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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM
MARIA DE FÁTIMA GARCIA LOPES MERINO
AS NECESSIDADES EM SAÚDE DE INDIVÍDUOS ADULTOS EM
PORTO RICO - PR
MARINGÁ
2007
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MARIA DE FÁTIMA GARCIA LOPES MERINO
AS NECESSIDADES EM SAÚDE DE INDIVÍDUOS ADULTOS EM
PORTO RICO - PR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação do Departamento de Enfermagem
DEN da Universidade Estadual de Maringá,
para obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Orientadora: Profª Drª Sônia Silva Marcon.
MARINGÁ
2007
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MARIA DE FÁTIMA GARCIA LOPES MERINO
AS NECESSIDADES EM SAÚDE DE INDIVÍDUOS ADULTOS EM
PORTO RICO - PR
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
graduação do Departamento de Enfermagem –
DEN – da Universidade Estadual de Maringá,
para obtenção do título de Mestre em
Enfermagem.
Aprovada em 29 de março de 2007.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________
Orientadora: Profª. Drª. Sonia Silva Marcon
Universidade Estadual de Maringá
_________________________________________________________
Profª. Drª. Climene Laura de Camargo
Universidade Federal da Bahia
_________________________________________________________
Profª. Drª. Marlene Rodrigues de Novaes
Universidade Estadual de Maringá
Aos homens e às mulheres da minha vida.
Aos meus filhos Matheus e Gustavo, meus amores, presentes de Deus.
Ao meu esposo, amor e amigo de todas minhas horas, de toda minha vida; compartilho o
mérito desta vitória com você.
Ao meu pai, sempre pronto e disposto a atender a qualquer chamado.
À minha mãe, que se orgulha a cada conquista minha.
Às minhas irmãs, determinadas, fortes e vencedoras.
AGRADECIMENTOS
A Deus e à vida, pelas oportunidades.
À CAPES, pelo financiamento desta pesquisa.
À minha orientadora, Profª. Drª. Sônia Silva Marcon. Sua dedicação, competência,
seriedade e disponibilidade ao orientar-me foram inestimáveis.
Ao Professor Dr. Eduardo Augusto Tomanik, por me introduzir ao Grupo de Estudos
Socioambientais (GESA) e oportunizar o início da caminhada para a realização deste trabalho.
Às Professoras Drª. Luciana Olga Bercini e Drª. Wladithe Organ de Carvalho, pelas
observações oportunas e sugestões, por ocasião do exame de qualificação.
Aos Professores do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de
Maringá, que tão atenciosamente me acolheram durante meu período como Professor-
colaborador e, em especial, às Professoras Cremilde, Angélica, Luciana e Ieda, pelo
companheirismo e apoio durante esses anos.
Às minhas queridas companheiras de viagem a Porto Rico, Lujácia e Dóris, que
dividiram comigo estas experiências tão importantes para a execução deste trabalho.
À turma de Mestrado de 2005, e em especial à minha amiga Viviane, pela parceria
desde o início desta trajetória.
À minha sogra, sogro, cunhada, cunhados, sobrinhas e sobrinhos pelo apoio e
carinho tão indispensáveis nesse ofício solitário. Muito lhes devo pela presença, mesmo
distante.
Às minhas queridas amigas Val, Geo, Nilda, Paulina, Mara e Márcia, que dividem
comigo os meus momentos de descontração; por me ouvirem, pelo carinho e pela torcida
durante esta minha caminhada.
A todos os homens e mulheres de Porto Rico que, gentilmente, aceitaram participar
desta pesquisa.
RESUMO
Esta pesquisa se insere na perspectiva social da abordagem das questões de saúde e se
desenvolveu a partir de dados da comunidade de moradores adultos do núcleo urbano do
município de Porto Rico–PR. O objetivo da pesquisa foi compreender as concepções de saúde
e doença, os hábitos de prevenção e o itinerário terapêutico adotado por indivíduos adultos do
município. Adotou-se como referenciais teóricos a Teoria da Diversidade e Universalidade do
Cuidado Transcultural, de Leininger, por entender que o cuidado ocorre a partir da
valorização dos aspectos culturais e o Itinerário Terapêutico à luz dos conceitos de
Necessidades Médicas, as quais apresentam justificativa para as variações observadas no
consumo médico das diferentes classes sociais, de acordo com Luc Botanski. Trata-se de um
estudo descritivo-exploratório de natureza qualitativa, desenvolvido junto a 29 indivíduos
adultos (20 a 59 anos) de ambos os sexos, residentes na zona urbana do município de Porto
Rico. Os dados foram coletados no período de três a 27 de junho de 2006, no próprio
domicílio, por meio de entrevista semi-estruturada e observação não-sistematizada. Para a
análise dos dados, adotou-se o método de Análise Temática proposta por Minayo (1998). Os
resultados revelaram que, para mais da metade dos entrevistados (51,7%), ter saúde é não
apresentar doença. Os demais relatos sobre as características determinantes para que um
indivíduo seja considerado saudável foram: ser feliz, estar trabalhando, apresentar sono e
repouso adequados, ter disposição para as atividades do dia-a-dia, ser jovem e ter boa
aparência física, não apresentar restrição alimentar e ter hábitos de controle e prevenção de
doenças. As doenças que mais os preocupam são o câncer (70%) e a AIDS (38%). Constatou-
se que, embora os homens estejam mais expostos aos fatores de risco analisados (tabaco e
álcool) do que as mulheres (53% e 25%, respectivamente), foram somente as mulheres que
demonstraram preocupação e vontade de ver-se livre do vício, revelando maior preocupação
com as questões relacionadas com a saúde. Essa conduta também foi observada em relação ao
comportamento em saúde, pois enquanto as mulheres, diante da manifestação da doença,
reconhecem e valorizam mais rapidamente os sinais e sintomas, buscando mais precocemente
por soluções junto ao sistema oficial de saúde, a maior parte dos homens espera pela
manifestação da doença para buscar por ajuda. Da mesma forma, a maior parte das mulheres
(75%) faz uso regular de métodos preventivos de cuidado à saúde, o mesmo não ocorre com
os homens (apenas 16% dos entrevistados com mais de 50 anos já se submeteu ao exame
preventivo de próstata). A maior preocupação com a saúde por parte das mulheres também se
manifesta pela percepção de ocorrência de doenças nos últimos 12 meses, três vezes maior
entre as mulheres (75%) do que entre os homens (23%). Quanto ao Itinerário Terapêutico
adotado, observou-se que o recurso mais utilizado é a automedicação (41,4%), com pouca
diferença entre os sexos. Porém, o mesmo não ocorre em relação ao segundo recurso mais
utilizado, que é o serviço oficial de saúde, visto que o percentual de mulheres que utiliza
como primeira opção este recurso é praticamente o dobro do percentual de homens (43% e
23%, respectivamente). Por fim, a busca pela farmácia como primeira atitude frente à
manifestação da doença foi referida por 24,1% dos entrevistados, mas o percentual de homens
que adotam esta atitude é três vezes maior do que o de mulheres (38,5% e 12,5%,
respectivamente). Observou-se ainda que uma parcela considerável de indivíduos (35%)
encontra-se insatisfeita com os serviços ofertados pelo sistema oficial de saúde do município
em decorrência do horário disponibilizado para o atendimento, a reduzida oferta de consulta
para atender à demanda, a dificuldade no agendamento de consultas e/ou exames, inexistência
de especialidades médicas, dificuldade na aquisição de medicamentos, baixa credibilidade no
serviço médico oferecido e problemas no relacionamento com os profissionais. Esses achados
demonstram as dificuldades no cuidado, principalmente da saúde dos homens, pelo Sistema
de Oficial de Saúde do município e a necessidade de maior atuação da equipe de saúde, de
orientação e adaptação dos serviços às necessidades de seus usuários.
Palavras-chave: Saúde. Itinerário terapêutico. Necessidade de saúde.
ABSTRACT
This qualitative study fits into the social perspective for approaching health matters, and was
developed from community data of adult inhabitants in the city of Porto Rico, Paraná State,
Brazil. The objective of this research was to understand their conceptions of health and
sickness, prevention habits and the therapeutic itinerary adopted by adult residents of that city.
As theoretical references, we adopted Leininger’s Theory of Transcultural Care Diversity and
Universality, as we understood that care can only take place if cultural aspects are valued, and
the Therapeutic Itinerary, in light of the concepts of Medical Needs, which presented a
justification for the variations observed among medical consumption by different social
classes, as defined by Luc Botanski. It is a descriptive-exploratory study of a qualitative
nature, developed among 29 adults, male and female, between 20 and 59 years of age,
residing within the city limits of Porto Rico. Data was collected between July 3 and 27, 2006,
and took place at the homes of the interviewees, using semi-structured interviews and non-
systematized observation. For data analysis, we adopted the Thematic Analysis method
proposed by Minayo (1998). Results revealed that, for more than half of the subjects (51.7%),
to be healthy meant having no signs of illness. Other factors mentioned regarding what
characteristics were most important to consider an individual healthy were: to be happy, to
work, to have adequate sleep and rest, to have motivation for daily activities, to be young and
have good physical appearance, not to have food restrictions, and to have illness control and
prevention habits. The most worrisome illnesses mentioned were cancer (70%) and AIDS
(38%). It was observed that, although men are more exposed to the risk factors analyzed
(tobacco and alcohol) than women (53% and 25%, respectively), only women demonstrated
any concern and desire to quit these habits, revealing a greater concern with health-related
matters. Similar conduct was observed in relation to health behavior as women recognize and
give importance to signs and symptoms of illness as they develop, seeking earlier for
solutions through the official healthcare, most men wait for the illness to manifest itself before
seeking help. Likewise, most women (75%) make regular use of preventive methods of
healthcare, while the same is not true for men (only 16% of individuals older than 50 have
undergone the preventive prostate exam). The greatest health concern among women is also
manifested through the perception of an instance of illness in the previous 12 months, three
times greater among women (75%) than among men (23%). As for the Therapeutic Itinerary
adopted, self-medication was the most widely adopted resource (41.4%), with little difference
among the genders. However, the same does take place in regard to the second most used
resource, which is the official healthcare service, as the percentages of women who use it as
their first option is practically double that of men (43% and 23%, respectively). Lastly, going
to the drugstore was mentioned as the first action when faced by the onset of illness by 24.1%
of interviewed subjects, but the percentage of men who follow this practice is three times
greater than that of women who do the same (38.5% and 12.5%, respectively). It was further
observed that a considerable share of individuals (35%) was dissatisfied with the services
offered by the official healthcare system in the city, such as the service hours, the reduced
availability for consultations in relation to demand, the difficulty in scheduling consultations
and/or exams, the non-existence of medical specialties, difficulty in obtaining medication, low
credibility of medical services offered, and rapport issues with health professionals. These
findings demonstrate the difficulties in caring, especially for the men’s health, by the city’s
official healthcare system, and the need for greater action by health staff, as well as guiding
and adapting these services to the needs of their users.
Keywords: Health. Therapeutic itinerary. Health needs.
RESUMEN
Este estudio se inserta en la perspectiva de enfoque de cuestiones de salud y se desarrolló a
partir de datos de la comunidad de habitantes adultos del núcleo urbano del municipio de
Porto Rico Paraná. El objetivo de la investigación fue comprender las concepciones de
salud y enfermedad, hábitos de prevención rutina terapéutica adoptada por individuos adultos
del municipio. Se tomó como referencial teórico la Teoría de la Diversidad y la Universalidad
del Cuidado Transcultural de Leininger, por entender que el cuidado sólo se da a partir de la
valoración de los aspectos culturales y de la Rutina Terapéutica, bajo el foco de los conceptos
de Necesidades Médicas, las cuales ofrecen un justificación para las variaciones observadas
en el consumo médico de las diferentes clases sociales, de acuerdo con Luc Botanski. Se trata
de un estudio descriptivo-exploratorio de naturaleza cualitativa, desarrollado entre 29
individuos adultos (20 a 59 años) de ambos sexos, residentes en la zona urbana del municipio
de Porto Rico. Se recogieron los datos en el período de 03 a 27 de junio de 2006, en el propio
domicilio, a través de entrevista semi estructurada y de observación no sistematizada. Para el
análisis de los datos se adoptó el método de Análisis Temático propuesto por Minayo (1998).
Los resultados arrojaron que para más de la mitad de los entrevistados (51,7%) tener salud es
no presentar enfermedad. Los demás relatos sobre las características determinadas para que un
individuo se considere saludable fueron: ser feliz, estar trabajando, tener sueño y reposo
adecuados, tener disposición para las actividades del día a día, ser joven y tener buena
apariencia física, no presentar restricción alimenticia y tener hábitos de control y prevención
de enfermedades. Las enfermedades que más les preocupan son el cáncer ( 70%) y el SIDA
(38%). Se constató que los hombres, a pesar de estar más expuestos que las mujeres (53% y
25% respectivamente) a los factores de riesgo analizados (tabaco y alcohol) fueron sólo ellas
quienes demostraron preocupación y ganas de verse libres del vicio, dejando en evidencia un
mayor caso con los temas que se relacionan a la salud. Dicha conducta también se observó en
relación al comportamiento en salud, pues mientras las mujeres, ante manifestación de
enfermedad, reconocen y valoran más rápidamente señas y síntomas, buscando más
precozmente soluciones en el sistema oficial de salud, la mayor parte de los hombres espera
que la enfermedad se manifieste para buscar ayuda. Del mismo modo, la mayor parte de las
mujeres (75%) hace uso regular de métodos preventivos de cuidado de la salud lo que no
ocurre con los hombres (apenas un 16% de los entrevistados con más de 50 años se ha
sometido al examen preventivo de próstata). La mayor preocupación con la salud, por parte de
mujeres también se manifiesta en una percepción de la presencia de enfermedad en los
últimos 12 meses, tres veces mayor entre las mujeres (75%) que entre los hombres (23%). En
cuanto a la Rutina Terapéutica adoptada, se observó que el recurso más utilizado es la
automedicación (41,4%), con poca diferencia entre los dos sexos. Sin embargo, no sucede lo
mismo en relación al segundo recurso más utilizado, que es el servicio oficial de salud, ya que
el porcentaje de mujeres que utiliza como primera opción este recurso es prácticamente el
doble del porcentaje de hombres (43% y 23% respectivamente). Finalmente, acudir a la
farmacia como primera actitud frente a manifestación de enfermedad fue referida por 24,1%
de los entrevistados, pero el porcentaje de hombres que adoptan esta actitud es tres veces
mayor que el de mujeres (38, 5% y 12,5% respectivamente). Se observo además que una parte
considerable de individuos (35%) se encuentra insatisfecha con los servicios ofrecidos por el
sistema oficial de salud del municipio en virtud del horario que se pone a disposición para la
atención, al reducido número de consultas ofrecidas en relación con la demanda y a la
dificultad para marcar una consulta o realización de examen, a la inexistencia de
especialidades médicas, a la dificultad en la adquisición de medicamentos, a la baja
credibilidad del servicio médico ofrecido y a los problemas en la relación con los
profesionales. Estas conclusiones demostraron las dificultades en el cuidado de la salud,
principalmente de los hombres, por el Sistema Oficial de Salud del municipio y la necesidad
de una mayor actuación del equipo de salud, de orientación y adaptación de los servicios a las
necesidades de sus usuarios.
Palabras clave: Salud. Rutina terapéutica. Necesidad de salud.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 12
2 BUSCANDO RESPALDO NA LITERATURA ............................................ 18
2.1 SAÚDE: UM BEM A SER CONQUISTADO .................................................. 18
2.2 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ............... 19
2.3 UMA QUESTÃO DE GÊNERO ....................................................................... 21
3 REFERENCIAL TEÓRICO ........................................................................... 25
4 CAMINHO METODOLÓGICO .................................................................... 33
4.1 ABORDAGEM UTILIZADA NO DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO .....
33
4.2 CENÁRIO DO ESTUDO .................................................................................. 36
4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO ......................................................................
37
4.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................... 38
4.5 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ............................................... 40
4.6 ASPETOS ÉTICOS DA PESQUISA .................................................................
41
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS ....................................... 42
5.1 CONHECENDO OS INFORMANTES DO ESTUDO ..................................... 42
5.1.1 Perfil socioeconômico dos participantes .........................................................
42
5.1.2 Alcoolismo e tabagismo no grupo estudado ................................................... 45
5.2 CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS INFORMANTES SOBRE
SAÚDE E DOENÇA ....................................................................................
49
5.2.1 O olhar sobre a própria saúde ........................................................................ 46
5.2.2 Percepções sobre a saúde ................................................................................. 55
5.2.3 Percepções sobre a doença ...............................................................................
62
5.3 QUANDO A DOENÇA CHEGA ...................................................................... 67
5.3.1 O medo .............................................................................................................. 68
5.3.2 O Itinerário Terapêutico ................................................................................. 74
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 92
REFERÊNCIAS ............................................................................................... 94
APÊNDICES ..................................................................................................... 105
ANEXO ............................................................................................................. 108
12
1 INTRODUÇÃO
As questões sociais sempre foram inquietantes para mim enquanto enfermeira. A
busca por uma percepção da saúde na sua dimensão holística acompanhou-me desde a minha
formação acadêmica, na qual a abordagem biopsicossocial dos fenômenos associados à saúde
e/ou à doença, embora essenciais, do meu ponto de vista, foi pouco aprofundada.
Meu primeiro trabalho, como enfermeira, foi em uma Unidade de Saúde, em um
bairro do município de Maringá, que apresentava, em sua maioria, uma população de baixa
renda. Seus moradores tinham como primeira opção de atendimento à saúde aquela unidade.
As filas começavam a se formar pela madrugada, por pessoas de todas as idades, que tinham
como objetivo serem atendidas no decorrer do dia. Embora aquela cena diária fizesse parte de
nossa rotina, eu me sentia incomodada com aquela realidade. Por mais que tentássemos
resolver dentro de nossas possibilidades os problemas apresentados por aquela população, a
solução não dependia diretamente de nossos esforços para ser modificada.
As reações das pessoas frente à longa espera, a dificuldade em ser atendido, em
conseguir encaminhamentos a exames e a especialistas eram diversas, desde a indignação e
reclamações por parte de alguns, até a completa resignação de outros, que se conformavam
em voltar outras vezes até que tivessem a “sorte” de conseguirem ser atendidos.
Para mim, nada daquilo era totalmente novo. Eu, como cidadã, sempre soube das
dificuldades que a classe social menos favorecida e que depende dos serviços públicos de
saúde enfrenta, mas viver esta realidade diariamente me proporcionava um olhar mais
próximo e mais sofrido.
Após algum tempo nesta atividade, tive a necessidade de me mudar para Curitiba
para acompanhar meu esposo que decidira enfrentar um novo desafio em sua vida, que era
tornar-se médico. O desafio não foi somente dele, mas também meu.
Ao solicitar estágio no Hospital de Clínicas de Curitiba, fui encaminhada ao Setor de
Transplante de Medula Óssea, onde, após um pequeno período atuando como voluntária, fui
contratada e lá permaneci por nove anos. Esta experiência trouxe-me a oportunidade de
aperfeiçoar meus conhecimentos científicos e, além de crescer profissionalmente,
possibilitou-me, principalmente, e acima de tudo, crescer como ser humano.
Foram anos de convivência diária com pacientes de todas as regiões do Brasil e
também de vários países da América Latina e seus familiares. Acompanhava-me a percepção
da necessidade que a enfermagem tem de compreender e adaptar-se a cada indivíduo e, ao
13
mesmo tempo, orientar e fazer-se compreender por cada um deles, reconhecendo suas
particularidades, culturas e costumes, a fim de que o objetivo final, que é a cura, ou muitas
vezes apenas o conforto da dor, fosse atingido. Durante este período, a competência técnica
sobrepujava, muitas vezes, meu olhar às questões sociais e aos aspectos relacionados à
realidade dos pacientes e de sua família.
O cuidado dispensado aos pacientes imunodeprimidos exigia de mim atenção
constante. Sua condição de fragilidade frente à presença de microrganismos, os cuidados com
a alimentação e as reações medicamentosas, entre outros, levavam-me muitas vezes a uma
rotina exaustiva, que se seguia por dias e até meses, com poucas oportunidades de
aproximação do paciente e sua família, a fim de tomar conhecimento de quem, na realidade,
eram aquelas pessoas, como viviam, de onde vinham e, ainda, qual o caminho percorrido para
chegarem até ali.
Deparava-me com pessoas de todas as classes sociais e níveis de escolaridade. A
precariedade nos cuidados com o corpo era comum em alguns pacientes e familiares e,
embora eu entendesse que alguns hábitos fossem comuns no meio em que viviam, certas
práticas eram inaceitáveis naquele contexto em que passavam a ser inseridos e eu, como
representante daquele Setor, tinha que interferir.
O desconhecimento, por parte de algumas pessoas, sobre utensílios como vaso
sanitário ou chuveiro, sobre hábitos de higiene como: o banho diário, troca de roupas e
higiene oral, causava em alguns casos conflitos entre os pacientes e a enfermagem, muitas
vezes difíceis de serem contornados.
A rotina do setor me levava a explanar aos pacientes e familiares, logo no primeiro
dia e nos dias subseqüentes, sobre as condições e atitudes necessárias para a obtenção do êxito
no tratamento, incluindo no discurso os horários e as rotinas estabelecidos pelo Setor e as
condutas a serem seguidas. Neste contexto, o paciente era um mero seguidor de ordens. O que
para mim parecia situações simples e corriqueiras tornava-se, em alguns casos, um fator
dificultante na relação enfermeiro-paciente, por causa da imposição de normas. Estar a todo o
momento (e por vários meses) conectado a um catéter, e a este, diversos frascos de
medicamentos e bombas de infusão, era para a grande maioria de nossos pacientes uma “coisa
de outro mundo”, bem como seguir horários para banho, alimentação medicamentos entre
outras rotinas.
Como ser compreendida, em tão pouco tempo, por pessoas com hábitos e costumes
próprios, que desconheciam aquela realidade e que enfrentavam, naquele momento, tantos
problemas e temores?
14
O meu olhar sobre o indivíduo, esbarrava no fato de não conhecê-lo como um todo,
ou seja, não conhecer suas origens, seus hábitos cotidianos. Sentia, muitas vezes, em
contrapartida, a mesma dificuldade por parte deles em relação a mim e à equipe de saúde.
Embora, na maior parte do tempo, eu permanecesse envolvida com as condutas
próprias da enfermagem, que eram realmente necessárias para o restabelecimento da saúde
dos nossos pacientes naquele momento, e tendo consciência da responsabilidade que o
Serviço de Transplante tinha em acompanhá-los pelo maior tempo possível, até que
estivessem em condições de voltarem aos seus locais de origem, algo me inquietava a cada
orientação de alta hospitalar que eu realizava.
Questões como: quais são as condições de moradia deste paciente? ela se adequa às
necessidades dele neste momento? apesar de toda a orientação sobre os medicamentos a
serem utilizados em sua recuperação, eles serão administrados corretamente? em sua rotina
diária (muitas vezes apresentando dificuldades financeiras), este paciente terá condições de
receber alimentação adequada, tanto em termos nutricionais quanto em relação ao seu
preparo? este paciente e seus familiares estão em condições de reconhecer problemas
relacionados à sua saúde, que necessitem de cuidados médicos? quais serão suas condutas
frente a alguma intercorrência em saúde? como será o acesso ao serviço de saúde no caso de
uma situação de emergência? e mais que tudo isto, será que, como enfermeira, eu consegui
mostrar as possibilidades de adaptações que este paciente poderá fazer em seu cotidiano para
conseguir dar continuidade ao seu tratamento?
Todas essas dúvidas sobre as condições de vida dos pacientes fora do contexto
(proteção) hospitalar sempre me acompanharam em minha trajetória profissional.
Após o período de alguns anos afastada da enfermagem por questões familiares,
deparei-me novamente com os mesmos questionamentos, ao surgir a oportunidade de
ingressar como docente na Universidade Estadual de Maringá (UEM), ministrando aulas na
disciplina de Pediatria e acompanhando os alunos em situação de ensino prático em um
hospital público do município.
As crianças por nós atendidas apresentavam, além de patologias diversas, problemas
muitas vezes relacionados às condições sociais em que estavam inseridas. Os casos de
agressões físicas, desnutrição, verminoses e as ssimas condições de higiene em que alguns
se apresentavam eram comuns, despertando em mim não somente a vontade, mas também a
necessidade de conhecer o contexto social no qual essa população menos favorecida
encontrava-se inserida. Para tanto, era necessário entender quais eram as influências culturais
15
que determinavam algumas atitudes e formas de cuidado e/ou descuido, além de outras
situações como as questões econômicas, que poderiam também interferir sobre sua saúde.
A possibilidade de uma maior aproximação com os temas sociais se deu com a
minha inclusão em projetos de extensão do Departamento de Enfermagem (DEN). Minha
participação no projeto “Serviço de Assistência e Apoio à Família de Pacientes Crônicos no
Domicílio” possibilitou-me a realização de visitas domiciliares a famílias carentes do
município.
O contato direto com as pessoas, em seu próprio ambiente, permitia-me, por meio
dos seus relatos e de minhas observações, conhecer suas reais condições de vida, suas
necessidades sociais e de saúde, além das dificuldades encontradas por elas na definição da
melhor atitude na solução de seus problemas.
Chamava-me a atenção a falta de opções por diferentes terapêuticas das pessoas de
baixo poder aquisitivo e, acima de tudo, a sua dependência sobre o serviço público e como se
dá o acesso a esses serviços.
A perspectiva social na abordagem das questões de saúde, levou-me a optar por
desenvolver estudos nesta área durante a minha pós-graduação. A oportunidade surgiu a partir
da minha inclusão no curso de Mestrado em Enfermagem, tendo como orientador o
Coordenador do Grupo de Estudos Sócio-Ambientais (GESA), da Universidade Estadual de
Maringá.
A participação, nos estudos deste grupo, permitiu-me novos olhares para velhos
problemas, de forma que durante o curso, ao cursar as disciplinas, meu interesse sempre
esteve mais voltado para as questões referentes às pessoas e aos seus problemas de saúde
enfrentados fora do contexto hospitalar, do que em condições de hospitalização, onde o
indivíduo está sendo monitorado e sob a assistência de profissionais.
Por exemplo, na disciplina de Epidemiologia, era prevista a realização de um
exercício prático que possibilitasse a construção e interpretação de tabelas e gráficos. No
entanto, o fato de participar do GESA, que desenvolve estudos no município de Porto Rico-
PR, uma comunidade ribeirinha, localizada no noroeste do Estado do Paraná, levou-me a
optar por fazer um levantamento dos atendimentos médicos realizados na Unidade Básica de
Saúde do município, por meio de consultas a boletins diários de produção, com o objetivo de
conhecer a população que procurou o serviço de saúde em um determinado período e o
motivo desta procura.
Os resultados deste levantamento despertaram-me o interesse pela forma como se
processa o itinerário terapêutico por parte dos moradores desta comunidade, principalmente
16
os homens e mulheres em idade adulta, que se contatou uma diferença na busca pelo
serviço médico, por parte destes indivíduos.
O fato de existirem vários estudos anteriores que abordam diversos aspectos da
região de Porto Rico, me estimulou a também trabalhar com esta população. São várias as
pesquisas desenvolvidas na região noroeste do Estado do Paraná, às margens do rio Paraná,
onde se encontra o município, e são realizadas tanto por pesquisadores da Universidade
Estadual de Maringá como de outras instituições.
Estes estudos tiveram início ainda na década de 1990, por meio da atuação do
Nupelia (Núcleo de Pesquisas em Limnologia, Ictiologia e Aqüicultura), para o qual foi criada
uma base, com toda infra-estrutura necessária, que possibilitasse a permanência de
pesquisadores e o desenvolvimento destas pesquisas.
O Nupelia realiza estudos envolvendo comunidades biológicas e os aspectos
ambientais nos leitos e margens dos rios e lagoas da região. A este se associaram,
posteriormente, o GEMA (Grupo de Estudos Multidisciplinares do Ambiente), voltado aos
aspectos geográfico-geológicos e físico-químicos da natureza, e o GESA que surgiu da
necessidade de considerar o homem inserido ao meio em que vive. Esse grupo tem como
objetivo estudar as comunidades humanas e as relações destas com o ambiente, com os
processos de ocupação e de degradação que este vem sofrendo, e a busca de uma melhoria nas
condições de vida da população (SPONCHIADO et al., 2002).
Dentre as pesquisas desenvolvidas nessa região, relacionadas à qualidade de vida
humana, encontram-se estudos sobre as representações sociais da população local sobre o
trabalho, tanto entre os indivíduos que apresentam formas tradicionais de trabalho ligadas ao
ambiente (TOMANIK et al., 1997) e de filhos de pescadores em relação à pesca artesanal
(PAIOLA; TOMANIK, 2002), quanto entre a população economicamente ativa na zona
urbana de Porto Rico (SPONCHIADO, 2002). Os resultados destes trabalhos demonstram as
dificuldades dessas populações em manter sua característica de trabalho e o desejo que tanto
os mais velhos quanto os jovens têm de conservar as formas tradicionais de trabalho, muito
embora isso não seja possível nos dias atuais, em virtude das alterações ocorridas no
ambiente.
Estudos sobre o processo de ocupação e situação atual da região também foram
realizados por Rosa (1997) e (2004). O processo inicial de ocupação do município foi a
lavoura de café associada a outras culturas e posteriormente à formação de pastagens, visando
a introdução da pecuária extensiva na região. Os autores discorrem sobre a relação destas
ocorrências e a diminuição da fonte de trabalho para os moradores das comunidades
17
ribeirinhas.
O perfil demográfico, ocupacional e socioeconômico do núcleo urbano de Porto Rico
também foi pesquisado (TOMANIK et al., 1997), bem como as condições de sobrevivência
do homem e do ambiente na mesma localidade (GODOY; EHLERT, 1997) entre outros.
As questões relacionadas aos conhecimentos e concepções sobre a saúde e a doença
dos moradores das comunidades desta região também passaram a constituir foco de alguns
estudos. Carreira (2002), por exemplo, trabalhou com famílias ribeirinhas da ilha Mutum,
com o intuito de conhecer seus saberes e práticas populares de saúde. A autora constatou que,
frente aos problemas de saúde, os ilhéus, além da utilização de plantas medicinais e crenças
religiosas, também buscam o serviço profissional de saúde. Bercini (2003) abordou as
representações sociais sobre saúde-doença das mulheres de pescadores de Porto Rico e suas
estratégias de enfrentamento das doenças e, mais recentemente, Felipes (2006) analisou as
concepções sobre o processo saúde-doença que norteiam as ações dos profissionais e usuários
dos serviços de saúde da Unidade do Programa Saúde da Família (UPSF) do município de
Porto Rico.
Foi possível, por meio desses trabalhos, observar aspectos das condições de vida
desta população, o que, junto com o levantamento de consultas médicas realizado por mim
durante o curso de Mestrado, na disciplina de Epidemiologia, serviu de ponto de partida para
o estudo que pretendia desenvolver naquela comunidade, pois me afligia os seguintes
questionamentos: quais as concepções de saúde da população adulta do núcleo urbano do
município de Porto Rico? quais as alternativas e os caminhos percorridos na busca pela
solução de seus problemas de saúde? quais questões justificam possíveis diferenças nesta
trajetória?
Para respondê-las, definimos como objetivo deste estudo compreender as concepções
de saúde e doença, conhecer as experiências de doença e hábitos de prevenção e os fatores
que interferem no itinerário terapêutico adotado por indivíduos adultos residentes no
município de Porto Rico-PR.
Acredito que os resultados do estudo poderão contribuir para o desenvolvimento do
corpo de conhecimento da enfermagem, a partir de uma abordagem transcultural do cuidado,
além de contribuir com os estudos realizados sobre o município, possibilitando
aprofundamento das pesquisas sobre sua população e permitindo maior conhecimento sobre
as formas de busca pelo restabelecimento da saúde por parte dos indivíduos daquela
comunidade.
18
2 BUSCANDO RESPALDO NA LITERATURA
O conhecimento existente (estado da arte) sobre o problema ou oportunidade
focalizada sobre o tema.
2.1 SAÚDE: UM BEM A SER CONQUISTADO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde não apenas como a ausência
de doença, mas como a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social da pessoa
(SEGRE; FERRAZ, 1997).
Desde a antiguidade, depois de superada a concepção sobrenatural da causalidade
das doenças, a qual explica a saúde e a doença em contraposição aos conceitos da história
natural das doenças e próprios da medicina biomédica, concebia-se a saúde como a ausência
de doença, ou estado de equilíbrio do organismo com referência aos seus meios interno e
externo. Gozar saúde significava, tão somente, não sofrer com alguma doença, ou estar em
harmonia consigo mesmo e com o meio (BUNGE, 1973). Segundo esse autor, foi no século
XX que a concepção de saúde foi mudada. Além da ausência de doença, saúde passou a ser
associada ao bem-estar, sendo, portanto, interpretada como um estado positivo que podia ser
promovido, buscado, cultivado e aperfeiçoado.
Dentro desta perspectiva mais ampla sobre como ser/estar saudável, faz-se necessária
a participação da comunidade nas práticas que envolvem o planejamento, a implementação e
a avaliação das ações em saúde, sendo esta participação, importante no cuidado em saúde no
sentido de que a partir dela definem-se as prioridades estabelecidas tanto pelo indivíduo como
pela família ou comunidade a ser atendida e a receber este cuidado. Aos profissionais de
saúde cabe, portanto, desenvolver estratégias para que se atinja este fim (VASCONCELOS,
2001).
Por ser de consenso que a saúde e doença são preocupações tanto individuais quanto
coletivas, discutidas e analisadas mundialmente, é que a saúde foi o tema abordado na
Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, reunida em Alma-Ata, no
Kazaquistão, no ano de 1978, na tentativa de minimizar os problemas relacionados a ela,
vivenciados por indivíduos em todo o mundo.
19
Neste encontro, foi elaborada a Declaração de Alma Ata, na qual o Diretor Geral da
Organização Mundial da Saúde declarou a incapacidade da medicina tecnológica em resolver
os problemas de saúde de dois terços da humanidade, solicitando aos governos de todos
países o desenvolvimento de formas mais simples de atenção dica destinadas às
populações carentes em todo o mundo, com o correspondente esforço no campo da formação
de recursos humanos, utilizando-se, para isso, os próprios modelos médicos ligados às
medicinas tradicionais. Esta declaração expressa a necessidade de ações para proteger e
promover a saúde de todos, afirmando que a saúde é um direito fundamental e que ao ser
humano deve ter garantido o mais alto nível possível de saúde.
Também a Constituição da República Federativa do Brasil aborda esta questão, por
meio de seu artigo 196 que garante:
A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros
agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação (BRASIL, 1988).
Para tanto, é necessário que todo homem tenha direito a um meio ambiente sadio, e
que a todos seja assegurado a saúde e o bem-estar, decorrentes de uma alimentação adequada,
vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis (BRASIL, 1988,
art. 25).
Portanto, os direitos humanos são o direito à vida no sentido mais amplo, que
abrange os direitos indispensáveis a uma existência em condições dignas.
2.2 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
O processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem
e condicionam o estado de saúde e doença de uma população. Sua concepção/percepção vem
apresentando mudanças nos diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da
humanidade, uma vez que “Os saberes relativos ao processo saúde-doença têm origem na
vivência do sofrimento provocado pelas doenças nos seres humanos” (BARATA, 1998, p.
16).
A evolução dos estudos, nesta área, tem o objetivo de esclarecer de forma mais
adequada a determinação e a ocorrência das doenças nos indivíduos e, principalmente, das
20
populações, do coletivo e entre as classes sociais, passando a considerar a saúde e a doença
como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais
e sociais (VELHO, 2002).
Alves (1993, p. 263) comenta que, de uma maneira geral, os indivíduos aceitam
como verdadeira a concepção médica sobre a saúde e doença, e que as “crenças e valores
médicos apresentam respostas socialmente organizadas para a doença. Refletem o complexo
interativo entre os grupos sociais, as instituições e um corpo específico de conhecimento”.
O modelo biomédico, porém, como forma de assistência não tem atendido
completamente aos homens em suas necessidades de saúde. O desenvolvimento das idéias
sobre as práticas de saúde tem levado seus profissionais a buscarem formas mais humanizadas
de lidar com o sofrimento e a doença.
Na tentativa de compreender o funcionamento do corpo humano e sua complexidade,
desde a antiguidade os estudiosos buscam respostas. Assim, as teorias sobre a doença ao
longo dos tempos têm sido diversas, e seguem, desde a idéia de processos patológicos
relacionados às questões sobrenaturais, passando pela concepção de doenças decorrentes das
alterações ambientais nos meios em que o homem vivia, como a teoria dos miasmas e do
contágio e, posteriormente, a partir dos estudos de Louis Pasteur, a Teoria da Unicausalidade,
com a descoberta das bactérias e vírus, ou seja, o microrganismo como o causador das
doenças.
Dentre os estudos nesta área, foi defendida por Descartes, no século XVII, uma
maneira de entender os organismos vivos como sistemas mecânicos de funcionamento,
estabelecendo, de acordo com Capra (2005), uma estrutura conceitual para pesquisas
subseqüentes em fisiologia. Esta concepção mecanicista da vida se firmou na biologia até os
dias atuais, o que explica que esta visão tenha sido aceita pelos médicos na forma de pensar a
saúde e a doença.
Dessa maneira, o corpo humano é considerado uma máquina, podendo ser analisado
por suas peças. Nesta perspectiva mecanicista, a medicina concentra-se na avaliação de partes
cada vez menores do corpo humano, deixando de ver o indivíduo como um todo. A
enfermidade deu lugar à doença localizada e a medicina passou a ter um olhar fragmentado
apoiada em diagnósticos objetivos. A doença deixou de ser vista como parte de uma
totalidade interdependentes aos fenômenos biológicos, psicológicos, sociais e ambientais
(CAPRA, 2005).
Considerando os aspectos sociais que interferem nos processos de doenças sem
deixar, entretanto, de considerar os aspectos biológicos presentes no processo de adoecer
21
como as questões reprodutivas, genéticas, hormonais e metabólicas, a doença é vista como
“[...] reflexo da combinação de aspectos da experiência dos indivíduos e situações
socioculturais” (GOMES et al., 2002, p. 1212).
Existe, nos indivíduos, a preocupação em não adoecer, visto que a doença pode
provocar mudanças em sua vida, e interferir nas ações do dia-a-dia, agindo muitas vezes como
um fator de ruptura na vida das pessoas (GOMES et al., 2002).
Portanto, a compreensão completa da vida somente é possível por meio de uma
biologia que compreenda o corpo humano como um sistema vivo, ou seja, uma totalidade
integrada, e não partes separadas de uma máquina, a serem tratadas de maneira individual
como ocorre na visão reducionista do organismo.
Este modelo reducionista é, segundo Capra (2005), responsável por muitos dos
problemas com que o sistema médico se defronta, frente à incapacidade de curar determinadas
doenças. Esse fato para o autor é de consenso tanto de médicos quanto da enfermagem, que
sentem a necessidade de um enfoque mais amplo da saúde, e que têm alta qualificação e
potencial para prestar assistência dentro de uma abordagem humanizada e holística.
A visão holística da saúde é semelhante à concepção sistêmica da vida, nela também
se o mundo em termos de relações e integração (CAPRA, 2005). Desta forma, o holismo
aponta para a necessidade de superar a fragmentação e o reducionismo, em busca de uma
compreensão mais ampla sobre o homem e a natureza (VILELA, 1996).
De acordo com Bercini (2003, p. 7), o holismo, na saúde, tem sido lembrado, numa
tentativa de elaborar conceito sobre o tema que seja mais abrangente do que o definido pela
OMS. Para a autora, esta maneira de ver a saúde faz parte de um processo que inclui, além das
dimensões individuais, sociais e ecológicas, também as interações entre elas. A importância
dessas interações se dá “uma vez que a saúde dos seres humanos, bem como de todos os seres
vivos, depende da saúde do planeta e do universo”.
2.3 UMA QUESTÃO DE GÊNERO
Entendendo que as questões culturais permeiam a vida dos indivíduos e que, estas
questões têm o poder de influenciar homens e mulheres de formas diferentes, faz-se
necessário analisar as concepções de saúde e a forma pela qual se processa o cuidado em
22
saúde de forma individual, sob uma perspectiva de gênero, que este conceito está
diretamente relacionado à formação cultural do ser humano.
Ocorre, portanto, que as diferenças existentes, nas diversas sociedades entre homens
e mulheres, podem influenciar suas atitudes e condutas de cuidado à saúde. As diferenças no
estado de saúde entre os sexos se relacionam com fatores biológicos, mas não se limitam
somente a questões reprodutivas, genéticas, hormonais e metabólicas que, embora
desempenhem papel importante nas diferenças dos padrões patológicos, como já foi visto, não
são as únicas (KRIEGER, 2003).
O gênero é um conceito que incorpora os fatores sociais associados aos diferentes
padrões de socialização de homens e mulheres, que tem a ver com a organização familiar, as
condições de trabalho, o tipo de ocupação e a cultura e que, interferem no processo saúde-
doença (KRIEGER, 2003). A realização da análise do processo saúde-doença, na perspectiva
de gênero, permite introduzir novos elementos à noção de causalidade das doenças, a partir da
aceitação de diferenças dos processos de adoecimento e morte como resultado das relações de
gênero. (NASCIMENTO; FERREIRA, 1995).
Luz e Berni (2000) comentam que em nossa cultura, desde a infância, as pessoas são
direcionadas, tanto pela família quanto pelos grupos sociais aos quais pertencem, a
desempenharem determinados papéis de gênero. Homens e mulheres o condicionados a
assumirem padrões comportamentais do cotidiano como algo natural para o sexo masculino e
feminino. O masculino e o feminino, da forma como são aceitos em nossa sociedade, definem
um perfil esteriotipado de homem e de mulher. Os homens são vistos como ativos, fortes,
capazes do trabalho físico árduo, produtivos, competitivos e orientados, enquanto as mulheres
como sensíveis, frágeis, dependentes e geralmente mais aptas ao cuidado (KORIN, 2001).
Como estas características apontadas para cada sexo são aceitas como certas, os
indivíduos definem seus papéis e, desta forma, cabe aos homens a responsabilidade por
demonstrar força e a capacidade de estarem sempre em boas condições de saúde, a fim de
manter o trabalho e o sustento da família, e às mulheres cabe o papel de “cuidadora” da
própria saúde e também da saúde dos demais membros da família (KORIN, 2001).
O termo gênero passou a ser utilizado, principalmente a partir da década de 1980,
com o objetivo de dar maior credibilidade aos estudos feministas (SCOTT, 1995) e, de acordo
com Louro (1995, p. 102), com sua introdução, as feministas passaram a dar a seus trabalhos
um caráter mais científico e menos militante, fazendo com que a mulher deixasse de aparecer
como “estudos de minoria ou um grupo desviante”, merecendo um olhar especial.
23
As feministas acreditavam que a história das mulheres poderia ser escrita de forma
diferente a partir do momento em que o gênero fosse desenvolvido como uma categoria
analítica, assim como ocorre com os termos classe e raça, que geralmente eram utilizadas
pelos pesquisadores com o objetivo de demonstrar a opressão e a desigualdade de poder. No
entanto, o conceito de gênero vem se firmar além das denúncias de opressão e das
experiências femininas. Apresenta-se “[...] referindo-se à construção social e histórica dos
sexos, ou seja, buscando acentuar o caráter social das distinções baseadas no sexo” (LOURO,
1995, p. 103).
Louro (1995) acredita ainda que, embora a princípio, o gênero tenha sido utilizado
para dar mais legitimidade aos estudos sobre a mulher, o conceito conseguiu se firmar graças
ao fato de ser um conceito mais amplo, no qual estão contidos não apenas o social, mas
também o biológico, a cultura e a natureza.
Segundo Scott (1995, p. 86), o gênero é um elemento constitutivo de relações sociais
fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos. Para a autora, o gênero é uma forma
primária de dar significado às relações de poder.
Louro (1995, p. 106) comenta que a definição de Scott sobre gênero se apresenta em
duas partes que se inter-relacionam. A primeira, quando diz que “O gênero é um elemento
constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos [...]”, o
gênero “implicaria os símbolos culturalmente disponíveis numa sociedade”; os “conceitos
normativos”, ou seja, as doutrinas religiosas, práticas educativas, científicas e políticas, entre
outras, que evidenciam as diferentes interpretações dos sentidos que os símbolos possuem. A
segunda parte da definição, “o gênero é uma forma primária de dar significado às relações de
poder”, é para a autora “um domínio primário”, por meio do qual o poder é articulado. O
autor explica que ser do gênero feminino ou do gênero masculino leva a perceber e a estar no
mundo de formas diferentes “[...] e, em tudo isso, diferenças quanto à divisão do poder, o
que vai significar que o gênero está implicado na concepção e na construção do poder”.
O conceito de gênero, portanto, está relacionado com a construção social dos
sujeitos, o que significa dizer que existem conceitos de masculino e feminino, social e
historicamente diversos. O gênero como construção social implica na aceitação da concepção
de que existem diferentes sociedades, com diferentes visões de homem e mulher no interior de
cada uma delas e que a essência dos indivíduos também influencia nesse processo de
construção social (LOURO, 1996).
Como visto, a utilização deste conceito não aceita apenas explicações biológicas
sobre a mulher ou o homem que justifiquem a subordinação feminina, mas indica as
24
“construções culturais”, ou seja, a criação inteiramente social de idéias sobre os papéis
adequados aos homens e às mulheres (SCOTT, 1995, p. 75), papéis estes, que expressam
sistemas de crenças tradicionais a respeito dos comportamentos adequados para homens e
mulheres (GUERRA et al., 2004).
Os sujeitos, homem e mulher, se apresentam em um processo “continuado e
dinâmico”, portanto, não acabado quando no momento do nascimento, mas que se constrói
por meio das “práticas masculinizantes e feminizantes” de acordo com cada sociedade,
estando inserido nas instituições sociais (igreja, escola, etc), que expressam as relações sociais
de gênero (LOURO, 1995).
25
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Em sua existência, o homem seguiu modos diferentes de vida em diferentes épocas e
lugares, desenvolvendo condições que garantissem tanto sua existência e sobrevivência
quanto a de seus descendentes. Para tanto, os indivíduos criam entre si uma espécie de código
que orienta suas práticas sociais nos vários grupos e categorias sociais em que vivem dentro
de uma sociedade (HELMAN, 2006).
A forma como os indivíduos enfrentam as suas experiências de saúde e doença é
profundamente marcada por seus valores e crenças (LEININGER, 2002; HELMAN, 2006),
logo, a saúde e o que se relaciona a ela (conhecimento do risco, idéias sobre prevenção,
noções sobre causalidade, idéias sobre tratamentos apropriados, etc.) são fenômenos
culturalmente construídos e culturalmente interpretados (NICHTER, 1989).
O cuidado ao ser humano é universal, ou seja, todos necessitam de cuidado durante
sua existência, embora este cuidado se apresente de formas diferentes de acordo com a cultura
em que os indivíduos estejam inseridos. Ele é um domínio central, dominante e unificador da
enfermagem e “[...] enquanto a cura não pode, efetivamente, ocorrer sem o cuidado, este pode
ocorrer sem a cura” (LEININGER, 1988, p. 210).
Para Leininger (1988), os homens são seres culturais que sobrevivem por meio de
sua capacidade de prestar cuidado uns aos outros, contudo, ele é um fenômeno próprio da
natureza humana, relacionado com o comportamento de prestação de auxílio, apoio ou
capacitação, para um indivíduo ou grupo que apresente necessidades de melhorar ou
aperfeiçoar a condição de vida.
Visando solucionar os problemas de saúde dos indivíduos, existe nas sociedades um
sistema profissional de cuidado e cura que é o sistema organizado, formalmente reconhecido,
e oferecido pelos profissionais de saúde. Neste sistema, considera-se que o cuidado é a
essência da enfermagem. Além disso, ainda há dentro dos grupos sociais o sistema popular de
cuidado, que é o sistema local, em que se inclui a família (LEININGER, 1991).
A cultura própria de cada ser humano não pode ser atribuída apenas aos indivíduos
que buscam por cuidado, pois, assim como as pessoas que procuram por soluções para
minimizar ou sanar os males que as afligem são portadoras de uma cultura própria, também o
profissional de saúde que dela se ocupará, com o intuito de solucionar ou amenizar seu
infortúnio, traz consigo sua cultura e suas crenças apreendidas em sua sociedade, bem como a
cultura obtida por sua formação profissional.
26
Ocorre, portanto que, para que estes profissionais atendam as necessidades de cada
cliente em sua especificidade e também a sua necessidade enquanto profissional, a pessoa a
ser cuidada seja vista em seu contexto social. Que suas concepções e atitudes sejam
compreendidas pelo enfermeiro, mas que este não deixe de agir como profissional, no sentido
de alcançar os objetivos propostos para uma assistência adequada.
Foi analisando este aspecto que Leininger apresentou o termo enfermagem
transcultural, a qual considerou ser diferente da antropologia médica e disciplinas afins, por
estar focalizada em diferentes culturas, no cuidado cultural, nos fenômenos da saúde e da
enfermagem. Foi ela também quem cunhou o termo cuidado culturalmente congruente para
embasar o principal objetivo de sua teoria, qual seja: identificar os meios para proporcionar
um cuidado de enfermagem culturalmente congruente aos fatores que influenciam a saúde, o
bem-estar, a doença e a morte das pessoas de culturas diversas e também semelhantes
(LEININGER, 1991).
Neste contexto, os pressupostos da Teoria da Diversidade e Universalidade do
Cuidado Transcultural, desenvolvida por Leininger, quando adotados ou considerados pelo
enfermeiro, pode favorecer o processo de interação entre o profissional e sua clientela,
considerando suas possíveis diferenças, atendendo às necessidades de entrosamento entre os
sujeitos envolvidos no processo de cuidado.
Esta teoria foi desenvolvida por Leininger, motivada por uma inquietação em sua
prática profissional na década de 1950, quando ela percebeu diferenças de comportamento
entre as crianças com as quais trabalhava. Estas diferenças, segundo a teórica, possuíam uma
base cultural e, por falta de conhecimento da cultura dessas crianças, a ligação entre a
enfermagem e esses pacientes tornava-se falha. Diante desta constatação, Leininger começou
a desenvolver estudos que, mais tarde, em 1985, deram origem à teoria Transcultural
(LEININGER, 1991).
O objetivo da teoria é proporcionar cuidado coerente com os valores, crenças e
práticas culturais de forma a que seja significativo para as pessoas de culturas tanto diversas
como semelhantes (LEININGER, 2002). Para a autora, existe uma diversidade e uma
universalidade cultural na prática do cuidar que precisa ser conhecida e compreendida para
que a enfermagem possa prestar assistência satisfatória e humanizada, sendo esta assistência
pautada no cuidado.
Como forma de analisar o significado do cuidado, Leininger (1991, p. 43)
desenvolveu um modelo de cuidado ao qual denominou de Sunrise Model ou Modelo do Sol
27
Nascente. Este modelo descreve as “dimensões de Diversidade e Universalidade Cultural do
Cuidado” (GEORGE, 1993, p. 290).
CUIDADO CULTURAL
Fluxograma 1 – Modelo de cuidado Transcultural de Leininger.
Fonte: Leininger (1991, p. 43).
28
O modelo de cuidado desenvolvido por Leininger (1991) pode ser compreendido
pela apresentação em quatro níveis:
1. a parte externa é constituída por componentes que representam a visão do
mundo e o nível do sistema social que direciona o estudo das percepções do mundo para fora
da cultura (GEORGE, 1993), nível que leva ao estudo da natureza, os quais influenciam o
cuidado e a saúde;
2. o segundo nível oferece conhecimento sobre os indivíduos, família, grupo,
comunidade e instituições em diversos sistemas de saúde;
3. o terceiro nível focaliza os sistemas de saúde popular, o sistema profissional e o
cuidado de enfermagem;
4. no quarto nível, ocorrem as decisões e as ações de enfermagem, envolvendo
preservação/manutenção, negociação/acomodação e repadronização/reestruturação cultural do
cuidado.
É nesse último nível que Leininger propõe que se leve em conta o tipo de vida e as
crenças de cada indivíduo para que seja possibilitada a realização do cuidado,e, segundo a
autora, a preservação do cuidado refere-se àqueles cuidados praticados cotidianamente pelo
próprio indivíduo, família ou grupo, os quais podem ser benéficos ou inofensivos à saúde. A
acomodação está relacionada àquelas ações e decisões que visam assistir as pessoas de uma
determinada cultura, levando-a a adaptar-se ao cuidado ou a negociá-lo com os profissionais
de saúde. E por fim, a repadronização das ações e decisões tomadas frente ao cuidado para
facilitar e dar suporte para que sejam operadas mudanças nos indivíduos ou grupos, com o
objetivo de instituir novos modos de vida que possam beneficiar as ações de cuidado à saúde.
O modelo de cuidado proposto por Leininger objetiva auxiliar o estudo da forma
como os componentes da teoria influenciam o estado de saúde das pessoas, das famílias, dos
grupos e instituições, bem como o cuidado oferecido a eles, numa determinada cultura
(GEORGE, 1993).
Aqui mesmo, no âmbito nacional e em diferentes regiões, é encontrada uma
diversidade de estudos que utilizaram a Teoria Transcultural do Cuidado (SANTOS et al.,
1998; CARVALHO; PEREIRA, 1999; BOEHS, 2002; LANDIM; NATIONS, 2003) em
diferentes áreas da enfermagem, com o objetivo de destacar sua importância e sua utilização
na prestação do cuidado de maneira adequada a cada indivíduo.
Estudo realizado com idosos, na cidade do Rio de Janeiro, buscou descrever as
condições de vida das pessoas aposentadas sob a ótica da Enfermagem Transcultural,
concluindo que o cuidado de enfermagem para esta população, em particular, é muito
29
importante, que a atuação de enfermagem é indissociável da ação educativa e que a
comunicação adequada e o relacionamento humano positivo para com estes idosos são
componentes de grande valor no cuidado. Para tanto, constatou-se que se faz necessária a
criação de ações de enfermagem que valorizem esses indivíduos junto à comunidade e à
família (CARVALHO; PEREIRA, 1999).
Uma pesquisa desenvolvida com famílias de recém-nascidos, em Florianópolis-SC,
com o objetivo de conhecer os cuidados culturalmente transmitidos e realizados pela família,
constatou que o referencial de Leininger propiciou a valorização do cuidado no contexto
familiar durante o processo do nascimento humano (SANTOS et al., 1998).
Ainda, nesta mesma perspectiva, estudos realizados com mulheres de uma
comunidade pobre de Fortaleza (favela), com o objetivo de investigar o significado da mama
para elas. Concluiu que para que seja prestado um cuidado adequado a essas mulheres é
necessário que o profissional de enfermagem tenha conhecimento das dificuldades
encontradas por elas, mostrando-se atentos às suas expectativas frente ao cuidado profissional.
Outra pesquisa, utilizando-se da teoria de Leininger, foi desenvolvida por Boehs
(2001) em uma unidade de pediatria, com o objetivo de compreender como se processam os
sistemas de cuidado familiar e institucional dentro do ambiente hospitalar. A autora concluiu
que existem dificuldades para a negociação entre os dois sistemas de cuidado e que, no
movimento de aproximação da equipe, existe a possibilidade de acomodação dos mesmos e
ainda que existe necessidade de ampliação da produção de conhecimento e formação na área
da família dentro das instituições.
Na concepção de Madeleine Leininger, o fim último da teoria é proporcionar
conhecimento aos enfermeiros para que estes possam prestar um cuidado congruente (com os
valores, crenças e práticas culturais), seguro e significativo para as pessoas de culturas
diversas e similares (LEININGER, 2002).
Contudo, para que este cuidado ocorra é necessário haver a procura pelo mesmo, pois
entende-se que a procura não existe somente quando os indivíduos vão até o serviço de saúde,
mas também quando eles aceitam que precisam de cuidado.
A literatura socioantropológica sobre itinerário terapêutico, baseado nas pesquisas
desenvolvidas por Luc Boltanski, sociólogo e professor francês, fundador do Centro de
Sociologia Política e Moral que atua ainda hoje como docente na Escola Hautes Estudes, em
Paris, é aqui utilizada como forma de contribuir para favorecer o desenvolvimento da
assistência de enfermagem voltada às necessidades da população, respeitando suas diferenças
sociais.
30
A pesquisa realizada por Luc Boltanski, na década de 1960, que deu origem ao
trabalho intitulado As classes sociais e o corpo, em que são discutidas as diferenças do
conhecimento médico-científico e do conhecimento médico-familiar (BOLTANSKI, 1989).
Em sua análise o autor aborda não somente o comportamento cultural dos indivíduos em suas
diferentes classes sociais, como também a experiência e o ponto de vista do doente e dos
familiares, suas interpretações e práticas populares e suas influências sobre a prevenção, o
diagnóstico e o tratamento.
A estreita ligação existente entre as concepções de saúde dos indivíduos e o contexto
sociocultural em que estes estão inseridos é descrita por Boltanski (1989). Segundo o autor,
ocorrem nas sociedades, entre os indivíduos das diferentes classes sociais, diferenças em
relação à saúde. Estas diferenças dizem respeito à forma como as pessoas percebem seu
próprio corpo e conseqüentemente os distúrbios relacionados a ele.
Os membros das classes sociais mais elevadas dispensam maior atenção ao corpo,
tanto no que se refere às questões estéticas quanto às questões de saúde propriamente ditas
sendo esta conduta, às vezes reprovada pelos indivíduos de classes menos favorecidas, que
acreditam ser esta atitude relacionada à falta de trabalho ou de outra atividade mais
importante (BOLTANSKI, 1989).
Também existem diferenças no que se refere à competência médica. As dificuldades
encontradas por indivíduos de classes sociais menos favorecidas, em se relacionar com os
profissionais médicos, são maiores do que as enfrentadas por indivíduos melhores
posicionados na hierarquia social. Neste aspecto, ocorre que a diferença social existente entre
o médico e as pessoas de classe social inferior dificulta a comunicação entre eles, tornando o
entendimento das informações sobre as doenças por parte dos pacientes, principalmente pelo
baixo nível educacional, mais dificultado. O médico, por sua vez, diante da dificuldade de
absorção de informações destes pacientes, dispensa a eles menor atenção, diminuindo suas
chances de conhecimento sobre a doença que os acomete.
E por fim, existem as diferenças no Itinerário Terapêutico adotado pelas pessoas de
classes sociais diversas. Elas estão relacionadas ao acesso e à oferta de serviços de saúde.
As variações, no consumo médico pelas diferentes classes sociais, são descritas por
Boltanski (1989) em quatro conceitos, quais sejam: a necessidade médica, a competência
médica; a cultura somática e o uso do corpo.
A necessidade médica, diz respeito à necessidade em sanar a doença no momento em
que ela se manifesta, ou seja, para responder a uma necessidade primária do corpo. A
31
necessidade médica, portanto, aparece assim que se manifesta a doença e pode ser
solucionada, desde que não haja barreiras econômicas ou técnicas.
A competência médica se refere à relação estabelecida entre o profissional e seu
cliente e está diretamente relacionada à comunicação existente entre eles. Para Boltanski, a
aptidão para compreender os sinais emitidos pelo corpo está relacionada à capacidade de
valorização dos sintomas, e esta compreensão melhora quanto maior for o nível social do
cliente, isto porque para ele, uma melhor expressão da doença somente é possível graças a um
maior vocabulário, e neste aspecto as classes menos favorecidas apresentam-se em
desvantagem, visto que o conhecimento dos termos científicos aumenta em função do
crescimento na escala social. Por esta razão, a linguagem científica utilizada pelos médicos,
na maior parte das vezes, não é compreendida pelos membros das classes menos favorecidas.
Estes se sentem desprezados por acreditarem que o médico não lhes dedica atenção adequada,
e este, por sua vez, também sente dificuldade em se fazer entender. Estas situações tornam a
prestação de informações médicas tanto mais fracas quanto mais baixas o doente está situado
na hierarquia social.
O terceiro conceito, a cultura somática, refere-se ao interesse pelo corpo e a forma
como este é visto pelo indivíduo e pela sociedade, refere-se ao fato de que a expressão das
sensações doentias é variável, pois o interesse e atenção que os indivíduos conferem ao
próprio corpo variam de acordo com a classe social em que este está inserido. Quanto mais
elevado o indivíduo se apresenta na escala social, maior o interesse e o cuidado com o corpo e
maiores são as expressões relativas aos processos doentios que se processam pela linguagem.
Também, o uso do corpo que está relacionado à forma como os indivíduos fazem uso
profissional de seu corpo. Sob este aspecto, quanto mais o indivíduo tem que usar fisicamente
seu corpo, menor é a relação reflexiva para com ele. Isto se pelo fato de que a percepção
das sensações doentias é dificultada pelo esforço físico atribuído ao corpo e ainda, a
percepção de estados doentios pode interferir no resultado de suas atividades físicas, quais
sejam, a diminuição do esforço físico e conseqüentemente da carga de trabalho, o que para os
indivíduos das classes populares é inviável, pela dependência econômica de suas atividades de
trabalho. Ainda com relação ao uso do corpo, Boltanski (1989) comenta que, à medida que se
sobe na hierarquia social, ocorre uma diminuição da carga de trabalho e esforço físico, e um
aumento do cuidado e da atenção aos aspectos estéticos do corpo.
Para Boltanski (1989), ocorre, portanto, uma inversão de papéis no que se refere ao
consumo médico por parte dos indivíduos. Isto significa que, à medida que ocorre o
crescimento da consciência do corpo e do interesse dedicado a ele é como se ocorresse uma
32
inversão de suas funções econômicas, ou seja, à medida que decresce a parte relativa da força
corporal no conjunto de fatores de produção, o corpo torna-se o pretexto para uma quantidade
cada vez mais crescente de consumos.
Boltanski (1989) faz referência também à relação existente entre a doença e o
trabalho, no sentido de que esta é vista pelos indivíduos como uma interferência direta em seu
cotidiano, estando associada à impossibilidade para trabalhar, que o trabalho está
diretamente relacionado à sua sobrevivência.
Esta abordagem contribui enormemente para a melhoria na prestação do serviço de
saúde aos indivíduos, visto que por meio desta abordagem se torna possível atender aos
indivíduos de forma individual, respeitando suas limitações econômicas sociais e de
conhecimento sobre seu corpo e o reconhecimento de seus processos patológicos e os
caminhos a serem trilhados na busca da solução de seus problemas.
33
4 CAMINHO METODOLÓGICO
O desenvolvimento deste estudo foi norteado por uma pesquisa de campo de
natureza qualitativa.
4.1 ABORDAGEM UTILIZADA NO DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO
As pesquisas, em geral, se caracterizam pelo esforço para a descoberta de
informações e para ampliar o conhecimento já existente sobre um tema (GODOY, 1995).
Por ser esta uma pesquisa inserida no campo social, que tem por objetivo conhecer o
pensamento de uma comunidade em relação a um assunto, é importante que as ciências
sociais sejam caracterizadas, e de acordo com Minayo (1998, p. 20) uma das características
desta ciência é que seu objeto é histórico, ou seja, as sociedades humanas existem em um
determinado espaço e tempo, os grupos sociais que constituem essas sociedades são passíveis
de mudanças e que, o que faz parte de uma sociedade, como as instituições, as leis e as visões
de mundo são passageiras, estando sujeito a transformações. E é considerando este contexto
que os dados obtidos devem ser interpretados.
A pesquisa qualitativa tem uma longa tradição, tanto na psicologia como nas ciências
sociais. Segundo Flick (2004), os métodos biográficos, estudos de caso e métodos descritivos
foram muito utilizados na sociologia norte-americana até a década de 1940. A partir de então,
pesquisas de abordagens mais experimentais e de quantificação passaram a ser utilizadas com
maior freqüência. Contudo, a partir da década de 1960, na sociologia americana e, da cada
de 1970 na alemã, a pesquisa qualitativa inicia seu ressurgimento. Ela é marcada por estudos
que valorizam o emprego de métodos para descrever e explicar fenômenos.
Com objetivos que contemplam a visão sociológica, Minayo (1998, p. 10) aponta as
metodologias qualitativas como “[...] aquelas capazes de incorporar a questão do significado e
da intencionalidade como inerentes aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas
últimas tomadas tanto no seu advento quanto na sua transformação, como construções
humanas significativas”. O termo significado ganha presença, neste contexto, com interesse
pelas estruturas sociais, procurando conhecer o querer-dizer das estruturas para os sujeitos sob
estudo (TURATO, 2005).
34
As subjetividades do pesquisador e também dos indivíduos estudados estão inseridos
no processo de pesquisa. As reflexões do pesquisador sobre suas ações e observações no
campo, seus sentimentos durante o processo tornam-se dados que fazem parte de sua
interpretação, documentados no contexto da pesquisa (FLICK, 2004).
De acordo com Turato (2005), o interesse do pesquisador, neste tipo de método, se
volta para o significado das coisas. O que as coisas, ou seja, os fenômenos, manifestações,
fatos, vivências e sentimentos representam, moldam a vida dos indivíduos. Ainda, segundo o
autor, em um outro nível, os significados que as coisas apresentam, também passam a ser
partilhados culturalmente e organizando o grupo social em torno destas representações e
simbolismos.
Por ser o homem o objeto de estudo da investigação qualitativa o pesquisador, diante
deste ser “expressivo e falante”, não pode se limitar a contemplá-lo, precisa interagir e
dialogar com ele. Isso torna investigador e investigado, dois sujeitos em interação
(FREITAS, 2002, p. 24).
A linguagem faz parte desta interação, ela “... é a matéria-prima desta abordagem ...”.
A fala exerce papel vital na transmissão de grande quantidade de informação entre os
diferentes indivíduos de um grupo (MINAYO; SANCHES, 1993, p. 240). Assim, na pesquisa
qualitativa, a palavra que expressa a fala cotidiana é material primordial de investigação. Ela
possui a magia de transmitir, por meio do entrevistado, representações de grupos
determinados em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas.
Esta abordagem se adequa ao estudo de grupos específicos, à análise do aspecto de
um fenômeno e não a grandes perfis populacionais. É importante para acompanhar e
aprofundar questões levantadas por estudos quantitativos e também, abrir perspectivas para
serem utilizadas posteriormente em levantamentos estatísticos (MINAYO; SANCHES, 1993).
Demo (1998, p. 92), ao discorrer sobre a adequabilidade das abordagens de pesquisa,
afirma que: “Todo fenômeno qualitativo, pelo fato de ser histórico, existe em contexto
também material, temporal, espacial. E todo fenômeno histórico quantitativo, se envolver o
ser humano, também contém a dimensão qualitativa”.
As informações sobre a vida das populações não podem ser apenas quantificadas,
mas sim interpretadas (TRIVIÑOS, 1987). E por esta razão, o uso da abordagem qualitativa se
mostra adequada, pois além de permitir um exame detalhado de um ambiente, de um sujeito
ou de uma situação em particular, parte de questões ou focos de interesses amplos, que vão se
definindo à medida que o estudo se desenvolve (GODOY, 1995).
35
Os aspectos indispensáveis da pesquisa qualitativa consistem na escolha correta de
métodos e teorias adequados ao tema, no reconhecimento e análise de diferentes perspectivas,
nas reflexões dos pesquisadores a respeito da pesquisa como parte de um processo de
produção de conhecimento e na diversidade de abordagens e de métodos (FLICK, 2004)
A abordagem qualitativa tem como características básicas o ambiente natural como
fonte de dados e o entrevistador como instrumento fundamental, existindo um contato direto
deste com o ambiente e a situação que está sendo estudada. Ela é descritiva, ou seja, a palavra
escrita se destaca nesta abordagem, sendo fundamental tanto na coleta de dados quanto na
análise dos resultados. Nela, os dados coletados aparecem sob a forma de transcrição das
entrevistas ou por meio de anotações, fotos, entre outros. A maneira holística de ver o
indivíduo, e este, inserido no ambiente, é fundamental. O pesquisador tem, como principal
preocupação, o significado dado pelas pessoas à sua vida, tentando compreender o fenômeno
que está sendo estudado a partir da perspectiva dos participantes, utilizando o enfoque
indutivo na análise dos dados obtidos, ou seja, partem de focos de interesse mais amplos e que
no decorrer da investigação tornam-se mais diretos e específicos. A construção de uma teoria
sobre o que se está estudando é realizada aos poucos pelo pesquisador, à medida que coleta e
examina os seus dados (BOGDAN; BIKLEN, 1998).
Ao realizar uma pesquisa qualitativa, o pesquisador apóia-se no entendimento de que
este tipo de abordagem leva à busca de respostas a questões não-quantificáveis relacionadas
ao universo dos significados, às crenças, aos valores e às relações entre os indivíduos.
A utilização de metodologias qualitativas, na área da saúde, tem proporcionado “[...]
visão de complementaridade e de enriquecimento do arsenal teórico-metodológico da
avaliação em saúde [...]” trazendo grandes benefícios para o desenvolvimento do
conhecimento na área (DESLANDES, 1997, p. 105).
A importância da participação dos próprios profissionais de saúde como
investigadores é destacada por Turato (2003), que considera interessante que estes
profissionais possam empregar o método qualitativo, com a vantagem de que eles já trazem as
inerentes atitudes clínica e existencial, em virtude da sua experiência em assistência. Este fato
permite aos profissionais realizarem ricos levantamentos de dados e interpretarem os
resultados com grande autoridade.
A abordagem qualitativa para a enfermagem, contribui para uma compreensão
holística do ser humano, oportuniza a discussão aprofundada de temas, permite melhor
exploração dos problemas da assistência, que contribui para o desenvolvimento da
enfermagem como ciência e profissão (GUALDA et al., 1995).
36
Para investigar a concepção de saúde de homens e mulheres e a influência desta na
busca pelo próprio cuidado, optou-se pela pesquisa qualitativa como abordagem adequada
para a compreensão da problemática. De acordo com Triviños (1987, p. 122), “as
particularidades físicas e sociais do meio imprimem aos sujeitos traços peculiares que serão
desvendados à luz dos significados que ele estabelece”.
4.2 CENÁRIO DO ESTUDO
O estudo foi realizado no município de Porto Rico, localizado na região noroeste do
Estado do Paraná, às margens do Rio Paraná. O município apresenta área territorial de
217.677 Km², e tem como limites geográficos os municípios de Querência do Norte, São
Pedro do Paraná, Loanda, Santa Cruz de Monte Castelo e Bataiporã, município este,
pertencente ao Estado do Mato Grosso do Sul (PARANACIDADE, 2005).
A área urbana do município é pequena, conta com apenas quatro ruas paralelas, que
totalizam trinta e três quadras, habitadas pela maioria da população, e dois conjuntos
habitacionais, o conjunto Flamingo que é constituído de duas quadras e o conjunto Pôr do Sol
com apenas uma quadra, nos quais reside uma pequena parte dos moradores do município. Há
também condomínios e chácaras, cujos proprietários são turistas e, portanto, não apresentam
moradia fixa em Porto Rico.
A população de Porto Rico é de 2.550 indivíduos, apresentando pouca diferença
entre os sexos (50,9% de homens e 49,1% de mulheres), de acordo com dados do IBGE
(2000), sendo a taxa de urbanização do município de 64,11% (PARANACIDADE, 2005).
Porto Rico, no que se refere aos aspectos urbanos, educacionais e de saúde,
apresenta: 25 estabelecimentos comerciais, seis de serviço e três indústrias (extração de
minerais, material de transporte e produção de minerais não-metálicos); uma escola de Ensino
Público que oferece 600 vagas para o ensino Fundamental e 347 vagas para o ensino Médio;
um Hospital Público e uma Unidade Básica de Saúde (PARANACIDADE, 2005).
O município está incluído na 14ª Regional de Saúde - Paranavaí e na Macro-
Regional de Saúde do noroeste do Paraná. Possui o Programa de Saúde da Família, com
equipe de PSF, desde junho de 1999, e seu hospital é equipado com um Centro Cirúrgico, e
nove leitos destinados a internações, sendo um para Clínica Cirúrgica, dois para Ginecologia e
Obstetrícia, quatro para Clínica Médica e dois para Pediatria. (PARANACIDADE, 2005).
37
A região onde o município está localizado envolve o único trecho não represado do
rio Paraná em território brasileiro, o qual mantém em suas margens ilhas e extensas planícies
inundáveis (AGOSTINHO; ZALEWSKI, 1996). Estas áreas, segundo Sponchiado et al.
(2002), consistem um importante ecossistema, pois as cheias e vazantes que ocorrem na
região são determinantes para manter o equilíbrio ambiental dessas áreas.
As principais atividades de trabalho para os residentes dos municípios ribeirinhos são
o trabalho assalariado nas propriedades agrícolas e nas empresas de extração de areia, o
trabalho volante (bóia-fria) nos períodos de colheita de culturas como algodão, feijão, milho e
café, o trabalho em fazendas de gado, a extração de pfaffia (ginseng-brasileiro), a pesca, o
trabalho com cerâmica, e no núcleo urbano, o comércio e o trabalho ligado ao turismo
(ROSA, 1997).
Se considerados os seus rendimentos e atividades profissionais, certa
homogeneidade espacial no agrupamento das famílias da zona urbana de Porto Rico
(TOMANIK et al., 1997). Famílias cujos membros atuam em serviços temporários e de baixa
remuneração tendem a habitar os espaços mais distantes da margem do Rio Paraná. As
residências mais próximas ao rio são maiores e de alvenaria e ocupadas por famílias cujos
membros trabalhadores dedicam-se a ocupações mais estáveis, que exigem maior qualificação
e propiciam melhores rendimentos.
4.3 PARTICIPANTES DO ESTUDO
Foram informantes do estudo 29 indivíduos, sendo 16 mulheres e 13 homens. Vale
destacar que não se trata de pesquisa comprometida com a apresentação de tese sobre os
modos de utilização de serviços por parte da população, mas sim comprometida com os
princípios da pesquisa qualitativa voltada para a produção de achados e hipóteses
merecedores de continuidade investigativa em estudos posteriores.
Por ser esta uma pesquisa qualitativa, não se deve basear em critérios numéricos para
garantir sua representatividade, considerando-se boa a amostragem que abrange a totalidade
do problema investigado em múltiplas dimensões (MINAYO, 2003).
O tamanho da amostra foi determinado pelo critério de saturação dos dados, ou seja,
foram realizadas entrevistas até o momento em que os dados coletados começaram a se
38
repetir. A amostra foi considerada adequada, pois atendeu aos critérios preconizados por
Minayo (1998, p. 102), nos quais a amostragem qualitativa:
a) privilegia os sujeitos sociais que detêm os atributos que o investigador
pretende conhecer; [...] b) considera-os em número suficiente para permitir
uma certa reincidência de informações, porém não despreza informações
ímpares cujo potencial explicativo tem que ser levado em conta; [...] esforça-
se para que a escolha do locus e do grupo de observação e informação
contenham o conjunto de experiências e expressões que se pretende objetivar
com a pesquisa.
Diante do contexto, este trabalho tem por objetivo promover maior aproximação com
a situação investigada e o processo social ocorrido na pesquisa, contribuindo com estudos
posteriores no sentido de reflexão e construção de novas perspectivas de conhecimento.
Portanto, estes conhecimentos se propõem a serem uma forma de complementaridade.
Os critérios de inclusão adotados foram: 1) ser morador(a) da zona urbana do
município de Porto Rico; mais especificamente das quatro ruas principais e dos dois
conjuntos habitacionais; 2) ser adulto(a) com idade entre 20 e 59 anos; 3) concordar em
participar da pesquisa. Os residentes dos condomínios e das chácaras de turistas não foram
incluídos na pesquisa por não serem considerados moradores do município.
Adotou-se um critério espacial para eleição dos entrevistados da pesquisa com o
intuito de incluir na amostra moradores de todas as regiões da cidade. Para a seleção dos
moradores que fizeram parte do estudo, elegeu-se aleatoriamente um morador representativo
para cada quadra da cidade de forma a se produzir entrevistas homogeneamente distribuídas
por toda a cidade, sob o critério geográfico.
A coleta de dados teve início pelas duas ruas centrais, seguindo o sentido da margem
do rio para o interior da cidade, totalizando 16 quadras; em seguida, passou-se para as ruas
laterais, desta vez, partindo do interior para a margem.
4.4 COLETA DE DADOS
A população do município de Porto Rico, conforme comenta Bercini (2003), em
geral conhece e valoriza o trabalho que o NUPELIA vem desenvolvendo na região e o fato de
39
ser participante deste grupo faz com que os pesquisadores sejam bem recebidos e aceitos na
cidade.
Os dados foram coletados no período de três a 27 de junho de 2006, nos sete dias da
semana, cujo objetivo foi entrevistar também os homens em suas residências, os quais, em sua
maioria, trabalham durante a semana.
A coleta de dados foi realizada no próprio domicílio dos entrevistados, por meio de
entrevista semi-estruturada (APÊNDICE A) e observação não-sistematizada. As entrevistas
duraram, em média, 30 minutos, e, durante a sua realização, a pesquisadora anotou aspectos
observados relacionados às condições de moradia, de hábitos familiares, entre outros, que
pudessem ser importantes durante a análise das entrevistas. Kirk e Miller (1986 apud SPINK,
1993, p. 104) entendem que este tipo de pesquisa “[...] depende essencialmente da observação
de pessoas em seus próprios territórios e da interação com estas pessoas por meio de sua
própria linguagem e em seus termos”.
A entrevista semi-estruturada foi utilizada porque, ao mesmo tempo em que valoriza
a presença do pesquisador, oferece condições para que o indivíduo pesquisado tenha liberdade
e forneça as informações de maneira espontânea, enriquecendo a investigação (TRIVIÑOS,
1987).
A entrevista semi-estruturada é:
[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias
e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo
campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida
que se recebem as respostas do informante (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).
O local da residência onde foram realizadas as entrevistas foi definido antes de seu
início a fim de garantir o menor número possível de interferências que pudessem atrapalhar o
entendimento das falas.
A validade da pesquisa refere-se à qualidade da descrição do contexto em que ela
ocorre. Nesta perspectiva, toma-se a saúde-doença como uma prática social em processos de
transformação, e é com a aproximação destes discursos, que se deseja apresentar o presente
estudo.
O instrumento utilizado na coleta de dados foi elaborado pela pesquisadora com base
nos objetivos do estudo. Trata-se de um roteiro constituído de duas partes: a primeira
composta por sete questões que objetivam coletar dados referentes ao perfil socioeconômico,
tais como: a idade, sexo, estado civil, número de filhos, número de moradores no domicílio,
40
ocupação do entrevistado, grau de instrução e renda familiar aproximada e, a segunda,
constituída de oito questões abertas que abordaram os aspectos referentes à concepção de
saúde e doença dos participantes.
4.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
O método utilizado para a análise dos dados foi o da Análise Temática. A partir
do material transcrito, a análise dos temas se deu de acordo com Minayo (1998, p. 209), para
quem:
Fazer análise temática consiste em descobrir os núcleos de sentido que
compõem uma comunicação cuja presença, ou freqüência signifiquem
alguma coisa para o objetivo analítico visado [...]
Inicialmente, as entrevistas foram transcritas na íntegra. Para tanto, foi necessário
ouvir, reiteradamente, o material gravado, para que se pudesse transformar a linguagem oral
em escrita, sendo fiel às narrativas. Posteriormente, para fins de apresentação, realizou-se
limpeza na transcrição das falas de acordo com as normas ortográficas da língua portuguesa.
Uma vez que não era o objetivo deste trabalho analisar a fala dos sujeitos do ponto
de vista lingüístico, pareceu-nos mais adequado a correção ortográfica para facilitar o
entendimento do leitor quanto às concepções de saúde dos entrevistados. As dúvidas e os
períodos de silêncio foram assinalados no texto por reticências e algumas interferências
durante as falas, colocadas entre parênteses duplos (PRETI, 1999):
É ((risos)) é o que eu mais tenho medo, e [...] passa direto na televisão, não
é?
Como exemplo da limpeza das falas podemos citar:
Eu num mi medronto cum qualque coisa não, purque o qui se pra mim num é
pra você, é eu qui tem qui passa, né?
Eu não me amedronto com qualquer coisa não, porque o que for para mim
não é para você, sou eu que tenho que passar, não é?
41
4.6 ASPECTOS ÉTICOS DA PESQUISA
O projeto de pesquisa foi submetido à avaliação do Comitê Permanente de Ética em
Pesquisa envolvendo seres humanos da Universidade Estadual de Maringá, atendendo às
prerrogativas da Resolução 196/96 do Ministério da Saúde, e, após, a anuência desse órgão
sob o parecer nº. 217/04 (ANEXO A), foram iniciadas as articulações para a coleta dos dados.
A solicitação de participação no estudo foi feita verbalmente no momento em que a
pesquisadora chegava à residência. Nesta solicitação, eram informados os objetivos do estudo
e o tipo de participação desejada.
Todos os participantes foram informados sobre a garantia de seu anonimato e da
possibilidade de recusa, se assim preferissem. Os indivíduos aceitaram participar do estudo,
por meio da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A)
demonstrando interesse e satisfação por colaborar. Apenas uma entrevistada não assinou o
Termo de Consentimento por não ser alfabetizada, e o seu consentimento foi registrado em
forma de gravação.
Nesta etapa, para que fosse garantido o anonimato e omitidos os nomes verdadeiros
dos entrevistados, estes foram identificados por letras e números. Foram escolhidas as letras
M para as mulheres e H para os homens, seguidas de números que os diferenciasse. As
mulheres foram representadas por números de um a 16, enquanto que os homens foram de um
a 13. Como exemplo das identificações temos: M1 e H1.
42
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS
Nesta parte faz-se a apresentação e discussão dos resultados da pesquisa e da
literatura.
5.1 CONHECENDO OS INFORMANTES DO ESTUDO
Neste estudo objetivou conhecer o perfil dos participantes da pesquisa.
5.1.1 Perfil socioeconômico dos participantes
A amostra deste estudo foi composta por 55,2% de mulheres (16) e 44,8% de
homens (13). A idade variou entre 20 e 59 anos para as mulheres e entre 26 e 59 anos para os
homens, com média de 38,1 e 42 anos respectivamente.
Com relação ao estado civil, 62,5% das mulheres e 69,2% dos homens o casados,
tendo cada entrevistado, uma média de dois filhos. O número de residentes por domicílio
analisado era em média quatro, variando entre um e nove moradores.
O perfil socioeconômico da amostra está mostrado na Tabela 1.
Tabela 1: Perfil socioeconômico da amostra
Entrevistado Idade Sexo Estado
Civil
Nº. de
Filhos
Nº. Hab. Por
Domicílio
Profissão/
Ocupação
Grau de Instrução Renda Familiar
(aproximada)
M1 33 F Casada 2 3 Faxineira Fundamental Incomp. 1 ½ salário
M2 59 F Separada 3 1 Do lar Não alfabetizada Sem renda fixa
M3 54 F Casada 1 3 Do lar Fundamental Incomp. 2 salários
M4 48 F Casada 2 4 Do lar Fundamental Incomp. 1 salário
M5 39 F Casada* 2 5 Do lar Fundamental Incomp. 3 salários
M6 38 F Solteira - 2 Professora Superior 3 salários
M7 33 F Casada 3 5 Garçonete Médio 2 ½ salários
M8 32 F Solteira - 4 Do lar Médio 2 salários
M9 35 F Casada 2 4 Faxineira Fundamental Incomp. Sem renda fixa
M10 28 F Solteira 1 3 Do lar Fundamental Incomp. 1 salário
M11 20 F Solteira - 4 Do lar Médio 1 salário
M12 54 F Casada 2 2 Do lar Fundamental Incomp. 2 salários
M13 30 F Casada 2 4 Pescadora Médio Incomp. Sem renda fixa
M14 25 F Solteira 3 9 Do lar Fundamental Incomp. 2 ½ salários
M15 43 F Casada 3 5 Faxineira Médio 2 salários
M16 40 F Casada 1 3 Professora Superior 2 salários
H1 51 M Casado 1 2 Comerciante Médio 6 salários
H2 59 M Casado 2 2 Comerciário Fundamental Incomp. 3 salários
H3 38 M Casado 2 4 Comerciário Médio 3 ½ salários
H4 26 M Solteiro - 4 Servente de Pedreiro Médio 2 ½ salários
H5 31 M Casado - 2 Pedreiro Médio 3 salários
H6 52 M Casado 4 2 Pescador Fundamental Incomp. Sem renda fixa
H7 38 M Separado 6 7 Jardineiro Fundamental Incomp. Sem renda fixa
H8 36 M Solteiro - 2 Manobrista Fundamental Incomp. 3 salários
H9 36 M Casado 2 4 Pedreiro Médio 2 salários
H10 30 M Casado 2 4 Comerciante Médio 3 salários
H11 56 M Separado 2 2 Tapeceiro Fundamental Incomp. Sem renda fixa
H12 52 M Casado 2 3 Funcionário Público Superior 4 salários
H13 42 M Casado 2 4 Motorista Médio 3 salários
43
44
Com relação à profissão/ocupação, dentre as mulheres, 43,7% apresentavam alguma
atividade profissional fora do domicílio, e destas, 42,9% atuavam como doméstica (faxineira),
28,5% como professora, e as demais, como garçonete (14,3%) e pescadora (14,3%).
Todos entrevistados do sexo masculino tinham ocupação profissional. Dentre eles,
38,4% desempenhavam atividades relacionadas ao comércio, 15,4% eram funcionários de
estabelecimentos públicos, e os demais (46,2%) exerciam funções como: servente de pedreiro,
pescador, jardineiro e tapeceiro.
Constatou-se que a maior parte dos entrevistados que trabalhavam, tinham sua
ocupação na zona urbana do município (90%).
O nível de escolaridade dos entrevistados variou entre não alfabetizado (3,5%) e
nível superior (10,3%). Dentre os entrevistados, apenas um (sexo feminino) declarou não ser
alfabetizado e, no que se refere ao nível superior, a porcentagem foi maior entre as mulheres
(12,5% para o sexo feminino e 7,7% para o masculino). O Ensino Fundamental incompleto
foi o grau referido pela maior parte dos entrevistados (44,8%), sendo proporcionalmente
maior entre as mulheres do que entre os homens (50% e 38,5%, respectivamente). O Nível
Médio foi concluído por 54% dos indivíduos do sexo masculino e por 18,7% das mulheres.
Dentre os entrevistados, 20,7% referiram não ter renda fixa. A média salarial relatada
pelos demais foi de dois salários mínimos por residência, com variação entre um e seis
salários.
As características dos indivíduos em estudo não diferem muito das características da
população do município, conforme já constatado em estudos anteriores.
As questões da ocupação profissional, dos moradores da região na década de 1990,
foram descritas por Tomanik et al. (1997). Os autores comentam que embora ainda houvesse
pessoas que retirassem o sustento para sua subsistência e de sua família por meio de formas
tradicionais de trabalho (diretamente da terra ou da natureza), os maiores empregadores da
população do núcleo urbano do município eram a Prefeitura Municipal e outros órgãos
públicos, além dos estabelecimentos comerciais e de serviços, destacando ainda que, entre as
mulheres, a atuação mais comum era como domésticas, babás ou lavadeiras.
Tomanik e Godoy (2004) comentam que na região de Porto Rico, em 2001, as
ocupações ligadas ao meio urbano (serviços braçais ou não-qualificados para os homens,
empregada doméstica para as mulheres e comércio e serviços públicos para ambos) sofreram
aumento, ocorrendo o oposto com as ocupações ligadas à pesca e ao trato com a terra. Ainda,
segundo os autores, as atividades urbanas possibilitam ganhos que variam entre as faixas de
0,5 a dois salários mínimos.
45
Em relação aos aspectos educacionais, os Censos realizados em Porto Rico indicam
que a escolaridade média dos moradores, em 1993, era de algo próximo ao ensino
fundamental incompleto. Em 2001, esta média apresentou-se próxima do ensino fundamental
completo (TOMANIK; GODOY, 2004).
A avaliação socioeconômica serve como base para a análise das condições de vida de
uma população. O tipo de trabalho e a situação econômica influenciam também as condições
de saúde dos indivíduos.
A tendência secular dessas condições, em qualquer população, é condicionada de
forma importante pela evolução do poder aquisitivo das famílias e pela progressão da
escolaridade dos membros destas. Do poder aquisitivo das famílias depende, entre outros, a
disponibilidade de alimentos, a qualidade da moradia e o acesso a serviços essenciais como os
de saneamento e os de assistência à saúde. Da escolaridade dos familiares, sobretudo da
escolaridade materna, depende a utilização mais ou menos eficiente da renda e dos serviços
públicos que estiverem ao alcance. A escolaridade exerce influência também sobre as
oportunidades de emprego e de salários e, nessa medida, condiciona o próprio poder
aquisitivo das famílias (MONTEIRO; FREITAS, 2000).
O fato de havermos constatado que as características sociodemográficas dos
indivíduos, em estudo são semelhantes às características da população em geral do município,
citadas por outros autores, foi um alento por significar que, provavelmente, exista certa
homogeneidade de pensamentos, concepções, crenças e práticas relacionadas com o processo
saúde-doença.
5.1.2 Alcoolismo e tabagismo no grupo estudado
Ao investigar a presença de hábitos deletérios de vida entre os entrevistados,
constatou-se que 24% deles, faz uso do tabaco, tanto na forma de cigarro como de fumo de
corda. Este hábito é maior entre os homens (30,8%) do que entre as mulheres (18,7%).
Fumar eu fumo. Não fumo demais. Não fumo cigarro, fumo “paiero” [...]
(M2 - 59 anos).
[...] eu fumo demais mesmo. Dois maços de cigarro, três, se estiver
pescando, as vezes até quatro [...] (H17 - 33 anos).
46
Estes resultados assemelham-se aos que foram encontrados em um estudo realizado
no Estado de Santa Catarina, Brasil, onde se constatou que, entre os participantes, a
prevalência de fumantes foi de 20,6% sendo também maior entre os homens. As pesquisas
comprovam que esta maior adesão ao hábito de fumar por parte dos homens é comum em
todo o mundo e que aproximadamente 47% de toda a população masculina e 12% da
população feminina fumam (BRASIL, 2006a). Este hábito, conseqüentemente, favorece maior
exposição dos homens aos danos à saúde decorrentes desse hábito.
As atribuições simbólicas diferenciadas entre homens e mulheres, segundo Schraiber
et al. (2005), resultam muitas vezes em situações que predispõem os homens a assumirem
certos comportamentos que põem em risco sua saúde e/ou desencadeiam processos
patológicos. Essas construções de gênero definem a maneira como os homens usam e
percebem o seu corpo, podendo muitas vezes, graças a seus modelos de masculinidade,
assumirem comportamentos menos saudáveis em relação às mulheres (FIGUEIREDO, 2005).
Apenas 31% dos entrevistados fizeram referencia ao prejuízo causado à saúde pelo
fumo. Dentre os fumantes, a maior parte (71%) demonstra, por meio de seus relatos, que suas
crenças em relação ao ato de fumar não parecem estar desvinculadas dos malefícios que o
fumo causa;
Meu único medo é pegar um câncer igual meu finado pai, ele fumava e bebia
bastante [...] (H1 – 51 anos).
[...] ficam doente, no caso do câncer, o pessoal com problema de fumar...
(H3 – 54 anos).
Embora os homens sejam maioria, na utilização do tabaco, nenhum deles fez
referência à necessidade de parar de fumar. Este desejo, com a finalidade de preservação de
sua saúde, foi relatado apenas pelas mulheres fumantes:
[...] pelejo para largar e não consigo [...] mais tem que parar, porque eu tenho
pressão alta, tenho que estar tomando remédio direto (M2 – 59 anos).
A pessoa fica doente também por causa do cigarro [...] mas eu não consigo
largar (M9 – 35 anos).
Fumar eu fumo, fumo de corda. Comecei com 12 anos. Esse cigarro não faz
mal pra mim não, eu não trago. O dia que eu sentir que faz mal, eu paro (H7
– 38 anos).
O tabagismo é hoje um problema mundial, considerado pela Organização Mundial
da Saúde (OMS) a principal causa de morte evitável em todo o mundo e, embora o hábito de
47
fumar venha diminuindo nos países desenvolvidos, ele continua em ascensão nos países em
desenvolvimento (MENESES; ACHUTTI, 2000).
Destarte, os prejuízos causados pelo hábito de fumar atinjam em sua maioria os
homens, aumentando substancialmente o risco de mortalidade desse sexo para várias doenças
(BRASIL, 2006a), torna-se importante destacar que as mulheres, nas últimas décadas,
passaram também a apresentar fatores de risco para essas doenças, por causa das mudanças
ocorridas nas suas condições de vida.
Ainda com relação ao estilo de vida, constatou-se que menos de 20% de todos os
entrevistados faz uso de algum tipo de bebida alcoólica, porém, destes, 80% são homens.
Durante a entrevista, foi possível observar que no relato dos homens, os comentários
sobre este hábito fluem com naturalidade, enquanto que, a única mulher que referiu fazer uso
de bebida alcoólica, teve receio ao informar, tendo a preocupação de demonstrar que esta era
uma atitude esporádica.
Bebo bastante [...] é por isso que eu tomo todas, porque tem gente que não
toma nada e morre [...] eu bebo mesmo (H1 – 51 anos).
Tomo umas cervejinhas só. Só às vezes (M1 – 33 anos).
Dentre as mulheres entrevistadas, a maior parte não fez referência aos danos que o
tabaco e o álcool provocam, talvez por não se sentirem ameaçadas por eles. Entretanto, todas
que utilizam, tanto de um quanto do outro, demonstraram preocupação com os agravos que
podem ocorrer em virtude da sua utilização. Estas mulheres demonstraram ter conhecimento
do poder nocivo destas substâncias e, por meio de seus relatos, pôde-se perceber o desejo de
abandonar o vício.
O consumo de bebida alcoólica é um costume muito antigo que vem desde os
primórdios, ocupa local privilegiado em todas as culturas, como elemento fundamental nos
rituais religiosos, e presença constante nos momentos de comemoração e de confraternização
(GIGLIOTTI; BESSA, 2004). Em virtude do seu consumo ser tão comum, muitas pessoas não
imaginam que ela é uma droga potente e talvez, por esse motivo, falem sobre sua utilização
sem relacioná-la ao desencadeamento de possíveis problemas de saúde.
O álcool, embora também seja consumido pela população feminina, é considerado
como maior fator de risco para a saúde do homem. Seu consumo pela população masculina é
superior ao feminino em todas faixas etárias pesquisadas (CARLINI et al., 2002;
48
ARTAZCOZ, 2004), alcançando, no Brasil, percentual de 15,4% entre os homens e 1,2%
entre as mulheres (SIMÃO et al., 2002).
Quando questionado sobre o conhecimento a respeito dos malefícios causados pelo
álcool e pelo fumo, substâncias das quais faz uso, um dos entrevistados diz que conhece os
riscos:
Meu único medo é de pegar um câncer, igual o finado pai. Foi generalizado,
ele fumava e bebia bastante também (H1 – 51 anos).
Ele ainda, desdenha da própria observação. Mostra a foto de um homem amputado
no maço de cigarros e diz:
Olha. Mas até acho bonita ((risos)) (H1 – 51 anos).
Apesar dos avanços na ciência e tecnologia, na área da saúde, e da facilidade de
transmissão de informação, algumas pessoas ainda adotam comportamentos que levam os
prejuízos à sua saúde a curto, médio e longo prazo. Estes comportamentos podem ocorrer por
ignorância, mas, muitas vezes, determinadas práticas são adotadas, apesar de se ter
consciência dos seus efeitos negativos para a saúde (CANDEIAS; MARCONDES, 1979).
As doenças, mais comuns no sexo masculino, associadas às diferenças de gênero e à
adoção de estilos de vida, como o câncer de pulmão e a cirrose hepática, estão relacionadas
aos conceitos clássicos de feminilidade e masculinidade, os quais consideram correto estes
tipos de consumo para os homens, mas não para as mulheres (ARTAZCOZ, 2004).
Embora as questões culturais das sociedades ainda apontem para maior liberdade do
homem em desenvolver alguns hábitos, ocorrendo várias mudanças em todo o mundo no que
se refere à inclusão da mulher no mercado de trabalho e a sua maior liberação sexual. Estas
mudanças estão relacionadas aos chamados "hábitos de homem", nos quais estão incluídos o
fumo e o álcool, que têm interferido negativamente na saúde das mulheres (LUZ;
SOLIMENE, 1999, p. 45) e, portanto, as chamadas vantagens femininas quanto ao tempo de
sobrevida, poderiam reduzir em decorrência dessas mudanças (VERBRUGGE, 1982;
AQUINO, 1991; MENESES; ACHUTTI, 2000; ARTAZCOZ, 2004).
Faz-se necessário destacar que a escolha pela investigação apenas do uso do tabaco e
do álcool como hábitos prejudiciais à saúde deu-se pela constatação da importância que seus
efeitos negativos provocam no ser humano, e por serem substâncias de fácil acesso às pessoas
de todas idades.
49
Os efeitos negativos do fumo estão associados a 90% dos casos diagnosticados de
câncer de pulmão em todo o mundo, sendo este tipo de tumor o mais comum entre todos os
tumores malignos que atingem os indivíduos, e, no Brasil, é responsável pelo maior número
de vítimas por câncer (BRASIL, 2006a).
O álcool por sua vez é responsável por grandes danos à saúde tanto individual quanto
coletiva como descrevem Galduróz e Caetano (2004). Esses autores apresentam dados de
hospitais e clínicas psiquiátricas de todo o Brasil, no período de 1988 a 1999, os quais
apontam que o álcool foi o responsável por cerca de 90% de todas as internações hospitalares
por dependência. Além disso, ele é, de acordo com os autores, responsável pela grande
ocorrência de óbitos por homicídios e acidentes de trânsito em todo o país.
5.2 CONHECENDO AS CONCEPÇÕES DOS INFORMANTES SOBRE SAÚDE E
DOENÇA
Ao conhecer um pouco de cada indivíduo dentro de seu contexto social e cultural,
tornou-se possível, também, conhecer suas concepções sobre a saúde e suas práticas de
cuidado. Percebeu-se que por ser a doença parte da existência humana, os profissionais de
saúde devem criar possibilidades para que as pessoas visualizem a sua doença ao invés de
focalizar somente na saúde, pois é por meio desta conscientização que podem surgir as
condições para o enfrentamento de suas enfermidades. Cabe ao profissional da saúde a
transmissão das informações e a adequação das práticas em saúde tanto para a sua
preservação, quanto ao que se refere aos métodos de prevenção das doenças.
5.2.1 O olhar sobre a própria saúde
Ao investigar a ocorrência de distúrbio relacionado à saúde nos doze meses que
antecederam a coleta de dados, constatou-se que mais da metade dos entrevistados (51,7%)
referiu não ter apresentado nenhum problema relacionado à sua saúde no período em questão.
50
A diferença, na expressão da doença entre as pessoas, ocorre pela maneira como cada
uma categoriza seus sintomas e incapacidades e de acordo com o contexto sociocultural em
que estão inseridas (MENDONÇA, 2005).
Dentre todos os indivíduos que referiram ter apresentado algum problema de saúde,
os homens relataram menos a ocorrência de doenças do que as mulheres. Apenas de que 23%
deles referiram algum infortúnio no período:
Não, só coisa simples como resfriado (H8 – 36 anos).
A maior parte dos homens fez questão de demonstrar que estava saudável:
Não, que eu saiba eu não fiquei doente não ((risos)) (H3 – 38 anos).
((risos)) Eu nem me lembro qual foi a última vez que eu fiquei doente (H10
– 30 anos).
No que se refere à questão de trabalho, independente da idade, constatou-se que os
homens (38,5%) relacionam mais a doença com o trabalho, apresentavam renda familiar
inferior a três salários mínimos e a maior parte deles (60%) tinha atividades que exigiam mais
esforço físico, como pedreiro e pescador. Eles fizeram referência à necessidade de estar bem
para se manterem em condições de exercer suas atividades laborais e a importância que o
trabalho tem para sua sobrevivência.
Eu não tenho nada na saúde. trabalho, tenho tempo para trabalhar
(H10 – 30 anos).
Eu acho que um pouco [...] certo tipo de doença é o tipo de vida não é?
Porque as vezes a gente não consegue manter uma comida razoável, então
eu acho que vai ficando difícil. Começa acontecer as coisas, não tem como
resolver, não tem emprego, acaba complicando. Eu mesmo estou assim [...]
com problemas financeiros. A gente tem que ter uma ocupação senão não
tem como viver (H - 52 anos).
Conforme destaca Boltanski (1989), o indivíduo doente pode tornar-se
impossibilitado de trabalhar, e quando esta situação atinge as pessoas incluídas nas classes
sociais menos favorecidas, pode interferir nas condições de sobrevivência tanto individual
quanto da sua família. Portanto, diante desta situação, segundo o autor, estes indivíduos dão
menor atenção aos sintomas apresentados pelo corpo. Para ele, nas classes menos
favorecidas, a intensa utilização do corpo por meio de um maior esforço físico não é
51
compatível com uma relação reflexiva sobre ele. O esforço físico interfere no reconhecimento
dos sintomas produzidos pelo corpo e mesmo que o indivíduo perceba algum sintoma
mórbido que possa levá-lo à redução da atividade física, muitas vezes ele não dá atenção para
que não haja interferência em seu cotidiano.
Boltanski (1989) comenta que à medida que se evolui o nível de instrução média nas
diferentes classes sociais, ocorre tendência ao aumento do número de indivíduos em
condições de prestar maior atenção ao corpo. Segundo esta teoria, a melhoria nas condições
sociais tem como resultado a diminuição do esforço físico entre os fatores de produção, além
de colaborar para o maior conhecimento científico do corpo.
Dos indivíduos que referiram terem sido acometidos por alguma doença no período
(48,3%), a maior parte foi as mulheres (78%), que relataram ter apresentado uma ou mais
doenças:
Eu tomo remédio para pressão alta. Tenho problema de coluna... dói sim, eu
faço o serviço mas dói [...] Sempre, sempre eu tenho que estar no médico
para tirar chapa para ver como é que está [...] Aparece uma dor na perna, no
braço, problema aqui, problema acolá [...] (M2 – 59 anos).
Eu tenho pressão alta, écirculação. Aí começa doendo as pernas, dói nas
costas, na coluna, dói nas mãos, aquela dor ferroando. Depois dos 40 anos,
eu sofri bastante com bronquite também (M3 – 54 anos).
Os estudos comprovam que as mulheres costumam estar mais atentas às sensações e
percepções com relação ao seu corpo e a demonstrar mais cuidado para com ele do que os
homens (LOYOLA, 1984).
Os dados apresentados nesta pesquisa, sobre maior morbidade das mulheres em
relação aos homens, são coerentes com os que têm sido identificados em outros estudos,
abordando as diferenças nas condições de saúde e no itinerário médico, por ambos os sexos.
Neles, além das mulheres referirem maior morbidade (LEBRÃO et al., 1991; GRIFFITIHS,
1996; ARTAZCOZ et al., 2004, LAURENTI et al., 2005), sua auto-avaliação sobre o seu
estado de saúde é, em geral, pior do que no sexo masculino (IBGE, 1998).
No total, foram referidos pelos entrevistados oito tipos diferentes de problemas de
saúde, ocorridos no período dos últimos 12 meses.
A hipertensão arterial foi a doença mais citada, representando 46% de todas as
queixas. No que diz respeito a esta patologia, as mulheres foram responsáveis por todas as
reclamações, cuja idade varia entre 39 e 59 anos:
52
De um ano para cá? Olha desde que meu menino nasceu eu tenho problema
de pressão alta. Desde a gravidez eu tenho problema de pressão alta... Eu
vou sempre medir [...] controlar a pressão também. Vou no posto pegar
remédio para pressão, as vezes eu vou duas, às vezes vou três vezes por
semana. Tem que cuidar direto. Tomo remédio para pressão três vezes no dia
(M5 – 39 anos).
[...] tenho problema de pressão alta. a pressão alta e a coluna, graças a
Deus.Tomo remédio, sempre vou assim no hospital pra medir, no posto,
sempre a gente está indo, direto (M2 – 59 anos).
Das cinco mulheres que referiram ser hipertensas, apenas uma disse que não tem por
hábito procurar o serviço de saúde para fazer o controle da pressão arterial, justificando que
espera pelas Agentes Comunitárias de Saúde que visitam seu domicílio. As demais referiram
fazer o controle na UBS.
A hipertensão é uma doença altamente prevalente em nosso meio, acometendo no
Brasil um percentual de 15% a 20% da população adulta (MONTEIRO; SOBRAL FILHO,
2004). É considerada como um dos principais fatores de risco de morbidade e mortalidade
cardiovascular e um importante problema de saúde pública (TRINDADE et al., 1998;
DRUMOND JÚNIOR; BARROS, 1999; ALMEIDA et al., 2002; MONTEIRO; SOBRAL
FILHO, 2004; SIMÃO, 2005). A maior ocorrência em mulheres foi constatada tanto no
município de Porto Rico, quanto no Estado do Paraná (BRASIL, 2006b).
Os registros de maior número de hipertensos entre as mulheres, em todo o Brasil,
também são apresentados pelo Ministério da Saúde (BRASIL, 2007), sendo que no ano de
2006, 64,5% dos hipertensos registrados no país, eram mulheres.
algumas décadas, acreditava-se ser a doença arterial coronária uma doença
própria do homem e que raramente se manifestava na mulher, tanto que, por muito tempo, nos
estudos de prevenção de doenças cardiovasculares e nos ensaios clínicos com medicamentos,
houve a exclusão do sexo feminino. Nos dias atuais, a idéia de que os problemas
cardiovasculares estão relacionados ao sexo masculino, não mais procede. A cada ano, 2,5
milhões de mulheres norte-americanas são hospitalizadas, em virtude das doenças
cardiovasculares (LUZ; SOLEMIENE, 1999).
Os dados referentes ao maior número de registros de hipertensão no sexo feminino,
em todas as idades, despertaram também atenção para o fato de que isto possa ocorrer,
provavelmente, porque homens com menos de 50 anos são menos diagnosticados que as
mulheres, quanto a esta doença, em razão do fato de referirem menos seus sintomas e de
procuraram pouco pelos serviços de saúde (VERBRUGE, 1982).
53
Vale aqui ressaltar que, no decorrer da pesquisa e do diálogo com os entrevistados,
apenas um homem (H11) relatou fazer uso de medicamentos anti-hipertensivos, porém, em
momento algum da entrevista mencionou ser, portador de doença hipertensiva, mesmo
quando indagado sobre a presença de algum problema de saúde. Ele relatou, assim como os
outros quatro homens entrevistados e que tinham idade entre 50 e 59 anos, que não tem o
hábito de, preventivamente, fazer a aferição da pressão arterial. Este controle somente ocorre,
segundo eles, quando as Agentes Comunitárias de Saúde do município vão até as suas
residências.
Por ordem de freqüência, observou-se que os problemas de coluna e depressão
constituem o segundo problema mais referido pelos entrevistados (42,8%), sendo ambos
citados também somente pelas mulheres.
As mulheres que referiram dores lombares m idades entre 35 e 59 anos e
desenvolvem atividades diversas como “do lar”, faxineira e professora. Elas comentam que
embora estas dores sejam bastante incômodas, não deixam de realizar as atividades do dia-a-
dia, e buscam por ajuda do médico sempre que apresentam os sintomas:
[...] a dor nas costas não atrapalha, (o desempenho dos serviços domésticos)
eu faço, mas dói sim, eu faço mais dói [...] Sempre, sempre eu tenho que
estar no médico para tirar chapa para ver como é que está. Na última
radiografia, ele (médico) viu que estava torta mais não passou remédio, eu
tenho que ir esse ano, agora, de novo para ver (M2 – 59 anos).
Eu tenho muito dor na coluna, às vezes de noite eu quase não durmo. O
doutor disse que é peso. Há uns tempos atrás ele passou um diclofenaco para
mim, eu tomei, melhorou, mais só que ele mandou eu fazer um regiminho
sabe, ai eu emagreci. Acabaram as dores nas costas e a dor no pé. Agora
voltei a engordar de novo, voltou a dor na coluna (M9 – 35 anos).
Os resultados deste estudo, no que se refere às queixas das mulheres sobre as dores
lombares, se justificam, de acordo com Silva et al. (2004). Os autores comentam que a dor na
coluna é um problema que faz parte do contexto de dores lombares e que, as mulheres
apresentam grande risco para sua manifestação. Isto porque as mulheres, cada vez mais,
associam as tarefas domésticas ao trabalho fora de casa o que exige mais esforço de seu
corpo, além das características anatômicas femininas (menor estatura, menor massa muscular
e óssea, articulações mais frágeis, entre outras), que podem colaborar para o surgimento
destas dores.
A depressão, terminologia utilizada pelas entrevistadas para designar a falta de
disposição para o desempenho das atividades diárias, foi citada por 19% das mulheres, todas
54
com idade inferior a 39 anos. Suas justificativas estavam relacionadas à falta de ocupação e às
poucas atividades de lazer existentes no município:
[...] eu tenho problema de [...] (exitou) depressão, então eu tenho que tomar
remédio para depressão [...] Ah, eu tento não ficar doente (deprimida),
apesar de que eu sou muito nervosa [...] tento me distrair, apesar de que aqui
não tem muito para fazer. Eu era agitada [...] (M5 – 39 anos).
No momento acho que eu estou com depressão. O médico falou. Eu não
consigo dormir, não tenho paciência com nada, mas não é por isso que não
vou viver bem. Eu acho que estou doente [...] acho que estou sem trabalho
[...] eu acho que é por isso mesmo. Você viu o tamanho da cidade? (M11
20 anos).
A falta de ocupação foi destacada pelas pessoas como fator desencadeante para
processos depressivos. A relação entre trabalho e saúde foi citada na mesma proporção por
homens e mulheres como sendo uma atividade fundamental para o bem-estar:
Eu acho que fiquei doente por causa disso [...] parei de trabalhar uns dia,
mais foi pior (M9 – 35 anos).
[...] a gente tem que ter uma ocupação, senão num tem como [...] se não tem
o que fazer não pensa coisa boa. Quando eu estou trabalhando eu não penso
nisso (doença) (H6 – 52 anos).
[...] se não tiver ocupada fica deprimida, eu acho que é doença. A falta de ter
o que fazer deixa a pessoa doente (H10 – 30 anos).
No que diz respeito às mulheres, o trabalho remunerado pode trazer benefícios como
fonte de alternativas de bem-estar, proporcionando independência econômica e uma rede de
relações sociais, e controle sobre sua própria vida (ARTAZCOZ et al., 2004).
Vale destacar que nenhuma das três mulheres que mencionaram esta queixa, referiu
ter sido diagnosticada ou estar sendo acompanhada por especialista. Segundo elas, o
diagnóstico foi feito pelo clínico geral ou o ginecologista que presta atendimento na UBS do
município.
A depressão é descrita como um transtorno do humor grave e freqüente, que ocorre
em todas faixas etárias, e, por razões ainda não totalmente esclarecidas; vem se tornando cada
vez mais comum neste século (LAFER et al., 2000). Sua incidência tem sido descrita como
sendo aproximadamente duas vezes mais prevalente em mulheres que em homens (ANGST et
al., 2002).
55
Os problemas circulatórios foram citados pelo mesmo número de homens e mulheres
(um) e representaram 6,9% do total de queixas.
[...] é má circulação. Você, veja meus dedos assim [...] Estão tudo dormente,
nos pés. Má circulação. Depois que terminou (menstruação), que entrou essa
menopausa, deu esse problema de circulação. Faz um ano. Eu via que
estava aquela dorzinha nos dedos e meio dormente [...] estava com má
circulação. Eu fico muito parada, sem caminhar. Ele (médico) mandou eu
caminhar. que eu comecei caminhar e parei ((risos)). Eu parei, mais tem
que caminhar (M3 – 54 anos).
O problema que eu tive, é falta de circulação, sabe [...] Tinha assim,
formigação na perna, nos dedos [...] ele (médico) receitou remédio. Eu já
tive antes isso, eu falei para ele como era, e eu tinha até a receita
guardada, aí mostrei para ele, aí ele falou para tomar. Não deu mais (H3 – 38
anos).
A doença venosa crônica dos membros inferiores atinge cerca de 40% da população
em geral, sem apresentar grandes diferenças na prevalência entre homens e mulheres
(MAFFEI, 1995). Ela está entre as enfermidades crônicas, comumente denominadas de
Insuficiência Venosa Crônica (IVC), é descrita como uma anormalidade do funcionamento do
sistema venoso causada por uma incompetência valvular (POTER; MONETA, 1995).
Outras doenças também foram citadas, como os problemas dentários, amenorréia,
infecção urinária, otite e pneumonia. Cada uma delas foi referida por uma pessoa entrevistada,
sendo todas mulheres com exceção dos problemas dentários.
Foi constatado, pelos dados apresentados, que as mulheres tiveram maior número de
problemas de saúde em relação aos homens no período de um ano que antecedeu o estudo e
que, quando sentem que estão apresentando algum problema, elas procuram mais o serviço de
saúde do que os homens (43% e 23% respectivamente).
5.2.2 Percepções sobre a saúde
Para a maioria das pessoas em estudo (51,7%), a idéia de ser saudável está
relacionada à ausência de sintomas e doenças e uma percepção de bem-estar:
É quando ela (a pessoa) esta bem fisicamente, mentalmente (M6 – 38 anos).
Quando não está sentindo nada (M10 – 28 anos).
56
O conceito de saúde, descrito pela maioria dos entrevistados, vem ao encontro ao
definido pela OMS que conforme destacado por Segre e Ferraz (1997) é, não apenas a
ausência de doença, mas a situação de perfeito bem-estar físico, mental e social da pessoa.
Gadamer (1994 apud CAPRARA, 2003) comenta que saúde está relacionada com o
homem e o seu ambiente e a satisfação de uma vida ativa. Afirma ainda que enquanto a
doença chama a atenção pela sua presença, a saúde não desperta o interesse das pessoas. Ela,
permanecendo escondida, revela-se por meio de bem-estar, e somente nos momentos de
fadiga, esforço ou cansaço é que o indivíduo percebe alguma alteração em seu estado.
Para autores como Chaves (1998), a saúde significa simplesmente a ausência de
doença. Porém, segundo o autor, assim como se usa a expressão indivíduos saudáveis, por
extensão fala de famílias saudáveis, casas saudáveis, escolas saudáveis, cidades saudáveis e
municípios saudáveis. Tais extensões se referem a famílias, casas, escolas, cidades,
municípios que proporcionam aos indivíduos um meio ambiente favorável às ações de
promoção, manutenção e recuperação da saúde, e os serviços necessários para esse fim.
Embora a maior parte dos entrevistados tenha relacionado o fato de ser saudável à
ausência de doença, eles não deixaram de citar em sua construção do conceito de saúde, a
capacidade funcional, a autonomia, a independência e as relações sociais.
Uma pessoa assim tipo normal, que ela anda, conversa, ela faz o que tem que
fazer, normal (M14 – 25 anos ).
De suas manifestações foi possível extrair o que eles consideram condições
essenciais para o alcance de um estado satisfatório de saúde:
Ser feliz:
Eu consigo ver se a pessoa tem algum problema ou não, você se a
pessoa está feliz (M8 – 32 anos ).
Eu vejo assim uma pessoa com saúde é uma pessoa que não está esmorecida,
que está legal, está de bem com a vida, sempre sorri direto, porque a partir
do momento que a pessoa deixa de sorrir ou de cumprimentar alguém, sei lá,
e começa ficar introvertida daí já, eu creio, não sou médico, mas eu creio que
já é o princípio de alguma doença, tem alguma coisa errada (H1 -51 anos).
Ter trabalho:
Uma pessoa assim tipo normal, que ela anda, conversa, ela faz o que tem que
fazer, normal. Que está trabalhando (M14 - 25 anos).
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Ele tem saúde quando o sujeito está bem, tem emprego, se ocupa. Senão não
tem como. Se não tem o que fazer, não pensa coisa boa, no caso, só vai...
Quando eu estou trabalhando eu não penso nisso (na doença) [...] (H6 - 52
anos).
Ter sono e repouso adequados:
Eu acho que tem saúde quando [...] dorme bem (H11 - 56 anos).
Ter disposição para desenvolver atividades do dia-a-dia:
Tem saúde quando está assim, não é Luiz? (mostra o filho brincando,
correndo) (M7 – 33 anos).
[...] se tem disposição, aí então tem saúde, não é? (H10 - 30 anos).
Não apresentar restrição alimentar:
A pessoa que tem saúde é a pessoa que pode comer o que tem vontade... que
pode comer uma carne gorda [...] Eu falo, a única coisa que a gente luta
hoje é comer, Essa pessoa pra mim tem saúde (H7 - 38 anos).
Ter hábitos de controle e prevenção de doenças:
Acho que se as pessoas se preocupassem mais um pouco com a saúde delas,
eu acho que elas [...] um pouco mais de responsabilidade, não se deixar
levar, num relaxar no cuidado da saúde, sabe? (M14 - 25 anos).
Ah eu acho que quando [...] faz todos os exames direitinho [...] (M15 - 43
anos).
[...] eu estou com 59 anos. Até hoje eu não tive assim, nada até hoje que eles
(médicos) dissessem você tem que cuidar por isso ou por aquilo. Então eu
me considero um cara sadio, porque até hoje eu já fui em médico, não muitas
vezes, mas, as vezes que eu fui, sempre a pessoa (médico) disse: Você
está bem, você não tem nada, você está tranqüilo, então eu me sinto bem (H2
- 59 anos).
Ser jovem:
Acho que quando é jovem. A gente mesmo, eu era jovem não sentia nada e
pra mim, eu nunca ficava doente na vida. Aí, depois aparece uma dor na
perna, no braço, problema aqui, problema acolá (M2 - 59 anos).
Ter boa aparência física:
58
Ah, sei lá. É difícil explicar ((risos))? Acho que é quando é vistoso (M9 - 35
anos).
Pela aparência e pelo que eu conheço dela eu sei se ela está doente ou o
(H5 - 31 anos).
Eu acho que pessoa gorda, também gorda demais não tem saúde não (M13 -
30 anos).
Você quando uma pessoa está magra demais [...] ai ela não está bem não.
Aí ela também não tem saúde não (M15 - 43 anos).
A boa aparência física e o peso corporal, como referência à saúde, foram citados por
20% dos entrevistados, em sua maioria mulheres (83%), sendo que 66,6% deles apresentavam
2°grau completo.
Este resultado é compatível com as colocações de Boltanski (1989) no que se refere à
cultura somática. O autor destaca que ela está relacionada com o interesse pelo corpo e a
forma como os indivíduos o percebem, e ainda, quanto melhor for o nível das pessoas na
escala social, maior será o interesse pelo corpo.
Embora não exista um consenso entre os estudiosos sobre o conceito de saúde e
doença, sobre o que é normal ou patológico em um indivíduo (ALMEIDA-FILHO, 2001), o
que se sabe é que a saúde é um direito social, e envolve como seus determinantes as
condições emocionais, ambientais, de vida e de trabalho, e que todas elas, condições
necessárias para que o indivíduo conduza sua vida com um mínimo de qualidade.
Não foram observadas diferenças significativas entre a opinião de homens e
mulheres quanto às condições necessárias para se ter saúde, com exceção dos aspectos
relacionados à aparência física e trabalho, e que a maior parte dos que associou à aparência
física à saúde foram mulheres e a maior parte dos que mencionaram a importância do trabalho
para que se tenha saúde, foram os homens.
Sobre o comportamento que as pessoas podem ter ou as coisas que podem fazer para
não ficarem doentes, mais da metade dos entrevistados (51,7%) comentou que a manutenção
da saúde depende da boa alimentação:
Para ficar sadio tem que procurar se alimentar bem, evitar um pouco as
coisas ruins. Acho que tem que ser tudo natural o que a gente come (M13 -
30 anos).
Eu acho que a saúde é devido aos alimentos. Então eu acho que se a gente
considerar que a saúde é mais importante, a gente tem que comer coisas boas
(M14 - 25 anos).
59
Além da alimentação, os entrevistados fizeram referência a outras atitudes que
contribuem para uma vida saudável como: a prevenção das doenças, por meio de exames
periódico de sangue e preventivos de mama, colo de útero e próstata; o uso de preservativos
nas relações sexuais (48,2%); o cuidado com os vícios (20,7%); o trabalho (10,3%); o cuidado
com a higiene; a realização de exercícios físicos (3,4%):
Para não ficar doente tem que se cuidar, prevenir, se alimentar bem, fazer
exercício físico, ter uma vida saudável. Eu procuro me manter bem, faço
caminhada, me alimento bem (M6 - 38 anos).
Para não ficar doente, é evitar certas coisas. Doença de rua. Você sabe do
que eu estou falando (H7 – 38 anos).
[...] se for doença sexualmente transmissível fazer sexo com prevenção. (M8
– 32 anos)
Não abusar no exagero do álcool, droga, cigarro. Acho que esse é um ponto
chave para se cuidar bem (H12 – 52 anos).
Para não ficar doente? Olha eu [...] tem que ir ao médico. Porque às vezes as
pessoas ficam doentes, não quer ficar doente, mas às vezes a pessoa facilita
[...] a pessoa tem que se cuidar (H3 – 38 anos).
Os homens foram os entrevistados que mais utilizaram o termo prevenção como
forma de se proteger contra enfermidades. Também foram eles os que mais citaram o cuidado
com os vícios, ou seja, os excessos com o fumo, com as bebidas e com as drogas.
É interessante observar que dos seis informantes que citaram o consumo de álcool,
tabaco e outros tipos de droga, como prejudiciais à saúde, a maioria deles (quatro), faz uso do
cigarro ou de bebidas alcoólicas (uma mulher e três homens).
A idéia de que nada se pode fazer para evitar o acometimento do indivíduo pela
doença foi apresentada por seis pessoas, sendo quatro mulheres e dois homens:
O que fazer para não ficar doente? Acho que não tem não [...], será que se
cuidar bem? Não, não tem como ((risos)), não tem não (M3 – 54 anos).
Eu acho que a doença sempre vem sem a gente esperar. Quando a gente
menos espera, às vezes de uma gripe, a gente acaba [...] Outro dia mesmo
morreu um amigo meu, ele tinha problema de pressão, era um senhor meio
de idade, morreu de repente, mais era uma pessoa que tinha saúde, não era
doente, morreu de repente. Acho que não tem, acho que a receita é meio
difícil, porque a morte chega para todo mundo, amanhã ou depois [...] (M5
39 anos).
Acho que tem que tentar se cuidar, mais eu acho que tem doença que não
tem como evitar, se tiver que ficar doente, vai ficar (M16 - 40 anos).
60
Eu não sei não. Acho que Deus, não é? ((risos)). Deus pode evitar da
gente ficar doente, não é? (H11 - 56 anos).
Ao investigar o comportamento em saúde dos informantes, em estudo, constatou-se
que uma parcela considerável deles (31%) referiu não tomar nenhum cuidado específico para
prevenir doenças e que procuram o serviço de saúde somente diante de sintomas, sem
diferenças percentuais entre os sexos:
Não, não cuido (da saúde). E não sinto nada também ((risos)) [...] Eu tenho
vergonha [...] (M1 - 33 anos).
Vou no doutor. Depois que eu fico doente (M12 -54 anos).
Eu? ((risos)) Não. ((risos)) A gente espera sentir para depois procurar (o
médico) (H3 – 38 anos).
Se não fosse isso (mioma) eu nunca tinha ido no médico (M12 – 54 anos).
O dia que eu sentir que o cigarro faz mal eu paro (H7 - 38 anos).
Embora, as mulheres tenham respondido que procuram o serviço de saúde somente
frente a um infortúnio, ao longo dos diálogos a grande maioria delas referiu fazer,
periodicamente, os exames preventivos de mama (auto-exame) e colo de útero e o controle da
pressão arterial, não ocorrendo o mesmo com os homens.
No que diz respeito à verificação da Pressão Arterial, das seis mulheres que referiram
apresentar hipertensão, quatro procuram pelo serviço de saúde para controle de rotina.
Eu vou medir a pressão, vou direto. Tem dia assim, de noite, que fecha de
tarde (UBS). Eu vou no hospital medir minha pressão (M2 - 59 anos).
Mesmo quando eu estou bem, vou lá (UBS) para medir a pressão Eu vou
sempre medir [...] Vou no posto pegar remédio para pressão, as vezes eu vou
duas, às vezes vou três vezes por semana. Tem que cuidar direto, tomo
remédio para pressão três vezes no dia (M5 - 39 anos).
Percebeu-se que em alguns casos, cabe às agentes comunitárias o papel de orientação
a esses indivíduos quanto à importância não somente da verificação da pressão arterial como
também de consultas periódicas ao médico para acompanhamento e adequação dos
medicamentos necessários para cada caso específico. Este destaque é importante, pois, dos
homens pesquisados, apenas um faz uso de medicamento anti-hipertensivo, e apesar disso não
61
procura o serviço de saúde para controle, os demais referiram não saber se tem hipertensão e
que somente verificam a pressão quando as ACSs vêm em sua residência.
As meninas passam em casa medindo a pressão (agentes de saúde). Para
falar a verdade faz uns três anos que eu não vou lá (UBS) (H11- 56 anos).
A realização de exames de sangue para controle da saúde foi referida por
quatro mulheres e por dois homens:
Não tenho colesterol [...], trigliceres também não tenho, por causa que nesses
tempos eu fiz exame, não tem nem um mês que eu fiz exame [...] (M3 - 54
anos).
Por causa do problema de pressão eu sempre faço exame de colesterol,
diabete, sempre tento controlar, tento cuidar (M5 - 39 anos).
[...] até, a gente sempre faz um check up não deu nada não, fez exame de
sangue não deu nada não. Fiz exame de sangue, colesterol, um monte de
coisinha aí e não deu nada, os exames deram tudo positivo (H2 - 59 anos).
Mais você vê, hoje eu faço porque o médico exige. Cada seis meses faço
uma bateria de exame completo. Se ele não exigisse, eu não fazia, mas de
jeito nenhum! Eu penso, para que eu vou fazer exame se eu não estou
doente? Não estou sentindo nada. De repente a doença já está ali, fácil de
curar, ou qualquer coisa [...] Precisou acontecer comigo (Insuficiência
Renal) para mim acordar (H13 - 42 anos).
A maioria das mulheres (75%) se submete ao exame preventivo de colo de útero
anualmente, ou em intervalos de no máximo três anos. No que diz respeito ao exame
preventivo de mama, constatou-se que 25% das mulheres faz o auto-exame, e que dentre as
entrevistadas com idade acima de 40 anos (seis), apenas uma já foi submetida à mamografia:
Mamografia [...] Nunca fiz. O médico nunca pediu. (M3 - 54 anos)
Tem que pagar. O exames mais simples não, mas a mamografia tem que
esperar. Eu nunca fiz (M4 - 48 anos).
Mamografia eu fiz uma vez. Eu tinha um caroço no seio, mas eu não tenho
mais (M12 - 54 anos).
A mamografia eu não faço. Eu faço exame em casa (M15 - 43 anos).
Dentre os homens entrevistados, seis apresentavam idade acima de 40 anos e,
destes, apenas um já foi submetido ao exame preventivo de próstata:
62
[...] eu não estava sentindo, eu achei que precisava, era tempo de eu fazer, e
eu logo eu acho que já preciso fazer outra vez, porque a gente, eu acho [...]
não pode esperar ficar doente [...] A tal da próstata... tem muitas pessoas
que acham, que acham chato fazer o exame [...], eu já é o tal negócio, eu fui
primeiro, eu quando disse assim, passou dos 40 anos, tem que fazer, eu já
fui. Eu acho que não é vergonha nenhuma todas as coisas são relativas. Você
penso se uma pessoa que ficar com vergonha disso ou daquilo e depois
você ter um câncer por não ter prevenido? (H2 - 59 anos).
Eu nunca fiz prevenção até hoje. O que tiver que vim, vai vim. Vai morrer
disso . (câncer de próstata). Acho que não adianta fazer prevenção. Tem
um monte de médico que esta dentro da área da saúde e morre de câncer de
próstata. Às vezes a pessoa não faz exame [...] o câncer parece que não tem
cura. Não faço nada (H11 – 20 anos).
A maior parte dos homens entrevistados tem algum conhecimento relacionado ao
câncer de próstata, especialmente sobre os riscos referentes a esta doença, mas não realizam
exames, embora alguns até digam que quando completarem mais de 40 anos (idade citada por
todos eles) submeter-se-ão ao exame.
5.2.3 Percepções sobre a doença
Quando questionados sobre os motivos que contribuem para o desencadeamento das
doenças, diversas foram as causas citadas pelos entrevistados: 1) sobrenaturais; 2)
emocionais; 3) relacionadas ao meio ambiente; 4) relacionadas ao ciclo da vida; 5) descuido
com o próprio corpo; 6) causas inevitáveis; 7) precariedade na oferta de serviços de saúde.
Esses níveis de explicação para o que causa a doença apresentam-se, vinculados.
Eles se unificam na visão da doença. Existe a idéia de que Deus é quem define a vida dos
indivíduos e suas ocorrências e a relação do patológico com a natureza e a sociedade em que o
indivíduo está inserido.
1. Questões sobrenaturais
As questões sobrenaturais foram citadas por três entrevistados (10%) como
justificativa para a ocorrência das doenças:
Ah eu não sei minha filha [...] Deus é que sabe [...] Eu acho que a vida é
assim, está bom, na mesma hora fica doente, e a vida vai levando. Ah eu não
sei, Deus é que sabe [...] No meu pensamento aquilo que Deus prepara a
gente tem que passar (M2 – 59 anos).
63
E também tem tanta coisa [...] Tanta doença. Final dos tempos. É do
consentimento de Deus [...] É. Essas doenças que ninguém sabe. Eu vi no
jornal lá no Pará uma doença matando criança e não sabia o que era. Então
de onde vem? Eles estão tentando achar medicamentos, para ver se
conseguem. Então não é coisa de Deus? Eu penso que é o consentimento de
Deus (M3 – 54 anos).
Na concepção de alguns dos entrevistados, Deus é a única força capaz de decidir pela
saúde das pessoas, sendo, desta forma, o indivíduo incapaz de interferir nesse processo.
O âmbito sobrenatural abrange o universo dos espíritos e dos seres transcendentais
como Deus, os Santos, os Espíritos dos Mortos entre outros e embora as causas sobrenaturais
se refiram à esfera metafísica, o local no qual ela se manifesta é o corpo (MINAYO, 1988). O
campo religioso faz parte da cultura popular (MINAYO, 1988). Sendo assim, diante da
manifestação da doença, muitas vezes as pessoas atribuem a Deus a causa dos fatos e de certa
forma se sentem confortadas.
2. Questões emocionais
As questões emocionais foram levantadas como fator desencadeante para o
surgimento de doenças por quatro entrevistados (14%). Estas questões justificam o
aparecimento de enfermidades tanto na concepção dos homens quanto das mulheres:
Ah uma preocupação [...] que deixa, que deixa com, como que fala [...] com
depressão. Porque preocupação deixa mesmo doente. Ah eu acho, na minha
opinião é isso (M1- 33 anos).
Eu acho que um pouco [...] certo tipo de doença é o tipo de vida não é? Eu
acho. Nervoso [...] a gente fica [...] começa acontecer as coisas, não tem
como resolver, acaba complicando [...] Eu mesmo estou assim [...] isso deixa
a gente doente (H6 – 52 anos).
[...] eu acho que a depressão é por causa da preocupação [...] acho que é
doença. Tem até que internar a pessoa, tem pessoa que até si mata [...] (H10
– 30 anos).
[...] se a pessoa põe na cabeça que ela vai pegar uma doença é capaz de
pegar mesmo. (H11 – 56 anos).
Quando são associadas as questões emocionais à saúde, observa-se que existem tanto
sentimentos positivos quanto negativos. Os positivos aumentam a força e o bem-estar das
pessoas, geram sensações de plenitude e prazer, mas em contrapartida, os sentimentos
negativos consomem energia, dando a sensação de mal-estar, perda, vazio e solidão
(VISCOTT, 1982).
3. Questões relacionadas ao meio ambiente (ecológicas)
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As relações do homem com o meio ambiente (água, ar, vento), e que pode interferir
na ocorrência das doenças, estão presentes nas falas de 10,3% dos entrevistados. Eles
atribuem aos fenômenos da natureza e às transformações ambientais às quais estão expostos,
como fatores que influenciam em sua saúde. A relação entre saúde e ambiente foi citada por
pessoas de ambos os sexos:
[...] fica doente porque não está importando com nada assim, toma chuva,
toma sol adoidado, ai olha, quando eu ia para escola ia no sereno, o cabelo
molhava, chegava a ficar branco o cabelo de garoinha. Tem que ficar doente,
não é? (M3 – 54 anos).
Tudo vem do vento [...] Todas as doenças vêm com o vento (M13 30
anos),
[...] falta de tratamento de esgoto também doença [...] É que tem muito
mosquito aqui [...] leishimaniose, e outras doenças que os pesquisadores vêm
fazer pesquisa com macaco. Tenho amigo que vem de Porto Alegre, vem do
Pará, fazer pesquisa com macaco, eles pegam macaco, vêem febre amarela.
É um fator preocupante sim, porque a gente mora muito perto do rio, não é?
Então às vezes vem inseto, a gente está trabalhando e ele vem picar a gente
aqui, se ele estiver infectado, eu vou ficar infectado. A gente sai para o rio,
sai assim (mostra o corpo). É difícil a gente usar repelente (H1 – 51 anos).
A proximidade e a dependência de alguns moradores em relação ao rio pode ser o
responsável por esta concepção. Esta visão faz sentido para eles, que convivem com um
ambiente que está sofrendo modificações que são sentidas dia-a-dia. A degradação e a
poluição do meio ambiente são responsáveis pelo desenvolvimento de inúmeras doenças
atuais, o que constitui uma ameaça grave para a sobrevivência do homem, pela sua exposição
a estas condições.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 25% das doenças registradas em
todo o mundo são causadas por fatores ambientais. A relação entre a saúde e o ambiente
incorpora todos os elementos e fatores que podem afetar a saúde, incluindo, a exposição a
fatores específicos como substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que
interferem no estado psíquico do indivíduo (FATORES..., 2006).
4. Questões relacionadas ao ciclo da vida
A relação doença-envelhecimento foi descrita somente por três mulheres (10%), com
idade acima de 48 anos:
[...] quando eu era mais nova eu num pensava de doença, eu não sentia nada,
nada, nada [...] aí, depois que eu fiquei velha foi que eu peguei de ficar
doente [...] (M2 - 59 anos).
65
Idade não é? (M4 – 48 anos).
[...] acho que é um pouco de descuido quando a gente está mais novo...
depois dos 40 anos eu sofri bastante com bronquite (M3 -54 anos).
De certa forma, as queixas destas mulheres dizem respeito à relação que elas fazem
com o próprio envelhecimento. Para elas, o envelhecer” é o motivador para o aparecimento
das doenças. Esta abordagem inclui tanto o fato de que as pessoas ao envelhecerem tornam-se
mais susceptíveis ao desenvolvimento de doenças, quanto ao descuido com a saúde enquanto
jovens, o que acarreta em prejuízo para o indivíduo quando este atinge uma idade mais
avançada.
De fato, durante a vida adulta, todas as funções fisiológicas declinam gradualmente
(JACOB; SOUZA, 1994) e, portanto, a doença que se apresenta com o passar da idade, está
relacionada com a diminuição da capacidade funcional do organismo.
5. Questões relativas ao descuido com o próprio corpo.
A relação entre a falta de cuidado com o corpo e o desencadeamento de doenças foi
citada pela maioria dos entrevistados. As doenças, segundo eles, estão relacionadas à
exposição a fatores externos, como a utilização de medicamentos sem prescrição médica, ao
uso do tabaco e do álcool e maus hábitos alimentares, além da falta de higiene, de prevenção e
de busca por assistência médica assim que a doença se manifesta.
Fica doente porque se medica sozinho [...] (H5 – 31 anos).
[...] Às vezes beber, fumar demais pode ficar doente (H11- 56 anos).
[...] eu acho que é higiene, acho que é uma das coisas que facilita para pegar
a doença, a pessoa as vezes não se cuida, não cuida do corpo, não toma um
banho, não escova os dentes, fica doente mesmo (H2 – 59 anos).
No dizer de Laplantine (1991), existe sempre um agente externo capaz de causar
doença. Estes agentes são considerados, pelo autor, diretamente responsáveis pelo
desencadeamento de processos patológicos, os quais devem ser combatidos, como: o cigarro
causador do câncer, o sal responsável pela hipertensão, a gordura pelo colesterol, entre outros.
A alimentação foi relacionada com os problemas de saúde por 31% dos
entrevistados, especialmente as mulheres tanto no que diz respeito à contaminação dos
alimentos por agentes químicos quanto no que se refere à alimentação como fonte de
nutrientes.
66
As pessoas ficam doentes pela má alimentação [...] (M6 - 38 anos).
É por causa da alimentação da gente, as coisas têm muita química [...] Às
vezes come muita gordura, muito açúcar [...] Tem que saber se alimentar [...]
Comer com pouco sal, muito legume, muita verdura (M5 - 39 anos).
[...] essas coisas que tem hoje na comida, antigamente as coisa eram naturais,
da roça. (M12 - 54 anos).
Porque às vezes a pessoa não conseguem manter uma comida razoável,
então eu acho que é difícil não ficar doente (H6 – 52 anos).
É compreensível que a alimentação seja um dos aspectos relacionados pelos
entrevistados ao descuido com o corpo. Para eles, uma boa dieta constitui fator indispensável
para que se tenha saúde. Em todas as sociedades humanas, o alimento tem muitos papéis e
está profundamente ligado a aspectos sociais, religiosos e econômicos, além de ser a fonte de
nutrientes dos seres vivos (HELMAN, 1994).
Dentre os fatores citados como desencadeadores de processos patológicos, está
também a falta de busca por cuidados e de prevenção de doenças. Segundo os relatos, existe a
necessidade da adoção de novos comportamentos para a obtenção de uma melhoria nas
condições de saúde:
[...] não vai no médico [...], não vai fazer um exame (M9 - 35 anos).
[...] porque não se tratar, não vai atrás do doutor, fica aí se arrastando,
teimando, teimando [...] (M10 – 28 anos ).
[...] sente as coisas, deixa passar, quando vê não mais tempo [...] (H4 - 26
anos).
6. Questões relacionadas a causas inevitáveis
Alguns entrevistados vêem a doença como uma ocorrência inevitável para o homem,
sobre a qual nada se pode fazer no sentido de preveni-la:
Eu acho que é porque tem que ficar mesmo. Porque a pessoa nasce, nasce
não vai ficar todo tempo sadio até morrer, tem que ficar doente ((risos)) (M2
- 59 anos).
[...] acho que a doença sempre vem sem a gente esperar [...] a morte chega
para todo mundo, amanhã ou depois (M5 - 39 anos).
[...] é da gente ficar doente (M8 – 32 anos).
Quando a pessoa tem que ficar doente, fica (H7 – 38 anos).
67
7. Precariedade na oferta de serviços de saúde
A precariedade na oferta de atendimento de saúde no sentido de suprir as
necessidades dos indivíduos é apontado como desencadeador de processos que levam ao
surgimento de enfermidades:
As pessoas não podem ter cuidado com a saúde [...] principalmente aqui. É
bem escasso, se precisa de alguma coisa no posto, de exame, tirar RX, você
tem que ir para Paranavaí [...] e quando tem vaga, até eles marcarem [...] é
complicado (M7 - 33 anos).
A percepção do usuário quanto à impossibilidade de receber a atenção devida em
temos de atendimento às suas necessidades, é considerada por Bosi (1998) como uma
fragilidade da consciência em saúde, no que se refere aos direitos do cidadão. Segundo a
autora, mais do que propriamente a ausência de uma consciência de direitos, nota-se a
percepção nítida de que os direitos não existem para a grande massa da população.
Diante das afirmações dos entrevistados sobre o que leva os indivíduos a
desenvolverem as doenças, e no dizer de Leininger (2002), segundo a qual, a maneira como as
pessoas reconhecem as suas experiências de saúde e doença é marcada por seus valores e
crenças. Também a “causação das doenças” na visão popular apresenta elementos importantes
na sua explicação, e que é por meio da compreensão das idéias que os indivíduos têm sobre o
fator desencadeante das doenças, que se pode entender muitas atitudes e práticas dos grupos,
no que se refere ao fenômeno saúde/doença (MINAYO, 1988, p.364).
5.3 QUANDO A DOENÇA CHEGA
A concepção sobre saúde que cada indivíduo apresenta, está vinculada e é decorrente
de situações apreendidas e já vividas ao longo de toda sua vida, no contato familiar e no grupo
em que está inserido.
Surgiram duas categorias referentes ao processo de adoecimento por meio dos relatos
dos entrevistados. Foram elas: o medo de algumas doenças o qual está relacionado com as
próprias experiências ou com situações vivenciadas por membros da família ou comunidade;
e o Itinerário Terapêutico adotado por eles frente à ocorrência de processos patológicos.
68
Foi possível, por meio dos depoimentos, entender as necessidades dessas pessoas e
compreender como a enfermagem pode atuar no cuidado, aproveitando-se desses
conhecimentos particulares, além de desenvolver estratégias para introduzir o conhecimento
científico dentro deste grupo a fim de favorecer suas práticas em saúde.
5.3.1 O medo
O câncer e a AIDS demonstraram ser as doenças que mais temor provocam nas
pessoas entrevistadas. As demais doenças, como as cardíacas e do sistema circulatório, são
citadas em menor número em geral pelos indivíduos que apresentavam, no período da
pesquisa, problemas relacionados a elas.
Alguns entrevistados (6,2% das mulheres e 23% dos homens) relataram não existir
nenhuma doença que lhes cause preocupação. Em todos estes casos, as pessoas referiram estar
com bom estado de saúde no período, sendo que a maior parte delas tinha menos de 36 anos.
Dentre eles, apenas um apresentava idade mais avançada (56 anos) e referia fazer uso de anti-
hipertensivo.
A relação dos indivíduos frente à doença, segundo Boltanski (1989), é geradora de
ansiedade, principalmente, para as classes populares. Os indivíduos se sentem ignorantes
frente aos detentores de conhecimento científico, como diante de um universo estranho, difícil
de ser entendido e explicado.
Os membros das classes populares sabem que tudo pode acontecer com seu
corpo, ou por culpa da doença ou por culpa do médico, e que não mal tão
monstruoso que não possa atingi-los (BOLTANSKI, 1989, p. 35).
Diante do receio de desenvolver alguma enfermidade, o temor frente às neoplasias
foi relatado pela maior parte dos indivíduos (81,3% das mulheres, e 61,5% dos homens).
As neoplasias próprias para cada sexo foram destacadas das demais como
preocupantes por alguns entrevistados, como o câncer de útero e mama citado por quatro
mulheres e o câncer de próstata citado por um dos homens. O fato do câncer de mama ter sido
citado apenas por mulheres, talvez seja justificado pela maior divulgação deste como
prejudicial ao sexo feminino.
69
Tenho, tenho muito medo de fica doente. Sei lá [...] tem tanta doença, não é?
Tenho medo de ter o câncer da mama. Muito medo. É o que eu mais tenho
medo, e [...] passa direto na televisão, não é? (M1 - 33 anos)
Tenho medo do câncer de mama e de útero. A gente tem medo, tem filho
pequeno [...] (M4 – 48 anos)
Embora a população em geral não tenha acesso a dados e estimativas sobre as
neoplasias, o câncer ainda é uma doença amedrontadora para grande parte das pessoas pelos
danos que, conforme se acredita, podem estar relacionados a elas.
Nas duas primeiras cadas do século passado, enquanto as endemias ocupavam a
atenção das políticas de saúde no Brasil, o ncer começava a despontar nos países
desenvolvidos entre as doenças de maior taxa de mortalidade (BRASIL, 2006c).
As neoplasias malignas vêm aumentando à medida que ocorre o controle progressivo
de outras doenças e o conseqüente envelhecimento populacional. Em 1999, no Brasil, a taxa
de mortalidade por estas causas foi de 70 óbitos por 100 mil habitantes, com maior incidência
nas regiões sul e sudeste (BRASIL, 2001).
A estimativa para o Brasil, no ano de 2006, segundo o INCA, corresponde a quase
dois casos novos por ano para cada 1000 habitantes. A distribuição da doença entre homens e
mulheres, segundo este órgão, é praticamente a mesma (50,3% para o sexo feminino e 49,7%
para o masculino). As neoplasias mais incidentes, segundo número de ocorrência, serão
respectivamente o câncer de pele, seguido dos tumores de mama feminina, próstata, pulmão,
cólon e reto, estômago e colo uterino (BRASIL, 2006d).
Embora tenham sido poucas as mulheres que citaram o câncer de mama e de útero
especificamente como preocupantes, uma grande parte delas referiu ter por hábito fazer o
auto-exame das mamas e o exame preventivo de colo de útero (Papanicolau). Este último,
quando não é realizado todos os anos, mantém-se segundo elas, em um intervalo de no
máximo três anos.
Constatou-se que 75% das entrevistadas se submete ao exame Papanicolau. Destas,
50% também realizam o auto-exame das mamas. A realização de mamografia foi solicitada
apenas a uma das entrevistadas, quando em decorrência de um nódulo de mama. Este exame,
segundo relatado por várias destas mulheres, raramente é solicitado pelos médicos e, quando
solicitado, a espera é bastante longa, além de ter que ser realizado em outros municípios da
região.
Diante destes relatos, observa-se possível descaso com o cuidado preventivo no caso
do câncer de mama. Este fato é preocupante segundo as mulheres desta comunidade e esta
70
preocupação faz sentido, pois de acordo com dados nacionais (BRASIL, 2002b), a estimativa,
no Brasil, para o ano de 2006 era de 52 novos casos desta neoplasia para cada 100 mil
mulheres, e no Estado do Paraná este número é ainda maior (56,7 casos).
O câncer de colo de útero apresenta-se como a segunda causa de câncer mais comum
entre mulheres em todo o mundo, principalmente na faixa etária de 20 a 29 anos. O risco desta
doença aumenta para mulheres entre 45 e 49 anos. A estimativa de casos de câncer de colo de
útero para o ano de 2006 era de 20,31, no Brasil, e, de 27,52 para o Estado do Paraná, para
cada 100 mil mulheres (BRASIL, 2006d).
Embora o câncer de próstata seja responsável por um aumento cada vez maior de
óbitos entre os homens (BRASIL, 2006f), dos cinco participantes da pesquisa, do sexo
masculino com mais de 50 anos, que é a idade descrita pelos estudos para que se iniciem os
exames preventivos desta doença (BRASIL, 2006f), apenas um relatou temer esta doença. Ele
comentou ter se submetido ao exame preventivo de toque e demonstrou conhecimento
sobre o tema e a importância deste exame para o diagnóstico da doença:
Não, eu não estava sentindo nada, eu achei que precisava, era tempo de eu
fazer o exame. Logo eu acho que já preciso fazer outra vez, porque a gente
não pode esperar ficar doente [...] A tal da próstata, tem muitas pessoas
que acham [...] que acham chato fazer o exame. Eu já é o tal negócio, eu fui,
eu quando disse assim passou dos 40 anos, tem que fazer, eu já fui. Eu acho
que não é vergonha nenhuma. Todas as coisa são relativas. Você pensou
se uma pessoa que ficar com vergonha disso ou daquilo e depois tem um
câncer por não ter prevenido? Então eu fiz, vou fazer outra vez, preciso
fazer porque já faz uns dois, três anos que eu fiz [...] (H2 – 59 anos).
Os demais homens entrevistados, desta faixa etária, também apresentaram algum
conhecimento sobre a doença e comentaram sobre a importância do exame, porém não
demonstraram interesse em submeter-se a ele:
Eu nunca fiz prevenção até hoje. O que tiver que vir, vai vir. Vai morrer
disso . (câncer de próstata). Acho que não adianta fazer prevenção. Tem
um monte de médico que está dentro da área da saúde e morre de câncer de
próstata. Às vezes a pessoa não faz exame [...] o câncer parece que não tem
cura [...]. Não faço nada não (H11 - 56 anos).
Eu para falar a verdade, não faço. Exame de próstata, eu nunca fiz. Eu vejo
aqui em casa, a minha mulher está sempre no posto, faz os exames de
prevenção [...] eu não faço não (H12 – 52 anos).
71
Os dois únicos fatores confirmadamente associados a um aumento do risco de
desenvolvimento do câncer de próstata são a idade e história familiar, sendo a sua maior
incidência em indivíduos acima de 50 anos (BRASIL, 2006f).
Constatou-se que existe conhecimento sobre as neoplasias como as de mama, útero e
próstata e também sobre os exames preventivos para cada uma delas, porém observou-se que
as mulheres realizam mais estes exames em relação aos homens. Além das questões de
gênero, na área da saúde, a mulher tem sido melhor assistida e esteve com maior freqüência
na pauta das discussões nas últimas décadas. Os estudos e programas relacionados a ela
apresentaram consideráveis avanços, visando à diminuição da mortalidade materna e infantil e
o combate ao câncer do colo do útero e mama, o mesmo não ocorrendo com a saúde dos
homens (PASCHOALICK et al., 2006).
Com o aumento da expectativa de vida, doenças como esta que surgem com o
envelhecimento e que, potencialmente, podem ser diagnosticadas e tratadas precocemente,
vêm assumindo dimensão cada vez maior como um problema de saúde pública (DINI; KOFF,
2006).
Alguns participantes (20,1%) fizeram referência ao temor que tem do ncer, pelo
sofrimento que a doença causa:
[...] eu tenho medo [...] do câncer. De infarto não tenho medo, porque se der
infarto morre de repente, ai não fica [...] (M10 – 28 anos).
Medo da doença é o tal do ncer [...] o que a gente matando mesmo é o
câncer. O pessoal sempre fala mais dela e também a doença que está mais...
a gente vê o pessoal sofrendo [...] (H5 - 31 anos).
Tenho medo do câncer ou uma coisa assim. Às vezes eu tenho medo, me
preocupo mais não tenho medo de enfrentar. Minha mãe teve câncer no rim.
Ela operou e está boa. Quer dizer, se minha mãe enfrentou, eu enfrento
também (H13 - 42 anos).
Também houve relatos que fizeram referência à dependência que o câncer provoca e
à necessidade de cuidado por parte de outras pessoas:
Câncer. É o que eu tenho mais medo, porque é triste. É horrível. Meu sogro
já teve, inclusive eu que tinha que fica cuidando dele não é, tinha que
carrega ele no colo [...] eu tinha que limpar. É por isso que eu peço assim pra
Deus: pelo menos me dá um infarto e me mata assim na hora, mas não deixa
para os outros (M9 - 35 anos).
72
Ah o câncer eu tenho medo. Ultimamente essa é a mais assim. Minha mãe já
teve câncer, já tirou uma mama. Só que ela se tratou [...] É, eu já tive caso na
família, já vi sofrimento, então eu tenho medo (M15 - 43 anos).
Quando é uma doença que e mata não tem problema ((risos)), agora,
ficar em cima de cama, você fica preocupado, tem que depender dos
outros aí não é [...] é difícil (H6 – 52 anos).
Quem tem câncer, Deus me livre! Fica dependendo dos outros, não é fácil
não (H13 - 42 anos).
Embora a dependência física seja muitas vezes inaceitável para algumas pessoas, a
necessidade de ser cuidado e de prestar cuidado em determinadas circunstâncias da vida, é
próprio do ser humano. Os homens, portanto, são seres culturais que sobrevivem por meio de
sua capacidade de prestar cuidado uns aos outros no sentido de prestar auxílio, como intuito
de melhorar suas condições de vida (LEININGER, 1988).
É importante destacar que ter tido um grande número de entrevistados que se
referiram ao câncer como doença amedrontadora faz sentido. Isto ocorre, pois, segundo
Carvalho (2002), a maior parte dos diagnósticos de câncer apresenta, normalmente, efeito
devastador e traz consigo a idéia de morte além do medo de mutilações e desfiguramento, dos
tratamentos dolorosos e das perdas provocadas pela doença.
Outra doença citada pelos entrevistados que causa temor em 37,5% das mulheres e
em 38,5% dos homens é a AIDS. Este fato é de se estranhar, pois oficialmente dados do
Ministério da Saúde apresentam para Porto Rico a ocorrência de três óbitos pelo HIV nos
últimos dez anos, sendo dois para o sexo feminino, e um para o masculino (BRASIL, 2006e).
A morbidade hospitalar pela AIDS no município, nos últimos dez anos, apresenta-se maior
entre as mulheres (100% dos casos), o que difere tanto em relação ao Estado do Paraná quanto
ao Brasil, onde a ocorrência é maior entre os homens do que entre as mulheres (BRASIL,
2006c).
Embora os dados oficiais não apresentem altos índices de mortalidade por AIDS, em
Porto Rico, de acordo com o relato de vários entrevistados, a ocorrência da doença é grande
no município.
Seguem alguns relatos dos entrevistados que temem a AIDS:
É que o mundo está perdido com essas doenças. E se a gente sai com o
parceiro, sem camisinha e não se previne aí você pega. Só que você não sabe
se você tem ou não, tem que fazer exame. Você faz o exame. Deu (positivo).
Aí pronto (M10 – 28 anos).
73
Tenho medo de várias doenças [...] Principalmente [...] vamos dizer, a AIDS.
A gente se cuida é lógico, mas a gente tem medo também porque é um [...]
porque é doença incurável [...] (H2 – 59 anos).
Tipo o HIV que é perigoso, não é? É que aqui na cidade tem. Aqui
morreu, já morreram vários, quer dizer, quando morre todo mundo fica
preocupado, depois passa [...] mais [...] (H3 – 38 anos).
Eu tenho (medo), por exemplo, medo de AIDS. Porque eu vi muito morto
aqui no Porto. Outra doença eu não tenho nem um pouco (H7 – 38 anos).
O temor em relação à AIDS é comum em todas as populações, bem como no Brasil,
onde a epidemia de AIDS encontra-se em patamares elevados. Observa-se tendência à
estabilização de casos entre os homens, entretanto, encontra-se o crescimento da epidemia em
mulheres (BRASIL, 2006c).
Nos últimos dez anos, no Brasil, da população entre 20 e 59 anos, portadores do
HIV, 63,4% era do sexo masculino. Esta tendência, de maior percentual de HIV para o sexo
masculino (61,9%), também se apresentou no mesmo período para o Estado do Paraná
(BRASIL, 2006c).
Em um dos discursos foi levantada a questão relativa ao risco iminente de contrair a
AIDS, visto que esta entrevistada teve alguns de seus amigos contaminados pelo vírus e um
óbito na família ocorrido em decorrência desta doença:
[...] tipo, eu tenho medo da AIDS. Aqui na cidade teve alguns (casos) que
aconteceram. Uma prima minha morreu dessa doença. Daí tem também
alguns colegas que também estão doentes disso... a gente vai ficando com
medo (M14 - 25 anos).
Este tipo de comportamento, assim como o comportamento de um indivíduo no
campo da prevenção de doenças, da utilização de cuidados de saúde e ainda, os atrasos ou das
dificuldades na busca por auxílio médico pode ser explicado a partir do Modelo de Crenças
em Saúde (ROSENSTOCK, 1974). Segundo Rosenstock, o comportamento em saúde dos
indivíduos, em relação a uma ameaça à sua saúde, é dependente de quatro variáveis: 1. o
quanto o indivíduo se percebe susceptível à ameaça; 2. o quanto ele acredita que a ameaça
para a saúde é grave/perigosa; 3. os benefícios percebidos nas opções de auxílio, que ocorrem
no contexto das crenças sobre a disponibilidade e a eficiência destas opções; 4. as barreiras
percebidas na adoção de ações que podem reduzir a ameaça à saúde (ROSENSTOCK, 1974).
Outras patologias citadas como temíveis pelos entrevistados foram os problemas
circulatórios, cardíacos e a hipertensão. O medo destas doenças foi relatado apenas pelas
74
mulheres, e está pautado nas patologias apresentadas por elas, ou por algum membro da
família:
É fico preocupada [...] Eu tenho medo porque dói, ai começa doendo as
pernas, dói nas costas, na coluna, dói nas mãos, aquela dor ferruando assim.
Eu falo: Meu Deus, será que isso é circulação ou é outro problema ?
Eu penso câncer no sangue, um monte de coisa, eu tenho medo [...] Tenho
medo dos pés, tenho medo de trombose, já pensou eu com as minhas pernas
cortadas? (M3 - 54 anos).
[...] eu tenho medo de ir (no médico) e descobrir que eu tenho alguma coisa.
Sabe meu pai morreu de problema de coração e eu acho que eu tenho tudo
igual meu pai [...] (M16 - 40 anos).
O aparecimento do estado de doença produz nos indivíduos um sentimento de perigo
e estimula a uma resposta terapêutica (CAPRARA, 2003).
Diante de um infortúnio, as pessoas tendem a procurar por uma ajuda que possa
aliviar seus sintomas, tomando atitudes que proporcionem o restabelecimento de seu estado de
saúde de maneira satisfatória. O atendimento prestado deve ser coerente a cada situação, e isto
somente se faz possível se as crenças e valores de cada indivíduo que necessita de
atendimento forem conhecidas e usadas de forma apropriada, fortalecendo a relação entre o
profissional e o cliente.
5.3.2 O Itinerário Terapêutico
Diante da doença, as primeiras condutas adotadas pelos informantes para tentar
resolver um problema de saúde são diversas: 1) automedicação (41,4%), em alguns casos
associada à utilização de remédios caseiros em forma de chás e xaropes; 2) procura pelos
serviços de saúde (34, 5%); 3) procura pela farmácia (24,1%).
A forma de tratamento das doenças ocorre tanto no que se refere ao seu caráter
individual e fisiológico, como em seu aspecto cultural ou social. Existem diversas
compreensões dos modos de lidar com a doença, para seu enfrentamento, que vão desde as
estratégias criadas no dia-a-dia até a procura por serviços de saúde (LEITE;
VASCONCELOS, 2006).
75
A busca por atendimento de saúde vai depender da interpretação do indivíduo sobre
seu estado de saúde e da necessidade de ajuda sentida por ele frente ao problema existente
(BOLTANSKI, 1989).
A experiência da doença leva os indivíduos a buscarem alternativas para o alívio de
suas dores e/ou sofrimento. Eles desenvolvem ações de apoio que envolve suas redes de
relações como os familiares, vizinhos, terapeutas populares, organizações religiosas ou os
próprios serviços de saúde, entre outras possibilidades, e a família é a primeira forma de
assistência informal deste processo (HELMAN, 1994). Isso ocorre porque algumas doenças
são vistas como de menor intensidade ou preocupação por parte dos indivíduos. Em geral, as
pessoas retratam opiniões como "doença leve pode ser tratada em casa, doença grave é que
precisa de médico" (LOYOLA, 1982, p. 168).
Este processo de escolha pelo caminho, a ser seguido na busca da solução do
problema existente, segue um itinerário de cura ou itinerário terapêutico. Seu objetivo é
interpretar os processos pelos quais os indivíduos escolhem e aderem a determinados
tratamentos. As trajetórias de cada indivíduo neste percurso são viabilizadas em um campo de
possibilidades sócioculturais que permitem a elaboração e implementação de projetos de
tratamentos (VELHO, 2002).
O Itinerário Terapêutico foi tema de pesquisas, na década de 1980, que apontavam
para os diversos usos terapêuticos e a recorrência a diferentes fontes de tratamento por parte
da população de baixa renda. A ocorrência deste fato se dava pela falta de recursos médicos
oficiais e/ou o caráter simbólico destas práticas. Surgiu após a implantação do Sistema Único
de Saúde e o Programa de Saúde da Família uma outra perspectiva. Por meio de sua
implementação, os serviços oficiais adentram nos territórios da Unidade de Saúde local e se
aproximam mais do meio em que os indivíduos vivem (CANESQUI, 1994).
Ainda assim, o que se constatou é que a maior parte dos entrevistados costuma cuidar
de sua saúde; a princípio por conta própria, recorre ao sistema informal de saúde. Este tipo de
cuidado é desenvolvido naturalmente pelas pessoas ao longo de suas vidas. É o cuidado que
se tem desde a infância, transmitido pelos pais, parentes, vizinhos, amigos, meios de
comunicação, professores, entre outros. Ele constitui, segundo Leininger (1991), o Sistema
Popular de Saúde, que é denominada por Queiroz (1993, p. 274) como medicina popular e
refere-se a “[...] todas as representações e práticas relativas à saúde e à doença que se
manifestam independentemente do controle da medicina oficial”.
76
Geralmente quando é uma gripe a gente faz xarope, muito difícil ir no
médico. Faz chá de limão ou pinga limão no café de manhã [...] Minha avó e
minha mãe são descendentes de índio, e não tomam remédio do posto e nem
vão nunca no médico (M14 -25 anos).
Esta fala demonstra a utilização de outras formas alternativas, nas quais os
indivíduos utilizam seus próprios conhecimentos para o enfrentamento de suas doenças,
advindos de práticas familiares ou de grupos que ainda se mantém em paralelo ao
desenvolvimento da ciência.
Boltanski (1989, p. 14) comenta que além das diferenças culturais que levam os
indivíduos a escolherem o itinerário de cuidado a ser seguido, também as diferenças de
classes sociais interferem nesta conduta e ainda que existam “conhecimentos comuns” entre
os indivíduos das diversas classes, que não podem ser negligenciados pelos profissionais de
saúde.
É em casos como o citado anteriormente, que se faz necessária à utilização, por parte
dos enfermeiros, dos conhecimentos da teoria transcultural de Leininger, no sentido de
orientar e implementar condutas científicas de cuidado, sem deixar de levar em conta as
questões culturais que envolvem os indivíduos. Por outro lado, existe o sistema oficial de
assistência à saúde, no qual se apresenta a “[...] medicina institucionalizada e regulamentada
pelo poder constituído” (QUEIROZ, 1993, p. 274). Este sistema está relacionado à medicina
científica, que segue regras e papéis específicos em ambientes especializados como: hospitais,
consultórios médicos entre outros e inclui entre seus profissionais médicos e enfermeiros
(HELMAN, 2006).
O cuidado de enfermagem deve ser um elo entre o sistema popular e profissional, e é
necessário para que isto aconteça o conhecimento do grupo a ser trabalhado, suas reais
necessidades, a partir dos aspectos favoráveis deste cuidado popular, a fim de torná-lo a base
do conhecimento profissional de enfermagem (LEININGER, 1991).
Estes caminhos, na busca de soluções para sanar a enfermidade, traduzem-se em
ações como a utilização de medicamentos existentes no próprio domicílio (dos quais já
tenham conhecimento sobre o seu poder terapêutico, ou que tenham utilizado em outras
situações de doença), ou de fácil aquisição tanto na farmácia como em algumas “mercearias”
existentes no município.
Além do uso de medicamentos industrializados, segundo Boltanski (1989, p. 14),
também existem os conhecimentos “comuns”, ou “conhecimentos e práticas leigas” em outros
campos além da medicina, que não podem ser negligenciados pelos profissionais de saúde.
77
Outra prática realizada pelos entrevistados, e descrita por Boltanski (1989), foi
também a da solicitação de ajuda a uma pessoa próxima, como um parente ou um vizinho, e a
utilização de remédios caseiros como chás e xaropes. Na maior parte das respostas, foi citada
a associação desses medicamentos caseiros aos industrializados para a solução de
manifestações mais simples, como gripe ou resfriado.
A utilização de medicamentos caseiros, principalmente de chás, associados ou não
com remédios industrializados nos casos de resfriados, foi citada por 27,5% da amostra. Esta
prática foi mais comum entre as mulheres (37,5%) do que entre os homens (15,4%):
A gente apela mais para remédio caseiro assim, chá, mel, ocupa mais com
esses remedinhos [...] Aqui funciona assim: chá, mel, erva, quanto mais
longe de postinho e farmácia melhor (H6 – 52 anos).
Tomo chá de guaco, geralmente com comprimido A gente foi criado assim
desde pequeno (H9 - 36 anos).
Bercini (2003), ao estudar as concepções de saúde das mulheres de pescadores na
comunidade de Porto Rico, constatou que a medicação caseira é empregada pelas mulheres,
em forma de xaropes e de chás, principalmente no tratamento de afecções agudas das vias
respiratórias, porém, quando não produz efeito rapidamente, recorre-se ao médico.
As plantas utilizadas para fins medicinais são aquelas que possuem em sua
composição físico-química potencialidades terapêuticas, que têm por finalidade a preservação
da saúde, o tratamento de alguns males e o restabelecimento do bem-estar do indivíduo, e o
conhecimento sobre sua utilização surge principalmente no meio popular (ALVIN;
FERREIRA, 2003).
Observa-se nas falas de vários participantes que problemas como: febre, dores de
cabeça, gripe e cólica entre outros são situações que, na opinião deles, não necessitam de
acompanhamento médico.
Eu não vou em médico por causa de porcaria não (H7 – 38 anos).
Hulka e Wheat (1985) consideram a necessidade como sendo o fator mais importante
para a utilização em saúde. Ela é definida por Heller e Fehér (1998) como um sentimento
consciente e socialmente construído, portanto, diferentes para cada grupo social, podendo ter
este sentimento um caráter de motivação em busca do preenchimento da falta de alguma
coisa, sendo expresso em reivindicações e também como motivação para essas solicitações.
78
As necessidades do ser humano foram descritas por Horta (1979), em sua Teoria das
Necessidades Humanas Básicas. Nela, o ser humano tem necessidades que precisam ser
atendidas e esse atendimento, em determinadas situações, exige o auxílio de um profissional
de saúde. A mesma autora considera as necessidades comuns a todos os seres humanos com
variações em suas manifestações e no modo de satisfazê-las em função da idade, do sexo, da
individualidade, de fatores socioeconômicos, das condições físicas e do próprio ciclo do
processo saúde-doença (HORTA, 1979).
Em saúde, as necessidades são geralmente percebidas pelos indivíduos, a partir do
reconhecimento da mudança de um estado de saúde para um estado de doença. Esta
identificação pode ser feita pelo próprio indivíduo ou por outra pessoa, profissional da saúde
ou não. Diante dessa constatação de mudança, inicia-se um processo de busca por ajuda que
pode ou não ser institucionalizada, ou seja, uma busca por sistemas paralelos, sancionados por
usos e costumes de cada sociedade, ou por um serviço de saúde. Esta busca pode ser por
prevenção, cura ou reabilitação, podendo o indivíduo estar ou não com problemas de saúde,
desejando apenas mantê-la ou prevenir a doença (CARVALHEIRO, 1981).
De acordo com os informantes, a busca pelo serviço oficial de saúde ocorre apenas
diante da suspeita de maior gravidade da doença:
Se é uma dor de cabeça, assim, eu tomo um remédio em casa mesmo, se for
alguma coisa mais grave eu vou no médico. Tomo remédio do posto mesmo,
neosaldina, doril, diclofenaco, ampicilina. Aí, quando não saro, procuro o
médico. Eu vou no posto [...] em último caso, quando precisa mesmo.
Quando eu faço de tudo em casa e não dá certo, eu vou no médico (M13 -
30 anos).
Ah eu sou muito relaxada, eu não gosto de ir no médico, e no posto. Quando
eu vou é porque está precisando mesmo. Às vezes eu vejo que a pressão não
está boa e eu vou passando, passando [...] Tomo um remedinho que tem em
casa [...] chá, as vezes chá de laranja com benegripe. Vou na farmácia e
compro. Ah, eu não gosto de ir no médico [...] Por exemplo, outro dia eu vi
que eu não estava boa, eu vim trabalhar, ai quase que eu desmaiei. Ai eu fui
correndo no posto. Só vou no posto para levar as crianças. Sabe essas
pessoas sossegadas, vai deixando, vai deixando (M15 – 43 anos).
Depende do tipo (de doença), se for pressão eu já medico, vou ao médico, ou
vou na farmácia. Agora se for uma gripe, uma coisa assim, eu tenho
medicamento em casa eu mesmo tomo. Eu detesto farmácia. O dia que eu
vou pode saber que [...] eu falo, que tenho pavor de médico. Pra gripe tomo
um chazinho, cidreira, laranja com mel. em último caso mesmo. Se eu
sinto meu sintoma da pressão.Quando ela está alta eu o suporto a dor nos
olhos, ai eu corro. Tomo remédio com dipirona, um copo com água e açúcar
bem doce mesmo, aí ela melhora (M16).
79
Com o problema na perna [...] Eu fui no médico [...] Essa vez que eu fui no
médico a gente via que tava muito... tava demais, não é? A pressão eu fui
medir quando eu tive um “passamento”, assim, tipo assim, assim
(movimentos com as mãos próximo à cabeça) ((risos)), uma coisa. Eu fui
medir [...] Assustou, eu fui tirar a pressão estava normal, é [...] deve se
cansaço [...] (H3 – 38 anos).
A automedicação busca por parte da população local, pelos serviços de saúde
prioritariamente, frente à ocorrência de doenças consideradas mais graves como hipertensão
ou problemas circulatórios, também já haviam sido descrita anteriormente por Bercini (2003).
A automedicação foi uma prática descrita tanto pelas mulheres (43,7%) quanto pelos
homens (38,5%):
Tomo um remedinho que tem em casa [...] (M1 - 33 anos).
O comprimidinho? Eu mesmo compro na farmácia (M12 – 54 anos).
A gente se automedica, não é? (H1- 51 anos).
Se for uma dor de cabeça eu tomo um comprimido, não é? Eu vou na
mercearia e compro (H7- 38 anos).
Ela se apresenta pelo uso de medicamentos sem prescrição médica, em que o próprio
paciente decide qual remédio utilizar, incluindo-se a prescrição de medicamentos por pessoas
não-habilitadas, como: amigos, familiares ou balconistas da farmácia, nesses casos também
denominados de "exercício ilegal da medicina". Outro termo utilizado é a automedicação
orientada, a qual está relacionada à reutilização de receitas utilizadas em outras ocasiões, sem
que estas tenham sido emitidas para uso contínuo (PAULO; ZANINE, 1988).
Os informantes discorreram com muita tranqüilidade sobre a utilização de
medicamentos sem prescrição médica, não se dando conta dos possíveis danos que estão
implicados nesta prática.
De um modo geral o consumidor o tem experiência nem conhecimentos
necessários para distinguir distúrbios, avaliar a gravidade e escolher o mais
adequado entre os recursos terapêuticos disponíveis, o que leva a que a
prática da automedicação seja bastante danosa para a saúde de quem a
pratica (SCHEKEL, 1998, p. 31).
Tanto é assim que, o índice de 41,4% de automedicação identificado entre estes
informantes é bem maior que o encontrado por Nitschke et al. (1981) de 29%, que já havia
80
sido considerado alto pelos autores, que concluíram ser a automedicação a principal causa do
uso inadequado de medicamentos.
Boltanski (1989), em meados do século XX, constatou que, em geral, os remédios
armazenados nas residências pertencem a cinco grupos que correspondem a diversos tipos de
doença, as quais a medicina popular sabe reconhecer e tratar. Dentre eles, além dos
antitérmicos e analgésicos, assim como descrita por Bercini (2003), estão os desinfetantes,
anti-histamínicos, digestivos e principalmente medicamentos para afecções rinofaringíticas.
A concepção dos indivíduos sobre os medicamentos está correlacionada à concepção
de saúde e doença, já que ambos estão envolvidos no mesmo processo. Por esta razão,
Mendonça (2005, p. 13) corrobora quando afirma que “Para interpretar os significados que os
medicamentos recebem no meio social devemos partir do conhecimento da realidade de seus
consumidores”. Estas concepções segundo Oliveira (1998) são moldadas de acordo com o
ambiente cultural em que as pessoas vivem. E são alternativas de tratamento que ocorrem na
medida em que, para os indivíduos, algumas concepções sobre o tratamento das doenças
diferem da oferecida pela medicina oficial (MENDONÇA, 2005).
A justificativa para esta atitude, conforme é observado nos relatos envolve: a
facilidade no atendimento, justificada pela amizade com o proprietário da farmácia, que
mantém o comércio há vários anos no município e pela confiança nesse profissional; a
agilidade no atendimento que dispensa agendamento, como ocorre na Unidade Básica de
Saúde; e também, pela falta de credibilidade nos profissionais que prestam atendimento no
serviço de saúde municipal.
Quando eu estou com cólica, dor de cabeça eu vou na farmácia, tomo Doril,
atroveran, vou direto na farmácia. Ir no posto não resolve (M11 – 20 anos).
Ah! Eu procuro, a primeira coisa que eu procuro quando estou doente, tem
um farmacêutico que ele é muito meu amigo [...] Primeiro eu passo por
ele. Depois, se ele acha que ele não tem condições [...] se não tiver, fala:
Olha você tem que ir para o médico (H2 - 59 anos).
É, o costume do povo daqui é esse mesmo (procura primeiro pela farmácia).
É que o farmacêutico é melhor do que o médico. Já está aqui tem uns 30
anos. O pessoal mesmo prefere mais ele do que o médico (H5 - 31 anos).
Como aqui em Porto Rico a gente tem muita confiança no seu [...], dono da
farmácia, e conversa com ele e depois se não der certo eu vou no médico
(H8 - 36 anos).
81
A iniciativa de procurar pelo serviço médico, como primeira alternativa quando a
doença se manifesta, foi relatada por um número maior de mulheres (43%) em relação aos
homens (23%).
Vou, vou no médico, não deixo de ir, porque Ele (DEUS) deixou a medicina
[...] e se a gente não for no médico [...] os homens também são de Deus,
porque ele deu o caminho para ajudar a gente com medicamento, com
cirurgia (M3 - 54 anos).
Olha eu tomo remédio assim que eu pego no posto, porque a gente não
tem opção [...] Vou no posto pegar remédio para pressão, as vezes eu vou
duas, às vezes vou três vezes por semana. Tem que cuidar direto (M5 - 39
anos).
Dados semelhantes a este, relativos à maior procura do serviço de saúde pelas
mulheres de Porto Rico havia sido apresentado por Felipes (2006). A autora analisou as
fichas de atendimento médico na UBS do município, e concluiu que o atendimento médico
prestado às mulheres, neste serviço, no período analisado, foi três vezes maior do que aos
homens.
A atitude de buscar pelas farmácias como alternativa para solucionar problemas de
saúde, ocorre em sua maioria pelos homens, e é também descrita por Figueiredo (2005), que
levanta algumas suposições para explicar esta conduta como: o fato do homem acreditar ter
seu tempo perdido na espera pela consulta nas Unidades Básicas de Saúde, sendo a utilização
de outros serviços como farmácias ou Pronto-Socorros uma forma de agilizar o atendimento;
a idéia de que, nas UBSs, os serviços são destinados, em sua maioria, às mulheres, crianças e
idosos; e ainda, a idéia de que os serviços de saúde são um “espaço feminilizado” (maioria
dos trabalhadores destes serviços são mulheres). Esses conceitos masculinos, de acordo com o
autor, podem justificar a procura por outras formas de atendimento além da consulta médica.
Algumas situações, segundo os relatos, dificultam o atendimento e a resolução dos
problemas de saúde no município, geram a insatisfação com serviços oferecidos pela UBS.
Estas observações foram feitas tanto pelos homens quanto pelas mulheres. Isto se deve ao fato
de seu itinerário consistir no percurso clássico das pessoas das classes sociais desfavorecidas,
que procuram tratar-se em serviços públicos antes de serem encaminhados a serviços
especializados, em geral, também públicos.
Na análise da utilização dos serviços de saúde, vários são os aspectos a serem
considerados. Dentre eles estão o tipo de serviço do qual a população se utiliza (unidades
básicas de saúde, pronto-atendimentos, pronto-socorros, ambulatórios ou clínicas
82
especializadas, e hospitais, públicos ou privados). Essa utilização depende de fatores que
favorece seu acesso e também de valores sociais e culturais associados ao consumo. O motivo
e a freqüência da utilização, a busca no momento em que a doença se manifesta ou
tardiamente, os procedimentos preventivos, assistenciais, laboratoriais ou terapêuticos
envolvidos, também são aspectos importantes a serem analisados e relacionados à busca pelo
serviço de saúde (ZUCCHI et al., 2000).
As reclamações apresentadas pelos informantes sobre estes serviços oficiais parecem
ser freqüentes e decorrentes de vários fatores, tais como: 1) o horário disponibilizado pelo
serviço para o atendimento médico; 2) a falta do número de consulta suficiente para atender à
demanda; 3) a dificuldade no agendamento de consultas e/ou exames; 4) a falta de
especialidades médicas e a dificuldade em conseguir encaminhamento a outras instituições
especializadas e a exames complementares; 5) a dificuldade na aquisição de medicamentos; 6)
a falta de credibilidade no serviço médico oferecido: 7) a dificuldade de relacionamento entre
os pacientes e os profissionais.
Alguns relatos demonstram as dificuldades sentidas:
Eu não vou na farmácia porque eu não tenho dinheiro para comprar remédio,
se não eu ia. No posto às vezes tem o remédio, às vezes não tem (M10 - 28
anos).
Quando eu tenho alguma coisa eu não vou no médico daqui. O médico daqui
não adianta [...] Ir no posto não resolve [...] (M11 – 20 anos).
Os fatores determinantes da utilização dos serviços de saúde segundo Mendoza-Sassi
e Béria (2001) são os demográficos, os socioeconômicos, as características do serviço de
saúde, a satisfação e as necessidades de saúde.
Os demográficos são determinados pela idade dos indivíduos, no qual os extremos da
cadeia etária (crianças e idosos) utilizam mais os serviços de saúde, pelo sexo, destacando o
maior consumo dos serviços pelas mulheres, e pela estrutura familiar, que relaciona o número
maior de familiares com a maior utilização dos serviços; os fatores socioeconômicos,
determinados pelas classes sociais às quais os indivíduos pertencem, seu nível educacional,
raça e tipo de emprego; as características dos serviços de saúde que estão relacionadas e
interferem na utilização, no que diz respeito à distância existente entre os serviços de saúde e
a residência dos indivíduos, ao número de médicos por habitante em uma determinada
comunidade, aos seguros de saúde (que podem também ser relacionados com os fatores
socioeconômicos) e ao fato do serviço de saúde ter ou não um médico específico para o
83
atendimento (determinante da qualidade do serviço, além da formação do vínculo médico-
paciente); a satisfação, que depende da oferta de serviços e das características individuais das
pessoas que utilizam este serviço; e, por fim, as necessidades de saúde, que são referentes às
variáveis que refletem as alterações no estado de saúde de um indivíduo e podem levá-lo a
procurar pelo serviço.
A relação indivíduo e serviços de saúde ou demanda e oferta estabelecem uma
dinâmica que para Goldbaum et al. (2005, p. 92), “[...] é realimentada pelo grau de
resolutividade dos serviços de saúde e pelo grau de satisfação dos usuários”.
A oferta, segundo Travassos et al. (2000), é o fator determinante no que se refere ao
consumo de serviço de saúde. A disponibilidade, o tipo, a quantidade de serviços e recursos
(financeiros, humanos, tecnológicos), a localização geográfica, a cultura médica local, a
ideologia do prestador, entre outros, são aspectos da oferta que influenciam o padrão de
consumo de serviços.
As queixas relacionadas aos serviços oferecidos no município também apareceram
nos relatos dos entrevistados:
A chapa em Paranavaí, Loanda se for pago. Aí os médicos, eles marcam para
a gente ir para Paranavaí. Eles levam (Prefeitura). Aí vai todo mundo,
sempre vai cheio, minha filha [...] direto. É que as vezes a gente não tem o
dinheiro para pagar. Então a gente tem que esperar pela prefeitura [...] Tem
vezes que demora, se tiver muita gente demora, dois meses, três, tem hora
que até não gosto de ir no posto, porque chega lá, marca, passa dois, três
meses, a pessoa [...], tem que esperar (M2 - 59 anos).
[...] principalmente aqui, é bem escasso, se precisar alguma coisa no posto,
de exame, tirar RX, você tem que ir para Paranavaí [...] E quando tem
vaga, até eles marcarem [...] é complicado (M7 – 33 anos).
[...] eu procurei um otorrino em Loanda. Aqui não tem especialista, e
também, eu trabalho de manhã e a tarde o médico atende três vezes por
semana, quando atacou mesmo, eu fui atrás de consulta e não tinha mais,
ai eu preferi ir na farmácia [...] melhorou um pouco mais continuou, ai eu fui
consultar em Loanda (M6 - 38 anos).
Boltanski (1989) admite que a evolução do consumo médico e o progresso
tecnológico, na área da saúde, estão relacionados, e que a diferença deste progresso técnico
(equipamentos médicos e hospitalares) entre as regiões é responsável também, entre outros,
pelas disparidades no consumo médico. Para o autor, as necessidades médicas estão
diretamente ligadas, entre outros fatores, ao tipo de serviço médico oferecido a uma
população.
84
A oferta de tecnologia nesta área promove adaptação natural da procura à oferta,
pois:
[...] a produção de serviços médicos produz a necessidade desses serviços,
pois produz a doença ou pelo menos o doente, criando novas categorias de
sintomatologia, divulgando-as e ensinando a linguagem na qual podem ser
expressas (BOLTANSKI, 1989, p. 178).
Para Boltanski (1989, p. 178), a necessidade médica parece ser impossível de ser
saturada, por ser uma “necessidade cultivada”, ou seja, que cresce à medida que é satisfeita e
as explicações para as práticas nos cuidados em saúde estão centradas em uma seqüência de
operações mentais por meio dos conhecimentos adquiridos no cotidiano, utilizando-se dos
recursos disponíveis para fazer suas escolhas em relação ao cuidado (BOLTANSKI, 1989).
Para duas participantes, existe, além da dificuldade no atendimento pela falta de
serviços disponíveis, problemas na relação direta com os profissionais da UBS. Esses fatores
são desencadeantes de insatisfação no que se refere ao atendimento. É possível, segundo elas,
que os profissionais não acreditem na doença expressada pelos indivíduos que buscam pelo
atendimento:
Eu tenho “raiva” do pessoal do posto. Às vezes a pessoa está doente, chega
lá, não tem vaga (M11 – 20 anos).
Não gosto de ir no médico porque as vezes eu vou, já não resolve, eu não
vou mais [...] Faz tempo que eu fui com problema nas costas, uma mancha
que coça. Deu remédio, eu passei, não adiantou nada [...] Às vezes eles
(funcionários da UBS) reclamam: As mesmas pessoas sempre no posto!
Mais às vezes toma remédio, não resolve, volta no posto. O médico às vezes
não conta de atender todo mundo quando as pessoa gostam dele [...] Para
fazer no posto (exames) precisa esperar mais de um ano. Desanima não é?
(M12 - 54 anos).
A questão de falta de credibilidade, na doença referida pelas pessoas, por parte dos
funcionários, foi citada por Mendoza-Sassi e Béria (2001). Nesta abordagem, os autores
retratam o processo de utilização dos serviços de saúde por uma outra vertente, que não a dos
pacientes que relatam sobre um fenômeno chamado “iceberg da enfermidade” relatado por
Last (1963). De acordo com essa abordagem, algumas pessoas com sintomas procuram pelo
médico. Os autores discorrem sobre o fato de que a busca por serviços de saúde vai além da
morbidade que o indivíduo possa estar apresentando. Existe, além da pessoa que procura por
ajuda, apresentando de fato um problema de saúde, uma grande parcela de utilizadores que
85
são responsáveis pelo uso de grande proporção de consultas oferecidas à população e que, em
algumas ocasiões, utilizam os serviços sem que, do ponto de vista médico, haja uma
justificativa clara para este consumo (MENDOZA-SASSI; BÉRIA, 2001).
Em geral, nas populações menos favorecidas, a dificuldade de conseguir atendimento
resulta em baixa expectativa para os indivíduos, assim o simples fato de ser atendido pode
produzir satisfação, pois as pessoas não esperam muito das instituições públicas
(VAITSMAN; ANDRADE, 2005).
Um bom relacionamento com os profissionais de saúde, de acordo com os relatos,
pode ser um facilitador no acesso ao atendimento e à satisfação do indivíduo:
Sabe, inclusive às vezes, quando eu sinto algum probleminha assim, se eu
vejo o médico, eu falo: Estou com o problema tal. Ele (o médico) fala: Toma
isso. Ele pega e passa num jornal mesmo (a receita), entende? Então é
fantástico. Para mim, não existe problema até agora não (H1 – 51 anos).
[...] O médico falou da minha doença. Não procurei o médico no posto. Foi
de conversar na rua, ele é amigo da minha tia, aí ele falou para mim o que eu
tinha. Assim é mais fácil para consultar (M11 - 20 anos).
Estes entrevistados, que afirmam proximidade maior com o médico do município,
apresentavam segundo grau completo e ensino superior, o que vem ao encontro com a
colocação de Boltanski (1989) no que se refere à facilidade na relação entre as pessoas de
classes sociais mais elevadas e o médico.
Também ter melhor poder aquisitivo e grau de instrução mais elevado favorece na
busca por serviços de saúde. Dos quatro entrevistados que afirmaram procurar por serviços
particulares de saúde, fora do município, dois apresentavam segundo grau completo e dois
níveis superior, com renda familiar média variando entre dois e seis salários mínimos:
O especialista é de Paranavaí. Ai resolveu [...] Eu freqüento, mais muito
pouco (UBS), eu prefiro pagar. Aqui é muito demorado. Um especialista,
leva meses, e (Loanda) você vai e paga, tem médico toda hora, pedem os
exames [...] (M6 - 38 anos).
Também, eu tenho plano de saúde, mas utilizo o serviço daqui também para
coisinha simples. Mas quando é problema mais complicado eu tenho plano
de saúde que eu uso, não é? (H1 - 51 anos).
Ao invés de ir no cardiologista eu fui no ginecologista porque eu não tenho
convênio nenhum, é tudo particular, e para falar a verdade eu o faço
exame no posto, sempre quando eu faço é particular (M16 – 40 anos).
86
Eu prefiro ir no médico, se não for aqui eu procuro particular (M8 32
anos).
Segundo Boltanski (1989) quanto maior for o poder aquisitivo e o grau de instrução
das pessoas, elas terão mais conhecimento a respeito de seu corpo e maior facilidade na
escolha e no acesso aos serviços de saúde.
Pode–se perceber, em alguns relatos, a falta de orientação e informações sobre os
serviços de saúde disponibilizados e também a insatisfação no que se refere às condutas dos
profissionais de saúde, o que faz entender que, diante desta postura tomada por alguns
profissionais, o cliente prefere se afastar da instituição:
Dentista o tem [...] Me preocupo, porque se ficar doente aqui é
complicado. Se partiu para ficar doente é difícil, porque é a hora que ocupa
dinheiro. A gente ali, as pessoas que ficam doentes, procuram, eles não
atendem. Você fala: Meu Deus! Porque aqui tem dois, três médicos [...]
Como quando eu tive uma febre na ilha, fizemos exames (ele e várias outros
ilhéus) e nunca soubemos o resultado [...] Médico é assim, às vezes tem dez
pessoas, as dez tomam o mesmo remédio, todo mundo [...] Por exemplo o
Dr. [...] chega lá: O que você tem? aquele remedinho e pronto [...] Eu
estou com um exame de vista marcado desde o ano passado. As coisas são
muito enroladas, por isso que a gente não vai atrás [...] Dentista não tem. É
muita fila, é um “complô” esse posto de saúde. Para remédio por exemplo:
tem, mas não é qualquer pessoa que consegue pegar (H6 - 52 anos)
Sentiu-se durante o desenvolvimento desse trabalho a necessidade de maior atenção
ao usuário do serviço de saúde no sentido de fornecer-lhe informações adequadas, e que, por
meio de informações, a comunidade esteja a par do que o serviço efetivamente pode oferecer.
A preocupação em sanar as dúvidas dos usuários demonstra que o serviço e também seus
profissionais estão comprometidos com a humanização do cuidado que está relacionada à
forma de assistência que valoriza a qualidade do cuidado técnico em associação ao
reconhecimento do paciente que pretende nortear nova práxis na produção do cuidado em
saúde (DESLANDES, 2004).
Neste contexto, destaca-se a adequabilidade da teoria do cuidado transcultural que,
quando considerada e adotada pelo enfermeiro, pode favorecer o processo de interação entre o
profissional e sua clientela, oferecendo cuidado humanizado e reconhecendo as diferenças
culturais existentes entre eles. Por meio desta atuação, torna-se possível buscar maneiras de
diminuir as limitações de compreensão do processo de cuidado, em termos científicos, por
parte do usuário.
87
A atividade dos profissionais, que atuam nos serviços de saúde, visando à
humanização da assistência, contribui para a obtenção de contato mais próximo e ético entre
quem cuida e quem é cuidado (SEGRE; FERRAZ, 1997).
Qualquer ação dos profissionais em relação à saúde, seja na área de planejamento,
prevenção ou tratamento, deve também estar voltada aos valores, às atitudes e às crenças dos
grupos para os quais são dirigidas (MINAYO, 1998). Esse direcionamento das ações,
respeitando as características próprias de cada grupo, poderá auxiliar a compreensão que essa
população desenvolve acerca das ações propostas e facilitar a utilização dos serviços a eles
oferecidos.
Oferecer informações e serviços que atendam as necessidades de saúde das pessoas e
estabelecer vínculo entre paciente e profissional de saúde pode ser fator que contribua para a
busca por atendimento e para o cuidado adequado do indivíduo para com a própria saúde.
O conhecimento sobre as ações de saúde oferecidas pelas instituições, além da
compreensão sobre as mudanças que ocorrem em seu organismo, pode influenciar direta ou
indiretamente na forma como os indivíduos conduzem a busca pelo cuidado com o seu corpo.
Existe, porém, segundo Boltanski (1989), diferença na forma de atendimento e/ou
relacionamento entre os indivíduos das diferentes classes sociais e o médico, ou seja, quando
o indivíduo apresenta maior poder aquisitivo e maior grau de instrução tem facilitada a sua
aproximação com o médico, além de haver maior entendimento sobre o processo de doença e
as condutas a serem tomadas para atingir o restabelecimento de sua saúde. Por outro lado, os
indivíduos de classes populares apresentam maior dificuldade de acesso ao serviço, e quando
esse se concretiza, existe barreira na comunicação e entendimento entre o profissional e o
paciente. Este, segundo o autor, enfrenta condição de inferioridade frente aos profissionais
com maior grau de instrução, julgando-se incapaz de discutir sobre seu problema e muitas
vezes aceitando as imposições do tratamento, por não ter possibilidade de acesso a outro
serviço.
Esta questão, descrita por Boltanski (1989), aparece de forma muito clara em um dos
depoimentos que chamou-nos a atenção pela indignação do entrevistado:
A gente ali as pessoas que ficam doentes, procurarem, eles não atendem,
você fala: Meu Deus [...] Se tiver alguém de de dentro é que consegue
(remédios). Então é complicado. A gente vê ali gente que não precisa,
pegando remédio, e gente que precisa não consegue [...] É muito complicado
[...] É porque as coisas funcionam muito mal mesmo, muito mal. Assim, se
for [...] Às vezes você vai com uma receita, e vai às vezes um
88
comerciante, ele consegue e você não consegue (remédio). Então, se a gente
for “puxa saco”, você consegue (H6 - 52 anos).
Aprofundando estas idéias, é importante destacar que o mesmo considera que além
das questões culturais, as variações, no consumo médico entre as diferentes classes sociais,
estão relacionadas também à necessidade e à competência médica, à cultura somática e ao uso
do corpo (BOLTANSKI, 1989).
A construção da imagem corporal é continuamente reelaborada por meio das
vivências de cada pessoa, sendo comum a todos os membros de um determinado grupo ou
classe social (BOLTANSKI, 1989). Ela está relacionada em grande parte com a classe social
a que os indivíduos estão inseridos. Segundo o autor, quanto mais baixa a colocação na escala
social menor é a preocupação com o corpo, tanto no que se refere às questões de cuidado
quanto nas questões estéticas, pois para esta parcela da população, o corpo relaciona-se com o
potencial de trabalho que este pode proporcionar e não com sua aparência.
Para justificar as variações observadas no consumo médico entre as diferentes classes
sociais, no que se refere às necessidades médicas, Boltanski (1989, p. 121) sugere que se
estabeleça relação entre a “natureza e as condições de possibilidades da ‘necessidade médica’
na qual o consumo médico seria a manifestação e o produto”. O autor explica que, como a
necessidade médica se refere diretamente ao corpo, os indivíduos tendem a reduzi-la a uma
“necessidade primária”, subordinada às exigências do corpo e que, se não se apresentarem
obstáculos de natureza econômica, ecológicas ou técnicas, “tenderia a aparecer assim que
surge a doença e satisfazer-se assim que aparece essa necessidade” (BOLTANSKI, 1989,
p. 121).
Com base na segmentação de classes, os membros de classes sociais distintas
relacionam-se de forma diferenciada com o cuidado à saúde. Primeiramente, pela diferença no
comportamento sanitário dos indivíduos que não têm as mesmas oportunidades de vida
(estando por vezes relacionado ao desgaste físico desigual) e, em segundo lugar, em virtude
do risco sanitário a que cada um deles está exposto, o grau de morbidez que apresentam e os
tratamentos médicos dos quais podem consumir.
A categoria socioprofissional dos indivíduos não se apresenta como fator
determinante de diferenças no consumo de exames ou medicações prescritas. É no consumo
dos atos médicos que aparece o principal indicador da intensidade com que os membros de
cada classe percebem e suportam a sua doença. É como se o fato de pertencer às classes
89
sociais diferentes influenciasse de maneira desigual na percepção e na sensação mórbida
(BOLTANSKI, 1989).
A maneira de entender e exprimir as mensagens do corpo varia de acordo com a
facilidade em verbalizá-las e estas, segundo Boltanski (1989), crescem quando se passa das
classes populares para as classes superiores.
A relação conflituosa com os profissionais de saúde pode ser motivo de descrédito
dos indivíduos em relação ao atendimento dispensado, como relata um entrevistado:
Médico é assim, às vezes tem dez pessoas, as dez tomam o mesmo remédio,
todo mundo [...] (H6 – 52 anos).
A diferença na forma de atendimento também é sentida pelos indivíduos menos
favorecidos socialmente no que se refere à competência médica. Boltanski (1989) coloca que,
a facilidade na relação entre as pessoas de classes sociais mais elevadas e o médico é
favorecida pela proximidade social e às vezes intelectual, pois, ocorre que em geral, os
indivíduos menos favorecidos não entendem os termos utilizados pelos médicos (devido às
diferenças lingüísticas). Estes indivíduos sentem, muitas vezes, que o médico não lhes fornece
explicações suficientes e os atende de maneira muito rápida.
A dificuldade de assimilação das informações, por parte dos indivíduos das classes
populares, e a pouca informação dispensada a eles pelos profissionais, dificultam ou até
mesmo levam às distorções na interpretação dos seus sinais e sintomas. Em contrapartida, o
indivíduo melhor colocado na hierarquia social tem maior facilidade em exigir explicações,
assimilá-las, integrá-las e reproduzi-las (BOLTANSKI, 1989). As diferenças no nível de
instrução entre o médico e o paciente, podem limitar a relação entre si, desencadeando uma
situação em que a prestação de informações médicas durante a consulta é tanto mais fraca
quanto mais baixo o doente está situado na hierarquia social”, e o efeito educativo, na prática
médica, acaba não se voltando ao indivíduo com maior necessidade de informações
(BOLTANSKI, 1989, p. 138).
A satisfação do indivíduo que utiliza o serviço de saúde diz respeito à percepção
subjetiva que este tem do cuidado que recebe. O grau de satisfação ou de insatisfação pode
estar relacionado às suas relações interpessoais com o profissional do serviço. Outros aspectos
como a infra-estrutura material dos serviços (existência de equipamentos, medicamentos,
etc.), ou as amenidades (ventilação, conforto, etc.) e, também, com as representações do
usuário sobre o processo saúde-doença. O grau de adesão do paciente ao tratamento e às ações
90
preventivas recomendadas pelos profissionais pode ser influenciado por esses aspectos do
cuidado (SILVA et al., 1994).
Os serviços de saúde contribuem para a formação da concepção de saúde e doença,
permitindo às pessoas avaliarem e escolherem em aderir ou não às formas de tratamento
oferecido por seus profissionais (ALVES; SOUZA, 1999). Das 16 mulheres entrevistadas,
nove fazem uso do serviço de saúde municipal, embora, dessas entrevistas, mais da metade
apresentou reclamações a respeito de algum aspecto na oferta dos serviços.
Com relação às mulheres que referiram não freqüentar o serviço de saúde do
município (31%), todas apresentavam ensino médio ou superior. Vale destacar que, estas
mulheres deixaram bastante claro o fato de que não deixam de procurar o médico quando se
sentem doentes, mas sim, que o fazem em outros municípios, optando pelos serviços médicos
particulares. A única exceção foi uma das entrevistadas (Nível Fundamental Incompleto) que
referiu não utilizar o serviço de saúde por seguir as concepções de saúde da mãe e da avó, que
por serem descendentes de índios, utilizam-se apenas de ervas para o tratamento das
enfermidades.
O perfil de utilização do serviço de saúde, descrito pelos participantes da pesquisa,
do sexo masculino foi diferente. Apesar de 46% deles terem dito que freqüentam a UBS, a
maior parte deles, o faz apenas quando sente que a situação de saúde é grave. Apenas um
deles faz com freqüência. Sua justificativa se dá, pelo fato de ter sido submetido a uma
cirurgia bariátrica, tendo a necessidade de controle freqüente do seu estado de saúde por meio
de avaliação clínica e da realização de exames periódicos. Entretanto, vale destacar sua
opinião sobre esse fato:
Eu me recusava a verificar pressão antes da cirurgia. Porque minha pressão
era muito alta, elas (Agentes de Saúde) falavam: Você tem que ir no
médico ver a sua pressão [...] elas falavam: Está 18 por 12 [...] e eu
dizia: Ah deixa, está bom. Agora eu vejo, está 12 por 8, por 9, agora está
bom. Acho que a gente lembra de correr lá, a hora que a “coisa” pega.
Mais você vê, hoje eu faço porque o médico exige. A cada seis meses faço
uma bateria de exames completos. Se ele (médico) não exigisse, eu não fazia
mais de jeito nenhum. Eu penso, para que eu vou fazer exame se eu não
estou doente? Não estou sentindo nada? De repente a doença já está ali, fácil
de curar, ou qualquer coisa [...] Precisou acontecer comigo (doença) para
mim acordar (H13 - 42 anos).
Dos homens que referiram não fazer uso do serviço oferecido pela UBS (54%) estão:
os que utilizam o serviço médico particular em outros municípios (um); os que têm convicção
91
de que não necessitam de cuidados (três) e os que somente buscam por ajuda do profissional
da farmácia do município (quatro).
As atitudes frente à utilização do sistema oficial de saúde, na visão de alguns
participantes, havia sido descrita. por Bercini (2003, p. 76) que constatou que o sistema
oficial de assistência à saúde do município, não atende a todas as necessidades da população,
e ainda, “Esta imagem negativa sobre o sistema talvez reflita a existência de uma política
pouco efetiva de atenção à saúde.”
É interessante observar que os informantes não fizeram referência a alguns
componentes do sistema informal de saúde como as benzedeiras e simpatias, entre outros,
conforme havia sido citado nos trabalhos anteriormente realizados no município como os de
Carreira (2002) e Bercini (2003), o que se acredita, abre uma perspectiva para novos estudos
com esta população do núcleo urbano.
92
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da proposta do estudo em analisar as concepções sobre saúde e doença dos
indivíduos adultos de Porto Rico e o Itinerário Terapêutico utilizado por eles na busca por
soluções para seus problemas de saúde, pode-se concluir que os resultados apontaram para a
existência de diferenças entre as concepções e atitudes dos indivíduos e que estas são
decorrentes das relações de gênero, das influências culturais e da oferta de serviços de saúde.
Frente à manifestação da doença, observou-se maior tomada de atitude por parte das
mulheres que reconhecem e valorizam mais rapidamente sinais e sintomas, buscam mais por
soluções junto ao sistema oficial de saúde e, principalmente, em sua grande maioria, adotam
com maior freqüência que os homens, medidas preventivas relacionadas à sua saúde.
Entretanto, constatou-se que, em relação aos homens, a diferença nas concepções e
atitudes frente à manifestação de doenças são percebidas pela maneira como eles discorrem
sobre o seu estado de saúde. Para a maioria dos homens entrevistados, as doençaso esporádicas,
e normalmenteo necessitam de atenção ou preocupação, que possam levá-los a perder tempo ou
que os desvie de suas atividades diárias. A maior parte deles insiste em demonstrar bom estado
de saúde, relacionando seu bem-estar à disposição para o trabalho. Eles destacam que somente
reconhecem mudanças em seu organismo como patológicas se as considerarem graves.
Constatou-se, ainda que, embora todos os homens entrevistados tenham
conhecimento sobre a necessidade de medidas preventivas para a saúde, a maior parte não as
utiliza.
De acordo com as narrativas, tanto a medicina tradicional quanto a oficial são
estratégias utilizadas pelas pessoas de ambos os sexos para a busca por tratamento,
dependendo da doença que os acomete. Estas estratégias estão relacionadas com o nível de
percepção das doenças de cada um. Sendo assim, conclui-se que pelo fato das mulheres darem
maior atenção ao seu corpo e às suas manifestações, desenvolvam mais estratégias que as
levem a maior busca por cuidado. Foram elas que mais relataram fazer uso da UBS do
município, enquanto que a maioria dos homens referiram procurar pela orientação do dono da
farmácia, justificando sua atitude pela maior facilidade em receber o atendimento.
Também fica claro que, segundo os relatos, na opinião da maior parte dos
informantes, a oferta de serviços de saúde do município não atende de maneira adequada às
suas necessidades.
93
As dificuldades são sentidas tanto pelos homens quanto pelas mulheres,
especialmente das classes de menor poder aquisitivo e menor grau de instrução. Elas dizem
respeito ao atendimento médico, à espera em longas filas para agendamento de consultas e
exames, à dificuldade de acesso a consultas especializadas e ao horário disponibilizado para o
atendimento, que por vezes dificulta seu acesso ao serviço. Estas dificuldades, em geral, são
determinantes na procura ou não pelo serviço oficial, o que leva ao desenvolvimento de outras
estratégias em busca da solução para o problema.
A utilização de recursos oriundos do sistema informal de saúde vem muitas vezes
como solução para suprir as dificuldades anteriormente citadas. Elas baseiam-se na utilização
de ervas, em forma de chás e xaropes, muitas vezes associadas a medicamentos adquiridos
pelas pessoas sem prescrição médica, em farmácias ou mercearias.
O poder aquisitivo e o grau de instrução dos indivíduos pesquisados influenciam na
busca pela solução dos problemas de saúde. Constatou-se que os indivíduos com vel
educacional mais elevado, e com melhores salários não se sentem confortáveis em buscar
atendimento na UBS do município, procurando não utilizá-lo, buscando ajuda de profissionais
de outras localidades da região na expectativa de obterem melhores resultados no tratamento.
Concluiu-se que o cuidado de enfermagem, sob a perspectiva do cuidado
transcultural, aplica-se a esta população, principalmente no que se refere às mudanças de
atitudes dos indivíduos no cuidado preventivo das doenças e em especial entre os homens.
Torna-se importante que as decisões e ações de enfermagem que envolvem a repadronização
cultural do cuidado seja instituídas a fim de que, por meio de orientação e transmissão de
conhecimento sobre as necessidades de mudanças de hábitos, esta parcela da população seja
levada a buscar também pelo cuidado preventivo.
É em função dos relatos sobre o que pensam e como agem os indivíduos pesquisados
que,os profissionais de saúde devem desenvolver estratégias que favoreçam o acesso ao
serviço oficial e que responda à necessidade individual de cada um de maneira a proporcionar
atendimento humanizado.
94
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105
APÊNDICES
106
APÊNDICE A
ROTEIRO BÁSICO DAS ENTREVISTAS
1. Identificação e caracterização
1.1. Iniciais
1.2. Sexo
1.3. Idade
1.4. Profissão
1.5. Rendimentos
1.6. Escolaridade
1.7. Composição familiar
1.8. Você fuma?
1.9. Você bebe?
2. Você tem ou teve recentemente algum problema de saúde? qual?
3. O que você fez para tentar sarar? deu resultado?
4. Você tem medo ou se preocupa com alguma doença? qual? por quê?
5. Porque você acha que as pessoas ficam doentes?
6. Quando uma pessoa tem saúde?
7. O que você acha que uma pessoa pode fazer para não ficar doente?
8. Você faz alguma coisa para não ficar doente? o quê?
9. Você procura ou usa os serviços de saúde?
Se sim: quais? quando?
Se não: por quê?
107
APÊNDICE B
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da Pesquisa: Gênero e Representações Sociais: estudo sobre os fatores que
interferem no cuidado à saúde de homens e mulheres em uma cidade de pequeno porte.
O presente trabalho, elaborado como dissertação do curso de Pós-graduação em
Enfermagem (Mestrado), da Universidade Estadual de Maringá, tem por objetivo:
compreender as concepções de saúde e doença, as experiências de doença e hábitos de
prevenção e os fatores que interferem no itinerário terapêutico adotado por adultos no
município de Porto Rico-PR., e analisar se e como as condições de gênero, de trabalho, as
Representações Sociais e a oferta interferem na determinação de atendimento nos serviços de
saúde entre homens e mulheres residentes no núcleo urbano do município de Porto Rico.
É necessário realizar entrevistas com os moradores da zona urbana de Porto Rico
para delas extrair informações que comporão o corpus desta pesquisa. As entrevistas serão
realizadas pela aluna pesquisadora, registradas em um questionário e gravadas. Os nomes dos
participantes serão mantidos em sigilo. Os resultados dessa pesquisa servirão para conhecer a
cultura e também as necessidades da população, sendo estes subsídios relevantes para a
pesquisa em saúde.
A sua participação dar-se-á por meio da aplicação de um roteiro de entrevista. Tal
participação não acarretará qualquer tipo de risco ou desconforto, e suas respostas serão
analisadas posteriormente, resguardando as identidades no caso de divulgação científica dos
resultados. Este estudo tem caráter totalmente voluntário, tendo você a liberdade de recusar
a participar ou desistir a qualquer momento, sem qualquer tipo de penalização ou ônus. A
pesquisadora compromete-se a prestar todas informações necessárias para seu pleno
esclarecimento, agradecendo desde já a sua colaboração.
Eu, ________________________________________, após ter lido e entendidas as
informações e esclarecidas todas minhas dúvidas referentes a este estudo com a aluna
pesquisadora, CONCORDO VOLUNTARIAMENTE, em participar do mesmo.
___________________________________________
Assinatura (do pesquisador ou responsável)
Data ____/____/____
Eu,_________________________________________, declaro que forneci todas as
informações necessárias para o esclarecimento sobre o estudo e decisão voluntária da
participação dos indivíduos na pesquisa.
Maria de Fátima Garcia Lopes Merino Telefone: (44) 3025-1646
Rua Saint Hilaire, 2302 Zona 5 Maringá-PR
Qualquer dúvida ou maiores esclarecimentos procurar pela pesquisadora ou o Comitê
Permanente de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Vivos (COPEP) da Universidade
Estadual de Maringá – Sala 01 – Bloco 010 – Campus Central – Telefone: (44) 3261-4444.
108
ANEXO
109
ANEXO A
PARECER Nº 150/2006
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