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BRUNA FIGUEIREDO MANZO
O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO HOSPITALAR NA PERSPECTIVA
DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE
BELO HORIZONTE
Escola de Enfermagem da UFMG
2009
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BRUNA FIGUEIREDO MANZO
O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO HOSPITALAR NA PESPECTIVA
DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado
da Escola de Enfermagem da Universidade
Federal de Minas Gerais, como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Área de concentração: Saúde e Enfermagem.
Linha de Pesquisa: Planejamento, organização
e gestão de serviços de saúde e de
enfermagem.
Orientadora: Profa. Dra. Maria José Menezes
Brito.
BELO HORIZONTE
Escola de Enfermagem da UFMG
2009
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Universidade Federal de Minas Gerais
Escola de Enfermagem
Programa de Pós-Graduação
Dissertação intitulada: “O Processo de Acreditação Hospitalar na perspectiva
de profissionais de saúde”, de autoria da mestranda Bruna Figueiredo
Manzo, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes
professores:
_____________________________________________________________
Profa. Dra. Maria José Menezes Brito - ENA/UFMG - Orientadora
______________________________________________________
Dra. Vera Lúcia Bonato (Titular) - USP
______________________________________________________
Dr. Fábio Leite Gastal (Titular)
______________________________________________________
Dra. Marília Alves (Suplente) – ENA/UFMG
______________________________________________________
Dra. Silma Maria Cunha Pinheiro (Suplente) - UFMG
Belo Horizonte, 02 de abril de 2009
Dedico esta dissertação
ao Giovani, meu marido, por me
incentivar a crescer e me apoiar nos momentos mais
difíceis desta caminhada e ao Bruno, razão da minha
motivação e luta.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, por iluminar minha vida
e me proporcionar força e
sabedoria.
Aos meus pais, Marco Antônio e Bia, pelo imenso amor, exemplo de vida e por acreditarem
em mim em todos os momentos da minha vida.
Aos meus irmãos, Carla e Frederico, pela amizade, carinho e acolhimento.
Aos meus cunhados e sobrinhos, pelo incentivo e momentos de descontração.
À minha avó Isolda, ao meu sogro João e à minha sogra Tiana, pelo carinho e força.
À minha orientadora Maria José Menezes Brito, por acreditar em mim e compartilhar
comigo seus ensinamentos.
Aos professores da escola de enfermagem da UFMG, pela possibilidade de um aprendizado
enriquecedor, em especial à professora Cláudia Maria Mattos Penna.
Às minhas amigas Carlinha, Danúbia, Allana, Raquel, Renata Lacerda, pelo carinho,
atenção e acolhimento nas horas mais difíceis dessa caminhada.
À Faculdade Pitágoras e Unifenas, em especial a Silma Cunha, Ana Maria Pinheiro e
Aneílde pelo incentivo e carinho.
Ao Hospital da Unimed, em especial Leonardo Allagio, Tarcísio Dayrell e Dra. Fátima
Guedes por ter me aberto portas em busca do conhecimento.
Aos profissionais do hospital da Unimed que possibilitaram a realização deste estudo,
revelando a mim suas experiências e vivências com o processo da Acreditação.
Aos meus alunos, em especial a Juliana Ferreira Castro, pelo apoio e incentivo.
A Lúcia e a Rose, pelo carinho e dedicação.
Enfim, a todos que torceram por mim!
MANZO, Bruna Figueiredo. O Processo de Acreditação Hospitalar na perspectiva de
profissionais de saúde. 2009. 98 f. Dissertação (Mestrado em Saúde e Enfermagem) - Escola
de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2009.
RESUMO
Com o intuito de alcançar os mais elevados padrões assistenciais, são adotadas iniciativas
voltadas para o processo de Acreditação Hospitalar, as quais impõem novas exigências no que
se refere às mudanças comportamentais, mobilização constante dos profissionais em busca de
metas e objetivos propostos, além da melhoria permanente e contínua do atendimento
prestado. Trata-se de um estudo de caso qualitativo que teve como objetivo geral analisar o
processo de Acreditação Hospitalar na perspectiva dos profissionais de saúde de um hospital
privado em Belo Horizonte. A pesquisa foi desenvolvida com profissionais de saúde alocados
em três setores do hospital (Bloco Cirúrgico, Unidade de Cuidados Progressivos e Unidade de
Internação), por meio de entrevistas semiestruturadas no período de setembro a novembro de
2008. A organização e análise de dados tiveram como base a apreciação temática de
conteúdo. Da análise de dados emergiram quatro categorias empíricas: 1. A Acreditação na
visão dos profissionais de saúde; 2. As implicações do processo de Acreditação para o
hospital, pacientes e profissionais de saúde; 3. Aspectos facilitadores e dificultadores da
Acreditação Hospitalar; 4. Estratégias apontadas pelos profissionais de saúde em busca da
manutenção do processo de qualidade. A partir dos resultados encontrados, nota-se que não há
um consenso da visão dos profissionais de saúde a respeito do processo de Acreditação,
influenciando na adesão e manutenção do processo de gestão da qualidade. A maioria dos
entrevistados consegue visualizar o processo da Acreditação na sua esfera técnica, processual
e operacional, ainda que não seja de forma integral, em contrapartida, apenas alguns dos
profissionais puderam perceber que o sistema de qualidade abrange também aspectos
subjetivos importantes, como valores individuais e sociais dos atores e das instituições
envolvidos nesse contexto, notadamente a humanização do cuidado. Outro achado importante
diz respeito às influências do sistema de gestão para o hospital, os pacientes e os funcionários.
Para os entrevistados, o hospital adquire vários benefícios com o processo de Acreditação, tais
como status, referência e lucro. No que refere aos pacientes, traz a segurança de um
atendimento de excelência, apesar de reconhecerem que em alguns momentos o sistema
propicia o distanciamento entre cuidador e paciente. Para os próprios funcionários a questão
ainda gera bastante divergência, sem que haja um senso comum. Ademais, no que diz respeito
aos aspectos dificultadores do processo, ficou evidente a falta de manutenção do sistema de
qualidade ao longo do ano, além do pouco envolvimento de alguns profissionais. No que
tange os aspectos facilitadores, o trabalho de equipe apresentou-se como o pilar fundamental
para processo de qualidade. Os profissionais reconheceram que o grande desafio enfrentado
por eles e pelos dirigentes é a manutenção do processo de Acreditação. Nesse contexto, a
capacitação continuada de todos os profissionais foi apontada como a principal estratégia para
a busca constante de melhorias.
Palavras-chave: Acreditação, Qualidade da assistência na saúde, Controle de qualidade,
Serviços de saúde.
MANZO, Bruna Figueiredo. The Hospital Accreditation in the Health care staff’s
perspective. 2009. 98 f. Dissertation (Master’s Degree in Health and Nursing) Scholl of
Nursing, Federal University of Minas Gerais, Belo Horizonte.
ABSTRACT
In order to reach the highest assistance patterns it was adopted some practices focused on the
Hospital Accreditation process. They assert some new demands concerning with behavior
changes, the steady staff’s mobilization to achieve required goals and purposes besides a
permanent and continuous improvement of Health care service. It is a qualitative case study
which aimed to analyze the Hospital Accreditation process from a Health care staff’s view in
a private hospital in Belo Horizonte. The research was done with the Health care staff
allocated in three sectors of the hospital (Surgical Block, Progressive Cares Unit and
Internment Unit) by semi-structured interviews from September to November, 2008. The data
organization and analysis were based on thematic analysis of content. From the data analysis
emerged four empirical categories: 1. The accreditation in the Health care staff’s view; 2. The
implications of the accreditation process for the hospital, patients and health care staff; 3.
Aspects which facilitate and make it difficult for the hospital Accreditation; 4. Strategies
pointed out by the health care staff in order to seek the maintenance of the Quality Process.
From the obtainable results it is noticed that there is no consensus on the health care staff’s
view concerning to the Accreditation process causing any influence in the adhesion and
maintenance of the Quality management process. The majority of the interviewees can
visualize the Accreditation process in its technical, processional and operational aspects even
if it is not in its totality. However, just some of them could recognize that the quality system
also covers important subjective aspects such as individual and social people and institutions’
values especially the humanization of care. Another important finding is regarding the
influences of the management system for the hospital, patients and staff. For the interviewees,
the hospital can get lots of benefits with the Accreditation process such as status, reference
and profit. For patients, it brings a health care service quality assurance even though they
recognize that sometimes the system leads to a distance between them and the health care
staff. According to the health care staff, the issue is very divergent without achieving a
common sense. Furthermore, it was evident not only the lack of maintenance of the Quality
System during all the year but also, the staff’s little involvement as difficult parts of the
process. The group work was considered the main pillar for the Quality Process as a facilitator
of the process. The health care staff also recognized that the great challenge they faced on was
the maintenance of the Accreditation Process. Viewed in this context, the staff’s continuous
qualification was pointed out as the main strategy to seek improvements constantly.
Keywords: Accreditation, Quality of the attendance the health, Quality Control, Health
Services.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ACC - Colégio Americano de Cirurgiões
BC - Bloco Cirúrgico
COEP/UFMG - Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais
EUA - Estados Unidos da América
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz
JCAH - Joint Comission on Acreditation of Hospitals
JCAHO - Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organization
MBA-OPSH - Manual Brasileiro de Acreditação - Organizações Prestadoras de Serviços
Hospitalares
MBA-OPSS - Manual Brasileiro de Acreditação - Organizações Prestadoras de Serviços de
Saúde
NOAS - Norma Operacional da Assistência em Saúde
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONA - Organização Nacional de Acreditação
OPAS - Organização Pan–americana de Saúde
POP - Procedimento Operacional Padrão
PPH - Programa de Padronização Hospitalar
UCP - Unidade de Cuidados Progressivos
UI - Unidade de Internação
LISTA DE QUADROS
Quadro 1
- Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 1 (acreditado)..... 24
Quadro 2
- Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 2
(acreditado pleno).............................................................................................................. 25
Quadro 3
- Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 3 (acreditado
com excelência)................................................................................................................. 27
Quadro 4
-
Quadro dos sujeitos da pesquisa..
......................................................
34
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 12
1.1 Contextualização do problema............................................................................... 12
1.2 Objetivos................................................................................................................ 16
1.2.1 Objetivo geral......................................................................................................... 16
1.2.2 Objetivos específicos.............................................................................................. 16
2 REVISÃO DE LITERATURA........................................................................... 17
2.1 Panorama conceitual e histórico do processo de qualidade.................................... 17
2.1.1 Qualidade em saúde e Acreditação Hospitalar....................................................... 17
2.1.2 Organização Nacional de Acreditação Hospitalar.................................................. 20
2.2 Padrões e itens de orientação para a Acreditação Hospitalar................................. 23
2.2.1 Estrutura (segurança).............................................................................................. 24
2.2.2 Processos (organização).......................................................................................... 25
2.2.3 Resultados (excelência na gestão)........................................................................... 27
2.3 Participação dos profissionais na gestão da qualidade........................................... 28
3 PERCURSO METODOLÓGICO...................................................................... 31
3.1 Estratégia de pesquisa............................................................................................. 31
3.2 Cenário do estudo................................................................................................... 32
3.3 Sujeitos da pesquisa................................................................................................ 33
3.4 Instrumento e procedimentos para a coleta de dados............................................. 36
3.5 Tratamento e análise dos dados............................................................................. 37
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................. 39
4.1 A Acreditação na visão dos profissionais de saúde................................................ 39
4.2 Implicações do processo de Acreditação................................................................ 48
4.2.1 Implicações do processo de Acreditação para o Hospital....................................... 48
4.2.2 Implicações do processo de Acreditação para os pacientes.................................... 51
4.2.3 Implicações do processo de Acreditação para os profissionais de saúde............... 54
4.3 Aspectos facilitadores e dificultadores do processo de Acreditação...................... 59
4.3.1 Dificuldades apresentadas durante a implantação e a manutenção do sistema
de qualidade............................................................................................................ 59
4.3.2 Facilidades encontradas pelos profissionais durante o processo de
Acreditação............................................................................................................. 71
4.4 Estratégias apontadas pelos profissionais de saúde em busca da manutenção do
processo de qualidade............................................................................................. 76
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 82
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 87
APÊNDICES.................................................................................................................... 92
Apêndice A - Termo de autorização para realização do estudo......................................... 92
Apêndice B - Carta de informação ao participante da pesquisa......................................... 93
Apêndice C - Termo de consentimento livre e esclarecido................................................ 94
Apêndice D - Roteiro de Entrevistas.................................................................................. 95
ANEXOS........................................................................................................................... 96
Anexo A - Parecer de aprovação do EMI/EEUFMG........................................................ 96
Anexo B - Parecer de aprovação do COEP/UFMG.......................................................... 98
12
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contextualização do problema
A sobrevivência no mercado de trabalho cada vez mais globalizado e competitivo
é, indiscutivelmente, um dos grandes desafios na área de saúde. Buscando se adequar às
mudanças vividas pela sociedade contemporânea e ao mesmo tempo atender às demandas de
uma clientela cada vez mais exigente, gestores dos serviços de saúde têm adotado novas
posturas que impõem o incremento do nível de qualidade. Na perspectiva de alcançar os mais
elevados padrões assistenciais, são adotadas iniciativas voltadas para o processo de
Acreditação Hospitalar, as quais impõem novas exigências no que se referem às competências
profissionais, mudanças comportamentais, mobilização constante dos profissionais em busca
de metas e objetivos propostos, além da melhoria permanente e contínua do atendimento.
É certo que a medicina contribui extraordinariamente para a evolução tecnológica
e para um grande progresso em relação à descoberta e prevenção de doenças. Porém, de
maneira paradoxal, o sistema de saúde enfrenta um momento crítico advindo do sentimento
de insatisfação da população que necessita dos serviços médico-hospitalares (COUTO;
PEDROSA, 2007). Na pesquisa mundial de saúde, projeto desenvolvido pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) e divulgada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ, 2004), foi
identificado que 46,7% dos brasileiros usuários exclusivos do sistema público e 28% dos
usuários do sistema suplementar estão insatisfeitos com o funcionamento da assistência.
Ademais, segundo Maximiano (1997), o cenário atual brasileiro, no contexto de
uma economia globalizada, encontra-se em situação preocupante em que as instituições não
mais suportarão os custos relacionados com a -qualidade, dentre eles: gastos elevados com
morbidade e mortalidade crescentes, despesas com “retrabalho” e dispêndios com processo
ineficiente; não bastasse o comprometimento da imagem da organização perante a sociedade,
além da perda de clientes e de mercado.
O cenário de insatisfação associado com a má-qualidade na prestação de serviços
instigou a criação de um padrão de qualidade, processo definido como um conjunto de
atributos que inclui nível de excelência profissional, uso eficiente de recursos, nimo de
risco ao usuário, alto grau de aceitação por parte dos clientes e efeito favorável na saúde
(BRASIL, 2002). Nesse contexto, o sistema brasileiro de acreditação, operacionalizado pela
Organização Nacional de Acreditação (ONA), busca promover o desenvolvimento e
13
implantação de um processo permanente de avaliação e de certificação da qualidade dos
serviços de saúde, permitindo o aprimoramento contínuo da atenção de forma a garantir a
qualidade na assistência à saúde, bem como o cuidado humanizado. Adami, et al. (2006)
acrescentam que a qualidade não deve ser entendida como uma meta, mas como um processo
contínuo de melhorias.
O Programa de Acreditação Hospitalar é um procedimento de avaliação dos
recursos institucionais, de forma periódica, voluntária, racionalizada, ordenadora e,
principalmente, de educação continuada dos profissionais, no intuito de garantir a qualidade
da assistência por meio de padrões previamente aceitos (SCHIESARI, 1999). A Acreditação
deve ser entendida, portanto, em duas dimensões. A primeira, como um processo educacional,
que leva as instituições prestadoras de serviços de assistência em saúde, especialmente os
profissionais de saúde, a adquirirem a cultura da qualidade para implementação da gestão de
excelência, fundamental para o processo; e a segunda dimensão como um processo de
avaliação e certificação da qualidade dos serviços, analisando e atestando o grau de
desempenho alcançado pela instituição de acordo com padrões pré-definidos (NETO;
BITTAR, 2004).
De acordo com Novaes e Bueno (1998), o Programa de Acreditação contribui para
que ocorra uma mudança progressiva e planejada de hábitos. Assim, os profissionais serão
estimulados a participar do processo que visa à mobilização e criação de metas objetivas, com
intuito de garantir melhoria na qualidade da assistência prestada. Reforçando a ideia
apresentada, Porto e Rego (2004) alertam para a existência de um movimento direcionado à
garantia da qualidade com destaque na valorização do aspecto humano, no sentido de
oportunizar melhorias das relações entre as pessoas, maior envolvimento e comprometimento
dos profissionais e dos padrões éticos de atendimento que almejam a satisfação e o
acompanhamento das necessidades humanas.
Esse movimento em direção à qualidade refletiu a necessidade de mudanças
fundamentais nas organizações, uma vez que a valorização dos indivíduos e a atenção às
relações sociais tornam-se imprescindíveis para a aquisição do título de excelência. Nesse
cenário, os profissionais da saúde emergem como o cerne da política de qualidade, tendo
papel essencial na garantia e na manutenção do processo. Por meio do compromisso com a
política da qualidade estabelecida pela instituição, os profissionais se engajam e reforçam a
cultura de melhoria centrada no cliente e na determinação de executar serviços que atendam
os requisitos da ONA, de forma segura e com excelência.
14
Nessa perspectiva, Mezomo (2001) sustenta que o grande diferencial das
organizações está no âmbito da qualidade de pessoal e no desempenho profissional de seus
recursos humanos. A tecnologia e a estrutura das organizações podem ter um pequeno
significado se as pessoas não se sentirem comprometidas com a qualidade, sobretudo no que
se refere ao atendimento das necessidades dos clientes.
O estudo da qualidade envolve, além de um conjunto de técnicas, uma dimensão
mais ampla de ações do processo social, cujos elementos principais para o seu
desenvolvimento são aqueles que atuam e exercem seu papel nesse processo (BONATO,
2007). Mezomo (2001) acrescenta que as pessoas fazem o diferencial de qualquer
organização, à medida que participam e apresentam poder de decisão, pois, assim, assumem a
responsabilidade pela produção da qualidade. O mesmo autor ressalta que todo esforço de
melhoria de uma organização deve começar por meio do enfoque dos profissionais no que
tange à educação, desenvolvimento de habilidades, formação de consciência responsável,
treinamentos para o trabalho em equipe e criação da visão ética do trabalho.
Aspectos sociológicos o apresentados por Bonato (2007). Segundo a autora, o
estudo da qualidade no campo de saúde envolve mais do que um conjunto de técnicas, pois se
aloca em uma dimensão com amplas ações sociais, cujas práticas desenvolvidas pelos sujeitos
devem ser construídas a partir de uma história pessoal e social, a partir do indivíduo em si,
embora estimulada institucionalmente. O novo paradigma exige dos profissionais posturas
que reflitam a internalização de valores e revisão de conceitos. Bem trabalhada a teoria e
orientados os profissionais, o alcance dos objetivos pretendidos pela sinergia das pessoas e da
organização construirão um novo cenário de trabalho. De acordo com Bonato:
A qualidade apresenta-se como via de diversas mãos que interage com
diversos sujeitos que atuam nos hospitais. Esse processo é dinâmico,
influenciando e influenciado em seu planejamento e execução, fato que
possibilita contribuições, construções e reconstruções que podem agregar
valor e resignificar conceitos, aproximando cada vez mais as ações do
hospital à realidade do sistema de saúde e mobilizando para a busca da
transformação desde segmento (BONATO, 2007, p. 48).
De modo enfático, Mezomo (2001) aborda o papel dos profissionais ressaltando
que ninguém fará a produção da qualidade se antes não estiver convencido de sua validade, e
ninguém se convencerá se antes não tiver o claro conhecimento do porquê de sua ão. O
autor conclui que “Quem conhece se convence; quem se convence se compromete; e quem se
compromete age” (MEZOMO, 2001, p. 57).
15
Tendo em vista o exposto, o interesse pelo tema em questão decorreu da vivência
como enfermeira de um hospital privado concebido para ser referência de qualidade no
atendimento. A contratação ocorreu antes da inauguração do hospital, visando maior
aproximação da meta pretendida, qual seja a Acreditação Hospitalar. Com isso, houve
participação desde a etapa inicial do planejamento das atividades, bem como na
implementação, na avaliação de ações por meio de indicadores de qualidade e no
acompanhamento de ciclo de melhorias, na auditoria interna e na auditoria externa, com a
posterior aquisição do certificado de Acreditação em nível de excelência. Durante esse
período constatou-se que os profissionais de saúde inseridos na gestão de qualidade tinham
ideias divergentes em relação ao processo de Acreditação. Ao mesmo tempo, notou-se que
alguns dos envolvidos não detinham o conhecimento sobre a importância e do que
efetivamente se tratava o processo de qualidade na saúde, sendo possível observar um
distanciamento entre os princípios dispostos no Programa de Acreditação em relação à prática
assistencial desempenhada por alguns colaboradores.
Vários estudos mostram a importância da Acreditação na qualidade da assistência
em saúde e para a melhoria contínua dos serviços (LABBADIA et al., 2004; LIMA;
ERDMANN, 2006; PORTO; REGO, 2005; NETO; BITTAR, 2004; QUINTO NETO;
GASTAL, 1997). No entanto, são escassas as referências a respeito da percepção dos
profissionais de saúde sobre o processo de Acreditação, havendo uma lacuna científica entre a
exposição teórica do processo de Acreditação e a aplicação, pelos profissionais, dessa nova
prática em saúde. Apesar de se conhecer a importância do sistema de avaliação na qualidade
da assistência, bem como a influência dos profissionais de saúde na manutenção desse
processo, não se sabe quais seriam as percepções e o conhecimento nesse assunto pelos
sujeitos que empregam a Acreditação como meio de excelência na prestação de serviços,
sendo este o foco do presente estudo.
Para análise do processo de Acreditação na perspectiva de profissionais de saúde,
foram delineados os seguintes questionamentos: Quais são as percepções e o conhecimento
dos profissionais de saúde em relação ao Programa de Acreditação Hospitalar? Qual é a
influência do processo de Acreditação para os colaboradores, pacientes e hospital? Quais são
os aspectos facilitadores e dificultadores do processo? Como possibilitar uma melhor adesão
ao programa de qualidade?
A busca de respostas a essas indagações pode ser fundamental para a melhoria da
participação de profissionais de saúde nos programas de qualidade. Bittar (2001) salienta que
um programa de gestão de qualidade que não encontra respaldo na cultura organizacional não
16
apresenta sustentação e leva os clientes internos e externos a não perceberem seus benefícios,
situação que acarreta o abandono do plano de ação em curto espaço de tempo.
Além do mais, uma melhor compreensão e reflexão acerca do processo de
Acreditação poderá contribuir para minimizar os riscos assistenciais advindos da prestação
serviços em saúde. Uma vez reconhecidas as implicações do sistema de qualidade pelos
próprios profissionais, mais fácil será o caminho para a manutenção de todo o processo e a
conquista da excelência no atendimento.
Espera-se, portanto, que este estudo possa contribuir para que as equipes reflitam
sobre o processo da qualidade, a responsabilidade social, as mudanças de hábitos e dos
conceitos embutidos no processo de Acreditação Hospitalar. Ademais, intenta-se oferecer, a
partir das percepções colhidas, uma melhoria contínua da qualidade assistencial, levando-se
em consideração um maior compromisso e motivação dos profissionais de saúde, bem como o
incremento do cuidado humanizado, o qual é fundamental para a prática assistencial.
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Analisar o processo de Acreditação Hospitalar na perspectiva de profissionais
de saúde de um hospital privado em Belo Horizonte, Minas Gerais.
1.2.2 Objetivos específicos
Conhecer a percepção dos profissionais de saúde sobre o processo de
Acreditação;
Analisar as principais influências do processo de Acreditação para o hospital,
pacientes e profissionais de saúde;
Analisar os principais aspectos facilitadores e dificultadores do processo;
Analisar as estratégias utilizadas pelos profissionais de saúde para a
manutenção do processo de qualidade.
17
2 REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Panorama conceitual e histórico do processo de qualidade
2.1.1 Qualidade em saúde e Acreditação Hospitalar
A preocupação com a qualidade, presente na saúde desde Hipócrates, torna-se
mais intensa no século XX. A qualidade na área da saúde foi dimensionada no contexto
industrial, inicialmente por pensadores americanos que trabalhavam com Qualidade. Seu
apogeu aconteceu na indústria Japonesa pós-guerra. O sucesso desse modelo no contexto
Japonês deveu-se, em grande parte, às características propícias encontradas naquele país,
bastante distintas das realidades vividas em outros locais (SCHIESARI, 1999).
A transposição de um modelo concebido para a indústria americana ou japonesa
para a realidade empresarial brasileira necessitou de várias adaptações, como um profundo
conhecimento a respeito das diferenças, vantagens e desvantagens e sua real aplicabilidade
(SCHIESARI, 1999).
Algumas considerações foram tecidas por Donabedian em 1998 a respeito dos
diferentes modelos de qualidade que explicitam as peculiaridades da transposição da
qualidade para a área de saúde. Nesse contexto o autor apontou a análise sistemática de seis
atributos-chave. O primeiro diz respeito à eficácia como habilidade em atingir os melhores
resultados na assistência por meio dos melhores cuidados. O segundo atributo trouxe a idéia
de eficiência, que consiste na diminuição de custos da assistência sem diminuir as melhorias
alcançadas. O terceiro remete ao equilíbrio entre os custos e efeitos dos cuidados na
assistência. O quarto incide na aceitabilidade do serviço conforme as expectativas dos
pacientes e familiares. O quinto atributo propõe a conformidade com os conceitos sociais
expressos em princípios éticos, valores, normas, regulamentos e leis. E por fim, esse autor
refere-se à equidade na assistência à saúde como último atributo. Sendo assim, entre as
estratégias para a garantia e melhoria da qualidade está a influência do desempenho
profissional e do aprimoramento do modelo de gestão.
Desde o seu surgimento, os hospitais vêm passando por diversas mudanças,
visando principalmente à melhoria da qualidade da assistência. Grandes avanços tecnológicos
ocorreram e paralelamente a esses, novas formas de reorganização e reestruturação se fizeram
necessárias nessas instituições (MATOS et al., 2006). Corroborando ADAMI et al. (2006)
18
ressaltam que o momento atual é permeado por imensas transformações dentre as quais
destacam-se a globalização da economia, o custo crescente dos serviços, o aumento de
tecnologias e progresso da ciência, os avanços da informática, a produção e difusão de
conhecimento técnico-científico.
As instituições hospitalares tornaram-se mais complexas, havendo maior
necessidade em buscar inovações de produtos e serviços para se manter em um mercado cada
vez mais competitivo. Diante disso, as mudanças eram inevitáveis e necessárias à
sobrevivência dessas instituições (BRASIL, 1999).
LABBADIA et al. (2004) afirmam que a criação de instrumentos destinados à
melhoria da qualidade da assistência na saúde tornou-se um fenômeno universal, deixando de
ser um mero conceito teórico para ser uma realidade cuja essência é garantir a sobrevivência
das empresas e dos setores de produção de bens e serviços. Ainda segundo essa autora e
colaboradores, a avaliação constitui um pilar fundamental de garantia da assistência na saúde
e é entendida como sendo um instrumento da gestão de serviços de saúde necessário para
mensurar os esforços da organização, qualidade dos serviços prestados, bem como sua
utilidade e relevância social.
Nesse contexto, a Acreditação Hospitalar se apresenta como um dos métodos de
avaliação dos recursos das organizações de saúde, voluntário, periódico e reservado, que
tende a garantir a qualidade da assistência por meio de padrões pré-estabelecidos.
A Acreditação de organizações de saúde originou-se nos Estados Unidos da
América (EUA) quando foi formado o Colégio Americano de Cirurgiões (ACC), que
estabeleceu em meados de 1924 o Programa de Padronização Hospitalar (PPH). Nesse
programa foi definido um conjunto de padrões mais apropriados para garantir a qualidade da
assistência aos pacientes. Foram estabelecidos cinco padrões mínimos essenciais para a
assistência hospitalar, sendo que três relacionavam-se à organização do corpo médico, um
preconizava o adequado preenchimento do prontuário e o outro se referia à existência de
recursos diagnósticos e terapêuticos necessários ao tratamento do paciente. Esses padrões
referiam-se exclusivamente às condições necessárias para atividades médicas, não
considerando a necessidade de dimensionar outros profissionais de saúde para o atendimento
(SCHIESARI, 1999).
Inicialmente, a padronização tinha como finalidade a criação de um ambiente
adequado para proteger o médico e em seguida passou a enfatizar a prática clínica. À medida
que o sucesso do programa se espalhou, um número crescente de hospitais optou-se por se
submeter ao processo. Em 1950, devido ao aumento da complexidade, da abrangência e dos
19
custos para sustentar o programa de padronização de hospitais, o Colégio Americano de
Cirurgiões juntou-se ao Colégio Americano de Clínicos, à Associação Americana de
Hospitais, à Associação Médica Americana e Canadense e esse grupo passou a compor a Joint
Commission on Accreditation of Hospitals, organização que em 1952 ficou oficialmente
responsável pela Acreditação. O trinômio “avaliação, educação e consultoria” passou a ser
enfatizado (SCHIESARI, 1999).
Na década de 60, como a maior parte dos hospitais americanos havia atingido
os padrões mínimos preconizados inicialmente, a Joint Commission buscou modificar o grau
de exigência. Com isso, em 1970, publicou o Accreditation Manual for Hospital contendo
padrões ótimos de qualidade, considerando também os processos e os resultados da
assistência. Os critérios mínimos indispensáveis para o funcionamento dos serviços
transformaram-se em elementos reveladores do elevado padrão de prestação de assistência
médica. Essa mudança no perfil dos critérios utilizados para o estabelecimento de padrões
indica a transição de atenção da Joint Comission, originalmente na estrutura, para a
consideração dos processos e resultados da assistência (ANTUNES, 2002).
Em 1987, refletindo a expansão do escopo das atividades da Acreditação, o nome
da organização mudou de Joint Comission on Acreditation of Hospitals (JCAH) para Joint
Commisson on Accreditation of Healthcare Organization (JCAHO) (SCHIESARI, 1999). No
mesmo ano, a Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organization (JCAHO)
direcionou sua atuação com ênfase na assistência clínica por meio de monitoramento de
indicadores de desempenho, ao desempenho institucional e finalmente assumiu o papel de
educação com monitoramento, vistos na atividade de consultoria e na publicação de uma série
de documentos como normas, padrões e recomendações. Em 1994 foi publicado o
Comprehensive Accreditation Manual for Hospitals e posteriormente o ramo internacional de
JCAHO desenvolveu padrões internacionais para o crescimento da atuação fora dos EUA
(SCHIESARI, 1999).
Em 1989 a Organização Mundial de Saúde iniciou um trabalho com a área
hospitalar na América Latina, adotando como tema a qualidade da assistência. A Acreditação
passou a ser vista como elemento importante para desencadear e apoiar iniciativas de
qualidade nos serviços de saúde. Com isso, o processo de qualidade pretendia contribuir para
uma mudança planejada de hábitos, de maneira a provocar nos profissionais de todos os níveis
e serviços um novo estímulo para avaliar as debilidades e forças da instituição, com o
planejamento de metas claras e mobilização constante para o aprimoramento dos objetivos no
que se refere à garantia da qualidade da atenção médica (ANTUNES, 2002).
20
O processo de Acreditação, no Brasil, começa a tornar-se possível no início dos
anos noventa, com publicação da Acreditação de Hospitais para a América e Caribe. Em
1990 foi firmado um convênio entre a Organização Pan-americana de Saúde (OPAS) e a
Federação Latino-americana de Hospitais para a produção de um manual de “Padrões de
Acreditação para a América Latina”, estruturado em padrões e níveis de complexidade, sendo
que a avaliação final é determinada pelo o nível mínimo atingido. Em 1992, foi realizado em
Brasília o primeiro seminário nacional de Acreditação, com a participação de representantes
de diversas entidades nacionais de área da saúde, sendo apresentado o Manual de Acreditação
(NOVAES; PAGANINI, 1994).
Em 1998, foi elaborada uma nova versão do Manual de Acreditação e discutidas
as normas cnicas que regulamentam o papel do órgão acreditador, a relação entre a
instituição acreditadora e o Ministério da Saúde, o código de ética e o perfil do avaliador. Em
agosto de 1999, a ONA, órgão credenciador das instituições acreditadoras, passou a ser
responsável pelo estabelecimento de padrões e monitoramento do processo de Acreditação
realizado pelas instituições acreditadoras. Assim, inicia-se oficialmente, no país, o processo
de Acreditação em 2000 (BRASIL, 2002).
2.1.2 Organização Nacional de Acreditação Hospitalar
No período de 1998 e 1999, o Ministério da Saúde divulgou o projeto da
“Acreditação do Brasil”, por meio de um ciclo de palestras que tinha como objetivo
apresentar o projeto desenvolvido pelo Ministério, para sensibilizar e melhorar a compreensão
sobre o sistema brasileiro de Acreditação, bem como, a criação da entidade Organização
Nacional de Acreditação (ONA) (SCHIESARI, 1999).
A ONA é uma organização privada, sem fins lucrativos e de interesse coletivo,
que tem como principais objetivos a implantação e implementação nacional de um processo
com vista a permanente melhoria da qualidade de assistência (ONA, 2000). Segundo Antunes
(2002), missão da ONA é a promoção de um processo de Acreditação, visando aprimorar a
qualidade da assistência na área da saúde no Brasil. Ela é responsável pelo estabelecimento de
padrões e pelo monitoramento do processo de Acreditação realizado pelas instituições
acreditadoras.
As empresas acreditadoras são empresas de direito privado, credenciadas pela
ONA, que têm a responsabilidade de proceder à avaliação e a certificação da qualidade dos
serviços de saúde em âmbito nacional (FELDMAN et al., 2005).
21
A organização prestadora de serviços de saúde que aderir ao processo de
Acreditação estará firmando sua responsabilidade e seu comprometimento com a segurança,
com a ética profissional, com a eficiência dos procedimentos que realiza e com a garantia da
qualidade do atendimento à população (ONA, 2000).
A Acreditação Hospitalar configura-se como uma metodologia desenvolvida para
apreciar a qualidade da assistência oferecida em todos os serviços de um hospital. Tem como
base a avaliação dos padrões de referência desejáveis, constituídos por peritos da área e
previamente divulgados, e nos indicadores ou instrumento que o avaliador emprega para
constatar os padrões que estão sendo analisados. A solicitação da Acreditação pela instituição
é um ato voluntário, periódico, espontâneo, reservado e sigiloso em que se pretende obter a
condição de acreditada de acordo com padrões previamente aceitos, na qual é escolhida a
instituição acreditadora que desenvolverá o processo de Acreditação (BRASIL, 2004).
Ao contrário dos processos tradicionais de avaliação, possui uma forte abordagem
educativa, baseada na reflexão da prática profissional, que leva a elaboração de padrões de
excelência de desempenho. Por ser um processo, sobretudo reflexivo, sempre revela novas
formas de visualizar e agir sobre os problemas da instituição (ROONEY; OSTENBER, 1999).
Nos últimos anos, percebem-se importantes modificações na área da saúde no que
se refere à necessidade de alcançar uma maior competitividade e conquistar novos mercados.
O aumento crescente nos custos dos cuidados oferecidos, a necessidade de atender a
expectativa e direitos do cliente, a preocupação com a garantia da segurança de atendimento
são aspectos que exigem dos profissionais de saúde uma mudança na forma de gerir a saúde,
sendo inovadores e, além de tudo, mostrando excelência no seu trabalho. Para garantir essa
excelência e acompanhar os avanços, os hospitais sentiram a necessidade de criar métodos
avaliativos para a prestação de seus serviços (FELDMAN et al., 2005).
De acordo com Bittar (2001), medir qualidade e quantidade em programas e
serviços de saúde é fundamental para o planejamento, organização, direção, avaliação e
controle das atividades desenvolvidas. Silva (2003) destaca:
O hospital como uma empresa prestadora de serviços vem passando por uma
rápida evolução tecnológica que atinge diretamente a todos os seus usuários.
Nesse processo surgiram os programas de gestão pela qualidade, que são
sistemas estruturados de forma a atender e superar as necessidades e
expectativas dos clientes, através de controle e aperfeiçoamento contínuo do
seu processo de trabalho (SILVA, 2003, p. 111).
22
O Programa Brasileiro de Acreditação Hospitalar visa o amplo conhecimento a
respeito de um processo permanente de melhoria da qualidade assistencial, mediante a
avaliação periódica do serviço. Para isso instituiu, no âmbito hospitalar, mecanismos para
avaliação e aprimoramento contínuos da qualidade da assistência prestada. Sua concretização
ocorreu mediante a elaboração do Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar (MBAH), o
qual aborda os benefícios que as organizações de saúde obtêm ao se inserirem no processo de
Acreditação Hospitalar, uma vez que a instituição demonstrará responsabilidade e
comprometimento com a segurança, com a ética profissional, com os procedimentos que
realiza e com a garantia da qualidade do atendimento à população” (BRASIL, 2006, p. 24).
Ademais, o manual enfatiza que o certificado da qualidade conquistado é reconhecido
externamente, transmitindo, assim, segurança, confiança e credibilidade para os clientes
internos e externos, bem como para a sociedade.
Os itens de verificação apontam as fontes em que os avaliadores podem procurar
as provas, ou aqueles que o hospital possa apresentar para indicar o cumprimento de
determinado padrão e em que nível. Essas fontes podem ser documentos do hospital,
entrevistas com a chefia de serviço, funcionários, clientes, familiares, prontuários médicos,
registros dos pacientes e outros (BRASIL, 1999).
A auditoria é dos mecanismos mais eficazes para o aperfeiçoamento de um
sistema de gestão da qualidade. Ele se baseia na detecção de deficiências que, pelo hábito,
passam despercebidas por aqueles ligados a uma atividade. De uma maneira geral, pode-se
dizer que a auditoria da qualidade é uma operação fundamentada em dados e fatos que visa
determinar, com base em evidências objetivas, se os documentos e processos aplicáveis são
adequados e observados. Nesse foco, as auditorias possuem duas classificações: interna e
externa. Sendo que a primeira tem o objetivo de autoavaliação e é realizada por pessoas que
não estejam diretamente envolvidas naquela atividade, mas podendo ser membros da própria
instituição. Já a auditoria externa é realizada por um órgão certificador externo à organização
e tem como objetivo avaliar e certificar o sistema de gestão da qualidade de uma instituição
(SCHIESARI, 1999).
Em se tratando da auditoria externa, a avaliação consiste em dois momentos: a
pré-visita e a visita propriamente dita. Na pré-visita, o hospital prepara-se para o processo
com a divulgação interna para todos os funcionários. Posteriormente, a visita acontecerá
através da solicitação voluntária do hospital à instituição acreditadora. A duração da visita dos
avaliadores é variável em função do porte e da complexidade do hospital. Neste momento,
23
todos os setores e unidades são avaliados dentro de uma programação definida, junto aos
responsáveis pelo hospital (BRASIL, 1999).
Conforme determinação da ONA em 1999, a organização aprovada por este
sistema de avaliação receberá o certificado de organizações acreditadas, com validade de dois
anos para os níveis 1 (acreditada) e 2 (acreditada plena) e de três anos para nível 3 (acreditada
com excelência). Para que as organizações acompanhem o processo de mudança e
aperfeiçoamento, ao final do período de Acreditação deverão ser submetidas à nova avaliação
para assegurar o padrão de qualidade na sua prática assistencial (BRASIL, 2002).
2.2 Padrões e itens de orientação para a Acreditação Hospitalar
O Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar (MBAH) é um instrumento de
avaliação da qualidade institucional, o qual é composto de seções e subseções. As seções
representam os serviços, setores ou unidades com características semelhantes para que a
instituição seja avaliada segundo uma consistência sistêmica; as subseções tratam do escopo
de cada serviço, setor ou unidade, segundo três níveis, do mais simples ao mais complexo,
sempre com um processo de incorporação dos requisitos anteriores de menor complexidade
(BRASIL, 2004).
A lógica das subseções é a de que todas possuem o mesmo grau de importância
dentro do processo de avaliação. Cada subseção é composta por padrões que procuram avaliar
estrutura, processo e resultado dentro de um único serviço, setor ou unidade sendo que cada
padrão é constituído por uma definição e uma lista de itens de orientação que auxiliam na
identificação do que se busca avaliar e na preparação das instituições prestadoras de serviço
de saúde para o processo de Acreditação. Um nível superior é alcançado quando o anterior
tiver sido atingido (LABBADIA, et al., 2004).
Os padrões exigidos e verificados na avaliação são divididos por níveis 1, 2 e 3,
com seus princípios norteadores e por padrões, sendo que cada padrão representa uma
definição e uma lista de verificação que permite a identificação da sua necessidade e a
concordância com o padrão estabelecido:
Nível 1 Atende aos requisitos formais, técnicos e de estrutura para a sua
atividade conforme legislação correspondente; identifica riscos específicos
e os gerencia com foco na segurança. Princípio: Segurança (Quadro 1).
Nível 2 Gerencia os processos e suas interações sistemicamente;
estabelece sistemática de medição e avaliação dos processos; possui
24
programa de educação e treinamento continuado, voltado para a melhoria de
processos. Princípio: Organização (Processos) (Quadro 2).
Nível 3 – Utiliza perspectivas de medição organizacional, alinhadas às
estratégias e correlacionadas aos indicadores de desempenho dos processos;
dispõe de sistemática de comparações com referenciais externos pertinentes,
bem como evidências de tendência favorável para indicadores; apresenta
inovações e melhorias implementadas, decorrentes do processo de análise-
crítica. Princípio: Excelência na Gestão (Resultados) (MANUAL
BRASILEIRO DE ACREDITAÇÃO ONA MANUAL DAS
ORGANIZAÇÕES PRESTADORAS DE SERVIÇOS HOSPITALARES.
MBA-OPSH, 2006, p. 23-24).
Nos itens a seguir serão especificados os três níveis de complexidade estruturados
pelo MBAH:
2.2.1. Estrutura (segurança)
O nível 1 da Acreditação corresponde ao princípio da segurança e estrutura, com
padrões e itens de orientação específicos (Quadro 1). Assim, o hospital é reconhecido como
instituição acreditada quando cumpre integralmente os requisitos de nível 1.
QUADRO 1
Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 1 (acreditado)
Padrão Itens de orientação
Atende aos requisitos formais,
técnicos e de estrutura para sua
atividade conforme legislação
correspondente;
Identifica riscos específicos e os
gerencia com foco na segurança.
Responsabilidade técnica conforme
legislação;
Corpo funcional, habilitado ou
capacitado, dimensionado adequada-
mente às necessidades do serviço;
Condições operacionais que atendam
aos requisitos de segurança para o
cliente (interno e externo)
Identificação, gerenciamento e con-
trole de riscos sanitários, ambientais,
ocupacionais e relacionados à
responsabilidade civil, de infecções e
biossegurança.
Fonte: MBA-OPSS/ONA-2006/2008.
25
Em relação ao nível 1, a instituição precisa atender as exigências que contemplam
o atendimento aos requisitos básicos da qualidade na assistência ao cliente, com recursos
humanos compatíveis com a complexidade, qualificação adequada (habilitação) dos
profissionais e responsáveis técnicos com habilitação correspondente para as áreas de atuação.
Além disso, precisa oferecer atendimento seguro aos clientes e para que isso ocorra é
imprescindível o controle de riscos aos pacientes.
Nesse contexto, o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar (2006) adverte
que o risco está classificado de acordo com a probabilidade de ocorrência de um evento
adverso, situação que afeta a integridade dos profissionais de saúde ou dos clientes/pacientes.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA (2006), o risco em serviços
de saúde é atribuível à estrutura, processos de trabalho, produtos e tecnologias de saúde. A
esse respeito, Kohn (2000) reforça que o erro se relaciona com dois tipos de falhas, as quais
sejam uma de execução, quando a ação não é feita de maneira correta como pretendida e a
outra de planejamento, em que a ação planejada não é a correta. Sendo assim, a assistência na
saúde que é por princípio, uma atividade de risco, apresenta a necessidade de lograr pela
gestão da segurança do ambiente hospitalar, com o intuito de aprimorar e ampliar a qualidade
dos seus serviços.
2.2.2 Processos (organização)
O nível 2 da Acreditação corresponde ao princípio da organização (processos),
com padrões e itens de orientação específicos (Quadro 2). Assim, o hospital é reconhecido
como instituição acreditada plena quando cumpre integralmente os requisitos de nível 1 e 2.
QUADRO 2
Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 2 (acreditado pleno)
Padrão Itens de orientação
Gerencia os processos e suas
interações sistemicamente;
Estabelece sistemática de medição e
avaliação dos processos;
Possui programa de educação e
treinamento continuado, voltado para
a melhoria de processos.
Identificação, definição, padronização
e documentação dos processos;
Identificação de fornecedores e
clientes e sua interação sistêmica;
Estabelecimento dos procedimentos;
Documentação (procedimento e
registros) atualizada, disponível e
26
aplicada;
Definição de indicadores para os
processos identificados;
Medição e avaliação dos resultados
dos processos; programa de educação
e treinamento continuado, com
evidências de melhoria e impacto nos
processos;
Grupos de trabalho para a melhoria de
processos e interação institucional.
Fonte: MBA-OPSS/ONA-2006/2008.
Nesse nível, as exigências são as evidências de adoção de planejamento da
assistência referentes à documentação, corpo funcional, treinamento, controle de indicadores,
estatísticas básicas para tomada de decisão clínica e gerencial e à prática de auditoria interna
(MBAH, 2006).
Nesse foco, Bittar (2001) ressalta que os processos referentes à organização,
princípio instituído pelo nível 2 de exigência, são atividades de cuidados realizados para um
paciente, frequentemente ligadas a um resultado, assim como atividades ligadas a
infraestrutura. Isto é, são técnicas operacionais, que se atém essencialmente à realização do
fazer dos profissionais de saúde no que diz respeito ao ponto de vista técnico, na condução
dos cuidados, do diagnóstico, da terapia e quanto a sua interação com os pacientes por meio
de elaboração dos registros clínicos, diagnóstico, tratamento, evolução e transferência dos
clientes.
Além disso, para a instituição atender ao nível 2, a mesma precisa estabelecer os
indicadores que vão medir o processo de trabalho de forma sistemática, para ser utilizada
posteriormente como forma de avaliação dos serviços oferecidos. Segundo Bittar (2001), os
indicadores mensuram aspectos quantitativos que podem ser usados como instrumento para
monitorar e avaliar a qualidade de cuidados promovidos ao paciente e as atividades dos
serviços de suporte. Sendo assim, o acompanhamento e avaliação desses indicadores o
essenciais para a elaboração de programas de educação e treinamento continuado,
favorecendo dessa forma a melhoria do cuidado prestado. No Manual Brasileiro de
Acreditação (2006) é ressaltada a necessidade de que os hospitais devam conhecer e
efetivamente gerenciar seus processos, identificando e monitorando seus desempenhos, a fim
27
de obter a melhoria do desempenho e conseqüentemente dos serviços prestados aos
clientes/pacientes. Para isso, é sugerida a adoção de um programa de capacitação contínua e
consistente.
Não apenas os indicadores de processo, mas também a padronização das rotinas,
que é denominado de Procedimento Operacional Padrão (POP), fazem parte da exigência do
nível 2. Por meio do POP, cada setor no hospital terá suas rotinas padronizadas e
documentadas. Sendo assim, é imprescindível que as mesmas estejam disponíveis para todos
os funcionários e que estes estejam aptos a realização do procedimento com qualidade. Isso é
possível de ser conquistado pela educação continuada referida anteriormente.
2.2.3 Resultados (excelência na gestão)
O vel 3 da Acreditação corresponde ao princípio da excelência na gestão
(resultados/melhorias), com os padrões e itens de orientação específicos (Quadro 3).
QUADRO 3
Padrões e itens de orientação para Acreditação no nível 3 (acreditado com excelência)
Padrão Itens de orientação
Utiliza perspectivas de medição
organizacional, alinhadas às estraté-
gias e correlacionadas aos indicadores
de desempenho dos processos;
Dispõe de sistemática de comparações
com referenciais externos pertinentes,
bem como evidência de tendência
favorável para os indicadores;
Apresenta inovações e melhorias
implementadas, decorrentes do
processo de análise crítica.
Define as perspectivas básicas de
sustentação da organização (inovação
e desenvolvimento, pessoas, clientes,
processos, financeira e sociedade);
Sistema de indicadores de
desempenho focalizando as
perspectivas básicas, com
informações íntegras e atualizadas;
Estabelecimento de relação de causa e
efeito entre os indicadores, em que os
resultados de um influenciam os
demais, bem como permitem a análise
crítica do desempenho e tomada de
decisão;
Análise de tendência com
apresentação de um conjunto de pelo
menos três resultados consecutivos;
28
Análises críticas sistemáticas com
evidências de ações de melhoria e
inovações;
Identificação de oportunidades de
melhoria de desempenho através do
processo contínuo de comparação
com outras práticas organizacionais
com evidências de resultados
positivos;
Sistemas de planejamento e melhoria
contínua em termos de estrutura,
novas tecnologias, atualização
técnico-profissional e procedimentos.
Fonte: MBA-OPSS/ONA-2006/2008.
De acordo com os padrões e itens de verificação do MBA-OPSS (2006), o nível 3
orienta para a gestão estratégica da organização. Os requisitos segurança, organização e
práticas de gestão de qualidade são direcionados ao planejamento estratégico, com definição
de objetivos alinhados às perspectivas organizacionais, metas, planos de ação e indicadores
que permitam acompanhar e verificar o seu cumprimento a fim de obter melhoria contínua.
Esses objetivos estratégicos contemplam perspectivas que contribuem para a realização da
visão de futuro da organização. Assim, as exigências desse nível contêm como estrutura novas
tecnologias, atualização técnico-profissional, ações assistenciais e procedimentos médico-
sanitários, evidências objetivas de utilização da tecnologia de informação, disseminação
global e sistêmica de rotinas padronizadas e avaliadas com foco na busca da excelência. Nesse
contexto, todos os atributos levantados devem interagir entre si, de forma que a instituição
atinja seu objetivo principal que é prestar um atendimento de excelência.
2.3 Participação dos profissionais na gestão da qualidade
A qualidade no campo hospitalar somente se completa através da ação humana,
responsável pela organização do trabalho que influencia diretamente as práticas de saúde
(BONATO, 2007). Neste sentido, MEZOMO (2001) reforça que o grande diferencial das
instituições de saúde está cada dia mais centrado na qualidade do pessoal e no desempenho
profissional de seus recursos humanos. A tecnologia e a estrutura das organizações podem
29
significar pouco, caso os profissionais não estejam comprometidos e envolvidos em meio às
necessidades dos clientes. Com efeito, as instituições estão redescobrindo o sentido do
trabalho das pessoas e estão percebendo a importância do reconhecimento do profissional, da
educação continuada, do conhecimento da missão da organização e de seus objetivos e metas,
tudo em busca de melhorias contínuas. Dutra (2004, p. 126) ressalta que as “organizações
modernas estão cada vez mais preocupadas em direcionar os investimentos no
desenvolvimento humano, de modo que eles agreguem valor para a pessoa e para a empresa”.
Além do mais, o mesmo autor afirma que essas pessoas atuam como agentes de transformação
de conhecimentos, habilidades e atitudes para a instituição. Cabe ressaltar o entendimento de
agregação de valor como algo que a pessoa entrega para a instituição de forma efetiva e que
fica, mesmo quando a pessoa sai da organização. Assim, a “agregação de valor não é como
uma meta de faturamento ou de produção, mas a melhoria de um processo ou a introdução de
uma nova tecnologia” (DUTRA, 2004, p.130).
A nova filosofia de administração centrada na busca de melhorias privilegia o
trabalho em equipe, a manutenção das pessoas nas empresas, o respeito e o valor de quem
produz, crescendo, assim, a consciência de que os profissionais são o cerne da gestão da
qualidade, ao passo que sem eles não é possível atender às expectativas e necessidades dos
clientes que estão cada vez mais exigentes (MEZOMO, 2001).
De acordo com Novaes e Bueno (1998), o Programa de Acreditação contribui para
que ocorra uma mudança progressiva e planejada de hábitos. Com isso, os profissionais serão
estimulados a participar do processo que visa à mobilização e criação de metas objetivas, com
intuito de garantir melhoria na qualidade da assistência prestada. Reforçando a ideia
apresentada, Porto e Rego (2005) alertam para a existência de um movimento direcionado à
garantia da qualidade com destaque na valorização do aspecto humano, no sentido de
oportunizar melhorias das relações humanas, maior envolvimento e comprometimento das
pessoas e dos padrões éticos de atendimento que almejam a satisfação e o acompanhamento
das necessidades humanas.
Nesse foco, Neto e Bittar (2004) apontam que a qualidade é um processo de
transformação do trabalho e do comportamento das pessoas no sentido da melhoria dos
procedimentos e dos resultados da instituição. Assim, essas conquistas apenas serão possíveis
por meio de capacitação coletiva, buscando tornar o trabalho mais significativo. Esse mesmo
autor ressalta que as organizações hospitalares ao focarem a qualidade do atendimento e a
melhoria contínua, associado a uma profunda mudança cultural, treinamento em liderança e
educação continuada de todos os níveis funcionais, poderiam atender melhor seus clientes.
30
Mezomo (2001) reforça que é imprescindível o envolvimento das pessoas na
gestão da qualidade. Para que isso aconteça é fundamental, em primeiro lugar, fortalecer as
pessoas pela educação continuada e capacitação permanente, pois assim os funcionários
terão segurança e senso crítico, serão criativos e avaliarão melhor os processos, dando-lhes
mais eficácia, e garantirão os resultados previstos. A segunda medida necessária é o preparo
das pessoas para o trabalho em equipe, o que aumenta o compromisso recíproco, incentiva a
produtividade e gera um elevado nível de satisfação. E, por fim, a terceira medida que
contempla além das duas primeiras já mencionadas, a necessidade das pessoas conhecerem de
forma clara a definição da missão da organização, bem como os princípios por ela adotados.
Assim, de acordo com esse autor, essas três medidas mencionadas farão nascer a motivação
verdadeira para o trabalho e a solidariedade das pessoas com a organização, pilares
importantes para a conquista dos objetivos institucionais.
Com isso, considerando o profissional de saúde um elemento fundamental no
processo de Acreditação, além de sua ação influente na busca de melhorias contínuas, bem
como na adesão e manutenção do processo de Acreditação, indaga-se: Como o profissional de
saúde percebe o processo de Acreditação?
31
3 PERCURSO METODOLÓGICO
Trata-se de um estudo com abordagem qualitativa que tem como interesse a
percepção dos profissionais de saúde a respeito do sistema de Acreditação Hospitalar. A
metodologia escolhida apresenta-se como uma possibilidade que extrapola a quantificação de
dados. Para Minayo (2007), esse tipo de abordagem aplica-se ao estudo da história, das
relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das
interpretações que os sujeitos sociais fazem a respeito de como vivem, constroem seus
artefatos, sentem e pensam. Segundo a autora, essa estratégia, além de permitir desvelar
processos sociais ainda pouco conhecidos, propicia a construção de novas abordagens, revisão
e criação de novos conceitos e categorias durante a investigação. Corroborando, Turato
(2005) ressalta que a pesquisa qualitativa proporciona o entendimento de significados de
determinado fenômeno e a sua importância individual e coletiva no cotidiano das pessoas.
Assim, a abordagem qualitativa se aprofunda no "mundo dos significados, das ações e
relações humanas, um lado não perceptível e não captável em equações, médias e estatísticas"
(MINAYO, 2007, p. 21-22).
Neste foco, o uso de método qualitativo é aplicável ao estudo em questão como
um instrumento fundamental para compreensão do processo de Acreditação Hospitalar na
perspectiva dos profissionais de saúde.
3.1 Estratégia de pesquisa
Neste estudo, optou-se pela utilização do estudo de caso de natureza qualitativa a
fim de compreender o fenômeno. Triviños (1987) ressalta que este método é um dos mais
relevantes da pesquisa qualitativa, por permitir a observação do fenômeno em sua evolução e
preservando os significados dos acontecimentos no cotidiano de trabalho.
De acordo com Ludke e André (1986), o estudo de caso constitui-se como uma
unidade inserida em contexto mais amplo, profundo, com a finalidade de apreender de
maneira mais completa da realidade, a particularidade e singularidade daquele caso. Os
mesmos autores reforçam que tal estratégia permite uma investigação que preserva as
características holísticas e significativas dos acontecimentos da vida real. Corroborando, Yin
(2005) salienta que o estudo de caso é uma estratégia escolhida para a análise de
32
acontecimentos contemporâneos por meio de observação direta dos acontecimentos que estão
sendo estudados ou entrevistas das pessoas envolvidas.
Diante do exposto, o estudo de caso buscou aprofundar questões que emergem a
partir da percepção dos profissionais de saúde de um hospital privado de Belo Horizonte,
sobre o fenômeno Acreditação Hospitalar.
3.2 Cenário do estudo
O estudo foi desenvolvido em um hospital privado, de médio porte, de Belo
Horizonte, inaugurado em 2004 na perspectiva de ser referência de qualidade no atendimento
para todos os hospitais da rede conveniada. Ressalta-se que o referido hospital foi acreditado
em nível de excelência, atingindo êxito em todas as etapas do processo de Acreditação
(estrutura, processo e resultados) no ano de 2006. Foram incluídos na pesquisa os setores de
internação, Bloco Cirúrgico (BC) e Unidade de Cuidados Progressivos (UCP). O critério de
inclusão foi o fato de existirem desde o momento da inauguração até a primeira auditoria
externa.
Esse hospital funciona 24 horas por dia, com aproximadamente 116 leitos e 14
andares (sede e anexo) e proporciona atendimento clínico, cirúrgico além de terapia intensiva
neonatal e adulta, prestando atendimento por convênio. Sua Missão é oferecer aos clientes
assistência médico-hospitalar de forma humanizada com qualidade, buscando a excelência em
seus serviços, assegurando competitividade e condições adequadas de trabalho para o corpo
clínico (UNIMED, 2008).
A escolha desse cenário aconteceu por ser um local em que a pesquisadora já havia
trabalhado e vivenciado a experiência do processo de Acreditação desde a criação do hospital,
além de ter uma boa inserção no campo, o que facilitaria o contato e abertura para a realização
do estudo. Ressalta-se que esse local é um hospital de referência para a rede credenciada que
atualmente possui mais de 700 mil clientes.
33
3.3 Sujeitos da pesquisa
De acordo com Minayo (2004), ao ser delineada a população com a qual se
pretende trabalhar em um estudo qualitativo, a preocupação deve recair no aprofundamento e
abrangência da compreensão, em detrimento do valor numérico que leva a generalização dos
resultados. Para essa autora, “uma amostra ideal é aquela capaz de refletir a totalidade nas suas
múltiplas dimensões” (MINAYO, 2004, p. 102).
Assim, a escolha dos sujeitos da pesquisa foi realizada de maneira intencional,
restringindo-se aos profissionais de saúde que participaram do processo de Acreditação
Hospitalar desde a primeira auditoria e que prestavam atendimento direto e contínuo aos
usuários do serviço. Foram, portanto, incluídos enfermeiros, técnicos de enfermagem,
médicos, fonoaudiólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e psicólogos alocados nos setores de
internação, Bloco Cirúrgico (BC) e Unidade de Cuidados Progressivos (UCP). A justificativa
para a utilização de tais setores foi o fato de existirem desde a abertura do hospital e assim
terem vivenciado o processo de Acreditação na primeira auditoria. Além disso, não foi
escolhido apenas um setor do hospital, pois poderiam existir divergências em relação à
percepção dos profissionais de um setor para o outro no que diz respeito ao processo de
Acreditação. Dentro dessa população preocupou-se em realizar a entrevista com pelo menos
um profissional de cada área para não privilegiar uma categoria ou outra. Foram excluídos os
profissionais com menos de 03 (três) anos na instituição devido ao fato de não terem
vivenciado o processo da Acreditação desde a primeira auditoria.
Após a apresentação da proposta de estudo e autorização da gerência
administrativa do hospital (APÊNDICE A), foi feito um levantamento dos profissionais que
trabalhavam no hospital desde a primeira auditoria, levando-se em consideração os critérios de
inclusão do estudo. De posse do levantamento foi realizado o agendamento das entrevistas
com os profissionais de acordo com a sua disponibilidade, para dar início à coleta de dados.
Antes de iniciar as entrevistas, os sujeitos foram informados sobre o objetivo, justificativa e
finalidades do estudo, atendendo a Resolução n. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que
trata dos aspectos éticos da pesquisa envolvendo seres humanos (APENDICE B). Todos os
sujeitos que concordaram em participar do estudo, assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (APENDICE C).
Este estudo obedeceu a critério de saturação de dados. Segundo Turato et al.,
(2008) a saturação de informações pode ser definida como “a suspensão de inclusão de novos
participantes quando os dados obtidos passam a apresentar, na avaliação do pesquisador, uma
34
certa redundância ou repetição, não sendo considerado relevante persistir na coleta de dados”
(TURATO et al., 2008, p. 17). Dessa forma, constituíram sujeitos da pesquisa trinta e quatro
profissionais de saúde de diferentes categorias alocados nos três setores UCP, BC e setor de
internação. Ressalta-se que nenhum psicólogo foi incluído no estudo por não apresentar o
tempo mínimo do critério de inclusão na instituição. Além disso, notifica-se que três
enfermeiras da Unidade de Cuidados Progressivos e que foram incluídas na pesquisa
vivenciaram a primeira auditoria ainda como acadêmicas de enfermagem. Contudo, foi
relevante incorporá-las, pois elas contribuíram efetivamente no processo de Acreditação,
apesar de ainda não terem naquele momento o registro de enfermagem.
Durante as entrevistas pode-se perceber certa dificuldade em entrevistar os
médicos do Bloco Cirúrgico, pois eles comparecem ao setor de forma eventual para a
realização de procedimentos e, consequentemente, a rotatividade era maior.
As entrevistas foram realizadas entre os meses de setembro a novembro de 2008,
durante o horário de trabalho dos profissionais e no próprio hospital, buscando garantir um
ambiente neutro que preservasse a privacidade e o anonimato do informante. No quadro 4 são
apresentadas as informações sobre os participantes do estudo: função, sexo, tempo de
instituição, unidade que está alocado e turno de trabalho. As entrevistas foram identificadas
pelas siglas de cada profissão e por um número referente de representante de cada categoria
profissional.
QUADRO 4: Sujeitos da pesquisa
Entrevistas
(Ordem)
Função Sexo Tempo de
instituição
Unidade Turno
ENF 1 Enfermeira Feminino 3 anos UCP Diurno
TE 1 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos e 6 meses UCP Diurno
TE 2 Técnico de Enfermagem
Feminino 4 anos UCP Diurno
TE 3 Técnico de enfermagem
Feminino 3 anos UCP Diurno
TE 4 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos UCP Diurno
TE 5 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos UCP Diurno
TE 6 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos e 6 meses UCP Diurno
TE 7 Técnico de Enfermagem
Feminino 4 anos e 6 meses UCP Noturno
ENF 2 Enfermeira Feminino 3 anos UCP Noturno
ENF 3 Enfermeira Feminino 3 anos e 6 meses UCP Noturno
MED 1 Médico Feminino 4 anos UCP Noturno
35
MED 2 Médico Masculino 3 anos UCP Noturno
TE 8 Técnico de Enfermagem
Feminino 5 anos Unidade de
Internação
Diurno
TE 9 Técnico de Enfermagem
Feminino 5 anos BC Diurno
TE 10 Técnico de Enfermagem
Feminino 5 anos BC Diurno
TE 11 Técnico de Enfermagem
Feminino 4 anos e 11 meses
BC Diurno
TE 12 Técnico de Enfermagem
Masculino 4 anos e 10 meses
BC Diurno
ENF 4 Enfermeira Feminino 3 anos UCP Noturno
ENF 5 Enfermeira Feminino 3 anos e 10 meses
UCP Noturno
ENF 6 Enfermeira Feminino 5 anos BC Diurno
ENF 7 Enfermeira Feminino 3 anos Unidade de
Internação
Diurno
MED 3 Médico Masculino 4 anos UCP Diurno
MED 4 Médico Feminino 4 anos UCP Diurno
TE 13 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos e 6 meses UCP Diurno
TE 14 Técnico de Enfermagem
Feminino 3 anos e 6 meses UCP Diurno
FIS 1 Fisioterapeuta Feminino 4 anos UCP/
Unidade de
Internação
Noturno/
Diurno
FIS 2 Fisioterapeuta Feminino 5 anos UCP/
Unidade de
Internação
Diurno
FIS 3 Fisioterapeuta Feminino 4 anos UCP Diurno
FON 1 Fonoaudióloga Feminino 4 anos UCP/
Unidade de
Internação
Diurno
TE 15 Técnico de Enfermagem
Feminino 5 anos Unidade de
Internação
Diurno
MED 5 Médico Masculino 4 anos e 9 meses Unidade de
Internação/
BC
Diurno
MED 6 Médico Feminino 5 anos UCP Noturno
ENF 8 Enfermeira Feminino 5 anos UCP Noturno
ENF 9 Enfermeira Feminino 3 anos UCP Noturno
Fonte: Dados do estudo.
36
De acordo com o quadro 4, pode-se observar uma participação maior da categoria
de enfermagem com 26,47% de enfermeiros e 44,12% de técnicos de enfermagem, enquanto
havia 17,7% de médicos, 8,8% de fisioterapeutas e 2,91% de fonoaudiólogas. Tal fato se
explica pelo maior número de representantes da enfermagem no hospital. Além disso, uma
expressiva contribuição do setor UCP com 67,64% dos entrevistados é justificada pela
presença de mais profissionais com maior tempo de permanência no hospital. Entretanto, a
participação dos profissionais da Unidade de Internação foi menor dentre os três setores, por
ter enfrentado uma alta rotatividade de funcionários durante as três auditorias. Ressalta-se,
ainda, a participação tanto do plantão noturno, com 35,3% dos entrevistados, quanto do
plantão diurno, com 67,64%, que foram de fundamental importância para o estudo. Por fim,
em se tratando do tempo de permanência na instituição, 64,7% dos entrevistados possuíam de
3 anos a 4 anos e 35,3% haviam sido contratados antes da inauguração do hospital.
3.4 Instrumento e procedimentos para a coleta de dados
Para a realização do estudo, o projeto teve aprovação do Departamento de
Enfermagem da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Enfermagem (ANEXO A)
e do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais COEP/UFMG
(ANEXO B), além da chancela do Hospital cenário da pesquisa (APÊNDICE A).
Foi utilizada a entrevista com roteiro semi-estruturado (APÊNDICE D) como
instrumento de coleta de dados para compreender o processo da Acreditação na perspectiva de
profissionais de saúde. Conforme Minayo (2004), essa técnica permite que o entrevistado
discorra sobre o tema proposto, sem respostas ou condições pré-fixadas pelo pesquisador.
Triviños (1987) ressalta que a entrevista semi-estruturada privilegia o significado do
fenômeno a partir da vivência dos informantes, o que permite a participação dos mesmos na
elaboração do conteúdo da pesquisa por meio de suas experiências. As entrevistas foram
gravadas para garantia de sua totalidade e da fidedignidade das informações, mediante
autorizações prévias e transcritas à íntegra, para posterior análise e interpretação dos
depoimentos dos entrevistados.
37
3.5 Tratamento e análise dos dados
Os dados foram submetidos à análise de conteúdo que, de acordo com Minayo
(2004), busca alcançar uma interpretação mais profunda do fenômeno além de ultrapassar o
alcance meramente descritivo do conteúdo manifesto da mensagem. Segundo Bardin, a
análise de conteúdo pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de
conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas
mensagens
(BARDIN, 1977, p. 42).
Esse tipo de método de análise, além de permitir desvelar processos sociais ainda
desconhecidos, referentes a grupos particulares, propicia a construção de novas abordagens, a
revisão e criação de novos conceitos e de categorias durante a investigação (MINAYO, 2007).
Dessa forma, o método qualitativo proporciona um modelo de entendimento profundo de
ligações entre elementos direcionados à compreensão da manifestação do objeto de estudo, e
é caracterizado pelo empirismo e pela sistematização progressiva do conhecimento até a
compreensão lógica interna do grupo ou do processo estudado (TURATO, 2005).
A escolha desse método de análise pode ser explicada pela necessidade de
compreender o significado e percepção sobre o processo da Acreditação fornecida pelos
profissionais de saúde.
Segundo Minayo (2007), a análise temática de conteúdo se desdobra em 3 fases
distintas: pré-análise; exploração do material; e tratamento dos resultados. Assim, na
perspectiva dessa mesma autora, foi realizada a pré-análise que remeteu na ordenação dos
dados após transcrição à íntegra das entrevistas, leitura flutuante e exaustiva e posteriormente
organização do material para determinar as unidades de registros e a forma de categorização.
A segunda etapa consistiu de exploração do material para o procedimento de
codificação de temas e subtemas, classificação e agregação dos achados de acordo com o
problema explicitado. Para tanto, o texto foi recortado em unidades de registros para ser
realizada a classificação e agregação dos dados (MINAYO, 2007). Desse processo,
emergiram os temas relevantes e foram elaboradas as seguintes categorias empíricas:
1) A Acreditação na visão dos profissionais de saúde;
2) As implicações do processo de Acreditação para pacientes, hospital e
profissionais de saúde;
38
3) Aspectos facilitadores e dificultadores da Acreditação Hospitalar;
4) Estratégias apontadas pelos profissionais de saúde em busca da manutenção do
processo de qualidade.
Na terceira etapa da análise temática de tratamento dos resultados obtidos, estes
foram interpretados e discutidos com embasamento nos materiais empíricos. Triviños afirma
que o pesquisador o pode fechar-se exclusivamente ao “conteúdo manifesto” dos
documentos. Ele deve “aprofundar sua análise tratando de desvendar o conteúdo latente que
eles possuem” (TRIVIÑOS, 1987, p. 162).
A partir desse método de estudo, buscou-se a compreensão do processo de
Acreditação, por meio das falas e relatos de experiências vivenciadas pelos profissionais de
saúde.
39
4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A busca pela qualidade dos serviços de saúde é um grande desafio para as
empresas envolvidas nesse ramo, as quais lutam para sobreviver em meio a um mercado cada
vez mais competitivo. Nesse contexto, a Acreditação Hospitalar surge como um marco
importante para os serviços de saúde. Mais do que nunca é momento de adequar às mudanças,
romper barreiras, inovar, criar, perceber quão fundamental se mostra conhecer novas práticas
de trabalho voltadas à segurança das rotinas e das condutas empregadas pelos profissionais de
saúde. Contudo, é inquestionável que qualquer mudança gere, no mínimo, anseio ou
descrença, até mesmo certo grau de resistência por parte de algumas pessoas, pois é previsível
que a segurança no conservadorismo retarde o nascimento de técnicas inovadoras.
Com a Acreditação Hospitalar não acontece de forma diferente. De fato, nota-se a
existência de uma arena de discussão fértil em torno do tema, ainda novidade para os
profissionais que a experimentam. Além disso, a maioria dos profissionais não teve a
oportunidade de refletir sobre seus conceitos, pois ainda não são todas as instituições de saúde
que se engajaram na proposta da Acreditação Hospitalar. Assim, a maior parte dos
profissionais não teve a chance de lidar com esse novo processo de trabalho.
O presente estudo buscou a compreensão da Acreditação Hospitalar por meio de
relatos dos profissionais de saúde envolvidos no novo processo. Com isso, identificadas
diversas interpretações sobre a gestão inovadora da qualidade na ótica dos pesquisados, os
dados foram analisados a partir das seguintes categorias, apresentadas a seguir:
4.1 A Acreditação na visão dos profissionais de saúde
O que você entende por Acreditação Hospitalar? Quando questionados, os sujeitos
da pesquisa demonstraram a preocupação em expressar seu conhecimento e uma definição
“pronta” sobre a política de qualidade, inclusive com citações dos princípios preconizados
pela Acreditação. Todavia, nesse primeiro discurso, pouco foi relatado sobre a vivência no
processo de Acreditação e sua aplicabilidade no contexto de trabalho, informações essas
comumente esperadas daqueles que privilegiam a prática em detrimento da teoria.
A resposta inconsistente, imediatista e padronizada revela a ausência da reflexão
prévia acerca do significado da Acreditação. A primeira razão que pode justificar o fato
observado é a proximidade de uma auditoria externa envolvendo o processo de Acreditação,
40
que seria realizada logo após a coleta dos dados da pesquisa. Assim, ao responder a indagação
referida, os entrevistados, munidos da memorização conceitual embasada na cartilha
fornecida pelo hospital, apenas repetiram conteúdos que lhes foram apresentados para
aprendizado e fixação. O segundo motivo talvez resida na complexidade dos princípios e dos
valores embutidos no processo, que necessitam ser trabalhados não na dimensão
operacional ou técnica, mas também em relação aos aspectos subjetivos que envolvem valores
individuais e sociais, crenças e relações interpessoais dos profissionais inseridos na
Acreditação. Os extratos dos depoimentos apresentados a seguir demonstram a assimilação do
conceito teórico pelos profissionais de saúde que preocuparam inclusive, em relatar os três
níveis de exigência do processo de qualidade (estrutura, processo e resultado), mas não
refletem uma maneira espontânea do que se trata a Acreditação Hospitalar no cotidiano:
É um processo, uma ferramenta que o hospital utiliza para estar, como que
eu posso dizer, para estar certificando que o produto, que o serviço que ele
presta, é um serviço de qualidade, que tem garantia, que tem todos aqueles
níveis de segurança, os processos, que está sempre buscando melhorar. (ENF
4)
É um processo para ter uma qualidade, segurança, melhorias, envolvimento
da empresa, que ao cliente uma garantia de um bom atendimento, de
segurança, e os médicos também, os colaboradores acho que todo mundo
está ficando envolvido nisso. (TE 15)
É um processo que o hospital faz para conseguir uma excelência no que se
diz no atendimento ao paciente e aos envolvidos, no caso, os médicos daqui,
os médicos cooperados, os clientes, tanto internos como externos. (TE 12)
Os discursos apresentados condizem com o que é preconizado no Manual
Brasileiro de Acreditação (2006), que traça conceitos e objetivos do processo de qualidade.
Contudo, considerando que o objetivo deste estudo vai além da avaliação do conhecimento
teórico do sistema, pretende-se compreender a percepção do profissional de saúde acerca do
processo de Acreditação. Para que isso ocorresse foi necessário aprofundar no contexto de
trabalho em que o profissional de saúde estava inserido, bem como nas suas relações
cotidianas.
Assim, com o desenrolar da entrevista, os sujeitos começaram a expor seus
pensamentos de forma mais espontânea e reflexiva, mostrando efetivamente a prática
cotidiana adotada costumeiramente para relatar o que entendiam sobre a Acreditação.
Ressalta-se que definir o que se entende por Acreditação não é uma tarefa fácil, pois esse
conceito abrange princípios complexos de difícil transmissão em um momento ou em
41
poucas palavras. Segundo Kluck et al. (2002), a definição de qualidade é complexa, pois deve
fazer referência a todas as dimensões e dependerá do ponto de vista de quem a define. Desta
forma, para conseguir alcançar a percepção dos sujeitos da pesquisa a respeito do processo de
Acreditação, a opção foi analisar cada aspecto referente ao sistema de qualidade apontado
pelos profissionais de saúde.
Cabe salientar que entre os vários aspectos apresentados pelos sujeitos no
transcorrer das entrevistas, foi observada a preocupação referente à necessidade em se engajar
no processo de qualidade para atender às exigências do mercado de trabalho. Os profissionais
reconhecem, através de sua prática, que a Acreditação pode ser considerada uma estratégia
geradora de qualificação para si, além de um plus para a instituição no competitivo cenário
empresarial vinculado à saúde. Segundo Couto e Pedrosa (2007), hoje indiscutivelmente
torna-se uma necessidade buscar a qualidade da prestação de serviço para se manter no
mercado de trabalho extremamente competitivo. Tal fato é observado nos depoimentos dos
entrevistados:
A Acreditação seria uma forma de qualificação do hospital para poder,
vamos dizer, atender as exigências do mercado, né? (MED 3)
O hospital passa a ser reconhecido, é o nome da empresa, se destaca e
garante qualidade. (TE 15)
A acreditação também é vista como uma forma de avaliação do sistema de saúde,
em atenção à melhor garantia de qualidade na assistência oferecida aos clientes. A esse
respeito, Adami et al. (2006) salientam que, tendo em vista a preocupação do setor saúde em
promover a melhoria da assistência prestada à população, é necessário adotar um sistema de
avaliação contínuo e sistematizado para dinamizar progressivamente a qualidade dos serviços
prestados. Tal situação é confirmada nos relatos abaixo:
Acreditação é um processo de auditoria que visa avaliar a qualidade de
serviços prestados aos clientes de acordo com alguns critérios. (TE 3)
É um processo de avaliação das condutas e sistematização do hospital, no
geral, que visa à qualidade. (ENF 4)
O objetivo da Acreditação é melhor assistência e melhorar para o cliente.
(ENF 7)
É tentar dar o melhor atendimento ao paciente, cada vez mais. (TE 7)
42
É
chegar a um nível de melhora contínua, de buscar com que todo o serviço
de saúde, ele transforme todos os processos, todas as coisas que tem no setor
de saúde em benefício do paciente, da melhor forma possível. (ENF 9)
O foco da Acreditação é oferecer um bom atendimento para os clientes. (TE
6)
Esses depoimentos refletem o conhecimento dos profissionais sobre o objetivo do
processo de Acreditação, que é um procedimento de avaliação dos recursos institucionais,
tendente a garantir qualidade na assistência mediante padrões previamente aceitos (NOVAES;
PAGANNI, 1994). Um aspecto relevante pode ser depreendido dos depoimentos transcritos
anteriormente: o foco do processo de Acreditação seria a busca pelo padrão de qualidade para
os clientes e não para os próprios funcionários. Ora, o Manual de Acreditação (2006) faz
referência não apenas aos pacientes, mas também aos profissionais como alvos do processo.
Assim, os profissionais parecem não perceber que eles também são importantes no sistema de
qualidade. Além disso, observa-se que aquela primeira resposta padronizada sobre o que é
Acreditação, ainda que correta, expõe a dificuldade do profissional em incorporar todo o
sentido do novo processo.
De outro lado, além da ideia de avaliação da instituição, a Acreditação também é
percebida como meio de padronização de tarefas, a fim de propiciar uma uniformização de
ações e possibilitar comparações entre hospitais. Isso pode ser observado no depoimento do
MED 4:
A Acreditação foi criada com a finalidade de certa padronização entre todos
os hospitais com intuito de tentar manter a melhor qualidade, de você poder
comparar um hospital com o outro, tendo alguns critérios. (MED 4)
O reconhecimento, pelos entrevistados, de que a padronização traz benefícios
como meio de comparação entre hospitais em busca de melhoria contínua é importante. Isso
mostra que o funcionário percebeu a uniformização de forma positiva. Em 1993, Azevedo
apontava o termo qualidade como um fenômeno continuado de aprimoramento, estabelecendo
progressivamente padrões e resultados de estudo em série na mesma organização, ou de
comparação com outras organizações semelhantes, em busca do defeito zero.
Mais do que impressões quanto ao aprimoramento da instituição e quanto à
padronização de rotinas a serem seguidas, houve também exposição de que o processo de
Acreditação é outro meio criado para a melhoria do serviço. Segundo Lima e Erdmann
(2006), a implantação de um sistema de gestão de qualidade desenvolve-se por rotinas,
43
procedimentos e por processos focados na satisfação do cliente. Os relatos a seguir apontam
que o novo sistema de gestão visa a aprimorar o atendimento, em benefício do paciente e em
prol da qualidade da prestação de serviços em geral:
Eu entendo que foi um processo de tentativa de melhoria da qualidade, do
nível de saúde como um todo, no intuito de tentar alcançar a perfeição ao
máximo. No intuito de chegar à melhoria contínua, transformar todos os
processos de saúde em benefício do paciente, com menor custo e menor
incidência dos agravos e melhor qualidade. (ENF 2)
É uma busca da qualidade da assistência da saúde, é trazer melhoria
contínua. (TE 6)
Ainda no âmbito da melhoria contínua, os entrevistados veem no processo de
Acreditação uma forma de obter mensuração de dados e de acompanhar e avaliar indicadores,
proporcionando melhor qualidade assistencial para seus pacientes. Nesse contexto, Adami et
al. (2006, p. 86) reforçam que a criação de indicadores é relevante para a avaliação dos
processos, pois permite o monitoramento e a identificação de pontos de melhorias dos
serviços para o alcance da qualidade. Corroborando, Bonato (2007) ressalta que sem a adoção
dos indicadores que se constituem nas representações quantitativas e qualitativas de um
sistema, a avaliação da qualidade ficará prejudicada, pois a instituição não terá parâmetros
comparativos dos serviços que prestam. De tal modo, o pensamento descrito é evidenciado
nos seguintes depoimentos:
Acreditação é uma maneira de melhoria, de controlar os processos, adequar,
tendo como objetivo final de melhorar a assistência inclusive através de
indicadores. A gente tenta identificar a coleta de evento adverso, qual é a
causa raiz do problema que a gente está tendo e tenta criar com a equipe um
plano de ação para melhorar a nossa assistência. (ENF 1)
Acreditação Hospitalar é uma forma que você tem de instalar no hospital,
um processo de trabalho de qualidade que a gente pode acompanhar
mensurar, progredir, comparar, melhorar. (ENF 3)
A esse respeito, Mezomo (2001) ressalta que a existência e a validade dos
indicadores supõem uma administração capacitada e comprometida com o processo de
mudança e de melhoria contínua.
Partindo da mesma ideia, Donabedian (1998) descreve que
para avaliar a qualidade assistencial é necessário traduzir conceitos e definições gerais da
melhor maneira, em critérios operacionais, parâmetros e indicadores, validados e calibrados
pelos pilares da Acreditação, que são: estrutura, processo e resultado. Schiesari (1999)
44
reforça, ainda, que a mensuração da qualidade da assistência, por meio de métodos e
ferramentas de qualidade, deve fazer parte da rotina de trabalho da equipe de saúde em busca
de aprimoramento dos modelos de gestão e desempenho profissional. Assim, os indicadores
podem constituir de instrumento de força para mudar processos internos de trabalho, quando a
coleta e os resultados são tratados de forma correta (BONATO, 2007).
Outro aspecto importante, mencionado por alguns dos entrevistados, é a ligação
da Acreditação Hospitalar com a segurança assistencial. Essa situação pode ser explicada pelo
fato de a gestão de qualidade proporcionar maior controle de recursos materiais, gerando
melhores condições de trabalho. Segundo Neto e Bittar, “o sistema da Acreditação foi
utilizado originalmente para proteção médica e dos pacientes contra os efeitos nocivos de
ambientes e organizações inadequadas à prática” (NETO; BITTAR, 2004, p. 35). Observa-se,
também, que os entrevistados acreditam que o processo de qualidade é uma forma de
segurança não para os pacientes como para os próprios funcionários. O relevante dessa
exposição é que no início dos depoimentos os funcionários não relacionaram o processo de
Acreditação com alvo nos profissionais, mas, neste momento, quando abordados sobre o tema
segurança assistencial, uma parcela dos entrevistados consegue perceber que o processo
também os atinge:
É a segurança de estar trabalhando em um lugar de qualidade que gerencia
os processos, ou seja, a gente tem a segurança de que não vai faltar
equipamento, de que não vai faltar material. (TE 7)
Acredito que o serviço acreditado oferece um serviço seguro, de qualidade.
(ENF 2)
Nota-se que parte dos entrevistados consegue visualizar o processo da
Acreditação na sua esfera técnica, processual e operacional, ainda que não seja de forma
integral. No entanto, poucos profissionais conseguem perceber que o sistema de qualidade
abrange também aspectos subjetivos importantes, como valores individuais e sociais dos
atores e das instituições envolvidos nesse contexto. Além disso, os entrevistados não
apontaram a humanização da assistência como elemento indissociável à perfeita concretude
do processo de Acreditação, tal como estabelece o Manual de Acreditação (2006).
Mezomo (2001) ressalta que a humanização do hospital não se confunde com
iniciativas isoladas e esporádicas, devendo ser uma política integrada e centrada no
atendimento personalizado do paciente. O mesmo autor salienta que a humanização do
hospital é tão importante quanto o tratamento que ele oferece ao paciente, e que os
45
profissionais devem estar cientes disso, lembrando-se sempre que o desenvolvimento de
novas técnicas e de sistemas de atendimento não pode ignorar que o objetivo de toda atividade
hospitalar é o ser humano, observados paciente e profissional. Nessa mesma perspectiva,
Neto e Bittar (2004) afirmam que as organizações de saúde, ao buscarem a excelência na
prestação de serviços, visam à segurança do atendimento que perpassa os aspectos estruturais,
de processo, organizacional e, fundamentalmente, o comportamento dos profissionais de
saúde, não apenas sob o enfoque técnico-científico, mas acima de tudo humano.
O reconhecido da humanização da assistência associado à Acreditação foi
mencionado por dois profissionais técnicos de enfermagem:
A Acreditação leva uma enfermagem mais humanizada. (TE 14)
Acreditação Hospitalar? Eu acredito que é um serviço mais humanizado, né?
Pensando mais no cliente e também nos profissionais que trabalham. (TE 5)
Chama atenção nesses dois últimos discursos, o fato da política de humanização
ser reconhecida apenas por profissionais da equipe de enfermagem, notadamente técnicos de
enfermagem. Tal fato pode sinalizar uma maior preocupação e sensibilidade desta categoria
em torno das práticas de humanização.
As iniciativas de humanização, ainda que estimuladas pelo programa da
Acreditação, parecem não ocupar um lugar de grande relevância. Além disso, os entrevistados
associam a humanização exclusivamente com o trabalho desempenhado pela equipe de
enfermagem, sem observarem, novamente, que a prática envolve todos os profissionais de
saúde.
Segundo D’Innocenzo (2001), cada vez mais necessidade de se implementar
ações educativas que contemplem, além dos aspectos técnicos científicos, a inclusão de temas
relativos à ética e humanização, voltados ao desenvolvimento integral dos grupos de
profissionais. Segundo Waldow, “o cuidado deve ser sentido, vivido e para ser integrado no
nosso cotidiano, é preciso absorvê-lo, permitindo que faça parte de nós mesmos,
transformando-o em estilo de vida” (WALDOW, 2005, p. 216). Mezomo (2001) reforça que a
definição de qualidade implica também a explicitação e incorporação dos direitos
fundamentais da pessoa humana que devem ser garantidos e preservados na sua integridade,
mas que nem sempre a cultura organizacional vigente no hospital valoriza o paciente como
ser humano livre e portador de sentimentos e emoções. “Parece que o paciente foi feito para o
hospital e não o hospital para o paciente” (MEZOMO, 2001, p. 220). Assim, corroborando,
Nascimento et al. (2006) relatam que uma “necessidade de desenvolver o potencial
46
humano, incentivando a capacitação profissional, a sensibilização para o problema do
próximo e a humanização do trabalho” (p. 355).
Relegar ao segundo plano a humanização no processo de Acreditação, assim
como fizeram parte dos entrevistados, mostra que as instituições de saúde não focam as ações
educativas de seus profissionais, a eles demonstrando que os pacientes precisam ser
respeitados, seja a partir do diálogo ou na sua forma de expressar, manifestar ou interagir com
o outro. Segundo Waldow (2005), quando a instituição possui uma filosofia do cuidado
humanizado e integrado, abrangendo todos os setores e categorias de trabalhadores, os
pacientes e os funcionários recebem e oferecem cuidado com mais segurança e eficiência.
Nesse foco, seria incongruente adotar um sistema que objetiva a qualidade da assistência se a
pessoa humana, incluindo funcionários e pacientes, não forem considerados elementos
importantes para esse processo; assim, se a humanização da assistência não estiver embutida
na mente dos profissionais e instituição, é pouco provável que se consiga realizar um cuidado
de forma integral e holística como o preconizado pela Acreditação. Percebe-se, portanto, que
o hospital tem um lugar de destaque perante a política de humanização, pois deve oferecer,
além de tecnologias, um ambiente propício para uma assistência mais humanizada, bem como
promover uma educação permanente de seus funcionários.
Conforme afirmou Marins (2004), a formação e a capacitação dos profissionais
devem estar associadas às adequações dos modos de atenção à saúde, criando, dessa forma,
cenários favoráveis à aprendizagem e à organização da cadeia do cuidado. Neste contexto,
vale ressaltar a importância da formação profissional dos sujeitos que irão vivenciar o
processo de Acreditação. Por meio de uma capacitação imbuída nos princípios da qualidade é
possível desenvolver competências profissionais relacionadas principalmente à motivação e à
liderança, instrumentos importantes para a obtenção de um trabalho com qualidade (MATOS,
et al., 2006). Desse modo, essas competências conquistadas pelos os profissionais de saúde
serão fundamentais para a viabilização da Acreditação, pois o conhecimento lhes trará a
segurança necessária para que não se sintam tão vulneráveis e pressionados no dia a dia das
práticas organizacionais (MELLO, et al., 2005).
Por outro lado, contrapondo a ótica levantada anteriormente de que os
profissionais incorporaram conceitos importantes acerca do processo de Acreditação, observa-
se que alguns dos entrevistados não julgam o novo sistema de gestão da qualidade de forma
positiva; ao contrário, eles o percebem como uma forma de cobrança, passível de punição
pelo descumprimento das ordens. Tal percepção leva ao stress e desgaste do profissional. Essa
visão pode ser observada nos depoimentos:
47
Na verdade para a gente é mais uma cobrança, sabe? Da gente ter um
retorno, nós não temos retorno nenhum. Nós plantonistas o temos retorno
nenhum, estou sendo sincera. É só cobrança mesmo, reunião, para todo
mundo falar bonitinho uma coisa que na verdade é meio mascarada. Na
verdade a ONA para o hospital é ótimo, é mais um nome, um valor, mas
para gente não. É uma cobrança mesmo e um período de stress. Medo de
responder errado quando for auditado e se perde a ONA por sua causa, vai
ser mandado embora, e aí? É uma cobrança mesmo. (FIS 1)
O processo, para os funcionários eu acho que é muito estressante, porque
cobra muito, né? (TE 5)
(...) às vezes as pessoas acham que a Acreditação é como um fardo a mais
dentro da rotina do dia-a-dia, porque não aumenta de salário e é só cobrança.
(...) Na verdade, a ONA vira uma coisa mais de peso do que para uma coisa
que você acredita que “vamos fazer, para melhorar no dia-a-dia! (MED 4)
Outros sujeitos dessa pesquisa entendem que o processo é uma forma de mascarar
uma situação diversa da realidade, como se a Acreditação fosse válida somente no período da
auditoria. Passada a avaliação, tudo retornaria ao habitual, esquecendo os profissionais a
proposta da nova gestão de qualidade:
Coisa básica como manter papeleta de prontuário arrumada, ou quarto, ou a
sala de reunião arrumada, nunca acontece, mas na semana da ONA está
perfeita! (...) Eu questiono um pouco a Acreditação porque eu acho que é
uma coisa muito maquiada para poder se conseguir. (MED 4)
Ah, eu acho que o processo de Acreditação é muito importante, muito
válido, mas poderia ser buscada de outra forma. Porque a gente tem muito
aquilo de enfeitar a casa quando recebe visita, né? Então eu acho que teria
que ser uma coisa constante. (ENF 9)
Na hora da ONA é tudo mil maravilhas, mas só na hora da ONA. (FIS 1)
Tais achados sugerem a de falta de sensibilização dos profissionais em relação às
questões da qualidade, ou, até mesmo, a ausência de continuidade do processo depois da
auditoria. À medida que não entende o processo, o profissional ignora seus objetivos e suas
propostas, demonstrando, num desdobramento natural, contrariedade ou resistência ao novo
método. Segundo Chiavenato (2000), a educação e a comunicação são estratégicas
comumente utilizadas para contornar a resistência à mudança. Quanto às instituições de
saúde, uma vez conquistado o título de qualidade conferido pela ONA, talvez abrandem o
rigorismo imposto durante o período de auditoria.
Nesse foco, Mezomo (2001, p. 57) ressalta que a qualidade é uma “filosofia de
vida antes de ser uma filosofia de ação”, expressão que ratifica o acima exposto, notadamente
48
quando visualizada a falta de atenção constante do profissional, ou a ausência de contínua
exigência, pela instituição, do padrão adotado pela Acreditação, de sorte que não basta
esporadicamente fazer, há de se manter sempre ativo o padrão de qualidade.
À luz, portanto, das diversas respostas colhidas em face da pergunta “O que você
entende por Acreditação?”, conclui-se, em síntese, que os profissionais, independentemente
da categoria, não apresentam homogeneidade quanto ao entendimento, à aplicabilidade, à
necessidade e à utilidade do processo, tampouco buscam observar igualitariamente seus
pontos positivos e negativos. Todavia, é inegável que, diante da novidade desse método,
divergências existam, mas é certo que elas contribuem, sobremaneira, para o aperfeiçoamento
do novo processo, além de fomentarem, dentre os profissionais e nas instituições de saúde, a
busca pela melhoria do atendimento ao ser humano.
4.2 Implicações do processo de Acreditação
O processo da Acreditação Hospitalar acarreta importantes consequências para os
clientes, para os profissionais de saúde e para o próprio hospital como prestador de serviços
de saúde, tais conseqüências podem ser positivas ou negativas. Por meio deste estudo foi
possível compreender as repercussões dessa nova prática de gestão de qualidade na
perspectiva de diferentes profissionais da equipe de saúde, conforme apresentado a seguir.
4.2.1 Implicações do processo de Acreditação para o Hospital
Indagados sobre a influência do processo de Acreditação para o hospital, os
profissionais de saúde responderam que o sistema de qualidade se mostra indispensável e
oportuno, uma vez que a instituição acreditada se torna diferenciada e mais competitiva em
relação às demais não acreditadas, além de obter status e nome respeitado:
(...) é a titulação, o reconhecimento social, um reconhecimento institucional.
(MED 3)
O respaldo, uma confirmação de que aquele serviço é bem feito, de que ele
tem garantia de ser competitivo no mercado, de ter condições de estar
participando do mercado de trabalho, na linha de frente mesmo. (ENF 9)
Eu acho que para o hospital é uma questão de ser socialmente aceito, assim,
vamos dizer, o hospital que tem o título, ele é bem visto pela sociedade.
(ENF 2)
49
Ele ganha em nome, se a pessoa sabe que aquele hospital que tem uma
Acreditação e que ele foi considerado um dos melhores, ele diz: “eu quero
operar nele, eu quero ganhar neném nele”. (TE 6)
Essa abordagem reforça a visão de Neto e Bittar (2004), quando afirmam que o
processo da Acreditação Hospitalar traduz uma excelente imagem junto à opinião pública e da
impressa, favorecendo a confiança da comunidade, fator estimulante para seu crescimento e
aceitação. Além do mais, o hospital acreditado se lança como referência entre as demais
instituições:
O hospital x era uma coisinha, que agora é um hospital de referência.
(MED 1)
Para o hospital, o fato de você ter a Acreditação é muito importante e
diferencial, pois não são todos os hospitais que conseguem. (ENF 7)
Isso é um título que a empresa tenta conseguir que dá um diferencial para ela
perante as outras, assim faz com que ela seja referência. (TE 1)
No entanto, apenas a obtenção de melhor imagem não acarretaria tal repercussão
se o próprio hospital não incrementasse melhorias nos seus serviços após o processo de
Acreditação. Essa visão também foi trazida pelos profissionais. Assim, os entrevistados
reconhecem que a Acreditação conquistada pelo hospital demonstra sua aptidão para a
realização de procedimentos com qualidade, detendo condições físicas e de recursos humanos
mais elaborados e gerando um ambiente seguro. Segundo Lima e Erdmann (2006), uma
equipe capacitada tem condições de se organizar do ponto de vista material e operacional para
prestar um serviço de qualidade. Os relatos a seguir exemplificam essa visão:
O hospital está qualificado para atender todo tipo de procedimento e que
seus profissionais são todos qualificados para fazer o que é esperado. (ENF
6)
É um hospital de gabarito, uma equipe de gabarito, uma equipe de
profissionais altamente capacitada que se renova, que se recicla
periodicamente, no aspecto científico. (MED 5)
Eu acho que é a visão que o hospital transmite para os clientes, né? Para a
própria população em geral ficar também mais segura, sabendo que o
hospital é acreditado, que passa pelo processo de auditoria e de melhoria
contínua. Isso oferece uma segurança e respeito maior aos clientes. (TE 2)
De que aquele lugar vai estar me oferecendo um serviço seguro, de
qualidade, e que vai buscar a minha satisfação, enquanto cliente. (ENF 5)
50
Observa-se que o processo de Acreditação envolve aspectos relacionados ao
desenvolvimento da qualidade em saúde, tais como o acesso e garantia da continuidade do
atendimento, dos processos de diagnósticos e de terapêutica, da segurança dos procedimentos
e dos atos médicos, do desempenho dos recursos humanos e, ainda, das adequadas condições
das instalações e equipamentos (NETTO; BITTAR, 2004).
Outra percepção dos sujeitos é a de que Acreditação propicia o incremento da
rentabilidade para o hospital, não somente pela atração de clientela, mas também minimização
de gastos:
Lucro, né? Retenção de gastos e além de tudo, uma visão de que é um
hospital que presta uma assistência boa. (ENF 1)
Eu acho que ele sempre sai ganhando, Ganha mais paciente, lucro, né? É
mais visto no mercado, mais procurado. (TE 7)
Acho que é muito mais questão de competitividade e lucro pra instituição.
(TE 1)
A esse respeito Donabedian (1998) ressalta que na área de saúde é possível
gerenciar recursos com a finalidade de alcançar a prestação de serviços de qualidade e custos
mínimos, favorecendo inclusive o aumento do retorno financeiro. Para Rooney e Ostenber
(1999) um dos objetivos da Acreditação é reduzir os custos dos cuidados em saúde,
aumentando a eficiência e a efetividade dos serviços. Ainda neste foco Mello (2005) ressalta
que esse processo estimula a melhoria contínua dos serviços, minimizando desperdícios e
custos dos procedimentos. Assim, a adoção de programas de qualidade no setor de saúde está
fortemente relacionada ao crescimento dos custos da assistência hospitalar. É válido ressaltar
que o alto gasto dos hospitais e outros fatores como as necessidades de melhoria no
atendimento levaram à adoção do novo processo de qualidade.
Conforme apresentado, na visão dos entrevistados o processo de Acreditação traz
repercussões positivas, tais como, boa imagem, propaganda, melhores serviços, referência em
qualidade, segurança, clientela, lucro, enfim, é a chave para superação no mercado
competitivo. Percebe-se, portanto, que o processo de Acreditação é de fundamental
importância para qualquer hospital, não apenas para aprimoramento e melhoria dos serviços,
mas, principalmente, pelos bons resultados financeiros que a gestão da qualidade pode
oferecer.
51
4.2.2 Implicações do processo de Acreditação para os pacientes
Os profissionais percebem que o processo de Acreditação interfere na assistência
ao paciente, propiciando menor risco de erros nos procedimentos e nas práticas, além de gerar
a redução no tempo de permanência hospitalar, o que trará impactos no cuidado tornando-o
mais qualificado e seguro:
Controle da qualidade do serviço que estou prestando, tentar prestar
assistência segura com o menor risco para o paciente, com o menor impacto.
Menor tempo de internação, melhor assistência com menor custo. (ENF 1)
Para os pacientes, um atendimento de excelência é o que todo mundo busca
hoje em dia, é o que todo mundo preza, por isso que se busca ser bem
atendido inclusive nas suas complexidades. (TE 15)
A gente qualidade no atendimento, além da qualidade a gente
segurança no atendimento. (ENF 6)
A partir desses depoimentos, também se evidencia que o processo de Acreditação
apresenta como desdobramento o aumento na segurança do paciente. É certo que o simples
fato de conquistar o título de acreditado não significa, necessariamente, garantia da segurança
ou a certeza da melhoria da assistência. A busca contínua da crescente melhoria dos processos
de trabalho reflete a preocupação da instituição em relação ao atendimento de excelência.
Sendo assim, é muito provável, que o hospital consiga o que almeja, ou seja, menor risco nos
procedimentos e nas práticas, em busca do alcance de melhor qualidade.
A esse respeito Mezomo (2001) afirma que o processo de excelência centrado no
cliente é um conceito estratégico, porque associa os esforços em atender suas necessidades
com o sistema que apoia a melhoria contínua da qualidade dos produtos e dos serviços,
fazendo com que a organização consiga obter mais espaço no mercado. Nesse sentido, é
fundamental que a organização tenha flexibilidade e ofereça respostas às expectativas dos
pacientes, não apenas com um rápido diagnóstico e um tratamento certo, mas também pela
eficiência, pelo conhecimento e pela atenção das pessoas que prestam serviços.
Em relação à noção da assistência qualificada, os sujeitos da pesquisa acreditam
que, alcançado o título de qualidade, os profissionais envolvidos no processo devam oferecer
o cuidado com o mesmo padrão de qualidade. Independentemente de quem o prestar, a forma
de conduzir será a mesma e, sobretudo, os funcionários terão respaldo no conhecimento
científico. Bonato (2007) reforça que a padronização é necessária para que ocorra a gestão de
processos, tarefas e atividades. Salienta, ainda, que ela é importante para construir uma base
52
sólida na busca pela melhoria contínua, assegurando a qualidade assistencial, o que exige a
revisão e aprimoramento do processo. Essa ideia foi evidenciada no seguinte depoimento:
Eu acho que é a melhora do atendimento prestado, porque você segue
protocolos, são coisas revisadas, confirmadas na literatura, então você presta
um cuidado, digamos assim, um cuidado mais adequado para o paciente.
(ENF 9)
Sobre esse aspecto, constata-se que o processo de qualidade permite o resgate da
cientificidade do cuidado, direcionando ações e práticas de saúde a serem executadas de
maneira segura para os pacientes com respaldo na literatura atual, além de possibilitar uma
orientação para o raciocínio profissional.
Os profissionais entendem, também, que a Acreditação fomenta a organização do
serviço, influenciando positivamente na realização do cuidado ao paciente. Segundo Lima e
Erdmann (2006) a excelência da assistência está diretamente relacionada com a organização
do serviço dentro da instituição. Para Bonato (2007) a qualidade no campo hospitalar se
realiza completamente por meio da ação humana, responsável pela organização do trabalho
que influencia diretamente as práticas de saúde. O depoimento de ENF 5 expressa essa visão:
O impacto para paciente, eu acho que ele tem a ganhar no sentido de
organização do serviço. Na busca que o serviço e os profissionais têm
sempre de dar o melhor para o paciente. (ENF 5)
Embora os sujeitos da pesquisa percebam que a organização fundada no processo
de Acreditação atinja beneficamente os clientes, eles também apontam que os pacientes
desconhecem o que é um serviço acreditado. Como consequência, os profissionais sustentam
que os pacientes dão maior importância ao resultado advindo do processo de qualidade, já que
isto atende mais às suas necessidades do que o mero título da Acreditação. Nota-se, também,
que na visão dos profissionais os clientes se concentram nos resultados, desprezando o
percurso para a obtenção da melhoria no atendimento:
Acho que o paciente não sabe o que é ter Acreditação, penso que para ele o
que importa é ser bem atendido, independente do que você está fazendo por
trás, ou não. Eu acho que para nós tem muito, a gente tem a acrescentar
para eles. A gente qualidade no atendimento. Vai validar todos os
processos antes dele chegar. Vai saber que ele vai ter um equipamento ok,
um equipamento revisado, um instrumental seguro, a equipe pronta pra
atender, a equipe bem treinada. (ENF 6)
53
Por outro lado, depoimentos que abordam o processo de Acreditação como um
fator de distanciamento dos profissionais em relação aos pacientes, comprometendo a
assistência prestada. Segundo Bonato (2007), o cenário hospitalar moderno se destaca por
enfatizar mais as relações humanas do que os aspectos técnicos e mecânicos. Contudo, para
alguns entrevistados, a burocracia do processo de Acreditação promove o afastamento do
profissional em relação ao paciente, dada a necessidade de se seguir regras e regulamentos:
Às vezes, nesse processo, a demanda é muito grande em termos de muita
burocracia, é muito papel, muita checagem, tudo... O próprio paciente às
vezes fica sem assistência adequada, porque você fica mais tempo no
computador, do que com o paciente, para poder preencher burocracia. Então
eu acho que da mesma forma que você quer ter qualidade, você não a
qualidade máxima que você poderia dar na assistência, e os médicos idem,
porque fica muito menos tempo dentro da unidade olhando o paciente e
passam mais tempo preenchendo papel no computador. (MED 4)
Com o processo a gente peca às vezes, em organizar, em registrar, e às
vezes, acaba esquecendo que tem alguém ali que precisa daquele tempo que
você cede para a organização e para a parte burocrática. Você peca quando
você cede o seu tempo para essa parte e aquele tempo em que você poderia
também estar empregando em benefício do seu paciente, estar mais próximo,
dar uma atenção maior, ter mais cuidado na avaliação, conhecendo melhor
seu paciente para melhor servir na questão da assistência, esse tempo não
existe. (ENF 2)
Eu acho assim, que a partir do momento que eu sento aqui no computador e
dou as costas para o cliente, ele perde. No tempo que eu fico sentada,
fazendo qualidade é um tempo perdido para o cliente. Ele podia estar sendo
melhor assistido. Ele podia ter a gente mais perto. (ENF 3)
Tem que tomar um pouco de cuidado, de fazer qualidade e esquecer o
cliente. Porque eu não tenho tempo para fazer os dois, então eu prefiro fazer
qualidade porque alguém me cobra, deixo o cliente, assim, um pouco
negligenciado. (ENF 8)
Nota-se nessas falas que, independente da categoria profissional, existe um
paradoxo. De um lado o entrevistado reconhece a necessidade e a importância de estar mais
perto do paciente, oferecendo um cuidado mais individualizado e personalizado, visão que
converge com a política de humanização preconizada pela Acreditação Hospitalar. Por outro
lado, os sujeitos da pesquisa se veem, na prática, distanciados dos pacientes em função da
burocracia e até mesmo diante do prontuário eletrônico que deveria ser um instrumento para
facilitar as anotações das atividades realizadas.
Nesse contexto, os profissionais alertam que à medida que se ausentam do
convívio ou do diálogo com o paciente para realizar o preenchimento de registros, acabam por
comprometer a assistência prestada. Por outro lado, de forma contraditória, os entrevistados
54
reconhecem que a sistematização ou organização, inclusive o preenchimento de relatórios, é
indispensável não apenas para melhor acompanhamento da forma de assistir ao paciente, mas
também para qualificar o atendimento.
A humanização no atendimento, como se sabe, não significa empregar todo o
tempo do profissional junto ao paciente, mas sim, fazer com que a convivência do profissional
com o cliente seja otimizada e personalizada. Para tanto, o processo de Acreditação, longe de
priorizar preenchimento de papeletas, integra o ser humano e o cuidador, valorizando o cuidar
em saúde. Ficou evidente, assim, que os cuidadores não podem ser apenas técnico- científicos,
tampouco apenas gentis e compreensivos, e sim profissionais humanos, habilidosos,
competentes e sensíveis (WALDOW, 2005). Afinal, de nada adiantaria dispensar carinho e
afeto sem que conjuntamente bons serviços sejam oferecidos.
Ademais, percebe-se pelos depoimentos dos entrevistados ENF 3 e ENF 8 uma
noção de Acreditação equivocada, quando sustentam que a qualidade residiria apenas no
preenchimento de dados. De fato, a gestão de qualidade busca uma prática integral,
englobando o aspecto assistencial, processual e documental, e não um cuidado fragmentado
ou apenas o preenchimento de registros. Certamente, quando se oferece maior atenção ao
sistema de gestão, incluído o monitoramento dos dados, a qualidade do serviço se aprimora;
assim, torna-se indispensável conjugar todos os elementos do processo, que, bem atendidos,
geram a excelência.
Na visão dos sujeitos da pesquisa, em síntese, a Acreditação Hospitalar traz para
os pacientes inúmeros benefícios, notadamente uma melhor prestação de serviços de saúde,
embora acarrete, em alguns momentos do processo, em função da alta demanda e burocracia,
menor tempo de contato com o profissional.
4.2.3 Implicações do processo de Acreditação para os profissionais de saúde
Os profissionais não visualizam de maneira uniforme a influência do processo da
Acreditação no seu cotidiano de trabalho. funcionários que conseguem perceber o
processo apenas de forma positiva, outros o abordam somente com visão negativa. Porém,
aqueles que conseguem ponderar sobre a Acreditação, dela extraindo os aspectos negativos e
os pontos de sucesso do processo.
Os aspectos positivos mencionados estão, muitas vezes, relacionados com a
possibilidade de crescimento pessoal e a valorização do currículo com o aprendizado. Os
55
pontos negativos, por sua vez, são de cunho desmotivador, estando entre eles o stress e a
cobrança:
É bom para o profissional, para mim, quem trabalha aqui, trabalha num
hospital que tem a ONA é bom para o currículo, então eu acho que isso é um
ponto positivo, e negativo é o estresse mesmo. (TE 5)
De certa forma, o funcionário cresce. Porque ele deixa de se envolver só com
a prescrição médica e seguir prescrição, e ele começa a criar um tipo de
pensamento também, crítico. Mas ao mesmo tempo, eu vejo que ele tem que
se dividir, se desdobrar. Então, ele tem que ficar um tempo se dedicando à
ONA, às folhas, à checagem e a toda burocratização de assistência aqui, e
ela é dispensada. Ela é muito pesada, e nisso o paciente perde, e o
funcionário sai daqui estressado, porque ele tem sempre a sensação “eu não
dou conta de fazer tudo”. Então eu acho que isso desmotiva o funcionário
em longo prazo. (ENF 3)
Para os profissionais que veem o processo apenas positivamente, a Acreditação
traz orgulho e satisfação, tendo em vista a sensação de responsabilidade pela conquista do
título e pela valorização do hospital. Segundo Bonato (2007), a qualidade é tudo que agrega
valor ao trabalho ou às relações. Está diretamente ligada à produtividade da instituição,
envolvendo o relacionamento humano e o desenvolvimento profissional e pessoal. Essa
situação é descritas nos depoimentos:
Você trabalha lá no hospital X que é acreditado, nossa que bacana, ouvi falar
que lá é muito bom, então você fica até orgulhoso. (MED 1)
Eu acho que a gente fica muito satisfeito quando passa a auditoria, você
que o hospital foi acreditado e que a gente está envolvido, e que isso fora
vai fazer a diferença para a gente. (TE 15)
Revela-se, por outro lado, a questão da segurança proporcionada pelo processo de
Acreditação ao profissional de saúde. Os sujeitos da pesquisa abordaram que o funcionário
inserido em um serviço acreditado sente-se melhor preparado para atender as necessidades
dos seus clientes, à medida que pode oferecer recursos materiais, técnicos e humanos de
maior complexidade, além de manter o nível de qualidade pela padronização de rotinas e uma
maior organização:
Para os colaboradores eu acho que é a segurança de você estar
trabalhando em uma empresa que é reconhecida, uma empresa que
está buscando cada vez melhorar e que também nos segurança de
realizar um bom trabalho. (TE 15)
Para os profissionais, eu acho que assim a partir do momento que se
padronizam certas coisas, têm-se certos quesitos, digo assim, certo
56
nível de qualidade, isso acaba sendo benéfico para o funcionário por
que é um ambiente melhor para trabalhar, do que em novas
instituições que não têm. Não que a Acreditação isente de qualquer
problema, ocorre da mesma forma, mas assim, a partir do momento
que tem certas coisas padronizadas isso ajuda um pouco. (ENF 4)
Eu aprendi a tentar seguir um tipo de procedimento que é imposto e
deve ser seguido daquela maneira, então cria uma rotina e isso é bom.
Você trabalhar em um hospital organizado é bom, é fácil de você
lidar. (TE 6)
Não bastando, para os sujeitos de visão apenas positiva, o processo da
Acreditação incrementa a melhoria das condições de trabalho pela segurança adquirida, bem
como proporciona a estabilidade do clima organizacional entre os profissionais de saúde, ao
mesmo tempo em que estabelece um ambiente de trabalho mais prazeroso e propício para
fortalecimento das relações humanas. Nascimento et al. (2006) afirmam que a melhoria nas
condições de trabalho favorece a relação de crescimento, de entusiasmo e de prazer dos
funcionários, gerando motivação para vivenciar futuras experiências e desenvolver o trabalho
de maneira eficiente, com qualidade, em um ambiente de satisfação e alegria. Nesse foco, o
programa de Acreditação contribui para a melhoria do clima organizacional, estimulando o
companheirismo entre colaboradores dos serviços, visto que trabalhar em um hospital
acreditado e participar das atividades relacionadas à avaliação cria motivação no pessoal
(OPAS, 1992). Os fragmentos a seguir contemplam essa ideia:
O hospital vai estar buscando que o clima seja legal para aquele profissional
também, que entre a clientela interna, exista um clima, um relacionamento
legal, preocupar também com a satisfação do trabalhador, com as condições
de trabalho dele. (TE 3)
Nessa busca pela Acreditação a gente acaba virando uma família. (TE 13)
E eu acho que eu fiquei mais envolvida porque a gente tem um grupo de
enfermeiros, um nível bom também, de amizade, de companheirismo e tudo.
Então assim, de um ajudar ao outro, de cooperar e tudo. E a gente acaba
crescendo, né? (ENF 3)
Outros depoimentos apontam a maturidade profissional advinda do processo da
Acreditação, embasada pela troca de experiência com outros colegas de diversas categorias e
pelo próprio aperfeiçoamento conquistado. Os profissionais também ressaltam que por meio
da experiência e participação no processo, eles passaram a ter maiores chances de continuar
no mercado de trabalho, assoberbado e competitivo:
57
Eu acho que é um processo que a gente amadurece muito. Se eu me pego
antes da Acreditação, para agora, percebo que tenho muito mais interação
com esse processo. (FIS 3)
Eu cresci aqui em 5 anos, eu cresci muito mais do que 10, 12 anos que eu
trabalhei fora, justamente porque tem processos, porque tem exigências,
porque eles acreditam nisso
. (ENF 6)
É um processo que oferece condições de aperfeiçoamento profissional, abre
o campo para esses profissionais. (ENF 9)
O mercado tem carência de funcionários qualificados, de funcionários que
estão inteiros nesse processo, que tem qualidade para atender isso. Eu
acredito que mais lá para frente, esses profissionais vão ter mais
oportunidades de trabalho. (ENF 6)
Sobre esse aspecto, ressalta-se que a Acreditação pode representar uma importante
estratégia de capacitação de pessoal no âmbito do hospital, o que reflete a atual tendência da
gestão de pessoas na qual, conforme aponta Dutra (2002) deve-se promover a conciliação das
expectativas organizacionais e dos trabalhadores.
No entanto, outros profissionais referem-se à adoção do processo da Acreditação
como tão somente cobrança e stress para os profissionais envolvidos, sem nada lhes
favorecer, apesar de ser benéfico para o cliente:
Em termos do profissional, eu acho que exige uma cobrança muito grande
em relação a tudo para a gente. Visa à qualidade do cliente externo e esquece
a qualidade do cliente interno. (MED 4)
Em relação à percepção negativa sobre a Acreditação, a falta de valorização
também é uma queixa frequente dos sujeitos da pesquisa. Eles se sentem pouco prestigiados
diante do grande desafio que passam no dia-a-dia, que os erros são notados e criticados, ao
passo que os elogios diante das metas e das vitórias conquistadas não apresentam grandes
repercussões. Segundo Bonato (2007), as ferramentas da qualidade são, por vezes, utilizadas
para imputar culpa, medo e desenvolver controle sobre as pessoas e não sobre o processo de
trabalho e capacitação. Evidencia, assim, um distanciamento da qualidade na perspectiva da
construção de sistemas de trabalho que redundem na melhoria dos processos e não em
punição ou pressão. O depoimento de ENF 9 expressa tal situação:
Eu acho que profissional se sente estressado com tanta cobrança, a todo o
momento ele sempre é cobrado por um erro, às vezes ele não tem tanto
elogio de alguma coisa que ele fez bem feita. São sempre os erros que estão
sendo buscados. (ENF 9)
58
Nota-se que os profissionais de saúde se veem em um cenário permeado por
cobrança e pressão. Vale ressaltar que tal situação, apesar de inerente a qualquer sistema que
utiliza de avaliação contínua, pode ser suavizada pelo incremento de estratégicas que
busquem a valorização dos sujeitos envolvidos, a fim de proporcionar uma continuidade e
maior adesão à gestão de qualidade.
Alguns funcionários associaram a proposta de aquisição do título com o aumento
da renumeração, que idealizaram que o engajamento nos objetivos do hospital, aliado a
maior cobrança e stress, somado, ainda, à melhoria do atendimento diante da melhor
capacitação, seria fator determinante para a obtenção de recompensas. Mezomo (2001)
ressalta que as pessoas precisam ser compensadas e reconhecidas em função de sua
contribuição na organização, por meio de um sistema previsto pelo hospital que beneficie a
todos. Os fragmentos abaixo abordam a necessidade do reconhecimento e valorização:
Para nós profissionais não faz a diferença não, não mudou nada. Porque você
ganhou o título não tem um aumento de salário. Não melhora. Com ou sem
ONA não muda nada. Acho que é pior ter ONA: a cobrança é muito grande.
(FIS 1)
Porque quando a gente entrou, eles falaram que quando a gente ganhasse a
ONA, você tava aqui na primeira, eles punham assim para gente que é muito
bom, que o salário ia aumentar, que nós íamos ter um diferencial de salário
dentro do hospital. Falaram que a gente ia ter o 14º se a gente ganhasse, diz
agora que é até mentira isso, que nós os técnicos que criamos isso. Quem
criou? Por que a gente ia criar uma coisa dessa, mentirosa? Por que que a
gente ia criar isso? Não! É porque foi falado realmente pra gente, então nós
começamos a cobrar. (TE 6)
Mezomo (2001) ressalta que em um processo de melhoria da qualidade deve-se
pensar em um sistema de recompensas e de reconhecimento dos esforços das pessoas que
contribuem com o serviço de excelência. Os atos de esforço estimulam e motivam as pessoas,
quando devidamente recompensados, renovando o compromisso com a qualidade e com a
excelência dos serviços prestados.
No confronto entre as razões positivas e os argumentos negativos apresentados
pelos entrevistados no âmbito das implicações do processo de Acreditação para o meio
profissional, observa-se que a valorização e o conhecimento adquiridos por cada indivíduo
superam o stress e a cobrança, que é impossível conquistar melhorias sem o aumento da
responsabilidade. Aliás, talvez os pontos negativos apresentados advenham da própria
novidade, pois, como anteriormente evidenciado, o novo projeta insegurança e resistência
imediatas, mas momentâneas. Assim é inegável que a recompensa voltada à valorização e ao
59
reconhecimento do profissional, mediante elogios, palavras de apoio e outras formas de
incentivo, principalmente do ponto de vista financeiro, minimizaria a visão negativa
apresentada pelo entrevistado.
4.3 Aspectos facilitadores e dificultadores do processo de Acreditação
A implementação do sistema de qualidade não é tarefa simples. Ao contrário,
apresenta-se como um grande desafio a ser enfrentado pelos gestores e profissionais que
buscam adequar seus processos de trabalho à excelência no atendimento. Na trajetória em
busca de melhorias, são encontrados diversos cenários, dentre eles situações habituais no que
se refere à inserção de um novo método e outras inesperadas, mas superáveis. Nesse contexto,
será apresentada a discussão a respeito dos fatores que limitaram e facilitaram o processo de
Acreditação no hospital pesquisado.
4.3.1 Dificuldades apresentadas durante a implantação e a manutenção do
sistema de qualidade
O primeiro marco limitador do processo de Acreditação mencionado pelos
entrevistados reside na integridade e na qualidade das informações a serem transmitidas aos
profissionais, principalmente no início do processo. A esse respeito foram evidenciadas a
inexperiência e a insegurança quanto à inserção no sistema de qualidade. Os entrevistados
demonstraram não haver captado a base conceitual primária para engajamento na nova
metodologia de trabalho proposta, de tal modo que foi possível perceber a inconsistência das
informações adquiridas pelos profissionais, isto é, a incompleta incorporação de conceitos
relevantes do sistema, o que poderá implicar na não adesão ao processo. Mello (2005) afirma
que o processo de Acreditação colocado de forma repentina como meta, sem ter havido
preocupação anterior com a incorporação de princípios e valores da instituição, além do
conhecimento prévio a cerca do processo de trabalho, acarreta medo e mecanismos de defesa
nos profissionais que passam agir sob tensão, e não naturalmente como deveriam. Segundo
Bonato (2007), os esforços para implantação da qualidade são bem mais aceitos quando
orientados em uma metodologia clara e consciente, trabalhados em harmonia por todos os
integrantes do processo. Ressalta-se, ainda, que o processo de Acreditação tem grande chance
de não obter o sucesso esperado, caso as pessoas não tenham sido sensibilizadas da maneira
60
correta em relação aos assuntos da qualidade. Os depoimentos abaixo refletem essa limitação
inicial:
Esse processo de auditoria teve algumas dificuldades, porque a gente não
sabia se, por exemplo, a gente tem um indicador, e se eu não atingir a meta
daquele indicador? Isso é ruim para a auditoria? Isso daí é aceitável?
(ENF 2)
Eu acho que no início foi falado a respeito da ONA mesmo, que ia ter
ONA. Foi quando a gente procurou saber o que era. Mas no início ninguém
sabia como ia ser e o que era direito. (MED 6)
No início eles deram a cartilha para a gente, aquelas cartilhas que tinham o
nível 1, 2 e 3 e a gente tinha que estudar, decorar para ser usada no dia da
auditoria. (TE 13)
Os fragmentos apresentados deixam transparecer a inexperiência e a insegurança
dos sujeitos envolvidos para enfrentar o processo de maneira adequada. Como consequência,
o último depoimento (TE 13) retrata que a metodologia utilizada para repassar o
conhecimento pode não ter sido a mais apropriada. A cartilha mencionada é usada no hospital
como instrumento de divulgação dos temas relativos à qualidade e o seu conteúdo apresenta
informações que serão úteis inclusive durante a visita dos auditores em um possível
questionamento. No entanto, percebe-se que o instrumento, apesar de apropriado, poderia ser
repassado para os funcionários de maneira que possibilitasse maior aprendizado.
Por outro lado, nota-se por intermédio dos depoimentos dos profissionais de saúde
que tiveram sua contratação anterior à época da inauguração do hospital, que o proveito das
informações iniciais foi maior, visto que apresentaram uma percepção mais madura e
consistente a respeito do processo da qualidade:
A preparação para a Acreditação teve início no mínimo uns dois anos antes
de eu começar o serviço. Todo o andamento, funcionamento dos serviços
estavam direcionados, estruturados com a Acreditação Hospitalar que era
um objetivo do hospital, né? Aí no momento em que começou o trabalho nós
fazíamos os protocolos. Todo o nosso trabalho era direcionado, baseado
na ONA. Mas partindo do princípio que nós já conhecemos o processo muito
antes dele começar, isso foi um caminho andado, sem sombra de dúvida,
que ajudou demais. (MED 5)
O hospital nasceu com essa ideia, com essa filosofia de Acreditação bem
antes das paredes estarem levantadas. A gente tinha uma estrutura pré-
formada, pra que isso acontecesse. A gente, atrás mesmo começou a
montar todos os procedimentos operacionais padrões, a gente foi
checando depois. Pegaram alguns líderes de cada setor e começaram a
formar a visão de qualidade. E que começou mesmo, a partir do momento
que todos estavam inseridos no processo, por dentro do que ia ser feito, a
61
gente foi construindo determinados processos, fomos construindo toda a
base do hospital. (ENF 6)
Essa constatação pode ser explicada pelo fato de os funcionários veteranos terem
recebido os treinamentos previamente e com maior disponibilidade de tempo, antes do início
da realização das atividades práticas, seguindo a filosofia do processo de qualidade e
imbuídos do “espírito” da Acreditação Hospitalar. Diversamente, a ausência de tempo
associado com a qualidade comprometida dos treinamentos implementados tolheu daqueles
profissionais contratados depois da inauguração do hospital o especial repasse de informações
necessárias, dificultando, com isso, à gestão da qualidade.
Os depoimentos refletem a necessidade de se ter uma preparação prévia e
adequada dos funcionários que irão vivenciar o processo de Acreditação. Assim, o que se
observou foi uma divergência na percepção e vivência da Acreditação entre os profissionais
previamente preparados e os que não tiveram essa oportunidade, o que compromete a adesão
por parte dos funcionários recém-contratados. Vale ressaltar que a etapa de preparação do
funcionário novato, sob os moldes da Acreditação, requererá um período de treinamento na
maioria das vezes extenso, tempo que normalmente não poderá ser disponibilizado pelo setor
à vista da alta demanda de serviço. Nesse contexto, é imprescindível a participação dos líderes
dos setores juntamente com seus funcionários, a fim de que proponham estratégias de
treinamentos compatíveis com a realidade da unidade, sem deixar de considerar a qualidade
do repasse das informações.
Nessa perspectiva, outro aspecto relevante abordado diz respeito à falta de
objetivos e de proposta clara durante os treinamentos oferecidos:
Eu percebo que existe falta de objetivo no treinamento. Vem um e fala “é
para fazer assim”, aí vem outro e diz “não é assim não! Vamos mudar e fazer
tudo de novo”. (ENF 8)
Segundo Mezomo (2001), a qualidade exige treinamento com seriedade de
propósitos e conceitos comuns. Nesse foco, Gil (2007) afirma que a elaboração de um plano
de treinamento requer inicialmente a formulação de objetivos e que estes deverão ser
expressos em termos claros e precisos. Assim, a percepção de ENF 8 é uma questão relevante
e requer uma revisão à proposta de treinamento oferecida, pois um dos cernes da gestão de
qualidade é a ação educativa em busca de melhorias do processo. Se ela acontece de maneira
equivocada não gera os efeitos desejáveis, confrontando com a proposta da Acreditação. Gil
(2007) ainda ressalta que os profissionais precisam ser educados na “cultura da qualidade” e
62
não apenas serem treinados ou “adestrados, pois o ponto de partida para o desenvolvimento da
qualidade é a mudança de atitudes, e para que isto aconteça, é necessário não simplesmente
capacitar as pessoas, mas procurar oferecer aos funcionários condições que propiciem a
criatividade e iniciativa, além de favorecer a criação de uma cultura comum disposta a aceitar
mudanças.
Outro aspecto dificultador importante diz respeito ao não envolvimento de todos
os colaboradores no processo de trabalho, principalmente no que se refere à categoria médica.
Tal dificuldade foi relatada não só pelos demais profissionais de outras categorias, mas, pelos
próprios médicos. Mezomo (2001) pontua que um dos grandes obstáculos na implementação
do processo de melhoria da qualidade nos serviços de saúde está no envolvimento do médico.
O mesmo autor ressalta que a participação dessa categoria é fundamental para a criação de
uma adequada relação com o paciente, bem como afirma ser inútil o esforço dos profissionais
de outras classes em busca de excelência se os médicos, responsáveis diretos pelo cuidado na
visão daqueles submetidos ao tratamento, não aderissem à proposta. Vieira e Gurgel (2002)
ressaltam que a formação médica ainda é fundamentada no modelo biomédico que enfatiza a
dimensão biológica e relega os aspectos sociológicos, políticos e administrativos a segundo
plano. Sendo assim, Mezono (2001) reforça que os médicos devem entender que a qualidade
também os beneficia, ao passo que lhes oferece mais efetividade no trabalho, melhora sua
imagem e cria um ambiente adequado para suas atividades. Nos fragmentos a seguir é
possível visualizar a falta de envolvimento de alguns profissionais, e, em especial, do médico:
Eu acho que os médicos praticamente não sabem nada, como eu também não
sei muita coisa, mais eu acho que eles se envolvem pouco em relação à
Acreditação. (FIS 2)
Eu acho que os médicos não participam. Na verdade são poucas as pessoas
que têm o interesse. Entendem que é importante para o hospital, mas,
sobrecarrega em vários aspectos. Eles contribuem muito assim, quando está
na época, mas no resto não, eu acho que não envolve muito. (...) Eu acho que
é uma falha também do médico porque ele o vai aos treinamentos, e eu
acho que é por isso que ele o está integrado, porque faz os treinamentos
para os funcionários serem treinados e só vai técnico, a fisioterapia, a fono, e
os médicos não vão. (MED 4)
Agora, o que eu acho mais difícil é o envolvimento mesmo de todas as
pessoas, sabe? Precisa todo mundo estar empenhado da mesma forma,
porque um setor depende do outro, então eu acho que é que tem um
pouquinho de dificuldade! (TE 15)
Segundo Neto e Bittar (2004), o desinteresse dos médicos impõe a fragilidade de
toda a Acreditação, já que sem o apoio deles o processo de avaliação da qualidade assistencial
63
possui um valor limitado. Com isso, o desafio dos dirigentes reside em descobrir maneiras de
levar os médicos a participarem do processo de Acreditação, uma vez que a experiência nessa
área demonstra que aqueles que se comprometem contribuem de maneira criativa para o
processo da qualidade.
Nesse contexto, nos depoimentos citados percebe-se que todos os profissionais de
saúde, independente de sua categoria profissional, precisam estar engajados para o integral
sucesso do processo. Mezomo (2001) acrescenta ser efetivamente importante na gestão da
qualidade a entrega de toda a organização em busca da excelência dos serviços. Para Puccini e
Cecílio (2004) a participação de todos os profissionais é imprescindível para o sucesso da
“gestão da qualidade”, pois o alto desempenho da instituição depende do compromisso e
colaboração dos envolvidos no processo. Contudo, muitas vezes, o que se presencia é a falta
de envolvimento, além da ausência de entrosamento e de integração das equipes, fazendo com
que cada profissional realize seu trabalho de forma fragmentada. Os depoimentos
apresentados ilustram essa ideia:
O que dificulta é a falta de interação entre as equipes, a gente não consegue
reunir toda a equipe para discutir temas da qualidade. (ENF 8)
A grande maioria integra, mas os médicos são os menos envolvidos. Parece
que eles fazem tudo certo e não precisam de treinamento. (FIS 2)
Para mim, o que dificulta é o retorno da equipe, porque nem todos
participam. (ENF 4)
A equipe médica sabe pouco sobre a Acreditação e o processo todo que
acontece a respeito dos indicadores, de como a gente mensura, avalia,
trabalha o que está bom e o que está ruim. (ENF 7)
A gente tenta trabalhar em equipe. Às vezes sai outras não, porque tem muita
desigualdade, divergência entre plantonistas que vêm de outro hospital, com
outra opinião, aí vem a fisioterapeuta que tamm tem outra opinião de outro
serviço, aí junta. Aí tem que ter a coordenação para impor alguma coisa, mas
a coordenadora está ausente e cada um passa agir de forma diferente. Aí,
na auditoria, parece que existe equipe interdisciplinar, tudo bonitinho, mas
isso é falso. (FIS 1)
O médico é a classe de profissional mais difícil desse processo, porque
assim, a gente tem vários planos de ação, mas a equipe médica não participa.
Um exemplo disso, é uma coleta de sangue que poderia ser programada,
colhe o sangue da criança de manhã, quando é à tarde, “ah, eu não colhi tal
exame, eu quero que colhe!”, você vai e manipula a criança de novo.
Não tem essa questão de manipulação mínima, de respeitar, então eu acho
que o médico dificulta um pouco esse processo! Ele não envolve tanto nas
questões da qualidade. Ele quer o título, mas ele não envolve, ele só cobra da
gente, atingir meta, precisa atingir meta, mas ele não envolve com o
64
processo. São poucos que estão interessados no processo, e que trazem ideias
para a gente. (ENF 1)
Nota-se, novamente, que os entrevistados mencionam a falta de integração dos
médicos com os demais profissionais, bem como evidenciam a inexistência de coesão entre as
equipes, ainda que devessem estar todos unidos em torno de um objetivo comum. Ressalta-se
que a situação constatada contraria os princípios preconizados pela ONA, quanto ao trabalho
em equipe.
Outro aspecto relevante refere-se à diferença de envolvimento entre
coordenadores e não coordenadores. Os entrevistados relataram que, principalmente entre os
médicos, a participação dos coordenadores é superior a dos subordinados, que aqueles são
diretamente cobrados pela alta direção, além de serem os alvos durante a auditoria. Em
decorrência do maior acúmulo de atividades pelos coordenadores no processo de Acreditação,
para os entrevistados isso pode gerar transtornos quando os mesmos não estiverem à frente de
uma equipe, tornando-a sem direção. Tal situação reforça a importância de que o processo de
qualidade deve ser diluído e jamais concentrado nas mãos de apenas uma ou duas pessoas. Os
relatos a seguir exemplificam a questão da sobrecarga dos coordenadores e a necessidade de
maior integração de todos os profissionais, independentemente do poder de mando, no
processo de Acreditação:
Os coordenadores ficam um pouco mais envolvidos, pois eles serão
acreditados como comissão de frente. Mas fica na mão do enfermeiro
gerenciar as pessoas, os processos e resultados. (ENF 7)
Eu vejo que as pessoas mais envolvidas são aquelas que estão diretamente
ligadas à Acreditação no sentido da sabatinada, de ser arguidas, de ser
questionada sobre o funcionamento do setor. Mas eu creio que deveria ter
um envolvimento das outras pessoas integrantes da equipe, porque não
podemos arcar com tudo, né? E se eu tivesse algum problema de saúde,
quem iria assumir? (MED 5)
Igual eu estou te falando, o processo envolve mais os chefes. Nossas chefes
estão mais envolvidas, pois o serviço são delas. Então elas sentem mais
envolvidas e a responsabilidade fica mais com elas. Então elas querem que
tudo certo e que a ONA não seja prejudicada por causa delas, agora a
gente não tem motivação nenhuma. Então, por a gente, nós não queremos
estar aqui no dia da ONA. (FIS 1)
Eu vejo que a participação não pode ser apenas do líder. Ela é uma
participação de todos os trabalhadores. Não adianta só o líder estar
envolvido. Todo mundo precisa estar envolvido, senão o processo não anda.
(FON 1)
65
Percebe-se, ainda, por meio dos depoimentos, que os profissionais não ocupantes
de cargo de chefia preferem se esquivar da auditoria por acharem que os coordenadores
possuem maior responsabilidade, dominam melhor o processo e assim devem ser submetidos
à avaliação da Acreditação. Essa percepção compromete a união do grupo e interfere
negativamente no processo de qualidade a longo prazo, que o profissional subordinado
abstrai informações e relega atribuições.
Outro fato relevante observado é a divergência de envolvimento dos funcionários
em relação aos turnos de trabalho. Os profissionais avaliam que os integrantes do período
diurno se envolvem de maneira mais efetiva em relação àqueles que trabalham no turno da
noite. Isso se justifica pelo número de reuniões e treinamentos com os líderes e com os
gestores, que, na sua maioria, acontecem no período diurno, com escasso repasse de
informações para o plantão noturno. Ora, realizar reuniões durante o horário de descanso do
profissional que trabalha à noite é ignorar a relevância do padrão de qualidade
independentemente do turno, uma vez que o cuidado deve ser contínuo e ininterrupto. A
consequência dessa falta de orientação é a sobrecarga para o plantão diurno, e, também, o
despreparo dos profissionais quanto à qualidade no plantão noturno:
A gente tem um envolvimento muito grande das pessoas que estão no dia,
que veem os processos acontecerem, e tem um envolvimento menor, talvez,
das pessoas da noite. Porque tem essa diferença mesmo, eu acho que talvez
por falta de gerenciamento disso, talvez pelo repasse de informações e
reuniões que acontecem na sua maioria durante o dia e isso gera sobrecarga
do diurno. (ENF 9)
N
a reunião de quinta feira passou simplesmente que a UCP seria auditada à
noite, pois as pessoas do noturno não estariam envolvidas no processo. Aí eu
entrei em pânico, pensei “nenhuma enfermeira da noite está envolvida com
os processos”. Isso é uma parte negativa do processo, pois acham que o
dia tem que estar envolvido com o processo. pensei “a UCP não vai levar
relato de não conformidade e vou ficar à noite para treinar todo mundo”.
pedi as funcionárias para não pesar os recém-nascidos à noite, pois agora é a
rotina da noite. Chamei todas e falei “vocês vão ser auditadas agora. Calma,
vou passar os treinamentos para vocês”. Chamei as pediatras, fisio e fiz o
treinamento com todo mundo:
Se a auditora te perguntar sobre o quadro de
gestão à vista, então mostra para ela; se perguntar sobre o que o brigadista
vai fazer, vai lá e mostra o cartaz para ela e para ela. Não precisa saber
nenhum POP de cor, entra no documento de leitura, todo mundo sabe
entrar”. (ENF 1)
O último depoimento de ENF 1 reflete o despreparo da equipe do plantão noturno
em lidar com o sistema da qualidade, o que gera ansiedade no momento da eventual
avaliação, além de expor uma séria deficiência dos serviços, visto que, melhor seria receber o
66
cuidado advindo do plantão diurno, aparentemente mais capacitado. Essa situação reforça a
fragmentação do processo de qualidade, pois não deveriam existir diferenças na prestação de
serviços entre os turnos de trabalho. Pelo contrário, o que a Acreditação visa é uma prestação
de cuidados uniforme e contínua. Observa-se, como dito, uma diferença de conhecimento e
capacitação das equipes do diurno e noturno, sendo necessária uma intervenção rápida para
nivelar os padrões, já que a qualidade não pode ser condicionada ao turno de trabalho.
A ausência de tempo, a sobrecarga de trabalho e a cobrança também são
apontadas como fatores dificultadores do processo. O tempo é considerado curto porque a
parte burocrática da Acreditação consome grande espaço da jornada dos profissionais; a
sobrecarga de trabalho advém da necessidade de atenção à burocracia, além dos afazeres
comuns, enquanto a cobrança recai na premência pela qualidade e perfeição. Alguns sujeitos
relatam que essas circunstâncias decorrem do o envolvimento dos profissionais, em franco
obstáculo ao crescimento da instituição e à conquista da excelência. Tal situação pode ser
vista nos depoimentos:
Eu acho que a dificuldade maior, pelo menos em relação à questão médica
mesmo, eu acho que é muito o tempo. Porque a gente tem que dar uma
assistência, você tem estar de acordo com os protocolos, então eu acho que
sobrecarrega um pouco o médico sim, por que ao mesmo tempo você tem
que prestar assistência, que é o que eu acho que é o principal para o paciente,
e às vezes você se perde em algumas coisas burocráticas para poder ter a
Acreditação. (MED 4)
O que dificulta é a falta de tempo e a sobrecarga em cima dos profissionais.
(TE 14)
Às vezes é a própria demanda do serviço que dificulta ter que estar parando
aquilo para registrar, para analisar quais são os resultados, de certa forma de
ter que afastar um pouco do estar perto do paciente, para poder fazer esse
balanço dos resultados, que é um processo muito importante, mas que, às
vezes, a própria demanda assistencial inviabiliza. (ENF 9)
Eu acho que o que dificulta é o nível de exigência, que é colocado, e isso, de
uma certa forma, atingir esse nível de exigência às vezes é difícil no dia-a-
dia, a todo o momento, né? A gente sabe que trabalhar com resultado nota 10
todos os dias é meio difícil. A gente sabe que é meio complicado. (MED 3)
Porto e Rego (2005) avaliam que a sobrecarga exigida pelo aumento da
produtividade pode fragilizar os profissionais, na medida em que eles não têm a oportunidade
de construir e conquistar o desenvolvimento humano. De fato, não basta apenas impor metas e
exigir resultados, deve-se oportunizar e priorizar discussões em grupo, gerando espaço para
67
que os profissionais reflitam sobre os problemas enfrentados cotidianamente e teçam críticas
voltadas ao crescimento pessoal e ao aperfeiçoamento do sistema de qualidade.
Os profissionais de saúde também apontam cobrança desigual em relação às
diferentes categorias, com sobrecarga de algumas em prol de outras, o que no ponto de vista
deles não é benéfico. Exemplo disso é a equipe de enfermagem que se sente sobrecarregada
pela demanda de atividades relacionadas com a questão da qualidade. Essa categoria acredita
que ela realiza outras atividades que poderiam ser dividas com o restante do grupo, pretensão
esta apenas idealizada. Assim, a equipe de enfermagem assume funções de outros
profissionais, sentindo-se responsável por seus sucessos e insucessos:
A equipe não participa de forma geral, agora, acaba que a enfermagem fica
tampando buraco que os outros não conseguiram resolver. A equipe médica
participa muito pouco, praticamente nada. (ENF 4)
Olha, no meu ponto de vista a gente mais cobrança na enfermagem, né?
Pelo menos, eu vejo isso, dos médicos eu não vejo. Pelo menos nos
treinamentos eu não percebo eles participando, não! Então eu acho que é
mais cobrado da enfermagem mesmo. (TE 5)
Dificulta quando outras equipes não se empenham em realizar aquilo que
deveriam para manter tudo em ordem e sobrecarregam a equipe de
Enfermagem, que eu acho que toma a frente de tudo. É uma equipe que
busca, é uma equipe que tenta resolver mesmo as questões referentes à
auditoria, a parte organizacional mesmo, eu acho assim que a equipe de
Enfermagem é que corre muito atrás, que busca. Não sei também se é porque
nós somos em maior número, então o fato é que sobrecarrega quando a gente
não tem muita cooperação dos outros profissionais. (ENF 2)
Então, assim, a gente tem uma cobrança maior também, a equipe de
Enfermagem, como um todo, tem uma cobrança muito grande. A maioria
dos indicadores é avaliada por nós, até porque eu acho que depende muito da
assistência nossa, mas, também eu acho que talvez, porque nossa visão seja
ampliada, a gente tem que dar conta de muita coisa. Então, eu acho que fica
muito centrado ainda na Enfermagem. Eu acho assim, que isso talvez tivesse
que mudar um pouco, porque é na gente que é creditado todas as mudanças,
tanto boas quanto ruins. É bom, mas eu acho que nem tudo está com a gente,
nem tudo é resolvido a partir da Enfermagem. (ENF 9)
Outro aspecto dificultador apontado pelos entrevistados é a comunicação, ou o
repasse de informações sobre o processo da qualidade entre os funcionários em geral.
Segundo os profissionais, as informações muitas vezes não chegam a todos de maneira
uniforme, principalmente, como já mencionado, para o plantão noturno:
O aspecto de informação, eu acho que é dificultador, sempre foi um ponto
assim, chave, o fato de ter alguém que realmente domina o conhecimento e
68
com disponibilidade para repassar esse tipo de informação principalmente
para o turno da noite. (ENF 3)
Além do problema da carência de informação, os profissionais expressam que
escassez de treinamento durante todo o ano, visto que a capacitação é concentrada na
proximidade da auditoria. Mezomo (2001) aborda que a implementação do processo da
qualidade implica uma visão de futuro, o envolvimento das pessoas, em todos os níveis,
obtido por meio de um consistente plano de educação e de treinamento, a criação de estrutura
de apoio, de monitoria e de retroalimentação do processo. Assim, é fundamental a existência
de treinamentos ao longo do ano para obtenção de um ciclo de melhoria contínua,
oportunidade que não é proporcionada aos entrevistados:
Eu acho que precisaria de mais treinamento também durante todo o ano,
porque sempre quando está para chegar no momento da Acreditação
intensifica os treinamentos para melhorar a qualidade, em vista à
Acreditação. (MED 4)
Por que não foi feito antes? E agora que a gente está praticamente um mês
para auditoria, começa toda a correria, todos os treinamentos... Por que os
treinamentos também não são feitos sempre? É sempre mais perto da
auditoria, aí junta tudo, em 1 mês, 4, 5, 6 treinamentos, é muito apertado, tira
todo mundo da assistência, é muito ruim. (TE 13)
Pelos depoimentos apresentados percebe-se que os sujeitos sentem falta de
treinamentos contínuos durante todo o ano, pois, para os profissionais não sentido mantê-
los apenas na época da auditoria. Silva sustenta desde o ano de 1994, e ao que parece ainda
sem conscientização dos dirigentes, que a qualidade não deve ser entendida como uma meta,
mas sim como um processo sempre ativo, caso contrário, pode favorecer a sobrecarga de
treinamentos em um determinado período, implicando um aprendizado comprometido e não
favorável ao processo de melhoria. O envolvimento das pessoas com a gestão da qualidade
deveria ser incessante, distribuído durante todo o ano como forma de reaprendizado e
reiteração das rotinas, visto que a excelência não se mede em um atendimento, mas na
continuidade da prestação dos serviços. Para atingir efetivamente a máxima qualidade, os
treinamentos e os protocolos devem ser frequentes, conforme observado:
Eu acho que a acreditação teria que ser uma coisa constante. Aquela busca
pelo medicamento que está vencido tem que ser todos os dias. O ano inteiro!
(ENF 9)
Quando chega a época da auditoria fica todo mundo querendo arrumar, todo
mundo querendo que esteja tudo certo e nem sempre funciona. (TE 6)
69
Acho que perto da ONA, aí fica todo mundo conversando, todo mundo
fazendo, porque tem que aprender rápido, porque tem que fazer efeito, e pós-
ONA, simplesmente passa uma borracha e esquece. Então, simplesmente
vira uma porcaria, né? As coisas que têm que ser mantidas e não são
mantidas. E aí, perto da ONA, vem toda aquela confusão. (...) O povo até
esquece um pouco de olhar a criança, volta para papel, volta para não sei o
quê, porque isso tem que estar perfeito, porque isso tem que fazer. E a
assistência? E os pais? E a criança? Então vem aquela cobrança de papel, de
check list, de não sei o quê, mas a assistência fica um pouco prejudicada.
(TE 7)
Ademais, por meio desses depoimentos observa-se que os profissionais o estão
preocupados com a manutenção dos treinamentos ao longo do ano, situação que influencia
negativamente a prática da gestão da qualidade. Ainda, percebe-se que, durante a auditoria, a
própria prestação de serviços é relegada a segundo plano, que o foco naquela oportunidade
se resume no cumprimento da parte burocrática do processo para a conquista do título de
excelência.
Outro argumento levantado pelos profissionais para justificar a descontinuidade
do processo é a alta rotatividade dos funcionários. Eles apontam que a mudança de equipe
com a entrada de pessoas novas sem terem treinamento prévio compromete a produção da
qualidade. Conforme esclarece Mezomo (2001), a alta rotatividade dos funcionários pode
mostrar que a instituição não prioriza a produção dos serviços com qualidade.
Ora, se a instituição não se preocupa com a manutenção do quadro de pessoal,
além de não promover reiterados treinamentos, conclui-se que o processo de Acreditação
experimenta descontinuidade. Ainda de acordo com Mezomo (2001), os funcionários são
como os clientes, quando insatisfeitos não permanecem na instituição. Nos relatos abaixo
percebem-se a causa e os efeitos da perda de funcionários para o setor:
Acho que a dificuldade é a rotatividade grande da equipe. Se a equipe está
prontinha, de repente pessoas saem, tem que começar tudo de novo, é
isso que dificulta. E muito, né? Porque você está com a equipe prontinha, e
todo mundo sabe, e segue aquela norma e de repente sai três, pronto,
arrebenta aquela turma. começa tudo de novo, então isso dificulta muito.
(TE 6)
Teve uma vez que quando conseguiu montar uma equipe boa, treinada,
capacitada, foi jóia, mas vem aquela cobrança muito grande em cima e o
pessoal acaba saindo. Porque é muita cobrança e saem mesmo. A equipe
se desfaz toda, aí tem que agora montar uma equipe toda nova para treinar, o
pessoal vai para a noite, vem muita gente nova, aí foge um pouco porque não
faz o treinamento com a pessoa que está entrando, aí acaba tudo se perdendo.
Tem tanta gente novata, que às vezes não segue, às vezes cada um vem com
uma rotina do, de um hospital, vem trazendo, e às vezes não segue direito o
70
POP. A enfermeira é a mesma coisa. Aí muda muito e acaba se perdendo, na
qualidade do procedimento! (TE 2)
A causa da fragmentação da equipe, como se observou, decorre da pressão e
cobrança sobre os funcionários em torno das responsabilidades impostas pela Acreditação. O
efeito da rotatividade recai na queda do padrão de qualidade, além da incorporação de novas
pessoas, as quais nada sabem a respeito das rotinas e sobre a gestão de excelência. Sem o
adequado conhecimento da Acreditação e à vista da pressão, novas demissões são inevitáveis
e o ciclo continuará ativo até que o treinamento regular seja feito periodicamente, não apenas
às vésperas de uma auditoria.
Por outro lado, fenômeno importante que interfere no aparecimento de muitos dos
fatores dificultadores anteriormente mencionados é a não incorporação da cultura da
Acreditação por parte dos profissionais envolvidos, impactando inclusive na ausência de
adesão ao sistema da qualidade. Mezomo (2001) relata que a qualidade exige mudança
cultural, com alteração na atitude e no comportamento dos profissionais envolvidos.
Corroborando, Bonato (2007) sustenta que a conscientização para obter-se qualidade deve ser
aliada à mudança dos modelos mentais enraizados nas equipes de saúde, as quais ainda
nutrem generalizações e pressupostos ultrapassados, influenciando negativamente na forma de
agir dos indivíduos e na adesão ao novo processo. A mesma autora reforça que para atender
aos propósitos da instituição os colaboradores precisam conhecer a cultura institucional, as
metas, os valores e a missão do processo, decorrendo dessa união a manutenção da gestão da
qualidade. Salientando essa ideia, Lima e Erdmann (2006) relatam que “a mudança de atitude
é proveniente de um processo de construção fundamentado no compartilhamento de
informações, definição clara de objetivos e metas” (p. 277). Nessa perspectiva, as pessoas
envolvidas são essenciais para a implementação de uma cultura voltada para a qualidade,
prevenção e melhoramento contínuo (SANCHEZ, 2003). Assim, observa-se nos depoimentos
dos entrevistados uma visão de que o processo de mudança não é uma tarefa fácil; em
contrapartida, também se percebe a necessidade de acreditar no sucesso do programa e, para
isso, seria essencial fortalecer a cultura da Acreditação nas diversas pessoas que ainda não
incorporaram seus conceitos básicos:
Todo o profissional deveria incorporar a ideia da Acreditação. (FIS 2)
O que mais dificulta é a conscientização dos profissionais sobre Acreditação.
(ENF 1)
71
Muitas vezes as pessoas não aderem ao processo porque não conhecem. (TE
6)
Eles não sabem qual que é a importância disso, então por isso eles não se
empenham tanto em fazer... (ENF 4)
Todo processo de mudança não é fácil, mas é preciso abraçar e acreditar
nisso. (...) Tem muita gente que tem resistência para mudança e cabe ao líder
dos setores promoverem a conscientização da importância da mudança, no
processo de aprimoramento, no processo de resultado melhor, no trabalho
para ele e para o paciente. (FON 1)
Nos relatos apresentados, notadamente o último, verifica-se a importância do
papel do líder no processo de conscientização a respeito dos novos paradigmas. Com isso,
observa-se que os chefes de equipe devem conduzir com mais empenho o processo de
Acreditação, a fim de oferecer aos subordinados a base conceitual, instigando-os à melhoria
de todo o sistema.
No entanto, os profissionais entrevistados não relacionaram apenas os aspectos
dificultadores à implementação do processo, já que, vencida essa etapa, resta a difícil tarefa de
propiciar a manutenção da gestão de qualidade, a qual é influenciada negativamente pelos
mesmos aspectos já citados:
O dificultador é manter esse processo. (ENF 7)
Você tem que se comportar como se você fosse ser acreditado todos os dias.
Então isso é o mais difícil, porque isso aí é uma prova diária, né? (MED 3)
Conforme exposto, diversos aspectos limitadores para a completa
implementação e manutenção do novo sistema de gestão da qualidade, cabendo uma melhor
avaliação e acompanhamento do processo, seja por meio de ações de intervenção da alta
direção ou por atitudes dos líderes de setor; da prática de recompensas; da manutenção do
quadro de pessoal; da maleabilidade no trato com os profissionais afastando-se a pressão; da
intensificação do treinamento com a participação de todos os funcionários, seja do turno
diurno ou do noturno. Enfim, devem os gestores da instituição promover ações motivadoras
do crescimento, do amadurecimento e da realização do profissional, visto que simples atitudes
são determinantes para o sucesso do processo de Acreditação.
4.3.2 Facilidades encontradas pelos profissionais durante o processo de
Acreditação
72
Os sujeitos reconhecem não apenas a existência de aspectos dificuldadores no
processo de Acreditação, mas também os pontos em que o novo sistema beneficiou a
prestação de serviços. Dentre essas questões facilitadoras, os entrevistados apontaram que o
cenário do estudo, um hospital nascido com a filosofia da Acreditação, viu-se livre de vícios
ou de métodos ultrapassados, com o objetivo de distinguir-se pela excelência do cuidado.
Além disso, as pessoas contratadas previamente à inauguração do hospital foram treinadas
dentro das rotinas propostas pela instituição, seguindo a mesma filosofia e igual padrão.
Assim, na visão dos entrevistados, esse fato tornou-se um facilitador à medida que os
funcionários foram se aperfeiçoando nas rotinas do setor de alocação, deixando de lado
muitos conceitos e práticas obsoletas ou inadequadas, adquiridas por outras vivências.
Segundo GIL (2007) a capacitação dos profissionais consiste em dar-lhes a formação básica
para que esses modifiquem antigos hábitos, desenvolvam novas atitudes e aprimorem seus
conhecimentos, a fim de prestarem um atendimento de qualidade. Essa realidade foi
observada nestes depoimentos:
Acho que no primeiro momento o hospital era novo, e todo mundo uma
equipe nova, eles puderam, conseguiram moldar do jeito que eles queriam,
então foi fácil, não foi difícil. Diferente quando você lida com pessoas
antigas, já é dificílimo, porque todo mundo já está com “defeitos”, então
para você conseguir por do jeito que quer aquilo é barra pesada. Então, se o
hospital fosse antigo, eu acho que seria difícil, não seria tão fácil, iria haver
uma barreira, porque cada um tem sua mania, uns acham que não têm
necessidade de aprender mais do que sabe, o outro já tem aquela mania de
achar que está bom, do jeito que está, para quê melhorar? Todo mundo
acha assim. Então um hospital, que é novo, que as pessoas são novas, então
você tem facilidade de impor normas, agora, se fosse no velho, seria bem
difícil. (TE 6)
Eu acho que é mais fácil para mim, no sentido do que eu já vivenciei desde o
início. Porque o novo para a gente trás um medo. A gente fica inseguro com
o novo, né? Totalmente diferente, a gente fica inseguro. Então eu percebo
isso nessas pessoas que estão aqui há pouco tempo. (TE 12)
Nesse foco, observou-se como aspecto facilitador, não obstante o fato de se tratar
de um hospital novo e com funcionários previamente treinados dentro da filosofia da
Acreditação, a maior intimidade, maturidade e consciência dos profissionais que desde o
começo trabalhavam na instituição. Com isso, para os funcionários contratados à época da
inauguração, a vivência nas sucessivas auditorias e o entrosamento possibilitaram a menor
apreensão e a maior confiança para futuras avaliações:
73
Eu acho que ano passado foi o momento melhor, assim, porque eu acho que
a gente estava mais madura, sabe? Porque até então, como que eu vou te
falar, a gente brincava de Acreditação, né? A gente brincava de Acreditação.
A gente seguia processos, seguia normas, mas o hospital não, como ele
cresceu com aquilo, eu acho que ele tava imaturo para aquilo. Ano passado,
não. Ano passado, as pessoas estavam muito maduras, muito conscientes do
que elas estavam fazendo, o nível de maturidade dos funcionários cresceu
tanto que, assim, você vê a diferença de uma análise crítica que você
começou lá atrás e uma agora. O tanto que você mudou esse processo. (ENF
6)
A bagagem de conhecimento facilita qualquer um. Às vezes, a mudança de
um processo, a forma de realizar um trabalho, a gente tendo essa bagagem de
entendimento, é um mecanismo facilitador. Para quem está chegando agora,
acredito que seja um pouco confuso entender o processo
. (FIS 3)
Observa-se, portanto, que o sucesso do processo de Acreditação não está
relacionado à necessidade de abertura de um novo hospital, bastando a união e a estabilidade
do mesmo grupo, com capacitação frequente, tal como antes mencionado, para atingir-se
melhoria no novo sistema de qualidade.
Outro aspecto relevante apontado pelos profissionais é a uniformização das
práticas e das condutas, ponto facilitador identificado desde as respostas sobre o conceito de
Acreditação. A padronização, assim, é considerada ferramenta indispensável para a gestão da
qualidade, visto que, havendo normas a serem seguidas, acredita-se que as pessoas envolvidas
na ação falem e ajam da mesma maneira. Esse fato gera maior controle do processo de
qualidade e maior rigor em busca de melhorias:
O que facilita é que todos vão trabalhar de maneira uniforme. Com isso, em
qualquer setor, você pode ter certeza de que todo o processo vai ser realizado
de acordo com as normas. (TE 15)
Os facilitadores é que todo mundo trabalha igual. Então o que eu falo é o que
outra fala, o que o CTI fala é o que a recepção fala, quer dizer, é uma fala só.
(ENF 6)
Ainda no campo da busca por melhorias, os entrevistados afirmaram que o
empenho, a valorização e a motivação da equipe são fundamentais para adesão e manutenção
do processo da qualidade. Soma-se a isso o fato de o hospital ter alcançado a Acreditação
em nível de excelência, o que é um incentivo na visão dos profissionais. Bonato (2007)
reforça que o trabalhador precisa sentir-se valorizado como pessoa participante de um grupo,
enfrentando desafios comuns. Nesse contexto, Juran e Gryna (1991) afirmam ser de extrema
importância a motivação e o comprometimento de todos os funcionários para o alcance da
qualidade. Tal situação expõe mais uma vez a necessidade de maior valorização das pessoas
74
envolvidas no processo. À medida que é criado um ambiente de trabalho estimulador para
aquisição de conhecimento e desenvolvimento de novas habilidades, um grande salto em
busca de melhoria. Os fragmentos abaixo traduzem essa ideia:
Quando a gente pensa em equipe, eu acho que facilita quando as pessoas se
empenham para que as coisas sejam resolvidas. (ENF 2)
Eu acho, que o que facilita é o empenho da equipe, se a equipe está
empenhada, o processo flui!(TEC 9)
O facilitador é o incentivo em busca da melhoria. As pessoas estimulam pelo
fato de estarem trabalhando em um lugar que é acreditado em nível 3. (TEC
14)
Eu acho que facilita é o entrosamento da equipe, porque, por exemplo, no
processo de Acreditação, se a enfermeira consegue passar para a equipe de
técnicos a importância disso, os benefícios disso para o serviço, a gente
tem uma maior adesão e isso facilita. (ENF 4)
Nota-se, além do mais, de acordo com os sujeitos da pesquisa, que o papel do
líder como incentivador é essencial para o processo de melhorias. Bonato (2007) relata que os
líderes influenciam de maneira saudável os colaboradores, enfocando a participação da força
humana dentro da instituição, uma vez que, ao potencializar o saber dos indivíduos, os
funcionários serão capazes de enxergar novas possibilidades nas situações cotidianas,
melhorando a relação pessoas versus trabalho. Cabe ressaltar, com isso, a importância do
envolvimento do líder no processo, ao passo em que ele inspira uma visão de melhoria
contínua e encoraja a substituição de práticas antigas por métodos novos. Ao mesmo tempo,
estimula a autoestima dos funcionários e favorece a satisfação dos clientes. Os depoimentos
seguintes abordam tal percepção:
E o que facilita é ter o apoio dos coordenadores, paciência, né? Acho que
isso facilita. (TE 5)
Eu acho que quando os líderes estão sempre prontos para ajudar a gente nas
dificuldades, eles ajudam muito. Os líderes aqui são muito abertos. Aqui tem
hierarquia, mas sem essa barreira, né? Então eu acho que fica tranquilo. (TE
15)
No depoimento de TE 15 foi apontado que mesmo com a presença de hierarquia
dentro da instituição, os líderes não ficam rotulados como meros chefes, pelo contrário,
demonstrou-se a existência de membros participantes e ativos no processo, além serem
prestativos e essenciais ao equilíbrio do grupo.
75
Além de descreverem a importância do líder, os entrevistados adicionaram aos
fatores positivos da Acreditação o valor do trabalho em equipe e da interação do grupo.
Mezomo (2001) relata que a melhoria dos processos não é algo a ser cumprido por um setor
ou por pessoas selecionadas, mas é o resultado de esforço em grupo. O mesmo autor ainda
acrescenta que a nova filosofia de administração centrada na busca da melhoria contínua
privilegia o trabalho em equipe, a capacidade produtiva, a relação de parceria e de co-
responsabilidade, a diversidade e a mudança de pensamento, o respeito e o valor de quem
produz o pensamento horizontalizado e a maximização dos objetivos e das metas.
Corroborando, Alves et al. (2005) ressaltam a importância do trabalho complementar das
diversas categorias de profissionais que integram a equipe e do reconhecimento de que
nenhuma categoria profissional, isoladamente, detém o saber necessário para suprir as
demandas dos serviços. Dessa maneira, os discursos abaixo retratam a ideia do trabalho
conjunto como uma maneira de facilitar a prática assistencial, que esta proporciona
discussões valiosas em busca de melhorias alternativas, além de favorecer a troca de
experiência entre profissionai
s:
(...) todo mundo estar interagindo, um respeitando o outro, independente da
sua profissão, trocando experiências. (TE 6)
Eu acho que trabalhar em equipe é um facilitador importantíssimo, eu acho
que essa é a chave principal. (MED 1)
Em se tratando de trabalho em equipe, os profissionais também consideram a
comunicação como uma ferramenta essencial para o sucesso do grupo. Os entrevistados
apontam que as informações repassadas indistintamente a todos, independentemente da
função que exerçam, favorecem o surgimento do pensamento crítico, de soluções e de ideias
inovadoras. Segundo Mezomo (2001), a informação que chega a todos os profissionais cria
um ambiente de integração e participação que reforça o processo de melhoria da qualidade na
organização. Os discursos abaixo ilustram a visão descrita e ainda ressaltam que a facilidade
da dissolução das informações acarreta descentralização das funções, contribuindo para o
maior envolvimento dos profissionais em relação aos objetivos da empresa:
Eu acho que facilitador, hoje nós temos é, os meios de comunicação muito
fáceis, ágeis, isso ajuda. É a tendência hoje de descentralização das funções,
os diretores são apoiados por vários profissionais, originados de diversas
áreas. (ENF 9)
Eu acho que as informações devem ser passadas para todos, isso ajuda
muito. (ENF 4)
76
A partir dos relatos dos aspectos facilitadores, observa-se que o processo de
Acreditação necessita ser lapidado, a fim de que os pontos de sucesso sobreponham os
problemas. A discussão fundamental reside em quais estratégias podem ser alcançadas para a
manutenção e para a melhoria da gestão de qualidade, táticas que, não obstante as críticas
relatadas ao longo deste estudo serão discutidas a seguir.
4.4 Estratégias apontadas pelos profissionais de saúde em busca da
manutenção do processo de qualidade
Ao responderem sobre quais as estratégias deveriam ser utilizadas para
manutenção e melhora da gestão, os profissionais apontaram diversas alternativas. Para
buscar-se a primazia da prestação de serviços, os entrevistados sugeriram que a revisão
contínua dos métodos de trabalho é uma relevante ferramenta para incorporar práticas mais
atualizadas e compatíveis com a realidade da instituição. Segundo Lima e Erdmann (2006) as
organizações necessitam de profissionais capacitados para atingir suas metas e objetivos,
tornando necessário um trabalho contínuo com os funcionários. Nesse contexto, essas autoras
sugerem a atualização dos conhecimentos como estratégia de busca de melhorias. O
depoimento abaixo expressa essa ótica:
Treinamentos, revisão de POPs, levantamento de necessidades, de estar
sempre revisando algum processo ou rotina, tentando melhorar. (ENF 1)
Além da revisão de processos de trabalho, os sujeitos da pesquisa indicam a
relevância da inserção periódica de treinamentos, visto que reconheceram na recapitulação
uma forma de inibir o esquecimento e aprimorar as novas técnicas, focando-se na excelência
da qualidade da prestação de serviços:
Os treinamentos com a equipe, reciclagem mesmo da equipe. Acho que seria
isso. Grupos de treinamentos... (ENF 4)
A gente procura capacitar a equipe, durante o ano todo, uma preparação
durante o ano todo para não ficar acumulado mais no final do ano, e ser uma
cobrança muito grande em um curto espaço de tempo. E procura motivar
mesmo o pessoal em torno disso, conscientizar de que não adianta fazer tudo
certo na época da auditoria, que tem que ser um processo contínuo, né?
(ENF 9)
77
Ainda se tratando de treinamentos e repasse de informações, os funcionários
retratam o “quadro de gestão à vista” como uma estratégia de divulgação do conhecimento.
Ressalta-se que o quadro de “gestão a vista” consiste em uma ferramenta utilizada pela gestão
da qualidade com finalidade de divulgação das questões relativas à melhoria continua dos
processos de trabalho. Por meio desse quadro de fácil acesso aos funcionários, é possível que
os mesmos acompanhem os indicadores de qualidade podendo, assim, participar melhor do
planejamento e da execução do plano de ação como tática de correção ou como forma
preventiva diante de uma ocorrência futura.
Ressalta-se que um dos itens presentes na avaliação durante o processo de
auditoria recai na verificação da ciência, por todos os funcionários, das ocorrências, do
planejamento e da execução de tarefas desempenhadas na instituição em busca de melhorias.
É válido mencionar que na avaliação periódica do processo de qualidade é apurado se os
funcionários conseguiram visualizar e participar ativamente dos ciclos de melhorias, cujas
informações podem ser obtidas pelo “quadro de gestão à vista”. Os depoimentos abaixo
retratam tal fato:
A manutenção seria esses treinamentos mesmo, né? Esses quadros de gestão
à vista que os enfermeiros passam para a gente. Porque a gente faz um
acompanhamento, né? (TE 6)
Eu faço treinamentos, tem treinamento de indicadores também. Tem os
indicadores, que falam se está alto ou se está baixo tal situação para tentar
melhorar, né? Fazer um plano de ação sobre isso... (TE 5)
É fazendo treinamento mesmo. Analisar porque o indicador aumentou e que
estratégias a fazer. (FIS 1)
Por outro lado, estratégia primordial para a manutenção e melhoria do sistema
reside no treinamento intensificado dos profissionais novatos, a fim de que alcancem o
mesmo grau de envolvimento demonstrado pelo funcionário com mais tempo na instituição.
Os entrevistados acreditam que tal procedimento é fundamental para a sensibilização do
recém-contratado quanto às questões de qualidade desde no início da sua história no hospital,
fazendo com que o jovem funcionário se sinta responsável pelo o processo como os demais
profissionais:
À medida que esse profissional chega, ele é inserido num processo de
treinamento, de capacitação, para que ele saiba como proceder. É diferente
ele assistir um neonato em uma instituição qualquer do que ele assistir aqui
dentro. (ENF 9)
78
As estratégias são basicamente as mesmas para adquirir a Acreditação, faz
treinamento para a equipe e para os novatos. Fazendo reuniões e tentando
passar conhecimento para toda equipe e não deixar com que alguns fiquem
com o conhecimento e outros não. (ENF 7)
Salienta-se que o profissional regularmente treinado não oscilará facilmente diante
de cobranças; com isso, sua sobrecarga de stress será reduzida e o envolvimento com o
processo só tende a crescer, diminuindo também a rotatividade no trabalho.
Tática simples, mas eficaz, seria difundir o conhecimento em treinamentos
camuflados por jogos e brincadeiras, visto que os profissionais usariam do entretenimento
como meio para afastar a fadiga e a pressão do processo. Assim relatou a entrevistada:
O pessoal aqui é muito criativo. A gente fez uma gincana. Eu acho que todo
mundo ficou envolvido. Acaba que fica mais fácil de passar por esse
processo, porque todo mundo se envolve na brincadeira. (TE 15)
Outra estratégia apontada pelos entrevistados diz respeito à necessidade da
participação conjunta e ativa da equipe interdisciplinar. De acordo com Gomes, Pinheiro e
Guizardi “as diversas categorias possuem saberes e responsabilidades distintas que são
fundamentais para a realização dos serviços de saúde” (GOMES; PINHEIRO; GUIZARDI,
2005, p. 108). Nesse contexto Vilela e Mendes ressaltam que a interdisciplinaridade é
“considerada uma interrelação e interação das disciplinas a fim de atingir um objetivo
comum” (VILELA; MENDES, 2003, p. 528). Assim, os sujeitos da pesquisa sugerem que
essa nova filosofia de trabalho busque a interação e a comunicação entre os profissionais de
diversas áreas, por meio de diálogos, promovendo, ademais, a articulação de conhecimentos,
tudo voltado ao favorecimento do processo da qualidade, uma vez que as pessoas se
empenharão por um mesmo objetivo:
Lembro do dia no auditório que o auditor destacou o trabalhou da equipe da
fono, fisio, enfermagem e médicos. E, quando falou de cada um fazer um
trabalho interdisciplinar, estou tentando mostrar isso, o cuidado
interdisciplinar com o RN. A gente junto dá uma coisa maravilhosa. (FIS 3)
A gente às vezes pensa que não vai conseguir chegar a fazer tantas coisas,
mas consegue. Principalmente por ser um trabalho de equipe, de um estar
ajudando ao outro. (ENF 9)
Por outro lado, os funcionários acreditam que para haver a manutenção do
processo de Acreditação é fundamental a divisão de tarefas entre os envolvidos no trabalho,
79
principalmente entre os turnos diurnos e noturnos, com o aprimoramento deste. Com isso,
haverá uma maior colaboração e envolvimento de todos no hospital:
Mas eu sinto que a gente podia fechar essa situação de forma melhor. Porque
assim, as coisas estão mal distribuídas, eu sinto isso. Eu acho que as pessoas
podem colaborar muito mais. Podem se envolver muito mais, as questões
ligadas à qualidade, elas podem ser divididas e menos penosas para umas
pessoas. Então assim, eu acho que pode haver um equilíbrio. Mas o que vejo
é que algumas pessoas não têm consciência, porque que elas estão aqui.
Então assim, é um hospital que demanda esse tipo de sacrifício para uns e
prazer para outros. Então vamos dividir, né? (ENF 3)
Acho que a gente podia dividir melhor as tarefas. Principalmente plantão
noturno e diurno. (TEC 6)
É válido ressaltar que a gestão da qualidade não se apresenta de forma estática,
pelo contrário, ela busca a todo o momento a excelência por meio do ciclo de melhorias.
Nessa perspectiva, Nascimento et al. (2006) salientam que o sistema organizacional de saúde
deve propiciar o suporte necessário para qualificar os funcionários para melhor desenvolver
suas práticas, beneficiando o hospital e a clientela. Desse modo, é fundamental que o
profissional veja a necessidade de melhorar a cada dia para oferecer não um trabalho de
qualidade, mas também propiciar aprimoramento para si mesmo, para o hospital e para os
pacientes:
E estar sempre acreditando que tem alguma coisa para melhorar, que tem
alguma coisa a mais para acrescentar dentro desse processo. (TE 15)
A gente sempre busca estar acompanhando tudo aquilo que é feito no
hospital, desde o controle de tudo que se faz a parte assistencial, a parte de
organização, a parte de coleta de dados. A gente sempre acompanha para
poder estar verificando o que está falho, o que está melhorando, o que está
piorando, para então a gente estar entendendo e não deixar que as coisas se
percam. Então a gente tem ciclos de melhoria mesmo, que a gente vai estar
sempre buscando manter a qualidade, e estar sempre avaliando os dados que
são coletados para gente não deixar que as coisas se percam. (ENF 2)
Retomando a necessidade de melhoria progressiva e constante, verificou-se que os
sujeitos da pesquisa reforçaram a importância da manutenção contínua dos processos de
trabalho voltados à garantia da qualidade. Segundo Lima e Erdmann (2006), é importante
salientar que para proporcionar uma nova mentalidade em qualidade dos serviços de saúde,
deve-se aperfeiçoar e incrementar os programas de educação continuada a fim de gerar
conhecimento e reflexão sobre esse assunto. Na visão dos profissionais é preferível manter
80
aceso o processo durante todo ano a concentrar esforços apenas em um determinado
momento, próximo da auditoria. O fragmento abaixo retrata esse pensamento:
A gente tenta ficar fazendo durante o ano essas coisas que a gente faz
próximo à ONA, que eu acho que uma relaxada depois da auditoria.
Tudo bem, a gente faz, mas eu acho que poderia estar lembrando mais, não
nesse período. Hoje eu chequei no check list, mas essas coisas não são
feitas geralmente, não são tão cobradas, a gente infelizmente acostuma fazer
aquilo que se cobra, se eu deixar as coisas 1 mês, 2 meses sem fazer e
ninguém notar, não vamos fazer mesmo. Essas coisas burocráticas que eu
falo né? De ter que assinar. Eu faço meu check list, mas essas coisas de
assinar, ter que dar o papelzinho, eu acho que não é tão cobrada quanto é em
época de ONA. Acho que poderia manter durante todo ano. (TE 1)
Ademais, como relatou a entrevistada, devem ser conjugados treinamentos
duradouros com cobranças periódicas, visto que a avaliação, não apenas na época da
auditoria, apresenta-se como excelente forma de controle, de dissipação e manutenção da
qualidade.
Ainda no âmbito do ciclo de melhoria contínua, os sujeitos apontaram que no
primeiro momento o entusiasmo é maior para buscar a Acreditação, mas que, com o passar do
tempo, o processo se torna cansativo. Isso se justifica pela empolgação da novidade, mas o
não cumprimento das promessas, a oscilação de pessoal e a escassez de treinamentos,
diminuem o entusiasmo. Cabe ressaltar que durante todo processo é indispensável a existência
de empenho e de dedicação. Se tais fatores são perdidos, provavelmente não existirá a
manutenção da qualidade. Assim, observa-se que o hospital necessita incrementar o aspecto
motivacional dos seus funcionários, para que eles resistam aos momentos de desânimo. O
depoimento de ENF 2 confirma tal afirmação:
Marca muito quando a gente passa pelo o processo. Com o passar dos anos
seguidos que a gente tem que manter esse título, a gente começa a perceber
que às vezes fica um pouco cansativo. Porque a equipe da vez se sente
muito empolgada, no gás total para fazer tudo, mas depois vai marcando a
gente, porque nos vamos vendo que a equipe às vezes fica cansada na busca
da manutenção desse título. Porque é um ganho muito grande para o
hospital, para o paciente, mas enquanto retorno para equipe e benefício
pessoal para cada um, não tem. A pessoa se sente valorizada, por mais uma
vez estar conseguindo um título, mas eu acho que as instituições, às vezes
pecam um pouco nesse sentido, pois não gera motivação contínua
. (ENF 2)
Continuando na busca do fundamento da qualidade na prestação de serviços, os
profissionais abordaram que o importante é não perder o objetivo primordial de toda a
Acreditação, qual seja: fornecer uma assistência qualificada e humanizada ao paciente. Porto
81
e Rego (2005) ressaltam que, para haver o sucesso do processo de construção e
implementação de qualidade, é imprescindível não só o desenvolvimento das qualidades
técnicas, mas também humanas das pessoas que estão envolvidas nesse contexto. Para tanto,
sem dispensar a técnica conquistada com os treinamentos, com as rotinas criadas e com os
protocolos de excelência, os profissionais devem orientar-se pela indispensabilidade do
cuidado humanizado. Tal visão foi constatada no trecho de entrevista:
Mais importante é a gente não perder o foco da Acreditação que é o cliente.
Muitas vezes a gente percebe que o foco está sendo dado ao processo e não
ao cliente. Muitas vezes nos vemos muito longe do paciente e muito mais
próximo do que está no papel. E o que deveria ter é uma assistência muito
mais humanizada e perto do paciente e promovendo sempre a melhoria do
paciente. (ENF 7)
Ratifica-se que a manutenção do processo é uma tarefa árdua, já que desvencilhar-
se dos paradigmas tradicionais e incorporar uma nova ideia de trabalho apresenta barreiras.
Conforme relatou o entrevistado:
Tem sempre uns critérios que são exigidos, né? Que mudam um pouquinho,
ano a ano, né? Eu acho que a exigência, ela tende a ser um pouco maior, eu
acho que é mais difícil manter a Acreditação que ganhar uma Acreditação,
né? (MED 3)
Afinal, o importante é engajar-se na luta contra o desânimo, superando os desafios
em busca da manutenção do processo de trabalho:
A gente o pode é retroceder, né? Se nós conquistamos o título é que
realmente valeu a pena e o para esmorecer quando a gente não
consegue muitos detalhezinhos, né? Vai em frente que tudo certo. (MED
5)
Ressalta-se que as dificuldades podem ser vencidas ou superadas, bastando, para
tanto, a observância, pelos interessados em Acreditação Hospitalar, dos pontos abordados
neste estudo, os quais, não obstante as necessárias críticas, projetarão benefícios no sistema de
excelência para a prestação de serviços de saúde.
82
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A busca incessante pela melhoria da qualidade dos serviços prestados é o caminho
para as instituições que lutam pela permanência no mercado competitivo e que prezam pelo
atendimento de excelência. Por isso, os hospitais procuram novos modelos assistenciais e
outras formas de gestão, a fim de alcançarem resultados capazes de otimizar recursos,
incrementar o cuidado humanizado, além de garantir a melhoria do serviço oferecido. Nesse
contexto, o programa de Acreditação Hospitalar surge como uma possibilidade de promover
mudanças no cenário atual, desgastado pelo modelo “tecnicista” de atendimento. O novo
processo de qualidade traz mudanças de hábitos, de valores e de comportamentos, impõe aos
sujeitos envolvidos a ruptura do cuidado mecanizado, bem como fomenta um ambiente
organizacional de excelência.
Este estudo buscou aprofundar a reflexão sobre o processo da Acreditação
Hospitalar na perspectiva de profissionais de saúde, reforçando que para a implementação, a
adesão e a manutenção do processo de qualidade nos hospitais é imprescindível, antes de
tudo, conhecer a percepção daqueles sujeitos acerca da Acreditação. Ressalta-se que um
obstáculo enfrentado na realização da pesquisa foi a escassez de literatura sobre as questões
subjetivas que permeiam o processo de Acreditação. Entretanto, ao mergulhar nos discursos
dos sujeitos da pesquisa, foi possível apreender as ideias e os significados lançados sobre o
referido processo, permitindo, uma melhor visão do sistema de qualidade através daqueles
que prestam diretamente os serviços. Além disso, foram obtidas informações importantes a
respeito da influência do processo da Acreditação para os pacientes, para o hospital e para os
próprios sujeitos que estão envolvidos nessa prática; aspectos facilitadores e dificultadores do
processo e estratégias para manutenção do sistema de qualidade.
Por intermédio do estudo notou-se que não consenso entre os profissionais de
saúde a respeito da gestão de qualidade. Constatou-se que parte dos entrevistados consegue
visualizar o processo da Acreditação na sua esfera técnica, processual e operacional, ainda
que mediante limitações. No entanto, poucos profissionais conseguem perceber que o sistema
de qualidade abrange também aspectos subjetivos importantes, como valores individuais e
sociais dos profissionais e das instituições envolvidas nesse contexto, notadamente a
humanização do cuidado. Essa carência reflete uma ideia fragmentada do processo da
Acreditação, que os profissionais não conseguiram incorporar todos os princípios
preconizados pelo sistema de qualidade. Além do mais, alguns dos sujeitos entrevistados não
83
conseguiram visualizar que o processo da Acreditação traz benefícios não para os clientes
ou para o hospital, mas também para os próprios profissionais.
Ademais, ficou evidente a necessidade da sensibilização dos funcionários em
relação aos objetivos e as propostas da Acreditação, visando provocar uma melhor
assimilação dos princípios da ONA. Com efeito, à medida que esses sujeitos não agregam a
filosofia da Acreditação na sua prática assistencial, provavelmente não existirá a continuidade
do processo, nem mesmo a prestação do cuidado com excelência. Dessa maneira, confirma-se
o pressuposto inicial da pesquisa de que a manutenção do processo da Acreditação está
intimamente ligada à incorporação dos princípios preconizados pelo sistema de qualidade.
Outro achado importante diz respeito às influências do sistema de gestão para o
hospital, pacientes e funcionários, sendo que grande parte dos entrevistados afirmaram
prontamente que o hospital somente apura benefícios com o processo de Acreditação, haja
vista ganhar referência no cenário de saúde, obter status, atrair clientes e incrementar o lucro.
No que se refere aos pacientes, a visão dos profissionais entrevistados demonstra
que o atendimento traz segurança, confiabilidade e certeza de bom atendimento com a
padronização de técnicas e o respaldo na cientificidade do cuidado, como também um
atendimento de excelência. Mas é importante ressaltar, nesse quadro, a preocupação de alguns
entrevistados em relação ao distanciamento do funcionário envolvido com o processo de
qualidade em relação ao paciente. Os profissionais relataram que a parte burocrática do
processo de Acreditação leva à fragmentação do cuidado oferecido, além de promover um
afastamento entre o cuidador e o paciente, mostrando muitas vezes um cuidado aparentemente
“desumanizado”. Essa constatação também reafirma os achados iniciais, quando se abordou a
fragilidade do processo de Acreditação à vista da não incorporação, pelos profissionais, do
cuidado humanizado.
Em relação à influência do processo para os próprios entrevistados, notou-se certa
divergência de ideias. Alguns sujeitos da pesquisa entendem que o processo da qualidade traz
uma série de benefícios para os profissionais, principalmente no que se refere ao crescimento
pessoal e ao aprendizado adquirido. No entanto, pessoas que afirmam que o stress e a
cobrança impostos pelo novo sistema, além da ausência de valorização àqueles que se
engajam no processo, demonstram que a Acreditação beneficia tão somente cliente e hospital.
Nesse foco, é importante que a instituição e os líderes pensem em uma forma apropriada de
prestigiar e valorizar o funcionário para que ele contribua positivamente para o processo de
qualidade, circunstância que também o fará permanecer maior tempo na instituição. Caso
contrário, esses funcionários ficarão cada vez mais insatisfeitos, gerando alta rotatividade do
84
emprego e descontinuidade no processo, em franco prejuízo à qualidade buscada pela
Acreditação.
No âmbito dos aspectos facilitadores e dificultadores do processo da Acreditação,
grande parte dos profissionais preferiu iniciar a abordagem pelos aspectos limitadores, os
quais, segundo sua visão, interferem bastante na manutenção da prestação do cuidado com
excelência. Dentre esses aspectos dificultadores, foi destacada a ausência de envolvimento de
alguns profissionais no processo, em especial do médico, o que reforça a necessidade de se
criar estratégias em busca de maior comprometimento dos sujeitos, pois, caso contrário,
acarretará na ruptura do processo da qualidade. Nesse âmbito, de acordo com os
entrevistados, a falta de envolvimento de alguns profissionais leva a sobrecarga de atividades
para outros, principalmente da equipe de enfermagem que se prejudicada pela grande
demanda de atribuições gerada por outros colegas que preferem esquivar-se do processo de
gestão da qualidade.
Também foi apontada a diferença de envolvimento entre os turnos de trabalho,
haja vista o plantão diurno se apresentar mais preparado em relação à gestão de qualidade do
que o plantão noturno, o qual se encontra distante da filosofia da Acreditação, rompendo com
processo.
Outro aspecto relevante apresentado foi a falta de manutenção do sistema de
qualidade ao longo do ano. Os sujeitos da pesquisa apontaram a existência de uma sobrecarga
de treinamentos e repasse de informações próximas ao período da auditoria, o que gera
desgaste nos profissionais nessa época, além de faltar objetividade e qualidade na capacitação
oferecida. Alguns funcionários ainda ressaltaram a existência de um certo “maquiamento” da
situação, como, por exemplo, nos prontuários organizados, nos check list realizados e na sala
de reunião arrumada apenas nos dias de auditoria, todavia, cotidianamente, tal realidade não
seria verificada. Esse fato, na visão dos entrevistados, não é benéfico para a instituição e nem
mesmo para os clientes. Constatam-se assim, inúmeros aspectos dificultadores que precisam
ser revistos e melhor analisados e trabalhados, pois se os problemas encontrados não tiverem
a devida importância, o processo da qualidade estará provavelmente fadado ao insucesso.
Em relação aos aspectos facilitadores, os sujeitos da pesquisa relataram que o
processo de qualidade é viabilizado principalmente quando trabalho de equipe, com o
diálogo e com a contribuição do conhecimento de todos os profissionais em busca de um
objetivo comum. O trabalho em equipe se apresenta como uns dos instrumentos importantes
para que ocorra a solidificação do processo, visto que, sem o debate entre os funcionários, o
crescimento e a difusão da gestão de qualidade padece inibido.
85
Além do trabalho integrado, os sujeitos desse estudo ressaltaram como aspecto de
relevância o fato de o hospital ser novo e ter nascido sob a ideologia da Acreditação. Essa
situação é importante, pois, diferentemente de outros hospitais em que os profissionais estão
enraizados em hábitos ultrapassados, o cenário de pesquisa se apresentou destituído de tais
valores. Ademais, proporcionou aos seus funcionários, desde a contratação, treinamentos
embasados nos princípios da ONA. Engajar em um novo sistema de gestão qualidade com
uma equipe recém contratada, mas entusiasmada e aberta aos novos conhecimentos, sem
dúvida favorece o processo de implantação da Acreditação. Mas, ressalta-se que, de maneira
isolada, o mero nascimento de um hospital sob os pressupostos da qualidade não lhe garante o
sucesso da Acreditação.
Por fim, os profissionais reconheceram que o grande desafio enfrentado por eles e
pelos dirigentes é a própria manutenção do processo de Acreditação. Apontou-se que uma das
principais estratégias viabilizadoras da permanência do sistema de qualidade seria a
capacitação continuada e igualitária de todos os profissionais. Nesse foco, observa-se que a
educação contínua é uma questão enfatizada pelos profissionais de saúde ao longo desse
trabalho, além da necessidade de disseminação das informações independente do turno de
trabalho ou da classe profissional. Vê-se que por meios de treinamentos consistentes e
distribuídos ao longo do ano os profissionais têm a chance de aperfeiçoar, reciclar e entender
melhor o processo de trabalho. Assim, os líderes, juntamente com sua equipe, devem se
ocupar com a qualidade da prestação de serviços não apenas às vésperas de uma auditoria,
mas em qualquer época do ano, ou turno de trabalho. Mostrando-se indispensável à
manutenção da excelência de qualidade, os responsáveis devem dispor recompensas àqueles
que melhor assimilarem e aplicarem os princípios da Acreditação.
Com base neste estudo foram identificadas diferentes percepções e expectativas
dos profissionais de saúde sobre o processo de Acreditação Hospitalar, visões que precisam
ser trabalhadas e melhor compreendidas não apenas pelos próprios funcionários, mas também
pela instituição, a fim de proporcionar maior clareza do sistema de trabalho, sua manutenção
e, consequentemente, adesão integral à gestão da qualidade. Nesse campo, reforça-se também
a imprescindibilidade das ações que contemplem o pensar, o agir e o sentir humanizados, o
que possibilitará maior compreensão à abordagem sistêmica do processo de Acreditação, em
detrimento da forma mecanizada.
Espera-se, portanto, que a partir do maior conhecimento sobre a Acreditação
Hospitalar na visão dos profissionais que a empregam, barreiras sejam rompidas,
comportamentos se alterem e o agir se qualifique. Almeja-se, além disso, que este estudo
86
possa suscitar novas pesquisas sobre o tema, além de provocar nos profissionais de saúde e
nos dirigentes, motivação e compromisso para promoverem as mudanças necessárias, bem
como propiciar ao paciente uma melhor prestação de serviços, com um cuidado humanizado e
de excelência.
87
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212 p.
92
APÊNDICES
APÊNDICE A – Termo de autorização para a realização do estudo
93
APENDICE B – Carta de Informação aos sujeitos da pesquisa
94
APÊNDICE C – Termo de consentimento livre e esclarecido
95
APÊNDICE D – Roteiro de entrevistas
Roteiro de entrevista
Data ____________________
Setor de trabalho _________________
Categoria Profissional__________________ Sexo: ( ) Masc ( ) Fem
Tempo de instituição___________________
1) O que você entende por Acreditação Hospitalar?
2) Fale sobre a trajetória do processo de Acreditação neste hospital.
3) Fale sobre a participação dos profissionais de diferentes categorias no
processo de Acreditação.
4) De acordo com seu ponto de vista, quais foram as principais
contribuições de sua equipe para o processo de Acreditação?
5) Fale sobre os aspectos facilitadores e dificultadores do Processo de
Acreditação.
6) Na sua visão, quais as influências da Acreditação para este hospital?
7) Na sua visão, quais as influências da Acreditação para os pacientes deste
hospital?
8) Na sua visão, quais as influências da Acreditação para os funcionários
deste hospital?
9) Quais as estratégias que você e sua equipe utilizam para a manutenção
do processo da Acreditação?
10) Descreva 1 (um) episódio marcante durante o processo de Acreditação.
11) Você deseja falar algo que não foi perguntado a respeito do processo de
Acreditação?
96
ANEXOS
ANEXO A – Parecer de aprovação do EMI/EEUFMG
Página 1 de 2
97
Página 2 de 2
98
ANEXO B – Parecer de aprovação do COEP/UFMG
Livros Grátis
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