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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA BRASILEIRA
ROSANE HART
ALCIDES BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES
Florianópolis
2008
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LITERATURA BRASILEIRA
ROSANE HART
ALCIDES BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES
Florianópolis
2008
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ROSANE HART
ALCIDES BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES
Dissertação apresentada para obtenção do
título de Mestre em Literatura. Àrea de
concentração em Literatura Brasileira na
sua forma final pelo curso de Pós-
graduação em Literatura na Universidade
Federal de Santa Catarina.
Orientador: Professor Doutor Lauro Junkes
Florianópolis
2008
4
ROSANE HART
Substituir pela folha do dia da defesa
ALCIDES BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES
Dissertação apresentada para obtenção do
título de Mestre em Literatura. Àrea de
concentração em Literatura Brasileira na
sua forma final pelo curso de Pós-
graduação em Literatura na Universidade
Federal de Santa Catarina.
Data de aprovação:
____________________________________________
Prof ª Orientadora Dr. Lauro Junkes
Universidade Federal de Santa Catarina
____________________________________________
Prof ª Msc
Universidade
____________________________________________
Prof ª
Universidade
Florianópolis
2008
5
A minha família:
Meu filho pela espera;
Meu esposo pela compreensão;
Minha mãe pelas palavras encorajadoras;
Meus irmãos pelo apoio.
A todas as pessoas que caminharam comigo:
colegas de trabalho, colegas de curso,
principalmente aos professores.
Prof. Lauro – um sonho.
6
AGRADECIMENTOS
Ao poder superior pela vida e presença de espírito
À família pelo esforço conjunto
e a todos aqueles que de alguma maneira
contribuíram durante esta jornada.
7
“Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém, há os que lutam toda a vida.
Esses são os imprescindíveis”.
Bertolt Brecht
8
RESUMO
Com o intuito de auxiliar o professor no ensino da Literatura, desenvolveu-se um
cederrom literário “Alcides Buss: Pomar de Possibilidades” que abrange os mais de
30 anos de produção artística do poeta catarinense Alcides Buss. Este “pomar” permite
a formação de uma dinâmica alternativa no processo ensino-aprendizagem de
Literatura, no qual a tecnologia interage com a produção do conhecimento. Usando o
computador como ferramenta disseminadora, possibilita-se transmitir a um público
diverso, em variadas localidades, o valor da poesia e do poeta catarinense.
Palavras-chave: Alcides Buss - literatura – poesia – cederrom – ensino
9
ABSTRACT
Intending to help the educator at the Literature teaching, was developed a
compact disc “Alcides Buss: Possibilities Orchard” that include all the collection of
more than thirty years of artistic production from the poet Alcides Buss. This “orchard”
permisses the formation of an alternative dynamic in Literature teaching teaching-and-
learning, in that the technology interacts with the knowledge production. Using the
computer has a disseminator tool, becomes possible to transmit to a diverse public, in
many places, the value of the catarinense author´s poetry.
Key-words: Alcides Buss - literature – poetry – compact disc – teaching
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11
2. TECNOLOGIA E ENSINO ........................................................................ 15
3. LITERATURA, ENSINO E TECNOLOGIA ........................................... 20
4. CAMINHOS DO POETA E DA POESIA ................................................ 39
5. LITERATURA PRODUZIDA EM SANTA CATARINA ....................... 42
6. ORGANIZAÇÃO DO CEDERROM LITERÁRIO ................................. 47
7. APLICAÇÃO DO PROJETO CEDERROM LITERÁRIO “ALCIDES
BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES” ............................................. 163
8. CONCLUSÃO ............................................................................................ 174
9. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 177
1. INTRODUÇÃO
"Não há objeto puramente atual.
Todo atual rodeia-se de uma névoa de imagens virtuais."
Gilles Deleuze
A organização da sociedade hoje é, por alguns, denominada sociedade
tecnológica
1
, o que exige de nós conhecermos e dominarmos as diferentes mídias, utilizando-
as em nosso benefício. Portanto, a utilização desses recursos, além de alcançar quase todas as
áreas, facilitou a propagação de informações e acrescentou um instrumento à prática literária:
o computador. O uso deste equipamento não se restringe somente como auxiliar na digitação
de textos, mas como apoio à produção de uma literatura que se utiliza de programas para
embasar o processo de criação literária, ou no caso deste trabalho, apresentar o artista e sua
obra para um público formado por alunos do Ensino Básico que, com o auxílio do
computador e de um cederrom, terão acesso a diversas possibilidades de leitura
proporcionadas pelo hipertexto, ou pela leitura multifacetada, na qual o leitor define a ordem
do texto ao priorizar essa forma de apresentação, percebemos que a leitura de um livro de
poesias assemelha-se a um hipertexto – pois em ambos há a liberdade da leitura aleatória, sem
prender-se a padrões ou seqüências pré-estabelecidas (a não ser as estabelecidas pelo próprio
autor) para a leitura e conseqüentemente o entendimento.
A liberdade do leitor e, conseqüentemente da leitura, também é uma característica
utilizada na formatação do trabalho, pois a dissertação apresenta-se como hipertexto, dividida
em cinco capítulos, que poderão ser lidos sem seguir a ordem cronológica apresentada no
trabalho, que cada capítulo é formado por textos independentes que, no entanto, mantêm
uma característica principal em comum: a preocupação com a Literatura. Ressaltando que,
independentemente do capítulo escolhido pelo leitor, os quatro primeiros capítulos dão
suporte à produção do cederrom, textos estes que partem da:
1) Relação entre tecnologia e ensino;
1
O termo sociedade tecnológica será utilizado para designar a sociedade contemporânea na qual o termo
tecnológica está diretamente associado ao advento do computador.
12
2) Literatura, tecnologia e ensino;
3) Poesia;
4) Literatura em Santa Catarina
E por, fim o último, capítulo (quinto) englobará a apresentação do cederrom sobre
o/a poeta/obra Alcides Buss.
Tal qual no cederrom, na dissertação também a preocupação em propiciar ao
leitor certa liberdade em escolher a ordem da leitura, permitindo, assim, que ele navegue entre
os capítulos como também se faz com o livro de poesias que, ao folhearmos, somos
chamados à leitura.
Dessa forma, a apresentação de alguns conceitos formulados sobre Literatura e
Poesia, ao longo da história serão imprescindíveis para que entendamos as características que
fundamentam a experimentação literária efetuada pelo poeta Alcides Buss. Então a elaboração
de um projeto para a produção de um cederrom literário de um poeta catarinense objetiva
mostrar toda a potencialidade de sua poesia, bem como a relevância de seu trabalho como um
dos mais importantes integrantes do grupo literário do estado e também fora dele.
Portanto, ao permitir um consórcio entre literatura e tecnologia, utilizando a obra
de um poeta defensor ferrenho dos livros, não estamos nos contradizendo, mas permitindo sim
que essa união promova uma propagação da obra literária produzida no estado para um
público que, muitas vezes, não é apresentado à Literatura, pois o ensino nessa fase escolar,
quase sempre, prioriza a gramática. Deste modo, além de promover o conhecimento da obra
do artista e colocá-lo em veiculação, ainda a preocupação com um leitor na sua grande
maioria escravo do tempo
2
, ávido por informação, mas que prima pela praticidade. Essa
praticidade, em nenhum momento, será a redução da obra, mas uma forma diferenciada de
apresentação, com a utilização de uma nova tecnologia, na qual o leitor é quem estabelecerá o
roteiro de leitura. Portanto, uma das preocupações será justamente que o leitor detenha a
opção de construir um curso para sua leitura, tenha liberdade para estabelecer prioridades e
seqüência das informações, desvele um novo olhar sobre o objeto-texto.
2
A escravidão a que nós referimos não é do tempo dionisíaco – prazeroso -, mas do tempo cronológico – que
oprime e angustia.
13
A preocupação não será somente com essa praticidade dada ao usuário do
computador, mas também com a “valoração” dada à Literatura produzida no território
catarinense, como forma de expressão de um grupo “menor”, mas de modo algum inferior a
outro. Pelo contrário, mostrar aos leitores que temos uma poesia consistente no Estado (além
de Cruz e Sousa, Luís Delfino e outros) como é o caso do poeta Alcides Buss, que há mais de
três décadas tem produzido poesia em mais de vinte livros lançados, conhecido e apreciado
em outros estados e até internacionalmente, mas, muitas vezes, pouco “reconhecido” como
par pelos próprios catarinenses. Apresentar a obra de Alcides Buss em um cederrom é mostrar
que mesmo sendo uma “literatura menor” (não no sentido de valor, mas por tratar-se de um
grupo menor), poderá destacar-se por, quebrar parâmetros e utilizar a tecnologia para alçar
vôo ou, como esclarecia Kafka, que as minorias estavam à espreita de uma brecha de luz para
se destacarem e, quem sabe, dessa forma a literatura produzida em Santa Catarina consiga
atingir o espaço a ela reservado de, primeiro, ser conhecida pelos próprios catarinenses
(aquele que vive ou nasceu entre as fronteiras de nosso estado), principalmente estudantes do
ensino básico que, apesar da garantia dada pela Proposta Curricular de Santa Catarina
3
que
salienta a necessidade do ensino da Literatura, primeiramente a produzida em nosso estado.
Contudo, isso não é garantia de que realmente seja efetivada, devido a diversos entraves.
Dessa forma, a construção do cederrom atingirá diretamente essa parcela de
estudantes do ensino sico, que terão acesso a uma ferramenta de apoio para conhecer e
interagir com a obra do poeta Alcides Buss. Esse cederrom visa facilitar o acesso à
Literatura, priorizando a Literatura Catarinense, pois a mesma é tão marginalizada durante
esse período em que o aluno permanece no ensino básico. A culpa não pode ser aplicada
somente aos professores que, ao ministrarem suas aulas, por vezes, acabam deixando de lado
a Literatura Catarinense. Contudo, se analisarmos o porquê disso, poderíamos justificar
inicialmente com a graduação, pois muitos cursos sequer oferecem a disciplina em seu
currículo; então uma lacuna na formação do profissional e, quando esse profissional
chega a escola, muitas vezes, não encontra bibliografia adequada. Mesmo que o profissional
priorize o ensino da Literatura, há muitos impecilhos para desenvolver seu trabalho; portanto,
este material seria uma das maneiras para facilitar o acesso às informações, que muitas
3
É importante salientar que a Proposta Curricular de Santa Catarina de 1998 (p. 51-52) contempla o ensino da
Literatura Catarinense mesmo que de forma superficial, no entanto, a edição revista da mesma Proposta
Curricular (2005) sequer menciona a Literatura Catarinense. Ressaltamos contudo que a lei nº 8.759
(julho/1992), regulamentada em 1996 obriga o Estado a adquirir e distribuir às bibliotecas públicas municipais,
anualmente, 22 livros publicados por autores de Santa Catarina, mas sequer faz menção às escolas.
14
escolas possuem laboratórios de informática e o computador torna-se, mais e mais, objeto
comum nos lares.
Apesar de ainda uma pequena parcela da crítica reconhecer o valor da produção
literária de nosso estado como Literatura, há fortes indícios de que esta parcela aumente. Mas
para que ocorra essa valorização e, quem sabe, uma posterior criação ou transformação da
consciência literária, é preciso que se desenvolva um processo mutacional da visão pré-
existente do que é um poeta catarinense e, com a utilização de meios eletrônicos para a
apresentação-divulgação deste fazer literário, posteriormente, poder maturar uma identidade
catarinense, através de gerações tecnologicamente mais ativas e mais acostumadas com a
veiculação desta Literatura.
2. TECNOLOGIA E ENSINO
Ninguém educa ninguém, ninguém educa
a si mesmo, os homens se educam entre
si, mediatizados pelo mundo.
Paulo Freire
O surgimento de novas tecnologias vem gerando um novo modelo de
desenvolvimento humano a sociedade tecnológica mas, para que a tecnologia seja
realmente um processo democrático, é necessário o domínio das técnicas pela maioria das
pessoas. Nesse momento entra em cena o papel da escola, cuja função é orientar o aluno
acerca de ser sujeito da tecnologia. Do contrário, a tecnologia se tornará nociva e iniciar-se-á
um processo de marginalização do ser humano, pois esta resolverá os problemas do mundo
se for utilizada a serviço do bem-estar da própria humanidade.
As transições ocorridas entre oralidade e escrita e, posteriormente escrita e lógica,
fizeram com que a sociedade evoluísse de forma assombrosa; mas a ‘era tecnológica’ também
é responsável por um processo de padronização do ser humano, que somos forçados a
assimilar esse padrão para não sermos excluídos, isso tanto é verdade que temos o termo
analfabeto tecnológico
4
, que virou chavão. No entanto, o que se percebe é que a função da
escola vem sofrendo alterações nos últimos tempos, alterações estas não só em sua estrutura,
mas também com seu público, seus conceitos e teorias utilizadas. Todos estes aspectos
recebem influências diretas do momento econômico, político e social. Percebemos isso
claramente quando, alguns anos, houve a criação” da escola tecnicista, cuja função era
qualificar técnicos, ou melhor, garantir ao mercado mão-de-obra qualificada. Hoje, o ensino
vive o dualismo de ensinar para a vida ou para o vestibular. Enquanto o ensino vive esse
momento de transição, os estudantes vivem em um momento de excesso de informações (nem
sempre de qualidade), oferecido pelos recursos tecnológicos variados e pela facilidade de
obtenção das mesmas. Portanto, a escola não pode (nem deve) excluir esses recursos
tecnológicos de seu currículo, mas sim usá-los em favor do processo educacional, a que se
4
SERPA, Carlos Alberto. O perigo de um novo analfabetismo: o tecnológico. Folha dirigida, 2001. Disponível
em: < http://www.folhadirigida.com.br/professor/Cad05/EntSerpa.html>. Acesso em: 14 de nov. de 2006.
16
propõe, refletindo sobre a prática escolar e, ao mesmo tempo, percebendo que uma grande
preocupação que idéias humanitárias de justiça social e de igualdade estejam fundamentando
o uso da tecnologia no mundo, facilitando a vida das pessoas. No entanto, atualmente esses
recursos passaram a ocupar lugar de destaque, tendo como conseqüências, em muitos casos, a
discriminação e a exclusão. Percebe-se nesse momento a necessidade de formar um cidadão
ativo, que pense e que usufrua a tecnologia, que tem relação direta com o conhecimento e a
informação; portanto, a intervenção da escola na formação de um homem capaz de conviver e
“sobreviver” aos avanços tecnológicos é fundamental. Por isso, a formação dos profissionais
(conscientes) em educação é imprescindível para desastabilizar esse processo de massificação
provocado pela tecnologia.
Quanto ao uso dos recursos tecnológicos, encontramos diversos fatores que
justificam o desuso, tais como: falta de profissional capacitado para dar suporte,
principalmente aos professores, falta de direcionamento para atividades pedagógicas, alto
valor de programas educacionais, que, não bastasse o custo elevado, ainda poucas opções
disponíveis no mercado; mas, principalmente, professores que não dominam os recursos
tecnológicos disponíveis e, por fim, a tecnofobia
5
.
O paradoxo educacional é a supremacia do corpo discente sobre os docentes no que
se refere ao manejo das novas tecnologias. Acuados, os professores enquadram as
novas técnicas "inimigas" em antigos métodos educacionais como forma de
restabelecer o controle do quadro educativo e manter a função histórica das
instituições de ensino: este é o principal problema da entrada do computador nas
escolas. Sobreposto aos demais problemas do quadro educacional - no caso
específico o brasileiro - gera uma distância muito grande entre a
contemporaneidade e a educação moderna ainda praticada nas escolas
6
.
Quanto aos alunos, percebemos que alguns trazem de casa este conhecimento
das tecnologias, o que, muitas vezes, assusta o professor, por imaginar que está perdendo seu
espaço, mas isto não é verdade. Temos que ter ciência das diferentes formas de
conhecimentos e utilizá-los para nos auxiliar e não reprimi-los como forma de dominação.
5
Termo utilizado para designar pessoas que sentem aversão ou dificuldades em adequar-se ao uso de tecnologias
e que, consequentemente acreditam que o uso das mesmas está desumanizando as pessoas, diferentemente da
tecnofilia que representa o indivíduo que vê perspectivas positivas no uso destas mesmas tecnologias.
6
BRAGA, Clarissa, PINHO, Lídia. Artigo: Ivo viu a uva via Internet. Disponível em: <
http://www.facom.ufba.br/hipertexto/educa.html>. Acesso em: 08 de fev. de 2005.
17
O ritmo acelerado da revolução tecnológica propiciou mudanças rápidas e bruscas
em todos os setores da sociedade, quebrou paradigmas e pôs por terra verdades que até então
eram tidas como absolutas. Portanto, tão rápida quanto a tecnologia avança, também a
pluralidade cultural segue idêntica velocidade. Temos, então, uma sociedade que muda
constantemente, devido ao uso das tecnologias, mudanças estas que afetam o comportamento,
os hábitos e as necessidades, fazendo emergir o fenômeno da globalização econômica e
cultural.
Para acelerar ainda mais o processo de difusão de idéias, o uso da linguagem
visual foi determinante, pois se funda na imagem, que é uma das formas mais rápidas de
comunicação, desencadeando um processamento rápido de múltiplas informações. Mudança é
a palavra de ordem da sociedade atual, mas essa mudança que, em termos tecnológicos, é
rápida e visível, na educação é lenta e quase imperceptível. No entanto, a passagem de uma
educação passiva a uma que se utiliza da tecnologia é percebida pela forma como os recursos
são utilizados, pois
as tecnologias de informação e comunicação foram inicialmente introduzidas na
educação para informatizar as atividades administrativas, visando agilizar o
controle e a gestão técnica, principalmente no que se refere à oferta e à demanda de
vagas e à vida escolar do aluno. Posteriormente, as TIC (Tecnologia da Informação
e Comunicação) começaram a adentrar no ensino e na aprendizagem sem uma real
integração às atividades de sala de aula, mas como atividades adicionais
7
.
No entanto, há projetos (softwares) que procuram promover essa integração entre
conteúdo e tecnologia, ou seja, dar suporte ao processo de ensino-aprendizagem. Contudo é
necessário, primeiramente, que o professor domine essa tecnologia, para que possa fazer uma
análise minuciosa dessa ferramenta e de sua aplicabilidade dentro de seu planejamento,
criando objetivos para a aula, planejando-a e organizando-a de forma que os alunos percebam
que aquilo que estão fazendo possui um significado dentro do contexto do conteúdo estudado.
Quando a aula possui um objetivo específico, o uso de tecnologias poderá desenvolver novos
horizontes nos alunos, ampliando sua criatividade e conseqüentemente sua criticidade. Mas é
importante que a prática valorize a cultura e a cidadania; portanto, o assunto a ser transmitido
ao aluno com uma ferramenta de auxílio (o uso da tecnologia) precisa ter sentido ao mesmo.
7
ALMEIDA, Maria Elizabeth Bianconcini de. Disponível em:
<http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2002/te/tetxt1.htm>. Acesso em: 07 de fev. de 2005.
18
A preocupação do professor, quanto às tecnologias, não deve se restringir apenas à
sala de aula, já que os alunos são diariamente expostos a uma “enxurrada” de informações que
influenciam no seu modo de vida. Estar atento a elas fará com que entendamos melhor a
realidade: a banalização da violência, do consumismo exacerbado, da reprodução de
ideologias, conceitos, preconceitos, do desinteresse pela leitura devido à facilidade de se
obterem informações através de recursos audio-visuais, em suma, a essa rapidez de
informações que recebemos diariamente, muitas vezes sem opção de escolha.
Quando o professor se apropria dos discursos das diferentes mídias e os trabalha
comunicacionalmente em sua prática pedagógica, possibilita uma rede, uma teia
entre e sobre o mundo real e a escola. Dessa forma, a comunicação escolar entre
alunos e professores, levando em conta o conhecimento do mundo e a diversidade
cultural, dinamiza-se e a educação se enriquece, tornando-se fator determinante
para uma mudança educacional mais efetiva e eficaz
8
.
É necessário considerar, ainda, o fato de muitos professores desconhecerem os
resultados do uso das tecnologias e algumas vezes, de suas desastrosas conseqüências para o
ensino. Imaginar, hoje, um ensino sem adequá-lo à modernidade é estar muito atrasado no
tempo e na história. Nesse contexto, torna-se óbvia a necessidade de cada professor buscar e
possuir conhecimentos diversos, mas principalmente os recursos tecnológicos que podem ser
utilizados na área de sua atuação. É imprescindível que este esteja em constante formação
para o seu crescimento pessoal e profissional, para que seu trabalho seja seguro e
comprometido com a aprendizagem dos seus alunos. Paulo Freire
9
, em seu livro Pedagogia
da Autonomia, fala da docência e de como a discência deve ser considerada para que a ação
seja necessária e eficaz. Considerando ensinar como um verbo transitivo relativo, inexistente
sem o aprender, traça um paralelo entre o educador bancário e o professor problematizador.
Postula que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar condições e possibilidades para
a sua produção e sua construção e que o papel do professor é reforçar a capacidade crítica, a
curiosidade e a insubmissão do educando, para que este se transforme em um ser histórico-
social pensante, comunicante, transformador e com capacidade de, com indignação,
humildade, amor, dialogicidade e bom senso, interagir com o mundo para melhor conhecê-lo
8
MATTELART, Armand. Comunicação e Educação. São Paulo: Ed. Segmento, p. 20.
9
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 15. ed. São Paulo : Paz e
Terra, 2000.
Mais informações sobre Paulo Freire e sua obra disponível em: < http://www.paulofreire.org/pf_.htm>.
Acesso em fev. de 2007.
19
e viver em harmonia. É preciso que o educador seja criativo, curioso, conhecedor e que
respeite e parta da realidade concreta dos alunos, procurando sempre estabelecer a
interrelação existente entre os saberes curriculares e a experiência social dos educandos. Um
professor precisa ter o domínio não da palavra, mas também dos recursos tecnológicos,
como apoio no processo de construção do conhecimento.
Segundo Bakhtin
10
, a palavra é um signo ideológico por excelência e registra as
menores variações sociais, ou seja, serve como um indicador de mudanças. Para ele todo
signo é ideológico, podendo se apresentar também como gestos, sinais e expressões das mais
diversas formas. É preciso que se entenda o domínio ideológico do conhecimento muito
utilizado pelos meios de comunicação que é a associação de palavras, imagens e sons.
Portanto, é primordial que analisemos criticamente as formas em que as diferentes linguagens
(oral, auditiva e visual) estão sendo utilizadas pelos meios de comunicação de massa e como
estas informações são conduzidas nas famílias e, particularmente, nas escolas. Os métodos
tradicionais são práticas que precisam ser revistos. É preciso que trabalhemos o ensino sob
outra ótica, ótica essa que considere o verdadeiro valor da linguagem e o verdadeiro valor da
tecnologia para seus usuários. As diferentes linguagens são entendidas como toda e qualquer
forma de comunicação, são frutos da adaptação pessoal, social e da idéia, daí que constituem
uma experiência sócio-cultural. São elas determinantes fundamentais da vida humana, sem o
social as diferentes linguagens não existem.
10
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. Ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1995, p. 95.
3. LITERATURA, ENSINO E TECNOLOGIA
“Do papiro
ao pergaminho
ao papel
ao” ...
Alcides Buss
O conceito do que é Literatura foi e continua sendo amplamente discutido e,
mesmo assim, responder essa pergunta é incorrer no risco de errar ou, simplesmente, não
responder. Essa pergunta teve muitas respostas, desde seu surgimento na Grécia antiga, até
os dias de hoje. Inicialmente era concebida como a imitação da vida e inspiração divina;
passou a ser o conjunto da obra humana escrita; conjunto de obras literárias; expressão de
sentimentos e sensações e muitas outras definições. Podemos dizer ainda, como o poeta norte-
americano Ezra Pound
11
, que a literatura, a "Grande Literatura” é simplesmente a linguagem
carregada de significados até o máximo grau possível.
Percebe-se, portanto, que a associação entre literatura e linguagem é extremamente
necessária para que compreendamos a obra do poeta Alcides Buss, que utiliza a linguagem
para a expressão de sua obra, como fica claramente expressa na poesia Restos
“agora é tarde /- já esvaziaram / a tua palavra.
Beberam a tua / saúde e comeram / o teu labutar!
Só resta o caminho, / vedado, de re- / aprender a pensar.”
Segundo Buss
12
, o leitor também precisa ser poeta e mestre na linguagem, pois, em
vista dessa natureza diferenciada, a comunicação poética tem suas peculiaridades. que o
leitor de poesia é uma espécie de co-autor que reconstrói o poema em si, como se fosse um
jogo de armar. E de alguma forma o leitor também é reconstruído pelo poema. Uma arte tão
simples, mas tão complicada, portanto avessa à massificação.
11
POUND, Ezra. ABC da Literatura. São Paulo: Editora Pensamento-cultrix, 1987.
________ A arte da Poesia: ensaios escolhidos [por] Ezra Pound. Tradução de Heloysa Lima Dantas e José
Paulo Paes. São Paulo: Cultrix, Ed. Da Universidade de São Paulo, 1976.
12
BUSS, Alcides. Contemplação do amor: 20 anos de poesia escolhida. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1990,
p.18.
21
Considerando, portanto, que o leitor é também co-autor da poesia, caberiam aqui
os questionamentos de Sartre: o que é escrever; por que escrever e para quem escrever?
13
O que é escrever? Sartre considera que escrever é uma ação de desnudamento. O
escritor se revela ao escrever, revela o mundo e, em especial o Homem, aos outros homens,
para que estes tomem, em face ao objetivo assim revelado, consciência de sua inteira
responsabilidade. Não basta ao escritor ter escrito certas coisas, é preciso ter escolhido
escrevê-las de modo determinado, expondo seu mundo, ter se engajado inteiramente em suas
obras, obras estas com elementos estéticos e de criação literária.
Por que escrever? O homem que escreve tem a consciência de revelar as coisas, os
acontecimentos; de constituir o meio através do qual os fatos se manifestam e adquirem o
significado. Mesmo sabendo que, como escritor, pode detectar a realidade, não pode produzi-
la; sem a sua presença, a realidade continuará existindo. Ao escrever, o escritor transfere para
a obra “uma certa realidade”, tornando-se essencial a ela, que não existiria sem seu ato
criador.
Para quem escrever? Ao escrever, o escritor, deve fazer um pacto com o leitor, que
ele colabore em transformar o mundo, ou seja, a sua realidade. O escritor se dirige à liberdade
de seus leitores. A Literatura é a experiência do escritor em criar uma realidade, que pode ser
mostrada no mundo real e alterar as bases desse mundo.
No entanto, ainda outra pergunta que, cronologicamente, antecederia as
questões já citadas: Por que ler? Ler é fundamental. É pela leitura que testamos os nossos
próprios valores e nossas crenças. Crescemos com novas experiências, novas tecnologias,
internalizamos novas idéias, novos tipos humanos, pois, ao conhecermos melhor o mundo,
também permitimos nosso auto-conhecimento e, consecutivamente, nossa superação. Além de
que, será somente através da leitura que o texto viverá, pois é o leitor quem tem o poder de
fazer o texto viver, de apropriar-se dele e transformá-lo em algo vivo e latente.
Contudo, é necessário que percebamos que inter-relação entre autor e leitor,
ambos permeados pela linguagem, pois o escritor cria previamente a obra em seu imaginário
13
SARTRE, Jean-Paul. Que é a Literatura. São Paulo: Editora Ática, 1989, p. 09-55.
22
até convertê-la em linguagem, linguagem esta que é internalizada e transformada pelo leitor,
desse modo
“os universos puramente imaginários que a literatura cria liberam o leitor do peso
da realidade, mesmo quando a denunciam, iluminam ou ampliam suas barreiras.
(...) Assim, ler um texto literário é tornar-se co-criador, propiciando a livre
expansão do eu, que as amarras do cotidiano costumam tolher pela rotina e pela
coisificação que as atividades produtivas, em sistemas econômicos desumanos,
acarretam”
14
.
Portanto, essa leitura transformadora também pode ser considerada como ato
criador, pois se opõe à leitura passiva e novo significado à obra do autor, que adquire as
experiências do outro com suas próprias inferências de/sobre a obra, tornando-a um novo
objeto. Essa diferenciação entre leitura superficial e aprofundada também pode ser comparada
à leitura linear ou não-linear de um texto em que mesmo a leitura linear nos remete a uma
compreensão da mensagem, pois nosso pensamento não estabelece uma seqüência linear,
que a leitura é permeada por inferências da vivência de cada indivíduo, sentimentos,
divagações, previsão ou antecipação da seqüência textual, ou seja, criamos uma rede de
significações que acoplamos ao que lemos ou vice-versa. Portanto, mesmo com uma
seqüência pré-estabelecida pelo texto, o pensamento não segue essa cronologia proposta pela
obra e, nesse aspecto, assemelha-se ao hipertexto definido por Levy
15
como sendo um
conjunto de nós conectado por ligações, desta forma a leitura permanece com alguns
elementos que servem de estrutura para estabelecer novas ligações.
Atualmente, temos que entender a leitura sob uma ótica mais ampla, não apenas a
decodificação de um sistema lingüístico, mas de dar sentido às palavras imersas em outras
realidades, ou seja, toda a forma de códigos somados às palavras a que somos expostos,
principalmente se associarmos a leitura aos ambientes virtuais que, muitas vezes, apresentam
não os signos, mas hipertextos, imagens, símbolos, ou seja, vários outros caracteres e/ou
formas que podem atribuir ou contribuir com o significado (ou dar outro significado) à
palavra. Se relacionarmos a leitura de informações contidos em um cederrom teremos um
leitura diferenciada, seguindo uma ordem pré-estabelecida, não com números de páginas, mas
com hipertextos estruturados de modo lógico e previsíveis, organizados em menus através dos
14
BAMBERGER, Como incentivar o hábito de leitura. São Paulo: Cultrix, 1977, p 8-9.
15
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência, o futuro do pensamento na era da informática. Trad. Carlos
Irineu da Costa. Rio de Janeiro, Editora 34, 2000, P. 28-30.
23
quais o leitor navegará e adentrará a novas informações, podendo avançar ou retornar de
forma organizada. Essa leitura fragmentada, mas ao mesmo tempo com um fio condutor,
permite ao leitor criar sua própria seqüência textual, que objetiva levá-lo a conhecer a obra do
poeta Alcides Buss: da biografia à crítica, percebendo que, mesmo sob a forma de cederrom, a
literatura continua a viagem do devir no leitor. O poeta, utilizando a idéia de Mallarmé,
explica que o poema não se faz com idéias, mas com palavras, salienta ainda que
“no poema, o significante e o significado se identificam a tal ponto, que se
confundem. Entrecruzam-se sutilezas inumeráveis como sonoridades, tensões,
traços e a fantasia articulatória dos sons. Os sons que formam as palavras
atravessam os corredores do corpo”
16
.
Para Derrida
17
a Literatura é aquele espaço onde é permitido dizer todas as coisas
e, se levarmos em consideração que o material da literatura é como utilizar as palavras, a
Literatura quebra suas próprias barreiras, atravessando corpos, rompendo com as regras
gramaticais, que são esquecidas, deslocadas, reinventadas, pois o interesse maior é a
superação, é a criação. A constituição literária é frágil, pois não apresenta um objeto fixo;
portanto a literatura começa no seu fim, imaginando algo que nunca existiu.
A literatura é tão antiga quanto a própria humanidade. Nas tribos primitivas os
filhos aprendiam com os pais a ouvir a história de seus antepassados e, no decorrer da história
da humanidade, a literatura foi adquirindo novos conceitos, novas formas e cada vez maior
importância. Passamos da literatura oral para a literatura escrita e, mais contemporaneamente,
à
literatura digital. Esta última ainda não é valorada por alguns, por outros considerada piegas
e, para uma grande maioria, desconhecida. No entanto, a literatura digital (ou somente
apresentada em meio digital) contribui e muito para a disseminação da literatura, devido à
facilidade promovida pelas tecnologias atuais, principalmente a facilidade de acesso e,
conseqüentemente, a otimização do tempo que, com o uso desses recursos, provocam nos
usuários a sensação de rapidez, facilidade e comodidade, pois os recursos estão próximos.
Em contrapartida, a facilidade de acesso à literatura via tecnologia está na
utilização desses recursos no ensino de literatura. Mas, ao caminharmos pelo campo da
pedagogia, poderemos descrever que tanto a literatura como a aprendizagem trilham o mesmo
16
Buss, Alcides. Contemplação do amor: 20 anos de poesia escolhida/ Alcides Buss; texto introdutório e final
de Lauro Junkes. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1990, p. 18.
17
DERRIDA, Jacques. A escritura e a diferença. Coleção Debates. São Paulo: Editora Perspectiva, 1995.
24
caminho, ambas podem ser consideradas como sendo “um processo de aquisição e
assimilação, mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser,
pensar e agir”
18
. E esses novos padrões podem estar relacionados à tecnologia e ao seu uso,
consciente ou não. Nessa nova maneira de interagir com as coisas, percebe-se claramente o
desmoronamento de valores e, conseqüentemente, o surgimento de outros adaptados à nova
forma de viver ou sobreviver, aliando-se à tecnologia ou sendo excluído por ela. Portanto,
repensar o ensino da literatura é fundamental para que recuperemos seu lugar, não de texto de
apoio para estudar gramática, mas de objeto que promova o devir do sujeito enquanto leitor e
apreciador do texto literário.
No entanto, não podemos ser ingênuos e acreditar que todos os professores de
Língua Portuguesa dão enfoque à Literatura ou fazem uso da tecnologia de maneira
consciente. Não podemos esquecer a realidade educacional brasileira que, segundo o senso do
INEP
19
de 2003, mais da metade dos 183.310 professores de Língua Portuguesa
20
do país não
são habilitados na disciplina. Portanto, se adicionarmos esse dado à deficiência dos cursos de
Licenciatura, à preferência dos professores em trabalhar no Ensino dio, à facilidade de
ensinar gramática, perceberemos que o enfoque dado à Literatura no Ensino Básico
normalmente como texto de apoio para o ensino da gramática -, é quase insignificante e,
ainda, se considerarmos o enfoque dado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais à
especificidade do texto literário
21
, no qual a literatura seria uma coadjuvante ao ensino da
língua, não negando a existência do texto literário, pois ele constitui uma forma peculiar de
representação e estilo em que predominam a força criativa da imaginação e a intenção
estética. Salienta ainda que como representação é um modo particular de dar forma às
experiências humanas, ultrapassá-las e criar novos mundos, defende a autonomia da literatura
com relação à linguagem e à formalização (ou formatação) do texto. Tudo pode tornar-se
18
PILETTI, Claudino. Didática geral. 7.ed. São Paulo: Ática, 1986, p. 31
19
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira é uma autarquia federal
vinculada ao Ministério da Educação (MEC), cuja missão é promover estudos, pesquisas e avaliações sobre o
Sistema Educacional Brasileiro com o objetivo de subsidiar a formulação e implementação de políticas públicas
para a área educacional a partir de parâmetros de qualidade e eqüidade, bem como produzir informações claras e
confiáveis aos gestores, pesquisadores, educadores e público em geral. Disponível em: <www.inep.gov >.
Acesso em 15 de março de 2007.
20
Total de professores de Língua Portuguesa no Brasil 183.310, desses 40.352 são habilitados em
Letras/Português, 42.853 em Letras Português/Inglês, 21.530 em Pedagogia/Ciências da Educação, 9.406 em
outros cursos, 34.564 não informaram e 34.605 sem habilitação.
21
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do
ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 26-
27.
25
fonte virtual de sentidos, mesmo o espaço gráfico e signos não-verbais, como em algumas
manifestações da poesia contemporânea. Todavia, não descarta que
“O tratamento do texto literário oral ou escrito envolve o exercício de
reconhecimento de singularidades e propriedades que matizam um tipo particular
de uso da linguagem. É possível afastar uma série de equívocos que costumam estar
presentes na escola em relação aos textos literários, ou seja, tomá-los como pretexto
para o tratamento de questões outras (valores morais, tópicos gramaticais) que não
aquelas que contribuem para a formação de leitores capazes de reconhecer as
sutilezas, as particularidades, os sentidos, a extensão e a profundidade das
construções literárias”
22
.
Sabe-se que é prática corriqueira utilizar o texto literário como pré-texto, dissecá-
lo para o ensino da gramática, não considerando a autoria, a essência e o prazer do texto, não
aproveitando todas as possibilidades que a Literatura nos permite. Dessa forma, inverte-se
o percurso da aprendizagem, tornando a preocupação com as regras maior do que com a
leitura, esquecendo-se que, se o aluno
23
for um bom leitor, conseqüentemente terá o domínio
da linguagem e conseqüentemente já terá assimilado as normas de maneira natural.
em Santa Catarina, por ser um estado pequeno, o número de professores é um
dos menores, com um total de 4.735
24
professores de Língua Portuguesa, que atendem
410.550 alunos do Ensino básico (64.293 alunos do supletivo presencial e 30.230 do supletivo
não-presencial). Para esse contingente de profissionais, o ensino da disciplina deve embasar-
se nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na Proposta Curricular de Santa Catarina Na
proposta do estado a diferenciação de língua e literatura. Na conceituação de literatura
prioriza uma concepção histórico-cultural, ressaltando ainda que
“A compreensão do que é Literatura, tomada do ponto de vista histórico e da
investigação dos conceitos e das vivências dos alunos e seus pares, suscita o
interesse pela investigação das produções literárias locais e regionais entendidas
como forma de expressão, manifestação artística e interação com o mundo. E pode-
se, a partir daí, identificar nos textos especificidades tais que nos permitam
reconhecê-los como literários”
25
.
22
Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do
ensino fundamental: língua portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental. . Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 27.
23
Dados fornecidos pelo INEP, ao todo, no país são 10.799.679 alunos do Ensino Fundamental, além dos
3.516.225 alunos do supletivo presencial e dos 349.404 do supletivo não-presencial.
24
Total de professores de Língua Portuguesa no estado de Santa Catarina 4.735, desses, 915 são habilitados em
Letras/Português, 1.581 em Letras Português/Inglês, 578 em Pedagogia/Ciências da Educação, 160 em outros
cursos, 1.044 não informaram e 457 sem habilitação. (Dados fornecidos pelo INEP, censo 2003).
25
Santa Catarina, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina:
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Disciplinas curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998, p. 35.
26
Apesar de diferenciar o ensino de língua e literatura, o objetivo principal da
proposta é a formação de leitores, salientando que não mais seria um leitor decodificador,
mas um leitor/criador, recriador, crítico e constestador, e o professor seria o mediador desse
processo de aquisição do gosto pela leitura, pois, se o aluno tiver o hábito de ler, um texto
levará a outro e assim, sucessivamente... Ressalta ainda, que
“O estudo da Literatura Catarinense deve ser contemplado em nossas escolas
buscando conhecer as produções mais próximas de s, sejam as produções
estaduais, regionais ou locais. Há que se estimular esse estudo nas escolas, sob pena
de deixarmos de lado uma fatia do conhecimento de Literatura”
26
.
Menciona ainda, além de Alcides Buss, outros autores catarinenses, tais como:
Sérgio da Costa Ramos, Salim Miguel, Adolfo Boos Júnior, Maria de Lurdes Krieger, Werner
Zotz, Cruz e Sousa, Guido Wilmar Sassi, Donal Schüler, entre outros, cujas obras tendo
relevância nacional e podem ser abordadas no Ensino Básico, obras essas que representam
verdadeiramente a Literatura e, conseqüentemente a expressão do próprio homem, através das
quais pode-se configurar espaço de criação, de liberdade de pensar e até mesmo de recriação.
Por representar essas múltiplas possibilidades, modernamente, a literatura passou a
ocupar um não-lugar, por legitimar e representar simbolicamente a expressão humana nas
formas de sentir, pensar e agir na vida social, tende também a adaptar-se ao seu papel e à sua
responsabilidade de re-significação de muitos conceitos produzidos e estabelecidos na e pela
sociedade. Portanto, há uma diferenciação dos lugares antropológicos (aquele lugar concreto e
simbólico de um determinado espaço em que temos as características de identidade, relação e
história
27
para os não-lugares). Para Augé
“Os não-lugares passam pelos sentidos, pelas possibilidades dos percursos que
possibilitam, pelos discursos que engendram e pela linguagem que os caracteriza. O
espaço da viagem é o arquétipo do não-lugar. Prescrição, proibição e informação
compõem os textos que nos são oferecidos por um não-lugar. Informações sobre o
espaço, normas de comportamento, orientações para o movimento e estada,
mediados pelos mais diferentes suportes, indicam que o passageiro se relaciona
26
Santa Catarina, Secretaria de Estado da Educação e do Desporto. Proposta Curricular de Santa Catarina:
Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio: Disciplinas curriculares. Florianópolis: COGEN, 1998, p. 45.
27
AUGÉ, Marc. o-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. Campinas: Papirus, 1994,
p. 43-55.
27
apenas com entidades “morais” ou institucionais (polícia, alfândega etc.), que sua
posição em relação aos lugares (centros históricos, centros comerciais etc.) é apenas
de proximidade e que sua identidade está garantida na exata medida em que se
submete ao controle”
28
.
A experiência artística (ou de criação) constantemente renovada (pelo escritor
leitor) permitiu que a conseqüência deste não-lugar da Literatura promovesse uma
despressurização das expectativas quanto às formas de produção literária, de sua
legitimização e, conseqüentemente, de sua capacidade de mudança, sem ater-se à forma pré-
estabelecida, dessa maneira o artista realmente pode expressar sua criatividade, pois cada
leitor ressignifica a obra. Portanto, o não-lugar nos permite apresentá-la de modo variado.
Tanto que alguns aspectos da obra de Buss procuram justamente fazer com que a
literatura se edifique de suas próprias ruínas, ruínas estas impregnadas por aspectos
transgressivos: ora utiliza uma linguagem tranqüilizadora e ora uma linguagem inquietante,
linguagem esta que procura dar novas visões e expressões de vida, procurando transpor a
irrealidade da coisa para a realidade da linguagem
29
. Essas novas visões e expressões de vida
“transformam o mundo que nos rodeia tanto para o bem como para o mal. (...) O
processo de modernização, ao mesmo tempo em que nos explora e nos atormenta,
nos impele a aprender e a enfrentar o mundo que a modernização constrói e a lutar
por torná-lo nosso mundo (...) mesmo que os lares que construímos, a rua moderna,
o espírito moderno, continuem a se desmanchar no ar”
30
.
Essa modernidade, fruto das novas tecnologias (principalmente relacionada a
computadores e a internete) que, por sua vez, impulsionaram transformações nos meios de
comunicação e trabalho, essa revolução de tecnologias tem como uma das conseqüências o
início de um novo modo de produção, inclusive na produção literária. Um modo de produção
cujo objeto principal é o conhecimento e, dentre essas mudanças, destaca-se o processo de
comunicação, principalmente se considerarmos a quantidade de novidades transmitidas do
criador até o receptor, além da adaptação da obra de arte ao indivíduo, ou seja, uma
otimização das informações que o leitor recebe, levando-o a uma “dialética sutil do esperado e
28
SARTORI, Ademilde Silveira; ROESLER, Jucimara. Narrativa, cidadania e o o-lugar da cultura. Artigo
apresentado no VII Seminário Internacional de Comunicação organizado pela FAMECOS/PUC-RS, nos dias 25
e 26 de agosto de 2003 e publicado originalmente pela Revista FAMECOS, Porto Alegre, nº 23, abr. 2004.
29
BLANCHOT, Maurice. A parte do fogo. São Paulo: Editora Racco, 1997, p. 292-329.
30
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 35.
28
do inesperado, do conhecido e do desconhecido”
31
. Transformações essas, “portadoras do
porvir”
32
, que são conseqüência do conhecimento científico avançado, colocado à disposição
da produção e da cultura
33
, atendendo exclusivamente aos interesses de classes mais
favorecidas, classes essas detentoras do saber historicamente acumulado, conseqüentemente
controlando sua sistematização, difusão e acesso.
No entanto, os produtos criados vêm gerando um novo modelo de
desenvolvimento da humanidade, que na sociedade tecnológica são considerados
prolongamentos do pensamento humano e, anteriormente, considerados como conseqüência
do homem na produção. Mas, para que a tecnologia seja realmente um processo democrático,
é necessário o domínio das técnicas pela maioria das pessoas. Neste momento, entra em cena
o papel da cultura auxiliada pela tecnologia. Na Literatura (e também em seu ensino)
percebeu-se a necessidade de aderir a esse novo processo; do contrário, a tecnologia se
tornaria nociva e iniciar-se-ia um processo de marginalização da Literatura e, cada vez menos
leitores, pois, com essa infinidade e facilidade de informações e recursos que mudam
rapidamente, é preciso que a tecnologia seja posta a serviço da humanidade, já que a transição
entre a civilização baseada na escrita, na lógica por ela fundada e desenvolvida, e a civilização
informática “principiará um processo de robotização, no qual o ser humano passa a ser
padronizado, sendo forçado a assimilar esse processo para evitar que seja excluído”
34
. Por
isso, há uma grande preocupação que idéias humanitárias de justiça social e igualdade estejam
fundamentando o uso da tecnologia no mundo. O que não acontecia na sociedade industrial,
na qual o homem era a peça principal, usado para movimentar as máquinas e estas eram meras
coadjuvantes. Portanto, a situação se inverteu e as máquinas passaram a ocupar lugar de
31
MOLES, Abraham. Rumos de uma cultura tecnológica. São Paulo: Editora Perspectiva, 1973, p. 16
32
Abraham Moles utiliza o termo “fatos portadores do porvir” como um fato perturbador de concepções, de
construções e do raciocínio de grandes espíritos. Por exemplo, havia o sonho do Canal da Mancha, de sonho
passou ao plano de projetos e, quando foi realizado provocou um desencadeamento, ou seja, esse fenômeno
modificou toda a massa do desenvolvimento.
33
Cultura: A definição de cultura abrange desde seu significado originário do latim cultivo da terra; perpassa
pela definição proveniente do alemão (kultur) que significa desenvolvimento intelectual, saber ou a definição
sociológica na qual cultura é tudo o que é aprendido e partilhado por indivíduos de um mesmo grupo, e culmina
com a idéia filosófica de cultura como sendo um conjunto de manifestações humanas que se diferenciam do
comportamento natural, ou seja, padrões de comportamento, das crenças, das instituições e de outros valores
morais e materiais característicos de uma sociedade.
Ciência: conjunto de conhecimentos coordenados relativamente a determinado objeto, ou seja, estudo
sistematizado.
Tecnologia: tratado das artes e ofícios em geral; explicação de termos que dizem respeito às artes e ofícios.
Dicionário on-line da Língua Portuguesa. Disponível em:
<http://www.priberam.pt/dlpo/definir_resultados.aspx>. Acesso em: abril de 2007.
34
LÉVY, Pierre. As Tecnologias da Inteligência - O Futuro do Pensamento na Era da Informática; trad.: Carlos
Irineu da Costa. Rio de Janeiro: Editora 34, 1993.
29
destaque, tendo como conseqüência: a discriminação e a exclusão. Percebeu-se então a
necessidade de formar um cidadão ativo que pense que usufrua a tecnologia. Mas isso tem
relação direta com o conhecimento e a informação. Portanto a formação de um homem capaz
de conviver e “sobreviver” aos avanços tecnológicos é fundamental. O ritmo acelerado da
revolução tecnológica propiciou mudanças rápidas e bruscas, quebrou paradigmas e pôs por
terra verdades que até então eram tidas como absolutas. Isso ocorreu em todos os setores da
sociedade, pois se produziu um novo espaço para que a comunicação ocorresse o
ciberespaço que nada mais é do que a tecnologia e a proliferação das redes interativas, ou
seja, a interconexão mundial dos computadores. Portanto, tão rápida quanto a tecnologia
avança, também a pluralidade cultural segue a mesma velocidade. Uma avalanche de
informações das mais diferentes etnias e países invade nossos lares - uma comunicação sem
fronteiras. Temos, então, uma sociedade que muda, devido ao uso das tecnologias, mudanças
essas que afetam o comportamento, os hábitos e as necessidades, fazendo emergir o fenômeno
da globalização econômica e cultural – a cibercultura
35
.
Com o advento do computador, alguns escritores passaram a utilizar o computador
como auxiliar da produção literária, que deixou de ser manual. É importante ressaltar que,
inicialmente, o computador era colocado à parte do objeto literário, era apenas uma
ferramenta necessária ao ato de escrever. Portanto, o texto era apenas gerado através
computador, mas lido no papel. No entanto, com o surgimento de softwares (programas para
criação de poesias visuais ou que usassem a análise combinatória) surgiram alguns
experimentos com a literatura assistida por computador. Com este novo fazer literário o uso
da máquina interferiu e alterou as noções de texto, autor, leitor e a própria divisão dos gêneros
ficou sem dar conta das novas formas. Quem sabe imaginar um novo gênero literário que se
utiliza de uma linguagem ainda pouco estudada?
Para Haroldo de Campos
36
, a divisão em gêneros literários pode ser percebida
pelas diferentes formas de utilização da linguagem em cada período de ruptura ou de
transformação do fazer literário; assim o período seguinte diferenciava-se do anterior pela
negação da linguagem utilizada. Em seu texto “Ruptura dos gêneros na Literatura Latino-
35
O termo cibercultura envolve a cultura disponível na grande rede (internete), através da interconexão mundial
dos computadores, mas sem atingir a sua totalidade, ou seja, passíveis de mudanças, pois cada segmento
apresenta diferenças e divergências quanto aos assuntos e à forma como são apresentados e por estarem on-line
sofrem mudanças constantes.
36
CAMPOS, HAROLDO. A arte no horizonte do provável. 4ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1977.
30
americana”, Haroldo de Campos aponta o Classicismo como a culminação da perfeita estética
da linguagem, procurando atingir a mais estrita obrigatoriedade e a maior generalidade da
norma, ou seja, a língua-padrão (standart). Portanto, afirmar que a classificação da literatura
em períodos literários seguiria a forma de que se utiliza a língua em um determinado período
e no qual cada gênero literário representaria também um ramo funcional da linguagem
poderia ser observado claramente se comparássemos este conceito aos diferentes conceitos
sobre o que é arte literária. Em um sentido mais amplo, a arte literária consiste na realização
dos preceitos estéticos da invenção, da disposição e da elocução; em um aspecto mais
restrito seria a arte que cria, pela palavra, uma imitação da realidade. para os modernistas a
literatura é o conjunto da produção escrita, ou seja, a arte literária é verdadeiramente a ficção,
a criação de uma supra-realidade, com os dados profundos, singulares da intuição do artista,
mediante a palavra expressivamente estilizada. Com relação à linguagem, não existe
antagonismo, mas uma valorização de suas diferentes funções.
Os gêneros literários são apenas modos e modas de expressão: passam e morrem,
com a fadiga das emoções; revivem, quando já esquecidos. Não se inventa ainda
em arte, senão o que se esqueceu... Não perenidade, nem evolução, nem
mutação; fadiga de uso, novas modas conseqüentes. Os chamados gêneros são
formas originais descobertas pelo gênio, imitados, seguidos, e abandonados,
esquecidos, talvez ‘reinventados’ tempos depois
37
.
Cabe ressaltar que essa possibilidade de colocar as informações em rede,
armazenar uma grande quantidade de informações em um cederrom, criar poesias com o
auxilio de programas está promovendo na literatura um redimensionamento dos gêneros
literários, pois ainda é cedo para afirmar se está sendo positiva ou não. Percebe-se, portanto,
que a divisão de gêneros que já vinha sendo modificada, com o advento dessas novas
tecnologias e das novas linguagens.
A linguagem sempre foi muito importante e foi se modificando ao longo da
História. Se elencarmos as referências intelectuais e espaço-temporais das sociedades
humanas, perceberemos que a oralidade foi uma das primeiras formas de comunicação, pois
correspondia ao regime cognitivo das comunidades sem escrita. Portanto, a cultura estava
apoiada na capacidade de memorização, ou seja, capacidade mnemônica de armazenamento
de informações. Assim, não existindo meios para sua perpetuação, esta deveria ser
37
PEIXOTO, Afrânio. A literatura no Brasil. Rio de Janeiro: Sul Americana, 1955-1959. 4v. 2ª ed. 1968-1971. 6
v.
31
constantemente retomada e repetida, do contrário seria esquecida. no sistema cognitivo da
escrita, havia tempo linear ou histórico e que envolvia um sistema linear e consecutivo de
signos, além de estar nas limitações de uma página. O sistema da escrita institui um intervalo
de tempo entre o momento da escrita e a recepção e, posteriormente, sua decodificação por
parte do leitor. Dessa forma, interpretar também pode ser considerado um ato criador
criação de um sentido que, muitas vezes, pode realmente ser o sentido que o escritor queria
transmitir ou, em outras, ser totalmente estranho ao que tinha proposto, ser um re-criação do
leitor através de uma virtualização da cognição. na terceira categoria, a informática produz
um sistema cognitivo em que a codificação das informações está apoiada em um sistema
digital. Sistema este, que pode suportar várias metamorfoses e modificações por ser de
composição fluida e maleável, sua transmissão de informações ocorre de modo instantâneo,
muito diferente da escrita
38
.
No entanto, contemporaneamente, oralidade, escrita e informática convivem e
dependem umas das outras para o desenvolvimento da linguagem digital. Desse modo, se
consideramos a atual forma de utilização da linguagem, poderíamos supor que estamos
iniciando um novo fazer literário em que, para acelerar ainda mais o processo de difusão de
idéias, o uso da linguagem visual
39
é determinante, pois se fundamenta no uso da palavra
como imagem, sendo a visual uma das formas mais rápidas de comunicação, desencadeando
um processamento rápido de múltiplas informações. Mudança é a palavra de ordem da
sociedade atual.
Segundo Alckmar Luiz dos Santos
40
, a preocupação da Literatura contemporânea é
a de propiciar ao leitor uma leitura que não se limite a uma seqüência rígida e predeterminada
de linhas ou versos, contendo o hipertexto informatizado
41
, toda uma gama de recursos como:
38
As três categorias: a oralidade, a escrita e a informática são utilizadas por Pierre Levy, no livro organizado por
Eduardo Campos Pellanda e Nilze Maria Campos Pellanda, sob o título Ciberespaço: um hipertexto por Pierre
Lévy. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2000, p. 42-45.
39
O concretismo já fazia uso da linguagem visual; no entanto, com a utilização do computador houve uma
resignificação no conceito do que era a Linguagem visual utilizada anteriormente.
40
SANTOS, Alckmar Luiz dos. Literatura e(m) Computador. Disponível em:
<http://www.cce.ufsc.br/~nupill/hiper/texto3.html>. Acesso em: 12 de março de 2006.
41
Alckmar Santos no ensaio Textualidade literária e hipertexto informatizado, define que o hipertexto se
desenrola, assim, entre o concreto e o virtual, sendo apresentado como expressão deste, mas montando sua cena
de significações a partir daquele. O hipertexto concretiza parcialmente o que antes era virtual (o intrincado jogo
de extra-intra-intertextualidades insinuado desde sempre pela literatura) e dá virtualidade a signos e indícios do
mundo material: através dele, é possível elaborar ambíguo jogo em que se realiza o virtual e se virtualiza o real.
O hipertexto não mais se desenrola apenas linearmente como pergaminho. Principalmente - mas não apenas -,
ele se enovela em múltiplas dimensões, resgatando a espacialidade e a movimentação que as palavras sempre
32
internete, www ou web, multimeios (imagens e sons imediatamente disponíveis ao toque do
mouse) possibilitam buscar leituras que não se limitem a percorrê-los do modo imediato e
seqüencial. Dessa forma, a utilização do hipertexto para produção literária possibilita a leitura
não-linear, além de colocar concretamente na tela do computador toda uma procissão de
imagens, ícones, sons, referências e dados, que podem ser alterados rapidamente, ou seja, são
informações atemporais.
O uso de novas técnicas (hardware e softwares) associadas à literatura deverá, com
certeza, ser um dos agentes de transformação da Literatura, mas traz implicações sobre o fazer
literário, até então tradicional. O universo literário não é mais o mesmo, assim como o
mundo transcende qualquer expectativa com relação ao futuro; tudo é muito virtual, todos
estão sendo virtualizados em seu mundo real. E, segundo Lévy,
“o virtual, rigorosamente definido, tem somente uma pequena afinidade com o
falso, o ilusório ou o imaginário. Trata-se, ao contrário, de um modo de ser fecundo
e poderoso, que põe em jogo processos de criação, abre futuros, perfura poços de
sentido sob a platitude da presença física imediata”
42
.
um redimensionamento das artes, permeado pela interatividade entre o real e o
virtual (virtual este propiciado pelas ferramentas da informática); vive-se, portanto, entre dois
mundos, entre dois amores: um mundo analógico e um digital, um mundo real e um mundo
virtual; a literatura e as pessoas, na verdade, estão um pouco em cada um desses espaços. Mas
a perspectiva de que, se não estivermos também no ciberespaço, não estaremos em espaço
nenhum. E, nesse caso, não é um não-lugar (lugar não definido), mas sem ter seu lugar, sua
“valoração”. Então, novas técnicas associadas à literatura são questão de superação e da
própria sobrevivência da arte enquanto forma de expressão, se considerar que todas as
tecnologias são criações humanas, ou seja, são extensões dos sistemas físico e nervoso, para
tiveram em latência, mas que externaram com dificuldade em virtude da seqüencialidade da fala, primeiramente,
e da leitura, a seguir. O hipertexto parte do texto escrito para propor transbordamentos e reformações do espaço
de significações, numa produção frenética que acelera os tempos do literário e pluraliza sua topologia. Com tudo
isso, o hipertexto abre caminho para que o leitor possa apalpar, pela metonímia poderosa que é a tela do
computador, o caráter intencional do objeto construído em sua leitura, e a armação intersubjetiva que sustenta
todo o seu discurso crítico. Ao mesmo tempo, coloca em questão o estatuto da autoria: não sendo possível
eliminá-la, pois sem criação constante não há linguagem, o hipertexto nos deixa diante dessa perplexidade de
constatar que nos tornamos efetivamente cada vez mais cúmplices uns dos outros (leitores e autores) e, o que é
ainda mais importante, cada vez mais cúmplices de nossas próprias leituras.
Disponível em:
<http://www.uoc.edu/in3/hermeneia/sala_de_lectura/alckmar_luiz_textualidade_hipertexto.htm>. Acesso em
maio de 2007.
42
LEVY, Pierre. O que é virtual? Tradução de Paulo Neves. São Paulo: 34, 1996, p. 12.
33
produzir mais energia e velocidade; portanto a aceitação disso representa uma mudança
significativa na organização das idéias sobre a tecnologia. Ressalte-se, ainda, que essas
criações e sua conseqüente superação são estratégias adotadas pela indústria cultural como
forma de manipular as pessoas a participarem desse consumismo para se manterem
“atualizadas”.
Contudo, nessa virtualidade um espaço democrático - o ciberespaço, que se
percorre sozinho, mas não tão sozinho, pois, na solidão, o usuário senta-se em frente ao
computador e navega, acaba sendo viajante solitário; porém, defronta-se a qualquer momento
com outro solitário, que também está fazendo o mesmo, daí a idéia de coletividade. Todavia,
em um cederrom não o encontro com outro, mas com as muitas vozes que figuram nos
diversos discursos utilizados, ou seja, a virtualização do outro. Nessa idéia de coletividade é
calcada a idéia de inteligência coletiva que, para Lévy
“É uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada,
coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das
competências (...) a base e o objetivo da inteligência coletiva são o reconhecimento
e o enriquecimento mútuos das pessoas, e não o culto de comunidades fetichizadas
ou hipostasiadas”
43
.
Não resta dúvida de que, nessa sociedade digitalizada, não somos seres solitários,
basta que algo seja posto na rede para que outras pessoas possam apossar-se desse
conhecimento ou dessa informação, pois tudo pode ser distribuído, porque, se não o for, não
interessa, não estaremos on-line, não faremos parte dessa coletividade, não
descentralizaremos. Precisamos fazer isso para fazermos parte do coletivo.
Conexão, sociedade digital, rede, inteligência coletiva, on-line e cibercultura,
parecem ser as palavras de ordem. Mas essa sociedade digital, com certeza, não irá resolver
todos os problemas do mundo, porém representa um novo espaço de comunicação,
informação e cultura, e aos profissionais envolvidos nesses universos cabe explorar as
potencialidades positivas que estão emergindo.
43
LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Trad. Luiz Paulo Rouanet. São
Paulo: Loyola, 1998, p. 28-29.
34
As tecnologias eletrônicas agem como um dispositivo pelo qual podemos
transformar a idéia de presença e, conseqüentemente, suas formas, que as informações que
entram no computador são diferentes das informações que saem; dessa maneira o computador
aparece como uma máquina semiótica
44
, ou seja, criadora de informação nova, o que provoca
uma modificação substancial na forma como a Literatura passa a se comunicar com o mundo,
além das possibilidades diferenciadas de criação. Essas múltiplas possibilidades permitem ao
poeta e ao leitor variar, o leitor mudando sua postura passiva frente ao texto, transformando
sua atividade em parte da criação, cabendo ao escritor (produtor) possibilitar ao leitor um
número de conexões, combinações e escolhas de re-criação. Essa forma de não-presença
quebra as barreiras do tempo e do espaço, possibilitando uma nova contextualização da
cultura, ambos, pessoa e cultura, à mercê do universo.
As primeiras experimentações literárias com computador, na verdade, eram
reflexos do que se fazia com os textos impressos, cuja característica era a espacialização
dos significantes e o texto como objeto de construção.
“Neste contexto, um dos novos meios, cujas potencialidades têm sido exploradas
tendo em vista o desenvolvimento de experimentações literárias, é o computador,
dando origem, entre outras ramificações, à poesia animada por computador que
parece inegável que mantém relações estreitas com movimentos de vanguarda
anteriores, nomeadamente a poesia concreta. Deste modo, não pondo em causa a
literatura, pelo contrário, reclamando pertencer-lhe e inspirar-se nela,
nomeadamente na tradição de experimentalismo literário, os poetas que utilizam o
computador colocam-se, portanto, numa posição de continuidade e não de ruptura
em relação às formas poéticas
45
.
É inegável que o novo é, na verdade, a desconstrução do imediatamente anterior e
assim sucessivamente, e que a fruição de um texto não pode esgotar-se em si mesmo. Dessa
maneira, não será uma peça descartável, apenas terá o apoio de técnicas diferentes é o
antigo e o novo, ambos ressignificados em busca de perpetuar a função das palavras de
44
REGIS, Clarmi. Língua e Literatura no espaço interativo: o coletivo pensante.
Disponível em:
<www.uoc.edu/in3/hermeneia/sala_de_lectura/clarmi_regis_lingua_literatura_espacio_interativo.htm>.
Acesso em: março de 2006.
45
REIS, Pedro. Poesia e(m) computador. Ensaio apresentado no IV Congresso Internacional da Associação
Portuguesa de Literatura Comparada. Universidade Fernando Pessoa, Centro de Estudos sobre Texto informático
e Ciberliteratura. Disponível em:
http://www.eventos.uevora.pt/comparada/VolumeIII/POESIA%20EM%20COMPUTADOR.pdf
Acesso em: junho de 2007.
35
possibilitar ao leitor um universo subjetivo com características de um mundo real, palpável.
Essa mescla de sentimentos fará com que o leitor pense sobre si mesmo, sua relação com o
mundo em que vive e, conseqüentemente, a re-elaboração da palavra.
Transformando a palavra em coisa, reconhecia-se a especificidade da escritura,
especificidade esta que não dava somente os meios de descrever o elemento gráfico, mas
designava o acesso ao elemento literário, àquilo que na literatura passa por um texto
irredutivelmente gráfico, atando o jogo da forma a uma substância de expressão determinada.
Nesse processo de transformação da palavra, duas possibilidades de composição, a
primeira com o escritor criando possibilidades através de seu pensamento, e a segunda a
composição literária construída com o apoio do computador que procura, através de cálculos e
análises, esgotar todas as possibilidades. Tal composição se caracteriza por uma forte
teorização, que coloca posições, explica situações e compete com a apresentação e explicação
de obras, criando por isso conjunto e contrastes de valor entre teoria e prática. Por essa razão
há também uma grande atuação teórica de seus criadores.
A Literatura interativa apresenta uma exploração das potencialidades gráficas das
palavras nos textos (principalmente nos poéticos), pois objetiva mostrar que a não-presença de
palavras também constitui uma forma de comunicação a visual - e esta é universal, que
não está ligada às convenções idiomáticas, mas consegue ser decodificada e transmitir uma
significação ao leitor-formador de sentidos, significação esta diferenciada em cada leitor.
Esse ato de criar sentido pode ser momentâneo, já que “existem duas noções
distintas do tempo: o tempo físico e o tempo psicológico”
46
. O primeiro é do mundo e é
contínuo, infinito, linear, segmentável à vontade, tempo de acontecimentos. o segundo
engloba também nossa própria vida enquanto seqüência de acontecimentos é o tempo interior,
da percepção. Portanto, nossa experiência comum é de que nosso tempo vivido (tempo físico)
corre sem fim e sem retorno e corre em um único sentido. No entanto, o tempo psicológico é
bi-direcional: podemos lançar olhar sobre os acontecimentos do passado ao presente ou do
presente ao passado. Assim, quando nos referimos à tecnologia, temos um não-tempo (tanto o
físico quanto psicológico podem dividir o mesmo espaço simultaneamente). Portanto, o uso
do hipertexto como forma de fazer literário quebra definitivamente a temporalidade, no
46
BENVENISTE, Émile. Problemas de lingüística geral II. Campinas, SP: Pontes, 1989, p. 71.
36
sentido de seguir uma seqüência efetuada pelo interesse do leitor. Pois se pode tomar uma
decisão em fração de segundos, para em seguida repeti-la ou refutá-la.
No entanto, vivemos em um presente que se impõe e que acaba nos levando a um
tempo calcado nas idéias de espaço e velocidade, pois vivemos em um ritmo acelerado e em
um espaço que parece sempre ser reduzido e insuficiente. Através da hiperconcentração do
tempo real
47
, fazemos tudo à velocidade da luz, sem, no entanto, estarmos presentes
fisicamente. Da mesma maneira, recebemos muitas informações ao mesmo tempo, e essa
variedade, acompanhada da velocidade, faz com que não nos detenhamos a elas como se as
presenciássemos. Quando estamos navegando na internete e vemos a imagem de uma pessoa
morta, a primeira reação é chocar-se, para logo em seguida ignorá-la, pois não representa a
“nossa” realidade, é apenas virtual, portanto não nos compromete. Ou seja, a velocidade da
informação faz com que a imagem seja apenas uma marca menmônica distante, quase
inverossímil; tornamo-nos imediatistas em tudo e, apesar desses recursos nos darem muitas
possibilidades de uso, também dependemos de softwares desenvolvidos para cada finalidade.
Se compararmos um texto impresso e um texto no computador, perceberemos que, no
primeiro, há uma fronteira visível, e no segundo não existem mais fronteiras, pois o hipertexto
deixa o leitor livre para reunir informações semelhantes, misturá-las ou até mesmo entrecruzá-
las com uma enorme facilidade, ou ainda modificá-las.
Essa nova maneira de experimentação literária, além da inovação na leitura
também modificou drasticamente a maneira de escrever. Antes o escritor construía sua idéia,
passava-a para o papel e, talvez nunca mais ouvisse uma opinião, tampouco recebesse
inferências do leitor a respeito do seu escrito, no entanto, poderia imaginá-las, mas jamais
senti-las em sua obra, pois se tratava de um texto fechado em si mesmo. Em contrapartida,
esse novo fazer literário, o autor se desprende da responsabilidade da criação
48
, pois sua obra
é constantemente ressignificada e revisitada, que o hipertexto tem condições de armazenar
47
Termo usado por Paul Virillio em que através da "hiperconcentração do tempo real", o caminhar para o
desenquadrar do Homem da tridimensionalidade temporal, devido à imposição do actuar à "velocidade da luz", o
que implica por seu lado, o alterar do próprio conceito de trajecto, o qual, por si só, também tem como inerente
três dimensões (partida, viagem, chegada) e do conceito de corporeidade que cada vez mais se vai transformando
em virtual ou numa espécie de "presente-ausente", sem que a matéria esteja. Disponível em:
<http://historiaeciencia.weblog.com.pt/arquivo/008134.html>. Acesso em: 25 de março de 2005.
48
O termo responsabilidade da criação, especificamente neste contexto se a partir do momento em que o
escritor lança sua obra na rede, momento exato em que ele perde o poder sobre ela – lança seu rebento ao mundo
abrindo mão da paternidade, do devir. A obra veiculada na internete sofrerá várias modificações: de estrutura, de
formatação, será dissecada, diluida em outros textos, receberá referências intertextuais, ou seja, uma
reconstrução partindo de suas cinzas.
37
muitas informações que vão desconstruindo a obra original, lançando seus fragmentos pelo
mundo virtual. Possibilitando ainda, acrescentar novas idéias, novos links, novos sites,
referências intertextuais e participação do leitor com comentários, críticas ou reformulações.
No hipertexto também a possibilidade de desconstrução
49
pelo leitor (como
também ocorria no texto impresso), pois, a partir do momento que entra em contato com o
hipertexto, ele acaba sendo contaminado pelas inúmeras possibilidades de interação. No
entanto, essa interação com o hipertexto acontece de forma mais racional, pois essas
“inúmeras possibilidades” são, na verdade, não impostas pelo autor, ou seja, possibilidades
veladas, portanto os caminhos a serem trilhados dependerão do quanto o autor quer que o
leitor saiba. Muitas vezes, o autor conduz o leitor a um determinado resultado. Já no texto
impresso o autor induz o leitor a trilhar um caminho, mas essa interação com o texto é mais
subjetiva.
O processo criativo sempre foi motivo de curiosidade por parte dos leitores, por
isso o escritor Mário Prata
50
, em 24 de maio de 2000, resolveu, em um projeto pioneiro,
satisfazer essa necessidade do leitor. Então, começou a escrever um livro chamado “Os anjos
de Badaró”. O processo de escritura do livro seria transmitido ao vivo pela web. Utilizando-se
de uma webcam, ele seria filmado e assistido pelos internautas, mostrando a eles todas as
etapas do trabalho. Além dessa, que foi uma das primeiras experiências virtuais de produção
de literatura, várias outras formas de produção literária on-line foram produzidas. No entanto,
as mais comuns são as produções coletivas de contos, crônicas e poesias.
49
Termo utilizado por Derrida a partir do conceito Destruktion proposto por Heidegger. Derrida, no entanto, ao
traduzir para o francês percebeu que a tradução do termo alemão não teria o sentido proposto; dessa forma
utilizou o termo “desconstrução” para designar a idéia de que a cultura é uma constante renovação que parte do
que já existe, que destrói e se ressignifica. “Desconstruir um texto é fazer com que as suas palavras-charneira
subvertam as próprias suposições desse texto, reconstituindo os movimentos paradoxais dentro da sua própria
linguagem. Derrida fez repensar a forma como a linguagem opera. Desconjuntando os valores de verdade,
significado inequívoco e presença, a desconstrução aponta para a possibilidade de escrever não mais como
representação de qualquer coisa, mas como a infinitude do seu próprio “jogo”. Desconstruir um texto não é
procurar o seu sentido, mas seguir os trilhos em que a escrita ao mesmo tempo se estabelece e transgride os seus
próprios termos, produzindo então um desvio [dérive] assemântico de différance. Todo o signo só significa na
medida em que se opõe a outro signo, por isso se pode dizer que é essa condição da linguagem que
constantemente diferencia e adia os seus componentes que concede significância ao signo”.
Carlos Ceia, s.v. "Desconstrução", E-Dicionário de Termos Literários, coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-
0088-9, disponível em <http://www.fcsh.unl.pt/edtl>. Acesso em: março de 2007.
50
Conforme artigo de Marcelo Marthe, Novela no monitor, na Revista Veja de 24/5/2000
38
A idéia da produção literária via computador e seus meios, está gerando algumas
rupturas no mundo acadêmico, como a existência de uma Academia Virtual de Letras
51
,
(contrapondo-se à Academia Brasileira de Letras) cuja presidente Maria Inês Simões,
juntamente com os 400 membros do mundo todo, estão mobilizados pela criação de outra
escola literária, uma escola mais contemporânea: o virtualismo. Segundo ela, “para criar uma
nova escola literária, ela precisa ter elementos das escolas anteriores e algum elemento novo.
O virtualismo possui elementos de todas as escolas anteriores e também a tecnologia, como
algo novo, moderno”. Embora a tecnologia tenha realmente agregado valor à literatura, isso
não significa necessariamente que tudo que for produzido com o auxílio do computador se
realmente considerada como sendo Literatura. Portanto, esse elemento não será
necessariamente um parâmetro para afirmarmos que realmente temos uma nova escola
literária, mas sim a qualidade do que está sendo produzido e veiculado é que fará com que as
próximas gerações o considerem bom ou não.
Toda essa experimentação literária promovida por novas tecnologias fez e fará
com que a Literatura siga por caminhos mais rápidos para atingir seu leitor/observador/autor.
Os caminhos do infinito...
51
Academia Virtual de Letras. Disponível em: <http://www.avbl.com.br/avbl/reportagens1/drdonline.htm.>.
Acesso em: 12 de junho de 2005.
4. CAMINHOS DO POETA E DA POESIA
No fundo do ser
o poema escuta
o não-sido
e constrói a memória futura.
Alcides Buss
A poesia, para o senso comum, é a forma mais simples de expressar os
sentimentos, mas, na verdade, “a poesia é um texto em que o significante não existe
meramente a serviço do significado; onde significante e significado funcionam juntos”
52
, e é
esta união que possibilita a imersão e a inebriação do leitor em suas palavras e em seu
contexto. Na poesia (considerada como cânone), as palavras não são dispostas ao léu, cada
palavra tem uma função: rima, cadência, entonação, sentido ou, ainda, o efeito visual (como
no concretismo). A apreciação da poesia se o somente pelos sentimentos que sua leitura
proporciona, mas também pela forma e pela intencionalidade com que o poeta deseja
provocar ou, simplesmente, expressar ao leitor.
As diferentes formas de poesia, na verdade, estão indiretamente ligadas à forma
em que a linguagem era utilizada em um determinado período histórico, como na definição
dos gêneros literários, estes são na verdade modos e modas de expressão, palavras mortas, que
voltam à vida, são rebuscadas, criam-se neologismos; enfim, as palavras têm a capacidade de
reviver, quando esquecidas. Dessa mesma maneira, a poesia pode vir-a-ser novamente,
surgindo de suas próprias ruínas.
Um marco importante na recriação poética foi a “incorporação, à poesia, de
elementos da linguagem prosaica e conversacional, não apenas no campo do léxico, mas
também no que respeita aos giros sintáticos”
53
. Talvez a mudança mais significativa nesse
fazer literário, realmente tenha sido a linguagem literária falada que tentava se aproximar
mais da linguagem popular, uma linguagem alternativa e descontínua. Isso, forçosamente, foi
52
MASSINI, André Carlos Salzano. Algumas definições sobre poesia. Disponível em:
<http://www.casadacultura.org/Literatura/Poesia/O_que_e_Poesia_Artigos/algumas_definicoes_de_poesia_masi
ni.html>. Acesso em: 20 de julho de 2005.
53
CAMPOS, Haroldo de. A arte no horizonte do provável. 4ª ed. São Paulo: Editora Perspectiva S.A, 1977, p.
14.
40
decisivo na mudança de atitudes estéticas que informariam numa complexidade das mais
variadas tendências no mundo literário. Esse hibridismo (linguagem, oralidade e escrita) de
gêneros encontrou sua rápida propagação graças aos diferentes meios de comunicação que
surgiram a partir da Revolução Industrial, que iniciou na Inglaterra na segunda metade do
século XVIII.
É imprescindível ressaltar a heterogeneidade da literatura latino-americana, se
comparada à européia. Nossa literatura tem características particulares, sem, no entanto,
livrar-se de clichês legados pela literatura européia. Sendo a América Latina classificada
como economicamente retardatária, não significa, necessariamente, aplicar-se tal estado à
literatura. Pois temos autores latinos que se destacaram como precursores de estilos. Podemos
citar Souzândrade
54
, um dos precursores dos rumos da vanguarda na poesia universal.
Os vinte primeiros anos do século XX marcaram a literatura brasileira das várias
tendências e escolas, em que não se denunciava a presença de nenhuma delas, mas a
coexistência de várias correntes estéticas influenciadas pelas culturas primitivas que se
misturavam à vida cotidiana ou eram reminiscências ainda vivas de um passado recente usado
como pano de fundo na literatura.
A ousadia da poesia concreta foi um impacto violento na arte da época. Pois
originou-se de uma meditação crítica de formas. O impacto foi tal que, ainda hoje, muitos
autores conseguem promover suas obras, pois continuam inovando. Graças a essa ousadia
a renovação literária, seja como modernização (negando valores pré-existentes) ou como re-
significação de algo existente. Berman
55
afirma que “pode acontecer então que voltar atrás
seja uma maneira de seguir adiante”. Essa mescla de influências das vanguardas européias e,
principalmente, as influências e os rastros de autores pioneiros no ramo de experimentação
54
Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Guimarães, Maranhão (1833). Formou-se em Letras pela Sorbone.
Viajou muito, fixando-se nos Estados Unidos (onde editou "Obras Poéticas" e alguns cantos do "Guesa
Errante"). No Brasil foi professor de grego em São Luís (Maranhão). Morreu em São Luís do Maranhão (1902),
na penúria e quase desconhecido dos literatos da época.
Sua poesia foi reavaliada pela crítica de vanguarda, que retirou o autor da posição de nome secundário do
condoreirismo. E em relação a toda a poesia brasileira do século XIX reside nos processos de composição: de
insólitos arranjos sonoros ao plurilingüismo; dos mais ousados conjuntos verbais à montagem sintática.
O poeta não podia ser assimilado no seu tempo e, de fato, não o foi, tendo-se provado otimista a previsão de
cinqüenta anos em compasso de espera que lhe fizeram na época da redação do "Guesa". Disponível em:
<http://www.geocities.com/ink_br/sousandrade.htm>. Acesso em: junho de 2005.
55
BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido se desmancha no ar. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000, p. 35
41
lingüística como Haroldo e Augusto de Campos, Décio Pignatari e muitos outros serviram de
alicerce para a nova experimentação. Mas esse voltar do presente ao passado foi na verdade a
fórmula para o devir ou o vir-a-ser.
Dessa forma, é importante ressaltar que o computador é somente um meio físico e
que, na verdade, existem diferentes categorias quanto aos meios utilizados na produção
poética. Caterina Davínio
56
aponta um conceito que abrange três grandes categorias: computer
poetry
57
(poesia em/no/do computador), a hipermídia e a Internete (com suportes como o
cederrom ou a web). Segundo ela cada uma dessas categorias contém subdivisões, de acordo
com o componente tecnológico utilizado.
Essa nova forma de apresentação do poeta a eletrônica -, na verdade, promove o
confronto entre as produções anteriores e as atuais, pois promove uma interação e,
conseqüentemente, um reaproveitamento do que foi produzido, para reinventar algo além
do presente-futuro, que a utilização do ciberespaço
58
como local de produção modifica a
estrutura e a forma de apresentação dessa nova coisa. Sob esse prisma, uma das principais
características dessa modernidade é a liberdade criadora, na qual se percebe o
desaparecimento do sujeito para um sujeito-mundo, ou melhor, um sujeito do mundo, sujeito
único, com especificidades, um ser ficcional que existe para os outros como se ELE fosse uma
criação do imaginário coletivo.
56
DAVINIO, Caterine. Tecno-Poesia e realtà virtuali: storia, teoria, esperienze tra scrittura, visualità e nuovi
media56[1] (Tecno-poesia e realidades virtuais: história, teoria, experiências com escritura, visualidade e novos
meios). O livro é o resultado e o registro dessa poesia "internacional", com um estudo teórico e uma catalogação
de obras nos meios eletrônico-digitais, contendo verbetes de cento e trinta artistas de diversos países. Dentre os
130 artistas, verbetes sobre os seguintes brasileiros: Alckmar Luiz dos Santos, Álvaro Andrade Garcia,
Arnaldo Antunes, Augusto de Campos, Cesar Meneghetti, Eduardo Kac, Gilbertto Prado, Jorge Luiz Antonio,
Lucia Leão, Philadelpho Menezes Neto (1960-2000), Regina Célia Pinto, Wilton Azevedo. Disponível em:
<http://www.geocities.com/a_fonte_2000/tecnopoesia.htm>. Acesso em junho de 2005.
57
A autora Caterine Davinio conserva o termo em inglês, porque "poesia-computador", "poesia em/no/do
computador", ou "poesia computadorizada" não contém o significado de "computer poetry", ou seja, um tipo de
videopoesia, por meio de uma decisiva elaboração computacional, finalmente adquire um aspecto gráfico e uma
substância digital da imagem completamente obtida pela síntese, num progressivo distanciamento do referente
como se fosse arrancado da realidade.
58
Vicente de Gosciola em seu artigo Fundamentação da Hipermídia dá o conceito de ciberespaço como: um
terreno habitável de imersão através das conexões das redes entre computadores, um espaço que pode se
expandir eternamente, uma possibilidade de um novo gênero e de novas expressões artísticas. Disponível em:
<http://www.cibersociedad.net/congres2004/grups/fitxacom_publica2.php?grup=19&id=503&idioma=es>.
Acesso em agosto de 2005.
42
5. LITERATURA PRODUZIDA EM SANTA CATARINA
“A poesia, linguagem subjetiva da alma, revivendo a
emoção, o sentimento humano, sempre esteve presente, em
todos os tempos e lugares da humanidade. Entre nós, nunca
se fez ausente, estando representada por dezenas de poetas
na contemporaneidade”.
Lauro Junkes
Falar de Literatura Catarinense ou Literatura produzida em Santa Catarina é, sem
dúvida, assunto polêmico, pois estaremos falando de uma minoria, como especificou Kafka
59
,
de “uma literatura menor”, não no sentido de valorização, mas por representar um grupo
minoritário, dentro de um contexto que busca representar (ou seguir) uma identidade nacional,
(muitas vezes ditada por outra minoria com maior expressividade no país). O que importa
realmente é valorizar todo e qualquer artista, pois, indiferentemente de notoriedade, a maioria
tem em comum a expressão de sensações e percepções sobre o mundo, e isso deve ser
respeitado e não desestimulado. Percebemos, ainda, que há escritores que não querem a fama,
querem apenas escrever sem compromisso com este ou aquele, querem apenas expressar seus
sentimentos. Kafka defendia, ainda, que esses pequenos grupos seriam os que abririam
espaços e fariam a diferença, pois pressupõe que o nacional seja conhecido. Essas minorias
seriam os espaços de convergência, a fresta para iluminar o ambiente sombrio. Com relação
ao nosso Estado, percebe-se claramente que as referências literárias que nos representam, em
sua maioria, devem-se ao fato de terem ingressado no eixo cultural do país ou receberem,
anos mais tarde, seu reconhecimento pelo valor da obra.
Perceber que essa minoria literária representa um estado inteiro, estado este que foi
formado a partir de tantas outras minorias que aqui estavam ou excluídas de seus países, que,
ao abraçarem o estado, se tornaram um grupo significativo com culturas bastante
diferenciadas, tornando nosso povo fonte de experiências riquíssimas. Entretanto a esse
mosaico étnico, não temos um tipo catarinense definido e uniforme.
59
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Júlio Castañon
Guimarães. Rio, Imago, 1977.
43
Não podemos dissociar a produção literária do povoamento e da colonização, com
que se mantém diretamente relacionada. O fato de não termos um tipo catarinense deve-se a
uma população formada por várias etnias, aspecto esse que também interferiu na formação
cultural, pois “a produção literária nasce do homem que se enraíza na situação de um
determinando tempo e lugar”
60
. Indagamos, então, como se caracteriza o homem ‘catarinense’
que produzirá uma literatura ‘catarinense’?
Com essa identidade étnico-cultural multifacetada, a produção literária em Santa
Catarina apresenta uma variação de estilos, desde escritores canonizados até escritores cuja
única preocupação é mostrar a realidade local, sem maiores pretensões, simplesmente pelo
prazer de escrever. E, aos poucos, a identidade catarinense está sendo definida...
“A literatura catarinense pretende ser uma visão/civilização/sociológico e gostaria
de proclamar que a Literatura de Santa Catarina não reside no valor isolado de um
autor ou de uma obra, mas no conjunto de toda a produção/manifestação de uma
forma de ser, de pensar e de agir”
61
.
Diante dessa diversidade em que Santa Catarina está envolta, alguns ainda
questionam se “A literatura catarinense (produzida em Santa Catarina e escrita sobre a
experiência de vida catarinense) precisa ser mais valorizada? Certamente. Se não por seus
méritos literários extraordinários, então pelo que tem a revelar sobre o que somos como grupo
social regional”
62
.
Ao longo da história literária de Santa Catarina, vários autores destacaram-se na
busca incessante de provar a existência ou não de uma Literatura Catarinense. No entanto,
foram unânimes em afirmar que, pelo fato do estado ser matizado pelos mais variados grupos
humanos, essa heterogeneidade influenciou diretamente sua Literatura. Para JUNKES
63
a
denominação de uma Literatura “Catarinense” torna-se irrelevante diante da comprovação de
que autores e obras produzidas neste estado contêm valores estéticos e humanos. Valores
esses que denotam uma produção literária de qualidade e com características específicas.
60
MELO, Oswaldo Ferreira de. Introdução à história da Literatura Catarinense. 2. ed. Florianópolis: Editora
Movimento, 1980, p. 09
61
SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1985, p 08.
SACHET, Celestino & SOARES, Iaponan. Presença da literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1989,
p.51
62
LEMOS, David & RISTOFF, Dilvo Ivo (org.). Antologia: Projeto um dedo de prosa. Florianópolis:
UFSC/CCE, 2004. V.1:il., p. 08
63
JUNKES, Lauro. O mito e o rito: uma leitura de autores catarinenses. Florianópolis, Universidade Federal de
Santa Catarina, 1987, p. 15.
44
Em 1957, Arnaldo S. THIAGO
64
afirmou que existiam dois grupos de escritores
catarinenses: os que passaram a viver no eixo cultural de São Paulo e que conseguiram
reconhecimento justamente por abandonarem o estado, e os de notável cultura que ficaram no
estado e, conseqüentemente, tiveram todas as suas atividades confinadas ao âmbito
catarinense. Atualmente, graças à tecnologia, muitos escritores que optaram por permanecer
no estado não têm mais essa perspectiva, mas sim a perspectiva do devir.
Conforme Niestzche
65
que apresenta as três transformações em Assim falava
Zaratustra:
o espírito se transforma em camelo, o camelo em leão e o leão em criança. Após
esse rito de passagem o surgimento, e a sobrevivência da criança com sua inocência
seria um começar de novo, ou seja, o passado é desafiado como origem, e a criança,
livre da culpa pelo seu passado, faz com que essa transformação seja a vingança
dessa origem. Dentro dessa reformulação dos valores, o surgimento do pensamento
de um homem mortal, se situa na perspectiva do presente, de um tempo que
dispomos e não mais se baseada em um tempo dionisíaco
.
Esse rito de passagem reflete basicamente a história da Literatura Catarinense, que
precisa situar-se no presente, nesse tempo, para permitir que essa criança cresça e se torne um
super-homem que fala
“da vida natural em suas legitimas expansões intelectuais (...) e não os artifícios
convencionais, a que orgulhosamente os constrangem críticos que vêm tudo pela
superfície e não querem descer ao âmago das produções da inteligência, onde se
encontram elementos muito mais nobres e belos, o estudo da alma humana, do que
àqueles que se confinam apenas às normas literárias e aos nones da gramática.
Apegam-se tais críticos, à letra que mata, deixando de lado o espírito que vivifica
66
.
Perceber esse espírito que vivifica é perceber que o uso da linguagem com
criatividade e consciência faz com que o homem consiga, através de códigos e signos,
produzir sons variados e significados com representações infinitas e que estes códigos
estruturam e difundem sua língua, seus costumes, enfim, sua (uma) ideologia. Neste sentido, é
possível afirmamos que a linguagem humana mostra-se intimamente relacionada à interação
de sujeitos, cultura, posição social, época, lugar, conhecimentos e sentimentos.
64
THIAGO, Arnaldo S. História da Literatura Catarinense. Rio de Janeiro, 1957.
65
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratrusta: um livro para toda gente e para ninguém. São
Paulo: Cultura Moderna, 1930.
66
THIAGO, Arnaldo S. História da Literatura Catarinense. Rio de Janeiro, 1957, p. 26.
45
Portanto, é primordial que analisemos criticamente as formas em que as diferentes
linguagens (oral, auditiva e visual) estão sendo utilizadas pelos meios de comunicação e como
estas informações podem ser conduzidas. É preciso que consideremos o verdadeiro valor da
linguagem e o verdadeiro valor da tecnologia para seus usuários. As diferentes linguagens,
entendidas como toda e qualquer forma de comunicação, são frutos da adaptação pessoal,
social e da idéia; dessa forma é uma experiência sócio-cultural. São elas, pois, determinantes
fundamentais da vida humana; sem o social as diferentes linguagens não existiriam.
Ter o domínio não da palavra, mas também dos recursos tecnológicos como
apoio no processo de construção do conhecimento é possível e imprescindível na sociedade
atual. Para Bakhtin
67
, a palavra é um signo ideológico por excelência e registra as menores
variações sociais, ou seja, serve como um indicador de mudanças. Para ele, todo signo é
ideológico, podendo se apresentar também como gestos, sinais e expressões das mais diversas
formas. Dessa forma, a linguagem utilizada pela tecnologia é um indicativo de mudança. É
preciso que se entenda que o domínio ideológico do conhecimento, muito utilizado pelos
meios de comunicação, resulta da associação de palavras, imagens e sons, mas esse
conhecimento também pode ser utilizado a serviço da cultura.
A literatura se manteve praticamente à margem da tecnologia, com seu uso restrito
à confecção de livros, enquanto em outros setores da sociedade o avanço tecnológico progride
e facilita a comunicação. No entanto, ao invés de simplesmente usar, é importante ousar, criar,
inventar, sugerir, desafiar novos caminhos.
“’As novas tecnologias’ foram elevadas à dignidade de um conceito, tornando-se
emblema salvador da modernidade em crise, seu sinal de unificação. E, entre elas, a
Informática aparece como uma tecnologia que está mudando nosso modo de viver,
pensar e trabalhar, gerando, com a automação da memória e a programação, quiçá
uma ‘revolução Informática’, com implicações tanto técnicas quanto ideológicas”
68
.
É importante ressaltar, que o poeta Alcides Buss e sua obra alcançaram a “fresta de
luz” do reconhecimento nacional e internacional (como muitos outros escritores de nosso
estado). Parte desse reconhecimento deve-se pela facilidade com que as informações podem
ser veiculadas nos diferentes meios de propagação de informações, além, é claro, da qualidade
de seu trabalho.
67
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. Ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1995, p. 95.
68
CHESNEAUX. Revista eletrônica Conect@). 1995, p. 109.
46
Em contrapartida ao reconhecimento fora do estado, reina o pouco conhecimento
de sua obra pelos próprios catarinenses, portanto, com o entrelaçamento entre literatura e
tecnologia, através da produção do cederrom literário sobre o poeta Alcides Buss e sua obra,
pretendemos alcançar a transposição de fronteiras na literatura, presentificando o valor poesia
produzida em Santa Catarina.
Na verdade, esse projeto de re-conhecimento e valoração da Literatura produzida
em nosso estado faz parte de um movimento de vários profissionais engajados na promoção e
propagação dos escritores que aqui deixaram (e deixam) suas marcas. Destaque para
pesquisadores como Arnaldo S. Thiago, Antonio Hohfeldt, Celestino Sachet, Zahidé Muzart e
Lauro Junkes; destaque também para o projeto Portal Catarina.
O Portal Catarina é um esforço conjunto entre o NUPILL
69
e grupos de pesquisa
de diversas universidades catarinenses, bem como, da Academia Catarinense de Letras, cujo
objetivo, além de recuperar, catalogar, digitalizar é ainda disponibilizar o acervo, através do
meio digital, visando o re-conhecimento dessa produção.
Salientando que, definir a existência de uma identidade catarinense é uma atitude
precoce, frente à heterogeneidade apresentada na formação do estado: grupos sociais,
culturas, idiomas, interesses, classes, gênero, enfim, diversas categorias que determinam
características diferenciadas à produção. Não podemos negar, portanto, que existe o “espírito”
literário, no entanto, com um corpo multifacetado de influências e, ainda sem identidade.
69
NUPILL O Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística, da Universidade Federal de Santa
Catarina vem atuando a mais de 12 anos, objetivando a propagação da Literatura por meio digital,
disponiblizando aos interessantos “a maior biblioteca digital de Literatura Brasileira com o maior banco de
dados de história literária brasileira do mundo”.
Disponível em <http://www.nupill.org>
Acesso em setembro de 2008
47
6. ORGANIZAÇÃO DO CEDERROM LITERÁRIO “ALCIDES BUSS: POMAR DE
POSSIBILIDADES”
“Não há uma seqüência de leitura preestabelecida
cabe ao leitor fazer a escolha, ou melhor,
a construção de seu percurso textual de leitura”.
Alckmar Luiz dos Santos
A criação do cederrom literário “Alcides Buss: Pomar de Possibilidades” apresenta
uma escrita hipertextual, que se organiza a partir de fragmentos de textos diversos que são
conectados uns aos outros através de links. Por meio destes links o leitor estabelece seu roteiro
de leitura que, na verdade, nada mais é do que uma sucessão de planos de leitura. O texto não
se apresenta por inteiro, está oculto, se mostra quando for solicitado pelo leitor ao acionar
um ícone, este acionará um link que estabelecerá a conexão entre os textos. Estamos, portanto,
diante de uma leitura diferenciada do livro impresso.
É importante salientar que neste tipo de hipertexto não uma organização linear
como no papel, trata-se de um sistema de escrita não-sequêncial e não hierárquico. Portanto,
em cada click o texto é reorganizado pelas escolhas efetuadas pelo leitor.
O cederrom literário apresenta duas barras: uma vertical e outra horizontal, em ambas,
vários ícones para acessar outras páginas e assim sucessivamente.
Na barra horizontal (cabeçalho) encontraremos:
Capa: página inicial do cederrom.
Introdução: apresenta um texto explanando as intenções em desenvolver o cederrom.
Panorama da literatura: contextualização da Literatura, abordando algumas
características literárias que marcaram e influenciaram a poesia de Alcides Buss, bem como, a
relevância da Literatura Catarinense no contexto cultural nacional.
Biografia: descrição da vida do autor, além de uma biografia poética construída com
fragmentos da própria obra do autor.
48
Obras: relação completa de todas as obras do autor, inclusive com a criação de um banco
de dados com as poesias criadas durante esses 30 anos dedicados à Literatura
Sobre o CD Literário: dados sobre a produção do cederrom.
Na barra vertical encontraremos:
Fortuna crítica: apresenta uma lista com todos os livros do poeta, uma poesia
selecionada de cada livro e as opiniões e/ou comentários de críticos e/ou escritores sobre a
obra de Alcides Buss, demonstrando dessa forma sua relevância para a Literatura Catarinense.
Varal Literário: Mostrar a relevância do escritor na criação dessa atividade de expressão
artística, que visava combater as adversidades que a leitura vinha sofrendo, principalmente
sua segregação promovida pelos meios de comunicação em massa. O objetivo era mostrar que
uma poesia exposta, escancarada, sem se direcionar a um público-alvo-padrão poderia fazer
da Literatura, realmente algo atrativo e, principalmente, vivo.
Livro em movimentação: propunha que o livro de poesia não fosse nem comprado nem
vendido, mas que cada leitor repasse o livro a outro, e assim sucessivamente.
Escritores citados: relação de outros escritores mencionados em citações intra e extra
textuais, com sugestões de sites para busca de informações complementares;
Além das fronteiras: relação de alguns países onde a obra de Buss foi utilizada.
Poesia falada/musicada: apresentação de alguns poemas apresentados de forma
diferenciada.
Prêmios: relação dos prêmios como forma de reconhecimento da relevância do trabalho
do professor Alcides Buss ao longo de sua carreira, tanto no magistério quanto na literatura;
Entrevista: entrevistas cedidas à equipe produtora do cederrom.
Galeria de Imagens: fotos da carreira e de situações diversas;
Links: outros endereços de sites que possam ser úteis.
Questionários: jogos de conhecimento sobre o autor, obras e literatura;
49
A página principal do cederrom (intitulada capa) apresenta em seu menu de opções no
cabeçalho:
a) Capa: página de apresentação.
50
b) Introdução: breve explanação sobre as intenções em desenvolver este trabalho, dando
pistas sobre o conteúdo a ser abordado.
51
INTRODUÇÃO
A organização da sociedade moderna, por alguns, chamada de sociedade tecnológica,
exige de nós, indivíduos-sujeitos e dependentes dessa nova maneira de encarar a realidade (ou
uma supra-realidade), conhecer e dominar as diferentes mídias, utilizando-as em nosso
benefício. Portanto, a utilização desses recursos pode ser observada em todas as áreas, e as
artes não poderiam ficar alheias a esta enxurrada de tecnologias à mercê das quais estamos.
Conhecer os diferentes conceitos dados à Literatura e à Poesia ao longo da História é
fundamental para que entendamos as características que fundamentam essa experimentação
literária. Principalmente no campo da poesia, percebemos uma ampla diversidade de suscitar
pesquisas e debates quanto a essa experimentação poética, utilizando não o computador
como auxílio, mas todas as ferramentas (softwares) disponíveis e possíveis de adaptação a
essa nova poética - uma nova possibilidade de apresentar ou de criar poesia (esta não sea
nossa preocupação). Portanto, a elaboração de um projeto para a produção de um Cederrom
Literário de um poeta catarinense objetiva mostrar a potencialidade de sua poesia, bem como,
a importância de sua obra para a formação de um grupo Literário Catarinense relevante na
poesia nacional. Permitirá, ainda, que haja um casamento entre Literatura e Tecnologia, que
essa união promova uma nova forma de linguagem e de comunicação que, ao utilizar o
computador, lança a obra literária para além das páginas do livro, buscando o infinito.
Além de promover uma análise da obra do artista e colocá-lo em um lugar
privilegiado, ainda a preocupação com um leitor, na sua grande maioria escravo do tempo
(não o tempo dionisíaco, mas o cronológico), ávido por informação, mas que prima pela
praticidade. Essa praticidade, em nenhum momento, será a redução da obra, mas uma forma
diferenciada de apresentação, com a utilização de uma nova tecnologia, na qual o leitor é
quem fará a linearidade do texto. Portanto, uma das preocupações será justamente que o
leitor-navegador crie um curso para sua leitura, tenha liberdade para estabelecer prioridades e
a seqüência das informações, experimentando um novo olhar sob o objeto literário.
A preocupação não será somente com essa praticidade dada ao leitor, mas também
com a “valoração” dada à Literatura produzida em Santa Catarina como forma de expressão
de um grupo “menor”, mas de modo algum inferior a outro. Pelo contrário, mostrar aos
leitores que temos uma poesia consistente no Estado (além de Cruz e Sousa, Luís Delfino e
outros) como é o caso do poeta Alcides Buss, com mais de três décadas de expressão poética,
52
consolidado em mais de vinte livros lançados, conhecido e apreciado em outros estados e até
internacionalmente, mas, muitas vezes, pouco “reconhecido” como par pelos próprios
catarinenses (ressalva: entende-se, aqui, por catarinense, todo aquele que vive entre as
fronteiras de nosso Estado). Adequar a tecnologia à poesia, principalmente à Catarinense, é
mostrar que, mesmo sendo uma “literatura menor” (não no sentido de valor, mas por tratar-se
de uma minoria), poderá destacar-se por quebrar barreiras e utilizar a tecnologia para alçar
vôo, ou como dizia Kafka, que as minorias estavam à espreita de uma brecha de luz para
destacaram-se e, quem sabe, não seja dessa forma que a Literatura produzida em Santa
Catarina (Literatura Catarinense) consiga atingir o espaço a ela reservado.
No entanto, essa posição de destaque ainda permanece vaga, pois é pequena a parcela
da crítica que reconhece seu valor como Literatura. Para que ocorra essa valorização e, quem
sabe, uma posterior criação ou transformação da consciência literária, é preciso que se
desenvolva um processo mutacional da visão pré-existente do que é um poeta catarinense e,
quem sabe, com a utilização de meios eletrônicos para a apresentação-divulgação desse fazer
literário, posteriormente, possa maturar através de gerações tecnologicamente mais ativas e
mais acostumadas com a veiculação de uma identidade catarinense.
53
c) Panorama da Literatura: breve contextualização da literatura; características literárias
que marcaram e influenciaram a poesia de Alcides Buss, bem como, a relevância da Literatura
Catarinense no contexto cultural nacional. Apresenta ainda a Bibliografia utilizada no texto,
clicando sobre cada número, aparecerá a referência bibliográfica utilizada.
54
PANORAMA DA LITERATURA
Falar de Literatura Catarinense ou Literatura produzida em Santa Catarina é, sem
dúvida, assunto polêmico, pois estaremos falando de uma minoria, como dissera Kafka
70
de
“uma literatura menor”, menor não no sentido de valorização, mas por representar um grupo
minoritário dentro de um contexto que busca representar (ou seguir) uma identidade nacional
(muitas vezes ditada por outra minoria com maior expressividade no país). O importa
realmente é valorizar todo e qualquer artista, pois, indiferentemente de notoriedade, a maioria
tem em comum a expressão de sensações e percepções sobre o mundo, e isso deve ser
respeitado e não desestimulado. Percebemos, ainda, que há escritores que não querem a fama,
querem apenas escrever sem compromisso em agradar este ou aquele, apenas expressar seus
sentimentos. Kafka defendia ainda que, esses pequenos grupos seriam os que abririam
espaços e fariam a diferença, pois pressupõe que o nacional seja conhecido. Essas minorias
seriam os espaços de convergência, a fresta para iluminar o ambiente sombrio, referindo-se ao
nosso Estado, percebe-se claramente que, as referências literárias que nos representam, em
sua maioria, devem-se ao fato de terem ingressado no eixo cultural do país ou anos mais tarde
seu reconhecimento pelo valor da obra.
Perceber que essa minoria literária representa um estado inteiro, formado a partir de
tantas outras minorias excluídas de seus países, que ao abraçarem o estado se tornaram um
grupo significativo com culturas bastante diferenciadas, tornando nosso povo fonte de
experiências riquíssimas. Entretanto, devido a esse mosaico étnico, não temos um tipo
catarinense definido e uniforme.
Não podemos dissociar a produção literária do povoamento e da colonização, com que
se mantém diretamente relacionada. O fato de não termos um tipo catarinense deve-se a uma
população formada por várias etnias, aspecto esse que também interferiu na formação da
cultura, pois “a produção literária nasce do homem que se enraíza na situação de um
70
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Júlio Castañon
Guimarães. Rio, Imago, 1977.
55
determinando tempo e lugar”
71
. Indagamos, então, como se caracteriza o homem ‘catarinense’
que produzirá uma literatura ‘catarinense’?
Com essa identidade étnico-cultural multifacetada, a produção literária do estado
apresenta uma variação de estilos, desde escritores canonizados até escritores cuja única
preocupação é mostrar a realidade local, sem maiores pretensões simplesmente pelo prazer de
escrever. E, aos poucos, a identidade catarinense está sendo definida...
“A literatura catarinense pretende ser uma visão/civilização/sociológico e gostaria de
proclamar que a Literatura de Santa Catarina não reside no valor isolado de um autor ou de
uma obra, mas no conjunto de toda a produção/manifestação de uma forma de ser, de pensar e
de agir”
72
.
Diante dessa colcha de retalhos em que Santa Catarina está envolta alguns ainda
questionam se “A literatura catarinense (produzida em Santa Catarina e escrita sobre a
experiência de vida catarinense) precisa ser mais valorizada? Certamente. Se não por seus
méritos literários extraordinários, então pelo que tem a revelar sobre o que somos como grupo
social regional”
734
.
Ao longo da história literária de Santa Catarina, vários autores destacaram-se na busca
incessante para provar a existência ou não de uma Literatura Catarinense. No entanto, foram
unânimes em afirmar que, pelo fato do estado ser matizado pelos mais variados grupos
humanos essa heterogeneidade influenciou diretamente na Literatura.
Para JUNKES
74
a denominação de uma Literatura “Catarinense” torna-se irrelevante
diante da comprovação que autores e obras produzidas neste estado contêm valores estéticos e
humanos. Valores esses que denotam uma produção literária de qualidade e com
características específicas.
71
MELO, Oswaldo Ferreira de. Introdução à história da Literatura Catarinense. 2. ed. Florianópolis: Editora
Movimento, 1980, p. 09.
72
SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1985, p 08.
73
SACHET, Celestino & SOARES, Iaponan. Presença da literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli,
1989, p.51.
74
JUNKES, Lauro. O mito e o rito: uma leitura de autores catarinenses. Florianópolis, Universidade Federal de
Santa Catarina, 1987, p. 15.
56
Em 1957, Arnaldo S. THIAGO
75
afirmou que existiam dois grupos de escritores
catarinenses: os que passaram a viver no eixo cultural de São Paulo e que conseguiram
reconhecimento justamente por abandonarem o estado, e os de notável cultura que ficaram no
estado e conseqüentemente tiveram todas as suas atividades confinadas ao âmbito catarinense.
Atualmente, graças à tecnologia, muitos escritores que optaram por permanecer no estado não
têm mais essa perspectiva.
Conforme Nietzsche
76
, que apresenta as três transformações em Assim falava
Zaratustra,
“o espírito se transforma em camelo, o camelo em leão e o leão em criança.
Após esse rito de passagem o surgimento e a sobrevivência da criança com sua
inocência seria um começar de novo, ou seja, o passado é desafiado como
origem, e a criança livre da culpa pelo seu passado faz com que essa
transformação seja a vingança dessa origem. Dentre essa reformulação dos
valores, o surgimento do pensamento de um homem mortal, cujo querer situa-
se na perspectiva do presente, de um tempo que dispomos e não mais baseada
em um tempo dionisíaco
”.
Esse rito de passagem reflete basicamente a história da Literatura Catarinense que
precisa situar-se no presente, nesse tempo, para permitir que essa criança cresça e, se torne um
super-homem que fala
“da vida natural em suas legitimas expansões intelectuais (...) e não os
artifícios convencionais, a que orgulhosamente os constrangem críticos que
vêm tudo pela superfície e não querem descer ao âmago das produções da
inteligência, onde se encontram elementos muito mais nobres e belos, o estudo
da alma humana, do que àqueles que se confinam apenas às normas literárias e
aos cânones da gramática. Apegam-se tais críticos, à letra que mata, deixando
de lado o espírito que vivifica
77
.
Perceber esse espírito que vivifica é perceber que o uso da linguagem com criatividade
e consciência faz com que o homem consiga através de códigos e signos produzir sons
variados e significados com representações infinitas e que estes códigos estruturam e
difundem sua língua, seus costumes, enfim, sua (uma) ideologia. Neste sentido, é possível
afirmamos que a linguagem humana mostra-se intimamente relacionada à interação de
sujeitos, a cultura, posição social, época, lugar, conhecimentos e sentimentos.
Portanto, é primordial que analisemos criticamente as formas em que as diferentes
linguagens (oral, auditiva e visual) estão sendo utilizadas pelos meios de comunicação e como
75
THIAGO, Arnaldo S. História da Literatura Catarinense. Rio de Janeiro, 1957.
76
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falava Zaratustra: um livro para toda gente e para ninguém. São Paulo: Cultura
Moderna, 1930.
77
THIAGO, Arnaldo S. História da Literatura Catarinense. Rio de Janeiro, 1957, p. 26.
57
estas informações podem ser conduzidas. É preciso que consideremos o verdadeiro valor da
linguagem e o verdadeiro valor da tecnologia para seus usuários. As diferentes linguagens são
entendidas como toda e qualquer forma de comunicação são frutos da adaptação pessoal,
social e da idéia, dessa forma é uma experiência sócio-cultural. Sendo elas determinantes
fundamentais da vida humana, sem o social as diferentes linguagens não existiriam.
Ter o domínio não da palavra, mas também dos recursos tecnológicos como apoio
no processo de construção do conhecimento é possível e imprescindível na sociedade atual.
Para Bakhtin
78
, a palavra é um signo ideológico por excelência e registra as menores
variações sociais, ou seja, serve como um indicador de mudanças. Para ele, todo signo é
ideológico, podendo se apresentar também como gestos, sinais e expressões das mais diversas
formas. Dessa forma, a linguagem utilizada pela tecnologia é um indicativo de mudança. É
preciso que se entenda que o domínio ideológico do conhecimento que é muito utilizado pelos
meios de comunicação que é a associação de palavras, imagens e sons, mas esse
conhecimento também pode ser utilizado a serviço da cultura.
A Literatura que se manteve praticamente à margem da tecnologia com seu uso restrito
à confecção de livros, enquanto em outros setores da sociedade o avanço tecnológico progride
e facilita à comunicação. No entanto, ao invés de simplesmente usar, é importante ousar, criar,
inventar, sugerir, desafiar novos caminhos.
“‘As novas tecnologiasforam elevadas à dignidade de um conceito, tornando-
se emblema salvador da modernidade em crise, seu sinal de unificação". E,
entre elas, a Informática aparece como uma tecnologia que está mudando nosso
modo de viver, pensar e trabalhar, gerando, com a automação da memória e a
programação, quiçá uma ‘revolução Informática’, com implicações tanto
técnicas quanto ideológicas ”
79
.
É importante ressaltar, que o poeta Alcides Buss e sua obra alcançaram a “fresta de
luz” do reconhecimento nacional e internacional (como muitos outros escritores de nosso
estado). Parte desse reconhecimento deve-se pela facilidade com que as informações podem
ser veiculadas nos diferentes meios de propagação de informações, além, é claro, da qualidade
de seu trabalho.
Em contrapartida ao reconhecimento fora do estado, reina o pouco conhecimento de
sua obra pelos próprios catarinenses, portanto, com o entrelaçamento entre literatura e
78
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e filosofia da linguagem. 8. Ed. São Paulo: Ed. Hucitec, 1995, p. 95.
79
CHESNEAUX. Revista eletrônica Conect@). 1995, p. 109.
58
tecnologia, através da produção do cederrom literário sobre o poeta Alcides Buss e sua obra,
pretendemos alcançar a transposição de fronteiras na literatura, presentificando o valor poesia
produzida em Santa Catarina.
Na verdade, esse projeto de re-conhecimento e valoração da Literatura produzida no
estado faz parte de um movimento de rios profissionais engajados na promoção e
propagação dos escritores que aqui deixaram (e deixam) suas marcas. Destaque para
pesquisadores como Arnaldo S. Thiago, Antonio Hohfeldt, Celestino Sachet, Zahidé Muzart e
Lauro Junkes; destaque também para o projeto Portal Catarina.
O Portal Catarina é um esforço conjunto entre o NUPILL (Núcleo de Pesquisas em
Informática, Literatura e Lingüística da Universidade Federal de Santa Catarina) e grupos de
pesquisa de diversas universidades catarinenses, bem como, da Academia Catarinense de
Letras, cujo objetivo, além de recuperar, catalogar, digitalizar é ainda disponibilizar o acervo,
através do meio digital, visando o re-conhecimento dessa produção.
Salientando que, definir a existência de uma identidade catarinense é uma atitude
precoce, frente à heterogeneidade apresentada na formação do estado: grupos sociais,
culturas, idiomas, interesses, classes, gênero, enfim, diversas categorias que determinam
características diferenciadas à produção. Não podemos negar, portanto, que existe o “espírito”
literário, no entanto, com um corpo multifacetado de influências e, ainda sem identidade.
59
d) Biografia: descrição da vida do autor, além de uma biografia poética construída com
fragmentos da sua própria poesia.
BIOGRAFIA
Falar da biografia deste poeta inicia com os pais, Verônica Loch Buss e Érico Buss,
que receberam no ano de 1948 o segundo filho dos onze que teriam. Essa família ainda
pequena residia em Ribeirão Grande, atual Salete SC. Como a vida sempre ensina a sonhar,
a procurar novos caminhos, em 1949 a família transfere-se para Trombudo Central. o pai
se dedica à marcenaria. A procura não cessara, e dessa vez a família cruza as fronteiras do
estado, aportando na cidade de Medianeira, no vizinho estado do Paraná. Nessa época,
Alcides estava com sete anos e estava na hora de aprender a ler e a escrever, o que seria a
base de seu futuro como escritor e professor.
Sua família era extremamente religiosa e, em 1961, sua mãe o convence a ingressar no
seminário. se vai o menino para o Seminário Nossa Senhora de Fátima, em Taió. Nesse
60
período, destaca-se pelas suas habilidades artísticas o desenho. No entanto, percebeu que
não tinha vocação para o celibato e decidiu ir para Cascavel, PR (em 1963), onde termina o
Ensino Fundamental (antigo ginásio), destacando-se também como melhor aluno da turma.
Com o intuito de continuar a estudar, em 1967, muda-se mais uma vez, então para Joinville,
onde conclui o segundo grau e, em 1968, conclui também o serviço militar e em seus
momentos de solidão, produziu muitos poemas, que mais tarde queimaria. A destruição de
seus primeiros escritos, feita “não sem alguma cerimônia”, indica um passo importante rumo
à preocupação com a qualidade de sua poesia. Nessa cidade trabalha como barman”,
bancário e professor. Já, em 1969, ingressa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de
Joinville, atuando no magistério e no jornalismo. Vivendo em constante contato com as letras,
sua preferência – escrever - vem à tona ao tornar-se editor do jornal O Acadêmico, o
suplemento D.A. Cultura do Jornal de Joinville, e também colabora com o Jornal de Letras
do Rio de Janeiro.
Um ano depois, sob influência não das musas inspiradoras, mas através de muito
trabalho, publica seu primeiro livro: Círculo Quadrado. Já em 1971, outro rebento surge O
Bolso ou a Vida?, com o qual se classifica em primeiro lugar no I Festival de Poesia
Universitária, cujo prêmio é a publicação do livro. Esses dois lançamentos deram notoriedade
ao seu nome e à Literatura Catarinense. Ambos despontavam no cenário literário. Sua
experimentação poética vem à tona quando, em 1972, organiza uma exposição de poemas
experimentais em plástico transparente, que percorre, além de Florianópolis, outras cidades do
interior. Em 1973, após casar-se com Denise Nascimento, muda-se para a capital do estado,
onde ingressa no curso de pós-graduação em Literatura Brasileira, na UFSC.
Decide, em 1974, retornar a Joinville para dirigir a Divisão de Cultura do município,
atuando também como professor de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura na Fundação
Universitária da Região de Joinville. Nesse período, enquanto foi diretor de cultura, procurou
resgatar a cultura popular e tornar as artes em geral acessíveis às massas, engajamento que o
tornou conhecido em todo o Brasil. Devido a esse projeto, espetáculos de danças, concertos,
recitais eruditos passaram a ser levados a lugares até então inusitados para a Arte (como
praças públicas e igrejas). A cidade respirava uma verdadeira popularização da Arte, através
de exposições artísticas que circulavam, de forma itinerante, nos bairros da cidade. E a
literatura, especialmente a poesia, foi às ruas através de varais literários. Graças a essa época,
sobrevivem ainda hoje em Joinville a tradicional Feira de Arte e Artesanato, além da
implantação do Museu de Arte, a realização de concursos de jardins nas residências e fábricas
61
e a instalação da Escola de Dança, semente que se transformou no maior festival de dança da
América Latina. A cidade respira cultura e, em 1975, acontece V Coletiva de Artistas de
Joinville com Garrafas Poéticas (poemas em vidro). Também coordena a realização do II
Encontro de Autores Catarinenses, ocasião em que é criada a Associação de Escritores
Catarinenses.
A partir de 1976, edita a revista Cordão. Em conjunto com outros escritores
joinvilenses, participa com panfletagem poética e poemas experimentais em pano, publica o
livro Ahsim, destacando a experimentação pela linguagem, característica já presente em seus
livros anteriores, recebe ainda o nascimento de sua filha Deluana. No ano seguinte (1977),
participa, em Curitiba, da Expoesia III, promovida pelo Centro de Criatividade do Museu
Guido Viaro. Em 1978, com o objetivo de difundir a poesia, lança o “Projeto Alçapão
armadilha para o ser cair em si”, composto basicamente de “sanfonas poéticas”.
Em 1980, além do nascimento de seu filho Loreno, ainda a volta de Alcides a
Florianópolis e à UFSC, para lecionar Teoria da Literatura. Na Universidade retoma a
experiência dos varais literários iniciada nos anos 70, criando uma das primeiras oficinas
literárias do Brasil. Por muito tempo, as oficinas abriram espaço para outras formas de arte,
como o cinema. Os varais literários tornaram-se cada vez mais conhecidos e, aos poucos, vão
alcançando outras cidades e estados brasileiros. É convidado a participar da exposição Poucos
e Raros, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo. Nesse mesmo ano, publica O homem
e a mulher. Dois anos (1982) depois, a convite da I Bienal Nestlé de Literatura Brasileira, leva
o varal literário para São Paulo. Nesse ano ainda publica o ensaio Cobra Norato e a
especificidade da linguagem poética e o livro de poemas O homem sem o homem. No ano
seguinte (1983) publica a Antologia do Varal Literário, cujos textos foram escolhidos pelo
público. Com essa publicação, o livro e o varal são levados a várias cidades catarinenses e à
Feira do Livro de Porto Alegre. Participa da Mostra Visual da Poesia Brasileira, organizada
em Campos e no Rio de Janeiro, por Artur Gomes. Nesse mesmo ano é nomeado para o
Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFSC.
Em 1985 recebe o prêmio Magister, do Sindicato dos Professores do Estado de Santa
Catarina, por seu trabalho em prol da poesia, além de publicar o livro Pessoa que finge a dor,
lançando também o “Movimento de Ação do Livro”, através do qual, parte da tiragem era
destinada à circulação livre e popular. De mão em mão, o livro procurava o seu leitor,
podendo chegar a um expressivo número de pessoas, nos mais distantes lugares. Publica
62
também Sete pavios no ar. No ano seguinte, foi indicado para o Conselho Editorial da Editora
da UFSC, onde coordenou a coleção “Ipsis Litteris”, destinada à criação literária. Participa, no
México, da exposição 1984 después de 1984, patrocinada pela Universidade Nacional
Autônoma (I Bienal Internacional de Poesia Visual e Experimental, organizada por Cesar
Espinosa).
Sua preocupação com a Literatura é que esta percorra e alcance todas as pessoas,
indiferente da idade, profissão ou classe social. Pensando dessa forma, organiza o livro O
professor é um poeta, aventurando-se, também em 1989, pelos campos da literatura infantil,
ao publicar A poesia do ABC. Para completar seu envolvimento com a idade pueril, nesse
mesmo ano, nasce o filho Hermano. Esse novo caminho trilhado junto ao público infantil lhe
rende (em 1990) o prêmio Revelação, da Associação Paulista de Críticos de Arte, pelo livro A
poesia do ABC. Nesse mesmo ano, participa da coletânea Poetas Contemporâneos
Brasileiros, da editora gaúcha Garatuja. Em 1991, lança uma coletânea com seus poemas
mais significativos sob o título de Contemplação do amor – vinte anos de poesia escolhida.
Com a publicação de Segunda Pessoa (1987), o poeta apresenta maturidade poética e
consolida efetivamente o Movimento de Ação do Livro, além de lançar no seminário nacional
“Brasil, a cultura em questão”, realizado em Batatais (SP), o manifesto “Em defesa do livro e
da leitura”. Logo no ano seguinte (1988), publica o livro Transação e também assume a
chefia do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas, no Centro de Comunicação e
Expressão da UFSC.
O poeta recolhe-se e, após dois anos, surpreende seu público e a crítica pela inovação
na forma do poema, no formato do livro e na veiculação da poesia com a publicação de
Natural, Afetivo, Frágil. Em 1993, participa da coleção Poesia em Santa Catarina com um
pequeno conjunto de poemas, Nenhum Milagre, além de ser eleito presidente da Associação
Brasileira das Editoras Universitárias, para um mandato de dois anos. Seu objetivo foi
fortalecer a instituição, efetivando a participação das edições universitárias em todos os
eventos nacionais e internacionais mais importantes, também com o intuito de formar uma
rede nacional para distribuição e comercialização das edições acadêmicas, que atualmente
envolve um número significativo de livrarias, em torno de oitenta.
Ao publicar seu décimo livro (em 1995), Sinais/Sentidos, o poeta utiliza-se de
múltiplas possibilidades que a linguagem proporciona, oferecendo ao leitor uma
63
experimentação sensorial. Neste ano ainda, recebeu da União Brasileira de Escritores do Rio
de Janeiro, a medalha de mérito cultural “Caio Prado Júnior”. Em 1997, recebe a medalha
“Manuel Bandeira”, pelo conjunto da obra e passa a presidir (1997-1999) a União Brasileira
de Escritores de Santa Catarina. Já em 1998, é agraciado com a Medalha Odilon Lunardelli de
Mérito Livreiro.
As possibilidades proporcionadas pela linguagem poética são exploradas também em
Cinza de Fênix & Três Elegias, publicado em 1999, graças ainda a este livro foi finalista do
Prêmio Jabuti 2000. No ano de 2000, com a publicação de Pomar das Palavras pela editora
Cuca Fresca, atende novamente ao público infanto-juvenil.
Em 2002 com a publicação de Contemplação do Amor, seu décimo oitavo livro,
mostra toda a trajetória da criação/experimentação do poeta em uma coletânea de poemas
produzidos nos últimos trinta anos. No ano seguinte, surpreende com a publicação de
Cadernos da Noite, no qual reflete a busca do eu-lírico pelo mundo interior, do outro e
também da arte. Seu trabalho mais recente Olhar a Vida, publicado em 2007 mereceu
destaque por estar carregado de subjetivismo, exaltando mais uma vez a boa poesia produzida
em nosso estado.
64
Biografia poética produzida com fragmentos da própria poesia de Buss
Tua forma (em segredo) me contém, ante-fruto e anteparo. Embora externa ao meu
corpo, é interna ao meu ser
1
. Morreu pra nascer. Em cada pedaço do corpo cravastes os
signos da paz
2
. Mas, estranhamente o mundo emerge em estradas, estradas dentro de nós
3
. E
a dúvida que não quer calar: que rumo tomar? De tanto pasmar, vomitamos... (re) partimos
(d)o nada
4
. O coração não resiste à malha da escuridão
5
e o nascimento surge como um
momento glorioso e, por um instante um horizonte fechado no teu ser, encolhido em
obscuro canto. Quando o sol penetra teu aço por instantes, um vislumbre te desperta. Mas
voltas novamente ao sonho sombrio e frio da massa circundante
6
. Apenas te agarras, bravo,
às paredes... Permanece por fora de ti mesmo
7
. Repentinamente um mundo, seguindo te
espera – parando-te o levas entre a carne
8
. Era 14 de agosto de 1948. Em suas veias corre um
gelo intenso; extenso frio eflui de suas mãos
9
.
Mas um findar-se saindo do céu; há um findar-se volvendo o mar; um findar-se
entrando na terra. um princípio de fim na voz das pessoas; em tudo o jaguar do
batismo
10
.
Um ano depois, a mudança é um vislumbre de crescimento e a estrada mais uma vez é
a culpada, pois é ela quem permite a busca pelo novo, pelo desconhecido. Ah, as estradas são
negras e secas – guardam no seio a morte traçada; por elas, a velocidade esconde a gente da
gente, e trapaça
11
. Mas ali, ainda não era o lugar
12
.
Em 1955, mudou-se para o oeste paranaense, onde iniciou seus estudos. E a busca
continua, mais uma mudança. Mas desta vez sozinho, sozinho para cumprir seu caminho,
encontrar seu lugar, fazer sua trajetória. Cumprir o destino traçado pela sua família: ser padre.
E o pudor faz-se podar,
a rosa faz-se riso,
o rútilo faz-se rótulo.
E o provar faz-se prover,
o medo faz-se moda,
o límpido faz-se lâmpada.
E o devir faz-se dever,
a mira faz-se muro,
a dádiva faz-se dívida
14
.
65
No seminário, sua altura permite-lhe ser goleiro e,
ao futebol revais
raiar a voz, gritar
o olvido – e comer
a fome de viver.
Cruzas a agrura e esqueces
No reespanto torcido
Do gol que há de ser,
A vitória postiça
Na praxe de perder
15
.
Depois da bola, os riscos, os desenhos, o contato com o papel ... e uma consequência
que mudaria totalmente sua trajetória - o gosto pela poesia. Poesia esta que o torna poderoso,
pois lhe dá o poder da criação
Agora é tarde
- já esvaziaram a tua palavra.
Beberam a tua
Saúde e comeram
O teu labutar!
Só resta o caminho,
Vedado, do re-
Aprender a pensar
16
Entrou na escola da vida como entra qualquer um, pela luz da poesia
13
. Quando
repensou seus objetivos, percebeu que não tinha vocação para ser padre e, em 1963, deixou o
seminário. Pois ali era a catedral das missas. Ressinto até eco-ecos de metransviar, ficar
arquiteturas osso do colosso
17
! Mais uma mudança, dessa vez para Cascavel (PR), para
terminar o ensino fundamental. Ainda era um menino, mas que sonhava em ir além, sair
daquela redoma, alçar vôo.
Alta-hora,
Alta-hora,
Sem seios,
Comerciando a vida.
- O senh or compre de mim esse jornal?
- Não. Não possuo tempodeler.
66
...Aí, tresfitou
o chão,
um chãos sem norte.
Noitão dispersa-se.
As agências dos olhos
S entopem.
18
No entanto, esse menino-homem percebeu que era preciso re-aprender a pensar e as
necessidades que surgiram provocaram outra mudança. Dessa vez, retorna para Santa
Catarina, para Joinville, Quando subiram ao Estado das veludas borboletas, onde se despe o
tempo e o infinito aclara algo luz e todo nos absorve
19
. A paisagem característica produz
emoções e devaneios, talvez até delírios.
O sol já vem furando
As árvores imaginárias
Da FLOResta do além...
Os passarinho em retorno
Se descobrem, se des cobrem.
O espaço confuso
Estende a geografia
O animal a carne.
O céu abre
Umazuldetotoodia
O Riozinho se acorda.
Prédios espiam
Mal e mente.
As ruas ruam, tecem destecem.
O Gesto, o mal, o grito, o jornal.
“A comunidade do povo!
A comum idade do povo!”
20
Em 1968, cumpriu o serviço militar. E À noite os ônibus são lâminas: não são
pássaros noturnos. E nós ávidos, intrinsícos, passageiros, somos um e grande coração
21
.
Nesse período, longe da família, dos amigos, produziu dezenas de poemas que, no entanto,
mais tarde queimou.
Na cidade armada
67
Corre o rio, escorre,
Como em nós, a vida
Num túnel metido
Somente lhe resta
No tempo rolar,
Morrer e de tanto morrer
Morrer, arraigar,
Na morte o viver
22
.
O recomeçar das cinzas, uma nova poesia, purificada pelo fogo, traz consigo as
recordações e reflexões da sua vida: Desbasto a minha dor no tempo e na paciência do
artesão sem certo canto, prevista direção
23
. No ano seguinte, decidiu estudar, entrou na
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em Joinville
Preciso um trecho de noite
Que me abra um caminho
Vou sair recobrir
Atritos
Entrarei nos cafés cafus
Onde o sangue se possa calibrar
Pedirei um pedaço de achego
Que borbulhe de quentura
Que me provoque ao prazer
24
de Joinville, e é...
E estudar provocava esse prazer imenso de crescer, e a partir dessa decisão as coisas
mudaram, e ele passou a ser colaborador de vários jornais. E reinventaria a verdade em sua
retina e sua linguagem
25
. Iniciando como editor do jornal “O Acadêmico”, o suplemento
“D.A. Cultural”, do Jornal de Joinville, assina também a coluna de Santa Catarina do Jornal
de Letras, do Rio de Janeiro. Mas tinha um segredo para escrever: começe desvestindo uma
palavra; (...) desvista sempre e outras quantas forem necessárias
26
. Desvestir as palavras e
dar a elas nova aparência para que tivessem um novo significado, além daqueles usuais.
Em 1970, publicou seu primeiro livro de poemas Círculo Quadrado. Os papéis que
nos dão aceitamos, selamos contratos e fazemos a festa sem parar diante de tudo mesmo
desde que nos guiem
27
. Alcides havia recebido seu papel que era atuar como um disseminador
da cultura, mais especificamente da poesia. Mas várias etapas que essa personagem tinha
68
que galgar, uma delas talvez a semente, foi de atuar como diretor de cultura da Prefeitura de
Joinville (SC), ser bom servidor: senta ao cuidado de estar superior
28
. Nesse cargo,
promoveu o resgate da cultura popular e a popularização das artes em geral, projeto este que
teve reconhecimento nacional. A arte foi aproximada do público em inúmeros eventos como:
exposições itinerantes, concertos, recitais eruditos e espetáculos de dança levados a lugares
públicos, como: praças e igrejas. E finalmente, os varais literários, pelos quais a poesia se
popularizou ainda mais. Nessa perspectiva, criou-se (e ainda hoje são eventos de sucesso) a
Feira de Arte e Artesanato, implantou-se o Museu de Arte e a instalação da Escola de Dança
(que hoje é um dos mais conceituados festivais de dança do mundo).
O espetáculo não pára,
Exportar é a solução.
Se a trama é diabólica
Nossos olhos não vêem, o coração
Não sente e tudo é igual.
Resta repetir cada dia, cada hora,
Conformados, morrer não tem limite
Agora e não obstante o antigo brado
Colossal e tal, ainda
Cada qual na sua.
Nesta peça ser herói assim, tudo
Vale a pena se a alma é pequena,
Devorar os sonhos,
Bater palmas, bis
29
.
E a continuação do show se dá com a publicação do Bolso ou a vida? (1970).
Juntamente com outros escritores joinvilenses editam a revista Cordão a partir de 1976 e no
mesmo ano outro espetáculo, o livro Ahsim. Em 1978, edita “Alçapão armadilha para o ser
cair em si”, composto basicamente de “sanfonas poéticas”, cuja preocupação era a de difundir
a arte poética.
Em 1980, muitos acontecimentos. Publicou O homem e a mulher. Muda-se para
Florianópolis e o mar, ali, de luzes mil, ou melhor, traçado de luz com suas ruas, quadras e
casas
30
. Tudo é muito bonito, mas a vida não era somente observar as belezas e a realidade o
chamava, saiu caminhando com a manhã, à procura de emprego. Precisava trabalhar
31
. Por
isso, foi dar aulas de Teoria da Literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. E ele
69
inrompeu (...) para promover o seu intento
32
: re-criando os varais literários. O ano de 1982 é
marcado por Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética e O homem sem o
homem. Em 1983, os textos selecionados pelo público fazem parte de um livro intitulado de
Antologia do Varal Literário.
Sobretudo com marasmo e paciência. O sonho leva tempo
33
. No entanto, em 1985,
mais uma fagulha do sonho se realiza através da publicação do livro Pessoa que finge a dor, e
com ele surge também o Movimento de Ação do Livro, através do qual parte da tiragem era
destinada à circulação livre e popular, com o objetivo de contaminar a sociedade com essa
poesia vibrante.
Em 1986, foi indicado para o Conselho editorial da UFSC, onde coordenou a coleção
“Ipsis Litteris”, destinada à criação literária. Com essa possibilidade Seus olhos flamejam a
energia capaz de aferir o mundo à palavra
34
. Energia que o move em direção à construção
poética. E no ano seguinte publicou Segunda pessoa. Em 1988, aparece Transação e ao
mesmo tempo assume a chefia do Departamento de Língua e Literatura Vernáculas do Centro
de Comunicação e Expressão da UFSC e conservamo-nos em ordem e vestimos as imagens do
ato e do progresso e a platéia igualmente se alvoroça em festa, também somos a platéia
35
.
Platéia esta que objetiva a construção do conhecimento relacionado à sua língua com o
propósito de difundir isso para uma nova platéia. A poesia do ABC toma formaComo todo
professor tem a obrigação de ser um leitor, para ele O professor é um poeta
36
. Hoje tudo foi
tudo e a vida viveu
37
quando em 1990, recebeu o prêmio “Revelação” da Associação Paulista
de Críticos de Arte, pelo livro A Poesia do ABC percebeu, portanto, um público ávido por
cultura, por luz. Nesse mesmo ano, participou da coletânea Poetas Contemporâneos
Brasileiros, da editora gaúcha Garatuja. A partir de 1991, assumiu a diretoria executiva da
Editora da UFSC e juntamente com a editora da Universidade publica Contemplação do
amor – 20 anos de poesia escolhida. Quando passa a estar diariamente em contato com toda a
produção flamejante do corpus acadêmico no qual a linguagem se enche de vida
38
. Eleito, em
1993, presidente da Associação Brasileira das Editoras Universitárias, (por dois anos), buscou
um aperfeiçoamento da instituição, possibilitando a participação das edições universitárias em
todos os eventos nacionais e internacionais mais relevantes. Empenhou-se na criação de uma
rede nacional, que possibilitasse a distribuição e a comercialização das publicações
acadêmicas, hoje por volta de oitenta livrarias.
70
Natural, afetivo e frágil (1992) surgiu de momentos profundos de reflexões sobre a
vida, o mundo, as pessoas. Nenhum milagre (1993) acontece sem trabalho, sem esforço.
Como reconhecimento desse esforço, em 1995, recebeu da União Brasileira de Escritores do
Rio de Janeiro a medalha de mérito cultural “Caio Prado Júnior” ; em 1997, a medalha
“Manuel Bandeira”, pelo conjunto da obra, e, em 1998, a medalha “Odilon Lunardelli” de
Mérito Livreiro.
Durante 1997 até 1999, foi presidente da União Brasileira de Escritores de Santa
Catarina. Foi finalista do Prêmio Jabuti 2000 com o livro Cinza de nix & três elegias
(Editora Insular, 1999). Lançou um livro de poemas infantis pela Editora Cuca Fresca, cujo
título Pomar de palavras foi bem recebido e muito elogiado.
Cubro-me de poucos sentidos e vasto silêncio: feto dos anos dois mil
39
. E em maio de
2002, lançou Trinta anos de contemplação, seu décimo oitavo livro, que apresenta uma poesia
de “olhos livres”. E que, durante sua trajetória, o fazer poético dependia de Liberdade de
imaginação, ousadia no trato da palavra e uma dose de humor.
40
Para ele o poeta é
Um João, quem diz:
estando o poema pronto,
faz clic, como fechar
um estojo. E o poema
de fato faz clic
no leitor: desperta
a face interior
e, mais interior,
a outra, e a outra, até
tocar a última face
voltada sobre a primeira.
De todas, se abre
a única inteira:
a face do amor,
mesmo que não seja
41
No entanto, relembrar os trinta anos de poesia não significa a estagnação como poeta;
pelo contrário, era apenas um marco para um re-início para a publicação de Cadernos da noite
(2004), livro que apresenta imagens surpreendentes como o gosto de aurora das unhas da
71
língua e que borboletas invisíveis que se refazem como a própria palavra que ressurge do
caos, sem limites de tempo e espaço. Como a própria poesia que procura sobreviver nesse
turbilhão que é a modernidade, persiste em um mundo repleto de corvos que pretendem
suplantar a poesia e o próprio poeta.
O poeta não vende
a sua alma: a entrelaça
à alma coletiva.
Não se rende o poeta:
penetra em tudo
que o renega.
Não se despe, tampouco,
do essencial: a vida
e o que a torna digna.
Nem Goethe, Rimbaud, Pound
ou Eliot
se dão à faustiana regra:
cada um, a cada hora,
recolhe da treva
a luz que a encobre
42
.
Mas esses momentos de trevas são momentos de preparação para o renascimento, para
uma nova etapa, uma nova poesia, pois
O poema é a lança
cruzando o tapir
à espreita da alma do mundo.
O poema é algo
que ouve a si mesmo
no corpo alheio,
longínquo.
Melhor: é o tapir
em torno da lança
43
Ao Olhar a vida, poeta e a poesia se fundem cada um desempenhando seu papel; o
primeiro em perceber os sentimentos convergidos do mundo para ele; o segundo em transmitir
às pessoas esses sentimentos captados pela sensibilidade do autor.
72
Bibliografia utilizada para construção da Biografia Poética
1
. BUSS, Alcides. O homem e a mulher. Joinville: Edição do Autor, 1980. Poesia: Bom abrigo ou poema à
gravidez, p. 26.
2
. Fui eu
3
. BUSS, Alcides. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia Rumo, p. 73
4
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia Rumo, p. 73
5
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia Cadeia, p. 91
6
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia O cofre no homem, p. 90
7
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia O cofre no homem, p. 90
8
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia O cofre no homem, p. 90
9
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia Homem frio, p. 88
10
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia Um, p. 89
11
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia As estradas, p. 79
12
. Em 1949, sua família mudou-se para Trombudo Central, ainda no estado de Santa Catarina.
13
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. p. 9
14
. _______. Segunda pessoa. Florianópolis. Apoio: UFSC e Pró-reitoria de Assistência à Comunidade
Universitária,Florianópolis: 1987. Poesia Metaplasmos, p. 11.
15
. _______. Segunda pessoa. Florianópolis. Apoio: UFSC e Pró-reitoria de Assistência à Comunidade
Universitária,Florianópolis: 1987, Poesia Food-ball, p. 38.
16
. _______. Segunda pessoa. Florianópolis. Apoio: UFSC e Pró-reitoria de Assistência à Comunidade
Universitária,Florianópolis: 1987, Poesia Restos, p. 43
17
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: A igreja, p. 70
18
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: Piá no ar, p. 60
19
. _______. O homem e a mulher. Joinville: edição do Autor. 1980. Poema: Lição quase sonhada, p. 12
20
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: Regresso, p. 89
21
. _______. Segunda Pessoa. Florianópolis. Apoio: UFSC e Pró-reitoria de Assistência à Comunidade
Universitária, Florianópolis: 1987, Poesia Rio Ser, p. 20.
22
. _______. Segunda Pessoa. Florianópolis. Apoio: UFSC e Pró-reitoria de Assistência à Comunidade
Universitária, Florianópolis: 1987, Poesia Rio Ser, p. 20.
23
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Peosia: Dor & Cia, p. 29
24
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: Vibração, p. 66
25
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Divisão da terra, p. 27
26
. _______. O homem e a mulher. Joinville: ed. Autor. 1980. Poema: Lição quase sonhada, p. 13
27
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Á mesa, p. 31
28
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Impessoal, p. 84
29
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: À mesa, p. 28
30
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Beleza e camarão, p. 65
31
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: Sujeito, p. 16
32
. _______. Ahsim. Florianópolis: Lunardelli, 1976. Poesia: Sujeito, p. 16
33
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: À mesa, p. 31
34
. _______. O homem e a mulher. Joinville: edição do Autor. 1980. Poema: Deluana, p. 17
35
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: À mesa, p. 31
36
. Livro organizado por Alcides Buss.
37
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Um dia no campo, p. 43
38
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Na hora do sol, p. 46
39
. _______. Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1994. 3ª Ed. Poesia: Incumbência.
40
. Reportagem sobre a publição do livro. Disponível em:
<http://www.agecom.ufsc.br/principal.php?id=408>. Acessado em: 15/06/2005
41
. Poema extraído do livro Fênix e três elegias.
73
e) Obras: relação em ordem cronológica das obras do autor, além de, ao clicar em cada obra,
abrir-se-á uma nova página apresentando a capa do livro.
74
Relação das obras
Círculo quadrado. Joinville, edição do autor, 1970.
O bolso ou a vida? Florianópolis, Diretório Central dos Estudantes da UFSC, 1971.
Ahsim. Florianópolis, Editora Lunardelli, 1976.
O homem e a mulher. Joinville, edição do autor, 1980.
Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética. Florianópolis, Fundação Catarinense
de Cultura, 1982.
O homem sem o homem. Florianópolis, Editora Noa Noa, 1982.
Antologia do varal literário (Org.). Florianópolis, Editora da UFSC, 1983.
Sete pavios no ar. Florianópolis, Edições Sanfona, 1985.
Pessoa que finge a dor. Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1985.
Segunda pessoa. Florianópolis, Movimento de Ação do Livro, 1987.
Transação. Florianópolis, M.A.L. Edições, 1988.
A poesia do ABC (infantil). Porto Alegre, Editora Mercado Aberto, 1989.
O professor é um poeta (Org.). Florianópolis, Editora da UFSC, 1989.
Contemplação do amor:20 anos de poesia escolhida. Florianópolis, Ed. da UFSC, 1991.
Natural, afetivo, frágil. Florianópolis, Edições Athanor, 1992.
Nenhum milagre. Florianópolis, Editora Letras Contemporâneas, 1993.
Sinais/Sentidos. Florianópolis, M.A.L. Edições, 1995.
Cinza de Fênix e três elegias. Florianópolis, Editora Insular, 1999.
Pomar de palavras (infantil). Florianópolis, Cuca Fresca Edições, 2000.
Contemplação do amor: 30 anos de poesia escolhida. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 2002.
Cadernos da noite. Florianópolis, M.A.L. Edições, 2003.
Olhar a Vida. Florianópolis, Editora Insular Ltda, 2007.
75
f) Sobre o Cederrom Literário: dados sobre a produção do cederrom
AUTORA
ROSANE HART
Nasci em 14 de novembro de 1975 em Barracão, estado do Paraná. Por conta das andanças da
família morei em Barracão, Santo Antônio do Sudoeste (PR), Dionísio Cerqueira (SC), Pato
Branco (PR), Campo Erê (SC) e, finalmente, aos 7 anos fui para Guarujá do Sul (SC), onde
permaneci até junho de 2001, quando, em julho, mudei-me para Florianópolis. Atualmente
resido na região continental da capital e trabalho como professora na rede estadual de Ensino
(EEB José Boiteux).
Formação acadêmica:
Graduação: Letras Português/Alemão (UNOESC, 2000)
76
Letras Inglês (UNISUL, 2005)
Pós-Graduação: Mestrado em Literatura Brasileira (UFSC, 2008)
COLABORADORES
Webdesigner
GELSON LUÍS BREMM
Formação acadêmica:
Graduação: Análise e Desenvolvimento de Sistemas (Em curso, Univali)
Ilustrador
THIAGO RAFAEL BREMM
Formação acadêmica:
Graduação: Ciências da Computação (Em curso, UFSC)
77
MENUS DE OPÇÕES VERTICAL:
a) Fortuna Crítica: seleção de críticas sobre cada obra, opiniões e/ou comentários de críticos
e/ou escritores sobre a obra de Alcides Buss, demonstrando dessa forma sua relevância para a
Literatura Catarinense e Brasileira, ao clicar em cada ícone de um livro, abrir-se-á outra janela
com a fortuna crítica referente à obra e ainda, em outra janela, uma poesia selecionada de
cada livro.
78
FORTUNA CRÍTICA
CRÍTICA GERAL SOBRE O POETA E SUA OBRAS
1. ASSIS BRASIL
80
“Os sete livros de poemas, publicados em menos de quinze anos, ao mesmo tempo em
que guardam uma coerência forma-fundo, desenvolvem um processo de “profetização do
poema”: os versos intimistas-sociais, aparentemente aflorados de um jovem de vinte anos
(“Insisto em dizer que sou de todos”) vão se adensando no mergulho do Outro para
explodirem no grito seco-soco de O homem sem o homem. Alcides Buss tem consciência
daquilo que é e daquilo que faz. Tem certeza de que ser poeta é ser profeta. “Ter o que dizer e
saber como dizer são qualidades essenciais e complementares. O poeta, em sua consciência
crítica, cultiva-as, para a própria justificação do seu ser. Um ritmo claro assume a Poesia!
“Em lugar do individualismo egoísta e do lirismo inconseqüente, aplique-se num verdadeiro
ato de amor, a dinâmica do DESVENDAR, do VER, do CONSTRUIR”. Para a construção de
um homem com o homem, através da palavra do Profeta, que des-contruir a linguagem do
poeta, des-montando a estrutura da palavra, que nos seus diversos campos organizados,
também é forma de opressão.
Alcides Buss vem de Bandeiras num aspecto de ironia do cotidiano, passa por
Drummond, quando a ironia se transforma num certo pessimismo amargo – e faz suas
próprias experiências espaciais. Mas o que é do poeta catarinense numa poesia simples e
objetiva – “é o seu domínio da linguagem poética, a consciência do vocabulário próprio, a sua
imagística do homem e da vida”.
80
BRASIL, Assis in SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1985, p.
211.
79
2. PROJETO “UM DEDO DE PROSA”
81
“O poeta Alcides Buss lotou o auditório do CCE em 29 de agosto. Para a ocasião, a
comissão organizadora do evento decorou o auditório com um varal literário. A decoração
teve duplo objetivo: (1) homenagear a iniciativa pioneira de Alcides de deselitizar a poesia
através dos varais literários e (2) estimular o público a participar do evento fazendo a leitura
dos poemas espalhados pelo auditório e, assim, tomar parte da discussão. A participação do
público foi intensa e deixou o poeta e a equipe organizadora do evento profundamente
emocionado e satisfeito”.
3. MIGUEL SANCHES NETO
82
Miguel destaca o poeta Alcides Buss “por seu engajamento social que derivou para
uma defesa da poesia compartilhada com auditórios mais amplos, Alcides Buss (1948) se
obrigou, nas últimas três décadas, a praticar todas as formas poéticas, no afã de localizar
faixas de sintonia com um público maior. Com Cadernos da noite (Florianópolis: M.A.L.
edições, 2003), o livro continua procurando o leitor, mas o autor não se procura mais, ele
agora pratica sua linguagem e sua temática num conjunto de poemas que, sem forçar a
individualidade estilística, são pessoais pela essência da percepção dos dramas humanos,
flagrados dialeticamente”.
4. ANTÔNIO HOHLFELDT
83
Na modernidade de nossa poesia deve-se leva-lo à filiação da corrente concretista
chefiada por Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos, os redescobridores de Oswald
de Andrade. Aliás, Oswald é outra influência marcante em Alcides Buss. Deve-se citar, ainda,
por fim, a lembrança do “Boca do Inferno”, Gregório de Matos, pela linguagem despudorada,
81
O projeto “Um dedo de Prosa” é um projeto de extensão que iniciou em 2002, promovido pelo Centro de
Comunicação e Expressão da Universidade Federal de Santa Catarina com o objetivo de divulgar a produção
literária catarinense
82
NETO, Miguel Sanches. Palavra Arte. Disponível em
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho 2006.
83
Jornal “Correio do Povo”, veiculado em 26 de fevereiro de 1972, disponível em SACHET, Celestino. A
literatura catarinense. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1985, p. 211-212.
80
mesmo agressivamente chocante, de que se vale, muitas vezes, Alcides Buss, sempre com
qualidades, diga-se de passagem.
5. LEILA MÍCCOLIS
84
Cada palavra na obra de Alcides Buss é rica em conteúdos, principalmente quando ele
a disseca, mostrando que uma expressão é composta de inúmeras idéias; e se tal método
permite várias leituras e diversas interpretações, também é responsável por uma mais lenta
assimilação por parte do leitor, que a cada nova acepção de um termo acrescentando outro
aspecto da cosmovisão de O homem sem o homem, muito mais do que um mero exercício
formal de linguagem, a solidão do ser, dividido entre seus problemas existenciais e sociais,
diante do massacre a que é diariamente submetido.
6. CARLOS JORGE APPEL
85
Diálogo entre dois poetas Lindolf Bell e Alcides Buss partiram do mesmo princípio
estético e construíram as duas grandes obras poéticas de SC
Ao comparar Alcides Buss e Lindolf Bell, o jornalista salienta que ambos apresentam
a função da poesia em nossa época, “aproximam-se, um através da "catequese poética" e
outro pelo "varal literário", do que hoje chamamos de cultura do espetáculo. Ambos, todavia,
reciclaram seus processos poéticos, assimilaram o melhor do seu labor experimental e
alcançaram, nesses últimos anos, a maturidade poética”.
”Aos poucos, Bell e Alcides Buss foram se dando conta de que comunicar o fato
poético constitui uma experiência complexa e irredutível a qualquer outra. Sendo de natureza
histórica, o poema se constrói de modo paradoxal: se bem que ele constitua um produto
social, portanto, expressão de uma determinada época, supera e rompe com os padrões sociais
e estéticos, ou seja, supera os seus suportes o ritmo, o som, a imagem, o conteúdo assim
84
In SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Editora Lunardelli, 1985, p. 212.
85
APPEL, Carlos Jorge. Diálogo entre dois poetas Lindolf Bell e Alcides Buss partiram do mesmo princípio
estético e construíram as duas grandes obras poéticas de SC. Especial para o Jornal “Anexo”. Disponível <
http://portal.an.com.br:8000/2000/abr/16/0ane.htm>. Acesso em: dezembro de 2006.
81
como a própria linguagem de que é feito. Com esses novos parâmetros, os dois poetas, de
ascendência alemã e caracterizada pela persistência e disciplina da inspiração, construíram
seus poemas mais sólidos e duradouros. Ambos, em suas últimas obras, mostraram ter
consciência de que é preciso resistir aos padrões estéticos vigentes e circunstanciais, à
repetição, a uma forma que deu certo uma vez. Toda arte é expressão, mas nem toda
expressão é arte, sustentavam os antigos, e eles descobriram este fundamento essencial.
Isso implica a idéia de um saber fazer, um domínio e uma elaboração, um questionamento e
trato com a linguagem. Deste modo, a busca e o questionamento permanente da linguagem
tornam-se inerentes à experiência poética”.
82
CIRCULO QUADRADO (1970)
1. IRACI SCHMIDLIN
86
Segundo a poeta é “preciso crer na juventude”, principalmente a um jovem que
irrompe o silêncio de uma época de repressão e consegue, em tempos tão instáveis, criar uma
obra que apresenta uma explosão de sentimentos e percepções sobre o mundo.
Sem dúvida rculo Quadrado é uma bela obra”, principalmente pela percepção onírica do
poeta que, “para construí-la, Alcides Buss muniu-se de três fontes generosas: sensibilidade,
86
Comentário feito na contracapa do livro Círculo Quadrado.
83
inteligência e arte pessoal, condições que lhe asseguram uma posição lisonjeira entre os
nomes vitoriosos da Literatura Catarinense”.
2. CELESTINO SACHET
87
“Alcides Buss é um moço. Bastante moço em dias vividos. Mas, bastante maduro em
dias sentidos. Bastante maduro quando se lida com poesia. Quando instrumentaliza sua
linguagem para sentir as coisas que os poucos anos lhe colocaram à frente”.
“A alma do poeta descobre-se nas pequenas realidades do mundo (Guarda-noturno, A
pipoqueira, Sono de palestra) e nos grandes temas transcendentais. Geralmente vistos através
do soneto.
Círculo Quadrado” é um livro de filosofia. Vivido aos 20 anos”.
3. MIGUEL SANCHES NETO
88
Para Miguel, Alcides Buss estreou “em um período político de nossa vida literária,
recém-entrado na casa dos 20 anos”, o poeta “ritualiza em um conflito entre a tradição lírica e
a coloquialidade verbal, encontrando-se nesta última corrente os textos mais interessantes do
volume, como "Poema do eterno", em que um trocadilho sutil o humor próprio do amor:
"Em minha vida / um espaço reservado / para você; / este espaço / é toda a minha vida!"
(p.35). Esta leveza de linguagem, comandada por uma urgência existencial”
87
Comentário feito na contracapa do livro de Círculo Quadrado.
88
NETO, Miguel Sanches. Resenha. Revista Palavra Arte. Disponível em
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>.
Acesso em: 13 de junho de 2006.
84
POESIA SELECIONADA
85
O BOLSO OU A VIDA? (1971)
1. MIGUEL SANCHES NETO
89
O poeta apresenta neste livro uma “urgência existencial”, a qual a utiliza como o
centro desse seu segundo livro, cujas “formas fixas não ocupam mais espaço. É neste volume
homogêneo que aparece um dos textos ontológicos da geração jovem dos anos 70 - "Extensão
II":
Pus a vida
em minhas mãos
e as mãos
no fogo...
- A vida ferveu. (p.61)
89
NETO, Miguel Sanches. Resenha. Palavra Arte. Disponível em
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho de 2006.
86
Se esta fervura-fervor era política, caminho do qual não podia
se desviar os jovens, ela se manifestava de forma mais profunda ao colocar o
poeta em contato com o fogo das coisas vivas, que queimam, mas que também
aquecem. Vence aqui a imagem solidária do poeta, um poeta que renuncia, em
alguns momentos, ao verbo para empunhar a bandeira dos poemas visuais, todos
função crítica. Ele faz, assim, a ponte entre o concretismo participativo e, sua geração cria
vínculos com a vanguarda mais imediata”.
87
POESIA SELECIONADA
88
AHSIM (1976)
1. MIGUEL SANCHES NETO
90
Para Miguel esse livro “deve ser lido como tributo ao poeta gaúcho que brincou com a capital
catarinense e seus vícios de fala, no poema "Florianóspi"” (1928) definido pelo modernista
como cidade-titia, mero passadismo urbano. Ao recuperar a fórmula poética de Bopp, Alcides
Buss está “mexendo com a própria imagem de sua cidade, mas está também atualizando o
discurso fluvial, antes localizado numa Amazônia mítica, paradisíaca, e que agora se
manifesta nos rios fedorentos da urbe poluída”. No livro o poeta procura retratar uma “cidade
moderna, mostrando não mais a fertilidade das águas barrentas, mas sua podridão”, através da
personificação de elementos naturais. O uso constante de metáforas acontece “trocando os
entusiasmos modernistas pelo pessimismo irônico de uma época de apocalipses ecológicos”.
Portanto, desse momento em diante “o verbo em estado de crítica social vai conviver com
90
NETO, Miguel Sanches. Resenha. Palavra Arte. Disponível em:
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho 2006.
89
certa glosa cultural, denunciando um poeta que, a cada livro, está mais competente no uso da
palavra, e mais crente em seu poder social e modernizador. “Ele se concentra em uma poesia
incaracterística, contemporânea na sua fatura, crítica nas suas intenções, sem explorar as
profundezas do eu”.
90
POESIA SELECIONADA
91
O HOMEM E A MULHER (1980)
1. SILVEIRA DE SOUZA
91
Silveira de Souza destaca que a poesia de Alcides Buss “parece ter sido desde o início
a busca consciente de imagens racionais e sintetizadoras do real cotidiano. O que nela possa
existir de ontológico nasce do drama existente e conhecido. Não é uma indagação em abstrato
sobre os destinos do ser, nem o traço lírico de momentos sórdidos ou inefáveis da vida, mas
uma perplexidade ou uma revolta diante do espetáculo concreto que se desenrola na frente e à
volta do poeta”.
“Com metodologia tão disciplinada, pode espantar que Alcides Buss se tenha
aventurado como o faz neste livro a traduzir o amor. Mas o amor a gente sabe disso é
sempre traduzível; é um e é mil; sempre a matéria prima e o desafio maior do poeta e do
91
Comentário feito na contracapa do livro de O homem e a mulher.
92
artista”. (...) “O HOMEM E A MULHER é um livro que marca a maturidade poética de
Alcides Buss e o coloca numa posição definitiva entre os melhores nomes da nova poesia
catarinense”.
2. JACKELIANE PELLEGRINI
92
Segundo ela, na obra “O Homem e a Mulher”, há “uma busca consciente de imagens
racionais e sintetizadoras do real cotidiano, com uma perplexidade e revolta diante do
concreto que nos cerca” com uma preocupação com “o conhecimento que é buscado antes do
sentimento, com economia de palavras. O vocabulário é mínimo, os cortes é que criam a
voltagem poética, tudo seco e limpo”.
O poeta cria uma poesia simples, clara, quase linear; formal e de metodologia
disciplinada. O poeta “vê a pura imagem do amor”, no entanto, “ele parte para os rituais do
sexo e a multiplicidade do conceito de amor”.
3. WALMIR AYALA
93
“Alcides Buss integra a família poética dos que economizam a linguagem, sem se perder do
compromisso da amplitude sob a síntese. A fala direta, o verso curto e tenso revela o poeta
que lida com laboratório não discursivos, ou contaminadores do discurso, em direção a uma
estrutura lapidar”. (...) Adota o tema do amor. (...) “Há a tendência à reflexão filosófica, ou
seja, ao primeiro pensar sobre o que se vê, de olhos abertos ou fechados”.
O poeta consegue, “devagar, sem ímpeto maior, ele nos infiltra a linguagem e nos
deixa o gosto do amor possível, como uma gota de chuva num cílio. Que cintila e dura um
átimo de tempo, mas traz o gosto das grandes tempestades”.
92
Comentário feito na contracapa do livro de O homem e a mulher.
93
Comentário feito na contracapa do livro de O homem e a mulher.
93
POESIA SELECIONADA
94
COBRA NORATO E A ESPECIFICIDADE DA LINGUAGEM POÉTICA (1982)
1. CELESTINO SACHET
94
“Baseado em sólida (e deglutida) literatura científica sobre a guerra das musas, que vai
de Jakobson, (o gringo seco e frio), até Jean Cohen (o francês sem adjetivos), passando pela
Ingarden escalpeado pela Maria Luíza Ramos, até que não fica difícil convencer-nos de que ‘é
na forma que reside a poesia’. A partir daí (...) é pegar a ‘especificidade da linguagem poética
em Cobra Norato’, através da ‘forma de expressão’ e ‘os aspectos formais do conteúdo’, (...)
Raul Bopp escreveu um ‘doutor’ poema tecnicamente perfeito e perfeitamente engajado ao
mostrar a ‘visão do homem natural americano’ e ‘em permanente compromisso com o
homem’ de todos os tempos e de todas as cores”.
94
Comentário feito na contracapa do livro de Cobra Norato e a especificidade da linguagem poética.
95
O HOMEM SEM O HOMEM (1982)
1. RAIMUNDO C. CARUSO
95
“Poesia civil e poeta do cotidiano, mas não mais do cotidiano lírico e extravagante do
poeta da semana de arte de 22, a poesia de Buss é a literatura da crise social mais grave que
se viu no país, é criação reveladora da miséria espiritual e da desumanização.
Num momento em que os partidos políticos, a opinião pública, as escolas e a própria
classe intelectual estão preocupados com grandes projetos “nacionais” e aqui também cabe
colocar entre aspas projetos Alcides Buss nos revela, como boa literatura, o varejo das
relações humanas, hoje cada vez mais caóticas e absurdas.
Sem descuidar-se da natureza literária e específica do poema, o poeta do excelente O
homem sem o homem dá o alarme frente a uma crise e a um tempo humanos em que “a alma
95
Comentário feito na contracapa do livro de O homem sem o homem.
96
empobrece” e “há azedume nas ruas” como ele escreveu em “O homem adiado”, dedicado à
Geraldo Vandré. Mas, o problema da morte da espiritualidade em troca de uma “eficiência” e
de uma “impessoalidade capitalista é mais grave do que parece à primeira vista. E isso
porque, como já é senso comum a uma parte muito grande da população que considera
inevitável “a mudança”, hoje se confundem desumanização com modernidade.
Em outras palavras: como se a mudança e os novos tempos trouxessem
inevitavelmente - e naturalmente – em seu bojo, a desumanidade.
Hoje, ao contrário do que acontecia até, há bem pouco tempo, o processo ideológico e
material de desumanização do homem, através de eficientíssimos meios de comunicação de
massa, está ocupando todos os espaços e impregna e se insinua na mais remota parte da
intimidade do individuo, e o corrompe.
E torna-o indiferente ao destino dos outros homens, torna-o cínico, presumido “auto-
suficiente”.
Por isso, ao contrário do “José” de Drummond de Andrade, do José de terno de vidro e
biblioteca, Alcides Buss encontra hoje um José generalizado, patológico, social. E então parte
de sua poesia se exaspera e quase chaga ao panfletário, como é o caso dos poemas “Presente
roubado” e “Discurso assassino”. Porém, em seguida, o poeta reassume o controle do seu
meio de expressão e produz o belíssimo “Cidadão perplexo”.
Com este O homem sem o homem, o poeta inaugura um ciclo em que a arte desperta
para o caráter criminoso da desumanização, não mais do homem isolado, mas de populações e
países inteiros.
É o esforço “da poesia na sua dignidade e na sua “impotência”, na sua originalidade e
na sua arte, capaz de assumir a luta geral contra a crise e a falência do projeto humano que a
duras penas a civilização vinha esboçando para o Homem”.
97
2. LEILA MÍCCOLIS
96
A história não pára mesmo a literária, embora às vezes possa parecer o contrário e
depois do período inicial de crescimento, a poesia passou para uma nova fase, onde é
possível retirar rótulos, aproximar os diversos estilos e tentar a coexistência pacífica de idéias
divergentes. Enfim, começa a se entender que importante não é essa ou aquela visão isolada,
mas o conjunto delas, capaz de retratar artisticamente um determinado momento sócio-
político.
Foi isso que senti ao ler O homem sem o homem, um livro à primeira vista rebuscado,
diferente da maioria dos atuais volumes de poesia, fáceis na comunicação e diretos no
linguajar. Mas, aos poucos, vai-se penetrando na intenção do autor: a de desarmar as
armadilhas contidas em cada vocábulo, descobrindo nele várias outras significações.
E a partir desta ampliação, cada palavra na obra de Alcides Buss é rica em conteúdos,
principalmente quando ela a disseca, mostrando que uma expressão é composta de inúmeras
idéias; e se tal método permite várias leituras e diversas interpretações, também é responsável
por uma mais lenta assimilação por parte do leitor que, a cada nova acepção de um termo, vê
acrescentado outro aspecto da cosmovisão d’O homem sem o homem, muito mais do que um
mero exercício formal de linguagem, a solidão do ser, dividido entre seus problemas
existências e sociais, diante do massacre a que é diariamente submetido.
A maior satisfação que encontrei na poesia de Alcides Buss foi verificar que todos têm
pontos em comum e que nossos caminhos não são tão diferentes assim...
O homem sem o homem é um dramático apelo para nos procurarmos recíproca e
mutuamente. Se não conseguirmos, então todas as ideologias terão falhado, as palavras se
tornarão inúteis, a poesia supérflua, e a próxima guerra mundial devastadora, desintegrante
e fatal – será interior, contra nós mesmos, entrincheirados inimigos dos próprios sonhos.
96
Comentário feito na contracapa do livro de O homem sem o homem.
98
POESIA SELECIONADA
99
ANTOLOGIA DO VARAL LITERÁRIO (ORG.) (1983)
1. LAURO JUNKES
97
Esta Antologia do Varal Literário traz ao leitor uma das mais decisivas experiências
realizadas no Brasil para a sobrevivência e penetração social da literatura. (...) Urge, então,
encontrar meios alternativos para veicular o poema, para estabelecer o contato entre o público
e o texto literário.
97
Comentário feito na contracapa do livro Antologia do varal literário..
100
SETE PAVIOS NO AR (1985)
Exemplar não disponível
101
PESSOA QUE FINGE A DOR (1985)
1. JORNAL “O POVO”
98
Um livro que não será comprado e nem vendido, mas que mesmo assim circulará entre
os poetas e demais leitores do País e do Exterior. Esta é a proposta do autor catarinense
Alcides Buss que, ao lançar Pessoa que finge a dor, uma pequena coletânea de poemas
ilustrados pelo artista plástico Rodrigo de Haro, institui uma campanha na qual ‘o livro
escolhe o leitor’. O trabalho de Buss é dedicado aos poetas em geral e no título já expressa
uma mensagem ao português Fernando Pessoa. Com uma tiragem de apenas 500 exemplares,
o livro foi inicialmente distribuído a escritores brasileiros e de outros países que, por sua vez,
o passarão adiante, a novos leitores. Cada novo leitor será incorporado na obra com o seu
nome e o tempo de seu ingresso nesse circuito de solidariedade vivencial e poética. O circuito
é aberto e ninguém sabe em quem e onde vai dar. Qualquer pessoa, no entanto, a qualquer
momento poderá ser incluída nele.
98
Jornal “O Povo”, Fortaleza – CE, 20/04/1986
102
O ‘Movimento de Ação do Livro: o Livro em Movimentação’, como foi designado à
proposta, implica uma denúncia da situação do livro no Brasil e ao mesmo tempo uma
alternativa para sua dinamização. Ao contrário do que habitualmente ocorre, nesse projeto o
livro não é imobilizado na posse individual, convertido em objeto de depósito ou de
decoração nas estantes.
103
POESIA SELECIONADA
104
SEGUNDA PESSOA (1987)
1. NELLY NOVAES COELHO
99
Considera a Poesia altamente consciente da palavra e seu poder criador, a de Alcides
Buss concentra nestes mini-poemas, uma situação-limite bem característica destes novos
tempos de apocalipse e gênese. Referimo-nos à consciência de que hoje estamos vivendo em
compasso-de-espera entre um findar e um renascer.
De um lado o “findar” apocalíptico, fruto da deterioração dos valores-alicerces da
Sociedade herdada por nosso século e hoje em plena metamorfose. De outro, o “renascer” ou
a gênese que, embora longínquo, se faz intuir através de claros índices de que um novo
homem deve surgir do esgotamento deste que, há muito, está em agonia.
99
A referida crítica encontra-se no livro Segunda Pessoa.
105
Romper limites, penetrar no “caminho vedado” e “reaprender a pensar”, eis o
prenúncio de uma nova maneira-de-ser-e-de-estar no mundo que, em tempo vindouro,
substituirá a maneira degradada de viver que hoje se impõe ao “homem moderno”, e que a
poesia de Alcides Buss testemunha com lucidez.
Essa poética consegue atingir, o aparente ludismo do jogo poético, - do entretecer
palavras, sons, imagens, emoções... Está impregnado da essencialidade própria da verdadeira
poesia.
Estruturadas em nove versos, rigorosamente distribuídos em três tercetos, ritmados em
redondilha menor ou maior, essas minúsculas “ilhas” são, na verdade, pequenas “pontas” que
bóiam na superfície da tessitura verbal, ocultando o imenso iceberg da crise social/existencial
em acelerado processo em nossos dias, mas ainda não conscientizada pela maioria dos
homens.
É nesse sentido que podemos entender a divisão destes mini-poemas em duas partes:
na primeira, “À Beira do Abismo”, concentram-se os poemas-testemunhos da vida cotidiana,
bloqueadora das forças vivas do ser; na outra, Segunda Pessoa”, se a evocação ao “tu”
essencial, no sentido da autoconsciência indispensável à plena realização da condição
humana. Aliás, esse impulso de comunicação com o “tu” fundamental, manifestada pelo “eu”
poético, é o fator responsável pela tensão dialética que dinamiza o discurso poético de Alcides
Buss.
Difícil abarcarmos, neste breve espaço de reflexão, todas as transfigurações ou
invenções que a madura arte do poeta nos oferece neste pequeno/grande livro. Entretanto,
tentando sintetizar as principais coordenadas de pensamento que, a nosso ver, respondem pela
riqueza de visão revelada pelo poeta e pela coerência orgânica de seus breves poemas,
destacamos quatro que, não por acaso, coincidem com algumas das mais atuantes no
pensamento contemporâneo. È, através delas, que aqui propomos uma das muitas leituras que
estes poemas permitem. Resumindo-as, temos:
A certeza de que a Palavra é o agente criador/construtor/modificador do verdadeiro
Real. Tempo-limite entre os despojos do homem antigo (esgotado até os ossos, esvaziado até
da palavra) e o vislumbrar da abertura para o “caminho vedado para “re-aparender a
106
pensar”... É esse o tempo vivenciado nesta breve/densa poesia que Alcides Buss aqui
recolheu.
2. JACKELIANE PELLEGRINI
100
O livro Segunda Pessoa é formado por minipoemas, retratando um tempo que urge por
mudanças e reestruturações na sociedade, com o nascimento de um novo homem. Os
poemas são estruturados em nove versos de três tercetos, ritmados em redondilha menor ou
maior que, com sua brevidade, mostram sua grande densidade, numa crise social/existencial
dos nossos dias e da qual, muito homens estão alienados.
O homem fruto da deterioração dos valores alicerces da sociedade herdada por nosso
século está atualmente em plena metamorfose, (...) nessa troca de homem que se repete em
todo o poema está, em essência, a transfiguração poética do processo que corrói a vida
contemporânea. O renascer de valores ou certezas de que o mundo está carente, também se
revela. (...) Fala do homem duplamente decaído, primeiro pela queda blica e depois pelo
saber científico, e que se encontra à beira do abismo. O homem foi despojado de sua origem
divina e não conseguiu ser preenchido com nada que não fosse precário e descartável.
Ocorre um jogo metaplasmático que denuncia as constantes mudanças dos valores no
caótico mundo moderno. Cada palavra e sua correspondente transformação encerram um
mundo de vivências, intenções, frustrações, etc.
Nos poemas da segunda parte, Alcides dirige a fala a um “tu”, abrindo assim espaço
para um diálogo com o leitor (a segunda pessoa), proporcionando a complementaridade
essencial Eu/Outro.
Ao chegar à beira do abismo, nada mais resta ao homem a não ser o salto no
desconhecido”. O homem desaprende as verdades seculares que justificam o nascer e o
morrer, que não pode ser alterado, e continua sempre o mesmo enigma.
100
A referida crítica encontra-se no livro Segunda Pessoa.
107
POESIA SELECIONADA
108
TRANSAÇÃO (1988)
1. TÂNIA REGINA OLIVEIRA RAMOS
101
“Alcides Buss não é mais um. Poeta que se trans-forma a cada instante em homem de
ação, tem o seu lugar, a sua importância como precursor de uma ousadia formal e ética,
dessacralizando o livro e criando uma espécie de confraria intelectual através do “Movimento
de ação do livro: o Livro em Movimentação”.
Venho acompanhando a obra de Alcides Buss há algum tempo. A princípio pelo
interesse-amigo e pelo orgulho do colega-poeta. Mais tarde, circunstancialmente, meu
interesse passou a ter um caráter acadêmico. Procurei, então, fazer uma leitura sistematizada
dos textos, dos livros, das palavras-munição do Poeta.
101
A referida crítica encontra-se no livro Transação.
109
Pretendia com isto ver Alcides Buss como poeta catarinense, representativo na
literatura brasileira contemporânea, principalmente pelo expressivo número de livros
publicados e pelo seu desempenho intelectual. A partir daí, a possibilidade de inseri-lo “no
estudo do processo da evolução da moderna poesia brasileira”.
A leitura de sua produção “mostrava-me sempre a possibilidade de ler o Poeta como
participante do projeto de aprimoramento do fazer poético, que começa em 22, passa por 45,
pelas vanguardas de 60, pela experiência marginal, até chegar aos anos 80, quando a poesia
realmente transcende o livro, conseguindo espaços condizentes com a sua modernidade:
televisão, videopoemas, páginas de jornal, e, não apenas, espaços reservados nos suplementos
literários e culturais.
(...) Alcides Buss é curioso e criativo. Obviamente não fica alheio ao que acontece
com, na e pela poesia brasileira, mas procura ir além. (...) Agora em Transação, é que Alcides
Buss, “com verdadeira consciência da função da palavra poética, passa de uma visão estática
da linguagem, que se percebe nos primeiros poemas publicados, para uma visão dinâmica, (...)
instaurando a sua modernidade: nas possibilidades das descobertas e da invenção”.
“A poesia de Alcides Buss pode ser vista de acordo com a ordem cronológica da
publicação de seus livros, a partir da percepção de que em cada livro há uma nova inquietação
e uma nova descoberta. (...) Transação compõe um entrecruzamento de vozes poéticas, onde
os intervalos são preenchidos por uma profunda e obstinada capacidade de re-descobrir a
Poesia no cotidiano, no mundo, no outro, no silêncio, nos espaços em branco ou na própria
poesia. Seu prefixo é trans; sua relação com a poesia é a “transa”; sua missão como poeta é a
ação. Daí Transação”.
110
POESIA SELECIONADA
111
A POESIA DO ABC (1989)
1. ALCIDES BUSS
" Quando criança, eu queria ser jogador de futebol. Cheguei a ser o goleiro do colégio.
Mas um dia, numa cobrança de falta, fui atingido por uma bola (um petardo) bem na boca do
estômago. Achei que ia morrer. A partir daí desisti do futebol. Descobri então que tinha um
outro talento: o de desenhar. Virei o "artista" da escola. alimentei até a idéia de ser um pintor
de verdade e me dediquei a fazer muitos exercícios, por exemplo, desenhar cem vezes a
mesma orelha. Eu só não sabia que a minha vocação verdadeira era outra. Fui descobri-la
dentro de uma biblioteca.
Sim, foi no mundo da leitura que eu me achei. Me convenci que nada é tão prazeroso
quanto ler um bom livro. Rapidinho, comecei também a escrever. Os anos foram passando e
ao longo deles publiquei muitos livros e ganhei muitos prêmios. O que mais me deixou feliz
112
foi justamente o prêmio dado pela associação “Paulista de Críticos de Arte" aos poemas deste
livro.
113
POESIA SELECIONADA
114
O PROFESSOR É UM POETA (ORG.) (1989)
1. SILVEIRA DE SOUZA
102
"Na experiência dos varais literários, que o poeta e professor Alcides Buss desde
alguns anos vem coordenando em SC", (...) surge no presente volume o resultado das
exposições itinerantes desde 1985 com cerca de 30 poetas que também são professores. "O
Professor é um poeta expõe definitivamente, não apenas alguns momentos expressivos de
realização lírica, mas também exemplo de vitalidade do poeta catarinense, na busca de
soluções para a entrega - a um público sempre o mais amplo possível da sua mensagem
estética".
102
A referida crítica encontra-se no livro O professor é um poeta.
115
CONTEMPLAÇÃO DO AMOR – VINTE ANOS DE POESIA ESCOLHIDA (1991)
1. LAURO JUNKES
103
Pode-se facilmente constatar que Alcides Buss é poeta da era contemporânea, ligado
aos problemas que a arte poética enfrenta nesse contexto. Ele rompe radicalmente com o
milenar estereótipo de que o poeta é um gênio eleito, alguém que se distancia da plebe
profana (e horacianamente a odeia), que se enclausura na sua “torre de marfim”. (...) O poeta,
na sua vivência e concepção, é um eleito, sim (ou talvez, melhor ainda, alguém que se
construiu), pela sua capacidade inventiva de linguagem, mas eleito para ser solidário, eleito,
103
A referida crítica encontra-se no livro Contemplação do amor – vinte anos de poesia escolhida.
116
que se vê, projetado para falar pelos outros. Esse traço fundamental perpassa todo o seu
itinerário poético.
2. ANTÔNIO HOHLFELDT
104
Estreando aos vinte anos de idade, em 1970, Alcides Buss abre-se desde logo para
uma visão eminentemente crítica da realidade e, para tanto, vale-se especialmente, nestes
primeiros momentos de sua caminhada poética do elemento cômico para realizá-la.
Livro de afirmação de Amor - Círculo Quadrado abre um processo permanente de
evolução, mediante, sobretudo a releitura contínua de sua própria obra, de que esta antologia é
a melhor comprovação.
Ahsim é a obra de recriação plena da linguagem poética com a ruptura de padrões
tradicionais.
Em O Homem sem o Homem ocorre a substituição do conceito de noção pelo de
emoção, o poeta trabalha o telúrico, desenvolve o lúdico e descobre a sensualidade, fixando-
se na sensoriedade, até atingir o equilíbrio do amor.
Transação profunda reflexão sobre a poesia e o fazer poético (...) demonstrando um
amadurecimento pleno que, sem ser ponto final, é apenas a estação para uma nova partida e
outro recomeço.
104
A referida crítica encontra-se no livro Contemplação do amor – vinte anos de poesia escolhida.
117
NATURAL, AFETIVO, FRÁGIL (1992)
COMENTÁRIO
A linguagem flui com naturalidade e o leitor é convidado a contribuir com sua
percepção e sensibilidade, as poesias são curtas (como Haikais), no entanto, impregnadas pela
naturalidade no trato que o poeta tem com as palavras.
118
POESIA SELECIONADA
119
NENHUM MILAGRE (1993)
120
SINAIS/SENTIDOS (1995)
1. FÁBIO LUCAS
105
“Sinais/Sentidos representam nova etapa da poesia de Alcides Buss. Traz a serenidade
da expressão, conquista do saber literário, e o tormento das paixões, território da
sensibilidade. Tormento das paixões? Os gregos celebraram-no na tragédia, enquanto os
modernos o diluíram na paródia. Como centro de atração da lírica, ficou o sofrimento”.
105
Fábio Lucas - União Brasileira de Escritores, São Paulo – SP.
121
“Aqui, o poeta explora a contingência dos sentidos, valendo-se do vigor dos sinais.
Uma semiologia dos arcanos. Como a palavra é densa e escassa, os poemas de Alcides Buss
se realizam com sobriedade, em versos curtos, mínimos”.
Utiliza-se de um “tom céptico de algumas composições, como se viver fosse a
trajetória de um fracasso. Predomina o sentido elegíaco nos principais poemas, de mistura
com outra atividade, esta sim, produtiva: a investigação do ser enquanto fruto da palavra”.
“É tensa a relação do poeta com a concretização da linguagem. Chega a ser projetada
em termos de dialética hegeliana, como em “Servo e Senhor”. E mais: certos poemas se
engendram, por vezes, como uma iluminação, um achado súbito, um êxtase, uma epifania”.
“Na maré baixa, os discursos poéticos se remetem à solidão, ao abismo, por vezes ao
acaso, como força temática. O poeta é cultor da ausência e do sentimento de perda”.
“Entre um poema e outro, reflui, como revisitação da dialética, o jogo das contradições
humanas: Dois homens se vêem:/ no vai e vem da conversa/um é o outro. O drama da
identidade posto numa situação dialógica. No mais, o corpo renasce, ou se manifesta o
cansaço: os “sentidos” baixam a seu significado “fisiológico”. O arco da descrença se fecha
sobre a ternura dos fatos passados. Novo patamar é alcançado por Alcides Buss em
Sinais/Sentidos”.
2. MIGUEL SANCHES NETO
106
Ao produzir Sinais/sentidos Alcides “se volta mais para si mesmo, sua memória, suas
vivências cotidianas, recuperando a espontaneidade e alguns poemas dos primeiros
livros, agora sem nenhuma pressão histórica. É o poeta com ele mesmo, neste difícil encontro
com o que traz dentro de si, seja sua memória pessoal, nos belos, na obscuridade aterradora da
condição humana ou na vivência da simplicidade do cotidiano. O dilema criativo localiza-se
106
NETO, Miguel Sanches. Resenha. Palavra Arte. Disponível em:
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho 2006.
122
nesta passagem do espaço universal e eterno da cultura para o espaço pessoal e precário do
presente. Traduzir um no outro é a difícil tarefa da arte”.
123
COMENTÁRIO
Centraliza sua abordagem na dualidade, no jogo entre o objetivo e subjetivo, a
começar pela diagramação do livro que confunde o leitor, causando estranhamento, pois
frente/verso e/ou verso/frente são semelhantes, a única diferença é a posição invertida das
imagens que não indicam e não determinam a ordem de leitura, no entanto, o leitor optará por
um ou outro. A obra divide-se em duas partes, metade Sinais e a outra metade Sentidos. O
autor põe a prova nossa racionalidade, e a sensação de desconforto acontece, justamente,
porque nos sentimos impotentes perante o diferente temos o vazio, temos que fazer uma
escolha.
POESIA SELECIONADA
124
CINZA DE FÊNIX E TRÊS ELEGIAS (1999)
1. DENNIS RADÜNZ
107
Para Dennis o poeta procura nesse livro uma maneira de repensar sua própria forma de
expressão artística, coberta de lirismo e melancolia. “O poeta catarinense Alcides Buss refez
esse percurso de origens remotas e, entre vôos e vigílias, revisita o mito em seu mais recente
livro de poemas, (...) um fino artefato de lirismo e melancolia, de oralidade poética e
metapoesia, numa encruzilhada de linguagens lida à luz da (sua) experiência. Autor dos mais
conceituados no meio literário catarinense, Buss parece reler a própria trajetória em
"Cinza...”., livro que é, no conjunto de sua obra, uma pausa para respiro em que reflete sobre
a escrita, sua e alheia. Composto de dois ciclos de textos metalinguísticos (primeiro, "O
Poema"; segundo, "O Poeta"), o livro inclui ainda três elegias distintas no tema a infância
107
Dennis Radünz – Reportasgem especial para “o Anexo”.
125
perdida, o poeta Lindolf Bell, o índio Pataxó incendiado mas idênticas no tom aflito, as
muitas asas de uma mesma ave.
Quem renasce rememora vida e morte. De fato, esse impulso de reinventar-se, evidente na
opção pelo símbolo da Fênix, acentua-se na “repetida imagem do atrito entre o fora e o
dentro, ou entre "intro" e "endo"”.
2. MIGUEL SANCHES NETO
108
No livro Cinza de fênix & três elegias “o poeta erudito, citando e incorporando outros
autores, não desiste de assumir-se individual e grupal: ‘O poeta não vende / a sua alma, a
entrelaça / à alma coletiva’”, cujos “poemas não se rendem mais às
exterioridades formais, embora sejam modernos tanto na dicção não-afirmativa
quanto no corte do verso. Aqui, Alcides afasta-se de suas crenças solares,
para, de forma madura, confrontar-se com suas sombras. É o poeta dos
solitários, estados de alma, marcado pela consciência das incertezas
temporais.
3. PALAVRARTE
109
O poeta Alcides Buss, “mestre em evocar belas imagens, não poderia ter escolhido
melhor metáfora para dar nome a seu mais recente livro de poesia Cinza de Fênix & Três
Elegias”. A obra “reúne poemas que são como “cinzas”, resultante não apenas de “lampejos”
de “imaginação”, como também de um lento processo de “fundição”, em que o autor buscou
(como sempre o fez) dar a melhor forma a suas idéias e palavras”. “Alcides Buss termina o
livro com as três elegias prometidas no título, a começar pela Elegia da Infância Perdida, um
belo e longo poema, talvez um dos melhores de toda a obra, que o autor resolveu estruturar
em duas partes: Coração Singular, que se subdivide em sete partes, e Coração Plural”.
108
NETO, Miguel Sanches. Resenha. Palavra Arte. Disponível em:
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho 2006.
109
“Palavrarte” revista eletrônica que aborda as expressões artísticas, com correspondentes no Brasil e exterior.
Maiores informações, disponível em www.palavrarte.com. Acesso em: 20 de junho de 2006.
126
POESIA SELECIONADA
127
POMAR DE PALAVRAS (2000)
1. EGLÊ MEDEIROS
110
Apresentar às crianças o pomar da língua, para que nele colha livremente os frutos
poéticos, eis a proposta de Alcides Buss. Vamos caminhando por entre a ramaria da "última
flor do Lácio", aprendendo a distinguir sabores e texturas, a perceber sutis encadeamentos e
inusitadas significações. Convite à conquista de novos espaços, convite ao sonho.
O poeta dialoga com seus pares e serão interessantes as meninas e os meninos
identificarem esses interlocutores, entre os quais se destaca Cecília Meireles.
Alcides Buss, poeta consagrado, ama e respeita o jovem leitor, com quem pretende
estabelecer uma troca, que supere discutíveis conceitos de faixa etária. Arrisco-me a palpitar:
os poemas nasceram depois é que percebeu serem acessíveis à sensibilidade juvenil. Ele, que
apresentou à criançada um A B C, se embrenha agora mais fundo no pomar que também
110
Comentário na contracapa do livro Pomar de palavras.
128
pode ser uma selva, caso não nos sintamos "...um fruto/do pomar do coração" e não
aprendamos que "De grão em grão/ tornamo-nos irmãos".
Hino à vida e à esperança, o final da "Canção amiga" nos o clima do livro: O boi
tem um nome:/ Brinquedo;/ o rio, um murmúrio:/ segredo./ Goiabas maduras/ enfeitam a
fome./ Viver é gostoso!.
129
POESIA SELECIONADA
130
CONTEMPLAÇÃO DO AMOR: 30 ANOS DE POESIA ESCOLHIDA (2002)
1. LAURO JUNKES
111
O professor e crítico Lauro Junkes faz uma análise, viajando por toda a obra de
Alcides Buss, salientando a relevância do poeta na Literatura de/em Santa Catarina,
mostrando que, durante trinta anos o poeta foi renovando e aprimorando seu fazer literário,
segundo ele durante esses trinta anos: ciclos poéticos se solidificaram, respondendo às etapas
mutantes do contexto social e existencial”. Ressalta ainda que o próprio poeta possui
“mecanismos seletivos próprios para publicação de seus trabalhos. Sem receios, pode-se
constatar que, imaturos lançamentos, nem de declínios desmerecedores. Em qualquer livro
seu. Certos poemas ostentam mais primoroso acabamento técnico ou desenvolvimento
111
Comentário na introdução do livro Contemplação do amor: 30 anos de poesia escolhida.
131
temático mais perspicaz. “Não há, porém, ciclo ou conjunto que, por caráter repetitivo ou
desleixo técnico, possa ser recriminado ou supresso”.
2. ANTÔNIO HOHLFELDT
112
Antônio Hohlfeldt é formado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS), com mestrado e doutorado em Literatura pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUC/RS), escreveu treze livros de ficção infanto-juvenil, além de ter
escrito também quinze obras de ensaio e é ativo no mundo acadêmico. Atuou como
propfessor em várias universidades.
Ao comentar sobre a obra de Buss destaca que o poeta faz uma “releitura da vida,
releitura da própria literatura, releitura de sua própria poesia. Por isso, não me surpreende que,
uma vez mais, Alcides Buss decida-se por uma antologia, relendo-se a si próprio. Para os
céticos, talvez seja falta de inspiração. Para os críticos e os alertas, ao contrário, será
certamente prova de humildade: reler-se, re-aprender, quem sabe corrigir-se – é a maior
certeza de que o poeta, felizmente, ainda está a se indagar sobre as coisas, sobre a vida e sobre
si próprio e, por isso mesmo, ainda é capaz de cometer um poema”.
3. RUBENS DA CUNHA
113
Cunha considera Buss “um dos mais profícuos poetas atuais. Vem atuando na
literatura desde a década de 70, mantendo um diálogo muito direto e muito aberto com seus
leitores. É um ativista da palavra”.
112
Comentário na introdução do livro Contemplação do amor: 30 anos de poesia escolhida.
113
CUNHA, Rubens. Casa de paragens. Revista eletrônica. Disponível em
<http://casadeparagens.blogspot.com/> Publicado em: 28 de novembro de 2005. Acesso em: dez.2006.
132
COMENTÁRIO
COMENTÁRIO
Neste livro concentra-se a poesia de Alcides Buss desde seu primeiro livro Círculo
Quadrado em 1970 (O bolso ou a vida?; Ahsim; O homem e a mulher; O homem sem o
homem; Pessoa que finge a dor; Segunda pessoa; Transação; A poesia do ABC; Nenhum
milagre; Natural, afetivo e frágil; Sinais/Sentidos; Cinza de Fêniz & três elegias) até Pomar
de palavras publicado em 2000, durante 30 anos o poeta trouxe à tona d’alma toda a
subjetividade permitida à poesia, mostrando que a diferença de um poeta para uma pessoa
comum é que o primeiro consegue ver em coisas simples do dia-a-dia um mar de
possibilidades e uma infinidade de palavras para expressar tudo o que a vida lhe oferece.
Presente aos 20 anos e também aos 30 anos o professor Lauro Junkes que novamente
faz uma análise crítica da obra de Buss, além também de apresentar ao leitor o Varal
Literário, o Movimento de Ação do Livro: o Livro em Movimentação, O ABC da Leitura:
Manifesto nacional em defesa do livro e da leitura e uma Iconografia do poeta.
133
CADERNOS DA NOITE (2003)
1. RAQUEL NAVEIRA
114
A poetisa, ensaísta, professora e Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras
(cadeira n º 8), além de Membro Correspondente da Academia Mineira de Letras (MG), e
recém-eleita Membro Titular do Pen Clube do Brasil (RJ) considera o livro de Alcides Buss,
‘Cadernos da noite” como “Primoroso! A capa noturna salpicada de hortênsias azuis (...) os
114
Raquel Naveira. Disponível em <http://www.acletrasms.com.br/lersuplem.asp?IDSupl=2&Pag=4>. Acesso
em: 06 de dezembro de 2006.
134
sugestivos “Cadernos-capítulos” (de modos, do corpo, de sonhos, de sombras...) e as epígrafes
elegantes (Cruz e Souza, Garcia Lorca, Fernando Pessoa...) que os acompanham”.
“Gosto da concisão desse poeta, de sua sintaxe pura, das imagens que ele cria com
surpresa e síntese como aquele ‘gosto de aurora nas unhas da língua’ e de vislumbres que
parecem ’borboletas invisíveis, rarefeitas’”.
Para a professora a recorrência a palavra “corpo” pretende lembrar ao homem a sua
“condição humana, miserável, de asas partidas”.
Ressalta que “o poeta nasceu para escrever poemas: é seu ‘destino e desatino’, ‘seu
jeito de não morrer’. Que bom Alcides estar resistindo, afastando o “corvo” que quer se
apossar de sua alma, exorcizando o Mal com sua responsabilidade de poeta!”.
2. MIGUEL SANCHES NETO
115
Miguel destaca o poeta Alcides Buss “por seu engajamento social que derivou para
uma defesa da poesia compartilhada com auditórios mais amplos, Alcides Buss (1948) se
obrigou, nas últimas três décadas, a praticar todas as formas poéticas, no afã de localizar
faixas de sintonia com um público maior. Com Cadernos da noite (Florianópolis: M.A.L.
edições, 2003), o livro continua procurando o leitor, mas o autor não se procura mais, ele
agora pratica sua linguagem e sua temática num conjunto de poemas que, sem forçar a
individualidade estilística, são pessoais pela essência da percepção dos dramas humanos,
flagrados dialeticamente.
115
NETO, Miguel Sanches. Palavra Arte. Disponível em:
<http://www.palavrarte.com/Artigos_Resenhas/resenhas_abuss.htm>. Acesso em: 13 de junho de 2006.
135
3. MOACIR LOTH
116
Para Loth, Alcides Buss é um poeta que fez seu nome escrevendo na surdina, à
margem do eixo literário, no entanto hoje tem “um nome nacional na literatura” . E a
preocupação do poeta ao lançar o livro "Cadernos da Noite", livro no qual “esmiúça os
sentimentos da humanidade e desvenda a relação do homem com a natureza, foi publicado
pelo Movimento de Ação do Livro (M.A.L. Edições), uma iniciativa do próprio autor para
melhorar a circulação da poesia”.
Outro aspecto da publicação destacada pelo jornalista é quanto à apresentação do livro,
enfatizando a “primorosa editoração e capa convidativa da designer gráfica Lúcia Iaczinski”.
Além da apresentação destaca a divisão em capítulos, cujos poemas são “enlaçados pela
temática: Caderno de modos, Caderno do corpo, Caderno de gostos, Caderno de sustos,
Caderno de sonhos, Caderno inefável e Cadernos de sombras”.
4. CARLOS JORGE APPEL
117
“Cadernos da noite nos a certeza de que estamos ante um novo clássico: tem a
lavratura certa, o verso na medida exata, a intenção solar. Clássico, pois incorpora o coletivo e
lhe confere voz pessoal, inconfundível e única”.
5. FÁBIO LUCAS
118
Fábio Lucas destaca do poeta Alcides Buss, a organização do livro que subdivide-se
em sete cadernos, além da utilização de apígrafes de escritores conceituadíssimo, revelando
talvez uma herança cultural. Declara ainda que “trata-se de um lirismo próprio, reflexivo,
temperado ao modo moderno: versos de regrada ironia, a denunciar o estado de abandono em
que ficou o sujeito despojado de deuses e heróis. (...) Os poemas, ao tentarem dizer do eu, do
outro, e da arte, misturam sentimentos de perda com a busca da expressão. A metalinguagem
no centro da definição do ser condenado à solidão”.
116
Moacir Loth. Especial para o jornal AN/Florianópolis. Disponível em <
http://an.uol.com.br/2006/out/17/0ide.jsp>. Acesso em: dezembro de 2007.
117
Comentário na contracapa do livro Cadernos da noite.
118
Comentário na contracapa do livro Cadernos da noite.
136
Cadernos da noite: “um mergulho nas profundezas da alma que somente o despertar
do inconsciente pode traduzir. Poemas noturnos, todavia revestidos de uma linguagem nova,
moderna, admiravelmente atual”.
137
POESIA SELECIONADA
138
OLHAR A VIDA (2007)
1. ANTÔNIO CARLOS SECCHIN
119
A maioria dos poemas de Olhar a vida se tece num registro de tensão entre a rotina e o
espanto: o que somos, o que deixamos de ser, o que seríamos, se outros... Tal confronto com
as inumeráveis possibilidades de dispersão de si é responsável pelo ávido olhar de alteridade
que atravessa os poemas de Alcides Buss. Eis um poeta cuja limpidez discursiva não
transforma a elipse, o verso curto, em esconderijo retórico de uma possível anemia
existencial; em sua obra, ao contrário, o metro conciso parece operar como um dique de
controle a uma voragem de vida. Buss é um poeta culto em quem a cultura não pesa, nem se
119
Comentário na contracapa do livro Olhar a vida.
139
transforma em fala vedada aos não-inciados. Nele, é sensível o apego à matéria do mundo, em
sua misteriosa e complexa simplicidade. Motiva sua poesia tudo que ele, poeta, ainda
desconhece, ou intui a custo - leia-se "O que não sei". Na recusa à ordem acomodada das
coisas, o poeta é aquele que fecha os olhos - "Concentro-me/pra ver-me. No escuro". - para,
assim, enxergar melhor.
2. MIGUEL SANCHES NETO
120
Dono de um verbo urbano e cósmico, Alcides Buss revela em Olhar a vida a força de
uma poesia produzida para expressar a perplexidade de existir num tempo de virtualidades
sufocadoras. Posto entre a província e a eternidade, entre os fatos banais e o sonho sem
margens, o poeta vaga em busca do sentido das coisas, ora duvidando da própria existência,
ora afirmando-a pelo corpo, pela palavra, pela memória. Em cada verso deste livro sobressai a
serenidade de quem contempla, além da casca das coisas, o tempo e seus venenos, mas
também os seus antídotos. Alcides é uma das grandes vozes de nossa lírica contemporânea.
3. CLÁUDIO WILLER
121
"Olhar a vida" acentua todas as qualidades evidenciadas nestas décadas de atuação
e produção poética de Alcides Buss. Especialmente, sua integridade e coerência. Alcides Buss
é íntegro: o poeta, o animador e agitador literário, o editor e dirigente cultural e o professor
são sempre a mesma pessoa, com uma atuação marcante na cena contemporânea brasileira nas
últimas décadas, sempre em favor da palavra poética.
120
Comentário na contracapa do livro Olhar a vida.
121
Comentário na contracapa do livro Olhar a vida.
140
POESIA SELECIONADA
141
VARAL LITERÁRIO
O Movimento do Varal Literário surge com o intuito de tornar o poema visual, “um
corpo em dois níveis”(...). “De um lado, o artista plástico e o poeta se juntam para somar a
palavra às cores e às formas da pintura e do desenho; do outro, o próprio poeta escreve e
expõem o poema”.
A idéia do “poema exposto” teve início na cidade de Joinville. Durante a feira de Arte
e Artesanato realizada todos os meses “para que os versos, escritos em cartolina, possam ser
lidos e expostos pendurados por pregadores de roupa em um fio estendido entre duas
árvores”
122
.
122
SACHET, Celestino. A literatura catarinense. Florianópolis: Lunardelli, 1985, p 209-210.
142
O varal literário foi uma alternativa de veiculação da Literatura, criado na década de
70. Tinha como objetivo facilitar para o escritor e para o leitor, ou seja, uma forma fácil para
quem estava começando a escrever de mostrar seus poemas e pequenas narrativas e ao mesmo
tempo ao leitor. O varal era um tanto provocativo e, de certa forma, ainda é, pois vai de
encontro ao leitor, sendo levado para praças ou locais onde circulavam muitas pessoas e, ao
verem o poema pendurado, paravam para ler e apreciar”. (Entrevista do autor)
“Em 1980, comecei a lecionar a disciplina de criação literária e tínhamos produção de
texto em sala de aula e pensamos que o varal literário poderia mostrar o que estava sendo
produzido em sala de aula e aos poucos a idéia foi se difundindo, chegando a bienal de
Literatura de São Paulo” (Entrevista do autor).
Referências ao Varal Literário:
Referência 01:
“Em 1982, leva o Varal Literário a São Paulo, onde recebe divulgação nacional. A
experiência ainda lhe rende a publicação, em 1983, da Antologia do Varal Literário, com
textos selecionados pelo próprio público”
123
.
Referência 02:
“A volta do Varal Literário (04/03/2004) - Coqueluche nos anos 80, o Varal Literário
foi idealizado em SC, percorreu o Estado e o País, ganhando espaço inclusive no exterior
(América Latina e Europa). Depois de longa hibernação, o movimento literário voltou a se
manifestar em Florianópolis. O varal foi inaugurado em frente ao Centro de Comunicação e
Expressão por iniciativa da fase do curso de graduação Letras-Português. Nesta retomada
está privilegiando o gênero poesia. A exposição ficará à disposição dos leitores por duas
semanas”
124
.
Referência 3:
Escritor Alcides Buss em Rio do Sul (11 de Outubro de 2005)
123
Disponível em <http://www.palavrarte.com/Equipe/equipe_alcidesbuss.htm>. Acesso em: dez. 2006.
124
Disponível em <http://www.sintufsc.ufsc.br/arquivos/noticias/noticias_200503.htm> . Acesso em dez. 2006.
143
“Rio do Sul - A Fundação Cultural traz para Rio do Sul o escritor Alcides Buss que é
considerado na atualidade, uma das principais referências literárias do Sul do país. Na quinta-
feira, (13), o escritor ministrará palestras para estudantes, em três horários 14h, 15h e 16h. O
poeta catarinense irá apresentar seu décimo oitavo livro. “Contemplação do amor – 30 anos de
poesia”, é uma seleção de poemas do próprio autor e vem acompanhado de uma exposição de
18 artistas plásticos que criaram obras inspiradas na arte poética do escritor.
A abertura da exposição de Buss está marcada para as 20 horas na galeria de artes
Arno Georg. As obras ficarão expostas para visitação de segunda à sexta-feira, das 8h às 20h,
até dia 7 de novembro. As visitas poderão ser agendadas com a diretora do Departamento de
Artes Visuais Vanir Raizer pelo telefone 5217702. Buss nasceu em Salete onde iniciou sua
caminhada literária no início da década de 70. Foi o idealizador do movimento chamado Varal
Literário, que se expandiu em todo o país e exterior. No mural do artista a homenageada da
vez é a pintora Bernadete Bazzanella de Araújo Novelletto”
125
.
125
Iléia Aparecida da Silva. Disponível em
<http://www.adjorisc.com.br/jornais/obarrigaverde/noticias/index.phtml?id_conteudo=42011> .
Acesso em dez. 2006.
144
MOVIMENTAÇÃO DE AÇÃO DO LIVRO EM MOVIMENTAÇÃO
A idéia surgiu com o intuito de fazer com que o livro de poesia procurasse o leitor, que
não fosse comprado e nem vendido. Com esse objetivo surgiu o M.A.L “Movimento de Ação
do Livro: o Livro em Movimentação” que foi colocado em prática, inicialmente com o livro
"Pessoa que Finge a Dor" com uma tiragem de apenas 500 exemplares, o livro foi
inicialmente distribuído a escritores brasileiros e de outros países que, por sua vez, o
passariam adiante, a novos leitores. Cada novo leitor seria incorporado na obra com o seu
nome e o tempo de seu ingresso nesse circuito de solidariedade vivencial e poética, seus
dados formariam um Noema - poema de nomes. O circuito seria aberto e ninguém saberia em
quem e onde iria dar. Qualquer pessoa, no entanto, a qualquer momento poderia ser incluída
nele.
A proposta, que inicialmente tinha o objetivo de fazer com que o livro circulasse e o
leitor fosse um dos elementos integrantes da obra, permitiu também que o livro não fosse
145
imobilizado em um acervo particular ou em uma biblioteca. A iniciativa também procurou
denunciar a situação do livro no Brasil.
E, através do M.A.L a poesia encontra uma nova maneira de atingir o leitor...
146
ESCRITORES CITADOS
Relação de outros escritores mencionados em citações intra e extra-textuais, com
sugestões de sites para busca de informações complementares.
147
ALÉM DAS FRONTEIRAS
Relação de alguns países onde a obra de Buss foi mencionada e/ou utilizada.
1. ARGENTINA
Publicação de um artigo
126
, integrante do “Proyecto Puerta Trampa”, publicado na Revista
n. 04 em agosto de 1982.
ALCIDES BUSS
Lenguaje Poético : Perspectiva de Libertad
1. El lenguaje poético, creando nuevos desvíos en relació na las normas preceptuadas en el
sistema (lingüístico), se especifica como lenguaje.
2. Los desvíos a las normas se realizan en la forma de la expresión y en la forma del
contenido (o sea, respectivamente : en las relaciones entre el significante y el significado, y en
las relaciones de los significados entre sí).
3. El grado de poesía es relativo a la cantidad de los desvíos creados, en la forma de la
126
Disponível em <http://escholarship.bc.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1070&context=xul>.
Acesso em: 27 out. 2007.
148
expresión y/o en la form a del contenido.
4. El lenguaje poético opera una descomposición de la realidad, seguida, a través de la
participación del lector, de una recomposición, dentro de una lógica peculiar y nueva.
5. En ese reencuentro consigo y sus cosas, que el lenguaj e poético suscita, el hombre puede
recrearse, rearmarse y reestructurar su pensamiento.
6. En otras palabras : buscando, siempre, una nueva significación, se va hacia la
transformación de la lengua y se llega (antropológicamente) a la metamorfosis mental.
7. El lenguaje habitual sólo puede llevar a significados habituales. El lenguaje poético quiere
emocionar y redimensionar el Ser.
8. A través de una " lógica afectiva " , el lector, le asegura sentido a lo que, primariamente,
puede parecer absurdo.
9. El poeta rompe el vínculo entre el significante y la noción (sentido convencional -
instituído y consagrado por un " status " cultural), sustituyendo NOCIÓN por EMÓCIÓN.
10. Siendo la noción consecuencia de un " status " , involuntariamente heredado en un sistema
de dominio y explotación del hombre por el hombre ; es la emoción, perspectiva de libertad.
11. El lenguaje poético, por lo tanto, como forma superior de lengua, es camino para el
hombre que quiere ser otro: humano (al menos, más humano) .
Florianópolis (Santa Catarina), 1979.
Mastúrbese
ZERO *
00000000000000000
2 2
3 3 3
4 4 4 4
5 5 5 5 5
6 6 6 6 6 6
7 7 7 7 7 77 7
8 8 8 8 8 8 8 8
9 9 9 9 9 9 9 9 9
1 .000 .000 .000 . . .
9 8 7
6 5
4 3
2
0
ZERO*
cer o
(De O Bolso ou A Vida, Alcides Buss -1971, Pos-concretismo)
149
2. ARGENTINA
O escritor Nahuel Santana
127
faz uma crítica a obra de Buss “Ya presentados los dos
precursores de esta poética brasileña que nos ocupa, pasamos a las cadas del 50, 60 y 70,
donde puede apreciarse una profundización de esas características, a través de buena parte de
su producció poética donde es evidente la gravitación que ejercen las obras de Mallarmé y de
Cummings, cuanto la importanci a dada a la teoría de la "Gestalt" y a los recientes estudios de
lingüística, en la década del 50- Esa producción encuentra cierta continuidad en los recientes
trabajos de los poetas Alcides Buss (SC, 1948), y Cid Seixas (BA, 1948) , ambos en la
segunda mitad de la década del 70.
127
SANTANA, Nahuel. Aportes renovadores em la poesia brasileña. Ediciones Carlos Lohlé: Buenos Aires, p.
20. Disponível em <http://escholarship.bc.edu/cgi/viewcontent.cgi?article=1049&context=xul>.
Acesso em: 27 out. 2007.
150
3. ESPANHA
ANTOLOGÍA DE LA POESÍA BRASILEÑA
128
EL NOMBRE DE LA VIDA
El silencio habla:
notad la palabra
de la boca callada.
Se alza una voz
abriendo el camino,
uniendo lo disperso.
Atentos, notad
la marcha de aquellos
que buscan el día.
En silencio avanzan
en torno a la luz
que brota del pecho.
Oh, no dirán nada,
pero un claro sentido
vendrá de la voluntad
en forma de flor
o hecho un tifón
en nombre de la vida.
INCUMBENCIA
Descubro mi ser
distante de la voz que ordena
y hace, del hombre,
zapatos, sudor y cansancio.
Me descubro lejos
de las leyes y más leyes
creadas gracias a las fuentes;
de los mitos plantados
a la puerta de las casas, de los ojos,
de las bocas.
Me descubro cerca de mí,
del centro vital que palpita,
del núcleo vital que palpita,
del núcleo que es claro
y humano.
Me cubro
de pocos sentidos
y vasto silencio: feto
de los años dos mil.
(Transação, 1994)
REDONDILLA
En cápsulas frias,
incrédulos seres
recorren las calles.
Se divierten al ver
en el abismo de los otros
la própria aventura.
¡Los otros son ellos!
Lo doble camina
por la faz vacía.
PROFANACIÓN
Dos sentimientos distantes,
dos sentimientos del año 1871
sobreviven
y en este momento se encuentran.
Uno, es un sentimiento de muerte;
el outro, un sentimiento de vida.
La faz de ambos se mantiene
escondidas, pero ambas faces vibran
en este caer del día
y yo las siento
como si fuesen mías.
128
GARCIA, XoLois. Trad. E org. Antologia de la Poesia Brasilena. Santiago de Compostela: Laiovento,
2001.
Também disponível em:
<http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/santa_catarina/alcides_buss.html#s>.
Acesso em: 12 fev. 2008.
151
El ser y el no ser
dividen la misma
carcasa del día.
Mil veces la vida
comienza, mil veces
la vida termina.
Incrédulos seres,
se permiten creer
que todo es mentira.
La imagen del cuerpo
se sumerge en el sueño.
El mundo se imagina.
(Sinais, 1995)
Lentamente me figuro
Desfiguro: cachorros
se revisten de peñascos; pájaros
se transforman en sones; palmeras
se deshacen en viento.
Indebidamente buceo
en la inmanencia
de fines ajenos.
4. PORTUGAL
Citação da obra de Buss em artigo
129
. Conforme fragmento abaixo:
"O jogo que se estabelece entre o texto e o leitor quando se brinca com o texto poético
colabora para que a criança vá construindo significados além dos habituais, como nos últimos
versos do poema de Alcides Buss, "Eu e ela":
Este golpe, quem não manja?
Ela ranja! Eu laranjo. "
BUSS, Alcides. Pomar de palavras. II. Márcia Cardeal. Florianópolis: Cuca Fresca, 2000, p.
13.
129
CUNHA, Freitas E Cunha (2003) O texto literário em manuais de Língua Portuguesa para o 1o Ciclo", A
Criança, a Língua e o Texto Literário: da Investigação às Práticas. Actas do I Encontro Internacional, Braga:
Universidade do Minho, Instituto de Estudos da Criança, 2003, p. 224. Disponível também em
<http://repositorium.sduminho.pt/bitstream/1822/5096/1/Actas%20CLT%20-%20Completas.pdf>. Acesso em:
16 set. 2007.
152
5. ALEMANHA
Antologia poética
130
NEUERE ANTHOLOGIEN DER BRASILIANISCHEN POESIE IN PORTUGAL
Insgesamt sind 64 Autoren, jeweils mit drei Gedichten, die den Lesern ein reiches
Übersicht der Poesie in der zweiten Hälfte des gerade beendeten Jahrhunderts. Ausser den
schon erwähnten: Alcides Buss, Antonio Olinto, Alphonsus de Guimaraens Filho, Adélia
Prado, Afonso Félix de Sousa, Alberto da Costa e Silva, Aluysio Mendonça Sampaio, Álvaro
Alves de Faria, Álvaro Pacheco, Aricy Curvello, Artur Eduardo Benevides, Astrid Cabral, B.
de Barros, Betty Vidigal, Carlos Nejar, César Leal, Cyro Pimentel, Domingos Carvalho da
Silva, Ferreira Gullar, Francisco Carvalho, Fúlvia Carvalho Lopes, Geraldo Vidigal, Geraldo
Pinto Rodrigues, Gilberto Mendonça Teles, Hilda Hiulst, Idelma Ribeiro de Faria, Ildásio
Tavares, Ivan Junqueira, Ives Gandra da Silva Martins, João Manuel Simões, Jorge Tufic,
João de Jesus Paes Loureiro, Ledo Ivo, Lenilde Freitas, Leonor Scliar Cabral, Lindolf Bell,
Magela Colares, Márcia Theophilo, Marcos Leal, Mariazinha Congílio, Mário Chamie,
Miguel Jorge, Miguel Reale, Milton de Godoy Campos, Myriam Fraga, Odilon da Costa
Manso, Oscar Dias Corrêa, Paulo Bonfim, Paulo Vanzolini, Péricles Eugênio da Silva Ramos,
Ruy Espinheira Filho, Samuel Penido, Sérgio de Castro Pinto, Sólon Borges dos Reis, Sônia
Queiroz, Stella Leonardos, Yeda Prates Bernis.
130
NEUERE ANTHOLOGIEN DER BRASILIANISCHEN POESIE IN PORTUGAL
Miguel Benigno: Dichter, Essayst und Übersetzer; Tânia Gabrielli-Pohlmann;
Deutsche Version: Tânia Gabrielli-Pohlmann + Clemens Maria Pohlmann. Disponível em
<http://www.brasilienportal.ch/index.cfm?nav=12,1136,1139,1147>. Acesso em: 20 set. 2007.
153
6. DINAMARCA
Poesia publicada
131
HAIKU 3
Interstelar
mi-arunc privirea în cer.
De unde m| cheam|?
ALCIDES BUSS (Brazilia)
131
FLORENTIN SMARANDACHE AFINITI (traduceri din lirica universal| 1989-1995 (Turcia, SUA)
Fiilor mei Silviu Õi Mihai Editura Dorul. Aarborg, Danemarca, 1998. Disponível em
<http://www.gallup.unm.edu/~smarandache/Afinitati.pdf>.
Acesso em: 27 out. 2007.
154
POESIA FALADA / MUSICADA
POESIA FALADA
Apresenta um arquivo de áudio com o poema Cinza de fênix, recitado pelo próprio
poeta Alcides Buss.
POESIA FALADA
Apresenta um arquivo de vídeo com o poema Assalto de Alcides Buss, interpretado
pelo artista Moacir Reis, com a performance de “O Menestrel”.
155
POESIA MUSICADA
Apresenta um arquivo de áudio com “O poema” do poeta Alcides Buss, musicado por
Alberto Andrés Heller
132
. O poema musicado faz parte do projeto “As vozes da poesia”.
Trata-se de um cederrom duplo contendo vinte poemas de autores Catarinenses musicados
para coro e piano, além das músicas o cederrom traz convidados, familiares e os próprios
poetas lendo/declamando seus poemas.
132
Alberto Andrés Heller (36 anos, natural de Buenos Aires) - "o menino que queria ser escritor", hoje é
"pianista, compositor, regente, professor, já lançou livro, gravou CD, cursa doutorado e tem um trabalho
reconhecido mundo afora". Trabalho este que começou na Alemanha aos 21 anos quando lecionava na Escola
de Música e Belas Artes de Jena. Graduou-se e pós-graduou-se como concertista na Escola Superior de Música
‘Franz Liszt’ em Weimar (1993 a 1998). No Brasil, a partir de 2000, trabalhou como professor na UDESC e,
fez várias apresentações no Brasil e em outros países. Mais informações disponíveis em:
<http://www.nupill.org/mafua/index.php?option=com_content&task=view&id=20&Itemid=39>
156
PRÊMIOS
Relação dos prêmios como forma de reconhecimento da relevância do trabalho do
professor Alcides Buss ao longo de sua carreira, tanto no magistério quanto na literatura.
157
ENTREVISTA COM O POETA ALCIDES BUSS
1. Qual a diferença entre Alcides professor, pai e poeta?
R.: Essas coisas se misturam, se misturam bastante porque o poeta ele é muito prático, ele está
sempre presente, tanto que o professor não. O professor está presente na hora de preparar e
dar aula .... a poesia exige muito, pois consciente ou inconscientemente estamos envolvidos
com ela.
Sou um pouco disciplinado, aprendi quando estive no internato, portanto tem hora pra
tudo. À noite, vou para casa e procuro um lugar calmo, sossegado e reservado para escrever,
principalmente para escrever, pois para ler já é menos problemático, apesar de a leitura
também requerer bastante silêncio. A vida familiar e a atividade literária se misturam muito, o
158
magistério assim como trabalhar na editora, vou para a editora sou editor vou para a sala de
aula sou professor, mas a poesia entre automaticamente na vida familiar.
2. Um personagem que marcou pra você como leitor?
R.: Sou um leitor que gosta de ler poesia, quando descobri e adquiri essa paixão pela leitura, e
descobri até bem tardiamente, aos 17 anos e comecei a ler muita poesia. Mas um dos
primeiros livros que eu li e foi muito tempo, foi Cobra Norato do Raul Bopp, mas na
história a personagem que mais me cativava não era Cobra Norato ou a Aranha Luzia, mas
era a linguagem do Raul Bopp que era uma coisa encantadora. Hoje vejo, por exemplo,
Manoel de Barros, o próprio Carpinejar tem um pouco de Manoel de Barros ou um pouco de
Raul Bopp. Eu me lembro, Raul Bopp foi um precursor do Modernismo como cobra Norato e
outros poemas, realmente é muito marcante. Quanto às personagens das narrativas são muitas,
mas um livro que marcou bastante foi Grande Sertão Veredas.
3. Literatura Catarinense ou Literatura em Santa Catarina
R.: O mais correto seria dizer Literatura em Santa Catarina porque o importante é que seja
literatura, ou seja, a arte literária, independente se for feita aqui ou no Paraná, São Paulo. A
gente, no entanto, tenta estabelecer um conceito para uma literatura feita em Santa Catarina é
importante, embora seja um recorte que alguns entendem como forçado, inadequado, o
importante é como reconhecimento da existência de uma Literatura para que seja estudada,
seja divulgada, que ela entre nas escolas.
4. Como é ser considerado o “Pai do Varal Literário”?
R.: O varal literário foi uma alternativa de veiculação da Literatura, criado na década de 70.
Tinha como objetivo facilitar para o escritor e para o leitor, ou seja, uma forma fácil para
quem estava começando a escrever de mostrar seus poemas e pequenas narrativas e ao mesmo
tempo ao leitor. O varal era meio provocativo e, de certa forma, ainda é, pois vai de encontro
ao leitor. Era levado para praças ou locais onde circulava muita gente e, as pessoas viam um
poema pendurado.
Em 1980, comecei a lecionar a disciplina de criação literária e tínhamos produção de
texto em sala de aula e pensamos que o varal literário poderia mostrar o que estava sendo
159
produzido em sala de aula e aos poucos a idéia foi se difundindo, chegando à bienal de
Literatura de São Paulo.
5. O livro em Movimentação.
R.: A poesia é uma arte minoritária, para um número menor de leitores. Todos gostam e
precisam de poesia, sabemos que poucos vão à livraria para comprar um livro de poesia.
Dessa forma o movimento de ação pelo livro - Livro em Movimentação procurava atingir um
número maior de leitores. Há livros que nenhum exemplar foi vendido, tive o apoio da
Universidade, na capa do livro havia uma ficha na qual o leitor colocaria seu nome e data e
após lê-lo passaria a outra pessoa. O livro viajava muito, de repente um livro de poesia que
antes ficava confinado numa prateleira estava circulando pelo país afora e até outros países.
Dessa forma o livro procura o leitor e isto é muito gratificante., pois vai formando um
circuito.
Após o atentado de 11 de setembro nos EUA surgiu um movimento muito parecido,
lia-se o livro e o deixava em um banco de praça ou qualquer outro lugar público para que
outra pessoa lesse.
6. Qual o futuro da poesia?
R.: A poesia só vai terminar quando terminar a espécie humana, se o ser humano fracassar ela
vai junto, do contrário ela sobreviverá. A poesia é inerente a existência humana, pois
representa os questionamentos fundamentais, o suspiro de vida. Modernamente com as novas
mídias a poesia encontra mais possibilidades do que a narrativa que esta pode ser
assimilada pelo drama enquanto que a poesia resiste mais enquanto voz, enquanto palavra
escrita, impressa, mesmo na tela de um computador ou de um e-book – livro do futuro.
Mas imagino que nada disso acontecerá, pois não daria para pensar o mundo sem Dom
Quixote de Cervantes ou mesmo na música sem Bethoven? No entanto, a difusão da poesia
depende da cultura de cada povo, isso é cultural, povos que têm maior apreço pela poesia
do que outros. No Brasil, não temos a valorização da poesia, mas a maioria de nós se lembra
de alguns versinhos que aprendeu na escola, mas os poetas não têm muito reconhecimento.
160
Em Florianópolis um interesse crescente pela poesia, mais escritores de poesia do que
de narrativa de ficção.
Entrevista concedida a Rosane Hart em 14/08/2006.
161
GALERIA DE IMAGENS
Nesta página apresentam-se fotos do poeta.
LINKS
Endereços de sítios relacionados ao poeta, bem como, à Literatura.
162
QUESTIONÁRIOS
Em teste seu conhecimento a disposição quatro questionários com perguntas e
respostas sobre a obra e o poeta Alcides Buss, bem com, ainda a possibilidade de verificar
o número de acertos.
163
7. APLICAÇÃO DO PROJETO
CEDERROM LITERÁRIO “ALCIDES BUSS: POMAR DE POSSIBILIDADES”
APLICAÇÃO DO PROJETO AOS ALUNOS DA 8ª SÉRIE DE ESCOLA PÚBLICA
ESTADUAL: relato de experiência
Rosane Hart
Resumo: Apresenta a utilização do cederrom literário “Alcides Buss: pomar de
possibilidades” como uma ferramenta de apoio ao professor no ensino da Literatura aos
alunos do Ensino Fundamental. Neste período, a Literatura é pouco abordada, devido a
diversos fatores, no entanto, é indispensável que o aluno entre em contato com o texto
literário. Tal contanto não pode restringir-se à literatura canônica, devendo estender-se às
diversas formas de expressão literária.
INTRODUÇÃO
A organização da sociedade hoje é, por alguns, denominada sociedade
tecnológica
133
, o que exige de nós conhecermos e dominarmos as diferentes mídias,
utilizando-as em nosso benefício. Portanto, a utilização desses recursos, além de alcançar
quase todas as áreas, facilitou a propagação de informações e acrescentou um instrumento à
prática literária: o computador. O uso deste equipamento não se restringe somente como
auxiliar na digitação de textos, mas como apoio à produção de uma literatura que utiliza
programas para embasar o processo de criação literária. No caso deste trabalho, apresentar o
artista e sua obra para um público formado por alunos do Ensino Básico que, com o auxílio do
computador e de um cederrom, terão acesso a diversas possibilidades de leitura. O hipertexto
proporciona uma leitura multifacetada, na qual o leitor define a ordem do texto, portanto, ao
priorizar essa forma de apresentação, percebemos que a leitura de um livro de poesias
assemelha-se a um hipertexto – pois em ambos há a liberdade da leitura aleatória, sem
133
O termo sociedade tecnológica será utilizado para designar a sociedade contemporânea na qual, o termo
tecnológica, está diretamente associado ao advento do computador.
164
prender-se a padrões ou seqüências pré-estabelecidas (a não ser as estabelecidas pelo próprio
autor) para a leitura e conseqüentemente o entendimento.
Dessa forma, a apresentação de alguns conceitos formulados sobre a Literatura
produzida em nosso estado é imprescindível para que entendamos as características que
fundamentam a experimentação literária efetuada pelo poeta Alcides Buss. Portanto, a
elaboração de um projeto para a produção de um cederrom literário de um poeta catarinense
objetiva mostrar toda a potencialidade de sua poesia, bem como a relevância de seu trabalho
como um dos mais importantes integrantes do grupo literário do estado e também fora dele.
Portanto, ao permitir um consórcio entre literatura e tecnologia, utilizando a obra
de um poeta defensor ferrenho dos livros, não estamos nos contradizendo, mas permitindo sim
que essa união promova uma propagação da obra literária produzida no estado para um
público que, muitas vezes, não é apresentado à Literatura, pois o ensino nessa fase escolar,
quase sempre, prioriza a gramática. Deste modo, além de promover o conhecimento da obra
do artista e colocá-lo em veiculação, ainda a preocupação com um leitor na sua grande
maioria escravo do tempo
134
, ávido por informação, mas que prima pela praticidade. Essa
praticidade, em nenhum momento, será a redução da obra, mas uma forma diferenciada de
apresentação, com a utilização de uma nova tecnologia, na qual o leitor é quem estabelecerá o
roteiro de leitura. Portanto, uma das preocupações será justamente que o leitor detenha a
opção de construir um curso para sua leitura, tenha liberdade para estabelecer prioridades e
seqüência das informações, desvele um novo olhar sobre o objeto-texto.
A preocupação não será somente com essa praticidade dada ao usuário do
computador, mas também com a “valoração” dada à Literatura produzida no território
catarinense, como forma de expressão de um grupo “menor”, mas de modo algum inferior a
outro. Pelo contrário, mostrar aos leitores que temos uma poesia consistente no Estado (além
de Cruz e Sousa, Luís Delfino e outros) como é o caso do poeta Alcides Buss, que há mais de
três décadas tem produzido poesia em mais de vinte livros lançados, conhecido e apreciado
em outros estados e até internacionalmente, mas, muitas vezes, pouco “reconhecido” como
par pelos próprios catarinenses
135
. Apresentar a obra de Alcides Buss em um cederrom é
mostrar que mesmo sendo uma “literatura menor(não no sentido de valor, mas por tratar-se
de um grupo menor), poderá destacar-se por quebrar parâmetros e utilizar a tecnologia para
134
A escravidão a que nós referimos não é do tempo dionisíaco – prazeroso -, mas do tempo cronológico – que
oprime e angustia.
135
Entende-se, aqui, por catarinense, todo aquele que vive (ou nasceu) entre as fronteiras de nosso Estado.
165
alçar vôo ou, como esclarecia Kafka, que as minorias estavam à espreita de uma brecha de luz
para se destacarem e, quem sabe, dessa forma a literatura produzida em Santa Catarina
consiga atingir o espaço a ela reservado de primeiro ser conhecida pelos próprios
catarinenses, principalmente estudantes do ensino básico que, apesar da garantia dada pela
Proposta Curricular de Santa Catarina que salienta a necessidade do ensino da Literatura,
primeiramente a produzida em nosso estado. Contudo, isso não é garantia de que realmente
seja efetivada, devido a diversos entraves.
Dessa forma, a construção do cederrom atingirá diretamente essa parcela de
estudantes do ensino sico, que terão acesso a uma ferramenta de apoio para conhecer e
interagir com a obra do poeta Alcides Buss. Esse cederrom visa facilitar o acesso à
Literatura, priorizando a Literatura Catarinense, pois a mesma é tão marginalizada durante
esse período em que o aluno permanece no ensino básico. A culpa não pode ser aplicada
somente aos professores que, ao ministrarem suas aulas, por vezes, acabam deixando de lado
a Literatura Catarinense. Contudo, se analisarmos o porquê disso, poderíamos justificar
inicialmente com a graduação, pois muitos cursos sequer oferecem a disciplina em seu
currículo; então uma lacuna na formação do profissional e, quando esse profissional
chega à escola, muitas vezes, não encontra bibliografia adequada. Mesmo que o profissional
priorize o ensino da Literatura, muitos empecilhos para desenvolver seu trabalho;
portanto, este material seria uma das maneiras para facilitar o acesso às informações, que
muitas escolas possuem laboratórios de informática e o computador torna-se, mais e mais,
objeto comum nos lares.
Apesar de ainda uma pequena parcela da crítica, reconhecer o valor da produção
literária de nosso estado como Literatura, há fortes indícios de que esta parcela aumente. Mas
para que ocorra essa valorização e, quem sabe, uma posterior criação ou transformação da
consciência literária, é preciso que se desenvolva um processo mutacional da visão pré-
existente do que é um poeta catarinense e, com a utilização de meios eletrônicos para a
apresentação-divulgação deste fazer literário, posteriormente, poder maturar uma identidade
catarinense, através de gerações tecnologicamente mais ativas e mais acostumadas com a
veiculação desta Literatura.
166
CONTEXTUALIZAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
A Escola de Educação Básica “José Boiteux” é uma instituição de ensino público,
vinculada à Secretaria de Estado da Educação e Inovação, do Governo do Estado de Santa
Catarina. Quando da execução do projeto, a instituição contava com cerca de setecentos
alunos do Pré-escolar a série do ensino básico, divididos em vinte e seis turmas. A Unidade
Escolar possui uma equipe composta por Direção (diretor e assessor de direção), Secretaria
(administradora e técnico administrativo), Equipe Técnica Pedagógica (uma orientadora
educacional, duas assistentes pedagógicas, três auxiliares de serviços gerais e quarenta e dois
professores.
O PROJETO-PILOTO DE APLICAÇÃO DO CEDERROM “ALCIDES BUSS:
POMAR DE POSSIBILIDADES”
Com o projeto-piloto de aplicação do cederrom “Alcides Buss: Pomar de
Possibilidades” da EEB “José Boiteux” pretendeu-se permitir a um grupo de alunos da
série conhecer, navegar e avaliar o cederrom, salientando que o professor foi o articulador do
trabalho, e contribuir para despertar a curiosidade e o interesse pela Literatura.
O projeto teve como objetivos específicos:
a) Discutir o conceito de Literatura, da produção literária;
b) Perceber o panorama da Literatura produzida em nosso Estado;
c) Apresentar o poeta Alcides Buss e sua obra;
d) Mostrar as possibilidades propiciadas pela junção entre a Literatura e a tecnologia;
e) Orientar o acesso às informações contidas no cederrom;
f) Oportunizar a utilização do cederrom para verificar na prática a sua funcionabilidade;
g) Verificar as inúmeras possibilidades de leitura proporcionadas pelo hipertexto.
a) Metodologia
O projeto foi realizado em duas etapas distintas:
a) Apresentação do projeto, através de uma explanação sobre os objetivos do projeto,
incluindo também a explicação da funcionalidade do cederrom.
167
b) Utilização orientada do cederrom “Alcides Buss: Pomar de Possibilidades”. O professor é o
mediador das informações.
b) Operacionalização
O período para a aplicação do projeto foi estabelecido em conjunto com a supervisão
escolar e com a professora monitora do projeto. Durante o mês de agosto, dez alunos
integrantes do projeto-piloto vieram à escola em seu contra turno para o desenvolvimento das
atividades, foram utilizadas 4 horas para cada dupla de alunos, perfazendo o total de vinte
horas. A primeira parte foi aplicada à parte teórica com a explanação do projeto, apresentando
o objetivo principal que é conhecer a obra do poeta catarinense Alcides Buss. Em seguida, foi
apresentada a ferramenta para que se familiarizassem e percebessem as possibilidades
propiciadas pela Literatura apoiada pela tecnologia.
O uso do cederrom de modo algum restringe o papel do professor, pelo contrário, o
professor adquire papel fundamental na utilização correta desta ferramenta, principalmente,
porque o cederrom tornou-se mais como material de apoio ao professor do que para uso
exclusivo do aluno. Portanto, é necessária e imprescindível a mediação do professor, pois é
ele quem direcionará as atividades e quem efetivará o sucesso ou não no uso do material.
Pelo fato do cederrom proporcionar várias possibilidades de leitura, o direcionamento
das atividades dependerá dos objetivos estabelecidos pelo professor. No caso específico do
projeto-piloto, o objetivo era fazer com que os alunos conhecessem a ferramenta e a sua
funcionalidade, bem como, verificar a interatividade entre o aluno-usuário e o cederrom
literário, procurando não exceder três ou quatro níveis de aprofundamento em cada página e
mantendo sempre a possibilidade de retorno a qualquer outro nível.
c) Avaliação
Para a avaliação dos resultados, foram utilizados três instrumentos: a observação em
sala de aula, a utilização do cederrom pelos alunos e os questionários.
d) A Observação
Da observação feita em sala de aula, pôde-se comprovar a participação dos alunos, que
perguntaram e tiraram dúvidas. Na utilização do cederrom, percebeu-se a facilidade dos
alunos em interagir com a ferramenta e quanto é importante a participação do professor, tendo
um roteiro que direcionamento às atividades, pois se o professor não contextualizar as
168
informações, estas se perderão. A quantidade de informações permite ao professor organizar
diversas atividades com o apoio do cederrom.
e) A utilização do cederrom
Em relação ao cederrom apresentado aos alunos, solicitamos que seguissem o roteiro
estabelecido anteriormente, no qual, os alunos opinaram sobre a seqüência a ser seguida. Isso
foi feito, após a explanação inicial do projeto. Mas no decorrer das atividades estabeleceram
mais conexões do que somente as que haviam sido acordadas anteriormente, justamente pela
interatividade que o cederrom proporciona. O resultado serviu para verificar que o aluno ao
utilizar o computador a serviço da Literatura consegue dar novo significado à obra do autor,
pois a leitura não é uma leitura passiva, mas sim uma leitura transformadora, que ao mesmo
tempo em que vai desvendando as informações de cada página vai também estabelecendo
novas ligações, sobrepondo informações, ou seja, ressignificando a obra.
Com a experimentação de roteiros diferenciados, cria-se para o professor a
possibilidade de explorar outros aspectos do cederrom literário “Alcides Buss: Pomar de
Possibilidades”.
f) Os Questionários
A aplicação de questionário, apresentando questões abertas e fechadas, serviu como
instrumento de avaliação do cederrom literário “Alcides Buss: Pomar de Possibilidades”.
Como o projeto foi dirigido a um grupo reduzido de alunos, o referido instrumento serviu
também para diagnosticar os hábitos destes alunos quanto ao uso do computador, leitura,
compreensão, acessibilidade e qualidade do cederrom.
Os objetivos propostos foram atingidos. Dos 10 alunos convidados a participarem do
projeto-piloto, todos eram usuários assíduos de computador, portanto, não houve dificuldades
quanto ao manuseio do equipamento, tampouco na utilização do cederrom. Com relação à
produção literária em nosso estado e, mais especificamente sobre o poeta Alcides Buss, os
alunos tinham pouco conhecimento. No entanto, foram bastante receptivos.
Quanto ao uso da biblioteca, todos os alunos responderam que eram assíduos
freqüentadores, e a utilizavam para realizar trabalhos e pegar livros.
Quanto aos recursos utilizados, os alunos apresentaram as seguintes avaliações: 1)
Apresentação do conteúdo e as explicações - Boa, mas em uma sala de aula o conteúdo
169
deveria acontecer mais devagar. 2) Uso do computador - Bom; 3) Quanto ao cederrom
Bom; 4) Interatividade do cederrom Boa; 5) Conteúdo do cederrom partes fáceis e outras
mais difíceis de entender; 6) Com relação à participação do aluno, no projeto, pôde-se
observar que todos envolveram-se e participaram ativamente.
Com relação aos conhecimentos adquiridos, foi possível constatar que os alunos
souberam posicionar-se em relação ao temas: Literatura, Literatura em Santa Catarina, Poesia
e sobre o poeta Alcides Buss e sua obra. No entanto, faltou aprofundar os temas propostos,
para resultados mais efetivos.
Obtivemos como resposta:
Literatura
1. É a inspiração para escrever bem.
2. O que está escrito nos livros (agora tem a internete).
3. É o conhecimento escrito.
4. É a inspiração para escrever poesias, poemas e também romances.
5. É o estudo dos livros da cultura brasileira.
6. São as experiências que os escritores tentam nos passar, podem ser verdadeiras ou não.
7. São as narrativas e as poesias. Podem ser verdadeira ou de ficção.
8. Todas as histórias, escritas ou mesmo faladas.
9. Tudo o que é escrito, pode ser ficção ou realidade.
10. São os romances e as poesias.
Literatura em Santa Catarina
1. Temos que valorizar o que é nosso.
2. Não tinha percebido que era tão importante.
3. Dificilmente conhecemos o que se faz por aqui.
4. Tem livros bons, já peguei na biblioteca.
5. Já li sobre Cruz e Souza, não entendi muito, mas gostei da história da vida dele.
6. Sei que tem vários escritores e, que escrevem bem.
7. É bom conhecer.
8. Gosto das poesias que tem nos ônibus.
9. Não conheço quase nada.
10. Não tem muita propaganda.
170
Poesia
1. Gosto muito, porque ela envolve os nossos sentimentos.
2. Textos que expressam o sentimento do autor.
3. Às vezes, não consigo entender o sentido, mas gosto.
4. Na poesia tem o eu-lírico que mostra seus sentimentos.
5. Fala dos sentimentos, das sensações e das emoções que sentimos.
6. É parecida com a música.
7. Não tem parágrafos, tem estrofes e versos e quase sempre fala dos sentimentos.
8. Não dá pra explicar o porquê gostamos de uma poesia.
9. É escrever o que está se passando no coração.
10. Sempre fala de amor, não, nem sempre.
Alcides Buss e sua obra
1. É um poeta que escreveu muito.
2. Poxa, tem muita coisa escrita.
3. A professora já tinha levado um livro dela pra sala, mas não imaginei que fosse tão legal e
tivesse escrito tanta coisa.
4. O pai do Varal literário, já fizemos, e nem sabemos de onde vem.
5. As poesias são muito boas, deveria ter mais no cederrom.
6. Tem muita coisa publicada.
7. Escritor com 30 livros, e escreve também pra crianças.
8. É uma vergonha a gente não conhecer, mas também na televisão não tem quase nada
daqui.
9. Conhecem ele até no exterior e a gente aqui não.
10. Ele escreve muito bem e já fez bastante livros.
Cederrom Literário “Alcides Buss: Pomar de Possibilidades”
Aspectos positivos:
1. Aprendemos Literatura de um jeito mais legal.
2. Foi legal, com a ajuda da professora compreendi mais.
3. A explicação ajudou a usar o cederrom.
4. Com o cederrom as aulas foram legais.
5. É fácil de navegar no cederrom.
6. O cederrom é bom porque se não entendi alguma coisa posso voltar e rever.
7. Aprendi muitas coisas novas.
8. Percebi páginas mais fáceis e outras mais difíceis.
9. Gostei. É uma aula mais completa, principalmente porque não tem os livros dele na
biblioteca.
10. Gostei de aprender desse jeito.
Aspectos negativos:
1. É muita coisa em pouco tempo.
171
2. Achei legal, mas podia ser mais colorido.
3. Tem textos difíceis de entender, precisei da ajuda da professora.
4. Como tem muitas páginas, me perdi durante a atividade.
5. Não dá pra usar sozinho, precisa da ajuda de um professor.
6. Poderia ter mais poesias.
7. Não dá pra ler o livro todo.
8. Pena só te uma poesia de cada livro.
9. Seria legal, se tivesse todos os livros.
10. Muita coisa pra ler.
172
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A APLICAÇÃO DO PROJETO
O projeto-piloto marca o início de uma atividade que associa tecnologia e literatura,
revelando-se uma ferramenta auxiliar para o ensino da Literatura, para conhecer o autor e sua
obra, bem como, apresentar outros aspectos abordados no cederrom. No caso, específico da
EEB “José Boiteux” o cederrom tornou-se uma forma de minimizar a carência de material do
autor, pois somente um livro na biblioteca. Entende-se que este projeto contribuirá
também para a melhoria do nível de leitura, porque ao utilizar outra ferramenta que não o
livro, não pretende em momento algum substituí-lo, mas aprimorar, estabelecendo novas
ligações com outros textos.
Conforme relato de alguns alunos envolvidos nas atividades, textos mais difíceis,
são os que apresentam a teoria. Portanto, para que essas informações sejam compreendidas e
assimiladas pelos alunos, o professor é peça fundamental na abordagem destes tópicos. O
cederrom não foi criado exclusivamente para o aluno, mas sim, para ser suporte às atividades
desenvolvidas pelo professor. Acredita-se que é de fundamental importância para que haja nos
alunos mudança de postura em relação à produção catarinense, valorização esta, que começa
conhecendo a produção literária de nosso estado. Sabe-se que o ser humano resiste à
mudança, mas acredita-se que quanto antes o aluno conhecer e tiver acesso à Literatura,
quanto antes desenvolverá uma consciência literária. Ao se defrontarem com a obra do poeta
Alcides Buss, os alunos ficaram impressionados devido à diversidade e consistência de sua
obra.
A experiência pedagógica aqui relatada é, ainda, recente e superficial, pois a aplicação
do cederrom em mais turmas possibilitaria uma avaliação mais consistente. No entanto, um
dos principais aliados ou uma das principais barreiras, sem dúvida, será o professor, pois o
aluno sozinho não terá condições de perceber a profundidade das informações, tampouco fa
inferências ou estabelecerá novas conexões sobre os temas abordados, ficando no nível linear
de leitura.
Contudo, se o professor conhecer o conteúdo do cederrom e realmente atuar em seu
papel de mediador do processo, o material torna-se uma rica fonte de apoio, pois as
informações não se esgotam em uma aula, mas poderão dar suporte a vários outros temas.
Neste sentido, espera-se que o professor vislumbre alternativas para que sua prática docente
173
esteja mais conectada à literatura. Acredita-se que o espaço escolar seja uma grande
oportunidade para que a tecnologia passe a ser vista de modo crítico e utilizada de modo
consciente e, que ao a associarmos a serviço do conhecimento os bons resultados são visíveis,
principalmente, com o público do ensino fundamental que não tem medo da tecnologia, pelo
contrário, sentem-se estimulados por ela. Associando a esse estímulo a curiosidade de
conhecer a obra de um poeta que podemos esbarrar com ele por ai, ao professor
leitor/conhecedor, estes são, sem dúvida, ingredientes perfeitos.
174
8. CONCLUSÃO
Hoje é primordial o reconhecimento da influência direta ou indireta da ‘tecnologia’ em
nossas vidas e, como é quase impossível nos desvincularmos dela, o melhor é adequá-la em
prol de nossas necessidades. Todavia, se relacionarmos a tecnologia ao ensino, perceberemos
o distanciamento da aplicação destes recursos à prática pedagógica. Muitas vezes o empecilho
não é a falta de equipamentos, mas sim a falta do conhecimento de como direcioná-los para
auxiliar no desenvolvimento de uma boa aula e, conseqüentemente, de possibilitar situações
de apropriação, explorando as potencialidades do educando.
Ao estabelecermos uma conexão entre o uso consciente das tecnologias e o ensino, o
objetivo na verdade é chamar a atenção para o Lugar que a Literatura ocupa no Ensino
Básico, lugar este apontado por vários documentos (PCN e Proposta Curricular). Contudo o
enfoque ‘realmente’ dado à Literatura é, por vezes, de uma não-presença ou uma de literatura
entrincheirada, à espreita de uma réstia de luz para libertar-se, liberdade esta estabelecida pelo
leitor que, ao apropriar-se da obra, desfaz as amarras, transformando a Literatura em algo vivo
e latente.
Resultado disto é que, mesmo na Literatura em livros tradicionais, algum tempo a
página em branco (papel) vem deixando de ser a direção do primeiro olhar do escritor e o
livro desmaterializou-se em prol de um documento eletrônico. Para adequar-se à ‘pós-
modernidade’
136
, foi preciso desenvolver o processo de criação literária a partir do hipertexto
e a intermídia, e transferi-los para meios que auxiliassem no desenvolvimento dessa ‘nova
137
forma de apresentar Literatura. Assim o computador substituiu a caneta e a internet encarrega-
se da divulgação a quem interessar. A palavra passou a coexistir com as interfaces digitais, o
que provoca uma atomização da linguagem. Essa mesma atomização permite uma
136
Ressalva na utilização do termo, pois há discordâncias quanto à representatividade da palavra, já que, há
defensores de que ainda não atingimos a pós-modernidade, vivemos na modernidade.
137
Na verdade, não é algo novo, mas a palavra nova representa a generalização das midias (principalmente o
computador – hardware e software) à serviço da Literatura.
175
diferenciação maior nas formas de comunicação, pois pode utilizar-se da linguagem oral,
escrita e virtual simultaneamente.
Contudo, essa gama de possibilidades e de simultaneidade de idéias que as tecnologias
nos propiciam não é necessariamente diferente se compararmos, por exemplo, a um livro de
poesia. Cada página representa uma situação inusitada um hipertexto - e a cada nova gina
outros recursos, outras formas, outras idéias repletas de subjetividade e envoltas em um ar de
mistério, pois a poesia é carregada de significados, de experimentação, é a idéia do autor
digerida e regurgitada em forma de experiência com a linguagem (com o mundo e consigo
mesmo) e arremessada a um sujeito-leitor; e, no momento em que este se apropria da obra, o
escritor torna-se virtual. O desaparecimento do escritor não o reduz, torna-o um sujeito do
mundo um ser ficcional que existe para os outros como se ELE fosse uma criação do
imaginário coletivo
138
.
Portanto, para criarmos esse imaginário coletivo, é primordial que a Literatura chegue
até esse leitor. Se pensarmos que mesmo a Literatura canonizada, por vezes, anda à margem,
pensemos então a Literatura representada por minorias fora do eixo literário (Rio de Janeiro e
São Paulo) e que estão à espreita de uma réstia de luz. Esse grupo catarinense, que representa
“uma literatura menor”
139
, expressa uma identidade regional multifacetada pelas diferentes
culturas que aqui co-existem e que, muitas vezes, não esperam reconhecimento; escrevem
para expressar suas sensações e suas percepções sobre o mundo - como a maioria dos artistas.
No entanto, o que não podemos, é negar a existência de um grupo consistente de
escritores em/do nosso estado, destacando entre eles o poeta Alcides Buss, cuja obra já
ultrapassou os trinta anos de criação poética e já aportou em outros estados e em outros
países. Por isso, a produção de um cederrom com sua obra procurou justamente propagar a
Poesia com o apoio desse aparato tecnológico de que dispomos, buscando valorizar o poeta
nascido em nosso estado e que dá à poesia qualidade e valor. Esse reconhecimento pretendido
nada mais é do que a consciência literária vendo com olhos desnudos a transformação poética
acompanhando o processo evolutivo da sociedade.
138
Vicente de Gosciola em seu artigo “Fundamentação da Hipermídia” dá o conceito de ciberespaço como: um
terreno habitável de imersão através das conexões das redes entre computadores, um espaço que pode se
expandir eternamente, uma possibilidade de um novo gênero e de novas expressões artísticas. Disponível em:
<http://www.cibersociedad.net/congres2004/grups/fitxacom_publica2.php?grup=19&id=503&idioma=es>.
Acesso em agosto de 2005.
139
DELEUZE, Gilles & GUATTARI, Félix. Kafka: por uma literatura menor. Tradução de Júlio Castañon
Guimarães. Rio, Imago, 1977.
176
Durante esses trinta anos de produção literária o poeta Alcides Buss passeou sobre o
mundo da poesia criou um Pomar de Possibilidades, abordando em sua obra além de
temática diversificada, diversificando também na forma. Mas, ao destacar sua obra, vale
ressaltar que o compromisso do poeta não se restringiu à criação literária, mas a sua
preocupação sua bandeira abranger também a propagação da Literatura. Preocupação esta
de popularizar o acesso à Arte.
Dando continuidade ao intuito de poeta de popularizar a Arte Literária, surgiu a idéia
da necessidade de promover o contato com a Literatura no Ensino Fundamental, nesta fase do
ensino em que a literatura é “literalmente” marginalizada, aparecendo nos “becos” ou
trancafiada nos “porões”
140
do estudo da língua. Assim, uma experimentação envolvendo a
poesia de Buss e alguns recursos tecnológicos têm a preocupação de ressaltar que é preciso
conhecer, que não podemos negar a existência de um grupo representativo e,
conseqüentemente valorizar, quiçá convencer que a Poesia de/em Santa Catarina está
cumprindo seu papel enquanto expressão artística, pois não fere o caráter ontológico da
Literatura e, portanto, merece ser valorada.
140
O material didático disponibilizado em muitas escolas, em sua grande maioria (para não dizer todos) enfatiza
a questão gramatical ou preocupa-se com a estrutura textual, dilacerando o texto literário que, muitas vezes,
serve apenas de pretexto.
177
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
a) BIBLIOGRAFIA DE ALCIDES BUSS
BUSS, Alcides. Círculo quadrado: Joinville, edição do autor, 1970.
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_____ Transação. Florianópolis: M.A.L. Edições, 1991, 2ª ed.
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178
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_____ Contemplação do amor 20 anos de poesia escolhida. Florianópolis: Editora da
UFSC, 1991.
_____ Natural, afetivo, frágil. Florianópolis: Edições Athanor, 1992
_____ Nenhum milagre. Florianópolis: Letras Contemporâneas, 1993.
179
b) BIBLIOGRAFIA SOBRE ALCIDES BUSS
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