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ensino coadunando-os aos princípios ali estabelecidos
11
. Shiroma, Moraes e
Evangelista entendem que, ao tomar o conceito de eqüidade em substituição à
igualdade, a Conferência de Jomtien infere que a “educação para todos” se resume em
uma política que estabelece ideologicamente que:
para extratos sociais diferentes, ensinos diferentes, uma vez que as
necessidades básicas de um e outro não poderiam ser as mesmas. Reeditava-
se o dualismo na educação brasileira, partindo-se do suposto de que as
necessidades das amplas camadas empobrecidas eram peculiares, deveriam
continuar tendo atendimento diverso do demandado por clientela mais seleta”
(SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 61)
.
Coerentemente com esse movimento maior, em 1993 Murílio de Avellar Hingel,
então ministro da educação, lança o Plano Decenal de Educação para Todos, traçando as
metas indicadas pelos organismos multilaterais internacionais destinadas aos países
pobres para implantação das reformas. As autoras afirmam essa evidência enfatizando
que,
à medida que a lei da educação nacional era debatida, o governo impingia,
por meio de decretos, resoluções e medidas provisórias, o seu projeto
educacional, articulado aos desígnios firmados em Jomtien e os grandes
interesses internacionais, como atestam os documentos da CEPAL
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(Comissão Econômica para a América Latina e Caribe) (SHIROMA;
MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 63).
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A Conferência de Jomtien realizou-se em Jomtien, Tailândia teve financiamento da UNESCO
(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), UNICEF (Fundo das Nações
Unidas para a Infância), PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e Banco
Mundial. Dela participaram 155 países. Em linhas gerais, “[...] sugere a possibilidade de estender certos
benefícios obtidos por alguns grupos sociais à totalidade das populações, sem contudo, ampliar na mesma
proporção das despesas públicas para esse fim. Nesse sentido, educação com eqüidade implica oferecer o
mínimo de instrução indispensável às populações para sua inserção na sociedade atual.” (OLIVEIRA,
1999, p. 74). E os “E 9” – como ficou conhecido os noves países com as maiores taxas de analfabetismo
(Bangladesh, Brasil, China, Egito, Índia, Indonésia, México, Nigéria e Paquistão) – Esses paises passaram
a desencadear ações para consolidar os princípios acordados na Declaração de Jomtien.
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A CEPAL lança em 1992 um documento “Educación Conocimiento: Eje de la transformación
Productiva com Equidad” juntamente com a UNESCO, enfatizando a necessidade de mudanças nos
sistemas de ensino para a atender as mudanças na esferas produtivas em curso, [...] Em síntese, a
estratégia da CEPAL se articulava em torno de objetivos (cidadania e competitividade), critérios
inspiradores de políticas (eqüidade e eficiência) e diretrizes de reforma institucional (integração nacional
e descentralização). A CEPAL entendia que a reforma do sistema produtivo e a difusão do conhecimento
eram os instrumentos cruciais para enfrentar ambos os desafios: construção e uma moderna cidadania e da
competitividade. A moderna cidadania seria preparada na escola, cujo acesso deveria ser universalizado,
ao menos no ensino fundamental, afim de que a população aprendesse os códigos da modernidade
(SHIROMA; MORAES; EVANGELISTA, 2000, p. 63-64)