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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
HIDRELÉTRICA DE JIRAU E OS IMPACTOS SÓCIO-
AMBIENTAIS NO ALTO RIO MADEIRA: ANÁLISE DA
CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL
Mestranda: Josélia Fontenele Batista Cabral
Orientador: Prof. Dr. Dorisvalder Dias Nunes
Porto Velho- RO, 2007.
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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
NÚCLEO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO
REGIONAL E MEIO AMBIENTE
HIDRELÉTRICA DE JIRAU E OS IMPACTOS SÓCIO-
AMBIENTAIS NO ALTO RIO MADEIRA: ANÁLISE DA
CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação em Desenvolvimento Regional e Meio
Ambiente da Universidade Federal de Rondônia
como requisito para obtenção do título de Mestre em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente sob
orientação do Prof. Dr. Dorisvalder Dias Nunes
Porto Velho- RO, 2007.
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Cabral, Josélia Fontenele Batista
HIDRELÉTRICA DE JIRAU E OS IMPACTOS SÓCIO-
AMBIENTAIS NO ALTO RIO MADEIRA – ANÁLISE DA
CONFIGURAÇÃO TERRITORIAL./Josélia Fontenele Batista
Cabral. – Porto Velho, RO:UNIR, 2007. 140 fls.
Orientador: Prof. Dr. Dorisvalder Dias Nunes.
Dissertação de Mestrado – Fundação Universidade Federal de
Rondônia, Porto Velho/ Programa de Pós Graduação em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
RESUMO
O objetivo principal deste trabalho foi contribuir para a discussão dos impactos
ambientais a partir configuração territorial do alto Rio Madeira e suas possíveis
alterações com a Construção do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau, apresentando
a configuração territorial como elemento a ser considerado para o estabelecimento
de áreas de influência de empreendimentos de grande envergadura.A problemática
desta pesquisa é evidenciada quando verificamos que a compartimentação dos
impactos decorrentes da implementação do Complexo de Hidrelétricas e Eclusas no
Alto Madeira, foca com mais propriedade, aqueles localizados a jusante, não
apontando áreas transicionais e fluxos locais. Iniciamos nossa investigação com a
discussão do conceito de Horizontalidades e Verticalidades e Configuração
Territorial, a partir dos quais repensamos a proposta de compartimentação e
alteração da realidade a ser influenciada pelo empreendimento. Elaboramos a
caracterização da área de estudo com uso das técnicas de análise espacial, com a
qual traçamos os padrões de uso e ocupação das terras no Alto Rio Madeira em
relação ao sistema geomorfodinâmico predominante. Realizamos uma apreciação
do processo de formação socioeconômica da área, o que nos auxilia a entender a
organização hoje estabelecida. Analisamos a atual sócio-economia com destaque
para a vulnerabilidade sócio-ambiental das populações da área e os fluxos
comerciais, buscando um conjunto consistente de informações sobre a sociedade e
o meio ambiente, associando-as, uma vez que, em nosso entendimento, são
complementares. As considerações sobre a configuração territorial tomam base nas
considerações sobre o funcionamento do sistema territorial em termos de pontos de
convergência da população e fluxos estabelecidos. Pudemos expor a configuração
diferenciando cinco áreas distintas quanto a sua dinâmica interna e focando os
pontos de convergência dos fluxos territoriais. Associado a estas informações foram
traçados dois panoramas de impactos possíveis. Quanto a compartimentação
territorial em termos de Áreas de Influência, indicamos que sejam revistas às
concepções propostas no PHEAM e que em Jaci-Paraná seja instituída área
transicional de impactos sinérgicos.
Palavras-chave: Hidrelétrica de Jirau. Impactos Sócio-ambientais. Configuração
Territorial. Áreas de Influência.
ABSTRACT
This work intends to contribute to the discussion about the environmental impacts
considering the territorial configuration of Alto Rio Madeira and its possible alterations
with the Construction of Jirau’s Hydroelectric Use, presenting the territorial
configuration as element to be considered for the establishment of areas of influence
for great enterprises. The Problematization of this research is evidenced when we
verify that the compartmentation of the current impacts of the implementation of the
Hydroelectric Complex and floodgates in the Alto Madeira, focuses properly, those
located downstream, not pointing transitional areas and local flows. The investigation
began with the discussion of the concept of Horizontality and Verticality and
Territorial Configuration, starting from which we rethought the compartmentation
proposal and the reality alteration to be influenced by the enterprise. We elaborated
the characterization of the study area using techniques of space analysis, with which
we traced the use patterns and land occupation in the Alto Rio Madeira in relation to
the predominant geomorfodynamic system. We accomplished an appreciation of the
socioeconomic formation process of the area, what aids us to understand the
organization today established. We analyzed the current socio-economy with
prominence for the partner-environmental vulnerability of the populations of the area
and the commercial flows, in search of a consistent group of information on the
society and the environment, associating them, once, in our understanding, they
complement one another. The considerations about the territorial configuration have
as a base the considerations on the operation of the territorial system in terms of
population convergence points and the established flows. We could expose the
configuration differentiating five distinct areas considering its internal dynamics and
focusing the convergence points of the territorial flows. Associated to this information
two panoramas of possible impacts were traced. In relation to the territorial
compartmentation in terms of Areas of Influence, we indicate a revision in the
conceptions proposed in the PHEAM and that in Jaci-Paraná a transitional area of
synergic impacts is instituted.
Key-Words: of Jirau’s Hydroelectric. Socio-environmental impacts. Territorial
configuration. Areas of Influence.
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me feito assim, com qualidades e defeitos, mas, me oportuniza a
reflexão para que me torne uma pessoa melhor.
A minha mãe, exemplo de luta e vitórias.
Ao meu esposo Ivanilson que sempre me motiva a concluir da melhor forma,
meus projetos.
Ao meu filho André que me motiva a ser feliz.
A minha sogra Raimunda com quem compartilho os cuidados e o amor de meu
filho, dando-me tranqüilidade para concluir meus trabalhos.
Ao Prof. Dr. Dorisvalder Dias Nunes, orientador e incentivador que me abriu as
portas do LABOGEOPA, local de minha iniciação científica e primordial para que eu
pudesse me tornar na profissional que sou hoje.
Ao Prof. Ms. Ricardo Gilson da Silva, colega com quem compartilhei as angústias
Miltonianas.
Ao Meu amigo Joiada Moreira da Silva, companheiro na graduação e que ao
concluir este curso primeiro que eu, deu-me exemplo de força de vontade e
dedicação.
Ao Amigo Cleyton, pela atenção e produtivas conversas.
Ao Marcelo Longo de Oliveira, sócio de meu esposo e que abriu mão de sua
privacidade no escritório para me dar um espaço para produzir esta dissertação.
A todos os colegas do LABOGEOPA/UNIR com os quais dialoguei e pude
enriquecer minhas argumentações.
A minha amiga Maranei Hohes Penha, boa ouvinte e incentivadora.
As minhas colegas de trabalho da SEDUC, Lúcia, Sônia e Alice que me
incentivaram a tomar as decisões certas e torcem por minha vitória.
A minha chefe, Márcia de Lourdes Cassol, que soube compreender a importância
deste processo na minha formação profissional e concedeu-me liberação das
atividades.
A Fundação Universidade Federal de Rondônia que me oportunizou ricos
momentos de aprendizado.
A todos, que de alguma forma, contribuíram para que este trabalho fosse
concluído.
Aos que mesmo entre tormentas,
acreditam que o sol tornará a iluminar
seus caminhos.
SIGLAS
AHE – Aproveitamento Hidrelétrico
AID – Área de Influência Direta
AII – Área de Influência Indireta
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
CGEE – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CMB – Comissão Mundial de Barragens
CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente
DSG-Exército – Departamento de Serviços Geográficos do Exército
EFMM – Estrada de Ferro Madeira Mamoré
EIA – Estudo de Impacto Ambiental
ELETRONORTE – Centrais Elétricas do Norte do Brasil
EMBRAGEO – Empresa Brasileira de Geoprocessamento
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
FURNAS – Furnas Centrais Elétricas SA
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDEC – Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
LABOGEOPA – Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental
MA. – milhões de anos
MW - Megawatt (MW) é uma unidade de medida correspondente a 10
6
watts.
1 MW = 1 000 000 W
ONS – Operador Nacional do Sistema
PHEAM – Projeto de Hidrelétricas e Eclusas do Alto Madeira
RIMA – Relatório de Impacto Ambiental
SAE – Secretaria de Assuntos Estratégicos
SEDAM – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental
SIN – Sistema Interligado Nacional
SNIU - Sistema Nacional de Indicadores Urbanos
TI – Terra Indígena
UC – Unidade de Conservação
UNIR – Fundação Universidade Federal de Rondônia
ZEE - Zoneamento Sócio-Econômico-Ecológico
LISTAS DE FIGURAS, GRÁFICOS, QUADROS E TABELAS
FIGURAS
Figura 01 – Localização da Área de Estudo .................................................................... 20
Figura 02 - Localização da Área de Influência Direta (AID) e da Área de Estudo do
AHE Jirau ............................................................................................................. 23
Figura 03 – Projeção de demanda de mão-de-obra para os empreendimentos Jirau e
Santo Antônio ...................................................................................................... 25
Figura 04- Modelos de Configuração Territorial Manifestas na Amazônia ..................... 45
Figura 05 - Esquema de diferenciação entre as proposições de previsão e prospectiva
.............................................................................................................................. 53
Figura 06 – Organograma de Operacionalização do Trabalho de Pesquisa .................... 64
Figura 07 – Espacialização dos Diversos Padrões de Ocupação das Terras no Alto
Madeira ................................................................................................................ 73
Figura 08 – Cartograma de Fluxos Hidroviários para o Alto Madeira – Século XVII ....... 79
Figura 09 – Cartograma de Fluxos no Alto Madeira com Sobreposição dos Modais
Hidroviário (Séc. XVII) e Ferroviário (Séc. XX) .................................................... 81
Figura 10 – Cartograma de Fluxos no Alto Madeira com Sobreposição dos Modais
Hidroviário (Séc. XVI), Ferroviário e Rodoviário (Séc. XX) .................................. 82
Figura 11 – Configuração Territorial Resultante das Possibilidades de Modal de
Transporte no Alto Rio Madeira ........................................................................... 83
Figura 12 -Cartograma de Vulnerabilidade conferida a partir das condições de
saneamento ......................................................................................................... 91
Figura 13 – Cartograma de Vulnerabilidade atribuída por insuficiência de capacidade
técnica e financeira .............................................................................................. 93
Figura 14 – Configuração Territorial do Alto Rio Madeira – Diferenciação de Áreas e
Sistema Territorial ................................................................................................ 110
Figura 15 – Panorama 1 – Espacialização da Antropização com Ineficiência ou
Inexistência de Políticas de Gestão Territorial ...................................................... 113
Figura 16 - Panorama 2 – Espacialização da Antropização com Eficiência de Políticas
de Gestão Territorial ............................................................................................. 114
Figura 17 – Cartograma de Diferenciação de Áreas de Influência com Indicação de
Áreas Transicionais de Impactos Sinérgicos ........................................................ 116
GRÁFICOS
Gráfico 01 - Média Anual das Precipitações no Município de Porto Velho (1976 a
2000) .................................................................................................................... 70
Gráfico 02 - Relação Entre os Níveis Pluviométricos e Fluviométricos do Rio Madeira . 70
Gráfico 03 - Desmatamento em Rondônia (1978-2000) .................................................. 86
Gráfico 04 – Contribuição Setorial do PIB de Porto Velho para o PIB de Rondônia (%) 94
Gráfico 05 – categoria dos Responsáveis pelas Famílias – Abunã ................................ 95
Gráfico 06 – Principal Fonte de Renda – Abunã ............................................................ 96
Gráfico 07 – Fluxos a partir do Distrito de Abunã ............................................................ 96
Gráfico 08 – Categoria dos Responsáveis pelas Famílias – Mutum Paraná .................. 97
Gráfico 09 – Principal Fonte de Renda – Mutum Paraná ................................................ 88
Gráfico 10 – Fluxos a partir do Distrito de Mutum Paraná ............................................... 99
Gráfico 11 – Fluxos a partir do Distrito de Jaci-Paraná ................................................... 100
Gráfico 12 – Categoria dos Responsáveis pelas Famílias – Jaci-Paraná ....................... 101
Gráfico 13 – Principal Fonte de Renda – Jaci Paraná ..................................................... 102
QUADROS
Quadro 01 – Medidas Mitigadoras Segundo o Foco de Atuação ..................................... 26
Quadro 02 – Características das Verticalidades e Horizontalidades ............................... 34
Quadro 03 – Intercâmbio Inter-Regionais no SIN (MWh) ................................................ 35
Quadro 04 – Parâmetros de Análise das Imagens de Satélite ........................................ 58
Quadro 05 – Representação da População por Domicílio, do Alto Rio Madeira pelos
dados Primários segunda as Áreas de Influência ................................................ 62
Quadro 06 – Esquema Metodológico para Análise da Configuração Territorial do Alto
Rio Madeira .......................................................................................................... 62
Quadro 07 – Avaliação de Impactos sócio-ambientais ................................................... 63
Quadro 08 - Evolução do Nível Educacional – Município de Porto Velho ....................... 92
Quadro 09 – Prospecção de Impactos na Configuração Territorial do Alto Rio Madeira 112
Quadro 10 – Sistematização de Direcionamento dos Fluxos comerciais no Alto
Madeira por Ordem de Destino ............................................................................. 115
Quadro 11 – Prospecção de Impactos nos Elementos do Sistema Territorial do Alto
Rio Madeira .......................................................................................................... 118
TABELAS
Tabela 01 - Crescimento da População de Rondônia (1950/2000) ................................. 85
Tabela 2- População residente segundo a contagem rápida e o Censo demográfico
Porto Velho – 1996/2000 ..................................................................................... 87
Tabela 03 - Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente,
segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação - 1950/2000 ............... 87
Tabela 04 – População Residente no Alto Rio Madeira de Porto Velho – 2000 .............. 89
SUMÁRIO
Lista de Siglas
Listas de Figuras, Gráficos, Quadros e Tabelas
1 Introdução ........................................................................................................ 13
1.1 Motivação: a relevância do estudo ........................................................... 16
2 A Problemática e o Referencial Teórico ........................................................... 19
2.1 A Problemática ......................................................................................... 19
2.2 Objetivos ................................................................................................... 30
2.3 Referencial Teórico .................................................................................. 30
2.3.1 Verticalidade e Horizontalidade .................................................... 32
2.3.2 Configuração Territorial, Paisagem e Análise Espacial ................ 40
2.3.3 O Sistema Territorial ..................................................................... 43
2.3.4 Meio Ambiente, Recursos e Vulnerabilidade Sócio-Ambiental ..... 47
2.3.5 Prospectiva/Previsão de Impactos ................................................ 50
3 Metodologia ...................................................................................................... 56
4 Caracterização da Área de Estudo ................................................................... 65
4.1 Alto Rio Madeira: Processos Geomorfodinâmicos e Ocupação das
Terras ............................................................................................................. 65
4.2 O Processo Histórico de Formação Socioeconômica do Alto Madeira
........................................................................................................................ 78
4.3 A Sócio-economia do Alto Madeira .......................................................... 87
5 Configuração Territorial do Alto Rio Madeira – Quadro Situacional e
Panoramas Futuros ............................................................................................. 104
6 Conclusão ......................................................................................................... 121
Bibliografia ............................................................................................................ 123
1 Introdução
Grandes Hidrelétricas constituem materialização territorial das políticas que
objetivam a adequação e reestruturação dos lugares às necessidades energéticas,
para manter padrões de desenvolvimento e crescimento econômico. Na medida em
que temos fatores econômicos, científicos e informacionais aumentando a
interdependência entre os lugares, novos objetos técnicos são inseridos, e
interferem na organização do campo operatório da sociedade (Santos, 1991;
Raffestin, 1993).
Neste processo de inserção de objetos técnicos, fixos pré-existentes são
resignificados, fluxos são reorganizados, altera-se o sistema territorial que expressa
novas configurações e se confrontam lógicas exógenas e endógenas nos lugares de
implantação.
O conhecimento da realidade regional e local anterior à instalação de obras
de grande envergadura constituem procedimentos de importância fundamental para
uma avaliação dos impactos, privilegiando uma visão integral do fenômeno.
As experiências de construção de hidrelétricas na Amazônia, demonstram
que a relação entre as populações locais e os projetos hidrelétricos têm sido
realizados de maneira que o desenvolvimento local e o regional não se
compatibilizam e, neste sentido, a construção das usinas hidrelétricas de Tucuruí e
Balbina são exemplares. Entretando, um diferencial é inserido na proposta do
Projeto de Construção do Complexo de Hidrelétricas e Eclusas no Alto Rio Madeira
–PHEAM: a produção energética a fio d’água, que diminuirá o reservatório e
conseqüentemente parte de seus impactos.
14
Entendemos que o conjunto de impactos sócio-ambientais decorrentes
deste tipo de empreendimento tem várias dimensões e nos propomos a investigar a
dimensão da configuração territorial da área onde será inserido o Aproveitamento
Hidrelétrico – Jirau, contribuindo para estudos de impacto ambiental e discutir a
compartimentação das Áreas de Influência do PHEAM.
A estrutura redacional deste trabalho divide-se em seis capítulos. O primeiro
contém a introdução da dissertação, apresenta as idéias gerais do trabalho, bem
como a motivação e relevância do estudo. No segundo capítulo apresentamos a
problemática da pesquisa e o referencial teórico, dentre os quais destacamos como
essenciais: os conceitos de Verticalidade, Horizontalidade e Configuração Territorial.
No terceiro capítulo destacamos o percurso metodológico da pesquisa, onde
nos apoiamos na técnica de análise espacial que busca, através dos padrões de
ocupação de terras, propiciar a interpretação sobre a dinâmica socioeconômica e
espaciliazação das atividades produtivas. Com os dados primários e secundários
buscou-se ratificar a leitura sobre esta dinâmica socioeconômica e contribuem para
uma leitura abrangente da configuração territorial e dos fluxos no Alto Rio Madeira.
No quarto capítulo estão expressas as análises da caracterização da área
de estudo, fazendo parte desta: os processos geomorfodinâmicos e ocupação das
terras; o processo histórico de formação e atual quadro socioeconômico do Alto
Madeira. Os elementos desta caracterização contribuem para a interpretação da
configuração territorial que é descrita no quinto capítulo.
O capítulo quinto apresenta a configuração territorial, discutindo-se sua
representação em cartograma. Em quadros são sistematizadas as discussões sobre
os elementos desta configuração bem como os panoramas futuros de impactos
sócio-ambientais. Estas análises ocorrem a partir da diferenciação de áreas do Alto
15
Rio Madeira e do desempenho do sistema territorial ante à verticalidade do AHE-
Jirau. Neste capítulo os fluxos comerciais são analisados e corroboram para a
revisão da proposta de Áreas de Influência do PHEAM na medida em que indicam a
existência de uma relação direta entre áreas de influência dos AHE Jirau e Santo
Antônio.
No sexto capítulo, nos dedicamos às conclusões da pesquisa fazendo uma
revisão das proposições e resultados, alertando para a necessidade de se planejar
medidas mitigadoras específicas para cada área diferenciada no Alto Rio Madeira e
reprojetar as áreas de influência, considerando a existência de áreas transicionais
de impactos sinérgicos.
16
1 .1 Motivação: a relevância do estudo
Nossa trajetória de pesquisas científicas teve início em 1997, na Fundação
Universidade Federal de Rondônia, quando integramos a equipe do Laboratório de
Geografia e Planejamento Ambiental na qualidade de bolsista do Programa
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica. Naquela época a linha de pesquisa
era Gestão Ambiental, cuja ênfase estava centrada nos impactos ambientais a
serem desencadeados pela implantação do Projeto de Hidrelétricas e Eclusas do
Alto Madeira - PHEAM.
Entre os resultados deste processo de pesquisa, percebemos que muitos
impactos advindos de obras de engenharia de grande porte resultam de uma
interferência na configuração territorial a partir de uma visão horizontal ou oblíqua
das áreas de influência, fazendo com que a noção de conjunto ou de sistema seja
limitada (Martinelli & Pedrotti, 2001).
Para uma melhor compreensão dos territórios, podemos considerá-los como
integrantes de um sistema territorial constituído pelo conjunto de agrupamentos
sociais, os pontos, que fazem parte de um sistema que funciona por meio de fluxos
(Santos, 1991; Raffestin, 1993). A manifestação empírica deste sistema territorial
pode ser melhor percebida quando a análise da paisagem ocorre a partir de um
posicionamento do observador num ângulo vertical, o que é permitido com o uso de
imagens de satélite, fotografias aéreas, entre outros.
Esta análise quase zenital
1
da paisagem permite um olhar mais abrangente
sobre o funcionamento do sistema territorial que se materializa com determinada
1
Diz respeito ao Zênite que é o ponto da terra situado na vertical, sobre a posição do navegador.
(Silva, 2006)
17
configuração e pode subsidiar políticas para a organização do espaço de forma que
se conciliem usos múltiplos do território.
A configuração territorial é a soma entre o território e o conjunto de objetos
(naturais ou artificiais) e a paisagem é reveladora deste conjunto aparentemente
inerte, mas que reflete a dinâmica social (Martinelli & Pedrotti, 2001; Fajardo,2005).
Assim como o território não é homogêneo não são também os impactos
ambientais das ações intervenientes no sistema territorial, isto porque, os elementos
sociais e ecológicos que o compõe têm suas peculiaridades de “lugar para lugar” e,
se tratadas adequadamente, podem minorar o choque entre a organização espacial
processual existente (interna) e as novas organizações a serem promovidas de
forma abrupta (externa).
Nesta ótica de sobreposição de organizações (internas e externas) a se
configurar sobre o Alto Rio Madeira os atores responsáveis pelos empreendimentos
e gestores públicos, em especial o município - visto como ordenador jurídico-político-
territorial (Rückert, 2004) e representante conciliador dos vários segmentos da
sociedade local, devem traçar planos e programas para antes, durante e depois das
construções e, para isso devem considerar a noção de previsibilidade (Ab’ Saber &
Müller-Plantenberg, 1998) e estudos prospectivos.
Entendemos que grande parcela da sociedade brasileira aprendeu com
fatos passados, acumulou conhecimento, aprimorou técnicas e legislações e pode
tomar novas atitudes ante aos projetos desta envergadura; é inadequado fazer
previsões catastróficas ou super otimistas uma vez que o diferencial quanto aos
impactos sociais e ecológicos a serem desencadeados correspondem a um conjunto
de medidas a serem implementadas e que devem considerar fatores internos e
18
externos que, associados, conferem à população e ao meio ambiente, determinadas
características e representam certa vulnerabilidade.
O estudo dos impactos da construção do Aproveitamento Hidrelétrico de
Jirau sobre a configuração territorial do Alto Rio Madeira tem seu foco nos distritos
justafluviais ao rio Madeira, a montante de Porto Velho, quais sejam: Abunã, Mutum
Paraná e Jaci-Paraná.
As análises neste trabalho podem subsidiar os atores públicos e privados na
tomada de decisões para que os problemas que geralmente ocorrem com a
construção de hidrelétricas, como as que foram identificadas por Bortoleto (2001),
Colito (1999), CMB (1999), Reis & Bloemer (2001), e Jong (1993) não se
concretizem em Porto Velho, além de auxiliar discussões acadêmicas e institucionais
sobre o tema.
19
2 A Problemática e o Referencial Teórico
2.1 A problemática
A construção do Projeto de Hidrelétricas e Eclusas do Alto Madeira- PHEAM
objetiva principalmente a produção energética para adição de cerca 6.450 MW ao
sistema energético nacional o que, segundo Furnas e a Construtora Norberto
Odebrecht S.A. (Furnas, 2005a), ocorrerá a fio d’água. Os barramentos prevêem
eclusas acopladas aos reservatórios para o aumento de extensão da Hidrovia do
Madeira.
O PHEAM aponta para a utilização das intrusões graníticas que
caracterizam as cachoeiras de Santo Antônio e Jirau como o local de instalação das
Hidrelétricas/Eclusas onde a produção energética ocorrerá a partir do
aproveitamento do desnível do relevo e volume de água do rio, proporcionando o
aproveitamento a fio d’água que se caracteriza pela não formação de reservatórios,
ou reservatórios menores que os associados a hidrelétricas tradicionais.
No caso do PHEAM, este reservatório corresponderia à manutenção
permanente dos níveis de cheia máxima, sendo o alagamento constante das
marginais do rio Madeira ao nível de 90,00m de cota a montante de Jirau e 70 m de
cota a montante de Santo Antônio, permitindo o uso de embarcações até a foz (Beni
e Mamoré), na fronteira com a Bolívia (Furnas, 2005a).
As hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau serão construídas nas cachoeiras
homônimas e se localizam, respectivamente na área urbana de Porto Velho e
Distrito de Jaci-Paraná com produção energética prevista em 3.150 MW em Santo
Antônio e 3.300 MW em Jirau. (Furnas,op. cit.).
20
Nesta pesquisa, nosso foco é o Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau, pois,
sua área de abrangência, alto rio Madeira (Figura 1), apresenta menos variáveis
socioambientais que o Distrito de Porto Velho, que será mais impactado pelo
Aproveitamento Hidrelétrico de Santo Antônio, permitindo uma melhor análise de sua
configuração territorial.
63º
63º
64º
64º
65º
65º
66º
10º
10º
11º 11º
12º
12º
13º 13º
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0
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Localização d a área no
Estado de Rondônia
7
2
°
6
6
°
6
0
°
5
4
°
4
8
°
42°
3
6
°
0
°
6
°
1
2
°
1
8
°
2
4
°
30°
72° 66°
6
0
°
5
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4
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4
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3
6
°
0
°
6
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1
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2
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Localização do
Estado de Rondônia
Porto Ve lho
Mutunparaná
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Abunã
Vista Alegre do Abunã
Nova Califórnia
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São Carlos
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Curicaca
Santa Catarina
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Nazaré
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63°
63°
08°
08°
30’
30’
Ilha Curicacas
Ilha Tira Fogo
Ilha Assunção
Ilha Calama
Vila de
Teotônio
Vila de
Cojubim grande
Terra C aíd a
Vila de
São Miguel
Vila de
Teotô nio
São Carlos
Porto Velho
64°
09°
30’
30’
Ilha Muruins
Ilha Jamarizinho
Ilha Muruins
Cach.
de Teotônio
Cach.
de Santo Antônio
Cach.
do Inferno
Ilhas do Jac ipara ná
Área Indígena
dos Karitiana
Nova Califórnia
Jaciparaná
30’
30’
Ilha Liverpool
Ilha Niterói
Ilha Santana
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A
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A
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Demarcação
A
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Extrema
Vista Alegre
do Abunã
Fortaleza do
Abunã
Mutumparaná
64°
10°
10°
66°
30’
30’
30’
30’
30’
Mutum Para
Abunã
B
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V
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66°
65°
09°
010KM 10
Escala Gráfica
20 30 40KM
N
30’
Jaci - Paraná
Mutum Paraná
Abunã
Fig. 01 – Localização da área de estudo.
Fonte: Organizado pela autora com base em DSG/Exército e IBGE (1999b).
A problemática desta pesquisa foca duas questões associadas: alterações
na configuração territorial como impacto do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau e a
compartimentação das Áreas de Influência afetas ao PHEAM desconsiderando
áreas transicionais e a atual configuração do Alto Rio Madeira.
Obras de engenharia de grande envergadura, neste caso as hidrelétricas,
alteram a configuração territorial das áreas onde se instalam. Tais empreendimentos
agem nos locais de sua instalação como verticalidades que reestruturam a lógica
local, re-configuram e re-significam os usos do sistema territorial composto pelas
redes física e imaterial e relocam os pontos de convergência de movimentos sobre o
território (pontos nodais) (Raffestin, 1993).
21
Santos (1996) denomina verticalidade como sendo “uma racionalidade
superior e do discurso pragmático dos setores hegemônicos, criando um cotidiano
obediente e disciplinado”. (Ibidem., p.227). Esta racionalidade é entendida como
superior não por ser melhor ou ideal, mas por ser imposta por atores hegemônicos
na medida em que a ação já está definida.
Os processos de globalização implicam na seleção e controle territorial para
manifestação nacional de capitais internacionais, nisto podemos dizer que “ações
hegemônicas se estabelecem e se realizam por intermédio de objetos hegemônicos”
(Santos, 2005, p.148), objetos estes que vão promover reorganização produtiva
movendo forças de regulação denominadas horizontalidade e verticalidade.
A construção de grandes projetos infra-estruturais geram uma série de
alterações em nível social e ecológico e com a ocorrência de diversas interpretações
superficiais das terminologias “impacto ambiental” e “áreas de influência direta e
indireta”, verificamos um tratamento meramente burocrático e quantitativo das
variáveis ecológicas e sociais, onde não se consideram os fluxos geradores de
horizontalidades, ou seja, de “domínios da contigüidade, daqueles lugares vizinhos
reunidos por uma continuidade territorial”. (Santos, 2005, p.139).
Quando não se considera a noção de interligação entre os espaços imprimi-
se a idéia de que os impactos destes empreendimentos são tão localizados que
podem ser limitados a porções de terra estimadas em poucos quilômetros, o que não
é verdade; ignora-se a concepção de espaço contínuo a partir dos fluxos e da
presença das horizontalidades abordadas por Santos (1996) em que há uma
tendência dos lugares em se reorganizar horizontalmente consolidando coesão e se
opondo as tendências verticalizantes. Isto é mais evidente quando se analisa a
definição de área de influência direta – AID como sendo a
22
área necessária à implantação de obras/atividades, bem como aquelas que
envolvem a infra-estrutura de operacionalização de testes, plantios,
armazenamento, transporte, distribuição de produtos/insumos/água, além
da área de administração, residência dos envolvidos no projeto e
entorno. (BRASIL,2002).
Nos documentos de Furnas (2005a; 2005b) a limitação da Área de
Influência Direta faz diferenciação para ecologia e sócio-economia da seguinte
forma, respectivamente:
A área de inundação do reservatório na sua cota máxima acrescida da área
de preservação permanente em projeção horizontal, bem como outras
áreas contínuas de relevante importância ecológica, além das áreas
situadas a jusante da barragem em uma extensão a ser definida pelo
estudo. Para os estudos socioeconômicos, deverá ser considerada a área
do município de Porto Velho necessária para a implantação do
empreendimento e outras localizadas a jusante da barragem, numa faixa a
ser definida pelo estudo, considerando o impacto nas comunidades
ribeirinhas. Furnas (2005b, p. III-6)
Furnas operacionaliza sua concepção sobre a AID indicando impactos do
AHE-Jirau que ocorrerão a montante e apesar de mencionar o termo “jusante” não
os alude (Figura 02). Também não aponta para áreas transicionais e numa maior
preocupação com a população afetada pelo alagamento na AID ecológica, executa
junto a esta, censo demográfico. Nas áreas circunvizinhas (Abunã, Mutum Paraná e
Jaci-Paraná) realiza amostragem e no caso do distrito de Porto Velho, considera as
informações do Censo 2000.
As áreas de Influência Indireta como explicita a Resolução Conama n° 302,
de 20/03/2002, são mais abrangentes, mas, não expressam uma concepção de
fluxos regionais ou extra-regionais. Afirma que o parâmetro de abrangência deve ser
a bacia hidrográfica o que em termos físicos é perfeitamente compreensível mas,
para a sócio-economia é incompleto porque os fluxos sociais se dão segundo outros
padrões.
Área de Influência Indireta - Conjunto ou parte dos municípios envolvidos,
tendo-se como base a bacia hidrográfica abrangida. Na análise sócio-
econômica, esta área pode ultrapassar os limites municipais e, inclusive, os
da bacia hidrográfica. (BRASIL, 2002).
23
Atendendo às determinações legais, as Áreas de Influência do
Empreendimento Jirau são representadas por Furnas (2005b) segundo a figura 02,
onde a AID pode ser apenas inferida devido a inexistência de um indicativo de
escala e relevo, impossibilitando a asseveração da sua real abrangência.
Fig. 02 - Localização da Área de Influência Direta (AID) e da Área de Estudo do AHE Jirau
Fonte: Compilado de Furnas (2005b, p. III-8).
A noção de previsibilidade proposta por Ab’Saber e Müller-Plantenberg
(1998), enfatiza a importância da delimitação das áreas centrais de impactos para
detalhamento da pesquisa, considerando círculos transicionais dos entornos
envolvidos.
Percebe-se que nas definições de AID feitas por Furnas a área ecológica é
bem definida e compreende basicamente toda área onde não será possível a
utilização econômica, já a AII é bastante fluída e abrange todo o município.
24
Sabendo que a população da AID deverá ser removida para a AII, esta área
recebedora de população também deveria receber um estudo mais aprofundado e
correspondente censo, afinal será local de impactos processuais de um mesmo
conflito, qual seja a impossibilidade de exploração econômica de áreas submersas
ou protegidas originadas a partir da viabilização do empreendimento hidrelétrico
Jirau.
As Áreas de Influência (Direta e Indireta) deveriam ser estabelecidas após a
análise das relações sócio-econômicas sobre o território, isto porque os fluxos
populacionais serão modificados e terão efeitos diferenciados.
Compreendemos a Área de Influência Direta como resultado dos impactos
diretos, assim sendo, como a área que passará a gravitar segundo o tempo e as
novas determinações do empreendimento, no caso da verticalidade do PHEAM.
Neste sentido, a AID-Jirau não se dá apenas a montante do empreendimento, mas,
à jusante também, haja visto que o distrito de Jaci-Paraná, sede do barramento
Jirau, já está recebendo influência do PHEAM como um todo. O mesmo tem servido
de entreposto de apoio à organização das equipes de trabalho para os
levantamentos da elaboração do EIA/RIMA, e do acampamento de Furnas na
cachoeira de Jirau.
Em termos quantitativos a mobilização populacional direta para a
construção dos empreendimentos Jirau e Santo Antônio é prevista por Furnas
conforme Figura 03, segundo um número de quase 20.000 trabalhadores
temporários em cada usina (Furnas, 2005a; p.73) com pico após o segundo ano e
nos dois anos consecutivos, mas sem perspectiva de continuidade; quantitativo este
que não expressa a mobilização espontânea que o empreendimento promoverá.
25
21.506
Mão-de-Obra
Permanente
Mão-de-Obra
Tem po r á r i a
1,500
20,200
14,000
10,000
4,500
6,000
12,000
15,000
21,000
0
3,000
9,00
18,000
M
ê
s
4
9
M
ê
s
1
0
M
ê
s
1
9
M
ê
s
3
1
M
ê
s
3
6
M
ê
s
3
8
M
ê
s
5
1
M
ê
s
7
0
M
ê
s
7
6
M
ê
s
8
2
M
ê
s
1
6
M
ê
s
1
3
M
ê
s
7
M
ê
s
7
9
M
ê
s
4
6
M
ê
s
4
3
M
ê
s
4
0
M
ê
s
3
5
M
ê
s
2
9
M
ê
s
2
5
M
ê
s
2
2
M
ê
s
6
1
M
ê
s
5
8
M
ê
s
5
4
M
ê
s
7
3
M
ê
s
6
7
M
ê
s
6
4
M
ê
s
1
M
ê
s
4
Fig. 03 – Projeção de demanda de mão-de-obra para os empreendimentos Jirau e Santo
Antônio.
Fonte: Furnas (2005c, tomo C, p. II-41).
Na análise destas questões nos deparamos com os problemas de
operacionalização de instrumentos legais abrangentes como as Resoluções do
Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA nº 01, de 23/01/1986, e n° 302, de
20/03/2002 (Brasil, 1986; 2002), e Termo de Referência do IBAMA de setembro de
2004 que subsidiaram Furnas (2005a) no estabelecimento das AID e AII do PHEAM.
A Legislação Ambiental no Brasil apresenta problemas quanto a alta rigidez
e linearidade, frutos de uma concepção de espaço homogêneo com soluções e
propostas padronizadas (Neumann & Loch, 2002).
Na legislação vigente não há um referencial detalhado para o tratamento de
forma específica para cada área do território, assim se espera que, com a
participação da sociedade civil organizada, haja uma investigação que leve a uma
fidedigna leitura dos espaços de inserção e alteração a serem promovidos pelo
empreendimento para que as compensações sejam proporcionais às alterações
negativas.
26
As medidas compensadoras e mitigadoras muitas vezes ficam longe de atingir
o objetivo de reduzir, neutralizar ou compensar o sistema ecológico e/ou social
impactado porque são pontuais e temporalmente estão ligadas ao período de
construção e início de funcionamento dos empreendimentos.
O foco exagerado nas “compensações financeiras” para as populações
residentes, afetadas diretamente antes e durante a construção dos
empreendimentos, por vezes, desconsidera a responsabilidade sobre as mudanças
na dinamização dos fluxos populacionais e produtivos regionais que se perpetuarão
após a construção e sobre as quais os proponentes do empreendimento não são
devidamente responsabilizados.
As medidas compensadoras segundo a proposta de Furnas foram aqui
divididas (Quadro 1) em tipologias segundo o foco de atuação.
Quadro 01 – Medidas Mitigadoras Segundo o Foco de Atuação
Tipo 1– Destinadas aos
funcionários da empresa
ou ligadas a estrutura
organizacional do
empreendimento
Tipo 2- Destinadas a
população da aid e aii
Tipo 3– Direcionadas a
ecologia da área
Tipo 4–
Envolvem
empresa,
empregados e
população em
geral
Programa de Informação
e Comunicação Relativa
às Obras
Mobilização e
Desmobilização de
Pessoas e Empresas
Programa de
Desmatamento Racional
(relativos as obras)
Plano Ambiental
para Construção
– PAC
Programa de
Capacitação do
Trabalhador
Programa de
Acompanhamento dos
Direitos Minerários e da
Atividade Garimpeira
Programa de
Recuperação de Áreas
Degradadas
(Relativo a obras)
-
Programa de
Tratamento e Controle
dos Efluentes Líquidos
Programa de Saúde
Pública
Programa de
Monitoramento do Lençol
Freático (nas margens)
-
Programa de
Gerenciamento de
Resíduos Sólidos
Programa de
Preservação do
Patrimônio Cultural
Programa de Estudos da
Dinâmica do Lençol
Freático na
Região das
Campinaranas
(Umirizais)
-
Continua na próxima página.
27
Programa de
Monitoramento das
Áreas das Obras
Programa de
Compensação Social
Programa de
Monitoramento da
Vegetação nas Margens
dos
Reservatórios
-
Plano Ambiental de
Conservação e Uso
do Entorno dos
Reservatórios
Programa de
Remanejamento da
População
Programa de
Monitoramento
Climatológico
-
- Programa de
Monitoramento e Apoio
às Atividades a Jusante
Programa de
Monitoramento dos
Sedimentos nas Águas
-
- Programa de
Reorganização das
Atividades Econômicas
Programa de
Monitoramento
Hidrobiogeoquímico
-
- Programa de
Comunicação Social e
Educação Ambiental
Programa de
Monitoramento Sismológico
-
- - Programa de
Acompanhamento e
Resgate da Fauna
-
- - Programa de Conservação
da Fauna
--
- - Programa de Conservação
da Ictiofauna
-
- - Programa de
Desmatamento dos
Reservatórios
-
- - Programa de Resgate da
Flora
-
- - Programa de
Compensação Ambiental
-
Fonte: Organizado pela autora a partir de Furnas (2005c).
Programa de
Segurança e
Medicina no
Trabalho
Programa de Apoio às
Comunidades Indígenas
Programa de
Monitoramento Limnológico
-
Programa de
Prevenção de
Riscos Ambientais
Programa de
Recuperação da Infra-
estrutura Afetada
Programa de
Monitoramento de Plantas
Aquáticas
-
-Programa de
Sinalização
Preventiva
Programa de Apoio ao
Município de Porto Velho
Programa de Preservação
do Patrimônio
Palentológico
-
Tipo 1– destinadas
aos funcionários da
empresa ou ligadas
a estrutura
organizacional do
empreendimento
Tipo 2- destinadas a
população da AID e AII
Tipo 3– direcionadas a
ecologia da área
Tipo 4–
envolvem
empresa,
empregados e
população em
geral
Quadro 01- Medidas Mitigadoras Segundo o Foco de Atuação
(Continuação)
28
A partir do Quadro 01 percebemos uma grande concentração de ações
voltadas para a vertente ecológica, pois, por sua característica condicionante ao
funcionamento do empreendimento e por pressões legais, a empresa tem mais
interesse nesta vertente, seguida de programas voltados para as populações da AID
e AII e funcionários da empresa.
Devemos ressaltar que, uma vez consolidado o empreendimento, as
responsabilidades a respeito dos planos e programas que não atenderem aos
objetivos e das questões inesperadas no que diz respeito aos problemas ecológicos
e sociais, recairão sobre o município, devendo este dar solução, e que tal
empreendimento
implica o acionamento, em pouco tempo (meses), de fenômenos regionais
de surpreendente envergadura (...) contingentes populacionais que de
repente se instalam em novos assentamentos ou em extensões de outros
já existentes, atividades econômicas (sobretudo de comércio e serviços)
que vão aparecendo espontaneamente. (Jong,1993, p.177).
A construção de empreendimentos com o porte do PHEAM requer o
deslocamento de grande quantidade de força de trabalho que funciona como um
catalisador nos processos migratórios, tendo em vista, a constante busca por
trabalho e renda das massas trabalhadoras, que pesarão nas demandas por
serviços públicos essenciais, tais como: saúde, saneamento, educação, etc.
Nosso recorte espacial em termos de análise é a configuração territorial do
Alto Rio Madeira no município de Porto Velho, compreendida como a área “formada
pela constelação dos recursos naturais (...) e recursos criados. É esse conjunto de
todas as coisas arranjadas em sistema que formam a configuração territorial”
(Santos, 1991, p.75), nos distritos de Abunã, Mutum Paraná e Jaci-Paraná.
A dinamização dos processos populacionais decorrentes da construção do
complexo de Hidrelétricas será maior no local sede dos empreendimentos, pois
exigirão grande quantidade de mão-de-obra, fato já observado por Santos & Nacke
29
(2001, p.73-74), afirmando que “esses empreendimentos, por suas dimensões,
dependem da movimentação de um grande volume de capital e mão-de-obra e
envolvem a presença de um número significativo de atores sociais”.
O deslocamento compulsório de populações locais para a construção da
Usina Hidroelétrica de Tucuruí e os altos incrementos migratórios se colocou e ainda
se põe como um dos principais problemas para aquela região e em nossa opinião,
em Porto Velho, esta problemática poderá se repetir, uma vez que os
empreendimentos desta magnitude dão conta, até certo ponto, do que ocorrem em
suas instalações até o momento da conclusão da obra. Após isso, cada indivíduo
procurará se estabelecer sem a infra-estrutura de serviços e emprego oferecida pela
construtora (CMB, 1999).
Estudos de CEPA (2006) apontam que Balbina é uma tragédia econômica,
ecológica e social, primeiro porque o rio Uatumã é pequeno e com pouca água
(179m³/s) e isso requereu uma grande soma de dinheiro para tornar a geração
viável, o que também consumiu uma grande área florestal, visto que o relevo era
inadequado para a geração de energia por queda. Foram submersas grandes áreas
florestadas e inúmeros espécimes animais. Entre os impactos sociais estão a perda
da qualidade das águas o que prejudicou as populações ribeirinhas além do
deslocamento compulsório imposto à comunidade indígena dos Waimiri-Atroari.
Espera-se com este estudo contribuir com as discussões sobre o tema e daí
fomentar ações que minimizem os impactos ambientais negativos.
30
2.2 Objetivos
Nesta pesquisa buscamos contribuir para a discussão dos impactos
ambientais a partir configuração territorial do alto Rio Madeira e suas possíveis
alterações com a Construção do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau tendo como
objetivos:
a) analisar a configuração territorial do alto rio Madeira e suas possíveis
alterações com a construção do Aproveitamento Hidrelétrico de Jirau; e
b) apresentar a configuração territorial como elemento a ser considerado para o
estabelecimento de áreas de influência de empreendimentos de grande
envergadura.
A leitura da configuração territorial do Alto Rio Madeira implicou na
consideração de três fatores: análise da paisagem, o processo histórico e a reflexão
sobre a vulnerabilidade sócio-ambiental, fatores estes que se espacializam
imprimindo formas no território.
2.3 Referencial Teórico
A história das sociedades capitalistas contemporâneas mostra que o
desenvolvimento econômico e a atual configuração dos centros industriais se deram
a partir da disponibilidade de energia, comunicação e comércio. Com a energia
elétrica houve aglomeração de indústrias e concentração populacional em áreas que
necessariamente não eram produtoras de energia, mas com outras vantagens
competitivas (Trigoso, 2004).
31
No Brasil, esta lógica se concretiza devido a existência de um Sistema
Energético Nacional que permite a consolidação de uma rede de fluxos energéticos
entre as regiões em que produção e consumo de energia possam se dar entre
regiões diferentes.
A partir de 1990, tem início o processo de privatizações iniciado no governo
de Fernando Collor de Melo, onde vários setores produtivos sofreram interferência,
inclusive o setor energético. Do montante de mais de 90 bilhões de dólares
arrecadados a partir da política de privatização, o setor energético contribui em 34%
(Braga, 2003).
Na medida que esta política gerou uma receita temporária para os cofres
públicos e retirou, em parte, a responsabilidade de expansão do setor da alçada do
poder público, também contribui para que as ações deste setor fossem mais
fortemente conduzidas pelo viés do mercado em detrimento do desenvolvimento
social, uma vez que repassou os maiores custos para a população em geral e
beneficiou os capitalistas da indústria e do comércio.
Com base em dados do IDEC e ANEEL de 2001, entre junho de 1994 e
agosto de 1999, os consumidores residenciais tiveram aumentos tarifários da ordem
de 108%, enquanto que para as classes de consumo industrial e comercial os
reajustes não foram superiores a 26,57%; fato que demonstra uma tendência em
acirrar ainda mais as desigualdades regionais no Brasil uma vez que as regiões
concentradoras de indústrias e maiores consumidoras de energia elétrica arcam com
menos custos financeiros, sociais e ambientais quando da construção de
hidrelétricas para atender as demandas por energia (Ibidem).
Com a aproximação do fim das reservas energéticas de base fóssil é
emergente uma grande discussão sobre matrizes energéticas em nível mundial e
32
nacional. A utilização do gás natural não parece ser a solução para a questão em
função da finitude do recurso, assim os empreendimentos hidrelétricos e as
pesquisas sobre biomassa devem responder as demandas numa perspectiva em
longo prazo. A médio e longo prazo, o Brasil carece de energia que garanta uma
atratividade à instalação de grandes indústrias geradoras de emprego e renda de
modo a promover o crescimento econômico e desenvolvimento social.
Neste contexto se insere o empreendimento Projeto Hidrelétricas e Eclusas
do Alto Rio Madeira, o qual é a materialização de políticas apoiadas numa lógica dos
atores hegemônicos, a qual se traduz na apropriação dos recursos da Amazônia de
forma desigual onde há uma socialização de efeitos adversos para as populações
locais e uma privatização de benefícios na medida que os maiores beneficiados
serão os detentores de capitais industriais e comerciais de outras regiões brasileiras.
Entendemos que o ordenamento do uso dos recursos e do território deve
procurar compatibilizar o desenvolvimento nas diversas escalas: nacional, regional e
local. Nesta tarefa pode contribuir o entendimento sobre o funcionamento do sistema
territorial bem como seu comportamento ante as manifestações territoriais da
globalização aqui focadas nas horizontalidades e verticalidades.
2.3.1 Verticalidade e Horizontalidade
A compreensão dos territórios vai além da descrição de seu conteúdo,
passa pelo conhecimento de seu funcionamento enquanto lugares contíguos e
lugares em rede. Para tal, há uma série de fatores que devem ser considerados
como o conhecimento sobre o “uso dos territórios” que se sobrepõe a análise do
“território em si” (Santos, 2005).
33
Cada lugar, a cada dia, é mais carregado de conteúdo técnico, científico e
informacional que tende a promover uma aproximação relativa entre os lugares. Os
espaços tendem a se globalizar a partir de dois vetores: horizontalidades e
verticalidades.
As horizontalidades são o alicerce de todos os cotidianos, isto é,
do cotidiano de todos (indivíduos, coletividades, firmas, instituições). São
cimentadas pela similitude das ações (atividades agrícolas modernas,
certas atividades urbanas) ou por sua associação e complementariedade
(vida urbana, relações cidade-campo). As verticalidades agrupam áreas ou
pontos, ao serviço de atores hegemônicos não raro distantes. (Ibidem. p.
150).
Neste trabalho o PHEAM é entendido como uma verticalidade marcada por
“pontos distantes uns dos outros, ligados por todas as formas e processos sociais”
(Santos, 2005, p.139) e o alto rio Madeira é visto como o espaço de horizontalidade
compreendido como o domínio de um cotidiano territorialmente partilhado com
tendência a criar suas próprias normas.
Algumas características são intrínsecas as verticalidades e as
horizontalidades e são destacadas no Quadro 02 que no decorrer deste tópico serão
mais detalhadas:
34
Quadro 02 – Características das Verticalidades e Horizontalidades
Verticalidades Horizontalidades
Funcionam por meio de Redes; Funcionam por meio de Planos;
Promovem adaptação das formas e das
normas nos locais de inserção criando uma
ordem diferente da local;
Dão-nos o espaço banal, o espaço da vida, do
cotidiano compartilhado por todos;
Denominam espaço dos fluxos, a paisagem
eficaz, o reino do cálculo, o domínio da
racionalidade cega e triunfante;
Constituem-se nas forças de domínio da
contigüidade, da força de ligação da
continuidade territorial e da manutenção dos
valores historicamente construídos;
Estabelecem um confronto entre a Lei
Mundo
2
e a Lei do Lugar;
Revelam a linguagem com a qual se estabelece
o confronto com o mundo; a relação do
individuo com o novo, parte de seu cotidiano;
São os eventos
3
que atingem seletivamente o
território funcionando por meio de redes e
que, portanto, criam uma coesão seletiva
entre lugares que as recebe.
São espaços formados pela contigüidade, não
há seletividade.
Fonte: Organizado pela autora com base em Santos (2005) e Souza (1996).
Percebemos o PHEAM enquanto verticalidade a partir das proposições de
Santos (1996), em especial quando afirma que as verticalidades funcionam por meio
de redes
4
.
A construção de hidrelétricas está associada à existência de condições
naturais, no caso rios com o mínimo de condições de viabilidade econômica, mesmo
que longe dos grandes centros consumidores da energia.
No Brasil, isso é possível devido à existência do Sistema Interligado
Nacional (SIN), operado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS), composto por
um sistema de transmissão que possibilita interligações, incluindo a troca de energia
entre as regiões, conciliando produção e consumo (Machado e Souza, 2003).
Cada hidrelétrica é um ponto, ou objeto fixo, gerador de energia que faz
parte de um sistema mais amplo e complexo que, a partir de outros fixos, contribui
2
Esse Mundo é o do mercado universal e dos governos mundiais. O FMI, o Banco Mundial, o GATT,
as organizações internacionais, as Universidades Mundiais , as Fundações que estimulam com
dinheiro forte a pesquisa fazem parte do governo mundial que pretende implantar, dando fundamento
à globalização perversa e aos ataques que hoje se fazem, na prática e na ideologia, ao Estado
Territorial (Santos, 2005, p.142).
3
é o tempo empiricizado, portador de uma acontecer histórico (Souza, 1996, p.68).
4
As redes são vetores de modernidade e também de entropia. Mundiais, veiculam um princípio de
ordem, uma regulação a serviço dos atores hegemônicos na escala planetária. Locais, essas mesmas
redes são portadoras de desordem (Santos, 2005,p. 153).
35
para fluxos energéticos que sem esta rede material não poderiam ser atendidas
demandas de algumas regiões com recursos de outras.
Exemplo do funcionamento deste padrão é o que ocorre nas regiões
Sudeste e Centro-Oeste, onde, apesar da grande produção energética, há a
necessidade de complementos a partir do SIN com a produção de Tucuruí que
abastece alguns empreendimentos. Os intercâmbios de energia entre as regiões
podem ser observados a partir do Quadro 03, onde destacamos a participação da
região Norte como exportadora de energia.
Quadro 03 – Intercâmbio Inter-Regionais no SIN (MWh)
De Para Total % em relação à energia
nacional do SIN
Sul SE-CO 112.217.352 47,70
SE-CO Nordeste 28.790.616 12,23
Norte SE-CO 14.067.684 5,97
Norte Nordeste 80.175.900 34,08
Total Nacional 235.251.552 100,00
Fonte: Machado e Souza (2003).
As demandas energéticas da região Norte não justificariam o aporte
financeiro necessário à implantação do PHEAM, caso este não representasse um
positivo salto quantitativo e qualitativo em termos de suprimento energético
agregável ao SIN.
Há que se perceber também que, as possibilidades de exploração
hidroenergética nas regiões Sul e Sudeste do Brasil já se encontram quase
esgotadas, além do que, os movimentos sociais que se opõem a este tipo de
empreendimento, já se encontram mais consolidados devido a experiências
passadas.
Compreendemos o PHEAM, enquanto objeto técnico que resulta de uma
lógica de apropriação do espaço e dos recursos amazônicos, socializando impactos
36
negativos entre alguns grupos sociais mais vulneráveis e, privatizando muitos dos
benefícios da produção e do consumo energético. Tem mais vantagens o setor
industrial, que gera empregos mas, beneficia através dos lucros, grupos
hegemônicos da economia, os quais imprimem sua lógica e tempo nos lugares aos
quais se conectam por meio de fixos que viabilizam fluxos, instituindo redes.
Quando Santos (1996) afirma que a Verticalidade cria uma ordem diferente
da local, conduzindo a mudanças funcionais e estruturais, isto é posto porque cada
lugar
5
, visto como sistema que possui sua dinâmica específica, que forma as forças
horizantalizantes com suas normas próprias.
O sistema é comandado por regras próprias ao modo de produção
dominante em sua adaptação ao meio local. (...) Uma nova estrada, a
chegada de novos capitais ou a imposição de uma nova regra (preço,
moeda, impostos, etc.), levam a mudanças espaciais. (Santos, 1985, p.14 e
16).
Apesar dos sistemas terem sua dinâmica interna própria, isto não quer dizer
que estão estagnados, a ordem interna é inerente ao processo histórico de
acumulação de tecnificação possibilitada pelo capital que articula os espaços em
função de sua multiplicação.
O capital não é apenas local, ele é global, cria seus próprios espaços, e
imprime seus ritmos; no caso do PHEAM o capital a ser materializado, ou fixado no
empreendimento hidrelétrico de Jirau, tende a produzir uma nova ordem que se
refletirá territorialmente, a partir de sua construção mobilizando mão-de-obra, que
demandará uma série de outros recursos naturais e equipamentos sociais que
5
...o lugar não pode ser visto como passivo, mas como globalmente ativo, e nele a globalização não
pode ser enxergada apenas como fábula. O mundo, nas condições atuais, visto como um todo é
muito estranho. O lugar, nosso próximo, restitui-nos o mundo: se este pode se esconder pela sua
essência, não pode fazê-lo pela sua existência. (...). O lugar é a oportunidade do evento. E este, ao
se tornar espaço, ainda que não perca suas marcas de origem, ganha características locais (Santos,
2005: 163).
37
deverão ser viabilizadas para atender as necessidades em função da construção da
hidrelétrica.
As horizontalidades presentes no Alto Rio Madeira podem ser apreendidas
pelos fluxos populacionais em função de atividades de comércio, recursos médicos,
comunicação, entre outros, que ocorrem no plano territorial. Com o crescimento
populacional, os fluxos existentes serão alterados de várias formas (direção, volume,
etc.) e ocorrerá a modificação e adaptação do espaço cotidiano existente. Serão
criadas novas estruturas (fixos) e funções para adaptação da ordem local aos
reclamos externos.
Cada vez mais diversos, os fluxos são numerosos e rápidos e, os fixos cada
vez mais tecnificados, uma vez que a sociedade se relaciona com seu ambiente a
partir de um sistema de ações mediado por sua cultura e técnica que atribuem
significados, ou funções específicas a cada lugar, o que os constitui em
possibilidade temporo-espacial.
É a partir dos objetos disponíveis (no caso dos objetos ecológicos) e
construídos (objetos técnicos) e das possibilidades de tecnificação do espaço
(condição sócio-econômica) que uma determinada sociedade, se identifica com o
lugar, se territorializa e produz o movimento de evolução interna ao sistema territorial
e continua a reproduzir sua identificação (Claval,1999).
No caso do AHE- Jirau, é prevista a mudança nas funções dos objetos
técnicos e naturais existentes no alto rio Madeira imposta pelos empreendedores: o
rio não será apenas o rio, será o vetor gerador de energia; uma cachoeira não será
mais cachoeira, será possibilidade natural de aproveitamento de desnível;
determinadas áreas serão transformadas em canteiros de obras e a quantidade de
38
equipamentos a disposição do empreendimento também fará alterações na
paisagem.
O PHEAM é resultado de um evento
6
proveniente do modelo
desenvolvimento adotado no Brasil e das demandas energéticas necessárias a
sustentação deste; é também uma ação de política socioeconômica que cria
estruturas (ou fixos) viabilizadoras de fluxos que tendem a produzir resignificação
dos objetos na Amazônia uma vez que “a ação não se dá sem que haja um objeto;
e, quando exercida, acaba por se redefinir como ação e por redefinir o objeto”
(Santos, 1996, p.77).
No processo de resignificação e uso de elementos naturais, ocorre o
confronto entre os que entendem o objeto apenas como recurso e outros que o
reconhecem a partir de seu cotidiano, sendo recurso e referencial de vida; são
lógicas provenientes de processos diferentes, os quais são regidos por leis
diferentes.
A Verticalidade promove um confronto entre a “Lei Mundo”
7
e a “Lei do
Lugar”
8
( Ibidem. p.268-269); esta lei mundo é motivada pelas leis do capitalismo em
que o lucro se coloca com objetivo final de toda ação e para expandir os lucros,
expande sua área de atuação; globaliza espaços segundo seus interesses;
consolida estruturas produtivas diferentes das construídas a partir do acúmulo
histórico e modifica o referencial de trabalho a partir da disponibilização de novos
capitais, o que é ratificado por Santos (2005, p.162) quando afirma que ...
6
“Um evento é o resultado de um feixe de vetores, conduzido por um processo, levando a uma nova
função ao meio preexistente” (Santos, 1996, p. 76).
7
Esse Mundo é o do mercado universal e dos governos mundiais. (Santos, 2005, p.142).
8
...o lugar – não importa sua dimensão – é a sede dessa resistência da sociedade civil (...) A
tendência atual é que os lugares se unam verticalmente e tudo é feito para isso, em toda parte. (...)
Mas também podem unir-se horizontalmente, reconstruindo aquela base de vida comum susceptível
de criar normas locais, normas regionais... (Ibidem.,p.143).
39
O trabalho das pessoas de uma área pode ser visto sob esse enfoque: o
trabalho permitido e explicado por um dado meio técnico e, também, um
trabalho direta ou indiretamente governado por uma regulação distante,
cujos objetivos são setoriais, particulares, exclusivos de uma só intenção.
Tais regras, estranhas, superpõem desafiantes e desestruturantes, às
normas localmente construídas.
A lógica reproduzida a partir da consolidação de empreendimentos de
grande envergadura, como as hidroenergéticas, é diferente da construída
tradicionalmente na Amazônia por horizontalidades; a modernidade capitalista e o
cotidiano amazônico se encontram, se confrontam e se amalgamam numa nova
realidade.
A lei do empreendimento é a lei do novo, do repentino, do estranho e do
mais forte; a lei do lugar é a da construção social, do processual, do identitário.
Quando estas duas leis e momentos históricos se confrontam há, a princípio, um
confronto que posteriormente resulta num acondicionamento de forças gerando um
novo cenário de atuação, não existe resiliência
9
; a sociedade local muda pelo
contato com o evento e, o evento também pode se deformar estruturalmente para se
territorializar. Essa modificação do evento hoje é possível em função do acúmulo
social que motivou as alterações nas legislações concernentes à implantação de
atividades modificadoras do ambiente.
As verticalidades são os eventos que atingem seletivamente o território e
que, portanto, criam uma coesão seletiva entre lugares que as recebem e as áreas
beneficiadas a partir destas; a primeira diferenciação que ocorre entre os lugares
que alocam as verticalidades em relação aos seus espaços contíguos é a alteração
da noção de tempo: as ações que animam os objetos se dão em maior velocidade e
quantidade, alterando a noção de tempo; no caso do empreendimento Jirau de um
“tempo lento” característico de áreas marcadas por economias extrativistas e
9
Conceito emprestado da física, que define a propriedade de alguns materiais de acumular energia,
quando exigidos e estressados, e voltar ao seu estado original sem qualquer deformação. (Yunes,
2001).
40
agrícolas, para um “tempo rápido” característico de áreas de grande circulação de
pessoas e dinheiro em que a produção e o comércio fluidificam as relações.
Os fluxos se darão mais rapidamente e em maior volume, novos fixos serão
criados e assim se reconstruirá o sistema territorial alterando-se a configuração
territorial.
2.3.2 Configuração Territorial, Paisagem e Análise Espacial
A paisagem consiste no conjunto heterogêneo de formas naturais e
artificiais onde é possível perceber a sucessão histórica da sociedade. Como
construção social, a paisagem está sujeita as novas reconstruções, não é inerte, é
alterada na proporção das técnicas movidas pela ação social, que nela atuam,
evidenciando inclusive, objetos antigos que podem assumir novas funções (Santos,
1991; Martinelli & Pedrotti, 2001).
A paisagem entendida como a porção da superfície terrestre que é
perceptível aos sentidos humanos está sujeita a análise a partir dos objetos nela
dispostos, sendo a análise espacial uma técnica para compreensão da sociedade a
partir da paisagem. A análise espacial pode ser definida como uma técnica que
busca, a partir da descrição dos padrões existentes nos dados espaciais,
estabelecer relacionamentos entre diferentes variáveis geográficas (Carneiro &
Santos, 2003).
Poleti (1998) define análise espacial como um conjunto de métodos que
requerem acesso aos atributos dos objetos analisados e informações sobre suas
localizações. Como atributos podemos considerar as porções perceptíveis da
paisagem (formas, tamanho, cores, etc.) e a localização como localização geográfica
41
propriamente dita em termos de coordenadas, assim como a disposição dos objetos
segundo sua organização, a qual imprime certa configuração territorial.
Através da paisagem a configuração territorial pode ser apreendida, pois a
configuração é o sistema de arranjo dos elementos da paisagem (Santos, 1991,
p.76).
A análise espacial permite contribuir para a leitura da configuração territorial
por utilizar-se das formas espaciais dispostas em uma dada porção do território,
valorizando sua totalidade, aparentemente inerte, isto porque a animação dos
objetos e pelos objetos é uma construção dos atores sociais que se movimentam e
ordenam seu território. Neste sentido, entendemos a configuração territorial como:
... conjunto de todas as coisas arranjadas em sistema (...) cuja realidade e
extensão se confundem com o próprio território. (...) a interdependência se
complica e se completa justamente porque ela se dá entre as coisas que
chamamos naturais e as que chamamos artificiais. (...) a configuração
territorial é o conjunto total, integral de todas as coisas que formam a
natureza em seu aspecto superficial e visível; e o espaço é o resultado de
um matrimônio ou um encontro, sagrado enquanto dura, entre configuração
territorial, a paisagem e a sociedade. (Santos, 1991, p.77).
A paisagem é o resultado-resposta da interação homem-meio ambiente
revelando suas técnicas e suas formas de relacionamento, fazendo parte do espaço,
mas não sendo o espaço, este último é mais complexo e envolve a leitura de
aspectos não visíveis, pois constitui um sistema de valores construídos e atribuídos
socialmente e, sendo assim, como a sociedade este também é mutável.
A dinâmica da sociedade sobre o território se dá na medida em que “o
espaço é a totalidade verdadeira (...), resultado da geografização da sociedade
sobre a configuração territorial”. (ibidem, p. 77).
O espaço é formado por fixos e fluxos, sendo os primeiros os próprios
instrumentos de trabalho e as forças produtivas em geral, incluindo a “massa dos
42
homens” e os segundos constituem-se no movimento, na circulação, na interação
construída pela sociedade sobre e pelos objetos.
Os objetos, ou fixos, são organizados sobre o território e tornam-se objetos
sociais devido os fluxos que geram e por isso, nos estudos da Configuração
Territorial, apesar de atermos-nos a disposição dos fixos, devemos compreender
que estes, como instrumentos de trabalho, criam fluxos.
A leitura da paisagem por parte do observador, envolve a seleção prévia de
elementos específicos e próprios de cada observador. Nosso olhar sobre a
paisagem buscou uma perspectiva quase zenital sobre a área de estudo por meio de
imagens de satélite para decifrar a configuração territorial a partir de elementos fixos
de antropização da paisagem (manchas, corredores e matrizes).
A configuração territorial do Alto Rio Madeira foi construída socialmente por
processo histórico com interfaces de atores locais e extra-regionais e será
modificada ou mesmo reorganizada segundo outra lógica, aqui entendida como
causadora de impactos gerados pelo empreendimento AHE – Jirau, uma
verticalidade.
A paisagem soma-se a outros fatores e resulta no espaço a ser analisado,
palco dos impactos sócio-ambientais, mesmo porque toda produção social
espacializa-se, inclusive seus problemas.
A noção de espaço como apropriação da sociedade deve ser considerada
em sua totalidade, embora se possa fragmentá-la em elementos de análise (Santos,
1985). Os elementos do espaço seriam os homens, as firmas, as instituições, o meio
ecológico e as infra-estruturas, os quais são: intercambiáveis e redutíveis uns aos
outros.
43
O espaço está em evolução permanente e este resulta de fatores externos e
internos em que o movimento “normal” seria sua evolução interna representando a
universalidade da evolução externa porque o lugar é parte do espaço total, sofrendo
impulsos externos para seu desenvolvimento, constituindo uma evolução exógena
que se internaliza (Santos, 1985.). É também, o resultado da produção social
condicionado a cultura, técnicas, e modos de produção que se revela por meio da
paisagem.
O alto rio Madeira não é parte dissociada do espaço geográfico global, mas
tem dinâmica específica atrelada ao nível de fluxos internos e externos existentes, o
que será modificado com a implantação do PHEAM.
Uma marca da sociedade é a produção de trabalho. Esta se projeta sobre o
território, ou a partir dele, se materializa e é na perspectiva de significado atribuído
ao território que se dão seus usos e se recria a noção de território como espaço
necessário à reprodução capitalista (Santos, 2005; Raffestin, 1993).
A noção de território como massa inerte é hoje substituída como espaço
fluído de manifestações de atores que se estabelecem por meio de fixos e fluxos,
manifestando relações de poder que se revelam sobre o território interferindo no
sistema territorial.
2.3.3 Sistema Territorial
O sistema territorial como produto observável do campo operatório de
organização de ações de uma sociedade, se materializa pela estrutura de tessitura,
nós e redes. O sistema tessitura-nó-rede manifesta-se no território com elementos
espaciais na forma de superfície, pontos e linhas, visíveis ou invisíveis, mas
44
perceptíveis, o que possibilita a compreensão da organização em termos de sistema
territorial. Tal captação da realidade material permite a projeção de imagens
territoriais que revelam as relações de produção e conseqüentemente, de poder,
marco da territorialidade (Raffestin, 1993).
A compreensão da produção territorial envolve o entendimento sobre as
relações da sociedade com o meio ambiente em suas manifestações
socioeconômicas mediadas por sua cultura e técnicas.
Cabe considerar que os espaços apresentam-se cada vez mais
tecnificados, comportando cada vez mais objetos técnicos, o que vai aumentar o
grau de interligação entre os espaços por meio de redes que são “sistemas de linhas
que desenham tramas” (Raffestin, 1993, p. 153).
Em se tratando do sistema econômico global compreendemos que os
espaços e seus recursos podem ser apropriados desde que utilizando-se as técnicas
adequadas e os mecanismos de fluxos a partir das redes. O sistema nó-rede-
tessitura revela a geometria das manifestações de seleção de territórios onde se
criam fixos (objetos técnicos, sistemas de engenharia, etc) para que se viabilizem
continuamente fluxos (o movimento, a circulação, etc).
Os nós configuram-se como pontos de convergência ou controle do poder
territorial e é para eles ou em função deles que linhas de comunicação (real ou
virtual) são estabelecidas na forma de redes para que se mantenham os fluxos e as
interações socioeconômicas.
Melo & Théry (2001) afirmam que nos estudos sobre as configurações
territoriais o arranjo das redes é a principal estrutura espacial a se analisar. Os
termos vias, corredores e eixos produzem pistas para o entendimento da rede de
45
controle e construção territorial que ocorre em função de pontos específicos do
território, os pontos nodais, irradiantes e convergentes de fluxos.
No caso da Amazônia o controle do território, em termos de nós e redes se
deu, em princípio em pontos estratégicos da malha hidrográfica que foi
posteriormente conectada a um sistema rodoviário (Figura 04-A), dando novos
contornos a configuração territorial.
A Amazônia
dos rios
e seus nós.
A Amazônia
das estradas
e seus nós.
Reflorestamento
Agricultura hortigranjeira
Agricultura geral
Agrovila
Agrópolis
Estradas
Divisão da zona detrabalho
agrícola correspondente a
cada centro de habitação
Rurópolis
Legenda
Centros nas Agrovilas
Legenda
Rios
Limites de lotes
Limites do assentamento
Fig. 04-A – Rios e Estradas Fig. 04-B– Modelo de Agrovilas Fig. 04-C – Quadrado Burro
Fig. 04 – Modelos de Configuração Territorial Manifestas na Amazônia.
Fonte: Organizado pela autora com base em Becker (1998); Théry (2005) e Batistella (2001).
A partir da Figura 04, podemos perceber alguns dos modelos de
configuração territorial que nortearam a ocupação do espaço amazônico, onde até a
década de 60, os contornos da territorialização na Amazônia seguiam as
possibilidades de integração regional por meio da rede hidrográfica.
Posteriormente, esta forma de pensar e organizar o território foi alterada em
função de projetos desenvolvimentistas de uso do solo para fins agrícolas que
promoveram à agregação da rede hidroviária a rede rodoviária, deslocando os
pontos de controle do território de áreas baixas, ao longo dos rios, para a terra-firme,
nos núcleos rurais.
Fruto das políticas de inserção de um novo perfil produtivo na Amazônia
(agropecuária extensiva), foi adotado um planejamento de “hierarquia urbanística”
46
em agrovilas (Figura 04-B) que traduziam a polarização dos pontos nodais com
conectividade e dispersão esquematizadas (Becker, 1998).
Podemos entender que o modelo representava os conceitos de polarização
da teoria clássica de localização (Christaller, 1933; Perroux, 1977), e privilegiava um
uso ordenado do espaço considerando funcionalidades, distâncias e a interligação
dos espaços.
Com o aumento das demandas por terra e a falta de capacidade do INCRA
para gerenciar a questão, a distribuição passou a privilegiar pequenos proprietários
distribuídos de forma igualitária semelhante a loteamentos urbanos, o que não
considerou as diversidades do terreno, a rede hidrográfica e, tampouco, a produção
a ser realizada. Esta divisão foi denomina de “Quadrado Burro” (Figura 04-C) e
acompanhou os fluxos de comunicação e circulação na forma de “espinha de peixe”
que predomina até hoje (Escada, 2003; Batistella, 2001).
A territorialidade dos atores sociais e econômicos implica relações de poder
sobre o espaço territorial e, com o processo de globalização, em que o externo e o
interno, o velho e o novo estão em constante contato, as configurações territoriais
são cada vez mais determinadas pelo efeito da interação entre estas forças.
Exemplo de impactos sobre a organização territorial oriundos da
implantação de hidrelétricas foi à construção da Hidrelétrica de Tucuruí em que se
fez distribuição de lotes de terra às margens do lago da hidrelétrica e foram
construídas estradas vicinais e realizado o assentamentos de pequenos agricultores.
Com a inundação de povoados pelo lago da hidrelétrica, a Eletronorte construiu dois
povoados com infra-estrutura urbana (ELETRONORTE, 2007).
As alterações territoriais decorrentes de Tucuruí, também se manifestaram
com a formação de quatro novos municípios paraenses: Breu Branco, Novo
47
Repartimento, Goianésia e Nova Ipixuna. Goianésia do Pará foi desmembrado de
Rondon do Pará devido ao incremento populacional e novas necessidades surgidas.
Novo Repartimento surgiu de um deslocamento populacional de moradores de uma
vila de um acampamento da construtora Mendes Junior – construtora da Rodovia
Transamazônica. Nova Ipixuna foi criado em 1993 com desmembramento de área
dos municípios de Jacudá e Itupiranga (Koifman, 2001).
A Configuração Territorial é exposta, em parte, pela paisagem que é a
reveladora material das significações funcionais e estruturais que a sociedade
estabelece com seu meio de vida. Revela as condições políticas, econômicas e
culturais tendo “um movimento que pode ser mais ou menos rápido” a depender da
velocidade de alterações no ambiente (Santos, 1991, p. 69).
2.3.4 Meio Ambiente, Recursos e Vulnerabilidade Sócio-Ambiental
Segundo Raffestin (1993) as matérias disponíveis sobre a superfície da
terra são pré-existentes ao homem, e estas só se tornam interessantes para este na
medida das possibilidades de seu uso; é a partir das propriedades atribuídas à
matéria e de suas potenciais utilidades, que esta assume a característica de recurso,
não por sua matéria em si, mas pelas funções que lhe são atribuídas a partir de suas
propriedades.
Muitas vezes a apropriação dos recursos envolve a apropriação do próprio
território e para isso os grupos ocupam pontos sobre o território nos quais implantam
sistemas de engenharia, que funcionam como nós na trama territorial.
A partir da implantação de nós e construção de redes como forma de
organizar o campo operatório da ação, os atores asseguram o controle sobre o
48
objeto de interesse, circunscrito a um lugar, com matéria a ser transformada em
recurso (Raffestin, 1993).
A concepção de meio ambiente implica na existência de recursos em
potencial, pois as técnicas de atribuição de propriedades estão em franco processo
de evolução. Exemplo disto é a utilização dos cerrados brasileiros para plantio de
soja; há cerca de 15 anos não se atribuía o valor que têm hoje estes espaços
produtivos que, submetidos a determinadas técnicas, figuram como regiões
privilegiadas para tal uso.
O meio ambiente, e o que a sociedade identifica como problemas
ambientais são resultados da relação do ser humano com o espaço, intermediado
por seu modo de produção e
deve-se, para um tratamento adequado do tema, vincular os problemas
ambientais à organização social. (...) acontecem a partir da forma com que
essa sociedade organiza o aproveitamento de um dado conjunto de
recursos. Isso significa que os problemas ambientais têm sentido a partir
da existência da ação humana e são em grande parte conseqüência de
suas ações. (Jong, 1999, p.176).
O meio ambiente é o local de ação da humanidade, onde ela busca atender
suas necessidades além de construir e multiplicar valores. Não há apenas elementos
e homens, há valores e relações num sistema de elementos onde interferem as
técnicas produtivas.
Christofoletti (1999, p.37) aponta para meio ambiente como “constituído
pelos sistemas que interferem e condicionam as atividades sociais e econômicas,
isto é, pelas organizações espaciais dos elementos físicos e biogeográficos (da
natureza)” e concorda com Brackley (1988) quando este afirma que o meio ambiente
são as circunstâncias em que vive o homem.
49
O meio ambiente pode ser entendido como o conjunto de três aspectos
interligados, sendo o primeiro o resultado material da ação humana, o que também
pode ser apreendido pelos fixos naturais ou construídos (Santos,1985; 1991). O
segundo aspecto considera o meio ambiente a partir dos fluxos que interconectam
as formas de acordo com suas diferentes funções; e o terceiro aspecto do meio
ambiente considera o próprio homem com sua cultura e técnicas que irão promover
o processo de estruturação e reestruturação social (Corrêa, 1993). Estes aspectos
juntos vão imprimir no território feições próprias a cada grupo social.
As ações humanas repercutem na forma de alterações da estrutura social e
no meio em que vivem requerendo sempre reestruturações e quando estas ocorrem
abruptamente, ou a partir de interesses exógenos, tendem a atuar de forma
degradante ao ambiente natural e para certos grupos mais vulneráveis, devido a
uma série de condições de sobrevivência que lhes imprime instabilidade e
vulnerabilidade sócio-ambiental (Moser, 1998).
Vulnerabilidade socioambiental é entendida como
a situação de grupos específicos que se encontram:
(1) em maior grau de dependência direta dos recursos naturais para
produzir, trabalhar e melhorar as condições objetivas de vida;
(2) excluídos do acesso aos bens públicos socialmente produzidos; e
(3) ausentes de participação legítima em processos decisórios no que se
refere à definição de políticas públicas que interferem na qualidade do
ambiente em que vivem. (LOUREIRO, 2004, p.7).
A vulnerabilidade abrange o campo das impossibilidades e dificuldades de
certos grupos sociais em utilizar de maneira mais viável e proveitosa, as diversas
propriedades das matérias, dadas situações de alteração de sua lógica cotidiana e
de suas impossibilidades técnicas e capitais. Constitui-se como riscos de
agravamento de condição social e ambiental a que estão sujeitas populações do Alto
Rio Madeira a partir da transformação de um elemento natural, um rio, numa fonte
50
geradora de energia, mediante a instalação de uma hidrelétrica, no caso o
empreendimento Jirau.
Para Moser (1998) os elementos constituintes da vulnerabilidade são:
exposição ao risco; insuficiência de reação; e dificuldade de adaptação a partir da
materialização do risco.
Podemos dizer que as situações de vulnerabilidade tem base em dados
próprios aos indivíduos e próprios do ambiente em que vivem; os dados próprios aos
indivíduos são aqueles de caráter socioeconômico e cultural que condicionam suas
ações e os dados do ambiente dizem respeito a condições coletivas de vida; (clima;
poluição, condições de saneamento, organização sócio-espacial, normas, etc.). É na
associação destas condições que se estabelece a vulnerabilidade sócio-ambiental,
diferenciada e complexa e sobre a qual os estudos de impacto ambiental devem se
dedicar de modo a realizar um exame mais integrado da sócio-economia.
2.3.5 Prospectiva/Previsão de Impactos
Devemos pensar o espaço como produto e como meio da relação do
homem como seu meio ambiente, objetivando produzir conhecimento para
potencializar a intervenção. O processo de intervenção não ocorre no passado nem
no pressente, mas no futuro, pois,
O presente é o real, o atual que se esvai e sobre ele, como sobre o
passado, não temos qualquer força. O futuro é que constitui o domínio da
vontade e é sobre ele que devemos centrar nosso esforço, de modo a
tornar possível e eficaz a nossa ação. (Santos, 2005, p. 85).
Considerando que a velocidade de apropriação dos recursos naturais está
cada vez maior e as alterações impostas ao meio ambiente, ou seja, os impactos,
são cada vez mais perceptíveis dadas às dimensões e o tempo de transformação da
51
realidade, as análises das conseqüências das ações humanas são ponto crucial
para se minorar e mitigar conseqüências indesejáveis, daí que as noções de
previsibilidade e prospectiva ganham importância.
Grandes obras de engenharia são modificadoras das realidades onde se
materializam, nestas modificações imprimem uma nova lógica e essa impressão é
denominada de impacto ambiental.
O impacto ambiental é definido como sendo mudança sensível, positiva
ou negativa, nas condições de saúde e bem estar das pessoas e na
estabilidade de ecossistema do qual depende e sobrevivência humana.
Essas mudanças podem resultar de ações acidentais ou planejadas,
provocando alterações direta ou indiretamente. (Parker (1985) apud
Christofoletti, 1999, p.68).
O conceito de impacto ambiental expresso neste trabalho vai ao encontro da
concepção de impactos antropogênicos aqui entendidos como as transformações
que o ser humano promove no meio ambiente, os quais, segundo Ab’Saber & Muller-
Plantenberg (1998), consistem em qualquer choque ou colisão de substâncias em
qualquer estado físico, radiações ou energias de diferentes formas, decorrentes de
obras ou atividades que causem danos ao meio natural, artificial, cultural ou social,
sendo enfatizadas as ações humanas como promotoras destes choques ou colisões.
Estes impactos ambientais podem ainda ser positivos e negativos, diretos ou
indiretos, manifestarem-se a longo ou em curto prazo, de longa ou curta duração,
reversíveis ou irreversíveis, de natureza cumulativa e sinérgica.
Várias metodologias são utilizadas para a avaliação de impactos
ambientais, como as elencadas por La Rovere (2001), a saber: Metodologias
Espontâneas (Ad Hoc); Metodologia de Listagem (Check-list); Matrizes de
Interações; Redes de Interações (Network); Metodologias Quantitativas; Modelos de
Simulação; Mapas de Superposição (Overlay Mapping); Projeção de Cenários; entre
outros.
52
O fato é que em se tratando de previsão de impactos ambientais, vários
métodos e técnicas têm sido utilizados e difundidos internacionalmente, mas, de
geral todos apresentam vantagens e desvantagens, assim, a eleição de
determinados métodos e técnicas é uma decisão técnico-política, pois depende dos
potenciais disponíveis onde “grupos sociais diferentes usam critérios de valor
distintos na avaliação das diversas alternativas em exame e, o surgimento de
conflitos de interesses tornam-se, via de regra, inevitáveis”. (Ibidem., p. 40).
As noções de previsibilidade e prospectiva são convergentes quanto a
tomada de precauções, a vigilância e a prevenção de desarmonias espaciais de
forma que possam colaborar com “posturas culturais de interesse social e relevância
para os cenários do futuro” (Ab’Saber e Müiller-Plantenberg, 1998, p. 27).
O filósofo Gaston Berger, em sua obra A atitude prospectiva, de 1957,
destacou a prospectiva com significado de olhar para longe, preocupar-se em longo
prazo; olhar amplamente, tomando cuidado com as interações, o qual entendeu
lançar a palavra prospectiva em detrimento da palavra “previsão” que a entendia
muito ligada ao sentido de profecia e, pretendendo diferenciar os conceitos. Propôs
a previsão como a construção de um futuro à imagem do passado e a prospectiva
que o futuro é decididamente diferente do passado (Marcial & Grumbach, 2002).
A prospectiva exploratória tem por objetivo, elucidar os futuros possíveis de
um sistema, aplicando-se a análise macro. (Lisboa, 1997, p.10).
Prospectiva é uma visualização do futuro, quando este não pode ser visto
como uma simples extrapolação do passado, mas um conjunto de futuros
possíveis cada um em um cenário diferente. (Cristo Neves, 2002, p. 3).
Na Figura 05, podemos visualizar duas proposições reiteradas pelo CGEE
(2004) onde temos a perspectiva da previsão como uniforme e linear, privilegiando a
continuidade dos acontecimentos e a prospecção do futuro com múltiplos caminhos
porque considera as rupturas nas continuidades históricas pelas forças sociais.
53
Fig. 05 - Esquema de Diferenciação entre as Proposições de Previsão e Prospectiva
Fonte: adaptado de CGEE (2004).
A noção de previsibilidade proposta por Ab’Saber e Müller-Plantenberg
(1998), enfatiza tanto a análise de futuros múltiplos como traz para o centro das
atenções o conceito de espaço total
10
, considerando em especial as áreas de
entorno dos projetos impactantes. Considera que a única maneira de abranger o
universo da territorialidade criada por ações antrópicas é fazer uma correta análise
do espaço total regional, não deixando de evidenciar a importância da delimitação
das áreas centrais para detalhamento da pesquisa, considerando círculos
transicionais dos entornos envolvidos na funcionalidade dos espaços integrados.
Cada área transicional deve ser estabelecida em função de suas funcionalidades e
afinidades com as áreas diretamente impactadas, e não das distâncias propriamente
ditas.
Previsão e prospectiva não são sinônimos, mas carregam noções
convergentes neste trabalho: rupturas nos padrões históricos tradicionalmente
construídos, preocupação com o futuro, diferenciação de áreas transicionais, e
fluxos internos.
10
o arranjo e o perfil adquiridos por uma determinada área em função da organização humana que
lhe foi imposta ao longo dos tempos... inclui todo o mosaico dos componentes introduzidos pelo
homem – ao longo da história – na paisagem de uma área considerada participante de um
determinado território (Santos, 1993. p. 30).
Passado presente futuro
Futuro: múltiplo e incerto
Passado presente futuro
Futuro: único e certo
Previsão
Forças restritivas
Forças propulsoras
Forças restritivas
Forças propulsoras
Prospectiva
54
Quando são elaborados Estudos de Impacto Ambiental há hipóteses
baseadas em conhecimentos científicos de como a realidade será alterada e em que
se tornará, constituindo um cenário de imagens não visuais do comportamento
sócio-ambiental dos elementos que compõe um espaço geográfico.
O comportamento de algumas variáveis ecológicas tende a repetir fatos
passados com maior freqüência do que as variáveis sociais, isto porque o
comportamento social envolve elementos mais complexos e seu prognóstico
depende de um conhecimento mais aprofundado das peculiaridades da população.
Lançar um olhar sobre o futuro requer a percepção de alguns elementos a
exemplo dos atores sociais proponentes e executores do PHEAM e o palco das
ações, aqui compreendido como o lugar dos fatos, lugar
11
visto como o sistema
contendo tempo, trabalho, técnica e sociedade, específicas e, como espaço formado
por fixos e fluxos.
A tentativa de apreendermos o futuro antes que este se materialize consiste
no objetivo de oferecer subsídios aos planejadores, mesmo sabendo que,
o preço do uso de modelos é a eterna vigilância, na medida em que são
instrumentos especulativos elaborados com certo propósito, são sistemas
simplificados correndo o risco de se distanciarem da realidade. (Becker,
2001, p. 154)
A afirmação sobre como o futuro será pode incorrer em erros se
considerarmos que existe a possibilidade de alteração nas trajetórias sociais em
função das mudanças culturais, políticas e tecnológicas, porém o risco de errar não
pode ser uma barreira às ações de planejamento, especialmente quando a realidade
é fluída e os processos sociais são cada vez mais dinâmicos necessitando de
11
Santos (2005) afirma que os lugares se definem pela sua densidade técnica (área natural e áreas
se interesse de atuação), pela sua densidade informacional (objetos técnicos passíveis de
mobilização humana a partir dos quais os lugares entram em contato com outros lugares), pela sua
densidade comunicacional (resultantes do meio social ambiente), cuja fusão os caracteriza e
distingue.
55
instrumentos de conciliação de interesses diversos quanto ao uso dos espaços e
recursos.
56
3 Metodologia
O percurso metodológico deste trabalho envolveu, primeiramente, a escolha
dos conceitos fundamentais de análise da problemática quais sejam: configuração
territorial, verticalidades e horizontalidade.
Foram realizados os levantamentos em Censos, Anuários, Mapas, Imagens
de Satélite e observações de campo para obtermos um maior conjunto de
informações sobre os elementos sociais e paisagísticos do alto rio Madeira e sua
atual configuração territorial.
Numa segunda etapa, após os levantamentos iniciais e a análise do
material, foram estabelecidas comparações, generalizações e diferenciações entre
as áreas bem como da sócio-economia destas para identificação de elementos da
configuração territorial do Alto Rio Madeira.
Para a leitura da paisagem e identificação destes elementos, articulamos o
referencial teórico do sistema territorial - nós, linhas e tessitura territorial (Rafesttin,
1993) com o referencial de análise espacial – manchas, corredores e matriz
(Venturieri, 2003).
A análise espacial neste trabalho é realizada por meio da análise dos
padrões de manchas sobre a superfície expressas em imagens de satélite
12
,
associados aos dados primários, secundários e de campo (conhecimento empírico)
a partir dos quais pudemos apreender a configuração territorial do alto Madeira bem
como as possíveis alterações nesta, a partir da construção da Hidrelétrica de Jirau.
Quanto à análise espacial propriamente dita, Venturieri (2003) criou um
modelo teórico-metodológico de análise da paisagem, o qual se utiliza de imagens
12
Neste estudo as interpretações das imagens ocorreram segundo informação LANDSAT/TM5-
Bandas 3,4,5.
57
de satélite para observar o padrão de alterações na paisagem natural. O modelo
apóia-se nos conceitos trabalhados por Forman et al.,(1986) e Haines-Young et al.,
(1993) sobre Manchas, Corredores e Matriz de forma a elaborar uma chave de
interpretação de imagens orientando para a análise dos diversos padrões de
distribuição espacial de elementos paisagísticos sobre os quais temos a seguinte
classificação:
a) A mancha, que neste trabalho também é compreendida sob os aspectos
dos possíveis nós ou redes, corresponde à porção não linear da superfície territorial
que difere do ambiente que o circunda (ex. mancha urbana; bosques, aterros
sanitários, etc.) e podem ser classificadas segundo as alterações na matriz:
1. manchas de perturbação – referentes a pequenas alterações na matriz
(no caso da Amazônia, a floresta);
2. manchas remanescentes – áreas naturais inalteradas mesmo diante de
intenso processo de antropização (geralmente identificadas em áreas de
reserva obrigatória);
3. manchas de regeneração – assemelham-se as manchas remanescentes
mais se ligam a áreas antropizadas em estágio de regeneração.
b) O corredor, em consonância com Raffestin (1993) corresponde à linha e
constitui-se como elemento linear, ou tira, ou faixa que difere do ambiente que o
circunda, podendo também ser uma seqüência de manchas (ex. estradas, fundos de
vales, rios e margens, fazendas, etc.);
c) A matriz representa o elemento da paisagem que desempenha o principal
papel funcional, é a superfície ou a tessitura, palco onde se manifestam os outros
58
elementos, que no caso da Amazônia, o pano de fundo das alterações antrópicas
aqui enfocadas é a floresta, tida como característica natural da área.
As análises das imagens de satélite ativeram-se sobre manchas de
alteração na matriz ecológica, que é a floresta amazônica, analisadas segundo seus
tamanhos, formas e continuidades de acordo com os parâmetros do Quadro 04:
Quadro 04 – Parâmetros de Análise das Imagens de Satélite
Tamanho das manchas
13
Forma das manchas
Continuidade das manchas
Fonte: Organizado pela autora a partir de Venturieri (2003).
O tamanho da mancha, geralmente, está ligado à disponibilidade tecnológica
dos sujeitos (utilização de máquinas e outros equipamentos), produção e quantidade
de mão-de-obra. Pequenas manchas denotam uma menor disponibilidade
tecnológica em termos de mecanização ou menor interesse ou possibilidade de
exploração agrícola de áreas naturais, o que nos dois casos apontam para uma
maior vulnerabilidade social.
Se o caso for de indisponibilidade tecnológica denota uma precariedade das
condições de trabalho, levando a população à utilização de métodos de trabalho
mais penosos (uso de foice, machado e enxada) que carecem de mais esforço físico
e tem rendimento em termos de objetivo, menor.
13
Uma mancha pode agrupar várias propriedades. As pequenas propriedades são aquelas, com lotes
variando entre 20 ha e 100 há, as médias propriedades são parcelas de 250 ha a 1.000 ha e as
grandes propriedades são aquelas com áreas maiores que 1.000 ha. (INCRA, 2002).
59
Se o caso for de desinteresse em termos de exploração agrícola convencional
da floresta, mesmo as áreas onde há silvicultura, podem ser equivocadamente,
consideradas como áreas desocupadas ou ainda improdutivas atraindo a atenção de
ocupantes ilegais.
A forma das manchas quando associada ao desmatamento é identificada
como regular, refletindo um caráter de homogeneização do uso das áreas e
presença de maior nível tecnológico (mecanização); as formas irregulares estão
ligadas a aberturas na floresta com baixo nível tecnológico.
A concavidade e convexidade das formas indicam se as atividades agrícolas
estão em retração ou expansão, respectivamente. Este padrão permite inferir se
determinada área constitui-se numa área em expansão de atividades antrópicas e
assim, atratora de população.
No caso do empreendimento, o crescimento populacional é considerado
como um catalisador nas transformações da paisagem promovidas por mobilização
populacional para a área, podendo constituir-se num problema, uma vez que pode
significar o esgotamento das condições infra-estruturais de saneamento, saúde e
educação do município de Porto Velho e de gestão das Unidades de Conservação e
Terras Indígenas circunscritas ao Alto Rio Madeira.
A continuidade das manchas representa o nível de adensamento de
abertura na matriz, no caso a floresta, o que possibilita verificar a tendência de
agrupamento das atividades, inferindo a intensificação no uso da terra. As manchas
contínuas podem representar a intensa utilização dos recursos naturais e apontar
para o avanço antrópico das áreas circunvizinhas.
60
Nas áreas com intensa utilização do solo a degradação deste e das águas é
mais perceptível e de mais complexa reversão, devido a dificuldade de mudança de
padrões culturais de exploração dos recursos naturais.
Nas áreas que apresentam um padrão de adensamento de manchas de
forma descontínua, as possibilidades de inovações tecnológicas a partir da utilização
de tecnologias menos degradantes são maiores em função de que representam
áreas menos alteradas onde ainda é possível a inserção de novo padrão produtivo e
de novas técnicas.
A análise dos padrões de espacialização das manchas, juntamente com os
dados socioeconômicos auxiliaram na construção do quadro da configuração
territorial como construção social sobre a massa de recursos disponíveis e possíveis.
Os dados socioeconômicos foram de fundamental importância por
expressar as condições da população que se relaciona com o ambiente, interage e
constrói fixos sobre o território. As formas de intervenção humana na paisagem
dependem do grau de tecnificação e capitalização de que os atores têm acesso e
este acesso está condicionado ao capital disponível aos sujeitos.
Como indicadores da análise socioeconômica foram apreciadas
informações secundárias (IBGE, 1996; 2000) que permitiram uma leitura da
vulnerabilidade sócio-ambiental. A verificação da vulnerabilidade não previu o
estabelecimento de um indicador avaliativo (alta, média ou baixa vulnerabilidade)
como construído por Alves (2006), mas um ranking relativo de vulnerabilidade do
Alto Madeira, construído a partir da utilização de indicadores socio-ambientais do
Censo Demográfico/IBGE (2000).
Neste ranking o Distrito de Porto Velho é inserido para auxiliar nas análises
comparativas, uma vez que se reconhece uma melhor situação em termos de
61
condições socioeconômicas do distrito da capital rondoniense, considerando a
alocação de maiores recursos neste espaço.
Em consonância com a proposta de Alves (op cit.) foram consideradas
informações sobre a escolaridade e a renda (representação populacional nas
classes de renda mais baixas) como essenciais no que diz respeito a capacidade
técnica e capital da população. Para a qualidade de vida, consideramos o não
atendimento por serviços públicos em termos de água, a coleta de lixo e o
atendimento com rede de esgoto por terem um grande peso no que diz respeito à
proliferação, ou não, de doenças por via hídrica superficial e subsuperficial.
Como indicador da existência de fluxos entre áreas foram consideradas as
informações sobre os locais de interesse a realização de atividades comerciais
(compras e venda de bens diversos). Neste caso, devido a inexistência de
informações secundárias, foram utilizados os dados primários produzidos por
LABOGEOPA (2005) que efetuou coleta de dados para a Empresa Furnas S/A com
fins a elaboração do EIA/RIMA. A pesquisa ocorreu por meio da aplicação de
questionários
14
estruturado, de forma sistemática nas Áreas de Influência Direta
(Censo) e Área de Influência Indireta (Amostra) nos distritos de Abunã, Mutum
Paraná e Jaci-Paraná.
A representação proporcional dos dados primários em relação ao número
de domicílios por distrito está explicita no Quadro 05, onde observamos que a coleta
de informações se deu numa proporção diferente de domicílios para cada Distrito.
14
Os questionários dividiram-se quanto a finalidade da informação em questionários da família e
questionários de propriedade. Os questionários de família tinham por objetivo coletar as informações
socioeconômicas dos moradores e os questionários de propriedade, eram utilizados quando os
moradores encontravam-se em propriedades, ou afirmavam possuir propriedade na Área de
Influência Direta e deveria coletar dados sobre dimensões e produção na mesma. Os dados de
interesse nesta pesquisa derivam das informações dos questionários de família.
62
Isso ocorre porque a metodologia de coleta das informações priorizou a divisão por
Áreas de Influência em cada empreendimento.
Quadro 05 – Representação da População por Domicílio, do Alto Rio Madeira pelos
dados Primários segunda as Áreas de Influência
Distrito % de Domicílios
AID AII
Abunã 6,02 40,42
Mutum Paraná 100 0
Jaci-Paraná 19,58 16,68
Fonte: Elaborado em autora com dados de LABOGEOPA (2005) e IBGE (2000).
O Distrito de Jaci-Paraná, em sua maior parte, considerado por Furnas
como Área de Influência do AHE- Santo Antônio, foi incorporado neste estudo que
foca o AHE-Jirau após a análise dos fluxos. A partir destes percebemos que o
Distrito de Jaci-Paraná tem relações diretas com os distritos de Abunã e Mutum
Paraná. A inclusão do Distrito de Jaci-Paraná como área de influência do AHE-Jirau
requereu a utilização do dados pertencentes ao AHE-Santo Antônio e por esta razão
estes são explicitados nas análises socioeconômicas no capítulo 4.
De maneira esquemática podemos visualizar a estrutura metodológica para
a análise da configuração territorial a partir do Quadro 06, onde demonstramos a
articulação em termos de elaboração teórica e seleção de dados.
Quadro 06 – Esquema Metodológico para Análise da Configuração Territorial do Alto
Rio Madeira
Elementos da
Configuração
Territorial
Manifestação Empírica Fontes de Dados
Elementos
Teóricos para
Análise
Sociedade (história
e sócio-economia)
Níveis e Escolaridade e
Renda, formas de trabalho
e Qualidade de Vida;
Censos e Dados
Primários
Vulnerabilidade
Sócio-ambiental
Recursos Naturais Disponibilidade e usos
Imagens de Satélites e
Relatórios Oficiais de
Diagnóstico ecológico.
Tessituras, Matriz e
Manchas
Fluxos Atividades Comerciais Dados Primários
Redes e
Corredores
Fixos
Redes de Rodoviária e
Hidroviária existente
Mapa Rodoviário e
observações de campo
Nós e Manchas
Fonte: Organizado pela autora com base em Raffestin (1993) e Santos (1985,1991,2005).
63
Para a leitura da expressão territorial dos impactos (Quadro 07),
procedemos uma análise Ad Hoc, de tendência, a partir da premissa de que o vetor
de intervenção nos indicadores sócio-ambientais (manifestação empírica) será o
rápido crescimento populacional, fato já diagnosticado em outros projetos de mesma
envergadura que o PHEAM (Bortoleto, 2001; Colito, 1999; CMB, 1999; Reis &
Bloemer, 2001; e Jong, 1993), o qual será acompanhado de novas demandas
produtivas e, por conseguinte, espaciais.
Quadro 07 – Avaliação de Impactos Sócio-ambientais
Evento
Desencadeador
de Impactos
Impacto
modificador
de
indicadores
Indicadores Sócio-ambientais
Construção do
PHEAM-Jirau
Crescimento
Populacional
Censo
-Escolaridade; Rendimento; População atendida por
serviços públicos de Água, Coleta de Lixo e Rede
Geral de Esgoto; Polarização de atividades
comerciais
Imagens
- Alterações na paisagem expressas na forma
Manchas.
Fonte: Organizado pela autora com base em La Rovere (2001).
Esquematicamente a Figura 06, representa a operacionalização do trabalho
de pesquisa e sua estruturação de apresentação onde, a configuração territorial da
área será alterada com a inserção do AHE Jirau.
A leitura as configuração territorial foi construída a partir de três aspectos
principais: Caracterização do Processo Histórico de Ocupação, Análise Espacial da
Ocupação de Terras do Alto Rio Madeira e Caracterização Socioeconômica. Estes
aspectos sob uma análise integrada subsidiaram a representação da configuração
territorial enquanto sistema de redes e áreas diferenciadas. A análise dos fluxos
socioeconômicos permitiu uma releitura das áreas de influencia afetas ao AHE-Jirau.
64
Fig. 06 – Organograma de Operacionalização do Trabalho de Pesquisa.
Fonte: Organizado pela autora.
A última etapa da pesquisa foi à análise e o cruzamento dos dados
selecionados para inferências gerais e elaboração da dissertação, tendo como
resultados alcançados a apresentação de cartogramas contendo informações sobre
a dinâmica da configuração territorial da área e da sinergia de impactos .
1. Caracterização do
Processo Histórico de
Ocupação
3. Caracterização da
sócio-economia
2. Análise Espacial
da Ocupação das Terras
no alto rio Madeira
Fluxos
Releitura das Áreas de Influência
AHE Jirau
Configuração Territorial
Levantamento bibliográfico
e concatenação com o
referencial teórico sobre o
Sistema Territorial
Apreciação de imagens de
satélite observando-se os
padrões de manchas sobre
a superfície (Venturieri,
2003).
Análise da Vulnerabilidade
e dos fluxos comerciais
internos
Configuração Territorial – Diferenciação de Áreas e Sistema Territorial
65
4 Análise Integrada da Área de Inserção do Empreendimento
Jirau
As análises sobre a área de inserção do AHE-Jirau é aqui dividida em três
seções: 4.1 Alto Rio Madeira: Processos Geomorfodinâmicos e Espacialização dos
Diversos Padrões de Ocupação das Terras; 4.2 O Processo Histórico de Formação
Socioeconômica do Alto Rio Madeira; e 4.3 A Socioeconomia do Alto Rio Madeira.
4.1 Alto Rio Madeira: Processos Geomorfodinâmicos e Ocupação das
Terras
Na análise do contexto ecológico do Alto Rio Madeira, entendemos que um
lugar é expressão menor de uma macro realidade, assim concebemos sua ecologia
como uma expressão localizada da Amazônia, uma região marcada pela Floresta
Ombrófila Densa, mas que envolve em seu território áreas com características
diversas.
Sendo a Amazônia aparentemente homogênea, a demarcação distrital
embasa nossa pesquisa quanto aos limites, mas considerando a unidade de análise
como sendo a paisagem natural do Alto Rio Madeira o que nos sobressai é a
presença do domínio morfoclimático
15
dos platôs amazônicos interioranos na área,
caracterizados pela significativa presença de água, da Floresta Ombrófila Densa e
clima de úmido a superúmido e de modo geral não apresenta formas elevadas.
Neste domínio temos uma dinâmica biológica intrinsecamente ligada ao
clima quente e úmido. Este tipo de intercâmbio é marcado por uma grande interação
15
(...) se expressa pela continuidade espacial dos tipos de elementos interados que, homogeneizando
paisagens, indicam inflexões das linhas, quer nos exemplos zonais, quer nos azonais.(...) embora
envolva particularidades morfológicas, mantém-se, em amplo e inigualável nível de homogeneidade
morfoclimática, no Brasil Equatorial. IBGE (1990, p. 133-134). A homogeineidade apontada pelo autor
66
dos elementos climáticos com o solo agindo sobre os processos pedomineralógicos
e freqüente lavagem das rochas reduzindo as bases e elevando a acidez, o que
contribui para a aceleração da decomposição da vegetação que gera horizontes
superficiais férteis e horizontes profundos submetidos a laterização.
Geomorfologicamente a área é marcada por uma longa história evolutiva
revelando em sua topografia uma complexidade de formas residuais decorrentes da
influência de agentes formadores de relevo relacionados a interferências climáticas e
estruturais que promoveram ao longo do tempo, relevos estruturais
16
, erosivos
17
e de
acumulação
18
. O rio Madeira apresenta ao longo de seu curso planícies e terraços,
comportando trechos encachoeirados.
As pequenas elevações no terreno (baixa declividade) não constituem
impedimento à ocupação antrópica e os trechos encachoeirados que inviabilizam a
navegação de grandes embarcações se constituem pontos de interesse para a
instalação das hidrelétricas.
O sistema geomorfogenético (Trincart apud Bertrand, 2004), especialmente
no que diz respeito às precipitações anuais, confere a área uma densa rede de
drenagem balizada pelo Rio Madeira e seus afluentes. São oito bacias secundárias,
das quais se destacam as bacias dos rios Guaporé, linha de fronteira com a Bolívia,
e o Mamoré. O Rio Madeira nasce na junção dos Rios Beni e Mamoré e é
compartimentado por Brasil (1978), em função das suas características físicas em
dois trechos distintos: o Alto e Baixo Madeira.
trata de uma homogeidade relativa que fica evidenciada em função da sua escala de delimitação, a
qual tem proporções regionais.
16
Formados por movimentos orogenéticos. (Guerra, 1993).
17
Relevos que estão sob a influência de agentes erosivos, caracterizados por formas arredondadas e
aplainadas. (Ibidem).
18
Relevos resultantes de processos deposicionais. (Ibidem).
67
O alto Madeira compreende o trecho entre a cachoeira de Santo Antônio, a
montante da cidade de Porto Velho até o ponto de confluência entre os rios Mamoré
(brasileiro) e Beni (boliviano), município de Nova Mamoré. Neste trecho o declive é
da ordem de 20cm/km e tem características retilinizadas em função do
encaixamento do rio em zonas de fraturamento atribuindo ao rio, neste trecho, uma
característica maturo-senil (Brasil, 1978). Será aproveitando este desnível e a
característica de encaixamento e não de planície, que o PHEAM pretende viabilizar
a produção energética a fio d’água.
O segundo trecho, Baixo Madeira, estende-se da jusante da cachoeira de
Santo Antônio até o Rio Amazonas e se caracteriza pela presença de meandros
característicos de rios pertencentes à bacia sedimentar amazônica, onde
predominam processos erosivos e deposicionais associados ao nível do rio.
As drenagens secundárias de maior volume são: os rios Jaci-Paraná (Alto
Madeira), Candeias, Jamari e Jaru (Baixo Madeira), acompanhando o padrão
dendrítico peculiar à área. No caso da efetivação dos empreendimentos e da
manutenção das cotas de cheia máxima, os rios secundários do Alto Madeira
também terão suas cotas elevadas permanentemente, o que pode repercutir na atual
capacidade piscosa dos rios, comprometimento de algumas atividades comerciais
pesqueiras, perda de áreas com potencial turístico, inviabilização de atividades
garimpeiras, deslocamento permanente de populações, entre outras.
Os divisores de água do Rio Madeira são: na margem esquerda, as serras
Isaac, do Pedrão e Três Irmãos e, na margem direita as elevações oriundas da
chapada dos Parecis com destaque para as serras Moreira Cabral e Mirante.
De acordo com dados de Brasil (1999a), o rio Madeira apresenta uma área
de bacia de 1.324.700 Km
2
, e Gomes et al. (2006) aponta que o Alto Madeira possui
68
360 km de extensão, apresentando 18 cachoeiras, com desnível de 72m e índice de
declividade de 20 cm/km, com uma vazão média de 23.000 m
3
/s.
A bacia de drenagem, devido a sua contribuição ao Rio Amazonas quanto
ao fluxo de sólidos em suspensão tem sido avaliada por vários autores
19
que
destacam o quantitativo de 40x10
6
t.ano
-1
transportado em sólidos em suspensão
pelo Rio Madeira, quantitativo este que apesar de difícil mensuração, especialmente
devido ao caráter sazonal da fluviometria do rio, deve ser considerado pelos
proponentes do empreendimento, uma vez que haverá uma tendência deposicional
a montante do empreendimento o que também diminuiria a turbidez a jusante,
modificando o comportamento da produtividade primária do rio.
Uma das questões levantadas por Rondônia (2006) é que a sedimentação à
jusante dos barramentos não inviabilizaria a produção energética da represa, mas as
áreas de Abunã e Bolívia, que segundo Furnas, não seriam afetados pela elevação
nas cotas do rio, sofreriam processo de sedimentação no remanso superior, isto por
que o rio terá sua velocidade diminuída quando encontrar a mudança de elevação
nas cotas de enchimento e a nova velocidade levará ao processo de deposição dos
sólidos nas áreas de entrada do reservatório. Isto geraria uma elevação nos níveis
do rio e no nível de base no distrito, no caso principal, o rio Abunã e margens do
território boliviano contrariando a afirmação da empresa proponente.
Quanto à vegetação temos, nas proximidades de Abunã, áreas inundáveis,
onde ocorre Plintossolos álicos sob área de tensão ecológica (contato Floresta
Ombrófila/ Savana), além de Floresta Ombrófila aluvial nas margens dos rios.
Nestas imediações temos a formação florestal denominada de Umirizais situados na
19
Sioli (1967); Meade et al. (1985); Martinelli et al. (1993); e Guyot et al. (1999).
69
AID entre Mutum Paraná e Abunã que, devido a possível elevação do lençol freático
numa área já alagadiça será afetado (Rondônia, 1999).
Rondônia (2006) aponta que esta vegetação não está em extinção e que o
estado possui outras áreas como a mesma vegetação, portanto, a criação de uma
área de conservação, mesmo que em outro lugar, poderia ser considerada uma
compensação ambiental para a questão. Na área de estudo, encontramos também
Floresta Ombrófila Densa e Aberta, além de áreas antropizadas sob diversos usos
(Ibidem).
De acordo com a classificação de Köppen, Rondônia está inserida no tipo
climático Am, característico de Zonas Tropicais (Strahler, 1984). O sistema de
circulação atmosférica que atua na região Norte vindo a atingir Rondônia e,
conseqüentemente, a área de estudo do PHEAM, caracteriza-se pela invasão
periódica de correntes perturbadas (Nimer, 1989). Dentre estas correntes três
atingem a área de estudo: a massa Equatorial Continental (mEc) formada pela
convergência termodinâmica dos ventos de nordeste do anticlone dos Açores e da
Convergência Intertropical, a (CIT) e no interior da mEc vai aparecer a linha de
Instabilidade Tropical (IT). A IT e CIT são responsáveis geralmente pelas chuvas na
região amazônica do tipo “chuvas convectivas”.
As precipitações que influenciam as médias pluviométricas do clima de
Rondônia são originadas a partir dos aguaceiros convectivos que proporcionam
grandes influências nestas precipitações devido ao tipo de sistema de circulação
atmosférica que predomina na Amazônia (Ayoade, 1991).
Na série pluviométrica (Gráfico 01) compreendendo um período de 24 anos,
percebe-se uma grande variação nos valores das precipitações anuais e
considerando-se que os índices de pluviosidade têm estreita relação com os níveis
70
de cheia e vazão do rio Madeira (Gráfico 02), é correto afirmar que os padrões
climáticos observados influenciarão no nível fluviométrico do rio Madeira que é
bastante variável, repercutindo na produção energética a fio d’água, sujeita estes
fatores.
Gráfico 01 – Média Anual das Precipitações no Município de Porto Velho (1976 a 2000).
Fonte: Organizado pela autora com base em dados de EMBRAPA (1999) e Rondônia
(2000).
Considerando os pontos mínimos e pontos máximos de precipitações, a
proposta de geração energética esperada pode ser comprometida principalmente do
período de estiagem que ocorre entre os meses de agosto a novembro (Gráfico 02).
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
JF
M
AMJ
J
ASO
N
DJ F MAMJ J AS O
N
D
Meses da Série
Precipitações anuais
mm
0
2
4
6
8
10
12
14
16
123456789
10 11 12
Meses no ano de 1997
0
100
200
300
400
500
600
Variação Fluviométrica Variação Pluviométrica
Precipitações
mensais - mm
Fluviometria - metros
71
Gráfico 02 – Relação Entre os Níveis Pluviométricos e Fluviométricos do Rio Madeira.
Fonte: Organizado pela autora com base nos dados fornecidos pela EMBRAPA (1999).
A partir da análise do sistema geomorfogenético da Alto Rio Madeira
verificamos elevações modestas, um sistema hidrográfico dendrítico permanente,
solos agricultáveis formados por meteorização de rochas vulcânicas e processos
deposicionais, pluviosidade regular, que não representam restrições naturais à
ocupação de áreas sob influência do empreendimento Jirau, ao contrário, a dinâmica
socioeconômica que se estabeleceu a partir das técnicas disponíveis e dos
elementos naturais dispostos, tem permitido o avanço das atividades antrópicas
sobre as áreas naturais.
Tomando por base a relação da sociedade local e o padrão de
espacialização em relação aos recursos naturais descritos, a partir da Figura 07,
verificamos que o Rio Madeira constitui um limite natural, que associadamente a
existência de áreas de proteção ambiental impedem à intensificação da incorporação
produtiva das áreas naturais da margem esquerda do rio Madeira.
Esta margem apresenta os elementos naturais menos antropizados e as
áreas preferenciais à ocupação estão na margem direita ao rio, especialmente ao
longo da BR-364.
Com a implementação do empreendimento pode haver uma maior facilidade
de aceso à margem esquerda, caso o barramento preveja uma via de circulação, ou
mesmo se houver uma diminuição na velocidade superficial do rio, o uso de
embarcações será facilitado permitindo o estabelecimento de fluxos.
A área distrital de Jaci-Paraná, margem direita do rio Madeira, encontra-se
mais antropizada onde se percebe uma maior alteração da vegetação matriz, e
considerando o critério da análise espacial pelo indicativo da forma das manchas,
identificamos manchas de tamanho médio (B), com formas irregulares (1),
72
denotando uma maior presença de produtores menos capitalizados. Isto implica uma
parcela da população suscetível à interferência de grandes capitais por meio de
pressões de produtores mais capitalizados, o que pode gerar o acirramento de
conflitos de terra, fato recorrente no povoado de União Bandeirantes.
Forma das Manchas
Continuidade de Manchas
ou Corredores
Tamanho das Manchas
Forma das Manchas
C1II
C1II
A2II
Umirizal
B2II
A2II
A2II
B1II
AHE Jirau
Núcleo Urbano de
jaci´-Parana
Assentamento Joana D’arc I,II,III
Núcleo Urbano de
Mutum Paraná
Núcleo Urbano
de Abunã
B1II
Bolívia
Amazonas
Legenda
Limites das Uc’s
Limites Distritais
Delimitação de
Área estimada
Destaque para
Tipologia de
manchas
predominantes
Sentido do avanço
de expansão de
antropisazão
Núcleos Urbanos
AHE Jirau
Estação Ecológica “A”
Mujica Nava
FERS RIO
VERMELHO “B”
TI Karipuna
Resex Jaci
Paraná
Flona Bom Futuro
TI Karitiana
5200 m
Fig.07 - Espacialização dos Diversos Padrões de Ocupação das Terras no Alto Madeira.
Fonte: Imagem de Satélite fornecida pelo INPE. Landsat / TM5 - Bandas 3,4 e 5 de 2004. Base Cartográfica IBGE, 1999.
Escala Gráfica
73
74
A partir do critério de continuidade e concavidade, percebe-se que as
alterações na vegetação natural em Jaci-Paraná se encontram em expansão, o que
pode se acelerar com a implantação do AHE-Jirau, uma vez que as demandas por
mais recursos agrícolas tenderiam a aumentar. Neste Distrito as alterações na matriz
da floresta estão mais adensadas que em outros distritos devido a marcante
presença de Unidades de Conservação e Terra Indígena que inibem o avanço do
desmatamento nas áreas de sua abrangência (quase 50% da área distrital), porém,
o crescimento populacional pode comprometer este freio e resultar em conflitos,
acirrando as pressões sobre estas e outras áreas.
Nas áreas dos distritos de Mutum Paraná e Abunã observa-se uma menor
presença de pequenos lotes a partir da presença de grandes manchas contínuas e
regulares (A1), o que denota produtores capitalizados se utilizando de técnicas
produtivas mecanizadas.
O histórico da área demonstra que ali se localizavam os principais seringais
do Alto Madeira, assim estas manchas, representando grandes fazendas, são
oriundas de antigos seringais, o que lhes confere título regular de posse e maior
segurança aos investidores. A menor presença de pequenos produtores também
tem relação com a distância de Porto Velho, o que prejudicaria o escoamento e
comercialização de produção para um grupo menos capitalizado.
O núcleo urbano de União Bandeirantes, situado no Distrito de Mutum
Paraná, área de conflitos fundiários, é foco de atenção por parte da Justiça Federal
(Brasil, 2004)
20
que:
20
JUSTIÇA FEDERAL- Seção Judiciária de Rondônia- 1ª Vara Federal – Decisão- Processo :
2004.41.00.001887-3- - Ação Civil Pública Reqte.: Ministério Público do Estado de Rondônia e outro
Reqdo. : Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e outros, 2004.
75
objetivando, em liminar, a imediata paralisação de toda obra na área
estabelecida na Reserva Extrativista Jaci-Paraná, Terra Indígena Karipuna,
Parque Ecológico Guajará-Mirim e a Floresta Nacional do Bom Futuro, que
em conjunto possuem área de 800.822,5787 hectares, bem como,
incluindo-se qualquer atividade que fomente a invasão do local, como a
expedição pelos requeridos de concessão de declaração de direito de
posse e implementação de projetos de assentamentos, de licença
ambiental ou de queimada, inclusive para serrarias, se absterem da
concessão de novas linhas de ônibus, além de revogarem as
eventualmente concedidas, sob pena de crime de desobediência e/ou
multa diária de R$ 100.000,00 (cem mil reais) para cada dia.
Tal decisão ainda não foi revogada e compromete as atividades mesmo
daqueles que estão em relativa distância do Núcleo e Áreas de Proteção. Esta
medida, de certa forma, demonstra a presença do poder público para conter o
avanço da degradação sobre áreas de interesse público; verifica-se que, apesar do
potencial de dinamismo da área, com a devida fiscalização, ela está sob controle.
Considerando o comprometimento de grande parte da área do Distrito de
Mutum Paraná, o atual quadro de Jaci-Paraná quanto aos conflitos de uso (área de
proteção x exploração agropecuária) e de posse (grileiros x agricultores sem título
definitivo/ comunidades indígenas), poderá haver o avanço de frentes de expansão
para o segundo Distrito. Outra área de expansão pode ser a margem esquerda do
Rio Madeira, onde se encontra a Assentamento Joana D’arc I,II e II, e Unidades de
Conservação.
Pelo padrão de distribuição das manchas de alteração na matriz florestal
tem-se padrões correlatos: entre os distritos de Porto Velho e Jaci-Paraná ao longo
da BR-364 encontra-se a área mais dinâmica, com maior agrupamento de atividades
agropecuárias e com padrão de avanço sobre áreas de proteção e terras indígenas.
Em Mutum Paraná, observa-se duas situações: uma dinâmica de avanço
antrópico que ocorre nas marginais a Resex Jaci Paraná e as grandes fazendas,
segundo um padrão de espacialização com pequenas e irregulares manchas. Na
áreas das grandes fazendas temos uma vegetação natural menos alterada, mas são
76
áreas que apresentam grandes manchas com padrão regular e contínuo
característico da presença de mecanização que contrasta com o padrão da área
circundante.
Outra situação corresponde a áreas menos alterada, mas com indicação de
maior nível tecnológico se estende até parte do Distrito de Abunã, e neste o padrão
de espacialização passa a ser com manchas pequenas, irregulares na porção norte.
Estas manchas apresentam pouco adensamento na continuidade revelando um
caráter de menor dinamização. Na porção sul, temos mais adensamento na
continuidade revelando uma maior dinâmica, esta proveniente da expansão que
vem ocorrendo ao longo da BR-421 em Nova Mamoré.
Este cenário é de diversificação de tempos e ritmos no mesmo espaço e
também de certa tensão e demandas. Tal quadro poderia fazer com que os
instrumentos legais que hoje ordenam o território, a exemplo do Zoneamento Sócio
Econômico Ecológico
21
e das Unidades de Conservação, fossem revistos, a
depender da força dos atores políticos e sociais que têm interesse nas áreas.
Quanto aos fatores naturais restritivos a implantação do empreendimento
Jirau não verificamos a existência destes; o que temos é a influência da pluviometria
na fluviometria do rio Madeira; o que poderia prejudicar ou pelo menos diminuir o
potencial hidrelétrico a ser gerado dadas às características peculiares da área e,
outro fator que merece atenção é a situação dos sólidos em suspensão que
21
Em consonância com Lei Complementar Estadual 233/2000 e com Rondônia (2002a) as áreas que
não estão sob proteção especial (UC’s e TI’s) recebem, em grande parte a classificação de subzonas
2.1 e 2.2. Onde na primeira, é orientada para a “manutenção das atividades agropecuárias existentes,
sem estímulo a sua expansão, fomentando as atividades de manejo florestal e do extrativismo, do
ecoturismo e da pesca em suas diversas modalidades”; e na segunda (A subzona 2.2) recebe
tratamento ainda mais restritivo, onde destacamos as diretrizes de “áreas destinadas à conservação
da natureza, em especial da biodiversidade, com potencial para atividades científicas e econômicas
de baixo impacto ambiental sob manejo sustentado”.
77
merecem planejamento quanto ao tratamento da questão, mas solucionável com as
técnicas adequadas.
78
4.2 O Processo Histórico de Formação Socioeconômica do Alto Madeira
A história da formação social é aquela da superposição de formas criadas
pela sucessão de modos de produção, da sua complexidade sobre seu território
espacial, ainda que lhe atribuindo novos significados (Santos, 2005). Neste sentido,
entendemos que a configuração territorial do Alto Rio Madeira é resultado
processual, em especial, dos ritmos de exploração econômica pelos quais passou.
A área hoje vista como parte de Rondônia, pertencia a Espanha até 1750,
data até quando vigorou o Tratado de Tordesilhas. Após esta data entra em vigor o
Tratado de Madri passando a posse para Portugal. O atual estado Rondônia ainda
não existia enquanto construção sóciopolítica atual, mas fazia parte das capitanias
de São Paulo e Grão-Pará (Moraes, 1988).
A Amazônia passa a ser ocupada sistematicamente pelos portugueses já
em 1616 quando expulsam os franceses do Maranhão, fundam o Forte do Presépio
donde surgiria a cidade de Santa Maria de Belém do Grão Pará e a partir deste
ponto passam a ocupar e ordenar, via hidrografia, o território que estava além de
suas posses demarcadas por Tordesilhas. A construção da configuração territorial
ocorre pela via hidrográfica, onde os pontos de confluência dos rios seriam os
pontos nodais de comando regional (Raffestin, 1993; Mello & Théry, 2001).
A ocupação das áreas marginais ao rio Madeira estava associada ao
extrativismo e tem como marco desta ocupação as missões jesuíticas que, entre os
anos de 1669 e 1672, empreendem esforços para implantar aldeamentos. Como
aponta a Figura 08, neste período o Rio Madeira figurava como circuito de
navegação vinculando o comércio das Capitanias do Mato Grosso e do Rio Negro
com as minas do Guaporé (Bettendorff (1990) apud Fonseca (2005)).
79
Fig. 08 – Cartograma de Fluxos Hidroviários para o Alto Madeira – Século XVII.
Fonte: Organizado pela autora com base em Bettendorff (1990) apud Fonseca (2005).
As atividades econômicas na área, neste período, era basicamente o
extrativismo feito a partir da exploração de cacauais e tartarugais, especialmente, a
coleta de ovos. Entre as dificuldades da fixação na região são destaques as doenças
endêmicas, a resistência de grupos indígenas como os Mura e os Parintintins, a
dificuldade de navegação pelo trecho encachoeirado e a grande distância do ponto
de controle da região, Belém (Fonseca, 1986).
80
A partir de 1839, com a descoberta do processo de vulcanização do látex,
temos a produção de goma para borracha como a maior responsável pelo início da
fixação populacional no Alto Rio Madeira, uma vez que esta atividade é de caráter
sedentário. De início figuram os bolivianos a partir do Beni abrindo e gerenciando
seringais no Alto Madeira, onde havia também lavouras de subsistência para os
seringueiros instalados. Para dar suporte a produção, foram surgindo entrepostos ao
longo do trecho nas cachoeiras, como na Morrinhos onde haviam remeiros e
carregadores que auxiliavam na transposição das cachoeiras para fazer fluir a
produção (Fonseca, 1986).
No início do século XIX, na cachoeira de Santo Antônio, surgiu uma
povoação para a qual convergiam os fluxos populacionais e econômicos da área
uma vez que servia de ponto final de apoio ao embarque e desembarque para
Belém e Manaus (Cunha, 1994; Coimbra, 1989; Pinto, 1993).
Com a alta da borracha no mercado mundial foram empreendidos esforços
brasileiros e bolivianos, a partir do Tratado de Petrópolis, para construir uma ferrovia
que conseguisse transpor o trecho encachoeirado e favorecesse o escoamento da
produção boliviana ligando Guajará-Mirim a Porto Velho, e a partir deste último
ponto, por via fluvial, a produção seguiria até Belém e de lá para o mercado mundial.
Por meio da Figura 09, podemos visualizar a localização dos distritos de
Abunã, Mutum Paraná e Jaci-Paraná ao longo do trecho da Estrada de Ferro
Madeira Mamoré - EFMM, uma vez que esta fomentou o surgimento destes. A
EFMM estava ligada ao projeto econômico brasileiro de inserção da Amazônia ao
contexto econômico internacional a partir da produção gomífera boliviana e brasileira
(Silva Filho, 1995).
81
Fig. 09 – Cartograma de Fluxos no Alto Madeira com Sobreposição dos Modais Hidroviário
(Séc. XVII) e Ferroviário (Séc. XX).
Fonte: Organizado pela Autora com base em Bettendorff (1990) apud Fonseca (2005) e Silva
Filho (1995).
A construção da EFMM se deu entre os anos de 1907 e 1912, onde cerca
de 30.000 trabalhadores de várias partes do mundo foram engajados no
empreendimento que ao ser concluído, ficou longe de atingir os objetivos, uma vez
que a produção gomífera asiática já se destacava no mercado mundial e a produção
artesanal amazônida era abandonada como alternativa econômica nacional
(Oliveira, 1998).
82
O abandono da EFMM também ocorreu em virtude do crescimento do
mercado automobilístico que demandava não mais trilhos, mas estradas, assim o
Brasil ingressava no período rodoviário e iniciava as obras de integração nacional
concretizado na Amazônia a partir da construção da estrada Cuiabá - Porto Velho,
atual BR-364 (Moraes, 1988). Neste período, o alto rio Madeira recebe influência
deste processo através da continuidade das obras da BR-364 em direção ao Acre,
em que a ocupação de terras vai ser facilitada em termos de acesso por vias (Figura
10), mas que utiliza os núcleos urbanos já existentes como apoio a ocupação.
Fig. 10 – Cartograma de Fluxos no Alto Madeira com Sobreposição dos Modais Hidroviário
(Séc. XVII), Ferroviário e Rodoviário (Séc. XX).
Fonte: Organizado pela Autora com base em Bettendorff (1990) apud Fonseca (2005), Silva
Filho (1995) e Moraes (1988).
83
A configuração territorial desta área foi organizada a partir da confluência de
três modais de transporte: hidroviários, ferroviários e rodoviários. Assim, podemos
dizer que os distritos de Jaci-Paraná, Mutum Paraná e Abunã funcionam como os
nós de confluência destes modais conforme pode ser observado na Figura 11.
Fig. 11 – Configuração Territorial Resultante das Possibilidades de Modal de Transporte no
Alto Rio Madeira.
Fonte: Organizado pela autora. Base em DSG/Exército e IBGE (1999b).
O início da efetiva ocupação do Alto Rio Madeira se deu a partir da Estrada
de Ferro Madeira Mamoré, a qual trouxe uma dinâmica própria para a região: criou
um locus de diversidade cultural na medida em que os trabalhadores vieram de
várias partes do mundo, imprimiu características econômicas de reprodução
84
capitalista, promoveu obras de engenharia com características diferentes das
tradicionais e sobrepujou adversidades naturais, tudo em função do atendimento a
demandas econômicas externas; neste caso a EFMM atuou como uma verticalidade
reestruturante da região, territorializou-se na medida em que promoveu sua própria
organização sócio-espacial.
Hoje a organização espacial do Alto Madeira nos permite perceber várias
fases econômicas que têm fomentado os fluxos inerentes à área. Observando as
rugosidades
22
relativas à EFMM, percebemos o peso deste empreendimento para a
formação social da área que atuou na implantação de uma infra-estrutura capaz de
estabelecer comunicação para fluxos e criar elementos fixadores de população e, a
atração populacional induzida foi acompanhada por um movimento espontâneo de
pessoas em busca de oportunidades de trabalho e renda.
Estes elementos fixadores se traduzem nas vilas destinadas aos
funcionários da Ferrovia; a infra-estrutura de energia e água encanada, entre outros
benefícios, que atraíram espontaneamente comerciantes e outros atores.
A desativação da Ferrovia e a falta de semelhantes perspectivas
econômicas nas áreas antes dinamizadas levaram ao abandono, por parte dos ex-
funcionários e trabalhadores. O abandono contribuiu para a substituição de uma
economia com forte participação do assalariamento por atividades agrícolas e
extrativistas.
O Alto Madeira teve um outro período dinâmico relacionado à exploração do
ouro aluvionar, especialmente na área denominada garimpo do Araras com apogeu
no ano de 1996 (Silva, 2002). Contudo, este tipo de atividade não estabelece fixação
de população, tão pouco promove a elevação de qualidade de vida ou
22
Formas espaciais que exerciam funções específicas em determinado período histórico, e não as
exercem mais, mas se observam na paisagem (Santos,1991).
85
aprimoramento de técnicas produtivas, ou seja, não promove desenvolvimento
enquanto satisfação das múltiplas necessidades das populações locais.
A partir da década de 60 até os anos 90, como explicita a tabela 01 o
crescimento populacional de Rondônia foi superior a 6% a.a. como resultado das
políticas nacionais e integração da Amazônia.
O estado foi palco das políticas de colonização dirigida com imigração
estimulada a partir do Centro-Sul do país. A implantação da BR-364 contribuiu para
a viabilização de fluxos populacionais por via rodoviária.
Tabela 01 - Crescimento da População de Rondônia (1950/2000)
Período Rondônia
População % a.a.
1950 36.935 -
1960 69.792 6,36
1970 111.064 4,65
1980 491.025 16,03
1991 1.130.874 7,91
1996 1.231.007 1,71
2000 1.377.792 2,89
Fonte: Governo do Estado de Rondônia, 1998. IBGE, Censo Demográfico 2000 In:
Rondônia, 2002
b
.
De acordo com Saule e Cardoso (2005), dado o contexto de imigração
estimulada a partir do Centro-Sul e voluntária a partir do nordeste, Porto Velho
tornou-se um caldeirão cultural onde se misigenaram hábitos e sotaques de todo o
país, urbanizou-se rapidamente o que dificultou o gerenciamento da ocupação do
território e tornando difícil atender toda a população com serviços básicos de infra-
estrutura.
Ao passo que se acelerava o crescimento populacional como resultado da
política implantada na região que objetivava responder a pressões do Centro-Sul,
acelerava-se também o desmatamento (Gráfico 03) e, sobretudo proporcionava o
aumento do número de núcleos urbanos e o crescimento populacional nos núcleos
já existentes (Valverde, 1979).
86
234.545
180.000
170.000
110.000
226.500
294.812
2000
1999
1998
1997
19961994
1993
1992
19911990
1989
19881978
1995
1.657
920
2.356
445.916
445.916
268.673
276.243
420.000
5.149.386
5.419.716
3.000.000
3.180.000
3.350.000
3.460.000
3.686.500
3.981.312
4.267.228
4.873.143
5.418.059
5.420.636
5.422.991
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
350000
400000
450000
500000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
Área desmatada (ha)
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
4.000.000
5.000.000
6.000.000
Incremento anual no desmatamento Área desmatada
Gráfico 03 - Desmatamento em Rondônia (1978-2000).
Fonte: Organizado pela autora com base nos dados de Rondônia (2002b).
O caso de Porto Velho não é atípico na Região Amazônica, pois é fruto de
uma política nacional para a região e os estados da Amazônia, embora com suas
peculiaridades, refletem problemas comuns, fruto dessas políticas. Exemplo destes
problemas comuns são a falta de uma infra-estrutura de serviços públicos e a
pressão sobre os recursos naturais (Kitamura, 1994).
Incremento em Área (ha)
87
4.3 A Sócio-economia do Alto Madeira
Porto Velho, com seus 34.209,5 Km², abriga uma população que passou de
294.334 hab. em 1996 para 334.661 hab. em 2000 (Tabela 02), o que reflete uma
taxa de crescimento de 3,42 % a.a. e uma densidade demográfica da ordem de 9,78
hab/Km².
Tabela 02- População residente segundo a contagem rápida e o
Censo demográfico Porto Velho – 1996/2000
Discriminação
Total
Sexo
Homem Mulher
Total - 1996
Urbana
Rural
294.334
238.421
55.913
146.841
117.395
29.446
147.493
121.026
26.467
Total - 2000
Urbana
Rural
334.661
273.709
60.952
166.737
134.647
32.090
167.924
139.062
28.862
Fonte: IBGE. Censo Demográfico (2000).
Esta taxa de crescimento é mais alta que índices brasileiros e das regiões
(Tabela 03), onde se verifica um crescimento populacional em termos de Brasil a
uma média de 2,35% nas últimas cinco décadas e não superior a 2,86 a.a. nas
regiões, no período de 1991 a 2000.
Tabela 03 - Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente,
segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação - 1950/2000
Grandes Regiões e
Unidades da
Federação
Taxa média geométrica de crescimento anual da população residente (%)
1950/1960 1960/1970 1970/1980 1980/1991 1991/2000
Brasil 2,99 2,89 2,48 1,93 1,64
Norte 3,34 3,47 5,02 3,85 2,86
Rondônia 6,39 4,76 16,03 7,89 2,24
Nordeste 2,08 2,40 2,16 1,83 1,31
Sudeste 3,06 2,67 2,64 1,77 1,62
Sul 4,07 3,45 1,44 1,38 1,43
Centro-Oeste 5,36 5,60 4,05 3,01 2,39
Fonte: IBGE (2001).
88
Rondônia possui, em relação ao Brasil, em magnitude absoluta o maior
saldo migratório positivo para áreas rurais, menor somente que os estados de São
Paulo e Mato Grosso. Quanto a migração para as áreas urbanas, o comportamento
é oposto, apresentando os menores saldos migratórios positivos no período de
1995/2000. Contudo, o crescimento da população não-natural é pequeno (2,8%) que
coloca o estado em antepenúltimo no ranking nacional em relação a outros estados
(IBGE, 2003).
Neste sentido, é possível inferir a existência de uma intensa dinâmica
interna fruto de deslocamentos intermunicipais oriundos de desprendimento de
população em função da expansão de produtos que exigem intensa mecanização
e/ou menos mão-de-obra, como é o caso da soja e da pecuária. Entre os anos de
1991 e 2000, conforme o Censo de 2000 (IBGE, 2000), quatro municípios do cone
sul (Cabixi, Cerejeiras, Colorado, e Corumbiara), principais produtores de soja e oito
da área central do estado, têm apresentado crescimento populacional negativo,
enquanto outros apresentaram os índices positivos mais elevados do país, a
exemplo de Buritis, seguido de Campo Novo, São Francisco do Guaporé, Vale do
Anari e Cujubim.
Por inferência, o crescimento populacional de Porto Velho pode ser
compreendido, em parte, por duas vertentes de movimentos populacionais: entrada
de migrantes (fluxos nacionais) e movimentos intermunicipais (êxodo rural e
deslocamento voluntário) de agricultores das áreas rurais, que se direcionam para
áreas rurais e urbanas.
Nas áreas urbanas de Porto Velho, o quadro é de crescimento
descontrolado na periferia, agravando o problema gerado pela carência de infra-
estrutura básica de saneamento, além do avanço antrópico sobre áreas marginais a
89
igarapés. Nas áreas rurais têm se acirrado os conflitos fundiários e uma elevação
nas demandas de recursos naturais (garimpo, pesca, coleta de produtos florestais,
avanço sobre terras indígenas e unidades de conservação), gerando quadros de
degradação das condições ecológicas e sociais.
O Alto Rio Madeira é genericamente compartimentado por oito (08) dos
doze distritos que compõem o município de Porto Velho: Nova Califórnia, Extrema,
Vista Alegre do Abunã, Fortaleza do Abunã, Abunã, Mutum Paraná, Jaci-Paraná e
Porto Velho, sendo estes últimos quatro distritos os justafluviais ao Rio Madeira a
partir da cachoeira de Santo Antônio e por isto, considerados nesta pesquisa, neles
reside 1,23 % da população de Porto Velho, 94,32% reside no distrito de Porto Velho
e o restante dos 4,44%, distribui-se nos demais distritos (Tabela 4).
Tabela 04 – População Residente no Alto Rio Madeira de Porto Velho – 2000
Distritos Domicílios
Pop.
Residente
Urbana Rural
Homens Mulheres Homens Mulheres
Porto Velho* 333.550 334.661 134.647 139.062 32.090 28.862
Porto Velho** 314.561 315.653 128.580 133.577 27.898 25.598
Abunã 282 693 225 202 149 117
Mutum Paraná 244 613 134 142 213 124
Jaci-Paraná 921 2.826 956 837 582 451
Fonte: IBGE, Censo Demográfico (2000). * Município ** Distrito
A população no distrito de Porto Velho encontra-se estabelecida em 65
bairros com abastecimento de água efetuado pela CAERD – Companhia de Águas e
Esgotos de Rondônia, por meio de 24.408 ligações de água em atividade (Porto
Velho, 2002). A quantidade de ligações é insuficiente para a demanda, ficando o
restante da população na busca de alternativas a partir de poços subsuperficiais.
O aqüífero que atende o abastecimento por meio de poços é o Jaciparaná
se encontra super-utilizado e em constante contaminação, devido a construções
inadequadas de poços e despejo de esgotos e fossas em solos da superfície
90
(Campos et al. 2006). Os Distritos de Mutum Paraná e Jaci-Paraná não possuem
rede geral de abastecimento de água e em Abunã 22,47% das residências são
atendidas pela rede geral.
Quanto ao lixo, nos distritos em foco, não existe coleta sistemática por parte
do poder público, exceto em Porto Velho. A maior parte do lixo é queimada e a
segunda opção quanto ao seu destino é o abandono em terreno baldio.
A coleta de lixo é realizada apenas no perímetro urbano e de expansão
urbana do distrito de Porto Velho, com uma taxa de 1,9 kg de lixo por domicílio/dia
(Porto Velho, 2002).
Quanto às condições sanitárias no que diz respeito à existência de
banheiros, Mutum Paraná apresenta 20% das residências sem banheiro ou sanitário
e em Abunã, esta carência está em 15% das residências, seguidos por Jaci-Paraná
(11%) e Porto Velho (4%) (IBGE, 2000).
Estas condições podem ser melhor compreendidas a partir da
sistematização destas informações na Figura 12, onde, foi elaborado um ranking
com base na análise comparativa dos quantitativos percentuais de serviços públicos
e condições sanitárias das residências dos quatro Distritos.
91
Fig. 12 -Cartograma de Vulnerabilidade Conferida a partir das Condições de Saneamento.
Fonte: Organizado pela autora com dados de IBGE (2000) em base cartográfica IBGE (1999b).
Porto Velho e Abunã estão em melhores condições que Jaci-Paraná e
Mutum-Paraná, ou seja, com menor vulnerabilidade sócio-ambiental. Os Distritos de
Mutum Paraná e Jaci-Paraná, constituem-se em áreas prioritárias quanto a políticas
e programas de elevação de qualidade de vida para as populações locais.
Em Porto Velho (Quadro 08), houve uma elevação nos indicadores do nível
educacional da população adulta entre os anos de 1991 e 2000, porém verificamos
que 35,5% da população adulta tinha menos de 4 anos de estudo, incluindo-se uma
taxa de analfabetismo elevada (10,5%). Nos Distritos de Porto Velho, Abunã, Jaci-
Paraná e Mutum Paraná o índice de analfabetismo total chega a 11,60 %, 19,66%,
22% e 23,2% respectivamente (IBGE, 2000).
92
Quadro 08 - Evolução do Nível Educacional – Município de Porto Velho
Porto Velho: Nível Educacional da População
Adulta – 25 anos ou mais (%)
1991 2000
Taxa de analfabetismo 16,2 10,5
% com menos de 4 anos de estudo 34,0 25,0
% com menos de 8 anos de estudo 62,8 52,9
Média de anos de estudo 5,7 6,8
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil – 2000.
Sabemos que a variável educacional influencia nos rendimentos por
consistir-se num dos elementos de determinação da ocupação dos indivíduos e,
apesar das muitas variáveis que podem influenciar nos rendimentos (local de
moradia, sexo, idade, etc.), Sadeck Filho (2001) aponta que a educação tem papel
fundamental nos rendimentos das pessoas de renda baixa, sendo esta, fator
fundamental de mobilidade de renda.
IBGE (2000) define dez classes de rendimentos; no caso de Porto Velho
22% da população tem rendimento variando entre um e dois salários mínimos e
12,35% da população economicamente ativa não possuía rendimentos, o que
totaliza 34,35% (proporção mais baixa em relação a população total dos distritos em
foto) da população nas classes inferiores.
Considerando os distritos do Alto Rio Madeira quanto ao Rendimento
Nominal Mensal da Pessoa Responsável pelo Domicílio, Mutum Paraná concentra
62,88% da população nas duas classes mais baixas de rendimento (Até 1 salário/
De 1 a 2 salários) sendo, 23,2 % e 27, 25%, respectivamente.
Jaci-Paraná possui 61,57% do total da população nas duas classes mais
baixas: 39,99% da população tem rendimento na classificação de 1 até 2 salários
mínimos e 21,58% recebe até 1 salário mínimo.
Em Abunã, os rendimentos da população (Distrito com a maior parcela da
população (62,33%) em faixas mais baixas) não ultrapassam os 2 salários mínimos,
93
sendo que 32,79% recebe até 1 salário mínimo e 29,54% da população recebe entre
1 e 2 salários.
A vulnerabilidade das populações do Alto Madeira conferida pela baixa
escolaridade e pelos baixos rendimentos, implica no não acesso a técnicas e
tecnologias que poderiam melhorar a produtividade com menor agressividade ao
meio ambiente.
Os distritos de Mutum Paraná e Abunã estão bem próximos quanto ao
relativo alto grau de vulnerabilidade (Figura 13) a que está sujeita esta população
diante das possíveis modificações na estrutura produtiva que o PHEAM poderá
causar. A baixa escolarização e a ocupação em atividades agrícolas e extrativistas
com o emprego de técnicas rudimentares situam-se entre as condições
socioeconômicas mais difíceis de serem adaptadas as mudanças na estrutura
produtiva do lugar.
Fig. 13 – Cartograma de Vulnerabilidade Atribuída por Insuficiência de Capacidade Técnica e
Financeira.
Fonte: organizado pela autora com dados de IBGE (2000) em base cartográfica IBGE (1999b).
94
No município, as atividades terciárias têm maior expressão representando
90,2% de participação no PIB do estado, seguidas pelo comércio e pela
agropecuária e indústria (Gráfico 04).
Gráfico 04 – Contribuição Setorial do PIB de Porto Velho para o PIB de Rondônia (%).
Fonte: Organizado pela autora com dados de FIERO, 2003.
Em Abunã, na AID, verificamos uma forte ligação da população com as
atividades agrícolas, o que na AII está em segundo lugar, sendo destaque o trabalho
assalariado urbano (Gráfico 05). O emprego rural aparece em ambas as áreas na
proporção de cerca de 6% dos responsáveis pelas famílias, ocupado nesta
atividade.
A área circunscrita a AID em Abunã, compreende basicamente as margens
do Rio Madeira e, no Distrito, a produção agrícola é incipiente. Na margem esquerda
temos parte do território boliviano e na margem direita concentram-se os 486,47 km²
de Umirizais de Porto Velho. Tal área caracteriza-se pelos solos pobres e mal
drenados, o que explica a pouca antropização da área, especialmente na margem
direita do rio e da BR-364, sentido Porto Velho-Acre.
5,1
2,8
1,9
90,2
0
20
40
60
80
100
Serviços Corcio Agropecuária Instria
% de Contribuição Setorial
95
Gráfico 05 – Categoria dos Responsáveis pelas Famílias – Abunã.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
Em Abunã, o garimpo, o extrativismo e a pesca aparecem como principal
fonte de renda em cerca de 6% dos chefes de família (Gráfico 06), atividades que
serão comprometidas com a implantação do empreendimento.
A atividade que gera a principal fonte de renda na AII deste distrito, é o
emprego em área urbana (11%) que se divide em atividades comerciais e
funcionalismo público. Este fato está ligado ao histórico de formação do Distrito
onde a instalação da Estrada de Ferro Madeira Mamoré atuou como elemento
fixador da população e o lugar ainda é ponto de parada rodoviária em direção ao
Acre.
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4
6
8
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12
14
Margem Direita Margem
Esquerda
Margem Direita Margem
Esquerda
A
II
A
ID
Proprientário Rural
Ocupante em Propriedade
Empregado Rural
Pescado
r
Proprietário de Comércio
Empregado em Área Urbana
Trabalhador Autônomo em Área
Urbana
Outros
Não Informou
% em Relação a Populaçãp Distrital
96
Gráfico 06- Principal Fonte de Renda – Abunã.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
Como forma de buscar melhores condições de comercialização de produtos,
a população pode se dirigir as outras localidades. Quanto aos fluxos a partir da AII
em Abunã (Gráfico 07), a população da margem direita procura atender suas
necessidades no próprio distrito e há uma segunda opção para Porto Velho, que no
caso da AID em Abunã é a primeira opção.
Gráfico 07 – Fluxos a Partir do Distrito de Abunã.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
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16
Margem Direita
Margem Esquerda Margem Direita Margem Esquerda
A
ID
A
II
A
bunã
A
bunã
Mutum Paraná
Jaci Paraná
Porto Velho
Outros
Não infrmou
% em Relação a Populaçãp Distrital
0,00
2,00
4,00
6,00
8,00
10,00
12,00
Margem Direita Margem Direita
A
II
A
ID
A
posentadoria
Garimpo
Pesca
Assalariado Urbano
Assalariado Rural
Extrativismo/Silvicultura
Comércio ou Prestação de
Seviços
Outras
% em Relação a Populaçãp Distrital
97
O distrito de Mutum Paraná foi considerado por Furnas em sua totalidade
como área de Influencia Direta afetada pelo Empreendimento Jirau, onde foi
executado um Censo Populacional, o que explica o grande quantitativo de
representação populacional nas respostas.
Na margem direita, onde se localiza o núcleo urbano, a situação de
ocupação dos responsáveis pelas famílias (Gráfico 08) demonstra que o emprego na
área urbana (assalariado ou autônomo) é o que predomina seguida do emprego
rural e da exploração da propriedade rural.
Na margem esquerda a atividade que também se destaca é a exploração
das propriedades rurais.
Em termos de mudanças na estrutura produtiva e na ocupação dos
indivíduos, estes poderiam ser menos vulneráveis dado que, aos familiarizados com
atividades urbanas é possível exercê-las em outros lugares.
Gráfico 08 – Categoria dos Responsáveis pelas Famílias – Mutum Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
O garimpo, a pesca, o extrativismo e atividades ligadas à produção rural
(Gráfico 09) figuram como principal fonte de renda em cerca de 26% dos chefes de
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
Mutum Paraná
Mutum Paraná
Margem Direita
Margem Esquerda
A
ID
Proprietário Rural
Posseiro em Área Rural
Ocupante em Propriedade Rural
Empregado Rural
Pescado
r
Proprietário de Cormercio
Empregado em área Urbana
Trabalhador Autônomo em área
Urbana
Outros
Não Informou
% em Relação a População Distrital
98
famílias que teriam mais dificuldades adaptativas no caso da inviabilização de
atividades e deslocamento compulsório.
Gráfico 09 - Principal Fonte de Renda das Famílias – Mutum Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
Quanto aos fluxos do Distrito de Mutum Paraná para outras áreas (Gráfico
10), a população da Margem Direita, em sua maioria, encontra solução para suas
demandas comerciais no próprio Distrito e apesar da relativa proximidade com o
distrito de Jaci-Paraná, a segunda opção de fluxo é para o Distrito de Porto Velho. A
população da margem esquerda apresenta como primeira opção para deslocamento
o distrito de Porto Velho.
Entre os anos de 2000 (IBGE, 2000) e 2004 (LABOBEOPA/UNIR, 2005)
Mutum Paraná apresentou um aumento no número de domicílios da ordem de
6,04% a.a., enquanto que a população local apresentou crescimento negativo numa
ordem de -0,98% a.a. o que aponta para números de estabilidade em relação à
fixação populacional.
O que se apresenta é um quadro de construções para prestação de
comércio e serviços que tem conferido ao Distrito de Mutum Paraná um patamar de
centro de convergência (ponto nodal) no alto Madeira, o que é confirmado pela
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5,00
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25,00
Mutum Paraná Mutum Paraná
Margem Direita
Margem Esquerda
A
posentadoria
Garimpo
Pesca
Assalariado Urbano
Assalariado Rural
A
rrendamento ou Aluguel
Extrativismo/Silvicultura
Comércio ou Prestação de Serviços
Outras
Não Informou
% em Relação a Populaçãp Distrital
99
freqüência na indicação do lugar como ponto de destino no deslocamento interno da
população; o Distrito é mencionado por famílias de todos os outros Distritos.
Gráfico 10 - Fluxos a Partir do Distrito de Mutum Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
Para a viabilização do empreendimento está prevista a submersão da área
urbana e parte da rural de Mutum Paraná, assim, a população do Alto Rio Madeira
perderia este local de articulação interna que seria deslocado para outro, o que
segundo indicação de fluxos e grande dinâmica interna, incidiria sobre o Distrito de
Jaci-Paraná.
Apesar do nosso foco de análise ser o AHE - Jirau não pudemos deixar de
considerar os dados socioeconômicos no que diz respeito ao Distrito de Jaci-Paraná.
Furnas (2005b) considera área de influência de Jirau apenas aquelas que estão a
jusante do mesmo, o que compartimentou o impacto sobre a população distrital, num
total de 1,95% do total dos domicílios de Jaci-Paraná. Este distrito, por uma maior
proximidade com o canteiro de obras do AHE-Jirau receberá influência de ambos os
barramentos, porém maior de Jirau.
Para efeito de análises consideramos os dados socieconômicos
classificados como que pertencentes a AHE-Santo Antônio e entendemos que
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40
50
60
Margem Direita Margem Esquerda
A
ID
Mutum Paraná
A
bunã
Mutum Paraná
Jaci Paraná
Porto Velho
Outros
Não informou
% em Relação a Populaçãp Distrital
100
deveríamos manter a distinção de empreendimentos para comprovação que a
população do Distrito de Jaci-Paraná tem ligação direta com Abunã e Mutum Paraná
e, portanto deve também ser considerado como Área de Influência do AHE-Jirau
(Gráfico 11).
A população da AID em Jaci-Paraná, de ambas as margens, aponta para
deslocamento em direção à Abunã e Mutum Paraná, enquanto que a população da
AII no Distrito, aponta para o próprio e Porto Velho.
Os impactos da dinamização interna em Jaci-Paraná já se processam, onde
a partir da observação de campos percebemos investimentos em construções
hoteleiras e restaurantes para atender as demandas das equipes de trabalho que
coletavam dados para elaboração dos documentos de EIA/RIMA e não será
diferente quando a construção tiver início, pois os trabalhadores e famílias em suas
horas de folga irão procurar este centro mais próximo.
Gráfico 11 – Fluxos a Partir de Jaci-Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
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Margem
Direita
A
ID
A
II
A
ID
A
II
A
HE Jirau
A
HE Santo Antônio
A
bunã
Mutum Paraná
Jaci Paraná
Porto Velho
Outros
Não informou
Margem
Direita
Margem
Direita
Margem
Direita
Margem
Esquerda
Margem
Esquerda
Margem
Esquerda
% em Relação a Populaçãp Distrital
101
Devemos considerar que as áreas de influência Direta e Indireta englobam
tanto áreas urbanas como rurais, daí que a ocupação dos chefes de família se divide
tanto em atividades rurais como urbanas (Gráfico 12). Em termos de principal fonte
de renda (Gráfico 13) a aposentadoria e o assalariamento urbano e rural e rendas
provenientes de propriedade predominam. A pesca tem destaque neste distrito e
aparece em cerca de 20% das famílias como principal, o garimpo em quase 10%
das famílias, atividades estas que serão diretamente afetadas pelo empreendimento.
Gráfico 12 - Categoria do Responsável pelas Famílias – Jaci-Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
0,00
1,00
2,00
3,00
4,00
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Margem
Esquerda
Margem
Direita
Margem
Esquerda
Margem
Direita
Margem
Direita
Margem
Esquerda
Margem
Direita
Margem
Esqueda
A
ID
A
II
A
ID
A
II
A
HE Santo Antônio
A
HE Jirau
Proprientário Rural
Ocupante em Propriedade Rural
Parceiro ou Meeiro em Prop. Rural
Empregado Rural
Proprietário de Comércio
Empregado em Área Urbana
Trabalhador Aut. em Área Urbana
Cedido
Ocupante em àrea Urbana
Propriedade Rural
aluguel
Proprietário Urbano
% em Relação a Populaçãp Distrital
102
Gráfico 13 – Principal Fonte de Renda – Jaci-Paraná.
Fonte: Organizado pela autora com dados de LABOGEOPA/UNIR (2005).
No caso do deslocamento ou desaparecimento do núcleo de Mutum Paraná,
o Distrito de Jaci-Paraná teria impacto negativo em termos de fluxos comerciais
tendo em vista ser o local mais procurado pela população da AID em Jaci-Paraná
(Gráfico 11). Os fluxos direcionadas para Abunã seriam influenciado pelo tempo e
custos de deslocamento (via rodoviária) que, incidindo sobre os valores das
mercadorias, tornariam as relações comerciais relativamente desvantajosas para os
residentes em Abunã.
Em termos de fluxos não podemos considerar apenas os Distritos de Mutum
Paraná, Abunã e pequena área de Jaci-Paraná sejam áreas de influência AHE-
Jirau, mas por uma questão cumulativa de encadeamento de impactos, todos os
distritos do Alto Madeira terão sua ordem local alterada em função do
empreendimento. Exceto as atividades de assalariamento, as demais requerem
mobilidade espacial da população e a mobilidade espacial já estabelecida constitui-
se fator de horizontalidade (forças da contigüidade) sobre a qual incidirá o AHE
Jirau, reestruturando sua organização.
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10
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20
25
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Margem
Esquerda
Margem
Direita
Margem
Esquerda
margem
Direita
Margem
Direita
Margem
Direita
A
II
A
ID
A
II
A
ID
A
HE Santo Antônio
A
HE Jirau
A
posentadoria
Garimpo
Pesca
Assalariado Urbano
Assalariado Rural
Extrativismo/Silvicultura
Comércio ou Prestação de Serviços
Funcionalismo Público
Proveniente da Propriedade
Prestação de Serviços Área Rural
Empreitada Rural
Trabalho Autônomo
Outras
% em Relação a Populaçãp Distrital
103
Haverá uma sinergia de impactos de ambos os Aproveitamentos
Hidroelétricos: Jirau e Santo Antônio e, para minorar estes impactos faz-se
imprescindível instituir as áreas transicionais e áreas afetadas indiretamente por
meio da reorientação dos fluxos populacionais, isto com a finalidade de implantação
de metidas mitigadoras específicas.
104
5 Configuração Territorial do Alto Rio Madeira – Quadro
Situacional e Panoramas Futuros
As principais formas de construção da configuração territorial são norteadas
pela rede de transporte e comunicação que constituem uma rede que se organiza e
se materializa por meio de fixo e fluxos articulando pontos ou nós sobre o território,
sendo os primeiros uma pré-condição para os últimos (Rafesttin, 1993; Castells,
2000).
A configuração territorial do alto rio Madeira foi apreendida a partir da
análise espacial de elementos que compõem a paisagem considerando: os
processos geomorfodinâmicos e a espacialização dos diversos padrões de uso e
ocupação das terras, o processo histórico e atual quadro socioeconômico do Alto Rio
Madeira.
No que diz respeito aos processos geomorfodinâmicos e a espacialização
dos diversos padrões de uso e ocupação das terras, enquanto elementos da
configuração territorial, consideramos que os recursos naturais hoje explorados no
alto Madeira estão submetidos a duas lógicas antagônicas de organização: a lógica
do preservacionismo/conservacionismo e a lógica da exploração econômica com
base na super-exploração dos recursos, que na maioria das vezes utiliza técnicas
predatórias ao meio natural e social.
A primeira se manifesta territorialmente pelo estabelecimento de limites a
áreas especiais destinadas a proteção que até podem ser exploradas, mas segundo
critérios e planos específicos como é o caso das Reservas Extrativistas e Terras
Indígenas.
A questão é que o estabelecimento destes limites de proteção aos atributos
ecológicos relevantes e para resguardar direitos indígenas, não implica
105
necessariamente na mudança de concepção de uso da terra pelos atores das
circunvizinhanças, o que deveria ocorrer, pois o uso de determinadas técnicas
produtivas são incompatíveis com algumas ações de proteção ambiental.
A mudança de padrão produtivo poderia ocorrer com assistência de uma
política para sua reorganização. Como tal política não se efetiva, a pressão dos
atores econômicos locais por mais espaços produtivos sob os modelos predatórios,
podem levar ao uso inadequado destas unidades.
Este conflito é forte no alto rio Madeira, onde pela Figura 07, ficou evidente
a substituição da floresta natural por culturas diversas e a tendência de avanço
desta prática sobre as áreas de proteção. Outro elemento que reforça a observação
deste conflito é a decisão Federal de paralisar todas as atividades que possam
promover, ainda que indiretamente, ações de degradação sobre a Reserva
Extrativistas Jaci-Paraná, Terra Indígena Karipuna, Parque Ecológico Guajará-Mirim
e a Floresta Nacional do Bom Futuro.
Não entendemos que a paralisação de atividades produtivas seja a melhor
alternativa para a sociedade local. Acreditamos que atores das esferas municipal,
estadual e federal devam traçar um plano de gestão territorial de forma a fazer
convergir políticas ambientais e demandas sociais para o alto rio Madeira.
No que diz respeito ao processo histórico de formação da área, este é
refletido na configuração territorial pelos fixos e fluxos dispostos em pontos de
convergência dos modais de transporte (rodoviários, ferroviário e hidroviário).
O rio Madeira, primeiro elemento do modal, tem navegação comprometida
nos trechos encachoeirados e é circundado a certa distância pelo trecho da EFMM,
a qual propiciou a consolidação dos primeiros núcleos urbanos (pontos nodais) que
também estão as margens de rios (Jaci-Paraná, Mutum Paraná e Abunã).
106
Esta associação de modais foi possível pelo quadro socioeconômico da
área, o qual se desenvolvia em torno da exploração do látex, onde a EFMM atuou
como uma verticalidade na medida que alterou a realidade local fixando população e
inserindo na área a figura dos empregados assalariados.
A terceira modalidade de transporte a interferir na configuração da área foi a
rodoviária que tomou por base parte do traçado da EFMM e interligou os núcleos já
existentes. Este modal possibilitou outra dinâmica de ocupação da área, impôs a
agricultura, como principal forma de uso da terra, relegando a base extrativista e os
resquícios do assalariamento na prestação de serviços a segundo plano.
O atual quadro de tensão entre os usos e as políticas de gestão dos
recursos naturais, associado a crescimento populacional sem alteração do atual
modelo produtivo de substituição da floresta por culturas diversas e pecuária, e a
tendência de deterioração das condições de vida da população, tende a se agravar.
A socioeconomia da área, tratada do item 4.3, traz algumas situações que
devem ser consideradas especificamente, como as condições sanitárias da
população e sua capacidade técnica e financeira de reagir diante das mudanças que
o PHEAM promoverá.
Tais questões foram tratadas em termos de vulnerabilidade sócio-ambiental
e chegamos a um ranking relativo entre os distritos da área sendo Mutum Paraná e
Jaci-Paraná, respectivamente, os dois distritos mais vulneráveis em relação às
condições de saneamento. Em termos de vulnerabilidade conferida pela baixa
capacidade técnica e financeira, a população de Mutum Paraná e Abunã,
respectivamente, são as que devem ser foco principal para ações que visem diminuí-
la.
107
Devemos entender que a configuração territorial em termos de arranjo da
infra-estrutura territorial ocorre pela população ou em função dela, assim uma
população que terá seu espaço de vida alterado, ou mesmo ter que se deslocar para
outro, deverá receber condições infra-estruturais para tal. Deverão ser viabilizadas
escolas, postos de saúde, núcleos urbanos, entre outros equipamentos para atender
as novas demandas em função da imposição à população local de romper e
reconstruir sua organização espacial.
Quanto a espacialização dos diversos padrões de ocupação das terras no
alto Madeira, os dados de natureza ecológica foram analisados a partir de imagens
de satélite com base nos elementos paisagísticos que se expressam por meio das
manchas superficiais de alteração na matriz florestal e os dados de natureza
socioeconômica foram considerados a partir de informações primárias e
secundárias. Associando tais dados, a configuração territorial foi representada pela
Figura 14, na qual consta a diferenciação de seis áreas no que diz respeito a
interação sociedade e natureza:
A - ÁREAS COM MAIOR CONCENTRAÇÃO DE ATIVIDADES
ANTRÓPICAS - Situa-se no Distrito de Jaci-Paraná e se caracteriza pela área onde
recursos naturais encontram-se mais antropizados. Neste Distrito, temos duas
situações conflitantes, a concentração de atividades que desmatam e uma grande
representação territorial de áreas especiais destinadas a conservação ambiental.
B - ÁREA DE ENCLAVE – Situa-se entre os Distritos de Mutum Paraná e
Abunã e diz respeito a concentração de fazendas com tamanhos superiores a 1.000
ha, com utilização de alto nível tecnológico na produção, como é o caso da Fazenda
Santa Carme com produção de soja.
108
Nesta área a matriz da florestal amazônica está pouco alterada em função
do cumprimento de normativas quanto a reservas legais e de que o desmate não é
interessante, pois já têm título definitivo, fazendo com que o desmate só ocorra em
função do aumento da área de produção. No caso dos agricultores sem título
definitivo, o desmate é a forma mais utilizada para subsidiar as reivindicações de
posse pelo uso da terra (Wood, 2001).
A situação de enclave se evidência pelo contraste desta situação com os
indicadores sócio-econômicos que apontam Mutum Paraná, como o Distrito com
maior vulnerabilidade por condições de saneamento e por baixa capacidade técnica
e financeira (Figuras 12 e 13)).
C- ÁREAS DE EXPANSÃO AGRÍCOLA – Áreas adjacentes as áreas de
enclave e áreas de especiais, caracterizadas pela pouca alteração na matriz
florestal, mas em processo evolutivo constatado pela dinâmica das manchas na
matriz florestal. Consideramos estas áreas como carentes de instrumentos de
gestão territorial, que possam evitar maiores conflitos de uso (agropecuária x
proteção ambiental) e conflitos de posse (ocupantes sem título x
agricultores/fezendeiros com título)
D- ÁREAS ESTAGNADAS – Concentram-se no Distrito de Abunã e na área
de Umirizal onde seu potencial agrícola não foi plenamente avaliado e utilizado, pois
cabe a sociedade atribuir propriedades aos elementos naturais para que estes
assumam atributos de recursos (Raffestin, 1993). Foi assim com os cerrados
brasileiros e pode ser assim com estas e outras áreas, pois a localização geográfica
(perto-longe, etc.) é relativa e não pode ser considerada fator explicativo para sua
subutilização.
109
E- ÁREAS ESPECIAIS – São áreas de interesse que já foram delimitadas
pelo poder público. Integram estas áreas as Terras Indígenas e as Unidades de
Conservação submetidas, em âmbito geral, a legislação específica (BRASIL, 1973;
BRASIL, 2000). O alto rio Madeira apresenta duas Terras Indígenas: a Karitiana e a
Karipuna, as quais têm sido alvo de invasões de madeireiros e grileiros. As Unidades
de Conservação pertencem a diversas categorias e são na margem esquerda a
Estação Ecológica “A” Mujica Nava, Floresta de Rendimento Sustentado Rio
Vermelho “B”, e na margem direta a Reserva Extrativista Jaci Paraná e a Floresta
Nacional Bom Futuro.
F- ÁREAS SEM PADRÃO DE ALTERAÇÃO NA MATRIZ – São áreas na
margem esquerda do rio Madeira e adjacentes às unidades de conservação que não
apresentam manchas perceptíveis de alteração antrópica na matriz florestal em
função de que se encontram na margem de mais difícil acesso e fazem parte das
zonas tampão das áreas de proteção.
É assim o alto rio Madeira, complexo e dinâmico, com uma configuração
aqui representada a partir de uma diferenciação interna, considerando suas
horizontalidades e dinâmicas.
Sabemos que as áreas apontadas não são homogêneas, mas foram
diferenciadas a partir de características predominantes e que reações diferentes
serão produzidas pelas populações destas, ante as mudanças a serem
desencadeadas pelo AHE-Jirau, enquanto verticalidade modificadora dos ritmos do
Alto Madeira.
110
Fig. 14: Configuração Territorial do Alto Madeira - Diferenciação de Áreas e Sistema Territorial.
Fonte: Organizado pela autora com base DSG/Exército e IBGE (1999b).
Com a instalação do Projeto de Hidrelétrica e Eclusas no Alto Madeira-
Empreendimento Jirau, teremos os movimentos populacionais acelerados bem como
os demais processos de ocupação e exploração de áreas agroflorestais gerados por
uma maior demanda por espaço.
111
O PHEAM faz parte de um conjunto de políticas para o desenvolvimento
econômico do Brasil, mas uma questão de escala nacional não deve ser posta em
detrimento de populações locais. Devem ser traçadas políticas onde as escalas de
atuação (local, regional e nacional) sejam complementares e mutuamente
favoráveis.
Considerando esta realidade é possível lançar um olhar perspectivo, sobre o
alto rio Madeira, onde podemos fazer inferências de impactos, mas não sob um
ponto de vista negativista, mas considerando que a gestão e as políticas públicas
para as áreas podem minorar, ou não, os impactos.
Neste caso elaboramos o Quadro 09, onde é lançado um olhar prospectivo
sobre a configuração territorial do alto rio Madeira, diferenciando dois panoramas de
impactos possíveis: num panorama é evidenciada a ineficiência ou inexistência de
uma gestão territorial, a exemplo de fatos passados com as Hidrelétricas de Tucuruí,
Balbina e Samuel.
No segundo panorama futuro, teríamos o oposto: as alterações ocorreriam
de acordo com uma gestão do território que contribuisse para direcionar os usos
múltiplos da área segundo as possibilidades naturais e potenciais, e interesses
diversos.
112
Quadro 09 – Prospecção de Impactos na Configuração Territorial do Alto Rio
Madeira
Áreas
Diferenciadas
Modificações Previstas
Panorama 1 - Ineficiência/ Inexistência
de políticas de Gestão do Território
Panorama 2 - Eficiência na Gestão do
Território
1. Áreas com
maior
concentração
de atividades
antrópicas
-Avanço de desmatamento sobre UC’s
e TI com conflitos fundiários diversos.
- Degradação das condições sócio-
ambientais e aumento da
vulnerabilidade populacional.
-Reordenamento do uso do território e
remanejamento/direcionamento de
população para áreas onde seja implantada
uma política agrícola adequada.
2- Área de
Enclave
-Pressão sobre áreas de proteção e
reservas legais de fazendas, avanço
sobre TI e manutenção da
concentração fundiária e acirramento
de conflitos.
-Conciliação de interesses diversos a partir
de políticas agrícolas de estimulo a
organizações sociais e a adequação de
usos com base nos instrumentos legais de
gestão territorial.
3- Áreas de
Expansão
Agrícola
4- Áreas
Estagnadas
- Avanço de atividades predatórias ao
meio ambiente e elevação da
vulnerabilidade sócio-ambiental.
(Considera-se que uma vez viabilizada
a navegação até Porto Velho, está área
será foco de novas especulações).
Revitalização de atividades produtivas,
conciliando a sustentabilidade ecológica
com a social (manejo, conservação, etc.)
5- Áreas
Especiais
- Grandes modificações em seu
espaço, divergentes da função que a
legislação lhes impõe exercer.
Degradação sócio-ambiental e conflitos
de uso (agropecuária/ exploração
madeireira x proteção ambiental) e
conflitos de posse (ocupantes/
agricultores/ madeireiros x
índios/fiscais) poderão se acirrar.
- Compatibilizarão entre usos diversificados
das áreas segundo suas funções;
- Ordenamento e regularização quanto a
definição de posse de terras;
- Com ações técnicos e políticos
coordenadas poderia haver, em última
instância, reclassificação de UC’s.
Fonte: Elaborado pela autora com base em CEPA (2006); Fearnside (2006ª); (Fearnside; 2006
b
).
Bortoleto (2001); Reis & Bloemer (2001); Jong (1993).
Os panoramas apresentados no Quadro 09 nos instigam a visualizar estas
situações mesmo que tal representação possa ser futuramente rotulada de
especulativa, mas a intenção é justamente instigar aos interessados na temática a
refletir e propor novos estudos.
Neste sentido ousamos trazer imagens futuras destas panoramas onde, na
Figura 15, temos a representação de como as imagens de satélite refletiriam o
espaço do alto rio Madeira no caso da ineficiência ou inexistência de políticas de
gestão territorial, onde o atual padrão de apropriação dos recursos é mantido e se
matem o padrão de desflorestamento e conflitos de uso e posse das terras.
113
Fig. 15 – Panorama 1 – Espacialização da Antropização com Ineficiência ou Inexistência de Políticas
de Gestão Territorial.
Fonte: Organizado pela Autora com base em CEPA (2006); Fearnside (2006ª); (Fearnside; 2006
b
).
Bortoleto (2001); Reis & Bloemer (2001); Jong (1993) sobre Imagem de Satélite fornecida pelo INPE.
Landsat / TM5- Bandas 3,4,5 ( 2004). Base cartográfica IBGE, 1999b.
Por meio da Figura 16, apresentamos o panorama 2 em que os processos
de ocupação e apropriação dos recursos seriam norteados por uma gestão eficiente
do territótio. Talvez ao contrário do que alguns poderiam esperar como
contraposição ao Panorama 1, não enfatizamos a substituição das áreas
desmatadas por áreas reflorestadas até porque não apresentamos o
preservacionismo como a melhor política para a área.
Foram subtraídas da imagem apenas as demarcações distritais para
enfatizar que a divisão da área pode ser alteradas em conformidade com interesses
locais, podemos ter a criação de novas unidades de conservação, e a criação de
outro município já é vislumbrado pelas populações de além da Ponta do Abunã,
114
entre outras ações que podem ver viabilizadas. O que esperamos é a conciliação
das políticas nacionais, interesses locais e atenção a questão ecológica.
Fig. 16 – Panorama 2 – Espacialização da Antropização com a Eficiência de Políticas de Gestão Territorial.
Fonte: Organizado pela Autora com base em CEPA (2006); Fearnside (2006ª); (Fearnside; 2006
b
).
Bortoleto (2001); Reis & Bloemer (2001); Jong (1993) sobre Imagem de Satélite fornecida pelo INPE.
Landsat / TM5- Bandas 3,4,5 ( 2004). Base cartográfica IBGE, 1999b.
Os fixos são viabilizadores de fluxos, portanto a configuração territorial do
alto rio Madeira expressa em termos de objetos na paisagem, também representa o
campo dos fluxos que contribuem para a consolidação da organização territorial.
Alterações nos objetos da paisagem resultará em alterações nos fluxos territoriais.
Os atuais padrões de fluxos comerciais estabelecidos no alto rio Madeira
demonstram dois direcionamentos diversificados: a maioria de indicação quanto ao
destino da movimentação populacional aponta para os Distritos de Porto Velho e
Jaci-Paraná, como destinos mais procurados (Quadro 10) porém, tal padrão não se
repete para os fluxos circunscritos a Área de Influência Direta do Empreendimento
115
Santo Antônio, em Jaci-Paraná, que indicam fluxo em direção a Abunã e Mutum
Paraná (Figura 14).
Estes fluxos, compreendidos no âmbito do conceito de horizontalidades
funcionam no plano territorial, e como tais, tornam-se forças da continuidade
territorial que revelam o espacializar da população sobre seu território. Sobre esse
mecanismo unificador incidirá o AHE-Jirau enquanto verticalidade reestruturante da
ordem local (Santos, 2005).
Considerando a compartimentação dos impactos ambientais decorrentes da
implantação do PHEAM, seus proponentes (Furnas e a Construtora Norberto
Odebrecht S.A.), incluíram o Distrito de Jaci-Paraná como área de influência do
AHE- Santo Antônio o que em nosso entendimento é incompleto. A população da
AID em Jaci-Paraná apresenta um padrão de fluxos direcionados para os distritos de
Mutum Paraná e Abunã, assim por uma questão de interação entre os Distritos, o
AHE-Jirau também a impactará.
Quadro 10 – Sistematização de Direcionamento dos Fluxos Comerciais no Alto
Madeira por Ordem de Destino
Origem
Destino*
Margem Abunã
Mutum
Paraná
Jaci-
Paraná
Porto
Velho
Abunã
AII Margem Direita -
AID
Margem Direita -
Margem Esquerda - - -
Mutum
Paraná
AID
Margem Direita -
Margem Esquerda - - -
Jaci-
Paraná
AII – Jirau Margem Direita - -
AII- Sto. Antônio
Margem Direita - -
Margem Esquerda - -
AID - Jirau
Margem Direita - -
Margem Esquerda - -
AID – Sto. Antônio
Margem Direita -
Margem Esquerda - -
Fonte: organizado pela autora com base nos dados primários LABOGEOPA/UNIR (2005).
* Não foram consideradas as informações sobre a não indicação ou outros destinos.
116
A AID em Jaci-Paraná deveria ser considerada como área transicionais de
impactos (Figura 17) de empreendimentos diferentes e daí se fazer um estudo mais
específico bem como a proposição de programas mitigadores característicos
(Ab’Saber & Müller-Plantenberger, 1998).
Fig. 17 – Cartograma de Diferenciação de Áreas de Influência com Indicação de Áreas
Transicionais de Impactos Sinérgicos.
Fonte: Organizado pela autora e desenho cartográfico de Charles Barata e Luiz Cleyton H. Lobato
na base DSG/Exército e IBGE (1999b).
As forças horizontalizantes dos fluxos comerciais no plano territorial do alto
rio Madeira, exercem uma função de complementariedade entre os Distritos, por
essa razão o Distrito de Jaci-Paraná, não é fortemente cogitado para fluxos pela
população de Abunã e Mutum.
117
No caso da remoção do núcleo de Mutum Paraná, os fluxos com destino a
este local serão redirecionados, e considerando que o Distrito de Jaci-Paraná é
dinâmico e receberá o canteiro de obras do AHE-Jirau, o redirecionamento poderá
ser para este e para concentrações populacionais circunvizinhas que existem ou
venham surgir.
Vale considerar ainda que reduzindo-se as relações comerciais no trecho
entre Abunã e Jaci-Paraná, estas podem tornar-se desinteressantes para alguns
atores dadas as quantidades comercializadas, freqüência e distâncias que interferem
nos custos dos produtos, penalizando as populações locais de Abunã, submetidas a
uma maior vulnerabilidade conferida por baixa capacidade técnica e financeira
(Distrito com a 2ª maior vulnerabilidade no Alto Rio Madeira – Figura 13).
A configuração territorial do alto rio Madeira compreendida pelo aspecto do
sistema territorial (Figura 09), teve evidenciada a construção dos pontos nodais nos
Distritos de Abunã, Mutum Paraná e Jaci-Paraná, como decorrentes das políticas de
transporte para escoamento de produção: rios, ferrovia e rodovias.
O eixo de direcionamento da ocupação das áreas ocorre pela BR-364 e se
dá na forma de “espinha de peixe” onde a ocupação territorial facilita os fluxos de
transporte e comunicação mas que não acompanha a rede hidrográfica, a qual é
necessária para a viabilização de certas atividades agrícolas com menor custo, e
perpetua a lógica dos loteamentos na forma do quadrado burro (Batistella, 2001).
A rede física de estradas dá suporte aos movimentos populacionais sobre o
território de forma que consolidam seus processos de horizontalização por meio de
relações diversas em outros lugares: procura de locais de comercialização, solução
de problemas ligados a saúde, etc.
118
Para os que atendem necessidades diversas com movimentos, a noção de
contigüidade é fator do cotidiano, e romper com as relações e movimentos
historicamente construídos, implica na reconstrução de novos valores.
Quanto aos impactos sobre o sistema territorial do alto rio Madeira, a
exemplo da configuração territorial, analisamos o comportamento dos seus
elementos de análise (nó-rede-tessitura), onde também foram traçados dois
panoramas futuros,: um pessimista em que haveria uma ineficiência ou inexistência
de instrumentos para a organização territorial e outro, otimista, em que o
ordenamento seria efetuado de modo a compatibilizar potencialidades naturais e
demandas socioeconômicas (Quadro 11).
Quadro 11 – Prospecção de Impactos nos Elementos do Sistema Territorial do Alto
Rio Madeira
Elementos
sob Análise
Modificações Previstas
Panorama 1 – Ineficiência/
Ineficiência/Inexistência de políticas de
Gestão do Território
Panorama 2 - Eficiência dos
Instrumentos de Gestão do
Território
Ineficiência na Gestão do Território Eficiência na Gestão do Território
Pontos
Nodais
- Concentração populacional nos centros
nodais já existentes, acirrando problemas
peculiares a estas;
- Instalação de novos centros com
infra-estrutura urbana, evitando
grandes concentrações
populacionais com problemas
difíceis de serem gerenciados.
Redes - Modificação dos fluxos estabelecidos no
sentido Abunã e Mutum para Porto Velho,
predominando fluxos para Jaci-Paraná e
outras áreas fazendo com que a gestão se dê
na perspectiva de resolver problemas e não
de se evitá-los.
- Pressão sobre os equipamentos públicos de
assistência a coletividade e agravamento da
vulnerabilidade sócio-ambiental.
- A partir de políticas de uso
ordenado do território os fluxos
podem ser direcionados para áreas
onde sejam menos conflitantes e/ou
melhor aproveitados.
- Ampliação dos serviços públicos
atendendo nos campos da
prevenção e atuação.
Tessitura - Aumento do desmatamento, e avanço
antrópico sobre áreas de proteção e uso
especial, além de usos inadequados as
potencialidades naturais do ambiente.
Conciliação entre a exploração dos
recursos e técnicas adequadas de
forma a reorganizar a dinâmica
produtiva com formas de exploração
menos predatórias.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Santos (1991); Raffestin (1993); Jong (1993). Bortoleto
(2001); Reis & Bloemer (2001); CEPA (2006); Fearnside (2006ª); (Fearnside; 2006
b
).
Quando descrevemos os panoramas futuros de impactos decorrentes do
PHEAM, enquanto verticalidade interferente na configuração territorial do Alto Rio
119
Madeira, queremos também expor algumas ações e considerações que podem
concorrer para uma interação positiva entre os espaços locais e globais:
1) traçar macro e micro escalas de intervenção para fazer perpassar as
políticas de desenvolvimento – É necessário considerar que o global, nacional,
regional e local são espaços em mútua interação e que a desconsideração disto só
acarreta mais desigualdades inter e intra regionais no país. Um sistema de fluxos de
aproveitamento de recursos deve ter dupla direção (ida e volta) uma vez que a
criação de sistemas de engenharia que beneficiem apenas um segmento da
população pode ser considerada como uma relação social desarmônica.
2) diferenciar áreas territoriais considerando dinâmicas internas, atores e
políticas de uso do território – É preciso considerar uma diferenciação e interação
entre bases físicas/ecológicas e sociais para o território. A intervenção em espaços
sociais deve considerar os fluxos estabelecidos, pontos nodais, áreas de expansão e
a fluidez dos limites para áreas trasicionais de impactos.
No caso do alto rio Madeira, uma área com populações em condições de
vulnerabilidade sócio-ambiental a se considerar e vários conflitos entre a legislação e
uso da terra (Unidades de conservação, Reservas Extrativistas, Terras Indígenas,
Áreas de Uso Restrito e Supervisionado contornadas por áreas de avanço da
agropecuária e extração de madeiras) deve antes de alocar um empreendimento da
envergadura do PHEAM, deve ter seu ordenamento territorial definido por meio de
instrumentos legais, norteados por informações técnicas aprofundas e construído
participativamente.
Considerando a concepção de participação da sociedade local, este
trabalho não objetivou a elaboração de um plano de gestão contendo prescrições e
indicações sobre os usos do território, embora traga elementos sobre os principais
120
problemas da área e pontos de conflito, o plano de gestão encaminha soluções e
neste sentido as mesmas devem ser traçadas a partir de uma visão técnica, política
e social local.
Trazemos aqui elementos que permitem o início da discussão em prol de se
traçar tal instrumentos, mas não se esgota em si mesmo, ao contrário os gestores
devem lançar mão das inúmeras produções acadêmicas, técnicas e normativas
sobre a área do rio Madeira e iniciar um trabalho de concatenação de possibilidades
de uso e demandas sociais.
121
6 Conclusão
Ao finalizar este trabalho, temos o entendimento de duas questões
essenciais para a delimitação das Áreas de Influência de empreendimentos da
envergadura do PHEAM: a concepção de sistema territorial que se configura pela
mobilização de capitais fixos que geram fluxos e a necessidade de diferenciação de
áreas transicionais de impactos.
O conhecimento sobre funcionamento do sistema territorial (Nó-Rede-
Tessitura/Pontos-Linhas-Superfícies) permite uma gestão territorial mais eficiente na
medida em que considera, para gerenciamento, fluxos e fixos combinados e que se
retroalimentam.
Na medida em que a realidade local é subordinada a novas lógicas que
determinam novas normas para o lugar, as forças de verticalidade e horizontalidade
se confrontam até gerar uma realidade resignificada por elementos exógenos.
O sistema territorial do alto rio Madeira funciona pelo inter-relacionamento
da sociedade que operacionaliza seu espaço em fluxos diversos (redes) sobre a
área, principalmente pelo modal rodoviário com a interconexão entre os núcleos
urbanos (pontos nodais).
Com o uso da técnica de análise espacial que observa os padrões de
ocupação das terras da área em relação ao sistema geomorfodinâmico
predominante e o conhecimento da dinâmica socioeconômica, classificamos as
áreas da seguinte maneira:
A - Áreas com maior concentração de atividades antrópicas;
B - Área de Enclave;
C- Áreas de Expansão Agrícola;
122
D- Áreas Estagnadas;
E- Áreas Especiais; e
F- Áreas sem Padrão de Alteração na Matriz.
O AHE-Jirau promoverá uma série de impactos sócio-ambientais, mas aqui
consideramos que o crescimento populacional será uma dos principais agentes de
modificação da configuração territorial, assim, ao se conhecer a dinâmica de cada
uma destas áreas é possível à criação de planos de mitigação diferenciados de
forma a se compatibilizar as lógicas tradicionais e exógenas.
Na análise dos fluxos comerciais percebemos que a compartimentação das
áreas de influência do PHEAM, tendo os impactos decorrentes do AHE-Jirau
localizados mais a jusante do barramento, constitui um dado incorreto.
A AID em Jaci-Paraná incluída no AHE-Santo Antônio, apresenta uma
população que tem relacionamentos diretos com os Distritos de Abunã e Mutum
Paraná, assim os impactos na sócio-economia destes últimos, implicará em
impactos para população da primeira.
Para dar melhor direcionamento a questão, dado que a sinergia de impacto
pode se caracterizar como um novo elemento a ser considerado, propomos que as
áreas de influência sejam revistas de maneira a se estabelecer áreas transicionais
de influência, com ênfase nos impactos sinérgicos dos aproveitamentos hidrelétricos
de Jirau e Santo Antônio.
123
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