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IVANÍ NADIR VIEIRA DE CASTRO
AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES DE TRABALHO EM UM
SERVIÇO DE SAÚDE DA REDE MUNICIPAL DE
PORTO ALEGRE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de
Educação da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul como requisito à obtenção do
título de Mestre em Educação.
Orientadora: Prof
a
. Dr. Bettina Steren dos Santos
Porto Alegre
2009
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2
IVANÍ NADIR VIEIRA DE CASTRO
AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES DE TRABALHO EM UM SERVIÇO DE SAÚDE
DA REDE MUNICIPAL DE
PORTO ALEGRE
Dissertação apresentada como requisito
para a obtenção do grau de Mestre pelo
Programa de Pós-Graduação da
Faculdade de Educação da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do
Sul.
Aprovada em _________ de __________________________ de __________.
BANCA EXAMINADORA:
Profª. Drª. Bettina Steren dos Santos – PUCRS
______________________________________________
Prof. Dr. Claus Dieter Stobäus – PUCRS
______________________________________________
Prof. Dr. Pedro Gus – UFRGS
______________________________________________
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3
Dados Internacionais de
Catalogação na Publicação (CIP)
C355a Castro, Ivaní Nadir Vieira de
Afetividade nas relações de trabalho em um serviço de saúde da
rede municipal de Porto Alegre / Ivaní Nadir Vieira de Castro. –
Porto Alegre, 2008.
119 f.
Diss. (Mestrado) – Faculdade de Educação, Pós-Graduação em
Educação, PUCRS.
Orientador: Prof.Dra.Bettina Steren dos Santos.
1. Educação Continuada. 2. Saúde Pública. 3. Afetividade. 4.
Relações Interpessoais. 5. Recursos Humanos em Saúde. I. Título.
CDD 658.382
Bibliotecário Responsável
Ginamara Lima Jacques Pinto
CRB 10/1204
4
AGRADECIMENTOS
A minha pequena Marina, por acreditar e confiar; igualmente, a meu esposo
Carlos;
Aos meus familiares diretos e indiretos, pelo apoio humano e espiritual;
A professora Dra. Bettina Steren dos Santos pela orientação zelosa e afetiva;
Ao Prof. Dr. Hélio Radtke, pelo apoio e condução na técnica e análise
estatística;
Ao historiador Adriano Cordeiro de Oliveira, pelo levantamento histórico da
instituição em foco;
Aos colegas, em especial, à Mariana Lages pela parceria e amizade
incondicionais.
Aos servidores do Centro de Saúde Modelo, pela disponibilidade, carinho e
afeto.
Meu muito obrigada!
5
"Se um só ponto situado em um círculo
pode ser origem de infinitas linhas, e se o
limite das infinitas linhas que divergem de
tal ponto constitui infinitos pontos que,
somados, voltam a ser um, concluiremos
que a parte é igual ao todo."
(Leonardo da Vinci, 1452-1518)
6
RESUMO
Estudo exploratório descritivo, com abordagem quanti-qualitativa, realizado
no Centro de Saúde Modelo, serviço de saúde da rede municipal de Porto Alegre,
com vistas a identificar o significado da afetividade e sua influência nas relações de
trabalho multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial de profissionais da área da
saúde pública, bem como visa analisar a atuação de profissionais vinculados a essa
área de atuação, focalizando aspectos baseados na afetividade. Nesse estudo foram
realizadas a elaboração e validação do instrumento de Percepção da afetividade nas
relações de trabalho na área da saúde, utilizando questionário composto por 30 itens
e aplicado em uma amostra composta por 70 profissionais. Para a validação foi
utilizada a Análise Fatorial, que confirmou a estrutura tri-dimensional do estudo:
afetiva, organizacional e relacional. Com os escores fatoriais, em face dos três
componentes abordados, os itens foram agrupados em três matrizes que refletem
aspectos de afetividade no ambiente organizacional. A partir dos modelos
estabelecidos, foram examinadas as relações existentes entre esses padrões e a
performance dos indivíduos no ambiente de trabalho com foco na afetividade e na
educação, em três bases: cuidado, valorização e significação, sob a ótica da
corrente teórica humanista/fenomenológica representada por Carl Rogers.
Palavras-chave: Afetividade. Relações interpessoais. Trabalho em saúde.
Educação continuada. Saúde pública.
7
ABSTRACT
A descriptive exploratory study, with a quantitative-qualitative approach,
which took place in a Centro de Saúde Modelo, municipal public health service in the
city of Porto Alegre, with the objective of of identifying the meaning of affectivity and its
influence on the multiprofessional, interdisciplinar and intersectorial work relations of
public-working health professionals, as well as analyzing the actions of the
professionals linked to this working area. In the present study, the Perception of
Affectivity in the work relations instrument was used and validated, using a
questionnaire made of 30 items and applied to a sample composed of 70
professionals. To its validation, the factorial analysis was employed, which confirmed
the tri-dimensional structure of the study: affective, organizational and relational. With
the factorial scores, in the face of the three components analyzed, the items were
grouped into three matrices which reflect the aspect of affectivity on the organizational
environment. From the established models, the existing relations amongst these
patterns and the performance of the individuals in the working environment were
analyzed, focusing on affectivity on three basis: care, valorization and meaning, under
the optics of the humanist/phenomenologic theoric current represented by Carl
Rogers.
Keywords: Affectivity. Interpersonal relationship. Health working. Continuing education.
Public health.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estruturas do sistema límbico. Imagem neuroanatômica preparada
pelos autores............................................................................................24
Figura 2 - Áreas neuronais responsáveis pela emoção e suas manifestações.........27
Figura 3 - Documento de inauguração do Centro de Sde Modelo/POA-RS/2008......57
Figura 4 - 1ª Turma de educadoras sanitaristas do RS.............................................58
Figura 5 - Plantas originais pavimentos térreo e superior .........................................59
Figura 6 - Plantas originais pavimentos térreo e superior .........................................60
Figura 7 - Centro de Saúde Modelo (década de 50) .................................................63
Figura 8 - Centro de Saúde Modelo (década de 90) .................................................65
Figura 9 - Centro de Saúde Modelo - 2008 - Funcionários .......................................66
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Estruturas que compõem o circuito de Papez.........................................24
Quadro 2 - Estruturas relacionadas às emoções não pertencentes, originariamente,
ao circuito de Papez................................................................................25
Quadro 3 - A emoção: comparação das teorias........................................................28
Quadro 4 - Distribuição das freqüências de respostas absolutas e relativas,
obtidas através da aplicação do instrumento percepção da afetividade
nas relações de trabalho na área da saúde ............................................80
Quadro 5 - Teste KMO e de esfericidade de Bartlett.................................................81
Quadro 6 - Graus de ajuste à análise fatorial através do teste KMO ........................81
Quadro 7 - Análise de variância do instrumento........................................................82
Quadro 8 - Escores numéricos referentes à carga fatorial de cada variável do
instrumento. Matriz de rotação Varimax..................................................84
Quadro 9 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obteão do primeiro fator,
componente cuidado ...............................................................................88
Quadro 10 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do segundo
fator, componente valorização...............................................................92
Quadro 11 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do terceiro fator,
componente significação .......................................................................97
10
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Distribuição da população estudada, segundo o gênero.........................76
Gráfico 2 - Distribuição da população estudada, segundo a faixa etária...................76
Gráfico 3 - Distribuição da população estudada, quanto à
formação profissional ..............................................................................77
Gráfico 4 - Distribuição da população estudada, quanto ao
tempo de serviço na empresa .................................................................78
Gráfico 5 - Índices de concordância por item do questionário...................................87
11
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2 REFERENCIAL TEÓRICO.....................................................................................15
2.1 AFETIVIDADE.....................................................................................................15
2.2 TRABALHO NA SAÚDE E RELAÇÕES INTERPESSOAIS ................................35
2.3 FORMAÇÃO CONTINUADA EM SAÚDE ...........................................................47
3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ...................................................................54
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.......................................................................54
3.2 CAMPO DE INVESTIGAÇÃO E SUJEITOS........................................................55
3.3 PROCEDIMENTO DE ELABORAÇÃO DO INSTRUMENTO -
DESENVOLVIMENTO E VALIDÃO DE UM QUESTIONÁRIO ...........................67
3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DOS DADOS ............................................71
3.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS ...........................................72
4 DISCUSSÃO DOS DADOS ...................................................................................75
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA...................................................................75
4.2 A IDENTIFICAÇÃO DOS TRÊS COMPONENTES DE PERCEPÇÃO DA
AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES DE TRABALHO – ÁREA DA SAÚDE.............79
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................102
REFERÊNCIAS.......................................................................................................107
APÊNDICES ...........................................................................................................113
APÊNDICE A - Termo de consentimento informado - Secretaria Municipal de
Saúde de Porto Alegre ...................................................................114
APÊNDICE B - Termo de consentimento informado - Participantes .......................115
APÊNDICE C - Instrumento de Pesquisa - Questionário ........................................116
12
1 INTRODUÇÃO
“Há um tempo em que é preciso abandonar as
roupas usadas, que já tem a forma do nosso
corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos
levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da
travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos
ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”
(Fernando Pessoa, 1933).
A presente Dissertação focaliza a afetividade nas relações interpessoais no
trabalho em saúde pública. Tratar de temas como sentimento afetivo, percepção
organizacional e relações interpessoais no trabalho exigem a busca do
entendimento das relações existentes entre saúde e educação, e o estabelecimento
de análises em torno dos fatores que evidenciam a manifestação da afetividade no
trabalho.
Tendo em vista a complexidade do tema e considerando ainda, a ausência
de pesquisas anteriores que pudessem servir de balizadoras, na área da saúde,
esse estudo busca delimitar os fenômenos abordados, através do seguinte problema
de pesquisa:
Como a afetividade manifesta-se nas relações interpessoais no trabalho em
uma instituição de saúde pública da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre
(SMS/PMPA), o qual envolve práticas multiprofissionais, interdisciplinares e
intersetoriais? E igualmente, quais os valores que estão subjacentes à prática da
afetividade nas relações de trabalho, e sua relação com a educação?
Atualmente, exerço cargo de gestão junto a um Serviço de Saúde Pública da
Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre - foco de pesquisa desse trabalho -
porém, sem distanciar-me das práticas educadoras. Seguindo os moldes da
Prefeitura Municipal de Porto Alegre, a Secretaria Municipal de Saúde disponibiliza
diversos campos como área de estágios, em todos os níveis de escolaridade. Dessa
forma, profissionais ligados aos serviços de referência, atuam como supervisores
locais de estágios articulando ensino e pesquisa, direcionando o olhar da assistência
através da realidade vivenciada.
Sem dúvida, essa é uma nova forma de visualizar o profissional enquanto
educador na área da saúde e promotor do conhecimento técnico-científico,
13
envolvendo-se no processo de aprendizagem como um todo, problematizando as
questões que surgem, desafiando o grupo a crescer na compreensão de seus
próprios conflitos, através da ação educativa na sua prática diária.
Teorizar a prática não significa elaborar somente a síntese das idéias que
dela nascem, mas, sobretudo fazer uma síntese de emoções e sentimentos, e
construir o conhecimento de nossas histórias de vida. Aquele que tem uma prática e
constrói a partir dela a teoria, percebe como sua história vai-se constituindo como
resultado das inquietações que nascem através do limite dessa superação.
A Educação em Saúde é um campo multifacetado, para o qual convergem
diversas concepções tanto das áreas da Educação quanto da Saúde, as quais
espelham diferentes compreensões da realidade. Formalmente, estabeleceu-se
como área específica na segunda década desse século, nos Estados Unidos. No
Brasil, instituiu-se no âmbito da Saúde Pública, orientando novas práticas, e mais
tarde constituiu-se em área de ensino e pesquisa.
Verifica-se que dentre várias, duas dimensões destacam-se e persistem
atualmente. Uma, primeira, envolve a aprendizagem sobre as doenças, como evitá-
las, seus efeitos sobre a saúde e como restabelecê-la.
A outra tendência, caracterizada como promoção da saúde preconizada pela
Organização Mundial da Saúde (OMS), inclui os fatores sociais que afetam a saúde,
abordando os caminhos pelos quais diferentes estados de saúde e bem-estar/mal-
estar são construídos socialmente.
Dessa forma, ao conceito de Educação em Saúde se justapõe o conceito de
promoção da saúde, como uma definição mais ampla de um processo que abrange
a participação de todos os indivíduos no contexto de sua vida cotidiana, e não
apenas dos indivíduos sob o risco de adoecer. Essa noção está baseada em um
conceito ampliado de saúde, considerado como um estado dinâmico de busca de
bem-estar, integrando os aspectos físico e mental, ambiental (identificação de
fatores influenciadores do meio), pessoal/emocional/afetivo (auto-realização pessoal
e afetiva) e sócio-ecológico (comprometimento com a igualdade social e com a
preservação da natureza). Entretanto, a par dessa noção ampliada de saúde,
observando-se a prática, verifica-se que atualmente persistem diversos modelos ou
diferentes paradigmas de educação em saúde, os quais condicionam diferentes
práticas, muitas das quais reducionistas e que requer questionamentos e o alcance
de perspectivas mais integradas e participativas (SCHAL et al., 2000).
14
Faz-se necessário pensar a educação e a saúde o como uma educação
sanitarizada, pautada por uma visão reducionista do individuo e de suas relações. É
preciso recuperar as dimensões da educação e da saúde promovendo a interface
entre esses conceitos e as práticas profissionais em saúde, percebendo-os como
campos articulados, na busca contínua da integralidade das ações.
Destaca-se, outrossim, que o conceito de educação e promoção em saúde
envolve as relações interpessoais, seja entre profissional/profissional ou entre
profissional/usuário dos serviços de saúde.
A escolha do tema desta pesquisa - a afetividade nas relações de trabalho
na área da saúde - representa uma tentativa de buscar respostas a inúmeras
inquietações de ordem pessoal e que acompanham a trajetória do profissional da
saúde. A especificidade do trabalho em saúde, no qual o profissional defronta-se
constantemente com o processo de adoecimento; os conflitos de ordem relacional; a
diversidade de categorias que compõem a equipe multiprofissional; o (des)
entendimento da dimensão subjetiva e da Integralidade, decorrente do processo de
Cuidar e da relação profissional/paciente/familiar; o sofrimento psíquico oriundo da
precariedade das relações de trabalho, tanto em nível organizacional, quanto
individual ou grupal.
Esse desejo, exposto de forma tão simplificada, traduz um pouco da
singeleza que, salutarmente, faz parte da formação de nossas trajetórias enquanto
indivíduos e profissionais. Preocupa-me a forma de traduzir a afetividade no
ambiente profissional da área de saúde, de modo que relações de trabalho
saudáveis transformem-se em possibilidades autênticas e ponderadas sob a ótica
científica, visando à promoção da saúde individual e coletiva.
Possuo a expectativa de um fazer em saúde que reflita um compromisso
com a educação, promoção e revitalização da saúde em geral, com a reconstrução
do sentido de Humanização, com o estímulo à solidariedade e sensibilização frente à
relação entre profissionais e entre profissional e usuário dos serviços de saúde.
Compartilho da idéia de que o profissional de saúde é capaz de estabelecer, no
ambiente de trabalho, relações saudáveis de participação e interação, cujo objetivo é
o envolvimento de todos os profissionais em ações dirigidas para a qualidade e
defesa da vida impulsionando, dessa forma, um novo agir em saúde.
Quando falo das expectativas em relação a esse tema, destaco meu trabalho
como enfermeira, pertencente a uma equipe multiprofissional e como elemento
15
importante dessa interface, compreendida entre os aspectos norteadores da
profissão e aqueles que constituem o processo de trabalho em saúde pública, como
um todo.
Considero que o grande desafio na área da saúde é entender que o afeto é
parte de uma tarefa apaixonante e que cada profissional tem o compromisso de
desenvolver essa dimensão, numa atuação mais ampla, balizada por critérios
técnicos e cognitivos, mas centrada na afetividade, o que remete para uma
interlocução com a área da educação, pensando uma formação continuada efetiva
no que se refere aos profissionais em campo de ação na saúde.
Partindo-se do pressuposto de que o ambiente de trabalho é um espaço
fundamental para os relacionamentos e que, através desse, desenvolvem-se várias
modalidades de interação, penso que estudar as relações de trabalho em saúde,
seus sentidos e sua inter-relação com a afetividade, pode auxiliar na construção do
sentido do trabalho e na criação de um ambiente favorável, em que os
relacionamentos fluam de forma natural e espontânea, por intermédio do diálogo e
do comprometimento.
Dessa forma procuro, igualmente, visualizar o cenário do trabalho em saúde
como ferramenta para o entendimento dos processos relacionais, no qual se
encontra inserido o aspecto afetivo, sem dúvida.
Nesse sentido, o ganho decorrente da análise dessa pesquisa é
compartilhado entre todos os envolvidos, não somente a ciência e a instituição, mas
o próprio servidor da Unidade de Saúde em foco, protagonista desta história.
Além disso, essa pesquisa considerou a necessidade, não de se analisar os
conceitos sobre afetividade e relações de trabalho em saúde de forma segmentada
e compartimentada, mas de buscar compreendê-los e promover a interface
necessária a esse entendimento. Dessa forma, procurou-se explorá-los e promovê-
los como campos complementares e, portanto, importantes para a organização e o
servidor.
Procurou-se, igualmente, evidenciar valores sob o enfoque do trabalho, de
um indivíduo com novas necessidades e que visualiza na instituição uma
possibilidade de convivência e resgate de sentimentos de pertencimento, e não
somente, autonomia financeira e estabilidade.
Compreender, através de que forma os servidores experienciam a
afetividade em seu campo de trabalho, é um dos objetivos dessa pesquisa. Torna-se
16
relevante, frente às características da instituição abordada e por tratar-se de
organização com fins públicos.
Para que essas práticas não percam o sentido, pelas próprias características
do trabalho em saúde derivadas do tecnicismo e da manutenção do controle sobre
as pessoas, essa pesquisa pode, a partir dos seus resultados, fomentar o
desenvolvimento de políticas e práticas de gestão baseadas nas relações existentes
entre afetividade, trabalho em saúde e educação, e apontar possibilidades para
obtenção de maior equilíbrio nas ações adotadas.
Por fim, esse estudo procura, a partir das suas conclusões, abrir novas
frentes de pesquisa nos campos da afetividade, das relações interpessoais em
saúde e da educação, permitindo, possivelmente, outros estudos com outros
campos complementares.
Creio que essa pesquisa poderá auxiliar no enfrentamento desse desafio e,
para tanto, formulo os seguintes objetivos:
a) Compreender o significado da afetividade e sua influência nas relações de
trabalho multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial de profissionais da
área da saúde pública;
b) Analisar a atuação de profissionais da área da saúde pública, focalizando
aspectos baseados na afetividade;
c) Elaborar e validar instrumento de coleta e mensuração de dados referente à
afetividade e sua influência nas relações de trabalho em saúde.
17
2 REFERENCIAL TEÓRICO
“Somos donos de nossos atos, mas não somos
donos de nossos sentimentos; somos culpados
pelo que fazemos, mas não somos culpados pelo
que sentimos; podemos prometer atos, não
podemos prometer sentimentos... Atos são
pássaros engaiolados, sentimentos são pássaros
em vôo”
(Rubens Alves, 2005, p. 21).
A construção do objeto de estudo, explicitada neste capítulo, está
organizada em três eixos: afetividade, relações interpessoais no trabalho em saúde
e formação continuada na área da saúde.
2.1 AFETIVIDADE
A compreensão do ser humano, em sua essência, transita pelo
entendimento das suas emoções, sentimentos e afetos. A interação do indivíduo
com o meio, construindo sua história, bem como sua herança biológica, é o que o
diferencia de outros seres.
A análise conceitual referente ao afeto, emoção e sentimento direciona para
sentidos diferentes. O afeto é um estado subjetivo, agradável ou desagradável,
podendo sua expressão ser pontual ou massiva. Sua origem pode ser de ordem
interna ou externa - desencadeado por um estímulo externo, sendo o prazer e a dor
os originários do processo afetivo.
Atua como avaliador frente às situações avaliação, essa, positiva ou
negativa, de acordo com a nossa percepção, planejamento e ações, respondendo às
reações do meio. Da mesma forma, pode ser consciente ou inconsciente, de acordo
com a intensidade relacionada ao objeto de sentimento.
O entendimento da relação entre processo cognitivo e processo afetivo,
longo tempo encontra-se presente em produções da área da educação que analisam
a função imprescindível da afetividade no processo de desenvolvimento da
personalidade como, por exemplo, em Mosquera (1976):
18
A união entre a vida emocional e a intelectiva é algo sumamente importante
e chamaríamos a atenção de que o ser humano age como um todo. Hoje
temos maior consistência desta afirmativa, porque somos conscientes dessa
unidade e complexidade, que conformam o ser humano. A afetividade está
organicamente vinculada ao processo de conhecimento, orientação e
atuação do ser humano, no complexo meio social que o rodeia.
Cognição e a afetividade convivem dinamicamente no psiquismo, possuindo
dimensões de características particulares, mas que certamente têm correspondência
psicológica associativa. Nesse sentido, procura-se imaginar uma realidade em que
se olhe o ser humano como sendo o produto dinâmico de processos intelectuais e
também afetivos. Essas duas estruturas – afetividade e cognição – apresentam
funcionamento dinâmico e construtivo, atuando conjuntamente em um processo
psicológico único. Dessa forma, em cada experiência, o ser humano é
cognitivoafetivo ao mesmo tempo, porém, com proporções variáveis de “mais
afetivo” ou “mais cognitivo” ou ambas somadas. Ou seja, inseparáveis (PINTO,
2008, p. 78).
Sendo assim, pode-se afirmar que existam aspectos multifatoriais
constitutivos da natureza psicológica do ser humano, como por exemplo,
biofisiológica, afetiva, cognitiva e sociocultural simultaneamente, estando em
constante relação e correlação entre si mesmas. Portanto, nessa mútua influência,
todos esses aspectos possuem o mesmo grau de importância e qualquer alteração
afetará a dinâmica do sistema como um todo. O indivíduo o existe em partes nem
é uma mera junção de subsistemas, mas a incorporação de todos os sistemas em
um movimento dinâmico.
Podemos citar alguns exemplos da presença desse caráter multidimensional
referentes aos parâmetros reguladores dos diferentes sistemas orgânicos, tais como,
o sistema biológico poderia ter como regulador os neurotransmissores, definidos
como as substâncias que facilitam a comunicação entre as células nervosas,
delineando as respostas ao nível cerebral. No sistema sociocultural haveria a
linguagem como um mediador entre o ser humano e a sociedade. Com relação ao
cognitivo, os esquemas mentais e o meio seriam os seus maiores representantes,
coordenado a capacidade de conhecimento. Para a afetividade, os seus reguladores
(sentimentos, afetos e emoções) desempenhariam a função de interferirem íntima e
dinamicamente no estado de ânimo do ser humano. Considerando todos esses
elementos, podemos refletir acerca da complexidade dessa multidimensionalidade
19
do ser humano, que compreende um conjunto, complexo e dinâmico, de
características particulares voltadas à valoração que se a uma pessoa, objeto ou
experiência particular, afetando o funcionamento psíquico do ser humano.
[...] ouvimos freentemente na vida cotidiana: “não aja com o coração”,
“coloque a cabeça para funcionar”, “seja mais racional”. Nessa perspectiva,
parece-nos que para uma pessoa tomar decisões corretas é necessário que ela
se desvincule dos próprios sentimentos e emoções (ARANTES, 2002, p. 161).
Na linguagem coloquial e diária os indivíduos tendem a utilizar termos
como emoção, sentimento e afetividade como sinônimos. Como diferenciação
frente à nomenclatura, podemos adotar as características escolhidas por Moreno
(1998, p. 15):
Assim, por exemplo, partindo do termo “afetividade”, se descobrirá que se
trata de uma ‘propensão aos afetos ou “emoções”, definidos como “qualquer
das paixões de ânimo”, entre as quais podem-se citar o amor, o ódio, a ira
etc.”. Ele nos conduz diretamente à palavra “emoção”, que é definida como
‘estado afetivo que transforma de um modo momentâneo mas brusco, à
estrutura psicofísica do indivíduo[…] o choque emotivo brusco e o estado
como forma de sentimento […] o que nos evoca diretamente a este último
termo, definido pelo mesmo dicionário como “estado afetivo de ânimo”.
Nesse ínterim, faz-se importante ressaltar a compreensão de que a vida
afetiva emoções e sentimentos compõe o homem e constitui um aspecto de
fundamental importância na vida psíquica. As emoções e os sentimentos atuam
como alimentos de nosso psiquismo e estão presentes em todas as manifestações
de nossa vida, orientando-nos e nos ajudando nas decisões.
A afetividade constitui-se em uma relação recíproca de dois domínios:
orgânico e social. O meio social é uma circunstância necessária para a modelagem
do indivíduo, sem ele a civilização não existiria, pois foi graças à agregação dos
grupos que a humanidade pôde construir os seus valores, os seus papéis, a própria
sociedade.
Essa relação é passível de modificação, ao longo do desenvolvimento
humano, pois se configura pelo caráter dinâmico das interações dos seres humanos.
Para Wallon (1995, p. 160), a relação de reciprocidade existente entre o
indivíduo e o meio, é o que diferencia o ser humano da visão determinista de que a
herança biológica é a única lei responsável pelo seu destino. Partindo-se desse
20
entendimento, a transformação ocorre mediante as circunstâncias sociais
apresentadas, no qual a escolha individual também se encontra presente.
De modo semelhante, Damásio (2004, p. 144) retoma a idéia do todo de
Espinosa (1632-1677) e a sua proposta de que corpo e mente são atributos da
mesma substância. Espinosa possuía a definição de ser humano não conceituado
em categorias fixas, mas definido pela capacidade de ser afetado. A articulação dos
fenômenos afetivos bem como o entendimento de suas partes é primaz para
apreciar o todo constitutivo do processo de afetividade. Essencialmente, o elo entre
esses fatores é o desejo acompanhado da alegria, a capacidade individual de amar
e de nos permitirmos ser afetados, o esforço de perseverarmos na busca de nosso
próprio ser. De modo que, nessa ótica, torna-se impossível a separação corpo/mente
e a fragmentação das dimensões da realidade, como o cartesianismo preconizava.
Espinosa considera de vital importância o ser afetado, porque identifica a
modificação da substância e os próprios processos evolutivos, caracterizados pela
adaptação contínua e construtiva, no sentido de buscar uma harmonização entre o
agir e o ser. Considera-se, portanto, a maior contribuição da obra de Espinosa a
indivisibilidade mente/corpo e seu paradigma da complexidade se fazemos parte
de uma substância única, somos criadores de realidade, autores de nosso destino. O
produto dessa relação é o conhecimento em interface com todas as dimensões do
ser humano, gerador de energia e promotor de autoconstrução e autoconhecimento.
Através da influência do meio, as manifestações de base orgânica
diferenciam-se, transformando-se e direcionando-se para o início do período
emocional. Neste momento, ocorrem relações simbióticas com o meio social, no
sentido de intensificar as relações interpessoais por meio da emoção.
Segundo Mosquera e Stobäus (2006, p. 130):
A afetividade, expressada pelos sentimentos, reflete as relações das
pessoas, e é essencial para a atividade vital no mundo circundante. Pelas
modificações dos sentimentos e sua expressão comportamental, podemos
analisar a mudança de atitude do ser humano frente às circunstâncias
mutáveis ou estáticas de sua vida, em determinados contextos de tempo e
espaço. Por outro lado, a vida afetiva nos propicia pistas para conhecer o
tipo de personalidade que desenvolveu e de educação que a pessoa
recebeu, em sua existência.
Há impasses teóricos e práticos, gerados por teorias que vêm estabelecendo
áreas estanques no desenvolvimento do conhecimento humano. Enquanto o ser
21
humano for trabalhado em compartimentos, sem a visão do todo, enquanto se
contemplar o mundo sob óticas segmentadas haverá bloqueios no entendimento, no
conhecimento e na valorização das relações humanas.
Essa consideração leva-nos a refletir que o conhecimento e a afetividade
necessitam de inovação em seus processos e, acima de tudo, são imperiosas a
renovação do entendimento de seus conceitos e a ampliação de seus espaços.
Soria (1997) pondera que a intensidade com que as pessoas experimentam
suas emoções possui relação com a construção da intensidade do afeto,
considerando as diferenças individuais. Emoções positivas tendem a ser
experienciadas da mesma maneira que as emoções negativas, assim como a
freqüência e a própria intensidade do estímulo que as suscitaram.
Da mesma forma, a autora proporciona uma revisão conceitual referente à
construção da intensidade afetiva, a saber:
Explicações baseadas na teoria da regulação sensorial: os principais
mecanismos identificados são a regulação da estimulação sensorial, a
atividade comportamental e as respostas emocionais;
Explicações psicobiológicas: fundamentadas no estágio das diferenças
hormonais e na atividade de determinados neurotransmissores, assim
como em conceitos de resistência do sistema nervoso;
Explicações sociais: fruto do impacto diferencial das pressões sociais que
exercem um controle sobre as expressões das respostas emocionais;
Explicações baseadas no processamento cognitivo: relacionadas com
determinadas operações cognitivas que aparecem durante a exposição a
estímulos emocionais e que introduzem obliqüidades na avaliação
desses.
Essas explicações relacionadas ao processamento cognitivo são
corroboradas por Ramos (2003, p. 247) que, na literatura nacional menciona
fundamentos dessa natureza - caráter cognitivo - e relaciona aspectos que
influenciam na construção do afeto: “na vida social, cada ação individual reflete a
influência de um background específico. Todas as funções psicológicas variam em
função deste background”.
Nessa perspectiva, Rogers, em 1951, relatava esboços teóricos de
princípios e explicações referentes aos sentimentos positivos e negativos,
caracterizados por ele como “eu oculto” ou “eu não convencional”. A evidência mais
22
importante constatada por Rogers, nesse sentido, não foi a de que o indivíduo, em
um ambiente em que não pesem críticas, aprovações e orientações, seja capaz de
demonstrar reconhecimento e expressão do seu “eu oculto”. Mas a constatação de
que o indivíduo, reconhecendo esses aspectos obscuros do seu eu, passa à
descoberta de aspectos positivos, geradores de características saudáveis e
maduras. Sem dúvida, através desse enunciado, o evidenciado por Soria nos quatro
aspectos anteriormente abordados, traduz os sentimentos, tanto positivos quanto
negativos, presentes nas pessoas, bem como o reconhecimento e expressão desses
de forma saudável e construtiva.
Mosquera e Stobäus (2006, p. 128) explicam que o processo da afetividade
manifesta-se por meio das emoções e dos sentimentos. Enfatizam que alguns
domínios do conhecimento privilegiaram esse enfoque na compreensão do ser
humano, atribuindo à Fenomenologia, ao Existencialismo, à Psicologia Humanista e
à Neuropsicologia que sentimento e afeição ganharam novas contribuições,
intimamente ligadas ao todo da personalidade.
No que diz respeito à emoção, Ramirez (2000, p. 55) coloca que tem uma
especial importância na Afetividade, por tratar-se de um estado afetivo
particularmente intenso, em resposta a um estímulo de alguma maneira
extraordinário. A Emoção influi na percepção, no aprendizado e na execução.
Dentro do princípio dialético, Wallon (1963, p. 63) identifica a relação entre a
inteligência e uma das manifestações da afetividade a emoção. A relação que elas
mantêm é de caráter dialético, pois, se, por um lado, não existe nada no
pensamento que não tenha surgido das primeiras sensibilidades, por outro lado, a
luz da razão dá às sensibilidades um novo conteúdo.
Para Wallon (1963, p. 65), concebê-las como elementos estanques é
incorrer no erro antigo da separação corpo e alma, pois afetividade e emoção
desencadeiam ações e reações mútuas que mostram como vãs as distinções de
espécies que os diferentes sistemas filosóficos fazem entre matéria e pensamento,
existência e inteligência, corpo e espírito.
Sendo assim, o despertar das emoções é regido por uma grande variedade
de padrões estimulatórios inatos, aprendidos e sociais. Wallon (1995) define a
emoção como forma de exteriorização da afetividade, em um processo evolutivo sob
o impacto das condições sociais.
23
As emoções, portanto, atuam como qualificações positivas ou negativas,
atribuindo significados à existência dos indivíduos. Alguns autores citados por
Rodrigues (2004, p. 71) categorizam as emoções em cinco itens: emoções primárias
alegria, cólera, medo e tristeza; emoções ligadas à estimulação sensorial dor,
náusea, aversão e prazer; emoções referentes à auto-estima vergonha, orgulho,
culpa e remorso; emoções referentes a outras pessoas amor, ódio, ciúmes, inveja
e piedade; emoções contemplativas.
Damásio (2004, p. 89) chama a atenção para a habitualidade da utilização
do termo emoção que leva a incluir a noção de sentimento:
Na tentativa de compreender a cadeia complexa de acontecimentos que
começa na emoção e termina no sentimento, separar a parte do processo
que se torna pública da que sempre se mantém privada ajuda a clarificar as
idéias. À parte pública do processo chamo emoção e à parte privada
sentimento.
Segundo o autor, as emoções são ações ou movimentos, que ocorrem no
rosto, na voz ou em comportamentos específicos e alguns deles podem ser
imperceptíveis. Podem ser utilizados mecanismos externos (procedimentos
científicos) para estudar o padrão fisiológico do nível emocional.
Damásio (1996) também esclarece que diferenças entre as emoções que
experienciamos na infância, nas quais um mecanismo pré-organizado seria
suficiente para o seu entendimento, e as emoções que experienciamos na fase
adulta, construídas sobre a base das emoções iniciais.
Na história da humanidade, a emoção foi responsável pela agregação dos
indivíduos. As emoções revelam-se como o elo entre o indivíduo e o ambiente físico,
tanto quanto entre o indivíduo e outros indivíduos. Estes laços interindividuais
iniciam nos primeiros dias de vida e se fortalecem a partir das emoções, antes
mesmo do raciocínio e da intenção.
Rodrigues (2004, p. 80) apresenta os componentes gerais das emoções e
suas manifestações, evidenciando que os aspectos gerais tais como a experiência
interna individual e a expressão comportamental fazem parte dos estudos da maioria
dos especialistas. Dessa forma, admite-se que as emoções possuem componentes
subjetivos, fisiológicos, comportamentais, conforme segue:
a) respostas corporais internas, envolvendo o Sistema Nervoso Autônomo
(SNA), particularmente;
24
b) crença de que um determinado estado positivo ou negativo está
ocorrendo;
c) expressão facial;
d) reações à emoção.
As emoções podem pertencer a duas classificações de ordem, a saber:
Emoções primárias*, relacionadas com as necessidades imediatas como
alimentação (fome/saciedade), obtenção de água (sede), sexo (libido), fugir do
predador ou outra ameaça (medo), defender os filhotes (ira/agressão) etc. - Geram
comportamentos motivados -, e Emoções secundárias, estados mais
discriminativos e complexos como ansiedade, satisfação, prazer, amor, familiaridade
e sentimentos mais subjetivos.
Essa classificação envolve a Cognição (a percepção consciente das
sensações), o Afeto (percepção de si e dos outros), a Motivação (o desejo de agir)
e Alterações somáticas e viscerais (expressão).
Mais recentemente a partir do desenvolvimento de novas técnicas
especializadas de pesquisa especialmente na área da neurofisiologia –, o interesse
pelo estudo dos processos neurais envolvidos nas emoções vem-se ampliando, a
partir da caracterização e das investigações sobre o sistema límbico (SL). Sabe-se,
com base em diferentes resultados, que uma profunda integração entre os
processos emocionais, os cognitivos e os homeostáticos, de modo que sua
identificação será de grande valia para a melhor compreensão das respostas
fisiológicas do organismo ante as mais variadas situações enfrentadas pelo indivíduo.
Assim, reconhece-se que as áreas cerebrais envolvidas no controle
motivacional, na cognição e na memória fazem conexões com diversos circuitos
nervosos, os quais, através de seus neurotransmissores, promovem respostas
fisiológicas que relacionam o organismo ao meio (sistema nervoso somático) e
também à inervação de estruturas viscerais (sistema nervoso visceral ou da vida
vegetativa), importantes à manutenção da constante de equilíbrio do meio interno
(homeostasia).
O primeiro “mapeamento” das funções cerebrais foi proposto por Pierre Paul
Broca (1878), realizado a partir da observação de pacientes com danos cerebrais.
Broca identificou o lobo límbico (limbo = margem), o qual compreende um anel
composto por um contínuo de estruturas corticais situadas na face medial e inferior
do cérebro.
25
Importante avanço para a compreensão dos mecanismos neurobiológicos
relacionados à emoção foi alcançado por James Papez (1937), anatomista
americano que transferiu o olhar de uma perspectiva de centros emocionais (visão
em partes), substituindo-a por uma concepção de sistema (visão do todo). De fato,
inicialmente se acreditava que o lobo límbico descrito por Broca estaria relacionado
ao olfato, mas Papez demonstrou que suas diferentes porções estavam unidas e
coordenadas entre si, formando um circuito, o qual incluía o córtex cingulado, o
hipocampo, o hipotálamo e os núcleos anteriores do tálamo.
Experimentos realizados a posteriori permitiram a revisão das estruturas
pertencentes ao circuito proposto por Papez (1937), surgindo, assim, o conceito de
sistema límbico (SL) retomando o termo criado por Broca (1878) ao descrever o
lobo límbico –, o qual envolveria as estruturas relacionadas às emoções. O SL
passou a ser caracterizado como o circuito neuronal relacionado às respostas
emocionais e aos impulsos motivacionais, tendo sido incluídas em sua
composição estruturas como hipotálamo, amídala, núcleos da base, área pré-frontal,
cerebelo e septo (o hipocampo, inicialmente inserido, não parece ter participação
decisiva nos mecanismos neurais das emoções, tendo papel, outrossim, na
consolidação da memória de conteúdo emocional, daí estar relacionado ainda que
não seja pertencente – ao SL).
Os “sistemas das emoções” ao menos como vêm sendo entendidos
recentemente parecem estar organizados em rede; ou seja, todos os elementos
exercem papéis regulatórios semelhantes entre si. Pode-se, então, compreender que
esses sistemas dependem da integração de seus componentes de uma forma
complexa e não-hierárquica.
Como forma de ilustração do anteriormente exposto, apresenta-se os
componentes do Sistema Límbico conforme proposto por Papez (figura 1 e quadro
1) e os componentes adicionais que integram os sistemas das emoções (quadro 2).
26
Figura 1 - Estruturas do sistema límbico. Imagem
neuroanatômica preparada pelos autores
Fonte: Batista et al. (2007)
Embora não se tenha uma definição precisa dos circuitos neuronais
envolvidos no complexo “sistema das emoções”, podemos descrever, de modo
didático, algumas vias neuronais, sem perder de vista que elas estão, em última
análise, integradas funcionalmente.
Quadro 1 - Estruturas que compõem o circuito de Papez
Fonte: Batista et al. (2007)
27
Quadro 2 - Estruturas relacionadas às emoções não pertencentes, originariamente,
ao circuito de Papez
Fonte: Batista et al. (2007)
Diferentes estímulos (aferências) térmicos, teis, visuais, auditivos,
olfatórios e de natureza visceral (como alterações da pressão arterial) chegam a
diferentes partes do SNC por vias neuronais envolvendo receptores e nervos
periféricos. Respostas (eferências) adequadas a esses mesmos estímulos são
programadas em determinadas áreas, envolvendo desde as respostas simples até
os mecanismos de respostas mais complexas.
Os circuitos relacionados às emoções localizam-se em várias regiões
cerebrais, possuindo inúmeras conexões com o córtex, área (substância) subcortical,
seus núcleos e as estruturas pertencentes ao tronco encefálico e cerebelo.
Destacam-se ainda as relações com o tronco encefálico, as quais facilitam sinapses
à substância reticular e os formadores dos nervos cranianos. O estímulo dirige-se ao
cerebelo e à medula espinal, sendo distribuído por nervos espinais aos segmentos
corporais e ao sistema nervoso simpático e ao parassimpático. Essa seria uma visão
panorâmica da integração biológica entre as emoções e o controle neurovegetativo.
28
As reações fisiológicas decorrentes da vigência dos afetos encontram
repostas na geração de estímulos desencadeados junto ao Sistema Nervoso Central
e Autônomo e junto às Glândulas Endócrinas.
Alusivo ao Sistema Nervoso Central e às emoções é ponderado que os
circuitos do sistema nervoso central despertam, orientam e integram reações
ocorridas nos estados emocionais. O córtex cerebral desempenha um papel
importante na identificação, avaliação das situações e nas decisões quanto aos
comportamentos. Para ele, alguns comportamentos emocionais podem ser
mantidos, agravados ou diluídos.
A formação reticular desperta o córtex para a recepção de informação
sensorial potencialmente desencadeadora de emoções, mantendo-o alerta para uma
situação de emergência. Toda a informação enviada pelos órgãos sensoriais para o
córtex e deste para os órgãos efetores passa pelo sistema límbico que atua como
regulador dos comportamentos emocionais e motivacionais.
O hipotálamo é responsável pela ativação do Sistema Nervoso Simpático
(SNS) em situações de emergência. A condução das emoções pelo SNS, mobiliza
os recursos fisiológicos, preparando-os para a ação.
Ainda que o córtex consiga racionalizar a emoção e conseqüentemente os
comportamentos, uma série de reações incontroláveis, que não dependem da
nossa vontade, pelo fato de serem controlados pelo sistema nervoso autônomo.
Em conseqüência a esse desencadeamento de reações, pode-se observar
sob o ponto de vista orgânico:
a) Aumento da irrigação sangüínea no sistema nervoso central,
cardíaco e muscular;
b) Liberação de açúcar para ampliar a energia muscular;
c) Preparação dos fatores sangüíneos e ativação da cascata de
coagulação;
d) Intensificação do ritmo respiratório, a fim de que o oxigênio levado
ao sangue confira o combustível necessário aos mecanismos
fisiológicos em situação de desgaste;
e) Estimulação das glândulas, sobretudo supra-renais que segregam
hormônios excitatórios (adrenalina e noradrenalina).
Frente ao exposto é possível propor uma forma ilustrativa de “visualização”
das áreas neuronais responsáveis pela emoção e suas manifestações.
29
Figura 2 - Áreas neuronais responsáveis pela emoção
e suas manifestações
Fonte: Batista et al. (2007)
Damásio (2004), na perspectiva da neuropsicologia, apresenta uma hipótese
de trabalho sobre o conceito de emão, delineando algumas proposições: uma
emão propriamente dita é uma coleção de respostas qmicas e neurais que formam
um padrão distinto; as respostas o produzidas quando o cérebro normal detecta um
esmulo-emocional-competente (um EEC), o objeto ou acontecimento cuja presença
real ou relembrada desencadeia a emoção. As respostas o automáticas; o rebro
está preparado pela evolão para responder a certos EEC com reperrios de ão
específicos, mas a lista dos EEC não se limita àqueles que foram prescritos pela
evolução, e inclui muitos outros adquiridos pela experiência individual; o resultado
imediato dessas respostas é uma alterão temporia do estado do corpo e do estado
das estruturas cerebrais que mapeiam o corpo e sustentam o pensamento; o resultado
final das respostas é a colocação do organismo, direta ou indiretamente, em
circunstâncias que levam à sobrevida e ao bem-estar.
Nota:
30
Como acréscimo, é possível trazer contribuições de teorias que apontam
aspectos que interferem no desenvolvimento da afetividade. Sendo assim, apresento
autores (James-Lange, 1884; Cannon-Bard, 1915; Papez-Maclean, 1937; Lindsey,
1951; Bifatorial Ardila, 1976) que enfatizam aspectos orgânicos bem como outros
que estudam as influências ambientais e sociais nesse desenvolvimento. São eles:
Comiotto (1992), em sua pesquisa sobre os sentimentos na vida adulta,
apresenta um quadro comparativo das cinco principais teorias clássicas de base
psicofisiológica para explicar a emoção, apresentado na próxima página.
Quadro 3 - A emoção: comparação das teorias
TEORIA
BASE
PSICOFISIOLÓGICA
PRINCÍPIOS
a) James-
Lange
Os primeiros psicólogos a
abordar o comportamento
emotivo consideram que a
percepção das alterações
fisiológicas ocorridas é que
era a causa da emoção.
Assim pensava William
James para quem o fator
mais importante e
determinante da emoção
era o “feed back” das
mudanças corporais
ocorridas numa situação.
Trocas Viscerais a) O comportamento
emocional e a
experiência emocional
estão fisiologicamente
inter-relacionados
b) Os eventos na
emoção se encontram
nesta ordem: percepção
da situação, alterações
orgânicas e tomada de
consciência.
b) Cannon-
Bard
Defendem que no
mecanismo das emoções o
papel principal é
desempenhado pelo
sistema nervoso central. As
alterações fisiológicas são
ativadas pelo tálamo que
simultaneamente envia
impulsos para o córtex e
para a periferia. O grande
argumento de Cannon era
o de que quando o tálamo
se encontra lesionado, a
emoção é muito fraca.
Tálamo e Hipotálamo a) O Tálamo oferece
uma qualidade
emocional aos
estímulos sensoriais
que passam por ele
b) O córtex inibe, em
condições normais, o
mecanismo de
experienciar emoções.
continua...
Fonte: Comiotto (1992, p. 80)
31
Quadro 3 - A emoção: comparação das teorias (conclusão)
TEORIA
BASE
PSICOFISIOLÓGICA
PRINCÍPIOS
c) Papez-
Maclean
Córtex, Hipotálamo, Corpos
mamilares, Núcleos
dorsomediais do Tálamo,
Sistema límbico em geral
a) O Hipotálamo é
responsável pela
expressão das emoções
b) A experiência
emocional corre a cargo
do córtex.
d) Lindsey
Formação reticular a) Na formação
reticular, os impulsos
viscerais e somáticos
integram-se e
distribuem-se no
hipotálamo.
b) Os impulsos ativam
o córtex e coloca em
estado de alerta o
organismo.
e) Bifatorial
Ardila
Hipotálamo, Formação
reticular, córtex
c) Em toda emoção
entram em jogo o
Hipotálamo (classe de
emoção) e a formação
reticular
(intensidade)
d) Uma emoção pode
converter-se em outra,
variando
quantitativamente
e) O córtex cerebral
integra os impulsos e dá
seu significado à
emoção
f) Os organismos nem
sempre buscam a
estimulação ótima,
sendo que, às vezes,
perseguem um estado
de máxima excitação
(positiva ou negativa)
g) Em nível humano,
tanto a conduta quanto
a experiência
emocional, estão
culturalmente
determinadas.
Fonte: Comiotto (1992, p. 80)
32
Entre a emoção e a atividade intelectual existe interdependência e a relação
que elas mantém é de caráter dialético; portanto, concebê-las como elementos
estanques é incorrer no erro antigo da separação corpo e alma, uma vez que o ser
humano é uma unidade, agindo como um todo.
Segundo Bisquerra Alzina (2000), citado por Mosquera e Stobäus (2006) “o
problema da manifestação emocional passa por uma compreensão holística de
nossa vida e do sentido que damos a ela”.
O ser humano, portanto, experiencia a afetividade através das relações com
o meio social. Sentimentos e cognições caminham juntos, de modo a manifestarem-
se frente à realidade que se apresenta mediante atitudes como a participação
pessoal, envolvimento, comprometimento e implicação em determinada situação.
Soria (1997) procedeu a uma revisão conceitual na qual apresenta-nos
instrumentos que possibilitam a avaliação da intensidade afetiva. Devido à
complexidade das experiências emocionais faz-se necessário o emprego de
metodologias que permitam essas análises, entre as quais se destacam a
observação facial, os registros fisiológicos e os autoinformes (questionários) que,
dado seu escasso custo e sua facilidade de aplicação se constituem na principal
técnica de avaliação. Nesse sentido, procuro estabelecer um elo entre a proposição
dessa pesquisa e o disposto na literatura acerca da diversidade de métodos
relacionados à coleta dos dados.
Descrevo, portanto, os procedimentos revisitados por Soria: Registros
diários de afeto baseiam-se na consideração de que a intensidade emocional nos
permite predizer a reação emocional aos sucessos cotidianos (LARSEN; DIENER;
EMMONS, em 1986). Supõe solicitar ao indivíduo o registro de suas experiências
emocionais cotidianas mediante a seleção de um adjetivo diário que mostre a
intensidade com que experimentou cada afeto; Affect Intensity Measurement: AIM
(LARSEN, em 1984), a Escala de Intensidade Afetiva de Larsen (1984) é um
autoinforme que mede a intensidade da reação afetiva dos indivíduos perante os
sucessos e situações emocionais. Consta de 40 itens mediante os quais os sujeitos
devem avaliar sua reação frente às diferentes situações que são propostas, em uma
escala tipo Likert de 6 níveis: Nunca (1), quase nunca (2), às vezes (3), regularmente
(4), quase sempre (5), sempre (6); Emotional Intensity Scale: EIS
(BACHOROWSKI; BRAATEN, 1994) Emotional Intensity Scale: EIS
(BACHOROWSKI; BRAATEN, 1994), autoinforme de 30 itens que pretende
33
responder às críticas lançadas à AIM. O formato de apresentação e resposta dos itens
consiste na eleição de uma opção entre várias alternativas representadas por
proposições contínuas. A escala de pontuação de cada item varia de 1 a 5. A
pontuação total da escala oscila de no mínimo 30 ao máximo 150 pontos; Escala de
Reações Emocionais a Contingências Externas: ERECS (BRAATEN; ROSÉN,
1997), autoinforme de 26 itens que pretende medir mediante uma escala tipo Likert de
7 níveis, a força (vigor) das reações emocionais de uma pessoa a situações
determinadas que implicam recompensa ou castigo. A pontuação total oscila desde
um mínimo de zero a um máximo de 78. A escala apresenta também diferenças
significativas nas pontuações entre homens e mulheres, dados consistentes com
outros estudos do funcionamento emocional que mostram que as mulheres são
emocionalmente mais intensas que os homens (BACHOROWSKI; BRAATEN, em
1994, FUJITA et al., em 1991, LARSEN; DIENER, em 1987); Tarefa de avaliação de
cenários: SRT (SCHIMMACK; DIENER, 1997), consta de 30 descrições (30-60
palavras) suscitadoras de emoções, previamente selecionadas de um total de 460
cenários recolhidos dos estudos de Reisenzein e Hoffman, em 1993). A tarefa
consiste em avaliar a presença e intensidade de 10 emoções em uma escala de 7
pontos, em que o zero implica na ausência de afeto e as categorias restantes indicam
sua presença, assim como a intensidade com que se produzido. Todos os sujeitos
devem avaliar os mesmos cenários.
Mosquera e Stobäus (2006, p. 128) definem sentimento como um espelho
da realidade, responsável por manifestar uma atitude subjetiva do indivíduo, com
bases fisiológicas cerebrais de ordem inicialmente interna, para posteriormente
manifestar-se socialmente. Conclui-se, então, que sentimento é uma reação
claramente manifestada perante uma situação determinada.
Damásio (2004, p. 99) considera o sentimento uma percepção de um certo
estado do corpo, acompanhado pela percepção de pensamentos sobre certos temas
e pela percepção de um certo modo de pensar. Esse conjunto de percepções refere-
se à causa que o originou. O sentimento também se caracteriza como estado
dinâmico e de movimento.
Os sentimentos o são de todo uma percepção passiva, um relâmpago
que desaparece da nossa vista. Uma vez que se instala uma ocasião de
sentimento, principalmente no caso de sentimentos de alegria e de tristeza,
tem lugar um recrutamento dinâmico do corpo, um recrutamento repetido
também, que dura vários segundos ou até minutos, e a que correspondem
34
variações dinâmicas da nossa percepção, ou seja, do nosso sentimento.
Aquilo de que nos damos conta é uma série de transições e, em alguns
casos, uma luta aberta entre as alterações do corpo iniciadas pela emoção
e a resistência que o corpo oferece a essas alterações.
Apenas quando o resultado da ativação dos padrões neurais se dá sob a
forma de imagens é que temos sentimento. O mesmo autor propõe que o termo
sentimento fosse reservado para a experiência mental privada de uma emoção,
enquanto o termo emoção seria usado para designar o conjunto de reações, muitas
delas publicamente observáveis. Na prática, isso significa que não se pode observar
um sentimento em outra pessoa, embora se possa observar um sentimento em si
mesmo quando, como ser consciente, seus próprios estados emocionais são
percebidos. Analogamente, ninguém pode observar os sentimentos que um outro
vivencia, mas alguns aspectos das emoções que originam estes sentimentos serão
patentemente observáveis por outras pessoas.
No que tange à importância dos sentimentos, Comiotto, em 1992, Wukmir,
em 1960 e Stobäus e Mosquera, em 2004, apresentam as seguintes considerações:
Comiotto (1992, p. 87) adverte que, ao impedir-se o desenvolvimento, a
vivência e a manifestação de determinados sentimentos, estamos impedindo a
aprendizagem de algo pertencente à natureza intrínseca do ser humano, sendo essa
característica que o diferencia de outros seres. Completa que os indivíduos, por
temor de serem menosprezados socialmente ou não serem aceitos, evitam a
manifestação de sentimentos.
Wukmir (1960 apud STOBÄUS; MOSQUERA, 2006, p.130), assinala:
[...] as emoções e os sentimentos são básicos para a vida dos seres
humanos, enfatizando o sentido que dá ao ser vivo seu valor. Daí porque
emoções e sentimentos nascem no foco em que se direciona a orientação
vital que cada um recebe e dimensiona, causada pelo que conhecemos por
instinto, circunstância e ego.
Segundo Stobäus e Mosquera (2004, p. 48) os mesmos argumentam em
relação à separação do biológico e do psicológico, que o afastamento arbitrário do
pensamento e sentimento, bem como a inteligência da capacidade de sentir e viver
as emoções, e os valores das atitudes, não evoluiu gratuitamente. O
desenvolvimento dessa forma de pensar foi realizado de tal maneira que
contemporaneamente possui-se ainda a visão de que pensamento científico não
está relacionado com sentimentos e afetos.
35
E ainda para Damásio (2004, p. 95), o mesmo refere que o sentimento,
essencialmente, é uma idéia do corpo que sofreu uma perturbação pelo processo
emocional, desencadeando a partir disso, reações a certo objeto ou situação. Relata
que o teor essencial dos sentimentos é uma condição corporal desencadeada por
certa imagem mental, anteriormente mapeada em um sistema de regiões cerebrais.
Essencialmente, um sentimento é um conceito de certo aspecto do corpo quando
este é impulsionado a reagir mediante um estímulo emocionalmente desencadeado.
Rogers (1983a) afirma que, ao possibilitar-se a abertura do canal afetivo, o
indivíduo é movido a buscar a compreensão de sua força interna de crescimento, de
socialização e integração que, como conseqüência, o libera para uma vida com mais
reciprocidade, mais crescimento interpessoal e mais afeto.
Facilitar a expressão do sentimento, potencializar a pessoa, liberar o indivíduo
para uma escolha autônoma resulta em mais aprendizagem, mais
produtividade, mais criatividade, do que a que resulta do exercício de poder
sobre a pessoa. Todo o nosso mundo institucional, entretanto, é construído
em torno de um sistema hierárquico de controle sobre a pessoa. Potencializar
a pessoa é colocar em movimento um processo que pode revolucionar a
família, a escola, a organização, a instituição, o Estado. Estamos diante de
uma outra mudança paradigmática (ROGERS, 1983a, p. 13).
Sem dúvida, essa é uma maneira diferenciada de olhar para o indivíduo
completamente distinta da maneira tradicional. Concebe-se a pessoa como alguém
que possui dentro de si todos os elementos e recursos capazes de orientá-lo para a
busca do crescimento e da maturidade.
Dessa forma, cabe a premissa dos estudos de Rogers de que o
comportamento pode ser compreendido, de forma significativa, a partir dos
referenciais de estrutura interna do próprio indivíduo, da sua percepção e através do
seu campo de experiências.
As implicações desses conceitos geraram, indubitavelmente, uma mudança
paradigmática em relação aos referenciais teóricos de compreensão do indivíduo e
de seu comportamento. Nesse sentido, Rogers (1983a) preconizava essa
mudança paradigmática em relação aos conhecimentos científicos, desmistificando a
visão reducionista da linearidade causa-efeito da ciência, e trazendo o conceito de
reciprocidade dessas relações. Dessa forma, o processo torna-se mais ampliado,
admitindo que o universo re-cria-se constantemente, em um movimento dinâmico e
complexo.
36
Para ele, o entendimento das emoções e sentimentos passa pelo
engajamento do próprio indivíduo no processo de ser e tornar-se ele mesmo, de
forma que todos os dados necessários para realizar adequadamente este processo
estariam disponibilizados à sua consciência.
Como ilustração, Rogers (1962) descreve que a pessoa é um ser humano
em fluxo, em movimento, capaz de experienciar as situações com os sentimentos e
as reações do momento. Acredita que as experiências adquiridas anteriormente são
recursos necessários para relacionar com as experiências que vivencia em seu
momento atual. Através desse entendimento, esse indivíduo é capaz de atribuir
significados aos seus processos de vida, formando novos relacionamentos com seu
meio, vivenciando mais intimamente sentimentos de dor e êxtase, raiva e amor,
medo e coragem, através da confiança em si próprio e nas relações estabelecidas
com outrem.
Santos (2004) ao abordar Maturana (1928), aproxima-se desse conceito
descrevendo a teoria da autopoiese, a saber, o ser vivo pertence a um sistema auto-
organizado, dependente das relações, dinâmico e interativo. Dessa forma, a
característica básica desse processo é a autoconstrução e constante mutação. Para
esse autor, as emoções estão atreladas à razão e, dessa relação, determinam-se as
ações. Através dessa concepção define a chamada Biologia do Amor, na qual
esclarece que o Amor é constitutivo da vida humana e que, a partir dessa visão,
passa a existir a aceitação do outro como legítimo outro.
O mesmo define o amor como uma emoção, uma forma de convívio e de
condutas relacionais entre os seres humanos, e o descreve como um fenômeno
biológico. E é nesse espaço de inter-relação com o outro que emerge o legítimo
outro, através da convivência em um ambiente propício ao diálogo e ao respeito.
Corroborando com essa visão unificada de pessoa e em congruência com o
ambiente, Freire (2007) aponta definições que contemplam características dispostas
por Rogers, no mundo contemporâneo. A mesma sugere que a confiança na
capacidade de desenvolvimento do ser humano é o fundamento da Abordagem
Centrada na Pessoa, ou seja, constitui-se como uma forma de estar-em-relação com
o outro e de estar-no-mundo, promovendo o crescimento e desenvolvendo
construtivamente suas potencialidades.
Ao passo que Rogers, em 1983, assinalara com a mesma proposição,
quando previu as transformações paradigmáticas cienficas, sociais e culturais
37
para as quais a sociedade moderna se dirigia. Acresce que, nesse sentido, uma
nova ordem instaura-se, seguindo-se uma nova visão de mundo, de relações sociais
e de compreensão frente à unidade espiritual do universo, com mais espaço para
indivíduos integrados e totais.
O homem é um ser relacional, portanto, torna-se impossível discorrer sobre
sua essência sem direcionarmos o olhar para a afetividade, emoção e sentimentos.
A forma como vivenciamos e desfrutamos nossas percepções, relacionamentos
sociais e inteligência são individualizados por nossa afetividade, humor e
disposição/motivação.
2.2 TRABALHO NA SAÚDE E RELAÇÕES INTERPESSOAIS
A saúde no Brasil vem sendo alvo de reflexões e mudanças gerais algum
tempo. Esse processo de redefinição não se limita ao pensar burocrático ou técnico,
mas agrega questões de suma importância como a construção e ampliação do
próprio conceito de saúde e seu entendimento, as questões institucionais
responsáveis por ações nesse campo, competências técnicas e financiamentos.
Durante os últimos anos, a saúde tem-se manifestado como um campo de
construção de práticas cuidadoras. As ações do profissional de saúde têm como
foco as mudanças nos processos de trabalho que contemplem as relações saúde-
trabalho em toda a sua complexidade, por meio de uma atuação multiprofissional,
interdisciplinar e intersetorial.
A história brinda-nos com alguns fatos referentes à evolução das
concepções em saúde. Sem dúvida, inúmeras alterações de grande magnitude
foram implementadas em tempo histórico muito curto, tornando a reflexão acerca
dessas mudanças extremamente complexa.
A primeira metade do século XX foi um período de grandes transformações
para a população mundial, a humanidade passou por duas grandes guerras, viu
suas fronteiras divididas em dois eixos de poder (a guerra fria), porém, foi um
período de grandes descobertas positivas, principalmente, no campo da saúde
publica. Como exemplo pode-se citar:
38
A descoberta de novas vacinas e o aperfeiçoamento de vacinas
existentes, como foi o caso da Varíola;
Descoberta de novos antibióticos e quimioterápicos eficazes
particularmente contra a Tuberculose e a Hanseníase (Lepra).
No Brasil, o panorama de saúde apresentava as seguintes características:
Programas de massa em nível nacional, em detrimento à organização e
prestigio confiados à saúde. O objetivo desses programas era promover
o convencimento da população frente à necessidade de mudanças de
hábitos tradicionais anti-higiênicos;
Realização de grandes obras de saneamento básico;
Vacinações em massa (algumas realizadas coercitivamente, como foi o
caso do Rio de Janeiro durante a Revolta da Vacina);
Cursos de formação de enfermeiras sanitárias, que tinham a missão de
percorrer os bairros mais carentes ensinando aos moradores as regras
básicas de higiene bem como o encaminhamento dos doentes aos
hospitais.
No Rio Grande do Sul, em especial em sua capital, Porto Alegre, a primeira
metade do século 20 será marcada por transformações estruturais importantíssimas
advindas do capital exterior e de sua crescente industrialização.
Nos primeiros anos da República, durante o período positivista, o Estado era
assolado por casos de difteria, peste bubônica, febre tifóide, varíola, sífilis,
tuberculose, entre outras.
Adotando uma perspectiva positivista, o governo do Estado estabeleceu, na
área da saúde, uma postura distinta do restante do país, instituindo a liberdade
profissional e religiosa (abertura para práticas alternativas de cura como
benzedeiras, sangradores e barbeiros) e posicionando-se como contrário ao que se
chamava de terrorismo e autoritarismo sanitário (intervenção do Estado em assuntos
que consideravam como sendo questões pessoais, exemplo a saúde). Assim, as
medidas adotadas pelo governo eram sempre pontuais embora nunca deixassem de
valorizar o isolamento de doentes. Esse quadro só irá mudar na década de 40, após
grandes debates envolvendo médicos e juristas de forma a assegurar à medicina o
direito de tratar a população.
Com a mudança gradativa na mentalidade dos governantes, intervenções
são realizadas nas cidades de forma a combater os agentes causadores de
39
doenças. Espaços públicos são criados, como as praças, ruas são saneadas, novas
avenidas são estruturadas (Por exemplo, Av. Farrapos, Av. João Pessoa, no
município de Porto Alegre), novas construções são realizadas de forma a remodelar
e transformar a cidade. E a saúde pública passa a atuar com outros enfoques a
partir dessa nova conceituação.
Em 1978, com a ampla divulgação da Declaração de Alma-Ata, elaborada
durante a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, alguns
municípios passaram a adotar aquelas recomendações como eixo norteador da
organização da assistência. Entre essas podemos destacar: importância das ações
de promoção da saúde e prevenção de doenças; saúde como direito dos povos e
dever do estado; atenção ao individuo e à família; referência e contra-referência no
sistema de saúde; vínculo dos serviços com a população; oferta de ações básicas de
saúde; intersetorialidade das ações; participação da comunidade; planejamento das
ações; trabalho em equipe, entre outras (OMS-Alma-Ata, 1978).
Nesse contexto sócio-historico, o país vivia um momento de abertura
política, com algumas unidades da federação comprometidas com projetos de
desenvolvimento de políticas sociais mais descentralizadoras. Essa mudança de
mentalidade proporcionou a abertura de espaços para a expansão dos serviços de
saúde pública principalmente a atenção básica - nos municípios, promovendo a
adequação de perfis dos recursos humanos e ampliando as propostas de
desenvolvimento de formação e capacitação dos profissionais de saúde.
A década de 80 terminou com a realização do Seminário Nacional da Política
de Recursos Humanos para o Sistema Único de Saúde, realizado em 1989 e
promovido pelo Ministério da Saúde, com apoio da Organização Panamericana de
Saúde (OPAS). Desse Seminário resultou uma publicação intitulada Sistema Único
de Saúde: Diretrizes para Formulação de Política de Recursos Humanos,
ressaltando os avanços jurídicos e normativos do setor saúde na Constituição
Federal, em que ao Sistema Único de Saúde (SUS) compete ordenar e formar
recursos humanos na área da saúde.
Na década de 90, com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), um
novo paradigma de orientação do modelo assistencial e das práticas de atenção à
saúde foi construído, a partir da concepção de Saúde enquanto um Direito de
Cidadania e um Dever do Estado. Durante a implantação do SUS, foram
desenvolvidos e aperfeiçoados os mecanismos para seu funcionamento e
40
regulamentação em todo o país, definindo competências e atribuições para os
diferentes níveis de governabilidade, sendo que a cada etapa de implementação do
sistema, foram criados ou aperfeiçoados os instrumentos de gestão.
Podemos afirmar que, no final dos anos 90, novas questões estabelecem um
divisor de águas para promover a reflexão e a pesquisa centrada no trabalho em
saúde. De um lado, as questões político-sociais do trabalho, envolvendo a
qualidade, informalidade e flexibilidade; de outro, as questões éticas e filosóficas,
envolvendo a integralidade do cuidado à autonomia dos sujeitos.
Nesse momento aparece uma dimensão importante que impulsiona as
reflexões objetivadas nesse capítulo, referentes às vertentes da abordagem do
trabalho em saúde. Uma que diz respeito ao foco de análise envolvendo o plano das
relações interpessoais, contemplando dois momentos de interação:
relacionamento dos profissionais de saúde com os pacientes; e
relacionamento dos diversos membros da equipe de saúde entre si. A
outra reflexão á a ampliação do foco sobre os mecanismos institucionais
de gestão do trabalho.
Essas transformações no contexto histórico manifestam-se na concepção do
trabalho em si e em seus processos, influenciando diretamente no planejamento e
política de recursos humanos em saúde, bem como na formação desses recursos e
nas relações interpessoais no ambiente de trabalho.
Falar sobre o processo de trabalho em saúde remete à compreensão de que
ele compartilha características comuns a outros processos de trabalho, como gestão
e gerência administrativa; ações promocionais, preventivas e curativas, e a formação
específica de recursos humanos.
A relação humanizada seja entre profissionais e entre profissionais e
usuários, é um dos aspectos a serem ressaltados quando se aborda a questão do
trabalho na saúde. Estabelecer relações de trabalho embasadas no diálogo, no
trabalho em equipe, na comunicação eficaz e endossando valores como ética,
solidariedade e compromisso, acentuam as possibilidades de que essa perspectiva é
possível de ser concretizada diariamente.
Para Souza et al. (1993), qualquer processo de trabalho em saúde possui
uma dimensão cooperativa, que integraliza a ação e complementa o processo de
produção de serviço, orientado a este fim, e também uma direcionalidade técnica,
que diz respeito aos conhecimentos científicos e ao uso de tecnologias que
41
influenciam a produção específica do serviço de saúde. É fundamental ressignificar o
processo de trabalho, o que exige a mudança de sua finalidade, que passa a ser a
produção do cuidado, na perspectiva da autonomização do sujeito, orientada pelo
princípio da integralidade e requerendo, como ferramentas, a interdisciplinaridade, a
intersetorialidade, o trabalho em equipe, a humanização dos serviços e a criação de
vínculos entre usuário/profissional/e equipe de saúde.
Stobäus e Mosquera (2004, p. 52) evidenciam que o trabalho atua como
reforço da necessidade da pessoa adulta de ser gerativa tendência a produzir
algo, a cuidar de algo, alguém que prepare as próximas gerações. Esse conceito
evoluiu através dos tempos, intensificando a idéia de que o trabalho desenvolve
sentimentos de generosidade e satisfação, estimulando o entendimento frente ao
mundo e seus contrastes e contribuindo para o desenvolvimento de uma melhor
saúde psicológica e maior tolerância nas relações interpessoais. À percepção dessa
realidade é que surge a interface com a educação: ao conhecimento dos fenômenos
ambientais soma-se o fenômeno viver, consonante com esse contexto,
proporcionando a construção de espaços de aprendizagem e reflexão.
A saúde, enquanto campo de organização assistencial e tecnológica de
ações tem suas atividades qualificadas e toma o processo coletivo da saúde e da
doença como seu objeto de trabalho. Desse modo, a saúde é identificada como o
campo de ações que tem como perspectiva a promoção da saúde individual e
coletiva, através da atuação nas dimensões coletivas.
Em se tratando da promoção da e para saúde, é de fundamental importância
explicitar o sentido desta afirmação e sua origem. A I Conferência Internacional
sobre Promoção da Saúde teve como principal produto a Carta de Ottawa (WHO,
1986), que define promoção da saúde como o processo de capacitação da
comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma
maior participação no controle deste processo. Paralelo a este conceito, o
documento assume que a saúde é o maior recurso para o desenvolvimento social,
econômico e pessoal, assim como uma importante dimensão da qualidade de vida.
A saúde é entendida, assim, não como um objetivo em si, mas como um recurso
fundamental para a vida cotidiana, incluindo alguns requisitos tais como paz,
educação, habitação, alimentação, renda, ecossistema estável, recursos
sustentáveis, justiça social e eqüidade.
42
Assim, a nova concepção de saúde comporta uma visão afirmativa que a
identifica com bem-estar e qualidade de vida, e não simplesmente com ausência de
doença. A saúde deixa de ser um estado estático, biologicamente definido, para ser
compreendida como um estado dinâmico, socialmente produzido.
O que, entretanto, vem caracterizar a promoção da saúde, na
contemporaneidade, é a constatação do papel que envolve as condições de saúde.
Esse se sustenta no entendimento de que a saúde é produto de um amplo espectro
de fatores relacionados com a qualidade de vida.
Proporcionar saúde significa, além de evitar doenças e prolongar a vida,
assegurar meios e situações que ampliem a qualidade da vida experienciada”, ou
seja, ampliem a capacidade de autonomia e o padrão de bem-estar. Assim, através
dessa abordagem do trabalho em saúde, possibilita-se chegar ao cuidado, principio
central da integralidade. Nesse sentido, acredito que o diálogo é fundamental para a
construção de saberes acerca dos processos de saúde, assumindo – a comunicação
e a linguagem – características de informação, orientação e interação.
Produzir saúde a partir do trabalho significa fundamentalmente operar
saberes. Saberes esses, emergentes do meio social no qual estão inseridos
profissionais e usuários, em uma parceria renovada diariamente pelo convívio e pela
dimensão solidária e ética do trabalho em saúde.
Um profissional de saúde, no desempenho de uma ação, mobiliza ao
mesmo tempo, seus saberes e modos de agir. Esse modo de agir é definido
primeiramente pela existência de um saber muito específico sobre o
problema que vai enfrentar, sobre o qual se coloca em jogo um saber
territorializado no seu campo profissional de ação, mas ambos envolvidos
por um território que marca a dimensão cuidadora sobre qualquer tipo de
ação profissional (MERHY, 1999, p. 7).
A relação entre saúde e trabalho no campo da Psicologia, foi tratada por
autores clássicos por exemplo, Freud (1968) - como mencionado por Stobäus e
Mosquera (2004, p. 50), relatando a visão prospectiva do autor. Relata-nos que
pessoa saudável é aquela capaz de amar e trabalhar; a pessoa que ama
conscientemente assume características de maior generosidade e menor egoísmo.
Atribui a isso um conflito constante contra a infantilidade de seu ser central.
Considera que, ao desprendimento proporcionado pelo ato de amar, passa-se a ter
atitudes mais conscientes.
43
Dessa forma, acredita-se que estabelecendo laços e estreitando relações
interpessoais, que se estendem para todos os segmentos da vida do ser humano, é
possível estimular o desenvolvimento de hábitos saudáveis.
Segundo os mesmos autores, ao citarem Jourard e Landsman psicólogos
humanistas concebem a pessoa saudável como sendo aquela capaz de
desenvolver capacidade crítica em sua sociedade, possibilitando um modo de agir
mais consciente. Dessa forma, aprende a ver e ouvir os outros como realmente são,
traços fundamentais para as relações interpessoais.
Considero, portanto, que o entendimento das relações interpessoais no
trabalho em saúde é importante tendo em vista o papel característico das ações
desempenhadas por esses profissionais, que envolvem não somente a dimensão
tecnicista, mas também a dimensão das relações sociais e de integração humana.
Nesse sentido, Rogers (1983b) chama a atenção para o imprescindível papel
das relações humanas e dos valores norteadores destas relações como alavancas
para o crescimento individual e interpessoal, e afirma que os indivíduos são
portadores de vastos recursos para a autocompreensão e modificação de seus
autoconceitos, atitudes e comportamento autônomo. Uma vez ativados esses
recursos, mediante um clima de atitudes facilitadoras, criam-se condições de
crescimento e desenvolvimento da pessoa, caracterizadas por Autenticidade,
sinceridade ou congruência (essa última evidenciada pelos estudos de Maturana);
Aceitação, interesse ou consideração; e Compreensão empática.
Sem dúvida, o desenvolvimento dessa forma de pensar e agir deve-se ao
entendimento e adoção de certas atitudes e valores que evidenciam essa visão do
“ser” descrita por Rogers. Em 1957, o mesmo autor apresentou as condições
necessárias e suficientes para considerarmos a Psicologia Humanista não apenas
uma teoria, mas uma filosofia, um enfoque de vida, um ponto de vista, aplicável a
qualquer situação em que o crescimento é o objetivo.
As três condições abordadas por Rogers para o desenvolvimento desta
perspectiva, conforme enunciadas acima, são consideradas necessárias e
indispensáveis para a efetivação de sua teoria: Consideração Positiva
Incondicional, significando aceitação incondicional do outro, não necessariamente
aprovação, valorizando-o como um indivíduo com necessidades, desejos,
sentimentos de bem-estar e crescimento e sonhos.
44
Essa troca de experiências entre o eu-tu, retorna como cuidado genuíno e
positivo; Empatia, decorrente da atitude de aceitação e de valorização incondicional,
considerando o outro como ser único e vivenciando suas experiências.
Nessa perspectiva evoca-se o valor da comunicação e seu conteúdo, e a
importância desse processo como forma de compreender o universo do outro
(escuta empática). Uma postura de atitude empática pressupõe um alto grau de
flexibilidade, de resiliência, autenticidade e autonomia. Congruência ou
Genuinidade, permitindo que os indivíduos sejam pessoas reais, autênticas, e não
modelos de perfeição. Essa atitude requer transparência, coerência e sintonia,
consideração do outro como ser único, permitindo que nessa relação as pessoas
harmonizem seu mundo interior com os sentimentos e as idéias.
Essa possibilidade de se relacionar é extensiva a todos os grupos sociais,
uma vez que a aprendizagem é contínua e cio-historicamente situada. Nesse
sentido, essas condições se aplicam indiferentemente à relação terapeuta-paciente,
pais-filhos, líder-grupo, administrador-equipe, em qualquer situação na qual o
objetivo seja o desenvolvimento da pessoa.
De modo semelhante, Ramos (2003) ao citar Cooley (1909), postula a teoria
que as forças que mantém a coesão dos grupos humanos são primordialmente de
ordem psicológica. Os indivíduos comunicam-se entre si pelo pensamento, pela
transmissão de idéias. É a intercomunicação mental que a consciência do grupo,
como base da interação social. Esta transmissão de idéias pode ser feita
diretamente, de indivíduo a indivíduo (face a face).
Krüger (1986), por sua vez, também analisa o comportamento social
interpessoal enfatizando que é nas relações interpessoais que se verificam as
influências das circunstâncias sócio-culturais, historicamente localizadas, sobre o
comportamento. Pesquisando a cultura humana, essas influências manifestam-se
sob uma ótica sincrônica (geográfica) e diacrônica (histórica), daí a conceituação da
importância do meio e sua congruência com o comportamento e aprendizagem
humana.
Freqüentemente preconiza-se que existem más relações interpessoais,
porém não se sabe, de fato, o que são essas más relações. Stobäus e Mosquera
(2004, p. 55) ressaltam que, acima de uma análise mais cuidadosa é colocado muito
da imaginação e do preconceito, referente a essa situação de mal estar.
45
O repensar sobre as relações interpessoais no trabalho, visualizando um
novo fazer em saúde, no qual os profissionais tornem-se sujeitos participativos,
valorizando processos subjetivos como a criatividade e a afetividade, também se
fazem presente em Rogers (1977a, p. 119), quando discute a respeito do objetivo
primário das profissões assistenciais:
A finalidade da maioria das profissões assistenciais é facilitar o
desenvolvimento pessoal e o crescimento psicológico dos clientes, na
direção de uma maturidade socializada. A medida mais adequada da
eficiência de qualquer membro da profissão é considerar até que ponto, no
seu trabalho, atinge o seu objetivo.
O mesmo autor pros, igualmente, uma nova abordagem da pessoa frente ao
sentimento compartilhado com os grupos sociais, com os quais o indivíduo se identifica,
permitindo o reconhecimento dessas relações interprofissionais nas organizões.
Afirma que o poder é compartilhado no relacionamento que estabelecemos com o
grupo e seus membros, permitindo-nos ser e que os outros também o sejam. A
abordagem do indivíduo, sob essa ótica de aceitação, permite o revelar-se criativo e
pleno de recursos para análise e transformação de sua própria vida.
Paralelamente, Maturana (2002) evidencia o surgimento do legítimo outro ao
estimular-se esse tipo de convivência, proporcionando e ampliando espaços em que
os indivíduos permitam-se ser com os outros e consigo próprios.
Dessa forma, considero que o trabalho em saúde pode ser pautado em uma
perspectiva que envolva princípios básicos de ética, participação, gestão e
criatividade, favorecendo o desenvolvimento de atitudes e comportamentos que
visem a qualidade das relações entre profissionais e usuários, respeitando o objetivo
maior da saúde que é a humanização e integralidade das ações.
Entendo que o cuidado em saúde aparece como idéia central quando se
abordam questões de trabalho nessa área. O cuidado respeita o principio ideal da
integralidade, estabelecendo relações entre profissionais de saúde e pacientes,
considerando o conjunto dos variados contextos sociais em que se realiza. Nogueira
(2002, p. 263), ao descrever o conceito de Ayres (2001), aborda a questão do
cuidado em saúde adotando um referencial de autonomia dos indivíduos,
considerando-o não uma beneficência nem algo redutível a um saber
metodicamente tecnicista, nem tampouco aplicado a amenidades no conforto e bem-
estar do paciente. Pelo contrário, o cuidado é dar suporte e forma ao “querer ser” do
46
outro, levando em consideração a vontade de quem é cuidado, qual é o projeto de
felicidade que está ali em questão, no ato assistencial, mediato ou imediato.
Avançando um pouco mais nessa linha, podemos elencar outros aspectos
que se fazem presentes ao articularmos a questão dos recursos humanos ao
objetivo do trabalho em saúde voltado para o “cuidar”, em suas distintas dimensões
e com diversos significados: o envolvimento cuidadoso, zeloso, responsável, com
desvelo e bom trato; confiança mútua e necessária por quem cuida e por quem é
cuidado, estabelecendo relações singulares entre os envolvidos no processo;
tomada de atitude de quem cuida, demonstrando atenção, respeito, solidariedade,
não somente com palavras, mas efetivamente com atitudes; consideração das
diferenças na relação entre as pessoas. Enfim, o ato cuidador que se estabelece na
relação interpessoal recurso humano/trabalhador de saúde é marcadamente singular
e complexo, uma vez que está inserido em um contexto histórico e cultural e por
que não, simbólico? -, como o é o processo de saúde-doença.
Obviamente que, em se realizando uma análise dos padrões administrativos
vigentes, a lógica predominante é de racionalidade administrativa que leva a cabo as
questões de planejamento, diagnóstico, avaliação e controle como centrais nos
processos de gestão. o se trata de desqualificar essas ferramentas e
instrumentos, sem dúvida alguma necessários ao desenvolvimento do trabalho.
Contudo, não são suficientes frente às considerações apresentadas até o momento,
para o setor saúde.
A lógica da implementação do cuidado requer trabalhadores que se
reconheçam no trabalho, que promovam a articulação de suas ações com as
finalidades do trabalho, com as suas próprias necessidades e com as necessidades
dos pacientes, sendo esse conjunto uma permanente produção/intervenção. O
objeto primordial é o próprio individuo em suas múltiplas complexidades em interface
com os seus, e não somente, seu aspecto biológico.
Nesse sentido, concordo com Rogers (1997) quando visualiza uma nova
possibilidade de entendimento das relações interpessoais nas quais estão inseridas,
no contexto compreendido nessa pesquisa, os profissionais e os sujeitos de seu
trabalho/cuidado em saúde. Aqui é importante ressaltar a faceta ética carreada junto
à questão do cuidado, compreendendo e estendendo a atitude cuidadora a todas as
formas de trabalho em saúde.
47
Se eu posso criar uma relação caracterizada da minha parte: por uma
autenticidade e transparência, em que eu sou meus sentimentos reais;por uma
aceitação afetuosa e apreço pela outra pessoa como um indivíduo separado;
por uma capacidade sensível de ver seu mundo e a ele como ele os vê;
Então o outro indivíduo na relação: experienciará e compreenderá aspectos
de si mesmo que havia anteriormente reprimido; dar-se-á conta de que está
se tornando mais integrado, mais apto a funcionar efetivamente; tornar-se-á
mais semelhante à pessoa que gostaria de ser; será mais autodiretivo e
autoconfiante; realizar-se-á mais enquanto pessoa, sendo mais único e
auto-expressivo; será mais compreensivo, mais aceitador com relação aos
outros; estará mais apto a enfrentar os problemas da vida adequadamente e
de forma mais tranqüila (ROGERS, 1997, p. 43).
Na verdade, as experiências vivenciadas com outras pessoas é que irão
marcar e conferir aos objetos um sentido afetivo, determinando, dessa forma, a
qualidade do objeto internalizado. Nesse sentido, pode-se supor que, nesse
processo, estão envolvidos não só os aspectos cognitivos, mas também os afetivos.
Assim, portanto, abre-se um espaço para investigações científicas
abordando a influência dos aspectos afetivos nos processos de trabalho.
Rogers (1983b) destaca muito bem o reconhecimento do potencial humano e
suas capacidades, visualizando o desenvolvimento de processos de mudaa e criação,
permitindo que o ser humano retorne ao individual, ao pessoal, mas não através do
conceito pessoal ou individual que se opõe e é incompatível com o social, mas em um
conceito individual que sentido ao social, num conceito isomórfico de organismo, a
todos os níveis de organizão, numa posão profundamente holística e humanista.
Em termos organizacionais, Ramos (2003) ao citar Cooley destaca o papel
da Psicologia Social como agregadora dos grupos e sua função de coesão e
consciência grupal. Em sua obra Social Organization de 1909, desenvolveu a teoria
de que as forças que mantém a coesão dos grupos humanos o primordialmente
de ordem psicológica. Os indivíduos se comunicam entre si pelo pensamento, pela
transmissão de idéias. É a intercomunicação mental que a consciência do grupo,
como base da interação social. Essa transmissão de idéias pode ser feita
diretamente, de indivíduo a indivíduo (face to face).
Nesse contexto, não poderíamos deixar de citar Rogers (1997), quando o
mesmo afirma que a base para as mudanças, em qualquer nível de organização
grupal, está apoiada em cuidadosa análise das relações humanas. Visualiza a
possibilidade da emergência de uma nova área envolvendo as relações humanas,
bem como determinadas mudanças envolvendo o próprio conceito de pessoa e o
reconhecimento de seu potencial.
48
À abordagem do trabalho e suas nuances, passa-se, necessariamente, pela
abordagem da gestão empresarial. Atualmente, utiliza-se essa nomenclatura no
sentido de buscar resultados empresariais sustentáveis, considerando a complexa
ótica das variáveis que compõem as práticas organizacionais, entre as quais, o
arranjo produtivo, administrativo, o papel do trabalhador nesse contexto e a relação
empresa-servidor. Frente a esses aspectos, podemos nos interrogar: O que, de
fato, existe no cofre-forte da empresa? Quais os sentimentos que movem os
funcionários no mundo do trabalho e das organizações? Ao passo que poderíamos
responder: Os valores o o tesouro da empresa. Esses sentimentos - valores -
são os ideais, os princípios e a filosofia, revelando a alma dos trabalhadores e da
organização.
Quando os valores individuais, do grupo e da organização estão em
sincronia, há a geração de muita energia. O compromisso, o entusiasmo e o
estimulo são intensificados: as pessoas possuem uma razão para preocuparem-se
com seu trabalho. Esses valores, quando compartilhados, são bússolas que
permitem que as pessoas ajam em inter-relação, promovendo o seu desempenho e
o de outrem.
Os estudos sobre o sentido do trabalho surgiram de forma mais
sistematizada a partir da década de 80, na psicologia organizacional, e possui como
principal representante a pesquisa realizada pelo grupo MOW Meaning Of Work
(1987), realizada em vários paises. Alguns aspectos foram evidenciados pelo grupo
MOW referentes ao sentido do trabalho, entre eles, êxito e realização pessoal
(crescimento pessoal e desafio intelectual associados ao prazer e ao conteúdo da
tarefa); justiça (as obrigações que a organização possui com o trabalhador,
reconhecimentos e recompensas e igualdade de exigências); sobrevivência familiar,
pessoal e independência econômica (a função social do trabalho em relação à
família e às garantias individuais de sobrevivência); carga mental (o trabalho como
esforço mental, subordinação hierárquica, repetição, execução e ritmo); exigências
sociais (a responsabilidade social do trabalho no atendimento das demandas
sociais) (BORGES FILHO, 2001).
Frente aos vários conceitos envolvendo o sentido do trabalho, aos modelos
de produção (principalmente Taylorismo/Fordismo), bem como o envolvimento dos
aspectos de exploração e alienação decorrentes de práticas não humanizadas,
pode-se avaliar brevemente a historicidade de padrões organizacionais e
49
comportamentais desse conceito. O sentido do trabalho, por sua vez, está
intimamente ligado às relações, existindo outras razões que não o alcance produtivo,
para tal existência relações interpessoais, satisfação e identidade com uma
filosofia. Portanto, o trabalho é visto como um sentimento de pertencimento e
vinculação.
A partir dessas considerações, Rogers aborda a característica da Nova
Pessoa (1983b), descrita por ele como pessoas capazes de desenvolver o
sentimento de vínculo e pertencimento em quaisquer grupos -
institucionais/organizacionais -, promovendo o crescimento individual e grupal,
atribuindo sentido às relações.
Estas pessoas vivem a vida como um processo, como um fluxo de energia,
uma transformação. A vida rígida, estática, não atrai mais. [...] Vêem que
poder sobre os outros é simplesmente uma outra forma de conquista,
igualmente inaceitável e a que o igualmente avessos. O objetivo delas é
potencializar a cada indivíduo, compartilhar o poder em empreendimentos
comuns.[...] Não gostam de viver em um mundo compartimentalizado –
corpo e mente, saúde e doença, intelecto e sentimento, ciência e senso
comum, indivíduo e grupo, sadio e insano, trabalho e divertimento. Em lugar
disto, empenham-se no sentido de uma totalidade de vida, experienciando o
pensamento, o sentimento, a energia física, a energia psíquica, a energia
curadora, todos, de uma forma integrada. [...] Têm uma abertura para o
mundo tanto interior como exterior. São abertas à experiência, a novos
modos de ver, a novos modos de ser, a novas idéias e conceitos e a um
recentemente descoberto mundo de sentimentos.[...] Têm uma antipatia por
qualquer instituição altamente estruturada, inflexível, burocrática. Acreditam
que a instituição deve existir para as pessoas, e não o inverso (ROGERS,
1983b, p. 16-17).
2.3 FORMAÇÃO CONTINUADA EM SAÚDE
Atualmente, a Formação Continuada vem conquistando espaços importantes
nas organizações, em nível mundial. Sabe-se, porém, que a discussão a esse
respeito é percebida de diferentes formas, dependendo do grau de desenvolvimento
e filosofia das instituições. Em vista a essa percepção, considera-se de importância
salutar discorrer sobre alguns aspectos desse processo, tomando por base o
indivíduo e a construção do conhecimento, bem como sua inter-relação com o meio.
Através dessa ação contínua e sistemática de trocas, a educação
caracteriza-se por sua prática integradora e reflexiva. É papel da educação o
reconhecimento e a manutenção da unidade do individuo enquanto ser singular,
50
ativo e reflexivo, simbólico, espaço-temporal e objeto e sujeito de sua trajetória. Essa
visão holística está delineada como um sistema global de aprendizagem que
pressupõe uma ampla reformulação de atitudes e valores individuais e coletivos.
Nesse sentido, a educação continuada exerce particular importância, promovendo a
qualificação, satisfação e produtividade.
Delors (2003, p. 101) afirma que a educação é um processo que se
desenvolve ao longo de toda a vida e está balizada por quatro pilares: aprender a
conhecer/aprender a aprender; aprender a fazer, adquirindo competências que
tornem o individuo apto ao enfrentamento de numerosas situações sociais ou de
trabalho - e ao trabalho em equipe; aprender a conviver, desenvolvendo a
compreensão do outro a percepção das interdependências; aprender a ser, no
sentido de melhor desenvolver a personalidade e de agir com maior capacidade de
autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal.
Nessa visão, a educação assume um caráter pluridimensional, uma vez que
se caracteriza pela construção contínua da pessoa, do seu saber e das suas
aptidões, e também pela capacidade de discernimento e ação. Tomando
consciência de si própria e do meio que a envolve, passa a desempenhar o papel
social que lhe cabe no mundo do trabalho e na sociedade.
A Educação, por sua vez, deve evitar desligar-se do ambiente social, e o
mundo do trabalho constitui, igualmente, um espaço privilegiado de educação no
que tange à aprendizagem de um conjunto de habilidades. A formação educacional
facilita a inserção na vida ativa e favorece o acesso à maturidade a aproximação
necessária entre formação inicial e formação contínua.
A educação permanente, portanto, é concebida como uma perspectiva
ampliada das necessidades imediatas de reciclagem profissional, e corresponde à
necessidade de renovação cultural e novas exigências de autonomia dinâmica dos
indivíduos, em uma sociedade de rápida transformação.
Dilly e Jesus (1995) referem que a educação intra-muros do funcionário deve
ser um processo que propicie conhecimentos, capacitando-o para a execução
adequada do trabalho e que prepare esse funcionário para futuras oportunidades de
ascensão profissional, objetivando tanto o seu crescimento pessoal quanto o
profissional. Para os autores, é a educação continuada que permite ao profissional,
o acompanhamento das mudanças que ocorrem na profissão, visando mantê-lo
atualizado, aceitar essas mudanças e aplicá-las no seu trabalho. Consideram, então,
51
a educação continuada como um conjunto de práticas educacionais que visam
melhorar e atualizar a capacidade do indivíduo, favorecendo o seu desenvolvimento
e sua participação eficaz na vida institucional.
As questões norteadoras que envolvem a capacitação continuada em
serviço e a qualificação dos profissionais assumem um caráter especial quando se
trata de instituições de saúde. O trabalho em saúde é realizado por seus servidores.
A realização do trabalho na saúde, assim como na educação, é legítima com
pessoas. Esse aprendizado, por sua vez, é contínuo, tendo em vista o caráter
dinâmico da saúde/educação nos processos de cuidar/ensinar.
Pereira (2001I, p. 173) relata que as competências da área de recursos
humanos são dependentes, para sua operacionalização, de um componente de
extrema importância: a educação. Toda a atividade gerencial de recursos humanos
está estreitamente ligada à área da educação. Portanto, tendo em vista o foco dessa
pesquisa, pode-se afirmar que cada uma das ações desenvolvidas junto ao serviço
abordado, mesmo as de caráter aparentemente administrativas, possuem um
componente educativo, uma vez que acontecem entre pessoas.
Tratando-se de uma instituição pública de saúde, outros critérios devem ser
considerados frente à formação de recursos humanos. À consolidação e
implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) contempla-se a formalização e a
execução de uma política de formação e desenvolvimento dos recursos humanos da
saúde como responsabilidade compartilhada entre os órgãos gestores e os órgãos
formadores. O ordenamento da formação de recursos humanos na área da saúde
está previsto no inciso III, artigo 200, no qual aborda a competência do Sistema
Único de Saúde no âmbito do ensino, pesquisa, extensão, documentação e
cooperação técnica prevendo políticas de regulação, apoio e fomento da Educação,
para sua operacionalização em nível organizacional de saúde.
Frente à diversidade de profissionais que compõem uma instituição de
saúde, em particular a analisada nessa pesquisa, é importante abordar o conceito
trabalhador em saúde - ou trabalho em saúde tendo em vista a heterogeneidade
de ocupações nos ambientes sócio-institucionais.
Esse conceito assume particular relevância ao abranger-se o universo do
trabalho no SUS, a partir da especificidade de ações envolvendo as práticas de
saúde coletiva. Médici et al. (1999, p. 100-102) buscam discernir termos envolvendo
profissionais, trabalhadores e pessoal de saúde, corroborando no enfoque da
52
diversidade do universo de trabalhadores no SUS. A definição de profissionais de
saúde, à luz desses autores, refere-se àqueles que, estando ou não ocupados no
setor da saúde, detém formação profissional especifica ou capacitação prática ou
acadêmica para o desempenho de atividades ligadas diretamente ao cuidado ou às
ações de saúde. Os trabalhadores de saúde seriam todos aqueles que estão
inseridos, direta ou indiretamente, na prestação dos serviços de saúde ou em
atividades de saúde, independente de possuírem formação especifica para o
exercício das funções correspondentes ao setor. Pessoal de saúde está definido
como o conjunto de trabalhadores que, possuindo formação ou capacitação
específica prática ou acadêmica, trabalha exclusivamente nos serviços ou atividades
de saúde.
De acordo com a atual Classificação Brasileira de Ocupações (BRASIL,
2002), as ocupações de saúde em nível médio são em número de 44, além das
profissões científicas, em número de 14, numa clara demonstração da diversidade
de profissões que compõem as organizações de saúde.
O modelo hierárquico de saúde/doença concebido historicamente, passa a
ser repensado na realidade dos trabalhadores do SUS, e propõe que a instituição
seja a porta de entrada do sistema, e atue como lugar de acolhimento e vinculo
afetivo, tanto entre profissionais como entre profissionais/usuários.
A reorientação da educação dos trabalhadores de saúde envolve profundas
mudanças nos modelos de gestão, relações interpessoais e de participação. A
gerência dos processos relacionados aos recursos humanos passa a associar o
conceito de desenvolvimento ao processo de educação continuada. Na área da
saúde, essa reorientação assume um caráter não dissociativo, visualizando a
atenção integral à saúde e a aprendizagem como conceitos que estabelecem uma
interface entre o individual e o coletivo, promovendo a qualificação do trabalho e o
desenvolvimento humano.
A aquisição dessa qualificação ocorrerá através da sistematização do
aprendizado nos serviços de saúde, e que tem sido reforçado o aprendizado - por
avanços tecnológicos e por mudanças sócio-econômicas e culturais. Essas
mudanças podem ser alcançadas através de estratégias realizadas com a educação
do funcionário intra ou extra-muros, favorecendo dessa maneira o seu
desenvolvimento, levando-o a adquirir maior satisfação como profissional e como
53
individuo, promovendo e melhorando suas relações interpessoais no campo do
trabalho e, conseqüentemente, sua produtividade.
A educação continuada é vista por Silva et al. (1986) como um conjunto de
práticas educacionais planejadas no sentido de promover oportunidades de
desenvolvimento ao funcionário, com a finalidade de ajudá-lo a atuar mais efetiva e
eficazmente na sua vida institucional. Ela deve ser uma constante troca de
experiências, envolvendo toda a equipe e a organização em que está inserida.
Em sintonia com essas idéias, podemos conceber a educação continuada
como uma ferramenta de busca da qualificação da assistência em saúde, da
promoção e satisfação no serviço e como melhoria das condições de trabalho em
prol de um objetivo comum, através da identificação de problemas, insatisfações,
necessidades e ao planejamento e utilização de estratégias para saná-los. Conclui-
se então, que o fator mais influente na aprendizagem das competências em saúde,
consiste no estimulo ao conhecimento cnico-cientifico dos profissionais, acrescido
das práticas clínicas, suscitando no indivíduo-funcionário desejos de
formação/orientação promoção da motivação e ampliando suas potencialidades
nas atividades cotidianas.
Frente a esse cenário é possível refletirmos que se torna cada vez mais
necessário implementar projetos educacionais capazes de atualizar conhecimentos,
introduzir novas tecnologias e desenvolver habilidade para o trabalho
multiprofissional, enfatizando o trabalho em equipe e as ações de promoção,
vigilância e prevenção, contemplando o quadro atual em saúde: a formação inicial
de base dos recursos humanos, a relação custos X qualidade, condições
diversificadas de exercício profissional e diferentes vínculos de trabalho.
A saúde, enquanto campo de organização assistencial e tecnológica de
ações, tem suas atividades qualificadas e tomam o processo coletivo da saúde e da
doença como seu objeto de trabalho. Desse modo a Saúde tem se identificado como
o campo de ações que tem em perspectiva a promoção da saúde, através da
atuação nas dimenes individual e coletiva, nunca se desvinculando do caráter
educacional e de formação técnica.
Depreende-se, portanto, que a educação continuada para a saúde constitui-
se da reflexão e construção progressiva de conhecimentos, operacionalizada através
da prática assistencial sistematizada e do planejamento de ações qualificadas,
proporcionando aos profissionais um ambiente de valorização e motivação, de forma
54
que apresentem um bom desempenho através de suas competências, produtividade
e satisfação no trabalho.
Cabe pontuar que as reflexões relacionadas à educação e à aprendizagem
são uma constante na organização do trabalho em saúde, caracterizando-se por
estratégias contínuas e dinâmicas de formação/ação, nas quais a presença do outro
e as interações profissionais têm seus horizontes expandidos. É necessário superar
a visão individualista, partindo em direção a dimensões coletivas, institucionais e
estruturais de intervenção que, sem o entendimento dessas relações, permanecem
em caráter estático e imutável.
Visualizando, dessa maneira, o processo de aprendizagem e suas
interações, é possível estabelecer rearranjos por intermédio das relações plurais, em
nossos espaços de educação formal e informal no ambiente de trabalho, por meio
da formação continuada em serviço.
Em resumo, entendo que a formação continuada atende às necessidades de
implementação de novas práticas e ações de saúde, com vistas à reorientação das
políticas sanitárias e à necessidade de atualização dos profissionais. Através dessa
concepção, as instituições realimentam o profissional através do saber/fazer, e
abrem mais espaços para a participação e possibilidades de reflexão na busca de
alternativas e estratégias, objetivando a busca da satisfação e qualificando as
práticas em saúde.
Outrossim, o desenvolvimento desse estudo justifica a preocupação em
garantir um ambiente de trabalho que traga satisfação ao funcionário da instituição
de saúde em foco e, conseqüentemente, estimule e subsidie a melhoria do
profissional como cuidador na promoção da prática integral em saúde frente à
complexidade do cuidado coletivamente produzido.
A Educação continuada, nesse enfoque, propicia uma refleo dos
aspectos teóricos, práticos e poticos sobre a formação e prática profissional nas
questões da Sde e das relações de trabalho, estimulando a criação de uma
rede de conhecimentos e experiências para o fortalecimento da assistência em
saúde.
Como ilustração, cito Rogers (1971, p. 5) o qual elucida que a aprendizagem
torna-se significativa através do envolvimento pessoal no processo educacional,
mediada pelas experiências:
55
A aprendizagem significativa tem a qualidade de um envolvimento pessoal –
a pessoa como um todo inclui-se no fato da aprendizagem. Ela é auto-
iniciada mesmo quando o primeiro impulso ou o estimulo vem de fora, o
senso da descoberta, do alcançar, do captar e do compreender vem de
dentro. É penetrante – suscita modificação no comportamento, nas atitudes,
talvez mesmo na personalidade do educando. É avaliada pelo educando.
[...] Quando se verifica a aprendizagem, o elemento de significação
desenvolve-se para o educando, dentro da sua experiência como um todo.
56
3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
3.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
O estudo realizado é de natureza quanti-qualitativa. Quantitativa, a partir da
aplicação de questionário fechado, composto de questões que procuram desvelar a
categorização afetiva no ambiente de trabalho na saúde. E qualitativa, a partir da
análise das respostas oriundas dos dados coletados e suas correlações no campo
pesquisado.
A pesquisa quantitativa prevê a mensuração através de variáveis pré-
estabelecidas, procurando verificar e explicar sua influência sobre outras variáveis,
mediante análise da freqüência e incidências e correlações estatísticas.
Para Minayo (1998), a pesquisa qualitativa responde a questões muito
particulares preocupando-se, nas ciências sociais, com o nível de realidade que não
pode ser quantificado. Dessa forma, esse tipo de pesquisa “trabalha com o universo
de significados, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um
espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 1998, p. 22).
A abordagem qualitativa em pesquisa opõe-se, em geral, ao pressuposto
que defende um padrão único de pesquisa para todas as ciências, baseado no
modelo de estudo das ciências da natureza. Dessa forma, a pesquisa qualitativa
auxilia na descoberta de fenômenos indiretos, tais como, observação participante,
entrevista o-diretiva, relatos de vida, reunindo dados que constituem um conjunto
de informações necessárias à formação do corpus qualitativo da pesquisa.
Existe uma tendência a colocarem-se rótulos, de modo a salientar a
distinção entre a pesquisa quantitativa e qualitativa. Pode-se utilizar o paradigma do
positivismo como exemplo, associado com maior freqüência aos métodos
quantitativos. No entanto, muitas pesquisas desenvolvidas nessa tradição, tamm
coletam e analisam dados qualitativos.
A pesquisa quantitativa, entendida por alguns pesquisadores como ciência
“hard”, tende a enfatizar o raciocínio dedutivo, as regras da lógica e os atributos
mensuráveis da experiência. A pesquisa qualitativa, por outro lado, é conhecida
57
como ciência “soft”. Seus pesquisadores tendem a salientar os aspectos dinâmicos,
holísticos e individuais da experiência humana, buscando apreender esses aspectos
em sua totalidade, no contexto vivenciado.
De acordo com Mazzotti (1998), “parte-se do princípio de que não
metodologias boas ou más em si, e sim metodologias adequadas ou inadequadas
para tratar um determinado problema”.
Tanto o método quantitativo quanto o qualitativo apresentam pontos fracos e
fortes. Os elementos fortes de um complementam os fracos do outro, sendo ambos
fundamentais para o desenvolvimento das ciências humanas.
Para esse estudo, em especifico, foi utilizado o método de pesquisa
exploratória como propósito subjacente. Polit et al. (1995, p. 14) descreve a pesquisa
investigatória como aquela que se inicia por algum fenômeno de interesse; mas, ao
invés de, simplesmente, observar e registrar a incidência do fenômeno, a pesquisa
exploratória busca explorar as dimensões desse fenômeno, a maneira pela qual ele
se manifesta e os outros fatores com os quais ele se relaciona.
Estudos exploratórios são, de maneira especial, apropriados, quando é
investigado uma nova área ou assunto, como é o caso dessa pesquisa. Possibilita a
abertura de inúmeros caminhos de pesquisa e ação, e pode ser muito benéfico para
administradores.
3.2 CAMPO DE INVESTIGAÇÃO E SUJEITOS
Os sujeitos são profissionais da área da saúde de um serviço de saúde da
rede pública municipal de Porto Alegre, os quais foram solicitados a participar da
pesquisa e formalizaram sua adesão por meio do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE B), conforme orientação do Conselho Nacional de Saúde
(BRASIL, 1996).
A pesquisa foi realizada no Centro de Saúde Modelo unidade de saúde
vinculada à esfera administrativa da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre.
Possuidora de vasta historicidade na área da saúde pública nacional, essa
instituição reúne elementos que traduzem as diversas concepções sanitaristas ao
longo dos tempos.
58
Em outubro de 1938 a Diretoria de Obras da Secretaria das Obras Públicas,
orientada pela Diretoria Geral do Departamento Estadual de Saúde, organizou um
anteprojeto para a construção de um Centro de Saúde Modelo a ser construído em
Porto Alegre. Esse edifício seria construído na rua Venâncio Aires, local do antigo
Desinfetório (o Desinfetório Central compreendia as atividades necessárias ao
atendimento de casos das moléstias transmissíveis, executava desinfecções e
desinfestações, tanto em locais públicos com focos de doenças quanto domiciliares,
realizavam remoção de doentes para instituição hospitalar em caso de isolamento,
incumbia-se do transporte dos óbitos em decorrência dessas moléstias, entre outras
atividades).
A Prefeitura Municipal de Porto Alegre, porém, almejava à construção do
Hospital de Pronto Socorro, tendo escolhido para a sua edificação um terreno
vizinho ao de propriedade do Estado, onde estava prevista a construção do Centro
de Saúde Modelo. O nome “Modelo” representava um marco, no Estado, quanto à
proposta de atendimento global à população.
Com o propósito de incrementar a construção do Hospital de Pronto Socorro,
beneficiando também a implementação do Centro de Saúde, a Prefeitura Municipal
propôs, com aceitação pelo Governo do Estado, uma permuta entre o terreno da rua
Venâncio Aires, pelo prédio destinado ao Centro de Saúde, a ser construído em uma
nova avenida, sob a administração dos cofres municipais.
A Prefeitura de Porto Alegre encampou as providências necessárias,
determinando o aterro de uma grande área existente entre a Avenida João Pessoa e
a rua Santana, iniciando os trabalhos de construção na Avenida Jerônimo de
Ornelas.
Nesse ínterim, a 4ª Seção da Diretoria Geral de Obras e Viação (atual
SMOV) organizava o projeto definitivo do edifício, baseado no anteprojeto do
engenheiro Rui Bacelar.
A pedra fundamental foi lançada em 24 de dezembro de 1940, com um ano
de prazo para o término da edificação. No dia 29 de dezembro de 1941, o novo
Centro de Saúde Modelo foi entregue à comunidade porto-alegrense, com uma área
total de 1560 m².
59
Figura 3 - Documento de inauguração do Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
60
Segundo noticiado nos jornais de época foi considerado como um dos
maiores Centros de Saúde da América Latina. Na ocasião de sua inauguração os
profissionais responsáveis pela sua administração em nível local eram: Diretor do
Centro de Saúde Modelo, Dr. Fernando Schneider e Enfermeira Chefe, Izaura
Barbosa Lima.
A enfermeira chefe do Departamento Nacional de Saúde, D.a Izaura Barbosa Lima, acompanhada da 1ª. turma de educadoras
sanitárias do Departamento Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul. Em 1941, o número de educadoras sanitárias atingiu a 154.
Figura 4 - 1ª Turma de educadoras sanitaristas do RS
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
A concepção de sua estrutura física contemplava a movimentação dos
pacientes com segurança, bem como a ventilação natural controlada através das
aberturas do prédio.
Figura 5 - Plantas originais pavimentos térreo e superior
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
62
Figura 6 - Plantas originais pavimentos térreo e superior
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
63
O projeto arquitetônico da construção apresentava-se, intencionalmente,
destacado, em função da existência de áreas com risco de transmissibilidade à
esquerda, unidade de controle de doenças transmissíveis e à direita, unidade
materno-infantil. O acesso aos espaços apresentava como objetivo a separação, em
função desse risco, e alguns dos serviços oferecidos caracterizavam-se como:
HIGIENE DA ALIMENTAÇÃO: O foco desse serviço consistia no ensino
da higienização dos alimentos, fiscalização dos gêneros alimentícios,
incentivo à produção de hortaliças, verduras e frutas e distribuição de
produtos alimentícios.
HIGIENE DO TRABALHO: Tinha como objetivo examinar periodicamente
os trabalhadores e inspecionar os locais de trabalho.
HIGIENE DA CRIANÇA (INFANTE, PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR): No
caso dos Infantes (até os 2 anos), o Centro de Saúde realizava os
exames das crianças registradas, promovia a orientação das es
quanto aos cuidados com os bebês e fornecia alimentação adequada,
distribuída pela cozinha dietética onde ensinavam às mães a preparação
dos alimentos. Em relação aos Pré-escolares (2 a 6 anos) o Centro de
Saúde efetuava a medicina preventiva através de consultas periódicas,
vacinas, encaminhamentos a especialistas (otorrinolaringologista, serviço
de sífilis, etc.). Aos Escolares, além dos cuidados referentes à saúde,
realizava a inspeção das escolas, promovia o exame periódico dos
funcionários buscando a prevenção das doenças infecto-contagiosas,
além de escolher os alunos que iriam às colônias de férias.
HIGIENE PRÉ-NATAL: Cuidava não só das gestantes através de exames
periódicos como realizava os exames pré-nupciais dos noivos.
HIGIENE DENTÁRIA: Atendia toda a população inscrita no Centro de
Saúde.
POLÍCIA SANITÁRIA E SANEAMENTO: Fiscalizava e inspecionava as
casas e obras tanto particulares quanto públicas, de modo que as
mesmas se adequassem às normas de higiene estabelecidas (esgoto,
solo impermeabilizado, iluminação, etc.).
ENDEMIAS RURAIS: Executava atividades de hidráulica sanitária,
promovia o uso de calçados e latrinas, informava à população sobre os
meios de evitar o Tracoma, verminoses, Malária, doença de Chagas, etc.
64
DISPENSÁRIO DE LEPRA: Buscavam novos casos, enviavam aos
“leprosários” os acometidos pela doença, enviava as crianças para os
“preventórios”, visando o isolamento dos focos da doença.
DISPENSÁRIO DE TUBERCULOSE: Cuidava dos pacientes acometidos
pela doença, bem como investigava novos casos através de
equipamento especializado (raios-X, abreugrafia, planígrafo). Quando da
criação do Centro de Saúde Modelo, a tuberculose assolava o município
de Porto Alegre e era conhecida como “peste branca”. O lema era: “cura,
isola, preserva”.
DISPENSÁRIO DE DOENÇAS VENÉREAS: Fazia a descoberta dos
doentes e das fontes de contágio, realizava os exames diagnósticos e
fornecia o tratamento de ataque e profilático às doenças.
SERVIÇO DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS AGUDAS: Através de
propagandas de educação sanitária junto a outros setores do Centro de
Saúde e de ações (notificação compulsória, isolamento dos contagiantes,
etc.), procurava criar na cidade um ambiente desfavorável à entrada ou
disseminação das doenças epidêmicas.
EDUCAÇÃO E PROPAGANDA SANITÁRIA: Em todos os serviços do
Centro eram praticadas a todo o momento, através de palestras,
conferências, filmes educativos, distribuição de folhetos, etc.
ENFERMEIRAS DE SAÚDE PÚBLICA: Chamadas de Educadoras
Sanitárias, além dos serviços prestados no Centro de Saúde, tais como
vacinas, orientações às gestantes, às mães e às crianças, deslocavam-
se aos domicílios para verificar as condições de vida da população.
Como disse o Dr. Leônidas Soares Machado, em material escrito quando
da inauguração do Centro de Saúde Modelo: “São anjos de asas
ocultas... o seu uniforme simples e austero indica preparo técnico,
autoridade, inteligência, abnegação, bondade, lealdade, nobreza”.
SERVIÇO DE CARDIOLOGIA: Submetia os escolares a exames, visando
à descoberta de cardiopatias.
65
Figura 7 - Centro de Saúde Modelo (década de 50)
O ápice dos problemas referentes à saúde pública no Brasil se dará nas
décadas de 80 e 90 com o retorno das epidemias evitáveis, como os surtos de
cólera e dengue. Deficiências no nível terciário de atenção (rede hospitalar),
descontinuidade de programas federais com o enfraquecimento da ditadura que, ao
longo de seu período no poder no Brasil, retirava subsídios de setores importantes
como o da saúde em detrimento da militarização do Estado, entre outros fatores,
contribuem para que a população (jovens, adultos, intelectuais, centrais sindicais e
mais tarde alguns constituintes) passe a reivindicar ações voltadas à assistência à
saúde pública (saneamento básico, postos de saúde, etc.).
Em 1988 é criado o Sistema Único de Saúde (SUS), através da Assembléia
Constituinte, instaurando um divisor de conceitos relativos à saúde pública. O Centro
de Saúde Modelo estava sob a intervenção da esfera administrativa do Estado do
RS até sua municipalização, ocorrida na década de 90, quando o município de Porto
Alegre passou a responder pela administração de diversos serviços de saúde. Ao
longo do século XX, várias transformações ocorreram no Centro de Saúde, muitas
em virtude das mudanças nos padrões comportamentais/culturais da população
porto-alegrense.
66
Atualmente, o Centro de Saúde Modelo destina-se ao atendimento para uma
população de 126 mil habitantes (praticamente a metade da população de Porto
Alegre quando de sua inauguração) compreendendo uma cobertura de 17 bairros.
Possui uma média mensal de 13 mil atendimentos e 400 atendimentos diários.
O Centro de Saúde Modelo é referência estadual para Homeopatia e
Acupuntura e, no âmbito municipal:
Para a Tisiologia (Tuberculose), realizando coletas de Baar (escarro) e
teste de Mantoux;
Para a Saúde Mental, com profissionais em Psiquiatria, Psicologia e
Neurologia;
Para a Cardiologia;
Para a distribuição de medicamentos, com medicações básicas e
controladas (Farmácia Distrital), além de Farmácia Homeopática, pioneira
nessa categoria, pelo SUS;
Na Odontologia.
Além desses serviços, o Centro de Saúde Modelo disponibiliza:
Ginecologia e Obstetrícia (pré-natal; revisão de puerpério, prevenção do
câncer de útero e mama e planejamento familiar);
Pediatria e puericultura (Pré-nenê; teste do pezinho e hebiatria);
Medicina interna e especialidades médicas;
Odontologia (com serviço de Odontologia Escolar, Odontopediatria e
Cirurgia Bucomaxilofacial);
Vacinas, conforme calendário vacinal brasileiro;
Visitas domiciliares;
Equipe de Saúde da Família (ESF), implantado em Set/2004, abrangendo
09 áreas de vulnerabilidade, disponibilizando atendimento a 5200
famílias, em média.
Grupos terapêuticos multiprofissionais, dentre os quais: Grupo de
Desenvolvimento, de Mulheres, de Homens, Planejamento Familiar, de
Neurologia, Idosos, Mães e Bebês, Tabagismo, Hipertensão, Auto-
Estima.
Esse entendimento acerca da historicidade do Centro de Saúde Modelo,
bem como das fases que envolvem a saúde pública de Porto Alegre, agrega valores
e vínculos de afeto e pertencimento às pessoas - que participaram e participam -,
67
dessa rede de assistência à saúde. Passaram-se séculos, dos cirurgiões barbeiros,
boticários, irmãs caridosas, dos ungüentos, rezas e preces para a equipe
multiprofissional que hoje compõe, além do Centro de Saúde Modelo, também os
demais serviços de assistência à saúde.
Figura 8 - Centro de Saúde Modelo (década de 90)
Atualmente, esse serviço contabiliza 114 servidores, distribuídos entre as
três esferas de governo (admitidos por meio de concurso público) e funcionários
terceirizados. A constituição da amostra dessa pesquisa contabilizou 70 sujeitos,
aleatoriamente, representando 70% da população total da instituição. No caso
particular dessa pesquisa, a distinção é necessária, por se tratar de uma instituição
possuidora dos dois tipos de regime enunciados (estatutários e celetistas).
68
Figura 9 - Centro de Saúde Modelo - 2008 - Funcionários
69
3.3 PROCEDIMENTO DE ELABORÃO DO INSTRUMENTO - DESENVOLVIMEN-
TO E VALIDAÇÃO DE UM QUESTIONÁRIO
Esse apartado relata a elaboração e validação do instrumento de Percepção
da Afetividade nas Relações de Trabalho na Área da Saúde*. Esse instrumento
procura identificar indicadores objetivos de ações organizacionais envolvendo
coeficientes de caráter afetivo, organizacional e relacionamento interpessoal, os
quais, sob a forma de um questionário, foram submetidos a procedimentos de
validação teórica, semântica e empírica.
Na literatura são encontradas várias escalas para medir suporte
organizacional, valores relativos ao trabalho e satisfação no trabalho*, porém
não são apresentados relatos da existência de escalas direcionadas à área da
saúde, que possibilitem a verificação do tema proposto por essa pesquisa.
A literatura de base administrativa indica que existem correspondências
positivas entre percepções de suporte organizacional e medidas de desempenho no
trabalho, comportamento na organização, criatividade e inovação, permitindo que os
coeficientes dessa natureza atuem como variáveis diagnósticas do status
institucional.
Apesar da importância de tais medidas, as escalas citadas ainda são pouco
difundidas no Brasil. Outras áreas de pesquisa além da administrativa - também
carecem de medidas organizacionais, tendo em vista a preocupação em estudar o
impacto exercido por variáveis de nível organizacional sobre o desempenho no
trabalho. A área da saúde, em particular, não apresenta evidência, de acordo com a
literatura pesquisada, de instrumentos destinados à medida sistemática de variáveis
como as descritas nesse estudo.
Tais conceitos seriam mais bem identificados, caso houvesse um
instrumento específico de avaliação organizacional que possibilitasse a
padronização da coleta de dados acerca do referido construto, permitindo exame
mais minucioso inter-relações entre as variáveis.
Visando à construção de instrumento de medida adaptado às necessidades
da pesquisa nacional, na área da saúde, desenvolveu-se o questionário Percepção
da Afetividade nas Relações de Trabalho na Área da Saúde com base em
70
pesquisa de campo e numa revisão da literatura sobre o tema, buscando o já
existente em revisões de cunho administrativo e organizacional.
Os instrumentos de aferição do suporte organizacional apóiam-se em
autores renomados na área organizacional, entre eles, Eisenberger (1986) e
Siqueira (1995). O instrumento Survey of Perceived Organizational Support (SPOS),
desenvolvido por Eisenberger, integra conceitos como reciprocidade, ideologia da
troca e modelo motivacional de esforço-resultado, sendo constituído por 36 itens
em sua forma completa e 17 itens, em sua forma reduzida.
Os itens estão associados a uma escala de concordância com 7 pontos,
onde 1= Discordo Totalmente e 7=Concordo Totalmente. Metade dos itens tem
conteúdo desfavorável e a outra metade conteúdo favorável. O instrumento brasileiro
desenvolvido por Siqueira constitui forma reduzida do SPOS e contém apenas itens
de conteúdo favorável. A construção do SPOS e a forma reduzida de Siqueira
passam pelo pressuposto de que o trabalhador costuma desenvolver crenças a
respeito do tipo de tratamento recebido pela organização na qual trabalha.
De acordo com essa proposição, o trabalhador somente seria capaz de
desenvolver percepções favoráveis referentes ao suporte organizacional, quando as
ações institucionais lhe parecessem sinceras, bem intencionadas e não
manipulativas. Uma percepção favorável da organização, segundo essa perspectiva,
atua como fortalecedor ante a expectativa esforço-resultado e o envolvimento afetivo
do empregado com a instituição, resultando em maior esforço do empregado para
atingir os objetivos organizacionais.
Entre as escalas atualmente disponibilizadas para pesquisas referentes à
satisfação no trabalho, podem-se citar Escala de Satisfação no Trabalho (EST),
desenvolvida por Siqueira (1995); Escala de Comprometimento Organizacional
Afetivo (ECOA), desenvolvida por Siqueira (1995); Escala de Comprometimento
Organizacional Normativo, desenvolvida por Siqueira (2000); Escala de Percepção
de Suporte Organizacional, originalmente elaborada por Eisenberger (1986),
adaptada e validada para o Brasil por Siqueira (1995); Escala de Percepção de
Reciprocidade, construída e validada por Siqueira (1995).
Entre os primeiros e mais utilizados instrumentos desenvolvidos para avaliar
os valores relativos ao trabalho, encontra-se o inventário de Super (1957). A teoria
em que se apóia o inventário sinaliza 3 coeficientes para avaliação: Coeficiente
Intrínseco (altruísmo, criatividade, independência, estimulação intelectual, estética,
71
realização e gerenciamento); Coeficiente Extrínseco recompensa (modo de vida,
segurança, prestígio e retorno econômico) e concomitante (ambiente de trabalho,
colegas de trabalho, relacionamento com a chefia e variedade).
Outra forma de aferição bastante utilizada é o Questionário de Importância
de Minesota (Minnesota Importance Questionnaire MIQ, 1992). Esse instrumento
possui 20 assertivas que descrevem condições de trabalho, de maneira a torná-lo
satisfatório (Realização, Conforto, Status, Altruísmo, Segurança e Autonomia).
O Questionário de Valores do Trabalho (Work Values Questionnaire – WWQ,
1984) é composto por 24 itens que concebem os múltiplos aspectos dos valores
relativos ao trabalho com as principais abordagens sobre motivação, por exemplo,
Maslow (1954), Herzberg, Snyderman, Mausner (1962), McClelland e Winter (1971)
e Alderfer (1969). Esses itens são avaliados por meio de uma escala cuja variação é
de “muito importante” a “muito sem importância”.
Apesar do elevado número de instrumentos desenvolvidos no exterior,
apenas dois foram encontrados no Brasil, relacionados aos valores no trabalho. O
primeiro é uma tradução da escala de Lawrence (1971 apud AGATTI, 1984)
realizada por Lomonaco e Angelini (1970 apud AGATTI, 1984) em 1970. Esta escala
é decorrente da escala de Super e é composta por 105 pares de axiomas que
resultaram das comparações entre 15 valores profissionais: altruísmo, estética,
independência, liderança, sucesso e realização, satisfação própria, estimulação
intelectual, criatividade, segurança, prestígio, dinheiro, ambiente, colegas, variedade
e profissão paterna. Essa escala, contudo, não sofreu processo de validação para a
realidade brasileira.
O segundo instrumento foi elaborado por Borges (1998-1999). Ela desenvolveu
o Invenrio do Significado do Trabalho sinalizando a distinção entre duas classes de
atributos: valorativos e descritivos. Os atributos valorativos o os valores relativos ao
trabalho e versam sobre uma definição do objetivo” do trabalho. São identificados 5
fatores nessa escala: Exigências sociais; Justiça no trabalho; Esforço corporal e
desumanizão; Realizão pessoal e Sobrevivência pessoal e familiar.
Diante do exposto, observou-se a necessidade de desenvolver e validar uma
escala que contemplasse a instituição de saúde sob a ótica do profissional que nela
desenvolve sua atividade, possibilitando a incorporação de conceitos advindos e
preconizados por autores citados anteriormente, no universo da área organizacional,
e adaptada à realidade nacional.
72
Para a construção do instrumento em foco, foram aplicados questionários
com questões no mesmo sentido e escala de resposta com 5 pontos, nomeando
apenas os extremos. Procedeu-se, também, a levantamentos de instrumentos
encontrados na literatura. Esse questionário foi, então, submetido à avaliação
semântica para verificar a clareza das instruções e a compreensão dos itens.
Participaram dessa fase 15 pessoas, sendo que foram realizadas alterações nas
instruções do questionário e em algumas questões. Dessa forma, o questionário final
permaneceu com 30 itens que deveriam ser avaliados por meio de uma escala de
importância que variava de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente)
(APÊNDICE C).
O alvo das ações focalizadas nas questões desse instrumento é o
trabalhador, de modo geral. Essa formulação de itens visa a evitar que o instrumento
passe a ser medida da história pessoal do funcionário em relação às práticas
institucionais. O objetivo é obter uma forma de aferição das percepções do
trabalhador a respeito do sentimento afetivo, relacionamento interpessoal e
comportamento organizacional, sob a ótica de seu corpo funcional.
A seguir, descreve-se a metodologia empregada na construção e validação
deste questionário.
O questionário Percepção da Afetividade nas Relações de Trabalho na
Área da Saúde foi desenvolvido e validado de acordo com as seguintes etapas: (1)
escolha da técnica de coleta de dados; (2) levantamento e sistematização dos
indicadores de suporte organizacional; (3) validação teórica do conteúdo; (4)
validação semântica; e (5) validação empírica do conteúdo do questionário.
Na primeira etapa, escolha da técnica de coleta de dados, a testagem
ocorreu em amostra de 15 trabalhadores lotados em organizações diversas da área
da saúde pertencentes ao Serviço Público Municipal.
Os dados assim coletados foram submetidos a uma análise qualitativa,
selecionando-se o procedimento mais eficaz, conforme os seguintes critérios: (1)
entendimento e diversidade das respostas obtidas; (2) compatibilidade conceitual
das dimensões subjacentes ao construto percepção da afetividade nas relações
de trabalho na área da saúde; (3) compatibilidade dos itens com as medidas das
características organizacionais utilizadas em pesquisas brasileiras sobre o tema em
foco.
73
A etapa 2, levantamento e sistematização dos indicadores de percepção
afetiva, compreendeu a identificação das dimensões ou categorias subjacentes a
essas afirmativas. Na terceira etapa, os itens classificados de acordo com as
categorias evidenciadas e adaptados à realidade em foco, foram comparados às
categorias dos instrumentos de medida correspondentes à literatura, enunciados
anteriormente.
A partir dessas análises, foi possível identificar e selecionar os itens
componentes da versão do questionário utilizada nessa pesquisa, intitulado
Percepção da Afetividade nas Relações de Trabalho na Área da Saúde que foi
submetida, na quarta etapa, a procedimentos de validação semântica. Na quinta
etapa, o questionário com 30 itens, associados a uma escala Likert de concordância,
foi aplicado em amostra de 70 trabalhadores de uma organização pública de saúde
em Porto Alegre (RS).
As respostas dessa amostra foram submetidas a análises descritivas e
fatoriais com rotação Varimax e cálculos de confiabilidade. Os resultados desse
trabalho estão descritos no capítulo a seguir.
3.4 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DOS DADOS
Para o desenvolvimento dessa pesquisa foi utilizado o questionário como
instrumento. A elaboração de questionários que reflitam a realidade local é essencial
para uma boa medida do fenômeno.
Para Chizzotti (2003), o questionário consiste em um conjunto de questões
pré-elaboradas, sistemáticas e seqüencialmente dispostas em itens que constituem
o tema da pesquisa, com o objetivo de buscar, junto aos respondentes, respostas
escritas ou verbais relativas a assuntos sobre os quais eles saibam opinar ou
informar, segundo uma “interlocução planejada”. O mesmo autor cita Facchin (2003),
referente às vantagens e desvantagens da utilização deste instrumento.
Quanto às vantagens do questionário, afirma que é um instrumento
relativamente acessível, pois pode ser encaminhado pelo correio resultando em
gastos menores para os pesquisadores. Também como vantagem pode ser citada a
garantia do anonimato, pois o pesquisado pode responder sem a presença do
74
pesquisador e possui um tempo maior para elaborar as respostas, de forma a não
criar distorções nas respostas, garantindo a qualidade dos dados.
Quanto às desvantagens, considera que um questionário mal redigido pode
comprometer a qualidade das respostas. Outra desvantagem diz respeito ao envio e
retorno dos questionários, que podem sofrer extravios. Existe ainda a possibilidade
de uma questão contaminar as demais repostas, pelo fato de o pesquisado possuir o
questionário e poder ler todas as questões, antes de respondê-las.
Sendo assim, os dados dessa pesquisa foram coletados em campo,
valendo-se do método face a face. Contratou-se uma aluna bolsista para essa etapa,
no sentido de preservarem-se os participantes de reações decorrentes do
preenchimento do instrumento, e de modo a evitar-se a tendenciosidade no conjunto
de respostas, que a pesquisadora é servidora da instituição. Os questionários
foram distribuídos aos participantes, após breve explicação e esclarecimento sobre
os objetivos da pesquisa, para serem devolvidos a posteriori. Embora a taxa de
retorno seja menor, nesses casos, optou-se por essa metodologia devido ao número
de questões e também de forma a permitir que os sujeitos tivessem liberdade para
participar ou não do estudo.
O presente instrumento foi composto de 2 partes.
A primeira parte do instrumento foi composta de questões fechadas, nas
quais foram coletados dados sobre algumas características gerais de identificação
sóciodemográfica (Idade, Sexo, Tempo de serviço e Escolaridade) dos
respondentes. A segunda parte do questionário trouxe as 30 questões do
instrumento.
Os dez primeiros indicadores do instrumento são indicadores de sentimento
afetivo, os dez seguintes o indicadores de percepção da estrutura
organizacional, e os dez últimos indicadores são de relacionamento interpessoal.
3.5 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS
Para estabelecer as dimensões da percepção afetiva dos indivíduos,
aplicamos um instrumento (questionário), composto de 30 itens, sendo que cada 10
itens do questionário correspondem a uma dimensão do comprometimento
75
organizacional envolvendo as relações de trabalho: Sentimento Afetivo, Percepção
da Estrutura Organizacional e Relacionamento Interpessoal.
O questionário utilizado foi do tipo Likert com respostas na escala de 1 a 5,
variando de Discordo Totalmente a Concordo Totalmente. A escala Likert, que leva o
nome do psicólogo Rensis Likert, consiste em vários enunciados declarativos – itens
que expressam um ponto de vista sobre um tópico. Solicita-se aos respondentes
que indiquem em que grau concordam com a opinião expressa pelo enunciado, ou
dela discordam.
Após a administração dessa escala, as respostas são submetidas a um
escore. O usual é graduar-se de tal forma que a concordância com os enunciados
positivos e a discordância dos enunciados negativos recebam um escore superior.
Adiciona-se a essa escala a possibilidade de identificarem-se ótimas discriminações
entre pessoas com pontos de vista diferentes.
Esses indicadores foram respondidos por todos os participantes da
pesquisa, sem distinção de cargo ou formação. As respostas foram tratadas com a
técnica de análise fatorial, utilizando-se o método de componentes principais e
rotação Varimax para a determinação dos fatores ou dimensões da percepção
afetiva.
A análise fatorial desenlaça inter-relações complexas entre as variáveis,
identificando aquelas que ficam atreladas, como conceitos ou fatores unificados.
Caracteriza-se por ser um procedimento estatístico para agrupamento de variáveis
em subconjuntos, de modo que variáveis dentro de cada subconjunto sejam
altamente correlacionadas entre si; e variáveis em diferentes subconjuntos sejam
relativamente não-correlacionadas.
É necessário que exista certa correlação entre elas, para que essa
ferramenta possa ser utilizada. A Análise Fatorial desempenha uma função de
análise exploratória ou pode ser utilizada com objetivos confirmatórios. De acordo
com Hair et al. (2005) quando o pesquisador tem preconcebidas idéias sobre a real
estrutura de dados, baseado em suporte teórico, ou em pesquisas anteriores e
deseja testar determinada hipótese, essa ferramenta pode ser utilizada com
objetivos confirmatórios. Por outro lado, quando a pesquisa tem como objetivo tratar
a relação entre as variáveis sem determinar em que medida os resultados se
ajustam a um modelo será de caráter exploratório.
76
Existem dois tipos de análise fatorial, que devem ser adequadas aos
objetivos de cada estudo em que forem aplicadas (HAIR et al., 2005). São elas: 1)
Análise Fatorial Exploratória - realizada quando pouco se sabe sobre as relações
subjacentes entre os conjuntos de dados; e 2) Análise Fatorial Confirmatória –
procedimento desenvolvido para se testar hipóteses a respeito da estrutura de um
conjunto de dados.
A maior parte das análises fatoriais consiste de duas fases. A primeira,
correspondente à extração de fatores, ou seja, à condensação de variáveis originais
em uma pequena quantidade de fatores inter-relacionados. A segunda etapa
corresponde à rotação de fatores, manipulados de tal modo que possam ser
interpretados pelo pesquisador.
O resultado decorrente dessa segunda etapa é a composição de uma
matriz de fatores, que ilustra de que forma as variáveis encontram-se relacionadas
ao fator.
Com as respostas dos três indicadores aplicamos essa técnica de análise. A
matriz de cargas fatoriais indica o “peso” de cada variável em cada um dos fatores.
Os fatores são combinações de variáveis observadas com um significado
subjacente.
A rotação Varimax tem por objetivo identificar que, se cargas em uma coluna
forem semelhantes, a variância é próxima a zero. Procura, igualmente, obter cargas
maiores ou menores, para facilitar a interpretação.
Foram excluídos desses fatores os itens cujas cargas fatoriais não
atingiram valores iguais ou inferiores a 0,50 a exemplo dos pesquisadores
citados anteriormente, cuja exclusão de fatores nos instrumentos era, em média,
cargas fatoriais inferiores a 0,30. Em relação aos tratamentos estatísticos, foi
possível gerar tabelas simples e cruzadas, propiciando a categorização de variáveis
numéricas e realizando teste de correlação.
Com o resultado da análise fatorial foi estabelecido um escore fatorial para
cada questão, nas dimensões principais extraídas pela análise.
77
4 DISCUSSÃO DOS DADOS
Nas análises efetuadas nessa pesquisa não foram utilizados todos os
resultados obtidos com a aplicação do questionário, considerando-se possível, para
efeito do que foi proposto, em termos de objetivos, responder às questões previstas.
Optou-se pelos dados que se mostraram mais pertinentes e significativos ao modelo
aplicado. Pretende-se explorar os demais dados em futuras publicações.
Apesar da importância que o tema tem recebido na literatura, o
desenvolvimento de escalas para mensurar os valores relativos à afetividade no
trabalho é crítico, devido à falta de modelos teóricos sólidos que o subsidiassem no
presente e também à inexistência de instrumentos direcionados à área da saúde,
que estivesse disponibilizado para tal fim.
A seguir serão apresentados os resultados, análises e discussões a partir
dos dados coletados e tabulados após a aplicação dos questionários sobre a
percepção da afetividade nas relações de trabalho, em uma instituição pública de
saúde do Município de Porto Alegre.
No caso dessa pesquisa, as análises foram realizadas com base no
cruzamento entre os atributos sobre o sentimento afetivo, percepção da estrutura
organizacional e relações interpessoais, no ambiente de trabalho em foco,
procurando extrair a percepção da afetividade (ou não) entre os trabalhadores da
área da saúde.
Inicialmente, verificou-se a distribuição dos dados pessoais dos indivíduos
que compõem a amostra estudada. Os dados, tais como, idade, gênero, tempo de
serviço e escolaridade, estão demonstrados em gráficos.
4.1 CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA
As seguintes características para amostra foram obtidas a partir da análise
dos questionários da seção inicial. Dos 70 funcionários entrevistados na pesquisa,
podemos descrever as características a seguir.
78
Masculino;
35,7%
Feminino;
64,3%
Gráfico 1 - Distribuição da população estudada, segundo o gênero
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
Na amostra, 35,7% é constituída de pessoas do sexo masculino e 64,3% do
sexo feminino. O percentual de mulheres é maior em relação ao de homens, em parte
pelas características de organização e historicidade envolvendo a área da saúde. A
questão socioeconômica decorrente da mudança de padrões culturais em nível
mundial, proporcionou à mulher a integração ao mercado de trabalho em um setor
com características quase que eminentemente masculinas. Traços considerados
pertencentes ao gênero feminino, como intuão, sensibilidade, criatividade e emoção
sobressaem-se como elementos diferenciados ao desempenho sustentável das
organizações, na atualidade (BERRY, 2001, p. 25).
22
67
46,27
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Mínimo Máximo Média
Idade (em anos)
Gráfico 2 - Distribuição da população estudada, segundo a faixa etária
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
79
A idade varia de 22 a 67 anos de idade, com uma média de 46,27 anos. A
faixa etária dos servidores tem forte concentração entre 40 anos ou mais,
pertencendo a sua grande maioria a um padrão etário que absorve a parcela mais
produtiva do ciclo vital humano.
8,6%
4,3%
10,0%
34,3%5,7%
12,8%
24,3%
1o grau incompleto
1o grau completo
2o grau incompleto
2o grau completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduão
Gráfico 3 - Distribuição da população estudada, quanto à
formação profissional
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
Quanto à escolaridade, 8,6% têm o primeiro grau incompleto; 4,3% têm o
primeiro grau completo; 10,0% têm o segundo grau incompleto; 34,3% têm o
segundo grau completo; 5,7% têm o curso superior incompleto; 12,8% concluíram
o curso superior e 24,3% têm curso de pós-graduação. Nesse sentido, apresenta-se
um reforço sobre a realidade nacional referente à formação de profissionais oriundos
das escolas profissionalizantes de nível médio. Aqui cabe a ressalva de que, o
servidor público após seu ingresso no serviço, normalmente seguimento à sua
formação gradua-se, em casos de formação secundária, ou especializa-se, em
casos de formação superior porém, seu cargo e função permanecem os de origem
de seu ingresso.
A educação, na realidade trabalhada por essa pesquisa, aparece como um
investimento, de forma que procura garantir ao profissional o acompanhamento aos
avanços tecnológicos em sua área de atuação, e como reconhecimento de sua
qualificação no atendimento prestado. Em muitos casos, denota superação e
80
desafio, proporcionando ao profissional responder mais adequadamente às
mudanças e transformações que ocorrem constantemente na saúde. Nesse sentido,
o retorno esperado é a aptidão para um atendimento competente e profissional,
propiciando a aplicação de conhecimentos e tecnologias compatíveis com uma
assistência de qualidade.
24,3%
31,4%
7,2%
37,1%
Menos de 5 anos
6 a 10 anos
11 a 15 anos
Mais de 16 anos
Gráfico 4 - Distribuição da população estudada, quanto ao
tempo de serviço na empresa
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
Referente ao tempo de serviço na empresa, 24,3% possuem menos de 5
anos na empresa, 31,4% possuem de 6 a 10 anos, 7,2% possuem de 11 a 15 anos
e 37,1% possuem mais de 16 anos na empresa. Nota-se um pareamento de
informações quanto a esse item, entre os sujeitos pertencentes à faixa de 6 a 10
anos na empresa, e entre os compreendidos na faixa com mais de 16 anos na
organização. Conforme o disposto na Constituição Federal e nos estatutos dos
servidores públicos referentes à estabilidade e tempo de serviço necessário à
aposentadoria, esse dado torna-se relevante, uma vez que traz implícita a questão
do vinculo institucional e da experiência (satisfação no trabalho).
81
4.2 A IDENTIFICAÇÃO DOS TRÊS COMPONENTES DE PERCEPÇÃO DA
AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES DE TRABALHO – ÁREA DA SAÚDE
Os valores obtidos a partir da aplicação de escala Likert estão apresentados
no Quadro 4 a seguir. As freqüências de respostas foram mantidas conforme a
origem, com vistas a uma melhor compreensão dos resultados.
No quadro as questões apresentam-se conforme a ordem disposta no
instrumento utilizado, informando as três categorias avaliadas na aplicação.
Os dados foram organizados, categorizados, codificados e digitados em
planilha eletrônica, sob a forma de um banco de dados para análise estatística.
Para os escores obtidos, criaram-se matrizes partindo-se da premissa de
que, quanto mais um componente era escolhido, mais importante ele era para o
respondente.
82
Quadro 4 - Distribuição das freqüências de respostas absolutas e relativas, obtidas
através da aplicação do instrumento percepção da afetividade nas
relações de trabalho na área da saúde
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
83
Os Testes Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) e de Esfericidade de Bartlett, indicam
qual é o grau de suscetibilidade ou o ajuste dos dados à análise fatorial, isto é, qual
é o nível de confiança que se pode esperar dos dados quando do seu tratamento
pelo método multivariado de análise fatorial seja empregada com sucesso (HAIR et
al., 2005).
O primeiro deles (KMO) apresenta valores normalizados (entre 0 e 1,0) e
mostra qual é a proporção da variância que as variáveis (questões do instrumento
utilizado) apresentam em comum ou a proporção dessa que são devidas a fatores
comuns.
Quadro 5 - Teste KMO e de esfericidade de Bartlett
Teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) de adequação
simplificada
Teste de Esfericidade “Chi-quadrado”
De Bartlett Diferencial
Significância
0,895
2450,879
435
0,001
Fonte: Pereira (2001)
Para a interpretação do resultado obtido, valores próximos de 1,0 indicam
que o todo de análise fatorial é perfeitamente adequado para o tratamento dos
dados. Por outro lado, valores menores que 0,5, indicam a inadequação do todo
(PEREIRA, 2001).
No nosso caso, o valor obtido foi de 0,895, o que nos mostra boa adequação
de possibilidades de tratamento dos dados com o método citado.
Quadro 6 - Graus de ajuste à análise fatorial através do teste KMO
KMO Graus de ajuste à Análise fatorial
1-0,9 Muito Boa
0,8-0,9 Boa
0,7-0,8 Média
0,6-0,7 Razoável
0,5-0,6
<0,5 Inaceitável
Fonte: Pereira (2001)
84
O segundo teste, o de Esfericidade de Bartlett é baseado na distribuição
estatística de “chi quadrado” e testa a hipótese (nula H0) de que a matriz de
correlação é uma matriz identidade (cuja diagonal é 1,0 e todas as outras as outras
iguais a zero), isto é, que não há correlação entre as variáveis (PEREIRA, 2001).
Valores de significância maiores que 0,100, indicam que os dados não são
adequados para o tratamento com o método em questão; que a hipótese nula não
pode ser rejeitada. valores menores que o indicado permite rejeitar a hipótese
nula (HAIR et al., 2005).
Também, no nosso caso o valor da significância do teste de Bartlett,
mostrou-se menor que 0,0001, o que permite mais uma vez confirmar a
possibilidade e adequação do método de análise fatorial para o tratamento dos
dados.
Quadro 7 - Análise de variância do instrumento
Total Variance Explained
19,603 65,342 65,342 19,603 65,342 65,342 9,529 31,763 31,763
2,011 6,703 72,045 2,011 6,703 72,045 9,203 30,676 62,439
1,344 4,482 76,526 1,344 4,482 76,526 4,226 14,088 76,526
1,008 3,361 79,887
,867 2,890 82,777
,587 1,955 84,733
,555 1,848 86,581
,509 1,697 88,278
,482 1,607 89,885
,392 1,306 91,191
,362 1,206 92,397
,312 1,039 93,436
,280 ,934 94,370
,231 ,771 95,141
,227 ,758 95,899
,203 ,677 96,576
,194 ,646 97,222
,140 ,467 97,688
,113 ,376 98,064
,102 ,338 98,403
,091 ,305 98,708
,081 ,268 98,976
,078 ,261 99,237
,057 ,189 99,427
,045 ,150 99,577
,041 ,137 99,714
,032 ,107 99,821
,021 ,070 99,891
,020 ,067 99,958
,013 ,042 100,000
Component
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
Total % of Variance Cumulative % Total % of Variance Cumulative % Total % of Variance Cumulative %
Initial Eigenvalues Extraction Sums of Squared Loadings Rotation Sums of Squared Loadings
Extraction Method: Principal Component Analysis.
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
85
A análise fatorial produziu três fatores como resultado da extração. Apesar
da divisão inicialmente proposta à confecção e preenchimento do instrumento,
composta por 3 categorias sentimento afetivo, percepção da estrutura
organizacional e relacionamento interpessoal evidenciaram-se 3 matrizes
decorrentes da aplicabilidade da técnica proposta e que, correlacionadas,
evidenciam a carga fatorial dos itens pesquisados. Os significados subjacentes às
combinações das variáveis observadas receberam titulações por parte do
pesquisador. Empregou-se a seguinte nomenclatura referente ao primeiro, segundo
e terceiro fator, respectivamente: cuidado, valorização e significação.
86
Quadro 8 - Escores numéricos referentes à carga fatorial de cada variável do
instrumento. Matriz de rotação Varimax
Itens Conteúdos básicos dos itens Cuidado Valorização Significação
Q18 Essa instituição de saúde procura
melhorar e deixar mais modernos os
processos de trabalho
0,83
Q15 Nessa instituição o funcionário recebe
orientações quanto às novidades
relacionadas ao seu trabalho
0,83
Q13 Essa instituição está disposta a fornecer
orientação pessoal ao funcionário,
quando ele necessitar
0,79
Q14 Essa instituição de saúde está disposta
a investir na capacitação profissional do
funcionário
0,79
Q16 Essa instituição de saúde está disposta
a melhorar as condições do local de
trabalho para um melhor desempenho
de seus funcionários
0,78 0,42
Q17 Sinto que essa instituição toma
providências adequadas para resolver
dificuldades que impedem o bom
andamento do trabalho
0,76
Q11 Essa instituição realmente preocupa-se
com o meu bem estar
0,74 0,44
Q10 Sinto que essa instituição de saúde está
preocupada com o enriquecimento do
meu trabalho
0,72 0,48
Q12 Essa instituição de saúde preocupa-se
com a minha satisfação no trabalho
0,71 0,55
Q21 Sinto que nessa instituição existe um
clima de cooperação entre os setores
de trabalho
0,65 0,47
Q27 As relações de trabalho que existem
nessa instituição preservam minha
saúde
0,63
Q25 Nessa instituição, as minhas
experiências pessoais são valorizadas
0,49 0,79
Q1 Sinto que essa instituição de saúde
valoriza novas idéias trazidas pelos
funcionários
0,40 0,76
Q23 Nessa instituição de saúde as relações
de trabalho entre chefias e funcionários
são de confiança e reciprocidade
0,76
Q20 Sinto que nessa instituição de saúde o
funcionário é reconhecido pelo trabalho
bem feito
0,47 0,75
Q3 Essa unidade de saúde demonstra
atenção e aproveita as sugestões dos
funcionários
0,72 0,47
continua...
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
87
Quadro 8 - Escores numéricos referentes à carga fatorial de cada variável do
instrumento. Matriz de rotação Varimax (conclusão)
Itens
Conteúdos básicos dos itens Cuidado
Valorização
Significação
Q29 Essa instituição procura valorizar a
minha criatividade e meu esforço no
trabalho, ajudando a melhorar
minhas relações no trabalho
0,48 0,71
Q2 Essa instituição de saúde valoriza o
esforço do funcionário para atingir
resultados
0,70 0,41
Q19 Essa instituição considera o que o
funcionário tem a dizer, antes de
ocorrer mudanças no trabalho
0,50 0,70
Q24 Sinto que o sucesso no trabalho é
reconhecido pelo grupo de trabalho
0,50 0,69
Q30 Essa instituição está preocupada em
fazer com que meu trabalho e
minhas relações com colegas sejam
os mais interessantes possíveis
0,56 0,69
Q4 Essa instituição de saúde valoriza as
opiniões dos servidores na resolução
de problemas
0,44 0,68
Q26 Sinto que meu crescimento e
desenvolvimento pessoal são
reconhecidos nas relações de
trabalho dessa instituição de saúde
0,54 0,66
Q28 O aspecto afetivo é valorizado nas
relações de trabalho dessa
instituição de saúde
0,54 0,60
Q22 As relações entre colegas
demonstram calor humano e
solidariedade
0,49 0,57
Q7 Para mim, permanecer nesta
instituição, na realidade, é tanto uma
necessidade quanto um desejo
0,82
Q6 Essa instituição de saúde tem um
imenso significado pessoal para mim
0,75
Q5 Essa instituição merece minha
lealdade
0,47 0,69
Q8 Eu desejo dedicar a minha carreira
nessa instituição de saúde
0,65
Q9 Continuar trabalhando nessa
instituição de saúde é uma forma de
retribuir o que ela já fez por mim
0,45 0,55
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
88
O agrupamento dos itens conforme os índices de concordância expressos
no gráfico 5, evidencia a concentração de percentuais maiores, que, por ordem de
avaliação, foram:
Q6 4,34 Essa instituição de saúde tem um imenso significado pessoal para mim
Q5 4,30 Essa instituição merece minha lealdade
Q7 4,17 Para mim, permanecer nessa instituição é tanto uma necessidade quanto
um desejo.
Q23 4,07 Nessa instituição de saúde, as relações de trabalho entre chefia e
funcionários são de confiança e reciprocidade.
Q3 3,89 Essa unidade de saúde demonstra atenção e aproveita as sugestões dos
funcionários
Q8 3,87 Eu desejo dedicar a minha carreira nessa instituição de saúde
Q4 3,77
Essa instituição de saúde valoriza as opiniões dos servidores na resolução
de problemas
Q2 3,74 Essa instituição de saúde valoriza o esforço do funcionário para atingir
resultados
Em relação a esses indicadores, verifica-se que predomina, na avaliação dos
funcionários, a opinião de que a Instituição de saúde em foco aqui representada
pelo Centro de Saúde Modelo - valoriza e entende o sentimento afetivo, primeira
categoria do instrumento utilizado, como forma de aperfeiçoar e tornar mais
adequadas as questões referentes às relações de trabalho, sendo, portanto,
compreendida corretamente pelos destinatários do estudo.
89
3,31
3,34
3,35
3,39
3,40
3,43
3,44
3,47
3,49
3,49
3,51
3,62
3,63
3,63
3,67
3,67
3,70
3,70
3,71
3,71
3,73
3,74
3,74
3,77
3,87
3,89
4,07
4,17
4,30
4,34
1 2 3 4 5
Q21
Q10
Q11
Q19
Q27
Q12
Q18
Q9
Q16
Q26
Q17
Q14
Q30
Q29
Q25
Q22
Q15
Q24
Q28
Q20
Q1
Q13
Q2
Q4
Q8
Q3
Q23
Q7
Q5
Q6
Gráfico 5 - Índices de concordância por item do questionário
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
90
Dos 30 indicadores utilizados na escala, onze indicadores formaram o
primeiro fator, aqui denominado de Cuidado.
Quadro 9 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do primeiro fator,
componente cuidado
Itens Conteúdo básico dos itens
Carga
Fatorial
Q18 Essa instituição de saúde procura melhorar e deixar mais
modernos os processos de trabalho
0,83
Q15 Nessa instituição o funcionário recebe orientações quanto às
novidades relacionadas ao seu trabalho
0,83
Q13 Essa instituição está disposta a fornecer orientação pessoal
ao funcionário, quando ele necessitar
0,79
Q14 Essa instituição de saúde está disposta a investir na
capacitação profissional do funcionário
0,79
Q16 Essa instituição de saúde está disposta a melhorar as
condições do local de trabalho para um melhor desempenho
de seus funcionários
0,78
Q17 Sinto que essa instituição toma providências adequadas para
resolver dificuldades que impedem o bom andamento do
trabalho
0,76
Q11 Essa instituição realmente preocupa-se com o meu bem estar 0,74
Q10 Sinto que essa instituição de saúde está preocupada com o
enriquecimento do meu trabalho
0,72
Q12 Essa instituição de saúde preocupa-se com a minha
satisfação no trabalho
0,71
Q21 Sinto que nessa instituição existe um clima de cooperação
entre os setores de trabalho
0,65
Q27 As relações de trabalho que existem nessa instituição
preservam minha saúde
0,63
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
As interações do trabalhador com a organização se caracterizam por
relações de troca marcadas por expectativas de reciprocidade. A organização, por
um lado, tem obrigações legais, morais e financeiras com o seu membro e o direito
de esperar que ele apresente bom desempenho, comprometimento e lealdade. Fica
estabelecida, portanto, uma relação de cuidado entre a organização e seus
funcionários, conforme evidenciado nos itens de maior eleição do instrumento (Essa
instituição realmente preocupa-se com o meu bem estar; Essa instituição de saúde
preocupa-se com a minha satisfação no trabalho; Essa instituição de saúde está
91
disposta a investir na capacitação profissional do funcionário; Sinto que essa
instituição toma providências adequadas para resolver dificuldades que impedem o
bom andamento do trabalho).
O cuidado aparece aqui, como uma relação dialógica que sena interação
com o papel e a subjetividade do outro. Ao considerarmos verdadeiramente esse
outro que possui saber sobre si mesmo, assumimos que a saúde não é apenas
objeto, mas também configura modos distintos de “ser” desse outro. Revalorizar a
dignidade do outro é, portanto, uma tarefa e um compromisso fundamental quando
se quer cuidar, e esse compromisso possui embasamento na relação recíproca entre
os objetivos organizacionais e individuais dos funcionários, no ambiente profissional
e nas relações de trabalho.
Assim, podemos entender o sentido do papel norteador do cuidado. A idéia
de responsabilizar-se tem aqui o duplo e inseparável sentido de responder por si e
responder para si fundamento primeiro, em se tratando do foco desse estudo, das
relações interpessoais no trabalho em saúde (LAGES e CASTRO, 2007, p. 03).
Cuidar, nesse sentido significa investimento nos profissionais,
proporcionando desenvolvimento de suas habilidades e conhecimentos, uma vez
que reforça o caráter motivacional e educacional nas relações de trabalho.
As experiências educacionais desenvolvidas no ambiente de trabalho, estão
fortemente atreladas ao papel cuidador da organização, desenvolvendo relações de
reciprocidade e confiança. A aprendizagem continuamente ofertada no âmbito
profissional atua como reforço aos valores essenciais da empresa e dos funcionários;
motiva, uma vez que constrói autoconfiança e ampliação de habilidades e
conhecimentos, qualificando o trabalho prestado; investe no desenvolvimento pessoal,
reconhecendo a singularidade do funcionário e profissionaliza a prestação do serviço.
Para Berry (2001, p. 175), a aprendizagem é uma alternativa para a
estagnação e a ineficácia. Estimula e rejuvenesce. A aplicação de habilidades e
conhecimentos adquiridos recentemente é especialmente recompensadora, gerando
entusiasmo para mais aprendizagens. O crescimento pessoal contribui para a
felicidade pessoal, vital para ofertar serviços em um nível consistentemente elevado.
Essa abordagem permite ao funcionário a utilizão de suas habilidades em
prol do desenvolvimento de suas atividades, gerando satisfão com o trabalho
realizado. Essa satisfação é diretamente dependente de um ambiente com
características que permitam ao funcionário a vincia de novas experiências e
92
aprendizagens, o desenvolvimento de compencias, o exercício da criatividade e
autonomia, contribuindo para a busca de realizão e comprometimento com a
instituição.
A organização, por sua vez, aponta como princípios a manutenção saudável
da inter-relação existente entre as exigências do trabalho e as competências do
funcionário, a proposição de desafios e resolução de situações, bem como
proporcionar “feedback” acerca do desempenho. Essa afirmação se confirma no
indicador “Sinto que esta instituição de saúde está preocupada com o
enriquecimento do meu trabalho”, evidenciando valores como respeito e
consideração pelo trabalho do funcionário, atitude considerada fundamental para o
desenvolvimento da instituição.
O funcionário, em contrapartida, é estimulado a apresentar bom
desempenho e lealdade com a organização. O contrato psicológico do trabalhador
com a organização estabelece tais expectativas de trocas e benefícios mútuos, uma
vez que evidencia a relação subjacente que existe entre clima institucional e
manutenção de relações saudáveis no trabalho, ratificada pelos indicadores “Sinto
que nessa instituição existe um clima de cooperação entre os setores de trabalho” e
“As relações de trabalho que existem nessa instituição preservam minha saúde”.
Em se tratando de analisar as respostas evidenciadas com a organização
em foco, algumas considerações devem ser realizadas. Por tratar-se de uma
instituição destinada ao trabalho em saúde, o cuidado emerge com caráter dual
“cuidar os cuidadores”. Essa relação envolve um variado conjunto de reflexões
críticas sobre a assistência em saúde que, sob diferentes enfoques, tratam da
coordenação de ações e serviços de saúde, do planejamento de políticas de saúde,
das relações profissional-paciente e entre os diversos profissionais nas equipes de
saúde, entre outros aspectos.
Ao pensar a assistência em saúde, a idéia que advém a esse respeito é a
aplicação de tecnologias para o bem estar físico e mental das pessoas. Porém, a
atenção a ser dispensada pelo profissional de saúde ao assistir a saúde de outras
pessoas – outros profissionais ou usuários –, não está resumida ao simples papel de
aplicador de conhecimentos. Não podemos limitar a arte de assistir apenas à criação
e manipulação de “objetos” (AYRES, 2004, p. 84).
93
Justo (1987, p. 56), ao citar Rogers (1966/1968) endossa a concepção da
primazia da ordem subjetiva que compõe o indivíduo. O homem vive,
essencialmente, num mundo subjetivo e pessoal. Suas atividades, até as mais
objetivas seus esforços científicos, quantitativos, matemáticos representam a
expressão de finalidades e escolhas subjetivas. A percepção do indivíduo por si
mesmo constitui importante verdade de que seu mundo privado pode ser
conhecido, de forma genuína e completa, por ele mesmo.
Nesse sentido, o Cuidar ou cuidado expõe uma forma de saber que se
distingue do tecnicismo e cientificismo, bem como se diferencia do exercício
subjetivo, simplesmente. A interação terapêutica, norteada pela práxis, caracteriza o
cuidado como um construto reflexivo e com potencialidade conciliadora, no qual o
diálogo assume papel fundamental.
Rogers expressa de maneira muito singular a excelência do diálogo nos
processos relacionais, no qual a aceitação do outro e o respeito pela sua história
não relacionam-se, apenas, dialogicamente, mas sim em um processo de mútua
construção e reconstrução. Essas nuances caracterizam o sentido interacionista do
cuidado, em relação a si mesmo e ao outro; não se trata, apenas, de viver num
mundo de coisas que têm sentido. Mas de viver num mundo com outros, e
constituindo sua própria unidade de sentido.
Se tudo que uma pessoa exprime (verbalmente ou não verbalmente, direta
ou indiretamente) sobre si mesmo, me parece igualmente digno de respeito
ou de aceitação, isto é, se não desaprovo nem deprecio nenhum elemento
expresso dessa forma, experimento em relação a esta pessoa uma atitude
de consideração positiva incondicional (ROGERS, 1983b, p. 128).
O outro, portanto, nessa relação empática, é sempre elemento vivo na
dinâmica fenomenológico existencial que objetiva o encontro, torna-se co-
participante, nunca objeto.
O trabalho em saúde, por sua vez, diferencia-se pela valorização da
interação com as pessoas em seus espaços subjetivos. O desenvolvimento de uma
ausculta sensível proporciona, indiscutivelmente, o reconhecimento da integralidade
do outro, promovendo e otimizando espaços de conversação entre os profissionais e
profissionais/usuários, percebendo o cuidado como ação decorrente de práticas
reflexivas em saúde.
94
Rogers destaca a performance dos trabalhadores sociais como essencial à
promoção da interface necessária com a área da saúde, enfatizando que, os
trabalhadores que atuam com esses objetivos têm como pressupostos a aceitação
do indivíduo, a confiança em suas capacidades e recursos, o reconhecimento das
diferenças. Nessa perspectiva existe a crença na possibilidade de mudança pela
auto-descoberta e libertação da afetividade, na capacidade de assumir
responsabilidades e tomar decisões autônomas na organização de sua vida, pessoal
e profissional (1977b, p. 120).
Portanto, no ambiente institucional focalizado nessa pesquisa, o cuidado
estabelece relações de trocas, proporcionando a elaboração e construção de
interações dialógicas, constituindo um novo modo de conhecimento e saber nas
organizações de saúde. Trata-se de um processo dinâmico e fluido - elemento
integrador do campo das experiências - e não entidades estáticas, tornando o
indivíduo capaz de perceber experiências e sentimentos e seus significados na
perspectiva de outra pessoa. Para tanto, cabe a citação de Rogers (1997, p. 40).
[...] se posso estabelecer uma relação de ajuda comigo mesmo se puder
estar sensivelmente consciente dos meus próprios sentimentos e aceitá-los
–, é grande a probabilidade de poder vir a estabelecer uma relação de ajuda
com a outra pessoa.
O segundo fator, formado por 14 indicadores, foi denominado de Valorização:
Quadro 10 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do segundo
fator, componente valorização
Item Conteúdo básico dos itens
Carga
Fatorial
Q25 Nessa instituição, as minhas experiências pessoais são valorizadas 0,79
Q1 Sinto que essa instituição de saúde valoriza novas idéias trazidas
pelos funcionários
0,76
Q23 Nessa instituição de saúde as relações de trabalho entre chefias e
funcionários são de confiança e reciprocidade
0,76
Q20 Sinto que nessa instituição de saúde o funcionário é reconhecido
pelo trabalho bem feito
0,75
Q3 Essa unidade de saúde demonstra atenção e aproveita as sugestões
dos funcionário
0,72
Q29 Essa instituição procura valorizar a minha criatividade e meu esforço
no trabalho, ajudando a melhorar minhas relações no trabalho
0,71
continua...
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
95
Quadro 10 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do segundo
fator, componente valorização (conclusão)
Item Conteúdo básico dos itens
Carga
Fatorial
Q2 Essa instituição de saúde valoriza o esforço do funcionário para
atingir resultados
0,70
Q19 Essa instituição considera o que o funcionário tem a dizer, antes de
ocorrer mudanças no trabalho
0,70
Q24 Sinto que o sucesso no trabalho é reconhecido pelo grupo de
trabalho
0,69
Q30 Essa instituição está preocupada em fazer com que meu trabalho e
minhas relações com colegas sejam os mais interessantes possíveis
0,69
Q4 Essa instituição de saúde valoriza as opiniões dos servidores na
resolução de problemas
0,68
Q26 Sinto que meu crescimento e desenvolvimento pessoal são
reconhecidos nas relações de trabalho dessa instituição de saúde
0,66
Q28 O aspecto afetivo é valorizado nas relações de trabalho dessa
instituição de saúde
0,60
Q22 As relações entre colegas demonstram calor humano e solidariedade 0,57
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
Os indicadores avaliados denotam a busca dos profissionais por relações de
trabalho que estimulem e preservem os sentimentos de cooperação e lealdade,
valorizando as experiências e promovendo o reconhecimento pessoal e profissional.
E esses aspectos estão, sem dúvida, fortemente atrelados à questão motivacional.
Justo (1987, p. 69) lembra Rogers (1951) ao considerar aspectos
envolvendo a valorização. No relacionamento com os outros, o indivíduo forma
conceitos a respeito do ambiente, a respeito dele mesmo e dele com relação ao
meio. Esse conhecimento diferenciado vem acompanhado de uma valorização,
muito importante, para a compreensão do desenvolvimento ulterior.
O universo do trabalho é determinado por aspectos marcantes e regras
compartilhadas, correspondendo a padrões culturais universais e permitindo analisar
relações de troca entre indivíduo e organização. Essas relações oferecem
evidências de como o comportamento organizacional é influenciado pelo aspecto
motivacional intrínseco e extrínseco, ampliando a compreensão dessa
interdependência e oferecendo subsídios que permitam o conhecimento de
sentimentos oriundos dessa co-relação.
Sentimentos como o comprometimento com o trabalho, espírito de
responsabilidade, criatividade e confiança o alguns indicativos de como a
96
motivação faz-se presente nas relações organizacionais. E não como se
desvincular o caráter motivacional dessa visão dinâmica que envolve a saúde e seus
movimentos. É nessa condição de uma desconstrução, com vistas a contribuir para
a reconstrução nas práticas de saúde, que essa reflexão sobre a motivação no
ambiente de trabalho, mais especificamente, no ambiente de saúde tem o seu foco
de atuação.
Podemos avançar na citação de Huertas (2001, p. 48) acerca do conceito de
Motivação, no qual relata que, segundo a Real Academia, motivação “é um ensaio
mental preparatório de uma ação para animar-se a executá-la com interesse e
diligência. Nesse contexto, estão incluídos todos os fatores cognitivos e afetivos que
influenciam na eleição, iniciação, direção, magnitude e qualidade de uma ação que
persiste até alcançar um fim determinado”.
Para Huertas (2001) a ação motivada possui um caráter ativo e voluntário,
dinâmico, adaptando-se às circunstâncias, e que não está regulada por completo por
uma imposição externa. Participam desse processo elementos afetivos e
emocionais, perseguindo um objetivo, meta, finalidade ou propósito.
Dessa forma, cabe a consideração de que a ação motivada é um processo
de autoria, no qual o sujeito torna-se agente de seus próprios atos, uma vez que a
eleição e importância de determinada ação são impulsionadas por objetivos
destinados a perseguir uma meta.
Esse movimento de autoria apresenta-se caracterizado por Justo (1987, p.
107) quando cita Rogers (1961). O individuo parece mover-se, com conhecimento e
atitude de aceitação, na linha de ser o processo que, internamente e atualmente, é.
Move-se na direção de ser pessoa que aceita e aprecia os próprios sentimentos, que
valoriza as camadas profundas de sua natureza e confia nelas, que encontra força
no fato de ser uma individualidade única, que vive valores experienciados por ela
mesma.
O processo de trocas sociais decorrentes das relações de trabalho é
caracterizado por um processo de aprendizagem extremamente ativo e dinâmico. Os
pressupostos referentes à organização no trabalho esclarecem-nos que esta
organização não se resume apenas à forma como o trabalho é desenvolvido,
dividido ou mesmo ordenado, mas também, compreende a divisão do trabalho, o
sistema hierárquico e as relações de poder, esclarecendo, assim, que ao dividir o
trabalho, se impõe uma divisão entre os seres humanos.
97
Pensar a organização do trabalho não significa somente refletir sobre o
modelo implementado internamente na referida instituição. Há que se pensar a
totalidade que compõe esse contexto e a sua inserção social sob um modo de
produção localizado historicamente.
Quando se aborda a questão do trabalho em saúde, convém citar Pires
(2000, p. 254) que enfatiza o trabalho coletivo em saúde como uma busca entre as
interfaces existentes entre os trabalhadores de saúde e as relações interpessoais
oriundas dessa rede, gerada através dessas relações. O mesmo esclarece que:
No trabalho coletivo em saúde os diversos profissionais de saúde
desenvolvem parte do trabalho que tem como resultado, como produto, a
assistência de saúde a indivíduos ou grupos. São atividades diferenciadas,
que, estudadas nas suas especificidades, permitem identificar produtos
distintos. Esses trabalhos, no conjunto, resultam na assistência a seres
humanos que são totalidades complexas.
Na verdade quando referimo-nos aos aspectos motivacionais em saúde, na
organização do trabalho e nas relações interpessoais destacam-se alguns aspectos
visualizados no dia a dia desse fazer em saúde. Cabe ressaltar: o Movimento,
através do qual a identidade de profissionais da saúde vai sendo construída no e
pelo ato de viver, de pôr-se em movimento pelo mundo; Interação; Identidade, onde
a identidade de cada um se faz sempre, na presença do outro; Desejo de dar um
sentido à existência do ser e do fazer; Responsabilidade e coletiva.
Para Huertas (2001, p. 262)., a resposta, dentro dessa visão pressupõe um
padrão motivacional de aprendizagem e intervenção contínuas, com base no
trabalho cooperativo e na implicação pessoal
Visualizamos atualmente a uma série de novos conceitos no campo da
saúde, mundial e nacionalmente, tais como a promoção da saúde, vigilância da
saúde, saúde da família, redução de danos, entre outros. Tais discursos revelam o
caráter dinâmico da saúde pública trazendo à reflexão diversos entendimentos
envolvendo a renovação das práticas de saúde. Entretanto, à análise dessas
propostas são evocadas transformações bastante radicais no modus operandi de
pensar e fazer saúde, especialmente em seus pressupostos filosóficos e
fundamentais.
A Saúde, enquanto campo de organização assistencial e tecnológica de
ações, tem suas atividades qualificadas e tomam o processo coletivo da saúde e da
98
doença como seu objeto de trabalho. Desse modo a Saúde tem se identificado como
o campo de ações que tem em perspectiva a promoção da saúde, através da
atuação nas dimensões individual e coletiva.
As trocas com os superiores, usuários e outros colegas permitem, ao servidor,
proporcionar um serviço, ajudar o outro, ser reconhecido por suas habilidades e
contribuições. Nesse caso, sobressaem-se as características de afiliação e
vinculação, próprias dos ambientes de trabalho que procuram desenvolver relações
de trabalho positivas, conforme sinaliza os indicadores: Sinto que essa instituição de
saúde valoriza novas idéias trazidas pelos funcionários; Essa instituição de saúde
valoriza o esforço do funcionário para atingir resultados; Essa unidade de saúde
demonstra atenção e aproveita as sugestões dos funcionários; Essa instituição de
saúde valoriza as opiniões dos servidores na resolução de problemas.
Para Rogers, as situações descritas se referem ao contínuo processo de
reconhecimento. Essa ênfase na mudança e na flexibilidade, que fundamenta sua
teoria e sua crença de que as pessoas são capazes de crescimento, mudança e
desenvolvimento pessoal, significa, em ultima análise, a visão que a pessoa tem de
si própria, baseada em experiências passadas, estimulações presentes e
expectativas futuras.
O posicionamento de Rogers, bem como sua visão de ser humano, apresenta
um entendimento altamente holístico e sistêmico de homem, como nessa passagem
de Liberdade para aprender (1977b), no qual atribui maior ênfase aos aspectos
afetivos e existenciais, considerando-os como partes fundamentais constituintes do
todo e reforçando a importância da qualidade das relações interpessoais:
Sinto pouca simpatia pela idéia bastante generalizada de que o homem é,
em princípio, fundamentalmente irracional e que os seus impulsos, quando
não controlados, levam à destruição de si e dos outros. O comportamento
humano é, no seu conjunto, extremamente racional, evoluindo com uma
complexidade sutil e ordenada para os objetivos que o seu organismo,
como um todo sistêmico, se esforça por atingir. A tragédia, para muitos de
nós, deriva do fato de que as nossas defesas internas nos impedirem de
surpreender essa racionalidade mais profunda, de modo que estamos
conscientemente a caminhar numa direção, enquanto organicamente
caminhamos em outra.
Os escores apontam para o alto grau de importância com que as pessoas se
relacionam na instituição. Esse fato eleva o grau de confiança entre os membros a
equipe, na execução dos trabalhos. A evidência de sentimentos de valorização e
99
reconhecimento à trajetória profissional do funcionário atua como suporte para a
construção de relações de trabalho saudáveis. Todos os indicadores apontam para
que se tenha o entendimento do processo de aprendizagem motivacional e de suas
interações - afetivas e cognitivas - no sentido de que possam ser estabelecidas
relações plurais, em nossos espaços assistenciais e de fazer em saúde.
O terceiro fator extraído pela análise fatorial inclui cinco indicadores, sendo
denominado de Significação:
Quadro 11 - Distribuição das cargas fatoriais referentes à obtenção do terceiro fator,
componente significação
Itens Conteúdo básico dos itens
Carga
Fatorial
Q7 Para mim, permanecer nesta instituição, na realidade, é tanto
uma necessidade quanto um desejo
0,82
Q6 Essa instituição de saúde tem um imenso significado pessoal
para mim
0,75
Q5 Essa instituição merece minha lealdade 0,69
Q8 Eu desejo dedicar a minha carreira nessa instituição de saúde 0,65
Q9 Continuar trabalhando nessa instituição de saúde é uma forma
de retribuir o que ela já fez por mim
0,55
Fonte: Centro de Saúde Modelo/POA-RS/2008
Esse fator, em particular, caracteriza os sentimentos dos trabalhadores, ou
seja, o modo como a organização os afeta e eles à organização. Fatores exógenos
ao trabalho, condições de trabalho, eventos estressores, estilo de liderança,
características de grupos de trabalho, ambiente e reconhecimento são vistos como
decorrentes do humor e emoções no trabalho. Os estados afetivos podem influenciar
resultados de desempenho que incluem julgamentos, atitudes, criatividade,
comportamento solidário e tomada de decisão.
Nesse sentido, começa-se a delinear – ainda que simploriamente – aspectos
que nos levam a pensar em bem estar ou prazer (afeto positivo) e mal estar ou
sofrimento (afeto negativo), no trabalho.
Qualquer que seja o ambiente de trabalho, é de suma importância a
presença do componente afetivo, gerador de emoções e sentimentos variados - uma
vez que faz parte da natureza humana e que tem sido pouco valorizado como
100
estratégia de estímulo e motivação do comportamento, mesmo sendo ele o
responsável pela manutenção do grupo, por seu crescimento e amadurecimento e
pela produtividade e satisfação dos funcionários.
A consolidação do modelo afetivo tem seu foco na busca de alternativas que
promovam a qualidade nas relações humanas e, principalmente, provocar e
estimular a aprendizagem e o desenvolvimento do ser humano nas organizações.
Nesse entendimento não basta apenas o domínio da competência técnica, das
regras ou normas, faz-se indispensável o desenvolvimento da competência humana
e, nesse sentido, é o componente afetivo fator decisivo para o alcance do sucesso.
A afetividade é compreendida, portanto, como uma característica pessoal
inerente a todas as pessoas e presente em qualquer relação interpessoal. O tipo de
afetividade existente num relacionamento define a natureza da relação: amistosa e
de simpatias mútuas, ou de hostilidade e incompatibilidade.
Em se tratando de relações interpessoais no ambiente de trabalho, é
necessário frisar-se o paralelo existente entre relacionamentos de simpatia e atração
que se tornam facilitadores do trabalho, bem como os relacionamentos nos quais a
antipatia e a aversão acarretam prejuízos ao trabalho.
As teorias modernas de gestão apontam novas referências sobre a prática
administrativa, através da democratização das relações humanas. Atualmente,
diferentes áreas do conhecimento humano têm focalizado seus princípios na
concepção de que as pessoas devem ser reconhecidas como o recurso mais valioso
da organização, capazes de fazer a diferença nas empresas.
Nesse cenário empresarial/organizacional a afetividade, portanto, é premissa
básica para o alcance de conhecimentos/atitudes/habilidades que agreguem valor às
atividades da instituição. A potencialização desses fatores é dependente, sem
sombra de dúvida, da significação atribuída às experiências vivenciadas e da
valorização dessas aprendizagens.
Ferreira apud Tambara (2007, p. 154) ao citar Rogers, evoca que a
aprendizagem é significativa quando se percebe a relevância do aspecto estudado.
Destaca ainda a importância dos sentimentos, da comunicação aberta e do valor de
cada pessoa na educação humanista, considerada uma atitude impregnada de
respeito e valorização.
101
Para Rogers (1983b, p. 39), os aspectos decorrentes dessas atitudes geram
o que denominou de Consideração Positiva Incondicional - um sentimento de
acolhida sem reservas ou julgamento. O mesmo nos esclarece,
Por aceitação, quero dizer uma consideração afetuosa por ele enquanto
uma pessoa de autovalia incondicional de valor, independente de sua
condição, de seu comportamento ou de seus sentimentos. Significa um
respeito e apreço por ele como uma pessoa separada, um desejo de que
ele possua seus próprios sentimentos à sua própria maneira. [...] a
segurança de ser querido e prezado como uma pessoa parece ser um
elemento sumamente importante em uma relação de ajuda.
No processo de ensino e aprendizagem, o envolvimento de uma
interação humana dinâmica, de troca contínua - características constantes e de
repercussão, fundamentais para o êxito ou total fracasso do processo.
Autores como Rogers destacam que a verdade e autenticidade são
condições necessárias para o estabelecimento de relações humanas afetivas
capazes de promover criatividade, qualidade e produtividade no processo de
educação.
À análise do terceiro fator configura-se, portanto, a existência do
componente afetivo, evidenciado por Rogers, quando o mesmo relata a necessidade
de mudanças paradigmáticas, bem como a perspectiva de abertura para novos
conceitos envolvendo as relações interpessoais.
Rogers (1983a) alertava-nos sobre a necessidade de visualizar uma
perspectiva de vida positiva, extensiva a todos os campos da atividade humana. Na
vida organizacional, igualmente, este princípio faz-se presente através do respeito
pela pessoa e sua autonomia, mostrando-se tolerante e humilde frente ao processo
natural de crescimento dos indivíduos. O mesmo autor nos diz:
Facilitar a expressão do sentimento, potencializar a pessoa, liberar o indivíduo
para uma escolha autônoma resulta em mais aprendizagem, mais
produtividade, mais criatividade, do que a que resulta do exercício de poder
sobre a pessoa. Todo o nosso mundo institucional, entretanto, é construído
em torno de um sistema hierárquico de controle sobre a pessoa. Potencializar
a pessoa é colocar em movimento um processo que pode revolucionar a
família, a escola, a organização, a instituição, o Estado. Estamos diante de
uma outra mudança paradigmática (ROGERS, 1983, p.13).
Sentimentos como lealdade, significação pessoal, permanência e dedicação
manifestam-se nesse fator, evidenciando o que é o foco da teoria humanista descrita
102
por Rogers: o desenvolvimento de relações que promovam a busca de uma nova
pessoa voltada para o futuro.
Justo (1987, p. 116) evoca Rogers (1961) ao abordar as aprendizagens
advindas das relações interpessoais. Para Rogers, nas suas relações com os outros,
compreendeu não ser útil nem eficaz aparentar um exterior que não correspondesse
ao sentimento intimo. É de fundamental importância reconhecer o que, realmente,
estabelece-se interiormente. As circunstâncias vão indicar se e como os sentimentos
e idéias serão expressos.
Para tanto, formula o que se tornaria a essência de sua teoria, centralizando
na pessoa humana características necessárias a esse entendimento (1983a, p. 130),
entre as quais é possível citar: Abertura a novas experiências, novas maneiras de
ser e ver, novas idéias e conceitos; desejo de autenticidade e valorização da
comunicação como uma maneira de dizer as coisas como elas o; ceticismo em
relação à ciência e à tecnologia, quando utilizadas como forma de conquista o
mundo da natureza e controlar o mundo humano; desejo de inteireza, luta pela
totalidade da vida; desejo de intimidade, objetivos partilhados; pessoas em processo
dinâmico; dedicação; atitude em relação à natureza; a irrelevância dos bens
materiais; anseio pelo espiritual, viver uma vida de paz interior.
A abordagem humanista entende que o indivíduo, com base em suas
percepções, estímulos e experiências, atribui maior importância à relação pessoa-
mundo e, na busca dessa compreensão, enfatiza os valores individuais e coletivos,
valorizando as atitudes de confiança, respeito e aceitação do outro. Segundo Rogers
(1983b, p. 44): “[...] o eu verdadeiro é algo que se descobre tranqüilamente por meio
da própria experiência, e não algo imposto sobre esta”.
O resultado da extração da análise estatística comprova o poder de
generalização do modelo proposto, na forma da presença das dimensões afetiva,
percepção da estrutura organizacional e relacionamento interpessoal, conceitos
abordados na teoria de Rogers.
Como conclusão, é meritória a citação de Rogers (1983b, p. 276) ao referir,
consonante à sua postura humanista, que as pessoas agem como um todo, se
constituindo em mais do que um somatório de elementos, atribuindo significados às
experiências responsáveis por suas aprendizagens. No ambiente empresarial, essas
características apresentam-se como uma nova maneira de conceber as relações
trabalhistas, contribuindo para a formação de vínculos responsáveis, bem como
103
promovendo e potencializando processos de motivação, produtividade e qualidade,
tornando a afetividade o elemento facilitador à construção de um clima de
relacionamento produtivo.
Eis o meu modelo teórico da pessoa que emerge da terapia ou do melhor
que possa haver em educação, o indivíduo que haja experimentado
crescimento psicológico ótimo uma pessoa que funcione livremente em
toda a plenitude das suas potencialidades organísmicas; uma pessoa que
será realista, auto-engrandecedora, socializada e apropriada em seu
comportamento; uma pessoa criativa, cujas específicas formas de
comportamento não são facilmente previsíveis; uma pessoa sempre em
mudança, sempre em desenvolvimento, sempre a descobrir-se a si mesma
e ao que há de novo em si, a cada instante sucessivo do tempo.
104
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As reflexões finais dessa pesquisa foram evidenciadas com base nas
possibilidades de análise oferecidas pelos campos de estudo Afetividade e Relações
de Trabalho na Saúde e, de certa forma, não se constituem como verdades
passíveis de generalização; pelo contrário, esses resultados apenas comprovam, na
sua essência, que os estudos implementados pela teoria humanista/fenomenológica
se mantêm atualizados e correspondem aos resultados encontrados.
A pesquisa obteve resultados concordantes com as teorias estudadas e, de
maneira geral, acredito que um importante passo foi dado no campo de
conhecimento das relações interpessoais no trabalho em saúde.
O propósito principal do presente trabalho foi o de verificar se em uma
instituição de saúde pública do Município de Porto Alegre, a afetividade estaria
inserida nas relações de trabalho. A pesquisa procura relacionar as formas e os
níveis de percepção da afetividade nas relações interpessoais com a performance
do indivíduo no trabalho.
O questionário Percepção da Afetividade nas Relações de Trabalho na Área
da Saúde, além de facilitar a produção de conhecimentos científicos na área de
relacionamento interpessoal e comportamento organizacional, poderá vir a ser útil
como instrumento de diagnóstico e avaliação organizacionais e também como
indicador indireto de necessidades de formação continuada e práticas de valorização
do funcionário.
O procedimento de não identificação dos respondentes, que visou manter a
privacidade e facilitar atingir a média de confiança da amostra, muito embora a taxa
de retorno dos instrumentos seja menor, proporcionou estabelecer um número
significativo de respostas, aumentando a confiabilidade dos indicadores e das
variáveis.
Foi de extrema valia para a pesquisa a utilização da análise estatística,
especialmente a análise fatorial, os testes KMO e de Esfericidade de Bartlett e a
análise de variância. Para verificar a adequação da Análise Fatorial e evitar usos
incorretos dessa ferramenta estatística, essas testagens foram utilizadas com o
objetivo de verificar a existência de correlação suficientemente forte entre as
variáveis. Tal procedimento foi realizado como pré-requisito à aplicação da Análise
105
Fatorial e como requisito para verificar a adequação do uso dessa aos propósitos do
estudo. A partir do resultado obtido por meio desses testes, conclui-se que a
utilização da análise fatorial foi adequada aos objetivos da pesquisa.
Também foi possível, por meio da análise fatorial, selecionar de modo
objetivo os principais indicadores de afetividade que compõem os três principais
aspectos observados nessa instituição de saúde. Além disso, é possível executar
uma análise simultânea dos mesmos por meio dos fatores obtidos.
Os resultados da análise fatorial apontam para uma escala sólida composta
por três fatores como proposto teoricamente. Os três fatores apresentaram bons
índices de confiabilidade e boas cargas fatoriais para os itens. O conteúdo de cada
fator parece abarcar com propriedade a definição teórica dos fatores, além de
contemplar as principais idéias apresentadas pelos participantes no desenvolvimento
da escala.
Futuras pesquisas devem procurar repetir esse estudo e tentar re-
estabelecer os padrões de afeto no trabalho em saúde aqui encontrados, para
verificá-los e validá-los em outras realidades.
A importância desse estudo residiu o apenas no estabelecimento de
padrões de percepção da afetividade, mas também na identificação de suas
relações com a performance no trabalho, aqui avaliadas com base na aplicação do
instrumento de pesquisa.
Dessa forma, o objetivo principal do estudo foi alcançado. Conclui-se,
portanto, que o instrumento aqui apresentado possui bons índices de confiabilidade
podendo ser utilizado em pesquisas e diagnósticos, o que favorece os estudos de
valores referentes à afetividade no trabalho em saúde. Esse instrumento contribui
significativamente para a compreensão das motivações para o trabalho e para o
desenvolvimento de pesquisas sobre os valores relativos ao trabalho, como
visualização da estrutura organizacional, comportamento organizacional/interpessoal
e sentimento afetivo no contexto de trabalho na área da saúde.
Além disso, os resultados da análise fatorial apontaram três fatores que, do
ponto de vista do seu conteúdo e guardadas as devidas proporções em termos de
comparação, estão relacionados com os fatores de ordem superior da Teoria
Humanista, abordagem proposta por Carl Rogers (1902-1987).
A partir do trabalho de Carl Rogers, a Abordagem Centrada na Pessoa
constituiu-se como uma vigorosa opção, com amplas possibilidades de aplicações
106
no âmbito das relações humanas, no campo da psicologia, da pedagogia, do
trabalho com grupos e nas organizações.
Para atingir essa finalidade, utilizou-se a percepção das pessoas quanto ao
seu desempenho e quanto à visão de trabalho inserida no todo organizacional, sem
a preocupação de verificar o desempenho técnico.
Verificou-se que níveis significativos de valoração acarretam em sentimentos
de pertencimento e vinculação afetiva à instituição, agregando valores e
despertando a possibilidade de novas formas de relacionamento interpessoal no
trabalho.
O comprometimento afetivo é sem dúvida, um dos preceptores para avaliar o
desempenho dessa pesquisa. Um aspecto interessante observado nos resultados
refere-se à variação das médias relacionadas, unicamente, ao comprometimento
afetivo (terceiro fator).
Verificou-se que, sentimentos de lealdade, dedicação e retribuição fazem
parte desse fator, e que o desejo de pertencimento e permanência na instituição é
fortemente evidenciado com variância de 0,82. Uma resposta possível para isso é
que, a partir da adoção de certos valores, de certas atitudes e visão de pessoa,
eleva-se a perspectiva dos indivíduos nas relações, implicando em atitudes
empáticas.
Todo trabalho tem suas limitações e esse não fugiu à regra. Um dos maiores
problemas enfrentados diz respeito à complexidade e diversidade das variáveis
envolvidas quando se aborda afetividade, emoção e sentimento nas relações de
trabalho.
Vale ressaltar ainda que o desenvolvimento dessa pesquisa busca conciliar
duas abordagens, unindo a corrente dos estudos sobre afetividade encontrada
principalmente na literatura da Educação, à corrente de estudos das relações
interpessoais e de trabalho, encontrada na literatura da Psicologia Social. Essas
duas áreas desenvolveram teorias e pesquisas sobre esses temas de maneira
paralela e a união das duas pode enriquecer a compreensão desse fenômeno, como
vem sendo apontado na literatura, inclusive, de cunho administrativo e de gestão
empresarial.
Diante do exposto, pode-se concluir que o objetivo inicialmente proposto
identificar os indicadores de afetividade mais significativos nas relações
interpessoais no ambiente de trabalho – foi atingido.
107
Por conseguinte, é possível ratificar que, os três aspectos mais relevantes
para o monitoramento da afetividade nas relações de trabalho em saúde, no período
em análise, são “Sentimento afetivo”, “Percepção da estrutura organizacional” e
“Relacionamento interpessoal” e que os principais indicadores foram os índices
“Cuidado”, “Valorização”, e “Significação” escolhidos de modo objetivo por compor
cada um dos fatores encontrados.
Por ser um trabalho com objeto não descrito na literatura nacional na área da
saúde, a ausência de publicações nacionais e internacionais para discutirem todo o
processo e a impossibilidade de comparações com amostras brasileiras impõem
limitações ao trabalho. Contudo, essa mesma desvantagem ganha notoriedade por
poder ser considerado um primeiro passo de interlocução científica no Brasil.
Ajustes locais e regionais também podem ser necessários. Essas
informações serão enriquecedoras para o estudo da dimensão do tema em foco
afetividade nas relações de trabalho na área da saúde - em âmbito nacional,
contribuindo para políticas e ações relevantes em saúde pública.
O resultado dessa pesquisa certamente corresponde à teoria utilizada como
referência; assume-se que o modelo teórico preconizado pela linha humanista que
possui Carl Rogers como principal representante da teoria fenomenológica - é
apropriada. Nesse sentido, a perspectiva humanista transforma-se em uma
abordagem baseada na compreensão, orientando seus estudos para aspectos
expressivos da condição humana e contextualizada sócio-historicamente.
Possuímos razões objetivas para otimismo em relação às possibilidades
atuais de expansão de horizontes na valorização do aspecto social do trabalho em
saúde. Novas propostas contribuem nesse campo, algumas ainda em formato de
discursos, outras como práticas mais consolidadas, porém, sensíveis para os
aspectos sócio-culturais do processo saúde-doença, enfatizando a promoção à
saúde.
Sem dúvida, o entendimento desse contexto se converte em um importante
enfoque no que tange à melhoria da qualidade de vida do trabalhador da área da
saúde, remetendo-nos ao inicialmente exposto nesse estudo, quanto à valorização
do bem estar no trabalho. Somente a partir de reflexões envolvendo aspectos nas
relações de trabalho, pode-se pensar na construção de uma assistência em saúde
qualificada e resolutiva.
108
Remetendo-nos a Rogers (1977b, p. 220),
De certas coisas que tenho dito, confio em que ficou evidente que o que
verdadeiramente me satisfaz é o poder de revelar minha autenticidade e de
senti-la ou permiti-la em outrem. Desolador e lamentável, para mim, é não
ser capaz de dar-lhe oportunidade em mim mesmo ou de tolerar
autenticidade diversa da minha, no outro. Acho que a minha capacidade de
ser congruente e genuíno ajuda, muitas vezes, à outra pessoa. Quando a
outra pessoa é transparentemente autêntica e congruente quem recebe
ajuda sou eu. Nos raros momentos em que a autenticidade profunda de um
vai ao encontro da autenticidade profunda do outro, ocorre a memorável
“relação eu-tu” [...]. Esse mútuo encontro, profundo e pessoal, não acontece
muitas vezes, mas estou convencido de que, se não acontece,
ocasionalmente, não somos humanos.
Em síntese, cabe pontuar os seguintes tópicos:
A partir da identificação na literatura das dimensões envolvendo afetividade
e relações de trabalho em saúde, foi possível explorar com temas transversais,
como gestão e gerência administrativa, integralidade, motivação, educação
continuada e bem estar/mal estar no trabalho.
1. A importância desse estudo residiu não apenas no estabelecimento de
padrões de percepção da afetividade, mas também na identificação de suas
relações com a performance no trabalho.
2. O instrumento de pesquisa contribuiu significativamente para a compreensão
e para o desenvolvimento de pesquisas sobre os valores relativos ao trabalho,
visualização da estrutura corporativa, comportamento
organizacional/interpessoal e sentimento afetivo no contexto de trabalho na
área da saúde.
3. Os resultados da análise fatorial apontaram três fatores que, do ponto de vista
do seu conteúdo e guardadas as devidas proporções em termos de
comparação, estão relacionados com os fatores de ordem superior da Teoria
Humanista, abordagem proposta por Carl Rogers (1902-1987).
4. A Abordagem Centrada na Pessoa constituiu-se como uma vigorosa opção,
com amplas possibilidades de aplicações no âmbito das relações humanas,
109
no campo da Psicologia, da Pedagogia, do trabalho com grupos e nas
organizações.
5. A ausência de publicações nacionais e internacionais para discutirem todo o
processo e a impossibilidade de comparações com amostras brasileiras
impõem limitações ao trabalho.
6. Somente a partir de reflexões envolvendo o bem estar no trabalho, pode-se
pensar na construção de uma assistência em saúde qualificada e resolutiva.
110
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116
APÊNDICES
117
APÊNDICE A - Termo de consentimento informado - Secretaria Municipal de Saúde
de Porto Alegre
A Secretaria Municipal de Saúde de Porto Alegre
Sou enfermeira e mestranda do programa de pós-graduação em educação
(PUCRS).
Desenvolvo uma pesquisa cujo tema é “Afetividade nas relações de trabalho
em um serviço de saúde da rede municipal de Porto Alegre”, sob orientação da
Profª. Dra. Bettina Steren dos Santos.
O objetivo desse estudo é focalizar a afetividade nas relações interpessoais no
trabalho em saúde pública e desenvolver uma proposta que vise à promoção desse
conceito em saúde.
Meu trabalho consistirá na realização de questionários com profissionais de
saúde da instituição. A realização de meu trabalho junto à instituição será de caráter
voluntário e coloco-me à inteira disposição para esclarecimentos referentes ao
mesmo. Os resultados referentes à essa pesquisa poderão ser publicados,
respeitando o sigilo quanto a informações que possam identificar seus participantes.
Comprometo-me, também, a compartilhar o estudo com a instituição.
Agradeço antecipadamente.
Atenciosamente,
Ivani Nadir Vieira de Castro
Enfermeira (COREN/RS 65080)
Mestranda do PPGE/PUCRS.
Porto Alegre, de de 2008.
Aceitamos a realização dessa pesquisa nessa instituição e concordamos com o
termo exposto acima.
Instituição: Centro de Saúde Modelo
Coordenação: Enfª Ivani Nadir Vieira de Castro
Representante SMS responsável pela autorização: Dr.Nicolau Jorge Ludwig –
Coordenador Geral da Rede de Atenção
Básica da Secretaria Municipal de Saúde
118
APÊNDICE B - Termo de consentimento informado - Participantes
Prezado (a) profissional:
Sou enfermeira, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação
(PUCRS), e desenvolvo uma pesquisa chamada “Afetividade nas relações de
trabalho em um serviço de saúde da rede municipal de Porto Alegre”, sob orientação
da Profª.Dra. Bettina Steren dos Santos.
O objetivo desse estudo é focalizar a afetividade nas relações interpessoais no
trabalho em saúde pública e desenvolver uma proposta que vise à promoção desse
conceito em saúde.
Meu trabalho incide na aplicação de questionários com profissionais de saúde
dessa instituição.
Sua participação é voluntária e consiste em responder ao questionário. Os
resultados referentes à essa pesquisa poderão ser publicados, respeitando o sigilo
quanto a informações que possam identificar seus participantes.
Coloco-me à disposição para esclarecimentos de dúvidas quanto à pesquisa e
sua participação, pessoalmente ou através do telefone (51)8442 5555.
Muito obrigada!
Ivani Nadir Vieira de Castro
Enfermeira (COREN/RS 65080)
Mestranda do PPGE/PUCRS.
Porto Alegre, de de 2008.
Eu, __________________________ concordo em participar dessa pesquisa. Estou
ciente da participação voluntária e do interesse nesse estudo.
Nome:
Profissão:
Assinatura:
119
APÊNDICE C - Instrumento de Pesquisa - Questionário
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL – PUCRS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO – FACED
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – MESTRADO E
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO - PPGEDU
O presente instrumento faz parte de um estudo acadêmico que visa analisar a
maneira pela qual a afetividade insere-se nas relações de trabalho na área da
saúde. Portanto, sua participação é de grande importância para o desenvolvimento
da pesquisa. A sua participação é anônima.
Para o preenchimento utilize a Escala de Avaliação abaixo.
Muito Obrigada!
ORIENTAÇÕES:
Cada questão aceitará somente um número como resposta;
Esta escala permite avaliar o grau de satisfação em relação à pergunta, em
uma escala de 1 a 5.
(1) (2) (3) (4)
(5)
Discordo Concordo
totalmente totalmente
120
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
IDADE: _____ anos
SEXO:
( ) Feminino
( ) Masculino
TEMPO DE SERVIÇO:
1- ( ) Menos de 5 anos que trabalha na Empresa
2- ( ) de 6 a 10 anos que trabalha na Empresa
3- ( ) de 11 a 15 anos que trabalha na Empresa
4- ( ) Mais de 16 anos que trabalha na Empresa
ESCOLARIDADE:
1- ( ) 1º Grau Incompleto
2- ( ) 1º Grau Completo
3- ( ) 2º Grau Incompleto
4- ( ) 2º Grau Completo
5- ( ) Superior Incompleto
6- ( ) Superior Completo
7- ( ) Pós-Graduado
121
122
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