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garante, de antemão, que o pensamento possa falar sobre a realidade e qual a
garantia que tenho da verdade do meu discurso? A filosofia, ao longo da sua
história, deu várias respostas a essa pergunta, e a modernidade não se furtou a
essa tarefa. Ela também refletiu tal relação a ponto de gestar uma nova metafísica
6
.
Essa nova metafísica da modernidade “(...) põe no seu cerne o pensamento como
‘princípio do mundo’, ou seja, retoma a tese platônica de que a apreensão
verdadeira da realidade se faz através de conceitos e idéias, que captam o ser
mesmo de tudo (...)”
7
. Essa nova metafísica “(...) faz refluir para o sujeito o princípio
último da fundamentação do ser”
8
, ela traz para primeiro plano o sujeito como
aquele ser cuja tarefa principal, pelo menos no plano gnosiológico, consiste em
gerar sentido, em estabelecer o pensamento do sujeito como fonte última do sentido
da realidade.
À metafísica pré-kantiana voltar-se-á Hume, embora ele, como dissemos
acima, aborde um único conceito do majestoso edifício da metafísica, a saber, a
noção de causa e efeito. Para Hume
9
, qualquer ser só pode ter a sua existência
atestada mediante argumentos derivados de sua causa ou de seu efeito, e, por sua
vez, estes argumentos provêm inteiramente da experiência, na medida em que
somente a experiência nos permite tal associação. O ponto crucial é saber
(...) como emerge para nós a idéia de uma regularidade necessária e
universal no curso da natureza, pois a simples observação repetida
de uma regularidade entre dois eventos não garante sua vinculação
necessária, já que a esfera do sensível é o lugar do contingente e do
particular
10
.
dizer o que as coisas são. Sobre isso, cf.: SANTOS, L. H. L. dos. A harmonia essencial. In: NOVAES,
A. (org.). A crise da Razão. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 437-455. Cf. também:
SANTOS, L. H. L. dos. A essência da proposição e a essência do mundo. In: WITTGENSTEIN, L.
Tractatus lógico-philosophicus. São Paulo: Edusp, 1994, p. 11-112.
6
Para Lima Vaz, a nova metafísica da modernidade encontra suas raízes na obra do genial Duns
Scot, na medida em que, a partir dele, percebe-se a mudança na concepção metafísica de ser, uma
vez que na sua obra se privilegia a noção unívoca de ser em contraposição à noção polissêmica da
tradição. Para essa nova metafísica, a noção de ser, como possibilidade, prevalecerá sobre a
concepção de ser, entendida como existência. Cf., LIMA VAZ, H. C. de. A Metafísica na Modernidade.
In: Escritos de Filosofia III. Filosofia e Cultura, São Paulo:Loyola, 1997, p. 350-357.
7
Cf., OLIVEIRA, M. A. de. Filosofia: Lógica e Metafísica, Op.cit., p.161.
8
Cf. LIMA VAZ, H. C. de. A Metafísica na Modernidade. In: Escritos de Filosofia III.Filosofia e Cultura,
São Paulo:Loyola, 1997, pp. 344-345.
9
Cf. HUME, D. Investigação acerca do entendimento Humano. Trad. de Anoar Aiex, São Paulo: Nova
Cultural, 1992, Col. Os pensadores, p. 144. Sobre o ceticismo como uma questão central no
pensamento de Hume, Cf. SMITH, P. J. O ceticismo de Hume. São Paulo: Loyola, 1995. Cf., também,
do mesmo autor: Ceticismo filosófico, São Paulo: EPU, Curitiba: Editora da UFPR, 2000.
10
Cf. OLIVEIRA, M. A. de. Para além da fragmentação. Pressupostos e objeções da racionalidade
dialética contemporânea. São Paulo: Loyola, 2002, p. 95. Veja-se, nesta obra, a bibliografia sobre o
ceticismo e a filosofia humeana, citada às pp. 112-119.