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Andréa Matos Rodrigues Menezes Castro
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Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como
requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Sociais.
Orientadora: Profª. Drª. Luciana Teixeira de Andrade
Belo Horizonte
2009
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Andréa Matos Rodrigues Menezes Castro
“POMPEIA DE BELO HORIZONTE: O espelho de um cosmo provinciano ou de uma
província cosmopolita?”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Ciências Sociais.
Belo Horizonte,
______________________________________________________
Profª. Drª. Luciana Teixeira de Andrade (Orientadora) – PUC Minas
________________________________________________________________
Profª. Drª. Lea Freitas Perez – UFMG
__________________________________________________________
Prof. Dr. Tarcísio Rodrigues Botelho – PUC Minas
Belo Horizonte
2009
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Dedico este trabalho aos moradores e moradoras dos bairros Pompeia e Esplanada, os
modernos e os provincianos, aos de hoje, aos de ontem e também aos de amanhã; enfim, a
todos que contribuíram, contribuem e contribuirão para que esses bairros sejam lugares bons
para se viver.
AGRADECIMENTOS
A Deus, o único e verdadeiro Mestre, pelos tantos dons e talentos a mim confiados e
por guiar cada um e todos os meus passos;
Aos meus pais, Jonas e Conceição, pela vida concedida, pela presença diária e pelo
afeto;
Ao meu marido Tião, pela vida em comum, pelo apoio incondicional, pela torcida
diária e por acreditar em mim e na realização de todos os meus projetos. Obrigada pela
dedicação e orgulho que sempre devotou a mim. Amo você.
Aos meus filhos, Matheus, Marcus e Lucas, as pessoas mais importantes da minha
vida, pois, além de serem fontes inesgotáveis de inspiração, impulsionam-me à vida em cada
amanhecer. Amo vocês!
Aos meus sobrinhos-afilhados, Arthur e Fernanda, e aos meus sobrinhos Rafael e
Davi, por compartilharem comigo preciosos momentos de suas inocências;
Aos meus irmãos, Anderson e Alcione, e cunhados, Ione e Márcio, por estarem
presentes em minha vida e compartilharem comigo o dom de ser mãe;
À Edith, tia sempre presente. Obrigada. Peço-lhe que procure entender a importância
dos meus estudos, não como realização de um projeto pessoal, mas também como busca
para um futuro melhor;
À CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela
valiosa concessão da bolsa de Mestrado com que fui contemplada, pois sem ela não seria
possível obter o título neste momento;
À minha orientadora, professora Luciana Teixeira de Andrade, pela sua sabedoria,
dedicação e confiança;
Aos demais professores do Programa de Mestrado em Ciências Sociais da PUC-
Minas, pelo suporte teórico-metodológico na construção do meu conhecimento, em especial
ao professor Tarcísio Botelho pelas observações e sugestões feitas no exame de qualificação;
À professora Léa Freitas Perez, por ter aceitado o convite em participar da Comissão
Examinadora e, com seus comentários, levado-me à reflexão do objeto da pesquisa numa
perspectiva mais antropológica;
Aos colegas do Mestrado, pelos momentos em que estivemos juntos nesses dois anos.
Em especial, à Cíntia, pelo apoio, pelas sugestões e angústias compartilhadas.
Aos professores do Curso de Ciências Sociais da PUC-Minas, que contribuíram na
minha formação, trocaram ideias e sugeriram bibliografias e torceram por mim durante a
realização do Mestrado, em especial, ao professor Gilmar Rocha que, ao orientar-me na
monografia, contribuiu para o conteúdo de um dos capítulos da dissertação;
Aqueles e aquelas que tão gentilmente concordaram em ser entrevistados, dando, com
sua narrativa, voz à minha pesquisa, contribuindo assim para o conhecimento dos bairros
Pompeia e Esplanada;
Aos meus amigos, a todos aqueles que por mim torceram, mas, em especial, à amiga
Filó, que, além de contribuir com material bibliográfico, esteve sempre disposta a conversar
comigo sobre o objeto desta pesquisa, incentivando-me nesta empreitada;
Aos frades capuchinhos, que, como protagonistas da história dos bairros Pompeia e
Esplanada, foram fontes importantes para esta dissertação. Em especial, ao Frei Thiago
Santiago, a quem agradeço pelas agradáveis conversas sobre o tema desta dissertação, e ao
Frei Luís Eustáquio Mendes, pelas suas percepções tão apuradas sobre o modo de vida dos
bairros pesquisados;
À Marli, pelo auxílio dado a mim junto ao acervo da biblioteca do convento dos
capuchinhos;
Ao Pedro, pela disponibilidade em fazer a correção ortográfica e à Angela, pelo
empenho em colocar esta dissertação em ordem;
Ao Vinícius, pela derradeira e imprescindível ajuda na elaboração do abstract e ao
Rafael, pela gentileza em confeccionar o mapa da área pesquisada;
À Luzia e à Ana Paula, que, com o zelo diário com meus filhos e com minha casa,
garantiram-me tempo disponível para escrever, escrever e escrever...
As histórias da Paróquia, do Bairro Pompéia e dos Frades
Capuchinhos nesta Capital se misturam, não se compreende uma sem
a outra. Podemos dizer que, aqui, uma verdadeira simbiose de
amor. (QUEIROZ, FREI ÉDERSON apud SANTIAGO, 2007, p. 9)
RESUMO
Esta dissertação apresenta a investigação sobre a existência da simultaneidade de dois
modos de vida o moderno e o provinciano nos bairros Pompeia e Esplanada, situados na
região leste da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Para saber como é o modo de vida
dos bairros, investiguei como são as interações sociais, a sociabilidade, as relações de
vizinhança, a religiosidade; enfim, qual é o ethos dos bairros Pompeia e Esplanada, à luz de
dois pares relacionais: a tradição e a modernidade, o provincianismo e o cosmopolitismo.
Como pano de fundo, utilizei a representação coletiva existente sobre a metrópole de Belo
Horizonte: de ser uma cidade moderna, mas de costumes provincianos.
Palavras-chave: Bairro; Modos de Vida; Provinciano; Moderno; Belo Horizonte
.
ABSTRACT
This work presents the investigation about the existence of simultaneity of two ways
of life the modern and the provincial in the neighborhoods of Pompéia and Esplanada,
located in the eastern region of Belo Horizonte, in Minas Gerais. To learn about the way of
life in these neighborhoods, I have investigated the social interactions, the sociability, the
neighborhoods relations, the religiosity. Finally, what is the ethos of Pompeia and Esplanada
neighborhoods, under the lights of two relational pairs: the tradition and the modernism, the
provincialism and the cosmopolitism. As a background, I have used an existing collective
representation of Belo Horizonte: being a modern city with provincial habits.
Key words: Neighborhoods; Ways of life; Provincial; Modern; Belo Horizonte.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Imagem de Nossa Senhora da Pompeia, instalada na Matriz desde o ano de 1944..80
Figura 2: Frades Capuchinhos, em 1942, no local onde foi construída a Matriz Nossa Senhora
do Rosário de Pompeia (esquina das ruas Iara, Mário Martins e 28 de setembro, bairro
Pompeia)...................................................................................................................................80
Figura 3: Vista parcial do bairro Pompeia, com destaque da Matriz Nossa Senhora do Rosário
de Pompeia. Fotos tiradas do alto da Pedreira (Vila Nossa Senhora do Rosário). A da
esquerda, tirada em 1952; e a da direita, tirada em 1960. ........................................................82
Figura 4: Vista parcial do bairro Pompeia, com destaque da Matriz Nossa Senhora do Rosário
de Pompeia. Foto tirada do alto da Pedreira (Vila Nossa Senhora do Rosário), em 2008.......82
Figura 5: Apropriação de ruas dos bairros para encontro de crianças e jovens........................92
(Rua Amazonita).......................................................................................................................92
Figura 6: Apropriação de ruas dos bairros para encontro de crianças e jovens........................92
(Ruas Antônio Justino e Felipe Camarão)................................................................................92
Figura 7: Venda de verduras no adro da Igreja Matriz (Rua Mário Martins, bairro Pompeia).
..................................................................................................................................................93
Figura 8: Venda de frutas e verduras, na esquina de frente à Igreja Matriz (Rua 28 de
setembro, bairro Pompeia)........................................................................................................93
Figura 9: Venda de pão nas ruas do bairro (Rua Amazonita, bairro Pompeia)........................94
Figura 10: Procissão saindo da Igreja Matriz (à época situada na rua Antônio Justino, bairro
Pompeia), no ano de 1944. .......................................................................................................95
Figura 11: Procissão (Rua Antônio Justino, bairro Pompeia), no ano de 1952........................96
Figura 12: Procissão de Corpus Christi (Rua Amazonita, bairro Pompeia).............................96
Figura 13: À esquerda, procissão de Santo Antônio, na esquina das ruas Casa Branca e
Leopoldo Gomes; à direita, procissão de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na rua
Antônio Justino, bairro Pompeia..............................................................................................97
Figura 14: Procissão de Corpus Christi (À esquerda, rua Amazonita, bairro Pompeia; à direita,
esquina das ruas Iara e Mário Martins). ...................................................................................97
Figura 15: Procissão com a participação de um congado da cidade de Oliveira (À esquerda,
rua Mário Martins Amazonita, bairro Pompeia; à direita, Rua Amazonita, bairro Pompeia)..97
Figura 16: Procissão de carros pelas ruas dos bairros Pompeia e Esplanada – Comemoração
do dia de Nossa Senhora Aparecida.........................................................................................98
Figura 17: Missa em homenagem a São Judas Tadeu, em frente à Capela São Judas Tadeu
(esquina das ruas Iara e Engenho Novo, bairro Pompeia)........................................................98
Figura 18 : Alguns dos bares situados nos bairros Pompeia e Esplanada..............................102
Figura 19: Utilização da Praça da Abadia após instalação de equipamentos de diversão......104
Figura 20: Recepção do Estandarte de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e levantamento
do mastro na festa da padroeira..............................................................................................105
Figura 21: Lanche oferecido aos enfermos após a Missa dos Enfermos, na praça da Matriz
Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, bairro Pompeia........................................................105
Figura 22: Reza do terço - Dia dos Trabalhadores - Praça da Abadia, bairro Esplanada.......106
Figura 23: Banda da Polícia Militar - Praça da Matriz...........................................................106
Figura 24: Praça Santa Rita, bairro Esplanada.......................................................................107
Figura 25: Estandarte de Santo Antônio – Festa de Santo Antônio (13 de junho).................109
Figura 26: Festa de Santo Antônio - (esquina das ruas Casa Branca e Rocha Pita, bairro
Pompeia).................................................................................................................................110
Figura 27: À esquerda, Igreja Universal do Reino de Deus (av. Belém, bairro Esplanada); à
direita, Igreja Batista da Pompeia (av. Belém, bairro Esplanada)..........................................111
Figura 28: À esquerda, Igreja Cristã Maranatha (rua Madressilva, bairro Esplanada); à direita,
Igreja Batista (rua Violeta, bairro Esplanada)........................................................................111
Figura 29: No alto, a Quarta Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte (rua Itajobi, bairro
Pompeia); À esquerda, Igreja Assembleia de Deus (esquina das ruas Leopoldo Gomes e Casa
Branca, bairro Pompeia); à direita, Igreja Batista Betel (av. Alphonsus Guimarães, bairro
Pompeia).................................................................................................................................112
Figura 30: À esquerda, Capela de São Judas Tadeu (esquina das ruas Iara e Ouro Branco,
bairro Pompeia); à direita, Capela Nossa Senhora dos Anjos (rua Raimundo Venâncio, Vila
São Rafael, bairro Pompeia)...................................................................................................112
Figura 31: À esquerda, Capela da Abadia, praça da Abadia, no bairro Esplanada; à direita,
Capela Nossa Senhora Aparecida (esquina das ruas Violeta e Oficinas, bairro Esplanada)..113
Figura 32: Matriz Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (esquina das ruas Iara e Mário
Martins, bairro Pompeia)........................................................................................................113
Figura 33: Sinos instalados no alto da torre da Matriz de Nossa Senhora do Rosário de
Pompeia, no bairro Pompeia, desde o dia 15 de agosto de 1961............................................114
Figura 34: Fachadas e a parte interna de alguns estabelecimentos comerciais presentes nos
bairros.....................................................................................................................................117
Figura 35: Fachadas de estabelecimentos comerciais presentes nos bairros..........................118
Figura 36: Fachadas e a parte interna de alguns estabelecimentos comerciais presentes nos
bairros.....................................................................................................................................118
Figura 37: Alguns dos diversos estabelecimentos comerciais dos bairros Pompeia e
Esplanada................................................................................................................................118
Figura 38: Rua Sílvio Romero, bairro Pompeia.....................................................................121
Figura 39: Posto Médico e Lactário Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. À esquerda, o dia
de sua inauguração, em 14 de maio de 1950..........................................................................125
Figura 40: Obras Sociais Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. À esquerda, foto de 1980; À
direita, foto de 2008................................................................................................................126
Figura 41: Cine Pompéia, localizado na rua Mário Martins, onde está hoje instalado o
supermercado EPA.................................................................................................................126
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
BELOTUR – Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A
FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais
FJP – Fundação João Pinheiro
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PBH – Prefeitura de Belo Horizonte
PROCAMIG – Província dos Frades Menores Capuchinhos de Minas Gerais
RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte
UPA-LESTE – Unidade de Pronto Atendimento da Regional Leste
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................16
1.1 METODOLOGIA DA PESQUISA....................................................................................26
1.2 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS............................................................................28
2 A CAPITAL BELO HORIZONTE: MODERNA OU PROVINCIANA?............................31
2.1 UMA CIDADE PLANEJADA SOB O SIGNO DA MODERNIDADE...........................34
2.2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE......................36
2.3 A IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA DE SER UMA CIDADE MODERNA.......................40
2.4 O ‘CONTINUUM’ CIDADE-CAMPO, URBANO-RURAL: ‘RAÍZES’ DE DOIS
ESTILOS DE VIDA - MODERNO E PROVINCIANO.........................................................43
2.5 NARRATIVAS SOBRE O PROVINCIANISMO DE BELO HORIZONTE...................47
2.6 A TRADIÇÃO COMO ELEMENTO DE MANUTENÇÃO DO PROVINCIANISMO..51
3 POMPEIA E ESPLANADA: UM ESTUDO DE CASO......................................................59
3.1 UMA UNIDADE SOCIOLÓGICA: O BAIRRO ..............................................................60
3.2 O BAIRRO COMO LOCUS INTERMEDIÁRIO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO66
3.3 A ZONA SUBURBANA E OS BAIRROS PERICENTRAIS DE BELO HORIZONTE.70
3.4 OS TRAÇADOS E OS NOMES DOS BAIRROS POMPEIA E ESPLANADA..............76
3.5 RELAÇÃO DE VIZINHANÇA E LOCAIS DE SOCIABILIDADE DOS BAIRROS
POMPEIA E ESPLANADA ....................................................................................................83
3.5.1 As ruas.............................................................................................................................90
3.5.2 Os bares ...........................................................................................................................99
3.5.3 As praças .......................................................................................................................103
3.5.4 As igrejas.......................................................................................................................108
3.5.5 Os estabelecimentos comerciais....................................................................................115
3.6 UM LUGAR PARA VÁRIAS GERAÇÕES ...................................................................119
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................................123
REFERÊNCIAS .....................................................................................................................131
APÊNDICE A - Roteiro de Entrevistas..................................................................................143
APÊNDICE B - Quadro de entrevistados (em ordem alfabética)..........................................146
APÊNDICE C - Depoimentos extraídos na pesquisa: “Quem gosta de BH tem seu jeito de
mostrar”. (PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2003, 223 p.)......................................147
APÊNDICE D - Lista de bairros de Belo Horizonte..............................................................152
ANEXO A – Mapas................................................................................................................163
ANEXO B – Fotografias ........................................................................................................168
16
1 INTRODUÇÃO
De qualquer forma o familiar, com todas essas necessárias relativizações, é cada vez
mais objeto relevante de investigação para uma antropologia preocupada em
perceber a mudança social não apenas ao nível das grandes transformações
históricas, mas como resultado acumulado e progressivo de decisões e interações
cotidianas. (VELHO, 1997, p. 132)
A pesquisa aqui desenvolvida insere-se na temática dos modos de vida e está presente
nos debates socioantropológicos sobre as cidades. Ela teve como proposta investigar a
presença da simultaneidade de modos de vida moderno e provinciano na cidade de Belo
Horizonte, mais especificamente nos bairros Pompeia e Esplanada, onde foi feito um estudo
de caso.
Assim como em muitos outros bairros da cidade de Belo Horizonte, nesses dois
bairros, situados na sua região Leste, o nascimento, a história, o modo de vida e o cotidiano
dos seus habitantes também não estão consignados em livros ou em investigações científicas
1
.
Além disso, como se não bastasse essa falta de registros narrativos sobre os bairros, registros
documentais e fotográficos sobre eles também são escassos.
2
A pesquisa teve o propósito de investigar os modos de vida, a sociabilidade, as
interações sociais, a religiosidade, o ethos existente nos bairros Pompeia e Esplanada à luz de
dois pares relacionais: a tradição e a modernidade, o cosmopolitismo e o provincianismo, com
vistas a entender como convivem no mesmo lugar dois modos de vida que, a despeito de
apresentarem características diversas e, muitas vezes, antagônicas, tratando-se de dois modos
de vida, apresentam-se como pontos de um continuum, onde se tem espaço, no cotidiano, de
transitar de um lado ao outro. Trabalhei com a ideia de que os conceitos tradição/modernidade
e cosmopolitismo/provincianismo não podem expressar apenas um momento do tempo, mas
devem ser tomados como adjetivos que expressem um peculiar modo de viver, de se interagir
e de se trocar experiências, cada qual com suas nuanças e especificidades.
Em Limena, citada por Barros (2001, p. 23), encontra-se a seguinte citação que
corrobora a simultaneidade de sentimento de estar vivendo conforme dois modos de vida,
1
No mapa de divisão dos bairros de Belo Horizonte, a área pesquisada corresponde aos números 0751
Pompeia e 0666 – Esplanada, conforme Mapa 3 do Anexo A.
2
Em comemoração aos setenta anos de existência da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, com a
finalidade de trazer informações históricas do aspecto religioso católico do bairro, Frei Thiago Santiago publicou
o livro “Pompeia de Belo Horizonte: subsídios históricos”.
17
ressaltando que esse sentimento advém do espaço-tempo do século XIX: “o homem vive a
experiência de dois mundos, aquele transformado pela modernidade, e outro mantido pelas
tradições a que ele se liga material e espiritualmente”, ressaltando que hoje, passados dois
séculos, isso está cada dia mais evidenciado.
A reflexão partiu da cidade de Belo Horizonte, criada em 1897 para ser a capital do
estado de Minas Gerais, totalmente planejada e nascida sob o signo da modernidade. Partiu-se
da premissa de que há na cidade de Belo Horizonte um paradoxo que remonta à sua fundação,
que desde a sua constituição acolheu pessoas de diversas cidades do interior de Minas Gerais,
corroborando o que Oliveira e Rocha (1997) chamaram de o ‘paradoxo barroco’ da cidade de
Belo Horizonte, de “arquitetura moderna e costumes provincianos”. (OLIVEIRA; ROCHA,
1997, p. 53).
A inquietação sobre o tema surgiu em função de ser recorrente identificar na
percepção dos moradores da cidade e de pessoas que a conhecem ao menos de passagem que
a capital mineira, apesar de possuir características de uma cidade moderna, não na sua
arquitetura, mas também no modo de vida dos seus citadinos, também possui atributos que se
assemelham ao modo de vida de cidades pequenas, demonstrando assim a existência de uma
simultaneidade de modos de vida dentro de uma mesma cidade. Nessa convivência diária,
essa simultaneidade no viver pode acontecer de maneira expressa ou tácita, mas ambas
compõem a representação social que se tem da cidade.
Tendo como objeto a investigação sobre uma cidade nascida e tida como moderna, foi
imprescindível a discussão sobre o projeto da modernidade, sobretudo com a sua influência
sobre os paradigmas e o entendimento do que seja uma cidade moderna, em toda a sua
extensão, desde a sua influência sobre a arquitetura e o urbanismo até os modos de
comportamento e o estilo de vida esperado daqueles que nela habitam.
Mesmo que essa simultaneidade de modos de vida esteja presente em outras, ou
mesmo em todas as cidades e, sobretudo, nas capitais, no caso específico de Belo Horizonte
nessa investigação uma maior relevância, pois, numa cidade moderna localizada num
estado onde a tradição apresenta expressiva atuação na cultura e vida de seu povo, o paradoxo
toma um maior escopo. Guardando as devidas proporções entre casos similares, mesmo que o
caso da cidade de Belo Horizonte seja bastante peculiar, tratando-se de uma abordagem
microssociológica, poderá trazer subsídios para abordagens macrossociológicas. A questão é
entender como se em Belo Horizonte, estudando dois de seus bairros, a simultaneidade de
dois modos de vida no mesmo espaço, um modo de vida moderno e um modo de vida
provinciano.
18
Duas considerações são de extrema importância, antes de darmos um passo adiante: a
primeira diz respeito à minha condição de pesquisadora e moradora do bairro Pompeia desde
que nasci; e a segunda, a justificativa do título da presente dissertação.
Desde a minha infância, além de residir no bairro Pompeia, também frequentei o
bairro Esplanada. muito é nítida em mim a percepção de que, apesar de esses bairros
possuírem traços de modernidade, há nos seus cotidianos características próprias de cidades
do interior, sobretudo de cidades do interior de Minas Gerais. Além de sempre constatar isso,
ao longo dos anos escuto de vários de seus moradores a mesma percepção.
A minha inquietação primeira surgiu como forma de explicar sociologicamente o
porquê, ou, em última análise, em quais elementos ou momentos podem ser identificadas as
percepções da modernidade e do provincianismo nos referidos bairros, uma vez que a
percepção é de que existe uma simultaneidade de ocorrência desse par relacional. Mas, a
despeito de escutar e ler o mesmo sobre Belo Horizonte, ou seja, de que a metrópole parece
uma ‘roça grande’, foi na academia, impulsionada para a dissertação sobre um possível
provincianismo dos bairros Pompeia e Esplanada, que descobri que essa percepção existe num
cenário mais macro, alcançando a percepção sobre a cidade de Belo Horizonte.
na ciência uma premissa de que em toda pesquisa deve haver um distanciamento
do investigador em relação ao objeto pesquisado, pois, apesar de não ser desejável, é possível
que a investigação seja afetada por algum grau de subjetividade. Em função disso, como disse
Velho (1997, p. 127) deve-se considerar o lugar ocupado pelo investigador e a sua real
possibilidade de relativização e transcendência, bem como a sua capacidade de
distanciamento do objeto, para que ele possa ‘pôr-se no lugar do outro’.
Esse exercício de ‘observar o familiar’ decerto não é uma tarefa cil, principalmente
pela premissa do conhecimento científico, mas pode se tornar mais desafiador ao investigador
e conferir-lhe maior mérito, uma vez que a pesquisa lhe exige “o questionamento e exame
sistemático de seu próprio ambiente”. (VELHO, 1997, p. 128)
3
.
A reflexão de Velho (1997) sobre a prática de se observar o familiar trouxe-me a
certeza de que eu deveria aceitar o desafio de observar os bairros Pompeia e Esplanada, que
me são familiares, como exóticos. Essa é uma trajetória desejada na Antropologia e
considerada uma máxima dos estudos antropológicos. Em síntese, quando mudamos o olhar
sobre um determinado objeto a que estamos acostumados ou no qual estamos inseridos,
3
Mayol (1996) também tem uma experiência de investigação em seu próprio bairro. Diz ela: “dediquei-me ao
estudo monográfico de uma família que mora em um bairro de Lião, a Croix-Rousse. Eu mesma sou originária
desse bairro”. (MAYOL, 1996, p. 40).
19
descobrimos que até então, muito provavelmente, não tínhamos lançado sobre ele um olhar
socioantropológico e, por isso, não tenhamos enxergado nuanças e peculiaridades que são
importantes na análise de seu cotidiano. Velho (1997) sintetiza bem isso quando diz:
Posso estar acostumado, como já disse, com uma certa paisagem social onde a
disposição dos atores me é familiar; a hierarquia e a distribuição de poder permitem-
me fixar, grosso modo, os indivíduos e as categorias mais amplas. No entanto, isso
não significa que eu compreenda a lógica de suas relações. O meu conhecimento
pode estar seriamente comprometido pela rotina, hábitos, estereótipos. Logo, posso
ter um mapa mas não compreendo necessariamente os princípios e os mecanismos
que o organizam. O processo de descoberta e análise do que é familiar pode, sem
dúvida, envolver dificuldades diferentes do que em relação ao que é exótico. Em
princípio dispomos de mapas mais complexos e cristalizados para nossa vida
cotidiana do que em relação a grupos ou sociedades distante ou afastados. (VELHO,
1997, p. 128).
Tenho consciência também de que as conclusões desta dissertação estarão mais
propensas a opiniões, pois, como diz Velho (1997, p. 131), “ao estudar o que está próximo, a
sua própria sociedade, o antropólogo expõe-se, com maior ou menor intensidade, a um
confronto com outros especialistas, com leigos e até, em certos casos, com representantes dos
universos de que foram investigadores, que podem discordar das interpretações do
investigador”. Mesmo tendo consciência disso, é um risco que resolvi assumir e, por isso,
durante todo o tempo da pesquisa estive atenta em praticar o recomendado distanciamento,
buscando a objetividade em minhas interpretações.
Devo confessar que, em virtude de essa percepção ser para mim fruto da minha natural
inserção no cotidiano do bairro, o título de minha dissertação surgiu antes mesmo da
formulação do projeto que deu origem a esta dissertação: “Pompeia de Belo Horizonte: o
espelho de um cosmo provinciano ou de uma província cosmopolita?”. Por algumas vezes fui
questionada em dois aspectos dele advindos, motivo pelo qual é imprescindível que o
justifique. O primeiro diz respeito à expressão nele contido: ‘de Belo Horizonte’, e o segundo
está relacionado à exclusividade do nome do bairro Pompeia no título, sendo que o bairro
Esplanada também foi objeto da minha investigação.
A referência à indicação ‘de Belo Horizonte’ surgiu em virtude da existência de um
antigo bairro existente em São Paulo, também chamado Pompeia. Ademais, para a explicação
do nome atribuído ao bairro, será importante a referência a uma ‘outra’ Pompeia, a primeira
delas, a famosa cidade italiana. Então, desde o título, quero que fique claro que estou falando
é da Pompeia ‘de Belo Horizonte’, não a de São Paulo, nem a italiana.
20
Com relação à exclusividade do nome do bairro Pompeia no título e da omissão do
nome Esplanada, para além de uma questão estética, está a constatação de que ainda na
percepção dos moradores de ambos os bairros uma certa ‘confusão’ sobre a identificação de
fronteiras existentes entre os dois bairros. Não confusão no sentido de não se saber onde estão
seus limites geográficos, mas sim no de sentir tratar-se de um mesmo lugar. entre os
Pompeia e Esplanada uma unidade sociogeográfica indiscutível, não havendo entre eles
qualquer descontinuidade significativa (VELHO, 1973, p. 17), motivo pelo qual os considerei
conjuntamente nesta investigação
4
.
É importante neste momento esclarecer que o bairro Pompeia, ainda sem a
denominação administrativa de bairro, advinda em 10 de setembro de 1946, por meio do
Decreto 0184, existe desde a década de 1920, ocasião em que a Capital era fragmentada em
‘villas’, à época uma localidade conhecida como ‘Villa Parque Jardim’, ocasião em que o
bairro Esplanada era a ‘Villa Esplanada’.
No referido decreto de 1946 encontramos que foi denominado de BAIRRO DE
POMPEIA à zona da cidade constituída pelas vilas ‘Parque Jardim’, ‘Parque Vera Cruz’,
‘Mariano de Abreu’, Independência’, ‘Esplanada’, ‘Cardoso’, ’Novo Horizonte’, ‘Cruzeiro
do Sul’ e ‘Paraizo’. Em determinado momento da história de Belo Horizonte, paulatinamente,
as vilas que compunham o bairro Pompeia foram se desmembrando e tornando-se bairros. Foi
um processo demorado e, até o final da década de 1970, a vila Esplanada esteve sob a
denominação de bairro Pompeia e, somente no ano de 1977, depois de trinta e um anos
designada e conhecida como Pompeia, a vila emancipou-se e transformou-se também em um
bairro – bairro Esplanada
5
.
Para o escopo da presente pesquisa, é importante tomar os dois bairros Pompeia e
Esplanada por duas razões. A primeira pela interação natural e cotidiana existente entre os
dois bairros, tanto no ponto de vista da circulação comercial, educacional ou religiosa, quanto
4
O mesmo ocorreu com Velho (1973) quando investigou o bairro de Copacabana, no estado do Rio de Janeiro e
tomou, por extensão, também a área do Leme. Sua justificativa para tal consideração foi a seguinte: “Incluí o
Leme na pesquisa, pois acho indiscutível que constitui com Copacabana, propriamente dita, uma unidade
sóciogeográfica. Não vejo nenhuma descontinuidade significativa entre as duas áreas”. (VELHO, 1973, p. 17)
Assim também é com os bairros Pompeia e Esplanada, pois não entre eles nenhuma descontinuidade e
representam, de fato, uma unidade sociogeográfica.
5
Essas foram as datas em que as vilas emanciparam-se e passaram à categoria de bairros: em 1975, no dia 04 de
março, o prefeito Oswaldo Pieruccetti assinou o Decreto 2.726, pelo qual a vila Paraíso passou a ser o bairro
Paraíso; em 1977, no dia 04 de fevereiro, quando era prefeito de Belo Horizonte Luiz Verano, pela promulgação
da Lei 2.710, as vilas Esplanada e Independência passaram a denominar-se bairro Esplanada; em 1977, no dia 22
de abril, pelo Decreto 3.049, assinado pelo prefeito Luiz Verano, a vila Mariano de Abreu passou a ser o bairro
Mariano de Abreu; e, em 1978, no dia 27 de outubro, também pela assinatura do Decreto 3.373 pelo prefeito
Luiz Verano, a vila Parque Vera Cruz passou a ser o bairro Vera Cruz.
21
pela interação entre integrantes das mesmas famílias, ou seja, da presença de diversas famílias
nos dois bairros, perpassando gerações, uns aqui, outros acolá, mas todos com um sentimento
de residirem num local comum.
Muitas entrevistas denotam que, para os entrevistados uma correspondência entre
os dois bairros e que, para se saber onde fica o bairro Esplanada, por exemplo, é preciso dizer
que é do lado do bairro Pompeia, ou que eles são ‘a mesma coisa’ ou que são ‘uma coisa só’.
A percepção de que os moradores dos dois bairros investigados não fazem uma distinção clara
entre Pompeia e Esplanada, ou que consideram essa questão de menor importância, sinaliza
para o fato de que, na vida cotidiana, os limites administrativos podem ser (e muitas vezes o
são) preteridos por limites outros. Percebe-se que, mais do que limites físicos indicados pelos
moradores, os limites subjetivos, mesmo que de maneira inconsciente, são os mais
importantes para os habitantes de um lugar, e isso também pode ser percebido nos bairros
Pompeia e Esplanada. O fato de muitas famílias estarem presentes em ambos os bairros faz
com que seus limites sejam alargados por um critério subjetivo, que pode ser traduzido por
um sentimento de pertencimento.
Como diz Cordeiro (1997), ao falar das regiões urbanas designadas bairros, “Embora
alguns possam ter fronteiras fortes, definidas e precisas, outros têm-nas ligeiras e incertas e,
outras ainda, não possuem fronteiras visíveis”. (CORDEIRO, 1997, p. 39). Não só nas
entrevistas, mas também nas observações realizadas nos bairros, foi possível perceber que, a
despeito de terem uma noção dos limites administrativos dos bairros Pompeia e Esplanada,
cultiva-se o sentimento de que mantêm uma relação de estima e se identificam com os dois
bairros. Enfim, sentem pertencer a ambos. Alguns depoimentos revelam isto: “Moro no bairro
Pompeia. Não sei se é Pompeia ou Esplanada, é na divisão. Se eu colocar Pompeia vem
correio pra mim, se eu colocar Esplanada também vem”. (Marlene, moradora da Esplanada
50 anos)
6
. “Não existe nenhuma fronteira entre os dois bairros, nem física, nem social. Acho
que não tem nenhuma diferença. Pompeia e Esplanada para mim é a mesma coisa, porque o
nível social das pessoas é o mesmo”. (Miguel, morador do bairro Pompéia, 46 anos)
7
. Outros
moradores disseram:
Eu distingo assim, primeira coisa: onde você mora? Pompeia. Eu sempre morei a
vida inteira na Esplanada, vida inteira. Onde você mora? Pompeia. Depois que a
pessoa localiza Pompeia eu falo: bem olha, eu não moro bem na Pompeia não, é na
6
Entrevista concedida em 16/05/2008.
7
Entrevista concedida em 27/08/2008.
22
Esplanada, porque Esplanada ela é menos conhecida, porque na verdade antes era
tudo uma coisa só. A Esplanada surgiu depois. Eu acho que até mesmo os moradores
em geral da Esplanada, em primeiro lugar, falam Pompeia. (Andréia, moradora da
Esplanada, 42 anos)
8
.
Eu falo que moro na Esplanada e, geralmente cito como referência a Pompeia,
porque tem a igreja, o pessoal conhece mais a Pompeia e, sei lá, você tem essa ideia
de que a Pompeia seria o centro comercial da Esplanada, é onde o supermercado,
o colégio, a igreja. Eu noto a Esplanada mais residencial e a Pompeia mais
comercial, mas eu noto elas como uma coisa só, elas se integram. (Pedro, morador
da Esplanada, 21 anos)
9
.
A segunda razão em considerar os dois bairros está na correspondência de seus
territórios, que, somados, correspondem exatamente aos limites da Paróquia Nossa Senhora
do Rosário de Pompeia (MAPA 4), cuja matriz e duas capelas estão situadas no bairro
Pompeia (Matriz Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, capela São Judas Tadeu e capela
Nossa Senhora dos Anjos), e as outras duas capelas pertencentes à Paróquia estarem situadas
no bairro Esplanada (capela Nossa Senhora Aparecida e capela Nossa Senhora da Abadia),
todas elas sob a responsabilidade da Província dos Frades Menores Capuchinhos
PROCAMIG.
A religião católica está presente no bairro desde os idos de 1928, ocasião em que
identifiquei no Livro de Batizados da Paróquia o primeiro batizado, realizado na Capela
Nossa Senhora da Abadia. Desde 1939, estão presentes nos bairros os padres capuchinhos,
que, no início moravam em modestos barracões e eram apoiados pelas famílias ali residentes.
muito residem num enorme convento, anexo à Igreja Matriz, que também funciona como
sede da Província dos Capuchinhos em Minas Gerais. Em janeiro de 2008, a Paróquia Nossa
Senhora do Rosário de Pompeia completou setenta anos.
Reputo pertinente essa consideração do limite paroquial, uma vez que a religião e a
religiosidade dos bairros, numa primeira análise, pareceram-me ser elementos importantes
para a investigação da sociabilidade neles existentes. Para Seabra (2003), a coincidência entre
a paróquia e o bairro é a forma mais clássica da unidade bairro no Ocidente, pois para ela, “a
Igreja tem sido a instituição que acompanhou e acompanha de perto a reprodução da vida.
Tanto que dos momentos cruciais da vida, do nascer ao morrer, a Igreja deles tem se ocupado
através de toda sorte de ritualizações”. (SEABRA, 2003, p. 136). Na verdade, a consideração
dos bairros numa ‘escala paroquial’ já foi considerada uma regra, na época em que as
8
Entrevista concedida em 16/05/2008.
9
Entrevista concedida em 06/05/2008.
23
paróquias não tinham apenas função religiosa, mas também uma existência civil e política. A
justificativa para isso estava na preeminência da noção de centralidade ao reconhecimento de
limites, pois também o bairro, para os seus habitantes, existe em função de seu centro.
Durante muito tempo o centro correspondia exatamente à organização das paróquias da Igreja
Católica
10
. Como diz Santos (1988),
[...] em tempos antigos, que precedem a descoberta do Brasil, correspondiam à
organização das paróquias da Igreja Católica. Era fácil fazer distinções: cada
paróquia tinha seu templo e seu santo, se organizava em torno deles e de outras
facilidades como feiras e mercados. Foi essa a tradição trazida de Portugal. Em
geral, nos centros urbanos mais antigos, os bairros são mais fáceis de identificar.
(SANTOS, 1988, p. 113-115).
Com a modernidade adveio a separação entre o religioso e o civil, entre a Igreja e as
Instituições. Lefebvre (1975) diz-nos que “Se as paróquias constituíam bairros, quando a
cidade, ao fazer-se demasiado grande, perdeu sua unidade e seu caráter de comunidade local,
o seu núcleo a igreja paroquial perdeu simultaneamente suas funções e sua capacidade
estruturante”
11
. (LEFBVRE, 1975, p. 197). (Tradução da autora). Em função disso, a anterior
realidade da natural conexão entre o bairro e a paróquia, para Lefebvre (1975), não tem mais
razão de ser, por passar a ter uma função simbólica maior do que funcional e estrutural. Mas,
a despeito disso, como de alguma forma a Igreja Católica está presente nos bairros e na vida
de seus moradores mais de setenta anos, é um eixo estruturante da presente pesquisa, e
mais do que estrutural, possui uma função simbólica, reforça a justificativa de sua utilização
na escolha dos limites físicos da investigação.
Cordeiro (1997), ao tratar da correspondência entre a circunscrição territorial e a igreja
matriz ou sede paroquial de uma localidade nos tempos mais antigos, afirma que correspondia
também ao local que “integrava populações que mantinham laços de estima e identificação
com as suas sedes paroquiais”. (CORDEIRO, 1997, p. 42). Nesta dissertação podemos
perceber que ainda hoje é possível ser encontrada essa correspondência entre uma
10
Ao tratar disso Sennet (1997) cita os burgos da Paris medieval, onde cada um deles correspondia a uma
paróquia, que tinha seu santo devoto. Diz ele: “Sem paredões, mas igualmente dotado de amplos e bem definidos
direitos era o ‘bourg’, o mais antigo dos quais Saint Germain ficava na margem esquerda do rio. Embora
populoso, todas as suas terras faziam parte dos bens de quatro igrejas que compunham a paróquia; no local da
maior delas, situa-se hoje a moderna Igreja de Saint-Suplice. Um burgo não estava submetido a um controle
único [...]. A maioria das frações de terreno em uma cite, ou num burgo, estavam arrendadas e, frequentemente,
vendiam-se os direitos de construção. Assim as pessoas construíam a seu bel-prazer, pagando taxas à Coroa ou
à Igreja”. (SENNET, 1997, p.161-163).
11
“Se bien las parroquias constituían barrios, cuando la ciudad, al hacerse demasiado grande, perdió su unidad y
su carácter de comunidad local, el núcleo – la iglesia parroquial – perdió simultáneamente sus funciones y su
capacidad estructurante”. (LEFBVRE, 1975, p. 197).
24
circunscrição territorial administrativa como o bairro’ em Belo Horizonte (nesta pesquisa
dois bairros) e a sede paroquial, que tem como centro uma igreja matriz.
que se ressaltar que o limite escolhido para o trabalho difere muito pouco dos
limites trazidos pelo Atlas de Desenvolvimento Humano da Região Metropolitana de Belo
Horizonte (Esplanada/Vera Cruz/Pompeia), que, além dos bairros Pompeia e Esplanada,
abrange uma pequena parte do bairro Vera Cruz.
O bairro Pompeia faz confrontação com os seguintes bairros: Esplanada, Santa Tereza,
Santa Efigênia, Saudade e Vera Cruz; e o bairro Esplanada com os bairros Pompeia, Horto,
São Geraldo e Vera Cruz.
Entre os dois bairros não qualquer fronteira física, ao contrário do que ocorre
quando são considerados os dois juntos. Assim, pelo mapa 4, pode-se facilmente perceber que
a área considerada pela pesquisa possui as seguintes fronteiras físicas: o leito do Ribeirão
Arrudas, na avenida dos Andradas, que separa os bairros Pompeia e Esplanada dos bairros
Santa Tereza e Horto; e a linha férrea, que faz a fronteira com o bairro São Geraldo. Fazendo
fronteira com os bairros Saudade e Vera Cruz está a av. Belém, feita sobre a canalização do
antigo Córrego do Navio. na fronteira com o bairro Santa Efigênia está a av. Alphonsus
Guimarães, paralela à rua Niquelina (antiga via de acesso para a cidade do Rio de Janeiro).
Existem duas vilas (favelas) dentro da área pesquisada (ambas situadas mais
especificamente no bairro Pompeia): as vilas São Rafael e a Vila Nossa Senhora do Rosário
(conhecida como Pedreira)
12
.
Depois de tecidas essas considerações sobre a condição de nativa da pesquisadora e
dos argumentos para o título desta dissertação, ressalto que busquei na literatura sociológica e
no imaginário social dos moradores dos bairros Pompeia e Esplanada o que é ser e pertencer a
uma cidade moderna, mas também dita provinciana. Durante a pesquisa privilegiei a
observação da dinâmica cotidiana dos bairros, bem como os rituais ali realizados. Pelas
entrevistas e conversas informais com moradores e moradoras dos bairros foi-me possível
captar percepções sobre a simultaneidade dos modos de vida moderno e provinciano.
A investigação da unidade sociológica bairro é muito usual em Portugal,
principalmente com os bairros de Lisboa. Dentre as obras portuguesas podemos destacar os
trabalhos de Costa (1999), Cordeiro (1997) e Menezes (2004), que investigaram,
respectivamente, os bairros Alfama, Bica e Mouraria. E, também em Portugal, Gonçalves
(1988), com a análise dos bairros urbanos da Cidade do Porto. Na produção científica
12
Atualmente a Prefeitura de Belo Horizonte denomina de ‘vilas’ o que antes era chamado de ‘favelas’.
25
nacional, tratando do cotidiano e da vida de bairro, encontramos Seabra (2003); e, tratando de
um bairro específico, o estudo pioneiro de Velho (1973), sobre o bairro de Copacabana; Leite
(2001), com a pesquisa realizada no bairro do Recife antigo, priorizando a abordagem sobre o
uso do patrimônio cultural; o bairro Água Branca em São Paulo, onde Ramos (2004) procura
discutir suas diversas espacialidades, a partir do inseparável movimento espaço-tempo.
Também na cidade de Recife, estudo sobre o bairro de Apicucos e Poço da Panela, realizado
por Barros (2004).
sobre os bairros de Belo Horizonte, encontramos algumas contribuições
importantes, em áreas distintas, como a Geografia, a Arquitetura e as Ciências Sociais, mas
que confluem interdisciplinarmente. Teixeira (1996), numa abordagem da geografia,
discorreu sobre a evolução e a percepção do ambiente do bairro Floresta. Investigando as
dinâmicas do bairro Bonfim, temos Medeiros (2001); e sobre o bairro Lagoinha, buscando
entender o estigma nele lançado ao longo de sua história, Pederzoli (1992). O bairro Serra foi
estudado por Azevedo Júnior (1999); o bairro Cidade Nova por Faria (1992); e o bairro
Silveira por Kuwahara (1990). Santiago (1999) tratou da produção de habitações populares do
bairro Dom Cabral, com a influência exercida pelo Estado e pela Igreja. Ribeiro (2008)
investigou o bairro Concórdia, com vistas a entender as representações e as práticas cotidianas
dos seus moradores, priorizando a investigação sobre a vizinhança, os lugares de encontros
preferidos dos moradores, as redes de amizades e as múltiplas formas de solidariedade
13
.
O aumento da experiência acadêmica sobre a unidade socioantropológica do bairro
aponta para uma necessidade de se conhecer as peculiaridades e as generalidades da vida
nesses microespaços, pois é o bairro “o microcosmo que ilumina a vida, o referencial definido
por uma base espacial que se constitui como prática urbana e também a referência a partir da
qual o habitante se relaciona com espaços mais amplos”. (CARLOS, 2001, p. 244),
corroborando a importância de se estudar o bairro confrontando-o com o espaço maior que o
recebe, a cidade.
Assim, com o intuito de fazer uma sociologia dos bairros Pompeia e Esplanada, atenta
ao que disse Geertz (1989)
14
, exercitei a tarefa de fazer uma sociologia nos bairros.
13
Além desse estudo realizado no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da PUC Minas, outros
estudos de bairro estão sendo empreendidos. Dentre eles, citamos: o bairro Lagoinha, o bairro Sion, o bairro
Taquaril e o bairro Cidade Jardim, todos situados em Belo Horizonte, pois, como diz Cordeiro (1997),
“Conhecer uma cidade através dos seus bairros talvez seja uma tarefa impossível no médio prazo. Mas
conhecer um pouco melhor como uma cidade se pensa no modo como define os seus bairros e,
consequentemente, como os bairros se pensam enquanto parte de um conjunto que é a cidade talvez possa ser
um bom ponto de partida”. (CORDEIRO, 1997, p. 21).
14
O locus do estudo não é o objeto do estudo. Os antropólogos não estudam as aldeias (tribos, cidades,
vizinhanças...) eles estudam nas aldeias. (GEERTZ, 1989, p. 32)
26
1.1 METODOLOGIA DA PESQUISA
Dentre os métodos científicos predominantemente qualitativos, optei por utilizar o
método denominado “Estudo de Caso”, entendido como aquele que “parte do princípio de que
o estudo de um caso em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros
ou mesmo de todos os casos semelhantes”. (GIL, 1999, p. 35).
Como é impossível perscrutar todas as ‘vozes’ e conhecer todos os ‘cantos’ de Belo
Horizonte, foram investigados o cotidiano dos moradores e a dinâmica dos bairros Pompeia e
Esplanada, utilizados como objetos empíricos de investigação nesta pesquisa. Busquei nos
espaços-tempos cotidianos dos bairros, a partir das vivências dos seus lugares, características
próprias do que é moderno e do que é tradicional, do que é considerado cosmopolita e, ao
mesmo tempo, provinciano.
Como quadro teórico de referência nesta pesquisa, foi escolhida a sociologia
compreensiva nos moldes como abordada por Weber, em que a ‘compreensão’ é uma mistura
da reconstrução no sentido subjetivo que dá origem às ações dos indivíduos. Utilizei a
construção de ‘tipo ideal’ de Weber como instrumento científico de ordenação sociológica da
realidade, mais especificamente com relação aos modos de vida
15
.
Na realização da pesquisa foram considerados dois tipos ideais de modos de vida: o
modo de vida tradicional, também chamado provinciano, e o modo de vida moderno, também
denominado cosmopolita. Assim como no ‘tipo ideal’ de Weber, esses dois modos de vida
não existem de maneira pura, ou seja, o modo de vida de uma coletividade é o resultado de
uma mescla desses dois tipos, aqui considerados como ideais.
Com vistas a captar as percepções dos moradores dos bairros e as suas idas e vindas
diárias, alcançando, portanto, as categorias analíticas – espaço, tempo e pessoa –, neste estudo
de caso, lancei mão da técnica metodológica da observação participante.
A observação participante é uma técnica de pesquisa que necessita da participação
efetiva do pesquisador ou da pesquisadora na vida do grupo investigado, o que já ocorre, pois,
como foi dito anteriormente, eu também pertenço ao local que compõe o objeto desta
15
Para Weber o ‘tipo ideal’ é formado pela acentuação unilateral de um ou mais pontos de vista e pela síntese
de um grande número de fenômenos concretos individuais, difusos, discretos, mais ou menos presentes e
ocasionalmente ausentes, os quais o organizados de acordo com os pontos de vista unilateralmente
acentuados numa construção analítica acentuada. Em sua pureza conceitual, essa construção mental não pode
ser encontrada em parte alguma da realidade”. (WEBER, apud GIL, 1999, p. 39).
27
pesquisa, o bairro Pompeia e, por extensão, também o bairro Esplanada. Em suma, segundo a
classificação trazida por Gil (1999, p. 113), tratou-se de uma observação participante natural.
A observação participante, para Becker (1999), é uma técnica que consiste na coleta de
dados através da participação na vida cotidiana do grupo ou organização que se estuda. Com
os dados obtidos na observação participante feita pelo pesquisador é que lhe é possível
comparar e interpretar as informações obtidas nas entrevistas, no que se e no que se escuta
enquanto se observa. É por meio da observação participante que o pesquisador tem condição
de relacionar as informações verbais, visuais ou quaisquer outras que tenha obtido no campo
e, ao fim, apreender, com o maior grau de acuidade possível, uma determinada realidade
social.
Muitas foram as incursões feitas nos bairros pesquisados com a finalidade de observá-
los de maneira cientificoacadêmica. Dentre elas, posso citar como tarefas de uma observadora
participante a observação das praças dos bairros, em dias e horários diversos, com vistas a
perceber a sociabilidade ali existente; a observações dos seus pontos comerciais, também em
dias e horários diversos; a presença em eventos públicos, ocorridos nas ruas e também nas
praças (como reza de terços e serestas), além de acompanhamento de enterros e participação
de festas religiosas (procissões e barraquinhas realizadas nas ruas). A observação se estendeu
a cada saída nas ruas dos bairros, anotando os detalhes de suas dinâmicas cotidianas.
Além da técnica da observação participante, foi utilizada a técnica da entrevista,
primordial na coleta de dados da pesquisa, uma vez que propícia a captar percepções, pois
como diz Gil (1999),
Enquanto técnica de coleta de dados, a entrevista é bastante adequada para a
obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, crêem, esperam, sentem
ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram, bem como acerca das suas
explicações ou razões a respeito das coisas precedentes. (GIL, 1999, p. 117).
As entrevistas na forma semi-estruturada, foram feitas com a utilização de um roteiro,
aberto à inserção de novas perguntas por mim e comentários do entrevistado. Todas elas
foram gravadas e transcritas em sua integralidade.
Foram quinze entrevistas com moradores dos dois bairros Pompeia e Esplanada –,
alocados em diversas faixas etárias, tendo sido esse número fixado de maneira aleatória,
seguindo um parâmetro usual nas Ciências Sociais. Na verdade, mais do que um número
‘cabalístico’, como diriam alguns, quando percebi que as informações começaram a ser
repetidas nas entrevistas realizadas, entendi que seriam suficientes para o propósito
28
empreendido na presente pesquisa. A escolha dos moradores a serem entrevistados não seguiu
um critério específico, mas procurei três tipos de categorias: a idade, procurando abranger
todas as faixas etárias; o local de moradia, buscando moradores distribuídos num maior
espaço geográfico possível; e, o tempo de moradia, entrevistando pessoas com tempos de
moradia diversos nos dois bairros.
Devo dizer que não tive nenhuma dificuldade em agendar as entrevistas, pois todas as
pessoas escolhidas se mostraram prontas a responder às perguntas formuladas no meu roteiro
de entrevistas. Atribuo essa facilidade a duas causas específicas, as quais pude observar no
momento das abordagens. Primeiro pela minha condição de nativa do bairro Pompeia e uma
moradora conhecida nos dois bairros; e, segundo, por causa do assunto abordado, pois senti
que os entrevistados ficavam, de certa forma, orgulhosos em falar do local onde residem.
na realização de algumas entrevistas, sobretudo nas primeiras, tive a sensação de
que os entrevistados, por conhecerem a minha condição de moradora, davam respostas ‘pela
metade’, pelo suposto de que, na minha condição, eu saberia do que eles estavam falando.
Mas, atenta a esse detalhe, que poderia de alguma forma enviesar a pesquisa, cuidei para que,
todas as vezes em que isso ocorresse, eu fizesse com que eles completassem o que estavam
pensando e me dessem a informação por inteiro.
Utilizei nesta dissertação, aliada às formas verbais e escritas, a fotografia. Elas foram
dispostas ao longo do texto e estão legendadas para que o leitor possa se sentir mais próximo
do cotidiano dos bairros pesquisados.
Foram utilizados também dados secundários, por meio de documentos consultados na
PBH Prefeitura de Belo Horizonte, que trouxeram informações importantes para
identificação do processo de ocupação histórica dos bairros, além de trazer contribuições à
relação dos bairros com a cidade de Belo Horizonte. Dentre os dados secundários estão
aqueles obtidos junto à FJP Fundação João Pinheiro e ao IBGE Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística.
1.2 ESTRUTURAÇÃO DOS CAPÍTULOS
Com vistas a atingir os objetivos deste trabalho, optei por dividi-lo em capítulos. No
capítulo “A CAPITAL BELO HORIZONTE: MODERNA OU PROVINCIANA?”,
foi feita
uma descrição sobre a criação da cidade de Belo Horizonte, na sua dimensão histórica,
29
principalmente para mostrar que ela foi uma cidade planejada, projetada e nascida sob o signo
da modernidade e ancorada no ideário republicano vigente à época.
Para seu desenvolvimento realizei pesquisa bibliográfica com a finalidade de abranger
conceitualmente as discussões históricas da criação de Belo Horizonte, na sua vertente
positivista, para mostrar que, depois de imensas discussões sobre a escolha do local para a
criação da nova capital, muitos foram os elogios feitos a ela, necessários ao seu bom
desempenho como cidade mais importante do estado de Minas Gerais e, como tal, de
visibilidade dentro do cenário nacional. Essa discussão trouxe em seu bojo uma direta
abordagem sobre a modernidade, pois, em seguida, foi demonstrado o que era, no momento
de sua criação, ser uma cidade moderna e qual a importância simbólica disso.
Esse capítulo abordou também o outro lado da díade investigada, o provincianismo da
capital mineira, mostrando como foi e ainda é construída a narrativa sobre o provincianismo
da cidade de Belo Horizonte. Para cumprir tal finalidade, foi preciso abordar a importância da
categoria tradição para sustentar a conservação do provincianismo como um modo de vida,
aliado ao recorrente interesse das Ciências Sociais sobre os pares relacionais: cidade-campo,
urbano-rural.
No capítulo “POMPEIA E ESPLANADA: UM ESTUDO DE CASO” , tendo em vista
a investigação sobre a ocorrência de dois modos de vida simultâneos na cidade de Belo
Horizonte, partindo de dois de seus bairros situados na zona leste, em sua área pericentral
Pompeia e Esplanada –, foi necessário trazer a distinção socioantropológica entre espaço e
lugar, utilizando como aporte teórico dois autores da área da Geografia, Tuan (1983) e Carlos
(1996).
Outra abordagem imprescindível para o desenvolvimento da pesquisa foi a discussão
sobre o bairro como uma unidade sociológica, utilizando as teorias de Lefebvre (1975), Tuan
(1980), Carlos (1996) e Cândido (2003). Foi abordada também a condição dos bairros como
locus intermediário entre o público e o privado.
No estudo de caso propriamente dito, os bairros Pompeia e Esplanada foram descritos
e localizados dentro da cidade de Belo Horizonte, sobretudo quanto às suas localizações
dentro da área pericentral da capital. Foi demonstrada a origem dos nomes dos bairros,
sobretudo do bairro Pompeia, além de se fazer uma descrição física do traçado dos bairros.
Esse capítulo trouxe também a vida cotidiana dos bairros, a percepção de seus
moradores sobre os seus modos de vida e a descrição e interpretação dos espaços e da forma
de sociabilidade neles vigentes. Foi discutido o sentimento de pertencimento existente nos
30
bairros e identificados os seus ritos cotidianos que denotam a simultaneidade dos dois modos
de vida – moderno e provinciano.
Nas considerações finais foram descritas as impressões obtidas nas entrevistas sobre o
modo de vida vigente na Pompeia e Esplanada, com ressalto da percepção de seus moradores
sobre a simultaneidade do modo de vida provinciano e do modo de vida moderno. Foram
ainda sugeridos temas para investigações futuras, cujas pistas surgiram durante a realização da
pesquisa.
O trabalho de campo para esta dissertação foi realizado ao longo de quase dois anos,
entre março de 2007 e dezembro de 2008. Os registros iconográficos atuais dos bairros,
aproximadamente duzentos, foram feitos por mim durante a realização das observações e
aqueles referentes ao passado dos bairros foram coletados com alguns moradores e,
sobretudo, recebidos como contribuição do acervo da Província dos Frades Menores
Capuchinhos. Cabe-me aqui ressaltar que o uso das imagens nesta dissertação pretende
ilustrar, dar visibilidade a uma realidade que ao mesmo tempo é sensível e imagética; enfim,
mostrar aos leitores, em imagens, o que está escrito no texto. Tive a intenção de relacionar a
construção analítica do texto com aspetos visuais que constituem o processo de formação dos
espaços dos bairros, que, mais do que físicos, são espaços sociais, mais do que espaços, são
lugares.
31
2 A CAPITAL BELO HORIZONTE: MODERNA OU PROVINCIANA?
Feita em papel quadriculado por homens de compasso e pis na mão moramos
numa cidade cartesiana, mas somos barrocos. (LE VEN, 1977, p. 136).
A modernidade é “[...] uma era que desencadeia explosivas convulsões em todos os
níveis de vida pessoal, social e política”. (BERMAN, 1986, p.16). Ao tratar da modernidade,
Berman (1986) diz que, dentre as várias fontes que a alimentam, estão as grandes
descobertas das ciências físicas, com a mudança da nossa imagem do universo e do lugar que
ocupamos nele”, passando também pela industrialização da produção; pela destruição e
construção de novos ambientes; pelos conflitos de classes e pelos movimentos de massa; pela
intensa movimentação da população e pela urbanização exarcebada do mundo. Tudo isso gera
significativas transformações no modo de vida do homem e da mulher modernos, e também
no ambiente em que eles estão inseridos.
Trata-se de uma era repleta de definições e paradigmas, cujo locus privilegiado para
percepção é sem sombra de dúvida a cidade moderna, portadora de signos predispostos como
prenúncio de um outro tempo. Como disse Velho (1995), “A cidade tornou-se o locus, por
excelência, dessas mudanças, não como receptáculo passivo, mas como produtora de novas
formas de sociabilidade e interação social, de modo genérico”. (VELHO, 1995, p. 228)
Os séculos XIX e XX foram tradutores de uma época propícia à construção de cidades
ideais, da inauguração de novos estilos de vida urbanos, assim como ocorreu com Belo
Horizonte.
No escopo deste trabalho, sem olvidar da extensão do conceito de modernidade em si,
interessou-nos identificar na literatura como se a representação do que seja uma cidade
moderna, quais são as suas características físicas e socioculturais e quais devem ser seus
atributos. Apenas para introduzir e ter uma abordagem sociológica como baliza, trouxemos a
clássica descrição de Berman (1986) sobre a modernidade, que diz:
Existe um tipo de experiência vital experiência de tempo e espaço, de si mesmo e
dos outros, das possibilidades e perigos da vida que é compartilhada por homens e
mulheres em todo o mundo hoje. Designarei esse conjunto de experiências como
‘modernidade’. Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura,
poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas em redor
mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo
o que somos. A experiência ambiental da modernidade anula todas as fronteiras
32
geográficas e raciais, de classe e nacionalidade, de religião e ideologia: nesse
sentido, pode-se dizer que a modernidade une a espécie humana. Porém, é uma
unidade paradoxal, uma unidade de desunidade: ela nos despeja a todos num
turbilhão de permanente desintegração e mudança, de luta e contradição, de
ambigüidade e angústia. Ser moderno é fazer parte de um universo no qual, como
disse Marx, “tudo o que é sólido desmancha no ar”. (BERMAN, 1986, p. 15).
Além de conceituar a modernidade, Berman (1986) trata de como deve ser, ou como é,
um ambiente moderno, muito bem traduzido pela cidade moderna. Como dito anteriormente,
a cidade moderna é o locus privilegiado da modernidade e, por isso, é recorrente a sua
consideração nos estudos sobre a modernidade. Para o entendimento da modernidade presente
na cidade e da peculiar forma de se viver nessa cidade, importante o trabalho de Simmel
(1967), vez que descreve a vida mental dos moradores de uma grande cidade, de uma
metrópole moderna. Por ser um texto clássico da sociologia sobre as cidades, contribui para
entender a parte abstrata do cotidiano de uma metrópole como Belo Horizonte. Com Simmel
(1967) fica mais fácil observar a cidade no seu aspecto de modernidade, quer seja pela sua
análise sobre a sociabilidade ali existente ou pela sua abordagem sobre a sua vida mental.
Afinal, como disse Waizbort (2000), “sua teoria (de Simmel) sobre o moderno é o seu
enfrentamento com a cidade em que vivia, suas próprias experiências formam o material que
atiça a sua reflexão e a tentativa de apreender conceitualmente as transformações que
ocorrem”. (WAIZBORT, 2000, p. 315).
Na observação empírica de Simmel (1967) sobre a cidade um esforço de reflexão
sobre o profundo significado da vida urbana e no modo de viver daqueles que nela estão
inseridos. Para ele a cidade não se apresenta apenas como um espaço físico, mas um lugar
repleto de interações sociais, e são essas ações recíprocas entre os homens que preenchem
esse espaço vazio que é o espaço da cidade. A sua preocupação essencial com relação à vida
do homem na cidade, na grande cidade, está em entender e explicar as transformações que
sofrem os indivíduos nesse espaço eminentemente moderno, principalmente pelos frequentes
estímulos que recebem diuturnamente, desde que habitante de uma grande aglomeração.
16
Sempre que se fala em cidade há, mesmo que de maneira subliminar, a ideia do
campo, assim como o urbano traz à tona a reflexão sobre o rural. Nesse sentido é que se torna
evidente a preocupação de Simmel (1967) com os constantes e quotidianos estímulos
16
Waizbort, no capítulo intitulado “A cidade, grande e moderna”, sugere o motivo pelo qual Simmel esteve tão
ligado ao estudo das cidades. O início do capítulo diz que: “Georg Simmel nasceu em 1
o
de março de 1858 em
uma construção encravada em um dos pontos de maior movimento em Berlim [...]. Mais tarde, ele sempre
brincava com o fato de ter nascido no ‘coraçãoda cidade, no cruzamento das maiores ruas de comércio. Não
havia nada que pudesse exprimir tão bem o quão intimamente ligado ele era a Berlim como o lugar no qual
nasceu”. (WAIZBORT, 2000, p. 311).
33
recebidos pelo indivíduo metropolitano, detentor de uma quantidade de consciência que,
segundo ele, o diferencia do homem rural, este habituado à vida estabilizada e até mesmo
contemplativa. A oposição entre a grande cidade e a cidade pequena ou o campo “é a
oposição entre o mais lento e o mais rápido, entre o mais habitual e o que não se torna nunca
habitual, devido à mudança contínua”. (WAIZBORT, 2000, p. 317). Esse contraponto é
enaltecido por ele para mostrar que na vida psíquica metropolitana é inevitável a reação
racional e não emocional do homem e da mulher metropolitanos. Essa dicotomia urbano–
rural, muito frequente nos estudos sociológicos
17
, mostra-nos a importância de se considerar
num estudo sobre modos de vida, as duas categorias: modernidade e tradição, não como
antagônicas, mas como categorias simultâneas, que denotam um continuum no modo de se
viver.
Outra importante contribuição de Simmel (1967) nas suas incursões sobre o indivíduo
moderno que habita a metrópole é a sua exposição sobre a atitude de defesa em que o
indivíduo se coloca quando estimulado ‘freneticamente’ como acontece no meio urbano.
Diante do peso recebido por essa estrutura de comportamento no meio urbano, acaba por
produzir um indivíduo solitário, que valoriza a solidão e preocupa-se principalmente com o
seu bem-estar. está a origem da atitude blasé, uma atitude eminentemente de reserva, que,
corriqueiramente, gera uma situação de indiferença entre os indivíduos, uma ligeira aversão,
estranheza e até repulsa. Trata-se de uma forma de preservação da vida subjetiva em meio à
violência da cidade grande. A utilização desse instinto de preservação é inevitável, pois, em
meio à velocidade e intensidade dos estímulos recebidos pelo indivíduo, representa uma ação
capaz de lhe proteger de uma desintegração. Essa atitude para o ser metropolitano, segundo
essa concepção simmeliana, seria muito salutar, uma vez que o blindaria dos efeitos da
indiferença. Daria a ele um maior grau de liberdade pessoal, tanto em quantidade, quanto em
qualidade, com pequena possibilidade de comparação com outras situações diversas,
incapazes de dar ao indivíduo um sentimento tão grande e confortador de liberdade. Em suma,
a liberdade garantida ao ser metropolitano engendra o seu anonimato, permitindo-lhe escapar
de controles pessoais e afetivos, torna-se frouxa a exigência de comportamentos balizados
pela moral, mas, em contrapartida, o indivíduo perde a sua espontaneidade. Esse referencial
teórico foi muito importante para a análise, sobretudo, do comportamento dos moradores da
17
Este ponto será abordado mais adiante, no item 2.4.
34
unidade sociológica bairro, diversa da mentalidade do ser metropolitano, sobretudo com
relação à impossibilidade de ser completamente anônimo dentro do bairro e isento do controle
social ali existente.
A teoria simmeliana sobre a atitude do homem moderno foi importante para a
compreensão de um ‘outro homem’, o homem provinciano, como expressão daquele que
preza pela interação face-a-face, pelas relações de vizinhança e, dentre outras, por sentir
pertencer a um lugar, conhecer e ser conhecido. Ao contrário do indivíduo metropolitano,
trata-se de uma pessoa provinciana, no sentido dado por Merton (1970) e que será explicitado
mais adiante quando falarei do provincianismo de Belo Horizonte.
Mas é também Simmel (1983b) que diz ser a sociabilidade um fenômeno típico das
metrópoles, onde se dão os encontros fortuitos e efêmeros, sem nenhum traço de
continuidade, sem sequer deixar vestígios. Para ele, a sociabilidade traduz-se em formas
liberadas de todos os tipos de laços e conteúdos, que devem ser entendidas como formas
autônomas ou lúdicas de sociação entre os indivíduos, que pela sociabilidade são afastados
“[...] das esferas puramente interiores e inteiramente subjetivas de sua personalidade”.
(SIMMEL, 1983b, p. 171) Neste trabalho procurei identificar sociabilidades do espaço social
bairro e, tratando-se de Belo Horizonte, onde a maioria da população tem ‘raízes’ em cidades
interioranas, demonstrar que há um continuum entre as formas de sociabilidade de lá e de cá.
Belo Horizonte nasceu sob o signo da modernidade e, neste capítulo, faremos um
breve escorço histórico de seu nascimento, dando ênfase ao que significa à capital de um
estado da federação ser uma cidade moderna.
2.1 UMA CIDADE PLANEJADA SOB O SIGNO DA MODERNIDADE
O discurso oficial da época de inauguração da cidade de Belo Horizonte, em meio ao
afã das transformações culturais do século XIX, era de que, num cenário de modernidade,
apenas a construção de uma capital com características modernas, expressando a ruptura com
o passado colonial brasileiro, seria capaz de colocar Minas Gerais em um local de destaque no
cenário nacional republicano, fazendo inclusive com que a nascente cidade se transformasse
num importante símbolo da República. Essa preocupação encharcada de um ideário
35
positivista
18
encontrava justificativa na nova ordem instalada no país com a abolição da
escravatura e o avançado quadro econômico, por assim dizer, das cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro, esta mais entrosada com a região da Mata de Minas Gerais e aquela com as
regiões mineiras do Sul e do Triângulo. Belo Horizonte deveria abrigar a capital do Estado e,
como tal, estar preparada para as funções administrativas afetas a uma capital, ser o centro
industrial, intelectual e financeiro. Deveria estar preparada para ser um ponto de apoio para a
integridade do Estado de Minas Gerais.
Os argumentos para a construção da cidade de Belo Horizonte no local escolhido
sempre foram no sentido de que no lugar do arraial de Bello Horizonte surgiria uma cidade
moderna e racional. Na literatura podem ser sobejamente encontrados excertos que
reproduzem o discurso oficial da época, da construção de uma ‘Belo Horizonte’ moderna.
Segundo citação extraída da Revista Industrial de Minas Gerais por Angotti-Salgueiro (2007),
“o local escolhido é admiravelmente apropriado à instalação de uma grande cidade, e a nova
capital, construída numa empreitada, promete ser uma notável amostra de cidade moderna
[...]”. (ANGOTTI-SALGUEIRO, 2007, p. 54) Como dito acima, é possível encontrar os
traços da modernidade nos augúrios de Belo Horizonte. Julião (1996) mostra-nos isso no
seguinte trecho,
Belo Horizonte figurava como a obra simbólica de maior envergadura da República
brasileira recém-instalada [...] visões que correspondiam à sensação de que se
começava a viver, no país, a ‘aventura da modernidade’. Processo que trazia consigo
a promessa de transformações radicais, de rompimento com os laços de uma
sociedade que permanecera, até então, encastelada em moldes tradicionais.
(JULIÃO, 1996, p. 56).
18
A introdução de Aarão Reis na Planta Geral de Belo Horizonte, datada de 1895, diz tratar-se de uma “cidade
suficientemente ampla e inovadora, capaz de responder ao crescimento da função do Estado e estimular os
interesses políticos e econômicos”. (BARRETO, 1995, p. 126). Pela ‘filosofia positiva’, Augusto Comte,
filósofo e matemático francês (1798-1857), propôs uma mudança da sociedade, por meio de uma reforma
intelectual. Foi pelo ‘positivismo’ – um conjunto de postulados – que Comte pretendeu modificar, com a
utilização de novos métodos científicos da época, a forma de pensar das pessoas. Seu intento seria possível
com a reforma de instituições, que seria feita pela Sociologia, responsável por estudar a sociedade pela análise de
seus processos e estruturas. Para o precursor da Sociologia, esta ciência, assim como as ciências naturais,
deveria, de forma objetiva e desprovida de metas preconcebidas, buscar a reconciliação entre a ordem e o
progresso presente na sociedade, sendo que o progresso deveria estar subordinado à ordem. Nesse sentido, essa
ciência deveria ser o instrumento de análise da sociedade com a finalidade de torná-la melhor. O conhecimento
deveria existir para conhecer os problemas, mas também para dar-lhes soluções, por isso, o lema era: “Conhecer
para prever, prever para prover”.
36
Esta afirmação de Julião (1996) mostra-nos que a modernidade tinha por suposto
‘transformações radicais’ e, dentre elas, o rompimento com o que era tradicional.
O poeta Olavo Bilac, ao visitar a cidade em 1903, teve a impressão de que ela, no
breve interregno de nove anos, tornara-se uma ‘bela cidade moderna’. Disse ele:
Quantos anos decorreram de 1894 até hoje? Contem bem pelos dedos: um, dois, três,
quatro, cinco, seis, sete, oito, nove... Nove anos, somente! E nesses nove anos, criou-
se, como por milagre, no meio de um rude sertão, uma bela cidade moderna, com
avenidas imensas, com palácios formosos, com admiráveis parques! Pelas ruas
largas e arborizadas, rolam bondes elétricos; mpadas elétricas fulguram entre os
prédios elegantes e higiênicos; motores elétricos põem em ação, nas fábricas, as
grandes máquinas cujo rom-rom contínuo entoa os hinos do trabalho e da paz.
(BILAC apud ARAÚJO, 1996, p. 26).
A percepção de Bilac sobre a modernidade de Belo Horizonte trouxe-lhe espanto, pois
comparou tal fato à obra de um ‘milagre’. Para ele a prosperidade era visível em todos os
lugares, desde as construções vultosas, até a infraestrutura de iluminação, por exemplo. A sua
fala também demonstra a preocupação higienista vigente à época, quando descreve os prédios
como elegantes e ‘higiênicos’.
2.2 O PROCESSO DE FORMAÇÃO DA CIDADE DE BELO HORIZONTE
A mudança da capital do estado de Minas Gerais para o antigo arraial de Bello
Horizonte, que até 1889 era conhecido como ‘Curral d’el Rey’
19
(GODINHO; MENDONÇA,
2003, p. 289), foi a sétima tentativa de retirada da capital da cidade de Ouro Preto, sendo que
a primeira tentativa de transferência ocorreu em 1789, pelos inconfidentes com a intenção de
transferi-la para a cidade de São João Del Rei. A iniciativa dos Inconfidentes fracassou, mas
19
Em 12 de abril de 1890, o então governador do estado de Minas Gerais, Dr. João Pinheiro da Silva, lavrou o
Decreto 36, que dizia: “O doutor governador do Estado de Minas Gerais resolve determinar que a freguesia
do Curral D’el-Rey, Município de Sabará, passe a denominar-se d’ora em diante Bello Horizonte, conforme foi
requerido pelos habitantes da mesma freguesia. (...)”. (BELO HORIZONTE, 1890 - Disponível em
www.descubraminas.br).
37
ocorreram pelo menos outras cinco tentativas de transferência da capital mineira ao longo
desse período
20
, a que se chegou à proclamação da República e tornou-se inevitável e
premente a mudança do comando politicoadministrativo. Ouro Preto não oferecia condições
físicas adequadas para o crescimento econômico que se esperava para o estado de Minas
Gerais e, além disso, trazia em sua arquitetura diversos símbolos e marcas de um passado
colonial que os republicanos queriam apagar. Enfim, “havia um contínuo movimento das
elites emergentes que se sentiam na obrigação de livrar o país do ‘atraso’, preso ao passado
colonial e imperial do país, visível na aparente confusão dos espaços urbanos”. (MARINS,
1998, p. 132).
O discurso vigente à época e que passou a ser reproduzido era que o novo regime A
República trouxe consigo o repúdio pelo regime que sucedeu, o antigo regime, o passado
colonial; nesse contexto também se inseriu a antiga capital, a capital colonial. Nada melhor
que uma cidade novinha e bem planejada para se iniciar uma nova era. Além disso, havia uma
real preocupação com a manutenção dos ilustres filhos de Minas no estado, pois naquele
momento a elite mineira estava sendo atraída para o Rio de Janeiro, quer seja em busca de
estudo, negócios ou lazer. Buscavam na antiga corte um centro político, econômico e cultural.
Em 1891, Augusto de Lima, o presidente do Estado de Minas Gerais, por meio de um
decreto, determinou a transferência da capital para um lugar que oferecesse condições ideais
de higiene, com largas ruas e avenidas, assim como estava ocorrendo com as cidades
européias, repletas de elementos oníricos que aliavam técnica e arte. Era intenção ‘copiar’ o
ideal urbanístico de Haussmann
21
, que, segundo Benjamin (1985), “eram as visões em
perspectiva através de longas séries de ruas. Isso corresponde à tendência que sempre de novo
se pode observar no século XIX, no sentido de enobrecer necessidades técnicas fazendo delas
objetivos artísticos”. (BENJAMIN, 1985, p. 41).
20
No ano de 1821, outra tentativa quando ocorre a transformação da colônia portuguesa no Império do Brasil e
surge a Capitania de Minas Gerais; outra em 1933; outra liderada pelo Tenente-General Francisco de Souza
Soares de Andréa, presidente da Província (1843-44); em 1851, liderada pelo Dr. José Ricardo de Rego,
quando era o presidente da Província; e, numa outra tentativa, em 1867, o deputado Padre Agostinho Francisco
de Souza Paraizo levou ao Congresso a proposta de transferir a capital da Província para as margens do Rio das
Velhas, mas teve seu intento também frustrado.
21
Haussmann foi o responsável pela gestão da Paris de Napoleão III, burguesa e monumental, que surgiu entre
os anos de 1853 e 1870. Todas as grandes capitais européias, cada uma a seu modo, seguiram os parâmetros
utilizados por Haussmann, sob o argumento da necessidade “de aeração, circulação, lazer de monumentalidade
e de controle sóciopolitico determinadas pelos discursos técnicos e pelas ansiedades das elites emergentes do
Segundo Império francês” (MARINS, 1998, p. 135). Haussmann foi considerado um gestor tirânico e as
transformações urbanas foram feitas “a golpes violentos contra as antigas tradições de convívio social e de
propriedade fundiária que mantinham os parisienses aquartelados em suas casas, ruelas e bairros (...)”
(MARINS, 1998, p. 135).
38
Assim, o artigo 13 das Disposições Transitórias da Constituição de 1891 determinou a
transferência, sem, contudo, indicar o local. Havia naquela ocasião, como ocorre em todo
cenário político, opiniões contrárias e favoráveis à implantação do regime republicano, além
de disputas regionais na luta pelo poder, que contavam, inclusive, com ameaças separatistas e,
por esse motivo, era muito importante a escolha do local que abrigaria a nova capital do
Estado de Minas Gerais. Essa escolha deveria privilegiar um local apropriado para instalar um
centro politicoadministrativo que fosse capaz de garantir a união das elites em torno de si.
Havia concretas preocupações sobre a influência das cidades de São Paulo e Rio de janeiro
sobre diversas regiões de Minas. Assim disse Torres (1962):
Minas precisava de uma verdadeira metrópole, impossível em Ouro Preto; os
mineiros continuariam saindo de Minas, as figuras mais bem dotadas largando a
província em busca de melhores oportunidades, se não houvesse uma cidade grande
que acolhesse os talentos (...) o Rio ou São Paulo ficariam sendo as verdadeiras
capitais de Minas, enquanto não houvesse um centro econômico e cultural, social
enfim, que comandasse a província. (TORRES apud GUIMARÃES, 1993, p. 19).
Apesar de haver consenso entre as facções políticas da época de que era necessária a
mudança da capital para a preservação da autonomia do Estado de Minas frente à federação,
havia um dissenso sobre o local de sua instalação. Foi criada uma Comissão de Estudos para
indicar, entre cinco localidades, a mais adequada para a construção da cidade. As localidades
que disputavam a instalação da nova capital eram: Juiz de Fora; Barbacena; Várzea do
Marçal, situada próxima à São João Del Rei; Paraúna, próxima ao Rio Doce; e arraial de
Bello Horizonte, distrito de Sabará. A disputa para a escolha do local foi acirrada e, após a
análise da Comissão de Estudos foram indicados como candidatos à nova capital os seguintes
locais: o arraial de Bello Horizonte e a Várzea do Marçal. A despeito de a Comissão Técnica
indicar Várzea do Marçal, arraial de Bello Horizonte foi escolhido por uma decisão política
do Poder Legislativo e, em dezembro de 1893, uma lei adicional à Constituição nomeou o
arraial de Bello Horizonte como o local escolhido para a instalação da nova capital, o que
deveria ocorrer num prazo improrrogável de quatro anos.
O engenheiro Aarão Reis ficou responsável por fazer o projeto da nova capital e por
chefiar a Comissão Construtora. Para projetar a nova capital Aarão Reis inspirou-se no
modelo francês de planejamento urbano e no desenho reticulado da cidade de Washington e
seguiu a característica das cidades planejadas, idealizada “segundo um plano cuja grelha
utilizada é a de uma rede ortogonal de ruas e avenidas”. (ISNARD, 1982, p. 146). É como se a
39
linha reta idealizada para Belo Horizonte estivesse vencendo a preponderância das linhas
curvas de Ouro Preto.
Belo Horizonte, num primeiro momento, foi denominada de Cidade de Minas e foi a
primeira cidade planejada do Brasil após a proclamação da República. Foram feitas as
desapropriações necessárias de diversos terrenos do arraial para dar início à construção da
cidade, originalmente planejada em três áreas distintas, como descreve Campos e Faria
(2005),
No Centro, uma zona urbana de traçado regular, avenidas monumentais e delimitada
por uma avenida, onde se localizariam os serviços, prédios públicos, bancos, igreja
matriz. Esta seria a área destinada à moradia dos funcionários públicos e dos
proprietários e comerciantes transferidos de Ouro Preto. Circundando a primeira,
uma zona suburbana, irregular, abrigaria chácaras e quintas e permitiria a expansão
da área central. Finalmente, a zona rural cumpriria a função de abastecer a cidade,
graças às colônias agrícolas que seriam ali criadas. (CAMPOS; FARIA, 2005, p.
146). Grifo meu.
Não foi por acaso que a planta da cidade seguiu o desenho de círculos concêntricos,
em três zonas concêntricas (urbana
22
, suburbana
23
e rural). Isso se deu foi justamente em
função da influência do pensamento urbanístico europeu, eminentemente positivista e elitista,
pois como disse Isnard (1982),
O espaço geográfico de Paris, tal como o de Londres, testemunha a sua organização
hierarquizada em círculos concêntricos dispondo-se à volta de um núcleo que é cada
vez mais especializado nas funções do terciário superior, rejeitando para as zonas
periféricas a população e as atividades de produção propriamente ditas. (ISNARD,
1982, p. 145).
22
“A zona urbana será toda dividida em quadras ou quarteirões de 120 m de face, pelas ruas de 20 m de
largura que terão 2,5 m de cada lado para passeios lajeados e 2 m no centro para um renque de árvores
frondosas, os restantes 6,5 m de cada lado serão para a circulação dos tramways e os carros que deverão seguir
sempre por um dos lados e voltar pelo outro, para evitar cruzamentos. Haverá uma grande avenida de 50 m de
largura, com um duplo renque central de árvores, e 3200 m de comprimento, ligando em linha reta o bairro
comercial, junto a estação de trens, ao alto do Cruzeiro, onde será edificado um majestoso templo. Esta avenida
deverá se constituir em centro obrigatório da cidade e, assim, forçar a população, quando possível a se
desenvolver do centro para a periferia, como convém à economia municipal, à manutenção da higiene sanitária
e ao prosseguimento regular dos trabalhos técnicos. Haverá, também, várias outras avenidas, em diagonais, de
35 m de largura, com renque de árvores laterais.” (SILVA, 1991, p. 13)
23
“Os quarteirões serão irregulares, os lotes de áreas diversas, e as ruas traçadas de conformidade com a
topografia terão apenas 14 m de largura. Esta zona circundará completamente a urbana formando vários
bairros”. (SILVA, 1991, p. 13)
40
O modelo seguido na formação da cidade de Belo Horizonte demonstra que a
organização do seu espaço urbano dar-se-ia pela divisão territorial das funções, denotando a
influência positivista no pensar da cidade.
A preocupação higienista foi defendida pela Comissão Construtora, pois para ela
tratava-se de um local adequado “[...] para o estabelecimento, em boas condições higiênicas,
[...]”. (BARRETO, 1995, p. 241), projetada para abrigar uma população de 200.000
habitantes
24
. Sua idealização como um tabuleiro de xadrez demonstra a intenção de ordenar a
circulação social e também a vida do citadino, trazendo para o ambiente urbano o lema
‘Ordem e Progresso’, desejando cumprir o ideal de uma cidade perfeita. Eram características
imprescindíveis, pois, afinal de contas, tratava-se de uma cidade moderna.
A Cidade de Minas foi inaugurada cinco dias antes da data prevista, no dia 12 de
dezembro de 1897. Uma crônica de Olavo Bilac
25
diz:
Minas (que diabo de nome feio para uma cidade!) está inaugurada. A velha Ouro
Preto, a velha Vila Rica do padre Faria, de Felipe dos Santos, do conde de Assumar,
do dentista Xavier, vai ficar mergulhada no seu sono arquissecular, sem empregados
públicos, sem o Presidente do Estado, sem o seu rico prestígio de capital. Como que
por um milagre, uma cidade moderna, de largas avenidas e palácios soberbos,
rompeu do lugar em que havia a pequena povoação de Belo Horizonte: o Curral d’El
Rei nunca poderia esperar tamanha honra [...]. (BILAC apud FARIA; SIQUEIRA,
1997, p. 27).
Apesar do cumprimento do prazo para a inauguração oficial da nova capital, muito
havia ainda a se fazer, pois boa parte das obras estava inacabada, mas dúvida não existia:
tratava-se de uma cidade moderna, ancorada em um plano e responsável pela ruptura com o
passado.
2.3 A IMPORTÂNCIA SIMBÓLICA DE SER UMA CIDADE MODERNA
A modernidade trouxe em seu discurso uma proposta de emancipação do cidadão, com
a promessa de que os indivíduos tornar-se-iam livres. Toda discussão sobre a emancipação
trazida pela modernidade passa pelo processo de racionalização e, nesse sentido, inevitável a
referência a Max Weber, uma vez que sua análise de época moderna está imbuída do processo
24
Silva (1991) transcreve um trecho do Decreto 680, de 17 de dezembro de 1893, regulamentado em 14 de
fevereiro de 1894, capítulo 1, artigo 3, p. 30 que diz: “(...) o projeto geral da nova Capital será delineado sobre
uma população de 200.000 habitantes, (...)”. (SILVA, 1991, p. 11)
25
BILAC, Olavo. Crônica. Gazeta de Notícias. Rio de Janeiro. 19 de dezembro de 1897, apud FARIA;
SIQUEIRA, 1997, p. 27.
41
de racionalização ocorrido no Ocidente. Weber, para entender a cidade, lançou mão do ‘tipo
ideal’ e comparou a cidade do Ocidente com a cidade do Oriente, a cidade antiga com a
cidade moderna, com vistas a entender a especificidade do fenômeno urbano no capitalismo.
Weber fez uma crítica à consideração da razão instrumental apenas, pois para ele, a
modernidade traz em si dois caminhos e dois projetos de racionalidade, uma com relação a
fins, outra com relação a valores. A primeira de cunho eminentemente instrumental,
demonstrando uma razão utilitarista; e a outra, a mais importante para Weber, de cunho
emancipatório, em que a dimensão cultural e valorativa é importante, em que o significado
empregado à ação dos indivíduos deve ser observado.
A modernidade, em sua abordagem clássica, tem na cidade o seu eixo privilegiado de
discussão, propícia para análises socioantropológicas, dos processos macro e micro, uma vez
que representa, por excelência, o local onde a processo de racionalização encontrou campo
fértil para desenvolver a modernidade ocidental. Em Simmel (1967), a modernidade
ocidental, além da racionalidade weberiana, constitui-se também de um elemento que não
pode ser olvidado, a subjetividade, que, somados são importantes para a análise do homem e
da mulher que habitam a metrópole.
Ianni (2003) descreve de forma sintética esta categoria sociológica, da seguinte forma:
É principalmente na grande cidade que nascem as idéias de descontinuidade,
fragmentação e pequeno relato, assim como de alienação, desencantamento do
mundo e morte de Deus. Da mesma forma, e na mesma grande cidade, nascem as
idéias de historicidade, totalidade e grande relato, assim como de progresso,
evolução, desenvolvimento e emancipação. Na grande cidade convivem o
contemporâneo e o não-contemporâneo, o desenraizamento e a desterritorialização, a
multidão e a solidão, o zoon politikon e o lumpen, o gênio e a loucura, o santo e o
iconoclasta, o comunista e o anarquista, o fascista e o nazista. É na grande cidade
que a fábrica da sociedade produz todas as suas possibilidades, tanto modernidades
como pós-modernidades. (IANNI, 2003, p. 126).
A cidade de Belo Horizonte, para além de uma função concreta, a de ser sede
politicoadministrativa de um importante estado da federação, ostentou desde o seu nascimento
uma função simbólica, adequada a uma Nova Capital. Ela deveria ser local oportuno para o
incremento de atividades industriais e comerciais, com vistas ao desenvolvimento da riqueza.
A cidade era de fato uma promessa, capaz de ‘despertar louváveis ambições’ e sonhos de
riqueza àqueles que para cá viessem. Certamente muitos vieram para a nova Cidade de Minas
como funcionários públicos, transferidos de Ouro Preto, mas outros tantos vieram com sonhos
42
de ascensão social, pois se tratava de uma cidade moderna, afinal, já se falou que “Os ares da
cidade libertam!”
26
.
Araújo (1997) diz que o sucessor de Aarão Reis, o engenheiro Francisco Bicalho,
em relatório ao governador de Minas, justificava a quantia gasta, até aquele
momento, com a construção da nova capital, como o mais inteligente sacrifício do
Estado para o desenvolvimento material e elevação intelectual de seus filhos que
segundo ele, ainda não conheciam bem, pelo menos no interior, as exigências da
civilização moderna: ‘[...] A Nova Capital vai forçosamente irradiar benéfica luz por
todo o Estado, mostrando que os gozos sociais não se coadunam com a simplicidade
patriarcal da vida mineira e, ao despertar de louváveis ambições, instigará o
trabalho, as indústrias, a lavoura, o comércio, a necessidade de relações de toda a
sorte e, em última análise, o desenvolvimento da produção e da riqueza geral.’
(ARAÚJO, 1997, p. 50).
Esse fragmento de um relatório oficial da comissão construtora sinaliza para dois
consideráveis argumentos utilizados na construção da nova capital. Primeiramente, a
modernidade de Belo Horizonte sob a perspectiva de seu planejamento e, noutra perspectiva,
de uma cidade nascida moderna e, como tal, considerada ícone de uma ruptura. O seu
nascimento planejado deveria ser, por suposto, o rompimento com o passado e com a tradição,
um local que abrigasse a sociedade moderna que estava substituindo a sociedade tradicional.
O planejamento da cidade ideal foi feito nos mínimos detalhes, com a convicção de
que seus habitantes se adequariam ao espaço previamente estruturado e, mais, que também
romperiam com o passado e participariam da criação de um futuro almejado, pois os valores
civilizadores modernos “são valores de referência, que tendem mais a projetar o futuro do que
a preservar os lastros do passado e das tradições [...]”. (DELGADO, 2007, p. 26).
Concomitantemente ao argumento da construção da cidade de Belo Horizonte como
imprescindível para o rompimento com o velho, mais especificamente com a velha capital,
que passa a ser um símbolo urbanisticamente ultrapassado, é apresentada outra perspectiva do
mesmo processo advindo com a República. O fato de ser necessário o surgimento de uma
nova capital para o estado de Minas Gerais estava aliado ao interesse de que a antiga capital
fosse reconhecida como guardiã da memória de insurreições contra a dominação colonial, o
lugar onde surgiu a revolta e que, em seus becos e vielas, assistiu ao movimento pelo desejo
de liberdade e da construção de uma nação. (SILVA, 1991, p. 60).
26
Trata-se de um velho aforismo da Alemanha pré-moderna, dita pelos seus camponeses. Como disse Fortuna
(1997), “Quebrar tais vínculos e alcançar a cidade, entendida como espaço libertador e promessa de salvação,
era uma aspiração radical. Nela estariam contidas uma ambicionada autonomia individual e a livre afirmação
pessoal. Por ela se garantia e dava forma ao desejo de se tornar outro. Antecipava-se o tempo, mudava-se de
lugar, enfim, construía-se uma nova identidade”. (FORTUNA, 1997, p. 127).
43
A partir daquele momento então, a tradição da cidade de Ouro Preto deveria ser
consagrada e a antiga capital vista como o local onde convergiram todos os esforços para a
realização do sonho pela independência nacional. (MELLO, 1996, p. 33). era possível
realizar a construção de uma nova cidade, projetando o progresso de um futuro próximo, por
causa do passado da capital colonial que foi o ‘berço do movimento libertário da
Inconfidência’ e ‘pátria do desejo republicano’, aspectos importantes para realizar o desejo
fundador de uma nação. (MELLO, 1996, p. 34). Afinal, “o ato de fundar Belo Horizonte
permitiu erigir Ouro Preto como raiz original de Minas e ao mesmo tempo torná-la centro
sagrado da República brasileira”. (MELLO, 1996, p. 35).
Começando pela certeza de que a tradicional Ouro Preto deveria ser preservada como
ícone de uma tradição das Minas Gerais, percebemos que toda história do povo mineiro é
permeada pelo imaginário de que se trata de um povo guardião de tradições. A mudança da
capital mineira compôs um cenário em que estava presente a modernidade, mas também a
tradição. Esta no palco da cidade colonial de Ouro Preto, aquela no palco republicano da
cidade moderna de Belo Horizonte.
A percepção de que a capital mineira é guardiã de um certo provincianismo sinaliza
para o fato de que a propositada manutenção da tradição ouropretana invadiu a modernidade
belo-horizontina, inclusive no estilo de vida de seus habitantes, engendrando uma
simultaneidade de dois estilos de vida, o moderno e o provinciano.
2.4 O ‘CONTINUUM’ CIDADE-CAMPO, URBANO-RURAL: ‘RAÍZES’ DE DOIS
ESTILOS DE VIDA - MODERNO E PROVINCIANO
A discussão acerca da simultaneidade entre dois modos de vida, cosmopolita e
provinciano, perpassa a discussão travada nas Ciências Sociais sobre a cidade e o campo,
sobre o urbano e o rural, sobretudo no período entre guerras, cuja preocupação central era
caracterizar o que era o urbano. A tônica da discussão era basicamente a mesma: que o campo
representava a simplicidade e a cidade, a complexidade. O campo era considerado o local
onde as regras, os papéis e as relações eram imutáveis, ao passo que a cidade se distinguia
pela inovação, pela mudança e desorganização.
Trata-se de um movimento em que ocorrem mudanças, mas também permanências,
em que realidades permanecem mudando ou mudam permanecendo. Parece-me que a questão
44
é interpretar a relação existente entre a aparência e a essência da realidade, pois a aparência se
mostra e a essência se oculta, o que justifica a investigação sobre o modo de ser e de se viver
da e na cidade de Belo Horizonte cosmopolita ou provinciana?
Nos estudos sobre o continuum cidade-campo e urbano-rural, e também do
cosmopolita-provinciano, é importante considerar as dimensões espaço-tempo, pois nelas é
possível perceber peculiaridades que as distinguem, necessárias para balizar a realidade
existente nos ambientes investigados nesta dissertação. São tempos distintos que se
contrapõem e que se complementam, numa cadência de temporalidades urbanas e rurais.
Hábitos comuns e hábitos diferenciados.
A cidade forma um estilo de vida definido que se reflete no modo como as pessoas se
vestem, como elas falam, como elas escolhem as suas moradias e suas ocupações, como lidam
com suas aspirações, se associam e estabelecem suas interações com outras pessoas. A
diferença das cidades para pequenas comunidades não reside apenas no tamanho, mas
também no tom, no timbre e no ritmo da vida cotidiana, o seu ethos, depende do ‘povo’ que
dá vida à cidade ou à comunidade.
Belo Horizonte é centenária, mas seu germe de modernidade, ou a modernidade
idealizada e planejada para a capital mineira, vem ao longo desses cento e onze anos de
existência, marcada por uma nuança que não foi pretendida, mas que parece lhe ser inerente –
ser uma capital provinciana. Como disse Silva (1991), “Belo Horizonte, apesar de ter um
planejamento moderno, é uma cidade considerada extremamente provinciana, pois é habitada
por este ‘povo’”. (SILVA, 1991, p. 61).
Para a caracterização do estilo de vida provinciano, trago para esta dissertação o
conceito de provincianismo desenvolvido por Merton (1970) quando estudou os dois tipos de
padrões de influência – local e cosmopolita –, na cidade de nome fictício ‘Rovere’. Ao
categorizar os tipos de pessoas influentes que estavam sendo investigadas, Merton utilizou as
expressões ‘localista’ e cosmopolita’, para os designar, ressaltando que essas palavras foram
apropriadas de Zimmerman, que, por sua vez, as traduziu da famosa distinção de Tonnies
entre Gemeinschaft (localista) e Gesellschaft (cosmopolita)
27
.
Merton (1970) considera provinciano aquele que é localista, ou seja, aquele que
“limita geralmente seus interesses à sua pequena comunidade”. No caso específico de
‘Rovere’, ele diz que, para o localista, “Rovere é essencialmente o seu mundo. Devotando
27
Merton (1970) alerta que a utilização de pares relacionais semelhantes são comuns na Sociologia e que
existem vários autores que utilizaram terminologias diferentes quando trataram de organização social ou de
relações sociais como, por exemplo, Simmel, Durkheim, Weber, Cooley e outros. (MERTON, 1970, p. 485).
45
poucos pensamentos à grande Sociedade, ele se preocupa com problemas locais, com virtual
exclusão do palco nacional e internacional”. (MERTON, 1970, p. 468). Contrariamente ao
provinciano está o cosmopolita, pois, para Merton (1970),
Ele tem algum interesse em Rovere, e necessita, evidentemente, manter um mínimo
de relações dentro da comunidade, uma vez que também exerce influencia ali. Mas
está também orientado significativamente para o mundo fora de Rovere. Reside em
Rovere, mas vive na Grande Sociedade. Se o tipo local é paroquial, o cosmopolita é
ecumênico. (MERTON, 1970, p. 486).
Essa conceituação trazida por Merton (1970) de ser provinciano ou ser cosmopolita
está diretamente relacionado à forma com que os moradores se interacionam com o ambiente
em que vivem.
As cidades pequenas para Simmel (1967), assim como as sociedades rurais, eram
produtoras de um estilo de vida diverso do estilo de vida que se vive nas grandes cidades e
nas sociedades urbanas. Nesse modo de se viver que é peculiar das pequenas cidades e
comunidades, que aqui está sendo traduzido por um modo de vida provinciano, a atitude
mental de seus integrantes é essencialmente comunitária, no sentido estrito da palavra: as
relações são eminentemente solidárias, arraigadas, o apelo emocional é forte, sobretudo no
apego que demonstram às tradições, bem como às normas de conduta vigentes no grupo.
No estilo de vida ‘imposto’ pela modernidade, aqui entendido como estilo de vida
moderno, outra percepção que se tem é sobre o tempo. O tempo urbano é sentido como
efêmero, nele as transformações são visualizadas e percebidas a todo instante: nas casas e
prédios construídos e destruídos, nas ruas e avenidas revitalizadas, no fluxo de pessoas e
automóveis cada dia mais intenso, nas vitrines das lojas, no exacerbado apelo das
propagandas espalhadas nos outdoors; enfim, no frenético cotidiano das grandes cidades.
no estilo de vida provinciano, o tempo é experimentado como se transcorresse de
maneira mais lenta, as transformações são vistas e sentidas em menor escala, as mudanças
ocorrem de uma maneira menos fugaz, mas, em contrapartida, são percebidas de maneira
mais efetiva por aqueles que estão nele inseridos.
Além da diferença percebida de como ocorrem as transformações, importante ressaltar
que a forma como as pessoas se apropriam do tempo também é diversa nos espaços onde se
vive em estilo moderno ou em estilo provinciano. Como o cotidiano moderno é construído
sobre um tempo mecânico, a apropriação feita pelas pessoas, o tempo não é compassado por
mudanças naturais, mas pelo ritmo veloz dos processos de produção, circulação, troca e
46
consumo de mercadorias. Como o tempo moderno traduz-se em constante movimento, os
referenciais, hábitos e costumes de quem nele vive, normalmente compostos por um cenário
urbano, são construídos numa lógica em que a rapidez dos acontecimentos dita o ritmo de seu
modo de vida. Todas as atividades da vida são ditadas pelo relógio. Ele controla a hora de
dormir, acordar, trabalhar, descansar e até de se divertir.
Nas cidades pequenas o tempo também é movimento, sobretudo nesta era regida pela
lógica do capital, mas é um movimento menos perceptível aparentemente, pois as relações
entre as pessoas são mais íntimas, as interações se dão face-a-face; enfim, as pessoas, apesar
de inseridas na lógica do capital, são imbuídas de um sentimento compartilhado de
comunidade, ou seja, de que possuem uma unidade que é comum entre eles e que deve ser
preservada.
Nesse sentido, pode-se perceber que são estilos de vida dessemelhantes, mesmo que
simultâneos. Mesmo que essa dessemelhança sugira um antagonismo da vida cotidiana, é
possível perceber que na cidade Belo Horizonte, a despeito de conter um cotidiano urbano
tenso e intenso, seus habitantes prezam pela preservação de um cotidiano mais frouxo e
ameno, por assim dizer.
Nas entrevistas foram identificados alguns hábitos que foram considerados como
modernos e provincianos. Um hábito apontado nas entrevistas como moderno dentro do
cotidiano dos bairros é o de fazer caminhada para emagrecer, sob o argumento de que é
benéfico à saúde. Segundo uma das entrevistadas, é comum dentro dos limites dos bairros ou
mesmo a caminho da pista de caminhada da avenida dos Andradas: “hoje se vê muita gente de
tênis fazendo caminhada. [...] Eu mesmo faço dentro do bairro, na Oficinas (rua). Isso é um
hábito novo”. (ANDREIA, 42 anos, fotógrafa)
28
.
No capítulo seguinte será feita uma análise sobre a presença do par relacional
moderno-provinciano nos bairros investigados. No escopo desta pesquisa, viver a vida em
estilo provinciano, além de ‘se limitar aos interesses de sua pequena comunidade’, é ser
também guardião de um modo de viver, preservando hábitos e costumes tradicionais,
presentes numa representação coletiva, com vistas a dar à tradição cultuada um papel
importante na vida de toda sociedade.
28
Entrevista concedida em 02/05/2008.
47
2.5 NARRATIVAS SOBRE O PROVINCIANISMO DE BELO HORIZONTE
Além da verificação dos traços de modernidade presentes na cidade de Belo
Horizonte, como contraponto foi considerada a representação que existe da cidade
‘provinciana’. Muitas são as falas e as representações feitas sobre a vida cotidiana de Belo
Horizonte, ressaltando o seu jeito de ser provinciana, baseadas em diversos momentos do dia-
a-dia, do pulsar de sua vida citadina.
A trajetória da cidade de Belo Horizonte, que nasceu sob o signo da modernidade e
onde “os ideais de progresso e os pressupostos iluministas ligados à ciência construíram-se,
em diferentes conjunturas, como ícones de adesão desta cidade/capital dos valores
civilizadores modernos”. (DELGADO, 2007, p. 26), traz consigo valores, pessoas e atitudes
de nuanças nitidamente provincianas.
Por isso, pode-se perceber que a modernidade de Belo Horizonte sofre um certo grau
de relativização quando o imaginário social ‘teima’ em cultivar nela, ou para ela, o atributo de
provinciana, advindo naquele longínquo 12 de dezembro de 1897. Delgado (2007) observa
essa marca no nascimento da cidade de Belo Horizonte quando diz que “em sua historicidade,
superou também a cultura unitária e bem ordenada, que contribuiu para caracterizá-la, durante
os primeiros anos de sua trajetória, como uma cidade provinciana”. (DELGADO, 2007, p.
24), e que persiste ainda como uma forte percepção, que transcende e lhe imprime uma marca.
Em uma observação primeira, pude perceber que há, por assim dizer, no imaginário
social desta cidade uma crença de que a tradição e o provincianismo estão fortemente
presentes nesta cidade moderna, mais especificamente na característica de ‘seu povo’,
guardião de tradições. Baseadas nessa crença são elaboradas as representações individuais e
coletivas vigentes. Mesmo que essa não seja uma característica exclusiva de Belo Horizonte,
ou mesmo que em outras cidades grandes, em outras capitais, metropolitanas ou não, haja
também essa percepção, em Belo Horizonte parece haver um culto ao sentimento de ‘ser
provinciano’, o que, em última análise, direcionou a presente pesquisa.
A dicotomia existente entre a modernidade e a tradição, entre o cosmopolitismo e o
provincianismo na cidade de Belo Horizonte, foi denominada por Andrade (2004) como um
cenário de ‘representações ambivalentes’. Ao analisar a obra literária de três expoentes da
literatura mineira: Carlos Drummond de Andrade, Cyro dos Anjos e Pedro Nava, na
conclusão de sua pesquisa, traduzida pela obra A Belo Horizonte dos modernistas:
representações ambivalentes da cidade moderna –, Andrade (2004) mostra-nos que,
48
Ao compararmos as representações da cidade moderna, [...], destaca-se a ausência,
entre os mineiros, de representações da cidade moderna como lugar das
transformações aceleradas, dos contrastes, da heterogeneidade e das instituições
culturais e artísticas. Ao contrário, Belo Horizonte foi representada como
provinciana. (ANDRADE, 2004, p. 175).
Entre as representações específicas, a mais consensual e determinante dos três é a de
Belo Horizonte como uma cidade provinciana, por seu tamanho, sua vida social
restrita e seu conservadorismo. [...] Em Cyro, o provincianismo é a principal causa
de representação de Belo Horizonte como uma cidade excludente . [...] Cyro é o
único que representa Belo Horizonte como moderna, embora também provinciana.
[...] Para Nava, o provincianismo e o tradicionalismo de Belo Horizonte só se
mantinham pela hipocrisia de seus mais obstinados defensores. [...] O que torna
ambivalente a crítica de Drummond ao provincianismo é o seu apego às históricas e
‘humanas’ cidades do interior mineiro. [...] Se racional e intelectualmente
Drummond é antiprovinciano, afetivamente é provinciano. [...] este sempre reiterava
que Belo Horizonte era provinciana e periférica. (ANDRADE, 2004, p. 177-179).
Faria e Siqueira (1997), na obra comemorativa do centenário de Belo Horizonte – Belo
Horizonte, o fértil solo humano –, em alguns trechos que dizem sobre o início da cidade, dão
conta desse imaginário social. Dizem eles: Mas, apesar de a modernidade ser valor
reconhecido, nos aspectos mais profundos da sociedade, Belo Horizonte continuava
provinciana. De um provincianismo que os mais argutos podiam notar e criticar”. (FARIA;
SIQUEIRA, 1997, p. 44). Nessa mesma obra, numa citação de Paulo Moreno, encontramos:
“Andavam dizendo por que Belo Horizonte não era uma cidade. Era uma aldeia grande,
sem vida, sem vibração, sem as cenas espetaculares próprias de um grande gregário humano”.
(FARIA; SIQUEIRA ,1997, p. 55).
Em dezembro de 2003, a Prefeitura de Belo Horizonte lançou uma coletânea de
depoimentos feitos em resposta ao movimento “Quem gosta de BH tem seu jeito de mostrar”,
e lançou como resultado do projeto um livro de bolso com o nome “Guardar BH: um presente
para o futuro”. Os depoimentos da referida pesquisa foram coletados entre os meses de agosto
e novembro de 2003, epigrafado pelo então prefeito da capital, Fernando Damata Pimentel,
que o apresentou como um lugar onde “os cidadãos que gostam da cidade foram convidados a
dizer o que de Belo Horizonte querem guardar, listando seus motivos para gostar da capital
[...]” (PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2003, p. 9).
Dentre os 558 depoimentos ali colacionados, 41 deles
29
podem ser traduzidos como
portadores da percepção do provincianismo da capital mineira. O depoimento do então
governador do estado, Aécio Neves, que fala da tradição e da modernidade e da sua percepção
de que Belo Horizonte assemelha-se a uma vila interiorana é um desses relatos. Diz ele que:
29
Transcritos no Apêndice C desta dissertação.
49
Tradição e modernidade, a simplicidade do interior e a frenética mistura de símbolos
das metrópoles: Belo Horizonte é um enigma que encanta a todos os visitantes.
Síntese e expressão do sentimento de Minas, a capital chegou ao vigor da
maioridade sem perder a ternura das vilas do interior. É uma característica única,
especial. Um patrimônio que precisa ser preservado. (NEVES apud PREFEITURA
MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE, 2003, p. 13).
Para não ficar apenas com representações do provincianismo de Belo Horizonte
trazidas de textos literários e acadêmicos, também busquei representações colocadas na
internet. Para tanto, de maneira aleatória, fazendo uma busca pelas expressões que me
pareciam centrais ‘provinciana’ e ‘Belo Horizonte’ –, encontrei vários comentários sobre o
provincianismo de Belo Horizonte. Ressalto que, em virtude da tradição do estado de Minas
Gerais como local de visitação turística, sobretudo em suas cidades históricas, a maior parte
das representações encontradas na internet está contida em sites pertinentes à área do turismo,
afeto ao segmento comercial.
Apesar de a busca identificar diversas ocorrências para as expressões pesquisadas
simultaneamente ‘provinciana’ e ‘Belo Horizonte’, privilegiei os sites de agências de
turismo. A escolha se deu pela própria característica dessas empresas, que têm de ‘vender o
produto que anunciam’, ressaltando que são lugares importantes e/ou agradáveis e que vale a
pena conhecê-los. Por esse motivo, torna-se ainda mais emblemático o fato de reproduzirem o
discurso do provincianismo de Belo Horizonte como sendo um atributo positivo. Em três dos
diversos sites da área do turismo que foram consultados encontramos pistas desse culto ao
provincianismo marcante e ‘proposital’ de Belo Horizonte. No site da Associação Brasileira
das Agências de Viagens encontramos a seguinte afirmação:
O belo-horizontino gosta de acreditar que mora numa cidade pequena e provinciana.
Belo Horizonte, porém, não é uma coisa nem outra. Intensa atividade econômica,
ótimos restaurantes, atrações espalhadas por toda a cidade e uma das melhores vidas
noturnas do país, com 10 mil bares e botecos, fazem a diferença. Dos tradicionais
aos moderninhos, os botequins estão sempre cheios. São uma das marcas de BH,
assim como a restaurada igrejinha da Pampulha, o Mercado Central e o estádio
Mineirão. (JEITINHO..., 2008. Disponível em viajeaqui.com.br).
Esse comentário traz a ideia central desta dissertação sobre a simultaneidade dos
modos de vida provinciano e moderno da cidade de Belo Horizonte, demonstrando que sua
característica provinciana está ligada à tradição e, como poderia se pensar, nada tem a ver
com o atributo de ser uma cidade atrasada. Ao contrário, trata-se de uma cidade de vida
intensa, onde se preza pela conservação de sua fama com relação às comidas, aos botecos, ao
50
Mercado Central; enfim, a locais que preservam costumes e sociabilidades interioranas.
uma clara e propositada intenção de, por tradição, continuar sendo uma cidade provinciana,
mas que não é atrasada.
São diversas as afirmações no mesmo sentido, de que Belo Horizonte, a capital do
Estado de Minas Gerais, é ao mesmo tempo provinciana e cosmopolita” (BELO..., 2007.
Disponível em www.aviagem.com.br), uma cidade sui generis, portadora de uma ‘dupla
personalidade’. Esta afirmação de uma agência de viagens vem acompanhada dos seguintes
argumentos, “Belo Horizonte, capital del Estado de Minas Gerais, es una ciudad sui generis
porque tiene una "doble personalidad": por un lado aparece como una ciudad provinciana
cualquiera, mientras por otro lado, impresiona como una urbe cosmopolita”
30
. (BRAZIL...,
2008. Disponível em www.enjoybrazil.net/brasil/minas-gerais-belo-horizonte-brasil.php.). A
peculiaridade da capital das Minas Gerais está justamente nesta mistura, em que se vivem
simultaneamente dois modos de vida. É uma característica singular e positiva, pois, se ela
fosse apenas provinciana, ou só moderna, seria como uma cidade qualquer.
Essa busca virtual traz uma das características atribuídas ao jeito de ser provinciano do
povo de uma cidade, onde todo mundo se encontra e se conhece. Mas, provinciano também
aparece como a demonstração de um modo peculiar de pensar, de uma mentalidade, por assim
dizer. Neste comentário favorável à abertura do comércio nos dias de domingo, numa consulta
popular feita pela prefeitura de Belo Horizonte, podemos perceber isto:
A abertura do comércio aos domingos, ao contrário do que vem sendo propalado por
aí, é uma realidade no mundo ocidental e Belo Horizonte, se decidir pela proibição,
mostrará uma indubitável vocação para "roça". Infelizmente Belo Horizonte tem
vocação pra ser mesmo uma roça grande. A mentalidade das pessoas que são contra
a abertura do comércio é absurdamente provinciana. (CONSULTA..., 2007).
31
Nesse comentário vemos a atribuição de provinciana carregada de um sentido
negativo, atrasado, contrário às mudanças oriundas da modernidade, em que ser contrário à
uma prática moderna é ter uma mentalidade estreita e tacanha.
E, por fim, apenas como exemplificação do imaginário popular sobre o
provincianismo de BH, já chegada aos seus cento e onze anos de existência, cito uma
percepção extraída também da internet no dia 12 de dezembro de 2007. Em comemoração aos
30
“Belo Horizonte, capital do Estado de Minas Gerais, é uma cidade sui generis porque tem uma ‘dupla
personalidade’: por um lado parece uma cidade provinciana qualquer, mas por outro lado, impressiona como
uma cidade cosmopolita”.
31
Opinião de um cidadão.
51
110 anos da capital mineira, no jornal virtual A voz de Lagoa Santa –, o jornalista Eduardo
Costa (2007) inicia o seu artigo – É aqui que eu quero ficar... – dizendo o seguinte:
Às vezes, a considero provinciana; muitas vezes, acho seus dirigentes atrasados,
pessoas que precisam viajar mais; vez por outra penso que está quente demais,
mudando de clima perigosamente... Por falar em perigo, ando cada vez mais
assustado com a impossibilidade de se andar nas ruas de regiões nobres como o
Centro e a Savassi em um sábado à noite. muito do que reclamar. Mas eu e
você podemos. nós, que moramos aqui, que a amamos de verdade, podemos
criticar Belo Horizonte [...]. (COSTA, 2007).
Essa afirmação traz pistas sobre o jeito de ser provinciano, aqui traduzido como algo
que é atrasado ou que, em última análise, está preso em algum lugar do passado, confirmando
o que disse até aqui, que ser provinciano é guardar a tradição. E como a tradição é algo que se
compartilha e que se transmite, só os que aqui vivem podem entendê-la e se sentem no direito
de criticá-la.
Os trechos transcritos acima, que perpassam vários momentos da existência da cidade
de Belo Horizonte, mesmo se considerando uma certa arbitrariedade de quem opina e até
mesmo daqueles que veiculam tais opiniões, sinalizam para a existência de uma crença social
sobre o seu provincianismo, pois certamente, mesmo passando pelo crivo de quem narra, um
pouco da memória coletiva está presente na narrativa. Uma crença que tem seu início no
século XIX (1897) e ainda persiste no século XXI (2007) deve ser objeto de investigação
acadêmica. Afinal de contas é importante saber, no caso de uma cidade moderna, para os seus
moradores, ‘o que é ser provinciana’?
2.6 A TRADIÇÃO COMO ELEMENTO DE MANUTENÇÃO DO
PROVINCIANISMO
Os conceitos tradição e modernidade estão presentes no cotidiano da vida urbana e são
caros aos estudos sobre as cidades brasileiras. Se a percepção do provincianismo de Belo
Horizonte perpassa um longo período – desde a sua fundação até os dias atuais –, mais de um
século, não é possível analisar tal fenômeno sociológico, presente na modernidade de Belo
Horizonte, sem se considerar a tradição. Em Williams (2007), um dos significados do termo
tradição traduz-se como um processo geral de transmissão, carregado do sentido de respeito e
52
obediência. Como se trata de um processo ativo, bastam apenas duas gerações para que algo
se torne tradicional, apesar de parecer tratar-se sempre de algo antigo e envolvido em
cerimônia. (WILLIAMS, 2007, p. 400).
Para mim a tradição é uma categoria do entendimento, pois por meio dela é-nos
possível entender a vida sociocultural das sociedades, perpassada por gerações. Assim como
em toda categoria, a ela estão ligadas diversas noções e a ela são atribuídos vários
significados. Assim como a modernidade, a tradição também possui uma dimensão universal
e, por isso, diferentes culturas e grupos utilizam-na para a compreensão do pensamento e do
comportamento humanos. Por meio da tradição, e a partir dela, podemos pensar a relação das
pessoas no tempo e no espaço, bem como a convivência entre elas.
A compreensão do que seja tradição, em toda a sua forma multifacetada, está
intrinsecamente relacionada à perspectiva durkheimiana da importância dos valores
compartilhados por um grupo de pessoas. O compartilhamento de valores entre um grupo é
responsável por sua coesão, imprescindível para se travar uma discussão com e na
modernidade. A percepção da simultaneidade dos modos de vida moderno e provinciano tem
influência direta na manutenção da tradição e da representação coletiva de um grupo de
pessoas. Sendo assim, que se considerar a coesão social presente no grupo investigado,
como pretende a sociologia durkheimiana.
O pensamento sociológico de Durkheim tem como interesse entender quais são os
fatores que possibilitam a coesão social, bem como a permanência das relações sociais ao
longo do tempo e de gerações, sob a perspectiva de que é possível a existência de uma
sociedade partindo do suposto de que um determinado grau de consenso entre os
indivíduos que a integram. Para tanto, em – Da divisão do trabalho social –, Durkheim afirma
que o consenso entre os indivíduos se dá em função do tipo de solidariedade que nela existe,
quer seja a solidariedade mecânica, quer seja a solidariedade orgânica.
Para esse autor, nas sociedades onde prevalece a solidariedade mecânica, os
indivíduos compartilham das mesmas noções e valores sociais, quer seja em relação às
crenças religiosas, quer seja em relação aos interesses materiais necessários à subsistência da
sociedade, sendo justamente esses valores que asseguram a coesão social. Por outro lado, nas
sociedades onde prevalece a solidariedade orgânica, nas quais os valores e crenças não são
compartilhados por seus integrantes e, por isso, a coesão social não está associada às crenças e
valores, ou ainda aos costumes compartilhados, na concepção durkheimiana, a coesão social
está diretamente ligada à dependência gerada pela divisão do trabalho e aos códigos e regras
de conduta que traduzem os direitos e deveres dos indivíduos, sintetizados nas normas
53
jurídicas, no direito. As solidariedades mecânica e orgânica são, por assim dizer, os
tentáculos, os alicerces que oferecem firmeza à coesão social de uma sociedade. Nesse
sentido, pode-se afirmar que, na concepção durkheimiana, a coesão social é, pois,
imprescindível para que a sociedade não se desintegre e, mais, que explique a forma de se
viver de uma sociedade ou comunidade.
Nesse sentido, a tradição foi um fator importante para se entender o sentimento do ‘ser
provinciano’ dos moradores dos bairros Pompeia e Esplanada e, em última instância, de ser
belo-horizontino. A convivência cotidiana dos habitantes dos bairros, nos moldes da
solidariedade mecânica durkheimiana, ao longo de suas aproximadas oito décadas de
existência, engendrou a referida coesão e a permanência de um modo de vida que perpassa
gerações, mesmo que simultâneo a um estilo de se viver considerado moderno.
Numa perspectiva temporal, podemos trazer uma das noções afetas à tradição,
diretamente ligada à ideia de transmissão: a memória coletiva, preconizada por Halbwachs
(1990)
32
. Aprofundando a noção de representação coletiva de Durkheim, Halbwachs trouxe
grande contribuição para a compreensão do significado da memória coletiva. Em seus estudos
sobre o assunto, instigava-o o fato de os indivíduos serem capazes de reproduzir práticas
sociais idênticas durante diferentes gerações, mesmo que o ciclo de suas vidas nascimento,
vida e morte se desse em um único ciclo biológico. Para ele, quaisquer que sejam as
lembranças do passado que possamos ter, por mais que pareçam ser resultado de sentimentos,
pensamentos e experiências exclusivamente pessoais, elas só podem existir a partir de quadros
sociais de memória. Nesse sentido, as memórias mais íntimas e pessoais de um indivíduo não
podem ser pensadas em termos individuais apenas, pois elas certamente estão ligadas à vida
material e moral da sociedade em que esse indivíduo está inserido. Assim como foi dito por
Bosi (1994), “A memória do indivíduo depende do seu relacionamento com a família, com a
classe social, com a escola, com a igreja, com a profissão; enfim, com os grupos de convívio e
os grupos de referência peculiares a esse indivíduo”. (BOSI, 1994, p. 54)
Somente com a possibilidade da existência de uma memória coletiva é possível
imaginar a percepção que os indivíduos têm do passado, do modo como apreendem o presente
e a perspectiva que têm do futuro. Essa interrelação existente entre os três tempos distintos
passado, presente e futuro –, aliados às narrativas que os perscrutam e informam, demonstra
32
O sociólogo Halbwachs (1877-1945) procurou, com o seu denso trabalho de argumentação e análise,
publicado em 1925 Os quadros sociais da memória –, transportar a discussão da memória coletiva dos campos
disciplinares da biologia e da psicanálise, com o intuito de caracterizá-la definitivamente enquanto um fenômeno
social.
54
que a noção de memória coletiva, nos moldes halbwachsianos, é uma noção que integra a
categoria tradição.
Bosi (1994) traz de forma bem simples, mas conclusiva, a seguinte afirmativa: “A
menor alteração do ambiente atinge a qualidade íntima da memória. Por essa via, Halbwachs
amarra a memória da pessoa à memória do grupo; e esta última à esfera maior da tradição,
que é memória coletiva de cada sociedade”. (BOSI, 1994, p. 55).
As observações feitas nos bairros ressaltam que as práticas sociais cotidianas refletem
atitudes calcadas em uma memória coletiva dos habitantes, perpassada por gerações e, em
função da força que lhe é inerente, tende a conservar neles um ambiente provinciano.
A tradição, por mais paradoxal que possa parecer, apesar de possuir forte capacidade
de conservação, necessita da ruptura da vanguarda, da modernidade para ser passado no
presente. A modernidade, nesse sentido, é sempre fonte de vida para a tradição. É uma relação
dialética, pois a vanguarda, por sua vez, necessita da tradição para atuar como uma ‘defesa’
contra uma verdade que pressente intolerável: lidar com o futuro que não lhe pertence. A
tradição pretende ser perene e eterna, pois, ao mesmo tempo em que mostra como foi o
passado, determina o presente e ousa determinar também o futuro, uma vez que tudo pode ser
previsto e antecipado. Ao mesmo tempo, a necessidade de ruptura torna-se imperiosa, pois
será ela que trará dinamicidade ao que parece inerte.
As tradições existentes em uma sociedade não devem ser entendidas como
consequência de um conformismo social, ou seja, com o simples fato de os seus integrantes
apenas darem continuidade ao que sempre fizeram. O mais importante é que as tradições
sejam ‘conscientes’, assim entendidas como
[...] criadas de propósito, transmitidas pela força, porque resultam da necessidade da
vida em comum. [...] Pode-se chamar conscientes as tradições que consistem no
saber que uma sociedade tem de si mesma e de seu passado mais ou menos
imediato. Pode-se agrupar todos esses fatos sob o nome de memória coletiva.
(MAUSS, 1979, p. 201).
Uma imediata percepção do senso comum quando se fala em tradição está no fato de
sugerir algo que é antigo, está ligado às pessoas velhas, aos anciãos. Talvez essa percepção
exista pelo fato de que, para a manutenção e respectiva transmissão da tradição, assim como
disse Giddens (1997), seja indispensável a existência e atuação de guardiões que utilizam de
55
uma força de união que relaciona o moral e o emocional. Como ficará evidenciado no
próximo capítulo, os frades capuchinhos da província de Minas Gerais, de maneira individual
ou institucional, há setenta anos, cumprem esse papel de guardiões e transmissores de
tradições nos bairros Pompeia e Esplanada
33
.
Bosi (1994) também demonstra isso, dizendo que o ancião tem uma função social
específica na tradição, pois, segundo ela,
[...] o ancião não sonha quando rememora: desempenha uma função para a qual está
maduro, a religiosa função de unir o começo ao fim, de tranqüilizar as águas revoltas
do presente alargando suas margens (...) Ele, nas tribos antigas, tem um lugar de
honra como guardião do tesouro espiritual da comunidade, a tradição. (BOSI, 1994,
p. 82).
Nas permanências percebidas em bairros ‘provincianos’, onde a tradição encontra esse
viés da transmissibilidade das experiências vividas em determinado lugar, não se pode
prescindir dos seus guardiões naturais, como por exemplo aqueles que organizam e que
participam das festas todos os anos, aqueles que percorrem ruas dos bairros todos os dias, ou
ainda aqueles que mantêm cordiais relações com seus vizinhos. É importante ressaltar a
afeição encontrada em cada relato, afinal, “Para aqueles que viveram muitos anos em um
lugar, a familiaridade engendra aceitação e até afeição”. (TUAN, 1980, p. 249). Essa afeição
pelas ‘pedras do lugar’, na perspectiva Halbwachisiana (1990), é, e continuará sendo objeto
de transmissão de uma geração a outra, contribuindo assim para o continuum do ethos
provinciano, mesmo que em simultaneidade com nuanças de um ethos característico da
modernidade.
Nos bairros investigados há um elevado número de pessoas idosas, sendo que a
maioria delas reside no bairro muito tempo. Portanto, se afeiçoaram pelas ‘pedras do
lugar’ e contribuem para que os seus descendentes e familiares também se afeiçoem.
33
É importante consignar que a PROCAMIG, atualmente, é responsável por santuários e paróquias em sete
cidades do interior de Minas Gerais, com várias comunidades rurais, o que fomenta a manutenção de tradições
próprias de cidades pequenas, principalmente pelo fato de ser regra a transferência de frades de uma cidade para
outra, normalmente de três em três anos, entre suas fraternidades, inclusive a da Pompeia, que é a sede da
Província. Além da paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, em Belo Horizonte, eles são responsáveis
pelas seguintes paróquias e santuários: Paróquia Nossa Senhora do Carmo, em Carmo do Paranaíba, desde 1936;
Paróquia Santa Terezinha, em Patos de Minas, desde 1937; Santuário e Paróquia de Santa Rita, em Governador
Valadares, desde 1967; Santuário Nossa Senhora de Fátima, desde 1968 e Paróquia São Félix de Nicosia, desde
2007, ambos em Poços de Caldas; Paróquia São Sebastião, em Uberlândia, desde 1978; Paróquia São João
Nepomuceno, em São João Nepomuceno; Paróquia São Sebastião, em Salto da Divisa. Santiago (1997), ao
mostrar a trajetória dos capuchinhos em Minas Gerais, diz que, além dessas cidades, os frades capuchinhos
atuaram, dentre outras, nas cidades de Ouro Fino, Uberaba, Botelhos, Lagoa Formosa, Três Corações, por
exemplo.
56
que estamos falando da tradição que nos remete à ‘coisa’ antiga, principalmente no
seu aspecto espacial o local, o espaço, enfim, o cenário em que se viveu –, inevitável a
citação de Simone Weil utilizada por Bosi para iniciar a exposição dessa noção de
enraizamento, estritamente vinculada à categoria da tradição. Ela diz que
O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e mais desconhecida da alma
humana e uma das mais difíceis de definir. O ser humano tem uma raiz por sua
participação real, ativa e natural na existência de uma coletividade que conserva
vivos certos tesouros do passado e certos pressentimentos do futuro. (BOSI, 1987, p.
16).
A ideia de que os indivíduos possuem raízes e delas dependem para viver o presente,
com a ‘bagagem’ do passado e a perspectiva do futuro, mostra-nos como a tradição, nesse
aspecto, relaciona-se com a categoria de espaço, pois a raiz remete-nos a essa noção de
inserção, de fixação em determinado local. Essa necessidade de enraizamento soa-nos como
um paradoxo, pois vivemos numa época – a modernidade, palco de constantes efemeridades –
permeada pela liquidez e pela fluidez, ambas apontadas por Bauman (2001), na qual o
densenraizamento parece ser mais óbvio, sobretudo nos cenários cosmopolitas.
Esse enraizamento, tomado como ponto de reflexão na vida de um bairro, pode ser a
priori explicado pela afeição dos seus moradores com o lugar onde vivem, pois
[...] uma pessoa, no transcurso do tempo, investe parte de sua vida emocional em seu
lar e além do lar, em seu bairro. Ser despejado, pela força, da própria casa e do
bairro é ser despido de um invólucro, que devido à sua familiaridade protege o ser
humano das perplexidades do mundo exterior. (TUAN, 1980, p. 114).
Essa relação entre ‘enraizamento’ e ‘afeição’ pôde ser percebida nas entrevistas, mas
não apenas nesse sentido: enraizar-se porque se afeiçoou, pois o inverso também ocorre,
mesmo que de maneira inconsciente. Vários foram os relatos de pessoas que quiseram se
mudar dos bairros por acharem que não eram bons para se viver: mudaram-se e, em um curto
espaço de tempo, voltaram. Nesses casos a afeição sucedeu o enraizamento.
É importante ressaltar que os conceitos tradição e provincianismo estão intimamente
relacionados, motivo pelo qual foi imprescindível a compreensão da categoria tradição nesta
investigação, uma vez que o atributo de permanência num cenário moderno e de modernidade
exprime uma percepção coletiva e pode ser a revelação da força de uma tradição.
57
Por meio da explicitação da narrativa um instrumento da tradição por excelência –,
pelas falas extraídas das entrevistas, pude angariar subsídios para se chegar aos atores da
pesquisa: os moradores dos bairros Pompeia e Esplanada. Nessas narrativas foram
identificadas as formas de sociabilidade vigentes nos bairros, bem como perceber o
sentimento dos moradores sobre o viver numa cidade moderna e provinciana.
Como dito anteriormente, as pesquisas sobre Belo Horizonte, como tantas outras, dão
maior ênfase à categoria ‘modernidade’, olvidando a importância da categoria tradição, que,
na maioria das vezes, fica relegada para discussões futuras ou, ainda, apenas esquecida. A
construção de Belo Horizonte ditara essa regra, pois, para ser uma cidade moderna, a
tradição teria mesmo de ser ultrapassada, vencida. Sendo assim, pode-se afirmar que Belo
Horizonte possui uma ‘marca de nascença’, que em sua história um estigma, a marca de
uma face, de uma fachada moderna em que, paradoxalmente, a tradição teima em permanecer.
O interior se faz presente na capital de uma maneira muito forte e amiúde. Exemplo
emblemático disso é a existência e preservação do Mercado Central, um fenômeno urbano
moderno, cujo projeto baseia-se na centralização do comércio, situado no ‘coração’ da cidade
de Belo Horizonte, apresenta-se como um mosaico de fragmentos do interior do estado de
Minas Gerais, considerado em uma pesquisa realizada pela BELOTUR o principal símbolo da
cidade
34
.
Em 2006, a empresa ‘BH Convention & Visitors Bureal’ lançou uma campanha em
parceria com o Ministério do Turismo e com a Prefeitura de Belo Horizonte, através da
BELOTUR, com o objetivo de colocar a cidade de Belo Horizonte numa posição de
excelência no turismo, a campanha “Amo BH radicalmente”. Curioso, mais do que curioso,
revelador, o fato de a fomentadora da referida campanha descrever como objetivo seu
“aumentar a auto-estima e o amor do belo-horizontino por sua cidade, como base para que ela
se torne, realmente, um referencial para eventos, capazes de gerar mais rendas e empregos
para a comunidade”
35
, além de afirmar que um desconhecimento do povo de Belo
Horizonte com relação à sua cidade e que “há também uma falsa humildade do belo-
horizontino a respeito de sua cidade”. Além dessas campanhas existem outras como ‘BH
360º’, ‘BH é o lugar pra gente se encontrar’, todas insinuando que os belo-horizontinos
34
Criado em 07/09/1929 pelo então prefeito Cristiano Machado, próximo à Praça Raul Soares, com o nome de
Mercado Municipal de Belo Horizonte. A partir de 1964, quando o então prefeito Jorge Carone resolveu vender
o terreno, os comerciantes o compraram e passaram a administrá-lo. Desde então passou a ser conhecido como
Mercado Central. No seu site é possível ler a seguinte afirmação: “É hoje um dos referenciais mais importantes
de Belo Horizonte”.
35
Extraído do site www.bhcvb.com.br/campanha/, com o título ‘Nós amamos BH radicalmente. E você?’,
consultado no dia 09.10.2008, às 14:30 h.
58
necessitam de provocações para que sintam a modernidade existente na cidade e sejam
capazes de romper com a tradição e tudo que esteja ligado à ideia de provinciano.
A tradição, como muitos outros conceitos, deve sempre ser entendida como
relacional
36
, uma vez que é construída e existe em relação ao outro, tendo como conceito
relacionado a ela a modernidade. Primeiramente, devemos partir do suposto de que tradição e
modernidade não são conceitos que se contrapõem, nem tampouco considerar que a tradição
seja uma etapa histórica que, inexoravelmente, deságua na modernidade, como se essa fosse
uma conseqüência linear e progressiva da tradição. Acreditamos que a relação existente entre
a tradição e a modernidade propicia ora continuidade, ora descontinuidade. Em determinada
situação, a tradição pode ser prenúncio da modernidade ou essa pode ser a ruptura total ou
parcial daquela, ou, ainda, a tradição pode apresentar-se na modernidade com muita ênfase, de
variadas formas. Para Silva (1991), “não existe contradição entre ser moderno e buscar a
tradição, entre morar e louvar a cidade que se pretende moderna e ser um povo como o
mineiro”. (SILVA, 1991, p. 65).
O próximo capítulo colocará o leitor dentro de um lugar que se apresenta,
simultaneamente, como um ‘cosmo provinciano’ e uma ‘província cosmopolita’, não
necessariamente nesta ordem, mas que trouxe uma melhor compreensão da representação do
provincianismo da cidade de Belo Horizonte. Sejam bem-vindos aos bairros Pompeia e
Esplanada.
36
“A mente humana parece estar adaptada para organizar os fenômenos não em segmentos, como para
arranjá-los em pares opostos. [...] mormente a tendência da mente humana para selecionar pares entre segmentos
percebidos no continuum da natureza e atribuir significados opostos a cada par.” (TUAN, 1980, p. 18)
59
3 POMPEIA E ESPLANADA: UM ESTUDO DE CASO
Num dia destes visitamos a vila Parque Cidade Jardim. Seria poético se não fosse
doloroso. Na subida da serra da estrada para Nova Lima, toma-se à esquerda e eis-nos
em pleno coração de movimentada vila.
Ruas em várias direções, casas espalhadas. Nenhuma rua calçada e isso é o menos.
Trata-se de uma vila populosissíma. Basta dizer que a paróquia que foi ali
recentemente criada agrupa oito mil almas, espalhadas em onze pequenas vilas,
incluindo Marzagão e Abadia. (A ILUSÃO..., 26 jul. 1939, p. 3).
O método escolhido para a execução dessa dissertação foi o “Estudo de Caso”, que
tem por suposto adquirir o conhecimento de determinado fenômeno por meio da exploração
intensa de um único caso, como nos ensina Becker (1999). Diferentemente da sua utilização
original pelas Ciências Médicas e Psicológicas, que analisavam casos individuais, as Ciências
Sociais utilizam a referida metodologia para a análise de organizações ou comunidades. Neste
caso, especificamente, servirá para estudar os bairros Pompeia e Esplanada.
Como normalmente ocorre nas pesquisas que utilizam o “Estudo de Caso” como
metodologia, utilizei o método da observação participante, concomitantemente à utilização de
um método mais estruturado, por assim dizer, a entrevista realizada com questionários semi-
estruturados (com perguntas abertas, mas com roteiro pré-determinado). A observação, de
inspiração etnográfica, permitiu-me um maior controle com relação a dados que não foram
previstos no início da pesquisa, como, por exemplo, a inclusão de perguntas que antes não
constavam do roteiro de entrevistas e que foram surgindo no decorrer da observação dos
bairros e dos depoimentos colhidos.
O “Estudo de Caso” permitiu-me alargar a abrangência da minha compreensão sobre
os modos de vida presentes nos bairros investigados e a percepção que têm seus moradores
sobre o cotidiano nos e dos bairros.
As observações feitas durante a pesquisa, bem como os depoimentos dos entrevistados
foram analisados, apreendidos e subsumidos às teorias sociológicas que suportam essa
investigação.
Antes, porém, de fazer uma descrição física dos bairros pesquisados e além de mostrá-
los por meio de fotografias, farei a distinção entre ‘espaço’ e ‘lugar’, sobretudo com os
referenciais teóricos de Tuan (1980/1983) e Carlos (1996). Mais do que conhecer os limites e
visualizar as cores dos bairros Pompeia e Esplanada, é importante pontuar como se essa
transformação de um espaço em lugar, bem como refletir sobre o que significa essa
60
transformação do ponto de vista da percepção de quem habita esses espaços/lugares e o que
tem isso a ver com a identidade e o sentimento de pertença de seus moradores.
A experiência é a forma que a pessoa tem para conhecer e construir a realidade em que
está inserida. A distinta percepção que as pessoas têm acerca do espaço e do lugar compõe o
quadro de suas experiências diárias, mesmo que não seja uma percepção consciente. Para
Tuan (1983),
‘Espaço’ e ‘Lugar’ são termos familiares que indicam experiências comuns. [...] O
lugar é segurança e o espaço é liberdade: estamos ligados ao primeiro e desejamos o
outro. Não lugar como o lar. O que é lar? É a velha casa, o velho bairro, a velha
cidade ou a pátria. (TUAN, 1983, p. 3).
Nessa abordagem de Tuan (1983), o lugar é o espaço em que se vive o dia-a-dia, onde
é possível experimentar uma relativa segurança, não só sob o ponto de vista da inexistência da
violência, mas segurança de estar perto dos ‘seus’, da ‘sua gente’, de se sentir pertencente a
um determinado grupo, principalmente quando se pode dizer que “minha família inteira é
daqui. Mora a minha avó, vários tios meus, tios-avós, meu bisavô, muita gente, vários
primos”. (PEDRO, 21 anos, designer gráfico)
37
.
3.1 UMA UNIDADE SOCIOLÓGICA: O BAIRRO
A investigação que tem como preocupação a vida cotidiana de uma determinada
comunidade, ou de um determinado grupo, é uma forma interessante e producente de se
interpretar o mundo moderno, apesar de ser diferente da ótica em que são privilegiadas as
questões estruturais ou institucionais, comum às investigações das sociedades. Mesmo que
haja restrições ou senões nos estudos de determinada estrutura social, feitos em pequenas
escalas, existem inolvidáveis vantagens, pois, como diz Elias (2000),
[...] o uso de uma pequena unidade social como foco de investigação de problemas
igualmente encontráveis numa grande variedade de unidades sociais, maiores e mais
diferenciadas, possibilita a exploração desses problemas como uma minúcia
considerável – microscopicamente, por assim dizer. (ELIAS, 2000, p. 20).
37
Entrevista concedida em 06/05/2008.
61
O bairro é uma importante unidade de observação para as Ciências Sociais. Como dito
anteriormente, muitos são os estudos socioantropológicos sobre bairros, encontrados na
literatura nacional ou internacional. Na definição do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística –, bairros “são subdivisões intra-urbanas legalmente estabelecidas através de leis
ordinárias das Câmaras Municipais e sancionadas pelo Prefeito”
38
e, na perspectiva de um
espaço transformado em lugar pela experiência vivida, torna-se uma unidade de análise
microantroposociológica que contribui nos estudos sobre cidades.
Apesar de a investigação tratar da simultaneidade de dois modos de vida presentes na
cidade de Belo Horizonte, por meio de um estudo de caso de dois de seus bairros, na
perspectiva de Magnani (2002), não foi feita uma análise socioantopológica da cidade de Belo
Horizonte, mas na cidade de Belo Horizonte.
Esse exercício de investigar a unidade bairro é recomendado por Carlos (1996), por
entender que a metrópole ou as grandes cidades não são ‘lugares’ que possam ser vividos
integralmente, mas apenas de forma parcial, o que faz com que o bairro seja uma unidade de
investigação mais apropriada, principalmente se observado “como espaço imediato da vida
das relações cotidianas mais finas [...]”. (CARLOS, 1996, p. 21), pois é nesse espaço que
estão as relações de vizinhanças, a prática diária das compras nas quitandas, a caminhada
pelas ruas dos bairros, o encontro face-a-face entre conhecidos, as conversas de portão, os
cumprimentos nas esquinas, as manifestações públicas da religiosidade, as brincadeiras de
rua; enfim, onde os “pequenos atos corriqueiros, e aparentemente sem sentido que criam laços
profundos de identidade, habitante-habitante, habitante-lugar”. (CARLOS, 1996, p. 21),
podem ser experienciados e percebidos.
É recomendável, ao se tomar como unidade sociológica o bairro
39
, referi-lo como
integrante de uma totalidade a cidade –, pois por si ele não existe, ele não pode ser
considerado como uma unidade sociológica autônoma. Ao longo do tempo, o bairro foi
ganhando objetividade e tornando-se cada dia mais observável, objeto de várias investigações
acadêmicas. Lefebvre (1975) elege três tipologias para um estudo metódico sobre os bairros.
No primeiro caso, em virtude do peso de sua história, ele se traduz numa ‘pura e simples
sobrevivência’, mantendo-se apenas por inércia. Num segundo momento dessa tipologia, eles
podem ser entendidos como uma ‘unidade sociológica relativa’ que, por si só, não define a
realidade social, mas, apesar de ser subordinada, é uma unidade necessária, pois “sem bairros,
38
Dicionário do Censo Demográfico 2000, item 2.5.4.
39
Na maioria dos dicionários a definição de BAIRRO é ‘divisão territorial de uma cidade’, com referências ao
latim barrium ou ao árabe barri, que significa ‘de fora, exterior, separado’.
62
assim como sem ruas, pode haver aglomeração, tecido urbano, megalópoles. Mas não
cidade”.
40
(LEFEBVRE, 1975, p. 201). (Tradução da autora). E, como um terceiro tipo, os
bairros podem ser considerados lugares em virtude das “relações interpessoais mais ou menos
duradouras e profundas. É o maior dos pequenos grupos sociais e o menor dos grandes”.
41
(LEFEBVRE, 1975, p. 201). (Tradução da autora). Além disso, o autor também chama a
atenção para o fato de que o bairro necessita da noção de centro para existir, de uma
centralidade da unidade sociológica cidade. Para Lefebvre (1975) é importante levar em
consideração a história do bairro, bem como o momento em que ele está sendo investigado
para a sua contextualização dentro da cidade da qual ele faz parte.
De toda sorte, mesmo que o bairro possua uma infraestrutura considerável, o seu
“equipamento depende de grupos funcionais mais amplos, ativos à escala da cidade, da
região, do país”. Contudo, é ao nível do bairro que “o espaço e o tempo dos habitantes tomam
forma e sentido no espaço urbano”.
42
(LEFEBVRE, 1975, p. 202). (Tradução da autora).
Ainda na perspectiva da centralidade da cidade em relação aos seus bairros, ressalta-se
o tratamento dado à unidade bairro por Gonçalves (1988), como sendo um lugar que acontece
ao nível da prática social, quando ele discorre sobre bairros urbanos de Portugal. Para ele é
importante investigar as práticas sociais levando em consideração a distinção existente entre o
centro de uma cidade e os seus bairros, pois
Enquanto que o centro é tanto mais valorizado quanto mais aberto se apresentar a
todos os tipos de populações, de utilizações e de apropriações simbólicas, os bairros,
ao contrário, são mais valorizados quanto à intensidade de significação e quanto à
qualidade de utilização e de apropriação simbólica [...].(GONÇALVES, 1988, p.
16).
Apesar de os bairros investigados distarem apenas aproximadamente cinco
quilômetros do centro de Belo Horizonte, pude perceber nas entrevistas que essa noção
centro/bairro ou centro/periferia sinaliza para uma confirmação da abordagem feita por
Gonçalves (1988) sobre a diferença da ‘prática social’ do centro e do bairro. Constatei que
expressões são reproduzidas como se, ao se deslocar dos bairros para o centro da cidade de
Belo Horizonte, não se fosse cumprir um trajeto dentro de uma mesma cidade, de sua periferia
40
“Sin Barrios, igual que sin calles, puede haber aglomeración, tejido urbano, megalópolis. Pero no hay ciudad”.
(LEFEBVRE, 1975, p. 201).
41
“relaciones interpersonales más o menos duraderas y profundas. Es el más grande de los pequeños grupos
sociales y el más pequeño de los grandes”. (LEFEBVRE, 1975, p. 201)
42
“El equipo depende de grupos funcionales más amplios, activos a escala de la ciudad, de la región, del país”.
(LEFEBVRE, 1975, p. 202).
63
para o seu centro. Como disse um morador, “muita gente daqui, principalmente o pessoal
mais antigo, quando eles falam que vão ao centro, eles falam que vão na cidade. ‘Eu vou na
cidade’. Eu acho engraçado, você na cidade. [...] E é pertinho, um bairro muito perto do
centro” (Pedro, 21 anos, designer gráfico)
43
. A intensidade de significação e a apropriação
simbólica dada pelos moradores e moradoras dos bairros, cultivadas ao longo de décadas,
deixam resquícios de um estranhamento com um outro lugar onde a prática social é diversa,
onde as utilizações e as apropriações simbólicas podem ser múltiplas. Essa percepção sinaliza
para o fato de que a distância, mais do que física, é afetiva. Por isso a impressão de que o
deslocamento é feito de um lugar fora da cidade para a cidade propriamente dita. Esse hábito
de expressão dos moradores e moradoras dos bairros Pompeia e Esplanada, também pode ser
interpretado como uma forma de se afirmar como integrante de um lugar completamente
distinto da cidade, fora da cidade, pelo menos, fora do anel da avenida do Contorno. Ao fim e
ao cabo, é como se o centro da cidade fosse um lugar separado, distante, um outro lugar,
passível de ser descoberto, visitado, conquistado. Como diz Seabra (2003):
A expressão ‘ir à cidade’, tão entranhada na linguagem correspondeu
veementemente às circunstâncias e situações práticas. Afinal o comércio estava
concentrado, os médicos, os advogados, os teatros, os cinemas, os restaurantes, a luz
elétrica iluminando as ruas e vitrines das lojas centrais, compunham também a
mística da cidade como o outro, como um lugar a ser conquistado. (SEABRA, 2003,
p. 171)
Tuan (1980) desenvolveu, na área da Geografia, a noção de topofilia, utilizada para
dizer que os laços afetivos dos seres humanos estão relacionados com o meio ambiente
material, ou seja, com o ambiente físico em que vivem. Por isso a afirmação de que o bairro,
para ele, “é o distrito no qual nos sentimos em casa”. (TUAN, 1980, p. 249). Sentir-se em
casa é estar perto de pessoas que possuem histórias de vida em comum, que compartilham
experiências de vida, enfim, que possuem laços afetivos. Assim, nessa investigação foi
importante perceber em que medida os laços entre as pessoas, e os laços entre as pessoas e o
lugar, podem ser considerados afetivos e em que medida o lugar é um ‘bairro intimamente
experienciado’. Para Tuan (1980),
Uma cidade grande é freqüentemente conhecida em dois níveis: um de grande
abstração e o outro de experiência específica. Em um extremo, a cidade é um
símbolo ou uma imagem (expressa em um cartão postal ou um lema) pela qual
43
Entrevista concedida em 05/08/2008.
64
podemos nos orientar; no outro, é o bairro intimamente experienciado. (TUAN,
1980, p. 259).
Experienciar intimamente um lugar requer pelo menos duas dimensões distintas, mas
complementares, pois significa vivenciar experiências e, concomitantemente, incorporar essas
experiências vivenciadas. Experienciar um lugar, no sentido fenomenológico do termo, supõe
considerar a história vivida naquele lugar, os sentimentos experimentados, a memória do
que se viveu, além de perceber como as experiências foram incorporadas. É justamente nos
espaços físicos dos bairros, transformados em lugares pela experiência vivida e incorporada
de seus habitantes, que as pessoas se situam dentro das cidades, vivendo o cotidiano e
atribuindo-lhes significados, mesmo que esses bairros sejam ainda percebidos por alguns de
seus moradores como lugares retirados da cidade, mesmo estando tão próximos do seu centro.
Como vimos, a categoria ‘espaço’ é mais abstrata do que ‘lugar’ e ambas não podem
ser definidas isoladamente, são noções que se complementam. Os bairros Pompeia e
Esplanada, que começaram como um espaço, indiferenciado, como é comum acontecer, se
transformaram em lugares à medida que as pessoas, e principalmente seus moradores e
moradoras, ao longo do tempo, os dotaram de valor e significado. A dimensão social da
história dos bairros Pompeia e Esplanada, como de Belo Horizonte, emerge no cotidiano das
pessoas, no modo de vida, nos relacionamentos e nos usos que se faz dos espaços públicos ou
privados dos bairros.
Outra contribuição analítica sobre a unidade bairro está em Cândido (2003), que
considera os grupos rurais de vizinhança e, por analogia, o bairro como estrutura fundamental
da sociabilidade. Para ele essa unidade de análise consiste no “agrupamento de algumas ou
muitas famílias, mais ou menos vinculadas pelo sentimento de localidade, pela convivência,
pelas práticas de auxílio mútuo e pelas atividades ludicorreligiosas”. (CÂNDIDO, 2003, p.
81). Quanto à intensidade das interações entre os moradores, Cândido (2003) classificou os
bairros como centrífugos e centrípetos, aqueles de unidade frouxa, com um nível mínimo de
interações, e este “de vida social e cultural mais rica, favorecendo a convergência dos
vizinhos em atividades comuns”. (CÂNDIDO, 2003, p. 81). As entrevistas e, sobretudo, as
observações feitas nas ruas e praças dos bairros Pompeia e Esplanada, com o intuito de
perceber a intensidade das interações de seus moradores, mostrou a existência de uma grande
convergência entre os vizinhos, possibilitando-me classificá-los como bairros centrípetos, na
perspectiva de Cândido (2003), sobretudo em função da ‘vida social’ e da convivência entre
os vizinhos.
65
Quanto aos elementos integrantes do conceito bairro, Cândido (2003) enumera dois: a
base territorial, essencial à sua configuração, e o sentimento de localidade existente naqueles
que o habitam. Como se o primeiro elemento fosse o esqueleto topográfico e o intercâmbio
entre as famílias e as pessoas fosse o seu enchimento. Em suma, bairro é uma “porção de terra
a que os moradores têm consciência de pertencer, formando uma certa unidade diferente das
outras”. (CÂNDIDO, 2003, p. 84), cuja convivência depende da proximidade física e da
necessidade de cooperação. um forte sentimento de localidade entre os moradores, pois
pude perceber que eles sentem pertencer a um espaço que é ao mesmo tempo definido
geograficamente, mas também distinto da cidade em que está inserido. Eles percebem os
bairros em que moram como um espaço extraído do interior e inserido na capital, ou seja, uma
cidade pequena de características interioranas, colocada num espaço geográfico maior,
denominado capital. Segundo um entrevistado, “tenho a sensação que é um microcosmo
assim, separado, à parte de BH”. (Pedro, 21 anos, designer gráfico)
44
. Muitas foram as formas
de expressar isto durante as entrevistas, mas vou citar uma moradora que se mudou para o
bairro Esplanada em 1993, apenas quinze anos, tendo residido em sua infância no bairro
Santa Efigênia, mais precisamente na avenida Contorno, próximo ao Hospital Militar e,
depois que se casou, na avenida Contorno, esquina com rua Carangola, no bairro Santo
Antônio. Relatou-me essa moradora que, quando foi morar no bairro, em 1993, fez o seguinte
comentário:
Que lugar... pra que roça que eu vim, não vou dar conta de morar aqui não, mas num
instantinho..., os vizinhos a preocupar do que a gente precisava, porque nós éramos
novos aqui. E começou aquela coisa com a vizinhança, e todo mundo ajuda todo
mundo, igual numa cidade do interior. Aí eu fui achando cada dia melhor e hoje
nem, nem amarrada que eu quero sair daqui. (Maria Eunice, 60 anos, do lar)
45
.
Quanto à base territorial propriamente dita, constatei que os entrevistados, de uma
maneira geral, sabem identificar a fronteira externa dos dois bairros em relação aos bairros
circunvizinhos, apesar de apresentarem dúvida em definir a fronteira entre os dois bairros. As
vezes que fizeram referência ao bairro onde moram, os entrevistados o referiram como
‘nosso’, não quando a resposta era um elogio ao lugar, mas também quando era a
constatação de um ponto negativo do bairro, como se percebe nesta fala: “O nosso bairro,
44
Entrevista concedida em 05/08/2008.
45
Entrevista concedida em 28/08/2008.
66
olha, ele não tem uma sapataria, ele não tem uma loja de roupa, ele não tem nada”. (Taylor,
37 anos, comerciante)
46
.
Essa unidade menor, que além de ser um espaço é também um lugar, está
geograficamente disposta e categorizada dentro da cidade e deve ser considerada para a
compreensão do seu contexto citadino. Passarei a localizar os dois bairros na configuração
geográfica da cidade para considerá-los, posteriormente, em suas particularidades, tanto sob o
ponto de vista de suas descrições físicas como de suas vidas cotidianas. Antes, porém,
abordarei a condição do bairro como um lugar intermediário, situado entre duas categorias
distintas, o público e o privado, portador de todas as nuanças que são peculiares a cada uma
delas.
3.2 O BAIRRO COMO LOCUS INTERMEDIÁRIO ENTRE O PÚBLICO E O
PRIVADO
Muito se estudou e ainda se estuda sobre os conceitos presentes na díade público-
privado, da relação e, muitas vezes, da tensão existente entre esses dois adjetivos, que ora
qualificam o substantivo espaço, ora o substantivo esfera. O primeiro de existência concreta,
uma vez que diz respeito a um espaço físico, e o segundo de existência abstrata, querendo
significar o locus de atuação, de participação do cidadão. Essas duas dimensões do público e
privado espaço e esfera
47
estão presentes no âmbito dos estudos das cidades, mas nesta
dissertação nos interessa a dimensão do espaço, uma vez que a investigação buscou a prática
cotidiana dos bairros Pompeia e Esplanada, com vistas a entender a sociabilidade presente no
seu espaço físico.
sob a perspectiva do espaço público-privado, na sua dimensão geográfica, Serpa
(2007) prioriza a questão da acessibilidade dos espaços públicos, diretamente ligada aos
territórios urbanos, no seu mais genuíno sentido antropológico. Para ele a acessibilidade deve
ser entendida como física, mas também simbólica, o que está diretamente relacionado com a
apropriação que as pessoas fazem do espaço público, pois, “Se for certo que o adjetivo
46
Entrevista concedida em 28/08/2008.
47
No que diz respeito à esfera pública-privada, aquela de participação do cidadão, Sennett (2001) diz que há uma
crescente valorização da vida privada em detrimento da vida pública. A vida pessoal é supervalorizada e a vida
pública esvaziada. Os assuntos públicos estão cada vez mais tratados como se privados fossem. A intimidade é
incentivada, enquanto a esfera pública se esvazia, tornando-se desprovida de sentido e significados.
67
‘público’ diz respeito a uma acessibilidade generalizada e irrestrita, um espaço acessível a
todos deve significar, por outro lado, algo mais do que o simples acesso físico a espaços
‘abertos’ de uso coletivo”. (SERPA, 2007, p.16).
As práticas sociais urbanas podem ser percebidas de diversas formas e podem
engendrar situações diversas dentro dessa categorização de um espaço, que pode ser: público
ou privado; público privatizado; privado publicizado; semipúblico; enfim, dependendo de sua
utilização, pode tomar diversas nuanças. Nesse sentido, o espaço pode ser territorializado e,
por meio de barreiras simbólicas ou da forma como é utilizado, o espaço público está
susceptível de privatização. Pode ocorrer ainda a justaposição de espaços privatizados por
diferentes grupos. Para Segovia e Oviedo (2002), uma crescente desvalorização do espaço
público e esse fato, aliado à sua frequente privatização, fomenta certa segregação urbana, de
sorte que ocorra uma tendência à ‘guetização’.
De uma maneira mais generalizada, podemos dizer que o espaço público, para ser
entendido como tal, deve ser de domínio público, ter um uso social coletivo e estar aberto a
uma diversidade de atividades. Em função disso, podemos dizer que o espaço público é um
lugar de relação e identificação; de manifestação política e de encontro social; de contato
entre as pessoas; de animação urbana; de expressão comunitária; de imaginação e
criatividade; lugar da festa e do jogo; do monumento e da religião. Como pudemos perceber,
o espaço público vai muito além de um espaço sico concreto, onde ocorre a circulação e a
escoamento dos fluxos de veículos ou de pessoas, também não se resume no espaço
materializado do consumo, da diversão e do lazer. Como nos diz Serpa (2007), “é a esfera
pública que nos reúne na companhia uns dos outros, mas é ela também que evita que
colidamos uns com os outros”. (SERPA, 2007, p. 36)
Para que um espaço público seja avaliado sob os critérios da intensidade e da
qualidade de uso é importante verificar a qualidade das relações sociais nele existentes, da sua
capacidade de acolhimento, principalmente o acolhimento de grupos heterogêneos,
observando ainda a sua capacidade de estimular identificações simbólicas, bem como de
expressão e integração cultural.
Nos anos 90, segundo os autores Segovia e Oviedo (2002), o debate sobre o urbano
trazia em si a crença de que era desnecessário idealizar os espaços públicos das cidades, pois
os bairros tradicionais estavam desaparecendo, a vida vivida de maneira virtual e, ao fim e ao
cabo, as conexões digitais tornariam a cidade desnecessária. Essa hipótese é veementemente
criticada pelos autores, pois, para eles, o espaço físico é o único legítimo para o encontro
físico entre as pessoas, impossível de ser substituído, motivo pelo qual o tema deve ser alvo
68
de discussões acadêmicas, sobretudo em dois âmbitos que antes eram completamente distintos
e hoje estão tão imbricados o espaço público (hoje está mais público ou o percebemos mais
privatizado?) e o espaço privado (hoje está mais privado ou o percebemos mais publicizado?).
São os usos e os costumes demonstrados dentro do espaço público que nos permitem
medir (como num termômetro) os graus de integração social ali existentes. São também
nesses usos e costumes que se torna possível alcançar qual e em que medida se o
sentimento de pertença, a capacidade de apropriação do espaço, no caso desta dissertação,
como se a apropriação do espaço público da unidade sociológica bairro. Para Segovia e
Oviedo (2002), que se considerar a distinção entre o espaço público de um território amplo
e complexo da cidade e o espaço público presente no cotidiano de um bairro, o primeiro
descrito como espaço público ‘urbano monumental’ e o segundo como ‘urbano barrial’,
sempre lembrando que “o espaço público constitui um lugar de encontro, de desenvolvimento
de identidade e de pertencimento em todas as escalas bairro, cidade, região e país assim
como de expressão de diversidade cultural, geracional e social”. (OSÓRIO apud SEGOVIA;
OVIEDO, 2002, p. 13).
48
(Tradução da autora).
Os dois tipos genéricos de espaço público urbano os monumentais e os ‘barriais’
possuem características bastante peculiares, distintas entre si. Os urbanos monumentais são
aqueles de grandes dimensões, dispostos hierarquicamente sob o ponto de vista urbano e que
possuem um valor simbólico para a sociedade, normalmente que recordam a história de um
lugar. É nesse território que se manifestam crises da vida na cidade, onde convergem e se
expressam com mais força posturas e contradições sociais, pois a cidade como produto social,
cujo crescimento se em um curto espaço de tempo, tem perdido a capacidade de acolher
seus habitantes e contribuir com uma maior integração e sociabilidade dos mesmos. O outro
tipo genérico de espaço público o urbano ‘barrial’ é um espaço familiar, de pequena
dimensão urbana e hierarquia intracomunal, cujo valor simbólico é restrito a um grupo com
um reduzido número de pessoas (quando comparado a um maior, como o é a cidade) e, por
isso, onde particularidades, especificidades e normas de comportamento são reconhecidas.
Com vistas a identificar situações particulares na vida urbana no âmbito do espaço
público, para Segovia e Oviedo (2002), é imprescindível que se atente pelo menos para três
pontos específicos: a sociabilidade, a diversidade e a segurança nele existente, pois sem esses
elementos torna-se difícil conseguir uma intensidade e uma qualidade satisfatória na
48
“el espacio publico constituye un lugar de encuentro, de desarollo de identidad y de pertenencia en todas las
escalas barrio, ciudad, región y país así como de expresión de diversidad cultural, generacional y social”
(OSÓRIO apud SEGOVIA; OVIEDO, 2002, p. 13).
69
utilização dos espaços públicos e, consequentemente, a melhoria na qualidade de vida dos
habitantes da micro e da macroesfera – do bairro e da cidade, respectivamente.
Além disso, buscando ainda interpretar esse espaço denominado bairro, inserindo-o
propriamente na discussão sobre o espaço público, podemos dizer que ele é um espaço de
mediação entre o público e o privado. É no espaço e na vida cotidiana do bairro que podemos
encontrar uma sociabilidade intermediária, em que uma coincidência de referências
espaciais entre aqueles que nele habitam. Na definição de Segovia e Oviedo (2002),
O espaço público do bairro é composto pela disposição das residências, à qual os
vizinhos podem ter acesso a pé, diariamente. Trata-se de um espaço familiar, de
pequena dimensão urbana, de hierarquia entre comunidades, que tem um valor
simbólico para um grupo reduzido de pessoas os vizinhos e as vizinhas; um lugar
onde se reconhecem as particularidades e a especificidade dos valores e normas de
comportamento..
49
(SEGOVIA; OVIEDO, 2002, p. 71). (Tradução da autora).
Na unidade bairro é fácil perceber que seu espaço público não se encerra na sua
dimensão física, mas abrange uma dimensão social, cultural e política, sendo muito mais
definido pela utilização que lhe dão as pessoas do que pelo seu estatuto jurídico. Como aqui
nos interessa o bairro entendido como um espaço de mediação entre a vida privada e a vida
pública, onde prevalece uma sociabilidade intermediária, ou seja, onde espaços que são
públicos se transformam temporariamente em espaços privados com o compartilhamento por
moradores que possuem referenciais espaciais comuns. As relações entre vizinhos, amigos e
familiares, bem como a rotina do dia-a-dia fazem com que os moradores da unidade bairro
percorram e permaneçam em suas ruas, calçadas, esquinas, lojas, na condução dos bairros, na
igreja, no armazém ou no botequim, e imprimam nesses locais, mais do que uma espécie de
privatização, o exercício de vigilância gratuita, compartilhada por todos.
Essa vigilância dos espaços públicos dos bairros advém do sentimento comum de que
se é um proprietário natural daqueles locais, que, mais do que espaços, são lugares
comunitários. Sendo assim, o sentimento dos moradores é de que são espaços mais do que
públicos, ou que não são apenas públicos, pois de certa forma foram por eles privatizados.
Dessa forma, a vigilância dos espaços originalmente entendidos como públicos é traduzida em
49
“el espacio público del barrio está compuesto por el entorno de las residencias, al cual los vecinos pueden
acceder a pie diariamente. Se trata de um espacio familiar, de pequeña dimensión urbana, de jerarquía
intracomunal, que tiene un valor simbólico para un grupo reducido de personas los vecinos y vecinas ; un
dominio donde se reconocen las particularidades, la especificidad de los valores y normas de comportamiento
de grupos sociales particulares de la ciudad.” (SEGOVIA; OVIEDO, 2002, p. 71).
70
olhos convictos de que é também sua responsabilidade zelar pela dinâmica social dos bairros,
engendrando, mais uma vez, a cumplicidade entre os seus moradores.
Ficou evidenciado o papel de mediadora da Igreja Católica entre o público e o privado
nos bairros Pompeia e Esplanada, com as celebrações festivas nos espaços públicos dos
bairros, nas ruas e nas suas praças. Uma tradição advinda do período colonial e que persiste
até os dias atuais, pois, como disse Montes (1998), o “etos festivo do catolicismo colonial [...]
evidencia que a religião, graças à cosmologia arcaica em que se inscreve, constitui a mediação
essencial entre o público e o privado”. (MONTES, 1998, p. 109).
Um dos exemplos de ‘privatização’ provisória da rua, dentre outros (como o jogo de
‘pelada’ ou a brincadeira com o skate), e que está ligado ao papel mediador da igreja, foi o
fechamento de um quarteirão de rua para a ornamentação e a realização da festa de Santo
Antônio. Por outro lado, também com a intercessão da função mediadora do ethos festivo
católico, pude observar também que ocasiões em que o espaço doméstico se abre para
todos, como acontece com frequência nas missas de setores que são celebradas em uma das
casas pertencentes ao setor. Nesses momentos a casa, um espaço privado por excelência, é
ressiginificado e transforma-se numa capela, aberta a quem queira participar.
50
3.3 A ZONA SUBURBANA E OS BAIRROS PERICENTRAIS DE BELO
HORIZONTE
Como foi dito antes, a cidade de Belo Horizonte foi planejada em três zonas distintas,
50
A paróquia é dividida em cinco comunidades, e as comunidades são divididas em setores, e cada um desses
setores compreende alguns quarteirões dos bairros. Existem vinte e três setores no espaço da circunscrição da
Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia.
71
e os bairros Pompeia e Esplanada estão situados na zona suburbana
51
. Assim como os demais
bairros situados na zona suburbana da cidade, os bairros investigados também foram
crescendo sem uma preocupação mais metódica com a regularidade, contrariamente ao que
aconteceu com a sua área central, desde o seu planejamento. Mas, apesar de situados bem
próximos à avenida do Contorno, desde os seus primórdios os bairros abrigaram pessoas que
não estavam predestinadas a habitar a zona urbana da cidade e que, por isso, tiveram que
conviver por um longo período com uma precária infraestrutura, quase sempre sem acesso a
serviços urbanos básicos. Aliás, essa disparidade entre a zona urbana da cidade idealizada e a
realidade cotidiana das vilas instaladas na zona suburbana de Belo Horizonte foi noticiada no
jornal belo-horizontino, ‘O Diário’, na edição do dia 26 de julho de 1939, numa matéria
referente ao bairro Pompeia, da seguinte forma:
Excursões pelos subúrbios e arredores desta nobre e leal cidade de Belo Horizonte
revelam-nos coisas espantosas, misérias horríveis, necessidades prementes, coisas
mesmo inimagináveis. E isto ali mesmo a dez minutos da Praça Sete, após uma
viagem mais ou menos incômoda, num ônibus indefinível, com seus respectivos
solavancos. (A ILUSÃO..., 26 jul. 1939, p. 3).
Essa falta de infraestrutura persistiu por muitos anos. Segundo alguns depoimentos,
pouco mais de trinta anos ainda existiam muitas ruas sem nenhum tipo de pavimentação nos
bairros. A avenida Belém, por exemplo, que separa os bairros Pompeia e Esplanada dos
bairros Saudade e Vera Cruz, foi construída sobre o Córrego da Baleia nos idos dos anos de
1970. Até ser construída a avenida, o referido córrego, que há muito recebe a rede de esgoto
da região, naquela época corria a céu aberto.
Esse descaso com a infraestrutura básica dos bairros durante um longo período de suas
existências justifica-se pela própria idealização da cidade de Belo Horizonte, que sempre
51
Na Resolução 0017, de 5 de Novembro de 1936, que dispõe sobre limites das zonas rural e urbana de Belo
Horizonte, encontramos a seguinte descrição da zona suburbana: “Artigo 2º A zona suburbana será
comprehendida pela seguinte linha de perímetro: partindo do marco do Cardoso, até attingir a Villa Paraizo,
abrangendo-a até o kilometro cinco da estrada de Nova Lima; deste ponto seguindo pelas divisas dos Parques
Cruzeiro do Sul, Vera Cruz, abrangendo-o até à repreza de Freitas, dahi seguindo do lado esquerdo da Estrada
de Ferro Central do Brasil, em direcção a Marzagão, voltando para abranger toda a villa Mariano de Abreu,
até a Esplanada das Officinas do Horto Florestal, dahi segue abrangendo as villas Edgard Werneck, o João,
Mauá, Maria Brasilina, Silveira, Nova Floresta, Campos Elyseos, Mello Viana, Aurora, Humaytá, Villa
Cachoeirinha e Maria Aparecida; dahi, em linha recta, até Villa Amaral, abrangendo-a, em seguida as Villas
São Geraldo, Santa Helena, Futuro, Minas Geraes, Celeste Império e Bella Vista, até encontrar o Ribeirão
Arrudas, subindo pela margem direita desde até a Villa Ambrozina, e abrangendo mais as villas Atlântida,
Jardim América, o Domingos até a Escola desta Villa, e, dahi, a o marco de pedras da primitiva
triangulação da cidade, seguindo pela linha de perímetro desta triangulação, passando pelos marcos
Cercadinho, Boa Vista, Rabello, Ponta, Serra e Pico, e deste até encontrar o marco do Cardoso onde teve
início. [...] O prefeito, Octacílio Negrão de Lima.” .
72
pretendeu privilegiar a sua área urbana, em detrimento da sua área suburbana. Teixeira
(1996), ao citar as críticas que o historiador Iglesias fez à Planta Geral de Belo Horizonte,
demonstrando que nela estão contidas ‘rigorosas exigências de acordo com critérios de
estratificação social, de uso especializado do espaço urbano’, e que havia uma ‘disposição de
afastar as populações populares’, diz que
o estabelecimento de zona urbana e suburbana revela a estrutura política e social
então prevalecente: na zona urbana, estariam localizadas fundamentalmente as
funções política, econômica e financeira. A avenida do Contorno funcionaria como
um ‘dique’, um separador social da zona suburbana, que possuía lotes mais baratos,
porquanto mais distantes do Centro Administrativo e de seus equipamentos e
reservada para os moradores de baixa renda. (TEIXEIRA, 1996, p. 26).
Essa citação mostra que a segregação socioespacial da cidade de Belo Horizonte é
contemporânea à cidade enquanto esta estava na condição de nascitura apenas, ou seja, é uma
segregação secular e, por isso, enraizada.
Para além dos limites da avenida do Contorno, por toda a zona suburbana da cidade de
Belo Horizonte, existiam diversas vilas, pequenos povoados formados de maneira
desordenada e sem controle do poder público, sobretudo nos primeiros vinte anos de sua
existência e, embora existissem “leis e regulamentos relativos à ocupação e às características
das construções, esses não eram respeitados muito menos fiscalizados, o que levou ao
surgimento da desordem urbana, especialmente na região fora da avenida do Contorno [...]”.
(GUIMARÃES; AZEVEDO; ROCHA, apud SANTIAGO, 1999, p. 25). O poder constituído
da época não dava nenhum incentivo à organização, como se a cidade do centro desenhada
dentro do anel da avenida do Contorno fosse a ‘cidade oficial’ e a cidade das bordas fosse a
‘cidade clandestina’, essa última cada dia mais povoada. No dizer de Teixeira e Souza (2003),
Além do núcleo planejado, a cidade é um espaço de povoações descontínuas; o
primeiro loteamento (1908) é próximo a General Carneiro, no município de Sabará.
Ela nasce, pois, marcada pelo processo de periferização. As funções do centro e
da área urbana são administradas diretamente pelo Estado e as das periferias, pelo
mercado imobiliário.
52
. (TEIXEIRA; SOUZA, 2003, p. 20).
Contrariando o plano originário de construção da cidade, que tinha a intenção de que o
adensamento populacional se desse do centro para a periferia, ocorreu exatamente o oposto:
52
Os bairros Pompeia e Esplanada distam, aproximadamente, sete quilômetros de General Carneiro. Pode-se
dizer que eles estão mais ou menos equidistantes do centro da capital e de General Carneiro.
73
as zonas suburbana e rural passaram a agregar um maior mero de pessoas, sem a devida
contrapartida do poder público, sem os necessários investimentos públicos, transformando as
vilas em locais carentes de serviços e equipamentos públicos básicos. Essa carência de
infraestrutura dos povoados situados na zona suburbana, mais especificamente da vila Parque
Cidade Jardim (atual bairro Pompeia), foi descrita no jornal ‘O Diário’, do dia 26 de julho de
1939, da seguinte forma,
Uma vila paupérrima e de tremendas necessidades a 15 minutos da Praça Sete
Nem água, nem luz, nem esgoto, nem correio, nem telefone, nem nada
Substituindo o médico A obra humilde dos Capuchinhos [...] E o repórter imagina
diatribes tremendas contra a falta de luz, de água, de esgotos, de correio, de
telégrafo, de transportes, de instrução, de saúde; meu Deus, de tanta coisa que nos
parece impossível não haver em qualquer recanto do mundo. (A ILUSÃO..., 26 jul.
1939, p. 3)
O loteamento da vila foi realizado pelo Banco da Lavoura de Minas Gerais, na ocasião
em que era o seu presidente o Dr. Clemente de Faria. A vila “apresentava ruas encascalhadas
e pequenas casas de três cômodos (quarto, sala e banheiro) em que havia luz, embora nas ruas
não houvesse”. (POLKE, et. al.1982, p. 135). E, segundo diz uma moradora do bairro
Esplanada, em depoimento ao jornal ‘Estado de Minas’, quando se casou, mais de
cinquenta anos, ou seja, na década de 50, ocasião em que ainda era Vila Esplanada, “Aqui não
tinha nada, nenhuma infraestrutura. A água era retirada de cisternas, as ruas não tinham
pavimentação e tudo o que nós precisávamos tínhamos que buscar no Horto” (AQUI...2004).
O espaço geográfico conhecido hoje como bairro Pompeia é o espaço antes abrangido
pelas vilas Parque Jardim
53
, Novo Horizonte
54
e Cruzeiro do Sul; e o bairro Esplanada
engloba as vilas Esplanada
55
e Independência
56
, que foram loteadas nos anos vinte. Assim
como afirmam Teixeira e Souza (2003, p. 21), a regulamentação para a divisão de lotes
suburbanos surgiu em 1924 e a oferta desses lotes se deu de uma maneira acelerada. Essas
53
Planta aprovada em 18-4-1928
54
Planta aprovada em 14-08-1926
55
Planta aprovada em 16-12-1925
56
Planta aprovada em 16-12-1925
74
cinco vilas, por sua vez, faziam parte da denominada ex-colônia Bias Fortes’, incorporada
juntamente com outras colônias à área suburbana da capital pela Lei 0055
57
.
Essas vilas estavam espalhadas pela região Leste da capital desde os primeiros anos de
existência de Belo Horizonte (MAPA 5). Em 1946, portanto, apesar de ser conhecido como
bairro Pompeia, em função da presença da paróquia que possui essa denominação no nome
desde 1939, cujo relato será feito adiante, por meio do Decreto 0184, de 10 de setembro,
quando era prefeito o senhor Gumercino do Couto Silva e secretário o senhor Abílio Barreto,
surge a designação oficial de Bairro de Pompeia
58
. Curiosamente, em data posterior, passados
vinte e quatro anos da nomeação oficial do bairro, mais precisamente no dia 10 de abril de
1968, foi promulgada uma lei municipal, de nº 1.476, pelo então prefeito Luiz de Sousa Lima,
dando outra denominação ao bairro Pompeia, com o seguinte texto legal:
Art. 1 º - A região da cidade compreendida pelas plantas aprovadas pela Prefeitura
de números CP-66-1M aprovada em 18-4-1928, com o nome de Parque Jardim; CP-
72-1-I, aprovada em 16-12-1925, com o nome de Vila Esplanada; CP-72-1-I,
aprovada com o nome de Vila Independência e CP-88-1-M, aprovada em 14-8-1926,
com o nome de Vila Novo Horizonte, passa a ter o nome de Bairro Nossa Senhora
de Pompeia. [...] (BELO HORIZONTE, 1968). Grifo meu).
Esse nome nunca foi utilizado e toda a extensão geográfica descrita acima sempre foi
conhecida por bairro Pompeia
59
, apenas. Somente em 1977, no dia 04 de fevereiro, quando
era prefeito de Belo Horizonte Luiz Verano, pela promulgação da Lei 2.710, as vilas
Esplanada e Independência passaram a denominar-se bairro Esplanada. Hoje, portanto, os
bairros investigados são contíguos, desprovidos de qualquer fronteira física, e conhecidos
pelos nomes de Pompeia e Esplanada, respectivamente, ambos pertencentes à Paróquia de
Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, cujo limite de jurisdição eclesial coincide exatamente
com os limites dos dois bairros juntos.
57
“Artigo 1 º Ficam incorporados à zona suburbana da Capital e sujeitas às leis e regulamentos vigentes nas
disposições que se lhes aplicam, a juízo do Prefeito, as ex-colonias Bias Fortes, Américo Werneck, Carlos
Prates e Adalberto Ferraz, há pouco emancipados pelo governo do Estado e o povoado do Calafate.
Parágrapho único. As áreas dessas ex-colonias para os effeitos desta lei, são as mesmas que ellas tinham no
regimen colonial. (...)
(...) O prefeito, Olyntho Deodato dos Reis Meirelles.” (BRASIL, 1912).
58
“O Prefeito de Belo Horizonte, usando de atribuições legais, resolve denominar ‘Bairro de Pompeia’ a zona da
cidade constituída pelas Vilas Parque Jardim, ‘Parque Vera Cruz, Mariano de Abreu, Independência,
Esplanada, Cardoso, Novo Horizonte, Cruzeiro do Sul e Paraizo. (...) Prefeito, Gumercino do Couto Silva”.
59
A Lei 6.370, de 12 de agosto de 1993, assinada pelo então prefeito, senhor Patrus Ananias, revogou diversos
dispositivos legais, dentre eles o Decreto 0184, que deu a denominação do bairro Pompeia, mas expressamente
ratificou o nome dado ao bairro em seu Anexo IV.
75
Atualmente, numa linguagem apropriada ao fenômeno da metropolização, foi criada
uma nomenclatura pela FAPEMIG e FJP para a RMBH, em que o espaço compreendido pela
Região Metropolitana de Belo Horizonte, composta por 34 municípios, é estruturado por um
Sistema de Unidades Espaciais, segmentado em cinco níveis
60.
Dentro das oito Macro
Unidades
61
da Região Metropolitana de Belo Horizonte, o centro de Belo Horizonte,
originariamente denominado de zona urbana, passa a ser denominado de Núcleo Central,
descrito por Teixeira e Souza (2003, p. 23) como aquele que “Corresponde à área planejada
originariamente e registra a sua história, ampliando-a em direção ao sul, como queria Aarão
Reis”, e a área onde estão os bairros Pompeia e Esplanada, imersos na zona suburbana,
passam a ser entendidos como integrantes da Área Pericentral. Para os mesmos autores, a
Área Pericentral é
o espaço apropriado para as classes médias e de exclusão progressiva das camadas
de menor renda; essas permanecem apenas nas porções mais afastadas. Sua
importância regional é crescente, graças à substituição do uso residencial pelo
comercial e de serviços ao longo das vias arteriais. (SOUZA; TEIXEIRA, 2003, p.
24).
Nessa nomenclatura da FAPEMIG/FJP, a Área Pericentral, por sua vez, é composta
de cinco Complexos de Campos metropolitanos e dentro do Complexo de Campo
denominado Floresta / Horto / Renascença está o Campo Pompeia
62
.
O “Relatório Final – Gestão do Espaço Metropolitano: Homogeneidade e desigualdade
na RMBH, da FAPEMIG/FJP”, diz que
A Área Pericentral registra a história da imigração para a metrópole em construção e
a reivindicação de serviços urbanos. Aparentemente é o espaço apropriado para as
classes médias e de exclusão progressiva das camadas de menor renda, que
permanecem apenas nas porções mais afastadas. Sua importância regional é
crescente, graças à substituição do uso residencial pelo comercial e de serviços ao
longo das vias arteriais. A partir dos anos 80, começa a perder população em termos
absolutos, embora apresente a mais alta densidade demográfica da RMBH e
intensifique sua verticalização a partir dos anos 90. (FUNDAÇÃO DE AMPARO A
PESQUISA DE BH/FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2007, p. 27)
60
Nível 1: Macro Unidades; Nível 2: Complexo Diferenciados de Campos; Nível 3: Sub-Complexos
Diferenciados de Campos; Nível 4: Campos; e, Nível 5: Área Homogênea.
61
Na delimitação das Macro Unidades, são levados em consideração os processos que põem em evidencia o
contexto de metropolização na rede de cidades. (FAPEMIG/FJP, 2007, p. 26).
62
O Campo Pompeia abrange os bairros Pompeia, Esplanada e uma pequena parte do bairro Vera Cruz.
76
Essa citação realça quatro pontos sobre as características da área pericentral: a
substituição do uso residencial pelo comercial; a perda de população em termos absolutos;
alta densidade demográfica e intensificação da verticalização. Quando esses pontos são
comparados à realidade dos bairros investigados, infere-se que o se verifica essa
substituição de uso residencial para comercial, com exceções bem pontuais, como na avenida
de entrada para o bairro Pompeia Av. Alphonsus Guimarães, onde uma visível mas
paulatina substituição e, muito discretamente, nos locais onde existem focos de comércio,
como na praça Santa Rita, no bairro Esplanada e nas ruas Mário Martins e Iara, próximo à
Igreja Matriz, no bairro Pompeia.
A perda de população, comparando-se os censos demográficos e 1991 e 2000, ocorreu
apenas no bairro Esplanada, num percentual de 18,57% e, quanto à intensificação da
verticalização, na área pesquisada esse fenômeno é também perceptível, principalmente após
os anos 90, ressaltando que as construções são, quase na sua totalidade, de prédios de quatro
pavimentos. Apesar de existir uma visível mas incipiente verticalização dos domicílios, no
bairro Esplanada ela acontece de forma mais acelerada.
3.4 OS TRAÇADOS E OS NOMES DOS BAIRROS POMPEIA E ESPLANADA
O bairro Pompeia é uma extensão de terra de aproximadamente 19.600 m2, situado
entre o leito do Ribeirão Arrudas e o leito do Córrego do Navio, mais recentemente conhecido
como Córrego da Baleia, que abriga uma população de 10.347 pessoas
63
. Por muito tempo a
sua porta de entrada foi a rua Niquelina, a mesma passagem que outrora foi utilizada para se
chegar à capital do império, a cidade do Rio de Janeiro. Mas, atualmente a avenida de acesso
ao bairro Pompeia é a avenida Alphonsus Guimarães, para quem se desloca do centro da
cidade em direção ao bairro, passando pela avenida dos Andradas, logo depois de passar pela
Câmara Municipal, de onde já se avista ao longe, no alto, à direita, a Matriz de Nossa Senhora
do Rosário de Pompeia. O bairro possui quatro artérias principais: a rua Iara, a rua Mário
63
Dado do Censo de 2000. Em 1991, o Censo contabilizou 9.704 pessoas.
77
Martins, a rua Amazonita e a rua Leopoldo Gomes
64
. Muitas ruas cortam as ruas principais,
num desenho basicamente retangular que constitui o mapa do bairro. Existem duas praças,
uma assim considerada, a do adro da Igreja Matriz e a outra no limite com o bairro Vera Cruz,
chamada Zumbi dos Palmares’. Das ruas do bairro existem muitas delas que ainda são
calçadas com pedras, sendo fácil perceber que a pavimentação asfáltica é basicamente para as
ruas que fazem parte dos trajetos do transporte urbano (ônibus) que servem ao bairro. Nas
unidades habitacionais predominam as casas, em sua maioria, aparentemente de construções
antigas. O número de prédios é baixo, e os prédios são de poucos pavimentos, de três ou
quatro andares, com exceção de um de 12 e outro de 8 andares. No Censo de 2000 foram
constatados 2.929 domicílios, sendo 2.626 casas e 200 apartamentos, ou seja, um reduzido
percentual de 6,8% de apartamentos, demonstrando a horizontalidade de suas construções.
Possui um supermercado apenas, uma escola municipal, uma escola estadual e uma escola
particular
65
e várias outras escolas de menor porte, principalmente para atender a pré-escola.
Inseridas no espaço geográfico do bairro Pompeia estão duas vilas, a São Rafael e a Nossa
Senhora do Rosário, conhecida com Pedreira.
O bairro Esplanada é uma extensão de terra de aproximadamente 20.800 m2, também
situado entre o leito do Ribeirão Arrudas e o leito do Córrego do Navio, mais recentemente
conhecido como Córrego da Baleia, com uma população de 14.222 habitantes.
66
O bairro tem
sua porta de entrada pelas ruas Jordão, Felipe Camarão e avenida Sete de Abril, podendo
também se chegar a ele passando pelo bairro Pompeia. As artérias principais do bairro são:
rua 28 de Setembro, rua Mariano de Abreu, rua Begônia e avenida Sete de Abril. O desenho
dos quarteirões é semelhante ao do bairro Pompeia, apesar de diverso no ângulo, como pode
ser visto no mapa 4. Possui duas praças, mais movimentadas que as do bairro Pompeia, a
praça Santa Rita, na confluência das ruas 28 de setembro e avenida Sete de Abril, e a praça da
Abadia, na intercessão das ruas Mariano de Abreu, Tulipa, Lapa e Sarandi. Apesar de o bairro
Esplanada também possuir um número pequeno de apartamentos, pode-se perceber que
existem mais prédios do que no bairro Pompeia. No Censo 2000 foram identificados 3.997
64
A rua Leopoldo Gomes eslocalizada em sua maior extensão nos bairros Vera Cruz e Alto Vera Cruz e,
portanto, o trecho que está dentro do bairro Pompeia funciona como um corredor de tráfego para os moradores
nesses dois últimos bairros belo-horizontinos antes de se chegar ao limite do município de Sabará.
65
As escolas são, respectivamente, “Escola Municipal São Rafael”, “Escola Estadual Ondina Amaral Brandão” e
“Colégio São Francisco de Assis”, este último gerido e mantido pelo Instituto Social Frei Gabriel, fundado
Ordem dos capuchinhos.
66
Dados do Censo de 2000. No Censo de 1991, eram 17.466 pessoas.
78
domicílios, sendo 3.518 casas e 320 apartamentos, um percentual também baixo, mas maior
que do bairro Pompeia: 8% dos domicílios são apartamentos. Os prédios também são de
poucos pavimentos, entre três e quatros andares, com poucas exceções. Dentro do perímetro
do bairro estão situadas duas escolas da rede estadual e apenas um supermercado
67
. Há
também pequenas escolas que atendem a pré-escola.
Assim como no bairro Pompeia, o comércio no bairro Esplanada é predominantemente
de pequenos estabelecimentos, como casa de carnes, mercearias, padarias, ‘sacolões’
68
,
farmácias e pequenas lojas de roupas, presentes e utilidades domésticas. Na área pesquisada
existem dois postos de gasolina, duas casas lotéricas e nenhum estabelecimento bancário
69
.
No bairro Pompeia há um Posto de Saúde e no bairro Esplanada a UPA-Leste (Unidade de
Pronto Atendimento da região Leste)
70
. Os bairros possuem algumas creches
71
, além de nove
‘casas-lares’ chamadas ‘Casas do Homem de Nazaré’, que também abrigam crianças e
adolescentes
72
.
Ao comparar as densidades demográficas dos dois bairros, tomando os dados
censitários de 1991 e 2000, percebe-se que o bairro Pompeia teve um aumento de 643
habitantes, em número absoluto, um acréscimo de 6,13% em sua população e o bairro
Esplanada, ao contrário, uma diminuição de 3.244 habitantes, também em números absolutos,
ou seja, um decréscimo de 18,57% em sua população.
Depois de fazer uma descrição física para que o leitor tenha o seu primeiro contato
com os bairros, e saber que os dois juntos, pelo Censo de 2000, possuem uma população de
24.569 habitantes, passo à explicação de seus nomes, principalmente do bairro Pompeia, uma
vez que não conservou o nome da vila como designação também do bairro. Assim, para
entender o motivo pelo qual a antiga vila Parque Jardim tem a denominação de bairro
67
“Escola Estadual Geraldina Soares”, “Escola Estadual Caminho à Luz” e Supermercado BH, respectivamente.
68
Estabelecimentos que comercializam hortifrutigranjeiros.
69
Para suprir a ausência de estabelecimentos bancários, a população dos bairros conta apenas com dois caixas
eletrônicos do banco Bradesco, dentro dos dois postos de gasolina ali instalados, um posto de serviço do mesmo
banco em uma drogaria e em uma papelaria. Há também um terminal '24 horas’, situado dentro do Supermercado
EPA, além da possibilidade de acesso à Caixa Econômica Federal das casas lotéricas.
70
O posto de saúde está situado na rua Leopoldo Gomes, próximo à rua Iara, no bairro Pompeia, cuja sede
própria foi inaugurada recentemente, e a UPA-Leste está situada na rua 28 de setembro, no bairro Esplanada.
71
Segundo Santiago (2007) “atualmente funcionam quatro institutos denominados Creches: a dos Vicentinos,
denominada CRECHE NOSSA SENHORA DE POMPÉIA, na Pompéia propriamente dita, a CRECHE GRAZIA
CASTAGNA, na Vila São Rafael, a CRECHE SÃO FRANCISCO, na Esplanada e, também na Esplanada, a
CRECHE MARIA CARLOTA” (SANTIAGO, 2007, p. 77).
72
Segundo informação obtida no site oficial da entidade (www.casasdohomemdenazare.org.br), atualmente
existem 09 casas-lares (02 femininas e 07 masculinas, totalizando 90 crianças e adolescentes) instaladas no
espaço dos bairros Pompeia e Esplanada, desde 1975.
79
Pompeia, faz-se necessário que sejam contadas, mesmo que de maneira perfunctória, quatro
histórias: a primeira referente à cidade italiana de Pompeia; a segunda referente à devoção a
Nossa Senhora do Rosário na cidade de Pompeia; a terceira referente à devoção dos frades
menores capuchinhos italianos a Nossa Senhora do Rosário de Pompeia; e, a quarta, como
ocorreu a troca do nome da paróquia situada no referido bairro, de Nossa Senhora do Rosário
de Santa Ephigênia para Nossa Senhora do Rosário de Pompeia.
Pompeia era uma antiga cidade do Império Romano, situada na região de Campânia,
ao sul da Itália, distante 23 quilômetros a sudoeste de Nápoles, que, juntamente com as
cidades de Herculano e Estábias, foi destruída pelo vulcão Vesúvio, no dia 24 de agosto do
ano de 79 d.C. A cidade e toda a sua história estiveram literalmente soterradas sob cinzas por
mais de 1600 anos e só foi descoberta por acaso, em meados do século XVIII, no ano de
1748. (NOVA..., 2001).
Segundo a tradição católica o Rosário foi revelado por Maria Santíssima nos primeiros
anos do século XIII a o Domingos de Gusmão, fundador da ordem dos dominicanos. Essa
tradição diz que Nossa Senhora teria lhe aparecido com um rosário nas mãos, pedindo-lhe que
difundisse sua devoção entre as populações cristãs de todo o mundo, motivo pelo qual São
Domingos de Gusmão é considerado o fundador dessa devoção. Mas nessa história interessa-
nos outro divulgador da referida devoção, Bartolo Longo, advogado e religioso católico que
viveu entre os anos de 1841-1926 e que, em virtude de seu serviço de administrador dos bens
de uma viúva rica, a condessa Marianna Farnaro de Fusco, que num momento da vida se
tornou sua esposa, teve que ir ao Vale de Pompeia, onde ela possuía terras. Em uma das tardes
do ano de 1872, ao andar perto das ruínas da Capela de Pompeia, sentiu um apelo da Virgem
para que propagasse o Rosário. Diante desse apelo prometeu a si mesmo que não deixaria o
Vale de Pompeia enquanto não o fizesse. Encontrou muitas dificuldades. Por várias vezes e
por diversos motivos, suas iniciativas fracassaram. Passados alguns anos, ainda firme na sua
vontade de difundir o Rosário, ele restaurou completamente a capela ali existente. Sua atitude
provocou um despertar da religiosidade daquele local, o que fez com que o bispo o
abençoasse e pressentisse que ali, naquela igreja de Pompeia, seria um local de peregrinação.
O fato de a difusão do rosário por Bartolo Longo ter acontecido na cidade de Pompeia,
dentre tantos outros títulos dados a Maria, mãe de Jesus Cristo, fez com que surgisse mais
essa denominação para ‘Nossa Senhora’ Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. A imagem
80
trazida para a paróquia no ano de 1944, mostra a ‘Virgem’ sentada, com o ‘menino’ no colo,
ladeada por São Domingos de Gusmão e Santa Catarina de Sena. (Figura 1)
Figura 1: Imagem de Nossa Senhora da Pompeia, instalada na Matriz desde o ano de 1944.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Figura 2: Frades Capuchinhos, em 1942, no local onde foi construída a Matriz Nossa
Senhora do Rosário de Pompeia (esquina das ruas Iara, Mário Martins e 28 de setembro,
bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Agora, para entender o que tem a ver toda essa história com o nome do bairro
Pompeia, para contar parte da terceira história que citei acima, é imprescindível consignar a
presença da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, residentes no bairro desde 1939,
responsáveis desde o dia 12 de fevereiro daquele ano pela Paróquia Nossa Senhora do Rosário
de Pompeia, como dito antes, originalmente designada por Paróquia Nossa Senhora do
Rosário de Santa Ephigênia.
81
Os frades capuchinhos são provenientes da cidade italiana de Messina e estiveram
subordinados à Província de Messina, na condição de vice-província até 1980, ano em que se
elevou como província e foi fundada a Província dos Capuchinhos de Minas Gerais
PROCAMIG
73
. Os capuchinhos italianos que aqui chegaram em 1939, assim como outros
capuchinhos, sobretudo os italianos, são devotos de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, a
mesma difundida por Bartolo Longo, devoção expressa no seguinte trecho que conta sobre a
saída dos capuchinhos de Messina com destino ao estado de Minas Gerais: “Dois meses de
últimos preparativos, e no dia 7 de setembro de 1935, sob a proteção de Nossa Senhora de
Pompeia, ao cair da tarde, partem de Messina com destino a Minas Gerais os frades: 1.
Teodósio de Castelbuono 2. João Batista de Catânia 3. Odorico de Resuttano 4. Clemente de
Malleto 5. Conrado de Troína 6. Liberato de Catânia 7. Leão de São Mauro Castelverde [...]”
(SANTIAGO, 1997, p. 87).
Provavelmente, se não fosse essa devoção trazida com os primeiros frades
capuchinhos que assumiram a paróquia erigida no bairro um ano antes de sua chegada, o
bairro não se chamaria Pompeia, pois quando a paróquia foi fundada, erigida por Dom
Antonio dos Santos Cabral em 01 de janeiro de 1938, uma vez desmembrada da Paróquia de
Santa Ephigênia dos Militares, ela foi criada como Paróquia Nossa Senhora do Rosário de
Santa Ephigênia, como pode ser constatado no Livro de Tombo’ da paróquia e em Santiago
(1997) que diz,
A paróquia, desmembrada da de Santa Efigênia dos Militares, foi criada com o título
de ‘Nossa Senhora do Rosário de Santa Efigênia’. Foi Frei Odorico, enquanto
pároco, quem conseguiu modificar tal denominação para NOSSA SENHORA DO
ROSÁRIO DE POMPEIA, fato que veio alterar, popularmente falando, até a
denominação do Bairro. (SANTIAGO, 1997, p. 211).
Não registro da mudança oficial do nome da paróquia. No Primeiro ‘Livro de
Tombo’ da paróquia, arquivado no escritório paroquial, em sua folha 10, pode ser certificado
que a primeira vez que aparece o nome de Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia no
relato oficial da igreja se pela seguinte inscrição: “A vinda dos padres capuchinhos em
Bello Horizonte Ato de posse da parochia de Nossa Senhora do Rosário de Pompéia
Trabalho parochial – Anno 1939”.
73
Na cidade de Messina, na Itália, de onde vieram os primeiros frades capuchinhos para Belo Horizonte, também
um templo com a denominação de ‘Santuário e Convento Nossa Senhora de Pompeia’, cuja foto pode ser
vista no Anexo B. Neste mesmo anexo, o Santuário da cidade de Pompeia, na Itália.
82
As Figuras 3 e 4 mostram o centro do bairro Pompeia em três momentos distintos,
destacando a Igreja Matriz. As duas primeiras são registros feitos nos anos de 1952 e 1960; e
a outra, do presente ano. Portanto, tem-se a imagem de um mesmo lugar, em tempos distintos,
mas sempre com a Serra do Curral como ‘testemunha’ da sua história.
Figura 3: Vista parcial do bairro Pompeia, com destaque da Matriz Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. Fotos
tiradas do alto da Pedreira (Vila Nossa Senhora do Rosário). A da esquerda, tirada em 1952; e a da direita, tirada em
1960.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Figura 4: Vista parcial do bairro Pompeia, com destaque da Matriz Nossa Senhora do Rosário
de Pompeia. Foto tirada do alto da Pedreira (Vila Nossa Senhora do Rosário), em 2008.
Fonte: Acervo da Autora.
O bairro Esplanada conservou o nome de uma das vilas que lhe deram origem. O
bairro Esplanada, como dito anteriormente, englobou duas vilas da região, a vila Esplanada e
a vila Independência. Buscando a etimologia da palavra Esplanada, tem-se que é ‘um terreno
83
plano, largo, extenso, em frente a uma fortificação ou a um edifício importante’. Por analogia,
em função da localização da antiga vila, num terreno mais elevado, em frente a uma estação
ferroviária, a vila era um ‘terreno extenso’, em frente a uma construção importante e muito
utilizada desde a fundação da cidade, a estação ferroviária do Horto.
Depois de ter entrado no espaço físico dos bairros, convido o leitor a conhecê-los sob
outra perspectiva, da vida cotidiana de seus moradores e de suas moradoras, aqueles e
aquelas, por assim dizer, que fizeram com que simples espaços geográficos se transformassem
em lugares de se viver.
3.5 RELAÇÃO DE VIZINHANÇA E LOCAIS DE SOCIABILIDADE DOS BAIRROS
POMPEIA E ESPLANADA
Um conceito indispensável à vida urbana, quer seja na sua dimensão moderna, quer
seja na sua dimensão provinciana, é o de sociabilidade, muito utilizado nesta dissertação em
virtude da abordagem sobre a interação entre pessoas que habitam um mesmo lugar. Como
aporte teórico, para o entendimento do que seja sociabilidade, foram consideradas as obras de
Simmel (1967 e 1983b) e de Frúgoli Júnior (2007), o primeiro autor para demonstrar a
sociabilidade enquanto uma categoria pura e formal e o segundo para explicitar a mesma
categoria tomada sob outra perspectiva, eminentemente empírica.
Simmel (1967) sempre pensou a sociedade como algo constantemente em movimento,
constituída e dissolvida continuamente pelos indivíduos por meio de interações recíprocas,
pois, para ele, assim a sociedade é possível. Frúgoli Júnior (2007), analisando Simmel
(1983b) e as formas de sociabilidade, diz que sociabilidade é
um tipo ideal entendido como o ‘social puro’, forma lúdica arquetípica de toda a
socialização humana, sem quaisquer propósitos, interesses ou objetivos que a
interação em si mesma, vivida em espécie de jogos, nos quais uma das regras
implícitas seria atuar como se todos fossem iguais. (FRÚGOLI JÚNIOR, 2007, p.
9).
Mas, como ressaltou Frúgoli Júnior (2007) fazendo referência a rio Eufrásio, o
conceito de sociabilidade adquiriu uma abordagem diversa ao tornar-se eminentemente
empírica, “entendida como uma consideração dos modos, padrões e formas de relacionamento
84
social concreto em contextos ou círculos de interação e convívio social”. (FRÚGOLI
JÚNIOR, 2007, p. 17). Essa abordagem retirou do conceito a necessidade de as interações
estarem desprovidas de interesses e/ou de objetivos específicos, fazendo com que a
sociabilidade se tornasse mais concreta, como acontece na convivência e nas interações. Em
sua análise, Frúgoli Júnior (2007) traz ainda a ressignificação do conceito, ocorrida ao longo
do século XX, mostrando que ele se alargou e abrangeu também outras esferas, como “as
relações cotidianas ou familiares, costumes, festas e rituais, encontros, etc.” (FRÚGOLI
JÚNIOR, 2007, p. 23).
Trata-se de uma segunda leitura
74
do conceito de sociabilidade, cuja ênfase está na
interação entre ‘iguais’. A sociabilidade investigada nos bairros Pompeia e Esplanada e
traduzida nesta dissertação está ancorada nessa leitura, em particular, pois nos espaços sociais
investigados predomina o compartilhamento da condição social, dos valores e sentidos, por
tratar-se de “bairros residenciais marcados por determinada homogeneidade, onde haveria
uma significativa articulação entre sociabilidade e vizinhança ou comunidade. [...] entre
indivíduos que se conhecem ou interagem regularmente”. (FRÚGOLI JÚNIOR, 2007, p. 30).
É onde se vive um estilo de vida e uma sociabilidade, próprios, com uma determinada rotina e
um cotidiano específico. Para Caldeira (1984), são “[...] elementos que conferem um caráter
particular ao espaço do bairro [...] estão intrinsecamente ligados ao tipo de sociabilidade e de
comunicabilidade que aí existe entre as pessoas”. (CALDEIRA, 1984, p, 120)
que a sociabilidade tem por suposto a interação, o relacionamento, o convívio entre
‘iguais’, imprescindível a referência da categoria social ‘vizinhança’ trazida por diversos
estudos sociológicos e, como fator humano, imprescindível a alusão ao ator social ‘vizinho’.
Para Fichter (1973), etimologicamente, vizinho
quer dizer alguém que vive próximo, num dado lugar. A sociedade simples,
comunitária, é uma sociedade em que a maioria dos indivíduos vivem uns perto dos
outros. Esta proximidade ou vizinhança é característica das comunidades na
sociedade rural, de ‘folk’ e agrícola. Isto não é característica comum das sociedades
chamadas urbanas, metropolitanas e nacionais, que são complexas e societárias. Não
obstante, até certo ponto, aplica-se ainda o termo ‘comunidade às ‘velhas
vizinhanças ou bairros da cidade nos quais os habitantes têm ainda análoga
ascendência étnica e nível econômico e de instrução similar, e viveram juntos
durante longo tempo; (FICHTER, 1973, p. 155).
74
A primeira leitura, segundo Frúgoli (2007), está na “sociabilidade enquanto possibilidades de construção
temporária do próprio social entre estranhos ou atores sociais de condições diversas, em que a interação em si
constituiria o principal intuito”. (FRÚGOLI JUNIOR, 2007, p. 24).
85
Para fins didáticos, o mesmo autor dividiu a referida categoria nas seguintes
expressões: “vizinhança social urbana” e “vizinhança espacial urbana”. (FICHTER, 1973, p.
154). Nesta dissertação a primeira está sendo utilizada para caracterizar o provincianismo e a
segunda caracterizando o cosmopolitismo, considerando como o fez Fichter, que disse
existirem na primeira ‘interações sistemáticas’, em contraposição à ‘vizinhança espacial
urbana’, que se apresenta apenas como um agregado social. Para ele a ‘vizinhança social
urbana’ é sinônimo de comunidade e, como tal, está essencialmente ‘ligada ao solo’, onde os
indivíduos vivem numa área delimitada, com a dupla consciência: de pertencer a um
determinado grupo e a um respectivo lugar
75
, de ocupar um espaço físico que também é um
território, dividindo as suas existências e partilhando dos principais assuntos da vida. a
‘vizinhança espacial urbana’ é aquela que se forma espacialmente, sob o ponto de vista
demográfico, apenas com o acúmulo de indivíduos, sem que haja entre eles quaisquer
necessidades que deve ser entendida na mesma perspectiva que será exposta mais adiante,
da conveniência – de estreitamento de relações diárias.
A utilização destas duas categorias de vizinhança exprime a existência de
possibilidades de ações recíprocas entre vizinhos, entre pessoas que residem próximas, pois,
como dizem Andrade e Mendonça (2007), “em termos simmelianos, a vizinhança é uma
forma de interação que pode abrigar diferentes conteúdos, desde os mais próximos e
tradicionais, quanto os mais distanciados e mais urbanizados”; (ANDRADE; MENDONÇA,
2007, p. 4). Nesse sentido, ‘vizinhança espacial urbana’ e ‘vizinhança social urbana’ são dois
conteúdos de uma mesma forma, a vizinhança.
Em contraposição às formas de sociabilidade cosmopolitas, em que consideramos a
‘vizinhança espacial urbana’ como preponderante, pude identificar a vizinhança existente nos
bairros Pompeia e Esplanada, como uma ‘vizinhança social urbana’. A este tipo de
vizinhança, Cândido (2003, p. 81) chamou de ‘sociabilidade caipira’, na qual o
agrupamento de outrora poucas famílias e, atualmente, muitas famílias, de certa forma
vinculadas por um ‘sentimento de localidade’, por conviverem juntas e se auxiliarem
mutuamente por meio de atividades ludicorreligiosas, mostrando-se como uma sociabilidade
vicinal, fundamentada em relações mais coesas, em que prevalecem laços de compadrio,
parentesco e vizinhança, baseada em sentimentos de cumplicidade e de solidariedade entre
seus moradores.
75
A mesma conotação dada por Cândido (2003) quando identificou a base territorial e o sentimento de
localidade quando definiu a unidade sociológica bairro, abordada no tópico 3.2.
86
Assim como na obra Os parceiros do Rio Bonito –, na qual Cândido (2003, p. 84)
considerou dois elementos como imprescindíveis para o entendimento do conceito de bairro,
que foram utilizados também aqui nesta dissertação: a ‘base territorial’, necessária para a sua
configuração, e o ‘sentimento de localidade’, o sentimento de pertencimento existente em
seus moradores. Esses dois elementos aliados fazem com que os bairros sejam, por assim
dizer, uma unidade social diferente das outras. Segundo Mayol:
[...] o bairro é, quase por definição, um domínio do ambiente social, pois ele
constitui para o usuário uma parcela conhecida do espaço urbano na qual, positiva
ou negativamente, ele se sente reconhecido. [...] A fixidez do habitat dos usuários, o
costume recíproco do fato da vizinhança, os processos de reconhecimento – de
identificação – que se estabelecem graças à proximidade, graças à coexistência
concreta em um mesmo território urbano, todos esses elementos ‘práticos’ se nos
oferecem como imensos campos de exploração em vista de compreender um pouco
melhor esta grande desconhecida que é a vida cotidiana. (MAYOL, apud
CERTEAU, 1996, p.40).
A proximidade física, aquela da ‘vizinhança espacial’, transforma-se em ‘vizinhança
social’, na qual estão presentes visíveis características de cooperação e conveniência, que para
Mayol (1996), é o rito do bairro, em que cada morador submete-se à vida coletiva. Para o
autor, o atributo da conveniência traduz-se por repressões minúsculas; pela transparência
social; pela forma de consumo e postura do corpo e pelo trabalho social dos sinais. (MAYOL,
apud CERTEAU, 1996, p. 49-56). As ‘repressões minúsculas’ mostram-se como um elemento
negativo da conveniência, pois se traduzem em proibições de comportamentos sociais, sob os
argumentos de que ‘não se faz’, ‘não convém’, apresentando-se como uma cartilha tácita do
que é ou do que não é tolerável no ambiente do bairro. É muito comum a preocupação com ‘o
que é que os vizinhos vão dizer?’, pois “[...] a conveniência mantém relações muito estreitas
com o processo de educação implícito a todo grupo social: ela se encarrega de promulgar as
‘regras’ do uso social [...]”. (MAYOL apud CERTEAU, 1996, p. 49). A ‘transparência social’
é aquela que deve estar inscrita na vida cotidiana, que tem como característica não apreciar a
transgressão. Cada qual deve assumir o seu papel definido a priori, pois
O bairro é um palco ‘diurno’ cujos personagens são, a cada instante, identificáveis
no papel que a conveniência lhes atribui: a criança, o pequeno comerciante, a mãe de
família, o jovem, o aposentado, o padre, o médico, máscaras e máscaras por trás das
quais o usuário do bairro é ‘obrigado’ a se refugiar e continuar usufruindo dos
benefícios simbólicos com os quais pode contar. (MAYOL apud CERTEAU 1996,
p. 51).
87
Foi observado durante a pesquisa que em relação aos vizinhos, principalmente os que
moram no mesmo quarteirão, uma relação muito próxima, de solidariedade, de amizade, e
também de controle. Em função disso, o anonimato entre os vizinhos é praticamente
inexistente, pois mesmo que as pessoas não mantenham uma relação diária mais estreita,
sempre se sabe quem mora naquela casa, se é parente de alguém conhecido ou se é um
morador novo. Como disse uma moradora quando comparou o seu bairro a outros de Belo
Horizonte que ela conhece, “aqui é mais acolhedor, é tudo mais juntinho, mais aconchegante”
(Marlene, 50 anos, acupunturista)
76
. Para Park (1967), é justamente a proximidade e o contato
existente entre os vizinhos que “são as bases para a mais simples e elementar forma de
associação”. (PARK, 1967, p. 34) na organização da vida de uma cidade, o que pode ser visto
com mais intensidade da esfera do bairro, onde a interação face-a-face é corriqueira e os laços
entre as pessoas são mais fortes, advindos do parentesco ou da amizade.
A pesquisa revelou que a relação estabelecida entre os vizinhos dos bairros Pompeia e
Esplanada, na perspectiva de Fichter (1973), configura-se como uma ‘vizinhança social
urbana’, e é também o retrato de uma sociabilidade paradoxal, pois ao mesmo tempo em que
um sentimento de solidariedade e, muitas vezes, de amizade e parentesco, a relação é
também pautada pela manutenção do decoro’, em um cotidiano onde a transgressão não é
bem aceita. Esse tipo de relação de vizinhança requer que todos, mesmo que de maneira
inconsciente, estejam alertas e preocupados com o risco de ser ‘malfalado’ pelas pessoas que
estão permanentemente por perto. Como disse Alberini, Medeiros e Souza (1999), “o temor
do olhar que não se torna palavra, que não se traduz em comentário face-a-face, é traço
marcante da condição de vizinhança”. (ALBERINI; MEDEIROS; SOUZA, 1999, p. 63). Em
última análise, há entre os moradores o temor de que sejam alvos de fofocas, de mexericos, de
comentários que não sejam feitos face-a-face, mas compartilhados com outros moradores,
trazendo risco para sua reputação e, também, para a sua convivência dentro do grupo. Esse
temor é procedente, pois, como foi constatado por Elias e Scotson (2000), dentro da função de
integração, de coesão social está a “função de excluir pessoas e cortar relações”. (ELIAS;
SCOTSON, 2000, p. 125), funcionando como uma poderosa arma usada de maneira coletiva
e, indistintamente, por pessoas consideradas bem intencionadas ou de bom coração, pois,
como diz Elias e Scotson (2000), “a censura grupal imposta aos que infringiam as regras
tinha uma vigorosa função integradora. Mas não se sustentava sozinha. Mantinha vivos e
reforçava os vínculos grupais já existentes”. (ELIAS; SCOTSON, 2000, p. 124).
76
Entrevista concedida em 16/05/2008.
88
O comportamento esperado das pessoas nas ruas faz parte de um sistema em que se
deve observar os códigos vigentes de cortesia, como as saudações diárias e os ‘pedidos de
notícias’ de pessoas da família, por exemplo, ou ainda pela observação do vestuário utilizado
nos espaços públicos dos bairros. O fato de os moradores concordarem em se comportar de
acordo com o esperado pela maioria, ou seja, em ser conveniente, segundo (Mayol, 1996, p.
47), traz benefícios simbólicos como o de ser ‘considerado’ por seus pares e colaborar com a
vida cotidiana, afinal, “a prática do bairro é uma convenção coletiva tácita, não escrita, mas
legível por todos os usuários através dos códigos da linguagem e do comportamento”.
(MAYOL, 1996, p. 47). A percepção de um dos entrevistados mostra que o sentimento de
‘intimidade’ com os vizinhos de bairro tem como contrapartida, em larga escala, a questão do
controle entre os moradores. Diz ele:
Você encontra sempre as mesmas pessoas na rua. [...] A convivência é muito boa.
Eu noto pela minha avó, ela conhece absolutamente todo mundo num raio de dois
quilômetros. [...] As pessoas se ajudam quando precisam. As pessoas têm um
contato mais íntimo, na padaria, em tudo que é lugar, você não tem como ir nenhum
lugar sem encontrar alguém que você conhece. (Pedro, 21 anos, designer gráfico)
77
.
O fato de as pessoas se conhecerem e de terem uma boa convivência, de contato mais
íntimo, de solidariedade, reforça o sentimento coletivo de que as atitudes, os hábitos, a vida
do vizinho interessa a todos, podendo manifestar-se por meio da fofoca elogiosa (pride
gossip) ou depreciativa (blame gossip), uma inseparável da outra, e ambas importantes para a
coesão social
78
.
Esse conhecimento generalizado entre os habitantes dos bairros onde intimidade e
preocupação com a forma de se comportar é estendida ao meio de transporte público (ônibus)
utilizado por muitos moradores dos bairros. Disse uma moradora que utiliza o ônibus como
meio de transporte com assiduidade: “[...] ônibus a gente vem, seis horas da tarde, o maior
papo, todo mundo conversando. Um dia até o motorista falou: ‘Ave Maria, o que é isso, o
povo conversa demais’. [...] Precisa ver que legal, é a maior festa. [...] Todo mundo
conversando, contando as últimas”. (Anna, 75 anos, pedagoga aposentada)
79
.
77
Entrevista concedida em 06/05/2008.
78
Interessante estudo de Elias e Scotson (2000) sobre a pequena comunidade de Winston Parva, próxima de
Leicester, na Inglaterra, que tinha por cleo um bairro relativamente antigo, traz reflexões metodológicas e
teóricas abrangentes para a pesquisa em Ciências Sociais, em que, além de outras abordagens, é demonstrada a
importância da fofoca como instrumento de manutenção da coesão social de um grupo de pessoas, de moradores
de um mesmo lugar.
79
Entrevista concedida em 01/09/2008.
89
Essa interação característica dos bairros investigados, uma interação mais provinciana,
por assim dizer, é diversa daquela apontada por Simmel (1967), em que há um modo de vida
peculiar metropolitano, com uma exacerbada anonimidade e impessoalidade nas interações
entre os citadinos, sendo inevitável o desenvolvimento de uma atitude blasé e de reserva. A
atitude blasé é desenvolvida pelo habitante da metrópole em função da estrutura nela existente
na qual prevalece a mais alta impessoalidade e a subjetividade dos indivíduos é altamente
pessoal –, caracterizando-se como um fenômeno psíquico, resultante de um feixe de estímulos
contrastantes impostos aos nervos dos indivíduos. Esses estímulos, segundo Simmel (1967),
agitam os nervos até seu ponto de mais forte reatividade, por um tempo longo, que a
tendência é que eles parem de reagir e o indivíduo se acomode. A partir disso, ao tomar para
si essa atitude blasé, o indivíduo desenvolve uma atitude de reserva, que para Simmel (1967)
é necessária, tornando-o indiferente, capaz de aversões e repulsões mútuas, e passa a ser
comum, por exemplo, que “freqüentemente nem sequer conhecemos de vista aqueles que
foram nossos vizinhos durante anos. E é esta reserva que aos olhos da gente da cidade
pequena, nos faz parecer frios e desalmados”. (SIMMEL, 1967, p. 17).
Nos bairros Pompeia e Esplanada, mesmo que seus moradores exteriorizem essa
atitude blasé e de reserva em outros ambientes que frequentem, fora do lugar onde moram, em
virtude do trabalho, da escola ou do lazer, por exemplo, no bairro em que moram é quase
impossível que preservem e desenvolvam tais atitudes, pois a interação existente entre eles é
eminentemente face-a-face. Se assim não se comportassem, poderiam ser, no mínimo, mal
compreendidos, pois estariam negando a dinâmica social arraigada nos bairros e, em função
disso, mal interpretados.
A interação entre os moradores dos bairros Pompeia e Esplanada é intensa nos limites
da vizinhança, mas pode ser identificada, também com relativa intensidade, em alguns lugares
específicos dos bairros lugar entendido na perspectiva de Tuan (1980) e Carlos (1996),
tratado anteriormente. A observação teve como objetivo interpretar como é a frequência e a
convivência dos moradores nos espaços públicos e semipúblicos dos bairros e, durante a
pesquisa, imprimi à observação maior acuidade, no sentido de identificar a ocorrência de
simultaneidade de dois modos de vida o moderno e o provinciano –, tendo como baliza os
argumentos expendidos anteriormente, no item 2.4.
Ciente da existência de outros locais que podem ser considerados palcos de interações
sociais, de convívio cotidiano e de relacionamentos face-a-face, por uma questão
metodológica, elegi alguns para integrarem a presente dissertação. A análise das entrevistas e
90
das anotações feitas quando das observações sistematizadas, feitas dos e nos espaços dos
bairros, trazem muitas contribuições para os resultados da pesquisa. Passemos a elas.
3.5.1 As ruas
A rua representa, em nossa sociedade, a vida cotidiana. [...] lugar de passagens, de
interferências, de circulação e de comunicação. É, pois, tudo, quase tudo: o
microcosmos da modernidade. Com sua aparência móvel oferece publicamente o
que em outros lugares está escondido, pondo em prática a cena de um teatro quase
espontâneo. [...] Na rua eu participo. Sou também espetáculo para os demais.
(LEFEBVRE, 1975, p. 94-95)
80
A rua é considerada um local de movimento, e DaMatta (1984), ao contrapor o espaço
da rua com o espaço da casa, comparando-a a um rio, diz que o movimento da rua se
expressa ‘num fluxo de pessoas indiferenciadas e desconhecidas’ e, por isso, para ele “na rua
não há, teoricamente, nem amor, nem consideração, nem respeito, nem amizade”.
(DAMATTA, 1984, p. 29) A rua é também comumente vista como local de perdição e de
abandono, são muitas as conotações negativas atribuídas às ruas. Mas aqui nessa dissertação,
a rua é tomada sob outra perspectiva, como um espaço de sociabilidade, onde podemos
encontrar ‘além da vida, também os fragmentos da vida’, observando-a como algo além do
que um local de passagem, pois se trata da ‘rua’ inserida no espaço físico do bairro e, como
tal, palco do movimento cotidiano de pessoas e do fluxo de carros.
Carlos (1996) descreve dez dimensões da rua. Para a autora, a rua pode ter o ‘sentido
de passagem’, onde as pessoas vão e voltam; pode ter o ‘sentido de fim em si mesma’, sendo
utilizada como local de mercado, dos camelôs, ou dos vendedores ambulantes das esquinas;
pode ter o ‘sentido do mercado vinculado à troca’, aquele destinado às feiras livres; pode ter o
‘sentido da festa’, quando, por exemplo, é utilizada por torcedores festejando a vitória do seu
time; pode ter o ‘sentido da reivindicação’, quando ela se torna palco de manifestações
políticas ou sociais; pode ter o ‘sentido da moradia’, para aqueles que carecem de um teto
80
La calle representa, en nuestra sociedad, a la vida cotidiana. [...] el lugar do paso, de interferecias, de
circulación y de comunicación. Es, pues, todo, o casi todo: el microcosmos de ma modernidad. Con su
aparencia móvil ofrece públicamente lo que en otros lugares está escondido, poniéndolo en práctica sobre la
escena de un teatro casi espontaneo. [...] Em la calle yo participo. Soy también espetáculo, para los demás
(LEFÉBVRE, 1975, p. 94-95)
91
para morar; pode ter o sentido de território de gangues’, onde prevalecem leis e normas de
comportamento específicas de determinados grupos; pode ter o ‘sentido da normatização da
vida’, como local de instalação de placas e semáforos para regular a sua utilização diária;
pode ter o ‘sentido da segregação social’, na medida em que a hierarquia social está fundada
na hierarquia espacial; e, por último, a rua pode ter o ‘sentido do encontro’, quando se
transforma em espaço de lazer e de sociabilidade. (CARLOS, 1996, p. 89-90)
Coube-me nesta pesquisa investigar como se dá o uso das ruas nos bairros Pompeia e
Esplanada, como seus moradores se apropriam dela e, em última análise, como os habitantes
dos bairros organizam a vida cotidiana, como são seus hábitos e costumes no espaço da rua.
Apesar de a rua ser um espaço público por excelência, em diversos momentos durante a
pesquisa percebi a apropriação privada do espaço da rua e também da calçada
81
. Por diversas
vezes observei o encontro de moradores nas calçadas, uma prática comum, como disse uma
moradora, ao lembrar um hábito antigo que não se vê com muita frequência em outros
lugares. Disse-me ela:
Sentar na porta da casa [...], na minha casa então... Eu tenho um amigo que é
fotógrafo, que ele sempre morou fora, não conhecia aqui não. [...] Quando ele foi
entrando na Tulipa (rua) ele contou, tinha uns seis, que ele contou, sentado na porta
da casa batendo papo com outro, mas não eram seis pessoas não, eram seis casas,
gente sentado na porta. E, realmente, se a gente for parar pra pensar, você não vai
achar isso numa Cidade Nova (bairro), em outro bairro [...]. Eu vivia sentada no
meio-fio. em casa todos nós, amigos... Eu namorava sentada no meio-fio. Então
você vê que permanecem essas coisas. (Andreia, fotógrafa, 42 anos)
82
.
Para Santos e Vogel (1985) as maneiras de apropriação dos espaços da rua e da
calçada “criam uma ambiência que os moradores associam ao modo de vida tradicional [...].
Referem-se muito a um tempo em que as cadeiras na calçada eram a ‘marca registrada’ da
vida do bairro. [...] No passado, dizem, todos tinham esse costume que hoje parece estar em
extinção”. (SANTOS; VOGEL, 1985, p. 51).
Apesar do movimento de veículos, é possível encontrar crianças e jovens brincando de
bola, skate, ou de outra diversão qualquer nas ruas ou praças dos bairros Pompeia e
81
A calçada funciona como um espaço intermediário entre as casas e a rua propriamente dita, é o espaço das
pessoas na rua. Apesar de ser contígua às casas, é também um espaço público.
82
Entrevista concedida em 02/05/2008.
92
Esplanada, demonstrando a possibilidade de uma apropriação lúdica desse espaço público.
(Figuras 5 e 6).
Figura 5: Apropriação de ruas dos bairros para encontro de crianças e jovens.
(Rua Amazonita)
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 6: Apropriação de ruas dos bairros para encontro de crianças e jovens.
(Ruas Antônio Justino e Felipe Camarão)
Fonte: Acervo da Autora.
Encontrei nas ruas do bairro também a utilização da calçada de uma esquina, em frente
ao largo da Matriz, como espaço da feira, demonstrando que a sua utilização privada faz com
que o espaço se apresente apenas como mais uma dimensão do social. (Figuras 7 e 8). A
regularidade de utilização de um espaço público “existe precisamente em todas as maneiras
pelas quais um local venha a ser, de fato, apropriado e usado. As regras de utilização do
espaço estão permanentemente em construção”. (SANTOS; VOGEL, 1985, p. 49). Noutra
esquina, em frente a uma porta de comércio, a partir de 17:00 horas, é possível observar uma
93
churrasqueira montada na rua, encostada ao meio-fio, com umas duas mesas e algumas
cadeiras sobre a calçada, transformando um local que durante o dia foi apenas lugar de
passagem de pedestres em um local de encontro e descontração.
Figura 7: Venda de verduras no adro da Igreja Matriz (Rua Mário Martins, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 8: Venda de frutas e verduras, na esquina de frente à Igreja Matriz (Rua 28 de
setembro, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
A venda de pão, em bicicletas (Figura 9), nas ruas dos bairros também é uma prática
comum, pela qual os moradores são ‘despertados’ por uma buzina, a partir das 06:30 horas.
Em dois cestos sobre a bicicleta é possível ao freguês escolher entre o pãozinho francês e uma
variedade de pães doces. Como descreve uma moradora do bairro Esplanada, “aqui ainda
passam carros vendendo coisas, abacaxi, por exemplo. Vem o caminhão do abacaxi, vem o
94
carro da pamonha. Pão, uma bicicleta que vende pão o dia inteiro aí”. (Maria, 72 anos,
professora aposentada)
83
.
Figura 9: Venda de pão nas ruas do bairro (Rua Amazonita, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Outra utilização comum das ruas dos bairros Pompeia e Esplanada é aquela vinda de
manifestações religiosas católicas, contrariamente ao que ocorre com as igrejas protestantes e
pentecostais
84
presentes nos bairros
85
. A igreja católica – matriz e capelas – utiliza a rua como
espaço de manifestações religiosas, de celebrações.
Como diz Brandão (2001), celebrações podem ser: “celebração em um lugar (missa,
novena, reza) e tipos de celebração entre lugares (folia), em busca de algum lugar (romaria)
ou através de algum lugar (procissão)”. (BRANDÃO, 2001, p. 37). Dentre esses tipos de
celebrações, durante a investigação pude participar de algumas procissões, carreatas e
barraquinhas, todas realizadas em datas comemorativas da religião católica ou de
comemoração de santos padroeiros da matriz ou das capelas a elas vinculadas.
83
Entrevista concedida em 27/08/2008.
84
As manifestações religiosas observadas nas ruas dos bairros foram o somente da igreja católica, pois como
disse Brandão (2001), “Entre os protestantes e mais ainda entre os pentecostais, o templo de Deus é a pessoa e
o corpo do fiel. No mundo, fora dele, o único objeto material de respeito mas não ainda de veneração é a Bíblia.
[...] o próprio templo só é santo por causa da comunidade que o habita, e nada há nele que o torne poderoso ou
digno de devoção em si mesmo”. (BRANDÃO, 2001, p. 33). Em função disso, não há motivo para manifestações
públicas das religiões protestantes nas ruas.
85
Nos bairros pesquisados foram identificadas várias igrejas protestantes e pentecostais. Para ilustrar esta
dissertação trouxe apenas as que estão instaladas em edificações construídas com a finalidade específica de ser
templo. As outras que não estão citadas neste trabalho estão instaladas em locais de destinação diversa, em locais
adaptados, por assim dizer. No bairro Pompeia foram identificadas as seguintes igrejas protestantes ou
pentecostais: Igreja Presbiteriana, Assembleia de Deus e Betel; e no bairro Esplanada: Igreja Batista da Pompeia,
Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Batista Nacional, Igreja Cristã Maranata.
95
Essas manifestações públicas, em espaços dos bairros, são manifestações festivas,
carregadas do propósito religioso, mas também fruto de expressão do folclore. Como diz
Brandão (2001),
Apesar dos esforços da Igreja para separar uma parte propriamente religiosa das
outras, folclóricas ou das francamente profanas, para o devoto popular o sentido da
festa não é outra coisa senão a sucessão cerimonial de todas estas situações, dentro e
fora do âmbito restrito dos ritos da Igreja. (BRANDÃO, 2001, p. 37).
Importa ressaltar que qualquer dessas manifestações traduz-se numa intenção de
festejar, motivo pelo qual deve ter “a participação do devoto festejador em um número
máximo de situações”. (BRANDÃO, 2001, p. 38) e, nessa perspectiva, a festa se traduz na
prática de situações combinadas e enseja a união dos devotos, a sucessão entre eles e ainda a
articulação como um todo.
Em todas as entrevistas foram citadas as procissões como forma de utilização do
espaço público dentro dos bairros, com a indicação de que sempre houve esse costume em
celebrações festivas da igreja católica, sobretudo em comemorações referentes aos ‘santos
padroeiros’, da paróquia e das comunidades a ela vinculadas. Fotos da primeira metade do
século passado mostram essa utilização das ruas dos bairros, ressaltando-se que, naquela
oportunidade, elas ainda eram de terra, sem nenhum tipo de calçamento. (Figuras 10 e 11)
Figura 10: Procissão saindo da Igreja Matriz época situada na rua Antônio Justino, bairro
Pompeia), no ano de 1944.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
96
Figura 11: Procissão (Rua Antônio Justino, bairro Pompeia), no ano de 1952.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Durante a pesquisa pude participar de diversas procissões, em datas diversas, como,
por exemplo, na comemoração de Corpus Christi (Figura 12 e 14), nas festas de Nossa
Senhora da Abadia, de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, de Nossa Senhora Aparecida,
de Santo Antônio, dentre outros (Figuras 13, 15 e 17). Na maioria das vezes foram procissões
a pé, mas também uma procissão de carros, uma carreata (Figura 16). As fotos trazem
ilustração de algumas dessas procissões, realizadas em horários diversos, durante o dia, ou à
noite; com a presença de pessoas dos bairros, mas também de pessoas de fora.
Figura 12: Procissão de Corpus Christi (Rua Amazonita, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
97
Figura 13: À esquerda, procissão de Santo Antônio, na esquina das ruas Casa Branca e Leopoldo Gomes; à direita,
procissão de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, na rua Antônio Justino, bairro Pompeia.
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 14: Procissão de Corpus Christi (À esquerda, rua Amazonita, bairro Pompeia; à direita, esquina das ruas
Iara e Mário Martins).
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Figura 15: Procissão com a participação de um congado da cidade de Oliveira esquerda, rua Mário Martins
Amazonita, bairro Pompeia; à direita, Rua Amazonita, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
98
Figura 16: Procissão de carros pelas ruas dos bairros Pompeia e Esplanada Comemoração do dia de Nossa Senhora
Aparecida.
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 17: Missa em homenagem a São Judas Tadeu, em frente à Capela São Judas Tadeu (esquina
das ruas Iara e Engenho Novo, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Como se percebe, a intensa utilização das ruas dos bairros Pompeia e Esplanada se
assemelham à utilização das ruas em cidades pequenas, em que muitas pessoas do lugar se
reúnem para a comemoração e celebração de uma data específica, de significado
compartilhado, na maioria das vezes, para festas religiosas.
99
3.5.2 Os bares
Segundo Ferreira (1999), as tabernas das estalagens de viajantes são os precursores
dos bares modernos. Normalmente localizadas nos grandes centros urbanos, nas rotas de
viagens entre a Europa e o Oriente. Tinham como principal finalidade servir de local de
descanso, de alimentação, além de ser um local propício para reparar a montaria e a carga que
estava sendo transportada. Nas tabernas das estalagens era ainda possível “colocar-se a par
das notícias acerca do que estava acontecendo”. (FERREIRA, 1999, p. 20)
Num momento posterior as tabernas se desvinculam das estalagens e passam a existir
de maneira independente, passando à oferta de comidas, bebidas, prostitutas e lazer, com os
“concorridos jogos de dados” (FERREIRA, 1999, p. 21). Proporcionando a interação de
pessoas por meio do consumo de comidas, bebidas e diversão, as tabernas tornam-se um local
bastante frequentado, proporcionando integração que antes era vista apenas em momentos
comemorativos. Apresenta-se como um local onde diversos assuntos são tratados e, como
disse Ferreira (1999), “as tabernas foram, até mesmo, locais para a formação intelectual dos
goliardos, estudantes nada disciplinados que viveram durante os séculos XII e XIII”.
(FERREIRA, 1999, p. 22).
Os frequentadores das tabernas são pessoas de camadas sociais mais populares, não
indicando que figuras ilustres não as frequentassem, mesmo que fossem disfarçados, eles
estavam. Outro ponto de destaque abordado por Ferreira (1999) é o fato de as tabernas
servirem também de palco para debates políticos e ‘termômetro da vida social na região’ onde
estavam instalados.
No contexto da modernidade as tabernas tomam novas configurações e transformam-
se nos ‘cafés modernos’, introduzidos no cenário europeu pelos viajantes advindos das
Arábias, no final do século XVII, portadores de uma nova bebida, escura de forte sabor,
“conhecida pelos árabes [...] (pronunciada pelos turcos como kabvé: café)”. (FERREIRA,
1999, p. 25). Os cafés também eram locais de público eclético e centro de discussões
políticas. Locais de comer, beber e se divertir. Em Paris eram espaços também dos cabarés.
No século XIX, tomando uma nova configuração, os cafés passam a estar presentes no
cotidiano das pessoas em maior quantidade e, seguindo o “espírito do desenvolvimento
econômico e prosperidade tecnológica desse momento da história, definindo uma nova ordem
100
política, econômica e social”. (FERREIRA, 1999, p. 27), tornam-se locais também das artes,
propícios a concertos, saraus e jogos.
Segundo Ferreira (1999), mesmo no cenário da Primeira Guerra Mundial os cafés
permaneceram como local de convivência para a população, onde se buscava solidariedade e
conforto no cenário de guerra.
Aos poucos os cafés vão se transformando e tomando a conformação que têm os bares
modernos, no primeiro quartel do século XX, pois é “ainda na cada de 20, quando os cafés
passam a deixar as tradicionais mesas de mármore para introduzir o balcão central de
alumínio, e também a tendência a trabalhar mais com bebidas alcoólicas”. (FERREIRA, 1999,
p. 29).
Após esse diminuto escorço histórico sobre o bar, com todas as denominações que lhe
cabem taberna, café, casa de pasto, restaurante, casa de bebidas, botequim, mercearia –, o
que nos interessa aqui é sua abordagem como espaço de sociabilidade, pois eles são lugares
onde ‘a comunicação ainda resiste’. Maffesoli (2001), citando Peyrefitte, diz que:
[...] é na vida mais concreta que existe o mais da socialidade. Longe das estruturas
econômicas ou políticas, a comunicação, função essencial, inscreve-se nos lugares
mais humildes, nas situações mais banais. É conhecido que, quando num vilarejo ou
num bairro um bar fecha, é um pouco de vida que cessa. Aí, no espaço humilde onde
se exprimem tantas alegrias e desapontamentos, aí, nesse espaço onde se joga tanto
afeto e onde têm lugar tantas conversas, constitui-se pouco a pouco a trama social.
(MAFFESOLI, 2001, p. 92).
Eles são espaços públicos comerciais, locais de convívio e sociabilidade, durante
muito tempo de presença predominantemente masculina, situado entre a rua, a casa e o
trabalho e, como dito anteriormente, ao longo de sua existência, importantes para a prática do
debate público, mais recentemente para opinar sobre a política.
É muito elevado o número de bares e botequins
86
nos bairros Pompeia e Esplanada. Os
bares, restaurantes e pizzarias foram citados por muitos dos entrevistados como local de
diversão, uma vez que as opções de lazer são escassas. Diversas entrevistas trouxeram a
informação de que os bares existentes nos bairros são, em larga medida, locais importantes
86
Em razão da existência de diferença de apropriação destes espaços, nesta dissertação será considerado ‘baro
estabelecimento que tem seu funcionamento exclusivamente à noite; e ‘botequim’, o bar que funciona durante o
dia também, ressalvando que para os moradores as duas denominações podem ser tomadas para definir o mesmo
espaço.
101
para o lazer de seus moradores e moradoras
87
. A escolha das fotografias para ilustrar esta
dissertação não seguiu nenhum critério de importância, tempo de estabelecimento ou qualquer
outro, mas foi feita de forma aleatória, com o intuito de apresentar aos leitores espaços de
intensa sociabilidade.
Numa observação livre, pude perceber que vários bares e botequins (Figura 18) são
frequentados por moradores dos bairros, com determinado grau de assiduidade, sendo fácil
notar que os fregueses se conhecem mutuamente, muitos deles frequentados por famílias.
87
A função social do botequim foi objeto de estudo de Silva (1978), que identificou as diversas motivações que
levam as pessoas a frequentar esses estabelecimentos e as possibilidades de organização social desses espaços.
102
Figura 18: Alguns dos bares situados nos bairros Pompeia e Esplanada.
Fonte: Acervo da Autora
Figura 18: Alguns dos bares situados nos bairros Pompeia e Esplanada.
Fonte: Acervo da Autora
A utilização dos bares nos bairros investigados, além de cumprir a função de espaço
de lazer para seus moradores, também compõe o cenário belo-horizontino em sua tradição de
ser uma cidade com vida noturna intensa. Alguns bares são conhecidos além das fronteiras
dos bairros e são frequentados por pessoas que residem em outros bairros da capital
88
.
88
Os bairros Pompeia e Esplanada têm sido representados no festival gastronômico que acontece anualmente, de
amplo conhecimento da cidade: O “Comida de boteco”.
103
3.5.3 As praças
Outro espaço propício à observação das formas de sociabilidade do vicindário
pesquisado é a praça, presente em quatro locais do espaço considerado nessa pesquisa, todas
providas de bancos, ensejando uma parada para uma ‘prosa’, ou um encontro após a missa de
domingo.
Durante a pesquisa pude observar as quatro praças
89
existentes nos bairros, em
horários diferentes, para perceber como se dá a sua utilização. Ressalto que as praças foram
lembradas por todos os entrevistados, à exceção das ruas, como os únicos espaços públicos
passíveis de utilização pelos moradores.
A percepção que os moradores têm sobre a utilização do espaço público ‘praça’ é que
elas são frequentadas, principalmente a que está situada no bairro Esplanada e possui um
comércio relativamente intenso à sua volta, chamada Praça Santa Rita, mas também evocada
como praça ‘Café da Manhã’, em referência à uma movimentada padaria instalada. Os
entrevistados que fizeram referência a essa praça ressaltaram a sua utilização por pessoas
idosas e crianças na parte da manhã e por jovens à tarde e à noite. Outra praça que também foi
citada, em menor escala, mas sempre como um local de encontro, foi a Praça da Abadia,
dentro dessa percepção de utilização das praças. Disse-me uma moradora que
As praças são bem utilizadas, todas elas. A da ‘Café da Manhã’ é muito utilizada
para o pessoal treinar capoeira, ou estarem lá, ou andando de bicicleta, muito
adolescente fica lá tomando sorvete. A outra também, da Abadia, eu passo muito ali,
sempre tem gente sentada, casal de namorados. (Andreia, fotógrafa, 42 anos)
90
.
A Praça da Abadia passou por uma reforma para instalação de equipamentos de
diversão infantil, minorando a escassez de opções de lazer presente no bairro Esplanada.
Passados poucos dias de sua instalação, podiam ser encontradas várias crianças se
divertindo por lá. (Figura 19)
89
Praça Santa Rita, no bairro Esplanada. Situada no cruzamento das ruas Sete de Abril e 28 de Setembro; Praça
da Abadia, no bairro Esplanada, situada no cruzamento das ruas Mariano de Abreu, Tulipa, Lapa e Sarandi;
Praça Zumbi dos Palmares, situada no bairro Pompeia, na esquina das ruas Leopoldo Gomes e av. Belém; e
Praça da Matriz, que não é propriamente uma praça, mas o adro da Igreja de Nossa Senhora do Rosário de
Pompeia.
90
Entrevista concedida em 02/05/2008.
104
Figura 19: Utilização da Praça da Abadia após instalação de equipamentos de diversão.
Fonte: Acervo da Autora.
A pesquisa permitiu-me presenciar a utilização das praças para apresentações
culturais, principalmente para a apresentação de números musicais, seja por iniciativa dos
moradores, seja como cumprimento de uma programação da igreja católica nas festas das
padroeiras ou em comemoração ao ‘Dia do Trabalhador’, por exemplo. Segundo o jornal
“Estado de Minas”, a “Associação Comunitária Esplanada é responsável pela viabilização de
boa parte das manifestações, como apresentação de grupos de capoeira, bandas musicais e
exposições. ‘Em alguns domingos costuma ter uma feirinha de artesanato e exposição de
livros na praça’, comenta a integrante do conselho deliberativo e ex-presidente da associação”
(ARAÚJO, Giselle. Jornal Estado de Minas. 14 mar. 2004, p. 2). Na praça Santa Rita assisti a
uma apresentação musical (Figura 24) e visitei uma feira de livros espíritas. Na praça da
Abadia, participei da reza de um terço, em homenagem ao Dia dos Trabalhadores (Figura 22).
Na praça da Matriz, assisti à apresentação de bandas convidadas a participar de festa
religiosa
91
(Figura 23); a bênção de animais e plantas na festa de São Francisco de Assis; a
recepção do estandarte e o hasteamento do mastro da padroeira (Figura 20); e, ainda, um
lanche servido aos enfermos após a celebração da missa em horário especial para os
enfermos
92
. (Figura 21).
91
Banda Sociedade Musical Santa Lúcia e Banda da Polícia Militar, nos meses de setembro e outubro de 2008,
respectivamente.
92
Em alguns sábados do ano (aproximadamente dois), são celebradas missas na Matriz, em horário especial
(normalmente às 15:00 horas), para os enfermos. Espera-se para essa celebração as pessoas enfermas, que estão
acamadas, com dificuldade para comparecer à igreja e que, por isso, são ao longo do ano assistidas por Ministros
Extraordinários da Eucaristia, para o recebimento do sacramento da Eucaristia.
105
Figura 20: Recepção do Estandarte de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia e levantamento do mastro na festa
da padroeira.
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 21: Lanche oferecido aos enfermos após a Missa dos Enfermos, na praça da Matriz
Nossa Senhora do Rosário de Pompeia, bairro Pompeia.
Fonte: Acervo da Autora.
106
Figura 22: Reza do terço - Dia dos Trabalhadores - Praça da Abadia, bairro Esplanada.
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 23: Banda da Polícia Militar - Praça da Matriz.
Fonte: Acervo da Autora.
107
Figura 24: Praça Santa Rita, bairro Esplanada.
Fonte: Acervo da Autora.
Numa reportagem do jornal “Estado de Minas”, de 14.03.2004, uma foto dessa
mesma praça Praça Santa Rita, situada no bairro Esplanada com a seguinte indicação:
“Praças arborizadas servem de espaço de lazer para crianças e adultos e dão à região um tom
bucólico”. (ARAÚJO, Giselle. Jornal Estado de Minas. 14 mar. 2004, p. 2).
Dentre os aspectos observados na utilização das praças durante a pesquisa, foi motivo
de surpresa o fato de que na maioria das vezes apresentam-se com manifestações contidas, ou
seja, não percebi manifestações políticas ou reivindicativas, nem tampouco que demonstrasse
qualquer tipo de algazarra’, ainda que pudesse ser caracterizada como de cunho profano,
próprio do mundo laico, por assim dizer.
A utilização das praças, na sua maioria, assemelha-se a utilizações desse mesmo
espaço nas cidades pequenas. Trata-se de apropriações mais recatadas, quase sempre ligadas à
igreja católica, o que reflete o modo de vida vigente nos bairros, também recatado e
preocupado com a preservação de costumes tradicionais. Quando não são utilizadas para
atividades da igreja católica reza do terço no Dia dos Trabalhadores, lanche para enfermos,
por exemplo –, são utilizadas para apresentação de músicas clássicas orquestra de violinos,
por exemplo.
Uma constatação que pode ser feita na observação das praças situadas nos bairros e
que corrobora o argumento de que a igreja católica exerce uma forte influência nos bairros
Pompeia e Esplanada está no fato de que a praça da Matriz, formada pelo adro da igreja e do
convento e a praça da Abadia, que tem a capela num plano mais elevado, demonstram mais
108
esse recato. a outra praça, a Santa Rita, que não está localizada em frente a nenhum dos
templos católicos – distante da Capela Nossa Senhora Aparecida dois quarteirões –, apresenta
uma apropriação diferente por parte dos moradores, quer seja em sua faixa etária, quer seja
nas atividades ali exercidas. A sensação é a de que os templos, além de serem um pan-óptico,
no sentido estrito do termo local que permite uma visão total –, também funcionam
diuturnamente como um lugar de controle.
3.5.4 As igrejas
Como foi dito antes, a configuração dos bairros Pompeia e Esplanada, tanto física
como social, está intimamente relacionada à presença da igreja desde os seus primórdios. Isso
foi considerado na pesquisa, pois, como disse Cândido (2003), a vida ludicorreligiosa é outro
elemento de sociabilidade vicinal. Para ele o bairro é uma unidade básica de manifestação da
vida ludicorreligiosa, entendendo ser essa atividade um “complexo de atividades que
transcendem o âmbito familiar”. (CÂNDIDO, 2003, p. 94). Citando Saint Hilaire, Cândido
(2003) diz que a religião é um importante mantenedor da sociabilidade em áreas de pouco
povoado. No caso dos bairros Pompeia e Esplanada a religião católica continua cumprindo
esse papel, principalmente com a manutenção de seu ethos festivo, de inspiração colonial, em
que tudo dá lugar à celebração
93
.
O fato de o bairro Pompeia, no caso desta dissertação adicionado ao bairro Esplanada,
coincidir com os limites da paróquia expressa uma prática muito recorrente, afinal, “até a
instauração da República, o próprio Estado era agente de religião”. (SEABRA, 2003, p. 4).
Seabra (2003), utilizando os marcos estruturais da formação social da cidade de São Paulo,
constatou que “o bairro e a vida de bairro eram originalmente encravados nas estruturas e
práticas da Igreja Católica, pois o bairro e a paróquia tendiam a coincidir”. (SEABRA, 2003,
p. 5)
93
Montes (1998), ao tratar do ethos da religião católica, advinda dos tempos coloniais, descreve suas
celebrações. Das celebrações observadas nos bairros, temos a seguinte descrição: “Semana Santa, com sua
liturgia solene e suas procissões, entre a dor da morte de Cristo e o júbilo de sua ressurreição, e sobretudo
Corpus Christi, a soleníssima celebração da transubstanciação do Corpo de Deus, dando lugar ao cortejo que
se desenrola por ruas esparzidas com ervas odoríficas e cuja passagem é saudada pelo povo das janelas
recobertas de finos damascos e brocados.[...] como faz também com as celebrações do solstício de verão e das
colheitas, com seus ritos mágicos, entre fogueiras e fogos de artifício, convertidas em festas em louvor a santo
Antônio, são João e são Pedro.[...] Juntamente com estes, celebram-se com grandes festividades também os
santos padroeiros,[...]”. (MONTES, 1998. p.105-106).
109
O fato de a paróquia ser responsável por cinco templos (uma matriz e quatro
capelas)
94
, com funcionamento em todos eles, cada um com seu ‘padroeiro(a)’, merecedor de
festividades específicas, além de justificar a junção dos dois bairros como um único objeto de
estudo, foi também levado em consideração na investigação para a percepção da sociabilidade
dos bairros, pois, como disse Cândido (2003), “para dar andamento a tais atividades, é
necessário acentuada coordenação, envolvendo a participação de grande número de pessoas e
movimentando praticamente todo o bairro”. (CÂNDIDO, 2003, p. 96), denotando, assim,
uma sociabilidade peculiar entre vizinhos. Mesmo que a movimentação não seja do ‘bairro
todo’, durante as observações foi identificada a participação de muitas pessoas,
principalmente nas épocas festivas, sobretudo quando a celebração é na Matriz com a efetiva
participação de todas as comunidades. Na prática religiosa dos bairros subsiste a reza nas
casas dos paroquianos, quer seja para a reza de novenas, terços ou missas. Nas datas festivas
atribuídas aos padroeiros são realizadas ‘barraquinhas’ e procissões pelas ruas do bairro, onde
se vê, ainda hoje, fachadas de casas ornadas com altares e, às vezes, com tapetes para a sua
passagem, com comemorações que se estendem por alguns dias. As Figuras 25 e 26 mostram
a tradicional festa em comemoração a Santo Antônio, realizada nas esquinas das ruas Casa
Branca e Rocha Pita, no bairro Pompeia.
Figura 25: Estandarte de Santo Antônio – Festa de Santo Antônio (13 de junho)
Fonte: Acervo da Autora.
94
Semelhante ao que constatou Antônio Cândido no capítulo intitulado A vida caipira tradicional’ quando diz:
“(...) as rezas dominicais fazem-se na ordem seguinte: primeiro domingo, capela do Socorro (Bairro da
Roseira); segundo domingo, capela do Bairro do Peão; terceiro domingo, capela de São José (fazenda no alto
da Serra); quarto domingo, capela do Bairro das Três Pedras. Por esta forma, os moradores da Serra, em cuja
encosta e soe se estendem a tais bairros, devem circular de um a outro, pois não capelães suficientes para
todas as capelas” (CÂNDIDO, 2003, p. 99). Nos bairros Pompeia e Esplanada, esse rodízio não ocorre pelo fato
de a sede da paróquia coincidir com a sede da PROCAMIG e também pelo fato de estar instalado o convento
dos frades, pois o pároco conta com outros padres que lá residem e são vigários paroquiais.
110
Figura 26: Festa de Santo Antônio - (esquina das ruas Casa Branca e Rocha Pita, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Como foi dito antes, a igreja católica tem influência direta na rede de sociabilidade
existente nos bairros Pompeia e Esplanada. A Igreja Matriz está situada no bairro Pompeia
(Figura 32), bem como duas de suas capelas (Figura 30), sendo que as outras duas capelas
estão situadas no bairro Esplanada (Figura 31). Além dos cinco templos católicos, os bairros
também abrigam templos de igrejas pentecostais e neopentecostais, alguns presentes nos
bairros mais tempo, outros mais recentemente. Como as igrejas evangélicas são várias
foram colacionadas fotografias de algumas delas. (Figuras 27, 28 e 29)
111
Figura 27: À esquerda, Igreja Universal do Reino de Deus (av. Belém, bairro Esplanada); à direita, Igreja Batista
da Pompeia (av. Belém, bairro Esplanada).
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 28: À esquerda, Igreja Cristã Maranatha (rua Madressilva, bairro Esplanada); à direita, Igreja Batista (rua
Violeta, bairro Esplanada).
112
Figura 29: No alto, a Quarta Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte (rua Itajobi, bairro Pompeia); À esquerda, Igreja
Assembleia de Deus (esquina das ruas Leopoldo Gomes e Casa Branca, bairro Pompeia); à direita, Igreja Batista
Betel (av. Alphonsus Guimarães, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 30: À esquerda, Capela de São Judas Tadeu (esquina das ruas Iara e Ouro Branco, bairro Pompeia); à
direita, Capela Nossa Senhora dos Anjos (rua Raimundo Venâncio, Vila São Rafael, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
113
Figura 31: À esquerda, Capela da Abadia, praça da Abadia, no bairro Esplanada; à direita, Capela Nossa Senhora
Aparecida (esquina das ruas Violeta e Oficinas, bairro Esplanada).
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 32: Matriz Nossa Senhora do Rosário de Pompeia (esquina das ruas Iara e Mário
Martins, bairro Pompeia).
Fonte: Acervo da Autora.
Em duas entrevistas, de dois jovens, ambos de 21 anos, um elemento da Igreja Matriz
foi apontado como um hábito provinciano, eminentemente tradicional, também em extinção: o
fato de seus sinos serem tocados manualmente. Disse um deles que “a igreja da Pompeia é a
única, é a última igreja de BH onde ainda tocam o sino com a mão. Eu achei isso
interessantíssimo, porque também é outra coisa que eu relaciono com essa ideia de antigo. E
eu associo isso justamente à ideia de que é uma cidade do interior”, (Pedro, 21 anos, designer
114
gráfico)
95
. Esse fato foi noticiado no jornal "Estado de Minas", dois anos atrás com a
seguinte manchete: “O último sino tocado à mão Badaladas da tradição: último sino tocado
manualmente, em Belo Horizonte, fica na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e seu soar
forte faz parte da vida dos moradores do Bairro Pompéia”. Essa informação trazida pela mídia
escrita e reproduzida por dois jovens moradores dos bairros um mora no bairro Pompeia e o
outro no bairro Esplanada –, demonstra a existência de fragmentos de um estilo de vida
provinciano, entendido como manutenção de uma tradição. Diz a reportagem:
O badalar dos sinos acionados manualmente é um som que pouco a pouco vai se
escondendo na memória das pessoas, substituído pelos equipamentos mecânicos ou
gravações eletrônicas. Em Belo Horizonte, a paróquia de Nossa Senhora do Rosário
de Pompeia, no Bairro Pompeia, região Leste, é a única a manter a tradição. [...] O
som desperta a comunidade. ‘Outro dia, no início da noite, um frei subiu até a torre e
tocou. Imediatamente, os paroquianos começaram a ligar para saber quem tinha
morrido’, lembra frei Marcelo Marins. Os moradores ficaram aliviados ao saber que,
na verdade, tratava-se do primeiro dia de festividades em homenagem a Santa Clara.
(OLIVEIRA, Júnia, 2006, p. 24).
No alto da torre da Igreja Matriz está o referido sino, com toda a ‘tradição’ que carrega
e a potencialidade de seus badalos. (Figura 33)
Figura 33: Sinos instalados no alto da torre da Matriz de Nossa Senhora do Rosário de Pompeia,
no bairro Pompeia, desde o dia 15 de agosto de 1961.
Fonte: Acervo da Autora.
95
Entrevista concedida em 06/05/2008.
115
3.5.5 Os estabelecimentos comerciais
Outro ponto explorado na pesquisa foi a sociabilidade presente nos estabelecimentos e
nas relações comerciais existentes nos bairros, onde comerciantes com as portas abertas
para a rua, em contato diário com os que passam e entram ou que passam. Os
comerciantes, muitos deles instalados há muitos anos no mesmo lugar, estabelecem um
estreito relacionamento com a movimentação cotidiana da rua e, consequentemente, do bairro.
Pelas entrevistas pude perceber que é um comércio muito incipiente, capaz apenas de
suprir o essencial do dia-a-dia dos seus fregueses, como disseram alguns entrevistados, mas,
ao mesmo tempo, reforçando a ideia de que sua intenção é servir apenas aos moradores dos
bairros, sem maiores intenções. Uma moradora disse que, “em termos de comércio, o bairro,
assim, deixa a desejar um pouco, assim, ele meio que não cresceu demais”. (Andreia, 42 anos,
fotógrafa)
96
. Dois outros moradores, um do bairro Pompeia e a outra do bairro Esplanada, a
esse respeito disseram que
O nosso bairro, olha, ele não tem uma sapataria, ele não tem uma loja de roupa, ele
não tem nada. Ele não tem praticamente nada. Do dia-a-dia tem padaria,
supermercado, um supermercado que não tem concorrência, tem papelaria,
restaurante e pizzaria. O bairro nosso, ele é tão atrasado [...]. (Taylor, 37 anos,
morador do bairro Pompeia)
97
.
Aqui eu acho que o comércio atende, pelo menos para mim, atende. Não me falta
nada. A não ser loja de roupas, sapato, isso é outro departamento, não é todo dia que
você quer, mas eu falo assim, no dia-a-dia, de alimentação, de limpeza, das coisas,
mão-de-obra, isso a gente acha aqui com muita facilidade. (Maria, 72 anos,
moradora do bairro Esplanada)
98
.
Pela observação e mesmo pelas entrevistas, constatei que existem estabelecimentos
comerciais ainda com características de armazéns, de casas de secos e molhados, espaços com
significações diversas, semelhantes àqueles existentes no interior, cuja função, na fala de
Oliveira (2005), “[...] ultrapassava a de local de venda, de espaço para serem comercializados
diferentes itens relacionados em geral a gêneros alimentícios, ou mesmo o de espaço de
sociabilidade [...] (OLIVEIRA, 2005, p. 271), como, por exemplo, mercearias que,
96
Entrevista concedida em 28/08/2008.
97
Entrevista concedida em 28/08/2008.
98
Entrevista concedida em 27/08/2008.
116
concomitantemente, também são bares. Quanto às mercadorias ali comercializadas, podemos
utilizar a fala de Oliveira (2005), quando diz que,
Quanto às mercadorias vendidas nessas casas de molhados ou armazéns, eram ainda
bastante misturadas, com a presença constante de bebidas, itens básicos da
alimentação cotidiana, além de alguns enlatados, como sardinhas, peixe, azeitonas; e
utensílios domésticos, como vassouras, gamelas, cordas, fósforos, velas, peneiras,
balaios, miudezas. (OLIVEIRA, 2005, p. 283).
Assim disse uma moradora: “[...] esse comércio miúdo tem, essas miudezas, essas
lojinhas que vende miudezas, que vende presente, mercearia [...]” (Ely, 70 anos)
99
.
Uma constatação recorrente em todas as entrevistas é o fato de os comerciantes
conhecerem pelo nome os seus fregueses, e muitos comerciantes serem lembrados como
antigos nos bairros. Dentre os entrevistados citamos dois comerciantes que declararam: “Aqui
eu conheço os fregueses pelo nome. A maioria pelo nome. Muitos eu sei onde moram. Eu
acho que os outros comerciantes devem conhecer mais do que eu” (Taylor, 37 anos)
100
; e o
outro disse que “Os comerciantes conhecem os fregueses pelo nome. Eu vejo pela gente, a
gente sabe praticamente o nome de todo mundo que vai lá. [...] Conhece, cumprimenta sempre
que vê, conversa [...]” (Lucas, 17 anos, estudante)
101
.
Nessas casas de comércio, ainda é frequente o uso de ‘cadernetas’, onde são anotadas
as compras ‘fiadas’, nominais, sem nenhum tipo de garantia a não ser o fato do conhecimento
e da confiança, a mesma garantia dita outrora como a do ‘fio de bigode’. A maioria dos
moradores entrevistados, mesmo que não tivessem pessoalmente esse costume, conheciam
essa prática comercial, não muito comum na atualidade, em que o crédito é eminentemente
impessoal. Eles disseram sobre o ‘fiado’ o seguinte,
Eu acho que todos os comércios aqui do bairro tem cadernetinha, eu acho que até a
padaria tem cadernetinha, que não é tão antiga assim [...], costuma ter cadernetinha
porque te conhece pelo nome, você entra toda hora, então... menos o EPA, eu
acho que só o EPA não tem cadernetinha. (Marlene, 46 anos)
102
.
99
Entrevista concedida em 16/05/2008.
100
Entrevista concedida em 28/08/2008. Ele fez a observação de que os outros comerciantes devem conhecer um
maior número de fregueses pelo nome, pelo fato de ele ser morador do bairro apenas 20 anos e comerciante a
menos tempo.
101
Entrevista concedida em 30/08/2008.
102
Entrevista concedida em 16/05/2008.
117
“Quanto à prática de venda fiada, eu não tenho um contato direto com isso, mas eu
acredito que se tem um lugar onde isso ainda acontece deve ser aqui. [...] Minha vó tinha
conta na padaria, acho que no sacolão também”. (Pedro, universitário, 21 anos)
103
. O
entrevistado que exerce a prática comercial no bairro menos tempo, residente no bairro há
20 anos apenas, relata que se sente obrigado a vender fiado, justamente em função da
proximidade com os fregueses. Segundo ele, essa proximidade proporciona um maior
conhecimento e, por consequência, a confiança necessária para a abertura de crédito sem
qualquer tipo de garantia formal. Diz ele,
Existe venda fiado. Eu não trabalho com isso, mas por ter essa proximidade do
cliente, exceções, e essas exceções vão aumentando. Não era o perfil que eu
queria, mas de tão próximo que é a gente vai fazendo concessões por conhecer. Se a
gente trabalhasse no centro da cidade isso não aconteceria. Eu percebo que os outros
existe muito, tipo anotação na caderneta. Existe e forte [...] apesar de ser um perfil
que eu não tracei para mim, de tanto pedirem... não tem como fugir. (Taylor,
comerciante, 37 anos)
104
.
Interessante perceber que os entrevistados, independentemente da sua faixa etária, têm
conhecimento dessa prática, e também fazem uso dela, seja assídua ou esporadicamente.
As Figuras 34, 35, 36 e 37 mostram as fachadas e a parte interna de alguns
estabelecimentos comerciais presentes nos bairros.
Figura 34: Fachadas e a parte interna de alguns estabelecimentos comerciais presentes nos bairros
Fonte: Acervo da Autora
103
Entrevista concedida em 06/05/2008.
104
Entrevista concedida em 28/08/2008.
118
Figura 35: Fachadas de estabelecimentos comerciais presentes nos bairros.
Fonte: Acervo da Autora.
Figura 36: Fachadas e a parte interna de alguns estabelecimentos comerciais presentes nos bairros.
Acervo da Autora.
Figura 37: Alguns dos diversos estabelecimentos comerciais dos bairros Pompeia e Esplanada.
Fonte: Acervo da Autora.
119
3.6 - UM LUGAR PARA VÁRIAS GERAÇÕES
Na arquitetura das moradias, ainda são encontradas inúmeras construções originais,
identificando-se uniformidade entre as habitações, com poucas edificações contrastantes do
desenho arquitetônico dos bairros, ambos muito parecidos nesse sentido. Em casas diferentes,
mas nos dois bairros, residem várias pessoas da mesma família, porém, de gerações
sucessivas, demonstrando um certo ‘enraizamento’, que para Maffesoli (2001) está repleto de
‘carga antropológica’, pois “[...] do mesmo modo que a casa da infância permanece o
paradigma de toda raiz ou de toda busca de raízes, o espaço local é aquele que funda o estar-
junto de toda comunidade”. (MAFFESOLI, 2001, p. 81). Nesse sentido, a importância de
constatar como foi o processo migratório dos bairros, identificando as famílias que
permanecem desde a sua origem, hoje pela quarta geração, percebeu-se num primeiro
momento ser em grande quantidade. Essa percepção foi confirmada durante a pesquisa,
corroborando o que disse Cândido (2003):
[...] percebemos muitas vezes a origem familiar. O bairro, com efeito, podia ser
iniciado por determinada família, que ocupava a terra e estabelecia as bases da sua
exploração e povoamento. Com o tempo, conforme tendência visível em todo o
povoamento de São Paulo antes da imigração estrangeira, atraía parentes, ou os
filhos casados se estabeleciam, bem como genros etc. Ao fundamento territorial,
juntava-se o vínculo da solidariedade de parentesco, fortalecendo a unidade do
bairro e desenvolvendo a sua consciência própria. (CÂNDIDO, 2003, p. 101).
Durante a pesquisa pude observar com maior acuidade a quantidade de famílias que
formam uma rede de moradores, dispersos pelos dois bairros, denotando em suas falas que
residem todos num mesmo lugar. Como disse essa moradora, sobre a intenção da sobrinha de
casar-se e continuar morando no bairro, “minha sobrinha mais velha pensa em casar né, com
um cara assim bacana, que mora num bairro super legal, e de vida boa. Os dois fazem questão
de morar aqui na Pompeia. [...] Ele adora a energia do bairro, esses hábitos das pessoas. [...]”
(Andreia, 42 anos, fotógrafa)
105
, ressaltando que ‘ele’ não é nascido nem mora no bairro,
apenas frequenta por causa da namorada que mora no bairro Esplanada.
É muito comum a família inteira – pais, filhos casados e netos residirem nos bairros,
mas também é comum de os filhos não residirem aqui, mas manterem um estreito nculo
com o bairro, ou porque seus filhos estudam numa escola situada dentro do bairro, ou por
105
Entrevista concedida em 02/05/2008.
120
frequentarem amiúde a casa dos pais que residem no bairro, ou, ainda, por manterem
amizades da infância. Isso pôde ser identificado em várias das entrevistas realizadas. Numa
delas foi captada a seguinte percepção sobre uma família conhecida, “Ninguém muda. Todos
moram em volta, eles o mudam daqui. casaram. [...] Eles não saem daqui e casam com
pessoas daqui também. Eu falei: formou um clã. Vai fechando assim e ninguém sai daqui”
(Maria Eunice, 60 anos, do lar)
106
.
No jornal ‘Rede Cidadania’, do INDC Instituto Nacional de Defesa do Contribuinte
e do Cidadão –, instalado no bairro Pompeia, na edição de janeiro de 2008, falando sobre a
tradição do futebol amador do bairro, consta que
A região leste é composta por bairros cujas histórias se encontram intimamente
ligadas ao início de Belo Horizonte, podendo ser considerada uma das mais antigas
da cidade. Porém, a proximidade com a região central não afetou a tranqüilidade que
conserva alguns costumes típicos de uma cidade do interior. (BAIRRO..., jan. 2008,
p. 3).
na edição de março de 2008 desse mesmo jornal, uma referência à tradição do
bairro Esplanada, com a afirmação de que “Uma das características principais do bairro é a
tradição. Pois, apesar da constante renovação da população, o bairro ainda é formado,
essencialmente, pelas mesmas famílias que deram origem à ocupação inicial”.
(TRADIÇÃO..., mar. 2008, p. 3). Numa referência específica ao bairro Esplanada, num jornal
de grande circulação, encontra-se a seguinte afirmação:
A proximidade com a região central não afetou a tranqüilidade do bairro, que
conserva aspectos característicos de cidades do interior. ‘A população se renova,
mas é essencialmente formada pelas mesmas famílias que deram início à ocupação
local. Aqui todo mundo se conhece’, afirma a corretora Maria Vasconcelos, que
mora no Esplanada 40 anos. (ARAÚJO, Giselle. Jornal Estado de Minas. 14 mar.
2004, p. 2).
Este depoimento demonstra que uma sucessão de gerações que são moradoras do
bairro Esplanada, o que também é de fácil constatação no bairro Pompeia, este mais antigo do
que aquele.
Recentemente o jornal “Estado de Minas” fez uma reportagem no caderno ‘Imóveis’,
com o intuito de fomentar a venda e o aluguel de imóveis no bairro Pompeia, apesar de
afirmar ser raro encontrar imóveis no bairro para vender e para alugar. Prevendo o aumento
106
Entrevista concedida em 28/08/2008.
121
da demanda por imóveis no bairro Pompeia em função da construção do Shopping Boulevard
(na avenida dos Andradas, próximo à Câmara Municipal) possibilidade também pressentida
por alguns dos entrevistados –, afirma a matéria que “A tranquilidade das ruas, sem
congestionamento e livre da poluição sonora, e a vizinhança do Centro da capital credenciam
o pompéia a seguir a rota da valorização imobiliária.”(sic). (ZICA, Rosana. Tradição italiana
nas ruas. 11 jan. 2009, p. 28).
Referindo-se à presença da Ordem dos Capuchinhos no bairro, com a manchete
“Tradição italiana nas ruas”, ressaltou que “Uma das tradições do bairro é o intenso trânsito
de pessoas aos sábados, domingos e feriados, nas padarias, açougue, sorveterias, sacolões e
bares locais”. (ZICA, Rosana. Jornal Estado de Minas. 11 jan. 2009, p. 28) Essa característica
foi constatada durante as observações, tanto no bairro Pompeia quanto no bairro Esplanada,
denotando hábitos que reforçam o conhecimento entre as famílias que residem na região e
garantem a continuidade de uma forma de sociabilidade muito comum em cidades pequenas,
em locais provincianos.
Nos finais de semana os filhos que não residem nos bairros cultivam o hábito de
almoçar na casa dos pais e, como os pais residem nessas casas há muito tempo, é também
oportunidade para os amigos de infância que moram em outros bairros da cidade se
reencontrarem. As ruas ficam repletas de carros estacionados nas portas das casas em que seus
proprietários passaram a infância, um tempo de convivência diária. A Figura 38 mostra uma
das ruas do bairro num dia de domingo, na hora do almoço, ocasião em que são comuns os
reencontros de pessoas que residem em outros bairros de Belo Horizonte, mas que ainda
permanecem enraizadas nos bairros Pompeia e Esplanada.
Figura 38: Rua Sílvio Romero, bairro Pompeia.
Fonte: Acervo da Autora.
122
O tipo de relacionamento encontrado nos bairros, entre vizinhos, entre os comerciantes
e seus fregueses, ou ainda entre as famílias que neles residem, é facilmente perceptível a
distinção feita por DaMatta (1990) entre indivíduo e pessoa
107
, mostrando que,num lugar onde
predomina a sociabilidade entre gente que se conhece, prevalece a pessoa e não o indivíduo.
Essa distinção é importante, pois o indivíduo, na perspectiva simmeliana, é o ator principal da
grande metrópole, protagonista do individualismo e que reclama em todo momento pelo
igualitarismo e pela liberdade. As duas noções comparadas por DaMatta (1990) são básicas e,
segundo ele, dialéticas. Ambas estão presentes em todas as sociedades humanas, mas, em
ambientes onde muitos se conhecem como acontece nos bairros Pompeia e Esplanada, os
moradores se aproximam muito mais da categoria pessoa do que da categoria indivíduo e,
sendo assim, um vínculo estreito das pessoas com a totalidade social, com os bairros, que
tem precedência sobre o morador. Pela relação existente entre as pessoas, percebe-se que, nos
moldes damattianos, é um lugar onde uma inevitável complementaridade de uns com os
outros, e que a consciência é até certo ponto social, cujas regras estão postas, pois “num
sistema de pessoas, todos se conhecem, todos são ‘gente’, todos se respeitam e nunca
ultrapassam seus limites. [...] É nesse sistema de pessoas, que sustenta o universo social,
segmentado em famílias, grupos segmentados de profissionais, bairros, [...]”. (DAMATTA,
1990, p. 190).
No mesmo sentido dado por DaMatta (1990), temos Caniello (2003), quando, tratando
da cidade de São João Nepomuceno, afirma que nas ‘cidades pequenas’ “a sociabilidade é
largamente condicionada pela pessoalização”. (CANIELLO, 2003, p. 33), em virtude do alto
grau de proximidade existente num mesmo ambiente social, causando o que ele chama de
‘visibilidade inevitável’, em que as pessoas são reconhecidas mutuamente por suas marcas
pessoais, sendo que “o mapeamento da rede que produz essas marcas é amplamente dominado
pela coletividade”, cujas relações são fortemente marcadas “por relações de solidariedade e
reciprocidade ‘obrigatórias’”. (CANIELLO, 2003, p. 33).
107
Importante ressaltar que, apesar de desaguar na ideia de indivíduo, do ‘ser psicológico’, a noção de pessoa
advém de Mauss (1974), no artigo cujo título é “Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a noção
do Eu”.
123
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de o título desta dissertação ter sido elaborado por meio de uma pergunta:
“Pompeia de Belo Horizonte: O espelho de um cosmo provinciano ou de uma província
cosmopolita?”, deve ser entendido como um convite à reflexão sobre a vida cotidiana de um
lugar imerso na cidade de Belo Horizonte, com vistas a subsidiar o entendimento de uma
percepção que se estende também à capital mineira. Depois de concluída a investigação,
pode-se dizer que nos bairros Pompeia e Esplanada uma situação de simultaneidade de
modos de vida. Nesse sentido, ser provinciano ou ser moderno significa situar-se em um
algum lugar de um mesmo continuum, ou ainda, querer viver um estilo de vida que não existe
em sua forma pura, vez que representam tipos ideais, na perspectiva weberiana. Viver nos
bairros investigados é transitar de um lado a outro, às vezes bem próximo da extremidade do
‘ser moderno’, outras vezes bem próximo da extremidade do ‘ser provinciano’.
Uma das últimas perguntas do Roteiro de Entrevista foi a seguinte: Se fosse para você
definir os bairros Pompeia e Esplanada com uma dessas duas palavras (provinciano ou
moderno), qual você escolheria? As duas opções foram contempladas, com a predominância
do sentimento de que eles são bairros provincianos. As percepções dos entrevistados foram
expressas com as seguintes frases: “Ele é bem provinciano. Tem bairros que são bem mais
novos que o nosso e já evoluíram rapidamente” (Taylor, 37 anos, comerciante)
108
; “O bairro é
provinciano, vezes dois” (Pedro, 21 anos, designer gráfico)
109
; “É um bairro provinciano, com
certeza, provinciano” (Lucas, 17 anos, estudante)
110
. Das respostas colhidas um fato chamou a
minha atenção: os entrevistados mais novos falaram com veemência sobre o provincianismo
dos bairros Pompeia e Esplanada, ao passo que aqueles entrevistados mais velhos, residentes
nos bairros mais de quatro décadas, disseram que ambos apresentam características
próprias dos dois modos de vida, sobressaindo mais as características modernas,
demonstrando que, por estarem nos bairros mais tempo e terem participado do
desenvolvimento deles, sobretudo de suas infraestruturas, percebem traços de modernidade,
sem, contudo, negar as suas características provincianas. A escolha do adjetivo moderno para
108
Entrevista concedida em 28/08/2008.
109
Entrevista concedida em 06/05/2008.
110
Entrevista concedida em 30/08/2008.
124
caracterizar os bairros não foi expressa de uma maneira veemente. Ao contrário, todos os
depoimentos que disseram que os bairros são modernos vieram recheados de dúvidas
111
.
Outro argumento para justificar a opinião dos entrevistados mais jovens é a sua maior
mobilidade cotidiana dentro da cidade de Belo Horizonte, quer seja no Centro ou em outros
bairros da cidade mais modernos ou menos tradicionais –, que lhes servem de paradigmas,
possibilitando-os fazer uma comparação. Ademais, o fato de manterem contato diário com um
maior número de pessoas residentes em outros bairros, comparado com os moradores
inseridos numa faixa etária mais alta, faz com que essa percepção sobre o provincianismo seja
mais intensa.
Ressalto que os entrevistados mais jovens externaram frases com sinalizações de suas
opiniões antes mesmo de se chegar ao final da entrevista e de serem questionados sobre o
ethos dos bairros. A percepção que eles têm é de que, os outros bairros de Belo Horizonte
estão se ‘modernizando’ e o bairro em que residem também, mas de uma maneira mais
incipiente. É importante ressaltar que, a despeito de os entrevistados mais jovens terem
afirmado com veemência o provincianismo dos bairros, na maioria das vezes o fizeram de
maneira a declarar que essa característica, apesar de não ser propriamente uma marca positiva
num mundo moderno, não é uma característica que interfira negativamente em seus
cotidianos. Em alguns momentos das entrevistas deram sinais de que gostam muito de residir
num bairro em que as tradições se mantêm. De um modo geral, não encontrei rejeição aos
bairros em virtude do modo de vida neles vigente, nem em relação aos moradores mais
jovens, nem aos de mais idade; nem dos moradores que residem menos tempo nos bairros,
nem daqueles que neles residem há algumas décadas.
Durante a realização da pesquisa, ocasião em que pude perceber a dinâmica dos
bairros investigados constatei que a igreja católica (efetivamente instalada nos dois bairros em
cinco templos: matriz e quatro capelas), por estar aos cuidados de frades capuchinhos de
carisma franciscano, mais do que espaço de sociabilidade dos bairros, pode ser considerada
como fundamental para a manutenção do ethos ali vigente. Mesmo que no início da pesquisa
não a tivesse colocado como um eixo norteador da investigação, seria impossível não chegar a
essa conclusão.
A força estruturante da religião católica é tão intensa, está tão arraigada no modo de
vida dos habitantes dos bairros, mesmo daqueles que não a professam, que merece ser objeto
111
“O bairro não é nem provinciano, nem moderno, é misturado” (Anna, 75 anos, pedagoga aposentada)
Entrevista concedida em 01/09/2008. “Eu acho que é mais pra moderno, acho. O modo de viver, o modo de agir,
o modo de andar, acho que é moderno. O bairro é mais moderno”. (Maria, 72 anos professora aposentada)
Entrevista concedida em 27/08/2008.
125
de novas investigações. Nesta dissertação gostaria de sinalizar alguns tópicos para que sirvam
de subsídio e inspiração para o futuro.
O que se percebe é que a instalação da ordem religiosa onde hoje estão localizados os
bairros Pompeia e Esplanada, no ano de 1939, momento em que a região era muito pobre,
uma localidade que abrigava muitas vilas, foi motivo de esperança em dias melhores para seus
moradores. Pode-se dizer que naquela época os frades capuchinhos foram vistos como
pessoas que cuidariam das ‘almas dos fiéis’, mas também tomariam para si o encargo de
trazer desenvolvimento para a região, e que de fato isso aconteceu.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que se preocuparam com a saúde, a educação e o
lazer dos moradores. Podem ser citadas algumas iniciativas dos capuchinhos que visaram
melhorar a vida dos habitantes das vilas e, posteriormente, dos bairros investigados, que estão
descritos em Santiago (2007). A construção do Posto Médico e Lactário Nossa Senhora do
Rosário de Pompeia, inaugurado em 14/05/1950 (Figura 39), que, em 1968, foi transferido de
local e passou a ser conhecido como Obras Sociais Nossa Senhora do Rosário de Pompeia
(Figura 40); a construção de um salão para funcionamento do Cine Pompeia, inaugurado em
15/12/1959 (Figura 41); a construção de um ‘coleginho’, o Ginásio Nossa Senhora de
Pompeia, inaugurado no ano de 1962; a construção de um Clube (Associação Esportiva
Pompeana), nas dependências do Convento, inaugurado em 01/05/1970; e nesse mesmo ano,
no dia 25/08, o aluguel do terceiro andar do convento para o funcionamento de um hospital,
conhecido como Hospital Nossa Senhora de Pompeia.
Figura 39: Posto Médico e Lactário Nossa Senhora do Rosário de Pompeia. À esquerda, o dia de sua inauguração, em
14 de maio de 1950.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
126
Figura 40: Obras Sociais Nossa Senhora do Rosário de Pompeia.
À esquerda, foto de 1980; À direita, foto de 2008.
Fonte: Da esquerda, acervo da PROCAMIG; da direita, acervo da Autora.
Figura 41: Cine Pompéia, localizado na rua Mário Martins, onde está hoje instalado o supermercado EPA.
À esquerda, foto de 1963; à direita, foto de 1967.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
Essas iniciativas dos frades capuchinhos tiveram ao longo do tempo o intuito de
prover as necessidades dos moradores dos bairros Pompeia, Esplanada e de bairros
adjacentes, que não eram supridas pelos poderes públicos, nem tampouco pela iniciativa
127
privada. Destas iniciativas, as únicas que ainda existem nos bairros são as Obras Sociais
112
e o
colégio, hoje Colégio o Francisco de Assis. As duas opções de lazer, que foram oferecidas
durante um tempo, hoje não existem mais. Nas entrevistas ficou evidenciado que uma
completa carência de opções de lazer para os moradores dos dois bairros e que no passado
existiam algumas proporcionadas pela igreja, mas que em algum momento foram por ela
extintas.
Numa pesquisa realizada no ano de 1982 no bairro Pompeia, quando trata da fundação
das Obras Sociais, uma afirmação de que existe uma certa dependência da igreja por parte
dos habitantes, no desenvolvimento da vida social dos bairros e/ou de seus moradores: nas
iniciativas relativas à melhoria de vida dos moradores, pelo oferecimento de cursos
profissionalizantes, ou por outras iniciativas como fomentar opções de lazer, por exemplo.
Polke e et. al. (1982) afirmam que “As obras sociais subseqüentes foram feitas em grande
parte pela Congregação dos Capuchinhos, sem grande comprometimento da comunidade, o
que levou o povo a certa dependência”. (POLKE, al.,1982, p. 136).
Essa afirmação indica que a ordem religiosa tem uma presença marcante nos bairros e
que a dependência dos moradores às iniciativas da ordem religiosa talvez seja em função de
um hábito, também antigo, de subserviência dos fiéis às autoridades eclesiais. Depois que o
cinema e o clube foram fechados, outros empreendimentos que possibilitassem o lazer dos
moradores não foram providenciados nem pelos capuchinhos, nem pela comunidade local.
Com relação à estrutura de lazer, por exemplo, os únicos locais indicados pelos entrevistados
como de lazer nos bairros foram os bares. Talvez isso explique que, para além da tradição
belo-horizontina de abrigar uma grande quantidade de bares, nos bairros Pompeia e Esplanada
eles também se fazem presentes em quantidade elevada. São locais que se mostram como
lugares expressivos de sociabilidade dos moradores. Sobre opções de lazer instalados em
bairros da capital, cabe lembrar que a escassez é a regra, sendo exceção os bairros que
dispõem de infraestrutura construída para essa finalidade.
Mas, de toda influência dos capuchinhos, a que mais me chamou a atenção foi o fato
de estarem instalados numa paróquia que tem por padroeira, desde a sua origem, Nossa
Senhora do Rosário
113
, a mesma venerada pelos negros; de existir nos bairros investigados
uma quantidade considerável de negros e, mesmo assim, não existirem (se existe é de uma
112
Em recente decisão da Província dos Capuchinhos, as Obras Sociais, assim como o Colégio São Francisco de
Assis, serão mantidas e administradas pela Instituição Social Frei Gabriel, ambas ligadas à ordem religiosa.
113
Como foi descrito na página 81, quando a paróquia presente nos bairros foi desmembrada da paróquia de
Santa Ephigênia dos Militares (uma santa negra), recebeu a denominação de Paróquia de Nossa Senhora do
Rosário de Santa Ephigênia, mas tão logo foi assumida pelos capuchinhos, passou a se chamar Paróquia Nossa
Senhora do Rosário de Pompeia.
128
maneira velada e inexpressiva) manifestações culturais promovidas por eles. É comum a
participação individual de moradores negros da paróquia em celebrações festivas (em
coreografias ou na música das celebrações, por exemplo), mas pude presenciar celebrações
católicas em que foi necessário convidar negros organizados em grupos de outras paróquias
ou de outros bairros para participar da missa afro ou na festa da padroeira, no mês de outubro,
por exemplo, por não ser possível encontrá-los nos bairros Pompeia e Esplanada
114
. Essa
inexpressividade da cultura negra nos bairros, mesmo que não tenha feito uma investigação
sistemática sobre o tema, pareceu-me uma influência que saiu do continente europeu,
atravessou o oceano, aportou nas Minas Gerais e se abrigou nos bairros Pompeia e Esplanada.
Esta percepção também carece de um estudo para uma melhor compreensão, o que fica aqui
sugerido.
Seguindo a mesma lógica da inexpressividade da cultura negra no bairro, aqui
apontada como resultado de uma influência direta da ordem religiosa católica, na pesquisa
também pude observar que não nos bairros, pelo menos que seja de conhecimento amplo
dos seus moradores, a presença de religiões afrobrasileiras. Esse fato pode ser considerado
também uma confirmação da força estruturante da religião católica, promovida nos
primórdios da formação dos bairros por missionários italianos, uma variável determinante
para o ethos vigente nos bairros até os dias atuais. Mesmo que hoje a presença de frades
italianos seja numa escala consideravelmente menor, passados setenta anos, essa
invisibilidade de expressão da cultura negra nos bairros Pompeia e Esplanada persiste
115
.
Um recente trabalho sobre o bairro Concórdia, situado na região Nordeste da cidade de
Belo Horizonte, mostra justamente o contrário com relação à manifestação da cultura negra.
Como diz Ribeiro (2008), existem três grupos de Reinado no Concórdia: Guarda de Congo
São Jorge de Nossa Senhora do Rosário, Guarda de Moçambique 13 de Maio de Nossa
Senhora do Rosário e Guarda de Congo de São Bartolomeu do Reino de Nossa Senhora do
Rosário”. (RIBEIRO, 2008, p. 69). Além dos grupos de Reinado, Ribeiro (2008) noticia a
existência de terreiros de religiões afrobrasileiras, Umbanda e Candomblé, ressaltando que,
apesar da existência de conflitos, um esforço para que a convivência seja possível entre
elas. Diz Ribeiro (2008):
114
Durante a pesquisa houve a participação das “Meninas de Sinhá”, do bairro Taquaril, e de um grupo de
Congado da cidade de Divinópolis.
115
É importante ressaltar que, a partir dos anos 20, surgiu no Brasil um movimento tentando “resgatar em algum
sentido positivo as tradições culturais dos africanos no Brasil, revalorizando suas práticas religiosas como
constitutivas da própria identidade da nação, [...].”,fonte? no intuito de se fazer um elogio à miscigenação
brasileira. Nesse sentido, a hipótese para a ausência de manifestações religiosas afrobrasileiras ou de
manifestações afro na religião católica dos bairros está na forma como a religião católica se fez e se faz presente.
129
Quando os grupos de Reinado realizam seus eventos religiosos, os membros dos
centros de Umbanda e/ou Candomblé são convidados e, geralmente, participam
efetivamente de tais eventos, seja levando uma bandeira de algum santo ou um altar.
O mesmo ocorre quando festividades nos terreiros, realizando principalmente
homenagens especiais aos membros dos Reinados presentes na sessão, como
evidenciando a importância dos congados para o bairro, destacando a persistência e
a fé desses grupos diante das dificuldades financeiras, entre outras. (RIBEIRO,
2008, p. 69).
Deixando as pistas para investigações futuras, e voltando para a confirmação da
percepção do provincianismo de Belo Horizonte, nos bairros escolhidos para observação, fica
evidenciado por meio da narrativa de seus moradores, que a modernidade precisa da força da
tradição, assim como a tradição necessita das rupturas advindas da modernidade para se
manter. Apesar de a modernidade estar sempre impulsionada em direção ao futuro, e
frequentemente promovendo a novidade, ela o faz observando as tradições que lhe precedem,
e que de certa forma, contribuem para a sua conformação.
A reflexão sobre a convivência pacífica dos moradores, sobretudo dos jovens, dentro
do ethos provinciano dos bairros, abre-nos uma nova perspectiva analítica, pois, mesmo que a
igreja católica cumpra o papel de mantenedora da tradição, de características próprias de
modo de vida mais aproximado do ‘ser provinciano’ nos bairros, percebe-se que isto não é
suficiente para que os bairros Pompeia e Esplanada sejam semelhantes a uma cidade do
interior. Por estarem inseridos numa capital metropolitana, os bairros investigados, mesmo
com ethos provinciano, não conseguem impedir a presença dos efeitos apontados por Simmel
(1967) em seus moradores e moradoras, mesmo que, enquanto eles estejam nesses ambientes,
os efeitos se apresentem de maneira mais tênue ou na forma latente.
Estando inseridos nos contextos diários dos bairros durante uma parte do dia, portanto,
afeitos às suas dinâmicas, frequentadores dos seus espaços de sociabilidade e participantes do
modo de vida destes pequenos círculos sociais, eles também estão inseridos em círculos mais
amplos, proporcionados pela diversidade oferecida pela metrópole. Em função disso, além
dessa sensação de liberdade, os moradores e moradores dos bairros também estão suscetíveis
a outras características próprias do ser cosmopolita: a indiferença; o anonimato; a
insensibilidade blasé; a atitude de reserva; a solidão; enfim, apesar de se encaixar na definição
de ‘pessoa’ em seu bairro, na perspectiva damattiana (1990), eles também se encaixam na
definição de ‘indivíduo’.
Esse fenômeno relacional que se traduz no continuum entre tradição e modernidade,
normalmente presente nas discussões sobre bairro como unidade sociológica, é forte, e
bastante visível nos bairros Pompeia e Esplanada. Como um sentimento coletivo entre os
130
moradores dos bairros de que a tradição é uma de suas características marcantes, a
modernidade encontra maior resistência para se mostrar, principalmente quando comparados a
outros locais. Mas, é justamente essa resistência engendrada pela tradição que faz com que os
bairros Pompeia e Esplanada, mesmo tradicionais, estejam abertos à modernidade e, com isso,
passíveis de serem considerados ‘cosmos provincianos’ ou ‘províncias cosmopolitas’, ou seja,
lugares em que se é possível estar inserido, simultaneamente, em dois modos de vida:
provinciano e moderno.
Assim, podemos reconhecer que a igreja católica continua sendo um agente importante
na manutenção do provincianismo dos bairros, mas, o trânsito dos moradores e moradoras
entre o bairro e outras partes da metrópole inibe reações que poderiam interromper o modo
pelo qual se estabelece o cotidiano nos bairros, inclusive rejeições em viver nesta
simultaneidade, de ser provinciano e moderno.
Para um melhor entendimento socioantropológico de hábitos, costumes e modos de
vida na metrópole de Belo Horizonte, seria de extrema relevância que fossem investigados
bairros mais novos, de constituição mais recente, cuja distinção se inicia pelas unidades
habitacionais, em que o percentual de verticalização é mais elevado. Nestes lugares a
tendência é que o modo de vida, no continuumprovinciano e moderno, aproxime-se mais do
extremo moderno, onde as relações de vizinhança não sejam tão intensas; os espaços públicos
não sejam utilizados para celebrações religiosas; não seja comum a existência de redes
familiares residentes no mesmo bairro; o comércio seja mais impessoal; os bares apresentem
uma forma distinta de sociabilidade; enfim, bairros em que a modernidade encontra mais
ressonância, diferentemente do que ocorre nos bairros Pompeia e Esplanada.
A unidade bairro é uma das diversas faces de uma cidade, que comporta diversidades,
e, dentre elas, a diversidade de modos de vida, traduzidas pela vida de cada um de seus
bairros. Na cidade pequena não é possível encontrar esse mosaico que uma grande cidade
abriga. É justamente essa característica que faz com que Belo Horizonte, uma grande cidade,
seja uma metrópole.
131
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143
APÊNDICE A - Roteiro de Entrevistas
QUALIFICAÇÃO
1. Qual é o seu nome completo?
2. Qual a sua idade?
3. Qual o seu estado civil?
4. Qual o seu nível educacional?
5. Qual a sua profissão?
6. Qual a sua religião?
7. Qual a sua cidade de origem?
8. Desde quando mora no bairro?
9. O que acha de morar aqui no bairro?
10. Já teve vontade ou intenção de mudar do bairro?
11. Se sim, por que não o fez?
12. Conte-me algum fato marcante que lembra ter ocorrido nos bairros Pompeia ou
Esplanada?
FILHOS E PARENTES
13. Tem filhos? Quantos?
14. Os filhos moram aqui no bairro (Pompeia ou Esplanada)?
15. Além dos filhos, possui outros parentes que moram aqui no bairro (Pompeia ou
Esplanada)? (pais, irmãos, tios(as), primos(as), etc.)
16. E comadres e compadres. Tem algum que mora no bairro (Pompeia ou Esplanada)?
RELIGIÃO
17. Você frequenta a sua igreja?
18. Qual a sua atuação na igreja?
19. Sabe qual é a paróquia existente no bairro?
20. Sabe quem toma conta da paróquia?
21. Sabe desde quando estão aqui na paróquia?
22. Na sua opinião, qual a contribuição os capuchinhos deram aos bairros Pompeia e
Esplanada?
23. Como você percebe a religiosidade dos bairros Pompeia e Esplanada?
144
24. Existem manifestações religiosas nas ruas dos bairros Pompeia e Esplanada?
VIZINHANÇA
25. Ao longo do período em que mora aqui, seus vizinhos mudaram-se daqui ou são os
mesmos?
26. Como é a convivência entre os vizinhos na sua rua e nos bairros Pompeia e Esplanada?
27. Muitas pessoas se conhecem? Elas se cumprimentam? Elas mantêm um contato mais
íntimo?
28. Normalmente, quando se quer explicar a alguém quem é determinada pessoa, é comum a
referência de que ela é, por exemplo, filha, neta de fulano ou cicrano?
COMÉRCIO
29. Como é a vida comercial dos bairros Pompeia e Esplanada?
30. Existem estabelecimentos antigos nos bairros Pompeia e Esplanada? Quais?
31. Os comerciantes conhecem os fregueses pelo nome?
32. Sabe se há a prática de venda fiada nas lojas dos bairros Pompeia e Esplanada?
33. Você possui ‘caderneta’ em algum estabelecimento comercial dos bairros Pompeia e
Esplanada?
DIVERSÃO
34. O que você faz nos finas de semana? E à noite?
35. O seu tempo livre é consumido em algum dos dois bairros ou em outros lugares da
cidade?
36. Nos bairros Pompeia e Esplanada existem opções de lazer e diversão?
37. E antigamente, como era?
38. E time de futebol, os bairros já possuíram ou possuem algum?
39. Quais espaços públicos você identifica nos bairros Pompeia e Esplanada?
40. Como é a utilização dos espaços públicos dos bairros Pompeia e Esplanada?
41. Há o hábito de as pessoas se encontrarem nesses espaços?
CONSTRUÇÃO
42. As casas são muito diferentes hoje em dia, ou existem ainda muitas construções originais?
43. Cite alguma construção que você considera antiga e outra que considera moderna nos
bairros Pompeia e Esplanada.
145
44. E com relação aos hábitos dos moradores. O que você considera ser antigo e o que
considera ser moderno?
45. Se fosse para definir os bairros em uma dessas duas palavras, qual você escolheria:
provinciano ou moderno?
46. Caso a minha pesquisa seja publicada em algum livro ou revista, escrita ou virtual, eu
tenho a sua autorização para utilizar as informações que me deu?
146
APÊNDICE B - Quadro de entrevistados (em ordem alfabética)
N º Entrevistado Idade
Tempo de
moradia Profissão
1 MARLENE 50 anos 44 anos Acupunturista
2 ANDREIA 42 anos 42 anos Fotógrafa
3 TAYLOR 37 anos 20 anos Comerciante
4 ANNA 75 anos 48 anos Pedagoga aposentada
5 MIGUEL 46 anos 46 anos Marcineiro
6 ELY 75 anos 40 anos Professora aposentada
7 CARMEM 96 anos 75 anos Do lar
8 HENRIQUE 21 anos 05 + 06 anos
Estudante de Relações
Internacionais
9 FLÁVIA 48 anos 48 anos Bibliotecária
10 MARIA 72 anos 49 anos Professora aposentada
11 LUCAS 17 anos 17 anos Estudante do Ensino Médio
12 JULIANA 32 anos 32 anos Manicure-Cabelereira
13 RAFAEL 21 anos 14 anos Estudante de Geografia
14 MARIA EUNICE 60 anos 15 anos Do lar
15 PEDRO 21 anos 20 anos Designer gráfico
Fonte: Dados das entrevistas
147
APÊNDICE C - Depoimentos extraídos na pesquisa: Quem gosta de BH
tem seu jeito de mostrar”.
(PREFEITURA DE BELO HORIZONTE, 2003, 223 p.)
1. “É o seu jeito tranqüilo e agitado, moderno e clássico, que lembra uma cidadezinha do
interior e depois parece uma grande metrópole. [...]”. (Adriana Pazzini apud PBH, 2003, p.
12).
2. “Essa curiosa e persistente dicotomia entre a metrópole moderna e a BH tradicional, que
reúne aqui um pouquinho das tantas e diferentes Minas Gerais [...]”. (Ana Paula Carvalhais
apud PBH, 2003, p. 26).
3. “[...] O jeito simples e carinhoso do povo desta metrópole, que às vezes nos faz sentir que
estamos naquelas cidadezinhas do interior e, é claro, as lindas paisagens desta capital!”.
(Anderson Sabino Silva apud PBH, 2003, p. 29).
4. “Sendo originário do Rio de Janeiro, adotei esta cidade como minha terra eterna por sua
qualidade de vida, seu jeito interiorano. Por todos os recursos de uma grande metrópole,
aliados à receptividade e simplicidade que aqui se encontra [...]”. (AndAlmeida Corrêa
dos Santos apud PBH, 2003, p. 30).
5. “O jeito de roça grande que BH ainda guarda, apesar dos problemas da metrópole que
ameaçam. Esse jeito se mostra no hábito de viver ainda em casa, em vez de apartamento, o
que propicia a solidariedade entre vizinhos, a qualidade de vida. BH é um lugar onde ainda
podemos andar nas ruas, [...]”. (Carlos José de Campos Máximo apud PBH, 2003, p. 48).
6. “Quero guardar de Belo Horizonte: [...] a sua tranqüilidade e qualidade para se viver;
preservando seu clima de interior; [...]”. (Daniela Tameirão dos Santos Mota apud PBH,
2003, p. 63).
7. “Gosto de BH porque ela é única, e, apesar de ser uma cidade grande com todos os
problemas de uma cidade grande, ela tem seu jeitinho de roça, seu jeitinho especial. [...]”.
(Débora Lúcia Melo de Oliveira apud PBH, 2003, p. 65).
148
8. “[...] A cidade que me acolheu, continua me recebendo e eu continuo descobrindo a cada
momento e que ainda guarda no seu jeito de viver os segredos e delícias de uma roça que
cresceu. [...]”. (Elaine Vilela apud PBH, 2003, p. 69).
9. “Futurista (moderna). De tradições. [...]”, (Esmeralina Costa de Oliveira apud PBH, 2003,
p.76).
10. “Quero guardar ‘O Cheiro de Deus’ que Belo Horizonte tem. [...]. Guardar a singular
junção que Belo Horizonte faz entre vanguarda e tradição. [...]” (Ewerton Martins Ribeiro
apud PBH, 2003, p. 76)
11. “Uma capital com jeitinho de cidade de interior. Uma cidade mineiramente divertida,
agitada e pacata. Uma cidade tradicionalmente moderna e avançada. [...](Fabiano Queiroga
Gimarães apud PBH, 2003, p. 77)
12. “Quero guardar o gosto memorialístico de Nava de uma cidade autofágica que se
consome: tradição e modernidade. [...]” (Frederico Assis Cardoso apud PBH, 2003, p. 92)
13. “[...] Cidade maravilhosa, uma capital-interior!” (Gabriela Pires Machado apud PBH,
2003, p. 94)
14. “A sensação de cidade do interior, apesar de ser cidade grande. A solidariedade de um
povo amigo e prestativo. [...]” (Gibson Gomes Gonçalves apud PBH, 2003, p. 98)
15. “Quero guardar de BH a certeza de estar vivendo sempre num ‘interior’ onde conhecemos
nosso vizinho, onde amigos podem ser cultivados. [...]” (Grace Lara Melo apud PBH, 2003,
p. 102)
16. “Ah! Adoro essa roça grande. [...]” (Gustavo Pereira Dias Duarte apud PBH, 2003, p.104)
17. “[...] A receptividade do povo belo-horizontino. O ar de interior, mesmo sendo uma das
grandes capitais brasileiras”. (Icaro Brito apud PBH, 2003, p. 109)
149
18. “Gostar de BH é sair do interior de MG e vir morar na capital que é uma roça, todos são
conhecidos, encontramos conterrâneos em todas as rodas, [...]” (Inês Ribeiro de Andrade apud
PBH, 2003, p. 110).
19. “A tranqüilidade interiorana de nossas praças. [...]” (Jeane Marize Chaves apud PBH,
2003, p. 113).
20. “O jeito simples de cidade do interior”. (João Batista Betti Filho apud PBH, 2003, p. 114).
21. “[...] O riso contido quando dizem que BH é uma fazenda iluminada. A certeza da
hospitalidade mineira sempre imitada”. (João Cleido Ataíde Monteiro apud PBH, 2003, p.
115).
22. “O ‘ar’ de cidade interiorana, embora seja uma grande metrópole, o carisma e a simpatia
dos belo-horizontinos, sempre receptivos e acolhedores”. (Juliana Drumond apud PBH, 2003,
p. 122).
23. “Gosto de BH porque possui um ar provinciano. [...]” (Juliana Impellizieri Uchoa Gomes
apud PBH, 2003, p. 124).
24. “Eu quero guardar essa capital com jeito de interior, onde sempre conheço alguém aonde
quer que eu vá. [...]” (Juliana Xavier de Castro apud PBH, 2003, p. 125).
25. “A BH que eu amo e que me acolheu 15 anos é cheia de contrastes e descobertas.
Cidade grande com cara de interior. [...]” (Liège Camargos apud PBH, 2003, p. 135).
26. “As palavras confortadoras que são ditas em qualquer vizinhança de BH (apesar de ser
uma grande capital, ainda possui ares de interior) [...]” (Luana Macieira Barbosa apud PBH,
2003, p. 140).
27. “BH. Intensa e parada. Quente e fria. Montanhosa e sinuosa. Moderna e antiga. [...]”
(Luciano Recife apud PBH, 2003, p. 143).
150
28. “Enfim, a cidade e suas nuances, seu ar pitoresco e seu ar ao mesmo tempo moderno.”
(Marcelina das Graças de Almeida apud PBH, 2003, p. 147).
29. “Guardar o carisma e a hospitalidade que fazem de Belo Horizonte um ‘grande interior’.
[...]” (Marco Antônio Duarte apud PBH, 2003, p. 151).
30. “O jeito BH de ser. O ritmo de interior nesta capital. [...]” (Marcus Luis Ayala Onofri
apud PBH, 2003, p. 156).
31. “Belo Horizonte cresce a cada dia, mas o bairro de Santa Tereza ainda guarda seu charme
de cidade do interior... [...]” (Maria José Brant apud PBH, 2003, p. 161).
32. “BH é capital com beleza interior.” (Maria Madalena dos Santos Silva apud PBH, 2003,
p. 162).
33. “A vida interiorana; no mais, tudo. Porque BH é espetacular”. (Mirian Daniela Faustino
apud PBH, 2003, p. 170).
34. “Mulheres. Comportamento interiorano. Bonde. [...]” (Nei Lazarotti apud PBH, 2003, p.
173).
35. “Quero guardar de BH a mistura de cidade grande cosmopolita, com seus prédios
modernos e um mar de carros e avenidas com a cidade de interior, onde sempre
encontramos um conhecido, os vizinhos batem papo na rua, [...]” (Patrícia Helena Salazar
Porto apud PBH, 2003, p. 177).
36. “Não citaria um único lugar especial da cidade, mas um passeio que começasse no bairro
Santa Tereza com seu jeito de interior, seguindo para a Igreja de Nossa Senhora da Boa
Viagem [...]” (Patrus Ananias apud PBH, 2003, p. 178).
37. “O convívio com as pessoas que fazem nossa cidade parecer um interior grande. [...]”
(Renato Silvestre de Barros apud PBH, 2003, p. 192).
151
38. “Um lugar pacato, tranqüilo, gostoso de morar, com jeitinho de interior e com a força da
grande metrópole. [...]” (Rui Leal apud PBH, 2003, p. 202).
39. “Belo Horizonte é uma cidade com toda infra-estrutura de uma grande capital tem, sem
perder os traços característicos do interior mineiro. É uma verdadeira roça grande, em seu
melhor sentido. [...]” (Sílvia Pinto Coelho de Almeida apud PBH, 2003, p. 206).
40. “Toda a simplicidade do povo belo-horizontino que com sua mineirice ainda preserva o
ar de interior, de vida tranqüila e calma [...]” (Sônia Maria Chagas apud PBH, 2003, p. 209).
41. “A cara de metrópole com cheiro de interior. [...]” (Vanessa de Cássia Santos Carvalho
apud PBH, 2003, p. 214).
152
APÊNDICE D - Lista de bairros de Belo Horizonte
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0643 CEU AZUL BAIRRO
0733 NOVA PAMPULHA BAIRRO
0820 XANGRILÁ BAIRRO
0611 DAS MANSOES BAIRRO
0623 BURITIS BAIRRO
0768 SANTA LUCIA BAIRRO
0779 SAO BENTO BAIRRO
0668 ESTRELA DALVA BAIRRO
0667 ESTORIL BAIRRO
0737 OLHOS DAGUA BAIRRO
0618 BELVEDERE BAIRRO
0694 INDEPENDENCIA BAIRRO
0727 NOVA BARROCA BAIRRO
0825 MORRO DO PAPAGAIO BAIRRO
0801 SION BAIRRO
0673 CEMIG VILA
0677 FLAVIO MARQUES LISBOA BAIRRO
0823 PONGELUPE BAIRRO
1151 URUCUIA BAIRRO
1149 MIRAMAR BAIRRO
0722 MILIONARIOS BAIRRO
0804 TEIXEIRA DIAS CONJUNTO HABITACIONAL
0833 OLARIA BAIRRO
0832 VALE DO JATOBA BAIRRO
0706 JATOBA BAIRRO
0757 REGINA BAIRRO
0663 DURVAL DE BARROS BAIRRO
0714 LINDEIA BAIRRO
153
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0741 PALMEIRAS BAIRRO
0610 DAS INDUSTRIAS BAIRRO
0720 MARAJO BAIRRO
0619 BETANIA BAIRRO
0819 VISTA ALEGRE BAIRRO
0717 MADRE GERTRUDES BAIRRO
0624 CABANA PAI TOMAZ BAIRRO
0705 JARDINOPOLIS BAIRRO
0814 VILA OESTE BAIRRO
0604 ALTO DOS PINHEIROS BAIRRO
0707 JOAO PINHEIRO BAIRRO
0649 CONJUNTO CALIFORNIA DOIS BAIRRO
0676 FILADELFIA BAIRRO
0605 ALVARO CAMARGOS BAIRRO
0748 PINDORAMA BAIRRO
0654 COQUEIROS BAIRRO
0684 GLORIA BAIRRO
0680 FREI EUSTAQUIO BAIRRO
0753 PRIMAVERA BAIRRO
0793 SAO SALVADOR BAIRRO
0602 ALIPIO DE MELO BAIRRO
0651 CONJUNTO ITACOLOMI BAIRRO
0650 CONJUNTO CELSO MACHADO BAIRRO
0798 SERRANO BAIRRO
0639 CASTELO BAIRRO
0743 PAQUETA BAIRRO
0775 SANTA TEREZINHA BAIRRO
0795 SARANDI BAIRRO
0835 CONJUNTO HABITACIONAL CONFISCO BAIRRO
0742 BANDEIRANTES BAIRRO
Continua
154
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0652 BRAUNAS BAIRRO
0745 PATROCINIO BAIRRO
0728 NOVA CINTRA BAIRRO
1172 JARDIM ALVORADA BAIRRO
0787 SAO JOSE PARQUE
0693 INCONFIDENCIA BAIRRO
0697 IPANEMA BAIRRO
0656 CORACAO EUCARISTICO BAIRRO
0769 CONJUNTO SANTA MARIA BAIRRO
0702 JARDIM AMERICA BAIRRO
0734 NOVA SUISSA BAIRRO
0732 NOVA GRANADA BAIRRO
0686 GRAJAU BAIRRO
0672 MORRO DAS PEDRAS BAIRRO
0815 VILA PARIS BAIRRO
0716 LUXEMBURGO BAIRRO
0822 ALTO BARROCA BAIRRO
0807 GARCAS BAIRRO
0616 BARROCA BAIRRO
0629 CALAFATE BAIRRO
0752 PRADO BAIRRO
0689 GUTIERREZ BAIRRO
0655 CORACAO DE JESUS BAIRRO
0644 CIDADE JARDIM BAIRRO
0778 SANTO ANTONIO BAIRRO
0711 LEBLON BAIRRO
0776 SANTO AGOSTINHO BAIRRO
0617 BARRO PRETO BAIRRO
0636 CARLOS PRATES BAIRRO
Continua
155
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0739 PADRE EUSTAQUIO BAIRRO
0726 MONSENHOR MESSIAS BAIRRO
0627 CAICARA ADELAIDE BAIRRO
0603 ALTO DOS CAICARAS BAIRRO
0628 CAICARAS BAIRRO
0747 PEDRO II VILA
0622 BONFIM BAIRRO
0746 PEDREIRA PRADO LOPES BAIRRO
0777 SANTO ANDRE BAIRRO
0729 NOVA ESPERANCA BAIRRO
0621 BOM JESUS BAIRRO
0781 SAO CRISTOVAO BAIRRO
0710 LAGOINHA BAIRRO
0792 SAO PEDRO BAIRRO
0637 CARMO BAIRRO
0607 ANCHIETA BAIRRO
0657 CRUZEIRO BAIRRO
0681 FUNCIONARIOS BAIRRO
0715 LOURDES BAIRRO
0642 CENTRO BAIRRO
0679 FLORESTA BAIRRO
0647 CONCORDIA BAIRRO
0609 DA GRACA BAIRRO
0760 SAGRADA FAMILIA BAIRRO
0692 HORTO BAIRRO
0774 SANTA TEREZA BAIRRO
0765 SANTA EFIGENIA BAIRRO
0788 SAO LUCAS BAIRRO
0736 NOVO SAO LUCAS BAIRRO
Continua
156
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0826 CAFEZAL VILA
1177 PARQUE DAS MANGABEIRAS AREA
0744 PARAISO BAIRRO
0612 BALEIA BAIRRO
0751 POMPEIA BAIRRO
0666 ESPLANADA BAIRRO
0803 TAQUARIL BAIRRO
1245 DE FREITAS GRANJA
0638 CASA BRANCA BAIRRO
0784 SAO GERALDO BAIRRO
0696 INSTITUTO AGRONOMICO BAIRRO
0620 BOA VISTA BAIRRO
0738 OURO PRETO BAIRRO
0664 ENGENHO NOGUEIRA BAIRRO
0633 UFMG CAMPUS AREA
0641 SAO LUIZ BAIRRO
0674 SUMARE BAIRRO
0821 APARECIDA SETIMA SECAO BAIRRO
0735 NOVA VISTA BAIRRO
0645 CIDADE NOVA BAIRRO
0730 NOVA FLORESTA BAIRRO
0758 RENASCENCA BAIRRO
0608 APARECIDA BAIRRO
0665 ERMELINDA BAIRRO
0824 NOVA CACHOEIRINHA BAIRRO
0827 TREVO BAIRRO
0625 CACHOEIRINHA BAIRRO
0786 SAO JOAO BATISTA BAIRRO
0698 IPIRANGA BAIRRO
Continua
157
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0808 UNIAO BAIRRO
0767 SANTA INES BAIRRO
0660 DOM JOAQUIM BAIRRO
0740 PALMARES BAIRRO
0763 SANTA CRUZ BAIRRO
0782 SAO FRANCISCO VILA
0640 SAO JOSE - PAMPULHA BAIRRO
0713 LIBERDADE BAIRRO
0773 SANTA ROSA BAIRRO
0809 UNIVERSITARIO BAIRRO
0816 VILA MARIA VIRGINIA BAIRRO
0791 SAO PAULO BAIRRO
0907 SUZANA VILA
0662 DONA CLARA BAIRRO
0701 JARAGUA BAIRRO
0830 AEROPORTO BAIRRO
0725 MINASLANDIA BAIRRO
0600 AARAO REIS BAIRRO
0756 PROVIDENCIA BAIRRO
0671 EYMARD BAIRRO
0789 SAO MARCOS BAIRRO
0749 PIRAJA BAIRRO
0771 MARIA GORETTI BAIRRO
0812 GOIANIA BAIRRO
0661 DOM SILVERIO BAIRRO
0783 SAO GABRIEL BAIRRO
0685 SAO JOSE FAZENDA
0831 JARDIM VITORIA BAIRRO
0695 MONTE AZUL BAIRRO
Continua
158
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0759 RIBEIRO DE ABREU BAIRRO
0687 GUARANI BAIRRO
0802 SOLIMOES BAIRRO
0834 JARDIM FELICIDADE BAIRRO
0678 FLORAMAR BAIRRO
0691 HELIOPOLIS BAIRRO
0780 SAO BERNARDO BAIRRO
0750 PLANALTO BAIRRO
0675 MARIZE BAIRRO
0669 ETELVINA CARNEIRO BAIRRO
0615 FREI LEOPOLDO BAIRRO
0688 JULIANA BAIRRO
0700 JAQUELINE BAIRRO
0634 CANAA BAIRRO
0632 CAMPO ALEGRE BAIRRO
0813 VILA CLORIS BAIRRO
0724 MINAS CAIXA BAIRRO
0810 VENDA NOVA BAIRRO
0712 LETICIA BAIRRO
0670 EUROPA BAIRRO
0799 SERRA VERDE BAIRRO
0703 JARDIM DOS COMERCIARIOS BAIRRO
0719 MANTIQUEIRA BAIRRO
0721 MARIA HELENA BAIRRO
0709 LAGOINHA-VENDA NOVA BAIRRO
0708 LAGOA BAIRRO
0790 SAO PAULO - VENDA NOVA BAIRRO
0818 RIO BRANCO BAIRRO
0794 SAO TOMAZ BAIRRO
Continua
159
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0699 ITAPOA BAIRRO
0785 SAO JOAO BATISTA-VENDA NOVA BAIRRO
0772 SANTA MONICA BAIRRO
0829 SANTA BRANCA BAIRRO
0762 SANTA AMELIA BAIRRO
0653 JARDIM ATLANTICO BAIRRO
0828 COPACABANA BAIRRO
0797 SERRA BAIRRO
0766 SANTA HELENA BAIRRO
0723 MINAS BRASIL BAIRRO
0648 CONJUNTO CALIFORNIA BAIRRO
0682 GAMELEIRA BAIRRO
0731 NOVA GAMELEIRA BAIRRO
0761 SALGADO FILHO BAIRRO
0718 MANGABEIRAS BAIRRO
0690 HAVAI BAIRRO
0906 CAPITAO EDUARDO BAIRRO
0905 PAULO VI BAIRRO
0613 BARREIRO DE BAIXO BAIRRO
0805 TIROL BAIRRO
0967 NOVA AMERICA BAIRRO
0996 ESPLENDOR BAIRRO
1167 SOLAR BAIRRO
1168 PILAR BAIRRO
1160 JATOBA IV BAIRRO
1163 SANTA RITA VILA
1162 ERNESTO DO NASCIMENTO CONJUNTO HABITACIONAL
1164 MANGUEIRAS BAIRRO
Continua
160
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
1165 PETROPOLIS BAIRRO
1166 MINEIRAO BAIRRO
1138 NOVO DAS INDUSTRIAS BAIRRO
1139 BONSUCESSO CONJUNTO HABITACIONAL
1141 ARAGUAIA BAIRRO
1144 SANTA MARGARIDA VILA
1145 ATILA DE PAIVA CONJUNTO HABITACIONAL
1146 JOAO PAULO II CONJUNTO HABITACIONAL
1147 MALDONADO BAIRRO
1148 DIAMANTE BAIRRO
1155 TUNEL DE IBIRITE CONJUNTO HABITACIONAL
1157 ITAIPU BAIRRO
1158 MARILANDIA VILA
1159 SANTA CECILIA BAIRRO
1154 CASTANHEIRA VILA
1153 PINHO VILA
1150 BRASIL INDUSTRIAL BAIRRO
1143 FLAVIO DE OLIVEIRA CONJUNTO HABITACIONAL
1140 BONSUCESSO BAIRRO
1133 REGIAO DA SAVASSI BAIRRO
1174 CAMPUS DA PUC AREA
1114 BETANIA CONJUNTO HABITACIONAL
1142 SAO JOSE PARQUE
1161 CINQUENTENARIO BAIRRO
0755 WASHINGTON PIRES BAIRRO
1178 SERRA DO JOSE VIEIRA AREA
0704 JARDIM MONTANHEZ BAIRRO
0754 PRIMEIRO DE MAIO BAIRRO
0926 FERNAO DIAS BAIRRO
1043 IPE BAIRRO
Continua
161
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
1173 POUSADA SANTO ANTONIO BAIRRO
1175 CAPITAO EDUARDO FAZENDA
1170 NOVO AARAO REIS CONJUNTO HABITACIONAL
1156 REGIAO DA NOSSA SENHORA DA BOA VIAGEM
BAIRRO
1065 JARDIM GUANABARA BAIRRO
0635 CARDOSO BAIRRO
0683 GLALIJA VILA
0631 CAMARGOS BAIRRO
1239 BELMONTE BAIRRO
1238 OURO MINAS BAIRRO
1240 NAZARE BAIRRO
1202 VISTA DO SOL VILA
1241 BEIJA FLOR BAIRRO
1246 ALTO VERA CRUZ BAIRRO
0770 SANTA MARIA BAIRRO
0658 DOM BOSCO BAIRRO
0659 DOM CABRAL BAIRRO
1253 SILVEIRA BAIRRO
1247 TUPI MIRANTE BAIRRO
1176 GRANJA WERNECK AREA
0806 TUPI BAIRRO
1251 ECOLOGICA VILA
1252 VITORIA DA CONQUISTA VILA
0796 SAUDADE BAIRRO
1258 JONAS VEIGA BAIRRO
0630 CALIFORNIA BAIRRO
1261 INDAIA VILA
0811 VERA CRUZ BAIRRO
Continua
162
Nº do Bairro
Nome do Bairro Tipo do Bairro
0626 CAETANO FURQUIM BAIRRO
1006 MONTE SÃO JOSÉ VILA
1254 FORMOSA VILA
1257 CORUMBIARA VILA
1171 JATOBA DISTRITO INDUSTRIAL BAIRRO
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
163
ANEXO A – Mapas
Mapa 1 - Regiões Administrativas de Belo Horizonte
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
164
Mapa 2 – Unidades de Planejamento de Belo Horizonte
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
165
Mapa 3 – Bairros de Belo Horizonte
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
166
Mapa 4: Área pesquisada – bairros Pompeia e Esplanada – área de abrangência da Paróquia Nossa Senhora do
Rosário de Pompéia
Fonte: Base cartográfica da PRODABEL - 2007
167
Mapa 5 – Evolução da Ocupação e da Mancha Urbana de Belo Horizonte
Fonte: Prefeitura de Belo Horizonte
168
ANEXO B – Fotografias
Figura 42: Santuário de Pompéia, em Nápoles – Itália
Fonte: Sítio oficial do “Santuario di Pompei” (www.santuario.it)
Figura 43: Santuário e Convento Nossa Senhora de Pompéia – sede da Província de Messina.
Fonte: Acervo da PROCAMIG.
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