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SERGIO FARAH
ANÁLISE DE ESTRATÉGIA CORPORATIVA:
UM ESTUDO DE CASO DO LANÇAMENTO
DO FORD ECOSPORT NO BRASIL
Dissertação de Mestrado em
Administração apresentada
à Universidade Paulista
UNIP, para obtenção do
título de Mestre
Área de Concentração:
Administração
Linha de Pesquisa:
Estratégia Empresarial
Orientador: Prof. Dr. Roberto Bazanini
SÃO PAULO
2009
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SERGIO FARAH
ANÁLISE DE ESTRATÉGIA CORPORATIVA:
UM ESTUDO DE CASO DO LANÇAMENTO
DO FORD ECOSPORT NO BRASIL
Dissertação de Mestrado em
Administração apresentada
à Universidade Paulista
UNIP, para obtenção do
título de Mestre
Área de Concentração:
Administração
Linha de Pesquisa:
Estratégia Empresarial
Aprovado em:
BANCA EXAMINADORA
___________________________________/__________/_______
Orientador Prof. Dr. Roberto Bazanini
Universidade Paulista - UNIP
___________________________________/__________/_______
Prof. Dr. Ademir Antonio Ferreira
Universidade Paulista - UNIP
___________________________________/__________/_______
Prof. Dr. Mauro Neves Garcia
Universidade Municipal de São Caetano do Sul USCS
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DEDICATÓRIA
Para meus filhos Camila e Eduardo
Que o esforço realizado para conclusão deste trabalho sirva
como motivação para os grandes desafios de suas vidas.
AGRADECIMENTOS
Esta dissertação não é somente resultado de esforço individual do autor, e
sim fruto de incentivo, apoio e inspiração de várias pessoas.
Inicialmente, agradeço ao meu orientador, Prof. Dr Roberto Bazanini, pela
orientação na realização do trabalho. Sem sua ajuda, colaboração, visão
pragmática, apoio e confiança este trabalho não teria sido possível.
Agradeço ao Prof. Dr. Ademir Antonio Ferreira e ao Prof. Dr. Denis Donaire,
qualificadores do projeto, pelas inestimáveis contribuições ao trabalho, pela
amizade e apoio pessoal perante as dificuldades encontradas nas diversas etapas.
Agradeço aos Professores Dr. Ademir Antonio Ferreira e Dr. Mauro Neves
Garcia por terem aceitado o convite para compor a banca examinadora.
Em especial, agradeço muito ao Prof. Dr. João Chang Junior, que além da
colaboração em etapas do trabalho, possibilitou importantíssimo contato com
gestor da Ford.
Cabe aqui lembrar com muito carinho do Prof. Dr. Ralph Santos,
coordenador do curso de Mestrado em Administração da UNIP. Além de
coordenador do curso, o Prof. Ralph colaborou muito no direcionamento do
embasamento teórico da dissertação e na adoção da RBV (Resource Based View)
como ferramenta principal de avaliação dos recursos estratégicos empregados pela
Ford, no lançamento do EcoSport, em 2003.
Agradeço a todos os entrevistados que disponibilizaram seu tempo, muito
ajudando na realização desta dissertação.
E, especialmente: a Profa. MS. Leila Sandra Damião Farah, minha esposa,
ao Sr. Emílio Damião, meu sogro, a D. Yvone Farah, minha mãe e ao Prof. Dr.
Flavio Farah, meu irmão, pelo incentivo, apoio e carinho desde o primeiro
momento. Sem eles nada disto teria sido possível.
Postumamente, não quero deixar de agradecer a meu pai, o catedrático
Prof. Dr. Edison Farah, que foi sempre referência de retidão e coerência para
minha trajetória profissional e acadêmica, e a meu irmão, o Prof. Ms. Claudio
Farah, que foi sempre exemplo de postura e que participou como conselheiro, de
muitas decisões importantes de minha vida.
RESUMO
O objetivo do presente trabalho é estudar a estratégia utilizada pela Ford do
Brasil no lançamento do EcoSport e identificar os recursos utilizados por esta
montadora, que possibilitaram a geração de vantagens competitivas que
justifiquem a liderança atingida pelo EcoSport frente a seus concorrentes. Para tal,
foi elaborado um referencial teórico, contendo inicialmente definições,
terminologias e conceitos sobre estratégia para, em seguida, expor as teorias dos
principais autores que trabalham sobre o tema, principalmente aqueles cujas
teorias serão mais utilizadas nas considerações finais (Barney, 2007 e Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel, 1998). Elaborou-se um resumo sobre RBV (Resource Based
View), Vantagem Competitiva e Gerenciamento Estratégico na visão de vários
autores e em especial de Barney (2007), e em seguida, com base na obra de
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), tratou-se do tema empreendedorismo e das
demais escolas de estratégia. Os conceitos de Vantagem Competitiva e o modelo
VRIO são apresentados com o intuito de fornecer detalhes sobre a aplicação do
modelo. Por intermédio de pesquisa exploratória de natureza qualitativa e
entrevistas com: especialistas do mercado automobilístico, funcionários e
revendedores da Ford e de concessionárias concorrentes, cujas transcrições foram
analisadas pela técnica qualitativa de análise de conteúdo. Buscou-se, com isso,
evidenciar as estratégias, competências e recursos percebidos no lançamento do
EcoSport. Os resultados da pesquisa apontam para três recursos geradores de
vantagens competitivas, em consonância com os pressupostos das vertentes
estratégicas da Escola Empreendedora, da Escola do Posicionamento e da Escola
Ambiental, respectivamente, ou seja, a presença do líder visionário e
empreendedor, a estratégia de diferenciação e a estrutura da fábrica com
capacidade de atender à demanda, em Camaçari.
Palavras-Chave: estratégia corporativa, mercado automobilístico, Ford EcoSport.
ABSTRACT
This work objective is to study the strategy used by Ford do Brasil in the
EcoSport launch in the Brazilian automotive market and identify the resources used
by this auto manufacturer that leaded to competitive advantages generation, that
can justify the leadership achieved by EcoSport in its market place. For making that
possible, a theoretical referential was built, starting with definitions, usual
terminology and concepts used in the corporate strategy field, presenting the main
authors in the strategy field theories, especially those that will be more explored in
the results analysis chapter (Barney 2007 and Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998).
A summarized description on RBV, Competitive Advantage and Strategic
Management was made, on several author‘s views, emphasizing the work done by
Barney (2007). Based on Mintzberg, Ahlstrand, Lampel work (1998), the
entrepreneurship theme and also the other nine strategies schools are described.
The concepts of Competitive Advantage and the VRIO model are then presented,
making available details that will allow the VRIO model application in the current
work. Through qualitative exploratory surveys, publications about the Brazilian
automotive market and interviews with automobilist market specialists, Ford
employees and dealers, analyzed by content techniques, it was targeted to highlight
the strategies, competences and resources used in this launch. Survey results
pointed to three resources generating competitive advantages, in consonance with
the Entrepreneurship, Positioning and Environmental strategy schools, respectively:
the visionary and entrepreneur leader presence, the differentiation strategy and the
plant structure in Camaçari, able to cope with the demand.
Key words: corporate strategy, automotive market, Ford EcoSport,
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Matriz SWOT 13
FIGURA 1 b A Matriz SWOT na escolha da melhor estratégia 14
FIGURA 2 Número de concessionárias Ford ativas ao longo do tempo 28
FIGURA 3 Evolução do PIB Brasileiro 2001 2006 (em bilhões de R$) 32
FIGURA 4 Posição relativa dos países por renda per capta 33
FIGURA 5 As quatro bases de sustentação de vantagem competitiva 51
FIGURA 6 Fluxograma estrutural da gestão estratégica 66
FIGURA 7 Representação gráfica do processo de elaboração
do trabalho 84
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Resultado da participação de mercado (Market Share) da
Ford do Brasil, com e sem o EcoSport 27
TABELA 2 Vendas anuais dos principais modelos expressas em número
absoluto de veículos, comercializados pela Ford no Brasil 29
TABELA 3 Evolução de vendas de veículos Off-Road no Brasil 39
TABELA 4 Consolidação numérica das opiniões dos cinco funcionários da
Ford, com a evidenciação dos principais recursos destacados
unanimemente 117
TABELA 5 Tabulação dos resultados - entrevistas com concessionárias 125
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Relação das perguntas que devem se respondidas
positivamente no modelo VRIO 62
QUADRO 2 Análise de recurso ou capacidade e suas implicações 64
QUADRO 3 Representação sinóptica do protocolo 79
QUADRO 4 Relação de recursos gerada na entrevista com
especialista em Off-Road 89
QUADRO 5 Relação final de recursos gerada da entrevista com
executivo da Ford 91
QUADRO 6 Tabulação das respostas funcionário 1 93
QUADRO 7 Tabulação das respostas funcionário 2 94
QUADRO 8 Tabulação das respostas funcionário 3 95
QUADRO 9 Tabulação das respostas funcionário 4 96
QUADRO 10 Tabulação das respostas funcionário 5 97
QUADRO 11 Consolidação das respostas dos funcionários da FORD 99
QUADRO 12 Correlação entre as perguntas e as escolas estratégicas 105
QUADRO 13 Relação dos recursos e competências geradores de
vantagem competitiva pelo modelo VRIO (Barney, 2007) 118
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
Justificativa .......................................................................................................................................... 17
Delimitação da pesquisa .................................................................................................................... 18
O problema da pesquisa ..................................................................................................................... 19
Objetivo geral....................................................................................................................................... 19
Objetivos específicos ......................................................................................................................... 20
Estruturação dos Capítulos ............................................................................................................... 20
1 SITUAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA ............................................................. 22
1.1 Pesquisas relacionadas ao tema ................................................................................................. 22
1.2 O caso da Ford no Brasil .............................................................................................................. 24
1.3 O EcoSport dentro do portfólio da Ford e em contexto ampliado ........................................... 28
1.4 Cenário automobilístico brasileiro e o mercado Off-Road ....................................................... 30
2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 40
2.1 Definições no campo de estudos da Estratégia nas Organizações ........................................ 40
2.2 Administração Estratégica, vantagem competitiva e o RBV .................................................... 45
2.3 Aplicação do modelo VRIO .......................................................................................................... 63
2.4 Complementação entre RBV e Estratégias Porterianas ........................................................... 65
2.5 O RBV dentro das escolas de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) ...................................... 66
2.6 Estratégia e empreendedorismo ................................................................................................. 74
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 77
3.1 Protocolo de pesquisa .................................................................................................................. 78
3.2 Roteiro das entrevistas frente aos objetivos da pesquisa ....................................................... 84
3.3 Confidencialidade das informações ............................................................................................ 85
4. RESULTADO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS RESULTADOS ........................ 87
4.1 Resultados das entrevistas .......................................................................................................... 87
4.2 Análise de resultados ................................................................................................................. 102
4.3 Dificuldades na realização da pesquisa ................................................................................... 129
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 131
1. Verificação do alcance dos objetivos propostos....................................................................... 132
2. Reflexão crítica sobre a interação do caso real com as diferentes teorias. ........................... 134
3. Limitações do presente trabalho e recomendações para estudos futuros ............................ 138
REFERÊNCIAS: ..................................................................................................... 140
ANEXOS ................................................................................................................. 147
Anexo 1 Roteiro de entrevista com executivo da Ford .............................................................. 147
Anexo 2 Perguntas para a pesquisa de campo com funcionários da Ford ............................. 149
Anexo 3 Perguntas para pesquisa de campo com vendedores de concessionárias: ............ 152
APÊNDICES ........................................................................................................... 153
12
INTRODUÇÃO
De modo geral, a estratégia Corporativa ocupa-se, principalmente, com a
seleção dos negócios nos quais a companhia deve competir e com o
desenvolvimento e coordenação do portfólio de negócios, visto que, deve nortear
as estratégias dos níveis hierarquicamente inferiores ao gerenciar seus portfólios
de negócio, garantindo que esses sejam bem sucedidos a longo prazo,
desenvolvendo, por exemplo, novas unidades de negócios e que cada negócio
seja compatível com os demais do portfólio.
No nível dos negócios, as estratégias dizem respeito ao desenvolvimento e
manutenção de vantagem competitiva para os bens e serviços que são produzidos,
onde se busca prever e se antecipar às mudanças de mercado, se posicionar
contra concorrentes e influenciar a natureza da competição por meio de estratégias
Funcionais.
As estratégias funcionais ocorrem nos departamentos e nas divisões de
operação, por isso, envolvem o desenvolvimento e coordenação de recursos
através dos quais as estratégias das unidades de negócio possam ser eficiente e
eficazmente executadas.
Uma vez que as estratégias corporativas estejam desenvolvidas, as
unidades de negócio as traduzem em planos de ação que cada departamento ou
divisão deve implantar na busca da realização dos objetivos dos planos de ação.
Evidentemente, a eficiência e eficácia das ações estratégias estarão
indissoluvelmente relacionadas às ameaças e oportunidades do ambiente externo
bem como aos pontos fortes e pontos fracos dos recursos internos da empresa
como representado na Matriz SWOT.
O nome SWOT é um acrônimo originado de quatro palavras da língua
inglesa: Strength: força; Weakness: fraqueza; Opportunities: oportunidades;
Threats: ameaças. A matriz SWOT é uma ferramenta utilizada na organização do
planejamento estratégico, estabelecendo a relação entre pontos fortes e fracos,
ameaças e oportunidades. São analisados os pontos fortes e fracos,
principalmente os inerentes ao ambiente interno, sendo compostos essencialmente
pelos recursos físicos, humanos e organizacionais. As ameaças e oportunidades,
13
igualmente, são analisadas em consonância com o ambiente externo, tomando-se
por base as forças político, legais, sociais, econômicas e tecnológicas.
Qualquer análise de ambiente externo deve prever todas as probabilidades
que um determinado evento ocorra, sinalizando alternativas de cenários para todas
as possibilidades, uma vez que o ambiente externo é dinâmico e altera-se
constantemente.
Figura 1 Matriz SWOT
Fonte: Formatado pelo autor com base em Kotler (2002, 46)
Esse quadrante propicia o estabelecimento de diversas teorias de estratégia
para explicar o alcance de vantagem competitiva ao integrar o ambiente externo
com o ambiente interno, visto que, segundo Machado (2005), a análise SWOT
permite alcançar uma orientação estratégica bastante significativa, pois permite:
1. Eliminar pontos fracos nas áreas pelas quais a empresa enfrenta ameaças
graves da concorrência e tendências desfavoráveis perante o negócio;
2. Compreender oportunidades descobertas a partir de seus pontos fortes;
3. Corrigir pontos fracos nas áreas em que a organização vislumbra oportunidades
potenciais;
4. Monitorar áreas onde a organização possui pontos fortes afim de não ser
surpreendida futuramente por possíveis riscos e incertezas.
Em conseqüência do dinamismo do ambiente, as ações estratégicas são
adaptativas ao responder às contingências ambientais na medida em que elas
ocorram, visando, com isso, o alcance dos objetivos estratégicos da organização.
Strengths
ou Forças
Weaknesses
ou Fraquezas
Opportunities
ou Oportunidades
Threats
ou Ameaças
Ambiente
externo
Ambiente
interno
Favorável
Desfavorável
Strengths
ou Forças
Weaknesses
ou Fraquezas
Opportunities
ou Oportunidades
Threats
ou Ameaças
Ambiente
externo
Ambiente
interno
Favorável
Desfavorável
14
Deriva daí, que o grande ponto a ser buscado é o equilíbrio, isto é, a busca
da manutenção da estabilidade com o reconhecimento da necessidade de
mudanças, quando necessário (Mintzberg, Ahlstrand, Lampel,1998).
O diagnóstico estratégico realizado com a análise SWOT favorece a escolha
da melhor estratégia a ser usada no planejamento. A figura a seguir resume esta
possibilidade:
Figura 1 b A matriz SWOT na escolha da melhor estratégia
Fonte: Araujo (2005)
Algumas orientações estratégicas como a Escola Ambiental e a Escola do
Posicionamento, tendem a identificar as estratégias voltadas para o seu aspecto
externo, por sua vez, a Escola Empreendedora e a Teoria do RBV (Resource
Based View), tendem a acentuar mais os seus aspectos internos como fonte de
vantagem competitiva.
Segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) a estratégia corporativa de
uma empresa deve contemplar um horizonte de longo prazo, deve ser estável e
refletir os propósitos e objetivos organizacionais e, como o ambiente é dinâmico e
novas situações surgem a cada momento, ações estratégicas são tomadas pela
empresa com a finalidade de retomar o rumo traçado, independente das
dificuldades que possam surgir no percurso.
Em conseqüência desse dinamismo, as ações estratégicas são adaptativas
ao responder às contingências ambientais na medida em que elas ocorram,
visando, com isso, o alcance dos objetivos estratégicos da organização.
15
Unindo essas duas perspectivas abordaremos no lançamento do Ford
EcoSport, tanto as estratégias mais direcionadas para o ambiente interno quanto
as estratégias mais direcionadas para o ambiente externo.
A opção por esses referenciais resultou do primeiro contato em fevereiro de
2008, realizado com o vice-presidente da Ford (na época do lançamento do
EcoSport em 2003) Luc de Ferran. Nesse contato evidenciou-se, dentre outros
aspectos, a integração entre o ambiente interno e externo no estabelecimento das
estratégias que resultaram em significativa vantagem competitiva para a Ford no
segmento Off-Road.
Desde a instalação da FORD do Brasil em 1919, a primeira montadora a
operar no país, a indústria automobilística brasileira tem paulatinamente
aumentado sua importância no contexto econômico nacional, conforme afirma
Micaelo (2003). Em 2007 ela representava por volta de 5,4 % do PIB do Brasil,
conforme dados da ANFAVEA (2007) sendo o mercado brasileiro um dos principais
mercados mundiais de consumo de automóveis. Em 2008 o Brasil assumiu a sexta
posição entre os países produtores, conforme Ishikawa (2009), subindo uma
posição com relação ao ranking do ano anterior.
Com a implantação do Plano Real no Brasil, em 1994, o setor
automobilístico, que até então era bastante protegido e pouco influenciado por
importações de veículos, teve o cenário bastante alterado. A disponibilização de
veículos importados inicialmente por empresas independentes e posteriormente
pelas próprias montadoras, assim como a vinda de novas montadoras, alterou
significativamente a dinâmica deste mercado, que passou a oferecer uma
variedade de modelos imensamente maior para os consumidores, segundo Micaelo
(2003). Por outro lado, a globalização e o aumento do poder aquisitivo de parte da
população brasileira, são fatores que contribuem para uma maior sofisticação e
especificidade nas demandas do publico consumidor, possibilitando o
aparecimento de nichos de mercado (segundo Kotler, 2002, 144). Um dos novos
nichos de mercado que este novo cenário propiciou, foi o de veículos de esporte e
utilidade (conhecido como SUVs), nicho este caracterizado por modelos de
automóveis preparados para trânsito em terrenos fora de estrada (ou Off-Road),
mas com conforto e dirigibilidade suficientes também para utilização urbana. Desde
16
a abertura do mercado em 1990, este segmento foi atendido principalmente por
veículos importados, e ate 2002, a participação dos veículos Off-Road
representava por volta de 3% do mercado total de veículos no Brasil conforme
informações da FENABRAVE e ANFAVEA (2007).
O lançamento do EcoSport pela Ford em 2003, assim como os movimentos
dos competidores desta montadora neste nicho de mercado, fizeram com que os
veículos Off-Road mais do que dobrassem sua participação, atingindo em 2005, a
significativa marca de 8% do mercado de automóveis no Brasil (FENABRAVE e
ANFAVEA 2007). Ao mesmo tempo, este lançamento fez parte de um plano de
recuperação de mercado colocado em prática pela Ford, e representou um
aumento direto de 3% na participação de mercado da montadora no Brasil,
tornando-a líder neste nicho de mercado (FENABRAVE e ANFAVEA 2007).
Por outro lado, a exploração de nichos de mercado, assim como a busca de
vantagem competitiva sobre os concorrentes, são assuntos de relevada
importância nos estudos acadêmicos sobre estratégia corporativa, sendo tratados
nas obras de importantes autores como Michael Porter (1998), Jay Barney (1991 e
2007) e Henry Mintzberg (1998).
Este trabalho busca caracterizar a importância da compreensão das
vertentes estratégicas como fonte de vantagem competitiva, tanto para a pesquisa
acadêmica quanto para o mercado automobilístico, contribuindo para o estudo das
estratégias na perspectiva científica. Procura-se evidenciar a importância da fusão
das diferentes vertentes estratégicas sistematizadas por Mintzberg, Ahlstrand,
Lampel (1998) e, como toda sistematização, apresenta os elementos teóricos
separadamente, a pesquisa aponta a necessidade de integração e
correspondência, visto que, a realidade é dinâmica e, portanto, as diferentes
teorias representam certa aproximação com a realidade e não a realidade em si.
O caso escolhido é entendido como emblemático, dadas as peculiaridades
que o envolvem. Além de se tratar do veículo de maiores vendas em um nicho de
mercado relativamente novo e de significativo crescimento, tratou-se de um projeto
desenvolvido nacionalmente que passou a ser exportado para inúmeros outros
países.
17
Para possibilitar o estudo e a identificação das estratégias em uso neste
caso, realizou-se inicialmente uma pesquisa bibliográfica na área de estratégia
corporativa, acompanhada de entrevista com especialistas do mercado Off-Road
brasileiro, assim como entrevistas com funcionários da Ford e vendedores de
concessionárias de veículos.
Justificativa
O interesse pelos veículos Off-Road está bastante presente em minha vida.
Além de me interessar muito pelo aspecto técnico dos automóveis e de sua
indústria, a dinâmica do mercado automotivo também é objeto de meu interesse. A
união entre o estudo do sucesso do lançamento do Ford EcoSport e o estudo das
estratégias utilizadas pela montadora neste lançamento, foi resultado de inúmeras
consultas e debates com os docentes e orientadores do curso de mestrado em
administração da UNIP.
A escolha das teorias sobre estratégias corporativas a que se iria recorrer
para realização do estudo foi definida praticamente em conjunto com a definição do
objeto de estudo. Tanto os docentes e orientadores quanto a evolução da base
teórica que foi sendo adquirida pelo autor ao longo da realização das cadeiras
componentes da grade curricular do curso de mestrado, permitiram visualizar que a
identificação das vantagens competitivas geradas pelos recursos utilizados pela
Ford conforme Barney (2007) assim como a identificação das escolas
estratégicas a que poderiam pertencer estes recursos possibilitariam uma visão
transversal entre as teorias de RBV e as escolas estratégicas preconizadas por
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), revelando assim a estratégia (ou estratégias)
utilizadas pela Ford naquele lançamento.
A partir de 1994, com o acentuado crescimento da economia brasileira
decorrente da estabilização desta pela implantação do Plano Real, o mercado dos
veículos Off-Road no Brasil se tornou um segmentos de produto ou nicho de
mercado importante na indústria automobilística nacional. Com o próprio
crescimento da indústria automobilística em si no Brasil, e com a liberação das
18
importações, foram desenvolvidos inúmeras pesquisas relacionadas às estratégias
empregadas pela indústria automobilística por ocasião dos lançamentos de seus
produtos.
Entretanto, apesar desses trabalhos analisarem os diferentes produtos da
indústria automobilística, com exceção da pesquisa desenvolvida por Ziles (2006),
praticamente inexistem trabalhos relacionados ao segmento Off-Road.
O presente trabalho pretende preencher essa lacuna ao buscar identificar as
estratégias empregadas no lançamento do Ford EcoSport em 2003 e,
conseqüentemente, as vantagens competitivas alcançadas.
Em termos teóricos, as correlações que se estabelecem entre as vantagens
competitivas e as estratégias propostas por Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998)
podem constituir instrutivos exemplos das estratégias corporativas no universo da
gestão empresarial.
E, como no campo das estratégias, as diferentes abordagens tendem
sempre a apresentar uma visão parcial do fenômeno, visto que, a totalidade nunca
é alcançada, em nossa pesquisa, decorrente da opinião dos entrevistados,
propomos analisar o lançamento do Ford EcoSport em 2003 na perspectiva da
Escola do Posicionamento, Escola Ambiental, Escola da Aprendizagem (com
ênfase na teoria do RBV) e Escola do Empreendedorismo .
Desse modo, busca-se preencher essa lacuna do conhecimento ao
contribuir para uma melhor compreensão da aplicabilidade das estratégias no
mercado automobilístico no segmento Off-Road.
Delimitação da pesquisa
O presente trabalho se concentra no segmento automobilístico brasileiro, em
especial no nicho de mercado dos veículos tidos como Off-Road, analisando as
ações da montadora Ford do Brasil desde o início do projeto do EcoSport em 1996
(após dois anos da implantação do Plano Real) até o seu lançamento em 2003.
Analisa-se também os resultados de vendas no mercado como um todo e o nicho
de mercado de veículos Off-Road entre 2002 e 2007. Informações sobre outras
19
montadoras concorrentes aparecem no trabalho, porém, estas não são objetos de
estudo no presente trabalho.
O problema da pesquisa
Como propôs Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) na ilustrativa metáfora
do elefante, a identificação da estratégia utilizada por determinada empresa, não é
algo evidente. Tanto pela existência de diversas linhas teóricas que definem as
estratégias, quanto pela diversidade de ações realizadas pelas empresas,
principalmente aquelas que buscam a geração de vantagens competitivas, é difícil
identificar quais as ações definitivamente são decisórias e como se deve classificá-
las dentro das teorias.
Daí a importância da fusão das diferentes vertentes estratégicas para se
analisar criticamente o objeto de estudo em questão.
O problema da pesquisa do lançamento do Modelo Ford EcoSport pode ser
sintetizado em duas questões:
1. Quais as estratégias utilizadas pela Ford no lançamento do EcoSport?
2. Como essas estratégias se relacionam com a vantagem competitiva e com o
sucesso do empreendimento ?
Objetivo geral
Identificar e estudar as estratégias utilizadas pela Ford do Brasil, no
lançamento do veículo EcoSport
Relacionar os recursos utilizados que possibilitaram a geração de vantagens
competitivas capazes de justificar a liderança atingida pelo EcoSport frente
aos seus concorrentes no segmento Off-Road.
20
Objetivos específicos
1 Conhecer a opinião dos funcionários da Ford sobre os recursos
utilizados pela empresa, na perspectiva da teoria do RBV (mais
especificamente sobre o modelo VRIO de Barney) e das Escolas de
Estratégia sistematizadas por Mintzberg.
2 Conhecer a opinião dos funcionários das concessionárias da Ford e
concorrentes sobre as vantagens competitivas alcançadas pela empresa,
segundo a RBV e as Escolas de Estratégia sistematizadas por Mintzberg.
Estruturação dos Capítulos
O primeiro capítulo, Situação do Objeto de Pesquisa, dedicou-se à
contextualização do Cenário automobilístico brasileiro e o mercado Off-Road,
destacando as pesquisas relacionadas a esse segmento ou nicho de mercado,
com ênfase nos antecedentes históricos dos lançamentos da Ford e,
especificamente, a análise direcionada para o mercado Off-Road. Aborda o
EcoSport dentro do portfólio da Ford e em contexto ampliado, explicitando a
nomenclatura e sub-segmentação dos veículos Off-Road para um melhor
entendimento das características e especificidades desse mercado.
O segundo capítulo, Referencial Teórico, apresentou as inúmeras definições
no campo de estudos da estratégia nas organizações, desde suas origens,
passando pelos estrategistas do início do capitalismo (eram tanto militares quanto
empreendedores) até chegar nas peculiaridades das estratégias modernas, com
ênfase na sistematização do pensamento estratégico proposto por Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel (1998), e Barney, (1991 e 2007). Além de discorrer sobre as dez
principais orientações estratégicas por meio da análise criteriosa, aponta os
diversos modos como a estratégia pode ser utilizada, seja como plano, manobra,
padrão de comportamento, posição e perspectiva, para finalmente, apresentar o
processo da administração estratégica com ênfase na vertente empreendedora no
21
modelo proposto pela RBV relacionada aos elementos presentes na abordagem
porteriana.
O terceiro capítulo, Metodologia, descreveu os procedimentos empregados,
o protocolo de pesquisa, a descrição da metodologia em consonância com o
protocolo e estabelece as relações entre as perguntas das entrevistas e os
objetivos do trabalho.
O quarto capítulo apresentou os resultados da entrevista de campo com o
especialista em Off-Road, Luiz Fernando Carqueijo, com o executivo da Ford, Luiz
Flores, os resultados da pesquisa com os funcionários da Ford e com os
funcionários das concessionárias. Os resultados obtidos foram submetidos à
técnica da Análise de Conteúdo, o que permitiu evidenciar a percepção dos
entrevistados em relação as vantagens competitivas alcançadas decorrentes das
estratégias empregadas. Com base nesses resultados serão feitas as
Considerações Finais.
22
1 SITUAÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA
Neste capítulo estão relacionadas informações sobre o objeto da pesquisa.
Inicialmente, foram pesquisados trabalhos recentemente desenvolvidos sobre o
tema estratégia na indústria automobilística. Em seguida, é apresentado breve
histórico da evolução da Ford no Brasil para, na seqüência, posicionar-se o
EcoSport no contexto de mercado e no portfólio de produtos da montadora.
1.1 Pesquisas relacionadas ao tema
Inúmeros trabalhos acadêmicos realizados nas últimas duas décadas têm
como foco as estratégias utilizadas pela indústria automobilística brasileira. É
natural que esta indústria tenha se tornado um dos focos para estudos
relacionados a estratégias corporativas ou mesmo estratégias específicas, por se
tratar de indústria altamente profissionalizada, com estrutura e abrangência de
mercado de grandes dimensões, permitindo a utilização das ferramentas mais
atuais na gestão de seus negócios, além de representar aproximadamente 22% do
PIB industrial brasileiro e 5,4% do PIB total do país em 2007 (ANFAVEA, 2007).
Pode-se citar como exemplos acadêmicos de trabalhos ligados à estratégia
na indústria automobilística, a recente dissertação desenvolvida por Fábio Veloso
Vicente da Silva (2007) onde fez uma análise das estratégias utilizadas pelas
principais montadoras presentes no Brasil, comparando o desempenho destas
montadoras (através de resultados de participação de mercado, receita dia por
veículo, crescimento de participação de mercado e outros) com o tipo de estratégia
utilizada.
O interesse pelas estratégias na indústria automobilística é percebido
também pela publicação de artigos, como o de Christian Luiz da Silva (2002) que
descreveu os movimentos realizados pelas principais montadoras atuantes no país,
de forma a aproveitar a tendência de crescimento que despontava no mercado
brasileiro em 2002, assim como de utilizar a experiência e vivência em outros
mercados internacionais, aqui no Brasil. Também abordou o tema, Enéas
23
Gonçalves de Carvalho (2005), em artigo onde descreveu os efeitos da
globalização nas estratégias da indústria automobilística.
Estudos publicados sobre os fatores críticos de sucesso para os
lançamentos de novos veículos, como o realizado por Heitor Luiz Murat et all.
(2005) corroboram na demonstração da relevância do estudo das estratégias na
indústria automobilística brasileira.
Encontra-se presentes nesses estudos: a importância da segmentação do
mercado, o entendimento das necessidades do consumidor e o conhecimento da
concorrência. Estes elementos são normalmente entendidos como externos às
empresas, e abordados em teorias estratégicas como a preconizada por Porter
(1998) e definitivamente presentes na elaboração das estratégias na indústria
automobilística. Não obstante, os recursos e capacidades internas das empresas
também tomam proporções elevadas no estabelecimento das estratégias e estão
igualmente presentes nos trabalhos em referência.
O que em geral se observa, é que as informações externas às empresas
têm servido como diagnóstico e forma de identificação de oportunidades que se
apresentam no mercado e colaboram na formação da estratégia, porém, a
viabilização e a disponibilização de produtos capazes de permitir a exploração das
oportunidades identificadas externamente à empresa, estão diretamente ligadas às
competências e recursos internos disponíveis em cada uma das empresas que
concorrem em determinado segmento de mercado. Neste aspecto, a teoria RBV
passa a ter relevância significativa no estudo das estratégias da indústria
automobilística.
Outro fato a destacar que também tem sido estudado academicamente,
como no trabalho de Fernanda Pagliarini Zilles (2006), é o crescente interesse por
veículos com características Off-Road, sendo que esse interesse não se
somente por parte dos proprietários que desejam realizar aventuras em trajetos
fora de estrada com seus veículos, mas também por aqueles que pretendem dar
somente destinação urbana aos seus veículos.
Foi proposta, então, a diferenciação conceitual do comportamento
baseado em valores utilitários ou instrumentais e do comportamento
baseado na busca pelo prazer ou valores hedônicos. Essas duas visões
24
do comportamento do consumidor são necessárias para explicar os
diferentes tipos de experiências de consumo. Mais especificamente, a
orientação para o processo de decisão ajuda a explicar o consumo
utilitário, enquanto que a visão experiencial se refere principalmente ao
consumo hedônico. São duas perspectivas contrastantes, mas não
necessariamente opostas.‖ (ZILES, 2006, 14).
Entretanto, nenhum desses autores relaciona as estratégias
corporativas com o segmento Off-Road, voltados para o estudo das vantagens
competitivas tendo por base o ambiente interno e o ambiente externo das
organizações.
Por isso, no presente trabalho, o objeto de estudo é a estratégia adotada por
uma das principais montadoras do mercado brasileiro para o lançamento de um
veículo para um segmento específico (Off-Road). O impacto deste lançamento nos
resultados da montadora em estudo foi bastante significativo e o torna um caso de
destaque emblemático, pois envolveu a corporação como um todo, incluindo a
experiência da empresa em outros países e seu grande conhecimento do mercado
brasileiro.
1.2 O caso da Ford no Brasil
A seguir é apresentada uma retrospectiva de fatos que possibilitam
visualizar de forma mais abrangente a situação mercadológica da Ford ao longo do
tempo e a forma como o EcoSport se encaixou na seqüência dos fatos. Trata-se
também, tanto da recuperação da capacidade de investimento como da
reconciliação com a rede de concessionárias.
1.2.1 Retrospectiva
Segundo Jornauto (2004, 1), a subsidiária da matriz americana, fundada em
24 de abril de 1919, surgiu em uma época bastante conturbada, assinalada pelo
final da Primeira Guerra Mundial. A decisão de se instalar aqui foi tomada pelo
25
próprio Henry Ford. A Ford cresceu com o Brasil e chegou a ter mais de 25% de
mercado.
No final de 1986, foi anunciada a criação da Autolatina, uma joint-venture
com 49% do capital controlado pela fábrica americana e 51% pela alemã
Volkswagen. Foi um mau casamento, que não resistiu à crise dos sete anos:
papéis passados em 1987, divórcio anunciado em 1994 e separação de corpos em
1995 segundo o Jornauto (2004, 1).
Naquele período, a Ford apresentou o Verona (1990), versão sedã do
Escort, cuja nova geração seria lançada em 1992, além de uma série de clones de
modelos da fábrica alemã. A empresa sairia da ―joint-venture‖ com 10 pontos
percentuais a menos de participação de mercado (sendo que tinha 19% em 1986),
tendo ainda de enfrentar a abertura às importações. Sem um modelo compacto
competitivo para aproveitar a onda do carro popular, a empresa teria que se
reestruturar totalmente e remodelar toda sua linha de veículos. Em 1996 (apenas
um ano depois do total desligamento da Volkswagen), a Ford lançou o Fiesta para
responder à demanda de carros populares e compactos, junto com a versão leve
do caminhão Cargo. Em 1997, a companhia continuou avançando ao comercializar
a perua Escort, o sub-compacto Ka e a picape leve Courier (estes dois últimos
derivados do Fiesta). Havia tomado a decisão de produzir o novo Fiesta, a partir de
2002, em uma fábrica que utilizaria métodos avançados e totalmente integrada
com os fornecedores, dentro do conceito ampliado de condomínio industrial,
conforme Jornauto (2004, 1).
Projetado de início para Guaíba, RS, o novo complexo industrial acabou
construído em Camaçari, BA. A nova fábrica foi inaugurada ainda em 2001, e sua
inauguração se deu ao mesmo tempo do fechamento da antiga unidade fabril que
ficava quase no centro de São Paulo, SP, e que foi totalmente desativada. Em
meio a toda esta reestruturação, em 2003, a companhia surpreendeu o mercado
brasileiro com o EcoSport, um utilitário esporte compacto com características Off-
Road que inaugurou novo segmento de mercado, o de Off-Road leve e de uso
urbano, conforme Jornauto (2004, 1).
Assim, conforme narra o resumo da retrospectiva publicada pelo Jornauto
(2004, 1), constata-se que na época da dissolução da Autolatina, em 1995, a
26
posição da Ford no mercado brasileiro havia se deteriorado bastante. Após
décadas de participação de mercado acima dos 20%, a empresa dispunha, então,
de apenas 9% de Market Share e havia se distanciado totalmente da briga pela
liderança travada entre Volkswagem (VW), FIAT e General Motors (GM) segundo
os dados da FENABRAVE (2007).
Segundo Cruz (2003, 1 e 2), além da evidente perda de mercado, a Ford
também sofria financeiramente com prejuízos acumulados de US$ 500 milhões,
principalmente pela inadequação de seu inchado quadro de funcionários, à nova
reduzida dimensão da empresa no mercado, e uma linha de produtos
desatualizada e defasada do mercado.
Neste cenário, em julho de 1999, a Ford contratou um executivo para ocupar
o cargo de CEO (Chief Executive Officer) das operações no Brasil e América do
Sul. Antonio Maciel Neto havia se tornado executivo de destaque no mercado
brasileiro, após ter revertido resultados desfavoráveis em dois importantes grupos
econômicos (CECRISA e ITAMARATI), tendo em ambos os casos, implantado
reestruturações e liderado projetos que trouxeram os resultados de volta para o
lado positivo, tendo sido agraciado por várias vezes como ―Empreendedor do Ano‖.
Ainda segundo o autor, o plano de recuperação da empresa incluiu várias
ações, entre as quais a construção da nova fábrica em Camaçari (Bahia), a
demissão de 1800 funcionários e redução de 60% dos custos fixos da empresa.
Por outro lado, contrataram-se 1500 novos funcionários para a operação em
Camaçari, além de 250 novos engenheiros para remodelar a linha de veículos.
Importante também foi a ―pacificação‖ dos revendedores autorizados
(concessionários).
O informativo (INOVA 2008, 1) ressalta que neste ambiente de profundas
alterações, surgiu o Projeto Amazon que, liderado pelo experiente engenheiro,
projetista e então vice-presidente, Luc de Ferran, culminou com o lançamento do
Ford EcoSport em maio de 2003, enfatizando a participação do vice-presidente,
desde a concepção (em 1996) até o efetivo lançamento do novo carro.
Em quase quatro décadas de Ford, seu primeiro e único emprego, Ferran
foi mentor de uma série de produtos. Corcel II, Del Rey, Pampa, Escort,
Fiesta, Ka, Courrier, motor Rocan tudo saiu da cabeça dele. Mas dois
em particular são os seus xodós. Primeiro o Escort XR3, um modelo
27
compacto, de rodas largas, aerofólio e motor potente que encantou a
juventude nos anos 80. Foi o primeiro carro de boy do Brasil. Era um
foguete‖, diverte-se. O outro é o EcoSport, lançado em (2003), que ele
esboçou num guardanapo de papel em 1996. ―Eu queria um modelo que
dominasse as ruas. Que fosse imponente e espaçoso sem ser comprido.‖ O
EcoSport lidera as vendas de comerciais leves no País, tem fila de espera
nas concessionárias e vai ser exportado até para a Austrália. É, na
verdade, um dos pilares do maior feito de Ferran: o Projeto Amazon, que
tem dois novos modelos na prancheta e já deu origem ao novo Fiesta e à
fábrica de Camaçari (da qual ele definiu da arquitetura à cor do uniforme
dos funcionários), considerada revolucionária por abrigar produtor e
fornecedores de peças sob o mesmo teto.
Em resumo, produzido na nova fábrica de Camaçari, sobre a econômica e
confiável plataforma do Fiesta, o EcoSport se tornou um campeão de vendas,
elevando em praticamente 3 pontos o market share da Ford para 12% no Brasil
(segundo Fenabrave 2007), e passando a ser exportado para 7 países.
Tabela 1 - Resultado da participação de mercado (Market Share) da Ford do Brasil,
com e sem o EcoSport
Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez
2007 2006 2005 2004 2003 2002
Total do Mercado 2.151.839 1.624.687 1.580.448 1.449.073 1.294.452 1.368.012
Total da FORD 227.334 196.499 194.979 167.057 147.832 128.302
Market Share da Ford (%)
10,6 12,1 12,3 11,5 11,4 9,4
Vendas do EcoSport 47035 43599 45467 38741 27101 0
Market Share sem Ecosport (%) 8,4 9,4 9,5 8,9 9,3 9,4
2,2 2,7 2,9 2,7 2,1 0,0
Fonte: FENABRAVE e ANFAVEA (2007)
Pode-se observar pela Tabela 1, que o EcoSport representou ganho
expressivo no aumento das vendas da Ford, tendo sido o protagonista da retomada
de praticamente 3% de mercado para a montadora em 2005. Nos anos
subseqüentes, apesar de ligeira queda em relação ao percentual de mercado, as
vendas continuaram bastante significativas. Observe-se que no ano de 2007,
levando-se em conta o crescimento geral do mercado, as vendas do EcoSport
atingiram o seu patamar máximo em número de unidades.
28
1.2.2 Reconciliação com a Rede de Distribuidores
Junto com a queda de vendas que a Ford enfrentou até o ano de 2000,
configurou-se também um problema junto à sua rede de concessionárias. Estes
distribuidores exclusivos foram reduzidos de 399 em 1990, para 236 no ano 2000,
demonstrando claramente a dificuldade que a montadora enfrentava na
comercialização de seus produtos no Brasil, conforme figura abaixo.
Figura 2 Número de concessionárias Ford ativas ao longo do tempo
399
401
402
402
397
363
347
277
295
267
236
434
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
500
1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2007
Fonte: Pimenta (2008) e ABRADIF (2008)
É possível observar na Figura 2 e no trabalho de Pimenta (2008), a queda
no número de concessionárias ativas entre 1990 e 2000 foi de praticamente 40%.
Verificando a posição em 2007, percebe-se que o aumento do mero de
concessionárias compensou a queda passada. A recuperação da rede de
concessionárias é importante para possibilitar o acesso dos consumidores ao
produto.
1.3 O EcoSport dentro do portfólio da Ford e em contexto ampliado
29
Pode-se observar na Tabela 2 abaixo, que a posição de vendas do EcoSport
é de destaque dentro do portfólio de principais modelos vendidos pela Ford no
Brasil.
Tabela 2 Vendas anuais dos principais modelos expressas em número absoluto
de veículos comercializados pela Ford no Brasil
Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez
2007 2006 2005 2004 2003 2002
Fiesta 112.504 96.674 99.939 74.259 70.369 66.926
EcoSport 47.035 43.599 45.467 38.741 27.101 0
Ka 29.319 19.840 17.274 22.080 23.561 18.413
Focus 18.325 17.854 16.755 17.345 14.771 15.612
Ranger 12.676 9.858 8.537 7.581 5.875 9.653
Fusion 11.416 0 0 0 0 0
% EcoSport s/ total 20 23 24 24 19 0
Vendas Ford - principais
modelos (número de veículos)
Fonte: FENABRAVE e ANFAVEA (2007)
Embora o pico de participação de 24% do EcoSport no portfólio de principais
modelos vendidos pela Ford no Brasil tenha sido atingido em 2005, ele representa
em 2007 pelo menos 20% das vendas da marca no país.
Em termos mercadológicos, é importante ressaltar a adequação da imagem
do produto em relação ao seu propósito, aspecto esse que também torna o veículo
relevante dentro do portfólio da montadora, além do notório posicionamento Off-
Road e ser voltado para o segmento de aventura, que é o próprio nome que foi
escolhido. O nome EcoSport tem como componentes duas vertentes distintas,
porém altamente contemporâneas: a Ecologia e a prática de Esportes. Na área
ecológica, em contraposição à situação recentemente tolerada, as emissões dos
veículos e da indústria passam a ser, cada vez mais, preocupações mundiais, em
consonância com o trabalho de Donaire (1999, 36).
As primeiras indústrias surgiram em uma época em que os problemas
ambientais eram de pequena expressão, em virtude das reduzidas escalas
de produção e das populações comparativamente menores e pouco
concentradas. As exigências ambientais eram poucas e a fumaça das
chaminés era um símbolo de progresso, apregoada orgulhosamente na
propaganda de diversas indústrias.
O agravamento dos problemas ambientais alterou profundamente este
quadro, gerando um nível crescente de exigências. A nova consciência
ambiental, surgida no bojo das transformações culturais que ocorreram
30
nas décadas de 60 e 70, ganhou dimensão e situou a proteção do meio
ambiente como um dos princípios mais fundamentais do homem moderno.
Na nova cultura a fumaça passou a ser vista como anomalia e não mais
como uma vantagem.
Nesta perspectiva, o termo ―ECO‖ ou Ecológico, se incorporou à linguagem
corrente da população, trazendo em seu contexto o sentido de preservação da
natureza, ou mesmo de ecologicamente correto, conforme pode-se observar:
―O termo ―ecodesenvolvimento‖ foi pronunciado pela primeira vez na
Conferência sobre Meio Ambiente, em 1972, e em sua forma mais
elementar significa transformar o desenvolvimento numa soma positiva
com a natureza, propondo que tenha por base o tripé: Justiça social,
eficiência econômica e prudência ecológica.‖ (DONAIRE, 1999, 41).
Por analogia, a integração entre ECO e SPORT pode transmitir ao
consumidor que o veículo, além da aventura, proporciona uma prática correta com
relação ao meio ambiente. Esta preocupação com o meio ambiente parece estar
presente na mente dos consumidores, tanto daqueles que utilizarão o veículo
somente em aplicações urbanas, como para aqueles que pretendem fazer uso do
mesmo em trilhas, conforme patente demonstração do fato no trabalho elaborado
por Zilles (2006).
A importância da natureza é igualmente evidenciada no discurso dos
participantes quando estes consentem, de forma unânime, a existência de
uma forte preocupação com sua preservação. Todo off roader‖ cuida da
natureza, justamente por ter consciência de que depende desta para que
sua aventura seja satisfatória. E esse sentimento é colocado em prática
através da escolha de locais em que a fauna e a flora não estejam
ameaçadas e que não sejam reservas ecológicas, mas tamm através
dos cuidados para não deixar lixo ou qualquer tipo de dejeto pelos lugares
por onde passam.‖ (ZILLES, 2006, 40).
Portanto, caracteriza-se que o veículo em foco no presente estudo possui
posição destacada no portfólio da Ford Brasil e sua concepção, para atingir
determinado perfil específico de público, foi bastante detalhada.
1.4 Cenário automobilístico brasileiro e o mercado Off-Road
Como dissemos na introdução desse trabalho, utilizando como referencial
explicativo a Matriz SWOT, as estratégias corporativas, as estratégias de negócios
31
e as estratégias funcionais estão intrinsecamente relacionadas ao ambiente
externo e interno da organização. Para atender a esses quesitos, faz-se necessário
realizar uma contextualização macroeconômica do mercado geral brasileiro e do
perfil dos consumidores, para posteriormente serem relatados detalhes sobre as
características que envolvem um veículo Off-Road. Em seguida abordaremos as
definições dos grupos (ou sub-segmentos) dos veículos Off-Road de acordo com
opiniões de especialistas destes mercados e apresentam-se dados da evolução de
vendas dos veículos no Brasil dentro das classificações apresentadas.
1.4.1 Contextualização
Considerado um setor de alto impacto mundial, a indústria automobilística
introduz no mercado cerca de 73 milhões de veículos por ano (OICA, 2008),
consumindo para isto, mais de 1 trilhão de dólares, empregando cerca de 4
milhões de trabalhadores diretamente e cerca de 16 milhões indiretamente
(FENABRAVE, 2007).
No caso brasileiro, em um total de 48 fábricas, a indústria automobilística
representa praticamente 22% do PIB industrial, com capacidade de produção de
3,2 milhões de veículos por ano, segundo a ANFAVEA (2007). Em 2007 o Brasil foi
o maior produtor de veículos no mundo gerando 1,3 milhões de empregos na
cadeia produtiva com a participação de 200.000 empresas que atuam no setor,
desde montadoras a pequenas lojas de autopeças (ANFAVEA, 2007).
Considerando-se o mercado automotivo, agora pelo lado do consumidor, em
2006, o Brasil possuía o 10º maior PIB do mundo. Enquanto o PIB (IBGE 2006
Figura 3) cresceu 61% entre 2001 e 2006, o PIB per capita somente cresceu 52%,
revelando a polarização na concentração de renda e evidenciando o contraste de
regiões e classes sociais. .
32
Figura 3 Evolução do PIB Brasileiro 2001 2006 (em bilhões de R$)
0
500
1000
1500
2000
2500
2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: Relatório IBGE 2006
Segundo o relatório das Nações Unidas (PNUD - 2005), o Brasil é o país
em desigualdade social, onde 46,9% da renda fica com os 10% mais ricos da
população. Considerando a última publicação sobre o PIB de 2006, de
aproximadamente 1 trilhão de lares e a população de 185 milhões de habitantes
(Agência Brasil 2007), a renda per capita média dos 10% mais ricos do Brasil é de
US$ 62 mil por ano, o que coloca a renda per capta desta parcela da população
entre as maiores do mundo.
Enquanto o Brasil como um todo ocupa a 54ª posição no ranking de renda
per capita dos 194 países listados, os 10% mais ricos da população,
hipoteticamente, ocupam o segundo lugar neste ranking, somente atrás de
Luxemburgo, superando a média per capita de potências econômicas como EUA,
Suíça, Reino Unido e Canadá (FMI 2007 Figura 4).
33
Figura 4 - Posição relativa dos países por renda per capta em mil Us$ /ano,
destacando a posição virtual dos 10% mais ricos do Brasil.
Fonte: FMI (2007)
Observe na figura a posição da população caracterizada pelos 10%
mais ricos do Brasil. Sendo a população brasileira estimada em 2007 de 185
milhões de pessoas, os 10% mais ricos representam 18,5 milhões de pessoas,
número esse suficiente para se equiparar à população de países como Austrália,
Países Baixos, Chile, Suécia e Áustria, ou seja, o Brasil possui uma população
expressiva, com potencial de consumo equiparável a várias potências econômicas
do planeta.
Por conseguinte, esta parcela da população demanda bens de luxo de forma
equiparável às citadas potências econômicas, abrindo espaço para a
comercialização de produtos de luxo, tais como jóias, roupas de grife, helicópteros,
jatos particulares e em especial, automóveis. Esta demanda se reflete em um dos
mercados mais dinâmicos do Brasil, o automobilístico, que ultrapassa o número de
2 milhões de unidades vendidas por ano (Tabela 1), tendo fabricado em 2007,
46% a mais de veículos quem em relação a 2002, e ofertando mais de uma
100
Renda anual
em mil Us$
per capta
75
50
25
Luxemburgo
Noruega
EUA
Suiça
Canadá
Alemanha
Argentina
Chile
Posição virtual
dos 10% mais ricos
do Brasil
Brasil
34
centena de modelos, desde os modelos básicos, conhecidos como carros
populares, até Ferraris e Lamborguinis, comercializados por valores que beiram 1
milhão de reais.
A variedade de modelos pode apontar para demandas específicas de
segmentos ou de perfil de consumidores. Entre eles chama atenção o segmento
dos veículos Off-Road.
Inúmeras teorias do comportamento do consumidor como a de Day (1989) e
teorias de marketing como a de Kotler (2002) têm discutido a relação entre
características e estilos de vida das pessoas, seus produtos e formas de uso,
conforme afirma Kotler (2002, 92) para quem o estilo de vida do consumidor
representa seu padrão de vida expresso em termos de atividades, interesses e
opiniões. Retrata a “pessoa por inteiro” interagindo com seu ambiente.
Essas teorias indicam que os produtos não têm somente sua aplicação
funcional, extrapolando este limite e assumindo papéis distintos, como símbolos de
status social ou demonstrações do estilo de vida do consumidor.
Desta forma, várias ações de empresas, valendo-se das ricas informações
do mercado, são concebidas de forma a oferecer produtos e mesmo definir
estratégias, que vão ao encontro das demandas e oportunidades explicitadas por
seus consumidores, além das características funcionais de seus produtos, em
consonância com as exigências do mercado.
1.4.2 Veículos Off-Road
A criação dos veículos Off-Road (veículos para uso fora de estrada)
praticamente co-existe com a criação dos veículos automotores. Nada mais
natural, uma vez que no início do século XX, menos de um por cento das vias
terrestres nas Américas eram pavimentadas (ALLEN, 2001), e se movimentar entre
dois pontos poderia facilmente se tornar uma grande aventura. Desta forma, foram
desenvolvidos acessórios que pudessem facilitar o tráfego dos veículos por terreno
lamacento, que com o passar do tempo passou a se chamar de tráfego Off-Road
ou seja, tráfego ―fora da estrada‖.
35
O termo resume basicamente toda e qualquer situação que se pode
enfrentar com um veículo, quando se está em outro lugar que não seja a
garagem de casa, o asfalto, a rodovia, a estrada ou o terreno em
condições medianas de trânsito.‖ (GAIOTTO, 2002, 17).
A principal modificação introduzida em veículos que se destinam à aplicação
fora de estrada é a tração nas quatro rodas, ou seja, diferentemente dos veículos
convencionais, nos quais somente duas rodas recebem a força gerada pelo motor
(ou as duas rodas traseiras ou as duas rodas dianteiras), a disponibilização da
tração (força) nas quatro rodas aumenta as chances do veículo transpor obstáculos
em terrenos de aderência duvidosa. Os veículos que possuem tração somente em
duas rodas também podem ser chamados de 4X2 (que significa quatro rodas com
duas tracionadas), enquanto veículos que possuem tração nas quatro rodas
também podem ser chamados de 4X4 (que significa quatro rodas com quatro
tracionadas), conforme as definições de Gaiotto (2002).
Alem da tração nas quatro rodas, os veículos para tráfego fora de estrada
são projetados levando-se em consideração elementos como: ângulo de entrada
ou ataque, ângulo de saída ou de fuga, altura livre do solo, transposição central,
vão livre total, profundidade máxima de travessia, rampa máxima, Inclinação lateral
máxima, curso da suspensão e relação de reduzida (GAIOTTO, 2002).
Além destes atributos de projeto, uma série de equipamentos periféricos,
como guinchos (mecânicos e elétricos), sistemas de elevação (macacos ―high-lift‖),
pontos de ancoragem, pára-choques robustos, pneus especiais para lama,
protetores laterais e estribos para facilitar o acesso ao veículo mais alto foram
incorporados e passaram a compor os veículos Off-Road, dando-lhes aspecto
característico de robustez e de demonstração de sua capacidade de transpor
quaisquer obstáculos.
É marcante também a associação dos veículos Off-Road com a aplicação
militar, tanto pela necessidade do veículo capaz de ―criar novos caminhos‖, quanto
pela característica de robustez e confiabilidade demandada nas aplicações
militares conforme relata o Capítulo 2 do livro de Jim Allen (2002, 25 a 37)
descrevendo o aparecimento do Jeep, concebido inicialmente para a aplicação
militar.
36
O conceito de veículos Off-Road é cada vez mais difundido, e segundo
várias reportagens e depoimentos de pessoas ligadas ao meio automobilístico,
mundialmente, este segmento de veículos cresce acima da média da indústria
(WITCH, 2007).
Em especial, no Brasil, analisando-se os dados de licenciamento de veículos
disponibilizados pela FENABRAVE (2007), a participação dos veículos com
atributos Off-Road cresceu 27% no período de período de 2002 a 2007, de 4,7%
para 6%, tendo passado por um pico de 8% em 2005.
Deixando um pouco a tecnicidade das características dos veículos e
partindo para a ótica do comportamento, pesquisadores do comportamento do
consumidor Kotler (1998) e Prahalad & Ramaswamy (2004) mostraram que as
pessoas não têm apenas a racionalidade utilitária sobre os produtos, ou seja, elas
utilizam os produtos de várias formas e em vários contextos. Conforme sugerido
por autores especializados em veículos 4X4 (GAIOTTO, 2002, 5), nem todos os
proprietários utilizam estes veículos para aplicações fora de estrada, fazendo deles
uso urbano e cotidiano como qualquer outro, ou ainda, parece que a simples
semelhança visual do veículo com um Off-Road o torna atrativo para o
consumidor.
―Hoje, não é preciso ser um ―expert‖ em indústria automobilística para se
notar que os veículos 4X4, principalmente os utilitários, estão sendo vistos
tanto nas fazendas quanto nas ruas de qualquer grande cidade, nas praias
da moda ou ―points‖ noturnos da rapaziada. Escolhemos, compramos e
usamos veículos com tração nas quatro rodas seja qual for o motivo,
alguns até para impressionar os vizinhos. (GAIOTTO, 2002, 5).
Assim os veículos Off-Road são utilizados não apenas para atividades fora
de estrada, mas também como veículos puramente urbanos.
1.4.3 Nomenclatura e sub-segmentação dos veículos Off-Road
De forma a possibilitar comparar a evolução de vendas do Ford EcoSport
com a evolução de vendas de seus principais concorrentes, assim como para
definir com maior clareza quais os concorrentes diretos ou indiretos que competem
37
neste segmento de mercado, o autor buscou uma classificação para os veículos.
Essa classificação é usualmente utilizada no mercado americano, e foi validada
para o mercado brasileiro por meio de entrevista com um especialista no mercado
de Off-Road.
SUV - Sport Utility Vehicle - Terminologia americana, refere-se a veículo que
reúne a capacidade de carga de uma pick-up com a capacidade de
transporte de pessoas de uma mini-van e com habilidades fora de estrada
(Off-Road). O projeto geralmente é derivado de uma pick-up, objeto de
desejo no mercado americano e criticada por alto consumo de gasolina e
tamanho exagerado. Cada vez menos se tem utilizado a plataforma de uma
pick-up para a construção de uma SUV, mas sim, elaboram-se projetos
dedicados ou utilizam-se plataformas de automóveis. Para efeito deste
trabalho, este grupo incluirá o das ―pick ups‖ 4X4 comercializadas no Brasil.
Compact SUV - terminologia americana, refere-se a SUVs com tamanho
entre 4,25 e 4,6 m e que em geral têm preocupação maior com o estilo e
design, mantendo as características mecânicas das SUVs.
MINI SUV - terminologia americana que se refere a SUVs com tamanho
menor que 4,10 m. Nesta categoria estão enquadrados veículos como o
Jeep Wrangler e o Suzuki Samurai. Atribuir a qualquer um destes veículos a
capacidade de carga de uma pick-up ou mesmo a capacidade de transporte
de pessoas de uma mini-van não faz sentido. De certa forma, os veículos
contidos nesta categoria deram origem às atuais SUVs, e esta nomenclatura
passou a ser utilizada muito mais para não deixar estes veículos excluídos
do "novo mundo" que se criou a partir deles.
Crossover SUVs (ou CUV) - terminologia americana que se refere a veículos
com aparência e capacidade de uma SUV, porém concebidos a partir de
plataformas de outros veículos. Busca-se, desta forma, a utilização
otimizada de uma plataforma existente, consumo de combustível e
emissão de poluentes menores. É importante ressaltar que a utilização de
uma plataforma existente não significa a utilização de um chassi de um
veículo de passeio como base para o Crossover (mesmo porque estes
38
veículos geralmente são mono-bloco e não possuem chassi). Neste caso,
entende-se como plataforma, o conjunto que engloba desde a cadeia de
suprimentos, a linha de produção, componentes mecânicos e todo o
conjunto de peças e equipamentos que possam ser comunizados entre os
veículos. Esta categoria de veículos é uma das mais crescentes em termos
de vendas no mercado mundial, e tem sido ampliada de forma a abrigar
alguns veículos que, embora não atendendo na totalidade aos pré-requisitos
sobre os quais a categoria foi concebida, possuem características que lhes
permitem serem incluídos na mesma. Incluem-se então, nesta categoria,
quaisquer veículos que utilizem plataformas já existentes e que possuam, de
alguma forma, acessórios ou atributos de uma SUV.
É consenso que o Ford EcoSport enquadra-se nesta categoria. É importante
ressaltar, porém, que veículos como o VW Crossfox, Fiat Adventure e outros
semelhantes não devam ser enquadrados nessa categoria. Neste caso não
utilização somente da plataforma e de outro veículo, mas sim trata-se do mesmo
veículo com alguns acessórios e pequenas modificações mecânicas.
Veículos Estilizados VE Para o grupo de veículos que não se
enquadram na categoria de crossovers, mas possuem apelo Off-
Road, a nomenclatura a ser utilizada é simplesmente de Veículos
Estilizados, estando compreendidos entre esses, o VW Crossfox, Fiat
Adventure e outros semelhantes.
Multi Pourpose Vehicle (ou MPV) - terminologia européia e japonesa
na qual se enquadram veículos como Scenic, Picasso, Zafira e
Meriva, ou seja, veículos sem habilidades Off-Road.
A análise preliminar da evolução das vendas dos veículos Off-Road no Brasil
mostra que o crescimento de vendas atingido pelos veículos crossovers e VE é
mais significativo que os atingidos pelos SUVs, (conforme Tabela 3, montada a
partir de dados da FENABRAVE e ANFAVEA, 2007).
39
Tabela 3 Evolução de vendas de veículos Off-Road no Brasil
Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez Jan - Dez
2007 2006 2005 2004 2003 2002
1 - SUVs 55.138 49.576 66.008 55.235 46.109 63.907
2 - Crossovers + VE 73.220 68.265 60.711 42.237 27.441 0
Total 1 + 2 128.358 117.841 126.719 97.472 73.550 63.907
Veículos vendidos por ano
Fonte: FENABRVE e ANFAVEA (2007)
Pode-se observar, nesta tabela, que os SUVs perderam posição entre 2002
e 2007, enquanto os Crossovers e veículos estilizados (VE), que simplesmente não
existiam no mercado em 2002, chegaram a mais de 73.000 unidades vendidas em
2007.
Nessa perspectiva, o Ford EcoSport, pertencendo à categoria dos CUVs
está em perfeita consonância com as tendências do mercado na perspectiva dos
interesses dos consumidores.
40
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Uma das finalidades básicas da estratégia corporativa está na obtenção de
vantagem competitiva que está relacionada às ameaças e oportunidades presentes
tanto no ambiente interno quanto no ambiente externo.
Buscando identificar as contribuições teóricas existentes na área de
estratégia, primeiramente, pretende-se trabalhar definições, terminologias e
conceitos sobre estratégia para, em seguida serem expostas as teorias dos
principais autores que abordaram o tema, principalmente aqueles cujas teorias
serão mais utilizadas nos capítulos de análise de resultados e considerações finais
(BARNEY, 2007 e MINTZBERG, AHLSTRAND, LAMPEL , 1998).
Inicialmente é apresentada a concepção do RBV em relação a vantagem
competitiva e gerenciamento estratégico na visão de vários autores e, em especial,
em Barney (2007) para, em seguida, com base na obra de Mintzberg, Ahlstrand,
Lampel (1998), tratar do tema empreendedorismo e das demais escolas
estratégicas, com ênfase na Escola do Posicionamento, na Escola Ambiental e
Escola Empreendedora.
Os conceitos de vantagem competitiva e o modelo VRIO da obra de Barney
(2007) são abordados com o intuito de fornecer detalhes sobre a aplicação do
modelo.
2.1 Definições no campo de estudos da Estratégia nas Organizações
Etimologicamente, o termo Estratégia, conforme constante nos
dicionários e descreveu Camargos (2003), vem do grego strategos”, que significa
―a arte do general‖. Inicialmente, esteve relacionada com a questão militar,
sobretudo com a formulação de planos de guerra. Com o passar do tempo, o termo
estratégia foi incorporado ao mundo dos negócios e começou a ser utilizada pelas
organizações, significando, conforme Barney (2007), a teoria de uma empresa de
como obter vantagens competitivas. Segundo ele, uma boa estratégia é aquela que
realmente gera tais vantagens. Somente no final da década de 1940 é que se
41
iniciou o tratamento do conceito de estratégia pela literatura dos negócios, com a
teoria dos Jogos. Essa teoria proporciona uma perspectiva única para todos os
tipos de conflito, seja na guerra, na política, ou no ambiente empresarial.
Importante vertente da estratégia é sua relação com o ambiente competitivo.
Se, por um lado o planejamento pode ser considerado um dos maiores avanços
nas técnicas administrativas surgido nas últimas décadas, segundo (ZACCARELLI,
2002), a estratégia antiga peca pela pouca relevância que às mudanças no
ambiente e, principalmente, à reação dos competidores, conforme é possível
observar no trecho
[...] as empresas levaram um bom tempo para se conscientizar de que seu
maior problema não era a sua lógica interna, mas sim a disputa com os
concorrentes‖ (ZACCARELLI, 2002, 18).
Assim, o que o autor considerou como a nova estratégia é que esta
descreve e teoriza com maior precisão o que acontece no mundo real das
empresas e dos negócios‖ (ZACCARELLI, 2002, 20).
Desta forma, se a estratégia é para vários autores, utilizada para indicar a
seleção dos meios empregados para chegar a um determinado objetivo, as
estratégias competitivas são, em concordância com Porter (1998, 49), ‖[...] ações
ofensivas ou defensivas para criar uma posição defensável em uma indústria”.
A melhor estratégia para uma dada empresa é aquela que possibilita a
geração de vantagens competitivas sustentáveis que, segundo Barney (2007)
estão relacionadas com o sucesso. As organizações, ao enfrentarem as cinco
forças competitivas, segundo Porter (1998, 4): concorrentes, poder de barganha
dos fornecedores, poder de barganha dos clientes, produtos substitutos, novos
entrantes, utilizam três estratégias genéricas internamente consistentes para
criarem uma posição defensável a longo prazo e superarem os concorrentes em
uma indústria: liderança no custo total, diferenciação e enfoque sendo que, para
Porter (1998), essas estratégias não podem ser usadas ao mesmo tempo.
Posição diferente foi apontada por Day (1989) e Getz & Surdivant (1989),
quando propuseram que a estratégia de diferenciação pode ser usada ao mesmo
tempo que a estratégia de baixo custo. Assim, as organizações podem oferecer
maior valor para o cliente por um preço menor que o praticado pelos concorrentes.
42
Andrews (1992) definiu a estratégia corporativa como:
Padrão de decisões que determina e revela seus objetivos, propósitos, ou
metas; dessa forma, o referido padrão produz as principais políticas e
planos para alcançar tais metas, define a esfera de negócios a que aspira
uma companhia, estabelece o tipo de organização econômica e humana
que é ou pretende ser e também delineia a natureza das contribuições
econômicas e não-econômicas que pretende aportar a seus acionistas,
empregados, clientes e às comunidades.‖ (ANDREWS, 1992, 44).
Definição semelhante é apontada por Quinn (1992, 5) ao afirmar que
estratégia é um padrão que integra os objetivos maiores de uma organização,
políticas e ações seqüenciais dentro de um todo‖. Uma estratégia bem formulada
ajuda a oficializar e alocar recursos de uma organização dentro de uma postura
única e viável baseada nas competências internas e na antecipação das mudanças
do ambiente. A existência de uma variedade de definições sobre estratégia faz com
que Mintzberg, Quinn (1991,12) proponham que o campo da administração
estratégica não se pode dar ao luxo de confiar em uma única definição de
estratégia e, neste sentido, o autor apresenta cinco definições que se
complementam umas às outras:
Estratégias como Plano: são elaboradas consciente e propositadamente
antes das ações para as quais se aplicam. Geralmente, elas o
estabelecidas explicitamente através de documentos formais conhecidos
como planos;
Estratégias como Manobra: são elaboradas com a finalidade de ganhar
vantagem sobre um adversário ou competidor;
Estratégias como Padrão de comportamento: consistentes em
comportamento, podendo ser ou não intencionais;
Estratégia como Posição: uma maneira de organizar o meio ambiente, isto
é, uma força mediadora entre a organização e o meio ambiente;
Estratégia como Perspectiva: entendida não apenas como uma posição,
mas como uma maneira enraizada de perceber o futuro.
As cinco definições propostas sugerem que, assim como as pessoas
desenvolvem personalidades através da interação de suas características,
43
também a organização desenvolve um caráter a partir da interação com o mundo
através de suas habilidades e propensões naturais.
O autor adverte a premente necessidade da definição mais completa de
estratégia, baseado na complementaridade das cinco definições que podem ser
assim diferenciadas:
1. Como plano, a estratégia tem por finalidade estabelecer direções para a
organização.
2. Como trama, a estratégia é aplicada como manobra para ameaçar e
confundir os concorrentes, na busca de ganho de vantagem.
3. Como padrão, a estratégia leva em conta o comportamento e a
assimilação de ações de sucesso no processo decisório da organização.
4. Como posição, a estratégia encoraja as organizações a analisarem o
ambiente, buscando uma posição que as protejam, visando defender-se e
influenciar a competição.
5. Como perspectiva, a estratégia traz questões referentes a intenção e
comportamento em um contexto coletivo.
Portanto, nessa perspectiva, a confusão que se estabelece em torno do
termo estratégia ocorre, em grande parte, devido ao uso contraditório e
incorretamente definido do termo estratégia, acreditando que o uso de várias
definições poderia ajudar a debelar este problema.
De maneira mais sintética, Oliveira (1997, 26) afirma:,
―[...] a finalidade das estratégias empresariais é estabelecer quais serão os
caminhos, os cursos, os programas de ão que devem ser seguidos para
alcançar os objetivos estabelecidos pela empresa‖.
Além das visões técnicas que se pode ter a respeito de estratégias, pode-se
incluir a ótica filosófica para ampliar a compreensão de suas concepções.
Segundo Bazanini (2007, 255), por se tratar de atributo essencialmente humano, a
estratégia sempre esteve presente, desde suas formas mais rudimentares, na
atividade humana, podendo ser usada como exemplo para defender ou mesmo
para expandir territórios. Neste espectro, a definição de estratégia pode assumir o
seguinte formato:
Como atributo caracteristicamente humano, a estratégia pode ser
considerada como um conjunto coerente de decisões e responsabilidades
44
que um agente assume, em face das diversas eventualidades que será
levado a encarar, tanto por causa das circunstâncias exteriores, como em
virtude de hipóteses que incidem sobre o comportamento dos outros
agentes interessados em tais decisões.
Para os objetivos deste trabalho, entende-se Organização conforme
Maximiano (2000, 27).
―As organizações são grupos sociais deliberadamente orientados para a
realização de objetivos que, de forma geral, se traduzem no fornecimento
de produtos e serviços‖.
Entende-se assim que uma organização não é um grupo aleatório de
pessoas que estão juntos ao acaso. Ela se estabelece consciente e formalmente
para atingir certos objetivos que seus membros o estariam capacitados a
atingirem sozinhos.
Concepção essa em conformidade com Camargos (2003) ao afirmar que
qualquer organização, conscientemente ou não, adota uma estratégia,
considerando-se que a não adoção deliberada de estratégia por uma organização
pode ser entendida como uma estratégia. Além disso, a importância maior da
Administração Estratégica está no fato de se constituir em um conjunto de ações
administrativas que possibilitam aos gestores de uma organização mantê-la
integrada ao seu ambiente e no curso correto de desenvolvimento, assegurando-
lhes atingir seus objetivos e sua missão.
Já na visão de Ferreira (1997, 115), para quem a estratégia passou a ocupar
espaço no mundo empresarial em resposta à obsolescência dos planejamentos de
médio e longo prazo, a administração estratégica é uma evolução do planejamento
estratégico.
A estratégia passou a ocupar espaço no mundo empresarial em meados
dos anos 60, em resposta à obsolescência dos tradicionais planejamentos
de médio e longo prazos e à dificuldade de esses instrumentos se
adaptarem a um ambiente turbulento e em constante mutação. A partir da
década de 80 o enfoque do planejamento estratégico ganhou amplitude,
profundidade e complexidade, dando origem à administração estratégica.
Os administradores passaram a perceber que com a definição clara da
missão e da estratégia empresariais seus objetivos podiam ser mais
facilmente alcançados.‖
45
Portanto existem inúmeras definições de estratégia que em decorrência do
contexto no qual a organização está inserida, adquire características próprias, visto
que, a organização e o seu ambiente, não são elementos estáticos e acabados;
pelo contrário, estão em contínua mudança, desempenhando a Administração a
função crucial de integrar estratégia, organização e ambiente em um todo coeso,
rentável e sinérgico para os agentes que estão diretamente envolvidos ou
indiretamente influenciados.
2.2 Administração Estratégica, vantagem competitiva e o RBV
O foco de estudo de Barney está no relacionamento entre as habilidades
difíceis de copiar das empresas e as vantagens competitivas sustentáveis.
Em 2007, foi publicada no Brasil a tradução de um livro de Barney (2007)
que tratou de Administração Estratégica e Vantagem Competitiva, citando
exemplos de casos brasileiros. Neste livro, o autor ampliou a visão que havia
preconizado em seu artigo (BARNEY, 1991), onde seu objetivo foi a conceituação
e análise da vantagem competitiva sustentável e introdução do conceito VRIS.
Incorporou também elementos normalmente presentes em outras teorias, como o
modelo das cinco forças, oportunidade e ameaças, liderança em custos e
diferenciação de produtos.
Neste ponto cabe fazer um comentário sobre a diferenciação introduzida por
Barney, entre o modelo VRIS, da obra de 1991, e o atual modelo VRIO, presente
na obra de 2007. A diferença se encontra na última variável que será analisada, ou
seja na última letra da sigla. Em 1991, o ―S‖ se referia à possibilidade do recurso
ser substituído (―S‖) por outro, de eficácia equivalente, de forma que empresas
competidoras, embora possuindo um elenco de recursos diferentes, poderiam
perder capacidade competitiva uma frente a outras, caso estes elencos de recursos
fossem equivalentes. Esta possibilidade de substituão foi trocada pela
capacidade da organização (―O‖) em implementar e organizar seus recursos de
forma a capturar a vantagem competitiva que estes podem proporcionar.
46
Além dos trabalhos de Barney (1991 e 2007), existem vários outros autores
que podem ser considerados ―clássicos‖ e tidos como formadores do campo de
pesquisa em RBV, publicados entre 1959 e 1993. Dentre estes autores pode-se
destacar, Penrose (1959), Wernerfelt (1984) e Peteraf (1993). Esses trabalhos
conduzem a dois grupos teóricos que constituem a formação da teoria dos
recursos. O primeiro grupo é subdividido em duas correntes; a RBV clássica e a
Perspectiva das Competências e Capacidades. O segundo grupo é constituído pela
perspectiva da gestão baseada no conhecimento, denominada KBV (Knowlodge-
based view).
Pela análise dos autores, a perspectiva das competências e capacidades é
um prolongamento da RBV clássica, utilizando a mesma base de formação e
discussão, sendo a distinção entre as duas correntes, muito pequena. a KBV
distingue-se da RBV clássica, mas em alguns aspectos, aproxima-se da
perspectiva das competências. Neste sentido, a perspectiva das competências é
considerada elemento de ligação entre a RBV clássica e a KBV (ACEDO, 2006).
Porquanto este influenciador do campo de pesquisa do Gerenciamento
Estratégico tivesse sido nomeado por Wernerfelt (1984) como uma “Visão
baseada em Recursos das empresas”, as origens do RBV podem ser rastreadas
em pesquisas ainda anteriores, dentre os quais, os trabalhos publicados por
Penrose (1959), segundo Acedo (2006).
O pressuposto básico da RBV é o de que o desempenho de uma empresa
pode ser explicado pela maneira como gere e utiliza seus recursos. Segundo
Barney (1991), três conceitos são centrais para esta perspectiva:
a) Recursos da empresa (firm resources): todos os ativos, capacidades,
processos organizacionais, atributos da empresa, informações e
conhecimentos que controla e que lhe permitem conceber e implementar
estratégias que melhorem sua eficiência e efetividade (DAFT, 1983, citado
por BARNEY, 1991). Isto levou Wernerfelt (1984, 171) a concluir que Para a
empresa, recursos e produtos são dois lados da mesma moeda. Vários
produtos requerem o emprego de alguns recursos e muitos recursos podem
ser usados para alguns produtos”,
47
b) Vantagem competitiva (competitive advantages): pode-se dizer que uma
empresa tem uma vantagem competitiva quando ela implanta uma
estratégia de criação de valor que não é utilizada simultaneamente por
nenhuma outra empresa concorrente (BARNEY, 1991, 102).
c) Vantagem competitiva sustentada (sustained competitive advantage):
Ocorre quando os benefícios da vantagem competitiva da empresa não
podem ser obtidos por um concorrente pela impossibilidade de implantar a
mesma estratégia que produziu estes benefícios (BARNEY, 1991, 102). É
possível obter vantagem competitiva sustentável quando se tem recursos
que são, ao mesmo tempo valiosos (que permitem explorar oportunidades
ou neutralizar ameaças), raros, imperfeitamente imitáveis e sem substitutos
estratégicos equivalentes (BARNEY, 1991, 105-109).
Quanto à natureza dos recursos, Barney (1991, 101) com base em autores
como Wiliamson, Becker e Tomer (dentre outros), apresentou a seguinte
classificação:.
a) Recursos de capital físico (tangíveis) (Wiliamson, 1975, citado por
Barney, 1991, 101): aqueles que englobam tecnologia física utilizada na
empresa; ou mesmo as plantas produtivas da empresa e seus respectivos
equipamentos; sua localização geográfica ou seu acesso à matéria prima;
b) Recursos de capital humano (intangíveis) (Becker, 1964, citado por
Barney, 1991, 101): compostos por treinamento dos recursos; experiência;
julgamento; inteligência; relacionamentos; insights individuais dos gerentes e
dos trabalhadores da empresa;
c) Recursos de capital organizacional (Tomer, 1987, citado por Barney,
1991, 101): referente ao organograma firm’s formal reporting structure;
planejamento formal e informal; sistemas de controle; sistema de
coordenação; relações informais entre grupos dentro da empresa e entre a
empresa e as outras no seu ambiente.
48
Os recursos podem ser negociáveis e o negociáveis. Existem recursos
que uma empresa pode comprar no mercado e fazem parte dos fatores de
produção como terreno, mão-de-obra, máquinas, equipamentos. Alguns desses
recursos, como os terrenos, por exemplo, são considerados recursos escassos
(RICARDO, 1965 [original 1817] citado por PETERAF, 1993, 180). Outros não
podem ser negociados ou imitados, tais como cultura, espírito de equipe, lealdade
do cliente e imagem, sendo produzidos por acumulação, o que os torna difíceis de
serem imitados ou transferidos. Podem ser recursos desconhecidos pelos gestores
e pelos concorrentes.
Dierickx (1989, 1509-1510) sustentou que a vantagem competitiva reside no
estoque de recursos e capacidades da empresa e que a sustentação dessa
vantagem competitiva depende, basicamente, da dificuldade com que esses
recursos e capacidades podem ser imitados ou substituídos. Andrade (2006, 4)
concluiu que, para que a empresa possa manter sua posição competitiva, deve
implantar estratégias que requeiram ativos idiossincrásicos, ou seja, ativos que são
acumulados no tempo e que se transformam em recursos e capacidades
específicas da empresa, tornando impossível a apropriação dos mesmos pela
concorrência.
Herança do trabalho de Porter (1998), as barreiras foram revisitadas na RBV
por Wernerfelt (1984, 173) que, partindo dos trabalhos de Penrose (1959) e do
próprio Porter (1998), denominou Barreira de Recursos como sendo a
manutenção de uma posição relativa na posse de recursos. Para Barney (2007),
aparentemente, uma empresa obtém os melhores recursos por ―sorte‖, mas
descreve as informações assimétricas como aquelas que não são disponíveis para
todos, uns têm muito e outros têm pouco.
O uso produtivo dos recursos que, segundo Bandeira-de-Mello (2001) é a
entrega de produtos ao menor custo marginal da indústria‖, demonstrou que,
conseqüentemente, a empresa está em vantagem competitiva e usufrui de rendas
(rents). O conceito subjacente de rendas é, segundo Peteraf (1993) uma herança
do economista David Ricardo e se refere à remuneração dos recursos, ou seja, os
recursos geram rendas, retorno econômico. O pressuposto básico da RBV é que
49
as rendas são originadas pela posse e uso produtivo de recursos essenciais
(BANDEIRA-DE-MELLO, 2001, 15).
Entretanto, nem todos os recursos são fontes de vantagem competitiva
sustentável, ainda que sejam recursos importantes ou indispensáveis para a
obtenção dos objetivos organizacionais. Apenas recursos com determinadas
características são capazes de habilitar e sustentar desempenho superior. Para
Wernerfelt (1984), uma empresa pode ter um desempenho superior às outras
obtendo vantagem competitiva através da implantação de uma estratégia de
criação de valor que não é usada simultaneamente por nenhum outro concorrente
potencial. Essa vantagem competitiva pode ser sustentada, quando as outras
empresas são incapazes de duplicar os benefícios da estratégia.
Barney (1991) sustentou que os recursos que são fontes de vantagem
competitiva sustentável são aqueles que apresentam heterogeneidade e
imobilidade (ou mobilidade imperfeita).
Peteraf (1993) também abordou o conceito de vantagem competitiva
sustentável e, para isso desenvolveu um modelo, apresentado na Figura 5,
acrescentando à heterogeneidade e à imobilidade (ou mobilidade imperfeita) os
limites à competição ex-ante e ex-post.
Para Barney (1991), para se entender as fontes de vantagem competitiva
sustentável, é necessário construir um modelo teórico que parta da pressuposição
de que os recursos das empresas podem ser heterogêneos e imóveis.
Naturalmente, nem todos os recursos da empresa têm o potencial de sustentar
vantagens competitivas. Para ter esse potencial, o recurso da empresa deve ter
quatro atributos:
a) Deve ser valioso, no sentido de que permite explorar oportunidades e/ou
neutralizar ameaças no ambiente da empresa; um recurso é valioso quando
ele habilita a empresa a conceber ou implementar estratégias que melhorem
sua eficiência e eficácia. O modelo tradicional de ―pontos fortes pontos
fracos/ oportunidades e ameaças (SWOT)sugere que as empresas podem
melhorar suas performances apenas quando suas estratégias exploram
oportunidades ou neutralizam ameaças;
50
b) Deve ser raro entre os correntes e potenciais competidores. Por definição,
um recurso valioso possuído por um grande número de empresas
concorrentes ou potencialmente concorrentes não pode ser fonte de
vantagem competitiva ou de vantagem competitiva sustentável. Barney
(1991) considerou que dizer o quão raro deve ser um recurso valioso da
empresa a fim de que tenha o potencial de gerar uma vantagem competitiva
é uma questão muito difícil. Em geral, segundo o autor,
[...] contanto que o número de empresas que possuam um determinado
recurso valioso (ou um conjunto de recursos valiosos) seja menor do que
o número de empresas necessário para gerar uma concorrência perfeita
este recurso tem o potencial de gerar vantagem competitiva (BARNEY,
1991, 106);
c) Deve ser imperfeitamente imitável. Um recurso raro e valioso pode ser
fonte de vantagem competitiva ou vantagem competitiva sustentável se as
outras empresas, que não possuem esse recurso não possam obtê-lo. Um
recurso pode ser imperfeitamente imitável por uma ou combinação de três
razões:
c1) Dependência do caminho: a habilidade da empresa para obter o
recurso é dependente de uma única condição histórica (path
dependency);
c2) Ambigüidade causal: a ligação entre a posse do recurso pela
empresa e sua vantagem competitiva sustentável é algo que não
possui uma única explicação;
c3) Socialmente complexo: a maneira como o recurso gera vantagem
competitiva para a empresa é socialmente complexa quando o
recurso é acumulado internamente pela interação entre as pessoas,
não sendo possível sua obtenção no mercado de fatores de
produção.
d) Deve ser insubstituível: não pode haver substitutos estrategicamente
equivalentes para os recursos que são valiosos, mas não são nem raros
nem imperfeitamente imitáveis.
51
Alguns desses conceitos são revisitados no modelo de Peteraf (1993) que
apresentou as quatro condições que devem ser encontradas para que a empresa
possa sustentar uma vantagem competitiva: a heterogeneidade e mobilidade
imperfeita os limites ex-ante e ex-post à competição (ver Figura 5).
Figura 5: As quatro bases de sustentação de vantagem competitiva.
Fonte: Peteraf (1993, p.186)
Para Peteraf (1993), a heterogeneidade dos fatores decorre dos diferentes
níveis de eficiência de alguns deles, da escassez de fatores produtivos superiores
ou de restrições de disponibilidade, que levaria à desigualdade relativa. A
imobilidade ou a mobilidade imperfeita diz respeito à condição dos recursos não
comercializáveis ou, mesmo que sejam comercializados, tenham mais valor na
empresa que os utiliza atualmente que teria em outra empresa. Isto é a idéia do
Recurso idiossincrático, ou seja, que só se aplica só gera vantagem competitiva
para aquela empresa em particular.
O limite ex post à competição é uma condição para que haja vantagem
competitiva. Para que um recurso seja fonte de vantagem competitiva sustentável é
necessário que a heterogeneidade seja preservada, ou seja, posteriormente ao
ganho da vantagem competitiva por meio de recursos estratégicos é necessário
que haja limites à competição por tais recursos, protegendo-os, criando
―mecanismos de isolamento‖, forças que protejam a empresa da imitação e
preservem seus ganhos (RUMELT, 1984, citado por PETERAF, 1993).
52
A outra condição, que completa o modelo de Peteraf (1993), é o limite ex-
ante à competição para que os ganhos não sejam corroídos pelos custos. Para que
a empresa obtenha uma posição superior de recursos deve haver uma competição
limitada por aqueles recursos, decorrente de imperfeições dos mercados de fatores
como, por exemplo, assimetria de informações ou percepção (BARNEY, 1991).
Para Peteraf (1993), sem imperfeições, as organizações teriam ganhos médios,
uma vez que a performance econômica depende não dos ganhos gerados por
sua estratégia, mas também do custo de se implementar esta estratégia (BARNEY,
1986, citado por PETERAF, 1993).
Observa-se que a imitação imperfeita (dependência do caminho,
ambigüidade causal e complexidade social) e a insubstitutibilidade, vistas em
Barney (2007), aparecem no modelo de Peteraf (1993) como limites à competição
ex-ante e ex-post. Com este modelo, Peteraf (1993) vinculou as noções de rendas
econômicas à noção de vantagem competitiva, indicando que esta deriva da
heterogeneidade de recursos das empresas e da mobilidade imperfeita dos
recursos entre elas, reforçados por limites ex-ante e ex-post à competição
(imitabilidade e substituição imperfeita de recursos)
De maneira geral, a pesquisa acadêmica no campo do RBV é bastante
intensa e esta teoria tem sido utilizada para interpretar diversas situações ligadas à
dinâmica dos mercados competitivos. Em um apanhado nos principais sites de
literatura acadêmica, encontra-se uma série de trabalhos atuais que se baseiam
neste campo de estudo, dentre os quais se podem destacar alguns que corroboram
com a linha de análise adotada neste trabalho.
Contemporaneamente, na mesma linha de pensamento dos formadores do
campo da RBV, destacam-se autores como Binder (2006), Padilha (2007), Jardim
(2008), além dos já citados trabalhos de Barney (2007).
A tese de Binder (2006) trouxe um estudo qualitativo longitudinal das
empresas do mercado aéreo brasileiro, na ótica do RVB. A revisão teórica do autor
englobou desde o aparecimento e desenvolvimento da teoria dos recursos, até as
considerações sobre a correlação entre o desempenho das empresas e o plantel
dos recursos internos das mesmas.
53
A Teoria dos Recursos aponta que a fonte de vantagem competitiva da
empresa baseia-se nos seus recursos e competências internas e, apenas
secundariamente, na estrutura da indústria. Esta teoria tornou-se um
paradigma da análise estratégica na década de noventa. Os trabalhos
seminais deste campo propuseram teoricamente como os recursos são
desenvolvidos e acumulados, mas não foram seguidos de estudos
empíricos sobre o tema.
O objetivo desta tese é resgatar a discussão sobre o processo de
desenvolvimento dos recursos e competências e analisar esta formação
face ao ambiente externo. Para isto foi realizada pesquisa empírica, com
estudo de caso longitudinal comparativo (BINDER, 2006, resumo).
Padilha (2007), tratou da RBV na ótica de pequenas empresas, em especial,
empresas de engenharia no estado de Santa Catarina, trazendo à tona, a
relevância destacada dos recursos humanos nas estruturas menores, conforme
afirmou:
Concluiu-se que recursos não-essenciais na ótica da RBV são
importantes na medida em que participam do processo de acumulação
dos recursos essenciais. Concluiu-se ainda que os recursos possuídos ou
controlados pelas pequenas empresas de Engenharia são
predominantemente de capital humano, ligados ao indivíduo proprietário,
acumulados com dependência do tempo e da trajetória e, portanto,
idiossincráticos, imperfeitamente imitáveis e intransferíveis (PADILHA,
2007, resumo).
Destaca-se também o trabalho realizado por Jardim (2008), que trata das
intersecções dos modelos de estratégia da linha Porteriana e da RBV, através do
pensamento complexo, que de maneira reduzida pode-se descrever:
O presente estudo agrega uma discussão epistemológica e colaborativa
para o desenvolvimento da área de estratégia, apresentando um
paradigma emergente das ciências sociais o pensamento complexo. Tal
paradigma introduz uma perspectiva dinâmica não linear, de causalidade
complexa e de relação dialógica entre as variáveis consideradas na
concepção estratégica. A metodologia adotada na presente dissertação é
a conceitualização filosófica, apoiada pela revisão bibliográfica,
objetivando a elaboração de premissas e proposições. Tendo em vista as
premissas e proposições apresentadas, são aplicados os princípios do
pensamento complexo, notadamente o princípio da dialógica e o da
causalidade complexa, no processo de formulação estratégica,
evidenciando a existência de influência mútua e de complementaridade
entre a estratégia competitiva de Porter e a visão baseada em recursos
(RBV), (JARDIM, 2008, introdução).
Desse modo, com base nos trabalhos tidos como definidores do campo de
estratégia em RBV, inúmeras tendências têm sido apresentadas, dentre as quais, a
convergência e complementaridade com a teoria proposta por Porter (1998).
54
A evolução do modelo de Barney (2007), no qual a capacidade de
operacionalização da corporação para extrair o valor de determinado recurso
passou a ser destacada, também incorporou a avaliação do ambiente externo da
empresa em sua visão de administração estratégica, permitindo perceber a
evolução da sinergia entre o RBV (Barney 2007) e Porter (1998), explicitando
dessa forma, a integração entre o ambiente interno e o ambiente externo no estudo
das estratégias corporativas.
2.2.1 Estratégia e o Processo de Administração Estratégica
Segundo Barney (2007), a maioria dos pesquisadores sobre estratégias
corporativas concorda que a habilidade de uma empresa para sobreviver e
prosperar depende principalmente da implementação de uma boa estratégia,
havendo menor consenso sobre o que é uma estratégia e menor ainda sobre o que
constitui uma boa estratégia.
O Processo de Administração Estratégica é um conjunto seqüencial de
análises e escolhas que podem aumentar a probabilidade de que uma
empresa escolherá uma boa estratégia, isto é, uma estratégia que gere
vantagens competitivas (BARNEY, 2007, 5).
De acordo com os princípios destacados, Barney (2007) definiu estratégia
como sendo a teoria de como obter vantagens competitivas. Definiu ainda como
uma boa estratégia, aquela capaz de gerar definitivamente tais vantagens. Cada
uma destas teorias (de como obter vantagens competitivas) foi baseada em um
conjunto de suposições e hipóteses sobre como a competição no setor tende a
evoluir e como essa evolução pode ser explorada para se obter lucros. Quanto
mais precisas forem estas suposições e hipóteses (refletindo como a competição
no setor realmente evolui), maiores as chances de que uma empresa consiga
vantagens competitivas na implementação de sua estratégia. Ressaltou ainda que
a estratégia de uma empresa é quase sempre uma teoria ou seja, sua melhor
aposta sobre como a competição vai se desenvolver e como esta evolução pode
ser explorada a fim de se obter vantagens competitivas.
55
Normalmente é muito difícil saber de maneira exata como a competição
em um setor vai evoluir e, portanto, raramente é possível saber com
certeza se uma empresa está escolhendo a estratégia certa. Por isso a
estratégia de um a empresa é quase sempre uma teoria é sua melhor
aposta sobre como a competição vai se desenvolver e como essa
evolução pode ser explorada para que seja obtida uma vantagem
competitiva. (BARNEY, 2007, 5).
Embora seja difícil obter a certeza de que uma empresa está seguindo a
melhor estratégia, é possível reduzir a chance de se cometer erros. Neste ponto,
Barney (2007) introduziu a administração estratégica que, para ele, é um conjunto
seqüencial de análises e escolhas que podem aumentar a probabilidade de uma
empresa escolher uma boa estratégia. Para Barney (2007), o processo de
administração estratégica se inicia quando a empresa define sua missão e
ressaltou que o fato de uma empresa possuir uma missão declarada não implica
em sucesso, mas sim que ao conseguir alinhar o senso de propósito de suas
atividades, a rentabilidade pode ficar acima da média de mercado, conforme
comprovado por pesquisas. Assim, enquanto a missão de uma empresa é uma
declaração ampla de seus propósitos e valores, seus objetivos são alvos
específicos e mensuráveis, que ela pode utilizar para avaliar até onde está
realizando sua missão.
Na seqüência, Barney (2007) fez menção aos conceitos de "objetivos de alta
qualidade" e "objetivos de baixa qualidade". Nessa perspectiva, os "objetivos de
alta qualidade" estão intimamente ligados à missão da empresa e são
razoavelmente fáceis de serem medidos, enquanto os "objetivos de baixa
qualidade" não estão perfeitamente alinhados com tal missão e via de regra são
difíceis de acompanhar ao longo do tempo.
Seguindo o processo de gerenciamento estratégico, Barney (2007) ressaltou
as fases de análise interna e externa que, segundo ele, ocorrem mais ou menos
simultaneamente. Ao conduzir uma análise externa, a empresa identifica as
principais ameaças e oportunidades em seu ambiente competitivo. Também
examina como a competição em seu ambiente provavelmente evoluie quais as
implicações dessa evolução nas ameaças e oportunidades. Por outro lado, a
análise interna ajuda a empresa a identificar suas forças e fraquezas
56
organizacionais além de ajudar a empresa a identificar quais de seus recursos e
capacidades, provavelmente, serão fontes de vantagens competitivas. Esta análise
também pode mostrar quais as áreas da organização que requerem melhorias e
mudanças.
Uma vez munida de uma missão, de objetivos e da análise interna e externa,
a empresa está pronta para realizar suas escolhas estratégicas, ou seja, pronta
para escolher a sua teoria de "como obter vantagens competitivas".
Segundo Barney (2007), as escolhas estratégicas disponíveis para uma
empresa enquadram-se em duas grandes categorias: estratégias no nível de
negócios e estratégias no nível corporativo. Nesta perspectiva, as estratégias no
nível de negócios são ações que as empresas praticam para obter vantagens
competitivas em um único mercado ou setor. Em consonância, Porter (1998)
afirmou que as duas estratégias mais comuns no nível de negócios são: liderança
em custos e diferenciação de produto. Por outro lado, para Barney (2007), as
estratégias no nível corporativo são ações que as empresas praticam para obter
vantagens competitivas operando em múltiplos mercados ou setores
simultaneamente, como estratégias de integração vertical, de diversificação,
alianças estratégicas, fusões e aquisições. Neste contexto, a lógica por trás das
escolhas está baseada no fato que escolher uma estratégia é optar por uma teoria
que respalde a missão da empresa, seja consistente com seus objetivos, explore
as oportunidades no ambiente da empresa com seus pontos fortes e neutralize as
ameaças do ambiente ao mesmo tempo em que evita seus pontos fracos.
Completando o raciocínio, Barney (2007) ressaltou a importância da
implementação da estratégia que ocorre quando uma empresa adota poticas e
práticas organizacionais compatíveis e consistentes com a estratégia. Destacou
três políticas organizacionais de grande importância no sucesso da implementação:
a estrutura organizacional formal da empresa, os sistemas formais e informais de
controle gerencial e a política de remuneração dos funcionários, conforme segue:
Uma empresa que adote uma estrutura organizacional, controles
gerenciais e remuneração de funcionários consistentes com suas
estratégias e que as reforcem, tem maior probabilidade de conseguir
implementar essas estratégias do que uma empresa que adote uma
estrutura organizacional, controles gerenciais e remuneração de
funcionários inconsistentes com suas estratégias.‖ (BARNEY, 2007, 10).
57
Outro aspecto relacionado à escolha de estratégias está ligado à
intencionalidade ou emergência natural da estratégia. Barney (2007) destacou que
várias empresas renomadas têm estratégias que são pelo menos parcialmente
emergentes, ou seja, surgiram de forma não intencional de acordo com as
situações e oportunidades que se apresentaram em certo momento àquela
corporação. Referiu que, em muitas situações, a escolha da estratégia inicial não
contava com todos os elementos necessários e importantes para indicar a melhor
escolha e que a habilidade da empresa de mudar a sua estratégia com rapidez
para responder à tendências emergentes em um setor pode, em si, ser uma fonte
de vantagem competitiva o importante quanto a habilidade de completar o
processo de administração estratégica.
2.2.2 Vantagem Competitiva
Segundo Barney (2007), a vantagem competitiva é representada por um
valor econômico que se apresenta na comercialização de bens que competem
entre si no mercado e se caracteriza pela diferença entre o custo do produto e o
benefício total percebido pelo cliente. Quanto maior esta diferença, ou seja, quanto
maior o valor econômico criado pela empresa em comparação ao concorrente,
maior a sua vantagem competitiva com relação a este concorrente. O valor
absoluto da vantagem competitiva é definido pela diferença entre os valores
econômicos criados pelas empresas. A vantagem competitiva pode ser temporária
ou sustentável, de acordo com o período de tempo que durem. O autor não chegou
a ser específico no tocante ao período de tempo mínimo que pode definir se uma
vantagem competitiva possa ser sustentável, deixando esta questão em aberto
para julgamento dos leitores. Outra perspectiva trazida pelo autor está relacionada
à comparação do custo do capital da empresa com seu resultado de lucratividade e
como isto se relaciona com a obtenção de vantagens competitivas.
Nesse sentido a vantagem competitiva está diretamente relacionada aos
recursos internos da empresa que não podem ser alcançados pela concorrência.
58
2.2.3 Avaliação das capacidades internas de uma empresa e modelo VRIO
Dentro da RBV e em consonância com Barney (2007, 64), recursos são
definidos como ativos tangíveis e intangíveis controlados pela empresa que podem
ser utilizados para criar e implementar estratégias. as capacidades o um
subconjunto dos recursos de uma empresa. São, portanto, ativos tangíveis e
intangíveis capazes de permitir que a empresa aproveite por completo outros
recursos que controla. Barney (2007) destacou que as capacidades, por si não
permitem que uma empresa crie e implemente estratégias. ―[...] as capacidades
sozinhas não permitem que uma empresa crie e implemente suas estratégias, mas
permitem que utilize outros recursos para criar e implementar tais estratégias
(BARNEY 2007, 64).
Os recursos e capacidades de uma empresa podem ser classificados em
quatro amplas categorias: recursos financeiros, recursos físicos, recursos
individuais e recursos organizacionais. Importante ressaltar que, enquanto os
recursos humanos são atributos individuais, os recursos organizacionais são
atributos de grupos de pessoas, incluindo a estrutura formal, seus sistemas formais
e informais de planejamento, controle e coordenação, cultura e reputação, assim
como relações informais entre grupos dentro da empresa e entre aqueles em seu
ambiente, segundo Barney (2007).
Complementando, Barney (2007, 65) afirmou que o RBV é baseado em
duas suposições fundamentais sobre recursos e capacidades controláveis pelas
empresas: 1) Empresas diferentes podem possuir conjuntos diferentes de recursos
e capacidades mesmo que estejam competindo no mesmo setor esta é a
suposição da heterogeneidade de recursos da empresa que implica no fato de que
certas empresas podem ser mais competentes em realizar certas atividades do que
outras. 2) Algumas dessas diferenças de recursos e capacidades entre empresas
podem ser duradouras, pois pode ser muito custoso para certas empresas
desenvolver ou adquirir recursos ou capacidades que não possua esta é a
suposição da imobilidade de recursos. Ao considerarem-se estas duas suposições
em conjunto pode-se explicar porque certas empresas superam as outras, pois se
uma empresa possui recursos e capacidades valiosas e que poucas empresas os
59
possuem, e se essas últimas consideram muito custoso imitar estes recursos e
capacidades, a empresa possuidora destes ativos tangíveis e intangíveis pode
obter uma vantagem competitiva sustentável.
O modelo VRIO, na visão de Barney (2007), permitiu desenvolver um
conjunto de ferramentas para analisar os diferentes recursos e capacidades de
uma empresa, bem como o potencial de cada um deles para gerar vantagens
competitivas. Este modelo se refere a quatro questões que devem ser levantadas a
respeito de um recurso ou de uma capacidade em uma empresa, a fim de
determinar seu potencial competitivo. Estas questões se referem ao Valor, à
Raridade, à Imitabilidade e à Organização.
A análise da potencialidade dos recursos e capacidades se através de
respostas a perguntas a serem feitas sobre cada um dos quatro elementos citados
anteriormente, o que será detalhado a seguir, conforme sugerido por Barney
(2007).
Antes de se tratar do detalhamento do modelo VRIO, deve-se destacar
alguns pontos em relação a possíveis divergências ou críticas que existem com
relação ao modelo da RBV. Uma destas críticas se refere à ausência de
considerações sobre os modelos de redes de negócios, conforme trabalho de
Caridade (2005), nas metodologias de RBV e mesmo no modelo Porter (1998). Os
autores ressaltaram o modelo Delta, que levando em consideração as
características das redes de negócios, posiciona o cliente no centro do
desenvolvimento da estratégia, conforme segue:
O Modelo Delta é um método de análise e configuração estratégica
desenvolvida por Hax e Wilde (2001). O modelo pressupõe que o objetivo
central da firma deve ser o de atrair, satisfazer e reter o cliente que é em
última análise, a razão de sua existência. Em outras palavras, o modelo
coloca o cliente no centro da gestão de negócios e o ―customer bonding‖
como força central na formulação estratégica.‖ (CARIDADE, 2005, 4).
Estes fatores ligados às redes de negócios trazem uma dimensão diferente
à formulação de estratégias baseadas na RBV, conforme segue:
`
A economia em rede e a conectividade são realidades atuais. As escolas
RBV e do posicionamento não consideram economias e empresas em
rede como fatores importantes de criação e manutenção de
relacionamento entre clientes, fornecedores e complementadores. O
60
Modelo Delta põe luz sobre o cliente e a capacidade da firma de atrair,
satisfazer e reter os clientes, criando uma rede de relacionamentos e de
ligação, união ímpar. É o cliente no centro das proposições estratégicas.
Desta forma, o objetivo do Modelo é complementar as escolas RBV e do
posicionamento, provocando a integração entre estas diferentes
abordagens.‖ (CARIDADE, 2005, 9).
Ao aplicar-se esta conceituação de redes em complementação ao RBV e
estratégias Porterianas, na indústria automobilística, novos pontos de vista surgem
e possibilitam o aparecimento de estratégias diferenciadas, como se pode ver a
seguir:
Analisando-se alguns setores industriais, como montadoras de veículos,
por exemplo, em termos gerais, nota-se que apresentam características
de um setor com ampla concorrência, em que o nível tecnológico dos
concorrentes é próximo e com características de uma indústria
consolidada, em que fatias de mercado são disputadas com intensa
rivalidade entre os concorrentes. A possibilidade de que uma delas atinja
uma posição em que os concorrentes sejam colocados de fora do sistema
(―lock-out‖) seja pelo desenvolvimento e propriedade dos padrões da
indústria, posse de exclusividade dos canais de distribuição ou pela
obtenção de uma posição dominante no mercado, parece-nos remota
dadas as características do setor. Adicionalmente, a posição dominante de
que trata o modelo aproxima-se do conceito de diferenciação proposto por
Porter.‖ (CARIDADE, 2005, 10).
Retomando então à análise do modelo VRIO, a questão do Valor trata dos
recursos e capacidades de uma empresa que lhe permitem explorar oportunidades
externas ou neutralizar ameaças externas. Ou seja, analisando-se uma capacidade
ou um recurso deve-se perguntar se o mesmo é capaz de permitir a exploração de
uma oportunidade externa ou neutralizar os possíveis efeitos de uma ameaça
externa. Caso a resposta seja positiva, trata-se de um recurso ou capacidade de
valor que pode ser considerado como uma foa da empresa. em caso de
resposta negativa, a capacidade ou recurso são considerados como fraquezas.
De certa forma, atribui-se valor a determinado recurso ou capacidade se o
mesmo é capaz de melhorar a posição competitiva da empresa em determinado
mercado. Conforme afirmou Barney (2007), pode ser difícil ter certeza do valor que
determinado recurso ou capacidade de uma empresa possuem, por serem
necessárias informações operacionais detalhadas sobre os mesmos que nem
sempre estão disponíveis. Uma das formas de avaliar o impacto dos recursos e
das capacidades é examinar sua influência nos custos e receitas da empresa.
61
Comparando-se a situação onde o recurso ou capacidade estão presentes com a
situação onde os mesmos são ausentes, pode-se inferir sobre o real valor dos
mesmos.
Para facilitar a identificação de recursos e capacidades que potencialmente
podem ser valiosos, pode-se fazer um estudo da cadeia de valor da empresa.
Como cada etapa da cadeia de valor requer a aplicação e integração de diferentes
recursos e capacidades e como empresas diferentes podem fazer escolhas
diferentes sobre as atividades da cadeia de valor, é possível identificar recursos e
capacidades capazes de significar valor para empresas. O estudo da cadeia de
valor foi bastante desenvolvido por Porter e sua teoria pode ser aplicada na
identificação de recursos e capacidades valiosos.
A questão da Raridade é o segundo passo na análise de um recurso ou
capacidade. O pressuposto é que, se um recurso ou capacidade é controlado por
muitos concorrentes de determinada indústria, dificilmente será fonte de vantagem
competitiva para qualquer um deles. Recursos e capacidades valiosos, mas
comuns (isto é, não raros) são fontes de paridade competitiva e não de vantagem
competitiva. É importante ressaltar que a maioria dos recursos das empresas são
recursos "comuns", ou seja, promovem somente a paridade competitiva, mas nem
por isso deixam de ser importantes. Sob condições de paridade competitiva as
empresas pelo menos aumentam sua chance de sobreviver. Em geral, desde que o
número de empresas que possuem determinado recurso ou capacidade valioso
seja menor que número de empresas necessárias para criar uma dinâmica de
concorrência perfeita, o determinado recurso pode ser considerado raro e potencial
fonte de vantagem competitiva, segundo Barney (2007).
A existência de recursos e capacidades raros e valiosos permite
freqüentemente que as empresas sejam inovadoras em termos de estratégias, por
conseguirem implantá-las onde outras não conseguem. Porém, os recursos raros e
valiosos podem vir a ser fontes de vantagem competitiva sustentável, caso as
empresas que não os possuem enfrentem uma desvantagem de custo para obtê-
los ou desenvolvê-los. Isto caracteriza os recursos inimitáveis e define a questão
da Imitabilidade.
62
Segundo Barney (1991), em geral, a imitação pode ocorrer de duas
maneiras, como duplicação direta ou como substituição. As principais situações na
quais pode se tornar dispendioso para determinada empresa imitar outra, são
aquelas que envolvem: condições históricas únicas, ambigüidade causal,
complexidade social e patentes.
A questão da Organização refere-se ao fato que, embora possuindo
recursos e capacidades valiosos, raros e de difícil imitabilidade, para aproveitar o
potencial de geração de vantagem competitiva destes recursos, a empresa deve
estar devidamente organizada de forma a explorar os mesmos. Entre os diversos
componentes de uma empresa, os mais relevantes no tocante à questão da
organização são os ligados à estrutura, tais como: a composição hierárquica, os
sistemas formais e informais de controle gerencial e suas políticas de
remuneração. A configuração adequada dos componentes mencionados acima
funcionará de forma a propiciar a viabilidade da exploração de um recurso com
potencial para gerar uma vantagem competitiva sustentável. No Quadro 1, vê-se
um resumo das perguntas que devem ser respondidas e positivadas para cada um
dos quesitos elaborados pelo autor, de forma a configurar uma vantagem
competitiva.
Quadro 1 Relação das perguntas que devem se respondidas positivamente no
modelo VRIO.
V Valor
O recurso permite que a empresa explore uma
oportunidade ambiental e/ou neutralize uma
ameaça do ambiente?
R Raridade
O recurso é controlado atualmente apenas por
um pequeno número de empresas
concorrentes?
I Imitabilidade
As empresas sem o recurso enfrentam uma
desvantagem de custo para obtê-lo ou
desenvolvê-lo?
O Organização
As outras políticas e procedimentos da empresa
estão organizados para dar suporte à
exploração de seus recursos valiosos, raros e
custosos para imitar?
Fonte: Barney (2007, 67)
Com base nos elementos propostos no quadro acima, no capítulo 3,
Metodologia serão propostas questões para os funcionários da Ford, tendo como
63
base o Modelo VRIO, com o intuito de conhecer a opinião desses funcionários
referente aos recursos geradores de vantagem competitiva.
2.3 Aplicação do modelo VRIO
As questões ligadas aos quatro quesitos preconizados por Barney (2007)
podem ser agrupadas em um único modelo para que se entenda o potencial de
retorno associado a quaisquer recursos e capacidades de uma empresa.
Se um recurso ou capacidade controlado por uma empresa não é valioso,
não permitirá a concepção de estratégias que utilizem esse recurso ou capacidade
como gerador de vantagem competitiva.
Se um recurso ou capacidade é valioso, mas não é raro, a exploração do
mesmo aplicada à formulação e implantação de estratégias poderá gerar no
máximo, paridade competitiva. Não obstante, a consideração de capacidades e
recursos que geram paridade competitiva pode mostrar que, embora não se tenha
em mãos um recurso capaz de gerar vantagem competitiva, manter esse recurso
pode ser questão básica para a sobrevivência do negócio.
Se um recurso ou capacidade é valioso e raro, mas não é custoso de imitar,
a exploração do mesmo em estratégias gerará uma vantagem competitiva
temporária para empresa. Ao explorar um recurso desse tipo, uma empresa, de
uma forma importante, está ganhando uma vantagem de pioneirismo por ser a
primeira empresa capaz de explorar um recurso em particular. Mas, uma vez que
os competidores observem tal vantagem competitiva, estarão prontos a adquirir o
desenvolver os recursos necessários para implantar esta estratégia, duplicando
diretamente ou substituindo sem desvantagens de custos. Ao longo do tempo,
qualquer vantagem competitiva obtida por esta empresa pioneira será anulada
pelos concorrentes.
Se um recurso ou capacidade é valioso, raro e custoso imitar, sua
exploração gerará uma vantagem competitiva sustentável. Em tal situação, as
empresas concorrentes enfrentam desvantagem de custos significativa para imitar
os recursos e capacidades da empresa bem-sucedida.
64
A questão da organização funciona como um fator de ajuste do modelo
VRIO, pois se possui recursos e capacidades valiosos, raros e custosos de imitar,
mas a empresa deixar de se organizar para tirar os maiores proveitos desses
recursos, estará perdendo parte de sua vantagem competitiva potencial.
A aplicação do modelo VRIO, então, pressupõe a identificação dos recursos
e capacidades das empresas e seu julgamento quanto aos parâmetros (Valor,
Raridade, Imitabilidade e Organização).
Conforme é possível observar na montagem dos exemplos práticos citados
no trabalho de Barney (2007) é necessário realizar-se um estudo detalhado dos
recursos e capacidades envolvidos na dinâmica de determinada empresa ou
indústria. As fontes de informação tanto para identificação das competências e
recursos que serão analisados em determinada indústria ou empresa, assim como
para o julgamento da qualificação dos mesmos frente a seu valor, raridade,
Imitabilidade e organização, podem variar desde a contratação de consultorias
especializadas aentrevistas com funcionários e gestores das organizações das
quais se busca analisar a estratégia. No Quadro 2 exemplifica-se a forma que pode
tomar o "output" do estudo das capacidades e recursos e de uma determinada
empresa atuando em determinada indústria.
Quadro 2 Análise de recurso ou capacidade e suas implicações
Valioso ?
Raro ?
Custoso de
Imitar ?
Explorado
pela
Organização ?
Implicações competitivas
Não
-
-
Não
Desvantagem Competitiva
Sim
Não
-
-
Paridade Competitiva
Sim
Sim
Não
-
Vantagem Competitiva
Temporária
Sim
Sim
Sim
Sim
Vantagem Competitiva
Sustentável
Fonte: Barney (2007, 80)
65
Conforme se observa no Quadro 2, o resultado da análise de determinado
recurso se caracteriza pelas implicações competitivas resultantes, e além de
representar um diagnóstico da situação atual, possibilita mapear possíveis
necessidades de desenvolvimento de recursos e/ou capacidades.
2.4 Complementação entre RBV e Estratégias Porterianas
Segundo Porter (1998, 4), destacadamente, a estratégia é criada a partir dos
elementos externos à empresa (modelo das cinco forças e visão do
posicionamento), enquanto o RBV se atem aos elementos internos da empresa.
Dada esta aparente dissociação entre as teorias de Porter e o RBV, é grande o
número de trabalhos acadêmicos e de estudos práticos que avaliaram as
semelhanças e divergências dos modelos. Como exemplo, tem-se a dissertação de
mestrado de Paula Esteban do Valle Jardim (2008) em que, parte de seu trabalho
foi buscar as visões dos principais autores voltados para as estratégias
corporativas que tecem comentários sobre o antagonismo ou complementaridade
das teorias. Citando seu trabalho:
―Assim, ainda que Porter (1991, p. 107) critique a RBV por ser ‗muito
introspectiva‘, em entrevista a Argyres e McGahan (2002, p. 47), Porter
argumenta que não existe dicotomia entre a visão do posicionamento e a
RBV, pois pela perspectiva da estratégia competitiva uma empresa
alcança uma vantagem competitiva, ao agregar valor a um grupo diferente
de consumidores, tendo, para tanto, que desenvolver um conjunto único
de competências. Porter ressalta, no mesmo contexto, que uma
competência não tem valor por si mesma, mas adquire valor frente ao
contexto de posicionamento no qual está inserido. (JARDIM, 2008, 51).
Barney (2007) ampliou sua análise com relação ao seu próprio modelo
VRIO e a obtenção de vantagem competitiva‖ (Barney 1991), buscando discutir o
processo de administração estratégica em um contexto competitivo mais amplo e
mercadológico. De certa forma, é possível observar que o autor utilizou os recursos
e competências internas da empresa como parte da análise do contexto geral e
trouxe para o processo de administração estratégica os princípios da teoria de
Porter (1998) como liderança em custos, diferenciação de produtos e o modelo das
66
5 forças. De forma natural, o autor inter-relacionou o ambiente externo com o
ambiente interno da empresa, reforçando a teoria da complementaridade entre a
visão Porteriana e o RBV. Na Figura 6 está reproduzida a estrutura proposta para a
gestão estratégica por Barney (2007).
Figura 6 - Fluxograma estrutural da gestão estratégica.
Fonte: Barney (2007, 13)
Na Figura 6, pode-se observar que no ciclo de implementação da
Administração Estratégica proposto por Barney (2007), precedem a escolha
estratégica tanto a análise interna quanto a análise externa da empresa, mostrando
complementariedade entre o RBV e a teoria Porteriana.
2.5 O RBV dentro das escolas de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998)
Em seu livro Strategy Safary‖, Henry Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998)
definiram 10 escolas de estratégia e as classificaram em 3 grupos principais: o
primeiro grupo é descrito como o das estratégias de natureza prescritiva, que se
preocupa mais em como a estratégia deve ser concebida do que necessariamente
em como ela se forma. Neste grupo estão as escolas do Design, do Planejamento
e do Posicionamento. Em um segundo grupo, composto de estratégias que
consideram aspectos específicos da formação das mesmas, ou descritivas, o
classificadas 6 escolas. Neste grupo estão as escolas Empreendedora, a
Cognitiva, a escola do Aprendizado, a do Poder, a Cultural e a escola Ambiental.
Missão
Objetivos
Escolha
Estratégica
Implementação
Estratégica
Vantagem
Competitiva
Análise
Externa
Análise
Interna
67
Finalmente no terceiro grupo, encontra-se somente uma escola, a da Configuração,
que segundo o autor, de certa forma, combina as outras escolas. Embora divididas
em três grupos distintos, não é correto dizer que não existam intersecções entre os
grupos. Ao iniciar a descrição da escola Empreendedora, Mintzberg, Ahlstrand,
Lampel (1998) ressalta que ela, de certa forma, representa uma transição entre o
grupo Prescritivo e o Descritivo.
As dez escolas estratégicas apresentadas por Mintzberg, Ahlstrand, Lampel
(1998), são destacadas de forma a evidenciar as principais características de cada
uma.
Escola do Design: A base principal da Escola do Design é a análise
―SWOT‖ (em português, análise das forças e fraquezas das organizações, e das
oportunidades e ameaças do ambiente onde a organização opera), e busca
estabelecer um encaixe entre as capacidades (capabilities) internas e as
possibilidades externas. Assim, o processo inerente à escola do Design, implica em
avaliações das capacidades internas, na busca das forças e fraquezas da
corporação e identificação das competências distintivas, assim como implica na
avaliação do ambiente externo, busca das oportunidades e ameaças e
identificação dos fatores chave de sucesso. A combinação dos elementos
encontrados na análise vai gerar a concepção de possíveis estratégias, a posterior
escolha de uma delas e sua implantação na Organização.
Escola do Planejamento: Esta escola é entendida como um passo a mais
da Escola do Design, pois com base nos mesmos fundamentos, traz
adicionalmente a formulação de um plano de ação bastante definido e com locação
de recursos de forma a viabilizar a implantação da estratégia. Para tal, é
estabelecida uma série de objetivos e metas, assim como se busca definir a
missão e visão da corporação, para então fazer o detalhamento do plano de
implementação, com locação de recursos e acompanhamento de resultados. A
rotina descrita para a escola do Design está embutida na rotina estabelecida para a
escola do Planejamento.
Escola do Posicionamento: Os créditos relativos ao aparecimento desta
escola o atribuídos a Michael Porter, que introduziu sobre toda a plataforma
anteriormente utilizada pelas escolas do Design e do Planejamento, de uma certa
68
forma, uma limitação ou catalogação das estratégias que se poderiam obter. Este
modelo inclui a utilização da matriz BCG (Boston Consulting Group) como
ferramenta para mapear os diversos produtos ou negócios de uma corporação de
modo a priorizar ações e direcionar investimentos e indica a possibilidade de se
atuar de acordo com 4 principais estratégias: Liderança em custos, Diferenciação,
Foco em custos e Foco em Diferenciação. Nesta escola também se faz uso do
modelo de 5 forças de Porter (1980), citadas por Mintzberg, Ahlstrand, Lampel
(1998) e de seu modelo de cadeia de suprimentos (PORTER, 1985 IN
MINTZBERG, AHLSTRAND, LAMPEL , 1998).
A Escola Empreendedora: Deixa-se agora o grupo das escolas Prescritivas
e adentra-se o grupo das escolas Descritivas. Como mencionado, o autor
considera a escola Empreendedora como uma transição entre os grupos, portanto
com intersecções. Existem duas vertentes para a escola empreendedora, uma
voltada para o indivíduo empreendedor em si e a outra voltada para a organização
empreendedora. Embora pareçam vertentes bastante distintas, a dissociação entre
indivíduo e organização não é algo trivial e a definição da escola Empreendedora
acaba passando necessariamente por um líder distinto com poder centralizado que
possui uma visão para o futuro do empreendimento. O processo de formação da
Estratégia é semi-consciente e ocorre na mente do líder, que se envolve
pessoalmente no controle de sua implantação de modo a poder corrigir possíveis
imperfeições, problemas ou barreiras que venham a se interpor no caminho. A
tendência a aceitar riscos moderados e lançar a organização em incertezas, faz
parte da personalidade da organização e do indivíduo Empreendedor. A
Organização demonstra maleabilidade para a movimentação e atuação do líder e,
portanto, baixa resistência às inovações. A Estratégia Empreendedora tende a
tomar forma em nichos (que são parcelas de mercado de certa forma isoladas da
remuneração padrão dentro de certa indústria). É importante ressaltar que o rigor
processual crescente que se nas três escolas Prescritivas não é mencionado
nesta descrição da escola Empreendedora.
A Escola Cognitiva: Parte-se da definição de processo cognitivo que
implica no processamento das informações através dos filtros específicos do
processador, ou seja, o indivíduo que interage com o meio, analisa as informações
69
geradas no mesmo, processando-as através de seu saber e sua consciência que
por sua vez se baseiam nos reflexos sensoriais, representações, pensamentos e
lembranças do indivíduo. Isto quer dizer que o resultado deste processamento é
individual e dificilmente poderá ser explicado a outro indivíduo, principalmente
àquele que possua um ―processador‖ muito distinto. Assim a Estratégia emerge
através de um processo não rastreável, na mente do estrategista. Dada sua
origem, a comunicação da Estratégia não é processo trivial, pois trata-se de uma
perspectiva na forma de conceitos, mapas, esquemas ou figuras, que pretendem
moldar a forma das pessoas interagirem com o meio, na tentativa de reproduzir o
processo de concepção do estrategista e possibilitar que seu entendimento seja
estabelecido na organização.
Escola da Aprendizagem: A base da escola da Aprendizagem é a
capacidade dos indivíduos e organizações se construírem e melhorarem a partir de
experiências passadas combinadas com novas informações. O lado cognitivo está
presente, mas não somente na mente de um estrategista central, pois a escola
considera muito mais o lado do coletivo que do indivíduo em si, de forma que a
coletividade contribui para o aperfeiçoamento, ou seja, para a concepção da
estratégia. O processo de aprendizagem e melhoria levado ao extremo
praticamente elimina a diferenciação entre concepção e implantação da estratégia.
As estratégias surgem de diversas fontes e de formas não convencionais, ficando a
cargo da liderança, não o processo de concepção da Estratégia em si, mas sim, da
coordenação e encaminhamento das melhorias obtidas com o aprendizado a
serem incorporadas na estratégia, assim como de sua disseminação pela
organização. Importante ressaltar a menção do autor ao trabalho desenvolvido por
Prahalad e Hamel (1990) no tocante a competências distintivas e à forma como se
encaixam (pelo menos parcialmente) na escola do Aprendizado.
Escola do Poder: Caracterizada pela inerente presença de disputas e
conflitos entre os membros de uma organização, a escola do Poder gera
estratégias que não são necessariamente ―ótimas‖, mas que refletem os interesses
dos grupos mais poderosos da organização. Com fundamentos muito mais
políticos que econômicos, esta escola incorre na possibilidade de permitir
derivações substanciais na atividade da organização, desviando-a de seu princípio
70
básico (que seria produzir bens e/ou serviços) e tornando-a um fórum para lutas
pessoais. Por outro lado, a política permite que os membros mais fortes da
organização ocupem posições de liderança, o que pode tornar a corporação mais
competitiva. Também permite que as decisões sejam bastante debatidas e
implantadas com maior legitimidade. Já no âmbito externo, a escola do Poder
levará em conta as exigências dos agentes exteriores e em seguida, do uso destes
agentes em benefício da organização. Dentro dos conceitos tratados estão: Poder
lícito e Poder ilícito, assim como stakeholders, competição / coalizão e estratégia
versus estratagema.
A Escola Cultural: A cultura passou a fazer parte do estudo de gestão a
partir de 1980, face ao sucesso das corporações japonesas. A formação de
estratégias pela escola Cultural se caracteriza pela interação das crenças comuns
aos membros da corporação, cujas decisões o filtradas e assim influenciadas
pela Cultura. A RBT (Resorce Based Theory) é o mote da escola Cultural que
estabelecerá as estratégias em função das vantagens competitivas possuídas pela
corporação. A imitação dos recursos desta corporação é muito difícil, pois está
protegida pela cultura, assim como a resistência à mudança é característica nas
organizações que convivem com esta escola.
Escola Ambiental: Nesta escola, a geração da estratégia é totalmente de
fora para dentro, ou seja, a organização se caracteriza por ser reativa e não pró-
ativa. A expressão Ambiental é utilizada, pois a estratégia representa a reação da
corporação às mudanças no ambiente, sendo utilizada tipicamente por empresas
que exploram nichos de mercado e que usualmente se reúnem para assimilar
melhor as mudanças do ambiente. A estratégia ambiental é muito vulnerável às
mudanças do ambiente.
A Escola da Configuração: Por se tratar da única escola do terceiro grupo,
concebido como uma mescla das diversas escolas analisadas até então, a escola
da Configuração é característica de organizações que se transformam
constantemente. Desta forma, em certos períodos de tempo encontra-se esta
organização em determinada escola, mas em períodos subseqüentes, ela será
encontrada em outra escola.
71
Essas diferentes orientações estratégicas permitem ao pesquisador abordar
o estudo das organizações de forma criteriosa e conveniente aos seus propósitos
e, ao mesmo tempo, propicia instrumental para se fazer inferências que
possibilitem entender a racionalidade e a malícia, a influência do ambiente e sua
superação, o individual e o coletivo, a capacidade de aliar estrutura e mudança
contínua como fonte de vantagem competitiva.
Por se tratar de trabalho que compilou obras de renomados autores ligados
à estratégia corporativa, Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) citaram as teorias de
Porter (1998) e de RBV. A conceituação de Porter se encaixa dentre as estratégias
ditas Prescritivas, na escola do Posicionamento, enquanto o RBV se enquadra
entre as estratégias ditas Descritivas, na escola da Aprendizagem. Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel (1998) consideram como impulsionadores da escola da
Aprendizagem, Prahalad e Hamel, tidos como autores do campo da RBV. A ligação
entre a escola da aprendizagem de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) e o
modelo VRIO (Barney 2007) com a conseqüente identificação de vantagens
competitivas não se faz de maneira evidente, mas sim através de importante elo
que é definido pelas competências internas das organizações, presente em ambos
os modelos.
Os autores ligados ao RBV acreditam que a vantagem competitiva deriva
de habilidades profundamente enraizadas que se escondem por trás dos
produtos de uma empresa. Estas habilidades permitem que a empresa
diversifique suas atividades em novos mercados re-aplicando e re-
configurando o que ela faz de melhor. Além disso, pelo fato dessas
competências estarem escondidas (como as raízes de uma árvore), elas
não podem ser facilmente imitadas. Conseqüentemente o segredo para
sucesso não está nos grandes produtos, mas sim em uma série de
habilidades únicas que permitem a uma empresa criar grandes produtos.
Os gestores são então encorajados a olhar para seus negócios como um
portfólio de recursos e capacidades que podem ser combinados de várias
maneiras, e não como uma coleção de produtos ou divisões de negócios.
Estes autores vêm as competências centrais como a conseqüência do
"aprendizado coletivo" da organização, especialmente como coordenar
diversas habilidades de produção e integrar múltiplas vertentes de
tecnologia. Isso requer "comunicação, envolvimento, e um profundo
comprometimento pelo trabalho através dos limites organizacionais‖.
Competências são o adesivo que agrupa a os negócios existentes. Elas
são também a força motriz para o desenvolvimento de novos negócios.‖
(MINTZBERG, AHLSTRAND, LAMPEL , 1998, 218).
72
Enfatizando acentuadamente o ambiente externo encontram-se a Escola
Ambiental e a Escola do Posicionamento. Na primeira, usando uma comparação
com processos naturais, como seleção natural, competição por recursos e
sobrevivência do mais forte, a estratégia deve estar voltada para a busca
deliberada de um plano de ação para desenvolver e ajustar a vantagem
competitiva de uma empresa (Henderson, 1998), enquanto na segunda, ao
conceber que organização busca no nicho ou indústria em que atua, a estratégia
busca um posicionamento que lhe permita sustentar-se e defender sua posição
dentro deste mercado.
Partindo-se da premissa que o mercado é um organismos vivo, Henderson
(1998) trouxe um foco ecológico ao processo de formação da estratégia, no qual a
análise dos concorrentes passa a ocupar papel de destaque ao explicar o grande
número de espécies existentes e que desenvolveram uma capacidade única na
competição pelos recursos que necessitam.
Pode-se deduzir, então, que quanto mais rico o ambiente, maior as
probabilidades e as variáveis que podem gerar uma vantagem única para cada
espécie e que, o acaso é um fator importante tanto na competição comercial
quanto na competição natural, por isso, na visão do autor, buscar aumentar o
escopo da vantagem competitiva é visto como sendo o objetivo da estratégia.
Por sua vez Porter (1998) afirmou que, quer seja de forma implícita, quer
seja de forma explícita, todas as organizações possuem uma estratégia. A
estratégia competitiva é definida como sendo o desenvolvimento de uma fórmula
ampla para o modo como uma empresa irá competir, bem como as políticas
necessárias para alcançar seus objetivos, constituindo uma combinação dos fins
(metas) que a empresa busca e dos meios (políticas) pelos quais está buscando
chegar lá‖.
Partindo deste pressuposto a escola do Posicionamento busca a obtenção e a
defesa de uma posição rentável dentro de uma determinada indústria ou formas de
influenciar esta indústria a favor da organização.
É importante ressaltar que o termo Indústria se refere ao conjunto de empresas
fabricantes de produtos que são substitutos bastante aproximados entre si. As
forças competitivas definem a intensidade da concorrência e também a
73
rentabilidade da indústria. Porter (1998) identifica cinco forças estruturais básicas
das indústrias que determinam o conjunto das forças competitivas. São elas:
Ameaça dos novos entrantes;
O poder de barganha dos fornecedores;
Ameaça de produtos ou serviços substitutos;
O poder de barganha dos compradores;
Rivalidade entre os competidores já estabelecidos
Assim, enquanto as premissas da Escola do Posicionamento e da Escola
Ambiental se detém especialmente na análise do ambiente externo (indústria) e na
identificação das forças competitivas, PRAHALAD e HAMEL (1998), na ótica do
RBV, fazem uma abordagem que enfatiza o foco interno da formação da estratégia
segundo a qual, a competência essencial da organização constitui sua vantagem
competitiva sustentável.
Segundo os autores a competência essencial envolve o aprendizado
contínuo da organização, a capacidade de integrar diferentes tecnologias, o grau
de comunicação assim como o envolvimento e comprometimento entre os
integrantes da organização.
Nessa linha de raciocínio, enquanto empresas que trabalham com unidades
de negócio tendem a valorizar os produtos finais e os negócios que eles
possibilitam, as que trabalham com uma carteira de competências enfatizam os
talentos e conhecimentos que podem gerar produtos essenciais, do qual se
derivariam produtos finais para diferentes negócios.
Os autores apresentam algumas afirmações que podem ser feitas para
identificar as competências essenciais da organização, tais como:
1. A competência essencial não diminui com o uso
2. A competência essencial é única e difícil de ser imitada
3. A competência essencial é o valor por ela produzido é percebido pelo
cliente,
4. A competência essencial permite acesso à ampla variedade de mercados.
Com base nessas afirmações, pode-se propor a criação e implantação de
uma arquitetura estratégica, que privilegie o compartilhamento de talentos e a
identificação das competências essenciais, nos quais as subunidades
74
organizacionais devem trabalhar de forma conjunta e não competitiva, e para isso
dever-se-ia estabelecer uma cultura de rotatividade de recursos corporativos, que
tolere erros e onde se possam assumir riscos calculados.
Assim, as competências originadas do processo de aprendizagem coletivo
da organização são o elo entre as duas abordagens que contemplam tanto o
ambiente interno quanto o ambiente externo no desenvolvimento de vantagens
competitivas e, conseqüentemente, na obtenção de sucesso pelas corporações.
2.6 Estratégia e empreendedorismo
Segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), os defensores da Escola
Empreendedora viam a ―liderança personalizada‖, baseada na ―visão estratégica‖,
como a chave para o sucesso organizacional. Eles notaram isto em especial nas
empresas, mas também em outros setores, e não somente no início de formação
de novas organizações, mas também na reformulação de organizações com
problemas. Embora o ―espírito empreendedor‖ fosse originalmente associado com
os criadores de seus próprios negócios, a palavra foi gradualmente ampliada para
descrever várias formas de liderança personalizada, pró-ativa e determinada em
organizações.
Segundo Drucker (1986, 36), o empreendedor vê a mudança como normal e
como sendo sadia. Geralmente, ele não provoca a mudança por si mesmo. Mas
isto que define o empreendedor e o empreendimento o empreendedor sempre
está buscando a mudança, reage a ela, e a explora como sendo uma oportunidade.
Para Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), o empreendedor não é aquele que
simplesmente abre um novo negócio ou investe em um novo produto, mas aquele
que tem a idéia e a transforma em um bem de valor e lucrativo.
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) sugerem quatro características da
maneira de abordagem das ―personalidades empreendedoras‖ na formulação da
estratégia:
1. No critério empreendedor, a geração de estratégias é dominada pela busca
ativa de novas oportunidades: os problemas são secundários;
75
2. Na organização empreendedora, o poder é centralizado nas mãos do
executivo principal. Acredita-se que o poder esteja com uma pessoa capaz
de comprometer a organização com cursos de ação ousados. A visão
substitui o plano esquematizado;
3. A geração da estratégia na empresa empreendedora é caracterizada por
grandes saltos para frente, face à incerteza. A estratégia move-se para
diante na organização empreendedora pela tomada de grandes decisões
os ―golpes ousados‖. O executivo principal procura condições de incerteza,
nas quais a organização pode obter consideráveis ganhos;
4. Crescimento é a meta dominante da organização empreendedora. O
empreendedor é motivado, acima de tudo, pela necessidade de realização.
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) também sintetizaram as seguintes
premissas da Escola Empreendora, complementariamente à visão na formação
de estratégia:
A estratégia existe na mente do líder como perspectiva, especificamente
como senso de direção a longo prazo, uma visão de futuro da organização.
O processo de formação da estratégia é, semi-consciente, enraizado na
experiência e na intuição do líder, quer ele conceba a estratégia ou a adote
de outros e a interiorize em seu próprio comportamento.
O líder promove a visão de forma decidida, até mesmo obsessiva, mantendo
controle pessoal da implementação para ser capaz de formular aspectos
específicos.
A visão estratégica é maleável e assim, a estratégia empreendedora tende a
ser deliberada na visão global e emergente na maneira pela qual os
detalhes da visão se desdobram.
A organização é igualmente maleável, uma estrutura simples sensível às
diretrizes do líder; quer se trate de uma nova empresa, uma empresa de
propriedade de uma pessoa ou uma reformulação de uma organização
grande e estabelecida, muitos relacionamentos de poder são suspensos
para conceder ao ―líder visionário‖ uma ampla liberdade de manobra.
76
A estratégia empreendedora tende a assumir a forma de nicho, um ou mais
bolsões de posição no mercado protegidos contra as forças de concorrência
direta.
Segundo Ferreira (1997), o empreendedor é percebido como um indivíduo com
um profundo senso de missão a cumprir, definindo esta missão através de quais
produtos fornecerá e para quais mercados. Ele trata seus funcionários como
colaboradores e consegue transmitir o senso de missão conquistando a dedicação
de cada um para obtenção de resultados. Os fundamentos da empresa
empreendedora são elementos simples, práticos, básicos e implantados com
obsessão.
Então na perspectiva das escolas estratégicas, a importância do ambiente
interno no qual se evidencia a teoria do RBV e a Escola Empreendedora (e as
forças e fraquezas da organização), unem-se as estratégias que enfatizam o
ambiente externo voltadas para as ameaças e oportunidades presentes no
mercado como a escola do Posicionamento e a Escola Ambiental, cuja atualização
pode ser encontrada em Barney (2007), ao integrar a teoria do RBV com as
estratégias porterianas.
77
3 METODOLOGIA
A presente dissertação é um trabalho de cunho exploratório que busca
conhecer mais especificamente sobre um assunto (COOPER E SCHINDLER,
2003). É um estudo de caso, conforme considera Yin (2005), que através de
pesquisa exploratória, de natureza qualitativa, valeu-se da análise de conteúdo,
segundo Bardin (1977). O recurso da análise de conteúdo tem com o objetivo tirar
partido de um material dito ―qualitativo‖ por oposição ao inquérito quantitativo
extensivo.
Bardin (1977, 34) definiu a técnica da Análise de Conteúdo como:
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando a obter,
por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das
mensagens, indicadores quantitativos ou o, que permitam a inferência
de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis
inferidas) das mensagens.‖
Com base nessas considerações, foram realizadas entrevistas em
profundidade com vários sujeitos. Inicialmente, entrevistou-se um gerente geral da
empresa, buscando-se esclarecimentos acerca do lançamento do Ford EcoSport.
Além disso, foram entrevistadas pessoas que estiveram envolvidas no lançamento
do produto, como: funcionários da empresa Ford e funcionários das
concessionárias da Ford e concorrentes.
que a pesquisa é exploratória e de cunho qualitativo, preocupada com a
profundidade do conhecimento e não dimensões quantificáveis, a opção para
análise recaiu na técnica de análise de conteúdo, que foi utilizada para estruturar e
agrupar o conteúdo das entrevistas semi-estruturadas, utilizadas na pesquisa.
A análise de conteúdo, segundo Bauer & Gaskell (2002), é uma categoria de
procedimentos explícitos de análise textual para fins de pesquisa social onde,
embora alguns exemplos apresentem descrições numéricas de algumas
características do corpus do texto, os tipos assumem especial papel, evidenciando
qualidades e distinções do conteúdo.
Reforçando esta idéia, Bardin (1977 apud Couto, 1998) definiu a análise de
conteúdo como qualquer técnica utilizada para fazer inferências através da
identificação objetiva e sistemática de características específicas da mensagem
78
podendo-se apresentar os resultados através de indicadores quantitativos e
qualitativos.
Sobre sua validade, Bauer & Gaskell (2002), comentaram, que não deve ser
julgada como uma ―leitura verdadeira‖ do texto, porém, deve ser avaliada conforme
sua fundamentação nos materiais pesquisados e em sua congruência com a teoria
do pesquisador à luz do objetivo de pesquisa.
É importante ressaltar que a análise de conteúdo é usada para construir
índices e, se focada na fonte ou emissor da mensagem, como é o caso nesta
pesquisa, o texto é tido como uma forma de expressão. Neste caso, o corpus de
texto é a representação e a expressão de uma comunidade que escreve, e o
resultado da análise de conteúdo é a variável dependente, a coisa a ser explicada.
Em outras palavras, o corpus de texto contém traços do conflito e do argumento e
a análise de conteúdo permite construir indicadores, como visões, valores, atitudes,
opiniões, preceitos e estereótipos e compará-los entre comunidades.
Com base nessas premissas foi escolhida a análise de conteúdo como
suporte para a interpretação dos dados.
3.1 Protocolo de pesquisa
Por se tratar de um estudo de caso, conforme observou Martins
(2006), é fundamental que o estudo apresente um protocolo, destacando o que
será feito no estudo, as entrevistas, técnicas, etapas e eventos, deixando claras as
ações a serem executadas.
Diferente de outras estratégias de pesquisa, para um Estudo de Caso não
se desenvolveu um conjunto fixo de etapas para conduzi-lo. Não há uma
sistematização de um projeto de pesquisa de um caso. Todavia, é possível
compor um plano de ação ou seqüência lógica de procedimentos a partir de
questões orientadas iniciais, passando pela coleta de evidências, compondo
e analisando os resultados, validando-os, até se chegar a conclusões,
condições e para possíveis inferências e o relatório final. Um projeto de
Estudo de Caso bem elaborado possibilitará garantias de lógica interna,
evitando, por exemplo, que evidências levantadas não se remetam aos
objetivos colimados.‖ (MARTINS, 2006, 67).
79
Visando atender a essas exigências destacadas por Martins (2006), o
quadro 3 mostra as etapas do protocolo e apresenta informações adicionais sobre
cada uma delas, visando esclarecer o que será feito.
Quadro 3 Representação sinóptica do protocolo
Fonte: elaborado pelo autor
O quadro sinóptico 3 apresenta as etapas definidas no protocolo,
acompanhadas pelas principais definições e escolhas realizadas na execução do
trabalho.
O objeto de estudo definido para o presente trabalho é totalmente
relacionado ao segmento de mercado de veículos Off-Road, área de interesse do
autor, assim como a área de estratégias corporativas. Dentro dessas duas
perspectivas, buscou-se um objeto que possibilitasse a utilização de ambas as
áreas de interesse.
80
Uma vez definidos o objeto e a base teórica, tratou-se da realização de um
levantamento prévio de informações, através de pesquisas bibliográficas e de
publicações relacionadas ao lançamento, de forma a possibilitar a identificação do
leque de informações que seria necessário para se conduzir o estudo. As
informações colhidas, relacionadas à base teórica, encontram-se no segundo
capítulo deste trabalho, sob o título de referencial teórico. Durante a execução
deste referencial, possibilitou-se a evidenciação das informações a serem colhidas
que seriam necessárias ao objeto do estudo. Ao mesmo tempo, escolhia-se a
metodologia que iria guiar o trabalho, conforme descrito neste capítulo. Constatou-
se que a totalidade das informações a serem levantadas a respeito do objeto não
constava completamente do material publicado e disponível, fato que definiu a
necessidade de realização de pesquisas de campo, visando completar as
informações que permitiriam a análise objetivada.
Posteriormente à definição da necessidade de realização de pesquisas de
campo e à luz da metodologia definida, concluiu-se que seriam necessárias quatro
etapas para as pesquisas de campo.
Na primeira, ouviu-se um especialista do mercado Off-Road, de maneira a
permitir formar-se um quadro mais ampliado do mercado competitivo desta
categoria no Brasil. O perfil desse especialista contemplou, além da vivência
efetiva de experiências Off-Road, conhecimento mercadológico abrangente, que
permitiu contribuir na análise do caso de lançamento do EcoSport. Nesta primeira
etapa, foi possível confirmar a relevância do estudo do caso proposto, assim como
traçar uma categorização dos veículos presentes no mercado e a confirmar as
fontes de informação dos dados estatísticos.
Na segunda etapa, interagiu-se com um executivo da Ford do Brasil, que
participou do processo de lançamento do EcoSport desde o projeto até o
lançamento (e posterior acompanhamento). Esta entrevista serviu principalmente
para que fossem elencados os recursos que mais se evidenciavam na Ford
durante o processo de projeto e lançamento do EcoSport, para posteriormente
permitir que os recursos geradores de vantagens competitivas fossem destacados
conforme recomendou Barney (2007). Sua realização demandou a escolha de
81
uma pessoa que ocupasse nível decisório elevado dentro da organização da Ford
do Brasil, e que assim pudesse ter visão mais abrangente do caso.
Na terceira etapa, foram entrevistados funcionários da Ford do Brasil, que
também vivenciaram as fases de projeto e lançamento do EcoSport, através do
trabalho em áreas executivas desse projeto, pois este perfil de funcionários
permitiu que, dentre os recursos identificados na entrevista com o executivo da
Ford, fossem evidenciados aqueles que poderiam ter gerado vantagens
competitivas no caso em estudo, conforme metodologia utilizada por Silva (2004).
Por não se ter acesso a todo o contingente de funcionários da Ford, decidiu-se
entrevistar um grupo de cinco funcionários, sendo dois da área de marketing de
veículos leves, dois da área de vendas de veículos leves e um da área de projetos
de veículos leves. Embora se tratasse de um universo relativamente restrito de
entrevistados, a metodologia de análise de conteúdo de Bardin (1977) deu suporte
para a extração das informações necessárias a revelar as estratégias através das
respostas obtidas nas entrevistas de inquérito desses cinco funcionários.
As áreas de Marketing, Vendas e Projeto‖ foram escolhidas por estarem
envolvidas com toda a cadeia de execução do projeto, desde o desenvolvimento do
projeto técnico em si, levantamento de demanda de mercado e identificação de
oportunidades e nichos, posicionamento de preço, política de descontos, projeção
de vendas, posicionamento, campanhas publicitárias, perfil do consumidor,
interação com as concessionárias, entre outras.
Os depoimentos dos entrevistados terão seus conteúdos analisados e
posteriormente receberão pontuação (0, -1 ou 1) de acordo com a confirmação ou
não da importância do recurso em análise frente aos quesitos do modelo VRIO. A
pontuação 0 (zero) será aplicada somente nos casos onde a análise do conteúdo
da resposta do entrevistado não permitir uma conclusão quanto a relevância ou
não do recurso em análise. A pontuação 1 (um), indicará que o recurso em análise
tem destacada importância frente ao quesito do modelo VRIO (sim no modelo
original), enquanto a pontuação -1 (menos 1) indicará que o recurso não é
relevante frente ao quesito (não no modelo original).
Ressalte-se que a utilização de pontuação não tem caráter de análise
estatística, mas sim, optou-se pela utilização da pontuação em substituição ao
82
modelo original de análise de recurso ou capacidade e suas implicações (sim ou
não), conforme descrito no Quadro 2 ( página 62), somente para facilitar a
consolidação das opiniões emitidas pelos funcionários da Ford.
Na quarta e última etapa, decidiu-se realizar dez entrevistas de campo, com
vendedores de veículos de concessionárias Ford ou de concessionárias de
montadoras, visando constatar a presença das vantagens competitivas e
estratégias reveladas nas etapas anteriores, no dia-a-dia do mercado em si. Foram
então realizadas cinco entrevistas com vendedores de duas concessionárias Ford
da cidade de São Paulo, e cinco entrevistas com vendedores de concessionárias
de concorrentes, sendo duas concessionárias Volkswagen, duas concessionárias
Fiat e uma concessionária Nissan, todas localizadas na região metropolitana de
São Paulo. A escolha das concessionárias Volkswagem deu-se por esta marca
comercializar o CrossFox, competidor do EcoSport, enquanto a Fiat foi escolhida
por comercializar veículos na linha Adventure, especialmente a Pálio Adventure,
também competidora do EcoSport e, finalmente, a Nissan por possuir uma ampla
gama de veículos 4X4 importados em sua linha disponibilizada no Brasil.
As informações geradas nestas quatro etapas de pesquisas de campo,
analisadas pela metodologia proposta nesse capítulo e com base nas teorias
definidas para a realização do presente trabalho, permitiram então, atingir o
objetivo proposto na introdução da presente dissertação.
Definiu-se a utilização de entrevistas semi-estruturadas, para as quais foram
montados roteiros. Tanto os roteiros quanto a transcrição das referidas entrevistas
encontram-se no apêndice e nos anexos do presente trabalho.
A busca pelos entrevistados foi a etapa que demandou, além da definição
dos perfis e confirmação da vivência do caso por parte dos entrevistados, a
colaboração de várias pessoas pertencentes ao círculo de relacionamentos do
autor. Graças à sua rede de contatos, foi possível acessar estas dezessete
pessoas que, com seu conhecimento e boa vontade, fizeram os depoimentos e
disponibilizaram as informações que compõem boa parte do presente trabalho.
Previamente às entrevistas, em todos os casos, o entrevistador explicou o motivo
do trabalho, o significado das variáveis do modelo VRIO (valor, raridade,
83
imitabilidade e organização) e também explicou sobre a definição de recursos que
deveriam ser avaliados.
No caso das entrevistas com os funcionários da Ford (terceira etapa), após
essas explicações, as perguntas referentes a cada recurso (se encaixando nas
variáveis do modelo VRIO) foram feitas sempre da mesma forma para todos os
entrevistados.
Todas as entrevistas foram gravadas através de um dispositivo eletrônico
(PDA), e o material colhido nas gravações foi transcrito pelo autor, com a utilização
de programa de conversão de voz em texto (IBM ViaVoice). Face às limitações de
precisão dos programas de conversão de voz, as transcrições demandaram
intensa revisão por parte do autor, de modo a garantir a acuracidade das
informações que foram então reunidas e descritas e encontram-se no quarto
capítulo desta dissertação, de forma a possibilitar a posterior análise dos
resultados e conclusões.
É Importante ressaltar que, durante a transcrição das entrevistas com os
funcionários da Ford (na terceira etapa de entrevistas), realizou-se
simultaneamente a marcação dos trechos das declarações referentes a cada
atributo do modelo VRIO.
Desta forma, ao ler-se as entrevistas, é possível verificar no início de certas
afirmações ou determinados trechos da entrevista, uma letra entre parêntesis (com
exemplo ―(V)‖), indicando que na seqüência daquela marcação, uma afirmação
referente a ―Valor‖, dentro dos preceitos da teoria de Barney (2007), visando
facilitação da interpretação das informações contidas nas declarações dos
entrevistados.
Para se ter uma visão ampla e sintética da metodologia empregada, a Figura
7 tem como linha mestra o protocolo descrito anteriormente, destacando as etapas
componentes do trabalho de pesquisa
84
Figura 7 Representação gráfica do processo de elaboração do trabalho
Fonte: elaborado pelo autor.
Como se pode observar, a figura acima resume as etapas e a seência que
foi adotada para a condução do trabalho, ou seja, duas atividades principais: uma
de definição e outra de obtenção de informações foram realizadas sobre o objeto, a
teoria e a metodologia de análise, que possibilitarão a interpretação e análise dos
resultados e, finalmente, o registro das conclusões do trabalho.
3.2 Roteiro das entrevistas frente aos objetivos da pesquisa
Considerando que a realização das entrevistas da terceira etapa (com os
funcionários da Ford), seria a que mais geraria informações, tanto para
confirmação dos recursos, quanto na identificação das estratégias, o roteiro para
estas entrevistas semi-direcionadas foi montado com as perguntas diretamente
relacionadas ao objetivo do trabalho, no tocante à identificação de recursos que
poderiam ter sido utilizados pela Ford e ter gerado vantagens competitivas.
Adicionalmente, todas as questões foram elaboradas para auxiliar na
identificação da estratégia ou estratégias em uso, na visão de Mintzberg, Ahlstrand,
Lampel (1998). Todavia, cabe ressaltar que cada recurso analisado (nas 11 linhas
apresentadas no Quadro 5) poderá se encaixar melhor em uma determinada
Teoria
Metodologia
de análise
Objeto
Interpretação
Análise e
Conclusão
Escolha de:
Obtenção de
Informações sobre:
85
escola estratégica. Em outras palavras, a constatação da presença de determinado
recurso, gerando vantagem competitiva também indica a presença de determinada
escola estratégica.
Para tanto, um trabalho paralelo foi necessário: relacionar cada recurso sob
análise com uma das escolas estratégicas seguindo as definições de Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel (1998), o que foi feito levando-se em conta a descrição de cada
uma das escolas em comparação com o tipo de recurso analisado.
Note-se que a correlação entre recurso e escola estratégica foi possível
após as entrevistas com o especialista em Off-Road e com o executivo da Ford,
quando se tinha a clareza sobre os recursos que seriam passíveis de gerar
vantagens competitivas.
Considerando-se ainda que as perguntas estavam relacionadas aos pilares
de uma campanha de recuperação da empresa, internamente divulgada na Ford
(pessoas, produtos e concessionárias), cada uma das perguntas referentes a cada
recurso (e posteriormente as respostas), foi antecedida de um código ordinal, de
forma a possibilitar a ligação direta com respostas dos entrevistados. No final de
cada entrevista, cada entrevistado pode expressar e incluir outros recursos que
não tivessem sido comentados até então, e que, em sua opinião, pudessem ser
possíveis fontes de vantagem competitiva para a Ford.
É evidentemente que a correlação entre as questões e as vertentes
estratégicas engloba mais de uma relação aceitável, porém neste estudo optou-se
por indicar a escola estratégica que melhor se adéqua à questão/recurso.
3.3 Confidencialidade das informações
A divulgação, ou não, do nome e/ou cargo ocupado pelo entrevistado foi
abordada e definida em comum acordo com cada um dos entrevistados. Também
foi respeitada a negativa de responder ou prestar informações sobre determinado
tema específico que o entrevistado tenha considerado como confidencial.
Destaca-se que somente os cinco funcionários da Ford entrevistados na
terceira etapa solicitaram a não divulgação de seus nomes e cargos ocupados, fato
86
que levou à necessidade de se identificar cada um deles somente como
entrevistado, seguido de um número de 1 (um) a 5 (cinco).
Para efeito da análise das informações prestadas, será necessário identificar
a área de atuação de cada um dos entrevistados, antecipando-se que os
identificados pelo número 1 e 4 o atuantes na área de Marketing de veículos
leves, os identificados pelos números 2 e 3 atuam na área de vendas de veículos
leves e, finalmente, o identificado pelo número 5 atua na área de projetos de
veículos leves.
87
4. RESULTADO DA PESQUISA E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste tópico encontra-se o resultado das entrevistas realizadas com o
especialista do mercado Off-Road, com o executivo da Ford, com os cinco
funcionários da Ford e, finalmente, com os vendedores das concessionárias da
Ford, e dos concorrentes. O trabalho aqui realizado foi de extrair através das
técnicas de análise de conteúdo, os elementos importantes identificados nas
entrevistas, capazes de possibilitar uma análise do caso, bem como atingir os
objetivos propostos de identificação de recursos e capacidades geradores de
vantagem competitiva (BARNEY, 2007) e de estratégias em uso pela Ford
(MINTZBERG, AHLSTRAND, LAMPEL , 1998).
É importante destacar que tanto a entrevista com o especialista do mercado
Off-Road, quanto a entrevista com o executivo da Ford, não visavam avaliar
recursos e capacidades frente ao modelo VRIO, mas sim construir a lista de
recursos, para que esta fosse contemplada frente ao modelo VRIO em etapa
posterior. as entrevistas com os funcionários da Ford, visaram,
deliberadamente, julgar os recursos frente ao modelo VRIO (BARNEY, 2007). As
entrevistas com os vendedores das concessionárias visaram capturar quais os
elementos de vantagem sobre os competidores permearam a cadeia de
distribuição e vendas chegando até o interlocutor com o consumidor final.
Após a apresentação dos resultados, esses serão analisados na perspectiva
do RBV e do modelo VRIO e das escolas estratégicas sistematizadas por
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), mais especificamente a Escola
Empreendedora, a Escola do Posicionamento e a Escola Ambiental.
4.1 Resultados das entrevistas
Nesse item serão apresentados os resultados das dezessete entrevistas
realizadas respectivamente com o especialista do mercado Off-Road, o executivo
da Ford, os cinco funcionários da Ford, os cinco vendedores de concessionárias
Ford e os cinco vendedores das concessionárias concorrentes.
88
Conforme descrito a seguir, as entrevistas com o especialista no mercado
Off-Road e com o executivo da Ford têm seus resultados expressos
individualmente, evidenciando o processo de identificação dos recursos passíveis
de geração de vantagem competitiva. Por outro lado, as entrevistas com os
funcionários da Ford, dada a elevada quantidade de informações que contêm e a
necessidade de extrair uma opinião consensual das cinco resposta, foram
retratadas através da montagem de cinco quadros, um para cada funcionário, de
modo a evidenciar a opinião de cada um em relação aos recursos em análise
frente às variáveis do modelo VRIO. Em um segundo momento (no item 5.2),
realizou-se uma análise conjunta das opiniões destes funcionários sobre cada um
dos recursos, de forma a facilitar a sintetização da análise destas declarações. No
tocante às entrevistas com os vendedores das concessionárias Ford e
concorrentes buscou-se, através da análise de conteúdo, os termos que
caracterizaram a permeabilidade dos recursos previamente identificados na ponta
de vendas.
4.1.1 Resultado da entrevista com especialista em Off-Road
A entrevista com o especialista no mercado Off-Road (transcrita no
Apêndice 1) foi bastante importante para reforçar a peculiaridade e a relevância do
caso EcoSport em estudo. As informações forneceram inúmeros indícios referentes
a uma série de recursos e competências que foram utilizadas deliberadamente, ou
não, pela Ford durante o processo de projeto e lançamento do EcoSport. Segundo
o entrevistado o veículo projetado no Brasil a partir da plataforma do carro popular
Ford Fiesta, surpreendeu pelo volume de vendas e participação de mercado que
atingiu. O principal apelo do veículo foi sua identidade com os antigos Jipes e com
os carros então importados na categoria Off-Road. Embora esta identidade fosse
sua principal diferenciação com outras opções de veículos que o mercado oferecia,
o carro não era apropriado para a prática de Off-Road, mas somente, de certa
forma, inspirava aventura, segundo a opinião do entrevistado.
89
Foi bastante importante também, durante esta entrevista, estabelecer a
definição das categorias de veículos e o enquadramento do EcoSport como CUV.
Esta definição possibilitou que os levantamentos das informações de vendas,
assim como pesquisas de trabalhos realizados no exterior, ficassem facilitados.
Destaca-se também outra passagem importante em que, quando
perguntado a respeito da adequação do EcoSport para utilização em trilhas de Off-
Road, o entrevistado foi categórico com relação às dificuldades que este veículo
enfrentaria em uma trilha:
"Não, não serve para a trilha. Como monobloco, uma torcida um pouco
maior causaria uma deformação permanente, da mesma forma como
acontece com os carros blindados".
Destacou-se da entrevista, a relação inicial de recursos que o especialista foi
capaz de identificar como sendo utilizados pela Ford, e que potencialmente
poderiam ter gerado vantagens competitivas, ou seja, que aparentemente atendiam
aos pré-requisitos do conceito de VRIO (Barney, 2007), justificando o sucesso do
carro no mercado.
Partindo desse depoimento, o resultado da pesquisa aponta para a existência
dos seguintes recursos como fonte de vantagem competitiva, conforme quadro
abaixo:
Quadro 4 Relação de recursos gerada na entrevista com especialista em
Off-Road
1 Equipe interna capaz de identificar uma oportunidade no mercado
2
Conhecimento do mercado americano, permitindo a extrapolação do
potencial de vendas das SUVs.
3 Presidente empreendedor motivando a empresa.
4 Liderança envolvimento direta do vice-presidente Luc de Ferran.
5
Projeto dedicado do EcoSport desenvolvido no Brasil e diferenciando-o
dos pretensos concorrentes.
6 Utilização da plataforma do Fiesta e da planta de Camaçari.
7 Disponibilidade produtiva de Camaçari.
8
Resultados fracos da montadora, pressionando todo time a conseguir
realizar um feito de sucesso.
Recursos ou capacidades utilizados pela Ford
Fonte: Entrevista com especialista em Off-Road
90
Os resultados obtidos com o especialista em Off-Road, isto é, a relação de
recursos ou capacidades, que potencialmente atendem ao conceito do modelo
VRIO (portanto podem gerar vantagem competitiva), nortearam os passos
seguintes do trabalho.
4.1.2 Resultado da entrevista com o executivo da Ford
Com base nas informações obtidas com o especialista em Off-Road, para a
confirmação e complementação da lista de recursos passíveis de geração de
vantagem competitiva, buscou-se a opinião de um executivo e gestor da Ford do
Brasil, que tivesse vivenciado todo o processo de projeto de lançamento do
EcoSport para, com base em sua análise trabalhar a referida lista dos recursos.
Após os contatos iniciais com mencionado executivo, foi preparado um documento
(Anexo 1), a lista de recursos e competências que haviam sido identificadas até
aquele momento. Este documento também funcionou como roteiro da entrevista
para validação e complementação da lista de recursos e competências, que
aconteceu por telefone e encontra-se transcrita no Apêndice 2.
O executivo da Ford colaborou bastante na realização desse trabalho com
seu depoimento. Primeiramente pelo incentivo dado desde os primeiros contatos,
quando se demonstrou entusiasmado pelo fato do lançamento do EcoSport ser
estudado academicamente.
Praticamente todos os recursos identificados no Quadro 4 foram ratificados
pelo executivo que também adicionou outros três recursos, fazendo com que a lista
assumisse a forma que consta do Quadro 5.
A importante vivência do executivo permitiu ter acesso ao que era conhecido
como campanha de motivação interna da Ford naquela época, e que se baseava
em três pilares (Pessoas, Produto e Concessionárias) que acabaram compondo
também a estrutura desse trabalho estando relacionados no Quadro 5. Finalmente,
destacou-se na entrevista com o executivo o fato de estar-se no caminho correto
na busca dos recursos geradores de vantagem competitiva e o decorrente
incentivo para a continuidade do trabalho. Após a revisão possibilitada por esta
91
entrevista, a lista de recursos e competências ficou estabelecida, conforme Quadro
5, no qual, são apresentados onze recursos que são relacionados à possibilidade
de geração de vantagem competitiva.
Quadro 5 Relação final de recursos gerada da entrevista com executivo da Ford
Fonte: entrevista com o Executivo da Ford
A referida entrevista permitiu não o refinamento da lista de recursos e
competências que posteriormente serão analisadas segundo a metodologia do
modelo VRIO, mas também destacou alguns recursos que, na opinião do
entrevistado, possuíam grande importância no processo de projeto e lançamento
do EcoSport.
O papel desempenhado pelo vice-presidente Luc de Ferran, assim como a
deferência dada pelo entrevistado ao fato de Ferran declarar que tinha certeza que
o carro iria ser um sucesso, remeteram a ampliar e aprofundar o embasamento
teórico da dissertação na área de empreendedorismo. A entrevista permitiu a
montagem do quadro acima, relacionando os recursos e/ou competências com os
pilares da campanha motivacional interna da Ford, destacados pelo executivo. É
importante ressaltar que para facilitar a referencia aos recursos e/ou competências
92
a serem estudados, os mesmos receberam um código identificador, que aparece
na segunda coluna do quadro acima.
De posse dos resultados das entrevistas e com a relação de recursos
e competências revisadas, elaborou-se o roteiro para realizar, posteriormente, as
cinco entrevistas com funcionários da Ford, de forma a evidenciar quais recursos
teriam gerado vantagens competitivas.
4.1.3 Resultado das pesquisas com funcionários da Ford.
Nas cinco entrevistas realizadas com os funcionários da Ford, foi possível
explorar a lista de onze recursos anteriormente relacionados. Todos os
funcionários entrevistados vivenciaram direta ou indiretamente todo o processo de
projeto de lançamento do EcoSport. Esta vivência lhes permitiu opinar de forma
mais categórica sobre cada um dos recursos que estavam sendo analisados. Estas
entrevistas além de transcritas no apêndice 3, foram tabuladas, e as tabulações
encontram-se nos quadros das páginas a seguir mostrando as respostas por
funcionário e por recurso analisado à luz do modelo VRIO. Para a realização das
mesmas, uma breve introdução sobre o trabalho foi realizada para cada
entrevistado, assim como uma breve descrição do modelo VRIO e do objetivo da
entrevista. Esta introdução à entrevista foi feita oralmente pelo entrevistador e,
posteriormente, a entrevista foi guiada pela relação de recursos expressos no
Quadro 5, buscando-se a opinião do entrevistado para cada recurso com relação
ao Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização.
De forma a possibilitar uma visão conjunta das opiniões dos entrevistados,
foi montado um quadro adicional, que sintetiza as opiniões através da escolha dos
depoimentos mais representativos sobre cada recurso à luz das variáveis do
modelo VRIO, conteúdo expresso no Quadro 11.
93
Quadro 6 Tabulação das respostas, funcionário 1
Fonte: elaborado pelo autor.
94
Quadro 7 Tabulação das respostas, funcionário 2
Fonte: elaborado pelo autor.
95
Quadro 8 Tabulação das respostas, funcionário 3
Fonte: elaborado pelo autor.
96
Quadro 9 Tabulação das respostas, funcionário 4
Fonte: elaborado pelo autor.
97
Quadro 10 Tabulação das respostas, funcionário 5
Fonte: elaborado pelo autor.
98
As informações contidas nos Quadros 6 a 10 são a consolidação das
entrevistas com os funcionários da Ford, e contêm as opiniões destes no tocante a
cada um dos recursos com relação a seu Valor, Raridade, Imitabilidade e
Organização. Foram extraídas, através da análise de conteúdo das entrevistas, as
afirmativas que possibilitavam verificar a opinião do funcionário sobre a existência
ou o de Valor, Raridade, Imitabilidade e Organização para cada um dos
recursos. É importante ressaltar que a metodologia VRIO, requer respostas
objetivas para definir se um recurso ou capacidade é ou não gerador de vantagem
competitiva, desta forma, faz-se necessária uma segunda etapa de consolidação
destas entrevistas, buscando-se a opinião consensual das cinco entrevistas. No
item 4.2.4, seexibida uma tabela resumo, que sintetiza as opiniões dos cinco
funcionários. Para a montagem da tabela resumo, fez-se necessária a sintetização
dos Quadros 6 a 10, destacando-se as respostas mais representativas com relação
a cada recurso na ótica das variáveis do modelo VRIO. Esta síntese é apresentada
no Quadro 11 a seguir:
99
Quadro 11 - Consolidação das respostas dos funcionários da FORD
Pe1
"É um recurso
importante"
"Não dá para se
dizer que
somente a Ford
se vale destas
informações"
"Não creio que
seja difícil de
imitar"
"Sem dúvida a
Ford está
organizada para
aproveitar essas
informações"
Pe2
"Não vejo que o
papel do Maciel
tenha sido tão
voltado para o
dia-a-dia"
"Não existem
muitos dele por
"
"Também acho
difícil de imitar"
"Ele estava lá,
então a
organização
estava correta"
Pe3
"O cara é meio
pé quente!"
"Não há muitos
dele por aí não"
"Eu diria que ele
é único! Não tem
quem não
conheça"
"Então
organização
estava OK"
Pe4
"Pressão por
resultados é
uma coisa
importante"
"Acho que isso
está presente em
todos os lugares
hoje em dia"
"Não tem nada
de original
nisso."
"Sem dúvida a
pressão estava
, e a corda no
pescoço"
Pr1
"A concepção
completa do
carro é alguma
coisa de
especial."
"Aí mais do que
tudo, a gente
estava sozinho
no mercado"
"Fazer um carro
desses a partir
do zero leva pelo
menos cinco
anos."
"Mostrou que a
organização
estava
preparada"
Pr2
"Não vejo muita
vantagem na
utilização da
plataforma"
"Assim não
entendo que seja
raro"
"Não entendo
que seja difícil de
imitar"
"Também não
vejo nenhum
ponto especial"
Pr3
"Mais difícil ainda
é construir uma
fábrica da noite
pro dia"
"Importante, pois
pudemos
atender a
demanda muito
bem"
Pr4
"Mas existiam
muitas dúvidas
se ele deveria
ser um
verdadeiro 4x4"
"Não tenho
notícia que outro
concorrente
tenha feito algo
parecido"
"Embora
pudessem fazer
se quisessem"
"Mas nós fomos
fundo"
Pr5
"Isso mesmo,
custo baixo é o
segredo da
coisa"
"Não vejo
raridade nisso no
Brasil"
"Não vejo
dificuldade de
imitar"
"Este é um dos
motivos"
Co1
"...mas o caso é
que a Ford
precisava dela
para recuperar o
tempo perdido"
Co2
"É como falei,
vital para a
recuperação da
Ford"
"Tapar um
buraco que foi
deixado desde e
a dissolução da
Autolatina"
"Estávamos recompondo a rede"
"Não vejo vantagem para Ford no tocante às
concessionárias. Na verdadenhamos uma
desvantagem e o que foi feito foi simplesmente uma
reconstrução. Sem isso a penetração no mercado
estaria definitivamente comprometida"
Intensas pesquisas de mercado
confirmando o conceito e ratificando a
demanda
Base de custos de produção competitiva e
posicionamento de preço ―Premium.
Nova estrutura interna para remodelar a
rede de concessionárias
Aumento do número de concessionárias no
Brasil
Projeto específico (não era maquiagem)
diferenciando da concorrência
Utilização de plataforma já existente e
confiável (crossover Fiesta)
Fábrica projetada com capacidade para
atender o novo Carro
"Se não tivessem construído a
fábrica em Camaçari,
simplesmente não teria sido
possível lançar EcoSport"
Time Interno e Dirigentes atentos às
oportunidades de mercado
Presidente Empreendedor (Antonio Maciel)
motivando a empresa a fazer um bom
trabalho
Vice-Presidente Luc de Ferran
Capitaneando o projeto
Pressão por resultados permeando toda
organização
Cód
Recursos Internos passíveis de gerar
vantagens competitivas
Síntese das Respostas dos Funcionários da Ford
Valor
Raridade
Imitabilidade
Organização
Fonte: Elaborado pelo autor
100
4.1.4 Resultados das pesquisas com concessionárias
Inicialmente, a idéia era de realizar as entrevistas com vendedores das
concessionárias da mesma forma como as entrevistas realizadas com os
funcionários da Ford, conforme descrito no item 4.1.3. Mas, ao se tentar realizar as
entrevistas desta forma, notou-se uma grande dificuldade dos vendedores das
concessionárias, que não possuíam informações suficientes sobre os processos
internos da Ford para emitir opiniões que pudessem ajudar na identificação dos
recursos geradores de vantagens competitivas. A distância dessas pessoas dos
processos que aconteceram na montadora Ford do Brasil era grande o suficiente
para impedir que a lista de recursos tivesse alguma relação com seu dia-a-dia, ou
fizesse algum sentido para eles. Em face da dificuldade, alterou-se a forma de
entrevista-los. Foram preparadas, então, duas questões abertas que pudessem
permitir aos entrevistados discorrer sobre sua visão a respeito do EcoSport, tanto
no tocante às suas principais características, quanto sobre os seus diferenciais
com relação aos concorrentes. Duas questões foram propostas:
1 - Em sua opinião, quais os principais motivos do sucesso do EcoSport no
mercado brasileiro?
2 - Em sua opinião, quais as principais vantagens que a Ford teve sobre os
competidores com relação ao lançamento do EcoSport?
Preparando a posterior análise das respostas dos entrevistados, nesta etapa
focou-se principalmente destacar as palavras que se evidenciam nos depoimentos,
para posteriormente aplicar-se a metodologia de análise de conteúdo. Conforme a
metodologia para analise de conteúdo (Bardin, 1977), observando a transcrição
das respostas dos entrevistados, foram capturados os termos que caracterizavam
a qualificação do objeto em analise, buscando-se também sua incidência
(repetições) dentre os entrevistados, buscando principalmente por elementos que
estivessem ligados aos recursos e capacidades que foram definidos nas etapas
anteriores.
101
- Respostas nas concessionárias concorrentes:
É comum aos vendedores das concessionárias concorrentes, a percepção
de que o EcoSport possui um projeto diferenciado, atributo que permite que seja
percebido pelos consumidores como um veículo de características especiais e
únicas. Também aparece com freqüência nas respostas dos vendedores das
concessionárias concorrentes o fato da Ford ter sido pioneiro no atendimento
dessa fatia de mercado. É também mencionado o fato do EcoSport lembrar
bastante os 4X4 importados, mas por ser comercializado por um preço inferior, ter
tornado-se um carro de alto potencial de vendas.
A seguinte relação de palavras/expressões mostra aquelas que se
destacaram nas entrevistas realizadas com os vendedores de concessionárias
concorrentes: feminino, inovação, pioneirismo, o desejo do cliente, estilo, aventura,
imitação de importados, grande sacada, toda mulher quer, competitivo, e serão
posteriormente comparados aos recursos e competências, de forma a reforçar ou
não a existência de vantagem competitiva.
- Respostas nas concessionárias Ford:
Para os vendedores das concessionárias Ford, além da confirmação da
exclusividade do projeto do EcoSport, o carro aparece como uma solução para as
limitações de portfólio que a Ford enfrentava. Permitiu uma reaproximação com o
público consumidor que era muito necessária para manutenção dos negócios. É
freqüente a menção da afinidade do público feminino com o carro.
A seguinte relação de palavras/ expressões foi extraída das entrevistas
realizadas com vendedores das concessionárias Ford: salvação, estilo, desenho,
diferente, apaixonarem, sonho, desejo, bom preço, vantagem, gosto do público,
abriu o mercado, chegou na frente, exclusivo, feminino e segurança. Esses
atributos foram posteriormente comparados aos recursos e competências de forma
a reforçar ou não a existência de vantagem competitiva.
Desta forma foram destacados os termos que mais apareceram nas
respostas dos vendedores das concessionárias de forma a possibilitar a analise
dos resultados destas entrevistas, no item 4.2.
102
4.2 Análise de resultados
Seguindo em linha com o item 4.1, no qual descrevem-se os resultados das
entrevistas, o presente tópico utiliza a mesma seqüencia. Primeiramente foi feita
uma análise sucinta das entrevistas com o especialista em Off-Road e com o
executivo da Ford. Posteriormente foi realizada uma análise bastante detalhada
das entrevistas com os funcionários da Ford. O motivo de tal detalhamento reside
no fato de que ao final deste item se tem condições de destacar os recursos
geradores de vantagem competitiva e conseqüentemente, de indicar as estratégias
presentes no lançamento da Ford. Assim, o detalhamento se faz necessário, pois
busca-se um consenso entre as respostas dadas para cada um dos recursos
analisados frente ao modelo VRIO, o que requer ponderação e grande atenção aos
depoimentos.
Após esta etapa foi efetuada a análise das respostas dos vendedores das
concessionárias, de forma também detalhada, pois ao seu final foi possível
destacar os recursos percebidos no nível do consumidor final. Por fim, foi realizada
uma análise cruzada destas quatro etapas de entrevistas, para, em seguida,
apresentar-se de forma resumida as conclusões das análises.
4.2.1 Análise da entrevista com o especialista no mercado Off-Road
Como destacado anteriormente, o intuito da entrevista com um
especialista do mercado Off-Road não era identificar vantagens competitivas ou
estratégias que tivessem sido utilizadas pela Ford, mas de uma forma mais ampla,
relacionar todos os recursos observados, que pudessem, ou não, ter gerado
vantagens competitivas. Nesta ótica, o objetivo da entrevista foi totalmente
alcançado tendo sido identificados oito recursos passíveis de geração de vantagem
competitiva, conforme descrito no item 4.1.1. A análise desta entrevista
definitivamente foi realizada para se montar a relação de recursos mostrada no
final do item 4.1.1, não cabendo neste momento outros aprofundamentos no seu
conteúdo.
103
Através da analise de conteúdo da entrevista, foi possível identificar uma
serie de afirmações do especialista, que induziam a existência de recursos ou
capacidades presentes no contexto do veiculo, que poderiam levar a existência de
vantagens competitivas, por se caracterizarem como importantes (ou seja, de
Valor), não presentes nos demais concorrentes (ou seja Raras), também difíceis de
serem copiadas pelo menos a curto prazo (Inimitáveis) e cuja manifestação
demonstrava que a empresa (Organização) da empresa tinha sido capaz de
capitalizar o valor intrínseco do recurso ou da capacidade (busca por atendimento
ao modelo VRIO).
Desta forma, pode-se considerar que o depoimento do especialista do
mercado Off-Road definiu o direcionamento que a pesquisa tomou, pois nele foi
possível confirmar, ou descartar, elementos que se caracterizaram em um segundo
momento como recursos ou capacidades em uso pela Ford. Nesta entrevista, foi
possível ter uma visão bastante ampla do mercado Off-Road não só no Brasil, uma
vez que foi possível acessar um leque bastante amplo de informações. Este era o
intuito primordial da entrevista, pois naquele início do trabalho buscava-se esta
visão ampliada, de forma a entender o contexto do mercado onde o EcoSport se
inseriu.
A partir desta entrevista foi possível compreender que, para cada
proprietário de veículo, o significado de palavras tidas como de consenso comum,
podia variar bastante. Em específico, o significado de aventura cabe nesta visão,
pois para um pode significar um jipe totalmente enlameado utilizando todos os
recursos mecânicos disponíveis para transpor um obstáculo natural no meio da
mata, e para outro, pode significar simplesmente trafegar por uma estrada não
pavimentada que, no entanto, não ofereça dificuldade maior de transposição. A
compreensão desse fato permite reconhecer que a Ford não buscava um público-
alvo que encarasse o Off-Road como esporte presente e incluído em sua agenda
real, mas talvez aquele para o qual o esporte é um elemento de desejo ou de
demonstração de seu estilo de vida, não necessariamente presente no seu dia-a-
dia.
Outra informação que também emergiu desta entrevista, refere-se ao
assunto que inicialmente nada tem a ver com o lançamento do EcoSport a
104
descontinuação da produção do Defender no Brasil (jipe da Land Rover). Enquanto
relatava a dificuldade que a montadora encontrou com relação a motores no Brasil,
Luiz Fernando se referiu à robustez do Defender, "O Defender é um carro robusto e
não se pode comprometer esta imagem". O fato é que, definitivamente, o Defender
é muito mais um carro para a utilização Off-Road do que para utilização urbana,
tanto em termos de seu visual externo, com rebites aparentes e chapas planas que
não são o melhor exemplo de "design" moderno, quanto pelo seu pesado chassis
com enormes diferenciais dianteiros e traseiros, caixa de transferência central e um
pesado motor diesel que fazem o carro ser mais do que robusto, e sim um pesado,
barulhento e desengonçado instrumento de locomoção. Esse fato associado à
disparidade do preço comercialização mencionado pelo especialista remete a uma
distinção entre públicos alvo da Land Rover e da Ford com o EcoSport.
4.2.2 Análise da entrevista com o executivo da Ford
Da mesma forma que na entrevista anterior, esta entrevista tinha o objetivo
claro dentro da metodologia adotada neste estudo. Buscava-se a ratificação e a
complementação da lista de recursos que deveriam ser avaliados posteriormente
no modelo VRIO. Este objetivo foi totalmente alcançado, e o resultado encontra-se
expresso no Quadro 5 (página 91).
Foi possível depreender das afirmações do entrevistado, que não existia
uma estratégia deliberada ou evidente em andamento, mas sim que um mosaico
de iniciativas estava presente, e de certa forma abrigado dentro de uma campanha
motivacional, que apontava os pontos cruciais para o retorno ao sucesso da Ford.
É possível inferir que a turbulenta trajetória da Ford desde a formação da
Autolatina (1986), tivesse gerado instabilidade nos funcionários, e que a campanha
motivacional interna tivesse como um dos pilares ―Pessoas‖, assim como a linha de
produtos, que havia se desatualizado e necessitava ser totalmente reformulada,
estivesse presente na forma de ―Produto‖, e finalmente, a rede de concessionárias
que havia encolhido drasticamente, tivesse que ser recomposta e estivesse
105
presente como um dos pilares da campanha motivacional interna, na forma de
―Concessionárias‖.
Bastante relevante, foi a qualificação e o nível de importância dado ao papel
desempenhado pelo então vice-presidente, Luc de Ferran, que na opinião do
entrevistado teve impacto muito positivo na recuperação da Ford, e mais
destacadamente no lançamento e sucesso do EcoSport, fato que remete a Escola
Empreendedora e aos pilares da RBV.
Como resultado da análise dos recursos e capacidades evidenciados, foi
possível montar o quadro a seguir, que é um dos importantes elementos do
presente trabalho. Nele estão presentes as importantes correlações entre os
recursos e capacidades da Ford, com as Escolas Estratégicas.
Quadro 12 Correlação entre os recursos e as escolas estratégicas
Pe1 Posicionamento
Pe2 Empreendedorismo
Pe3 Empreendedorismo
Pe4 Todas
Pr1 Ambiental/Posicionamento
Pr2 Posicionamento
Pr3 Posicionamento
Pr4 Ambiental/Design
Pr5 Posicionamento
Co1 Planejamento
Co2 Planejamento
Cód.
Roteiro de entrevista - Qual sua opinião
sobre os seguntes aspectos?
Escola estratégica
segundo Mintzberg (1998)
Time Interno e Dirigentes atentos às
oportunidades de mercado
Presidente Empreendedor (Antonio Maciel)
motivando a empresa a fazer um bom
Vice-Presidente Luc de Ferran Capitaneando
o projeto
Preso por resultados permeando toda
organização
Projeto específico (não era maquiagem)
diferenciando da concorrência
Utilização de plataforma já existente e
confiável (crossover Fiesta)
Fábrica projetada com capacidade para
atender o novo Carro
Intensas pesquisas de mercado confirmando o
conceito e ratificando a demanda
Base de custos de produção competitiva e
posicionamento de preço ―Premium‖.
Nova estrutura interna para remodelar a rede
de concessionárias
Aumento do número de concessionárias no
Brasil
Fonte: Elaborado pelo autor
106
A análise da relação final dos recursos definidos na entrevista, possibilitou a
montagem do Quadro 12, no qual se estabelece a correlação entre os recursos e
as escolas estratégicas segundo Mintzberg, Ahsland e Lampel (1998), o que
permitira automaticamente correlacionar os recursos que vierem a ser
considerados como geradores de vantagem competitiva com uma ou mais escolas
estratégicas, em consonância com o objetivo do trabalho.
4.2.3 Análise dos resultados funcionários da Ford
A metodologia utilizada no levantamento de informações, levou a buscar
respostas de cinco funcionários da Ford que vivenciaram as etapas de projeto e
lançamento do EcoSport. Ao verificar estas respostas de uma forma mais ampla,
percebe-se a existência de certas tendências, tanto de convergência como
divergência por parte dos entrevistados.
Através da analise de conteúdo, a forma pela qual as entrevistas foram
conduzidas e posteriormente transcritas, possibilita evidenciar tais convergências e
divergências a que se referiu anteriormente. O intuito ao buscar-se tal evidenciação
é poder destacar principalmente os recursos que despontaram como possíveis
geradores de vantagens competitivas, ou seja, aqueles recursos que atendem aos
quatro quesitos preconizados pelo modelo VRIO segundo Barney (2007).
A consolidação das respostas dos entrevistados mostra que poucos dos
recursos analisados se enquadram como geradores de vantagem competitiva.
Observando as respostas por esse ângulo, o papel do vice-presidente Luc de
Ferran, aparece como recurso que satisfaz o modelo VRIO, pois a somatória das
opiniões para as quatro variáveis do modelo é positiva.
Outro aspecto marcante é o projeto em si do EcoSport, que lhe conferiu um
posicionamento único no mercado, diferenciando-o de seus concorrentes e
permitindo a abertura de um novo nicho de mercado. O projeto foi desenvolvido no
Brasil, fato de certa forma pouco freqüente para uma multinacional do porte da
Ford, onde os projetos são normalmente desenvolvidos centralmente e
implantados de forma globalizada, visando a otimização de custos e recursos. De
107
uma forma geral, as respostas dos funcionários atribuem a paternidade do projeto
também a Luc de Ferran. Também é marcante a unanimidade quanto a
importância da planta de Camaçari.
O fato destas entrevistas terem sido realizadas enfatizando-se a
necessidade de emissão de opinião por parte do entrevistado sobre os atributos do
modelo VRIO, ou seja, o valor, a raridade, a imitabilidade e a organização de cada
um dos recursos analisados, possibilitou que, posteriormente, durante a
transcrição, os trechos em que o entrevistado emitiu opinião sobre determinado
atributo do modelo VRIO tenham sido destacados através da inserção de uma letra
anterior, que identificava o atributo que estava sendo analisado. Assim, a análise
das informações ficou facilitada. Não obstante as informações qualitativas
presentes em cada afirmação, é necessário destacar que o modelo VRIO é muito
enfático quanto à forma de se avaliar os atributos de determinado recurso.
Conforme define Barney (2007), deve-se verificar a existência ou não daquele
atributo em relação a determinado recurso. Por exemplo, no que tange a valor, o
modelo solicita definir se o recurso é de valor ou não.
Observando-se o resultado das cinco entrevistas com funcionários da Ford
nota-se que: no tocante à pergunta Pe1 Na perspectiva de lançamento e sucesso
do EcoSport, qual sua opinião sobre o time Interno e os dirigentes da Ford serem
atentos às oportunidades de mercado?, todos entrevistados entendem que o time
interno e o time dirigente da Ford é bastante atento às oportunidades de mercado,
e que isto representa um recurso de valor para a empresa. Conforme afirma o
funcionário "1", "Sem vida o time interno é um recurso de valor para Ford. Não
o time brasileiro, mas também incluo o time de gestão de marketing
internacional. Ter acesso às informações de pesquisas realizadas em mercados
mais maduros é uma forma de se capitalizar a internacionalidade da Ford".
Desta mesma forma, os demais funcionários ratificam em suas afirmações o
valor que esses times internos agregaram ao projeto e ao lançamento. Porém
quando se trata da raridade atribuída ao recurso da Pe1, três dos entrevistados
entendem que este tipo de recurso não é difícil de ser encontrado entre os
competidores no mercado. Conforme afirma o funcionário "2", "aliás, não para
ser diferente no mercado automobilístico, ou você está totalmente antenado a tudo
108
que está acontecendo, ou vai acabar perdendo o bonde..." uma equipe atenta aos
movimentos do mercado é praticamente uma condição necessária para
subsistência de uma montadora de veículos.
Ao se verificar a facilidade de imitação de uma equipe como a descrita no
recurso da pergunta Pe1, quatro dos entrevistados alegam ser o recurso imitável.
Não necessariamente alegam que o recurso será totalmente igual ao que se tem
na Ford, mas sua reprodução nos outros ambientes não é dificultosa.
no tocante à organização da Ford estar preparada para extrair o valor do
recurso da pergunta Pe1, existe unanimidade nas respostas dos entrevistados.
Todos reconhecem que a Ford possuía organização suficiente para extrair o valor
de tal recurso.
Ao verificar-se as respostas dadas ao segundo recurso presente no roteiro
da entrevista e descrito na segunda pergunta "Pe2", Na perspectiva de
lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre o então presidente
(Antonio Maciel) ser empreendedor e estar motivando a empresa a fazer um bom
trabalho?‖, verifica-se que quatro dos entrevistados não vêem valor no recurso no
tocante ao projeto e ao lançamento do EcoSport.
É importante destacar a diferenciação no referente a este recurso. As
afirmações dos entrevistados remetem valor ao trabalho executado pelo então
presidente Antonio Maciel, mas não que sua atuação tenha adicionado valor em
específico para o projeto e lançamento do EcoSport. Conforme a afirmação feita
pelo funcionário "3", "Não vejo que o papel do Maciel tenha sido tão voltado para
as questões do dia-a-dia. Vejo que a atuação dele tenha sido muito mais no âmbito
político" o trabalho executado por Maciel não desceu ao detalhe mais operacional
do lançamento. Neste caso, limitou-se muito mais a endossar o trabalho que
estava sendo realizado, do que interferiu diretamente no mesmo.
Quando perguntados a respeito da raridade do recurso "Maciel", as
respostas dos entrevistados foram unânimes ao reconhecerem que o então
presidente representava algo que os competidores definitivamente não possuíam.
O mesmo acontece quando se verifica o resultado das respostas no tocante
a Imitabilidade do presidente. A resposta é unânime em torno do fato de que os
concorrentes teriam muitas dificuldades caso resolvessem buscar alguém com o
109
mesmo perfil que Maciel. Conforme afirma o funcionário "1", "Ele re-organizou a
companhia e deu vida nova na moral do pessoal", subentendendo-se que este tipo
de atividade não é encontrada comumente no dia-a-dia da indústria, na agenda e
nas capacidades de um presidente.
Ao verificarem-se as respostas dadas para o atributo "Organização", na Pe2,
novamente a unanimidade acontece. Todos entrevistados reconhecem que a
organização estava apta a se utilizar da melhor forma do recurso em destaque.
Cabe salientar que de uma forma geral, ao analisar-se o quesito organização, ao
longo de todas as respostas, percebe-se uma tendência de respostas positivas
quanto à capacidade da organização extrair valor dos recursos analisados. Para
qualquer um dos recursos, pelo menos três dos entrevistados se referiram de
forma positiva no tocante à organização estar preparada para extrair o valor de
qualquer um dos recursos que tenha sido avaliado.
O recurso constante da terceira pergunta, "Pe3", Na perspectiva de
lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre o vice-presidente Luc
de Ferran capitaneando o projeto?” chama bastante atenção quando é verificada a
incidência de respostas positivas declaradas pelos entrevistados. A unanimidade
acontece tanto no tocante ao valor quanto no tocante à organização. É bastante
evidente a ligação direta existente entre o vice-presidente Luc de Ferran e o
EcoSport nos discursos dos entrevistados. Conforme expressa o funcionário "2"; "
O senhor Luc realmente foi o pai (ou o padrinho) do EcoSport. Além da criação do
desenho ele se desdobrou e não sossegou enquanto o projeto não saiu do
AUTOCAD. Se não fosse ele, acho que simplesmente o EcoSport não teria sido
lançado. Ele é muito especial". Luc aparece como personagem central tanto do
projeto quanto do lançamento em si, e quando se consideram os quesitos
referentes à raridade e imitabilidade, somente um dos funcionários entrevistados
traz elementos que permitem uma interpretação da resposta contrária aos demais
quatro entrevistados, discordando da raridade e da dificuldade de imitação do
recurso discussão.
Contrariando a percepção de seus quatro outros colegas, o funcionário "3"
entende que o trabalho realizado e que a pessoa em si do vice-presidente, seria
realizado por qualquer um que estivesse ocupando aquela posição naquele
110
momento, conforme é possível observar em sua afirmação: "Não tiro o mérito de
ter dirigido o projeto o tempo todo, mas era a função dele. Qualquer um teria feito a
mesma coisa". De qualquer forma, esta percepção não desvia a relevância do
recurso em si, conforme será verificado na posterior análise dos resultados.
Os resultados encontrados referentes à quarta pergunta "Pe4", Na
perspectiva de lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre a
influência da pressão por resultados permeando toda organização?”
diferentemente da anterior, mostram que o recurso em observação não é de
notória relevância dentro dos preceitos do modelo VRIO. Embora quatro dos
entrevistados considerem que a pressão por resultados a que a Ford estava
submetida durante o período de projeto e lançamento do EcoSport fosse um
recurso de valor, e, pela constatação dos fatos, os cinco entrevistados entendam
que a organização estava apta para capturar o valor do recurso, no tocante à
raridade e imitabilidade, somente dois entrevistados consideraram o recurso
relevante. Três dos entrevistados afirmam que a pressão por resultados é
constante e presentes em todas as organizações atuais, e mesmo que se
considerasse a situação da Ford como mais crítica que a dos concorrentes, este
fato não seria o suficiente para diferenciar a pressão por resultados na Ford com
relação aos demais concorrentes. Conforme a afirmativa do funcionário "1",
Embora a pressão naquele tempo fosse mais psicológica que a pressão normal do
dia-a-dia, acho que isso está presente em todos os lugares hoje em dia. Todo
mundo tem medo e não sabe bem como vai ser o amanhã. Não vejo dificuldade em
replicar esse tipo de pressão e outras empresas. Não tem nada de original nisso".
Têm-se uma mostra da baixa exclusividade do recurso em consideração, na
percepção dos funcionários entrevistados.
Partindo agora para os recursos ligados ao pilar motivacional, "produtos" o
primeiro recurso que aparece é o que mais chamou atenção no tocante à
positividade dada pelos entrevistados para que se considere o mesmo como
gerador de vantagem competitiva. Na resposta à pergunta ―Pr1‖, Na perspectiva
de lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre a relevância do
projeto ser específico (não era maquiagem) e diferenciando da concorrência?, a
unanimidade encontrada nas respostas com relação à existência de valor, à
111
raridade e à dificuldade de se imitar o recurso é total entre os entrevistados. Isso
quer dizer que, dos cinco entrevistados, todos entendem que o projeto diferenciado
e único do EcoSport, além de ser de extremo valor, é raro e difícil de ser imitado
pelos concorrentes. A dificuldade de imitação não necessariamente se pelo fato
do EcoSport possuir tecnologia diferenciada e não disponível para outros veículos
do mercado, mas talvez por uma combinação de pioneirismo e dimensionamento
de potencial de mercado, conforme será possível discutir na análise e interpretação
dos resultados.
Somente um dos funcionários (5) não trouxe elementos suficientes nas
considerações feitas a respeito da organização para que fosse considerada a
unanimidade positiva também com relação a este item. Porém esse fato não reduz
o destaque do recurso em si. Conforme afirma o funcionário "4", "Sabíamos que o
conceito do EcoSport caía como uma luva em um determinado segmento de
consumidores, que estavam buscando alguma coisa diferente de que um simples
meio de transporte. Até o nome do carro foi escolhido de forma a reforçar a decisão
dos consumidores", existia uma alta confiança da equipe interna com relação à
adequação do EcoSport a demanda do público alvo.
Na análise do recurso seguinte "Pr2" cuja pergunta era Na perspectiva de
lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre a utilização da
plataforma existente e confiável do Fiesta (crossover Fiesta)? ao contrário do
anterior demonstrou-se o menos capaz de possibilitar a caracterização de geração
de vantagem competitiva pelo modelo VRIO. Dois dos entrevistados não percebem
valor na utilização da plataforma do Fiesta, enquanto quatro deles não percebem
raridade e nem dificuldade de imitação por parte dos concorrentes, na utilização de
uma plataforma de um carro popular já existente. No tocante à organização, quatro
dos entrevistados reconhecem que a Ford estava preparada para extrair o valor do
recurso discussão, mas, como anteriormente afirmado, a tendência de respostas
positivas para o quesito organização foi destaque de todas as entrevistas.
Conforme se evidencia na consideração feita pelo funcionário "3", "Sabe que, por
determinado período, a plataforma do Fiesta era mais problema do que solução? A
primeira versão do EcoSport tinha motor 1.0. Quase que o veículo morreu por ali
mesmo! Mas logo chegou a versão I.6, e depois a 4x4 e a coisa mudou de rumo".
112
A utilização da plataforma do Fiesta sem dúvida traz benefícios de custos,
racionalização e redução do tempo de projeto, porém, por outro lado, limita o
desenvolvimento das características do novo projeto àquelas limitantes do projeto
original. Como no caso buscava-se atender às expectativas de um público que
demandava um veículo com características especiais, diferentes daquelas do
Fiesta, é possível entender que benefícios e limitações tenham se anulado neste
recurso.
Ao verificar-se o recurso destacado na "Pr3", Na perspectiva de lançamento
e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre a relevância da Fábrica projetada
com capacidade para atender o novo Carro em Camaçari?”, novamente depara-se
com um item que chama a atenção por representar um possível gerador de
vantagem competitiva na percepção dos entrevistados. Os cinco entrevistados são
unânimes quanto à raridade da fábrica instalada em Camaçari, assim como são
unânimes ao reconhecer que a organização estava apta a extrair o valor deste
recurso. Três dos entrevistados consideram a fábrica como recurso de valor
diferenciado e somente um considera que o empreendimento poderia ser imitado
pela concorrência. Embora se saiba que a fábrica não foi construída somente para
atender à demanda do EcoSport, percebe-se na resposta dos entrevistados que
ela significou diferencial para o caso EcoSport como um todo. Conforme é possível
extrair da resposta do funcionário "4", "As coisas se encaixam no tocante à fábrica
de Camaçari. A decisão era que o Fiesta definitivamente não iria ser produzido nas
fábricas que estavam operando. Era também mandatório que a nova fábrica
funcionasse com sistemistas. Ainda no projeto da fábrica, identificou-se a
possibilidade de agregar mais um veículo, que teria uma rie de similaridades e
sinergias a serem exploradas. E não deu outra". As sinergias entre os veículos e a
modernidade da planta caracterizaram a mesma como recurso de destaque.
Ao se verificar as respostas referentes a "Pr4", Na perspectiva de
lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre as intensas pesquisas
de mercado confirmando o conceito e ratificando a demanda?, pode-se
inicialmente manifestar certo grau de surpresa pois, por se tratar de um lançamento
de veículo em um mercado altamente competitivo, parece razoável que o
embasamento em fortes pesquisas de mercado seja o ponto de partida comum
113
para qualquer produto que venha a ter sucesso na sua comercialização. A
constatação dessa consideração se faz presente na percepção dos funcionários
entrevistados quando se trata do fato das pesquisas de mercado agregarem valor
ao projeto e lançamento do EcoSport, mas, por outro lado, os funcionários
consideram que as pesquisas o podem ser consideradas raras, nem tampouco
difíceis de serem imitadas. Convergem na avaliação positiva da organização
enquanto sua capacidade de explorar o recurso, mas a não consistência de
respostas positivas com relação à raridade e principalmente, imitabilidade, não
coloca o recurso em destaque para ser considerado possível gerador de vantagem
competitiva dentro do modelo VRIO. Conforme afirma o funcionário "2", "As
pesquisas de mercado são sempre muito importantes, mas também são muito um
show da área de marketing. Foram muitos eventos realizados para se descobrir
que o que todo mundo sabia. De qualquer forma aumentou-se a certeza e a
confiança de que o produto iria ser um sucesso". Não existem elementos para
permitir que se considere o recurso definitivamente raro ou de difícil imitação.
As respostas à ―Pr5‖, Na perspectiva de lançamento e sucesso do
EcoSport, qual sua opinião sobre a reduzida e competitiva base de custos de
produção que possibilitou posicionamento de preço Premium?, no caso de dois
dos entrevistados, não possibilitaram definir a observação ou não de raridade ou
imitabilidade, assim como no caso de um entrevistado, não foi possível constatar a
existência ou não de valor ou organização. Por se tratar de recurso que importa
mais diretamente na apuração de resultados e no posicionamento de preços, este
pode não ser tão evidente para todos entrevistados. Enquanto quatro dos
entrevistados perceberam que o recurso era gerador de valor, não houve
unanimidade no tocante à raridade ou dificuldade de imitação do recurso.
Conforme afirma o funcionário "2": " Não vejo muita relação entre a margem ou a
rentabilidade e o sucesso de mercado do carro". Assim, o recurso causou certa
dificuldade para que os entrevistados emitissem uma opinião mais concreta dentro
dos conceitos do modelo VRIO.
Finalmente, ao verificar-se as respostas relacionadas à "Co1 e Co2", Na
perspectiva de lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre a
estrutura interna criada para remodelar a rede de concessionárias?” e Na
114
perspectiva de lançamento e sucesso do EcoSport, qual sua opinião sobre o
aumento do mero de concessionárias no Brasil?‖, respectivamente, percebe-se
que, mais do que recursos capazes de gerar vantagem competitiva, ambas as
iniciativas buscavam preencher uma lacuna que havia sido criada na rede de
concessionárias da Ford. Enquanto três dos entrevistados entenderam que ambos
os recursos eram geradores de valor, dois tiveram visão oposta, e não foi possível
notar consenso das respostas em torno de raridade ou dificuldade de imitação.
Talvez isto se deva à percepção da lacuna existente na rede de concessionárias.
Conforme é possível observar na afirmação do funcionário "3", "Não vejo vantagem
para Ford no tocante às concessionárias. Na verdade tínhamos uma desvantagem
e o que foi feito foi simplesmente uma reconstrução. Sem isso a penetração no
mercado estaria definitivamente comprometida". Era clara a busca pela
recomposição, pois a Ford havia se distanciado bastante dos principais
concorrentes do mercado, inclusive no tocante ao relacionamento e ao número
absoluto de concessionárias no mercado.
De modo geral, como descrito na técnica da análise de conteúdo, as
respostas sobre questões estratégicas possuem fortes componentes
idiossincráticos, mormente quando se dirigem a análise de pessoas
empreendedoras, pois nelas estarão presentes como componentes indissociáveis
das respostas, dentre outros fatores, o grau de inteligência, nível cultural, crenças e
atitudes que se tornam ou não pertinentes em consonância com o temperamento e
interesses dos entrevistados.
Nessa perspectiva, Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998, 274), discorre sobre
as diferentes orientações estratégicas tendo por base a metáfora dos cegos e do
elefante:
Chegou o momento de deixar nosso safári, também nossas bibliotecas,
salas de aula, escritórios e retiros, e mergulhar na selva onde
precisaremos de uma visão clara para ver todos os animais reais.
Certamente, encorajamos acadêmicos e consultores para que continuem
sondando os elementos importantes de cada escola: precisamos saber
mais a respeito de presas, trombas e caudas. Porém, mais importante,
precisamos ir além da estreiteza de cada escola: precisamos saber como
este animal chamado formação de estratégia, que combina todas essas
escolas e mais, vive realmente sua vida.
115
Dito de outra forma, cada estudioso toca uma parte do elefante e tende a
tomar a parte pelo todo. Daí a recomendação de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel
(1998, 274):
Precisamos fazer perguntas melhores e gerar menos hipóteses para
permitir que sejamos puxados pelas preocupações de fora, ao invés de
sermos empurrados pelos conceitos de dentro. E precisamos ser
abrangentes para nos preocuparmos com processo e conteúdo, estática
e dinâmica, restrição e inspiração, com o cognitivo e o coletivo, o planejado
e o aprendido, o econômico e o político. Em outras palavras, além de
sondar suas partes, devemos dar mais atenção ao animal inteiro da
formação da estratégia. Nunca iremos encontrá-lo, não na realidade, mas
certamente podemos ver melhor‖.
Foram empregadas pelos entrevistados, como ocorreu também com o
presidente Antonio Maciel, expressões apologéticas como ―o senhor Luc foi o pai‖,
―das personalidades mais importantes da empresa‖, ―se todos fossem iguais a ele,
os problemas da Ford seriam bem menores‖. Em relação à pressão por resultados,
com exceção de um respondente, os demais acentuaram a importância da
obstinação do líder por resultados para se alcançar vantagem competitiva. Foram
empregadas pelos entrevistados palavras como ―o esforço do pessoal foi muito
grande para que tudo desse certo‖, ―mostrar que estávamos certos, e que o carro
iria ser um sucesso‖
Assim, quando as questões estão relacionadas à atuação de pessoas, as
respostas podem conter racionalizações absolutamente inverossímeis, tais como:
―quem quer fazer a diferença faz, independente da pressão dos outros‖
(funcionário 5). Inversamente, podem conter também, reflexões mais críticas e
ponderadas: ―não acho que nenhuma outra montadora tivesse os mesmos
problemas que a Ford e, o esforço do pessoal foi muito grande para que tudo
desse certo‖.
4.2.4 Evidenciação das vantagens competitivas e das estratégias
Uma opção para realizar esta evidenciação seria simplesmente contar com a
opinião do próprio autor desta dissertação que, se valendo de todas as
informações e percepções a que teve acesso durante a realização desse trabalho,
116
poderia responder às perguntas de valor, raridade, imitabilidade e organização
para cada um dos recursos considerados passíveis de geração de vantagem
competitiva, e assim chegar àqueles que melhor atendem a teorização de Barney
(2007). Tal metodologia foi utilizada, por exemplo, na dissertação de Silva (2004),
onde o próprio autor atribui conceitos para cada um dos recursos frente ao modelo
VRIO. Porém, para o presente trabalho, pelo fato de se ter depoimentos de
pessoas que definitivamente vivenciaram o projeto e o lançamento do EcoSport,
têm-se a oportunidade de considerar a avaliação direta dos entrevistados para
analisar os recursos estudados. Desta forma, foi montada a Tabela 4, que nos
possibilita consolidar as opiniões dos cinco funcionários sobre cada um dos
recursos quando analisados na metodologia VRIO. Buscou-se evidenciar os
recursos que mais unanimemente foram destacados pelos entrevistados. Em linha
com a análise de cada recurso feita no item 4.2.3, realizou-se a montagem de uma
tabela resumo que possibilita a observação mais clara dos recursos unanimemente
destacados pelos entrevistados. Assim, dentro das técnicas de análise de
conteúdo, atribuiu-se para cada resposta dos entrevistados, um número, que
poderia assumir três valores distintos: 1 (um), no caso da opinião do entrevistado
confirmar a relevância da variável do modelo VRIO (Valor, Raridade, dificuldade
em ser Imitado e Organização) em determinado recurso, -1 (menos um), no caso
da opinião do entrevistado não reconhecer a relevância da variável do modelo no
recurso em análise e finalmente zero, no caso da opinião do entrevistado não ser
conclusiva com respeito a relevância ou não da variável naquele recurso em
análise.
Ainda, como na metodologia do modelo VRIO, para que se considere um
determinado recurso como gerador de vantagem competitiva, é necessário que ele
atenda às quatro variáveis, ou seja, represente um recurso de valor, que seja raro,
difícil de imitar e que a organização seja capaz de aproveitar o seu potencial, foi
realizada a consolidação aritmética das opiniões dos entrevistados, o que
possibilitou ranquear os recursos conforme a maior ou menor unanimidade dos
entrevistados. A Tabela 4 assumiu assim o seguinte formato:
117
Tabela 4 Consolidação numérica das opiniões dos cinco funcionários da Ford,
com a evidenciação dos principais recursos destacados unanimemente
V R I O V R I O V R I O V R I O V R I O V R I O
Pe1 1 1 -1 1 1 -1 -1 1 1 -1 -1 1 1 1 1 1 1 -1 -1 1 5 -1 -3 5
6
Pe2 -1 1 1 1 -1 1 1 1 -1 1 1 1 1 1 1 1 -1 1 1 1 -3 5 5 5
12
Pe3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 -1 -1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 5 3 3 5
16
Pe4 1 -1 -1 1 1 1 1 1 1 -1 -1 1 1 1 1 1 -1 -1 -1 1 3 -1 -1 5
6
Pr1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 0 5 5 5 4
19
Pr2 -1 -1 -1 0 1 -1 -1 1 -1 -1 -1 1 1 -1 -1 1 1 0 0 1 1 -4 -4 4
-3
Pr3 1 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 1 1 1 1 -1 1 -1 1 2 5 3 5
15
Pr4 1 1 -1 1 1 -1 -1 1 1 1 -1 1 1 1 -1 1 0 -1 -1 1 4 1 -5 5
5
Pr5 1 -1 -1 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 -1 1 1 0 0 1 4 1 -1 3
7
Co1 -1 1 1 1 1 -1 -1 1 -1 0 0 0 1 1 -1 1 1 0 0 1 1 1 -1 4
5
Co2 -1 1 1 1 1 -1 -1 1 -1 0 0 0 1 1 -1 1 1 0 0 1 1 1 -1 4
5
Concessio
nárias
Nova estrutura interna para remodelar
a rede de concessionárias
Aumento do número de
concessionárias no Brasil
Produto
Projeto específico (não era
maquiagem) diferenciando da
concorrência
Utilização de plataforma já existente e
confiável (crossover Fiesta)
Fábrica projetada com capacidade
para atender o novo Carro
Intensas pesquisas de mercado
confirmando o conceito e ratificando a
demanda
Base de custos de produção
competitiva e posicionamento de preço
Entrevistado
5
Total
Pessoas
Time Interno e Dirigentes atentos às
oportunidades de mercado
Presidente Empreendedor (Antonio
Maciel) motivando a empresa a fazer
um bom trabalho
Vice-Presidente Luc de Ferran
Capitaneando o projeto
Pressão por resultados permeando
toda organização
Soma
Total
Entrevistado
1
Entrevistado
2
Entrevistado
3
Entrevistado
4
Pilares da
estratégia
Cód
Recursos Internos passíveis de
gerar vantagens competitivas
Fonte: elaborada pelo autor
Ao verificarem-se os resultados obtidos com a análise das respostas dos
entrevistados, percebe-se que quatro recursos despontam de forma mais evidente:
são os recursos codificados como Pe2, Pe3, Pr1 e Pr3‖. Porém, ao analisar
as respostas específicas sobre o valor do recurso Pe2‖ verifica-se que quatro dos
entrevistados não o consideram como sendo de valor para o lançamento e sucesso
do EcoSport. Os três outros recursos, ―Pe3, Pr1 e Pr3‖, recebem avaliação
positiva e consistente para todos os quesitos do modelo VRIO. A partir deste ponto,
foca-se a análise nos três recursos, Pe3, Pr1 e Pr3‖, que atenderam a
metodologia preconizada por Barney (2007) e, portanto, são considerados como
geradores de vantagem competitiva no lançamento do EcoSport. Estes três
recursos estão relacionados no Quadro 13, com sua respectiva codificação e
escola estratégica segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998).
118
Quadro 13 Relação dos recursos e competências geradores de vantagem
competitiva pelo modelo VRIO (Barney, 2007)
Pe3 Empreendedorismo
Pr1 Ambiental/Posicionamento
Pr3 Posicionamento
Cód.
Recursos e Competências em utilização
que geraram vantagem competitiva -
VRIO
Escola estratégica
segundo Mintzberg
(1998)
Vice-Presidente Luc de Ferran Capitaneando o
projeto
Projeto específico (não era maquiagem)
diferenciando da concorrência
Fábrica projetada com capacidade para atender
o novo Carro
Fonte: elaborado pelo autor.
Destaca-se primeiramente o fato de existirem três recursos gerando
vantagem competitiva no caso em estudo,. Conforme Barney (2007), uma vez que
a vantagem competitiva vista sob o ângulo mercadológico é o valor adicional
gerado pela empresa frente a seus competidores, a existência de vários recursos
associados atendendo aos preceitos do modelo VRIO é totalmente pertinente,
principalmente levando-se em conta que tais recursos associados potencializam a
capacidade de a empresa gerar maior valor que seus competidores. Conforme
afirma Canteri (2007), "Vale ressaltar que um recurso isolado não consegue gerar
vantagem competitiva, para isso é necessário combinar diversos recursos
disponíveis na organização". De qualquer forma, a existência de três recursos
combinados e geradores de vantagem competitiva é indício que o valor que está
sendo gerado pela Ford, no caso em estudo, frente a seus concorrentes é
substancial, pois está embasado em três recursos que além de gerarem valor, não
se encontram presentes na oferta dos concorrentes (por serem raros), dificilmente
estarão presentes em intervalo de tempo razoável na oferta desses concorrentes
por serem difíceis ou caros de serem imitados, e ainda se encontram em
organização capaz de capturar a vantagem que tais recursos lhe permitirão.
O primeiro recurso destacado na avaliação dos entrevistados é o Pe3, que
diz respeito à presença do vice-presidente Luc de Ferran capitaneando o projeto e
o lançamento do EcoSport. Tal recurso enquadrou-se na escola do
empreendedorismo segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998). Conforme
descreve essa teoria, a escola empreendedora é muito mais encontrada nas
119
iniciativas de empresas onde o líder concentra o poder do direcionamento dos
negócios da empresa, configuração normalmente encontrada em médias e
pequenas organizações. Não obstante, Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998)
contempla a existência da personalidade empreendedora em grandes
organizações, principalmente em situações onde estas grandes organizações
estão buscando a recuperação de seus negócios. Esta consideração é totalmente
cabível dentro da situação que se está analisando. Trata-se definitivamente de um
plano de recuperação de mercado de uma grande corporação, que ao longo do
tempo perdeu espaço para seus concorrentes e se encontrou frente à necessidade
de buscar crescimento acelerado, recuperando sua posição ou pelo menos parte
desta posição. A recuperação total no patamar de 20% de participação de
mercado, definitivamente seria uma meta pouco realista, uma vez que a
configuração do mercado se transformou bastante e, conta hoje com um número
significativamente maior de competidores.
Em situação como a caracterizada por este plano de recuperação, a teoria
disponibilizada por Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) admite o surgimento de
personalidades empreendedoras nas grandes corporações. O perfil do então vice-
presidente parece corresponder, em várias vertentes, às necessidades
demandadas pelo negócio naquele momento. Tanto a competência técnica e a
experiência acumulada no desenvolvimento de vários projetos de sucesso, quanto
a credibilidade que esta trajetória de sucesso lhe permitia, puderam inspirar a
organização como um todo em torno da realização do projeto.
Nesse aspecto, cabe um comentário sobre a postura do então presidente
Antonio Maciel. Pelo fato dele ter se engajado e permitido, ou amais, validado a
iniciativa e a liderança de Luc de Ferran na condução do projeto EcoSport, não
gerando uma possível e inoportuna disputa de poder, sem dúvida colaborou para a
concretização do projeto.
Ao analisar-se o recurso Pr1, referente à existência de um projeto específico
que diferenciava o EcoSport da concorrência, trata-se do recurso que gerou a
maior pontuação na tabulação da opinião dos entrevistados. O recurso totalizou
dezenove, dos vinte pontos possíveis na escala. Este fato demonstra que o produto
em si, concebido pela Ford, foi considerado o principal gerador de vantagem
120
competitiva frente aos competidores. Tal recurso enquadra-se na escola ambiental
e posicionamento, segundo a teoria de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998).
Retrata-se neste tópico a capacidade de leitura do perfil do consumidor e da
oportunidade de mercado por parte da equipe da Ford. Enquanto os mercados
mais maduros eram atendidos em segmentos correlatos ao que se buscava
atender aqui no Brasil por veículos com dimensões grandes e atributos
tecnológicos complexos, que, normalmente, se usava como plataforma, as
configurações de pick-ups que geravam SUVs bastante avantajadas e pesadas,
além de se incorporar a estes SUVs a maioria dos atributos necessários para a
efetiva prática do Off-Road, como tração nas quatro rodas reduzida, altura livre do
solo, ângulos de ataque entre outros, encarecendo bastante a manufatura e
trazendo complexidade para a produção, vislumbrou-se a possibilidade de cativar o
consumidor de forma mais simplificada. Assim, por exemplo, ao invés de partir-se
da complexa e pesada plataforma de uma pick-up, utilizou-se a plataforma de um
carro popular.
Os atributos mecânicos que normalmente são considerados como básicos
para a prática de Off-Road, também não foram levados em conta e pouco se
fizeram presentes no projeto. Privilegiou-se, porém, a aparência externa do veículo,
dando-lhe visual e design que remetem aos jipes da década de 1960, assim como
o posicionamento elevado do motorista e adequação do interior do veículo de
forma a proporcionar conforto e sensação de segurança para o usuário. Conforme
identificado nos vários depoimentos presentes nesses trabalhos, ao contrário da
concorrência, a Ford definitivamente criou um novo modelo, enquanto os
concorrentes simplesmente adicionavam adereços a veículos existentes, como
no caso da Fiat o da Volkswagem, e posteriormente da Peugeot, Renault e outros.
A Ford foi hábil em perceber que havia um blico capaz de reconhecer a
simples maquiagem de um veículo de linha existente, e a concepção de um
veículo exclusivo. A utilização da plataforma do popular Fiesta, em nenhum
momento fez parte da estratégia de promoção do veículo, pois este ponto não era
relevante e nem agregaria valor para aquele público consumidor, embora gerasse
impactos significativos na redução do custo e na simplicidade de produção.
121
Interessante também é a existência de intersecções entre os recursos Pe3 e
Pr1. Entre as várias intersecções que se pode imaginar, uma que merece destaque
é o próprio vice-presidente Luc de Ferran. Conforme foi possível identificar durante
a realização deste estudo, a concepção do conceito do novo carro partiu também
do qualificado empreendedor. Também na análise de Pr1, encontra-se um
componente visível da permissividade da organização que possibilitou que o
conhecimento e experiência do vice-presidente tomassem forma de um novo
produto que visava uma fatia específica do mercado. Este "insight não é
comumente acatado em grandes organizações, sem a prévia realização de
intensas pesquisas e anuência de todos os níveis da organização.
No caso em estudo, notou-se que, embora presentes, as pesquisas foram
realizadas já com o produto em estado avançado de concepção, de forma a
ratificar a imaginada receptividade por parte dos consumidores.
Ao analisarem-se os resultados para Pr3, em relação à fábrica projetada
com capacidade para atender o novo carro, nota-se que esse gerador de vantagem
competitiva classificado dentro da escola posicionamento segundo Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel (1998), possuía poucos elementos capazes de influenciar
diretamente a opinião dos consumidores finais, porém gerava influências ligadas
ao processo de produção e de logística do novo veículo.
A capacidade de atender a uma demanda que se demonstrou superior
àquela prevista durante a fase de projeto, permitiu sem dúvida que a Ford
explorasse, além do estimado, o sucesso do EcoSport no mercado. Esse foi um
dos fatores que permitiu que o novo veículo ocupasse espaço maior que o
anteriormente previsto, e se tornasse assim, tão mais significativo dentro do
portfólio de produtos da Ford.
Ao mesmo tempo, a ausência desta capacidade produtiva adicional para os
competidores, funcionou como um limitante para o desenvolvimento de reais
competidores para o EcoSport. Embora não existissem barreiras tecnológicas para
que qualquer um dos concorrentes lançasse um veículo com as mesmas
características do EcoSport, a ausência de espaço para produzir esse novo
veículo, com custos razoáveis e sem atrapalhar a produção dos demais veículos
em linha, sem dúvida, era uma limitação da competição. Este fator funcionou como
122
inibidor para as imitações que poderiam surgir da concorrência, que se limitou
somente a reforçar a presença de veículos maquiados.
Deve-se ressaltar também que a sinergia com a plataforma do Fiesta, e a
utilização de sistemistas - com conseqüente redução de custo operacional ,
possibilitaram a realização de margens de lucratividade superiores que a dos
veículos ditos populares. Este fato contribuiu na recuperação financeira da Ford.
Buscando intersecções entre os recursos que foram evidenciados como
geradores de vantagem competitiva, curiosamente nota-se que no caso do recurso
em análises (Pr3), houve destacada participação do mencionado vice-presidente
Luc de Ferran. Ele foi designado para dirigir a implantação do complexo industrial
em Camaçari, e pôde ali acompanhar a finalização do desenvolvimento de seu
projeto, o EcoSport.
Ao verificar-se com mais detalhes o conteúdo da estratégia de
posicionamento, segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), notam-se
presentes os elementos relacionados a este recurso, e curiosamente, alguns deles
aparecendo simultaneamente. Percebe-se que a utilização da planta de Camaçari
possibilitava custos operacionais reduzidos para a produção do EcoSport, o que
remete a uma busca de liderança em custos, conforme preconiza Porter (1998),
mentor, segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) da escola estratégica do
posicionamento. Por outro lado, o EcoSport destinava-se a um segmento
específico de mercado, o que remete à busca de diferenciação também
preconizada por Porter (1998). Como se trata da presença de duas fortes
estratégias corporativas, atuando conjuntamente fato que na própria teorização
de Porter, não deve ser buscado para que ocorra em conjunto amplifica-se a
possibilidade de retorno positivo do veículo mercado.
Verificando-se então os três recursos geradores de vantagem competitiva
encontrados nesta análise, percebe-se que o primeiro deles (Pe3) encaixa-se no
pilar referente a pessoas, enquanto que os outros dois encontram-se no pilar de
produto (Pr1 e Pr3), sendo assim facilmente enquadráveis no esforço de
revitalização e reconstrução que era imprimido à Ford no período de projeto e
lançamento do EcoSport. No tocante às escolas estratégicas, a que pertencem
123
cada um dos recursos, têm-se a presença de pelo menos três das dez escolas
preconizadas por Mitzberg.
4.2.5 Análise das entrevistas com vendedores das concessionárias
Para a análise das entrevistas com os vendedores das concessionárias,
leva-se em conta a existência de dois grupos distintos. O primeiro, composto por
cinco vendedores de concessionárias Ford, e o segundo composto por cinco
vendedores de concessionárias da competição, sendo dois da Fiat, dois da
Volkswagen e um da Nissan. Para a interpretação das informações obtidas durante
estas entrevistas, utilizou-se os preceitos de Bardin (1977) na análise de conteúdo.
Inicialmente destacaram-se as palavras ou expressões que na opinião do
pesquisador revelavam informações importantes. Tais palavras e expressões foram
divididas em dois grupos principais: o primeiro relacionado às pessoas e o segundo
relacionado ao produto. Como nas demais análises e tabulações anteriormente
realizadas, preferiu-se utilizar a mesma classificação dos pilares da campanha
motivacional interna da Ford. Embora nessa classificação não se tenha utilizado o
pilar relacionado às concessionárias para compor os grupos nos quais as palavras
e expressões seriam alocadas, não se caracteriza omissão conceitual ou
metodológica, pois tratam-se das informações definitivamente obtidas junto às
concessionárias, de forma a contemplar como um todo a verificação da
permeabilidade da ação imposta pela Ford naquela ocasião, e a maneira como tal
ação se verifica em relação à estratégia utilizada.
Na análise das respostas obtidas nas concessionárias Ford, as palavras e
expressões destacadas se distribuíram da seguinte forma pelos grupos definidos:
Pessoas - estilo de vida, aventura, feminino, toda mulher quer, desejo do
cliente.
Produto - estilo, imitação de importados, grande sacada, competitivo,
pioneirismo.
124
Em relação às respostas obtidas nas concessionárias concorrentes, as
palavras e expressões destacadas se distribuíram da seguinte forma nos grupos
definidos:
Pessoas - segurança, exclusivo, apaixonarem, sonho, desejo, vantagem,
gosto do público, feminino.
Produto - estilo, desenho diferente, bom preço, chegou na frente.
Na consolidação da análise das palavras e expressões obtidas nas
entrevistas, atribuiu-se um número para cada palavra ou expressão, repetindo-se
este número nos casos onde o pesquisador entendeu que o conteúdo expressado
era comum entre as palavras e expressões. A lista tomou então o seguinte formato:
Concessionárias Ford:
Pessoas - estilo de vida (1), aventura (1), feminino (2), toda mulher quer (2),
desejo do cliente (3).
Produto - estilo (4), imitação de importados (4), grande sacada (6),
competitivo, (7) pioneirismo (6).
Concessionárias concorrentes:
Pessoas - segurança (1), exclusivo (3), apaixonarem (5), sonho (5), desejo,
(5) vantagem (3), gosto do público (3), feminino (2).
Produto - estilo (4), desenho diferente (4), bom preço (7), chegou na frente
(6).
Criaram-se então sete subgrupos, sendo quatro pertencentes ao de pessoas
e os três restantes pertencentes ao grupo de produto. Na Tabela 5, estes sete
subgrupos aparecem ordenados por sua incidência nos depoimentos dos
entrevistados, com a respectiva indicação do percentual de incidência com relação
ao todo.
125
Tabela 5 Tabulação dos resultados das entrevistas com concessionárias
Grupo
Número
do ítem
Sub Grupo
Número
absoluto de
incidências
nas
concessionári
as Ford:
Número absoluto
de incidências
nas
concessionárias
concorrentes:
Número absoluto
de incidências
Total:
Percentual
absoluto de
incidências no
grupo:
Percentual de
incidências no
total:
3 Personalizado 1 3 4 31 19
1 Estilo de Vida 2 1 3 23 14
2 Feminino 2 1 3 23 14
5 Desejo 0 3 3 23 14
4 Design 2 2 4 50 19
6 Inovação 1 1 2 25 10
7 Acessível ($) 1 1 2 25 10
Pessoas
Produto
Fonte: elaborado pelo autor.
Da tabulação dos resultados obtidos através das entrevistas com os
vendedores das concessionárias conforme se observa na Tabela 5, dos sete
subgrupos identificados, dois despontaram com 19% das citações dos vendedores.
O primeiro, no grupo de pessoas, se refere ao fato do carro ser visto pelos
vendedores como personalizado, ou seja, de alguma forma o carro transmite o
sentimento de ter sido concebido e disponibilizado especialmente para
determinado indivíduo. Esta percepção aparece mencionada uma vez nas
respostas dos vendedores das concessionárias Ford e três vezes nas
concessionárias competidoras. Este fato permite interpretar que, para os
vendedores das concessionárias concorrentes, a personalização do veículo é mais
percebida que nas próprias concessionárias Ford. O provável motivo desta
percepção mais acentuada é que, por não possuir oferta equivalente à da Ford, os
vendedores das concessionárias concorrentes acabam atribuindo a preferência do
consumidor à consonância entre o perfil do cliente e o EcoSport.
O subgrupo referente ao produto, cujo percentual de incidência se
demonstrou mais elevado, foi o referente ao "design" do carro. Este subgrupo foi
mencionado duas vezes por vendedores de concessionárias Ford e também duas
vezes por vendedores de concessionárias concorrentes. Assim como inicialmente
concebido no projeto, o EcoSport possui desenho exclusivo, de modo a possibilitar
que os consumidores o associem com um veículo Off-Road. Tal fato é percebido
pelos vendedores das concessionárias, que confirmam que o desenho do carro é
um ponto que o diferencia dos concorrentes.
126
Nos demais subgrupos analisados, três aparecem com 14% das citações
cada um. São todos pertencentes ao grupo de pessoas, e são analisados a seguir.
Primeiramente, o estilo de vida mencionado duas vezes nas concessionárias Ford
e uma vez nas concessionárias concorrentes leva a depreender que os vendedores
percebem uma adequação do carro ao determinado perfil de comprador, de forma
que a escolha passa pela consonância entre o estilo de vida do cliente e o estilo de
vida que é emanado pelo EcoSport. Como visto anteriormente neste estudo, não
a necessidade do pretenso consumidor ser praticante de Off-Road, ou seja,
possuir estilo de vida compatível com a proposta do veículo, porém não se trata da
característica utilitária do bem, conforme Kotler (2002), ou da real prática do estilo
de vida por parte do consumidor, mas sim de uma forma de manifestar pretensões
ou desejos. O fato do subgrupo estilo de vida ter sido mencionado duas vezes
pelos vendedores das concessionárias Ford, e somente uma pelos vendedores das
concessionárias concorrentes, pode estar ligado ao maior contato que os
vendedores das concessionárias Ford têm com o público comprador do EcoSport.
Ao analisar o subgrupo "feminino", mencionado duas vezes pelos
vendedores das concessionárias Ford e uma vez pelos vendedores das
concessionárias concorrentes, trata-se de um assunto que apareceu algumas
vezes durante a realização desse trabalho. Não um dado exato sobre a
quantidade de mulheres que compram o EcoSport em comparação com número de
homens. Mas há indícios da preferência das mulheres por veículos mais robustos
ou, pelo menos, com aparência mais robusta. Na entrevista com Luiz Fernando,
especialista do mercado Off-Road, ele concordou com a afirmação que por volta de
60% do público comprador do EcoSport é de mulheres. Porém, em poucos
momentos da interação, tanto com o gestor da Ford, quanto com os funcionários
entrevistados, esta correlação com o público feminino apareceu claramente. Mais
marcadamente isto aconteceu na entrevista do funcionário "1": quando perguntado
a respeito de recursos importantes que poderiam ter sido deixados de lado, ele
trouxe à tona o fato de que a Ford havia contemplado principalmente por sua
experiência em outros países esta predileção das mulheres pelos modelos com
apelo Off-Road, e que isto foi levado em consideração o tempo todo durante a
condução do projeto.
127
O tópico aparece novamente nas entrevistas com os vendedores das
concessionárias, profissionais que estão bem próximos dos consumidores finais e
para quem a predileção pelo modelo se mostrou mais consistente junto ao público
feminino.
Em seguida tem-se o subgrupo "desejo", que foi mencionado nas
entrevistas com os vendedores das concessionárias concorrentes. A interpretação
do significado deste fato pode estar relacionado com a inexistência de veículos
equivalentes ao EcoSport dentro do portfólio dos concorrentes. Ao perder uma
venda para um cliente que tenha mencionado sua intenção ou predileção pelo
carro da Ford, os vendedores das concessionárias concorrentes deixaram
transparecer que tais clientes estariam de certa forma intensamente atraídos pelo
EcoSport. Nessa situação, a argumentação de vendas que costuma surtir efeito,
em pelo menos parte dos clientes que estão dúvida entre veículos de mesma
marca ou de marcas concorrentes, simplesmente não afeta a decisão do cliente.
no grupo produto, o subgrupo que aparece na seqüência é o da
"inovação", mencionado uma vez pelos vendedores das concessionárias de Ford e
também uma vez pelos vendedores das concessionárias concorrentes. Este é mais
um dos aspectos que foram deliberados no projeto e alcançaram o consumidor
final.
O EcoSport, por suas características exclusivas tornou-se associado a
novidade, a criatividade, ao novo. Essa associação colabora no reforço da decisão
do consumidor, que procura entre outras coisas, a personalização e a
exclusividade, de forma a expressar seu estilo de vida de maneira diferenciada.
Finalmente, comentar-se-á o subgrupo "acessível", que se refere ao fato de o
preço não ser impeditivo para aqueles que buscam um veículo com os atributos do
EcoSport. Mencionado uma vez pelos vendedores das concessionárias Ford e uma
vez pelos vendedores das concessionárias competidoras, este o subgrupo revela
também que os consumidores percebiam o valor na oferta, principalmente pelas
opções que mais se assemelham ao EcoSport serem carros importados, cujo valor
de mercado é superior ao carro da Ford. Entende-se por esta afirmação que os
compradores clientes dos vendedores que mencionaram a variável preço, não o
128
fizeram de forma a indicar que o preço do EcoSport seria um limitante frente aos
benefícios oferecidos pelo carro.
Desta forma, comentaram-se e analisaram-se os sete subgrupos destacados
nas entrevistas com os vendedores das concessionárias.
4.2.6 Análise cruzada dos resultados das entrevistas
Os recursos geradores de vantagem competitiva identificados na análise das
entrevistas com os funcionários da Ford, de forma resumida, podem ser descritos
como: Vice-presidente empreendedor Carro desenhado para o consumidor
Capacidade produtiva disponível. Na percepção dos vendedores das
concessionárias os elementos que mais se fazem presentes o a personalização
e o desenho do carro. Ambas as percepções emanadas pelos vendedores das
concessionárias se encaixam em um único recurso gerador de vantagem
competitiva, que é: Carro desenhado para o consumidor. Os outros dois recursos
geradores de vantagem competitiva, não parecem ser mencionados pelos
vendedores das concessionárias. Porém, este fato não significa algum problema de
consistência na identificação dos recursos.
No tocante à capacidade produtiva disponível, entende-se como normal a
inexistência de registros por parte dos vendedores das concessionárias. Esta é
uma área tipicamente ligada à infra-estrutura do negócio, e que é mencionada
pelas frentes de vendas somente quando não funciona bem. Como a
disponibilidade e o prazo de entrega do novo veículo aparentemente ocorreram de
forma satisfatória, este assunto não agrega valor para o vendedor. Porém, se
existem problemas referentes a esta área de infra-estrutura, que causam reflexos
nas interações com os clientes, aí sim, o fato passa a ser mencionado.
Por outro lado, também não causa surpresa que os vendedores das
concessionárias não tenham se referido à importância de Luc de Ferran na
concepção e gestão do projeto do EcoSport. Esta é uma informação muito mais
presente na corporação em si, e não nas concessionárias. Mais uma vez, trata-se
de assunto que não vai gerar valor para o vendedor, uma vez que o carro já está
129
na concessionária, e quem projetou ou como foi produzido são argumentos que em
raríssimas vezes vão colaborar no fechamento de uma venda, por isso não seria
de se esperar que estes recursos viessem a ser mencionados pelos vendedores
das concessionárias.
Percebe-se então que o carro ter sido desenhado para o consumidor é um
recurso que permeia a cadeia comercial até a ponta do consumidor. Não obstante,
o fato dos outros dois recursos não terem sido mencionados pelos vendedores das
concessionárias, não demonstra inconsistências no processo de identificação,
que notar um recurso presente em toda a cadeia comercial, reforça
destacadamente sua importância, pois ele se demonstrou consistente e forte o
suficiente para ser notório.
Nas quatro etapas de entrevistas que foram realizadas nesse trabalho,
destaca-se que este recurso foi mencionado pelo especialista do mercado Off-
Road, ratificado pelo executivo da Ford, qualificado pelos funcionários da Ford
enquanto recurso gerador de vantagem competitiva e finalmente mencionado
pelos vendedores das concessionárias.
É curioso o fato do desenho do veículo ter sido concebido, na sua quase
totalidade anteriormente à realização das pesquisas de mercado, conforme citado
nas entrevistas os funcionários da Ford. Isto caracteriza o caso como um
desprendimento dos processos formais de criação industrial, e remete-se muito
mais para os processos de criação artística, onde a concepção e o estilo são
definidos pelo criador, sem necessariamente passarem por um crivo do público
alvo. Este é mais um indício da presença da escola empreendedora, segundo
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) e presente no recurso que havia sido
classificado como pertencente à escola ambiental. Esta aparente contradição é
prevista nas possíveis intersecções preconizadas pelo próprio Mintzberg,
Ahlstrand, Lampel (1998), entre as diversas escolas descritas pelo autor.
4.3 Dificuldades na realização da pesquisa
Conforme introdução do item 4.1.4, a realização das entrevistas com os
vendedores de concessionárias tomou forma diferente durante a realização da
130
pesquisa, pois a aplicação do modelo completo de entrevista sobre os recursos do
modelo VRIO se tornou demasiadamente complexa, o que levou a alterar o roteiro
destas entrevistas e adequar a metodologia da análise. Porém, este fato não trouxe
prejuízo à qualidade da análise, pois a forma como foi definida a realização desta
etapa, possibilitou a verificação dos principais recursos e compencias, conforme
o item 4.2
Para a realização da entrevista com o executivo da Ford, houve dificuldade
inicial de agenda, dada a enorme demanda de trabalho a que o executivo está
submetido, de forma que se fez necessário o envio de material por Email, para
leitura prévia, e posteriormente foi marcada teleconferência, que, para ser gravada
pelo autor, demandou a adaptação entre os aparelhos telefônicos e o PDA.
Também houve dificuldade com relação às entrevistas com os funcionários da
Ford, que se preocupavam com o possível uso indevido de suas declarações, e
que este fato os viesse a prejudicar em suas organizações. Porém, após um colega
em comum ter atestado a idoneidade do pesquisador e que o trabalho era
puramente acadêmico, as entrevistas, que tanto enriqueceram o trabalho, foram
concedidas.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente dissertação, comprometida com o objetivo de evidenciar as
estratégias empregadas pela Ford por ocasião do lançamento do EcoSport,
alcançou o resultado desejado ao conseguir encontrar um apoio na revisão
bibliográfica para as categorias que emergiram da análise dos dados coletados.
As opiniões dos funcionários sobre as estratégias empregadas diferem
bastante das opiniões emitidas pelos executivos, talvez, em decorrência dos
primeiros não possuírem a visão do processo de lançamento do produto em sua
totalidade.
Um segundo ponto diz respeito ás manifestações acentuadamente
emocionais sobre a visão empreendedora, ora concebida apologeticamente na
figura do líder, ora como sem nenhuma importância.
Essas tendências para racionalização no sentido de exacerbar o sentimento
em detrimento da reflexão foi denunciada pelo instituto Maio nos Estados Unidos,
ao enunciar que em pesquisas relacionadas com operários nas primeiras décadas
do século vinte, esses manifestavam opiniões baseadas em racionalizações
provenientes de inúmeros sentimentos de inferioridade.
Entender que sentimentos de inferioridade certamente estarão presentes em
pesquisas que buscam avaliar o procedimento de pessoas colocadas em um
patamar acima dos analisados.
O estudo mostrou que as estratégias, apesar de suas inúmeras vertentes
(escolas), constituem-se em importante instrumento para análise das ações dos
executivos. Com base nesses pressupostos, concluí-se essa pesquisa
apresentando a síntese em três pontos que são considerados essenciais:
1. Verificação dos resultados frente aos objetivos estabelecidos para este
trabalho.
2. Reflexão crítica sobre a interação de um caso real com a teoria
3. Recomendações para estudos futuros e finalmente das limitações do
presente estudo.
132
1. Verificação do alcance dos objetivos propostos
Para a realização desse capítulo, será necessário referir-se aos objetivos,
gerais e específicos definidos no início do trabalho. De posse desses objetivos,
procura-se verificar como o resultado da análise das entrevistas responde aos
objetivos definidos.
Os objetivos principais do trabalho foram: "Identificar e estudar as
estratégias utilizadas pela Ford do Brasil, no lançamento do veículo EcoSport e
―relacionar os recursos utilizados que possibilitaram a geração de vantagens
competitivas capazes de justificar a liderança atingida pelo EcoSport frente aos
seus concorrentes no segmento Off-Road.
Estes objetivos contém pelo menos três metas bastante evidenciadas. A
primeira está relacionada à identificação da estratégia (ou estratégias) utilizada
pela Ford. A segunda meta está relacionada à identificação de recursos geradores
vantagem competitiva e, finalmente, a terceira meta é através desta estratégia e
dos recursos, justificar a liderança do EcoSport frente a seus competidores.
O ciclo da gestão estratégica elaborado por Barney (2007), explicitado na
Figura 6, foi a principal diretriz para a busca de se alcançar o objetivo. Através
deste ciclo, percebeu-se que uma vantagem competitiva tem por trás de si uma
estratégia previamente definida, que leva a esta vantagem competitiva. Por outro
lado, a própria teoria de Barney (2007) também revela que uma vantagem
competitiva é conseguida através da utilização de recursos.
O trabalho realizado possibilitou que fossem identificados recursos que
geraram as vantagens competitivas para Ford. Desta forma, atingiu-se a segunda
parte do objetivo anteriormente descrito "relacionar quais os recursos utilizados por
esta montadora possibilitaram a geração de vantagens competitivas (sustentáveis
ou não)" conforme se pode observar no Quadro 13.
A mesma referência ao trabalho de Barney (2007), na Figura 6, mostra que
os recursos internos da empresa, tidos como incluídos no que o autor chama de
análise interna‖, geram as vantagens competitivas, assim como geram as
estratégias em si. Neste raciocínio, a escolha de implementação de uma estratégia
que visa a obtenção de uma vantagem competitiva tem que estar lastreada por
133
recursos que a possam sustentar. Por esta ligação intima entre o recurso e a
estratégia, é que, no transcorrer do trabalho, percebeu-se ser totalmente possível
analisar-se cada um dos recursos frente às definições das escolas estratégicas de
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel , e isto levaria à identificação da estratégia em uso ao
se utilizar aquele determinado recurso. Isto foi realizado então para todos os
recursos estudados, de forma que uma vez identificados os recursos geradores de
vantagem competitiva, a estratégia ou estratégias estariam automaticamente
identificadas, conforme pode-se observar no próprio Quadro 13. Desta forma,
cumpriu-se a parte do objetivo que determinava a “identificação das estratégias em
uso pela montadora Ford.
Finalmente, a justificativa do motivo da liderança do EcoSport frente a seus
concorrentes se dá pela própria definição da teoria do RBV, e em particular Barney
(2007), que enfatiza que a presença de vantagens competitivas leva à superação
dos concorrentes.
Como objetivo específico desse trabalho tem-se dois itens a cumprir: o
primeiro "Conhecer a opinião dos funcionários da Ford sobre os recursos utilizados
pela Ford, na perspectiva da teoria do RBV (mais especificamente sobre o modelo
VRIO de Barney) e das Escolas de Estratégia sistematizadas por Mintzberg" o qual
foi totalmente alcançado, conforme pode-se observar no parágrafo anterior, pois
tanto a identificação dos recursos foi feita utilizando-se a metodologia preconizada
por Barney (2007), quanto a identificação da estratégia foi feita dentro dos
conceitos de Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998).
O segundo item do objetivo específico refere-se a "Conhecer a opinião dos
funcionários das concessionárias da Ford e concorrentes sobre as vantagens
competitivas alcançadas pela Ford, segundo a RBV e as Escolas de Estratégia
sistematizadas por Mintzberg", o que foi realizado através das entrevistas com os
vendedores das concessionárias, e resultou no destaque de um dos recursos
utilizados pela Ford, "o carro desenhado para o consumidor". Da análise cruzada
das entrevistas fica patente o motivo dos outros dois recursos geradores de
vantagem competitiva não terem sido mencionados pelos vendedores das
concessionárias.
134
Desta forma, entende-se que a revisão na literatura, o estudo do objeto, a
metodologia escolhida, as entrevistas e a análise realizada possibilitaram alcançar
os objetivos propostos em sua totalidade.
2. Reflexão crítica sobre a interação do caso real com as diferentes teorias.
No início desse trabalho foi proposta a Matriz SWOT como referência das
diferentes abordagens estratégicas, uma vez que essa permite uma avaliação
consistente do ambiente interno e dos impactos do ambiente externo,
coerentemente com os recursos disponíveis.
A análise de SWOT avalia as forças, fraquezas, oportunidades e
ameaças presentes no ambiente, por isso, seus elementos estão implícitos nas
mais diferentes orientações estratégicas.
Diante disso, pelas inúmeras abordagens possíveis, surgem, por
exemplo, as mais diferentes concepções, mormente, em relação à pertinência ou
não do planejamento:
Por um lado, Porter (1998), entre outros, enfatiza a característica de
planejamento no processo de formação da estratégia, acompanhados por
Henderson (1998) que também aponta a necessidade de planejamento, seja para
direcionar e manter a empresa em seu rumo seja para aumentar o escopo da
vantagem competitiva de que a organização dispõe.
Entretanto, por mais diversas que possam ser as orientações
estratégicas, as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades estão presentes nas
mais diferentes abordagens.
Outro aspecto bastante pertinente, diz respeito, diante da abrangência
do campo das estratégias é bastante comum os autores de temáticas complexas
recorrerem ao uso das metáforas que se constituem em excelentes recursos para
reflexão.
Enquanto Mintzberg, Ahstland e Lampel (1998) apresentam a metáfora do
elefante, (Mintzberg, Quinn, 1991) na metáfora do trem propõem uma visão
135
integradora entre o ambiente externo, o ambiente interno de forma bastante
instrutiva
Nessa última metáfora, a organização é concebida como um trem, tendo
uma cidade X como destino, a estratégia é o caminho a ser percorrido até que se
chegue à cidade. Dependendo da distância, para chegar até o destino você terá
que parar em várias estações e se alimentar. As estações podem representar as
unidades de negócio. Se houver algum problema técnico durante a viagem, como
maquinista doente ou um percurso interditado, recursos ou trilhas alternativas terão
de ser buscadas ou construídas. Os trilhos podem representar as estratégias
funcionais, que viabilizam a estratégia corporativa e de negócio e podem ser
escolhidas em função das contingências que podem acometer a organização.
Assim, as ações estratégicas se adaptam para que os objetivos estratégicos sejam
alcançados.
Com base na metáfora acima proposta, em relação ao desenvolvimento da
pesquisa, quatro reflexões se tornam pertinentes aos estudos de estratégia:
A - Complementaridade entre a RBV e a teoria de Porter;
B - Sustentabilidade das vantagens competitivas com base no modelo VRIO;
C - Relação entre vantagem competitiva e o empreendedorismo;
D - Análise sobre o ciclo de gestão estratégica preconizado pela teoria do
RBV.
A primeira reflexão se refere à complementaridade entre a RBV e a teoria de
Porter conforme discutido no item 2.4 deste trabalho. Esta reflexão deve-se ao fato
de um dos recursos identificados como gerador de vantagem competitiva ser
pertencente à escola do posicionamento, segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel
(1998). Trata-se do recurso Pr3 "Fábrica projetada com capacidade para atender o
novo Carro em Camaçari" que possibilitou que a superação das metas de vendas
no mercado brasileiro, assim como a ampliação das exportações do veículo para
uma série de países não contemplados a piori, não se tornasse um limitador para a
evolução de sucesso do EcoSport.
136
Como nessa reflexão pretende-se ressaltar a complementaridade entre a
RBV e as estratégias Porterianas, destaca-se o fato que, ao analisar os recursos
quanto à geração de vantagem competitiva, não existe limitação ou restrição à
identificação de recurso típico da escola que mais caracteriza o pensamento de
Porter (1998), segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998), ou seja, da escola do
posicionamento. Evidencia-se assim, que a RBV é uma forma de analisar os
recursos em uso em determinado empreendimento, portanto a utilização da RBV
não implica no abandono de outras linhas estratégicas. Além do posicionamento,
os outros recursos geradores de vantagem competitiva enquadraram-se em
escolas de estratégia distintas, segundo Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998),
corroborando para esta convivência harmônica entre a RBV e as outras escolas
estratégicas.
A segunda reflexão diz respeito à sustentabilidade das vantagens
competitivas. Conforme as premissas referentes aos recursos do modelo VRIO,
que podem ser observadas no Quadro 2, os três recursos identificados como
geradores de vantagem competitiva nesse trabalho, atenderam aos quatro quesitos
do modelo VRIO e, portanto, constituem vantagens competitivas sustentáveis. Esta
sustentabilidade está ligada a perenização da vantagem competitiva, mas
conforme o próprio Barney (1991) destaca, não se pode atribuir um período de
tempo definido, no qual determinado recurso se sustentará ou não. O fato é que,
no período em que observa-se os resultados de vendas do EcoSport (Tabela 1),
percebe-se que o pico de participação de mercado do veículo ocorreu em 2005, e
que após este ano, ele vem perdendo participação. Da mesma forma, a Ford
também vem perdendo participação, não só pela diminuição da participação do
EcoSport, mas também pelo resultado de todos os outros produtos que
comercializa. Pode-se dizer por esta análise que vantagens competitivas que
demoraram mais de cinco anos para serem construídas, podem começar a ser
corroídas em intervalos de tempo menores do que dois anos. O principal intuito
desse comentário é ressaltar, portanto, a importância da renovação e da busca
constante de vantagens competitivas por parte das organizações, pois a dinâmica
da competição e a velocidade de mudanças no mercado facilmente pode definir
ciclos de vida de produtos menores que os ciclos de projeto e lançamento, o que
137
pode se tornar limitador de desempenho para aquelas organizações que não
redefinirem sua forma de atuar.
A terceira reflexão aponta para o fato dos três recursos geradores de
vantagem competitiva no caso em estudo convergirem, pelo menos parcialmente,
para a figura do vice-presidente Luc de Ferran. No item 4.2.4 do presente trabalho
menciona-se o fato do então vice-presidente aparecer como o padrinho do projeto
e seu lançamento (recurso Pe3), mas também ter sido o mentor da concepção do
veículo em si (recurso Pr1) e, por outro lado, ter sido o mentor e implementador da
planta de Camaçari (recurso Pr3). Esta evidência pode levar a crer que todo o
esforço da realização do sucesso do EcoSport girou em torno do ideal de uma
única pessoa, o que independentemente de suas capacidades e do mérito de seu
trabalho, demonstra certa fragilidade da organização em sua interação com o
mercado e com seus recursos internos. Mesmo tendo em mente o destaque que
Mintzberg, Ahlstrand, Lampel (1998) à personalidade empreendedora nos
momentos de recuperação de grandes empresas, como neste caso da Ford, existe
um enorme risco desta recuperação ser efêmera, caso em paralelo não se
desenvolvam outras estratégias e outras vantagens competitivas capazes de dar
continuidade à alavancagem gerada na exacerbação do empreendedorismo no
caso do EcoSport.
A quarta reflexão discorre sobre o ciclo de gestão estratégica preconizado
por Barney e explicado na Figura 6. Ao visualizá-lo, pode-se intuir que o mesmo
sugere que o processo de construção da vantagem competitiva está devidamente
mapeado, e que deve acontecer ou ser conduzido de acordo com o fluxograma
apresentado. Na observação do caso EcoSport, não foram encontrados subsídios
suficientes para validar o processo sugerido. Não que se esteja sugerindo que
exista uma incorreção no fluxograma apresentado, mas sim, que o grau de
evidenciação das diversas etapas é descontínuo para o observador externo. A
percepção que o autor tem é que a principal lacuna do processo real em
comparação com o modelo da figura está na materialização da estratégia a ser
utilizada em si. Percebe-se que os objetivos buscados (de volume de vendas e
rentabilidade), permeiam o processo e a percepção dos entrevistados como um
todo, assim como a utilização de recursos importantes ou mesmo geradores de
138
vantagem competitiva, acontece de uma forma evidente, porém a estratégia em si
fica o tempo todo subentendida, ou pouco explicitada nas declarações dos
entrevistados. O principal motivo deste comentário é ressaltar que não
necessariamente a estratégia deve estar evidente para estar presente, pois de
certo modo, no caso real, a utilização das estratégias acontece como de forma
instintiva, e a sua identificação definitivamente requer estudo detalhado da
situação. Este comentário reforça e o que foi definido como problema da pesquisa,
pois o reconhecimento da estratégia em uso não é tarefa trivial.
3. Limitações do presente trabalho e recomendações para estudos futuros
Como limitação do presente trabalho pode-se destacar primeiramente a
utilização exclusivamente da metodologia qualitativa. Não se pretende com esta
ressalva questionar a qualidade e a precisão das conclusões do presente trabalho,
porém, seria possível, com a realização de uma pesquisa quantitativa com
funcionários da Ford e com usuários do EcoSport, enriquecer as análises das
informações geradas, permitido que o presente trabalho extrapolasse as fronteiras
a que se limitou. A opção pela metodologia qualitativa acabou sendo praticamente
uma imposição frente às enormes dificuldades de acesso a amostras significativas
de entrevistados que seriam necessárias, no caso da utilização de instrumentos
quantitativos.
Outra limitação do presente trabalho foi a não realização da entrevista com
aquele que foi identificado como personagem central no caso do projeto e
lançamento do EcoSport. O senhor Luc de Ferran trabalha atualmente como
consultor da indústria automobilística. O autor procurou fazer contato com o
mesmo, após ele ter deixado a Ford, em 2007. Houve um contato telefônico com
Sr. Luc de Ferran no início de 2008, quando este se demonstrou bastante
entusiasmado com o trabalho acadêmico que estava sendo realizado, mas no
mesmo contato o Sr. Luc de Ferran explicou a dificuldade de encaixar uma
entrevista em sua rotina diária, e infelizmente a entrevista não aconteceu. Assim
como no item anterior, esta limitação não influencia qualidade das conclusões
139
obtidas neste trabalho, mesmo porque a metodologia aplicada não depende de
depoimentos específicos, mas sem dúvida seria possível aumentar mais uma vez a
riqueza de informações e ampliar as fronteiras a que o presente trabalho se
conteve
Para os pesquisadores que tenham interesse em desenvolver e aprofundar
o presente trabalho, uma área que despertou o interesse do autor, embora não
tenha sido objeto de estudo do presente trabalho, é a relacionada com o perfil do
consumidor do EcoSport. Tanto a questão referente à maior incidência de
compradores do sexo feminino, quanto a questão relacionada à não existência de
racionalidade estritamente utilitária na utilização dos veículos Off-Road, não foram
praticamente exploradas no presente trabalho, e aparentam ser temas
interessantes para estudos futuros.
140
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147
ANEXOS
Anexo 1 Roteiro de entrevista com executivo da Ford
Conforme contatos anteriores, segue relação dos recursos até o momento
identificados como capazes de serem geradores de vantagens competitivas no
caso Ford EcoSport, sugeridos pelo pesquisador a partir de contato com
especialista no segmento Off-Road brasileiro. Durante a entrevista, pretende-se
confirmar através da opinião do entrevistado, a viabilidade deste recursos gerarem
tais vantagens, assim como de se incluir outros recursos ou competências que o
entrevistado considere passíveis de geração de vantagem competitiva.
1 A Ford Brasil possui equipe que foi capaz de identificar um mercado específico,
um perfil de consumidor e um posicionamento de preço muito atrativos e não
explorados até então.
2 O conhecimento que a Ford tinha/tem do mercado americano, onde as SUVs
se tornaram um sucesso de vendas, não estava presente nos competidores, em
sua maioria empresas de origem européia.
3 - Presidente empreendedor Antonio Maciel Neto incorporou o lançamento do
EcoSport em seu plano de ação pessoal e defendeu sua realização, fato incomum
na indústria, e que teve efeito muito impactante e motivador na empresa.
4 A liderança e envolvimento direto de um vice-presidente, especialista e
experiente (Luc de Ferran), trouxe consistência diferencial ao projeto e ao
lançamento.
5 O fato do EcoSport ter projeto especifico e dedicado o destacou fortemente de
seus ―pretensos‖ concorrentes, que somente eram/são ―maquiagens‖ de carros
existentes.
6 O fato do EcoSport utilizar a plataforma do Fiesta (Crossover) e a capacidade
disponível da planta de Camaçari possibilitaram que o custo do carro fosse baixo, e
que as margens de comercialização fossem extremamente atrativas.
7 Estando a planta de Camaçari pronta, a capacidade produtiva ―imediata da
Ford para produzir o EcoSport não poderia ser replicada pelos concorrentes.
148
8 Os fracos resultados da Ford Brasil nos anos que antecederam o lançamento
do EcoSport impunham a necessidade de que o mesmo fosse um sucesso, e isso
impulsionou a organização como um todo a dar o melhor de si e buscar os
melhores resultados possíveis.
149
Anexo 2 Perguntas para a pesquisa de campo com funcionários da Ford
PE1 - Tanto o time interno da Ford quanto seus dirigentes pareciam estar bastante
atentos às oportunidades do mercado brasileiro, pois foram capazes de identificar
um nicho de mercado que estava sendo pouco explorado. Partindo do pressuposto
que o time da Ford é um recurso, quais as suas considerações quanto a este
recurso no tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização
da Ford para explorá-lo?
PE2 - No material publicado a respeito do lançamento do EcoSport, o nome do
então presidente da Ford (Antonio Maciel) aparece com freqüência como um dos
impulsionadores do projeto. Entendendo que o presidente empreendedor é um
recurso, quais as suas considerações quanto a este recurso no tocante ao valor, a
raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford para explorá-lo?
PE3 - No material publicado a respeito do lançamento do EcoSport, o nome de um
dos vice-presidentes (Luc de Ferran) aparece com freqüência como o criador do
carro e como sendo aquele que definitivamente capitaneou o projeto de
lançamento do início ao fim. Partindo-se do pressuposto que este vice-presidente é
um recurso, quais as suas considerações quanto a este recurso no tocante ao
valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford para explorá-
lo?
PE4 - Os resultados financeiros da Ford no período que antecedeu o lançamento
do EcoSport eram consistentemente negativos. No material publicado na imprensa,
comentava-se inclusive sobre uma possível saída da Ford do Brasil. A pressão por
resultados sobre todos os funcionários da Ford era bastante elevada durante o
projeto e o lançamento do EcoSport. Entendendo que a pressão por resultados é
um recurso, quais as suas considerações quanto a este recurso no tocante ao
valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford para explorá-
lo?
PR1 - Na opinião dos especialistas do mercado automobilístico contatados para a
realização desse trabalho, o fato do EcoSport possuir um projeto totalmente
dedicado (não foi uma simples maquiagem de um veículo pré-existente) foi ponto
150
importante para o seu sucesso. Considerando então que este projeto dedicado seja
um recurso, quais as suas considerações quanto a este recurso no tocante ao
valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford para explorá-
lo?
PR2 - O projeto do EcoSport foi feito a partir da plataforma do Ford Fiesta
(crossover do Fiesta), e esta plataforma era bastante conhecida e confiável. Se
considerarmos a utilização da plataforma do Fiesta como um recurso, quais as
suas considerações quanto a este recurso no tocante ao valor, a raridade, a
dificuldade de se imitar e a organização da Ford para explorá-lo?
PR3 - A fábrica montada em Camaçari é tida como uma das mais modernas do
Brasil, e foi projetada de forma a possibilitar capacidade produtiva para o
lançamento do EcoSport. Admitindo-se que essa fábrica e sua capacidade
produtiva sejam um recurso, quais as suas considerações quanto ao mesmo no
tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford
para explorá-lo?
PR4 - Os especialistas e envolvidos no projeto lançamento do EcoSport relatam
que intensas pesquisas de mercado e com consumidores foram realizadas, de
forma a ratificar o conceito e antecipar a demanda para o EcoSport. Partindo do
pressuposto que estas pesquisas são um recurso, quais as suas considerações
quanto ao mesmo no tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a
organização da Ford para explorá-lo?
PR5 - Tanto a diluição do curso de produção na moderna brica de Camaçari
quanto a depreciada e reduzida base de custos propiciada pela plataforma do
Fiesta, possibilitaram que a rentabilidade do EcoSport fosse superior aos demais
veículos comercializados pela Ford. Assumindo-se que esta rentabilidade
"premium" seja um recurso, quais as suas considerações quanto ao mesmo no
tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford
para explorá-lo?
151
CO1 - Principalmente após a dissolução da Autolatina, a rede concessionárias da
Ford havia se reduzido consideravelmente e, para reverter este quadro, foi criada
uma nova estrutura interna para remodelar toda a rede de concessionárias.
Entendendo-se essa nova estrutura interna como um recurso, quais as suas
considerações quanto ao mesmo no tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de
se imitar e a organização da Ford para explorá-lo?
CO2 - Como forma de revitalizar sua participação no mercado, foi realizado um
esforço para recompor o número de concessionárias da Ford, e possibilitar o
escoamento dos produtos da montadora. Considerando-se a rede de
concessionárias como um recurso, quais as suas considerações quanto ao mesmo
no tocante ao valor, a raridade, a dificuldade de se imitar e a organização da Ford
para explorá-lo?
Outros: OU1 e OU2 são códigos a serem utilizados nas respostas dadas pelos
entrevistados a respeito de tópicos ou recursos que não estavam incluídos nas
questões acima mencionadas.
152
Anexo 3 Perguntas para pesquisa de campo com vendedores de
concessionárias:
1) Na sua opinião , quais os principais motivos do sucesso do EcoSport no
mercado brasileiro?
2) Na sua opinião, quais as principais vantagens que a Ford teve sobre os
competidores com relação ao lançamento do EcoSport?
153
APÊNDICES
Apêndice 1 - Transcrição da entrevista com especialista do mercado Off-
Road
Entrevista concedida por Luiz Fernando Carqueijo, realizada no dia 25 de
março de 2008 por Sergio Farah ns Trailway em Osasco, S.P.
Roteiro da entrevista:
Entregar carta UNIP
Pedir autorização para Gravar
Explicar sobre a dissertação
Breve Curriculum do Luis
O mercado de Veículos Off-Road Brasil e mundo passado, presente e
futuro
O papel da Trailway neste contexto
Caso da Land Rover no Brasil
Definições para os veículos e categorias (folha a parte) Comentário e
validação do Luis.
O caso EcoSport
- Decisões e investigações que antecederam o lançamento.
- Ameaças, Oportunidades, Pontos fortes e Pontos fracos da Ford
- Quais os recursos diferenciados que a Ford possuía comparada
à concorrência?
- A concorrência possui limitações para lançar produto realmente
concorrente?
- Qual recurso pode ser destacado como essencial para o
sucesso do EcoSport
- Em termos de empreendedorismo, que ações podem ser
destacadas?
- Como podem ser sintetizadas as vantagens competitivas?
154
- A Ford tem plano de continuidade.
Após a apresentação do roteiro da entrevista e a obtenção de permissão
para que a mesma fosse gravada, explicou-se que o objeto da dissertação de
mestrado que está sendo preparada é o veículo EcoSport fabricado pela Ford, que
foi lançado em maio de 2003.
Luís Fernando também concorda que o caso EcoSport é bastante
interessante para ser estudado com maior profundidade.
Sergio Farah Como você vê o lançamento e o sucesso do EcoSport?
Luis Fernando - O sucesso do é EcoSport mostra a existência de uma demanda
para este mercado de aventura ou quase aventura que não estava sendo surprida.
Assim o EcoSport mostra uma visão de mercado diferente, revelando um segmento
de mercado que tem potencial para crescer. Talvez ainda hoje no Brasil faltem
condições econômicas para que uma boa parcela da população possa participar
desta "brincadeira". A prática do Off-Road demanda um certo respaldo financeiro,
senão ela não acontece. Não é como jogar futebol, onde uma bola e um campinho
são suficientes, no Off-Road é necessário possuir-se um carro, ter dinheiro para
viajar, ter tempo disponível e outras coisas.
SF - Além do público realmente voltado para o Off-Road, teria o EcoSport
despertado um público que não necessariamente esinteressado em fazer trilhas,
mas sim gostaria simplesmente de passar a impressão que é adepto de esportes
ligados a aventura?
LF - Existe um conceito interessante ao qual eu tive acesso junto ao pessoal da
Land Rover. A aventura tem que ser aventura para o indivíduo, ou seja, o conceito
de aventura não é homoneo entre as pessoas. Para quem já participou de
atividades ―no mato‖, e de certa forma está acostumado com isso, aventura é
extrapolar o que esta pessoa fez. Mas para quem nunca fez uma trilha, fazê-la
pela primeira vez é uma aventura. Para outras pessoas o simples fato de viajar
para um lugar mais longe ou ir para um lugar mais esquisito é uma grande
aventura (para o estilo de vida desta pessoa). A aventura tem que estar dentro do
155
conceito individual de aventura. Hoje é muito comum a existência de pessoas que
nasceram e foram criadas nas cidades, ao contrário de antigamente, quando era
comum encontrar-se pessoas que haviam nascido no interior e posteriormente
migraram para as cidades. Hoje em dia é comum encontrar-se pessoas que
quando saem um pouquinho para o ―meio do mato‖ ficam espantados com o que
vêem, e qualquer morinho é uma paisagem bonita para ele. Este conceito é
importante no caso da Land Rover, pois como eles passaram a comercializar
veículos mais luxuosos, aquela aventura extrema deixa de ser o desejo do cliente-
alvo destes carros mais luxuosos, e o conceito de aventura "para você" se encaixa
melhor nesta proposta.
SF - Aproveitando o assunto vamos nos aprofundar um pouco mais no caso da
Land Rover no Brasil. Uma vez que eles montaram uma fábrica para produzir o
Defender no Brasil, e depois de alguns anos interromperam a fabricação, qual foi a
idéia e a decepção que ele estiveram no mercado brasileiro?
LF - Eu não diria que o mercado brasileiro tenha sido uma decepção para eles.
Embora muitos achem que a Land Rover foi embora do Brasil, isto o é verdade.
Eles continuam ativos e o ano de 2007 foi o melhor ano da Land Rover no Brasil. O
que mudou foi que eles deixaram de fabricar carros no Brasil. De 1999 a 2005 eles
produziram um único modelo aqui no Brasil, o Defender, que chegou a alcançar um
bom nível de nacionalização, e foi por conta deste nível de nacionalização,
dificuldades de importação e necessidade de modernização da fábrica é que eles
tomaram a decisão de encerrar a produção no Brasil. O principal motivo foi a
mudança da nossa legislação de emissão de poluentes. A partir de 2006 entrou em
vigor uma nova fase do plano de redução de emissão de poluentes do PROCONV
(CONAMA), na qual o motor diesel a então utilizado na Defender não se
enquadrava, e seria necessário desenvolver uma nova motorização. A Land Rover
não encontrou no mercado nacional um motor que se encaixasse adequadamente
no veículo, levando em conta parâmetros como potência, torque emissão de
poluentes. Não é que não existam motores disponíveis no mercado brasileiro, mas
não totalmente adequados. Por exemplo, existe uma limitação para o torque, que
não pode ser muito elevado pois pode comprometer a confiabilidade do veículo,
156
por exemplo, causando problemas nos componentes de transmissão. O Defender é
um carro robusto e não se pode comprometer esta imagem. Seria necessário
trazer um motor do exterior, o que iria reduzir o índice de nacionalização e alterar o
patamar de impostos. Chegaram a pensar em trazer toda a produção mundial do
Defender para o Brasil, mas esse projeto não se mostrou viável. Assim a fábrica foi
descontinuada no Brasil. O Defender continua a ser comercializado no Brasil, mas
agora importado. Houve uma descontinuidade de vendas do Defender nos anos de
2006 e 2007, mas agora ele volta a ser comercializado.
SF - Houve alguma mudança no patamar de preços do Defender?
LF - Quando ele saiu do mercado em 2005, ele era vendido por volta de R$
95.000,00 e agora está sendo comercializado por volta de R$ 145.000,00. Este
incremento de preço é muito ligado aos impostos de importação. Uma coisa que
poucos sabem é que o Defender comercializado até 2005 era o mais barato do
mundo, e agora ele passa a ter o mesmo valor que é comercializado nos outros
países.
SF - Em termos de quantidade de veículos vendidos eles estavam conseguindo
atingir as metas estabelecidas?
LF - Nos últimos anos eles conseguiram bater todas as metas estabelecidas, e a
meta deste ano (2008) é a mais desafiante proposta, portanto se for batida
representará o melhor ano da Land Rover no Brasil.
SF - Ou seja, os problemas encontrados estavam muito mais ligados a questões de
logística e técnicas do que problemas de mercado em si.
LF - Mercado também, até em função da questão preço, pois o Defender poderia
ser vendido a um preço menor mas se tivesse um volume de vendas maior, mas
para atingir um volume de vendas maior aparece um outro problema que é como
trazer estes veículos para o Brasil. O transporte marítimo é hoje um problema
mundial, em função do aquecimento geral do mercado, e existe falta de espaço nos
navios para o transporte de mercadorias. Assim como o número de vagas que o
fabricante tem para trazer carros em um navio fica limitado, a tendência é de se
157
trazer prioritariamente os carros que o comercializados com maior margem de
lucro. É um contexto amplo que determina as decisões, e não somente fatos
isolados.
SF - Vamos falar um pouco sobre a sua experiência e a sua vivência no dentro do
Off-Road.
LF - O Off-Road apareceu na minha vida em 1990, dezoito anos atrás. Eu comecei
nisso como uma brincadeira, andando de moto. Uns 3 ou 4 anos depois começou a
aparecer esse negócio de 4X4, e a por estar próximo destes veículos,
encontrando com os mesmos nas trilhas, o interesse por eles foi crescendo. Em
certo momento um amigo e meu irmão compraram, e eu vi que era uma atividade
muito legal. O Off-Road, que era uma paixão, se tornou uma paixão quase que
incontrolável. Quando feito dentro dos carros 4x4, o Off-Road ganha novos
ingredientes ausentes nas motos. Primeiro a integração entre as pessoas: na moto
você anda sozinho e em quanto está na trilha, não fala com ninguém; é uma coisa
que acontece entre você, a máquina, a natureza e a buraqueira. no carro você
tem integração com as pessoas que estão com você e com os outros carros, pois
normalmente utilizam-se rádios de comunicação. Como via de regra, a coisa
acontece em um ritmo mais lento, sobra mais tempo para conversas, brincadeiras
e integração. Uma outra coisa é que os obstáculos ficam cada vez mais difíceis, e
eu sempre preferi a dificuldade à velocidade. Assim, já no ano de 95 eu me
aproximei do club de Off-Road de Osasco, onde eu fiz novas amizades e conheci
várias outras pessoas, e naquela altura comecei a vislumbrar uma nova
possibilidade, que com a moto não existia, que eram as viagens. Essencialmente
com a moto, a mesma era colocada em uma carreta que era engatada no carro,
com o qual ia-se até uma trilha próxima, andava-se por essa trilha e retornava-
se. O Jeep permite viagens mais longas, de forma que se pode andar de 200 a 300
km em uma rodovia, e conhecer uma região totalmente nova.
Naquela altura eu percebi uma dificuldade: eu queria ir para as trilhas, mas não
tinha alguém que me levasse. Eu queria conhecer novos lugares, mas não sabia
para onde ir. Eu queria desenvolver as técnicas de pilotagem, mas não tinha quem
pudesse me ensinar. Assim percebi que havia uma oportunidade de mercado: se
158
eu tinha essa vontade ou esta necessidade, outras pessoas também deveriam ter.
Esta é uma necessidade que votem quando você é iniciante, pois depois que
você está iniciado, você passa a conhecer pessoas e lugares, e sua necessidade
cai. Quanto mais experiente você é, menos você precisa das pessoas para te levar
para lugares novos. Você começa a se aventurar, buscar informações, forma
grupos e a coisa acontece. Por volta de 1998, (até então eu trabalhava com
informática, pois o início da minha vida foi todo com eletrônica e informática), tive
uma vontade de mudar de vida, ou basicamente o estilo de vida e aí, arriscando,
resolvi trabalhar com esta grande paixão, que até então tinha sido somente um
hobby. Assim nasceu a Trailway que está completando 10 anos, e não para
dizer que não deu certo, senão não estaríamos aqui.
Fizemos então a validação da segmentação de categorias dos veículos Off-Road,
que após análise e revisão feita pelo Luiz Fernando ficou com segue:
SUV - Sport Utility Vehicle - Terminologia americana refere-se a veículo
que reúne a capacidade de carga de uma pick-up, com a capacidade de transporte
de pessoas de uma mini-van e com habilidades fora de estrada (Off-Road). O
projeto geralmente é derivado de uma pick-up. Objeto de desejo no mercado
americano, e criticada por alto consumo de gasolina e tamanho exagerado. Cada
vez menos se tem utilizado a plataforma de uma pick-up para a construção de uma
SUV, mas sim, elaboram-se projetos dedicados ou utilizam-se plataformas de
automóveis.
Compact SUV - terminologia americana, refere-se a SUVs com tamanho
entre 4,25 e 4,6 m e que em geral têm preocupação maior com o estilo e design,
mantendo as características mecânicas das SUVs.
MINI SUV - terminologia americana que se refere a SUVs com tamanho
menor que 4,10 m. Nesta categoria estão enquadrados veículos como o Jeep
Wrangler e o Suzuki Samurai. Atribuir a qualquer um destes veículos a capacidade
de carga de uma pick-up ou mesmo a capacidade de transporte de pessoas de
uma Mini-van não faz sentido. De certa forma os veículos contidos nesta categoria
159
deram origem às atuais SUVs, e esta nomenclatura passou a ser utilizada muito
mais para o deixar estes veículos excluídos do "novo mundo" que se criou a
partir dos Jeeps.
Crossover SUVs (ou CUV) - terminologia americana que se refere a
veículos com aparência e capacidade de uma SUV, porém concebidos a partir de
plataformas de outros veículos. Busca-se desta forma a utilização otimizada de
uma plataforma já existente, consumo de combustível e emissão de poluentes
menores. É importante ressaltar que a utilização de uma plataforma existente
não significa a utilização de um chassi de um veículo de passeio como base para o
Crossover (mesmo porque estes veículos geralmente são mono-blocos e não
possuem chassi). Neste caso entende-se como plataforma, o conjunto que engloba
desde a cadeia de suprimentos, a linha de produção, componentes mecânicos e
todo o conjunto de peças e equipamentos e possam ser comunizados entre os
veículos. Esta categoria de veículos é uma das mais crescentes em termos de
vendas no mercado mundial, e tem sido ampliada de forma a abrigar alguns
veículos que, embora não atendendo na totalidade aos pré-requisitos sobre os
quais a categoria foi concebida, possuem características que os permitem serem
incluídos na mesma. Inclui-se então nesta categoria quaisquer veículos que
utilizem plataformas existentes e que possuam, de alguma forma, acessórios ou
atributos de uma SUV.
É consenso que o Ford EcoSport enquadra-se nesta categoria. É importante
ressaltar porém, que veículos como o VW Crossfox, Fiat Adventure e outros
semelhantes não devam ser enquadrados nessa categoria. Neste caso não
utilização somente da plataforma e de um outro veículo, mas sim trata-se do
mesmo veículo com alguns acessórios e pequenas modificações mecânicas.
MPV - Multi Porpose Vehicle - terminologia européia e japonesa na qual se
enquadram veículos comoo Scenic, Picasso, Zafira e Meriva, ou seja, veículos sem
habilidades Off-Road.
160
LF - A criação da categoria Crossover parece ser uma boa sacada das
montadoras, mas para as pessoas envolvidas no mundo Off-Road parece um
pouco de enganação. O surgimento de grande crescimento de vendas das SUVs
abriu espaço para uma série de novidades criativas.
Já os veículos que são simples versões adaptadas de seus precursores não devem
ser considerados Crossovers, e não tem capacidades ou habilidades para o Off-
Road. Um carro minimamente preparado para trilhas precisa ter pelo menos altura
livre do solo adequada, tração nas quatro rodas, reduzida e curso de suspensão
apropriado.
É curioso comparar, por exemplo, a altura livre do solo de uma Defender com, por
exemplo de uma Fiat Doblô Adventure. a Defender tem 22 cm e a Doblô 21 cm. A
princípio não existe diferença significativa, porém, analisando-se detalhadamente
os dois veículos, as diferenças são enormes. Altura livre do solo significa a
distância entre o ponto mais baixo do veículo e o solo. No caso da Defender este
ponto é a curvatura inferior dos diferenciais, que são montados próximos às rodas.
O restante do espaço por baixo do veículo fica muito mais distante do solo que
estes dois pontos. No caso da Doblô, a sua parte inferior é praticamente uma
chapa plana, distante 21 cm do solo. São portanto duas concepções totalmente
diferentes com resultados totalmente diferentes quando o assunto é trafegar fora
da estrada. A possibilidade da Doblô ficar presa em uma saliência do solo é muito
maior do que a da Defender.
A criação destes veículos, como os Adventure da Fiat, é simples oportunismo de
mercado.
Mas, curiosamente, esta linha de veículos parece ter sido a precursora do
EcoSport. Em 1999 a Fiat lançou a pick-up Strada na versão Adventure. Este
lançamento se deu principalmente pelo fato da Fiat não possuir pick-ups de porte
maior, capazes de competir com a S-10 da GM e a Ranger da Ford. Assim a
versão Adventure da Strada pretendia fazer a pequena pick-up parecer maior e,
por seu posicionamento de preço inferior às duas anteriormente citadas, possibilitar
que ela tomasse pelo menos parte do mercado ocupado pelas competidoras. O
sucesso de vendas da Strada Adventure foi porém maior que o inicialmente
161
projetado pela Fiat, e curiosamente atingiu um mercado distinto daquele ocupado
pela S-10 e Ranger.
SF - Vamos então detalhar mais o caso do EcoSport?
LF - A fábrica do Fiesta (que veio posteriormente a ser utilizada para a fabricação
do EcoSport) estava inicialmente prevista para ser instalada no Rio Grande do Sul.
Na troca de governo, quando assumiu o Olívio Dutra, os incentivos que haviam
sido inicialmente acordados com a Ford foram suspensos, e assim esta fábrica foi
montada em Camaçari na Bahia. Esta planta da Ford é gigantesca e bastante
moderna, concebida para trabalhar no conceito de fornecedores sistemistas. Estas
mudanças de plano aconteceram por volta de 1998. A planta foi então construída,
preparada para fabricar o novo Fiesta, cujas características não se adaptavam às
instalações fabris da Ford em São Bernardo do Campo. Nesta época o então
presidente da Ford no Brasil, Antonio Maciel, abraçou o projeto do Ecosport. Pode-
se considerar o Maciel com o principal elemento na concretização deste projeto.
Provavelmente o mesmo não tivesse acontecido, o fosse a liderança e o
otimismo do presidente. A atuação do presidente foi rápida, tanto é que a
concorrência não conseguiu acompanhar, e isto se prolonga aagora, pois não
existe um produto que obedeça a mesma definição do EcoSport.
SF - Vamos registrar algo, relacionado ao projeto em si do EcoSport. Ele é
diferente dos outros e teve um projeto dedicado?
LF - Sim, ele é mais alto que os outros. Trabalharam melhor a suspensão dele. Ele
recebeu a versão com tração nas quatro rodas, coisa que os outros (Adventure e
CrossFox) nem sonham, pois isso demanda requisitos de projeto que os outros
carros não tiveram, pois necessitam de modificações profundas de projeto.
Importante salientar que no caso do projeto do EcoSport, embora tenham pensado
nestas necessidades, a colocação da tração nas quatro rodas o foi nada fácil,
demandando a utilização, por exemplo, de uma caixa de transferência da Mazda;
mas sem dúvida é um projeto específico nascido para uma determinada finalidade,
ao contrário do que acontece por exemplo com a lio Adventure. Aquilo é
maquiagem, tem certa elevação da suspensão, mais é muito pequena.
162
SF - E no caso do CrossFox?
LF - É o mesmo tipo de maquiagem, acho que foram mais felizes na
maquiagem, e o resultado final é mais agradável. É um carro que está vendendo
bem principalmente por ser um carro bonito.
SF - Agora, para colocar na trilha...
LF - Não, não serve para a trilha. Como monobloco, uma torcida um pouco maior
causaria uma deformação permanente, da mesma forma como acontece com os
carros blindados.
SF - O que será então que a Ford possuía de diferente para que tivessem um
sucesso maior que os concorrentes?
LF - Inicialmente, a visão da oportunidade foi maior que a dos concorrentes, o
projeto foi mais levado a sério que no caso dos concorrentes, ele é específico e
dedicado, voltado ao público alvo, portanto com mais chances de atender à
demanda do consumidor. Eles poderiam simplesmente maquiar a Ford Courrier, e
fazer alguma coisa do tipo de uma Courrier "Adventure", mas não fizeram, ao
contrário desenvolveram um projeto novo e dedicado.
SF - E se a concorrência quiser fazer algo "Igual", será que têm limitações?
LF - Esta é uma pergunta bastante interessante, e talvez seja melhor analisar
competidor a competidor para entender os motivos que levam cada um deles a não
fazer algo "igual". A VW por exemplo, é uma empresa muito engessada ou seja,
pouco pode-se inventar sobre os produtos da marca (em termos locais). No
passado ela era bastante diferente, vistos os projetos da Brasília, TC, TL, assim
como ela também não tem "expertise" na produção e comercialização deste tipo de
veículo (SUV). É importante relembrar que a Ford tem uma experiência e uma
participação enorme neste segmento nos EUA. A VW, como a Fiat, por serem
empresas européias, definitivamente não têm o mesmo conhecimento que a Ford
no segmento de SUVs. Esta experiência que a Ford possui no mercado americano
possibilita, por exemplo, intercâmbio entre as engenharias e das equipes de
163
marketing. Definitivamente esta integração aconteceu e o resultado se mostra na
concepção única do EcoSport. Ele possui aspectos de Sport/Utility, mas poucas
habilidades ou conceitos de fora de estrada. Mesmo a versão 4x4 do EcoSport
deixa a desejar no que se trata da utilização em trilhas.
SF - Com relação a periféricos, como guinchos e outros acessórios, é difícil
encontrar carros que venham de fábrica com eles?
LF - É difícil, pois estes periféricos trazem um aumento de custo razoável para o
carro, e como a montadora parte do princípio que nem todos os usuários vão
utilizar os veículos em aventuras mais radicais, procuram não onerar os carros com
estes periféricos. Assim, o que às vezes se encontra no mercado, são séries
especiais de um determinado veículo que vêm equipados com acessórios
interessantes para o Off-Road. Como exemplo, a Nissan tem uma versão de
carros, conhecida como "Attack", que vem de fábrica com pneus mais altos e um
grafismo diferente. O mesmo acontece com as versões da Land Rover "Extreme" e
"G4 Challenge" ou no caso da Mitsubishi L 200 Savana. Mas esse mercado é muito
limitado.
Embora o mercado automobilístico brasileiro esteja crescendo bastante nos
últimos anos, ele cresce muito nos segmentos de carros populares. Ou seja, as
vendas na outra ponta, que podemos considerar como sendo as vendas dos "Sport
Utilitys", são proporcionalmente muito pequenas quando comparadas com o todo
do mercado. Assim as fábricas investem limitadamente neste segmento. No caso
da Mitsubishi, por exemplo, que é totalmente focada no segmento de "Sport
Utilities", pode-se entender que o marketing dela seja totalmente voltado para esse
segmento. as demais têm outros segmentos a serem cuidados, como no caso
da Nissan, que além dos "Sport Utilities" têm sua linha de sedans. Como estes
sedans têm volume de vendas muito mais expressivo do que os "Sport Utilities",
naturalmente o esforço de comunicação será concentrado no sedans.
SF - E com relação a continuidade do EcoSport, qual sua percepção?
LF - O carro ainda tem fôlego (e é curioso como outros concorrentes do mercado
ainda não foram totalmente para cima desta fatia de mercado que se mostrou com
164
o EcoSport). Ele foi dos mais vendidos em 2007, acaba de ser re-estilizado. Por
outro lado, eu imagino que a principal preocupação da Ford neste momento é:
como manter o mercado conquistado? Devem estar discutindo se o correto seria
simplesmente manter o EcoSport até que este se esgote, ou se vale a pena lançar
outro carro que, junto com EcoSport, dê sustentação às vendas, ou será que este
novo produto simplesmente iria canibalizar o EcoSport? Assim imagino que a Ford
esteja investindo em pesquisa de mercado para achar uma boa solução. São
curiosos também os comentários relativos às pesquisas de mercado anteriores ao
lançamento do EcoSport. Parece que se a Ford fosse se basear nos resultados das
pesquisas, não teria lançado o EcoSport.
SF - As estatísticas mostram que um mero significativo (60%) de mulheres
como principais clientes na compra do EcoSport. Quais são seus comentários a
respeito disto?
LF - Não com o EcoSport em si, mas com relação às SUVs como um todo, e
não no Brasil mas no mundo todo. Eu acho que isso acontece, pois os Sport
Utilities são normalmente mais altos e maiores que os carros normais, e a sua
presença no trânsito é mais impositiva. Isso traz para as mulheres uma maior
segurança e uma idéia de que ela terá maior respeito por parte dos demais
motoristas. Associando-se isso a necessidade de transportar objetos (compras), as
crianças e outros elementos, tudo indica que as SUVs se adequam bastante às
necessidades femininas atuais. O sucesso das MPVs (Zafira, Picasso, Meriva), tem
a mesma origem. Os sedan já não fazem tanto sucesso no público feminino.
SF - E com relação ao posicionamento de preço do EcoSport, o que você pode
comentar?
LF - Não diferentemente de outros mercados, mas especificamente na realidade
brasileira, sem dúvida o preço é um elemento de elevada importância. Antes do
EcoSport não havia no mercado um carro capaz de atender minimamente ao
segmento de Sport Utilities com um preço acessível. O primeiro SUV na lista
crescente de preços seria o Mitsubishi TR-4, que está na faixa de R$80.000,00. O
EcoSport é uma opção barata quando comparada a qualquer SUV disponível no
165
mercado, e atende ao público que deseja possuir um veículo com esta "cara" de
aventura mas não querem investir tanto quanto demanda um SUV. O mérito da
Ford foi posicionar o EcoSport em uma faixa de preço que, embora tivesse
outros veículos, não possuía nenhum com as características do EcoSport.
SF - Muito obrigado Luis, pelo tempo que você dedicou e pelas preciosas
informações passadas durante essa entrevista
166
Apêndice 2: Entrevista com executivo da Ford
Entrevista concedida por Luiz Flores, responsável pelas áreas de
planejamento de manufatura e exportação da Ford Brasil e Argentina, em
05/09/2008, por telefone.
Luiz Flores - Eu li o arquivo que você enviou (Anexo XXX) e achei bastante
interessante a forma como você apresenta as teorias e explica como deve ser
conduzida a pesquisa. Também achei interessante a segunda parte do documento,
onde são apresentadas as percepções de quem observa de fora, com relação à
geração de vantagens competitivas. Dentre os oito tópicos apresentados, alguns
fazem total sentido, e outros nem tanto, mas mesmo assim os tópicos que não
fazem tanto sentido também podem ser geradores de "insights" para análise do
caso.
Sergio Farah - A intenção durante esta entrevista, é repassarmos os oito tópicos
que foram relacionados (conforme anexo 1), verificando quais aqueles que, na sua
percepção, podem ter sido geradores de vantagem competitiva para a Ford no
caso do EcoSport. Ao mesmo tempo é importante que possamos adicionar outros
tópicos que não tenham sido relacionados, mas que em sua opinião sejam
importantes como geradores de vantagem competitiva.
LF - Um dos tópicos que me chamaram a atenção é o relativo a fábrica de
Camaçari (tópico 7). O planejamento e projeto da fábrica já contemplavam a
produção do Fiesta e do EcoSport. A decisão da construção de uma nova fábrica
se deu principalmente pelo fato da limitação de capacidade na unidade de São
Bernardo do Campo. O plano inicial era construir a nova fábrica no Rio Grande do
Sul, porém por vários motivos, em destaque os incentivos fiscais, optou-se pela
construção em Camaçari.
167
SF - O que se pode dizer então é que o fato da produção do EcoSport ser feita em
Camaçari possibilita uma base de custos reduzida ( comparativamente aos
concorrentes)?
LF - É preciso ponderar antes de se fazer esta afirmação. Por um lado, os
incentivos fiscais concedidos pelo estado da Bahia, são sem dúvida fonte geradora
de uma menor base de custos, mas por outro lado a localização geográfica da
planta traz uma desvantagem logística de custo. Tanto o envio de autopeças
quanto o posterior transporte dos veículos prontos para o sul/sudeste (principais
pólos de consumo), oneram a base de custos quando nos comparamos aos
concorrentes que produzem no sul/sudeste. Nesse contexto é importante levar em
consideração que os incentivos fiscais têm duração limitada. Assim esta possível
vantagem competitiva é temporária, e ainda assim com o contrapeso para
desvantagem de custo logístico.
SF - Considerando a sua percepção, não devemos considerar o fato de a produção
ser realizada em Camaçari como possível gerador de vantagem competitiva.
LF - Sem dúvida. Outro aspecto ligado esta questão é o desenvolvimento social e
tecnológico que a instalação da planta da Ford trouxe ao pólo de Camaçari. Este
era um dos principais intuitos do governo da Bahia ao conceder os benefícios
fiscais para Ford, que sem dúvida se tornaram realidade.
SF - Vamos então analisar o primeiro tópico do anexo, que trata da equipe que foi
capaz de identificar um mercado específico que demandaria um veículo com as
características do EcoSport.
LF - Este caminho, em minha opinião, é um dos principais. A Ford tinha uma
estratégia, ou uma campanha interna, que era baseada em três pilares: produto,
renovação da rede de distribuição e pessoas. Estes três pontos foram o lema de
tudo. Isto coincide com o tópico que você mencionou, pois o grupo identificou um
nicho de mercado que possibilitava a criação de um novo segmento no mercado
brasileiro. O Luc de Ferran tinha certeza que o carro ia ser um sucesso, e as
168
pesquisas de mercado estavam confirmando esta percepção. Desta situação inicial
seguiu o projeto e a definição da planta de produção.
SF - Então a identificação da oportunidade de mercado também foi muito
influenciada pelo conhecimento que se tinha do mercado americano e da grande
proporção que as vendas das SUVs passaram a ter por lá?
LF - Sim, ajudou. Principalmente porque naquele momento haviam SUVs
importadas no mercado brasileiro, portanto com um preço muito elevado. A
percepção era que o lançamento de uma SUV nacional, com preço mais
adequado, iria possibilitar um grande volume de vendas. Sendo um carro destinado
para a classe de consumo de B, imaginou-se que seria possível fazer uma
alteração no perfil de consumo, introduzindo um veículo em uma nova categoria.
Nesse prisma eu concordo que a experiência e o conhecimento ajudou a identificar
a oportunidade no mercado brasileiro.
SF - No tocante ao tópico 3, que diz respeito a presença de um presidente
empreendedor qual a sua percepção da importância deste fato no sucesso do
EcoSport.
LF - Quando o Antonio Maciel chegou, a coisa estava definida. Nesta época,
meados de 1999, princípios do projeto e mesmo a definição da fábrica estavam
decididos. Ele chegou com a missão de implementar o plano. Entretanto eu
concordo com os termos utilizados nesse tópico, pois o Antonio Maciel, com seu
espírito empreendedor, vestiu a camisa, percebendo que a oportunidade era muito
boa. Percebeu que o novo carro tinha enorme potencial, tanto pelos aspectos
positivos do projeto quanto pelos resultados das pesquisas de mercado. O principal
papel dele esteve muito mais ligado a formalização dos convênios de isenção com
o estado da Bahia, em linha com a sua experiência pregressa com órgãos do
governo. A percepção interna na Ford é que o principal mentor e promotor do
projeto foi o Luc de Ferran.
169
SF - Entramos então no tópico 4, que menciona a importância do papel de Luc de
Ferran.
LF - O Luc teve definitivamente o papel de mentor. Existe um folclore interno, que
em certo jantar o Luc teria, em um guardanapo de papel, e esboçado as primeiras
linhas do projeto do EcoSport (isso em 1995/96). Isso é um pouco de folclore, mas
definitivamente o Luc era defensor do lançamento de um carro com as
características do EcoSport. A Ford chegou a estudar a possibilidade de
lançamento de um veículo mais parecido com o conceito das mini-vans (como
Zafira e Meriva da GM), mas felizmente isso o aconteceu. Seriamos somente
mais um competidor em um segmento pequeno e já saturado.
SF - Passando então para o quinto tópico, que menciona o fato do EcoSport ter um
projeto específico, enquanto seus principais concorrentes no segmento surgiram
apenas como maquiagens de veículo já existentes, como você percebe o potencial
de geração de vantagem competitiva neste caso?
LF - Realmente o EcoSport inaugurou o segmento. No início, lançado na versão ao
1. 0, que logo mostrou-se uma decisão enganosa, foi reposicionado na versão 1.6
inclusive no tocante a preço. A GM chegou a anunciar que iria lançar um
concorrente direto para EcoSport, mas isso não ocorreu devido aos alto custos que
a GM enfrentaria para colocar tal veículo no mercado. A concorrência então se deu
muito mais através de veículos maquiados. A Fiat, com a linha Adventure foi mais
longe, introduzindo alterações mecânicas nos veículos, mas não a ponto de chegar
a um SUV.
SF - Um tópico que não estava presente no documento que eu lhe enviei, é
relacionado à expansão da rede de concessionárias Ford. Podemos detalhar um
pouco?
LF - Tratou-se da substituição e nomeação de novos grupos de distribuidores
(concessionárias). A correlação entre este tópico e o sucesso do EcoSport não é
totalmente direta, mas hoje a Ford conta com uma rede de distribuidores
totalmente remodelada e em condições de igualdade com seus competidores,
estrutura sem a qual não teria sido possível concretizar o sucesso do EcoSport. Foi
170
criada toda a estrutura interna para a gestão dos canais de revenda, com
representantes e uma gerência executiva para gerir todos processos, inclusive o de
remodelação da rede. Como exemplo, podemos citar o grupo CAOA, que no
passado tinha uma importância muito grande para a montadora e devido a uma
diversificação de atividades, reduziu muito foco que tinha a distribuição dos
veículos Ford. A gerência executiva de distribuidoras conduziu a transição de forma
a cobrir os espaços que foram abandonados pelo grupo, sem geração que maiores
conseqüências para o negócio.
SF - Cobrimos de certa forma os tópicos 6 e 7 no início da entrevista. No tocante
ao tópico 8 qual a sua visão da relação entre os fracos resultados que se
apresentavam funcionando como alavanca para se investir em um projeto inovador
e motivar a empresa?
LF - Existe uma forte relação. Antes da formação da Autolatina, a Ford tinha por
volta de 20% de mercado. Este valor chegou a 6,6% de mercado, o que representa
um grande problema para estrutura como um todo. A pressão era grande de todos
os lados, e os maus resultados levaram a matriz a pensar na possibilidade,
inclusive, de deixar de operar no país. Por outro lado, era clara percepção que o
mercado brasileiro iria crescer, e que outras montadoras haviam percebido esta
movimentação e começavam a se instalar aqui. Reverter os resultados e retomar
uma posição de liderança no mercado passou a ser um elemento de motivação
para toda a equipe da Ford. Tratava-se de uma última chance e tinha que dar
certo. As primeiras pesquisas foram muito motivadoras quanto ao possível sucesso
do novo veículo, e a certeza do sucesso era muito grande na empresa como um
todo. A forma e a abrangência com que foram conduzidas as pesquisas de
mercado para confirmar a futura aceitação do novo veículo foi muito especial,
aumentando a confiança nos resultados, inclusive porque algumas das opiniões
dos clientes foram incorporadas ao projeto final.
SF - Gostaria agora que você sugerisse alguns outros tópicos, que possam
representar vantagens competitivas e que não acordamos até agora, nem no
documento eu lhe enviei, nem no seu depoimento até então.
171
LF - Os principais tópicos foram mencionados. Destaco a existência de uma
estratégia geral que incluía produto, remodelação da rede de concessionárias e
pessoas, que fazia parte de toda a atmosfera da empresa na época. O sucesso foi
tão grande, que superou as previsões de vendas que havíamos estabelecido para
o veículo. Dos 1500 veículos por mês previstos inicialmente, rapidamente passou-
se a 4000 veículos por mês.
SF Luis, quero lhe agradecer imensamente pela entrevista, e me colocar à
disposição.
172
Apêndice 3 - Transcrição das entrevistas com os funcionários da Ford
As entrevistas com funcionários da Ford foram realizadas com pessoas da
área de marketing de veículos leves, pós-vendas, e projetos de componentes.
Todos os entrevistados participaram direta ou indiretamente do projeto e
lançamento do EcoSport. De modo a não se exporem às limitações e sanções das
normas que regem a divulgação de informações internas da Ford, os cinco
funcionários entrevistados preferiram não responder às perguntas em nome da
Ford e sim como simples informantes, e solicitaram que seus nomes não fossem
divulgados no presente trabalho. Para atender a essa limitação, tais funcionários
estarão identificados abaixo de forma codificada, como funcionário 1, 2, 3, 4 e 5.
Para facilitar a análise e tabulação das respostas, foi utilizada uma divisão
das mesmas, de acordo com as variáveis do modelo VRIO, com a inserção de uma
letra entre parênteses, antecedendo o trecho da transcrição.
Entrevistado - Funcionário 1
PE1 - (V) Sem dúvida o time interno é um recurso de valor para Ford. Não o
time brasileiro, mas também incluo o time de gestão de marketing internacional.
Ter acesso às informações de pesquisas realizadas em mercados mais maduros é
uma forma de se capitalizar a internacionalidade da Ford.
(R) Não para se dizer que somente a Ford se vale destas informações sobre os
outros mercados, praticamente todas as montadoras são internacionais, mas a
integração e a forma programada de como a troca de informações e integração das
equipes internacionais acontece na Ford, não creio que esteja presente em muitas
outras montadoras.
(I) Por ser alguma coisa ligada à organização ou seja, um processo interno, não
creio que seja difícil de imitar o que se faz na Ford, porém se fosse tão fácil, todo
mundo já estaria fazendo, assim não é tão fácil de imitar não.
(O) De certa forma falei a respeito da organização, sem dúvida a Ford está
organizada para aproveitar essas informações.
173
PE2 - (V) Quando o Maciel chegou praticamente estava tudo pronto. O projeto
começou em 1996, assim não vejo que ele possa receber mérito pelo sucesso do
EcoSport. Talvez a recíproca seja mais verdadeira!
(R) Sem dúvida o Maciel é um cara emblemático, e não existem muitos dele por aí.
Quanto ao valor eu questiono, mas ―raro‖ acho que ele é.
(I) Também acho difícil de imitar, pessoas como ele são contratadas a peso de
ouro.
(O) Se entendo a linha de raciocínio, ele estava lá, então a organização estava
correta?
PE3 - (V) O Luc de Ferran sempre foi uma figura lendária e muito destacada dentro
da Ford. Não que seja uma sumidade, mas porque sempre se envolveu nas
iniciativas dos projetos locais, em geral esses projetos deram certo. O cara é meio
pé quente!
(R)/(I) Não muitos dele por não, aliás até pelo sucesso do filho dele na
fórmula Indy, eu diria que ele é único! Não tem quem não conheça.
(O) Seguindo o raciocínio, ele estava na Ford durante o projeto e no lançamento,
então organização estava OK!
PE4 - (V) Pressão por resultados é uma coisa importante, não vejo algum negócio
que vá funcionar bem sem pressão.
(R) Embora a pressão naquele tempo fosse mais que psicológica que a pressão
normal do dia-a-dia, acho que isso está presente em todos os lugares hoje em dia.
Todo mundo tem medo e não sabe bem como vai ser o amanhã.
(I) Não vejo dificuldade em replicar esse tipo de pressão e outras empresas. Não
tem nada de original nisso.
(O) Sem dúvida a pressão estava lá, e a corda no pescoço... ou esse tipo de coisa.
PR1 - (V) O projeto, ou melhor, a concepção completa do carro é alguma coisa de
especial. Não tanto pela funcionalidade mais principalmente por se adequar muito
bem ao que o público estava procurando.
174
(R) mais do que tudo, a gente estava sozinho no mercado, pois se haviam
opções eram importados, com preço lá em cima...
(I) Quando a concorrência acordou, era tarde. Fazer um carro desses a partir do
zero leva pelo menos cinco anos. Assim o que apareceu no mercado realmente era
imitação, ou melhor, "imitação barata" tipo Pálio Adventure e CrossFox.
(O) Acho que nesse item, pelo fato do carro ter sido lançado, mostrou que a
organização estava preparada.
PR2 - (V) Não vejo muita vantagem na utilização da plataforma. Isso é bastante
comum nos dias de hoje. (R) Assim não entendo que seja raro,(I) ou difícil de
imitar, (O)quanto à organização, também não vejo nenhum ponto especial.
PR3 - (V) (R) Possuir fábrica para não ter limitação de produção é um luxo que
nem todo mundo tem, (I) mais difícil ainda é construir uma fábrica da noite pro dia.
(O) essa fábrica foi muito importante, pois pudemos atender a demanda muito bem.
No começo chegou a faltar carro, até engrenar a produção, mas depois as coisas
se acertaram.
PR4 - (V) Este ponto é curioso. Imaginávamos que assim como em outros
mercados pudesse haver demanda para um carro do tipo do EcoSport, e assim
criou-se um conceito. As pesquisas de mercado vieram depois, buscando a
confirmação do conceito. E elas foram realmente muito detalhadas e profundas. (R)
Não tenho notícia que algum outro concorrente tenha feito algo parecido, (I)
embora pudessem fazer se quisessem, (O) mas nós fomos fundo.
PR5 - (V) Se entendo o raciocínio, a rentabilidade do carro é alguma coisa de valor,
mas não com relação aos competidores. Tem valor para o resultado financeiro,
mas isso não vai para o cliente, vai? (R) De uma forma geral, as margens não são
ruins no Brasil, não vejo raridade nisso no Brasil (I) ou dificuldade de imitar. (O)
Quanto à organização não sei falar.
175
CO1 - (V) A estrutura que foi criada para revitalizar as concessionárias, sem dúvida
foi muito importante.(R) Não era uma estrutura qualquer de concessionárias, mais
um time muito profissional de negociadores especialmente escolhidos para
reformular toda a rede de concessionárias da Ford.(I) Imitar uma estrutura destas
não é fácil, (O) mas o caso é que a Ford precisava muito dela para recuperar o
tempo perdido.
CO2 - (V) É como falei, vital para a recuperação da Ford, (R) mais na verdade
estávamos tentando tapar um buraco que foi deixado desde e a dissolução da
Autolatina.(I)(O) estávamos recompondo a rede.
OU1 - (V) O fato da Ford ter tido grande sucesso no mercado de SUVs nos EUA, e
ter entendido bem o perfil do consumidor que demanda esse tipo de veículo é
alguma coisa que eu não vi mencionada nas perguntas acima. Outra coisa é a
importância da mulher como consumidora desse tipo de veículo. E desde a
concepção do projeto nós levamos isso em conta.
Entrevistado - Funcionário 2
PE1 - (V) O time interno da Ford bastante antenado, (R) (I) (O) aliás não para
ser diferente no mercado automobilístico, ou você está totalmente antenado a tudo
que está acontecendo, ou vai acabar perdendo o bonde .
PE2 - (V) O sr. Maciel assumiu o cargo, quando EcoSport era praticamente
uma realidade. Assim mesmo ele teve um papel muito importante, o de acreditar ou
de fazer acreditar que o carro iria ser um sucesso. (R) (I) Ele tinha a missão de
salvar a Ford brasileira, e a moral do pessoal não estava essas coisas, mas
depois da chegada dele as coisas foram mudando. (O) Ele re-organizou a
companhia e deu vida nova na moral do pessoal.
PE3 - (V) O senhor Luc realmente foi o pai (ou o padrinho) do EcoSport. Além da
criação do desenho ele se desdobrou e não sossegou enquanto o projeto não saiu
do AUTOCAD. (R) (I) (O) Se não fosse ele, acho que simplesmente o EcoSport
176
não teria sido lançado. Ele é muito especial, e é uma pena que tenha saído da
companhia .
PE4 - (V) A coisa realmente ficou feia naquela época. Os gringos não saiam de
cima dos gerentes, e o clima era de ―vai ou racha‖. (R) (I) Não acho que nenhuma
outra montadora tivesse com os mesmos problemas que a Ford, e o esforço do
pessoal foi muito grande para que tudo desse certo . (O) Souberam aproveitar
aquela situação para alinhar os times.
PR1 - (V) O carro é um sonho, e não tenho quem não queira ter um. (R) (I) E,
naquele momento, ninguém tinha nada parecido. (O) A demanda foi tão grande, ou
seja, maior do que a esperada, que tivemos dificuldades no começo.
PR2 - (V) A plataforma do Fiesta estava pronta, e sendo utilizada no exterior
alguns anos. Foi uma mão na roda poder utilizar esta plataforma. (R) (I) (O)
Qualquer montadora tem boas plataformas, e não é difícil projetar um carro em
cima delas, mas poucas fazem isso e isso foi uma vantagem para Ford.
PR3 - (V) (I) Se não tivessem construído a fábrica em Camaçari, simplesmente não
teria sido possível lançar EcoSport. Desde o conceito de fabricação, ele não cabia
tanto em São Bernardo como em Taubaté. (R) (O) Embora fábrica, qualquer
montadora possua, estamos falando em e um novo conceito de fabricação, que vai
além dos processos e se caracteriza por uma nova filosofia, os sistemistas. Os
fornecedores é que montam o carro pra montadora.
PR4 - (V) As pesquisas de mercado são sempre muito importantes, (R) (I) mas
também são muito um show da área de marketing. Foram muitos eventos
realizados para se descobrir que o que todo mundo já sabia. (O) De qualquer forma
aumentou-se a certeza e a confiança de que o produto iria ser um sucesso.
PR5 - (V) Não vejo muita relação entre a margem ou a rentabilidade e o sucesso
de mercado do carro....
177
CO1 - (V) Sem dúvida, tínhamos que reparar os males causados pela Autolatina.
(R) Nesse período a Ford se afastou totalmente no mercado, e funcionou somente
por trás da VW. (I) (O) Não fizermos nada de novo, se é esta expressão, somente
reconstruímos o que havia sido detonado.
CO2 - (V) Igual a pergunta anterior.
OU1 - Acho que a determinação e a força de vontade do pessoal como um todo
foram os grandes diferenciais para que o carro fosse lançado. O sucesso foi uma
decorrência.
Entrevistado - Funcionário 3
PE1 - (V) (O) O time de funcionários internos é um recurso importante (R) mais
entendo que toda empresa do porte da Ford tem boas equipes. (I) Se não tem, é
totalmente possível contratar, não é?
PE2 - (V) Não vejo que o papel do Maciel tenha sido tão voltado para as questões
do dia-a-dia. Vejo que a atuação dele tenha sido muito mais no âmbito político. (R)
(I) (O) O trânsito que ele tinha junto aos órgãos de governo ajudaram muito, por
exemplo, na questão da fábrica que deveria sair no Rio Grande do Sul mas acabou
sendo na Bahia .
PE3 - (V) Escutei várias histórias sobre a paternidade do Luc de Ferran no
EcoSport, mas sinceramente não creio muito e nenhuma delas. (R) (I) Não tiro o
rito de ter dirigido o projeto o tempo todo, mas era a função dele. (O) Qualquer
um teria feito a mesma coisa.
178
PE4 - (V) Sem dúvida havia pressão por resultados, mas sempre houve. (R) (I) (O)
Aqueles que nunca ligaram para isso continuaram não ligando, e nem por isso a
Ford parou.
PR1 - (V) A Ford acertou em cheio. (R) (I) Enquanto os concorrentes estavam
numas de maquiar os veículos convencionais, fazendo de conta que eram Off-
Road, quando (O) EcoSport chegou, abocanhou uma enorme fatia de mercado que
estava espera de algo mais concreto.
PR2 - (V) Sabe que por determinado período a plataforma do Fiesta era mais
problema do que solução? (R) (I) A primeira versão do EcoSport tinha motor 1.0.
Quase que o veículo morreu por ali mesmo! Mas logo chegou a versão I.6, e
depois a 4x4 e a coisa mudou de rumo .
PR3 - (V) (R) Os motivos, que no meu entender levaram à construção de uma nova
fábrica, não têm a ver com capacidade produtiva. Foi muito mais uma forma de sair
do foco dos sindicatos do ABC. (I) Mas uma vez, instalada a fábrica possibilitou um
fluxo normalizado para a nova demanda do EcoSport.(O) É bom lembrar que a
distância do centro de consumo penaliza a Ford de Camaçari com relação a muitos
concorrentes!
PR4 - (V) Sem dúvida as pesquisas ajudaram muito na confirmação do novo
projeto. (R) A reação positiva do público que serviu como reforço para endossar os
investimentos no desenvolvimento do EcoSport, (I) mostrando que não adiantava
importar alguma coisa que estivessem rodando no exterior, (O) pois a demanda
aqui no Brasil era diferente.
PR5 - (V) Este foi outro aspecto que levou a alta administração a apostar no
projeto. (R) (I) A rentabilidade do EcoSport é superior, por exemplo, a do Fiesta, e
para uma empresa que busca lucratividade, (O) rentabilidade acima da média com
alto volume de vendas, é tudo que se quer!
179
CO1 - (V) Não vejo vantagem para Ford no tocante às concessionárias. Na
verdade tínhamos uma desvantagem e o que foi feito foi simplesmente uma
reconstrução. Sem isso a penetração no mercado estaria definitivamente
comprometida.
CO2 - (V) Não muda muito da resposta anterior.
Entrevistado - Funcionário 4
PE1 - (V) Acho que o time interno da Ford é muito atento às mudanças de
mercado, e essa característica é que permite que a empresa reaja adequadamente
às mudanças. (R) (I) No caso do EcoSport, existe um componente importante, que
foi de uma certa forma a união em torno de um projeto local, que a princípio não
tinha muito apoio do pessoal de fora. (O) Assim houve um trabalho de
convencimento daqui pra lá, que normalmente não acontece.
PE2 - (V) É como eu estava falando. Embora tenha chegado mais no fim do
processo, o Maciel teve muita importância, (R) (I) (O) pois foi um dos porta-vozes
que insistiu no lançamento do EcoSport. E nesse momento, a opinião do
presidente conta muito.
PE3 - (V) Veja com uma coisa se repete. (R) (I) No caso do Luc existem dois
componentes importantes: um é a história que ele criou na Ford e o outro é a fama
do seu filho (Gil de Ferran). Ele sem dúvida uma figura visível, e motivo de
comentários do pessoal tempo todo. Ele também teve papel importante nesta
"briga" que a Ford Brasil comprou com a matriz. (O) Uma vez autorizada a ir em
frente com o projeto local, houve uma união natural de esforços para que tudo
desse certo.
PE4 - Parece que eu estou sempre respondendo a próxima pergunta! (V) A
pressão não era qualquer uma , pois além dos problemas financeiros, tinha alguma
coisa a mais, que era mostrar que estávamos certos, (I) e que o carro iria ser um
180
sucesso. (R) (O) Isso sem dúvida ajuda a alinhar o pessoal e fazer as coisas
acontecerem.
PR1 - (V) reside a vantagem de se desenvolver alguma coisa que está
realmente projetada para a demanda local. A globalização sem dúvida traz
benefícios, mas esses aspectos locais acabam se perdendo. Não é raro temos que
explicar o porquê um carro que faz sucesso lá fora, vai ser um fiasco se for lançado
aqui. Sabíamos que o conceito do EcoSport ( que era conhecido como Amazon)
caía como uma luva em um determinado segmento de consumidores, que estavam
buscando alguma coisa diferente de um simples meio de transporte. (R) (I) Até o
nome do carro foi escolhido de forma a reforçar a decisão dos consumidores.
PR2 - (V) O fato de termos utilizado a plataforma do Fiesta é que possibilitou o
desenvolvimento do projeto local, (O) pois não tínhamos que nos preocupar com os
elementos mecânicos do projeto, como motor, câmbio e suspensão. Com
pequenas modificações, o projeto mecânico do Fiesta, serviu de base para receber
o novo jipinho. (R) (I) Se não fosse isso não teríamos nem uma chance de aprovar
o novo projeto.
PR3 - (V) (O) As coisas se encaixam no tocante a fábrica de Camaçari. A decisão
era que o Fiesta definitivamente não iria ser produzido nas fábricas que estavam
operando. (R) Era também mandatório que a nova fábrica funcionasse com
sistemistas. (I) Ainda no projeto da fábrica, identificou-se a possibilidade de agregar
mais um veículo, que teria uma série de similaridades e sinergias a serem
exploradas. E não deu outra.
PR4 - (V) Não havia muita dúvida que um carro com as características do EcoSport
poderia ser um sucesso de vendas. Mas existiam muitas dúvidas se ele deveria ser
um verdadeiro 4x4, ou se estilo aventureiro seria suficiente para cativar o
consumidor. Nesse ponto entra a importância das pesquisas que foram realizadas,
que nos ajudaram a enxergar melhor as características importantes que o novo
veículo deveria ter. (R) (I) Logo descobrimos que os "porta-trecos" internos eram
muito mais importantes que uma ―reduzida‖, ou mesmo que a tração nas quatro
181
rodas. Mas a posição mais alta do motorista, era imprescindível, o carro tinha que
ser mais alto. Até a forma de abrir a tampa traseira do porta-malas foi pesquisada,
e o estilo "geladeira" foi o preferido. (O) Aí o pessoal da engenharia é que teve que
se virar para fazer aquelas dobradiças funcionarem!!
PR5 - (V) Este é um dos motivos que tem feito com que a prática do Crossover
tenha se difundido tanto. Principalmente quando em cima de um "caro popular"
como o Fiesta, pode-se fazer um carro médio, que permite um posicionamento de
preço mais alto que o popular, sem a proporcional elevação da base de custos. (R)
(I) Este ponto foi muito importante para a recuperação financeira da Ford. Além de
tudo podíamos ser mais agressivos nas campanhas promocionais, a arrastar
públicos adjacentes ao público alvo, aumentando mais a penetração do carro.
CO1 - (V) A distribuição era um problema crônico em decorrência do tempo da
Autolatina. O esforço para reformular toda área de vendas e a rede de
concessionárias foi enorme, e este fator também contribuiu para o sucesso do
EcoSport. Como estamos vendo várias ações que não tem a ver diretamente com
o carro em si, como a fábrica, as negociações internas, a remodelação das
revendas e outros tiveram que ser alinhados ou corrigidos, pois senão, nenhum
veículo, por melhor que fosse, teria chances de se tornar um sucesso.
CO2 - (V) O aumento no número de concessionárias foi também uma decorrência
da implantação da nova estrutura comercial.
OU1 - Devem existir outros recursos que não mencionamos até o momento, mais
pelo que me, lembro fizermos um apanhado bem completo dos principais
elementos ligados à concepção e lançamento do EcoSport.
Entrevistado - Funcionário 5
PE1 - (V) (O) Entendo que o time interno da Ford seja importante (R) mas acho
que é assim em todas as montadoras . (I) se o é exatamente igual a nossa
estrutura, deve ser bem semelhante. Existem diferenças quanto ao tipo de gestão
para empresas americanas ou européias, mas no fundo são bem iguais.
182
PE2 - (V) Acho que é o senhor Maciel e a vinda dele para Ford, foram muito
importantes. Primeiro pelo sinal que foi passado para a empresa (R) quando foram
buscar alguém no mercado, que estava acostumado a dar a volta por cima, e
recuperar negócios que estavam mal das pernas. aí, para mim, tem meio
caminho andado. (I) Mas ele realmente vestiu a camisa, e se desdobrou para
buscar resultados e tirar a Ford do vermelho. (O) Uma das coisas que fez foi levar
à frente o projeto do EcoSport. Como se diz no futebol, o técnico faz diferença!
PE3 - (V) (O) O Luc de Ferran é (ou foi) das personalidades mais importantes da
empresa. Sempre envolvido e buscando o melhor, defendendo as iniciativas do
Brasil e fazendo sucessos. (R) (I) Se todos fossem iguais a ele, os problemas da
Ford seriam bem menores, e a empresa não teria entrado em aventuras como a da
Autolatina!
PE4 - (V) Não acredito muito nisso. (R) Quem quer realmente fazer diferença, faz
independente de pressão dos outros. (I) (O) passamos por muitas situações
complicadas, e a crise depois da Autolatina foi apenas mais uma.
PR1 - (V) (R) Eu acho que eu EcoSport não tem nada de muito especial na
verdade. O formato externo lembra um pouco o Jeep, mas pára por aí. Por dentro e
por baixo é nada mais do que um Fiesta. (I) (O) Mas sabe como é, se é alguma
coisa um pouco diferente o pessoal compra mesmo, e eu acho que a novidade foi o
grande lance no caso do EcoSport .
PR2 - (V) Foi uma boa saída, para não ter que inventar a roda novamente. (R) (I)
Não é também que seja tudo igualzinho ao Fiesta, tem uma porção de diferenças,
mas os elementos principais com o motor e câmbio são os mesmos. (O) Isso reduz
o custo e simplifica a produção....
PR3 - (V) (R) Eu acho que ter a fábrica na Bahia, é mais problema que solução. (O)
Se quisesse, dava para fazer tudo em São Bernardo. Mas parece que os
183
problemas com sindicato e o rótulo do ABC paulista tem assustado os
empresários...
PR4 - (V) Isso tem sempre, gastam uma enormidade de dinheiro para conversar
com as pessoas, e inventar uma porção de abobrinhas. Mas como o carro vendeu
bastante, o mérito vai ser todo de marketing ! (risadas)
PR5 - (V) Isso mesmo, custo baixo é o segredo da coisa. (O) Se der vão colocar só
máquinas para produzir tudo. Só não sei quem é que vai comprar ? (risadas)
CO1 - (V) A briga na área de vendas é quente. Como falam por aí, é briga de
cachorro grande, e foi uma área onde a Ford se complicou na época da Autolatina.
Imagino que não fizeram para recompor a rede de concessionárias....
CO2 - (V) É isso mesmo, (O) tiveram que aumentar muito o número de
concessionárias, quanto mais lojas mais vendas, (R) (I) não sei a que preço
vieram essas novas lojas todas.
184
Apêndice 4 - Entrevistas com vendedores de concessionárias
Conforme mencionado anteriormente, após a explicação dos motivos e
objetivos do presente trabalho, duas perguntas foram feitas aos vendedores das
concessionárias, conforme segue:
1) Em sua opinião , quais os principais motivos do sucesso do EcoSport no
mercado brasileiro?
2) Em sua opinião, quais as principais vantagens que a Ford teve sobre os
competidores com relação ao lançamento do EcoSport?
Concessionárias Concorrentes
VW - Eduardo
Acho que a principal coisa que o EcoSport teve de positivo foi aparecer em um
certo momento quando não haviam outros concorrentes. Esses concorrentes
levaram certo tempo até aparecerem no mercado. Acho também que o carro tem
um toque feminino e que esse público se identificou com o carro. De certa forma
ele inaugurou este segmento.
Como vantagens, vejo pioneirismo e a oferta de um carro que tinha o que o povo
queria naquele momento. Agora a coisa já é bem diferente. O CrossFox por
exemplo vende como água, e não tem todos os problemas que o pessoal que
comprou o EcoSport conta pra gente aqui.
VW - Tadeu
Depois de um bom tempo sem grandes lançamentos, acho que tanto o EcoSport
quanto o Fiesta, o Focus, e outros fizeram parte da recuperação da Ford. Acho o
EcoSport um carro legalzinho, mas tem muita gente que não gosta nem um
pouco. Atendo muitos clientes que compraram o carro achando que ele era
bonitinho, mas se decepcionaram tanto com desempenho quanto com a
manutenção.Tem coisas como o barulho da tampa trazeira, que não resolveram
até hoje.
185
Como vantagem, é que saíram na frente, mas por causa disso cometeram muitos
erros. O carro é cheio de defeitos.
FIAT - Rosi
Acho que o EcoSport foi o primeiro carro fora de estrada das cidades, que esse
estilo que o pessoal gosta hoje em dia. Esse tipo de carro vende bem! Os
Adventure aqui o quase 50% das vendas do Pálio Weekend, Doblô e Strada.
São carros mais altos e mais preparados para andar na lama certo?
Vantagem, acho que o preço do EcoSport é bom para o que ele oferece, mas a
época dele passou. Hoje uma lio Weekend tem uma quantidade enorme de
acessórios a mais, que o pessoal gosta muito.
FIAT - Rafaela
Acho que o EcoSport imitou o TR-4 da Mitsubishi, e como é mais barato, vende
bem. Os carros 4X4 normalmente são muito mais caros, e o EcoSport, por ser
nacional, foi uma grande sacada.
Como vantagem, veja a semelhança com o Mitsubishi, que é um carro legal e que
todo mundo quer ter.
Nissan - Minae
É aquele carro que tem cara de fera, mas o coração é bem doce. É o que toda
mulher quer, e por isso é que ele vende bastante.
O preço dele é muito competitivo se comparar com as opções importadas. Ai fica
fácil de entender porque que ele vende tanto. É um carro jeitoso e não é muito
grande como as SUVs , mas impõe mais respeito que um Corsinha 1000 por
exemplo. Como no trânsito de hoje, ou você é tubarão ou é sardinha, não tem
muita escolha. Tem que se usar todas as armas para sobreviver.
Concessionárias Ford
186
CAOA - Fred
Foi a salvação daquela época. Tínhamos O Fiesta e olhe lá. Quando EcoSport
apareceu, é que os clientes realmente começaram a voltar para a Ford. Foi assim
como um milagre. O lançamento chamava bastante atenção, por ser um carro com
um desenho todo novo, e muito bonito. Vi muitos clientes que já estavam decididos
por outros modelos, de outras marcas, se apaixonaram pelo carro e fechar o
negócio no ato. No início era difícil atender a demanda toda, tinha fila. Quando
chegou o com Motor 1.6, aí foi maior a procura ainda.
Vantagem... tinha vantagem, ninguém tinha um carro como esse, o preço era
bom, podíamos praticaram descontos. Ela tirar o pedido. Hoje temos mais
concorrentes, e a venda está mais difícil
CAOA - Cleusa
É o sonho de todo mundo. Um carro muito lindo, que todo mundo gostaria de levar.
É muito comum começar a venda no Fiesta e acabar no EcoSport. Eu mesmo se
pudesse compraria um para mim. Ainda chego lá!
Vantagem é ser um carro especial, sem ter o preço dos carros importados. É o
desenho dos importados, com um jeitinho brasileiro.
CAOA - Ana Maria
Acho que a Ford teve a felicidade de lançar um carro que se enquadrava no gosto
do público, que procurava por um carro diferente. Queriam um carro que não fosse
um sedan, ou que não fosse uma perua... Ou seja, alguma coisa diferente do que
era oferecido naquele momento. As opções que haviam eram muito mais caras, e o
EcoSport caiu como uma luva.
Como vantagem, vejo que não haviam (ou não existem ahoje) concorrentes à
altura do EcoSport. A Ford abriu um mercado e se estabeleceu nele, ou seja, a
Ford chegou na frente, e a inibiu a concorrência em lançar alguma coisa
semelhante.
187
LEMAR - Ronaldo
No meu modo de ver, eu acho que existem vários motivos. O motivo principal é que
a Ford naquele momento tinha que fazer alguma coisa, lançar algum produto que
realmente fizesse a diferença. Acho também que a Ford não tinha idéia que o
sucesso ia ser tão grande. Certamente fizeram muitas pesquisas e chegaram a
conclusão que um veículo como o EcoSport era o melhor a ser lançado. Nem muito
grande como as SUVs americanas, nem tão pequeno como os Jipinhos da
Suzuki... Também foram atrás de um carro que correspondesse ao anseio do
Brasileiro de passear, viajar, se aventurar, e associado à ecologia que está
bastante na moda. Daí o nome: EcoSport!! (risadas) Assim é um carro que cabe no
bolso, nas ruas e no gosto do brasileiro, ou da brasileira...
Vantagem era ter alguma coisa que ninguém tinha, num preço e condição
acessível!!
LEMAR - Patrícia
Acho que o EcoSport veio para atender ao público feminino, pois as mulheres são
fãs do carro, tanto pelo estilo, como pela funcionalidade, conforto, facilidade de
dirigir, e ao preço. Como o motorista fica mais alto, acho que o carro transmite
uma sensação de segurança, com um carro mais agressivo... Não que os homens
não gostem, mas vejo mais mulheres comprando. Eles devem ter feito pesquisas, e
fizeram o carro ao "gosto do freguês". Se desse eu comprava um! (risadas).
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