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Meus pais concluíram, todos dois, o primeiro grau somente. [...] Mas sempre
valorizando, sempre perguntando. Procurando saber com que a gente tava
desenvolvendo, cobrava demais. Ele (pai) fala até hoje, a tabuada, os fatos,
que ele preocupa muito com a matemática. Tanto é que é excelente em
matemática. E minha mãe nessa questão mesmo. De estar participando
mais das reuniões pelo fato dela ter mais tempo disponível. Participando
das reuniões, acompanhando questão de para-casa...Tudo isso que ela
participava. E valorizando sempre. Colocando pra gente sempre a
importância de estar estudando mesmo.
Os estudos para a família da professora Sílvia significavam muito, e seus pais
participavam ativamente da vida escolar dos filhos. Consequentemente, Sílvia
influenciou e participou da vida escolar do marido, que concluiu o ensino médio e
está fazendo cursinho para prestar vestibular. Sua escolha de voltar a estudar foi
difícil e incentivada pela professora Sílvia. “Foi uma escolha, assim, meio árdua, né,
porque eu falei com ele assim: ‘não, já que eu estou estudando, vou concluir agora o
ensino superior, já vou começar a pós, por que também você não volta?‛”
Cecília é professora efetiva da Rede Municipal de Contagem e trabalha no
turno da tarde com o Ensino Fundamental II. É solteira e não tem filhos. Seu pai era
fazendeiro e tinha apenas a quarta série primária, e sua mãe é professora
alfabetizadora, com o curso de Magistério. Em sua entrevista, demonstrou muito
orgulho da mãe, “excelente professora”, e ressaltou o gosto do pai pela leitura:
Minha mãe foi uma excelente professora. Ela trabalhou vinte e cinco anos
em sala de aula, alfabetizadora. Assim, muito bem quista na cidade, porque
a gente morava no interior. Então assim, aqueles alunos que estavam
quatro, cinco anos, que não conseguiam aprender a ler, eles iam pra minha
mãe e saíam de lá lendo. Então assim, ela tinha aquele amor. Eu cresci
vendo ela fazendo os trabalhos, corrigindo, elaborando atividades e tudo
mais.[...] Meu pai, ele tinha de primeira a quarta. Mas era uma pessoa
assim, muito... Assim, lia muito. Sempre incentivou a leitura. Dava pra gente
livros de presente, de uma cultura muito... Assim, era uma primeira a quarta,
mas que eu acho que hoje equivale, às vezes, ao ensino médio de muita
gente que tem por aí. Porque meu pai nunca deixou de ler. Meu pai morreu
ano passado, mas assim, até aos oitenta e tantos anos ele sempre tava
pegando livro emprestado, emprestando livro pra pessoas. Então, assim, ele
tinha essa... Ele passou isso pra gente. De gostar de ler, eu acho que vem
muito também do meu pai.
A professora Cecília demonstra em sua fala a importância da leitura para a
família e reforça um dado que encontramos nos questionários: de que a leitura é
uma importante forma de lazer e uma prática cultural frequente. Ao mesmo tempo,
critica a qualidade da educação nos dias de hoje, dizendo que o Primário de
antigamente equivale ao Ensino Médio atual.