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grande lição ao resto do paíz”, qual seja a de poder sustentar-se autonomamente, isolado do
Brasil,
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e que, por conseqüência, a administração nacional deveria, seguindo o ensinamento
paulista, propender ao sistema confederativo, isto é, aquele que apresentava o maior grau de
descentralização.
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Eivado pela firme crença de que os paulistas constituiriam uma raça em estágio
evolutivo diferente dos brasileiros,
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a todo instante comparada aos países de “primeiro
mundo”, e considerando como uma lei natural que os países pequenos tendem a se fazer
unitários, enquanto os grandes seguem uma orientação oposta, – a exceção dos Estados
Unidos, cuja homogeneização ímpar adviria de condições excepcionais em nível de
comunicação entre as regiões – para o caso do Brasil seria premente retirar os entraves que
emperrariam o avanço dos estados mais adiantados.
Dessa forma, o problema nacional, “tanto pode ser resolvido, por uma forma de
governança, denominada Confederação, como por essa mesma forma de governo chamada
Federação... Leiam-se sobre a matéria, Treitschkl, Gerber, Waitz... De Toqueville, John
Stuart Mill, Wheaton, Madison, Kent, Story, Woodburn, Cooley, Riittiman”.
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Em Confederação ou Separação, portanto, sob a égide da ciência, Alfredo Ellis
Junior articula a legitimação histórica do levante de 1932 às disputas políticas da conjuntura.
O entrincheiramento, no esquema interpretativo que propõe, a despeito do malogro militar,
deve ser interpretado como um sacrifício indispensável para mostrar ao resto do país a
inviabilidade da centralização propugnada pelo “tenentismo”. Este seria, exclusivamente, o
significado dos acontecimentos há pouco tempo desenlaçados no estado. Em outros termos, a
luta armada nada mais fora do que uma fatalidade histórica, primando pelo apossamento do
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Arrolando diversos números do comércio e da produção industrial, mesmo no período dos confrontos, conclui
que “o que pagamos ao Brasil para termos o direito de ser brasileiros, não encontra compensação no que
conseguimos vender aos demais habitantes deste paiz, já não falando o que delles compramos”. ELLIS
JUNIOR, Alfredo. Confederação ou Separação. 3
a
ed. São Paulo: Paulista, 1934. p. 129. Cumpre ressaltar que,
conforme Warren Dean, nos anos de 1930 esta situação se inverte e o comércio de cabotagem de São Paulo
supera o que o estado compra de seus congêneres. (ver p. 195-196). DEAN, Warren. A Industrialização de São
Paulo: 1880 – 1945. 2ª. ed. São Paulo: Difel, 1976. p.207.
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“S. Paulo cresceu formidavelmente, enquanto que as demais unidades, senão permaneceram no estado da
penúltima década do século passado, vêm já muito distanciadas, avançando com o passo lentíssimo do
Kagado... A menor parcella de centralização político-administrativa, representa para São Paulo, peia no
prosseguimento da sua carreira velocíssima, na escala econômica em que vae”. ELLIS JUNIOR, Alfredo.
Confederação ou Separação. 3
a
ed. São Paulo: Paulista, 1934. p. 146.
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Diz o autor: “Há regiões do paiz, que em civilização estão 100 annos atrazados de S. Paulo.
Isso não é querer offendel-as, é apenas constatar uma verdade, lembrar uma situação.
Lampeão, Antônio Silvino, padre Cícero, etc, seriam impossíveis aqui. Não é o homem o culpado. É o
ambiente physico. É a decantada Natureza, que Bukle tanto admirou”. ELLIS JUNIOR, Alfredo. Confederação
ou Separação. 3
a
ed. São Paulo: Paulista, 1934. p. 137. Mais a frente alega: “Nunca estabeleci comparações em
que, deduzisse a superioridade de qualquer dos agrupamentos humanos. Apenas aponto uma situação de facto,
mostrando em que ella é anormal e qual o remédio para sanal-a”. Ibidem, p. 199
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Idem, p. 97-98.