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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO
CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA
SÃO CRISTÓVÃO - SE
2006
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ii
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
CRISTIANE VITÓRIO DE SOUZA
AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO
Dissertação submetida ao Colegiado do
Curso de Mestrado em Educação da
Universidade Federal de Sergipe, em
cumprimento parcial dos requisitos para a
obtenção do grau de Mestre em Educação,
sob a orientação do Prof. Dr. Jorge Carvalho
do Nascimento.
SÃO CRISTÓVÃO - SE
2006
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
S729l
Souza, Cristiane Vitório de
As leituras pedagógicas de Sílvio Romero / Cristiane
Vitório de Souza. – São Cristóvão, 2006.
231 f. : il.
Dissertação (Mestrado em Educação) cleo de Pós-
Graduação em Educação, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e
Pesquisa, Universidade Federal de Sergipe, 2006.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento
1. História da educação. 2. Sílvio Romero Biblioteca
pedagógica. 3. Leitura. I. Título.
CDU 37(091):000.028.1
iv
“AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO”
APROVADO PELA COMISSÃO EXAMINADORA EM
28 DE SETEMBRO DE DE 2006
________________________________________________
Prof. Dr. Jorge Carvalho do Nascimento – Orientador
_______________________________________________
Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos
_______________________________________________
Profª. Drª. Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas
v
A Sílvio Romero (in memorian),
personagem histórico ao qual tenho
dedicado minhas elucubrações.
A Maria Marlene de Souza e
Everaldo Vitório de Souza (in memorian),
meus pais, pelo apoio incondicional
dispensado ao longo da minha vida
acadêmica.
vi
AGRADECIMENTOS
Colocar o ponto final numa dissertação revela não somente um exercício gramatical ou
o término de uma pesquisa, mas o derradeiro sinal de que, afinal, é hora de acabar.
Durante o trajeto da sua elaboração contei com a colaboração de várias pessoas.
Ao Professor Doutor Jorge Carvalho do Nascimento, meu orientador, agradeço a
indicação dos caminhos a serem percorridos durante a pesquisa e a confiança depositada no
meu trabalho.
Aos Professores Doutores do Núcleo de Pós-graduação em Educação (NPGED), da
Universidade Federal de Sergipe, especialmente Anamaria Gonçalves Bueno de Freitas,
Edmilson Menezes, Wilma Porto de Prior, Paulo Neves, Miguel André Berger e Maria Helena
Santana Cruz, agradeço as lições generosamente oferecidas nas disciplinas do curso.
Aos Professores Doutores Fábio Maza e José Rodorval Ramalho, agradeço as
sugestões na Banca Examinadora de Qualificação.
Aos Professores Doutores José Gerardo Vasconcelos e Anamaria Gonçalves Bueno de
Freitas, da Comissão Examinadora, agradeço as leituras atentas (estilo pente fino!), as críticas
e sugestões e o incentivo para a continuação da pesquisa.
Aos queridos “companheiros de viagem” Ângela, Ana Luzia, Betânia, Cristina,
Fernando, Genisson, Ísis, José Marcos, Lourdes, Lúcia, Luís, Marco, Marcos, Maryluze,
Neilton, Orlando, Orlandinho, Ricardo e Simone (e Sarinha!), agradeço a disposição de
compartilhar as incessantes inquietações.
Aos funcionários do NPGED, especialmente Edson, agradeço a prontidão com que
sempre me atendeu.
vii
A Vera, secretária da Revista do Mestrado em Educação, agradeço a parceria em
artigos, seminários e minicursos e o fato de ter se tornado uma amiga querida.
Aos colegas do Grupo de Estudos e Pesquisas em História da Educação, da
Universidade Federal de Sergipe, agradeço a troca de idéias e o estímulo.
A Professora Doutora Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento, agradeço o
convite para participar do Grupo de Pesquisa em História das Práticas Educacionais, da
Universidade Tiradentes, e o constante e terno incentivo.
Ao editor mais recente da obra de lvio Romero, Luiz Antônio Barreto, agradeço a
atenção e a prestimosa cessão de importantes fontes de pesquisa.
Aos funcionários da Biblioteca Pública Epifânio Dória, local onde praticamente morei
durante alguns meses, agradeço a delicadeza com que atenderam as minhas insistentes
solicitações.
Aos familiares, especialmente Mamis, Zezinho, Rodrigo, Lúcia, Leozito, Voinha,
Mara, Messias, Mila, Teu, Rosivalda (in memorian) e Wesley (in memorian), e aos amigos,
notadamente Jô, Li, Lu e Cassinho, agradeço o carinho e a compreensão durante os
“intermináveis” anos do Mestrado.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE QUADROS xi
LISTA DE GRÁFICOS xii
RESUMO xiii
ABSTRACT
xiv
INTRODUÇÃO
11
CAPÍTULO I COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO
ROMERO
25
CAPÍTULO II – BIBLIOTECA PEDAGÓGICA DE SÍLVIO ROMERO
72
CAPÍTULO III – AS LEITURAS PEDAGÓGICAS DE SÍLVIO ROMERO
104
3.1 APROPRIAÇÃO DE DE L'ÉDUCATION INTELLECTUELLE, MORALE ET
PHYSIQUE, DE HERBERT SPENCER
105
3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL
120
3.2.1 APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION
PARTICULARISTE, DE HENRI DE TOURVILLE
124
3.2.2 APROPRIAÇÃO DE A QUOI TIENT LA SUPÉRIORITÉ DES ANGLO-
SAXONS? E L'ÉDUCATION NOUVELLE, DE EDMOND DEMOLINS
130
3.2.3 APROPRIAÇÃO DE LA VIE AMÉRICAINE, DE PAUL DE ROUSIERS 152
3.3 APROPRIAÇÃO DE L’ARYEN E RACE ET MILIEU, DE GEORGES VACHER
ix
DE LAPOUGE 160
CONSIDERAÇÕES FINAIS 182
LISTA DE FONTES
187
BIBLIOGRAFIA 220
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Sílvio Romero 25
Figura 2 – Pais de Sílvio Romero 26
Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira 27
Figura 4 – Antônia 28
Figura 5 – Vila de Lagarto
31
Figura 6 – Ateneu Fluminense
39
Figura 7 – Faculdade de Direito de Recife, na Rua do Hospício 48
Figura 8 - Cais Pharoux, aproximadamente 1893-1894 60
Figura 9 - Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero
77
Figura 10 - Biblioteca de Sílvio Romero 78
Figura 11 Folha de rosto De L’éducation intelectuelle, morale et physique, de Herbert
Spencer
107
Figura 12 Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste, de Henri de
Tourville
127
Figura 13 – Folha de rosto de A Quoit tient la supériorité des anglo-saxons?, de
Edmond Demolins
132
Figura 14 Folha de rosto de L’éducation nouvelle: l’école des roches, de Edmond
Demolins
140
Figura 15 Folha de rosto de La vie americaine: l’éducation et la société, de Paul de
Rousiers
152
Figura 16 – Folha de rosto de L’aryen: son role social, de Georges Vacher de Lapouge
165
Figura 17 Folha de rosto de Race et milieu: essais d’anthrosociologie, de Georges
Vacher de Lapouge
170
xi
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Editoras e tipografias nacionais 92
Quadro 2 - Editoras e tipografias estrangeiras
94
xii
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Ano da edição das obras da BPSR 83
Gráfico 2 - Tipologia das obras da BPSR 84
Gráfico 3 - Áreas do conhecimento da BPSR 85
Gráfico 4 - Assuntos da área da educação 87
Gráfico 5 - Nacionalidade dos autores 88
Gráfico 6 - Idiomas da BPSR 90
Gráfico 7 - Distribuição de tipografias e editoras nacionais por estados brasileiros
91
Gráfico 8 – Distribuição das editoras estrangeiras por país 94
xiii
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo geral analisar as leituras pedagógicas empreendidas
por Sílvio Romero. Esse objetivo geral desdobra-se em três objetivos específicos: analisar as
competências e práticas de leitura do intelectual sergipano, traçar um perfil da Biblioteca
Pedagógica e compreender como se apropriou das leituras de Herbert Spencer, Edmond
Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville e Vacher de Lapouge. Utiliza como fontes: a sua
Biblioteca, especialmente, a Biblioteca Pedagógica, as obras que escreveu, as cartas enviadas
aos amigos, a literatura de época e a literatura sobre a época. Inspirado na Nova História
Cultural utiliza o método indiciário, de Carlo Ginzburg, a noção de documento/ monumento,
de Jacques Le Goff, as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura
silenciosa e oralizada, leitura extensiva e intensiva, materialidade e representação de Roger
Chartier, os conceitos de campo intelectual, capital social e capital cultural de Pierre
Bourdieu. Conclui que a partir das competências que adquiriu tanto na educação formal
quanto na informal tornou-se um leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras e apropriou-
se dos livros analisados de modo ativo, apropriando-se das representações que lhe permitiam
pensar a educação brasileira e rejeitando as demais.
PALAVRAS-CHAVE: História da Educação – História da Leitura – Sílvio Romero.
xiv
ABSTRACT
This work has as general objective to analyze the pedagogic readings undertaken by
Sílvio Romero. The specific objectives are: to analyze the competences and practices of
reading of the intellectual, to trace a profile of Sílvio Romero's Pedagogic Library and to
understand as he appropriated of Herbert Spencer, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri
de Tourville and Vacher de Lapouge's readings. It uses as sources: its Library, especially, the
Pedagogic Library, the works that wrote, the letters sent to the friends, the epoch literature
and the literature about the epoch. Inspired by the New Cultural History it uses the indiciary
method of Carlo Ginzburg, the document/ monument notion of Jacques Le Goff, the
appropriation, reading competences, reading practices, oral reading, silent reading,
materiality and representation notions of Roger Chartier, intellectual field, social capital and
cultural capital concepts of Pierre Bourdieu. It concludes that the competences that he
acquired as in the formal education as in the informal he became a critical reader of the
national and foreign letters and he appropriated of that books in an active way, appropriating
of the representations that allowed to think it the Brazilian education and rejecting the others.
KEYWORDS: History of Education – History of Reading – Sílvio Romero.
INTRODUÇÃO
“A leitura tem uma história”.
1
Essa frase do historiador norte-americano Robert Darnton expressa uma opinião que
se instaurou no campo da História e da História da Educação nos últimos decênios. Partindo
dessa convicção a pesquisa teve como objeto as leituras pedagógicas de Sílvio Romero.
Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos Romero nasceu na Vila de Lagarto, Província
de Sergipe, em 21 de abril de 1851. Entre 1855 e 1862, estudou as primeiras letras na terra
natal, na escola dos professores Bomfim e Badú. Em 1863, cursou os preparatórios exigidos
para a admissão nos cursos superiores no Rio de Janeiro, no internato Ateneu Fluminense. Em
1868, matriculou-se na Faculdade de Direito de Recife e diplomou-se em 1873. No ano
seguinte assumiu a Promotoria Pública de Estância e foi eleito deputado provincial. Em
1875, voltou para Recife para apresentar tese de doutoramento na Faculdade de Direito do
Recife. No mesmo ano prestou concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes,
anexa à Faculdade, para a qual foi aprovado, mas não foi nomeado. Em 1876, seguiu para
Parati onde exerceu o cargo de Juiz Municipal e de Órfãos até 1879. No ano seguinte
inscreveu-se no concurso da Cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II, a mais prestigiosa
instituição de ensino secundário do país, onde lecionou durante 30 anos. Foi fundador e
professor da Faculdade Livre de Direito e da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do
Rio de Janeiro e da Faculdade Livre de Direito de Juiz de Fora. Foi eleito deputado federal
em 1900. Participou da fundação da Academia Brasileira de Letras e foi membro do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia de Ciências de Lisboa e de diversas outras
associações literárias. Escreveu sistematicamente na imprensa periódica e publicou diversos
livros nos campos da Poesia, da Crítica e da História Literária, da Filosofia, da Sociologia,
da Política, do Direito, do Folclore e da Educação. Faleceu em 18 de julho de 1914, aos 63
anos de idade.
1
DARNTON, Robert. O beijo de Lamourrette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras,
1990, p. 147.
16
Constituiu ao longo da sua trajetória uma biblioteca de 1717 títulos.
2
Esse acervo é
composto de impressos nacionais e estrangeiros, sobretudo franceses, que versavam sobre as
mais distintas áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Sociologia, Antropologia, História,
Etnografia, Biologia, Psicologia, Literatura, dentre outras.
Seus biógrafos informam que Sílvio Romero leu avidamente até pouco tempo antes da
morte porque não conseguia enxergar bem. Múltiplas faces do intelectual sergipano
foram objetos de pesquisa. Existem inúmeros trabalhos sobre o Sílvio Romero intelectual
3
,
polemista
4
, crítico literário
5
, filósofo
6
, sociólogo
7
, folclorista
8
, e, recentemente, professor
9
. No
entanto, o Sílvio Romero leitor ainda não foi devidamente estudado.
Essa face tem sido abordada de forma incidental ou incipiente. Entre os estudos que
versam sobre o tema de modo fortuito podemos citar: Sílvio Romero de perfil, de Artur
Guimarães, Itinerário de Sílvio Romero, de Sílvio Rabello, Presença de Sílvio Romero, de
Argeu Guimarães e Sílvio Romero de corpo inteiro, de Carlos Süssekind de Mendonça
10
.
2
Esse cálculo, baseado nos exemplares adquiridos pelo Governo do Estado de Sergipe, após o seu falecimento,
pode ser ampliado levando-se em consideração os livros emprestados e não devolvidos ou que a família tenha
preservado sob sua guarda devido a algum valor sentimental. Argeu Guimarães, por exemplo, conta que seu pai,
Artur Guimarães, manteve consigo alguns livros do amigo. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero.
Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 75.
3
MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e
Cultura, 1963; MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero: sua formação intelectual (1855-1880). São
Paulo: Nacional, 1938; RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944.
4
Cf. SOUZA, João Mendonça de. Sílvio Romero, o crítico e o polemista. Rio de Janeiro: Companhia Editora
Americana, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1991.
5
Cf. CÂNDIDO, Antônio. O método crítico de Sílvio Romero. São Paulo: EDUSP, 1988.
6
Cf. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alemã na cultura brasileira
durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999.
7
Cf. MORAES FILHO, Evaristo. Medo à Utopia. O pensamento social de Tobias Barreto e Sílvio Romero. Rio
de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL/ Fundação do Nacional Pró-Memória, 1985.
8
Cf. MATOS, Cláudia Neiva de. A poesia popular na república das letras. Rio de Janeiro: UFRJ/ MINC/
FUNARTE, 1994.
9
Cf. ARAÚJO, José Augusto Melo de. Debates, pompa e majestade: a história de um concurso docente nos
trópicos no século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação) Núcleo de s-graduação em Educação,
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004.
10
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915;
RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: JoOlympio, 1944; GUIMARÃES, Argeu.
17
E entre aqueles que tratam o tema de modo exploratório: Vestígios de um leitor: a
biblioteca pedagógica de Sílvio Romero, de Jorge Carvalho do Nascimento e A Biblioteca de
Sílvio Romero: descoberta e reativação, de Jackson da Silva Lima
11
Sobre o Sílvio Romero leitor de textos sobre educação só existe o trabalho já citado de
Jorge Carvalho do Nascimento. Ele focaliza o percurso da Biblioteca de Sílvio Romero nos
meandros da Biblioteca Pública Epifânio Dória, traça considerações acerca do pensamento
pedagógico de Sílvio Romero e assinala a importância do estudo das notas deixadas nas obras
de William James para apreender o modo como o pensamento do filósofo norte-americano foi
apropriado por ele
12
Neste sentido, em decorrência da escassez de estudos que tenham investigado as
leituras pedagógicas de Sílvio Romero, essa pesquisa pretende contribuir para a superação
dessa lacuna.
Além da relevância, esse estudo justifica-se pela exeqüibilidade. A Biblioteca de
Sílvio Romero foi incorporada ao acervo da Biblioteca Pública de Sergipe. Em 1918, quatro
anos após a morte do intelectual sergipano, o Presidente do Estado General Manuel
Prisciliano de Oliveira Valadão autorizou a sua aquisição.Os volumes foram confiados ao
bibliotecário Epifânio Dória. Num primeiro momento, os livros foram incorporados ao
acervo geral da instituição. Em 1974, o acervo do intelectual sergipano ficou indisponível.
Somente em 1995, o acervo foi reorganizado e disponibilizado para consulta
13
. Essa
biblioteca é a fonte primordial para desvendar quais leituras o intelectual sergipano efetuou
nesse campo e como se apropriou dessas leituras.
Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; MENDONÇA, Carlos Süssekind de.
Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e Cultura, 1963.
11
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In:
SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio
da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM; LIMA, Jackson da Silva. A
Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit, v. 2, n. 4, 1999.
12
NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de Sílvio Romero. In:
SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais do XXII Simpósio
da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM.
13
LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit,
v. 2, n. 4, 1999.
18
Assim, este trabalho justifica-se pela relevância, uma vez que visa preencher uma
lacuna na historiografia da educação brasileira em virtude da incipiência de estudos sobre as
leituras pedagógicas de Sílvio Romero; e pela exeqüibilidade, pois a biblioteca constituída ao
longo dos anos pelo escritor integra o acervo da Biblioteca Pública Epifânio Dória.
Constituiu objetivo central da pesquisa: compreender como Sílvio Romero se
apropriou de algumas das leituras pedagógicas que realizou ao longo da sua biografia. A
Biblioteca Pedagógica é constituída por 161 textos. Destes, 39 possuem marginálias. Em
virtude do tempo disponível para a realização da pesquisa não foi possível analisar
profundamente a apropriação de cada uma dessas obras. Por essa razão circunscrevi a análise
para os textos dos autores citados por ele nas obras que escreveu sobre o tema. Entre esses
estão: Herbert Spencer, Henri de Tourville, Edmond Demolins, Paul Rousiers e Georges
Vacher de Lapouge.
14
Também são citados outros autores como Paul Descamps, Du Bois-
Reymond e Alfred Fouillée. Mas as obras desses autores não constam na sua Biblioteca.
A meta central desdobrou-se em objetivos mais específicos: compreender quais
competências e práticas de leitura adquiriu durante sua trajetória; traçar um perfil da
Biblioteca Pedagógica e analisar a sua materialidade; e investigar como ele se apropriou das
referidas leituras pedagógicas.
A esses objetivos corresponderam algumas hipóteses. A primeira, que Sílvio
desenvolveu competências e práticas de leitura que o tornaram um leitor crítico. A segunda,
que autores, editores e tipógrafos usaram diversos dispositivos para garantir uma leitura
“legítima”. A terceira, que combinou autores de distintas extrações teóricas, adotando as
representações que lhe pareciam adequadas e rejeitando aquelas que lhe pareciam
improfícuas para pensar o seu país.
14
SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral y física. Valencia: F. Sempere Y Companío Editores, [18-
-]; SPENCER, Herbert. De l'education intellectuelle, morale et physique. Paris: Felix Alcan Editeur, 1894;
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot et
Cie, 1897; DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie, 1899;;
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'education et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie, [18--];
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie, [S.d.]; LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing
Editeur, 1899; LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris:
Marcel Rivière, 1909.
19
Serviram de subsídios para desvelar as leituras diversos tipos documentais. Os livros
da sua Biblioteca, notadamente aqueles que versam sobre educação, foram os principais
testemunhos. A partir da leitura das obras e, especialmente, das marginálias que nelas deixou
foi possível apreender os diálogos que manteve com os autores que leu, e compreender o
modo como se apropriou dos textos.
Também subsidiaram essa pesquisa os textos sobre educação produzidos por Sílvio
Romero. A análise das suas obras permitiu apreender como pensou a educação. O cotejo
entre suas leituras e suas obras serviu para auxiliar o desvelamento da apropriação que fez da
Biblioteca Pedagógica e como construiu a partir dessas leituras suas representações.
Foram utilizadas ainda as cartas enviadas para os amigos. As cartas forneceram
informações preciosas acerca dos hábitos e impressões de leitura.
A literatura de época e a literatura sobre a época também foram de grande valia. Elas
foram úteis na reconstrução do período em que o intelectual viveu.
Foram utilizados também os relatórios oficiais das Províncias de Sergipe,
Pernambuco e Rio de Janeiro, locais onde estudou. Esses relatórios auxiliaram a
reconstituição do contexto em que ele se tornou leitor.
Para coletar essas fontes foram utilizadas fichas construídas de acordo com o tipo
documental e a informação que se pretendeu registrar. Essas fichas foram armazenadas num
banco de dados construído no software Microsoft Access. Esse recurso permitiu a rápida
recuperação das informações desejadas e possibilitou a elaboração de quadros e gráficos.
Também foi muito útil a reprodução fotográfica das obras a serem analisadas, uma
vez que o Acessado ao acervo é restrito ao recinto da Biblioteca Pública Epifânio Dórea. Foi
utilizada a máquina digital SONY DSC - S40 4,1 mega pixels. O tratamento e leitura das
imagens captadas foram feitos a partir do software ACDSee v. 4.
Este trabalho enquadra-se no campo da História da Educação que tem se inspirado
na Nova História Cultural, corrente historiográfica que a partir da década de setenta da
centúria passada fez com que os historiadores deslocassem seus olhares para as práticas
20
culturais. Na História da Educação, essa tendência historiográfica provocou uma renovação
na seleção de objetos de pesquisa. A influência da Nova História Cultural sobre os
historiadores da educação fez com que o interesse se deslocasse da investigação das normas
para o estudo das práticas escolares. Os estudos sobre a produção, circulação e apropriação
de impressos pedagógicos adquiriram grande importância.
15
O trabalho sobre as leituras
pedagógicas de lvio Romero insere-se nesse contexto. Por esse motivo, foram de grande
valia alguns procedimentos metodológicos e conceitos largamente utilizados pelos
historiadores da educação que se apropriaram das contribuições da Nova História Cultural.
Um procedimento muito útil nesta pesquisa foi o método indiciário, elaborado pelo
historiador italiano Carlo Ginzburg para auxiliar no desvelamento de práticas culturais. De
acordo com esse autor devemos ficar atentos aos pormenores reveladores de modo a
apreender e desembaraçar para lá da superfície aveludada do texto o emaranhado dos fios
que formam a malha textual. A tarefa de estudar o modo como um intelectual se apropriou
dos textos que leu não é de fácil execução. A prática de atribuição de sentido aos signos
gráficos nem sempre é uma atividade que deixa rastros evidentes
16
. Desse modo, esse
método foi muito útil para compreender a apropriação dos impressos pedagógicos.
Foi utilizada ainda a noção de documento/ monumento de Jacques Le Goff, que
considera que o documento não é neutro, mas é sempre uma tentativa dos sujeitos pretéritos
de impor à posteridade uma determinada imagem de si próprios, que para terem valor de
testemunho precisam ser desmontadas, analisadas e problematizadas enquanto memórias/
monumentos.
17
Auxiliaram a compreensão da apropriação de impressos pedagógicos por lvio
Romero as noções de apropriação, competências e práticas de leitura, leitura oral e leitura
15
NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta Maria Chagas de. Historiografia da Educação e fontes. Cadernos da
ANPEd, Porto Alegre, n. 5, set., p. 7-64, 2000; LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de
Oliveira. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001; e VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO,
Luciano Mendes de. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Revista
Brasileira de História, São Paulo, v. 23, n. 45, p. 37-70, 2003.
16
GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: ______. Mitos, emblemas, sinais:
morfologia e história. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 143-179.
17
LE GOFF, Jacques. Documento/ monumento. In: Enciclopédia Einaudi. Porto: Imprensa Nacional/ Casa da
Moeda, 1984, p. 95-106. V. 1.
21
silenciosa, leitura intensiva e leitura extensiva
18
, materialidade e representação elaboradas
por Roger Chartier. De acordo com o historiador os leitores se apropriam das mensagens à
sua maneira. Ao contrário do que afirmava a antiga História das Idéias, os leitores não são
uma cera mole onde se inscrevem de maneira bem legível as idéias e as imagens forjadas por
criadores particulares. Os leitores projetam nelas idéias pessoais, em vez de recebê-las
passivamente. No entanto, a construção de sentido não é aleatória, varia de acordo com as
competências e práticas de leituras próprias da comunidade leitora na qual o leitor está
inserido e a materialidade dos textos.
As competências e as práticas de leitura mudam de acordo como o contexto. Chartier
distingue leitura oral e leitura silenciosa. Até os últimos séculos da Idade Média predominou
a leitura oral em voz alta ou baixa, caracterizada pela lentidão e dificuldade de interiorização
do que é lido. Na Idade Moderna, a leitura, assim como outras práticas culturais, tornou-se
privatizada: a leitura oral deu lugar à leitura silenciosa. A leitura silenciosa, ao contrário da
leitura oral, caracteriza-se pela rapidez e facilidade de interiorização do texto pelo leitor, pois
possibilita que apenas através do movimento dos olhos, o leitor entre em contato com novas
idéias e reflita sobre elas. Mas isso não quer dizer que a leitura oral tenha deixado de existir,
ela continuou sendo utilizada em algumas comunidades leitoras para atender as necessidades
dos analfabetos ou dos leitores neófitos. Na contemporaneidade leitores sem muita habilidade
só compreendem o que lêem quando o fazem em voz alta.
Chartier distingue também leitura intensiva e leitura extensiva. As comunidades
leitoras menos hábeis realizam leitura intensiva. Esse tipo de leitura é caracterizado pelo
manuseio de poucos impressos, que são lidos e relidos, memorizados e recitados. Os que se
dedicam a essa modalidade, sentem-se à vontade com apenas algumas formas textuais e
tipográficas e possuem uma relação de reverência e obediência com os textos.
18
Essas noções foram formuladas em diversos textos, entre os quais: CHARTIER, Roger. A história cultural:
entre práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. As práticas
da escrita. In: ARIÈS, Philippe; CHARTIER, Roger. História da Vida Privada: Da Renascença ao Século das
Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 113-162. V. 3; CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do
leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores,
autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998;
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2002.
22
As comunidades leitoras melhor familiarizadas com o mundo da leitura realizam
leitura extensiva. Esse modo de leitura é marcado pelo rápido consumo de grande número de
textos. Os que se dedicam a esse tipo de leitura sentem-se à vontade com todas as formas
textuais e tipográficas e possuem uma relação mais crítica em relação aos impressos.
A partir dessas orientações, estudei a formação recebida pelo Sílvio Romero leitor na
Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras e aprendeu as orações ensinadas pela
mucama Antônia e as histórias contadas por Antônia, outras escravas e Zefa Nó, uma
moradora da Vila; na capital do Império, onde estudou no ginásio Ateneu Fluminense e
prestou os exames preparatórios; em Recife, onde cursou a Faculdade de Direito; e novamente
no Rio de Janeiro, cidade onde viveu e trabalhou durante boa parte da sua vida e teve a
oportunidade de freqüentar inúmeras livrarias e bibliotecas. Através do estudo da formação
formal e informal de Sílvio foi possível apreender quais as competências e práticas de leitura
que ele adquiriu ao longo da sua trajetória.
Para fazer uma História da Leitura foi preciso também analisar a materialidade na
qual os textos estão inscritos, pois cada forma, cada suporte, cada estrutura da transmissão e
da recepção da escrita afeta profundamente os seus possíveis usos e interpretações. Assim,
considerei os aspectos formais de cada impresso que constitui a sua Biblioteca Pedagógica.
Um outro conceito útil para entender os usos que Sílvio Romero fez dos impressos
pedagógicos foi o de representação
19
. Conforme Chartier, ao criarem representações os
indivíduos descrevem a realidade tal como pensam que ela é ou como gostariam que fosse e
traduzem os seus interesses e posições sociais. Os impressos são dispositivos através dos
quais os indivíduos visam impor determinadas representações do mundo social. Assim, para
entender como se apropriou dos impressos pedagógicos é necessário compreender as
representações que os responsáveis pela produção e circulação tentaram impor. Do mesmo
modo que os responsáveis pela produção e circulação dos impressos visam impor
representações, os leitores constroem no processo de apropriação outras representações do
19
Esse conceito foi elaborado em diversas obras, entre as quais: CHARTIER, Roger. A história cultural: entre
práticas e representações. Lisboa: Bertrand; Rio de Janeiro: Difel, 1990; CHARTIER, Roger. A aventura do
livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998; CHARTIER, Roger. A ordem dos livros:
leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. 2 ed. Brasília: Editora da UNB, 1998;
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre certezas e inquietude. Porto Alegre: Editora da UFRGS,
2002.
23
mundo social. Para entender as representações que construiu a partir das suas leituras
pedagógicas estudei as anotações que fez às margens dos textos, as impressões de leitura
expostas nas cartas que trocou com outros intelectuais e os textos pedagógicos que produziu.
Também foram importantes os conceitos de campo intelectual, capital cultural e
capital social do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Ele compreende a sociedade como um
conjunto de campos, microcosmos sociais relativamente autônomos. O campo intelectual é
um espaço de lutas entre os agentes. Essas lutas são decorrentes da distribuição desigual de
capital no interior de cada campo. Aqueles que possuem maior volume de capital ocupam
posições dominantes e aqueles que possuem menor volume ocupam posições dominadas. As
lutas ocorrem em torno da apropriação do capital específico do campo e/ ou da redefinição
daquele capital. As estratégias dos agentes estão relacionadas com as posições que ocupam no
campo. Entre elas estão as de conservação e as de subversão. As primeiras são mais
freqüentes entre aqueles que ocupam posição dominante e as segundas entre aqueles que
ocupam posições dominadas. No século dezenove, quando o grau de autonomia do campo
intelectual ainda não era elevado, além do capital cultural, avaliado pelo conhecimento detido
pelos agentes, era levado em consideração o capital social, ou seja, o capital de relações
sociais que os agentes eram capazes de mobilizar
20
. Esses conceitos foram importantes para
compreender a posição ocupada por Sílvio Romero no campo intelectual brasileiro.
O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro, Competências e práticas de
leitura de Sílvio Romero, estudei a sua formação, procurando evidenciar como se tornou um
leitor crítico das letras nacionais e estrangeiras. No segundo, Biblioteca Pedagógica de lvio
Romero, tracei um perfil da sua Biblioteca Pedagógica e analisei a sua materialidade,
procurando identificar os dispositivos utilizados pelos produtores das obras para conformar a
leitura. No terceiro e último capítulo, A apropriação de leituras pedagógicas, investiguei
20
BOURDIEU, Pierre. A gênese dos conceitos de habitus e de campo. In: ______. O poder simbólico. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 59-131. Para obter informações sobre Pierre Bourdieu, conferir: ORTIZ,
Renato. A procura de uma sociologia da prática. In: BOURDIEU, Pierre. Sociologia. São Paulo: Ática, 1983;
PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2000; MARTINS,
Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu. Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro,
n. 62, p. 163-181, mar. 2002; MARTINS, Carlos Benedito. Notas sobre a noção da prática em Pierre Bourdieu.
Novos estudos CEBRAP, Rio de Janeiro, n. 62, p. 163-181, mar. 2002; WACQUANT, Loïq J. D. O legado
sociológico de Pierre Bourdieu: duas dimensões e uma nota pessoal. Revista Sociedade e Política, Curitiba, n.
19, p. 95-110, nov. 2002; CHARTIER, Roger. Pierre Bourdieu e a História. Topoi, Rio de Janeiro, p. 139-182,
mar. 2002.
24
como Sílvio Romero se apropriou das leituras do evolucionista Herbert Spencer, de Henri de
Tourville, Edmond Demolins e Paul de Rousiers, membros da Escola de Ciência Social e do
antropossociólogo Georges Vacher de Lapouge.
25
CAPÍTULO I
COMPETÊNCIAS E PRÁTICAS DE LEITURA DE SÍLVIO ROMERO
O objetivo do capítulo é compreender as competências e práticas de leitura do
intelectual sergipano através do exame da sua trajetória. Compreender o Sílvio Romero leitor
não é tarefa fácil. É preciso romper com a concepção de leitura do nosso tempo e mergulhar
nos tempos idos em busca de indícios que permitam entrever as competências e práticas de
leitura que ele adquiriu ao longo da sua biografia. Inicialmente, recuei às suas experiências na
Vila de Lagarto, onde estudou as primeiras letras. Em seguida, ao Rio de Janeiro, onde cursou
os preparatórios. Depois a Recife, onde se bacharelou em Direito. Por fim, ao Rio de Janeiro,
onde se estabeleceu definitivamente.
Figura 1 - Sílvio Romero
Fonte: SÍLVIO ROMERO. Altura: 263 pixels. Largura: 209
pixels. 52117 bytes. Formato JPEG. Disponível em:
<
h
ttp://www.academia.org.br/abl/media/silvio_romero.jpg>
Acessado em: 23/05/2004.
26
Sílvio nasceu no dia 21 de abril de 1851, na Vila de Lagarto, no agreste de Sergipe.
Era filho de André Ramos Romero, “português do Norte”, negociante abastado, e Maria da
Silveira de Vasconcelos Ramos Romero, descendente de uma próspera família, também de
origem portuguesa.
No ano do seu nascimento a vila foi atingida por uma epidemia de febre amarela que
grassava nas províncias do Norte. Sua mãe foi acometida pela doença e não pôde amamentá-
lo. Então, foi levado para a casa dos avós maternos, Luiz Antônio Vasconcelos e Rosa
Ludovina da Silveira, no Engenho Moreira, localizado nas proximidades do rio Piauí.
Figura 2 - Pais de Sílvio Romero
Fonte: PAIS de Sílvio Romero. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia
A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 122-131.
27
A julgar pela fotografia, a casa-grande localizava-se no cimo. Era ampla, porém
singela. Uma pequena escada de três ou quatro degraus dava Acessado ao alpendre cercado
por grosseiras estacas. Várias portas e janelas davam Acessado ao interior. Apesar das marcas
do tempo que esmaeceram a imagem é possível vislumbrar alguns personagens.
No Engenho, lvio foi entregue aos cuidados de Antônia, mucama a quem foram
confiados os desvelos de sua meninice. Cedo se acostumou a chamá-la de mãe
21
. A “adorada
Antônia” transmitiu para o yoyozinho os primeiros conhecimentos. Aos 53 anos, em
depoimento ao jornalista e literato Paulo Barreto, conhecido como João do Rio, afirmou que
aprendeu com ela as orações e que se habituou a considerar a religião como coisa séria, “uma
criação fundamental e irredutível da humanidade”
22
.
21
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 25.
22
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.
Figura 3 – Casa-grande do Engenho Moreira
Fonte:
CASA-GRANDE do Engenho Moreira. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de
perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 47.
28
Não foi possível descobrir se Antônia era letrada. Numa das raras fotografias de
escravos no Brasil, ela portava um livro. Contudo, esse não é um indício suficiente para
concluir pelo seu letramento. No culo dezenove, os livros eram muito usados na
composição dos retratos, pois era um bem socialmente valorizado
23
.
23
Cf. ABREU, Márcia. Diferentes formas de ler. Disponível em:
http://www.unicamp.br/Memoria/Ensaios/Marcia/marcia/htm. Acesso em: 26/05/2004.
Figura 4 - Antônia
Fonte:
ROMERO, Alfeu. Antônia. In: GUIMARÃES, Artur.
Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur
José de Souza, 1915, p. 81.
29
O livro à mão esquerda, possivelmente uma blia ou um livro de oração, compunha,
ao lado de uma medalha, que lhe adornava o peito e um terço que segurava à mão direita, a
imagem de uma senhora cristã, seguidora dos mandamentos divinos, responsável pela
educação moral e religiosa das crianças e adolescentes da família, conforme descreveu
Abelardo Romero, sobrinho-neto de Sílvio
24
. Todavia, para saber orações não era preciso
conhecer o alfabeto. Elas eram transmitidas oralmente geração a geração.
Antônia e as “velhinhas rendeiras” que viviam no Engenho Moreira ensinaram-lhe
também inúmeras histórias, que décadas depois, em depoimento ao literato Coelho Neto,
recordou com saudade:
Em menino o meu maior encanto era à noite, ao copiar ou na eira, entre
crianças, ouvir as velhinhas que, com a almofada ao colo, urdindo o crivo,
cantavam xácaras peninsulares, narravam conselhos ou espavoriam o
auditório ingênuo com histórias sombrias em que aparecia a iurupari ou o
saci saltava num pé só, alumiando a brenha com o olhar esbraseado, quando
não era o caapora, senhor da mata, que rompia das profundezas com
estardalhaço de ramos, montando num caititu monstruoso que afocinhava as
sapopemas, grunhindo e estralando os colmilhos. E fábulas e lendas, umas
irradiando com o aparecimento de Rudá, o sol, outras melodiosas do canto
murmuro das iaras, ou então os contos que faziam rir os pequeninos com as
astúcias do jaboti, as manhas do macaco e as palermices da onça sempre
ludibriada pela esperteza dos animais matreiros
25
.
O século dezenove brasileiro foi marcado pela importância crescente do impresso, pois
no início dessa era houve uma ampliação da circulação de livros, devido ao surgimento da
imprensa, da proliferação de livrarias e bibliotecas
26
. No entanto, a tradição continuou sendo
durante muito tempo a principal forma de transmissão da cultura. As lembranças de Sílvio
ilustram bem a relevância da literatura oral, que muitas vezes provocava mais prazer nos
ouvintes do que a literatura escrita. Ele afirma que:
24
Esse perfil de Antônia foi descrito por Abelardo, sobrinho-neto de Sílvio Romero. Cf. ROMERO, Abelardo.
Silvío Romero em família: Aracaju: Saga, 1960.
25
ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia
Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 93.
26
Cf. ARAÚJO, Jorge de Souza. Perfil do leitor colonial. Ilhéus: Editora da UESC, 1999; e HALLEWELL,
Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São Paulo, 1985.
30
Nunca livro algum, por mais notável que fosse o seu autor e celebrada a sua
fábula, conseguiu atrair-me como aquelas velhas o faziam com o imã dos
seus recontos.
As primeiras palavras que caíam, lentas, no silêncio atento: Era uma
vez...’, o coração batia-me comovido, um calor inflamava-me o rosto,
abriram-se-me muito os olhos e eu via, via os caminhos de encanto, as
árvores de folha de ouro, as grutas de esmeraldas, os dragões que bufavam
chamas, as serpentes, os cisnes, que eram príncipes encantados, as princesas
cativas de mouros, todas as coisas e figuras desses poemas da infância,
primeiros alimentos da imaginação...
27
Além das histórias, lembrou com saudade da moagem da cana. Nestas ocasiões, subia
na almanjarra e ajudava os tangedores a cantar: “Pomba voou, meu camarada. Avoou, que hei
de fazer? Quem de noite leva a boca. De dia que há de comer?”
28
. Sílvio informou ao João do
Rio que ainda conseguia sentir no ouvido a melodia simples e monótona desses e de outros
versinhos do gênero e que o seu brasileirismo vinha daí.
Quando completou cinco anos teve que deixar Antônia, as escravas contadoras de
história, os tangedores de gado e regressar à casa paterna para estudar. Segundo a então
nonagenária Antônia, em informação registrada por Abelardo Romero, o dia em que foi
levado para a Vila: “Foi um belo dia de juízo... Agarradinho à minha saia, yoyozinho chorava:
Não quero estudar!”
27
ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia
Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 94.
28
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.
31
Não foi apenas a necessidade de matriculá-lo numa escola de primeiras letras que
motivou o pai a levá-lo do Engenho para a Vila. Mais uma vez Lagarto foi assolada por uma
epidemia, agora de cólera-morbo
29
. Ao chegar em casa, encontrou a irmã Lídia doente. A
menina não resistiu. A mãe também adoeceu, mas conseguiu escapar da morte. Após o
mordexim André Romero matriculou-o na escola. O menino teve que abandonar a camisola
infantil para usar calças. Dividir o tempo que era apenas das travessuras com os estudos.
Segundo Abelardo, ele foi matriculado na escola do professor Bomfim. Nos
documentos oficiais que versam sobre a instrução pública da Província de Sergipe, não
constam referências sobre professor com essa alcunha. Seguramente ele não era professor
público. A cadeira pública masculina de primeiras letras de Lagarto foi criada em 1819. Não
foi possível descobrir quem foi o primeiro ocupante da cadeira. O segundo foi Antônio
Ricardo dos Mártires, que permaneceu no cargo de 1830 a 1850. O regente da cadeira na
29
A Vila de Lagarto foi a primeira região da Província de Sergipe a ser assolada pelo cólera-morbo em 1855.
Cerca de 21% da população faleceu. Cf. SAMARONE, Antônio. As febres do Aracaju: dos miasmas aos
micróbios. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) - Núcleo de Pós-graduação em Ciências Sociais,
Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão, 1997; SANTOS NETO, Amâncio Cardoso. Sob o signo da
peste: Sergipe no tempo de cholera (1855-1856). Dissertação (Mestrado em História) - Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2001.
Figura 5 - Vila de Lagarto
Fonte: VILA de Lagarto. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1944, p. 55.
32
época em que Sílvio viveu em Lagarto era Miguel Teotônio de Castro
30
. Havia também a
cadeira feminina de primeiras letras criada em 1850. Esta foi ocupada primeiramente por
Tereza Jesus da Mata. Na época em que Sílvio estudou, era regida por Maria José de
Alcântara Brito
31
.
Bomfim era professor particular. Esses professores às vezes eram preferidos pelas
famílias mais abastadas. As escolas particulares funcionavam na residência do mestre ou do
aluno. Não há muitas informações acerca da experiência de Sílvio na escola do referido
mestre. apenas o registro de que o professor costumava morder as orelhas dos alunos que
não cumpriam com seus deveres
32
. Se essa notícia for verdadeira, pode-se imaginar quão
assustadora foi a reação do menino de engenho, acostumado aos mimos que lhe fazia Antônia,
à rudeza do mestre. A experiência nessa escola foi curta. O mestre teria morrido pouco
depois, envenenado por um de seus alunos
33
.
Com a morte do mestre antigo, Sílvio foi matriculado na escola do professor Badú.
Também parcimoniosas informações a respeito dessa escola. Segundo o historiador José
Sebrão de Carvalho Sobrinho, Badú era a alcunha do professor Miguel Teotônio de Castro
34
.
As escolas públicas de primeiras letras, cujos professores eram reconhecidos ou nomeados
pelos órgãos de Estado responsáveis pela instrução, funcionavam em espaços improvisados,
30
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão
ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de
Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua
sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. JoAntonio de
Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sessão
ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de
Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
31
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão
ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de
Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sessão
ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de
Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório com que foi aberta asessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de
Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
32
ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24.
33
ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 24.
34
CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92.
33
geralmente na casa dos mestres ou em espaços alugados para esse fim. Tais escolas eram bem
diferentes das contemporâneas. O mobiliário o era uniforme. Havia mesas e bancos de
diversos tamanhos. Para escrever usavam-se pedras de ardósia e ponteiro ou papel, pena e
tinta. Os materiais didáticos eram: cartas de sílabas, compêndios de gramática, aritmética e
doutrina cristã e traslados. Os métodos de ensino utilizados eram o individual ou o mútuo. Era
comum o uso de castigos corporais para garantir a disciplina. A palmatória era bem conhecida
pelos infantes
35
.
Essa foi uma das formas de realização da escola que possibilitou aos oitocentistas o
ingresso no universo da leitura. Nelas os mestres procuravam iniciar seus discípulos nos
35
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sua sessão
ordinária no de março de 1850, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de
Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua sessão
ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Amâncio João Pereira de
Andrade. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua
sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. JoAntonio de
Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sessão
ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. José Antonio de
Oliveira Silva. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura da sessão
ordinária, no dia 20 de abril de 1854, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim
Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura de sua
sessão ordinária, no dia de março 1855, pelo Exmo. Sr. Presidente da Província, Dr. Inácio Joaquim
Barbosa. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de
Sergipe, no dia 2 de julho de 1856, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de e
Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da undécima legislatura da Assembléia Provincial de
Sergipe, no dia de fevereiro de 1857, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor Salvador Correia de e
Benevides. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a 1ª sessão da duodécima legislatura da Assembléia Legislativa de
Sergipe, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor João Dabney Avellar Brotero. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório com que
foi aberta a 2ª sessão da duodécima Legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de
1859, pelo Presidente, Dr. Manoel da Cunha Galvão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório
apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 5 de março de 1860 pelo Presidente, Manuel da
Cunha Galvão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da província de Sergipe, no dia 15 de agosto de
1860 ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior, pelo Doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível
em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; SERGIPE. Relatório
apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março de 1861, pelo Presidente, Dr. Thomaz
Alves Junior. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
SERGIPE. Fala com que foi aberta a sessão da 14ª legislatura da Assembléia Provincial de Sergipe pelo
Presidente, Dr. Joaquim Jacinto de Mendonça, no dia de março de 1862. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
34
rudimentos da leitura, da escrita e do cálculo. Sobre a experiência na escola do professor
Badú, Sílvio deixou comentários sobre os materiais didáticos empregados. Afirma que
aprendera a ler
em velhos autos, velhas sentenças fornecidas pelos cartórios dos escrivães
forenses. Histórias detestáveis e enfadonhas em sua impertinente banalidade
eram-nos ministradas nesses poeirentos cartapácios. Eram como clavas a
nos esmagar o senso estético, embrutecer o raciocínio e estragar o caráter.
Era, então, preciso uma abundante seiva nativa para resistir a semelhante
desvastação. As sentenças manuscritas eram secundadas por impressos
vulgares, incolores, próprios para ajudarem a distribuição. Era o ler por ler
sem incentivo, sem préstimo, sem estímulo nenhum
36
.
No século dezenove era comum o uso de manuscritos cartorários nos momentos finais
da aprendizagem da leitura. O viajante Daniel Parish Kidder, em Reminiscências de viagens e
permanências nas províncias do norte do Brasil, observou que “em certas regiões do interior
as crianças aprendem a ler em manuscritos”
37
. Também era recorrente o uso dos paleógrafos,
livros escolares destinados ao aprendizado da leitura da letra manuscrita, na instrução
elementar. Esses livros, impressos por meio do processo litográfico, constituíam uma
antologia de escritas diferentes. Naquela quadra, aprendia-se primeiro a decodificar as letras
manuscritas e após o domínio destas aprendia-se as de forma
38
.
No momento em que Sílvio estudou as primeiras letras circulavam no país livros de
leitura, que pouco a pouco substituíram o uso dos traslados. Em relatório de 1856, o
Presidente da Província de Sergipe Salvador Correia de e Benevides, aconselhou que se
fizesse na província um ensaio do método de leitura repentina elaborado por Antônio
Feliciano Castilho
39
. Este método prometia ensinar a ler e escrever em poucas lições e era
36
ROMERO, Sílvio. Estudos de literatura contemporânea. Rio de Janeiro: Laemmert &. C, 1885, p. 22.
37
KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no norte do Brasil. Belo Horizonte:
Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980, p. 54.
38
BATISTA, Antônio Augusto Gomes. Paleógrafos ou livros de leitura manuscrita: elementos para o estudo
do gênero. Disponível em: <http://www.unicamp.br/iel/memoria/Ensaios/Batista/notasbat.htm#01>. Acesso em:
02/02/2005.
39
SERGIPE. Relatório apresentado pelo Presidente da Província Salvador Correia de e Benevides em
1856. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
35
indicado tanto para o uso nas escolas quanto para o ambiente doméstico
40
. No entanto, até o
momento, não foi possível descobrir se o livro didático de Castilho foi realmente empregado
nas escolas sergipanas e se Sílvio Romero teve Acessado a esse impresso.
Sílvio lembra que nos últimos tempos de escola primária, dois livros foram a base do
ensino do mestre de primeiras letras:
Um Epítome da História do Brasil, de J. P. Xavier Pinheiro, por
causa da descrição de nossa terra de Rocha Pita, que ocorre logo nas
primeiras páginas: ‘O Brasil, vastíssima região, felicíssimo terreno, em cuja
superfície tudo são frutos... ’
Outro, Os Lusíadas, por muitos trechos que me encantavam.
O Brasil da descrição de Pita ficou sendo o meu Brasil de fantasia e
sentimento, a poesia de Camões ainda hoje é uma das mais elevadas
manifestações da arte no meu ver e sentir, e, com seu ardente amor da
pátria, fortaleceu o meu nativismo.
Apesar das inúmeras palmatoadas que apanhei na leitura e análise dos
dois livros, nunca perdi a simpatia por Luís de Camões e pelo, mais tarde,
tradutor do Dante
41
.
Essas confissões merecem algumas observações. Pela descrição pode-se inferir que o
livro de J. P. Xavier Pinheiro era, possivelmente, uma coleção de textos escolhidos das obras
de vários autores adaptados para o uso escolar. Não encontrei nenhuma menção sobre a
circulação da obra citada. No entanto, nas escolas brasileiras foram adotados livros que
possuíam essas características.
A partir da citação pode ser feita uma outra inferência. É possível presumir que o
conteúdo do livro estava de acordo com as normas prescritas pelas autoridades imperiais.
Eram recomendados textos que cultivassem o amor à pátria e a moral cristã
42
. A obra de
40
Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Os livros que aqui gorjeiam. In: _______. A formação da
leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 183-193.
41
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 28.
42
Cf. TAMBARA, Elomar. Livros de leituras de ensino primário no século XIX no Brasil. Disponível em:
<http://www.anped.org.br/26/trabalhos/elomarantoniotambara.rtf>. Acesso em: 26/05/2004; e GALVÃO, Ana
Maria de Oliveira e BATISTA, Antônio Augusto Gomes. A leitura na escola primária brasileira: alguns
elementos históricos. Disponível em: <http://unicamp.br/iel/memória/Ensaios/escolaprimaria.htm.> Acesso em:
26/05/2004.
36
Sebastião da Rocha Pita enquadra-se no primeiro caso. Ao lado das estórias contadas pelas
escravas ela pode ter despertado o seu nacionalismo.
Outra observação que pode ser feita relaciona-se à leitura de Camões. O literato
português marcou a aprendizagem na escola brasileira do século dezenove. São várias as
menções em relatos autobiográficos e romances à leitura de Os Lusíadas. Porém, são
incomuns os relatos de admiração. A maioria dos estudantes daquela época deixou imagens
negativas dessa leitura
43
. Entre as raras notas de entusiasmo destaca-se a de Sílvio, que apesar
das “palmatoadas”, mostrou simpatia pelo autor luso. É possível que na época em que teve o
primeiro contato com a obra, sob o olhar vigilante do mestre, não tenha experimentado uma
sensação tão prazerosa e tenha construído essa representação positiva já na fase adulta.
O uso de castigos, como os “bolos” recebidos pelo menino, também são referências
constantes nas memórias e romances. Em Sergipe, esse hábito foi constante nas escolas,
mesmo após a proibição de castigos corporais por uma lei de 1858, as autoridades provinciais
continuam tolerando o uso dos castigos corporais moderados
44
. Eles visavam obter uma
leitura adequada. Por essa razão, nem sempre a leitura que dava prazer era aquela realizada na
escola “em impressos incolores”. Muitas vezes a leitura mais agradável era a realizada na
clandestinidade, longe dos olhos do professor e dos familiares
45
. Infelizmente, Sílvio não
deixou registros acerca dessas leituras. Mas é possível conjeturar que se ele possuía na
infância o mesmo encantamento com os livros que tinha quando adulto, provavelmente, não
deixaria de ler qualquer volume que lhe caísse nas mãos fosse ele autorizado ou não.
Apesar do contato com a cultura escrita possibilitado pelo ambiente escolar, Sílvio não
perdeu o contato com a literatura oral. Além das histórias que, provavelmente, ouvia de
Antônia e das outras escravas quando voltava ao Engenho Moreira, para visitar os avós,
outros indícios de que não foi apenas através das leituras escolares que teve Acessado ao
43
Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A literatura na escola. In: _______. A formação da leitura no
Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 203-217.
44
SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe, no dia 15 de agosto
de 1860, ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior pelo doutor Manoel da Cunha Galvão. Disponível
em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
45
Cf. LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Leituras clandestinas. In: ________. A formação da leitura
no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p. 218-233.
37
conhecimento. Quando morava na Vila, costumava assistir as festas populares como reisados,
cheganças, pastoris, taieiras e bumbas-meu-boi. Sílvio comentou que os cantos entoados
durante essas festas o encantavam e fortificaram o seu nativismo
46
. Também costumava
sentar-se na calçada de Zefa para ouvir histórias encantadas como a da Moura Torta.
Segundo informa Abelardo Romero, Luís, que foi escravo da família, contou que ao visitar a
família, após a morte do pai, em 1894, foi rever Zefa Nó, pediu que lhe contasse novamente a
referida história e ouviu-a absorto como se estivesse ouvindo-a pela primeira vez. Essas
histórias produziram tal encantamento no menino, que adulto perguntava constantemente
nas cartas ao irmão Benilde pela contadora de histórias
47
.
Após a conclusão das primeiras letras, aos doze anos, André e Maria prepararam o
enxoval de Sílvio e fizeram a sua matrícula no Ateneu Fluminense, afamado colégio do
Império. Sílvio deixou a Vila para cumprir o destino dos herdeiros de famílias com capital
econômico e social elevado. Conforme informação anterior, lvio era filho de André Ramos
Romero, comerciante português, que casou com Maria da Silveira de Vasconcelos Ramos
Romero, também de origem lusa, filha de Rosa Ludovina da Silveira e Luís Antônio de
Vasconcelos, proprietário do Engenho Moreira, cujo dote, aliado à sua aptidão para os
negócios, provavelmente, auxiliou-o a acumular grande fortuna.
48
Seu nome não aparece no
livro de votantes da Vila de Lagarto de 1850, quando era recém-casado
49
. No entanto, no livro
de qualificação de votantes e nas atas eleitorais da década de setenta figura como eleitor e
elegível
50
. A participação nas eleições é um índice adequado para avaliar as fortunas no
Império, pois o voto era censitário. Os eleitores eram selecionados de acordo com sua renda.
O processo eleitoral era feito em dois turnos: eleições primárias para a formação de um
Colégio Eleitoral que, por sua vez, escolhia nas eleições secundárias os vereadores, juízes de
paz, deputados provinciais e gerais e senadores. Nas eleições primárias podiam votar os
46
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 26.
47
ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 27-28.
48
CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941, p. 92.
49
ARACAJU. INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE SERGIPE. SEÇÃO SERGIPANA. Livro de
votantes de Lagarto. 1850. (Manuscrito).
50
ARACAJU. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE. G1 1508. Ata da Eleição dos eleitores da
Paróquia de Lagarto.1872. [Manuscrito]; ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE.
LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de nomes das pessoas qualificadas como votantes da Paróquia de Lagarto.
1877. [Manuscrito].
38
cidadãos com renda líquida anual superior a 100 mil réis. Dos candidatos ao Colégio
Eleitoral, era exigida renda anual superior a 200 mil réis. Os candidatos à Câmara dos
Deputados deveriam comprovar renda mínima de 400 mil réis e, para o Senado, de 800 mil
réis. Em uma lista de qualificação de 1877, André aparece com a renda presumida de dois
contos de réis
51
. Ou seja, ele poderia ser eleito até senador do Império.
Outro indicador de fortuna no Império é a posse de escravos. Nas décadas de setenta e
oitenta, André cadastrou 42 escravos a serem libertos pelo Fundo de Emancipação. Esses
escravos exerciam funções diversificadas. Eram lavradores, carreiros, costureiras, sapateiros,
padeiros, lavadeiras e responsáveis pelo serviço doméstico
52
. Alguns desses escravos
confeccionavam os produtos que eram vendidos na sua loja na Rua Estância, atual Major
Mizael Mendonça
53
. Outros lavravam no Sítio da Catita, de sua propriedade
54
.
O comendador André, título conferido pela Guarda Nacional, e sua esposa tiveram
imensa prole. Dos dez irmãos de Sílvio, cinco eram homens e cinco mulheres. Lídia faleceu
ainda pequena vítima da epidemia de cólera-morbo. Leonila, Amélia, Lídia, nascida um ano
após a morte da irmã homônima, e Rita seguiram a trajetória reservada para a maioria das
mulheres no século dezenove: o casamento. Leonila casou com Rosendo Hora; Amélia com
Joaquim Dantas, importante senhor de engenho; Lídia com Antônio Luiz Vasconcelos, seu tio
materno; e Rita com José de Lima Fontes. Nilo, Joviniano e Benilde ingressaram nos cursos
superiores disponíveis para os filhos das famílias abastadas. Nilo e Benilde diplomaram-se
bacharéis em Direito e Joviniano optou pela Medicina. Emílio e Celso, não tiveram a mesma
sorte. Como filhos mais novos, assistiram às dificuldades enfrentadas pelo pai em 1879,
quando uma casa bancária baiana onde ele depositava parte de seus haveres faliu, e em 1888,
51
ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de
nomes das pessoas qualificadas como votantes da Paróquia de Lagarto. 1877. [Manuscrito].
52
ARACAJU. ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de
classificação dos escravos para serem libertados pelo Fundo de emancipação. 1873-1875. [Manuscrito];
ARACAJU. ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE. AG1 4A. DOC. 4. Lista de classificação de
escravos a serem libertos pelo Fundo de Emancipação na Vila de Lagarto. 1876. [Manuscrito]; ARACAJU.
ARQUIVO JUDICIÁRIO DO ESTADO DE SERGIPE. LAG/ C. 2ºOF - 1321 A - 1 - VI. Lista de classificação
dos escravos para serem libertados pelo Fundo de emancipação. 1880-1886. [Manuscrito].
53
Cf. CARDOSO, Severiano. Lagarto Sergipe: Histórias e costumes. Almanaque Sergipano, Aracaju, 1899,
p. 242-256; ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960; CAMPOS, Edilberto.
Crônicas da passagem do século. Aracaju: [S.n.], [S.d.]. V. 2.
54
ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960, p. 29.
39
após a Abolição, quando perdera boa parte da sua fortuna. Desse modo, os temporãos
seguiram a carreira das armas, destinadas aqueles que não possuíam capital econômico
elevado, mas guardavam ainda um considerado capital social. Emílio foi Capitão da Guarda
Nacional, como seu pai fora um dia, e Celso, criado pelo irmão Sílvio, foi Capitão da
Marinha
55
.
Sílvio, o segundo filho do casal, também se tornou bacharel em Direito. Por essa
razão, após a conclusão das primeiras letras nas escolas dos professores Bomfim e Badú, o pai
o matriculou em regime de internato no Ateneu Fluminense, a fim de prepará-lo para realizar
os exames exigidos pelos cursos superiores.
55
Cf. CARVALHO SOBRINHO, José Sebrão de. Tobias Barreto, o desconhecido. Aracaju: [S.n.], 1941;
GUARANÁ, Armindo. Dicionário biobibliográfico sergipano. Aracaju: Pongetti, 1925; ROMERO, Abelardo.
Sílvio Romero em família. Rio de Janeiro: Saga, 1960.
Figura 6 - Ateneu Fluminense
Fonte: ATENEU Fluminense. In: RABELLO, Silvio. Itinerário de Silvio Romero. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1944, p. 127.
40
O internato localizava-se à Rua do Passeio e era dirigido pelo Monsenhor Antônio
Pedro dos Reis. A imagem que Sílvio possuía de internato era de “colégio instalado em
enorme casarão, com aparência de caserna, hospício, quartel ou hospital”
56
. Essa
representação evoca o choque provocado pela ruptura com a vida familiar e o ingresso no
novo universo do internato. Obras de intelectuais coevos relatam essa experiência de modo
similar. Em O Ateneu, o personagem Sérgio, alter ego de Raul Pompéia menciona a “ruptura
com o aconchego placentário da dieta caseira”
57
. Deixava-se o lar, o convívio com os entes
queridos para adentrar no ambiente disciplinado do colégio interno, que era, ao mesmo tempo,
lugar de instrução e de formação moral. Além de oferecer as matérias secundárias, o internato
exercia, na ausência da família, o papel de guardião da moralidade e das virtudes. Para isso a
disciplina ocupava um importante lugar. Talvez seja essa a razão da alusão ao aspecto de
“caserna, hospício, quartel ou hospital”, instituições também marcadas pelo uso da disciplina
como dispositivo de controle.
No entanto, apesar da disciplina que os diretores, inspetores e professores
possivelmente tentaram impor no Ateneu Fluminense, à maneira dos internos do Ateneu de
Pompéia, os alunos desse internato reagiram às normas das escolas, apropriando-se delas ao
seu modo. Reforça essa idéia a alusão de Sílvio aos “vícios, safadezas e infâmias” que
imperavam no internato
58
.
Também reforçam a apropriação diversa daquela pretendida pelos profissionais que
atuavam no colégio a afirmação de que preferia ter estudado numa escola inglesa “colocada
no campo, em sítios adrede escolhidos, com as suas verduras, suas várzeas, suas árvores, suas
águas correntes ou os seus lagos, em contato com a natureza e suas cenas mais aptas a lhe
fortalecer a saúde, despertando ao mesmo tempo o interesse pelas coisas práticas”
59
.
56
ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2001, p. 76.
57
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 13. (Primeira edição: 1888)
58
ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2001, p. 182.
59
ROMERO, Sílvio. O Brasil Social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2001, p. 182.
41
Além de reforçar o desvio em relação aos dispositivos de controle do colégio, essa
declaração expõe a visão do intelectual em relação à educação. Na sua perspectiva ela deveria
compreender o desenvolvimento intelectual, moral e físico do indivíduo e valorizar a
experiência, a prática.
Mediante consulta aos relatórios dos presidentes e diretores de instrução da Província
do Rio de Janeiro do período em que Sílvio realizou os estudos secundários não foi possível
encontrar informações sobre o Ateneu Fluminense
60
. Este colégio deve ter sido organizado por
iniciativa particular. Não obstante a carência de informações, além daquelas fornecidas por
Sílvio, podemos imaginar como era esse internato a partir das características que os colégios
secundários do período guardavam entre si.
No século dezenove, o ensino secundário tinha como função habilitar os alunos para
os exames preparatórios exigidos para o ingresso no ensino superior. A escolha do currículo e
dos compêndios empregados nos colégios visava cumprir esse fim
61
. Sílvio relatou ter
60
Cf. RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na
segunda sessão da décima quinta legislatura, no dia 1º de outubro de 1863, pelo Presidente Dr. Policarpo
Lopes de Leão. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004;
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1864,
pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório
apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, em 1865, pelo Presidente da Província
do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em:
04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, em 1866, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório
apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, no ano de 1867 pelo Presidente da
Província. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO
DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de Janeiro, na primeira
sessão da décima oitava legislatura, no dia 15 de outubro de 1868, pelo Presidente da Província,
Conselheiro Benvenuto Augusto de Magalhães Taques. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório
apresentado pelo Diretor de Instrução Pública Conselheiro Thomas Gomes dos Santos ao Presidente da
Província do Rio de Janeiro em 1863. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>.
Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao
Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1865. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; RIO DE JANEIRO. Relatório
apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1868.
Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004; LICEU
FLUMINENSE. Exposição da Diretoria do Liceu Fluminense ao Dr. Eduardo Pindahiba de Mattos, Vice-
Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
61
Cf. HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/ Grijalbo,
1972.
42
estudado Latim, Filosofia, Retórica e Poética e História e Geografia
62
. Além dessas
disciplinas, eram exigidas nos preparatórios para Direito: Francês, Inglês, Aritmética e
Geometria. No Colégio Pedro II, que servia de modelo para os colégios secundários do
Império, ensinava-se também Gramática, Literatura Nacional, Português, Grego,
Matemáticas, Cosmografia, Química, Física e História Natural. Predominavam nos colégios
o ensino científico.
63
Um colégio particular da época, o Liceu Fluminense, possuía em sua
grade curricular: Português, Latim, Inglês, Francês, Geografia, História, História Sagrada,
Doutrina Cristã. Aritmética e Matemáticas. Portanto, também seguia em linhas gerais o
modelo do Colégio Pedro II
64
.
Sílvio também não revelou quais os compêndios que utilizou no Ateneu. Mas como os
compêndios exigidos pelas Bancas de exames preparatórios eram aqueles adotados no
Colégio Pedro II
65
, talvez ele tenha lido compêndios franceses utilizados nas aulas de
Francês, História, Filosofia, Ciências Naturais, Matemáticas, Música e Geografia
66
. A falta
62
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 28.
63
Embora algumas autoras como Razzini, Haidar e Gasparello afirmem que predominava no Colégio Pedro II o
ensino das humanidades, essa tese não se sustenta perante o exame do currículo da escola apresentado à
apreciação do leitor nas suas obras. Nota-se que predominam as disciplinas científicas. Cf. RAZZINI, Márcia de
Paula Gregório. O espelho da nação: a antologia nacional e o ensino de português e de literatura (1838-1971).
Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de Campinas, São
Paulo, 2000; HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/
Grijalbo, 1972; e GASPARELLO, Arlette Medeiros. O Colégio Pedro II e as humanidades: a invenção do
secundário. Disponível em: <www.anped.org.br/25/arletemedeirosgasparellot02.rtf>. Acesso em: 25/08/2004.
64
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública ao Presidente da Província
do Rio de Janeiro em 1868. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em:
04/08/2004.
65
HAIDAR, Maria de L. M. O ensino secundário no império brasileiro. São Paulo: EDUSP/ Grijalbo, 1972,
p. 113.
66
No período entre 1862 e 1898, eram adotados nas aulas de francês: Gramática francesa de Emile Sevène, Petit
Cours de Littérature Française de Charles André, Théâtre classique de Regnier, Seleta francesa de Leopold
Marcou, Grammaire historique de A. Brachet. Nas aulas de história: História romana de Rosoir e Dumont,
Manuel d'études pour la preparation au Baccalauréat en lettres - Histoire de temps modernes - Histoire du
moyen âge, Histoire contemporaine par Chantrel; nas aulas de Filosofia: Cours abregé d'histoire de l'Èglise par
J. Chantrel, Cours élémentaire de Philosophie de Barbe, Précis d'un cours complet de Philosophie élémentaire
de A. Pellissier, Cours de Philosophie por L. P. Jaffre. Nas aulas de Ciências Naturais: Histoire naturelle de J.
Langlebert, Histoire naturelle de F. Hement, Zoologia de Paul Gervais, Geologia de Paul Gervais, Botânica de
Soubeirou, Nouveaux eléments de botanique de L. Crié, Mineralogia de Delafosse, Cours élémentaire de
hygiene á l'usage des élèves des Lycées par Henri Perrussel, Higiene por Lacassagne, Premiers soins à donner
avant l'arrivée du medecin par le Dr. Constantin James (Accidents), Traité élémentaire de physique par Ganot,
Física de Drion e Fernet, Lições normais de física por D. Pouille (d'Amiens). Nas aulas de Matemática -
Arithmétique de Guilmin, Algébre de Bourdon, Geometrie analytique de Sonnet et Frontera, Calcul infinitesimal
de Sonet, Cours élémentaire de geometrie descriptive de Julien. Nas aulas de Música: Manuel du solfége par
Alexis de Garaudé, Solfèges des enfants par A. de Garaudé Nas aulas de Geografia: Atlas de Delamarche, Atlas
43
de compêndios nacionais e a adoção dos franceses demonstram a importância que a língua
francesa havia assumido na educação das elites.
67
Ele aprendeu os rudimentos dessa língua com Francisco Primo de Souza Aguiar
68
. E
essas noções talvez tenham auxiliado na leitura dos livros francesa realizada ao longo da sua
vida. Dos 1717 títulos que compunham a sua biblioteca, 608 eram edições francesas.
Além do francês, Sílvio teria aprendido também inglês, espanhol e italiano. Afirmou
ter estudado inglês com José da Maia, espanhol com A. Fernando Planas y Branca e italiano
com o Padre Romazza. Os dois últimos não foram seus professores, mas como residiam no
Ateneu, tomou algumas lições com eles. Segundo ele, essas lições possibilitaram-lhe a leitura
de textos nessas línguas com alguma facilidade
69
. Essa assertiva pode ser comprovada através
da análise da sua biblioteca. Faziam parte do seu acervo 17 obras em inglês, 17 obras em
italiano e 23 em espanhol, muitas delas com anotações marginais.
Sílvio Romero também costumava afirmar que aprendeu a ler em alemão. Mas esta
assertiva é passível de desconfiança. Essa dúvida foi levantada por dois dos seus desafetos. O
primeiro é Machado de Assis. O renomado escritor afirmou que o intelectual sergipano não
conhecia o alemão, como costumava alardear. Chegou a essa conclusão porque Sílvio foi
convidado, assim como o próprio Machado, Capistrano de Abreu, Antônio Herculano de
Souza Bandeira, Ferreira de Araújo e outros intelectuais, para tomar aulas de alemão com o
professor Carlos Jansen e recusou alegando que conhecia o necessário deste idioma para
sorver o germanismo. Machado interpretou a recusa como vergonha de tornar evidente que
não conhecia tão bem a língua como propagandeava. O segundo a levantar dúvida acerca do
seu conhecimento do idioma alemão foi o escritor José Veríssimo, seu colega no Colégio
de Schrader & Anthoine (ed. Hachette), Eléments de cosmographie de F. I. C. Além de obras variadas como
Astronomia popular de Augusto Comte, Les bases de la morale evolutioniste de Herbert Spencer, Précis
d'economie politique de Leroy-Beaulieu e Sociologie gènèrale elémentaire de Guillaume de Greeff. Cf.
RAZZINI, Márcia de Paula Gregório. O espelho da nação: a antologia nacional e o ensino de português e de
literatura (1838-1971). Tese (Doutorado em Letras) - Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual
de Campinas, São Paulo, 2000.
67
O sociólogo Norbert Elias evidencia, na obra O processo civilizador, que a nobreza alemã também utilizava a
língua francesa como estratégia de distinção. Cf. ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história dos
costumes. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1999. Volume 1.
68
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 67.
69
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 67.
44
Pedro II. Veríssimo galhofou do fato relatado e assegurou que ele lia os autores germânicos
em traduções francesas
70
.
Sílvio defendeu-se afirmando que recusou o referido convite porque conhecia o
suficiente da língua, pois a aprendera de modo autodidata no Recife e tomou aulas com o
Barão de Tautfoeus, “mil vezes mais competente”.
71
Pontuou que chegou “a entender a língua
escrita e traduzi-la com facilidade”
72
e que o domínio do alemão não era exclusividade sua na
família. Lembrou que Celso, seu irmão, e João e Edgard, seus filhos, aprenderam a língua no
Deutsche Schulle, escola da cidade, e André, seu primogênito aprendeu em Zurich, na Suíça.
73
Adiante acrescentou que “o conhecimento de qualquer idioma é necessário para a
penetração completa das delicadezas da forma na poesia. Até para o sentido geral desta, é
dispensável. Uma tradução basta”
74
. Esta última declaração foi uma confissão de culpa?
A análise da Biblioteca de Sílvio Romero leva a crer que sim. Constam no seu acervo
várias obras de autores alemães. Contudo, a maioria não está na língua original. São obras
vertidas para o francês ou para o inglês. É este o caso de textos de autores como Eduard
Hartmman, Ernest Haeckel, Immanuel Kant, Bernard Overberg e Wilhelm Wundt. apenas
algumas obras em alemão na sua biblioteca. São livros da autoria de Bitter Münch, Heinrich
Gottlieb Köhler, Samuel Schillings e Gustav Holzmüller
75
. Esses volumes trazem autógrafo
ou marcas de leitura do seu filho André Araújo Romero
76
. Essas evidências levam a presumir
que não se sentia tão seguro para ler alemão como propalava, preferia as traduções francesas
das obras germânicas.
70
Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero: sua formação intelectual (1851-1880). São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1938, p. 260-261.
71
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 63.
72
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 68.
73
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 68.
74
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 69.
75
MÜNCH, Bitter. Lehrbuch mit einem unhange die grundlehren der chemie uns der mathematifdjen
geographie. Freiburg: Breisgan Herderfche Berlagshandlung, 1886; KÖHLER, Heinrich Gottlieb.
Logarithmisch-trigonometrisches: handbuch. Leipzig: Bernhard Tauchnitz, 1887; SCHILLINGS, Samuel.
Kleine Schul - naturgefchichte der drei reiche. Breslau: Ferdinand, 1889; e HOLZMÜLLER, Gustav.
Methodifches lehrbuch der elementar mathematif. Leipzig: B. G. Leubner, 1895.
76
GUIMARÃES, Artur. lvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur Jode Souza, 1915, p.
112.
45
Além de reconhecer o legado dos professores do Atheneu Fluminense no aprendizado
das línguas estrangeiras, Sílvio afirmou que guardar “saudosas reminiscências de cinco
homens que influíram assaz no meu pensamento”. São eles: Padre Gustavo Gomes dos
Santos, lente de Latim, Joaquim Veríssimo da Silva, de Filosofia, do Padre Patrício Muniz, de
Retórica e Poética, Francisco Primo de Souza Aguiar, de História e Geografia, e o já citado
Barão de Tautfoeus
77
.
O Padre Gustavo Gomes dos Santos, também diretor do Instituto Niteroiense
78
, teria
despertado-lhe o “prazer literário” ao iniciá-lo nas literaturas clássica, portuguesa e brasileira.
Diante da suposta presença de textos franceses que não levavam em consideração a realidade
local, o contato com outros idiomas, sobretudo o vernáculo, e com outras literaturas, o
entusiasmaram de tal forma a ponto de evocá-los no momento em que refletia sobre a sua
formação.
Joaquim Veríssimo da Silva apresentou-lhe a metafísica alemã, especialmente
Immanuel Kant. O filósofo germânico ocupou posição importante nas suas reflexões. Na sua
biblioteca constam Critique de la raison pure
79
e Élements métaphysiques de la doctrine du
droit
80
. Os volumes estão repletos de anotações marginais nas quais dialoga com o mestre.
O Padre Patrício Muniz
81
, também o introduziu na filosofia germânica, que combinava
com a escolástica. Confessa que a influência do professor de Retórica e Poética foi
77
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 28.
78
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado pelo Diretor de Instrução Pública Conselheiro Thomas
Gomes dos Santos ao Presidente da Província do Rio de Janeiro em 1863. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acesso em: 04/08/2004.
79
KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Ladrange, 1835. V. 1; KANT, Immanuel. Critique de
la raison pure. Paris: Ladrange, 1836. V. 2.
80
KANT, Immanuel. Élements métaphysiques de la doctrine du droit. Paris: Auguste Durand, 1853.
81
Patrício Muniz nasceu em 1820, na Ilha de Madeira. Estudou direito em Paris e doutorou-se em Teologia pela
Universidade Romana. Viveu no Brasil muitos anos, naturalizando-se. Exerceu o magistério e o sacerdócio.
Publicou: Meditações Noturnas (1838), Composições poéticas (1839), Sermão sobre a piedade de Nossa
Senhora (1860), Teoria da afirmação pura (1863). Cf. JAIME, Jorge. História da filosofia no Brasil.
Petrópolis: Vozes; São Paulo: Faculdades Salesianas, 1997, p. 167-171.
46
significativa apesar de afirmar em outra ocasião que o mestre era um “um pensador medíocre,
e um orador nas mesmas condições”
82
.
Francisco Primo de Souza Aguiar, professor de História e Geografia, e o Barão de
Tautfoeus, com o qual “mantinha inúmeras palestras nos tempos dos exames” também
ensinaram o germanismo
83
. O pensamento alemão exercia no Brasil grande influência tanto
nas discussões dos cientistas brasileiros quanto no imaginário popular ao longo do século
dezenove. O germanismo, haurido inicialmente no Ateneu Fluminense, exerceu papel
fundamental nas reflexões de Sílvio, servindo de arma para o combate ao ecletismo e ao
positivismo e para a crítica à hegemonia da cultura francesa no Brasil. Foi fundamental para
que pudesse formular projetos para o desenvolvimento do Estado Nacional
84
.
O Barão de Tautfoeus despertou-lhe ainda o interesse pela Etnografia. Sílvio
desenvolveu diversos estudos nesse campo a partir da recolha de romances, xácaras, contos,
lundus e cantos em Lagarto, seu torrão natal, Estância, também cidade sergipana, e em Parati,
no Rio de Janeiro. As palestras com o mestre reavivaram em sua memória os tempos em que
ouvia as estórias contadas por Antônia e outras escravas da família no Engenho Moreira e por
Zefa na vila e reforçaram seu interesse pela literatura oral e o seu nacionalismo. Em
depoimento a Coelho Neto, Sílvio disse que
Ninguém imagina como eu quero bem a isto, como acho bonito! Este sol,
que não se cansa de nos dar beleza e fartura dengue às nossas mulheres,
palavra que, às vezes, tenha vontade de o adorar porque é verdadeiramente
um deus. Nós não prestamos para nada. Qual literatura! Toda essa
versalhada que por anda não vale o canto de um boiadeiro. Se vocês
querem poesia, mas poesia de verdade, entrem no povo, metam-se aí, por
esses rincões, passem uma noite num rancho à beira do fogo, entre
violeiros, ouvindo trovas de desafio. Chamem um cantador sertanejo, um
desses caboclos distorcidos, de alpercatas de couro e peçam-lhe uma
cantiga. Então, sim. Poesia é no povo
85
.
82
ROMERO, Sílvio. Obra filosófica. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1969, p. 92.
83
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 28.
84
Cf. NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada ou a influência alena cultura brasileira
durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da UEL, 1999.
85
ROMERO, Sílvio. Depoimento a Coelho Neto. In: CAMPOS, Humberto de. Antologia da Academia
Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1935, p. 94.
47
Nenhuma palavra mais foi proferida por Sílvio Romero a respeito do Ateneu
Fluminense. Desse modo, é difícil saber mais a respeito da sua experiência nesse período.
Após o término do secundário Sílvio apresentou-se perante a Banca de exames
preparatórios, nas dependências da Antiga Igreja de São Joaquim, obtendo autorização para a
matrícula no ensino superior. Aproveitando o capital econômico e social de sua família, que
possuía uma das maiores fortunas de Lagarto, optou pelo curso de Direito. Em 1868, seguiu
para a capital de Pernambuco, com o intuito de estudar na prestigiosa Faculdade de Direito
do Recife.
No primeiro quartel do século dezenove, a Província de Pernambuco foi selecionada
para sediar o curso jurídico no Norte do país. A faculdade foi instalada em Olinda, em 1828.
Inicialmente, funcionou no Mosteiro de São Bento, e em 1852 foi transferida para o prédio da
Ladeira do Varadouro, que ficou conhecido como Academia. O curso permaneceu nesta
cidade durante vinte e quatro anos. De acordo com os memorialistas da instituição, o período
olindense foi marcado pela indisciplina de professores, que faltavam com freqüência, e dos
alunos, que transgrediam todas as normas. Nesse período predominavam as influências
religiosas.
Em 1854, a faculdade foi transferida para Recife. Foi instalada num prédio na Rua do
Hospício, que ficou conhecido como Pardieiro em virtude da inadequação para a função que
exercia.
48
Figura 7 - Faculdade de Direito de Recife,
na Rua do Hospício
Fonte: FACULDADE de Direito de Recife. In: RABELLO, Silvio. Itinerário de Silvio Romero.
Rio de Janeiro: José Olympio
, 1944, p. 185.
Com a transferência de cidade foram tomadas medidas disciplinares para conter a
desobediência que imperava na congregação e nos bancos acadêmicos
86
. Com a mudança
geográfica ocorreu também uma guinada teórica que buscava dar ao Direito um estatuto
científico. Apoiada em novos aportes interpretativos a Faculdade de Direito de Recife tornou-
se responsável pela conformação de quadros autônomos de atuação política e criação de uma
intelligentsia local apta a enfrentar os problemas específicos da Nação
87
.
86
Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho
Federal de Cultura, 1977; PINTO FERREIRA, Luiz. História da Faculdade de Direito do Recife. Recife:
UFPE, Ed. Universitária, 1980.
87
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As faculdades de Direito ou os eleitos da nação. In: _______. O espetáculo das
raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p.
141-188.
49
Apesar da importância da instituição na formação dos intelectuais brasileiros, lvio
foi reticente em relação à sua contribuição. Em um dos seus primeiros livros, A Filosofia no
Brasil, afirmou:
Deve-se distinguir entre o que se aprende nas nossas nulas academias
e o que fora delas se pode estudar. Para dar se uma direção positiva às idéias
é preciso comprimir e afugentar delas tudo quanto ali se ensina.
Pelo que me toca, sido a minha vida intelectual uma constante e
dolorosa luta para arredar da mente o que nela foi depositado pelo ensino
superior que me inoculava e substituir tão frágeis e comprometedoras noções
por dados científicos
.
88
Em entrevista ao João do Rio afirmou que as influências nela recebidas não fizeram
senão desenvolver o que em mim existia, desde os tempos do engenho, da vila, da aula
primária e dos preparatórios”
89
. Reiterou essa opinião afirmando que:
As três primeiras leituras que fiz no Recife, por um feliz acaso, me
serviram para abrir definitivamente o caminho por onde já tinha enveredado,
fortalecendo as velhas tendências.
Foram um estudo de Emílio de Laveleye acerca dos Niebelungen e da
antiga poesia popular germânica, um ensaio de Pedro Leroux sobre Goethe,
um livro de Eugênio Poitou sob o título Filósofos Franceses
Contemporâneos.
O primeiro meteu-me nessas encantadas regiões de folclore, crítica
religiosa, mitologia, etnografia, tradições populares, que me têm sempre
preocupado.
O segundo nas acidentadas paragens da crítica literária moderna, que
tanto me tem dado que fazer.
O terceiro no mundo áspero e movediço da filosofia, em que me acho
nas mesmas condições. Mas tudo isso já vinha de trás. [Grifos meus]
90
.
Devemos considerar as afirmações de Sílvio com parcimônia, pois é notório o seu
desejo de afirmar a sua independência em relação aos mestres do Recife. Certamente, a sua
88
ROMERO. Sílvio. A filosofia no Brasil. Porto Alegre: Deutsche Zeitung, 1878, p, 182.
89
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 30.
90
ROMERO, Sílvio. Sílvio Romero. In: RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação
Biblioteca Nacional, 1994, p. 31.
50
experiência na faculdade colaborou sobremodo para a sua formação. E talvez para reduzir
essa colaboração ele tenha acentuado a contribuição da fase anterior.
Além de querer reforçar o “autodidatismo”, Sílvio desmereceu a contribuição dos
professores da Faculdade em virtude do malogro na defesa da tese de doutoramento na
instituição e no concurso que prestou para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes anexo à
Faculdade, que serão referidos adiante.
Com o intuito de reforçar essa memória sobre esse capítulo da sua formação Sílvio não
deixou muitos registros sobre a influência dos professores. Na época em que estudou os lentes
da faculdade eram: José Antônio de Figueiredo, José Bento da Cunha Figueiredo, João
Silveira de Souza, Jerônimo Vilela de Castro Tavares, Braz Tolentino Henrique de Souza,
João José Ferreira de Aguiar, Lourenço Trigo de Loureiro, João Capistrano Bandeira de Melo,
João Capistrano Bandeira de Melo Filho, Francisco de Paula Batista, Pedro Autran da Mata e
Albuquerque, Vicente Pereira Rego, Manuel do Nascimento Machado Portela, Antônio
Vasconcelos Meneses Drummond, Aprígio Justiniano da Silva Guimarães, João José Pinto
Júnior, Joaquim Correia de Araújo, João Tomé, Antônio Coelho Rodrigues, Joaquim Tavares
Belfort, Francisco Pinto Pessoa e Graciliano Paula Batista
91
.
Naquele período, predominava na instituição o ecletismo espiritualista, filosofia que
visava levar ao nível da consciência as verdades implicitamente contidas nela, e o jus
naturalismo, teoria do Direito na qual a ordem social era compreendida como absolutamente
rígida e imutável. Vários compêndios adotados eram de autoria dos professores da instituição,
a exemplo dos manuais de Direito Natural, Direito Público e Economia Política de Pedro
Autran da Mata e Albuquerque, de Direito Civil de Lourenço Trigo de Loureiro, de Direito
Eclesiástico de Jerônimo Vilela de Castro Tavares e de Teoria e Prática do Processo Civil de
Francisco de Paula Batista. Os referidos compêndios seguiam essas orientações
92
.
91
Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho
Federal de Cultura, 1977.
92
Cf. BEVILAQUA, Clovis. História da Faculdade de Direito do Recife. 2.ed. Brasília: INL; Conselho
Federal de Cultura, 1977.
51
Sílvio não fez nenhuma menção explícita sobre a leitura desses manuais. Mas
registrou que quando ingressou no curso aderiu ao espiritualismo de Jouffroy
93
. Talvez essa
adesão tenha ocorrido devido a influência dos mestres do Recife, embora tenha insistido em
afirmar que essa influência foi nula.
No entanto, o entusiasmo de Sílvio por esse autor não durou muito tempo. Logo,
trocou as idéias espiritualistas pelas cientificistas. As teorias cientificistas caracterizam-se
pela aplicação dos métodos das Ciências Naturais às Ciências Humanas e pela crença
inexorável no poder da Ciência. Entre essas teorias enquadram-se o positivismo, o
materialismo, o monismo, o evolucionismo e o determinismo geográfico e racial.
Provavelmente, essas idéias foram disseminadas através de alguns professores simpáticos às
teorias em voga, ou através da circulação de impressos que as difundiam. lvio não abona a
primeira hipótese, mas a segunda. Para ele os verdadeiros mestres foram:
Taine, Renan, Max Muller, Scherer, Gubernatis, Bréal, Lenormant e
Gobineau. Taine, principalmente, com seu belo livro “Filosofie de l’art em
Grèce”, o primeiro dele que li.
Renan, por seus admiráveis ensaios sobre “As Religiões da Antiguidade”,
“A Poesia das Raças Célticas” e os livros sobre ‘Averroes e o Averrhoismo”,
“Vida de Jesus”, “São Paulo”, “Os Apóstolos” e o “Anticristo”.
Max Muller, por seus livros sobre linguagem, religião e mitologia.
Scherer, por seus belos artigos “Notre race et sés ancêtres”, “Mahomet et
Mahometisme”, Mythologie Comparée”, “La Vie de Jesus” (a propósito de
Renan) e outros e outros.
Gubernatis, por sua “Mitologia Zoológica” principalmente.
Bréal, por seu belo estudo “Hércule et Cacus” e “Em des Essarts”; no
magnífico ensaio “L’ Hercule Grec”.
Lenormant, por sua admirável obra Les civilizations de l’Antiquité.
Devo juntar, também o excelente Emile Bornow com o magnífico livro “La
Science des Religions” e o conde de Gobineau, com seu excelente “Essai sur
l’ inegalité des races humaines”
94
.
Sílvio pode ter adquirido esses impressos em livrarias recifenses. Também pode ter
lido esses e outros livros de teor cientificista na Biblioteca da Faculdade de Direito de Recife,
93
Cf. ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p.
95.
94
Cf. ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p.
126-127.
52
que funcionava em prédio anexo, ou na Biblioteca Provincial de Pernambuco, localizada no
Convento do Carmo. Se ele realmente os leu na época do curso, ambas as hipóteses são
plausíveis. Muitas dessas obras constam na biblioteca que pertenceu a Sílvio. A data de edição
de algumas delas permitem conjeturar que elas podem ter sido adquiridas durante o curso, a
exemplo de Hercule et cacus étude de mythologie comparée
95
de Michel Brèal, publicada em
1863, Les Apotres
96
e L’Antechrist
97
de Renan, editadas em 1866 e 1873, e Essai sur l’histoire
des religions
98
, Essai sur la mythologie comparée les traditions et les costumes
99
, La science
de la religion
100
de Max Muller, vindas a lume em 1872 e 1873. Como elas fazem parte do
seu acervo particular é possível pensar na possibilidade de ter lido os seus próprios
exemplares. Recife era um dos maiores centros impressores do Brasil no século dezenove
101
.
A cidade possuía diversos tipógrafos e se levarmos em consideração que os tipógrafos desta
centúria também atuavam como livreiros, vendendo seus próprios livros e importando outros
da Europa, podemos imaginar que em Recife existissem livreiros dispostos a atender à sede de
saber dos bacharelandos. Em História da minha formação no Recife, Gilberto Amado, que
estudou na Faculdade em período posterior mencionou a existência da Livraria Nogueira que
vendia livros importados das editoras parisienses Félix Alcan, Albin Michel, Alphonse
Lemerre, Flammarion e Calman Lévy
102
.
Em relação aos outros textos mencionados, há no seu acervo exemplares que foram
editados em anos posteriores à sua saída da Faculdade, em 1873. É o caso de Mythologie
zoologique ou les légendes animales
103
, de Angelo de Gubernatis, de 1874, e Essai sur
95
BRÉAL, Michel. Hercule et cacus étude de mythologie comparée. Paris: Chez A. Durand, 1863.
96
RENAN, Ernest. Les Apotres. Paris: Michel Lévi Frères, 1866.
97
RENAN, Ernest. L’Antechris. Paris: Michel Lévi Frères, 1873.
98
MÜLLER, Max. Essai sur l’histoire des religions. Paris: Didier, 1872.
99
MÜLLER, Max. Essai sur la mythologie comparée les traditions et les costumes. Paris: Didier, 1873.
100
MÜLLER, Max. La science de la religion. Paris: Germer Baillière, 1873.
101
Cf. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São
Paulo, 1985.
102
AMADO, Gilberto. História da minha formação no Recife. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955, p. 21.
103
GUBERNATIS, Angelo de. Mythologie zoologique ou les légendes animales. Paris: A. Durand et Pedone
Lauriel, 1874, 2v.
53
l’inégalité des races humaines
104
, do Conde de Gobineau, de 1884. O livro Philosophie de
l’art em Grèce
105
também consta na sua biblioteca, mas não menção da data de edição.
Esses livros podem ter sido lidos na Biblioteca da Faculdade ou na Biblioteca Provincial e
posteriormente adquiridos. Ou ainda ele pode ter se equivocado quanto ao período da
realização dessas leituras.
Além da influência das leituras empreendidas, não se pode esquecer da influência
recebida do colega Tobias Barreto que colou grau no ano seguinte ao do seu ingresso. Durante
toda a sua trajetória Sílvio expôs a sua admiração pelo conterrâneo. Inclusive, travou inúmeras
polêmicas com o intuito de afirmar a sua prioridade na vida intelectual brasileira
106
. Sílvio
afirmou que herdou de Tobias “o entusiasmo de combater, o calor da refrega, o ardor da luta,
o espírito de reação, a paixão das letras, o amor pela vida do pensamento, pelo espetáculo das
idéias”
107
. No entanto, apesar dos reiterados elogios ao mestre afirmou que tinham “muitas
idéias em comum”, porém divergiam “em pontos gravíssimos em Literatura, em Ciência, em
Direito, em Filosofia”. Em suas conversas sempre discutiam e “cada um ficava com as suas
opiniões capitais”
108
.
As leituras realizadas, a amizade de Tobias e talvez a influência, ainda
insuficientemente estudada, de alguns dos lentes da Faculdade contribuíram para a sua
formação, habilitando-o para ingressar na carreira das letras. Um ano após a sua chegada em
Recife começou a escrever na imprensa local. O seu primeiro artigo, intitulado A poesia
contemporânea e a sua intuição naturalista, era uma crítica ao romantismo que predominava
na cena literária brasileira. O texto de estréia foi publicado no periódico A Crença, jornal
estudantil dirigido por Celso de Magalhães. Nos anos seguintes, publicou inúmeros artigos do
mesmo teor em diversos jornais recifenses, alguns de pequeno porte como Americano,
Movimento, O Liberal e Trabalho e outros de grande vulto como o Diário de Pernambuco, O
104
GOBINEAU, Comte de. Essai sur l’inégalité des races humaines. Paris: Firmin Didot, 1884.
105
TAINE. H. Philosophie de l’art em Grèce. Paris: [18--].
106
Cf. VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1991.
107
ROMERO, Sílvio. Minhas contradições. Bahia: Romualdo dos Santos, 1914, p. 64.
108
ROMERO, Sílvio. Minhas contradições. Bahia: Romualdo dos Santos, 1914, p. 65.
54
Correio Pernambucano e o Jornal do Recife. Posteriormente, esses artigos foram enfeixados
no livro A literatura brasileira e a crítica moderna
109
.
Devido à suas idéias polêmicas não foi tão fácil conseguir publicar esses artigos. Certa
vez afirmou que um jornalista ficou zangado após ler o primeiro de uma série de artigos que
escreveu, e que autorizou a impressão dos demais porque havia começado. Mas daí em
diante nenhum outro artigo foi publicado por este jornal
110
. Ou seja, apesar de ter conseguido
ver luzir nas folhas recifenses diversos artigos a sua relação com a imprensa recifense parece
não ter sido muito tranqüila.
Após cinco anos de intensa vida intelectual no Recife, Sílvio diplomou-se em 1873 e
seguiu para a terra natal. No ano seguinte, assumiu a Promotoria Pública de Estância e foi
eleito deputado provincial. Em 1875, voltou para Recife para apresentar a tese de
doutoramento Razões justificativas do art. 482 do Código Comercial Brasileiro na Faculdade
de Direito do Recife, ocasião na qual travou acerba polêmica com o lente Coelho Rodrigues,
membro da banca examinadora, acerca da “morte da metafísica”. No mesmo ano prestou
concurso para a cadeira de Filosofia do Colégio de Artes, anexa à faculdade, para a qual foi
aprovado, mas não foi nomeado. Após esse episódio seguiu para o Rio de Janeiro onde atuou
até o seu falecimento em 1914. No entanto, apesar da distância, nunca perdeu contato com a
cidade nordestina. Publicou em tipografias recifenses alguns de seus livros: Etnologia
Selvagem, Ensaios de filosofia do direito
e Evolução do lirismo brasileiro
111
. Freqüentemente
trocava cartas com o amigo Artur Orlando, também bacharel pela Faculdade de Direito do
Recife, pedindo que enviasse os periódicos Jornal do Recife, Americano, Diário de
Pernambuco, Revista do Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano e outros
impressos
112
.
109
ROMERO, Sílvio. A literatura brasileira e a critica moderna: ensaio de generalização. Rio de Janeiro:
João Paulo Ferreira Dias, 1880.
110
ROMERO, Sílvio. Cantos do fim do século: 1869 – 1873. Rio de Janeiro: Fluminense, 1878, p. 21.
111
ROMERO, Sílvio. Etnologia Selvagem: estudo sobre a memória “Região e raças selvagens do Brasil”.
Recife: [S.n.], 1878; ROMERO, Sílvio. Ensaios de filosofia do direito. Recife: Companhia Impressora, 1885;
ROMERO, Sílvio. Evolução do lirismo brasileiro. .Recife: Tipografia J. B. Edelbrock, 1905.
112
Cf. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao
Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 317; ROMERO, Sílvio. Carta a
Artur Orlando, de 15 de agosto de 1888. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur
Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 275-276; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de
13 de setembro de 1888, In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua
55
Lançando mão do capital cultural adquirido na prestigiada Faculdade e do capital
social de sua família foi nomeado Juiz Municipal e de Órfãos de Parati em 1876. Exerceu a
magistratura até 1879. Durante esse período dedicou-se à organização dos artigos publicados
nos jornais de Recife a fim de enfeixá-los em livro. Em 1878, publicou Cantos do fim do
século pela Tipografia Fluminense e A filosofia no Brasil pela Tipografia Deutsche Zeitung de
Carlos Von Koseritz. Esses trabalhos foram recebidos com animosidade pela crítica. Ao
escrever sobre o último, Antônio Herculano de Sousa Bandeira, que foi seu colega em Recife,
acusou-o de depreciar os filósofos brasileiros para realçar a figura de Tobias Barreto. lvio
rebateu a crítica tendo início a primeira de um conjunto de polêmicas que foram travadas com
letrados como Araripe Júnior, Machado de Assis, José Veríssimo, Valentim Magalhães,
Teófilo Braga, Manuel Bomfim e Laudelino Freire
113
.
Um ano após a publicação daqueles textos, fixou-se na capital do Império. Para
garantir a sobrevivência colaborou no periódico O Repórter dirigido por Lopes Trovão, seu
colega do tempo dos preparatórios. Logo na estréia escreveu uma carta ao redator anunciando
que colecionou durante quatro anos as tradições populares do Brasil e pediu o seu apoio para
despertar a atenção do público. Porém, apesar do empenho do amigo conseguiu publicar o
trabalho quatro anos depois. Neste jornal dedicou-se à crítica das mazelas políticas do país e
geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 276; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de janeiro de
1989. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de
Janeiro: Simões, 1969, p. 277; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de dezembro 1891. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p.
280; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO,
Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de junho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código
Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 286-287; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur
Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando
e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 287-288; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de
fevereiro de 1900. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração.
Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 288-289; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de outubro de 1901.
In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 289-290; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de setembro de 1904. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p.
296-297; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 7 de abril de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola
do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 298; ROMERO,
Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de novembro de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao
Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 303-304; ROMERO, Sílvio. Carta a
Artur Orlando, de 11 de setembro de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil.
Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de
10 de junho de 1911. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua
geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 311-312.
113
Sobre as polêmicas travadas por Sílvio, conferir: VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e
polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991.
56
defendeu a instauração da República. Escondia-se sob o pseudõnimo de Feuerbach, prática
comum à época. Colaborou também na Revista Brasileira, dirigida por Franklin Távora
114
Em 1880, inscreveu-se no concurso da cadeira de Filosofia do Colégio Pedro II, a
mais respeitada instituição de ensino secundário do país. O ponto da tese foi Da interpretação
filosófica na evolução dos fatos históricos. Os candidatos deveriam entregar a tese impressa
em quinze dias. O trabalho apresentado foi impresso impecavelmente, mas o conteúdo chocou
a banca examinadora em virtude do desacordo de idéias entre os argüentes e o candidato. A
nota foi sofrível. A defesa da tese foi considerada boa. O ponto da prova oral foi A Filosofia
de Aristóteles e o da prova escrita foi Da idéia de um ente supremo. Ao contrário da tese,
estas provas receberam a nota ótima dos examinadores. Após o cômputo dos conceitos
obtidos por todos os candidatos, Sílvio foi classificado em primeiro lugar.
Todavia, como suas idéias não se coadunavam com as da Congregação e como nos
concursos do Império não bastava a comprovação do mérito do candidato, a decisão final
ficou a cargo do Imperador que inclusive presenciou o concurso. Para obter a nomeação,
utilizou-se do capital social que amealhou ao longo da sua trajetória. Intercederam a seu favor
o Barão de Tautfoeus, espécie de consultor do Imperador para assuntos educacionais e amigo
de Sílvio desde os tempos do internato, César Marques, o reitor do Internato do Colégio Pedro
II e membro da Comissão Julgadora, Canguru, bedel dessa instituição e da Faculdade Livre de
Direito, que sempre acompanhava o Imperador em suas visitas ao Colégio.
115
A decisão talvez
também tenha contado com a concorrência do Conde D’Eu, ao qual Sílvio recorreu por
ocasião de outro concurso, o do Colégio de Artes, para garantir a sua classificação em
primeiro lugar. Afinal por que Sílvio não recorreria a tão importante interlocutor para
assegurar a sua nomeação num concurso tão prestigiado? Após a apreciação do capital
cultural e social do candidato o Imperador D. Pedro II deu parecer favorável ao bacharel
sergipano. lvio foi nomeado em 1880. Exerceu o magistério durante trinta anos, jubilando-
se em 1910.
114
Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e
Cultura, 1963.
115
Cf. ARAÚJO, José Augusto Melo de. Debates, pompa e majestade: a história de um concurso docente nos
trópicos no século XIX. Dissertação (Mestrado em Educação) Núcleo de s-graduação em Educação,
Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2004.
57
O ingresso no magistério garantiu-lhe o prestígio que ainda não havia conseguido. Não
precisou reclamar mais de não ter quem editasse os seus textos. Após a sua entrada na
congregação do Colégio Pedro II publicou Introdução à história da literatura brasileira, em
1881, O naturalismo em literatura, em 1882, Cantos populares do Brasil, Últimos Arpejos e
Ensaios de crítica parlamentar, em 1883, Programa da cadeira de Filosofia do Direito,
Valentim Magalhães, em 1884, Estudos de literatura contemporânea, A filosofia e o ensino
secundário, Estudos de filosofia do direito, Contos populares do Brasil, Contos populares do
Brasil, Valentim Magalhães, em 1885, Uma esperteza, em 1887, Estudos sobre a poesia
popular no Brasil, Etnografia brasileira e História da literatura brasileira em 1888, As
formas principais da organização republicana, em 1889, A história do Brasil ensinada pela
biografia de seus heróis, em 1890, Luis Murat e A imigração e o futuro da raça portuguesa
no Brasil, em 1891, Parlamentarismo e presidencialismo na república brasileira e Doutrina
contra doutrina, em 1894, Enasios de filosofia do direito, A verdade sobre o caso de Sergipe,
em 1895
116
.
Em 1897, sua produção diminuiu em virtude da arteriosclerose que o acometeu e
ceifou a sua vida algum tempo depois. Mas após a recuperação, o polígrafo voltou a escrever
vorazmente. Lançou: Novos ensaios de literatura contemporânea, A literatura brasileira, em
1900, Ensaios de sociologia e literatura e Martins Pena, em 1901, O elemento português
noBrasil, em 1902, Duque de Caxias e a integridade do Brasil, em 1903, Discursos, Passe
Recibo! e Parnaso sergipano, em 1904, Evolução da literatura brasileira e Evolução do
Lirismo brasileiro, em 1905, Outros estudos de literatura contemporânea, A pátria
portuguesa, O alemanismo no sul do Brasil, Compêndio de história da literatura brasileira,
em 1906, A América Latina, Discurso na Academia de Letras e O Brasil social, em 1907,
Geografia de politicagem, Da crítica e sua exata definição, Zéverissimações ineptas da
crítica, em 1909, Quadro sintético da evolução dos gêneros literários no Brasil, Provocações
e debates e O Brasil na primeira década do culo XX, em 1910, e Minhas contradições, em
1914. Muitas dessas obras vieram à lume através de afamadas casas editoriais como: Garnier,
Francisco Alves, Laemmert, Leuzinger do Rio de Janeiro e Chardron do Porto, evidenciando o
prestígio adquirido
117
.
116
Cf. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO (Org.). Dicionário
biobibliográfico de autores brasileiros. Salvador: CDPB; Brasília: Senado Federal, 1999, p. 419-425.
117
Cf. CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DO PENSAMENTO BRASILEIRO (Org.). Dicionário
biobibliográfico de autores brasileiros. Salvador: CDPB; Brasília: Senado Federal, 1999, p. 419-425.
58
Contudo, apesar de não encontrar mais dificuldades para publicar seus livros não
abandonou a imprensa. Fundou com Araripe Júnior a revista Lucros e Perdas na qual
escreveu oito artigos. Escreveu também nos periódicos: Gazeta de Notícias, Diário de
Notícias, Jornal do Comércio, O País, Novidades, Revista Educação Nacional, Revista
Brasileira e Revista Americana do Rio de Janeiro; O Município de São Paulo; A Campanha
de Minas Gerais; e Horizonte e Laranjeirense, de Sergipe
118
.
Para escrever tanto foram necessárias inúmeras leituras. Sílvio amealhou ao longo da
sua vida uma biblioteca de 1717 títulos. Segundo Tânia Maria Bessone da Cruz Ferreira as
bibliotecas de médicos e advogados do Brasil no século dezenove possuíam cerca de 400
volumes.
119
Desse modo o intelectual sergipano constituiu uma biblioteca vultuosa. Esse fato
desautoriza a afirmação de que não havia muito apreço pelos livros no Brasil oitocentista.
Talvez não houvesse muitos leitores, dado o alto índice de analfabetismo, mas aqueles que
possuíam essa habilidade “liam razoavelmente vário e muito”
120
.
Esse acervo é composto de impressos nacionais e estrangeiros, sobretudo franceses,
que versavam sobre as mais distintas áreas do conhecimento: Filosofia, Direito, Sociologia,
Antropologia, História, Etnografia, Biologia, Psicologia, Literatura, dentre outras.
Os seus biógrafos, especialmente aqueles que conviveram com Sílvio, fornecem vários
indícios sobre as práticas de leitura de Sílvio Romero.
118
Cf. MENDONÇA, Carlos Süssekind de. Sílvio Romero, de corpo inteiro. [S.l.]: Ministério da Educação e
Cultura, 1963.
119
Cf. FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. Bibliotecas de médicos e advogados do Rio de
Janeiro: dever e lazer em um lugar. In: ABREU, Márcia. (Org.). Leitura, História e História da leitura.
Campinas: Mercado de Letras; São Paulo: FAPESP, 1999, p. 313-334.
120
Sobre a contestação da tese da inexistência de leitura no Brasil oitocentista, consultar: ARAÚJO, Jorge de
Souza. Perfil do leitor colonial. Ilhéus: Editora da UESC, 1999; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Nota
prévia sobre a palavra impressa no Brasil do século XIX: a biblioteca do povo e das escolas. Horizontes,
Bragança Paulista, v. 19, p. 11-27, jan./dez. 2001.
59
Em quais lugares costumava ler? Artur Guimarães, Argeu Guimarães e Magalhães
Carneiro informam que ele costumava ler em diversos espaços. Um deles era o lar
121
.
Magalhães Carneiro informa que ele lia na sua biblioteca, que costumava chamar de
“oficina”
122
, talvez numa alusão ao objetivo que o levava a imergir no mundo da leitura: a
necessidade de escrever seus próprios livros. Não via a biblioteca apenas como espaço de
deleite, mas como uma “oficina”, um lugar de trabalho.
Mesmo considerando o seu gabinete como espaço de labuta, procurava usar roupas
confortáveis para imergir no universo dos livros. Conforme Artur Guimarães, Sílvio metia-se
em “calças leves, brancas ou de brim, de enfiar às vezes, e paletot também leve, sem
collarinho, sem gravata, sem punhos e com camisas de passar. Quando muito calor, fechava-
se no gabinete, em camisolão...”
123
Mas Sílvio não lia apenas em casa. Costumava ler durante os trajetos para o trabalho
ou para casa. Lia nos bondes que o conduziam para o Colégio Pedro II, para a Faculdade
Livre de Direito, para a Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais, para a Academia
Brasileira de Letras. Lia nas barcas a vapor que o levavam do Cais Pharoux à sua última
residência, em Icaraí, Niterói.
121
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915;
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; CARNEIRO,
Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921.
122
CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial,1921, p. 12.
123
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur Jode Souza, 1915, p.
26.
60
Argeu Guimarães recordou:
a imagem de Sílvio Romero em casa, no bonde, na barca de Niterói, a todas
as horas, enquanto durava a claridade solar, com um livro na mão e o lápis
em punho, lendo e pondo notas à margem de cada página, notas
desenvolvidas com pachorra à medida que avançava na leitura atenta,
infatigável, cansativa
124
.
Sílvio também costumava ler na Livraria Alves, na Rua Gonçalves Dias, 48.
Freqüentemente, após as aulas dirigia-se para a livraria do amigo e editor para “palestrar”
sobre as ultimas novidades do mercado editorial. Em muitas dessas visitas demorava-se um
pouco mais para ler alguma obra recém adquirida
125
.
124
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 96-97.
125
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915;
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; BROCA,
Figura 8 - Cais Pharoux, aproximadamente 1893-1894
Fonte: CAIS Pharoux. Altura: 459 pixels. Largura: 310 pixels. 17793 Bytes. Formato JPEG. Disponível
em: <
http://www.museuhistoriconacional.com.br/images/galeria03/rioantigo/gt001.jpg>. Acessado
em: 30/04/2005.
61
Outras vezes ia ler no escritório de Artur Guimarães, no Comissariado de Exportação
do Café, na Rua do Ourives, 173, e, posteriormente, na Companhia Economisadora Paulista,
na Rua 7 de setembro, próximo à Rua Gonçalves Dias. Segundo Artur “sentava-se num dos
velhos cantos do sofá, que com a constância do seu peso tinha a palhinha afundada”
126
: Argeu
recordou com mais minudência esses momentos:
Sílvio afundava, estirava-se no velho sofá vergado ao seu peso. Livro e lápis
na mão, infalivelmente, para prosseguir na leitura, depois das primeiras
palavras. Indiferente, então às atividades que o cercavam, mergulhava no
estudo, esperando com paciência a hora da saída, em que a pé, íamos os três
para o caís Pharoux. No escritório, se alguém o havia precedido no assento
predileto, fazia uma careta e resmungava. Se esse alguém era um íntimo, ou
um parente, como o bom Totonho, desalojava-o sem cerimônia. E, na falta
de sofá, sentava-se numa cadeira, às avessas, em califourchon, com o peito
para o espaldar, de braços cruzados
127
.
De acordo com Artur, o mestre também lia na cama:
Na cama tinha posição também original: curvava uma perna, collocando o
debaixo da outra, ou trançava ambas, lendo e, de vez em quando,
passando a mão em friso, sobre os cabellos brancos da leonina cabeça, de
entradas salientes, só nas temporas
.
128
Pelos depoimentos de Artur e Argeu nota-se que Sílvio gostava de ler em lugares
considerados pouco adequados. Naquela quadra, os professores adeptos do ensino intuitivo
recomendavam que os leitores sentassem com as costas sobre o espaldar, cabeça ligeiramente
inclinada para frente, antebraços sobre o apoio lateral, segurando livros aproximadamente em
ângulo reto ao tronco e paralelo à cabeça, pernas unidas, pés, tocando o piso. Nada
semelhante à prática de Sílvio. Essa discrepância talvez esteja relacionada aos hábitos
Brito. A vida literária no Brasil - 1900. 2 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. MACHADO NETO,
Antônio Luiz. Estrutura social da república das letras. São Paulo: Grijalbo, 1973.
126
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur Jode Souza, 1915, p.
23.
127
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 177.
128
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p.
23.
62
adquiridos nos bancos escolares na década de cinqüenta, uma vez que naquela época as
exigências eram outras. Os móveis e utensílios das escolas não permitiam que os mestres
exigissem dos alunos uma postura como essa. Artur e Argeu, mais jovens que Sílvio,
educados de outro modo, ficaram tão admirados com seus gestos ao ler que acharam relevante
mencioná-los nos livros que escreveram em sua homenagem.
Também costumava ler na biblioteca do Artur Guimarães, na Rua Pereira de Siqueira,
no Engenho Velho. Argeu mais uma vez forneceu indícios dessa prática:
A biblioteca de Artur Guimarães era no porão da casa e, quando o calor não
rescaldava, íamos para o meio dos livros. Sílvio tinha sempre alguma
consulta a fazer, muito livro de sua predileção a folhear entre tantos
alinhados nas estantes, com boas encadernações francesas. O fundo inicial da
rica coleção adquirida por meu pai pertencera a um antigo professor do
Pedro Segundo, Lucindo Pereira Filho, latinista, creio, dado também a
estudos de demonologia, então em voga em Paris. Sílvio nem tocava, é claro,
no Sr Péladan, e nos compêndios da cabala ou do ocultismo ou do
espiritismo, que não faltavam na coleção. Desforrava-se em compensação
com as recentes aquisições de meu pai, nos domínios da Sociologia e da
História. Do espólio de Lucindo Filho restavam apenas as obras clássicas
francesas, ao lado das ciências herméticas, enroupadas em fino chagrin.
Estou a rever as fileiras de Guizot, Balzac, Flaubert, Goncourt, Rabelais em
preciosa edição iluminada... até, na derradeira fila, o grande Larrousse
Universal. Tudo isso se perdeu nos vai-vens do acaso. Para ter livros é
preciso ser rico!
129
A biblioteca de Artur não resistiu muito tempo. Com a crise do negócio do café,
perdeu parte de sua fortuna e viu-se obrigado a desfazer-se dela
130
. Porém, durante sua
existência Sílvio usufruiu desse acervo. Esta foi mais uma forma que encontrou de ler os
livros de sua preferência. um outro indício da sua prática de usufruir os livros do amigo.
Em 1898, Artur fez uma viagem à Europa. Sílvio enviou-lhe uma carta pedindo que
129
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 11-12.
130
GUIMARÃES, Ary Machado. Sílvio Romero e Querido Moheno unidos num pensamento: sobre a
forma de governo que nos deve reger. Rio de Janeiro: Tipografia do Jornal do Comércio de Rodrigues & C.,
1932, p. 104.
63
comprasse História de Portugal de Schoeffer e Antiguidades Portuguesas de Leite de
Vasconcelos para depois lhe emprestar
131
.
Não registro de que ele frequentasse a Biblioteca Nacional. João do Rio, escreveu
uma crônica, em Cinematógrafo, sobre os leitores da instituição. Nela incluiu os mais
afamados, tais como Felisbelo Freire e Capistrano de Abreu. Porém, não menciona Sílvio
132
.
Talvez ele não apreciasse o ambiente das bibliotecas públicas, preferindo o aconchego da sua
e das bibliotecas particulares dos amigos.
Mas em qual horário Sílvio preferia ler? Segundo Artur Guimarães, o amigo lia apenas
até o crepúsculo:
Desde que travamos relações, em 1896, jamais o vi escrever ou ler de
noite; contava-me que assim procedia para evitar perturbações digestivas, de
que uma vez fora acommetido.
Fazia o chylo depois do jantar, sentado, palestrando com a família ou
com os amigos, ou ainda recostado, meditando.
Recolhia-se, não tendo visitas de cerimônia, entre nove e dez horas e
procurava repousar nunca menos de dez horas. Muitas vezes conservava-se
deitado, sem somno, até perfazer aquelle espaço de tempo, que reputava
indispensável para o seu organismo.
Escrevia de dia, levantando-se entre sete e oito horas a manhã, mas
nunca systematizou a producção: estava longe de pensar com Zola, que nullo
era o dia sem linha escripta, nem tampouco tinha horas certas de trabalhar.
Aos que o argüiam sobre a não systematisação da escripta, respondia
que se não escrevia sempre que se queria, mechanicamente, e sim quando se
estava no ponto de produzir. A producção, accrescentava, assemelhava-se a
uma délivrance: tem gestação e período certo.
133
.
Essa percepção poderia ser verdadeira, visto que naquela época a luz elétrica estava
apenas chegando e deveria ser incômodo ler à luz de velas. Era esperado que os intelectuais
aproveitassem cada momento do dia para volver as páginas impressas. Mas o próprio Sílvio
131
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 2 de fevereiro de 1898. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 234-236.
132
RIO, João do. O cinematógrafo: crônicas cariocas. Porto: Chardron, 1899, p. 34.
133
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915;
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 67.
64
desmentiu essa hipótese no relato da viagem que fez à Europa em 1900. Após relatar o
embarque no navio La Plata às 8 horas da noite comentou: “Às 11 horas eu me recolhi ao
beliche e estava a ler o novo e último volume da Sociologia de H. Spencer, o philosopho
magno do século, no meu entender”
134
. Em outro passo do relato afirmou:
Lia eu à noite, a Sociologia, nos capítulos que tratam das relações
econômicas, quando mãos delicadas fizeram brotar do piano de bordo não
sei que tão doces melodias que me fizeram fechar o livro e quedar
arrebatado de pensamento em pensamento, n’um embevecer largo e
profundo, cogitando nas peripécias e mutações da evolução humana.
135
Contudo, apesar de ler a qualquer hora do dia, Artur Guimarães não estava totalmente
equivocado, pois Sílvio parecia ter predileção pelas manhãs. Numa carta a Almáquio Diniz
afirmou que faria um “passeio matinal pelos seus livros”
136
.
Na referida missiva Sílvio também relatou os motivos que o levava a interromper a
leitura diurna ou noturna. Um fator constante era a reinação dos filhos menores. Ele teve
dezenove. André, João, Clarinda e Edgar com a primeira esposa Clarinda Diamantina Araújo
Romero (Dondon); Sílvio, Nelson e Sílvia com a segunda Maria Liberato Romero (Vidinha);
e Aquiles, Maria, Maria Sílvia, Josefina Solita, Irene, Ruth, Osvaldo, Regina, Odorico,
Arnoldo, Maria Alice e Lauro com a terceira Maria Petronila Barreto Romero (Mocinha). Na
mesma missiva a Almáquio Diniz afirmou que não havia lido seus livros ainda, não por falta
de amizade, mas de sossego: “Seis meninos a berrar!... Tenha paciência comigo.”
137
.
Uma outra razão que atrapalhava as suas leituras eram as reiteradas doenças dos filhos.
André Romero, o primogênito, ficou esquizofrênico por volta de 1895 e foi internado
134
ROMERO, Sílvio. Viagem à Europa. In: ______. Outros estudos de literatura contemporânea. Lisboa:
Tipografia da Editora, 1905, p. 87.
135
ROMERO, Sílvio. Viagem à Europa. In: ______. Outros estudos de literatura contemporânea. Lisboa:
Tipografia da Editora, 1905, p. 87.
136
ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245.
137
ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245
65
repetidamente na Casa de Saúde São Sebastião até ser transferido para o Hospício Nacional
em 1900. João teve varíola também em 1895. Aquiles teve meningite e faleceu em 1896.
Maria teve enterite e faleceu em 1897. Regina faleceu em 1909. Arnoldo teve furunculose em
1912. Odorico quebrou o braço no mesmo ano. As doenças e mortes dos filhos provocaram-
lhe “insônias e pesadelos” que interromperam por algum tempo suas práticas de leitura e
escritura
138
.
As aulas no Colégio Pedro II, na Faculdade Livre de Direito e na Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais garantiram o sustento da família e viabilizaram a sua carreira de
escritor, mas às vezes também atrapalharam a leitura, pois lhe tomavam muito tempo. Quando
precisava ler muitos textos, em busca de inspiração, para escrever alguma obra de grande
fôlego, via-se em apuros. Em 1904, quando resolveu escrever o terceiro volume da História
da Literatura Brasileira aproveitou as férias e pediu licença com vencimento ao governo para
transferir-se com a família para Campanha, Minas Gerais, a fim de obter tempo para “ler os
novos prosadores e escrever o tal volume”
139
. Em 1910, após 30 anos de serviço, pediu
jubilação do Colégio Pedro II. Desde então pensou em “largar as aulas nas faculdades e
“meter-se num canto, onde aproveitará as manhãs para terminar a História da Literatura
Brasileira e O Brasil Social
140
.
Sabemos como Sílvio adquiriu suas competências de leitura, quais os espaços em que
costumava ler, os seus horários de leitura, os motivos que algumas vezes a atrapalhavam. No
entanto, restam alguma perguntas: Como ele lia? Lia oralmente ou silenciosamente? Lia de
forma extensiva ou intensiva? Qual a relação que estabelecia entre leitura e escritura?
138
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1895. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 280-281; ROMERO,
Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao
Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO, Sílvio. Carta a
Artur Orlando, de 29 abril de 1897. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur
Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 284-285; ROMERO, lvio. Carta a Artur Orlando, de
6 de fevereiro de 1909. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua
geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 308-309; ROMERO, Sílvio. Carta Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro
de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245.
139
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro 1904. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário
de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando,
de 29 de fevereiro de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua
geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 294-295.
140
ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 244-245.
66
Sílvio fazia leitura silenciosa. Conforme Argeu, numa passagem citada,
“Indiferente, então às atividades que o cercavam, mergulhava no estudo”
141
. Este modo de ler
estabelece um espaço de intimidade separando o leitor do mundo exterior. Quer sentado na
sua “oficina”, quer sentado num bonde ou numa barca, numa mesa na Livraria Alves ou no
sofá e na cadeira do escritório de Artur Guimarães, a leitura em silêncio, permitia que ele
permanecesse sozinho com os textos e estabelecesse um diálogo com eles. Essa forma de
leitura transformava o seu trabalho intelectual numa prática remissiva individual, uma leitura
conduzindo à outra numa escala sucessiva de tessituras infinitas. Permitia também que fizesse
vôos imaginários através das páginas, empreendendo viagens em torno de si mesmo. Roger
Chartier acredita que os leitores neófitos, menos hábeis, são incapazes de ler apenas com os
olhos. A leitura silenciosa só é possível para os leitores que possuem pleno domínio do código
escrito
142
.
Apesar de fazer leitura em silêncio, sentia a necessidade de externá-la para os letrados
mais próximos. Nas correspondências mantidas com Artur Guimarães, Artur Orlando e
Almáquio Diniz compartilhava suas experiências.
Nas cartas que escreveu para Artur Orlando entre 1896 e 1908 fez diversos
comentários sobre suas leituras. Em 1896, comentou que estava fazendo a História e
Geografia do Estado de Minas Gerais, um trabalho sob encomenda, e que a leitura de textos
sobre os bandeirantes colocara-lhe “os miolos em água"
143
. Também comentou os textos
produzidos pelo amigo. Em 1903, comentou que gostou muito do artigo que publicou na
Gazeta, ficou "mergulhado no infinito de satisfeito” a ponto de “relê-lo e tornar a ler"
144
Em
outra missiva do mesmo ano afirmou que adorou seus três artigos sobre o Japão. Achou-os
141
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 177.
142
Cf. CHARTIER, Roger. Práticas de escrita. In: CHARTIER: Roger (Org.). História da vida privada: da
Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991, p. 113-161. V. 3.; MORAIS, Maria
Arisnete Câmara de. Maneiras de ler no Brasil do século XIX. Disponível em:
<http://www.educacaoonline.pro.br/maneiras_de_ler.asp>. Acesso em: 19/05/2005.
143
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283.
144
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de setembro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 292-293.
67
“magníficos, esplêndidos!”
145
Em 1904, mencionou que gostou dos textos que recebeu:
"Devorei, deixando tudo que estava fazendo, de lado!”
146
. Em 1906, comentou a leitura de um
livro do amigo. Informou que estava na página 125 e estava gostando, principalmente da
comparação entre o direito criminal americano e europeu e das discussões sobre a
coexistência do arbitramento, o ensino pan-americano e o direito econômico
147
. Na carta
seguinte, após terminar a leitura, comentou que no oitavo capítulo gostou das ginas sobre a
economia da família, da cidade e da nação; no nono das páginas sobre direito econômico,
confederação do continente americano; no cimo das páginas sobre o papel dos negros na
América, sobre a participação de Nabuco, Patrocínio, João Alfredo e da Princesa Isabel na
Abolição; no décimo primeiro das páginas sobre o papel da religião e das ciências nas
sociedades modernas, a comparação entre protestantes e católicos e a discussão sobre lógica
racional e lógica emocional. Porém, ficou chocado com a citação de Castelar no começo do
livro “na qual aquele demônio nos molestava com loucas fantasias de latinos sobre
germânicos”. Afirma que se tivesse visto a tempo teria pedido para tirar
148
. Em 1908, elogiou
os seus livros O Porto e a Cidade do Recife. Achou muito boas as notas sobre clima,
temperatura, salubridade, chuvas, águas e produções naturais, recursos de viver e as
considerações gerais de caráter biológico e social
149
. Numa última missiva, sem data, afirmou
que leu os textos Zonas geográficas, Flora e fauna brasileiras e Mato Grosso. Disse que o
primeiro tem novidades e instrui. O segundo tem ainda mais novidades e instrui mais. O
terceiro contém pontos de vista mais inesperados e é mais instrutivo ainda. Sugeriu que ao
livro fosse dado o título Brasil: o solo e a sociedade ou Brasil: a terra e o povo. De antemão
deu-lhe os parabéns
150
.
145
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de outubro de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 293.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de junho de 1904. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 295-296.
147
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301.
148
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 301-302.
149
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1908. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 305-306.
150
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código
Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 313-314.
68
Nas cartas enviadas à Artur Guimarães fez comentários mais minudentes sobre as suas
leituras. Em 1904 escreveu:
tendo acabado todas as leituras de preparo para o meu amplo quadro social
do Brasil durante os quatro séculos de sua existência, máxime o último,
submeti a uma leitura rigorosa e de conjunto os originais de seu livro e fiquei
satisfeito. Vamos ser os primeiros a falar não no Le Play, mas na sua bela
escola de análise social, sob a direção de seus discípulos. Meti-me no
inferno, isto é, a fazer um quadro do estado real, positivo, exato, do Brasil,
seu povo, sua cultura, sua vida social e política, segundo os princípios da
escola de Le Play, e estou abarbado. Tive de ler quarenta e tantos livros, e
estou abarrotado...
151
Em missiva de 1910, comentou a apropriação de outras leituras:
Li o Mahan, escritor americano, sobre raça branca e seu futuro e perigos que
corre, e gostei. Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões
técnicas na antropologia. Ele e o Ammon são os fundadores da
antropossociologia, ciência que reúne a antropologia à sociologia, une Broca
a Spencer, como a escola de Le Play une a sociologia à etnografia, une
Spencer a Jubainville e outros. Como processo e método para estudar e
classificar povos, a escola de Le Play é melhor. Leva-lhe vantagem a de
Lapouge e Ammon, quando estabelece no fundo de tudo o elemento raça,
que foi sempre a minha velha mania. Há, porém, concordância nas duas
escolas quanto aos resultados: o homo europaeus de Lapouge é o
particularista de Le Play e consortes; e o alpinus e mediterranaeus de
Lapouge são ali os comunários de Le Play
152
.
Através dessas longas, mas necessárias, citações dos trechos das missivas que trocou
com os amigos e da leitura das marginálias que deixou nos inúmeros textos, é possível
perceber que Sílvio fazia predominantemente leitura extensiva. Ao entrar em contato com os
impressos ele assinava Roméro, S. Roméro ou Sylvio Roméro na folha de rosto, e em seguida
lia cada página fazendo comentários às margens e até na folha de guarda. As anotações às
vezes eram de concordância, outras de discordância. Muitas vezes também comparava a obra
151
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 1904. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil.
Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 34.
152
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.
69
que estava apostilhando com outras lidas anteriormente. A cada página anotada ia inscrevendo
traços da sua apropriação.
Em 1909, fez algumas objeções ao processo de leitura do professor José Veríssimo,
seu colega no Colégio Pedro II. Afirmou que:
atabalhoadamente livros nacionais que lhe mandam ou livros estrangeiros
que obtem no Garnier, percorre-os a galope durante algumas horas, toma
notas à margem apressadamente, espraia-se depois em banalidades por
algumas dúzias de tiras de papel, e eil-o, às segundas-feiras, com a sua
litteratura, barata como os gêneros grosseiros das furas do sertão. Reúne
depois todas essas drogas em pacotes, que chama livros. [Grifo meu]
153
Nota-se que para lvio a prática da leitura exigia tempo e cuidado. Mas isso não quer
dizer que ele não realizasse leitura intensiva, que não lesse ao acaso, apenas pelo prazer da
leitura. Na sua biblioteca existem vários textos que não foram anotados. A ausência de
marginálias permite levantar duas hipóteses: ou ele não leu esses textos ou leu rapidamente,
sem nenhum propósito específico, intensivamente.
Durante e após a realização das leituras, além de comentá-las nas missivas, “afundava
a pena no papel” para escrever os seus próprios textos. Para Sílvio leitura e escritura não eram
momentos separados. Ele sentia necessidade de expressar a sua apropriação. A partir dos
relatos apresentados percebe-se que ele dedicava-se com mais afinco às leituras quando
precisava escrever algum “volume”. Para escrever o Brasil Social teve que ler “quarenta e
tantos livros”
154
.
Sílvio leu infatigavelmente até os momentos próximos à morte. nos lances finais de
sua existência interrompeu essa atividade porque já não enxergava bem
155
.
153
ROMERO, Sílvio. Zéverissimações ineptas da critica: repulsas e desabafos. Porto: Commercio, 1909, p. 10-
11.
154
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 1904. In: GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil.
Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p. 34.
155
Cf. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915;
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955.
70
Ao término do relato das suas experiências de leitura é possível concluir que ao longo
da sua trajetória ele teve uma educação formal e informal que o auxiliou a desenvolver
determinadas competências e práticas de leitura.
Na Vila de Lagarto, teve os primeiros contatos com o mundo do conhecimento através
das orações e histórias encantadas que a “adorada Antônia”, as “velhinhas” e Zefa lhe
transmitiram; e aprendeu a ler nos manuscritos e “impressos incolores” das escolas de
primeiras letras dos professores Bomfim e Badú. Foi também durante os primeiros anos que
teve despertado o seu nacionalismo.
No Rio de Janeiro, estudou as humanidades com os mestres que ficaram gravados sua
memória e que ajudaram a reforçar o seu interesse pelas coisas da terra e o introduziram no
germanismo; e aprendeu Espanhol, Italiano, Francês e Inglês, línguas cujo domínio o tornou
um competente leitor de textos estrangeiros.
Em Recife, adquiriu conhecimentos filosóficos e científicos nas aulas dos mestres,
com o colega Tobias Barreto e, principalmente, através das múltiplas leituras que realizou. A
partir das leituras realizadas, escreveu sobre diversos assuntos no periodismo local. Formado
bacharel, seguiu para Estância, onde ficou durante um curto período, e, logo depois, para o
Rio de Janeiro onde se estabeleceu definitivamente.
Na capital federal, sede do campo intelectual brasileiro, deu continuidade a sua
formação. Lia em casa, no bonde, na barca, no navio La Plata, na livraria do amigo Francisco
Alves, no escritório e na biblioteca do amigo Artur Guimarães. Às vezes tinha a leitura
interrompida pelo barulho das crianças, pelas doenças e mortes de alguns filhos ou pelo
excesso de trabalho nas diversas instituições de ensino em que trabalhava. Lia silenciosa e
extensivamente, anotando cada página. Assim como na capital pernambucana, Sílvio escreveu
intensamente no Rio de Janeiro.
Enfim, podemos afirmar que as competências e práticas de leitura que desenvolveu o
tornaram crítico leitor das letras nacionais e estrangeiras. Além de constituir uma considerável
biblioteca, cuja apropriação pode ser apreendida através da análise das marginálias que nela
deixou, ele sentiu a necessidade de expor as representações forjadas na prática da leitura em
inúmeros impressos. Ao escrever nos jornais recifenses, fluminenses e de outros estados e
71
publicar livros sobre vários temas pôde expressar as suas opiniões, muitas delas em desacordo
com aqueles que dominavam o campo intelectual até então, e tentar convencer os outros
leitores delas
156
.
156
Sobre as potencialidades dos impressos, consultar: PARK, Margareth Brandini. Histórias e leituras de
almanaques no Brasil. São Paulo: Campinas: Mercado de Letras, Associação Brasileira de Leitura; São Paulo:
Fapesp, 1999; VILELA, Marize Carvalho. Discursos, cursos e recursos: autores da revista Educação (1927-
1961). Tese (Doutorado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000; MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e
práticas culturais em tempos de República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São
Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2001; TOLEDO, Maria Rita de Almeida. Coleção
Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao editorial (1931-1981). Tese (Doutorado em Educação) -
Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,
2001; CATANI, Denice Bárbara. Educadores à meia-luz: um estudo sobre a Revista de Ensino da Associação
Beneficente do Professorado Público de São Paulo (1902-1918). Bragança Paulista: EDUSF, 2003.
72
CAPÍTULO II
BIBLIOTECA PEDAGÓGICA DE SÍLVIO ROMERO
Após a análise das competências e práticas de leitura do intelectual sergipano,
empreendida no capítulo anterior, faz-se necessário traçar um perfil da Biblioteca de Sílvio
Romero, especialmente de sua Biblioteca Pedagógica, e estudar a materialidade dessas obras.
Apenas após esse estudo será possível compreender como ele se apropriou dessas leituras e
constituiu o seu pensamento pedagógico.
A leitura é uma das atividades mais fugidias. Os leitores costumam deixar poucos
rastros, tornando penosa a tarefa de investigar a apropriação que fizeram ao volver as ginas
dos livros. Não é este o caso de lvio Romero. Ele deixou copiosos vestígios de leitura:
anotações marginais, páginas dobradas, outras marcadas com fita de cetim, comprovante de
pagamento do bonde ou recorte de jornal.
Mas mesmo quando os leitores deixam vestígios, muitas vezes eles se perdem na
malha do tempo, pois nem sempre as bibliotecas são preservadas. Segundo Chartier, a
proliferação de livros ocasionada pela segunda revolução industrial da imprensa fez com que
as bibliotecas superassem sua capacidade de conservação levando-as a fazer a triagem do que
pode ser preservado e fez com que o sonho de uma biblioteca universal, onde todos os textos
produzidos fossem reunidos, esmorecesse
157
. As bibliotecas públicas eventualmente precisam
fazer a operação de descarte. Com ela várias marcas de leituras também são descartadas.
No caso das bibliotecas particulares a dificuldade de preservação persiste. Embora a
quantidade de obras seja bem menor, o espaço também é reduzido, conduzindo os
proprietários a se desfazerem de alguns impressos sob a alegação de obter mais espaço. Além
disso, quando os seus donos falecem, não raro as famílias desfazem-se desse patrimônio.
157
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998.
73
Felizmente este também não foi o caso da biblioteca de Sílvio. Após a sua morte, o seu
acervo foi preservado. Equivocadamente, Argeu Guimarães lamentou o desaparecimento dos
livros do mestre:
Pena haver-se desgarrado tão valioso espólio, através cujos flagrantes de
espontaneidade, reveladores de rumos e diretrizes mentais cheios de vigor,
não raro irreverentes e severos seguindo as tendências do seu
temperamento, seria possível projetar mais luz sobre uma obra que não
se discute e, apezar das veemências compreensíveis num lutador e
semeador de idéias, impõe-se cada vez mais na interpretação social e na
exegese da criação intelectual da nacionalidade
158
.
Ao contrário do que imaginava seu ex-aluno, sua biblioteca foi conservada pelos
familiares, notadamente por Nelson Romero, um dos seus filhos mais velhos. Nelson,
também tinha inclinação para a carreira intelectual. Assim como o pai, foi professor do
Colégio Pedro II
159
. Talvez por essa razão tenha cuidado do patrimônio legado pelo genitor
com desvelo.
Mas o que levou a família a vender a Biblioteca de Sílvio para o governo do Estado
de Sergipe, uma vez que ela poderia ter sido útil para filhos e netos? Será que Sílvio não
deixou a família em situação financeira confortável?
Segundo Argeu Guimarães, Sílvio, apesar de ser filho de André Ramos Romero, um
abastado negociante, ao constituir a sua própria família e estabelecer-se no Rio de Janeiro
teve que se habituar com a “parcimônia de recursos”
160
. Argeu e Artur Guimarães e
Magalhães Carneiro afirmaram que ele mudava freqüentemente de residência. Morou em
vários lugares do Rio de Janeiro: Tijuca, Paineiras, Alto da Boa Vista, Riachuelo, São
Cristóvão e Estrela, na zona norte, e em Camorim, na zona oeste. No município de Niterói,
residiu em Icaraí. Morou temporariamente em Campanha, Juiz de Fora e São João Del Rey,
158
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 98.
159
TAVARES, Jane Cardote. A congregação do Colégio Pedro II e os debates sobre o ensino de matemática.
Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) – Programa de Pós-graduação em Educação Matemática,
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2002, p. 124.
160
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955, p. 62.
74
no estado de Minas Gerais. Conforme seus amigos, sempre viveu em residências modestas
que causavam espanto aos ilustres visitantes.
161
Magalhães Carneiro, que morou um tempo com ele em Icaraí, preocupado com a
impressão que o aspecto humilde da habitação poderia causar nos visitantes abastados,
aconselhou Mocinha a “melhorar a sala de visitas, guarnecendo-a de mais alguns móveis e
completando a ornamentação nas paredes”.
162
Depois de relutar, temendo a desaprovação do
cônjuge, ela acabou encarregando-lhe do serviço. Certo dia, na ausência de Sílvio, o cômodo
sofreu a transformação. À tarde, ao chegar das aulas, o mestre penetrou a casa, olhou
demoradamente a sala modificada, mas não pronunciou nenhuma palavra de aprovação ou
repulsa. Todavia, no jantar, disse-lhe de chofre que tinha certeza que foi obra dele e explicou
que não se preocupava com esses requintes porque isso afetava negativamente a vida
espiritual. Conforme Magalhães:
Desse dia em diante não preferia mais a sala de visitas para se refugiar
contra ataques da criançada ou para remoer idéia que accaso o acomettesse.
Aparecia ali raramente, quando havia visita de cerimônia, mas não se
demorava. Muitas vezes ouviu-o monologar da bibliotheca contra a sala
contígua, ou de passagem parar fronteiro à porta, apontar para dentro e
dizer com affectada expressão de terror: - Está interdicta!
163
Também usava roupas simples como “canotier, paletot sacco, collete da mesma côr”
e “relógio dos mais baratos com corrente de plaquet”, embora tenha revelado a Artur
Guimarães, que houve um tempo em que costumava “ajanotar-se, usando cartola, fraque e
bengala”
164
. A Magalhães Carneiro, afirmou: “O luxo é um corrosivo; o homem arranjou-o
por vaidade...”
165
161
Cf. GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza,
1915; CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921;
GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955.
162
CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 13.
163
CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 13-14.
164
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur Jode Souza, 1915, p.
44-45.
165
CARNEIRO, Magalhães. Sílvio Romero na intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial, 1921, p. 11.
75
Mas a simplicidade das residências e dos trajes deve ser atribuída apenas ao fato de
considerar o luxo corrosivo? Os indícios sugerem que não.
Sílvio era professor das mais prestigiosas instituições educacionais do Rio de Janeiro.
Mas o salário de professor era modesto. Não foi possível obter informações detalhadas
acerca dos vencimentos dos professores das instituições em que trabalhou, no período de
1880 a 1914. Porém, foi possível descobrir que a viúva de Joaquim Manuel de Macedo,
professor do Colégio Pedro II, recebia do governo a pensão de 1 conto e 200 mil réis por
ano.
166
Não era um valor alto, senão Sílvio, que se queixava de falta de tempo para a
produção intelectual, não teria necessidade de pleitear através de missiva ao Barão do Rio
Branco mais um posto: a cadeira de História da Literatura do Colégio do Mosteiro São
Bento
167
.
Os livros também não davam tanta rentabilidade. Somente para citar dois exemplos:
o contrato de publicação de Doutrina contra doutrina, com o livreiro Francisco Alves,
rendeu-lhe 1 conto de is e o da publicação de Cantos e contos populares do Brasil, pelo
mesmo editor, 3 contos de réis
168
.
Mas ele escreveu inúmeros livros e o montante total das edições, somado aos
vencimentos do magistério seriam suficientes para levar uma vida confortável. Porém, a sua
condição econômica não era tão cômoda porque teve que prover uma imensa prole. A
educação dos filhos consumia boa parte dos seus rendimentos. De acordo com Artur
Guimarães, quase todos os filhos do primeiro e do segundo casamentos se formaram, exceto
um porque não se interessou. André, o primogênito, antes de adoecer, estudou Matemática
em Zurich, na Suíça; Nelson Romero estudou na Universidade Gregoriana de Roma; e Edgar
Romero estudou Direito. E todos os filhos do terceiro casamento estudaram em bons
colégios do Rio de Janeiro. Além das despesas com a educação, lvio gastava com o
166
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. A formação da leitura no Brasil. São Paulo: Ática, 1999, p.
321.
167
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro de 1904. In: RABELLO, Sílvio.
Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232.
168
BRAGANÇA, Aníbal. A política editorial de Francisco Alves e a profissionalização do escritor no Brasil. In:
ABREU, Márcia. (Org.). Leitura, história e história da leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras, Associação
de Leitura do Brasil; São Paulo: Fapesp, 1999, p. 458. (Coleção Histórias de Leitura)
76
pensionato do André no Hospício Nacional e com o envio de mesadas para a mãe e as
irmãs.
169
Sílvio também era previdente. Fez uma apólice no valor de 20 contos de réis numa
Seguradora de São Paulo, afim de que sua esposa não ficasse desamparada na sua ausência.
Também fez pensão vitalícia para os filhos menores na Casa Economizadora Paulista.
Inscreveu-se ainda na Associação dos Funcionários Públicos Civis, pagando religiosamente
suas contribuições. Essas contribuições totalizavam 200 mil réis por mês. Por ocasião da sua
morte, a apólice não estava saldada e a família pouco recebeu. Quanto à pensão dos menores
era preciso que os parentes pagassem mais um lustro, para que as crianças recebessem uma
pequena pensão mensal.
170
Diante da necessidade de assegurar melhor cabedal da família, Nelson Romero
vendeu a biblioteca ao governo do Estado de Sergipe. Era política habitual do referido estado
a aquisição das bibliotecas dos seus filhos ilustres. Adquiriu a biblioteca de Gumercindo
Bessa em 1913
171
e de Felisbelo Freire em 1917
172
. Em 1918, quatro anos após a morte de
Sílvio Romero, o Presidente do Estado General Manuel Prisciliano de Oliveira Valadão
encarregou João Menezes, Maurício Graccho Cardoso e Nelson Romero, de catalogarem e
avaliarem o acervo de Sílvio Romero. Feita a avaliação autorizou a abertura de crédito de 14
contos de réis para a sua aquisição. A biblioteca foi incorporada ao acervo da Biblioteca
Pública de Sergipe. O bibliotecário Epifânio Dória recebeu 1717 títulos com 1949 volumes.
763 volumes estavam encadernados e 1186 volumes estavam apenas brochados. Estes
últimos foram encadernados por A. Simões em 1921 e 1922 por 620 mil réis
173
.
169
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p.
111-112.
170
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915, p.
141-144.
171
SERGIPE. Lei n. 633 de 27 de Setembro de 1913. Colleção de Leis e Decretos de 1913. Aracaju: Typ do
Estado de Sergipe, 1913, p. 33.
172
SERGIPE. Lei n. 702 de 15 de Julho de 1916. Colleção de Leis e Decretos de 1916. Aracaju: Imprensa
Official, 1918; SERGIPE. Decreto de 02 de Maio de 1917. Colleção de Leis e Decretos de 1917. Aracaju:
Imprensa Official, 1918.
173
DÓREA, Epifânio da Fonseca. Relatórios dos anos de 1918 e 1919, apresentados ao Exmo. Sr. Dr.
Secretário Geral do Estad,o em 15 de julho de 1919 e 15 de julho de 1920. Rio de Janeiro: Typographia do
Jornal do Commercio, 1920; SERGIPE. Lei nº. 746 de 16 de novembro de 1917. Colleção de Leis e Decretos
de 1917. Aracaju: Imprensa Official, 1918; SERGIPE. Lei 755 de 21 de outubro de 1918. Colleção de Leis e
Secretos de 1919. Aracaju: Imprensa Official, 1919, p. 52; SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia
77
Após a encadernação os livros receberam um carimbo circular com a inscrição
“BIBLIOTHECA SYLVIO ROMÉRO”, tendo no centro a estampa de um livro aberto.
Em seguida, os livros foram incorporados ao acervo geral da instituição sem a
preocupação de preservar a sua unidade. Em 1974, a biblioteca, denominada Biblioteca
Pública Epifânio Dórea, em homenagem ao devotado bibliotecário, foi transferida para novo
prédio e parte do acervo ficou indisponível durante 21 anos. Apenas em 1995, o Secretário
de Estado da Cultura, Luiz Antônio Barreto, incumbiu o diretor do Instituto da Memória e da
Documentação, Jackson da Silva Lima, de reorganizar o acervo da biblioteca esquecido num
depósito infecto. Após oito meses de trabalho, as estantes da instituição foram acrescidas de
Legislativa de Sergipe, pelo Presidente do Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, ao instalar-se a
2ª sessão extraordinária da 13ª legislatura, em 15 de julho de 1918. Aracaju: Imprensa Oficial, 1919;
SERGIPE. Mensagem dirigida à Assembléia legislativa de Sergipe, pelo Presidente do Estado General
Manuel P. de Oliveira Valada,o em 7 de setembro de 1918, ao instalar-se a sessão ordinária da 1
legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1919.
Figura 9 - Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Carimbo da Biblioteca Sílvio Romero. 2005.
Acervo pessoal.
78
cerca de quinze mil títulos, entre eles, um banco de teses médicas e as bibliotecas de
Felisbelo e Laudelino Freire, Gumercindo Bessa e Sílvio Romero
174
.
Inicialmente, a Biblioteca Sílvio Romero foi acondicionada em duas salas, no
segundo andar, com doze estantes de aço com cinco prateleiras cada. Em 2005, foi
transferida do segundo andar para o primeiro e integrada à Documentação Sergipana.
Após a reorganização ela passou a conter 2270 volumes. Ou seja, houve um
acréscimo de 553 livros. Destes, 49 são de autoria de Sílvio ou sobre ele e sua obra. Restam
ainda 504. Segundo o organizador do acervo, as obras originais podem ter sido encadernadas
com obras de procedência diversa e pode ter havido erros no processo de carimbação. Essas
174
Cf. LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju,
Unit, v. 2, n. 4, 1999; NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. Vestígios de um leitor: a biblioteca pedagógica de
Sílvio Romero. In: SIMPÓSIO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22, 2003, João Pessoa. Anais
do XXII Simpósio da Associação Nacional de História. João Pessoa, [s.n.], 2003. 1 CD-ROM.
Figura 10 - Biblioteca de Sílvio Romero
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Biblioteca de Sílvio Romero, 2005.
Acervo Pessoal.
79
dúvidas poderiam ser dirimidas se fosse encontrado o inventário do acervo inicial elaborados
pelos membros da comissão encarregada de adquirir a biblioteca
175
. Porém, isso não impede
o uso da biblioteca pelos pesquisadores. Existem vários vestígios que permitem identificar a
propriedade dos livros. Entre eles estão: o autógrafo de Sílvio Romero, as anotações
deixadas nas margens e as dedicatórias feitas para ele.
A biblioteca é bem diversificada. Não poderia ser diferente o acervo de um polígrafo.
obras de Filosofia, Sociologia, Antropologia, Etnografia, Política, Economia, História,
Geografia, Direito, Literatura, Lingüística, Medicina, Biologia, Psicologia, Religião, Artes,
Educação, entre outras. Sobressaem: Literatura, História, Política, Direito, Filosofia,
Educação, Economia, Sociologia, Biologia, Religião, Medicina e Psicologia. Para efeito de
análise selecionei um conjunto de obras que denominei Biblioteca Pedagógica de Sílvio
Romero (BPSR), composto de 161 obras.
Vestígios materiais como carimbos, selos e inscrições em alto relevo encontrados nos
livros permitem afirmar que ele os comprava em estabelecimentos como: a Livraria Universal
de Laemmert & C., localizada a Rua do Ouvidor, 66, que vendia livros portugueses, franceses,
ingleses e alemães
176
; a Livraria Luso-brasileira de Lopes & C., na Rua da Quitanda, 24, que
vendia livros acadêmicos, religiosos e literários
177
; a Livraria Espanhola, na Rua de 7 de
setembro, 204, que vendia livros em espanhol
178
; na Livraria Clássica de Alves & C., na Rua
Gonçalves Dias, 48
179
; na Livraria H. Garnier, na Rua do Ouvidor, 69
180
; na Livraria F.
175
LIMA, Jackson da Silva. A Biblioteca de Sílvio Romero: descoberta e reativação. Fragmenta. Aracaju, Unit,
v. 2, n. 4, 1999.
176
Conferir selos em: LETOURNEAU, Charles. La biologie. Paris: C. Reinwald & Cie, 1877; SICILIANI,
Pierre. Prolégomènes de la psychogénie moderne. Paris: Germer Baillière et Cie, 1880 ; NORDAU, Max.
Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris: Félix Alcan Editeur, 1897.
177
Verificar selo em: LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie, 1877.
178
Consultar carimbo em: SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral y física. Valencia: F. Sempere Y
Companío Editores, [18--].
179
Conferir inscrição em: GOBINEAU, Le Comte de. Essai sur l' inegalité des races humaines. Paris: Firmin-
Didot et Cie, 1884.
180
Verificar inscrições em: OVERBERG, Bernard. Manuel de pédagogie ou guide de l'instituteur. Liége: L.
Grandmont-Donders Librairie, 1859; e ROD, Édouard. Les idées morales du temps présent. Paris: Perrin et
Cie Librairies-Editeurs, 1892.
80
Briguiet & C., na Rua do Ouvidor, 69
181
; a Livraria Internacional P. Lachaud, na Rua Nova
do Ouvidor, 18 e 20
182
; na Livraria Acadêmica de João Martins Ribeiro, na Rua Uruguaiana,
3 (próximo ao Largo da Carioca), que vendia livros acadêmicos de Medicina, Direito,
Literatura, Educação, atlas e mapas geográficos
183
; na Livraria A. L. Garraux & C., em São
Paulo
184
; na Livraria Econômica de Tolentino Álvares e Irmão, na Rua Formosa, 53, Bahia,
que comercializava livros de direito, medicina, religião, educação, literatura, etc
185
; na
Livraria Franceza, na Rua do Crespo, 9, Pernambuco
186
, no Centro Bibliográfico, na Rua
Gonçalves Dias, 41, sebo que comprava e vendia livros raros, bibliotecas particulares e
livrarias em falência e servia de intermédio com livrarias das províncias e do estrangeiro
187
.
Os livros eram comprados ora em brochura, ora em encadernação simples, ora em
encadernação de luxo. Os nacionais geralmente eram adquiridos em brochura ou
encadernação simples e os estrangeiros em encadernação de luxo. No entanto, as inscrições
em alto relevo em algumas dessas obras revelam que eles eram importados em brochura e
encadernados no Brasil, pois as tarifas para a importação de livros eram muito altas para os
formatos mais imponentes
188
.
Sílvio também ganhava muitos livros. Eles estão repletos de dedicatórias dos autores
ou de amigos. Entre aqueles que o presentearam figuram: Augusto Franco, Antônio Sérgio,
Arnaldo Quintella, Artur Orlando, Carlos Torres, Carneiro Leão, Clóvis Beviláqua, Dias
Martins, Edmundo Lins, Ennes de Souza, H. Castriciano, Ernesto Nascimento, Manuel
181
Consultar inscrição em: ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'education et la société. Paris: Firmin-
Didot et Cie, . [18--].
182
Conferir selo em: HUXLEY, Th. H. La place de l'homme dans la nature. Paris: J. B. Baillière, 1891.
183
Verificar selo em: KANT, I. Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1836. V. I.
184
Consultar carimbo em: MONTE, J. B. François Bourbon Del. L'homme et les animaux: essai de
psychologie positive. Paris: Librairie Germer Baillière et Cie., 1877.
185
Conferir selo em: SPENCER, Herbert. Essais de moral de science et d'esthéthique: essai sur le progrès
Paris: Germer Baillière, 1879. V. 1.
186
Verificar selo em: FERTIAULT, Julie. Entre deux jeunes mères: dialogues sur l’éducation. Paris: Librairie
Académique Didier et Cie., 1882.
187
Conferir selo em: RIBOT, Th. Psychologie de l'attention. Paris: Félix Alcan, 1889.
188
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São
Paulo, 1985.
81
Soriano Albuquerque, Maurício Medeiros, Oscar Nerval Gouvêa, Paulo Tavares, Phaelante da
Câmara, Reis Carvalho e Virgílio de Lemos.
189
As cartas que trocou com Artur Guimarães,
Almáquio Diniz e Artur Orlando também informam sobre a doação de livros
190
189
Conferir dedicatórias em: FRANCO, Augusto. Uma arguição. [S. d. t.]; LEÃO, Carneiro. Educação.
Conferência produzida no salão nobre do Gymnasio S. Bento em São Paulo por occasião do Congresso
Brasileiro de Estudantes. Recife: Imprensa Industrial, [S.d.]; SPENCER, Herbert. Problèmes de morale et
sociologie. Paris: Guillaumin et Cie, [S. d.]; RIBOT, Th. La psychologie allemande contemporaine: école
experimentale. Paris lix Alcan, 1885; SOUZA, A. Ennes de & SAMPAIO, A. J. de. Reforma da Escola
Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Typ. Central de Evaristo Costa, 1888; LEMOS, Virgílio de.
Discurso de posse sobre o ensino secundário pronunciado em sessão solene da Congregação do Ginásio da
Bahia em 16 de outubro de 1902. Bahia: Typographia e Encadernação do Diário da Bahia, 1902; CAMARA,
Phaleante da. Memória Histórica da Faculdade de Direito de Recife ano de 1903. Recife: Imprensa
Industrial, 1904; SILVEIRA, Álvaro da & MASSENA, João. A morte do major ou enumeração das asneiras
de um fiscal de ensino publico em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1904;
ALBUQUERQUE, Manuel Soriano de. Memória histórica do ano de 1905. Faculdade de Direito do Ceará.
Fortaleza: Typo-Lytographia A Vapor, 1906; MARTINS, Dias. Necessidade de ensino da higiene rural. São
Paulo: Typographia Brazil de Rothschild & C., 1907; MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de
doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie Editeur, 1907; ORLANDO, Artur. Reforma do ensino. Discurso
pronunciado na Camara Federal. Rio de Janeiro: Typ. Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1907; GOUVÊA,
Oscar Nerval de. Discurso proferido por ocasião da colação do grau dos bacharéis em ciências e letras do
Colégio Anchieta em 12 de dezembro de 1907. Rio de Janeiro: Officinas Graphicas do Jornal do Brasil, 1908;
MARTINS, Dias. Abc do Agricultor. São Paulo: Duprat & C., 1908; TAVARES, Paulo. Questões de ensino.
Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908; CARVALHO, Reis. A questão do ensino. Bases de uma reforma de
instrução pública no Brasil. Rio de Janeiro: Typ. do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1910; JAMES,
William. Philosophie de l'expérience. Paris: Ernest Flamarion Éditeur, 1910; CASTRICIANO, H. Educação
da mulher. Conferência realizada no dia 23 de julho de 1911. Natal: Typographia do Instituto, 1911; LINS,
Edmundo. Discurso pronunciado na colação de grau aos bacharelandos de 1911 da Faculdade Livre de
Direito do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas, 1912; JAMES,
William. L'idée de verité. Paris Librairie Félix Alcan, 1913; QUINTELLA, Arnaldo. Lição inaugural do curso
de clínica obstétrica. Rio de Janeiro Typ. Lith. de Pimenta de Mello, 1913; SERGIO, Antônio. Da natureza, da
afecção: ensaios de psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1913.
190
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 31 de janeiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 242; ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, sem
data. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 247-248;
ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de 20 de fevereiro de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: JoOlympio, 1944, p. 244-245; ROMERO, Sílvio. Carta a Almáquio Diniz, de
12 de agosto de 1911. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944,
p. 245;. ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de outubro de 1891. In: CHACON, Vamireh. Da Escola
do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 279; ROMERO,
Sílvio. Carta a Artur Orlando, de de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao
Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 282-283; ROMERO, Sílvio. Carta a
Artur Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur
Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 287-288; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de
24 de fevereiro de 1900. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua
geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 288-289; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de maio de
1905. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de
Janeiro: Simões, 1969, p. 299; ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de setembro de 1911. CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao digo Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p.
312.
82
Ele também tomava livros emprestados. Há no seu acervo textos com a assinatura de
Joviniano Romero, seu irmão. Os textos emprestados do irmão médico versavam sobre
Biologia e Psicologia, áreas que conhecia em virtude da profissão
191
.
Os trabalhos mais antigos que integram a Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
foram publicados em 1835 e 1836.
192
Os mais recentes datam de 1914, ano da sua morte.
193
É
difícil precisar o momento em que Sílvio adquiriu ou leu cada obra porque não costumava
datá-las. foi possível identificar a data de aquisição de algumas obras que ganhou porque
as pessoas que as ofereceram registraram essa informação.
194
Essas foram adquiridas entre
1894 e 1914. Mas essa é uma amostra muito pequena que não pode ser generalizada. Talvez
seja mais seguro avaliar a partir da análise do ano de edição o período em que seu interesse
pela educação se intensificou.
191
Entre os livros que tomou emprestado do irmão estão: RIBOT, Th. L'hérédité: étude psychologique sur ses
phénoménes, ses lois, ses causes, ses conséquences. Paris: Librairie Philosophique de Ládrange, 1873; BAIN,
Alexandre. Les senses et l'intelligence. Paris: Germer Baillière, 1874; SPENCER, Herbert. Principes de
Psychologie. Paris: Germer Bailliére, 1875 ; HUXLEY, Th. H. Les problèmes de la biologie. Paris: J. B.
Baillière et fils, 1892.
192
KANT, Immanuel. Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1835. V. 1; KANT, Immanuel.
Critique de la raison pure. Paris: Librairie de Ladrance, 1836. V. 2.
193
BARD, Harry Erwin. Relação intelectuais e morais entre os Estados Unidos e as outras republicas da
America. Washington: Endowment, 1914; FACULDADE de Direito Teixeira de Freitas. Estatutos da
Faculdade de Direito Teixeira de Freitas. [S. l.]: [S.n.], 1914; PÉREZ, Abel J. Memoria correspondente a
los anõs 1911 a 1914, inclusives presentada a la Dirección General de Instrucción Primária y al Ministero
de Instrucción Publica. Montevidéu: Talleres Graficos A. Barreiro y Ramos, 1914; REPÚBLICA Oriental del
Uruguay. La Instrucción Pública Primária em la Republica Oriental del Urugay. Montevidéu: Talleres
Graficos A. Barreiro y Ramos, 1914; SENNA, Nelson de. Legislação de terras: programa da quinta cadeira do
terceiro ano do curso geral da Escola de Engenharia. Belo Horizonte: Typ. Commercial, 1914.
194
FRANCO, Augusto. Uma arguição. [S.d.t.]; LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald &
Cie., 1877 ; MONTE, J. B. François Bourbon del. L'homme et les animaux: essai de psychologie positive.
Paris: Librairie Germer Bailliére et Cie., 1877; SILVEIRA, Álvaro da & MASSENA, João. A morte do major
ou enumeração das asneiras de um fiscal de ensino publico em Minas. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do
Estado de Minas Gerais, 1904; JAMES, William. L’idée de vérité. Paris: Félix Alcan, 1913; CASTRICIANO, H.
Educação da mulher. Natal: Typographia do Instituto, 1911; ALBUQUERQUE, Manuel Soriano de. Memória
histórica do ano de 1905. Faculdade de Direito do Ceará. Fortaleza: Typo-Lytographia A Vapor, 1906;
MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie Editeur,
1907; CARVALHO, Reis. A questão do ensino. Bases de uma reforma de instrução pública no Brasil. Rio de
Janeiro: Typ. do Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1910; JAMES, William. Philosophie de l’expérience.
Paris: Ernest Flammarion, 1910; BAYON, Francisco Félix. Enseñanza secundario y normal: bases. Buenos
Aires: Compañia Su-Americana de billetes de banco, 1911; QUINTELLA, Arnaldo. Lição inaugural do curso
de clínica obstétrica. Rio de Janeiro: Typ. Lith. De Pimenta de Mello, 1913.
83
Conforme podemos inferir do gráfico acima, uma concentração de textos
publicados entre 1897 e 1914, o que leva a crer que no final da vida o seu interesse pelo tema
aumentou. Essa inferência é reiterada pela afirmação, feita em 1883 de que sua “leitura
pedagógica não é, infelizmente, muito vasta”
195
. Arrisco a hipótese de que, no último lustro
do dezenove, o seu desencanto diante da forma como a imigração vinha sendo conduzida
pelos governantes levou-o a defender, além do branqueamento, a educação como solução para
os problemas brasileiros
196
. Também foi a partir desse momento que ele escreveu mais artigos
sobre o assunto. Em 1908, na obra Questões de ensino de Paulo Tavares, anotou na folha de
guarda os textos que pretendia redigir, entre eles figurava “artigo e brochura sobre ensino”
197
.
A BPSR é composta de anais, aulas, conferências, discursos, estatutos, leis, listas,
manuais didáticos, programas, projetos, recursos, reformas, regulamentos, relatórios e
tratados científicos.
195
Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In : _______. Ensaios de sociologia e literatura. Paris:
Garnier, 1901, p. 111.
196
Cf. ROMERO, Sílvio. O alemanismo no sul do Brasil: seus perigos e meios de os conjurar. Rio de Janeiro:
Heitor Ribeiro, 1906.
197
TAVARES, Paulo. Questões de ensino. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1908.
GRÁFICO 1
ANO DA EDIÇÃO DAS OBRAS DA BPSR
11
5
5
5
1
3
7
6
4
5
3
3
2
6
2
3
2
1
2
22
1
2
2
3
3
3
1
2
2
2
8
4
1
1
1
2
2
1
11
3
3
44 4
4
88
0
2
4
6
8
10
12
[S.d.]
1835
1836
1853
1854
1859
1868
1869
1873
1874
1875
1876
1877
1879
1880
1881
1882
1883
1884
1885
1886
1887
1888
1889
1890
1891
1892
1893
1894
1895
1896
1897
1898
1899
1900
1901
1902
1903
1904
1905
1906
1907
1908
1909
1910
1911
1912
1913
1914
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero.
84
Apesar da existência de textos de origem técnica predominam os de caráter científico:
tratados (57%), discursos (11%), manuais didáticos (6%) e conferências (4%). Essa
proeminência de obras científicas atesta o perfil de homem de sciencia do intelectual
sergipano. Para travar polêmicas no campo intelectual precisava atualizar-se, conhecer as
novidades do campo.
Os textos da BPSR não são exclusivamente sobre a Educação, mas também de
campos que o auxiliaram a pensar o tema, tais como: a Filosofia, a Sociologia, a
Antropologia, a Biologia e a Psicologia.
GRÁFICO 2
TIPOLOGIA DAS OBRAS DA BPSR
1%1%
4%
11%
2%
2%
1%
6%
2%
1%
1%
3%
2%
6%
57%
Anais Aulas Conferências Discursos
Estatutos Leis Listas Manuais diticos
Programas Projetos Recursos Reformas
Regulamentos Relatórios Tratados
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
85
A Pedagogia sempre teve a Filosofia como companheira. Durante muito tempo,
apoiou-se apenas nela para refletir sobre a educação. Mas no século dezenove, considerado o
Século das Ciências, diversos ramos do conhecimento no afã de alcançarem o estatuto de
Ciência, único saber considerado válido, adotaram o modelo de cientificidade das Ciências
Naturais. A Pedagogia não ficou alheia a esse processo. Ela afastou-se da Filosofia, sem
eliminá-la, e aproximou-se de ciências como a Psicologia, a Biologia e a Sociologia, com o
intuito de adquirir um estatuto científico e de se consolidar enquanto um dos saberes-chaves
da modernidade. A pouca expressividade da Filosofia em relação a Ciências como a Biologia,
a Psicologia, a Antropologia e a Sociologia, no interior da BPSR, reflete esse deslocamento
epistemológico que ocorreu na virada do século dezenove para o vinte.
198
Sílvio como homem
de sciencia não poderia abster-se da tarefa de abordar os problemas pedagógicos de um ponto
de vista científico. Reitera essa hipótese o fato de Sílvio ter demonstrado um especial
interesse por assuntos relativos a essas Ciências, pois esses textos constituem uma parte
considerável das obras nas quais deixou marginálias. Das 39 obras com anotações de leitura, 8
versam sobre Psicologia e 7 sobre Biologia
199
.
198
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 21-24; 498-502.
199
Entre as obras anotadas de Psicologia estão: FRANÇA, Eduardo Ferreira. Investigações de Psicologia.
Bahia: Typographia de E. Pedroza, 1854; NORDAU, Max. Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris:
Félix Alcan Editeur, 1897; RIBOT, Th. Psychologie anglaise. Paris: [S.n.], 1875; SPENCER, Herbert.
Principes de Psychologie. Paris: Germer Bailliére, 1875;RIBOT, Th. Psychologie de l'attention. Paris: Félix
Alcan, 1889; TAINE, H. De l'intelligence. Paris: Librairie Hachette et Cie., 1897 ; LE BON, Gustave. Lois
GRÁFICO 3
ÁREAS DO CONHECIMENTO DA BPSR
1%
9%
57%
8%
16%
9%
Antropologia Biologia Educação
Filosofia Psicologia Sociologia
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
86
Os textos da área da Educação versam sobre: Avaliação, Disciplinas escolares,
Educação comparada, Educação feminina, Educação infantil, Educação moral, Ensino
agrícola, Ensino normal, Ensino profissional, Ensino público, Ensino secundário, Ensino
superior, História da Educação, Intelectual da Educação, Leitura, Liberdade de ensino,
Manuais escolares, Método de ensino e Reforma de instrução pública. No gráfico a seguir é
possível observar a incidência desses temas:
psychologiques de l'evolution des peuples. Paris: Félix Alcan, 1898; BOURGET, Paul. Essais de psychologie
contemporaine. Paris: Alphonse Lemmerre Editeurs, 1883; LE BON, Gustave. Psychologie de l'education.
Paris: Ernest Flamarion Editeur, 1902. (Bibliothèque de Philosophie Sientifique).
Entre as obras anotadas de Biologia: HAECKEL, Ernest. Origine de l'home. Paris: C. Reinwald & Cie., [S.d.].
(Bibliothèque de Sciences Contemporaines); HUXLEY, Th. H. Leçons de physiologie élementaire. Paris: C.
Reinwald Librairie Editeur, 1869;HARTMANN, Eduard. Le darvinisme ce qu'il y a de vrai et de faux dans
cette théorie. Paris: Germer Baillière et Cie., 1877; LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald
& Cie. 1877;. PARISE, J. H. Réveillé. Physiologie et hygiène des hommes livrés aux travaux de l'espirit ou
recherches. Paris: Librairie J. B. Bailliére et fils., 1881; GOBINEAU, Le Comte de. Essai sur l' inegalité des
races humaines. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1884; HUXLEY, Th. H. Les problèmes de la biologie. Paris: J. B.
Baillière et fils, 1892.
87
Os temas Ensino Superior (24%), Ensino Secundário (13%), História da Educação
(9%) e Ensino Público (8%) se destacam. A proeminência deles não significa coincidência,
pois estão no centro das preocupações dos artigos que escreveu sobre a educação.
Vejamos os temas das demais áreas. Os textos da Antropologia focalizam:
Antropssociologia (1) e Racismo (1); os da Biologia estudam: Biologia Geral (3), Fisiologia
(3), Lamarckismo e Darwinismo (2), Evolução (2), Racismo (2), Monismo (1) e
Hereditariedade (1); os da Psicologia abordam: Psicologia Geral (10), Psicologia
Contemporânea (3), Metodologia (1), Psicologia Comparada (1), Hereditariedade (1),
Psicologia Política (1); os da Filosofia versam sobre: Evolução (4), Criticismo (2),
Pragmatismo (2), Epistemologia (2), Monismo (1), Filosofia Geral (1); e os da Sociologia:
Sociologia Geral (2), Evolução (2), Moral (2), Liberalismo (2) e Sociologia Histórica (1).
GRÁFICO 4
ASSUNTOS DA ÁREA DA EDUCAÇÃO
2%
5%
2%
2%
4%
2%
5%
2%
2%
8%
13%
24%
9%
2%
2%
1%
6%
1%
6%
Avaliação Disciplinas escolares Educão comparada
Educão feminina Educação infantil Educão moral
Ensino agcola Ensino normal Ensino profissional
Ensino público Ensino secundário Ensino superior
História da educão Intelectual da educação Leitura
Liberdade de ensino Manuais escolares Método de ensino
Reforma de instrução pública
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
88
Mais uma vez a escolha dos assuntos coincidiu com a importância que eles possuíam
em sua obra. Muitos deles são incontornáveis no seu pensamento social e pedagógico.
Os textos que compõem a sua biblioteca foram redigidos por autores de diversas
nacionalidades: alemã, argentina, belga, brasileira, canadense, cubana, escocesa, francesa,
húngara, inglesa, norte-americana, portuguesa, suíça e uruguaia. Predominaram os autores
brasileiros (47%), franceses (21%), ingleses (12%) e alemães (7%).
Figuram na sua biblioteca autores reconhecidos nacional e internacionalmente. Entre
os autores estrangeiros destacam-se: Herbert Spencer, Gustave Le Bon, Theodule Ribot,
Thomas Huxley, Alexander Bain, Henri Bergson, William James, Ernest Lavisse, Eduard
Hartmann, Immanuel Kant, Vacher de Lapouge, Conde de Gobineau, Hippolite Taine,
Wilhelm Wundt, Edmond Demolins, Paul Rousiers, Henri de Tourville, etc.
Os autores estrangeiros foram professores das seguintes escolas superiores:
Universidade de Aberdeen, Colégio da França, Universidade de Lyon, Universidade de Téne,
Escola Real de Minas da Inglaterra, Universidade de Harvard, Universidade de Montpelier,
GRÁFICO 5
NACIONALIDADE DOS AUTORES
7%
1%
1%
47%
21%
1%
1%
2%
2%1%
1%
12%
1%
1%
1%
Alemã Argentina Belga Brasileira
Canadense Cubana Escocesa Francesa
Húngara Inglesa Italiana Norte-americana
Portuguesa Suiça Uruguaia
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
89
Universidade Sorbonne, Universidade de Gênova, Universidade de Bolonha, Escola Nacional
de Chartes, Universidade de Nancy, Universidade de Bordeaux, Escola Normal Superior,
Universidade de Paris, Escola Normal de Munster, Escola de Altos Estudos, Universidade de
Zurique, Universidade de Heidelberg e Universidade de Leipzig. Eram também membros de
associações científicas como a Sociedade Real de Londres, Sociedade Asiática de Paris,
Instituto da França, Sociedade de Medicina Prática de Paris, Academia de Paris, Sociedade
de Psicologia de Paris e Academias de Ciências e Sociedades Médicas de Bruxelas, Tolouse e
Constantinopla. também diretores da Revista Filosófica, editada em Paris e funcionários
da Biblioteca Nacional da França.
Entre os autores brasileiros encontram-se: Ruy Barbosa, Manuel Bomfim, Abílio
César Borges, Phaelante da Câmara, Felisberto de Carvalho, Lima Drummond, Carneiro
Leão, Edmundo Lins, Dias Martins, Maurício de Menezes, Artur Orlando, Nelson de Senna,
Paulo Tavares, entre outros.
Os autores nacionais foram professores de escolas superiores como a Faculdade de
Medicina da Bahia, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a Faculdade de Direito do
Recife, a Faculdade Livre de Ciências Jurídicas do Rio de Janeiro, a Faculdade Livre de
Direito de Minas Gerais, a Faculdade Livre de Direito da Bahia, a Escola Politécnica do Rio
de Janeiro, a Escola Naval, a Escola Superior de Agricultura do Estado de São Paulo e a
Escola de Agricultura de Piracicaba. Alguns pertenceram a sociedades como a Academia
Mineira de Letras, o Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, o Colégio de Advogados
de Lima, a Sociedade de Psicologia de Paris, a Sociedade Suíça de Ciências Naturais, a
Sociedade de Química de Zurich e a Sociedade Alemã de Química. Entre os autores, também
havia ministros e reformadores da instrução, presidentes de províncias, diretores do Hospício
Nacional e do Serviço de Inspeção e Defesa Agrícolas do Ministério da Agricultura
200
.
Eles nem sempre publicaram os textos nas línguas maternas. Apesar de haver autores
de países de língua italiana, por exemplo, na BPSR figuram apenas textos em alemão,
espanhol, francês, inglês, português e alemão. O gráfico a seguir demonstra a porcentagem
que coube a cada uma dessas línguas:
200
Um dos objetivos da pesquisa foi analisar os dispositivos empregados pelos autores para obter a leitura que
desejavam, mas considerando que seria uma tarefa penosa avaliar o as intenções de tantos e tão variados autores,
essa análise foi desenvolvida no capítulo terceiro com os autores selecionados.
90
Percebe-se o predomínio do português (51%), seguido do francês (42%). O idioma não
estava vinculado à nacionalidade do autor, pois existem muitas traduções. Os textos do inglês
Herbert Spencer, por exemplo, foram traduzidos para o francês e para o espanhol
201
. Os livros
do norte-americano William James também foram vertidos para o francês
202
. O idioma quase
sempre foi determinado pela nacionalidade das editoras e tipografias nas quais os textos foram
publicados. As exceções foram: um texto editado nos Estados Unidos em português
203
, um
em Paris em português
204
e um na Alemanha em inglês
205
.
201
SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral e física. Valencia: F. Sempere, [18--]; SPENCER,
Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.
202
JAMES, William. Philosophie de l’expérience. Paris: Ernest Flammarion; JAMES, William. 1913. L’idée
de vérité. Paris: Félix Alcan, 1910.
203
BARD, Harry Erwin. Relação intelectuais e morais entre os Estados Unidos e as outras republicas da
America. Washington: Endowment, 1914.
204
MEDEIROS, Maurício. Métodos em Psicologia. These de doutoramento. Paris: Ollier-Henry Librairie
Editeur, 1907.
205
WUNDT, Wilhelm. Outlines of psychology. Leipzig: Wilhelm Engelmann, 1897.
GRÁFICO 7
IDIOMAS DA BPSR
2%
4%
42%
1%
51%
Alemão
Espanhol
Francês
Inglês
Português
GRÁFICO 6
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
91
Os impressos da BPSR foram publicados por editoras e tipografias nacionais (78) e
estrangeiras (83). Esses índices demonstram a importância da contribuição do mercado
editorial brasileiro na segunda metade do século XIX, contrariando a visão de que o país era
abastecido principalmente por editoras estrangeiras
206
.
No Brasil, foram responsáveis pela edição da BPSR os estados da Bahia, Ceará, Minas
Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Norte.
Dentre estes, destacou-se o Rio de Janeiro com 65% da produção. Tais dados
autorizam a afirmação de que esse estado foi o principal centro editorial no dezenove, antes
da emergência da indústria editorial paulista no século seguinte.
207
206
Cf. HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São
Paulo, 1985; MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e práticas culturais em tempos de
República, São Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo, 2001.
207
MARTINS, Ana Luiza. Revistas em revista. Imprensa e práticas culturais em tempos de República, São
Paulo (1890-1922). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo/ Fapesp/ Imprensa Oficial do Estado de
São Paulo, 2001, p. 133.
GRÁFICO 7
DISTRIBUIÇÃO DE TIPOGRAFIAS E EDITORAS NACIONAIS POR ESTADOS
BRASILEIROS
5%
5%
6%
1%
3%
1%
4%
65%
1%
9%
[S. l.]
Bahia
Minas Gerais
Paraná
Ceará
Rio Grande do Norte
Pernambuco
Rio de Janeiro
Rio Grande do Sul
São Paulo
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
92
No quadro abaixo é possível avaliar quais as editoras e tipografias que mais
sobressaíram:
QUADRO 1 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS NACIONAIS
RIO GRANDE DO SUL
EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Editora não identificada -. São Leopoldo 1
PARANÁ
EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Editora não identificada -. Curitiba 1
RIO DE JANEIRO
EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Companhia Impressora Rua Nova do Ouvidor, 9. Rio de Janeiro 1
Escola Typographica Salesiana - Niterói 1
H. Lombaerts & C. Rua dos Ourives, 7 Rio de Janeiro 1
Imprensa Industrial Rua Sete de Setembro, 142 Rio de Janeiro 1
Imprensa Nacional/ Tipographia Nacional - Rio de Janeiro 15
Instituto de Artes graphicas Cattaneo &
Borseti
Rua Sete de Setembro, 142 Rio de Janeiro 1
Livraria Clássica de Alves & C Rua Gonçalves Dias, 46
Rua da Quitanda, 5
Rio de Janeiro 1
Livraria Francisco Alves Rua do Ouvidor, 166 Rio de Janeiro 1
M. Orosco & C. Rua da Quitanda, 138 Rio de Janeiro 1
Officinas Graphicas do Jornal do Brasil Rua Gonçalves Dias, 51 Rio de Janeiro 2
Typographia Aldina Rua da Assembléa, 96 Rio de Janeiro 1
Typographia Besnard Frères Rua do Hospício, 130 Rio de Janeiro 1
Typographia Central de Evaristo Costa Travessa do Ouvidor, 7 Rio de Janeiro 2
Typographia de Hildebrandt Rua Ourives, 8 Rio de Janeiro 2
Typographia do Instituto Profissional Boulevard 28 de setembro, 33 Rio de Janeiro 2
Typographia Jornal do Comércio de
Rodrigues & C.
Rua Ourives, 8 Rio de Janeiro 8
Typographia Leuzinger Rua do Ouvidor, 31 e 36 Rio de Janeiro 2
Typographia-Lithographia de Pimenta de
Mello
Rua Sachet, 34 Rio de Janeiro 1
Typographia e Papelaria Ribeiro Rua do Ouvidor, 72 Rio de Janeiro 1
SÃO PAULO
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Duprat & C. Rua Direita, 26 São Paulo 2
Typographia A Vapor Carlos Gerke - São Paulo 1
Typographia Brazil de Rothschild & C. Rua 15 de Novembro, 30A São Paulo 2
Typographia Espíndola Siqueira & C. Rua Direita, 10A
São Paulo 2
93
QUADRO 1 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS NACIONAIS
MINAS GERAIS
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Imprensa Oficial do Estado de Minas - Belo Horizonte 3
Typographia Brazil - Juiz de Fora 1
Typographia Commercial - Belo Horizonte 1
BAHIA
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Typographia e Encardenação do Diário da
Bahia
Praça Castro Alves, 101 Salvador 2
Typographia de E. Pedroza Rua dos Capitães, n 40 Salvador 2
PERNAMBUCO
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Imprensa Industrial Rua Visconde de Itaparica, 49 e
51
Recife 2
Typographia do Jornal do Recife Rua 15 de Novembro, 47 Recife 1
RIO GRANDE DO NORTE
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Typographia do Instituto - Natal 1
CEARÁ
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E
LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Typo-Lithographia A Vapor Rua Formosa, 68 Fortaleza 2
Predominaram a Tipografia Nacional/ Imprensa Nacional, do Rio de Janeiro, com 15
textos editados e a Tipografia do Jornal do Commercio de Rodrigues & C. com 8. A
Tipografia Nacional foi instalada em 1808, com a vinda da corte portuguesa para o país, e até
1822 teve o monopólio da impressão. Além de imprimir textos oficiais ela imprimia para
diversas livrarias da cidade. Em 1889, com a Proclamação da República passou a ser
designada Imprensa Nacional
208
. A Tipografia do Jornal do Commercio foi fundada em 1827
por Plancher. Foi adquirida em 1832 por Villeneuve e continuou nesta família a 1890
quando passou para a propriedade de José Carlos Rodrigues e passou a utilizar a marca
208
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São
Paulo, 1985. p. 34-49.
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
94
Tipografia do Jornal do Comércio de Rodrigues & C. Geralmente, os textos impressos por
essa tipografia eram pagos pelos próprios autores
209
.
No estrangeiro, foram responsáveis pela edição desses impressos: Alemanha,
Argentina, Cuba, Espanha, Estados Unidos, França, Portugal, Suíça e Uruguai.
A partir do gráfico acima nota-se que houve um predomínio absoluto da indústria
editorial francesa. Essa preponderância da França não é surpreendente, pois é consenso na
bibliografia sobre o assunto. Mas um outro dado acerca da edição francesa que causa
espanto. Quando pensamos em editores franceses do dezenove, lembramos de Garnier,
Laemmert ou Hachette. Mas no caso dos impressos pedagógicos de Sílvio, essa expectativa
não se confirmou. Confira no quadro a seguir:
QUADRO 2 - EDITORAS E TIPOGRAFIAS ESTRANGEIRAS
FRANÇA
EDITORAS E TIPOGRAFIAS ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Albert Fontimoing Éditeur
(Anciennne Librairie Thorin et fils)
Rue Le Goff, 4 Paris 1
209
HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz/ Editora da Universidade de São
Paulo, 1985, p. 77.
GRÁFICO 8
DISTRIBUIÇÃO DAS EDITORAS ESTRANGEIRAS POR PAÍS
7%
1%
2%
1%
1%
82%
2%
1%
1%
2%
Alemanha
Bélgica
Argentina
Cuba
Suiça
França
Uruguai
Portugal
Espanha
Estados Unidos
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
95
Alphonse Lemmerre Éditeurs Panage Choiseul, 27-31 Paris 1
Armand Colin et Cie. Rue de Mézieres, 5 Paris 2
C. Reinwald Librairie Éditeur
C. Reinwald & Cie.
Librairie C. Reinwald Schleicher Fréres &
Cte. Editeurs
Rue des Saints-Péres, 45
Rue des Saints-Péres, 61
Paris 4
Ernest Flamarion Éditeur Rue Racine, 26 Prés l'Odeon Paris 5
Felix Alcan Éditeur
(Ancienne Librarie Germer Baillière et Cie.)
Boulevard Saint-Germain, 108 Paris 12
Firmin-Didot et Cie. Imprimeurs-Éditeurs Rue Jacob, 56 Paris 6
Fischbacher Paris 1
Germer Baillière
Germer Baillière et Cie
J. B. Baillière
J. B. Bailliére et fils
Rue de l' École de Médicine, 17
Place de L'Odeon
Boulevard Saint-Germain, 108
Paris 19
Guillaumin et Cie Rue Richelieu, 4 Paris 4
J. Rothschild Éditeur Rue des Saints-Péres, 13 Paris 1
Librairie Académique Didier et Cie. Quai des grands -augustins, 35 Paris 1
Librairie Grandmont-Donders Librairie Rue Vinave-d’ile, 20-605 Liège 1
Librairie Hachette et Cie. Boulevard Saint-Germain, 79 Paris 1
Librairie de Ladrance Quai des Augustins, 19 Paris 2
Librairie Philosophique de Ládrange Rue Saint-André-des-Arts, 41 Paris 1
Maison Quantin Compagnie Générale
d'impression et d' édition
Rue Saint- Benoit, 7 Paris 1
Marcel Rivière - Paris 1
Ollier-Henry Librairie Éditeur Rue Casimir -Delavigne, 8 Paris 1
Perrin et Cie Librairies-Éditeurs Quai des Grandes-Augustins, 35 Paris 1
PORTUGAL
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Chardron de Lello & Irmão Editores - Porto 2
ESPANHA
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
F. Sempere Y Companío Editores Calle del Palomar Valência
1
ALEMANHA
EDITORAS, TIPOGRAFIAS E LIVRARIAS
ENDEREÇO CIDADE QUANTI
DADE
Bernhard Tauchnitz - Leipzig 1
B. G. Leubner - Leipzig 1
Breisgan Herderfche Berlagshandlung Freiburg 1
Ferdinand Breslau 1
Wilhelm Engelmann - Leipzig 1
SUIÇA
Georges Bridel Éditeur Lausanne 1
ESTADOS UNIDOS
Endowment - Washington 1
ARGENTINA
Compañia Sul-Americana de billetes de Calle Chile, 263 y Calle Buenos Aires 1
96
banco Cangallo, 559
URUGUAI
Talleres Graficos A. Barreiro y Ramos Calle Bartolome Mitre, 1467 Montevidéu 2
CUBA
Manoel Ruiz S. Enca. Imprenta Y Papelerie Havana 1
Nota-se que as editoras francesas com maior número de edições foram a Germer
Bailliére e a Félix Alcan, ambas de Paris. A primeira editou 19 textos e a segunda 12. È
importante lembrar que nos livros da Félix Alcan aparece a informação de que se tratava da
Ancienne Librairie Germer Baillière et Cie. Então podemos afirmar que a Germer Baillière/
Félix Alcan foi responsável pela publicação de 21 textos da referida biblioteca, que
corresponde a 33% das edições estrangeiras.
A Germer Baillière foi fundada em 1863 por Gustave Germer Baillière. A casa
editorial era dirigida por Félix Alcan que, depois de algum tempo, tornou-se sócio de
Baillière. Funcionava na Rue de L’Ecole de Medecine, 17. Com o falecimento de Gustave
Germer Baillière o empreendimento passou para os cuidados de J. B. Baillière. Além de novo
dono, a editora ganhou novo endereço, passou a funcionar na Rue Hautefeuille, n º19. Em
1882, o herdeiro vendeu a editora para Félix Alcan, que deu seu nome ao estabelecimento. A
casa editorial passou a funcionar no Boulevard Saint-Germain, nº 175, endereço das principais
editoras francesas - Hachette e Garnier. Uma das características da Germer Baillière/ Félix
Alcan era a edição de obras científicas. Publicava revistas como Revue des cours littéraires,
Revue des cours scientifiques, Revue philosophique e Revue historique e coleções como
Bibliotheque Scientifique Contemporaine, Bibliotheque d'Histoire Contemporaine,
Bibliotheque de Philosophie e Contemporaine, Bibliotheque Scientifique Internationale
210
.
Uma das missões da Germer Baillière/ Félix Alcan era atender a sede de ciência dos leitores
franceses e estrangeiros.
Conforme Chartier, para fazer uma História dos Impressos é preciso mais do que
traçar um perfil dos impressos, mas analisar a materialidade dos textos. Para ele, o texto não
existe em si mesmo, independente de qualquer materialidade, não texto fora do suporte no
210
TESNIÈRE, Valérie. Le Quadrige: un siècle d’édition universitaire (1860-1968). Disponivel em: <http://h-
france.net/vol3reviews/keating.html>. Acesso em: 28/08/2005.
Fonte: Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero
97
qual ele está inscrito, o compreensão de um texto que não dependa das formas nas quais
ele chega ao leitor. Cada suporte, cada forma, cada estrutura da transmissão da escrita
interferem na construção do sentido.
Ao longo da história os textos tiveram vários suportes: o rolo, o códice e a tela.
Chartier defende que ao mudar o suporte do texto o entendimento também é modificado. Por
essa razão ao estudar o impresso é preciso estar atento às particularidades do seu suporte. Eles
estão inscritos em códices, objetos compostos de folhas dobradas certo número de vezes, o
que determina o formato do livro, da revista ou do jornal. O uso do códice permite uma maior
aproximação entre o leitor e o texto. Ele pode colocá-lo diante de si sobre uma mesa, virar
suas páginas ou então segurá-lo quando o formato é menor e cabe nas suas mãos.
211
Os impressos assumem também diversas formas. Na sua construção os produtores
lançam mão de diversos dispositivos formais para definir o público que irá consumi-lo e
garantir uma determinada leitura. Por essa razão, faz-se necessário analisar a materialidade
dos textos da BPSR, compreender as especificidades do suporte e os dispositivos formais
empregados tanto pelas editoras estrangeiras quanto pelas editoras nacionais.
Uma das estratégias empregadas pelos editores foi a das coleções. Roger Chartier
definiu as coleções como impressos com a função de atender um público amplo
212
. Elas
surgiram no século dezessete, mas se proliferaram no século dezenove. Ao idealizá-las os
produtores de impressos possuem como objetivos; baratear o custo de produção, uma vez que
adotam um padrão único, e oferecer livros atraentes e diferenciados para o leitor. As
principais estratégias dos responsáveis pela coleção são: selecionar autores e textos que
possam interessar ao leitor visado e criar um aparelho crítico que visa apoiar a leitura e
controlá-la. A intenção é que ao adquirirem a obra os leitores confiem na qualidade da seleção
operada pelo editor.
213
Na biblioteca em questão, existem livros da coleção Bibliothèque de
211
CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1998, p. 14,
212
CHARTIER, Roger e MARTIN, Jean. Histoire de l’édition française. Le temps des éditeurs. Du romantisme
à la Belle Époque. Paris: Promodis, 1990, p. 78. Tomo 3.
213
Cf. OLIVERO, Isabelle. L’invention de la collection: de la diffusion de la littérature et des savoirs à la
formation du citoyen au XIXe siècle. Paris: Éditions de L’IMEC, 1999. (Collection In Octavo) ; TOLEDO,
Maria Rita de Almeida. Coleção Atualidades Pedagógicas: do projeto político ao editorial (1931-1981). Tese
(Doutorado em Educação) - Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2001.
98
Philosophie Contemporaine e da Collection historique des grands philosophes da Germer
Baillière, da Biliothéque Philosophique Contemporaine da Félix Alcan, da Collection
d’auteur étrangers contemporains de Guillaumin et Cie., da Bibliothèque de Philosophie
Scientifique da Ernest Flammarion
214
, da Bibliothèque de Sciences Contemporaines da C.
Reinwald & C
215
, da Bibliothéque de l’enseignement dês beaux arts publiée da Maison
Quantin C. e Ensino Agrícola Propaganda Popular de uma editora desconhecida do Rio de
Janeiro.
Nos livros que integram as coleções páginas extras no fim do volume com
propaganda das outras obras da coleção ou de outras coleções das casas editoriais. A Germer
Baillière, a Félix Alcan, Ernest Flammarion e a Guillaumin et Cie tinham essa prática.
Através desse mecanismo visavam conquistar o leitor, fazer com que se interessasse pelos
demais volumes. No caso do intelectual sergipano pode-se afirmar que essa estratégia obteve
êxito, pois Sílvio possuía em seu acervo diversos títulos pertencentes a uma mesma coleção.
Mantinha, por exemplo, diversas obras da Bibliothéque Philosophique Contemporaine da
Félix Alcan
216
.
Uma outra estratégia empregada pelos editores foi a apresentação de informações
sobre os autores. Era comum os editores colocarem logo abaixo do nome do autor, na folha de
rosto, ou no verso desta, informações como a faculdade ou instituto de pesquisa nos quais
trabalhavam. Ao apresentar o currículo dos autores as editoras visavam obter a confiança do
leitor. Apostavam que ao ler tais créditos eles ficariam convencidos de que estariam tendo
214
LE BON, Gustave. Psychologie de l'education. Paris: Ernest Flamarion Editeur, 1902. (Bibliothèque de
Philosophie Sientifique); JAMES, William. Philosophie de l’expérience. Paris: Ernest Flammarion, 1910.
(Bibliothèque de Philosophie Sientifique).
215
HAECKEL, Ernest. Origine de l'home. Paris: C. Reinwald & Cie., [S.d.]. (Bibliothèque de Sciences
Contemporaines) ; HUXLEY, Th. H. Leçons de physiologie élementaire. Paris: C. Reinwald & Cie., 1869.
(Bibliothèque de Sciences Contemporaines); LETOURNEAU, Charles. La Biologie. Paris: C. Reinwald & Cie.,
1877. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines); LETOURNEAU, Charles. La Biologie. 12 ed. Paris: C.
Reinwald & Cie., 1882. (Bibliothèque de Sciences Contemporaines).
216
SPENCER, Herbert. Principes de psychologie. Paris: Félix Alcan, 1874. (Bibliothéque Philosophique
Contemporaine); RIBOT, Th. La psychologie allemande contemporaine: école experimentale. Paris: Félix
Alcan, 1885. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); SPENCER, Herbert. Classification des sciences.
Paris: Félix Alcan, 1888. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine); SPENCER, Herbert. L'individu contra
l'Etat. Paris: Felix Alcan, 1885. (Bibliothéque Philosophique Contemporaine) ; SPENCER, Herbert. De
l'education intellectuelle, morale et physique. Paris: Felix Alcan, 1894. (Bibliothéque Philosophique
Contemporaine); NORDAU, Max. Psycho-physiologie du génie et du talent. Paris: Félix Alcan, 1897.
(Bibliothéque Philosophique Contemporaine).
99
Acessado a representações autorizadas. 43 das obras da Biblioteca Pedagógica de Sílvio
Romero trazem esse tipo de dispositivo.
O editor francês Gustave Germer Baillière pôs a seguinte informação numa de suas
obras:
PIERRE SICILIANI
Professeur de Philosophie Théorique et Chargé du Cours d'Antropologie et
de Pedagogie a l'Université de Bologne
217
Um editor brasileiro Evaristo Costa apresentou o seguinte currículo de dois dos seus
autores:
A. Ennes de Souza é lente catedrático de metalurgia da Escola Politécnica do
Rio de Janeiro. Doutor em Sciencias Físicas e Naturais pela sessão da
Faculdade de Filosofia da Universidade de Zurich (Suissa), engenheiro de
Minas, (especialidade metalurgica) pela Real Academia de Minas de
Freiberg, na Saxônia, geologo examinado pelos professores Dr. Albert Heim
e Dr. C. Mayer da Escola Politechnica Federal Suissa, antigo aluno da
Faculdade de Sciencias e da Escola Pratica de Altos Estudos de Paris,
membro efetivo das sociedades suissas de Sciencias Naturais e de Chimica
em Zurich e correspondente da Sociedade Alemã de Química em Berlim
A. J. de Sampaio
Lente substituto interino do curso de artes e manufaturas da Escola
Politécnica do Rio de Janeiro. Doutor em Sciências Fisicas e Naturais pela 2ª
sessão da Faculdade de Filosofia da Universidade de Zurich, chimico
techinico examinado e certificado pela Escola Polytechnica Federal Suissa,
com o exame de madureza pela Escola Industrial de Winterthur (Suissa),
membro correspondente da Sociedade Alemã de Chimica de Berlim e
efetivo da Sociedade Suissa de Chimica em Zurich.
218
217
SICILIANI, Pierre. Prolégomènes de la psychogénie moderne. Paris: Germer Baillière et Cie., 1880.
(Collection historique des grands philosophes)
218
SOUZA, A. Ennes de & SAMPAIO, A. J. de. Reforma da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Tipografia Central de Evaristo Costa, 1888.
100
Além de informações sobre os autores, muitos editores forneciam informações acerca
dos tradutores. Por intermédio desse dispositivo objetivavam assegurar ao leitor que a
tradução era confiável, fiel ao original. J. B. Baillière et fils utilizou esse estratagema:
Ed. Carrière
Lauréat de l'Institut (Academie des Sciences)
219
Outros editores optaram por colocar informações sobre outras obras do autor e dos
tradutores. Essa estratégia era semelhante à adotada no interior das coleções, visava atrair o
leitor, fazê-lo comprar outras obras publicadas por eles caso gostasse das idéias do autor e da
tradução. Félix Alcan costumava fazer isso:
OUVRAGES DE M. HERBERT SPENCER
TRADUITS EM FRANÇAIS
Le premier principes
Classification des sciences
La science sociale
Principes de physicologie
Ouvrages non traduits
Education intellectual, moral and physical
Social statics
Essays scientifics, political and speculative
The principes of Biology
Ouvrages du traducteur M. Th.Ribot
La psychologie anglaise contemporaine
L'Herédité
La Philosophie de Schopenhauer
220
219
PARISE, J. H. Réveillé. Physiologie et hygiène des hommes livrés aux travaux de l'espirit ou recherches
sur le phsique et le moral, les habitudes, les maladies et le régime des gens de lettres, artistes, savants,
hommes d'État, jurisconsultes, administrateurs. Paris: J. B. Bailliére et fils, 1881.
220
SPENCER, Herbert. Principes de Psychologie. Paris: Félix Alcan, 1874. (Bibliothéque Philosophique
Contemporaine).
101
Sílvio às vezes se deixava seduzir pelas obras anunciadas, assinalava-as com sinal de
adição ou asterisco e, em seguida, tratava de adquiri-las. Várias obras marcadas por ele com
lápis preto ou colorido integram o seu acervo.
Para atrair os leitores, os editores, com a ajuda de outros produtores como os
ilustradores, procuravam embelezar as obras. Era comum o uso de vinhetas, ornatos
tipográficos com motivos geométricos, polimórficos, zoomórficos e antropomórficos. Na
BPSR constam 58 obras com vinhetas. Dentre elas predominam as polimórficas (48), seguida
das geométricas (16), das antropomórficas (3) e das zoomóficas (2). Um outro ornato
utilizado era a primeira letra do capítulo estilizada. Mas apenas quatro obras da referida
biblioteca possuem esse ornato. Também poucas obras apresentam fotografias: apenas 18.
Os editores também se preocupavam com a legibilidade do texto oferecido. Na maioria
dos volumes foram utilizados caracteres simples como o romano, que pertence à família de
tipo redondo que se distingue pela variação na espessura dos traços no desenho da letra e pela
existência de remates ou serifas. Os editores sabiam que caracteres mais elaborados forçam a
atenção dos leitores, distraindo-os e irritando-os, fazendo-os abandonar a leitura.
Os responsáveis pelas casas editoriais também estavam atentos ao tamanho das letras.
Tinham conhecimento de que quanto maior a fonte mais legível o texto. Mas era necessário
avaliar duas variáveis: legibilidade e custo. Como o público visado era o erudito, que possuía
habilidade para ler qualquer tamanho, preferindo, contudo, tamanhos maiores para efetuar
uma leitura mais rápida condizente com seu status de homem de letras, os editores optaram
por adotar corpo regular, oscilando entre 10 e 12. Na BPSR existem 98 obras com corpo 10,
41 com corpo 11 e 22 com corpo 12.
O entrelinhamento também foi alvo de preocupação dos editores, uma vez que é
imprescindível para assegurar a legibilidade do texto. As entrelinhas permitem que os leitores
descansem os olhos entre uma linha e outra. Neste sentido, os editores empregaram
entrelinhamentos que oscilaram entre 3 a 4 pontos tipográficos do corpo adotado.
Além dos caracteres, do corpo e do entrelinhamento, os editores estiveram atentos às
margens, a porção do papel que fica em branco entre a parte impressa e as extremidades da
folha. As margens também possibilitam que os leitores descansem a visão. As margens
102
adotadas pelos editores da BPSR são irregulares. A menor é a medianiz e vai aumentando na
seguinte ordem: margem superior, margem dianteira e margem inferior. As obras de luxo, que
são poucas, possuem margens mais amplas, oscilam entre 3 e 5 cm. Já as edições mais
simples, mais numerosas, possuem margens maiores, oscilam entre 1 e 2,5 cm. No entanto,
essas conclusões não são definitivas, visto que muitos impressos tiveram as margens
reduzidas durante a encadernação que sofreram ao serem incorporadas ao acervo da
Biblioteca Pública Epifânio Dória.
221
Mas os editores não lançaram mão de estratégias apenas para vender livros, mas para
conformar leituras. Para isso construíram aparelhos críticos destinados a controlar a
apropriação dos leitores. Na BPSR vários desses dispositivos. 52 prefácios, 3 notas do
tradutor, 48 notas explicativas, 31 notas de referência, 35 obras com resumos recapitulativos,
11 índices remissivos, 77 índices analíticos, 12 bibliografias comentadas, 12 apêndices e 24
anexos. Esses aparelhos críticos procuraram conduzir as leituras, fazer o leitor aceitar as
representações elaboradas pelos produtores, mas nem sempre essas estratégias lograram o
êxito desejado.
Utilizando a liberdade leitora subverteu o sentido desejado ou imposto pelos
produtores. Segundo Chartier “os textos existem se houver um leitor para lhe dar um
significado”. Em outras palavras: “o texto é atualizado a cada leitura”
222
.
Porém, o que se quis evidenciar nesse capítulo é que a liberdade leitora não é
arbitrária:
contra a representação elaborada pela literatura e retomada pela mais
quantitativa das histórias do livro segundo a qual o texto existe em si
mesmo, isolado de toda a materialidade deve-se lembrar que não texto
fora do suporte que o dá a ler (ou ouvir), e sublinhar o fato de que não existe
221
As informações acerca das especificidades das artes gráficas foram obtidas em: PORTA, Frederico.
Dicionário de Artes Gráficas. Rio de Janeiro; Porto Alegre; São Paulo: Globo, 1958.
222
CHARTIER, Roger, Comunidades de leitores. In: ______. A ordem dos livros: leitores, autores e
bibliotecas na Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora da UNB, 1998.
103
a compreensão de um texto, qualquer que ele seja, que não dependa das
formas através das quais ele atinge o seu leitor
223
.
Ao estudar o modo como os leitores se apropriam dos textos e constróem
representações do mundo social, devemos estar atentos aos dispositivos empregados pelos
produtores para moldar as leituras.
223
CHARTIER, Roger, Comunidades de leitores. In: A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na
Europa entre os séculos XIV e XVIII. Brasília: Editora da UNB, 1998..
104
CAPÍTULO III
A APROPRIAÇÃO DE LEITURAS PEDAGÓ GICAS
O objetivo deste capítulo é compreender como Sílvio Romero se apropriou das leituras
de L’éducation intelectuelle, morale et physique
224
de Herbert Spencer, Histoire de la
formation particulariste
225
de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des anglo-
saxons?
226
e de L’éducation nouvelle: l’École des Roches
227
de Edmond Demolins, de La vie
americaine: l’éducation et la société
228
de Paul de Rousiers, de L’Aryen: son role social
229
e
Race et milieu
230
de Georges Vacher de Lapouge.
Esses autores e obras foram escolhidos para análise em virtude das recorrentes
citações nos textos que Sílvio escreveu sobre educação
231
, o que demonstra a importância que
elas tiveram na construção do seu pensamento pedagógico.
224
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.
225
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.].
226
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897.
227
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899.
228
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--].
229
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.
230
LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière,
1909.
231
ROMERO, Sílvio. A filosofia e o ensino secundário. In: _______. Estudos de literatura contemporânea.
Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 129-140; ROMERO, Sílvio. O Professor Carlos
Jansen e as leituras das classes primárias. In: ______. Estudos de literatura contemporânea. Páginas de crítica.
Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 159-164; ROMERO, Sílvio. Obrigatoriedade e liberdade de ensino. In:
_______. Estudos de literatura contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p.
141-146; ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio
de Janeiro: Garnier, 1901, p. 123 -164; ROMERO, Sílvio. América Latina: análise do livro de igual título do
Dr. M. Bomfim. Porto: Chardron, 1906; ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed.
Lisboa: A Editora Limitada, 1912; ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos
sociológicos. Brasília: Senado Federal, 2001.
105
Este capítulo está organizado em seções. No início de cada parte exponho algumas
informações biobliográficas do autor de cada texto e uma síntese do seu pensamento ou da
escola a que pertence, no caso dos discípulos de Frédérich Le Play. Depois, faço um resumo
da obra, privilegiando os pontos necessários para o entendimento da apropriação feita por
Sílvio. Em seguida, cotejo as marginálias com os textos que escreveu sobre o assunto e
demais documentos que possam contribuir para a compreensão das leituras pedagógicas.
3. 1 A APROPRIAÇÃO DE DE L’ÉDUCATION INTELLECTUELLE,
MORALE ET PHYSIQUE DE HERBERT SPENCER
Herbert Spencer (1820-1903) nasceu em Derby, na Inglaterra. Não freqüentou o
ensino regular devido a problemas de saúde. Foi educado informalmente pelo pai,
bibliotecário da Derby Philosophical Society, e por preceptores. Iniciou a carreira como
engenheiro de estradas de ferro e permaneceu nesta função até 1846. Editou o jornal
Nonconformist, sub-editou o jornal Birmingham Pilot e a revista Economist e colaborou nas
Westminster Review. Seu pensamento recobre diferentes áreas do conhecimento humano
como a Filosofia, a Sociologia, a Psicologia, a Biologia e a Ética. Entre suas principais obras
estão: Estatística Social (1850), Hipótese do desenvolvimento (1852), Princípios de
Psicologia (1855), Primeiros princípios (1862), O indivíduo contra o Estado (1884) e
Princípios de Sociologia (1876-1896).
232
Nesses textos desenvolveu a teoria da evolução. Para Spencer, o universo está em
constante movimento. E essa incessante mudança de estado é provocada pela lei da evolução.
Embora tenha introduzido o termo evolução no vocabulário científico-filosófico em ensaio
sobre o Progresso em 1857, outros pensadores contribuíram para a elaboração desse conceito.
Jean-Baptiste Lamarck foi o primeiro pensador a apresentar cientificamente a doutrina do
transformismo biológico através da publicação de Filosofia zoológica em 1809. Considerou
que a transformação dos organismos ao longo do tempo deve-se às diferenças neles
232
REALI, Giovanni e ANTISERI, Dario. O positivismo evolucionista de Herbert Spencer. In: ______. História
da filosofia. Do romantismo até nossos dias. 3 ed. São Paulo: Paulus, 1991, p. 326-331.
106
produzidas pelo maior ou menor uso dos órgãos, pela adaptação ao ambiente, e que essas
mudanças são fixadas pela hereditariedade. Charles Darwin também contribuiu para o
desenvolvimento do conceito. Ele elaborou a lei da seleção natural, segundo a qual alguns
seres vivos apresentam em intervalos irregulares de tempo variações orgânicas que podem ser
transmitidas pela hereditariedade aos seus descendentes. Os seres que herdam essas variações
levam vantagem na luta pela existência, que preserva os organismos mais fortes e elimina os
organismos mais fracos. Spencer compartilhou com Jean Baptiste Lamarck a crença na
transmissão hereditária dos caracteres adquiridos. Concordou também com Charles Darwin
acerca da lei da seleção natural. Mas, enquanto Lamarck e Darwin limitavam a evolução aos
seres vivos, Spencer pensou a evolução do universo. Para ele, tanto os fenômenos biológicos
quanto os fenômenos sociais devem ser explicados a partir do processo de evolução. Definiu a
evolução como uma incessante mudança que possui como características: a passagem da
forma menos coerente a mais coerente; a passagem do homogêneo ao heterogêneo; e a
passagem do indefinido ao definido. Spencer defendeu uma visão positiva da evolução.
Postulou que o universo progride para melhor e só termina com a máxima perfeição e a mais
completa felicidade
233
.
Foi nesse contexto que a educação adquiriu importância no pensamento spenceriano.
Julgou possível a transmissão hereditária de experiências e esquemas de comportamento.
Defendeu que a educação, ao inculcar nos indivíduos comportamentos moralmente adequados
à sociedade industrial, pode introduzir, em longo prazo, modificações essenciais na espécie,
de modo a garantir a sobrevivência dos mais aptos e a evolução social.
234
Na Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero constam dois exemplares de Educação
intelectual, moral e física de Herbert Spencer, um espanhol
235
e outro francês
236
. Utilizei
apenas o exemplar francês, pois está repleto de anotações marginais, ao contrário do espanhol.
233
Sobre o pensamento de Herbert Spencer, consultar: ABBAGNANO, Nicolau. Evolução. In: Dicionário de
filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998, p. 392-395; REALI, Giovanni e ANTISERI, Dario. O positivismo
evolucionista de Herbert Spencer. In: ______. História da filosofia. Do romantismo até nossos dias. 3 ed. São
Paulo: Paulus, 1991, p. 326-331.
234
Sobre o pensamento pedagógico de Herbert Spencer, ver: CAMBI, Franco. A sociedade industrial e educação
entre positivismo e socialismo. In: ______. História da pedagogia. São Paulo: Editora Unesp, 1999, p. 465-487.
235
SPENCER, Herbert. Educación intelectual, moral e física. Valencia: F. Sempere, [18--].
236
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.
107
Figura 11 – Folha de rosto de L’Éducation intelectuelle, morale et
physique, de Herbert Spencer
Fonte : SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’Éducation intelectuelle,
morale et physique, 2004. Acervo pessoal.
108
A obra em questão veio a lume pela primeira vez em forma de quatro artigos
publicados na Revue de Westmister em julho de 1849, na Revue de la Bretagne Septentrionale
em maio de 1854 e na Revue Trimestrielle em abril de 1858 e de 1859. Em 1894, foi editado
em forma de livro pela editora francesa Félix Alcan. Foi integrada à coleção Bibliothèque de
Philosophie Contemporaine. O editor apresentou no verso da folha de rosto informações
sobre outras obras de Herbert Spencer, na esperança de fazer o leitor se interessar por algumas
delas e adquiri-las.
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OUVRAGES DE M. HERBERT SPENCER
TRADUITS EN FRANÇAIS
Les premiers principes. 1 fort vol. in-8, traduit par M. CAZELLES.
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237
Essa estratégia parece ter funcionado, pois além de De L’éducation intelectuelle,
morale et physique, adquiriu Principes de sociologie, da mesma coleção
238
. Antes, costumava
comprar as obras de Spencer produzidas por outras editoras, como Hachette e Guillaumin.
A obra em análise foi impressa em formato in-8, um dos padrões desta casa editorial.
Os editores optaram por tipo romano com corpo 12, entrelinhamento com 4 pontos em relação
ao corpo. A margem medianiz possui 1,5 cm, a superior e a dianteira possuem 2,5 cm e a
inferior 4 cm. Essas medidas não são originais, pois a obra foi adquirida em brochura e
encadernada no Brasil. Pode-se concluir que as margens eram ainda maiores, diferindo um
pouco das comuns nesse padrão, que oscilam entre 1 e 2,5 cm. As margens maiores
favorecem o diálogo entre autor e leitor, permitindo que este último tenha mais espaço para
anotar suas concordâncias e discordâncias sobre o texto lido. alguns aparelhos críticos
como prefácio do autor, notas explicativas e índice analítico. Através deles os produtores
(autor e editor) procuraram guiar a leitura de Sílvio.
Em De l’éducation intellectuelle, morale et physique Herbert Spencer entrelaçou
constantemente dois objetivos: a crítica do costume educativo antiutilitarista da época, ligado
ao privilégio da educação clássica em detrimento da científica; e a teorização de um processo
educativo que, com base na espontaneidade da natureza e na evolução do indivíduo para uma
realização orgânica e intelectual, dedica-se à formação de um homem capaz de viver uma vida
completa.
A obra foi dividida em quatro capítulos: Quel est le savoir le plus utile?, De l’
Éducation intellectuelle, De L’Education Morale e De L’Education Physique.
237
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.
238
SPENCER, Herbert. Principes de sociologie. Trad. par M. E. Cazelles. Paris: Félix Alcan, 1890.
(Bibliothéque de Philosophie Contemporaine)
110
No primeiro capítulo, Quel est le savoir le plus utile?, Spencer fez uma crítica ao
predomínio das disciplinas clássicas. Para ele a Inglaterra preocupa-se apenas com la
floraison de la vie civilisée”. Negligencia a planta para cuidar da flor. Entendeu que esse
modelo de ensino prepara os indivíduos apenas para brilhar nos salões. Propôs um novo
modelo de educação, capaz de transmitir conhecimentos úteis para a vida moderna. Na sua
perspectiva, a educação deve ser conduzida pelo princípio da utilidade.
Spencer considerou que o alvo da educação é aparelhar o indivíduo para a vida
completa. O indivíduo deve estar preparado para realizar cinco atividades distintas: as que
concorrem para a conservação direta do indivíduo, as que possibilitam a conservação indireta,
as que concorrem para elevar e disciplinar a família, as que asseguram a manutenção da
ordem social e das relações políticas e as que possibilitam o lazer. Cabe à educação prepará-lo
para realizá-los, torná-los fortes para a luta pela existência. Partindo desse princípio, Spencer
advogou uma educação ao mesmo tempo intelectual, moral e física. Ao contrário de outros
pedagogos que privilegiam a educação intelectual, defendeu uma educação integral na qual
todos os tipos de educação tivessem o mesmo valor e estivessem intimamente vinculados e
auxiliando-se mutuamente.
Para ele, a renovação do currículo é essencial para tornar possível esse ideal de
educação guiado pela utilidade. Apesar de reconhecer que todo conhecimento é útil, avaliou
que alguns são mais valiosos que outros. Os conhecimentos de maior valor são os científicos,
porque são os únicos capazes de fornecer aos indivíduos as condições necessárias na luta pela
existência. Então preconizou o predomínio das disciplinas científicas em detrimento das
disciplinas clássicas. Entre as disciplinas que devem constar no currículo estão: a Lógica, a
Matemática, a Geometria, a Mecânica, a Física, a Química, a Astronomia, a Geologia, a
Biologia, a Psicologia, a Sociologia e a História. A dedicação às Artes e à Religião também é
permitida, pois pensa que essas manifestações não estão dissociadas da Ciência. A inclinação
para a Arte é uma aptidão natural, mas a produção e a apreciação artística ganham muito
quando realizadas com a orientação científica. E embora muitos julguem que Ciência e
Religião são incompatíveis, Spencer julgou-as conciliáveis, pois são teorias a priori do
Universo e reconhecem que a realidade última é incognoscível. A diferença é que enquanto a
função da Religião é manter vivo o sentido do mistério, a função da Ciência é procurar
desvelá-lo, embora sabendo que nunca conseguirá captá-lo plenamente. Ademais a devoção à
Ciência é um culto tácito.
111
Nos capítulos subseqüentes Spencer defendeu a mudança de método. No segundo
capítulo, De l’éducation intellectuelle, mostrou a ineficiência dos métodos mecânicos,
alicerçados na memorização dos conteúdos. Para ele, no método decorativo o mestre limita-se
à exposição dos conteúdos dos livros e exige a repetição por parte dos alunos. Considera a
criança uma tábula rasa, uma mera receptora de idéias alheias. Apoiando-se na máxima de
Montaigne de que “savoir par coeur, n’est pas savoir” defendeu a necessidade de um método
novo. Mostrou simpatia pelas idéias do pedagogo Johann Heinrich Pestalozzi, segundo o qual
a educação é um processo que deve seguir a natureza, uma vez que o homem é bom, e cabe
aos mestres ajudar a desenvolver as faculdades naturais do educando por intermédio da
educação intelectual, moral e profissional organizada em torno da observação e da
experiência. Spencer considerou as idéias do pedagogo muito boas e julgou que não haviam
logrado êxito em virtude da falta de preparo dos mestres. Inspirado nas idéias pestalozzianas,
mas respeitando também as linhas centrais do seu pensamento, propôs um método de
educação intelectual no qual a observação e a experiência tinham importância fundamental.
Defendeu que os mestres devem transmitir o conhecimento científico partindo do simples
para o complexo, do indefinido para o definido, do concreto para o abstrato, do empírico para
o racional, respeitando a evolução psicológica do discípulo. Os mestres devem oferecer
algumas noções científicas e deixar o educando tirar suas próprias conclusões. Seguindo esse
itinerário o aprendizado seria compatível com as leis da natureza, espontâneo e agradável. Um
homem educado desse modo estará preparado para se auto-instruir a vida toda.
No terceiro capítulo, De l’éducation morale, defendeu uma nova forma de cuidar
dessa modalidade de educação. Para Spencer a evolução social depende do aperfeiçoamento
do caráter dos indivíduos que compõe o organismo social e não das reformas das instituições
como se costuma pensar. Para realizar a tarefa de preparar os filhos para a vida, a família,
responsável por esse tipo de educação, deve mostrar as conseqüências das boas e das más
condutas para que eles possam conhecer a justiça das penalidades que serão aplicadas pela
natureza. Ao contrário de muitos pedagogos do dezenove, Spencer o rejeitou o uso do castigo
por acreditar que a pena deve ser produzida pela vias naturais. Para ele “la sauvagerie
engendre la sauvagerie et la doucere engendre la doucere”. Antes de tomar qualquer atitude
despótica a família deve lembrar que o alvo da educação é formar um ser apto ao governo de
si mesmo e não um ser apto a governar os outros. As crianças independentes de hoje serão os
pais independentes de amanhã.
112
No quarto capítulo, De L’éducation physique, alertou para a estranha negligência em
relação à educação física. Para ele isso é inadmissível, pois a evolução social depende do
vigor físico dos seus indivíduos. Atendendo às mais simples leis fisiológicas as crianças
devem receber uma nutrição substancial e praticar exercícios físicos, de preferência o jogo. Os
excessos devem ser evitados, pois são prejudiciais. Deve-se tomar cuidado com o excesso de
atividade intelectual porque o esforço excessivo para adquirir conhecimento reflete-se no
corpo.
Um outro tema discutido na obra, ainda que transversalmente, foi o papel do Estado
em relação à educação. Spencer se posicionou contra a tendência do Estado de se
responsabilizar pela educação. Para ele, esta deve ser regulada pelas leis do mercado. Do
mesmo modo que não se deve interferir na economia de uma nação, não se deve interferir na
educação. Julgou que as leis da sociedade têm um caráter tal que os males naturais são
corrigidos pelo princípio de auto-adaptação. Assim, o Estado é útil somente para manter a
ordem, do restante o princípio de auto-adaptação se encarrega
239
.
O intelectual sergipano leu essa obra atentamente, pelo menos o primeiro capítulo, no
qual fez diversas anotações. Nos demais capítulos assinalou apenas a data em que o ensaio foi
originalmente publicado. No segundo capítulo, referente à educação intelectual, dobrou a
orelha da primeira página, talvez uma promessa de leitura futura. Artur e Argeu Guimarães
afirmaram em suas memórias que Sílvio não lia sem “apostilhar”.
240
Contudo, não há indícios
suficientes para assegurar que os capítulos desprovidos de anotações não tenham sido lidos.
Sílvio usou inúmeros sinais para assinalar as passagens mais importantes. Nesse texto
foram comuns: o uso de asteriscos, traços verticais simples ou duplos, sublinhados simples ou
duplos e as letra V e W para assinalar o início e o fim do trecho selecionado.
Nas páginas do capítulo primeiro ele deixou diversas marginálias: As anotações foram
em sua maioria de síntese. Ele foi resumindo passo a passo as informações fornecidas pelo
239
Cf. SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894.
240
Cf. GUIMARÃES, Argeu. Presença de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões, 1955; e
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A Vapor de Artur José de Souza, 1915.
113
autor, como se estivesse tentando decodificá-las. Escreveu, por exemplo: “(Decoração)”
241
;
“(Mulheres)”
242
, “Sociedade e indivíduo”
243
; “(A utilidade real e relativa)”
244
; “(As 3 se
completam e devem ser dadas conjuntamente)”
245
; “(Meios práticos)”
246
; “(Estão ligados)”
247
;
“1º Conselho: liberdade”
248
; “(Guias naturais)”
249
; “2º Conselho: sciencia de conservar a
saúde: Hygiene”
250
; “(Instrucção Supplementar)”
251
.
Não deixou no livro nenhuma anotação sobre a função da educação. Mas a leitura dos
escritos sobre o tema permite perceber que concordou com Spencer nesse ponto. No texto
Notas sobre o ensino público, publicado em 1902, afirmou que a educação é uma das
principais conquistas das sociedades modernas e é imprescindível como arma de
aperfeiçoamento na luta pela existência”. Mostrou o quanto foi fundamental no soerguimento
da Prússia após a derrota para os franceses em 1906 e como auxiliou no desenvolvimento de
grandes nações como Estados Unidos, Suíça, Dinamarca, Inglaterra e França.
252
No livro
241
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 4
[margem dianteira].
242
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 4
[margem dianteira].
243
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 6
[margem medianiz].
244
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 9
[margem inferior].
245
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 10
[margem dianteira].
246
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 13
[margem dianteira].
247
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 16
[margem medianiz].
248
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 20
[margem dianteira].
249
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 21
[margem medianiz].
250
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 22
[margem medianiz].
251
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 39
[margem dianteira].
252
ROMERO, lvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 137.
114
América Latina, editado em 1906, mencionou que a educação é “o alimento forte e sadio da
hereditariedade”, pois permite a adaptação e se bem dirigida forma novos hábitos que se
transmitem por herança.
A mais incisiva anotação de concordância foi: “(Agradável solução e útil)
253
. Essa
apreciação foi feita quando Spencer anunciou a idéia de que o ensino clássico deve ser
substituído pelo científico. O momento em que Sílvio leu essa obra coincide com a discussão
no país sobre o conteúdo que a escola deve transmitir aos seus alunos. Nesse debate houve
uma polarização entre humanistas e utilitaristas. Os primeiros defenderam veementemente o
ensino das Humanidades, pois julgavam estes conteúdos capazes de formar homens com
espírito mais largo, com condições de conduzir os negócios públicos sem questionar e ameaçar
a ordem estabelecida. Os últimos advogavam a favor do ensino das Ciências, pois as julgavam
necessárias para tornar possível a vida civilizada.
254
Em certo passo do texto Spencer afirmou que na Inglaterra leva-se em consideração
menos o valor real do conhecimento do que o efeito que ele pode produzir perante a
sociedade. Sílvio anotou: “(Isto na Inglaterra. Aqui está peior!!)”
255
. Spencer também
mencionou que nas escolas públicas da Inglaterra os conhecimentos científicos, realmente
úteis, são relegados à posição de instrução suplementar. Romero anotou na margem medianiz:
“(Brasil peior)”
256
.
253
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 2
[margem superior].
254
Cf. CHERVEL, André; COMPÈRE, Marie-Madeleine. Les humanités dans l’histoire de l’enseignement
français. Histoire de l’Éducation, Paris, INPR, n. 74, p. 5-38, mai. 1997 ; LUCAS, Maria Angélica Olivo
Francisco e MACHADO, Maria Cristina Gomes. A influência do pensamento de Herbert Spencer em Rui
Barbosa: A ciência na criação da escola pública brasileira. Disponível em:
<http://www.faced.ufjf.br/educacaoemfoco/integraartigo.asp?p=13,10>. Acesso em: 23/01/2005; LUCAS, Maria
Angélica Olivo Francisco. A concepção de estado e educação em Herbert Spencer. Disponível em:
<http://www.ppe.uem.br/publicacao/sem_ppe_2001/FDE/FDE177-182.PDF>. Acesso em: 23/01/2005;
SANTOS, Fábio Alves dos. Rui Barbosa e o ensino no Pedro II: um discurso pedagógico oitocentista. 1880-
1885. Dissertação (Mestrado) - Programa de Estudos Pós-graduados em Educação, História, Política e
Sociedade, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.
255
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 8
[margem dianteira].
256
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 39
[margem dianteira].
115
Essa questão foi debatida amplamente por Sílvio nos textos Notas sobre o ensino
público, O Brasil na primeira década do século XX e O remédio. No primeiro texto, publicado
no alvorecer do século vinte, mas com algumas seções preparadas durante a década de noventa
do dezenove, portanto antes da aquisição de De L’éducation intellectuelle, morale e physique,
editado em 1897, Sílvio condenou a ênfase no ensino prático, científico. Ao tratar dos
conteúdos a serem ministrados nas escolas primárias ironizou:
Nos livros de leitura nada de cantos, de lendas, de creações estheticas, de
historias verídicas ou phantasiosas: exigiremos, pelo contrário, receitas
práticas, pedaços de physica, chimica, tiradas sobre os saes, as tintas, suas
applicações às indústrias, sobre as madeiras, os metaes, tudo bem pratico... É
para, desde a mais tenra idade, irmos preparando as cabeças dos pequenos
para as lides da vida, os officios, os empregos...: Nada de litteratices, de
rhetorismos; o realismo da sciencia em doses adaptáveis às diversas edades e
aos diversos grãos em que dividiremos o ensino primário, o realismo da
sciencia, este sim, é o nosso ideal.
257
Sua opinião não era diferente em relação ao ensino secundário. Era contra a
substituição do ensino de “humanidades clássicas” pelo que denominou “humanidades
modernas” pautadas pelo industrialismo americanizado”, numa alusão ao fato da defesa do
ensino científico ser defendido com mais entusiasmo nos países anglo-saxões. Afirmou que o
ensino não deve ser livresco e alheio à vida do estudante, mas também não deve ser voltado
exclusivamente para a prática. Para ele, o cultivo das línguas e literaturas clássicas é
fundamental para quem aspira a uma “cultura humana, desinteressada e idealista”.
258
Contudo, em outra seção do texto, sobre a organização do ensino secundário, talvez
escrito em data posterior à leitura de Spencer, nota-se sua inclinação pelas disciplinas
científicas. Ao discorrer sobre o currículo a ser seguido, recomendou o ensino de Português,
Latim, Francês, Inglês, Alemão, Matemática (Aritmética, Álgebra, Geometria e
Trigonometria), Cosmografia, Física, Química, Geografia, História Natural (Geologia,
Minerologia, Botânica e Zoologia), História Universal, Corografia, História do Brasil,
257
ROMERO, lvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 142.
258
Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 145.
116
Literatura Brasileira, Lógica e Desenho. Sugere a exclusão de diversas disciplinas clássicas
como: Religião, Grego, Italiano, Retórica, Poética, Literatura Universal e Música. O
currículo proposto por Sílvio é predominantemente científico, a despeito das observações
feitas em seção anterior.
259
Em trecho sobre o ensino superior voltou à carga contra o “industrialismo
pedagógico”. Mais uma vez foi mordaz:
Introduziremos também a feição prática: a nossa obsessão é a prática: dêm-
nos a pratica...
Dest’arte, accrescentam os idolatras da pedagogia do industrialismo
contemporâneo, o ensino superior deve ser reduzido áquelles cursos
correspondentes às profissões, e tudo com o caracter indefectível,
indispensável de visar o fim, a imorredoura – pratica.
História moral, philologia, religiões comparadas, archeologia, esthetica,
philosophia, tudo isto é fútil, porque não abre a porta a uma carreira não
pode ser um meio de vida...
Tal é a summa das pretensões dos realistas modernos em matéria de
instrução.
260
nos textos O Brasil na primeira década do século XX e O Remédio não deixou
dúvida acerca da sua mudança de posição quanto à fertilidade do ensino científico. Propôs que
fossem ministradas nas escolas brasileiras as “humanidades contemporâneas”, que permitem
compreender o modo de agir e pensar dos povos diretores hodiernos, os norte-americanos e os
ingleses.
261
Parece que após a leitura de Spencer e, provavelmente, de outros autores com
idéias semelhantes, convenceu-se da superioridade do currículo científico voltado para a
prática.
259
ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 148.
260
ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: : ______. Ensaios de Sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 150.
261
Cf. ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912;
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado,
2001.
117
Um outro ponto em comum com Spencer é a convicção de que as matérias devem
partir do simples para o complexo, do concreto para o abstrato, levando-se em consideração a
evolução da constituição intelectual dos discípulos.
262
Também são coincidentes as opiniões de Spencer e Sílvio a respeito da ineficiência
das reformas das instituições para solucionar os problemas sociais. Para o intelectual
sergipano os males do Brasil não podem ser atribuídos à política e por essa razão não
podemos procurar soluções políticas. No caso do ensino, por exemplo, as reformas são
improfícuas. Sílvio evidenciou, que até o momento em que escreveu O Brasil na primeira
década do século XX, a República havia tentado seis reformas de ensino (A Reforma
Benjamin Constant, a remodelação desta por João Barbalho, a Reforma de Epitácio Pessoa, a
Reforma da Câmara dos Deputados, a Reforma do Senado e a Reforma de Emeraldino
Bandeira) sem sucesso. Na sua opinião, “a realidade é que o ensino público, entre nós, está
completamente desorganizado e não haverá reforma que o endireite, enquanto perdurar o
desmantelo geral de nossa educação, a crise moral de nosso caracter”.
263
Para ele, temos
investido nas reformas porque “não queremos confessar a verdade: certa incapacidade
orgânica, oriunda de vícios étnicos, falta de educação ou seleção, apta e extirpá-los nuns
casos, e minorá-los noutros”.
264
Retomou a idéia no discurso O remédio. Aconselhou os
jovens bacharéis, seus interlocutores, a “fugir do sestro de enxergar a política em tudo e da
crença infantil de supor que reparos ou remendos de momento sejam capazes de afugentar os
males de qualquer nação
265
. Para reforçar seu ponto de vista citou um trecho de Liberdade e
Servidão, obra na qual Spencer retomou a discussão:
o funcionamento das instituições é fatalmente determinado pelo caráter dos
homens, e os defeitos neles existentes trarão inevitavelmente maléficos
resultados [...]
262
Cf. ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: _______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 127-216.
263
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p.
139.
264
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p.
142.
265
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 247.
118
Um erro fundamental que penetra o pensar de quase todos os partidos,
políticos ou sociais, é que os males podem ser corrigidos com panacéias
imediatas e radicais [...]
Entretanto, tudo que se pareça com uma cura imediata é de todo impossível.
a modificação lenta da natureza humana, sob a disciplina da força social,
pode produzir mudanças vantajosas de cunho permanente.
266
Apesar de acreditar que de nada adianta as panacéias políticas sem a modificação do
caráter do povo, discordou da opinião de Spencer em relação ao Estado. Enquanto o pensador
inglês defendeu que o Estado tem papel secundário na resolução dos problemas sociais, Sílvio
defendeu peremptoriamente a intervenção estatal. No texto Notas sobre o ensino público
267
,
criticou quem pensa o contrário:
A pretensão de afastar o Estado de qualquer intervenção no ensino do povo é
uma idéia só abraçada, na actual situação das cousas, especialmente no
Brasil, por duas ordens de indivíduos: certa classe de sectários fanáticos que,
de sobejo já hão feito mal à República, e que defendem tal idéa com o plano
preconcebido de se apoderar do espírito popular e certa ordem de indivíduos:
levianos, que não meditaram ainda seriamente neste problema.
268
Em Obrigatoriedade e liberdade do ensino e nas Notas sobre o ensino público atribuiu
ao Estado a tarefa de zelar pela obrigatoriedade de ensino. Considerou a obrigatoriedade do
ensino uma das principais conquistas das sociedades modernas. Para torná-la efetiva sugeriu a
gratuidade aos pobres, através da criação de comissões escolares com o objetivo de arrecadar
fundos para tal, difusão de escolas por todo o país e imposição de penas como multas, perda
de certos poderes políticos e prisão em caso de reincidência, aos pais, tutores, protetores que
não mandarem seus filhos e protegidos à escola.
269
266
ROMERO, Sílvio. O remédio. In:
______.
O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 242. Seria importante analisar a apropriação de Liberdade e Servidão para compreender melhor
esta questão, mas infelizmente a obra não consta da Biblioteca de Sílvio Romero.
267
ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 127-216.
268
ROMERO, Sílvio. Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de
Janeiro: Garnier, 1901, p. 171.
269
Cf. ROMERO, Sílvio. Obrigatoriedade e liberdade de ensino. In: ______. Estudos de Literatura
Contemporânea. Páginas de crítica. Rio de Janeiro: Laemmert & C., 1885, p. 141-146; ROMERO, Sílvio.
Notas sobre o ensino público. In: ______. Ensaios de sociologia e literatura. Rio de Janeiro: Garnier, 1901.
119
Defendeu também a liberdade de ensino. Segundo Sílvio duas concepções distintas
acerca da liberdade de ensino: a brasileira e a prussiana. A brasileira permite que qualquer
pessoa possa ensinar desde que siga os programas formulados pelo governo. A concepção
prussiana controla o acesso ao magistério, exigindo uma instrução sólida, e garante a
liberdade de métodos e doutrinas. Sílvio preferiu a última concepção, pois avaliou que é
função do Estado intervir exigindo habilitação dos professores, mas não é sua atribuição
julgar métodos e doutrinas, estes devem ficar ao critério do profissional. Além disso, julgou a
concepção de liberdade de ensino brasileira nociva porque, ao permitir que qualquer pessoa
ensine, favorece o charlatanismo.
Para Sílvio, só a União pode imprimir um caráter nacional à educação. Cabe ao Estado
a tarefa de controlar o ensino público primário, fornecer as diretrizes do ensino público
secundário através de colégio modelo, fiscalizar as escolas particulares, organizar os
concursos para habilitação de professores, delimitar as matérias a serem estudadas e fiscalizar
os exames finais. Apenas o ensino superior deve ser confiado à iniciativa particular. O Estado
deve abster-se completamente desse ramo porque cabe a poucos e versa sobre “os mais árduos
pontos doutrinários, envolve necessariamente a vexata questio da religião e da philosophia de
cada um, terreno em que o Estado não tem que por o pé sob pena de disparates”.
Uma outra discordância foi emitida por Sílvio em relação à educação integral. Spencer
defendeu que a educação intelectual, a moral e a física possuem valor idêntico e que se
auxiliam mutuamente. Sílvio anotou: “Tudo unido: a physica ajuda a moral e a intellectual
(Provas)” e A moral ajuda a physica e a intellectual (Provas)”, “A intelectual ajuda a
phisica e a moral (Provas)”.
270
É difícil inferir se essas observações são de síntese ou de
concordância. Como nesse passo do texto, Spencer apenas afirmou a inter-relação entre os
tipos de educação, mas não apresentou argumentos que comprovem a assertiva, o nosso leitor
poderia estar solicitando-os para decidir se a afirmativa procede. No entanto, no texto O
remédio, é possível notar que Sílvio foi convencido de que a educação intelectual, a moral e a
física podem auxiliar-se. Nele afirma: “o que se refere aos exercícios físicos e à instrução
intelectual – não tem valor, não aproveita, no caso, senão tanto quanto são indispensáveis para
270
SPENCER, Herbert. De l’éducation intellectuelle, morale et physique. 9 ed. Paris: Félix Alcan, 1894, p. 18
[margem inferior].
120
ajudar a solução de nosso problema: a educação moral, a formação do caráter”.
271
A partir
dessa afirmação não resta dúvida de que para Sílvio a educação intelectual e a educação física
ajudam a educação moral. Esse trecho evidencia também uma discordância: enquanto Spencer
postula o valor idêntico da educação intelectual, da moral e da física, para Sílvio a educação
moral é mais importante, ao menos para a realidade brasileira, que as demais modalidades da
educação, uma vez que elas só têm valor caso auxiliem a formação do caráter.
3.2 APROPRIAÇÃO DE OBRAS DA ESCOLA DE CIÊNCIA SOCIAL
Nesta seção analiso a apropriação de algumas obras da Escola de Ciência Social,
Escola da Reforma Social ou Escola Social de Le Play, vertente que tinha como marca a
aplicação das investigações sociológicas. São analisadas quatro obras: Histoire de la
formation particulariste, de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des anglos saxons?
e Education nouvelle: l’École des Roches de Edmond Demolins, e La vie americaine:
l’éducation et la société de Paul de Rousiers. Para isso é importante conhecer o fundador da
escola sociológica e as suas principais idéias.
O fundador da referida escola sociológica foi Pierre Guillaume Frédérich Le Play
(1806-1882). Nasceu na Riviere St. Laveur, na França. Estudou no Collège du Havre, na
École Polytechnique e na École des Mines de Paris. Desta última tornou-se professor e
dirigente. Foi membro da Comission Permanente de Státistique de l’Industrie Minerale,
através da qual fez várias viagens de 1829 a 1853 para Inglaterra, Escócia, Irlanda, Bélgica,
Áustria, Alemanha, Rússia, Turquia e Itália. Nelas aproveitou para coligir dados para o
desenvolvimento de suas pesquisas.
De posse desses dados publicou: Les ouvriers européens (1855), La réforme sociale
en France (1864), L’organisation du travail (1870), L’organization de la famille (1871), La
Constitution de l’Angleterre (1875), La méthode sociale (1879), La constituition essentielle de
271
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 245.
121
l’humanité (1881). Fundou a Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie
Sociale, a Unions de la Paix Sociale, a École des Voyages e o periódico La Réforme Sociale
com o objetivo de difundir seu método de pesquisa.
Como seus contemporâneos, Le Play era adepto da ciência nomotética. Almejou
descobrir as leis imutáveis que governam os fenômenos sociais. Porém, recusava-se a
encaixar os fatos nos sistemas teóricos construídos a priori. Apostou na observação metódica
como estratégia para fazer a “autópsia do corpo social”. Cumprida a tarefa de coleta das
informações procurou classificar os fatos observados utilizando procedimentos estatísticos e
comparativos para em seguida dispô-los em monografias.
A partir de suas investigações Le Play descobriu que as sociedades são felizes quando
asseguram o pão cotidiano e praticam a lei moral, responsável pelo controle do livre-arbítrio
que completa a natureza imperfeita do homem. No século dezenove as sociedades européias
viviam um momento de instabilidade. Localizou o início desta instabilidade no século anterior
quando as transformações provocadas pela Revolução Industrial levaram a predominância do
espírito de novidade sobre o espírito de tradição. Reconheceu que as inovações
contemporâneas melhoraram a vida material, mas desorganizaram a vida moral. Caberia às
autoridades executar um plano de reformas que mantivesse as conquistas humanas e ao
mesmo tempo recuperasse a felicidade perdida pela rapidez das transformações. Para Le Play,
a Ciência Social poderia cumprir papel importante neste processo.
O sociólogo elegeu a família como a unidade social por excelência. Entendeu que o
progresso e a prosperidade da nação dependem da sua adequada organização. Entretanto, nem
todas as famílias estão constituídas sobre as mesmas bases, nem apresentam características
idênticas. Le Play distinguiu três classes de organização familiar: a família patriarcal, a
família instável e a família troncal.
Na família patriarcal o pai exerce uma ampla autoridade sobre os filhos. Estes, mesmo
casados, permanecem ao lado do patriarca. Quando o pai falece os bens são transferidos para
o primogênito que se torna o novo chefe de família. Neste modelo de organização familiar o
pão cotidiano não falta, pois a produção é controlada mediante as necessidades diárias da
122
família; e a lei moral impera, uma vez que as crenças religiosas estão arraigadas e são
responsáveis pela manutenção dos costumes sociais.
Na organização familiar instável a figura do pai não é tão importante. Ao contraírem
matrimônio os filhos abandonam a casa paterna. Nesta ocasião recebem um dote e passam a
dispor exclusivamente do rendimento do próprio trabalho. Quando o pai morre os bens são
distribuídos igualitariamente entre os filhos. Essa divisão forçosa pode levar a fragmentação
da propriedade ou ao desaparecimento de estabelecimentos comerciais e industriais prósperos.
Neste modelo de família o pão nem sempre é assegurado, pois os filhos, solteiros ou casados,
podem ou não conseguir rendimento suficiente para assegurar a própria sobrevivência e de
sua prole a depender das suas aptidões. A lei moral nem sempre vigora, porque sem a
autoridade paterna e a ênfase nas crenças religiosas os indivíduos ficam vulneráveis às más
inclinações. Essa disposição familiar teria levado a sociedade européia ao pauperismo e ao
desregramento moral.
Na família troncal uma conciliação entre a autoridade do pai e a liberdade dos
filhos. Um dos rebentos casados permanece associado aos pais, os demais recebem um dote e
adquirem a independência. Quando há morte prematura do herdeiro associado, os
descendentes deste tipo de família renunciam à liberdade adquirida e colocam-se à disposição
para regressar ao lar natal e ocupar o lugar do irmão falecido. Esse modelo satisfaz tanto
aqueles que se adaptam às suas origens quanto aos que querem elevar-se na hierarquia social
através de empresas aventuradas. Caso ocorra algum infortúnio haverá sempre a possibilidade
de contar com o auxílio da família. Assim, o pão cotidiano não é colocado em risco. Neste
tipo de organização familiar também a valorização do conjunto de tradições herdado dos
antepassados. Desse modo, a garantia da existência da lei moral. Le Play acreditou na
superioridade desta forma de organização familiar, pois estabelece o meio termo entre a
família patriarcal demasiadamente presa ao culto à tradição e a família instável, dominada
pelo espírito de novidade.
O sociólogo francês advertiu que se nos tempos antigos a família bastava para garantir
aos indivíduos sua vida material e a manutenção da lei moral, a constante industrialização das
sociedades modernas exigiu uma modificação nas condições do trabalho e nas relações entre
patrões e operários, cuja base deveria ser a substituição da autoridade do pai pela do patrão
(patronato), que deveria atuar como tutor e vigilante de seus trabalhadores.
123
Conforme Le Play, nas sociedades bem constituídas, isto é, quando a autoridade do pai
na família troncal e do patrão na fábrica se encontra fundamentada sobre sólidos cimentos, o
papel do Estado é restringido. Ele ocupa-se apenas das funções que não podem ser atribuídas
à família e à associação.
272
Apesar de ter produzido uma obra numerosa a Escola de Ciência Social não aparece
com destaque nas histórias da Sociologia. Ela é timidamente citada por Lepenies, Cuin e
Gresle, Peter Laslett, Scott e Tily e Hervé Le Bras, Emmanuel Todd e Kalaora e Savoye.
Estes últimos atribuem o obnubilamento desta tradição sociológica à indissociabilidade entre
ciência e ação que gerou dificuldades de estabelecer trocas intelectuais com os cientistas
sociais universitários partidários da neutalidade do saber e do descompromisso do pesquisador
e devido aos acordos políticos dos leplaysianos, especialmente suas ligações com o clero
católico.
273
Após a morte de Le Play seus seguidores envolveram-se numa série de conflitos,
frutos dos interesses diversificados daqueles que se julgavam os verdadeiros herdeiros dos
propósitos do mestre. Um grupo permaneceu à frente do periódico La Réforme Sociale e
voltou-se para a elaboração de instrumentos de intervenção social. Entre os integrantes desse
grupo estão: Émile Cheysson, Maurice Bellon, Patrick Geddes, Vitor Branford e Charles
Booth. O outro fundou a revista La Science Sociale e investiu no aprofundamento do estudo
das famílias, via de acesso para a compreensão da sociedade. Entre seus membros estão:
Henri de Tourville, Edmond Demolins, Paul de Rousiers, A. de Préville, Léon Poinsard, Paul
Bureau, Martin Saint-Léon, Robert Pinot, M. Vignes e Vidal de La Blache. Ambos os grupos
tinham em comum a concepção de uma ciência social que deve servir à intervenção. O
desacordo devia-se a uma diferente apreciação sobre a dosagem da ciência e da reforma.
274
272
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux
Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-
Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas.
Tese (Doutorado) - Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001; PEREIRA, Gisela Maria Bandeira. A
escola de Le Play e a sua influência no pensamento romeriano. In: _______. O culturalismo sociológico em
Sílvio Romero. São Paulo: [S.n.], 2001; BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. The family in the works of Frédérich
Le Play. Dados, Rio de Janeiro, v. 45, n. 3, p. 513-544, 2002.
273
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux
Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989.
274
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux
Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-
124
No Brasil, a Escola de Ciência Social teve como principais adeptos Sílvio e os seus
discípulos Artur Guimarães e Oliveira Viana. Neste trabalho são estudadas a apropriação de
obras de Henri de Tourville, Edmond Demolins e Paul Rousiers pelo intelectual sergipano
3.2.1 APROPRIAÇÃO DE HISTOIRE DE LA FORMATION PARTICULARISTE :
L’ORIGINE DES GRANDS PEUPLES ACTUELS, DE HENRI DE TOURVILLE
Henri de Tourville (1842-1903) nasceu na Normandia, na França. Estudou Direito na
École de Chartres, mas não seguiu carreira. Escolheu o sacerdócio. Quando conheceu Le Play
abandonou os deveres sacerdotais para se dedicar aos estudos sociológicos. Foi membro da
Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie Sociale. Editou os periódicos La
Réforme Sociale e La Science Sociale.
275
Histoire de la formation particulariste é a reunião de artigos publicados pelo autor na
revista La Science Sociale, de fevereiro de 1897 a 1903, ano de sua morte. O livro foi editado
pela Firmin-Didot et Cie em data desconhecida.
A obra foi impressa em formato in-8, um dos padrões de Firmin-Didot. Na sua
elaboração foi empregado o tipo romano com corpo 9, entrelinhamento com 4 pontos em
relação ao corpo. O exemplar apresenta margem superior, dianteira e medianiz de 2 cm e
margem de 3 cm. As margens originais foram respeitadas pelo encadernador da Livraria F.
Briguiet et Cie., no Rio de Janeiro. alguns aparelhos críticos como advertência do editor,
notas explicativas e de referência e índice analítico.
Na advertência o editor informa que foi respeitado o tulo que o autor havia dado à
série de artigos, mas foi acrescentado o subtítulo L’origine des grands peuples actuels para
atrair um público mais amplo, uma vez que o título é claro para o público especializado, leitor
Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas.
Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.
275
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux
Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-
Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas.
Tese (Doutorado) - Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.
125
da revista La Science Sociale, conhecedor das doutrinas da Escola Social de Le Play, mas
obscuro para o grande público.
O objetivo da obra é estudar numa perspectiva histórica a ascensão dos povos de
formação particularista. A obra foi dividida em 30 capítulos. Tourville fez um histórico da
formação dos povos da era antiga até a contemporânea. Estudou a invasão da Roma Antiga,
destacando os germânicos, os góticos, os noruegueses, os saxões e os francos. Analisou o
Império Carolíngio, do apogeu à decadência. Estudou o surgimento e o auge do Feudalismo
Investigou a introdução dos saxões na Grã- Bretanha, o predominio desses povos sobre os
celtas, normandos e dinarmaqueses e a aliança como os anglos. Analisou o Renascimento
Comercial, a descoberta das Índias Orientais e Ocidentais, o surgimento das Monarquias
Européias, a Revolução Francesa, o Império Alemão e os grandes povos particularistas atuais:
ingleses e norte-americanos.
Henri de Tourville é considerado um dos principais renovadores da Escola de
Ciência Social, pois procurou integrar as monografias de famílias e as monografias de
sociedades, procurando realizar de forma inovadora o que seu mestre havia tentado sem muito
sucesso. Para cumprir tal objetivo, investiu na criação de uma nomenclatura dos fatos sociais,
entendida como instrumento que permitiria, partindo da análise da família, estudar as
sociedades. Nesta nomenclatura, os fatos sociais são distribuídos em 25 grandes classes
(lugar, trabalho, bens imóveis, bens móveis, salário, economia, poupança, fases de existência,
patronato, comércio, culturas, intelectuais, religião, vizinhança,
corporações, comuna, reunião
de comunas, cidades, comarca, província, estado, expansão da raça estrangeira, história da
raça e hierarquia da raça) que favorecem a descrição metódica da realidade através do
isolamento dos fatos sociais essenciais, sobretudo porque permite ascender a uma explicação
pelo estudo da ação e da reação dos fatos entre si.
Seguindo essa metodologia para a análise da formação dos povos o sociólogo francês
classificou as sociedades humanas em dois tipos: a sociedade de formação comunária e a
sociedade de formação particularista. As sociedades de formação comunária são constituídas
por povos que procuram resolver os problemas da existência apoiando-se na coletividade,
quer da família, da tribo, do clã, do município, da província, do Estado. Notou que as
sociedades comunárias são mais numerosas e apresentam três modalidades típicas conforme a
espécie de família que lhes serve de apoio: a comunária de família, a comunária de família e
126
Estado e a comunária de Estado. As duas primeiras são comuns no Oriente Europeu e
Asiático e a última na Europa Central e na América do Sul.
Ao contrário das sociedades de formação comunária, as de formação particularista
procuram solucionar os problemas da vida firmando-se na energia individual, na iniciativa
privada. As sociedades particularistas são menos numerosas e tem como principais
representantes a Inglaterra e os Estados Unidos. Para Tourville, os povos particularistas são os
mais preparados para os desafios da contemporaneidade e para que as outras sociedades
consigam atingir a felicidade devem inspirar-se no modelo de educação desses povos para
transformar a índole comunária em índole particularista.
276
276
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.],
127
Figura 12 – Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste:
l’origine des grands peuples actuels, de Henri de Tourville
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de Histoire de la formation particulariste. 2004.
Acervo pessoal.
128
As anotações que Sílvio deixou nessa obra foram parcas e têm o caráter de síntese:
“(Comércio longo –antigo)”277; “Godos e saythes”278; “(Germans)”279; “Invasões
Razão”280; “(O ponto de partida)”281; “(Origens)”282; “(A formação)”283; “(As invasões)”
e “(As transformações)”, “os germânicos são superiores aos romanos possuem forma social
superior formação particularista”284; “Vassalalidade, Patronato, Benefício, Colonato,
Servidão, Recomendação”285; “Noruega/ Planície Saxônica/ França do Norte/ Inglaterra do
Sul/ Estados Unidos/ Austrália/ Canadá/ Nova Zelândia”
286
A importância de Henri de Tourville para a elaboração do pensamento social e
pedagógico de Sílvio pode ser aquilatada a partir da leitura dos seus textos.
Em 1904, no prefácio do livro Problemas brasileiros, de Artur Guimarães, afirmou
que os homens cultos do Brasil não têm “lançado as vistas sobre os belos trabalhos da Escola
de Le Play”. A corrente sociológica tem sido citada uma ou outra vez sem grande destaque.
Os professores também não a têm adotado nos seus cursos. Notou ser o único que, poucos
anos, tem ensinado as doutrinas dessa escola, que na sua opinião tem os melhores trabalhos
277
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels.
Paris: Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 28 [margem dianteira].
278
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 31 [margem superior].
279
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 32 [margem medianiz].
280
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 40 [margem inferior].
281
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 42 [margem medianiz].
282
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 60 [margem dianteira].
283
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 70 [margem inferior].
284
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 100 [margem dianteira].
285
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 166 [margem superior].
286
TOURVILLE, Henri de. Histoire de la formation particulariste: l’origine des grands peuples actuels. Paris:
Firmin-Didot et Cie., [S.d.], p. 260 [margem superior].
129
sobre a índole das nações. Afirmou, inclusive, que os dois últimos capítulos da obra
prefaciada foram solicitados por ele “para servirem de subsídio e documentação” ao trabalho
sobre o Brasil que estava preparando à luz dos processos da escola.
287
Seu encantamento pelos métodos empregados por Le Play e seus discípulos evidencia-
se nessa passagem:
Lançam mão de processos de observação local, estudando com monografias
especiais cada região do pais sob as mais variadas faces, conforme uma
enumeração de questões. Depois de reunida grande massa de documentos do
gênero é que os mestres do sistema se atrevem a formular quadros gerais
desta ou daqueles nacionalidade e estabelecer as leis de seu
desenvolvimento
.
288
Para Sílvio os procedimentos desta escola são preciosos para quem quer conhecer um
país e o povo que o habita. Revelou que, embora soubesse que fazer um quadro social do
Brasil sob essa direção demandaria muito tempo e trabalho, pretendia fazê-lo caso tivesse
saúde.
Ainda neste trabalho citou Histoire de la formation particulariste, de Henri de
Tourville. Afirmou que é um trabalho digno de leitura, essencial para quem deseja estudar a
índole de uma nação. Em seguida, apresentou os principais pontos da doutrina de Tourville: a
divisão da família em patriarcal, quase patriarcal, instável e tronco; e a divisão da sociedade
em comunária de família, comunária de família e de Estado, comunária de Estado e
particularista. Observou que é um estudo digno de leitura para quem estiver interessado em
conhecer profundamente a nação.
No livro America Latina, aconselhou o médico e pedagogo Manuel Bomfim a adotar
Histoire de la formation particulariste como livro de travesseiro, para não dizer tantos
287
ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e
outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 25-42.
288
ROMERO, Sílvio. O Sr. Artur Guimarães e seu novo livro (março, 1904). In: _______. O Brasil Social e
outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 27.
130
“impropérios” sobre o povo brasileiro e as nações européias.
289
Nesta obra, apontou que a
cura para os males do pais não é a defesa da instrução como prega Bomfim, mas a educação
anglo-saxônica, a única capaz de transformar a índole comunária do povo brasileiro em índole
particularista.
No Brasil na primeira década do século XX, criticou aqueles que atribuem os
problemas do país à inércia dos políticos. Para ele, os problemas devem ser atribuído aos
defeitos decorrentes da formação comunária. Acredita que enquanto não utilizarmos os meios
necessários para modificar o “caráter intrínseco de nossas gentes”, o país permanecerá
mergulhado no atraso.
Em O remédio elencou Histoire de la formation particulariste entre os livros
imprescindíveis para estudar a educação brasileira. Voltou a afirmar a necessidade de
tranformar a índole comunária em índole particularista e indicou os métodos empregados por
“Henri de Tourville, Ed. Demolins, Paul de Rousiers, Paul Descamps, Léon Poinsard, Robert
Pinot, A. de Préville, Champault, Bureau”, os “ilustres” cultores dos processos de observação,
idealizados por Frédérich Le Play.
290
3.2.2 APROPRIAÇÃO DE A QUOIT TIENT LA SUPERIORITÉ DES ANGLO-
SAXONS? E L’ EDUCATION NOUVELLE, DE EDMOND DEMOLINS
Edmond Demolins (1852-1907) nasceu em Marselha, na França. Fez os primeiros
estudos na terra natal. Estudou o secundário no Collège Jésuite des Mongré. Formou-se em
História na École de Chartres. Em Paris conheceu Fredéric Le Play e tornou-se um de seus
diletos discípulos. Foi membro da Societé Internacionale des Études Pratiques d’Economie
Sociale, da Union de la Paix Sociale, da Société de Geographie de Paris. Criou a Société pour
le développement de l’ initiative privée. Inspirado nos métodos pedagógicos ingleses fundou a
École des Roches. Dirigiu a revista La Réforme Sociale e fundou e dirigiu a revista La Science
289
ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello &
Irmão, 1906, p. 264.
290
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 245.
131
Sociale. É autor de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? (1897), Le Français
d’aujourd’hui: les types sociaux du midi et de centre (1898), L'Éducation nouvelle: L'École
des Roches (1899), Le Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Nord (1899), Comment la
route crée le type social: les routes du monde moderne (1900), A-t-on intérêt à s’emparer du
pouvoir? (1902), entre outras.
291
A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? e L’éducation nouvelle são analisadas em
conjunto devido a organicidade das obras.
291
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses continuateurs aux
origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-
Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas.
Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001; ROMERO, Sílvio. Edmond Demolins.
In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001,
p. 61-82; BOTELHO, Tarcísio Rodrigues. The family in the works of Frédérich Le Play. Dados. vol. 45, n. 3, p.
513-544, 2002.
132
Figura 13 – Folha de rosto de A quoi tient la superiorité des anglo-
saxons? por Edmond Demolins
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de A quoi tient la superiorité des
anglo-saxons? 2004. Acervo pessoal.
133
A quoi tient la superiorité des anglo-saxons?
292
era originalmente uma série de artigos
publicada na revista La Science Sociale. Em 1897, foram reunidos e transformados em livro
pela editora Firmin-Didot et Cie. O volume lido por Sílvio corresponde à sua quinta edição.
No verso da folha de rosto o editor fez um convite à leitura de outras obras do autor:
Du même auteur:
Les Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Midi et du Centre. mille.
Un vol, in-12, broché. 3 fr. 50
Cartonn percaline 4fr.
50
L'Éducation nouvelle - L'École des Roches. 9ª mille. - Un vol, in-12, avec de
nombreuses illustration 3fr. 50
Cet ouvrage a étraduit en espagnol et en russe; cette dernière traduction a
été fite par M. Pobedonostzeff, Procureur du Saint Synode.
A quoi tient la superiorité des Anglo-saxons. - Éditions anglaise, allemande,
espagnole, russe, romaine, polonaise et arabe.
Conférence de M. E. Demolins à la Sorbonne sur l'avenir de l'Education
nouvelle. Une brochure in-18 0 fr. 50
L'École des Roches: Nos élèves en Angleterre. Une brochure in-8º
0 fr. 75
En préparation:
Les Français d'aujourd'hui - les types sociaux du Nord.
293
Além de estimular o leitor a comprar outros exemplares o editor anunciou as diversas
traduções, mostrando a importância da obra, o quanto ela tem sido requisitada. Apresentou
também o preço das obras e ofereceu um dos livros em brochura ou cartonado, para que o
leitor ficasse à vontade para escolher aquele que fosse mais adequado ao seu orçamento. Essas
estratégias parecem ter surtido efeito, uma vez que além de A quoi tient la superiorité des
292
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897.
293
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, verso da folha de rosto.
134
anglo-saxons? Sílvio adquiriu L’Education nouvelle e
Les Français d'aujourd'hui: les types
sociaux du Midi et du Centre
294
.
A obra em análise foi impressa em formato in-12, o principal padrão da casa Firmin-
Didot. Na sua confecção foi empregado o tipo romano com corpo 12, entrelinhamento com 4
pontos em relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margem superior de 2,5 cm e
margens inferior, medianiz e dianteira de 1,5 cm. As margens originais eram um pouco
maiores e foram reduzidas quando a obra recebeu encadernação. Isso fica evidente a partir do
corte sofrido por algumas das anotações feitas pelo leitor.
alguns aparelhos críticos como prefácios do autor, índice analítico e apêndice do
editor. No prefácio à primeira edição Demolins estabeleceu um diálogo com o leitor. Alertou
para eviter toute confusion de la part du lecteur que no segundo capítulo, quando
mencionou a Alemanha, estava se referindo à Alemanha nova e não a Alemanha antiga. No
prefácio à segunda edição rebateu críticas feitas por alguns leitores, especialmente a que
postula a superioridade dos alemães. Alguns críticos alegaram que na Alemanha é forte o
espírito de associação e que isso comprova a pujança do país no concerto das nações
européias. Demolins rebateu afirmando que as associações comerciais alemãs, organizadas
artificialmente, são eficazes para atenuar a inferioridade do meio, das condições de trabalho e
de uma formação social que cultiva mais a ação coletiva que a individual, mas não são
suficientes para suprimir essa inferioridade. Apontou como razão da inferioridade alemã o
regime político imperial implantado após a unificação, excessivamente centralizador e
opressor da iniciativa individual. Estas observações do autor foram sublinhadas por Sílvio
que, ao término do prefácio, observou: “Há erro n’esta apreciação da Allemanha”.
295
Este foi
um prenúncio de algumas discordâncias do nosso leitor em relação à obra do sociólogo
francês. No apêndice preparado pelo editor foram publicadas resenhas favoráveis publicadas
na imprensa francesa e estrangeira por autores eminentes. Através desses mecanismos os
produtores procuraram guiar a leitura.
294
DEMOLINS, Edmond. Les français d’aujourd’hui: les types sociaux du midi et du centre. Paris: Firmin
Didot, [1898?]; DEMOLINS, Edmond. L’Éducation nouvelle: l’École des Roches. Paris: Firmin-Didot, 1899.
295
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. XVI.
135
Nesta obra Demolins estabeleceu como objetivo evidenciar que a superioridade da
Inglaterra e dos Estados Unidos no cenário mundial deve-se à formação particularista dos
povos anglo-saxões. Buscou subsídios na obra de outro discípulo de Le Play: Henri de
Tourville. Adotou a classificação da sociedade em povos de formação comunária de família,
de formação comunária de família e de Estado, de formação comunária de Estado e de
formação particularista. Nas formações sociais comunárias há o predomínio do interesse
coletivo sobre o interesse particular, da vida blica sobre a vida privada e preferência
pelas profissões liberais e administrativas. Nas formações particularistas a prevalência do
interesse particular, da vida privada e há maior procura pelas profissões relacionadas à
agricultura, à indústria e ao comércio. Assim como Tourville, julgou que os povos
particularistas são os únicos aparelhados para vencer os desafios da sociedade contemporânea.
Dividiu a exposição em três partes: Le français et l’anglo-saxon dans l'école, Le
français et l'anglo-saxon dans la vie privée e Le français et l’anglo-saxons dans la vie
publique.
No primeiro livro, Le français et l’anglo-saxon dans l'école, evidenciou que cada povo
organiza a educação à imagem e semelhança do seu estado social. Mediante esta convicção
analisou os regimes escolares francês, alemão e inglês com o fito de mostrar qual o modelo
mais adequado para ser adotado na França.
Mostrou que a França, habitada por povos de formação comunária de Estado, prioriza
a educação intelectual, a preparação dos discípulos para o ingresso nas carreiras liberais e
administrativas. Enfatizou que o conhecimento transmitido é superficial, apenas suficiente
para os exames necessários para o ingresso nas escolas superiores. O método de ensino é
mnemônico e visa a obtenção da docilidade.
Em seguida, avaliou o regime escolar vigente na Alemanha, país também constituído
por povos de formação comunária de Estado. Destacou que se o objetivo do regime escolar
alemão é preparar os indivíduos do ponto de vista técnico, oferecendo uma educação literária
de qualidade, do ponto de vista prático, tornando-os aptos para a tarefa de expansão do país, e
do ponto de vista político, formando defensores do Império. Demolins rejeitou o modelo
alemão, que na sua opinião não consegue cumprir o que propõe. Além disso, considerou a
educação oferecida na Alemanha, assim como a fornecida na França, incapaz de produzir
136
homens com espírito de iniciativa como exige o desenvolvimento da sociedade
contemporânea.
Analisou também a experiência educacional inglesa. Mostrou que o seu alvo é
desenvolver todas as faculdades humanas. Para atingir esse ideal a escola prima pela prática e
oferece aos discípulos o contato com a natureza e a realidade das coisas. Cita como
exemplares as instituições de Albotsholme e de Bedales. As atividades desenvolvidas nestas
escolas compreendem instrução clássica, física, manual e artística. Ressaltou que a educação
inglesa é sustentada pela iniciativa privada, característica típica das sociedades de formação
particularista. Nas sociedade de formação comunária ocorre o oposto: o Estado controla a
educação a partir dos controle dos exames.
Após analisar os regimes escolares francês, alemão e inglês, debruçou-se sobre o
modelo que deve ser adotado para garantir um futuro luminoso para a França, uma vez que
julgou o modelo vigente inadequado às exigências da sociedade industrial. Avaliou que o
modelo anglo-saxão era o único capaz de corrigir as deficiências da formação social francesa
e livrar o país de uma profunda crise social
No segundo livro, Le Français et l’Anglo-saxon dans la vie privée, evidenciou que a
formação comunária de família e estado da sociedade francesa e o modelo de educação dela
decorrente faz com que os homens se mantenham ligados à família, à comunidade e seus
respectivos modos de existência, provocando uma redução da taxa de natalidade e
comprometendo a longo prazo a situação financeira do país; a formação particularista dos
povos anglo-saxões e seu respectivo modelo educacional produzem homens de iniciativa
capazes de triunfar ante as atuais dificuldades e assegurar o mais alto grau de
desenvolvimento para o seu país.
Em Le Français et l’Anglo-saxon dans la vie publique, mostrou que a formação de
sociedade e família da França e o modelo de ensino levam os homens a esperarem que a
comunidade e o Estado resolvam seus problemas e a formação particularista dos anglo-saxões
incentivam os homens a resolver seus problemas com seus próprios esforços, apelando para
outras instâncias apenas em último caso. Para Demolins os povos anglo-saxões possuem
137
maior possibilidade de alcançar a felicidade que os franceses. Uma solução seria tentar
modificar a França adotando o modelo anglo-saxão de educação.
296
Sílvio leu atentamente A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? Assinou Roméro
na folha de rosto. Logo após dedicou-se a ler e anotar o volume.
Para assinalar as passagens mais relevantes utilizou asteriscos, sublinhados simples ou
duplos, traços verticais simples ou duplos ao lado dos parágrafos, a letra V ou parênteses para
assinalar os o início e o fim de um trecho selecionado.
Deixou anotações de síntese, de concordância, de discordância e outras nas quais
comparava o autor com outros autores.
Entre as anotações de síntese figuram: “a escola visa o saber e não a formação do
caráter e as necessidades da vida presente. A escola aleestá submetida ao ponto de vista
técnico, prático e político”
297
; “A Inglaterra e os Estados Unidos chegaram a perfeição de ter a
força social, dispensando a política. A França está atrasada, tem a política sem a social; A
Alemanha tem ambas mas tudo leva a crer que [ilegível]”
298
; “(disputa entre normandos e
saxões pela sobrevivência)”
299
; “família de sociedade patriarcal – comunária de família/
tronco particularista/ instável comunária de estado”, “1º Particularista com família tronco/
2º comunária de família com família patriarcal/ 3º comunária de estado com família instável”;
“quando o homem possue as qualidades fundamentaes ele resolve por sua própria conta a
296
Cf. DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-
Didot et Cie., 1897.
297
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 18 [margem dianteira].
298
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 135 [margem inferior].
299
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 188 [margem medianiz].
138
questão social e deve ser mestre de si mesmo e independente dos outros (These)”
300
;
(Indivíduo e sociedade)
301
; (These)
302
.
Também deixou algumas anotações de concordância: (tudo isto é capital e lança muita
luz)
303
; “Seria uma fortuna tomarmos o modelo americano ou inglez”
304
.
Apesar do entusiasmo pela obra Sílvio deixou algumas notas de discordância.
Demolins afirmou que os alemães pecam por defender uma educação militarizada voltada
para a defesa da soberania nacional. Sílvio contestou: “O imperador tem o ideal prático e
nacional. Nisto tem razão. Pode ter errado nos meios”
305
. Sílvio também achou que o autor se
confundiu algumas vezes: “Diz que a Alemanha tem formação comunária de estado e outras
vezes faz exceção para a planície saxônica; outras vezes para toda a Alemanha do Norte, há
evidente preocupação com o chauvinismo francez – A verdade é que a Alemanha quasi inteira
é uma sociedade de formação particularista”
306
.
Mas, na maioria das marginálias de A quoi tient la superiorité des anglo-saxons?,
Sílvio procurou evidenciar a possibilidade da implantação dessas idéias no Brasil. Quando
Demolins discorreu sobre o modelo escolar francês anotou repetidamente em diversas páginas
(Brasil).
307
Noutra página afirmou peremptoriamente: (Parece escrito pª o Brasil)
308
. Quando o
300
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 216 [margem medianiz].
301
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 332 [margem medianiz].
302
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 347, 381, 389, 390 [margem medianiz].
303
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 176 [margem medianiz].
304
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 177 [margem inferior].
305
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 61 [margem medianiz].
306
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 16 [margem inferior].
307
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 5, 6, 8, 9 e 11 [margem dianteira e medianiz].
139
autor escreveu sobre o modelo alemão, mais especificamente sobre o ensino gratuito e
obrigatório, registrou: (Retrato do Brasil).
309
Quando Demolins comparou a escola inglesa
com a francesa escreveu na margem dianteira: (Brasil tudo inverso) e (Brasil como França).
310
Quando o autor mostrou o programa que deve ser seguido na França escreveu na margem
medianiz: (Sonho no Brasil),(Parece sonho / Incrível) e (Brasil não)
311
. Quando Demolins
explicou o controle da educação pelo Estado na sociedades comunárias a partir dos exames
escreveu na margem medianiz: (O caso do Brasil)
312
. Anotou também sobre as dificuldades de
aplicar as idéias de Demolins ao país: “(Não se pode fazer cálculos de nada no Brasil, não
estatísticas que prestem)”, “(Temos apenas e mal nota de receita e despesa geral e da
importação e exportação geral e mais nada)"
313
. Apesar dos empecilhos julgou que: “Tudo
que se diz aqui a questão social se deve dizer ao brasileiro para solução do atraso do paiz
(Não esquecer)”
314
.
308
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 13 [margem inferior].
309
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 16 [margem dianteira].
310
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 60 [margem inferior].
311
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 64 [margem dianteira].
312
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 72 [margem dianteira].
313
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 122 [margem dianteira].
314
DEMOLINS, Edmond. A quoi tient la superiorite des anglo-saxons? Paris: Librairie de Paris Firmin-Didot
et Cie., 1897, p. 216 [margem medianiz].
140
Figura 14 – Folha de rosto de L’éducation nouvelle: l’École des Roches,
de Edmond Demolins
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’éducation nouvelle. 2004. Acervo
pessoal.
141
O exemplar de L’Éducation Nouvelle: L’École des Roches
315
foi publicado em 1899,
pela editora Firmin-Didot et Cie. No verso da folha de rosto o editor convidou, como de
costume, à leitura de outras obras do autor:
Du même auteur:
A quoi tient la superiorité des Anglo-saxons.
Un vol, in-12, 15ª mille 3 fr. 50
Le même ouvrage: Éditions anglaise, allemande, espagnole, polonaise et
arabe.
Les Français d'aujourd'hui: les types sociaux du Midi et du Centre. mille.
Un vol, in-12, 6ª mille 3 fr. 50
En préparation:
Les Français d'aujourd'hui - les types sociaux du Nord.
316
Usou mais uma vez a estratégia de elencar as traduções e inovou ao exibir a tiragem,
evidenciando a aceitação da obra.
A obra em análise foi impressa em formato in-12. Foi empregado o tipo romano com
corpo 12, entrelinhamento com 4 pontos em relação ao corpo. O referido exemplar apresenta
margens superior, inferior e dianteira de 2,0 cm e margem medianiz de 1,5 cm. Não há sinais
de redução das margens durante o processo de encadernação. Há alguns aparelhos críticos
como prefácio do autor e apêndices do editor. No prefácio Demolins explicou o propósito da
obra para que o leitor compreendesse a sua exposição. Posicionados no final da obra, os
apêndices La réforme de l'enseignement, uma conferência de M. Jules Lemaitre proferida na
Sorbonne, La superiorité de l'École anglaise sur l'École allemande, artigo de um professor
alemão, traduzido por M. J. C., Le type nouveau de l'École professionelle ouvrière e L'avenir
de l'éducation nouvelle, respectivamente, artigo e conferência de Edmond Demolins,
cumpriram a função de reforçar as idéias defendidas pelo autor.
315
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: L'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899.
316
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: L'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899.
142
Antes de conhecermos esta obra de Demolins, faz-se necessário compreender que
além de integrar a Escola de Ciência Social, ele é reconhecido pela sua contribuição à
Pedagogia. É considerado um dos integrantes do movimento da Escola Nova que entre a
última década do século dezenove e a terceira do século vinte, afirmou-se na Pedagogia
mundial com experiências educativas consideradas de vanguarda, inspiradas em princípios
formativos diferentes daqueles em vigor na escola tradicional. Na base dessa consciência
educativa inovadora estavam não as descobertas da Psicologia, que vinham afirmando a
radical “diversidade” da psique infantil em relação à adulta, mas também o movimento de
emancipação de amplas massas populares nas sociedades ocidentais. Embora as “escolas
novas” tenham nascido e se desenvolvido como experimentos isolados, ligados a condições
particulares e a personalidades excepcionais de educadores, elas, justamente porque tiveram
imediatamente ampla ressonância no mundo educativo, propiciaram uma série de pesquisas
no campo da instrução, destinadas a transformar profundamente a escola, não no seu
aspecto organizativo e institucional, mas também, e talvez sobretudo, no aspecto ligado aos
ideais formativos e aos objetivos culturais.
A característica comum e dominante das “escolas novas”, que tiveram difusão
predominantemente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos deve ser identificada no
recurso à atividade da criança. A infância, segundo esses educadores, deve ser vista como
uma idade pré-intelectual e pré-moral, na qual os processos cognitivos se entrelaçam
estreitamente com a ação e o dinamismo, não motor, como psíquico, da criança. A criança
é espontaneamente ativa e necessita, portanto ser libertada dos vínculos da educação familiar
e escolar, permitindo-lhe uma livre manifestação de suas inclinações primárias. Em
conseqüência desse pressuposto essencial, a vida da escola deve sofrer profundas mudanças:
deve ser, se possível afastada do ambiente artificial e constritivo da cidade; a aprendizagem
deve ocorrer em contato com o ambiente externo, em cuja descoberta a criança está
espontaneamente interessada, e mediante atividades não exclusivamente intelectuais, mas
também de manipulação, respeitando desse modo a natureza “global” da criança, que não
tende jamais a separar conhecimento e ação, atividade intelectual e atividade prática. Na base
das escolas “novas” existe, portanto, um ideal comum de educação ou escola ativa (como a
definiu o genebrino Pierre Bovet), do qual essas experiências serão, ao mesmo tempo porta-
bandeiras e modelos.
143
O experimento das “escolas novas” foi iniciado na Inglaterra por Cecil Reddie (1858-
1932) que, em 1889, abriu em Abbotsholme (perto de Derbyshire) uma escola para rapazes
dos 11 aos 18 anos, que dirigiu até 1927. Reddie defendia a modificação do ensino para torná-
lo mais adequado às exigências da sociedade moderna. Em contraposição a um programa
formativo antiquado (línguas mortas no centro, línguas vivas e ciências à margem) defendia
um programa capaz de “conseguir um desenvolvimento harmônico de todas as faculdades
humanas”. Na sua concepção, o rapaz deve tornar-se “um pequeno mundo real, prático” e
coligar sistematicamente “a inteligência” e “a energia, a vontade, a força física, a habilidade
manual, a agilidade”. Um adepto de Reddie, Haden Badley, afastou-se de Abbotsholme para
fundar Bedales, no Sussex, um internato que se organizava segundo princípios ainda mais
radicais, que valorizava no seu próprio interior um sistema de autogoverno e o princípio da
co-educação.
Edmond Demolins ao criar a École des Roches inspirou-se nas experiências de Reddie
e Badley. A propósito da Abbotsholme School, da Bedales School e da École des Roches, foi
muitas vezes posto em destaque, e não sem razão, o seu caráter de ilha privilegiada, destinada
a poucos afortunados, de boa extração econômica e social, radicalmente distante dos
problemas emergentes com a escola de massa, que já estava se afirmando nos albores do novo
século.
317
Vejamos detalhes dessa experiência na leitura do livro L’éducation nouvelle. A meta
do livro é apresentar à sociedade francesa a École des Roches, internato masculino fundado
em 1899, na França, pelo próprio autor e por Vte. de Glatigny, Alfred Firmin-Didot, Vte. Ch.
de Calan Paul Lebaudy, Pierre Lebaudy, Jules Siegfried Marc Maurel, Édouard H. Krafft,
Olivier Benoist, Olivier Sinn, Raverot, Edmond Marey, P. Lebouteux, políticos, editores e
professores eminentes. A instituição foi organizada de acordo com os moldes das escolas
inglesas, especialmente as de Bedales e Albotsholme. Através da fundação da escola Edmond
Demolins pretendeu cumprir uma das missões dos discípulos de Le Play: reformar a
sociedade. Apoiou-se na idéia de que não é a raça que produz o estado social, mas o estado
social que produz a raça. Desse modo, nada se opõe essencialmente a uma tranformação. Para
empreendê-la julgou necessária a assimilação da enérgica e eficaz educação inglesa, pois
317
CAMBI, Franco. Renovação da escola e pedagogia ativista. In: _______. História da Pedagogia. São Paulo:
UNESP, 1999, p. 515-516.
144
apenas esse modelo pode auxiliar na modificação da índole comunária do povo francês em
índole particularista, a única em condições de enfrentar os desafios da sociedade vigente.
A obra possui oito capítulos. No primeiro, Le mouvement d'opinion pour la
transformation de l'école, apresentou cartas de pais e artigos e discursos de intelectuais
franceses que mostravam-se encantados com as idéias expostas no livro À quoi tient la
supériorité anglo-saxons? e pediam a implantação de uma escola nos moldes anglo-
saxônicos, capaz de desenvolver o espírito de iniciativa.
No segundo capítulo, Le type ancien du professeur et de l'école, revelou que as escolas
francesas privilegiam a transmissão de um conhecimento superficial voltado para a prestação
dos exames, produzindo um discípulo que não domina nenhum saber. Mostrou que os
professores que atuam nessas instituições são responsáveis por classes de 20 a 40 alunos, o
que os impede de dar atenção especial aos discípulos. Notou que adotam o método
mnemônico: ministram os conteúdos e exigem a repetição por parte dos alunos. Garantem a
obediência através da coerção.
Em Le type nouveau du professeur et de l’école mostrou que a École des Roches,
baseada no sistema inglês, objetiva formar o homem completo, prepará-lo para as diversas
funções. O ensino é ao mesmo tempo teórico e prático. O professor tem de 25 a 30 anos,
conhece perfeitamente a matéria, é educado, trabalhador e pontual, goza de boa saúde e tem
experiência. Freqüentemente são submetidos a estágios nas escolas inglesas para aprenderem
os métodos lá empregados. O professor é responsável por classes de 10 a 15 alunos, fator que
facilita o acompanhamento das atividades. Visando esse acompanhamento o professor reside
na escola e, além de ensinar, supervisiona os alunos nas atividades corriqueiras do internato.
Asseguram a disciplina através da persuasão.
No capítulo seguinte, Le programme des études dans l'école actuellle, mostrou que o
currículo vigente no sistema escolar francês privilegia o ensino clássico. O ensino de Latim,
Grego, Francês, Inglês e Alemão ocupam a maior parte do tempo, enquanto o ensino de
Geografia, História, Matemática, Geologia, Botânica, Física, Química e Filosofia são
colocadas num segundo plano. De acordo com o autor esse programa não atende às
necessidades do país.
145
No quinto capítulo, Comment résoudre la question du latin, propôs um novo método
para o ensino do Latim. Lembrou que a melhor maneira de ensinar um idioma é ensinar a
falá-lo. Contudo, como no caso do Latim isso não é possível, propôs o método da tradução,
que permite a interpretação de páginas, capítulos e obras inteiras.
Em Le programme des études dans l'école nouvelle, apresentou o programa da École
des Roches. Ele é ao mesmo tempo clássico e moderno e está dividido em duas seções: a geral
e a especial, cada uma com a duração de três anos. Na seção geral são ensinados Francês,
Inglês, Alemão, Literatura, História, Geografia, Geologia, Botânica, Zoologia, Química,
Física, Matemática, Filosofia e Educação Física. As línguas vivas são ensinadas mediante a
leitura dos melhores autores e através do intercâmbio. As demais matérias são ensinadas
visando a prática, a aplicação dos conhecimentos estudados. A seção especial promove o
aprofundamento dos conhecimentos obtidos na seção geral com o intuito de preparar os
alunos para uma carreira. Ela subidivide-se em Letras, Ciências, Agricultura e Colonização e
Indústria e Comércio. O estudo das Letras é indicado para aqueles que desejam seguir as
carreiras liberais e administrativas. Nesta modalidade predomina o ensino de Grego e Latim.
o estudo de Ciências, Agricultura e Colonização e Indústria e Comércio é para quem
almeja as profissões habituais. Nesta modalidade o aprofundamento das disciplinas
científicas. Ressaltou que o currículo da École des Roches leva em consideração o
desenvolvimento psíquico dos alunos.
No sétimo capítulo, La vie de l'école nouvelle décrite par les éleves, apresentou relatos
dos alunos sobre o aproveitamento nas atividades desenvolvidas na escola: nos estudos
clássicos e modernos, nos trabalhos manuais, nos jogos e exercícios físicos e nas atividades
literárias e artísticas.
No último capítulo, L'École des Roches. renseignements pratiques, apresentou
informações que poderiam ser úteis aos leitores. Informou a localização da escola, numa
propriedade de 23 hectares, com um castelo e área livre para as aulas práticas, em Verneuil,
na região da Normandia. Reiterou o alvo da escola de formar homens completos e
desenvolver o espírito de iniciativa; a adoção de um programa clássico e moderno adaptado à
natureza da criança e as necessidades de ensino; a divisão do tempo escolar em três períodos,
que permite que os alunos retornem freqüentemente para casa permitindo que os pais
verifiquem as mudanças introduzidas pela escola no espírito de seus filhos. Informou também
146
as condições de admissão: a criança deve ter a partir de 8 e o preço varia de 2000 a 2250
francos. Lembrou que é mais barato manter o filho numa escola convencional, mas deixa-se
de oferecer uma educação energética compatível com os tempos modernos.
318
Sílvio não deixou muitas anotações em L’Éducation Nouvelle. Não por ter considerado
a obra sem interesse como teremos a oportunidade de perceber adiante, mas talvez pela
natureza informativa do texto, sem grandes elocubrações teóricas que demandassem maior
esforço para decodificar as representações oferecidas pelo autor.
algumas passagens grifadas, assinaladas com astericos ou entre parênteses. Grande
parte das anotações foram de síntese: “Inspetor”
319
; “Mentir”
320
; “Mentira”
321
; “As
cidades”
322
; “Exames”
323
; “O professor”
324
; “O methodo”, “Pequeno número”
325
; “Professor e
inspetor”, Especialista”
326
; “O professor”
327
; “O professor”
328
; “2 typos de ensino/ 2 de
programmas”
329
; “Grego”, Latim”
330
; “As duas secções”
331
; “As línguas maternas”
332
;
318
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899.
319
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 42
[margem dianteira].
320
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 43
[margem dianteira].
321
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 47
[margem medianiz].
322
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 49
[margem medianiz].
323
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 52
[margem dianteira].
324
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 54
[margem dianteira].
325
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 58
[margem dianteira].
326
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 62
[margem dianteira].
327
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 77
[margem dianteira].
328
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 76
[margem dianteira].
329
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 98
[margem dianteira].
147
“Línguas vivas”
333
; “As línguas no estrangeiro”
334
; “Geo e Hist.”
335
; “Novo centro
336
;
“Méthodos naturaes”
337
; “O corpo”
338
; “Gramática”
339
.
Em algumas ginas comparou as representações do autor sobre a educação francesa
com a realidade brasileira. Quando o autor criticou a falta de acompanhamento dos alunos
pelos professores no modelo francês, quando defendeu a necessidade de educar as crianças
em liberdade, em contato com a natureza e quando defendeu a inadequação do modelo
vigente e a necessidade de substituição do modelo francês anotou ao lado: “Brasil”.
340
Sílvio citou a leitura das obras de Demolins em diversas ocasiões. Em “Carta ao Ilmo.
Sr. Dr. José Oiticica” explicou-lhe as vantagens da Escola de Le Play, citou o “vibrante” A
quoi tient la superiorité des anglo-saxons? e lamentou que os brasileiros “dessem escassos
330
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 100
[margem dianteira].
331
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 152
[margem dianteira].
332
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 154
[margem dianteira].
333
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 169
[margem dianteira].
334
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 160
[margem dianteira].
335
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 162
[margem dianteira].
336
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 167-
168 [margem dianteira].
337
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 171
[margem dianteira].
338
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 184
[margem medianiz].
339
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 168
[margem inferior].
340
DEMOLINS, Edmond. L'education nouvelle: l'École des Roches. Paris: Firmin-Didot et Cie., 1899, p. 60,
69, 107, 108 e 111 [margem dianteira e medianiz].
148
ouvidos” e o tomassem por uma espécie de touriste”, que tivesse visitado a Inglaterra e
houvesse ali encontrado algumas coisas dignas de serem imitadas.
341
Afirmou que mais tarde o mesmo Edmond Demolins escreveu o “belo volume”
L’éducation nouvelle: l’École des Roches e, desta vez, muitos brasileiros que “vivem de se
entreter com as cousas do ensino” imaginaram que podiam contar com mais “um modelo
pedagógico a ser imitado superficialmente como é hábito fazer com muitos outros que a
Europa nos exporta”.
342
Sílvio explicou para o interlocutor que a crítica indígena” não quer reconhecer que o
novo processo de educação é a consequência de uma “especial doutrina de ciência social” e
tem apenas por fim arrancar as gentes francesas e, com elas, as espanholas, as italianas, as
portuguesas, as latino-americanas e outras congêneres, de sua “detestável” formação
comunária e fazê-las adquirir o caráter dos povos de formação particularista.
343
Em 1907, na ocasião da morte de Edmond Demolins, Sílvio publicou o seu necrológio.
Evidenciou a desolação do pequeno número de seus adeptos do Rio de Janeiro e aproveitou
para fornecer algumas informações bio-bibliográficas do grande sociólogo” e traçar alguns
comentários sobre alguns pontos de sua doutrina, afim de torná-lo mais conhecido do público
brasileiro.
Sobre A quoi tient la superiorité des anglo-saxons? afirmou que é um “excelente
trabalho de aplicação da escola da ciência social” e que “quem o com espírito aberto à
aquisição de idéias e não a ouvir frases sonoras, sente-se verdadeiramente transportado a um
mundo novo”
344
341
ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. JoOiticica. In: ______.
Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 44.
342
ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. JoOiticica. In: ______.
Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 45.
343
ROMERO, Sílvio. A Escola de Le Play no Brasil (1906) ou Carta ao Ilmo Sr. Dr. JoOiticica. In: ______.
Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 43-49.
344
ROMERO, Sílvio. Edmond Demolins (1907). In: ______. Brasil social e outros estudos sociológicos.
Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2001, p. 73.
149
Contudo, não é apenas nas marginálias e nos comentários elogiosos que é possível
compreender a apropriação que Sílvio fez das obras de Edmond Demolins. Nos textos sobre
educação que produziu a partir de 1906, América Latina
345
, O Brasil na primeira metade do
século XX
346
e O remédio
347
, é possível avaliar o quão importante as representações do
sociólogo francês foram para a construção do seu pensamento pedagógico.
Em América Latina criticou Manel Bomfim por acreditar na instrução (educação
intelectual) como remédio para os males do país. Afirmou que apenas esse expediente não era
suficiente, pois a causa das mazelas da nação era o caráter apático do povo brasileiro, fruto da
formação comunária da nossa sociedade. Para tranformar a índole comunária em índole
particularista sugeriu a “reforma da educação no sentido anglo-saxônico da iniciativa
individual”.
348
No texto O Brasil na primeira metade do século XX, aplicando os conceitos da Escola
de Le Play, evidenciou que, assim como a França, o Brasil é uma sociedade de formação
comunária de Estado. As famílias são apáticas e vivem à espera dos favores dos clãs e do
Estado. Os pais visam as carreiras liberais e administrtivas para seus filhos. Por essa razão não
valorizam a aquisição de saber. Para eles, basta que seus filhos sejam aprovados nos exames,
para que consigam ingressar nos cursos superiores e obter algum emprego público. Segundo
Sílvio, é em virtude deste estado de coisas que o Brasil não figura entre as grandes nações.
Para o intelectual sergipano, o Brasil ingressará na trilha do progresso quando
modificar a índole comunária em índole particularista. Somente com homens de largo espírito
de iniciativa, dispostos a labutar em quaisquer ramos da atividade humana (agricultura,
pecuária, mineração, comércio, indústria, navegação) e aptos a resolver as dificuldades da luta
da existência é que o Brasil poderá sonhar com a possibilidade de ingressar no conserto das
nações civilizadas.
345
ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello &
Irmão, 1906.
346
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912.
347
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 247.
348
ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello &
Irmão, 1906, p. 265.
150
Propôs para efetuar a modificação da índole do povo brasileiro o “regime de educação
severíssimo preconizado por Edmond Demolins”.
349
Uma visão mais nítida da adoção do modelo proposto por Demolins é possível na
leitura de O Remédio. Neste discurso aos bacharelandos da Faculdade Livre de Direito,
defendeu novamente a necessidade de transformação do caráter comunário em caráter
particularista. Indicou como bálsamo a educação. Mas não se trata de qualquer educação.
Deve-se buscar a inspiração nos “valentes” escritores da ciência social leplayana:
nos cultores da Educação Nova, nos fundadores da École des Roches, nos
propugnadores da iniciativa, da autonomia da vontade, da energia do caráter,
do largo espírito empreendedor, nos admiradores do são particularismo
anglo-saxão e ianque, nos homens que pregam ao indivíduo que em si
mesmo deve procurar as forças impulsoras da vida e não acostado à proteção
do grupo: – família, partido, clã, igreja, estado! [grifos do autor]
350
Segundo Sílvio “eles fizeram especialidade do estudo das medidas indispensáveis aos
povos denominados comunários, para conseguirem a modificação de sua índole apática e sua
transformação particularista” e, portanto, são os mais gabaritados para ajudar a “liquidar” essa
questão.
Foi na pista desses moldes que definiu como deveria ser a educação brasileira.
Considerou que a educação deve ter por fim aparelhar os homens para a luta pela
existência, para os desafios da sociedade contemporânea.
As escolas devem fugir das grandes cidades e instalarem-se no campo. Devem também
fugir dos casarões e dividir-se em casas.
349
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p.
62.
350
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 250.
151
Os professores e diretores devem residir com suas respectivas famílias na escola,
proporcionando ao aluno, um ambiente próximo ao do lar.
Ao contrário dos mestres tradicionais que apelam para o castigo para conseguir a
obediência dos discípulos, os mestres modernos devem estimular o sentimento de obediência
estabelecendo com os discípulos uma relação de confiança e cooperação.
Os professores devem estimular os sentimentos de iniciativa, honra, retidão, lealdade,
responsabilidade, pois de posse dessas características os homens saberão sair das dificuldades
por si mesmo, independentemente da carreira que abrace.
Após a exposição Sílvio aconselhou que “se parecer difícil trasladar para cá e espalhá-
los pelo nosso Brasil numerosos modelos de escolas e colégios à inglesa” cada pai de família
pode estimular esses sentimentos nos filhos, não encorajando seus lamentos e “queixumes”,
deixando-os desembaraçarem-se sozinhos e à medida que forem crescendo “incutir-lhes na
alma que devem criar suas próprias posições e que deverão partir para formar novo lar;
habituá-los a saber defender seus interesses e a conhecer o valor das coisas; fazê-los tomar o
prazer dos cuidados higiênicos, o gosto dos jogos em pleno ar”.
Através da comparação entre as marginálias que deixou em A quoi tient la supériorité
des anglo-saxons? e L’éducation nouvelle e os textos de Sílvio é possível perceber que as
representações do escritor francês acerca da sociedade e da educação causaram-lhe forte
impressão levando-o a adotá-las para analisar o Brasil.
Uma objeção de Sílvio em relação ao pensamento de Demolins é a classificação dos
alemães entre os povos comunários. Sílvio, devido ao seu germanismo, cultivado em outras
leituras, defendeu que os povos da Alemanha são superiores, que estão no mesmo nível dos
ingleses e dos norte-americanos. Ele atribui essa imagem negativa do autor em relação aos
alemães ao chauvinismo típico dos franceses.
351
351
Sobre o germanismo de Sílvio Romero consultar: NASCIMENTO, Jorge Carvalho do. A cultura ocultada
ou a influência alemã na cultura brasileira durante a segunda metade do século XIX. Londrina: Editora da
UEL, 1999.
152
3.2.3 APROPRIAÇÃO DE DE LA VIE AMERICAINE: L’ÉDUCATION ET LA
SOCIÉTÉ, DE PAUL DE ROUSIERS
Paul de Rousiers (1857-1934) nasceu na França. Estudou Direito no Institute
Catholique de Paris. Integrou o corpo docente do
Collège Libre des Sciences Sociales e da
École des Hautes Études Sociales. Foi membro da Societé Internacionale des Études
Pratiques d’Economie Sociale. Fundou a Union de la Paix Sociale. Foi diretor do Musée
Sociale. Publicou inúmeros artigos em La Réforme Sociale e La Science Sociale.
352
O exemplar de La vie américaine: l’éducation et la société
353
constante na Biblioteca
de Sílvio foi editado pela editora Firmin-Didot et Cie e corresponde à segunda edição. A obra
foi impressa em formato in-12, principal padrão desta casa editorial. Foi empregado o tipo
romano com corpo 10, entrelinhamento com 4 pontos em relação ao corpo. Apresenta
margens superior e medianiz de 1 cm, margem inferior de 2 cm e margem dianteira de 1,5 cm.
As margens originais eram maiores e foram reduzidas quando encadernadas pela Livraria F.
Briguiet e Cie, no Rio de Janeiro. Algumas marginálias foram perdidas nesse processo.
apenas um aparelho crítico: um índice analítico no final da obra. O Table des matiéres aponta
pormenorizadamente os assuntos tratados na obra. Esse dispositivo tem a intenção de dirigir a
leitura, fazê-lo vislumbrar o texto com o mesmo olhar dos produtores.
Em La vie américaine Paul de Rousiers teve como objetivo evidenciar a superioridade
do modelo escolar norte-americano e da sociedade de formação particularista. A obra foi
divida em dez capítulos.
No primeiro capítulo, L’éducation américaine, evidenciou porque é importante estudar
a educação nos Estados Unidos. Notou que a família norte-americana estimula seus filhos a
desenvolverem o espírito de iniciativa e o sentimento de responsabilidade. Logo que
ingressam nas universidades são incentivados a trabalhar para prover o próprio sustento. No
352
Cf. KALAORA, Bernard e SAVOYE, Antoine. Les inventeurs Oubliés: Le Play et ses Continuateurs aux
Origns dês Sciences Sociales. Paris: Champ Vallon, 1989; MONERRIS, José Ignacio Garrigós Monerris. Pierre-
Guillaume-Frédérich Le Play (1806-1882): biografia intelectual, metodologia e investigaciones sociológicas.
Tese (Doutorado) -Facultad Ecónomica, Universidad de Alicante, 2001.
353
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--].
153
Figura 15 – Folha de rosto de La vie américaine: l’éducation et société,
de Paul de Rousiers
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de La vie américaine. 2004.
Acervo pessoal.
154
início da carreira os jovens aceitam qualquer tipo de emprego. Como são empreendedores
costumam alcançar êxito em qualquer atividade que desenvolvam. As filhas recebem
tratamento similar. Pratica-se a co-educação dos sexos. As jovens podem escolher o próprio
marido ou podem seguir alguma carreira. Costumam trabalhar em manufaturas, hotéis e
escritórios.
No capítulo seguinte, Les fiançailles et le mariage, estudou a transmissão hereditária
dos bens. Ao contrário de outros países, inclusive anglo-saxônicos, nos Estados Unidos os
pais de família possuem o livre direito de testar. Os filhos também não recebem dotes ao
contrair matrimônio. Após as núpcias, o marido e esposa, passam a compartilhar os mesmos
direitos. Caso não consigam viver harmoniosamente podem recorrer ao divórcio. Para o autor,
uma das razões para a freqüência do divórcio na América é o predomínio do protestantismo,
mais condescendente com a separação que a Igreja Católica que prega a indissolubilidade do
casamento.
No terceiro capítulo, Les américaines chez eux et hors chez eux, analisou os diversos
tipos de habitação existentes nos campos e nas cidades, destacando o conforto e a praticidade.
Evidenciou que poucos profissionais responsáveis pelo serviço doméstico porque os norte-
americanos estão acostumados a cuidar da própria casa. Mostrou a importância das viagens
como forma de adquirir experiência.
Em La vie journalière, analisou o cotidiano dos norte-americanos. Destacou a
alimentação, a severidade dos costumes, a simplicidade dos divertimentos.
No quinto capítulo, L’aristocracie em Amérique, analisou a velha aristocracia do Sul,
que perdeu a direção da sociedade após a Indepedência dos Estados Unidos e, principalmente,
após a Guerra da Secessão, que pôs fim ao trabalho escravo, sem que os seus antigos
proprietários recebessem qualquer indenização; e a nova aristocracia, que se dedica ao
patronato e a criação de fundações que visam o bem público e são responsáveis pela
manutenção de hospitais, bibliotecas e universidades. Para Rousiers, esse novo modelo de
aristocracia é reponsável pelo desenvolvimento da democracia norte-americana.
Em L’espirit d’association et les intéréts généraux mostrou que graças ao espírito de
iniciativa os norte-americanos não recorrem às formas coletivas sem necessidade. Quando
155
isso acontece eles não recorrem ao Estado como as sociedades comunárias fazem, mas ao
espírito de associação. São comuns nos Estados Unidos as associações de interesse comum,
como as de ajuda mútua, de segurança, as esportivas, as bibliotecas comunitárias e as
associações do bem público como as associações cristãs de jovens homens que têm ao mesmo
tempo função moral e prática. Para Rousiers a prática da associação educa para o exercício da
democracia.
No sétimo capítulo, La vie politique, evidenciou a corrupção dos poderes públicos e
dos políticos da América e como ela cresceu ao longo das cadas. O que salva a sociedade
norte-americana é o caráter restrito dos poderes públicos em virtude da supremacia da
iniciativa privada. O poder dos esforços individuais é que fazem a força da América.
No capítulo seguinte, La vie intellectuelle aux Étas-Unis, mostrou a importância que
os norte-americanos atribuem à educação. Consideram-na uma arma essencial na luta pela
vida. O ensino primário é considerado o mais importante porque fornece ao indivíduo
conhecimentos importantes para que eles desenvolvam o self-government. O programa
compreende Leitura, Escrita, Cálculo, Desenho, Geografia e História dos Estados Unidos e
da Inglaterra, Inglês e Alemão. Após o término do primário vão para a High School na qual
aprofundam o conhecimento recebido anteriormente e passam a estudar também História
Natural, Química, Física e Literatura. A seguir ingressam no ensino superior que dura de três
a quatro anos. Não predileção pelas carreiras liberais e administrativas ou pelas carreiras
técnicas, voltadas para a Agricultura, a Indústria e o Comércio. Qualquer carreira é
considerada digna pelos norte-americanos. Todos os níveis de ensino aliam teoria e prática.
Além da educação formal, os jornais e revistas que circulam nos Estados Unidos, ao contrário
dos que circulam na França, são muito instrutivos e auxiliam na formação.
No nono capítulo, La situation religieuse, explicou que há diversas seitas religiosas
nos Estados Unidos fundadas na livre interpretação da bíblia. Observou que existem muitos
americanos que são indiferentes à religião. No entanto, julgou que não é honesto afirmar que
eles não acham a religião importante. Em geral, eles respeitam a crença alheia, financiam
construção de templos, comemoram o Dia de Ação de Graças, consideram a Bíblia um livro
de origem divina e descansam no domingo mesmo que seja do ponto de vista dos efeitos
desse repouso para o trabalho. Evidenciou que a Igreja Católica tem muitos adeptos nos
Estados Unidos, mas o número de católicos ainda é muito inferior ao das seitas protestantes
156
reunidas. Os principais obstáculos ao catolicismo nos Estados Unidos são a centralização
expressa no romanismo que causa repulsa aos norte-americanos que são avessos a qualquer
centralização e a neutralidade das escolas públicas que não permitem o ensino religioso
porque os protestantes não aceitam que seus adeptos ouçam as preces de uma outra religião. A
chance que a Igreja Católica tem de prosperar nos Estados Unidos é que o seu principal
dogma combina com o espírito americano. O catolicismo defende a salvação pela e pelas
obras e os norte-americanos são extremamente dedicados às obras devido ao seu espírito de
iniciativa. Ponderou que para que a Igreja Católica prospere na América é preciso que alguns
padres católicos parem de lutar contra o espírito americano, pois o êxito ocorrerá quando
ela se acomodar às características dos novos fiéis.
No décimo capítulo, Conclusion, afirmou que a sociedade americana possui graves
desordens, mas possui uma maravilhosa arma para superar a crise: a energia individual de
seus membros. A superioridade dos americanos perante os outros povos reside no fato de
considerarem a vida uma luta e não um prazer.
354
Sílvio assinou Roméro no verso da folha de rosto. Pôs-se a ler e anotar diversas
páginas. Ao término da leitura anotou na folha de guarda os assuntos abordados na obra:
“Educação, Ensino, Família, Política, Patriotismo, Sociedade, Fortuna pública e privada,
Iniciativa, Trabalho e Propriedade”
355
outras anotações na folha de guarda, mas devido à oxidação do suporte estão
ilegíveis.
Existem várias notas de síntese: “(Dignidade)”
356
; “(Nó da questão)”
357
; “(These)
358
;
“(As moças)”
359
; “(A responsabilidade material, a propriedade, a conveniência é soma da
354
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--].
355
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--].
356
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 10
[margem dianteira].
357
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 11
[margem dianteira].
358
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 12
[margem dianteira].
157
manifestação exterior de uma qualidade moral)”
360
; “aristocracia velha conjunto de antigas
famílias que exercem o poder hereditário sobre o território da união/ aristocracia nova
conjunto de indivíduos que se dedicam ao bem público (yankees)/ (Brasil não tem esta)”
margem inferior p. 144-145
361
; (aristocracia nova)
362
; “(A aristocracia natural governando e
corrigindo os políticos)
363
; “(Associações tem dupla característica: moral e prática)”
364
;
“(línguas vivas obrigatórias)”
365
; “(Sentido de escola neutra)”
366
.
Outras marginálias evidenciam o esforço do leitor de aplicar o que leu ao país. Quando
Rousiers afirmou que a educação americana tem como alvo desenvolver tanto quanto possível
os sentimentos de dignidade pessoal e de independência registrou: “(mundo novo para o
brasileiro)”
367
; No final do primeiro capítulo, acerca da educação americana: “A educação
doméstica no Brasil. Os paes. Os filhos. As filhas. Em todas as classes. Os empregos. O
caráter. As aptidões”
368
. Ao término do segundo capítulo, sobre compromissos e casamentos,
anotou: “O casamento no Brasil. Dote. A aventura em tudo e o acaso. A mulher solteira. A
casa no Brasil”
369
. No terceiro capítulo escreveu: “Brasil inteiro/ Casa, costumes, refeições,
359
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 24
[margem dianteira].
360
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 114
[margem inferior].
361
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 144-
145 [margem inferior].
362
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 160
[margem dianteira].
363
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 162
[margem dianteira].
364
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 174
[margem dianteira].
365
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 243
[margem medianiz].
366
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 260
[margem inferior].
367
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 21
[margem dianteira].
368
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 29
[margem inferior].
369
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 59
[margem inferior].
158
divertimentos, visitas, passeios, viagens”
370
. No capítulo sobre a aristocracia anotou: “(Brasil
tem a velha aristocracia) e (Brasil como na França)”
371
. No capítulo sexto sobre as
associações escreveu: “No Brasil prevalecem os clãs que se associam para fazerem alianças
para atacar os sectários que não pertencem ao grupo, à cotérie. Prevalece o grupo sobre as
idéias”.
372
Ainda neste capítulo anotou os clãs que existiam no Brasil: “Clan de Delfim,
Alcindo, Medeiros, Pinheiro Xavier, Bomfim”, “Clan de Frontin, Sampaio, Müller,
Serzedello, Santos, Americo” e “Clan de Machado, Rodrigo Octávio, J. Veríssimo, J. Ribeiro,
Bilac, L. Passos, Medeiros, João Bandeira, Coelho Neto”
373
. Na conclusão, quando Rousiers
afirmou que uma das mais marcantes características da sociedade americana é a energia
individual, escreveu: “(Brasil não/ These)”
374
.
A apropriação de La vie americaine por lvio torna-se mais clara a partir da leitura
dos textos que escreveu sobre educação.
.
Ele citou Paul de Rousiers em dois textos: O Brasil na primeira década do século
XX
375
e O remédio
376
. No primeiro, ao comparar a sociedade norte-americana de formação
particularista com o Brasil de formação comunária de Estado, sugeriu a leitura de La vie
americaine, o “belo livro” de Paul de Rousiers. Apoiou-se nas informações desse livro para
evidenciar as diferenças entre os dois povos:
Percorreis as zonas do criatório dos gados, as regiões agrícolas, as terras de
mineração, as grandes cidades manufatureiras, por toda a parte nota-se a
370
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 97
[margem inferior].
371
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 144
[margem dianteira].
372
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 172
[margem inferior].
373
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 190,
197 [margem inferior].
374
ROUSIERS, Paul de. La vie americaine: l'éducation et la société. Paris: Firmin-Didot et Cie., [18--], p. 321
[margem dianteira].
375
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912.
376
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado,
2001, p. 237-272.
159
intensidade da vida, o calor da atividade popular. Os milionários, que se
contam por milhares, colaboram com os operários de todas as classes, de
todas as categorias. Por todos os lados estua o entusiasmo, sente-se o fragor
da onda humana no labutar sem tréguas. No Brasil, com que tristeza se é
obrigado a dizer: nada disso! O povo, apático, espera a palavra, o apoio, a
proteção dos governos; estes dão tratos à cabeça para multiplicar os
expedientes ilusionistas que adiem as crises e mascarem as prementes
necessidades.
377
Não foi apenas em Brasil na primeira década do século XX, que Sílvio procurou
informações para evidenciar as vantagens dos povos particularistas. Fez o mesmo no texto O
Remédio. Mostrou o exemplo do Japão que conseguiu transformar a sua sociedade e tornar-se
uma grande nação mirando-se no exemplo dos Estados Unidos. Relatou que a inspiração
norte-americana foi buscada de dois modos. Inicialmente,
enviaram zias e dúzias de moços inteligentes, decididos, voluntariosos,
inflamados de um patriotismo irredutível que encontra o seu igual em
rápidas fases da Roma primitiva, para um meio, como os dos USA, por
exemplo, a fim de, nos trabalhos mais rudes, até, muitas vezes, como criados
de servir, aprenderem o viver íntimo, daquele povo extraordinário. Uns
metiam-se pelas estâncias de criar, pelas fazendas agrícolas, pelas terras de
mineração, pelas oficinas industriais de toda a casta; outros pelas escolas,
pelas academias, pelas universidades, a ver, a estudar, a esmiuçar de tudo,
assimilando, no aprendizado e na prática, essa portentosa educação
energética, que, de um povo de servos feudais, oprimidos por ferrenha
aristocracia, relegados em ilhas do oceano, produziu em poucos anos uma
das mais fortes, mais poderosas, mais formidáveis nações do mundo!... a
verdadeiramente criadora educação particularista e energética de anglo-
saxões, ingleses e ianques seria capaz de produzir este milagre histórico.
378
Aqui Sílvio revelou que se interessou tanto pela educação formal norte-americana
quanto pela informal, apreendida a partir da experiência cotidiana com as “portentosas gentes
particularistas”, descritas por Paul de Rousiers.
377
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p.
178-179.
378
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado,
2001, p. 265.
160
O outro expediente empregado pelo Japão para modificar a índole do seu povo foi
atrair professores e especialistas para transformar as escolas do Império do Sol Nascente.
Conforme Sílvio: “assim procede quem quer seriamente educar-se com altos planos e
desígnios”.
379
3.3 APROPRIAÇÃO DE L’ARYEN E RACE ET MILIEU SOCIAL, DE GEORGES
VACHER DE LAPOUGE
Georges Vacher de Lapouge (1854-1936) nasceu na França. Estudou na École d
Anthropologie de Paris. Foi bibliotecário da Faculté de Science de Montpellier. Nesta mesma
instituição ministrou um curso livre de Ciência Política. Publicou seus estudos em diversas
revistas, tais como: Revue de Anthropologie, L’Anthropologie, Revue d’Économie Politique e
Revue Internationale de Sociologie. Publicou também os seguintes livros: Les seléctions
sociales (1896), L’Aryen: son rôle social (1899) e Race et milieu social: essai
d’Anthropologie (1909).
380
Lapouge insere-se num debate importante no século dezenove sobre a origem da
humanidade. De um lado os monogenistas afirmavam que os homens descendem de uma
única espécie. De outro lado os poligenistas defendiam que os homens descendem de diversas
espécies. Esta última crença levou ao surgimento da noção de raça. Rapidamente estabeleceu-
se a correlação entre o domínio fisiológico e o psicológico. Acreditava-se que o
pertencimento a certo grupo racial determinava as características psicológicas do indivíduo.
Esse debate ajudou na delimitação da Etnologia e da Antropologia. Os monogenistas
reuniram-se em torno da análise etnológica e se mantiveram numa tradição mais vinculada à
379
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: ______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado,
2001, p. 265.
380
Cf. HAWKINS, Mike. Social Darwinism in European and American Thought 1860-1945: Nature as
Model and Nature as Threat. Cambridge: Cambridge University Press, 1997; MACHADO, Fernando Luís. Os
novos nomes do racismo: especificação ou inflação conceptual? Sociologia, São Paulo, n. 33, p. 9-44, set. 2000;
RAMOS, Jair de Souza. Ciência e racismo: uma leitura crítica de Raça e assimilação em Oliveira Vianna.
História, ciência e saúde - Manguinhos, vol.10, n. 2, p. 573-601, 2003 LAGUARDIA, Josué. The use of the
"race" variable in health research. Physis, Rio de Janeiro, n.2, v.14, p.197-234, july/ dec. 2004.
161
Filosofia da Ilustração. Já os poligenistas concentraram-se nos estudos antropológicos e
dialogaram com a Biologia. Compreendida como um ramo das Ciências Naturais, a
Antropologia dedicava-se à naturalização da diferenças entre os homens. Procurava explicar
os diferentes comportamentos como resultado da natureza poligenista. Para isso dedicava-se à
medição de esqueletos e viventes e à análise de documentos escritos e pictóricos que
descreviam os nossos antepassados. Com base nesses estudos os antropólogos determinavam
os riscos de degeneração e de tendência à loucura ou à criminalidade.
Lapouge enquadra-se no campo da Antropologia. Foi discípulo de Émile Blanchard,
Maurice Duval, Gabriel de Mortillet, eminentes antropólogos, na École d’Anthropologie de
Paris. A partir dos estudos realizados nos laboratórios antropométricos, Lapouge dedicou-se a
criação de um novo ramo do saber: a Antropossociologia. Definiu essa nova ciência como o
estudo das relações recíprocas entre o a raça e o meio.
Para ele a humanidade é constituída por duas raças fundamentais: as dolicocéfalas e as
braquicéfalas, que possuem suas variações. As dolicocéfalas possuem crânio e face longos e
são inquietos, enérgicos e audaciosos. Predominam na Inglaterra, na Holanda, na
Escandinávia, na Península Ibérica, na Alemanha do Norte e nos Estados Unidos. Já os
braquicéfalos possuem crânio e faces arredondados e são sedentários, o tem largueza de
espírito nem são empreendedores. Prevalecem na França, na Suiça, na Áustria, na Alemanha
do Sul, na Península Balcânica, na Polônia, na Ásia Menor, na Armênia, na Região do
Cáucaso.
Conforme Lapouge os tipos humanos estão submetidos à seleção natural e à seleção
social, isto é, à seleção do meio. Os dolicocéfalos e braquicéfalos foram ao longo dos
milênios se modificando devidos às necessidades de aclimatação, de viverem e reproduzirem-
se em novos meios, diferentes do habitual. Mas sem perder as características fundamentais
determinadas pela hereditariedade. Considerava a influência do meio mais limitada.
O antropossociólogo desconfiou da transmissão de caracteres adquiridos propugnada
pelos neolamarckistas. No início da carreira ele negou peremptoriamente esse postulado. No
entanto, com o aprofundamento de suas pesquisas reconheceu que se sabe pouco a respeito da
hereditariedade e que não é possível ainda explicá-la suficientemente. O que se sabe é que do
ponto de vista da hereditariedade os indivíduos não se ligam aos seus pais, herdam os
162
caracteres transmitidos pelos avós. Durante a fecundação algumas modificações produzidas
pelo meio podem ser introduzidas no plasma germinativo, material responsável pela
hereditariedade contida nas células reprodutivas. Porém, isso não significa que o ser humano
resultante desta fecundação apresenta essas modificações. Esses caracteres serão
transmitidos às gerações seguintes, caso a modificação química adquirida persista. Embora
considerasse com certa relutância a possibilidade de trasmissão de alguns caracteres físicos
adquiridos, assim como os demais darwinistas, julgava impossível a trasmissão do caracteres
psíquicos adquiridos.
Outra questão que ocupou suas reflexões foi o cruzamento. Enquanto autores como
Artur de Gobineau afirmavam que a miscigenação levava à degenerescência, Lapouge a
defendia. Contudo, o cruzamento deveria ser sistemático e contínuo. Sistemático porque era
preciso selecionar as raças a serem cruzadas para produzir tipos aprimorados; e contínuo
porque só é possível aquilatar o resultado em média de quatro a oito gerações. Para Lapouge o
selecionismo ou eugenia é de importância capital para o futuro da humanidade. Porém,
julgava difícil encontrar legisladores dispostos a implantar medidas para promover o
aprimoramento das raças.
Sem o cruzamento sistemático e contínuo, acompanhado por antropossociólogos, a
mistura das raças pode ter efeitos positivos ou negativos. Existem quase dezessete milhões
possíveis de combinação dos elementos hereditários. Assim, a mistura pode gerar um ser
“aprimorado” ou um “medíocre”. Ao contrário de Herbert Spencer, para quem a evolução era
sempre progressiva, Lapouge avaliava que ela também poderia ser regressiva. Mas essa
regressão não é irreversível, uma vez que a cada geração uma nova seleção que corrige os
defeitos e retorna à raça originária. Esta é a lei da persistência.
Portanto, Lapouge julga impossível produzir uma raça homogênea e única, com a qual
sonhavam os cientistas monogenistas, pois as leis da hereditariedade fazem com que as raças
sempre retornem aos tipos fundamentais. Prova disso é que as diversas raças européias se
combinam sem cessar a milhões de anos e a raça única, fusão de todas as raças da
humanidade, ainda não surgiu.
Com essas idéias, Lapouge conseguiu seduzir diversos cientistas como Otto Ammon,
seu principal colaborador, Henri Muffang e Carlos Closson. Por outro lado, a correlação que
163
fazia entre o domínio físico e o domínio psicológico rendeu críticas de diversos antropólogos
reconhecidos no campo como Célestin Bouglé, Manouvrier, Colajanni Finot.
381
No Brasil figuram entre seus leitores Sílvio Romero e Oliveira Viana. Seus livros
auxiliaram Sílvio a pensar a sociedade e a educação brasileira.
O volume de L’aryen: son role social
382
lido por lvio foi publicado pela Albert
Fontimoing Editeur, em 1899. No verso da folha de rosto, o editor, assim como seu
concorrente Firmin-Didot, estimulou o leitor a adquirir outras obras do autor:
OUVRAGES
DU MEME AUTEUR
E
SSAI HISTORIQUE SUR LE CONSEIL PRIVE OU CONSEIL DES PARTES
.
1878. Brochure in-8. 1 50
É
TUDES SUR LA NATURE ET SUR L
'
EVOLUTION HISTORIQUE DU DROIT DE
SUCCESSION
.
-
É
TUDE PREMIERE
:
T
HEORIE BIOLOGIQUE DU DROIT DE
SUCCESSION
. 1885. Brochure gr. in-8 2 »
L'
ANTROPOLOGIE ET LA SCIENCE POLITIQUE
(
DISCOURS D
'
OUVERTURE DU
COURS DE
1886-87). Brochure gr. in-8. 2 »
*L
E SELECTIONS SOCIALES
.
C
OURS LIBRE DE SCIENCE POLITIQUE
,
PROFESSE
A L
'U
NIVERSITE DE
M
ONTPELLIER
(1888-1889).
10 »
*
T
HE FUNDAMENTAL LAWS OF
A
NTHROPO
-
SOCIOLOGY
. Brochure grand in-
8 2 50
*
L'A
RYEN
[anotação de Sílvio Romero]
383
Abaixo das obras indicadas pela casa editorial Sílvio marcou com asterisco Les
selections sociales e The fundamental laws of anthropo-sociology e anotou logo abaixo dos
381
HAWKINS, Mike. Social Darwinism in European and American Thought, 1860-1945: Nature as Model
and Nature as Threat. Cambridge: Cambridge University Press, 1997; SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo
das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-1930). São Paulo: Companhia das Letras,
1999; MACHADO, Fernando Luís. Os novos nomes do racismo: especificação ou inflação conceptual?
Sociologia, São Paulo, n. 33, p. 9-44, set. 2000; RAMOS, Jair de Souza. Ciência e racismo: uma leitura crítica
de Raça e assimilação em Oliveira Vianna. História, ciência e saúde - Manguinhos, vol.10, n. 2, p. 573-601,
2003; LAGUARDIA, Josué. The use of the "race" variable in health research. Physis, vol.14, n.2, p.197-234,
july/ dec. 2004.
382
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.
383
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.
164
livros elencados o título do exemplar que tinha em mãos. Essas anotações indicam interesse
pelas obras, mas, a menos que alguma obra tenha sido extraviada da Biblioteca de Sílvio
Romero, ele não se reverteu na compra de livros. O único título adquirido depois de L’Aryen
foi Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie e pertence a uma outra editora.
A obra em análise foi impressa em formato in-8, o principal padrão desta casa
editorial. Na sua confecção foi empregado o tipo romano com corpo 11, entrelinhamento com
4 pontos em relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margens superior, medianiz e
dianteira de 2 cm e margem inferior de 3,5. As margens são originais, pois Sílvio adquiriu a
obra numa encadernação de luxo da própria casa editorial. alguns aparelhos críticos como
índice analítico detalhado, remissivo e de tabelas, bibliografia comentada e apêndices.
No prefácio o autor estabeleceu um diálogo com o leitor. Explicou que o livro é
resultado do curso livre de Ciência Política que ministrou na Université de Montpellier e que
resolveu publicá-lo sem grandes alterações de forma e sentido, apenas suavizou a ênfase na
oratória em certos trechos. Afirmou que o espírito da obra é monista e selecionista e que o
leitor pode reter os fatos sem reter a doutrina. Logo após o prefácio, consta a bibliografia
empregada pelo autor, com o objetivo de mostrar o quão autorizadas são as suas opiniões. Ao
final apresenta dois apêndices com fontes antigas: textos assírio-babilônicos e textos clássicos
(gregos e latinos).
165
Figura 16 – Folha de rosto de L’aryen: son role social, de Georges
Vacher de Lapouge
Fonte: SOUZA, Cristiane Vitório de. Folha de rosto de L’aryen. 2004.
Acervo pessoal.
166
O objetivo da obra é mostrar a superioridade da raça ariana. Divide-se em oito
capítulos. No primeiro capítulo, evidenciou que a raça dolicocéfala-loira é superior às demais
porque conseguiu dominar as outras raças primitivas. No segundo, apresentou as
características anatômicas e fisiológicas do ariano. No terceiro, analisou a origem da raça
ariana. No quarto e no quinto mostrou a supremacia que a raça ariana conquistou perante as
raças braquicéfalas ao longo da história e os riscos que ela corre em virtude do fortalecimento
social das raças inferiores. No sexto estudou a psicologia do ariano. No sétimo analisou a
posição social desse grupo. E no último discorreu sobre o futuro do raça ariana.
Nos interessa mais de perto, para o objetivo de compreender as representações sobre
educação apropriadas por Sílvio Romero, o sexto capítulo sobre a psicologia do ariano. Neste
capítulo, Lapouge expôs a visão de que a psicologia humana é determinada pelas leis da
hereditariedade. O homem é o que a natureza permite que ele seja. Criticou os neo-
lamarckianos que acreditam plenamente que os caracteres adquiridos podem ser herdados. Na
sua opinião é impossível legar à gerações sucessivas os caracteres psíquicos adquiridos. Nem
mesmo a linguagem, pilar da educação, pode ser legada. Diante disso, a educação tem o poder
apenas de fortalecer as faculdades naturais.
Ainda neste capítulo, Lapouge dialogou com a Escola de Ciência Social. Inicialmente,
comparou a educação anglo-saxônica e a francesa. Apresentou a educação oferecida na
Inglaterra e nos Estados Unidos como um modelo que privilegia o currículo científico e
estimula o desenvolvimento da iniciativa e da responsabilidade, possibilitando que os ingleses
e os norte-americanos estejam preparados para desempenhar qualquer papel na sociedade. A
educação ministrada na França é, por sua vez, apresentada como um modelo que prioriza o
ensino das Humanidades e tem por alvo formar a aristocracia para assumir o controle do
Estado católico e centralizado. Considerou o modelo inglês superior, capaz de reforçar as
aptidões naturais das raças.
No entanto, desconfiou do desejo expresso por Demolins, no trabalho A quoi tient la
superiorité des anglo-saxons?, de através da educação dar aos franceses um espírito anglo-
saxão. Para ele de nada adianta levar os franceses, na sua maioria braquicéfalos, a agir de um
modo que não coaduna com a sua natureza. A modificação é apenas artificial, pois a educação
não pode alterar substancialmente o homem. O trabalho dos educadores torna-se infinito, deve
167
ser repetido a cada geração. Para Lapouge esperar que a educação faça os franceses
assemelharem-se aos anglo-saxões é contar com o impossível.
384
Sílvio leu cuidadosamente L’Aryen. Assinou Roméro na folha de guarda. A seguir,
percorreu as páginas, impregnado-as de anotações. Não o encarou como volume para ser lido
apressadamente e depositado numa estante. Debruçou-se sobre ele. Leu e releu. Na folha de
guarda fez uma espécie de índice remissivo. Anotou alguns assuntos abordados por Lapouge e
as respectivas páginas.
Raças p. 14, p. 160
Mestiço p. 42
Demolins 392
Judeos 162
Individualismo e solidariedade 373
A intersticial e infiltrativa – 40
385
Foi um expediente que encontrou para voltar aos temas de sua predileção com
facilidade, visto que os produtores da obra não lançaram mão desse recurso.
Para assinalar as passagens mais relevantes utilizou asteriscos, sublinhados simples ou
duplos, traços verticais simples ou duplos ao lado dos parágrafos, as letra V e W ou
parênteses para assinalar o início e o fim de um trecho selecionado.
Além desses sinais deixou anotações de síntese e de concordância.
A maior parte das anotações foi de síntese. À medida que o autor expunha suas idéias,
Sílvio ia colocando às margens palavras, frases ou orações capazes de sintetizá-las e facilitar o
entendimento. Entre essas anotações estão: “(A these)”
386
; “(Sobre causa da glaciação)”
387
;
“Dolichocephalos claros/ Dolichocephalos morenos e até negros/ Brachycephalos claro/
384
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.
385
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899.
386
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 20
[margem dianteira].
387
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 20
[margem medianiz].
168
Brachicephalos morenos e até negros”
388
; “mestiçamento de acaso/ mestiçamento
sistemático”
389
; “(Cruzamento)”
390
; “(Eugenismo)”
391
.
As marginálias de concordância não foram muito numerosas: Destacam-se: “Mto bom
para questões anthropologicas”
392
; “These correta”
393
. Essa última nota refere-se à afirmação
de Lapouge de que os alemães do Norte pertencem à raça dolicocéfalo-loira, considerada
superior.
Os textos que compõe Race et milieu social: essai d’Anthropolosociologie
394
foram
publicados inicialmente em periódicos franceses. Em 1909 foram reunidos pelo autor e
editado pela Marcel Rivière. A obra em análise foi impressa em formato in-8. Na sua
confecção foi empregado o tipo romano com corpo 10, entrelinhamento com 4 pontos em
relação ao corpo. O exemplar estudado apresenta margens superior, medianiz e dianteira de 2
cm e margem inferior de 3 cm. As margens sofreram redução na encadernação realizada na
Livraria Briguiet et Cie. alguns aparelhos críticos como introdução, índice analítico, notas
explicativas e bibliografia. Na introdução, explicou que o objetivo da obra é fornecer ao
público francês uma idéia do estado geral da Antropossociologia, uma vez que os ensaios
foram publicados em revistas especializadas, de pequena circulação. Alertou que adicionou
uma bibliografia comentada no final para indicar obras que julga úteis para que o leitor
conheça o estado atual da Antropossociologia. É importante assinalar que as obras dos autores
que fazem oposição ao autor receberam críticas mordazes. Por exemplo:
388
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p.
271[margem dianteira].
389
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 390
[margem inferior].
390
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 489
[margem medianiz].
391
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 583
[margem dianteira].
392
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 151
[margem dianteira].
393
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 320
[margem medianiz].
394
LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière,
1909.
169
F
INKELHAUS
F
INOT
. - Le préjugé des races. Paris, Alcan, 1905. Critique
d'amateur contre l'anthroposociologie.
395
Já as obras preferidas pelo autor receberam comentários elogiosos. Note:
L
IVI
(Ridolfo). - Antropologia militare. Risultati ottennti dallo spoglio fri
fogli sanitari dei militari delle classi 1859-63. - Roma, 1896. Le plus grand
recueil d'anthropométrie sur le vivant.
396
Utilizando esse dispositivo tentou fazer com que o leitor percorresse o caminho pré-
estabelecido por ele e aderisse às suas representações.
395
LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière,
1909, 382.
396
LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière,
1909, 385.
170
Figura 17 – Folha de rosto de Race et milieu: essais
d’Anthroposociologie por Georges Vacher de Lapouge
Fonte : SOUZA, Cristiane Vitório. Folha de rosto de Race et milieu. 2004.
Acervo pessoal.
171
Dividiu a obra em quatorze ensaios. Neles abordou: a nomenclatura zoológica em
antropologia, a origem dos arianos, o método crítico para o estudo das populações do passado,
a evolução antropológica da população da França, as pesquisas antropológicas sobre a
diminuição da população francesa, as correlações entre sucesso financeiro e índice cefálico, as
leis fundamentais da antropossociologia, os trabalhos de Jacoby e Nicéforo, a inferioridade
natural das classes pobres, Durand de Gros e a análise étnica, o selecionismo de Broca, o
concurso de Iéna, a obra de Woltmann e as idéias de Houzé.
Em vários pontos da obra retomou a discussão sobre educação encetada em L’aryen.
Segundo ele, há um debate entre educacionistas e selecionistas. Os educacionistas, apoiados
nos postulados neolamarckianos insistem que os efeitos da educação podem ser trasmitidos
para as gerações vindouras. Pensam que a instrução é o remédio para todos os males da
sociedade.
Por sua vez, os selecionistas, entre os quais insere-se Lapouge, discordam
radicalmente dessas idéias. Mostram que o aprofundamento do estudo das leis da
hereditariedade que regem a seleção evidenciam que a transmissão dos caracteres psíquicos
adquiridos é impossível. Desse modo, a educação é útil apenas para o indivíduo, mas não para
a raça. Para esse grupo de cientistas, a única forma efetiva de aprimorar o ser humano é
através do selecionismo prático, do cruzamento acompanhado das raças.
397
Sílvio realizou leitura atenta de Race et milieu. Na página de rosto deixou o seu
autógrafo: Roméro. Nas páginas seguintes deixou diversas marginálias. Assim como nas
demais obras assinalou trechos mais relevantes com asteriscos, sublinhados simples ou
duplos, traços verticais simples ou duplos, as letra V e W ou parênteses simples e duplos.
As anotações foram de síntese ou relativas à aplicabilidade das idéias expostas ao
Brasil.
397
LAPOUGE, Georges Vacher de. Race et milieu social: essais d’Anthroposociologie. Paris: Marcel Rivière,
1909.
172
Como se estivesse tentando decodificá-la a obra, escreveu: “(A persistência)”
398
;
“(These básica)”
399
; “A evolução não é progressiva; é também regressiva”
400
; “A evolução
é indifferente”
401
; “Os exaggeros dos neolamarckistas sobre os caracteres adquiridos”,
“(Educação)”
402
; “A transformação radical pelo meio cae/ O educacionismo cae/ O processo
indefinido cae”
403
; “A herança adquirida cae/ Força da hereditariedade básica e constitucional
– fica”
404
; “O mestiço é que tende a acabar com o retorno as raças mães”, “Neste caso volta ao
branco mas também ao índio (Brasil)”
405
; “pª o desapparecimento do mestiço vigoram a
reversão e a infecundidade futura”
406
; “Contra mudanças feitas pela educação. Os caracteres
fortes não mudam”
407
; “pª Durand o meio; Broca raça; - Lapouge ambos e mais a
última”
408
; “1º Que se transmitem os neo-lamarckistas (Spencer)/ 2º que não se transmitem/ 3º
Os neo-darwinistas que se transmitem quando eles são o plasma”
409
; “* Nada sabemos sobre o
mecanismo de hereditariedade”, (Selecção e herança)”, “Aqui herança/ Herança normal ou
398
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XI
[margem dianteira].
399
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XI
[margem medianiz].
400
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXIV
[margem superior].
401
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p.
XXVIII [margem medianiz].
402
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXX
[margem medianiz].
403
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. XXXI
[margem medianiz].
404
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 35
[margem inferior].
405
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 36
[margem dianteira].
406
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 87
[margem superior].
407
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 216
[margem superior].
408
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 219
[margem superior].
409
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 229
[margem inferior].
173
dos caracteres fundamentais (sim)/ Herança dos adquiridos (não)”
410
; “Os adquiridos passam
senão quando das misérias físicas que modificam o plasma e isto só se manifesta na
geração. Os da trazem a dita modificação que activa as condições da descendência”
411
;
“*Logo a educação serve ao menos pª o indivíduo”
412
.
várias anotações em que defendeu a aplicação de Lapouge ao Brasil: “Tudo isto se
applica ao Brasil mas não existem estudos anthropologicos sobre as gentes brasileiras nem
antigas, nem modernas, nem de negros, nem de índios, nem de brancos ou suppostos taes,
nem de mestiços, etc - Nada temos não”
413
; “Brasil zonas puras em pontos de índios e de
allemães em alguns pontos do Sul”
414
; “Brasil”, “mulato casado com negro volta ao negro
e casado com branco volta ao branco. Mas, de facto vai quase sempre no mulato que é mais
espalhado”, “instabilidade/ retorno/ infecundidade”
415
; “No Brasil o negro e o índio produzem
mais que o mestiço”
416
; “(Mistura com estrangeiros diversos no Brasil)”
417
; “Aqui cousa a
se applicar ao Brasil mas faltam documentos. Em que medida o índio e o negro diminue, se é
que diminue; em que escala se está dando a reversão; quem emigra de um ponto outro,
etc.”
418
; “Aqui os descendentes dos portugueses são dolichocephalos; os negros também; os
indios são brachicephalos
419
; “Os novos contigentes italianos dolichocéfalos da peior; os
410
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 312
[margem dianteira].
411
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 313
[margem inferior].
412
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 317
[margem dianteira].
413
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 70
[margem inferior].
414
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 82
[margem inferior].
415
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 89
[margem superior e inferior].
416
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 90
[margem dianteira].
417
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 97
[margem inferior].
418
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 138
[margem inferior].
419
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 168
[margem superior].
174
polacos e alemães, quase todos do sul são brachicéfalos”
420
; “No Brasil o estudo
anthropologico é mto difficil; temos péssimos elementos dolichocephalos (índio, negros) e
brachicephalo (portugueses)”
421
; “(Como aplicar no Brasil?)”
422
; “(Brasil)/ # Pela hygiene =/
# Pela instrucção =/ #Pela educação moral e física/ # Pela escolha sexual systematizada/ #
pela mistura ethnica boa e acertada/ # pela suppressão da possível decadência dos
degenerados”
423
; “Spencer, Lapouge e Le Play em lugar, e depois Greef, Buckle, etc/
Foram por mim escolhidos”
424
; “São os particularistas da S. Social”
425
; “(Particularistas
agricultores) (Cf. Le Play)” – margem medianiz, p. 154
426
.
A anuência às idéias de Lapouge ganha contornos mais nítidos quando as marginálias
são confrontadas com outras fontes. No primeiro capítulo, apresentamos uma carta que Sílvio
enviou para Artur Guimarães em 14 de fevereiro de 1910. Nela comentou a leitura que estava
empreendendo: “Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões técnicas da
antropologia. Ele e o Ammon são os fundadores da antropo-sociologia, ciência que reúne a
antropologia à sociologia”. E reforçando a afirmação de que o antropossociólogo era útil no
que diz respeito à antropologia afirmou: “Leva vantagem quando estabelece no fundo de tudo
o elemento raça, que foi sempre a minha velha mania”.
427
Para compreender a apropriação que Sílvio fez das obras de Lapouge, para escrever os
textos sobre educação, não podemos desprezar as noções mais gerais do seu pensamento. A
420
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 175
[margem inferior].
421
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 186
[margem inferior].
422
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 186,
197, 200 e 203 [margem inferior].
423
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 312
[margem inferior].
424
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 127
[margem medianiz].
425
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 152
[margem medianiz].
426
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 154
[margem medianiz].
427
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.
175
questão racial é um ponto incontornável no pensamento do intelectual sergipano, está no
centro de todas as suas reflexões.
428
Sílvio julgou que para resolver os problemas do Brasil era
necessário o aperfeiçoamento das raças. Em Estudos de poesia popular no Brasil
429
e em
História da Literatura Brasileira
430
fez o elogio da miscigenação. Defendeu que o
cruzamento entre índios, negros e portugueses trouxe um ganho evolutivo para o Brasil, pois
ajudou o colonizador branco a se adaptar à luta pela sobrevivência nos trópicos e, ao mesmo
tempo, incorporou o negro e o indígena à civilização. Porém, era preciso melhorar a qualidade
do mestiço brasileiro. Para isso, era preciso incentivar o seu cruzamento, e o dos portugueses,
negros e índios que ainda não tivessem sofrido a mestiçagem, com imigrantes europeus de
raças brancas superiores, que deveriam ser espalhados por todo o território brasileiro. Assim,
no prazo de três ou quatro séculos a população brasileira se tornaria branca. E sim o Brasil
poderia trilhar o caminho do progresso.
Sua confiança no branqueamento da população foi abalada por volta da virada do
século dezenove para o século vinte. Em Martins Pena, de 1901, fez a autocrítica da nos
benefícios do cruzamento. Considerou as fusões prejudiciais, pois os povos cruzados são
sempre inferiores às raças ditas puras: Os mestiços tomados em totalidade são
fundamentalmente inferiores, como robustez, ao negro e ao branco, como inteligência e
caráter, ao branco, sem a menor dúvida”.
431
Em 1913, no prefácio do livro Questões e problemas de Tito Lívio de Castro,
questionou a viabilidade do branqueamento, considerando a previsão, feita em História da
Literatura Brasileira, de que esse processo se completaria em três ou quatro séculos,
excessivamente otimista quanto às reais possibilidades de extinção das raças inferiores.
Defendeu então sete ou oito séculos para o branqueamento de negros e índios puros. os
428
Acerca do pensamento racial de Sílvio Romero, consultar: SKIDMORE, Thomas E. Preto no branco: raça e
nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976; VENTURA, Roberto. Estilo
tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1991;
SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil (1870-
1930). São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
429
ROMERO, Sílvio. Estudos de poesia popular no Brasil (1870-1880). Rio de Janeiro: Laemmert &. C.,
1888.
430
ROMERO, Sílvio. História da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio; INL, 1980. V. 1. (1ª
edição: 1888)
431
ROMERO, Sílvio. Martins Pena. Ensaio crítico. Porto: Chardron, 1901, p. 159-162
176
mestiços, fruto do cruzamento ao acaso com diversas raças, julgou que jamais evoluiriam
porque “populações que se mestiçaram nunca mais deixam de ser mestiçadas, e esse é em
geral o caso de todas as populações da Terra!”.
432
Essa imagem negativa da mestiçagem pode ter sido forjada após a leitura do teórico
racista Lapouge que prevenia sobre o perigo do cruzamento ao acaso que poderiam gerar
epiléticos, loucos, criminosos ou tipos infecundos. Podemos afirmar a partir da carta que
enviou a Artur Guimarães, que em 1913, ele conhecia alguma obra do autor e estava
positivamente impressionado, pelo menos no tocante às questões antropológicas. A
coincidência de frases numa das margens do livro e na carta reforçam a idéia de que a obra
mencionada na missiva tenha sido L’Aryen: “Mto bom para questões anthropologicas”
433
; e
“Estou acabando o Lapouge, que é muito bom para as questões técnicas da antropologia”.
434
As noções antropológicas foram as que mais cativaram lvio. Mas vejamos as
questões relativas à educação.
Foi a partir da reflexão sobre a antinomia entre hereditariedade e educação que Sílvio
definiu o papel que a educação pode cumprir. Numa das páginas de L’Aryen escreveu:
“(Exaggero contra a herança e contra a educação)”
435
. Sílvio discordou da ênfase de Lapouge
na intransmissibilidade dos caracteres psíquicos adquiridos e na desconfiança no poder da
educação. Isso é perceptível tanto nas marginálias, quanto nos textos que escreveu sobre a
educação.
Em 1906, discutiu essa questão pela primeira vez em América Latina, obra que
escreveu com o objetivo de criticar a obra homônima de Manuel Bomfim que defendia a
instrução como panacéia para a cura de todos os males do país. O diretor do Pedagogium
criticou as homologias e analogias entre biologia e sociedade: “Está um pouco desacreditado,
432
ROMERO, Sílvio. “Prefácio”. In: CASTRO, Tito Lívio de. Questões e problemas. São Paulo: Empresa de
propaganda literária luso-brasileira, 1913, p. 15.
433
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899, p. 151
[margem dianteira].
434
ROMERO, Sílvio.
Carta a Artur Guimarães, de 14 de fevereiro de 1910. In: RABELLO, Sílvio. Itinerário de
Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 241-242.
435
LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social. Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899. p. 362
[margem medianiz].
177
em sociologia, esse vezo de assimilar tudo, em tudo e para tudo, as sociedades aos organismos
biológicos”
436
. Ainda que investigasse a sociedade e a história latino-americana com base em
noções tomadas de empréstimos da biologia e da zoologia, procurou marcar os limites de
validade dos conceitos transpostos de um campo para outro. O principal conceito que
empregou foi o de parasitismo. Mas procurou diferenciar o parasitismo orgânico do
parasitismo social. O parasitismo orgânico traria modificações irreversíveis nos organismos e
o social poderia ser extirpado pelos parasitados. Ao analisar a América Latina concluiu que os
males que afligiam o continente eram males de origem, frutos da ação parasitária dos
colonizadores ibéricos. Para salvá-la sugeriu:
Soffremos, neste momento, uma inferioridade, é verdade, relativamente aos
povos cultos. É a ignorância, é a falta de preparo e de educação para o
progresso, eis a inferioridade effectiva: mas ella é curável, facilmente
curável. O remédio está indicado. Eis a conclusão última d’esta longa
demonstração: a necessidade imprescindível de attender-se à instrucção
popular.
437
Sílvio Romero inscreveu-se resolutamente contra essa tese: “A INSTRUCÇÃO, apesar
de ser uma bella coisa e uma arma muito útil, é inefficaz para preparar um longo e brilhante
futuro ao Brazil.”
438
Para ele:
Não se pode haver maior engano. O Rio de Janeiro está cheio de escolas,
collegios, lyceus, aulas publicas e particulares, academias civis e militares,
conservatórios, cursos de bellas-artes, cursos commerciaes; transborda de
poetas, romancistas, contistas, críticos, jornalistas homens de letras de toda a
casta, de todos os gêneros, de advogados médicos engenheiros, publicistas
de todos os matizes, padres de todas as religiões, feiticeiros de todas as
mágicas sonhadas e por sonhar, políticos e politiqueiros de todos os credos e
de todas as cores, e nada obsta a que sejamos frívolos e incapazes. Nada
quase existe digno de nota, n’este paiz de norte a sul, de leste a oeste, que
seja uma conquista exclusiva, um acto de força creadora, autônoma, da
vontade nacional.
439
436
BOMFIM, Manuel. América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905, p. 20.
437
BOMFIM, Manuel. América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905, p. 339.
438
ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello &
Irmão, 1906, p. 254.
439
ROMERO, Sílvio. A América Latina. Análise do livro de igual título do dr. Manuel Bomfim. Porto: Lello &
Irmão, 1906, , p. 257-258.
178
Para Sílvio, a instrução (educação intelectual) não pode auxiliar a sanar os males do
país, uma vez que esses não residem no parasitismo dos colonizadores e políticos brasileiros,
mas no caráter do nosso povo, marcado pela apatia. Só a educação moral pode fazer isso. Só a
partir da modificação “do caráter comunário do povo através da reforma da educação no
sentido anglo-saxônico da iniciativa individual” é possível pensar num futuro alvissareiro para
o país. Acreditou que através da educação recomendada pelos discípulos de Le Play era
possível modificar a índole, um dos caracteres psíquicos, fato negado pelos defensores da
intransmissibilidade dos caracteres adquiridos.
Em Brasil na primeira década do século XX, tocou rapidamente nesta questão.
Defendeu que não haveria um futuro largo para o país “enquanto por seguros meios de
seleção sociológica, de educação moral e, até certo ponto, de instrução científica;
devidamente generalizados, se não modificar - para melhor – a índole, o caracter intrínseco de
nossas gentes”
440
E afirmou que se ainda descuramos dessa questão “é que não queremos
confessar a verdade certa incapacidade crônica, oriunda, de vícios étnicos, falta de educação
ou seleção, apta a extirpá-los nuns casos, a minorá-los e noutros”
441
Mas, é em O Remédio, sua obra derradeira que enfrentou a questão mais
explicitamente. Nesse texto, defendeu a educação energética como “remédio” para a cura dos
males brasileiros. Para isso, rebateu as três objeções mais comuns: a vozeria romântica que
endeusava o abc como a solução para tudo; a exagerada reação que hoje manda enriquecer
para depois aprender; e a argumentação antropossociológica de Vacher de Lapouge”.
442
A primeira objeção havia sido comentada no texto em que criticava Manuel
Bomfim, um dos representantes desse grupo. Mais uma vez alertou que essa “panacéia
universal” não era capaz de solver todas as dificuldades imagináveis da Nação. O estudo mais
aprofundado dos autores “modernos e contemporâneos” da Escola de Le Play e a constatação
440
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912; p.
106.
441
ROMERO, Sílvio. O Brasil na primeira década do século XX. 2 ed. Lisboa: A Editora Limitada, 1912, p.
102.
442
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, 250.
179
de que as reformas realizadas nessa direção não surtiram efeito mostraram-lhe as fortes doses
de ilusão dessa visão.
Rebateu também os negativistas exagerados do ensino que sustentam a tese de ser a
riqueza que traz o saber. Para ele, essa opinião era despropositada porque “saber e riqueza,
riqueza e saber, são coisas correlatas na evolução geral, e funciona cada uma delas, ora como
efeito e ora como causa”.
443
Eliminadas essas oposições atacou as “muito mais sérias” objeções do “desabusado”
mestre da antropossociologia Vacher de Lapouge. Primeiro expôs as idéias do autor:
Ataca de frente, com uma rudeza sem igual, os preconceitos correntes sobre
a instrução, como fator de seleção social: mas se excede, a meu ver. A
instrução é ineficaz, afirma, para alterar o tipo intelectual dos indivíduos;
depende estreitamente de sua organização cerebral e de suas qualidades
nativas. O homem instruído não possui um grande cérebro, por ser instruído;
ao contrário, é instruído porque nasceu com um rebro maior e mais
poderoso. A instrução nada pode fazer a favor dos idiotas, dos imbecis, dos
nulos, dos medíocres. Não os melhora. Mesmo com relação aos mais
inteligentes, não lhe altera a índole; é impotente para inocular-lhe a bondade,
a ardileza, a iniciativa. É de notar, escreve, muitas vezes a intensidade do
espírito de sequacidade, o espírito gregário em homens dos mais instruídos e
que fazem autoridade em sua especialidade. A mais leve manifestação de
uma idéia independente os melindra; rejeitam a priori, como perniciosos
erros, tudo que lhes não foi ensinado por seus mestres. Tais sujeitos, terríveis
obstáculos ao progresso científico e material, exibem a reunião de uma
inteligência muito culta, de vastos conhecimentos e de um servilismo de
espírito que nada pôde modificar.
444
Para reforçar a exposição Sílvio traduziu um trecho de L’Aryen:
Os conhecimentos adquiridos não se transmitem por herança; é fato fora de
dúvida... A instrução é, destarte, ineficaz para assegurar os progressos da
humanidade... cem mil anos, talvez, que o homem fala; e se não
ensinássemos nossos filhos a falar, é claro que a hereditariedade não se
443
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 251.
444
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 252.
180
encarregaria disto. E o que se diz de linguagem, repete-se de todo o saber:
não se transmite.
445
Questionou: “Será verdade que os salutares e enérgicos efeitos da educação,
fortalecendo o organismo, não modifiquem para melhor as qualidades nativas, as faculdades e
potências cerebrais?”.
446
Lembrou que o próprio Lapouge admitiu estar errado a respeito da transmissibilidade
ou não por herança dos caracteres adquiridos. De um profundo negativismo, apoiado na obra
Die Continuitaet des Keimplasmas de Weissmann, publicada em 1885, foi obrigado a
reconhecer, pelas experiências que realizou, que quando a qualidade adquirida modifica o
plasma germinativo é possível haver transmissão dos caracteres adquiridos. Passou a ocupar
uma posição intermediária entre seu primeiro modo de ver e o dos neolamarckistas. Mas
manteve-se irresoluto a respeito da transmissão por herança dos caracteres psíquicos.
O intelectual sergipano concordou que a educação não dispensa as qualidades nativas
e delas depende. Porém, alegou que embora não se herde diretamente esta ou aquela língua; se
herda uma maior facilidade, uma mais desenvolvida tendência para a linguagem; não se herda
o conhecimento da música, da pintura, da escultura, mas se herda o talento para a arte; não se
herda o saber; mas se herdam mais pronunciadas faculdades para as ciências. Considerou que
entre os “medíocres” que ela não pode modificar e os “gênios” que ela pode ajudar uma
“multidão infinita de espíritos de todos os graus” que a educação bem orientada desenvolve e
fortalece.
Diante da impossibilidade de contar com o antropossociólogo para respaldar a sua
crença no poder da educação, recorreu a Herbert Spencer, que acreditava na transmissão de
comportamentos e experiências adquiridas, na força da hereditariedade social:
445
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 253. Conferir o trecho original em: LAPOUGE, Georges Vacher de. L' aryen: son role social.
Paris: Albert Fontimoing Editeur, 1899, p. 296.
446
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 252.
181
Não modifica a índole, o caráter, natureza intrínseca dos indivíduos... Não é
de todo exato. O saber é, às vezes, um auxiliar da vontade, mas seu fim
principal não é criar heróis; é fornecer armas na luta pela existência. Para o
indivíduo é sempre um companheiro fiel, alargando-lhe os horizontes do
espírito, fornecendo a compreensão das coisas, dos fatos e dos homens. Para
a espécie é inestimável; é a origem dessa acumulação de idéias, de doutrinas,
de teorias, de descoberta que é a fonte inesgotável da civilização, da cultura,
das ciências, das artes, das indústrias. Que seria da humanidade sem tais
recursos? Não se transmitem, como a mecânica dos instintos, por herança
biológica... Sim; mas se transmitem por acumulação, por esse processo que
poderemos chamar a hereditariedade social.
447
447
ROMERO, Sílvio. O remédio. In: _______. O Brasil social e outros estudos sociológicos. Brasília: Senado
Federal, 2001, p. 253.
182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, estabeleci como objetivo compreender como Sílvio Romero se
apropriou das obras L’éducation intelectuelle, morale et physique de Herbert Spencer,
Histoire de la formation particulariste de Henri de Tourville, A quoi tient la superiorité des
anglo-saxons? e de L’éducation nouvelle: l’École des Roches de Edmond Demolins, de La
vie americaine: l’éducation et la société de Paul de Rousiers, de L’Aryen:son role social e
Race et milieu de Georges Vacher de Lapouge.
Antes de analisar especificamente a leitura das referidas obras, julguei necessário
analisar as competências e práticas adquiridas por Sílvio Romero ao longo da sua trajetória.
Foi possível perceber que através da educação formal e informal que recebeu o intelectual
sergipano desenvolveu competências e práticas que o tornaram um leitor crítico das letras
nacionais e estrangeiras. Lia na sua “oficina”, quando não era interrompido pela reinação e
doenças dos filhos, nas barcas a vapor do Cais Pharoux, a caminho do trabalho ou de volta
para casa, no navio La Plata, na Livraria Alves, no escritório do amigo Artur Guimarães, no
qual costumava acomodar-se num sofá de palhinha ou numa cadeira em califourchon, e na
biblioteca do referido amigo. Fazia leitura silenciosa. Porém, costumava compartilhar suas
leituras com os amigos, relatando-as nas missivas. Lia extensivamente, anotando cada página,
concordando ou discordando dos autores. Para Sílvio Romero, leitura e escritura não estavam
dissociadas, lia para “afundar a pena no papel” e escrever algum volume sobre a pátria.
Após apreciar o perfil do leitor, julguei necessário também fazer um estudo sobre a
Biblioteca Pedagógica de Sílvio Romero, com o intuito de compreender como adquiria os
livros, quais textos despertavam seu interesse e quais as estratégias empregadas pelos
produtores para conformar a leitura. Notei que os livros nacionais e estrangeiros que a
compõe foram comprados em livrarias fluminenses, paulista, baiana e pernambucana,
presenteadas por amigos ou tomadas por empréstimo; que a biblioteca é bem diversificada;
que apesar da existência de textos de origem técnica predominam os de caráter científico; que
além de textos da área da Pedagogia engloba textos de áreas como a Filosofia, a Sociologia, a
Biologia e a Psicologia, que o auxiliaram a pensar a educação, que figuram na sua biblioteca
autores reconhecidos nacional e internacionalmente; que os textos foram publicados em
183
alemão, espanhol, francês, inglês e português, com predomínio do português e do francês; que
os principais centros editoriais foram o Rio de Janeiro, destacando-se a participação da
Tipografia Nacional/ Imprensa Nacional e da Tipografia do Jornal do Commercio de
Rodrigues & C., e Paris, destacando-se as editoras Germer Bailliére e a Félix Alcan. As
editoras lançaram mão de diversas estratégias para atrair o leitor e garantir uma determinada
leitura. Uma das estratégias empregadas pelos editores foi a das coleções. Uma outra
estratégia empregada pelos editores foi a apresentação de informações sobre os autores,
tradutores e suas respectivas obras. Os editores procuraram também, com a ajuda dos
ilustradores, embelezar as obras. Ainda se preocuparam com a legibilidade do texto oferecido,
garantida pela adoção do romano, do corpo entre 10 e 12, do entrelinhamento entre 3 e 4
pontos do corpo e o uso de margens entre 1 e 2,5. Utilizaram também aparelhos críticos como
prefácios, notas do tradutor, explicativas e de referência, resumos recapitulativos, índices
remissivos e analíticos, apêndices e anexos.
Por fim debruçei-me sobre a análise das leituras pedagógicas empreendidas por Sìlvio
Romero. Através desse estudo foi possível perceber que ele buscou subsídios para elaborar
representações da educação brasileira em diferentes matrizes teóricas: o evolucionismo de
Herbert Spencer, o culturalismo sociológico da Escola de Le Play, representada por Henri de
Tourville, Edmond Demolins e Paul de Rousiers e a antropossociologia de Georges Vacher
de Lapouge.
Sílvio costumava afirmar que não escrevia pelo gosto de escrever, mas com o sentido
de ser útil à sua pátria. Poderia parafraseá-lo e afirmar que não lia pelo gosto de ler, mas com
o desejo de buscar subsídios para auxiliar no progresso da nação.
Sílvio buscou nas referidas leituras subsídios para pensar a educação adequada para o
país. Durante as suas leituras esbarrou em uma primeira dificuldade: qual o legado do
processo educativo para a humanidade?
Encontrou em Herbert Spencer e na Escola Social de Le Play a resposta que desejava.
Tanto Spencer quanto Tourville, Demolins e Rousiers acreditam na fertilidade da educação.
Consideram-na uma arma eficaz para ser utilizada na luta pela existência e para enfrentar as
dificuldades da sociedade contemporânea. Spencer acredita que a educação auxilia no
desenvolvimento das faculdades naturais. Os discípulos de Le Play acreditam que ela pode
184
transformar a índole dos “atrasados” povos comunários em índole particularista, para que a
humanidade possa compartilhar vantajosamente as conquistas da sociedade industrial.
Todavia, como apostar no poder da educação se a Ciência havia lhe ensinado que a
raça está “no fundo de todas as coisas”, e de acordo com esse conceito uma correlação
imediata entre o domínio físico e o domínio psíquico? Como modificar, através da educação,
a raça brasileira, composta por portugueses e negros (dolicocéfalos da pior espécie), índios
(braquicéfalos) e mestiços, que, como ele mesmo afirmou eram inferiores às raças puras e
poderiam gerar epiléticos, loucos e criminosos?
Para decidir sobre a fertilidade da educação era preciso superar a antinomia educação
x hereditariedade. Com intuito de resolver essa questão inseriu-se no renhido debate entre
neolamarckistas e neodarwinistas ao lado de Lapouge e Spencer. Enquanto os
neolamarckistas apostavam na transmissibilidade dos caracteres adquiridos, os neodarwinistas
defendiam a intransmissibilidade desses. Lapouge, após certa vacilação, ocupou uma posição
intermediária no debate. Defendeu que alguns caracteres físicos adquiridos poderiam ser
legados caso conseguissem alterar o plasma germinativo. No entanto, o antropossociólogo
condenou a transmissão dos caracteres psíquicos adquiridos. Sílvio Romero questionou esse
ponto da sua doutrina e apoiou-se em Spencer, que defendia a possibilidade de transmissão
hereditária das experiências e comportamentos adquiridos que, submetidos à seleção poderia
garantir a evolução social. A Escola de Le Play não foi útil para discutir essa questão porque
não operou com o binômio natureza-sociedade. Os leplayanos utilizavam o conceito raça no
sentido sociológico, como sinônimo de grupo ou classe de indivíduos, desprezando o sentido
antropológico. Este aspecto foi apontado por Sílvio como uma das grandes falhas da escola. O
intelectual sergipano recusou-se a abandonar os pressupostos racistas, analisou a sociedade
brasileira procurando estabelecer um equilíbrio entre mundo natural e mundo social.
Resolvida essa questão da eficácia da educação na transformação dos indivíduos,
procurou definir o papel da educação. Buscou respaldo no evolucionismo spenceriano e na
Escola de Ciência Social. Para Spencer o papel da educação é preparar o homem para a luta
pela vida. Os discípulos de Le Play também acreditam neste postulado. O papel da educação é
formar homens para os desafios da sociedade contemporânea.
185
Para buscar o modelo formativo ideal para os brasileiros buscou inspiração novamente
em Spencer e Le Play. De Spencer adotou a concepção de que é preciso formar o homem
completo através da educação intelectual, moral e física. Com os discípulos de Le Play
aprendeu que é necessário oferecer uma educação integral, mas que a moral é mais importante
porque na índole dos povos reside o potencial para o progresso. Assim como os leplayanos,
avaliou que os povos comunários devem copiar o modelo de educação dos povos
particularistas.
Para definir currículo e método recorreu mais uma vez a Spencer e aos sociólogos da
Escola de Ciência Social. Spencer propôs a primazia do ensino científico, o único capaz de
transmitir conhecimentos úteis. Outros autores da época defendiam a primazia do ensino
humanístico assentado nas disciplinas clássicas. Demolins, defendeu a adoção de um currículo
ancorado tanto no ensino clássico quanto no científico, pois é preciso habilitar os alunos a
exercerem todas as profissões. Sílvio mostrou predileção pelo ensino científico preconizado
por Spencer, embora não descartasse a manutenção de algumas disciplinas clássicas no
currículo.
Em relação ao método, apoiou-se tanto em Spencer quanto em Demolins. Ambos
recusaram o método mnemônico comum nas escolas daquela época. Spencer defendeu que os
mestres devem desenvolver as faculdades naturais do educando através da observação e da
experiência, partindo do simples para o complexo, do indefinido para o definido, do concreto
para o abstrato, com o objetivo de respeitar o desenvolvimento psíquico dos indivíduos.
Demolins preconizou o método ativo, valorizando o conhecimento e a ação, a fim de
estimular o desenvolvimento das inclinações primárias e fortalecer os sentimentos de
iniciativa, responsabilidade, honra, retidão e lealdade. Ambos pregavam que a obediência
deve ser obtida através de métodos persuasivos. Sílvio achou as duas propostas interessantes e
complementares.
Quanto à organização do espaço escolar, Sílvio buscou apoio nas idéias de Demolins
e no modelo da École des Roches. As escolas devem ser estabelecidas no campo, com o
intuito de livrar os discípulos dos vícios da cidade. Devem também ser divididas em casas,
que também podem servir de residência para professores e diretores.
186
Também considerou útil a educação informal que, segundo Paul de Rousiers, pode ser
oferecida em países de formação particularista, e o intercâmbio de profissionais com o intuito
de aprender o modelo anglo-saxônico de educação tido como o mais eficiente para enfrentar
os desafios da vida contemporânea.
Uma última questão que ocupou a reflexão de Sílvio foi a que diz respeito à assunção
da responsabilidade da educação. Rejeitou a opinião de Spencer que considera que o Estado
não deve intervir nessa matéria e apoiou-se em Demolins que julga que o ideal é o exercício
do self-government, mas nas sociedades de formação comunária, organização social na qual o
Brasil se enquadrava na opinião de Sílvio, é recomendável a intervenção do Estado, uma vez
que os povos com essa formação não conseguem resolver sozinhos os seus problemas.
A partir da análise das leituras empreendidas por Sílvio Romero, é possível concluir,
deixando de lado qualquer conotação ideológica, que lvio leu essas obras de modo crítico.
Não se apropriou das representações oferecidas pelo autor in totum. Caminhando entre as
leituras, combinou teorias distintas, aderindo às representações que considerou adequadas
para pensar a educação nacional e rejeitando aquelas que julgou impróprias.
A conclusão deste trabalho não significa que as leituras pedagógicas de Sílvio Romero
foram completamente desveladas. Muitos estudos ainda devem ser empreendidos com o
intuito de compreender essa face do intelectual sergipano. As marginálias gravadas em sua
biblioteca particular clamam por pesquisadores que se disponham ao exercício de decifrá-las!
187
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ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 315-
316.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 316-
317.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 317.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, sem data. In: CHACON, Vamireh. Da Escola do
Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões, 1969, p. 318.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 15 de agosto de 1888. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 275-276.
206
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de setembro de 1888. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 276.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de janeiro de 1889. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 277.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de janeiro de 1891. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 278-279.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de outubro de 1891. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 279.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de dezembro de 1891. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 280.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1895. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 280-281.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 1 de fevereiro de 1896. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 282-283.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de fevereiro de 1896. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 282-283.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 8 de janeiro de 1897. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, 283-284.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de abril de 1897. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 284-285.
207
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de abril de 1897. CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 285-286.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de junho de 1899. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 286-287.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de julho de 1899. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 287-288.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de fevereiro de 1900. In CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 288-289.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de outubro de 1901. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 289-290.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 13 de maio de 1902. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 290-291.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 5 de junho de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 291.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 2 de julho de 1903. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 291-292.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 05 de julho de 1903. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 292.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de setembro de 1903. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 292-293.
208
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de outubro de 1903. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 293.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 19 de janeiro de 1904. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 293-294.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de fevereiro de 1904. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 294-295.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de junho de 1904. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 295-296.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de setembro de 1904. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 296-297.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 7 de abril de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 298.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh.
1969. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, p. 298.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh.
1969. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, p. 299.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 29 de maio de 1905. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 299.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de junho de 1905. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 300.
209
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 15 de janeiro de 1906. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 300.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 301.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 17 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 301-302.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 22 de julho de 1906. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 302-303.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 25 de outubro de 1906. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 303.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 28 de novembro de 1906. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 303-304.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 3 de fevereiro de 1907. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 304-305.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1907. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 305.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 18 de julho de 1908. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 306-307.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de setembro de 1908. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 305-306.
210
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de outubro de 1908. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 307.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 12 de novembro de 1908. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 308.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 6 de fevereiro de 1909. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 308-309.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 20 de julho de 1909. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 309.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 10 de setembro de 1909. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 310.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 4 de maio de 1910. In: CHACON, Vamireh. Da
Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 310.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 14 de maio de 1910. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 311.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 11 de setembro de 1910. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 311.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 10 de junho de 1911. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 311-312.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 24 de setembro de 1911. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 312.
211
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 23 de novembro de 1911. In: CHACON,
Vamireh. Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro:
Simões, 1969, p. 312-313.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 22 de julho de 1912. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 313.
ROMERO, Sílvio. Carta a Artur Orlando, de 3 de janeiro de 1913. In: CHACON, Vamireh.
Da Escola do Recife ao Código Civil. Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: Simões,
1969, p. 310.
CARTA A DOMÍCIO DA GAMA
ROMERO, Sílvio. Carta a Domício Gama, de 13 de abril de 1906. In: RABELLO, Sílvio.
1944. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 234.
CARTAS A MAGALHÃES CARNEIRO
ROMERO, Sílvio. Carta a Magalhães Carneiro, sem data. In: CARNEIRO, Magalhães. [S. d].
Sílvio Romero na Intimidade. Aracaju: Imprensa Oficial.
CARTAS AO BARÃO DO RIO BRANCO
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 23 de abril de 1903. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, 1944, p. 229.
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 1 de junho de 1903. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 229-230.
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 6 de junho de 1903. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 230.
212
ROMERO, lvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 6 de julho de 1903. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231.
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 7 de fevereiro de 1904. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 231-232.
ROMERO, lvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 29 de maio de 1907. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 232.
ROMERO, Sílvio. Carta ao Barão do Rio Branco, de 24 de setembro de 1909. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 233.
CARTAS AO CONDE AFONSO CELSO
ROMERO, Sílvio. Carta ao Conde Afonso Celso, de 25 de maio de 1911. In: RABELLO,
Sílvio. 1944. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, p. 233-234.
ROMERO, lvio. Carta ao Conde Afonso Celso, de 8 de junho de 1914. In: RABELLO,
Sílvio. Itinerário de Sílvio Romero. Rio de Janeiro: José Olympio, 1944, p. 232-233.
LITERATURA DE ÉPOCA
AMADO, Gilberto. História da minha infância. São Cristóvão: Editora da UFS/ Fundação
Oviêdo Teixeira, 1999.
AMADO, Gilberto. História da minha formação no Recife. Rio de Janeiro: José Olympio,
1955.
AMADO, Gilberto. Mocidade no Rio e primeira viagem para a Europa. Rio de Janeiro: J.
Olympio, 1956.
ARANHA, Graça. O meu próprio romance. São Paulo: Nacional, 1931.
BOMFIM, Manuel. A América Latina: males de origem. Paris: Garnier, 1905.
213
CAMPOS, Edilberto. Crônicas da passagem do século. Aracaju: [S.n.], 1965. 6 v.
CARDOSO, Severiano. Lagarto Sergipe: Histórias e costumes. Almanaque Sergipano,
Aracaju, 1899, p. 242-256.
EDMUNDO, Luiz. O Rio de Janeiro do meu tempo. Rio de Janeiro: Conquista., 1957.
GUARANÁ, Armindo. Dicionário biobibliográfico sergipano. Aracaju: Pongetti, 1925.
GUIMARÃES, Argeu. Presença de lvio Romero. Rio de Janeiro: Organizações Simões,
1955.
GUIMARÃES, Artur. Sílvio Romero de perfil. Porto: Tipografia A vapor de Artur José de
Souza, 1915.
GUIMARÃES, Ary Machado. Sílvio Romero e Querido Moheno unidos num
pensamento: sobre a forma de governo que nos deve reger. Rio de Janeiro: Tipografia do
Jornal do Comércio de Rodrigues & C., 1932.
KIDDER, Daniel Parish. Reminiscências de viagens e permanências no norte do Brasil.
Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.
MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias da Rua do Ouvidor. Rio de Janeiro: B. L.
Garnier, 1878.
NABUCO, Joaquim. Minha formação. 10 ed. Brasília: Editora da UNB, 1981.
POMPÉIA, Raul. O Ateneu. São Paulo: Martin Claret, 2004.
RIO, João do. O momento literário. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 1994.
RIO, João do. Cinematógrafo: crônicas cariocas. Porto: Chardron, 1909.
ROMERO, Abelardo. Sílvio Romero em família. Aracaju: Saga, 1960.
VERÍSSIMO, José. A Educação Nacional. 3 ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
214
MENSAGENS E RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DAS
PROVÍNCIAS DE SERGIPE, RIO DE JANEIRO E PERNAMBUCO
MENSAGENS E RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DE SERGIPE
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura
da sua sessão ordinária, no de março de 1850, o Exmo. Sr. Presidente da Província,
Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Fala que dirigiu à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na abertura
de sua sessão ordinária, no dia 11 de janeiro de 1851, o Exmo. Sr. Presidente da
Província, Dr. Amâncio João Pereira de Andrade. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado á Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na
abertura de sua sessão ordinária, no dia 8 de março de 1852, pelo Exmo. Sr. Presidente
da Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na
abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 10 de julho de 1853, pelo Exmo. Sr. Presidente da
Província, Dr. José Antonio de Oliveira Silva. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na
abertura da 2ª sessão ordinária, no dia 20 de abril de 1854, pelo Exmo. Sr. Presidente da
Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial de Sergipe, na
abertura de sua sessão ordinária, no dia de março 1855, pelo Exmo. Sr. Presidente da
Província, Dr. Inácio Joaquim Barbosa. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da undécima legislatura da
Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 2 de julho de 1856, pelo excelentíssimo
Presidente, Doutor Salvador Correia de e Benevides. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
215
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da undécima legislatura da
Assembléia Provincial de Sergipe, no dia de fevereiro de 1857, pelo excelentíssimo
Presidente, Doutor Salvador Correia de e Benevides. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da duodécima legislatura da
Assembléia Legislativa de Sergipe, pelo excelentíssimo Presidente, Doutor João Dabney
Avellar Brotero. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>.
Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório com que foi aberta a sessão da duodécima Legislatura da
Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 27 de abril de 1859, pelo Presidente, Dr.
Manoel da Cunha Galvão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 5 de março
de 1860, pelo Presidente Manuel da Cunha Galvão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório com que foi entregue a administração da Província de Sergipe, no
dia 15 de agosto de 1860, ao Ilmo. e Exmo. Sr. Dr. Thomaz Alves Junior pelo Doutor
Manoel da Cunha Galvão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Relatório apresentado à Assembléia Provincial de Sergipe, no dia 4 de março
de 1861, pelo Presidente, Dr. Thomaz Alves Junior. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Fala com que foi aberta a sessão da 14ª legislatura da Assembléia
Provincial de Sergipe, pelo Presidente Dr. Joaquim Jacinto de Mendonça, no dia de
março de 1862. Disponível em: <http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>.
Acessado em: 04/08/2004.
SERGIPE. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa de Sergipe pelo Presidente
do Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, ao instalar-se a sessão
extraordinária da 13ª legislatura, em 15 de julho de 1918. Aracaju: Imprensa Oficial,
1919.
SERGIPE. Mensagem dirigida à Assembléia legislativa de Sergipe pelo Presidente do
Estado General Manuel P. de Oliveira Valadão, em 7 de setembro de 1918, ao instalar-se
a 2ª sessão ordinária da 13ª legislatura. Aracaju: Imprensa Official, 1919.
216
RELATÓRIOS DOS PRESIDENTES DA PROVÍNCIA DO RIO DE JANEIRO
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado a Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, na segunda sessão da décima quinta legislatura, no dia de outubro de 1863,
pelo presidente Dr. Policarpo Lopes de Leão. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, em 1864, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, em 1865, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, em 1866, pelo Presidente da Província do Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://wwwcrl.uchicago.edu/info/brazil/index.html>. Acessado em: 04/08/2004.
RIO DE JANEIRO. Relatório apresentado à Assembléia Legislativa Provincial do Rio de
Janeiro, no ano de 1867, pelo Presidente da Província. Disponível em:
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