Download PDF
ads:
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIÊNCIAS
MÉDICAS
ESTUDO DE MODELO ANIMAL DE α-MANOSIDOSE INDUZIDA
POR SIDA CARPINIFOLIA
MARISETE BEDIN
Orientador: Dr. Roberto Giugliani
Tese de Doutorado
2006
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE MEDICINA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIÊNCIAS
MÉDICAS
ESTUDO DE MODELO ANIMAL DE α-MANOSIDOSE INDUZIDA
POR SIDA CARPINIFOLIA
MARISETE BEDIN
Orientador
: Dr. Roberto Giugliani
Tese apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas,
Mestrado e Doutorado, da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, para obtenção do título de Doutor em
Ciências Médicas.
Tese de Doutorado
2006
ads:
3
PENSAMENTO
ENQUANTO HOUVER SOL
Quando não houver saída, quando não houver mais solução.
Ainda há de haver saída, nenhuma idéia vale uma vida.
Quando não houver esperança, quando não restar nem ilusão.
Ainda há de haver esperança, em cada um de nós, algo de uma criança.
Enquanto houver sol, enquanto houver sol, ainda haverá.
Enquanto houver sol, enquanto houver sol.
Quando não houver caminho, mesmo sem amor, sem direção.
A sós ninguém está sozinho, é caminhando que se faz o caminho.
Quando não houver desejo, quando não restar nem mesmo dor.
Ainda há de haver desejo, em cada um de nós, aonde Deus colocou.
Enquanto houver sol, enquanto houver sol, ainda haverá.
Enquanto houver sol.
Titãs
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta tese a meu filho Guilherme, que através
de seu sorriso de criança mostra a cada dia que existe esperança e
ilusão, me dá forças para seguir em frente, seguir meu caminho,
mostrando que sempre haverá uma saída.
Eu te amo meu filho.
Marisete
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas e instituições que de forma direta ou
indireta contribuíram para que este trabalho fosse realizado e em especial:
Ao Dr. Roberto Giugliani, professor do Departamento de Genética
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e chefe do Serviço de Genética
Médica do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, em aceitar me orientar neste
trabalho, pela oportunidade, incentivo e exemplo de pesquisador.
Ao Dr. David Driemeier, professor do Departamento de Patologia
Clínica Veterinária da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pela colaboração
no trabalho e por ceder as instalações da Faculdade de Veterinária durante os
experimentos com os caprinos.
Ao Dr. Edson Moleta Colodel, professor do Departamento de
Clínica Médica Veterinária da Universidade Federal de Mato Grosso e professor
colaborador do Departamento de Patologia Clínica Veterinária da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, pela sua diária e incessante dedicação junto aos
caprinos durante os experimentos realizados, pela coordenação da equipe de
bolsistas que o auxiliaram nesta tarefa árdua e pela amizade.
6
À Marli Viapiana e Jurema De Mari, farmacêuticas/bioquímicas,
Régis Rolim Guidobono, biólogo, Christine Rachelle Prescendo Chaves e Kátia
Lazzaroni, bolsistas de iniciação científica, todos do Laboratório de Erros Inatos do
Metabolismo do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pelo auxílio na realização das
análises enzimáticas e cromatografias, pelo apoio e principalmente pela amizade.
À Dra. Maira Burin, pela colaboração na realização deste trabalho.
Á Dra. Rossana Peres, médica pediatra, pela ajuda na realização
das análises estatísticas e pela amizade.
À Dra. Ursula Matte, bióloga do Centro de Terapia Gênica do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, pelo auxílio e por disponibilizar o laboratório
para o cultivo das células e à bióloga Cristina Rojas Kath pela realização do cultivo
das células.
Aos colegas do Serviço de Genética Médica do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre, pela amizade.
7
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul, instituição que devo
imensa gratidão por toda minha formação acadêmica e mestrado, pela oportunidade
em obter mais este título.
Ao Curso de Pós-Graduação em Medicina: Ciências Médicas da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul e seu corpo docente, pela minha
qualificação e obtenção deste título.
A Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), ao Grupo de Pesquisa e Pós-Graduação (GPPG) e ao Fundo
de Incentivo à Pesquisa e Eventos do Hospital de Clínicas de Porto Alegre
(FIPE/HCPA), pelo auxílio financeiro.
A meus pais Almerindo e Ivany, a minha irmã Margarete e ao meu
sobrinho Matheus Henrique, por fazerem parte da minha vida.
8
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................................13
FIGURA DA REVISÃO DA LITERATURA.................................................................................13
FIGURA DO PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS.................................................................13
FIGURA DO PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS .........................................................................14
LISTA DE TABELAS ..........................................................................................................14
TABELAS DA REVISÃO DA LITERATURA...............................................................................14
TABELAS DO PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS...............................................................15
TABELAS DO PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS .........................................................15
TABELAS DO SEGUNDO ARTIGO EM PORTUGUÊS.................................................16
TABELAS DO SEGUNDO ARTIGO EM INGLÊS........................................................................16
9
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................17
REVISÃO DA LITERATURA............................................................................................19
OLIGOSSACARIDOSES............................................................................................................19
OLIGOSSACARÍDEOS..............................................................................................................23
α- MANOSIDOSE.................................................................................................................24
ENZIMA α-MANOSIDASE...................................................................................................24
ESTRUTURA DO GENE............................................................................................................25
ASPECTOS CLÍNICOS .............................................................................................................26
DIAGNÓSTICO ........................................................................................................................27
TRATAMENTO ........................................................................................................................28
PREVALÊNCIA DA DOENÇA ...................................................................................................30
MODELO ANIMAL ..................................................................................................................32
OBJETIVOS..........................................................................................................................34
OBJETIVO GERAL ..................................................................................................................34
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................................................34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA REVISÃO DA LITERATURA....................35
PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS .........................................................................42
10
RESUMO...............................................................................................................................43
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................44
MATERIAL E MÉTODO....................................................................................................45
ANIMAIS EXPERIMENTAIS.......................................................................................................45
AMOSTRAS ..............................................................................................................................45
SEPARAÇÃO DOS LEUCÓCITOS ................................................................................................46
ANÁLISE ENZIMÁTICA.............................................................................................................47
CROMATOGRAFIA DE CAMADA DELGADA DE OLIGOSSACARÍDEOS.......................................48
ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................................48
RESULTADOS......................................................................................................................49
DISCUSSÃO..........................................................................................................................53
AGRADECIMENTOS..........................................................................................................55
BIBLIOGRAFIA...................................................................................................................56
PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS...................................................................................60
ABSTRACT...........................................................................................................................61
INTRODUCTION.................................................................................................................62
MATERIALS AND METHODS..........................................................................................63
EXPERIMENTAL ANIMALS.......................................................................................................63
SAMPLES .................................................................................................................................63
LEUKOCYTE ISOLATION ..........................................................................................................64
ENZYME ASSAYS.....................................................................................................................64
THIN-LAYER CHROMATOGRAPHY (TLC) OF OLIGOSACCHARIDES (OLS) .............................65
11
S
TATISTICAL ANALYSIS..........................................................................................................66
RESULTS ..............................................................................................................................67
DISCUSSION........................................................................................................................71
ACKNOWLEDGEMENTS..........................................................................................................73
BIBLIOGRAPHY.................................................................................................................74
SEGUNDO ARTIGO EM PORTUGUÊS ..........................................................................78
RESUMO...............................................................................................................................79
INTRODUÇÃO.....................................................................................................................80
MATERIAL E MÉTODO....................................................................................................81
ANIMAIS EXPERIMENTAIS.......................................................................................................82
CULTURA DE FIBROBLASTOS DE CAPRINOS............................................................................82
ANÁLISE DA α-MANOSIDASE, β-MANOSIDASE E β-GALACTOSIDASE....................................83
ANÁLISE ESTATÍSTICA ............................................................................................................84
RESULTADOS..........................................................................................................................85
DISCUSSÃO..........................................................................................................................87
AGRADECIMENTOS ................................................................................................................88
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................................89
SEGUNDO ARTIGO EM INGLÊS....................................................................................92
ABSTRACT...........................................................................................................................93
INTRODUTION....................................................................................................................94
MATERIAL AND METHODS....................................................................................................95
12
E
XPERIMENTAL ANIMALS.......................................................................................................96
GOAT FIBROBLASTS CULTURE................................................................................................96
ASSAY OF α-MANNOSIDASE, β-MANNOSIDASE AND β-GALACTOSIDASE..............................97
STATISTICAL ANALYSIS..........................................................................................................98
RESULTS .................................................................................................................................99
DISCUSSION......................................................................................................................101
ACKNOWLEDGEMENTS........................................................................................................102
BIBLIOGRAPHY...............................................................................................................103
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................106
13
LISTA DE FIGURAS
FIGURA DA REVISÃO DA LITERATURA
Figura 1: Rota metabólica de degradação de oligossacarídeos
FIGURA DO PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS
Figura 1: Cromatografia de camada delgada de OLS em urina de caprinos
alimentados com Sida carpinifolia (94 e 28 dias).
14
FIGURA DO PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS
Figure 1: Thin layer chromatography of OLS in urine of goats fed with Sida
carpinifolia (94 and 28 days).
LISTA DE TABELAS
TABELAS DA REVISÃO DA LITERATURA
Tabela 1: Aspectos moleculares e bioquímicos das oligossacaridoses
Tabela 2: Freqüência estimada das oligossacaridoses
15
TABELAS DO PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS
Tabela 1:
Efeito da dieta com Sida carpinifolia (94 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-galactosidase em leucócitos de caprinos.
Tabela 2: Efeito da dieta com Sida carpinifolia (28 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-galactosidase em leucócitos de caprinos.
Tabela 3: Efeito da dieta com Sida carpinifolia (28 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-glactosidase em plasma de caprinos.
TABELAS DO PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS
Table 1:
Efeito da dieta com Sida carpinifolia (28 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-glactosidase em plasma de caprinos.
Table 2:
Short term effect of Sida carpinifolia diet on α-mannosidase, β-
mannosidase, and β-galactosidase activities in goat leukocytes.
16
Table 3:
Short term effect of Sida carpinifolia diet on α-mannosidase, β-
mannosidase, and β-galactosidase activities in goat plasma.
TABELAS DO SEGUNDO ARTIGO EM PORTUGUÊS
Tabela 1: Efeito in vivo da dieta com Sida carpinifolia em cultura de fibroblastos de
caprinos sobre a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-
galactosidase.
Tabela 2: Efeito in vitro do swainsonine em cultura de fibroblastos de caprinos sobre
a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-galactosidase.
TABELAS DO SEGUNDO ARTIGO EM INGLÊS
Table 1: In vivo effect of Sida carpinifolia diet in goat fibroblasts culture on α-
mannosidase, β-mannosidase, and β-galactosidase activities.
Table 2: In vitro effect of swainsonine in goat fibroblasts culture on α-mannosidase,
β-mannosidase, and β-galactosidase activities.
17
INTRODUÇÃO
As doenças lisossômicas de depósito (DLD) representam um
grupo heterogênio de quase 50 doenças genéticas, que possuem em comum um
defeito genético em uma enzima específica, receptor, proteína ativadora, proteína
de membrana ou transportador lisossomal, levando ao acúmulo progressivo de
substratos específicos e deterioração da função celular. A extensão e a severidade
18
das DLD dependem do tipo e da quantidade do substrato que acumulam, porém
quase todas desordens possuem manifestações clínicas e neurológicas
progressivas. Muitos pacientes com DLD morrem na infância ou na adolescência e
os que sobrevivem apresentam decréscimo no tempo de vida e morbidades
significantes.
A α- manosidose é uma DLD causada pela deficiência da α-
manosidase lisossomal e os indivíduos afetados apresentam acúmulo de
oligossacarídeos na urina e nos tecidos, originários da degradação incompleta
destas macromoléculas dentro dos lisossomos. O fenótipo clínico desta doença é
heterogêneo, variando desde a forma infantil severa até a forma juvenil moderada,
sendo o retardo mental sua principal característica. Considerando que a disfunção
neurológica é a principal característica da α-manosidose humana e que a
patofisiologia dos indivíduos afetados por esta doença ainda é pouco entendida, a
validação de um modelo animal em caprinos possibilitará estudar mecanismos
bioquímicos capazes de explicar a desordem neurológica provocada pela α-
manosidose.
19
REVISÃO DA LITERATURA
OLIGOSSACARIDOSES
Os lisossomos contêm numerosas hidrolases ácidas que
catabolisam proteínas, ácidos nucléicos, lipídios, sulfatos, fosfatos e carboidratos
20
complexos. Cada enzima lisossomal é parte de uma rota metabólica complexa que
reduz macromoléculas em componentes menores, que são reutilizados ou
eventualmente eliminados pela célula. A ausência ou o mau funcionamento de uma
enzima causa o bloqueio desta rota metabólica, levando ao acúmulo progressivo de
produtos intermediários tais como triglicerídeos não degradados, esteróides,
esfingolipídeos, sulfatídeos, esfingomielina, gangliosídeos e lipofucinas, que
ocupam cada vez mais espaço no lissossomo, aumentando o tamanho dos mesmos
e interferindo na função celular.
As oligosacaridoses (glicoproteinoses ou enfermidades de
acúmulo de glicoproteínas) são doenças lisossômicas de depósito cuja causa é a
atividade deficiente de uma das enzimas que participam na degradação das cadeias
de oligossacarídeos das glicoproteínas. A tabela 1 mostra os aspectos moleculares
e bioquímicos das oligossacaridoses. As conseqüências clínicas desses defeitos
dependem do tipo e da quantidade de macromoléculas acumuladas nas células, dos
tecidos envolvidos e da influência destas alterações sobre a fisiologia celular.
Podemos destacar o retardo mental e motor, dismorfias, problemas musculares,
problemas esqueléticos e organomegalias, que ocorrem em idades diferentes,
dependendo do tipo de doença. A α-manosidose é uma doença causada pela
deficiência da enzima α-D-manosidase ácida, produzindo um acúmulo intracelular e
o aumento na excreção urinária de oligossacarídeos ricos em manose [1]. A figura 1
mostra a rota metabólica de degradação de um oligossacarídeo.
Tabela 1 – Aspectos moleculares e bioquímicos das oligossacaridoses.
21
DOENÇA GENE MUTAÇÃO ENZIMA DEFICIENTE
α-Manosidose MAN B 19p13.2-112 α-manosidase ácida
β-Manosidose MAN B1 4q22-25 β-manosidase
Fucosidose FUCA 1 1p34 α-fucosidase
Sialidose NEU 6p21.3 α-neuraminidase
Adaptado de: Thomas, G.H., Disorders of Glycoprotein degradation: Alpha-
Mannosidosis, Beta-Mannosidosis, Fucosidosis, and Sialidosis: In: The Metabolic
and Molecular Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Sly WS, Valle D, editors,
McGraw-Hill, 2001: New York, p.3507-3533.
22
Figura 1: Rota metabólica de degradação de oligossacarídeos. SA = ácido siálico;
Gal = galactose; GlcNAc = ácido N acetil-glicosamina; Man = manose; Fuc = fucose;
Asn = asparagina. Adaptado de: Thomas, G.H., Disorders of Glycoprotein
degradation: Alpha-Mannosidosis, Beta-Mannosidosis, Fucosidosis, and Sialidosis:
In: The Metabolic and Molecular Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Sly WS,
Valle D, editors, McGraw-Hill, 2001: New York, p.3507-3533.
23
OLIGOSSACARÍDEOS
Oligossacarídeos são hidratos de carbono (açúcares) pequenos
constituídos de 3 a 100 moléculas de monossacarídeos ligados à asparagina (Asn),
que fornecem diversas modificações pós-traducional às proteínas intracelulares e às
recentemente sintetizadas. A estrutura de um oligossacarídeo influencia na
bioatividade, na conformação, na localização e na imunogenecidade das proteínas,
como também define características de adesão entre glicoconjugados e outras
proteínas. Os oligossacarídeos são mediadores nos processos de reconhecimento
celular [2-5]. Diversas proteínas intra e extracelulares estão ligadas a
oligossacarídeos, incluindo enzimas, receptores de superfície celular, hormônios,
imunoglobulinas e antígenos virais. A biossíntese de oligossacarídeos ligados à Asn
é altamente compartimentalizada nas células eucarióticas e ocorre em membranas
de organelas com rotas metabólicas secretoras, incluindo o retículo endoplasmático
e o complexo de Golgi [6].
24
α- MANOSIDOSE
A α-manosidose (MIM 248500) foi descrita primeiramente em
1967 por Öckerman como um distúrbio metabólico resultante do defeito
geneticamente condicionado à enzima lisossomal α-manosidase (EC 3 .2.1.24),
responsável pelo catabolismo de glicoproteínas [7]. É uma doença autossômica
recessiva que afeta tanto homens quanto mulheres [8] e que se apresenta
clinicamente através de duas formas: α-manosidose tipo I ou infantil e α-
manosidose tipo II ou juvenil [1].
ENZIMA α-MANOSIDASE
A atividade normal da α-manosidase na célula resulta de ações
combinadas das α-manosidases presentes na membrana do complexo de Golgi,
com pH neutro e da forma presente nos lisossomos, com pH ácido, especificidade
restrita ao substrato, incluindo compostos sintéticos como o p-nitrofenil-α-
manosideo e sensibilidade a alcalóides indolizidínicos como o swainsonine [9]. Os
25
pacientes com α-manosidose possuem ausência da forma ácida da enzima, porém
mantém a forma neutra [10].
ESTRUTURA DO GENE
O gene que codifica a enzima α-manosidase em humanos foi
isolado e codificado como MANB, possui aproximadamente 22 kb e consiste de 24
exons. Mais precisamente, sabe-se que este gene está localizado no cromossomo
19p 13.2 [11]. Até hoje estão identificadas 28 mutações deste gene que codificam
para doenças de acúmulo lisossomal (DLD), sendo a maior parte delas privadas e
sem uma clara relação fenótipo-genótipo. A mutação mais freqüentemente
encontrada é a R750W, presente em 21% dos alelos de pacientes europeus [12]. O
RNAm do gene MANB possui 3443 pb [11] sendo também isolado e seqüenciado
em DNA de felinos [13] [1] e bovinos [14]. Já em felinos a semelhança é de 81%
[15]. O gene também foi purificado de fígado bovino e, da mesma forma como no
tecido humano, apresenta-se organizado em 24 exons [14]. Em ratos, o gene da α-
manosidase possui 75% da seqüência de aminoácidos semelhantes com o gene da
α-manosidase humana [16].
26
ASPECTOS CLÍNICOS
Os pacientes com α-manosidose tipo I e tipo II apresentam retardo
mental, face grosseira, algum grau de disostose múltipla, surdez,
hepatoesplenomegalia, hérnias, bem como cristalinos e córneas opacos.
Adicionalmente, os pacientes apresentam infecções bacterianas recorrentes. A
estrutura óssea dos pacientes apresenta configuração de aparência ovóide e
cuneiforme e a ressonância magnética cerebral pode apresentar sinais sugestivos e
ou mudança na intensidade da substância branca. Os pacientes com α-manosidose
tipo I têm deterioração mental bastante rápida e, muitas vezes vêm a falecer entre 3
e 10 anos de idade, contrastando com indivíduos com α-manosidose tipo II onde o
retardo mental torna-se aparente somente durante a adolescência. A perda da
audição é particularmente proeminente nos pacientes com α-manosidose tipo II,
enquanto que a disostose múltipla apresenta-se mais moderada que a encontrada
nos indivíduos com α-manosidose tipo I. O curso clínico desta doença é descrito
como gradual, algumas vezes com progressão imperceptível [8, 17]. Existem
indícios de que os pacientes com α-manosidose apresentam imunodeficiência
humoral e celular [18].
27
DIAGNÓSTICO
A investigação inicial dos pacientes com suspeita de α-
manosidose inclui o estudo radiológico da coluna lombo-sacra, com o objetivo de
confirmar ou excluir a presença de disostose múltipla, e a busca de linfócitos
vacuolados no sangue periférico. Como os pacientes apresentam um padrão típico
de excreção urinária de oligossacarídeos, faz-se necessário realizar cromatografia
destes compostos na urina. Os pacientes afetados por α-manosidose apresentam
quantidades elevadas de diversos oligossacarídeos nos tecidos e na urina,
derivados da digestão incompleta de glicoproteínas [7, 19]. Os indivíduos afetados
apresentam excreção anormal de oligossacarídeos, que podem ser detectados
através da técnica de HPLC Os indivíduos afetados apresentam excreção anormal
de oligossacarídeos, que podem ser detectados através da técnica de HPLC [20] e
da cromatografia em camada delgada. Porém, o diagnóstico de α-manosidose
somente é confirmado ou excluído através da atividade reduzida da α-manosidase
em leucócitos, podendo também ser utilizados fibroblastos e células cultivadas do
fluido amniótico [21]. A medida direta da α-manosidase em amostras de soro ou
plasma não tem mostrado a mesma confiabilidade dos níveis enzimáticos celulares
[8]. No entanto, se o pH for cuidadosamente selecionado em 4,0 , o plasma pode
28
ser utilizado para o diagnóstico de α-manosidose [22]. Foram registrados casos de
diagnóstico para α-manosidose no primeiro trimestre de gestação, entre a 8ª-10ª
semana, usando amostras de vilo coriônico [23], demonstrando que α-manosidose
pode ser detectada no início da gestação pela medida da enzima [24].
TRATAMENTO
O transplante de medula óssea foi realizado em um paciente com
sete anos de idade com α-manosidose, vindo a falecer 18 semanas após a cirurgia,
em decorrência de broncopneumonia. Foi realizada necropsia do paciente e a
atividade da α-manosidase em células do pulmão, fígado e cérebro foi normal e a
presença de oligossacarídeos no pulmão e fígado foi pequena, porém bastante
aumentada no tecido cerebral. Através da microscopia eletrônica, o pulmão e o
fígado apresentaram morfologia normal, entretanto o tecido cerebral apresentou
vacuolização bastante definida. Estes achados sugerem que o transplante de
medula óssea reverteu a atividade da α-manosidase, mas não conseguiu reverter o
acúmulo de oligossacarídeos no tecido cerebral [25]. A indicação primária de
transplante de medula óssea em pacientes com α-manosidose tem como objetivo
preservar a função neurocognitiva e prevenir o óbito precoce destes pacientes, uma
vez que a maior parte dos pacientes afetados manifestam a doença cedo (α-
manosidose tipo I) e somente 10-15% dos pacientes afetados manifestam a doença
29
mais tarde (α-manosidose tipo II) [1]. Entre janeiro de 1997 e outubro de 2003,
quatro pacientes com α-manosidose submeteram-se ao transplante de medula
óssea na Universidade de Minesota, nos Estados Unidos. Todos apresentavam
desequilíbrio neurocognitivo antes do procedimento. Em três deles, testes
neuropsicológicos realizados após o procedimento cirúrgico, demonstraram
estabilização da função intelectual para a maioria dos domínios. O estudo
demonstrou que pacientes com α-manosidose tipo II e que apresentam sinais
prematuros de déficit neurocognitivo devem ser indicados para transplante de
medula óssea [26]. A reposição enzimática da α-manosidase em fibroblastos de
pacientes com α-manosidose a partir de linfócitos demonstrou redução no depósito
lisossomal de oligossacarídeos contendo manose. No entanto, para o
prolongamento da correção enzimática há a necessidade de renovação periódica,
demonstrando que estes achados podem ser altamente relevantes à função que os
linfócitos exercem na terapia de reposição enzimática [27].
30
PREVALÊNCIA DA DOENÇA
Através de dados fornecidos por registros de famílias que
possuem prole de homens e mulheres afetadas com α-manosidose e através de
resultados de mapeamento molecular confiou-se que esta doença é autossômica
recessiva [8]. Deste modo, entre indivíduos hetrerozigotos, a cada gestação, o risco
de gerar uma criança afetada com α-manosidose é de 25%. A literatura registra pelo
menos 90 casos de α-manosidose [1] sendo que um caso foi diagnosticado no
Laboratório Regional de Erros Inatos do Metabolismo (Serviço de Genética Médica
do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil) entre 1982-2000 [21], sendo que até
a presente data este laboratório não diagnosticou novos casos da doença. Na
Austrália, foram diagnosticados 4 casos entre 1980 e 1996 sendo que a prevalência
da doença neste país (calculada com os casos diagnosticados nos períodos pré e
pós-natal/número de recém nascidos vivos) foi estimada em 1/1.056.000 [28]. A
tabela 2 mostra a freqüência estimada da α-manosidose.
31
Tabela 2 – Freqüência estimada das oligossacaridoses.
Doença
Nº de casos
diagnosticados pelo
LREIM*
(1982-2000)
Nº de casos
diagnosticados na
Austrália**
(1980-1996)
Prevalência
na Austrália**
(/RN vivo)
α-Manosidose 1 4 1/1.056.000
β-Manosidose 0 0
Fucosidose 1 0
Sialidose 6 1 1/4.222.000
*LREIM: Laboratório de Erros Inatos do Metabolismo (Serviço de Genética Médica –
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Brasil).
**Prevalência: (casos diagnosticados no período pré-natal + casos diagnosticados
no período pós-natal/número de recém nascidos vivos)
Adaptado de: Schwartz IVD, Moura de Souza CF, Giugliani R, Oligosacaridosis y
Mucolipidosis, In: Diagnóstico e Tratamiento de las Enfermedades Metabólicas
Hereditarias, Sanjurjo P y Baldellou A, editores, 2001, Ergon, Majadahonda
(Madrid). p. 431-438.
32
MODELO ANIMAL
A doença α-manosidose induzida por plantas do gênero
Swainsona, Oxytropis, Astragalus e Ipomoea desenvolve um quadro clínico em
animais conhecido como “locoismo”, com vacuolização de células em diversos
tecidos [29]. Embora a doença induzida seja muito similar à α-manosidose genética,
ela não é idêntica. Estas plantas contêm o alcalóide indolizidínico swainsonine, que
inibe a enzima lisossomal α-manosidase e induz o acúmulo de oligossacarídeos
contendo manose nos lisossomos de diversas células [30-33] e a Golgi manosidase
II, enzima associada com os processos de oligossacarídeos durante a glicosilação
de glicoproteínas. A conseqüência da doença induzida em animais é o acúmulo de
oligossacarídeos contendo manose e oligossacarídeos híbridos nos lisossomos [34-
36]. Através de cromatografia líquida e gasosa, o alcalóide swainsonine foi
identificado como constituinte tóxico da planta nativa Sida carpinifolia (gênero
Swainsona) em uma concentração de 0,006% de seu peso seco [37].
A α-manosidose foi observada pela ingestão de plantas do gênero
Swainsona, Oxytropis, Astragalus e Ipomoea em cavalos, bovinos, ovinos e
caprinos, causando perturbações neurológicas ocasionadas pelo alcalóide
indolizidínico swainsonine [30-33]. Na Inglaterra, em 1980, a α-manosidose felina foi
a primeira a ser descoberta em gatos domésticos e, subseqüentemente, em gatos
Persas na Suíça, Estados Unidos e na Bélgica. Em felinos, a doença foi
caracterizada por hepatomegalia sinais neurológicos e ampla vacuolização de
33
hepatócitos, neurônios e células gliais. A análise bioquímica no tecido cerebral dos
felinos detectou deficiência da enzima α-manosidase e a urina apresentou grande
quantidade de oligossacarídeos ricos em manose [38-42]. Em ovelhas que ingeriram
Oxytropis sericea, Stegelmeier et al (1999) observaram diminuição da α-
manosidase no soro, vacuolização celular no pâncreas, epitélio renal, células de
Purkinje e neurônios cerebelares, entre outros tecidos [43]. Daniel et al (1984),
verificou que em ovelhas que ingeriram Astragalus lentiginosus ocorreu a presença
de oligossacarídeos na urina a partir do 3º dia após a ingestão da planta, com
declínio rápido da molécula após sua retirada da dieta [42]. Em Moçambique, num
estudo realizado por Balogh et al (1999), foi observado que caprinos que ingeriram
Ipomoea carnea apresentaram mudanças histológicas no cérebro e na medula
espinhal, com ampla vacuolização de neurônios e células gliais [45]. Em ovinos e
bovinos, a redução da α-manosidase no plasma readquiriu valores normais 4-6 dias
após a interrupção da dieta contendo Astragalus lentiginosus. As alterações na
quantidade de oligossacarídeos na urina foram observadas no primeiro dia de
tratamento e perturbações neurológicas decorrentes da dieta foram observadas 38
dias após o início da dieta [29,44]. Em trabalho de Driemeier et al (2000), a análise
ultraestrutural e histológica em tecido pancreático e cerebral de caprinos
alimentados com Sida carpinifolia, demonstrou a presença de vacúolos, com
predominância nas células de Purkinge e pancreáticas acinares [31]. Tulsiani e
Touster (1983) observaram que após 12 semanas de injeções intramusculares de
swainsonine em ratos Wistar a α-manosidase lisossomal aumentou sua atividade no
fígado e no cérebro e reduziu no plasma [46]
34
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Estudar um modelo animal caprino para α-manosidose humana a
partir do consumo de dieta com Sida carpinifolia
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.1 Avaliar in vivo a atividade da α-manosidase e β-manosidase sobre
leucócitos e plasma de caprinos alimentados com Sida carpinifolia.
1.2 Avaliar in vivo a atividade da β-galactosidase em leucócitos de
caprinos alimentados com Sida carpinifolia.
1.3 Avaliar in vivo a atividade da β-glicuronidase em plasma de
caprinos alimentados com da Sida carpinifolia.
1.4 Avaliar in vivo a excreção urinária de oligossacarídeos em caprinos
alimentados com da Sida carpinifolia.
1.5 Avaliar in vivo a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-
galactosidase em fibroblastos de caprinos alimentados com Sida
carpinifolia.
1.6 Avaliar in vitro a atividade da α-manosidase em fibroblastos de
caprinos na presença de swainsonine.
35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA REVISÃO
DA LITERATURA
[1] Thomas G Disorders of Glycoprotein degradation: Alpha-Mannosidosis, Beta-
Mannosidosis, Fucosidosis, and Sialidosis. In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York. p. 3507-3533
[2] Kornfeld S 1992 Structure and Function of the Mannose 6-Phosphate/Insulinlike
Growth Factor II Receptors. Ann Rev Biochem 6:307-330
[3] Lee, YC 1992 Biochemistry of Carbohydrate-protein Interaction. Faseb J 6(13):
3193-3200
[4] Bevilacqua MP, Nelson RM 1993 Selectins. J Clin Invest 91(2):379-387
[5] Varki A 1993 Biological roles of oligosaccharides: all of the theories are correct
Glycobiology 3(2): 97-130
[6] Moremen KW Alpha-Mannosidosis in asparagine-linked oligosaccharide
processing and catabolism. In: Oligosaccharides in Chemistry and Biology: A
Comprehensive Hamdbook. Ernst HG, Sinay P (eds) 2000 Wiley New York p.
81-117
[7] Öckerman P-A 1967 A generalized storage disorder resembling Hurler's
syndrome. Lancet 2(239)
36
[8] Chester MA, Lundblad A, Öckerman P-A, Autio S Mannosidosis. In: Genetic
Errors of Glycoprotein Metabolism. Durand P and O'Brien JS (eds) 1982
Berlin p. 89
[9] Opheim DJ, Touster O 1978 Lysosomal alpha-D-mannosidase of rat liver.
Purification and comparison with the Golgi and cytosolic alpha-D-
mannosidases. J Biol Chem 253(4):1017-1023
[10] Taylor HA, Thomas GH, Aylsworth A, Stevenson RE, Reynolds LW 1975
Mannosidosis: deficiency of a specific alpha-mannosidase component in
cultured fibroblasts. Clin Chem Acta 59(1): 93-99
[11] Riise HMF, Berg T, Nilssen O, Romeo G, Tollersrud OK, Ceccherini I 1997
Genomic Structure of the Human Lysosomal alpha-Mannosidase Gene
(MANB). GENOMIC 42:200-207
[12] Michalski JC, Klein A 1999 Glycoprotein lysosomal storage disorders: alpha-
and beta-mannosidosis, fucosidosis and alpha-N-acetylgalactosaminidase
deficiency. Biochem Biophys Acta 1455(2-3): 69-84
[13] Berg T, Tollersrud OK, Walkley S U, Siegel D, Nilssen O 1997 Purification of
feline lysosomal alpha-mannosidase, determination of its cDNA sequence and
identification of a mutation causing alpha-mannosidosis in Persian cats.
Biochem J 328: 863-870
[14] Tollersrud OK, Berg T, Healy P, Evejen G, Ramachandram U and Nilssen O
1997 Purification of bovine lysosomal alpha-mannosidase, characterization of
its gene and determination of two mutations that cause alpha-mannosidosis.
Eur J Biochem 246(2):410-419
37
[15] Berg T, Monica M, Riise F, Hansen GM, Malm D, Tranebjærg L, Tollersrud OK
Nilssen O 1999 Spectrum of Mutations in -Mannosidosis. Am J Hum Genet
64:77-88
[16] Beccari T, Appolloni MG, Costanzi E, Stinchi S, Stirling JL, Della Fazia MA,
Servillo G, Viola MP, Orlacchio A 1997 Lysosomal alpha-mannosidases of
mouse tissues: characteristics of the isoenzymes, and cloning and expression
of a full-length cDNA. Biochem J 327(1): 45-49
[17] Desnick RJ, Grabowski GA, Brunning RD, Quie PG, Sung JH, Gorlin RJ, Ikonne
JU 1976 Clinical, morphological, immunologic and biochemical studies.
Pediatric Res 19(985)
[18] Malm D, Halvorsen S, Tranebjærg L, Sjursen H 2000 Immunodeficiency in
alpha-mannosidosis: a matched case-control study on immunoglobulins,
complement factors, receptor density, phagocytosis and intracellular killing in
leucocytes. Eur j Pediatr 159(9): 699-703
[19] Strecker G, Fournet B, Bouquelet S, Montreuil J, Dhondt JL, Farriaux JP 1976
Chemistry of urinary mannosides excreted in mannosidosis. Biochimie 1976
58(5): 579-586
[20] Sewell AC 1979 An improved thin-layer chromatographic method for urinary
oligosaccharide screening. Clin Chim Acta 92(3): 411-414
[21] Schwartz IVD, Moura de Souza CF, Giugliani R Oligosacaridosis y
Mucolipidosis. In: Diagnóstico e Tratamiento de las Enfermedades Metabólicas
Hereditárias. Sanjurjo P y Baldellou A (eds) 2001, Ergon Majadahonda
(Madrid). p. 431-438.
38
[22] Prence EM, Natowicz MR 1992 Diagnosis of alpha-mannosidosis by measuring
alpha-mannosidase in plasma. Clin Chem 38(4): 501-503
[23] Poenaru L, Kaplan L, Dumez J, Dreyfus JC 1974 Evaluation of possible first
trimester prenatal diagnosis in lysosomal diseases by trophoblast biopsy.
Pediatr Res 18(10):1032-1034
[24] Petushkova NA 1991 First-trimester diagnosis of an unusual case of alpha-
mannosidosis. Prenat Diag 11(5): 279-283
[25] Will A, Cooper A, Hatton C, Sardharwalla IB, Evans DI, Stevans RF 1987 Bone
marrow transplantation in the treatment of alpha-mannosidosis. Arch Dis Child.
62(10):1044-1049
[26] Grewal S, Shapiro E, Krivit W, Charnas L, Lockman L, Delaney K, Davies S,
Wenger D, Rimell F, Abel S 2004 Effective treatment of $alpha;-mannosidosis
by allogeneic hematopoietic stem cell transplantation. J Pediatr 144(5): 569-
573
[27] Abraham D, Shapiro E, Krivit W, Charnas L, Lockman L, Delaney K, Davies S,
Wenger D, Rimell F, Abel S 1985 Direct enzyme transfer from lymphocytes
corrects a lysosomal storage disease. Biochem Biophys Res Commun
129:5417-425
[28] Meikle PJ, Hopwood JJ, Clague AE, Carey WF 1999 Prevalence of lysosomal
storage disorders. Jama 281(3): 249-254
[29] Glew RH, Basu A, Prende, EM, Remaley AT 1985 Lysosomal storage diseases.
Lab Invest 53(3): 250-259
39
[30] Jolly RD, Slack PM, Winter PJ, Murphy CE 1980 Mannosidosis: patterns of
storage and urinary excretion of oligosaccharides in the bovine model. Aust J
Exp Biol Med Sci 58(4): 421-428
[31] Driemeier D, Colodel EM, Gimeno EJ, Barros,SS 2000 Lysosomal storage
disease caused by Sida carpinifolia poisoning in goats. Vet Pathol 37(2): 153-
159
[32] Loretti AP, Colodel EM, Gimeno EJ, Driemeier D 2003 Lysosomal storage
disease in Sida carpinifolia toxicosis: an induced mannosidosis in horses.
Equine Vet J 35(5): 434-438
[33 ]Molyneux RJ, James LF 1982 Loco intoxication: indolizidine alkaloids of spotted
locoweed (Astragalus lentiginosus). Science 216(4542): 190-191
[34] Dorling PR, Huxtable CR, Colegate SM 1980 Inhibition of lysosomal alpha-
mannosidase by swainsonine, an indolizidine alkaloid isolated from Swainsona
canescens. Biochem J 191(2): 649-651
[35] Gross V, Andus T, Tran-Thi TA, Schwarz RT, Decker K, Heinrich PC 1983 1-
deoxynojirimycin impairs oligosaccharide processing of alpha 1-proteinase
inhibitor and inhibits its secretion in primary cultures of rat hepatocytes. J Biol
Chem 258(20): 12203-12209.
[36] Tulsiani DR, Harris TM, Touster O 1982 Swainsonine inhibits the biosynthesis of
complex glycoproteins by inhibition of Golgi mannosidase II. J Biol Chem
257(14): 7936-9
40
[37] Colodel EM, Gardner DR, Zlotowski P, Driemeier D 2002 Identification of
swainsonine as a glycoside inhibitor responsible for Sida carpinifolia poisoning.
Vet Hum Toxicol 44(3): 177-178
[38] Blakemore WF 1986 A case of mannosidosis in the cat: clinical and
histopathological findings. J Small Anim Pract 27:447-455
[39] Burditt LJ, Chotai K, Hirani S, Nugent PG, Winchester BG, Blakemore W F 1980
Biochemical studies on a case of feline mannosidosis. Biochem J 189(3): 467-
473
[40] Jezyk PF, Haskins ME, Newman ALR 1986 Alpha-mannosidosis in a Persian
cat. J Am Vet Med Assoc 189(11): 1483-1485
[41] Maenhout, Kint JA, Dacremont GJ, Ducatelle R, Leroy JG, Hoorens JK 1988
Mannosidosis in a litter of Persian cats. Vet Rec 122(15): 351-354
[42] Warren CD, Alroy J, Bugge B,.Daniel PF,.Raghavan SS, Kolodny EH,.Lamar JJ,
Jeanloz RW 1986 Oligosaccharides from placenta: early diagnosis of feline
mannosidosis. FEBS Lett. 195(1-2): 247-252
[43] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Ralphs MH, Gardner DR, Molyneux RJ,
Pfister JA 1999 The pathogenesis and toxicokinetics of locoweed (Astragalus
and Oxytropis spp.) poisoning in livestock. J Nat Toxins 8(1): 35-45
[44] Daniel PF, Warren CD, James ALF 1984 Swainsonine-induced oligosaccharide
excretion in sheep. Time-dependent changes in the oligosaccharide profile.
Biochem J 221(3): 601-607
41
[45] de Balogh KK, Dimande AP, Van Der Lugt JJ, Molyneux RJ, Naude TW,
Welman WG 1999 A lysosomal storage disease induced by Ipomoea carnea in
goats in Mozambique. J Vet Diagn Invest 11(3): 266-273
[46] Tulsiani DR, Touster O 1986 Swainsonine, a potent mannosidase inhibitor,
elevates rat liver and brain lysosomal alpha-D-mannosidase, decreases Golgi
alpha-D-mannosidase II, and increases the plasma levels of several acid
hydrolases. Arch Biochem Biophys. 224(2): 594-600
42
PRIMEIRO ARTIGO EM PORTUGUÊS
ALFA-MANOSIDASE LISOSSOMAL EM CAPRINOS ALIMENTADOS COM
SIDA CARPINIFOLIA
Marisete Bedin
1,4
, Edson Moleta Colodel
2,3
, Marli Viapiana
1
, Jurema de Mari
1
,
Christine Rachelle Prescendo Chaves
1
, Ursula Matte
1
, David Driemeier
3
, Roberto
Giugliani
1, 4
.
1
Serviço de Genética Médica, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre,
Brasil
2
Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Brasil.
3
Departamento de Patologia, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
4
Curso de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
Palavras chave: α-manosidose, swainsonine, Sida carpinifolia, doença lisossomal,
modelo animal.
Endereço do autor:
Dra. Marisete Bedin
Serviço de Genética Médica, HCPA, Rua Ramiro Barcelos, 2350 CEP 90.035-003
Porto Alegre, RS, Brasil.
Tel.: +55 51 21018011 fax: +55 51 21018010
Endereço eletrônico: maris[email protected]
Artigo submetido para: Brazilian Journal of Medical and Biological Research.
43
RESUMO
A α-manosidose humana resulta a partir da deficiência da enzima
α-manosidase e acúmulo do progressivo de oligossacarídeos ricos em manose nos
lisossomos. Em modelo animal caprino, no 5º dia após a introdução da dieta com
Sida carpinifolia, a atividade da α-manosidase em leucócitos aumentou
significativamente, retornando aos níveis normais 2 dias após a retirada da planta
da dieta. A atividade da α-manosidase foi analisada no plasma e decresceu
significantemente 4 dias após a exposição dos animais à dieta com Sida carpinifolia,
retornando aos níveis normais 10 dias após a retirada da planta da dieta. As
atividades da β-manosidase e β-galactosidase em leucócitos não apresentou
alteração significativa, sendo similar para a atividade da β-glicuronidase no plasma
durante a exposição dos animais à dieta com Sida carpinifolia. Através de
cromatografia de camada delgada (CCD), foi observada uma excreção anormal de
oligossacarídeos na urina a partir do segundo dia após a exposição à dieta, que
persistiu até um dia após a retirada da planta. Os animais apresentaram
sinaisclínicos neurológicos que iniciaram no 10º dia após a ingestão da planta.
Estudos bioquímicos das conseqüências da dieta contendo Sida carpinifolia em
caprinos indicam que este modelo pode ser usado em investigações relacionadas à
α-manosidose humana.
44
INTRODUÇÃO
A doença humana α-manosidose resulta da deficiência da enzima
α-manosidase, levando a um acúmulo gradual de oligossacarídeos ricos em
manose nos lisossomos. O alcalóide swainsonine é conhecido como agente
causador do "locoismo", uma doença neurológica descrita em animais e que tem as
mesmas características da α-manosidose humana [1-5]. O swainsonine é um
inibidor potente da α-manosidase lisossomal (E.C. 3.2.1.24) e da Golgi manosidase
[6-8]. Este alcalóide foi isolado e identificado como constituinte da planta Sida
carpinifolia [9]. Caprinos e eqüinos que natural e experimentalmente ingeriram esta
planta apresentaram sinais clínicos da doença neurológica e vacuolização no
fígado, pâncreas, células acinares e neurônios, principalmente nas células de
Purkinje [1,3]. A disfunção neurológica é a principal caracterísitca da α-manosidose
humana [10], contudo a fisiopatologia dos indivíduos afetados por esta doença é
ainda pouco conhecida. O objetivo deste trabalho foi caracterizar um possível
modelo animal para a α-manosidose humana, através de estudos bioquímicos da α-
manosidase em leucócitos, plasma e oligossacarídeos (OLS) na urina de caprinos
alimentados com dieta contendo Sida carpinifolia.
45
MATERIAL E MÉTODO
ANIMAIS EXPERIMENTAIS
Foram realizados dois experimentos. O primeiro experimento
incluiu 6 caprinos machos da raça Saanen com 7 meses ± 10 dias de idade e o
segundo, incluiu 3 caprinos fêmeas da raça Saanen com 4 meses ± 15 dias de
idade. Os animais foram forçados a ingerir 500 g diárias de Sida carpinifolia, por 94
dias (no primeiro experimento) ou 28 dias (no segundo experimento). Os animais
receberam também ração comercial para complementar as necessidades diárias e
livre acesso à água. Os sinais clínicos foram observador durante todo período
experimental e a contagem sangüínea foi realizada semanalmente. O protocolo dos
animais experimentais foi aprovado pelo Comitê de Pesquisa e Pós-Graduação do
Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
AMOSTRAS
As amostras de urina foram coletadas e guardadas a -20ºC para
análise dos oligossacarídeos através de CCD. As amostras de sangue foram
coletadas em tubos com heparina e guardados a 2-8ºC para a separação dos
46
leucócitos. As amostras de plasma foram obtidas a partir da centrifugação do
sangue (400 x g/10 min) e guardadas a -20ºC.
SEPARAÇÃO DOS LEUCÓCITOS
Os leucócitos foram separados de acordo com Wottawa (1974)
[11]. Para cada amostra foram diluídos 5ml de sangue total com 5ml of PBS
(tampão fosfato salino). Com uma pipeta Pasteur, 5ml de sangue diluído foi
cuidadosamente transferido em um tubo limpo, sobre 1,5ml de Ficoll-Paque. As
amostras foram centrifugadas a 400 x g por 35 minutos a 20ºC. Com uma pipeta
Pasteur, foi removida a camada de leucócitos, sobre a interface, entre o Ficoll-
Paque e o plasma. Os leucócitos foram lavados com 5ml de PBS e centrifugados a
100 x g por 10 minutos a 20ºC. Para remover o excesso de eritrócitos foi adicionado
1ml de solução de sal balanceado e foi realizada uma centrifugação final (100 x g
por 10 minutos a 20ºC). A concentração de proteína foi determinada pelo método de
Lowry et al [12].
47
ANÁLISE ENZIMÁTICA
Todos substratos e reagentes foram adquiridos da Sigma (St.
Louis, MO, USA). A atividade da α-manosidase e β-manosidase foram determinadas
com os substratos fluorogênicos 4-metilumbeliferil-α-L-manopiranosídeo e 4-
metilumbeliferil-β-L-manopiranosídeo, respectivamente. Para o ensaio enzimático,
20 μl de leucócitos, previamente diluídos em água, e 20μl de amostra de plasma,
foram homogeneizados com 100μl da solução do substrato específico 2mM em
tampão sódio acetato 0,2M pH 4,0. A atividade da β-galactosidase foi analisada pelo
método de Suzuki (2001) [13], usando 4-metilumbeliferil-β-D-galactosídeo como
substrato. O ensaio conteve 200μL do substrato 1.33mM dissolvido em tampão
citrato-fosfato 0,1M, 100 μL de cloreto de sódio 0,2M e 100μL de leucócitos
previamente diluídos em cloreto de sódio 0,9%. A atividade da ß-Glicuronidase foi
analisada pelo método de Beaudet et al. [14]. O plasma (30μL) com 50μL de 4-
metilumbeliferil-ß-D-glicuronídeo 2mM foi dissolvido em tampão sódio-acetato 0,5M
pH 3,0. Todas reações enzimáticas foram incubadas por 1 hora a 37˚C e
interrompidas com 1,5mL de tampão glicina-NaOH, pH 10,3. O conteúdo protéico
dos leucócitos foi obtido entre 15 e 30mg de proteína. A fluorescência foi lida com
espectrofluorômetro Hitachi F-2000 (comprimento de onda de excitação e emissão
de of 365 e 450nm, respectivamente).
48
CROMATOGRAFIA DE CAMADA DELGADA DE
OLIGOSSACARÍDEOS
Todos solventes foram adquiridos pela Merck (Darmstadt,
Germany). As amostras foram aplicadas com seringa Hamilton a partir da parte
inferior de uma placa de alumínio de sílica gel H-60, sobre bandas de 8 mm de
largura. As placas desenvolveram duas corridas ascendentes em cuba de vidro
horizontal saurada com uma fase móvel, que consistiu de butano-ácido acético-água
(2:1:1 v/v/v). Entre as corridas, as placas foram secas em corrente de ar com ajuda
de um secador. As placas desenvolvidas foram nebulizadas com orcinol 0,2% em
H
2
SO
4
20% e aquecidas em estufa por for 10 min a 250ºC.
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram analisados através do teste estatístico ANOVA,
seguido pelo teste de Duncan, quando o teste F foi significante. A análise foi
realizada com software estatístico SPSS/PC1, versão 11.0 Chicago, IL, USA), e o
nível de significância foi p < 0.05.
49
RESULTADOS
No dia anterior ao experimento, quando os caprinos não haviam
sido alimentados com Sida carpinifolia, a atividade da α-manosidase em leucócitos
foi 128±28 nmoles4-MU/h/mg.proteína no primeiro experimento (tabela 1) e 104±6
nmoles4-MU/h/mg.proteína, no segundo (tabela 2). Após os animais terem sido
alimentados com Sida carpinifolia, a atividade da α-manosidase permaneceu nesses
valores até o 4º dia, em ambos experimentos. No 5º dia após a introdução da Sida
carpinifolia à dieta, a atividade da enzima aumentou significativamente no primeiro
(288±13 nmoles4-MU/h/mg.proteina) como no segundo experimento (303±45
nmoles4-MU/h/mg.proteína), retornando aos níveis normais 2 dias após a retirada
da planta da dieta (114±7 nmoles4-MU/h/mg.proteína, no primeiro experimento e
108±25 nmoles4-MU/h/mg.proteína, no segundo). A atividade da α-manosidase no
plasma foi analisada no segundo experimento (tabela 3), havendo um decréscimo
significante 4 dias após a exposição dos animais à dieta com Sida carpinifolia
(769±167 nmoles4-MU/h/ml) e retornando aos valores normais 9 dias após a
retirada da dieta. As atividades da β-manosidase e da β-galactosidase em
leucócitos não apresentou mudanças significativas (tabelas 1 e 2) como a atividade
da β-glicuronidase no plasma (tabela 3) que também permaneceu invariável durante
a exposição dos animais à dieta com Sida carpinifolia.
50
Tabela 1 – Efeito da dieta com Sida carpinifolia (94 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-galactosidase em leucócitos de caprinos.
Dieta com Sida carpinifolia (dias)
Dieta sem
Sida
carpinifolia
(dias)
Enzimas
2 dias
antes
40º 60º 94º 96º
α-manosidase 128±28 288±13* 533±103* 427±101* 369±96* 114±7
β-manosidase 1,9±0,6 1,7±0,4 1,7±0,3 2,8±0,8 1,9±0,7 2,1±0,5
βgalactosidase 59±10 54±12 53±13 51±4 58±5 56±8
As dados são médias de seis experimentos independentes realizados em duplicata.
A atividade das enzimas foi expressa em nmoles4-MU/h/mg.proteína. *p< 0.01
(teste de Duncan). 4-MU = 4-metilumbeliferil
Tabela 2 – Efeito da dieta com Sida carpinifolia (28 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-galactosidase em leucócitos de caprinos.
Dieta com Sida carpinifolia (dias)
Dieta sem
Sida
carpinifolia
(dias)
Enzimas
2 dias
antes
15º 20º 28º 30º
α-manosidase 104±6 303±45* 338±38* 334±36* 326±16* 108±25
β-manosidase 1,8±0,6 2,0±0,5 2,1±0,4 1,7±0,2 2,0±0,2 1,8±0,4
β-galactosidase 68±2 57±3 68±13 79±3 59±5 63±4
Os dados são medias de três experimentos independentes realizados em duplicata
A atividade das enzimas foi expressa em nmoles4-MU/h/mg.proteína.*p< 0.01
(teste de Duncan).
51
Tabela 3 – Efeito da dieta com Sida carpinifolia (28 dias) sobre a atividade da α-
manosidase, β-manosidase e β-glactosidase em plasma de caprinos.
Dieta com Sida carpinifolia (dias)
Dieta sem Sida
carpinifolia (dias)
Enzimas
2 dias
antes
10º 28º 37º
α-manosidase 1274±104 769±167* 463±162* 615±144* 1289±163*
β-manosidase 33±8 34±6 29±2 30±3 28±5
β-galactosidase 16±2 17±3 13±6 16±1 18±4
Os dados são media de três experimentos independentes realizados em duplicata.
A atividade das enzimas foi expressa em nmoles4-MU/h/mg.proteína.*p< 0.01 (teste
de Duncan).
52
1º 2º 3º 4º 5º 7º 11º 19º 26º 28º 29º 30º 31º 32º 42º
Figura 1: Cromatografia de camada delgada de OLS em urina de caprinos
alimentados com Sida carpinifolia (94 e 28 dias). As setas contínuas horizontais
indicam as bandas normalmente observadas em pacientes com α-manosidose
humana. As setas descontínuas verticais indicam o início (dia 1) e a retirada (dia 28)
da Sida carpinifolia da dieta dos animais.
Em ambos experimentos foram observadas mudanças nos sinais
clínicos à partir do 10º dia após a exposição dos animais à dieta com Sida
carpinifolia. No primeiro experimento, os sinais clínicos de doença neurológica
iniciaram no 37º dia, caracterizados por movimentos lentos evoluindo para tremores
musculares da cabeça e pescoço, ataxia cerebelar, hipermetria e dificuldade de
permanecer em pé após a posição de decúbito. Os animais apresentaram olhar fixo
e instabilidade no teste HR (levantar e soltar a cabeça rapidamente). Quando
colocados em decúbito lateral, retornavam à estação (ficar em pé) somente com
53
ajuda. Os animais permaneciam a maior parte do tempo deitados, em posição de
decúbito lateral ou esternal e apresentaram alterações intermitentes na consistência
das fezes (líquidas ou pastosas), que persistiram por 2 ou 3 dias. Sete dias após a
retirada da dieta com Sida carpinifolia, foi observada redução gradual nos sinais
clínicos neurológicos, embora alterações discretas ainda persistiram por mais 30
dias. No segundo experimento, no qual os caprinos ingeriram a dieta com Sida
carpinifolia durante 28 dias, não foram observados sinais neurológicos, porém no
25º dia após a exposição da planta, os animais demonstraram ligeira instabilidade
quando induzidos ao teste RH, que persistiram até 4 dias após a retirada da planta
da alimentação. Em ambos experimentos, foi observada excreção anormal de
oligossacarídeos na urina, através da cromatografia de camada delgada a partir do
2º dia após a exposição à dieta, que persistiu até um dia após a retirada da planta.
Em ambos experimentos, não observamos mudança na contagem sangüínea
durante a exposição à dieta com Sida carpinifolia (figura 1).
DISCUSSÃO
O alcalóide swainsonine, encontrado em plantas do gênero
Swainsona e identificado na planta Sida carpinifolia [9], é conhecido como agente
que causa, em animais, condição similar à α-manosidose humana, com redução na
atividade da α-manosidase ácida e acúmulo de oligossacarídeos na urina e tecidos
54
[15-18]. Em nossos experimentos, observamos que a exposição de caprinos a 94 e
28 dias à dieta com Sida carpinifolia aumenta em 2-4 vezes a atividade da α-
manosidase em leucócitos, enquanto que a atividade da β-manosidase e da β-
galactosidase não foram alteradas. No mesmo período experimental, a atividade da
α-manosidase no plasma diminuiu em 1,5-2 vezes. Nossos dados condordam com
Stegelmeier (1995, 1999) em bovinos e ovinos, e também por Locke (1980) em
bovinos e por Crawley (1999) em suínos, animais ingeriram plantas que contém o
alcalóide swainsonine [19-22]. Em Tulsiani (1983) a atividade da α-manosidase está
aumentada no fígado e no cérebro de ratos que foram tratados com swainsonine [5].
A atividade diminuída da α-mannosidase no plasma de caprinos alimentados com
dieta com Sida carpinifolia concorda com os achados de Bennet e Prence no
plasma de pacientes com α-manosidose [15,16]. A atividade da β-manosidase, β-
galactosidase e β-glicuronidase não alterou durante o período experimental. As
alterações observadas na atividade da α-manosidase em leucócitos iniciaram a
partir do 5º dia e no plasma a partir do 4º dia. Com a interrupção do tratamento, os
níveis da α-manosidase retornaram normal em 2 dias (leucócitos) e em 9 dias
(plasma), demonstrando que a inibição da enzima pelo swainsonine é reversível. O
aumento da atividade da α-manosidase em leucócitos e sua redução no plasma
pode estar relacionado a formação de moléculas híbridas a partir do alcalóide
swainsonine durante o mecanismo de formação das glicoproteínas. O alcalóide
swainsonine presente na Sida carpinifolia é hidrossolúvel, sendo rapidamente
absorvido pelas células e amplamente distribuído nos tecidos. No entanto, a
estrutura modificada das glicoproteínas na membrana dos leucócitos pode estar
55
dificultando a saída da α-manosidase da célula [23]. A análise urinária demonstrou
um modelo anormal de excreção de OLS a partir do 2º dia indicando que o acúmulo
de oligossacarídeos na célula pode estar ocorrendo mesmo antes de ser detectada
redução na atividade da α-manosidase. Estes estudos bioquímicos das
conseqüências da dieta com Sida carpinifolia em caprinos nos indicam que este
modelo pode ser usado em investigações relacionadas à α-manosidose humana.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi financiado através da CNPq, CAPES, e GPPG-
HCPA.
56
BIBLIOGRAFIA
[1] Driemeier D, Colodel EM, Gimeno EJ, Barros SS 2000 Lysosomal storage
disease caused by Sida carpinifolia poisoning in goats. Vet Pathol 37:153-
159
[2] Jolly RD, Slack PM, Winter PJ, Murphy CE 1980 Mannosidosis: patterns of
storage and urinary excretion of oligosaccharides in the bovine model. Aust J
Exp Biol Med Sci 58:421-428
[3] Loretti AP, Colodel EM, Gimeno EJ, Driemeier D 2003 Lysosomal storage
disease in Sida carpinifolia toxicosis: an induced mannosidosis in horses.
Equine Vet J 35: 434-438
[4] Molyneux RJ, James LF 1982 Loco intoxication: indolizidine alkaloids of spotted
locoweed (Astragalus lentiginosus). Science 216:190-191
[5] Tulsiani DR, Touster O 1983 Swainsonine, a potent mannosidase inhibitor,
elevates rat liver and brain lysosomal alpha-D-mannosidase, decreases Golgi
alpha-D-mannosidase II, and increases the plasma levels of several acid
hydrolases. Arch Biochem Biophys 224:594-600
[6] Gross V, Andus T, Tran-Thi TA, Schwarz RT, Decker K, Heinrich PC 1983 1-
deoxynojirimycin impairs oligosaccharide processing of alpha 1-proteinase
inhibitor and inhibits its secretion in primary cultures of rat hepatocytes. J Biol
Chem 258: 12203-12209
57
[7] Dorling PR, Huxtable CR, Colegate SM 1980 Inhibition of lysosomal alpha-
mannosidase by swainsonine, an indolizidine alkaloid isolated from
Swainsona canescens. Biochem J 191:649-651
[8] Tulsiani DR, Harris TM, Touster O 1982 Swainsonine inhibits the biosynthesis of
complex glycoproteins by inhibition of Golgi mannosidase II. J Biol Chem
257: 7936-7939
[9] Colodel EM, Gardner DR, Zlotowski P, Driemeier D 2002 Identification of
swainsonine as a glycoside inhibitor responsible for Sida carpinifolia
poisoning. Vet Hum Toxicol 44:177-178
[10] Thomas, G Disorders of Glycoprotein degradation: Alpha-Mannosidosis, Beta-
Mannosidosis, Fucosidosis, and Sialidosis. In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York. p. 3507-3533
[11] Wottawa AKG, Altman H 1974 A method for the isolation of human and animal
lymphocytes with Ficoll-Urografin. Wiener Klin Wochenschr 86:161-163
[12] Lowry OH, Rosebrough NJ, Farr AL, Randall RJ 1951Protein measurement with
the Folin phenol reagent. J Biol Chem 193:265-275
[13] Suzuki YSH, Oshima A Beta-Galatosidase Deficiency (beta-galatosidosis), GM1
Gangliosidosis and Morquio B Disease In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York p. 2785-2823.
[14] Beaudet AL, Diferrante NM, Ferry GD, Nichols BL 1975 Variation in the
phenotypic expression of ß-glucuronidase deficiency. Pediatrics 86:388-394
58
[15] Prence EM, Natowicz MR 1992 Diagnosis of alpha-mannosidosis by measuring
alpha-mannosidase in plasma. Clin Chem 38:501-503
[16] Bennet JK, Dembure PP, Elsas LJ 1995 Clinical and biochemical analysis of two
families with type I and type II mannosidosis. Am J Med Genet 55:21-26
[17] Chester MA, Lundblad A, Öckerman P-A, Autio S Mannosidosis. In: Durand P
and O'Brien JS (eds) Genetic Errors of Glycoprotein Metabolism Springer-
Verlag Berlin 1982 p.89
[18] Öckerman, P-A 1967 A generalized storage disorder resembling Hurler's
syndrome. Lancet 2(239)
[19] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Molyneux RJ 1995 Serum swainsonine
concentration and alpha-mannosidase activity in cattle and sheep ingesting
Oxytropis sericea and Astragalus lentiginosus (locoweeds). Am J Vet Res
56:149-154
[20] Locke KB, McEwan DR, Hamdorf IJ 1980 Experimental poisoning of horses and
cattle with Swainsona canescens. Aust Vet J 56:379-383
[21] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Ralphs MH, Gardner DR, Molyneux RJ,
Pfister JA 1999 The pathogenesis and toxicokinetics of locoweed (Astragalus
and Oxytropis spp.) poisoning in livestock. J Nat Toxins 8:35-45
[22] Crawley AC, Jones MZ, Bonning LE, Finnie JW, Hopwood JJ 1999 Alpha-
mannosidosis in the guinea pig: a new animal model for lysosomal storage
disorders. Pediatr Res 46:501-509
59
[23] Stahl P, Six H, Rodman JS, Schlesinger P, Tulsiani DR, Touster O 1976
Evidence for specific recognition sites mediating clearance of lysosomal
enzymes in vivo. Proc Natl Acad Sci U S A 73:4045-4049
60
PRIMEIRO ARTIGO EM INGLÊS
LYSOSOMAL ALPHA-MANNOSIDASE IN GOATS FED WITH
SIDA CARPINIFOLIA
Marisete Bedin
1,4
, Edson Moleta Colodel
2,3
, Marli Viapiana
1
, Christine Rachelle
Prescendo Chaves
1
, Ursula Matte
1
, David Driemeier
3
, Roberto Giugliani
1, 4
.
1
Medical Genetics Service, Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Porto Alegre, Brazil
2
Department of Veterinary Pathology, Federal University of Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Brazil.
3
Department of Pathology, Veterinary Faculty, Federal University of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brazil.
4
Post graduate Course in Medical Sciences, Federal University of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brazil.
Key-words: α-mannosidosis, swainsonine, Sida carpinifolia, lysosomal diseases,
animal models.
Corresponding author:
Dra. Marisete Bedin
Medical Genetics Service, HCPA, Rua Ramiro Barcelos, 2350 CEP 90.035-003
Porto Alegre, RS, Brazil.
Tel.: +55 51 21018011 fax: +55 51 21018010
E-mail address: marisetebedin@yahoo.com.br
Article submitted to: Brazilian Journal of Medical and Biological Research
61
ABSTRACT
Human α-mannosidosis results from α-mannosidase deficiency and progressive
accumulation of oligosaccharides rich in mannose in the lysosomes. In goat animal
model, in the 5
th
day after introduction of the Sida carpinifolia diet, the α-
mannosidase activity in leukocyte was significantly increased, returning to the normal
levels 2 days after the withdrawal of the plant from the diet. The plasma α-
mannosidase activity was analyzed, decreasing significantly 4 days after animal
exposition to the Sida carpinifolia diet, returning to normal values 10 days after the
withdrawing the plant from the diet. Activities of β-mannosidase and β-galactosidase
in leukocytes did not show significant change, being similar for β-glicuronidase
activity in plasma during animal exposition to the Sida carpinifolia diet. An abnormal
excretion of oligosaccharides in urine TLC was observed from the 2
nd
day after the
diet exposition, which persisted until one day after the withdrawal of the plant.
Animals presented neurological clinical signs beginning in the 10
th
day after feeding
the plant. The biochemical study of the consequences of the Sida carpinifolia diet in
goats indicates that this model can be used in investigations related to human α-
mannosidosis.
62
INTRODUCTION
The human disease α-mannosidosis results from deficiency of the
enzyme α-mannosidase, leading to a gradual accumulation of rich oligosaccharide
mannose in the lysosomes. The alkali swainsonine is known as agent causing
"locoism", a neurological illness described in animals which has the same
characteristics of human α-mannosidosis [1-5]. Swainsonine is a powerful inhibitor
lysosomal α-mannosidase (E.C. 3.2.1.24) and mannosidase II of the Golgi [6-8]. This
alkali was isolated and identified as a constituent of the plant Sida carpinifolia [9].
Goats and equine that naturally and experimentally ingested this plant presented
clinical signals of the neurological illness and vacuolization in liver, pancreas and
acinar cells and neurons, mainly in Purkinje cells [1,3]. The neurological dysfunction
is the main characteristic of human α-mannosidosis [10], however the
physiopathology of the individuals affected by this illness is still poorly understood.
The aim of this work was to characterize a possible animal model to human α-
mannosidosis, through biochemical studies of α-mannosidase in leukocytes, plasma
and oligosaccharides (OLS) in urine of goats fed with Sida carpinifolia diet.
63
MATERIALS AND METHODS
EXPERIMENTAL ANIMALS
Two trials were carried out. The first trial included 6 male goats of
Saanen race with 7 months ± 10 days of age and the second, 3 female goats of
Saanen race with 4 months ± 15 days of age. The animals were force fed with 500 g
of Sida carpinifolia daily, for 94 days (in the first trial) or 28 days (in the second trial).
Animals received also commercial feeding to complement dietary needs and had
free access to water. Clinical signals were accessed during all experimental period
and blood counts were made every week. The protocol to animals was approved by
the Research and Post-Graduation Committee of the Porto Alegre Clinical Hospital,
Porto Alegre, RS, Brazil.
SAMPLES
Urine samples were collected and kept at -20ºC to be analyzed by
oligosaccharides thin-layer chromatography (TLC). Blood samples were collected in
heparinized vials and kept at 2-8ºC for leukocytes isolation. Plasma was obtained
from blood centrifugation (400 x g/10 min) and kept at -20ºC.
64
LEUKOCYTE ISOLATION
Leukocytes were isolated according to Wottawa (1974) [11]. For
each sample, 5ml of total volume blood were diluted with 5ml of PBS (phosphate
buffer saline). Using a Pasteur pipette, 5ml of diluted blood sample were carefully
transferred to a clean centrifuge tube, on 1.5ml Ficoll-Paque. The samples were
centrifuged at 400 x g for 35 minutes at 20ºC. Using a Pasteur pipette the leukocytes
layer was removed on interface between Ficoll-Paque and plasma. Leukocytes were
washed with 5ml PBS and centrifuged at 100 x g for 10 minutes at 20ºC. To remove
the excess of erythrocytes it was added 1ml balanced salt solution and a final
centrifugation (100 x g for 10 minutes at 20ºC) was performed. Protein concentration
was determined by the method of Lowry et al [12].
ENZYME ASSAYS
All reagents and substrates were purchased from Sigma (St. Louis,
MO, USA). Activities of α-mannosidase and β-mannosidase were determined with
the fluorogenic substrates 4-methylumbelliferyl-α-L-mannopiranoside and 4-
methylumbelliferyl-β-L-mannopiranoside, respectively. For assay, 20μl of the
65
leukocytes, previously diluted in water, and 20 μl of the plasma sample, were mixed
with 100μl of a 2mM solution of specific substrate in 0.2M sodium acetate buffer, pH
4.0. β-galactosidase activity was assayed by the method of Suzuki (2001) [13] using
4-methylumbelliferyl-β-D-galactoside as substrate. The assay mixture contained
200μL of substrate at 1.33mM dissolved in 0.1M citrate-phosphate buffer, 100μL of
sodium chloride 0.2M and 100μL of leukocytes previously diluted in 0.9% sodium
chloride. ß-Glicuronidase activity was assayed by the method of Beaudet et al. [14].
Plasma (30μL) was incubated in an assay mixture contained 50μL of 4-
methylumbelliferyl-ß-D-glicuronide 2mM and dissolved in sodium acetate buffer 0.5M
pH 3.0. All reactions were incubated for 1 hour at 37˚C and stopped with 1.5mL of
0.5M glycine-NaOH buffer pH 10.3. The protein content of leukocytes was between
15 and 30mg of protein. Fluorescence was read with a Hitachi F-2000
spectrofluorometer (excitation and emission wave-length of 365 and 450nm,
respectively).
THIN-LAYER CHROMATOGRAPHY (TLC) OF
OLIGOSACCHARIDES (OLS)
All solvents were of analytical grade and supplied by Merck
(Darmstadt, Germany). The samples were spotted 10 mm from the bottom edge of
the plate, in the form of bands 8 mm width, with a Hamilton microlitre syringe on
66
silica gel aluminum plate H-60. Plates developments two linear ascendant carried
out trough horizontal glass chamber saturated with the mobile phase, witch
consisted of butane–acetic acid–water (2:1:1, v/v/v). Between subsequent
developments, plates were dried in a current of air with an air dryer for help.
Developed plates were sprayed with orcinol 0.2% in H
2
SO
4
20% and heated for 10
min at 250ºC in an oven.
STATISTICAL ANALYSIS
Data were analyzed by 1-way ANOVA, followed by the Duncan
multiple range test, when the F test was significant. The analysis was performed
using the statistical software pack-age SPSS/PC1, version 11.0 Chicago, IL, USA),
and the level of significance was set at p < 0.05.
67
RESULTS
In the day before the experiment, which goats were still not fed with
the Sida carpinifolia, α-mannosidase activity in leukocytes was 128±28 nmoles4-
MU/h/mg.protein in the first trial (table 1), and 104±6 nmoles4-MU/h/mg.protein in
the second (table 2). After animals were fed with the Sida carpinifolia, α-
mannosidase activity remained in these values until the 4
th
day, in both trials. In the
5
th
day after the introduction of the Sida carpinifolia diet, the activity of enzyme was
significantly increased in the first (288±13 nmoles4-MU/h/mg.protein) as in the
second trial (303±45 nmoles4-MU/h/mg.protein), returning to the normal levels 2
days after the withdrawal of the plant from the diet (114±7 nmoles4-MU/h/mg.protein,
in first trial, and 108±25 nmoles4-MU/h/mg.protein, in the second). The plasma α-
mannosidase activity was analyzed in the second trial (table 3), having a significant
decrease 4 days after animal exposition to the Sida carpinifolia diet (769±167
nmoles4-MU/h/ml) and returning to normal values 9 days after withdrawal of diet.
Activities of β-mannosidase and β-galactosidase in leukocytes did not show
significant change (tables 1 and 2) as β-glicuronidase activity in plasma (table 3)
which also remained unchanged during animal exposition to the Sida carpinifolia
diet.
68
Table 1 – Long term effect of Sida carpinifolia diet on α-mannosidase, β-
mannosidase, and β-galactosidase activities in goat leukocytes.
Diet with Sida carpinifolia (days)
Diet without
Sida
carpinifolia
(days)
Enzymes
2 days
before
5
th
40
th
60
th
94
th
96
th
α-mannosidase 128±28 288±13* 533±103* 427±101* 369±96* 114±7
β-mannosidase 1.9±0.6 1.7±0.4 1.7±0.3 2.8±0.8 1.9±0.7 2.1±0.5
β-galactosidase 59±10 54±12 53±13 51±4 58±5 56±8
Data are mean for six independent experiments performed in duplicate. Enzyme
activity expressed in nmoles4-MU/h/mg.protein.*p< 0.01 (Duncan’s multiple range
test). 4-MU = 4-methilumbeliferil
Table 2 – Short term effect of Sida carpinifolia diet on α-mannosidase, β-
mannosidase, and β-galactosidase activities in goat leukocytes.
Diet with Sida carpinifolia (days)
Diet witout Sida
carpinifolia
(days)
Enzymes
2 days
before
5
th
15
th
20
th
28
th
30
th
α-mannosidase 104±6 303±45* 338±38* 334±36* 326±16*
108±25
β-mannosidase 1.8±0.6 2.1±0.5 2.1±0.4 1.7±0.2 2.0±0.2 1.8±0.4
β-galactosidase 68±2 57±3 68±13 79±3 59±5 63±4
Data are mean for three independent experiments performed in duplicate. Enzyme
activity expressed in nmoles4-MU/h/mg.protein.*p< 0.01 (Duncan’s multiple range
test).
69
Table 3 – Short term effect of Sida carpinifolia diet on α-mannosidase, β-
mannosidase, and β-galactosidase activities in goat plasma.
Diet with Sida carpinifolia (days)
Diet without Sida
carpinifolia (days)
Enzymes
2 days
before
4
th
10
th
28
th
37
th
α-mannosidase 1274±104 769±167* 463±162* 615±144* 1289±163*
β-mannosidase 33±8 34±6 29±2 30±3 28±5
β-galactosidase 16±2 17±3 13±6 16±1 18±4
Data are mean for three independent experiments performed in duplicate. Enzyme
activity expressed in nmoles4-MU/h/mg.protein.*p< 0.01 (Duncan’s multiple range
test).
70
2º 3º 4º 5º 11º 19º 26º 28º 29º 30º 31º 32º 42º
Figure 1: Thin layer chromatography of OLS in urine of goats fed with Sida
carpinifolia (94 and 28 days). The horizontal continuous arrows indicate the bands
normally observed in patients with human α-mannosidosis. The vertical
discontinuous arrows indicate begin (day 1) and withdrawal (day 28) of the Sida
carpinifolia diet
from animals.
In both trials, clinical pictures were observed from the 10
th
day after
animal exposition to the Sida carpinifolia diet. In the first trial, in the 37
th
day, began
neurological clinical signs characterized by slow movements evolving to muscular
tremors of head and neck, cerebellar ataxia, hypermetria and difficulty to get up after
decubitus position. Animals presented fixed gaze, instability on the HR test (raise
and free the head quickly). When placed in lateral decubitus position, they had
difficulty in sains back the station, standing again only with aid. Animals remaining
71
most of the time lying in esternal or lateral decubitus position and had presented
intermittent alterations in the consistency of feces (liquid or soft), that persisted for 2
and 3 days. Seven days after withdrawal of the Sida carpinifolia diet, it was noticed
gradual reduction of the clinical signals, although discrete alterations had still
persisted for more 30 days. In the second trial, in which goats ingested Sida
carpinifolia diet during 28 days, neurological signs were not observed, but in the 25
th
day after the exposition to the plant, animals had demonstrated light instability, when
induced to HR test, that persisted up to 4 days after withdrawal of the plant from
feeding. In both trials, an abnormal excretion of oligosaccharides on urinary TLC was
observed from the 2
nd
day after the diet exposition, which persisted until one day
after withdrawal of the plant. In both trials, we did not observed changes alteration in
the blood counts during the exposition of the Sida carpinifolia diet (figure 1).
DISCUSSION
The alkali swainsonine, found in plants of the Swainsona genus
and identified in the Sida carpinifolia plant [9], has been known as an agent that
could cause a condition similar to human α-mannosidosis in animals, with reduction
in acid α-mannosidase activity and accumulation of oligosaccharides in urine and
tissues [15-18]. In our experiments, we observed that the exposition of goats to 94
and 28 days to the Sida carpinifolia diet increased 2-4 times the α-mannosidase
activity in leukocytes while β-mannosidase and β-galactosidase activities were not
72
affected. In the same experimental period, α-mannosidase activity in the plasma
diminished 1.5-2 times. Our dates agreement with Stegelmeier (1995, 1999) in
bovines and ovine, and also by Locke (1980) in bovines and by Crawley (1999) in
swines, animals witch ingested plants that contained the swainsonine alkali [19-22].
In Tulsiani (1983) the α-mannosidase activity increased in the liver and in the brain
of rats that were made treatment with swainsonine [5]. The diminished α-
mannosidase plasma activity in goats fed with Sida carpinifolia diet is in accordance
with the findings of Bennet and Prence in plasma of patients with α-mannosidosis
[15,16]. The β-mannosidase, β-galactosidase and β-glicuronidase activities had not
changed during the experimental period. The alterations observed in α-mannosidase
activity in leukocytes were from day 5 and in plasma from day 4. With the interruption
of the treatment, the α-mannosidase activity returned to normal levels in two days
(leukocytes) and in 9 days (plasma), demonstrating that the inhibition of the enzyme
by swainsonine is reversible. The increased α-mannosidase activity in leukocytes
and its reduction in the plasma can be related to the hybrid molecule formation from
swainsonine alkali in the mechanism of glycoproteins formation. The swainsonine
alkali present in Sida carpinifolia is hydro soluble and is quickly absorbed by the cells
and widely distributed in tissues. However, the modified structure of the glycoprotein
in leukocyte membrane can make difficult to α-mannosidase exit the cell [23]. Urine
analysis showing abnormal pattern of OLS excretion from day 2 indicates that
accumulation of oligosaccharides in cell may occur even before a reduction in α-
mannosidase activity is detected. This biochemical study of the consequences of
73
Sida carpinifolia diet in goats indicates that this model can be used in investigations
related to human α-mannosidosis.
ACKNOWLEDGEMENTS
This work was supported by grants from Brazilian funds CNPq,
CAPES, and GPPG-HCPA.
74
BIBLIOGRAPHY
[1] Driemeier D, Colodel EM, Gimeno EJ, Barros SS 2000 Lysosomal storage
disease caused by Sida carpinifolia poisoning in goats. Vet Pathol 37:153-
159
[2] Jolly RD, Slack PM, Winter PJ, Murphy CE 1980 Mannosidosis: patterns of
storage and urinary excretion of oligosaccharides in the bovine model. Aust J
Exp Biol Med Sci 58:421-428
[3] Loretti AP, Colodel EM, Gimeno EJ, Driemeier D 2003 Lysosomal storage
disease in Sida carpinifolia toxicosis: an induced mannosidosis in horses.
Equine Vet J 35: 434-438
[4] Molyneux RJ, James LF 1982 Loco intoxication: indolizidine alkaloids of spotted
locoweed (Astragalus lentiginosus). Science 216:190-191
[5] Tulsiani DR, Touster O 1983 Swainsonine, a potent mannosidase inhibitor,
elevates rat liver and brain lysosomal alpha-D-mannosidase, decreases Golgi
alpha-D-mannosidase II, and increases the plasma levels of several acid
hydrolases. Arch Biochem Biophys 224:594-600
[6] Gross V, Andus T, Tran-Thi TA, Schwarz RT, Decker K, Heinrich PC 1983 1-
deoxynojirimycin impairs oligosaccharide processing of alpha 1-proteinase
inhibitor and inhibits its secretion in primary cultures of rat hepatocytes. J Biol
Chem 258: 12203-12209
75
[7] Dorling PR, Huxtable CR, Colegate SM 1980 Inhibition of lysosomal alpha-
mannosidase by swainsonine, an indolizidine alkaloid isolated from
Swainsona canescens. Biochem J 191:649-651
[8] Tulsiani DR, Harris TM, Touster O 1982 Swainsonine inhibits the biosynthesis of
complex glycoproteins by inhibition of Golgi mannosidase II. J Biol Chem
257: 7936-7939
[9] Colodel EM, Gardner DR, Zlotowski P, Driemeier D 2002 Identification of
swainsonine as a glycoside inhibitor responsible for Sida carpinifolia
poisoning. Vet Hum Toxicol 44:177-178
[10] Thomas, G Disorders of Glycoprotein degradation: Alpha-Mannosidosis, Beta-
Mannosidosis, Fucosidosis, and Sialidosis. In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York. p. 3507-3533
[11] Wottawa AKG, Altman H 1974 A method for the isolation of human and animal
lymphocytes with Ficoll-Urografin. Wiener Klin Wochenschr 86:161-163
[12] Lowry OH, Rosebrough NJ, Farr AL, Randall RJ 1951Protein measurement with
the Folin phenol reagent. J Biol Chem 193:265-275
[13] Suzuki YSH, Oshima A Beta-Galatosidase Deficiency (beta-galatosidosis), GM1
Gangliosidosis and Morquio B Disease In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York p. 2785-2823.
[14] Beaudet AL, Diferrante NM, Ferry GD, Nichols BL 1975 Variation in the
phenotypic expression of ß-glucuronidase deficiency. Pediatrics 86:388-394
76
[15] Prence EM, Natowicz MR 1992 Diagnosis of alpha-mannosidosis by measuring
alpha-mannosidase in plasma. Clin Chem 38:501-503
[16] Bennet JK, Dembure PP, Elsas LJ 1995 Clinical and biochemical analysis of two
families with type I and type II mannosidosis. Am J Med Genet 55:21-26
[17] Chester MA, Lundblad A, Öckerman P-A, Autio S Mannosidosis. In: Durand P
and O'Brien JS (eds) Genetic Errors of Glycoprotein Metabolism Springer-
Verlag Berlin 1982 p.89
[18] Öckerman, P-A 1967 A generalized storage disorder resembling Hurler's
syndrome. Lancet 2(239)
[19] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Molyneux RJ 1995 Serum swainsonine
concentration and alpha-mannosidase activity in cattle and sheep ingesting
Oxytropis sericea and Astragalus lentiginosus (locoweeds). Am J Vet Res
56:149-154
[20] Locke KB, McEwan DR, Hamdorf IJ 1980 Experimental poisoning of horses and
cattle with Swainsona canescens. Aust Vet J 56:379-383
[21] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Ralphs MH, Gardner DR, Molyneux RJ,
Pfister JA 1999 The pathogenesis and toxicokinetics of locoweed (Astragalus
and Oxytropis spp.) poisoning in livestock. J Nat Toxins 8:35-45
[22] Crawley AC, Jones MZ, Bonning LE, Finnie JW, Hopwood JJ 1999 Alpha-
mannosidosis in the guinea pig: a new animal model for lysosomal storage
disorders. Pediatr Res 46:501-509
77
[23] Stahl P, Six H, Rodman JS, Schlesinger P, Tulsiani DR, Touster O 1976
Evidence for specific recognition sites mediating clearance of lysosomal
enzymes in vivo. Proc Natl Acad Sci U S A 73:4045-4049
78
SEGUNDO ARTIGO EM PORTUGUÊS
EFEITO DO SWAINSONINE SOBRE CULTURA DE
FIBROBLASTOS DE CAPRINOS
Marisete Bedin
1,4
, Edson Moleta Colodel
2,3
, Cristina Kath
1
, Marli Viapiana
1
, Jurema
de Mari
1
, Ursula Matte
1
, David Driemeier
3
, Roberto Giugliani
1,4
1
Serviço de Genética Médica, Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre,
Brasil
2
Departamento de Patologia Veterinária, Universidade Federal do Mato Grosso do
Sul, Mato Grosso, Brasil
3
Deparamento de Patologia, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil
4
Curso de Pós-Graduação em Clínica Médica, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, Porto Alegre, Brasil
Palavras-chave: α-manosidose, fibroblastos, swainsonine, Sida carpinifolia
Endereço do autor:
Dra. Marisete Bedin
Serviço de Genética Médica, HCPA, Rua Ramiro Barcelos, 2350 CEP 90.035-003
Porto Alegre, RS, Brasil. Tel.: +55 51 21018011; fax: +55 51 21018010
Endereço eletrônico: maris[email protected]
Artigo submetido para: Clinica Chimica Acta
79
RESUMO
Introdução: A ingestão de dieta com Sida carpinifolia por caprinos causa doença
neurológica conhecida como "locoismo", caracterizada por ataxia muscular,
hipermetria, hiperestesia e tremores na cabeça e pescoço. O alcalóide swainsonine
é inibidor específico da enzima lisossomal α-manosidase, enzima deficiente na
doença genética humana α-manosidose e foi identificado como constituinte tóxico
da Sida carpinifolia. Neste trabalho, nós investigamos o efeito in vivo da dieta com
Sida carpinifolia e o efeito in vitro do swainsonine em cultura de fibroblastos de
caprinos sobre a atividade da α-manosidase. Material e Método: O estudo consistiu
de seis caprinos fêmeas que ingeriram 500 g diárias de Sida carpinifolia durante 28
dias. Os fibroblastos foram obtidos de biopsias a partir da pele de caprinos e
cultivados com meio de cultura HAM-F10 contendo 10% de soro bovino fetal. Para
os estudos in vivo, as biopsias foram obtidas 02 dias antes e, 07, 14 e 28 dias após
a ingestão de Sida carpinifolia e 8 dias após a retirada da planta da dieta. Para os
estudos in vitro, os fibroblastos foram cultivados 48 horas em concentrações de
swainsonine de 0,02, 0,2, 2,0 e 5,0 μg/mL. Resultados: Nós observamos alterações
neurológicas discretas nos animais, que iniciaram entre a primeira e a segunda
semana de consumo de Sida carpinifolia. A atividade da α-manosidase em cultura
de fibroblastos de caprinos aumentou significantemente a partir do 14º dia após o
consumo da dieta com Sida carpinifolia, permanecendo alterada até o final do
80
experimento. No 8º dia após a retirada da dieta com Sida carpinifolia, a atividade da
α-manosidase permaneceu nos níveis normais. Em fibroblastos de caprinos
cultivados com swainsonine nas concentrações de 2,0 e 5,0 μg/mL, a atividade da
α-manosidase reduziu 52 e 72 por cento, respectivamente, em relação ao controle.
Conclusão: O alcalóide swainsonine adicionado à cultura de fibroblastos de
caprinos parece reproduzir a doença hereditária humana α-manosidose. No entanto,
a concentração de swainsonine presente na Sida carpinifolia provocou efeito
contrário sobre a α-manosidase. Os resultados estimam que a planta pode conter
substâncias que não são restritas somente à inibição da atividade da α-manosidase,
mas capazes de compensar o efeito inibitório e modificar a ação do swainsonine
sobre a enzima, ou mesmo impossibilitar o trafego da enzima na célula.
INTRODUÇÃO
A ingestão de Sida carpinifolia por caprinos causa doença
neurológica, conhecida como "locoismo” e caracterizada por ataxia, hipermetria,
hiperestesia e tremores musculares na cabeça e no pescoço e pela presença de
vacúolos nas células [1] com sintomas similares à doença genética humana α-
manosidose [2]. As características clínicas e patológicas desta doença em caprinos
81
que ingeriram Sida carpinifolia são similares aos animais que ingeriram plantas do
gênero Swainsona, Oxytropis, Astragalus e Ipomoea [3-5]. O swainsonie é o mesmo
alcalóide encontrado nas plantas do gênero Swainsona cenescens [6] e foi
identificado como constituinte tóxico da Sida carpinifolia, planta perene encontrada
no Sul do Brasil [7]. O swainsonine bloqueia o processamento de glicoproteínas
complexas [8] e leva ao aumento de oligossacarídeos ricos em manose na urina e
nos tecidos [9]. Neste trabalho, nós investigamos o efeito in vivo da dieta com Sida
carpinifolia e o efeito in vitro do swainsonine em cultura de fibroblastos de caprinos
sobre a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-galactosidase.
MATERIAL E MÉTODO
Os substratos 4-metilumbeliferil-α-L-manopiranosídeo, 4-
metilumbeliferil-β-L-manopiranosídeo, 4-metilumbeliferil-β-D-galactosídeo e
swainsonine sintético foram adquiridos da Sigma (St. Louis, MO, USA), o fosfato
sódico e o citrato, da Merck (Darm-stadt, Germany) e os reagentes e os meios de
cultura da Gibco BRL (Grand Island, NY, USA).
82
ANIMAIS EXPERIMENTAIS
O estudo experimental consistiu de seis caprinos fêmeas com 4
meses de idade da raça Saanen originários de uma fazenda livre de Sida
carpinifolia. Os caprinos foram forçados a ingerir 500g diárias de Sida carpinifolia
durante 28 dias. A alimentação dos animais foi complementada com ração
comercial e água ad libitum. Os sinais clínicos foram monitorados durante todo
período experimental e a contagem sangüínea foi realizada semanalmente. O
experimento foi ética e cientificamente aprovado pelo Comitê de Pesquisa e de Pós-
Graduação do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil.
CULTURA DE FIBROBLASTOS DE CAPRINOS
Para o estudo in vivo, as biopsias de caprinos foram obtidas 02
dias antes e, 7, 14 e 28 dias após a ingestão de dieta com Sida carpinifolia e 8 dias
após a retirada da planta da dieta. As biopsias (fragmentos de aproximadamente 1,0
x 0,5cm) foram coletadas alternativamente, na arte superior e medial das orelhas,
83
previamente lavadas com água corrente e detergente neutro e desinfetadas com
solução de álcool-iôdo a 5%. A área dicotomizada foi pressionada com gaze estéril
e os caprinos receberam aplicação de antibiótico e repelente. As amostras foram
transferidas para um frasco estéril contendo meio de cultura HAM-F10 adicionado
ao soro bovino fetal (SBF). Quando as culturas atingiram confluência foram
removidas com tripsina-EDTA e adicionadas a dois frascos contendo meio de
cultura HAM-F10 suplementado com SBF 10% e lavadas três vezes com tampão
sódio-fosfato. Após a centrifugação, o pelet contendo as células foi guardado em
freezer -40°C até a determinação do conteúdo protéico e atividade enzimática. Para
os estudos in vitro, os fibroblastos foram cultivados por 48 horas com concentração
de swainsonine de 0,02, 0,2, 2,0 e 5,0 μg/mL [10].
ANÁLISE DA α-MANOSIDASE, β-MANOSIDASE E β-
GALACTOSIDASE
As atividades da α-manosidase e β-manosidase foram
determinadas usando os substratos fluorogênicos 4-metilumbeliferil-α-L-
manopiranosídeo and 4-metilumbeliferil-β-L-manopiranosídeo, respectivamente.
Para os ensaios, foram misturados 20μl de fibroblastos previamente diluídos em
água com 100μl da respectiva solução do substrato 2mM em tampão fosfato-citrato
0,2 M, pH 4.0 a 37°C por 1 hora. A atividade da β-galactosidase foi analisada pelo
84
método de Suzuki [11] usando 4-metilumbeliferil-β-D-galactosídeo como substrato.
O conteúdo protéico dos leucócitos foi ajustado entre 15–30 mg. Para o ensaio, os
fibroblastos foram previamente diluídos em solução de cloreto de sódio 0,9% e,
100μL foram misturados com 200μL da solução do substrato 1,33mM em tampão
fosfato-citrato 0,1M, pH 4,0 e 100μL de solução de cloreto de sódio 0,2M a 37 °C
por 1 hora. A reação foi interrompida com 3mL de tampão glicina-NaOH 0,5M, pH
10,3. A fluorescência foi lida com espectrofluorômetro Hitachi F-2000 (comprimento
de onda de excitação e emissão de 365 e 450nm, respectivamente). O conteúdo
protéico foi determinado pelo método de Lowry et al [12].
ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados foram analisados pelo teste estatístico ANOVA, seguido
pelo teste de Duncan quando o teste F foi significante. A análise foi realizada
usando o software estatístico SPSS/PC1, versão 11.0 Chicago, IL, USA, e o nível de
significância usado foi p < 0.01.
85
RESULTADOS
Tabela 1: Efeito in vivo da dieta com Sida carpinifolia em cultura de fibroblastos de
caprinos sobre a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-galactosidase.
Dieta com Sida
carpinifolia (dias)
Dieta sem Sida
carpinifolia (dias)
Enzi
mas
Dois dias
antes
7º 14º 28º
α-manosidase 76±22 78±7 106±6* 148±36*
83±12
β-manosidase 1,1±0,1 0,7±0,5 1,3±0,2 0,9±0,1
0,9±0,2
β-galactosidase 254±29 204±11 283±12 260±48 235±13
Os dados são media para seis experimentos independentes realizados em triplicata.
A atividade enzimática foi expressa em in nmoles4-MU/h/mg.proteína.*p< 0.01
(teste de Duncan). 4-MU = 4-metilumbeliferona
Tabela 2: Efeito in vitro do swainsonine em cultura de fibroblastos de caprinos sobre
a atividade da α-manosidase, β-manosidase e β-galactosidase.
Swainsonine (μg/mL)
Enzimas 0,0 0,02 0,2 2,0 5,0
α-manosidase 74±2 64±11 72±5 35±5* 21±6*
β-manosidase 1,1±0,1 1,2±0,3 0,9±0,1 1,1±0,05 1±0,3
β-galactosidase 229±17 226±19 246±18 245±19 225±26
86
Os dados são média de seis experimentos independentes realizados em triplicata. A
atividade enzimática foi expressa em nmoles4-MU/h/mg.proteína.*p< 0.01 (teste de
Duncan).
O quadro clínico dos caprinos variou durante a fase experimental
de consumo da dieta com Sida carpinifolia e foi caracterizado por alterações nos
excrementos, redução do peso e principalmente por sinais clínicos neurológicos. As
alterações clínicas neurológicas foram discretas e iniciaram entre a primeira e a
segunda semana do consumo da dieta com Sida carpinifolia e consistiram de
depressão aparente, olhar fixo e movimentos lentos. A contagem sangüínea não
apresentou mudança significativa durante todo período experimental. A atividade da
α-manosidase em cultura de fibroblastos de caprinos aumentou significantemente a
partir do 14º dia após o consumo da dieta com Sida carpinifolia, permanecendo
modificada até o final do experimento. No 8º dia após a retirada da dieta com Sida
carpinifolia, a atividade da α-manosidase voltou aos níveis normais (83± 54
MU/h/mg.proteína) (tabela 1). No entanto, a atividade da α-manosidase em cultura
de fibroblastos de caprino com swainsonine nas concentrações de 2,0 e 5,0 μg/mL
(1,15 x 10
-8
mM e 2,88 x 10
-8
mM) reduziu 52e 72 por cento, respectivamente, em
relação ao controle(tabela 2). As atividades da β-manosidase e β-galactosidase não
apresentaram alteração em ambos experimentos (tabela 1 e 2).
87
DISCUSSÃO
O swainonine é inibidor específico da α-manosidase [13] e a Sida
carpinifolia contém swainsonine em concentração de 0,006% de seu peso seco [7].
Em nosso laboratório, em caprinos alimentados com dieta com Sida carpinifolia, a
atividade da α-manosidase diminuiu no plasma (dados não publicados). A atividade
da α-manosidase reduziu em cultura de fibroblastos de caprinos nas concentrações
de swainsonine de 2,0 e,5.0 μg/mL (1,15 x 10
-8
mM e 2,88 x 10
-8
mM) e aumentou em
cultura de fibroblastos de caprinos que foram alimentados com dieta com Sida
carpinifolia durante 14 e 28 dias. Em nosso trabalho, o alcalóide swainsonine
adicionado à cultura de fibroblastos de caprinos parece mimetizar a doença
hereditária humana α-manosidose, concordando com Ikeda (2003) em linfoblastos
humanos [14]. No entanto, a concentração de swainsonine presente na Sida
carpinifolia provocou efeito contrário ao esperado em fibroblastos. O efeito do
swainsonine parece restringir não somente a inibição da α-manosidase, sendo
capaz de interferir na glicosilação de macromoléculas de importante papel no
reconhecimento celular e induzir à formação de glicoproteínas híbridas, como em
fibroblastos humanos [15]. Ao mesmo tempo, os resultados da cultura de
fibroblastos em caprinos alimentados com dieta com Sida carpinifolia estimam que
88
ela possui substâncias que, quando metabolizadas pelo organismo, podem
compensar o efeito inibitório do swainsonine sobre a α-manosidase. Por outro lado,
é possível que a modificação de glicoproteínas, induzida pelo swainsonine presente
na Sida carpinifolia possa estar modificando o trafego e o processamento da α-
manosidase. Isto explicaria o porquê, apesar do aumento significante na atividade
enzimática da α-manosidase em leucócitos e fibroblastos, ocorre acúmulo de
oligossacarídeos na urina (dados não publicados) e sinais clínicos de doença
neurológica. Para esta hipótese seriam necessários estudos de sub-fracionamento
celular em cultura de fibroblastos de caprinos alimentados com dieta com Sida
carpinifolia.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho foi financiado através de verbas dos fundos
brasileiros CNPq, CAPES e GPPG-HCPA.
89
BIBLIOGRAFIA
[1] Driemeier D, Colodel EM, Gimeno EJ, Barros SS 2000 Lysosomal storage
disease caused by Sida carpinifolia poisoning in goats. Vet Pathol
37(2):153-159
[2] Öckerman, P-A 1967 A generalized storage disorder resembling Hurler's
syndrome. Lancet 2(239)
[3] Locke KB, McEwan DR, Hamdorf IJ 1980 Experimental poisoning of horses and
cattle with Swainsona canescens var horniana. Aust Vet J. 56(8):379-383
[4] Damir HA, Adam SE, Tartour G 1987 The effects of Ipomoea carnea on goats
and sheep. Vet Hum Toxicol 29(4):316-319
[5] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Molyneux RJ 1995 Serum swainsonine
concentration and alpha-mannosidase activity in cattle and sheep ingesting
Oxytropis sericea and Astragalus lentiginosus (locoweeds). Am J Vet Res
56(2): 149-154
[6] Dorling PR, Huxtable CR, Colegate SM 1980 Inhibition of lysosomal alpha-
mannosidase by swainsonine, an indolizidine alkaloid isolated from
Swainsona canescens. Biochem J 191(2):649-651
[7] Colodel EM, Gardner DR, Zlotowski P, Driemeier D 2002 Identification of
swainsonine as a glycoside inhibitor responsible for Sida carpinifolia
poisoning. Vet Hum Toxicol. 44(3):177-178
90
[8] Elbein AD, Solf R, Dorling PR, Vosbeck K 1981Swainsonine: an inhibitor of
glycoprotein processing. Proc Natl Acad Sci U S A 78(12):7393-7397
[9] Elbein AD, Dorling PR, Vosbeck K, Horisberger M 1982 Swainsonine prevents
the processing of the oligosaccharide chains of influenza virus
hemagglutinin. J Biol Chem 257(4):1573-1576
[10] Coelho JC Giugliani R 2000 Fibroblasts of skin fragments as a tool for the
investigation of genetic diseases: technical recommendations. Genet Mol
Biol 23: 269–271
[11] Suzuki YSH, Oshima A Beta-Galatosidase Deficiency (beta-galatosidosis), GM1
Gangliosidosis and Morquio B Disease In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York p. 2785-2823
[12] Lowry OH, Rosebrough NJ, Farr AL, Randall RJ 1951 Protein measurement
with the Folin phenol reagent. J Biol Chem 193(1):265-275
[13] Opheim DJ, Touster O 1978 Lysosomal alpha-D-mannosidase of rat liver.
Purification and comparison with the golgi and cytosolic alpha-D-
mannosidases. J Biol Chem 253(4):1017-1023
[14] Ikeda K, Kato A, Adachi I, Haraguchi M, Asano N 2003 Alkaloids from the
poisonous plant Ipomoea carnea: effects on intracellular lysosomal
glycosidase activities in human lymphoblast cultures. J Agric Food Chem
51(26):7642-7646
91
[15] Tulsiani DR, Touster O 1983 Swainsonine causes the production of hybrid
glycoproteins by human skin fibroblasts and rat liver Golgi preparations. J
Biol Chem 258(12)7578-7585
92
SEGUNDO ARTIGO EM INGLÊS
SWAINSONINE EFFECT ON FIBROBLASTS CULTURE FROM
GOATS
Marisete Bedin
1,4
, Edson Moleta Colodel
2,3
, Cristina Kath
1
, Marli Viapiana
1
, Jurema
de Mari
1
, Ursula Matte
1
, David Driemeier
3
, Roberto Giugliani
1,4
.
1
Medical Genetics Service, Hospital de Clinicas de Porto Alegre, Porto Alegre, Brazil
2
Department of Veterinary Pathology, Federal University of Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Brazil.
3
Department of Pathology, Veterinary Faculty, Federal University of Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, Brazil.
4
Post graduate Course in Medical Sciences, UFRGS, Porto Alegre, Brazil.
Key-words: α-mannosidosis, fibroblasts, swainsonine, Sida carpinifolia
Corresponding author:
Dra. Marisete Bedin
Medical Genetics Service, HCPA, Rua Ramiro Barcelos, 2350 CEP 90.035-003
Porto Alegre, RS, Brazil. Tel.: +55 51 21018011; fax: +55 51 21018010
E-mail address: marisetebedin@yahoo.com.br
Article submitted to: Clinica Chimica Acta
93
ABSTRACT
Introduction: Ingestion of Sida carpinifolia diet for goats cause neurological illness
known as "locoism", characterized for muscular ataxia, hipermetria, hiperestesia and
tremors in the head and neck. The alkali swainsonine is specific inhibitor of
lysosomal α-mannosidase, deficient enzyme in human genetic illness α-
mannosidosis and it was identified as a toxic constituent of the Sida carpinifolia. In
this work, we investigated in vivo effect of Sida carpinifolia diet and in vitro effect of
swainsonine in goat fibroblasts culture on α-mannosidase activity. Material and
Methods: The study consisted of three female goats force fed with 500 g of Sida
carpinifolia daily for 28 days. Fibroblasts were obtained from skin biopsy goats and
cultured with HAM-F10 medium containing 10% fetal bovine serum. For in vivo
study, biopsies were obtained two days before and, seven, fourteen and twenty eight
days after ingestion of Sida carpinifolia diet and eight days after the withdrawal of the
plant of the diet. For in vitro study, fibroblasts were cultured for 48 hours at 0.00,
0.02, 0.2, 2.0 and 5.0 μg/mL of swainsonine concentration. Results: We observed
discrete neurological alterations in the animals, witch beginning between first and
second week of consumption of Sida carpinifolia diet. The activity of α-mannosidase
in goat fibroblasts culture increased significantly from 14
th
day after consumption of
Sida carpinifolia diet, remaining modified until the end of the experiment. In the 8
th
day after withdrawal of Sida carpinifolia diet, α-mannosidase activity was at normal
94
levels. In goat fibroblasts cultured on 2.0 and 5.0 μg/mL of swainsonine
concentration, α-mannosidase activity reduced 52 and 72 per cent, respectively,
from control. Conclusion: The alkali swainsonine added to goat fibroblasts cultured
seems to reproduce the hereditary human α-mannosidosis. However, the
swainsonine concentration present in Sida carpinifolia provoked contrary effect on α-
mannosidase. The results estimate that the plant may be contain substances that
are not only restricted to the inhibition α-mannosidase activity, but capable to
compensate the inhibitory effect and modify swainsonine action on the enzyme, or
even disable the traffic of the enzyme inside the cell.
INTRODUTION
Ingestion of Sida carpinifolia for goats cause neurological disease,
known as "locoism” and characterized by ataxia, hypermetria, hyperesthesia, and
muscle tremors of head and neck and present vacuoles in several cells [1] with
similar symptoms of human genetic illness α-mannosidosis [2]. The clinical and
pathological characteristics these diseases in the goats that ingest Sida carpinifolia
are similar to animals that ingested plants of the genus Swainsona, Oxytropis,
Astragalus and Ipomoea [3-5]. The swainsonine, is the same alkaloid found in plants
95
of the genus Swainsona cenescens [6] and was identified as a toxic constituent of
the Sida carpinifolia, perennial plant found in Brazilian south [7]. The swainsonine
blocks the processing of glycoprotein complexes [8] and leads to an increase of
oligosaccharides rich of mannose in urinary and tissues [9]. In this work, we
investigated in vivo effect of Sida carpinifolia diet and in vitro effect of swainsonine in
goat fibroblasts culture on α-mannosidase, β-mannosidase and β-galactosidase
activities.
MATERIAL AND METHODS
Substrates 4-methylumbelliferyl-α-L-mannopiranoside, 4-
methylumbelliferyl-β-L-mannopiranoside, 4-methylumbelliferyl-β-D-galactoside and
synthetic swainsonine were obtained from Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO,
USA), sodium phosphate and citrate, from Merck (Darm-stadt, Germany), and the
reagents and medium culture cell from Gibco BRL (Grand Island, NY, USA).
96
EXPERIMENTAL ANIMALS
The experimental study consisted of six female goats with 4-month-
old age of Saanen race from a free farm of Sida carpinifolia. The goats were forced
fed 500g of Sida carpinifolia daily for 28 days. The feeding animals were
complemented with commercial ration and water ad libitum. Clinical signals were
accessed during all experimental period and blood counts were made every week.
The experiment was ethical and scientifically approved by the Research and Post-
Graduation Committee of the Porto Alegre Clinical Hospital, Porto Alegre, RS, Brazil.
GOAT FIBROBLASTS CULTURE
For in vivo study, goat biopsies were obtained two days before and,
seven, fourteen and twenty eight days after ingestion of Sida carpinifolia diet and
eight days after the withdrawal of the plant of the diet. Biopsies (fragments of
approximately 1.0 x 0.5cm) were collected alternately, in the apex and medial border
of ears previously washed with abundant running water and neutral detergent and
disinfected with alcohol-iodine 5% solution. The dichotomized area was pressured
97
with sterile gauze and goats received antibiotic and repellent application. Samples
were transferred for a sterile flask containing HAM-F10 middle culture added to 10%
of fetal bovine serum (FBS). When had confluence cells culture were removed with
trypsin-EDTA and added to other two flasks containing HAM-F10 medium culture
supplemented with 10% FBS and washed with phosphate buffer sodium (PBS) three
times. After centrifugation, the pellet containing the cells was kept frozen at -40°C
until protein content and enzyme activity determination. For in vitro study, fibroblasts
were cultured for 48 hours at 0.00, 0.02, 0.2, 2.0 and 5.0 μg/mL of swainsonine
concentration [10].
ASSAY OF
α-MANNOSIDASE, β-MANNOSIDASE AND β-
GALACTOSIDASE
The α-mannosidase and β-mannosidase activities were determined
using the fluorogenic substrate 4-methylumbelliferyl-α-L-mannopiranoside and 4-
methylumbelliferyl-β-L-mannopiranoside, respectively. For assay, 20μl of fibroblasts
previously diluted in water were mixed with 100μl of respectively substrate solution
2mM in phosphate citrate buffer 0.2M, pH 4.0 at 37°C for 1 hour. The β-
galactosidase activity was assayed by the method of Suzuki [11] using 4-
methylumbelliferyl-β-D-galactoside as a substrate. Protein contents of leukocytes
98
were between 15–30 mg. For assay, fibroblasts were previously diluted in 0.9% of
sodium chloride, and 100μL were mixed with 200μL of substrate solution 1.33mM in
citrate-phosphate buffer 0.1M, pH 4.0 and 100μL sodium chloride 0.2M, at 37 °C for
1 hour. The reaction was stopped with 3mL of glycine-NaOH buffer 0.5M, pH 10.3.
Fluorescence was read with a Hitachi F-2000 spectrofluorometer (excitation and
emission wave-length of 365 and 450nm, respectively). Protein concentration was
determined by method the Lowry et al. [12].
STATISTICAL ANALYSIS
Data were analyzed by ANOVA two-way, followed by the Duncan
multiple range test when the F test was significant. The analysis was performed
using the statistical software pack-age SPSS/PC1, version 11.0 Chicago, IL, USA,
and the level of significance was set at p < 0.01.
99
RESULTS
Table 1: In vivo effect of Sida carpinifolia diet in goat fibroblasts culture on α-
mannosidase, β-mannosidase, and β-galactosidase activities.
Diet with Sida carpinifolia (days)
Diet without Sida
carpinifolia (days)
Enzymes
Two days
before
7
th
14
th
28
th
8
th
α-mannosidase 76±22 78±7 106±6* 148±36*
83±12
β-mannosidase 1.1±0.1 0.7±0.5 1.3±0.2 0.9±0.1
0.9±0.2
β-galactosidase 254±29 204±11 283±12 260±48 235±13
Data are mean for six independent experiments performed in triplicate. Enzymatic
activity was expressed in nmoles4-MU/h/mg.protein.*p< 0.01 (Duncan’s multiple
range test). 4-MU = 4-methilumbelliferone
100
Table 2: In vitro effect of swainsonine in goat fibroblasts culture on α-mannosidase,
β-mannosidase, and β-galactosidase activities.
Swainsonine (μg/mL)
Enzymes 0.0 0.02 0.2 2.0 5.0
α-mannosidase 74±2 64±11 72±5 35±5* 21±6*
β-mannosidase 1.1±0.1 1.2±0.3 0.9±0.1 1.1±0.05 1±0.3
β-galactosidase 229±17 226±19 246±18 245±19 225±26
Data are mean for six independent experiments performed in triplicate. Enzymatic
activity expressed in nmoles4-MU/h/mg.protein.*p< 0.01 (Duncan’s multiple range
test).
The clinical picture in goats was varying during the experimental
phase consumption of Sida carpinifolia diet and was characterized for excrements
alterations, weight profit reduction and mainly neurological clinical signals.
Neurological alterations were discrete and beginning between the first and second
week of Sida carpinifolia diet consumption and consisted of apparent depression,
look fixture and slow movements. Blood counts did not show significant change
during all experimental period. The α-mannosidase activity in goat fibroblasts culture
was significant increased from 14
th
day after Sida carpinifolia diet consumption,
remaining modified until the end of the experiment. In the 8
th
day after withdraw of
the Sida carpinifolia diet, the α-mannosidase activity was at normal levels (83± 54
MU/h/mg.protein) (table 1). However, α-mannosidase activity in goat fibroblasts
culture at 2.0 and 5.0 μg/mL of swainsonine concentration (1.15 x 10
-8
mM and 2.88 x
101
10
-8
mM) reduced 52 and 72 per cent, respectively, from control (table 2). The β-
mannosidase and β-galactosidase activities did not show alteration in both
experiments (table 1 and 2).
DISCUSSION
Swainsonine is specific inhibitor of α-mannosidase [13] and Sida
carpinifolia contains swainsonine at 0.006% of dry weight [7]. In our laboratory, in
goats that fed with Sida carpinifolia diet, the α-mannosidase activity increased in
leukocytes and diminished in plasma (data not published). The α-mannosidase
activity reduced in goat fibroblasts culture at 2.0 and 5.0μg/mL (1.15 x 10
-8
mM and
2.88 x 10
-8
mM) swainsonine concentrations and increased in goat fibroblasts culture
that fed Sida carpinifolia diet for 14 and 28 days. In our work, swainsonine alkali
added to goat fibroblasts culture seems alike the hereditary illness human α-
mannosidosis, in agreement with Ikeda (2003) in human lymphoblast [14]. However,
the swainsonine concentration present in Sida carpinifolia provoked contrary effect to
wait in fibroblasts. Effect of swainsonine seems to be of restricting not only to α-
mannosidase inhibition, being it able to intervene at macromolecules glicosylation
the important roll in cellular recognition and to induce the hybrid glycoprotein
formation, as in human fibroblasts [15]. At the same time, results from goat
102
fibroblasts culture fed with Sida carpinifolia diet estimate that it possesses
substances that, when metabolized for organism can compensate the inhibitory
effect of the swainsonine on α-mannosidase. On the other hand, it is possible that
the modification of glycoprotein, induced for swainsonine present in Sida carpinifolia
can be modifying traffic and processing of α-mannosidase. This would explain why,
despite of the significant increase of enzymatic activity of α-mannosidase in
leukocytes and fibroblasts, occurs urinary oligosaccharide accumulation (date not
published) and clinical signals of the neurological illness. For this hypothesis would
be necessary studies of cellular sub fracionament in goat fibroblasts culture fed with
Sida carpinifolia diet.
ACKNOWLEDGEMENTS
This work was supported by grants from Brazilian funds CNPq,
CAPES, and GPPG-HCPA.
103
BIBLIOGRAPHY
[1] Driemeier D, Colodel EM, Gimeno EJ, Barros SS 2000 Lysosomal storage
disease caused by Sida carpinifolia poisoning in goats. Vet Pathol 37(2):153-
159
[2] Öckerman, P-A 1967 A generalized storage disorder resembling Hurler's
syndrome. Lancet 2(239)
[3] Locke KB, McEwan DR, Hamdorf IJ 1980 Experimental poisoning of horses and
cattle with Swainsona canescens var horniana. Aust Vet J. 56(8):379-383
[4] Damir HA, Adam SE, Tartour G 1987 The effects of Ipomoea carnea on goats
and sheep. Vet Hum Toxicol 29(4):316-319
[5] Stegelmeier BL, James LF, Panter KE, Molyneux RJ 1995 Serum swainsonine
concentration and alpha-mannosidase activity in cattle and sheep ingesting
Oxytropis sericea and Astragalus lentiginosus (locoweeds). Am J Vet Res
56(2): 149-154
[6] Dorling PR, Huxtable CR, Colegate SM 1980 Inhibition of lysosomal alpha-
mannosidase by swainsonine, an indolizidine alkaloid isolated from
Swainsona canescens. Biochem J 191(2):649-651
[7] Colodel EM, Gardner DR, Zlotowski P, Driemeier D 2002 Identification of
swainsonine as a glycoside inhibitor responsible for Sida carpinifolia
poisoning. Vet Hum Toxicol. 44(3):177-178
104
[8] Elbein AD, Solf R, Dorling PR, Vosbeck K 1981Swainsonine: an inhibitor of
glycoprotein processing. Proc Natl Acad Sci U S A 78(12):7393-7397
[9] Elbein AD, Dorling PR, Vosbeck K, Horisberger M 1982 Swainsonine prevents
the processing of the oligosaccharide chains of influenza virus hemagglutinin.
J Biol Chem 257(4):1573-1576
[10] Coelho JC Giugliani R 2000 Fibroblasts of skin fragments as a tool for the
investigation of genetic diseases: technical recommendations. Genet Mol Biol
23: 269–271
[11] Suzuki YSH, Oshima A Beta-Galatosidase Deficiency (beta-galatosidosis), GM1
Gangliosidosis and Morquio B Disease In: The Metabolic and Molecular
Bases of Inherited Disease. Scriver CR, Beaudet AL, Sly WS, Valle D (eds)
2001 McGraw-Hill New York p. 2785-2823
[12] Lowry OH, Rosebrough NJ, Farr AL, Randall RJ 1951 Protein measurement
with the Folin phenol reagent. J Biol Chem 193(1):265-275
[13] Opheim DJ, Touster O 1978 Lysosomal alpha-D-mannosidase of rat liver.
Purification and comparison with the golgi and cytosolic alpha-D-
mannosidases. J Biol Chem 253(4):1017-1023
[14] Ikeda K, Kato A, Adachi I, Haraguchi M, Asano N 2003 Alkaloids from the
poisonous plant Ipomoea carnea: effects on intracellular lysosomal
glycosidase activities in human lymphoblast cultures. J Agric Food Chem
51(26):7642-7646
105
[15] Tulsiani DR, Touster O 1983 Swainsonine causes the production of hybrid
glycoproteins by human skin fibroblasts and rat liver Golgi preparations. J
Biol Chem 258(12)7578-7585
106
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A rápida absorção do swainsonione pelas células e sua ampla
distribuição facilita sua ação modificadora na estrutura dos oligossacarídeos na
membrana dos leucócitos e de suas organelas, incluindo os lisossomos. A atividade
diminuída da α-manosidase no plasma de caprinos que ingeriram Sida carpinifolia é
uma indicação de que a estrutura dos oligossacarídeos possa estar modificada,
alterando o reconhecimento celular na membrana e bloqueando a saída da enzima
da célula. Ao mesmo tempo em que a atividade da α-manosidase nos leucócitos
dos caprinos alimentados com Sida carpinifolia aumentou a partir do 5° dia após o
consumo da planta, foi claramente observada a presença de oligossacarídeos na
urina destes caprinos a partir do 2° dia após o consumo da Sida carpinifolia,
indicando que a atividade da α-manosidase dentro dos lisossomos está diminuída,
hipótese que poderia ser testada através do subfracionamento celular em
fibroblastos de animais tratados com Sida carpinifolia.
O swainsonine nas concentrações de 2,0 e 5,0 µg/mL em
fibroblastos cultivados de caprinos diminuiu a atividade da α-manosidase,
contrastando com o estudo in vivo onde a atividade da enzima em fibroblastos
cultivados de caprinos que ingeriram Sida carpinifolia aumentou após o 14° dia de
consumo da planta. Este estudo nos sugere que a atividade aumentada da α-
manosidase em leucócitos possa ser atribuída a substâncias presentes na Sida
107
carpinifolia. Estas substâncias podem estar aumentando a expressão da α-
manosidase para compensar o efeito inibitório do swainsonine sobre a enzima.
Os caprinos alimentados com a dieta contendo Sida carpinifolia
apresentaram acúmulo de oligossacarídeos na urina, atividade da α-manosidase
diminuída no plasma e sinais clínicos neurológicos, indicando que a Sida carpinifolia
mimetiza a doença α-manosidose.
Os sinais clínicos neurológicos foram observados a partir do 10°
dia após o início da ingestão da dieta contendo Sida carpinifolia, ou seja, 6 dias
após a diminuição da α-manosidase no plasma e o acúmulo de oligossacarídeos na
urina foi imediato, no 2° dia após a ingestão da dieta contendo Sida carpinifolia,
indicando que a enzima lisossomal foi inibida pela presença do swainsonine na
planta.
Apesar de que alterações discretas no comportamento dos
caprinos ainda persistiram por 30 dias após o término do experimento, ocorreu
diminuição nos sinais clínicos neurológicos nos animais após a retirada da planta da
dieta, sugerindo que a Sida carpinifolia apresenta substâncias que se contrapõem à
ação inibitória causada pelo swainsonine sobre a enzima lisossomal α-manosidase.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo