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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
MESTRADO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE
EMERSON AZEVEDO SOARES
DENSIDADE POPULACIONAL, LESÕES E ANOMALIAS EM Melanosuchus
niger (SPIX, 1825) E Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (CROCODYLIA,
ALLIGATORIDAE) NA BACIA DO RIO ARAGUAIA, ESTADO DO TOCANTINS.
Palmas
2007
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EMERSON AZEVEDO SOARES
DENSIDADE POPULACIONAL, LESÕES E ANOMALIAS EM Melanosuchus
niger (SPIX, 1825) E Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (CROCODYLIA,
ALLIGATORIDAE) NA BACIA DO RIO ARAGUAIA, ESTADO DO TOCANTINS.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Ciências do Ambiente
da Fundação Universidade Federal do
Tocantins, como requisito para obtenção
do título de Mestre em Ciências do
Ambiente.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Adriana Malvasio
Palmas
2007
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i
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da Universidade Federal do Tocantins
Campus Universitário de Palmas
S676d Soares, Emerson Azevedo
Densidade Populacional, Lesões e Anomalias em Melanosuchus niger
(SPIX, 1825) e Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (Crocodylia,
Alligatoridae) na Bacia do Rio Araguaia, Estado do Tocantins. / Emerson
Azevedo Soares.- Palmas, 2007.
85 p.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Tocantins, Curso de
Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, 2007.
Orientadora: Profª. Drª. Adriana Malvasio.
1. Crocodylia. 2. Melanosuchus niger. 3. Caiman crocodilus.
4. Tocantins (Estado).
I.Título
CDU 504
Bibliotecário: Paulo Roberto Moreira de Almeida
CRB-2 / 1118
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – A reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio deste documento é autorizado desde que citada a fonte. A violação dos direitos do autor
(Lei nº 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.
ii
TERMO DE APROVAÇÃO
EMERSON AZEVEDO SOARES
DENSIDADE POPULACIONAL, LESÕES E ANOMALIAS EM Melanosuchus
niger (SPIX, 1825) E Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (CROCODYLIA,
ALLIGATORIDAE) NA BACIA DO RIO ARAGUAIA, ESTADO DO
TOCANTINS
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-
graduação em Ciências do Ambiente, da Universidade Federal do Tocantins, pela seguinte banca
examinadora:
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Adriana Malvasio
Prof.ª do Curso de Mestrado em Ciências do Ambiente – UFT
Prof. Dr. Luciano Martins Verdade
Prof. do Curso de Doutorado em Ecologia Aplicada – ESALQ/USP
Prof.ª Dr.ª Elineide Eugênio Marques
Prof.ª do Curso de Mestrado em Ciências do Ambiente – UFT
Palmas, 27 de Abril de 2007
iii
Dedico este trabalho a minha mãe Izabel, ao meu
pai Juarez Soares (in memoriam) por todo apoio
carinho e atenção que sempre recebi.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço sinceramente a Profª. Drª. Adriana Malvasio que possibilitou a realização deste
trabalho com orientação e pelas diretrizes seguras e o constante incentivo.
Aos demais membros da banca, Dr. Luciano Verdade e Drª Elineide Eugênio Marques por todas
as correções e dicas para o a aprimoramento da dissertação.
Aos demais professores do Curso de Mestrado em Ciências do Meio Ambiente que sempre
incentivam a pesquisa e a produção e contribuíram de várias formas para a realização deste
trabalho.
Ao Prof. M.Sc. Rafael José de Oliveira pela contribuição na análise estatística e discussão dos
dados.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente da Fundação Universidade Federal do
Tocantins, pela oportunidade de cursar a Pós-Graduação e ampliar meus conhecimentos.
Ao Prof. Dr. Marcos Eduardo Coutinho (EMBRAPA RAN/IBAMA) pelas contribuições e
orientações na coleta e análise iniciais dos dados.
Ao RAN/IBAMA pela concessão da licença para coleta de dados biológicos.
À ANA e LBA pelo repasse dos dados físico ambientais.
À CAPES, pela concessão da bolsa durante a fase final do trabalho.
Aos meus maravilhosos irmãos Jairo, Mario, Célia e Lelia que sempre me apoiaram incentivaram
e acreditaram em mim.
Aos meus amigos que me incentivaram e pelos momentos de descontração proporcionados por
eles no decorrer do curso.
À Andréa pelo companheirismo, ajuda e compreensão.
Aos participantes do Projeto Quelônios da Amazônia, que me apoiaram tanto no campo quando
no trabalho com os dados e pelos momentos de descontração: Mauro, Thiago, Kennedy, Peu,
Alex, Lucio, Giovanni, Shislena, Bárbara, Carol, Larissa, Lara, Marcos, Jôsi.
A todos que direta ou indiretamente colaboraram para a consolidação deste trabalho.
v
"A compaixão para com os animais é
das mais nobres virtudes da natureza
humana".
Charles Darwin
vi
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS E TABELAS............................................................................... viii
LISTA DE SIGLAS.......................................................................................................... xi
LISTA DE SÍMBOLOS................................................................................................... xii
RESUMO.......................................................................................................................... xiii
ABSTRACT...................................................................................................................... xiv
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO GERAL...................................................................... 1
1.1 Características gerais dos crocodilianos (Crocodylia)................................................. 1
1.2 Importância dos estudos populacionais........................................................................ 4
1.3 Estudos Populacionais.................................................................................................. 5
1.4 Status da conservação e manejo de crocodilianos no Brasil........................................ 10
1.5 Bacia do Araguaia-Tocantins....................................................................................... 12
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 13
CAPÍTULO 2 - Densidade e Estrutura Populacional de
Melanosuchus niger (SPIX, 1825) e Caiman crocodilus (LINEAU, 1758),
(Crocodylia, Alligatoridae) no rio Javaés, Tocantins.................................................... 18
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 20
2 OBJETIVO...................................................................................................................... 22
3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 22
4 RESULTADOS............................................................................................................... 26
4.1 Densidade da população de crocodilianos no rio Javaés.............................................. 26
4.2 Densidade por classe de tamanho e sexo nas duas espécies em estudos – Rio
Javaés............................................................................................................................ 28
4.3 Influência de fatores físicos na densidade dos crocodilianos....................................... 31
4.4 Densidade da população de crocodilianos em dois lagos marginais ao rio
Javaés............................................................................................................................ 33
4.5 Comparação das densidades e estruturas das populações entre o rio Javaés
e o lago da Mata Verde................................................................................................. 34
5 DISCUSSÃO................................................................................................................... 35
6 CONCLUSÕES............................................................................................................... 39
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 40
vii
CAPÍTULO 3 - Biometria e Avaliação de Lesões e Anomalias em
Melanosuchus niger (SPIX, 1825) e Caiman crocodilus (LINEAU, 1758),
(Crocodylia, Alligatoridae) no Entorno do Parque
Nacional do Araguaia, Rio Javaés, Tocantins................................................................ 43
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 45
2 OBJETIVO...................................................................................................................... 47
3 MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 47
4 RESULTADOS............................................................................................................... 53
4.1 Análise das medidas biométricas dos indivíduos pertencentes às duas
espécies......................................................................................................................... 53
4.2 Análise das medidas biométricas dos exemplares da espécie C. crocodilus................ 55
4.3 Análise das medidas biométricas dos animais da espécie M. niger............................. 58
4.4 Correlação entre os dados biométricos de todos os filhotes de C. crocodilus.............. 61
4.5 Lesões externas e anomalias verificadas nos crocodilianos em estudo........................ 64
5 DISCUSSÃO................................................................................................................... 68
6 CONCLUSÕES............................................................................................................... 72
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 73
CAPÍTULO 4 – Discussão Geral..................................................................................... 75
REFERÊNCIAS............................................................................................................... 80
CAPÍTULO 5 – Conclusões Gerais................................................................................. 83
viii
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
CAPITULO 01
Figura 01 – Exemplar adulto de Paleosuchus palpebrosus. ............................................ 07
Figura 02 – Exemplar jovem de Paleosuchus trigonatus. ................................................ 08
Figura 03 – Exemplar adulto de Melanosuchus niger (jacaré-açu). .................................. 08
Figura 04 – Exemplar adulto de Caiman yacare (Jacaré-do-pantanal). ........................... 09
Figura 05 – Exemplar de fêmea de Caiman latirostris (jacaré-do-papo-amarelo)
em desova. ..................................................................................................... 09
Figura 06 – Exemplar adulto de Caiman crocodilus (jacaré-tinga). ................................. 10
CAPÍTULO 02
Figura 01 – Localização da área de estudos. ..................................................................... 24
Figura 02 – Marcação com tags (brinco plástico) em M. niger
azul fêmea e verde macho. ........................................................................... 25
Tabela 01. Classe de tamanho das espécies Melanosuchus niger
(jacaré-açu) e Caiman crocodilus (jacaré-tinga)........................................... 26
Figura 03 – Número de animais observados nos meses de coleta. .................................. 27
Figura 04 – Número de animais observados nos meses de coleta. .................................. 27
Figura 05 – Variação das classes de tamanho da espécie M. niger
durante os meses de coleta. ............................................................................ 29
Figura 06 – Variação das classes de tamanho da espécie C. crocodilus
durante os meses de coleta. .......................................................................... 30
Figura 07 – Plotagem de equação de regressão entre nível d’água e
número de animais por quilômetro. .............................................................. 31
Figura 08 – Variação entre o nível d’água e o número de animais por
quilômetro. ................................................................................................... 32
Figura 09 – Plotagem de equação de regressão entre o número de
animais por quilômetro e as temperaturas da água e do
ar (os pontos representam os meses de coleta). ............................................ 32
Figura 10 – Relação entre a variação da temperatura média da água e o
número de animais por quilômetro nos meses de coleta. .............................. 33
ix
CAPÍTULO 03
Figura 01 – Localização da área de estudos. ..................................................................... 48
Figura 02 – Captura de exemplar de médio porte com cambão de plástico. ..................... 49
Figura 03 – Captura de animal de grande porte com cabo de aço. ................................... 50
Figura 04 – Contenção de exemplares maiores com cambão de madeira.......................... 50
Figura 05 – Contenção e manipulação de animais dentro do barco. ................................. 51
Tabela 01 – Lesões e anomalias externas encontradas nos crocodilianos em estudo. ....... 52
Figura 06 – Medidas morfométricas da cabeça (Cb: comprimento da cabeça,
Cr: comprimento do crânio). ..................................................................... 53
Tabela 02 – Comprimento máximos, mínimos, média e desvio padrão
dos exemplares machos e fêmeas de M. niger e C. crocodilus. ................. 54
Tabela 03 – Regressão entre medidas biometria dos exemplares capturados
de C. crocodilus e M. niger. ......................................................................... 54
Figura 11 – Plotagem entre as medidas corpóreas das duas espécies de crocodilianos. .... 55
Tabela 04 – Regressão entre dados biometria dos animais das espécies C. crocodilus. ... 56
Tabela 05 – Regressão entre os dados de biometria de machos e fêmeas da
espécie C. crocodilus. .................................................................................. 56
Figura 12 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos exemplares machos
e fêmeas da espécie C. crocodilus. ............................................................... 57
Tabela 06 – Regressão entre dados de biometria dos exemplares da espécie M. niger ... 58
Tabela 07 – Regressão entre medidas morfométricas que deram valor
significativo entre os machos e fêmeas dos exemplares M. niger. .............. 59
Tabela 08 – Regressão entre medidas morfométricas dos exemplares M. niger. ............ 60
Figura 13 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos exemplares machos
e fêmeas da espécie M. niger. ..................................................................... 60
Tabela 09 – Regressão entre medidas morfométricas dos filhotes da espécie
C. crocodilus ................................................................................................. 62
Tabela 10 – Regressão entre medidas morfométricas dos filhotes de C. crocodilus. ...... 62
Figura 14 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos filhotes de C. crocodilus. ........... 63
Figura 07 – Observação da falta de unha em uma das patas anteriores de M. niger. ....... 65
Figura 08 – Anomalia na ponta da cauda (bifurcação) em C. crocodilus. ........................ 65
Figura 09 – Constrição na parte inferior da cauda de C. crocodilus. ............................... 66
Figura 10 – Lesão na ponta da cauda – C. crocodilus. .................................................... 66
x
Tabela 11 – Números absolutos e porcentagem das lesões e anomalias encontradas nos
exemplares de M. niger e C. crocodilus…..................................................... 67
Tabela 12 – Exemplos de lesões/anomalias múltiplas observadas nos exemplares
C. crocodilus e M. niger capturados….......................................................... 67
xi
LISTA DE SIGLAS
TSD – Determinação sexual dependente da temperatura
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
CRC – Comprimento rostro-cloacal
TTL – Comprimento total
Cb – Comprimento da cabeça
Cr – Comprimento do crânio
D. Ct – Diâmetro da cintura
Cd – Comprimento da cauda
AM – Estado do Amazonas
MT – Estado do Mato Grosso
TO – Estado do Tocantins
LBA – Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia
RAN – Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
UFT – Universidade Federal do Tocantins
ESALQ – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
USP – Universidade de São Paulo
ANA – Agência Nacional de Águas
CITES – Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens
Ameaçadas de Extinção
xii
LISTA DE SÍMBOLOS
GL – Graus de liberdade
χ
2
– Qui-quadrado
% – Por cento
ºC – Graus Celsius
< – Menor
> – Maior
– Macho
– Fêmea
± – Variação de
et al. – “entre outros”
km – quilômetro
km
2
– quilômetro quadrado
m – metro
Kg – quilograma
ani/km – animais por quilômetro
m/f – machos e fêmeas
m – machos
f – fêmeas
N – número de animais
pH – potencial hidrogeniônico
cm – centímetros
HP – potência
US$ – dólar
– número
e.g. – por exemplo
S – sul
W – oeste
GPS – Sistema de Posicionamento Global
ID – Animais identificados
Tags – brincos plásticos coloridos e numerados para marcação dos animais
xiii
RESUMO GERAL
Na região Amazônica temos o registro de quatro espécies de crocodilianos, Paleosuchus
palpebrosus, Paleosuchus trigonatus, Caiman crocodilus e Melanosuchus niger. Estas espécies
sofrem pressão por caça e redução de seu habitat devido à expansão de projetos agropecuários
que promovem drenagem dos corpos d’água, desmatamento e queimadas nos seus locais de vida.
Os estudos das populações de crocodilianos são de fundamental importância para averiguar o
estado das espécies no ambiente natural e servem de suporte para os trabalhos de conservação e
manejo. Diante da importância e da carência de pesquisas sobre as populações de Crocodilianos
da fauna brasileira, foram avaliadas as densidades populacionais, variação das medidas
morfométricas e verificação da presença de defeitos e anomalias externas em Melanosuchus
niger e Caiman crocodilus. O estudo foi realizado de agosto de 2004 a novembro de 2006 no
entorno do Parque Nacional do Araguaia, Ilha do Bananal, município de Pium TO. O
levantamento populacional foi realizado por focagens noturnas em barco com motor de popa,
sendo observado um total de 4.887 exemplares, onde identificamos 774 animais da espécie M.
niger e 1.849 C. crocodilus. As densidades populacionais variaram de 0,1 a 2,5 animais por
quilômetro linear em M. niger e de 0,1 a 8,6 em C. crocodilus e os fatores físicos ambientais
(fluviometria e temperatura da água) foram considerados os principais responsáveis pelas
variações. Foi verificada uma redução da razão entre as duas espécies nos anos de 2005 (1 M.
niger : 3,6 C. crocodilus) e 2006 (1 m. niger : 1,5 C.crocodilus). Observaram-se exemplares em
todas as classes de tamanho das duas espécies, mas obteve-se variação entre os números de
indivíduos nas classes de tamanho nos diferentes meses de coleta. Para M. niger, os meses de
agosto 2004 (χ
2
= 43,46; GL = 3; p<0,05) e agosto de 2005 (χ
2
= 44,77; GL = 3; p<0,05)
apresentaram as maiores diferenças entre o número de animais por classe de tamanhos, já para C.
crocodilus as maiores diferenças foram verificadas em outubro (χ
2
= 205,11; GL = 3 p<0,05) e
novembro(χ
2
= 291,46; GL = 3; p<0,05) de 2005. No rio Javaés, foram capturados 145 animais,
109 exemplares de C. crocodilus (1,53 macho : 1fêmea) e 36 exemplares de M. niger (1,57macho
: 1fêmea), sendo que as duas espécies apresentaram estrutura sexual semelhante. Entre os fatores
físicos ambientais analisados a variação fluviométrica apresentou correlação negativa em relação
à densidade dos crocodilianos (r = -0,79, p<0,05) e a temperatura da água apresentou correlação
positiva (r = 0,73, p<0,05). Em dois lagos marginais ao rio Javaés, foram realizados
levantamentos destas espécies e verificaram-se diferenças entre as densidades e entre as
estruturas por classe de tamanho quando comparados os lagos com o rio. Na comparação da
estrutura populacional por sexo, entre os lagos e o rio, obteve-se uma grande variação, pois dos
10 exemplares capturados no lago, 6 eram exemplares de M. niger (fêmeas), enquanto no rio
obteve-se uma predominância de machos. Nos estudos das medidas morfométricas, foram
mensurados 155 animais das duas espécies, 113 exemplares de C. crocodilus e 42 de M. niger.
Comparando as medidas das duas espécies, diferenças significativas foram encontradas,
indicando variação nas medidas de comprimento, sendo que os exemplares de M. niger (CRC
média: 93,5 ± 38,2) alcançaram maior porte que os exemplares de C. crocodilus (CRC média:
57,7 ± 11,6). Foi verificado um dimorfismo sexual na comparação das medidas morfométricas de
machos e fêmeas dentro de cada espécie. Os exemplares machos de M. niger apresentaram CRC
médio de 111,5cm 44,6) e as fêmeas de 66,5 cm 15,7) e os exemplares machos de C.
crocodilus apresentaram CRC médio de 61,8cm 11,4) e as fêmeas de 50,1cm 9,1). Nas
observações das lesões a anomalias nos 155 animais analisados, 42,6% apresentavam
lesões/anomalias externas. M. niger apresentou lesões externas em 54,4% dos animais
examinados e 37% dos exemplares de C. crocodilus apresentaram alguma lesão/anomalia. Em
xiv
ambas as espécies as lesões mais presentes foram a ausência de ponta da cauda (13,5 %) e
ausência de unha nas patas posteriores (13,5 %), ausência de unha nas patas anteriores (12,2 %) e
ausência de parte da cauda (5,1 %). Algumas lesões em menor número, mas de grande
importância foram encontradas em exemplares adultos, como no caso de dois exemplares de M.
niger que não tinham a parte inferior da mandíbula e outro exemplar cego de um dos olhos. As
anomalias foram encontradas somente em C. crocodilus, onde verificamos exemplares com
anomalias nas cristas da cauda, bifurcação na ponta da cauda e constrição na parte inferior da
cauda.
Palavras-chave: classe de tamanho, fatores físicos ambientais, Ilha do Bananal, morfometria,
regressão.
Population Density, Lesions and Anomalies in Melanosuchus niger (SPIX, 1825) and
Caiman crocodiles (LINEAU, 1758) (Crocodylia, Alligatoridae) on the Araguaia River
Basin, State of Tocantins
GENERAL ABSTRACT
In the Amazon region, four crocodile species have been registered: Paleosuchus
palpebrosus, Paleosuchus trigonatus, Caiman crocodilus and Melanosuchus niger. These species
are threatened due to hunting and habitat reduction that results from agricultural and animal-
raising projects which promote drainage of water bodies, deforestation and fires in areas where
they inhabit. Crocodile population studies are extremely important to check for the status of these
populations in the natural environment, and serve to support conservation and management
activities. In light of the importance and lack of research on the Brazilian crocodile population,
morphometric measurement variations, population densities and the presence of defects and
external anomalies in Caiman crocodilus and Melanosuchus niger were evaluated. The present
study was conducted from August/2004 to November/2006 on the outskirts of the Araguaia
National Park, Bananal Island, Pium County, Tocantins. The population survey was carried out
by means of nocturnal spot-light searches using boats equipped with outboard engines. A total of
4,487 specimens were observed out of which 774 were M. niger and 1,849 were C. Crocodilus.
Population densities varied from 0.1 to 2.5 animals per linear kilometer for M. Niger and from
0.1 to 8.6 for C. Crocodilus, and the physical environmental parameters (fluviometry and water
temperature) were considered the main factors responsible for these variations. A reduction in the
ratio of those two species was verified in 2005 (3.6 C. crocodilus : 1 M. niger) and 2006 (1.5 C.
crocodilus : 1 M. niger). Individuals of both species in all size classes were observed, however,
variation in the number of individuals in each class in the different collecting months was
detected. For M. Niger the months of August/2004 (χ
2
= 43.46; GL= 3; p<0.05) and August/2005
(χ
2
= 44.77; GL = 3; p<0.05) showed the greatest differences in number of animals by size class,
whereas for C. crocodilus the greatest differences were detected in October/2005 (χ
2
= 205.11;
GL = 3 p<0.05) and November/2005 (χ
2
= 291.46; GL = 3; p<0.05). In the Javaés River, 145
animals were captured out of which 109 were C. crocodilus (1.53male : 1female) and 36 were M.
xv
niger (1.57male : 1female); both species possess similar sexual structures. Among the physical
environmental parameters analyzed, the fluviometric variation was negatively correlated with
crocodile density (r= - 0.79, p<0.05) while water temperature was positively correlated (r=0.73.
p<0.05). In two lakes adjacent to the Javaés River, surveys on those two species were carried out
and differences among densities and among structures by size class were detected when lakes
were compared with the river. In the comparison of population structure by sex, between the
lakes and the river, a great variation was detected, once out of the 10 specimens captured in the
lake 6 were M. niger (females) whereas in the river males predominated. In the morphometric
measurement studies, 155 animals of the two species were used, 113 specimens of C. crocodilus
and 42 of M. niger. Comparing the measurement of the two species, significant were detected
which indicated variation in size: specimens of M. niger (average CRC: 93.5 ± 38.2) were bigger
than C. crocodilus (average CRC: 57.7 ± 11.6). A sexual dimorphism in the comparison of
morphometric measurements of males and females within each species was verified. The male
and females specimens of M. niger had average CRCs of 111.5 cm (± 44.6) and 66.5 cm (± 15.7),
respectively, while the male and female specimens of C. crocodilus had average CRCs of 61.8
cm (± 11.4) and 50.1 cm (± 9.1), respectively. Regarding the observations of lesions and
anomalies in the 155 animals analyzed, 42.6% had external lesion/anomaly. M. niger had lesions
in 54.4% of the examined animals and 37% of the C. crocodilus specimens had some kind of
lesion/anomaly. In both species the most common lesions were the total absence of the tail tip
(13.5%), absence of nails on the back paws (13.5%), absence of nails on the front paws (12.2%)
and absence of part of the tail (5.1%). A few number of lesions, but of uttermost importance,
were found in adults specimens, as in the case of two M. niger specimens which lacked the
inferior jaw part and another one that was blind. Anomalies were found in C. crocodilus only,
which had specimens with anomalous tail crest, bifurcation of the tail tip and constriction in the
inferior part of the tail.
Key words: ambient physical factors, Bananal Island, class of size, morfometria, regression.
1
Densidade Populacional, Lesões e Anomalias em Melanosuchus niger (SPIX, 1825) e
Caiman crocodilus (LINEAU, 1758) (Crocodylia, Alligatoridae) na Bacia do Rio
Araguaia, Estado do Tocantins
CAPÍTULO 1 – Introdução Geral
1.1 – Características gerais dos crocodilianos (Crocodylia)
Os crocodilianos surgiram no período Triássico a partir do grupo Archosauria que deu
origem à linhagem de animais aquáticos piscívoros, os Phytosauria e os Crocodylia. No final do
período Triássico, os Crocodylia substituíram os Phytosauria. Os Crocodylia do Triássico eram
em sua maioria esguios e de pequeno porte e dão a impressão de terem sido ativos caçadores.
Crocodilianos modernos são animais semi-aquáticos, passando a maior parte do tempo dentro
d’água, saindo em poucas ocasiões como para fazer termorregulação e no caso dos animais
adultos para caçar e para desova. Habitam rios, lagos, pântanos, cursos d’água, canais e estuários,
diferentemente dos Crocodilianos do Triássico que eram praticamente terrestres (AZEVEDO,
2003; POUGH et al., 2003, 2004).
Atualmente a ordem Crocodylia possui 3 famílias, 8 gêneros e 23 espécies. São
encontrados nas regiões subtropicais e tropicais, havendo três espécies que apresentam ampla
distribuição em regiões de zona temperada (POUGH et al., 2003, 2004). Os crocodilianos se
distribuem pelas Américas, África, Europa, Ásia e Oceania. Por serem animais ectotérmicos, não
são encontrados em regiões de temperaturas muito baixas (POUGH et al., 2003).
As três famílias da ordem Crocodylia são: Crocodylidae, Alligatoridae e Gavialidae. A
família Crocodylidae é a que apresenta a maior distribuição, sendo que espécies desta família
ocorrem nas Américas Central e do Sul, em quase toda a África, na parte equatorial da Ásia e na
Austrália. Esta família possui 2 gêneros e 13 espécies, sendo que algumas se distribuem pelas
Américas (Crocodylus acutus, Crocodylus moreleti, Crocodylus intermedius), norte da Austrália
(Crocodylus johnstoni), em países da África encontram-se as espécies Crocodylus cataphractus,
Crocodylus niloticus e Osteolaemus tetraspis, em Cuba tem-se o Crocodylus rhombifer e no Sul
da Ásia estão distribuídas as demais espécies de representantes desta família (Crocodylus
mindorensis, Crocodylus porosus, Crocodylus siamensis, Crocodylus novaeguineae, Crocodylus
palustris) (CEDEÑO-VÁZQUES, 2006; POUGH et al., 2004, TURCKER & COLIN, 1997;
ELSWORTH, et al., 2003).
2
A família Alligatoridae possui 4 gêneros e 9 espécies, onde na América do Sul estão
presentes Paleosuchus palpebrosus (figura 1), Paleosuchus trigonatus (figura 2), Melanosuchus
niger (figura 3), nos países onde tem presença da Floresta Amazônica, Caiman yacare (figura 4)
no Centro Sul do Brasil, na Bolívia e Argentina, Caiman latirostris (figura 5) se distribui do
nordeste ao Sul do Brasil e em países vizinhos, Caiman crocodilus (figura 6) que tem ampla
distribuição pela América do Sul e Central, Caiman crocodilus fuscus na América Central e do
Sul (nos países localizados a norte), Alligator mississipiensis tem sua distribuição pelo sudeste
dos Estados Unidos e Alligator sinensis se distribui no rio Yangtze na China (COUTINHO &
CAMPOS, 1996; DA SILVEIRA et al., 1997; ASA, et al., 1998; VERDADE, 2001a; POUGH, et
al., 2003, 2004; PIÑA & LARRIERA, 2003, PIÑA 2003; WHITE & JESÚS, 2003; WOOLARD,
et al., 2004; BORTEIRO, et al., 2006).
A família Gavialidae, tendo como exemplar Gavialis gangeticus, tem distribuição pelo
norte da Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh, Butão e oeste de Burna e Tomistoma schlegelii,
distribuído pelo sul da Thailandia e Malasia, Sumatra, Borneo e Java (POUGH et al., 2003).
Alguns autores consideram Tomistoma schlegelii como sendo uma espécie da família
Crocodylidae.
Estes animais se diferenciam por características morfológicas, principalmente a largura do
focinho. Os representantes da família Alligatoridae apresentam um focinho largo, Crocodylidae
possuem um focinho de largura intermediária e Gavialidae possuem um focinho bem estreito.
Estas variações estão muito relacionadas aos hábitos alimentares. Espécies das famílias
Alligatoridae e Crocodylidae se alimentam de animais terrestres, quelônios aquáticos e peixes e
Gavialidae alimentam-se quase que exclusivamente de peixes (POUGH et al., 2003, 2004).
A pele dos crocodilianos apresenta ossos (osteodérmicos) localizados sob as escamas,
proporcionando uma espécie de armadura (POUGH et al., 2003). Os crocodilianos
desenvolveram órgãos sensoriais em suas faces que podem detectar pequenos distúrbios nas
superfícies das águas próximas, os quais estão ligados a um sistema de nervos hipertrofiados.
Tais receptores de pressão são também evidenciados em fósseis do período Jurássico, indicando
que estes predadores semi-aquáticos apresentam sensibilidades táteis milhões de anos,
combinados com sua armadura (SOARES, 2002).
3
Uma característica muito peculiar dos crocodilianos é a dobra de tecido que se origina da
base da língua, criando uma vedação entre a boca e a garganta, permitindo que o animal capture,
com a boca, diversas presas dentro d’água sem se afogar (POUGH et al. 2003, 2004).
Em relação ao tamanho, ocorre uma grande variação entre as espécies. Os menores
exemplares de crocodilianos possuem cerca de 1,7 a 2 metros de comprimento total, sendo que
outros animais podem alcançar entre 6 e 7 metros de comprimento, como é o caso dos crocodilos
de água salgada. O crocodilo anão africano (Osteolaemus tetraspis) alcança no máximo 2 metros
de comprimento (RILEY & HUCHZERMEYER, 1999) e o jacaré-paguá (P. palpebrosus,)
também considerado como jacaré anão, tem seu comprimento máximo em torno de 1,7 metros
(POUGH et al., 2004).
Ectotermia, que é uma característica dos répteis, está presente nos crocodilianos. O
controle da temperatura corpórea ocorre através de trocas de energia com o meio ambiente. Como
os crocodilianos são semi-aquáticos, eles realizam termorregulação se posicionando na superfície
da água, de maneiras diferentes, expondo todo o corpo ou parte dele. Estes animais também saem
da água para a terra firme recebendo radiação solar de formas direta e indireta e conforme o
aumento da temperatura retornam para a água. A atividade de termorregulação está diretamente
relacionada às atividades de reprodução, captura de alimento, digestão e crescimento dos
crocodilianos (POUGH et al. 2003, 2004).
A temperatura também é muito importante para crescimento e na determinação sexual dos
crocodilianos. A taxa de crescimento está relacionada não diretamente com o tempo, mas
principalmente com a disponibilidade de alimentos e com uma grande influência da temperatura.
Um crocodiliano em uma temperatura baixa tem menos atividade do que em uma temperatura
mais elevada, conseqüentemente o seu crescimento fica comprometido (ABERCROMBIE &
VERDADE, 2002; VIANNA et al., 2006). A determinação sexual nos crocodilianos, como
ocorre em outros répteis, é dependente da temperatura (TSD). A influência da temperatura na
determinação do sexo está relacionada com o dimorfismo sexual no adulto, pois altas
temperaturas de incubação produzem o sexo de maior porte, que nos Testudines, geralmente é a
fêmea e nos Crocodilianos, geralmente é o macho. Conforme a variação da temperatura tem-se
uma maior proporção de machos ou de fêmeas nos crocodilianos. As temperaturas de
determinação sexual variam de espécie para espécie (PIÑA et. al., 2003; RHEN & LANG, 1998;
POUGH et al. 2003, 2004).
4
As estruturas populacionais são definidas geralmente em relação às classes de tamanho e
razão sexual ocorrendo uma grande variação entre regiões diferentes, mesmo dentro da mesma
espécie. Por razão do comportamento agonísticos dos crocodilianos no período reprodutivo,
alguns autores levantam a idéia de que nas populações destes animais tenha uma maior proporção
de fêmeas do que de machos. THORBJARNARSON (1997) discutindo sobres esses autores e se
baseando no levantamento populacional de várias espécies de crocodilianos em diversas regiões,
não concorda com essa tendência.
1.2 – Importância dos estudos populacionais
Segundo ODUM (1998) uma população pode ser definida como “...qualquer grupo de
organismos da mesma espécie que ocupa um espaço determinado e funciona como parte de uma
comunidade biótica, a qual, por sua vez, é definida como um conjunto de populações...”.
Um dos primeiros passos para o conhecimento de uma espécie é a realização de estudos
populacionais. Em crocodilianos não é diferente, sendo de fundamental importância ter o
conhecimento populacional para que as tomadas de decisões sobre a conservação e manejo sejam
eficientes.
Trabalhos sobre populações de crocodilianos são realizados em todo o mundo,
principalmente por sofrerem pressão por caça para comercialização da carne e do couro. Estes
estudos indicam como se apresentam as estruturas e estado das populações no momento. Durante
as pesquisas, verificam-se nessas populações a ocorrência ou não de reprodução através da
presença de ninhos ou de filhotes, como estão distribuídos os indivíduos entre as faixas etárias
(filhotes, juvenis, subadultos, adultos) e a razão sexual, pois estes fatores influenciam em futuras
populações e como se apresenta o estado de conservação das áreas estudadas (COUTINHO &
CAMPOS, 1996; HALL, 1991; GALVAN, 2004; LESLIE & SPOTILA, 2001; MOURÃO et al.,
2000; REBELO & LUGLY, 2001).
Além da caça, as populações de crocodilianos apresentam decréscimo de seu habitats
principalmente por ações do homem. As populações humanas estão cada vez maiores e a cada dia
que passa estão invadindo regiões naturais através de expansões habitacionais, drenagem de
regiões alagadas, desmatamento de vegetação para expansão das atividades agropecuárias e
poluição dos ambientes aquáticos. Estas ações causam um declínio de áreas naturais produzindo
grandes reduções nos habitats destes animais (BARRERA, 2004; VERDADE, 2001a).
5
No Brasil encontram-se 06 espécies de crocodilianos, sendo que 03 ocorrem no estado do
Tocantins (M. niger, C. crocodilus e P. palpebrosus).
O conhecimento sobre a população de jacarés está avançado em algumas regiões do
Brasil. No Pantanal foram realizados trabalhos com reprodução do jacaré-do-pantanal (Caiman
yacare), trabalhos sobre densidade e estruturas destas populações, movimentos, comportamento,
dieta, conservação e uso comercial (MOURÃO, 2000; COUTINHO & CAMPOS, 1996;
CAMPOS et al., 2003). Trabalhos realizados em M. niger, C. crocodilus e P. palpebrosus
estudaram como se encontra o estado destas populações, a reprodução, dieta e exploração ilegal
na região Amazônica (DA SILVEIRA & MAGNUSSON, 1999; DA SILVERIA &
THORBJARSON, 1999; DA SILVEIRA et al., 1997; VILLAÇA, 2004). Levantamento
populacional realizado na região nordeste do Brasil com C. latirostris, avaliou a densidade e
estrutura populacionais por classe de tamanho da espécie e a comercialização de carne, sendo
denominado na região de bacalhau do São Francisco (VERDADE, 2001a).
Apesar dos trabalhos já realizados com crocodilianos, a carência de outros estudos ainda é
muito grande. A realização de mais estudos se faz necessária, no sentido de aprofundar o
conhecimento sobre como estão estas populações e avaliar quais medidas devem ser tomadas
para a conservação e o manejo.
1.3 – Estudos Populacionais
Levantamento realizado por MOURÃO et al. (2000), referente a C. yacare no Pantanal,
verificaram uma variação significativa entre os anos de 1992 e 1993 nas populações da espécie,
sendo que em 1992 observou-se uma média de 4,53 animais por km linear e em 1993, 28,34
animais por km linear. Neste trabalho estimou-se uma abundância de 3.900.000 animais (±
670.000) para todo Pantanal.
A partir da avaliação referente à influência de fatores sazonais nas populações de C.
yacare verificou-se que no Pantanal ocorre uma maior densidade de animais em áreas de rio (de
4,3 ± 1,5 a 147 ± 76 animais por km) do que em áreas de lagos (de 1,0 ± 0,25 a 26 ± 7,9 animais
por km) (COUTINHO & CAMPOS, 1996).
CAMPOS et al. (2003) realizaram trabalho com C. yacare na fazenda Nhumirim no
Pantanal – Brasil, onde em 20 levantamentos em um lago alcalino (pH de 9,0 a 9,9), verificaram-
se densidades que variaram de 10 a 34 animais. Em outras duas observações foram encontrados
6
mais de 500 animais (20 foram marcados). Estas observações coincidiram com uma alta
densidade de sapos adultos e girinos da espécie Pseudis paradoxa, que podem servir como
alimento para os crocodilianos. Após 5 meses uma fêmea marcada foi encontrada em um rio a 5
km de distância e no lago a densidade diminuiu para 20 animais, com isso a autora concluiu que a
densidade foi influenciada pela disponibilidade de alimentos.
Um estudo sobre a caça ilegal de jacarés do Pantanal, estimou o tamanho dos animais
caçados através do tamanho das peles apreendidas dos caçadores e das medidas dos crânios
encontrados nos acampamentos de caça e verificou uma média de CRC entre 85 e 89 cm.
Realizou-se também um levantamento da estrutura de tamanho e sexo dos crocodilianos da área,
onde 1019 animais foram capturados, obtendo-se uma taxa sexual de 59% de machos e que entre
50cm a 90cm de CRC, 51% dos exemplares capturados eram machos e entre 90cm e 115cm, 94%
eram machos. Isso indica que a maioria dos animais caçados no período de estudos eram de
machos subadultos e adultos (MOURÃO et al., 1996).
VERDADE (2001a), aponta que as populações de C. latirostris na região nordeste do
Brasil apresentaram na Lagoa Vermelha Alagoas, um número de 117 animais, sendo 6 adultos,
64 jovens e 47 filhotes (densidade de 6 a 8 animais por km linear) e no Parque Dois Irmãos
Pernambuco, 8 exemplares sendo 3 adultos, 5 jovens.
C. latirostris ocupa uma área com grande variedade de latitude, sendo uma espécie
encontrada entre os estados da Paraíba e Rio Grande do Norte (nordeste do Brasil) até o Rio
Grande do Sul (VERDADE et al., 2001a).
Na Estação Ecológica de Anavilhanas no baixo rio Negro, Amazônia Central, entre março
e abril de 1992 foram percorridos um total de 1.500 km dentro do arquipélago de Anavilhas e em
cinco florestas verificou-se a presença de 1.180 jacarés, sendo identificados 313 C. crocodilus e
51 M. niger e 1 P. palpebrosus. Entre os filhotes encontrados, 178 eram de C. crocodilus e 77 de
M. niger (DA SILVEIRA et al., 1997)
Pesquisa sobre a caça ilegal de crocodilianos (M. niger e C. crocodilus) realizada na
Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, levantou uma população de 8.541 jacarés no
mês de agosto de 1995, em 486 km de rios. Dos identificados, 53,7% eram da espécie C.
crocodilus (24% dos exemplares com CRC > 70cm) e 46,0% M. niger (1% com CRC > 150cm).
A densidade variou de 0,9 a 115 animais por km linear (SILVEIRA & THORBJARNASON,
1999).
7
Em trabalho realizado no lago formado pela UHE Lajeado -TO, foram observados 659
animais, sendo 39,3% identificados como C. crocodilus e 15,5% de P. palpebrosus 15,48%. Da
captura de 75 animais das duas espécies, 43 C. crocodilus (razão macho 1:1 fêmea) e 32 P.
palpebrosus (razão de machos 2:1 fêmeas) (VILLAÇA, 2004).
Por habitarem regiões com grande variedade de populações, os crocodilianos quando
filhotes e jovens sofrem grande pressão de predação, sendo que algumas aves, lagartos e peixes
fazem uso destes pequenos animais em sua alimentação. Quando sobrevivem as predações, os
animais podem apresentar lesões em seus corpos. Adultos podem adquirir lesões em razão de
disputas intra-específica por território, alimento e comportamento agonísticos dos machos no
período reprodutivo.
Além das lesões causadas por disputas, os crocodilianos apresentam anomalias externas
que são em sua maioria de origem congênita. Muitas destas anomalias são letais causando a
morte dos animais logo após o nascimento, por não terem condições de sobreviver nos ambientes
naturais e muitos morrem dentro dos próprios ovos. Entretanto, algumas anomalias não são tão
prejudiciais permitindo que os animais consigam sobreviver com algumas restrições
(RAINWATER et al., 1999; RUBIO-DELGADO, 2001).
Figura 01 – Exemplares adulto de Paleosuchus palpebrosus
http://herpeto-terrario.forumpro.fr
8
Figura 02 – Exemplar jovem de Paleosuchus trigonatus
Figura 03 – Exemplar adulto de Melanosuchus niger (jacaré-açu).
http://herpeto-terrario.forumpro.fr
http://concise.britannica.com
9
Figura 04 – Exemplar adulto de Caiman yacare (Jacaré-do-pantanal).
Figura 05 – Exemplar de fêmea de Caiman latirostris (jacaré-do-papo-amarelo) em desova
Bruce Schwedick
10
Figura 06 – Exemplar adulto de Caiman crocodilus (jacaré-tinga).
1.4 – Status da conservação e manejo de crocodilianos no Brasil
Do início do século até 1969, a exploração da fauna silvestre brasileira foi realizada por
meio da caça comercial. As estatísticas comuns a qualquer atividade econômica, bens e riquezas
produzidas, apareceram nos anuários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
a partir de meados dos anos 50. Esses registros mostram que, de 1956 a 1969, o Brasil exportou
17,9 mil toneladas de peles de animais silvestres de várias espécies. Foram gerados cerca de US$
290 milhões no total, ou US$ 26,7 milhões por ano. A exploração dos jacarés foi a mais lucrativa:
cerca de US$ 6,6 milhões/ano (MOURÃO, 2007). No ano de 1969, foi sancionada a Lei nº 5.197
onde proibia a caça profissional e o comércio de produtos advindos de animais silvestres, no
entanto, a legislação não foi suficiente para que a exploração fosse finalizada, sendo que
importantes espécies brasileiras continuam sendo caçadas devido a problemas de fiscalização
(BARQUERO, 2006).
Entre 1987 e 1999 foram medidas 2.978 peles de jacarés do pantanal, confiscadas pela
Polícia Florestal do Mato Grosso e 1.358 crânios encontrados em 20 campos de caçadores para
estimar o tamanho dos animais caçados na região. Verificou-se que o comprimento rostro–cloacal
- CRC dos animais caçados, estimados pelas peles e crânio, teve média entre 85 e 89 cm. Nessa
www.tortoisereserve.org
11
faixa de tamanho são encontrados uma maioria de machos e fêmeas em período reprodutivo (>
70 cm) (MOURÃO et al., 2000).
No ano de 1995 SILVEIRA & MAGNUSSON (1999) realizaram levantamento da caça
comercial do M. niger e C. crocodilus na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá no
oeste da Amazônia Brasileira e verificaram a caça dos animais pelos ribeirinhos e venda através
de troca para barcos que levavam a carne para a Colômbia e para o estado do Pará Brasil. De
janeiro a março de 1995 encontrou-se 6.671 kg de carne de jacaré retiradas de 221 exemplares de
M. niger (51,6%) e de 191 C. crocodilus (27,1%), o restante não foi possível determinar. Em
setembro de 1995 (em somente 16 dias) foram encontrados 3.421 kg de carne, retirados de 172
exemplares de M. niger (87,3%) e de 24 exemplares de C. crocodilus (12,7%).
Pesquisa realizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Piagaçu-Purus na região
do Baixo rio Purus AM, avaliou que o comércio de carne de jacaré seca e salgada é
provavelmente a principal fonte de renda anual para os moradores locais e é praticada em larga
escala durante o ano. Levantamento realizado de dezembro de 2004 a fevereiro de 2006,
verificou um abate de cerca de 6.194 jacarés, sendo 2.851 da espécie M. niger e 3.343 da espécie
C. crocodilus. A carne é transportada por cerca de 1.500 km até o estado do Pará e
comercializada em feiras públicas das pequenas cidades próximas a Belém. estimativas até o
momento de que cerca de 50 toneladas de carne salgada de jacaré são comercializadas por ano
(MARIONI et al., 2006).
A caça é considerada um problema crítico nas regiões do Pantanal e Amazônia e o
mercado prioriza animais de maior porte. Caçar animais de maior porte induz a uma preferência
por animais machos e em certo ponto isso é positivo, pois se preserva as fêmeas que são
responsáveis pela reprodução e cuidados parentais (um macho pode cobrir várias fêmeas) e pelo
fato de que nas regiões do Pantanal (MOURÃO et al., 2000) e Amazônia tem-se uma maior
proporção de machos (DA SILVEIRA & MAGNUSSON , 1999).
Pesquisa realizada com C. acutus no rio Tumbes, norte do Peru, avaliou que a população
de crocodilianos, além de ser influenciada por fatores climáticos (e.g. El Niño e La Niña), é
afetada por atividades antrópicas nas margens do rio, como agricultura, criação de gado, extração
de madeira, caça ilegal à fauna silvestre, extração de ouro, causando um declínio do habitat
destes animais, modificando as áreas de nidificação fazendo com que os mesmos migrem para
outras áreas mais preservadas (GALVAN & VARGAS, 2003; GALVAN, 2004).
12
Uma alternativa possível para evitar exploração irregular dos crocodilianos seria sua
criação em cativeiro. O manejo de crocodilianos para a utilização de couro e carne pode ocorrer
de três maneiras: uma maneira seria a caça controlada ou manejo extensivo de populações
selvagens, outra seria a retirada de parte dos ovos de ninhos vindos da natureza e criação destes
filhotes em cativeiro e uma última alternativa seria a obtenção de matrizes e realização do ciclo
completo em cativeiro, incluindo reprodução (SARKIS-GONÇALVES et al., 2001).
A ESALQ USP (Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” Universidade de
São Paulo, Piracicaba, SP) possui cativeiro experimental de C. latirostris e vários trabalhos são
desenvolvidos sobre a alimentação, reprodução, comportamento, populações, alometria da
espécie. (VERDADE, 2000, 2001a, 2001b, 2003a, 2003b; SARKIS-GONÇALVES et al., 2004).
No início da década de 90 foi permitida a exploração legal de populações de C. yacare no
Pantanal, a partir da coleta de ovos na natureza e criação dos jovens em cativeiro. COUTINHO et
al. (1998) acompanhando trabalho comercial com C. yacare em cooperativa de 22 fazendas na
sub-região de Poconé MT, avaliou que dentro das cotas permitidas entre os anos de 1992 e
1994, foram retirados da natureza 5.002 ovos para a obtenção dos filhotes e criação em cativeiro.
Para um manejo efetivo da fauna brasileira, além de aprofundamentos dos estudos sobre a
biologia das espécies, outro passo importante seria a modificação da lei da fauna. Esta alteração
permitiria uma forma de manejo mais apropriada para cada região, sendo que poderia incluir até a
comercialização de alguns produtos da vida silvestre, quando de maneira apropriada e
regulamentada por lei. Desta forma, pode-se estabelecer uma nova filosofia de manejo e
conservação da vida silvestre no Brasil (VERDADE, 2004), mas para que isto se torne uma
realidade brasileira, se faz necessário ampliar os estudos sobre as populações de crocodilianos
nas regiões onde estes animais estão presentes, no intuito de avaliar se estas suportam o manejo
comercial.
1.5 – Bacia do Araguaia-Tocantins
A área de estudo fica no entorno do Parque Nacional do Araguaia, no rio Javaés,
localizada entre os paralelos 9º50’ S e 11º10’ S e os meridianos 49º56’ W e 50º30’W, que
pertence a Bacia Araguaia-Tocantins. A escolha desta área foi justamente por estar inserida em
região de preservação nacional. Os animais em estudo fazem parte da população que pertence ao
13
Parque Nacional do Araguaia e os dados gerados podem servir de base para avaliar como se
encontram as espécies do interior do parque.
Esta bacia é uma das principais do Brasil, tendo sentido de sul para norte, drenando
somente território brasileiro, abrangendo os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Pará, Maranhão, Distrito Federal e Tocantins (AGOSTINHO, 2007).
Ocupando uma área de 803.250 km
2
, equivalente a 9,8% do território brasileiro, a bacia
do Tocantins-Araguaia situa-se nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte. O rio principal desta
bacia é o Tocantins, caracterizado como rio pico de planalto por ter grande número de
cachoeiras e corredeiras e é formado pela união do rio Paranã e Maranhão e apresenta uma
extensão de 2.400 km (PAIVA, 1982).
O principal afluente do rio Tocantins é o rio Araguaia, que é considerado com a mesma
importância no conjunto da bacia. A maior parte do curso do rio Araguaia se desenvolve por
ampla planície aluvial, sendo assim apontado como um rio de planície. Tem sua nascente na serra
do Caiapó entre as divisas de Mato Grosso e Goiás, em uma altitude de 850m. Sua bacia tem
370.000 km
2
, uma extensão de 2.115 km e sua foz é nas proximidades de São João do Araguaia,
no km 550 do Rio Tocantins (PAIVA, 1982; RIBEIRO, 1995).
O Araguaia, segundo PAIVA (1982), é dividido em três trechos, Alto Araguaia, com
extensão de 450 km e desnível de 570m, Médio Araguaia onde apresenta um desnível de 185m e
extensão de 1.505 km e Baixo Araguaia que vai de Santa Izabel do Araguaia até sua foz com 160
km de extensão e 11m de desnível. No médio Araguaia encontra-se a Ilha do Bananal, a maior
ilha fluvial do mundo, que é formada por dois braços do Araguaia, sendo o menor braço
denominado de rio Javaés. Na parte norte da ilha, encontra-se o Parque Nacional do Araguaia que
foi instituído pelo decreto federal 47.570 no ano de 1959, abrigando até hoje um rico patrimônio
genético.
REFERÊNCIAS
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18
CAPÍTULO 02 – Densidade e Estrutura Populacional de Melanosuchus niger (SPIX, 1825)
e Caiman crocodilus (LINEAU 1758), (Crocodylia, Alligatoridae) no rio Javaés, Tocantins.
RESUMO
A região do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal TO) engloba ambientes dos
rios, Araguaia, Javaés, Coco, Pium e vários lagos marginais a estes rios. No período de grandes
cheias, por ser uma região de planície, estes rios saem das suas calhas e invadem a vegetação,
chegando a se comunicar com os lagos marginais, alterando o ambiente, principalmente para os
animais aquáticos. Com relação aos crocodilianos, existem registros de duas espécies no Parque
Nacional do Araguaia, Melanosuchus niger e Caiman crocodilus. O presente estudo avaliou a
densidade e estrutura populacional por classe de tamanho e sexo e quais fatores poderiam estar
influenciando nas densidades e na estrutura das populações em três anos de coleta 2004, 2005 e
2006, na região do entorno do Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés, município de Pium, TO.
No trabalho de populações, as capturas foram realizadas com incursões noturnas em barco com
motor de popa para focagens dos animais (spot-light). Foram observados um total de 4.887
exemplares, 774 M. niger, 1.849 C. crocodilos e o restante não foi possível a identificação.
Durante o trabalho ocorreu uma grande variação entre o número de indivíduos observados no
geral e dentro de cada espécie. Em M. niger, a densidade por quilômetro linear variou de 0,1 a 2,5
e para C. crocodilus, variou de 0,1 a 8,6. Esta variação foi, principalmente, por fatores físicos do
ambiente (fluviometria e temperatura da água). Entre 2005 e 2006 a razão diminuiu de 3,6 C.
crocodilus:1 M. niger, para 1,5 C.crocodilus : 1 M. niger. Com relação às classes de tamanho,
foram encontrados exemplares em todas elas e o número de indivíduos nos diferentes períodos de
coleta foram influenciados por fatores físicos ambientais e principalmente pelo nível d’água. Para
M. niger, os meses de agosto 2004 (χ
2
= 43,46; GL = 3; p<0,05) e agosto de 2005 (χ
2
= 44,77; GL
= 3; p<0,05) apresentaram as maiores diferenças entre o número de animais por classe de
tamanho, predominando animais das classes III e IV, já para C. crocodilus as maiores diferenças
entre o número de animais por classe de tamanho foram outubro (χ
2
= 205,11; GL = 3 p<0,05) e
novembro(χ
2
= 291,46; GL = 3; p<0,05) de 2005, apresentando um maior número de animais da
classe II. Foram capturados 145 animais no rio Javaés, 36 exemplares de M. niger (22 machos e
14 fêmeas) e 109 exemplares de C. crocodilus (66 machos e 43 meas). Dos fatores físicos
analisados, a variação fluviométrica apresentou correlação negativa em relação à densidade dos
crocodilianos (r = -0,79, p<0,05). Os meses que apresentaram a maior densidade foram aqueles
com menores níveis d’água e a temperatura da água apresentou correlação positiva (r = 0,73,
p<0,05), conforme o aumento da temperatura verificava-se um maior número de animais. Foram
realizadas coletas em dois lagos marginais ao rio Javaés e na comparação do lago da Mata Verde
com o rio, verificou-se diferenças entre as densidades e entre as estruturas por classe de tamanho
(principalmente para C. crocodilus). Na estrutura populacional por sexo, comparando os lagos
com o rio, verificou-se uma grande diferença na proporção de animais da espécie M. niger, pois
dos 10 exemplares capturados no lago, 6 eram exemplares de M. niger, todos fêmeas, enquanto
que no rio obteve-se um maior número de machos desta espécie. Portanto, das duas espécies
encontradas no entorno do Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés (M. niger e C. crocodilus),
verificou-se uma maior densidade de exemplares de C. crocodilus. Os diferentes habitats e
fatores físicos ambientais influenciam na densidade e na estrutura destas populações e as duas
espécies encontram-se em um certo equilíbrio, por apresentarem exemplares em todas a faixas
etárias.
19
Palavras-chave: classe de tamanho, fatores físicos ambientais, Ilha do Bananal, jacaré, sexo.
Population Density and Structure of Melanosuchus niger (SPIX, 1825) and Caiman
crocodilus (LINEAU, 1758), (Crocodylia, Alligatoridae) in the Javaés River, Tocantins
The Araguaia National Park encompasses rivers (Araguaia, Javaés, Coco and Pium) and
several adjacent lakes environments. During the period of great floods, as that is a region of
plains, these rivers leave its grooves, invade the vegetation and merge with adjacent lakes,
altering the environment especially for aquatic animals. Regarding crocodiles, two species have
been reported to exist in the Araguaia National Park: Melanosuchus niger and Caiman
crocodilus. The present study evaluated population density and structure by size and sex class,
the factors that could be influencing density and structure and the status of the equilibrium of the
population in 2004, 2005 and 2006 on the outskirts of the Araguaia National Park, Javaés River,
Pium County, Tocantins. In the population study, collections were made by means of nocturnal
spot-light searches using boats equipped with outboard engines. A total of 4887 specimens were
observed, 774 M. niger and 1849 C. crocodilus. It was not possible to identify the remaining
specimens. There was a great variation between the number of individuals observed in general
and within each species. In M. niger the density per linear kilometer varied from 0.1 to 2.5 and in
C. crocodilus from 0.1 to 8.6. This variation was mainly due to environmental physical factors.
Between 2005 and 2006, the ratio decreased from 3.6 C. crocodilus: 1 M. niger to 1.5 C.
crocodilus: 1 M. niger. Regarding size classes, specimens were found in all classes and the
number of individuals in the different collecting periods was influenced by environmental
physical factors, especially water level. For M. niger the months of August/2004 (χ
2
= 43,46; DF
= 3; p<0,05) and August/2005 (χ
2
= 44,77; DF = 3; p<0,05) showed the greatest differences in
number of animals by size class, whereas for C. crocodilus the greatest differences were detected
in October/2005 (χ
2
= 205,11; DF = 3 p<0,05) and November/2005 (χ
2
= 291,46; DF = 3;
p<0,05). In the Javaés River, 145 animals were captured out of which 109 were C. crocodilus (66
males and 43 females) and 36 were M. niger (22 males and 14 females); both species possess
similar sexual structures. Among the physical parameters analyzed, the fluviometric variation
was negatively correlated with crocodile density (r= - 0.79, p<0.05) The months showing higher
density where those with the lowest water levels and water temperature was positively correlated
(r=0.73. p<0.05); as temperature increased more animals could be observed. Collections were
made in two lakes adjacent to the Javaés River and when comparing the Mata Verde lake with the
river differences among densities and among structures per size class (especially for C.
crocodilus) were verified. In the population structure per sex, when comparing the lakes with the
river, a great difference was detected once of the 10 specimens captured in the lake, 6 were
female M. niger. Therefore, of the two species found in outskirts of the Araguaia National Park,
Javaés river (M. niger and C. crocodilus), a higher C. crocodilus density was detected. The
different habitats and the physical environmental factors have influence upon density and
structure of those populations and the two species are in a certain equilibrium for they have
specimens of all age groups.
Key words: alligator, ambient physical factors, Bananal Island, class of size, sex.
20
1 – INTRODUÇÃO
Atualmente são registradas 23 espécies de crocodilianos no mundo, dos quais 6 ocorrem
no Brasil. No estado do Tocantins são encontradas 3 espécies (Caiman crocodilus “jacaré-tinga”,
Melanosuchus niger “jacaré-acú” e Paleosuchus palpebrosus “jacaré-paguá”, sendo que estas
apresentam considerável importância econômica na região (DA SILVERIA &
THORBJARNARSON, 1999), estando sujeitas à caça. Dentro do estado do Tocantins, destaca-se
a área do Parque Nacional do Araguaia (Ilha do Bananal), onde existem populações de duas
espécies citadas: M. niger e C. crocodilus.
A espécie M. niger apresenta uma ampla distribuição sendo encontrada no Equador,
Colômbia, Peru, Bolívia, Guianas e no Brasil. C. crocodilus se distribui também pela América do
Sul e Central, mas tem distribuição mais ampla que os exemplares de M. niger. As duas espécies
apresentam sobreposição de área em vários países.
Trabalhos sobre a densidade das populações são considerados essenciais para o
conhecimento da espécie, pois produzem importantes informações que servem de base para
subsidiar os trabalhos de manejo e conservação, além de auxiliar na implementação da legislação
sobre o uso destes animais (APARICIO et. al. 2006). Na literatura, localizam-se estudos
populacionais com várias espécies, podendo-se destacar, Caiman latirostris (VERDADE, 2001),
Caiman yacare (MOURÃO et. al. 2000; APARICIO, et al. 2006), M. niger (SILVEIRA, 1997,
1999; RON, 1998), C. crocodilus (SILVEIRA, 1997; HOOGESTEIJN & CAHPMAN 1997;
RON et al., 1998; VILLAÇA, 2004), P. palpebrosus (VILLAÇA, 2004), Crocodilus acutus,
Crocodylus moreletii (CEDEÑO-VÁZQUEZ, et al. 2006) e Osteolaemus tetraspis (RILEY &
HUCHZERMEYER, 1999). No estado do Tocantins, alguns trabalhos sobre a população de
crocodilianos foram desenvolvidos relacionados à termorregulação (MALVASIO et al., 2004;
FRANÇA, 2003), monitoramentos preliminares de densidade populacionais (GARCIA et al.,
2003; VILLAÇA, 2004; MELO et al., 2005) e estudos morfométricos (SALERA JR. &
MALVASIO, 2004).
A estrutura populacional dos crocodilianos pode ser avaliada em relação às classes de
tamanho, onde se observa a ocorrência das faixas etárias (filhotes, jovens, subadultos e adultos)
(SAH & STUEBING, 1996). O levantamento da estrutura sexual é também de grande
importância para o conhecimento da espécie e para os trabalhos de manejo e conservação.
Levantamento bibliográfico realizado por THORBJARNARSON (1997) discute trabalhos de
21
outros autores que indicam uma tendência na população dos crocodilianos de apresentar uma
maior proporção de fêmeas, em razão do comportamento agonístico dos machos no período de
reprodução. Porém, quando o autor compara vários trabalhos de estrutura populacional, conclui
que esta tendência não se confirma.
A temperatura do ambiente é um dos fatores físicos que mais afetam na vida dos
crocodilianos. Por serem ectotérmicos, estes animais buscam ativamente ambientes com
temperaturas ideais para suas atividades. Um dos principais comportamentos nos crocodilianos
como nos demais grupos de répteis é a termorregulação. Estes animais expõem-se ao sol para
aquecer seus corpos e retornam à água para resfriá-los (POUGH et al., 2003, 2004; ASA et al.,
1998; PINHEIRO et al., 2001). A determinação sexual também é orientada pela variação da
temperatura nos ninhos influenciando na maior proporção de nascimento de machos ou de fêmeas
(RHEN & LANG, 1998; PIÑA, et al., 2003). Na realização dos trabalhos de censo populacional,
a densidade também é influenciada pelas temperaturas do ar e da água, onde os animais ficam
submersos ou expostos na água (MOURÃO et al., 2000).
Por serem animais semi-aquáticos, os crocodilianos sofrem uma grande influência dos
níveis fluviais. Nos trabalhos com populações naturais, é quase uma unanimidade entre os
autores, o fato de que, no período de cheia dos rios e lagos, ocorra uma dispersão da maioria
destes animais para áreas adjacentes, diminuindo com isso a densidade populacional
(COUTINHO & CAMPOS, 1996; MOURÃO et al., 2000).
Crocodilianos se distribuem em suas áreas de abrangências tendo uma certa preferência
por alguns habitats. Filhotes e jovens de C. crocodilus e M. niger são encontrados com maior
freqüência em águas rasas, com pouca correnteza e próximos da vegetação, os animais de
maior porte podem ser encontrados em águas mais profundas, com maior correnteza e nas praias
(MALVASIO et. al., 2004; MONTEIRO et. al., 2005). Levantamento populacional realizado no
reservatório da UHE Lajeado TO demonstra uma maior concentração de animais em
determinados estratos do ambiente (VILLAÇA, 2004).
22
2 - OBJETIVO
Este trabalho objetiva avaliar a densidade e a estrutura populacional de M. niger e C.
crocodilus no entorno do Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés e quais fatores poderiam estar
influenciando na densidades e estruturas.
3 - MATERIAL E MÉTODOS
O levantamento populacional foi realizado no entorno do Parque Nacional do Araguaia,
no rio Javaés (Ilha do Bananal), localizada entre os paralelos 9º50’ S e 11º10’ S e os meridianos
49º56’ W e 50º30’W (figura 01).
A coleta de dados foi realizada durante os anos de 2004, 2005 e 2006, sendo que em 2004
foram trabalhados os meses de agosto e outubro, em 2005 os meses de março, junho, agosto,
outubro e novembro e em 2006 os meses de abril, junho, agosto, outubro e novembro visando
levantamento nos períodos de enchente (março, abril e junho) e vazante (agosto outubro e
novembro) do rio.
As saídas de campo foram realizadas em corpos d’água representativos, incluindo o leito
principal do rio Javaés, reentrâncias, pequenas baías formadas ao longo do rio e em dois lagos
(lago Chaves 9º52’ S / 50º08’, lago da Mata Verde 9º57’ S / 50º01’) que se localizam à
margem direita do rio Javaés. Os lagos ficam sem contato com o rio na maior parte do ano,
somente no período de enchente ocorre ligação entre os lagos e o rio.
As incursões contavam geralmente com três pessoas, sendo um barqueiro (zingueiro), um
técnico que realizava as anotações nas fichas de campo e um observador que fazia a contagem
dos animais e a identificação por espécie e classe de tamanho. Para a localização dos animais de
ambas as espécies (M. niger e C. crocodilus) foram realizadas incursões noturnas em barcos de
alumínio equipados com motor de popa. Para as contagens noturnas fez-se uso de luz artificial
(spot-light) ligada a baterias de 12 volts (REBELO & LUGLI, 2001; COUTINHO & CAMPOS,
1996; SARKIS-GONÇALVES, et al., 2004). O foco de luz foi utilizado para localizar os animais
através dos reflexos dos olhos, com isso os exemplares permaneciam temporariamente ofuscados
pela luz, o que facilitava uma lenta aproximação para possível identificação e classificação do
tamanho dos animais de acordo com as normas técnicas do RAN/IBAMA (tabela 1).
23
Os animais observados, cuja identificação não foi possível, foram classificados como o
identificados e aqueles identificados, mas que submergiram antes da classificação do tamanho
foram registrados somente de acordo com a espécie.
Para apurar a visão do observador que realizava a identificação das duas espécies e
classificação dos animais por classe de tamanho, antes da captura de cada animal para retirada
das medidas biométricas e marcação, o observador identificava a espécie e estimava o tamanho
do animal e logo após a captura averiguava a margem de acerto.
A captura era realizada com o uso de laços tipo cambão (cano de pvc) para os animais de
médio porte (< 200cm) e laços de cabo de aço amarrados em corda para os animais maiores (>
200cm). O cabo de aço utilizado era envolto por uma cobertura plástica que tinha a função de não
ferir os animais durante a captura. Os filhotes, por habitarem geralmente regiões mais rasas,
foram capturados manualmente.
Durante os trabalhos de coleta foi avaliada a distribuição das diferentes classes de
tamanho (tabela 2) dos exemplares das duas espécies em diferentes ambientes. Foram
considerados os seguintes ambientes:
leito principal do rio Javaés: representado pela calha principal do rio, onde verifica-se
uma correnteza constante e marginado por praias e por barrancos altos, que dificultam o acesso a
vegetação dos animais semi-aquáticos nos períodos de vazante;
praias: grandes bancos de areias que se localizam predominantemente no leito principal
do rio, principalmente no período de vazante;
– reentrâncias: braços marginais e baias formadas pelo rio principal, com acesso facilitado
a vegetação pela pouca presença de barrancos e com menor profundidade de suas águas;
– lagos marginais: por dois lagos (lago Chaves e lago da Mata Verde) à margem direita do
rio Javaés com grande presença de vegetação em suas margens e sem presença de praias. Estes
lagos se comunicam diretamente com o rio somente nos períodos de grandes enchentes;
– vegetação marginal: vegetação encontrada as margens do rio, reentrâncias e lagos.
Para a determinação da estrutura sexual fez se uso dos animais capturados. Na
determinação do sexo realizou-se o exame cloacal para verificar a presença ou não do órgão de
cópula masculino. Nos animais de médio e grande porte, o examinador introduzia o dedo na
cloaca e averiguava a presença do órgão de cópula e nos filhotes realizava-se uma pressão na
parte externa da cloaca o que propiciava a exposição do órgão.
24
Figura 01 – Localização da área de estudos
25
Os levantamentos foram geo-referenciados e as distâncias percorridas foram mensuradas
para auxiliarem no cálculo da densidade das duas espécies por quilômetro linear de rio percorrido
(ODUM, 1988).
Dados físicos ambientais foram utilizados para avaliar suas influências nas variações das
populações das espécies durante os diferentes meses. Estes dados foram obtidos no local da
coleta e em duas estações meteorológicas (ANA e LBA). Foram utilizados os dados de
temperatura do ar e da água e nível fluviométrico.
Neste trabalho populacional, foi realizada a marcação dos animais para a estimativa da
população através do método de captura e recaptura. Para a marcação, foram utilizados brincos
plásticos numerados e de cores diferentes para cada espécie e sexo. Os brincos foram fixados na
primeira crista única da cauda (figura – 02).
Para a análise dos dados da densidade dos crocodilianos em geral e por espécie e
determinação da estrutura por classes de tamanho e sexo, fez-se uso do teste de χ
2
(CENTENO,
1990).
Figura 02 – Marcação com tags (brinco plástico) em M. niger, azul fêmea e verde macho.
26
Tabela 01. Classe de tamanho das espécies M. niger (jacaré-açu) e C. crocodilus (jacaré-tinga).
Espécie/Classe I II III IV
Jacaré-tinga < 50 cm 50 – 140 cm 140 – 180 cm > 180 cm
Jacaré-açu < 50 cm 50 – 190 cm 190 – 210 cm > 210 cm
(Normas técnicas do RAM – IBAMA)
4 - RESULTADOS
4.1 – Densidade da população de crocodilianos no rio Javaés
Durante as coletas na região do entorno do Parque Nacional do Araguaia foram
observados 4.887 crocodilianos, sendo identificados 2.623 exemplares, dos quais 774 (29,5 %)
exemplares foram de M. niger e 1.849 (70,5 %) de C. crocodilus, uma proporção de 2,4 C.
crocodilus para cada M. niger. A diferença de densidade entre as duas espécies se demonstrou
significativa, χ
2
= 440,57; GL = 1; p<0,05.
Entre os anos de coleta foram observadas diferenças no número de animais registrados.
Comparando 2005 com 2006, onde teve-se o mesmo número de incursões (n=5), foram
observados 2.401 animais em 2005 (1.215 C. crocodilus e 399 M. niger razão 3,6:1) contra
1.299 exemplares em 2006 (384 C. crocodilus e 254 M. niger razão 1,5:1). Entre estes anos
observou-se uma redução no número de indivíduos, em especial de C. crocodilus.
Os meses que apresentaram o maior número de crocodilianos no trecho determinado para
as coletas foram os meses de agosto (569 animais) e outubro (618 animais) de 2004 e agosto (577
animais), outubro (872 animais) e novembro (828 animais) de 2005 (Figura 03). Nestes meses foi
calculada uma média de 17,2, 14,1, 10,5, 15,9 e 15,1 animais por quilômetro linear,
respectivamente.
As incursões que apresentaram o menor número de animais foram os meses de março de
2005 e abril de 2006, quando foram observados 13 e 12 animais respectivamente, resultando em
uma média de 1,17 e 0,22 animais por quilômetro linear.
27
a
g
o
-
0
4
o
u
t
-
0
4
m
a
r
-
0
5
j
u
n
-
0
5
a
g
o
-
0
5
o
u
t
-
0
5
n
o
v
-
0
5
a
b
r
-
0
6
j
u
n
-
0
6
a
g
o
-
0
6
o
u
t
-
0
6
n
o
v
-
0
6
Meses
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
N
º
d
e
a
n
i
m
a
i
s
Figura 03 – Número de animais observados nos meses de coleta
Realizando uma comparação entre a densidade das duas espécies durante os meses de
coleta, verificou-se que nos meses de março de 2005 (χ
2
= 0,82; GL = 1; p>0,05), abril (χ
2
= 0,00;
p>0,05) e junho (χ
2
= 2,37; p>0,05), não ocorreram diferenças significativas entre as espécies.
Por outro lado foram significativamente diferentes entre os demais meses, podendo-se destacar,
agosto (χ
2
= 76,46; p<0,05), outubro (χ
2
= 202,52; p<0,05) e novembro de 2005 (χ
2
= 143,03;
p<0,05), quando ocorreu o predomínio em número de C. crocodilus (figura 4).
A variação do número de animais entre os meses está relacionada diretamente aos fatores
físicos do ambiente, especialmente a variação do nível d’água e a variação da temperatura da
água (figura 8 e 10).
a
g
o
/
0
4
o
u
t
/
0
4
m
a
r
/
0
5
j
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n
/
0
5
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/
0
5
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u
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/
0
5
n
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/
0
5
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b
r
/
0
6
j
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n
/
0
6
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g
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/
0
6
o
u
t
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0
6
n
o
v
/
0
6
n
o
v
/
0
6
Meses
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
de animais
MN T otal
CC Total
Figura 04 – Número de animais observados nos meses de coleta
28
Durante as coletas dos dados populacionais foi observada uma variação na ocorrência dos
animais das diferentes classes de tamanho nos diversos habitats. Esta observação é válida para as
duas espécies. Os animais de menor porte (classe I e II) eram encontrados geralmente em
reentrâncias próximo à vegetação e os animais de maior porte (classe III e IV) permaneciam nas
partes profundas das reentrâncias, nas praias e no leito principal do rio Javaés.
Considerando M. niger, durante o período de estudos, verificou-se variação nas
densidades no decorrer dos meses. Os meses que apresentaram a maior densidade foram os meses
de agosto (1,9 anim/Km), outubro (2,3 anim/Km) e novembro (2,5 anim/Km) de 2005. As
menores densidades foram observadas nos meses de março e junho de 2005 e o mês de abril de
2006 com média de 0,1 animal/Km linear (figura 4).
Na espécie C. crocodilus, semelhante a M. niger, ocorreu variação da densidade entre os
meses de coleta. Os meses de agosto (5 anim/Km), outubro (8,6 anim/Km) e novembro (7,7
anim/Km) de 2005, apresentaram as maiores densidades durante o censo. As menores densidades
foram encontradas no mês março de 2005 (anim/Km) e abril de 2006 (0,1 anim/Km) (figura 4).
4.2 – Densidade por classe de tamanho e sexo nas duas espécies em estudos – Rio Javaés
Os 731 indivíduos de M. niger que tiveram o tamanho classificado foram agrupados por
classes. (tabela 1). Destes animais classificados, foram observados 5(0,7%) animais da classe I,
190 (26%) da classe II, 230 (31,5%) animais da classe III e 306 (41,8%) da classe IV (figura 5).
Durante as coletas verificou-se uma presença maior de animais da classe IV, seguidos
pelos animais da classe III e II, em quase todos os meses de coleta. Somente nos meses de
outubro de 2004 e agosto de 2006, foi observada uma maior presença de animais da classe III e
II, respectivamente, sobre as outras classes (figura 05). Em apenas três coletas foram verificados
animais da classe I, porém em pequeno número.
Na comparação das classes de tamanho dentro de cada mês para M. niger, somente os
meses de junho de 2005 (χ
2
= 6,82; GL = 3; p>0,05) e abril de 2006 (χ
2
= 2,0; GL = 3; p>0,05)
não apresentaram diferenças significativas entre as classes de tamanho.
Os demais meses de coleta houve diferenças significativas, sendo que as maiores
diferenças foram observadas nos meses de agosto/2004 (χ
2
= 43,46; GL = 3; p<0,05),
29
agosto/2005 (χ
2
= 44,77; GL = 3; p<0,05), com maior predominância dos animais das classes III
e IV (figura 05).
a
g
o
-
0
4
*
o
u
t
-
0
4
*
m
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6
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0
6
*
N
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v
-
0
6
*
Meses
0
10
20
30
40
50
N
º
d
e
a
n
i
m
a
i
s
MN I MN II
MN III MN IV
Figura 05 – Variação das classes de tamanho da espécie M. niger durante os meses de coleta
(* meses com diferença significativa entre classes de tamanho p<0,05)
Na espécie C. crocodilus, 1801 exemplares foram divididos nas classes de tamanho
conforme tabela 01, sendo 177(9,8%) animais da classe I, 932(51,7%) da classe II, 502(27,8%)
da classe III e 190(10,5%) da classe IV.
A classe de tamanho II predominou em quase todas as coletas. Apenas nos meses de
outubro de 2004 e agosto de 2005 observou-se uma maior predominância da classe III sobre as
outras classes. As classes I e IV foram menos representativas (figura 6).
Semelhante ao ocorrido com M. niger, verificou-se também diferenças significativas entre
as classes de tamanhos na maioria dos meses durante o período de estudos. Nesta espécie, as
diferenças entre as classes foram maiores que as observadas na espécie M. niger (figura 6).
Os meses que não apresentaram diferenças significativas entre as classes foram
outubro/2004 (χ
2
= 6,8; GL = 3; p>0,05), março/2005 (χ
2
= 2,0; GL = 3; p>0,05) e abril/2006 (χ
2
= 2,2; GL = 3; p>0,05), no restante dos meses de coletas, observou-se diferenças altamente
significativas, destaca-se outubro (χ
2
= 205,11; GL = 3 p<0,05) e novembro(χ
2
= 291,46; GL = 3;
30
p<0,05) de 2005 e os meses agosto (χ
2
= 154; GL = 3; p<0,05) e outubro (χ
2
= 183,63; GL = 3;
p<0,05) de 2006, sendo que nestes meses a classe II foi a mais representativa (figura 06).
a
g
o
-
0
4
*
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u
t
-
0
4
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r
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0
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n
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0
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0
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0
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Meses
0
50
100
150
200
250
N
º
d
e
a
n
i
m
a
i
s
CC I
CC II
CC III
CC IV
Figura 06 – Variação das classes de tamanho da espécie C. crocodilus durante os meses de coleta
(* meses com diferença significativa entre classes de tamanho p<0,05)
Na determinação da estrutura sexual da espécie C. crocodilus no rio Javaés, foram
utilizados os 109 exemplares capturados, sendo 66 (60,5%) machos e 43 (39,5%) fêmeas, tendo
uma relação de 1,53 macho:1 fêmea. A diferença entre machos e fêmeas dentro da espécie
demonstrou se significativa, χ
2
= 4,85 ; GL = 1; p<0,05.
Referente ao número de machos e fêmeas, considerando-se os 36 exemplares da espécie
M. niger capturados no rio Javaés, 22 (61%) animais foram identificados como machos e 14
(39%) fêmeas, uma proporção de 1,5 macho para cada fêmea. Apesar desta razão proporcional, a
diferença entre machos e fêmeas não se demonstrou significativa, χ
2
= 1,78; GL = 1; p>0,05. A
estrutura populacional, considerando-se o sexo, foi semelhante em ambas as espécies.
No decorrer do trabalho, um dado observado foi ocorrência dos animais de diversas
classes de tamanho em diferentes habitats. A área em estudo apresenta uma ampla variação entre
habitats, sendo um deles o leito principal do rio, onde a correnteza é constante e forte, marginado
por longas praias e barrancos altos, tendo nestes trechos um menor acesso à vegetação. Em
algumas praias existem pequenas reentrâncias formando baías onde a correnteza é mínima. Por
31
ser uma região de planície, o rio forma grandes reentrâncias e apresenta braços marginais ao leito
principal onde a correnteza é mais lenta e sem presença de praias, o que facilita o acesso à
vegetação. A ocorrência dos animais variou nestes ambientes, sendo que os animais de maior
porte das duas espécies foram encontrados nas praias e nas proximidades dos barrancos do leito
principal do rio e quando observados nas reentrâncias permaneciam nas regiões de águas mais
profundas, os animais de menor porte (filhotes e juvenis), foram encontrados com maior
freqüência nas reentrâncias e nos braços marginais do rio próximo da vegetação. Alguns grupos
de filhotes foram localizados em pequenas baías formadas no começo ou no final das praias
acompanhados por fêmeas adultas.
4.3 – Influência de fatores físicos na densidade dos crocodilianos
Os dados físicos coletados durante o trabalho de pesquisa foram analisados para verificar
qual a influência na densidade da população dos crocodilianos. Fez-se a correlação entre as
medidas do vel d’água do rio Javaés com variação da densidade das populações dos
crocodilianos. Verificou-se uma correlação negativa entre a variação do nível d’água e a
densidade. À medida que aumenta o nível da água, diminui o número de indivíduos observados
por km linear de rio. O valor da correlação é r = - 0,79, p<0,05 (figura 7)
Os meses em que foi observada uma maior abundância de crocodilianos, constituem os
mesmos em que o nível d’água estava mais baixo, agosto, outubro e novembro (2004, 2005 e
2006). Os períodos com maior nível da água, março e junho de 2005 e abril de 2006, verificou-se
uma menor abundância dos animais na área de estudo (figura 8).
700 800 900 1000 1100 1200 1300
Nivel D'água
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Animais por Km
Figura 7 – Plotagem de equação de regressão entre nível d’água e número de animais por
quilômetro (os pontos representam os meses de coleta)
32
ago-04
out-04
mar-05
jun-05
ago-05
out-05
nov-05
abr-06
jun-06
ago-06
out-06
nov-06
700
800
900
1000
1100
1200
1300
1400
Nível D'água
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Animais por Km
v el d'água
Animais por Km
Figura 8 – Variação entre o nível d’água e o número de animais por quilômetro
Foi realizada uma análise da variação da temperatura do ar e da água em relação aos
meses de coletas, onde foi constatado que a variação da temperatura do ar não representou
correlação significativa em relação à variação de número de animais por quilômetro (r = 0,23,
p>0,05) (figura 9), mas a temperatura da água apresentou uma correlação positiva em relação ao
número de animais por quilômetro (r = 0,73, p<0,05) (figura 9 e 10). Nos meses em que a
temperatura da água apresentava maiores valores médios, foram os meses em que obteve-se um
maior número de animais observados por quilômetro linear (figura 10).
24 26 28 30 32 34
Média T. Água
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Animais por Km
Figura 9 – Plotagem de equação de regressão entre o número de animais por
quilômetro e as temperaturas médias da água (os pontos representam os meses de coleta).
33
ago-04
out-04
mar-05
jun-05
ago-05
out-05
nov-05
abr-06
jun-06
ago-06
out-06
nov-06
24
26
28
30
32
34
Temp. água
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
Nº animais/Km
Temp. água
Animais/Km
Figura 10 – Relação entre a variação da temperatura média da água e o
número de animais por quilômetro nos meses de coleta
4.4 - Densidade da população de crocodilianos em dois lagos marginais ao rio Javaés
Nas coletas realizadas no lago do Mata Verde no mês de agosto de 2006, foram
observados um total de 76 animais, sendo identificados 37 animais (84% ID) da espécie C.
crocodilus e 7 (16% ID) exemplares da espécie M. niger. Neste mês a relação foi de 5,3
exemplares de C. crocodilus para 1 exemplar de M. niger. A diferença entre as espécies foi
significativa para p<0,05, com χ
2
= 20,45.
Em outubro de 2006, localizou-se um total de 199 animais, dos quais 109 (92% ID)
exemplares pertenciam à espécie C. crocodilus e 9 (8% ID) animais da espécie M. niger, uma
razão 12 C. crocodilus: 1 M. niger. Nesse período, obteve-se uma diferença significativa, χ
2
=
84,75; p<0,05.
Dentro da espécie C. crocodilus, as classes de tamanho apresentaram diferenças
significativas no número de animais nos dois meses de coleta, sendo que em agosto verificou-se
uma maior número de animais da classe II (16) e menor da classe IV (2) (χ
2
= 14,03; GL=3,
p<0,05), e em outubro uma predominância de exemplares da classe II (57) e menor da classe I
(13) (χ
2
= 49,77; GL = 3; p<0,05).
Nas capturas realizadas neste lago para retirada dos dados biométricos e marcação foram
capturados 4 exemplares de C. crocodilus, 3 machos e 1 fêmea.
34
Para a espécie M. niger, não foi observada diferença significativa entre as classes de
tamanho para GL=3; p>0,05. Foram capturados 3 exemplares para o trabalho de marcação e
biometria, sendo todos fêmeas.
No lago Chaves, durante o mês de setembro de 2006, foi realizado um censo populacional
onde foram verificados um total de 60 jacarés. Foi possível a identificação de 34 animais (66,6%
ID) da espécie C. crocodilus e 17 (33,3% ID) exemplares da espécie M. niger, uma razão de 2 C.
crocodilus: 1 M. niger. A diferença entre as espécies, com relação ao número de animais, foi
significativa com χ
2
= 5,67; p>0,05.
Com relação às classes de tamanho, na espécie C. crocodilus verificou-se diferença
significativa, χ
2
= 17,55; GL = 3; p<0,05, tendo uma maior número de indivíduos da classe II
(17) e não foram observados exemplares da classe IV. Para M. niger não foi observada diferença
significativa entre as classes de tamanho.
No trabalho de biometria e marcação foram capturados 3 animais, todos fêmeas e da
espécie M. niger.
4.5 Comparação das densidades e estruturas das populações entre o rio Javaés e o lago
da Mata Verde
Para fazer comparação entre as populações do rio Javaés e do lago da Mata Verde não
foram utilizados os valores reais observados, pois ocorreu variação entre os números de animais
observados nos dois ambientes (agosto 366 animais no rio e 76 no lago; outubro 444 no rio e
199 no lago). Nesta comparação, foi utilizada a porcentagem dos exemplares identificados em
cada espécie, em relação ao total de animais visualizados e a porcentagem dos exemplares em
cada classe de tamanho, em relação ao número de animais identificados.
Analisando dados populacionais, verificou-se que o mês de agosto não apresentou
diferença significativa na proporção total de animais de M. niger (χ
2
= 0,20; GL = 1; p>0,05) (rio:
11,2%; lago: 9,2%) entre os dois ambientes. Dentro de C. crocodilus foi verificada diferença
significativa na proporção de animais observados entre o rio (88 animais - 24%) e o lago (37
animais - 48%) (χ
2
= 8,34; GL = 1; p<0,05).
Nas classes de tamanho, considerando a espécie M. niger, a classe II apresentou diferença
significativa (χ
2
= 48,7; GL = 1; p<0,05) entre o rio e o lago, sendo que foram observados 20
35
exemplares (48%) desta classe de tamanho no rio e não foram observados exemplares no lago.
Nas outras classes de tamanho da espécie, não foram observadas diferenças significativas.
Em C. crocodilus, somente a classe de tamanho III o apresentou diferença significativa
entre os censos do rio Javaés e do lago da Mata Verde. As outras classes apresentaram diferenças
significativas, classe I, χ
2
= 14,89 (rio: 7,9%, lago: 32,4%), classe II, χ
2
= 10,74 (rio: 79,8%, lago:
43,2%) e classe IV χ
2
= 5,40 (rio: 0, lago: 5,4%), para GL = 1 e p<0,05.
No mês de outubro foram observadas diferenças significativas entre o mero de animais
das espécies C. crocodilus (χ
2
= 11,47; GL = 1; p<0,05) (rio: 54,7%; lago: 31%) e M. niger (χ
2
=
6,55; GL = 1; p<0,05) (rio: 21,9%; lago:4,5%) entre os censos do lago e do rio.
Dentro de M. niger, semelhante ao ocorrido no mês de agosto, somente a classe II
apresentou diferença significativa entre o censo do rio e do lago no mês de outubro (χ
2
= 10,01;
GL = 1; p<0,05), onde foram observados 26 exemplares (26,8%) no rio e 5 no lago (55,5%).
As classes I e IV da espécie C. crocodilus tiveram diferenças significativas no mês de
outubro. Na classe I, χ
2
= 9,98 (rio: 0,7; lago: 11,9) e na classe IV, χ
2
= 9,53 (rio: 2,9; lago: 16,5),
para GL = 1; p<0,05. Neste mês foi registrado maior presença de exemplares destas classes no
lago, sendo que da classe I, encontrou-se 13 exemplares no lago contra 1 no rio e da classe IV, 18
exemplares no lago contra 4 no rio.
Foram marcados 155 animais, 42 M. niger e 113 C. crocodilus e recapturado somente 1
exemplar de cada espécie. Com esta baixa recaptura, não foi possível estimar o tamanho da
população.
5 – DISCUSSÃO
As espécies encontradas na região em estudos durante as coletas de dados foram C.
crocodilus e M. niger. Não foram encontrados exemplares de outras espécies, apesar dos relatos
da presença de P. palpebrosus na região da bacia Araguaia Tocantins na bibliografia
(VILLAÇA, 2004). A ausência de exemplares da espécie na área de estudo pode estar
relacionada aos fatores ambientais (e.g. disponibilidade de ambientes, competição
interespecíficas) o que levanta campo para futuras pesquisas.
Na área em questão, verifica-se uma predominância de C. crocodilus sobre M. niger
(razão de 2,4:1). Essa predominância também ocorreu no trabalho realizado na Estação Ecológica
de Anavilhanas no baixo rio Negro, Amazônia Central, mas as densidades populacionais se
36
demonstraram diferentes das encontradas na região do rio Javaés (DA SILVEIRA et al., 1997).
Em Anavilhanas foram observados 478 animais, 221 C. crocodilus, 8 M. niger (razão 27,6:1) e
um exemplar de P. palpebrosus. A densidade de C. crocodilus variou nos lagos (0 a 58
animais/Km) e canais (0 a 8 animais/Km). Para M. niger a densidade variou de 0,5 a 8 animais
por Km linear. No presente estudo, as densidades variaram de 0,1 a 8,6 animais/Km para C.
crocodilus e de 0,1 a 2,5 animais/Km para M. niger no rio Javaés.
Neste estudo foi observada uma variação na densidade populacional no decorrer dos anos,
sendo uma variação geral e dentro de cada espécie. Entre 2005 e 2006, a razão entre as duas
espécies caiu de 3,6 C. crocodilus : 1 M. niger em 2005 para 1,5 C. crocodilus : 1 M. niger em
2006. Em levantamento da densidade populacional de jacarés do Pantanal, MOURÃO et al.
(2000) verificaram que densidade dos jacarés variou significativamente em relação aos anos. Em
1992, foram observados 4,5 animais/Km e em 1993, 28,3 animais/Km, a variação pode estar
relacionada a fatores físicos ambientais.
A estrutura da população por classes de tamanho variou durante as coletas. Isto é
influenciado, principalmente, por fatores físicos e ambientais relacionados ao comportamento da
espécie. Realizando uma análise do número geral da população de M. niger, observa-se uma
maior presença de animais da classe IV seguido por animais da classe III e classe II. A
quantidade de animais da classe I foi baixa, apenas 5 animais nos três anos de coleta. A baixa
presença de exemplares da classe I pode estar relacionada aos sítios de reprodução da espécie que
provavelmente se encontram fora da área estudada. Como o estudo ficou mais restrito à área do
rio, incluindo somente dois lagos no ano de 2006, se torna necessário o prosseguimento de
pesquisas, objetivando identificar as áreas de nidificação desta espécie.
Para C. crocodilus, a estrutura populacional em relação às classes também variou no
decorrer do estudo. Na quantificação geral, foi verificada uma maior presença de exemplares da
classe II, seguidos por exemplares da classe III, classe IV e classe I.
DA SILVEIRA et al. (1997), citado anteriormente, verificou uma estrutura populacional
para C. crocodilus diferente da encontrada no presente estudo. Excluindo os filhotes, foram
estimados que 67% do exemplares eram subadultos (Comprimento rostro-cloacal – CRC < 70cm)
e 5% adultos machos (CRC >90cm).
Dentro das duas populações foi verificada uma variação na ocorrência dos exemplares de
ambas as espécies em diferentes habitats. Os animais de maior porte (classe III e IV) foram
37
encontrados no leito principal do rio, nas praias, barrancos e nas reentrâncias. Os exemplares de
menor porte (classe II e os 5 exemplares da classe I) foram encontrados principalmente nas
reentrâncias, próximo à vegetação. Esta variação entre as classes por habitats pode estar
relacionada ao fato que, nas reentrâncias tem-se uma maior proximidade com a vegetação, o que
promoveria uma maior proteção destes animais. Nas praias e barrancos estes animais estariam
expostos à predação. No leito principal do rio, a força da correnteza arrastaria estes animais de
menor porte, permitindo a presença somente de animais maiores.
Trabalhos realizados por MALVASIO & SALERA. (2006) e MONTEIRO et. al. (2005)
na região do rio Javaés, indicam uma maior observação de crocodilianos nas proximidades da
vegetação, principalmente animais menores. Animais adultos e subadultos poderiam ser
encontrados no rio onde o volume de água e a força da correnteza é maior. WHITE & JESÚS
(2003) estudando comportamento de filhotes de Paleosuchus trigonatus no rio Tuputini
(Amazônia – Equador), verificou em observações noturnas, saídas rápidas destes animais da água
para a vegetação para se protegerem.
A estrutura sexual da população de M. niger apresentou uma maior proporção de machos
(machos 1,5 : 1 fêmea). C. crocodilus apresentou razão sexual semelhante a M. niger, 1,5
machos: 1 fêmea. THORBJARNARSON (1997) discute alguns trabalhos onde os autores
indicam uma tendência a ter uma maior abundância de fêmeas nas populações de crocodilianos,
em razão de comportamentos agonísticos dos machos. Neste trabalho o autor levanta o problema
de se mascarar a razão sexual das populações, por realização de coletas somente em determinados
habitats e da preferência de animais de determinado sexo por determinados ambientes.
A maioria das capturas, para a realização da sexagem dos animais, ocorreu no rio Javaés e
suas reentrâncias. Poucas capturas de animais ocorreram nos lagos marginais ao rio Javaés. Isso
pode ter influenciado nesta estrutura sexual. Nas coletas realizadas nos lagos (Chaves e Mata
Verde) 100% dos exemplares foram fêmeas (6 exemplares) da espécie M. niger e para a espécie
C. crocodilus, 75% de machos (3 exemplares) e 25% de fêmeas (1 exemplar). Faz-se necessário
um aumento do esforço de coleta nos lagos para tirar conclusões mais seguras sobre estrutura
sexual das populações das duas espécies na área estudada, principalmente para M. niger.
A variação na densidade da população das duas espécies foi significativamente
influenciada por fatores físicos (variação do nível d’água e temperatura da água). O nível d’água
influencia negativamente sobre a densidade. Com o aumento do nível d’água ocorre uma invasão
38
do rio sobre a vegetação, fazendo com que os animais de menor porte entrem para a vegetação à
procura de locais firmes para descanso. Com isso, a densidade populacional diminui. Nos
períodos de estiagem, diminui o nível d’água fazendo com que os animais fiquem mais
aglomerados. A temperatura da água influencia positivamente na densidade. Com o aumento da
temperatura, por serem animais ectotérmicos, aumenta a atividade dos jacarés, ficando mais
expostos sobre a água e mais visíveis.
COUTINHO & CAMPOS (1996) indicaram o nível d’água como o fator que mais afetou
na densidade de C. yacare em áreas de estudo no Pantanal (F=20,1, df=1,6, r
2
=0,77, P<0,01).
Quando o nível d’água excede 15 cm os jacarés começam a dispersar e a densidade diminui. No
mesmo trabalho, o autor não considerou significativa a influência da temperatura do ar na
densidade dos jacarés (F=2,31, df=1,6, p>0,05). MOURÃO et al. (2000), realizaram trabalho
sobre densidade da população de crocodilianos também na região do Pantanal, consideraram que
a temperatura do ar tem uma relação significativa com a densidade dos crocodilianos.
Pesquisa realizada em cativeiro sobre a influência de condições da água nas contagens
noturnas de jacarés encontrou resultados diferentes. Nesse trabalho a temperatura da água e a
temperatura do ar não influenciaram nas contagens noturnas (SARKIS-GONÇALVES et. al.
2004).
Na comparação das densidades entre o lago da Mata Verde e o rio Javaés nos meses de
agosto e outubro de 2006, verificou-se diferenças dentro das duas espécies. O mês de agosto
apresentou uma maior proporção de C. crocodilus no rio, em relação ao lago. Esta diferença não
foi observada em M. niger. Em outubro, M. niger apresentou diferença entre o lago e o rio e o
mesmo ocorreu para C. crocodilus. Esta variação entre os números relativos das duas populações
pode estar relacionada aos diferentes habitats. No rio tem-se a influência da correnteza, presença
de praias e barrancos altos, enquanto que nos lagos estudados a correnteza é mínima, não
possuem praias e os barrancos são menores, ambientes ideais para reprodução e o cuidado
parental. WHITE & JESÚS (2003) estudando filhotes de Paleosuchus trigonatus, fala da
importância das áreas de florestas às margens de pequenos córregos para a sobrevivência dos
filhotes da espécie.
Em relação às classes de tamanho de M. niger, no mês de agosto, somente a classe II
apresentou diferença significativa entre o rio e o lago, sendo que no lago não foram encontrados
exemplares desta classe. No mês de outubro ocorreu o oposto, observou-se uma maior proporção
39
destes animais no lago. Em C. crocodilus, a classe III não apresentou diferença entre rio e lago. A
classe II foi mais representativa no rio e as classes I e IV, no lago. Para esta espécie, em outubro
ocorreu semelhante a agosto, uma predominância de animais da classe I e IV no lago. Com esses
resultados, pode-se inferir que C. crocodilus utiliza os lagos para reprodução, onde se observa
adultos (classes IV) apresentando cuidado parental com seus filhotes (classe I).
Neste trabalho não foi possível aplicar algum modelo matemático para estimar o tamanho
da população utilizando o método de “captura e recaptura”, pois o índice de exemplares
recapturados foi baixo, somente um exemplar de cada espécie. Trabalhos de estimativa e
estrutura da população estão entre os principais passos para levantar importantes informações
essenciais para o manejo da população das duas espécies. Por esta razão, se faz necessário o
prosseguimento das atividades de pesquisa (captura, marcação e recaptura) para realizar a
estimativa do tamanho da população.
6 - CONCLUSÕES
- M. niger e C. crocodilus são as espécies de crocodilianos que ocorrem no entorno do
Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés.
- Ocorre uma predominância populacional de C. crocodilus sobre M. niger.
- A variação do ambiente (lago e rio) influencia na densidade e estrutura das populações
nas duas espécies, principalmente em Caiman crocodilus.
- Fatores físicos, temperatura da água e variação do nível fluviométrico, influenciam na
densidade e na estrutura populacional por classe de tamanho.
- Ambas as espécies encontram-se em um certo equilíbrio por apresentarem exemplares
em todas a faixas etárias.
40
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43
CAPÍTULO 03 – Biometria e Avaliação de Lesões e Anomalias em Melanosuchus niger
(SPIX, 1825) e Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (Crocodylia, Alligatoridae) no Entorno
do Parque Nacional do Araguaia, Rio Javaés, Tocantins.
RESUMO
O estabelecimento da estrutura populacional em crocodilianos pode ser realizado através
da divisão destas populações por faixas etárias. Para estabelecer essas faixas etárias dividem-se
os exemplares por classes de tamanho e para isso são utilizadas medidas de comprimento
corpóreo, principalmente comprimento total (TTL) e comprimento rostro-cloacal (CRC). As
medidas morfométricas também são utilizadas para diferenciar as espécies e os gêneros (machos
e fêmeas) dentro das espécies, onde se procura estabelecer dimorfismo sexual. No presente
estudo, realizado no entorno do Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés, município de Pium
TO, foram analisadas várias medidas morfométricas externas em exemplares capturados de
Caiman crocodilus e Melanosuchus niger, e conjuntamente realizou-se observação da presença
de lesões e anomalias externas nestes exemplares. Foram mensurados 155 animais das duas
espécies, 113 exemplares de C. crocodilus e 42 de M. niger. Na comparação entre as duas
espécies, observa-se diferença nas medidas morfométricas indicando uma variação na curva de
crescimento, sendo que os exemplares de M. niger (CRC média: 93,5, variou de 35-192)
alcançaram maior porte que os exemplares de C. crocodilus (CRC média: 57,7, variou de 27-97).
Nas análises dentro de cada espécie, observou-se dimorfismo sexual nas medidas morfométricas,
sendo que os machos apresentaram maior porte (M. niger machos, média: 111,5 ± 44,6; meas,
média: 66,5 ± 15,7 / C. crocodilus machos, média: 61,8 ± 11,4; meas, média: 50,1 ± 9,1). Dos
155 animais capturados, 42,6% apresentavam lesão ou anomalia externa. M. niger apresentou
lesões em 54,4% dos animais examinados e 37% dos exemplares de C. crocodilus apresentaram
alguma lesão/anomalia. As lesões mais presentes em ambas as espécies foram a ausência da
ponta da cauda (13,5 %) e ausência de unha nas patas posteriores (13,5 %), ausência de unha nas
patas anteriores (12,2 %) e ausência de parte da cauda (5,1 %). Algumas lesões encontradas em
menor quantidade, mas de grande importância, como dois exemplares adultos de M. niger que
não apresentavam a parte inferior da boca e outro exemplar adulto cego de um dos olhos. As
anomalias foram encontradas somente nos exemplares de C. crocodilus, onde anomalias nas
cristas da cauda, bifurcação na ponta da cauda e constrição na parte inferior da cauda.
Palavras-chave: comprimento, massa, morfometria, regressão.
44
Biometric and Lesion and Anomaly Evaluation in Melanosuchus niger (SPIX, 1825) and
Caiman crocodilus (LINEAU, 1758), (Crocodylia, Alligatoridae) on the Outskirts of the
Araguaia National Park, Javaés River, Tocantins
ABSTRACT
The establishment of population structure in crocodiles can be accomplished by dividing the
population in age groups. In order to establish these age groups specimens are divided by size
class which is done by measuring body length especially total length (TTL) and snout-vent length
(SVL). The morphometric measurements are also used to differentiate species and genders (males
and females) within the species when sexual dimorphism is aimed to be established. In the
present study, carried out on the outskirts of the Araguaia National Park, Javaés River, Pium
County, Tocantins, several external morphometric measurements were analyzed in captive
specimens of Melanosuchus niger and Caiman crocodilus, and concomitantly, observations for
the presence of external lesions and anomalies in those specimens were made. 155 animals of
both species were measured, out of which 113 were C. crocodilus and 42 M. niger. When
comparing the two species, differences in morphometric measurements were observed, which
indicated a variation in the growth curve. M. niger specimens (average SVL: 93.5, ranging from
35 to 192) were bigger than those of C. crocodilus (average SVL: 57.7, ranging from 27 to 97).
In the analysis within each species, a sexual dimorphism in the morphometric measurements was
observed; the males were bigger than the females (M. niger average: 111.5 ± 44.6; average 66.5 ±
15.7/ C. crocodilus average: 61.8 ± 11.4; average: 50.1 ± 9.1). Of the 155 captured animals,
42.6% had lesion or external anomaly. M. niger had lesions in 54.4 % of the examined animals
and 37% of the C. crocodilus specimens had some kind of lesion/anomaly. The most common
lesions in both species were absence of tail tip (13.5%), absence of nails on the back paws
(13.5%), absence of nails on the front paws (12.2%), and the absence of part of the tail (5.1%). A
few number of lesions, but of uttermost importance, were found in adults specimens, as in the
case of two M. niger specimens which lacked the inferior mouth part and another one that was
blind. Anomalies were found in C. crocodilus only, which had specimens with anomalous tail
crest, bifurcation of the tail tip and constriction in the inferior part of the tail.
Key words: length, morfometric, regression, weight.
45
1 – INTRODUÇÃO
O uso das medidas biométricas para estabelecer a estrutura da população é recorrente
entre os pesquisadores que trabalham com crocodilianos. Dividem-se os exemplares da espécie
em grupos etários (filhotes, jovens, subadultos e adultos) utilizando as medidas de comprimento
do corpo, principalmente comprimento rostro-cloacal e comprimento total (DA SILVEIRA et al.,
1997, VERDADE, 2001b, CEDEÑO-VASQUES et al., 2006).
Os levantamentos populacionais de crocodilianos incluem observações noturnas onde
geralmente os animais estão com a maior parte do corpo submersa, estando somente a cabeça
fora da água. Para a obtenção do tamanho dos animais, realiza-se uma estimativa pelo tamanho
da cabeça. Durante os trabalhos de levantamento populacional, as consecutivas saídas de campo
calibram a estimativa dos pesquisadores e as capturas dos animais para a retirada das medidas
biométricas confirmam a média de acertos destas estimativas. MOURÃO & CAMPOS. (2004)
em levantamento da estrutura populacional de Caiman yacare no Parque Nacional do Pantanal,
realizavam, no início da observação, a captura e mensuração de alguns animais que tinham sido
estimados o seu tamanho, para calcular a diferença entre o tamanho estimado e o tamanho real e
verificar a margem de acerto.
Trabalhos que realizam comparações entre as medidas biométricas corpóreas externas de
crocodilianos servem de suporte para os trabalhos de levantamento populacional, pelo fato de que
avaliam as correlações entre partes do corpo dos animais para verificar semelhanças ou
diferenças entre neros (machos e fêmeas) e espécies, avaliando também com qual tamanho
esses animais iniciam o comportamento reprodutivo.
Pesquisa realizada por VERDADE (2000) com Caiman latirostris, avaliou relações entre
várias medidas do corpo e da cabeça em animais de cativeiro e em animais selvagens, onde foram
observadas correlações altamente significativas entre medidas do corpo e da cabeça
principalmente do crânio, o que indica um crescimento alométrico nos animais desta espécie.
Essas correlações podem também ser observadas na reprodução, sendo que o tamanho e massa
dos ovos e comprimento dos filhotes estão relacionados com as medidas corpóreas das mães,
onde fêmeas de maior porte apresentam ninhadas mais pesadas (LARRIERA et al., 2004;
CASAS-ANDREU et al., 2003).
As espécies de crocodilianos, em sua maioria, não apresentam dimorfismo sexual na
morfologia externa. Nos trabalhos de estrutura populacional sexual tem-se a necessidade de
46
capturar os animais para verificar através de exame cloacal o sexo da cada indivíduo. Entretanto,
quando se avalia as medidas de comprimento dos animais, verifica-se que os machos apresentam
uma média das medidas corpóreas superior a das fêmeas, indicando um dimorfismo sexual, sendo
que os machos apresentam curva de crescimento diferente das fêmeas. Isto é bem visível nos
animais de maior porte dentro das espécies, onde são encontrados predominantemente machos.
Na espécie C. latirostris verificou-se diferenças morfométricas no crânio entre machos e
fêmeas, sendo que estas diferenças não são somente devido ao tamanho cranial, mas também uma
considerável diferença na forma (VERDADE, 2003). Esta variação na forma do crânio indica um
dimorfismo sexual dentro da espécie e pode estar relacionada evolutivamente ao reconhecimento
visual de machos e fêmeas, os estes animais geralmente exibem apenas o topo da cabeça sobre a
superfície da água (VERDADE, 2000).
Trabalho de correlação entre medidas corpóreas de fêmeas em relação ao tamanho de
ninhada, massa e comprimento dos ovos foi realizado no Estado de Jalisco México. Devido a
timidez e dificuldade de captura dos exemplares de Crocodilus acutus, a medida corpórea das
fêmeas foi estimada através das pegadas deixadas ao lado dos ninhos. Para o cálculo do
coeficiente de correlação e obtenção da equação da reta foram utilizados 30 exemplares de um
cativeiro a 40 km do local da coleta reforçando a importância dos trabalhos de biometria para
estudos sobre crocodilianos (CASAS-ANDREU, 2003).
Animais na natureza sofrem constantemente pressão de predação, disputas por territórios,
disputas dos machos por fêmeas durante o período reprodutivo, por água nos períodos de
estiagem, sendo que as disputas podem ser interespecíficas e intra-específicas. Como
conseqüência desta predação e das disputas, os animais podem apresentar lesões em parte do
corpo que provavelmente poderão ser semelhantes em outros animais da mesma espécie por
terem comportamentos semelhantes.
Diferentemente das lesões, as anomalias são causadas em sua maioria durante o
desenvolvimento dos filhotes dentro dos ovos ou quando os ovos estão sendo formados dentro
das fêmeas. Em Testudines, malformações da carapaça e do plastrão são relatadas como
conseqüência das variações ambientais que ocorrem com os ninhos (temperatura, umidade) e o
tempo de incubação dos filhotes (MALVASIO et al., 2005a, 2005b; SALERA JR., 2005).
Anomalias e deformações são encontradas em alguns exemplares de crocodilianos, em
diversas partes do corpo. Deformações na cauda, nódulos no corpo, deformações de cristas, falta
47
de membros, entre outras. Os principais fatores responsáveis pelas anomalias são os genéticos e
congênitos causados por variações da temperatura e umidade durante o período de incubação dos
ovos, além do estado nutricional das fêmeas (RAINWATER et al., 1999; RUBIO-DELGADO,
2001).
No Estado do Tocantins, apesar da ocorrência de 50% das espécies do Brasil (M. niger, C.
crocodilos e P.palpebrosus), poucos são os relatos na literatura sobre a biometria das populações
de crocodilianos que habitam a bacia do Araguaia, uma das mais importantes do Brasil devido,
principalmente, aos ecossistemas acoplados serem considerados como ecótonos (no caso
específico, transição entre cerrado e floresta Amazônica) (MMA, 1996).
2 - OBJETIVO
Tendo em vista as informações fornecidas, este trabalho apresenta como principais
objetivos: verificar se existe variação nas curvas de crescimento entre os exemplares de M. niger
e C. crocodilus e entre machos e fêmeas de cada espécie, além de avaliar a ocorrência de lesões e
anomalias externa nos exemplares capturados das duas espécies.
3 - MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado no entorno do Parque Nacional do Araguaia, rio Javaés (Ilha do
Bananal), localizada entre os paralelos 9º50’ S e 11º10’ S e os meridianos 49º56’ W e 50º30’W,
na área de abrangência do Projeto Quelônios da Amazônia (figura 01)
O animais foram capturados em coletas noturnas utilizando barco de alumínio equipado
com motor. Na captura dos exemplares, utilizou-se luz artificial (spot-light) (REBELO et al.,
2001, COUTINHO & CAMPOS, 1996, SARKIS-GONÇALVES et al., 2004) para localizar e
ofuscar temporariamente os animais, o que facilitou a aproximação e a captura.
48
Figura 01 – Localização da área de estudos
49
A captura foi realizada com o uso de laços tipo cambão (cano de pvc) para os animais de
médio porte (< 200cm) (figura 02) e laços de cabo de aço amarrados em corda para os animais
maiores (> 200cm) (figura 03). O cabo de aço utilizado era envolto por uma cobertura plástica,
que tinha a função de não ferir os animais durante a captura. O uso do cambão de plástico facilita
a coleta, pois os animais menores, com menor massa, ficam imediatamente imobilizados e logo
são conduzidos para o barco sem o perigo de se enroscarem, como acontece com o cabo de aço
com corda.
Os filhotes, por habitarem geralmente regiões mais rasas, foram capturados manualmente.
Figura 02 – Captura de exemplar de médio porte com cambão de plástico.
Animais de maior porte, por razão da massa e de uma maior dificuldade de contenção,
eram conduzidos pelo barco até a praia mais próxima, visando uma maior segurança, onde eram
contidos com cambões de madeira para posterior manipulação (figura 3 e 4). Animais menores
eram trabalhados dentro dos barcos (figura 5).
50
Figura 03 – Captura de animal de grande porte com cabo de aço
Figura 04 – Contenção de exemplares maiores com cambão de madeira
51
Com exceção dos filhotes, todos os animais tinham sua boca e seus membros contidos
com fita e cordas, respectivamente, para evitar acidentes no manuseio dos animais.
Em todos os exemplares capturados foram retiradas as medidas morfométricas:
comprimento da cabeça - Cb (da ponta do focinho até a parte caudal do crânio), comprimento do
crânio – Cr (da parte caudal do osso occipital ao sulco intra-ocular – cm) (figura 6), comprimento
rostro-cloacal - CRC (da ponta do focinho até a extremidade caudal da cloaca cm),
comprimento total – TTL (da ponta do focinho até o final da cauda – cm), comprimento da cauda
– Cd (da extremidade caudal da cloaca até o final da cauda – cm), massa corporal (Kg e g).
Para a sexagem dos animais foi realizado o exame através da cloaca onde verificava-se a
presença ou não do órgão de cópula masculino.
Na avaliação das medidas morfométricas fez-se uso do coeficiente de correção. A
correlação foi utilizada para verificar se dentro das espécies estudadas ocorria crescimento
alométrico ou isométrico e verificar a presença de diferenças significativas entre os sexos dentro
de cada espécie (CENTENO, 1999).
Inicialmente realizou-se a correlação entre todos os animais estudados incluindo as duas
espécies. Posteriormente trabalhou-se separadamente cada espécie e dentro de cada sexo.
Figura 05 – Contenção e manipulação de animais dentro do barco
Os animais capturados com CRC superior a 30cm receberam uma marcação com tags
(brincos plásticos) numerados e com colorações diferentes que diferenciavam cada espécie e o
52
sexo dentro da espécie. A marcação foi utilizada para verificar como estava o desenvolvimento
dos animais no decorrer do período de estudos.
Foi observada nos animais capturados, a presença de lesões e anomalias externas (tabela
1). As lesões (ferimentos, cicatrizes ou falta de partes do corpo causadas por predação, acidentes
e disputas intra-específicas) e anomalias (defeitos externos relacionados a mal formações
congênitas) foram analisadas para avaliar qual a ocorrência dentro dos crocodilianos da região,
dentro de cada espécie e por sexo de cada espécie. Após a captura todos os animais foram
devolvidos no mesmo local da captura.
Tabela 1 – Lesões e anomalias externas encontradas nos crocodilianos em estudo
Lesões Anomalia
Cego de 1 olho Crista deformada
Cicatriz na cabeça Constrição na cauda
Falta de crista Ponta da cauda deformada
Falta de parte da cauda
Falta de presa
Falta dedo anterior
Falta dedo posterior
Falta parte da cauda
Falta parte inferior da boca
Falta pata anterior
Falta pata posterior
Falta ponta da cauda
Falta unha anterior
Falta unha posterior
Nódulo na cauda
Parte inferior da cauda ferida
53
Figura 6 – Medidas morfométricas da cabeça (Cb: comprimento da cabeça,
Cr: comprimento do crânio).
4 - RESULTADOS
4.1 – Análise das medidas biométricas dos indivíduos pertencentes as duas espécies
A correlação das medidas biométricas entre os animais das duas espécies (M. niger vs C.
crocodilus), não se demonstrou significativa, indicando que cada espécie apresenta seu padrão de
crescimento. A tabela 2 apresenta as variações entre as medidas biométricas dos exemplares de
M. niger e de C. crocodilus. Nesta tabela fica bem visível a variação de porte entre os exemplares
das duas espécies e a variação de porte entre machos e fêmeas de cada espécie.
Para uma análise geral das populações de crocodilianos, foi realizada uma correlação
entre as medidas morfométricas utilizando todos os exemplares capturados das duas espécies e
verificou-se uma correlação significativa entre todas as medidas biométricas. A tabela 3
demonstra o resultado entre as correlações das medidas e a figura 11, as plotagens entre as
medidas morfométricas dos 155 exemplares capturados.
Cb
Cr
54
Tabela 02 – Comprimento máximos (max), mínimos (min), média e desvio padrão
dos exemplares machos e fêmeas de M. niger (Mn) e C. crocodilus (Cc).
Espécie
Cb.(cm)
Cr.(cm)
CRC.(cm)
TTL.(cm)
D.Ct.(cm)
Cd(cm) Massa(Kg)
Max 24 10 97 167 67 87 21
CC Min 8 4,5 27 59 19 28 0,5
Machos
Média 16,45 7,13 61,87 114,40 42,54 51,97 7,61
Desvio 3,17 1,36 11,47 20,91 9,34 9,47 4,21
Max 20 8,5 75 137 52 69 12,25
CC Min 9 3,2 32 64 21 25 0,75
Fêmeas
Média 13,49 6,11 50,14 94,45 33,97 43,44 3,95
Desvio 2,40 0,97 9,07 16,94 6,45 7,75 1,98
Max 49 20,5 192 340 131 176 190
MN Min 10,5 6,5 35 73,5 19 36 0,5
Machos
Média 30,43 12,82 111,05 215,83 76,71 103,78 67,51
Desvio 11,63 4,49 44,60 79,29 33,92 35,10 55,71
Max 27,5 12,5 103,5 200 71 94,7 33,5
MN Min 12 5 46,5 94,5 27 46,5 2,5
Fêmeas
Média 17,56 8,24 66,56 131,36 39,94 63,40 9,38
Desvio 4,23 2,28 15,73 32,66 11,65 15,54 6,93
Tabela 3 – Regressão entre medidas biometria dos exemplares capturados
de C. crocodilus e M. niger
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m/f CRC Cb 0,7098 3,6998 0,000 0,9772 155
2 m/f CRC Cr -0,5350 8,6237 0,000 0,8529 155
3 m/f CRC TTL 0,2615 0,5272 0,000 0,9766 155
4 m/f CRC D. Ct 8,5670 1,2826 0,000 0,9232 155
5 m/f CRC Cauda 4,1447 1,0691 0,000 0,9090 155
6 m/f CRC Massa 54,0817 0,8174 0,000 0,8193 155
Y= a + bX
Sexo: m/f = machos e fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
Nas plotagens das correlações, observam-se dois grupos distintos (círculos), o inferior à
esquerda de cada plotagem está incluído os exemplares de C. crocodilus e os exemplares de
menor porte de M. niger, o superior à direita inclui em sua maioria os exemplares de M. niger
(maior porte) (figura 11). As maiores correlações foram encontradas entre o CRC e o Cb e entre
CRC e TTL, indicando uma semelhança entre as medidas morfométricas entre animais de mesmo
porte.
55
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Cb.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Cr.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
50 100 150 200 250 300 350 400
TTL.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
20 40 60 80 100 120 140
D.Ct.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
20 40 60 80 10 0 120 140 160 180
Cauda(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
-20 0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Massa(Kg)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Figura 11 – Plotagem entre as medidas corpóreas das duas espécies de crocodilianos.
a: exemplares de C. crocodilus e exemplares de menor porte de M. niger
b: exemplares de maior porte de M. niger
4.2 – Análise das medidas biométricas dos exemplares da espécie C. crocodilus
Na avaliação das medidas morfométricas incluindo todos os exemplares da espécie C.
crocodilus, verificou-se correlação significativa indicando um crescimento alométrico dos 113
exemplares da espécie (tabela 4). A menor correlação encontrada foi observada entre o CRC e o
Cr, r
2
= 0,607 e entre o CRC e TTL verificou-se a maior correlação, r
2
= 0,939 (p<0,05).
Entretanto, quando foram cruzadas as medidas biométricas e massa entre os machos e as fêmeas
da espécie C. crocodilus, não se verificou correlação significativa (p > 0,05), indicando padrões
de crescimento diferentes entre os sexos.
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
b
a
56
Tabela 4 – Regressão entre dados biometria dos animais das espécies C. crocodilus
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m/f CRC Cb 1,5809 3,6489 0,000 0,9096 113
2 m/f CRC Cr 8,4604 7,3183 0,000 0,6070 113
3 m/f CRC TTL -1,1798 0,5486 0,000 0,9397 113
4 m/f CRC D. Ct 10,3364 1,2002 0,000 0,8648 113
5 m/f CRC Cauda 5,3435 1,0691 0,000 0,7488 113
6 m/f CRC Massa 40,4831 2,7280 0,000 0,8522 113
Y= a + bX
Sexo: m/f = machos e fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
Para C. crocodilus, a correlação entre as medidas morfométricas apresentaram diferença
significativa entre os sexos, como foi comentado anteriormente, mas entre os exemplares de cada
sexo foi demonstrado um padrão de crescimento indicado pela correlação entre as medidas
(tabela 5).
As menores correlações, tanto para machos como para fêmeas, foram entre o CRC e o Cr.
As maiores correlações foram entre o CRC e TTL. Nessa espécie, as fêmeas tiveram variação de
tamanho de CRC entre 32 cm a 75 cm, enquanto os machos variaram o CRC de 27cm a 97 cm.
Na figura 12 pode se observar as variações entre as correlações nos diferentes sexos.
Tabela 5 – Regressão entre os dados de biometria de machos e fêmeas da espécie C. crocodilus
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m CRC Cb 3,6717 3,5478 0,000 0,8935 69
2 m CRC Cr 14,4878 6,7414 0,000 0,5591 69
3 m CRC TTL -0,5314 0,5460 0,000 0,9350 69
4 m CRC D. Ct 23,3437 0,8951 0,000 0,6985 69
5 m CRC Cauda 7,0879 1,0576 0,000 0,7301 69
6 m CRC Massa 43,0496 2,4880 0,000 0,8473 69
7 f CRC Cb 0,0371 3,7152 0,000 0,8929 44
8 f CRC Cr 8,1930 6,8703 0,000 0,5762 44
9 f CRC TTL 0,5247 0,5248 0,000 0,9100 44
10 f CRC D. Ct 6,4833 1,2799 0,000 0,8991 44
11 f CRC Cauda 10,2167 0,9166 0,000 0,6612 44
12 f CRC Massa 34,9118 3,8595 0,000 0,8584 44
Y= a + bX
Sexo: m = machos; f = fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
57
6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26
Cb.(cm)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Machos
8 10 12 14 16 18 20 22
Cb.(cm)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmeas
4 5 6 7 8 9 10 11
Cr.(cm)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Machos
2 3 4 5 6 7 8 9
Cr.(cm)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmeas
40 60 80 100 120 140 160 180
TTL.(cm)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Machos
60 70 80 90 100 110 120 130 140
TTL.(cm)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmeas
10 20 30 40 50 60 70
D.Ct.(cm)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Machos
15 20 25 30 35 40 45 50 55
D.Ct.(cm)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmeas
20 30 40 50 60 70 80 90
Cauda(cm)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Machos
20 30 40 50 60 70 80
Cauda(cm)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmeas
Figura 12 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos exemplares machos
e fêmeas da espécie C. crocodilus
58
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Massa(Kg)
20
30
40
50
60
70
80
90
100
CRC.(cm)
Macho
0 2 4 6 8 10 12
Massa(Kg)
30
35
40
45
50
55
60
65
70
75
80
CRC.(cm)
Fêmea
Figura 12 – Continuação
4.3 – Análise das medidas biométricas dos animais da espécie M. niger
A tabela 6 apresenta os resultados das correlações entre os animais capturados da espécie
M. niger. Todas as correlações foram significativas para p<0,05, indicando um crescimento
alométrico dos exemplares da espécie. A menor correlação encontrada foi observada entre o CRC
e Cr, r
2
= 0,859 e entre o CRC e TTL verificou-se a maior correlação, r
2
= 0,964 (p<0,05).
Tabela 6 –Regressão entre dados biometria dos exemplares da espécie M. niger
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m/f CRC Cb 0,3397 3,7211 0,000 0,9797 44
2 m/f CRC Cr -6,3142 9,1361 0,000 0,8594 44
3 m/f CRC TTL -5,0103 0,5459 0,000 0,9753 44
4 m/f CRC D. Ct 15,3681 1,2738 0,000 0,9646 44
5 m/f CRC Cauda -3,7562 1,1330 0,000 0,8976 44
6 m/f CRC Massa 62,4220 0,7288 0,000 0,8576 44
Y= a + bX
Sexo: m/f = machos e fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
Apesar de que algumas medidas morfométricas se demonstraram significativamente
semelhantes no cruzamento entre medidas de machos e fêmeas da espécie M. niger (tabela 7), a
maioria das correlações apresentaram diferenças significativas indicando uma diferença entre as
curvas de crescimento de machos e fêmeas. Um exemplo foi a variação entre o CRC nos machos
que foi de 35 a 192 cm e nas fêmeas de 43,5 a 103,5 cm.
59
Tabela 7 –Regressão entre medidas morfométricas que deram valor
significativo entre os machos e fêmeas dos exemplares M. niger
# Macho
Fêmea a b p r
2
N
1 Cr Cr 4,6829 0,2988 0,0095 0,3183 20
2 Cr CRC 42,7835 2,0911 0,0237 0,2530 20
3 Cr TTL 86,6722 3,7521 0,0263 0,2452 20
4 Cr D. Ct. 24,5052 1,3065 0,0309 0,2334 20
5 D. Ct. Cr 6,2134 0,0294 0,0489 0,1985 20
6 Cauda Cr 5,6056 0,0278 0,0490 0,1983 20
7 Massa Cr 7,0532 0,0206 0,0134 0,2944 20
8 Massa CRC 59,6740 0,1403 0,0368 0,2201 20
9 Massa TTL 117,6560
0,2420 0,0498 0,1971 20
10 Massa D. Ct. 34,8062 0,0913 0,0368 0,2202 20
Y= a + bX
Sexo: m = machos; f = fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
Na tabela 8 são apresentadas as correlações entre os dados biométricos de M. niger
analisando os sexos separadamente. Todas as correlações dentro de cada sexo foram
significativas (p<0,05).
As menores correlações, tanto para machos como para fêmeas, foram entre o CRC e o Cr.
As maiores correlações foram entre o CRC e TTL.
A figura 13 apresenta as plotagens das correlações das medidas morfométricas, onde
pode-se observar variações entre os machos e as fêmeas, sendo evidenciadas diferenças nas
medidas entre os sexos.
60
Tabela 8 –Regressão entre medidas morfométricas dos exemplares M. niger
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m CRC Cb -5,6481 3,8524 0,000 0,9890 22
2 m CRC Cr -6,6849 9,2896 0,000 0,8167 22
3 m CRC TTL -9,2822 0,5608 0,000 0,9776 22
4 m CRC D. Ct 11,7584 1,3002 0,000 0,9688 22
5 m CRC Cauda -10,2343 1,1860 0,000 0,8961 22
6 m CRC Massa 64,3139 0,7057 0,000 0,8553 22
7 f CRC Cb 1,0392 3,7467 0,000 0,9343 20
8 f CRC Cr 10,5523 6,8342 0,000 0,8683 20
9 f CRC TTL 0,9910 0,5025 0,000 0,9608 20
10 f CRC D. Ct 17,4898 1,2105 0,000 0,8837 20
11 f CRC Cauda 6,3328 0,9758 0,000 0,7829 20
12 f CRC Massa 48,6030 2,0188 0,000 0,8422 20
Y= a + bX
Sexo: m = machos; f = fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55
Cb.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Machos
10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30
Cb.(cm)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmeas
4 6 8 10 12 14 16 18 20 22
Cr.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Machos
4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Cr.(cm)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmeas
Figura 13 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos exemplares machos
e fêmeas da espécie M. niger
61
60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360
TTL.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Machos
80 10 0 12 0 140 160 180 200 220
TTL.(cm)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmeas
0 20 40 60 80 100 120 140
D.Ct.(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Machos
25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75
D.Ct.(cm)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmeas
20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Cauda(cm)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Machos
40 50 60 70 80 90 100
Cauda(cm)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmeas
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Massa(Kg)
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
CRC.(cm)
Macho
0 5 10 15 20 25 30 35
Massa(Kg)
40
50
60
70
80
90
100
110
CRC.(cm)
Fêmea
Figura 13 – Continuação.
4.4 – Correlação entre os dados biométricos de todos os filhotes de C. crocodilus
Foram capturados 31 filhotes (TTL < 50 cm) da espécie C. crocodilus. A tabela 9
apresenta as correlações entre os dados biométricos. Pode-se observar nesta tabela que as todas as
correlações se demonstraram significativas (p<0,05).
62
Tabela 9 – Regressão entre medidas morfométricas dos filhotes da espécie C. crocodilus
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 m/f CRC Cb -3,2938 4,0672 0,000 0,7763 31
2 m/f CRC Cr 5,2907 4,3668 0,001 0,2853 31
3 m/f CRC TTL 2,2168 0,4366 0,000 0,7202 31
4 m/f CRC D. Ct 6,6992 1,0768 0,000 0,6662 31
5 m/f CRC Cauda 4,3078 0,7665 0,000 0,6644 31
Y= a + bX
Sexo: m/f = machos e fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
A correlação dos dados biométricos nos diferentes sexos para os filhotes de C. crocodilus
se demonstrou significativa para p<0,05 (tabela 10). Somente a relação entre o CRC vs Cauda
nas fêmeas não se demonstrou significativa (p = 0,101)
A figura 14 apresenta as plotagens das correlações de machos e fêmeas dos filhotes da
espécie C. crocodilus, podendo-se ressaltar que, já entre os filhotes, os machos apresentam maior
porte que as fêmeas.
Tabela 10 – Regressão entre medidas morfométricas dos filhotes de C. crocodilus
# Sexo Y X a b p r
2
N
1 M CRC Cb -2,6150 3,9642 0,000 0,7493 18
2 M CRC Cr 6,4835 4,1066 0,036 0,2456 18
3 M CRC TTL -0,4377 0,4931 0,000 0,7563 18
4 M CRC D. Ct 6,8373 1,0722 0,000 0,6893 18
5 M CRC Cauda 1,9351 0,8685 0,000 0,7381 18
6 F CRC Cb -5,4307 4,4285 0,000 0,8887 13
7 F CRC Cr 4,0915 4,5974 0,007 0,4967 13
8 F CRC TTL 3,3114 0,4180 0,002 0,5989 13
9 F CRC D. Ct 8,1178 0,9479 0,031 0,3576 13
10 F CRC Cauda 9,8397 0,4943 0,101 0,2259 13
Y= a + bX
Sexo: m = machos; f = fêmeas
N: número de animais
p < 0,05
63
4,8 5,0 5,2 5,4 5,6 5,8 6,0 6,2 6,4 6,6 6,8 7,0 7,2 7,4 7,6
Cb.(cm)
14
16
18
20
22
24
26
28
CRC.(cm)
Machos
5,1 5,2 5,3 5,4 5,5 5,6 5,7 5,8 5,9 6,0 6,1
Cb.(cm)
17,0
17,5
18,0
18,5
19,0
19,5
20,0
20,5
21,0
21,5
22,0
CRC.(cm)
Fêmeas
2,8 3,0 3,2 3,4 3,6 3,8 4,0 4,2
Cr.(cm)
14
16
18
20
22
24
26
28
CRC.(cm)
Machos
2,9 3,0 3,1 3,2 3,3 3,4 3,5 3,6
Cr.(cm)
17,0
17,5
18,0
18,5
19,0
19,5
20,0
20,5
21,0
21,5
22,0
CRC.(cm)
Fêmeas
36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58
TTL.(cm)
14
16
18
20
22
24
26
28
CRC.(cm)
Machos
34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44
TTL.(cm)
17,0
17,5
18,0
18,5
19,0
19,5
20,0
20,5
21,0
21,5
22,0
CRC (cm)
Fêmeas
9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
D.Ct.(cm)
14
16
18
20
22
24
26
28
CRC.(cm)
Machos
10,6 10,8 11,0 11,2 11,4 11,6 11,8 12,0 12,2 12,4 12,6 12,8 13,0 13,2
D.Ct.(cm)
17,0
17,5
18,0
18,5
19,0
19,5
20,0
20,5
21,0
21,5
22,0
CRC.(cm)
Fêmeas
16 18 20 22 24 26 28 30
Cauda(cm)
14
16
18
20
22
24
26
28
CRC.(cm)
Machos
17,0 17,5 1 8,0 1 8 ,5 1 9,0 1 9,5 2 0 ,0 2 0,5 2 1 ,0 2 1 ,5 2 2 ,0
Cauda(cm)
Não Significativo
17,0
17,5
18,0
18,5
19,0
19,5
20,0
20,5
21,0
21,5
22,0
CRC.(cm)
Figura 14 – Plotagem entre as medidas corpóreas dos filhotes de C. crocodilus
Em uma das três ninhadas capturadas foi possível coletar a fêmea que veio atrás dos
filhotes quando estes vocalizaram dentro do barco. A fêmea apresentava CRC de 69 cm e tinha
10 kg de massa.
64
4.5 – Lesões externas e anomalias verificadas nos crocodilianos em estudo
Do total de 155 animais capturados das duas espécies, 66 (42,6 %) apresentavam alguma
lesão externa. Na espécie C. crocodilus, foram verificadas lesões externas em 42 animais (37 %).
Dos 69 machos capturados, 27 exemplares (39 %) apresentaram lesões e das 44 fêmeas, 15 (34
%) tinham alguma lesão externa. Para M. niger, observa-se uma maior proporção no número de
lesões, entre os 44 exemplares analisados 24 (54,5 %) possuíam alguma lesão externa. Entre os
sexos, 13 machos (29,5 %), 11 fêmeas (25 %) apresentaram lesões.
As lesões mais presentes em ambas as espécies foram a falta da ponta da cauda e falta de
unha nas patas posteriores, presentes em 21 animais (13,5 %), seguidos por falta de unha nas
patas anteriores, encontradas em 19 animais (12,2 %) e falta de parte da cauda, 8 exemplares (5,1
%).
Para C. crocodilus as lesões mais freqüentes foram falta de unha nas patas anteriores (13,3
%), falta de unha nas patas posteriores (11,5 %) e falta de ponta da cauda (9,7 %). Os machos
tiveram 13 % com falta de unha anterior, também 13 % falta de ponta da cauda e 8,7 % com falta
de unha posterior. Nas fêmeas, as mais presentes foram a ausência de unha nas patas posteriores
(15,9 %), ausência de unha nas patas anteriores (13,6 %) e falta de ponta da cauda (4,5 %) e
irregularidades na ponta da cauda (4,5 %) (figura 10).
Em M. niger foram observados 23,8 % dos animais com falta da ponta da cauda, seguidos
por falta de unha posterior (19 %) e falta de parte da cauda (19 %). Nesta espécie, nos machos, as
lesões com maior presença foram a falta de unha nos dedos posteriores (27,3 %), falta de parte da
cauda (22,7 %) e falta da ponta da cauda (18,2 %) (tabela 11).
Várias outras lesões foram encontradas em menores quantidades nos animais em estudo,
mas alguns com grande importância. Foram capturados dois animais adultos (TTL > 210 cm) de
M. niger sem a parte inferior da mandíbula e um animal adulto (CRC = 164 cm) cego de um dos
olhos além de exemplares com cicatrizes pelo corpo, falta de dedo (figura 7), falta de pata e falta
de presa. Em C. crocodilus, exemplares com anomalias nas cristas da cauda, bifurcação na ponta
da cauda (anomalias possivelmente congênitas figura 8 e 10), anomalias na parte inferior da
cauda (figura 9), falta de pata.
65
Figura 7 – Observação da falta da extremidade do dedo (M. niger).
Figura 8 – Anomalia na ponta da cauda (bifurcação) em C. crocodilus
66
Figura 9 – Constrição na parte inferior da cauda de C. crocodilus
Figura 10 – Lesão na ponta da cauda – C. crocodilus
67
Vale ressaltar que em vários exemplares analisados apresentavam mais de uma destas
lesões/anomalias (tabela 12).
Tabela 11 – Números absolutos e porcentagem das lesões e anomalias encontradas nos
exemplares de M. niger e C. crocodilus.
Observações
CC
% CC
CC
% CC
MN
% MN
MN
% MN
Total
%
Total
Falta unha anterior 9 13,0% 6 13,6% 1 4,5% 3 15,0% 19 12,2
Falta unha posterior 6 8,7% 7 15,9% 6 27,3% 2 10,0% 21 13,5
Falta ponta da cauda 9 13,0% 2 4,5% 4 18,2% 6 30,0% 21 13,5
Falta de crista 3 4,3% 1 2,3% 2 9,1% 0 0,0% 6 3,8
Crista deformada 2 2,9% 1 2,3% 0 0,0% 0 0,0% 3 1,9
Ponta da cauda deformada 1 1,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,6
Falta dedo anterior 1 1,4% 1 2,3% 2 9,1% 1 5,0% 5 3,2
Falta dedo posterior 2 2,9% 1 2,3% 0 0,0% 1 5,0% 4 2,6
Anomalia na ponta da cauda 2 2,9% 2 4,5% 0 0,0% 0 0,0% 4 2,6
Nódulo na cauda 0 0,0% 1 2,3% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,6
Cicatriz na cabeça 2 2,9% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 1,3
Parte inferior da cauda ferida 1 1,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,6
Falta parte da cauda 4 5,8% 1 2,3% 0 0,0% 0 0,0% 5 3,2
Falta pata anterior 2 2,9% 1 2,3% 0 0,0% 0 0,0% 3 1,9
Falta pata posterior 1 1,4% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 1 0,6
Falta de presa do lado direito 0 0,0% 0 0,0% 1 4,5% 0 0,0% 1 0,6
Falta de parte da cauda 0 0,0% 0 0,0% 5 22,7% 3 15,0% 8 5,1
Falta parte inferior da boca 0 0,0% 0 0,0% 3 13,6% 0 0,0% 3 1,9
Cicatriz na cabeça 2 2,9% 0 0,0% 0 0,0% 0 0,0% 2 0,6
Tabela 12 – Exemplos de lesões/anomalias múltiplas observadas nos exemplares C. crocodilus e
M. niger capturados.
Nº Tag Lesões e anomalias
C. crocodilus machos
13
Falta 1 unha na pata anterior e posterior direita.
15
Falta a pata anterior esquerda e posterior direita, falta ponta da cauda.
26
Falta pata dianteira esquerda, 6º crista e presença de cicatriz na cabeça.
33
Falta 2ª unha da pata anterior direita, falta 1 dedo da pata posterior esquerda.
36
Falta 1 unha nas patas posteriores e 2 unhas nas patas anteriores e falta metade da cauda
37
Falta um pedaço da cauda, falta primeira unha das patas posteriores e anteriores.
38
Ausência de 3 unhas na pata posterior direita, 2 unhas na pata anterior direita e 3 na
esquerda, falta parte da cauda.
62
Anomalia na parte inferior da cauda.
68
64
Falta 1 unha na pata anterior direita, parte inferior da cauda ferida.
65
Faltam 2 dedos na pata posterior direita e esquerda, duas unhas na pata posterior direita.
68
Falta a 2ª crista simples, anomalia na cauda.
C. crocodilus fêmeas
10
Faltam 2 dedos na pata posterior direita e um dedo na posterior esquerda.
24
Falta 2ª unha da pata anterior direita, 1ª unha posterior esquerda, falta 1ª unha
da pata anterior esquerda, 1ª unha posterior direita, nódulo na cauda, falta 2ª crista da
cauda.
26
Falta 4ª unha posterior direita e da posterior esquerda.
27
Falta 1ª unha anterior direita e 4ª unha posterior esquerda.
29
Falta 4ª unha das duas patas posteriores, falta 1ª unha da pata anterior esquerda,
falta maior parte da cauda, defeitos nas cristas únicas.
35
Falta 1 unha nas patas posteriores esquerda e direita.
42
Bifurcação na ponta da cauda (figura 8 ).
M. niger machos
7
Não tem parte da língua e não tem aprox. 25% da parte inferior da boca.
14
Falta uma unha na pata posterior esquerda, faltam 4 unhas na pata anterior direita, falta
parte da cauda e uma presa do lado direito.
16
Sem as unhas das patas posteriores, falta parte da cauda, furo na parte inferior da
mandíbula.
19
Faltam 2 cristas da cauda (simples), falta 1 crista da ponta da cauda.
21
Falta parte da penúltima crista, falta 1 unha na pata posterior esquerda, faltam 2 unhas na
pata posterior direita, cego de 1 olho.
M. niger fêmeas
6
Falta ponta da cauda, faltam 2 dedos na pata posterior direita.
7
Falta segunda unha da pata posterior e anterior esquerda, falta ponta da cauda.
12
Falta 1 unha na pata anterior direita, falta parte da cauda.
6
Falta ponta da cauda, faltam 2 dedos na pata posterior direita.
7
Falta segunda unha da pata posterior e anterior esquerda, falta ponta da cauda.
12
Falta 1 unha na pata anterior direita, falta parte da cauda.
19
Falta uma unha na pata anterior direita e na pata anterior esquerda.
5 – DISCUSSÃO
Após análise dos dados morfométricos, verificou-se uma diferença significativa nas
medidas externas entre os animais das duas espécies indicando padrões de tamanho diferentes,
sendo que exemplares de M. niger podem alcançar maior porte que C. crocodilus. Em trabalho
realizado por DA SILVEIRA et al. (1997), na Estação Ecológica de Anavilhanas no baixo rio
Negro, Amazônia Central, observou-se entre as populações de C. crocodilus e M. niger variação
no comprimento, sendo que C. crocodilos apresentou variação de 20cm a 130cm de CRC e M.
niger de 20 a 160 cm de CRC, indicando um maior porte para M. niger. Pesquisa realizada
69
também no estado do Amazonas Brasil, na região da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá, avaliou em censo populacional a variação do CRC em C. crocodilus entre 35 e 135
cm e para M. niger entre 35 e 175 cm (DA SILVEIRA & THORBJARNARSON, 1999).
Um dado interessante foi observado na comparação das medidas morfométricas utilizando
todos os animais capturados das duas espécies. Apesar de que os exemplares de M. niger possam
alcançar medidas superiores aos exemplares de C. crocodilus, a correlação entre as medidas se
mostrou significativa, indicando que indivíduos de mesmo porte nas duas espécies apresentam
semelhança entre medidas morfométricas externas.
As análises realizadas separadamente para cada espécie apresentaram correlação
significativa entre as medidas morfométricas, indicando padrão de crescimento semelhante entre
os indivíduos da mesma espécie. Em M. niger, a maior correlação foi entre CRC e CB e a menor
entre CRC e Massa, enquanto para C. crocodilus, a maior correlação ficou entre CRC e TTL e a
menor entre CRC e Cr.
Trabalhos morfométricos realizados com 244 animais da espécie Caiman latirostris em
cativeiro e 29 exemplares selvagens obtiveram resultados em que correlações variaram de r
2
=
0,971 (CRC x TTL) a r
2
= 0,968 (CRC x Cr) nos animais selvagens e nos animais em cativeiro as
correlações variaram de r
2
= 0,991 (CRC x TTL) a r
2
= 0,995 (CRC x Cr) (VERDADE, 2000),
valores semelhantes aos encontrados no presente estudo.
Foi realizado o cruzamento entre as medidas biométricas de machos e fêmeas dentro de
cada espécie. Em C. crocodilus verificou-se diferença significativa entre as medidas
morfométricas, indicando padrões de crescimento diferentes e um dimorfismo sexual na curva de
crescimento. Os machos da espécie possuem maior porte que as fêmeas. Em estudo realizado
com 18 animais de cativeiro da espécie C. latirostris, foram verificadas diferenças morfométricas
entre machos e fêmeas, indicando dimorfismo sexual. O dimorfismo foi verificado no
crescimento alométrico, sendo que machos e fêmeas apresentam diferença na curva de
crescimento e no tamanho e forma do crânio (VERDADE, 2003).
Os filhotes de C. crocodilus apresentaram crescimento alométrico quando analisados
todos os exemplares capturados e dentro de cada sexo separadamente, semelhante ao ocorrido
com os adultos. Dentro dos filhotes também foi demonstrado um dimorfismo sexual em relação à
curva de crescimento.
70
Na espécie M. niger, quando realizou-se correlação das medidas morfométricas de
machos e fêmeas, algumas mostraram-se significativas, mas a maioria das relações apresentou
diferença significativa, indicando semelhante ao ocorrido com C. crocodilus, um dimorfismo
sexual na curva de crescimento de machos e fêmeas desta espécie.
VERDADE (2000) encontrou variações de correlações entre machos e fêmeas da espécie
C. latirostris, em exemplares oriundos de cativeiro, onde verificou dimorfismo sexual no
crescimento alométrico de várias medidas, largura comercial da barriga (pele utilizada para
comercialização) e várias medidas do crânio (não foi observada variação na mandíbula). As
variações do crânio podem estar relacionadas evolutivamente ao reconhecimento visual entre
machos e fêmeas, quando os indivíduos exibem somente o alto de suas cabeças acima da
superfície da água.
Trabalho realizado por LARRIERA et al. (2004) apresenta correlações significativas entre
medidas corpóreas de fêmeas de C. latirostris e as medidas de seus respectivos ovos e filhotes. O
CRC da fêmea apresentou correlação com comprimento e largura dos ovos, massa e CRC dos
filhotes. A massa da fêmea apresentou correlação positiva com a massa do ovo, comprimento e
largura dos ovos, massa e CRC dos filhotes. Fêmeas maiores produzem proles mais pesadas.
A fêmea capturada no presente estudo, com seus respectivos filhotes, apresentava CRC de
69 cm e massa de 10 kg. Estas medidas corroboram com os dados de CAMPOS (2003), que em
trabalho realizado com reprodução de C. crocodilus no lago Cururu, situado no rio Solimões,
AM, em 2001 e 2002, obteve variação do tamanho das fêmeas capturadas junto com os ninhos de
70 a 87 cm de CRC e variação da massa de 7,8 a 17,5 kg.
Neste estudo foi observado que mais de 40% dos animais analisados apresentavam
alguma lesão/anomalia externa. Na comparação entre as duas espécies estudadas, M. niger
apresentou proporcionalmente mais lesões do que os exemplares capturados de C. crocodilos.
Verificando as lesões nas duas espécies pode-se inferir que provavelmente são causadas
por predações, sendo que mais as recorrentes estão presentes em extremidades do corpo (falta de
ponta da cauda e falta de unha nas patas posteriores). Estas lesões podem também ser causadas
por disputas interespecíficas. Na região em estudo tem a presença de muitas aves que causam
pressão de caça sobre os filhotes dos crocodilianos e peixes que podem fazer uso dos filhotes na
alimentação, apesar do cuidado parental. Os filhotes que conseguem sobreviver a essas predações
levam consigo as marcas das lesões deixadas pelos predadores.
71
Outra causa provável das lesões são disputas intra-específicas. Disputas por alimento, por
domínio de território, comportamento agonístico dos machos durante o período reprodutivo
devem ocasionar lesões entre os animais dessas espécies. Trabalho realizado com animais de
cativeiro da espécie Caiman latirostris sobre comportamento agonístico, avaliou que em torno de
15 % da mortalidade é causada por disputas entre os jacarés e que no período de reprodução as
disputas aumentam (VERDADE, 1992).
Além das lesões, foram observadas algumas anomalias nos exemplares capturados no
presente estudo. As anomalias são provavelmente de origem congênita, causadas por variações na
temperatura de incubação nos ninhos, desnutrição das fêmeas durante o período de geração dos
ovos, ou fatores genéticos. Pesquisa realizada no rio Novo Belize com Crocodylus moreletii
nos anos de 1997 e 1998, foram encontrados dois exemplares da espécie sem a presença de um
dos membros anteriores, sendo que um dos exemplares era juvenil, faltando o membro anterior
direito e o outro, uma fêmea subadulta, sem o membro anterior esquerdo. A análise radiográfica
dos animais não indicou o acontecimento de acidente para a perda do membro, sendo indicados
fatores congênitos ou de idade/subnutrição da mãe como responsáveis pela anomalia
(RAINWATER et al., 1999).
Outras espécies de répteis apresentam anomalias congênitas, podendo-se evidenciar os
quelônios. Estudos realizados por MALVASIO et al. (2005a, 2005b) na mesma área de estudo do
presente trabalho no ano de 2000, onde foi analisada a influência na manipulação dos ovos no
padrão normal de escutelação de casco, observou-se que em Podocnemis unifilis (tracajá), 5%
dos 859 filhotes analisados e que em Podocnemis expansa (tartaruga-da-amazônia) 11,87% dos
8291 exemplares, apresentavam padrão anormal de escutelação na carapaça e no plastrão, sendo
que as anomalias podem ter tido origem congênitas.
Pesquisa realizada entre os anos de 1999 e 2003, na mesma área do presente estudo, onde
14378 filhotes de P. expansa foram avaliados, verificando que 1916 (13,32%) apresentavam
padrão irregular dos escudos do casco e que em 1329 filhotes de P. unifilis avaliados, observou-
se que 59 (4,44%) apresentavam padrão irregular de escutelação, indicando que os fatores
responsáveis por esta diferença de proporção entre os filhotes, foram as condições ambientais que
o ninhos destas duas espécies estão sujeitos (localização, profundidade, tempo de incubação...)
(SALERA JR., 2005).
72
Na Unidade para a Conservação, Manejo e Aproveitamento Sustentável da Vida
Selvagem (UMA), nos estados Nayarit e Jalisco México, são relatados 5 casos clínicos
observados em Crocodylus acutus, sendo que três casos são de malformações congênitas de
juvenis, em que os ovos foram retirados da natureza e chocados artificialmente. Dois destes
exemplares com comprimento total de 72 e 65,3 cm, apresentavam hipotrofia bilateral nas órbitas
oculares (sendo cegos) e o terceiro com 59 cm, sofria de uma distrofia muscular e óssea
degenerativa a partir da quinta vértebra lombar. As malformações são atribuídas a deficiência da
dieta das mães, incubação fora dos limites de temperatura viável, consangüinidade, traumatismo
provocados na manipulação dos ovos, agentes patogênicos e principalmente anomalias genéticas
(RUBIO-DELGADO et al., 2001).
6 - CONCLUSÕES
- Foi verificada variação significativa nas medidas corpóreas entre os exemplares das duas
espécies em estudo. Os exemplares de M. niger apresentam um maior porte que os exemplares de
C. crocodilus, indicando que além das diferenças morfológicas externas dos animais das duas
espécies, como coloração e manchas no corpo, o porte pode ser usado para a identificação dos
animais, principalmente dos adultos.
- Dentro de cada espécie observa-se uma covarncia entre as medidas morfométricas dos
exemplares, indicando um crescimento alométrico do comprimento de diferentes partes do cor e
da massa dos animais.
- As curvas de crescimento indicaram dimorfismo sexual nas duas espécies, onde os
exemplares fêmeas apresentam menor porte que os machos. Este dimorfismo está provavelmente
relacionado a fatores reprodutivos (comportamento agonístico) onde os machos de maior porte
afugentam animais menores e copulam mais fêmeas, gerando filhotes machos de maior porte.
- As lesões mais freqüentes foram encontradas nas extremidades do corpo sendo
relacionadas a atividades predatórias interespecíficas e intra-específicas.
- As anomalias observadas estão provavelmente relacionadas aos problemas congênitos
ocasionados por variações da temperatura e umidade durante o período de incubação dos ninhos e
estado nutricional das fêmeas, necessitando como isso de estudos mais aprofundados para
confirmar esta conclusão.
73
REFERÊNCIAS
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Amazônia Central. Corumbá: Embrapa Pantanal. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento /
Embrapa Pantanal. v. 43. 19 p. 2003.
CASAS-ANDREU, G. Ecología de la Anidación de Crocodylus Acutus (Reptilia:
Crocodylidae) en la Desembocadura del Río Cuitzmala, Jalisco, México Acta Zoologica
Mexicana v. 89. p. 111-128. 2003.
CEDEÑO-VASQUES J. R., ROSS .J .P & CALMÉ S. Population Status and Distribution of
Crocodilus acutus and C. moreletii in Southeastern Quintana Roo, México. Herpetological
Natural History, 10(1), p 17-30. 2006.
CENTENO, A. J. Curso de Estatística Aplicada à Biologia. Goiânia. Centro Editorial e
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75
CAPÍTULO 04 – Discussão Geral
Após a realização de estudos sobre as populações e relações morfométricas externas em
M. niger e C. crocodilus, podem ser discutidas algumas recomendações visando a conservação e
o manejo destas espécies. Com espécies de crocodilianos, diversos trabalhos já foram
desenvolvidos em várias partes do mundo sobre levantamento das densidades e estruturas
populacionais, manejo comercial e de preservação, biologia destas espécies entre outros
(ABERCROMBIE & VERDADE, 2002; BARRERA, 2004; BORTEIRO et al., 2006;
CARVAJAL et al., 2005; CEDEÑO-VASQUES et al., 2006; COUTINHO et al., 1998;
GALVAN, 2004).
As seis espécies de crocodilianos encontrados no Brasil já receberam pesquisas sobre suas
populações, estudos sobre morfometria, reprodução, influências de fatores ambientais e
antrópicos nas abundâncias, caça comercial ilegal, manejo e conservação além de outros estudos
(DA SILVEIRA & THORBJARNARSON, 1999; DA SILVEIRA, et al., 1997; DA SILVEIRA,
2003; VERDADE, 2000, 2001a, 2001b; COUTINHO et al., 1998; MOURÃO et al., 1996;
CAMPOS, 2003).
Anteriormente ao ano de 1967, no Brasil, o havia legislação que regia a caça e
comercialização de animais silvestres e nos relatórios do Instituto Brasileira de Geografia e
Estatística (IBGE), entre os anos de 1956 e 1969, o Brasil exportou cerca de 17,9 mil toneladas
de peles de animais silvestres sendo que a mais lucrativa foi a pele de jacaré. No ano de 1967 foi
criada a lei federal 5.197, que definia a implementação de unidades comerciais, assim como a
comercialização de produtos e subprodutos provenientes da fauna silvestre. Apesar da lei, as
explorações ilegais continuam ocorrendo, causando decréscimo nas populações dos animais
silvestres (MOURÃO, 2007).
Com crocodilianos, a caça e comercialização são mais concentradas em algumas regiões
onde as populações destas espécies são mais abundantes, como na região do Rio Amazonas e
seus afluentes, onde as populações, principalmente de M. niger e C. crocodilus, são bem
expressivas e no Pantanal em que a população de C. yacare é considerada uma das maiores do
mundo (DA SILVEIRA & THORBJARNARSON, 1999; DA SILVEIRA et al., 1997; DA
SILVEIRA, 2003; MOURÃO et al., 1996).
76
Outra grande pressão que as populações de crocodiliano recebem, está relacionada às
atividades antrópicas. O crescimento de cidades, expansão de áreas agrícolas, criação de gado
causam redução dos habitats ocupados por estas populações de crocodilianos. Pesquisa realizada
por VERDADE (2001b) com as populações de C. latirostris no Brasil, verificou que a espécie se
distribui da região sul do país até o estado do Rio Grande do Norte (nordeste) e estas áreas estão
entre as que mais sofreram com atividades antrópicas. Desde o inicio da colonização do Brasil,
houve uma grande redução do habitat dos crocodilianos em razão de drenagem agrícola,
urbanização e represamento de hidrelétricas. No Pantanal, a abertura de áreas para formação de
pastagem causa decréscimo dos habitats de várias espécies de animais silvestres, incluindo C.
yacare (HARRIS, et al. 2005) e na região Amazônica, onde o estado do Tocantins está incluído,
a expansão agrícola, provavelmente, está causando prejuízo aos habitats de C. crocodilus, M.
niger e P. palpebrosus.
Uma alternativa para a preservação dessas espécies de crocodilianos e de outros animais
silvestres é a implementação de áreas de proteção ambiental como Parques e Reserva. A área em
estudo está no entorno do Parque Nacional do Araguaia que foi criado por lei federal 47.570
em 1959. Por ser uma área de reserva nacional, se demonstra preservada nos arredores da região
da pesquisa, sendo que não verifica-se grandes problemas de degradação. Um problema
encontrado na área é a pesca e caça de animais silvestres. No período de estiagem, pescadores
montam acampamentos na região, permanecendo por vários dias pescando (>15 dias) e
provavelmente caçando. No ano de 2005, seguindo um rasto de onça da área de praia para a mata,
foi localizada uma carcaça de jacaré (C. crocodilus TTL> 140cm). Analisando a carcaça,
verificou-se que a cauda havia sido aberta por um objeto cortante, provavelmente uma faca, ou
seja, caçadores mataram o jacaré, retiraram a carne da cauda (como é de costume na região comer
somente a carne da cauda) e onça carregou o animal e comeu o restante. Faz-se necessário, além
da criação de áreas de proteção ambiental, intensificar a fiscalização para que estes casos
pontuais não se tornem freqüentes.
A criação destes animais em cativeiro é uma alternativa viável para diminuir a caça
comercial no ambiente natural. Entre os anos de 1997 e 2000, vários cativeiros foram criados em
estados brasileiros ligados ao programa Experimental de Criação do Jacaré-do-Papo-amarelo da
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/SP, que fornecia as matrizes para os
criatórios (VERDADE, 2001c). No ano de 1990 foi promulgado pelo Instituto Brasileiro do Meio
77
Ambiente – IBAMA, uma nova atividade de criação em cativeiro de C. yacare, sendo que
permitia a retirada de uma cota de ovos dos ninhos na natureza e criação dos jovens em cativeiro
com propósito comercial (COUTINHO et al., 1998). Para o manejo adequado destas populações
de crocodilianos e estabelecimento da cota de coleta, é necessário o desenvolvimento de um
eficiente sistema de monitoramento para mensurar os impactos das coletas e como pré-requisito,
ter o conhecimento da ecologia e histórico destas populações.
A espécie M. niger está presente na área em estudo e encontra-se citada no apêndice I da
Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Selvagens
Ameaçadas de Extinção CITES (DA SILVEIRA & THORBJARNARSON, 1999). Neste
apêndice estão incluídas todas as espécies ameaçadas de extinção que são ou possam ser afetadas
pelo comércio. O comércio de exemplares dessas espécies é submetido a uma regulamentação
particularmente rigorosa a fim de que não seja ameaçada ainda mais a sua sobrevivência e é
autorizado somente em circunstâncias excepcionais.
DA SILVEIRA (2003), juntamente com outros pesquisadores que realizam trabalho com
M. niger na região do Estado do Amazonas, afirmam que a espécie não está em risco de extinção,
tendo suas populações em equilíbrio e em algumas áreas, como a região da Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Mamirauá no Amazonas, apresentando grandes populações com
densidades que chegam a 30 animais por km linear de rio. Estes pesquisadores sugerem que a
espécie seja transferida do apêndice I da CITES para o apêndice II, o que permitiria desta forma a
comercialização de seus subprodutos. Na área da Reserva de Desenvolvimento Sustentável
Mamirauá está ocorrendo caça comercial de M. niger realizada por ribeirinhos, onde estes
repassam a carne a compradores que comercializam em mercados de pequenas cidades da
Colômbia e do Estado do Pará – Brasil, sendo que no mês de setembro de 1995, foi calculado um
total de 2988 kg de carne da espécie comercializada (DA SILVERIA & THORBJARNARSON,
1999).
As populações de M. niger encontradas no Estado do Tocantins não apresentam grande
densidade, variando de 1,9 a 2,5 exemplares / km linear de rio nos meses de baixo nível d’água
onde se tem uma maior concentração destes animais. Com a possibilidade da mudança na
legislação, sugere-se que se tenha o cuidado de liberar a comercialização por áreas específicas,
priorizando regiões com maiores densidades populacionais e sempre valorizar os trabalhos de
levantamento populacional para o estabelecimento de cota de retiradas destes exemplares, seja de
78
ovos, filhotes ou adultos. Uma ação importante é o envolvimento da comunidade local, dando
incentivos econômicos para preservação dos habitats e preservação das espécies (CAMPOS,
2003).
As densidades de crocodilianos são influenciadas por variações ambientais,
principalmente a variação do nível e temperatura d’água e também por diferença de habitats.
Estes fatores devem ser observados com grande importância durante os levantamentos
populacionais, pois se pode subestimar ou superestimar uma população dependendo da época ou
do local onde se realiza o levantamento (COUTINHO, 1996).
Foram realizados levantamentos populacionais em dois lagos marginais ao rio Javaés. Na
comparação do Lago da Mata Verde com o rio Javaés, observou-se variações no número
proporcional dos animais, entre os ambientes, nas duas espécies. O mês de agosto apresentou
uma maior proporção de exemplares da espécie C. crocodilus no lago (lago: 48%, rio 24%). Esta
diferença não foi observada em M. niger. Em outubro, M. niger apresentou uma maior proporção
de exemplares no rio (rio: 21%, lago: 4,5%) e C. crocodilus, no lago (lago: 54%, rio: 31%). Nas
comparações das classes de tamanhos no mês de agosto os exemplares de M. niger, apenas a
classe II se diferenciou entre o rio (20 exemplares, 48%) e o lago (nenhum exemplar observado
nesta classe de tamanho) e para os exemplares de C. crocodilus, as classes classe I (rio: 7,9%,
lago: 32,4%), classe II (rio: 79,8%, lago: 43,2%) e classe IV (rio: 0, lago: 5,4%) (p<0,05). No
mês de outubro somente a classe II de M. niger apresentou diferenças entre o lago (55,5%) e rio
(26,8%) na proporção no número de animais. Na espécie C. crocodilus, somente a classe I (rio:
0,7%; lago: 11,9%) e classe IV (rio: 2,9; lago: 16,5) tiveram diferença neste mês, onde se verifica
uma maior presença de exemplares destas classes no lago, indicando provavelmente o cuidado
parental das fêmeas com os filhotes.
Esta variação esta relacionada às fisionomias dos dois ambientes. O rio apresenta maior
correnteza, grandes praias e altos barrancos, nos lagos a correnteza é mínima, não apresenta
praias e o acesso à vegetação é mais facilitado, ambientes ideais para reprodução e o cuidado
parental. Pesquisa realizada com filhotes de Paleosuchus trigonatus ressalta a importância das
áreas de florestas nas margens dos corpos d’água para a sobrevivência dos filhotes desta espécie.
(WHITE & JESÚS, 2003).
Com relação a temperatura, uma outra preocupação é com os trabalhos de preservação
ambientais em ninhos de crocodilianos devido ao fato de que pequenas variações nas
79
temperaturas dos ninhos podem alterar a razão sexual de uma população. Trabalho realizado no
sul da África, com preservação de ninhos de Crocodylus niloticus, onde se utilizou planta exótica
(Chromolaena odorata) para protegê-los nos locais ensolarados, houve alteração no sexo dos
filhotes por diminuir a temperatura dos ovos em torno de 5-6 ºC e as raízes destas plantas
introduzidas dificultavam a escavação dos ninhos pelas fêmeas (LESLIE & SPOTILA, 2001).
Os dados morfométricos analisados indicaram variações no crescimento de M. niger e C.
crocodilus, sendo que M. niger apresenta maior porte que C. crocodilus. Em uma análise
incluindo todos exemplares capturados, observou-se uma certa correlação nas curvas de
crescimento das duas espécies, indicando que animais de mesmo porte dentro das duas espécies
possuem semelhanças entre as medidas morfométricas.
As análises realizadas dentro de cada espécie demonstraram dimorfismo sexual nas curvas
de crescimento, tanto para M. niger quanto para C. crocodilus. Este mesmo dimorfismo foi
observado nos filhotes de C. crocodilus, que foram trabalhados separadamente. VERDADE
(2000) verificou dimorfismo sexual nas curvas de crescimento e no tamanho e formato do crânio
em C. latirostris.
Estudos sobre as relações morfométricas nos crocodilianos servem de base para trabalhos
de levantamento populacional, sendo que alguns autores classificam os exemplares estudados em
filhotes, juvenis, subadultos e adultos através de medidas corpóreas (CEDEÑO-VÁZQUES et al.,
2006; CARVAJAL et al., 2005; GALVAN & VARGAS, 2003).
Medidas corpóreas de fêmeas são relacionadas com tamanhos de ninhadas, massa,
comprimento e largura dos ovos e filhotes (CAMPOS, 2003). Estes resultados coletados no
campo auxiliam os trabalhos de manejo em cativeiro. Trabalho produzido por CASAS-ANDREU
(2003) com Crocodilus acutus relacionou as medidas morfométricas das meas com tamanho de
ninhadas, massas e comprimento dos ovos, sendo que o comprimento das fêmeas foi estimado
através do tamanho das pegadas deixadas ao redor do ninho e para a montagem da equação da
reta foi realizada a correlação entre as medidas corpóreas de 30 fêmeas de um criatório a 40 km
do local dos ninhos. Isso reforça a importância dos trabalhos de correlação entre as medidas
morfométricas nos crocodilianos.
Para as duas espécies, as lesões mais freqüentes foram encontradas nas extremidades do
corpo dos exemplares analisados, indicando serem provavelmente de origem predatória. Os
crocodilianos quando adultos se apresentam como os maiores predadores dos ambientes
80
aquáticos que habitam, mas quando filhotes e jovens sofrem predação causada por aves, peixes
carnívoros e de outros crocodilianos adultos, conseqüentemente adquirem durante seu
desenvolvimento, lesões causadas por estas predações. Lesões externas podem também ser
ocasionadas por disputas intra-específicas, sendo que estes animais competem por território,
captura de alimentos e os machos apresentam comportamento agonísticos durante período
reprodutivo (VERDADE, 1992).
As anomalias apresentadas nos exemplares de C. crocodilus (e. g. bifurcação na ponta da
cauda e constrição das escamas da parte inferior da cauda) são relacionadas provavelmente a
problemas congênitos.
Este trabalho realizado sobre os crocodilianos do entorno do Parque Nacional do Araguaia
vem somar com rios outros estudos de crocodilianos do Brasil e do mundo. Estas espécies
estão sofrendo uma grande pressão antrópica e os estudos, principalmente populacionais, são de
grande importância para levantar propostas que contribuam na redução destas pressões e
promovam ações de conservação e manejo.
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83
CAPÍTULO 05 – Conclusões Gerais
Nos três anos de coleta na região do entorno do Parque Nacional do Araguaia foram
observados mais de 4800 exemplares de crocodilianos pertencentes às espécies M. niger e C.
crocodilus. Na literatura há registro da ocorrência de P. palpebrosus na bacia Araguaia-Tocantins
e o fato de exemplares desta espécie não terem sido observados, pode estar relacionado a fatores
ambientais e comportamentais (habitats, disputas interespecíficas).
A redução na abundância populacional observada entre os anos de 2005 e 2006 está
relacionada provavelmente ao nível fluviométrico, pois no ano de 2006, este foi superior ao de
2005. A variação da abundância dos animais entre os meses de coleta foi influenciada pelo nível
fluviométrico e a temperatura da água, colocando estes dois fatores como de grande importância
na variação da abundância local das espécies. Nos trabalhos de levantamento populacional deve-
se levar em consideração esses fatores para não ter o risco de subestimar as abundâncias destas
populações.
Variação entre a abundância das espécies foi verificada em quase todos os meses de coleta
havendo predominância de animais da espécie C. crocodilus. Esta espécie se demonstra bem
adaptada à região, sendo que foram observados sinais de reprodução (ninhadas) em toda área de
estudo (rio e lagos) e pela presença de animais de todas classes de tamanho (filhotes, jovens,
subadultos e adultos) em número expressivo. Já para a espécie M. niger, foi observada uma maior
presença de animais adultos e subadultos. Provavelmente os locais de nidificação e cuidado
parental da espécie estão fora da área de estudos, sendo necessários novos estudos para confirmar
esses dados.
A variação dos habitats influenciou na distribuição das classes de tamanho das duas
espécies. Os locais de rio, com correnteza mais constante, ocorre maior presença de animais de
maior porte, provavelmente os animais de menor não toleram a força da correnteza. Nas
reentrâncias do rio e nos lagos foram encontrados animais de todas as classes de tamanho, mas
com predominância de animais de menor porte acompanhados de fêmeas adultas.
Em relação à estrutura sexual das duas populações, foi verificada uma maior proporção de
machos, resultado semelhante ao de outros trabalhos realizados com essas espécies em diferentes
regiões do país.
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Nos dois lagos analisados, os resultados da abundância foram semelhantes ao rio, com
maior presença de exemplares da espécie C. crocodilus. Isto indica que para os crocodilianos
relação entre os lagos e o rio, apesar de que a maior parte do tempo estes ambientes permanecem
separados entrando em conta somente nos períodos de grandes cheias.
Os lagos são utilizados pelas fêmeas da espécie C. crocodilus para cuidado parental,
provavelmente devido ao fato de haver uma maior proximidade com a vegetação (proteção para
os filhotes contra predação) e menor correnteza. Nas capturas houve maior presença de fêmeas,
resultado diferente do encontrado no rio, reforçando a utilização dos lagos pelas fêmeas para o
cuidado parental.
As medidas morfométricas apresentaram dimorfismo entre as duas espécies e dimorfismo
sexual dentro de cada espécie, onde os machos apresentam maior porte que as fêmeas. Apesar de
que as duas espécies apresentam variação na coloração do corpo, estas variações de comprimento
auxiliam na identificação das espécies onde os exemplares de M. niger apresentam maior porte
que os exemplares de C. crocodilus. Estes dados de crescimento são úteis para criatórios
comerciais onde se pode priorizar o desenvolvimento de machos, pois possuem maior porte,
resultando em maiores produções de couro e carne.
Dos animais capturados, mais de 40% de exemplares de C. crocodilus e mais de 50% de
M. niger apresentaram algum tipo de lesão externa. Estas lesões possivelmente estão relacionadas
a atividades predatórias e disputas intra e interespecíficas, por serem encontradas em sua maioria
nas extremidades do corpo (ponta da cauda, unhas, dedos). Os crocodilianos são animais que
apresentam grande resistência conseguindo sobreviver com estas lesões. Pode-se afirmar isso
pelo fato de que foram encontrados animais adultos de grande porte com lesões que poderiam ser
consideradas inviáveis para a sobrevivência, como um exemplar cego de um dos olhos e dois
exemplares sem a parte inferior da mandíbula.
M. niger está citado no anexo I da CITES e alguns estudos de levantamento
populacionais, principalmente realizados na região da bacia do rio Amazonas, consideram que a
espécie deva ser transferida para o anexo II, permitindo com isso o manejo comercial dos
exemplares. Em algumas regiões as populações dessa espécie são bem expressivas chegando a
densidades com mais de 30 animais por quilômetro linear de margem, o que o é o caso da área
de estudos pesquisada neste trabalho, onde as densidades máximas registradas foram de 2,5
animais por quilômetro linear de margem. Sugerimos, caso ocorra a mudança na legislação, que
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se tenha a preocupação de liberar o manejo comercial por áreas específicas, priorizando as
regiões com maiores densidades e valorizando os estudos de levantamento populacional que dão
um grande suporte para os trabalhos de manejo.
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