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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM VETERINÁRIA
Dissertação
Aspergilose em Pingüins em Cativeiro: Diagnóstico, Prevenção e Controle em
Centro de Recuperação de Animais Marinhos
Melissa Orzechowski Xavier
Pelotas, 2007.
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Melissa Orzechowski Xavier
Aspergilose em Pingüins em Cativeiro: Diagnóstico, Prevenção e Controle em
Centro de Recuperação de Animais Marinhos
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Veterinária da Universidade
Federal de Pelotas, como requisito parcial à
obtenção do título de Mestre em Ciências (área
do conhecimento: Veterinária Preventiva).
Orientador: Mário Carlos Araújo Meireles
Co-orientadora: Márcia de Oliveira Nobre
Pelotas, 2007.
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Banca Examinadora:
Prof. Dr. Luiz Carlos Severo - UFRGS
Prof
a
. Dra. Cristina Gevehr Fernandes - UFPel
Prof
a
. Dra. Márcia de Oliveira Nobre - UFPel
Prof. Dr. Mário Carlos Araújo Meireles – UFPel
Orientador
Agradecimentos
À todo o Grupo de Pesquisa em Micologia, que além de transmitir o
conhecimento técnico-científico sempre teve a integração, amizade e carinho de
uma grande e valiosa equipe.
Em especial neste grupo agradeço ao meu orientador Prof. Mário pelo
esforço em disponibilizar todo o necessário para realização do trabalho, a minha co-
orientadora Márcia pela colaboração e ensinamento técnico. À Loren pelo incentivo
na etapa inicial e auxílio na elaboração do projeto. Às pós-graduandas Eme, Raquel,
Isabel, Ane, Rê, Tati e Paty pela amizade, incentivo e incondicional auxílio nas horas
e horas de trabalho juntas. E, às alunas de graduação que contribuíram muito com a
execução do experimento, especialmente às Bolsista de Iniciação Científica do
projeto, Luíza pela colaboração, esforço e dedicação contínuos dispensados a este
trabalho, e Ângela pela paciência e dedicação empregadas como auxílio final para
identificação das espécies fúngicas.
Ao Lauro Barcellos, diretor do Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de
Carvalho Rios” da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, e à todo o
pessoal do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM), especialmente ao
Neneco, pela oportunidade concedida, conhecimento transmitido e confiança
depositada em meu trabalho, e à Andréa, Alice e Fabiano pela amizade e
colaboração.
Ao Mauro, pelo auxílio nos exames pos-mortem dos pingüins durante o
experimento.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio Grande do Sul (FAPERGS) pelas
bolsas de estudo concedidas.
À empresa Chemitec Agro-Veterinária pela gentileza no fornecimento do
produto Clorexidina-Cetrimida® para uso no experimento.
E, com muita gratidão à minha família, mãe, pai, Nena, Ieiê e ao meu
coração, Nogueira, pelo amor, compreensão, apoio incansável e auxílio
indispensável durante este período.
À todos,
MUITO OBRIGADO!!!
"Quando uma criatura humana desperta
para um grande sonho e sobre ele lança
toda a força de sua alma... Todo o universo
conspira a seu favor!"
Goethe
Resumo
XAVIER, Melissa Orzechowski. Aspergilose em Pingüins em Cativeiro:
Diagnóstico, Prevenção e Controle em Centro de Recuperação de Animais
Marinhos. 2007. 92f. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós-Graduação em
Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.
A aspergilose é uma doença frequentemente associada com mortalidade de
pingüins em cativeiro e geralmente adquirida por inalação dos conídios anemófilos.
O trabalho objetivou avaliar a freqüência desta micose em pingüins em um centro de
reabilitação de animais marinhos (CRAM), bem como pesquisar a presença de
espécies de Aspergillus no local de cativeiro e desenvolver medida de controle
microbiológico no ambiente, buscando a prevenção da doença. Para isso, foram
realizados exames post-mortem nos animais que vieram a óbito, colheita de fungos
do ar por sedimentação com Agar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol,
testes “in vitro” para escolha do desinfetante mais adequado para o estudo, e
emprego de rotina de desinfecção ambiental. Durante os dois anos de experimento
12 pingüins foram a óbito sendo cinco por aspergilose. Dos 81 dias de colheita de
amostras de ar 33,3% foram positivas para Aspergillus spp., com isolamento de sete
espécies distintas, totalizando 43 isolados, dos quais a espécie A. fumigatus foi
predominante correspondendo a 27,9%. O teste “in vitro” de microdiluição em caldo
demonstrou a eficácia da amônia quaternária e da clorexidina frente a diferentes
espécies de Aspergillus, e a ação “in loco” da clorexidina reduziu o isolamento de
fungos do gênero Aspergillus das instalações internas do CRAM. O experimento
demonstrou a importância da aspergilose em pingüins em cativeiro no CRAM
determinando uma alta taxa de mortalidade, e a presença de propágulos fúngicos de
distintas espécies patogênicas de Aspergillus no ambiente interno de reabilitação.
Os resultados obtidos permitiram também concluir que a contaminação ambiental
por Aspergillus spp. no CRAM pôde ser parcialmente controlada pelo emprego de
uma rotina de desinfecção ambiental com o agente químico de melhor ação "in
vitro”.
Palavras-chave: Aspergillus, aspergilose, pingüins, prevenção, desinfecção.
Abstract
XAVIER, Melissa Orzechowski. Aspergillosis in Captive Penguins: Diagnosis,
Prevention and Control in a Rehabilitation Center of Marine Animals. 2007. 92f.
Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Universidade
Federal de Pelotas, Pelotas.
Aspergillosis is a disease often associate with mortality of captive penguins
and frequently acquired by the conidia inhalation of the air. The aim of the study was
to evaluate the frequency of this mycosis in captive penguins in a rehabilitation
center of marine animals (CRAM), to search the presence of Aspergillus species on
the ambient of captivity, and to introduce methods of a microbiology control in the
indoor air, wishing a prevention of the disease. To this, post-mortem examinations
was done in all penguins died, samples of the fungal air was collected by
sedimentation in Agar Sabouraud dextrose added to cloramphenicol, “in vitro” tests
was made to choose the more appropriated disinfectant to use on the local, and a
routine of environmental disinfection was established. During the two years of the
experiment 12 penguins died, and in five of them the cause was aspergillosis. In the
81 days of air samples collection, 33,3% were positive to Aspergillus spp. isolation,
classified in seven distinct species totalizing 43 isolates, with A. fumigatus the
predominant specie corresponding to 27,9%. The “in vitro” test of microdilution
demonstrated the quaternary ammonia and chlorexidine efficacy against different
Aspergillus species, and the “in loco” chlorexidine action reduced the fungal
Aspergillus isolation on the indoor ambient of the CRAM. The study demonstrated
the aspergillosis importance in captive penguins on CRAM, corresponding to
elevated rates of mortality, and the presence of different pathogenic species
Aspergillus fungal propagules on indoor environment of rehabilitation. This results
obtained also permit to conclude that the environmental Aspergillus contamination on
the CRAM could be partially controlled with the establishment of a disinfection routine
with the chemic agent that had the better activity “in vitro”.
Keywords: Aspergillus, aspergillosis, penguins, prevention, disinfection.
Lista de Figuras
Figura 1 –
Distribuição das colônias reprodutivas de Pingüins-de-magalhães e
correntes marítimas que auxiliam sua rota migratória.......................
29
Figura 2 –
Pingüim-de-magalhães juvenil contaminado por petróleo
encontrado na praia do Cassino, RS, Brasil......................................
30
Figura 3 –
Localização de alguns centros de reabilitação de animais marinhos
na América do Sul..............................................................................
31
Figura 4 –
Exemplares de três diferentes espécies de pingüins no CRAM. (A)
pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) adulto e (a)
juvenil; (B) pingüim de penacho amarelo (Eudyptes chrysocome);
(C) pingüim-rei (Aptenodytes patagonica)......................................... 32
Figura 5 –
Vista aérea das instalações do CRAM, à beira da Lagoa dos Patos
– Rio Grande, RS, Brasil....................................................................
32
Figura 6 –
Taxas de mortalidade relacionadas à infecção por fungos do
gênero Aspergillus em pingüins em distintos locais de cativeiro.......
34
Artigo 3.1
Figura 1 –
Estruturas de reprodução de diferentes subgêneros de fungos
Aspergillus. [A] Subgênero Circumdati; [B] Subgênero Fumigati; [C]
Subgênero Nidulantes, detalhe dos aleuroconídios encontrados na
espécie A. terreus; [D] Subgênero Aspergillus, setas demonstrando
estrutura de reprodução assexuada e sexuada.................................
42
Figura 2 –
Espécies de Aspergillus isoladas do ar das instalações de um
Centro de Recuperação de Animais Marinhos.................................. 43
Artigo 3.2
Figura 1 –
Radiografia do trato respiratório do pingüim-de-magalhães,
demonstrando aumento da radiopacidade na região da siringe e
lesão multifocal nos sacos aéreos torácicos......................................
50
Figura 2 –
Lesões macroscópicas em pingüim-de-magalhães. (A) Nódulo de
aproximadamente dois centímetros na região da siringe. (B)
Colônias fúngicas de coloração branca com centro esverdeado no
saco aéreo torácico esquerdo. (C) Colônias ngicas de coloração
branca com centro esverdeado no lobo direito do fígado.................. 51
Figura 3 –
(A) Hifas septadas, ramificadas e bifurcadas em ângulo agudo,
visualizadas no exame histopatológico (Grocott, 400X) do pulmão
do pingüim-de-magalhães. (B) Estrutura de frutificação completa
do Aspergillus fumigatus visualizada no exame histopatológico
(PAS, 400X) da siringe do pingüim-de-magalhães............................ 52
Artigo 3.3
Figura 1 –
Resultado do teste de microdiluição em caldo demonstrando
isolados de A. niger resistentes a todas as concentrações do
iodóforo (linhas 3, 4, 9 e 10), e sensíveis a todas as concentrações
de amônia quaternária (linhas 1, 2, 7 e 8) e digluconato de
clorexidina (linhas 5, 6, 11 e 12)........................................................ 63
Artigo 3.4
Figura 1 –
Variação climática de temperatura (ºC), umidade (%) e precipitação
(mm) da cidade de Rio Grande no primeiro ano do experimento...... 69
Figura 2 –
Variação climática de temperatura (ºC), umidade (%) e precipitação
(mm) da cidade de Rio Grande no segundo ano do experimento..... 69
Artigo 3.5
Figure 1 –
Macroscopic lesions of aspergillosis in Magellanic penguins: (A) air
sacs thickness with abundant caseous and nodules; (B) nodules
white-yellowish externally on esophagus; (C) fungal colonies in the
air sacs...............................................................................................
80
Figure 2 –
Conidial heads of Aspergillus spp. (black arrows) and septate and
branching hyphae (blue arrows), in air sacs of the Magellanic
penguins at histological examination with HE (100X)........................ 81
Lista de Tabelas
Artigo 3.3
Tabela 1 – Resultados do teste de suscetibilidade “in vitro” de diferentes
espécies de Aspergillus a três desinfetantes/anti-sépticos
comerciais..................................................................................
61
Artigo 3.4
Tabela 1 – Resultados das amostras de ar colhidas durante dois anos,
quanto ao isolamento de fungos do gênero Aspergillus de
instalações utilizadas para reabilitação de pingüins..................
68
Lista de abreviaturas e siglas
CB – Cloreto de benzalcônio
CIM – Concentração inibitória mínima
CRAM – Centro de Recuperação de Animais Marinhos
DC – Digluconato de clorexidina
DNA – Ácido desoxirribonucléico
ELISA – Enzyme Linked Immuno Sorbent Assay
FV – Faculdade de Veterinária
GM-CSF – Fator estimulante de colônias de granulócitos e monócitos
HE – Hematoxilina-eosina
Ht – Hematócrito
IF – Iodóforo
IFN – Interferon
IBRRC – (International Bird Rescue Research Center’s) Centro Internacional de
Pesquisa e Salvamento de Aves
IL – Interleucina
KOH – Hidróxido de potássio
MIP – (Macrophage inflammatory protein) Proteína inflamatória de macrófagos
MCP – (Monocyte chemotactic protein) Proteína quimiotáxica de monócitos
MO – Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de Carvalho Rios”
NCCLS (National Committee for Clinical Laboratory Standards) Comitê nacional
para padronização de procedimentos clínicos laboratoriais
PAS – (Periodic Acid Schiff) Ácido Periódico de Schiff
PDA – (Potato dextrose Agar) Agar batata dextrose
RNA – Ácido ribonucléico
TNF – Fator de necrose tumoral
UFC – Unidades formadoras de colônias
ZOO – Zoológico
Sumário
1 Introdução geral................................................................................................
11
2 Revisão Bibliográfica........................................................................................
13
2.1 Aspergillus spp.................................................................................................
13
2.1.1 Fatores de patogenicidade............................................................................
15
2.2 Aspergilose.......................................................................................................
16
2.2.1 Resposta imune do hospedeiro.....................................................................
18
2.2.2 Formas e Sinais Clínicos...............................................................................
20
2.2.3 Diagnóstico....................................................................................................
22
2.2.4 Tratamento e Prevenção...............................................................................
26
2.3 Pingüins............................................................................................................
28
2.3.1 Centros de reabilitação.................................................................................
31
2.3.2 Aspergilose em pingüins...............................................................................
33
3 Artigos
3.1 Contaminação do ar quanto ao gênero Aspergillus em ambiente de
reabilitação de animais marinhos...........................................................................
37
3.2 Aspergilose em Pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus). Relato
de Caso...................................................................................................................
47
3.3 Atividade “in vitro” de três agentes químicos frente a diferentes espécies de
Aspergillus.............................................................................................................. 54
3.4 Eficácia da Clorexidina-Cetrimida na desinfecção ambiental contra
Aspergillus spp........................................................................................................
64
3.5 Aspergillosis: a limiting factor during the recovery of captive Magellanic
penguins.................................................................................................................
73
4 Conclusões........................................................................................................
84
5 Considerações finais........................................................................................
85
Referências ..........................................................................................................
87
1
I
NTRODUÇÃO
G
ERAL
Embora a preocupação com a fauna e flora dos nossos ecossistemas tenha
aumentado consideravelmente, a interferência humana no habitat dos animais
continua acarretando rios prejuízos ambientais e ecológicos gerando mortes
diretas e indiretas que chegam a culminar com ameaças de extinção em diversas
espécies animais (CUBAS; SILVA; CATÃO-DIAS, 2007).
Em se tratando especialmente da poluição dos mares, a descarga ilegal de
petróleo, caracterizada pela lavagem de tanques cargueiros e/ou pelo descarte
deliberado de conteúdo contaminado de embarcações, tem diminuído
consideravelmente a população de pingüins-de-magalhães (Spheniscus
magellanicus) (GANDINI et al., 1994).
Dezenas a centenas de exemplares desta espécie de pingüim são
encontradas anualmente nas praias brasileiras, devido à contaminação por petróleo,
doenças, fraqueza, ferimentos e/ou separação do grupo. Os animais capturados em
monitoramentos e encaminhados ao Centro de Recuperação de Animais Marinhos
(CRAM) geralmente são juvenis e devido à debilidade em que se encontram, são
extremamente suscetíveis a doenças oportunistas como a aspergilose (RUOPPOLO
et al., 2004). Esta predisposição é ainda agravada pelo próprio processo de
reabilitação, durante o qual os animais são mantidos em cativeiro com manejos
diários para hidratação, alimentação e administração de fármacos, procedimentos
estes que cursam com estresse do animal agravando a imunossupressão.
O freqüente aparecimento de casos suspeitos de aspergilose entre os
pingüins em reabilitação no CRAM instiga a pesquisa sobre a casuística desta
micose, bem como sobre a presença e o controle de fungos do gênero Aspergillus
nos locais de recuperação. Em vista desta realidade, o trabalho teve como objetivos:
determinar a freqüência de aspergilose em pingüins recebidos pelo Centro de
Recuperação de Animais Marinhos; isolar fungos do gênero Aspergillus spp. das
instalações utilizadas para a reabilitação de pingüins no CRAM; classificar a espécie
de Aspergillus isolada do ambiente e dos animais; realizar testes de suscetibilidade
“in vitro” de Aspergillus spp. frente a desinfetantes; e estabelecer protocolo de
12
desinfecção das instalações como medida de controle microbiológico no ambiente
onde os pingüins são mantidos para recuperação.
Com isso, espera-se determinar o diagnóstico definitivo e a freqüência de
aspergilose em pingüins no CRAM e interferir no ambiente de cativeiro reduzindo a
concentração de conídios de Aspergillus spp., minimizando a inalação destes
propágulos fúngicos pelos pingüins, e conseqüentemente reduzindo os casos de
aspergilose que interferem no processo de reabilitação destes animais.
2
R
EVISÃO DE
L
ITERATURA
2.1 Aspergillus spp.
O gênero Aspergillus foi assim designado no ano de 1729, pelo padre
micologista italiano Micheli, o qual fez uma alusão da micromorfologia do fungo com
o instrumento utilizado durante o culto católico para aspergir a água benta,
denominado aspersório, do latim aspergillium (RAPER; FENNELL, 1965; KLICH,
2002; LACAZ et al., 2002; SIDRIM; ROCHA, 2004). Este gênero pertence à sub-
divisão Deuteromycotina, classe Hyphomycetes, ordem Moniliales, família
Moniliaceae (LACAZ et al., 2002). As mais de 100 espécies descritas foram divididas
por Raper e Fennell (1965) em 18 grupos, os quais atualmente foram substituídos
por seis subgêneros, com uma ou mais seções, seguindo as normas do código
internacional de nomenclatura botânica (ABARCA, 2000; KLICH, 2002).
Aspergillus spp. são fungos ubíquos e anemófilos, com capacidade de suprir
sua necessidade nutricional facilmente através dos mais variados substratos devido
a capacidade de produção de grande número de enzimas, que se inserem em
diferentes rotas bioquímicas para assimilação final dos nutrientes. Estão
classificados entre os microrganismos mais abundantes, além de mundialmente
distribuídos, podendo ser isolados do solo, ar, água, alimentos, plantas, material em
decomposição e superfícies (RAPER; FENNELL, 1965; SIDRIM; ROCHA, 2004,
WARD et al, 2006).
Este gênero compreende fungos anamórficos que se reproduzem de forma
assexuada através de fialoconídios. Algumas espécies de Aspergillus possuem a
fase sexuada conhecida, podendo se propagar através de ascósporos. Estas
espécies são classificadas como teleomorfas, pertencem a sub-divisão
Ascomycotina, classe Ascomycetes, ordem Eurotiales, família Aspergillaceae, se
dividem em dez gêneros e recebem nomenclaturas distintas dos seus anamorfos,
como por exemplo, A. nidulans na fase sexuada passa a ser denominado Emericella
nidulans (KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002).
14
Morfologicamente, todas as espécies de Aspergillus possuem colônias
filamentosas que apresentam hifas septadas com aproximadamente 4µm de
espessura. A estrutura de frutificação, típica do gênero, é caracterizada por um
conidióforo com uma célula e uma dilatação no ápice chamada de vesícula, onde
se inserem as métulas em espécies bisseriadas, ou as fiálides em espécies
unisseriadas, as quais dão origem aos conídios (RAPER; FENNELL, 1965;
ABARCA, 2000; KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002; SIDRIM; ROCHA, 2004).
Para caracterização das espécies de Aspergillus, se faz necessário a
utilização de uma chave de identificação, onde são confrontadas as características
macro e micromorfológicas do fungo (RAPER; FENNELL, 1965; ABARCA, 2000;
KLICH, 2002). Macroscopicamente as colônias de Aspergillus spp. variam quanto à
textura, topografia, diâmetro, coloração do anverso e reverso, presença de
esclerócios, exsudato e pigmento solúvel. Microscopicamente as espécies podem
ser uni ou bisseriadas, com métulas e/ou fiálides que variam quanto à disposição na
superfície da vesícula, comprimento e diâmetro. Além destas características, a
vesícula varia em forma e tamanho, os conídios em forma, textura e diâmetro, e o
conidióforo em comprimento, textura e coloração. Algumas espécies ainda
apresentam células de Hülle, cleistotécios e ascósporos, dos quais devem ser
observadas características como forma, textura, coloração, tamanho e ornamentos
(RAPER; FENNELL, 1965; ABARCA, 2000; KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002;
SIDRIM; ROCHA, 2004).
O gênero Aspergillus além de desempenhar um papel essencial na natureza,
fazendo parte da reciclagem do carbono e do nitrogênio (LATGÉ, 2001), se destaca
positivamente no âmbito econômico, à medida que produz enzimas e substâncias
muito utilizadas nas indústrias alimentícias, químicas e farmacêuticas, como
amilases, proteases e ácido cítrico. Algumas espécies geram diversos metabólitos
com ação benéfica, como a “Lovastatina” produzida pelo A. terreus, utilizada por
humanos para redução do colesterol; a “Ciclosporina A” fármaco antineoplásico
produzido por esta mesma espécie, ou ainda, a “Anidulina”, rmaco antifúngico
produzido a partir do A. nidulans (KLICH, 2002; WARD et al, 2006).
Em contrapartida, os fungos do gênero Aspergillus podem ser causadores
de sérios prejuízos, afetando o setor agrícola antes e pós-colheita, e demonstrando
seu grande impacto na saúde humana e animal através da produção de micotoxinas
(micotoxicoses) e principalmente através da capacidade de infecção do organismo
15
causando a aspergilose, doença com uma ampla diversidade de apresentações
clínicas (KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002).
2.1.1 Fatores de patogenicidade
A patogenicidade de fungos do gênero Aspergillus, que determina a
capacidade de causar danos à saúde dos indivíduos, é multifatorial, provinda desde
fatores físico-estruturais a metabólicos. Muitos destes fatores ainda estão em estudo
e suas funções são apenas hipóteses, no entanto, outros possuem papel
comprovado no desenvolvimento da micose (LATGÉ, 1999, 2001).
Dentre os fatores de virulência físico-estruturais do gênero Aspergillus,
podem ser citados: o pequeno diâmetro dos conídios, que permite sua penetração
no trato respiratório inferior; a presença de proteínas hidrofóbicas e melanina na
parede, que conferem proteção a fagócitos; e a termotolerância, que permite sua
resistência e rápido crescimento na temperatura corporal do hospedeiro (LATGÉ,
1999, 2001). A espécie A. fumigatus se destaca neste contexto, por resistir e se
desenvolver em temperaturas acima de 55
o
C, apresentar crescimento rápido, e
ainda por possuir os conídios de menor diâmetro do gênero, com 2 a m (LATGÉ,
1999, 2001).
Em se tratando de patogenicidade por fatores metabólicos, a maioria dos
estudos com A. fumigatus, demonstram a participação de diversos componentes,
como as adesinas, as toxinas e as enzimas no desencadeamento da doença
(BLANCO et al., 1998; LATGÉ, 1999, 2001). As adesinas promovem a interação do
fungo com a célula do hospedeiro, em especial, os fatores de aderência do A.
fumigatus possuem afinidade pelo fibrinogênio, glicoproteína plasmática da cascata
de coagulação e das reações inflamatórias, e pela laminina que é o principal
componente estrutural da membrana basal pulmonar (BLANCO et al., 1998; LATGÉ,
1999).
Dentre as toxinas produzidas pelo fungo, estão as hemolisinas que são
responsáveis pela lise de eritrócitos; as ribonucleases que levam à destruição de
células; a fumagilina e principalmente a gliotoxina, responsáveis pela
imunossupressão do hospedeiro, através da redução funcional de macrófagos e
neutrófilos, da indução de apoptose de células do sistema imunitário, do bloqueio da
ativação de linfócitos e da inativação do sistema mucociliar (LATGÉ, 1999, 2001;
16
LEWIS et al., 2005; SHOHAM; LEVITZ, 2005). As aflatoxinas produzidas por A.
flavus e A. parasiticus, possuem ação hepatotóxica, carcinogênica, teratogênica e
mutagênica, e as ocratoxinas produzidas pelo A. ochraceus, apresentam ação
teratogênica e carcinogênica, tendo o tecido renal como principal sítio de atuação
(KLICH, 2002).
Dentre as enzimas, as proteases elastinolíticas do A. fumigatus, têm sido
consideradas de grande importância na virulência do agente, por degradar não
elastina, como também colágeno, laminina, fibrinogênio e outros componentes
principais da matriz pulmonar (BLANCO et al., 1998). As peptidases produzidas pelo
gênero Aspergillus, promovem degradação dos fatores humorais; as catalases e as
dismutases agem como antioxidantes durante a fagocitose; e as fosfolipases
danificam o tecido epitelial (LATGÉ, 1999, 2001).
2.2 Aspergilose
O termo aspergilose foi utilizado pela primeira vez por Fresenius, em 1850,
ao descrever a forma respiratória da doença em aves após o isolamento do A.
fumigatus. Esta micose, na forma pulmonar, foi uma das primeiras micoses viscerais
descritas na literatura médica (LACAZ et al., 2002).
Considerada oportunista, a aspergilose ocorre raramente como doença
primária em indivíduos imunocompetentes, e pode acometer a pele, os olhos, o trato
digestório e o Sistema Nervoso Central, porém a infecção geralmente se localiza no
trato respiratório como sítio primário, podendo se disseminar para outros órgãos
(LATGÉ, 1999; LACAZ et al., 2002; SIDRIM; ROCHA, 2004).
Das diversas espécies reconhecidas do gênero Aspergillus, cerca de 20 são
consideradas patogênicas, sendo o A. fumigatus o mais importante, e responsável
por 90 a 95% dos casos de aspergilose. Espécies como A. flavus, A. terreus, A.
niger e A. nidulans, também possuem potencial patogênico e ocasionalmente são
relatadas como agentes etiológicos da doença (SEVERO et al., 1997; LATGÉ, 1999;
ABARCA, 2000; STEVENS et al., 2000; KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002; SIDRIM;
ROCHA, 2004).
A aspergilose acomete uma grande variedade de animais, desde mamíferos
à alguns répteis, mas sua grande importância é observada em humanos e aves
17
tanto domésticas como silvestres (GEORGE, 1997; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003;
TELL, 2005).
Nos últimos 10 anos esta enfermidade adquiriu enorme importância na área
médica pelo aumento do número de indivíduos imunossuprimidos, devido aos
avanços nas cirurgias de transplantes e nos fármacos utilizados para tratamento de
pacientes oncológicos. A aspergilose invasiva, é considerada hoje em dia a segunda
micose mais freqüente em diagnósticos, e a maior causa de mortalidade em
pacientes imunossuprimidos, principalmente nos centros de tratamento de leucemia
e de transplante de medula óssea, e nas unidades de transplantes de órgãos sólidos
(LATGÉ, 1999; STEVENS et al., 2000; WANKE; LAZÉRA; NUCCI, 2000).
Em medicina veterinária, a aspergilose tem destaque especial na produção
avícola, sendo responsável por grandes perdas econômicas. Nestes
estabelecimentos, a aspergilose é considerada a infecção fúngica de maior
ocorrência, levando à altos índices de mortalidade, que podem ultrapassar 50% do
lote em aves jovens nos primeiros dias de vida, podendo também acometer
embriões no interior dos ovos (REDIG, 1993; KEARNS; LOUDIS, 2003; SIDRIM;
ROCHA, 2004; TESSARI et al., 2004; TELL, 2005). As aves silvestres e marinhas,
algumas com elevado valor ecológico, são especialmente suscetíveis à infecção por
Aspergillus spp., o que acarreta sérios prejuízos em zoológicos e centros de
reabilitação (CORK et al., 1999; GARCIA; BLANCO, 2000; MARTINÉZ;
CERECERO; CERVANTES, 2000; STONE; OKONIEWSKI, 2001; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
A aspergilose não é considerada contagiosa por transmissão horizontal e/ou
vertical, e a infecção ocorre através dos conídios infectantes, que se disseminam
pelo ar e penetram no organismo, principalmente por via inalatória (LATGÉ, 1999;
LACAZ et al., 2002; SIDRIM; ROCHA, 2004). Pesquisas ambientais indicam que o A.
fumigatus está presente em altas concentrações (1-100 conídios/m
3
) no ar, tanto de
ambientes internos como externos, demonstrando que todos os indivíduos inalam
centenas destes propágulos fúngicos por dia, os quais são eliminados pela resposta
imune inata do hospedeiro sadio, não causando dano algum ao organismo (LATGÉ,
1999, 2001, RIVERA; HOHL; PAMER, 2006).
A infecção fúngica com conseqüente desencadeamento da doença é
decorrente do tamanho do inóculo, e principalmente da imunossupressão do
hospedeiro que o torna incapaz de eliminar do organismo os conídios inalados.
18
Estes conídios penetram no trato respiratório inferior, germinam e formam hifas
iniciando uma invasão tecidual e endotelial, causando lesão, infarto hemorrágico e
trombose (LATGÉ, 1999; WANKE; LAZÉRA; NUCCI, 2000; SIDRIM; ROCHA, 2004;
MENDES-GIANNINI et al., 2005; SHOHAM; LEVITZ, 2005; RIVERA; HOHL;
PAMER, 2006). A germinação dos conídios e o crescimento das hifas do A.
fumigatus o ainda significativamente facilitados pela presença da albumina,
indicando que em hospedeiros com alta concentração desta proteína no soro, seja
pela administração exógena ou pelo desequilíbrio de proteínas plasmáticas, o fungo
consegue se desenvolver mais rapidamente facilitando o desencadeamento de uma
forma invasiva mais grave (RODRIGUES; ARAUJO; PINA-VAZ, 2005).
2.2.1 Resposta imune do hospedeiro
A primeira linha de defesa do hospedeiro ao fungo Aspergillus spp. são as
barreiras mecânicas, caracterizadas no trato respiratório pelo sistema mucociliar e o
reflexo de tosse (LATGÉ, 2001). Muitas proteínas e peptídeos secretados pelo
epitélio do trato respiratório, ou pelas células fagocíticas, possuem atividade
antimicrobiana além de imunomoduladora e participam da defesa inata contra esses
agentes pulmonares agressores, como lactoferrina, lisozima, defensina e proteínas
do surfactante (SHOHAM; LEVITZ, 2005; ROGAN et al., 2006).
Sob um ponto de vista geral, a resposta imune do hospedeiro contra
Aspergillus spp. é basicamente celular. Assim, os conídios que não são eliminados
pelas barreiras mecânicas e conseguem atingir o trato respiratório inferior, ativam
uma resposta inflamatória inespecífica, sendo eliminados pelas células fagocíticas
do trato respiratório, principalmente através de mecanismos não-oxidativos. Os
conídios que conseguem resistir à fagocitose germinam formando hifas, as quais
são destruídas através de mecanismos oxidativos, provenientes da degranulação de
neutrófilos com a liberação de enzimas líticas na superfície da estrutura fúngica
(LATGÉ, 1999; GAFA et al., 2005; SHOHAM; LEVITZ, 2005; SINGH; PATERSON,
2005).
As células dendríticas possuem um papel fundamental na modulação da
resposta imune contra a aspergilose. Esse efeito imunomodulatório está
determinado pela liberação de citocinas inflamatórias como TNF-
α, IL-6 e IL-1 no
sítio inicial da infecção, pela apresentação de antígenos aos linfócitos locais, e pela
19
internalização do agente, carreando-o até o baço e aos linfonodos regionais, para
apresentá-lo e transmitir a informação aos linfócitos T (LATGÉ, 2001; GAFA et al.,
2005; SHOHAM; LEVITZ, 2005; RIVERA; HOHL; PAMER, 2006). Estas células de
defesa específica (linfócitos T) por sua vez, são direcionados à uma resposta Th1
(imunidade celular), com produção de quimiocinas e citocinas, como IL-12, IL-18,
IFN-γ, TNF-α, GM-CSF, MIP-1, MIP-2 e MCP-1, para recrutar e ativar as células
inflamatórias, auxiliando na eliminação do agente (LATGÉ, 2001; GAFA et al., 2005;
SHOHAM; LEVITZ, 2005; RIVERA; HOHL; PAMER, 2006). Esse estímulo a Th1
ocorre na resposta contra conídios, no entanto, ao germinar e formar hifas uma
mudança no padrão de resposta ao agente, que passa a Th2, com produção de IL-4
e IL-10, as quais inibem a resposta celular facilitando a progressão da doença
(SINGH; PATERSON, 2005).
A resposta humoral também é ativada. As imunoglobulinas participam da
eliminação fúngica através da ativação do sistema complemento, o que resulta em
deposição de seus componentes na superfície do microrganismo, desencadeando
quimiotaxia e opsonização. No entanto esta linha de defesa não é a mais importante
na resposta contra aspergilose, tendo em vista que defeitos na imunidade humoral,
não aumentam a suscetibilidade do indivíduo à infecção por Aspergillus spp.
(SHOHAM; LEVITZ, 2005).
Desordens qualitativas e quantitativas da função fagocítica, são os fatores
de risco mais importantes na predisposição de indivíduos a aspergilose, sendo esta
suscetibilidade diretamente proporcional à severidade e duração da neutropenia. As
principais causas destas desordens nas células de defesa são neoplasias
(leucemias), quimioterapia e altas doses ou uso continuado de corticosteróides. Este
último acarreta redução da atividade de macrófagos e neutrófilos, com diminuição da
produção de oxidantes reativos e óxido nítrico, assim como supressão da produção
de citocinas da resposta Th1, como TNF-α e IL-1, que auxiliam na proteção contra a
aspergilose, e estimulam a produção de citocinas da resposta Th2 (HO; YUEN,
2000; SHOHAM; LEVITZ, 2005; SINGH; PATERSON, 2005).
A maior suscetibilidade das aves à aspergilose em comparação com os
mamíferos se inicialmente por características anatômicas como a falta de
epiglote, que facilita a passagem de partículas para o trato respiratório inferior, falta
de diafragma que resulta em ausência do reflexo da tosse, distribuição limitada de
20
epitélio ciliar ao longo do trato respiratório e presença de sacos aéreos, estruturas
ricas em oxigênio e pouco vascularizadas (BAUCK, 1994; TELL, 2005).
Em relação à resposta celular, alguns fatores também contribuem para maior
predisposição das aves à aspergilose respiratória, como a falta de macrófagos de
superfície para fagocitose de conídios de Aspergillus spp., e a substituição de
neutrófilos por heterófilos, que utilizam proteínas catiônicas, hidrolases e lisozimas
ao invés de mieloperoxidase e mecanismos oxidativos para destruição das hifas
fúngicas (TELL, 2005).
Outros fatores como transporte, superlotação, nutrição, ventilação pobre,
antibioticoterapia, administração de corticosteróides, doenças concomitantes e
irritantes respiratórios (ex.: amônia, fumaça, desinfetantes voláteis) são
considerados importantes e aumentam a suscetibilidade das aves à aspergilose
(BAUCK, 1994; TELL, 2005). A hipovitaminose A tem sua importância estabelecida à
medida que modifica o epitélio escamoso estratificado da região da siringe,
causando hipertrofia e hiperqueratose, que facilitam a colonização por conídios de
Aspergillus spp. (BAUCK, 1994).
2.2.2 Formas e Sinais Clínicos
Em humanos, a aspergilose respiratória pode determinar um processo
alérgico conhecido como aspergilose broncopulmonar alérgica, um processo fixo
caracterizado por granulomas intracavitários conhecidos como “bola fúngica”, e/ou
um quadro de aspergilose invasiva que geralmente é fatal (LATGÉ, 1999; STEVENS
et al., 2000; SIDRIM; ROCHA, 2004).
Em pequenos animais ocorre principalmente em cães, e acomete a cavidade
e seios nasais, determinando descarga nasal seropurulenta e destruição dos
cornetos nasais, que pode levar à despigmentação e erosão do focinho (GARCIA;
BLANCO, 2000; TELL, 2005). Os exemplares desta espécie acometidos geralmente
não apresentam uma imunossupressão sistêmica e, na maioria das vezes, as hifas
não invadem a mucosa, permanecendo uma infecção local (sino-nasal) sem
disseminação (PEETERS et al., 2006).
Abortos em eqüinos, ovinos e bovinos podem ser decorrentes de infecção
por Aspergillus spp., bem como mamite, ceratomicose, sinusite e comprometimento
de bolsa gutural (ANDREATTI FILHO, 2000, GANCEDO; GRANDES; DÍEZ, 2000;
21
GARCIA; BLANCO, 2000; CORBELLINI et al., 2003; MACHADO et al., 2005; TELL,
2005).
Em se tratando especificamente da aspergilose em aves, a apresentação
clínica pode ser diversa, dependendo do sítio anatômico inicial da infecção. A
doença pode ocorrer no cérebro levando à sinais clínicos neurológicos como ataxia
e torcicolo, na pele causando dermatite necrótica granulomatosa, e nos olhos
desencadeando ceratite geralmente unilateral. No entanto, o trato respiratório inferior
é o principal sítio anatômico da micose, levando à sinais como apatia, dispnéia,
ruídos respiratórios, alteração na vocalização e emaciação (REDIG, 1993; BAUCK,
1994; ANDREATTI FILHO, 2000; MARTINÉZ; CERECERO; CERVANTES, 2000;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003, TELL, 2005).
Nesta espécie, a doença pode ser classificada como aguda ou crônica e
localizada ou sistêmica. A forma aguda ocorre principalmente em aves domésticas
jovens, aves silvestres e marinhas, a partir da germinação de conídios em um órgão
vital, ou da formação de múltiplas lesões simultaneamente. Esta forma causa uma
rápida e massiva colonização fúngica, com formação de granulomas miliares e curso
clínico geralmente menor que uma semana, podendo ocorrer morte aguda em 48h.
a forma crônica acomete principalmente aves adultas e se caracteriza por
granulomas no trato respiratório que tendem a disseminação para órgãos
adjacentes, apresentando um curso clínico de semanas a meses de duração
(BAUCK, 1994; MARTINÉZ; CERECERO; CERVANTES, 2000; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
A siringe ou bifurcação da traquéia é um local freqüentemente acometido
pelo fungo, devido ao estreitamento do lúmen e ao padrão de turbulência do ar que
permite que os conídios escapem do fluxo expiratório (BAUCK, 1994). Esta forma
traqueal da aspergilose é caracterizada por lesão localizada (granulomas) ou pelo
acúmulo de secreção e restos necróticos na região da siringe levando à obstrução
parcial ou total da via rea, com dispnéia evidente e morte aguda (REDIG, 1993;
BAUCK, 1994; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
Em casos de aspergilose sistêmica, a disseminação fúngica geralmente
ocorre via sacos aéreos ou via hematógena, com a formação de trombos vasculares
contendo hifas fúngicas, e as lesões são comumente encontradas em trato
respiratório, fígado, serosa do trato gastrointestinal e vísceras abdominais, podendo
ou não ter sinais clínicos aparentes, como redução gradual da função respiratória,
22
plumagem eriçada, apatia e anorexia (REDIG, 1993; ABUNDIS-SANTAMARIA,
2003; KEARNS; LOUDIS, 2003; BEYTUT; ÖZCAN; ERGINSOY, 2004).
2.2.3 Diagnóstico
O diagnóstico definitivo da aspergilose respiratória é de difícil realização “in
vivo” devido à rápida evolução da doença. Muitas vezes não há sinais clínicos
aparentes, sendo frequentemente realizado diagnóstico pós-morte, através da
necropsia e colheita de amostras de tecidos para exame direto, cultura micológica e
exame histopatológico (REDIG, 1993; BLANCO et al., 1998; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; TESSARI et al., 2004).
No exame pós-morte, macroscopicamente as lesões da aspergilose são
caracterizadas por nódulos branco-amarelados, isolados ou agrupados variando de
um milímetro a mais de sete centímetros de diâmetro. Junto a estas lesões podem
ser observados exsudato amarelado caseoso, fibrose, colônias fúngicas brancas a
verde-azuladas, hiperemia e congestão pulmonar, espessamento de sacos aéreos e
hepatomegalia (BAUCK, 1994; ANDREATTI FILHO, 2000; BEYTUT; ÖZCAN;
ERGINSOY, 2004; TESSARI et al., 2004; TELL, 2005).
O exame histopatológico pode ser realizado pela coloração de Hematoxilina-
Eosina (HE), Gomori-Grocott (Prata) ou Ácido Periódico de Schiff (PAS), e os
achados histopatológicos de aspergilose em aves correspondem principalmente à
pneumonia granulomatosa, seguida de aerosaculite ngica, broncopneumonia,
micetomas traqueobrônquicos, e trombose com necrose aguda (BAUCK, 1994;
STEVENS et al., 2000; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
Nos cortes histológicos dos tecidos acometidos pelo fungo observam-se
granulomas com foco necrótico circundado de macrófagos e heterófilos, e em casos
crônicos há presença de células gigantes e cápsula de tecido conjuntivo (BAUCK,
1994; BEYTUT; ÖZCAN; ERGINSOY, 2004). Hifas hialinas, septadas e dicotômicas
com bifurcações em ângulo agudo (45º) podem ser visualizadas nos tecidos. No
lúmen das cavidades aeradas observa-se a presença de estruturas de frutificação
aspergilar completa, com conidióforos e numerosos conídios produzidos pelas
fiálides (BAUCK, 1994; STEVENS et al., 2000; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003;
BEYTUT; ÖZCAN; ERGINSOY, 2004). A presença da fase reprodutiva anamórfica
do fungo nos tecidos é um achado comum da aspergilose em aves, devido à
23
presença dos sacos aéreos cavernosos, a temperatura corporal e a sensibilidade
das aves à gliotoxina. Estes fatores promovem um ambiente ideal para germinação
fúngica, caracterizado por pouca vascularização, poucas células de defesa, e ainda
condições ideais de temperatura, oxigênio e nutrientes (TELL, 2005).
Os métodos mais utilizados para diagnóstico “in vivo” de aspergilose
respiratória em aves compreendem, juntamente com histórico e sinais clínicos,
exame direto, cultura fúngica, endoscopia e/ou sorologia, além dos exames
complementares como radiologia e hematologia (REDIG, 1993; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; TELL, 2005).
A colheita de amostra do trato respiratório de aves, para exame direto,
cultivo e isolamento ngico deve ser realizada sob anestesia, através de aspirado
transtraqueal, lavado traqueal ou bronco-alveolar (0,5 a 1ml/Kg de salina estéril),
sendo este último de grande valor para diagnóstico laboratorial devido a alta
especificidade da amostra (REDIG, 1993; BAUCK, 1994; STEVENS et al., 2000;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
O exame direto deve ser realizado com adição de hidróxido de potássio
(KOH) e/ou coloração de lactofenol azul de algodão dependendo da natureza da
amostra, para visualização das estruturas fúngicas. o cultivo micológico pode ser
realizado em meio ágar Sabouraud dextrose, acrescido de cloranfenicol, sem
cicloheximida, incubado por até sete dias com observação diária (BAUCK, 1994;
LACAZ, et al., 2002). A temperatura de incubação deve se assemelhar à
temperatura corporal do hospedeiro, mimetizando o ambiente em que o fungo
estava habitando, visto que este microrganismo se adapta às condições do
hospedeiro para garantir sua sobrevivência (TARRAND et al., 2005).
Contudo, a interpretação de um resultado positivo para Aspergillus spp. no
cultivo micológico deve ser realizada com muita cautela, à medida que este é um
fungo ubíquo considerado um dos principais contaminantes de laboratório, e que
pode estar presente na pele e no trato respiratório superior de todos animais sadios.
Portanto, exames complementares, como histopatologia, hematologia ou sorologia,
devem ser realizados concomitantemente, sempre que possível, para confirmação
do diagnóstico desta enfermidade (BAUCK, 1994; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
O hemograma das aves com aspergilose revela leucocitose, com heterofilia
em estágio inicial, monocitose com heterófilos tóxicos em estágios mais avançados
da doença, e linfopenia (REDIG, 1993; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS;
24
LOUDIS, 2003). Em infecções crônicas, anemia não regenerativa pode estar
presente, e a eletroforese das proteínas do soro pode detectar a presença de
inflamação crônica compatível com a enfermidade, caracterizada por
hiperproteinemia com hipergamaglobulinemia (BAUCK, 1994; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
Dentre os exames de imagem mais utilizados no auxílio ao diagnóstico de
aspergilose destacam-se a endoscopia, a radiologia e a tomografia
computadorizada. A endoscopia permite examinar, de imediato, a traquéia e os
sacos aéreos torácicos, sendo a presença de manchas esbranquiçadas de
elementos fúngicos nos tecidos, e a visualização de granulomas na siringe bastante
característica na doença. O exame endoscópico também é útil para monitoramento
da evolução da doença na ave após início do tratamento, assim como para colheita
de amostra clínica para exame direto e cultura (REDIG, 1993; BAUCK, 1994;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
Os achados radiológicos podem ser negativos, bem como demonstrar
aumento da radiopacidade assimétrica no trato respiratório e perda da definição da
parede dos sacos aéreos. Estas lesões são sugestivas de aspergilose, e nestes
casos em que alteração radiológica, o prognóstico da doença é desfavorável e
geralmente não tratamento eficiente (REDIG, 1993; STEVENS et al., 2000;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003).
Na medicina humana, a tomografia computadorizada é muito utilizada e
caracteriza um excelente método complementar de diagnóstico, demonstrando
sinais sugestivos de aspergilose tanto em estágios iniciais como em estágios tardios
da doença. No entanto, este exame apresenta um alto custo não sendo atualmente
viável para utilização de rotina em aves (WANKE; LAZÉRA; NUCCI, 2000).
Sorologicamente o teste de ELISA é indicado e muito utilizado para
diagnóstico da aspergilose em aves silvestres e marinhas, detectando anticorpos
uma semana pós-infecção pelos conídios, e semanas antes da presença de
qualquer sinal clínico da micose. Os títulos de anticorpos começam a declinar
conforme ocorre a remissão da doença, de duas a três semanas de tratamento,
contudo amostras seriadas podem determinar a duração do tratamento e monitorar a
evolução deste. A desvantagem deste teste é que o resultado pode demorar até
uma semana, e que a grave imunossupressão do paciente pode determinar
25
resultados falso-negativos (REDIG, 1993; BAUCK, 1994; STEVENS et al., 2000;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
Diversos estudos têm sido realizados na tentativa de estabelecer o
diagnóstico precoce desta enfermidade, com testes baseados na identificação de
antígenos ou metabólitos fúngicos em amostras clínicas (SINGH; PATERSON, 2005;
TELL, 2005). Um dos antígenos mais estudados é a galactomanana, componente da
parede celular de fungos do gênero Aspergillus, liberado na circulação sanguínea
durante o crescimento fúngico nos tecidos do hospedeiro. Este antígeno pode ser
detectado em diferentes amostras clínicas, como soro, fluido cérebro-espinhal,
lavado bronco-alveolar e urina, apresentando alta sensibilidade e especificidade. A
desvantagem é a sua rápida eliminação do sangue circulante pela formação de
complexos imunes e ainda por endocitose pelas células de kupffer no fígado
(BLANCO et al., 1998; SINGH; PATERSON, 2005).
As técnicas moleculares também têm sido estudadas na tentativa de
estabelecer o diagnóstico precoce da aspergilose, através da amplificação de
seqüências específicas de DNA ou de RNA do fungo a partir de diferentes amostras
clínicas, como sangue, urina, lavado bronco-alveolar, entre outros. No entanto,
algumas desvantagens são descritas como contaminação da amostra devido à
característica anemófila deste gênero fúngico e reação cruzada com outros fungos
filamentosos, resultando em falso-positivos (BLANCO et al., 1998; LOEFFLER et al.,
2001).
Recentemente, Beytu, Özcan e Erginsoy (2004) comprovaram a eficácia da
imuno-histoquímica com o uso de anticorpo monoclonal para diagnóstico de
aspergilose em casos atípicos desta micose em aves, diferenciando-a de outras
doenças causadas por fungos filamentosos como as zigomicoses ou fusariomicoses.
E ainda, Lewis et al. (2005) comprovaram a presença da gliotoxina em soro de
animais experimentalmente infectados com A. fumigatus, e em 80% dos humanos
com aspergilose invasiva estudados, sugerindo que esta pode vir a ser uma
ferramenta útil para o diagnóstico da micose.
Apesar de muitos métodos em estudo, ainda não existe um teste que realize
o diagnóstico de aspergilose precocemente, com alta especificidade e alta
sensibilidade. Este teste seria extremamente útil, à medida que eliminaria
tratamentos desnecessários e aumentaria a eficácia dos tratamentos realizados
(BLANCO et al., 1998).
26
2.2.4 Tratamento e Prevenção
O tratamento eficaz da aspergilose é difícil de ser efetuado, devido ao
estágio avançado em que a doença normalmente é diagnosticada e à característica
progressiva da enfermidade. A terapia deve ser feita a partir da remoção cirúrgica da
lesão, quando possível, associada ao emprego de fármacos antifúngicos, sendo
geralmente efetiva para a forma localizada e ineficaz em casos de aspergilose
disseminada (REDIG, 1993; BAUCK, 1994; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
Em aves de produção, o tratamento individual não é realizado devido à
relação custo-benefício o compensatória, porém em algumas aves marinhas e
silvestres em cativeiro a terapia é viável, sendo preconizada a remoção cirúrgica do
aspergiloma e/ou de administração de antifúngicos (BAUCK, 1994; ROCHETTE;
ENGELEN; BOSSCHE, 2003).
Os fármacos antifúngicos para aves podem ser administrados por
nebulização, via oral, intratraqueal, e/ou endovenosa, podendo ser utilizados
diversas substâncias ativas isoladamente, ou de preferência associadas. A
nebulização com antifúngicos é indicada no tratamento da aspergilose respiratória,
de três a quatro vezes por dias durante 10-15 minutos por sessão, e deve ser
continuada por no mínimo três dias após a cura clínica (BAUCK, 1994).
Esta terapia inalatória é realizada principalmente com anfotericina B ou
ainda com enilconazol. Ambos os fármacos possuem também uma excelente
atividade antifúngica por contato direto via intratraqueal, e a anfotericina B ainda
pode ser administrada por via endovenosa ou diretamente no saco aéreo infectado.
Esta droga em aves é eliminada mais rapidamente e apresenta menor toxicidade
quando comparada com os mamíferos (REDIG, 1993; BAUCK, 1994; ABUNDIS-
SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003, ROCHETTE; ENGELEN;
BOSSCHE, 2003). Por via oral, o itraconazol é o antifúngico mais utilizado e
considerado o medicamento de eleição para terapia da aspergilose em aves,
demonstrando bons resultados e raramente apresentando efeitos colaterais e
reações adversas (BAUCK, 199; KEARNS; LOUDIS, 2003)
Apesar dos fármacos antifúngicos estarem padronizados para aves tanto
quanto à dosagem, como quanto à duração do tratamento e via de administração, na
maioria dos casos a terapia não é eficaz, devido a inúmeros fatores, especialmente
àqueles ligados à suscetibilidade do hospedeiro, sendo a prevenção a melhor forma
27
de controle da aspergilose nesta espécie (ANDREATTI FILHO, 2000; FOWLER;
FOWLER, 2001).
Em hospitais humanos, a prevenção da aspergilose é realizada nas áreas
críticas, ou seja, áreas de internação de pacientes de alto-risco, através do controle
da temperatura, umidade e higiene, sendo ainda preconizado o uso de filtros de ar
de alta-eficiência (HEPA), ambientes selados, ventilação com pressão positiva, e
freqüente trocas de ar. Estas medidas são realizadas para que seja mantida uma
contagem de no máximo 5 UFC/m
3
de Aspergillus, com a quantidade desejável de
0,1 UFC/m
3
nestes locais (MORRIS et al., 2000; AFONSO et al., 2004).
Nos mais distintos locais de cativeiro de animais, principalmente de aves,
desde aviários a zoológicos e centros de recuperação, a presença de matéria
orgânica é inevitável, sendo crucial para a prevenção da aspergilose nestes
ambientes, um programa disciplinado e específico de limpeza, higiene e desinfecção
constantes das instalações e equipamentos, visando a manutenção da qualidade do
ar que minimiza a proliferação fúngica e o número de conídios aos quais o animal
está sendo exposto (BAUCK, 1994; CORK et al., 1999; KEARNS; LOUDIS, 2003;
TESSARI et al., 2004).
Dentre as substâncias químicas eficazes mais utilizadas na desinfecção de
ambientes avícolas eso enilconazol, sob a forma de aerossóis e fumigação, e os
produtos a base de fenol e amônia quaternária por fricção mecânica ou pulverização
(ROCHETTE; ENGELEN; BOSSCHE, 2003; SANCHEZ; GARRET; SANCHEZ,
2006).
O monitoramento do ambiente quanto à presença de Aspergillus deve ser
realizado rotineiramente, com exames da qualidade do ar através de
aerobiocoletores ou pela técnica de sedimentação, com periodicidade mínima
quinzenal (ANDREATTI FILHO, 2000). As técnicas de colheita de ar por métodos
volumétricos, apesar de requererem aparelhos de alto custo e pouca praticidade,
conferem resultados mais fidedignos que permitem a contagem de UFC/m
3
,
enquanto que os métodos não-volumétricos, como a técnica de sedimentação, são
práticos e de baixo custo, porém resultam em análise somente qualitativa do ar, e
cujo resultado sofre interferência de diversos fatores ambientais, como turbulência e
velocidade do vento (MORRIS et al., 2000; AFONSO et al., 2004).
O resultado dos exames da qualidade do ar serve como indício da
contaminação ambiental, porém, mesmo que apresentem valores dentro dos
28
parâmetros desejados não descartam nunca a necessidade de medidas de controle
do fungo, visto que fornecem dados microbiológicos momentâneos que facilmente
se modificam caso não haja uma vigilância constante, devido a característica
anemófila e ubíqua de alguns microrganismos como os fungos do gênero Aspergillus
(MORRIS et al., 2000).
Além da manutenção da qualidade do ar, alguns autores sinalizam ainda, a
possibilidade da imunoprofilaxia nos indivíduos suscetíveis, assim, diversos estudos
têm sido realizados na elaboração de vacinas contra a aspergilose, com inúmeros
antígenos de Aspergillus spp. administrados por diferentes vias, desde intranasais a
endovenosas. Apesar de alguns resultados serem insatisfatórios, muitos são
promissores na estimulação da resposta imune para prevenção da micose
(RICHARD et al., 1982; RICHARD et al., 1984; RICHARD; PEDEN; SACKS, 1991;
BAUCK, 1994; GRACZYK et al., 1998; CENCI et al., 2000; STEVENS, 2004).
2.3 Pingüins
Os pingüins pertencem a Ordem Sphenisciformes que contem uma única
família, Spheniscidae, dividida em seis gêneros com 17 espécies. Essas aves
marinhas habitam o hemisfério Sul, mas apesar de serem consideradas um símbolo
Antártico, a maioria das espécies se distribui nas ilhas subantárticas e costa sul da
América do Sul (SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006). São aves adaptadas ao
mergulho, com corpo fusiforme, sem ossos pneumáticos e com asas diferenciadas
em nadadeiras, chamadas de aletas. Para termorregulação, além de uma camada
espessa de tecido adiposo no subcutâneo, apresentam peculiaridades do sistema
circulatório que auxiliam nas trocas de calor (FOWLER; FOWLER, 2001).
Atualmente, 10 das 17 espécies encontram-se na lista vermelha da União
Internacional de Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN),
classificadas como vulnerável ou até mesmo ameaçadas de extinção (IUCN, 2006).
Em especial o pingüim-de-magalhães (S. magellanicus) se destaca em
nosso contexto, pela sua distribuição e rota migratória, que permitem o freqüente
aparecimento de exemplares desta espécie durante o inverno no litoral do Rio
Grande do Sul (PETRY; FONSECA, 2002, SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006).
Os pingüins-de-magalhães se reproduzem na costa da Argentina, Chile e
Ilhas Malvinas durante os meses de setembro a março, e posteriormente migram em
29
direção ao Brasil seguindo uma corrente de água fria vinda das ilhas em busca de
alimento, percorrendo áreas de intenso tráfego de petróleo (Fig.1) (GARCIA-
BORBOROGLU et al., 2006; SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006). Durante este
período de migração de aproximadamente sete meses, muitos exemplares são
contaminados ao cruzar com manchas de óleo nos mares, o que lhes confere a
perda da impermeabilidade das penas e consequentemente uma hipotermia,
levando-os para o litoral. Em terra firme estes animais não obtém alimento
ocorrendo um agravamento do quadro geral que cursa com desnutrição
(hipoglicemia e hipoproteinemia) e desidratação (MAZET et al., 2002).
T
r
ó
p
i
c
o
d
e
C
a
p
r
i
c
ó
r
n
i
o
ARICA
DO
SUL
Figura 1 Distribuição das colônias reprodutivas de Pingüins-de-magalhães e
correntes marítimas que auxiliam sua rota migratória.
Fonte: CRAM
Esta espécie de pingüins não está ameaçada de extinção nem classificada
como vulnerável, no entanto, em função da poluição dos mares e da pesca
comercial que acarreta escassez de alimento, está atualmente considerada como
“quase ameaçada” pela IUCN. Isto porque sua população tem diminuído
drasticamente nas últimas décadas, demonstrando um declínio de 76% da
população total nas Ilhas Malvinas desde o período de 1989-1990 a 2001-2002, e
ainda um declínio anual de 1,1% da população de pingüins adultos e 6% da
população de juvenis na costa Argentina (GANDINI et al., 1994; BINGHAM, 2002;
IUCN, 2006), comprovando que este cenário pode mudar em alguns anos.
Nas praias brasileiras, desde o Rio de Janeiro ao litoral gaúcho, também são
encontradas anualmente dezenas a centenas de exemplares de pingüins-de-
30
magalhães contaminados por petróleo e debilitados (Fig.2) (PETRY; FONSECA,
2002; GARCIA-BORBOROGLU et al., 2006; SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006). Em
estudos realizados no período de 1985 a 1989 e no ano de 1998, a quantidade de
pingüins oleados correspondeu a 29% (82/282) e 55% (77/140), respectivamente,
dos exemplares de S. magellanicus encontrados na praia do Cassino, costa do Rio
Grande do Sul (BARBIERI; VOOREN, 1993; SILVA-FILHO comunicação pessoal
1
).
Figura 2 Pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) juvenil contaminado
por petróleo encontrado na praia do Cassino, RS, Brasil.
Na tentativa de frear as conseqüências destes danos causados pelos
homens, diversas organizações têm sido formadas no sentido de auxiliar a
reabilitação dos animais. Reabilitar significa restituir a um indivíduo sua capacidade
perdida, e proporcionar sua liberação e reintegração satisfatória ao ambiente natural.
Esta tarefa começou a ser realizada na América do Sul no ano de 1980, com um
grupo formado na Argentina (Mar del Plata), e hoje em dia é realizada por Centros
de Reabilitação que desempenham um papel importante na conservação e
preservação de diferentes espécies animais, atuando com infra-estrutura específica
e profissionais capacitados na área (GARCIA-BORBOROGLU et al., 2006).
1
Informação recebida por Rodolfo Pinho da Silva Filho, médico veterinário responsável pelo CRAM e membro
da International Fund for Animal Welfare (IFAW), em Rio Grande, em dezembro de 2006.
31
2.3.1 Centros de Reabilitação
Entre as cidades de Salvador no Brasil (12º58’S, 38º29’W) e Santo Antônio
do Oeste na Argentina (40º43’S, 64º55’W) existem 6.800km de costa que contam
atualmente com 25 grupos desempenhando a tarefa de reabilitação de pingüins
(Fig.3). Destes, dois estão situados ao norte do Rio de Janeiro, 11 entre o Rio de
Janeiro e Santos, apenas cinco entre Santos (Brasil) e Uruguai, e sete entre Uruguai
e Argentina (Mar del Plata) (GARCIA-BORBOROGLU et al., 2006).
Figura 3 Localização de alguns centros de reabilitação de animais marinhos na
América do Sul.
Fonte: IBRRC, 2006. http://www.ibrrc.org/penguin_network.html.
Na cidade de Rio Grande (32º03’S, 52º08’W) foi projetado e estruturado o
Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) para ser referência no sul do
Brasil em atividades de reabilitação da fauna marinha com ênfase para a
despetrolização. Desde a sua construção em 1996, o CRAM recebeu mais de 500
pingüins-de-magalhães, além de dois exemplares de pingüim-rei (Aptenodytes
patagonica) e dois pingüins de penacho amarelo (Eudyptes chrysocome) (Fig.4).
Nos últimos dois derrames registrados na costa do Rio Grande do Sul, em 1998 e
2002, aproximadamente 140 e 115 aves marinhas, respectivamente, foram
encaminhadas ao CRAM, que atingiu um percentual de reabilitação superior a 70%
(RUOPPOLO et al., 2004; SILVA-FILHO comunicação pessoal
1
).
1
Informação recebida por Rodolfo Pinho da Silva Filho, médico veterinário responsável pelo CRAM e membro
da International Fund for Animal Welfare (IFAW), em Rio Grande, em dezembro de 2006.
Bra
z
il
Uruguay
Argentina
FMM
MDP Aq
Profauna
CRAM
CEM
Aquário
Municipal
de Santos and
Aq. Ubatuba
GEMM
Lagos/ENSP/FIOCRUZ
32
Figura 4 – Exemplares de três diferentes espécies de pingüins no CRAM. (A)
pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) adulto e (a) juvenil; (B) pingüim
de penacho amarelo (Eudyptes chrysocome); (C) pingüim-rei (Aptenodytes
patagonica).
As instalações do CRAM (Fig. 5) estão localizadas à beira da Lagoa dos
Patos, e compreendem uma área de 308m² que abrange um prédio com ambulatório
e unidade de despetrolização, e uma área externa onde estão localizados dois
tanques com 2,5 metros de profundidade e capacidade para 180.000 litros de água,
além de quatro áreas secas de piso de cimento, duas com 36m
2
e outras duas com
52m
2
. Os tanques são equipados com um sistema de circulação de água através de
bombas que permitem a renovação de até 100% da água em 24 horas retirando-a
do estuário para os tanques e drenando-a no sentido inverso.
Figura 5 Vista aérea das instalações do CRAM, à beira da Lagoa dos Patos Rio
Grande, RS, Brasil.
A
B
C
a
a
33
O protocolo utilizado pelo CRAM para reabilitação de pingüins, bem como
outros protocolos estabelecidos para utilização pelos profissionais que atuam nesta
área, detêm um item de grande importância relacionado à prevenção da aspergilose.
Este foi estruturado com base nos requisitos para manutenção de aves marinhas em
zoológicos e aquários, e após comprovação da importância desta doença através
dos resultados de necropsias de aves em centros de reabilitação (DIEBOLD;
BRANCH; HENRY, 1999; CARRASCO et al., 2001; MAZET et al., 2002; SANCHEZ;
GARRET; SANCHEZ, 2006; SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006).
2.3.2 Aspergilose em pingüins
A aspergilose é uma enfermidade rara em pingüins de vida livre, que
apresenta pouca relevância nas colônias reprodutivas conhecidas como
pingüineiras. Em um estudo realizado por Hocken (2000) na Nova Zelândia, esta
micose foi relatada como responsável por sete mortes de um total de 213 pingüins-
azul (Eudyptula minor) analisados, correspondendo a uma pequena taxa de 3,3%
dos animais.
No entanto, esta doença caracteriza uma situação bem distinta quando
relacionada a locais de cativeiro destas aves marinhas. Nestes estabelecimentos, a
aspergilose já foi descrita em diversas espécies de pingüins, e geralmente ocorre em
decorrência de fatores estressantes, como mudança de ambiente e manejo, injúria
ou outras doenças concomitantes, que conferem a estas aves uma alta
suscetibilidade à infecção primária por Aspergillus spp. (REDIG, 1993; GRACZYK;
COCKREM, 1995; ROCHETTE; ENGELEN; BOSSCHE, 2003; SILVA-FILHO;
RUOPPOLO, 2006).
A predisposição dos pingüins a aspergilose é ainda agravada pelo esforço
físico proveniente da sua migração que desencadeia um significativo grau de
imunossupressão, além das peculiaridades pertencentes às aves, como anatomia e
fisiologia do trato respiratório e resposta imune celular. Outras situações
frequentemente encontradas em centros de reabilitação que aumentam a
imunossupressão dos pingüins e consequentemente aumentam a chance de
infecção por Aspergillus spp. é o acometimento por petróleo e o uso de
corticosteróides e antibióticos (RUSSEL; HOLCOMB; BERKNER, 2003; TELL,
2005).
34
88,9%
87,5%
79%
52,4%
50%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Mortalidade
Zoo Michigan Zoo India IBRRC Zoo Londres Zoo Escócia
Cativeiro
Assim, nos pingüins mantidos em zoológicos, aquários ou centros de
reabilitação a aspergilose é comumente associada a altas taxas de mortalidade,
acarretando sérios prejuízos ecológicos e econômicos para os estabelecimentos
(REDIG, 1993; GRACZYK; CRANFIELD, 1995; FOWLER; FOWLER, 2001;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003; SANCHEZ; GARRET;
SANCHEZ, 2006; SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006). Esta situação é documentada
desde a década de 40 em zoológicos (AINSWORTH; REWELL, 1949), e teve sua
importância reconhecida a partir dos anos 70 em centros de reabilitação, após o
primeiro grande acidente ecológico com derramamento de petróleo registrado
(“Oregon Standard”, São Francisco, Califórnia, EUA), que acometeu
aproximadamente 7.000 aves das quais 6.700 morreram, sendo a maioria por
aspergilose (RUSSEL; HOLCOMB; BERKNER, 2003; IBRRC, 2006).
A Figura 6 demonstra dados referentes a estudos realizados em zoológicos
na Inglaterra (Londres e Escócia), Índia (Nova Delhi) e nos EUA (Michigan)
publicados respectivamente, nos anos de 1949, 1990, 1977 e 2003, que descrevem
a mortalidade por aspergilose em distintas espécies, como pingüins-de-magalhães
(S. magellanicus), pingüins Gentoo (Pygoscelis papua), pingüim de barbicha
(Pygoscelis antarctica) e pingüim-rei (Aptenodytes patagonica) (AINSWORTH;
REWELL, 1949; KHAN et al., 1977; FLACH; STEVENSON; HENDERSON, 1990;
KITTLE, 2003). Ainda nesta mesma figura está representada a taxa de mortalidade
de aves marinhas por aspergilose, em um centro de reabilitação (International Bird
Rescue Research Center - IBRRC), após desastre ecológico com derramamento de
petróleo na costa de Washington (EUA) no ano de 1991 (RUSSEL; HOLCOMB;
BERKNER, 2003).
Figura 6- Taxas de mortalidade relacionadas à infecção por fungos do gênero
Aspergillus em pingüins em distintos locais de cativeiro.
35
A principal forma clínica da aspergilose em pingüins é caracterizada por uma
enfermidade difusa do trato respiratório inferior, com comprometimento de sacos
aéreos e pulmões. A forma traqueal, bem como a disseminação para órgãos como
fígado, serosa do trato digestório e rins é comum, e o animal apresenta sinais
clínicos como dispnéia, emaciação, letargia, anorexia e/ou morte aguda
(AINSWORTH; REWELL, 1949; KHAN et al., 1977; CARRASCO et al., 2001;
KEARNS; LOUDIS, 2003).
O conhecimento da alta suscetibilidade desta espécie, e de sua
predisposição em adquirir a enfermidade frente a fatores estressantes deve ser
levado em consideração para realização do diagnóstico presuntivo precocemente
(REDIG, 1993; ROCHETTE; ENGELEN; BOSSCHE, 2003).
Apesar do tratamento eficaz da aspergilose em pingüins ter sido descrito
por Kummerfeld e Temme (1985 apud REDIG, 1993) com o uso de cetoconazol, e
por Shannon (1992) com a utilização do itraconazol, sua aplicabilidade é
questionável tendo em vista que apresenta muitos insucessos terapêuticos, e que
muitos animais apresentam morte súbita sem sinais clínicos aparentes.
Em vista desta realidade, medidas de prevenção da aspergilose são
fundamentais para manutenção de pingüins em cativeiro. Dentre estas medidas
destaca-se o controle da temperatura e da ventilação adequada (aproximadamente
15 trocas de ar por hora), da limpeza e higiene do local com retirada da matéria
orgânica, e da desinfecção do ambiente (REDIG, 1993; ANDREATTI FILHO, 2000;
ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS; LOUDIS, 2003; MAZET et al., 2002;
RUSSEL; HOLCOMB; BERKNER, 2003; SANCHEZ; GARRET; SANCHEZ, 2006;
SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006).
Estas medidas utilizadas para minimizar a proliferação fúngica e o número
de conídios aos quais os animais estão sendo expostos, são freqüentemente
adotadas em zoológicos, porém em relação a centros de reabilitação o difíceis de
serem realizadas. Isto porque em muitos casos o número de animais enfermos
excede a capacidade das instalações existentes, o que acaba acarretando um maior
acúmulo de matéria orgânica e uma maior dificuldade no controle das condições
ambientais (RUSSEL; HOLCOMB; BERKNER, 2003).
Para facilitar o controle do microrganismo, o piso das instalações do cativeiro
de pingüins, e o fundo das gaiolas de contenção não devem ser porosos, e sim de
material de fácil limpeza e desinfecção. E ainda, esta desinfecção deve ser realizada
36
semanalmente em todas as superfícies das instalações com rotatividade periódica
de agentes químicos, evitando o desenvolvimento de mecanismos de resistência
pelo fungo (SANCHEZ; GARRET; SANCHEZ, 2006).
Concomitantemente, é preconizada a redução máxima do estresse através
da mínima manipulação da ave, manutenção do ambiente tranqüilo, e colocação de
barreira visual ao redor das gaiolas de contenção (REDIG, 1993; ANDREATTI
FILHO, 2000; FOWLER; FOWLER, 2001; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003; KEARNS;
LOUDIS, 2003). Além disso, a nutrição adequada dos animais é de extrema
importância, a fim de evitar alterações no trato respiratório que podem predispor a
infecção por Aspergillus spp. (FOWLER; FOWLER, 2001).
Devido à suscetibilidade desta espécie à aspergilose, os protocolos de
reabilitação preconizam também o uso de antifúngico profilático, principalmente em
pingüins juvenis, e/ou muito debilitados (abaixo do peso de referência para espécie
ou petrolizado), com administração de itraconazol (15-25mg/Kg VO, SID) por
aproximadamente uma semana (MAZET et al., 2002; RUSSEL; HOLCOMB;
BERKNER, 2003; RUOPPOLO et al., 2004; SILVA-FILHO; RUOPPOLO, 2006). Este
mesmo procedimento está descrito nos protocolos de manutenção de pingüins em
zoológicos, porém nestes locais a administração do antifúngico profilático é
recomendada em períodos de pré e pós-transferência de animais (DIEBOLD;
BRANCH; HENRY, 1999).
Em zoológicos é indicada ainda, a realização de um programa de
monitoramento sorológico trimestral, pelo teste de ELISA para as diferentes
espécies de pingüins, com a finalidade de detectar potenciais problemas de
aspergilose precocemente, e assim obter uma maior chance de sucesso terapêutico
(REDIG, 1993; DIEBOLD; BRANCH; HENRY, 1999).
3.1 A
RTIGO
“Contaminação do ar quanto ao gênero Aspergillus em ambiente de
reabilitação de animais marinhos”
Artigo sob as normas da revista “Ciência Animal Brasileira”
38
Contaminação do ar quanto ao gênero Aspergillus em ambiente de reabilitação
de animais marinhos*
Melissa Orzechowski Xavier
1
, Isabel Martins Madrid
1
, Lorena Leonardo de Souza
1
,
Marlete Brum Cleff
2
, Ângela Leitzke Cabana
1
, Luiza da Gama Osório
1
, Rodolfo Pinho
da Silva Filho
3
, Mário Carlos Araújo Meireles
1
.
1
Depto. de Veterinária Preventiva, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas,
Campus Universitário, s/nº, CEP: 96010-900.
2
Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul.
3
Médico Veterinário, Centro de Recuperação de Animais Marinhos de Rio Grande, Fundação
Universidade Federal de Rio Grande.
Resumo
Espécies fúngicas do gênero Aspergillus são frequentemente associadas
com alta mortalidade de aves marinhas em cativeiro. Tendo em vista que a
aspergilose geralmente é adquirida pela inalação dos propágulos fúngicos presentes
no ar, o estudo objetivou avaliar a qualidade do ar quanto às espécies de
Aspergillus, das instalações internas de um centro de reabilitação de animais
marinhos que frequentemente recebe pingüins, gaivotas, albatrozes e petréis
acometidos por alguma moléstia. Oitenta e um dias de colheitas foram realizados
distribuídos em um período de aproximadamente dois anos, através da exposição de
placas de Petri contendo Agar Sabouraud dextrose acrescido de cloranfenicol no
ambiente, as quais foram posteriormente incubadas a 25ºC. As colônias
identificadas como pertencentes ao gênero Aspergillus, foram classificadas quanto à
espécie através da avaliação macro e micro morfológica associada a uma chave de
identificação. Foram obtidos 43 isolados classificados em sete espécies distintas,
sendo A. fumigatus a predominante correspondendo a 27,9%, seguida de A. niger,
A. flavus e outras quatro espécies de Aspergillus sp., demonstrando que as aves
marinhas estão expostas a espécies fúngicas com potencial patogênico, o que
enfatiza a necessidade de um controle microbiológico no ambiente onde são
mantidos os animais em cativeiro.
Palavras-chave
Aspergillus, espécies, ambiente interno, aves marinhas.
Summary
Aspergillus species are often associated with high rates of seabirds mortality
in captivity. Showing that aspergillosis is frequently acquired by inhalation of fungal
conidia presents in the air, this study evaluated the air quality associated to
Aspergillus species, on the indoor environment of a rehabilitation center of marine
animals that continuous receive injuried’s penguin, seagull, albatross and petrel.
* Parte integrante da Dissertação de Mestrado da primeira autora
39
Eighty one samples were collected in around two years, by the exposition of Petri
dishes with Agar Sabouraud dextrose added cloranphenicol that were incubated in
25ºC. The fungal colonies identified as Aspergillus were classified in species by the
evaluation of the macro and micro morphology associated to a classification key. It
was obtained seven different species totalizing 43 isolates, and the A. fumigatus was
the predominant corresponding to 27,9% followed by A. niger, A. flavus and four
other Aspergillus sp., demonstrating that the seabirds are exposed to pathogenic
species of Aspergillus, what emphasize the necessity of a microbiology control of the
indoor captivity environment.
Keywords
Aspergillus, species, indoor, seabirds.
Introdução
Os microrganismos do gênero Aspergillus estão distribuídos mundialmente e
são considerados os fungos filamentosos anemófilos de maior importância quanto à
contaminação do ar de recintos fechados. Este gênero na forma anamorfa pertence
à divisão Eucomycota, subdivisão Deuteromicotina, classe Hyphomycetes, ordem
Moniliales, família Moniliaceae e apresenta mais de cem espécies, as quais são
identificadas conforme características morfológicas, sendo atualmente divididas em
seis subgêneros, Aspergillus, Fumigati, Ornati, Clavati, Nidulantes e Circumdati, com
uma ou mais seções (ABARCA, 2000; KLICH, 2002; LACAZ et al., 2002).
Todas as espécies de Aspergillus formam colônias filamentosas de
diferentes características que microscopicamente apresentam hifas septadas de
aproximadamente 4µm de diâmetro, e estruturas de frutificação típica formada por
célula-pé, conidióforo, vesícula, métula e/ou fiálide que promovem a reprodução
assexuada do fungo através da produção de fialoconídios. Algumas espécies de
Aspergillus apresentam a forma sexuada caracterizada pela presença de
cleistotécios, ascos e ascósporos. Nestes casos, o fungo é classificado como
teleomorfo e pertencente a um dos oito gêneros Emericella, Eurotium,
Chaetosartorya, Neosartorya, Petromyces, Hemicarpenteles, Sclerocleista ou
Fennellia (RAPER & FENNELL, 1965; ABARCA, 2000; KLICH, 2002; LACAZ et al.,
2002).
Cerca de 20 espécies do gênero Aspergillus são consideradas patogênicas,
com capacidade de causar a aspergilose, doença freqüentemente associada à alta
mortalidade de pingüins e outras aves marinhas em cativeiro. Esta micose
geralmente é adquirida por inalação dos propágulos fúngicos presentes no
40
ambiente, podendo caracterizar uma infecção nosocomial (AINSWORTH &
REWELL, 1949; KHAN et al., 1977; FLACH et al., 1990; BRETAGNE et al., 1997;
CORK et al., 1999; MARTINÉZ, et al., 2000; LAIR-FULLERINGER, et al., 2003). A
suscetibilidade das aves a esta micose é determinada, principalmente, por
peculiaridades do seu trato respiratório, como ausência de diafragma e presença de
sacos aéreos que proporcionam um excelente local de colonização fúngica, com
ótimas condições de temperatura e oxigênio e pouca vascularização (TELL, 2005).
Em centros de recuperação de animais marinhos os quais recebem
constantemente aves para reabilitação, como gaivotas, pingüins, albatrozes e
petréis, a predisposição à aspergilose é ainda maior, à medida que frequentemente
estas aves são recebidas com alguma injuria primária, e submetidas ao stress do
cativeiro, o que agrava sua imunossupressão (REDIG, 1993; CORK et al., 1999;
CARRASCO et al., 2001; RUSSEL et al., 2003). Em vista desta realidade, o trabalho
teve como objetivo avaliar a qualidade do ar quanto à presença de espécies de
Aspergillus no ambiente interno de reabilitação de um centro de recuperação de
animais marinhos, localizado na cidade de Rio Grande, RS, Brasil.
Material e Métodos
A avaliação da presença de espécies de Aspergillus foi realizada por um
período de aproximadamente dois anos, onde foram colhidas amostras das
instalações internas do Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) da
Fundação Universidade Federal de Rio Grande e realizadas as identificações
taxonômicas dos microrganismos no Setor de Micologia da Faculdade de Veterinária
da Universidade Federal de Pelotas (FV-UFPel), com confirmação no Departamento
de Micologia da Fundação Oswaldo Cruz.
As colheitas das amostras foram realizadas a cada 10 dias através da
técnica de sedimentação. As placas de Petri contendo Agar Sabouraud dextrose
acrescido de cloranfenicol foram abertas por 15 minutos em três pontos distintos do
ambiente de cativeiro interno a uma distância de aproximadamente 1,5m do solo,
sendo posteriormente encaminhadas ao Setor de Micologia (FV-UFPel).
As placas foram incubadas em estufa a temperatura de 25ºC por até sete
dias com observação diária do crescimento fúngico. Depois de decorrido este
período todas as colônias filamentosas foram submetidas a exame direto com
Lactofenol azul de algodão, e observadas ao microscópio ótico em um aumento de
41
100 a 400X. Das colônias identificadas como pertencentes ao gênero Aspergillus
foram realizados repiques em tubos de ensaio contendo Agar Batata (PDA) para
obtenção da cultura pura.
Todas as amostras foram armazenadas na micoteca em tubos de ensaio
contendo PDA acrescido de óleo mineral estéril, e sob refrigeração (4°C) em frascos
fechados contendo 10ml de solução salina 0,9% tamponada estéril (PBS).
A classificação das espécies de Aspergillus foi realizada conforme protocolo
e chave de identificação propostos por Klich (2002), e confirmada pela descrição de
Rapper e Fennel (1965). Para isso, foram utilizados quatro meios de cultivo
diferentes (Agar Malte, Agar Czapek, Agar Czapek acrescido de extrato de levedura,
Agar Czapek acrescido de extrato de levedura e 20% de sacarose), e sete dias de
incubação em temperaturas de 37°C e/ou 25°C. Após este período foram avaliadas
características macro morfológicas como coloração do anverso e reverso, diâmetro,
presença de esclerócios, exsudato e/ou pigmento solúvel das colônias nos quatro
meios semeados. O cultivo em lâmina foi realizado para avaliação da micro
morfologia do fungo observando características do conidióforo, vesícula, métula e/ou
fiálide, conídios, presença de aleuroconídios, cleistotécios, ascos, ascósporos e/ou
células estéreis (células de Hülle) circundando os cleistotécios.
Resultados e Discussão
Durante o experimento foram efetuados 81 dias de colheitas, dos quais 27
(33,3%) foram positivos para o isolamento de uma ou mais espécies de fungos do
gênero Aspergillus, obtendo-se um total de 43 isolados de Aspergillus spp..
Dos 43 isolados, vinte e dois pertenciam ao subgênero Circumdati,
apresentando características como vesícula globosa e fértil em toda superfície,
disposta de forma radiada, com métula frequentemente presente (Fig.1A). Doze
isolados apresentaram conidióforos lisos, vesículas piriformes a clavadas, ausência
de métula e conídios verde-acizentados a azul-acizentados, características
referentes ao subgênero Fumigati (Fig.1B). Seis isolados do subgênero Nidulantes
se caracterizaram por conidióforo liso, vesícula subglobosa a clavadas férteis na
metade superior, com a presença de tulas de distribuição colunar ou radiada e
alguns com aleuroconídios (Fig.1C). E três isolados foram identificados como
pertencentes ao subgênero Aspergillus, caracterizado por conidióforo de paredes
lisas, vesículas subglobosas com fiálides na porção superior, ausência de métula,
42
conídios geralmente em tons de verde, e presença de cleistotécios com ascos e
ascósporos (Fig.1D).
Figura 1 – Estruturas de reprodução de diferentes subgêneros de fungos Aspergillus.
[A] Subgênero Circumdati; [B] Subgênero Fumigati; [C] Subgênero Nidulantes,
detalhe dos aleuroconídios encontrados na espécie A. terreus; [D] Subgênero
Aspergillus, seta preta e vermelha demonstrando, respectivamente, estrutura de
reprodução assexuada e sexuada.
Quanto à classificação por espécies, do total de isolados de Aspergillus spp.,
12 (27,9%) foram identificados como pertencentes ao subgênero Fumigati, seção
Fumigati, espécie A. fumigatus; 11 (25,6%) ao subgênero Circumdati, seção Nigri,
espécie A. niger; sete (16,3%) ao subgênero Circumdati, seção Flavi, espécie A.
flavus; quatro (9,3%) ao subgênero Circumdati, seção Circumdati, espécie A.
candidus; três (6,9%) ao subgênero Nidulantes, seção Terrei, espécie A. terreus;
três (6,9%) ao subgênero Nidulantes, seção Versicolores, espécie A. versicolor; e
três (6,9%) ao subgênero Aspergillus, seção Aspergillus, espécie teleomorfa
Eurotium chevalieri (Fig.2).
Diversos estudos da qualidade do ar de ambientes internos têm sido
realizados, porém muitos enfocam a classificação taxonômica dos microrganismos
somente até gênero fúngico, sem identificação de espécie. Nestes trabalhos o
gênero Aspergillus se destaca como um dos principais fungos anemófilos presentes
em ambientes internos, o qual foi encontrado em 33,3% das amostras do presente
estudo (REN et al., 2001, GIGLI et al., 2005; WU et al., 2005; LEE et al., 2006).
43
27,9%
6,9%
6,9%
6,9%
9,3%
16,3%
25,6%
A. fumigatus A. niger A. flavus A. candidus
A. terreus A. versicolor Eu. Chevalieri
Figura 2 Espécies de Aspergillus isoladas do ar das instalações de um Centro de
Recuperação de Animais Marinhos (CRAM, RS, Brasil).
Quanto às espécies de Aspergillus, as três principais isoladas foram
previamente documentadas como as mais freqüentes em ambientes hospitalares por
Leenders et al. (1999) na Holanda, e Panagopoulou et al. (2002) na Grécia. Neste
último trabalho, a espécie mais prevalente foi o A. niger (39,2%) seguido do A. flavus
(17,5%) e A. fumigatus (7,7%), sendo que os autores isolaram também em menor
quantidade (6,6%) A. nidulans e A. terreus (PANAGOPOULOU et al., 2002).
nos EUA, Cooley et al. (1998) em estudo da qualidade do ar de escolas
encontraram somente três espécies de Aspergillus, A. flavus, A. glaucus e A.
versicolor, diferindo consideravelmente do ambiente avaliado no CRAM, onde foram
isoladas sete diferentes espécies com predominância de A. fumigatus que não foi
isolada em nenhuma colheita realizada nas escolas pelos referidos autores. E em
um amplo trabalho de Shelton et al. (2002) quanto à presença de fungos anemófilos
em 1.717 prédios, incluindo escolas, hospitais, residências e indústrias, resultados
similares foram encontrados em relação a algumas espécies como A. fumigatus, A.
niger e A. flavus, porém os autores encontraram A. versicolor como espécie
predominante, isolada em alta freqüência, distinguindo das colheitas realizadas no
CRAM.
Estas diferenças podem ser explicadas pelo tipo de ambiente estudado, bem
como pelas variações geográficas e regionais que estão diretamente relacionadas à
concentração fúngica nos ambientes internos (SHELTON et al., 2002), a qual pode
ainda ser influenciada por fatores climáticos e sazonais (REN et al., 2001; LEE et al.,
2006).
44
Outros trabalhos semelhantes, de fungos anemófilos em centros de
reabilitação, zoológicos ou aviários não foram encontrados, por isso os dados do
presente estudo foram confrontadas com resultados descritos em distintos
ambientes internos, apesar da grande diferença entre estes locais, principalmente no
que se refere a presença de matéria orgânica.
A espécie com maior percentual de isolamento foi A. fumigatus, cuja
importância está relacionada à sua alta patogenicidade. Esta espécie é considerada
o principal agente etiológico da aspergilose, responsável por 90 a 95% dos casos
clínicos, e frequentemente relacionada à alta mortalidade de pingüins e outras aves
marinhas em cativeiro (AINSWORTH & REWELL, 1949; KHAN et al., 1977; LATGÉ,
1999; MARTINÉZ et al., 2000; CARRASCO et al., 2001; XAVIER et al., 2006).
Dentre os fatores de patogenicidade do A. fumigatus pode-se destacar a
termotolerância, a velocidade de crescimento, o pequeno diâmetro de seus conídios,
e a produção de enzimas e toxinas. Todas estas características facilitam a
penetração e o desenvolvimento fúngico no organismo do hospedeiro, que
desencadeiam a aspergilose (LATGÉ, 1999).
Os estudos da qualidade do ar vêm sendo realizados com o intuito de
contribuir com a saúde dos indivíduos à medida que fornecem dados sobre
comportamento, sobrevivência e distribuição dos microrganismos fúngicos no
ambiente. Tendo em vista que estes microrganismos anemófilos são
constantemente inalados e podem causar danos à saúde, desde uma leve alergia
respiratória a uma doença grave e invasiva, os resultados colaboram para
elaboração de medidas de prevenção por fornecer dados sobre as possíveis fontes
de contaminação e a presença de determinados fungos nas instalações.
Conclusões
A presença de fungos do gênero Aspergillus no local de reabilitação de
animais marinhos, com predominância de A. fumigatus, a qual é a principal espécie
relacionada com quadros clínicos geralmente fatais, em aves marinhas em cativeiro,
fundamenta a necessidade de um controle microbiológico no ambiente à medida que
grande parte dos animais em reabilitação encontra-se imunossuprimida, podendo
desenvolver a aspergilose pela inalação dos conídios anemófilos.
45
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46
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Agradecimentos:
À Dra. Aurea Maria Lage de Moraes, Pesquisadora do Departamento de
Micologia da Fundação Oswaldo Cruz (Instituto Oswaldo Cruz), pelo auxílio na
identificação das espécies de Aspergillus.
3.2 A
RTIGO
“Aspergilose em Pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus)
Relato de Caso”
Artigo publicado na revista “Veterinária e Zootecnia”, v.13, n.1, p.28-32,
2006.
48
Aspergilose em Pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus)
Relato de Caso*
Melissa Orzechowski Xavier
1**
, Alice Teixeira Meirelles Leite
2
, Mauro Pereira
Soares
3
, Luiza da Gama Osório
4
, Anelise Martins
4
, Ana Paula Albano
4
, Luiz
Paiva Carapeto
5
, Márcia de Oliveira Nobre
3
, Rodolfo Pinho da Silva Filho
2
,
Mário Carlos Araújo Meireles
3
.
Resumo
A aspergilose é causada por fungos do gênero Aspergillus, acometendo
principalmente o trato respiratório. O trabalho relata um caso de aspergilose em um
pingüim-de-magalhães em reabilitação no Centro de Recuperação de Animais
Marinhos (CRAM) de Rio Grande (RS, Brasil). A ave foi encaminhada ao CRAM
debilitada, permanecendo em cativeiro durante 28 dias. Devido à gravidade do
quadro clínico, o animal foi submetido à eutanásia e necropsia, onde foram
observados nódulos branco-amarelados nos pulmões e siringe, e colônias fúngicas
nos sacos aéreos, fígado e rins. O diagnóstico de aspergilose por Aspergillus
fumigatus foi confirmado por exame micológico e histopatológico. Este relato alerta
para a importância da aspergilose como fator limitante na reabilitação de pingüins.
Palavras-chave: Aspergilose; Aspergillus fumigatus; reabilitação; pingüins; cativeiro;
Aspergillosis in a Magellan’s Penguin (Spheniscus magellanicus)
Case Report
Abstract
Aspergillosis is caused by Aspergillus spp., attacking mainly the respiratory
system. This paper reports a case of aspergillosis in a Magellan’s penguin in the
Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) of Rio Grande (RS, Brazil).
The seabird was directed to CRAM weakened, staying in captivity for 28 days. Due to
gravity of the clinical signs, the animal was submitted to euthanasia and necropsy,
where white-yellowish nodules were observed in the lungs and in the windpipe, and
fungal colonies in the air sacs, liver and kidneys. The diagnosis of aspergillosis for
Aspergillus fumigatus were confirmed for mycology and histopathology. This case
alert to the importance of the aspergillosis in the penguins rehabilitation.
Key words: Aspergillosis; Aspergillus fumigatus; rehabilitation; penguins; captivity;
*
Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor.
1**
Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Setor de Micologia, Departamento de Medicina Veterinária
Preventiva, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas UFPel, Pelotas, RS, Brasil, Campus
Universitário s/nº, Cep 96.010.900. Telefone: (53) 32757496 / (53) 32230993 / (53) 91229266. E-mail:
2
Centro de Recuperação de Animais Marinhos, Museu Oceanográfico “Prof. Eliézer de C. Rios”, Fundação
Universidade Federal do Rio Grande – FURG, Rio grande, RS, Brasil.
3
Laboratório Regional de Diagnósticos, Faculdade de Veterinária, UFPel.
4
Graduação em Medicina Veterinária, UFPel.
5
Departamento de Clínicas Veterinária, Faculdade de Veterinária, UFPel.
49
Aspergilosis en Pingüino Patagónico (Spheniscus magellanicus)
Relato de un Caso
Resumen
La aspergilosis es causada por hongos del género Aspergillus, atacando
principalmente el tracto respiratorio. El trabajo relata un caso de aspergilosis en un
pingüino patagónico en rehabilitación en el Centro de Recuperação de Animais
Marinhos (CRAM) de Rio Grande (RS, Brasil). El ave fue conducida al CRAM
debilitada, permaneciendo en cautiverio durante 28 dias. Debido a la gravedad del
cuadro clínico, el animal fue sometido a eutanasia y necropsia, donde fueran
observados nódulos blanco-amarillentos en los pulmones y siringe, y colonias
fúngicas en los sacos aéreos, hígado y riñones. El diagnóstico de aspergilosis por
Aspergillus fumigatus fue confirmado por examen micológico e histopatológico. Este
relato alerta para la importancia de la aspergilosis como factor limitante en la
rehabilitación de los pingüinos.
Palabras-clave: Aspergilosis; Aspergillus fumigatus; rehabilitación; pingüinos;
cautiverio;
A aspergilose, micose oportunista causada principalmente pelo Aspergillus
fumigatus, se destaca por ser a principal causa de mortalidade de pingüins mantidos
em cativeiro, tanto em zoológicos quanto em centros de recuperação. A doença
geralmente é secundária a condições de estresse, traumatismos, ingestão de óleo
proveniente da poluição dos mares, má nutrição, deficiência de vitamina A e/ou
outras enfermidades (KHAN et al., 1977; FLACH et al., 1990; REDIG, 1993;
GRACZYK e CRANFIELD, 1995; ABUNDIS-SANTAMARIA, 2003).
Os pingüins pertencem à ordem Sphenisciformes, família Spheniscidae, a
qual contém 17 espécies divididas em seis gêneros, destacando-se, no Brasil, o
pingüim-de-magalhães (Spheniscus magellanicus) cujos exemplares são
freqüentemente encontrados nas praias apresentando sintomas de intoxicação por
petróleo, desnutrição, alterações músculo-esqueléticas, desidratação e
imunossupressão (WILLIAMS, 1995; RUOPPOLO et al., 2004).
No inverno do ano de 2004 foi encaminhado ao CRAM um pingüim-de-
magalhães macho, juvenil, apresentando alteração no membro pélvico direito,
manifestada por posicionamento incorreto, claudicação e aumento de volume na
região lombo-sacra. A ave foi identificada com anilha provisória nº.1081, e no 28º dia
de cativeiro foi encaminhada para exame radiográfico da lesão músculo-esquelética.
O exame demonstrou luxação na articulação coxofemoral direita. Durante o
procedimento, o animal apresentou dispnéia evidenciada por respiração com o bico
aberto, pescoço esticado e ruídos inspiratórios, sendo submetido de imediato, à
50
avaliação radiográfica do trato respiratório, que revelou aumento da radiopacidade
na região da siringe e lesão multifocal nos sacos aéreos torácicos (Figura 1).
Figura 1. Radiografia do trato respiratório do pingüim-de-magalhães, demonstrando
aumento da radiopacidade na região da siringe e lesão multifocal nos sacos aéreos
torácicos.
Devido à gravidade do quadro clínico, o pingüim foi encaminhado ao
Laboratório Regional de Diagnósticos (FV-UFPel) para eutanásia, realizada através
da administração de lidocaína 1% por via intracelomática, e posterior necropsia onde
foi observada a presença de um nódulo de dois centímetros de diâmetro com
consistência firme na região da siringe (Figura 2A) e nódulos de aproximadamente
0,5cm de diâmetro, com coloração branco-amarelada sobre a superfície pulmonar.
Colônias fúngicas filamentosas, de coloração branca com centro esverdeado, foram
observadas nos sacos aéreos torácicos (Figura 2B) e abdominais, no fígado (Figura
2C) e rins. Para confirmação do diagnóstico, foram colhidos fragmentos dos órgãos
alterados, encaminhados para exame micológico e histopatológico.
No Setor de Micologia do Laboratório de Doenças Infecciosas (FV-UFPel) foi
realizado exame direto de pequenos fragmentos das amostras, utilizando hidróxido
de potássio a 20%, e, posteriormente, o material foi cultivado em ágar Sabouraud
dextrose acrescido de cloranfenicol e Ágar Czapek. A incubação foi realizada a 30ºC
com observação diária durante sete dias.
51
Figura 2. Lesões macroscópicas em pingüim-de-magalhães. (A) Nódulo de
aproximadamente dois centímetros na região da siringe. (B) Colônias ngicas de
coloração branca com centro esverdeado no saco aéreo torácico esquerdo. (C)
Colônias fúngicas de coloração branca com centro esverdeado no lobo direito do
fígado.
No exame direto foram encontradas hifas septadas e bifurcadas no fígado,
pulmão e siringe. Os cultivos apresentaram colônias fúngicas filamentosas com
crescimento rápido (48 horas), superfície de cor azul-esverdeada a cinzenta, reverso
não-pigmentado e textura pulverulenta. Microscopicamente as colônias
caracterizavam-se por hifas septadas, conidióforos curtos com vesículas de
extremidade piriforme, fiálides unisseriadas dispostas de forma colunar cobrindo dois
terços da superfície da cabeça aspergilar e conídios equinulados. O exame direto, a
macroscopia e microscopia dos cultivos permitiram o diagnóstico de aspergilose,
com a classificação do agente como sendo A. fumigatus.
No Setor de Patologia (FV-UFPel) foi realizado o exame histopatológico dos
tecidos pela fixação em formol a 10%, inclusão em parafina, e coloração de
Hematoxilina-eosina, Periodic Acid-Schiff e Grocott. Foram encontradas hifas
septadas e ramificadas com bifurcação em ângulo agudo (Figura 3A) nos pulmões e
fígado, áreas de necrose caseosa delimitadas por infiltrado granulomatoso nos
pulmões e sacos aéreos, e estruturas completas de esporulação do Aspergillus
(Figura 3B) na siringe, caracterizadas por conidióforos, vesículas, fiálides e conídios,
confirmando o diagnóstico de aspergilose disseminada invasiva.
A B C
52
Figura 3. (A) Hifas septadas, ramificadas e bifurcadas em ângulo agudo,
visualizadas no exame histopatológico (Grocott, 400X) do pulmão do pingüim-de-
magalhães. (B) Estrutura de frutificação completa do Aspergillus fumigatus
visualizada no exame histopatológico (PAS, 400X) da siringe do pingüim-de-
magalhães.
O sexo e a idade do pingüim acometido neste caso estão de acordo com
Flach et al. (1990) ao relatarem que os pingüins machos e juvenis foram
significativamente mais acometidos por aspergilose que as fêmeas e os adultos. As
alterações clínicas e patológicas, além da identificação do agente etiológico estão de
acordo com aquelas descritas por Khan et al. (1977), Martínez et al. (2000) e
Carrasco et al. (2001), que relataram casos de aspergilose com lesões difusas,
causadas por A. fumigatus, em pingüins e gaivotas, embora não tenha sido
observado espessamento dos sacos aéreos, provavelmente pela característica
aguda da infecção deste caso.
As alterações radiológicas sugestivas de aspergilose, descritas por Redig
(1993) e Kearns e Loudis (2003) o compatíveis com as observadas no exame do
trato respiratório do pingüim-de-magalhães. Entretanto, a radiologia o é um
método auxiliar de diagnóstico comumente utilizado para aspergilose em aves, não
havendo outros relatos, na literatura consultada, de exames radiológicos em
pingüins acometidos por aspergilose.
A aspergilose no pingüim-de-magalhães em reabilitação confirma a
predisposição destas aves, principalmente quando se encontram debilitadas e/ou
quando é necessário um período prolongado de permanência do animal em
cativeiro.
A B
53
Referências Bibliográficas
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WILLIANS, T. D. The Penguins, Spheniscidae, Oxford University Press, 1995.
3.3 A
RTIGO
“Atividade “in vitro” de três agentes químicos frente a diferentes
espécies de Aspergillus”
Artigo submetido para publicação na revista “Arquivos do Instituto Biológico”,
registrado como Arq.063/06
55
Atividade “in vitro” de três agentes químicos frente a diferentes espécies de
Aspergillus
*
Melissa Orzechowski Xavier
1
, Isabel Martins Madrid
2
, Ana Raquel Mano
Meinerz
3
, Marlete Brum Cleff
3
, Luiz Filipe Damé Schuch
2
, Márcia de Oliveira
Nobre
2
, Mário Carlos Araújo Meireles
2
.
1
Universidade Federal de Pelotas, Faculdade de Veterinária, Laboratório de
Doenças Infecciosas, Setor de Micologia. Campus Universitário s/nº, CEP: 96010-
900, Pelotas, RS, Brasil. E-mail: [email protected]
RESUMO
A aspergilose é causada por fungos ubíquos e oportunistas do gênero
Aspergillus, que liberam milhares de conídios no ar, contaminando o ambiente,
sendo de extrema importância a utilização de filtros de ar e programas corretos de
anti-sepsia e desinfecção para prevenção da enfermidade. Este estudo avaliou a
eficácia “in vitro” dos agentes químicos, iodóforo, amônia quaternária e clorexidina,
frente a isolados de A. fumigatus (8), A. niger (8), A. flavus (6) e A. terreus (1). Para
o teste foram preparadas diluições sucessivas dos desinfetantes/anti-sépticos (log
2
)
em caldo RPMI, e os inóculos foram ajustados até uma concentração final de
5x10
4
UFC/ml. Foi realizada a técnica de microdiluição em caldo de acordo com
NCCLS M-38, adaptada para agentes químicos, com incubação das microplacas a
35°C em agitação constante. A leitura visual dos resultados foi realizada após 96
horas, e os isolados de Aspergillus spp. utilizados foram resistentes ao iodóforo nas
concentrações testadas. A amônia quaternária e a clorexidina mostraram-se
eficazes contra os isolados de Aspergillus spp., com exceção de um A. fumigatus e
um A. terreus. Com estes resultados indica-se a utilização da amônia quaternária e
da clorexidina na prevenção da aspergilose, questionando-se o uso de iodóforos
para este fim.
PALAVRAS-CHAVE: Aspergilose; Aspergillus spp.; Desinfetantes e Anti-sépticos;
ABSTRACT
“IN VITRO” ACTIVITY OF THREE CHEMICAL AGENTS AGAINST
DIFFERENT SPECIES OF ASPERGILLUS. The aspergillosis caused by ubiquitous
and opportunists moulds of genus Aspergillus, that liberate thousands of conidia’s in
the air contaminating the atmosphere, being of extreme importance use of air filters
*
Parte integrante da dissertação de mestrado do primeiro autor
2
Faculdade de Veterinária, Universidade Federal de Pelotas
3
Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul
56
and correct programs of antisepsis and disinfection for the disease prevention. This
study evaluated “in vitro” effectiveness of the chemical agents, iodophor, quaternary
ammonia and chlorexidine, against A. fumigatus (8), A. niger (8), A. flavus (6) and A.
terreus (1). Successive dilutions of disinfectants/antiseptics (log2) were prepared in
RPMI for the test and the suspension was adjusted until a final concentration of
5x10
4
UFC /ml. The microdilution test was done in agreement with NCCLS M-38
adapted for chemical agents, with microplates incubation at 35°C in constant
agitation. The visual results were evaluated after 96 hours, and all Aspergillus spp
isolated used were resistant to iodophor in all concentrations tested. The quaternary
ammonia and chlorexidine showed effectiveness against Aspergillus spp. isolated,
except for one A. fumigatus and one A. terreus. With these results the use of the
quaternary ammonia and chlorexidine is indicated to aspergillosis prevention and
iodophor use is questionable.
KEYWORDS: Aspergillosis; Aspergillus spp.; Disinfectants and Antiseptics;
As micoses oportunistas, como a aspergilose, adquiriram uma grande
importância em saúde pública nas últimas décadas, devido à incidência da Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), o desenvolvimento de novas terapias para
pacientes oncológicos, e os avanços nas técnicas cirúrgicas de transplantes de
órgãos, que culminaram com o aumento do número de pacientes
imunocomprometidos (B
RETAGNE
et al., 1997; L
ATGÉ
, 1999; S
TEVENS
et al., 1999;
M
ARTINS
-D
INIZ
et al., 2005). Em medicina veterinária, esta micose se destaca por
causar sérios prejuízos à produção avícola, acometendo principalmente aves jovens
e ovos embrionados, e por determinar altas taxas de mortalidade em pingüins e
outras aves silvestres mantidas em cativeiro, em zoológicos e/ou centros de
reabilitação (F
LACH
et al., 1990; A
NDREATTI
, 2000; A
BUNDIS
-S
ANTAMARIA
, 2003; L
AIR
-
F
ULLERINGER
, 2003).
As espécies comumente envolvidas com quadros clínicos tanto em humanos
quanto em animais são principalmente o A. fumigatus, seguido do A. flavus, A. niger
e A. terreus (L
ATGÉ
, 1999;
A
BUNDIS
-S
ANTAMARIA
,
2003). Como o Aspergillus spp. é
um fungo ubíquo, milhares de conídios são desprendidos das fiálides diariamente e
dispersos no ar, contaminando o ambiente (L
ATGÉ
, 1999). Neste contexto, é de
extrema importância, além da utilização de filtros de ar, o emprego correto de
programas de anti-sepsia e desinfecção, à medida que auxilia na prevenção da
enfermidade através da redução do nível de contaminação por microrganismos
fúngicos em tecidos vivos, superfícies e objetos inanimados (L
ATGÉ
,
1999;
M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999;
A
BUNDIS
-S
ANTAMARIA
,
2003;
T
ESSARI
et al., 2004).
57
A escolha de um agente químico desinfetante não é uma tarefa fácil frente a
grande variedade de produtos existentes no mercado, devendo ser levado em
consideração fatores como espectro de atividade desejada, toxicidade, poder
residual, custo, estabilidade, e natureza do material a ser tratado. Os principais
desinfetantes utilizados são álcoois, formaldeído, glutaraldeído, compostos
liberadores de cloro ativo (como hipoclorito de sódio), compostos quaternários de
amônia (como cloreto de benzalcônio), iodóforos e biguaninas (como clorexidina).
Dentre esta gama de opções, não existe um produto que apresente todas as
características desejadas, cada um possui vantagens e desvantagens que devem
ser avaliadas no momento da seleção para o uso (B
RASIL
,
1994;
M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999).
A ação de desinfetantes e anti-sépticos tem sido testada contra bactérias e
leveduras, no entanto poucos estudos foram encontrados na literatura consultada
confrontando estes agentes com fungos filamentosos. Visto que os fungos
filamentosos em geral são mais resistentes que leveduras e bactérias não
esporuladas, testes realizados com microrganismos unicelulares não servem de
parâmetro ou indício para sua utilização contra fungos chamados “bolores” de
importância médica e veterinária, como Aspergillus spp (T
ERLECKYJ
;
A
XLER
,
1987;
B
RASIL
,
1994;
M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
, 1999). Assim, este estudo objetivou testar a
eficácia “in vitro” de três agentes químicos de baixa toxicidade contra diferentes
espécies de fungos do gênero Aspergillus.
A atividade dos desinfetantes e anti-sépticos, iodóforo, cloreto de
benzalcônio (amônia quaternária) e digluconato de clorexidina, foi testada frente a
23 amostras de Aspergillus spp. isoladas do ambiente e de casos clínicos, sendo
oito A. fumigatus, oito A. niger, seis A. flavus, e um A. terreus.
A técnica de microdiluição em caldo utilizada para testes “in vitro” de
antifúngicos foi realizada de acordo com NCCLS M-38, porém com adaptação para
agentes químicos. Foram utilizadas 12 placas de microdiluição (96 orifícios) estéreis,
as quais foram preenchidas com o inóculo fúngico e com os desinfetantes/anti-
sépticos previamente diluídos e ajustados em meio RPMI líquido. Todas as amostras
de Aspergillus spp. foram testadas em duplicata frente aos três desinfetantes/anti-
sépticos.
Para preparação dos inóculos fúngicos as amostras foram previamente
semeadas em placa de Petri contendo Agar Batata (Potato Dextrose Agar PDA) e
58
incubadas à 35ºC por sete dias, obtendo-se culturas jovens e puras. Após o
crescimento fúngico foi adicionado às culturas, 1ml de salina estéril com 1% de
Tween 20, e em seguida os conídios e hifas foram coletados da superfície da colônia
com auxílio de pipeta estéril e transferidos para um tubo de ensaio estéril. Decorrido
o tempo de sedimentação de cinco minutos, o sobrenadante foi transferido para
outro tubo de ensaio estéril, e então homogeneizado em agitador de tubos vortex por
15 segundos, e sua concentração final foi ajustada a 5x10
4
UFC/ml. Esta suspensão
foi diluída a 1:50 em caldo RPMI, alcançando duas vezes a concentração
necessária, para ser adicionada a cada orifício da microplaca em volume igual ao do
agente químico, conforme o protocolo padrão. Para confirmação da concentração do
inóculo foi realizada a técnica de Pour-plate em Agar Sabouraud Dextrose, e
contagem das Unidades Formadoras de Colônia (UFC).
Foram preparadas seis diluições sucessivas dos três agentes químicos em
log
2,
utilizando-se caldo RPMI como diluente, os quais foram identificados como: IF
(iodóforo), CB (cloreto de benzalcônio) e DC (digluconato de clorexidina). As
concentrações finais dos desinfetantes IF e CB referiram-se a 8, 4, 2, 1, 0,5 e 0,25
vezes a concentração de uso recomendada pelo fabricante do produto, e do
desinfetante DC variaram de 2 a 0,05 vezes a concentração de uso indicada.
A primeira coluna das microplacas (coluna A) foi utilizada como controle de
crescimento sendo preenchida com 200µl do inóculo, e a última coluna (coluna H)
correspondeu ao controle de esterilidade onde os orifícios foram preenchidos com
200µl da maior diluição do desinfetante. As demais colunas (colunas de B a G)
foram preenchidas com 100µl do inóculo e 100µl da diluição do agente químico em
seqüência, da maior para menor diluição do produto.
As microplacas foram incubadas em uma estufa “shaker” (Certomat® BS-1)
regulada a uma temperatura de 35ºC e constante agitação (40ciclos/min), e a leitura
visual dos resultados foi realizada após 96 horas, sendo a Concentração Inibitória
Mínima (CIM) determinada pela maior diluição do agente químico capaz de inibir o
crescimento fúngico.
Das 23 amostras de Aspergillus spp., os oito isolados de A. niger e os seis
de A. flavus foram sensíveis ao DC e CB, e resistentes ao IF. O A. terreus foi
sensível ao CB e resistente ao IF e DC, e os oito isolados de A. fumigatus foram
sensíveis ao DC e resistentes ao IF, sendo que destes, sete foram sensíveis ao CB.
Os resultados estão descritos na tabela 1.
59
Todos os isolados de Aspergillus spp. foram resistentes ao iodóforo nas
diluições testadas (Fig.1). O cloreto de benzalcônio mostrou atividade “in vitro” no
controle das quatro espécies de Aspergillus, com exceção de uma amostra de A.
fumigatus, que apresentou resistência a este agente químico mesmo em uma
concentração duas vezes a recomendada. O digluconato de clorexidina apresentou
eficácia frente a todos os isolados de A. fumigatus, A. niger e A. flavus, no entanto, a
amostra de A. terreus foi considerada resistente a todas as diluições testadas.
Não foram detectadas diferenças na sensibilidade em relação à origem dos
isolados, caso clínico ou ambiente, porém, o número de isolados de casos clínicos
correspondeu a apenas 17% das amostras.
A toxicidade é um dos principais fatores a ser levado em consideração no
momento da escolha de um agente químico para uso na presença de humanos e/ou
animais. Isto se deve ao fato de que o processo de desinfecção pode acarretar
desde irritação de mucosas e pele, até intoxicações, e com isso embora diminua a
concentração de microrganismos, aumenta a predisposição do indivíduo à
enfermidades (B
RASIL
,
1994;
M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999).
Tendo em vista isto, foram
selecionados para o teste “in vitro” digluconato de clorexidina, cloreto de benzalcônio
e iodóforo, que apresentam baixa toxicidade.
N
ELLY
;
O
RLOFF
(2001) realizaram um estudo sobre a sobrevivência de
microrganismos em materiais hospitalares e encontraram uma maior sobrevida de
cepas de Aspergillus spp. isoladas de casos clínicos que isoladas de ambientes, o
que não foi observado neste trabalho em relação à resistência dos isolados aos
diferentes agentes químicos.
A resistência de A. fumigatus e A. niger encontrada frente ao iodóforo foi
descrita previamente por T
ERLECKYJ
;
A
XLER
(1987), no experimento sobre a atividade
de diferentes agentes químicos contra diversos gêneros e espécies fúngicas. Os
autores obtiveram resultados diferentes dos descritos neste trabalho, em relação à
ação da amônia quaternária que se apresentou ineficaz na inibição do crescimento
de ambas as espécies.
A atividade da amônia quaternária e do digluconato de clorexidina “in vitro”
em diluições quatro vezes e dezesseis vezes maiores que a recomendada,
respectivamente, sugere a ação efetiva destes produtos no ambiente, os quais
devem ser utilizados em concentrações maiores que a CIM “in vitro” por sofrerem
60
influência dos fatores externos, como temperatura, pH e presença de matéria
orgânica (B
RASIL
,
1994;
M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999).
Segundo M
C
D
ONNELL
;
R
USSEL
(1999), o A. niger é sensível à concentração
de 200µg/ml de clorexidina e 100-200µg/ml de cloreto de benzalcônio. Os resultados
do presente estudo estão de acordo com os autores em relação à amônia
quaternária, porém demonstram que 40µg/ml de digluconato de clorexidina podem
inibir o crescimento deste microrganismo.
A resistência do A. terreus à clorexidina, deve ser considerada com cautela,
visto que somente foi utilizado um isolado desta espécie, podendo a resistência ser
um fator intrínseco e individual do isolado testado (M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999;
N
ELLY
;
O
RLOFF
, 2001). No entanto, é sabido que a maioria dos isolados de A. terreus são
resistentes à Anfotericina B (S
TEINBACH
et al., 2004), o que geralmente não ocorre
com as outras espécies de Aspergillus associadas a quadros clínicos. Este dado é
importante à medida que a sensibilidade fúngica à Anfotericina B está relacionada
com as glucanas da parede celular, as quais também desempenham um papel
importante na suscetibilidade do microrganismo à clorexidina (M
C
D
ONNEL
;
R
USSEL
,
1999).
Não foram encontrados na literatura consultada estudos “in vitro” de agentes
químicos desinfetantes e anti-sépticos frente a isolados de A. flavus, no entanto esta
espécie o apresentou característica peculiar em relação às outras três espécies
testadas em nosso estudo.
Como a atividade antimicrobiana dos desinfetantes depende de vários
fatores, como temperatura, pH, diluição, presença de matéria-orgânica, entre outros,
os testes “in vitro” não determinam necessariamente a real capacidade de
desinfecção de um ambiente, porém resultados favoráveis e desfavoráveis nestes
testes devem ser levados em consideração, sendo um indício da atividade destes
produtos contra microrganismos específicos (T
IMENETSKY
,
1990).
Os resultados obtidos após a condução deste experimento permitem concluir
que a amônia quaternária e o digluconato de clorexidina foram eficazes contra as
diferentes espécies de Aspergillus. Em contrapartida, a ineficácia “in vitro” do
iodóforo neste estudo torna questionável seu uso em superfícies e tecidos vivos para
controle de fungos do gênero Aspergillus.
61
Tabela 1: Resultados do teste de suscetibilidade “in vitro” de diferentes espécies de Aspergillus a três desinfetantes/anti-sépticos
comerciais.
Espécie Isolado Origem
Produto IF
(CI: 0,05µg/ml)
Ação
do IF
Produto CB
(CI: 0,6mg/ml)
Ação
do CB
Produto DC
(CI: 0,67mg/ml)
Ação
do DC
A. fumigatus 1 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 2 CC CIM: >0,4µg/ml I CIM: 1,2mg/ml I CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 3 CC CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 4 CC CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 5 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 6 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 7 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. fumigatus 8 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 9 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 10 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 11 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 12 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 13 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 14 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 15 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. niger 16 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. flavus 17 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. flavus 18 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. flavus 19 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. flavus 20 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: <0,04mg/ml E
A. flavus 21 CC CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: 0,16mg/ml E
A. flavus 22 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: 0,08mg/ml E
A. terreus 23 A CIM: >0,4µg/ml I CIM: <0,15mg/ml E CIM: >1,33mg/ml I
Eficácia (%)
0 96 96
IF: iodóforo; CB: cloreto de benzalcônio; DC: digluconato de clorexidina
A: ambiente CC: caso clínico
CI: concentração de uso do produto indicada pelo fabricante;
E: eficaz; I: ineficaz;
62
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63
Figura 1 Resultado do teste de microdiluição em caldo demonstrando isolados de
A. niger resistentes a todas as concentrações do iodóforo (linhas 3, 4, 9 e 10), e
sensíveis a todas as concentrações de amônia quaternária (linhas 1, 2, 7 e 8) e
digluconato de clorexidina (linhas 5, 6, 11 e 12).
DC
DC
I
I
CB
CB
DC
DC
I
I
CB
CB
3.4 A
RTIGO
“Eficácia da Clorexidina-Cetrimida na desinfecção ambiental contra
Aspergillus spp.”
Artigo submetido para publicação na Revista “Arquivos Brasileiros de
Medicina Veterinária e Zootecnia” registrado como REG.: 2275/06.
65
Eficácia da Clorexidina-Cetrimida na desinfecção ambiental contra Aspergillus
spp.
Clorexidina-Cetrimida efficacy in ambient disinfection against Aspergillus spp.
Melissa Orzechowski Xavier
*1
, Ana Raquel Mano Meinerz
2
, Marlete Brum Cleff
2
;
Luiza da Gama Osório
1
; Luiz Filipe Damé Schuch
2
; Márcia de Oliveira Nobre
1
,
Rodolfo Pinho da Silva Filho
3
, Mário Carlos Araújo Meireles
1
.
1
Faculdade de Veterinária - Universidade Federal de Pelotas (UFPel);
2
Faculdade de Veterinária – Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS);
3
Centro de Recuperação de Animais Marinhos – Fundação Universidade Federal de
Rio Grande (FURG)
*
Endereço: R. Paul Harris, 537, Bairro: Areal, CEP.: 96077-200, Pelotas/RS, Brasil.
Tel.: (53) 91229266, (53)32289620. E-mail: melissaxavier@bol.com.br
RESUMO
A aspergilose é uma das maiores causas de morte de pingüins em cativeiro,
e requer diversas medidas de prevenção. Dentre estas medidas, a desinfecção de
instalações é essencial no controle de Aspergillus spp., reduzindo os conídios
inalados pelas aves suscetíveis. A clorexidina como agente químico se destaca pela
baixa toxicidade, o que permite sua utilização em presença de animais. Neste
sentido, o trabalho testou a ação in loco da Clorexidina-Cetrimida® no controle de
Aspergillus spp., avaliando a influência de fatores climáticos e populacionais, em um
centro de recuperação de animais marinhos. Para isso foram realizadas por um
período de dois anos, colheitas de amostras de ar através da técnica de
sedimentação, sendo implantado no segundo ano um programa de desinfecção com
Clorexidina-Cetrimida®. Os resultados foram comparados estatisticamente pelo
programa Epinfo 8.0., demonstrando que o isolamento fúngico não apresentou
relação significativa com fatores climáticos e populacionais, e que a diminuição da
concentração de conídios de Aspergillus spp. do ambiente ocorreu devido ao
programa eficaz de desinfecção com a Clorexidina-Cetrimida®, sendo este agente
químico indicado para desinfecção de ambientes internos, auxiliando na prevenção
da aspergilose em aves em cativeiro.
PALAVRAS-CHAVES
Clorexidina, desinfetante, prevenção, aspergilose.
66
ABSTRACT
Aspergillosis is one of the major causes of deaths in captivity penguins, and
requires a diversity of precautions to prevent. The indoor disinfection is essential to
Aspergillus air concentration control, reducing the number of inhalant conidia to
susceptible penguins. The chlorexidine is a extremely safety chemical agent to use in
the indoor disinfection on the presence of animals because have low toxicity. In this
context, this work tested in loco activity of Clorexidina-Cetrimida® in the Aspergillus
spp. control considering the climatic influence and population variations, on the
recuperation center of marine animals. Samples of the air were collected for two
years, by the sediment method, and the disinfection program were established in the
second year. The dates of the two years were statistically compared, and
demonstrate that population and climate had no significance on the fungal isolation,
and that the disinfection program with Clorexidina-Cetrimida® was considered
effective in the reduction of conidia Aspergillus concentration indoor, and
recommended to indoor disinfection contributing to the aspergillosis prevention in
susceptible captivity animals.
KEYWORDS
Chlorexidine, disinfectant, prevention, aspergillosis.
INTRODUÇÃO
Os programas de higiene e desinfecção são essenciais no controle
ambiental de microrganismos potencialmente patogênicos aos animais. Dentre estes
patógenos, em relação à aves em cativeiro, destacam-se os fungos anemófilos e
ubíquos do gênero Aspergillus, que causam uma micose respiratória geralmente
fatal chamada de aspergilose (Redig et al., 1993; Bauck, 1994; Garcia e Blanco,
2000; Lagneau e Houtain, 2001; Tessari et al., 2004).
Os fungos do gênero Aspergillus se reproduzem através de fialoconídios
pequenos e leves, facilmente veiculados pelo ar, que se depositam em qualquer
objeto ou superfície contaminando todo o ambiente (Latgé, 1999; Lacaz et al., 2002;
Warris e Verweij, 2005). Assim, para o controle da aspergilose, é preconizada a
manutenção correta da ventilação, temperatura e umidade do local, assim como a
higiene e a desinfecção ambiental rotineira (Bauck, 1994; Kearns e Loudis, 2003;
Warris e Verweij, 2005).
A desinfecção ambiental deve ser realizada com rodízio periódico de
agentes químicos capazes de inibir o crescimento fúngico ou eliminar estes
microrganismos, visando à redução na concentração de conídios inalados pelas
aves (Bauck, 1994; Kearns e Loudis, 2003). Dentro dos agentes desinfetantes as
biguanidas, como a clorexidina, se destacam principalmente pela baixa toxicidade,
67
amplo espectro e suas propriedades inodoras, incolores e não corrosivas (McDonnell
e Russell, 1999).
Tendo em vista que a aspergilose é uma das principais causas de
mortalidade de pingüins em cativeiro (Ainsworth e Rewell, 1949; Khan et al., 1977;
Flach et al., 1990; Redig et al., 1993; Kittle, 2003; Xavier et al., 2006) e considerando
a presença destas aves marinhas no local da desinfecção, assim como a
importância na prevenção da micose em centros de reabilitação, o trabalho teve por
objetivo testar a ação da Clorexidina-Cetrimida®
1
, no controle de fungos do gênero
Aspergillus das instalações de um Centro de Recuperação de Animais Marinhos,
avaliando a influência dos fatores climáticos e populacionais no isolamento fúngico.
MATERIAL E MÉTODOS
Durante um período de dois anos foi avaliada a qualidade do ar, quanto à
presença de Aspergillus spp., das instalações internas utilizadas para reabilitação de
pingüins no Centro de Recuperação de Animais Marinhos (CRAM) localizado no
município de Rio Grande, Rio Grande do Sul. Estas instalações eram caracterizadas
por dois ambientes de 12m de comprimento, 4m de largura e 4m de altura, com
paredes azulejadas, e portões grandes (2x2m) nas duas extremidades que
permaneciam abertos durante os turnos de trabalho permitindo o fluxo de ar, para
manutenção da ventilação do local.
As amostras do ar foram colhidas pela técnica de sedimentação, realizada a
partir da exposição por 15 minutos de placas de Petri contendo agar Sabouraud
dextrose acrescido de cloranfenicol. A colheita foi realizada em intervalos de 10 dias
no primeiro ano e semanalmente no segundo ano do experimento, coletando-se uma
amostra referente ao horário de abertura do CRAM (08h00min) e uma segunda
amostra no final do expediente matinal (11h30min) após higienização e ventilação
natural do local, totalizando 160 amostras.
As placas foram imediatamente incubadas em estufa à 25ºC durante um
período de sete dias com observação diária. As colônias fúngicas filamentosas foram
avaliadas macro e micromorfologicamente para identificação taxonômica, sendo
realizada sub-cultura em agar Czapek para obtenção da cultura pura dos isolados de
Aspergillus spp.
1
Clorexidina – Cetrimida Chemitec ®. Chemitec Agro-Veterinária, São Paulo, SP.
68
Durante o segundo ano do experimento foi realizado um programa de
desinfecção das instalações a partir do emprego da Clorexidina-Cetrimida®
diariamente nos locais de contaminação por matéria orgânica, e semanalmente em
todos os objetos e superfícies, incluindo paredes e teto. A desinfecção era realizada
ao encerramento das atividades diárias, após limpeza prévia e retirada da matéria
orgânica, através da utilização por fricção mecânica do produto comercial, em
diluição indicada pelo fabricante (100mL/L de água), e posterior enxágüe com água
corrente. Logo em seguida o ambiente era mantido fechado por um período de
aproximadamente 14 horas, até a manhã do dia seguinte.
A densidade populacional do local no momento das colheitas das amostras
foi obtida junto ao CRAM, e os dados meteorológicos da cidade de Rio Grande, RS,
como temperatura dia mensal, umidade relativa do ar média mensal e
precipitação total mensal, foram gentilmente cedidos pelo Distrito de Meteorologia
(DISME).
Os resultados foram analisados estatisticamente pelo teste de qui-quadrado
através do programa Epinfo 8.0.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Ao final do experimento o número total de amostras colhidas foi 160, sendo
64 provenientes do primeiro ano e 96 relativas ao segundo ano do estudo, com
resultado positivo para Aspergillus spp. em 22,5% (36) das amostras, sendo 17
amostras positivas no ano inicial e 19 no ano final do estudo (Tab. 1).
Tabela 1 Resultados das amostras de ar colhidas durante dois anos, quanto ao
isolamento de fungos do gênero Aspergillus de instalações utilizadas para
reabilitação de pingüins.
Amostras
Positivas
08h00min
Positivas
11h30min
Negativas Total de amostras
Ano 14 (21,9%) 3 (4,7%) 47 (73,4%) 64
Ano 10 (10,4%) 9 (9,4%) 77 (80,2%) 96
Total 24 (15,0%) 12 (7,5%) 124 (77,5%) 160
O pequeno número de isolados de Aspergillus spp. observado no
experimento é devido ao método utilizado para colheita das amostras, cujo princípio
se baseia na ação da gravidade do ar, sofrendo influência da velocidade e
69
turbulência do vento que podem carrear os propágulos fúngicos dificultando que se
depositem na placa (Morris et al., 2000).
Durante os dois anos do estudo, a temperatura média mensal variou entre
13°C e 24,2ºC, a umidade relativa do ar média entre 68 e 91% e a precipitação
média mensal entre 17,2 e 355,1mm (Fig. 1, 2). Apesar da grande variação dos
dados, os três fatores climáticos não apresentaram relação significativa com o
isolamento de Aspergillus spp. das instalações, obtendo-se valores estatísticos de
p=0,996 para temperatura, p=0,794 para umidade e p=0,224 para precipitação.
0
100
200
300
400
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
(mm)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
(%)
(ºC)
Precip (mm) Temp (ºC) Umid (%)
Fig.1 Variação climática de temperatura (ºC), umidade (%) e precipitação (mm) da
cidade de Rio Grande no primeiro ano do experimento.
0
50
100
150
200
250
300
350
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
(mm)
10
20
30
40
50
60
70
80
90
(%)
(ºC)
Precip (mm) Temp (ºC) Umid (%)
Fig.2 – Variação climática, de temperatura (ºC), umidade (%) e precipitação (mm) da
cidade de Rio Grande no segundo ano do experimento.
A relação não significativa entre temperatura e isolamento fúngico já foi
descrita previamente por diversos autores (Ren et al., 2001; Panagopoulou et al.,
2002; Wu et al., 2005; Lee et al., 2006), assim como a não significância da
precipitação em amostras positivas (Lee et al., 2006). a influência da umidade no
70
isolamento fúngico tem tido resultados contraditórios entre os estudos sendo que
alguns autores acreditam que exista uma relação (Lee et al., 2006), enquanto outros
estudos demonstram que este fator não é determinante para o isolamento fúngico
(Ren et al., 2001; Panagopoulou et al., 2002; Wu et al., 2005).
A densidade populacional do CRAM no momento das colheitas variou de
zero a 17 animais entre aves, mamíferos e répteis, e não apresentou relação
significativa com o isolamento de Aspergillus spp.. De acordo com estudo realizado
por Wu et al. (2005), o número de ocupantes nas instalações está relacionado com o
aumento na concentração de fungos leveduriformes, não apresentando relação com
a concentração de fungos filamentosos no ambiente, o que confirma os resultados
obtidos no presente estudo.
O isolamento de Aspergillus spp. no segundo ano foi significativamente
menor (p=0,025; p<0,05) nas colheitas das 08h00min em relação ao ano inicial,
enquanto que nas amostras das 11h30min não houve diferença significativa
(p=0,168) entre os dois anos.
Tendo em vista que fatores climáticos e densidade populacional não
interferiram no isolamento de Aspergillus spp. do ambiente, a diminuição significativa
dos isolados na primeira colheita da manhã foi atribuída ao programa de desinfecção
empregado, que conseguiu minimizar a proliferação fúngica durante o período
crítico, em que o CRAM permanecia fechado, após expediente de trabalho interno
diário. Outros estudos da ação in loco deste agente químico frente a fungos
anemófilos, como o Aspergillus spp. não foram encontrados na literatura, no entanto,
testes in vitro da ação antifúngica do digluconato de clorexidina demonstraram
resultados positivos contra fungos do gênero Aspergillus (dados em publicação
1
).
Agentes químicos a base de digluconato de clorexidina são amplamente
utilizados na prática odontológica e anti-sepsia, porém sua aplicação como
desinfetante ambiental é limitada. No presente experimento, este agente químico foi
escolhido principalmente devido a necessidade de aplicação em instalações com a
presença de animais, tendo em vista que os produtos mais frequentemente
utilizados para desinfecção de ambientes internos, como hipoclorito de sódio e
amônia quaternária, são irritantes para mucosas e pele, e a amônia quaternária
1
Artigo “Atividade in vitro de três agentes químicos frente a diferentes espécies de Aspergillus”, submetido e
devidamente adequado às correções dos revisores científicos da Revista “Arquivos do Instituto Biológico”.
71
ainda é passível de contaminação, podendo carrear e disseminar microrganismos
para o ambiente (McDonnell e Russell, 1999).
Em contrapartida, nas colheitas das 11h30min não ocorreu redução do
isolamento fúngico entre os dois anos estudados, provavelmente devido à ventilação
natural utilizada no CRAM, que permite a veiculação de propágulos fúngicos do ar
externo para o interior das instalações, re-contaminando o ambiente. Esse fato
também foi observado em estudos envolvendo ambientes hospitalares, residências e
prédios comerciais (Leenders et al., 1999; Shelton et al., 2002; Martins-Diniz et al.,
2005; Wu et al., 2005; Lee et al., 2006), os quais comprovaram que o ar externo é a
maior fonte de contaminação fúngica para as instalações internas.
CONCLUSÃO
Os fatores climáticos e populacionais não desempenharam influência
significativa no isolamento de Aspergillus spp. das instalações internas do CRAM.
No entanto, o uso da Clorexidina-Cetrimida® em programas de desinfecção
ambiental demonstrou eficácia no controle de fungos do gênero Aspergillus,
podendo ser utilizado “in loco” no rodízio de substâncias ativas, para desinfecção de
instalações de cativeiro de pingüins, auxiliando na prevenção da aspergilose nestas
aves marinhas suscetíveis mantidas em ambientes fechados.
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Indoor air, v.15, p.19-26, 2005.
AGRADECIMENTOS
À Empresa Chemitec Agro-Veterinária pela gentileza no fornecimento do
produto Clorexidina-Cetrimida® para uso neste experimento.
3.5 A
RTIGO
“Aspergillosis: a limiting factor during the recovery of captive Magellanic
penguins”
Artigo submetido para publicação na revista “Brazilian Journal of
Microbiology” registrado como 241/06
74
ASPERGILLOSIS: A LIMITING FACTOR DURING RECOVERY OF CAPTIVE
MAGELLANIC PENGUINS*
Melissa O. Xavier
1
*, Mauro P. Soares
2
, Ana Raquel M. Meinerz
3
, Márcia O. Nobre
4
,
Luiza G. Osório
5
, Rodolfo P. da Silva Filho
6
, Mário Carlos A. Meireles
1
.
1
Depto. de Medicina Veterinária Preventiva, Faculdade de Veterinária, Universidade
Federal de Pelotas (FAVET, UFPel), Campus Universitário, s/nº, CEP: 96010-900.
2
Laboratório Regional de Diagnóstico – FAVET, UFPel.
3
Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
4
Depto. de Clínicas Veterinária – FAVET, UFPel.
5
Graduação em Veterinária (FAVET, UFPel).
6
Centro de Recuperação de Animais Marinhos de Rio Grande – CRAM, MO-FURG.
* Parte integrante da dissertação de mestrado da primeira autora. E-mail: [email protected]u.br, tel: (53)
32757496.
75
ASPERGILLOSIS: A LIMITING FACTOR DURING RECOVERY OF CAPTIVE
MAGELLANIC PENGUINS
ABSTRACT
The article describes the epidemiology, macroscopic and histological lesions
as well as the isolation of Aspergillus flavus and A. fumigatus from Magellanic
penguins (Spheniscus magellanicus) during recovery in the Center for Recovery of
Marine Animals (CRAM - 32°S/52°W), over a period of two years. From January
2004 to December 2005 the Center received 52 Magellanic penguins, and 23%
(12/52) died. Necropsies were performed and tissue samples were collected for
histological and microbiological examination. From 12 dead animals, aspergillosis
was confirmed in five animals, corresponding to 42% of the mortality. Granulomatous
nodules were observed mainly on air sacs and lungs. Histologically, septate and
branching hyphae, measuring 3-5 µm and PAS positive were found. Two of these
cases were caused by A. fumigatus, two other by A. flavus, and in one the diagnostic
was established by macroscopic lesions observed in the necropsy without sample
collection for fungal isolation and identification. The five aspergillosis cases occurred
in the first year of the study, when a disinfection program was not yet established in
the CRAM. This paper points out the importance of aspergillosis in the rehabilitation
process of captive penguins, and emphasize the necessity of an environmental
disinfection on the aspergillosis prevention, mycosis that caused a high rate of
mortality of the seabirds found on the Brazilian coast and admitted in the CRAM.
KEYWORDS: aspergillosis, rehabilitation, penguins, captivity.
76
ASPERGILOSE: UM FATOR LIMITANTE NA REABILITAÇÃO DE PINGÜINS-DE-
MAGALHÃES
RESUMO
O trabalho descreve fatores epidemiológicos, achados de necropsia,
histológicos e o isolamento de Aspergillus flavus e A. fumigatus em pingüins-de-
Magalhães (Spheniscus magellanicus) em reabilitação no Centro de Recuperação
de Animais Marinhos (CRAM - 32°S/52°W), durante um período de dois anos. De
janeiro de 2004 a dezembro de 2005 foram recebidos no Centro, 52 pingüins-de-
Magalhães, dos quais 23% (12/52) morreram. Esses animais foram necropsiados e
amostras de tecidos foram coletadas para exame histológico e microbiológico. De 12
animais necropsiados, aspergilose foi diagnosticada em 42% (5/12). Granulomas
foram observados principalmente em sacos aéreos e pulmões e hifas septadas,
hialinas e dicotômicas em ângulo agudo foram encontradas na histologia. Dois casos
foram ocasionados por A. fumigatus, outros dois por A. flavus e em um caso o
diagnóstico foi estabelecido pelas lesões macroscópicas observadas na necropsia,
sem a coleta de amostra para isolamento e identificação fúngica. Os cinco casos da
micose ocorreram no primeiro ano, período em que não havia um programa de
desinfecção no Centro. Este trabalho ressalta a importância da aspergilose
interferindo no processo de reabilitação de pingüins em cativeiro no CRAM, e
enfatiza a necessidade da desinfecção ambiental na prevenção da micose, doença
que causa uma alta taxa de mortalidade de aves marinhas encontradas na costa
brasileira e encaminhadas ao CRAM.
PALAVRAS-CHAVE: aspergilose, reabilitação, pingüins, cativeiro
77
INTRODUCTION
Magellanic penguins (Spheniscus magellanicus) live on the southern coasts
of South America, in the Pacific and Atlantic Oceans, in the Falkland Islands and in
Tierra del Fuego [18]. Usually they migrate in the direction of Argentina and Brazil to
feed on fish. During this migratory route many of these birds are exposed to adverse
environmental conditions and some of them are found on beaches, generally
showing poor body conditions with dehydration, hypothermia, skin lesions, traumatic
process or oiled and then, they are sent to rehabilitation [5; 6; 7; 14; 16; 18].
In Brazil, there are 14 institutions, distributed in different states of the country
that promote rehabilitation of marine animals [6]. The unique specific center for the
rehabilitation of marine fauna in Brazil, with emphasis on oiled animals is situated in
the South of Brazil in the city of Rio Grande, RS (32°S/52°W). In this center, named
‘Centro de Reabilitação de Animais Marinhos (CRAM), all the necessary procedures
for the animals to acquire good conditions to be reintroduced in the environment are
carried out [16].
During the period that penguins stay in captivity, many of them are affected
by diseases that cause death hindering the process of rehabilitation and
reintroduction to the environment. Among these diseases aspergillosis stands out, an
opportunist mycosis caused by the Aspergillus genus, which affects mainly the
respiratory system and is considered one of the most important causes of mortality in
captive penguins [1; 4; 8; 11; 15].
Avian aspergillosis could be classified into acute or chronic disease. The
acute presentation is usually a flock problem with juveniles that are exposed to high
spore levels, progressing rapidly and causing death within 48 hours. In many cases it
is severe and includes dyspnea, with high morbidity and mortality rates. The main
route of dissemination of the fungi is through the respiratory system with only minor
spread by blood circulation. The chronic presentation usually appears in individual
adults that have been exposed to low spore levels but are immunosuppressed due to
stress, disease, antibiotic or steroidal therapy. The bird becomes unable to effectively
eliminate a normal inhalation of Aspergillus spores, which colonize local tissue and
can cause focal and/or disseminated form of aspergillosis. The most frequent site of
chronic focal form of the disease on marine avian is the trachea while the
disseminated form generally starts in the lungs and air sacs and spreads to other
78
tissues like bones, liver, spleen and kidney. The chronic presentation progresses
slowly for weeks or months, with low rates of morbidity and mortality [1; 10; 13].
Several preventive measures are used against the disease, nevertheless in
some occasions these preventive measures can not avoid outbreaks of aspergillosis.
Among several preventive measures we can highlight the administration of antifungal
therapy to susceptible penguins [9; 16], the control of air quality with laminar flow, the
use of air filters and programs for disinfection of the surroundings [1; 3; 10].
This report describes some epidemiologic factors of the aspergillosis in
Magellanic penguins received on CRAM over a two-year period.
MATERIALS AND METHODS
During the period of January 2004 to December 2005 the routine of
recovering penguins at CRAM was attended. In this center, all admitted penguins
were identified, weighted, and evaluated for the amount of oil and the hematocrit
value (Ht), according to the protocol described by Ruoppolo et al. [16]. With the aim
of evaluating the clinical evolution of the recovering penguins, all birds were weighted
weekly, clinically examined and blood sample was collected to determine the
hematocrit level.
The preventive measure used against aspergillosis in CRAM is the
administration of oral itraconazole
1
(15 mg/kg/day, during 15 days), for newly-arrived
penguins with body weight less than 2.5 kg. This preventive therapy was made
during the two years, and started in the arrival after the clinical examination of the
birds.
Since January 2005, a disinfection program was established in the CRAM to
increase the air quality, reducing airborne conidia concentration in the facilities of the
captive penguins. This disinfection program consisted of cleaning daily the indoor
equipments and objects with the use of a chemical agent (chlorexidine-cetrimida
2
).
The penguins that died were sent to necropsy to determine the cause of
death. In the necropsy macroscopic alteration was evaluated and fragment of tissues
were collected for histology and mycology.
1
Sporanox® - Janssen-Cilag Farmacêutica Ltda. – São Paulo, SP.
2
Clorexidina-Cetrimida Chemitec® - Chemitec Agro-Veterinária, São Paulo, SP.
79
Samples collected for histology were fixed in 10% buffered formalin and
embedded in paraffin. Sections (3-4 µm) were stained with haematoxylin and eosin
(HE), periodic acid-Schiff (PAS) and Grocott’s methanamine silver (GMS).
For mycology, the samples were submitted to direct examination with KOH
20%, and to culture in triplicate in Sabouraud dextrose agar with cloranfenicol,
incubated at 37ºC for seven days with daily observation of the culture.
RESULTS
During the period of study 52 Magellanic penguins, 47 juveniles and 5 adults
were received. The birds had body weight ranging from 1.8 to 3.2 kg, values situated
below the normal reference for the species (approximately 4 kg). A total of 18
penguins had oiled feathers and 11 had low Ht value (<35%). Over the two-year
period 40 birds (77%) were recovered and 12 (23%) died. Among these dead
penguins, two died with less than 24 hours after the arrival, three with less than
seven days, four with approximately 20 days in captivity, two after 30 days of the
arrival and one after 90 days.
The necropsy, histological and mycological examination established the
aspergillosis diagnostic in 42% (5/12) of the dead animals during the two years of the
study. However, all the deaths were registered in the first year, resulting in a rate of
83% of death caused by aspergillosis in 2004 and 0% in 2005. Seven other penguins
died from other causes as cachexia or pododermatitis with secondary septicemia.
All the animals that had aspergillosis were juveniles and had poor body
conditions, the hematocrit value was low and only one was oiled. All the deaths
occurred as isolated cases, causing penguins deaths in distinct months, June, July,
September and October.
Macroscopic alterations in five birds with aspergillosis were varied. Although
all penguins showed lesions in the respiratory system, the acute aspergillosis
presentation, characterized by miliary white-yellowish granulomatous nodules in the
lung, was found in three penguins that had sudden death, and the chronic
presentation, with the wall of air sacs thickened and disseminated to the other organs
was observed in two penguins that had respiratory clinical signs such as dyspnea
and pulmonary stertors, loss of appetite and lethargy preceding the death.
The necropsy of the three penguins with the acute presentation revealed
lungs with congestion and small white-yellowish nodules with 1-3 mm. Two penguins
80
with chronic presentation (Fig. 1) presented thickened air sacs with abundant
caseous and necrotic debris and grayish-green fungal colonies and nodules with 1
mm to 1 cm in the air sacs and lungs. One penguin had white-yellowish nodules with
approximately 0.5 cm, disseminated throughout the thoracic cavity and externally in
the esophagus. Another penguin showed also nodules and fungal colonies in the
kidneys and liver and the syrinx had a nodule measuring approximately 7 cm, with
caseous material in the center and recovered with whitish plaques.
One bird with a chronic presentation did not have material sent to the fungal
culture, but the macroscopic and histological lesions were typical of aspergillosis.
Figure 1- Macroscopic lesions of aspergillosis in Magellanic penguins: (A) air sacs
thickness with abundant caseous and nodules; (B) nodules white-yellowish externally
on esophagus; (C) fungal colonies in the air sacs;
Histologically, penguins with acute presentation had lungs with necrotic areas
with septate and branching hyphae, measuring 3-5 µm and PAS positive growing in a
radial pattern rimmed by cell debris, hemorrhage and infiltrates of heterophilic,
mononuclear and multinuclear cells. In the chronic presentation it was observed in
the lungs, liver, kidneys and syrinx a necrotic foci surrounded by macrophages,
heterophils and giant cells, sometimes within a fibrous tissue proliferation at the
periphery. The air sacs presented thickness and abundant caseous material. Septate
and branching hyphae, giant cells, mononuclear and multinuclear cells and the
characteristic conidial head of Aspergillus were also present (Fig.2).
81
Figure 2 Conidial heads of Aspergillus spp. (black arrows) and septate and
branching hyphae (blue arrows), in air sacs of the Magellanic penguins at histological
examination with HE (100X).
Direct examination with KOH of the samples in mycology revealed septate
and branching hyphae in tissues and conidial heads in air sacs. Culture allowed to
identify the etiologic agent as A. fumigatus in two cases and as A. flavus in two other
animals, represented, respectively, by grayish turquoise colonies with rapidly growing
and uniseriate phialides over upper half to two-thirds of the pyriform vesicle, and by
yellow-green colonies with rough-walled stipes, spherical vesicles and metulae
covering three quarters of the entire surface of the vesicle.
DISCUSSION
The importance of aspergillosis in different species of captive penguins is
reported since the 40s, causing mortality rates between 50-100% in marine birds in
different regions of the world [2; 4; 9; 11; 12; 17]. In our work the high frequency of
aspergillosis was reaffirmed and it corresponded to approximately 50% of the
mortality in recovering penguins. This numbers can be explained by the difficulty in
prophylaxis and early diagnosis of this disease and consequent inefficacious
treatment, which results in death of the majority of the affected birds.
The acute presentation of aspergillosis was observed in 60% of the
Magellanic penguins affected, differing from the values found by Hocken [9], who
observed only 14% of acute presentation in Eudyptula m. minor species. However
the work of Hocken was carried out with wild penguins that had only nutritional stress
as an immunosuppressant factor, while the recovering penguins at CRAM went
through stress factors like: manipulation, transport, habitat changing, among others,
increasing even further the immunosuppression which predisposes to this mycosis
with more serious injuries and more rapidly [9].
82
The corporal debilitation, characterized by malnutrition, dehydration and
hypothermia, captivity stress, antibiotic or steroidal therapy and the oil toxicity are
factors that predispose recovering penguins to aspergillosis [1; 17]. In spite of the oil
being considered an important factor to induce a serious immunosuppression, in our
work this factor was not characterized as an important factor to predispose the
penguins to aspergillosis, because from 18 oiled penguins treated during this period
only one had aspergillosis.
Young birds have immature immune system that increases the avian
susceptibility to aspergillosis [1, 4]. In our cases all penguins that died with this
mycosis were juveniles, but with our results we can not affirm that this category is
more susceptible, because in this study juvenile penguins represented 90% of the
total birds received in CRAM.
In spite of A. fumigatus being the fungal specie more frequently involved on
penguins aspergillosis [2; 11], in our work, this specie was found at the same
frequency as A. flavus, that is also considered a pathogenic species associated to
clinical cases of aspergillosis in marine and domestic birds [2; 3]. Therefore it has to
be consider that the values obtained could be different if the number of animals was
increased.
The aspergillosis in captive penguins does not have a constant annual
prevalence, occurring frequently as outbreaks that cause high mortality rates in some
years and in others the mortality tend to nullity [4]. In CRAM the occurrence of
aspergillosis was not an outbreak, but occurred as isolated cases. This fact is
justified by the opportunistic characteristic of this mycosis, that usually occur when
there is host immunossupression associated or not with the increase inhalation of
spores [1; 3; 15].
The mortality decrease in the second year of the study was attributed to the
establishment of a disinfection program in CRAM. The cleaning and disinfection
program is the basis of a good sanitary program because it decreases the quantity of
spores in the environment and increases the air quality [1; 3; 10].
CONCLUSION
This work shows that the aspergillosis is an important disease that causes
mortality during the recovering process of rehabilitation of penguins in captivity. To
the best of our knowledge this is the first report of epidemiology of aspergillosis in
83
penguins found on Brazilian beaches and sent to CRAM, showing high levels of
mortality, and emphasize the necessity of an environmental disinfection on this
mycosis prevention.
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[18] Willians, T. D. (1995). The Penguins, Spheniscidae, Oxford University Press.
4 C
ONCLUSÕES
Os resultados obtidos no presente estudo permitiram concluir que:
- A freqüência da aspergilose em pingüins no CRAM foi relevante,
demonstrando a interferência da micose no processo de reabilitação destes animais
que geralmente encontram-se imunossuprimidos;
- Os casos de aspergilose em pingüins durante o período do estudo
apresentaram uma redução significativa entre os dois anos, com taxas de
mortalidade passando de 83% no primeiro ano (5/6) para 0% no segundo (0/6).
- Fungos do gênero Aspergillus estão presentes no ambiente de reabilitação
do CRAM;
- A. fumigatus foi a espécie predominante nas amostras obtidas das
instalações de cativeiro do CRAM, seguido de A. niger e A. flavus, todas com
potencial patogênico;
- Os casos de aspergilose em pingüins no CRAM foram causados por A.
fumigatus e A. flavus;
- Os agentes químicos que obtiveram melhor resultado “in vitro” frente a
espécies patogênicas de Aspergillus foram o digluconato de clorexidina e a amônia
quaternária;
- A contaminação por fungos do gênero Aspergillus no ambiente interno do
CRAM pôde ser parcialmente controlada pelo programa de desinfecção ambiental
estabelecido com o uso rotineiro da Clorexidina-Cetrimida®;
5 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao final do experimento sugere-se que a melhora na qualidade do ar em
relação à concentração de Aspergillus spp. beneficiou a reabilitação de pingüins no
CRAM, sem o aparecimento de nenhum caso de aspergilose durante o período de
controle microbiológico do ambiente. Isto comprova a importância da desinfecção
ambiental como uma medida eficaz dentro de um conjunto de ações necessárias
para a prevenção da enfermidade.
Deve-se ter em mente que todas as ações que objetivam o controle fúngico
nos ambientes são benéficas, e que apesar de não anularem a possibilidade de
ocorrência de casos isolados e esporádicos de aspergilose em pingüins no CRAM,
devem ser adotadas no sentido de reduzir ao máximo os casos da micose,
garantindo que na difícil tarefa de reabilitação de pingüins, um fator importante seja
amenizado, sendo um a menos a interferir neste processo.
A redução significativa do isolamento fúngico que ocorreu de forma parcial,
demonstra que além da desinfecção, a alteração da ventilação natural para
ventilação controlada com emprego de filtros de ar, que reduziriam a re-
contaminação das instalações pelo ar externo, são outras medidas de prevenção
que devem ser estudadas no CRAM. Assim como métodos para diagnóstico precoce
da enfermidade, uso de novos rmacos antifúngicos tanto para prevenção como
para tratamento, ou ainda uso de substâncias imunoestimulantes e
imunomoduladoras que auxiliariam a resposta imune dos pingüins. Este último se
destaca à medida que a maioria dos animais recebidos pelo CRAM apresenta
imunossupressão o que agrava sua predisposição à aspergilose.
Todos os pontos devem ser estudados considerando a relação custo -
beneficio assim como a aplicabilidade a nível populacional e não individual. Isto
porque a grande maioria dos estabelecimentos que trabalham com reabilitação de
pingüins atua como organizações não-governamentais, com poucos recursos
financeiros, e em muitos casos recebem centenas de animais enfermos em um
86
mesmo período, o que torna difícil e inviável a clínica individual destes animais que
geralmente necessitam de cuidados imediatos e emergenciais, sendo tratados como
uma população.
Este período de trabalho proporcionou a integração interinstitucional, e a
inter-relação da micologia laboratorial com a micologia prática aplicada, na área de
clínica e reabilitação de animais, bem como a participação efetiva diária na área da
pesquisa com desenvolvimento de projetos, rotina laboratorial e orientação de
alunos em diferentes níveis da graduação, fatores fundamentais para crescimento e
aperfeiçoamento profissional.
R
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