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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
Faculdade de Medicina
Izabela Voieta da SilvaTeixeira
COMPARAÇÃO ENTRE
A FIBROSE PERIPORTAL DIAGNOSTICADA PELO
ULTRA-SOM E PELA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
E A HISTOLOGIA HEPÁTICA NA
HIPERTENSÃO PORTA ESQUISTOSSOMÓTICA
Belo Horizonte
2008
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Izabela Voieta da Silva Teixeira
COMPARAÇÃO ENTRE
A FIBROSE PERIPORTAL DIAGNOSTICADA PELO
ULTRA-SOM E PELA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
E A HISTOLOGIA HEPÁTICA NA
HIPERTENSÃO PORTA ESQUISTOSSOMÓTICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais para
obtenção de título de Mestre em Medicina.
Área de concentração: Ciências da Saúde -
Infectologia e Medicina Tropical.
Orientador: Prof. José Roberto Lambertucci.
Co-orientador: Prof. Carlos Maurício Antunes.
Belo Horizonte
Faculdade de Medicina - UFMG
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
REITOR
Professor Ronaldo Tadêu Pena
VICE-REITORA
Professora Heloisa Maria Murgel Starling
PRÓ-REITOR DE PÓS–GRADUAÇÃO
Professor Jaime Arturo Ramirez
PRÓ-REITOR DE PESQUISA
Professor Carlos Alberto Pereira Tavares
DIRETOR DA FACULDADE DE MEDICINA
Professor Francisco José Penna
VICE-DIRETOR
Professor Tarcizo Afonso Nunes
COORDENADOR DO CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Professor Manoel Otávio da Costa Rocha
SUBCOORDENADOR DO CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
Professor Antônio Lúcio Teixeira Júnior
COLEGIADO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE,
INFECTOLOGIA E MEDICINA TROPICAL
Professor Antônio Luiz Pinho Ribeiro
Professor Carlos Maurício Figueiredo Antunes
Professor José Roberto Lambertucci
Aos meus pais, José Carlos e Ângela.
Aos meus irmãos, Leonardo e Fabricia.
Ao Léo.
AGRADECIMENTOS
Ao mestre José Roberto Lambertucci, pelo incentivo, orientação, amizade e fundamental
participação em todas as etapas deste projeto.
Ao Professor Carlos Maurício Antunes, pela vibração e cumplicidade a cada conquista e
desafios.
Aos Professores Andy Petroianu e Vivian Resende, pelo respeito e carinho com o meu
trabalho.
Aos imaginologistas Dra. Luciene Mota (Hermes Pardini) e Dr. Leonardo Campos
(HC/UFMG), pela amistosa colaboração.
Ao Professor Zilton Andrade, pela acolhida e trabalho realizado, meu eterno respeito e
admiração; ao Professor Aryon Almeida Barbosa Jr., pela confiança; às colegas do LAPEX
Fundação Gonçalo Moniz, em especial a Márcia Maria de Souza e Tininha, pela
disponibilidade.
Ao Prof. Alfredo Barbosa, pelo apoio.
Aos amigos das quartas-feiras, pela troca: Sílvio Pereira e Alba Otoni, pelas palavras
valiosas de incentivo; Renata Eliane de Ávila, pela cumplicidade e amizade nos últimos
anos; Luciana Cristina dos Santos Silva e Carolina Coimbra Marinho, modelos a seguir;
Silvana Romano, pela disponibilidade e capricho.
Aos Residentes da cirurgia do Hospital das Clínicas/UFMG e Santa Casa de Misericórdia
de Belo Horizonte, pela parceria.
Ao acadêmico Vitor Freitas Fontes, pelo companheirismo e contribuição ao trabalho.
“Eu aprendi que para crescer como pessoa
é preciso me cercar de gente mais inteligente do que eu”.
William Shakespeare
RESUMO
Em poucos estudos houve comparação entre o ultra-som e a histologia na avaliação da
fibrose hepática da esquistossomose e em nenhum se incluiu a ressonância magnética.
Neste trabalho comparou-se o ultra-som (US), a ressonância magnética (RM) e a histologia
na avaliação da fibrose hepática na esquistossomose. Foram selecionados para esta
pesquisa 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica que estavam sendo
acompanhados no Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e
Parasitárias (UFMG) e na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, no período de
junho de 2006 a agosto de 2007. Seus dados sociodemográficos, clínicos e laboratoriais
foram anotados em protocolo padronizado e as informações obtidas foram armazenadas em
banco de dados (Epi Data 3.1). Para as análises, adotou-se o pacote estatístico para as
ciências sociais (SPSS). Os pacientes submeteram-se à endoscopia digestiva alta, ultra-
som, ressonância magnética, biópsia hepática cirúrgica em cunha, exame parasitológico
das fezes e coleta de sangue. Os estudos anatomopatológico e histomorfométrico foram
feitos na Fundação Gonçalo Moniz (FIOCRUZ, Salvador, Bahia). Para avaliação da
fibrose hepática pelo ultra-som, usou-se o protocolo padronizado pela OMS e, para a
ressonância magnética, o mesmo protocolo foi adaptado pelo nosso grupo. Estratificaram-
se os graus de fibrose em ausente, leve, moderada e intensa. A histologia hepática e a
ressonância magnética confirmaram a presença de fibrose de Symmers em todos os casos.
O ultra-som, com exceção em um indivíduo, também identificou a fibrose periportal. A
concordância entre os três métodos foi baixa, exceto para o ultra-som e a ressonância
magnética, que apresentaram concordância moderada na avaliação da fibrose. Para tentar
melhorar a concordância, agruparam-se os casos de fibrose leve e ausente, chamando-os de
leve e os casos de fibrose moderada e intensa chamando-os de grave. Nesse cenário, os
métodos de imagem apresentaram concordância moderada com a intensidade da fibrose
diagnosticada pela histologia. A histomorfometria não separou os indivíduos com fibrose
leve dos pacientes com fibrose grave, quando comparada à histologia. Não houve relação
entre o tamanho do baço e o número de episódios de hemorragia digestiva alta com a
intensidade da fibrose hepática. Concluiu-se que a ressonância magnética e a histologia
confirmaram a existência de fibrose em todos os casos, mas o ultra-som deixou de fazê-lo
em um paciente. Os três métodos apresentaram baixa concordância na definição dos graus
de fibrose. Houve casos de doença avançada, mesmo quando a histologia mostrava fibrose
leve. Assim, a intensidade da fibrose hepática não deve ser considerada marcador confiável
da gravidade da esquistossomose hepatoesplênica.
Palavras-chave: esquistossomose; fibrose hepática; ressonância magnética; ultra-som;
hipertensão porta.
ABSTRACT
Few studies have compared ultrasound with histology in the evaluation of liver fibrosis in
schistosomiasis mansoni, but none has been reported with magnetic resonance imaging.
This study was set up to evaluate liver fibrosis using the 3 methods. Fourteen patients
attending the Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas (UFMG) and
Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG), from June 2006 to August 2007,
have been selected for the study. All patients had advanced hepatosplenic schistosomiasis
and were admitted to hospital for surgical treatment of portal hypertension. A standard
protocol was filled out with the socio-demographic, clinical and laboratory data of patients
and, thereafter, the information was transferred to a data bank using the software Epi Data
3.1. For statistical analysis the software Statistical Package for Social Sciences (SPSS) was
used. Patients were submitted to upper digestive endoscopy, ultrasound (US), magnetic
resonance imaging (MRI), surgical wedge liver biopsy, parasitological stool examination
and blood tests. Histology of liver fragments and histomorphometry were performed in the
Gonçalo Moniz Foundation (FIOCRUZ Salvador, Bahia). For ultrasound, WHO’s
protocol was applied. For MRI, the ultrasound protocol was adapted by our team to grade
liver fibrosis. Hepatic fibrosis was graded as absent, light, moderate and intense by the 3
methods. Histology confirmed the presence of Symmers fibrosis in all cases as did MRI.
Ultrasound failed to diagnose periportal fibrosis in one patient. In regard to the intensity of
liver fibrosis there was poor concordance among the 3 methods, except for ultrasound and
magnetic resonance which showed moderate concordance in the evaluation of liver
fibrosis. In an attempt to improve the concordance, we grouped the grades absent and light,
and called them, light, and the grades moderate and intense, and called them, intense. In
this scenario, there was moderate concordance between the imaging techniques and
histology. Histomorphometry did not separate patients with light from intense liver
fibrosis, when it was compared with histology. No correlation was observed between
spleen size and the intensity of liver fibrosis, or between a history of esophageal bleeding
and fibrosis. Summing up, histology and MRI diagnosed liver fibrosis in all patients, but
ultrasound failed to confirm periportal fibrosis in one. A poor concordance in the
evaluation of fibrosis was found when the 3 methods were compared. Cases of advanced
hepatosplenic schistosomiasis, with light liver fibrosis, diagnosed by histology, were found
in the present study. Therefore, the intensity of liver fibrosis is not a reliable marker of
disease severity in hepatosplenic schistosomiasis.
Key-words: schistosomisais, liver fibrosis, magnetic resonance imaging, ultrasound, portal
hypertension.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ALAT
Alanino-transaminase
Anti-HCV Anticorpo para o antígeno do vírus da hepatite C
AS Área seccional
ASAT Aspartato-transaminase
CTR-
DIP
Centro de Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias
EPF Exame parasitológico de fezes
GE General Eletric
GGT Gama-glutamil transferase
HBsAg Antígeno de superfície do vírus da hepatite B
HC Hospital das Clínicas
HDA Hemorragia digestiva alta
HE Hematoxilina-eosina
HLA Antígeno de histocompatibilidade linfocitária
LAVA Liver Acquisition with Volume Acceleration
MHz Mega Hertz
OMS Organização Mundial de Saúde
RM Ressonância magnética
SPSS Statistical Package for Social Sciences
TC Tomografia computadorizada
TE Tempo de eco
TR Tempo de repetição
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
US Ultra-som
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figuras
Figura 1 - Fibrose do tipo clay pipe stem).................................................................. 32
Figura 2 - Bocelamento da superfície do fígado na esquistossomose.........................
33
Figura 3 – Fluxograma: Exame clínico, história epidemiológica positiva para
esquistossomose, ultra-som sugestivo de fibrose hepática. Hipertensão porta
com indicação cirúrgica (n=17)............................................................................
40
Figura 4 - Procedência dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica....... 43
Figura 5 – Fígado e baço em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica......... 85
Figura 6 - Ultra-som em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica................
87
Figura 7 - Ressonância magnética em pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica.....................................................................................................
88
Figura 8 - Prancha da OMS: correspondência à ressonância magnética.................... 89
Figura 9 - Aspecto macroscópico do fígado em esquistossomose hepatoesplênica... 90
Figura 10 - Aspecto macroscópico do baço em esquistossomose hepatoesplênica.... 91
Figura 11 - Histologia hepática em esquistossomose hepatoesplênica....................... 92
Quadros
Quadro 1 - Distribuição dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica e
hipertensão porta, de acordo com a idade, sexo, naturalidade, procedência e a
presença de varizes de esôfago e estômago, examinados no CTR-DIP Orestes
Diniz no período de junho de 2006 a agosto de 2007...........................................
42
Quadro 2 - Medidas de referência para o exame ultra-sonográfico do abdome......... 48
Quadro 3 - Classificação da força de concordância segundo o coeficiente Kappa.....
51
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Características sociodemográficas, epidemiológicas e clínicas dos 14
pacientes com esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP
Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007.............................
53
Tabela 2 - Fibrose hepática e tamanho do baço de 14 pacientes com
esquistossomose hepatoesplênica, avaliados pelo exame físico, ultra-som,
ressonância magnética e histologia, examinados no CTR- DIP do Hospital
Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007.............................
55
Tabela 3 - Avaliação clássica da fibrose à histologia e histomorfometria dos 14
pacientes com esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP,
Hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007..............
57
Tabela 4 - Classificação da fibrose periportal de acordo com o ultra-som e
ressonância magnética dos 14 pacientes portadores de esquistossomose
hepatoesplênica examinados no CTR-DIP, Hospital Orestes Diniz, no período
de junho de 2006 a agosto de 2007.......................................................................
58
Tabela 5 - Comparação da intensidade da fibrose avaliada pelo ultra-som e pela
histologia dos 14 pacientes portadores de esquistossomose hepatoesplênica
examinados no CTR-DIP, Hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006
a agosto de 2007....................................................................................................
59
Tabela 6 - Comparação entre a presença de fibrose avaliada pela ressonância
magnética e a histologia em 14 pacientes portadores de esquistossomose
hepatoesplênica examinados no CTR-DIP, Hospital Orestes Diniz, no período
de junho de 2006 a agosto de 2007.......................................................................
59
Tabela 7 - Proporções de pacientes classificados como portadores de fibrose
hepática leve e grave nos três métodos de avaliação, ultra-som, ressonância
magnética e histologia (agrupadas as formas leve e ausente: chamadas de leve;
moderada e intensa: chamada de grave)................................................................
93
Tabela 8 - Concordância entre os métodos de imagem (ultra-som e ressonância
magnética) na avaliação dos 14 pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica classificados como fibrose hepática leve e grave, examinados
no CTR-DIP, Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007......
93
Tabela 9 - Concordância entre o ultra-som e a ressonância magnética na avaliação
dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica classificados como
fibrose hepática leve e grave, examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz, no
período de junho de 2006 a agosto de 2007..........................................................
93
Tabela 10 - Concordância entre os métodos ressonância magnética e histologia na
avaliação dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica classificados
como fibrose hepática leve e grave, examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz,
no período de junho de 2006 a agosto de 2007....................................................
94
Tabela 11 - Concordância entre a histologia e os métodos de imagem (ultra-som +
ressonância magnética), excluído o paciente discordante na classificação da
intensidade da fibrose hepática leve e grave nos métodos de imagem.................
94
Tabela 12 - Comparação entre o número de episódios de hemorragia digestiva alta
(HDA) e a avaliação da intensidade da fibrose à avaliação histológica dos 14
pacientes portadores de esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-
DIP, Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007....................
94
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 15
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................... 18
2.1 Hipertensão porta.................................................................................................. 18
2.1.1 Conseqüências da hipertensão porta.................................................................. 19
2.1.1.1 Colaterais porto-sistêmicas............................................................................. 19
2.1.1.2 Gastropatia hipertensiva.................................................................................. 20
2.1.1.3 Esplenomegalia e hiperesplenismo................................................................. 20
2.1.2 Manifestações clínicas da hipertensão porta...................................................... 21
2.1.3 História clínica................................................................................................... 21
2.1.4 Tratamento......................................................................................................... 22
2.2 Métodos de imagem: ultra-som e ressonância magnética..................................... 24
2.2.1 Ultra-som........................................................................................................... 24
2.2.2 Ressonância magnética...................................................................................... 30
2.3 Patologia............................................................................................................... 31
2.3.1 Histomorfometria............................................................................................... 37
3 OBJETIVOS............................................................................................................ 38
3.1 Objetivo geral........................................................................................................ 38
3.2 Objetivos específicos............................................................................................ 38
4 PACIENTES E MÉTODOS.................................................................................... 39
4.1 Protocolo do estudo............................................................................................... 39
4.2 Pacientes................................................................................................................
39
4.2.1 Critérios de inclusão...........................................................................................
41
4.2.2 Critérios de exclusão.......................................................................................... 41
4.3 Métodos................................................................................................................. 44
4.3.1 História clínica................................................................................................... 44
4.3.2 Exame físico....................................................................................................... 44
4.3.3 Exames laboratoriais.......................................................................................... 44
4.3.4 Exames de imagem............................................................................................ 45
4.3.5 Cirurgia.............................................................................................................. 48
4.3.6 Biópsia hepática................................................................................................. 48
4.3.7 Análise histológica............................................................................................. 49
4.3.8 Análise histomorfométrica................................................................................. 49
4.3.9 Análise estatística............................................................................................... 50
4.3.9.1 Estatísticas descritivas.....................................................................................
50
4.3.9.2 Comparação ultra-som x ressonância magnética x histologia........................ 50
4.3.9.3 Outras associações.......................................................................................... 51
4.4 Considerações éticas............................................................................................ 51
5 RESULTADOS........................................................................................................ 53
5.1 Características dos pacientes................................................................................. 53
5.2 Aspecto macroscópico do fígado durante o ato cirúrgico..................................... 54
5.3 Aspectos histológicos do grupo estudado............................................................. 54
5.4 Comparação entre a classificação clássica da fibrose hepática à histologia e os
métodos de imagem (ultra-som e ressonância magnética)..........................................
54
5.5 Histologia.............................................................................................................. 56
5.6 Comparação entre os métodos de imagem: ultra-som e ressonância magnética.. 57
5.7 Comparação entre o ultra-som e a histologia........................................................ 58
5.8 Comparação entre a ressonância magnética e a histologia................................... 59
5.9 Comparação entre os métodos de imagem (ultra-som e ressonância magnética)
e a histologia...............................................................................................................
60
5.10 Outros resultados.................................................................................................
60
5.11 Resumo de quatro pacientes discordantes nos métodos usados para avaliar a
fibrose.........................................................................................................................
60
6 DISCUSSÃO........................................................................................................... 63
7 CONCLUSÕES...................................................................................................... 67
8 PROPOSIÇÕES....................................................................................................... 68
REFERÊNCIAS.......................................................................................................... 69
ANEXOS E APÊNDICES.......................................................................................... 78
15
1 INTRODUÇÃO
Estima-se que quatro a seis milhões de pessoas estejam infectadas pelo Schistosoma
mansoni no Brasil, estando concentrados 70% dos casos nos estados de Minas Gerais e
Bahia (DRUMMOND et al., 2006). Entre suas manifestações clínicas, a forma crônica
mais grave é a hepatoesplênica, que pode ser causa de hipertensão porta. Somente 4 a 12%
dos pacientes infectados que vivem em área de alta endemicidade desenvolvem a forma
hepatoesplênica (TAVARES-NETO; PRATA, 1989). Esse percentual pode mostrar-se
variável, como reflexo da transmissibilidade em diferentes áreas geográficas (COURA;
CONCEIÇÃO, 1981). Vários fatores foram investigados em trabalhos científicos e estão
envolvidos na ocorrência da forma hepatoesplênica da esquistossomose, como: o número
de re-infecções, idade e raça dos pacientes, grupo sanguíneo, duração da infecção, resposta
imune do hospedeiro e determinantes do antígeno de histocompatibilidade linfocitária
(HLA) - (COLLEY et al., 1986; PEREIRA et al., 1979; PRATA, 1991; TAVARES-
NETO; PRATA, 1989).
A classificação da forma hepatoesplênica da esquistossomose modificou-se ao longo dos
anos com a evolução dos métodos diagnósticos e ainda hoje gera discussão. O diagnóstico
dessa forma da esquistossomose era inicialmente baseado na palpação abdominal
(KLOETZEL, 1962), método que se mostrou limitado nas últimas cadas. Prata e
Andrade (1963) observaram a ocorrência de intenso espessamento periportal e fibrose de
Symmers em pacientes sem esplenomegalia submetidos à autópsia. Em 2001, Lambertucci
et al. encontraram, em pacientes moradores de área endêmica, a ocorrência de baços
palpáveis, com fígado aparentemente normal ao ultra-som. Sendo assim, não é adequada a
definição de esquistossomose hepatoesplênica baseada no achado de ovos de S. mansoni
nas fezes de pacientes com fígado e baço aumentados ao exame físico.
A lesão hepática característica verificada nos pacientes portadores de esquistossomose
apresenta-se como fibrose periportal, denominada fibrose de Symmers e descrita como em
formato de haste de cachimbo pipe stem fibrosis. Notam-se, na superfície de corte do
fígado, placas esbranquiçadas em fundo de parênquima de aspecto normal (SYMMERS,
1904). As alterações à microscopia são também características e representadas por
16
aumento do espaço porta pela fibrose, com total ou parcial destruição dos ramos portais da
veia porta, contrastando com a preservação das estruturas biliares e arteriais (ANDRADE;
PEIXOTO, 1992).
O ultra-som abdominal é um método indireto utilizado para o diagnóstico de
esquistossomose e representa importante ferramenta na classificação das formas clínicas
dessa doença (BARATA; PINTO-SILVA; LAMBERTUCCI, 1999; FATAAR et al., 1985;
PINTO-SILVA et al., 1994; RICHTER et al., 2001). No entanto, não muitas
informações sobre a correlação dos achados ao ultra-som (US) e a morbidade da doença. A
avaliação ultra-sonográfica dos pacientes com a forma hepatoesplênica da esquistossomose
revelou padrões característicos de alterações intra-hepáticas (ABDEL-WAHAB et al.,
1989; HOMEIDA et al., 1988a). Quando esse método de imagem foi levado para a área
endêmica, ficou claro que muitos pacientes que não apresentam esplenomegalia ao exame
clínico podem apresentar fibrose periportal semelhante à observada nos pacientes definidos
como portadores da forma hepatoesplênica da esquistossomose (ABDEL-WAHAB et al.,
1990; DOEHRING-SHWERDTFEGER et al., 1990; HOMEIDA et al., 1988b;
LAMBERTUCCI et al., 1996).
A ressonância magnética (RM) tem se mostrado um método radiológico promissor na
avaliação desses pacientes. Não apresenta as desvantagens do ultra-som, como a
dificuldade em padronizar os cortes em um exame dinâmico, e mostra-se menos sujeito às
variações intra e interobservadores (LAMBERTUCCI et al., 2004). Silva (2007) comparou
a ultra-sonografia e a RM em um estudo sobre a morbidade em esquistossomose
mansônica e comprovou a importância do uso desse método nos pacientes em que a fibrose
periportal é apenas central.
Na forma hepatoesplênica da esquistossomose pode desenvolver-se hipertensão porta pré-
sinusoidal e, como conseqüência, ocorrer aumento do baço, que se acompanha de quadro
hematológico laboratorial denominado hiperesplenismo, e circulação colateral, como
varizes esofagianas e hemorroidárias, culminando com hemorragia digestiva e eventual
disfunção hepática (LAMBERTUCCI; SILVA; VOIETA, 2005; LAMBERTUCCI;
BARRAVIERA, 1994; PETROIANU; OLIVEIRA; ALBERTI, 2004; PRATA, 2002). A
esplenectomia subtotal associada à desconexão porta-varizes tem sido indicada para o
17
tratamento da hipertensão porta esquistossomótica nos pacientes com manifestações
clínicas mais graves (RESENDE; PETROIANU, 1998).
poucos estudos comparando as alterações hepáticas observadas ao ultra-som e à
histologia do fígado (ABDEL-WAHAB et al., 1989; 1992; CERRI; ALVES;
MAGALHÃES, 1984; HOMEIDA et al., 1988a; PINTO-SILVA et al., 1994); e nenhum
utilizando a RM. Este é o primeiro estudo que compara a presença de fibrose hepática
diagnosticada pelo ultra-som e pela RM com a histologia hepática na esquistossomose
mansônica hepatoesplênica.
18
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Hipertensão porta
A hipertensão porta é um distúrbio hemodinâmico, na maioria das vezes decorrente de
hepatopatia crônica, esquistossomose ou cirrose hepática. O sistema venoso porta é
constituído por veias que coletam o sangue da porção intra-abdominal do trato alimentar,
baço, pâncreas e vesícula biliar. A veia porta propriamente dita tem 6 a 8 cm de
comprimento e é formada pela junção das veias esplênica e mesentérica superior. O sangue
do sistema porta é levado pelos ramos terminais da veia porta até os sinusóides e, destes,
para as veias centrolobulares que drenam para as veias hepáticas e estas para a veia cava
inferior. O fluxo porta no adulto é de cerca de 1.000 a 1.200 mL/min (MARTINELLI,
2004). Define-se hipertensão porta pela presença de um gradiente de pressão venosa
hepática superior a 5 mmHg (PETROIANU, 2003). Ela é causada geralmente pelo
aumento da resistência do leito vascular porta-hepático em decorrência de obstrução ao
fluxo sanguíneo.
A hipertensão porta na esquistossomose decorre da deposição dos ovos nos ramos intra-
hepáticos da veia porta. A oclusão porta também pode ser provocada pelo próprio parasita
vivo ou principalmente morto, nos casos de infecção maciça. O tempo de vida do
esquistossoma pode aproximar-se de 20 anos, porém, por meio de reinfecções, o indivíduo
tem a sua moléstia agravada durante toda a vida. Quanto maior for a carga parasitária e a
deposição de ovos, mais intensa será a oclusão venosa e mais grave a hipertensão porta.
Com a evolução do quadro, o calibre das varizes aumenta e o risco de hemorragia também.
Na esquistossomose hepática, ocorre fibrose do fígado e, na forma hepatoesplênica há
fibrose periportal e aumento do baço, sem que esse quadro evolua para cirrose
(BOGLIOLO, 1954).
19
2.1.1 Conseqüências da hipertensão porta
2.1.1.1 Colaterais porto-sistêmicas
A formação de colaterais porto-sistêmicas ocorre na tentativa de descomprimir-se o
sistema porta e ocorre em vários níveis. Os locais onde mais comumente se dão essas
colaterais são: submucosa do esôfago (varizes de esôfago) e estômago (varizes gástricas),
submucosa do reto (varizes retais), parede abdominal anterior (circulação colateral
periférica) e veia renal (shunt espleno-renal e outros) - (MARTINELLI, 2004).
As varizes esofagianas formam-se como conseqüência de anastomoses que ocorrem
principalmente entre tributárias da veia gástrica esquerda - parte do sistema porta - e a veia
ázigos, que drena para a veia cava superior. Pode haver anastomose entre os vasos peri-
esplênicos (componentes do sistema porta) e as veias gástricas curtas que drenam para a
veia cava superior, constituindo a principal fonte para as varizes do plexo submucoso do
estômago (MARTINELLI, 2004).
A formação das varizes retais é conseqüência de anastomoses entre as veias hemorroidárias
superior e média (fazem parte do sistema porta) e a veia hemorroidária inferior que drena
para a veia cava inferior (MARTINELLI, 2004).
A recanalização das veias umbilical e para-umbilical permite a comunicação do ramo
esquerdo da veia porta com a veia epigástrica que drena para as veias cava superior e
inferior. A comunicação da veia umbilical com a veia epigástrica leva à dilatação de vasos
da parede abdominal, os quais drenam, a partir do umbigo, cranialmente para a veia cava
superior e caudalmente para a veia cava inferior. Esporadicamente, em decorrência da
exuberância desses dois componentes a partir do umbigo, adquirem aspecto semelhante à
cabeça de medusa (caput medusae). As colaterais na parede abdominal anterior ocorrem
quando existe hipertensão no ramo esquerdo da veia porta (MARTINELLI, 2004).
O sangue venoso porta pode ser drenado para a veia renal esquerda diretamente pela veia
esplênica ou pelas veias diafragmática, pancreática, gástrica e adrenal esquerda.
(MARTINELLI, 2004).
20
2.1.1.2 Gastropatia hipertensiva
A hipertensão porta resulta freqüentemente em alterações na microcirculação, em qualquer
parte do trato gastrintestinal. No estômago, podem ser observados vasos dilatados, edema e
espessamento da muscularis mucosae, comunicações arteriovenosas na submucosa, mas
sem significativo infiltrado inflamatório, o que se denomina gastropatia hipertensiva.
Ectasias vasculares têm sido descritas em outras partes do trato gastrintestinal, como
intestino delgado e cólon (NAGRAL et al., 1993).
2.1.1.3 Esplenomegalia e hiperesplenismo
Além de a hipertensão porta levar à congestão crônica do baço, a esplenomegalia também
se explica pela hiperplasia linfóide do órgão secundária a estímulos antigênicos
provenientes dos vermes e seus produtos (BOGLIOLO, 1956).
Conceitua-se hiperesplenismo a associação de esplenomegalia, anemia, plaquetopenia e
leucopenia junto com hiperplasia da medula óssea, para compensar a pancitopenia do
sangue periférico. O diagnóstico se completa, com segurança, nos casos em que se verifica
a normalização do quadro sanguíneo e medular após a remoção do baço (GUERRA et al.,
1982).
A pancitopenia na hipertensão porta por esquistossomose mansônica ocorre pela estase
sanguínea intra-esplênica decorrente da dificuldade da passagem do sangue venoso pelo
fígado. A fibrose de Symmers não interfere na função desses órgãos. Portanto, o baço está
aumentado e com aspecto alterado pela intensa fibrose, mas todas as funções são normais
(PETROIANU; OLIVEIRA; ALBERTI, 2004).
21
2.1.2 Manifestações clínicas da hipertensão porta
A esplenomegalia é uma manifestação comum da hipertensão porta e pode ser responsável
por manifestações de desconforto abdominal, dor no quadrante superior esquerdo do
abdome, além de aumentar o risco de rompimento espontâneo ou traumático do órgão.
Freqüentemente acompanha-se de manifestações conseqüentes do hiperesplenismo, como
leucopenia, trombocitopenia e anemia (MARTINELLI, 2004).
Esse processo hipertensivo do sistema porta culmina com hemorragia digestiva, que é o
evento responsável pela mortalidade da doença e eventual disfunção hepática. Não se
observa correlação estrita entre o grau de fibrose periportal e as manifestações da
hipertensão porta, pois esta última resulta da intensidade das lesões obstrutivas vasculares
e não da sua acompanhante fibrose porta (PRATA; ANDRADE, 1963). As varizes
calibrosas de esôfago, estômago e reto estão sujeitas à ruptura e pode haver sangramento
abrupto e volumoso. O sangramento das varizes esofagogástricas pode manifestar-se por
hematêmese e/ou melena e sinais de anemia, enquanto o das varizes retais por enterorragia.
A manifestação mais importante da gastroenteropatia hipertensiva é o sangramento
digestivo (McCORMACK et al., 1985).
A circulação porto-sistêmica, quando muito exuberante, pode ser responsável pelo desvio
de grande parte do sangue porta para a circulação sistêmica, que são aliviadas quando essa
comunicação é interrompida (GARCIA-TSAO, 2002).
Manifestações sistêmicas do tipo circulação hipercinética, como taquicardia de repouso,
ictus propulsivo e redução dos níveis pressóricos podem ser observadas. A ascite pode ser
uma das manifestações da hipertensão porta. Pode provocar desconforto abdominal, dor,
ou, ainda, dificuldade respiratória (GARCIA-TSAO, 2002).
2.1.3 História clínica
Alguns dados da história clínica, além das queixas relacionadas aos sintomas, podem
auxiliar na detecção do possível agente etiológico envolvido na indução da hipertensão
porta. A procedência de zona endêmica de esquistossomose pode sugerir a causa da
22
hipertensão porta em pacientes que não apresentam os estigmas da doença hepática
crônica.
2.1.4 Tratamento
A terapêutica clínica específica para o sangramento visa ao aumento da capacidade do leito
vascular esplâncnico, por meio de medicamentos como os bloqueadores beta-adrenérgicos
(propranolol 40 a 360 mg/dia), somatostatina 250 µg/h e octreotidas 100 µg a cada
oito horas (OROZCO et al., 2000). O tratamento clínico proposto justifica-se pela própria
evolução natural da hipertensão porta, que aumenta o continente venoso abdominal. Os
inconvenientes da terapêutica clínica são a sua eficácia apenas nos sangramentos menos
intensos.
A terapêutica endoscópica promove melhora temporária e requer múltiplas sessões de
esclerose para reduzir as varizes esofágicas. Há ainda a possibilidade de a oclusão das
varizes esofágicas elevar a pressão no leito vascular, aumentando o calibre das varizes do
estômago e elevando o risco de sangramento em território gástrico de difícil controle por
outro meio que o seja cirúrgico (CELLO et al., 1987; SAKAI et al., 1995). Quando o
sangramento provém de varizes de fundo gástrico, o seu controle, pela via endoscópica,
revela-se difícil.
A terapêutica cirúrgica tem por objetivo tratar e prevenir o sangramento. A indicação
cirúrgica deve ser ponderada com base no estado clínico do paciente e em conhecimentos
científicos atualizados sobre a doença e as diferentes opções terapêuticas. O paciente que
apresentou episódio de hemorragia comprovadamente proveniente de variz esofágica ou
gástrica tem grande possibilidade de novo sangramento. Tendo em vista a gravidade de
cada hemorragia, que pode levar à morte pelo sangramento ou em decorrência de suas
complicações, o paciente que sangrou deve ser tratado adequadamente (PETROIANU,
2003). A maioria dos episódios de hemorragias em hipertensão porta esquistossomótica
ocorre em adultos jovens sem outras doenças, que toleram bem o ato operatório, o que
pode conceder resolução duradoura e geralmente definitiva para essa complicação.
23
A esplenomegalia constitui indicação cirúrgica quando se responsabiliza por anemia grave
e pelo risco de ruptura, espontânea ou traumática, devido à esplenomegalia muito
volumosa. As indicações cirúrgicas que envolvem aspectos socioeconômicos e culturais
são as de mais difícil decisão (PETROIANU, 2003). As condições de habitação de muitos
pacientes são precárias. Os residentes em zona rural não têm recursos de comunicação e de
transporte adequado em caso de complicações clínicas. Portanto, se houver hemorragia
volumosa, grande risco de morte. Pode-se considerar a indicação cirúrgica profilática
nesses casos, que devem ser orientados em relação aos riscos do procedimento. Segundo
Petroianu (2003), pacientes que preferem mudar da região rural para uma cidade que
possua recurso médico suficiente para tratá-lo e evitar a cirurgia.
também portadores de hipertensão porta esquistossomótica que, mesmo residindo em
grandes centros urbanos, solicitam o tratamento cirúrgico até sem indicação formal. A
principal queixa desses pacientes se deve ao desconforto provocado pelo baço de grandes
dimensões, com limitações às atividades físicas e dificuldades profissionais. Outro motivo
de se requisitar a cirurgia profilática é a preocupação com o sangramento, com risco de
morte. Nesses casos, Petroianu (2003) sugere que, quando o médico percebe que o paciente
encontra-se determinado e disposto a correr os riscos inerentes ao procedimento cirúrgico,
é pertinente atendê-lo e operá-lo eletivamente.
Apesar dos grandes avanços da terapêutica endoscópica, hoje em dia a preferência ainda
recai sobre o tratamento cirúrgico para os doentes com hipertensão porta esquistossomótica
que sangram ao menos uma vez. Diversas técnicas, derivativas e o derivativas, foram
descritas e ainda muito se discute qual a melhor opção cirúrgica para esses doentes
(CARNEIRO; TABACHI, 1995; RAIA; MIES; MACEDO, 1984). O princípio cirúrgico
fundamenta-se em dois parâmetros maiores que sustentam todas as operações para
sangramento digestivo decorrente de varizes esofágicas e gástricas, que são: a redução da
pressão dentro do sistema porta ou nas varizes e a interrupção do fluxo porta para o
território das varizes.
A esplenectomia subtotal tem sido indicada para tratamento da hipertensão porta e consiste
em retirar a maior parte do baço caudal, preservando-se apenas o pólo superior suprido
pelos vasos esplenogástricos. Dessa maneira, conservam-se as funções esplênicas sem
prejudicar o tratamento da hipertensão porta (PETROIANU; OLIVEIRA; ALBERTI,
24
2004). Associando-se esse procedimento à ligadura da artéria esplênica, à anastomose
espleno-renal proximal ou à desconexão porta-varizes, previnem-se novos sangramentos
pelas varizes esofágicas e gástricas. A preocupação com a permanência do baço se deve ao
risco de infecções graves em pacientes esplenectomizados e para manter as funções desse
órgão (KELNER, 1992; RESENDE; PETROIANU, 1998).
2.2 Métodos de imagem: ultra-som e ressonância magnética
2.2.1 Ultra-som
Desde o final da década de 70, o ultra-som abdominal é utilizado no diagnóstico da
esquistossomose. Abdel-Wahab et al. (1978) foram os primeiros a verificar que a fibrose
periportal vista ao US poderia ser uma imagem patognomônica do acometimento hepático
pela esquistossomose mansoni. Esse método indireto representa uma importante
ferramenta para o diagnóstico e classificação da forma clínica da doença (MARINHO et
al., 2006).
Nos anos seguintes, as imagens do parênquima hepático foram comparadas com resultados
de biópsias e a excelente correlação entre os métodos colocou o ultra-som (US) em posição
de destaque como método não invasivo e de alta confiabilidade no diagnóstico da fibrose
de Symmers (ABDEL-WAHAB et al., 1989; HOMEIDA et al., 1988a).
A biópsia hepática por agulha revela-se bom procedimento para o diagnóstico de hepatite
crônica em atividade e cirrose. Na esquistossomose mansônica, a biópsia por agulha
certamente perde a chance de diagnóstico, que o parênquima hepático entre os tratos
portais com fibrose apresenta-se freqüentemente normal (ABDEL-WAHAB et al., 1992;
BOGLIOLO, 1954). Existem outros argumentos contra a biópsia hepática por agulha.
Além da amostra insuficiente e a fragmentação da amostra, é um procedimento invasivo
com riscos para o paciente com alterações na coagulação sanguínea e a necessidade de
ambiente hospitalar bem equipado e com equipe capacitada (ABDEL-WAHAB et al.,
1989).
25
Abdel-Wahab et al. (1989) realizaram estudo prospectivo no qual 50 pacientes submetidos
à cirurgia para tratamento de hipertensão porta de diferentes etiologias obtiveram
confirmação diagnóstica por histologia hepática de material obtido por biópsia em cunha.
Todos se submeteram ao exame ultra-sonográfico antes da cirurgia. Entre os 18 que
tiveram o diagnóstico histológico de esquistossomose, o US do abdome detectou
espessamento ecogênico periportal em 16 (sensibilidade de 89%). Nesse estudo pôde-se
verificar a boa correlação entre o exame de imagem e a avaliação histológica para o
diagnóstico de fibrose de Symmers. Observou-se fibrose periportal em pacientes com
fígado de tamanho normal, aumento do diâmetro da veia porta e baço volumoso. A
intensidade do acometimento hepático pela fibrose na biópsia e no US não foram
avaliadas.
Homeida et al. (1988a) avaliaram, em estudo prospectivo, 41 pacientes com exame de US
abdominal para o diagnóstico de fibrose de Symmers. Estes foram submetidos à biópsia,
sendo 35 em cunha e 6 biópsias por agulha, 28 deles tiveram a confirmação histológica de
fibrose de Symmers. Graduou-se a fibrose periportal ao US em quatro tipos: I, II, III, IV
(mínima, média, moderada a grave e intensa com superfície hepática irregular,
respectivamente). O anatomopatologista também realizou a graduação da intensidade da
fibrose de I a IV. Os autores encontraram espessamento hiperecogênico periportal no US
dos 28 casos de fibrose de Symmers confirmados pela biópsia e esse sinal ultra-
sonográfico estava ausente em todos os casos sem fibrose à histologia (sensibilidade e
especificidade de 100%). Todos os pacientes esquistossomóticos estudados apresentavam
esplenomegalia e hipertensão porta com varizes esofagianas, caracterizando quadros
avançados da doença. Detectou-se associação estatisticamente significativa entre o grau de
fibrose periportal ultra-sonográfica e o tamanho do baço medido por esse método de
imagem. Esse estudo o mostrou boa correlação entre a graduação da intensidade da
fibrose à avaliação ultra-sonográfica e histológica e não apresentou essa diferença.
Segundo os autores, esse resultado era esperado e justificado pelo pequeno fragmento de
tecido avaliado. É estranho a conclusão dos autores, porque o fragmento obtipo por biópsia
cirúrgica geralmente fornece fragmentos de boa qualidade para o exame histológico. É
possível que os autores estejam se referindo à biópsia hepática por agulha.
Em um estudo realizado por Cerri, Alves e Magalhães (1984), 103 pacientes foram
classificados clinicamente como portadores de esquistossomose hepatoesplênica e
26
submetidos ao exame ultra-sonográfico e biópsia hepática cirúfgica. Observaram-se
alterações no fígado, baço e/ou sistema porta de todos eles. Com apenas casos avançados
da doença, a anormalidade hepática mais freqüentemente detectada ao exame de imagem
foi fibrose periportal (75 casos), caracterizada como áreas de aumento da ecogenicidade
envolvendo os ramos portais centrais e periféricos (sensibilidade de 73%). Atrofia do lobo
direito do fígado acompanhada de hipertrofia do lobo esquerdo foi encontrada em 83 casos.
Nos 103 casos, notou-se aumento do baço em graus variados e em sete pacientes havia
também um aspecto nodular. Observou-se circulação colateral em 37, predominando as
veias gástricas curta, para-umbilical e gástrica esquerda. Nesse estudo, a biópsia hepática
não foi bem investigada. Não está descrita a técnica utilizada nem os achados histológicos.
A biópsia serviu apenas para confirmação histológica do diagnóstico de esquistossomose
mansônica.
Para a detecção de colaterais, a sensibilidade do exame ultra-sonográfico havia sido
definida como estando em torno de 70 a 88%, quando utilizados endoscopia, angiografia,
estudo baritado do trato gastrintestinal e cirurgia como padrão-ouro em pacientes
portadores de hipertensão porta de diversas causas (SUBRAMANYAM et al., 1983).
Abdel-Wahab et al. (1992) propuseram um sistema de classificação da intensidade da
fibrose periportal ao US. Avaliaram 43 pacientes admitidos em um hospital do Cairo para
propedêutica de hepatopatia, com US de abdome mostrando hiperecogenicidade periportal
e biópsia hepática por agulha excluindo outra causa de doença hepática que não a
esquistossomose. Graduou-se a intensidade ultra-sonográfica da fibrose periportal de
acordo com a medida média da espessura de três ramos portais periféricos (qualquer ramo
após a primeira divisão dos ramos direito e esquerdo): grau I: espessura média de 3 a 5
mm; grau II: espessura média > 5 a 7 mm; grau III: espessura média > 7 mm.
Correlacionou-se a intensidade do grau de fibrose ao US com história prévia de
hematêmese, hemotransfusão, escleroterapia de varizes esofagianas, edema de membros
inferiores, redução do gado e aumento do baço (tanto à palpação como ao US), aumento
do calibre da veia porta e da veia esplênica ao US e calibre das varizes esofagianas à
endoscopia digestiva. Os autores sugerem que o US reflete com acurácia as alterações
hemodinâmicas e fornece boa estimativa da condição clínica do paciente que tem fibrose
periportal esquistossmótica. Eles propuseram que esse método de imagem deveria
substituir a classificação clínica baseada na palpação de fígado e do baço no exame físico.
27
Pode-se observar que nesse estudo a biópsia hepática também foi utilizada apenas como
ferramenta de exclusão de outras hepatopatias e que o diagnóstico de fibrose hepática
esquistossomótica realizou-se por US. Com a biópsia hepática por agulha, freqüentemente
perde-se a chance de diagnosticar a fibrose esquistossomótica.
No Brasil, Pinto-Silva et al. (1994) compararam as características ultra-sonográficas de
pacientes portadores de fibrose de Symmers às de pacientes-controle sem esquistossomose.
Os pesquisadores avaliaram 66 pacientes com varizes de esôfago e fibrose de Symmers
documentada por biópsia hepática e 71 pacientes-controle sem histórico de
esquistossomose ou outra hepatopatia. Ao US, notou-se redução do lobo direito em 72,7%
dos esquistossomóticos e aumento do lobo esquerdo em 56,1%. A espessura da parede da
veia porta foi maior nos esquistossomóticos que nos controles, assim como a espessura da
parede da vesícula biliar e o calibre dos vasos portais. As veias esplênica e porta
mostraram-se os vasos que melhor discriminam o patogênico do normal. As colaterais
hepatofugas mais encontradas ao US foram a veia gástrica esquerda, as veias gástricas
curtas e a veia paraumbilical. Mais uma vez o papel da biópsia hepática foi apenas
confirmar o diagnóstico de esquistossomose. Não houve análise da intensidade do
acometimento hepático ou sua concordância com a avaliação ao método de imagem.
Richter et al. (1992) realizaram um estudo no qual foram avaliados apenas portadores da
forma grave da esquistossomose. O objetivo foi validar o exame ultra-sonográfico como
ferramenta para diagnóstico e avaliação de gravidade da esquistossomose hepatoesplênica
em áreas de diferentes endemicidades. Foram avaliados 72 brasileiros e 32 sudaneses em
áreas com prevalências da esquistossomose de 40 e 90%, respectivamente. Em todos os
casos detectou-se hiperecogenicidade periportal, indicando fibrose e esplenomegalia
(100%). Espessamento da parede da vesícula biliar ocorreu em 81% dos brasileiros e 92%
dos sudaneses, aumento da veia porta em 74 e 87%, aumento do calibre da veia esplênica
em 59 e 70% e a presença de colaterais porto-sistêmicas em 62 e 61%, respectivamente.
Observou-se correlação entre a intensidade da fibrose ultra-sonográfica e o aumento do
calibre da veia porta ao US e a história de hemorragia digestiva em paciente com varizes
esofagianas na endoscopia digestiva alta.
28
Até aqui apresentamos os trabalhos em esquistossomose mansônica que associaram a
biópsia hepática ao método de imagem. Os estudos seguintes não utilizaram biópsia, são
baseados em estudo clínico e imagem.
A metodologia empregada na realização da ultra-sonografia carecia de padronização que
tornasse comparáveis os resultados obtidos em estudos realizados em diferentes locais e
em momentos distintos (HATZ et al., 1992). A primeira tentativa de padronização dos
achados ao exame ultra-sonográfico e à avaliação da morbidade da esquistossomose
mansônica foi publicada em 1992 (CAIRO WORKING GROUP, 1992).
Gerspacher-Lara et al. (1997) avaliaram com exame físico e US, utilizando a metodologia
proposta pelos grupos de Cairo e Niamey, 424 indivíduos em Queixadinha, Minas Gerais,
área onde a prevalência da infecção pelo S. mansoni encontrava-se em 66% após análise de
duas amostras de fezes. Detectou-se fibrose periportal ao US em 146 pessoas (38%). A
fibrose mostrou-se mais freqüente entre homens que entre mulheres. A idade média dos
indivíduos com fibrose revelou-se maior que a dos sem fibrose ao US. Evidenciou-se
esplenomegalia em aproximadamente 15% das pessoas que apresentavam fibrose
periportal ultra-sonográfica periférica ou periférica e central. Entretanto, não se registrou
esplenomegalia em ninguém que apresentasse fibrose periportal exclusivamente central. E
a idade das pessoas deste grupo mostrou-se maior que a dos outros dois padrões de fibrose.
Concluiu-se que a fibrose central não deve ser considerada critério para doença avançada.
Este achado foi confirmado mais tarde em estudo com a RM (SILVA et al., 2007). Os
autores não realizaram biópsia hepática.
Mohamed-Ali et al. (1999) avaliaram, pelo US, 792 pessoas residentes em área endêmica
para esquistossomose no Sudão. Encontraram correlação entre a intensidade qualitativa da
fibrose e as medidas quantitativas do diâmetro da veia porta, do calibre da veia esplênica e
do volume do baço. Além disso, assim como Gerspacher-Lara et al. (1997), eles
associaram a idade às formas mais avançadas da doença, concluindo que a infecção
prolongada se associa à fibrose mais grave. Não encontraram correlação entre a carga
parasitária e a intensidade do espessamento periportal ultra-sonográfico.
Em 2000, a Organização Mundial de Saúde (OMS) produziu diretrizes resumindo os
principais aspectos da metodologia proposta para a avaliação ultra-sonográfica da
29
esquistossomose (NIAMEY WORKING GROUP, 2000). Nessa publicação foram
definidos os cortes para avaliação ultra-sonográfica do fígado, os padrões de imagem
hepática ultra-sonográfica (ANEXO A), a metodologia para a medida do diâmetro dos
ramos portais de segunda ordem e a organometria lobos direito e esquerdo do fígado,
baço, diâmetro interno da veia porta e espessura da parede dos ramos secundários da veia
porta. Aspectos qualitativos da textura hepática (periportal) e variáveis quantitativas, como
calibre de vasos e espessura de suas paredes (ramos subsegmentares da veia porta), foram
utilizados para a classificação da morbidade ultra-sonográfica da doença.
Estudos comparando o exame físico com a ultra-sonografia têm definido a palpação do
baço como método impreciso para o diagnóstico de esplenomegalia e para a identificação
de casos graves em áreas endêmicas de esquistossomose (ABDEL-WAHAB et al., 1992;
DE JESUS et al., 2000; GERSPACHER-LARA et al., 1998; HOMEIDA et al., 1988b;
LAMBERTUCCI et al., 1996; 2001; MARINHO et al., 2006).
Comparou-se a palpação abdominal para diagnóstico de esplenomegalia com a medida
ultra-sonográfica do órgão em 285 pessoas em área de alta prevalência de esquistossomose
(GERSPACHER-LARA et al., 1998). Para um padrão-ouro de esplenomegalia definido
como baço > 120 mm ao US, encontraram-se, para a presença de baço palpável no exame
clínico, sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo de 72,2, 90,5,
35,1 e 97,8%, respectivamente. Foram examinadas também 517 pessoas em área não
endêmica e encontraram-se 22 com baço palpável, sendo que apenas uma delas
apresentava esplenomegalia ao US. Eles concluíram que a palpação abdominal não é um
método confiável e suficiente para o diagnóstico de esplenomegalia.
De Jesus et al. (2000) avaliaram, pelo exame físico e ultra-sonográfico, 211 pessoas em
área endêmica de esquistossomose, encontrando ao exame físico 172 (81%) com a forma
intestinal, 33 (16%) com a forma hepatointestinal e três (2%) com a forma
hepatoesplênica. De acordo com o US, apenas oito (5%) não tinham fibrose. A maioria
(104; 64%) apresentava fibrose leve, 42 (25%) fibrose moderada e 10 (6%) fibrose intensa.
A intensidade da fibrose correlacionou-se com o diâmetro das veias porta e esplênica e
com o tamanho do baço.
30
Em amplo estudo em 741 indivíduos portadores de esquistossomose em área endêmica em
Minas Gerais (prevalência de 73%), publicado por Lambertucci et al. (2001), a US
identificou 15 pessoas (2%) com espessamento periportal intenso e sem baço palpável,
mostrando que a fibrose periportal intensa pode ocorrer sem esplenomegalia e que
indivíduos com esquistossomose grave podem não ter sido incluídos em estudos prévios de
morbidade. Ainda nessa investigação, entre outras 71 pessoas com baço palpável,
verificou-se ao US espessamento periportal intenso em apenas nove (13%), leve a
moderado em 32 (45%) e ausente em 30 (42%).
Analisando 255 escolares no Egito, Abdel-Wahab et al. (1990) haviam sugerido o ultra-
som como mais valioso que o exame físico na caracterização da morbidade da
esquistossomose. A palpação do baço nessas crianças não se correlacionou com a
intensidade da infecção esquistossomótica, determinada pela excreção fecal de ovos.
Entretanto, o aumento do baço e a presença de espessamento ecogênico periportal
moderado ao US correlacionaram-se significativamente com a intensidade da infecção. O
uso exclusivo do ultra-som para este fim não parece correto. Os autores não valorizaram as
características do baço e gado palpados (consistência), que podem acrescentar
informações sobre a gravidade da doença.
Marinho et al. (2006) compararam a palpação abdominal com o exame ultra-sonográfico
em 411 pacientes de área endêmica para esquistossomose na Bahia. Constataram que os
achados do exame físico e do US são complementares e devem ser utilizados em
associação na avaliação dos órgãos abdominais na forma hepatoesplênica da
esquistossomose.
2.2.2 Ressonância magnética
A RM, diferentemente do US, não se constitui em exame dinâmico e pode estar menos
sujeito à variabilidade intra e inter-examinador. Ela tem se estabelecido como melhor
método para avaliação das hepatopatias, focais ou difusas, a despeito de seu custo e
limitada disponibilidade (BALCI; SIRVANCI, 2002; MERGO; ROS, 1998; MORTELE;
ROS, 2001; MORTELE; SEGATTO; ROS, 2004; VITELLAS et al., 2001).
31
O uso da RM na esquistossomose foi objeto de poucos estudos (LAMBERTUCCI;
ANDRADE; PINTO-SILVA, 2002; LAMBERTUCCI et al., 2004; PATEL et al., 1993;
SILVA et al., 2006; WILLEMSEN et al., 1995) e avaliado em estudos com 28 portadores
da forma grave da doença (BEZERRA et al., 2004; 2007). Os dois primeiros trabalhos
utilizaram tomografia computadorizada (TC), RM e US do abdome na avaliação de
paciente com esquistossomose hepatoesplênica. Ambos encontraram resultados
concordantes entre os diferentes métodos. Lambertucci, Andrade e Pinto-Silva (2002),
Lambertucci et al. (2004) e, em recente tese de doutorado, Silva (2007) compararou 60
casos de pacientes esquistossomóticos utilizando US e RM e encontrou resultados
concordantes entre os métodos de imagem, porém enfatizou a maior objetividade do
segundo método.
Bezerra et al. (2004; 2007) acompanharam as alterações morfológicas hepáticas e
esplênicas pela RM em 28 portadores de esquistossomose mansônica hepatoesplênica
grave. O grupo estudado compunha-se de casos avançados da doença, incluindo nove
pacientes previamente esplenectomizados. Os autores não compararam esse método ao US,
mas investigaram a concordância intra-observador e entre dois examinadores
independentes. A pesquisa mostra que a RM apresenta elevada reprodutibilidade na
avaliação de pacientes com esquistossomose mansônica hepatoesplênica grave.
Não na literatura estudo sobre esquistossomose mansônica hepatoesplênica grave que
tenha avaliado a fibrose hepática nos exames de imagem, US e RM comparados à biópsia
hepática como padrão ouro na pesquisa qualitativa e/ou quantitativa da fibrose hepática.
2.3 Patologia
A hepatopatia esquistossomótica é uma doença crônica que apresenta características
histológicas peculiares. Na esquistossomose, as alterações mais importantes, segundo
Andrade (2004), ocorrem no leito vascular, o que a diferencia e representa a chave para o
entendimento da sua patogênese e evolução clínica.
Uma das características mais importantes da lesão hepática na esquistossomose foi o
padrão de fibrose descrito por Symmers, em 1904. A forma de Symmers consiste, do ponto
32
de vista anatômico, em inflamação crônica causada pelos ovos que penetram no conjuntivo
periportal (peripileflebite) e pela propagação desta à parede dos ramos porta (pileflebite).
Não ocorre subversão da arquitetura lobular do fígado, mas verifica-se neoprodução
conjuntivo-vascular intensa e sistematizada (BOGLIOLO, 1972). Ela caracteriza-se, ao
corte, por grandes e fibrosos espaços porta que aparecem como manchas brancas
circundadas por parênquima hepático normal, lembrando hastes de cachimbo branco (clay-
pipestem fibrosis) - (FIG. 1). O aspecto externo do órgão revela bocelamento: a cápsula de
Glisson mostra-se espessa e opaca nas depressões e distendida e translúcida nas áreas
protuberantes (FIG. 2). Essa fibrose representa a morfologia clássica da esquistossomose
hepatoesplênica, que é clinicamente caracterizada pela hepatoesplenomegalia, hipertensão
porta (varizes esofagianas) e graus variados de pancitopenia (hiperesplenismo),
normalmente sem dano hépato-celular. A lesão envolve todos os ramos do trato portal
(ANDRADE; SILVA; SOUZA, 1997).
FIGURA 1 - Fibrose do tipo clay pipe stem (setas).
Fonte: cortesia do Professor Bambirra UFMG.
33
FIGURA 2 - Bocelamento da superfície do fígado na esquistossomose.
Fonte: do autor.
Ainda hoje dúvidas sobre os fatores que influenciam o desenvolvimento da hepatopatia
esquistossomótica. Estudos realizados em humanos por Andrade e Cheever (1971) e em
modelos experimentais por Andrade (1987) e Flannery (2003) sugeriram que a
embolização de ovos para o sistema porta resulta na obstrução dos vasos na periferia do
leito vascular e que essa pressão aumentada provoca a abertura dos vasos colaterais. Os
vasos colaterais são progressivamente envolvidos com a chegada de mais ovos de
Schistosoma, resultando em inflamação, fibrose e obstrução vascular ao longo dos espaços
periportais.
As lesões hepáticas na esquistossomose, quando avaliadas à microscopia, revelam muito
sobre a patogênese da doença. As alterações nesse órgão ocorrem devido à deposição de
numerosos ovos de schistosoma no espaço periportal, o que resulta em inflamação crônica
granulomatosa de caráter inflamatório, com conseqüente formação de tecido fibroso,
espessamento periportal e obstrução de vasos do sistema porta intra-hepático (ANDRADE;
BATISTA; SANTANA, 2006).
Os ovos do Schistosoma mansoni e a reação inflamatória granulomatosa que se forma ao
redor deles caracterizam a patogenia da esquistossomose. Os granulomas apresentam,
durante seu desenvolvimento, três estágios evolutivos que se sucedem: estágio necrótico-
exsudativo, produtivo e de cicatrização por fibrose (BOGLIOLO, 1972; 1976; FAUST,
1948; RASO et al., 1976).
34
No estágio necrótico-exsudativo, que é característico das fases iniciais da infecção
esquistossomótica, um ou mais ovos embrionados o circundados por zona de necrose,
onde comumente são encontrados imunocomplexos. Externamente a essa área, observa-se
exsudato celular constituído por granulócitos (neutrófilos e eosinófilos) e, mais
perifericamente, por linfócitos, plasmócitos e macrófagos. No estágio produtivo, o ovo
habitualmente já se encontra fragmentado ou deformado e o infiltrado celular é constituído
por macrófagos, linfócitos e plasmócitos. É comum o encontro de células gigantes
multinucleadas; e o granuloma nessa fase é menor quando comparado com o estágio
anterior. Finalmente, na cicatrização por fibrose, o granuloma é ainda menor e se resume a
fragmentos da casca do ovo, circundado por escasso infiltrado inflamatório mononuclear e,
mais externamente, por zona de fibrose (ANDRADE, 2004; VON LICHTEMBERG,
1987).
A reação inflamatória e o tamanho do granuloma variam com a intensidade e duração da
infecção esquistossomótica, com a fase do ciclo evolutivo de cada granuloma e até mesmo
entre os diversos órgãos comprometidos; entretanto, alguns autores ressaltam que o
principal fator determinante dessa variabilidade é a resposta imune do hospedeiro (VON
LICHTEMBERG, 1987). A presença de numerosos ovos assinala a importância da carga
parasitária na patogênese dessa doença (ANDRADE, 2004).
Os granulomas periovulares são encontrados em vários órgãos, principalmente nos
intestinos e no fígado, com destruição de hepatócitos, infiltração porta de histiócitos,
eosinófilos, linfócitos, hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer. No baço
hiperplasia dos cordões de Bilroth e eosinofilia intensa (BOGLIOLO, 1959).
O decréscimo no tamanho do granuloma, observado entre as fases aguda e crônica, foi
chamado de modulação. A modulação é um processo extremamente complexo que envolve
células T, macrófagos, fatores solúveis, prostaglandinas, anticorpos e imunocomplexos
(RASO et al., 1976).
Para a avaliação das alterações vasculares, Andrade (2004) utilizou solução plástica
injetável e solução ácida para corrosão do tecido hepático. Com essa técnica, puderam-se
observar os três sistemas vasculares representados por cores diferentes veia porta, veia
hepática e artéria hepática. Esses modelos revelaram, na veia porta, importante distorção e
35
redução de seu lúmen. As veias hepáticas apresentavam-se normais e a artéria hepática
hiperplasiada e hipertrofiada. Essa hipertrofia da artéria hepática é vista como um
fenômeno compensatório, conseqüente à obstrução dos ramos portais da veia hepática
pelas lesões causadas por ovos de Schistosoma. As alterações vasculares observadas o
tão decisivas que a esquistossomose hepatoesplênica pode ser considerada uma doença
hepática de etiologia vascular. Os modelos desse estudo mostraram redução do leito
vascular do sistema porta com o desaparecimento dos ramos mais finos e grave distorção
dos ramos de médio e grosso calibre. Finalmente, as principais alterações do sistema
venoso porta encontradas foram a redução do calibre dos vasos, formação de colaterais,
tortuosidades e dilatações vasculares focais, além da formação de pequenos ramos
(ANDRADE, 2004). No entanto, segundo Andrade e Cheever (1971), a alteração mais
impressionante é a hiperplasia e a hipertrofia compensatórias da artéria hepática.
Na doença avançada, com o predomínio dos vasos arteriais, o parênquima hepático se
torna muito sensível a quedas da pressão arterial e aos déficits de perfusão, o que ocorre
durante episódios de hemorragia digestiva alta (HDA) (ANDRADE; BINA, 1983). Desta
forma, a lesão hepática básica está nos ramos intra-hepáticos da veia porta e no tecido
conjuntivo que os circunda. A estrutura lobular permanece intacta, exceto quando áreas
focais de necrose ou nódulos regenerativos secundários a trombos intra-hepáticos ou
isquemia após hemorragias digestivas volumosas (ANDRADE; SANTANA-FILHO;
REBOUÇAS, 1962; BOGLIOLO, 1954; 1957a; 1957b). Na esquistossomose não
cirrose, mas sim fibrose do espaço porta. Entretanto, a disfunção hepática pode ocorrer
após episódios de sangramento e má-perfusão do parênquima hepático.
Almeida-Melo, Grimaud e Andrade (1983) reproduziram em camundongos a hipertrofia
dos ramos arteriais hepáticos a partir da ligadura da veia porta. Os camundongos que
permaneceram com a ligadura da veia porta por período prolongado mantiveram
preservada a arquitetura e função hepática, apesar da interrupção do fluxo porta.
Conseqüentemente, observou-se aumento de fibras colágenas no espaço de Disse,
acompanhado da capilarização dos sinusóides hepáticos e hipersensibilidade do
parênquima hepático à queda da pressão arterial (ANDRADE, 1965).
Áreas de necrose no parênquima hepático, de variadas extensões, especialmente na região
subcapsular, foram relatadas por Andrade (1989) em necropsia de pacientes
36
hepatoesplênicos nos quais ocorreu sangramento volumoso poucos dias antes do óbito.
Presume-se que ocorreria regeneração nodular do parênquima caso os pacientes tivessem
sobrevivido. A hipertrofia arterial tem outras conseqüências importantes (ANDRADE,
2004). Estudos hemodinâmicos realizados por Ribeiro (1967) revelaram que o fluxo
sanguíneo hepático nos pacientes com esquistossomose é conservado nos limites da
normalidade, à custa do fluxo arterial que compensa a má-perfusão porta. O gradiente de
oxigênio veia hepática/artéria hepática está diminuído se comparado aos pacientes normais
e cirróticos.
A fibrose pode acometer todo o fígado. A consistência apresenta-se variável e pode
assumir desde aspecto esponjoso, devido à imensa quantidade de pequenos vasos que se
tornam dilatados e congestos, a um tecido denso, de aspecto cicatricial (ANDRADE,
2004). Grimaud e Borejovick (1977; 1986), a partir de estudos da fibrose
esquistossomótica por microscopia eletrônica, encontraram grande quantidade de
miofibroblastos que não tornavam a fibrose perioportal um tecido cicatricial, mas um
tecido contrátil. Andrade, Guerret e Fernandes (1998) descreveram que os miofibroblastos
na fibrose esquistossomótica encontram-se em torno dos vasos portais acometidos. A
dissociação da camada muscular da veia porta, seguida de dispersão das células
musculares, origem, por diferenciação, aos miofibroblastos. Observou-se também que
os miofibroblastos comportam-se como células transitórias; algumas se tornam fibroblastos
e outras desaparecem, provavelmente por apoptose.
À microscopia eletrônica é possível verificar sinais focais de destruição e reabsorção de
colágeno (ANDRADE, 2004). Segundo o autor, lise, destruição e desaparecimento de
fibras colágenas podem ser vistas na avaliação de rotina à histologia. Esses dados ilustram
o conceito de que a matriz extracelular encontra-se em estado dinâmico de equilíbrio entre
síntese e destruição. Andrade (1994) demonstrou que, quando existe o estímulo
inflamatório para a fibrogênese (ovos de Schistosoma maduros), predomina o acúmulo de
colágeno e a fibrose aumenta. Ao contrário, a cura da esquistossomose deve levar à
reabsorção do tecido fibroso, o que está aparentemente relacionado a um complexo
rearranjo vascular e à cura da doença hepatoesplênica. Vários estudos sobre a clínica e a
patogenia da esquistossomose demonstraram que, dentro de certos limites, a hepatopatia é
reversível, o que a diferencia da cirrose (COTA., 2002;
RICHTER, 2003).
37
2.3.1 Histomorfometria
Nas últimas décadas, a avaliação histomorfométrica foi introduzida objetivando-se a
quantificação mais precisa da fibrose em pacientes cirróticos (RYOOD; BUSCHMANN,
1989). Foi também em camundongos experimentalmente infectados pelo Schistosoma
mansoni (COUTINHO et al., 1997).
A histomorfometria é uma nova ferramenta para medir os graus de densidade da fibrose
periportal. Os cortes histológicos são analisados de forma rápida e automática por meio de
um programa de computador. Barbosa Jr. (2001) descreve a análise morfométrica como
um método confiável e conveniente para a avaliação da fibrose hepática, que é importante
para uso clínico e trabalhos experimentais.
Domingues (1998), em tese de doutorado, realizou estudo comparando os achados ao US
com a classificação histológica de fibrose e também com a morfometria semi-automática.
Ela não encontrou correlação entre os três métodos.
Avaliando a possibilidade de concordância entre a classificação histológica clássica e os
graus de densidade da fibrose periportal medidos pela histomorfometria, Brandt et al.
(2002) incluíram 35 crianças e 35 adultos no seu estudo. Todos os pacientes submeteram-
se à esplenectomia e ligadura da veia gástrica esquerda. A medida de concordância kappa
(k) entre ambas as classificações mostrou discreta força de associação. As medidas
histomorfométricas da fibrose de Symmers em pacientes cirúrgicos com esquistossomose
mansônica concordaram parcialmente com a avaliação histológica. Nesse estudo a imagem
não foi incluída.
38
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Comparar a ultra-sonografia e a ressonância magnética com a histologia na avaliação da
fibrose hepática em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica.
3.2 Objetivos específicos
Descrever as alterações ultra-sonográficas do fígado e compará-las com as
alterações observadas à ressonância magnética;
Descrever as alterações histológicas na biópsia hepática e comparar com dados
clínicos dos pacientes submetidos à cirurgia;
Descrever as alterações ultra-sonográficas do fígado e compará-las com os achados
histológicos;
Descrever as alterações à ressonância magnética do fígado e compará-las com os
achados histológicos;
Realizar análise semiquantitativa (histomorfometria) da fibrose e comparar com a
intensidade da fibrose hepática à histologia;
Comparar os achados revelados pelos métodos de imagem com a histologia
hepática;
Determinar se o tamanho do baço e a história prévia de sangramento por varizes do
esôfago se relacionam à intensidade da fibrose hepática.
39
4 PACIENTES E MÉTODOS
4.1 Protocolo do estudo
Trata-se de um estudo transversal descritivo e analítico, com coleta de dados entre junho
de 2006 e agosto de 2007.
4.2 Pacientes
Os 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica encaminhados ao Centro de
Treinamento e Referência em Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR-DIP Orestes Diniz)
no período de junho de 2006 a agosto de 2007 (14 meses) foram examinados e
selecionados para o estudo (QUADRO. 1). Os que preencheram os critérios de inclusão
foram convidados a participar e submeteram-se então à anamnese, ao exame físico, ultra-
som e ressonância magnética do abdome. Todos haviam sido submetidos ao exame de
endoscopia digestiva alta, realizada independentemente do estudo. Eles tiveram amostra de
seu sangue colhida para a realização de exames laboratoriais. No momento da cirurgia
realizou-se biópsia hepática em cunha para avaliação qualitativa e quantitativa da fibrose
(FIG. 3). Preencheu-se questionário padronizado com todas as informações obtidas dos
pacientes (ANEXO B).
40
FIGURA 3 – Fluxograma do estudo
Endoscopia digestiva alta,
ultra-som, ressonância
magnética do abdome e
biópsia hepática em
cunha durante o ato
cirúrgico
Exame clínico, história epidemiológica positiva para
esquistossomose, US sugestivo de fibrose hepática.
Hipertensão porta com indicação cirúrgica
(n = 17)
Critérios para exclusão
(n = 3)
Biópsia por agulha (n = 2)
Colangite esclerosante
(n = 1)
Analisa
dos
(n = 14)
Exame histológico e
morfométrico
41
4.2.1 Critérios de inclusão
Selecionaram-se pacientes adultos (maiores de 18 anos) com história de exposição à
esquistossomose mansônica. Realizou-se a documentação da infecção por técnica
microscópica por meio de exame parasitológico de fezes, biópsia retal e análise histológica
de biópsia hepática. A suspeição da doença foi feita também pelo US indicativo de
acometimento hepático periportal. Eles apresentavam também hipertensão porta de
etiologia esquistossomótica com indicação de intervenção cirúrgica abdominal. Os
pacientes eram acompanhados nos Ambulatórios de Doenças Infecciosas e Parasitárias,
Grupo de Fígado da Universidade Federal de Minas Gerais e Equipe de Cirurgia de Fígado
e Vias Biliares da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (Figura 4).
Para inclusão, foram necessários também ausência de:
outras causas de hepatopatia fibrosante, à avaliação clínica, laboratorial e de
imagem realizada no atendimento de rotina ambulatorial;
cirrose;
insuficiência cardíaca congestiva;
exposição a drogas hepatotóxicas, especialmente aquelas associadas a possível
alteração da imagem periportal (metildopa, metrotrexate, isoniazida, amiodarona,
quimioterapia para doenças neoplásicas malignas);
abuso de álcool no último ano: ingestão de mais de 60 g de álcool por dia - 140 mL
de aguardente de cana ou duas garrafas de cerveja;
antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg) e anticorpo para o antígeno
do vírus da hepatite C (anti-HCV) negativos.
4.2.2 Critérios de exclusão
Excluíram-se do estudo os pacientes que apresentaram:
evidência histológica de hepatopatia fibrosante de outra etiologia;
biópsia hepática insuficiente para a análise histológica;
impossibilidade de análise dos exames de imagem.
42
QUADRO 1
Distribuição dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica e hipertensão porta,
de acordo com a idade, sexo, naturalidade e procedência examinados no CTR-DIP Orestes
Diniz no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Pacientes
Idade
Sexo
Naturalidade (MG) Procedência (MG)
EPF
1- WM 37 M Belo Horizonte Rib. Neves -
2- CRG 34 M Francisco Morato Belo Horizonte -
3- EADG 57 F Pedra Azul Belo Horizonte -
4- AS 42 M Sarzedo Mário Campos -
5- RPS 34 M Belo Horizonte Sabará -
6- LAL 54 F Sto. Antonio do Jacinto
Rib. Neves -
7- MLM 26 F Água Boa de Minas Sta. Mª Sapucaí -
8- LBS 43 M Itambacuri Ji-Paraná – RD * +
9- GPS 20 M Belo Horizonte Betim +
10- JSM 43 M Belo Horizonte Belo Horizonte -
11 – JA 43 M Cuparaque Cuparaque -
12 – ES 48 M Sabará Sabará -
13- JBA 37 M Palmópolis Rib. Neves -
14- MBA 27 F Capelinha Capelinha -
EPF = Exame parasitológico de fezes. * Único município fora de Minas Gerais.
FIGURA 4 – Procedência dos 14 pacientes com esquistossomose mansônica
hepatoesplênica
43
44
4.3 Métodos
4.3.1 História clínica
Os pacientes foram examinados pela autora. Durante a entrevista, eles expressaram
espontaneamente suas queixas e foram indagados especificamente sobre história de
exposição a águas naturais, exames prévios para o diagnóstico de esquistossomose, história
de tratamento anterior para a helmintíase, episódios de hemorragia digestiva, uso de álcool,
drogas ilícitas ou medicamentos, história de eritema malar, artrite, ascite, ortopnéia ou
dispnéia paroxística noturna, passado de escleroterapia ou ligadura elástica das varizes do
trato digestivo alto e história prévia de cirurgia para correção de hipertensão porta.
4.3.2 Exame físico
O exame físico foi realizado com aferição de peso, altura, pressão arterial e freqüência
cardíaca. Palpou-se o abdome com o paciente em decúbito dorsal em respiração
espontânea. O fígado e o baço foram classificados como “palpável” ou “não palpável”.
Mediu-se em centímetros a distância entre a borda inferior do gado palpável e o apêndice
xifóide e rebordo costal direito. A distância entre o baço palpável e o rebordo costal
esquerdo foi medida em centímetros em relação ao ponto mais caudal do limite do órgão.
Foram investigados circulação colateral na parede abdominal e estigmas de insuficiência
hepática (ginecomastia, aranhas vasculares, telangiectasias), assim como sinais de
insuficiência cardíaca (desvio de ictus cordis, bulhas acessórias, sopros, crepitações
pulmonares, edema periférico).
4.3.3 Exames laboratoriais
Realizaram-se análises de amostras de sangue com o objetivo de se identificar
hiperesplenismo e de se avaliar a função hepática: hemograma, atividade de protrombina,
albumina, aspartato-transaminase (ASAT), alanino-transaminase (ALAT) e gama-glutamil
transferase (GGT). Utilizaram-se cnicas laboratoriais convencionais adotadas pelo
45
Laboratório Central do HC–UFMG para a execução dos exames hematológicos,
bioquímicos e sorológicos.
4.3.4 Exames de imagem
O exame ultra-sonográfico do abdome foi realizado por radiologista experiente, treinado na
realização do protocolo da OMS (NIAMEY WORKING GROUP, 2000). Utilizou-se o
aparelho ALOKA SSD 1700 Dynaview (ALOKA CO., Japão) com transdutores lineares
eletrônicos de 3,5 MHz. O examinador postou-se à direta do paciente, o qual foi
examinado em decúbito dorsal, em inspiração xima, respeitando-se as orientações da
OMS.
Os exames por RM do abdome foram analisados por radiologista experiente, no
Laboratório Hermes Pardini de Belo Horizonte. Adotou-se o sistema magnético
supercondutor
General Eletric
(GE) 1.5 tesla (Sigma; General Eletric Medical Systems,
Milwaukee, WIS, USA), com bobina de corpo de oito canais (phased-array).
Realizaram-se seqüências gradiente eco para as imagens axiais ponderadas em T1
“em fase” e “em oposição de fase” em expiração máxima sustentada (T1-weighted
in-phase and out-of-phase breath-hold
spoiled gradient-echo). Usaram-se tempo de
repetição (TR) de 90 a 200 ms e tempo de eco (TE) de 2,1 ms para as imagens
axiais ponderadas em T1 “em oposição de fase” e TE de 4,2 ms para as imagens
ponderadas em T1 “em fase”. Obtiveram-se as imagens com ângulo de inclinação
(flip angle) de 70 a 90°, espessura de corte de 8 mm, intervalo entre os cortes
(intersection gap) de 1 mm, matriz de 256 x 128 a 192 e campo de visão (field
of
view) de 32 a 40 cm. Adquiriu-se o sinal uma única vez. Seqüências de duplo eco
foram empregadas em todos os pacientes.
Adquiriram-se seqüências axiais e coronais ponderadas em T2 com e sem saturação
de gordura, sincronizadas com a respiração, sem necessidade de apnéia (single-shot
fast spin-echo
non–breath-hold respiratory-triggered imaging). Para essas
seqüências utilizaram-se os seguintes parâmetros: TR/TE de 1.800/100, espessura
de corte de 7 mm, intervalo entre cortes de 1 mm, matriz de 256 x 192 a 224 e
campo de visão de 32 a 40 cm. Adquiriu-se o sinal uma única vez. A saturação de
gordura foi aplicada optando-se pela seleção de freqüência manual.
46
Adquiriram-se seqüências axiais rápidas com ponderação em T2 durante expiração
máxima sustentada (FRFSE 3D fast imaging steady-state acquisition FIESTA;
GE Medical Systems), com os seguintes parâmetros: TR/TE de 3,7/1,6, ângulo de
inclinação de 45°, espessura de corte de 7 mm, intervalo entre cortes de 1 mm,
matriz de 320 x 256 e campo de visão de 40 cm. Adquiriu-se o sinal uma única vez.
Finalmente, obtiveram-se imagens axiais volumétricas tridimensionais com
supressão de gordura, em sustentação de expiração máxima, chamadas Liver
Acquisition with Volume Acceleration (LAVA); GE Medical Systems. Para as
mesmas adotaram-se os seguintes parâmetros: TR/TE de 4,5/2,2, ângulo de
inclinação de 12° e matriz de 320 x 224. A espessura do corte variou de 160 a 200
mm, para garantir a cobertura completa do fígado. Em todos os pacientes essa
seqüência foi realizada antes e após injeção endovenosa de gadolíneo
(gadopentetato de dimeglumina) na dose de 0,1 mmol/kg. A primeira aquisição se
deu na fase arterial hepática, repetindo-se duas vezes posteriormente, com
intervalos de 45 segundos para as fases venosa e de equilíbrio. Novas imagens
foram adquiridas na fase tardia cinco minutos após a administração endovenosa do
meio de contraste.
Os pacientes foram orientados a observar jejum de quatro horas antes do US e da RM e
este foi o único preparo prescrito. Avaliaram-se os seguintes aspectos em ambos os exames
de imagem:
dimensão longitudinal dos lobos direito e esquerdo do fígado (mm);
contorno do fígado, classificado como liso, lobulado ou serrilhado;
impressão subjetiva do examinador em relação à intensidade da fibrose periportal,
classificada como ausente, leve, moderada ou intensa;
padrão da fibrose de acordo com a classificação da OMS (o protocolo do ultra-som
foi adaptado para o presente estudo) (FIGURA 8):
-
A: normal;
-
B: focos ecogênicos difusos em ramos portais periféricos (céu estrelado);
-
C: espessamento hiperecogênico periportal periférico (os cortes transversais
se assemelham a anéis e os longitudinais a tubos);
-
D: espessamento hiperecogênico periportal central;
-
Dc: espessamento hiperecogênico periportal central e periférico;
47
-
E: espessamento hiperecogênico periportal central com ramificações
ecogênicas expandindo-se para o parênquima;
-
Ec: espessamento hiperecogênico periportal central com ramificações
ecogênicas expandindo-se para o parênquima associado a espessamento
periportal periférico;
-
F: espessamento periportal periférico e central muito acentuado; grossas
faixas ecogênicas partem da região central e atingem a periferia do órgão,
retraindo-a;
-
X: cirrose;
-
Y: esteatose;
-
Z: outras anormalidades;
espessura da parede da vesícula biliar (mm);
calibre da veia porta no hilo hepático (mm);
espessura da parede da veia porta no hilo hepático (mm);
espessura da parede da veia porta em sua bifurcação (mm);
espessura de ramo portal de segunda ordem (mm);
calibre da veia esplênica medida na altura do corpo do pâncreas (mm);
calibre da veia mesentérica superior medida 1 cm abaixo da junção
esplenomesentérica (mm);
identificação e medida (mm) de calibre de vasos colaterais;
diâmetro longitudinal do baço (mm).
Os dois examinadores dos exames de imagem desconheciam o quadro clínico e os exames
complementares dos pacientes, bem como as análises das imagens entre si. Os limites de
referência para as variáveis analisadas encontram-se no QUADRO 2.
48
QUADRO 2
Medidas de referência para o exame ultra-sonográfico do abdome
Imagem hepática e biliar
Dimensão longitudinal do lobo direito do fígado 80 a 150 mm
Dimensão longitudinal máxima do lobo esquerdo do fígado 110 mm
Espessura máxima da ecogenicidade da parede da vesícula 4 mm
Imagem do sistema porta
Calibre máximo da veia porta no hilo hepático 12 mm
Calibre máximo da veia esplênica no corpo do pâncreas 9 mm
Calibre máximo da veia mesentérica superior 9 mm
Espessura máxima da ecogenicidade da parede da veia porta no hilo 8 mm
Espessura máxima da ecogenicidade da parede de ramos de
segunda ordem
3 mm
Imagem esplênica
Dimensão longitudinal máxima do baço 120 mm
Fonte: Pinto-Silva et al. (1994).
4.3.5 Cirurgia
Todas as cirurgias foram realizadas no Hospital das Clínicas - UFMG e na Santa Casa de
Misericórdia em Belo Horizonte e conduzidas pelo Professor Andy Petroianu e pela Dra.
Vivian Resende. Em todos os casos o procedimento proposto foi esplenectomia subtotal
combinada com desconexão portavarizes, perigástrica e periesofágica, além de sutura
direta de todas as varizes gástricas por meio de gastrostomia (PETROIANU, 1983).
4.3.6 Biópsia hepática
No final de todas as operações, efetuou-se a biópsia hepática em cunha do lobo direito do
fígado. O fragmento foi colhido, com dimensão aproximada de 3 cm³, e dividido em dois
segmentos iguais: um introduzido em frasco contendo solução de formaldeído a 4%
(formol a 10%) e o outro conservado em frasco contendo solução de cloreto de sódio a
49
0,9%. O segundo fragmento foi incluído em TISSUE-TEK, congelado em nitrogênio
líquido e mantido em botijões para uso posterior.
4.3.7 Análise histológica
A análise histológica foi realizada pelos anatomopatologistas Dr. Zilton Andrade e Dr.
Aryon Barbosa Jr., na Fundação Gonçalo Moniz, em Salvador–BA, e acompanhada pela
autora. Estudaram-se minas de tecido hepático coradas pela hematoxilina-eosina (HE) e
pelo picrossirius-vermelho para colágeno (JUNQUEIRA; BIGNOLAS; BRENTANI,
1979). Ao exame qualitativo, classificaram-se os pacientes em grau leve, moderado e
intenso. Para tal classificação, foram levadas em conta as lesões presentes nos espaços
porta, como: intensidade da fibrose, com emissão ou não de septos fibrosos; lesões nas
paredes da veia porta de médio e de pequeno calibre; comportamento dos vasos arteriais;
proliferação de ductos e dúctulos biliares; inflamação (hepatite); presença de elementos
parasitários. No parênquima, foram procuradas lesões de atrofia e de regeneração
(presença de nódulos); traves espessas; espessamento fibroso peri-sinusoidal.
4.3.8 Análise histomorfométrica
A classificação quantitativa da fibrose hepática foi realizada pelo Dr. Aryon de Almeida
Barbosa Jr., na Fundação Gonçalo Moniz, em Salvador-BA. Para essa análise, utilizaram-
se fragmentos de fígado obtidos por biópsia hepática cirúrgica; os fragmentos foram
cortados aleatoriamente, obtendo-se amostras de 5µm que foram coradas com picrossirius-
vermelho para colágeno. Para medir-se a área de fibrose periportal, procedeu-se à
morfometria semi-automática utilizando-se o aparelho LEICA QWIN-3.1 (Microsystem
Imagina Solutions LTD, Cambridge, UK), ajustado para a ampliação final de 100x em
microscópio Leica microstar IV acoplado à câmera digital JVC TK 1380. Para cada caso
foram examinados cinco campos aleatórios de 859.384 µ
2
, totalizando 4.296.920 µ
2
. Os
parâmetros estudados foram: percentagem de ocupação (%) seccional do tecido fibroso
relativo à área total estudada e área seccional (AS) do tecido fibroso no corte histológico.
Os valores são apresentados em média e desvio-padrão (BARBOSA Jr, 2001; COUTINHO
et al., 2003).
50
4.3.9 Análise estatística
As informações obtidas foram armazenadas em banco de dados computadorizado,
utilizando-se o software Epi Data 3.1 [Lauristen JM (editor) Epi Data Entry, Data
Management and basic Statistical Analysis Sistem, Epi Data Association, 2000-2006
(Disponível em: http.//www.epidata.dk)].
Para as análises estatísticas, adotou-se o software Statistical Package for Social Sciences
(SPSS) 12.0 for windows - SPSS Incorporation, Chicago, Illinois, Estados Unidos da
América, 2005 (disponível no Laboratório de Informática do Centro de Pós-Graduação da
Faculdade de Medicina da UFMG).
O tamanho da amostra corresponde ao número de pacientes operados no período do estudo
e que preenchiam todos os critérios de inclusão estabelecidos.
4.3.9.1 Estatísticas descritivas
Inicialmente, foi feita análise descritiva das variáveis utilizadas no estudo. Para as
variáveis qualitativas ou categóricas, foram feitas tabelas de distribuição de freqüências. Já
para as variáveis quantitativas ou contínuas foram utilizadas medidas de tendência central e
variabilidade.
4.3.9.2 Comparação ultra-som x ressonância magnética x histologia
Para comparação dos resultados obtidos pelo US, RM e biópsia hepática, foram
empregados o teste de Wilcoxon para as variáveis contínuas (por exemplo, dimensão
longitudinal do lobo direito); McNemar para as variáveis categóricas binárias (exemplo,
presença de fibrose); e homogeneidade marginal para as variáveis categóricas ordinais
(exemplo, fibrose periportal). Os três testes são adequados para comparação de dados
pareados; nesse caso o mesmo paciente sendo avaliado por dois métodos de diagnóstico
diferentes.
51
Para avaliar a concordância entre os métodos, usou-se o coeficiente de correlação de
Spearmman para as variáveis contínuas; coeficiente Kappa simples para as variáveis
categóricas binárias; e coeficiente Kappa ponderado para as variáveis categóricas com três
ou mais categorias.
QUADRO 3
Classificação da força de concordância segundo o coeficiente Kappa
Coeficiente Kappa Força de concordância
<0 Pobre
0-0,19 Desprezível
0,20-0,39 Leve
0,40-0,59 Moderada
0,60-0,79 Grande
0,80-1,00 Quase perfeita
Fonte: Landis e Koch (1977).
4.3.9.3 Outras associações
Para verificar demais associações entre os dois grupos foi utilizado o teste não-paramétrico
de Mann-Whitney (variáveis contínuas) ou teste exato de Fisher (variáveis categóricas com
pequenas freqüências).
Optou-se por testes não-paramétricos para as variáveis contínuas devido ao caráter
assimétrico das variáveis testadas e o reduzido tamanho da amostra.
4.4 Considerações éticas
Os pacientes acompanhados nos Ambulatórios de Doenças Infecciosas e Parasitárias,
Grupo de Fígado da Universidade Federal de Minas Gerais e Equipe de Cirurgia de Fígado
e Vias Biliares da Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte durante o período do
estudo, e que preencheram os critérios de inclusão, foram convidados a participar. Os
objetivos, metodologia simplificada, riscos e benefícios da participação foram explicados
52
aos pacientes, de acordo com a Resolução n
o
196/96 do Conselho Nacional de Saúde. A
autora leu o termo de consentimento (APÊNDICE B), esclareceu dúvidas e o entregou aos
pacientes. Eles também foram informados que poderiam obter informações ou
esclarecimentos ao longo da pesquisa e cancelar seu consentimento de participação,
abandonando o estudo a qualquer momento. Souberam também que a identificação de
determinadas doenças durante a propedêutica poderia os excluir automaticamente do
estudo. Foram comunicados de que os dados provenientes da pesquisa seriam apresentados
à comunidade científica, entretanto, sem sua identificação. O projeto foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (ANEXO B).
53
5 RESULTADOS
5.1 Características dos pacientes
Na TAB. 1 encontram-se detalhadas as características gerais do grupo em estudo. Entre os
três pacientes que não apresentavam plaquetopenia, estão dois esplenectomizados e um
com exame laboratorial após episódio de hemorragia digestiva.
TABELA 1
Características sociodemográficas, epidemiológicas e clínicas dos 14 pacientes com
esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP do hospital Orestes Diniz,
no período de junho de 2006 a agosto de 2007
CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PACIENTES (N = 14) ACHADOS
Idade média em anos ( ± desvio-padrão)
(idades mínima e máxima em anos)
39 (10,4)
(20 – 57)
Sexo
Masculino
10
Cor da pele
Branca
Morena
4
10
Contato com águas naturais em área endêmica para
esquistossomose
14
Hemorragia digestiva
12
Exame parasitológico de fezes positivo no momento do estudo
2
Tratamento medicamentoso prévio para esquistossomose
8
Hemograma**
Anemia
Leucopenia
Plaquetopenia
11
12
11
Fígado e baço palpáveis
Sim
Não
9
5 ***
Esplenectomia prévia 2
** Anemia = Hb <12g% mulher e <14g% homem. Plaquetopenia = plaquetas < 150.000mm³.
Leucopenia = global de leucócitos < 4.300 céls/mm³.
***Entre os pacientes que não apresentaram fígado e baço palpáveis, estão: dois esplenectomizados e uma
obesa; dois tinham apenas o baço palpável.
54
5.2 Aspecto macroscópico do fígado durante o ato cirúrgico
Os 14 pacientes avaliados neste estudo apresentaram características variadas à avaliação
macroscópica do fígado no momento cirúrgico. Observaram-se fígados com superfície lisa
a bocelada com traves fibróticas evidentes. As bordas apresentaram-se cortantes e de
consistência normal a espessadas e endurecidas (APÊNDICE C – Figura 9).
5.3 Aspectos histológicos do grupo estudado
Todos os pacientes apresentaram algum grau de fibrose periportal. Raramente os
granulomas periovulares eram proeminentes à biópsia, sendo mais comum a ocorrência de
poucos granulomas bem modulados ou mesmo sua ausência total. A atividade inflamatória
foi classificada como leve em todos os casos. Observou-se a preservação das estruturas
biliares e arteriais.
5.4 Comparação entre a classificação clássica da fibrose hepática à histologia e os
métodos de imagem (ultra-som e ressonância magnética)
O exame histológico confirmou o diagnóstico de fibrose de Symmers em todos os 14 casos
estudados. A ressonância magnética identificou a fibrose periportal em todos e o ultra-som
o fez em 13 casos (92, 9%). A intensidade da fibrose ao exame histológico e nos exames
de imagem foi classificada como ausente, leve, moderada e intensa.
Em relação à classificação clássica da fibrose hepática à histologia e pelos métodos de
imagem (US e RM), houve concordância completa entre os três métodos de avaliação em
quatro pacientes (28,5%). Todos tinham fibrose hepática moderada (TAB. 2: pacientes 3,
4, 6, 14).
Em seis pacientes (42,8%) houve muita semelhança na classificação da intensidade do
acometimento hepático pela fibrose entre os três métodos utilizados, sendo a diferença
apenas de um grau em uma das avaliações, moderada a intensa (TAB. 2: pacientes 1, 2, 9,
10, 11, 12).
55
Observou-se discordância na avaliação entre os métodos de imagem e histológica em
quatro pacientes (28,5%). O paciente 5 foi classificado como tendo fibrose moderada nos
métodos de imagem e apresentou fibrose leve à histologia. Os pacientes 7, 8 e 13
apresentaram graus de fibrose diferentes nos três métodos.
Quando agrupados os casos de fibrose leve e ausente (chamados de leve) e os casos de
fibrose moderada e intensa (chamados de grave), houve concordância moderada entre os
três métodos (histologia, US e RM) na classificação da fibrose hepática (χ² = 0,45; p =
0,79) - (APÊNDICE D – TAB. 7).
TABELA 2
Fibrose hepática e tamanho do baço de 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica,
avaliados pelo exame físico,ultra-som, ressonância magnética e histologia, examinados no
CTR- DIP do hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Fibrose hepática
Baço
Paciente US
Padrão
OMS
RM Padrão
OMS
Histologia
Exame
físico* (mm)
US
(mm)
RM
(mm)
1 M Ec M Ec I 60 180 180
2 M Ec I Ec 202 194
3 M Ec M Dc 201 170
4 M Ec M Dc 202 210
5 M Ec M Ec 202 236
6 M Ec M F 200 181
7 L D M Ec 178 190
8 A A L D 230 220
9 I Ec M Dc 262 253
10 M Ec I F 216 250
11 M Ec M F -** -**
12 M Ec I Ec -** -**
13 M Ec I F 200 290
14 M E M E
M
M
M
L
M
I
M
I
M
I
I
L
M
80
-
100
50
80
70
140
150
120
-**
-**
190
60 213 200
A = ausente; L =leve; M = moderada; I = intensa
Padrão de classificação da fibrose hepática OMS (ANEXO A).
*Distância entre o rebordo costal esquerdo e o ponto mais caudal do baço.
**Esplenectomia prévia.
56
5.5 Histologia
A intensidade do acometimento hepático pela fibrose foi graduada à avaliação histológica
em leve, moderada e intensa (TAB. 3). Nos 14 casos ocorreram discordâncias entre os dois
examinadores em quatro pacientes (um grau a mais ou um grau a menos). Esses casos
foram reexaminados e obteve-se consenso. Na TAB. 3 esses casos estão assinalados com
asteriscos.
Para avaliação histomorfométrica da fibrose no tecido hepático, usaram-se duas medidas:
a) percentagem de ocupação (%) seccional do tecido fibroso relativo à área total estudada;
b) Área seccional (AS) em micrômetros
2
do tecido fibroso no corte histológico. Os valores
são apresentados como média ± desvio-padrão na TAB. 3.
Quando agrupados os casos de fibrose leve e ausente (chamados de leve) e os casos de
fibrose moderada e intensa (chamados de grave), 12 pacientes foram classificados como
grave e apenas dois apresentaram acometimento hepático leve (TAB. 3: pacientes 5 e 13).
A fibrose grave e leve diagnosticada à histologia apresenta o mesmo percentual de fibrose
à histomorfometria (p=0,50, teste exato de Fisher). Ou seja, a histomorfometria não
distingue os indivíduos com fibrose leve dos pacientes com fibrose grave.
57
TABELA 3
Avaliação clássica da fibrose à histologia e histomorfometria dos 14 pacientes com
esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP, Hospital Orestes Diniz, no
período de junho de 2006 a agosto de 2007
Pacientes Grau Morfometria (%) AS (micrômetros ²)
1. I 11,64 ± 5,8 138248 ± 64381
2. M 6,79 ± 2,7 58319 ± 23228
3. M* 10,22 ± 5,2 87816 ± 45065
4. M 6,99 ± 2,9 60055 ± 24951
5. L 3,7 ± 1,5 31754 ± 12801
6. M* 9,31 ± 8,6 79972 ± 39929
7. I* 4,6 ± 1,5 38966 ± 4595
8. M 6,51 ± 2,9 55976 ± 25584
9. I 11,7 ± 1,7 100588 ± 49847
10. M* 3,75 ± 1,6 32247 ± 13238
11. I 11,3 ± 5,3 96075 ± 39994
12. I 7,51 ± 2,4 64582 ± 21008
13. L 6,58 ± 3,3 56508 ± 28155
14. M 4,45 ± 2,3 38236 ±19961
*casos discordantes a princípio, em relação à fibrose, em que depois da discussão se obteve
consenso.
5.6 Comparação entre os métodos de imagem: ultra-som e ressonância magnética
Com exceção de um paciente, todos os casos estudados apresentavam espessamento
periportal característico da esquistossomose hepatoesplênica, quando avaliados pelo ultra-
som. Nesse exame, de acordo com a classificação das pranchas da OMS para a
caracterização da fibrose (ANEXO A), um paciente não apresentou fibrose (padrão A), um
mostrou fibrose leve (padrão D), 11 exibiram fibrose moderada (E ou Ec) e um, fibrose
intensa (F).
Para classificar o grau de fibrose hepática à ressonância magnética, foram adaptadas as
mesmas pranchas da OMS criadas para avaliar a fibrose ao ultra-som. Os resultados
58
obtidos à ressonância magnética foram: um paciente com fibrose leve (prancha D), nove
com fibrose moderada (E e/ou Ec) e quatro com fibrose intensa (F).
A concordância, de acordo com o Kappa ponderado, foi de 0,41, classificada como
moderada de acordo com Landis e Koch (1977) (TAB. 4). Ou seja, os métodos
concordam no diagnóstico da fibrose hepática.
TABELA 4
Classificação da fibrose periportal de acordo com o ultra-som e ressonância magnética dos
14 pacientes portadores de esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP,
hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Ressonância Magnética (fibrose)
Ultra-som
Ausente Leve Moderada Intensa
0 1 (100%) 0 0
0 0 1 (100%) 0
0 0 7 (64%) 4 (36%)
Ausente
Leve
Moderada
Intensa 0 0 1 (100%) 0
Kappa ponderado = 0,41; IC 95% 0,01 - 0,81
Quando os casos de fibrose leve e ausente foram agrupados e chamados de leve e os casos
de fibrose moderada e intensa foram chamados de grave, a concordância entre os métodos
de imagem permaneceu moderada (Kappa = 0,63) - (APÊNDICE D – TAB. 8).
5.7 Comparação entre o ultra-som e a histologia
O ultra-som e a histologia identificaram o mesmo grau de fibrose hepática em sete
pacientes (50%). Destes, seis apresentaram fibrose moderada (casos 2, 3, 4, 6, 10 e 14) e
um, fibrose intensa (TAB. 2 - caso 9). Quando, entretanto, usaram-se todos estatísticos
para avaliar a concordância dos dois métodos, verificou-se teste Kappa de 0,06 (baixa
concordância) - (TAB. 5).
59
TABELA 5
Comparação da intensidade da fibrose avaliada pelo ultra-som e pela histologia dos 14
pacientes portadores de esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP,
hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Histologia
Ultra-som
Ausente Leve Moderada Intensa
0 0 1 0
0 0 0 1
0 2 (18%) 6 (54%) 3 (27%)
Ausente
Leve
Moderada
Intensa 0 0 0 1
Kappa ponderado = 0,06; IC 95% -0,28 - 0,40.
Agrupados os casos de fibrose leve e ausente (leve) e os de fibrose moderada e intensa
(grave), ainda assim a concordância (leve versus grave) entre o ultra-som e a histologia
permaneceu fraca (Kappa = -0,17) - (APÊNDICE D – TAB. 9).
5.8 Comparação entre a ressonância magnética e a histologia
A ressonância magnética e a histologia identificaram o grau de fibrose hepática igualmente
em cinco pacientes (35%). Quatro tinham fibrose moderada e um, intensa. A concordância
medida pelo teste de Kappa ponderado foi de -0,12 (baixa concordância) - (TAB. 6).
TABELA 6
Comparação entre a presença de fibrose avaliada pela ressonância magnética e a histologia
em 14 pacientes portadores de esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP,
hospital Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Histologia (fibrose) Ressonância
magnética
Ausente Leve Moderada Intensa
0 0 0 0
0 0 1 (100%) 0
0 1 (11%) 4 (44%) 4 (44%)
Ausente
Leve
Moderada
Intensa
0 1 (25%) 2 (50%) 1 (25%)
Kappa ponderado = -0,12; IC 95% -0,57 - 0,33.
60
Para os casos de fibrose leve e ausente agrupados e chamados de leve e os de fibrose
moderada e intensa chamados de grave, a concordância entre a ressonância magnética e a
histologia persistiu fraca (Kappa = -0,12; IC 95% = -0,57-0,33) - (APÊNDICE D TAB.
10).
5.9 Comparação entre os métodos de imagem (ultra-som e ressonância magnética) e a
histologia
Após a reclassificação da fibrose em leve e grave, ao analisarem-se os exames de imagem,
apenas um paciente foi discordante (TAB. 2 paciente 7). Excluído esse paciente, os
exames de imagem (US e RM) apresentaram concordância moderada com a histologia
(Kappa = 0,41) - (APÊNDICE D - TAB. 11).
5.10 Outros resultados
Dois pacientes não tiveram hemorragia digestiva alta (casos 3 e 9). Não houve relação
entre o tamanho do baço e a intensidade da fibrose hepática, nem entre o número de
episódios de hemorragia digestiva alta e a intensidade da fibrose, avaliada pelos três
métodos (ultra-som, ressonância magnética e histologia) - (APÊNDICE D – TAB. 12).
5.11 Resumo de quatro pacientes discordantes nos métodos usados para avaliar a
fibrose
Caso 5 o paciente, de 33 anos, era natural de Belo Horizonte (MG) e procedente de
Sabará-MG. Apresentou EPF positivo para esquistossomose na infância e não se recorda
de ter recebido tratamento medicamentoso para esquistossomose. Havia história prévia de
um episódio de hematêmese volumosa com repercussão hemodinâmica. Ao exame físico,
apresentava hepatoesplenomegalia; ao hemograma constatou-se pancitopenia com
acentuada leucopenia; ao exame endoscópico apresentava varizes de grosso calibre no
esôfago. A fibrose foi classificada como moderada ao US e à RM e leve à histologia.
61
Foram visibilizadas duas colaterais ao US e seis à RM. O ramo portal de segunda ordem
encontrava-se espessado. O baço media, à RM, 236 mm em seu diâmetro longitudinal.
Caso 7 – a paciente, de 26 anos, natural e procedente da zona rural de Água Boa de Minas-
MG, apresentou EPF positivo para esquistossomose em setembro de 2004, quanto foi
tratada com praziquantel. Havia história prévia de dois episódios de hematêmese volumosa
com repercussão hemodinâmica. Ao exame físico, apresentava esplenomegalia e o
hemograma acusou pancitopenia. Submeteu-se à endoscopia digestiva alta que revelou
varizes do esôfago e do fundo gástrico. Nos exames de imagem, a fibrose foi classificada
ao US como leve e à RM magnética como moderada. A biópsia hepática evidenciou
fibrose intensa. Em relação à presença de colaterais ao US, foi vista apenas a veia gástrica
curta; e à RM, seis colaterais. O baço era volumoso na RM, com 190 mm em seu diâmetro
longitudinal. O ramo de segunda ordem da veia porta encontrava-se espessado.
Caso 8 o paciente, de 42 anos, era natural de Itambacurí-MG e procedente de Ji-Paraná-
RD, onde vive há 23 anos e, desde então, nega exposição a águas naturais em área
endêmica para esquistossomose. Apresentava EPF positivo para a helmintíase no momento
do estudo e nunca havia sido tratado para esquistossomose. Havia história prévia de um
episódio de hematêmese volumosa com repercussão hemodinâmica. Ao exame físico
constatou-se hepatoesplenomegalia volumosa. Submeteu-se ao exame de endoscopia
digestiva alta, com diagnóstico de varizes de grosso calibre no esôfago e fundo gástrico.
Quanto à intensidade da fibrose, ao US foi classificada como ausente, à RM como leve e à
histologia como moderada. O US não mostrou colaterais e a RM revelou quatro colaterais.
Não apresentava nos exames de imagem espessamento de ramo portal de segunda ordem.
O baço era volumoso e media 230 mm em seu maior diâmetro longitudinal. Evidenciou-se
trombose extensa da veia porta à avaliação pré-operatória aos exames de imagem. Extensa
propedêutica para trombofilia resultou negativa.
Caso 13 o paciente, de 38 anos, era natural de Palmópolis-MG e procedente de Ribeirão
das Neves-MG. Ele não sabia informar sobre a ocorrência de EPF positivo para
esquistossomose e não se recordava de ter recebido tratamento medicamentoso para a
doença. Havia história de três episódios de hematêmese volumosa, dois com repercussão
hemodinâmica e necessidade de hemotransfusão. À endoscopia digestiva alta, apresentava
volumosas varizes de esôfago e do fundo gástrico. O exame físico revelava esplenomegalia
62
volumosa e o hemograma pancitopenia. A fibrose foi classificada, de acordo com a
intensidade ao US, à RM e à histologia, como moderada, intensa e leve, respectivamente.
Foram visibilizadas uma colateral ao US e quatro à RM. O ramo portal de segunda ordem
era pouco espessado. O baço mediu 290 mm em seu maior diâmetro.
63
6 DISCUSSÃO
A histologia hepática confirmou a presença de fibrose de Symmers em todos os casos. A
ressonância magnética também indicou fibrose periportal em todos os pacientes e o US,
com exceção de um indivíduo, também identificou a fibrose periportal característica da
esquistossomose mansônica. Os graus de fibrose nos três métodos foram classificados
como ausente, leve, moderado e intenso. Com essa classificação, a concordância entre os
três métodos foi baixa, exceto entre o US e a RM, em que houve concordância moderada
na avaliação da intensidade do evento. Agruparam-se os casos e a fibrose foi então,
classificada como leve e ausente (chamada de leve) e moderada e intensa (chamada de
grave). Neste cenário, os métodos de imagem tiveram concordância moderada com a
histologia. A histomorfometria não distinguiu os indivíduos com fibrose leve daqueles com
fibrose grave, quando comparada com a classificação histológica. Não houve relação entre
o tamanho do baço e a intensidade da fibrose hepática, nem relação do grau de fibrose com
o número de episódios de hemorragia digestiva alta.
Os três métodos estudados foram capazes de identificar a fibrose hepática característica da
esquistossomose, com exceção de um caso, ao US. Esse paciente (caso 8) veio
encaminhado de Rondônia, com diagnóstico de esquistossomose hepatoesplênica, após
episódio de hemorragia digestiva alta volumosa por varizes do esôfago. Ele residiu em área
endêmica de esquistossomose, no nordeste de Minas Gerais, por 20 anos, antes de se
mudar para Ji-Paraná, em Rondônia, e negou reexposição à esquistossomose nesse período.
Ovos de S. mansoni foram encontrados nas fezes e os exames de imagem mostraram
grande trombo na veia porta. Extensa propedêutica para trombofilia resultou negativa. O
US não identificou sinais de fibrose periportal. A RM e a histologia diagnosticaram a
presença de fibrose hepática e a classificaram como leve e moderada, respectivamente.
Portanto, em relação à intensidade da fibrose, houve discordância entre os três métodos
(ausente ao US, leve à RM e moderada à histologia). Este caso é um bom exemplo da
dificuldade de se classificar a intensidade da fibrose hepática por qualquer método
diagnóstico. A ausência prolongada do paciente da área endêmica e de reinfecções
repetidas não impediu a doença de evoluir para a forma avançada ou não houve regressão
da hipertensão, mesmo não havendo reinfecções repetidas (COURA, 1975).
64
Estudos anteriores compararam a histologia do fígado com o US, mas, com exceção de
Homeida et al. (1988a; 1988b), todos fizeram a biópsia hepática com o intuito exclusivo de
confirmar o diagnóstico de fibrose de Symmers e excluir outras doenças, sem se deterem na
análise da intensidade da fibrose hepática. Homeida et al. (1988a; 1988b) classificaram a
fibrose de I a IV na histologia e ao US e encontraram concordância fraca entre os dois
métodos. Os autores argumentaram que as amostras obtidas (biópsia em cunha durante a
cirurgia em 36 casos e biópsia por agulha percutânea em seis) não produziram fragmentos
de tamanho suficiente para análise e, talvez por isso, os resultados não tenham sido
concordantes. No presente estudo, os fragmentos retirados por biópsia em cunha tinham,
em média, 3 cm³, cujo tamanho foi considerado suficiente para análise da lesão hepática.
Ainda assim, a concordância entre os três métodos na classificação do grau de fibrose foi
fraca (sete entre 14 pacientes).
A histomorfometria não separou os indivíduos com fibrose leve dos pacientes com fibrose
grave, quando comparada com a análise clássica feita pela histologia. No Brasil, dois
estudos anteriores abordaram o mesmo tema. Domingues (1998), em tese de doutorado,
comparou os graus de fibrose hepática ao ultra-som com a classificação histológica de
fibrose e também com a morfometria semi-automática. A autora encontrou correlação fraca
entre os três métodos. Brandt et al. (2002) estudaram 70 pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica submetidos à cirurgia de hipertensão porta e realizaram biópsia cirúrgica
em todos os casos. Os autores estudaram a concordância entre a classificação histológica
internacional clássica e os graus de densidade da fibrose porta medida pela
histomorfometria. As lâminas foram coradas pelo tricrômico de Masson. Eles
consideraram três graus de fibrose à histologia: I, II e III. Houve leve concordância entre a
histomorfometria e a histologia (Kappa = 0,31). Propuseram, então, uma reclassificação
histológica da fibrose hepática, acrescentando-se o grau IV (> de 50% dos espaços porta
com fibrose avançada). No presente estudo, se comparou a histologia com a
histomorfometria e os dados também mostraram baixa concordância entre eles. É de
interesse ressaltar que o desvio-padrão mostra que o método é impreciso, foi muito grande
em cada medida, o que pode representar uma limitação da técnica.
Houve ampla variação na classificação histológica da intensidade da fibrose de Symmers,
mesmo se tratando de pacientes com a forma avançada da doença, com indicação cirúrgica.
O mesmo aconteceu com os métodos de imagem. Chamam a atenção, por exemplo, dois
65
pacientes que tiveram fibrose leve à histologia e moderada ou intensa nos métodos de
imagem. Também nos métodos de imagem, dois outros pacientes, classificados como
tendo fibrose ausente ou leve, tiveram fibrose intensa e moderada à histologia. Isto mostra
que todos os métodos erram na avaliação do grau de fibrose, se considerar-se o indivíduo e
não a população. Vejam-se os casos discordantes resumidos no capítulo “Resultados”. Se
esses achados são verdadeiros (i.e., confirmados em estudos com maior número de casos e
por outros autores), suas implicações são de grande importância. Do ponto de vista clínico,
as classificações do grau de fibrose hepática feitas pela histologia, US e RM não devem ser
valorizadas isoladamente, pois indivíduos com fibrose hepática leve podem apresentar
forma grave da doença. Esta afirmação contraria alguns estudos realizados até o momento.
O manual de padronização do US, em esquistossomose, patrocinado pela OMS (NIAMEY
WORKING GROUP, 2000), afirma que os pacientes com fibrose leve ao ultra-som
(chamada de fibrose periportal incipiente) nunca apresentaram hemorragia digestiva por
sangramento de varizes do esôfago. Isto não é confirmado pelos dados desta investigação.
O que garante a gravidade da doença, na verdade, é a presença de hipertensão porta,
independentemente do grau de fibrose hepática. Assim, não se justifica, do ponto de vista
clínico, a classificação da OMS em padrões ou graus de fibrose (A a F). Interessa saber,
apenas, se há ou não fibrose periportal por qualquer método de avaliação utilizado.
Parece, portanto, existir dissociação entre o grau de fibrose e de pressão porta. A pressão
porta depende da lesão vascular intra-hepática. Andrade, Baptista e Santana (2006) relatam
que a angiogênese é um fenômeno independente da fibrose. O autor é de opinião que o
tratamento seguido da cura parasitológica leva à regressão da fibrose e a percentual
indefinido de casos da remodelação da árvore vascular intra-hepática, com possível
melhora da hipertensão porta e cura da esquistossomose hepatoesplênica. Os estudos
clínicos não confirmam estes achados para pacientes com a forma avançada da doença
(MARINHO et al., 2006; COTA et al., 2006; BRANDT et al 2002; DRUMMOND et al,
2006).
Ainda nesse contexto, vale comentar os estudos sobre marcadores sorológicos de fibrose
usados atualmente na esquistossomose e hepatite pelo vírus C, tais como: o número de
plaquetas, o ácido hialurônico e vários tipos de colágenos ou seus produtos de degradação.
Alguns estudos em esquistossomose têm valorizado esses testes de diagnóstico da fibrose
esquistossomótica, sendo que alguns deles conseguem inclusive classificar corretamente o
66
grau de fibrose hepática, quando comparado aos métodos de imagem (LAMBERTUCCI;
SILVA; ANTUNES, 2007; SOUZA; TOLEDO; BORGES, 2000). O problema é saber se
os “marcadores de fibrose” estão realmente diagnosticando a fibrose hepática ou a
hipertensão porta. Essas questões permanecem sem resposta. A ausência de relação entre a
fibrose hepática, o tamanho do baço e o número de episódios de hemorragia digestiva alta
depõem a favor da pouca importância da fibrose na avaliação da gravidade da doença e da
presença de hipertensão porta.
O aspecto macroscópico do fígado documentado por fotografias merece comentários à
parte. As imagens (sem análises estatísticas) são muito reveladoras. O que se é que a
chamada fibrose de Symmers não é uma entidade única, mas um espectro, uma variedade
de quadros, que vai desde o fígado de aspecto aparentemente normal até o gado muito
alterado (FIG. 9). Esse comentário remete ao valor do exame clínico que, na opinião de
alguns autores, seria capaz de separar formas graves pelas características do órgão afetado
(bordas rombas, consistência aumentada, presença de nódulos, lobo esquerdo proeminente)
(MARINHO et al., 2006; PRATA, 2002). Observou-se, neste estudo, que os critérios
clínicos para definição de forma grave foram capazes de classificar corretamente pequeno
número de casos e não representam todo o espectro da doença hepática chamada de fibrose
de Symmers. Várias pesquisas anteriores mostraram as limitações do exame clínico
(palpação abdominal) na avaliação dos órgãos intra-abdominais e suas características
(GERSPARCHER-LARA et al. 1998; MARINHO et al., 2006; LAMBERTUCCI, 1993).
É mister chamar a atenção para as alterações radiológicas identificadas pela RM na
avaliação da fibrose periportal e da vasculatura intra-abdominal (em especial as colaterais
em um ambiente de hipertensão porta). Dois estudos recentes abordaram este assunto
(BEZERRA et al., 2007; SILVA, 2007). Aqui também se verifica como a RM mostra de
forma muito mais clara as alterações hepáticas características da esquistossomose
mansônica avançada. A RM não é um método dinâmico como o US e a discordância entre
examinadores é menor (BEZERRRA et al., 2007). O presente estudo é o primeiro a
correlacionar os achados à RM com a histologia hepática. Ou seja, as alterações vistas
nesse método de imagem e chamadas de fibrose periportal foram confirmadas à histologia
com sendo a fibrose de Symmers.
67
7 CONCLUSÕES
Houve concordância moderada entre o ultra-som e a ressonância magnética na
avaliação da intensidade da fibrose periportal;
A ressonância magnética e a histologia identificaram a fibrose periportal em todos
os casos, e o ultra-som, contrário ao que se esperava, deixou de diagnosticar um
caso;
Houve concordância baixa na definição dos graus de fibrose quando o ultra-som foi
comparado à histologia;
Houve concordância baixa na definição dos graus de fibrose quando a ressonância
magnética foi comparada à histologia;
A histomorfometria não separou os indivíduos com fibrose leve dos pacientes com
fibrose grave quando comparada à histologia, ou seja, não distingue os pacientes de
acordo com a avaliação da intensidade da fibrose;
Houve concordância moderada na definição dos graus de fibrose hepática quando o
ultra-som e a ressonância magnética foram comparados à histologia;
Não houve relação entre o tamanho do baço e a intensidade da fibrose hepática e,
entre o grau da fibrose e o número de episódios de hemorragia digestiva alta;
A intensidade da fibrose hepática o se revelou importante na identificação das
formas avançadas da doença. Houve pacientes com fibrose leve que apresentavam
hipertensão porta e indicação cirúrgica;
68
8 PROPOSIÇÕES
Realizar estudos com maior número de casos comparando diferentes métodos de
imagem e a histologia hepática na esquistossomose com o objetivo de se
confirmarem os presentes achados.
Reavaliar a importância de graduar a fibrose hepática em pacientes com
esquistossomose hepatoesplênica, uma vez que pacientes graves, com hipertensão
porta, tiveram sua fibrose classificada como leve.
Estudar os marcadores séricos de fibrose (ácido hialurônico, colágenos e seus
produtos circulantes) e correlacioná-los com a fibrose hepática diagnosticada pelos
métodos de imagem e histologia.
Buscar marcadores ou indicadores não invasivos de hipertensão porta (por
exemplo, contagem de plaquetas) .
69
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of hepatic schistosomiasis mansoni. J Comput Assit Tomogr, v19: p.811-813, 1995.
78
ANEXOS E APÊNDICES
ANEXO A - Padrões ultra-sonográficos de imagem hepática. Originais do Guia Prático
para Avaliação Ultra-sonográfica da Morbidade pela Esquistossomose. [WORLD
HEALTH ORGANIZATION. Ultrasound in schistosomiasis. A practical guide to the
standardized use of ultrasonography for the assessment of schistosomiasis-related
morbidity. UNDP/World Bank/WHO/Special Programme for Research & Training in
Tropical Diseases (TDR). World Health Organization / TDR / STR / SCH document.
Geneva, Switzerland, 2000]. Disponível em:
http://www.who.int/tdr/publications/publications/pdf/ultrasound.pdf
79
80
ANEXO B – Aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa UFMG
81
APÊNDICE A Questionário padronizado para a coleta de dados dos 14 pacientes com
esquistossomose hepatoesplênica avaliados no Centro de Treinamento e Referência em
Doenças Infecciosas e Parasitárias (CTR-DIP Orestes Diniz), no período de junho de 2006
a agosto de 2007.
I) Identificação
II) Entrevista – Exposição à esquistossomose
História epidemiológica positiva sim ( ) não ( ) ign ( )
Tem atividade de eliminação de ovos sim ( ) não ( ) ign ( )
Já teve hemorragia digestiva: sim ( ) não ( ) ign ( )
Número de episódios de HDA ______
Data da 1
a
HDA ____ / ____/ ____ Data da última HDA ____ / ____/ ____
Cirurgia de hipertensão porta: sim ( ) não ( ) ign ( )
Data da cirurgia: ____ / ____/ ____
Indicação da cirurgia: _____________________________________________
Tipo de cirurgia: _________________________________________________
Esplenectomia prévia: sim ( ) não ( ) ign ( )
Data da cirurgia: ____ / ____/ ____
Tratamento prévio para xisto? sim ( ) não ( ) ign ( )
III) Exame físico
Peso (kg) ______ Altura (cm) ______ PA (mmHg) ______ FC (bpm) ______
Fígado: palpável ( ) não palpável ( ) cm do AX ______
Baço: palpável ( ) não palpável ( ) cm do RCE na LHC ______
IV) Exames complementares
Hemograma data ____ / ____ / ____
Hm ______ Hb ______Htc ______VCM ______HCM ______CHCM ______
Plaq _____LG ____ N ____ L_____ E _____M _____ B _____ ASAT _____
HbsAg pos ( ) neg ( ) ign ( ) data ____ / ____ / ____
anti-HBs pos ( ) neg ( ) ign ( ) data ____ / ____ / ____
anti-HBc pos ( ) neg ( ) ign ( ) data ____ / ____ / ____
anti-HCV pos ( ) neg ( ) ign ( ) data ____ / ____ / ____
82
EDA ( ___ / ___ / ___ ):
Varizes esofagianas sim ( ) não ( ) ign ( )
Varizes gástricas sim ( ) não ( ) ign ( )
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Ultra-sonografia ( ____ / ____ / ____)
Fígado:
Dimensão longitudinal LD ________Dimensão longitudinal LE _________
Contornos: liso ( ) lobulado ( ) serrilhado ( )
Fibrose periportal: ausente ( ) leve ( ) moderada ( ) intensa ( )
Padrão de fibrose: A ( ) B ( ) C ( ) D ( ) Dc ( ) E ( ) Ec ( ) F ( )
Presença de colaterais >3mm? sim ( ) não ( )
Quais? _____________________________________________________
Baço: Diâmetro longitudinal do baço ________
RM ( ____ / ____ / ____)
Fígado: Dimensão LD ________ Dimensão LE ________
Contornos: liso ( ) lobulado ( ) serrilhado( )
Fibrose periportal: ausente ( ) leve ( ) moderada ( ) intensa ( )
Padrão de fibrose: A ( ) B ( ) C ( ) D ( ) Dc ( ) E ( ) Ec ( ) F ( )
Presença de colaterais >3mm? sim ( ) não ( )
Quais? _____________________________________________________
Baço: Diâmetro do baço ________
V) Estudo anatomopatológico
Data da biópsia: ( ____ / ____ / ____)
Descrição da lâmina: _______________________________________________________
Presença de fibrose: sim ( ) não ( ) ign ( )
Fibrose periportal: ausente ( ) leve ( ) moderada ( ) intensa ( ) ign ( )
Presença de granuloma: sim ( ) não ( ) ign ( )
Evidência de ovo: sim ( ) não ( ) ign ( )
Hiperplasia da parede arterial: sim ( ) não ( ) ign ( )
Distorção da parede dos vasos: sim ( ) não ( ) ign ( )
Análise quantitativa da fibrose (%)______
83
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Consentimento Esclarecido
Esclarecimento e autorização para inclusão em protocolo de pesquisa.
Aplicado aos pacientes do grupo de estudo – portadores de hipertensão porta de
etiologia esquistossomótica e indicação de intervenção cirúrgica.
Pesquisadora: Izabela Voieta da Silva Teixeira
Introdução: Você está sendo convidado (a) a participar de uma pesquisa denominada:
“MARCADORES DE FIBROSE E INFLAMAÇÃO EM PACIENTES COM
ESQUISTOSSOMOSE HEPATOESPLÊNICA AVANÇADA”
Antes de aceitar participar desta pesquisa clínica, é importante que você leia e compreenda
a seguinte explicação sobre os procedimentos propostos. Esta declaração descreve o
objetivo, procedimentos, benefícios e riscos do estudo e seu direito de sair do estudo a
qualquer momento. Nenhuma garantia ou promessa pode ser feita sobre o resultado do
estudo.
Objetivo: o objetivo deste estudo é correlacionar as alterações do fígado na
esquistossomose (fibrose) comparando marcadores no sangue, imagens vistas nos exames
de ultra-sonografia e ressonância magnética, com os achados à análise da biópsia do fígado
realizada no momento da cirurgia.
Resumo: a esquistossomose (xistose) é uma doença muito freqüente no Brasil e no mundo.
O Schistosoma mansoni é o verme causador. Ele vive dentro das veias do abdome da
pessoa infectada, mas seus ovos podem ir para o fígado e produzir uma inflamação nesse
órgão. Ao longo do tempo essa inflamação se transforma em fibrose cicatriz que pode
levar ao aumento da pressão nos vasos sanguíneos da região do fígado. Esse aumento de
pressão pode levar a aumento do baço, varizes de esôfago, estômago e da região final do
intestino, que podem vir a sangrar. É muito importante identificar o grau de inflamação no
fígado da pessoa doente para que se avaliem os riscos, a evolução da doença, o benefício
do tratamento e a indicação cirúrgica para evitar sangramentos volumosos que podem levar
à morte caso a assistência médica não seja adequada e em tempo hábil. Para isso, o ultra-
som abdominal tem sido utilizado. Procuramos também esclarecer se o exame por
ressonância magnética do abdome não é melhor em determinados casos. No sangue
coletado e na biópsia (retirada de pequeno fragmento do fígado) realizada no momento da
cirurgia, esperamos encontrar também alguns marcadores que nos darão pistas sobre a
presença e o grau de acometimento da doença no fígado.
Procedimentos: para que você participe do nosso estudo é preciso que tenha o diagnóstico
de hipertensão porta causada pela esquistossomose, sem restrição de raça ou sexo e
indicação de cirurgia. As indicações são: varizes de fundo gástrico com risco de
sangramento, baço muito volumoso e com risco de ruptura, anemia incontrolável associada
ou não a plaquetas muito baixas e diminuição importante das células de defesa
(leucócitos). À admissão no estudo, você será submetido a: entrevista, exame físico e
coleta de sangue (uma única vez, 10 mL). Depois, será submetido aos exames de imagem:
ultra-som e ressonância magnética do abdome. Este exame não utiliza nenhum tipo de
84
radioatividade e está contra-indicado em portadores de marcapasso do coração ou clipes de
aneurismas cerebrais (cirurgia para aneurisma da cabeça). No momento da cirurgia do
baço, será realizada biópsia do fígado (retirada de pequeno fragmento) para análise.
Riscos: a injeção de contraste na veia, indispensável para o exame de ressonância
magnética, pode raramente desencadear reação alérgica, que pode vir a ser grave, mesmo
em pessoas que nunca tiveram alergias antes. Caso você desenvolva qualquer efeito
colateral, será tratado prontamente pela equipe do estudo, com medicamento injetável ou
oral e observação clínica por um período de pelo menos seis horas. O risco da biópsia do
fígado é o de sangramento que, diante do tamanho da cirurgia, é previsto pelo cirurgião. A
cirurgia é realizada com a barriga aberta, o que facilita a pronta visualização e correção dos
possíveis sangramentos.
Danos: no caso de você apresentar uma reação adversa durante a realização do estudo,
deverá contatar imediatamente a médica responsável pelo estudo, Dra. Izabela Voieta, pelo
telefone 8835-1707. Caso ela não esteja disponível, entre em contato com algum outro
médico de sua equipe no Hospital das Clínicas da UFMG - tel: 3248-9820 ou 3248-9821
(sala do Prof. Lambertucci) recados com Silvana, secretária do projeto. Caso você sofra
qualquer dano físico como resultado direto de quaisquer dos procedimentos envolvidos,
você receberá todos os cuidados médicos providos pelo Hospital das Clínicas da UFMG.
Ao participar, você concorda em cooperar com qualquer convênio médico ou seguro
médico disponível a você em relação a estes cuidados médicos. Você o abrirá mão de
seus direitos legais ao assinar o termo de consentimento informado.
Benefícios: não haverá benefício pessoal imediato com a sua participação na pesquisa.
Confidencialidade: os registros de sua participação neste estudo serão mantidos
confidencialmente até onde é permitido por lei. No entanto, o pesquisador e, sob certas
circunstâncias, o Comitê de Ética em Pesquisa/UFMG, poderão verificar e ter acesso aos
dados confidenciais que o identificam pelo nome. Qualquer publicação dos dados não o
identificará. Ao assinar este formulário de consentimento, você autoriza o pesquisador a
fornecer seus registros médicos para o Comitê de Ética em Pesquisa/ UFMG.
Desligamento: a sua participação neste estudo é voluntária e sua recusa em participar ou
seu desligamento do estudo não envolverá penalidades Você poderá cessar sua
participação a qualquer momento, sem afetar seu acompanhamento médico em andamento.
Seu médico poderá finalizar sua participação neste programa de pesquisa se forem
identificadas outras causas de doença em seu fígado ou se o programa for cancelado por
questões administrativas.
Novas descobertas: todos os novos achados descobertos durante a realização desta
pesquisa que possam influenciar seu desejo em continuar a participar deste estudo serão
fornecidos a você assim que tais informações se tornarem disponíveis.
Compensação: você não receberá qualquer compensação financeira por sua participação
no estudo.
Contato com a Comissão de Ética: durante o estudo, se você tiver qualquer dúvida ou
apresentar qualquer problema médico relacionado à esquistossomose, contate a Dra.
Izabela Voieta no telefone 8835-1707, Faculdade de Medicina 3248-9820 (laboratório
Secretária Silvana) ou o Comitê de Ética: telefone (31) 3499-4592 (endereço Av. Antonio
Carlos, 6627, Unidade Administrativa 2, 2º andar, sala 2005).
Consentimento: li e entendi as informações precedentes. Tive a oportunidade de fazer
perguntas e todas as minhas dúvidas foram respondidas a contento. Este formulário está
85
sendo assinado voluntariamente por mim, indicando o meu consentimento para participar
do estudo até que eu decida o contrário. Receberei uma cópia assinada deste
consentimento.
Belo Horizonte, _____de __________________________ de __________.
______________________________
Assinatura do paciente
______________________________
Assinatura da testemunha
______________________________
Assinatura do pesquisador.
86
FIGURA 5 – Fígado e baço em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica
Fonte: do autor
.
87
FIGURA 6 – Ultra-som em pacientes com esquistossomose hepatoesplênica.
A: Bandas hiperecogênicas ao longo dos tratos portais
B: Esplenomegalia volumosa
Fonte: do autor.
88
FIGURA 7 – Ressonância magnética em pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica.
A: Esplenomegalia volumosa
B: Hipointensidade do sinal perivesicular
C - D: Corte à ressonância magnética - axial ponderado em T2 – áreas hiperintensas ao
longo dos tratos portais que representam a fibrose periportal.
Fonte: do autor.
B
C
D
A
89
FIGURA 8 - Prancha da OMS para ultra-sonografia (coluna do meio), imagem
correspondente ao ultra-som (coluna da direita), imagem correspondente à ressonância
magnética (coluna da esquerda).
90
FIGURA 9 - Aspecto macroscópico do fígado em pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica.
Fonte: do autor.
91
FIGURA 10 - Aspecto macroscópico do baço em pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica.
Fonte: do autor.
92
FIGURA 11 – Histologia hepática em pacientes com esquistossomose
hepatoesplênica. Lâminas coradas em HE e Picrossirius vermelho.
Fonte: do autor.
A- Fibrose septal fina associada a ovos calcificados e enfileirados ao longo do tecido
fibroso;
B- Ovos calcificados;
C- Fibrose periportal. Hiperplasia arterial;
D- Granuloma esquistossomótico;
E- Fibrose periportal, parênquima hepático preservado;
F- Coloração: Picrossirius vermelho. Fibrose hepática corada em vermelho.
A B
C D
E F
93
APÊNDICE D – Resultados dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica
examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
TABELA 7
Proporções de pacientes classificados como portadores de fibrose hepática leve e grave nos
três métodos de avaliação, ultra-som, ressonância magnética e histologia (agrupadas as
formas leve e ausente: chamadas de leve; moderada e intensa: chamada de grave)
Graus de fibrose
Métodos Leve Grave % Grave
US
RM
Histologia
2
1
2
12
13
12
0,83
0,92
0,83
P = 0,79; χ² = 0,45.
TABELA 8
Concordância entre os métodos de imagem (ultra-som e ressonância magnética) na
avaliação dos 14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica classificados como
fibrose hepática leve e grave, examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz,
no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Ultra-som Ressonância magnética
Leve Grave
Leve 1 0
Grave 1 12
Kappa = 0,63 (IC 95% 0,14 – 1,12).
TABELA 9
Concordância entre o ultra-som e a ressonância magnética na avaliação dos 14 pacientes
com esquistossomose hepatoesplênica classificados como fibrose hepática leve e grave,
examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz, no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Ultra-som Histologia
Leve Grave
Leve 0 2
Grave 2 10
Kappa = -0,17 (IC 95% -0,69 – 0,36).
94
TABELA 10
Concordância entre os métodos ressonância magnética e histologia na avaliação dos
14 pacientes com esquistossomose hepatoesplênica classificados como fibrose hepática
leve e grave, examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz,
no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Ressonância magnética Histologia
Leve Grave
Leve 0 2
Grave 1 11
Kappa = -0,11 (IC 95% -0,59 – 0,38).
TABELA 11
Concordância entre a histologia e os métodos de imagem (ultra-som + ressonância
magnética), excluído o paciente discordante na classificação da intensidade da fibrose
hepática leve e grave nos métodos de imagem
Imagem (US = RM) Histologia
Leve Grave
Leve 1 1
Grave 1 10
Kappa = 0,41 (IC 95% -0,14 – 0,95).
TABELA 12
Comparação entre o número de episódios de hemorragia digestiva alta (HDA) e a
avaliação da intensidade da fibrose à avaliação histológica dos 14 pacientes portadores de
esquistossomose hepatoesplênica examinados no CTR-DIP, Orestes Diniz,
no período de junho de 2006 a agosto de 2007
Histologia Nº episódios HDA
Leve Moderada Intensa
Nenhum
Um
Dois
Três
Quatro ou mais
0
1 (50%)
0
1 (50%)
0
1 (14%)
5 (71%)
0
0
1 (14%)
1 (20%)
0
1 (20%)
2 (40%)
1 (20%)
p teste exato de Fisher = 0,10.
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