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MICHELE RIBEIRO RAMOS
ATRIBUTOS FISICOS E PERDA DE SOLO, ÁGUA E
NUTRIENTES EM ENCOSTAS SOB SISTEMA DE PRODUÇÃO
DE HORTALIÇAS CONVENCIONAL E ORGÂNICO.
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós Graduação em Ciência do Solo,
Área de Concentração em Pedologia e
Manejo, Linha de Pesquisa Qualidade
de Solo e Água, do Setor de Ciências
Agrárias da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em
Ciência do Solo.
Orientador: Dr
a
. Nerilde Favaretto
Co-Orientadores: Dr. Jeferson Dieckow
Dr. Renato Dedecek
CURITIBA
2009
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MICHELE RIBEIRO RAMOS
ATRIBUTOS FISICOS E PERDA DE SOLO, ÁGUA E
NUTRIENTES EM ENCOSTAS SOB SISTEMA DE PRODUÇÃO
DE HORTALIÇAS CONVENCIONAL E ORGÂNICO.
Dissertação apresentada ao Programa
de Pós Graduação em Ciência do Solo,
Área de Concentração em Pedologia e
Manejo, Linha de Pesquisa Qualidade
de Solo e Água, do Setor de Ciências
Agrárias da Universidade Federal do
Paraná, como requisito parcial para
obtenção do grau de Mestre em
Ciência do Solo.
Orientador: Dr
a
. Nerilde Favaretto
Co-Orientadores: Dr. Jeferson Dieckow
Dr. Renato Dedecek
CURITIBA
2009
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Ramos, Michele Ribeiro
Atributos físicos e perda de solo, água e nutrientes em
encostas sob sistema de produção de hortaliças convencional e
orgânico / Michele Ribeiro Ramos.— Curitiba, 2009.
122 f.
Orientadora: Nerilde Favaretto.
Dissertação (Mestrado em Ciências do Solo) – Setor de
Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná.
1. Hortaliças - Cultivo. 2. Físico-química do solo. I. Título.
CDU 635
CDD 635
Sem eles eu não teria conseguido...
Aos meus pais Rui e Cléonice pelo apoio
e por acreditarem em mim...
Dedico
AGRADECIMENTOS
A Deus que sempre se fez presente em minha vida nos momentos de
dificuldade e alegria, por ter me dado forças para que eu vencesse todos os
obstáculos surgidos durante a minha caminhada.
Aos meus pais, Rui Eliseu e Cléonice, que sempre apoiaram minhas escolhas.
Aos meus irmãos, André, Júnior, Micheanne e Maryana, meu especial
agradecimento.
A Profª Drª Nerilde Favaretto, pela orientação, amizade, e principalmente por
toda sua dedicação.
Aos meus Co–orientadores Prof. Dr. Jeferson Dieckow e ao Pesquisador Dr.
Renato Antônio Dedecek da Embrapa Floresta, por todas as sugestões e ajuda
dada durante a realização deste trabalho.
A todos os professores do curso de s-graduação em Ciência do Solo pela
acolhida, transmissão de conhecimentos e amizade, em especial para os
professores Bruno Reissmann e Fabiane Vezzani.
Ao professor Valmiqui Costa Lima por fazer-me entender que não existe
amadurecimento sem sofrimento.
Ao Pesquisador Osmir Lavoranti da Embrapa Floresta pela amizade e auxílio
nas análises estatísticas.
Ao Professor Jean Paolo Gomes Minella da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, por todo apoio e sugestões na correção da dissertação.
A todos os funcionários do Setor pelo auxílio dado durante a realização desse
trabalho, em especial a Elda, Maria, Cleusa, Gerson, Aldair, Roberto e José
Roberto.
Aos agricultores das encostas da bacia hidrográfica do Rio Campestre, pela
amizade e pela disponibilização das áreas para a realização deste estudo.
Ao Professor Luciano de Almeida que pelo contato prévio com os agricultores
possibilitou o desenvolvimento deste estudo a campo e também disponibilizou
vários dados da bacia hidrográfica.
À Universidade Federal do Paraná, por intermédio do Programa de Pós-
Graduação em Ciência do Solo.
A CAPES, pelo auxílio financeiro.
Ao Überson Rossa por todo apoio e paciência.
A todos os amigos e colegas do mestrado.
A minha tia Cleide pelo carinho e por possibilitar minha vinda para Curitiba.
Aos meus padrinhos de batismo Nádia e Júnior pelo carinho dedicado a mim.
Ao Pastor Motta e a Pastora Astrogilda por todos os ensinamentos e orações.
Enfim a todas as pessoas que de algum modo colaboraram de forma direta e
indireta para a realização deste trabalho.
A todos o meu muito obrigada!
“Não é o mais forte da espécie que
sobrevive, nem o mais inteligente: É o que
melhor se adapta as mudanças”.
Charles Darwin
RESUMO
O inadequado uso e manejo do solo têm comprometido a qualidade da água, em
função do escoamen
to superficial e subsuperficial. O objetivo desse trabalho foi
avaliar as perdas de solo, água e nutrientes em duas encostas sob cultivo de
hortaliças nos sistemas convencional e orgânico, e uma encosta sob mata em
estágio de sucessão secundária, na bacia
hidrográfica do rio Campestre, Colombo
PR. Granulometria, densidade do solo, porosidade total, macroporosidade,
microporosidade, estabilidade de agregados via úmido e condutividade hidráulica
saturada foram determinadas em amostras de solo coletadas em d
iferentes
profundidades. Além das análises físicas, as encostas foram caracterizadas
quanto aos atributos químicos. Foram coletadas amostras do escoamento
superficial através da roda de Coshocton, quinzenalmente durante um ano, onde
determinou-se perda de
total, particulado, biodisponível e biodisponível particulado, nitrogênio total,
amônio, nitrato e nitrogênio particulado. A camada mais afetada pelo uso e manejo
do solo foi a de 0-5 cm sendo o sistem
a convencional o que apresentou a pior
qualidade
dos atributos físicos e maiores perdas de solo e água. As maiores
concentrações e perdas de fósforo ocorreram no sistema convencional e as de
nitrogênio no sistema orgânico.
Palavras-chave: qualidade de água, física do solo, escoamento superficial, bacia
hidrográfica
ABSTRAT
The inadequate soil use and management has compromised the water quality
by
surface and subsurface drainage. The objective of this
work was to evaluate the
losses of soil, water and nutrients in two small catchments cultivated
with
vegetables in conventional and organic systems, and a small catchments
with
forest in a secondary succession stage, in the Campestre watershed, Colombo -
PR. Particle size, bulk density, total porosity, macroporosity, microporosity,
wet
aggregate stability and saturated hydraulic conductivity were determined in soil
sampled at different depths. Besides the physical analysis, the chemical attributes
in the catchments were characterized. Runoff samples
were collected with the
Coshocton wheel twice a month during one year and water loss, soil loss
,
concentration of soluble, total, particulate, bioavailable and
bioavailable particulate
phosphorus and concentration of total nitrogen, ammonium, nitr
ate and particulate
nitrogen were determined. The 0-5 cm soil layer was affected by the
use and
management and the conventional system had the lower physical quality
as well as
the higher soil and water losses. The higher phosphorus runoff concentrations a
nd
losses were observed in the conventional system and the nitrogen in the
organic
system.
Key words: water quality, soil physics, runoff, watershed
LISTAS DE FIGURAS
FIGURA 1.1 - ATRIBUTOS FISICOS DO SOLO NA PROFUNDIDADE DE 0-20 cm DAS
ENCOSTAS
SOB DIFERENTES SISTEMAS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE COLOMBO, PR
.............................................................................................................................................................27
FIGURA 1.2 -
ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO
NOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO E NAS TRÊS PROFUNDIDADES DE ACORDO COM
A LEGENDA APRESENTADA ACIMA, NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO CAMPESTRE,
COLOMBO, PR ...................................................................................................................................32
FIGURA 2.1
PERCENTUAL DE PERDA ANUAL DE FÓSFORO EM SUAS DIFERENTES
FORMAS NA ÁGUA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS DIFERENTES SISTEMAS ..............54
FIGURA 2.2
PERCENTUAL DE PERDA ANUAL DE NITROGÊNIO POR ENCOSTA, NAS SUAS
DIFERENTES FORMAS NA ÁGUA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS DIFERENTES
SISTEMAS ..........................................................................................................................................62
FIGURA 2.3
GRÁFICO GERADO APARTIR DO PROGRAMA ESTATÍSTICO: SAS VERSÃO 8.2.
ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DAS CONCENTRAÇÕES DE NUTRIENTES NOS
DIFERENTES SISTEMAS ESTUDADOS ...........................................................................................64
FIGURA 2.4
GRÁFICO GERADO APARTIR DO PROGRAMA ESTATÍSTICO: SAS VERSÃO 8.2.
ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DAS PERDAS DE NUTRIENTES NOS DIFERENTES
SISTEMAS ESTUDADOS ...................................................................................................................65
LISTA DE TABELAS
TABELA 1.1
USO E COBERTURA DAS ENCOSTAS SOB SISTEMAS PRODUTIVOS NAS
DATAS DE COLETA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL .................................................................20
TABELA 1.2 -
ANÁLISE QUÍMICA E GRANULOMÉTRICA DO SOLO DAS ENCOSTAS, NA
PROFUNDIDADE DE 0-
20 cm, NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE, COLOMBO, PR
.............................................................................................................................................................21
TABELA 1.3
VOLUME DE CHUVA DIÁRIA (mm) E DATAS DE COLETA DO ESCOAMENTO
SUPERFICIAL NAS ENCOSTAS .......................................................................................................22
TABELA 1.4
PERDA DE SOLO E ÁGUA EM ENCOSTASS SUBMETIDAS A DIFERENTES
SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE, COLOMBO, PR
NO PERÍODO DE SETEMBRO DE 2007 A SETEMBRO DE 2008 ...................................................32
TABELA 1.5
PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SUBMETIDA AO SISTEMA
CONVENCIONAL DE CULTIVO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE COLOMBO PR
.............................................................................................................................................................34
TABELA 1.6 -
PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SUBMETIDA AO SISTEMA ORGÂNICO
DE CULTIVO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE COLOMBO PR...........................35
TABELA 1.7 -
PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SOB MATA NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO CAMPESTRE COLOMBO PR ...............................................................................................35
TABELA 2.1 CONCENTRAÇÃO MÉDIA PONDERADA DOS NUTRIENTES
NO ESCOAMENTO
SUPERFICIAL NOS DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA HIDROGRAFICA DO
RIO CAMPESTRE, COLOMBO, PR ..............................................................................................49
TABELA 2.2 - CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO E NIT
ROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA
ENCOSTA SOB CULTIVO CONVENCIONAL ....................................................................................57
TABELA 2.3
CONCENTRAÇÕES DE SFORO E NITROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA
ENCOSTA SOB CULTIVO ORGÂNICO .............................................................................................58
TABELA 2.4 VARIABILIDADE TEMPORAL DAS CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO E
NITROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA ENCOSTA SOB MATA .................................................59
TABELA 2.5
PERDAS DE NUTRIENTES VIA ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS DIFERENTES
SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE, COLOMBO PR
.............................................................................................................................................................60
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL
......................................................................................
11
CAPITULO 1 Atributos físicos e perda de solo e água em sistemas d
e
produção orgânico e convencional de hortaliças ..............................................
14
Introdução...........................................................................................................
14
Material e Métodos.............................................................................................
16
Resultados e Discussões...................................................................................
23
Conclusão...........................................................................................................
38
Referencias Bibliográficas..................................................................................
39
CAPITULO 2
Perdas e concentração de fósforo e nitrogênio no
escoamento superficia
l em sistema de produção convencional e orgânico de
hortaliças............................................................................................................
45
Introdução...........................................................................................................
45
Material e Métodos.............................................................................................
47
Resultados e Discussões...................................................................................
49
Conclusão...........................................................................................................
65
Referências Bibliográficas..................................................................................
67
CONCLUSÃO GERAL
.......................................................................................
69
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................
70
APÊNDICE.........................................................................................................
72
11
INTRODUÇÃO GERAL
A água é fundamental para existência de vida na Terra, e por ser um
recurso natural limitado deve ser cuidadosamente preservada. O Brasil
concentra 12% da reserva mundial de água doce potável (CARLOS &
KLIGERMAN, 2005), porém sua distribuição no território se de forma
desigual. Além disso, a qualidade da água dos rios e lagos vem sendo
comprometida inviabilizando sua utilização para captação.
Dentre as atividades degradantes dos recursos hídricos destaca-se a
agricultura. O manejo inadequado dos solos gerando erosão tem sido a
principal fonte difusa de poluição das águas superficiais. A utilização de
maneira indiscriminada de fertilizantes e agrotóxicos, aliado a não utilização de
práticas conservacionistas, tem comprometido seriamente a qualidade da água
dos rios e aqüíferos confinados.
Medidas que minimizam os impactos negativos da agricultura no
ambiente têm sido incentivadas, neste sentido tem se buscado tecnologias de
produção agrícola que buscam utilizar adubos orgânicos e eliminar o uso de
agrotóxicos, bem como práticas de uso e manejo do solo que vise reduzir o
volume do escoamento superficial e consequentemente a erosão.
No mundo a agricultura orgânica cresce na ordem de 5 a 30%, no Brasil
cerca de 2.989 hectares da área agrícola estão sob manejo orgânico
(ORMOND et al., 2002). Essa atividade vem se destacando no estado do
Paraná com cerca de cerca de 2.417 produtores. Dentre as principais culturas
as hortaliças estão em segundo lugar, perdendo apenas para a soja (POPIA et
al., 2000).
As principais regiões produtoras o: Curitiba (região metropolitana),
União da Vitória, Ponta Grossa, Lapa, Londrina, Francisco Beltrão e
Guarapuava. No estado a área certificada é de cerca de 8.000 hectares o que
corresponde a 26% da área certificado no Brasil (HAMERSCHIMIDT et al.,
2000).
12
Na agricultura orgânica, o cultivo de hortaliças se destaca especialmente
em pequenas propriedades com gestão familiar, tanto pela maior utilização de
mão de obra, como pela menor necessidade de capital.
No Estado do Paraná, a agricultura orgânica de hortaliças ocupa uma
área de 1.231 hectares, com 1.208 produtores envolvidos nessa atividade, cuja
área média de exploração é de 3 hectares por família HAMERSCHMIDT
(2000). A região metropolitana de Curitiba responde por 70% da produção de
hortaliças do Paraná, sendo o município de Colombo o principal produtor, com
36% da produção de hortaliças da região metropolitana de Curitiba (ALMEIDA,
2003).
A busca de tecnologias que alie a sustentabilidade econômica e
ambiental é um desafio dos tempos atuais, e a agricultura orgânica pode ser
uma alternativa para produção de alimento limpo tanto para os consumidores
quanto para o planeta terra. No entanto, pesquisas que enfoquem a qualidade
do solo e a qualidade da água são necessárias, a fim de identificar se existe
qualidade ambiental nesses sistemas de produção alternativos.
Neste sentido, o objetivo geral deste trabalho foi avaliar a influência do
uso e manejo do solo sobre as perdas de solo, água e nutrientes em encostas
sob cultivo de hortaliças nos sistemas convencional e orgânico, na bacia
hidrográfica de campestre, localizada no município de Colombo, PR.
A estrutura dessa dissertação será composta por dois capítulos cada
qual seguindo a formatação de um artigo científico com introdução, material e
métodos, resultados e discussão, conclusão e referências citadas. O primeiro
capítulo será sobre a perda de solo e água e qualidade física do solo sob esses
sistemas produtivos e o segundo sobre perda e concentração de nutrientes.
Além dos dois capítulos, a dissertação será constituída por uma introdução e
conclusão geral.
13
LITERATURA CITADA
ALMEIDA, L. Mudanças técnicas na agricultura: perspectivas da transição
agroambiental em Colombo PR. Tese de doutorado. Universidade Federal
do Paraná. 2003.
CARLOS, A. A. C.; KLIGERMAN, D. A percepção das condições de saúde
pública e ambiente de moradores de comunidades rurais e as questões do
acesso à água potável Um estudo de caso. Anais In: 23º CONGRESSO
BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL, Campo Grande
MS, 2005.
HAMERSCHIMIDT, I.; SILVA, J.C.B.; LIZARELLI, P.H. Agricultura orgânica.
Boletim EMATER-PR Série Produtor, 65, 68p. Curitiba PR, 2000.
ORMOND, J.G.P.; DE PAULO, S.R.C.; FAVARET FILHO, P.; DA ROCHA,
L.T.M. Agricultura orgânica: Quando o passado é futuro. BNDES
SETORIAL. Rio de Janeiro, 2002.
POPIA, A.F.; CIDADE JÚNIOR,H.A.; ALMEIDA, R. Olericultura orgânica.
Boletim EMATER – PR Série Produtor, 43, 72p. Curitiba PR, 2000.
14
CAPÍTULO 1 - ATRIBUTOS FÍSICOS E PERDA DE SOLO E ÁGUA EM
ENCOSTAS SOB SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS
ORGÂNICO E CONVENCIONAL
INTRODUÇÃO
O uso sustentável dos recursos naturais tem se tornado um tema de
grande relevância em razão do aumento das atividades agrícolas. O grande
desafio da agricultura está na busca de sustentabilidade, o que
necessariamente envolve o manejo adequado do solo, a qual afeta diretamente
a qualidade da água.
Práticas de manejo do solo alteram seus atributos físicos (ANDREOLA
et al., 2000; ALBUQUERQUE et al., 2001; LIMA, 2004), e essas alterações
podem ser permanentes ou temporárias. Áreas agrícolas sob preparo
convencional são grandes contribuintes da degradação do solo, pois neste
sistema, com intenso revolvimento do solo, ocorre a desestabilização dos
agregados provocando o selamento superficial e conseqüentemente o aumento
do escoamento superficial e a perda de solo (REICHERT et al., 2000).
Os indicadores da qualidade física do solo mais utilizados são
porosidade total, macroporosidade, microporosidade, densidade do solo,
resistência a penetração, permeabilidade do solo, profundidade efetiva e
estabilidade de agregados (SINGER & EWING, 2000; SILVA et al., 2005). O
impacto do uso e manejo do solo tem sido avaliado por diversos
pesquisadores, através da quantificação de vários atributos físicos, dentre eles,
estrutura (RIBEIRO, 1999); compactação do solo (HORN & LEBERT, 1994);
densidade (SILVEIRA, 2003); porosidade total, tamanho e continuidade dos
poros (BEUTLER et al., 2001); condutividade hidráulica (INGARAMO, 2003);
estabilidade de agregados (REICHERT et al., 1992). A textura do solo, apesar
de não ser um atributo dinâmico de qualidade do solo, tem um grande efeito no
processo erosivo, pois influencia a desagregação pelo impacto das gotas da
chuva bem como pelo escoamento superficial (REICHERT et al., 1992).
15
Modificações nestes e em outros atributos pelo uso e manejo inadequado do
solo, resultam no aumento da suscetibilidade do solo a erosão (CANILLAS &
SALOKHE, 2002). Além dos fatores cobertura vegetal e práticas
conservacionistas, relacionados com o uso e manejo do solo, a topografia,
erosividade e erodibilidade também influenciam a suscetibilidade do solo à
erosão (BERTONI & LOMBARDI NETO, 1985).
Áreas agrícolas submetidas a diferentes sistemas de manejo terão
condições de equilíbrio físico distintos. Isso ocorre porque os efeitos que os
sistemas de manejo exercem sobre a formação e estabilização dos atributos
físicos é responsável pela dinâmica do sistema solo, podendo ser
desfavoráveis ou não a conservação do solo.
Os atributos físicos sofrem uma forte influência da matéria orgânica, a
qual afeta diretamente a agregação do solo, e a partir daí indiretamente
influencia as demais características físicas do solo, como densidade,
porosidade, aeração, capacidade de retenção e infiltração. Apesar da matéria
orgânica ser considerada a maior responsável pela estabilidade física dos
solos, muitos trabalhos têm mostrado que a vegetação e os minerais de argila
também têm desempenhado um papel fundamental na qualidade do solo
(PALADINI & MIELNICZUK, 1991; GOLDBERG, 1989).
Além da matéria orgânica do solo, deve-se destacar o efeito da rizosfera,
sendo um importante sítio de produção de mucilagens, substâncias
estabilizadoras de agregados, e ainda fonte de energia para os
microorganismos que através da decomposição liberam polissacarídeos
estabilizadores (OADES, 1978 citado por BAYER et al., 2008).
A importância dos fungos e hifas também deve ser evidenciada. Estes
permanecem no solo por vários meses e são considerados agentes
cimentantes temporários, estando associados à formação de macroagregados
jovens (EASH et al., 1994 citado por CANELLAS et al., 2008). Todavia a
quantidade de macroagregados estáveis em água depende diretamente do
conteúdo de matéria orgânica e diminui com o cultivo intenso do solo.
A avaliação dos atributos físicos do solo tem se tornado um componente
importante na procura de sustentabilidade nos sistemas de produção agrícola.
Uma das formas de melhorar a qualidade do solo sugerido por ALTIERI (2002)
é a adoção de práticas de cultivo orgânico, que se caracteriza por não utilizar
16
fertilizantes minerais e agrotóxicos, com aquisição de insumos orgânicos, bem
como a redução do revolvimento do solo.
O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do manejo do solo nos
atributos físicos e na perda de solo e água, em encostas submetidas a
produção de hortaliças nos sistemas de produção orgânico e convencional na
bacia hidrográfica do rio Campestre, Colombo, PR.
MATERIAL E MÉTODOS
Localização e caracterização das áreas de estudo
O estudo foi realizado em três encostas situadas na bacia hidrográfica
do rio Campestre, município de Colombo, PR, localizado a 25º17’ de latitude
sul e 49º13' de longitude oeste, a uma altitude de 1.027 metros.
O clima da região é caracterizado como subtropical úmido mesotérmico
(Cfb) pela classificação de Köppen, com temperaturas médias anuais inferiores
a 22ºC, invernos com ocorrência de geadas severas e freqüentes, com
mínimas inferiores a 8°C.
A unidade fitogeográfica onde as encostas se inserem é denominada de
Floresta Ombrófila Mista. Nesta unidade fitogeográfica, a vegetação é diferente
conforme a altitude, nas partes mais altas, ocorrem os bosques de araucárias e
nas planícies predominância de campos, com vegetação rasteira de
gramíneas (RODERJAN & STRUMINSKI, 1992).
Na área de estudo, o embasamento geológico apresenta uma ampla
diversidade, sendo constituído por filitos, diques de diabásio e quartzitos
(MINEROPAR, 1997).
A microbacia hidrográfica do rio Campestre é contribuinte do rio
Capivari, que por sua vez se insere na bacia do rio Ribeira. Além da drenagem
superficial, Colombo abriga parte do aqüífero subterrâneo karst, considerada
uma região de fragilidade em função das características do solo, declividade e
17
farta disponibilidade de água (ALMEIDA, 2003). Desta forma é uma região com
alto potencial de contaminação.
A horticultura no modelo de agricultura familiar é marcante na bacia,
variando os sistemas de cultivo, onde temos horticultura orgânica e horticultura
convencional. Desta forma, foram selecionadas três encostas, uma com
produção de hortaliças no sistema convencional, uma com produção de
hortaliças no sistema orgânico e uma sob mata secundária. Na escolha das
encostas, buscou-se a maior semelhança possível com relação a proximidade,
tamanho da área, tipo de solo, declividade, textura e forma de rampa, no
entanto, diferenças, inerente ao tipo de trabalho considerando a escala de
encosta, foram inevitáveis. A seguir serão caracterizadas a encostas
selecionadas.
A área de horticultura orgânica, com 0,32 ha, apresenta declividade
média de 18% e textura argilosa (500, 440, 60 g kg
-1
de argila, silte e areia,
respectivamente, na camada de 0-20 cm). Nesta área a adubação orgânica
vinha sendo usada a mais de 10 anos com aplicação de cama de aves, no
entanto somente foi certificada a cinco anos pelo Instituto Biodinâmico. Esta
área se caracteriza pelo preparo do solo predominantemente com tração
animal.
Durante o experimento o plantio das hortaliças foi feito em faixas que
variaram de 6 a 10 m de largura em sentido transversal ao declive, e em
intervalos de aproximadamente 15 dias entre o plantio de uma faixa e outra
(FOTO 1B - APÊNDICE). As culturas existentes nos primeiros cinco meses da
pesquisa, setembro de 2007 a janeiro de 2008, foram alface (Lactuca sativa),
acelga (Beta vulgaris L.) e couve (Brassica oleracea L). Em fevereiro de 2008 a
encosta permaneceu sobre pousio e no mês seguinte teve a área totalmente
revolvida com tração animal para o início de um novo ciclo de cultivos,
exclusivamente com a cultura de brócolis (Brassica oleracea var. Italica Plenck)
igualmente plantado em faixas a o final do estudo (setembro de 2008). O
plantio das mudas foi feito manualmente em linhas no sentido tranversal a
declividade, preparadas com tração animal, porém sem a formação de
canteiros, apenas pequenos camalhões eram formados no preparo das linhas
de plantio. Esta área caracteriza-se pelo cultivo constante durante todo o
período do experimento.
18
A área de horticultura convencional, com 0,30 ha, apresenta declividade
média de 12%, textura média (280, 370, 350 g kg
-1
de argila, silte e areia,
respectivamente, na camada de 0-20 cm). Esta área vinha sendo utilizada na
produção de hortaliças a mais de 10 anos, com sistema de preparo do solo
convencional (aração e gradagem motomecanizadas), adubação com
fertilizantes minerais, além de receber também adubação com cama de aves.
No início da pesquisa, em setembro de 2007, a área estava no final do
ciclo da cultura da alface (Lactuca sativa). A partir de outubro a área ficou em
pousio com a presença de plantas espontâneas e somente em janeiro de 2008,
o solo foi arado e gradeado com implementos acoplados ao trator, para
posterior plantio da couve-flor (Brassica oleracea var. botrytis), que só foi
realizado em fevereiro de 2008.
Esta cultura permaneceu na encosta até abril de 2008, e os três meses
seguintes permaneceram sob pousio, com a presença de restos culturais e
plantas espontâneas. Em agosto de 2008 a área foi novamente arada e
gradeada para o próximo plantio, e em setembro de 2008 foram finalizadas as
coletas.
Detalhes da variabilidade do uso e da cobertura das encostas sob
horticultura orgânica e convencional encontra-se na TABELA 1.1.
Como testemunho foi estudada uma área de mata secundária com 0,16
ha, declividade média de 21%, e textura dia (250, 340, 410 g kg
-1
de argila,
silte e areia, respectivamente, na camada de 0-20 cm). Esta área é constituída
por bracatinga (Mimosa scabrella), eucalipto (Eucaliptus spp) e algumas
essências nativas como manduirana (Senna macranthera) e guavirova
(Campomanesia xanthocarpa).
O solo das encostas foi classificado como Cambissolo Háplico Ta
Distrófico Típico de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos,
EMBRAPA (2006).
Coleta de amostras e análises dos atributos de solo
Em agosto de 2007, foram feitas as coletas das amostras indeformadas
de solo em anéis volumétricos, para as análises físicas do solo. Por ocasião da
amostragem, a cultura implantada na encosta convencional era alface
19
enquanto que na orgânica existia uma variedade de culturas (alface, acelga e
couve). As amostras indeformadas de solo foram coletadas em anéis de 4 cm
de diâmetro e 3,5 cm de altura, nas camadas de 0-5, 5-10, 10-20 cm, no terço
superior, médio e inferior de cada encosta, sendo uma repetição por terço da
encosta para determinação da densidade do solo, porosidade total,
macroporosidade, microporosidade e condutividade hidráulica. As amostras
foram coletadas entre as linhas de plantios nos solos agrícolas e
aleatoriamente na encosta sob mata.
A condutividade hidráulica foi determinada após saturação prévia dos
anéis por 24 horas e, posteriormente, colocados em permeâmetro de carga
constante por 8 horas (EMBRAPA, 1997).
A microporosidade foi determinada pelo método da mesa de tensão (6
kPa), onde os anéis saturados foram colocados na mesa de tensão por 24
horas e depois pesados, e a macroporosidade pela diferença entre porosidade
total e microporosidade. A porosidade total foi calculada com base na
densidade do solo e densidade de partículas (EMBRAPA, 1997). A densidade
de partículas foi determinada pelo método do álcool etílico com as amostras
dos anéis, após ter feito todas as análises. A densidade do solo foi determinada
através da massa da amostra seca a 105ºC e o volume total do anel
(EMBRAPA, 1997).
A estabilidade de agregados via úmida (EMBRAPA, 1997) foi feita em
amostras coletadas no mesmo perfil de solo aberto para coleta dos anéis
volumétricos, também em agosto de 2007. Após a secagem das amostras de
solo, estas passaram pela peneira de malha de 8 mm, posteriormente pré
umedecidas antes de ir para o jogo de peneiras (4 mm; 2 mm; 1 mm; 0,5 mm;
0,25 mm) adaptadas a um agitador que promovia oscilação vertical dentro de
um recipiente com água, durante 15 minutos. O diâmetro médio ponderado foi
calculado a partir do somatório dos produtos entre o diâmetro médio de cada
fração de agregado e a proporção da massa de solo, que é obtida através da
divisão da massa de agregados retidos em cada peneira pela massa de
amostra corrigida em termos de umidade (SILVA & MIELNICZUK, 1998).
A caracterização química das encostas foi realizada nas amostras
compostas por 15 sub amostras, coletadas na profundidade de 0-20 cm
também no mês de agosto de 2007. As amostras foram secas ao ar,
20
homogeneizadas e passadas em malha de 2 mm analisando pH CaCl
2
, pH
SMP, carbono orgânico (método colorimétrico), Ca
2+
, Mg
2+
e Al
3+
(extraído com
KCl), K
+
, e P (extraído com Mehlich I), H
+
Al
+3
(obtido pelo pH SMP) (PAVAN et
al., 1992). O resultado das analises químicas encontra-se na TABELA 1.2.
A análise granulométrica foi feita na profundidade de 0-20 cm, e
determinada pelo método do densímetro de acordo com EMBRAPA (1997).
(TABELA 1.2).
TABELA 1.1 USO E COBERTURA DAS ENCOSTAS SOB SISTEMAS PRODUTIVOS NAS
DATAS DE COLETA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Sistema orgânico
Uso e Cobertura
20-mar-08
Data
em desenvolvimento e solo exposto.
em diversos estágios de desenvolvimento.
Cobertura morta e viva e se desenvolvendo
24-jul-08
7-ago-08
Sisitema convencional
21-ago-08
Cultura em estágio médio de
26-jun-08
12-jun-08
29-mai-08
30-abr-08
de vegetação espontânea
17-abr-08
10-jul-08
Solo recem preparado
Maior parte da área com solo revolvido
desenvolvimento - maior parte já colhido
Presença de mudas - recém plantio
espontânea e restos culturais
Cultura em estágio de desenvolvimento
Faixas cultivadas e em pousio
Faixas cultivadas e em pousio
e maior parte em pousio
em diferentes estágios de
22-fev-08
desenvolvimento antes do florescimento
6-mar-08
muito solo exposto
Plantas invasoras e solo descorbeto
final de desenvolvimentopós colheita e
uma faixa de 8m de solo descoberto
7-fev-08
Cultura em estágio inicial de
mudas - couve-flor
30-set-07
7-dez-07
20-dez-07
7-jan-08 Solo revolvido para plantio
24-jan-08
Vegetação espontânea
Vegetação espontânea
Vegetação espontânea
gramineas pós revolvido
Restos culturais - brócolis se
Terço superior - brócolis em estagio avançado
Faixas recem plantadas, outras com
Cultivo de brócolis em faixas
Restos culturais - cobertura morta
desenvolvmento em 2 faixas
cultura do brócolis se desenvolvendo
de desenvolvimento, terço médio restos culturais
(cobertura viva) e terço inferior restos
Faixas cultivadas
Faixas cultivadas em diferentes estagios
Faixas cultivadas
Todas as faixas com cultivo em estagio
Solo com pouca vegetação
de desenvolvimento e faixas em pousio
desenvolviemento e pousio
desenvolvimento solo sem proteção
de desenvolvimento
Desenvolvimento de
Área recém plantada
solo protegido - cobertura morta
restos culturais (terço inferior) e
Desenvolvimento de
Pousio - desenvolvimento
solo revolvido (terço superior)
vegetação espontânea
vegetaçãoe espontanea, outras cultura
Cultura em estágio máximo de
Presença de vegetação
Cultura em estágio avançado
Vegetação espontânea
Cultura em pleno desenvolvimento
Pós colheita do brocólis
próximo da colheita
culturais (cobertura morta)
2 faixas mudas de brocólis
*As datas de coleta: 18-out-08, 01-nov-08, 22-nov-08, 03-abr-08, 15-mai-08, 04-set-2008, as
quais não estão nesta tabela apresentam o mesmo uso e ocupação da data anterior
21
TABELA 1.2 - ANÁLISE QUÍMICA E GRANULOMÉTRICA DO SOLO DAS ENCOSTAS, NA
PROFUNDIDADE DE 0-20 cm, NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE,
COLOMBO, PR
pH SMP Al H + Al Ca Mg K P C CTC*
mg kg
-1
g kg
-1
cmol
c
kg
-1
argila silte areia
Convencional 5,4 1,1 7,8 4,2 1,2 0,8 136,5 30,5 14,0 280 370 350
Orgânico
6,1 0,0 4,6 7,7 2,2 1,4 36,2 31,7 15,9 500 440 60
Mata
4,9 3,8 11,3 2,5 1,4 0,2 3,5 26,9 15,4 250 240 410
Encostas
Granulometria (g kg
-1
)
- - - - - - - - - - - -cmol
c
dm
-3
- - - - - - - - - - - - -
*CTC=Ca+Mg+K+H+Al
Coleta e determinação da perda de solo e água nas encostas
Na porção inferior de cada encosta, delimitada naturalmente pelos
divisores de água, foi instalado um coletor de escoamento superficial. Para
melhorar a condução de água, em ambos os lados do coletor foi construído um
canal de drenagem no sentido do declive. Esse canal foi aberto com tração
animal e teve a base e a lateral compactada, evitando assim a erosão do
próprio canal.
O coletor de escoamento superficial (FOTO 2B - APÊNDICE) foi
conectado através de um cano de PVC a um balde plástico com tampa, com
capacidade para 65 litros de água. O coletor conhecido como Roda de
Coshocton (LAL, 1994) é constituído por uma roda com ranhuras na superfície
e uma fenda de amostragem. Roda de Coshocton foi desenvolvida pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e tem como objetivo
quantificar a erosão em áreas experimentais fazendo amostragem de 1% do
escoamento na área de cada tratamento, ou seja, 1% da água e material em
suspensão perdidos ficam retidos no balde. As coletas do sedimento e da água
retidos no balde em cada encosta, foram realizadas quinzenalmente nas áreas
experimentais no período de setembro de 2007 a setembro de 2008.
O volume do escoamento superficial foi medido através de balde de 5
litros e proveta de 1 litro, ambos de plástico e graduados. Em cada coleta, após
a homogeneização do material (água e sedimento) contido no balde de 65 L, foi
separada uma amostra representativa em garrafas de 500 mL. Nessas
amostras, foram determinadas as perdas de sedimentos em alíquotas de 50
mL após secagem em estufa a 105 ºC em becker de 50 mL.
As concentrações de sedimento obtidas nessa pesagem foram
multiplicadas pelo volume coletado nos baldes depois multiplicado por 100,
para determinar a perda de solo para cada área estudada. A esse valor foi
22
somada a quantidade de sedimento que não entrou no balde e ficou retido na
calha (material mais grosseiro areia). O mesmo cálculo foi realizado para a
quantidade de água coletada nos baldes que representam 1% do total que
escoou na encosta, para determinação do volume de água perdido nas
encostas.
Próximos às encostas (aproximadamente 1000 m) foram instalados dois
pluviômetros para registrar a distribuição e a quantidade de chuva durante todo
o experimento. O volume (mm) de chuva coletado diariamente está
apresentado na TABELA 1.3.
TABELA 1.3 VOLUME DE CHUVA DIÁRIA (mm) E DATAS DE COLETA DO ESCOAMENTO
SUPERFICIAL NAS ENCOSTAS
1
Data
set
out
nov
dez
jan
fev
mar
abr
mai
jun
jul
ago
set
1 * 0 0 0 0 80 0 0 0 0 0 0 0
2 * 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
3 * 0 36 0 16 0 0 0 0 40 0 0 0
4 * 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
5 * 0 0 60 0 0 0 0 0 0 0 0 *
6 * 0 0 150 0 0 0 0 0 0 0 0 *
7 * 11 0 15 0 0 0 0 0 0 0 0 *
8 * 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
9 * 0 0 0 44 0 0 0 0 0 0 0 *
10 * 0 61 0 0 93 0 0 0 0 0 0 *
11 * 0 80 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
12 * 0 0 0 0 55 0 0 0 0 0 0 *
13 0 0 0 80 0 0 0 0 0 0 0 0 *
14 0 19 0 0 0 0 0 10 0 50 0 0 *
15 0 0 0 0 0 0 0 25 0 65 0 0 *
16 0 5 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
17 0 4 0 0 0 0 0 20 0 0 0 0 *
18 0 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
19 0 0 36 0 0 0 8 0 0 0 0 0 *
20 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
21 42 0 0 0 0 0 0 10 0 0 0 0 *
22 11 8 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 *
23 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 10 0 *
24 4 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
25 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
26 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
27 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
28 0 19 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 *
29 0 0 0 0 0 0 0 30 0 0 0 0 *
30 0 5 0 0 0 * 0 0 10 0 0 0 *
31
*
4
*
0
0
*
0
*
0
*
0
0
*
Total
59
78
214
305
60
228
8
95
10
155
15
0
0
1
Dados em amarelo indicam as datas de coleta; *Datas que não fazem parte do período
estudado.
23
Análise estatística
Os dados foram submetidos à multivariada com análises de
componentes principais, e nelas utilizaram-se às interações entre os sistemas
de cultivo nas diferentes profundidades, utilizando SAS versão 8.2.
A análise de componentes principais é uma técnica de análise
multivariada que consiste em explicar uma estrutura de variâncias e
covariâncias do conjunto de variáveis, através de poucas combinações lineares
dessas próprias variáveis. Esta análise tem como objetivo reduzir a
dimensionalidade do conjunto de variáveis e facilitar a interpretação das
interdependências entre elas.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Densidade do solo
No sistema convencional na camada de 0-5 cm a densidade do solo (Ds)
foi maior (0,92 Mg m
-3
), quando comparado ao sistema orgânico e ao sistema
sob mata (FIGURA 1), cujas densidades foram iguais (0,82 Mg m
-3
). Estes
resultados eram esperados em função do uso e manejo do solo e contrariam os
obtidos por CRUZ et al. (2003), os quais não encontraram diferenças
significativas na densidade entre solos sob mata nativa e cultivo convencional
de milho no verão e de aveia preta consorciada com ervilhaca no inverno.
Mesmo sendo relativamente maior no sistema convencional esses
valores de densidade (FIGURA 1.1) foram baixos não apresentando,
impedimento ao desenvolvimento de raiz. Baixos valores de densidade de solo
em ambientes com alto teor de matéria orgânica são esperados, pois a matéria
orgânica favorece a menor densidade do solo. O teor de carbono orgânico do
solo nas encostas é de aproximadamente 30 g kg
-1
(TABELA 1.1). De acordo
com USDA (2008) considera-se impeditivo ao desenvolvimento de raiz valores
de densidade maiores de 1,47 Mg m
-3
para solos de textura argilosa.
24
QUEIROZ-VOLTAN et al. (1998) também observaram baixos valores de
densidade do solo (0,94 a 1,02 g cm
-3
)
em vegetação de mata nativa em solo
de textura argilosa, atribuindo valores de densidade semelhantes a estes no
mesmo ambiente, mas com outros usos como solos não compactados. Neste
sentido, pode-se considerar que os sistemas de produção tanto orgânico como
convencional não apresentam problema de compactação, pois estão muito
próximos do valor de densidade do solo sob mata nativa.
No sistema convencional, a densidade aumenta na camada de 5-10, da
mesma forma que no sistema sob mata e produção orgânica, no entanto,
diferente dos demais, a densidade diminui na profundidade de 10-20 cm
(FIGURA 1.1).
A grande variabilidade nesta variável está associada ao fato desse
atributo ser bastante influenciado às variações de uso e manejo do solo, aliado
ainda a grande interferência que a textura do solo exerce sobre esse atributo.
Para BELTRAME & TAYLOR (1980), as causas naturais das alterações na Ds
são difíceis de serem definidas e avaliadas, já que elas agem lentamente sobre
o solo. Podendo ter diversas origens, desde a eluviação de argilas, como
também atividades antrópicas provocadas por forças mecânicas originadas da
pressão causada pelos rodados das quinas agrícolas que sob diferentes
condições de umidade do solo é o principal responsável pela compactação.
A densidade do solo tem um grande efeito no desenvolvimento radicular,
no entanto este depende de outros fatores, como por exemplo o conteúdo de
água no solo. Quanto mais seco for o solo maior é a restrição para o
desenvolvimento radicular, e isso pode ser acentuado se considerarmos a
textura, pois quanto maior o teor de argila menor será o tamanho de poros a
uma dada densidade. Desta forma a uma mesma densidade, as raízes podem
penetrar mais facilmente em solo de textura arenosa úmido, do que em solo
argiloso úmido.
Porém, no caso destas encostas a textura não influenciou a densidade
dos solos na camada de 0-5 cm,que no solo mais argiloso a densidade foi à
mesma do solo sob mata de textura média, conforme TABELA 1.2. Este
resultado pode ser devido ao elevado teor de carbono orgânico do solo nas
encostas sob mata e sistema convencional de textura média.
25
Porosidade do solo
No sistema convencional, na camada de 0-5 cm, a porosidade total foi
menor (0,60 m
-3
m
-3
) quando comparada ao sistema orgânico (0,65 m
-3
m
-3
) e
ao sistema sob mata (0,66 m
-3
m
-3
) (FIGURA 1.1), o que está coerente com os
resultados de densidade do solo. No entanto, mesmo com sistemas tão
diferentes, os valores são muito próximos, e isso possivelmente se deve ao
período de pousio que se estabelece na área sob sistema convencional todos
os anos. Esta área é utilizada para o plantio apenas duas vezes ao ano, sendo
que no restante do período há o desenvolvimento de plantas espontâneas.
Pela diversificação de raízes dessa comunidade vegetativa houve a melhoria
da porosidade do solo desta encosta.
Ao analisarmos a composição da porosidade total dentro de cada
sistema, observamos que no sistema convencional, 0,43 m
-3
m
-3
está na forma
de macroporos, enquanto que nos sistemas orgânico e sob mata apenas 0,24 e
0,36 m
-3
m
-3
compõe a macroporosidade, respectivamente. Consequentemente
os valores de microporosidade são maiores no sistema orgânico e sob mata e
menores no sistema convencional (FIGURA 1.1). Essa diferença é devido ao
sistema de preparo mecanizado no solo da encosta convencional, onde o
revolvimento provoca o aumento do volume de macroporos.
Para TORMENA et al. (2002), é necessário manter o solo com
macroporosidade acima de 10%, pois valores inferiores conferem inadequada
difusão de oxigênio para atender a demanda respiratória das raízes e o
adequado crescimento e atividade de microorganismos. Desta forma todos os
sistemas apresentam macroporosidade acima da faixa mínima aceitável e
recomendável para o bom desenvolvimento das plantas.
Contudo é difícil estabelecer limites mínimos para os atributos físicos do
solo, como porosidade total e densidade, uma vez que esses atributos o
dependentes das condições locais de cada área de estudo. Desta forma
qualquer alteração seja ela de atributos intrínsecos ou extrínsecos ao solo
acarretará em variações que muitas vezes não são atribuídas diretamente ao
uso e manejo (MANTOVANI, 2002).
Comparando solos cultivados e sob mata, ARAÚJO et al. (2004)
encontraram menores valores de macroporos no solo cultivado quando
26
comparados com solos sob mata, resultado que não corroboram com os
encontrados neste trabalho. Essa característica deve-se ao manejo intenso nas
áreas cultivadas, que tendem a aumentar o volume de macroporos. Para
microporosidade os mesmos autores não encontraram diferenças entre os
sistemas avaliados. Segundo SILVA & KAY (1997) a microporosidade é
fortemente influenciada pelo teor de carbono do solo e pela textura, sendo
pouco influenciada pelo aumento da densidade do solo. De acordo com os
resultados da caracterização química do solo realizada (TABELA 1.2), a
encosta sob cultivo orgânico foi a que obteve maior teor de carbono (31,7 g kg
-
3
) e consequentemente, maior porcentagem de microporos (0,41 m
-3
m
-3
), a
partir dos 5 cm, conforme FIGURA 1.1.
Em profundidade superior a 10 cm no sistema convencional houve
aumento na porosidade total, e um acréscimo na macroporosidade e
conseqüentemente um diminuição gradual na microporosidade. No sistema
orgânico ocorreu redução para os valores de porosidade total, porém pouco
significativa, enquanto que a macroporosidade aumentou para 0,37 m
-3
m
-3
na
última camada (FIGURA 1.1). CRUZ et al. (2003) encontraram resultados
semelhantes ao deste trabalho, observaram que em sistemas convencionais o
valor da macroporosidade foi maior nos primeiros 10 cm, associando esse
resultado ao preparo do solo (pé de arado). O arado pulveriza a camada
superficial e compacta subsuperficial.
No sistema sob mata a porosidade total não sofreu muita variação em
profundidade, porém foi possível observar um pequeno decréscimo na última
profundidade. O valor de macroporosidade diminuiu em profundidade e a
microporosidade acompanhou a mesma tendência, porém de forma inversa
(FIGURA 1.1). Esses resultados podem ser explicados pela ação das raízes
das árvores, que aumentam a quantidade de poros principalmente em
profundidade. Em área com mata a estrutura do solo é favorecida pela
quantidade de raízes e fauna do solo.
De uma forma geral os gráficos de porosidade mostram uma tendência
do sistema de cultivo orgânico e solo sob mata apresentarem comportamento
semelhante em todas as profundidades, e o sistema convencional se
diferenciar dos demais.
27
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
0,80 0,84 0,88 0,92 0,96 1,00
Densidade do solo (g cm³)
Profundidade (cm)
Convencional Mata Orgânico
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 0,70 0,75 0,80
Porosidade Total (m
-3
m
-3
)
Profundidade (cm)
Convencional Mata Orgânico
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50
Macroporosidade(m
-3
m
-3
)
Profundidade (cm)
Convencional Mata Orgânico
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60
Microporosidade(m
-3
m
-3
)
Profundidade (cm )
Convencional Mata Orgânico
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
0 50 100 150 200 250 300
Condutividade (mm h
-1
)
Profundidade (cm)
Convencional Mata Orgânico
0,00
2,50
5,00
7,50
10,00
12,50
15,00
17,50
20,00
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Diâmetro médio ponderado (mm)
Profundidade (cm )
Convencional Mata Orgânico
FIGURA 1.1 ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO NA PROFUNDIDADE DE 0-20 cm DAS ENCOSTAS SOB
DIFERENTES SISTEMAS, NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE, COLOMBO, PR
28
Estabilidade de agregados
O diâmetro médio ponderado úmido dos agregados (DMPu) no solo da
encosta convencional na profundidade de 0-5 cm foi de 2,46 mm, e apesar de
ser o menor valor encontrado dentre todos os sistemas e profundidades, tem
indicativo de boa agregação, considerando que SOARES & ESPÍNDOLA
(2005) identificaram DMP em solo sob vegetação nativa de 2,63 mm na
camada sub superficial e 3,48 mm na camada superficial. Esse resultado pode
ser explicado pela textura média do solo da encosta convencional aliado ao
teor de carbono orgânico de 30 g kg
-1
(TABELA 1.2). Outro fator observado foi
que o DMPu nos sistemas estudados tende a diminuir na camada de 5-10 e
aumentar na camada de 10-20 cm (FIGURA 1.1), onde o teor de carbono tende
a ser menor que na camada superficial.
No solo da encosta orgânica, o DMP está em torno de 3 mm, porém o
maior valor está na camada de 5-10 cm (3,74 mm). Apesar de ser a encosta
com maior conteúdo de carbono (TABELA 1.2), não foi possível observar a
influencia da matéria orgânica nas diferenças encontradas entre os sistemas, já
que em todos os sistemas a estabilidade de agregados não variou muito.
Na encosta sob mata, apesar de apresentar o menor teor de carbono,
possivelmente compõe uma fração mais estável, gerando dessa forma ainda
que com pouca diferença, uma maior estabilidade de agregados. Os valores
encontrados nesta encosta foram ainda maiores que os encontrados por
SOARES & ESPINDOLA (2005).
A matéria orgânica é considerada por muitos pesquisadores como um
dos principais agente de estabilização de agregados, apresentando forte
correlação com a estabilidade de agregados (CASTRO FILHO et al., 1998).
Outros autores, além da matéria orgânica, associam também a maior eficiência
de agregação, com a densidade de raízes (SILVA & MIELNICUK, 1998).
Justificativa perfeitamente aceitável nas condições desse trabalho, que o
solo sob sistema convencional não é intensamente explorado. O histórico de
plantio desta encosta é caracterizado pela presença de vegetação espontânea
por um período relativamente longo em todos os anos, essa característica teria
29
beneficiado esse sistema, que deveria pelo manejo empregado apresentar
valores baixos de DMP.
Para GOLCHIN et al. (1998) ao invés de agregados menores se unirem
para formar agregados maiores, o processo é inverso, onde a quebra de
macroagregados é que gera microagregados, envolvendo processos que
incluem tanto microorganismos de solo, resíduos de plantas e raízes quanto a
mecanização. Isso justifica ter encontrado no sistema convencional grande
volume de macroporos, evidenciando que a presença de plantas nesse sistema
em pousio melhorou a qualidade física desse solo.
De uma forma geral os valores de DMPu não tiveram grandes oscilações
nas camadas estudadas dos solos das três encostas, o que pode ser explicado
pelos semelhantes teores de matéria orgânica. TISDALL & OADES (1980)
encontraram correlações positivas entre essas duas variáveis. Este atributo
também não foi afetado pela textura dos solos (textura média nas encostas
convencional e mata e argilosa na orgânica), já que não houve diferenças entre
os sistemas. Para DUFRANC et al. (2004) solos com altos teores de argila
pode-se esperar alta estabilidade de agregados.
A pequena variação encontrada nos valores de DMPu entre os sistemas
pode ser explicada também, pelo método empregado para a determinação da
estabilidade de agregados, considerando que o mesmo não distingue os
agregados recém formados daqueles que, além de formados estão
estabilizados (De SÁ et al., 2000). Os mesmos autores evidenciam que a
estabilidade de agregados não depende apenas da característica do solo, mas
também das forças disruptivas aplicadas a ele durante a metodologia
empregada para sua determinação.
Condutividade hidráulica
A variável condutividade hidráulica saturada (Ks) nos primeiros 5 cm foi
a menor no sistema convencional (67,1 mm h
-1
). Esse resultado pode ser
explicado principalmente em decorrência da quantidade de macroporos, mas
também devido ao efeito do impacto das gotas da chuva provocando um
selamento superficial. Na ocasião da amostragem a encosta estava sob o
30
cultivo da alface, e a coleta foi feita entre as linhas de plantio onde o solo
estava descoberto, sujeito ao selamento superficial.
O selamento superficial é a formação de uma camada delgada de
aproximadamente 2 mm, na superfície do solo, e é caracterizada por uma
elevada densidade, pequena porosidade e baixa condutividade hidráulica. Esse
processo ocorre sob condições de chuva ou irrigação, causando a destruição
dos macroagregados. Vários autores encontraram diminuição na capacidade
de infiltração sob condição de selamento superficial (JENNINGS et al., 1988;
CHU et al., 1986; REICHERT et al., 1988). SILVA & KATO (1997) também
verificaram que o selamento superficial dificulta a infiltração da água, e que em
áreas onde se adotam o sistema convencional esse processo é mais comum.
No momento da amostragem essa superfície de 2 mm foi descartada,
porém no laboratório a camada superficial do anel apresentava solo revolvido
(pulverizado), desta forma possivelmente houve a formação de um novo selo,
mesmo após a saturação das amostras.
No sistema orgânico esse selamento não ocorreu da mesma forma que
no convencional devida à quantidade de matéria orgânica no solo que favorece
a infiltração. Nesta encosta a grande quantidade de cama de ave aplicada na
superfície do solo, o qual tem na sua constituição maravalha grossa ainda não
decomposta, que aumenta a proteção do solo bem como a rugosidade da
superfície que conseqüentemente favorecem a infiltração. A condutividade
hidráulica no sistema orgânico e sob mata tiveram a mesma tendência nas
profundidades estudadas (FIGURA 1.1).
Em profundidade (5-20 cm) na encosta convencional a condutividade
tende a aumentar, chegando até 263 mm h
-1
, diferindo grandemente das
demais encostas (FIGURA 1.1). Apesar da encosta sob sistema convencional
ter apresentado valor de condutividade superior às demais, na última camada
pode-se perceber que mesmo estando maior, os três sistemas tiveram
comportamento semelhante (FIGURA 1.1). Essa característica pode ser
atribuída a fatores intrínsecos do solo. As três encostas estão sobre
Cambissolos, que por sua vez apresentam estrutura em blocos sub angulares o
que confere a eles boa permeabilidade e em todas as encostas à profundidade
do solo é de 100 cm variando apenas quando no terço superior onde à
profundidade é menor.
31
Análise de componentes principais dos atributos físicos
Os agrupamentos formados indicam que os tratamentos são
semelhantes entre si estatisticamente (FIGURA 1.2).
Os resultados mostram um comportamento no sistema convencional nas
profundidades de 0-5 e 5-10 cm, onde é possível observar que eles se
agrupam entre o primeiro e o quarto quadrante no eixo x, próximo de 1. Outro
agrupamento é verificado nas profundidades de 10-20 cm nos sistemas
orgânico e convencional, indicando que nessa camada o comportamento dos
atributos físicos se assemelham. E ainda na profundidade de 0-5 cm o sistema
orgânico é semelhante ao solo sob mata, concluindo que estatisticamente o
solo sob agricultura orgânica apresenta qualidade física do solo idêntica ao da
encosta sob mata (FIGURA 1.2).
A análise de componentes principais nos permite analisar também os
sistemas como um todo, onde a figura do losângulo representa o sistema em
todas as profundidades. Nessa observação é possível concluir que o sistema
convencional se distanciou no gráfico de PCA (análise de componentes
principais) dos outros dois sistemas, que por sua vez estão próximos entre si,
formando outro agrupamento.
Apenas o solo sob mata na profundidade de 5-10 cm apresentou
comportamento isolado no segundo quadrante indicando que nesta
profundidade as características físicas de um modo geral são diferentes dos
demais sistemas.
32
FIGURA 1.2 - ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO
SOLO NOS DIFERENTES SISTEMAS DE CULTIVO E NAS TRÊS PROFUNDIDADES DE
ACORDO COM A LEGENDA APRESENTADA ACIMA, NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
CAMPESTRE, COLOMBO, PR
CONVENCIONAL EM TODAS AS PROFUNDIDADES; ORGÂNICO EM TODAS AS
PROFUNDIDADES; MATA EM TODAS AS PROFUNDIDADES; 0-5 cm NOS
RESPECTIVOS SISTEMAS; 5-10 cm NOS RESPECTIVOS SISTEMAS; 10-20 cm NOS
RESPECTIVOS SISTEMAS
Perda de solo e água
A perda de solo nos sistemas de produção convencional e orgânico
foram superiores ao da encosta sob mata. Sendo que o sistema orgânico
perdeu 12 vezes mais e o convencional 200 vezes mais solo que a encosta sob
mata (TABELA 1.4).
TABELA 1.4 PERDA DE SOLO E ÁGUA EM ENCOSTAS SUBMETIDAS A DIFERENTES
SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE, COLOMBO,
PR NO PERÍODO DE SETEMBRO DE 2007 A SETEMBRO DE 2008
kg encosta
-1
kg ha
-1
litros encosta
-1
mm
orgânico 1,93 6,03 3884,250 1,210
convencional 34,08 113,58 5952,600 1,980
mata
0,08
0,52
505,500
0,320
Perda de solo
Sistemas
Perda de água
33
Apesar das avaliações terem sido feitas durante um ano foram as
chuvas de fevereiro as responsáveis pelas perdas de 111 kg ha
-1
no sistema
convencional (TABELA 1.5), ou seja, mais de 98% do total de sedimento
perdido durante o ano (TABELA 1.4). Para o sistema orgânico a chuva do mês
de dezembro foi à responsável pelo arraste de 5 kg ha
-1
(TABELA 1.6), 83% do
total perdido durante todo o período avaliado (TABELA 1.4). Apesar de terem
sido em meses diferentes, ambos ocorreram na estação do verão, resultado
que concordam com os encontrados por BEUTLER et al. (2003), onde os
autores observaram duas vezes mais perda de solo no verão do que no
inverno.
O volume de chuva que ocorreu no s de fevereiro na encosta sob
sistema convencional que coincidiu com a época de preparo do solo e
transplantes de mudas, agravou as perdas de sedimento e água (TABELA 1.7).
Naquele mês o acumulado foi de 228 mm divididos em três eventos de chuva,
até o dia 22/02 quando foi realizada a coleta.
No mês de dezembro a encosta sob cultivo orgânico apresentava-se
com algumas faixas plantadas, outras com restos culturais e ainda outras em
pousio com vegetação espontânea se desenvolvendo. Porém mesmo assim
não evitou que 5 kg ha
-1
de sedimento fosse perdido. Um dia antes da coleta,
ocorreu volume de chuva de 150 mm (TABELA 1.3), muito provavelmente foi
responsável pelo arraste de sedimentos até a calha, considerando que a
mesma foi a de maior volume durante todo o ano.
Um fator importante a se destacar é que o maior volume de chuva
ocorreu em dezembro, porém na encosta sob cultivo convencional não foi o
mês que registrou as maiores perdas de solo e de água. Isso foi possível
porque a área estava sob pousio e com vegetação espontânea que protegia o
solo do impacto das gotas de chuva e conseqüentemente o ocorreu
desagregação. Mais uma evidencia de que quando a área está com cobertura
vegetal o solo fica protegido do impacto da gota de chuva e conseqüentemente
da erosão, mesmo sendo um grande volume de chuva (305 mm) quando
comparado com a chuva de fevereiro (228 mm), onde ocorreu a maior perda de
solo (TABELA 1.3).
34
Desta forma a encosta sob cultivo convencional perdeu mais
sedimento que as demais por que coincidiu a ocorrência de chuva com o
preparo e transplante de mudas na área. Nem precisou ser a chuva de maior
volume para a perda de sedimento ser a mais elevada naquela encosta durante
todo o período estudado. Porém se compararmos com os valores encontrados
por MARTINS et al. (2003) onde as perdas em área de mata nativa variaram de
0,03 a 0,11 Mg ha
-1
ano, pode-se considerar que as perdas de solo nos
sistemas de produção foram baixas. Neste trabalho a encosta sob mata a
perda de solo não ultrapassou 0,5 kg (TABELA 1.7).
PPT
mm
litros encosta
-1
mm
kg encosta
-1
kg ha
-1
30-set-07 18 59 490 0,163 0,11 0,36
18-out-07 18 43 0 0,000 0,00 0,00
1-nov-07 14 36 9,2 0,003 0,01 0,02
22-nov-07 21 213 2,6 0,001 0,00 0,00
7-dez-07 15 225 2,9 0,001 0,00 0,01
20-dez-07 13 80 78 0,026 0,02 0,08
7-jan-08 18 16 6,9 0,002 0,00 0,01
24-jan-08 17 44 17,9 0,006 0,27 0,90
7-fev-08 14 80 16,9 0,006 0,00 0,00
22-fev-08 15 148 4435 1,478 33,53 111,76
6-mar-08 13 0* 210 0,070 0,08 0,25
20-mar-08 14 8 33 0,011 0,00 0,00
3-abr-08 14 0* 210 0,070 0,00 0,00
17-abr-08 14 55 0 0,000 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0 0,000 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 215,2 0,072 0,02 0,06
29-mai-08 14 0* 5 0,002 0,00 0,02
12-jun-08 14 50 65 0,022 0,01 0,04
26-jun-08 14 115 55 0,018 0,01 0,04
10-jul-08 14 0* 0 0,000 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 0 0,000 0,00 0,00
7-ago-08 14 0* 65 0,022 0,01 0,03
21-ago-08 14 0* 35 0,012 0,01 0,02
4-set-08
14
0*
0
0,000
0,00
0,00
nº de diasData da coleta
Perda de solo
Perda de água
*A precipitação ocorreu neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro,
possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de chuva no local distantes
aproximadamente 1000 m das encostas; PPT
precipitação pluviométrica total
TABELA 1.5 PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SUBMETIDA AO SISTEMA
CONVENCIONAL DE CULTIVO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE
COLOMBO PR
35
TABELA 1.6 - PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SUBMETIDA AO SISTEMA
ORGÂNICO DE CULTIVO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE COLOMBO PR
PPT
mm
litros encosta
-1
mm
kg encosta
-1
kg ha
-1
30-set-07 18 59 244 0,076 0,05 0,17
18-out-07 18 43 29,8 0,009 0,02 0,07
1-nov-07
14
36
18
0,006
0,02
0,05
22-nov-07 21 213 190,1 0,059 0,05 0,16
7-dez-07 15 225 2900 0,906 1,74 5,44
20-dez-07 13 80 12 0,004 0,01 0,02
7-jan-08 18 16 0 0,000 0,00 0,00
24-jan-08 17 44 158 0,049 0,00 0,00
7-fev-08 14 80 35,5 0,011 0,00 0,00
22-fev-08 15 148 99 0,031 0,00 0,00
6-mar-08 13 0* 0 0,000 0,00 0,00
20-mar-08 14 8 50 0,016 0,00 0,00
3-abr-08 14 0* 9 0,003 0,00 0,00
17-abr-08 14 55 0 0,000 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0 0,000 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 0 0,000 0,00 0,00
29-mai-08 14 0* 0 0,000 0,00 0,00
12-jun-08 14 50 18 0,006 0,00 0,01
26-jun-08 14 115 4,85 0,002 0,01 0,04
10-jul-08 14 0* 0 0,000 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 16 0,005 0,01 0,03
7-ago-08 14 0* 0 0,000 0,00 0,00
21-ago-08 14 0* 100 0,031 0,02 0,05
4-set-08
14
0*
0
0,000
0,00
0,00
nº de dias
Perda de solo
Data da coleta
Perda de água
TABELA 1.7 - PERDAS DE SOLO E ÁGUA DA ENCOSTA SOB MATA NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO CAMPESTRE COLOMBO PR
PPT
mm
litros encosta
-1
mm
kg encosta
-1
kg ha
-1
30-set-07 18 59 0,00 0,000 0,00 0,00
18-out-07 18 43 0,00 0,000 0,00 0,00
1-nov-07 14 36 0,00 0,000 0,00 0,00
22-nov-07 21 213 1,50 0,001 0,00 0,00
7-dez-07 15 225 465,00 0,291 0,03 0,19
20-dez-07 13 80 29,80 0,019 0,00 0,01
7-jan-08 18 16 0,00 0,000 0,00 0,00
24-jan-08 17 44 0,00 0,000 0,00 0,00
7-fev-08 14 80 9,20 0,006 0,00 0,00
22-fev-08 15 148 0,00 0,000 0,00 0,00
6-mar-08 13 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
20-mar-08 14 8 0,00 0,000 0,00 0,00
3-abr-08 14 0* 0,00 0,000 0,05 0,31
17-abr-08 14 55 0,00 0,000 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0,00 0,000 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
29-mai-08 14 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
12-jun-08 14 50 0,00 0,000 0,00 0,00
26-jun-08 14 115 0,00 0,000 0,00 0,00
10-jul-08 14 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 0,00 0,000 0,00 0,00
7-ago-08 14 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
21-ago-08 14 0* 0,00 0,000 0,00 0,00
4-set-08
14
0*
0,00
0,000
0,00
0,00
Data da coleta
Perda de solo
nº de dias
Perda de água
A característica de uso intenso do solo é inerente aos modelos de cultivo
da agricultura familiar, seja no sistema de produção orgânico ou convencional,
onde uma pequena área é intensamente explorada. De acordo com
*A precipitação ocorreu neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro,
possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de chuva no local distantes
aproximadamente 1000 m das encostas; PPT – precipitação pluviométrica total
.
*A precipitação ocorreu neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro,
possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de chuva no local distantes
aproximadamente 1000 m das encostas; PPT
precipitação pluviométrica total
36
ABRAMOVAY et al. (1996), as lavouras de uma forma geral são três vezes
mais importantes no segmento familiar quando comparado com o sistema
patronal de cultivo, ou seja, a maior parte senão toda a renda dessas famílias
depende da agricultura, e isso justifica o intenso uso dos solos nessas áreas.
O limite de tolerância para perda de solo, ou valor T, seria o valor
máximo de perda de solo que não afetaria a produtividade dos sistemas de
cultivo, estando relacionado com o fator de formação do solo, porém este limite
é muito difícil de estimar. KIERKBY (1980) sugere taxas de formação de solo
de 0,1 mm ano
-1
para o nordeste dos Estados Unidos, e 0,02 mm ano
-1
para o
sudoeste árido americano, isso representa 1 Mg ha
-1
ano
-1
e 0,2 Mg ha
-1
ano
-1
,
respectivamente. HUDSON (1981) considera valores médios toleráveis de
perda de solo em torno de 2 a 5 Mg ha
-1
ano
-1
e são mais recomendáveis para
solos pouco espessos e/ou suscetível à erosão.
De acordo com DERPSCH et al. (1991) as perdas de solo no preparo
convencional são em dia 68 Mg ha
-1
ano
-1
, e no sistema de plantio direto de
6,9 toneladas Mg ha
-1
ano
-1
(média de várias condições experimentais).
Considerando esses valores às perdas de solo tanto no sistema orgânico como
convencional foram baixos. Porém mesmo estando baixos, esses valores são
significativos quando se trata de manejo de solo visando a conservação do solo
e da água. Desta forma o valor T pode ser considerado se estivermos
tratando de processos erosivos visando a produtividade desses solos, pois
ambientalmente essas perdas são significativas no processo de degradação
dos recursos hídricos.
As menores perdas de solo podem ser explicadas pela grande
quantidade de material orgânico adicionado, tanto no sistema orgânico como
no convencional aumentando a fertilidade do solo e favorecendo o
desenvolvimento das plantas, conseqüentemente reduzindo os riscos de
erosão. Plantas bem nutridas contribuem para a formação e estabilização dos
agregados, fornecendo energia e carbono para a atividade dos
microorganismos, que excretam compostos orgânicos que atuam como
agentes ligantes dos agregados, desta forma os subsistemas planta e
microorganismos favorecem o sistema solo (VEZZANI, 2001), evitando
processos erosivos. Além do sistema radicular, a cobertura vegetal, viva ou
37
morta, reduz o impacto da gota da chuva, e conseqüentemente evita a
desagregação do solo.
As perdas de água seguiram a mesma tendência das perdas de solo, no
entanto com diferenças menores entre o sistema convencional e orgânico
(TABELA 1.4). Em todas as encostas, o escoamento superficial foi muito baixo.
Do volume total precipitado no período de um ano (1227 mm) menos de 1% foi
perdido via escoamento superficial. COGO et al. (2003) encontraram perdas de
água em cultivos agrícolas menores que 4%, e ainda consideraram esse valor
baixo.
A perda de água em solo sob mata secundária foi inferior a 1 mm ano
-1
(TABELA 1.4). MARTINS et al. (2003) encontraram perdas de água em área de
mata nativa de aproximadamente 5 mm ano
-1
.
No sistema orgânico, o que favoreceu a redução na perda de água foi o
manejo empregado na área. Esta área foi cultivada em faixas, e no preparo
para o plantio são formados pequenos sulcos, funcionando como mini terraços
diminuindo assim a velocidade do escoamento e favorecendo a infiltração. No
sistema convencional, o que favoreceu a redução da perda de água foi o
grande período de pousio com a cobertura do solo pelas plantas espontâneas.
Isto caracteriza a importância de práticas conservacionistas em áreas
agrícolas para reter o escoamento dentro do sistema solo planta. No caso da
região de Colombo, deve-se evitar o solo descoberto nos meses de dezembro,
janeiro e fevereiro, período em que ocorrem as maiores precipitações no
município.
Os dados de perda de solo e água estão coerentes com a qualidade
física do solo das encostas estudadas. No sistema convencional na
profundidade de 0-5 cm, os atributos físicos foram os mais influenciados
negativamente pelo manejo, apresentando maior densidade e menor diâmetro
médio ponderado e condutividade hidráulica. Apesar da área sob sistema
convencional ter ficado sob pousio por um longo período e esse ter coincidido
com a maior precipitação, este sistema foi responsável pelas maiores perdas
de solo e água.
A comparação dos dados de perdas de solo e água deve levar em
consideração a escala de trabalho. Neste estudo, foi utilizada a escala de
encosta, com área variando de 0,16 a 0,35 ha, e, portanto diferente de uma
38
escala de parcela experimental (escala menor) bem como diferente de um
escala de micobracia (escala maior). É sabido que as perdas de solo e água de
uma bacia por exemplo de 10 hectares não são iguais às perdas de outra bacia
de 50 hectares, mesmo que ambas estejam inseridas na mesma unidade
fitogeográfica, isso porque os mecanismos de perdas de solo e água
dependem de fatores de geração do escoamento e da ligação entre encosta e
rede de drenagem. Outra questão que deve ser considerada é a diferença nas
declividades e as formas das rampas, pois estes irão afetar a velocidade do
escoamento superficial e ainda a concentração de sedimentos.
CONCLUSÕES
1. Os atributos físicos do solo foram afetados pelo manejo principalmente na
camada de 0-5 cm.
2. O sistema de produção de hortaliças convencional apresentou menor
qualidade dos atributos físicos na camada de 0-5 cm do solo e por
conseqüência maior perda de solo e água.
3. As perdas de solo e água nos sistemas de produção de hortaliças
convencional e orgânica foram superiores as da mata, porém muito abaixo
do valor agronomicamente tolerável.
4. Apesar das perdas terem sido baixas, os valores encontrados indicam
problemas de contaminação dos recursos hídricos, considerando os
eventos de elevada precipitação e solo descoberto.
39
LITERATURA CITADA
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CAPÍTULO 2 - PERDA E CONCENTRAÇÃO DE FÓSFORO E NITROGÊNIO
NO ESCOAMENTO SUPERFICIAL EM ENCOSTAS SOB SISTEMAS DE
PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS CONVENCIONAL E ORGÂNICO.
INTRODUÇÃO
A substituição das florestas pelos sistemas de produção agrícola aliado
ao uso inadequado de agrotóxicos e de fertilizantes minerais e orgânicos tem
interferido negativamente no ambiente, agravando o processo de contaminação
dos mananciais. O escoamento superficial em áreas agrícolas é o principal
meio de poluição difusa, sendo os poluentes transportados para os cursos de
água na forma solúvel ou adsorvidos nos sedimentos (GONÇALVES, 2003).
A erosão hídrica depende de muitos fatores, apresentando uma
variabilidade temporal e espacial, justificada pela grande diversidade climática
e de solos (BERTOL et al., 2002). Os principais fatores que influenciam as
perdas de nutrientes por erosão hídrica incluem o volume do escoamento
superficial, a fertilidade do solo, a topografia, a cobertura vegetal, o sistema de
manejo e cultivo, a quantidade e método de aplicação de fertilizantes e ainda a
umidade inicial do solo (MELLO, 2002: SCHICK et al., 2000; GUADAGNIN,
2003).
Um dos maiores problemas relacionados ao manejo inadequado dos
solos é a erosão hídrica, a qual tem contribuído para o empobrecimento e
redução da sustentabilidade dos agroecossistemas. A erosão hídrica nas áreas
cultivadas é a principal responsável pela poluição das águas, contaminado-as
principalmente com nitrogênio e fósforo. O N e P estão associados com
eutrofização, no entanto, em águas doces, o fósforo é considerado o elemento
limitante devido à capacidade de plantas aquáticas fixarem o nitrogênio
atmosférico (SIMS et al., 1998). Além da eutrofização, o nitrogênio,
especialmente o nitrato, esta associado com problemas de saúde humana
(SMITH et al., 1992).
As perdas de sforo ocorrem principalmente via escoamento superficial
sendo transportado na forma solúvel ou ligado ao sedimento. para o
46
nitrogênio, especialmente na forma de nitrato, as perdas ocorrem
principalmente via lixiviação. A adoção de sistemas conservacionistas têm sido
eficazes no controle da perda de solo, reduzindo as perdas de nutrientes na
forma particulada, entretanto a perda pode estar ocorrendo na forma solúvel,
considerando que estes sistemas nem sempre são eficientes na perda de água
(SCHICK et al., 2000; GUADAGNIN, 2003; BERTOL et al., 2003).
A forma solúvel tanto do fósforo como do nitrogênio representa a fração
prontamente disponível às plantas aquáticas, a forma particulada representa
uma fonte de longo prazo, no entanto para o fósforo uma fração da forma
particulada também é disponível às plantas a curto prazo. Esta fração, somada
ao solúvel, representa o biodisponível, e tem sido determinada em estudos de
fracionamento de P na água.
As formas e as quantidades de fósforo no escoamento superficial
dependem das fontes de poluição, mecanismos de transferência de sedimento
e fósforo e, sobretudo das transformações que ocorrem durante o processo de
erosão (SHARPLEY et al, 1992). REYNOLDS & DAVIES (2001) verificaram
que as quantidades de fósforo total transferidas das florestas são inferiores
quando comparados com áreas agricultáveis. Portanto, com a destruição das
florestas pela expansão das atividades agrícolas e pastoris essas perdas
podem aumentar significativamente trazendo problemas para a qualidade da
água. Vale lembrar que a perda de fósforo pode não ser significativa
agronomicamente, porém uma pequena quantidade é suficiente para causar
eutrofização (HART et al., 2004).
A avaliação da qualidade da água em sistemas de agricultura
convencional e orgânica e importante, pois permite determinar o potencial
poluidor dessa atividade. Neste sentido, o objetivo desse trabalho foi avaliar a
influência do manejo do solo na concentração e na perda de fósforo e
nitrogênio na água do escoamento superficial, em encostas submetidas à
produção de hortaliças no sistema orgânico e convencional, na bacia
hidrográfica do rio Campestre, Colombo, PR.
47
MATERIAL E MÉTODOS
A localização e caracterização das áreas de estudo e a coleta de água
das encostas já foram apresentados nos capítulo 1 desta dissertação.
Análises do escoamento superficial
Para cada amostra coletada do escoamento superficial nos baldes, um
volume de 500 ml foi separado e congelado até a análise dos nutrientes. Esse
procedimento foi realizado em todas as datas de coletas.
Com relação às formas solúveis, foram determinadas as concentrações
de fósforo solúvel (Psol), nitrato (NO
-
3
) e amônio (NH
4
). Para cada amostra,
alíquotas de 30 ml foram filtradas em membrana de éster de celulose (0,45
micrômetros) e posteriormente congeladas até a análise.
A metodologia utilizada para obtenção do fósforo solúvel, nitrato, e
amônio foram a do ácido ascórbico, a do ácido clorídrico e a do fenato,
respectivamente, de acordo com APHA (1995). Todas foram determinadas por
colorímetria com espectrofotômetro em diferentes comprimentos de onda.
A metodologia do ácido ascórbico é baseada na redução do complexo
fosfatomolíbdico de amônio pelo próprio ácido ascórbico na presença do
antimônio, que reage formando a cor azul de molibdato (APHA, 1995). As
leituras são feitas no comprimento de onde de 880 nm. O nitrato foi
determinado pelo método do acido clorídrico (1N). As amostras o
acidificadas para evitar possíveis interferências de altas concentrações de
hidróxidos ou carbonatos. As leituras são feitas no comprimento de onda de
220 nm e posteriormente as mesmas amostras são lidas em comprimento de
onde de 275 nm, esse procedimento é realizado a fim de eliminar interferências
da matéria orgânica.
O método do fenato é baseado no princípio de que em meio alcalino e
na presença do catalisador nitroprussiato, o amônio reage com o fenol e com o
hipoclorito de dio, formando o azul de indofenol. Desta forma é possível
determinar por colorímetria as concentrações de amônio nas amostras. As
leituras são feitas com espectrofotômetro no comprimento de onde de 640 nm.
48
As formas não solúveis de fósforo e nitrogênio foram determinadas a
partir da digestão kjeldahl de acordo com APHA (1995). Para isso utilizaram-se
amostras não filtradas e uma solução digestora a base de K
2
SO
4
, CuSO
4
e
H
2
SO
4
. As mesmas foram submetidas ao digestor atemperatura de 380 ºC e
posteriormente foram determinadas as concentrações do sforo total e
nitrogênio kjeldahl com as mesmas metodologias utilizadas para a
determinação das formas solúveis de fósforo e de amônio (APHA, 1995).
O método de digestão kjeldahl não inclui o nitrato, desta forma o
nitrogênio total foi obtido pelo somatório do nitrogênio kjeldahl e nitrato
(SHARPLEY et al., 1987).
A fração particulada de fósforo e nitrogênio foi obtida subtraindo o teor
total pelo solúvel.
O fósforo biodisponível foi determinado pelo método da membrana de
filtro impregnada por óxido do ferro, de acordo com MYERS & PIERZYNSKI
(2000), com algumas adaptações de SHARPLEY (1993). Depois de preparar a
membrana impregnada com soluções de FeCl
3
0,65 M e NH
4
OH 2,7 M, uma
amostra não filtrada de 50 ml do escoamento superficial foi colocada para
agitar em erlenmeyer de vidro por 16 horas em agitador constante (30 rpm)
juntamente com uma membrana de filtro impregnada por óxido de ferro de área
um pouco mais que 40 cm
2
. Posteriormente a membrana de filtro foi retirada e
transferida para outro erlenmeyer contendo 50 ml de uma solução de H
2
SO
4
0,2 M, agitando por 1 hora. Após a agitação, a membrana foi removida e na
solução de H
2
SO
4
0,2 M determinou-se a concentração de fósforo biodisponível
pelo método do ácido ascórbico de acordo com APHA (1995).
O fósforo biodisponível particulado foi obtido pela diferença do fósforo
biodisponível e o fósforo solúvel e a fração do fósforo particulado o
biodisponível através da subtração entre o sforo particulado e osforo
particulado biodisponível.
As perdas de nutrientes foram obtidas através do produto das
concentrações dos nutrientes pelo volume escoado na encosta. Enquanto que
a concentração média ponderada foi calculada pelo somatório dos produtos da
concentração do nutriente pelo volume do escoamento superficial em cada
data, dividido pelo total escoado durante todo o período estudado.
49
Análise estatística
Os dados foram submetidos à multivariada com análises de
componentes principais, e nelas utilizaram-se às interações entre os sistemas
de cultivo nas diferentes profundidades, utilizando SAS versão 8.2. Para perda
os resultados foram extrapolados para um hectare antes de submetê-los a
análise estatística.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Concentrações e perda de fósforo e nitrogênio nas encostas
A concentração dia ponderada anual de fósforo total na água do
escoamento superficial foi superior no sistema convencional e depois no
sistema orgânico e por último no solo sob mata (TABELA 2.1).
mm
L encosta
-1
mm Pdp Pbd P Psol Ppart Ptot Nkjel Namon Nnitrat Npart Ntot
convencional 1227 5952,6 1,98
4,63 0,45 4,18 5,30 9,48 29,73 6,01 4,66 24,66 34,37
orgânico 1227 3875,25 1,21
0,82 0,45 0,37 0,54 0,92 27,52 10,25 38,62 25,57 66,06
mata 1227 514,50 0,32
0,18 0,07 0,14 0,16 0,30 26,18 10,88 0,38 24,95 26,56
Sistemas
PPT
Concentração de nutrientes
mg l
-1
Perda de água
As maiores concentração de fósforo total no sistema convencional foram
9,3 mg l
-1
e 12,1 mg l
-1
(TABELA 2.2), e estas se deram em fevereiro, mês com
maiores perdas de solo e água (TABELA 1.6 capítulo 1). Nos meses
anteriores e posteriores a este, as concentrações foram de uma a duas vezes
menores, e distribuídas durante todo o ano. As altas concentrações de fósforo
total no sistema convencional podem ser explicadas pela maior perda de solo
TABELA 2.1 CONCENTRAÇÃO MÉDIA PONDERADA DOS NUTRIENTES NO
ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA
HIDROGRAFICA DO RIO CAMPESTRE,
COLOMBO, PR
Pdp: fósforo biodisponível; PbdP: fósforo biodisponível particulado; Psol: fósforo solúvel; Ppart: fósforo
particulado; Ptot:fósforo total; Nkjel:nitrogênio kjeldhal; Namon:nitrogênio amoniacal; Nnitrat: nitrogênio
nitrato; Npart: nitrogênio p
articulado; Ntot:nitrogênio total
50
aliado ao alto teor desse elemento na camada de 0-20 cm, chegando a ser 4
vezes superior ao o teor no solo da encosta sob cultivo orgânico e 136 vezes
superior ao teor no solo sob mata (TABELA 1. 5 Capítulo 1). A quantidade
de fósforo no solo é conseqüência da adubação mineral e orgânica realizada
na área. SHIGAKI et al. (2007) relatam que o arraste de fósforo por
escoamento superficial pode ser intensificado com a constante aplicação de
adubos fosfatados, seja mineral ou orgânico, o que está de acordo com POTE
et al. (1998).
A correlação positiva entre teor no solo e concentração na água se deve
a alta adsorção de P por minerais de argila o que o torna facilmente suscetível
à perda por erosão, dependendo apenas do tipo de material transportado pelo
escoamento (SHARPLEY & HALVORSN, 1994). Sedimentos finos como argila,
óxidos e matéria orgânica, apresentam baixa densidade e conseguem alcançar
longas distâncias e são enriquecidas por sforo (SMITH et al., 1998). Desta
forma se materiais grosseiros forem transportados certamente eles estarão
menos enriquecidos por fósforo. Porém se o fósforo está ligado no sedimento
menor que 0,2 µm, chuvas de baixas intensidades poderão estar carreando
esse nutriente para outro local na encosta.
No sistema orgânico as maiores concentrações de fósforo total foram de
6,9 mg l
-1
, 4,9 mg l
-1
e 5,9 mg l
-1
(TABELA 2.3) em fevereiro, março e abril
respectivamente, porém a do mês de dezembro que ocorreu a maior chuva do
ano, a concentração de fósforo total não foi significativa perto dos meses
citados acima (TABELA 2.3). Percebe-se que existe semelhança entre o
comportamento temporal do fósforo nesse sistema (TABELA 2.3) com o
sistema convencional (TABELA 2.2), considerando que nos períodos de
maiores chuvas não foram correspondentes as maiores concentrações de
fósforo em ambos os sistemas. No convencional nem houve escoamento
significativo (2,6 litros encosta
-1
) enquanto que no sistema orgânico na ordem
de 190 a 2900 litros encosta
-1
, porém ainda sim a concentração nesse sistema
foi baixo, comparados a outros períodos.
No sistema convencional esse resultado só foi possível devido a
presença de vegetação na maior parte do tempo na encosta, o que diminuiu a
taxa de aplicação de adubos químicos e orgânicos e consequentemente
diminuiu a concentração do elemento na água do escoamento superficial.
51
Outro fator foi que no mês de fevereiro caracterizado como período de
maior revolvimento do solo e plantio de mudas, obteve-se as maiores
concentrações de fósforo total no sistema convencional, o mesmo não
aconteceu para os sistema o orgânico que teve suas maiores concentrações
distribuídas em três meses. Porém vale ressaltar que apesar de maiores, as
concentrações obtidas durante em todo o período estudado estavam acima do
limite máximo permitido pela legislação número 357 do CONAMA 2005.
Analisando as TABELAS 2.2 e 2.3 observa-se que os meses de
novembro e dezembro foram os de maior precipitação, com volumes superiores
a 200 mm, no entanto o mês que houve a maior concentração de fósforo total
no sistema convencional foi o mês de fevereiro com um volume de chuva de
140 mm. Indicando que muitas vezes não é o volume de chuva que vai
determinar maiores concentrações de nutrientes na água do escoamento
superficial, e sim outros fatores associados a esse, como intensidade da chuva,
cobertura e revolvimento do solo por exemplo.
De um modo geral, as maiores concentrações foram observadas no
verão, porém houve concentrações inferiores e significativas em outros meses
do ano nos sistemas de produção.
Durante o período estudado, para todos os sistemas, inclusive solo sob
mata as concentrações de fósforo total estiveram acima do limite máximo
permitido pela legislação do CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005), que
determina em águas de classe 1 como limite ximo de fósforo total 0,1 mg l
-1
para ambientes lóticos, 0,025 mg l
-1
para ambientes intermediários e 0,02 mg l
-1
para ambientes lênticos.
O fósforo biodisponível, que representa o fósforo solúvel e parte do
fósforo particulado, é a fração prejudicial à qualidade da água a curto prazo.
Desta forma, avaliar a taxa de fósforo biodisponível é essencial para
estabelecer com maior acurácia os impactos que a agricultura vem causando
na qualidade da água (SHARPLEY et al., 1995).
A média ponderada anual das concentrações de fósforo biodisponível
(Pbd) apresentaram o mesmo comportamento do fósforo total, onde as mairoes
concentrações foram observadas no sistema convencional depois do sistema
orgânico e por ultimo no solo sob mata (TABELA 2.1). Porém se observamos a
proporção do fósforo total que está na forma biodisponível verificamos que o
52
sistema orgânico 90% do fósforo total está biodisponibilizado enquanto que no
sistema convencional apenas 49%, ou seja, a curto prazo quem está
contribuindo para maior contaminação dos recursos hídricos é o sistema
orgânico. O que não o torna tão vilão assim é o fato dele perder pouca água via
escoamento superficial. Desta forma se as perdas de água nos dois sistemas
produtivos fossem semelhantes com certeza o sistema orgânico estaria com
maior potencial poluidor que o sistema convencional.
Avaliando a sazonalidade do Pbd tem-se que as maiores concentrações
ocorreram nos meses de fevereiro no sistema convencional e no sistema
orgânico em fevereiro, março e abril (TABELA 2.1 e 2.2).
A média ponderada anual do sforo solúvel também apresentou a
mesma tendência que o fósforo total, sendo maior no sistema convencional,
depois no sistema orgânico e por último no solo sob mata (TABELA 2.1).
Contudo, a média ponderada obtida durante o ano de desenvolvimento
deste trabalho foi superior ao obtido por SHARPLEY et al. (1992). Estes
autores encontraram média anual de 1,23 mg l
-1
de Pbd no sistema
convencional (3 vezes maior – 4,1 mg l
-1
).
Analisando a sazonalidade da concentração de fósforo solúvel (Psol) no
sistema convencional, tem-se que a maior concentração 6,22 mg l
-1
se deu no
mês de fevereiro (TABELA 2.2), valor menor que a do fósforo biodisponível (8,9
mg l
-1
). Desta forma podemos concluir que parte do fósforo particulado
também está na forma biodisponível. No sistema orgânico (TABELA 2.3) as
maiores concentrações também foram em fevereiro e ainda no mês de abril
(4,9 e 4,6 mg l
-1
) e na mata de 2,2 mg l
-1
também em fevereiro (TABELA 2.4).
Esses resultados indicam possivelmente um potencial de eutrofização de rios e
lagos próximos às encostas, dependo apenas do volume de água e da vazão
desses corpos hídricos.
Analisando a concentração média ponderada anual do fósforo
particulado (5,3 mg l
-1
) e do sforo biodisponível particulado (0,45 mg l
-1
) no
sistema convencional tem-se que aproximadamente 8% do sforo particulado
total é biodisponível ou seja, prontamente disponível para vida plantas e
microorganismos aquáticos. A quantidade de sforo particulado não
biodisponível é a fração potencialmente poluidora, pois, nos rios e lagos ocorre
53
o processo de transformação do fósforo particulado para solúvel e vice-versa,
e, portanto é uma fonte de fósforo a ser disponiblizada a longo prazo.
Na encosta sob cultivo orgânico a concentração média ponderada de
fósforo particulado e biodisponível particulado foram 0,54 mg l
-1
e 0,45 mg l
-1
respectivamente (TABELA 2.1), sendo que aproximadamente 80 % do fósforo
particulado está biodisponível.
Para o sforo particulado a maior concentração se deu
predominantemente em fevereiro no sistema convencional (6,8 mg l
-1
) o que
coincidiu novamente com as maiores perdas de solo e água nesse sistema,
considerando que essa fração do sforo é perdida somente ligado ao
sedimento (TABELA 2.2). No sistema orgânico ocorreu no mês de junho (2,9
mg l
-1
) e fevereiro (2,47 mg l
-1
) ambos meses o volume de chuva foram
semelhantes em torno de 100 mm, (TABELA 2.3) uso e cobertura também
(TABELA 1.1 capítulo 1). Observa-se que muitos são os fatores relacionados
as concentrações de fósforo, como precipitação coincidir com o preparo de solo
e ou plantio de mudas, por exemplo.
Ao analisarmos as tabelas de concentração (TABELAS 2.2 e 2.3) nos
dois sistemas, temos que no sistema orgânico as frações de fósforo
biodisponível e biodisponível particulado apresentam uma leve distribuição das
concentrações durante o período avaliado (treze eventos), e no convencional
ocorre em onze eventos no ano. Este resultado indica que no sistema orgânico
esse resultado pode ser conseqüência da maior exploração do solo, visto que
nessa área o solo é intensamente utilizado durante todo o período do ano, e
isso não ocorre no sistema convencional que é marcado por diversos períodos
de pousios.
Na encosta sob mata, a maior concentração de fósforo solúvel (TABELA
2.4) foi 2.2 mg l
-1
e o do fósforo total 2,2 mg l
-1
no mês de fevereiro, e no mês
que ocorreu a maior precipitação a concentração de fósforo foi de 0,98 mg l
-1
.
Enquanto que a dia anual ponderada (TABELA 2.1) do fósforo total foi 0,3
mg l
-1
.
Elevadas concentrações de P total em encostas sob mata são
freqüentes em estudos de bacias hidrográficas quando ocorrem eventos
precipitação intensa ocasionando a remoção de nutrientes do dossel das
florestas. SHARPLEY et al. (1995) também associam esse tipo de resultado
54
com a fertilidade natural do solo sob mata e a quantidade de nutrientes retidos
na serapilheira, os quais enriquecem a água do escoamento em sistemas
naturais.
As concentrações de uma maneira geral foram maiores exclusivamente
no s de fevereiro para todos os sistemas de cultivo e solo sob mata, apesar
do maior volume de chuva não ter ocorrido neste s, e sim em novembro e
dezembro. Deduz-se então que a intensidade de chuva foi diferente nesses
meses, onde nos meses de novembro e dezembro possivelmente a intensidade
foi menor do que no mês de fevereiro onde o volume de chuva foi menor,
porém com maior concentração de nutrientes. Pois muitas vezes o maior
volume de chuva não está associado diretamente a maior perda e
concentração de nutrientes, pois esse volume pode ter sido distribuído pouco a
pouco durante todo o s, ou pode ter precipitado todo ele em um dia. Ou
ainda o solo estava protegido por cobertura vegetal espontânea o que evitou
grandes perdas de água.
As perdas de fósforo total (Ptot) na encosta sob cultivo convencional
foram de 56,4 g por encosta ano (TABELA 2.5) sendo que aproximadamente
50% do total perdido na encosta estava na forma de fósforo biodisponível (Pbd)
(FIGURA 2.1).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Convencional Orgânico Mata
Soluvel Particulado Não Bio-Disponivel Particulado Bio-Disponivel
FIGURA 2.1 PERCENTUAL DE PERDA ANUAL DE FÓSFORO EM SUAS DIFERENTES
FORMAS NA ÁGUA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS DIFERENTES SISTEMAS
O fósforo particulado (Ppart) obteve perda anual de 31 g por encosta,
ou seja, de todo fósforo perdido via sedimento menos de 9% estava
prontamente disponível para fixação pelas algas e organismos, se tratando do
55
sistema convencional este é um resultado favorável no ponto de vista de perda
de fósforo ligado ao sedimento.
Contudo uma relação inversa entre a biodisponibilidade de fósforo
particulado e a concentração de sedimentos, ou seja, a quantidade de fósforo
particulado biodisponível tende a diminuir com o aumento na concentração de
sedimentos, devido o aumento do número de sítios de adsorção por fósforo ao
sedimento (SHARPLEY et al., 1992). Na encosta convencional a perda de solo
(TABELA 1.6 capítulo 1) foi superior às demais, o que conseqüentemente
causou maior perda de fósforo (TABELA 2.5), principalmente na forma
particulada (55% do fósforo total foi perdido na forma particulada). As maiores
perdas ocorreram no mês de fevereiro, coincidindo com a época de preparo do
solo e plantio, consequentemente o solo descoberto. KLEINMAN et al. (2006)
encontraram perdas de fósforo maior no mês de setembro, e associou esse
resultado a maior perda de solo no mesmo período com os eventos de chuvas.
no sistema orgânico as perdas anuais de Ptot foram 18 vezes
menores que as perdas no sistema convencional (TABELA 2.5), porém 90% do
fósforo total foi perdido na forma biodisponível.
As perdas de Ppart no sistema orgânico foram 15 vezes inferiores ao
convencional, e cerca de 85% deste estava na forma biodisponível particulada.
Então 85% do fósforo perdido via sedimento estaria disponível, porém v;ale
ressaltar que a perda de sedimento foi muito inferior ao sistema convencional.
Isto permite inferir que, se no sistema orgânico as perdas de solo fossem
maiores, ou pelo menos semelhantes as perdas de solo do sistema
convencional, o potencial de contaminação desse sistema seria maior do que
no sistema convencional, nessa escala de avaliação. Porém não é o que
ocorre, pois o sistema convencional perdeu muito mais água e sedimento que o
sistema orgânico.
Apesar das perdas de Ptot terem sido maiores no sistema convencional,
a porcentagem do fósforo total biodisponível foi a menor entre os sistemas de
cultivo avaliados. SHARPLEY & HALVORSON (1994), encontraram resultados
semelhantes onde as menores porcentagens de Pbd foram encontradas no
sistema convencional.
As perdas de fósforo total no sistema convencional (56 g em 0,32
hectares, extrapolando para um hectare esse valor vai para 175 g ha
-1
ano
-1
-
56
TABELA 2.5) foram maiores que os encontrados por BERTOL 2004 (16 g ha
-
1
ano
-1
). O teor de fósforo encontrado pelo autor na camada superficial foi maior
no sistema conservacionista, e no caso deste estudo o teor de fósforo no solo
também foi superior na encosta convencional. Essa informação a cerca da
quantidade de fósforo do solo explica as maiores perdas de fósforo na água,
que ambos estão fortemente correlacionados.
Para MACDOWELL et al. (2001) as perdas de fósforo por escoamento
superficial ocorrem de forma continua durante todo o ano, porém é durante os
eventos pluviométricos de maior intensidade que essas se dão em maior
quantidade. SHARPLEY et al. (1992) acrescentam que as perdas são devido
também às variações sazonais das chuvas como intensidade e duração do
intervalo entre um evento e outro e ainda a cobertura vegetal existente no
momento da chuva.
Na encosta sob mata as perdas anuais de fósforo total (TABELA 2.5)
foram extremamente baixas quando comparados com os sistemas produtivos,
apesar da concentração de P total ter ficado acima de 2 mg l
-1
. As pequenas
perdas de fósforo mesmo com elevadas concentrações deve-se a baixa perda
de água na mata.
Se considerarmos que a aplicação de adubação mineral fosfatada na
produção de hortaliças é geralmente superior a 80 kg ha
-1
ano
-1
, e a maior
perda encontrada foi de 56 g no sistema convencional, isso equivale a 0,07 %
do total aplicado. Desta forma perdas insignificantes agronomicamente podem
ser muito significantes ambientalmente. Portanto é preciso muita cautela na
análise de perdas de nutrientes, pois uma pequena quantidade de nutriente
que não afeta economicamente poderá contaminar rios e lençóis freáticos
atingindo uma população inteira que habita a bacia hidrográfica.
57
mm
L encosta
-1
mm Pdp Pbd P Psol Ppart Ptot Nkjel Namon Nnitrat Npart Ntot
30-set-07 18 59 490 0,16 0,65 0,50 0,16 0,53 0,69 30,06 11,81 0,70 26,75 30,76
18-out-07 18 43 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
1-nov-07 14 36 9,2 0,00 ND ND ND ND ND ND 27,19 12,76 0,00 0,00
22-nov-07 21 213 2,6 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
7-dez-07 15 225 2,9 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
20-dez-07 13 80 78 0,03 0,48 0,20 0,28 0,28 0,56 27,15 16,30 0,35 23,37 27,47
7-jan-08 18 16 6,9 0,00 ND ND ND ND ND ND 37,91 0,00 0,00 0,00
24-jan-08 17 44 17,9 0,01 ND ND 1,54 0,30 1,84 26,23 12,04 16,84 10,60 43,07
7-fev-08 14 80 16,9 0,01 8,94 2,72 6,22 3,10 9,32 38,96 3,52 54,88 35,44 93,84
22-fev-08 15 148 4435 1,48 5,81 0,47 5,34 6,81 12,15 25,69 4,58 1,27 21,11 26,96
6-mar-08 13 0* 210 0,07 1,42 0,39 1,03 1,54 2,57 28,56 2,95 10,83 25,61 39,39
20-mar-08 14 8 33 0,01 0,76 0,09 0,67 1,66 2,33 2,83 5,45 14,75 4,70 17,58
3-abr-08 14 0* 210 0,07 1,87 0,31 1,56 1,89 3,45 40,24 3,17 50,57 37,15 90,81
17-abr-08 14 55 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 215,2 0,07 1,65 0,52 1,14 0,53 1,66 89,30 16,98 5,70 72,32 95,00
29-mai-08 14 0* 5 0,00 ND ND 3,90 0,40 4,30 71,11 39,95 32,46 31,16 103,56
12-jun-08 14 50 65 0,02 0,86 0,51 0,34 0,89 1,23 95,01 16,64 8,90 78,37 103,91
26-jun-08 14 115 55 0,02 0,96 0,00 0,96 0,21 1,17 67,68 16,60 0,00 51,08 67,68
10-jul-08 14 0* 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
7-ago-08 14 0* 65 0,02 0,68 0,10 0,59 0,53 1,12 8,62 8,19 50,36 0,89 58,98
21-ago-08 14 0* 35 0,01 1,25 0,25 1,00 0,47 1,47 13,49 0,94 50,32 12,56 63,81
4-set-08
14
0*
0
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
Data da coleta nº de dias
PPT ES ES
Concentração de nutrientes
mg l
-1
TABELA 2.2 - CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO E NITROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA ENCOSTA SOB CULTIVO CONVENCIONAL
*Precipitações ocorreram neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de
chuva no local distantes aproximadamente 1000 m das encostas; ND não determinado; PPT - precipitação pluviométrica total; Pdp: fósforo biodisponível;
PbdP: fósforo biodisponível particulado; Psol: fósforo solúvel; Ppart: fósforo particulado; Ptot:fósforo total; Nkjel:nitrogênio kjeldhal; Namon:nitrogênio
amoniacal; Nnitrat: nitrogênio nitrato; Npart: nitrogênio particulado; Ntot:nitrogênio
58
mm
L encosta
-1
mm Pdp Pbd P Psol Ppart Ptot Nkjel Namon Nnitrat Npart Ntot
30-set-07 18 59 244,0 0,08 0,43 0,21 0,22 0,23 0,45 29,24 11,28 0,35 17,96 29,60
18-out-07 18 43 29,8 0,01 0,74 0,49 0,25 0,57 0,81 26,42 10,41 0,35 25,32 26,77
1-nov-07 14 36 18,0 0,01 1,10 0,61 0,49 1,26 1,75 29,63 11,10 0,35 26,38 29,98
22-nov-07 21 213 190,1 0,06 0,76 0,53 0,23 0,65 0,88 26,93 10,58 0,35 24,97 27,28
7-dez-07 15 225 2900,0 0,91 0,58 0,42 0,16 0,46 0,62 28,08 10,39 50,21 27,23 78,29
20-dez-07 13 80 12,0 0,00 ND ND ND ND ND 36,28 11,50 0,42 20,54 36,71
7-jan-08 18 16 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24-jan-08 17 44 158,0 0,05 0,65 0,37 0,28 0,47 0,75 26,03 12,57 0,35 24,98 26,38
7-fev-08 14 80 35,5 0,01 0,74 0,59 0,16 2,47 3,63 10,64 3,14 1,45 7,50 5,76
22-fev-08 15 148 99,0 0,03 6,61 1,64 4,97 1,97 6,93 17,54 4,86 0,30 12,68 17,84
6-mar-08 13 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
20-mar-08 14 8 50,0 0,02 4,59 1,41 3,18 1,81 4,98 27,39 3,11 0,99 24,28 28,38
3-abr-08 14 0* 9,0 0,00 5,39 0,72 4,67 1,31 5,98 8,24 2,94 7,66 5,30 15,90
17-abr-08 14 55 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
29-mai-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
12-jun-08 14 50 18,0 0,01 ND ND ND ND ND 92,58 19,29 9,80 73,29 102,38
26-jun-08 14 115 4,9 0,00 3,30 2,81 0,49 2,92 3,41 79,56 17,90 12,97 61,66 92,53
10-jul-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 16,0 0,01 0,96 0,31 0,66 0,81 1,47 18,54 1,62 46,93 9,42 58,09
7-ago-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
21-ago-08 14 0* 100,0 0,03 1,25 0,25 1,00 0,47 1,47 12,02 9,59 26,37 10,40 38,39
4-set-08
14
0*
0,0
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
Data da coleta nº de dias
PPT ES ES
Concentração de nutrientes
mg l
-1
TABELA 2.3 – CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO E NITROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA ENCOSTA SOB CULTIVO ORGÂNICO
*Precipitações ocorreram neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de
chuva no local distantes aproximadamente 1000 m das encostas; ND não determinado; PPT - precipitação pluviométrica total; Pdp: fósforo
biodisponível; PbdP: fósforo biodisponível particulado; Psol: fósforo solúvel; Ppart: fósforo particulado; Ptot:fósforo total; Nkjel:nitrogênio kjeldhal;
Namon:nitrogênio amoniacal; Nnitrat: nitrogênio nitrato; Npart: nitrogênio particulado; Ntot:nitrogênio
59
mm
L encosta
-1
mm Pdp Pbd P Psol Ppart Ptot Nkjel Namon Nnitrat Npart Ntot
30-set-07 18 59 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
18-out-07 18 43 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
1-nov-07 14 36 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
22-nov-07 21 213 1,5 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
7-dez-07 15 225 465,0 0,29 0,14 0,05 0,09 0,14 0,23 27,23 10,35 0,35 26,22 27,58
20-dez-07 13 80 29,8 0,02 0,89 0,51 0,38 0,60 0,98 26,35 25,37 0,35 20,43 26,71
7-jan-08 18 16 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24-jan-08 17 44 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
7-fev-08 14 80 9,2 0,01 ND ND 2,26 0,01 2,26 2,45 2,98 2,23 4,01 4,68
22-fev-08 15 148 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
6-mar-08 13 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
20-mar-08 14 8 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
3-abr-08 14 0* 0,0 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
17-abr-08 14 55 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
30-abr-08 13 40 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
15-mai-08 15 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
29-mai-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
12-jun-08 14 50 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
26-jun-08 14 115 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
10-jul-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
24-jul-08 14 15 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
7-ago-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
21-ago-08 14 0* 0,0 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
4-set-08
14
0*
0,0
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
ES
Concentração de nutrientes
mg l
-1
Data da coleta nº de dias
PPT ES
TABELA 2.4 VARIABILIDADE TEMPORAL DAS CONCENTRAÇÕES DE FÓSFORO E NITROGÊNIO POR DATA DE COLETA NA ENCOSTA SOB MATA
*Precipitações ocorreram neste período, no entanto não foram coletados no pluviômetro possivelmente por erros de anotações ou pela não ocorrência de
chuva no local distantes aproximadamente 1000 m das encostas; ND não determinado; PPT - precipitação pluviométrica total; Pdp: fósforo
biodisponível; PbdP: fósforo biodisponível particulado; Psol: fósforo solúvel; Ppart: fósforo particulado; Ptot:fósforo total; Nkjel:nitrogênio kjeldhal;
Namon:nitrogênio amoniacal; Nnitrat: nitrogênio nitrato; Npart: nitrogênio particulado; Ntot:nitrogênio
60
mm
L encosta
-1
mm Pdp Pbd P Psol Ppart Ptot Nkjel Namon Nnitrat Npart Ntot
convencional 1227 5952,6 1,98
27,54 2,70 24,89 31,55 56,45 176,96 36,03 27,74 146,81 204,58
orgânico 1227 3875,25 1,21
3,19 1,76 1,43 2,09 3,55 106,66 39,72 149,66 99,10 255,99
mata 1227 514,50 0,32
0,09 0,04 0,07 0,08 0,16 13,47 5,60 0,19 12,84 13,66
Sistemas mm
L encosta
-1
mm
convencional 1227 5952,6 1,98
91,81 9,00 82,98 105,18 188,15 589,87 120,11 92,48 489,36 681,94
orgânico 1227 3875,25 1,21
9,97 5,49 4,48 6,52 11,11 333,32 124,13 467,68 309,68 799,98
mata 1227 514,50 0,32
0,51 0,21 0,41 0,46 0,87 74,83 31,09 1,08 71,31 75,91
g hectare
-1
Sistemas
PPT Perda de água
Perda de nutrientes
g encosta
-1
Concentrações e perda de nitrogênio nas encostas
O nitrogênio apesar de não ser o elemento limitante (existem algas
capazes de fazer a fixação do mesmo pela atmosfera) é também responsável
pela eutrofização. Além de estar associado a eutrofização, o nitrogênio causa
danos à fauna aquática e à saúde humana, nas suas diferentes formas (SIMS
et al., 1997).
A concentração média ponderada anual de nitrogênio total - Ntot que
incluem N orgânico, amônio solúvel, particulado e nitrato, no sistema
convencional foi de 34,3 mg l
-1
(TABELA 2.1 ) sendo que 72% do nitrogênio
total estava na forma particulada ou ligada ao sedimento. Ainda no sistema
convencional as concentrações médias ponderadas de nitrato e amônio foram
4,6 e 6,0 mg l
-1
, respectivamente (TABELA 2.1). No sistema orgânico 38,7 e
10,6 mg l
-1
(TABELA 2.1) e ainda no solo sob mata 0,3 mg l
-1
e 10,6 mg l
-1
(TABELA 2.1). No caso do nitrato, de maneira geral obtiveram-se valores
baixos. No entanto, apenas no cultivo orgânico a concentração média
ponderada ultrapassou 3,8 vezes o limite máximo permitido pela legislação do
CONAMA 357/2005 (BRASIL, 2005) que é de 10 mg l
-1
de N-NO
3
. Porém, para
o amônio todas as concentrações estão acima dos limites máximos permitidos
para a saúde humana que é 0,5 mg l
-1
e para vida aquática que é 2,5 mg l
-1
de
acordo com USEPA (1973) citado por SHARPLEY et al. (1987).
No sistema orgânico a concentração média anual de Ntot ficou em 66,0
mg l
-1
(TABELA 2.1), quase duas vezes maior que a encontrada no sistema
TABELA 2.5 PERDAS DE NUTRIENTES VIA ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS
DIFERENTES SISTEMAS DE PRODUÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
CAMPESTRE, COLOMBO, PR
Pdp: fósforo biodisponível; PbdP: fósforo biodisponível particulado; Psol: fósforo solúvel; Ppart: fósforo
particulado; Ptot:fósforo total; Nkjel:nitrogênio kjeldhal; Namon:nitrogênio amoniacal; Nnitrat: nitrogênio
nitrato; Npart: nitrogênio particulado; Ntot:nitrogênio total
61
convencional, sendo que aproximadamente 38% deste estavam na forma
particulada. No solo sob mata a concentração média anual de Ntot foi 26,5 mg
l
-1
(TABELA 2.1), porém 93% deste estava na forma particulada, quase 3 vezes
maior que a fração de Npart no sistema orgânico. A porcentagem da
concentração de Ntot na forma de Npart no solo sob vegetação natural foi
maior que nos dois sistemas de produção estudados, sendo no sistema
orgânico a menor porcentagem (apenas 37%), resultado diferente ao
encontrado por BERTOL et al. (2005). Apesar de serem altas as
concentrações, quando comparamos os sistemas produtivos com a mata
observa-se que o Ntot foi maior no orgânico, depois no convencional e por
último na mata.
Este resultado seria preocupante se a concentração de nitrogênio total
no solo sob mata fosse maior, que a maior parte dele está na forma
particulada, porém a concentração de nitrogênio total na encosta sob cultivo
orgânico é 2,3 vezes maior que a concentração do mesmo elemento no solo
sob mata. Para REYNOLDS & DAVIES (2001) áreas florestadas tendem a
apresentar menores concentrações de nutrientes, e ainda contribuem para a
diluição das concentrações de nutrientes na água do escoamento superficial.
Desta forma o sistema orgânico pode está perdendo muito nitrogênio na
forma solúvel e pouco na forma particulada. Neste ponto chegamos a duas
interpretações, se o sistema orgânico está menos concentrado na forma
particulada, ele poderá está perdendo menos sedimento (TABELA 1.4 -
Capítulo 1), porém a forma solúvel que é ligeiramente disponível aos
organismos, foi a maior. na forma de nitrato ele é 8,4 vezes maior que o
sistema convencional.
Pode-se observar que a participação do nitrato no Ntot é de
aproximadamente 58%, no cultivo orgânico enquanto que no sistema
convencional está em torno de 13%. Maior que a participação do Npart no Ntot
para esse sistema, porém pode-se associar esse resultado pelas altas taxas de
nitrificação do nitrogênio orgânico na encosta sob cultivo orgânico, o que o
deve ter ocorrido tão intensamente no sistema convencional. Esse resultado
está coerente com a perda de solo (TABELA 1.4 - Capítulo 1), que na
encosta convencional obteve-se maior perda de solo e conseqüentemente
maior perda de nitrogênio particulado.
62
SMITH et al. (1992) relata que para o nitrogênio observam-se menores
concentrações na forma solúvel no escoamento superficial, sendo o nitrogênio
particulado a principal forma encontrada na água do escoamento superficial.
Apesar do nitrato ser perdido preferencialmente por lixiviação, devido a
carga deste elemento o solo exerce repulsão sobre ele. Como no sistema
orgânico a concentração deste elemento no escoamento superficial foi muito
alta indícios que ele também esteja sendo lixiviado mais intensamente e
contaminando água subsuperficial.
As perdas de nitrogênio no sistema orgânico foram altas, principalmente
o nitrogênio total (255 g encosta
-1
ano
-1
), enquanto que no sistema
convencional foi de 204,6 g encosta
-1
. Porém 38% do nitrogênio perdido no
sistema orgânico estava na forma particulada enquanto que no sistema
convencional 71% é nitrogênio particulado, resultado que confere com as
perdas de solo nesses sistemas (TABELA 1.6 – Capítulo 1).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Convencional Orgânico Mata
Nitrogenio Particulado Nitrato Amônio
FIGURA 2.2 PERCENTUAL DE PERDA ANUAL DE NITROGÊNIO POR ENCOSTA, NAS
SUAS DIFERENTES FORMAS NA ÁGUA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NOS
DIFERENTES SISTEMAS
As perdas de nitrato e amônio foram 27,7 e 36,0 g encosta
-1
para o
sistema convencional e no sistema orgânico 149,6 e 39,7 g encosta
-1
respectivamente (TABELA 2.5). A contribuição do nitrato nas perdas de Ntot no
sistema orgânico foi de 59%, muito superior ao encontrado no sistema
convencional (30%), conforme FIGURA 2.2. Nota-se que houve uma relação
63
positiva entre as concentrações dos nutrientes e as perdas. As maiores
concentrações resultaram nas maiores perdas.
De uma forma geral 64% do nitrogênio total perdido em uma bacia
hidrográfica está na forma de nitrogênio particulado (SHARPLEY et al., 1987),
e este apresenta relação com a perda de sedimento. Na encosta que perdeu
mais solo foi a que obteve maior perda desse nutriente na forma particulada
(sistema convencional).
Na encosta sob mata as perdas de nitronio total ficaram próximas a
13,6 g encosta
-1
. De uma maneira geral as perdas assim como as
concentrações de nitrogênio foram maiores na encosta sob cultivo orgânico.
Apenas para o nitrogênio particulado que a encosta sob cultivo convencional
obteve valores superiores as demais, mas esse resultado confere com a perda
de solo, com atenção especial para o nitrato que o mesmo apresentou valor
cinco vezes maior que o encontrado no sistema convencional (TABELA 2.5).
Considerando que a região de Colombo abriga parte do aqüífero karst,
isso representa um possível potencial de contaminação de lençóis freáticos
superficiais e confinados, dependendo apenas da capacidade do solo de
realizar sua função de filtro, retendo o ânion NO
-
3
nas cargas positivas
presentes nos componentes do solo. Porém se tratando de Cambissolo Ta (alta
atividade de argila) a retenção de ânions (comum em solos oxídicos) é quase
inexistente, pois se trata de solos jovens com grande quantidade de carga
negativa geradas pela matéria orgânica e minerais de argila do tipo 2:1, que
apresentam capacidade de troca de cátions e não de ânions. Desta forma é
preciso monitorar a qualidade da água de lixiviação dos solos presentes nestas
encostas, a fim de detectar possíveis pontos de contaminação.
Análise de componentes principais das perdas e concentrações de
nutrientes
A análise de componentes principais foi realizada com o intuito de
verificar diferenças entre os sistemas de produção e solo sob mata. A análise
foi elaborada considerando as perdas e as concentrações por hectare, pois se
utilizarmos as escalas reais em que foram estudadas não foi possível verificar
64
diferenças significativas. Desta forma quando agrupamos todas as
concentrações de nutrientes em três componentes também não é possível
identificar diferenças estatísticas significativas. A seguir seapresentado um
gráfico de PCA com três componentes principais (FIGURA 2.3).
Porém na análise de perda de nutrientes com três componentes foi
possível verificar diferenças, pois há a formação de agrupamentos distintos,
que quando identificados distingue-se nos sistemas estudados, indicando que
existem diferenças significativas entre eles (FIGURA 2.4). O resultado das
perdas é explicado com 94% da variância total acumulada nos sistemas,
enquanto que para as concentrações apenas 88,5%. Além disso, as
concentrações e perdas tenderam a ser maior no sistema convencional,
havendo uma tendência das maiores concentrações gerarem maiores perdas
totais.
FIGURA 2.3 GRÁFICO GERADO APARTIR DO PROGRAMA ESTATÍSTICO: SAS VERSÃO
8.2. ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DAS CONCENTRAÇÕES DE NUTRIENTES
NOS DIFERENTES SISTEMAS ESTUDADOS
65
FIGURA 2.4 GRÁFICO GERADO APARTIR DO PROGRAMA ESTATÍSTICO: SAS VERSÃO
8.2. ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS DAS PERDAS DE NUTRIENTES NOS
DIFERENTES SISTEMAS ESTUDADOS
CONCLUSÃO
1. As concentrações e perdas de todas as formas de fósforo foram maiores no
sistema convencional enquanto que no sistema orgânico observaram-se as
maiores concentrações e perdas de nitrogênio total e nitrato
2. As menores concentrações e perdas de N e P ocorreram no solo sob mata
3. A porcentagem biodisponível desforo foi maior proporcionalmente no
sistema orgânico, apesar deste ter apresentado menores concentrações e
perdas, indicando o maior potencial poluidor a curto prazo.
66
4. De uma maneira geral, as perdas de fósforo e nitrogênio foram concentradas
nos períodos em que coincidira precipitação com o preparo do solo para
plantio.
5. A presença de vegetação espontânea é fundamental para diminuir o
escoamento superficial e conseqüentemente diminuir o potencial de
contaminação por nutrientes. Dessa forma os horticultores deveriam adotar
práticas conservacionistas sejam elas mecânicas ou culturais pelo menos nos
períodos de maior ocorrência de chuva.
6. As elevadas concentrações e perdas de nitrato na água do escoamento
superficial no sistema orgânico é preocupante, considerando tanto a qualidade
de água superficial como subsuperficial. O nitrato é preferencialmente perdido
por lixiviação, portanto altas concentrações na água do escoamento superficial
indica um grande potencial de contaminação da água subsuperficial. O
problema se torna maior considerando que o município de Colombo abriga
parte do aqüífero Karst.
67
LITERATURA CITADA
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CONCLUSÃO GERAL
O sistema de produção de hortaliças convencional apresentou menor
qualidade dos atributos físicos na camada de 0-5 cm do solo e por
conseqüência maior perda de solo e água, porém muito abaixo do valor
agronomicamente tolerável.
O escoamento superficial provindo dos sistemas de produção é
potencialmente poluidor dos cursos d’água, pois tanto para o nitrogênio como
para o fósforo as concentrações estão acima dos limites máximos permitidos
pela legislação.
As maiores concentrações e perdas de fósforo se deram no sistema
convencional, no entanto, a porcentagem biodisponível de fósforo foi maior
70
proporcionalmente no sistema orgânico, apesar deste ter apresentado menores
concentrações e perdas, indicando o maior potencial poluidor a curto prazo.
Com relação ao nitrogênio, as maiores concentrações e perdas ocorreram no
sistema orgânico, o que é extremamente preocupante, especialmente para o
nitrogênio na forma de nitrato. Esse nutriente é preferencialmente perdido por
lixiviação, portanto altas concentrações na água do escoamento superficial
indica um grande potencial de contaminação da água subsuperficial. O
problema se torna maior considerando que o município de Colombo abriga
parte do aqüífero Karst.
De uma maneira geral as perdas de fósforo e nitrogênio foram
concentradas no verão, período de maior ocorrência de chuvas e preparo do
solo para plantio, demonstrando que a presença de vegetação sobre o solo é
fundamental para diminuir o escoamento superficial e conseqüentemente
diminuir o potencial de contaminação por nutrientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As amostras de solo para avaliação dos atributos físicos foram coletadas
em três posições na paisagem (terço superior, médio e inferior), no entanto
foram analisadas como repetições em cada encosta. Para um maior
detalhamento seria interessante também analisar a influência da posição na
paisagem coletando no mínimo três amostras de solo em cada terço da
encosta. Outro aspecto a ser considerado é a profundidade do solo. Neste
trabalho se avaliou somente os primeiros 20 cm, no entanto recomenda-se
amostrar também as camadas inferiores, na qual espera-se um menor efeito do
preparo do solo.
Neste trabalho foi possível medir somente o volume de chuva diário
através de um pluviômetro, no entanto recomenda-se avaliar também a
intensidade e a duração dos eventos de chuva, pois ambos são determinantes
em estudos de pequena escala.
A determinação da concentração e perda de sedimentos foi através da
coleta de uma subamostra nos baldes coletores do escoamento superficial,
71
devido ao grande volume escoado das encostas bem como da necessidade de
usar parte do escoamento na determinação de outros parâmetros de qualidade
de água. No entanto, para maior precisão, sempre que possível recomenda-se
processar toda a amostra por evaporação ou decantação, a fim de eliminar
possíveis depósitos de sedimento no fundo do balde.
Uma das desvantagens de se trabalhar em escala de encosta ou
pequenas bacias hidrográficas é a dificuldade de se aplicar métodos
estatísticos convencionais considerando a impossibilidade de repetir a unidade
de estudo. Outro aspecto que deve ser considerado é a impossibilidade de
controlar a variabilidade espacial de solo e relevo entre outros e ainda a
variabilidade temporal no que se refere à chuva precipitação e manejo do solo,
o que dificulta a comparação entre unidades bem como a extrapolação dos
resultados para bacias maiores.
72
APÊNDICE
TABELA 1 - AUTOVALORES (λ) DAS COMPONENTES PRINCIPAIS EXTRAÍDAS DA MATRIZ
DE CORRELAÇÃO DAS VARIAVEIS DOS ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO, PERCENTUAIS
DAS VARIÂNCIAS ASSOCIADAS DO PRIMEIRO AO TERCEIRO FATOR, E PERCENTUAIS
DAS VARIÂNCIAS ACUMULADAS.
Fatores Autovalores % Variância do Fator % Var. Acumulada
1 289.305.961 0.4133 0.4133
2 158.736.702 0.2268 0.6401
3 119.660.962 0.1709 0.8110
TABELA 2 - AUTOVALORES (λ) DAS COMPONENTES PRINCIPAIS EXTRAÍDAS DA MATRIZ
DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS DAS PERDAS DE NUTRIENTES, PERCENTUAIS DAS
VARIÂNCIAS ASSOCIADAS DO PRIMEIRO AO TERCEIRO FATOR, E PERCENTUAIS DAS
VARIÂNCIAS ACUMULADAS.
Fatores Autovalores % Variância do Fator % Var. Acumulada
1 5,80848615 0,3872 0,3872
2 4,74700827 0,3165 0,7037
3 3,64841269 0,2432 0,9469
TABELA 3 - AUTOVALORES (λ) DAS COMPONENTES PRINCIPAIS EXTRAÍDAS DA MATRIZ
DE CORRELAÇÃO DAS VARIÁVEIS DAS CONCENTRAÇÕES DE NUTRIENTES,
PERCENTUAIS DAS VARIÂNCIAS ASSOCIADAS DO PRIMEIRO AO TERCEIRO FATOR, E
PERCENTUAIS DAS VARIÂNCIAS ACUMULADAS.
Fatores Autovalores % Variância do Fator % Var. Acumulada
1 7,31075295 0,2437 0,2437
2 6,67227639 0,2224 0,4661
3 5,14713679 0,1716 0,6377
4 3,36660135 0,1122 0,7499
5 2,38603615 0,0795 0,8294
6 1,53221896 0,0511 0,8805
73
TABELA 4 - ATRIBUTOS FÍSICOS DO SOLO EM TRÊS PROFUNDIDADES ESTUDADAS
Sistemas
Profundidade
Repetição*
Condutiv
Densolo
Denspart
Porotot
Micro
Macro
DMPu
Convencional 0-5 1 58,7 1,0 2,3 54,6 46,5 8,0 2,4
Convencional 0-5 2 93,7 0,9 2,3 59,2 37,8 21,4 2,6
Convencional 0-5 3 48,8 0,8 2,3 64,2 43,2 21,0 2,3
Convencional 5-10 1 50,4 1,1 2,5 56,0 43,1 12,8 2,8
Convencional 5-10 2 207,2 0,9 2,5 62,8 35,4 27,4 3,3
Convencional 5-10 3 58,6 0,8 2,5 66,5 43,7 22,8 3,2
Convencional 10-20 1 131,0 0,9 2,3 62,5 36,5 26,0 2,7
Convencional 10-20 2 277,3 1,0 2,3 57,7 38,5 19,1 3,3
Convencional 10-20 3 380,6 0,7 2,3 68,4 41,2 27,2 3,4
Mata 0-5 1 137,3 0,8 2,3 67,1 14,5 52,6 3,6
Mata 0-5 2 ND 0,9 2,3 61,2 25,0 36,2 3,6
Mata 0-5 3 287,9 0,8 2,3 66,8 33,6 33,1 4,1
Mata 5-10 1 138,6 0,8 2,4 64,8 18,8 45,9 3,7
Mata 5-10 2 76,7 0,9 2,4 60,7 32,7 28,0 3,4
Mata 5-10 3 345,2 0,9 2,4 61,9 41,9 20,0 4,2
Mata 10-20 1 ND 1,0 2,5 61,0 31,4 29,6 3,6
Mata 10-20 2 237,0 1,0 2,5 61,6 34,3 27,3 3,1
Mata 10-20 3 224,3 0,9 2,5 62,7 46,1 16,5 3,4
Orgânico 0-5 1 156,5 0,8 2,4 65,2 39,2 26,0 3,0
Orgânico 0-5 2 ND 0,8 2,4 67,9 31,5 36,4 3,5
Orgânico 0-5 3 ND 0,9 2,4 64,6 35,8 28,8 3,9
Orgânico 5-10 1 ND 0,8 2,4 66,1 36,3 29,8 3,3
Orgânico 5-10 2 299,8 1,0 2,4 57,2 41,4 15,8 4,2
Orgânico 5-10 3 16,8 1,0 2,4 58,3 40,9 17,5 3,7
Orgânico 10-20 1 ND 0,8 2,5 66,8 66,8 ND 3,8
Orgânico 10-20 2 34,2 1,1 2,5 57,9 44,6 13,2 3,7
Orgânico
10-20
3
395,1
1,0
2,5
59,6
44,5
15,1
3,5
*1
terço superior;
2
terço médio;
3
terço inferior; ND- não determinado; Condutiv:condutividade
hidráulica, Densolo:densidade do solo, Denspart: densidade de particulado, Porotot:
porosidade total, Micro:microporosidade, Macro: macroporosidade, DMPu: diâmetro médio
ponde
rado úmido
74
APÊNDICE
FOTO 1: A – VOLUME DE ESCOAMENTO NO BALDE DA ENCOSTA SOB CULTIVO
ORGANICO, B - USO E COBERTURA DO SOLO SOB CULTIVO ORGÂNICO, C -
ASPECTO DA RODA DE COSCHOCTON NA DATA DE COLETA DE 07DE DEZ DE 07.
FOTO 2: A - USO E COBERTURA DO SOLO NA ENCOSTA SOB SISTEMA
CONVENCIONAL, B - ASPECTO DA RODA DE COSCHOCTON EM 07 DE DEZ DE
2007.
FOTO 3: A - USO E COBERTURA DO SOLO NA ENCOSTA SOB CULTIVO
CONVENCIONAL, B - VOLUME DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA ENCOSTA SOB
CULTIVO CONVENCIONAL C - ASPECTOS DA RODA DE COSCHOCTON EM 22 FEV
DE 2007.
FOTO 4: A - USO E COBERTURA NA ENCOSTA SOB CULTIVO ORGÂNICO, B BALDE
DE COLETA DO ESCOAMENTO SUPERFICIAL NA ENCOSTA SOB CULTIVO
ORGÂNICO, C
ASPECTOS DA RODA DE C
OSCHOCTON NA DATA DE 22 DE FEV DE
B
C
B
C
B
C
A
A
A
A
B
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