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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
João Luís de Almeida Machado
Escolhendo a Pílula Vermelha
Blogs na formação de professores
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: CURRÍCULO
São Paulo
2008
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João Luís de Almeida Machado
Escolhendo a Pílula Vermelha
Blogs na formação de professores
Tese apresentada à Banca
Examinadora como exigência
parcial para a obtenção do título
de Doutor em Educação:
Currículo pela Pontifícia
Universidade Católica de São
Paulo, sob a orientação do Prof.
Dr. Fernando José de Almeida.
Orientador: Prof. Dr. Fernando José de Almeida
São Paulo
2008
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Machado, João Luís de Almeida.
Escolhendo a Pílula Vermelha – Blogs na formação de professores/ João
Luís de Almeida Machado. – São Paulo, 2008.
(Tese para a obtenção de título de Doutor em Educação: Currículo)
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), 2008.
Bibliografia: p. 116-122.
1. Blogs. 2. Formação de Professores. 3. Tecnologias de Informação e
Comunicação. 4. Educação. 5. Currículo. 6. Internet.
João Luís de Almeida Machado
Escolhendo a Pílula Vermelha
Blogs na formação de professores
Tese apresentada à Banca Examinadora
como exigência parcial para a obtenção
do título de Doutor em Educação:
Currículo pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob a orientação
do Prof. Dr. Fernando José de Almeida.
Aprovada em _____ / _____ /______
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Fernando José de Almeida
Profª. Dra. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida
Profa. Dra. Maria Luiza Guedes
_______________________________________________________________
Profa. Dra. Maria Aparecida Campos Diniz de Castro
_______________________________________________________________
Prof. Dr. Sérgio Ferreira do Amaral
Se a cada dia faço meus sonhos se
tornarem realidade, devo toda a
minha força, dignidade, caráter e
capacidade de realização a Deus e
as pessoas que tornam a minha
existência doce e maravilhosa. A
eles dedico mais essa realização.
Aos meus amores - Sheila, João
Vítor, Thaís; e a meus pais João e
Ana.
AGRADECIMENTOS
Ao mestre, orientador e verdadeiro guru, prof. Dr. Fernando José de
Almeida, que em todos os momentos demonstrou grande lucidez, pertinência,
sabedoria e compreensão para que as dúvidas, problemas e inseguranças por
mim demonstradas ao longo do caminho para a consecução dessa tese fossem
dissipadas. Fernando, mais do que simplesmente orientador, você acabou se
tornando um exemplo de abnegação na busca pelos melhores caminhos para a
educação brasileira e, por isso devoto-lhe não apenas o trabalho em questão,
mas minha estima e amizade pessoal.
Aos professores que nos indicaram livros, filmes, sites e que estiveram
ao nosso lado durante toda a labuta relacionada à elaboração de um trabalho
acadêmico de qualidade. Profissionais devotados as causas mais nobres da
existência humana, defensores da educação, da ciência e da cultura, a vocês
agradeço de coração pelo apoio em todos os momentos. Sinceros respeitos e
considerações a vocês, gigantes nos ombros de quem me apoiei e continuo a
aprender: Beth Almeida (Uma das mais importantes pesquisadoras da área de
tecnologias em educação no país), Ivani Fazenda (querida amiga que com sua
luz me colocou nos caminhos da Interdisciplinaridade), Branca Jurema Ponce
(Sempre pensando a educação com profundidade filosófica), Antônio Chizzotti
(Reunindo educação e rigor científico).
A Sheila, minha esposa e fidelíssima escudeira. Maior crítica e mais
atuante defensora. A pessoa que sempre soube me abrigar e dar carinho e
colo nos momentos de dificuldade para que eu pudesse recompor minhas
energias e recomeçar com o fôlego e o vigor indispensáveis para uma tarefa
hercúlea como a que tive pela frente. Com você aprendi o que é o amor, lição
maior, que levarei até o final de meus dias...
A João Vítor e Thaís, meus filhos amados, que me ensinam a todo o
momento que o melhor da vida está num olhar, numa risada, numa leitura e,
principalmente num abraço caloroso e sincero, que nos une não apenas como
pai e filhos, mas como melhores amigos para sempre.
A meus pais, João e Ana Maria artífices do meu ser, que me deram as
primeiras e decisivas lições para que eu pudesse entender o mundo,
compreender o meu ser e realizar as missões que a mim foram destinadas
pessoal e profissionalmente. A meus sogros, Fernando e Nair, que sempre
estão por perto a nos acudir e dar apoio em todos os momentos.
A professora Maria Aparecida Campos Diniz de Castro, amiga Nena,
que sempre me incentivou a trilhar os caminhos da academia e que, nos
momentos certos, deu os necessários “empurrões” para que isso acontecesse.
Aos professores de Bauru, que fizeram possível o intercâmbio através do blog
Escolhendo a lula Vermelha e que, desta forma, tornaram-se parte essencial
desta tese e também de minha vida. Ao Planeta Educação e toda a sua equipe,
amigos que durante a jornada me apoiaram e também agüentaram...
Colaboradores a quem devo minha gratidão: Rita (secretária do Programa
de Educação: Currículo da PUC-SP), Erika de Souza Bueno (Colaboradora do
Planeta Educação, responsável pela revisão da tese) e Felipe (Responsável
pelo laboratório de Educação: Currículo da PUC-SP).
Sonhos
O que mais desejamos é conseguir que nossos alunos caminhem apoiados por seus
próprios pés. Que se sustentem em cima da bicicleta depois que os auxiliamos nas
primeiras pedaladas e depois dos tombos iniciais. Que consigam alçar seus vôos em
direção ao infinito, desafiando as leis da gravidade e da própria imperfeição anatômica
percebida nos seres humanos quanto à capacidade de voar como os pássaros.
Queremos que nossos estudantes encabecem as revoluções que esperamos venham
a acontecer no futuro. Que liderem as pesquisas que vão varrer a Aids e o Câncer do
planeta. Que sejam os homens e mulheres que irão assinar as leis que acabam com a
pobreza e as enormes desigualdades sociais que assolam o planeta. Que quebrem os
recordes, assinalem novas teorias, assombrem o mundo com uma arte totalmente
renovada...
Como conseguir isso se as escolas não dão ferramentas, autonomia e combustível
para a realização de todas essas façanhas? Onde estão tais instrumentos? Quais são
os caminhos? Que possibilidades reais temos de efetivar essas transformações?
O maior recurso que possuímos é a nossa incrível capacidade de aprender, de nos
aperfeiçoar, de implementar soluções nas condições mais diversas. aprendendo a
pensar com qualidade iremos realizar o vôo de Ícaro, a viagem às profundezas mais
distantes dos oceanos previstas por Júlio Verne ou, até mesmo, a amar de forma
profunda e infinita como nas obras de Shakespeare...
João Luís de Almeida Machado
RESUMO
O uso de blogs em atividades profissionais, entre as quais a educação, é uma
realidade consolidada. No entanto compete ainda questionar como os blogs
podem ser utilizados nas escolas. Dessa constatação surgiu o questionamento
sobre se os Blogs podem ser utilizados na formação de professores como
elemento complementar a atividades presenciais? Esta dúvida deu origem ao
blog Escolhendo a Pílula Vermelha, utilizado como ferramenta de apoio ao
processo de formação em Tecnologias de Informação e Comunicação dos
educadores da rede municipal de Bauru, São Paulo, como parte do projeto
Educa Bauru, desenvolvido a partir de parceria entre a empresa Planeta
Educação e a Secretaria de Educação de Bauru. O blog Escolhendo a Pílula
Vermelha foi utilizado como ferramenta para o desenvolvimento de pesquisa-
ação, nos conformes do trabalho de Thiollent [2005]. O desenvolvimento da
tese igualmente se apoiou em pesquisa bibliográfica acerca das Tecnologias
de Informação e Comunicação e sua aplicação e uso em educação, buscando
subsídios nas obras de Morin [2008], Moran [2008], Almeida [2008], Valente
[2008] Bianconcini Almeida [2008]. A tese foi, portanto, elaborada com base em
um estudo de caso, e recorreu a paralelos com o filme Matrix [1999], dos
diretores Andy e Larry Wachowski, como complemento as bases bibliográficas
e teóricas. O objetivo claro e específico de verificar a possibilidade de utilização
da ferramenta Blog, por sua facilidade de uso e manutenção, entre outros
aspectos, como instrumento complementar na apreciação de conteúdos, troca
de experiências e intercâmbio de subsídios teóricos
na formação de
professores a distância é o objeto da presente tese.
Palavras-chave: Blogs, Formação de Professores, Tecnologias de Informação
e Comunicação, Educação, Currículo, Internet.
ABSTRACT
The use of Blogs in professional activities, including education, is a
consolidated reality. However it is our concern to question how Blogs can be
used in schools. From this observation arouse a question regarding if blogs can
be used in teacher’s education as a complementary element to presential
activities? This doubt originated the weblog Escolhendo a Pílula Vermelha
[Choosing the Red Pill] to be used as a support tool in the educational process
on Information and Communication Technologies of the educators from Bauru
district, as a part of the project Educa Bauru, developed from the partnership
between the company Planeta Educação and its Municipal Educational Ministry.
The Blog Escolhendo a Pílula Vermelha was utilized as a tool for the
development of an action-research, according to the work of Thiollent [2005].
The thesis also got support on bibliography research about the Information and
Communication Technologies getting subsidy on the work of researchers such
as Morin [2008], Moran [2008], Almeida [2008], Valente [2008] and Bianconcini
Almeida [2008]. The thesis was, therefore, based on a case study and parallels
with the movie The Matrix [1999], by directors Andy and Larry Wachowski, as a
complement to its bibliographic and theoretical basis. The main and specific
purpose was to verify the possibility of the Blog tool usage, due to its facilities
on use and maintenance, among other aspects, as an instrument to
complement teacher’s education on distant spots with the appreciation of
educational contents, exchange of experiences and socialization of new
theoretical subside is, therefore, the object of the present thesis.
Keywords: Blogs, Teacher’s education, Technologies of Information and
Communication, Education, Curriculum, Internet.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..............................................................................................01
2. PROBLEMATIZANDO..................................................................................08
3. OBJETIVOS..................................................................................................17
4. METODOLOGIA............................................................................................19
5. A INTERNET, UMA TECNOLOGIA DA LIBERDADE?................................26
5.1 O Pensamento Pedagógico e as Tecnologias..................................30
5.2 A Internet em rede com o mundo......................................................44
5.3 Computadores nas escolas...............................................................48
5.4 A Blogosfera em números.................................................................55
6. ESCOLHENDO A PÍLULA VERMELHA.......................................................57
6.1 O conteúdo das postagens...............................................................70
6.2 As postagens.....................................................................................71
6.3 Os comentários.................................................................................76
7. CONCLUINDO.............................................................................................100
REFERÊNCIAS...............................................................................................120
ANDICE......................................................................................................130
1
1. INTRODUÇÃO
Ensinar é uma profissão paradoxal. Entre todos os trabalhos que são,
ou aspiram ser, profissões, apenas do ensino se espera que gere as
habilidades e as capacidades humanas que possibilitarão indivíduos
e organizações sobreviver e ter êxito na sociedade do conhecimento
dos dias de hoje. Dos professores, mais do que de qualquer outra
pessoa, espera-se que construam comunidades de aprendizagem,
criem a sociedade do conhecimento e desenvolvam capacidades
para a inovação, a flexibilidade e o compromisso com a
transformação, essenciais à prosperidade econômica.
[HARGREAVES, 2004]
Comecei a usar computadores no início dos anos 1980, quando ainda
mal havia chegado à adolescência. Nessa época eram poucos os aventureiros
que se atreviam a encarar o desafio da informática. Área que mal chegara aos
lares norte-americanos e que ainda se restringia aos filmes de ficção, aos
domínios militares, aos laboratórios de grandes universidades ou empresas e
que, em função do surgimento de alguns Nerds
1
e Geeks
2
, trabalhando em
1
Nerd é um termo que descreve, de forma estereotipada, muitas vezes com conotação depreciativa, uma
pessoa que exerce intensas atividades intelectuais, que são consideradas inadequadas para a sua idade, em
detrimento de outras atividades mais sociais ou populares em seu grupo. Por essa razão, um nerd é muitas
vezes excluído de atividades físicas e considerado um solitário pelos seus pares. Com conotação
depreciativa, descreve uma pessoa com dificuldades de integração social e mesmo atrapalhada que, no
entanto, nutre grande fascínio por conhecimento ou tecnologia. [Fonte: Wikipedia]
2
Geek é uma expressão idiomática da língua inglesa, uma "gíria" que define uma nova geração de nerds,
mais descolados, com interesses voltados para tecnologia e que não abdicam da vida social. [fonte:
Wikipedia]
2
oficinas de fundo de quintal, começavam a fazer parte do imaginário do
cidadão médio dos países mais ricos e desenvolvidos do mundo.
Passados pouco mais de 30 anos daqueles primeiros passos, já adulto e
atuando profissionalmente como educador, acompanho a incorporação dos
micros e de seus sistemas operacionais a Internet, a rede mundial de
computadores.
O que aconteceu ao longo dessas últimas três décadas que transformou
o computador de um recurso restrito, distanciado da realidade da maioria da
população mundial, de difícil utilização [era necessário aprender linguagens de
máquina para programar e, depois disso, usufruir das “facilidades” daqueles
equipamentos], cujos preços eram altos e inacessíveis, com periféricos
rudimentares e sem qualquer mecanismo de integração e troca de idéias e
informações - naquilo que é hoje?
Onipresentes, os computadores e a Internet regulam o cotidiano, regem
o ritmo de nossas vidas, promovem a comunicação como nunca antes
havíamos visto, integram mercados [e desintegram também], auxiliam na
realização de intercâmbios de naturezas diversas, permitem que registremos
idéias para que outras pessoas possam conhecê-las e participar suas opiniões
sobre as mesmas, ajudam a salvar vidas [e a promover mortes também],
mobilizam pessoas em favor de causas nobres [assim como veiculam idéias
repugnantes] e, entre essas tantas possibilidades [e incontáveis outras], são
ainda utilizados como ferramentas no processo de ensino-aprendizagem.
E é justamente nesse ínterim, no particular nicho das Tecnologias de
Informação e Comunicação [TICs] em Educação que acabei me inserindo.
Licenciado em História, educador por opção, em busca de renovação nas
3
linguagens que mobilizam o relacionamento entre professores e alunos,
procurei desde sempre o auxílio de recursos que eram pouco utilizados mas
que sabia e acreditava muito úteis a educação - para estabelecer elos, criar
conexões, atingir os estudantes e fazer com que os mesmos se sentissem
motivados pela possibilidade de aprender, de conhecer, de explorar o mundo,
de ir além da mesmice e da repetição de dados, fatos, fórmulas,...
Durante o mestrado estudei as possibilidades de uso do Cinema na
Escola baseado em práticas que realizei durante praticamente toda a carreira
como educador e em extensa pesquisa bibliográfica e filmográfica sobre o
tema. Tendo escolhido a produção “A Missão”, do diretor Roland Joffé, busquei
informações sobre o filme [premiado com a Palma de Ouro em Cannes] em
jornais e revistas nacionais e internacionais publicados no período de
lançamento do filme. Realizei a análise da produção praticamente quadro a
quadro, verificando as particularidades de cada seqüência daquela película.
estava colocando em prática, sem que tivesse me aprofundado no
assunto, fundamentos de análise do discurso. Posteriormente, ainda no
trabalho da dissertação de mestrado, utilizei o filme em atividades
desenvolvidas em salas de aula do Ensino Médio e da Universidade onde
atuava como professor. Relatórios, produções dos alunos, avaliações,
anotações do professor e registros de outras naturezas fomentaram os
capítulos daquela produção que relatam a experiência com filmes em sala de
aula. Estava em curso a pesquisa-ação, em que além de pesquisador, atuava
como participante do processo, buscando motivar e promover o uso daquele
recurso e das estratégias relacionadas ao mesmo.
4
Nesse mesmo momento de meus afazeres acadêmicos e profissionais
[como professor universitário e docente no ensino médio], iniciei trabalho como
editor e articulista do portal Planeta Educação [www.planetaeducacao.com.br],
pelo qual voltei a ter contato diário com computadores, softwares, sistemas
operacionais, periféricos e, é claro, com a Internet.
O Planeta Educação surgiu no boom da bolha da Internet, na virada do
século XX para o XXI, mais especificamente no ano 2000. O portal surgiu como
o braço da empresa Futurekids do Brasil na Web e, apesar dos investimentos
feitos nos primeiros dois anos de sua existência [quando chegou a ter
aproximadamente 60 funcionários trabalhando em sua manutenção on-line, a
maioria deles da área técnica], sentiu os abalos da crise que se abateu sobre
as empresas do setor pontocom e não conseguia decolar.
Em 2002, ano em que ingressei no Planeta Educação, o portal dispunha
de conteúdo reduzido, era atualizado de forma inconstante [com acréscimos
sendo feitos de modo bastante esporádico], tinha sua equipe de trabalho
reduzida para seis pessoas [10% do total anterior] e obtinha, em média, 10
acessos diários [aproximadamente 300 mensais e 3600 visitas anuais].
Inicialmente me foram atribuídas funções de produção de conteúdo
pedagógico relacionado ao uso do cinema na escola e as possibilidades
educacionais dos sites voltados para escolas, cultura, ciência, tecnologia, arte
e temas afins. A esse trabalho, que exigia intensa pesquisa tanto no que se
refere à educação quanto as Tecnologias de Informação e Comunicação
[TICs], foram sendo incorporadas outras áreas de produção de conteúdos
criadas a partir de trabalhos, projetos, pesquisas e leituras por mim realizadas.
5
Trabalhando em parceria com uma equipe técnica jovem e cheia de
iniciativa, bastante enxuta [apenas seis pessoas no total, contando comigo],
levamos o portal a se tornar uma referência em educação na Internet.
Atualmente o Planeta Educação tem, em média, entre 12 e 15 mil acessos
diários [média de 400 a 500 mil visitas por mês; perto de cinco milhões de
acessos por ano] e aparece na primeira página de pesquisa do Google Brasil
quando se digita o termo “Educação”. mais de mil artigos disponíveis sobre
diversos temas relacionados às necessidades de educadores, estudantes e
comunidade em geral.
Desde o início dos trabalhos no portal Planeta Educação pesquisamos
novas ferramentas que agilizem e facilitem o trabalho da equipe e, em especial,
dos professores, estudantes e público em geral que acessam o trabalho que
desenvolvemos. Nesse sentido, incorporamos recursos variados que permitem
desde a acessibilidade a deficientes visuais até o uso de ferramentas de
comunicação como chats [salas de bate-papo], fóruns virtuais, podcasts e
blogs.
Cada uma das ferramentas ou tecnologias a ser utilizada é estudada
pela equipe técnica que, a partir de sua análise, cria meios e possibilidades de
incorporação das mesmas aos serviços oferecidos pelo portal. Paralelamente a
isso, a pesquisa quanto à aplicabilidade desses instrumentos pelos
profissionais da educação para aperfeiçoamento próprio e, em especial, para a
utilização dos recursos das Tecnologias de Informação e Comunicação nas
escolas e em salas de aula.
Ao realizar os levantamentos sobre as perspectivas de uso dos blogs ou
weblogs em educação tive, inicialmente, a oportunidade de avaliar e
6
experimentar a ferramenta com educadores da rede municipal de Bauru,
interior de São Paulo. O ocorrido relaciona-se ao fato de que estive na cidade
para proferir palestra de esclarecimento e motivação dos professores que
lecionam no Ensino Fundamental daquela rede municipal de ensino e propus a
continuidade do debate e o aprofundamento de questões relativas à educação
e tecnologia [entre outros assuntos] através do uso de um blog.
Atividade experimental que seria bastante útil para entender e analisar
suas reais chances de se estabelecer como uma ferramenta possível e eficaz
para a formação, intercâmbio, esclarecimento de dúvidas, acompanhamento de
iniciativas, orientações gerais e atualização quanto a temas relativos tanto a
educação quanto a tecnologias.
Com esse intuito foi criado o blog Escolhendo a Pílula Vermelha
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com] como elemento que criaria um
canal de comunicação direto entre os educadores de Bauru e o Planeta
Educação, mais especificamente a minha pessoa responsável único pela
manutenção e abastecimento de informações no blog tanto quanto pelo
estímulo ao debate através dessa ferramenta.
O desenvolvimento desse projeto despertou grande interesse de minha
parte e acabou motivando a alteração de rumos quanto ao meu projeto de
pesquisa no doutorado da PUC-SP no programa Educação: Currículo. Até
então focado em Cinema na Escola, assunto que havia estudado e abordado
em minha dissertação de mestrado, desloquei meu foco e energias para os
blogs e os assumi como tema para o doutorado. Paralelamente ao projeto que
desencadeou toda a pesquisa – o blog “Escolhendo a Pílula Vermelha” –
passamos a prospecção de bibliografia especializada, artigos acadêmicos, e
7
busca de notícias sobre blogs nos principais meios de comunicação eletrônica
e impressa.
Essa iniciativa surgiu na busca por esclarecimentos quanto a questões
como:
Os blogs podem ser usados como ferramentas educacionais?
Caso sejam utilizados como ferramentas educacionais, que
possibilidades poderiam ser exploradas nos blogs?
Blogs podem ser utilizados na formação de professores?
Como promover o uso freqüente dos blogs entre os professores?
Quais as particularidades dos blogs que os tornam ferramentas
potenciais para a educação?
8
2. PROBLEMATIZANDO...
...o computador pode enriquecer ambientes de aprendizagem onde o
aluno, interagindo com os objetos desse ambiente, tem chance de
construir o seu conhecimento. Nesse caso, o conhecimento não é
passado para o aluno. O aluno não é mais instruído, ensinado, mas é
o construtor do seu próprio conhecimento. Esse é o paradigma
construcionista onde a ênfase está na aprendizagem ao invés de
estar no ensino; na construção do conhecimento e não na instrução.
[VALENTE, 1992]
A mudança de paradigma exige o apenas o reconhecimento de que
há novas e melhores idéias disponíveis, idéias e práticas que são melhores que
nossas ações habituais. Seja na vida pessoal ou no trabalho, a adequação a
situações novas é difícil demais para qualquer pessoa. E a velocidade das
transformações realizadas nos últimos 30/40 anos é surpreendente e
avassaladora para muitas e muitas pessoas, como podemos perceber a partir
dos escritos do célebre historiador inglês, Eric Hobsbawn.
O século XX foi a era mais extraordinária da história da humanidade,
combinando catástrofes humanas de dimensões inéditas, conquistas
materiais substanciais e um aumento sem precedentes da nossa
capacidade de transformar e talvez destruir o planeta – e até de
penetrar no espaço exterior. [HOBSBAWN, 2007]
E em educação, a alteração do paradigma instrucionista para o
construcionista, mencionado por JoArmando Valente em seu texto “Por que
9
o computador na educação?”, nos chama a atenção para as dificuldades ainda
maiores de estabelecer a forma de pensar e proceder construcionista que
ainda não foi compreendida e utilizada nos conformes previstos por seus
principais teóricos [Piaget, Vigotsky, Ferreiro] numa sociedade que, a passos
largos e bastante velozes, reestruturou-se e organizou-se inteiramente com
novas e promissoras ferramentas, informatizando-se em praticamente todos os
setores de atuação humana, inclusive na escola, ainda que tardiamente.
Na verdade, a introdução da informática na educação segundo a
proposta de mudança pedagógica, como consta no programa
brasileiro, exige uma formação bastante ampla e profunda do
professor. Não se trata de criar condições para o professor dominar o
computador ou o software, mas sim auxiliá-lo a desenvolver
conhecimento sobre o próprio conteúdo e sobre como o computador
pode ser integrado no desenvolvimento desse conteúdo. Mais uma
vez, a questão da formação do professor mostra-se de fundamental
importância no processo de introdução da informática na educação,
exigindo soluções inovadoras e novas abordagens que fundamentem
os cursos de formação. [ALMEIDA; VALENTE, 1997]
Nesse sentido, quando falamos de Tecnologia na sala de aula, o grande
questionamento dos professores continua sendo o “Como usar?”. Essa ainda é,
passados mais de 30 anos desde o surgimento dos primeiros projetos sobre o
uso da informática na educação, a grande pergunta de dez entre dez
educadores.
A História da Informática na Educação no Brasil data de mais de 20
anos. Nasceu no início dos anos 70 a partir de algumas experiências
na UFRJ, UFRGS e UNICAMP. Nos anos 80 se estabeleceu através
10
de diversas atividades que permitiram que essa área hoje tenha uma
identidade própria, raízes sólidas e relativa maturidade. Apesar dos
fortes apelos da mídia e das qualidades inerentes ao computador, a
sua disseminação nas escolas está hoje muito aquém do que se
anunciava e se desejava. A Informática na Educação ainda não
impregnou as idéias dos educadores e, por isto, não está consolidada
no nosso sistema educacional. [ALMEIDA; VALENTE, 1997]
E faz sentido, que na maioria esmagadora dos casos, o educador é
colocado em contato com computadores e Internet sem que a ele sejam dados
elementos para compreender e utilizar de forma adequada essas ferramentas
em sala de aula. E isso certamente faz uma enorme diferença no que tange ao
uso adequado ou inadequado desses elementos na educação.
Só a título de exemplificação, durante seis anos estive trabalhando como
professor e pesquisador numa instituição de ensino superior que têm ótimos
laboratórios de informática, ligados à Internet por banda larga e que
disponibiliza equipamentos multimídia em sala de aula para todos os
professores. E o que foi possível perceber? Basicamente que entre os
educadores prevalece o uso de apresentações em Powerpoint, sem o uso das
possibilidades de interação da rede mundial de computadores [como o acesso
a mapas, a conexão por Skype ou MSN com outros especialistas, a
disponibilização de vídeos ou áudios para os estudantes...].
Entre os alunos, por sua vez, nos laboratórios de ponta, os acessos
principais são ao Orkut [e a portais de relacionamentos], a sites de esporte ou
humor e ainda o uso do MSN. De trabalho prático educacional apenas
11
pesquisas que resultam no velho expediente do “copiar e colar” - sem reflexão,
aprofundamento, engajamento por parte dos estudantes... Isso tudo no
grau...
Utilizar as TIC como suporte à EaD apenas para pôr o aluno diante
de informações, problemas e objetos de conhecimento pode não ser
suficiente para envolvê-lo e despertar nele tal motivação pela
aprendizagem levando-o a criar procedimentos pessoais que lhe
permitam organizar o próprio tempo para estudos e participação das
atividades, independente do horário ou local em que esteja. Conforme
Almeida (2000, p. 79) é preciso criar um ambiente que favoreça a
aprendizagem significativa ao aluno, ''desperte a disposição para
aprender (Ausubel apud Pozo, 1998), disponibilize as informações
pertinentes de maneira organizada e, no momento apropriado,
promova a interiorização de conceitos construídos''. [ALMEIDA,
2003].
Em qualquer circunstância, principalmente naquelas em que as TICs são
utilizadas com finalidades pedagógicas [como em EaD
3
Ensino a Distância
como mencionado no trecho destacado do artigo da professora e pesquisadora
Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, da PUC-SP], os recursos tecnológicos
não podem ser usados apenas como fontes de informação, atividades e
proposição de problemas. As tecnologias devem ensejar e convidar, a partir do
planejamento e proposição dos educadores que coordenam atividades e
3
EAD é a sigla referencial para Ensino a Distância. Modalidade que pode ser desenvolvida
exclusivamente à distância ou que pode estar associada a cursos presenciais ou semipresenciais como
ponto de complementação e apoio ao processo de ensino-aprendizagem. Estrutura-se em plataformas
como o Teleduc, o Moodle, o Breeze (da Macromedia) ou o Blackboard. Utiliza desde ferramentas
básicas da web como e-mails, fóruns e chats até, em alguns casos, elementos mais sofisticados como
videoconferência. O surgimento de novos recursos como podcasts, vídeos onstream e as wikis es
tornando as possibilidades em EAD ainda mais poderosas. Além dessa terminologia também se utiliza
como sinônimo o vocábulo e-learning. [MACHADO, 2008]
12
práticas relacionadas a seu uso, a aprendizagem significativa. Nesse sentido,
atividades diferenciadas que buscam integrar e promover o uso regular das
novas tecnologias de informação e comunicação nas escolas surgem,
felizmente, todos os dias. A pressão da sociedade, o notável crescimento das
redes e surgimento de novos recursos, a criatividade dos professores e o
interesse marcante dos alunos pelos computadores e pela Internet estão
compelindo as escolas a caminhar, sem volta, para a adoção em larga escala
das Tecnologias de Informação e Comunicação em sala de aula. Vejam o caso
do Colégio Dante Alighieri, de São Paulo, apresentado a seguir, bastante
significativo para mostrar que é possível integrar os computadores e a Internet
ao cotidiano educacional e seus projetos pedagógicos.
No auditório do Colégio Dante Alighieri, uma das escolas particulares
mais tradicionais de São Paulo, próximo à Avenida Paulista, cerca de
60 alunos do 6º ano aguardam ansiosamente que a ligação pelo
Skype seja atendida. Cercados por câmeras de vídeo, eles se
reconhecem no telão. Assim que a ligação é atendida e os
personagens do outro lado aparecem, a criançada vai ao delírio,
levanta os braços e se agita ao som de gritos disciplinados. Por meio
de webconferência, os alunos conversaram ao vivo com cientistas
brasileiros da Estação Comandante Ferraz, na Antártida. A média de
idade dos alunos era de dez anos. Ao perguntarmos quem
conhecia a ferramenta usada naquele dia o Skype, que faz ligações
pela internet gratuitas ou bem mais baratas do que uma chamada
telefônica normal – a grande maioria levantou as mãos. O Dante é um
colégio de classe média alta e seus alunos costumam ter acesso a
computador e à banda larga em casa. O assunto abordado durante a
13
webconferência havia sido dado em sala de aula, e os pequenos
tinham preparado perguntas para os cientistas. (PACHECO, 2008)
Mas, exatamente como e quando será possível disseminar e tornar
corrente o uso dessas tecnologias em educação no Brasil? Essa questão
fundamental, ainda que tenhamos experiências de uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação brotando pelo país afora, continua de pé. Os
cursos de atualização, formação e de propagação dessas ferramentas ainda
não conseguiram efetivar em ampla escala o uso pedagógico dos
computadores e da Internet nas escolas brasileiras.
Por outro lado, se esses novos softwares ampliam as possibilidades
que o professor dispõe para o uso do computador na construção do
conhecimento, eles também demandam um discernimento maior por
parte do professor e, conseqüentemente, uma formação mais sólida e
mais ampla. Isso deve acontecer tanto no domínio dos aspectos
computacionais quanto do conteúdo curricular. Sem esses
conhecimentos é muito difícil o professor saber integrar e saber tirar
proveito do computador no desenvolvimento dos conteúdos. A nossa
experiência observando professores desenvolvendo atividades de
uso do computador com alunos tem mostrado que os professores não
têm uma compreensão mais profunda do conteúdo que ministram e
essa dificuldade impede o desenvolvimento de atividades que
integram o computador. [ALMEIDA; VALENTE, 1997]
E, na esteira deste incômodo e presente insucesso vamos ficando cada
vez mais para trás, com os educadores conformando-se, na maioria dos casos,
apenas em usar os recursos mais básicos e elementares dessas poderosas
ferramentas com as quais estão tendo contato. Softwares aplicativos e
14
navegadores de internet prevalecem entre os recursos mais utilizados nas
escolas, e para piorar, não compatibilidade nem mesmo entre o uso desses
programas introdutórios a informática e os projetos e ações desenvolvidas em
sala de aula.
O que dizer então dessa vasta gama de produtos e serviços ofertados
mensalmente [para não dizer semanalmente ou mesmo diariamente] pelas
empresas e especialistas que continuamente inventam e reinventam as
Tecnologias de Informação e Comunicação, deixando-as constantemente
“novas”. Blogs, Second Life, Twitter, Meebo, Skype, YouTube, MovieMaker,
iTunes, Windows Live, Google Docs, Internet nas nuvens... As novidades são
tantas, tão diferenciadas e úteis - cada qual na sua especialidade, que vão da
transformação do sistema de e-mails, passando pela forma como organizamos
nossa visualização da internet, envolvendo o trabalho com deos e músicas,
permitindo a ampliação dos sistemas de arquivamento de nossas produções,
viabilizando o acesso cada vez mais veloz a materiais disponibilizados em
qualquer parte do planeta... Que até mesmo para os estudiosos do setor torna-
se difícil acompanhar, o que dizer então dos professores brasileiros, que a tudo
assistem de longe?
As práticas pedagógicas inovadoras acontecem quando as
instituições se propõem a repensar e a transformar a sua estrutura
cristalizada em uma estrutura flexível, dinâmica e articuladora. No
entanto, como isto pode ser possível em projetos de grandes
dimensões que atingem todo um país ou, por outro lado, em escolas
isoladas? A possibilidade de sucesso es em se considerar os
professores não apenas como os executores do projeto, responsáveis
pela utilização dos computadores e consumidores dos materiais e
15
programas escolhidos pelos idealizadores do projeto, mas
principalmente como parceiros na concepção de todo o trabalho.
Além disso, os professores devem ser formados adequadamente
para poderem desenvolver e avaliar os resultados desses projetos.
[ALMEIDA; VALENTE, 1997]
É nesse sentido que ganham vulto e pertinência as afirmações de
Almeida e Valente quando dizem que é necessário “repensar e transformar” as
instituições a fim de torná-las mais “flexíveis, dinâmicas e articuladoras”. E
mais, que isso se a partir da própria redefinição do papel dos professores
nas escolas, deixando de atuar apenas como executores e se tornando
fomentadores, criadores e idealizadores de projetos educacionais. Nesse
sentido, a incorporação das tecnologias, em curso, ao cotidiano das escolas
abre espaço e oportunidades para que as transformações quanto ao novo
profissional que deve ser o professor sejam ainda mais prementes.
Isso significa que, além de repensar todo o processo de trabalho
educacional e recriá-lo, os educadores passam também a ter que formatá-lo a
um novo mundo, em que as Tecnologias de Informação e Comunicação são
parte mais que presente no cotidiano, tendo se tornado praticamente
indispensáveis.
E nessa direção torna-se fundamental que os professores conheçam as
ferramentas tecnológicas que lhes estão sendo concedidas e que também
percebam suas possibilidades para uma real efetivação desses instrumentos
nos processos de ensino-aprendizagem. A proposta de uso dos blogs para a
formação dos educadores, avaliada a partir da experiência desenvolvida com o
16
blog Escolhendo a lula Vermelha surgiu então, com o intuito de apreciar e
avaliar as possibilidades de formação e aperfeiçoamento dos educadores tendo
como ponto de partida uma ferramenta de uso bastante simples e acessível.
O que se almejava era coletar dados e informações que demonstrassem
se os blogs podem ser usados como ferramentas educacionais, quais seriam
suas possibilidades de uso, se seria possível tornar freqüente a sua utilização
pelos professores e ainda quais seriam as ferramentas encontradas nos blogs
que os tornariam passíveis de uso pelos educadores. Para tanto, a premissa
inicial passou a ser a de que a utilização para a formação dos professores, num
primeiro momento, os familiarizaria com os blogs e com aspectos gerais das
Tecnologias de Informação e Comunicação e que, posteriormente, seu uso e
aplicação se disseminaria com o surgimento de experiências individuais e/ou
grupais de utilização dos blogs em educação [para a troca de informações e
dados entre os educadores, estruturando uma rede através da qual as escolas
se comunicassem entre si e também com a comunidade].
17
3. OBJETIVOS
A presente tese tem como propósito demonstrar que o uso de blogs na
formação de professores pode gerar melhor compreensão e maior utilização
das Tecnologias de Informação e Comunicação como instrumento de
aperfeiçoamento e aprofundamento dos referidos profissionais de educação e
que, como repercussão, isso irá orientar esses educadores para uma
reutilização dessa ferramenta em seu trabalho educacional regular, tanto para
o intercâmbio com outros profissionais quanto para as atividades relacionadas
diretamente a seus alunos. Nesse ínterim os blogs são compreendidos
enquanto ferramenta, a partir da conceituação técnica apresentada abaixo, de
autoria da pesquisadora Carolina Frazon Terra.
“Weblog” é uma palavra de origem inglesa composta das palavras
“web” (página da internet) e “log” (diário de bordo), mais conhecida
como “blog”. Essas páginas vêm com espaços para comentários
(posts). Os blogs têm templates
4
prontos, de modo que o usuário
não precisa entender de tecnologia ou de linguagem de programação
para montar seu próprio site. O usuário dessa página é chamado de
“blogueiro” (“blogger”, do inglês) e o universo em que se inserem
essas páginas da Internet ganhou também um nome: “a
blogosfera”. [TERRA, 2008]
Mas, como usar um blog com finalidades educacionais? E mais
especificamente, na formação de professores? Para a troca de idéias e
experiências entre educadores? Como veículo de informação não formal
4
Templates são páginas prontas, auto-explicativas, que o usuário constrói e edita conforme as opções
oferecidas pelo site onde o serviço é oferecido.
18
relativamente a temas de interesse da educação? A tese aqui desenvolvida
surgiu a partir de reflexões quanto a questões como essas e, consolidou-se a
partir do exame de referências diversas [bibliográficas, jornais, revistas, artigos
científicos, Internet] e, principalmente, com a criação do blog Escolhendo a
Pílula Vermelha, direcionado a educadores, que teve como principal propósito,
identificar, na prática, como funcionam essas ferramentas quando criadas com
finalidades pedagógicas.
19
4. METODOLOGIA
Para conseguirmos realizar a construção pertinente e ponderada da
presente tese e comprovar seus objetivos, foi necessária a utilização de bases
conceituais e metodológicas referenciadas em alguns autores e suas linhas de
pesquisa e pensamento. Nesse sentido, é importante destacar que o respaldo
e o embasamento obtidos com a referenciação na pesquisa-ação, no estudo de
caso e também através de paralelos em relação ao filme Matrix [1999], dirigido
pelos Irmãos Andy e Larry Wachowski, foram elementos decisivos para a
leitura, a compreensão e a análise das práticas, ações e discursos destacados
ao longo dessa produção escrita.
A pesquisa-ação permitiu que ocorresse o desencadeamento das
realizações através da internet que uniram profissionais da educação ao
pesquisador responsável por essa tese no projeto que referencia a mesma, ou
seja, o blog Escolhendo a Pílula Vermelha.
Parece unânime considerar que a pesquisa-ação tem suas origens
nos trabalhos de Kurt Lewin, em 1946, num contexto de pós-guerra,
dentro de uma abordagem de pesquisa experimental,de campo. Suas
atividades com pesquisa-ação foram desenvolvidas quando
trabalhava junto ao governo norte-americano. Suas pesquisas iniciais
tinham por finalidade a mudança de hábitos alimentares da população
e também a mudança de atitudes dos americanos frente aos grupos
éticos minoritários. Pautava-se por um conjunto de valores como: a
construção de relações democráticas; a participação dos sujeitos; o
reconhecimento de direitos individuais, culturais e étnicos das
minorias; a tolerância a opiniões divergentes; e ainda a consideração
20
de que os sujeitos mudam mais facilmente quando impelidos por
decisões grupais. Suas pesquisas caminhavam paralelamente a seus
estudos sobre a dinâmica e o funcionamento dos grupos. Sua forma
de trabalhar a pesquisa-ação teve grande desenvolvimento nas
empresas em atividades ligadas ao desenvolvimento organizacional.
[FRANCO, 2005]
Quanto ao estudo de caso, deve-se destacar seu papel fundamental no
que tange ao acompanhamento, planejamento, organização, coleta e análise
dos dados.
Na posição de Lüdke e André, o estudo de caso como estratégia de
pesquisa é o estudo de um caso, simples e específico ou complexo e
abstrato e deve ser sempre bem delimitado. Pode ser semelhante a
outros, mas é também distinto, pois tem um interesse próprio, único,
particular e representa um potencial na educação. Destacam em seus
estudos as características de casos naturalísticos, ricos em dados
descritivos, com um plano aberto e flexível que focaliza a realidade de
modo complexo e contextualizado. [VENTURA, 2007]
Nesse sentido é de fundamental importância destacar como importante
elemento do estudo de caso seu destacado cunho descritivo, que não descarta
a necessidade de análise profunda e interrogativa quanto à questão em
análise. As características desta modalidade de pesquisa se superpõem
àquelas próprias da pesquisa qualitativa, conforme as descreve o estudo de
Jonas Rodrigo [2008]:
21
- Os estudos de caso objetivam a descoberta: o investigador se
manterá atento a novos elementos que poderão surgir, buscando
novas respostas e novas indagações no desenvolvimento do seu
trabalho.
- Os estudos de caso enfatizam a interpretação contextual: para
melhor compreender a manifestação geral de um problema, deve-se
relacionar as ações, os comportamentos e as interações das pessoas
envolvidas com a problemática da situação a que estão ligadas.
- Os estudos de caso têm por objetivo retratar a realidade de forma
completa e profunda: o pesquisador enfatiza a complexidade da
situação procurando revelar a multiplicidade de fatos que a envolvem
e a determinam.
- Os estudos de caso usam várias fontes de informação: o
pesquisador recorre a uma variedade de dados, coletados em
diferentes momentos, em situações variadas e com uma variedade de
tipos de informantes.
- Os relatos do estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma
mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa, ou seja, os
resultados de um estudo de caso podem ser conhecidos por diversas
maneiras: a escrita, a comunicação oral, registros em vídeo,
fotografias, desenhos, slides, discussões etc. Os relatos escritos
apresentam, em geral, um estilo informal, narrativo, ilustrado por
figuras de linguagem, citações, exemplos e descrições. [RODRIGO,
2008]
Cabe, no entanto, destacar que a utilização do estudo de caso e da
pesquisa-ação, orientada, em especial pela obra Metodologia da Pesquisa-
Ação, de Michel Thiollent [2005], tiveram que ser orientadas a um novo e
incisivo espaço de atuação humana, as redes virtuais de comunicação. Nesse
22
sentido, a teoria esboçada e pensada para o mundo real é transportada para
outra dimensão, atemporal e que dispensa o encontro e contato físico entre as
pessoas que comunicam idéias e trocam informações.
No que se refere ao Estudo de Caso, para uma melhor compreensão
das diretrizes que orientam a presente tese, partimos da definição do professor
Antonio Chizzotti, a saber:
O estudo de caso é uma caracterização abrangente para designar
uma diversidade de pesquisas que coletam e registram dados de um
caso particular ou de vários casos a fim de organizar um relatório
ordenado e crítico de uma experiência, ou avaliá-la analiticamente,
objetivando tomar decisões a seu respeito ou propor uma ação
transformadora. O caso é tomado como unidade significativa do todo
e, por isso, suficiente tanto para fundamentar um julgamento
fidedigno quanto propor uma intervenção. É considerado também
como um marco ou referência de complexas condições socioculturais
que envolvem uma situação e tanto retrata uma realidade quanto
revela a multiplicidade de aspectos globais, presentes em uma dada
situação. [CHIZZOTTI, 2005]
No que tange a Metodologia da Pesquisa-Ação, em que o trabalho é
estruturado visando à participação cooperativa de terceiros [no caso
professores] houve o ensejo e incentivo juntamente ao grupo de educadores
de Bauru ao uso das ferramentas das Tecnologias de Informação e
Comunicação através da disponibilização de materiais pedagógicos e
noticiosos destacados e também pelo exercício constante de resposta e troca
de informações através do blog Escolhendo a Pílula Vermelha pelo
23
pesquisador responsável pelo estudo em questão. Nesse sentido destacamos
a seguir a concepção de pesquisa-ação que orienta o presente projeto.
A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que
é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou
com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores
e os participantes representativos da situação ou do problema estão
envolvidos de modo cooperativo e participativo. [THIOLLENT, 2005]
É igualmente importante esclarecer a relação do projeto com Matrix, que
tornou a referida produção cinematográfica também um referencial nesta tese.
A inserção do filme se fez necessária e presente na forma do contraponto a
tecnologia, ou seja, destacando a necessidade da reflexão quanto ao uso de
todo e qualquer recurso oriundo das Tecnologias de Informação e
Comunicação e sua inserção no processo de ensino-aprendizagem, seja na
formação de professores ou em suas repercussões no trabalho em sala de
aula.
Traçar paralelos com Matrix, produção cinematográfica de grande
repercussão mundial e que deu origem a duas seqüências [Matrix Reloaded e
Matrix Revolutions, ambas também dos irmãos Wachowski] foi alternativa
pensada a partir do próprio título do blog Escolhendo a Pílula Vermelha. Os
estudos realizados anteriormente quanto às possibilidades de uso do cinema
na escola, a imersão na pesquisa sobre tecnologias, a compreensão de que os
computadores e a Internet compõem uma realidade presente e futura em
relação às quais todos terão que pensar e usufruir aliados ao conteúdo
explosivo, questionador e instigante da primeira parte da trilogia estrelada por
Keanu Reeves, Carrie Anne-Moss e Laurence Fishburne me fizeram crer que
as analogias seriam de grande valor para o presente trabalho.
24
As referências contidas em Matrix, que abragem desde Platão e
Descartes até Religião e Cybercultura [apenas para mencionar alguns
subsídios apresentados e trabalhados no referido filme] servem como
contraponto e auxiliam a fomentar um debate que é de fundamental
importância nesse momento em que a inserção das Tecnologias de Informação
e Comunicação parece tão certa e primordial a todos quanto, por exemplo, o
preservacionismo e o conservacionismo.
Matrix e a análise dessa produção fílmica representam, portanto, no
ínterim dessa tese, a voz de uma consciência oculta, que ao mesmo tempo em
que advoga e traz a tona as TICs, tenta nos abrir os olhos para a condição
humana, a prevalência dos valores do humanismo, a crença e busca de uma
sociedade que usufrua de todos os recursos tecnológicos criados ou que ainda
virão sem que se perca de vista a proeminência do homem e da natureza.
Também nos detivemos no estudo e análise da produção de estudiosos
e teóricos especializados no uso das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação [NTICs ou TICs] que esclarecem e orientam nosso olhar quanto
à pertinência e as possibilidades de ferramentas como os computadores e a
internet.
O instrumento das novas tecnologias da informação (NTI) não é
apenas mais uma forma de ilustrar as aulas dos professores com
informações que entram das formas mais diferenciadas pelos cinco
sentidos dos alunos. Os recursos audiovisuais tinham essa função no
início do século XX e aí residia toda a sua valorização. Já as NTI são,
elas próprias, as formas de conhecimento, pois criam uma nova
linguagem e novos conteúdos plásticos de nossos processos mentais.
Uma rede de computadores pode vir a ser uma inovação de
25
qualidade, criar uma documentação sobre o modo de pensar e os
produtos cognitivos de professores e alunos, que poderão produzir
uma nova formação de educadores, além de uma nova estrutura de
conhecimento, um novo paradigma educativo e uma função de
educador que crie uma nova profissão de pedagogo. [ALMEIDA,
2001]
E que conceito e consciência temos quanto ao uso dessas tecnologias
no âmbito escolar? O que esperamos das mesmas? O que pensamos sobre
elas? Como deve ser a inserção de tais equipamentos na sala de aula? Como
funcionam e para que servem? As experiências e estudos desenvolvidos por
expoentes nacionais e estrangeiros como José Armando Valente, Maria
Elizabeth Bianconcini Almeida, Gilson Schwartz, José Manuel Moran e
Fernando José de Almeida ou estrangeiros como Edgar Morin, Pierre Levy e
Manuel Castells auxiliam a compreensão e orientam o olhar especificamente
no tocante a questão das Tecnologias de Informação e Comunicação no
âmbito educacional, abreviando caminhos e permitindo que o entendimento
acerca do uso dos blogs em educação se cristalize com maior facilidade.
26
5. A INTERNET, UMA TECNOLOGIA DA LIBERDADE?
“Matrix é a história de rebeldes que lutam contra um ‘mundo que foi
colocado à frente dos seus olhos para cegá-lo diante da verdade’. A
verdade é que existem ‘inúmeros campos em que os seres humanos
não mais nascem; somos alimentados’ para servir de bateria e
fornecer energia às inteligências artificiais (IAs). As IAs até
‘liquefazem os mortos para que sejam injetados na veia dos vivos’.
Mas a mente desses humanos enxerga apenas a Matrix, ‘uma
simulação neurointerativa, (...) um mundo de sonho gerado em
computador, feito para nos controlar’. ‘bilhões de pessoas que
simplesmente levam a vida, inconscientes’ desses fatos, que
acreditam ‘estar em 1999 quando na verdade estão perto de 2199’”
[HANSON, 2003]
Hanson nos coloca o dilema de Matrix e da submissão dos seres
humanos aos sistemas eletrônicos e cibernéticos, regidos por Inteligências
Artificiais [AIs]. De acordo com a ficção científica [ou realidade?] somos seres
inconscientes, estimulados por simulações neurointerativas e garantimos, com
nossa energia vital, o funcionamento de sistemas computadorizados que nos
escravizam. o seria então, agora, o momento de reflexão e plena
compreensão das Tecnologias de Informação e Comunicação para que tal
realidade nefasta não venha a se concretizar [isto é, se ela não está em
andamento, como se propõe em “Matrix”?].
A Internet é de fato uma tecnologia da liberdade mas pode libertar
os poderosos para oprimir os desinformados, pode levar a exclusão
dos desvalorizados pelos conquistadores do valor. Nesse sentido
geral, a sociedade não mudou muito. Mas nossas vidas não são
27
determinadas por verdades transcendentes, e sim pelos modos
concretos como vivemos, trabalhamos, prosperamos, sofremos e
sonhamos. Assim, para agirmos sobre nós mesmos, individual e
coletivamente, para sermos capazes de utilizar as maravilhas da
tecnologia que criamos, encontrar sentido em nossas vidas, melhorar
a sociedade e respeitar a natureza, precisamos situar nossa ação no
contexto específico de dominação e libertação em que vivemos: a
sociedade de rede, construída em torno das redes de comunicação
da Internet. [CASTELLS, 2003]
Manuel Castells, por sua vez, ao afirmar que a tecnologia que criamos
está além do nosso entendimento - já nos dá claras pistas dos dramas e
dilemas que temos que enfrentar daqui para frente em todos os campos de
atuação humana, entre os quais, com grande destaque, também a educação.
Criamos mecanismos, sistemas, redes, estruturas, softwares e inúmeros
recursos que nos dão suporte, possibilidades e asas para voar muito alto...
O problema, a princípio, é que nos faltam os manuais de instrução. Até
temos esses livros, mas não os lemos e estudamos com a devida atenção
antes de alçar nossos vôos... Por esse motivo, a possibilidade de cairmos, de
errarmos a rota, de colocarmos em risco a nossa vida e a de outras pessoas
que estejam embarcando nessas viagens conosco ou ainda a chance que
temos de nem mesmo conseguir decolar são bastante grandes. Nesse ínterim
estamos abrindo espaço para que de criadores e usuários das TICs nos
tornemos reféns e escravos das tecnologias, como apresentado no filme dos
Irmãos Wachowski.
É essencial estudar, pesquisar, entender, verificar alternativas,
desvencilhar os caminhos que se colocam a nossa frente e saber como utilizar
28
as Tecnologias de Informação e Comunicação. Nesse sentido é válido
respaldar e referenciar a necessidade de utilizar com sabedoria e autonomia os
recursos das TICs como destaca a professora e pesquisadora Maria Elizabeth
Bianconcini Almeida.
A formação de educadores para a incorporação da TIC à prática
pedagógica parte de pressupostos voltados para a mudança da
escola favorecida pela apropriação e utilização pedagógica dessa
tecnologia, de modo a propiciar ao formando condições de
desenvolver crítica e reflexivamente um estilo próprio de atuar com a
tecnologia baseado na espiral de aprendizagem descrita por Valente
como descrição-execução-reflexãodepuração (Valente, 1999), na
qual a intervenção de um agente de aprendizagem é essencial para
provocar a reflexão e a depuração do processo em desenvolvimento
e propiciar a aprendizagem. [ALMEIDA, 2002]
Se desenvolvermos nossa inteligência, também nossa sabedoria e
capacidade criativa terão sido aumentadas, pelo menos é isso que a maioria
das pessoas pensa... Ledo engano, mais informação, mesmo quando
transformada em conhecimento não constitui sabedoria se a sua utilização não
ocorrer a partir de procedimentos pensados, pautados em reflexão. E toda e
qualquer ponderação deve levar em consideração as variáveis do mundo em
que estamos inseridos, que permitam o cruzamento criativo de dados dos
vários recursos e saberes que possuímos e adquirimos ao longo do tempo...
Mas o que significa ser criativo em nossa sociedade. De acordo com
Howard Gardner:
O (sujeito) criador se sobressai em termos de personalidade,
temperamento e ponto de vista. Está constantemente descontente
29
com os padrões mais comuns. Nada em direções pouco conhecidas
e gosta, ou pelo menos aceita o fato de ser diferente da multidão.
Quando surge alguma coisa anormal (um acorde musical diferente,
um resultado experimental inusitado, o aumento ou a queda na
venda de produtos em mercados desconhecidos), ele não recua
diante da surpresa. Quer entender e determinar se constitui um erro
trivial, um acaso raro ou uma importante, mas até agora
desconhecida, verdade. Ele é confiante e resoluto. Há uma razão
para que tantos criadores famosos odeiem ou larguem a escola -
eles não gostam de marchar na cadência dos outros...
[GARDNER,
2007]
E é justamente nesse ponto que as afirmações de Castells [2003],
Almeida [2008] e Gardner [2007] se complementam e se encontram, passando
a ter sentido, ou seja, esclarecendo que temos tecnologias, o que significa
dizer que nossas inteligências nos legaram crescimento e prosperidade
material e técnica, alertando, porém para o fato de carecermos de maior
entendimento de todos esses recursos, de maior sabedoria na utilização dos
mesmos, faltando-nos maior aprofundamento.
30
5.1. O Pensamento Pedagógico e as Tecnologias
O pensamento pedagógico está sendo construído de forma sistemática
desde o surgimento das primeiras civilizações da Antiguidade, em especial a
partir do advento da cultura clássica Greco-romana. Desde os filósofos pré-
socráticos, sobrevivendo ao obscurantismo medieval, sendo revivida com o
surgimento das universidades européias a partir do século XI, ganhando vigor e
força com o movimento renascentista e consistência a partir das revoluções
burguesas que a sistematizaram, a educação é uma área de atuação humana
que não tem fórmulas definitivas e consensuais.
caminhos diversos e, a partir do século XX, alguns parâmetros e
definições acabaram surgindo e norteando o trabalho dos professores.
Expoentes em educação surgiram e consolidaram pesquisas, estudos e linhas
de pensamento que fomentaram a ação pedagógica desde então. Entre eles é
possível destacar a obra de estudiosos como John Dewey e a valorização da
problematização e da participação dos estudantes no processo de ensino-
aprendizagem, Paulo Freire e sua proposição de uma pedagogia libertadora e
questionadora, Michael Apple e suas discussões relativas a um currículo
socialmente engajado e Edgar Morin com a sua teoria da complexidade,
necessária para compreender um mundo globalizado e em processo de
virtualização.
Ainda que alguns dos grandes educadores do século XX, como Dewey e
Freire, não tenham vivenciado e/ou realizado experiências com as Tecnologias
de Informação e Comunicação em educação, através de suas teorias
conseguiram criar bases e fundamentos que explicam e se relacionam a
31
inserção e uso desses recursos na educação do terceiro milênio. Outros - como
Apple, - e Morin são contemporâneos das tecnologias e, certamente ajudam
a compreender, de forma evidenciada ou não, a importância e a premência das
tecnologias para a educação.
John Dewey, por exemplo, acreditava que escolas que atuam dentro de
uma linha de obediência e submissão não são efetivas quanto ao processo de
ensino-aprendizagem. Entre seus conceitos destacam-se idéias como a defesa
da escola pública, a legitimidade do poder político e a necessidade de
autogoverno dos estudantes. Sua obra alinhava-se com o pensamento liberal
norte-americano e influenciou vários países, inclusive o movimento da Escola
Nova no Brasil.
Nesse sentido Dewey antecipa e orienta nosso olhar para ações e
práticas relacionadas à educação à distância, a busca do conhecimento de
forma independente e autogovernada, preconiza a idéia da interação que
podemos verificar e entender também através do universo virtual.
...não só a vida social requer ensino e aprendizagem para a sua
própria permanência, mas o próprio processo de vida em comum é
educativo, alargando e clarificando a experiência, estimulando e
enriquecendo a imaginação, criando responsabilidade para o rigor e
vivacidade no pensamento e afirmação. Um ser humano que viva
sozinho (mental e fisicamente) terá muito pouca ou nenhuma ocasião
para refletir sobre a sua experiência passada, e retirar daí o seu
significado. A desigualdade ao nível das competências entre os
elementos adultos e os elementos ainda imaturos, torna necessária
que não os mais novos sejam ensinados, mas a própria
32
necessidade de ensinar um enorme estímulo para reduzir a
experiência a uma ordem de grandeza e forma, que a tornará mais
facilmente comunicável e portanto mais útil. [DEWEY, 2006]
A experiência de Dewey na Universidade de Chicago em 1894 ainda
permite traçar outros paralelos com o uso das tecnologias na educação, mais
de um século depois de seus estudos. Seus estudos em Chicago permitiram
que ele superasse o pensamento idealista e adotasse uma linha mais prática e
empírica baseada na Teoria do Conhecimento, de bases pragmáticas. E esse
pragmatismo, relacionando estudo e aprendizagem a incorporação de saberes
que tenham utilidade prática no mundo real é uma das características das
pessoas que buscam informações através da Internet para implementar e
melhorar suas produções no mundo real.
A escola tem também a função de coordenar as diversas influências,
no caráter de cada indivíduo, dos vários meios sociais de que faz
parte. Na família prevalece um código; na rua, outro; um terceiro na
oficina ou na loja; um quarto na congregação religiosa. Quando a
pessoa muda de um meio para outro, fica sujeita a forças
antagônicas, e corre o risco de se desintegrar num ser com diferentes
padrões de juízo e emoção em diferentes ocasiões. Este risco obriga
a escola a uma prática estabilizadora e integradora. [DEWEY, 2006]
Dewey continuou a conceber, através de suas reflexões da primeira
metade do século XX, elementos que encontram eco nos modernos sistemas
virtuais de troca de informações, como os blogs, que se pautam nos
princípios de livre expressão de idéias e divulgação das mesmas através da
rede mundial de computadores. Condição essa que se torna possível caso
33
existam os elementos da educação formal a orientar a concepção e
comunicação de conteúdos, idéias, mensagens e informações - de qualquer
natureza – por parte do emissor das referidas mensagens.
A Sociedade não só tem continuidade por transmissão e por
comunicação, mas poderemos mesmo dizer que ela existe na
transmissão e na comunicação. Há mais do que uma simples ligação
verbal entre as palavras comum, comunidade e comunicação. Os
homens vivem em comunidade em virtude daquilo que têm em
comum; e a comunicação é o modo através do qual eles passam a ter
coisas em comum. Para que formem uma comunidade ou sociedade
os homens devem ter em comum objetivos, convicções, aspirações,
conhecimento - uma compreensão comum - no sentido do senso
comum como diriam os sociólogos. Tais coisas não podem ser
passadas fisicamente de um para o outro, como se passam tijolos;
não podem ser partilhadas da mesma forma que as pessoas
partilham uma torta, dividindo-a em fatias. A comunicação necessária
à compreensão comum participada é aquela que garante uma
formação similar em termos emocionais e intelectuais - ou seja,
modos semelhantes de responder às expectativas e exigências da
comunidade. [DEWEY, 2006]
O pragmatismo de Dewey encontra ressonância no trabalho do
educador e pesquisador Antoni Zabala, que destaca a necessidade do
conhecimento aplicado, ou seja, do saber que possibilita ação, uso, prática,
crescimento e liberdade a quem o adquire. Não basta apenas a formação de
teóricos especializados, através de seus escritos e proposições, Zabala
defende a formação e especialização em diferentes níveis como o técnico, o
tecnológico e o universitário - com a valorização de cada um deles, com
34
destaque para aqueles que preparam os estudantes para o exercício de
funções técnicas. Preza, portanto, o desenvolvimento de habilidades e
competências que permitam a emancipação social e intelectual dos indivíduos
sem definir que isso deva acontecer apenas aos que atingirem o Olimpo
acadêmico.
Queremos pessoas que sejam competentes, e a competência es
ligada à capacidade de uso do conhecimento, e não de seu
armazenamento. Conhecimento aplicado é o mais importante. A
pessoa competente aplica o que conhece. Atitude, conhecimento e
liberdade isso é o que forma, realmente, alguém importante.
[ZABALA, 2005]
O posicionamento de Zabala, nesse sentido, além de enaltecer e
valorizar o conhecimento aplicado e o desenvolvimento de competências,
preconiza a criação de condições para que as pessoas busquem
conhecimento, tenham atitude e utilizem de forma consciente e plena suas
liberdades. Atitudes e ações que têm relação estreita com a utilização da
Internet como fonte provedora de espaços e possibilidades de inserção,
esclarecimento, proposição, intercâmbio e/ou criação de idéias. O que é
passível apenas a partir do momento em que o usuário dos recursos virtuais
demonstre e aja de forma autônoma, com domínio e compreensão plena das
ferramentas e dos saberes provenientes da educação escolar [adaptados as
suas necessidades e ensejos] e, em especial, com a demonstração de que é
altivo, ou seja, de que se trata de pessoa com atitude para não apenas ser
mais um usuário da rede e, sim, um pensador em escala planetária.
35
E até mesmo para que isso aconteça, torna-se essencial que as pessoas
aprendam além daquilo que a educação escolar lhes oferece, dando a todos e
a cada um a possibilidade de compreender não apenas os conceitos formais,
mas também o que ainda não foi formatado e concebido culturalmente dentro
de padrões científicos e acadêmicos. Nesse sentido cabe resgatar o
pensamento de Edgar Morin e seus sete saberes essenciais para o futuro da
humanidade, em especial, a capacidade de compreender.
Nunca se ensina sobre compreender uns aos outros, como
compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos pais. O que
significa compreender? A palavra compreender vem de
compreendere em latim, que quer dizer: colocar junto todos os
elementos de explicação, quer dizer, não ter somente um elemento
de explicação, mas diversos. (...) compreender não só os outros
como a si mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a
auto-justificação, pois o mundo está cada vez mais devastado pela
incompreensão que é o câncer do relacionamento entre os seres
humanos. [MORIN, 2008]
A compreensão das diferenças essenciais entre as pessoas e os
universos em que vivem amplia-se enormemente com a propagação em
quantidades cada vez maiores de informações através da rede mundial de
computadores. Nesse sentido o crescimento da blogosfera é elemento de
essencial importância que esse universo virtual é construído a partir da ação
de elementos que não são controlados por instituições ou delimitados quanto à
apresentação de suas idéias e pensamentos por qualquer tipo de corporação
ou governo [ao menos não de forma intencional], a não ser no caso de blogs
corporativos, empresariais, comerciais ou governamentais.
36
Essa liberdade, aliada ao fato de que, a despeito da apresentação de
dados verdadeiros [ou falsos] a respeito das pessoas na web, existe um
“anonimato” ou impessoalidade e frieza na disponibilização do que se pensa ou
acredita através do computador e da internet, ampliam as possibilidades de
expressão mais livre e despreocupada de informações e pensamentos do que
no mundo real. Isso vai de encontro ao pensamento de Morin ao permitir que
as pessoas, ainda que escondidas atrás de seus micros, falem de si mesmos,
de seus universos, de suas relações pessoais, do trabalho que realizam, dos
estudos que estão desenvolvendo, dos pensamentos que povoam suas
cabeças,...
Ainda em Edgar Morin há o destaque necessário a idéia de que vivemos
em um mundo totalmente sem fronteiras, menor em escala do que aquilo que
vemos ou mensuramos ao vislumbrar o planisfério e imaginar suas dimensões
reais. A globalização que derruba fronteiras é outro aspecto relevante entre as
questões levantadas por Morin que nos ajuda a compreender como e por que a
internet e a blogosfera são elementos-chave do mundo em que vivemos.
O sexto aspecto é a condição planetária, sobretudo na era da
globalização no século XX, que começou, na verdade no século XVI
com a colonização da América e a interligação de toda a
humanidade, esse fenômeno que estamos vivendo hoje em que tudo
está conectado, é outro aspecto que o ensino ainda não tocou, assim
como o planeta e seus problemas, a aceleração histórica, a
quantidade de informação que não conseguimos processar e
organizar. [MORIN, 2001]
37
Elemento-chave da condição planetária pensada por Morin, a internet é
também dínamo que alimenta e orienta ações e pensamentos do mundo
globalizado. A informação decorrente da rede mundial de computadores
movimenta mercados, políticas públicas, educação, ciência, artes...
Historicamente formal em seu princípio, em virtude de suas bases
fomentadoras originais como as forças armadas, governos, universidades,
corporações, mercado financeiro, conglomerados de notícias a web em sua
versão 2.0 mostra-se cada vez mais interativa, colaborativa, independente,
participativa e integradora. Se antes dominavam o espaço virtual as
informações destinadas ao grande público por grandes instituições o que
pouco ou nada a diferenciava das mídias que orientavam o pensamento e as
ações globais antes de seu surgimento [como os jornais, as revistas, a
televisão, o rádio...] passaram a ganhar cada vez mais espaço as
participações individuais e independentes.
O pensamento de Michael Apple, por sua vez, pode ser destacado a
partir de suas apreciações em visita a Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo [PUC-SP], no ano de 2007, quando destacou idéias relativas ao conceito
de educação crítica, que considera como princípios norteadores para a
consecução de uma escola democrática. Para começar, defendeu a
necessidade de confrontarmos a negatividade. Nesse sentido esclareceu que
isso significa falar a verdade mesmo que isso nos coloque em oposição ao
poder estabelecido. O que nos desperta para o erro que estamos cometendo
ao nos submetermos ao império dos consensos... Não devemos desconsiderar
as opiniões consensuais, apenas perceber se o estamos exagerando na
38
dose ao não nos permitir a discussão, a contra-argumentação, o confronto de
opiniões, valores e crenças com as dos demais e que, ainda, a falta ou
inexistência desse exercício dialético é extremamente perniciosa para a
educação e para o mundo em geral. Temos que levantar a voz em prol de
posicionamentos diferenciados para que a diversidade volte a existir...
A negatividade a que se refere o professor Apple também decorre da
falta de confiança e de disposição para enfrentar a mesmice do cotidiano
educacional. Os professores preferem as formas consolidadas de trabalho e
pensamento e não se dispõem a tentar alternativas que signifiquem horas e
horas de reflexão, trabalho, planejamento e argüição. Tornam-se, nesse
sentido, os maiores inimigos de si mesmos que preferem a acomodação, a
zona de conforto na qual estão estabelecidos.
Ao ressaltar que a confrontação a negatividade significa o choque com
as estruturas do poder dominante, há também a consideração acerca das
dificuldades e perigos relativos a essa atuação. Somos seres políticos e nossas
opiniões e posicionamentos certamente nos destacarão em meio ao discurso
corrente e nos colocarão em foco. É preciso coragem para assumir os riscos...
A abordagem referente à negatividade por parte de Apple faz parte da
dinâmica proposta para o trabalho com blogs em educação na medida em que
além da utilização da ferramenta a proposição do uso crítico e consciente,
questionador e analítico do espaço virtual. Não se restringindo, portanto, a
presente tese a uma mera avaliação especulativa e isenta do instrumental
conhecido como weblog. O que se pretende, indo além da questão tecnológica,
39
é a identificação desse recurso como mecanismo potencial de troca de idéias,
argumentação, crítica, reordenação do modo de pensar, contestação...
Outro ponto de seu destacado de seu discurso nessa visita a PUC-SP
ressaltou justamente a necessidade de não nos submetermos às teorias da
conformação. Nesse sentido temos que conhecer e ter clareza quanto ao
espaço em que atuamos e analisar a educação a partir de suas contradições. E
o que exatamente significa esse princípio?
Na realidade procura afirmar a necessidade de uma atividade muito mais
politizada e analítica por parte dos educadores quanto ao contexto de trabalho
em que estão inseridos. Pede aos professores que tenham a capacidade de
visualizar e interpretar de forma isenta e distanciada o seu próprio espaço de
trabalho, ao menos momentaneamente, para que consigam perceber a escola
e a educação sem que se deixem envolver pelo cotidiano e suas mazelas.
Ao se utilizarem das Tecnologias de Informação e Comunicação, entre
as quais os blogs, os educadores produzem materiais e os inserem na rede
mundial computadores. Com isso socializam idéias e a permitem o
conhecimento e a reflexão coletiva sobre suas práticas pedagógicas e ação
social. Criam-se então milhares ou, amesmo, milhões de registros acerca de
suas práticas, ações, estudos, realizações, interesses, dúvidas...
Outra idéia de grande destaque proposta por Apple refere-se à
necessidade de recuperarmos a memória coletiva dos povos para manter viva
e acesa a chama de suas particularidades culturais. Sua proposição visa
confrontar a prática neoliberal de silenciar as diferenças e criar um discurso
40
uníssono em que os ditames dos vitoriosos do sistema prevaleçam de forma
unânime. As reminiscências das diferentes origens e culturas, de acordo com
Apple, estão sendo apagadas ou tratadas como curiosidades, exotismos e
extravagâncias. Não é mais permitido se ater a hábitos e práticas que gerações
anteriores tanto utilizaram. Com as pessoas sendo instadas, coletivamente, a
seguir sem qualquer possibilidade de desvio, aos modelos e conceitos
dominantes. Até mesmo quanto a esse quesito o uso de ferramentas como os
blogs acaba adicionando possibilidades e força. Ao extrapolar barreiras
geográficas através da Internet, os educadores podem não apenas buscar
informações ou informar terceiros acerca de questões gerais de seus próprios
países, em especial sobre a educação, mas também podem criar canais de
preservação de suas culturas.
Para que todas essas possibilidades de contestação se firmem cada vez
mais, de acordo com o quinto princípio defendido pelo educador norte-
americano da Universidade de Wisconsin, a criação de estruturas de luta
contra-hegemônicas. Nesse sentido as escolas o espaços privilegiados que
permitem a inserção dessas temáticas no diálogo cotidiano e o
estabelecimento de práticas e ações que permitam que as pessoas não apenas
sejam ouvintes, mas elementos ativos, aliados na busca de melhores dias.
Paulo Freire dizia que a escola deveria ensinar os alunos a “ler o
mundo”. Imaginava que para isso seria necessário respeitar o contexto cultural
e familiar dos estudantes, dando a eles a oportunidade de participar do
processo de ensino-aprendizagem, tendo voz ativa e vislumbrando realidades
41
de ensino nos conteúdos trabalhados que tivessem relação direta com o
mundo em que estavam inseridos.
Admirado em sua obra por Michael Apple, percebem-se pontos
inegáveis de encontro entre as proposições de Freire e do referido educador
norte-americano. Entre as quais, as principais se referem à necessidade da
consciência crítica e da atuação social engajada das pessoas.
Características da Consciência Crítica
1- Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz
com as aparências. Pode-se reconhecer desprovida de meios para a
análise do problema.
2- Reconhece que a realidade é mutável.
3- Substitui situações ou explicações mágicas por princípios
autênticos de causalidade.
4- Procura testar ou verificar as descobertas. Está sempre disposta
às revisões.
5- Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de
preconceitos. o somente na captação, mas também na análise e
na resposta.
6- Repele posições quietistas. É intensamente inquieta. Torna-se
mais crítica quanto mais reconhece em sua quietude a sua
inquietude, e vice-versa. Sabe o que é na medida que é e não na
medida que parece. O essencial para parecer algo é ser algo; é a
base da autenticidade.
7- Repele toda a transferência de autoridade e responsabilidade e
aceita a delegação das mesmas.
8- É indagadora, investiga, força, choca.
9- Ama o diálogo, nutre-se dele.
42
10- Face ao novo, não repele o velho por ser velho, nem aceita o
novo por ser novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.
[FREIRE, 2003]
Paulo Freire constitui uma das fortes referências que embasam o
presente projeto em função de seus pensamentos essenciais. Entre eles, por
exemplo, a necessidade de reflexão crítica sobre a prática docente. Não
como deixar de associar o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação
por parte dos educadores a necessidade de reflexão sobre suas ações,
práticas e pensamentos acerca da educação.
A questão da coerência entre teoria e prática que norteia essa
proposição Freireana é de essencial importância para a inserção dos
professores na rede mundial de computadores. Ao adentrar o universo virtual
abre-se a possibilidade de reflexão sobre a práxis pedagógica associada à
oportunidade de dividir e cambiar dados e informações sobre a mesma com
indivíduos de todo o globo. Nesse sentido a fala do professor precisa se
distanciar o máximo possível da idealização de sua imagem e realização e
aproximar-se o quanto for possível daquilo que realmente pensa e de como
age esse educador.
A prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer.
O saber que a prática docente espontânea ou quase espontânea,
"desarmada", indiscutivelmente produz é um saber ingênuo, um saber
de experiência feito, a que falta a rigorosidade metódica que
caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito. Este não é o
saber que a rigorosidade do pensar certo procura. [FREIRE, 2002]
43
A análise isolada, descontextualizada, incompleta e parcial da obra de
qualquer pensador da educação ou de áreas afins leva a “lugares comuns” ou
ao senso comum quanto à teoria dos mesmos. a título de exemplificação,
basta fazer um levantamento de como os professores brasileiros compreendem
o processo construtivista de ensino. Quantos deles realmente buscaram uma
leitura e um estudo aprofundado das obras referenciais para a aplicação plena
e consciente desses procedimentos em suas salas de aula e escolas?
A utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação nas escolas,
como parte do processo de ensino-aprendizagem não deve ser feita de forma
impune, ingênua. Nesse sentido a referenciação quanto à linkagem entre as
salas de aula do mundo real e o universo virtual proporcionado pela Internet
não pode prescindir de parâmetros e bases pedagógicas que relacionem as
ferramentas e suas possibilidades ao trabalho objetivamente realizado pelos
professores com os alunos. A reflexão acerca do trabalho de Dewey, Freire,
Apple e Morin [e é necessário que essa postura reflexiva se aplique a outros
pensadores e linhas de pesquisa em educação] e os paralelos realizados
quanto a alguns de seus pensamentos e as possibilidades e perspectivas das
TICs é, portanto, parte do trabalho a ser realizado para que a integração dos
computadores e da web se concretize e legue efetividade e ganhos ao
processo de ensino-aprendizagem.
44
5.2. A Internet em rede com o mundo
A internet é o tecido de nossas vidas. Se a tecnologia da informação
é hoje o que a eletricidade foi na Era Industrial, em nossa época a
internet poderia ser equiparada tanto a uma rede elétrica quanto ao
motor elétrico, em razão de sua capacidade de distribuir a força da
informação por todo o domínio da atividade humana. Ademais, à
medida que novas tecnologias de geração e distribuição de energia
tornaram possível a fábrica e a grande corporação como
fundamentos organizacionais da sociedade industrial, a Internet
passou a ser a base tecnológica para a forma organizacional da Era
da Informação: a rede. [CASTELLS, 2003]
O acesso mundial a Internet, desde o seu advento comercial é cada vez
maior, como pode ser verificado na tabela abaixo.
USO MUNDIAL DA INTERNET E ESTATÍSTICAS POPULACIONAIS
Regiões do
Mundo
Uso da
Internet,
% População
Uso
Crescimento
de uso
( 2007 Est
.)
% Mundial
Últimos dados
( Penetração )
% mundial
2000
-
2007
Africa
941,249,130 14.2 %
44,361,940
4.7 % 3.4 % 882.7 %
Ásia
3,733,783,474 56.5 %
510,478,743
13.7 % 38.7 % 346.6 %
Europa
801,821,187 12.1 %
348,125,847
43.4 % 26.4 % 231.2 %
Oriente
Médio
192,755,045 2.9 %
3
3,510,500
17.4 % 2.5 % 920.2 %
América
do Norte
334,659,631 5.1 %
238,015,529
71.1 % 18.0 % 120.2 %
América
Latina e
Caribe
569,133,474 8.6 %
126,203,714
22.2 % 9.6 % 598.5 %
Oceania /
Austrália
33,569,718 0.5 %
19,175,836
57.1 % 1.5 % 151.6 %
TOTAL
MUNDIAL
6,606,971,659 100.0 %
1,319,872,109
20.0 % 100.0 % 265.6 %
Tabela 8: O uso mundial da internet e estatísticas populacionais – Dados auferidos em 31/12/2007
(Fonte: Internet World Stats – http://www.internetworldstats.com/stats.htm).
A rede mundial de computadores estruturou-se a partir dos anos 1990 e
seu advento mudou consideravelmente todos os segmentos de atuação
45
humana. Em alguns setores as mudanças foram mais rápidas e estão
totalmente integradas ao nosso cotidiano, como no caso dos bancos, dos
supermercados, das prestadoras de serviços e das indústrias. Em outros
segmentos, como na educação brasileira, as mudanças ocorrem mais
lentamente.
Dados do IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística],
referentes ao ano de 2007, relativos ao acesso a internet e a quantidade de
brasileiros que possuem computadores pessoais
8
revelam que 27% dos
domicílios do país possuem computadores e que em 76% desses lares se
acessa a Internet.
Nos últimos cinco anos os avanços quanto ao uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação nas escolas tornaram-se mais evidentes e
perceptíveis aos olhos de todos. Especialmente em função do rápido
surgimento de laboratórios de informática, cursos de computação, materiais
específicos para o ensino na área, profissionais especializados de plantão nas
escolas e até mesmo pela proliferação de trabalhos educacionais na Web.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, de acordo com os dados do
Censo Escolar do INEP, de 2006, 85% das escolas públicas de ensino
fundamental e 93,5% das unidades de ensino médio possuem laboratórios
de informática. Esses índices são praticamente equivalentes aos dados
apurados na mesma pesquisa conduzida pelo INEP para as escolas privadas
da capital paulista, em que se constatou que 85% das instituições de ensino
8
Dados disponibilizados a partir do link http://www.ibge.gov.br/paisesat/main.php.
46
fundamental e 96% das escolas de ensino médio possuem laboratórios de
informática.
Não há vidas de que a materialização da escola brasileira equipada
com as facilidades provenientes das Tecnologias de Informação e
Comunicação está acontecendo, de forma gradual. No entanto vale lembrar
que a aquisição e disponibilização de equipamentos e conexões de nada valem
se não se efetivar um trabalho sério, responsável e, principalmente,
pedagogicamente inteligente com todas essas ferramentas.
Estamos numa fase de transição na educação a distância. Muitas
organizações estão se limitando a transpor para o virtual adaptações
do ensino presencial (aula multiplicada ou disponibilizada). Há um
predomínio de interação virtual fria (formulários, rotinas, provas, e-
mail) e alguma interação on-line (pessoas conectadas ao mesmo
tempo, em lugares diferentes). Apesar disso, já é perceptível que
começamos a passar dos modelos predominantemente individuais
para os grupais na educação a distância. [MORAN, 1994]
Colocar computadores nas secretarias da escola sem conectá-los a uma
rede que permita a socialização das informações entre os membros da
comunidade servida por uma escola ou montar laboratórios de informática e
utilizá-los apenas para algumas poucas atividades de pesquisa ou de uso de
CD-ROMs reduz consideravelmente as possibilidades de ganho e crescimento
relacionadas a esses equipamentos.
O computador possibilitou um ambiente de aprendizagem onde,
alunos e professores enfrentam novos níveis de resistência que esta
realidade oferece para sua assimilação. Em sua representação
47
digital, são necessários que novos esquemas de ação e de
representação sejam construídos e reorganizados. Com isto, novos
talentos, atitudes e habilidades são desenvolvidas. Novos patamares
de abstração são atingidos e novos processos de aprender e produzir
conhecimento o experimentados e conhecidos. [MAGDALENA;
MESSA. 1998]
A utilização desses recursos não pode, porém, promover o
esquecimento ou o ocaso de todos os outros instrumentais próprios do trabalho
educacional que vem sendo utilizados até o presente dia. Livros, revistas,
jornais, filmes, lápis, caderno, caneta, borracha, canetinhas coloridas, papel
sulfite, cartolina, tesoura, cola e tantos outros aliados do trabalho dos
professores devem continuar sendo utilizados com regularidade e, de
preferência, em consonância com as práticas relacionadas às Tecnologias de
Informação e Comunicação.
É preciso destacar essa idéia, pois o encantamento pelos computadores
e, especialmente, pela Internet tem ofuscado os outros recursos e, em
determinados casos, a mesmo, sepultado boas idéias, práticas e trabalhos
anteriores associados aos mesmos.
48
5.3. Computadores nas escolas
alguns anos nem desconfiávamos o que iria acontecer num futuro
relativamente próximo quanto à utilização desses equipamentos no cotidiano
das pessoas. Hoje em dia computadores em praticamente todos os setores
produtivos. Investimentos maciços têm sido feitos para que essa tecnologia
chegue aos quatro cantos do mundo. Nesse sentido também um esforço
considerável para que os computadores entrem em definitivo no ambiente
escolar e se tornem ferramentas indispensáveis ao trabalho de professores e
alunos.
Com facilidades para compra, o computador já está presente em mais
de um quarto do total de residências no Brasil. Em 2007, cerca de 15
milhões de domicílios tinham pelo menos um microcomputador, a
maioria deles com acesso à internet, de acordo com a Pnad 2007
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada [em] 18/09 [2008]. O
número representa 27% do total de domicílios no país (56,3 milhões),
mais que os 22,4% de 2006. [BELCHIOR, 2008]
Em países mais ricos e desenvolvidos os projetos relacionados à
utilização da rede mundial de computadores estão sendo aperfeiçoados a partir
de parcerias entre o estado e as empresas privadas para que as novas
gerações de habitantes dessas localidades nasçam praticamente “plugadas”
às tecnologias de informação e comunicação.
Dados referentes a alguns países da América do Norte e Europa quanto
ao acesso a computadores e a Internet disponibilizados pelo IBGE [Instituto
49
Brasileiro de Geografia e Estatística] corroboram a informação anterior. Por
exemplo, no Canadá o percentual de habitantes daquele país que possuem
computador pessoal é equivalente a 87,31% e os índices de acesso a web o
equivalentes a 67,9% [dados relativos a 2005]. Ainda na América do Norte, nos
Estados Unidos as estatísticas também o elevadas. A cada 100 habitantes
daquela nação 76 possuem computadores e 66 acessam a Internet.
Na Europa os dados também são expressivos. Na Holanda 74% da
população utiliza a rede mundial de computadores e 85,5% das pessoas
possuem computadores pessoais. Os alemães estão um pouco abaixo nos
índices, mas 60,5% possuem computadores e 43% acessam a Internet. As
informações consolidadas quanto ao Reino Unido revelam que 76,5% dos
habitantes daqueles países possuem computadores e que 53,7% navegam
pela web.
9
O que se pretende é que esses equipamentos sejam percebidos como
aliados no trabalho e também no cotidiano doméstico.
Professores e alunos se relacionam com a Internet, como se
relacionam com todas as outras tecnologias. Se são curiosos,
descobrem inúmeras novidades nela como em outras mídias. Se são
acomodados, falam dos problemas da lentidão, das dificuldades
de conexão, do lixo inútil, de que nada muda. [MORAN, 1997]
O Estado ou os mantenedores de instituições particulares têm investido
em laboratórios e até mesmo ajudado os professores a comprar equipamentos
9
Dados obtidos a partir do link http://www.ibge.gov/paisesat/main.php.
50
para que esses educadores tenham em suas próprias casas acesso aos
computadores e a Internet. Parte da verba repassada aos municípios para
investimentos em educação tem sido destinada ao aperfeiçoamento das redes
com a instalação de computadores e cursos de utilização dos mesmos em sala
de aula.
Isso pode ser percebido a partir da divulgação de dados como aqueles
que revelam que o acesso a internet ocorre, em grande parte no ambiente
educacional, como auferido através de pesquisa realizada pelos institutos
Ibope e NetRatings que demonstra crescimento nos acessos a web a partir de
escolas entre os anos de 2006 e 2007. Os índices demonstram que as escolas
respondiam por mais de ¼ dos acessos no Brasil [entre 27 e 27,9% em 2006] e
que esse dado cresceu para quase 1/3 dos acessos nacionais [entre 29,3 e
31,5%] no ano seguinte [2007].
LOCAIS DE ACESSO A
INTERNET
Pessoas com 16 anos ou mais
2º Tri. 2006
3º Tri. 2006
4º Tri. 2006
1º Tri. 2007
2º Tri. 2007
3º Tri. 2007
Residência
29,80% 29,40% 30,90% 33,40% 35, 4% 38, 1%
Trabalho
26,40% 25,70% 26,00% 26,70% 26,30% 27,80%
Instituição
Educacional
27,00% 27,20% 27,90% 29,30% 30,30% 31,50%
Outros Locais
21,50% 21,50% 23,50% 24,70% 26,50% 29,70%
Tabela 7: Locais de acesso a Internet no Brasil
(referente a pessoas com 16 anos ou mais) – Fonte: Ibope/NetRatings
Ainda assim, com todo esse esforço sendo feito, muitos e muitos
professores do Brasil inteiro demonstram insegurança em adicionar essa
importante ferramenta de trabalho ao seu uso cotidiano em aulas.
51
Profissionais da educação básica e capacitação com as novas tecnologias
Uso de Computadores - Dados: Brasil - Fonte: MEC/INEP 2003
Já participou mas têm dificuldades para utilizar
15%
Já participou e sabe utilizar
20%
Nunca participou e não sabe utilizar
24%
Nunca participou mas sabe utilizar
23%
Não informado
18%
Tabela 7: Profissionais da educação básica e capacitação
com as novas tecnologias (Fonte Mec/Inep 2003)
Gráfico 5: Profissionais da educação básica e capacitação
com as novas tecnologias (Fonte Mec/Inep 2003)
Os professores precisam acreditar que os computadores não irão
substituí-los e nem, tampouco, que vieram apenas para figurar como um
modismo passageiro nas escolas. Essas máquinas vieram para ficar.
É importante que os educadores percebam as possibilidades e usos das
Tecnologias de Informação e Comunicação. Através dessas ferramentas é
possível fazer relatos de aulas, planejamentos, apresentações, disponibilizar
imagens, mostrar filmes, utilizar músicas, programar pesquisas,... Nada disso,
porém, é possível sem que os educadores descubram essas ferramentas a
52
partir de sua utilização e estudo. Somente assim serão capazes de fazer com
que a escola concretize o seu papel de formação e preparação das novas
gerações para o uso das tecnologias.
Ensinar utilizando a Internet pressupõe uma atitude do professor
diferente da convencional. O professor não é o "informador", o que
centraliza a informação. A informação está em inúmeros bancos de
dados, em revistas, livros, textos, endereços de todo o mundo. O
professor é o coordenador do processo, o responsável na sala de
aula. Sua primeira tarefa é sensibilizar os alunos, motivá-los para a
importância da matéria, mostrando entusiasmo, ligação da matéria
com os interesses dos alunos, com a totalidade da habilitação
escolhida. [MORAN, 1997]
A escola é um dos principais canais de instrumentalização das novas
gerações quanto ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação.
Pensando nisso, por exemplo, é que pesquisadores no mundo inteiro,
orientados pelo projeto de Nicholas Negroponte, do Media Lab, ligado ao MIT
[Massachussets Institute of Technology], criaram as bases do projeto One
Laptop per Child [Um computador por Criança].
É prioritário, no entanto, que nos preocupemos quanto à forma de
utilização dessas ferramentas por nossas crianças. A adoção dos
computadores em larga escala nas escolas blicas nacionais não irá ser
diferencial e proveitosa para a educação se simplesmente se restringir ao
repasse de ferramentas sem que exista um projeto pedagógico inteligente e
aplicável a educação brasileira dando respaldo a essa iniciativa.
53
A informatização gradual das escolas públicas nacionais [constatado a
partir dos dados do INEP apresentados na Tabela 7 e no Gráfico 5], estimulada e
ampliada a partir do Plano de Desenvolvimento da Educação [PDE], lançado
em Abril de 2007, e que, de certa forma, também respaldo ao projeto Um
Computador por Aluno, ao disponibilizar no ambiente escolar as condições
para o acesso a rede, necessita de suporte pedagógico e assistência
permanente por parte de professores capacitados ou de especialistas no uso
desses recursos.
Laboratório de informática escolar nas
escolas de ensino fundamental e médio
Escolas públicas (Todas as redes) 19%
Ensino Fundamental - rede pública 7%
Ensino Médio - rede pública 56%
Escolas privadas de todo o país 62%
Ensino Fundamental privado 56%
Ensino Médio privado 79%
Fonte: Censo Escolar 2006/INEP
Tabela 7: Percentual de escolas públicas ou privadas no Brasil que possuem laboratório de
informática. (Fonte: Censo Escolar 2006, INEP)
Gráfico 5: Percentual de escolas públicas ou privadas no Brasil que possuem laboratório
de informática. (Fonte: Censo Escolar 2006, INEP)
54
Instalar ou dar computadores não irá resolver os problemas da educação
ou garantir melhoria na qualidade no nível de ensino se não existirem projetos
pedagógicos dando retaguarda e orientando os educadores para a utilização
pedagógica destes recursos . É preciso definir com clareza os princípios e
bases de uso dessas tecnologias.
55
5.4. A Blogosfera em números
O estudo dos blogs ou weblogs tornou-se foco dessa pesquisa, em
especial, por uma de suas principais particularidades, a existência de templates
prontos, que facilitam amesmo para qualquer pessoa leiga em programação
a estruturação de um site pessoal dispondo de um arsenal de ferramentas
disponíveis para implementar o uso dessa ferramenta.
As facilidades relativas à construção de blogs os tornaram onipresentes
no universo virtual em escala ascendente. Quem ainda não tem, provavelmente
terá seu próprio weblog num futuro bastante próximo. E esse vaticínio de
muitos especialistas não se refere apenas aos cidadãos comuns. É cada vez
maior o uso profissional desses sites simplificados quanto a sua criação e
editoração, inclusive entre educadores de todas as nacionalidades, mesmo no
Brasil.
Para comprovar essa tendência, seguem os dados relativos ao ano de
2007, disponibilizados pelo site Technorati [www.technorati.com], especializado
no universo dos blogs, informando que:
A blogosfera em Abril de 2007 era composta de 70 milhões de weblogs;
Cerca de 120000 novos blogs eram criados diariamente ou...
1.5 milhões de posts por dia
1.4 blogs criados por segundo
17 posts feitos por segundo
320 dias foram necessários para que a blogosfera subisse de 35 milhões
de páginas para 70 milhões.
56
O interesse dos educadores brasileiros pelos blogs também pode ser
mensurado e, dessa forma, serve como base demonstrar o crescente interesse
por essa ferramenta. O site Blogblogs [www.blogblogs.com.br] especializado
nessas ferramentas e que abriga informações bastante atualizadas sobre esse
segmento do universo virtual brasileiro informa que, em Maio de 2008, há:
321 blogs que tem educação como um de seus tags
12
.
aproximadamente 10 mil postagens em que o termo educação é
mencionado.
206 blogueiros identificam educação como sendo tema de grande
interesse.
289 blogs especializados em educação são indicados como favoritos por
uma ou mais pessoas.
12
Tags são palavras indicadas pelos blogueiros para identificar os temas de interesse mais
relevantes trabalhados em suas postagens.
57
6. ESCOLHENDO A PÍLULA VERMELHA
Morpheus - Você acredita no destino, Neo?
Neo - Não.
Morpheus – Por que não?
Neo - Porque eu não gosto da idéia de que o tenho o controle de
minha vida.
Morpheus - Eu sei exatamente o que você quer dizer. Deixe-me
dizer por que você está aqui. Você está aqui porque tem o dom.
Neo - Que dom?
Morpheus - Eu tenho assistido você, Neo. Você não usa o
computador como uma ferramenta. Você o utiliza como se fosse uma
parte de você. O que você pode fazer dentro de um computador não
é normal. Eu sei. Eu presenciei isso. O que você faz é mágica.
Neo - Não é mágica.
Morpheus - É sim, Neo. É sim. De que outra forma você poderia
descrever o que tem acontecido a você? Nós fomos treinados nesse
mundo para aceitar apenas o que é racional e lógico. Você já pensou
por quê? Quando crianças nós não separamos o possível do
impossível o que explica porque quanto mais jovem é uma mente
mais fácil é para torná-la livre enquanto uma mente como a sua pode
ser muito difícil.
Neo - Livre do que?
Morpheus - Da Matrix. Você quer saber o que é isso, Neo? É
aquele sentimento que você tem ao longo de toda a sua vida. Aquela
58
sensação de que algo de errado no mundo. Você não sabe o que
é, mas está lá, como um estilhaço em sua cabeça, te deixando
maluco, trazendo você até mim. Mas o que é isto? A Matrix está em
todos os lugares, está ao nosso redor, até mesmo nesse quarto. Você
pode vê-la da sua janela, ou em sua televisão. Você a sente quando
vai para o trabalho, ou para a Igreja ou quando paga seus impostos.
É o mundo que foi colocado diante de seus olhos para torná-lo cego
quanto à verdade.
Neo - Que verdade?
Morpheus - Que você é um escravo, Neo. Que você, como todo
mundo, nasceu cativo... Mantido dentro de uma prisão que você não
consegue cheirar, provar ou tocar. Uma prisão para sua mente.
Infelizmente ninguém pode dizer o que é a Matrix. Votem que ver
por si mesmo.
Neo – Como?
[Trecho do roteiro original do filme Matrix”, elaborado pelos irmãos
Andy and Larry Wachowski]
14
No início do mês de abril de 2007 iniciei o estudo acerca dos blogs
educacionais como ferramentas de trabalho, prospecção e intercâmbio de
informações com outros educadores ao criar o blog Escolhendo a Pílula
Vermelha [http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com]. Essa experiência
foi assim batizada em virtude de uma palestra/workshop criada e apresentada
em alguns municípios do estado de São Paulo como parte dos serviços
14
Disponível em http://www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=593.
59
profissionais por mim prestados ao portal educacional Planeta Educação
[http://www.planetaeducacao.com.br].
A escolha do nome “Escolhendo a Pílula Vermelha” relaciona-se ao filme
Matrix [1999], produzido e dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowsky. Essa
produção cinematográfica moderniza o célebre “Mito da Caverna” [ou “Alegoria
da Caverna”] do filósofo grego Platão.
A escolha foi proposital no sentido de indicar que os professores devem
optar por “sair da caverna” ou, mais modernamente e de acordo com a
proposição do filme Matrix, “escolher a pílula vermelha” que os liberta da
escuridão a que estão submetidos no atual momento da história da
humanidade. A desconexão e desinformação quanto ao uso das Tecnologias
de Informação e Comunicação [TICs] demonstra o quanto esses educadores
podem estar alienados e distanciados de tudo aquilo que está acontecendo no
mundo em que vivemos e que, certamente, seus alunos acompanham
praticamente em tempo real.
Matrix é um sistema, no qual estamos todos inseridos e através do
qual somos todos explorados, sendo de nós retirada uma
considerável "mais-valia", um lucro precioso, proveniente de nossa
energia vital, de nossa capacidade de trabalho, criação, fantasia e
prazer. Cabe a Neo desvendar o funcionamento desse sistema
operacional e destruir as bases dessa escravidão contemporânea,
para isso, acaba tendo que enfrentar forte oposição de um "estado"
repressor, que persegue os que conseguem pensar fora de suas
diretrizes e de suas leis. [MACHADO, 2003]
60
Através do trabalho desenvolvido no blog Escolhendo a Pílula Vermelha
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com] e no portal Planeta Educação
[http://www.planetaeducacao.com.br] o que se tem buscado e pesquisado é
introduzir, compreender e utilizar as ferramentas das Tecnologias de
Informação e Comunicação [TICs] em relação ao universo educacional da
forma mais útil, prática e eficaz possível.
A pesquisa realizada através do Blog Escolhendo a Pílula Vermelha
contou com o apoio da empresa Planeta Educação e com a participação dos
educadores da rede municipal de ensino de Bauru [SP] no projeto Click
Inclusão – Educação de Qualidade Para Todos [www.educabauru.com.br].
A ferramenta blog foi utilizada como elemento de continuidade nos
contatos realizados entre os educadores que haviam participado da
palestra/workshop ministrada naquele município para aprofundamento e
aperfeiçoamento em temas relacionados à educação e às tecnologias de
Informação e Comunicação aplicadas [TICs] ao trabalho nas escolas.
As postagens no blog Escolhendo a Pílula Vermelha ocorreram ao longo
de três meses tendo os educadores de Bauru como principal público
participante das discussões e debates fomentados com os textos ali
apresentados. No entanto, no trabalho com o blog em questão não se utilizou
nenhum tipo de “travamento” ou “bloqueio” a participação de outras pessoas.
Nesse sentido, é importante destacar que visitas, comentários, incursões e
participações de educadores, estudantes e demais internautas, de Bauru
[principalmente] ou de outras localidades, resultou em aproximadamente três
mil visitas registradas apenas nesse período de três meses.
61
Não houve qualquer tipo de divulgação dos trabalhos além do envio de
e-mails regulares informando temas postados para discussões através do blog
ou a criação de um link informativo da existência desse espaço privilegiado de
troca de idéias no site da Secretaria Municipal de Educação de Bauru,
localizado no link http://www.educabauru.com.br e conhecido como Educa
Bauru.
Ao final de um ano de trabalho a Secretaria Municipal de Educação
de Bauru e a Planeta Educação divulgam aos Educadores da Rede e
a toda comunidade escolar, o que foi o Projeto Click Inclusão em seu
primeiro ano de vida. Uma das grandes metas estabelecidas pela
Secretaria na gestão da Senhora Secretária de Educação Municipal
de Bauru, Profª Dra. Ana Maria Lombardi Daibem, foi a implantação
das ações de uma proposta de informática educativa, isto é, uma
proposta que pudesse romper paradigmas, onde os recursos
tecnológicos pudessem ter duplo papel como afirmam os estudiosos
do assunto. O primeiro, facilitar a comunicação entre profissionais da
escola com pesquisadores e consultores externos. O segundo, o uso
da informática como suporte para uma pedagogia transformadora da
prática, com objetivos voltados para a formação e desenvolvimento
de habilidades nos alunos que viverão na sociedade denominada
Sociedade do Conhecimento.
15
Além desses meios, a forma de divulgação do blog, com enfoque em
questões educacionais, ocorreu através de troca de e-mails entre os
participantes e também pela comunicação da existência do recurso feita pelos
15
PREFEITURA Municipal de Bauru e Secretaria Municipal de Educação. Um ano de informática
educacional em Bauru. Disponível em
www.educabauru.com.br/boletim_informativo/Boletim_Informativo_1.pdf.
Acesso em 08 mar. 2008.
62
educadores de Bauru para interessados de outras localidades. Como o blog
Escolhendo a Pílula Vermelha continuou ativo, com novas postagens sendo
realizadas de forma regular e, fazendo parte da continuidade do projeto de
pesquisa em questão, é importante destacar que o total de visitas ao endereço
já superou a marca de 9,2 mil pessoas e 12,6 mil pageviews [Dados de
29/09/2008, a partir de mensuração realizada pelo serviço Shiny Stat, desde o
início do funcionamento do blog].
Nos primeiros três meses do levantamento aqui analisado foram
realizadas 105 postagens sobre variados temas relacionadas à educação.
Dentre as questões abordadas estavam notícias sobre educação analisadas e
comentadas, informações sobre tecnologias passíveis de utilização nas
escolas, dados de pesquisas divulgados por prestigiados institutos, trechos de
artigos do Planeta Educação relacionados às Tecnologias de Informação e
Comunicação e reflexões de caráter filosófico e/ou sociológico.
Foram feitas 40 [quarenta] postagens apenas no mês de Abril de 2007,
sendo que de todas elas apenas 7 [sete] não mereceram comentários por parte
dos professores de Bauru e demais internautas que circularam pelo blog. Nas
demais 33 [trinta e três] postagens foram feitos 224 [duzentos e vinte e quatro]
comentários.
No mês de maio de 2007 foram feitas 48 postagens também sobre
temas diversos, sempre relacionados à educação. Iniciou-se nesse mês, mais
precisamente no dia 4 [quatro] de maio, a medição de acessos ao blog através
da ferramenta Shiny Stat. A mensuração das visitas e das Page Views revelou
63
que o blog Escolhendo a Pílula Vermelha teve 1132 visitas e 1961 pageviews
apenas no mês de maio [descontando-se os três primeiros dias daquele mês].
O envio regular de e-mails informando os novos “posts” realizados no
Escolhendo a Pílula Vermelha aos participantes do projeto de Bauru e as
pessoas que estavam lendo regularmente os textos informativos e reflexivos
sobre educação explica a maior incidência de acessos em determinados dias.
A relevância do tema e também a polêmica e a familiaridade dos internautas
em relação a algumas dessas postagens de certa forma também esclarece a
maior busca em alguns dias mais que em outros.
Gráfico 1: Pageviews do Blog Escolhendo a Pílula Vermelha - Maio de 2007. [Fonte: Shiny Stat]
64
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1
May
2007
0
7
May
2007
111
13
May
2007
14
19
May
2007
24
25
May
2007
102
2
May
2007
0
8
May
2007
132
14
May
2007
33
20
May
2007
30
26
May
2007
60
3
May
2007
0
9
May
2007
74
15
May
2007
46
21
May
2007
52
27
May
2007
62
4
May
2007
37
10
May
2007
90
16
May
2007
77
22
May
2007
49
28
May
2007
135
5
May
2007
7
11
May
2007
149
17
May
2007
66
23
May
2007
27
29
May
2007
135
6
May
2007
9
12
May
2007
9
18
May
2007
54
24
May
2007
122
30
May
2007
128
31
May
2007
127
Tabela 1: Pageviews no blog Escolhendo a Pílula Vermelha – Maio/2007. [Fonte: Shiny Stat]
16
Gráfico 2: Visitas ao blog Escolhendo a Pílula Vermelha - Maio de 2007. [Fonte: Shiny Stat]
16
A utilização de diferentes cores [verde, amarelo, laranja e vermelho] com tons mais suaves ou
acentuados reflete a quantidade de acessos ao blog. Sendo assim, as indicações em verde mostram os
dias de menor acesso [De 0 a 50 pageviews diárias], aquelas em amarelo e laranja indicam índice de
acessos em níveis medianos [médio baixo para os amarelos e médio-alto para os laranjas; De 51 a 100
pageviews por dia] e a utilização do vermelho indica os maiores índices de pageviews [acima de 101
pageviews diárias]. O mesmo critério é aplicável a todas as outras tabelas disponibilizadas nessa tese.
65
Data
Visitas
Data
Visitas
Data
Visitas
Data
Visitas
Data Visitas
Data Visitas
1
May
2007
0
7
May
2007
51
13
May
2007
9
19
May
2007
14
25
May
2007
73
2
May
2007
0
8
May
2007
60
14
May
2007
19
20
May
2007
8
26
May
2007
45
3
May
2007
0
9
May
2007
36
15
May
2007
31
21
May
2007
23
27
May
2007
50
4
May
2007
8
10
May
2007
44
16
May
2007
27
22
May
2007
27
28
May
2007
91
5
May
2007
4
11
May
2007
77
17
May
2007
34
23
May
2007
22
29
May
2007
96
6
May
2007
4
12
May
2007
4
18
May
2007
28
24
May
2007
66
30
May
2007
90
31
May
2007
91
Tabela 2: Acessos diários ao blog Escolhendo a Pílula Vermelha – Maio/2007. [Fonte: Shiny Stat]
Tivemos respostas a 24 das postagens feitas no mês de maio e,
portanto, igual número de mensagens que não receberam qualquer mensagem
ou comentário por parte dos internautas. Das mensagens que o tiveram
qualquer resposta deve-se destacar que boa parte das mesmas colocava em
pauta temas relativos às novas tecnologias, como o Second Life, os
Multitaskers ou mesmo a Internet.
Do mesmo modo, é relevante destacar que os professores da rede
municipal de Bauru, que participaram ativamente das postagens do blog no
mês de abril, realizavam suas participações a partir dos laboratórios das
escolas da rede pública daquele município e raramente enviavam mensagens
fora do horário em que eles se encontravam em suas dependências de
trabalho. O incentivo local a participação no blog também diminuiu de um mês
66
para o outro e as responsabilidades do cotidiano acabaram tirando um pouco o
foco dos educadores daquela rede de ensino no projeto. Isso fica bastante
claro com a diminuição das respostas às postagens a partir da metade do mês
de maio, período em que se encontram os temas menos debatidos e a maior
parte daqueles que não tiveram sequer um único comentário. Foram realizadas
24 postagens até o dia 15 de junho e essas mensagens obtiveram um total de
87 comentários. Em compensação, do dia 16 ao dia 31, tendo sido realizadas
igual quantidade de postagens [24], o total de comentários realizados diminuiu
para apenas 10 respostas.
O mês de junho de 2007 foi aquele em que menos postagens foram
realizadas no blog Escolhendo a Pílula Vermelha, totalizando apenas 17 novas
inserções de conteúdos. Esse mês marcou a mudança do público de acesso
majoritário, dos educadores da rede municipal de Bauru para internautas que
conheceram o blog por indicação ou pela busca de temas relativos à educação,
ciência, cultura e tecnologias aplicadas às escolas. não são encontrados
comentários dos professores de Bauru e, em seu lugar, prevalece à
participação de educadores que conhecem melhor a internet e os blogs.
67
Gráfico 3: Pageviews do Blog Escolhendo a Pílula Vermelha - Junho de 2007. (Fonte: Shiny Stats)
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Date
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Date
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1
June
2007
72
7
June
2007
53
13
June
2007
60
19
June
2007
118
25
June
2007
62
2
June
2007
55
8
June
2007
48
14
June
2007
51
20
June
2007
151
26
June
2007
65
3
June
2007
68
9
June
2007
45
15
June
2007
63
21
June
2007
105
27
June
2007
65
4
June
2007
86
10
June
2007
52
16
June
2007
47
22
June
2007
71
28
June
2007
36
5
June
2007
91
11
June
2007
104
17
June
2007
58
23
June
2007
36
29
June
2007
41
6
June
2007
75
12
June
2007
73
18
June
2007
72
24
June
2007
28
30
June
2007
23
Tabela 3: Pageviews do blog Escolhendo a Pílula Vermelha – Junho/2007. (Fonte: Shiny Stat)
68
Gráfico 4: Visitas ao Blog Escolhendo a Pílula Vermelha - Junho de 2007. (Fonte: Shiny Stats)
Data
Visitas
Data
Visitas
Data
Visitas
Data
Visitas
Data
Visitas
1
Jun
2007
61
7
Jun
2007
45
13
Jun
2007
49
19
Jun
2007
82
25
Jun
2007
42
2
Jun
2007
45
8
Jun
2007
41
14
Jun
2007
43
20
Jun
2007
85
26
Jun
2007
55
3
Jun
2007
48
9
Jun
2007
39
15
Jun
2007
45
21
Jun
2007
82
27
Jun
2007
53
4
Jun
2007
70
10
Jun
2007
46
16
Jun
2007
35
22
Jun
2007
48
28
Jun
2007
29
5
Jun
2007
76
11
Jun
2007
68
17
Jun
2007
45
23
Jun
2007
25
29
Jun
2007
34
6
Jun
2007
62
12
Jun
2007
58
18
Jun
2007
57
24
Jun
2007
24
30
Jun
2007
18
Tabela 4: Acesso diário ao blog Escolhendo a Pílula Vermelha Junho/2007. (Fonte: Shiny Stat)
Há, nas tabelas dados que nos permitem afirmar que os dias de maior
acesso são, com pequenas variações, os três primeiros dias úteis da semana –
segunda, terça e quarta-feira. A quantidade média de visitas nesses dias foi de
69
63 acessos. Durante todo o mês de junho a média foi de 50 visitas diárias.
Outro aspecto percebido na análise dos dados relativos a visitas e pageviews é
a diminuição considerável percebida nos finais de semana. Se nos ativermos
somente aos sábados e domingos, a média de acessos diários cai para 36
visitantes.
Junho teve 59 [cinqüenta e nove] comentários relativamente às
postagens que foram feitas. Do total de 17 [dezessete] temas disponibilizados
no blog, apenas 3 [três] não tiveram qualquer resposta por parte dos visitantes
que passaram pelo blog.
Ao final de três meses de experiência, foram computados os seguintes
resultados numéricos quanto ao blog Escolhendo a Pílula Vermelha:
- Mais de 3.000 pageviews.
- Cerca de 2.000 visitantes.
- 105 postagens.
- 379 comentários.
- 34 postagens não receberam nenhum comentário.
- 61 postagens tiveram 379 comentários.
- A média geral de comentários foi de 3,6 comentários por postagem.
- A média de comentários apenas nas 61 postagens analisadas pelos
internautas foi de 6,2 respostas por tema postado.
Com base nos dados obtidos quanto a acessos, visitas, pageviews,
comentários e postagens realizadas no blog Escolhendo a Pílula Vermelha
relativamente ao período de três meses durante os quais este site foi utilizado
como ponto de apoio a formação dos educadores de Bauru é possível afirmar
70
que os resultados indicam que é possível a utilização dessa ferramenta como
instrumento de formação de professores a distância. Ainda que a resposta e
participação dos educadores daquela rede municipal de ensino estivessem
restritas, na maior parte do tempo, a utilização dos computadores durante o
período em que os participantes se encontravam nas escolas em que
lecionavam, dados como a quantidade de pageviews [superior a três mil] e de
comentários [379] demonstram que houve adesão, interesse e participação
efetiva dos educadores. Cabe, no entanto, analisar os resultados dessa
interação realizada através do blog Escolhendo a Pílula Vermelha a partir da
apreciação e análise das respostas e comentários enviados pelos participantes
ao responsável pelo site.
6.1. O conteúdo das postagens
Por se tratar de uma experiência em desenvolvimento, através da qual
se pretendia criar um canal de comunicação pela internet com educadores das
mais diversas origens, formações e localidades, o blog Escolhendo a Pílula
Vermelha procurou abordar uma grande diversidade de temáticas relacionadas
aos interesses do público ao qual estava direcionado.
Tendo em vista essa preocupação, ao longo de suas postagens foram
trabalhadas informações relativas à educação, ciência, tecnologia, artes,
cultura, política e economia. Os temas foram selecionados aleatoriamente e
tinham relação direta com o que estava sendo publicado pela grande mídia
nacional e internacional. Os assuntos trabalhados estavam sempre entre os
mais relevantes em cada uma das mencionadas áreas de interesse e, além
71
disso, necessariamente possuíam algum elo que os relacionasse ou vinculasse
a questão educacional.
Houve também um trabalho de apresentação através do projeto
Escolhendo a Pílula Vermelha das particularidades dos blogs enquanto
ferramentas e da forma de pensar e posicionar-se perante a educação, a vida e
o mundo por parte do pesquisador.
Outra peculiaridade das postagens realizadas no blog Escolhendo a
Pílula Vermelha refere-se ao fato de que uma preocupação muito grande
com a qualidade dos textos escritos no que tange a linguagem e ao
conseqüente uso gramaticalmente correto da língua portuguesa, justamente
por se tratar de um projeto de caráter educacional.
Isso tem relação direta com o público-alvo das postagens, no caso o
grupo de professores da rede municipal de Bauru, formado por profissionais
que atuam apenas no Ensino Fundamental e Educação Infantil, com pouco ou
nenhum conhecimento quanto ao uso da tecnologia em sala de aula até a
realização do projeto Educa Bauru no ano de 2007.
Some-se a isso o fato de que a comunicação através das postagens
procurou ser didática e explicativa quanto aos temas trabalhados ao mesmo
tempo em que, enquanto blog, procurou expressar opiniões embasadas em
práticas, leituras, experiências e estudos.
6.2. As Postagens
Para que o presente trabalho de pesquisa pudesse acontecer foi
necessário definir, de antemão, qual seria a metodologia e, em função da
72
mesma, quais os critérios utilizados para se realizar a leitura interpretativa de
comentários disponibilizados no blog Escolhendo a Pílula Vermelha. Nesse
sentido, reitera-se que o trabalho de leitura e análise dos comentários foi feito
com base na Análise do Discurso, conforme explicitado nas explicações acerca
da Metodologia utilizada nessa tese.
que se destacar, a princípio, o fator atemporal da Internet como uma
das características marcantes das respostas e comentários enviados aos
blogs, conforme observamos através da experiência com o Escolhendo a Pílula
Vermelha. As postagens ficam disponíveis por tempo indeterminado e podem,
conseqüentemente, ser acessadas por dias, semanas, meses ou até mesmo
anos depois de terem sido publicadas. Isso abre possibilidade para que
pessoas de lugares diferentes e em tempos distintos possam reagir, opinar,
pensar e criticar os pensamentos apresentados nas postagens.
Outro aspecto notável da ferramenta refere-se ao fato de que a
comunicação realizada através da internet e, especificamente por meio da
ferramenta blog, com propósitos e intuitos previamente definidos como no caso
do projeto Escolhendo a Pílula Vermelha, dedicado a temas relacionados à
educação, ganha literalmente o mundo. Não fronteiras físicas delimitando o
alcance dos pensamentos postados no blog. As respostas e mesmo apenas a
leitura dessas idéias pode estar sendo feita na casa do vizinho da pessoa que
as escreve como também a enormes distâncias do local de origem do trabalho.
73
País Visitas % País Visitas %
Brasil 1058 93.46%
Uruguai 2 0.18 %
Portugal 19 1.68 % Argentina 1 0.09 %
Estados
Unidos
16 1.41 % Chile 1 0.09 %
Itália 5 0.44 % Colômbia 1 0.09 %
Espanha 5 0.44 % Irlanda 1 0.09 %
Reino Unido 4 0.35 % México 1 0.09 %
Angola 3 0.27 % Holanda 1 0.09 %
Canadá 3 0.27 % Noruega 1 0.09 %
Alemanha 3 0.27 % Peru 1 0.09 %
França 2 0.18 % Suécia 1 0.09 %
Quênia 2 0.18 %
Suíça 1 0.09 %
Tabela 5: Origem geográfica (por país) das visitas ao blog Escolhendo a
Pílula Vermelha durante o mês de Maio de 2007 – [Fonte: Shiny Stat]
País Visitas
% País Visitas
%
Brasil 1324 87.68%
Áustria 1 0.07 %
Portugal 69 4.57 % Bélgica 1 0.07 %
EUA 66 4.37 % Rep. Dominicana 1 0.07 %
Espanha 6 0.40 % Finlândia 1 0.07 %
Alemanha 5 0.33 % Indonésia 1 0.07 %
Angola 4 0.26 % Japão 1 0.07 %
Canadá 4 0.26 % Luxemburgo 1 0.07 %
Holanda 3 0.20 % Martinica 1 0.07 %
Reino Unido 3 0.20 % Namíbia 1 0.07 %
França 2 0.13 % Romênia 1 0.07 %
Itália 2 0.13 % Rússia 1 0.07 %
Quênia 2 0.13 % Singapura 1 0.07 %
México 2 0.13 % Suíça 1 0.07 %
Uruguai 2 0.13 % Tailândia 1 0.07 %
Argentina 1 0.07 % Venezuela 1 0.07 %
Tabela 6: Origem geográfica (por país) das visitas ao blog Escolhendo a
Pílula Vermelha durante o mês de Junho de 2007 – [Fonte: Shiny Stat]
74
No caso das postagens realizadas ao longo dos dois primeiros meses
é possível perceber isso pelo fato de que algumas respondentes mencionam
em sua identificação o local onde vivem e trabalham como sendo Bauru,
município paulista. Levando-se em consideração que o projeto Escolhendo a
Pílula Vermelha foi desenvolvido a partir dos municípios de Caçapava e São
José dos Campos, situados no Vale do Paraíba paulista, isso representa
uma distância física entre a origem da postagem e do mencionado comentário
equivalente a 413 km [entre São José dos Campos e Bauru].
A experiência com o blog foi a forma encontrada, conforme explicado
anteriormente, para dar continuidade e estímulo ao professorado bauruense
em seu projeto de apropriação e utilização de computadores, softwares e
internet em suas aulas. O grande número de respostas às postagens do blog
realizadas por educadores daquela rede municipal de ensino comprova que o
projeto não apenas iniciou-se como também se desdobrou e repercutiu no
município, com, inclusive, o surgimento de blogs nas escolas daquela rede de
ensino.
De maio de 2007 até o s de outubro de 2008 foram criados blogs
relacionados a cinco diferentes escolas da rede municipal de ensino de Bauru.
O primeiro deles, com postagens realizadas já a partir de maio de 2007,
quando o envolvimento com o blog Escolhendo a Pílula Vermelha estava
acontecendo foi o da Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Tereza
[http://emefsantamaria.wordpress.com/]. Do início de seu funcionamento até a
primeira semana do mês de outubro de 2008, haviam sido realizadas 29
postagens, sobre temas diversos relativos a educação [como atualidades,
eventos, projetos, avaliações...].
75
A EMEF Nacilda Campos [http://nacildadecampos.blogspot.com/] foi a
segunda escola a utilizar-se dos blogs, também no ano de 2007, mas iniciando
esse uso a partir do mês de outubro. De o início de suas ações até outubro de
2008 foram realizadas 45 postagens, sempre com temas relativos a vida
escolar de sua comunidade.
A terceira escola bauruense a aderir aos blogs educacionais foi a EMEF
Maria Chaparro Costa [http://emefmariachaparro.blogspot.com/], que está com
seu site disponível online desde o mês de dezembro de 2007 e que contabiliza
10 postagens. Além das três escolas mencionadas, duas outras unidades
educacionais da rede municipal de Bauru passaram a se utilizar dos blogs em
2008, são elas: a EMEF Thereza Tarzia [http://emefthereza.zip.net/], cujo blog
foi criado em março de 2008 e contabiliza mais de 700 visitas desde o seu
surgimento; e a mais recente escola a aderira foi a EMEF Professora Lourdes
de Oliveira Colnaghi [http://www.emeflourdescolnaghi.blogspot.com/], que teve
o seu blog criado em Agosto de 2008 e apresenta 21 postagens disponíveis.
76
6.3. Os Comentários
Vejam-se a seguir as mensagens enviadas na forma de comentários e
respostas ao blog Escolhendo a Pílula Vermelha.
A postagem “A revolução tecnológica Reflexões”, que apresenta links
para artigos do portal Planeta Educação [www.planetaeducacao.com.br], teve
seis comentários, dos quais selecionamos dois deles, apresentados a seguir:
O texto apresenta uma realidade muito próxima de todos nós. Numa
linguagem simples você conseguiu pontuar questões positivas e
negativas acerca da "revolução tecnológica", envolvendo a rapidez
da chegada das informações e ao mesmo tempo o modo como elas
são interpretadas, ou não, quando você explicita a mera
internalização sem qualquer filtro. Nessa perspectiva, gosto muito do
assunto, pois na medida em que somos chamados a atenção para
maior reflexão em relação aos conteúdos que selecionamos para
fazer uma leitura ou apenas para nos entretermos, podemos avançar
e mudar concepções sobre os acontecimentos (dos mais gerais aos
mais específicos). Acredito que temos muito que refletir sobre todas
as questões ressaltadas no texto e que, para isso, precisamos
exercitar nossa percepção, assim como a leitura. [K., 17/04]
Acredito que devemos sempre aprimorar, inovar as nossas
habilidades e a tecnologia está ai, porém, não podemos nos
esquecer que num país onde a desigualdade social ainda é muito
grande, fica difícil para os nossos educandos acompanharem tal
desenvolvimento de maneira justa basta olhar para os educadores...
Quantos têm CPU em casa disponível para suas pesquisas e
planejamentos?!... [M., 19/04]
77
Em relação aos comentários destacados algumas particularidades
que merecem nossa atenção, a saber:
- No caso da primeira resposta a característica que inicialmente se
destaca é a extensão da resposta postada pela comentarista. Isso não é
comum em blogs. Essa tecnologia é normalmente utilizada como diário virtual e
apresentam fatos mais associados ao cotidiano das pessoas que temáticas
relacionadas a questões consideradas mais sérias [como educação, cultura,
ciência ou arte enfocadas no blog Escolhendo a Pílula Vermelha]. O mais
comum nos comentários são respostas rápidas, que carecem de argumentação
ou aprofundamento e que utilizam muitas gírias e abreviações de palavras
[como é corrente no uso de comunicadores instantâneos como o MSN]. Outra
peculiaridade refere-se ao fato de que a postagem limitou-se a indicar textos
localizados em links de um portal de educação para que os internautas se
dispusessem a ler tais materiais, o que ficou evidente é que tal leitura foi
praticada pela pessoa que enviou essa resposta e também pelos outros
comentaristas da mesma postagem.
- Na segunda resposta destacada o que se evidenciam são dois fatores
principais, a constatação por parte do internauta [que demonstra ser um
professor a partir de suas afirmações] de que a incorporação e o uso das
tecnologias no cotidiano educacional é uma realidade sem possibilidade de
retorno. Ao mesmo tempo, porém, esse professor chama a atenção para as
desigualdades sociais existentes no país que, de certa forma, emperram o
processo “modernizatório” demandado pela educação. A leitura e o
entendimento das informações apresentadas nos links propostos na postagem
e o cruzamento dos dados ali disponíveis com aqueles provenientes de outras
78
leituras e processos formativos realizados pelo internauta em questão são
evidenciados e demonstram também que a procura pelo conteúdo do blog
Escolhendo a Pílula Vermelha é segmentada e, portanto, orientada para
pessoas interessadas em educação e temas afins [conforme a proposta do
blog].
Destacamos nos comentários disponibilizados a seguir, relativos à
postagem “A revolução da informação começou”
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/revoluo-da-informao-j-
comecou.html], dois aspectos diferentes na relação entre os docentes e a
tecnologia como parte irreversível do cotidiano das escolas.
Concordamos com a urgência de adentrarmos e dominarmos o
mundo das tecnologias, porém, esta é uma conquista recente, além
de modesta, vez que, somente agora houve preocupação em
preparar os profissionais da educação para a utilização desse
recurso, bem como a popularização da máquina.O medo do novo é
um fenômeno natural e somente através da formação continuada é
possível mudar mentalidades e provocar o desejo de mudança. [M.,
17/04]
Hoje estou realizando um desejo que há muito tempo almejo. O de
aprender a utilizar um computador. Meus filhos chegavam da escola
com pesquisas de tarefa; procurávamos em livros, mas nem sempre
encontrávamos tudo que queríamos; então tinha que esperar o pai
chegar do trabalho para concluir a pesquisa na internet. Na escola
também ao precisar de algo tinha que recorrer a colegas. Com esta
oportunidade do curso não vejo a hora de chegar em casa e
começar a *mexer* no computador para me aperfeiçoar mais
79
rapidamente; apesar de estar no bem básico; hoje é minha segunda
aula mas estou bem motivada. [R., 19/04]
O comentário da educadora M. chama a atenção para alguns fatores
importantes, como por exemplo, o fato da tecnologia ser, para ela, uma
conquista “recente” e “modesta”. Outro ponto a ser destacado refere-se à idéia
de que “agora houve preocupação em preparar os profissionais da
educação”. De certa forma essas afirmações demonstram aspectos como a
falta de interação com o mundo exterior ao domínio escolar, tanto no Brasil
quanto no resto do mundo, já que é notória a incorporação dos implementos da
tecnologia no cotidiano de todos desde os anos 1970 e 1980, com maior
ênfase a partir da década de 1990.
Folha - Quais os produtos e os serviços que definiram os últimos 25
anos da computação e da internet?
Leonard Kleinrock Entre alguns dos eventos principais ocorridos no
último quarto de século, podemos citar os seguintes: os PCs, criados
no começo da década de 1980; o TCP/IP, que virou o padrão da
internet em 1983; a WWW (sigla em inglês para rede mundial de
computadores), que se tornou disponível em 1991; a oferta pública
inicial da Netscape, de 1995, inicia o boom das pontocom; o padrão
Wi-Fi estabelece-se em 1997; o Napster entra em cena em 1999; em
2001, o inglês deixa de ser a língua usada pela maioria dos
internautas; em 2005, o Google passa a ser considerado o
“queridinho” da internet; o efeito das redes ponto a ponto começa a
ser sentido.
17
17
Entrevista à Folha de São Paulo, suplemento Folha Informática, do dia 19 de março de 2008,
concedida pelo professor Leonard Kleinrock, considerado um dos cientistas responsáveis pelo
surgimento da rede mundial de computadores, a internet.
80
História relativamente recente, mas que pode ser expandida para todo o
século XX e também para a própria Idade Contemporânea e o advento de
inúmeras invenções e tecnologias com a Revolução Industrial ocorrida a partir
do século XVIII na Inglaterra.
E, finalmente, se nosso visitante chegasse a uma cidade industrial,
iria ver outros detalhes admiráveis mas ainda nada que sugerisse
ordem a olhos inexperientes. Iria maravilhar-se com a fábrica
construída pelos irmãos Lombe, em 1742. Era um edifício enorme
para aquele tempo, com cerca de cento e cinqüenta metros de
comprimento e seis pavimentos, tendo em seu interior as máquinas
descritas por Samuel Defoe como consistentes em “26.586 Rodas e
97.746 Movimentos, que produzem cerca de 6.741 metros de fio de
seda cada vez que a roda-d’água completa uma volta, o que
acontece três vezes em um minuto”. [HEILBRONER, 1992]
Fatos esses que não podem e não devem jamais, em virtude de sua
envergadura e interferência clara e constante no dia a dia da humanidade,
serem percebidas como modestas. Felizmente o fechamento de sua resposta
à postagem leva em conta o fato de que a incorporação dessas novas
ferramentas tecnológicas, assim como de qualquer instrumento ou prática
inovadora, sempre causa medo e desconforto, mas que a formação continuada
proposta aos docentes da rede municipal de ensino de Bauru permitiu uma
melhor compreensão e facilita a transição para esse novo mundo. Ainda no que
tange a essa afirmação é importante destacar que entre os profissionais da
educação é corrente a idéia de que o uso da tecnologia em sala de aula
81
depende de orientação externa e que, se isso não acontecer, poucos serão
aqueles que teriam a iniciativa de informar-se e formar-se por conta própria.
A questão do acesso às novas tecnologias é percebida pelos
professores como primordial não apenas entre eles, mas também para seus
estudantes. Isso é demonstrado a partir do comentário apresentado a seguir,
relativo à postagem em que falo sobre a reduzida quantidade de escolas que
possuíam laboratórios de informática e que estavam ligadas à rede mundial de
computadores no ano de 2004. Esses dados aparecem na postagem “Ontem e
Hoje” [http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/ontem-e-
hoje.html].
Estamos na era da informática. o podemos ficar para trás e muito
menos nossos alunos. Ter um computador se tornou uma
necessidade neste novo mundo. Pena que nem todos alunos tenham
esta oportunidade . As escolas estaduais estão exigindo dos alunos
trabalhos pela internet sem mesmo os alunos terem acesso a um
computador e muito menos trabalhar com este, Parabéns às escolas
municipais que criaram os pólos de informática! [A., 26/04]
A resposta ao comentário da professora A. foi a seguinte:
Se a inclusão digital ainda não pode acontecer a partir da casa de
nossos alunos, cabe ao poder público, a partir das escolas, permitir
que isso aconteça. Mais importante ainda... Ao acontecer isso, a
partir das escolas, temos que orientar nossos estudantes para que o
uso dessas ferramentas seja feito com o máximo de sabedoria
possível! [J.L., 26/04]
82
Através dessa colocação procuro demonstrar para a professora que o
trabalho a ser feito quanto à inserção dos estudantes das escolas das redes
públicas dos municípios brasileiros deve ter como base as próprias unidades
educacionais em que os mesmos estudam. É claro que todos sabem o quanto
esse trabalho seria facilitado se aos alunos fossem dadas condições de adquirir
ou receber equipamentos e condições de acesso a internet em suas próprias
residências. Como isso não é possível e realizável em sua totalidade - apesar
dos esforços governamentais de inclusão digital que não apenas estão
equipando as escolas públicas, mas também iniciando parcerias através das
quais se tenta dotar as redes escolares com “notebooks de 100 dólares” ou
ainda baixando impostos sobre computadores para que sua aquisição por uma
maior quantidade de pessoas seja possível – a escola torna-se, cada vez mais,
o espaço onde a integração ao universo virtual deva e vá acontecer.
A concepção de um mundo renovado, nos conformes do pensamento de
Howard Gardner, quando afirma com veemência em seu livro “Cinco Mentes
para o Futuro” [2007] que em nossa sociedade global, conectada, a
criatividade é buscada, cultivada, valorizadaé ainda embrionária na educação
brasileira. Afinal de contas, conforme o próprio Gardner constata na mesma
obra, os seres humanos têm uma tendência conservadora que milita contra a
inovação educacional e os grandes saltos interdisciplinares” enquanto, ao
mesmo tempo “se esforçam para manter sua forma atual”.
Ainda assim, procuramos apresentar idéias concatenadas com o apoio
das Tecnologias de Informação e Comunicação e da integração da instituição
escolar a esse universo através de idéias trabalhadas no blog Escolhendo a
Pílula Vermelha. Isso aconteceu também na postagem “Nossa matéria-prima é
83
o mundo” [http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/nossa-
matria-prima-o-mundo.html]. Através dessa reflexão, que se iniciava com uma
ponderação abordando a necessidade de se derrubar os muros da escola e
fazer da cidade, um aglomerado de salas de aula”, tinha-se o propósito de levar
o professor a compreender os meios eletrônicos como aliados dessa proposta.
A idéia foi comentada por oito educadores, e entre as respostas enviadas,
destacou-se a seguinte:
Precisamos urgentemente "derrubar os muros das escolas",
principalmente quando acorrentamos nossos alunos; quando
desrespeitamos seu modo natural e lúdico de aprender, quando o
impedimos de falar, participar... E o obrigamos a decorar... Quando
escutamos "profissionais" dizendo que antigamente a escola era
boa... Que devemos ensinar o B A BA - nos calamos... Vemos os
colegas gritando e agredindo o aluno verbalmente... - Nos omitimos.
Derrubar os muros da escola é acreditar no aluno, apresentar meios
que o ajude a reconhecer-se como cidadão, respeitá-lo. Chega de
encher a lousa com: Vovô viu a uva da vovó" e fazer a criança
copiar isto é um crime. Educador é aquele que, mesmo não sabendo
tudo, estuda... Questiona... Procura meios de transformar e
educação. Que possamos abrir nossas mentes para o novo que
não e tão novo assim... [S.H., 19/04]
E o que literalmente salta aos olhos nesse comentário? A firmeza com
que a professora S.H. fala sobre dogmas e paradigmas que “acorrentamos
alunos, desrespeitando o seu “modo natural e lúdico de aprender”, obrigando-
os a “decorar” conceitos e idéias. O que se percebe claramente é uma visão
bastante crítica quanto aos ditames da educação tradicional, o que fica ainda
84
mais evidente quando a professora menciona os “profissionais” que falam
como “antigamente a escolar era boa”. Suas considerações encerram-se
clamando por uma transformação da educação.
Nem todos pensam assim, as resistências e as dificuldades percebidas
ao longo dessa jornada de transformação também aparecem ao longo das
postagens. Isso não foi diferente quanto às idéias apresentadas nessa reflexão,
como podemos notar com comentário abaixo:
Concordo que temos que "sair da toca", mas é complicado
dependendo do assunto, uma vez que se trata de crianças carentes
que não têm oportunidades de conhecer lugares que enriqueceriam
sua vida escolar. Seria preciso que o governo desse uma ajuda de
custo para pelo menos uma aula passeio, a partir da série, que
começam a estudar assuntos mais específicos, o clima, por exemplo,
para terem a oportunidade de um estudo do meio. [K., 20/04]
Através da resposta anterior podemos perceber que até existe a
disposição e a consciência de que a mudança é inevitável, porém, novamente
os empecilhos e as dificuldades do cotidiano e da realidade da clientela escolar
surgem como barreiras aparentemente intransponíveis a essa transformação
aos olhos dos educadores. A carência da clientela e a falta de ajuda do
governo, que não oportuniza experiência extraclasse o apenas exemplos de
como os professores acabam se acomodando na posição de intermediários e
dependentes de fatores/agentes externos e não partem eles mesmos em busca
de soluções para os problemas. A utilização das ferramentas das tecnologias
de informação e comunicação nas escolas, com a criação de projetos de
85
pesquisa que orientassem o olhar dos estudantes para portais educacionais,
científicos ou culturais seria, apenas a título de exemplo, um primeiro canal
de comunicação do estudante com o mundo. Isso é claro, orientado por
projetos discutidos entre os professores e também com a direção da escola.
A postagem “Escolas que ensinam e aprendem...”
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/escolas-que-ensinam-
e-aprendem.html], que obteve um total de cinco comentários, foi elaborada com
o intuito de propor idéias. Foram apresentadas algumas ações colocadas em
prática em escolas públicas de diferentes localidades. Esses dados foram
retirados de uma publicação semanal de grande circulação [a revista Época,
conforme menciono naquela postagem] sendo, portanto também provenientes
da grande imprensa. O objetivo nesse caso era demonstrar que existem
críticas e também proposições de trabalho elogiáveis que estão levando à
superação desse pessimismo em torno da educação no Brasil.
Destacamos a seguir dois desses comentários para demonstrar como
essas profissionais encararam as idéias e soluções implementadas em outras
escolas brasileiras.
Para mudar a escola precisa que o professor resgate o seu papel de
educador e que esteja engajado em todo o processo educativo. Para
que tal aconteça tal proeza é preciso que o mesmo procure
possibilidades de aprendizagem e amplie todo seu repertório
educacional de maneira crítica e globalizada. [M.S., 26/04]
... o comentário da revista foi bastante pertinente e especialmente
das seis idéias para a escola funcionar e um item bastante forte é o
de conviver com as diferenças, pois é um assunto hoje em dia muito
atual e discutido; mas para muitos a questão da inclusão ainda é uma
86
questão de falta de conhecimento e falta de consciência coletiva, por
isso que nesse comentário acrescentaria uma sétima idéia para a
escola aprender é o desfazendo entraves e descaso, pois na verdade
a questão da intersubjetividade humana na escola é muito forte. E
uma pessoa que está na Educação deve desfazer os entraves vividos
no contexto escolar e com certeza se de fato analisarmos toda a
educação no Brasil, encontraremos mais argumentos a esse respeito.
[M., 26/04]
A apresentação das idéias e práticas realizadas em outras redes e
unidades de ensino público no Brasil levou as educadoras em questão a
levantarem alguns pontos bastante interessantes e enriquecedores para o
debate travado através do blog, a saber:
- A consciência quanto à necessidade de resgatar o papel de educador
entre os profissionais que atuam nas escolas. Ao pensar dessa forma a
educadora que enviou o primeiro comentário atesta o fato de que os
professores estão atuando como conteudistas e que as aulas nada mais têm
oferecido senão a reprodução de idéias e conceitos apresentados em materiais
didáticos. Falta a eles o engajamento em “todo o processo educativo” e, ao
afirmar isso, ela está dizendo que a condição de ensino-aprendizagem
somente se efetiva quando o educador não se restringe profissionalmente a
discutir e apresentar um ideário pré-concebido e sim a atuar no sentido de
estimular a construção consciente, participativa e inteligente de novos saberes
por seus educandos. Isso exige por parte dele a ampliação de seu repertório
educacional e criticidade quanto a seus planos, procedimentos e ações em sala
de aula.
87
- O segundo comentário nos leva a pensar a respeito das relações
humanas e da necessidade de superação das barreiras que se interpõem entre
educadores e educandos, assim como entre a escola e a comunidade. Se o
ponto destacado tem como principal motivador a inclusão, existe a necessidade
de ir além da discussão mais imediata, em que se fala sobre a entrada, a
aceitação, a participação e o sucesso escolar de pessoas deficientes na escola
que se diz pública e aberta a todos, mas que até recentemente agiu sempre de
forma reticente quanto à cadeirantes, disléxicos, cegos, surdos e mudos [entre
outros] e perceber que a exclusão atinge a todos aqueles que, mesmo
portadores de saúde física ou mental plena e ainda que integrados aos bancos
escolares, não conseguem aprender. Estar na escola, “participar” das aulas,
aparentar envolvimento com o desenrolar das ações que estão acontecendo no
âmbito da sala de aula e não aprender é uma forma muito sutil e pouco
discutida de exclusão. E o mais interessante ao aprofundarmos o comentário
da educadora M. é que, certamente essa exclusão sepor fatores variados e
tão díspares [que muitas vezes estão agindo conjuntamente para promover a
exclusão] quanto à falta de didática dos professores, a inexistência de apoio e
incentivo por parte da família, a fome ou doenças não diagnosticadas entre os
alunos, carências emocionais, falta de engajamento profissional dos
educadores ou, até mesmo, a insuficiência de recursos materiais nas escolas
[saliente-se que essa é uma relação diminuta de problemas que podem estar
ocasionando essa mais ampla visão de exclusão]. Trata-se evidentemente de
um assunto bastante sério e que merece olhares mais agudos por parte dos
educadores, estudiosos e das autoridades.
88
De qualquer maneira, o interessante é perceber que com o passar do
tempo, os professores foram se afeiçoando e se familiarizando com a
ferramenta. Dessa forma passaram a se sentir mais à vontade para participar
das discussões e também para apresentar com maior liberdade suas opiniões.
A neutralidade do espaço, em que as pessoas se conhecem a partir de
postagens, comentários e respostas sem que ninguém se visualize [até o
momento em que a tecnologia proporcionar as ferramentas a custo acessível
para que também isso aconteça] ou mesmo se conheça no mundo presencial,
aos blogs e a seus participantes uma característica de liberdade de
expressão poucas vezes percebida e usufruída pela humanidade em épocas
anteriores de sua existência.
Essa qualidade da ferramenta blog e das Tecnologias de Informação e
Comunicação fica mais evidente com a postagem “O onipresente Orkut”
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/o-onipresente-
orkut.html], como podemos perceber através das duas respostas enviadas por
professores [selecionadas entre um total de seis comentários].
Não só no Orkut e outros por você citados é que vemos o aumento de
divertimentos nada educativos que roubam o tempo dos estudantes
para explorar pesquisas e projetos exigidos nas salas de aula. A
mídia propaga, por exemplo, que através de celulares, os mesmos
tipos de divertimentos podem ser utilizados e, os jovens, cada vez
mais consumistas, investem cada vez mais em tecnologias que os
divirtam. Bloquear os recursos? Não acho muito viável, que é um
mais um avanço tecnológico que poderia ser mais bem utilizado.
[E.B., 26/04]
89
Minha experiência com o Orkut foi desastrosa. Um genro meu quis se
vingar de minha filha por ter rompido o relacionamento com ela
atacando toda minha família e meus amigos com difamações sérias e
mensagens pornográficas. Todos os meus filhos e filhas (são 7)
foram colocados como garotos de programas e minha casa foi citada
como local de encontros. Meu telefone e endereço foram divulgados
na internet e passamos mais de um ano sofrendo assédios de
pessoas desajustadas. Esse é o preço que temos que pagar pela
criação de uma tecnologia tão avançada colocada ao alcance de
todos de forma indiscriminada. [Anônimo, 26/04]
O primeiro comentário enviado pensa o Orkut e as demais ferramentas
citadas na postagem [YouTube, MSN, Twitter, Podcast, blogs, fotoblogs...]
como partes inevitáveis do universo virtual, ou seja, da Web. O que é uma
realidade, que essa “teia” composta por sites, blogs, portais, ferramentas,
empresas, softwares, vídeos, sicas e afins é construída diariamente, a partir
de todos os países, com infinitas finalidades [comerciais, educacionais,
informativas, políticas, sociais, médicas, culturais, artísticas, filosóficas,
éticas...]. E como tal, o como controlar os conteúdos lançados pelos
bilhões de usuários que a acessam diariamente, tarefa essa que nenhuma
instituição privada ou mesmo órgão governamental [de qualquer país, inclusive
dos Estados Unidos] se propôs a fazer diante do gigantismo da internet.
E o que cabe então fazer para que esses elementos e ferramentas
constantes na Web possam ser utilizados de forma mais sadia e inteligente por
nossas crianças e jovens, ou seja, dando a elas oportunidades reais de
aprender, conhecer, trocar idéias, estabelecer uma comunicação plena e
enriquecedora nos aspectos social e cultural? E na primeira resposta a
90
postagem temos uma consideração bastante interessante e pertinente, ou seja,
a necessidade da atuação da família e da escola na orientação dos olhares
dessa clientela. Nesse sentido é importante resgatar a fala de Pierre Levy
sobre o novo papel da educação dentro do contexto globalizado e tecnológico
em que passamos a viver a partir da incorporação e popularização das Novas
Tecnologias de Informação e Comunicação ao nosso cotidiano.
Ainda que as pessoas aprendam em suas experiências profissionais
e sociais, ainda que a escola e a universidade estejam perdendo
progressivamente seu monopólio de criação e transmissão do
conhecimento, os sistemas de ensino blicos podem ao menos dar-
se por nova missão a de orientar os percursos individuais no saber e
contribuir para o reconhecimento do conjunto de know-how das
pessoas, inclusive os saberes não-acadêmicos. As ferramentas do
ciberespaço permitem considerar amplos sistemas de testes
automatizados acessíveis a todo o momento e redes de transação
entre a oferta e a demanda de competência. Ao organizar a
comunicação entre empregadores, indivíduos e recursos de
aprendizado de todas as ordens, as universidades do futuro estariam
contribuindo para a animação de uma nova economia do
conhecimento. [LEVY, 1999]
Seria uma espécie de censura? De forma alguma, os pais e os
professores, munidos de experiências de vida e conhecimentos ainda não
adquiridos pelas crianças e jovens e, conhecedores das ferramentas e recursos
disponíveis em computadores e na internet atuariam como tutores e auxiliariam
os mais novos na busca e utilização da web. E porque se faria isso? Para
melhor entender o que está acontecendo vejamos a seguir uma consideração
91
sobre o perfil das crianças e dos jovens do século XXI que nesse momento
acessam a rede mundial de computadores a partir da visão de Chris Anderson,
editor da revista Wired e autor do livro “A Cauda Longa”.
Compare a minha adolescência com a de Ben, garoto de 16 anos que
cresceu com a Internet. Ele é filho único de pais ricos e reside na
elegante North Berkeley Hills. Nessas condições tem um Mac em seu
quarto, um iPod com tudo o que tem direito, uma verba semanal para
baixar músicas pela iTunes e um grupo de amigos com os mesmos
privilégios. Como o resto de seus amigos adolescentes, nunca
conheceu o mundo sem banda larga, telefones celulares, Mp3s, TiVo
e compras on-line. O principal efeito de toda essa conectividade é
acesso ilimitado e sem restrições a culturas e a conteúdos de todas
as espécies, desde a tendência dominante até os veios mais remotos
dos movimentos subterrâneos. (...) Sob a perspectiva de Ben, o
panorama cultural é um contínuo sem fronteiras de alto a baixo, com
conteúdo amador e profissional competindo em igualdade de
condições pela atenção dele. [ANDERSON, 2006]
Ou seja, diante dessa perspectiva, é ou não é de fundamental
importância que as famílias e a escola se preocupem em dar as crianças e aos
jovens a necessária orientação quanto ao uso da Internet e de suas
ferramentas?
Apesar da dispersão e do gigantismo da rede, que podem realmente
permitir que as pessoas se escondam ao mesmo tempo em que se expõem, as
nervuras e feridas que acontecem no cotidiano e que também se transferem
para a Web levam as pessoas a utilizar-se do expediente do anonimato quando
querem falar sobre temas espinhosos e doloridos para si mesmas.
92
Ao utilizar-se desse expediente a segunda professora que se manifesta
sobre o Orkut nos coloca em contato com uma história pessoal que poderia
muito bem ter acontecido com qualquer um de nós e que, demonstra com
clareza como essa e outras ferramentas da tecnologia tanto podem ser
utilizadas para o bem quanto para o mal. Ao mesmo tempo em que podem
auxiliar na educação, na saúde ou na cultura, as tecnologias também podem
ser nocivas, utilizadas de forma perniciosa, agressiva, preconceituosa,...
A exposição de uma parte de sua trajetória de vida em que os laços
familiares foram afetados pelo comportamento inapropriado e indevido de um
de seus membros [ou ex-membro] serviu, nesse caso, para ilustrar que a livre
disponibilização de dados de caráter pessoal através de sites e portais de
relacionamento, como o Orkut ou o MySpace, ocasiona riscos para as pessoas
que utilizam-se desses serviços.
Isso não quer dizer, entretanto, que tais ferramentas são apenas nocivas
e que, como tal, devam ser eliminadas, ignoradas, abandonadas ou destruídas.
Ao mesmo tempo em que escutamos histórias de abusos, há casos de pessoas
que conseguiram se reencontrar com familiares ou amigos com os quais não
tinham qualquer contato há muito tempo. Histórias assim fazem parte dos
relatos e das mensagens que podem ser vistas em sites de relacionamento.
Também não se pretende com isso dizer que o Orkut e sites afins sejam
ferramentas indispensáveis, relativamente às quais os problemas e erros
constatados possam ser simplesmente esquecidos. Não se pretende nesse
espaço julgar os elementos que compõem o cotidiano da internet enquanto
meios e recursos de comunicação e troca de idéias na Web. O que se quer é
93
mostrar que se não houver orientação por parte da família e da escola quanto
ao uso dos recursos disponibilizados nas Tecnologias de Informação e
Comunicação, muito provavelmente situações como essa serão mais
freqüentes do que gostaríamos.
Em uma postagem posterior, na qual é apresentada reflexão
desenvolvida por Antoni Zabala, encontra-se a proposição do estudo de novas
possibilidades e metodologias para a educação mundial como alternativa de
melhoria de qualidade do processo de ensino-aprendizagem. A afirmação de
Zabala é importante nesse contexto por confirmar e reiterar a necessidade do
professor atualizar-se e inteirar-se em relação ao mundo, sem se permitir cativo
a conteúdos, disciplinas, procedimentos e práticas que se reproduzem
continuamente nas escolas. É necessário ir além dos “saberes estanques” e do
conhecimento das disciplinas sem interação umas com as outras e com o
mundo. Para uma mais clara compreensão de seu pensamento, reproduzo a
seguir o conteúdo extraído de uma de suas reportagens [que foi apresentado
no blog com o título Para Refletir com Antoni Zabala I,
http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/para-refletir-com-
antoni-zabala-i.html].
É impossível participar ativamente desta sociedade se não se
dominam estratégias de análise e de ação na e para a
complexidade. O ensino que herdamos compartimentou o
conhecimento em áreas cada vez mais alijadas da finalidade para as
quais foram criadas: de serem meios para a compreensão de algum
aspecto da realidade. Essa separação em saberes estanques teve
uma resposta perversa na escola ao criar um ensino baseado na
94
aprendizagem das disciplinas como um fim em si mesmo. Quer
dizer, a matemática pela matemática, a língua pela língua, a física
pela física, etc. A partir dessa ótica, o importante não é ser
competente, e sim dispor de um 'conhecimento disciplinar'. Para se
opor a isso é imprescindível não uma nova disciplina, mas algo
capaz de integrar os princípios e métodos filosóficos em qualquer
conteúdo de aprendizagem. Não tem sentido aprender nada que o
aprendiz não saiba situar como meio para a compreensão de um
mundo que é sempre complexo. Não serve para nada um
conhecimento para aquele que é incapaz de fazer perguntas
relevantes. [ZABALA, 2007]
E quais foram às respostas obtidas para essa contundente afirmação de
Zabala? Apenas três comentários foram enviados. Sendo que, em dois deles,
a concordância com os posicionamentos do estudioso espanhol com
ressalvas ao fato de que isso é difícil de aplicar no contexto brasileiro em
virtude de situações como o excesso de horas de trabalho dos professores e a
falta de incentivo ao aperfeiçoamento e estudo dos educadores. O outro
comentarista foi bastante crítico e assumiu um tom mais ácido em seus
posicionamentos, destacando principalmente o distanciamento das teorias em
relação à realidade de sala de aula, conforme podemos notar na reprodução de
sua resposta apresentada a seguir.
Esses autores falam demais. dizem o que devemos fazer. Mas
não dão exemplos, não contextualizam, mandam agente fazer.
Não ensinam como. Querem que nós façamos para eles aprenderem
e depois publicarem novos livros para lermos e prestarmos
concursos. Se tudo que eles escrevem fosse verdade, a educação
nesse país não estaria nesse pé. Totalmente desvairada e perdida
95
no tempo. Estamos perdidos. Nada mais resta. Nossa formação
também não foi essa. Os professores universitários não sabem como
lidar com isso. Continuam tradicionalistas como sempre. Somente
mandam seus alunos fazerem trabalhos, nem explicar sabem. E
esses autores querem enfiar goela abaixo aquilo que acham e
pensam ser certo. Nós que estamos na berlinda, sabemos que não é
bem assim. Eles querem que façamos o que teoricamente "eles"
acham coerente. Se a aprendizagem se na sala de aula, então
não precisamos de vãs teorias. É hora de reagirmos.
O que me deixa bastante chateado é a incapacidade de os
professores não perceberem o que está acontecendo com a
educação que os autores querem nos impor. [J.S., 09/06]
Apesar das críticas, o professor em questão mostrou-se contraditório ao
afirmar ao final de seu comentário que “é hora de reagirmos” e com suas
palavras finais, em que se refere à incapacidade dos professores de perceber
que a educação estaria seguindo os rumos que os autores “querem nos impor”.
Suas afirmações entram em embate com o que ele mesmo havia afirmado no
início de seu comentário, quando afirmou que não exemplos dados por
parte desses estudiosos, somente um “mandar fazer” e que os mesmos são, na
realidade, tradicionalistas.
E porque chegamos a esse ponto? Pelo fato de nossa formação
enquanto educadores, ainda na graduação [e também em extensões e cursos
de formação] nos apresentar apenas recortes do trabalho e do pensamento de
tais autores. Nos cursos de formação em Pedagogia e nas licenciaturas não se
estuda com a necessária profundidade e rigor a obra de Paulo Freire, John
Dewey, Antoni Zabala, Michael Apple, Edgar Morin...
96
A análise isolada, descontextualizada, incompleta e parcial da obra de
qualquer pensador da educação ou de áreas afins leva a “lugares comuns” ou
ao senso comum quanto à teoria dos mesmos. a título de exemplificação,
basta fazer um levantamento de como os professores brasileiros compreendem
o processo construtivista de ensino. Quantos deles realmente buscaram uma
leitura e um estudo aprofundado das obras referenciais para a aplicação plena
e consciente desses procedimentos em suas salas de aula e escolas?
Reiterando essa necessidade de leitura e aprofundamento, a última
postagem do mês de Abril, e aquela que encerra esse capítulo de análise e
compreensão do uso dos blogs em educação a partir da troca de informações
entre professor-blogueiro e professores-internautas que acessaram o blog,
trata da questão da leitura no Brasil a partir de dados concretos auferidos pela
Câmara Brasileira do Livro. A postagem “Quantos livros você por ano?”
[http://escolhendoapilulavermelha.blogspot.com/2007/04/quantos-livros-voc-l-
por-ano.html], refere-se a pesquisas relativas ao ano de 2006 e obteve sete
respostas por parte dos internautas.
A falta de leitura, não está somente nos preços dos livros, mas na
cultura da nossa sociedade que não nos conduz a isso. Infelizmente
vivemos em uma sociedade que quanto menos autonomia cultural,
quanto menos reflexivos, críticos, formos, melhor. Não é interessante
para o governo investir na educação para proporcionar uma melhor
visão de mundo, pois pessoas críticas... se tornam pessoas
exigentes e mais difíceis de serem enganadas. Nas escolas, muitos
professores colocam a leitura como castigo, como punição...quando
na verdade devia ser incentivada e "vendida" como prazerosa.
Talvez, muitos professores também não queiram ter trabalho...ou
temem alunos questionadores. [G.R., 01/05]
97
Realmente deveríamos ler vários livros durante o ano, porém além
do tempo corrido, não ganhamos suficientemente para comprar os
livros que desejamos, pois os mesmos são caros e isso não nos
possibilita maior conhecimento e desenvolvimento cultural. Claro que
também o povo brasileiro não tem muito esse hábito "de ler", mas
deveria ter, pois é de suma importância a presença da leitura no dia-
a-dia. [A., 02/05]
Constata-se a partir dos comentários selecionados que a valorização da
leitura e implementação dessa prática em bases regulares na escola deve
acontecer. Assim como se verifica que a associação direta entre cultura e
educação é percebida pelas professoras como um vínculo essencial para a
efetivação da aprendizagem. Ainda assim é importante destacar que,
conscientes da relevância da leitura e do valor que tal ação agrega para o
processo de ensino-aprendizagem, os educadores não orientam as ações de
seus educandos para a efetivação da leitura ou ainda para o reconhecimento
dos espaços públicos de leitura, como as bibliotecas escolares ou públicas. Os
livros no Brasil constituem muito mais um bem de consumo do que um recurso
básico e elementar de aquisição de novos conhecimentos e de crescimento
cultural. Nem mesmo o advento da internet ou a proximidade maior dos
educandos quando atingem o 3º grau os mobiliza rumo ao exame de fontes
fidedignas de leitura, como teses e dissertações, acessíveis tanto em
bibliotecas universitárias quanto na rede mundial de computadores.
nas respostas a essa postagem, porém, dado bastante animador
relativamente à questão da leitura. Refere-se ao fato de que todos os
internautas que responderam a essa postagem [inclusive aqueles que não
98
estão sendo aqui representados com seus comentários] demonstram gostar da
leitura e advogar sua prática entre os estudantes com os quais atuam.
Apesar disso tudo, voltam às críticas a terceiros, como o governo que
não promove a prática da leitura, os altos preços dos livros, o pouco incentivo
da família a leitura, a precariedade das bibliotecas públicas e universitárias e a
defasagem dos acervos municipais e universitários. E os professores, que
papel têm nisso tudo? São mencionados no primeiro comentário apenas em
relação a casos de professores que usam a leitura como “castigo”, ou seja,
como uma punição aos alunos por diversos motivos, em especial o mau
comportamento em sala de aula. Crítica essa que continua com a afirmação de
que as leituras dariam “mais trabalho” aos professores e que ainda poderiam
ocasionar o surgimento de alunos que questionassem demais...
Indo um pouco além dessas constatações que, em vista dos dados da
Câmara Brasileira do Livro, atualizados com informações de pesquisa mais
recente do Instituto ProLivro
18
, e de reportagens publicadas em jornais e
revistas de expressão, são amostragens e recortes verídicos da realidade
18
O Instituto ProLivro [www.prolivro.org.br] realizou pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”
[disponível no link http://www.prolivro.org.br/ipl/publier4.0/dados/anexos/48.pdf] entre os meses de
novembro e dezembro de 2007. Para tanto aplicou mais de 5 mil questionários de 60 questões e obteve
resultados com margem de precisão equivalente a 95%. Através desse levantamento foi constatado que:
Para três em cada quatro pessoas a leitura tem significado positivo, representando conhecimento,
crescimento profissional, sabedoria, cultura, lazer...; Uma em cada quatro pessoas não sabe ou não
opinaram sobre a importância da leitura; O equivalente a 35% dos brasileiros [60 milhões de pessoas]
responderam que gostam de ler como atividade de lazer; Quanto maior a escolaridade e a renda, maior a
disposição para a leitura [48% das pessoas que fizeram o Ensino Médio e 64% dos que completaram o
Ensino Superior declaram-se leitores]; 32% das famílias incentivam a leitura, índice que sobe para 46%
quando há professores entre os familiares. O perfil do leitor brasileiro, de acordo com a pesquisa, equivale
a: Tem formação superior [79%], renda familiar superior a 10 salários mínimos [78%], são chefes de
família [76%], a religião predominante entre os leitores é o espiritismo [76%], trabalham e estudam ao
mesmo tempo [73%], pertencem às classes A [75%] e B [74%], moram na região Sul [72%], moram em
metrópoles [69%] e estão situados em duas faixas etárias, dos 18 aos 24 anos [67%] e dos 30 aos 39 anos
[68%]. A pesquisa define como leitores as pessoas que declararam ter lido ao menos 1 [um] livro nos
últimos três meses.
99
educacional brasileira, o que se percebe é que não projetos perenes de
incentivo à prática da leitura aplicada em larga escala em nível municipal,
estadual ou nacional e que, além disso, os próprios educadores se mostram
pouco dispostos a ler e se atualizar.
Neste sentido o trabalho realizado com os educadores de Bauru através
do Blog Escolhendo a Pílula Vermelha teve o claro propósito de contribuir
através da sensibilização e esclarecimento quanto ao uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação a partir do uso do blog como plataforma de
inserção de conteúdos afins [notícias, teoria, reflexões, ações pedagógicas],
esclarecimento de dúvidas, troca de idéias, intercâmbio de práticas e a
estruturação do próprio conceito de rede a partir da Internet [Entre Redes] e
dos Weblogs. Ler, informar-se, apresentar dúvidas, trocar idéias através dos
comentários e, em especial, inserir-se no mundo virtual a partir do blog
Escolhendo a Pílula Vermelha ao longo dos três meses referenciados no
trabalho que se apresenta tornaram-se, sobremaneira, a principal contribuição
dada à comunidade de educadores do município de Bauru. Contribuição esta
que ensejou os educadores daquela cidade a considerar válida a experiência e
afirmar publicamente isto a partir de comentários inseridos no próprio blog
Escolhendo a Pílula Vermelha ao mesmo tempo em que criavam weblogs de
suas escolas e os disponibilizavam publicamente através do site da Secretaria
de Educação de Bauru [www.educabauru.com.br].
100
7. CONCLUINDO
E o que é possível compreender a partir das postagens e comentários
do blog Escolhendo a Pílula Vermelha? Como analisá-las a partir das teorias
trazidas de Freire, Morin, Zabala, Dewey, Castells, Moran, Almeida, Bianconcini
Almeida e Apple? A princípio deve-se destacar o interesse e a disposição dos
professores em utilizar as novas Tecnologias de Informação e Comunicação.
Existe a consciência de que os computadores e a Internet vieram para ficar e
que podem e devem se tornar aliados na busca por uma educação de melhor
qualidade. Isso pode ser constatado a partir dos depoimentos dos próprios
educadores que estiveram respondendo as postagens do blog Escolhendo a
Pílula Vermelha, como podemos ver na declaração da professora A.,
apresentada a seguir:
Pensemos num futuro mais distante... Talvez daqui uns trinta anos...
Um cidadão que dormisse hoje por esses trinta anos e acordasse em
2037... Ele não mais reconheceria a escola... Notebooks numa sala
circular, um professor on-line falando por teleconferência, alunos
pesquisando os conteúdos escolhidos numa biblioteca virtual... É
assim que espero que o mundo esteja no futuro devido à nossa
intervenção e reflexão hoje. Nós estamos plantando as sementes
desse futuro. Um futuro onde aprender seja gostoso. Um futuro onde
o professor seja um incentivador e mediador de conhecimentos.
Vamos plantar essa semente boa! [A., 23/04]
O que ainda trava a expansão desse processo constitui uma mescla de
situações como a insegurança dos professores em relação à tecnologia, a falta
de equipamentos e conexão nas escolas, o desconhecimento dos recursos e
101
ferramentas disponíveis, a resistência a mudanças no cotidiano escolar, as
grades curriculares e planejamentos engessados. No sentido da superação
dessas dificuldades é importante destacar o que nos lembra o professor Juan
Manuel Moran, da Universidade de São Paulo:
Ensinar e aprender exigem hoje muito mais flexibilidade espaço-
temporal, pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos
mais abertos de pesquisa e de comunicação. Uma das dificuldades
atuais é conciliar a extensão da informação, a variedade das fontes
de acesso, com o aprofundamento da sua compreensão, em espaços
menos rígidos, menos engessados. Temos informações demais e
dificuldade em escolher quais são significativas para nós e conseguir
integrá-las dentro da nossa mente e da nossa vida. A aquisição da
informação, dos dados dependerá cada vez menos do professor. As
tecnologias podem trazer hoje dados, imagens, resumos de forma
rápida e atraente. O papel do professor - o papel principal é ajudar
o aluno a interpretar esses dados, a relacioná-los, a contextualizá-los.
[MORAN, 2000]
Aspecto que igualmente deve ser observado refere-se aos comentários
enviados pelos internautas em relação às postagens do blog. Esses
comentários são, na maioria das vezes, rápidos e pontuais. Isso é natural tendo
em vista a própria particularidade dos blogs e da Internet recursos e
ferramentas que se caracterizam pela velocidade pulsante que compele o
visitante a constantemente deslocar o seu olhar e migrar para outras páginas
de seu interesse. Nesse sentido, elas são coerentes com a proposta original
dos blogs ou weblogs, de existirem como “diários virtuais” que disponibilizam
102
informações e intimidades dos blogueiros. No que tange a propostas de
trabalho que utilizam a ferramenta como um instrumento para a apresentação
de idéias, conceitos, notícias e informações destinadas a nichos profissionais
específicos o que se espera [e para isso é necessário reeducar os olhares e a
participação de quem entra e utiliza os serviços] é uma quantidade maior de
respostas e, também, melhor qualidade nas mesmas. Isso significa, em suma,
argumentação mais sólida e consistente, utilização de referenciais como
suporte, apreciação ponderada das postagens com base em práticas pessoais
e também exemplificação ou utilização de dados e notícias para sustentar
opiniões. O que nos leva, novamente, a questão da formação dos educadores
para o uso das tecnologias, conforme propõem a professora Maria Elizabeth
Bianconccini Almeida, em artigo sobre o tema.
Portanto, a formação do educador procura propiciar-lhe condições de
mergulhar na própria aprendizagem, refletir sobre como se aprende e
se ensina e como inserir a tecnologia computacional em sua prática
pedagógica com vistas à aprendizagem do aluno. Daí a abordagem
de formação contextualizada nas problemáticas existentes no tempo
e no espaço da instituição educacional. Porém, isso não significa
necessariamente que a formação deva se realizar fisicamente na
escola e sim que as necessidades da formação emergem do contexto
educacional no qual se busca desenvolver uma cultura que permita
ao educador tornar-se usuário crítico da tecnologia, incorporá-la à
prática pedagógica e assumir-se como um agente de mudança de
sua própria atuação e de seu contexto. Evidencia-se então a
epistemologia da prática mediante um processo em que prática e
103
teoria integram-se em um currículo orientado para a ação. [ALMEIDA,
2002]
Como os blogs e as páginas de Internet permitem a interação entre
quem coloca a informação e quem responde, sendo atemporais,
diferentemente das mídias mais tradicionais [como jornais, revistas, rádio ou
televisão], as postagens têm vida mais longa, que somente serão “tiradas do
ar” quando o autor das mesmas quiser. No entanto, quando “datadas” por
conta das idéias apresentadas nas mesmas, especialmente em casos nos
quais se utilizam notícias as quais não se agregam comentários, pesquisas,
dados, análises, sínteses, tendem a perder rapidamente sua importância e
visibilidade. Nesse sentido, aos educadores e profissionais que pretendem usar
os blogs como ferramenta efetiva em seu trabalho e profissão, compete a
criação de bases de argumentação, troca de idéias, experimentação, ousadia
[sem temer os riscos], interpretação, análise, crítica, síntese e proposição de
hipóteses que sejam perenes. As postagens que possuem essas
características podem tornar-se referenciais na Internet a partir de sua aparição
em mecanismos de busca como o Google ou ainda pela menção em outros
blogs e sites.
Além da característica atemporal, os blogs não possuem fronteiras
físicas que lhes impossibilitem cruzar as mais diversas fronteiras, permitindo
que as mensagens postadas possam ser lidas nos quatro cantos do mundo, ou
ao menos em países em que a língua portuguesa, no caso, seja compreendida
e utilizada. Indo ao encontro de uma das idéias defendidas por Michael Apple,
104
que preconiza a necessidade de preservar culturas, práticas e a própria
identidade das pessoas e povos.
O serviço ClustrMaps [www4.clustrmaps.com] realiza o mapeamento das
origens geográficas dos acessos a páginas da internet com o tamanho das
indicações circulares representando a significância dos acessos em termos
quantitativos. O mapa apresentado a seguir demonstra a origem dos acessos
do Blog Escolhendo a Pílula Vermelha entre os meses de maio de julho de
2008 [entre 13/05 e 30/09]. Nesse período foram computadas 1.836 [Mil
oitocentas e trinta e seis] visitas e 3.049 [três mil e quarenta e nove] pageviews.
Há acessos verificados em praticamente todas as regiões do Brasil, na América
do Norte [EUA e México], na Europa [notadamente em Portugal], na Ásia
[Japão e Índia], na Oceania [Austrália e Nova Zelândia] e na África [Angola e
Moçambique].
Como explicado anteriormente, o blog Escolhendo a Pílula Vermelha foi
utilizado como instrumento de comunicação e conexão entre o professor-
blogueiro e educadores da rede municipal de ensino da cidade de Bauru.
Nesse sentido a proposta era dar continuidade à apreciação de idéias relativas
105
ao uso das ferramentas das Tecnologias de Informação e Comunicação [TICs]
apresentadas em oficinas e palestras conduzidas naquele município pelo
professor e pesquisador responsável por este projeto de pesquisa.
Estando ativo a uma distância razoável do município de Bauru e ciente
da necessidade de dar continuidade a troca de idéias e informações, a
utilização do blog constituiu então a oportunidade para que isso pudesse
acontecer. Pode-se então afirmar que o blog passou a ser utilizado como uma
tecnologia de promoção da Educação a Distância (EAD), como comprovam as
várias respostas/comentários enviados e registrados no Escolhendo a Pílula
Vermelha em que os educadores se identificam como membros da rede
municipal de ensino de Bauru. Para referenciarmos a afirmação quanto ao uso
dos blogs como tecnologias de EAD, apresentamos, a seguir, duas
conceituações explicativas quanto a modalidade de Educação a Distância
intermediada pelo uso de ferramentas das NTICs.
Educação a distância é o processo de ensino-aprendizagem,
mediado por tecnologias, onde professores e alunos estão separados
espacial e/ou temporalmente. É ensino/aprendizagem onde
professores e alunos não estão normalmente juntos, fisicamente, mas
podem estar conectados, interligados por tecnologias, principalmente
as telemáticas, como a Internet. Mas também podem ser utilizados o
correio, o rádio, a televisão, o vídeo, o CD-ROM, o telefone, o fax e
tecnologias semelhantes. [MORAN, 1994]
A afirmação de Moran esclarece que para a efetivação da educação a
distância é necessário o uso de tecnologias, pois os participantes de cursos e
formações dessa natureza estão separados em termos geográficos e atuam
106
em diferentes tempos na utilização dos recursos disponibilizados. Moran ainda
esclarece que a Internet não é a única ferramenta tecnológica que permite o
exercício da educação a distância. Sua afirmação é complementada com a
afirmação a seguir, pois a mesma incorpora elementos como a possibilidade
dessa modalidade de ensino ser não apenas desenvolvida a distância,
podendo ser ainda complementar a atividades presenciais, o que a qualificaria
como semipresencial. Além disso, a apresentação de plataformas que
acomodam essa modalidade de trabalho educacional e o esclarecimento de
ferramentas potenciais para o apoio ao ensino a distância, entre as quais se
incluem os blogs.
EAD é a sigla referencial para Ensino a Distância. Modalidade que
pode ser desenvolvida exclusivamente à distância ou que pode estar
associada a cursos presenciais ou semipresenciais como ponto de
complementação e apoio ao processo de ensino-aprendizagem.
Estrutura-se em plataformas como o Teleduc, o Moodle, o Breeze (da
Macromedia) ou o Blackboard. Utiliza desde ferramentas básicas da
web como e-mails, fóruns e chats até, em alguns casos, elementos
mais sofisticados como videoconferência. O surgimento de novos
recursos como podcasts, vídeos onstream e as wikis está tornando as
possibilidades em EAD ainda mais poderosas. Além dessa
terminologia também se utiliza como sinônimo o vocábulo e-learning.
[MACHADO, 2008]
O que se atesta com isso é que, enquanto ferramenta de fácil confecção
e uso, manipulável até mesmo por leigos nos procedimentos de programação e
suporte técnico-operacional em informática, os blogs podem ser uma solução
rápida e barata para o estabelecimento de pontes de conexão entre
107
professores e alunos, palestrantes e público, educadores e educadores,
profissionais de outras especialidades e professores,...
Os blogs podem tanto ser efetivamente usados como divulgadores de
idéias próprias dos blogueiros como também de pensamentos e propostas de
outras pessoas e instituições existentes na Web. Isso acontece quando as
postagens indicam sites, blogs e links específicos e, dessa maneira, orientam o
olhar dos internautas que visitam sua página para a existência de outros
profissionais, pessoas ou instituições com propostas de valor, que possam
agregar informações, análises ou conteúdos.
O rompimento das barreiras do espaço/tempo tem como
conseqüência imediata a superação de fronteiras culturais. É possível
que comunidades muito distantes, como o CAp e escolas do Ceará,
ou muito próximas, como as outras escolas parceiras do EducaDi/RS
se interconectem, formando “redes de intercâmbios de saberes, de
formação recíproca e de criação coletiva”. Estas redes têm como
princípio básico o de que todos sabem algo que interessa, cuja
socialização é valiosa, na medida em que a troca ocorre em todos os
sentidos. [MAGDALENA; MESSA, 1998]
Cabe ressaltar, porém, que a indicação de links para páginas e blogs de
terceiros precisa ser feita sempre com critério e propósitos claramente
definidos, ou seja, ao orientar o olhar alheio para essas outras produções o
blogueiro também necessita se perceber como responsável pelas
conseqüências que esses encaminhamentos podem acarretar. O universo
virtual depende cada vez mais de uma participação consciente, ética e
108
respeitosa por parte de quem o produz em relação às pessoas as quais suas
mensagens são direcionadas. Disso decorre o comprometimento que também
precisa existir quando se encaminha alguém para outro destino virtual.
O advento das Tecnologias de Informação e Comunicação, a despeito
do que pensam muitas pessoas, não se deu da noite para o dia. A constituição
dos meios e recursos para que todo esse aparato viesse a existir e funcionar foi
elaborado ao longo de algumas décadas e, o seu uso disseminado a partir da
década de 1990 no Brasil, nem ao menos coincide com o crescimento
exponencial e até mesmo a compreensão das possibilidades e o uso desses
recursos nas escolas ocorrido alguns anos antes nos Estados Unidos, Europa
e Japão. Sabemos também que o processo de aperfeiçoamento que leva ao
surgimento de novas ferramentas e equipamentos é muito acelerado e que, é
difícil acompanhar toda essa evolução na medida em que ela acontece.
O que não pode deixar de acontecer é a rápida inserção dos educadores
brasileiros nesse cenário para que a partir da educação aperfeiçoe-se o uso
dessas tecnologias, inclusive os blogs. A consciência dos professores quanto a
essa necessidade existe, assim como a constatação de que ainda estamos
distantes dessa realidade pela falta de recursos em nível nacional, como afirma
o professor R. em resposta à postagem “A Internet: Base tecnológica da Era da
Informação”:
A internet abriu milhares de possibilidades de comunicação e acesso
à informação. Gerou também outras infinidades de ferramentas para
o professor e o aluno. Mas para que esta inserção da tecnologia e da
rede internacional de informação se processe de forma crítica, o
professor deve levar em consideração o contexto da realidade
109
brasileira. A maioria de nossos alunos, por mais que isso esteja
mudando, não possuem acesso algum ou de modo fácil à internet.
Pois, da mesma forma que a tecnologia da informação é hoje o que
a energia elétrica foi na Era Industrial, o computador e a internet são
hoje tão inacessíveis, para o brasileiro, como a energia elétrica foi
um dia na Revolução Industrial. (R., 08/05)
O acesso às novas tecnologias está se popularizando rapidamente.
Políticas públicas de incentivo à inclusão digital começam pelas escolas e
prolongam-se para o cotidiano das pessoas com medidas que baixam os
preços dos equipamentos para que os mesmos tornem-se viáveis no
orçamento doméstico da maioria dos brasileiros. A aquisição dos
computadores e o acesso à internet rápida são, no entanto, passos mais lentos
do que o que pode e deve ser feito a partir da educação.
As escolas públicas o, nesse sentido, a real porta de entrada rumo ao
mundo digital para uma parcela considerável de brasileiros. E isso é muito mais
do que satisfatório se levarmos em conta que acontecendo isso existe a
possibilidade real de tornar esse encontro com a internet e seus bilhões de
conteúdos disponíveis uma mais salutar situação. No entanto o que se espera
é que os professores e as redes blicas de ensino realmente se preparem
para esse desafio. A inclusão digital a partir da educação exige preparo,
planejamento, estratégias claras e bem definidas, objetivos pertinentes e ações
engajadas. A utilização de páginas pessoais para a implementação de projetos
auxilia os professores nesse processo de inclusão digital ao legar-lhes
possibilidades de familiarização e maior compreensão de ferramentas de uso
geral, disponibilizadas também através dos blogs [como enquetes,
110
comentários, deos, contato por e-mail, utilização dos comentários como
fórum...]. O uso de blogs nas escolas, tanto para a formação de professores
quanto para outras finalidades [como ferramentas de contato e aprofundamento
das atividades presenciais das disciplinas ou instrumento de comunicação e
estreitamento de laços com a comunidade como um todo] depende da
elaboração de projetos na área que contem com a participação de grupos de
professores e gestores, devidamente formados para o uso dos blogs,
planejando detalhadamente os pormenores a serem trabalhados através do
blog, conscientes das possibilidades de comunicação e intercâmbio da referida
ferramenta tecnológica e, ainda, capazes de abastecer de forma contínua estas
páginas a fim de informar e trocar idéias com as comunidades as quais
destinam este empreendimento. É igualmente importante que o trabalho com
blogs tenha desde o seu princípio esclarecidos quais o seus objetivos, a
serem acordados e propagados entre todos os participantes e, posteriormente
levados a conhecimento público para que também orientem e informem outras
unidades escolares e educadores.
A transformação e adequação da educação brasileira de acordo com as
necessidades do milênio dependem da integração das novas tecnologias na
escola. Mas não é disso que uma autêntica e eficiente mudança necessita.
A alteração passa por uma revisão de princípios, práticas, relações,
metodologias, planos de atuação, projeto político-pedagógico, currículo,
didática e, em especial, pela forma como os professores compreendem sua
função, seu ramo de atuação e a sua atuação.
Aos professores, educadores, pesquisadores compete não mais se
vitimizarem diante das circunstâncias e tentarem, a todo o custo, tornar alheia a
111
responsabilidade que lhes cabe no processo educativo atribuindo ao governo,
aos pais ou aos próprios estudantes, compromissos que são seus. Buscar
subterfúgios em falhas ou ausências do sistema ou de outros participantes do
mesmo não irá resolver os problemas, entre os quais o da inclusão digital.
Cabe ao educador consciente participar das transformações não como
um soldado a mais que se junta a um batalhão comandado por outrem, mas de
forma espontânea e perene, como comandantes dessa verdadeira revolução
que se avizinha e que é indispensável. Isso foi, inclusive, constatado a partir de
pesquisa conduzida pelos professores Fernando José de Almeida e Maria
Elizabeth Biancconcini Almeida, da PUC-SP, no desenvolvimento do projeto
NAVE, conforme podemos perceber a partir do trecho de seu artigo Educação
a distância em meio digital, apresentado abaixo.
Evidenciou-se a importância de o professor desenvolver
competências em relação aos seguintes aspectos: articulação entre
conteúdos envolvidos nas temáticas em estudo e estratégias
adequadas para o desenvolvimento do aluno empregando
metodologias apropriadas ao meio digital, expressão de idéias
através de distintas representações mediáticas (escrita, imagens,
sons, vídeos) e domínio das ferramentas do ambiente computacional.
[ALMEIDA; ALMEIDA, 2003]
Entre os educadores notável disposição para o trabalho e, assim
sendo, percebe-se que a idéia de incorporar novas tecnologias e de modificar e
modernizar o cotidiano escolar em suas bases e funcionamento é muito viável.
O professor que se revelou através dos comentários apresentados no blog
112
Escolhendo a lula Vermelha não é mais apenas um idealista que busca
realizar uma missão em benefício da coletividade que atende. Há, sem dúvida
alguma, pessoas que atuam em escolas que pensam e agem dessa maneira.
Como é possível perceber na declaração da professora T., em resposta a
postagem “O futuro já chegou”.
A revolução da informática faz parte do meu dia-a-dia. Vivo com a
tecnologia enquanto parceira e auxiliar que facilita a minha vida. Não
tenho dificuldades em usar a tecnologia, mas percebo o quanto
algumas pessoas são resistentes, se soubessem o quanto isso
facilita nossa vida "quebrariam" barreiras. [T., 19/04]
O que sobressai é a convicção de que mudanças são imprescindíveis e
que há possibilidades reais de efetivá-las, assim como se sabe que a todos são
atribuídas responsabilidades conforme o seu papel e que, certamente, um dos
mais pesados fardos compete aos professores e demais agentes do processo
educacional [diretores, orientadores, coordenadores,...]. Percebe-se assim que
é indispensável adicionar de forma urgente as prerrogativas dos educadores
uma atuação de cunho acentuadamente profissional às aspirações e ao
idealismo tão característico, inclusive no que tange ao uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação no âmbito escolar.
Qualquer transformação que se queira engendrar em educação passa,
porém, por atualizações e acesso à informação pelo professorado. A utilização
dos computadores, da rede mundial de computadores e de ferramentas que
facilitem e incentivem o contato freqüente de base diária com a informação e
novos conhecimentos na área educacional são de fundamental importância.
113
A experiência do blog Escolhendo a Pílula Vermelha foi marcante no
sentido de demonstrar o quanto esses educadores ainda carecem de
conhecimento e uso mais corrente das ferramentas e também de caminhos e
canais de acesso ao que realmente pode lhes ser útil e proveitoso pessoal e
profissionalmente. evidências claras em algumas postagens do
desconhecimento de autores/pesquisadores que estão modificando o cenário
da educação mundial, da falta de informação mais aprofundada acerca das
novas metodologias e propostas político-pedagógicas, do desinteresse
relativamente às políticas públicas relacionadas ao ensino no Brasil e mesmo
uma compreensão clara e ampla sobre a própria realidade de trabalho em que
esses profissionais atuam - suas escolas e redes locais de ensino.
O que é certo é que as Tecnologias de Informação e Comunicação,
assim como seus instrumentais de uso mais direto e cotidiano, como os
próprios blogs, podem ser bastante úteis no que tange a formação e
informação dos professores.
Até para que isso se efetive, a Web pode ser um ótimo manancial de
informações e de troca de idéias para que as transformações necessárias para
a modernização das escolas aconteçam. A divulgação de reportagens, relatos,
histórias comprovadas e entrevistas que demonstrem casos de modificações
bem-sucedidas em escolas do país ganhou um aliado de peso com a internet.
É necessário que se canalizem tais notícias de modo a permitir maior
visibilidade e acesso as mesmas por parte dos educadores de todo o Brasil e,
também, criar canais de comunicação e intercâmbio de experiências e
realizações entre os profissionais do ramo. Ferramentas para isso existem e
outras estão sendo criadas. Os blogs podem se firmar como alternativa e
114
contam, nesse cenário, com outros recursos igualmente ricos e interessantes
como os próprios comunicadores instantâneos, as redes sociais, plataformas
como o Second Life, estruturas de Ensino a Distância como os teleducs,
Learning Spaces, Moodle...
O uso de qualquer uma das novas ferramentas da tecnologia deve ser,
no entanto, feito com parcimônia, ponderação e inteligência. A escola deve ter
a responsabilidade e o respeito por seus clientes diretos [os estudantes e toda
a comunidade] de estudar tais instrumentos tecnológicos e adequar o seu uso
aos interesses de formação, socialização, integração, intercâmbio,
aprendizagem e crescimento preconizados em seus ditames.
Por isso mesmo, antes de utilizar qualquer recurso, os professores
precisam aprender como usar essas ferramentas tecnológicas e pesquisar que
possibilidades são as melhores para sua integração ao cotidiano de seus
alunos. Todo e qualquer procedimento que utilize as novas tecnologias em sala
de aula carece de análise e reflexão exaustiva antes de ocorrer a sua aplicação
e uso.
Da mesma forma, os recursos da tecnologia precisam ser vistos como
complementares ao processo de ensino-aprendizagem e tem que ser utilizados
paralelamente a outros recursos e técnicas anteriormente ou posteriormente
incorporadas a realidade das escolas. Computadores, Internet, blogs, sites,
portais, enciclopédias eletrônicas, jornais e revistas na web e demais recursos
são importantes e fazem parte da realidade daqui para frente, no entanto não
significam que livros, quadros-negros, lápis, canetas, cadernos, lápis de cor,
tesoura, cola, cartolina, massas de modelar e outros elementos básicos do
trabalho em escolas sejam aposentados a partir de agora. O uso indiscriminado
115
da tecnologia nas escolas, com o conseqüente abandono de outras práticas e
recursos pedagógicos pode contrariar as expectativas e ser nocivo e não
benéfico, como se espera, a formação integral das novas gerações.
As ferramentas da tecnologia e particularmente os blogs, objeto de
análise e estudo dessa tese, podem também criar um ambiente propício a troca
de idéias entre educadores de formação disciplinar diversa e, dessa forma,
tendem a fomentar o surgimento de uma educação que não esteja tão atrelada
à disciplinaridade que ainda reina de forma quase absoluta na educação
brasileira. O pensamento interdisciplinar, ou ao menos, multidisciplinar, pode
tornar-se uma realidade enriquecedora se os profissionais não apenas se
ativerem ao uso das modernas ferramentas das Tecnologias de Informação e
Comunicação para serem ouvidos, mas para também ouvir o que os outros,
que podem ser tanto seus próprios alunos quanto educadores de sua própria
instituição ou de inúmeras outras, têm a dizer. Torna-se ainda mais fortuita a
adoção em larga escala de computadores e Internet nas escolas para que se
criem canais de comunicação direta entre os professores e a comunidade a
qual prestam serviços. Esse canal de contato e troca pode ser ainda mais
ampliado se entendido que o intercâmbio não pode e o deve se restringir a
ser local e sim se transformar em uma possibilidade de troca nacional e global.
Ao pensarmos na utilização dos blogs em educação, o que se pretende
é que essa ferramenta seja utilizada de forma consciente, esclarecedora,
responsável e engajada por parte de seus usuários, nesse caso específico,
educadores. O processo de produção da presente tese, ao permitir a interação
continuada entre os participantes através do blog Escolhendo a lula
Vermelha com o responsável pelo projeto, criou mais do que possibilidades de
116
utilização das ferramentas provenientes das Tecnologias de Informação e
Comunicação. Permitiu, por certo, a sensibilização e a inserção [ou inclusão]
ao universo virtual para parcela expressiva dos professores da rede municipal
de Bauru que, apesar de já, em muitos casos, possuírem alguma experiência
prévia no uso do computador e de aplicativos básicos [Word, PowerPoint,
Excel, Explorer], ainda não o faziam de forma regular, continuada e motivada
por um claro objetivo: a compreensão e o estímulo ao uso das Tecnologias de
Informação e Comunicação na educação. No entanto, além disto, criou entre o
proponente da pesquisa e os professores de Bauru um elo que resultou no
surgimento de blogs das unidades educacionais locais [cujos links estão
disponíveis na página da Secretaria de Educação de Bauru, no endereço
eletrônico www.educabauru.com.br] e também, especialmente, numa relação
de respeito, amizade e consideração.
Nesse sentido é igualmente importante destacar que não somente o
surgimento dos blogs das Escolas Municipais de Bauru acima mencionados
permite constatar que a experiência com tais recursos foi validada entre os
educadores do mencionado município como, também, a própria apreciação
deixada por alguns deles através de seus comentários no blog Escolhendo a
Pílula Vermelha atestam que a participação nesta formação através dos blogs
foi considerada uma experiência apreciada por eles. É o que, por exemplo,
afirmações como “Hoje a informática faz parte do nosso dia a dia, ou nos
adaptamos a essa tecnologia ou ficamos por fora do mundo”, [da educadora C.,
em 07/05/2007], “Apesar de a educação estar caminhando lentamente em
relação à informática educacional tenho esperança na nossa rede [da
117
educadora A. L., também em 07/05/2007] ou ainda “com a globalização a todo
instante em nossas vidas tornou-se impossível o mundo sem a internet” [da
professora T.V., igualmente em 07/05/2007] nos permitem constatar. Tais
depoimentos espontâneos, enviados em resposta a postagem “Internet: A base
tecnológica da Era da Informação”, afirmam a consciência dos educadores
quanto ao advento e a incorporação das tecnologias como irremediável e,
também, demonstram que os educadores compreenderam que sua
participação na rede mundial de computadores se tornou uma premência, uma
necessidade urgente. No que se refere especificamente aos blogs, a afirmação
da professora A.C., “Estou gostando muito de trabalhar com Blog. Acredito que
esta é uma ferramenta eficaz para construção de conhecimentos. Este é o ‘pulo
do gato’ em educação com tecnologias: transformar informação em
conhecimentos significativos” enviada como resposta para a postagem “o que
significa ‘Blog’?” [07/05/2007], é definidora do sentimento destes educadores
quanto à esta ferramenta em particular.
A menção sempre próxima e presente ao filme Matrix tem, nesse
sentido, o intuito de provocar, estimular reflexões, permitir uma visão crítica e
ampliada não apenas dos blogs, mas também de todas as tecnologias que nos
circundam, para que possamos pensar acerca de uma questão final e decisiva:
Qual pílula deve ser escolhida: a vermelha ou a azul?
A mensagem de Matrix é que somos peões de uma sociedade
tecnológica moderna, na qual a vida acontece ao redor mas é pouco
influenciada por nós. Seja por escolha própria, seja por falta de
vontade de fazer uma escolha, a nossa tecnologia nos controla.
Numa tentativa de nos fazer acordar, o filme pede que questionemos
118
tudo aquilo que acreditamos a respeito das circunstâncias atuais. Se
parece bom, é bom para nós? As coisas que parecem estar além do
nosso domínio são realmente intocáveis? Se não se quer acordar,
então a resposta é sim. No entanto, para aqueles que têm uma farpa
na mente que não desaparece, o desafio é abrir os olhos e procurar a
verdadeira realidade e, afinal, escapar da Matrix. [SCHUCHARDT,
2003]
Você definiu sua preferência? Azul ou Vermelha? A opção pela
Vermelha, apregoada no filme e que orienta as ações da presente tese,
escolha esperada para os professores que participaram deste processo de
formação de educadores à distância utilizando a ferramenta blog como
plataforma de trabalho, estudos e atualização, preconiza a compreensão não
apenas da ferramenta, o discernimento quanto as suas particularidades, o
esclarecimento no que se refere ao uso pedagógico dos blogs e da web, mas,
em especial, o entendimento do crucial papel que o educador tem quanto à
inserção das referidas tecnologias no mundo. Se em Matrix tínhamos um
embate entre homem e tecnologia, surgido a partir da perda de controle da
humanidade sobre as tecnologias a partir do advento da inteligência artificial,
tônica não apenas da referida produção cinematográfica, mas também de
outros expoentes da ficção científica [livros e filmes], o que se preconiza com a
presente tese é a necessidade do prévio exame, estudo e apropriação das
tecnologias que emergem a cada novo dia a fim de torná-las elementos
diferenciais para o estudo, o trabalho e a própria existência humana sem que
se prescinda, por conta disto, da própria essência humana. O que queremos
não é a circunstância do embate, do confronto ou da guerra entre homens e
máquinas, conforme visto em Matrix. O que se pretende é que as tecnologias
119
continuem sendo instrumentos que solucionam e respondem a toda uma rie
de necessidades humanas. Funcionando então, como elementos que agilizam
e promovem maior conforto e facilidade para a existência humana.
Compreendendo, ao final, que a diferença entre embate e cooperação reside
na atitude que cada um de nós tem em relação às tecnologias...
120
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http://epocanegocios.globo.com/Revista/Epocanegocios/0,,EDG76944-8378-
2,00.html. Acesso em 09 mai. 2007.
ZABALA, Antoni. Pautar o ensino no vestibular é um erro. Isto é, Ed. 1858,
mai. 2005. Disponível em
http://www.terra.com.br/istoe/1858/especial_proxima_geracao/1858_pautar_o_
ensino_no_vestibular_e_um_erro.htm
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APÊNDICE
Segue abaixo relação dos temas abordados no blog Escolhendo a Pílula
Vermelha ao longo dos meses de Abril, Maio e Junho de 2007:-
Abril
I. Arte [Mais lições dos quadrinhos; Prazos 23/04; Escravos do Sistema
– 13/04]
II. Atualidades [O massacre na Virgínia Tech – 24/04]
III. Ciência [Qual é o seu tempo? – 14/04]
IV. Citações (Para refletir com Antoni Zabala I; Para Refletir com Antoni
Zabala II – 26/04; Receituário da Alegria – 15/04)
V. Educação (Quanto custa educar direito 24/04; Escolas que ensinam e
aprendem 24/04; Parados no tempo e no espaço 22/04; Sempre nos
últimos lugares? Até Quando? – 20/04)
VI. Leitura (Quantos livros você por ano 27/04; Em favor da leitura
21/04; Semana Monteiro Lobato 20/04; Bits e Bytes com o Menino
Maluquinho 18/04; Para entender o mundo em que estamos vivendo
16/04)
VII. Links (Caminhos para a emancipação digital 16/04; Reflexões sobre a
revolução tecnológica – 16/04)
VIII. Política (O Plano de Desenvolvimento da Educação – 25/04)
IX. Sobre o autor (O que você faria? 22/04; Por um mundo melhor
20/04; Respeito e sensibilidade no trabalho com os estudantes é
fundamental 20/04; Paixão pela vida 19/04; Nossa matéria-prima é o
mundo 19/04; Educação por um mundo melhor 17/04; Revitalizar
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17/04; Quem é quem? Homens e máquinas 14/04; Desafiando os
limites; Reavaliar para mudar; Viver sem receitas de bolo; Conexões
imprescindíveis – 13/04)
X. Tecnologia (Um computador por aluno 27/04; O onipresente Orkut
25/04; Ontem e hoje 19/04; O futuro chegou 18/04; Limites na
relação com a tecnologia 19/04; A revolução da informação
começou – 17/04; Formar para as novas tecnologias – 17/04)
XI. Universidade (As universidades que não temos – 25/04)
Maio
I. Arte (Leonardo Da Vinci A exposição de um gênio; Uma exposição
pelo corpo humano – 02/05)
II. Atualidades (Fraude com as carteirinhas de estudante 16/05; Escolas
de lata e outras barbaridades – 03/05)
III. Ciência (Multitaskers... A nova mutação dos seres humanos 29/05; O
mais fantástico entre todos os hipercomputadores 28/05; Tecnologia,
entendimento, inteligência e sabedoria – 04/05)
IV. Educação (EAD O compromisso do educador; EAD – A disciplina
necessária por parte do aluno 24/05; EAD Algumas considerações;
O uso nada pedagógico da internet e das tecnologias – 23/05; Educação
infantil não é prioridade no Brasil; O merecido sucesso de quem estuda
21/05; Direitos e Deveres em Educação; Prioridade número 1: A
alfabetização e as séries iniciais do fundamental; Recursos para
melhorar a educação? Quais? - 10/05; Escrever com qualidade 09/05;
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Nossa educação ainda está presa aos grilhões do industrialismo – 04/05;
Desafios aos gestores da educação – 03/05)
V. Leitura (Leitura, base da cidadania 18/05; Menos bibliotecas nas
escolas – 16/05)
VI. Mundo do Trabalho (Você é criativo?; Receita de Sucesso 11/05; O
futuro que estamos escrevendo para o Brasil... ; Falar bem e fazer ainda
melhor – 09/05; O mundo plano em que estamos vivendo – 02/05)
VII. Sobre o autor (As lições de um grande mestre I; As lições de um grande
mestre II; As lições de um grande mestre III 08/05; Agradecimento
04/05; Leões ou antílopes? Velozes o suficiente? – 02/05)
VIII. Tecnologia (As primeiras imagens disponíveis no blog através do
Youtube; Imagens inesquecíveis no blog 31/05; Algumas ferramentas
de pesquisa confiáveis na internet; O “admirável mundo novo” do
Second Life 30/05; Juliana Paes e Gianecchini campeões de
audiência na internet – 25/05; A internet dos sacos de papel na cabeça –
23/05; Considerações quanto ao uso da internet na escola - 21/05; Hoje
é o dia mundial da Internet...Que tal refletir um pouco sobre isso; Dia
Mundial da Internet... Mais considerações 17/05; Blogs em educação
exigem qualidade e preparo; Código de civilidade para o espaço virtual –
14/05; Internet: A base tecnológica da era da informação; O que significa
Blog? – 07/05)
IX. Questões Sociais (As desgraças que aproximam o Brasil e a África
29/05; Globalizar a solidariedade 28/05; O dia da África... Será que
podemos comemorar; A criança que queria ser uma televisão... Seria
cômico se não fosse trágico – 25/05)
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Junho
1. Atualidades (Professores vítimas da violência... Você foi agredido?
29/06; O país do vale-tudo – 14/06)
2. Ciência (Alfabetização científica já! 12/06; Você é o que você come...
Cuidado, a obesidade nos espreita – 11/06)
3. Educação (Como as pessoas aprendem: o conhecimento preexistente
18/06; Como as pessoas aprendem: aprender e entender 15/06; Como as
pessoas aprendem – 04/06; A TV pode auxiliar a educação – 01/06)
4. Leitura (Indicações bibliográficas da Revista GV Executivo – 25/06)
5. Mundo do trabalho (Mais lições do mundo do trabalho... 06/05; Lições
do mundo do trabalho – 05/05)
6. Tecnologia (Quem conhece e usa o Second Life? 27/06; Novos vídeos
do Youtube no Blog... Imperdíveis 22/06; Blogs educacionais recomendados
21/06; Mais ferramentas da tecnologia que podem ser úteis a educação
20/06; Novos recursos e ferramentas na internet – 13/06)
7. Sobre o autor (Lições do Dalai Lama: Pratique a bondade, o amor e a
compaixão – 22/06)
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