Download PDF
ads:
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
ROGÉRIO CARLOS FERREIRA
Orientações curriculares para o ensino de geometria: do
período da Matemática Moderna ao momento atual.
MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA
São Paulo
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC/SP
ROGÉRIO CARLOS FERREIRA
Orientações curriculares para o ensino de geometria: do
período da Matemática Moderna ao momento atual.
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de MESTRE
PROFISSIONAL EM ENSINO DE MATEMÁTICA, sob
a orientação da Professora Doutora Célia Maria
Carolino Pires.
São Paulo
2008
ads:
Banca Examinadora
____________________________________
____________________________________
____________________________________
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta Dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________
Confia no Senhor de todo o teu coração, e o te estribes no teu próprio
Confia no Senhor de todo o teu coração, e o te estribes no teu próprio Confia no Senhor de todo o teu coração, e o te estribes no teu próprio
Confia no Senhor de todo o teu coração, e o te estribes no teu próprio
entendimento.
entendimento. entendimento.
entendimento.
Reconhece
Reconhece Reconhece
Reconhece-
--
-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.
o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas. o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.
o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas.
Não sejas sábio a teus próprios
Não sejas sábio a teus próprios Não sejas sábio a teus próprios
Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta
olhos; teme ao Senhor e apartaolhos; teme ao Senhor e aparta
olhos; teme ao Senhor e aparta-
--
-te do mal.
te do mal. te do mal.
te do mal.
Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos.
Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos. Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos.
Isso será saúde para a tua carne; e refrigério para os teus ossos.
Honra ao Senhor com os teus bens, e com as pricias de toda a tua renda;
Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda; Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda;
Honra ao Senhor com os teus bens, e com as primícias de toda a tua renda;
assim se encheo de fartura os teus celeiros, e trasbordao
assim se encheo de fartura os teus celeiros, e trasbordao assim se encheo de fartura os teus celeiros, e trasbordao
assim se encheo de fartura os teus celeiros, e trasbordao de mosto os
de mosto os de mosto os
de mosto os
teus lagares.
teus lagares. teus lagares.
teus lagares.
Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua
Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua
Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua
repreensão;
repreensão; repreensão;
repreensão;
porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a
porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a
porque o Senhor repreende aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a
quem quer bem.
quem quer bem. quem quer bem.
quem quer bem.
Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire
Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire
Feliz é o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire entendimento
entendimentoentendimento
entendimento
(Provérbios 3, 5
(Provérbios 3, 5 (Provérbios 3, 5
(Provérbios 3, 5
13)
13) 13)
13)
Aos meus pais, Erionaldo Carlos Ferreira e
Maria José Ferreira , por todo
empenho, amizade e
carinho a mim dedicado
durante a trajetória no decorrer deste curso.
Minha eterna gratidão, respeito e amor.
Dedico-lhes o título de Mestre.
AGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOSAGRADECIMENTOS
AGRADECIMENTOS
A Deus, pelo eterno aprendizado e por tudo o que
tenho conquistado.
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo,
por conceder a bolsa de estudos para a realização
deste trabalho.
À Professora Doutora Célia Maria Carolino Pires,
por orientar-me competentemente na finalização da
minha pesquisa, pelo incentivo e palavras de
confiança.
Aos Professores do Programa de Estudos Pós-
Graduados em Educação Matemática da PUC/SP,
pela dedicação e orientação prestada durante todo o
curso, em especial ao professor Saddo Ag Almouloud,
com quem pude contar na fase mais difícil da
conclusão deste trabalho.
Aos professores Vincenzo Bongiovanni, Ana Lucia
Manrique, Bárbara Lutaif Bianchini, Ana Paula
Jahn e Ubiratan D´Ambrosio que ministraram
inesquecíveis aulas e muito contribuíram nesta minha
trajetória.
Aos amigos do mestrado, Cristiane, Givanildo e
Luciana, com os quais pude contar, com apoio e
força, nos momentos difíceis do curso.
Aos amigos e companheiros de Mestrado, Osmar,
Clécio, Márcia e Rodrigo, pelos maravilhosos
momentos de estudos.
À Professora Vera Lúcia, Dirigente Regional de
Ensino da Região Guarulhos Norte, pela confiança
sempre demonstrada.
Aos colegas de trabalho da Oficina Pedagógica da
Diretoria Regional de Ensino Guarulhos-Norte, pelo
auxílio e amizade que demonstraram ao longo desta
caminhada.
Aos amigos Hergos e Mari, pelo apoio demonstrado.
Em especial, as amigas Ana Paula, Élia, Rovaris e
Sandra, pelas discussões calorosas e as constantes
trocas de saberes.
A todos os meus alunos, funcionários e direção do
Colégio El´Shadai, pela paciência, compreensão,
apoio e participação durante a realização do curso.
Às minhas irmãs Andréa e Cida, minhas eternas
amigas e a quais devo deixar registrado que tenho
grande amor.
Aos meus familiares, pela compreensão dos meus
momentos de ausência em nossas reuniões.
Aos meus amigos e irmãos da Igreja Corpus Christ,
com os quais o aprendizado que tenho é inestimável.
Agradeço as constantes orações.
Enfim, agradeço a todos aqueles que de forma direta
ou indireta contribuíram para a realização e a
conclusão deste trabalho.
O autor.
RESUMO
RESUMORESUMO
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é estudar orientações curriculares
produzidas desde o Movimento da Matemática Moderna até os dias atuais e
analisar como algumas coleções de livros didáticos incorporaram essas
orientações. Os documentos oficiais consultados foram os Guias Curriculares
do Estado de São Paulo (1975), a Proposta Curricular para o Ensino de
Matemática do Estado de São Paulo (1992) e os Parâmetros Curriculares
Nacionais para a Matemática (1998), no que se refere ao segmento da
escolaridade correspondente ao atual 6º. A 9º. Ano do Ensino Fundamental. As
coleções didáticas estudadas foram: Matemática – Curso Moderno, de Osvaldo
Sangiorgi (1968 e 1971), “A conquista da Matemática” de Giovanni, Castrucci e
Giovanni Jr. (1992), e “Matemática para todos” de Luiz Marcio Imenes e
Marcelo Lellis (2002). Para a análise desses documentos e livros didáticos
tomamos por base as teorias de Roger Chartier (1991), que estuda as
diferentes relações existentes entre a leitura da legislação oficial e a
interpretação feita pelos usuários. A análise dos livros didáticos teve como foco
o conteúdo de Geometria, e nos apoiamos em estudos de Josep Gascón (2001
e 2003) em que o autor discute interferências de modelos epistemológicos e
didáticos na gestão da aula de Geometria. Em nossa análise, observamos a
interferência do modelo Euclidianista tanto nos Guias Curriculares como na
coleção Matemática – Curso Moderno, do modelo Quase-empirista na Proposta
Curricular e na coleção “A conquista da Matemática” e uma perspectiva
Construtivista nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Matemática e
também na coleção ”Matemática para todos”, embora também preservando
bastante o modelo Quase-empirista.
Palavras-chave: Prescrições Curriculares e Matemática, Geometria, Livro
Didático.
ABSTRACT
ABSTRACTABSTRACT
ABSTRACT
The present research is aimed to study Curricular Proposals
produced since the Modern Mathematic´s Movement until the current
days and to analyze how some didactic book collections had incorporated
these Proposals. The consulted official documents had been the
Curricular Guides of the State of São Paulo (1975), the National Proposal
Curricular for Mathematc´s teaching of the State of São Paulo (1992) and
Curricular Parameters for the Mathematics (1998), referring to the
segment of the corresponding degree to current 6º. 9º. Year of “Ensino
Fundamental”. The studied didactic collections had been: “Matemática
Curso Moderno”, by Osvaldo Sangiorgi (1968 and 1971), “A Conquista da
Matemática”, by Giovanni, Castrucci and Giovanni Jr (1992), and
“Matemática para Todos”, by Luiz Marcio Imenes and Marcelo Lellis
(2002). For the analysis of these documents and didactic books we take
for base the theories of Roger Chartier (1991), which studies the different
existing relations between the reading of the official legislation and the
interpretation made by users. The analysis of didactic books had as focus
the content of Geometry, and we support them in the studies of Josep
Gascón (2001 and 2003) where the author argues interferences of
episteologics and didactic models in the management of the Geometry´s
lessons. In our analysis, we in such a way observe the interference of the
Euclidianist model in the Curricular Guides as in the “Matemática Curso
Moderno”, of the Almost-empiric model in the Proposal Curricular and the
collection “A Conquista da Matemática” and a Construtivist perspective in
the in the National Curricular Parameters for the Mathematics and also in
the collection Matemática para Todos”, also preserving sufficiently the
Almost-empiric model.
Key-words: Curricula Prescription and mathematic, Geometry, Didactic´s
Books.
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE FIGURASLISTA DE FIGURAS
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
1.1 – Capa Sangiorgi V. 1...................................................................... 65
1.2 – Capa Sangiorgi V. 2..................................................................... 65
1.3 – Capa Sangiorgi V. 3..................................................................... 65
1.4 – Capa Sangiorgi V. 4..................................................................... 65
1.5 – Quadriláteros................................................................................ 89
1.6 – Translação.................................................................................... 92
1.7 – Rotação........................................................................................ 93
1.8 – Simetria Axial............................................................................... 94
1.9 – Simetria Central........................................................................... 95
CAPÍTULO 2
2.1a – Demonstração Pitágoras........................................................... 191
2.1b – Demonstração Pitágoras........................................................... 192
2.2 – Cordas.......................................................................................... 202
CAPÍTULO 3
3.1 – Pitágoras...................................................................................... 224
3.2 – Soma dos ângulos........................................................................ 225
3.3 – Problemas Antigos....................................................................... 226
3.4 – Rede............................................................................................. 227
3.5 – Giros e Ângulos ........................................................................... 232
3.6 – Perpendiculares e paralelas ........................................................ 233
3.7 – Problemas: retas ......................................................................... 237
3.8 – Simetria ....................................................................................... 238
3.9 – Medida de ângulo ....................................................................... 241
3.10 – Circunferência............................................................................ 243
3.11 – Polígonos e teoria dos conjuntos ..............................................
261
LISTA DE QUADROS
LISTA DE QUADROSLISTA DE QUADROS
LISTA DE QUADROS
CAPÍTULO 1
1.1 – A Geometria nos Guias..................................................................... 55
1.2 – Índice Volume 3................................................................................ 78
SUMÁRIO
SUMÁRIOSUMÁRIO
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
I. Introdução.......................................................................................... 16
II. Justificativa e relevância do tema...................................................... 17
III. Objetivos e questões de pesquisa.................................................... 22
IV. Fundamentos teóricos...................................................................... 23
V. Procedimentos metodológicos.......................................................... 28
VI. Estrutura do Trabalho....................................................................... 33
CAPÍTULO 1
A Geometria durante o período de 1960 a 1980 a influência do
Movimento Matemática Moderna....................................................... 34
1.1 A Matemática Moderna – O contexto internacional........................ 34
1.2 A Matemática Moderna no Brasil.................................................... 40
1.3 A Geometria no Movimento da Matemática Moderna ................... 45
1.4 Osvaldo Sangiorgi – um protagonista do Movimento..................... 49
1.5 Os Guias Curriculares do Estado de São Paulo............................. 52
1.5.1 A Geometria nos Guias....................................................... 54
1.5.2 Subsídios para Implementação do Guia Curricular de
Matemática – Geometria para o 1º Grau – 5ª a 8ª Séries............. 57
1.6 A Coleção Matemática – Curso Moderno, de Osvaldo Sangiorgi... 64
1.6.1 A análise dos conteúdos de Geometria na obra de
Sangiorgi........................................................................................ 67
1.7 Os Guias Curriculares e a Coleção de Osvaldo Sangiorgi............. 120
CAPÍTULO 2
O ensino de Geometria após o Movimento da Matemática
Moderna (1980 – 1998)......................................................................... 122
2.1 A Proposta Curricular do Estado de São Paulo............................... 123
2.1.1 O tema Geometria na Proposta Curricular............................. 125
2.2 A análise da Coleção: a Conquista da Matemática......................... 140
2.2.1 Um breve relato dos autores.................................................. 140
2.2.1.1 José Ruy Giovanni....................................................... 140
2.2.1.2 José Ruy Giovanni Júnior............................................ 141
2.2.1.3 Benedito Castrucci....................................................... 141
2.2.2 A Geometria na coleção: A conquista da Matemática........... 142
2.3 A Proposta Curricular e a Coleção: A conquista da Matemática..... 208
CAPÍTULO 3
A Geometria durante o período de 1998 ao momento atual uma
análise dos PCN e livros didáticos atuais.......................................
210
3.1 Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto ciclo do
Ensino Fundamental...............................................................................
210
3.1.1 O bloco de conteúdos: Espaço e Forma................................ 214
3.1.2 Orientações didáticas para o bloco de conteúdos: Espaço e
Forma...............................................................................................
220
3.2 Análise do Livro Didático: Matemática para todos........................... 228
3.2.2.1 A Geometria na coleção Matemática para todos.........
230
3.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Coleção Matemática
para todos.............................................................................................
297
CAPÍTULO 4
Considerações Finais................................................................................
300
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................
312
APRESENTÃO DA PESQUISA
APRESENTÃO DA PESQUISAAPRESENTÃO DA PESQUISA
APRESENTÃO DA PESQUISA
I Introdução.
Ao iniciar minha atuação no magistério da rede pública do Estado de
São Paulo, no ano de 2000, assumi aulas de Matemática no Ensino Médio e
observei que os temas mais trabalhados na escola eram quase todos temas de
Álgebra. Lembro-me que quando conseguia trabalhar alguns tópicos de
Geometria, geralmente no final do ano letivo, os alunos demonstravam muita
dificuldade, muito provavelmente porque o tema tinha sido pouco trabalhado
nos anos anteriores. Desse modo, muitas vezes, sentia-me frustrado ao
constatar que os alunos não conseguiam aprender o que eu me propunha a
ensinar relativamente ao tema de Geometria, além de eu sempre enfrentar o
problema da “falta de tempo”. Nas conversas com meus colegas professores,
pude notar que outra causa do abandono dos temas geométricos está no
despreparo que s professores também temos com relação ao próprio
conhecimento de assuntos geométricos.
Em função dessas constatações, nos cursos de extensão e
especialização que fiz após a graduação, procurei aqueles que abordavam a
Geometria e a Didática da Geometria.
Quando ingressei no Mestrado do Programa de Estudos Pós-graduados
em Educação Matemática da Pontifícia Universidade Católica de o Paulo
17
tinha em mente que o assunto abordado em minha dissertação seria a
Geometria.
Optamos por focalizar a etapa de escolaridade correspondente aos
quatro últimos anos do Ensino Fundamental e tomamos como ponto de partida
de nosso estudo o período em que o Movimento Matemática Moderna teve
grande influência no ensino de Matemática em nosso país até chegar ao
momento atual.
II. Justificativa e relevância do tema
Na literatura sobre o ensino de Geometria, encontramos um ponto
comum entre vários pesquisadores, qual seja, a construção de argumentos
sobre a importância da aprendizagem de temas geométricos, pelo fato de que
a Geometria tem um papel fundamental na vida de qualquer indivíduo.
Segundo Lorenzato (1998), “pesquisas psicológicas indicam que a
aprendizagem geométrica é necessária ao desenvolvimento da criança, pois
inúmeras situações escolares requerem percepção espacial, tanto em
Matemática (por exemplo: algoritmos, medições, valor posicional, séries,
seqüências...) como na Leitura e Escrita”
1
. É uma das melhores oportunidades
para aprender a “matematizar” a realidade e, o ensino de Geometria, em seu
aspecto formativo, pode promover valores culturais e estéticos importantes
1
LORENZATO, Sérgio. “Por que não ensinar geometria?”. In: A Educação Matemática em
revista, SBEM, nº 4, 1º Semestre de 1998, pp. 30-31.
18
para uma melhor compreensão e apreciação das obras dos homens
(construções e trabalhos artísticos) ou da natureza. “Sem conhecer Geometria,
a leitura interpretativa do mundo torna-se incompleta, a comunicação das
idéias fica reduzida e a visão da Matemática torna-se distorcida
2
.
Além do destaque à importância dos conhecimentos geométricos,
observamos que outra questão bastante debatida refere-se a qual Geometria
deve ser ensinada e como as mudanças curriculares vão se processando no
que se refere à ênfase conferida a cada tema geométrico e à abordagens
metodológicas.
Segundo Pires (2007), os termos “reorientação”, “inovação”, “revisão”
são inerentes aos processos de reformas curriculares. Segundo a autora,
quando um reforma curricular é posta em ação isso acontece, de modo geral,
em função da constatação de que algo não vai bem e precisa ser modificado.
A retrospectiva das reformas, no entanto, mostra que nem sempre isso ocorre
ou, pelo menos, nem sempre ficam tão explicitadas as motivações presentes
nas mudanças, especialmente para os professores.
Em geral, no Brasil, as reformas de projetos curriculares das disciplinas,
são atreladas a alterações na estrutura do sistema de ensino (PIRES, 2007).
Outra motivação para as reformas, num período mais recente, é a necessidade
de organizar currículos que se adaptem às avaliações internacionais. Esse fato,
que ocorre em diferentes países, é destacado por Keitel e Kilpatrick:
2
Id., Ibid., p. 30.
19
As investigações comparativas internacionais têm-se tornado cada
vez mais sofisticadas. Em conjunto com os julgamentos dos
especialistas sobre o modo como o currículo da Matemática deve ser
representado internacionalmente, têm sido feitas análises cuidadosas
de documentos oficiais e materiais escritos. Foram efetuadas
análises a variáveis como o tempo reservado para vários tópicos em
diferentes sistemas, a proporção de sistemas que tratam um dado
tópico em cada ano, a forma como varia, nos manuais, o espaço
concedido a um tópico, e como difere a organização dos manuais
nos diferentes sistemas. Mesmo assim, o currículo internacional
idealizado, definido por um conjunto comum de tarefas organizadas
por tópicos de conteúdo, continua a ser a norma para medir o
desempenho. Não é concedida nenhuma tolerância pelo fato de
existirem objetivos, questões, histórias e contextos que são
diferentes entre os currículos de Matemática dos sistemas em
estudo. Ninguém aborda realmente em que medida os alunos de um
dado sistema estão aprendendo o currículo de Matemática que o seu
sistema lhes oferece. (Keitel e Kilpatrick, p. 73, 1998)
Esses mesmos autores destacam um ponto bastante importante sobre a
participação dos professores, quando fazem referência a “currículos
planejados” e “currículos implementados”:
Uma tentativa para lidar com a complexidade curricular foi a de
distinguir entre o currículo planejado e o currículo implementado.
Uma distinção entre o currículo planejado (tal como está
representado em documentos oficiais, manuais, ou em ambos) e o
currículo implementado (normalmente medido por meio de
questionários aos professores) foi feita no Second International
Mathematics Study SIMS (Travers e Westbury, 1989). A distinção
tinha sido antecipada no First International Mathematics Study
FIMS (Husén, 1967) pela utilização de classificações dos
professores das oportunidades de aprendizagem dos conteúdos
relativos a cada item testado. Apesar dos termos planejado e
implementado transportarem a infeliz conotação de que as únicas
intenções que contam são as oficiais, e de que os professores não
passam de meros executores que implantam no terreno planos de
outras pessoas, esta distinção foi útil, na medida em que ajudou a
distinguir o planejado do que é a realidade curricular. (Keitel e
Kilpatrick, p. 76, 1998
)
Pires (2003) destaca que no Brasil, um fenômeno comum a diferentes
níveis do sistema de ensino é a introdução, em determinados períodos, de
mudanças curriculares que nem sempre têm o apoio de experiências concretas
anteriores nem o envolvimento dos professores, protagonistas de sua
20
implementação. Para essa autora, historicamente, uma das marcas das
políticas públicas brasileiras no que se refere a questões curriculares é, sem
dúvida, a falta de ações de implementação curricular, como se novas idéias se
transformassem em prática num passe de mágica. Além dessa, outra marca é
a falta de acompanhamento/avaliação das inovações propostas, o que o
permite fazer um “julgamento” adequado, periodicamente, contabilizando
acertos e erros.
Em função disso, a autora destaca conseqüências bastante conhecidas:
uma delas é a convivência “eterna” de currículos prescritivos (os dos
documentos oficiais) e os currículos reais (os da sala de aula, que os
professores realizam); outra conseqüência é a falta de dados consistentes para
promover as mudanças necessárias ou investir fortemente naquilo que vem
dando bons resultados.
Em seus estudos sobre reformas curriculares no Brasil, Pires (2000)
destaca que a pesquisa de documentos que permite reconstituir parte da
história das reformas curriculares no Brasil evidenciam dois importantes
marcos, na primeira metade do século XX. Um deles foi a Reforma Francisco
Campos, em 1931, na qual o educador brasileiro Euclides Roxo teve papel
importante ao propor a unificação dos campos matemáticos - Álgebra,
Aritmética e Geometria - numa única disciplina a Matemática, com a finalidade
de abordá-los de forma articulada inter-relacionada, uma vez que anteriormente
cada um deles era estudado como disciplina independente. Roxo defendeu
ainda a idéia de que o ensino da geometria dedutiva deveria ser antecedido de
21
uma abordagem prática da geometria. Outro marco foi o da Reforma Gustavo
Capanema, em 1942, em que a concepção de currículo foi ampliada para além
da mera listagem de conteúdos a serem ensinados, incluindo uma discussão
de orientações didáticas. Essas inovações não se mantiveram, o que revela
que as decisões curriculares, no Brasil, foram historicamente marcadas por
procedimentos bastante questionáveis, influenciados por questões políticas ou
influências de poder de alguns grupos ou mesmo de pessoas (PIRES, 2007)
Na história mais recente essa autora identifica três períodos marcantes:
o primeiro, caracterizado pela influência do Movimento Matemática Moderna
(de 1965 a 1980); o segundo, caracterizado por reformas que buscavam se
contrapor ao ideário do Movimento da Matemática Moderna (de 1981 a 1997) e
lideradas por Secretarias Estaduais e Municipais de Ensino; o terceiro,
organizado em nível nacional e consubstanciado num documento divulgado ao
conjunto das escolas brasileiras, denominado Parâmetros Curriculares
Nacionais (a partir de 1998).
Para desenvolver nosso estudo, vamos investigar as propostas para o
ensino de geometria nesses três períodos mais recentes a partir da análise de
documentos oficiais e de livros didáticos, relacionados a cada um dos períodos
mencionados.
22
III. Objetivos da pesquisa e questões de pesquisa.
No estudo sobre “O ensino de geometria: do período da Matemática
Moderna ao momento atual”, temos o objetivo de identificar as transformações
pelas quais o ensino da Geometria passou nesse período. Para isso,
recorremos aos documentos oficias e a coleções de livros didáticos,
especificados mais adiante, publicados nesses momentos. A análise das
coleções de livros didáticos tem como foco identificar a abordagem da
Geometria e o de que modo os autores se apropriaram e assimilaram as
orientações contidas nos documentos oficiais para a realização de sua obra.
Focalizaremos a etapa de escolaridade correspondente aos quatro
últimos anos do Ensino Fundamental
3
.
Para esse estudo, identificamos as seguintes questões de pesquisa:
Quais foram as mudanças ocorridas no ensino de Geometria desde
o Movimento Matemática Moderna ao momento atual?
Como as prescrições curriculares para o ensino de Geometria, em
cada momento histórico foram interpretadas por autores de livros
didáticos selecionados para esta pesquisa?
3
No caso dos Guias Curriculares e da Proposta Curricular de São Paulo, a denominação usada era Ensino
de 1º. Grau – 5ª. a 8ª. séries, anteriormente conhecidas como Curso Ginasial. No caso dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, a denominação usada era Ensino Fundamental – 5ª. a 8ª. séries. Esses segmentos
da escolaridade correspondem ao atual segmento identificado como 6º. a 9º. anos do Ensino Fundamental
de 9 anos.
23
IV. Fundamentos teóricos.
Os estudos desenvolvidos pelo pesquisador e professor espanhol Josep
Gascón (2003) foram bastante importantes para o desenvolvimento do nosso
trabalho. Para esse autor diferentes modelos teóricos podem ser tomados
como referência para a investigação do processo ensino-aprendizagem da
Geometria. Gascón (2001, 2003) estabelece a relação existente entre a
epistemologia da matemática e a didática da matemática e, baseando-se em
Lakatos, organiza as teorias epistemológicas dividindo-as em três grupos:
Teorias Euclidias, Teorias Quase-empíricas e Teorias Construtivistas, assim
apresentados por ele..
O modelo teórico Euclídeo ou Euclidianismo conduz à prática docente
um conhecimento que se direciona com ênfase na teoria e na técnica,
assumindo que o professor é quem controla o processo de ensino e
aprendizagem. Gascón (2001) define o Euclidianismo como sendo o modelo
docente que:
“propõe que todo o conhecimento matemático pode deduzir-se
de um conjunto finito de proposições trivialmente verdadeiras
(axiomas) que constam de termos perfeitamente conhecidos
(termos primitivos)”
4
.
O “Euclidianismo” pode ser associada à visão epistemológica da didática
da geometria, que se manifesta através do teoricismo e do tecnicismo, em que
4
Tradução do texto “Incidência del modelo epistemológico de las matemáticas sobre las
prácticas docentes” de Gascón. J., Revista Latinoamericana de Investigacion en Matemática
Educativa, México, v. 4, n. 2, pp. 129-159, 2001, p. 131.
24
se assume que o professor é quem controla o processo de ensino e
aprendizagem.
O teoricismo se identifica com o ensino e aprendizagem de teorias, com
os resultados da atividade matemática a que se chega por meio da explicação
do docente, considerando o conhecimento como algo pronto e acabado.
O tecnicismo se baseia no uso eficiente das técnicas algorítmicas, ou
seja, a escolha de técnicas adequadas para se empregar na resolução de
problemas.
Pelas características evidenciadas nesses modelos, Gascón (2001) os
denomina de “Modelos Clássicos”.
Os modelos Quase-empíricos surgem em contraposição aos Modelos
Clássicos, a partir da década de setenta, em decorrência aos trabalhos
desenvolvidos por Imre Lakatos.
Lakatos (1978) explica essa contraposição:
“(...) se chamamos enunciados básicos aos enunciados de um
sistema dedutivo aos que se insere inicialmente valores de
verdade, então um sistema é euclídeo se é a clausura dedutiva
dos enunciados básicos que se assumem como verdadeiros.
Em caso contrário, é quase-empírico.
Pode afirmar-se que uma teoria euclídea é “verdadeira” no
sentido de que está “provada” pelos enunciados básicos
verdadeiros (axiomas). Ao contrário, de uma teoria quase-
empírica pode-se dizer no máximo, que está “bem-alicerçada”,
porém sem deixar nunca de ser conjectural; de fato nela os
enunciados básicos verdadeiros (que são os axiomas) são
simplesmente “explicados” pelo resto do sistema no sentido de
25
que formam um todo coerente e não contraditório” (GASCÓN,
2001, p. 138).
5
Nos modelos Quase-empíricos destaca-se a descoberta como
fundamento no processo de aprendizado, levando a “destrivialização” do
conhecimento matemático.
Enquanto que no modelo euclidiano acentua-se o método de
algoritmização, no modelo quase-empírico são enfatizados os procedimentos
não algorítmicos como conjecturar, constatar, refutar, buscar contra-exemplos
e etc.
Para o processo de ensino e aprendizagem, Gascón (2001) utiliza para
esses modelos as seguintes denominações: modernismo, identificado com a
exploração de problemas não-triviais em que o destaque é direcionado para o
momento exploratório da atividade, considerando o processo de aprendizagem
como um processo de descobrimento indutivo e autônomo, desvinculado de
teorias e técnicas; e o procedimentalismo, “(...) que situa como principal
objetivo do processo didático o domínio de sistemas estruturados de técnicas
heurísticas (no sentido de não algorítmicas)” (GASCÓN, 2001, 142). O
procedimentalismo surge para complementar e melhorar o modernismo,
relacionando o momento exploratório com o trabalho direcionado para a técnica
numa atividade matemática.
5
Id., Ibid., p. 138.
26
Os modelos Construtivistas têm sua epistemologia baseada no
desenvolvimento psicogenético, centrados na descoberta dos mecanismos que
conduzem o desencadeamento do conhecimento científico, em que a utilização
de uma base empírica é aliada à história das ciências e ao desenvolvimento
psicogenético.
Segundo Gascón,
“(...) o construtivismo identifica ensinar matemática” como
possibilidade de que os estudantes “construam” o conhecimento
matemático” (GASCÓN, 2003, p. 28).
Para esses modelos é importante a incorporação paulatina do aluno na
resolução de uma situação-problema eleita em função do conhecimento que se
quer que esse aluno construa, permitindo-lhe discernir se a solução por ele
desenhada é correta ou não. Quando a situação problema aparece
contextualizada pode-se recorrer ao uso de referentes pertencentes a um
sistema matemático ou extramatemático chamado modelo, que os
modelizacionistas utilizam para chegar à resposta da situação proposta ou
objeto matemático que se quer que o aluno aprenda.
Em seu artigo “Ensino de Geometria no Brasil: uma análise com base
em modelos de referência que colocam em relação a epistemologia e a
didática da Geometria”, Pires (2006) destaca a importância de análise de
modelos teóricos de referência como o proposto por Gascón (2001).
27
(...) pelo fato de que modelos didáticos evoluem a partir da
gênese de problemas e das formas de solução que se elege
para resolvê-los. Ou seja, Gascón chama a atenção para a
relação entre a epistemologia da geometria e a didática da
geometria (PIRES, 2006, p. 13).
Pires (2006) ressalta, referindo-se aos esquemas apresentados por
Villela (2001), que a escolha de um dos modelos teóricos de Gascón pode
configurar situações de ensino “interessantes”, descritas a seguir:
O esquema é apresentado a seguir:
No Modelo Euclidianista: o professor “usa o problema como
controle das aprendizagens adquiridas pelos alunos”; o aluno
“deve aprender o conteúdo”, suas relações e seus fundamentos;
no saber “predomina o caráter conceitual”.
No Modelo Quase-empirista: o professor “usa o problema como
motivo para satisfazer as inquietações dos alunos”; com relação
ao aluno, “seu interesse é medido pela sua participação e seu
Euclidianismo Empirismo Construtivismo
EPISTEMOLOGIA
Problema Lógico Problema histórico Problema cognitivo
A GESTÃO DA AULA DE GEOMETRIA
Foco no Ensino
Foco na
aprendizagem
Foco no saber
DIDÁTICA
Teoricismo
Tecnicismo
Modernismo
Procedimentalismo
Psicologismo
Modelização
28
interesse e desempenho nas seqüências apresentadas”; no saber
“predomina o caráter atitudinal”.
No Modelo Construtivista: o professor “usa o problema como meio
para aproximar o aluno do saber matemático”; com relação ao
aluno, o que “importa é como ele se relaciona com o saber”; no
saber “predomina o caráter procedimental”.
V. Procedimentos metodológicos.
Nossa pesquisa é documental e para sua realização, utilizamos e
analisamos os seguintes documentos oficiais: “Guias Curriculares do Estado de
São Paulo”, de 1975, Proposta Curricular do Estado de São Paulo”, de 1992, e
os “Parâmetros Curriculares Nacionais”, de 1998.
Os Guias Curriculares o um documento oficial proposto pela
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, organizado para orientar as
escolas de 1º grau, no momento em que se estendia de quatro para oito anos a
duração da escolaridade obrigatória (LDB 5692/71). Sua publicação foi
realizada posteriormente à publicação de alguns livros didáticos que
incorporavam propostas do Movimento da Matemática Moderna, como é o caso
da coleção “Matemática Curso Moderno” de Osvaldo Sangiorgi, que iremos
analisar mais adiante.
Nos anos 80 a Secretaria de Estado da Educação de São Paulo
elaborou Propostas Curriculares para cada uma das disciplinas do Ensino
29
Fundamental impulsionada pelo clima de abertura política e pela necessidade
de incorporar aos currículos, componentes de natureza social e cultural. O
processo de elaboração dessas propostas foi bastante inovador uma vez que
procurou contemplar a participação democrática dos professores. No caso
específico da Matemática, nessa proposta, são incorporadas as críticas que
vinham sendo feitas aos currículos orientados pelo Movimento da Matemática
Moderna. Uma dessas críticas era sobre a pouca ênfase conferida aos temas
geométricos.
No final dos anos 90, um dispositivo da LDBEN 9394/96 (artigo 9º, inciso
IV) definiu que a União deveria incumbir-se de estabelecer, em colaboração
com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão
os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação
básica comum.
Tal dispositivo levou à elaboração dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, em âmbito nacional, em que
(...) pela primeira vez em nossa história, educadores que atuam em
diferentes níveis do sistema de educativo, debateram e indicaram
diretrizes curriculares comuns para o ensino fundamental no Brasil.
(PIRES, 2000, p. 56).
Além da análise da proposta para o ensino de Geometria nesses
documentos oficiais, em nossa pesquisa vamos analisar coleções didáticas
representativas de cada um dos períodos aos quais já fizemos referência.
30
Para melhor compreender as diferentes relações existentes entre a
leitura da legislação oficial e a interpretação feita pelos usuários, utilizaremos
os conceitos de representação e apropriação, segundo Chartier
6
.
O autor destaca que até mesmo a forma do livro determina os usos e
apropriações que dele serão feitos. Chartier enfatiza a existência de três pólos
que se inter-relacionam e, dessas inter-relações, dependem as apreensões de
significado realizadas pelo leitor:
“Toda reflexão metodológica enraíza-se, com efeito, numa prática
histórica particular, num espaço de trabalho específico. O meu
organiza-se em torno de três pólos, geralmente separados pelas
tradições acadêmicas: de um lado, o estudo crítico dos textos,
literários ou não, canônicos ou esquecidos, decifrados nos seus
agenciamentos e estratégias; de outro lado, a história dos livros e,
para além, de todos os objetos que contém a comunicação do
escrito; por fim, a análise das práticas que, diversamente, se
apreendem dos bens simbólicos, produzindo assim usos e
significações diferençadas” (CHARTIER, 1991, p. 178).
Posto isso, percebemos que a efetiva implementação, em sala de aula
ou num sistema de ensino, de uma determinada orientação, contida nos
documentos oficias, é cercada de “significados” que cada leitor produz a partir
dela, significados esses que podem conduzir a diferentes ações ou a novas
práticas em sala de aula: caso o leitor seja o docente ou o autor de livros; a
novas grades curriculares, discussões institucionais: caso o leitor seja gestor
ou coordenador de ensino.
Chartier ressalta também que:
6
Roger Chartier é historiador francês, nascido em 1945, realiza pesquisa em várias
frentes, entre elas podemos destacar: a história das instituições de ensino e das sociabilidades
intelectuais, a história do livro e das práticas de escrita e de leitura e a análise e o debate entre
política, cultura e cultura popular. (ANDRADES, 1999).
31
“Os que podem ler os textos, não os lêem de maneira semelhante,
e a distância é grande entre os letrados de talento e os leitores
menos hábeis, obrigados a oralizar o que lêem para poder
compreender, se sentindo à vontade frente a determinadas
formas textuais ou tipográficas. Contrastes igualmente entre normas
de leitura que definem, para cada comunidade de leitores, usos do
livro, modos de ler, procedimentos de interpretação. Contrastes,
enfim, entre as expectativas e os interesses extremamente diversos
que os diferentes grupos de leitores investem na prática de ler. De
tais determinações, que regulam as práticas, dependem as
maneiras pelas quais os textos podem ser lidos, e lidos
diferentemente pelos leitores que não dispõem dos mesmos
utensílios intelectuais e que não entretêm uma mesma relação com
o escrito” (CHARTIER, 1991, p. 179).
Para o encaminhamento desta pesquisa é importante definirmos os
conceitos de representação, apropriação e leitura. Para isso, também
recorreremos aos estudos de Chartier.
A noção de representação leva-nos a duas definições que parecem, a
princípio, contraditórias. A primeira faz ver, na representação, uma ausência,
ou seja, “a representação é o instrumento de um conhecimento mediato que
faz ver um objeto ausente substituindo-lhe uma “imagem” capaz de repô-lo em
memória e de “pintá-lo” tal como é” (CHARTIER, 1991, p. 184). Essas imagens
podem ser materiais, como a representação que vem a tona quando
mencionamos a palavra “quadrado”, por exemplo; ou podem ser simbólicas,
como, por exemplo, quando falamos que “o Leão
mordeu uma grande parte do
meu salário”, em que a palavra “leão” simboliza a instituição da Receita
Federal. A segunda definição para representação “é a apresentação de uma
presença, a apresentação pública de uma coisa ou de uma pessoa”. Uma
relação de representação, portanto, é “entendida como relação entre uma
imagem presente e um objeto ausente, uma valendo pelo outro porque lhe é
homóloga” (CHARTIER, 1991, p. 184).
32
Já o conceito de apropriação, para Roger Chartier:
“... visa a uma história social dos usos e das interpretações,
referidas a suas determinações fundamentadas e inscritas nas
práticas específicas que as produzem...” (CHARTIER, 1991, p. 180).
Assim, percebemos que um mesmo texto pode ser diversamente
apreendido e compreendido.
Por fim, a leitura é, segundo Chartier, uma dupla apropriação: “de um
lado, a apropriação designa a ”efetuação”, a “atualização” das possibilidades
semânticas do texto; de outro, ela situa a interpretação do texto como a
mediação através da qual o leitor pode operar a compreensão de si e a
construção da “realidade” (CHARTIER, 1999, p. 123).
As coleções que iremos analisar são as seguintes:
A primeira coleção a ser analisada é “Matemática Curso Moderno” de
Osvaldo Sangiorgi. O motivo de sua análise deve-se ao fato de ser a primeira
coleção destinada as quatro séries finais do ginásio
7
, que é considerada na
introdução do Movimento da Matemática Moderna em coleções didáticas e
também pelo fato do autor dessa coleção ser um dos responsáveis pela
divulgação das idéias desse movimento em nosso Estado.
A segunda coleção analisada é “A Conquista da Matemática de José
Ruy Giovanni, Benedito Castrucci e José Ruy Giovanni Jr. Sua escolha deve-
se ao fato que ela foi adotada por muitos professores da Rede blica no
segundo período de nossa análise.
7
Correspondente aos atuais quatro anos finais do Ensino Fundamental
33
Finalmente, a coleção “Matemática para todos” de Luiz Marcio Imenes e
Marcelo Lellis, terceira coleção de livros didáticos analisada, foi escolhida por
fazer parte do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD/2005), ser aprovada
pelo Ministério da Educação (MEC) e por ser uma coleção também bastante
conhecida entre os professores de Matemática da Rede Pública do Estado de
São Paulo.
VI Estrutura do trabalho.
Organizamos e estruturamos nosso trabalho em quatro capítulos.
No Primeiro Capítulo inicialmente procuramos descrever as
transformações ocorridas no período estudado, tomando o Movimento
Matemática Moderna como ponto de partida e analisamos como os Guias
Curriculares, documento oficial desse período, e a Coleção Matemática
Curso Moderno, de Osvaldo Sangiorgi, abordavam a Geometria.
No Segundo Capítulo analisamos como a Geometria era proposta no
período de influência da Proposta Curricular de Matemática do Estado de São
Paulo e a Coleção “A conquista da Matemática”, de Giovanni, Castrucci e
Giovanni Jr.
No Terceiro Capítulo, focalizamos nossa atenção na análise da
Geometria contida nos Parâmetros Curriculares Nacionais e na Coleção
“Matemática para todos” de Luiz Marcio Imenes e Marcelo Lellis.
No Quarto Capítulo apresentamos nossas considerações finais e as
conclusões dos estudos realizados em nossa pesquisa.
34
Capítulo
CapítuloCapítulo
Capítulo 1
1 1
1
A Geometria durante o período de 1960 a 1980
A Geometria durante o período de 1960 a 1980 A Geometria durante o período de 1960 a 1980
A Geometria durante o período de 1960 a 1980
a
a a
a
influência do Movimento Matemática Moderna.
influência do Movimento Matemática Moderna.influência do Movimento Matemática Moderna.
influência do Movimento Matemática Moderna.
1.1. A Matemática Moderna – O contexto internacional.
O Movimento da Matemática Moderna foi, sem sombra de dúvida, um
dos principais marcos de reformas, provocando alterações curriculares em
países com sistemas educativos e realidades diversas.
Um dos principais aspectos que deu origem a esse Movimento foi o
chamado descompasso existente entre os avanços científicos e tecnológicos,
que se constituía na época, e a Matemática ensinada nas escolas de nível
médio. Com isso, “justificava-se” a necessidade de uma modernização dos
conteúdos matemáticos ensinados nesse nível (MIORIM, 1998).
As idéias desse Movimento se acentuaram nas décadas de 50 e 70.
Dentre os principais nomes ligados a ele, destacam-se: Papy (Bélgica), Dienes
(Canadá), Fletcher (Grã-Bretanha), Madame Krygowska (Polônia), Dieudonné,
35
pelo Grupo Bourbaki
8
, Choquet, Lichnerowicz, Revuz, Picard e Walusinski
(França).
No Brasil, um dos principais divulgadores desse Movimento foi o
Professor Osvaldo Sangiorgi e grupos como o Grupo de Estudos de Ensino da
Matemática - GEEM, no caso de Estado de São Paulo.
Segundo Charlot (1986), as principais intenções dos “organizadores”
desse Movimento eram a democratização do ensino da Matemática e a
adequação desse ensino à expectativa de que com isso fosse possível
impulsionar o progresso cnico e científico, visto que, após a reconstrução
pós-guerra, o mundo passava por um período de industrialização e
desenvolvimento econômico acelerado.
Outro fato importante, relacionado ao período pós-guerra, foi o
lançamento do SPUTINIK, em outubro de 1957, o que caracterizou uma
preocupação das elites ocidentais com seu suposto atraso tecnológico,
trazendo a modernização industrial para a pauta do dia (PIRES, 2000).
Sendo assim, para essa autora, esse Movimento “inscreveu-se muito
claramente numa política de formação a serviço da modernização econômica”
(PIRES, 2000, p. 9).
Segundo Burigo (2006), em discursos de organismos governamentais
europeus e norte-americanos, o investimento na melhoria do ensino de
8
Nicolas Bourbaki pseudônimo escolhido por um grupo de matemáticos, na maioria
franceses, dentre eles, Chevalley, Dieudonné, Weil.
36
matemática e das ciências naturais ficou estritamente associado à aposta no
progresso técnico.
Em 1959, a Organização Européia de Cooperação Econômica OECE
promoveu o Colóquio de Royaumont, tendo como meta a reformulação dos
currículos em vigor. Nesse Colóquio. Choquet apresentou um programa para o
ensino primário e secundário e Dieudonné proferiu seu “Abaixo Euclides”, frase
que acabou caracterizando a geometria euclidiana como símbolo da
matemática clássica.
A respeito do slogan Abaixo Euclides”, Miorim escreve:
(...) podemos perceber por essas palavras de Dieudonné, que a
proposta de modernização pretendia “revolucionar” o ensino de
Matemática no nível dio, por meio da introdução de aspectos
da “moderna Matemática”, ou seja, da Matemática mais recente,
mais atual, mais nova, que estava sendo desenvolvida nas
últimas décadas, e pela eliminação de conteúdos tradicionais
(1998, p. 109).
Nos Estados Unidos, por volta do ano de 1956, houve uma grande
discussão em relação ao ensino de Matemática na escola secundária contando
com auxílios particulares (Carnegie Foundation, Rockfeller, Ford, etc.) e oficiais
(National Science Foundation NSF). A partir desse momento diversos grupos
de estudos foram formados nesse país, destacando-se: o School Mathematics
Study Group (SMSG) e o National Council of Teachers of Mathmatics (NCTM).
O Movimento da Matemática Moderna teve grande repercussão nos
Estados Unidos. Os primeiros livros didáticos contemplando as propostas
37
desse Movimento começaram a ser publicados no final da cada de 50 e
início da seguinte (LUZ, 2007).
Nos anos finais da cada de 60, o Movimento teve uma grande
“aceleração” em diversos países. Em 1967, a Commission Internationale pour
l´Enseignement Mathématique – CIEM realizou um colóquio em Utrecht sobre o
tema “Como ensinar a Matemática para que ela seja útil” e, em 1969, organizou
em Lyon seu primeiro Congresso Internacional para o ensino de Matemática
(PIRES, 2000). Segundo essa autora, a preocupação central era a de se ter
uma Matemática útil para a técnica, para a ciência e para a economia moderna.
A origem dessa “Moderna Matemática” estava ligada à necessidade de
uma maior reflexão e fundamentação a respeito dos vários conceitos e teorias
novos, surgidos num período de experimentação dos estudos matemáticos,
principalmente aqueles ligados à mecânica e astronomia, ocorridos nos séculos
XVII e XVIII (MIORIM, 1998).
De acordo com Miorim (1998), a Matemática Moderna apresentava alto
nível de generalidade, elevado grau de abstração e maior rigor lógico,
constituindo-se com as estruturas e axiomatização. Ela surgiu com o
desenvolvimento dos três ramos seguintes:
1 as extensões da noção de número e o aparecimento da
álgebra abstrata;
2 o nascimento das geometrias não euclidianas de Gauss,
Lobatchevski e Bolyai, seguido mais tarde pelas axiomatizações
das geometrias de Euclides realizadas por Pasch, Peano e
sobretudo Hilbert (1899);
38
3 o desenvolvimento da lógica, com a publicação da famosa
obra de Boole em 1854 e as contribuições, dentre outros, de
Frege e Peano, para culminar no monumental tratado de Russell
e Whitehead (Hernandez, in Piaget et al., 1986, p.20).
9
Para Pires (2000), as grandes bases curriculares preconizadas pelo
Movimento da Matemática Moderna foram incorporadas em vários países. Mas,
a partir do fim da década de 60 e início da década de 70, questionamentos
começaram a surgir.
Em 1973, foi publicada nos Estados Unidos uma das mais incisivas
críticas feitas ao Movimento Matemática Moderna, por um professor de
Matemática, Morris Kline. Nessa obra, esse autor focalizou o ensino da
Matemática nesse país, no peodo de 1930 a 1950, apontando todas as
questões que justificariam o fracasso do ensino da Matemática Moderna.
(VITTI apud BORGES, 2005, p. 67).
Nessa obra, o autor concluiu que as idéias de um novo currículo,
defendidas pelo Movimento, não oferecia motivação para o estudo da
Matemática. Ele concordava com a necessidade de inovação, mas não do
modo como foi estabelecida. Também criticou a linguagem precisa que os
modernistas queriam introduzir, utilizando-se de uma formalidade exagerada, o
que dificultava ainda mais a aprendizagem por parte dos alunos (KLINE apud
BORGES, 2005, p. 68).
9
MIORIM, Maria Ângela. Introdução a Historia da Educação Matemática. São Paulo. Atual.
1998. p.110.
39
Nesse mesmo ano, Choquet escreve um artigo, “L´École liberatrice”, em
que confessa:
“Eu estou estarrecido com o que constato no ensino da
escola primária e secundária. Fui um dos promotores da
reforma de ensino da Matemática, mas o que eu
preconizava era simplesmente uma poda de galhos
mortos, atravancadores, e a introdução de um pouco de
álgebra. Pois bem, em suma, os novos programas e as
instruções correspondentes são mais satisfatórios que os
antigos, em que pesem erros razoáveis; mas toda uma
atmosfera nociva, que tem acompanhado seu
desenvolvimento. Em particular, um ataque contra a
Geometria e contra os recursos da intuição: foi dito aos
professores que seria lastimável que eles estudassem os
triângulos e que a Álgebra Linear substituiria toda a velha
geometria... o resultado é tal que, sem uma forte reação de
base, eu penso que a geração atual de nossa escola
receberá uma formação matemática que não a prepara
nem para a pesquisa, nem para a utilização da Matemática
em técnicas ou ciências experimentais” (Apud Charlot,
1986, pp.18/19)
10
.
A partir de 1973 as críticas se multiplicavam, constatando-se que o
colocado em prática não era um ensino renovado e democrático, mas um
ensino formalizado ao extremo, decepado de todo suporte intuitivo,
apresentado a partir de situações artificiais além de ser bastante seletivo
(PIRES, 2000).
Para Pires (2000), embora o Movimento da Matemática Moderna
contivesse equívocos desde sua concepção, além de ter possivelmente sua
implementação distorcida, o fato é que provocou discussões nas mais variadas
10
PIRES, Célia Maria Carolino. Currículos de matemática: da organização linear à idéia de
rede. São Paulo. FTD. 2000. p. 13.
40
partes do mundo, originando inclusive reformas que surgiram para dar novos
rumos ao ensino de Matemática.
1.2. A Matemática Moderna no Brasil.
Do mesmo modo que outros países, o Brasil também passava por um
processo de urbanização e industrialização, o que originava uma necessidade
de mão-de-obra especializada. O discurso da crescente importância do ensino
de Matemática face ao progresso técnico enfatizava a necessidade de
adequar-se à nova realidade social, sendo imprescindível uma melhor
qualificação de um número maior de técnicos ou cientistas por meio do ensino
(BURIGO, 1989).
As primeiras manifestações oficiais da introdução de novos programas
bem como a introdução da linguagem da Matemática Moderna, destinada aos
alunos da escola secundária, foram feitas nos Congressos Brasileiros do
Ensino de Matemática, realizados em Salvador (1955), Porto Alegre (1957) e
Rio de Janeiro (1959), com a participação de grupos restritos de professores.
Segundo Miorim (1998), apesar das idéias do Movimento terem sido
apresentadas e discutidas nesses congressos, não seriam esses congressos
que desencadeariam o Movimento da Matemática Moderna no Brasil. O grande
responsável seria o Grupo de Estudos de Ensino da Matemática (GEEM),
fundado em outubro de 1961, por professores do Estado de São Paulo, que
tinha como principal representante o professor Osvaldo Sangiorgi.
41
O GEEM foi um importante instrumento de divulgação do Movimento da
Matemática Moderna em todo o Brasil. De acordo com Valente (2007), esse
grupo foi bastante divulgado pela mídia, nessa época, conjugando as ações
que desenvolvia no palco dos debates nacionais sobre o ensino de matemática
co aproximação com a Diretoria do Ensino Secundário, na oferta de cursos
para professores.
Esse grupo contava com alguns professores renomados, tais
como: Anna Franchi, Benedito Castrucci, Irineu Bicudo, Lucília
Bechara, Manhúcia Liberman, Omar Catunda, Renate
Watanabe, Ruy Madsen Barbosa, Scipione Di Pierro Neto, entre
outros (VITTI apud Borges, 2005, p. 41).
No IV Congresso Nacional de Ensino da Matemática, realizado em
Belém – PA, em 1962, o GEEM apresentou alguns exemplos de trabalhos bem
sucedidos com a Matemática Moderna e divulgou uma proposta de programa
para a escola secundária, contendo as idéias modernizadoras.
No artigo "Introdução da Matemática Moderna no Brasil", Osvaldo
Sangiorgi (1970) relatava:
“... nos dois primeiros congressos, o problema da introdução da
Matemática Moderna foi tratado como um simples aceno
traduzido em algumas resoluções aprovadas em plenário e, no
realizado no Rio de Janeiro, foram aprovadas decisões no
sentido de serem experimentadas estas novas áreas da
Matemática e os resultados serem apresentados no congresso
seguinte; foi no congresso de Belém que se tratou com
objetividade a introdução da Matemática Moderna no ensino
secundário”. (p. 9).
Nesse IV Congresso, a Matemática Moderna foi o tema central das
discussões colocadas em pauta pelos professores participantes do evento.
Dentre os pontos de pauta desse congresso estavam a introdução da
42
Matemática Moderna na escola secundária, a experiência realizada em cursos
regulares experimentais e a reestruturação do ensino de Matemática ante a Lei
de Diretrizes e Bases (BURIGO, 1989).
O V Congresso Nacional de Ensino da Matemática foi coordenado pelo
GEEM, em 1966, realizado no Centro Técnico da Aeronáutica em São José
dos Campos – SP. Nesse Congresso foram realizadas sessões de estudos das
várias áreas da Matemática Moderna superior e proferidas conferências sobre
esse tema e o seu ensino. Nesse Congresso houve, pela primeira vez, a
participação de vários professores estrangeiros: Marshall Stone, dos Estados
Unidos, George Papy, da lgica, Hector Merklen, do Uruguai e Helmuth
Völker, da Argentina (MIORIM, 1998).
Além do GEEM, outros grupos de estudos foram criados em nosso país,
destacando-se: o GEEMPA Grupo de Estudos de Ensino da Matemática de
Porto Alegre, o NEDEM Núcleo de Estudos e Difusão de Ensino da
Matemática de Curitiba, o GEPEM Grupo de Estudos e Pesquisas em
Educação Matemática do Rio de Janeiro e o grupo coordenado pelo professor
Omar Catunda na UFBA.
Segundo Miorim,
A organização da Matemática Moderna baseava-se na
teoria dos conjuntos, nas estruturas matemáticas e na
lógica matemática. Esses três elementos foram
responsáveis pela “unificação” dos campos matemáticos,
um dos maiores objetivos do movimento. Para isso,
enfatizou-se o uso de uma linguagem matemática precisa
e de justificações matemáticas rigorosas. Os alunos não
precisavam “saber fazer”, mas, sim, “saber justificar” por
43
que faziam. A teoria dos conjuntos, as propriedades
estruturais dos conjuntos, as relações e funções, tornaram-
se temas básicos para desenvolvimento dessa proposta
(MIORIM, 1998, p. 114).
A Matemática Moderna, segundo Miorim (1998), também não conseguiu
resolver os problemas do ensino dessa disciplina, ao contrário, chegou a
agravá-lo ainda mais. Os professores Carlos B. Lyra e Omar Catunda, no
início desse movimento, alertaram para os riscos de um enfoque centralizado
apenas na linguagem.
Um dos fatores de esgotamento do Movimento no Brasil pode ser
atribuído à divulgação da proposta de Dienes, segundo a qual o rigor deveria
ser “construído” junto com os alunos e o erro, admitido como natural no
processo de aprendizagem (BURIGO, 1989).
No IX Colóquio Brasileiro de Matemática, o matemático Elon Lages Lima
apontou o ensino brasileiro como seguidor de modelos estrangeiros, que nem
eram “totalmente” aceitos nos próprios locais em que se originaram. Sendo
assim, esses modelos eram prejudiciais ao Brasil, não manifestando a
realidade do país (BURIGO, 1989).
Em 1975, num curso promovido pelo GEEM, realizou-se uma mesa
redonda com a participação de um representante oficial da Secretaria de
Educação do Estado de São Paulo, que pediu um balanço da implementação
da proposta da Matemática Moderna no Brasil (BURIGO, 1989).
44
Com questionamentos sobre as promessas de uma Matemática de
acesso a todos os alunos, começou o desgaste das propostas do Movimento
da Matemática Moderna .
Na preparação do III Congresso Internacional de Educação Matemática,
em 1976, houve uma reunião na qual o GEPEM Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação Matemática manifestou que sua preocupação, diante
ao Movimento da Matemática Moderna, referente à avaliação do ensino em
sala de aula para posterior planejamento do conteúdo específico de ensino e o
método a ser realizado (BORGES, 2005).
Para Miorim (1998), “devido à forte penetração que o Movimento tinha
alcançado na prática, as propostas de sua modificação aconteceram de forma
lenta e paulatina” (p. 115).
Para Pires (2000), a Matemática Moderna foi veiculada principalmente
nos livros didáticos, não havendo uma adequada preparação dos educadores
nem suficiente discussão de seus propósitos.
Observamos que , pelo fato de em 1963, ter sido o ano de lançamento
da primeira edição da coleção de Osvaldo Sangiorgi, pela Companhia Editora
Nacional, e 1971 ter sido o ano de publicação dos Guias Curriculares, ocorreu
um fato bastante atípico: a coleção de livros didáticos encadeava as
“orientações” do que deveria ser feito em sala de aula, substituiu, de certa
forma, os programas oficiais que indicavam os conteúdos a serem ensinados.
45
1.3. A Geometria no Movimento da Matemática Moderna.
Segundo Pavanello (1989), na primeira metade do culo XX o ensino
de conteúdos geométricos era marcadamente lógico-dedutivo e apenas no
terceiro ano ginasial (hoje 8º. ano do Ensino Fundamental) dava-se ênfase a
esses conteúdos, começando, em geral, com conceitos primitivos (ponto, reta e
plano), os primeiros postulados e axiomas, inúmeras definições e
demonstrações de teoremas.
Ainda para esta autora, mesmo antes do Movimento da Matemática
Moderna, o ensino da Geometria já enfrentava dificuldades por parte dos
professores que se sentiam despreparados para abordarem o assunto. Com a
implantação do ensino sob o enfoque das transformões, proposto pelo
Movimento, os professores acabaram tendo maiores dificuldades, o que pode
ter acarretado o gradual abandono do ensino da Geometria (PAVANELLO,
1993).
D´Ambrosio (1987) aponta que no período compreendido entre 1960 e
1970, nos cursos oferecidos pelo GEEM, a Geometria não foi uma área muito
discutida se comparada com a Álgebra e que também houve um reduzido
número de professores que se dedicavam ao seu estudo.
Leme da Silva (2007), em seu artigo sobre a “Geometria Escolar
Moderna de Osvaldo Sangiorgi”, tece um comentário do professor Benedito
Castrucci, participante do GEEM e autor de livros didáticos sobre Geometria, a
respeito do ensino da geometria:
46
um movimento para a substituição do conteúdo geométrico
no curso colegial e, talvez, no ginasial, por uma algebrização da
Geometria, tratando-a como um capítulo de Álgebra Linear.
Acreditamos que esta inovação preconizada por grandes
matemáticos não possa ser feita imediatamente, pois a nosso
ver seria, no momento, um passo ousado. (CASTRUCCI, 1968,
Prefácio, apud LEME DA SILVA, 2006, p. 3).
Nesse período, o professor Castrucci ministrou cursos de Geometria
para professores de Matemática que tinham como enfoque o tratamento dos
espaços vetoriais e as transformações geométricas. Segundo estudos de Leme
da Silva (2006) os professores não conseguiam compreender o que lhes eram
proposto.
Nas teses e dissertações que abordam o tema do Movimento da
Matemática Moderna encontramos muito poucas referências ao ensino da
Geometria. No Segundo Congresso de Educação Matemática, realizado na
cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, no ano de 1957, segundo Beatriz
D´Ambrosio (1987), o professor Ubiratan D´Ambrosio sugere que se introduza,
para o ensino secundário, o estudo de propriedades de diferentes conjuntos
numéricos e de estruturas algébricas de operações, assim como as estruturas
que podem ser observadas nas transformações geométricas.
Para execução do ensino de Geometria sob o enfoque das estruturas
fazia-se necessário um programa de formação de professores, pois esse
enfoque não era conhecido. Segundo Silva (2007), na prática ocorreu que
considerável número de professores deixavam de ensinar a Geometria ou
limitaram-se a fazer uma abordagem intuitiva dessas noções, sem qualquer
sistematização posterior.
47
Muitos membros do GEEM participaram de cursos sobre o ensino da
Geometria desenvolvidos em outros países e também participaram de
encontros internacionais. Para Burigo (1989), tentou-se dar à Geometria um
tratamento axiomático, com o uso das estruturas algébricas e da teoria dos
conjuntos, fato que levou o GEEM a organizar os seus cursos incluindo a
temática das transformações geométricas.
Como dissemos, houve certo desequilíbrio entre a atenção dado a
Álgebra e a Geometria. Segundo Soares (2001), frases mal interpretadas
contra a geometria euclidiana, a geometria até então ensinada, deixaram ainda
mais critica a situação do ensino deste conteúdo no Brasil.
Uma das frases que mais acentuaram essa discussão em torno da
Geometria foi “Abaixo Euclides” de Jean Dieudonné, referindo-se à geometria
euclidiana, que era ensinada no ensino secundário.
Eu me lembro que teve uma frase, que ficou clássica, do
Dieudonné, em que ele declarou “Abaixo à Euclides”. E , [...] o
Dieudonné esteve no Brasil, foi a Santa Úrsula, fez palestra e
disse que o que quis dizer com essa frase, “Abaixo Euclides”,
era abaixo a escravidão do modelo da geometria euclidiana. Os
livros didáticos do Ensino Médio eram os Elementos de
Euclides. Nos países europeus isso até um bom tempo era
assim. Então o que ele quis dizer era abaixo aquele modelo. E
ele era ligado ao grupo Bourbaki [...] e o que se entendeu era
que não se ensinava mais geometria euclidiana, e aí foi um
desastre muito grande. (RODRIGUES, apud SOARES, 2001, p.
65).
Na primeira Conferência Interamericana sobre Educação Matemática,
realizada na Combia em 1961, o professor Omar Catunda, teceu o seguinte
comentário sobre a frase de Jean Dieudonné:
48
Outro problema é que no Brasil é profundamente distinto do que
é na Europa, é o da geometria euclidiana [...] No Brasil, o
problema é outro. Com a liberdade que têm os professores de
dar apenas 75% do programa [...] se encontram com freqüência
estudantes que praticamente não aprendem nada de geometria.
[...], a fórmula que reivindicaria para o Brasil não é Abaixo
Euclides!, se não ao menos Euclides! (CATUNDA, apud
SOARES, 2001, p. 66).
Segundo Leme da Silva (2007), os diferentes posicionamentos no
Movimento da Matemática Moderna não traziam em seu ideário um consenso
sobre o ensino de geometria, tanto internacionalmente, como no Brasil.
Na década de 1960 e 1970, alguns participantes do GEEM, que já
publicavam livros, sentiram a necessidade, e muitos foram pressionados pelas
editoras, a publicar novos livros didáticos contendo os conteúdos e as
propostas do Movimento da Matemática Moderna.
No ano de 1963, a Cia. Editora Nacional lança no mercado o livro
didático: “Matemática Curso Moderno”, de Osvaldo Sangiorgi, para o ensino
das séries ginasiais.
Segundo Valente (2007), diferentemente do que ocorria nos Estados
Unidos, em que os novos livros eram elaborados coletivamente e passavam
por “experimentação” até chegarem à sua versão final, Sangiorgi publicou seu
curso moderno, obra assinada por um só autor e sem trajetória experimental.
A nova coleção de matemática moderna alterou por completo a
organização do ensino de matemática para o ginásio. Sangiorgi,
ao que tudo indica, traçou uma estratégia para não depender de
portarias ou qualquer outro tipo legislação educacional, de modo
a referenciar o novo programa nacionalmente (VALENTE, 2007,
p. 21).
49
Valente (2007) faz um comentário sobre o impacto da obra de Sangiorgi
no Movimento da Matemática Moderna no Brasil:
A obra de Sangiorgi, autor que pela primeira vez elabora um
texto didático de matemática moderna para ser utilizado nos
ginásios, espalhou-se pelo Brasil. Os arquivos da Cia. Editora
Nacional contém cartas de diversos pontos do país, que pedem
a biografia de seu autor. São cartas de professores de
matemática, de normalistas e, também, de alunos. Isso indica
que a coleção de Sangiorgi ganhou novos mercados,
substituindo autores conhecidos por professores e alunos. As
cartas pediam uma proximidade maior do autor das obras que
estavam sendo utilizadas no dia-a-dia escolar. A Editora,
sempre atenta, respondia aos pedidos enviando uma biografia
sumária de Sangiorgi (VALENTE, 2007, pp. 23-24).
1.4. Osvaldo Sangiorgi – um protagonista do Movimento.
O professor Osvaldo Sangiorgi nasceu em 09 de maio de 1921, no
Estado de São Paulo, formou-se em licenciatura em Ciências Matemáticas em
1941, pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras da Universidade de São
Paulo. Licenciou-se em Física, também pela Universidade de São Paulo, em
1943. Obteve as seguintes titulações: Mestre em Lógica no Kansas, em 1961,
Doutor em Matemática pela Universidade de São Paulo, em 1973, e Livre–
Docente pela Escola de Comunicações e Artes, em 1977
11
.
11
A consulta realizada para elaboração deste capítulo é o APOS – Arquivo Pessoal de Osvaldo
Sangiorgi, que se encontra no GHEMAT Grupo de História da Educação Matemática,
coordenado pelo Professor Doutor Wagner Valente.
50
O início de sua vida profissional foi no Instituto Feminino de Educação
Padre Anchieta, uma Escola Normal
12
do bairro do Brás, em São Paulo, onde
organizou seu curso de Matemática utilizando-se dos livros de Ary Quintella.
Lecionou na Kansas University, no Institut Eupen da Bélgica, no Institut
fur Kibernetisch Pedagogik da Alemanha, no Instituto de Cibernética de San
Marino, no Instituto de Cibernética de Nammur na Bélgica e em outras duas
dezenas de Universidades, da América à China, passando pela Europa e
África.
Integrou a Comissão de Tecnologia da Educação, o Grupo de Ensino de
Matemática, o Centro Paulista de Rádio e Televisão Educativas e vários
colegiados oficiais, todos voltados ao aprimoramento da Pedagogia da
Matemática.
Osvaldo Sangiorgi vinha se interessando pelo ensino da Matemática
muito antes do Movimento da Matemática Moderna. Sua presença como aluno
no curso de Verão da Kansas University, onde teve aulas com o professor
George Springer, em 1960, e a vinda de Springer a São Paulo, levaram
Sangiorgi a fundar o Grupo de Estudos do Ensino da Matemática GEEM, em
31 de outubro de 1961.
Nesses cursos de Verão da Kansas University era ministrado o que de
mais atual em conteúdo e metodologia havia no mundo, principalmente em
12
Curso que tinha por objetivo formar professores para atuarem no magistério de ensino
primário (hoje Ensino Fundamental, ciclo I) e era oferecido em cursos públicos de nível
secundário (hoje Ensino Médio).
51
Matemática e Ciências. Eram muito bem estruturados e serviam de estágios de
formação para professores. (SILVA, 2007).
Antes mesmo da fundação do GEEM, Sangiorgi ministrou a disciplina
“Prática de Ensino da Matemática Moderna”, no “Curso de Especialização em
Matemática para Professores Secundários”, oferecido pela Universidade
Mackenzie em convênio com a Secretaria de Educação do Estado de o
Paulo e com o Departamento de Matemática da Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
A presença do professor Osvaldo Sangiorgi era notória em tudo o que
dizia respeito à implantação de novos conteúdos e metodologias de ensino
relacionados ao ensino de Matemática, bem como na formação de professores,
o que caracteriza a fundação do GEEM por ele e por demais professores
renomados da época.
O GEEM e a articulação que o professor Osvaldo Sangiorgi tinha com o
Governo foram de grande influência na implantação e divulgação do
Movimento da Matemática Moderna no Brasil. Esse grupo também teve grande
apoio financeiro através da Secretaria do Estado de São Paulo, o que
viabilizava suas atividades.
52
1.5. Os Guias Curriculares do Estado de São Paulo.
No sistema oficial de ensino do Estado de São Paulo, a Matemática
Moderna ficou especialmente registrada nos chamados Guias Curriculares, que
propunham uma orientação às escolas de Grau
13
, que se estruturavam em
cursos de 8 séries, seguindo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(5692/71). Nesses Guias, constatamos sugestões de cater metodológico,
definições de objetivos, além das apresentações dos conteúdos (PIRES, 2000).
Um fato importante a destacar é o de que, na época da publicação dos
Guias, já havia muitas discussões a respeito da orientação da Matemática
Moderna e, é possível constatar isso no próprio texto desse documento:
“Achamos conveniente dizer algumas palavras quanto à assim
chamada Matemática Moderna. Esse assunto tem dado
oportunidade a muitas polêmicas, a nosso ver estéreis.
Pensamos que todo problema se resume na infeliz escolha do
nome: Matemática Moderna. A Matemática não é moderna, nem
clássica: é simplesmente a Matemática. Ocorre que, como
muitas outras ciências, ela experimentou nos últimos tempos
uma evolução extraordinária, provocando uma enorme
defasagem entre a pesquisa e o ensino da matéria. O que deve
ser feito, e isso é importante, é uma reformulação radical dos
programas, para adaptá-los às novas concepções surgidas,
reformulação essa que deve atingir as técnicas e estratégias
utilizadas para a obtenção dos objetivos propostos. Nessa
acepção, achamos que o movimento que levou a uma
orientação moderna no ensino da Matemática é irreversível, no
sentido de um maior dinamismo na aprendizagem da mesma,
em contraste com a maneira estática como era apresentada.
Sentimos, portanto, que a orientação dada a um curso de
Matemática deve ser moderna e, para isso, é necessário que se
ênfase, no estudo da matéria, a certos aspectos que visam
destacar a indiscutível unidade da Matemática, mostrando-a
como uma construção única sem compartimentos estanques.
Dentre esses aspectos, gostaríamos de evidenciar dois deles,
13
Atual Ensino Fundamental.
53
que consideramos de importância fundamental: o papel central
desempenhado pelas estruturas matemáticas, estruturas essas
que podem ser evidenciadas no estudo dos campos numéricos
bem como na geometria, e o importantíssimo conceito de
relação e, mais especificamente, o conceito de função, que pode
ser abordado não no estudo das funções numéricas, como
também no estudo das transformações geométricas. Além disso,
é de importância primordial destacar o papel do raciocínio
matemático”. (p.171, apud PIRES, 2000, p. 33).
Analisando-se o documento verificamos que ele revela a influência das
idéias da Matemática Moderna, mas destaca que os conceitos devem ser
obtidos por meio de atividades, manipulação de instrumentos adequados e
materiais didáticos apropriados, estabelecendo situações de aprendizagem
próximas das experiências dos alunos.
Esse documento traz a divisão dos conteúdos da disciplina de
matemática em quatro temas: 1) Relações e Funções; 2) Campos Numéricos;
3) Equações e Inequações e; 4) Geometria.
Na apresentação dos objetivos gerais para esta disciplina, encontramos:
1. Desenvolver a capacidade de: analisar, relacionar,
comparar, classificar, ordenar, sintetizar, avaliar, abstrair,
generalizar, criar.
2. Desenvolver hábitos de estudos, de rigor e precisão, de
ordem e clareza, de uso correto de linguagem, de concisão, de
perseverança na obtenção de soluções para os problemas
abordados e de crítica e discussão dos resultado obtidos.
3. Adquirir habilidades específicas para: medir e comparar
medidas, calcular, construir e consultar tabelas, traçar e
interpretar gficos, utilizar e interpretar corretamente a
simbologia e a terminologia matemáticas.
4. Adquirir informações e conhecimentos sobre os diversos
tipos de conceitos e métodos utilizados na matemática.
5. Desenvolver a capacidade de obter, a partir de condições
dadas, resultados válidos em situações novas, utilizando o
método dedutivo.
54
6. Reconhecer a inter-relação entre os vários campos da
Matemática (GUIAS CURRICULARES, 1975, p.205).
1.5.1. A Geometria nos Guias
A Geometria, foco de nossa pesquisa, é tratada nos Guias no TEMA IV
em que se enunciam os seguintes objetivos:
Adquirir conhecimentos que possibilitem uma compreensão
do mundo aparente.
Adquirir habilidades em construções geométricas e
processos de medida.
Desenvolver a intuição geométrica (GUIAS
CURRICULARES, 1975, p. 212).
A tabela abaixo é indicativa da apresentação desse tema.
Conteúdos
(I) Figuras geométricas
a) Noções topológicas: interior,
exterior, fronteira; regiões,
conexidade.
x x X x x x
b) Noções projetivas: retas,
intersecções, convexidade.
X x x x
c) Noções afins: paralelismo e
semelhança.
x x x x X
d) Noções euclidianas: distâncias;
ângulos.
X x x x x X
(II) Transformações Geométricas.
a) Conceito. Invariantes.
x x X
b) Transformações através de
coordenadas.
X
(III) Medidas
55
a) Comprimento
X x (*) x
b) Áreas
(*) x (*) (*) (*) X
Quadro 1.1 – A Geometria nos Guias (Guias Curriculares, 1975, p. 212).
O sinal “x” está associado aos conteúdos citados explicitamente
e o sinal “(*)” indica citação implícita dos conteúdos nas
atividades ou nas resoluções de problema (Guias Curriculares,
1975, p. 212).
Nos conteúdos de a 8ª série ressaltamos a orientação no sentido de
que a Teoria dos Conjuntos fosse utilizada, além do método geométrico e o
emprego de resultados obtidos intuitivamente, como meio dedutivo para outras
propriedades.
Destacamos no texto a explicitação de transformação e a noção de
segmento orientado para, posteriormente, introduzir a noção de vetor. Mas
indicações para a realização de experimentos como é o caso de introdução da
noção de área de quadriláteros pela utilização do papel quadriculado, por
contagem dos quadrados contidos na figura.
Os conteúdos são distribuídos da seguinte forma:
5ª Série – Geometria intuitiva;
6ª Série – Geometria intuitiva e construções geométricas;
Série Introdução ao emprego do raciocínio hipotético-
dedutivo da geometria;
Série Homotetia e Semelhança: Aplicações e Medidas:
comprimento do circulo; áreas.
56
Com relação aos conteúdos de Série, identificamos que os objetivos
visam à ampliação dos conhecimentos abordados anteriormente, em que se
faz uso da linguagem e da simbologia da Teoria dos Conjuntos para a
construção dos conceitos geométricos como auxilio na compreensão.
Na 6ª Série, os objetivos concentram-se no estabelecimento intuitivo dos
resultados geométricos, através de experiências e observações, congruência
de segmento de retas, de ângulos, ângulos determinados por duas paralelas e
uma transversal e na utilização de instrumentos geométricos, régua,
transferidor, esquadro e compasso, para construção de figuras geométricas e
compreensão dos conceitos.
Na 7ª Série, propõe-se a construção geométrica com régua e compasso;
o reconhecimento, de forma abstrata, dos conceitos geométricos; aquisição de
conhecimentos visando à sistematização da geometria; compreensão da
simetria axial e central como transformação do plano e o desenvolvimento de
demonstrações locais.
Os objetivos para a rie têm como foco a ampliação dos
conhecimentos sobre transformação; a utilização de procedimentos algébricos
na resolução de problemas geométricos e a compreensão de noções
trigonométricas para aplicação em outras disciplinas.
57
1.5.2. Subsídios para Implementação do Guia
Curricular de Matemática – Geometria para o 1º
Grau – 5ª a 8ª Séries
Após a publicação dos Guias Curriculares, a Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo publicou os “Subsídios para a implantação dos Guias”. A
nosso ver, um dos motivos para tal publicação era a de oferecer informações
aos professores sobre temas como Teoria dos Conjuntos e Transformações
Geométricas, assuntos desconhecidos pelos professores da época e que
deveriam abordá-los em sala de aula.
A seguir, ilustraremos algumas atividades propostas nesse documento
que tinham os seguintes objetivos:
Atividade 4: Determinar numa figura:
– os eixos de simetria;
– o centro de simetria.
Atividade 5: Determinar a simétrica de uma figura:
– em relação a um eixo;
– em relação a um ponto.
Atividade 6: Determinar os invariantes no caso de:
– uma simetria axial;
– uma simetria central.
Atividade 7: Relacionar a simetria central com a simetria axial.
Atividade 8: Construir um triângulo, conhecendo três dos seus
elementos – um dos quais deve ser um lado
Atividade 9: Caracterizar os quatro casos de congruência de
triângulos.
Atividade 10: Demonstrar utilizando os resultados obtidos:
– as principais propriedades dos triângulos;
– as propriedades dos quadriláteros.
58
Atividade 11: Determinar as imagens de pontos do plano, por
meio de uma translação (SUBSÍDIOS PARA IMPLEMENTAÇÃO
DO GUIA CURRICULAR DE MATEMÁTICA Geometria para o
1º Grau – 5ª a 8ª Séries, 1978, p. 39).
(Fac-símile dos Subsídios para Implementação do Guia Curricular de
Matemática – Geometria para o 1º Grau – 5ª a 8ª séries, 1978, pp. 42 – 47).
59
60
61
62
63
;
Nessas atividades, em que os conteúdos trabalhados foram as
transformações (simetria e translação) e as demonstrações de Congruência de
Triângulos e do Teorema de Pitágoras, fica evidente que, a cada atividade, o
64
documento vai orientando o professor, de maneira implícita, sobre as possíveis
dificuldades que podem ser encontradas em sala de aula e como se espera
que o professor aborde esses conteúdos.
1.6. A Coleção Matemática – Curso Moderno, de Osvaldo
Sangiorgi.
Como foi mencionado, a coleção Matemática Curso Moderno, de
Sangiorgi foi lançada em 1963 pela Companhia Editora Nacional e era
destinada às quatro séries ginasiais
14
. A primeira edição do quarto volume da
coleção foi lançada em 1967.
A seguir, podemos visualizar as capas dos quatro volumes dessa
coleção.
14
Atuais 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental.
65
Fig. 1.1 – Capa Sangiorgi V.1 Fig. 1.2 – Capa Sangiorgi V.2
Fig. 1.3 – Capa Sangiorgi V.3 Fig. 1.4 – Capa Sangiorgi V.4
Sendo a coleção de Sangiorgi, a primeira coleção de livros didáticos a
abordar as propostas do Movimento da Matemática Moderna, nos cursos
ginasiais, no Brasil, é importante destacar a posição que o autor tinha em
relação ao estudo da Matemática Moderna no ginásio, explicitada logo numa
das primeiras páginas do Volume I de sua coleção.
66
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 1.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 11ª Edição.
67
1.6.1. A análise dos conteúdos de Geometria na obra
de Sangiorgi
Neste item vamos analisar o conteúdo de Geometria proposto pelo autor
no terceiro e quarto volumes da sua coleção, destinados a 3ª e 4ª séries
ginasiais, atuais 8º. e 9º anos do Ensino Fundamental, respectivamente.
A análise referente aos dois primeiros volumes não se faz presente
devido ao fato dessa coleção não abordar em seu corpo texto os conteúdos de
Geometria.
O Volume 3 da coleção traz em seu índice, a seguinte relação de tópicos
geométricos:
Índice da matéria
Capítulo 3 – Estudo
das figuras
geométricas
Objetivos da Geometria, Figuras
geométricas planas; curvas fechadas
simples, Um pouco de Topologia...,
Relações e operações com conjunto de
pontos no plano, Estrutura de ordem;
relação ... estar entre ..., Semi-reta;
segmento de reta; semi-plano, Medida de
segmentos; segmentos congruentes,
Conceito de ângulo, Medida de ângulos;
Ângulos complementares; ângulos
suplementares, Praticas demonstrativas,
Ângulos formados por duas retas
coplanares e uma transversal,
Capítulo 4 – Estudo
dos Polígonos e da
circunferência
Conceito de polígonos, diagonais, Estudo
dos triângulos, Congruência de
triângulos,
68
Construção lógica da Geometria, Da
necessidade de provas, Postulados e
Teoremas da Geometria em estudo,
Primeiros Teoremas; forma “se então”,
Como efetuar uma demonstração
lògicamente, Teorema recíproco de outro
teorema, Método indireto na
demonstração de um teorema, Alguns
teoremas fundamentais: ...sôbre
triângulos, ... sôbre retas paralelas, ...
sôbre ângulos, ... sôbre polígonos
convexos,
Quadriláteros: Paralelogramos; teoremas
fundamentais, Trapézios; teoremas
fundamentais,
Circunferência; teoremas fundamentais,
Circulo ou disco fechado, propriedades
das cordas, Posições relativas de duas
circunferências, Posições relativas da
reta e circunferência, Arcos de
circunferência; medida, Propriedades
fundamentais entre arcos e cordas,
Ângulos relacionados com arcos;
medidas, Polígonos inscritos e
circunscritos a uma circunferência,
Apêndice
Transformações
geométricas planas
Grupo das translações, Corpo das
rotações, Simetrias,
Quadro 1.2. – Índice Volume 3 – Curso Moderno. Volume 3 (1971)
Após o índice, o livro nos traz uma carta, assinada pelo autor, destinada
aos estudantes desta série, em que Sangiorgi destaca o estudo da Geometria
como sendo o “bom-bocado” desse terceiro Volume.
69
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 3.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1971 – 9ª Edição.
70
O Capítulo 3 do terceiro Volume é dividido em quatro partes,
apresentadas a seguir:
1ª Parte – fazendo Geometria
– figuras geométrica planas;
– curvas fechadas simples;
– um pouco de Topologia.
2ª Parte – relações e operações com conjuntos de pontos no plano;
– semi-retas; segmento de reta; semi-plano;
– medidas de segmentos; segmentos; congruentes.
3ª Parte – ângulos; medida de ângulos; ângulos congruentes;
– problemas de aplicação.
4ª Parte – explorando demonstrações;
ângulos formados por duas retas coplanares e uma
transversal.
Antes de iniciar a abordagem dos conteúdos geométricos nesse
capítulo, o autor apresenta os objetivos do ensino de Geometria e um pouco de
história sobre esse tema, conforme podemos ver na ilustração a seguir:
71
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 3.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1971 – 9ª Edição, p. 115.
72
Na primeira parte desse capítulo o autor vai desenvolvendo as noções
de ponto, linha ou curva, planos e figuras geométricas planas. Para introdução
desses conceitos geométricos o autor utiliza algumas das propriedades da
Teoria dos Conjuntos.
Ao final da primeira parte, o autor apresenta dois textos: o primeiro
deles recebe o título de NOTA IMPORTANTE, na qual o autor elucida alguns
conteúdos que estão sendo desenvolvidos (estudados) no ramo moderno da
matemática, no caso, uma breve introdução de Topologia e, no segundo,
denominado LEMBRETE AMIGO, o autor recapitula algo importante que foi
apresentado anteriormente ao aluno, provavelmente com o objetivo de que
esse resultado seja “fixado” pelo aluno.
No decorrer da primeira parte, constatamos a presença de exercícios de
fixação dos conceitos abordados e de testes de atenção, entre os quais
notamos exercícios com um grau de dificuldade um pouco maior dos
encontrados anteriormente.
Na segunda parte do capítulo, o autor trabalha o os conceitos de semi-
reta, reta, segmento de reta, semi-plano, medidas de segmento, segmentos
congruentes, inserindo a linguagem da teoria dos conjuntos e as propriedades
estruturais dos conjuntos e subconjuntos.
Vejamos como o autor “define” segmento:
Considere a reta r determinada pelos dois pontos distintos A e
B:
73
Chama-se segmento AB ao conjunto de pontos de r constituídos
por A, por B e por todos os pontos que estão entre A e B. Os
pontos A e B dizem-se extremos do segmento. Indicação
(representam o mesmo conjunto de pontos).
O segmento de reta é uma figura plana simples que apresenta
pontos internos: são os pontos situados entre A e B, e pontos
externos: são os pontos da reta r que não pertencem a
AB.(SANGIORGI, 1971, v. 3, p.140).
Logo em seguida, o autor apresenta alguns exemplos de aplicação das
práticas modernas no estudo da Geometria, trabalhando com as operações
com conjuntos.
1. Na figura:
_________
ACBCAB =
(o segmento
___
AC
é o conjunto dos pontos
que pertencem ao segmento
___
AB
ou ao segmento
___
BC
ou a
ambos)
}{
BBCAB =
______
(o ponto B é o único elemento comum aos
conjuntos
___
AB
e
___
BC
)
= ACBCBA
(por quê?)
2. Atenção: agora você pode definir o segmento como
intersecção das semi-retas, pois:
____
ABBAAB =
(SANGIORGI, 1971, v.3, p.p. 143 – 144)
Na parte, podemos notar que em alguns exercícios solicita-se ao
aluno a utilização de instrumentos, tais como: régua e transferidor. Com
relação aos exercícios, novamente são propostos exercícios de fixação, em
74
que se abordam os conceitos estudados, exercícios práticos, alguns com
utilização de instrumentos e também os exercícios de atenção, em que o grau
de dificuldade aumenta.
Na terceira parte desse capítulo, o autor trabalha conceitos como os de
ângulos, medida de um ângulo, ângulos congruentes, relação de congruência
entre ângulos, a bissetriz de um ângulo, ângulos complementares e ângulos
suplementares. Com relação aos ângulos congruentes, Sangiorgi “define”:
Dois ângulos são congruentes se, e somente se, tem as
mesmas medidas. (SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 167)
Ele coloca essa “definição” em destaque para chamar a atenção do
aluno. Logo em seguida apresenta algumas propriedades:
A congruência de ângulos é por sua vez uma Relação de
Equivalência, pois valem as propriedades:
1º) Reflexiva:
BOABOA
ˆ
~
ˆ
=
2º) Simétrica:
PNMBOA
ˆ
~
ˆ
=
, então
BOAPNM
ˆ
~
ˆ
=
3º) Transitiva:
PNMBOA
ˆ
~
ˆ
=
e
ZYXPNM
ˆ
~
ˆ
=
, então
ZYXBOA
ˆ
~
ˆ
=
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 167)
Nessa terceira parte, podemos perceber a utilização de
conhecimentos algébricos em alguns exemplos propostos pelo autor.
Com relação aos exercícios para essa parte, novamente constatamos
exercícios de fixação, exercícios práticos e exercícios de atenção. As
ilustrações apresentadas na sequência o demonstrativas de alguns
exercícios práticos e da utilização da linguagem algébrica,
75
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 3.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1971 – 9ª Edição, p. 161.
76
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 3.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1971 – 9ª Edição, p. 176.
77
Na quarta parte do capítulo, o autor trabalha com demonstrações e com
ângulos formados por duas retas coplanares e uma transversal. Nesta parte, o
autor já não utiliza tanto a teoria dos conjuntos. Segundo Miorim:
É interessante observar que nesse momento o autor parece
retornar a Euclides. A linguagem da teoria dos conjuntos é
abandonada e as demonstrações assumem o estilo euclidiano,
incluindo o tradicional final c.q.d. (MIORIM, 2005, p. 14).
Vejamos como Sangiogi apresenta a demonstração de que os ângulos
opostos pelo vértice são congruentes:
Sejam os ângulos o.p.v.:
BOA
ˆ
e
DOC
ˆ
, de medidas,
respectivamente: a e b.
a
y
b
x
O
A
C
D
B
Você deve provar que
a = b
Para concluir que os ângulos
BOA
ˆ
e
DOC
ˆ
são congruentes.
Ora: a + x = 180º (resultado conhecido)
x + b = 180º (idem)
a + x = 180º
a = 180º - x
a = b
x + b = 180º
b = 180º - x
Então, se a = b, os ângulos
BOA
ˆ
e
DOC
ˆ
são congruentes.
c.q.d.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 179)
78
O interessante é que o autor realiza essas demonstrações “passo a
passo”, para que o aluno adquira esse hábito. Na verdade, o trabalho com as
demonstrações e provas recebe um foco maior no quarto capítulo deste
volume.
Depois de realizar algumas demonstrações, Sangiorgi deixa a cargo do
estudante a realização de alguns exercícios para que ele refaça tais
demonstrações.
Logo depois dos exercícios, inicia-se o estudo de ângulos formados por
duas retas coplanares e uma transversal, explorando ângulos correspondentes,
alternos internos, alternos externos, colaterais internos e colaterais externos.
O capítulo 4 desse terceiro volume é divido em quatro partes, em que
são trabalhados os seguintes tópicos:
1ª Parte – polígonos; triângulos
– congruência de triângulos
2ª Parte – construção lógica da Geometria
– da necessidade de provas
– ... alguns teoremas fundamentais
3ª Parte – quadriláteros: paralelogramos e trapézios;
– teoremas fundamentais
4ª Parte – circunferências: teoremas fundamentais
– arcos de circunferência; medida
– ângulos relacionados com arcos; medida.
79
Na primeira parte desse capítulo ele faz um estudo sobre o conceito de
polígonos, suas diagonais, nomenclatura dos polígonos conforme o mero de
lados e polígonos convexos. uma “volta” aos conceitos elaborados no
primeiro volume de sua coleção, só que desta vez percebemos um estudo mais
aprofundado.
Ainda nessa primeira parte o autor propõe um estudo dos triângulos
destacando os elementos principais, as relações dos ângulos de um triângulo
para depois fazer um estudo da congruência de triângulos.
Vejamos como Sangiorgi nos apresenta os casos de Congruência de
Triângulos em sua coleção:
80
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 3.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1971 – 9ª Edição, pp. 220 – 225.
1º Caso – L.A.L (lado, ângulo, lado)
81
82
2º Caso – A.L.A (ângulo, lado, ângulo):
83
3º Caso – L.L.L (lado, lado, lado):
84
4º Caso – L.A.A
o
(lado, ângulo, ângulo oposto):
85
86
Após a realização do trabalho com os casos de congruência de
triângulos, o autor propõe alguns exercícios de atenção sobre esses
conteúdos. Nesse tipo de exercício, o autor apresentar alguns exemplos em
que utiliza conteúdos abordados anteriormente, mas agora na realização de
provas, conforme segue:
3. Justifique o “porquê” da congruência dos
triângulos que fazem parte da mesma
figura.
Dados
BCAC
______
~
=
; m = n, “prove” que
BCDACD
=
~
Solução:
Basta empregar um dos casos de congruência estudados,
desde que se disponha de três elementos correspondentes,
respectivamente congruentes, guardando a mesma posição.
Como:
( )
=
=
=
figuranamesmooé
nm
CDCD
BCAC
____
____
~
~
Segue-se que BCDACD
=
~
pelo caso L.A.L. (SANGIORGI,
1971, v. 3, p. 229)
Dados alguns exemplos desse tipo, o autor propõe aos alunos
exercícios em que solicita que “realizem a prova”.
Na segunda parte do capítulo, Sangiorgi trabalha a construção lógica da
Geometria, a necessidade de provas e alguns teoremas fundamentais.
87
Logo no início, o autor chama a atenção dos estudantes para o seguinte
fato relativo ao ensino da Geometria: “não estamos habilitados a aceitar certos
resultados pelo fato de ”estarmos vendo”, o que pode levar-nos a conclusões
falsas. Quanto à necessidade de um processo dedutivo, Sangiorgi argumenta:
Suponhamos que você tenha verificado experimentalmente que
os ângulos da base de um triângulo isósceles são congruentes.
Mesmo que essa propriedade seja verdadeira para “um milhão
de triângulos isósceles” sem que a verificasse para um triângulo
de cada vez!
Daí a necessidade de se ter um processo dedutivo
denominado demonstração – que possa justificar plenamente
ser verdadeira a citada propriedade para qualquer triângulo
isósceles, independentemente do tamanho da figura ou da
precisão com que foi desenhada. Êste é o poder de
generalização de uma demonstração em Matemática, que
permite construir logicamente a Geometria.
Demonstra-se que a informação expressa numa sentença é
verdadeira, mediante um processo dedutivo, desenvolvido
sucessivamente por intermédio de resultados conhecidos, mais
elementares, comprovados ou aceitos como verdadeiros.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p.p. 232-233)
No texto acima, percebemos que o autor busca convencer o estudante
da importância das demonstrações e do processo dedutivo. Feito isso,
Sangiorgi começa a desenvolver algumas questões de lógica, como o descrito
a seguir:
Todo paulista é brasileiro. João é paulista. Logo … (João é
brasileiro).
Nota: Se todo paulista é brasileiro, João, sendo paulista, está
incluído no todo … e quem pode “o mais” pode “o menos”!
Todo paulista é brasileiro. João é brasileiro. Logo …
Nota: Nada se pode concluir, pois ser brasileiro não significa ser
paulista embora não esteja excluído podendo ser baiano,
88
gaúcho, …, e o fato de poder “o menos” não implica poder “o
mais”! (SANGIORGI, 1971, v.3, p. 233).
Na sequência, explica o que vem a ser teoremas e postulados e também
realiza algumas observações, antes de iniciar as demonstrações, como por
exemplo, a respeito do significado do “se...então”.
Vejamos como Sangiorgi realiza uma dessas demonstrações.
Dados:
MBAM
______
~
= ,
PA
___
é perpendicular a
AB
___
e
QB
___
é
perpendicular a
AB
___
.
Provar:
BMQAMP =
~
Demonstração:
Afirmações:
1)
B
A
ˆ
ˆ
(retos)
2)
MBAM
______
~
=
3)
QMBPMA
ˆ
~
ˆ
=
4) BMQAMP =
~
Justificações:
1)
PA
___
é perpendicular a
AB
___
e
QB
___
é perpendicular a
AB
___
.
2) Hipótese
3) o.p.v
4) A.L.A
c.q.d.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 242)
Convém destacar que em ginas anteriores a essa demonstração, ao
apresentar alguns postulados, o autor tece um breve comentário sobre a
Geometria Euclidiana.
89
Na terceira parte desse capítulo, Sangiorgi explora os quadriláteros.
Logo no início dessa terceira parte, o autor utiliza o Diagrama de Venn para
mostrar relações entre conjuntos de figuras quadriláteras como vemos na figura
a seguir.
Fig. 1.5 - Quadriláteros
Após isso, o autor apresenta teoremas relativos a quadriláteros,
propriedades caractesticas dos retângulos, dos losangos e dos quadrados e
às diagonais dessas formas. Depois faz o estudo dos trapézios.
Nessa parte também encontramos exercícios de fixação, de aplicação e
testes de atenção, característicos nessa obra.
Na quarta parte do capítulo, encontramos um estudo sobre
circunferência, arcos de circunferência e suas medidas, ângulos relacionados
com arcos e alguns teoremas sobre o tema. O autor trabalha definições de uma
circunferência, as construções de circunferências por meio de pontos dados, as
relações entre circunferências, as cordas e suas propriedades, os arcos e
90
ângulos da circunferência e, os polígonos inscritos na circunferência. Nas
demonstrações, o autor ainda utiliza a geometria euclidiana.
Nessa parte, o autor propõe um número muito grande de exercícios aos
alunos, nos mesmos moldes dos exercícios encontrados nas partes anteriores
do capítulo (exercícios de fixação, de aplicação e testes de atenção).
No apêndice desse volume, é proposto um estudo sobre as
transformações geométricas, principal conteúdo de geometria no ginasial
segundo as idéias do Movimento da Matemática Moderna e de seus
idealizadores.
Com relação ao tópico das Transformações Geométricas constar
apenas no apêndice, Miorim (2005) faz o seguinte comentário:
[...] o livro apresenta um apêndice sobre geometria, intitulado
‘Transformações geométricas planas’. Isso é um indicativo de
que o autor não parece ter se sentido à vontade para incorporar
as discussões mais teóricas acerca das transformações
geométricas no corpo do texto (MIORIM, 2005, p. 13).
Pode-se conjecturar que sendo a coleção do professor Osvaldo
Sangiorgi a primeira no Brasil a adotar as propostas do Movimento da
Matemática Moderna, talvez o autor não tenha se sentido à vontade para
colocar esse estudo no corpo do texto, por ser pouco conhecido pelos
professores.
Nesse apêndice, Sangiorgi trata as transformações geométricas por
meio das translações, das rotações e da simetria.
91
No Grupo das translações o autor chama de segmento orientado, o que
é conhecido de vetor, e traz a seguinte definição:
Seja o segmento
'
___
AA
, determinado pelos pontos A e A’ da reta
r:
O segmento AA’ diz-se orientado quando se fixa um dos dois
sentidos com que se pode percorrê-lo: de A para A’, ou o seu
oposto: de A’ para A.
Tais sentidos serão assinalados por setas e o segmento
orientado de A para A’ terá a seguinte indicação:
'
AA
.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 301)
O autor também apresenta a translação no plano e a translação de
figuras planas. Quanto à translação de figuras planas, Sangiorgi apresenta um
triângulo ABC e um segmento orientado
'
XX
e solicita a translação desse
triângulo segundo esse segmento e, diz:
[...] Basta traçar pelos seus vértice, respectivamente, os
segmentos paralelos e congruentes ao segmento orientado
'
XX
.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 303)
A solução desse problema é apresentada na figura abaixo.
92
Fig. 1.6 – Translação.
No grupo das rotações, o autor “explica” o que vem a ser rotação,
destacando que precisa de um ponto para rotacionar alguma figura em torno
desse ponto. Trabalha a rotação de figura em torno de um ponto e os arcos co-
terminais.
Com relação à rotação de uma figura em torno de um ponto, Sangiorgi
mostra um exemplo e diz que transformar um triângulo ABC em um triângulo
A’B’C’, por meio de uma rotação:
[...] é efetuar a rotação, de centro O e amplitude W, que
transforma os vértices A, B e C, respectivamente, nos vértices
A’, B’ e C’ (SANGIORGI, 1971,v. 3, p. 307).
Podemos visualizar a resolução desse exemplo na figura abaixo.
93
Fig. 1.7 - Rotação
Na parte de simetrias, Sangiorgi mostra, através de exemplos, a simetria
axial, utilizando para isto um exemplo com ponto e outro com uma figura plana
(quadrilátero) e a simetria central.
O autor “define” simetria central como:
A transformação no plano que a cada ponto faz corresponder o
seu simétrico, com relação a uma reta, é denominada
SIMETRIA AXIAL. (SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 310).
A seguir, mostramos um exemplo encontrado em sua obra.
94
Fig. 1.8 – Simetria Axial
Na figura acima, temos o quadrilátero MNPQ e seu simétrico M’N’P’Q’
com relação ao eixo de simetria r.
Com relação à simetria central, Sangiorgi “define”:
A transformação no plano que a cada ponto faz corresponder o
seu simétrico, com relação a um centro fixo O, é denominada
SIMETRIA CENTRAL. (SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 311).
Após essa definição apresenta o exemplo ilustrado abaixo, relacionando
o segmento
MN
___
e seu simétrico
'
'
___
NM
, o triângulo ABC e seu simétrico A’B’C’,
com relação ao centro de simetria O.
95
Fig. 1.9 – Simetria Central
Depois desse exemplo, Sangiorgi apresenta uma “nota” informando: “A
simetria central é uma rotação especial (R
180º
) em torno do centro O”.
Também apresenta um exemplo prático que mostramos a seguir.
Qual é o menor caminho que uma bolinha A tem de percorrer
para bater numa bolinha B, tocando uma só vez num dos
lados de uma mesa, como mostra a figura? Basta:
1º) construir A’ simétrico de A, em relação ao lado l da mesa.
2º) determinar a intersecção de A’B com l, isto é:
}{
Cl
BA
=
'
___
O ponto C, no lado l da mesa, é onde a bolinha deve tocar
para, a seguir, bater em B, percorrendo o menor caminho.
(SANGIORGI, 1971, v. 3, p. 311)
96
Feito o estudo das transformações geométricas o apresentados ao
estudante alguns exercícios, denominados pelo autor como “testes de
atenção”. Ao todo, podemos contar dez exercícios, nos quais o estudante
aplica o que foi verificado nos exemplos dado no texto e alguns ainda
apresentam modelos de resolução.
Como podemos constatar o tema Transformações Geométricas o
ganhou muito destaque na obra de Sangiorgi, por ser apresentado no
apêndice. Quanto à inclusão desse conteúdo como apêndice, Sangiorgi tem a
seguinte justificativa:
é possível que, se a exploração da matéria da Série
Ginasial consumir todo o tempo disponível, o importante
estudo das Transformações Geométricas seja deixado para a
série. Daí o fato de constar no Apêndice. (SANGIORGI,
1967, p.76 apud LEME DA SILVA, 2007, p. 13).
Passemos à análise do quarto volume desta coleção.
No prefácio desse volume, Sangiorgi novamente apresenta uma carta
destinada ao aluno e relata sobre o fato de esse aluno estar entre os primeiros
jovens do Brasil que irão completar o curso ginasial sob a perspectiva das
estruturas da Matemática Moderna:
97
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição.
98
Os conteúdos de Geometria, nesse volume, aparecem no terceiro (e
ultimo) capítulo que é divido em quatro partes sob os seguintes tópicos:
Capítulo 3 – Semelhança
1ª Parte – Razão e proporção de segmento;
– Feixe de paralelas; Teorema de Tales
2ª Parte – Semelhança como correspondência;
– Semelhança de triângulos e de polígonos;
– Semilitude Central ou Homotetia;
– Razões trigonométricas de ângulos agudos;
3ª Parte – Relações métricas no triângulo retângulo;
– Teorema de Pitágoras;
– Práticas usuais;
– Projeção ortogonal
– Relações métricas num triângulo qualquer;
– Relações métricas no circulo.
4ª Parte – Polígonos regulares;
– Relações métricas nos polígonos regulares;
– Medida da circunferência;
– Cálculo de
π
99
Na primeira parte desse capítulo, o autor trabalha a razão e proporção
de segmentos, feixe de retas paralelas para, posteriormente, tratar do teorema
de Tales, que ele apresenta assim:
Um feixe de retas paralelas determina sôbre duas transversais
segmentos proporcionais (SANGIORGI, 1968, V. 4, p.146)
Na sequêcia ele traz a seguinte demonstração:
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 146 – 147.
100
101
Seguem-se exercícios de fixação e testes e atenção sobre o conteúdo
abordado nessa primeira parte, com a mesma dinâmica dos exercícios
propostos no Volume 3 de sua coleção: os exercícios de fixação são propostos
para a aplicação do conceito estudado e os testes de atenção são exercícios,
ou problemas, com um grau de dificuldade maior, geralmente envolvendo
aplicações ao “mundo real”.
Depois desses exercícios, o autor aborda o Teorema de Tales no
triângulo e propõe alguns problemas que envolvem a utilização desse Teorema
(conforme ilustração a seguir).
102
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 150 – 151.
103
104
Na parte do capítulo, o autor inicia o trabalho pelo estudo da
semelhança entre figuras geométricas para depois iniciar o pico de
semelhança de triângulos.
Com relação à semelhança de triângulos, o autor apresenta o Teorema
fundamental sobre triângulos semelhantes e os três casos de semelhança de
triângulos, conforme podemos ver:
105
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 159 – 162.
106
107
108
Na sequência, é apresentada uma bateria de exercícios para que o
aluno resolva e em alguns desses exercícios é solicitado que o aluno “prove”
algo, identificando “hipótese”, “tese”, conforme apresentado em exemplos pelo
autor.
109
Ainda nessa parte, o autor aborda a similitude central ou homotetia. É
uma abordagem bem sucinta, como podemos ver a seguir. Com relação aos
exercícios que abordam este pico, o autor propõe apenas dois seguindo o
mesmo modelo dos exemplos dados.
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 169 – 171.
110
111
112
Depois desse tópico, a obra traz as razões trigonométricas no triângulo
retângulo, trabalhando com o seno, o cosseno e a tangente do ângulo. São
propostos vários exercícios de fixação e atenção, nesses últimos, mais uma
vez o autor relaciona o mundo “real”, vivido pelo aluno, apresentado várias
ilustrações.
Na terceira parte do capítulo, o autor trabalha as relações tricas no
triângulo retângulo incluindo o Teorema de Pitágoras nessa abordagem. O
autor apresenta as relações e logo depois as demonstra, conforme podemos
ver a seguir.
113
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 183 – 186.
114
115
116
Na sequência, o autor trabalha a projeção ortogonal, as relações
métricas num triângulo qualquer e as relações métricas no círculo. Com relação
ao ultimo tópico explora a relação de corda com corda (1ª relação), secante
com secante (2ª relação) e secante com tangente (3ª relação), conforme
páginas a seguir.
117
Fac-símile do livro Matemática Curso Moderno, de Sangiorgi, V. 4.
Companhia Editora Nacional. São Paulo. 1968 – 2ª Edição, pp. 199 – 200.
118
119
Nesses tópicos, a obra traz exercícios de fixação, exercícios de
aplicação, testes de atenção e problemas exploratórios sobre as relações
métricas no círculo.
Na quarta parte do capítulo, o autor trabalha os polígonos regulares, a
medida da circunferência e o cálculo de
π
. Com relação aos polígonos
regulares, é explorada a inscrição e a circunscrição de polígonos na
circunferência, os elementos principais de um polígono regular, com destaque
aos ângulos desses polígonos e a relação dos lados desses com sua
construção dos mesmos. No tópico de medida da circunferência, Sangiorgi
trabalha com a medida do raio e do diâmetro da circunferência e a relação
entre eles.
Nesse volume, a obra contempla em seu apêndice as áreas de regiões
planas e mapas topológicos. Com relação ao tópico de áreas, o autor
apresenta a figura de um lado e a “fórmula” de sua área do outro, mas não
apresenta demonstrações dessas fórmulas.
120
1.7. Os Guias Curriculares e a Coleção de Osvaldo
Sangiorgi.
Comparando os Guias Curriculares com a coleção Matemática Curso
Moderno, podemos perceber que os conteúdos que o documento oficial traz
são trabalhados na obra de Sangiorgi, mesmo que em ordem ou séries
diferentes. Enquanto o Guia é propõe um trabalho com a Geometria desde a 5ª
série, a coleção de Sangiorgi inicia o estudo da Geometria apenas no volume
3, destinado a 3ª série ginasial ( atual 7ª série).
As demonstrações de teoremas presentes na obra podem ser
compreendidas como uma atenção ao quesito de “rigor” mesmo que a
linguagem adotada estivesse muito distante da possibilidade de compreensão
de alunos dessa faixa etária.
Percebemos que o Guia enfatiza o uso da linguagem dos conjuntos e a
questão do trabalho com as transformações geométricas. Na coleção
analisada, notamos o uso da linguagem dos conjuntos até o final do terceiro
capítulo do volume 3 – e com relação ao trabalho com as transformações
geométricas, como mencionamos, Sangiorgi o apresenta apenas no
apêndice do terceiro volume, trabalhando as simetrias e rotações, e no quarto
volume em que trabalha a homotetia, mas sem grande ênfase.
Tanto a coleção de Sangiorgi como os Guias Curriculares se apoiavam
nas orientações do Movimento da Matemática Moderna veiculadas por obras
como do SMSG.
121
Retomando os modelos teóricos de referência que foram
apresentados, consideramos que tanto nos guias como na coleção didática de
Sangiogi, predomina Modelo Euclidianista, segundo o qual todo o
conhecimento pode deduzir-se de um conjunto finito de proposições
verdadeiras (os axiomas), cujas regras gicas de dedução permitem chegar
destes ao teorema.
122
Capítulo 2
Capítulo 2Capítulo 2
Capítulo 2
O ensino de
O ensino de O ensino de
O ensino de Geometria
Geometria Geometria
Geometria após
após após
após o Movimento da
o Movimento da o Movimento da
o Movimento da
Matemática Moderna
Matemática ModernaMatemática Moderna
Matemática Moderna (1980
(1980 (1980
(1980
1998)
1998) 1998)
1998)
Esse período é marcado por preocupações que integravam o quadro
mundial e bem diferentes das do tempo da corrida espacial, em que se inseria
o Movimento da Matemática Moderna (PIRES, 2000). Buscava-se uma
transformação dos modelos de desenvolvimento, de educação, de civilização.
Segundo Pires (2000), a humanidade parecia começar a tomar
consciência da iminência do desastre planetário, da explosão demográfica, da
redução dos recursos naturais. Com isso, surgiram novos paradigmas, o que,
conseqüentemente, trouxeram novos desafios à educação, em especial, ao
ensino da Matemática.
Nessas décadas de 80 e 90, vários países realizaram reformas e as
implementaram. No Brasil isto também ocorreu.
Em nossa pesquisa, para esse momento, analisaremos as Propostas
Curriculares do Estado de São Paulo
15
.
15 O documento que analisamos é o da 4ª edição, publicado em 1992.
123
2.1. A Proposta Curricular do Estado de São Paulo.
Em 1985, a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo iniciou a
elaboração das Propostas Curriculares para o ensino de e graus
16
. Nos
documentos percebe-se que a construção da proposta foi precedida de
reflexões sobre o papel da Matemática no currículo e sobre problemas
identificados em seu ensino, em decorrência de algumas práticas relacionadas
ao Movimento da Matemática Moderna. O documento apresentava uma análise
crítica dos Guias Curriculares (PIRES, 2000).
Para a elaboração dessas Propostas reuniram-se a Equipe de
Matemática da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas CENP,
professores da rede estadual, monitores de Matemática e docentes da USP,
UNICAMP e UNESP.
No prefácio dessas Propostas, são apresentados os problemas relativos
ao ensino da Matemática que deram origem a elaboração desse documento:
a preocupação excessiva com o treino de habilidades com a
mecanização de algoritmos, com a memorização de regras e
esquemas de resolução de problemas, com a repetição e
imitação e não com uma aprendizagem que se dê, inicialmente,
pela compreensão de conceitos e de propriedades, pela
exploração de situações-problema nas quais o aluno é levado a
exercitar sua criatividade, sua intuição;
a priorização dos temas algébricos e a redução ou, muitas
vezes, eliminação de um trabalho envolvendo tópicos de
Geometria;
a tentativa de se exigir do aluno uma formalização precoce e
um nível de abstração em desacordo com o seu
16 Atuais Ensino Fundamental (antigo 1º grau) e Ensino Médio (antigo 2º grau).
124
amadurecimento (PROPOSTA CURRICULAR PARA O ENSINO
DE MATEMÁTICA 1º GRAU, 1992, p. 7).
O documento apresenta os conteúdos em diferentes níveis de
abordagem, respeitando a integração dos temas a serem abordados e, o seu
desenvolvimento se dá “em espiral”, justificando-se que:
Desse modo, uma mesma noção deverá ser retomada em
diferentes ocasiões, que sejam convenientes, de modo a
permitir sua elaboração e reelaboração por parte do estudante,
desde um primeiro contato, em que ele capta intuitivamente as
idéias básicas e as aplica em situações-problema, até a fase em
que é utilizado o pensamento lógico-dedutivo, permitindo uma
progressiva formalização e sistematização do conceito enfocado
(PROPOSTA CURRICULAR PARA O ENSINO DE
MATEMÁTICA 1º GRAU, 1992, p. 8).
As concepções que nortearam a realização desse trabalho foram: o
lugar da Matemática no currículo; os conteúdos e a abordagem; a Matemática
e a linguagem; a extensão dos programas; o papel da avaliação; e a
estruturação da proposta.
Os conteúdos matemáticos nessa proposta estão divididos em três
grandes temas: Números, Geometria e Medidas. Por meio deles pretendia-se
atingir as grandes metas para o ensino da Matemática na escola básica: as
aplicações práticas e o desenvolvimento do raciocínio lógico (Proposta
Curricular para o ensino de Matemática 1º grau, 1992).
Com relação à Geometria, documento sugeria partir da manipulação de
objetos, do reconhecimento das formas mais freqüentes, de sua caracterização
através das propriedades, da passagem de relações entre objetos para o
encadeamento de propriedades para, somente ao final do percurso, aproximar-
125
se de uma sistematização (Proposta Curricular para o ensino de Matemática
grau, 1992).
2.1.1 O tema Geometria na Proposta Curricular
Antes de iniciarmos com os assuntos de Geometria para cada série, vale
ressaltar que esse documento traz as metas / objetivos a serem alcançados em
cadarie, apresentando sugestões de distribuição, detalhamento e integração
dos temas.
O tema de “Medidas”, segundo o documento, é uma junção entre os
temas de Números e Geometria. Em nossa pesquisa, focaremos apenas o
tema de Geometria.
Os objetivos da 5ª Série indicam que se espera que o aluno:
Tenha noções de reta, semi-reta e segmento de reta.
Identifique retas paralelas, retas concorrentes e retas reversas.
Identifique altura de triângulos, paralelogramos e trapézios.
Conheça os elementos de uma circunferência e de uma
superfície esférica.
Divida a circunferência utilizando dobraduras, compasso ou
transferidor em 2, 3, 4, 6, 8 arcos iguais.
Determine a porcentagem que cada uma das partes da
circunferência representa em relação à circunferência.
(Pro
posta Curricular par o ensino de Matemática 1º grau, 1992, p. 74):
126
Nesses objetivos podemos notar a presença do experimentalismo,
quando é sugerida a utilização de dobraduras, compasso ou transferidor na
divisão da circunferência. Além disso, o documento sugere ao professor que os
alunos trabalhem com anéis, cortes em cartolina, massas de modelar, cilindros,
cones, bolinhas de pingue-pongue, bolinhas de isopor, materiais manipuláveis
de forma geral, ao trabalhar o conceito de circunferência, circulo e esfera, bem
como suas relações. Também é proposta a utilização do compasso na
construção da figuras.
Os objetivos da 6ª Série indicam que se espera que o aluno:
Desenvolva a noção de ângulo e de ângulo central através de
experimentações e construções
Identifique a posição de dois segmentos perpendiculares com
o fato de eles formarem um ângulo de 90º, bem como,
reconheça e nomeie pares de segmentos perpendiculares
existentes em configurações planas e de pares de arestas
perpendiculares existentes em configurações espaciais.
Identifique o perpendicularismo entre retas e planos
experimentalmente e inferido que uma reta é perpendicular a
um plano A, quando for perpendicular a qualquer reta contida
nesse plano e que passa pelo ponto A.
Identifique por meio de medição, que os pontos de bissetriz de
um ângulo eqüidistam dos lados do mesmo e trace bissetrizes
de ângulos, utilizando régua e compasso.
Reconheça os ângulos formados por retas coplanares cortadas
por uma transversal e estabeleça as relações de igualdade e de
suplementaridade nos casos em que as retas coplanares são
paralelas.
Desenvolva a noção de polígono e faça construções de
polígonos regulares com auxílio de régua, compasso e
transferidor.
127
Verifique experimentalmente os teoremas relativos à soma das
medidas dos ângulos internos de um pogono convexo.
(Proposta Curricular para o ensino de Matemática 1º grau, 1992, p. 94):
Nesses objetivos podemos notar o forte apelo ao experimentalismo.
Diversas vezes o documento sugere o uso de dobraduras, como por exemplo,
para se trabalhar o conceito de ângulo na circunferência e a identificação da
bissetriz de um ângulo. Também sugere a utilização de materiais do cotidiano
do aluno como por exemplo a utilização de varetas ou canudos de refrigerante
para visualizar o perpendicularismo entre retas.
A seguir, podemos ver as sugestões que esse documento traz para
trabalhar a soma das medidas dos ângulos internos de um polígono convexo e
a noção de polígono regular.
128
Fac-símile da Proposta Curricular para o Ensino de Matemática Grau.
São Paulo. 1992, pp. 107 – 109.
129
130
131
Os objetivos da 7ª Série indicam que se espera que o aluno:
Identifique as diagonais de um polígono e determine o número
de diagonais de um polígono qualquer.
Verifique utilizando dobraduras, régua e compasso as
propriedades das diagonais de um paralelogramo.
Verifique experimentalmente o teorema de Pitágoras e o
demonstre através de áreas.
Construa triângulos com régua e compasso, conhecendo-se as
medidas dos três lados.
Verifique experimentalmente a propriedade da desigualdade
triangular.
Tenha disponível o conceito de congruência e, em particular,
de triângulos congruentes.
Reconheça os casos de congruência na resolução de
situações-problema.
Identifique e aplique as propriedades e relações de triângulos
isósceles e equiláteros.
Identifique quadriláteros, seus elementos e propriedades e
classifique-os.
Identifique mediana e mediatriz de um triângulo.
Construa com régua e compasso o baricentro, o circuncentro,
o incentro e o ortocentro de um triângulo.
Aplique os casos de congruência de triângulos na
demonstração das principais propriedades relativas a triângulos
e quadriláteros.
(Proposta Curricular para o ensino de Matemática 1º grau, 1992, p. 128):
Novamente sugestão do uso de dobraduras para se visualizar as
diagonais de um paralelogramo e de suas propriedades; para determinação do
número de diagonais de um paralelogramo é sugerida a utilização de fios
132
coloridos numa prancha de madeira em que os vértices seriam marcados com
pregos; esse caráter experimental é sugerido também na utilização do
Teorema de Pitágoras.
Com relação ao Teorema de Pitágoras, a proposta traz alguns
problemas históricos que estão relacionados à história deste teorema. A seguir,
apresentamos um desses problemas, datado de 2600 a.C, contidos na
proposta:
“Um bambu de 32 côvados, erguendo-se verticalmente sobre
um terreno horizontal, é quebrado num certo ponto pela força do
vento. Sua extremidade vem tocar a terra a 16 côvados do seu
pé. Dize, matemático, a quantos côvados do ele se
quebrou?”
Relativamente à congruência de figuras planas é trabalhada a
congruência de triângulos, utilizando-se de construções fundamentais com
régua e compasso, trabalhando-se também a sobreposição de figuras.
Apresenta-se também a verificação experimental da desigualdade triangular,
do ponto médio e da mediatriz de um segmento, o circuncentro, o baricentro,
incentro e o ortocentro de um triângulo, a construção da bissetriz de um
triângulo. Algumas demonstrações das propriedades nos triângulos são
trabalhadas utilizando o raciocínio hipotético-dedutivo.
A seguir, mostraremos o trabalho que a proposta traz para o Teorema de
Pitágoras e a congruência de triângulos.
133
Fac-símile da Proposta Curricular para o Ensino de Matemática Grau.
São Paulo. 1992, pp. 138 – 140.
134
135
136
Os objetivos da 8ª Série indicam que se espera que o aluno:
Desenvolva a noção de semelhança de figuras planas e
verifique experimentalmente o teorema fundamental da
proporcionalidade e sua demonstração.
Demonstre o teorema de Tales e saiba aplicá-lo em situações-
problema.
Aplique o teorema fundamental da proporcionalidade na
verificação e demonstração dos casos de semelhanças em
triângulos.
Construa triângulos com régua e compasso, conhecendo-se as
medidas dos três lados.
Utilize os teoremas sobre semelhanças de triângulos para
demonstrar o teorema de Pitágoras.
Verifique experimentalmente as relações métricas nos
polígonos regulares e realize cálculos do lado e do apótema de
um polígono inscrito numa circunferência de raio dado.
(Proposta Curricular para o ensino de Matemática 1º grau, 1992, p. 152):
Para se trabalhar a noção de semelhança, o documento propõe a
comparação de fotografias, a ampliação e redução das fotografias, de figuras
planas, de polígonos, trabalho esse quefoi iniciado na quinta série. Também
é proposta uma verificação experimental e a demonstração do teorema sobre
proporcionalidade para, depois, trabalhar a demonstração do teorema de Tales.
Nesta rie, a proposta aborda, novamente, conceitos históricos sobre
os conteúdos estudados e, traz também, problemas clássicos.
Como ilustração, a seguir apresentamos a proposta para o Teorema de
Tales e semelhança de triângulos.
137
Fac-símile da Proposta Curricular para o Ensino de Matemática Grau.
São Paulo. 1992, pp. 155 – 157.
138
139
140
2.2 A análise da Coleção: A Conquista da Matemática.
Como representante deste momento, analisaremos a coleção de livros
didáticos intitulada “A conquista da Matemática” dos autores Giovanni,
Castrucci e Giovanni Jr, publicada pela Editora FTD e, como dissemos
anteriormente, o motivo da escolha dessa coleção refere-se ao fato de que ela
foi bastante adotada nas escolas da Rede de Ensino Público do Estado de São
Paulo. Todos os volumes aqui analisados foram publicados no ano de 1992.
2.2.1 Um breve relato dos autores.
2.2.1.1 José Ruy Giovanni
José Ruy Giovanni nasceu em 7 de março de 1937, em Rio Claro,
interior de São Paulo. É bacharel e licenciado em Matemática pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Por muitos anos foi professor
de Matemática em escolas públicas e particulares da cidade de São Paulo, pois
desde muito cedo percebeu que lecionar era sua verdadeira vocação. É autor
de livros didáticos de Matemática pela Editora FTD há cerca de 27 anos.
Mantém contato permanente com professores de todo o Brasil nesses anos
todos ministrando palestras e cursos.
17
17
Texto retirado na íntegra do site da editora F.T.D. S.A.
141
2.2.1.2 José Ruy Giovanni Júnior.
José Ruy Giovanni Júnior nasceu em 13 de dezembro de 1963, em Rio
Claro, interior de São Paulo, mas vive na capital desde 1985, onde cursou
Matemática na Universidade de São Paulo (USP) e leciona desde 1985.
Quando estudante, suas grandes paixões eram Matemática e História e seu
sonho era o de poder ensinar. Assim, a profissão de professor veio
naturalmente. A exemplo de seu pai, hoje seu grande companheiro de trabalho,
escreve livros didáticos de Matemática desde 1990, graças ao desejo de
compartilhar suas idéias e experiências. Atualmente, além do contato com os
alunos, viaja pelo Brasil ministrando palestras e cursos para professores,
conhecendo melhor a realidade da educação do país.
18
2.2.1.3 Benedito Castrucci.
Bacharel e licenciado em Ciências Matemáticas pela Universidade de
São Paulo (USP). Participante ativo do Grupo de Estudos de Ensino da
Matemática GEEM nas décadas de 60 e 70, época do Movimento da
Matemática Moderna. Ex-professor de Matemática da Pontifícia Universidade
Católica e da Universidade de São Paulo. Ex-professor de escolas blicas e
particulares de 1º e 2º graus. Faleceu em 1995.
18
Texto retirado na íntegra do site da editora F.T.D. S.A.
142
2.2.2 A Geometria na coleção: A conquista da
Matemática
Antes de iniciarmos o estudo sobre o tema da Geometria encontrado
nessa coleção apresentaremos a introdução que os autores colocam para cada
volume, destacado as aplicações da Matemática:
A Matemática es presente em nossas vidas, desde uma
simples contagem até o uso em complexos computadores;
Pode parecer, a principio, que alguns temas da Matemática não
têm aplicação imediata no mundo em que vivemos; isso pode
gerar em você um certo desapontamento. Na verdade, a
aplicação da Matemática no cotidiano ocorre como resultado do
desenvolvimento e do aprofundamento de certos conceitos nela
presentes. Veja na Economia, por exemplo, o cálculo de juros e
porcentagem; na Engenharia os cálculos trigonométricos.
Para entender a Matemática e suas aplicações o necessários
dedicação e estudo. Por esse motivo, ao escrever essa coleção,
procuramos apresentar a você as linhas mestras desse
processo em linguagem simples, sem fugir ao rigor que a
Matemática exige.
Os autores.
O estudo do tema de Geometria, destinado para a 5ª rie dessa
coleção, é encontrado em apenas uma unidade deste volume, que é a unidade
7, intitulada “Introdução à Geometria”.
Primeiramente, a unidade traz um texto abordando a história da
Geometria, conforme podemos ver abaixo:
143
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 5. Editora FTD. São Paulo. 1992, p. 194.
144
Nessa unidade são estudadas as noções da Geometria tais como:
ponto, reta, plano, figuras geométricas, posições relativas de duas retas num
plano, segmento de reta, medida de segmento, semi-reta, polígonos: convexos
e não convexos; nomenclatura dos polígonos, triângulos e quadriláteros.
Os exercícios encontrados nessa unidade são exercícios de fixação das
propriedades estudadas na mesma. A seguir, podemos ter uma noção dos
exercícios propostos nessa unidade para trabalhar os polígonos, os triângulos
e os quadriláteros.
145
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 5. Editora FTD. São Paulo. 1992, p. 213.
146
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 5. Editora FTD. São Paulo. 1992, p. 216.
147
No volume destinado à 6ª série do Ensino Fundamental, encontramos
duas unidades que abordam o tema de Geometria: “Estudando os ângulos”
(unidade 10) e “Triângulos e quadriláteros” (unidade 11).
Na unidade 10, que trata dos ângulos, encontramos uma análise sobre o
ângulo e seus elementos; a medida de um ângulo; operações com medidas de
ângulos; ângulos consecutivos e ângulos adjacentes; bissetriz de um ângulo;
ângulos complementares e ângulos suplementares e o estudo dos ângulos
opostos pelo vértice.
Para esta coleção, encontramos a seguinte definição de ângulo:
Denominamos ângulo a região convexa formada por duas semi-
retas o-opostas que têm a mesma origem (GIOVANNI et al,
1992, v. 6, p. 199).
Depois é trabalhada a medida de ângulos, a nomenclatura de alguns
ângulos, como o caso do ângulo nulo e do ângulo raso e a congruência entre
ângulos.
Os exercícios encontrados nessa parte trabalham com a nomenclatura
dos ângulos em figuras dadas, com a identificação de suas medidas e com a
utilização do transferidor.
Muitos exercícios usam cálculos algébricos para determinar a medida de
um ângulo desconhecido.
Ao referir-se à bissetriz de um ângulo, ou autores apresentam a seguinte
definição:
148
Bissetriz de um ângulo é a semi-reta de origem no vértice que
determina, com seus lados, dois ângulos adjacentes
congruentes (GIOVANNI et al, 1992, v. 6, p. 210).
Nesse trabalho com a bissetriz é apresentada uma seqüência para se
construir a bissetriz de um ângulo utilizando régua e compasso.
Os exercícios envolvendo o conceito de bissetriz encontrados nessa
coleção pedem ao aluno, com o uso do transferidor, que construa alguns
ângulos e em seguida encontre suas bissetrizes.
Para os ângulos complementares e ângulos suplementares a coleção
diz:
Dois ângulos são complementares quando a soma de suas
medidas é igual a 90º.
Dois ângulos são suplementares quando a soma de suas
medidas é igual a 180º (GIOVANNI et al, 1992, v. 6, p. 214).
Para o trabalho com os ângulos opostos pelo vértice (o.p.v) essa
coleção destaca uma “propriedade importante”:
Na figura ao lado, temos
que os ângulos
CA
O
^
e
CB
O
^
são opostos pelo
vértice.
Indicando por: x = med
(
CB
O
^
)
y = med (
DA
O
^
)
m = med (
BA
O
^
), temos:
A
m
O
C
D
B
x
y
149
1. Como
BA
O
^
e
DA
O
^
são
adjacentes suplementares:
m + y = 18
2. Como
BA
O
^
e
CB
O
^
são
adjacentes suplementares:
m + x = 18
3. Comparando 1 e 2:
xmym
180ºxm
180ºym
+=+
=+
=+
x = y
Assim podemos definir a propriedade:
Dois ângulos opostos pelo vértice são congruentes, ou seja,
possuem a mesma medida (GIOVANNI et al, 1992, v. 6, p. 218-
219).
Abordada essa propriedade, a coleção traz alguns exemplos de
aplicação.
Feito isso, a unidade é fechada com exercícios de revisão de todos os
pontos estudados. Nesses exercícios, notamos a aplicação de propriedades
estudadas nessa unidade e de algumas situações-problema envolvendo o
cotidiano desse aluno.
A seguir, podemos visualizar esses exercícios de revisão dos conteúdos
contidos na unidade.
m
y
m
x
150
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 6. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 220 – 221.
151
152
Na unidade 11, aborda-se o triângulo e seus elementos, como vértices,
lados e ângulos internos; a classificação dos triângulos com relação à medida
aos lados: eqüilátero, isósceles e escaleno; a classificação dos triângulos
quanto à medida dos ângulos: acutângulo, retângulo e obtusângulo; a soma
dos ângulos internos de um triângulo.
No trabalho para identificar que a soma das medidas dos ângulos
internos de um triângulo é igual a 180º, o texto mostra um triângulo em que as
“pontas” (os vértices) o recortadas e montadas, como um quebra-cabeça,
formando um ângulo raso (180º), logo depois coloca a seguinte “definição”:
Em qualquer triângulo, a soma das medidas dos ângulos
internos é igual a 180º (GIOVANNI et al, 1992, v. 6, p. 225).
O trabalho desenvolvido com os quadriláteros segue a mesma linha de
pensamento: o estudados os elementos dos quadriláteros: vértices, lados,
ângulos internos; é realizado um estudo dos quadriláteros, dando um foco
maior para o que os autores denominam “quadriláteros especiais”, tais como:
retângulo, losango, quadrado e trapézio, identificando-os como paralelogramos.
Vale ressaltar que muitos dos conceitos abordados nesta unidade foram
estudados no volume destinado a 5ª série dessa coleção.
Os exercícios abordados nessa unidade são apenas ligados à
conceituação e à aplicação das propriedades estudadas.
153
O volume destinado a série do Ensino Fundamental apresenta os
seguintes tópicos para o tema de Geometria:
Unidade 7 – Introdução à Geometria;
Unidade 8 Ângulos formados por duas retas paralelas
com uma transversal;
Unidade 9 – Polígonos;
Unidade 10 – Estudando os triângulos;
Unidade 11 – Estudando os quadriláteros;
Unidade 12 – Estudando a circunferência.
Na unidade 7, é realizada uma revisão dos conteúdos estudados pelo
aluno durante a e séries do Ensino Fundamental, como: reta; ponto;
ângulos; bissetriz de um ângulo e os demais conteúdos já mencionados.
O único tópico diferente dos que foram estudados é o caso do ponto
médio de um segmento, apresentado como o ponto que divide um segmento
em dois segmentos congruentes.
Na unidade 8 deste volume encontramos um estudo que parte da
conceituação de reta transversal e, na sequência, é realizado um trabalho com
os ângulos correspondentes; os ângulos alternos e os ângulos colaterais.
154
No início dessa unidade, com relação à reta transversal, encontramos o
seguinte texto:
No plano, toda reta que encontra duas outras em pontos
distintos é chamada
reta transversal.
Quando duas retas
interceptam uma transversal,
ficam determinados oito
ângulos com vértices nos
pontos de intersecção.
Indicaremos esses ângulos por
a, b, c, d, e, f, g e h
, como
mostra a figura ao lado
(GIOVANNI et al, 1992, v.7,
p. 148 – grifo nosso).
Os exercícios dessa unidade trabalham com a identificação dos ângulos
formados entre duas retas e uma transversal, nos quais é pedida a sua
nomenclatura, tais como: alternos (internos ou externos), colaterais (internos ou
externos) e correspondentes; também é trabalhada a medida do ângulo
utilizando-se muitos procedimentos algébricos, como podemos ver a seguir.
t
s
r
B
A
t
s
r
B
A
t
s
b
h
g
f
e
d
c
a
r
155
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 155 – 157.
156
157
158
Na unidade 9, temos um estudo dos Polígonos. Comparando com o
estudo realizado nas ries anteriores, podemos notar um maior
aprofundamento.
No início dessa unidade é abordado o estudo do polígono, convexo e
não convexo, e os elementos de um polígono como: lados, vértices, ângulos
internos e ângulos externos. Após isso, é realizada uma classificação dos
polígonos quanto ao número de lados: triângulo (3 lados), quadrilátero (4
lados), pentágono (5 lados) etc..
Realizada essa introdução sobre pogonos, o texto começa a abordar
perímetro, diagonais de um polígono (definidas como “o segmento que une
dois vértices não-consecutivos do polígono”), chegando ao cálculo do número
de diagonais de um polígono, em que é realizada a contagem desse número de
diagonais até se chegar a generalização da fórmula para um polígono de n
lados, conforme segue:
[...]
Pelo que foi mostrado, de um vértice de um polígono partem
diagonais para todos os vértices menos para 3 deles: o próprio
vértice e os dois consecutivos a ele.
Assim, em um polígono de
n
lados (ou vértices), de cada vértice
partem (
n
3) diagonais. Como são n vértices, o número total
de diagonais seria
n
.(
n
3). Porém, por este raciocínio
estaríamos contando cada diagonal duas vezes, temos então
que calcular a metade de
n
.(
n
3). No polígono abaixo,
indicamos por d o número de diagonais:
• número de lados (ou vértices)
n
• diagonais partindo de A
n – 3
n.(n – 3)
159
• como
____________
DAAD,CAAC
etc.
d =
2
3)(nn
Portanto:
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 163).
Realizado esse estudo, a unidade inicia a abordagem dos ângulos de
um polígono.
Primeiramente é realizado um estudo da soma das medidas dos ângulos
internos do triângulo, por meio de recortes dos vértices de um triângulo
qualquer e, utilizando o estudo das retas paralelas cortadas por uma
transversal, chega à conclusão de que em qualquer triângulo, a soma das
medidas de seus ângulos internos é igual a 180º.
Feito isso, dá-se início a um estudo da soma das medidas de um
polígono qualquer, com a sugestão de decompor esse polígono em triângulos.
São apresentados alguns polígonos e realizada a decomposição desses em
triângulos, destacando-se o número de lados de cada polígono estudado, até
que se chegue a generalização da soma das medidas dos ângulos internos
para um polígono de n lados, conforme vemos a seguir.
2
3)(nn
d
=
C
B
A
D
G
F
E
160
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 269 – 170.
161
162
O mesmo procedimento é realizado para se chegar à soma das medidas
dos ângulos externos de um polígono qualquer, enunciando a seguinte
propriedade:
A soma das medidas dos ângulos externos de qualquer polígono
é igual a 360º (GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 171).
Feito esse estudo, o texto aborda a questão da medida dos ângulos de
um polígono regular, lembrando ao aluno que polígono regular é aquele em
que todos os lados são congruentes entre si e os ângulos internos são
congruentes entre si, e que, portanto, os ângulos externos também serão.
Chegando, assim:
n
1802)(n
a
i
=
e
n
1802)(n
a
e
=
Em que: a
i
medida de cada ângulo interno de um polígono regular;
a
e
medida de cada ângulo externo de um polígono regular.
No final desta unidade são apresentados exercícios de revisão de todo o
conteúdo abordado na mesma, conforme podemos ver:
163
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 174 – 175.
164
165
O estudo dos triângulos, realizado na unidade 10, como o próprio texto
de abertura nos diz, é “um estudo mais a fundo das propriedades e relações e
relações” existentes nos triângulos.
Inicialmente é realizada a abordagem dos elementos de um triângulo:
vértices, lados, ângulos internos e ângulos externos e também é realizado o
estudo sobre a condição de existência de um triângulo. Para esse ultimo tópico,
o livro traz alguns exemplos de construção de triângulos, nos quais são dadas
as medidas dos seus lados, utilizando como instrumento de construção o
compasso. Feito essas construções, é possível chegar a seguinte conclusão:
Em qualquer triângulo, a medida de um lado deve ser sempre
menor
que a soma das medidas dos outros dois lados
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 171).
Seguindo esse estudo, a unidade traz a classificação dos triângulos
quanto a relação das medidas dos lados: eqüiláteros (todos os lados
congruentes), isósceles (dois lados são congruentes) e escaleno (todos os
lados com medidas diferentes); e com relação a seus ângulos: acutângulo, em
que os três ângulos são agudos; retângulo, em que um dos ângulos é reto
(90º); e obtusângulo, quando um dos ângulos é obtuso, medindo mais que 90º.
Após isso, são realizados estudos da altura, mediana e bissetriz de um
triângulo.
O texto “coloca” a altura como sendo o “segmento que une o vértice ao
lado oposto, formando um ângulo de 90º entre o segmento e o lado oposto”;
para mediana, coloca como sendo “o segmento que une um vértice ao ponto
166
médio do lado oposto e, bissetriz de um triângulo como sendo “o segmento que
une um vértice ao lado oposto, dividindo o ângulo desse vértice em dois
ângulos de mesma medida”.
Com relação aos pontos notáveis, encontramos nessa unidade:
Todo triângulo possui três alturas,
que se encontram em um único
ponto denominado ortocentro
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p.
185).
Todo triângulo possui três
medianas, que se encontram
em um único ponto
denominado baricentro
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p.
186)
Todo triângulo possui três
bissetrizes, que se encontram
em um único ponto
denominado baricentro
(GIOVANNI et al, 1992, v.7,
p. 186)
Realizado o estudo dos elementos de um triângulo, a unidade passa a
abordar a congruência de triângulos. Primeiramente é realizada uma revisão
dos conceitos de figuras congruentes para depois especificar os triângulos.
C
B
A
H
H''
H'
O
C
B
A
M
M''
M'
G
C
B
A
S
S''
S'
I
167
O texto mostra a seguinte “definição” para dois triângulos serem
congruentes:
Dois triângulos são congruentes quando eles têm os lados
respectivamente congruentes e os ângulos respectivamente
congruentes (GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 189).
Depois de realizada essa abordagem, a unidade inicia o estudo dos
casos de congruência de triângulos, conforme podemos ver nas páginas
seguintes.
168
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 189 – 192.
169
170
171
Nos exercícios de revisão propostos para o fechamento dessa unidade,
encontramos problemas que abordam os conteúdos estudados na mesma.
Nessa parte, encontramos exercícios de conceituação, exercícios que exigem
dos alunos os procedimentos encontrados nos exemplos abordados na
unidade exercícios de “provas”, relacionando os casos de congruência, nos
quais é pedido que o aluno prove que um triângulo é congruente a um outro,
dados algumas medidas e, exercícios que relacionam o estudo da álgebra, em
que é pedido para o aluno determinar a medida de um ângulo ou de um lado
quando estes são desconhecidos.
172
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, p. 197.
173
Na unidade 11 desse volume são estudados os quadriláteros.
Inicialmente a unidade realiza uma revisão de todos os conceitos
estudados nas séries anteriores, como: vértices, lados e diagonais de um
quadrilátero e os ângulos internos.
Feita esta abordagem inicial, o texto inicia o estudo dos paralelogramos,
no qual encontramos a seguinte “definição”:
Todo quadrilátero que têm os lados opostos paralelos é
denominado paralelogramo (GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 201).
Ressalta algumas propriedades dos paralelogramos, tais como: ângulos
opostos e lados opostos congruentes e as diagonais contam-se ao meio,
destacando que alguns paralelogramos recebem nomes especiais: quadrado,
retângulo e losango (ou rombo).
Com relação ao quadrado, o texto o “define” como sendo o
“paralelogramo que tem os quatro lados congruentes e os quatro ângulos
congruentes (retos)”, sendo o único paralelogramo em que:
[...] suas diagonais são congruentes, são perpendiculares entre
si e são bissetrizes dos ângulos internos.
______
______
BD_|_AC
CAAC
é bissetriz de
^
A
e de
^
C
.
C
B
A
M
D
174
___
BD
é bissetriz de
^
B
e de
^
D
.
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 205).
Realizado o estudo dos paralelogramos, o texto passa a abordar os
trapézios, “definindo-os” como:
Todo quadrilátero que tem apenas dois lados paralelos
denomina-se trapézio (GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 207).
Nessa parte, é realizado um estudo sobre as bases e altura de um
trapézio; o estudo dos “trapézios especiais”: o retângulo e o isósceles,
destacando, nesse ultimo, duas propriedades: os ângulos da base são
congruentes e as diagonais também.
Nessa unidade são encontrados vários exercícios no decorrer do
tratamento que é dado para cada tópico, assim como nas anteriores. A maioria
desses exercícios trabalha com a conceituação estudada em cada tópico. Aqui
abordaremos os exercícios de fechamento da unidade, em que o volume os
trata como “questões propostas para revisão”.
Nesses exercícios de revisão, alguns nos chamam a atenção quando
pedem ao aluno para concluir “algo” a partir dos conceitos estudados. Nessa
seção são apresentados muitos exercícios que envolvem os casos de
congruência de triângulos, em que é pedido para o aluno “provar”, iniciando-o
assim na demonstração matemática.
175
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 210 – 211.
176
177
A unidade 12, ultima desse volume, trata da circunferência e do circulo.
Inicialmente são revisados os conceitos de circunferência e de seus
elementos: raio, diâmetro, corda. Após essa revisão são aplicados alguns
exercícios de fixação desses conceitos.
A partir daí, o texto aborda as propriedades numa circunferência, tais
como: “todo diâmetro perpendicular a uma corda passa pelo ponto médio
dessa corda” e “a mediatriz de uma corda passa pelo centro de uma
circunferência”.
Depois é realizado o estudo dos pontos internos e externos de uma
circunferência e de um circulo, no qual, esse ultimo, é definido como sendo a
“reunião da circunferência com a sua região interna; as posições relativas de
uma reta e uma circunferência, em que destacamos uma propriedade
importante:
A figura ao lado nos mostra que,
de um ponto P exterior, estamos
traçando dois segmentos, PA e
PB, tangentes à circunferência.
Se considerarmos os triângulos retângulos OAP e OBP,
podemos afirmar que são
congruentes
, pois têm a hipotenusa
(OP nos dois triângulos) e um cateto (AO no
OAP e OB no
OBP), respectivamente, congruentes.
Sendo
OAP
OBP, então PA
PB..
Daí, a seguinte propriedade:
Se de um ponto P, exterior a uma circunferência, traçamos os
segmentos PA e PB, tangentes à circunferência nos pontos A e
P
B
A
O
178
B, então os segmentos PA e PB são congruentes (GIOVANNI et
al, 1992, v.7, p. 219).
Continuando, são trabalhados os arcos de circunferência, o ângulo
central; o texto apresenta ângulo central como “qualquer ângulo que tenha o
vértice no centro da circunferência”; para ângulo inscrito, ressalta:
A medida do ângulo inscrito é igual à metade da medida do arco
determinado por seus lados na circunferência (GIOVANNI et al,
1992, v.7, p. 228).
O último estudo realizado nesta unidade refere-se a ângulos cujos
vértices não pertencem à circunferência; destacamos a seguinte
“demonstração”:
O vértice é um ponto interno distinto do
centro.
Como x é a medida de um ângulo externo
ao triângulo APD, temos:
x = a + b
Observando que:
podemos também escrever:
O vértice é um ponto externo.
P
B
A
O
a
D
x
b
C
179
P
B
A
O
a
D
x
b
C
Como a é a medida de um ângulo externo ao triângulo APC,
temos:
a = x + b
x = a – b
Observando que:
podemos também escrever:
(GIOVANNI et al, 1992, v.7, p. 231).
Após essa abordagem são apresentados alguns exemplos de aplicação
e propostos alguns exercícios de fixação.
No final dessa unidade, novamente o apresentados exercícios de
revisão do conteúdo estudado.
180
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 7. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 232 – 233.
181
182
O volume destinado à série do Ensino Fundamental apresenta os
seguintes tópicos relacionados ao tema de Geometria:
Unidade 7 – Segmentos proporcionais;
Unidade 8 – Semelhança;
Unidade 9 – O triângulo retângulo: relações métricas;
Unidade 10 – Relações trigonométricas no triângulo;
Unidade 11 – Circunferência e circulo: relações métricas;
Unidade 12 Estudando as áreas das figuras
geométricas planas.
Na unidade 7 desse volume, encontramos o estudo sobre segmentos
proporcionais. Inicialmente, realiza-se uma revisão sobre razão e proporção,
partindo para a razão de segmentos e segmentos proporcionais.
Feita essa abordagem, a unidade passa a realizar um estudo sobre feixe
de retas paralelas cortado por uma reta transversal e suas propriedades, no
qual diz:
Se um feixe de retas paralelas determina segmentos
congruentes sobre uma transversal, também determina
segmentos congruentes sobre qualquer outra transversal
(GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 143).
Após esse estudo, é apresentado o Teorema de Tales, em que a
unidade o enuncia: “Um feixe de retas paralelas determina em duas retas
transversais segmentos proporcionais”. A seguir, mostraremos um exemplo de
aplicação do teorema de Tales encontrado nesse volume.
183
Na figura ao lado, determinar a medida y, sabendo-se que a || b
|| c.
Resolução:
Pelo teorema de Tales,
temos:
3
22
=
+
y
y
y
=
+
2)y(y2)3(y propriedade fundamental das proporções
2yy63y
2
=+
062y3yy
2
=+++
065yy
2
=++
= 065yy
2
equação do 2º. grau
4924256)((1)4(-5)
2
=+==
2
75
2
49(-5)-
y
±
=
±
=
-1'y'6y'
=
=
Como y =1 não serve, pois não existe medida negativa, então
y = 6 (GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 146).
Enunciado o teorema de Tales, a unidade inicia uma abordagem sobre a
aplicação desse teorema nos triângulos, destacando o teorema da bissetriz
interna de um triângulo.
A seguir, podemos ver os exercícios de revisão dos conteúdos
abordados nessa unidade.
y + 2
a
c
b
y - 2
y
3
184
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 154 – 155.
185
186
Na unidade 8, a coleção trata de semelhança. Inicialmente é feita uma
revisão dos conceitos abordados nas séries anteriores sobre esse conteúdo,
tais como: figuras semelhantes e polígonos semelhantes, estudando as
propriedades dos mesmos.
Feita essa revisão, a unidade inicia o estudo de semelhança entre
triângulos, no qual diz:
[...] dois triângulos são semelhantes quando têm:
• os ângulos respectivamente congruentes
ou
os lados correspondentes proporcionais (GIOVANNI et al,
1992, v.8, p. 166).
A seguir, mostraremos um exemplo de aplicação encontrado nessa
unidade:
Na figura abaixo, determinar os valores de x e y.
10cm
y
6cm
3cm
x
4cm
B
A
D
C
E
Resolução:
Comparando os triângulos ABC e CDE, temos:
DB
^^
ângulos retos
EDAB
CC
^^
ângulos o.p.v
187
Como os triângulos têm, respectivamente, dois ângulos
congruentes, podemos concluir que eles são
semelhantes
.
ABC ~ CDE
Lados homólogos:
AB
e
DE
; BC e CD; AC e CE
Pela propriedade:
CE
AC
CD
BC
DE
AB
==
y
10
4
x
3
6
==
8x243x
4
x
3
6
===
5y306y
y
10
3
6
===
Então, x = 8 cm e y = 5 cm (GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 168).
Nos exercícios encontrados nessa unidade, podemos notar que muitos
deles exigem um elevado grau de abstração dos alunos, alguns relacionando
acontecimentos do cotidiano dos mesmos, não bastando apenas os conceitos
adquiridos. A seguir, encontram-se os exercícios de fixação e revisão
encontrados na unidade.
188
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 174 – 176.
189
190
191
A unidade 9 desse volume trata dos triângulos retângulos, do teorema
de Pitágoras e das relações métricas encontradas nesses triângulos.
Inicialmente é feita uma revisão sobre triângulo retângulo e, juntamente,
dados os primeiros passos, mesmo que empiricamente, para a conclusão do
teorema de Pitágoras, que o texto apresenta o seguinte enunciado:
Em todo triângulo retângulo, o quadrado da medida da
hipotenusa é igual a soma dos quadrados das medidas dos
catetos (GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 179).
Abaixo, encontra-se a demonstração, através do lculo das áreas de
figuras geométricas, que o texto nos apresenta:
Figura 2.1a – Demonstração Pitágoras (GIOVANNI et ali, V. 8, 1992)
192
Figura 2.1b – Demonstração Pitágoras (GIOVANNI et ali, V. 8, 1992)
Feita essa demonstração o volume relata ao aluno que “a demonstração
algébrica será realizada mais adiante”, após os estudos das relações métricas
no triângulo retângulo.
No estudo das relações métricas, podemos notar que os autores
procuraram desenvolvê-las “passo a passo” e no final de cada delas chegavam
a uma conclusão e a destacava:
relação: Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da
medida de um cateto é igual ao produto da medida da
hipotenusa pela medida da projeção do cateto considerado
sobre a hipotenusa.
relação: Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da
medida da altura relativa à hipotenusa é igual ao produto das
medidas dos segmentos que ela determina sobre a hipotenusa.
relação: Em qualquer triângulo retângulo, o produto das
medidas dos catetos é igual ao produto da medida da
hipotenusa pela medida da altura relativa a hipotenusa
(GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 189-190).
193
Após esses estudos, o texto realiza, conforme dito, a demonstração
algébrica do teorema de Pitágoras, conforme vemos abaixo.
Da 1ª relação, temos:
b
2
= a.m c
2
= a.n
Adicionando membro a membro as duas igualdades, temos:
b
2
+ c
2
= a.m + a.n
b
2
+ c
2
= a.(m + n)
b
2
+ c
2
= a
2
ou
a
2
= b
2
+ c
2
Em qualquer triângulo retângulo, o quadrado da medida da
hipotenusa é igual à soma dos quadrados das medidas dos dois
catetos (GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 190).
Concluído esse estudo, a unidade propõe exercícios de fixação e
“questões de revisão” aos alunos.
Nessa seção, percebemos que muitos das situações-problema
abordadas enfatizam o cotidiano desse aluno; algumas são de revisão de
conceitos abordados na unidade e outras situações exigem a atenção do aluno
ao relacionar o conteúdo estudado na unidade com outros conteúdos,
conforme podemos ver a seguir.
a
b
B
A
C
c
n
m
x
H
194
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 192 – 194.
195
196
A unidade 10, seguindo o trabalho com os triângulos, inicia o estudo das
relações trigonométricas.
197
Na abertura desta unidade encontramos uma pequena introdução sobre
a história da trigonometria na Antiguidade, conforme vemos abaixo.
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, p. 195.
198
A partir daí, o texto introduz os conceitos de seno, cosseno e tangente
de um ângulo, destacando os ângulos de 30º, 4e 60º, e apresenta algumas
aplicações dos conceitos abordados, como podemos ver no exemplo que se
segue:
Na figura abaixo, determinar as medida x e y dos lados não-
paralelos do trapézio ABCD.
y
x
60º
C
B
A
D
20cm
14cm
Resolução:
Vamos considerar a figura dada e observar que:
DH = BC = y
AH = AB – CD = 6
No triângulo retângulo AHD, temos:
6 = medida do cateto adjacente ao ângulo de 60º;
x = medida da hipotenusa;
y = medida do cateto oposto ao ângulo de 60º.
Daí podemos escrever:
x
6
60ºcos =
x
6
2
1
=
62x
=
x = 12
6
y
60ºtag =
6
y
=
3
36y =
y
x
60º
C
B
A
D
6
14cm
H
20
199
Então, os lados não paralelos do trapézio medem 12 cm e
36 cm (GIOVANNI et al, 1992, v.8, p. 203).
Após a resolução de alguns exercícios, a unidade propõe ao aluno
alguns exercícios de fixação envolvendo questões da natureza, como calculo
da largura de um rio, altura de uma montanha e, questões encontradas no dia a
dia das cidades, como altura de um edifício, altura de um poste, etc.
Realizado o estudo das relações trigonométricas nos triângulos
retângulos, a unidade inicia a abordagem das relações trigonométricas em
qualquer triângulo, enunciando, assim, as leis dos senos e cossenos.
A seguir, apresentamos as “questões propostas para revisão”
encontradas no final desta unidade. Novamente, percebemos que alguns
exercícios o ficam apenas na “imaginação” ou “abstração” do aluno, o aluno
pode “ver” esses conteúdos sendo utilizados em aplicações na sociedade.
200
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 213 – 214.
201
202
Na unidade 11 desse volume, intitulada “Circunferência e circulo:
relações métricas”, encontramos as relações entre as cordas e a
circunferência, entre as secantes e a circunferência e entre as secantes e
tangentes numa circunferência.
O texto “constrói” as demonstrações das relações e nos apresenta o
seguinte resumo:
Figura 2.2 – Cordas (GIOVANNI et ali, V. 8, 1992
Feito isso, nos apresenta dois exemplos de aplicação desse conteúdo e
propõe alguns exercícios de fixação dos conhecimentos adquiridos.
Seguindo os estudos, o texto aborda os polígonos regulares inscritos
numa circunferência, os elementos de um polígono regular inscrito, suas
propriedades, em que o texto faz uma relação com o conteúdo de semelhança
estudado anteriormente, fechando a unidade com as “questões propostas para
revisão”, conforme segue.
203
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 229 – 230.
204
205
Na unidade 12, ultima unidade do volume, encontramos o trabalho com
as áreas das figuras geométricas planas.
O que nos chama mais atenção nessa unidade são os exercícios
propostos por ela. Muitos deles requerem do aluno o conceito de composição e
decomposição de figuras planas, fazendo com que esse aluno reflita sobre os
conceitos adquiridos na unidade e de outros adquiridos anteriormente, não
sendo apenas uma mera aplicação de “fórmulas” das áreas estudadas.
A seguir, como exemplo, mostramos alguns desses exercícios.
206
Fac-símile do livro “A conquista da Matemática”, Giovanni, Castrucci,
Giovanni Jr. V. 8. Editora FTD. São Paulo. 1992, pp. 246 – 247.
207
208
2.3 A Proposta Curricular e a Coleção: A conquista da
Matemática.
Comparando as Propostas Curriculares com a coleção “A conquista da
Matemática”, podemos perceber que os conteúdos abordados pelo documento
oficial são trabalhados na coleção analisada.
Percebemos que o documento oficial orienta o trabalho da Geometria
utilizando o processo de “experimentalismo”, de manipulação de materiais
concretos, em todas as séries. Tal recomendação não nos foi evidenciada na
coleção “A conquista da Matemática”, a coleção faz uso do “experimentalismo”,
mas de forma pontual.
Com relação ao “rigor” da utilização da linguagem matemática, tão
criticada nas cadas anteriores, percebemos que o mesmo está presente
nessa obra, porém, identificamos uma maior preocupação em relação a
aprendizagem dos conceitos por parte do aluno do que a “maneira” como o ele
escreve.
Não podemos deixar de evidenciar que o documento orienta tratar os
conteúdos de geometria de forma a relacioná-los com as questões do dia-a-dia
desse aluno, com questões evidenciadas na sociedade. Porém, na seção de
exercícios propostos pela coleção encontramos poucas situações-problema
que gere isso, ou seja, a maioria dos exercícios encontrados é de fixação dos
conceitos estudados em cada unidade, fazendo com que esse aluno não
209
relacione o que aprendeu em Matemática com as situações encontradas em
seu cotidiano.
Com relação aos modelos teóricos identificamos uma abordagem
sugerindo o Modelo Quase-empirista, para se constatar alguma propriedade
matemática. Mas, nos dois volumes finais da coleção, destinados a sétima e
oitava séries, respectivamente, encontramos uma abordagem focada nas
demonstrações e teoremas, característica do Modelo Euclidianista.
210
Capítulo 3
Capítulo 3Capítulo 3
Capítulo 3
A
A A
A Geometria durante o período de 1998 ao mome
Geometria durante o período de 1998 ao momeGeometria durante o período de 1998 ao mome
Geometria durante o período de 1998 ao momento
nto nto
nto
atual
atual atual
atual
uma análise dos PCN
uma análise dos PCN uma análise dos PCN
uma análise dos PCN e livros didáticos atuais.
e livros didáticos atuais. e livros didáticos atuais.
e livros didáticos atuais.
3.1. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto
ciclo do Ensino Fundamental.
Analisando reformas curriculares (2008) destaca que, de 1995 a 2002, o
Ministério da Educação desencadeou o processo de elaboração de Parâmetros
Curriculares Nacionais, para diferentes níveis e modalidades de ensino.
Também nesse período, o Conselho Nacional de Educação apresentou
Diretrizes Curriculares Nacionais, com força de lei. Nesse processo, envolto em
muita polêmica, alguns dilemas clássicos da educação brasileira voltaram à
discussão.
Para essa autora, a tarefa implicou o enfrentamento de várias tensões e
a tentativa de buscar respostas a questões, por exemplo: Como construir
referências nacionais de modo a enfrentar antigos problemas da educação
brasileira e ao mesmo tempo encarar novos desafios colocados pela conjuntura
mundial e pelas novas características da sociedade, como a urbanização
crescente? O que significa indicar pontos comuns do processo educativo em
todas as regiões, mas, ao mesmo tempo, respeitar as diversidades regionais,
culturais e políticas existentes, no quadro de desigualdades da realidade
brasileira? Como equacionar problemas referentes à possibilidade de acesso
211
aos centros de produção de conhecimento, tanto das áreas curriculares quanto
da área pedagógica, e que se refletem na formação dos professores que
colocaram as idéias curriculares em prática? Que Matemática deve ser
ensinada às crianças e jovens de hoje e com que finalidade? De que modo
teorias didáticas e metodológicas devem ser incorporadas ao debate curricular,
sem que sejam distorcidas e tragam prejuízos à aprendizagem dos alunos?
Pires relata que os Parâmetros Curriculares Nacionais da área de
Matemática para o Ensino Fundamental (7 a 14 anos) buscaram expressar a
contribuição das investigações e das experiências na área de Educação
Matemática. Eles explicitaram o papel da Matemática pela proposição de
objetivos que evidenciam a importância de o aluno valorizá-la como
instrumental para compreender o mundo à sua volta e de vê-la como área do
conhecimento que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de
investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver problemas.
Estudos também apontavam que o ensino dessa disciplina era estanque,
ou seja, era ensinado ao aluno o conteúdo matemático em um determinado
momento e esse conteúdo não era mais “visto” pelo aluno, não se fazia uma
ligação entre os conteúdos na própria estrutura da disciplina. Também havia
uma minoria de escolas públicas que relacionavam o conteúdo de Matemática
com os conhecimentos de outras áreas de conhecimento.
Para Pires (2000) foi, a partir de 1995, que a Secretaria da Educação do
Ensino Fundamental do Ministério da Educação e do Desporto coordenou um
projeto, em âmbito nacional, em que educadores de diversos níveis de ensino
212
debateram e indicaram diretrizes curriculares comuns para o ensino
fundamental no Brasil, processo que culminou com os chamados Parâmetros
Curriculares Nacionais.
Para a mesma pesquisadora,
Um aspecto inovador diz respeito a necessidade de explorar os
conteúdos não apenas em sua dimensão conceitual (saber o
conceito de adição, de fração ...) mas também na dimensão de
procedimentos (saber fazer uma estimativa, a medição de um
comprimento, um traçado de uma reta paralela...) e de
desenvolvimento de atitudes (ser perseverante na busca de
soluções, ter espírito de colaboração e etc.). Procedimentos e
atitudes são interpretados como “conteúdos” que precisam ser
trabalhados de forma sistemática em sala de aula (PIRES, 2000,
p. 58).
Com relação ao conhecimento matemático, os Parâmetros indicaram a
necessidade de se trabalhar esse conhecimento utilizando recursos
tecnológicos, como calculadora, computadores etc; abordaram a importância
da resolução de problemas e, da utilização de jogos em sala de aula.
Aos definir objetivos para o ensino de matemática visando a construção
da cidadania, os PCN apontam a seguinte lista:
identificar os conhecimentos matemáticos como meios para
compreender e transformar o mundo à sua volta e perceber o
caráter de jogo intelectual, característico da Matemática, como
aspecto que estimula o interesse, a curiosidade, o espírito de
investigação e o desenvolvimento da capacidade para resolver
problemas;
fazer observações sistemáticas de aspectos quantitativos e
qualitativos da realidade, estabelecendo inter-relações entre
eles, utilizando o conhecimento matemático (aritmético,
geométrico, métrico, algébrico, estatístico, combinatório,
probabilístico);
213
selecionar, organizar e produzir informações relevantes, para
interpretá-las e avaliá-las criticamente;
resolver situações-problema, sabendo validar estratégias e
resultados, desenvolvendo formas de raciocínio e processos,
como intuição, indução, dedução, analogia, estimativa, e
utilizando conceitos e procedimentos matemáticos, bem como
instrumentos tecnológicos disponíveis;
comunicar-se matematicamente, ou seja, descrever,
representar e apresentar resultados com precisão e argumentar
sobre suas conjecturas, fazendo uso da linguagem oral e
estabelecendo relações entre ela e diferentes representações
matemáticas;
estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes
campos e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas
curriculares;
sentir-se seguro da própria capacidade de construir
conhecimentos matemáticos, desenvolvendo a auto-estima e a
perseverança na busca de soluções;
interagir com seus pares de forma cooperativa, trabalhando
coletivamente na busca de soluções para problemas propostos,
identificando aspectos consensuais ou não na discussão de um
assunto, respeitando o modo de pensar dos colegas e
aprendendo com eles. (PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, 1998, p. 47-48).
Os Parâmetros são organizados em blocos de conteúdos denominados:
Números e Operações, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas e Tratamento
da Informação. Em nossa pesquisa, focaremos o bloco de conteúdos Espaço e
Forma. Os conteúdos de cada bloco estão organizados em ciclos que em
nossa pesquisa analisaremos o terceiro ciclo (5ª e séries do Ensino
fundamental) e o quarto ciclo (7ª e 8ª série do Ensino Fundamental).
214
3.1.1 O bloco de conteúdos: Espaço e Forma.
Os conceitos geométricos constituem parte importante no currículo de
matemática no ensino fundamental, pois é por meio deles que o aluno
desenvolve um tipo de pensamento que lhe permite compreender, descrever e
representar, de forma organizada, o mundo em que vive (PCN, 1998, p. 41).
São muitas as situações-problema que podem ser trabalhadas no campo
da Geometria e, geralmente, os alunos apresentam um maior interesse. O
trabalho com as noções geométricas também contribui para a aprendizagem de
números e medidas, visto que o aluno é estimulado a observar, perceber
semelhanças e diferenças, identificar regularidades e etc.
Segundo os Parâmetros (1998), é de fundamental importância que os
estudos do espaço e forma sejam explorados a partir de objetos do mundo
físico, de obras de arte, pinturas, desenhos, esculturas e artesanato, de modo
que permita ao aluno estabelecer conexões entre a Matemática e outras áreas
do conhecimento.
Os objetivos propostos para o desenvolvimento do pensamento
geométrico, no ciclo (alunos com idades de 11 e 12 anos, e 6ª série do
Ensino Fundamental), utilizando-se situações de aprendizagem, devem
estimular o aluno a:
resolver situações-problema de localização e deslocamento de
pontos no espaço, reconhecendo nas noções de direção e
sentido, de ângulo, de paralelismo e de perpendicularismo
elementos fundamentais para a constituição de sistemas de
coordenadas cartesianas;
215
estabelecer relações entre figuras espaciais e suas
representações planas, envolvendo a observação das figuras
sob diferentes pontos de vista, construindo e interpretando suas
representações;
resolver situações-problema que envolvam figuras geométricas
planas, utilizando procedimentos de decomposição e
composição, transformação, ampliação e redução
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 64
65).
Segundo os PCN (1998), é nesse ciclo que os alunos reorganizam e
ampliam os conhecimentos sobre Espaço e Forma abordados no ciclo anterior
e, para isso, se faz necessário explorar situações-problema mais complexas.
Nesse ciclo, o importante é enfatizar as noções de direção e sentido, de
ângulo, de paralelismo e perpendicularismo, as classificações das figuras
geométricas, as relações entre figuras espaciais e suas representações planas,
a exploração das figuras geométricas planas, pela sua decomposição e
composição, transformação (reflexão, rotação e translação), ampliação e
redução.
Ainda neste ciclo, as atividades geométricas centram-se em
procedimentos de observação, representações e construções de
figuras, bem como o manuseio de instrumentos de medidas que
permitam aos alunos fazer conjecturas sobre algumas
propriedades dessas figuras (PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, 1998, p. 68).
O documento ainda enfatiza a importância do uso de instrumentos como
compasso, régua, esquadro e transferidor para a construção de figuras
geométricas, estabelecendo as relações entre os procedimentos das
construções e as propriedades geométricas.
216
Com relação aos conceitos e procedimentos, os PCN destacam:
Interpretação, a partir de situações-problema (leitura de
plantas, croquis, mapas), da posição de pontos e de seus
deslocamentos no plano, pelo estudo das representações em
um sistema de coordenadas cartesianas.
Distinção, em contextos variados, de figuras bidimensionais e
tridimensionais, descrevendo algumas de suas características,
estabelecendo relações entre elas e utilizando nomenclatura
própria.
Classificação de figuras tridimensionais e bidimensionais,
segundo critérios diversos, como: corpos redondos e poliedros;
poliedros regulares e não-regulares; prismas, pirâmides e outros
poliedros; círculos, polígonos e outras figuras; número de lados
dos polígonos; eixos de simetria de um polígono; paralelismo de
lados, medidas de ângulos e de lados.
Composição e decomposição de figuras planas.
Identificação de diferentes planificações de alguns poliedros.
Transformação de uma figura no plano por meio de reflexões,
translações e rotações e identificação de medidas que
permanecem invariantes nessas transformações (medidas dos
lados, dos ângulos, da superfície).
Ampliação e redução de figuras planas segundo uma razão e
identificação dos elementos que não se alteram (medidas de
ângulos) e dos que se modificam (medidas dos lados, do
perímetro e da área).
Quantificação e estabelecimento de relações entre o número
de vértices, faces e arestas de prismas e de pirâmides, da
relação desse número com o polígono da base e identificação
de algumas propriedades, que caracterizam cada um desses
sólidos, em função desses números.
Construção da noção de ângulo associada à idéia de mudança
de direção e pelo seu reconhecimento em figuras planas.
Verificação de que a soma dos ângulos internos de um
triângulo é 180º.( PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, 1998, p. 72 – 73).
Com relação aos critérios de avaliação, o documento destaca que esse
instrumento deve possibilitar ao professor os assuntos que devem ser
217
retomados e organizar novas situações que possibilitem sua efetiva
aprendizagem.
No 4º ciclo, que corresponde as 7ª e 8ª séries do Ensino Fundamental, o
documento recomenda as discussões com os alunos no sentido de que a
Matemática faz parte do saber científico e que desenvolve um papel central na
cultura moderna.
Nesse ciclo, os objetivos propostos para o ensino dessa disciplina,
visando o desenvolvimento do pensamento geométrico, devem-se fazer por
meios de situações de aprendizagem que levem o aluno a:
interpretar e representar a localização e o deslocamento de
uma figura no plano cartesiano;
produzir e analisar transformações e ampliações/reduções de
figuras geométricas planas, identificando seus elementos
variantes e invariantes, desenvolvendo o conceito de
congruência e semelhança;
ampliar e aprofundar noções geométricas como incidência,
paralelismo, perpendicularismo e ângulo para estabelecer
relações, inclusive as métricas, em figuras bidimensionais e
tridimensionais (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS,
1998, p. 81 – 82).
O estudo dos conteúdos do bloco Espaço e Forma deve partir da análise
das figuras pelas observações, manuseios e construções que permitam fazer
conjecturas e identificar propriedades. É imprescindível no desenvolver das
atividades que o aluno possa perceber que pela composição de movimentos é
possível transformar uma figura em outra.
218
A construção de figuras a partir da reflexão, translação, por meio da
rotação é imprescindível para que o aluno perceba que as medidas dos lados e
dos ângulos, da figura dada e da figura transformada, são as mesmas.
As atividades de transformação são fundamentais para que o
aluno desenvolva habilidades de percepção espacial e podem
favorecer a construção da noção de congrncia de figuras
planas (isometrias). De forma análoga, o trabalho de ampliação
e redução de figuras permite a construção da noção de
semelhança de figuras planas (homotetias). (PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 86).
É neste ciclo, ao realizar os problemas geométricos, que o aluno tem
contato com o raciocínio dedutivo, o que não significa um estudo
absolutamente formal e axiomático da Geometria. Vale ressaltar que o
refinamento das argumentações produzidas, para uma demonstração
Matemática, deve ocorrer gradativamente pela assimilação de princípios da
lógica formal, possibilitando as demonstrações.
Embora no quarto ciclo se inicie um trabalho com algumas
demonstrações, com o objetivo de mostrar sua força e
significado, é desejável que não se abandonem as verificações
empíricas, pois estas permitem produzir conjecturas e ampliar o
grau de compreensão dos conceitos envolvidos.
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 87).
Os conceitos e procedimentos destacados para o bloco de conteúdos
Espaço e Forma para esse ciclo são os seguintes:
Representação e interpretação do deslocamento de um ponto
num plano cartesiano por um segmento de reta orientado.
Secções de figuras tridimensionais por um plano e análise das
figuras obtidas.
219
Análise em poliedros da posição relativa de duas arestas
(paralelas, perpendiculares, reversas) e de duas faces
(paralelas, perpendiculares).
Representação de diferentes vistas (lateral, frontal e superior)
de figuras tridimensionais e reconhecimento da figura
representada por diferentes vistas.
Divisão de segmentos em partes proporcionais e construção
de retas paralelas e retas perpendiculares com régua e
compasso.
Identificação de ângulos congruentes, complementares e
suplementares em feixes de retas paralelas cortadas por retas
transversais.
Estabelecimento da razão aproximada entre a medida do
comprimento de uma circunferência e seu diâmetro.
Determinação da soma dos ângulos internos de um polígono
convexo qualquer.
Verificação da validade da soma dos ângulos internos de um
polígono convexo para os polígonos não-convexos.
Resolução de situações-problema que envolvam a obtenção
da mediatriz de um segmento, da bissetriz de um ângulo, de
retas paralelas e perpendiculares e de alguns ângulos notáveis,
fazendo uso de instrumentos como régua, compasso, esquadro
e transferidor.
Desenvolvimento do conceito de congruência de figuras planas
a partir de transformações (reflexões em retas, translações,
rotações e composições destas), identificando as medidas
invariantes (dos lados, dos ângulos, da superfície).
Verificar propriedades de triângulos e quadriláteros pelo
reconhecimento dos casos de congruência de triângulos.
Identificação e construção das alturas, bissetrizes, medianas e
mediatrizes de um triângulo utilizando régua e compasso.
Desenvolvimento da noção de semelhança de figuras planas a
partir de ampliações ou reduções, identificando as medidas que
não se alteram (ângulos) e as que se modificam (dos lados, da
superfície e perímetro).
Verificações experimentais e aplicações do teorema de Tales.
Verificações experimentais, aplicações e demonstração do
teorema de Pitágoras. (PARÂMETROS CURRICULARES
NACIONAIS, 1998, p. 88 – 89).
Os critérios de avaliação para esse ciclo, no bloco Espaço e Forma, são:
220
Decidir sobre os procedimentos matemáticos adequados para
construir soluções num contexto de resolução de problemas
numéricos, geométricos ou métricos.
Estabelecer relações de congruência e de semelhança entre
figuras planas e identificar propriedades dessas relações.
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 92
93).
Por meio desses critérios o professor pode identificar se o aluno é capaz
de interpretar uma situação-problema; selecionar as informações necessárias;
planejar a resolução; estimar soluções; decidir sobre procedimentos de
resolução a serem utilizados; investigar, justificar argumentar e comprovar a
validade de resultados e apresentá-los de maneira organizada e clara. Verificar
se o aluno é capaz de perceber que, por meio de diferentes transformações de
uma figura no plano (translações, reflexões e rotações) obtém-se figuras
congruentes e, que por meio de ampliações e reduções, obtém-se figuras
semelhantes, e de aplicar as propriedades da congruência e semelhança em
situações-problema.
3.1.2 Orientações didáticas para o bloco de conteúdos:
Espaço e Forma.
Os Pametros Curriculares Nacionais trazem algumas orientações
didáticas aos professores visando uma reflexão de como ensinar os conteúdos
matemáticos em sala de aula, analisando os conceitos e procedimentos a
serem ensinados e, as formas como os alunos constroem esses
conhecimentos.
221
Ao abordar o bloco Espaço e Forma, o documento enfatiza que a
Geometria tem tido pouco destaque nas aulas de Matemática e, que em muitas
vezes, confunde-se o seu ensino com o das medidas. Caracteriza que a
Geometria tem um papel fundamental no currículo, uma vez que possibilita ao
aluno desenvolver um tipo de pensamento particular para compreender,
descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive. Destaca
a Geometria como um campo fértil de situações-problema que favorece o
desenvolvimento da capacidade de argumentar e construir demonstrações.
No campo dos problemas, o estudo do espaço e das formas envolve três
objetos de natureza diferentes:
o espaço físico, ele próprio ou seja, o domínio das
materializações;
• a geometria, concebida como modelização desse espaço físico
– domínio das figuras geométricas;
o(s) sistema(s) de representação plana das figuras espaciais
domínio das representações gráficas. (PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 122).
A esses objetos correspondem três questões relativas à aprendizagem
que são ligadas e interagem umas com as outras. São elas:
a do desenvolvimento das habilidades de percepção espacial;
a da elaboração de um sistema de propriedades geométricas e
de uma linguagem que permitam agir nesse modelo;
a de codificação e de decodificação de desenhos.
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 123).
Com relação ao desenvolvimento das habilidades de percepção
espacial, os PCN identificam a leitura e a utilização efetiva de mapas e plantas,
222
nas situações cotidianas, como principio de partida. Cita, como exemplos, a
localização de um escritório um grande edifício, o deslocamento numa cidade e
etc. Para a aquisição dessas habilidades propõe algumas situações de trabalho
em sala de aula, tais como: a construção de maquetes, a qual favorece a
construção de diferentes pontos de vista pela movimentação do observador; a
construção de mapas, utilizando o trabalho com as coordenadas cartesianas,
fazendo uma analogia com as coordenadas geográficas; a observação das
relações entre tamanhos, aproximando-se da noção de proporcionalidade, o
que permite ao aluno a utilização das escalas nas construções de maquetes.
Com relação ao campo da figuras geométricas, o documento traz
exemplos de atividades de classificação dessas figuras com base na
observação de suas propriedades e regularidades; explorando a composição e
decomposição dessas figuras, como ladrilhamentos, tangrans, poliminós, nos
quais o aluno verifique que o cobrimento de uma superfície pode ser feito por
determinadas figuras, como triângulos equiláteros, quadrados, retângulos,
hexágonos regulares; descubra que uma figura poligonal pode ser composta ou
decomposta por outra como triângulos, em particular, facilitando o lculo de
áreas e a determinação da soma das medidas dos seus ângulos internos.
O documento privilegia as atividades que envolvem as transformações,
visto que permite ao aluno o desenvolvimento de conceitos geométricos de
uma forma significativa.
Ressalta que o estudo das transformações isométricas é um excelente
ponto de partida para a construção das noções de congruência, servindo de
223
apoio para a compreensão das propriedades das figuras. Incentiva, também, o
estudo das transformações que envolvem ampliação e redução como ponto de
partida para o estudo de semelhança de figuras geométricas e a construção de
seu conceito. Aborda ainda que o conceito de semelhança é proveitoso para
estabelecer conexões com outros conteúdos matemáticos, como razões e
proporções, propriedades das figuras, ângulos, medidas (áreas, volumes) e
conteúdos de outras áreas (artes, educação física, ciências, geografia, física).
Com relação aos sistemas de representações planas das figuras
espaciais, as principais funções dos desenhos são as seguintes:
.• visualizar – fazer ver, resumir;
.• ajudar a provar;
.• ajudar a fazer conjecturas (o que se pode dizer).
(PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 125).
O importante quando o aluno tem de representar um objeto geométrico
por meio de um desenho, busque a relação entre a representação do objeto e
suas propriedades e organize o conjunto do desenho de uma maneira
compatível com a imagem mental global que tem o objeto.
Os PCN ressaltam que as atividades de Geometria o propícias para
que o professor construa junto com seus alunos um caminho que os leve a
compreender a importância e a necessidade da prova para legitimar as
hipóteses levantadas. Cita como exemplo o teorema de Pitágoras, no qual o
professor propõe ao aluno um quebra-cabeça constituído por peças planas que
devem compor, por justaposição, de duas maneiras diferentes, um modelo
224
material de um quadrado (figura a seguir). Utilizando o princípio aditivo relativo
ao conceito de áreas de figuras planas, observa-se que a
2
= b
2
+ c
2
. Diz-se
então, que o teorema de Pitágoras foi “provado”.
Figura 3.1 – Pitágoras (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS)
Apesar da força que convencimento que a utilização desse tipo de
material concreto tem para os alunos, eles não se constituem provas
matemáticas. Esses tipos de experiências podem ser aceitas como “provas” no
terceiro ciclo, mas, a partir do quarto ciclo, essas experiências devem servir
como elementos desencadeadores de conjecturas e processos que levem a
justificativas mais formais.
O documento ainda coloca que existem casos em que a concretização
utilizada distancia-se da prova formal adotada, na qual a exemplificação num
contexto pode apenas desempenhar um papel de fontes de conjecturas a
serem provadas formalmente. O documento traz como exemplo a comprovação
225
de que a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo vale 180º,
feita por meio da composição e decomposição de um modelo material de um
triângulo.
Figura 3.2 – Soma dos ângulos (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS)
Para um aluno do quarto ciclo, a demonstração de que a soma das
medidas dos ângulos internos de um triângulo é 18 recorre a axiomas e
teoremas envolvendo um par conveniente de retas paralelas, que no entanto,
não tem correspondente na concretização realizada acima.
O documento traz, também, alguns problemas antigos onde se propõe
que o professor trabalhe a questão da história da matemática envolvendo o
estudo de civilizações antigas e como estas se utilizavam os conceitos
geométricos em seu cotidiano.
226
Figura 3.3 – Problemas antigos (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS)
Ainda nesse documento, podemos ter como exemplo uma conexão entre
os conteúdos da disciplina de Matemática e de outras disciplinas, conforme
vemos na figura a seguir:
227
Espaço e formas: o lugar em que se vive; os objetos do entorno.
Fig. 3.4 – Rede (Parâmetros Curriculares Nacionais, 1998, p. 141).
Alguns dos possíveis contextos das situações-problema:
• formas e órbitas dos planetas;
228
• as embalagens das coisas – planificações, construções;
• construção de maquetes;
• as pirâmides do Egito;
• guias da cidade e mapas;
decomposição da luz prismas. (PARÂMETROS
CURRICULARES NACIONAIS, 1998, p. 142).
3.2. Análise do Livro Didático: “Matemática para todos”.
Para esse momento, analisaremos a coleção de livros didáticos, para o
ensino fundamental, intitulada “Matemática para todos” dos autores Luiz Márcio
Imenes
19
e Marcelo Lellis
20
, publicada pela Editora Scipione no ano de 2002.
Os quatro volumes dessa coleção trazem, em sua apresentação, um
texto destinado aos alunos, comentando sobre a importância de aprender
matemática e quanto isso pode ser prazeroso, e um texto destinado aos pais
desses alunos, relatando as diferenças entre como se “estudava matemática”
antigamente e o seu estudo nos dias de hoje.
Cada volume está dividido em capítulos que contém alguns itens,
destacados a seguir:
19
Engenheiro civil (EPUSP), licenciado em Matemática (FFCLM) e mestre em Educação
Matemática (UNESP). Autor de diversos livros didáticos.
20
Bacharel em Matemática (USP) tem atuado como professor de Matemática nos ensinos
fundamental, médio e superior. Tem, também, assessorado o ensino de Matemática da
educação infantil ao ensino médio em várias escolas públicas e particulares.
229
O texto de introdução, em que é apresentado, ou discutido, o
conteúdo matemático;
Conversando sobre o texto: neste item há questões sobre o
texto, visando a troca de idéias entre os alunos, promovendo a
exposição e organização do pensamento e reforçando o
aprendizado;
Problemas e exercícios: banco de problemas e situações-
problema, em que se recomenda a resolução em sala de aula
para que haja a discussão entre os alunos;
Problemas e exercícios para casa: visando buscar o trabalho
individual de cada aluno, com a finalidade de comprovar a
interiorização dos conceitos e técnicas aprendidas em sala de
aula;
Um toque a mais: seção onde se amplia a conexão da
matemática com o mundo, visando promover a reflexão e o
desenvolvimento de competências de comunicação e de
investigação.
Na parte final de cada volume encontramos uma seção de “Problemas e
exercícios complementares”, uma seção intitulada “Supertestes”, onde há
testes envolvendo os conteúdos estudados, um “Dicionário” com alguns termos
matemáticos encontrados no volume e um “Bloco de folhas especiais”,
230
organizado para “facilitar” algumas das atividades encontradas em cada
volume.
3.2.1. A Geometria na Coleção “Matemática para todos”.
Com relação ao tema de Geometria, encontramos os seguintes tópicos
no Sumário da 5ª série do Ensino Fundamental:
Capítulo 2 – Formas Tridimensionais;
Capítulo 4 – Formas planas;
Capítulo 7 – Construções geométricas;
Capítulo 13 – Simetria.
.
No capítulo 2 é realizada uma abordagem inicial das formas
tridimensionais destacando o estudo dos prismas, pirâmides, esfera e cilindros.
Nesta abordagem, o texto, e as atividades, propõem ao aluno o
reconhecimento dessas formas através de objetos comumente vistos no dia a
dia, onde se busca identificá-los (nomenclatura), sempre relacionando o
“ambientedesse aluno.
As atividades propõem a exploração das vistas dos objetos
tridimensionais e de superfícies planas, e a construção e planificação desses
objetos.
231
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 5. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 12.
232
No capítulo 4, intitulado “Formas planas”, é estudado, inicialmente, o
conceito de ângulos através de observações, em que os autores fazem a
correspondência do giro de uma régua como sendo um ângulo, conforme
ilustração a seguir.
A partir daí, são introduzidos os conceitos de ângulo raso, reto, agudo e
obtuso, todo esse estudo realizado através de observação.
As atividades propostas buscam aprimorar esse conceito usando objetos
comuns, tais como: a abertura entre os ponteiros de um relógio, os cantos
entre uma parede e o piso; o movimento de um robô.
Feito isso, é realizado o estudo de retas perpendiculares e paralelas
através da observação e investigação de mapas, de plantas, de construções
com régua e esquadro, conforme vemos a seguir.
Figura 3.5 – Giros e Ângulos (Imenes & Lellis, V. 5, 2002)
233
As situações-problema propostas para o aprofundamento desse estudo
estabelecem relações com o cotidiano do aluno.
Seguindo nesse capitulo, encontramos um estudo sobre mosaicos
abordando o conteúdo dos pogonos, em que encontramos a seguinte
“definição”:
Figura 3.6 – Perpendiculares e paralelas (Imenes & Lellis, V. 5, 2002)
234
Polígonos são formas que somente têm contornos retos
(IMENES & LELLIS, 5ª série, 2002, p. 69).
A seguir, o capitulo traz uma abordagem sobre os quadriláteros
“definindo-os” como sendo “polígonos que têm quatro lados, quatro vértices e
quatro ângulos”, identificando o quadrado, o paralelogramo, o retângulo e o
trapézio.
As propriedades dos quadriláteros são estudadas nos problemas e
exercícios propostos, conforme vemos a seguir.
235
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 5. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 76 – 77.
236
237
No capitulo 7 desse volume são trabalhadas as construções geométricas
em papel quadriculado, onde o aluno identifica as mudanças ocorridas quando
se muda uma das escalas de construção. Também são trabalhadas as
construções geométricas utilizando régua, esquadro e compasso, nas quais se
foca o trabalho da matemática com a disciplina de arte e a construção de
alguns polígonos regulares utilizando os instrumentos citados. Abaixo,
mostramos um exemplo de problema trabalhado neste capítulo.
Figura 3.7 – Problemas: retas (Imenes & Lellis, V. 5, 2002)
238
No capitulo 13 é abordado o estudo da simetria. Esse estudo traz o
seguinte “quadrinho”, onde se “define” simetria:
Após isso, é trabalhado o conceito de simetria utilizando objetos que o
aluno tenha uma familiaridade, como por exemplo, a imagem de uma figura
através de um espelho, na qual o espelho passa a ser o eixo de simetria.
Realizada essa abordagem inicial, o capitulo traz alguns exemplos e
problemas em que o foco é a identificação do eixo de simetria de figuras dadas,
caso exista. Também notamos o trabalho com dobraduras, conforme vemos a
seguir.
Figura 3.8 – Simetria (Imenes & Lellis, V. 5, 2002)
239
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 5. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 207.
240
Percebemos que o conteúdo de geometria abordado nesse volume
possui uma “linguagem matemática bem próxima da linguagem do aluno
nessa série. Os autores procuraram trabalhar esse tema utilizando exemplos e
materiais que esses alunos estão acostumados a ver em seu cotidiano.
No volume destinado a rie dessa coleção, encontramos os
seguintes capítulos relacionados ao tema de Geometria:
Capítulo 2 – Construções geométricas;
Capítulo 8 – Mapas e localização;
Capítulo 14 – Geometria tridimensional;
O capítulo 2, que aborda as construções geométricas, inicia com o
estudo do conceito de ângulo, citando-o como sendo muito utilizado para
realizar essas construções. Aborda, também, a nomenclatura dos triângulos em
relação aos ângulos que possuem: retângulo, acutângulo e obtusângulo.
O texto traz, utilizando uma linguagem “simples”, a importância dos
ângulos e como eles estão presentes no cotidiano como, por exemplo: entre os
ponteiros de um relógio, as linhas das vagas de estacionamento, na
determinação das rotas dos aviões e etc.
Nesse mesmo texto encontramos a seguinte construção de um ângulo
de vértice P cuja medida é 37º.
241
Nos “Problemas e exercícios” dessa parte notamos que o foco é o
trabalho com régua, esquadro e transferidor para a construção de ângulos, a
determinação da medida de um ângulo dado e a comparação entre as medidas
de ângulos. Alguns exercícios trazem conceitos novos ao aluno, conforme
vemos a seguir.
Figura 3.9 – Medida de ângulo (Imenes & Lellis, V. 6, 2002)
242
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 6. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 27.
243
raio
C
Depois é realizado o estudo do conceito de circunferência, em que se
utilizam alguns fatos históricos de civilizações antigas e de sociedades
indígenas do Brasil.
Encontramos a seguinte característica para a circunferência: “ter todos
os pontos a igual distância do centro”.
Nos problemas e exercícios propostos para esse estudo encontramos
um trabalho com a construção de circunferências, utilizando o compasso;
exercícios que abordam conceitos estudados e situações-problema que
abordam os conceitos de diâmetro e cordas, os quais não foram abordados no
texto de introdução.
Figura 3.10 – Circunferência
244
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 6. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 31.
245
Realizado o estudo com a circunferência, o capítulo inicia o estudo de
simetria. Diferentemente do estudo realizado na série anterior, nesse volume
inicia-se o estudo a partir do “losango”, no qual se localiza o eixo de simetria e,
novos assuntos são abordados, tais como: ponto médio, simetria axial e
simetria de rotação.
Os exercícios propostos nessa parte trabalham com a identificação dos
eixos de simetria e com a quantidade de eixos que cada figura têm, também se
trabalha com a medida do ângulo no caso da simetria rotacional. Alguns
problemas relacionam a simetria com a arte e com a óptica.
Na seção “Ação”, encontrada logo depois do estudo de simetria,
trabalha-se com o conceito da soma das medidas dos ângulos internos de um
triângulo ser 180º através de dobraduras, em que o aluno é quem realiza essa
investigação e chega a essa conclusão.
Nos exercícios propostos para essa parte, além de se trabalhar com o
cálculo da medida de um ângulo num triângulo, conhecendo-se os outros dois,
inicia-se o trabalho com a determinação da medida dos ângulos de polígonos
regulares, conforme vemos a seguir.
246
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 6. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 41 – 42.
247
248
No capítulo 8, intitulado “Mapas e localização”, é realizado um trabalho
com as “vistas”, frontal, lateral e superior de figuras e com a localização em
mapas, fazendo-se relação com a determinação das coordenadas de pontos
num plano cartesiano.
Nessa parte percebemos que, tanto no e texto informativo quanto nos
problemas propostos, sempre a intenção de relacionar os conceitos
matemáticos abordados com o cotidiano do aluno, utilizando uma linguagem
apropriada para os alunos dessa série.
O capitulo 14 trabalha com a geometria tridimensional. Inicialmente é
realizado o estudo dos poliedros, no qual o texto procura trazer exemplos de
poliedros encontrados na natureza e de construções realizadas pelo homem.
Os autores trazem a seguinte diferenciação entre formas tridimensionais
poliédricas e não poliédricas:
Os poliedros são formas tridimensionais poliédricas,
volumétricas. Há, porém, formas tridimensionais que não são
poliédricas, como esferas, cilindros e cones. A diferença entre
essas formas é que a superfície de um poliedro é formada por
polígonos, que são figuras planas (IMENES & LELLIS, série,
2002, p. 242).
Nos problemas e exercícios propostos para essa parte exigem que o
aluno reconheça o que são poliedros; as caractesticas entre os diferentes
poliedros; o trabalho com vértices, arestas e faces; as relações entre os
diferentes poliedros, a classificação dos mesmos e suas planificações. Na
maior parte dos problemas nota-se que o aluno é “instigado” a refletir sobre os
conteúdos estudados.
249
Seguindo o capítulo, encontramos um estudo sobre a classificação das
formas geométricas, no qual é retomada a abordagem sobre figuras planas e
espaciais.
Nas figuras planas, a separação entre os polígonos e não polígonos,
enquanto que nas espaciais há a separação entre os poliedros e não poliedros.
No final desse capítulo, na seção “Um toque a mais”, encontramos um
texto que trabalha a “Geometria da bola de futebol”, conforme vemos a seguir.
250
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 6. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 251 – 252.
251
252
No volume destinado a série desta coleção, encontramos os
seguintes capítulos relacionados ao tema de Geometria:
Capítulo 3 – Construções geométricas;
Capítulo 6 – Ângulos, paralelas e polígonos;
Capítulo 8 – Simetrias;
Capítulo 10 – Desenhando figuras espaciais;
Capítulo 12 – Áreas e Volumes;
Capítulo 14 – Geometria experimental.
No capitulo 3 desse volume, intitulado “Construções geométricas”, é
realizada uma abordagem que visa a utilização e “familiarização de
instrumentos como: régua, compasso, esquadro e transferidor, para a
realização de construções de figuras planas e espaciais. Nesse sentido,
notamos uma retomada dos conceitos abordados nas séries anteriores, porém,
em alguns problemas e exercícios dessa parte o aluno aprende conceitos
novos, nos quais há sempre algum comentário.
Nos problemas e exercícios propostos é pedido que o aluno construa
algumas figuras geométricas, rotas realizadas por automóveis ou aviões, a
montagem de caixas, pirâmides e cones, utilizando, sempre, os instrumentos
comentados acima; que meçam algumas distâncias, que reflitam sobre
algumas propriedades durante a realização dessas construções. Nesses
problemas, notamos uma maneira lúdica de fazer o aluno aprender os
conceitos geométricos.
253
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 43 e p. 45.
254
No final deste capítulo, na seção “Um toque a mais”, encontramos um
texto que relaciona o “origami” com a matemática e com os conceitos que o
aluno aprendeu durante o capítulo.
255
a
c
b
No capítulo 6, encontramos um estudo sobre os ângulos, as paralelas e
os polígonos.
Inicialmente, essa parte aborda algumas propriedades dos ângulos
como: ângulos opostos pelo vértice; o estudo dos ângulos formados entre retas
paralelas “cortadas” por uma reta transversal: correspondentes, alternos
internos e alternos externos.
A seguir, trazemos a abordagem realizada neste volume para a
conclusão de que os ângulos opostos pelo vértice têm medidas iguais.
[...] podemos provar que ângulos desse tipo (opostos pelo
vértice) sempre têm medidas iguais. Veja a figura e acompanhe
a prova ao lado dela.
a + c = 180º. Portanto, a = 180º – c.
b + c = 180º. Portanto, b = 180º – c.
Conclusão: a = b
(IMENES & LELLIS, série, 2002, p. 86).
Nos problemas e exercícios propostos para essa parte, além dos
conteúdos abordados no texto inicial, encontramos a abordagem de outros
conceitos que o aluno “vai” identificando através a realização dos problemas,
tais como: a medida de ângulos internos de um polígono e ângulos externos.
Percebemos, nesses problemas, o trabalho com a álgebra, com grandezas e
medidas, nos quais o aluno é “levado” a refletir sobre os conceitos geométricos
já estudados e institucionalizados conceitos novos.
256
Após isso, é realizada a “prova” de que a soma das medidas dos
ângulos internos de um triângulo é igual a 180º. A abordagem que esse volume
traz encontramos abaixo.
Considere este triângulo ABC, no qual estão assinalados os
ângulos internos e suas medidas.
A
cb
a
C
B
Agora, traçamos a reta u, paralela ao lado BC, passando pelo
vértice A.
p
q
A
cb
a
C
B
Sabemos que p = b e q = c (medidas de ângulos alternos
internos)
Como p + a + b = 180º, concluímos que b + a + c = 180º ou a +
b+ c = 180º (IMENES & LELLIS, série, 2002, p. 94).
Nos problemas e exercícios propostos dessa parte encontramos o
trabalho com os conceitos abordados no texto e outros conceitos que são
introduzidos ao longo da realização dos problemas como a conclusão de que a
medida do ângulo externo de um triângulo é igual a soma das medidas dos
dois ângulos internos não adjacentes a esse ângulo externo e, que a soma das
medidas dos ângulos internos de um triângulo é igual a 180º, conforme vemos
a seguir.
257
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 90 – 91.
258
259
Seguindo esse capítulo, é abordado o estudo da soma das medidas dos
ângulos internos de um polígono, no qual, a partir do estudo realizado com a
soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo, se chega a soma das
medidas dos ângulos internos do quadrilátero e do pentágono. Nessa
abordagem inicial não é realizada a generalização para a soma dos ângulos
internos de qualquer polígono, o que encontraremos nos problemas e
exercícios propostos.
Nos problemas e exercícios propostos para essa parte encontramos
situações que levam o aluno a generalizar maneira para descobrir a soma dos
ângulos internos de qualquer polígono, nas quais notamos uma seqüência
didática para isso, conforme vemos a seguir.
260
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 100.
261
Realizado esse estudo, o capítulo inicia uma abordagem quanto a
classificação dos polígonos, em que o critério para essa classificação são: as
medidas dos lados e as medidas dos ângulos, concluindo, ao final desse
estudo que os “pogonos regulares são aqueles que têm lados e ângulos de
mesmas medidas”.
Abaixo, colocamos uma abordagem, encontrada na gina 105 desse
volume, na qual se relacionam os conceitos estudados nesse capítulo com a
teoria dos conjuntos.
No capítulo 8 é realizado o estudo dos tipos de simetria: simetria axial,
simetria de rotação e simetria central. Esses estudos são realizados através de
exemplos, figuras geometrias ou observações da natureza, em que se chega
aos conceitos matemáticos, conforme vemos a seguir.
Figura 3.11 – Polígonos e teoria dos conjuntos (Imenes & Lellis, V. 6, 2002)
262
Simetria axial:
e
U'
I'
R'
I
U
R
O triângulo RUI é simétrico do triângulo R’U’I’ em relação ao
eixo e. Repare que a reta é perpendicular aos segmentos RR’,
UU’ e II’, além de passar pelo ponto médio deles, dizemos que o
eixo é a
mediatriz
desses segmentos de reta (IMENES &
LELLIS, 7ª série, 2002, p. 134).
Simetria de rotação:
60º
C
R
L
E
I
U
F
Fazendo cada vértice do triângulo FUI girar 60º em torno de C,
obtemos o triângulo LER. Dizemos que um é a imagem do outro
por uma rotação de 60º. Os pontos simétricos por essa rotação
são F e L, U e E, I e R (IMENES & LELLIS, série, 2002, p.
135).
Simetria central:
A simetria central é um caso especial de simetria de rotação.
Quando a rotação é de 180º, costumamos dizer simplesmente
simetria central, no lugar de simetria de rotação para 180º.
263
O
S'
A'
E'
T'
T
A
E
S
Girando 180º em torno de O, o quadrilátero SETA cai sobre o
quadrilátero S’E’T’A ‘. Os dois são simétricos em relação ao
centro O, daí o nome simetria central (IMENES & LELLIS,
série, 2002, p. 136).
Os problemas e exercícios propostos nessa parte trabalham com o
conteúdo abordado até então, nos quais o aluno necessita identificar os eixos
de simetrias, realizar algumas construções de figuras geométricas utilizando
simetria, identificar o tipo de simetria e a construção de mosaicos a partir das
simetrias.
264
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 145.
265
Feito esse estudo, o texto relaciona a simetria com as propriedades
geométricas, tais como: bissetriz de um ângulo, em que é “definida” como
sendo “a semi-reta que seciona o ângulo em dois ângulos iguais” e a
propriedade de que as “diagonais de um paralelogramo se cortam ao meio”.
Nessa parte, esse estudo é “fixado” e ampliado através dos problemas e
exercícios propostos, o quais trabalham a simetria e as propriedades
estudadas, levando o aluno a refletir sobre algumas construções.
No capítulo 10, “Desenhando figuras espaciais”, notamos que o intuito é
desenvolver a percepção espacial do aluno.
Inicialmente é realizado o trabalho com malhas triangulares e
quadriculares para depois trabalhar com desenhos em perspectiva, no qual
este conceito é enfatizado com a arte.
Os textos que esse capítulo traz leva o aluno a refletir sobre os conceitos
geométricos estudados relacionando-os com o mundo em que vive.
A seguir, podemos ver algumas ilustrações contidas nesse capítulo
sobre o uso da “perspectiva” em artes.
266
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 179.
267
a
2
= b
2
+ c
2
No capítulo 12 encontramos o estudo de áreas e volumes, mas vamos
apenas nos atentar para o estudo do Teorema de Pitágoras, que está contido
nesse capítulo.
A abordagem desse teorema é feita a partir de desenhos, exemplos de
aplicação no cotidiano e um pouco de historia, na qual é levado a “fórmula”,
destacando que nos triângulos retângulos existe uma relação entre as medidas
dos lados.
O texto traz a seguinte definição.
Em todo triângulo retângulo, sendo
a
,
b
e
c
as medidas dos
lados (
a
é a do lado maior), vale a relação:
a
c
b
Esta descoberta é considerada uma das mais importantes da
história da matemática e a propriedade acima é conhecida como
relação de Pitágoras (IMENES & LELLIS, 7ª série, 2002, p. 221).
Após essa “definição” o texto traz um “quadrinho” no qual as
personagens conversam sobre a dificuldade de aceitar essa relação sem
nenhuma demonstração ou prova. A partir disso, o texto traz a “prova” dessa
demonstração usando os conceitos de área aprendidos no capítulo, conforme
vemos a seguir.
[...] Vamos usar nossos conhecimentos sobre álgebra e cálculo
de áreas e provar que ela é sempre verdadeira.
268
Com um quadrado e quatro triângulos retângulos iguais entre si
(mas sem nenhuma outra característica especial), podemos
compor um outro quadrado maior, como mostra a figura:
b
c
b
a
a
a
a
c
b
c
b
c
O quadrado maior tem lado b + c. Dentro dele, o quadrado
menor tem lado a e os quatro triângulos retângulos iguais têm
lados perpendiculares b e c.
As áreas dessas figuras são:
área de cada triângulo:
2
b.c
área do quadrado menor: a
2
área do quadrado maior (ou da figura toda): (b + c)
2
A área do quadrado maior é igual à soma das áreas dos quatro
triângulos com a área do quadrado menor. Ou seja:
(b + c)
2
=
2
b.c
.4
+ a
2
(b + c).(b + c) = 2bc + a
2
b
2
+ bc + bc + c
2
= 2bc + a
2
b
2
+ c
2
= a
2
Uma propriedade obtida por meio de uma dedução é um
teorema. Esse que vimos é o teorema de Pitágoras (IMENES &
LELLIS, 7ª série, 2002, p. 222).
Os exercícios e problemas propostos nessa parte trabalham com a
relação de Pitágoras, através das áreas, e com o uso de seu teorema aplicado
em situações-problema contextualizadas, conforme vemos a seguir.
269
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 7. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 223 e p. 225.
270
271
No capítulo 14, intitulado Geometria experimental, o texto aborda,
inicialmente, a questão da proporcionalidade entre as medidas de figuras
objetivando o conceito de figuras semelhantes.
Nesse capítulo, observamos uma abordagem bem experimental que leva
o aluno a “tirar” suas conclusões sobre figuras semelhantes.
Nos problemas e exercícios propostos percebemos que as atividades
levam o aluno a refletir e chegar a conclusão de que as figuras semelhantes
têm as medidas dos lados proporcionais e ângulos iguais. Também uma
introdução sobre a homotetia. Como dissemos, esse capítulo traz uma
abordagem bem experimental, na qual muitas atividades para que o aluno
chegue às conclusões objetivadas.
No volume destinado a série desta coleção, encontramos os
seguintes capítulos relacionados ao tema de Geometria:
Capítulo 1 – Semelhança;
Capítulo 7 – Geometria dedutiva;
Capítulo 9 – Trigonometria;
Capítulo 11 – Construções geométricas.
No capítulo 1 encontramos o estudo da semelhança entre figuras.
Diferentemente da abordagem realizada na 7ª série, nesse capítulo trabalha-se
com a ampliação e redução de figuras e logo a seguir traz a “definição” de
figuras semelhantes, conforme segue:
272
Dois polígonos são semelhantes quando satisfazem,
simultaneamente, duas condições:
• as medidas dos lados que se correspondem são proporcionais;
• as medidas dos ângulos que se correspondem são iguais
(IMENES & LELLIS, 8ª série, 2002, p. 7).
A partir daí, o texto traz um exemplo que identifica a razão de proporção
entre os lados correspondentes de duas figuras. Com os conceitos
estudados, o texto traz uma outra maneira de se construir figuras semelhantes,
conforme vemos a seguir.
Para ampliar ou reduzir este polígono de 5 lados, marcamos
um ponto O (o pólo) e traçamos as semi-retas AO, OB, OC, etc.
O
D
C
E
B
A
Para duplicar o polígono, marcamos o ponto A’ sobre a semi-
reta AO de modo que AO’ = 2.OA. Usar o compasso diminui o
trabalho.
[...]
Da mesma forma, fazemos OB’ = 2.OB, OC’ = 2.OC, etc.
273
O
D
C
E
B
A
C'
D'
E'
B'
A'
Para completar, ligamos A’ com B’ com C’, etc. Neste exemplo,
a ampliação é de 1 para 2.
O
D
C
E
B
A
C'
D'
E'
B'
A'
Nesse processo de ampliação ou redução a partir de um pólo,
obtemos figuras semelhantes, semelhantemente dispostas.
Essa relação entre duas figuras chama-se homotetia. A palavra
vem do grego (
homós
igual +
thetos
colocado + ia) e se
referem ao fato de as figuras estarem igualmente colocadas,
igualmente dispostas. Também dizemos que são figuras
homotéticas (IMENES & LELLIS, série, 2002, pp. 8 – 9).
A partir desses conceitos são propostos problemas e exercícios aos
alunos para verificar se houve a aprendizagem e em alguns problemas, com
figuras geométricas, são abordados esses conceitos, nos quais o aluno
identifica se as figuras dadas são ou não semelhantes.
274
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 12 – 13.
275
276
Seguindo esse capítulo encontramos um estudo sobre figuras e
triângulos semelhantes, em que se chega a conclusão de que basta conhecer
os ângulos dos triângulos para dizer se são ou não semelhantes, enquanto que
nas demais figuras é preciso saber se os lados correspondentes são
proporcionais, conforme descrito a seguir:
[...] Basta que dois triângulos tenham os ângulos
respectivamente iguais para serem semelhantes.
Essa propriedade só é valida para os triângulos, ou seja, não se
aplica a outros polígonos [...].
A forma de um triângulo fica completamente definida quando
são conhecidos os seus ângulos. Aliás, basta conhecer dois
ângulos, pois o terceiro é o que falta para a soma dos três dar
180º (IMENES & LELLIS, 8ª série, 2002, p. 15).
Nos problemas e exercícios propostos para essa parte é trabalhada a
identificação de semelhança entre triângulos e o calculo da medida de um de
seus lados usando o conceito de semelhança. Alguns também abordam
conceitos não estudados pelos alunos, mas que eles “chegam” a essa a
conclusão desse conceito.
277
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 18 – 19.
278
Continuando o capítulo, encontramos o estudo de semelhança no
triângulo retângulo, em que, a partir do conceito de semelhança, se chegam as
279
relações métricas no triângulo retângulo. A seguir, mostraremos uma
demonstração encontrada nesse volume.
[...]
A
H
B
H
C
A
Seus lados são respectivamente proporcionais:
AH
CH
BH
AH
=
Multiplicando os dois lados da igualdade por BH, vem:
AH
CH.BH
AH
=
E, multiplicando os dois lados por AH, fica: CH.BH(AH)
2
=
Veja como se lê essa fórmula:
A
H
B
C
O quadrado da medida da altura é igual ao produto das medidas
dos dois segmentos formados na hipotenusa (IMENES &
LELLIS, 8ª série, 2002, p. 25).
Os problemas e exercícios propostos trabalham com essa relação e em
alguns é pedido ao aluno que “demonstre” as outras relações encontradas no
triângulo retângulo. Também encontramos muitos exercícios para determinar a
medida de um lado do triângulo envolvendo os conceitos estudados no texto e
as demonstrações que os alunos desenvolveram nos problemas e exercícios
anteriores.
280
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 27 – 28.
281
282
b
m
n
c
Continuando o capítulo, é retomado o estudo do teorema de Pitágoras,
em que é apresentada uma demonstração utilizando o conceito de semelhança
e as relações métricas do triângulo retângulo estudado nesse capítulo,
conforme vemos abaixo.
Na série, o teorema de Pitágoras foi demonstrado com base
no cálculo de áreas. Agora, chegaremos a mesma conclusão
por outro caminho.
Na figura, sabemos que:
b
2
= a.m
c
2
= a.n
Vamos somar as duas igualdades:
b
2
+ c
2
= a.m + a.n
Agora, fatoramos a expressão a.m + a.n, colocando o fator a em
evidência:
b
2
+ c
2
= a.(m + n)
Veja, na figura, m + n = a.
Logo: b
2
+ c
2
= a.a.
Ou seja: b
2
+ c
2
= a
2
.
Assim, deduzimos o teorema de Pitágoras usando as fórmulas
que foram deduzidas com base na semelhança de triângulos
(IMENES & LELLIS, 8ª série, 2002, p. 30).
Os problemas e exercícios dessa parte trabalham com o teorema de
Pitágoras e com os conceitos de semelhança. Em alguns problemas
encontramos contextualização com situações do cotidiano.
283
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, p. 32.
284
a
b
b
O
A
B
P
No capítulo 7, esse volume inicia o estudo da Geometria dedutiva, no
qual é proposto ao aluno, a partir de situações-problema, que prove ou deduza
alguns dos conceitos geométricos estudados até essa série, tais como: a soma
dos ângulos internos de um polígono, a relação do ângulo externo de um
triângulo como sendo igual a soma dos ângulos internos não adjacentes etc.
Realizada essas “provas” e “reflexões”, este capítulo inicia o estudo dos
ângulos na circunferência. Inicialmente, encontramos a prova de que a medida
do ângulo central mede o dobro da medida do ângulo inscrito, conforme vemos
a seguir:
Sabemos que o triângulo OPB é isósceles, porque OP = OB
(raios). Se
OPB
^
mede b, então
OBP
^
também mede b.
Lembrando agora que, em qualquer
triângulo, a medida do ângulo externo
em um vértice é igual à soma das
medidas dos ângulos internos dos
outros dois vértices” e notando que o
ângulo
AOB
^
é externo para o
triângulo OPB, resulta:
a = b + b ou a = 2.b, que é o que queríamos provar (IMENES &
LELLIS, 8ª série, 2002, p. 134).
Os problemas e exercícios propostos nessa parte trabalham os
conceitos abordados, utilizam instrumentos de medidas, transferidor, régua etc,
e alguns usam a contextualização desses conceitos em situações-problema.
285
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 136 – 137.
286
287
r // s // t
Após esse estudo, é realizada uma revisão do conceito de paralelismo
para abordar o teorema de Tales, em que é realizada a seguinte
demonstração:
[...] Partimos desta figura:
y
x
b
a
t
s
r
Traçamos AD e BE, paralelos a FH:
E
y
x
b
a
t
s
r
B
D
A
F
G
H
C
Os triângulos ABD e BCE são semelhantes porque têm ângulos
respectivamente iguais. Logo:
BE
AD
BC
AB
= ou
BE
AD
b
a
= .
Como os quadriláteros são paralelogramos, resulta: AD = x e
BE = y. Portanto:
y
x
b
a
=
. Isso é o que queríamos provar.
[...]
O teorema de Tales pode ser enunciado assim:
Se um feixe de retas paralelas é cortado por duas transversais,
então as medidas dos segmentos correspondentes que estão
288
sobre as transversais são diretamente proporcionais (IMENES &
LELLIS, 8ª série, 2002, p. 140).
Os problemas e exercícios propostos nessa parte trabalham com a
aplicação do teorema de Tales e os conceitos geométricos estudados até
então. Em alguns casos é pedido ao aluno que “prove” certas relações.
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 141 – 142.
289
290
No capítulo 9, intitulado Trigonometria, encontramos um texto que
comenta sobre o uso da trigonometria no cotidiano e a utilização desse
conceito ao longo da historia.
A abordagem do conceito de trigonometria, desenvolvida no texto, vai”
trabalhando algumas relações entre as medidas dos lados, comparando com
os ângulos de cada triângulo estudado, na qual se destaca a seguinte
característica:
Assim, a razão
adjascentecateto
opostocateto
depende apenas do ângulo e
não do triângulo.
[...] O triângulo pode ser minúsculo ou gigantesco, não importa,
o valor do quociente é sempre o mesmo. Esse quociente entre
os catetos chama-se tangente do ângulo [...] (IMENES &
LELLIS, 8ª série, 2002, p. 161).
A partir desse conceito são propostos problemas e exercícios ao aluno
abordando o que foi aprendido e, logo depois são trabalhadas as relações
trigonométricas: seno e cosseno.
Nessa parte, muitos dos exercícios propostos trabalham os conceitos
desenvolvidos em situações-problema aplicadas no cotidiano, tais como: medir
a altura de uma montanha, o comprimento de sua base ao seu pico, a largura
de um rio e etc, conforme vemos a seguir.
291
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 164 – 165.
292
Realizado esse estudo, o capítulo inicia uma abordagem sobre os
polígonos inscritos e circunscritos, em que o foco é utilizar as razões
trigonométricas para a determinação de medidas desses polígonos.
293
No capítulo 11, denominado “Construções geométricas”, percebemos
que a abordagem utilizada, por meio de situações-problema e exercícios, visa
retomar os conceitos geométricos estudos pelo aluno ao longo de todo o
ensino fundamental. Nesse sentido, encontramos conceitos como: simetrias,
relação de desigualdade nos triângulos, desenhando em perspectiva e etc.
Notamos que nesse capítulo é introduzido, na verdade apenas um
comentário, do caso de congruência de triângulos, mais especificamente o
caso Lado Lado Lado. Os autores orientam o professor a trabalhar esses
casos de congruência, mas não na coleção um material de apoio para isso.
A seguir, vemos o texto que aborda o caso de congruência LLL e algumas
situações-problema encontradas no capítulo.
[...} imagine um quadrilátero construído com ripinhas de madeira
e parafusos nos vértices. Compare-o com um triângulo
construído da mesma forma. uma grande diferença no
comportamento desses dois polígonos.
294
Devido a essa propriedade, dizemos que as medidas dos quatro
lados não determinam o quadrilátero, isto é, não o caracterizam
de forma única. Por outro lado, a rigidez geométrica do triângulo
significa que as medidas dos três lados determinam o triângulo,
isto é, dois triângulos cujos lados têm respectivamente as
mesmas medidas são absolutamente iguais (
ou congruentes
).
Esse fato é conhecido como caso LLL de congruência de
triângulos; a sigla LLL significa lado-lado-lado (IMENES &
LELLIS, 8ª série, 2002, p. 214 – grifo nosso).
295
Fac-símile do livro “Matemática para todos”, Imenes & Lellis. V. 8. Editora
Scipione. São Paulo. 2002, pp. 216 – 217.
296
297
3.3 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a coleção
Matemática para todos.
Analisando os Parâmetros Curriculares Nacionais com a coleção
Educação Matemática, percebemos que os conteúdos e as orientações
didáticas que o documento oficial trazem em seu corpo são contemplados
nesta coleção, com exceção do conteúdo de Congruência de triângulos, em
que, como dissemos, há apenas uma orientação dada ao professor, para
que se trabalhe tal conteúdo, mas não há um texto de apoio.
Notamos que os autores dessa coleção buscaram apresentar o
conteúdo de Geometria de uma forma mais dinâmica e interativa para o aluno,
quando se propõe a investigação de algumas propriedades geométricas por
meio do uso de material concreto, por exemplo, o caso da soma dos ângulos
internos de um triângulo, em que é proposta a utilização de dobraduras para
verificar essa propriedade.
Nessa coleção, o que nos chamou muito a atenção foi o fato de que nas
situações-problema e nos exercícios propostos o aluno é estimulado a refletir
sobre o conteúdo estudado e suas características e também é “levado ao
conhecimento de outros conceitos, em que, através de seqüências didáticas, o
próprio aluno valida ou não suas hipóteses.
298
Também percebemos que os conteúdos estudados em determinado
momento fazem uma revisão daqueles estudados por esse aluno,
ampliando, gradativamente, os seus conhecimentos.
Analisando os textos e os exercícios propostos por essa coleção,
percebemos que o aluno é estimulado a refletir sobre as propriedades
matemáticas a partir de situações contextualizadas. Nessa perspectiva,
podemos notar que o aluno vai “construindo” o seu conhecimento a partir do
que ele conhece, a partir de suas análises do objeto em questão. Por esses
motivos consideramos que essa coleção teve uma abordagem segundo o
Modelo Construtivista.
300
Capítulo 4
Capítulo 4Capítulo 4
Capítulo 4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAISCONSIDERAÇÕES FINAIS
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
..
.
Analisando documentos oficiais e coleções de livros didáticos de três
momentos de reformas curriculares, procuramos responder as seguintes
questões:
Quais foram as mudanças ocorridas no ensino de Geometria da
década de 60 ao momento atual?
Analisando as prescrições curriculares para o ensino de Geometria,
como elas foram interpretadas pelos autores de livros didáticos selecionados
para esta pesquisa?
Com relação às mudanças ocorridas, foi possível fazer observações, nos
documentos oficiais e nos livros didáticos sobre: as finalidades ou objetivos
gerais do ensino de geometria; os conteúdos indicados para o trabalho no
segmento analisado (quatro últimas séries do ensino fundamental de 8 anos); a
abordagem metodológica dominante e os recursos didáticos utilizados; a
ênfase conferida ao processo de formalização, ou ao processo de descoberta
ou ao processo de investigação; a preocupação com a linguagem, com a
contextualização e com as aplicações; a preocupação com as peculiaridades e
possíveis interesses dos alunos dessa faixa etária (de 11 a 14 anos); o papel
do professor e do aluno em relação ao saber geométrico.
301
Finalidades do ensino de geometria:
Na tabela abaixo, mostramos a diferenciação da concepção de ensino
de geometria apresentada na Proposta Curricular para o ensino de grau
(1992, p. 181) entre o que pretendia e o que constava dos Guias Curriculares.
GUIAS CURRICULARES PROPOSTA CURRICULAR
Objetivos gerais inovadores,
como o desenvolvimento da
intuição geométrica, aquisição de
habilidades em construções
geométricas, e processos de
medidas, etc.
Propõe trabalhar a noção de
transformação, até hoje
inviabilizada.
Ênfase na utilização da linguagem
dos conjuntos na geometria – o que
desviou a atenção das
propriedades geométricas
Opção pelo ensino da Geometria a
partir da manipulação, exploração
de objetos do mundo físico,
reconhecimento das formas mais
freqüentes de sua caracterização,
através das propriedades, do
encadeamento e relacionamento
entre elas, caminhando para uma
axiomatização provisória no final do
1º grau.
Com relação aos PCN encontramos uma abordagem onde é enfatizado
o trabalho das construções geométricas, com o uso de gua e compasso, a
visualização de figuras onde o aluno possa aplicar as propriedades de cada
figura e relacione-as com outras propriedades. Nesse sentido, o trabalho com
as transformações geométricas ganha destaque, o que não havia no
documento da Proposta Curricular, pois permite o desenvolvimento da
percepção espacial e permite que o aluno “descubra” as condições necessárias
para que duas figuras sejam semelhantes e/ou congruentes.
302
Nas coleções aqui analisadas, percebemos que trabalham as
recomendações e conteúdos orientados nos documentos oficias, mesmo que
em séries diferentes.
Conteúdos indicados para o trabalho no segmento analisado e a
abordagem desses conteúdos.
Com relação aos conteúdos indicados para cada ano desse segmento,
reunimos as informações extraídas de cada um dos documentos no quadro
abaixo para estabelecer comparações:
Guias Curriculares Proposta Curricular Parâmetros Curriculares
5ª. série Conceitos Geométricos,
noções de reta, semi-reta,
segmento de reta
Identificação de figuras
geométricas.
Noção de circunferência e
de circulo.
Noções de reta, semi-reta
e segmento de reta.
Alturas de triângulos,
paralelogramos e
trapézios: identificação e
construção com esquadro.
Noção de circunferência:
conceito de círculo,
circunferência, superfície
esférica, esfera.
Elementos de uma
circunferência: centro,
raio, corda, diâmetro,
arco.
Elementos de uma esfera:
centro, raio, corda,
diâmetro, arco e
circunferência máxima.
Posições relativas de
duas circunferências.
Posições relativas de uma
reta e uma circunferência.
Divisão da circunferência
em partes iguais.
6ª. série Geometria intuitiva,
congruência de
Circunferência e ângulo.
Conceito de ângulo.
Interpretação, a partir de
situações-problema
(leitura de plantas,
croquis, mapas), da
posição de pontos e de
seus deslocamentos no
plano, pelo estudo das
representações em um
sistema de coordenadas
cartesianas.
Distinção, em contextos
variados, de figuras
bidimensionais e
tridimensionais,
escrevendo algumas de
suas características,
estabelecendo relações
entre elas e utilizando
nomenclatura própria.
Classificação de figuras
tridimensionais e
bidimensionais, segundo
critérios diversos, como:
corpos redondos e
poliedros; poliedros
regulares e não-regulares;
prismas, pirâmides e
outros poliedros; círculos,
303
segmentos de retas, de
ângulos, ângulo
determinado por duas
retas paralelas e uma
transversal, construção de
figuras geométricas com o
uso de instrumentos:
régua, compasso e
transferidor.
Noção de polígono regular
e sua construção.
Classificação dos ângulos
quanto à medida.
Classificação dos
triângulos quando à
medida de seus ângulos
internos.
Perpendicularismo entre
retas e segmentos de
reta.
Perpendicularismo entre
retas e planos.
Bissetriz de um ângulo.
Ângulos adjacentes e
opostos pelo vértice.
Ângulos formados por
retas coplanares cortadas
por uma transversal.
Verificação experimental e
demonstração do teorema
da soma das medidas dos
ângulos internos de um
triângulo.
Soma das medidas dos
ângulos internos de um
polígono convexo.
Noção de polígono
regular. Construção de
polígonos com auxilio de
régua e transferidor ou
com régua, compasso e
transferidor.
polígonos e outras figuras;
número de lados dos
polígonos; eixos de
simetria de um polígono;
paralelismo de lados,
medidas de ângulos e de
lados.
Composição e
decomposição de figuras
planas.
Identificação de diferentes
planificações de alguns
poliedros.
Transformação de uma
figura no plano por meio
de reflexões, translações
e rotações e identificação
de medidas que
permanecem invariantes
nessas transformações
(medidas dos lados, dos
ângulos, da superfície).
Ampliação e redução de
figuras planas segundo
uma razão e identificação
dos elementos que não se
alteram (medidas de
ângulos) e dos que se
modificam (medidas dos
lados, do perímetro e da
área).
Quantificação e
estabelecimento de
relações entre o número
de vértices, faces e
arestas de prismas e de
pirâmides, da relação
desse número com o
polígono da base e
identificação de algumas
propriedades, que
caracterizam cada um
desses sólidos, em função
desses números.
Construção da noção de
ângulo associada à idéia
de mudança de direção e
pelo seu reconhecimento
em figuras planas.
Verificação de que a
soma dos ângulos
internos de um triângulo é
180º. (*)
7ª. série Figuras geométricas
planas, curvas fechadas.
Conceito de polígonos,
diagonais de polígonos.
Estudo dos triângulos,
Diagonais de um
polígono.
Conceito. Propriedades
das diagonais de um
paralelogramo.
Representação e
interpretação do
deslocamento de um
ponto num plano
cartesiano por um
304
congruência de triângulos.
Demonstração dos casos
de congruência. Estudo
dos quadriláteros.
Posições relativas entre
circunferências. Posições
relativas entre retas e
circunferência. Polígonos
inscritos e circunscritos na
circunferência. Simetria
axial e central.
Verificação experimental.
Número de diagonais de
um polígono. Teorema de
Pitágoras. Verificação
experimental.
Demonstração e
generalização.
Congruência de figuras
planas. Congruência de
triângulos e aplicações.
8ª. série Estudo da semelhança.
Teorema fundamental da
proporcionalidade. Feixe
de paralelas. Teorema de
Tales. Demonstração do
teorema de Tales.
Semelhança de
triângulos. Homotetia.
Razões trigonométricas.
Relações métricas no
triângulo retângulo.
Teorema de Pitágoras.
Demonstração do
teorema de Pitágoras.
Relações métricas num
triângulo qualquer.
Relações métricas no
circulo. Relações métricas
nos polígonos regulares.
Semelhança. Semelhança
de figuras planas.
Teorema fundamental da
proporcionalidade.
Verificação experimental e
demonstração. Teorema
de Tales e aplicações.
Verificação experimental e
demonstração dos casos
de semelhança de
triângulos.
Relações métricas no
triângulo retângulo.
Demonstração do
Teorema de Pitágoras.
Relações métricas nos
polígonos regulares.
Cálculo do lado e do
apótema de um polígono
inscrito numa
circunferência de raio
dado.
segmento de reta
orientado.
Secções de figuras
tridimensionais por um
plano e análise das
figuras obtidas.
Análise em poliedros da
posição relativa de duas
arestas (paralelas,
perpendiculares,
reversas) e de duas faces
(paralelas,
perpendiculares).
Representação de
diferentes vistas (lateral,
frontal e superior) de
figuras tridimensionais e
reconhecimento da figura
representada por
diferentes vistas.
Divisão de segmentos em
partes proporcionais e
construção de retas
paralelas e retas
perpendiculares com
régua e compasso.
Identificação de ângulos
congruentes,
complementares e
suplementares em feixes
de retas paralelas
cortadas por retas
transversais.
Estabelecimento da razão
aproximada entre a
medida do comprimento
de uma circunferência e
seu diâmetro.
Determinação da soma
dos ângulos internos de
um polígono convexo
qualquer.
Verificação da validade da
soma dos ângulos
internos de um polígono
convexo para os
polígonos não-convexos.
Resolução de situações-
problema que envolvam a
obtenção da mediatriz de
um segmento, da bissetriz
de um ângulo, de retas
paralelas e
perpendiculares e de
alguns ângulos notáveis,
fazendo uso de
instrumentos como régua,
compasso, esquadro e
305
transferidor.
Desenvolvimento do
conceito de congruência
de figuras planas a partir
de transformações
(reflexões em retas,
translações, rotações e
composições destas),
identificando as medidas
invariantes (dos lados,
dos ângulos, da
superfície).
Verificar propriedades de
triângulos e quadriláteros
pelo reconhecimento dos
casos de congruência de
triângulos.
Identificação e construção
das alturas, bissetrizes,
medianas e mediatrizes
de um triângulo utilizando
régua e compasso. (*)
(*) Nos PCN os conteúdos são propostos para o Terceiro Ciclo (correspondente a e
6ª séries) e Quarto Ciclo (correspondente a 7ª e 8ª séries).
Em nossa analise dos livros didáticos percebemos que nas décadas de
60 e 70 a demonstração dos conceitos geométricos era muito abordada,
principalmente nos casos de congruência de triângulos. Apesar de esse
período ter enfatizado o trabalho com as transformações geométricas, o livro
aqui analisado esse conteúdo aparece apenas no apêndice.
Notamos que a linguagem utilizada no livro era muito formal e técnica,
onde o aluno tinha que resolver enormes listas de exercícios sem
contextualização, apenas para aplicação dos conceitos aprendidos. Apesar do
livro “propor” uma participação do aluno, a nosso ver, isso o acontecia, o
professor era quem tinha o conhecimento e repassava-o para o aluno, no caso,
o receptor desse conhecimento.
306
Na época das Propostas Curriculares percebemos um trabalho a partir
da experimentação, na qual os alunos chegavam a concluir alguns conceitos
por meio do uso de recortes e dobraduras. Nessa época, o trabalho com as
transformações geométricas não aparece, o que ocorre no livro analisado
por nós. Também notamos que o conteúdo de congruência e semelhança
ganha destaque.
Na abordagem utilizada pelo livro “A conquista da matemática”, notamos
que visava uma maior participação do aluno, onde ele demonstrava alguns
conceitos através da “experimentação”, como dobraduras e etc, a linguagem
utilizada também já se aproxima mais da linguagem do aluno.
A partir do PCN notamos que o trabalho com a geometria inicia de forma
intuitiva, partindo de conhecimentos que o aluno traz através de sua vivência
em sociedade, de sua familiaridade com os conceitos geométricos. Ao longo do
ensino fundamental esse conhecimento “torna-se melhor elaborado” a partir de
situações-problema que contextualizam os conceitos matemáticos.
Na coleção analisada para essa época, “Matemática para todos”,
percebemos que a abordagem partia de situações-problema nas quais o aluno,
a partir de seus conhecimentos prévios, adquiria outros conhecimentos
geométricos. A resolução de problemas e a contextualização dos conceitos
matemáticos são marcantes nessa coleção. Percebemos que o aluno tem
papel fundamental na construção do seu conhecimento, o papel de
investigador, enquanto que o professor desempenha o papel de mediador
desse conhecimento, propondo atividades desafiadoras que levam o aluno a
307
adquirir, através de suas próprias reflexões e conjecturas, outros
conhecimentos.
Considerações finais
Para finalizar nosso trabalho gostaríamos de destacar a importância
deste estudo para nossa formação profissional. A compreensão das propostas
curriculares atuais depende de um conhecimento das tendências que as
influenciam mas também dos acontecimentos anteriores. De modo geral, em
nossa formação inicial e continuada, nós professores de Matemática não
somos estimulados a refletir sobre questões de natureza curricular nem de
natureza didática o que traz sérias dificuldades para definir objetivos de
aprendizagem, selecionar conteúdos, planejar boas situações de aprendizagem
e escolher recursos didáticos adequados.
Nesse estudo verificamos que na década de 60, o avanço tecnológico
ocorrido nessa época propiciou a iniciação de um movimento que buscava ligar
as novas tecnologias, o que se via de novo nas ciências, com o conteúdo
ensinado nas escolas. Era uma época em que o cidadão precisava ter uma
formação segundo as exigências das indústrias que vinham surgindo o
período do Movimento da Matemática Moderna.
Vimos que o Professor Osvaldo Sangiorgi foi um grande nome nesse
Movimento e responsável pela primeira publicação de livros didáticos que
308
continham as propostas da Matemática Moderna no Brasil. Juntamente com o
GEEM Grupo de Estudo do Ensino da Matemática, promoveu e divulgou as
idéias da Matemática Moderna no Estado de São Paulo e em todo o país.
Aliás, esse Grupo foi responsável por organizar e desenvolver cursos
preparatórios para professores de Matemática com intuito de viabilizar a
difusão das idéias do movimento nas salas de aula.
Em sua obra, Matemática Curso Moderno, analisada neste trabalho,
Sangiorgi incorporou a teoria dos conjuntos, tão difundida na época. Com
relação aos conteúdos destinados ao tema de Geometria, percebemos que as
mudanças foram “tímidas”.
Não podemos deixar de citar que foi nesse estudo, o da Geometria, que
os autores tiveram a maior dificuldade de introduzir as propostas da
Matemática Moderna.
Verificamos que o conteúdo de “transformações geométricas”, tão
enunciadas nesse Movimento, só foi abordado no Apêndice do terceiro volume,
destinado a rie ginasial (atual sétima série), e de maneira bem menos
detalhada do que os outros conteúdos desse tema.
A justificativa dada por Sangiorgi a respeito de apresentar o estudo das
transformações geométricas apenas no apêndice de seu livro é que o conteúdo
da terceira série ginasial é muito extenso, então, provavelmente, o estudo das
transformações geométricas fique para a quarta série ginasial.
309
O estudo das transformações é considerado de extrema importância por
Sangiorgi, mas o fato do mesmo tê-lo colocado no apêndice de seu livro parece
incoerente. Para Miorim (2005) “
isso é um indicativo de que o autor não parece
ter se sentido à vontade para incorporar as discussões mais teóricas acerca
das transformações geométricas no corpo do texto
”.
Ficou evidenciada a preocupação com “rigor” e coma a utilização
“apropriada” da linguagem matemática, dos termos técnicos, o que nos chama
a atenção em relação a aprendizagem do aluno dessa época – “será que esses
alunos aprendiam mesmo, ou será que se utilizavam apenas da
memorização?”.
Notamos que a abordagem dos conteúdos geométricos e os problemas
propostos nessa obra seguem o Modelo Euclidianista, segundo os modelos
teóricos abordados por Gascón (2001), em que evidenciamos o teoricismo e a
utilização das técnicas apropriadas para determinada resolução, o tecnicismo.
Após o período da Matemática Moderna, e devido às críticas que esse
movimento recebeu, evidenciamos nas Propostas Curriculares, desenvolvidas
no Estado de São Paulo, um trabalho mais focado na construção da
aprendizagem por parte do aluno.
Nessas Propostas vimos à utilização do “experimentalismo” na disciplina
de Matemática, como o caso da utilização de dobraduras para “constatar” que
a soma das medidas dos ângulos internos de um triângulo é 180º.
310
A linguagem utilizada pelos livros se aproximou da linguagem da faixa
etária dos alunos a que o livro se destinava e a utilização de “imagens” também
ficou mais evidenciada.
Na coleção “A conquista da Matemática”, por nós analisada,
evidenciamos que as orientações propostas pelo documento oficial, a Proposta
Curricular, foram seguidas conforme o documento tratava.
Em relação aos Modelos Teóricos, notamos uma perspectiva Quase-
empirista, mas sem deixar a perspectiva Euclidianista.
Como citamos que a coleção “A conquista da Matemática” seguiu
“fielmente” as orientações propostas no documento Proposta Curricular,
encontramos os mesmos Modelos Teóricos mencionados anteriormente para
essa coleção.
A partir do final da década de noventa, constatamos uma considerável
mudança em relação ao tratamento do tema de Geometria contido nos livros
didáticos. Enquanto que nas coleções “Matemática Curso Moderno” e “A
conquista da Matemática” esse tema era tratado no final de cada volume, ou
série, como um “compartimento” estanque dos outros conteúdos de
Matemática, na coleção “Matemática para todos”, aqui analisada, esse
conteúdo aparece no decorrer de cada série, sendo relacionado com os outros
conteúdos dessa disciplina.
Nessa coleção, “Matemática para todos”, percebemos que os conteúdos
propostos são contextualizados, levando o aluno a refletir sobre cada tema, a
311
analisar e conjecturar suas idéias, tornando-se um agente ativo de sua
aprendizagem.
O conteúdo abordado nessa coleção segue as orientações propostas
pelo documento oficial “Parâmetros Curriculares Nacionais”. Alias, segundo
Pires (2000) foi a “primeira vez na história da educação brasileira, educadores
de diversos níveis de ensino debateram e indicaram diretrizes curriculares
comuns para o ensino fundamental no Brasil”. Para essa mesma pesquisadora,
o “saber” (relacionado ao conceito matemático), o “saber fazer” (relacionado
aos procedimentos) e o “saber ser” (relacionado às atitudes) estavam
interligados nesta proposta.
Nesse documento, o tema de Geometria ganha destaque, pois é
considerado um assunto onde os alunos apresentam maior interesse.
Perspectiva que também encontramos na coleção analisada.
Tanto nos PCN quanto na coleção “Matemática para todos” verificamos
uma abordagem em que os conteúdos são trabalhados de forma
contextualizada e em que, a partir dos conhecimentos prévios dos alunos, há
uma proposta de ampliação desses conhecimentos por meio de intervenções
apropriadas do professor. Por isso, identificamos, segundo Gascón (2001),
uma perspectiva Construtivista.
312
Referências Bibliográficas
Referências BibliográficasReferências Bibliográficas
Referências Bibliográficas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas. NBR 14724. Informação e
documentação Trabalhos Acadêmicos Apresentação
. Rio de Janeiro:
ago.2002, 6 p.
APOS,
Arquivo Pessoal Osvaldo Sangiorgi. São Paulo: Programa de Estudos
Pós-Graduados, Pontifícia Universidade Calica de São Paulo. 2007
BORGES, R. A. S.
A Matemática Moderna no Brasil: As primeiras Experiências
e Propostas de seu Ensino. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática).
São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Novembro de 2005.
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Secretaria de Educação
Fundamental;
Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática. Brasília, 1998.
BÜRIGO, E. Z.
Movimento da matemática moderna no Brasil: estudo da ação e
do pensamento de educadores matemáticos nos anos 60. Dissertação
(Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1989.
BÜRIGO, E. Z.
A modernização possível e necessária segundo Sangiorgi. (em
prelo). Rio Grande do Sul: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2007.
CHARTIER, R.
O mundo como representação. Tradução: Andréa Daher e Zenir
Campos Reis. Estudos Avançados, 11 (5), 1991, p. 173-191.
CONGRESSO Nacional de Ensino da Matemática, II, Porto Alegre, 1957.
Anais. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul. RS, 1959.
D'AMBROSIO, B. S.
The Dynamics and consequences of the modern
mathematics reform movement for Brazilian mathematics education
. Tese de
Doutorado, Indiana University, E.U.A, 1987.
313
GASCÓN, J. La necesidad de utilizar modelos en didáctica de las matemáticas.
Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação Matemática,
São Paulo, v. 5, n. 2, 2003, pp. 11–37.
_________. Incidencia del modelo epistemológico de las matemáticas sobre las
prácticas docentes. Revista Latino-americana de Investigación en Matemática
Educativa, México, v. 4, n. 2, jul. 2001, pp. 129–159.
GEEM Grupo de Estudos do Ensino da Matemática.
Matemática Moderna
para o Ensino Secundário
. GEEM em cooperação com IBECC Instituto
Brasileiro de Educação, Ciências e Cultura. São Paulo: IBECC, 1962.
GIOVANNI, J. R.; CASTRUCCI, B.; GIOVANNI JR., J. R.
A Conquista da
Matemática
: Teoria e Aplicação. 5ª série. São Paulo: FTD, 1992.
GIOVANNI, J. R.; CASTRUCCI, B.; GIOVANNI JR., J. R.
A Conquista da
Matemática
: Teoria e Aplicação. 6ª série. São Paulo: FTD, 1992.
GIOVANNI, J. R.; CASTRUCCI, B.; GIOVANNI JR., J. R.
A Conquista da
Matemática
: Teoria e Aplicação. 7ª série. São Paulo: FTD, 1992.
GIOVANNI, J. R.; CASTRUCCI, B.; GIOVANNI JR., J. R.
A Conquista da
Matemática
: Teoria e Aplicação. 8ª série. São Paulo: FTD, 1992.
IMENES, L. C. LELLIS, M.
Matemática para todos. série. São Paulo: Editora
Scipione, 2002.
IMENES, L. C. LELLIS, M.
Matemática para todos. série. São Paulo: Editora
Scipione, 2002.
IMENES, L. C. LELLIS, M.
Matemática para todos. série. São Paulo: Editora
Scipione, 2002.
IMENES, L. C. LELLIS, M.
Matemática para todos. série. São Paulo: Editora
Scipione, 2002.
314
KEITEL, C. e KILPATRICK, J. (1999). Racionalidade e irracionalidade dos
estudos comparativos internacionais
. Educação e Matemática 55, p.71-80
(tradução de Keitel e Kilpatrick, 1998).
LEME DA SILVA, M. C.
A Geometria escolar Moderna de Osvaldo Sangiorgi.
(em prelo). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.
LEME DA SILVA, M. C. e DUARTE, A. R. S.
Abaixo Euclides e acima quem?
Uma análise do ensino de Geometria nas teses e dissertações sobre o
Movimento da Matemática Moderna no Brasil. In: Práxis Educativa. Ponta
Grossa, PR, v. 1, n. 1, p. 87-93, jan.-jun 2006.
LEME DA SILVA, M. C. e OLIVEIRA, M. C. A.
A Geometria escolar e a
Matemática moderna no Brasil: cenas de um casamento conturbado
. In: Anais
do Profmat. Setúbal, Portugal, 2006.
LIMA, F. R. GEEM
Grupo de Estudos do Ensino da Matemática e a
Formação de Professores durante o Movimento da Matemática Moderna no
Brasil
. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2006.
LUZ, V. A.
Um estudo sobre o ensino das Transformações Geométricas: da
reforma da Matemática Moderna aos dias atuais. Dissertação (Mestrado em
Educação Matemática). São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo, 2007.
MIORIM, M. A.
Livros didáticos de Matemática do peodo de implantação do
Movimento da Matemática Moderna no Brasil
. In: CONGRESSO IBERO-
AMERICANO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, V,2005, Porto. Actas. Porto:
2005. Disponível em <http://www.mytwt.net/cibem5/>
___________.
Introdução à História da Educação Matemática. São Paulo:
Atual, 1998.
315
PAVANELLO, M. R. O abandono do ensino da geometria no Brasil: causas e
conseqüências. In: Revista Zetetiké, ano 1, nº 1, pp. 07-17. UNICAMP,
Faculdade de Educação, 1993.
PIRES, C. M. C.
A Educação Matemática no Brasil. Revista Iberoamericana de
Educación Matemática, n.3, septiembre, 2005, pp. 53-72. Disponível em:
http://www.fisem.org/descargas/3/Union_003_008.pdf. Acesso em: 05 junho
2008.
_____________.
Ensino de Geometria no Brasil: uma análise com base em
modelos de referência que colocam em relação à epistemologia e a didática da
Geometria. Anais da VII Reunião de Didática da Matemática do Cone Sul,
Águas de Lindóia, São Paulo, Brasil (08 a 11 de Outubro de 2006). Painel 2.
CD ROM.
_____________.
Currículos de matemática: da organização linear à idéia de
rede. São Paulo: FTD, 2000, 223p.
SANGIORGI, O.
Matemática Clássica ou Matemática Moderna, na elaboração
dos programas do ensino secundário? In: II Congresso Nacional de Ensino da
Matemática, 1957. Porto Alegre. Anais. 1959. pp. 398-407.
_____________.
Matemática Curso Moderno. Ed. 9. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, vol. 3, 1971.
_____________.
Matemática Curso Moderno. Ed. 11. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, vol. 1, 1968.
_____________.
Matemática Curso Moderno. Ed. 6. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, vol. 2, 1968.
_____________.
Matemática Curso Moderno. Ed. 2. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, vol. 4, 1968.
316
SÃO PAULO. Secretaria da Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas.
Proposta Curricular para o ensino de Matemática: grau. 4. ed.
São Paulo: SE/CENP, 1992. 181p. il.
___________. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas.
Subsídios
para a implementação do guia curricular de Matemática
: geometria para o
grau – 5ª a 8ª série. São Paulo, SE/CENP, 1978. 72p.
___________.
Guias Curriculares para o ensino de grau. São Paulo,
CERHUPE, 1975. 276p.
SILVA, V. Osvaldo Sangiorgi e o “fracasso da Matemática Moderna” no Brasil.
Dissertação (Mestrado em Educação Matemática). São Paulo: Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2007.
SOARES, F. S.
Movimento da Matemática Moderna no Brasil: Avanço ou
Retrocesso? Dissertação (Mestrado). Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro, 2001.
SOUZA, G.L.D. Três Décadas de Educação Matemática: Um Estudo de Caso
da Baixada Santista no período de 1953-1980. Dissertação (Mestrado em
Educação Matemática). São Paulo: Departamento de Matemática. Rio Claro:
Universidade Estadual Paulista – UNESP, 1998.
VALENTE, W. R.
Osvaldo Sangiorgi, um best-seller. (em prelo).São Paulo:
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2007.
______________.
História da Educação Matemática: Interrogações
Metodológicas. Grupo de Estudos de História da Educação Matemática,
Universidade Nova de Lisboa. Portugal, jun. 2005.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo