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ou não com o outro, têm atividades no mundo e sobre o mundo, sendo que o desejo
está articulado às relações que estabelece com o mundo. Assim,
o sujeito se constrói pela apropriação de um patrimônio humano, pela
mediação do outro, e a história do sujeito é também uma das formas de
atividade e de tipos de objetos suscetíveis de satisfazerem o desejo, de
produzirem prazer, de fazerem sentido (idem, p. 38).
Ao argumentar que a compreensão do sujeito precisa partir da relação do
sujeito com o social, Charlot adverte sobre a impossibilidade de deixar de lado os
fenômenos psíquicos para não incorrer em explicações somente dos
acontecimentos sociais
26
.
Para Charlot, o sujeito não interioriza o mundo, mas apropria-se dele, em sua
lógica de sujeito. Assim, o social não passa do exterior para o interior com seu
princípio de inteligibilidade no exterior
27
, mas é uma relação que estabelece com o
psíquico, com a subjetividade, que tem leis próprias de organização e
funcionamento. Neste sentido, o social não é visto como um determinante da
condição em que o sujeito está, mas como contexto histórico no qual o sujeito age.
Desta forma, o social não é somente a posição social que o sujeito ocupa no
contexto, sendo preciso considerar a história desse sujeito, a de sua construção e a
de suas transformações, as atividades que exerce no mundo e sobre o mundo, as
suas ações.
Em se tratando da escola, esta não pode ser analisada como um sentido
dado, mas sim como lugar em que os sentidos devem ser construídos pelos
agentes, individuais ou coletivos
28
. A unidade do indivíduo também deixa de ser
26
Durkheim busca as explicações dos acontecimentos sociais nos fatos sociais. Para o autor, o fenômeno social
precisa ser compreendido a partir dos fatos sociais, e não de fenômenos psíquicos. O social, neste sentido, deve
ser analisado em referências externas ao sujeito. Para Charlot, este é o problema na concepção epistemológica e
metodológica de Durkheim: “pensar um psiquismo sem sujeito; ou, mais exatamente, um psiquismo analisado
em referência à sociedade e não ao sujeito” (2000, p.34).
27
Charlot empreende um olhar sobre os estudos de Bourdieu e Passeron (em A Reprodução, 1970) para
compreender os pontos dessa teoria no que se refere à relação do homem com a cultura e com a linguagem. Ao
abordar o conceito de habitus de Bourdieu, Charlot aponta que este conceito acaba por contribuir para uma
análise de um grupo social, e que, no entanto, não dá conta de pensar o sujeito, os aspectos da subjetividade de
um ser humano. Pensar as relações de saber a partir do conceito de habitus, é pensá-las a partir de uma posição
social, que não considera o psiquismo do sujeito, apenas o psiquismo da posição social (2000).
28
Dos estudos de Dubet, Charlot busca observar com mais cuidado sua compreensão de subjetividade, que
considera o objeto da sociologia da experiência social, a subjetividade dos atores. Para Charlot, Dubet “não
consegue livrar-se totalmente dos limites que a sociologia clássica se impõe ao recusar-se a tomar em
consideração a especificidade do sujeito” (2000, p. 38).
Segundo Charlot, para Dubet, o indivíduo social é
considerado um ator, e não mais um agente social. São os processos de subjetivação o foco de interesse de
Dubet, o qual estuda esses estágios em escolas, colégios e liceus.