24
identificação da realidade universal com o eu absoluto. Com o idealismo objetivo de
Schelling, o sujeito cognoscente (o espírito) e o mundo objetivo (a natureza) são a mesma
coisa, pois se constituem em uma unidade que é a realidade absoluta. Ou seja,
um saber absoluto é apenas um saber tal que nele o subjetivo e o objetivo não são unificados
como opostos, mas no qual o subjetivo inteiro é o objetivo inteiro e inversamente. Entendem-se
a identidade absoluta do subjetivo e objetivo como princípio da filosofia, em parte, apenas
negativamente (como mera não-diferença), em parte como mera vinculação de dois opostos em
si em um terceiro que, aqui, deveria ser o Absoluto, e, em parte, ela ainda é entendida assim
[...]. De modo geral, dever-se-ia, nessa designação da idéia suprema, não pressupor o subjetivo
e o objetivo, mas antes indicar que ambos, como opostos ou vinculados, devem ser concebidos,
justamente, apenas naquela identidade (SCHELLING, 1979, p. 49).
O segundo momento da história do idealismo se dá com o idealismo subjetivo, que
encontra sua formulação mais representativa em Immanuel Kant (1724-1804) e Johann G.
Fichte (1762-1814). Partindo do pressuposto de que o conhecimento deve ser unitário, Kant
especula que deve haver um elemento capaz de unificar a grande quantidade de percepções a
que os homens estão sujeitos. Se o mundo sensível é justamente o reino da multiplicidade,
esse elemento unificador não pode vir de fora, mas pelo contrário, só pode estar no interior do
próprio sujeito. Desse modo, Kant entendeu que esse elemento unificador se dá a partir de
certas condições subjetivas que são as faculdades e suas respectivas formas.
Para esse filósofo, o conhecimento se dá na medida em que os dados sensíveis são
ajustados em formas de categorias pré-analíticas (a priori), ou seja, anteriores a qualquer
experiência. Segundo Kant (1980, p. 23),
não há dúvida de que o nosso conhecimento começa com a experiência; do contrário, por meio
do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada para o exercício senão através de
objetos que toquem nossos sentidos e em parte produzem por si próprios representações, em
parte põem em movimento a atividade do nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou
separá-las e, desse modo, assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento
dos objetos que se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento em
nós precede a experiência, e todo o conhecimento começa com ela.
Mas embora todo o nosso conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se
origina justamente da experiência. Pois poderia acontecer que mesmo o nosso conhecimento de
experiência seja um composto daquilo que recebemos por impressões e daquilo que a nossa
própria faculdade de conhecimento (apenas provocada por impressões sensíveis) fornece de si
mesma, cujo aditamento não distinguimos daquela matéria-prima antes que um longo exercício
nos tenha chamado a atenção para ele e nos tenha tornado aptos a abstraí-lo [...]. Tais
conhecimentos denominam-se a priori e distinguem-se dos empíricos, que possuem suas fontes
a posteriori, ou seja, na experiência.
Nessa passagem, Kant já reconhece que efetivamente existe a realidade objetiva fora
do sujeito cognoscente, entretanto, uma parcela considerável dos objetos conhecidos é gerada