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economia, dando novamente voz ao discurso liberal. Estagflação, instabilidade financeira e
queda da produtividade, acirravam a concorrência intra-capitalista, levando ao rompimento da
aliança entre capital e trabalho. Os trabalhadores passaram a ser responsabilizados pela
redução da produtividade e da lucratividade, redução esta que Marx (1983) demonstrou,
empiricamente, ser uma característica inerente ao modo de produção capitalista
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. Diante da
combinação de um novo padrão de industrialização com a emergência de novos modelos de
produção (ZARIFIAN, 1990; FERREIRA et al., 1991; CORIAT, 1994), os Estados nacionais
começaram a implementar, em sua política macroeconômica, as reformas neoliberais: redução
do papel do Estado na economia, via desregulamentação de mercados; retorno ao setor
privado de empresas nacionalizadas; abertura comercial sem barreiras restritivas; maior
liberdade nacional e internacional na circulação dos fundos (BRUNHOFF, 1991).
Mais uma vez, a premissa liberal/neoclássica seria visitada: somente a total
liberdade de ação do capital e do trabalho, sem alianças, garantiria a retomada do
crescimento, elevando os níveis de produtividade, lucratividade e emprego. No entanto, a
partir da década de 1980, observou-se um descompasso no pressuposto de que um aumento
de produção acarretaria proporcionalmente um aumento do emprego, contrariando a própria
Lei de Say
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e a proposição liberal de equilíbrio pelas livres forças do mercado.
Vislumbramos o fenômeno do crescimento com desemprego (LISBOA, 2005).
Em um mercado crescentemente competitivo e globalizado, para a empresa
capitalista se manter e conquistar novos mercados, vê-se obrigada a investir na reestruturação
produtiva e em mudanças organizacionais, levando, muitas vezes, à supressão de postos de
trabalho. Portanto, pode haver aumento da produção e simultaneamente redução do emprego
de força de trabalho. Pochmann (1997, p.178) constata que, no Brasil,
[...] a performance do emprego regular na década de 80 acompanhou o sentido da
evolução do Produto Interno Bruto per capita, ainda que não no mesmo ritmo.
Durante os anos 90, contudo, o comportamento do nível de emprego regular passou
a estar descolado do movimento positivo de expansão do PIB por habitante,
sobretudo a partir de 1993, quando a economia nacional passou a registrar uma
recuperação no uso da capacidade instalada.
O autor demonstra esse descompasso entre o nível de emprego e elevação do
PIB per capita na figura 1.1, onde se percebe que mesmo com o aumento da formação bruta
em capital fixo (investimento na produção) a partir da década de 1990, acompanhado pela
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Para Marx (1983), o aumento da proporção do componente técnico em relação ao trabalho (composição
orgânica do capital) levaria à redução da taxa de mais-valia.
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A Lei de Say foi exposta por Jean-Baptiste Say (1767-1832), nascido em Lyon , França, autor de Tratado de
Economia Política, de 1803, e atesta que não existem as chamadas crises de super-produção, uma vez que toda
oferta gera sua demada correpondente, ou seja, tudo o que é produzido pode ser consumido (HUGON, 1980).