de Projetos
131
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1970*
1970
1970
1971
1971
1971
1971
1972
Edifício
Residencial
Conjunto
Habitacional
Residência
Concurso
Interiores
Túmulo
Edifício
Residencial
Residência
Edifício Modular Vega –
Campevas
Conjunto Habitacional
Nova Cidade
Residência Frank Gunter
Centro de Artes do Plateau
Beaubourg
Stand Câmara Brasileira do
Livro na Frankfurter
Deutsche Messe
Túmulo Jacob Wolfenson
Edifício Granja Julieta
Residência Mário Penteado
Rua Campevas, 313,
Perdizes, São Paulo, SP
Jundiaí, SP
Via Raposo Tavares, Km24,
Granja Viana, Cotia, SP
Les Halles, Paris, França
Frankfurt, Alemanha
São Paulo, SP
R. Madre Rita Amada de
Jesus, 79 - Granja Julieta,
São Paulo, SP
Rua Gabriel Calfat,
esquina com Rua Afonso
Pena Júnior, Jardim
Leonor, São Paulo, SP
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
* a 1972, período em que foram projetados os
edifícios modulares
Edifício com 2 aptos por andar, 3 quartos.
2ª fase, ou seja, pilares perpendiculares à fachada.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Contratante: Frank Gunter
Co-autoria: arquiteto Paulo Mendes da Rocha
Contratante: Câmara Brasileira do Livro
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Contratante: Mário Penteado
Sistematização
Memorial
caixa 07
pasta 34 e 36
tubo 44, 48 e 51
Sistematização
Memorial
pasta 38 a 40
tubo 26, 31, 47
e 51
Memorial
tubo 54, 55 e 67
Memorial
Memorial
caixa 58
tubo 38
tubo 178
Memorial
Memorial
Organização do Acervo de Projetos
132
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1972
1972
1972
1973
1973
1973
1973
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Edifício
Residencial
Edifício
Residencial
Residência
Edifício
Residencial
Residência
Estação de Piscicultura de
Promissão
Estação de Piscicultura de
Salto Grande
Edifício Fiandeiras
Conjunto Vieira de Carvalho
Residência de Veraneio
Família Sanovicz
Edifício Astúrias
Residência André Mehes
Filho
Barragem de Promissão,
SP
Barragem de Salto
Grande, SP
Rua das Fiandeiras, 479,
São Paulo, SP
Rua Vieira de Carvalho,
São Paulo, SP
Praia do Lázaro,
Condomínio Pedra Verde,
Ubatuba, SP
Praia das Astúrias,
Guarujá, SP
Rua Berlioz, 440, São
Paulo, SP
Contratante: CESP - Centrais Elétricas de São Paulo
S. A.
Co-autoria: arquiteto Carlos Bianco
Contratante: CESP - Centrais Elétricas de São Paulo
S. A.
Co-autoria: arquiteto Carlos Bianco
Contratante: Construtora Carraresi - Dell’Acqua
Ltda.
Edifício com 4 aptos por andar com 2 quartos.
Contratante: Formaespaço S. A. Construções
Co-autoria: arquiteto Eduardo de Almeida
Contratante: residência do arquiteto
Área total construída 6.000,00m
2
Contratante: André Mehes Filho
Paisagismo de Fernando Chacel em 1975
Sistematização
Memorial
caixa 08 e 09
pasta 33
tubo 43 ,46, 50
e 76
Sistematização
Memorial
caixa 08
pasta 33
tubo 43, 46 e 50
Sistematização
Memorial
pasta 27
tubo 49
caixa 07
Sistematização
Memorial
tubo 70
Sistematização
Memorial
caixa 01
tubo 61
Organização do Acervo de Projetos
133
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1973*
1973*
1973*
1973*
1973*
1973*
1974
1974
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Instituição
Pública
Residência
Sub-regional Agrícola
Região de Guaratinguetá
Sub-regional Agrícola
Região de Botucatu
Sub-regional Agrícola
Região de Catanduva
Sub-regional Agrícola
Região de Andradina
Sub-regional Agrícola
Região de Santa Fé do Sul
Usina de Beneficiamento de
Algodão em Aguaí SP
Sub-regional Agrícola
Região de Campinas
Residência de Veraneio
Wautraut Helene Lay
Guaratinguetá, SP
Botucatu, SP
Catanduva, SP
Andradina, SP
Santa Fé do Sul, SP
Aguaí, SP
Campinas, SP
Praia da Fortaleza,
Ubatuba, SP
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
* e 1974
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
* e 1974
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
* e 1974
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
e 1974
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
* e 1974
Contratante: Contratante: Secretaria da Agricultura
do Estado de São Paulo
* a 1978
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
Contratante: Wautraut Helene Lay
Sistematização
Memorial
caixa 10
tubo 71
Sistematização
Memorial
caixa 10
Sistematização
Memorial
caixa 10
Sistematização
Memorial
Sistematização
Memorial
Memorial
caixa 11, 12 e 13
tubo 37, 58,
112, 113 e 114
tubo 73
Memorial
caixa 59
tubo 72
Organização do Acervo de Projetos
134
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1974
1974
1974
1974
1974
1974
1974
1974
1975
1975
Lazer
Edifício
Residencial
Urbanização
Residência
Residência
Residência
Túmulo
Ed. Com.
Residência
Comércio
Play Center
Edifício Teixeira da Silva
Projeto de Reurbanização
do Vale do Anhangabaú
Residência Hans Damann
Residência Carola e Roberto
Junqueira
Residência Hugo Carraresi
Túmulo Dora Goldmann
Edifício Editora Edgar
Blucher
Residência Geni e José
Serber
Loja Marcovan – Rudge
Ramos
São Paulo, SP
Rua Teixeira da Silva, 495
e 497, São Paulo, SP
São Paulo, SP
Granja Viana, Cotia, SP
Morumbi, São Paulo, SP
Jardim Virgínia,
Guarujá, SP
São Paulo, SP
Osasco, SP
Rua Laborian, 161, São
Paulo, SP
Rudge Ramos, São
Bernardo do Campo, SP
Contratante: Play Center
Colaborador: arquiteto José Carlos Olzon
Contratante: Luis Israel Febrot Luis Lustig
Contratante: EMURB - Empresa Municipal de
Urbanização
Como arquiteto chefe da equipe coordenada pelo
arquiteto João Batista Vilanova Artigas
Contratante: Hans Damann
Contratante: Roberto Junqueira
Contratante: Hugo Carraresi
Contratante: Editora Edgar Blucher Ltda
Contratante: José Serber
Reforma
Contratante: Marcovan
tubo 60
Sistematização
Memorial
tubo 66
Memorial
Memorial
tubo 54
tubo 70
Memorial
tubo 65
Memorial
caixa 59
tubo 69
caixa 01
tubo 59
caixa 20
tubo 64
Organização do Acervo de Projetos
135
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1975
1976
1976
1976
1976
1976
1976
1976
Conjunto
Habitacional
Residência
Conjunto
Habitacional
Concurso
Túmulo
Comunicação
Visual
Comunicação
Visual
Interiores
Parque Habitacional CECAP
Serra Negra
Residência Gordon
Parque Habitacional CECAP
Sumaré
Escola Caetano de Campos -
Pré-Escola, Primeiro Grau e
Escola de Formação de
Professores
Túmulo Pauline Della
Gordon
Logotipo Escola Planalto
Logotipo AMERIPAK
Stand Câmara Brasileira do
Livro na Frankfurter
Deutsche Messe
Serra Negra, SP
São Roque, SP
Sumaré, SP
Rua Pires da Motta, São
Paulo, SP
São Paulo, SP
Frankfurt, Alemanha
Contratante: CECAP - Caixa Estadual de Casas para
o Povo
Colaborador: arquiteto José Carlos Olzon
Contratante: Gordon
Reforma
Contratante: CECAP - Caixa Estadual de Casas para
o Povo
Promotor: IAB SP
Co-autoria: arquiteto Paulo Mendes da Rocha
Contratante: Escola Planalto
Contratante: AMERIPAK
Contratante: Câmara Brasileira do Livro
Sistematização
Memorial
caixa 14, 15 e 16
pasta 24
tubo 77
caixa 01
tubo 78
Sistematização
Memorial
caixa 16
pasta 22
tubo 79
tubo 65
tubo 65
Memorial
tubo38
Organização do Acervo de Projetos
136
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1976
1976
1976
1976
1976
1976
1976
1976*
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Urbanização
Desenho
Industrial
Comércio
Residência
EEPG Parque Fernanda
EEPG Vila Maracanã
EEPG Bairro Savoy
EEPG Jardim Beval
Urbanização de gleba em
São Roque
Linha de móveis de
escritório
Loja Forene
Residência Família Sanovicz
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Itanhaém, SP
Barueri, SP
Km 48 da Estrada de
Ibiúna São Roque, SP
***
Rua Alexandre
Marcondes Machado, 33
Butantã, São Paulo, SP
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
20 salas de aula, área construída de 2.481,00m
2
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
12 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
8 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
7 salas de aula, área construída de 791,80m
2
Contratante: Planova
Contratante: Forene S. A. Móveis do Nordeste
Colaborador: José Carlos C. Olzon
Consultor: Michel Arnoult
Contratante: Forene S. A. Móveis do Nordeste
*** não há indicação do local
Reforma
Contratante: residência do arquiteto
* e 1977
Memorial
caixa 16
tubo 90
Memorial
caixa 16
tubo 90
Memorial
caixa 16
tubo 90
Memorial
caixa 17
tubo 90
Memorial
caixa 58
Sistematização
Memorial
caixa 19
envelope 14
tubo 74, 75, 75
A, 85 e 137.
tubo 85
Sistematização
Memorial
pasta 28
Organização do Acervo de Projetos
137
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1977
1977
1977
1977
1977
1977
1977
1977
Conjunto
Residencial
Ensino
Ensino
Indústria
Comunicação
Visual
Ensino
Inst. Ensino
Residência
Unidades residenciais no
Patrimônio do Carmo
EEPG Saco da Ribeira
EEPG Santa Bárbara
Indústria de Tecelagem e
Malharia Grisbi
Logotipo para Indústria de
Tecelagem e Malharia Grisbi
EEPG Vila Cristina
EEPG Jardim Itamaraty
Residência Josif e Zélia Deri
Twiaschor
Lotes 173,175 e 302,
setor B, Patrimônio do
Carmo. Ibiúna, SP
Rua Particular, Sítio São
Benedito, Ubatuba, SP
Rua do Flamengo, com
Rua Espanha e Rua
Portugal, Americana, SP
Pirapora, MG e Camaçari,
BH
Rua Vicente de Paula
Lima, Serrana, SP
Mogi-Guaçu, SP
Campos do Jordão, SP
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
6 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
6 salas de aula
Contratante: Grisbi Nordeste S. A.
Contratante: Grisbi Nordeste S. A.
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
6 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
11 salas de aula, área total construída 1.718,56m
2
Contratante: Josif e Zélia Deri Twiaschor
Área total construída de 240,37m
2
Memorial
caixa: 07
tubo 88
Memorial
caixa 58
Memorial
caixa 58
Sistematização
Memorial
caixa 18
tubo 80 a 83 103
e 104
envelope 07
Memorial
caixa 58
Memorial
caixa 17
tubo 90
caixa 59
pasta 12
tubo 84
Organização do Acervo de Projetos
138
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1978*
1978
1978*
1979
1979
1979
1979
1979
1979
1979
Instituição
Pública
Concurso
Conjunto
Habitacional
Lazer
Lazer
Residência
Lazer
Túmulo
Hotel
Túmulo
Sede Regional DER 6
Sede da SBPC Sociedade
Brasileira para o Progresso
da Ciência
Vila Residencial de Porto
Primavera
Área de lazer esportivo –
campo de futebol e
equipamentos
Associação Atlética Porto
Primavera
Residência Signori
Associação Atlética Rosana
Túmulo Tudor Dratico
Hotel Porto Primavera
Túmulo José Wassermann
Via Dutra, Taubaté, SP
Vila Mariana, São Paulo,
SP
Porto Primavera, Pontal
do Paranapanema, SP
Porto Primavera, Pontal
do Paranapanema, SP
Porto Primavera, Pontal
do Paranapanema, SP
São Paulo, SP
Rosana, SP
São Paulo, SP
Porto Primavera, Pontal
do Paranapanema, SP
São Paulo, SP
Contratante: DER Departamento de Estradas de
Rodagem do Estado de São Paulo
* e 1979
Colaborador: José Carlos Olzon
Promotor: IAB SP
Contratante: CESP - Companhia Energética de São
Paulo
* e 1979
Contratante: CESP - Companhia Energética de São
Paulo
Contratante: CESP - Companhia Energética de São
Paulo
Área total construída 242,96m
2
Contratante: CESP - Companhia Energética de São
Paulo
Contratante: CESP - Companhia Energética de São
Paulo
Memorial
caixa 21
tubo 92, 93 e 94
Sistematização
caixa 59
tubo 91
Sistematização
Memorial
caixa 22
tubo 43, 97,98 e
134
Memorial
caixa 22 a 25
Memorial
caixa 22 a 25
tubo 99
Memorial
caixa 22 a 25
tubo 88
Memorial
caixa 22 a 25
tubo 88
Organização do Acervo de Projetos
139
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1979
1979
1979
1980**
1980**
1980**
1980
1980
1980
1981
Edifício
Residencial
Residência
Residência
Residência
Comunicação
Visual
Desenho
Industrial
Saúde
Residência
Residência
Concurso
Edifício Santo André
Residência Fernando
Gonçalves
Residência Fernando Ramos
Gonçalves
Cobertura Bety e Júlio
Logotipo Clube da Gravura
Elementos pré-moldados de
concreto
Centro de Farmacologia
Clínica da Escola Paulista de
Medicina
Residência Maia Rosenthal
Residência Raul
Wassermann
Reurbanização do
Anhangabaú
Rua Itaipava, São Paulo, SP
Alameda Equador, 541,
Alphaville, Barueri, SP
Alameda Equador, 541
Alphaville, Barueri, SP
Rua Ministro Godoy, 627,
São Paulo, SP
Rua Pedro de Toledo, São
Paulo, SP
Estância Parque Atibaia,
Atibaia, SP
***
São Paulo, SP
Área total construída 1.992,00m
2
Contratante: Fernando Gonçalves
Reforma
Colaborador: José Carlos Olzon
Contratante: Fernando Ramos Gonçalves
Contratante: Bety e Júlio
** década de 1980
Reforma
** década de 1980
Contratante: Reago Indústria e Comércio S.A.
Contratante: Escola Paulista de Medicina
Contratante: Maia Rosenthal
Área total construída de 314,25m
2
Contratante: Raul Wassermann
*** não há indicação do local
Promotor: IAB SP
tubo 99
Memorial
tubo 99
caixa 27
tubo 117
caixa 27
tubo 120e 128
tubo 161
tubo 177
Memorial
tubo 36
Sistematização
Memorial
tubo 129
caixa 59
tubo 123 a 127
Organização do Acervo de Projetos
140
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1981
1981
1981
1981
1981
1981
1982
1982
Ensino
Ensino
Residência
Residência
Transportes
Normas
Ensino
Ensino
EEPG Vila Albertina
EEPG COHAB IV
Residência Arnaldo
Goldman
Residência Paulo Sérgio
Raschkovsky
Terminal Rodoviário de
Passageiros de Campos do
Jordão
Elaboração de normas de
projetos e especificações de
Arquitetura e equipamento
de interiores para o caderno
de edificações do D.A.S.P
Escola embrião para
conjunto habitacional em
Bragança Paulista
Escola embrião para
conjunto habitacional em
Ribeirão Preto
Campos do Jordão, SP
Carapicuíba, SP
Loteamento Morada das
Fontes, Itatiba, SP
Loteamento Morada das
Fontes, Itatiba, SP
Campos do Jordão, SP
Bragança Paulista, SP
Ribeirão Preto, SP
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
11 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
26 salas de aula
Contratante: Arnaldo Goldman
Contratante: Paulo Sérgio Raschkovsky
Contratantes: Prefeitura Municipal de Campos do
Jordão e D.E.R.- Departamento de Estradas de
Rodagem
Contratante: Escritório Figueiredo Ferraz,
Consultoria e Engenharia de Projetos Ltda
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Embrião de 6 salas de aula com previsão de
ampliação para 12
Memorial
caixa 25
tubo 117
Memorial
caixa 26
tubo 117
Memorial
tubo 130
Memorial
tubo 130
Memorial
tubo 131
Memorial
Memorial
Memorial
caixa 33
Organização do Acervo de Projetos
141
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1982
1982
1982
1982
1982
1982
1983
1983
1983
Ensino
Ensino
Residência
Agência
Bancária
Residência
Interiores
Associação
Profissional
Ensino
Serviço
Escola embrião para
conjunto habitacional em
Barueri
Escola embrião para
conjunto habitacional em
Cotia
Residência Paulo Sérgio
Raschkovsky
BANESPA Lindóia
Residência Cilene e Raphael
d´Amico
Stand Reago
Sede do Sindicado dos
Engenheiros no Estado de
São Paulo
EEPG Conjunto
Habitacional dos
Metalúrgicos do ABC
Consultório Dr. Jorge Kignel
Barueri, SP
Cotia, SP
Rua Jesuíno Maciel,
1.479, São Paulo, SP
Lindóia, SP
São Paulo, SP
Parque Anhembi, São
Paulo, SP
Rua Genebra, São Paulo,
SP
Ipiranga, São Paulo, SP
Rua Oscar Freire, 465, cj.
11, São Paulo, SP
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: Paulo Sérgio Raschkovsky
Contratante: BANESPA - Banco do Estado de São
Paulo
Contratante: Raphael d´Amico
Reforma
Contratante: Reago Indústria e Comércio S.A.
II Feira Nacional da Habitação
Contratante: SEESP - Sindicado dos Engenheiros no
Estado de São Paulo
Reforma
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
14 salas de aula
Colaborador: Fausto C. de Lima
Contratante: Dr. Jorge Kignel
Reforma
Memorial
Memorial
Memorial
Memorial
caixa 27
tubo 135
tubo 132
Memorial
tubo 132
caixa 10
Memorial
caixa 28
tubo 149
Organização do Acervo de Projetos
142
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1983
1983
1983
1983
1983
1984
1984
1984
1984
Transportes
Comunicação
Visual
Restauro e
Reciclagem
Comércio
Comunicação
Visual
Restauro
Lazer
Comércio
Comércio
Aeroporto de Belo
Horizonte
Identidade Visual da
Minemax Maceió
Restauro de trapiche no
Centro Histórico de Maceió
para instalação de loja de
artesanato MINEMAX
Loja de Artesanato
Bilboquet
Identidade Visual Bilboquet
Centro Histórico de
Ubatuba
Terminal para Turismo em
massa na praia do
Perequê-açu
Mercado de Peixes na Ilha
dos Pescadores
Loja de doces Sweet Virginia
Belo Horizonte, MG
Maceió, AL
Rua Álvaro Ramos,
Brooklin, São Paulo, SP
Ubatuba, SP
Ubatuba, SP
Ubatuba, SP
***
Contratante: Escritório Figueiredo Ferraz,
Consultoria e Engenharia de Projetos Ltda
Reforma
Contratante: MINEMAX - Comércio e
Representações Ltda.
Contratante: MINEMAX - Comércio e
Representações Ltda.
Contratante: Loja de Artesanato Bilboquet
Contratante: Loja de Artesanato Bilboquet
Contratante: FUMEST Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias
Contratante: FUMEST Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias
Contratante: FUMEST Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias
Contratante: Mayer Rosenthal
*** não há indicação do local
Reforma
caixa 18
tubo 143
Memorial
envelope 25
tubo 137, 139 e
140
Memorial
caixa 29 e 30
pasta 01
tubo 140, 170,
171 e 172
caixa 20
tubo 137
envelope 05
Memorial
caixa 32
Memorial
caixa 32
tubo 142
Memorial
tubo 141
Organização do Acervo de Projetos
143
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1984
1984
1984
1984
1984
1984
1984
1984*
1984*
Ensino
Ensino
Residência
Reciclagem
Concurso
Concurso
Ensino
Ensino
Ensino
EEPG Jardim Maria Helena
EEPG Jardim Pombeba
Residência Antero Aceiro
Conjunto Grande-Hotel,
Projeto de Balneário e
Centro de Convenções
Biblioteca Pública do Rio de
Janeiro
Memorial a Getúlio Vargas
EEPG Jardim Itaquiti
EEPG Jardim Cabuçu
EEPG Jardim das Rosas
Barueri, SP
Vila Fátima - São Vicente,
SP
Rua 4, Quadra F, Lote 4
Loteamento Dom
Henrique II – Cotia, SP
Campos do Jordão, SP
Rio de Janeiro, RJ
Rio de Janeiro, RJ
Barueri, SP
Guarulhos, SP
Espírito Santo do Pinhal,
SP
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: Antero Aceiro
Contratante: FUMEST Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias
Promotor: IAB RJ
Promotor: IAB RJ
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
11 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
* e 1985
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
* e 1985
Memorial
caixa 27
tubo 117 e 118
Memorial
Memorial
tubo 149 e 153
Memorial
caixa 38
pasta 23
tubo 145 a 148
tubo 144 e 149
envelope 13
tubo 144
Memorial
caixa 17
Memorial
Memorial
tubo 149 e 152
Sistematização
Organização do Acervo de Projetos
144
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1984*
1985
1985
1985
1985
1985
1985
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Instituição
Pública
Equipamento
de Saúde
Lazer
Escola Técnica
Profissionalizante Tatuapé
EEPG Jardim Corumbá,
Belas Artes
EEPG Caucaia do Alto
EEPG Conjunto
Habitacional Serra Verde
INOCOOP
Fórum de Bragança Paulista
Unidade Básica de Saúde
Vila Califórnia
Terminal para Turismo em
massa na praia da Enseada
Tatuapé, São Paulo, SP
Itanhaém, SP
Cotia, SP
Taboão da Serra, SP
Bragança Paulista, SP
São Paulo, SP
Jardim Raphael, Bertioga,
SP
Contratante: SENAC - Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial/ Administração Regional
no Estado de São Paulo
* e 1985
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
8 salas de aula
Contratante: CONESP - Companhia de
Construções Escolares do Estado de São Paulo
8 salas de aula
Contratante: CDH - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional do Estado de São
Paulo
Contratante: CDH - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional do Estado de São
Paulo
Programa Metropolitano de Saúde
Contratante: FUMEST Fomento de Urbanização e
Melhoria das Estâncias
Paisagismo de Fernando Chacel
Foi feito estudo para solução em pré-moldado de
concreto
Memorial
tubo 151
Memorial
Memorial
caixa 32
tubo 152
Memorial
caixa 32
tubo 152
Sistematização
Memorial
caixa 33
pasta 43
tubo 156, 157 e
158
Memorial
caixa 33
tubo 160
Sistematização
Memorial
caixa 34
pasta 44
tubo 162
Organização do Acervo de Projetos
145
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1985
1986
1986
1986
1986
1986
1986
1986
Residência
Ensino
Ensino
Ensino
Serviços
Saúde
Ensino
Agência
Bancária
Residência Edgard Blücher
EEPG Jardim São Fernando
EEPG Distrito Raposo
Tavares
EEPG Jardim Campos
Estacionamento Cuiabá
Unidade Básica de Saúde
Vila Paranavaí
EEPG Jardim São Nicolau
BANESPA Recife
Rua Desembargador
Mamede, 185, Jardim
América, São Paulo, SP
Ferraz de Vasconcelos, SP
Vargem Grande Paulista,
SP
Jardim Bartira. São Miguel
Paulista, São Paulo, SP
Praça Alencastro, Cuiabá,
MT
Mauá, SP
Rua Aníbal Falcão, Jardim
Aurora, Itaquera, São
Paulo, SP
Rua Conde da Boa Vista
Com Rua do Hospício
Recife, PE
Contratante: Edgard Blücher
Contratante: CONESP -Companhia de Construções
Escolares do Estado de São Paulo
10 salas de aula
Contratante: CONESP -Companhia de Construções
Escolares do Estado de São Paulo
6 salas de aula
Contratante: CONESP -Companhia de Construções
Escolares do Estado de São Paulo
Contratante: Construtora Wysling Gomes Ltda
Contratante: CDH - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional do Estado de São
Paulo
Programa Metropolitano de Saúde
Contratante: CONESP -Companhia de Construções
Escolares do Estado de São Paulo
18 salas de aula
Contratante: BANESPA - Banco do Estado de São
Paulo
Área total construída de 2.371,70m
2
Memorial
tubo 154 e 155
Memorial
caixa 33
tubo 159
Memorial
caixa 33
Memorial
tubo 159
tubo 161
Memorial
caixa 33
tubo 161
Memorial
caixa 36
tubo 163
Memorial
caixa 34 e 35
pasta 29
tubo 164, 165 e
166
Organização do Acervo de Projetos
146
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1986
1986
1988
1988
1988
1988
1988
1988
Restauro e
Reciclagem
Comunicação
Visual
Residência
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Conjunto
Habitacional
Restauro de fábrica em
Recife para instalação de
loja de artesanato
MINEMAX
Identidade Visual da
Minemax Recife
Residência de Veraneio
Oswaldo Ferrero
EEPG Dona Belinha
EEPG de Ambuitá
EEPG Alice A. Sousa
EEPG Jardim Iglesias II
Núcleo Habitacional Jardim
Calux
Recife, PE
Praia do Guaecá, São
Sebastião, SP
Jardim Tranqüilidade,
Guarulhos, SP
Itapevi, SP
Sumaré, SP
Rua São Caetano com
Rua Buri, Jandira, SP
São Bernardo do Campo,
SP
Contratante: MINEMAX - Comércio e
Representações Ltda.
Contratante: MINEMAX - Comércio e
Representações Ltda.
Contratante: Oswaldo Ferrero
Contratante: FDE - Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Projeto de Ampliação
Contratante: FDE - Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Projeto de Ampliação
Contratante: FDE - Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Projeto de Ampliação
Contratante: FDE - Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Projeto de Ampliação de 2 salas de aula
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Contratante: CDH - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional do Estado de São
Paulo
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Memorial
caixa 30 e 31
tubo 167, 168 e
169
tubo 168
tubo 102
Memorial
tubo 118
Memorial
tubo 89
Memorial
tubo 89
Memorial
caixa 35
tubo 89
Memorial
caixa 39
Organização do Acervo de Projetos
147
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1988
1988
1988
1988
1988
1988
1988
1988
1988
1988
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Ensino
Instituição
Pública
Residência
Ensino
EEPG Canal 8, Cristo Rei
EEPG Conjunto
Habitacional Solo Sagrado
EEPG Jardim Saltense
EEPG Conjunto
Habitacional Nosso Teto
EEPG Jardim Novo
Horizonte
EEPG Vila Nova Esperança
EEPG Jardim Guaíba
Usina de Beneficiamento de
Algodão em Aguaí
Residência Elza Marba
EEPG Bairro do Cajurú
São José do Rio Preto, SP
São José do Rio Preto, SP
Salto, SP
Catanduva, SP
Sorocaba SP
Sorocaba, SP
Sorocaba, SP
Aguaí, SP
Jardim Europa - Campos
do Jordão, SP
Sorocaba, SP
Colaborador: arquiteto Luiz Soares
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
4 salas de aula e previsão de ampliação para 10
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de
São Paulo
Contratante: Elza Marba
Área total construída 186,58m
2
Contratante: DOP - Departamento de Edifícios e
Obras Públicas
Memorial
tubo118
Memorial
tubo 118
Memorial
caixa 36
tubo 89
Memorial
tubo 89
Memorial
Memorial
tubo 95 e 96
Memorial
tubo 96
Memorial
tubo 37, 71 e 73
Memorial
tubo 107, 108 e
138.
Memorial
tubo 121
Organização do Acervo de Projetos
148
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1988
1988
1989
1989
1989
1990
1990
1990
1990
Ensino
Túmulo
Túmulo
Ensino
Residência
Ensino
Concurso
Túmulo
Túmulo
Escola Técnico
Profissionalizante SENAC
Jundiaí
Túmulo Beila Kauffmann
Wassermann e José
Wassewrmann
Túmulo Clarice Lief
Wassermann
EEPG Distrito Nova
Aparecida
Residência de Veraneio
Steinbaum
CEFAM - Centro de
Formação e
Aperfeiçoamento do
Magistério em Itapecerica
da Serra
Edifício Sede para FAPESP
Túmulo Frajda Ruchlejmer
Túmulo Izrael Ruchlejmer
Rua Coleta Ferraz de
Castro, Jundiaí SP
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Campinas, SP
Praia de Fortaleza,
Ubatuba, SP
Itapecerica da Serra, SP
Rua da Consolação, São
Paulo, SP
São Paulo, SP
São Paulo, SP
Contratante: SENAC - Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial/ Administração Regional
no Estado de São Paulo
Co-autoria: arquitetos Edson Jorge Elito e Luiz
Soares
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
15 salas de aula
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Contratante: Wolf Steinbaum
Contratante: CDHU - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Estado de São Paulo
Promotor: IAB SP
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Sistematização
Memorial
caixa 36 e 37
pasta 30
tubo 175, 175 A
tubo 178
tubo 178
Memorial
caixa 38
tubo 115
tubo 177
Memorial
tubo 181, 182 e
183
tubo 178
tubo 178
Organização do Acervo de Projetos
149
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1991
1991
1991
1991
1992
1992
1992
Ensino
Urbanização
Interiores
Ensino
Ensino
Restauro
Ensino
Serviços
EEPG Prof. Guines A.
Morales
Loteamento em Salto
Conjunto Restaurante,
Lanchonete, Cozinha e
Refeitório, no Edifício
Escolar Técnico-
Profissionalizante - SENAC
Moda e Beleza
EEPG Bairro 120
EEPG Conjunto
Habitacional Ipatinga
EEPSG Conselheiro
Crispiniano
Sede da AFAEL – Associação
dos Fabricantes de Alumínio
Neves Paulista, SP
Salto, SP
Av. Francisco Matarazzo,
São Paulo, SP
Santana de Parnaíba, SP
Sorocaba, SP
Av. Timóteo Penteado
com Rua Nossa Senhora
Mãe dos Homens,
Guarulhos, SP
São Paulo, SP
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
12 salas de aula
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Contratante: CDHU - Companhia de
Desenvolvimento Habitacional e Urbano do
Estado de São Paulo
Contratante: SENAC - Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial
Reforma
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
14 salas de aula
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Restauro da Escola do arquiteto João Batista
Vilanova Artigas e ampliação
Contratante: AFAEL
Reforma, área construída 1.006,74 m
2
Memorial
caixa 38
tubo 186
Memorial
tubo 179
Memorial
caixa 40 e 41
tubo 180
Sistematização
Memorial
caixa 40
Memorial
tubo 187 e 188
Sistematização
Memorial
caixa 41
tubo 62
Organização do Acervo de Projetos
150
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1992
1994
1994
1995
1995
Instituição
Pública
Esporte e
Lazer
Ensino
Conjunto
Habitacional
Conjunto
Habitacional
Centro Operacional e
Almoxarifado Regional de
Santana
Centro Social do Sesc -
Araraquara
EEPG Jd. Brasília III
Conjunto Habitacional
Pascoal Melantônio
Conjunto Habitacional
Celso dos Santos
Av. Luiz Dumont Vilares
com Lucas de Freitas
Azevedo e Av. Gal Ataliba
Leonel, Vila Gustavo, São
Paulo, SP
Av. Presidente Vargas com
Rua Castro Alves,
Araraquara, SP
Parque Savoy City III, São
Paulo, SP
Guarapiranga, São Paulo,
SP
Guarapiranga, São Paulo,
SP
Contratante: TELESP - Telecomunicações de São
Paulo S.A.
Área total construída 13.417,04m
2
Contratante: SESC - Serviço Social do Comércio
Co-autoria: arquiteto Edson Jorge Elito
Paisagismo: Augusto Rittes Garcia
Contratante: FDE -Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
Contratante: a Prefeitura Municipal de São Paulo,
Secretaria da Habitação de Desenvolvimento
Urbano
Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do
Guarapiranga.
Co-autoria: Edson Jorge Elito, João Honório de
Mello Filho, Marcos José Carriho e Luiz Guimarães
Soares
Paisagismo: Augusto Rittes Garcia
Contratante: a Prefeitura Municipal de São Paulo,
Secretaria da Habitação de Desenvolvimento
Urbano
Programa de Saneamento Ambiental da Bacia do
Guarapiranga
Co-autoria: Edson Jorge Elito, João Honório de
Mello Filho, Marcos José Carriho e Luiz Guimarães
Soares
Paisagismo: Augusto Rittes Garcia.
Memorial
caixa 42 a 47
pasta 35
Sistematização
Memorial
caixa 49 a 54
Memorial
Sistematização
Memorial
caixa 56
Sistematização
Memorial
caixa 57
Organização do Acervo de Projetos
151
Ano Projeto Local Observações AcervoTipo
1996*
1996*
1998
Ensino
Ensino
Instituição
Pública
EEPSG Prof. José Quevedo,
Bairro do Cajurú
EEPG Parque Piratininga II
Poupa Tempo Campinas
Sorocaba, SP
Itaquaquecetuba, SP
Avenida Francisco
Glicério, Campinas, SP
Contratante: FDE - Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
* e 1997
Contratante: FDE – Fundação para o
Desenvolvimento da Educação
8 salas de aula – área total construída 1.734,84m
2
Co-autoria: Edson Jorge Elito
* e 1997
Contratante: Companhia de Processamento de
Dados do Estado de São Paulo - PRDESP
Área total construída 3581,51 m
2
Reforma
Co-autoria: Edson Jorge Elito
Memorial
Memorial
Memorial
(1) Memorial para Obtenção do Título de Livre Docente
(2) Sistematização Crítica da Obra para Obtenção do Título de Livre
Docente
Alguns projetos que não têm registro de data, local e
contratante, estão listados na próxima tabela.
Organização do Acervo de Projetos
152
LIAC – Laboratório de Patologia Clínica
Loteamento em Salto
Loteamento em Tietê
Embalagem dos Biscoitos Capivari
Azulejo; CIM – Estruturas Metálicas; Congresso; Concurso Varig;
Furest; Lajal – Ventilex; Loja – Na Pesca; Loja Objetos –
Novidades 141; Móveis Tepermann; Psicopedagogia Ltda;
Construtora Ambiente; Dinâmica; Estúdio 44; Foresa; Foton –
Lúmen; Gráfica Furest Lajal; Magnum; Nacional Clube;
Novidades 141; Paineiras do Morumbi; Painel Fernando Lemos;
Planimpress; Planus S.A.; Suissa ; Teatro Cacilda Becker
Catálogo Escriba e convites; Certificado FIESP ABDI; Eletrocolor;
Foresa (impressos); Planus SA
Identidade Visual “Dinâmica”
Capa de Disco e Folheto “Estelinha Epstein”.
Fernando A. Ramos Engenharia Civil, Assessoria Técnica e
Econômica
Identidade Visual Escritório Abrahão Sanovicz
Portfólio Escritório Abrahão Sanovicz
Identidade Visual Magnum
tubo 189 – não localizado no acervo
tubo 179 – não localizado no acervo
tubo 179 – não localizado no acervo
envelope 03
envelope 04
e 05
envelope 06
envelope 09
envelope 10
envelope. 12
envelope 15, 20,
21, 22, 23, 24 e
26.
envelope 16
e 17
Projeto Observações AcervoTipo
Serviços
Urbanização
Urbanização
DI e Comunicação
Visual
Símbolos e
Artes Finais
Comunicação Visual
Comunicação Visual
Comunicação Visual
Comunicação Visual
Comunicação Visual
Comunicação Visual
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos
Escola de Artesanato do MAM
Desenhos de reunião
Desenhos a pastel
Outros desenhos
Gravuras
Projetos
154
160
168
172
192
199
Desenhos da Escola de Artesanato do MAM
fonte de todos os desenhos: acervo de Diva Sanovicz
Escola de Artesanato do MAM
Desenhos | Gravuras | Projetos
155
Desenhos | Gravuras | Projetos
Escola de Artesanato do MAM
156
Escola de Artesanato do MAM
Desenhos | Gravuras | Projetos
157
Desenhos | Gravuras | Projetos
158
Escola de Artesanato do MAM
Escola de Artesanato do MAM
Desenhos | Gravuras | Projetos
159
Desenhos | Gravuras | Projetos
Escola de Artesanato do MAM
160
Escola de Artesanato do MAM
Desenhos | Gravuras | Projetos
161
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos de reunião
162
Desenhos de reunião
fonte de todos os desenhos: acervo de Diva Sanovicz
Desenhos de reunião
Desenhos | Gravuras | Projetos
163
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos de reunião
164
Desenhos de reunião
Desenhos | Gravuras | Projetos
165
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos de reunião
166
Desenhos de reunião
Desenhos | Gravuras | Projetos
167
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos de reunião
168
Desenhos de reunião
Desenhos | Gravuras | Projetos
169
Desenhos | Gravuras | Projetos
170
Desenhos a pastel
fonte de todos os desenhos: acervo de Diva Sanovicz
Desenhos a pastel
Desenhos | Gravuras | Projetos
171
Desenhos | Gravuras | Projetos
Desenhos a pastel
172
Desenhos a pastel
Desenhos | Gravuras | Projetos
173
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
174
Outros desenhos
fonte de todos os desenhos: acervo de Diva Sanovicz
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
175
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
176
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
177
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
178
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
179
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
180
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
181
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
182
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
183
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
184
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
185
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
186
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
187
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
188
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
189
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
190
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
191
Desenhos | Gravuras | Projetos
Outros desenhos
192
Outros desenhos
Desenhos | Gravuras | Projetos
193
Desenhos | Gravuras | Projetos
194
Gravuras recentes
fonte de todas as gravuras: acervo de Diva Sanovicz
Gravuras recentes
Desenhos | Gravuras | Projetos
195
Desenhos | Gravuras | Projetos
Gravuras recentes
196
Gravuras recentes
Desenhos | Gravuras | Projetos
197
Desenhos | Gravuras | Projetos
Gravuras recentes
198
Desenhos I Gravuras I Projetos
199
Projetos
Centro Social da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo - 1962
fonte [imagens|desenhos] Zodiac nº11, 1963 p. 63 a 66
Por Abrahão Sanovicz, Julio Roberto Katinsky e Oswaldo Correa Gonçalves
Desenhos | Gravuras | Projetos
200
Linha de Móveis para Escritório - 1962
Contratante: Escriba - Indústria e Comércio de Móveis Ltda. - SP
fonte
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Conjunto de mesas e estantes para escritórios.
Linha de Móveis para EscritórioDesenhos I Gravuras I Projetos
201
Desenhos | Gravuras | Projetos
202
Residência Zelia DeriI Twiaschor - 1968
Rua Osvaldo Leite Ribeiro, 276 - São Paulo - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Edificacão em dois pavimentos. Ao nível do acesso da rua, a sala
de estar, com local para música, o recanto de refeições e servicos.
No pavimento inferior, os quatro dormitórios e banheiros, com
acesso ao jardim, em cota inferior à da rua.
Residência Zelia DeriI Twiaschor
Desenhos I Gravuras I Projetos
203
204
Conjunto Residencial - 1969
Rua Bolívia - Jardim Prudência - SP
Contratante: Formaespaco S.A. Construcões
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Conjunto de 22 residências padrão. Área de cada residência:
154m
2
, em dois pavimentos. No pavimento térreo, garagem,
servicos, estar, refeições e cozinha. No pavimento superior, três
dormitórios e dois banheiros.
Desenhos | Gravuras | Projetos
Conjunto Residencial
Desenhos I Gravuras I Projetos
205
Desenhos | Gravuras | Projetos
206
Implantação
Centro Cultural Georges Pompidou - 1971
Concurso em Paris, França
fonte [desenhos | imagens] acervo Paulo Mendes da Rocha
Por Abrahão Sanovicz e Paulo Mendes da Rocha
Desenhos I Gravuras I Projetos
207
Centro Cultural Georges Pompidou
Elevação
Planta do Museu
1- torres de escritórios
2- galeria comercial
3- terraço do café
4- hôtel des artistes
5- jardim
6- monta-cargas
7- ônibus
8- acesso administração
9- acesso Rue de Rambuteau
10- jardim da biblioteca
11- metrô
12- acesso estacionamento
13- táxi
14- acolhimento, jardim da biblioteca,
cantina e cafeteria
Corte Longitudinal
Desenhos | Gravuras | Projetos
208
Residência de veraneio Família Sanovicz - 1973
Ubatuba - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Residência de veraneio Família Sanovicz
Desenhos I Gravuras I Projetos
209
Desenhos | Gravuras | Projetos
210
Quatro Sub-Regionais Agrícolas Padrão - 1973/1974
Guaratinguetá, Botucatu, Catanduva e Santa Fé do Sul - SP
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Edificacões em dois pavimentos. Pavimento térreo: espaco para
exposições especializadas, depósito de sementes e servicos gerais.
Pavimento superior, sobre pilotis: sala dos técnicos, administração,
laboratórios e servicos gerais.
Sub-Regionais Agrícolas Padrão
Desenhos I Gravuras I Projetos
211
Desenhos | Gravuras | Projetos
212
Usina de Beneficiamento de Algodão - 1973/1978
Aguaí - SP
Contratante: Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Conjunto de edifícios destinados à portaria e controle,
administração, tulha, casa de máquinas, depósito de fardos,
depósito de sacaria, laboratório com deslintamento químico,
depósito de sementes, vestiários e reservatórios d'água.
Usina de Beneficiamento de Algodão de AguaíDesenhos I Gravuras I Projetos
213
Desenhos | Gravuras | Projetos
214
Reurbanização do Vale do Anhangabaú - 1974
São Paulo - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
Por João Batista Vilanova Artigas, Abrahão Sanovicz, Marlene
Yurgel, Harue Yamashita e Eduardo de Jesus Rodrigues
Desenhos I Gravuras I Projetos
215
Reurbanização do Vale do Anhangabaú
Desenhos | Gravuras | Projetos
216
Linha de Móveis para Escritório - 1976
Contratante: Forene S.A. Móveis do Nordeste
fonte
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Mesas de trabalho, de reunião e auxiliares, armários componíveis
e gaveteiros volantes.
Desenhos I Gravuras I Projetos
217
Unidade de Tecelagem da Grisbi Nordeste S.A. - 1977
Pírapora - MG
Contratante: Grisbi S.A. Indústrias Têxteis - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
No bloco principal ficam a tecelagem e tinturaria
com servicos anexos; as edificacões de apoio destinam-se à
administração, restaurante, e ao conjunto portaria e controle da fábrica.
Desenhos | Gravuras | Projetos
218
Unidade de Tecelagem da Grisbi Nordeste S.A.
Desenhos I Gravuras I Projetos
219
Unidade de Tecelagem da Grisbi Nordeste S.A.
Desenhos | Gravuras | Projetos
220
Sede da Sociedade Brasileira para o Progresso da
Ciência (SBPC) - 1978
Concurso em São Paulo - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
SBPC
Desenhos I Gravuras I Projetos
221
Desenhos | Gravuras | Projetos
222
SENAC Tatuapé - 1984/1985
São Paulo - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Desenhos I Gravuras I Projetos
223
SENAC Tatuapé
Desenhos | Gravuras | Projetos
SENAC Tatuapé
224
Desenhos I Gravuras I Projetos
225
SENAC Tatuapé
Terminal de Turismo de Massa de Bertioga - 1985
Bertioga - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Desenhos | Gravuras | Projetos
226
Desenhos I Gravuras I Projetos
227
Terminal de Turismo de Massa de Bertioga
Desenhos | Gravuras | Projetos
228
Terminal de Turismo de Massa de Ubatuba - 1985
Ubatuba - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
Desenhos I Gravuras I Projetos
229
Terminal de Turismo de Massa de Ubatuba
Desenhos | Gravuras | Projetos
230
Conjunto Turístico de Ubatuba
Desenhos I Gravuras I Projetos
231
Conjunto Turístico de Ubatuba
SENAC Jundiaí - 1988
Jundiaí - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Desenhos | Gravuras | Projetos
232
Desenhos I Gravuras I Projetos
233
SENAC Jundiaí
Desenhos | Gravuras | Projetos
234
Sede da FAPESP - 1990/1991
Concurso em São Paulo - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
[perspectivas] Vallandro Keating
Por Abrahão Sanovicz e Edson Jorge Elito
Desenhos I Gravuras I Projetos
235
FAPESP
Desenhos | Gravuras | Projetos
236
FAPESP
Desenhos I Gravuras I Projetos
237
FAPESP
Desenhos | Gravuras | Projetos
238
Escola Estadual Conselheiro Crispiniano - 1992
Guarulhos- SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Restauro e ampliação da obra de João Batista Vilanova Artigas
Desenhos I Gravuras I Projetos
239
Escola Estadual Conselheiro Crispiniano
Desenhos | Gravuras | Projetos
240
SESC Araraquara - 1994
Araraquara - SP
fonte [desenhos
] acervo biblioteca FAU USP
[imagens] acervo escritório Elito Arquitetos
Por Abrahão Sanovicz e Edson Jorge Elito
Desenhos I Gravuras I Projetos
241
SESC Araraquara
Desenhos | Gravuras | Projetos
242
SESC Araraquara
Desenhos I Gravuras I Projetos
243
SESC Araraquara
Desenhos | Gravuras | Projetos
244
Escola Estadual Parque Piratininga II - 1997
Itaquaquecetuba - SP
fonte FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO.
DIRETORIA DE OBRAS E SERVIÇOS -
Escolas estaduais de 1º grau:
projetos arquitetônicos
96/97. São Paulo, FDE, 1997
Desenhos I Gravuras I Projetos
245
Bilboquet
Foresa
Teatro Cacilda Becker
Congesso
Foresa
Estúdio 44
Loja de Pesca
Lajal - Engenharia de
Ventilação
Planus S. A.
Comunicação Visual
Diversos, s/d
fonte [imagens
] acervo biblioteca FAU USP
Desenhos | Gravuras | Projetos
246
Construtora Ambiente
Nacional Clube
Dinâmica
Planimpress
Plano Urbanístico e de
Desenvolvimento de Natal - RN
Foton
Comunicação Visual
Desenhos I Gravuras I Projetos
247
Comunicação Visual
Gráfica Furest
Suissa
Novidades 141
Paineiras do Morumbi
Imagens Referenciais
Professores da Escola de Artesanato do MAM
Publicações da FAUUSP
Cartazes
Revistas
251
258
265
273
Imagens Referenciais
251
Duas figuras na praia
1989
Falácias n
o
2
1980
Barquinho de papel
1989
Lucinetti e Marinetti
1980
Professores da Escola de Artesanato
Nelson Nóbrega (diretor da Escola de Artesanato)
fonte: Itaucultural - www.itaucultural.org.br
Imagens Referenciais Professores da Escola de Artesanato
252
Paraguai - sinfonia
1965
Paraguai - onírico
1957
Paraguai - onírico2
1965
Lívio Abramo
fonte: http://www.gravura.art.br
Professores da Escola de Artesanato
Imagens Referenciais
253
Operário
1935
Mulata
1954
Campos do Jordão
1948
Pelo sertão
1946
Casais dançando
1949
Nu feminino recostado
sem data
Imagens Referenciais Professores da Escola de Artesanato
254
Mulher com barcos
década de 30
Figura feminina sentada
sem data
Antonio Gomide
fonte: http://www.dangaleria.com.br
Professores da Escola de Artesanato
Imagens Referenciais
255
Antonio Gomide
Fonte: http://www.dangaleria.com.br
Mulheres nuas dançando
1956
Paisagem urbana
1930
Subida de morro
1928
Imagens Referenciais Professores da Escola de Artesanato
256
Yllen Kerr
fonte: Centro Cultural São Paulo - exposições virtuais
Morro Santa Terezinha
1947
Libélula
1979
Barra do Una
1984
retrato de Mario Schemberg
1978
Autoretrato
sem data
Mário Gruber
fonte: Itaucultural - www.itaucultural.org.br
www.mac.usp.br
www.arteartistas.com.br
Professores da Escola de Artesanato
Imagens Referenciais
257
Imagens Referenciais
258
Publicações - FAUUSP
Publiccações - FAUUSP
Imagens Referenciais
259
Imagens Referenciais Publiccações - FAUUSP
260
Publiccações - FAUUSP
Imagens Referenciais
261
Imagens Referenciais Publiccações - FAUUSP
262
Publiccações - FAUUSP
Imagens Referenciais
263
Imagens Referenciais Publiccações - FAUUSP
264
Imagens Referenciais
265
Cartazes
Celestino Piatti
fonte:
Graphis
, nº 66 jul.ago 1956 p.314-325
Imagens Referenciais
266
Cartazes
Cartazes
Imagens Referenciais
267
Imagens Referenciais Cartazes
268
Cartazes
Imagens Referenciais
269
Cartazes Poloneses
fonte:
100 lat polskiej sztuki plakatu.
Kratóv: Biuro Wystaw, 1993.
Imagens Referenciais Cartazes
270
Cartazes
Imagens Referenciais
271
Imagens Referenciais Cartazes
272
Revistas
Imagens Referenciais
273
Revistas
Arts & Architecture
vol. 72 nº 1 - jan 1955 capa e matéria Bertoia
vol. 74 nº 1 - jan 1957
vol. 74 nº 7 - jul 1957
Imagens Referenciais Revistas
274
Stile Industria
nº 1 - jun 1954 - capa de Abe Steiner
nº 2 - out 1954 - capa de Munari
nº 3 - jan 1955 - capa de G. Pintori
nº 4 - abr 1955 - capa - foto de K. Helmer e Casali
nº 6 - fev 1956 - capa de Franco Grignani
n° 7 - jun 1956 - capa - foto de D. Camli e M. Provinciali
Revistas
Imagens Referenciais
275
L’architettura cronache e storia
nº 4 - nov/dez 1955 capa motivo abstrato por Marcelo Nizzoli
nº 5 - jan/fev 1956 - capa motivo inspirado no velódromo olímpico
de Roma por Marcelo Nizzoli
nº 6 - mar/abr 1956 - capa motivo inspirado no Arco de Richet e
Curvilenee pág.929 Saarinen pág. 931 a 935
Imagens Referenciais Revistas
276
Du
nº 1 - jan 1956 capa de Saul Steimberg
nº 2 - fev 1956 - capa obra de Charles Hidenlang
e desenhos de Mondrian pág.16 a 19
nº 3 - mar 1956 - capa de Paul Klee
Revistas
Imagens Referenciais
277
Graphis
nº 70 - mar/abr 1957 capa de Rudolph de Harak
nº 71 - mai/jun 1957 - capa de Phillipe de Lessert
nº 72 - jul/ago 1957 - capa de Celestino Piatti
nº 73 - set/out 1957 - capa de Le Corbusier
Imagens Referenciais Revistas
278
Gebrauchsgraphik
nº 1964/1 - jan 1964
nº 1964/2 - fev 1964
nº 1964/3 - mar 1964
nº 1964/4 - abr 1964
Revistas
Imagens Referenciais
279
Habitat
nº 20 - jan/fev 1955
nº 21 - mar/abr 1955
nº 22 - mai/jun 1955
nº 24 - out 1955
Imagens Referenciais Revistas
280
Acrópole
nº 196 - jan 1955
nº 197 - mar 1955
nº 198 - abr 1955
nº 199 - mai 1956
Revistas
Imagens Referenciais
281
Módulo
nº 1 - mar 1955
nº 2 - ago 1955
nº 3 - dez 1955
nº 4 - mar 1956
Livros Grátis
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