experimentando um gostinho de Haiti dentro do próprio avião, lotado de haitianos que
conversavam sem parar e possivelmente retornavam de outros lugares do Caribe, ou
mesmo do próprio Panamá, onde pegamos a conexão que nos levaria até Porto Príncipe.
Ao desembarcarmos no aeroporto, eis que surgiu diante de nós o país em terra firme: a
funcionária que queria tirar tudo de dentro da minha mala, um trânsito caótico, o
barulho constante das buzinas, as ruas em obras, o exército da ONU, o Palácio do
Governo, enfim a vida ordinária das pessoas de um determinado lugar, no qual eu
ficaria pelos próximos dois meses.
Não estava sozinha nesta aventura. Éramos uma equipe
6
. Embora o tempo de
permanência no campo não tenha sido o mesmo para todos
7
, o trabalho de campo foi
preparado e encarado coletivamente. Ainda no Rio de Janeiro, já estávamos envolvidos
com o aprendizado do creóle haitiano, cujas aulas eram ministradas na ONG Viva Rio
pela pesquisadora Daniela Bercovitch. Além das aulas, participamos de reuniões e
seminários promovidos pelo Núcleo de Cultura e Economia (NUCEC) onde discutíamos
textos sobre o Haiti e planejávamos as estratégias do campo que nos aguardava. Neste
contexto, vale lembrar a presença da professora Lygia Sigaud e dos professores
Fernando Rabossi e Louis Herns Marcelin, que participaram conosco de algumas
discussões. Louis Marcelin dirigia na época o recém-fundado Institute Interuniversitaire
de Recherche et Developement (INURED) em Porto Príncipe, que representou um outro
espaço de inserção no universo intelectual haitiano, fundamental para o
desenvolvimento do nosso projeto.
6
Fazia parte de uma equipe composta por mais seis pessoas, além de mim. Entre elas estavam Felipe
Evangelista e Pedro Silveira, colegas da minha turma no mestrado do Museu Nacional/UFRJ, José Renato
Baptista que cursa o doutorado na mesma instituição, Federico Neiburg, meu orientador e autor do projeto
de pesquisa “Mercados e Moedas em Porto Príncipe (Haiti): uma etnografia no/do espaço internacional”,
que tornou a viagem financeiramente possível, Natacha Nicaise, pesquisadora filiada ao NUCEC assim
como todos nós, e William Jean, aluno do curso de graduação em ciências sociais da Universidade do
Estado de Porto Príncipe.
7
Eu, Pedro e Felipe chegamos juntos, em março. José Renato já estava no Haiti desde o início de
fevereiro e iria ficar lá até janeiro do ano seguinte. Federico e Natacha haviam chegado dias antes e
partiram no final de abril.
19