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subjetividade do outro, vai fazendo o segmento, vai ampliando o seu horizonte em relação
à doença do outro, não vai focar só a doença, e sim, o que está por traz disso.
Claro que visualizamos algumas mudanças, o profissional passa a fazer um olhar
diferenciado com o usuário, com a usuária. O médico, muitas vezes, prescrevia um
exame, uma consulta, uma medicação, mas não tinha esse olhar. O que vinha por traz
dessa gastrite, o que vinha provocando esse estresse, essa ansiedade, o que estava por
traz dessa luta.
Notoriamente se percebe que esse profissional ou as pessoas que passaram por
uma formação em TC - falo dos profissionais que atuam na Atenção Básica - eles
mudaram o seu ponto de vista, eles passaram a olhar o usuário e verem outras coisas
além daquele corpo que traz a queixa. Com relação à auto-estima, as pessoas que
buscam a TC, que fazem uso desses encontros, elas hoje se percebem no mundo, muitas
vezes estavam aí só por estar, não se observavam, não se sentiam, não se olhavam no
espelho durante o dia, não se cuidavam, vimos muito isso.
Publiquei um trabalho num Encontro que ocorreu em Porto Alegre - RS, num
Congresso de Terapia Comunitária, em outubro do ano passado (2007), sobre os
acompanhantes, os cuidadores dos usuários internos de um Hospital aqui de João
Pessoa. O Hospital cuidava do interno, e ninguém cuidava do acompanhante. O
acompanhante ele está ali. Ele sofre muito, pois está geralmente acompanhando uma
pessoa da família, um ente querido, uma pessoa próxima. Nesse Hospital, tinha muita
gente com câncer, então, muitas vezes, essa pessoa sabia da possibilidade da morte
daquela pessoa, e o sofrimento era muito grande, então fizemos a TC com essas pessoas
que eram cuidadores dos pacientes internos, os acompanhantes.
Estes acompanhantes não tinham essa válvula, esse espaço de dizer assim: “tô
mau, tô péssimo!”, como muitas vezes eu ouvi: “eu não posso chorar na frente dele ou na
frente dela, tenho que sair para chorar, mas tenho que ser forte na frente dela...”.O
Hospital só visualizava, só cuidava do interno, e o acompanhante do interno? Ele também
sofre, também tem dores, por conta da própria internação desse paciente, desse familiar.
A TC consegue fazer com que percebamos que o que está sendo colocado não é
só aquilo que é verbalizado, se dermos um espaço, virão outras coisas, traumas,
problemas familiares, coisas do cotidiano, que dificultam e podem trazer uma doença no
final das contas. Uma gastrite não é uma gastrite, ela está instalada, mas por conta de
outras coisas, da mesma forma, um câncer, um AVC, uma pressão alta. Então... essas
pessoas começaram a colocar, viram que melhoravam, e traziam mais gente, convidavam