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UNIVERSIDADE
DE
BRASÍLIA
FACULDADE
DE
EDUCAÇÃO
FÍSICA
RESPOSTAS NEUROMUSCULARES DO MÚSCULO
VASTO LATERAL AO MÉTODO DA PRÉ-EXAUSTÃO
ADAPTADO
Valdinar de Araújo Rocha Júnior
BRASÍLIA
2008
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RESPOSTAS
NEUROMUSCULARES
DO
MÚSCULO
VASTO
LATERAL
AO
MÉTODO
DA
PRÉ-EXAUSTÃO
ADAPTADO
VALDINAR
DE
ARAÚJO
ROCHA
JÚNIOR
Dissertação apresentada à Faculdade
de Educação Física da Universidade de
Brasília, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em
Educação Física.
ORIENTADOR: JAKE CARVALHO DO CARMO
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VALDINAR
DE
ARAÚJO
ROCHA
JÚNIOR
RESPOSTAS
NEUROMUSCULARES
DO
MÚSCULO
VASTO
LATERAL
AO
MÉTODO
DA
PRÉ-EXAUSTÃO
ADAPTADO
Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Educação Física pelo Programa de Pós-Graduação da Faculdade
de Educação Física da Universidade de Brasília.
Banca examinadora:
____________________________________________
Prof. Dr. Jake Carvalho do Carmo, Doutor
(Orientador - FEF/UnB)
____________________________________________
Prof. Dr. Martim Francisco Bottaro Marques
(Examinador Interno – FEF/UnB)
____________________________________________
Prof. Dr. Adson Ferreira da Rocha
(Examinador Externo – ENE/UnB)
Brasília – DF, 05 de agosto de 2008
Ficha Catalográfica
.
R
EFERÊNCIA
B
IBLIOGRÁFICA
ROCHA
JÚNIOR,
Valdinar de Araújo.
Respostas neuromusculares do músculo vasto lateral ao
método da pré-exaustão adaptado. Universidade de Brasília, Faculdade de Educação Física,
2008. 92p. Dissertação apresentada à Faculdade de da Universidade de Brasília, como requisito
parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação Física.
CESSÃO DE DIREITOS
Autor: Valdinar de Araújo Rocha Júnior
Título: Respostas neuromusculares do músculo vasto lateral ao método da pré-
exaustão adaptado.
GRAU: Mestre ANO: 2008
É concedida à Universidade de Brasília permissão para reproduzir cópias desta
dissertação e para emprestar ou vender tais cópias somente para propósitos
acadêmicos e científicos. O autor reserva outros direitos de publicação e
nenhuma parte dessa dissertação de mestrado pode ser reproduzida sem
autorização por escrito do autor.
_______________________________________________________________
Valdinar de Araújo Rocha Júnior
QND 59 casa 34
72120-590 Taguatinga – DF – Brasil
Rocha Júnior, Valdinar de Araújo.
Respostas neuromusculares do músculo vasto lateral ao método de pré-exaustão
adaptado / Valdinar de Araújo Rocha Júnior . – 2008
92 p. : il.
Dissertação de Mestrado – Universidade de Brasília, Faculdade de Educação Física,
2008.
Orientador: Jake Carvalho do Carmo.
1. Pré-exaustão. 2. Eletromiografia. 3. Treinamento resistido. I. Faculdade de
Educação Física, Universidade de Brasília. II. Título.
CDU 796.012
R672r
i
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus por todas as dádivas que tem me concedido, dentre
elas a conclusão deste projeto.
A meus pais, Valdinar de Araújo Rocha e Ana Celi de Araújo Rocha, que
nunca mediram esforços para me proporcionar a melhor formação possível; e a
meus irmãos, João Victor de Araújo Rocha e Valdiceli de Araújo Rocha, que
juntamente com meus pais, compõem a melhor família que alguém pode ter.
Ao meu orientador e grande amigo, professor Jake Carvalho do Carmo,
cujos ensinamentos vão muito além dos necessários para a obtenção deste
título acadêmico. Obrigado pela paciência, dedicação e, sobretudo, pelo
exemplo como pessoa e profissional.
A minha irmã por parte da ciência, Maria Claudia Cardoso Pereira, e aos
grandes amigos, Sauro Salomoni, Fabiano Soares de Araújo e Fabiano
Peruzzo Shwarts, que sempre estiveram presentes quando precisei e em
nenhum momento me deixaram fraquejar diante dos problemas ocorridos. Com
eles compartilho os méritos da conclusão dessa dissertação.
Aos professores e amigos, Wilson Henrique Veneziano e Marcelino
Monteiro de Andrade, por todo o apoio técnico, orientações e conselhos
inestimáveis.
Aos amigos Paulo Roberto Wagner Pinheiro Júnior, Felipe Wasem
Magalhães e André Martorelli pelo suporte na coleta de dados e apoio durante
a execução da pesquisa.
A todo o corpo docente da Faculdade de Educação Física, em especial
aos professores Martin Bottaro, Marisete Peralta Safóns e Alexandre Resende
ii
pelo suporte à pesquisa, orientação para a melhoria do projeto e crescimento
acadêmico.
Aos amigos e companheiros da Academia Nacional de Polícia pela
paciência e compreensão nos momentos em que precisei me ausentar das
obrigações profissionais por conta dos compromissos acadêmicos.
Aos voluntários da pesquisa pelo compromisso e seriedade na
realização dos testes.
Aos amigos e companheiros de pesquisa e pós-graduação que muito
contribuíram para meu crescimento acadêmico.
À minha irmã, Valdiceli; ao primo e grande amigo, Rodrigo Barros
Araújo, e à grande amiga, Fabiana Lopes de Lucena, pelo apoio na elaboração
e revisão do manuscrito.
A todos os amigos que não tiveram participação direta no mestrado, mas
me acompanharam durante toda caminhada.
iii
SUMÁRIO
Página.
LISTA DE TABELAS .......................................................................................... v
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................... vi
LISTAS DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E SÍMBOLOS ...................................... viii
RESUMO............................................................................................................ ix
ABSTRACT ........................................................................................................ x
CAPÍTULO
1
INTRODUÇÃO ........................................................................... 1
1.1 –
Objetivo .................................................................................................. 3
1.2 –
Justificativa ............................................................................................. 3
CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA ..................................................... 5
2.1
Treinamento Resistido ............................................................................ 5
2.2
Eletromiografia ....................................................................................... 9
2.3
Pré-exaustão ........................................................................................ 22
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS ....................................................... 29
3.1
Amostra ................................................................................................ 29
3.2
– Exercícios ............................................................................................. 30
3.4
Procedimento experimental .................................................................. 34
3.5
Posicionamento de eletrodos e registro dos sinais eletromiográficos .. 36
3.6
Processamento dos sinais .................................................................... 42
3.7
Análise estatística ................................................................................. 46
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS ........................................................................ 47
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO ........................................................................... 51
iv
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES ....................................................................... 59
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 60
LISTA DE ANEXOS ......................................................................................... 68
v
LISTA DE TABELAS
Página.
Tabela 1 – Resumo do delineamento experimental. ........................................ 35
Tabela 2 – Descrição dos participantes cujos dados foram analisados. .......... 47
Tabela 3 – Média ±desvio padrão das cargas obtidas nos testes de 1 RM. .... 48
Tabela 4 Média ±desvio padrão do número de repetições executadas nos
exercícios leg press 45º e extensão de joelhos. ............................................... 48
Tabela 5 Valores médios ±desvio padrão das inclinações normalizadas dos
valores de RMS – variação percentual a cada repetição. ................................ 49
Tabela 6: Probabilidade (p) referente aos testes de normalidade Kolmogorov-
Smirnov aplicados às inclinações normalizadas das retas de regressão dos
valores RMS. .................................................................................................... 50
Tabela 7 Valores médios ±desvio padrão das inclinações normalizadas da
velocidade de condução – variação percentual a cada repetição. ................... 50
Tabela 8: Probabilidade (p) referente aos testes de normalidade Kolmogorov-
Smirnov aplicados às inclinações normalizadas das retas de regressão da
velocidade de condução. .................................................................................. 51
vi
LISTA DE FIGURAS
Página.
Figura 1 – Representação da amplificação diferencial de um eletrodo bipolar. 10
Figura 2 – Arranjo linear de 16 eletrodos. ........................................................ 11
Figura 3 Comparação entre o diferencial simples e o modo duplo diferencial.
......................................................................................................................... 11
Figura 4 Arranjo linear de eletrodos e amplitude do sinal captado em
diferentes regiões do músculo (modificado – De Luca, 1997). ......................... 12
Figura 5 – Sinal eletromiográfico bruto (A) e retificado por onda completa (B). 15
Figura 6 Representação esquemática dos procedimentos de normalização
(modificado – Konrad, 2005). ........................................................................... 16
Figura 7 Amplitude RMS obtida em diferentes percentuais da máxima
contração voluntária durante protocolo de rampa (modificado – Moritani e Muro,
1987). ............................................................................................................... 17
Figura 8 Representação de um sinal eletromiográfico apropriado para o
cálculo da velocidade de condução. ................................................................. 19
Figura 9 Relação entre força e velocidade de condução. (modificado
Masuda et al. 2001). ......................................................................................... 21
Figura 10 - Amplitude RMS do sinal eletromiográfico durante fadiga na máxima
contração isométrica (A) e em 50% dessa intensidade (B) (modificado -
Moritani et al., 1986). ........................................................................................ 26
Figura 11 - Velocidade de condução a 30% da máxima contração voluntária
(modificado - Houtman et al., 2003). ................................................................ 28
Figura 12 - Velocidade de condução em cinqüenta contrações intermitentes.
Valores normalizados pela velocidade inicial (modificado - Van der Hoeven e
Lange, 1994). ................................................................................................... 28
Figura 13 - (A) Exercício leg press 45º, exercício multi-articular; (B) extensão de
joelhos, exercício mono-articular (modificado - Delavier, 2001). ...................... 30
vii
Figura 14 - Fita elástica delimitando a amplitude articular para a execução do
leg press 45°. ............................................. ...................................................... 31
Figura 15 - Amplitude da inicial e final da extensão de joelho determinada pelo
braço de resistência do aparelho. .................................................................... 32
Figura 16 - Eletromiógrafo EMG-16 (LISiN Ot Bioelettronica Torino , Itália).
......................................................................................................................... 36
Figura 17 - Visualização do sinal captado pelo software EmgAcq (LISiN Ot
Bioelettronica – Torino, Itália). .......................................................................... 38
Figura 18 - Tela de apresentação dos parâmetros analisados no mapeamento
(EmgAcq / LISiN – Ot Bioelettronica – Torino, Itália). ....................................... 39
Figura 19 - (A) Ilustração de um espectro de freqüência sem ruídos e (B) outro
contaminado por ruído de 60 Hz e freqüências harmônicas. ........................... 40
Figura 20 - Marcação da região de boa propagação no sculo vasto lateral
para a fixação do arranjo de eletrodos flexível. ................................................ 40
Figura 21 - Arranjo linear flexível de oito eletrodos e diagramação de seu
posicionamento e preenchimento com gel condutor. ....................................... 41
Figura 22 - Trigger utilizado para sincronizar o ângulo articular com o sinal
eletromiográfico. Equipamento desenvolvido no Laboratório de Processamento
de Sinais Digitais (FEF – UnB). ........................................................................ 42
Figura 23 - Representação do janelamento em torno do pulso elétrico gerado
pelo trigger no ângulo de 100 graus de flexão do joelho. ................................. 43
Figura 24 Retas de regressão dos valores de RMS no exercício leg press 45
- variação percentual média em quinze repetições. ......................................... 49
Figura 25 Retas de regressão da velocidade de condução no exercício leg
press 45
- variação percentual média em quinze repetições. ......................... 51
viii
LISTAS DE ABREVIAÇÕES
ARV – Average Rectified Value (Amplitude Média Retificada)
C – Série simples (controle)
LSD – teste post hoc Least Significant Difference
P30 – Pré-exaustão de baixa intensidade
P60 – Pré-exaustão de alta intensidade
RMS – Root Mean Square (Valor Quadrático Médio)
RM – Repetição máxima
ix
RESUMO
RESPOSTAS
NEUROMUSCULARES
DO
MÚSCULO
VASTO
LATERAL
AO
MÉTODO
DA
PRÉ-EXAUSTÃO
ADAPTADO
Autor: Valdinar de Araújo Rocha Júnior
Orientador: Jake Carvalho do Carmo
O objetivo do estudo foi verificar se a pré-exaustão realizada em
exercício mono-articular de baixa intensidade é uma forma eficaz de recrutar
maior o número de unidades motoras no exercício multi-articular subseqüente.
A eletromiografia foi registrada no vasto lateral de nove sujeitos (23,33 ±3,46
anos) por meio de um arranjo linear de eletrodos. Na pré-exaustão de baixa
intensidade (P30) foram realizadas 15 extensões unilaterais de joelho seguidas
de 15 repetições de leg press 45° com cargas de 30 e 60% de 1 repetição
máxima (RM), respectivamente. Na pré-exaustão de alta intensidade (P60) a
mesma seqüência foi executada, porém a carga dos dois movimentos foi de
60% de 1 RM. Uma série simples de 15 repetições leg press 45° foi utilizada
como exercício controle (C). O valor RMS e a velocidade de condução foram
estimados para cada repetição e a partir desses valores foram calculadas
regressões lineares. As inclinações das retas foram normalizadas por seus
valores inicias e comparadas por meio de uma ANOVA de medidas repetidas.
As maiores inclinações do RMS de P30 e P60 em relação a C (p<0,05)
sugerem maior recrutamento de unidades motoras nas séries de pré-exaustão.
Não houve diferença significativa entre as inclinações da velocidade de
condução de P30, P60 e C. A série P30 é mais indicada para o treinamento,
pois permite maior controle do volume no exercício multi-articular.
Palavras-chaves: pré-exaustão, eletromiografia, treinamento resistido.
x
ABSTRACT
NEUROMUSCULAR
REPONSES
OF
VASTUS
LATERALIS
TO
THE
ADAPTED
PRE-EXHAUSTION
METHOD
Autor: Valdinar de Araújo Rocha Júnior
Orientador: Jake Carvalho do Carmo
The aim of study was to verify if the pre-exhaustion performed at a
single-joint exercise with low intensity is an effective method to recruit a large
number of motor units in the subsequent multi-joint exercise. The
electromyography was recorded from vastus lateralis of nine subjects (23,33
±3,46 years) by a linear array of electrodes. The low intensity pre-exhaustion
(P30) was a combination of 15 unilateral knee extensions with 15 unilateral
repetitions of leg press 45° performed at 30 and 60% of 1 repetition maximum
(1 RM), respectively. In the high intensity pre-exhaustion (P60), the same
combination was performed, but at 60% of 1 RM for both exercises. A single set
of 15 repetitions of leg press 4 was analyzed as control exercise (C). The
RMS and the conduction velocity were estimated for each repetition and then fit
with a regression line. The slopes of regression line were normalized by their
initial values and then compared by one way ANOVA for repeated measures.
The higher RMS slopes of P30 and P60 suggest a higher recruitment of motor
units. There was no difference in the conduction velocity slopes of P30, P60
and C. The low intensity pre-exhaustion is more indicated for training due to the
fact it allows a better control of volume in the multi-joint exercise.
Keywords: pre-exhaustion, electromyography, resistance training.
1
CAPÍTULO
1
INTRODUÇÃO
Alguns métodos de treinamento resistido tentam, de forma empírica, encadear
exercícios para que a seqüência de estímulos proporcione uma melhor resposta da
musculatura trabalhada. Um método bastante utilizado com essa finalidade é
conhecido como pré-exaustão. Essa técnica consiste na realização de um exercício
mono-articular seguido de um exercício multi-articular para o mesmo músculo, como
por exemplo, executar uma série de agachamento após uma série de extensão de
joelhos (Augustsson et al., 2003). O objetivo dessa seqüência é enfatizar o trabalho
sobre o músculo pré-fatigado por um possível aumento do número de fibras
musculares recrutadas para a execução do exercício multi-articular (Gentil et al.,
2007). No exemplo citado a combinação favoreceria a ativação dos músculos do
quadríceps femoral.
Embora o sistema nervoso evoque unidades motoras adicionais para
compensar a perda de potencial contrátil de fibras fatigadas (Moritani e Muro, 1987;
Merletti e Parker, 2004), estudos sobre a pré-exaustão demonstram que sua
utilização não atende ao propósito de intensificar o trabalho sobre um determinado
grupamento muscular. Pelo contrário, o desgaste excessivo decorrente da realização
do exercício mono-articular vigoroso parece inibir a atividade do músculo pré-fatigado
e a necessidade de o organismo recorrer a outros grupos musculares para a
realização do exercício multi-articular (Augustsson et al., 2003; Gentil et al., 2007).
Apesar da pré-exaustão, da maneira como vem sendo praticada, não
apresentar os resultados esperados, é possível que ajustes na intensidade dos
estímulos aplicados possam validar a adoção desse procedimento na rotina de
treinamento. Houtman et al. (2001) e Houtman et al. (2003) observaram que, após a
fadiga inicial de unidades motoras tipo I, causada pela manutenção de uma
contração de baixa intensidade, parece ocorrer uma maior atividade de unidades
motoras tipo II. Deste modo, esforços com carga reduzida no exercício mono-articular
podem favorecer o recrutamento de um maior número de unidades motoras no
2
exercício subseqüente, principalmente de unidades motoras tipo II que normalmente
possuem maior limiar de excitação (Henneman et al., 1965).
A eletromiografia de superfície é uma das técnicas mais aplicadas em
pesquisas sobre o processo de ativação dos músculos e freqüentemente é utilizada
em estudos sobre o treinamento resistido. Ela compreende a soma da atividade
elétrica gerada pelas unidades motoras recrutadas e possibilita a identificação das
estratégias de recrutamento muscular por meio de parâmetros como a valor
quadrático médio (root mean square RMS) e a velocidade de condução (Farina et
al., 2004a). O valor RMS é um estimador de amplitude que tem alta correlação com o
nível de ativação neural e a força exercida em uma ação muscular (Farina et al.,
2004b; De Luca, 1997). Ele consiste na raiz quadrada de um quociente cujo
numerador é o somatório do valor de cada amostra do sinal eletromiográfico elevada
à segunda potência, e o denominador é o número total de amostras. No presente
estudo o valor RMS foi calculado por meio de janelas móveis recortadas do sinal
eletromiográfico. Já a velocidade de condução é a velocidade de propagação dos
potenciais de ação ao longo da fibra muscular. De maneira simplória, pode-se dizer
que essa variável é estimada pela razão da distância entre eletrodos posicionados
sobre a pele e o lapso temporal no registro do potencial de ação por esses eletrodos
(distância/tempo).
A velocidade de condução está relacionada a aspectos fisiológicos
como o número de unidades motoras recrutadas, a taxa de disparo dos potenciais de
ação e o tipo de fibra solicitado na ação muscular (Morimoto et al., 1984; Kupa et al.,
1995). O valor RMS e a velocidade de condução também constituem bons
indicadores da exaustão muscular, pois com o advento da fadiga em contrações
submáximas o valor do RMS aumenta e a velocidade de condução diminui (Deluca,
1997; Merletti e Parker, 2004).
Pesquisas sobre a atividade elétrica muscular no treinamento resistido podem
comprovar os benefícios, potencializar os resultados, ou corrigir eventuais falhas dos
métodos existentes. O presente estudo trata da comparação dos parâmetros
eletromiográficos de amplitude e velocidade de condução em musculatura submetida
a diferentes níveis de pré-exaustão. Dois exercícios extremamente populares no
treinamento em academias foram combinados: a extensão de joelhos e o leg press
3
45º, exercícios mono e multi-articular, respectivamente. A eletromiografia foi
registrada por meio de arranjo linear de eletrodos, uma ferramenta que permite maior
precisão que os eletrodos configuração bipolar na localização de regiões de boa
propagação dos potenciais de ação (Merletti e Parker, 2004).
1.1
Objetivo
O objetivo do presente estudo é avaliar, por meio de parâmetros
eletromiográficos, se a pré-exaustão realizada por exercício mono-articular de
membro inferior com baixa intensidade é um método eficiente para aumentar o
número de unidades motoras recrutadas na execução do exercício multi-articular
subseqüente.
1.2
Justificativa
A força tem ocupado um papel cada vez mais importante como componente
da aptidão física. Atualmente a ciência reconhece essa valência como fundamental
para a saúde, qualidade de vida e capacidade funcional dos indivíduos (Kraemer et
al., 2002). Assim, o treinamento resistido, melhor meio de desenvolver a força
muscular (Fleck e Kraemer, 2004), passou a ser amplamente empregado na área
esportiva, na reabilitação, na estética e em atividades de caráter recreacional.
Apesar de ser uma prática antiga e apresentar crescente popularidade entre
os entusiastas e profissionais da atividade física, somente nas últimas décadas o
treinamento resistido tem sido estudado com ênfase no meio acadêmico. A maior
parte das metodologias desenvolvidas surgiu da observação e de experiências de
atletas de força, como fisiculturistas e levantadores olímpicos (Fleck e Kraemer,
2004; Gentil, 2005). Muitas vezes os aspectos fisiológicos envolvidos na estruturação
da prática de tais sujeitos eram deixados em segundo plano em razão de questões
4
administrativas como equipamentos disponíveis e tempo para execução dos
exercícios (Fleck e Kraemer, 2004). Nesse contexto, demasiadamente empírico, a
pré-exaustão surgiu como estratégia para aumentar os ganhos de força e hipertrofia.
As escassas investigações sobre a pré-exaustão apontam para resultados
contraproducentes dessa metodologia. No entanto, as pesquisas observadas na
literatura limitam-se somente a análises da forma tradicional de aplicação da técnica,
na qual cargas elevadas o empregadas tanto no exercício mono-articular quanto
no multi-articular (Augustsson et al., 2003; Gentil et al., 2007). Ao que tudo indica,
não foram estudadas adaptações do todo em relação às sobrecargas utilizadas
em sua execução. Uma correta manipulação de intensidade pode transformar a pré-
exaustão em um recurso valioso, sobretudo para praticantes de níveis intermediário e
avançado que estão sujeitos à menor evolução de suas capacidades físicas e
necessitam de maior variabilidade em seu treinamento (Stone et al., 2000).
5
CAPÍTULO 2 – REVISÃO DE LITERATURA
2.1
Treinamento Resistido
Treinamento resistido pode ser definido como exercícios cujos segmentos
corporais movimentam-se, ou tentam movimentar-se, contra uma determinada força
(Fleck e Kraemer, 2004). Embora esse termo possa englobar todos os movimentos
com sobrecarga, seu emprego mais usual se presta à definição de exercícios
praticados em centros de atividade física e academias, nos quais, equipamentos,
barras, anilhas e halteres são utilizados para aumentar a intensidade da contração
muscular.
A história do treinamento resistido confunde-se com a própria história do
desporto mundial. Desafios nos quais a força muscular era colocada à prova são
descritos mais de 5.000 anos em várias regiões do planeta (Kraemer e Hakkinen,
2002). A Grécia antiga foi provavelmente o local em que o treinamento resistido teve
maior difusão. Parte da preparação física dos soldados desse país era baseada em
exercícios de força e resistência muscular. Também inúmeros relatos do
treinamento resistido aplicado à preparação física daqueles que competiam nos
antigos Jogos de Olímpia. O atleta de maior reconhecimento desse período foi Milos
de Cotrona. Ele foi, provavelmente, o primeiro a explorar o conceito de sobrecarga
progressiva no treinamento de força. Milos costumava treinar com um novilho sobre
as costas. À medida que o novilho crescia, Milos tornava-se mais forte e, desta
forma, foi capaz de carregar um boi em volta de um estádio (Kraemer et al., 2002).
Na sociedade contemporânea o treinamento resistido popularizou-se no início do
século XX com o desenvolvimento de esportes como o levantamento olímpico e o
fisiculturismo (Kraemer e Hakkinen, 2002). A despeito do crescimento dessas
modalidades, as pesquisas científicas sobre o treinamento resistido começaram
somente no final da década de 40, quando Delmore e Watkins escreveram sobre os
6
exercícios de força com intensidade progressiva na reabilitação de militares no
período pós-guerra (Kraemer et al., 2002).
A elaboração de programas de treinamento resistido é uma tarefa complexa
que envolve diversos aspectos. Dentre os parâmetros mais importantes podemos
destacar a intensidade e o volume do treino (Tan, 1999).
A intensidade é normalmente descrita em termos da carga ou da resistência
usada na realização dos exercícios. Duas são as formas mais comuns para a
indicação da intensidade em movimentos isotônicos, isto é, movimentos com
sobrecarga constante e velocidade variável (Kraemer et al., 2002). A primeira define
a sobrecarga em percentuais de uma repetição máxima (Fleck, 1999). Uma repetição
máxima, ou simplesmente 1 RM, é a máxima carga suportada para a execução de
uma única repetição do exercício dentro da técnica correta. A segunda maneira
refere-se à maior carga com a qual é possível efetuar um determinado número de
repetições. Neste caso, a notação 15 RM, por exemplo, descreve a intensidade
suportada na execução de quinze movimentos corretos e consecutivos de um
exercício (Tan, 1999).
O volume está relacionado à quantidade de treinamento executada em uma
sessão de treino. Este pode ser precisamente calculado com base no trabalho
mecânico total em joules (força x distância), mas estimativas mais simplórias como o
número total de séries, número de repetições (repetições x séries) ou o trabalho total
executado (carga x repetições x séries) são mais habituais (Tan, 1999; Fleck, 1999;
Stone et al., 2000). O termo volume pode ainda se referir ao número de sessões de
treino realizadas ou previstas para um período de tempo.
Quando o volume e a intensidade sofrem variações sistemáticas com
propósitos bastante específicos, diz-se que o treinamento foi periodizado (Fleck,
1999). A periodização é um planejamento necessário para a obtenção de resultados
ótimos do treinamento e requer conhecimento apurado dos efeitos agudos e crônicos
de fatores como a ordem dos exercícios, o tipo de contração, o intervalo de
recuperação entre as séries e a velocidade de contração, entre outros. Esses
aspectos têm sido amplamente abordados em estudos recentes (Behm e Sale, 1993;
7
Webber e Kriellaars, 1997; Richrmond e Godard, 2004; Munn et al.., 2005; Rahimi,
2005; Tran et al., 2006), pois constituem a base para uma prescrição de qualidade e
para o aprimoramento dos métodos existentes.
Os estágios iniciais do treinamento resistido são marcados por uma melhora
acentuada na capacidade contrátil dos músculos. Incrementos de até 77% na carga
suportada para 1 RM são reportados com apenas duas semanas de treinamento
(Staron et al., 1994). Ganhos dessa magnitude estão associados a alterações no
controle neural da atividade muscular. Indivíduos o-treinados usualmente
apresentam dificuldade em recrutar uma grande quantidade de unidades motoras
para a realização de esforços com sobrecarga elevada (Gandevia, 2001). Esse
quadro é rapidamente revertido por um curto período de adaptação ao treinamento e
aprendizagem dos exercícios (Moritani et al., 1979; Knight e Kamen, 2001). Além de
melhorar a capacidade de mobilizar fibras musculares, o treinamento resistido
também provoca um aumento na taxa de disparo das unidades motoras ativas
(Gabriel et al., 2006; Folland e Williams, 2007).
Outro mecanismo que sofre rápida adaptação ao treinamento resistido é a
coordenação na atividade das unidades motoras de um mesmo músculo, conhecida
como coordenação intramuscular. As unidades motoras de praticantes de exercícios
de força atuam em maior sincronia que as de sujeitos não fisicamente ativos
(Semmler e Nordstrom, 1998). Milner-Brown et al. (1975) sugerem que essa ação
simultânea de unidades motoras torna-se mais efetiva já nas primeiras seis semanas
de exercícios contra resistência.
Igualmente susceptível a adaptações decorrentes do treinamento resistido é o
controle que o sistema nervoso exerce sobre diferentes músculos envolvidos em um
movimento. Poucas sessões de treinos são necessárias para promover maior
sinergia entre músculos motores primários e acessórios (Hakkinen et al., 2001). A
relação entre a ação de agonistas e antagonistas também é otimizada com o
treinamento. Carolan e Cafarelli (1992) analisaram a coativação do bíceps femoral e
do vasto lateral na extensão isométrica do joelho durante oito semanas de
treinamento resistido. O aumento expressivo no torque máximo exercido pelos
8
sujeitos foi atribuído ao decréscimo na atividade do bíceps femoral, músculo
antagonista, uma vez que não foi observado incremento na ação do vasto lateral com
o treino. A maior redução na coativação ocorreu logo na primeira semana desse
estudo.
À medida que o praticante evolui no treinamento resistido, mudanças em sua
estrutura muscular são desencadeadas. A hipertrofia é uma das adaptações crônicas
de maior notoriedade e pode ser observada após oito semanas de treinamento
regular (Folland e Williams, 2007). O aumento da massa muscular é conseqüência
do incremento na síntese de proteínas e decréscimo na taxa de anabolismo (Fleck e
Kraemer, 2004). A combinação desses fatores resulta no aumento do tamanho e da
quantidade dos filamentos de actina e miosina que constituem as miofibrilas
(McDonagh e Davies, 1984, Campos et al., 2002). Tecidos conectivos como
ligamentos e tendões não possuem resposta hipertrófica tão acentuada quanto as
proteínas contráteis (Kubo et al., 2001). Contudo, o treinamento resistido em longo
prazo também parece provocar aumento na sessão transversa dessas estruturas,
uma vez que elas apresentam-se mais desenvolvidas em atletas de elite de
modalidades de alta intensidade (Kongsgaard et al., 2005).
Outra adaptação no sistema muscular descrita na literatura é a conversão do
subtipo de fibras. Campos et al. (2002) avaliaram os efeitos do treinamento resistido
de diferentes intensidades nas fibras musculares de trinta e dois iniciantes
submetidos a oito semanas de exercícios para membros inferiores. A biopsia no
tecido muscular e a análise de isoformas das cadeias pesadas de miosina apontaram
a mudança de fibras subtipo IIB para o subtipo IIA. Esse resultado também é relatado
por outros autores (Staron et al., 1994; Folland e Williams, 2007) e mostra que,
independente da intensidade trabalhada, o treinamento resistido provoca alterações
histoquímicas que tornam as fibras menos fatigáveis.
Além dos ganhos de força, hipertrofia, potência e resistência muscular, que
fazem do treinamento resistido uma ferramenta extremamente eficaz na preparação
da maioria das modalidades desportivas, a realização de exercícios contra
resistência apresenta resultados significativos na promoção da saúde e da qualidade
9
de vida. Estudos demonstram que o treinamento resistido reduz o risco de doenças
coronarianas, diabetes, câncer, previne contra a osteoporose, promove redução e
manutenção do peso corporal, melhora a estabilidade articular e preserva a
capacidade funcional (Kraemer et al., 2002). Com isso, esse tipo de treino passou a
ser indicado e praticado não somente por aqueles que buscam resultados em
competições, mas por indivíduos saudáveis de todas as faixas etárias e até mesmo
por pessoas acometidas por enfermidades.
2.2
Eletromiografia
A eletromiografia é o estudo da manifestação elétrica de todas as unidades
motoras ativas durante uma contração muscular (Merletti e Parker, 2004). Ela
constitui uma ferramenta poderosa de modelagem do sistema neuromuscular
(Andrade, 2006) e tem sido utilizada na análise da coordenação intra e intermuscular,
no diagnóstico de fadiga e na determinação da tensão muscular (Anders et al., 2005).
A eletromiografia pode ser classificada como intramuscular ou de superfície, de
acordo com o tipo de eletrodo utilizado. A eletromiografia de superfície faz uso de
eletrodos posicionados sobre a pele para o registro da atividade elétrica muscular e é
mais comumente utilizada em situações de treinamento desportivo, dada sua
natureza não invasiva.
O eletrodo é normalmente composto de prata clorada Ag-AgCl (Hermens et
al., 2000). Esse material proporciona baixa impedância com a pele (resistência à
passagem de corrente elétrica), baixo ruído na aquisição do sinal, além de se
comportar de maneira estável, isto é, ele não se polariza (Forti, 2005). O eletrodo
deve permitir um bom contato com a pele e ser grande o suficiente para abranger um
número razoável de unidades motoras, porém, pequeno o bastante para evitar a
captação de sinais provindos de outros músculos (crosstalk). Eletrodos bipolares são
os mais usados em pesquisas com eletromiografia de superfície e funcionam com um
sistema de amplificação diferencial (figura 1). Os sinais captados pelos dois eletrodos
10
são diferentes, porém os ruídos captados por ambos apresentam características
muito semelhantes. A parte comum dos sinais é eliminada e a diferença entre eles é
amplificada. Qualquer sinal originado em áreas remotas onde não contração é
captado pelo eletrodo de referência e excluído, pois também constitui a porção
comum dos sinais (De Luca, 2002). Esse processo é chamado de rejeição do modo
comum.
Recentemente, um sistema conhecido como arranjo linear de eletrodos tem
suplantado, em termos qualitativos, a tecnologia bipolar na obtenção de sinais
eletromiográficos. Esse arranjo é formado por um conjunto de eletrodos com várias
superfícies de contato de mesma dimensão dispostas em linha com uma distância
fixa entre elas (figura 2).
Uma das vantagens do arranjo linear de eletrodos em relação à configuração
bipolar está na possibilidade de se aplicar de filtros espaciais como o duplo
diferencial para a captação do sinal (figura 3). Dois sinais diferenciais são obtidos dos
eletrodos 1 e 2 e dos eletrodos 2 e 3. A partir desses dois diferenciais um terceiro
sinal diferencial é calculado. O maior alcance do arranjo linear e a aplicação do modo
Figura 1 – Representação da amplificação diferencial de um eletrodo bipolar.
O sinal eletromiográfico é representado por “m
i
”, onde i=1,2; e o ruído por n”
(modificado – De Luca, 2006).
11
duplo diferencial permitem filtrar o sinal oriundo de pontos mais distantes, o que
reduz consideravelmente o crosstalk na eletromiografia de superfície (De Luca,
1997).
O sinal eletromiográfico é representado por “m
i
”, onde i=1,2; e o ruído por “n”.
Figura 2 – Comparação entre o diferencial simples e o modo duplo diferencial.
Figura 3Arranjo linear de 16 eletrodos.
Dimensões de 5x1 mm e distância entre eletrodos de 5 mm (LISiN Ot
Bioelettronica – Torino, Itália).
12
Outro benefício da disposição linear de eletrodos é a identificação da anatomia
das unidades motoras e o mapeamento de regiões de boa propagação do sinal
eletromiográfico (Merlleti et al., 2003). Por recobrir uma maior área muscular, o
arranjo linear pode acompanhar o potencial de ação desde sua origem até sua
extinção (Merletti e Parker, 2004). Nas zonas de inervação, onde estão presentes as
junções neuromusculares, a caracterização do sinal fica prejudicada por uma
interferência mútua dos potenciais disparados por diferentes unidades motoras, o
que leva a estimativas incorretas da amplitude do sinal, da freqüência de disparo e
da velocidade de propagação do potencial de ação nas fibras musculares (Saito, et
al., 2000). Antes dos arranjos lineares a localização das zonas de inervação era feita
com base em mapas anatômicos que não podiam considerar diferenças individuais
básicas como o tamanho de segmentos corporais, tampouco ponderavam a
influência do comprimento muscular na ação analisada. Outras regiões impróprias
para captação do sinal e facilmente identificáveis pelo arranjo de eletrodos são os
tendões, pois neles não há propagação dos potenciais de ação (figura 4).
Em destaque as regiões que não propiciam boas condições para aquisição do
sinal.
Figura 4
Arranjo linear de eletrodos e amplitude do sinal captado em diferentes
regiões do músculo (modificado – De Luca, 1997).
13
Embora o modo duplo diferencial e o mapeamento muscular atenuem muitas
interferências presentes na captação do sinal, aquisições totalmente livres de ruídos
são praticamente impossíveis (Konrad, 2005). Os pesquisadores devem conhecer as
principais fontes de ruídos da eletromiografia de superfície e direcionar esforços para
minimizar sua ocorrência.
Uma das perturbações mais elementares na eletromiografia de superfície é o
artefato de movimento. Ele é mais comum em contrações dinâmicas e possui
freqüências que variam entre 0 e 20 Hz (Merletti e Parker, 2004). Normalmente é
gerado pela movimentação do eletrodo sobre a pele e/ou dos cabos que ligam os
eletrodos ao eletromiógrafo (Andrade, 2006). Esse tipo de ruído pode ser minimizado
pela correta fixação dos cabos e pela utilização de eletrodos cujo contato com a pele
se faz por uma camada de gel condutor (Clancy et al., 2002). O gel, independente de
oscilações, mantém o contato entre eletrodo e pele relativamente constante, o que
evita variações de amplitude causadas por flutuações do eletrodo. Outro problema
relativo ao artefato de movimento é a alteração da impedância da pele provocada por
deformações decorrentes do alongamento e encurtamento muscular (Clancy et al.,
2002). A assepsia e abrasão do local onde o eletrodo é fixado são a melhor forma de
contornar esse problema, pois tais cuidados reduzem a impedância de forma
considerável e tornam diferentes regiões da pele mais uniformes em relação à
passagem de corrente elétrica (Webster, 1984). Ainda que se consigam condições
bastante favoráveis para o registro dos sinais, autores sugerem o uso de filtros
passa-altas com freqüência de corte entre 10 Hz e 20 Hz para completa eliminação
dos ruídos de artefato de movimento (De Luca, 1997; Merletti, 1999). Filtros com
essa característica também são ideais para reduzir a interferência de outros sinais
biológicos como o eletrocardiograma (Clancy et al., 2002).
Campos eletromagnéticos também são uma fonte de ruído muito comum na
eletromiografia de superfície. A freqüência de ruídos dessa natureza é a freqüência
da corrente alternada do ambiente e/ou suas freqüências harmônicas (60 Hz no
Brasil e na maioria dos países do continente americano). A amplitude do ruído
induzido por descargas eletromagnéticas pode ser muito superior à amplitude do
sinal eletromiográfico (Clancy et al., 2002). Equipamentos com blindagem adequada
14
de cabos e acessórios estão menos sujeitos a interferências eletromagnéticas.
Amplificadores diferenciais com a taxa de rejeição do modo comum de pelo menos
100 dB em 50/60 Hz também são recomendados para uma maior qualidade de sinal
(Clancy et al., 2002; De Luca, 2002). Uma recomendação prática durante o registro
dos sinais é manter os cabos do eletromgrafo bem próximos uns dos outros ou
mesmo entrelaçá-los para diminuir a exposição a diferentes faixas de campos
eletromagnéticos e tornar a rejeição do modo comum mais efetivo (Clancy et al.,
2002). Afastar o sujeito de equipamentos elétricos como lâmpadas e
microcomputadores também é aconselhado (Veneziano, 2006).
Além das diversas fontes de ruído, algumas características do próprio sinal
eletromiográfico sugerem processamentos especiais para sua análise. O caráter
estocástico (aleatório) da atividade elétrica captada pelos eletrodos de superfície
gera grande instabilidade nas freqüências até 20 Hz, o que as torna inadequadas
para análises (De Luca, 2002; Andrade, 2006). Na maioria dos músculos e na maior
parte das aplicações da eletromiografia de superfície as freqüências acima de 500 Hz
também não correspondem a efeitos da contração muscular ou outros fatores
fisiológicos (Merletti e Parker, 2004). Desse modo, o uso de filtros passa-banda com
freqüência de corte entre 20 e 500 Hz é bastante habitual no estudo da
eletromiografia de superfície (De Luca, 1997; De Luca, 2002; Merletti e Parker,
2004).
O sinal eletromiográfico pode ser estudado por meio de diversas variáveis.
Dentre os parâmetros mais pesquisados podemos destacar a amplitude do sinal
eletromiográfico, que é usada como índice de ativação proveniente da medula
espinhal, pois está relacionada à rede de unidades motoras recrutadas e à taxa de
disparo das unidades motoras ativas (Farina, 2004). A amplitude do sinal
eletromiográfico de superfície pode variar de 0 a 10 mV pico a pico (De Luca, 2002),
contudo as estimativas construídas a partir desses valores brutos podem conduzir a
inferências equivocadas. Por esse motivo, alguns processamentos são sugeridos na
literatura para uma melhor interpretação dessa variável. Um dos procedimentos mais
utilizados é denominado retificação. Ao ser captado, o sinal eletromiográfico
apresenta valores positivos e negativos (figura 5-A), oriundos da constante
15
despolarização e repolarização da membrana muscular. A amplitude calculada com
os valores originais do sinal pode subestimar a atividade das unidades motoras
envolvidas na contração simplesmente pelo cancelamento das fases positivas e
negativas do potencial de ação (Farina, 2004). A retificação nada mais é que a
eliminação dos valores negativos (retificação de meia onda) ou a conversão destes
em valores positivos (retificação de onda completa) (De Luca, 2006). A retificação de
onda completa é mais desejável, pois conserva toda a energia do sinal (figura 5-B).
A amplitude do sinal eletromiográfico também é fortemente influenciada pelas
condições de detecção e diferenças intra e inter indivíduos (Burden e Bartlett, 1999).
Normalmente é necessário “calibrar” a escala dos sinais em torno de um único
parâmetro quando o objetivo é comparar diferentes situações de aquisição (Konrad,
2005). Essa “calibragem” é conhecida como normalização. O procedimento de
normalização na eletromiografia de superfície é usualmente realizado de três formas
(figura 6). A primeira delas tem como referência a execução de uma máxima
contração voluntária isométrica. O sinal dessa contração é definido como 100% da
atividade elétrica do músculo e os demais valores da escala original são convertidos
em percentuais relativos a esse máximo. Esse é um critério bastante lido para
redefinição do sinal, contudo não é sensível a variações do comprimento muscular
(Konrad, 2005). Outra desvantagem é a subestimação do valor máximo da contração
Figura 5 – Sinal eletromiográfico bruto (A) e retificado por onda completa (B).
0 2000 4000 6000 8000
-3
-2
-1
0
1
2
3
Sinal eletromiográfico bruto
amostras
mV
0 2000 4000 6000 8000
0
0.5
1
1.5
2
2.5
3
Sinal eletromiográfico retificado
mV
amostras
16
que pode ter uma defasagem de 20% a 40%, caso o sujeito não possa experimentar
o protocolo de teste antes da coleta da força máxima (Soderberg e Knutson, 2000).
As outras formas mais comuns de normalização são baseadas no valor médio do
próprio sinal ou em seu valor máximo, o que é mais usual (Konrad, 2005). Esses
métodos de normalização reduzem significativamente a variabilidade inter-sujeito
(Burden e Bartlett, 1999).
Após o procedimento de retificação e normalização, o cálculo da amplitude do
sinal é usualmente feito pelo método do valor quadrático médio (Root Mean Square -
RMS) ou pela amplitude média do sinal retificado (Average Rectified Value - ARV).
Para o cálculo do valor RMS realiza-se a soma de todas as amostras do sinal
eletromiográfico elevadas à segunda potência. Esse somatório é dividido pelo
número total de amostras e extrai-se a raiz quadrada do quociente obtido (De Luca,
1997). O ARV é o somatório do sinal retificado num dado intervalo de tempo, dividido
pelo tamanho do intervalo (Merletti, 1999). Ambos são representações matemáticas
da área sob a curva do sinal e não traduzem nenhuma grandeza física específica ou
parâmetro fisiológico direto, apesar de sua íntima relação com estes (De Luca, 2002).
Alguns autores sugerem que a amplitude seja preferencialmente descrita pelo valor
RMS (De Luca, 1997; De Luca, 2002; Konrad, 2005) por ser essa uma medida de
potência do sinal bastante conhecida na área de engenharia eletrônica (Merletti e
Figura 6 Representação esquemática dos procedimentos de normalização
(modificado – Konrad, 2005).
17
Parker, 2004). Para verificar o comportamento da amplitude do sinal eletromiográfico
durante uma contração muscular é comum o calcular o valor RMS e o ARV de
janelas móveis recortadas ao longo do sinal.
Na área clínica a amplitude é usada para estudar a coordenação muscular e
os intervalos de ativação de movimentos como a marcha (Merletti e Parker, 2004). A
amplitude do sinal também está ligada à força produzida pelo sculo e ao número
de unidades motoras recrutadas durante a contração. Moritani e Muro (1987)
avaliaram o músculo bíceps braquial com um protocolo de contração isométrica em
rampa no qual a força subia de 0% a 80% da máxima contração voluntária em 5
segundos. A amplitude do sinal apresentou-se crescente e acompanhou de forma
progressiva o aumento da força (figura 7). A relação linear entre a força e a amplitude
do sinal eletromiográfico também é descrita para outros grupamentos musculares,
tanto em contrações isométricas quanto dinâmicas (De Luca, 1997; Alkner et al.,
1999; Masuda et al., 2001; Bilodeau et al., 2003).
Além da amplitude do sinal eletromiográfico, uma variável muito útil no estudo
da atividade muscular é a velocidade de propagação do potencial de ação ao longo
das fibras, conhecida como velocidade de condução (Merletti et al., 1990).
Figura 7 Amplitude RMS obtida em diferentes percentuais da máxima contração
voluntária durante protocolo de rampa (modificado – Moritani e Muro, 1987).
18
Diferentemente dos indicadores de amplitude, a velocidade de condução é um
parâmetro fisiológico básico. Seus valores variam entre 2 e 7 m/s em seres humanos
saudáveis (Li e Sakamoto, 1996; Masuda et al., 2001).
O pressuposto sico para a determinação da velocidade de condução é a
detecção do potencial de ação em diversos pontos de seu trajeto (Merletti e Parker,
2004; Farina e Merletti, 2004). Para tanto, é necessário que os eletrodos de captação
estejam alinhados com as fibras musculares durante a obtenção dos sinais (Martin e
MacIsaac, 2005). Outra condição a ser observada é a similaridade na forma dos
sinais obtidos pelas diferentes áreas de contato (Farina e Merletti, 2004). Sinais com
as mesmas características são desejados, pois demonstram que os potenciais de
ação não sofreram deformações em seu percurso e asseguram que a aquisição foi
realizada em condições satisfatórias.
Embora um perfeito alinhamento entre eletrodos e fibras musculares não seja
observado em situações práticas e os sinais registrados por diferentes eletrodos
nunca sejam verdadeiramente idênticos em sua forma (Farina e Merletti, 2004; Martin
e MacIsaac, 2005), a eletromiografia realizada por instrumentos como os arranjos
lineares permite calcular a velocidade de condução de forma bastante confiável e
reprodutível (Merletti et al., 2003). A qualidade do sinal é normalmente determinada
com base em ferramentas matemáticas como o coeficiente de correlação cruzada.
Cálculos dessa natureza são utilizados para detectar padrões ou ritmos comuns
entre dois sinais (Rangayyan, 2002), no caso, os mesmos potenciais de ação
registrados por dois ou mais eletrodos.
A figura 8 ilustra quatorze sinais eletromiográficos captados por um arranjo
linear de eletrodos de superfície (C1 a C14) cujos sinais proporcionam parâmetros
para estimativas consistentes da velocidade de condução. Na situação representada,
a despolarização ocorre próxima ao canais C10 e os potenciais de ação propagam-
se nas direções indicadas pelas setas. A partir da zona de inervação onde ocorre a
despolarização inicial, a velocidade de condução pode ser obtida por meio dos dados
adquiridos entre C5 e C9 ou C11 e C14. Além de preencher os requisitos
anteriormente citados (detecção em diversos pontos e similaridade na forma), os
19
sinais dessas regiões apresentam uma característica muito importante para a
estimativa da velocidade de condução: o atraso no registro das ondas de
despolarização. A maioria dos métodos existentes para cálculo da velocidade de
condução dedica-se à quantificação desse atraso (Lange et al., 2005), tarefa de alta
complexidade dada a característica estocástica (aleatória) do sinal eletromiográfico
(Farina e Merletti, 2004; Lange et al., 2005; Mesin et al., 2006). O lapso temporal
entre os registros juntamente com a informação sobre o espaçamento entre os
eletrodos fornecem os elementos que determinam a velocidade de condução, quais
sejam, tempo e distância (Martin e MacIsaac, 2005).
A partir da velocidade de condução é possível realizar inúmeras inferências
sobre aspectos envolvidos na contração. Farina et al. (2004b) citam a possibilidade
de identificar a composição da fibra muscular por meio da velocidade de condução.
Kupa et al. (1995) realizaram um experimento que corrobora essa afirmativa. Fibras
Figura 8 –
Representação de um sinal eletromiográfico apropriado para o cálculo da
velocidade de condução.
O disparo inicial ocorre na zona de inervação próxima a C10 e os potencias de ação
propagam-se nas direções indicadas pelas
setas. Nas áreas onde o sinal apresenta
boa qualidade (C5 a C9 e C11 a C14) é possível verificar a existência de atraso no
registro da onda de propagação.
20
musculares foram retiradas de oito ratos e mergulhadas em uma solução de Krebs
para a manutenção de suas propriedades contráteis. Os tendões das fibras foram
acoplados a transdutores de força e as fibras foram submetidas à estimulação
elétrica de 40 Hz com uma largura de pulso de 0,2 ms. Os resultados do estudo
apontam uma correlação positiva significativa entre as fibras rápidas de maior secção
transversa e a velocidade de condução no início do período de estimulação. Foi
observado ainda que as fibras com maiores valores iniciais de velocidade de
condução apresentaram um maior decréscimo dessa variável ao longo do tempo, o
que denota menor resistência à fadiga, peculiaridade de fibras tipo II (McArdle et al.,
1996).
Broman et al. (1985) conduziram uma pesquisa que também sinaliza a
sensibilidade da velocidade de condução na caracterização da composição muscular
em seres humanos. Oito sujeitos realizaram contrações isométricas máximas do
músculo tibial anterior durante 10 segundos. Indivíduos que apresentaram maiores
índices de velocidade de condução possuíam maior circunferência de perna e
conseguiram produzir níveis de força mais elevados. Essas observações sugerem o
predomínio de fibras tipo II de maior calibre na composição do tibial anterior desses
sujeitos. Ainda nesse estudo, Broman et al. (1985) verificaram outra importante
característica da velocidade de condução. Assim como a amplitude do sinal
eletromiográfico, a velocidade de condução apresenta uma relação diretamente
proporcional com a sobrecarga aplicada. Essa foi a conclusão dos autores após a
avaliação de contrações isométricas com intensidades referentes a 10, 20, 40, 50,
60, 80 e 100% da máxima contração voluntária isométrica. Andreassen e Arendt-
Nielsen (1987) também traçaram um paralelo entre força e velocidade de condução
em contrações estáticas suscitadas por impulsos elétricos. O músculo tibial anterior
sofreu estímulos que progrediam de 0,13 mA a 9 mA em dez estágios intermediários.
Eletrodos de agulha inseridos no ventre muscular registraram a velocidade de
propagação dos potenciais de ação. Confirmando os achados de Broman et al.
(1985), foram observados altos valores de correlação entre o torque exercido na
articulação do tornozelo e a velocidade de condução.
21
Em situações dinâmicas, a relação entre força e velocidade de condução foi
explorada por Masuda et al. (2001). Oito adultos saudáveis realizaram extensões
isocinéticas do joelho com intensidades equivalentes a 40, 50, 60 e 70% do valor do
torque máximo obtido em contração isométrica. Arranjos lineares de eletrodos
posicionados no vasto lateral registraram os sinais eletromiográficos. Para garantir o
mesmo comprimento muscular nas análises, recortes (ou janelamentos) de 204 ms
foram feitos no sinal sempre que o ângulo do joelho correspondia a 60 graus. O
crescimento concomitante da força e da velocidade de condução pode ser
visualizado na figura 9.
A velocidade de condução é ainda bastante utilizada no estudo da fadiga
muscular. Farina et al. (2004c) analisaram os sculos vasto lateral e medial de dez
sujeitos que pedalaram em bicicleta ergométrica numa velocidade angular de 60
rotações por minuto e carga de 150 W. O teste teve duração de 4 minutos e o sinal
eletromiográfico foi captado por arranjos lineares de eletrodos preenchidos com gel
eletrolítico. A velocidade de condução foi calculada em torno dos ângulos de 75 e
Figura 9 – Relação entre força e velocidade de condução. (modificado – Masuda et al.
2001).
Velocidade de condução normalizada em função do torque de extensão calculado com
base na máxima contração voluntária isométrica. Contrações realizadas a 60°/s.
Torque
(% da máxima contração voluntária)
22
165 graus em janelas de 200 ms. A instauração da fadiga foi acompanhada pelo
decréscimo da velocidade de condução. Da mesma forma, Falla e Farina (2005)
analisaram o músculo trapézio em 5 minutos de flexões consecutivas. A velocidade
de condução, calculada no ângulo de 90 graus com um janelamento de 250 ms,
mostrou comportamento similar ao descrito por Farina et al. (2004c). O decréscimo
na velocidade de condução em situações fatigantes é decorrente de alterações no
pH das fibras musculares. Brody et al. (1991) isolaram fibras musculares do músculo
diafragma de hamsters e as imergiram em solução aquosa semelhante ao meio
extracelular para a manutenção de suas propriedades contráteis. As fibras eram
estimuladas eletricamente e a propagação do potencial de ação era registrada por
três pequenos eletrodos dispostos em linhas. Ao manipularem a acidez da solução
que banhava as lulas, os pesquisadores observaram que o decréscimo no pH do
líquido extracelular correspondia a uma diminuição direta da velocidade de
condução. Foi concluído que as alterações no gradiente do Na
+
e K
+
aumentam
tempo de duração das ondas de despolarização e repolarização e, por conseguinte,
tornam a propagação dos potenciais de ação mais lenta.
2.3
Pré-exaustão
A ordem de execução dos exercícios é fator de extrema relevância na
prescrição do treinamento resistido (Tan, 1999; Fleck e Kraemer, 2004; Gentil, 2005).
Tradicionalmente recomenda-se a execução de exercícios multi-articulares, que
envolvem grandes grupamentos musculares, antes de exercícios mono-articulares,
cuja ação é mais localizada (Tan, 1999). Sforzo e Touey (1996) pesquisaram as
implicações da adoção desse procedimento numa sessão de treino. Dezessete
homens treinados foram submetidos a duas rotinas de treinamento, cada uma
composta de quatro séries de seis exercícios, três para membros inferiores e três
para membros superiores; todos com cargas equivalentes a 8 RM. Na sessão que
seguia a recomendação tradicional a seqüência foi: agachamento, extensão de
joelhos, flexão de joelhos, supino, desenvolvimento de ombros e extensão tríceps na
23
polia. Na rotina que tinha início com exercícios de menor complexidade a ordem foi:
flexão de joelhos, extensão de joelhos, agachamento, extensão tríceps na polia,
desenvolvimento de ombros e supino. Os pesquisadores relataram um maior trabalho
total (total de repetições executadas x total da carga levantada) quando movimentos
multi-articulares foram realizados primeiramente.
Ainda que executar exercícios multi-artculares no início da sessão possa
proporcionar maior volume de treino, a realização de exercícios mono-articulares
precedendo movimentos mais complexos com o intuito de prover um maior estímulo
para o músculo fatigado, como sugerido na pré-exaustão, tornou-se um
procedimento adotado e difundido por fisiculturistas americanos e levantadores de
peso do leste europeu (Fleck e Kraemer, 2004). O pressuposto desses atletas é que,
em exercícios multi-articulares, os músculos pequenos esgotam-se mais rapidamente
que os de grande volume. Dessa forma, o tríceps braquial, por exemplo, perderia sua
capacidade contrátil antes que o exercício supino pudesse levar o músculo peitoral
maior até seu limite de trabalho. De fato, exercitar a musculatura até a fadiga tem
apresentado benefícios para o ganho de força e hipertrofia (Rooney et al., 1994), e o
supino, em tese, se tornaria um exercício mais eficiente para o desenvolvimento do
peitoral caso provocasse maior desgaste dessa musculatura. Contudo, as análises
sobre o método da pré-exaustão sugerem um efeito contrário ao postulado.
Augustsson et al. (2003) avaliaram a pré-exaustão na musculatura dos membros
inferiores em uma série simples do exercício leg press e outra imediatamente após a
execução de uma série de extensão de joelho. A intensidade de 10 RM foi trabalhada
em ambos os exercícios. Três músculos foram avaliados por meio da eletromiografia
de superfície: vasto lateral, reto femoral e glúteo máximo. Em decorrência da pré-
fadiga do quadríceps pela realização das extensões, houve uma diminuição da
amplitude RMS do reto femoral e do vasto lateral durante a execução do leg press, o
que indica um decréscimo da ação desses sculos no movimento. Apesar de o
glúteo máximo não ter apresentado aumento na sua atividade, os autores especulam
que outros músculos como os adutores e gastrocnêmios, cujas atividades não foram
monitoradas, possam ter compensado a queda de desempenho da musculatura da
coxa. Houve ainda uma redução significativa no número de repetições e no volume
24
total de trabalho (repetições x carga) do leg press com pré-exaustão em relação à
execução desse exercício de forma isolada.
Nos membros superiores o todo da pré-exaustão também foi testado por
Gentil et al. (2007) que submeteram treze sujeitos a séries de supino reto com e sem
pré-exaustão provocada pelo exercício crucifixo em máquina. Os sculos
analisados foram o peitoral maior, o deltóide anterior e o tríceps braquial, e a
intensidade dos movimentos também correspondeu a 10 RM. Nesse estudo a
cadência de dois segundos para a fase excêntrica e dois para a concêntrica foi
controlada por um metrônomo. Os resultados obtidos também contestam os
benefícios da pré-exaustão. Não foi registrado aumento na atividade dos sculos
peitoral maior e deltóide anterior que foram exauridos no crucifixo. Em contrapartida,
o tríceps braquial, que não foi acionado no exercício mono-articular, apresentou um
aumento da amplitude RMS após a fadiga dos demais motores primários do
exercício, o que indica a participação de um maior número de unidades motoras
desse músculo no desempenho do supino. Assim como no estudo de Augustsson et
al. (2003), houve uma redução significativa no trabalho total executado no exercício
multi-articular após a pré-exaustão.
Contrações de baixa intensidade sustentadas por um período prolongado
parecem provocar a mesma variação no padrão de recrutamento que leva à menor
atividade do sculo fatigado e incremento na atividade dos demais. Essa foi a
conclusão de Akima et al. (2002) ao estimularem eletricamente o vasto lateral por
trinta minutos e posteriormente verificarem as alterações no desempenho dos
músculos do quadríceps na extensão isotônica do joelho. A estimulação foi
programada para gerar uma intensidade inicial de 30% do máximo torque isométrico.
A tarefa analisada consistia na realização de quatro séries de dez repetições
isotônicas com carga de 50% do peso máximo suportado para essa tarefa. As
imagens obtidas por ressonância magnética revelaram um decréscimo na ação do
vasto lateral em relação à execução da tarefa sem eletroestimulação prévia. A
atividade reduzida do vasto lateral foi contrabalançada por maior resposta do vasto
medial e reto femoral.
25
O motivo pelo qual a pré-exaustão não gera os resultados de maior ativação
esperados pode estar relacionado à existência de um feedback sensorial que inibe a
taxa de descarga dos motoneurônios em contrações exaustivas (Ascenção et al.,
2003). Como conseqüência dessa inibição, unidades motoras de outros músculos
serão acionadas para evitar a interrupção da ação muscular (Gandevia, 2001).
Mudanças nos receptores musculares são talvez os grandes responsáveis por esse
redirecionamento dos estímulos motores (Gandevia, 2001; Hunter et al., 2004).
Dentre os principais receptores afetados pela fadiga estão os aferentes musculares
dos grupos III e IV, os fusos musculares e os Órgãos Tendinosos de Golgi
(Gandevia, 1998; Hunter et al., 2004). Os aferentes musculares dos grupos III e IV
são células nervosas de pequeno diâmetro que inervam as terminações livres ao
longo de todo o músculo. Eles são responsáveis pela inibição da contração muscular
quando ocorrem perturbações mecânicas, bioquímicas ou térmicas. Alterações
decorrentes da fadiga, como a produção de lactato e variação nas concentrações
iônicas de sódio e potássio, promovem o acionamento desses receptores e causam
queda na produção da força (Gandevia, 2001; Ascenção et al., 2003). Os fusos
musculares são estruturas que envolvem as fibras e respondem de forma reflexa ao
alongamento, contraindo os músculos para que possíveis deformações em suas
estruturas sejam prevenidas (McArdle et al., 1996). A queda na taxa de disparo dos
fusos em conseqüência da fadiga dificulta o encurtamento ou a manutenção do
comprimento muscular (Gandevia, 1998). De forma contrária funcionam os Órgãos
Tendinosos de Golgi, localizados dentro dos tendões (McArdle et al., 1996). Quando
o aumento na produção ou uma manutenção prolongada dos níveis de força, os
Órgãos Tendinosos de Golgi são ativados, também de forma reflexa, para atenuar a
tensão muscular e evitar possíveis lesões (Gandevia, 2001).
Adaptações da pré-exaustão utilizando cargas submáximas no primeiro
exercício não foram observadas na literatura. É possível que uma intensidade
moderada no exercício mono-articular não ative os mecanismos inibitórios e que no
exercício multi-articular realmente ocorra uma maior atividade de unidades motoras
do sculo pré-fatigado, principalmente de unidades motoras que inervam as fibras
tipo II.
O estudo de Moritani et al. (1986) mostra que o padrão de recrutamento de
26
unidades motoras e a resposta à fadiga é diferenciada em contrações máximas e
submáximas. A pesquisa consistiu na avaliação do bíceps braquial por meio da
eletromiografia de superfície e intramuscular. Após mensurar a carga máxima para
flexão isométrica do cotovelo a 90 graus, os sujeitos efetuavam duas contrações
isométricas com duração de um minuto, uma com 50% e outra com 100% da máxima
força registrada. Na intensidade submáxima, novas unidades motoras puderam ser
recrutadas para compensar a falha daquelas que entraram em fadiga. A solicitação
de um maior número de unidades motoras foi refletida no aumento da amplitude do
sinal eletromiográfico ao longo do tempo (figura 10-A). O mesmo comportamento não
foi observado na contração de maior intensidade. O fato de quase todas as unidades
motoras terem sido acionadas logo no início do esforço máximo impediu o
recrutamento de novas unidades motoras e, conseqüentemente, houve queda na
amplitude eletromiográfica (figura 10-B). Resultados semelhantes foram reportados
por Bilodeau et al. (2003) que estudaram contrações máximas do reto femoral, do
vasto lateral e vasto medial em homens e mulheres no movimento de extensão de
joelho.
Figura 10 - Amplitude RMS do sinal eletromiográfico durante fadiga na máxima
contração isométrica (A) e em 50% dessa intensidade (B) (modificado - Moritani
et al., 1986).
27
Houtman et al. (2001) observaram que o mecanismo reportado por Moritani et
al. (1986) e Bilodeau et al. (2003) impõe a mobilização de fibras musculares do tipo
II, que em geral são utilizadas em contrações de alta intensidade (Bawa, 2002).
Esses pesquisadores avaliaram o músculo tibial anterior numa flexão de 90 graus da
articulação do tornozelo sustentada a 30% da máxima contração voluntária. Um
feedback visual garantia a manutenção da sobrecarga e o teste era interrompido
quando era detectada uma variação maior de 3% na força aplicada. A concentração
de fosfato inorgânico, que reflete indiretamente o pH das fibras recrutadas, foi
mensurado por meio de ressonância magnética. Na parte final da tarefa foi relatado
um decréscimo marcante do pH muscular, atribuído pelos autores a uma maior
atividade de fibras tipo II que possuem maior capacidade de gerar energia por
processos anaeróbios (Vandenborne et al., 1991).
Houtman et al. (2003) reproduziram o protocolo anterior, porém utilizaram a
eletromiografia para a análise do comportamento muscular. A contração durou em
média 488 s e velocidade de condução nesse período apresentou uma queda inicial,
seguida por um aumento e uma segunda diminuição (figura 11). A ausência de
linearidade no declínio da velocidade de condução foi atribuída à compensação da
fadiga das fibras tipo I, inicialmente ativadas, pelo recrutamento adicional de fibras
tipo II, que apresentam maior velocidade de condução. O esgotamento das fibras
rápidas não pôde ser contrabalançado pela solicitação de novas unidades motoras, o
que acabou por resultar na segunda queda.
28
Van der Hoeven e Lange (1994) também inferiram o recrutamento progressivo
de unidades motoras tipo II pelo comportamento de parâmetros eletromiográficos em
esforços de baixa intensidade. Seqüências de cinqüenta contrações intermitentes
com duração de 2 s e intervalos de 4, 6 e 8 s foram executadas nesse experimento.
A intensidade adotada para a realização dos testes foi de 50% da máxima contração
voluntária. Os resultados apontaram o aumento da velocidade de condução em todas
as séries analisadas (figura 12).
Figura 12 - Velocidade de condução em cinqüenta contrações intermitentes.
Valores normalizados pela velocidade inicial (modificado - Van der Hoeven e
Lange, 1994).
Tempo (% de duração)
Figura 11 - Velocidade de condução a 30% da xima contração voluntária
(modificado - Houtman et al., 2003).
29
CAPÍTULO 3 – MATERIAIS E MÉTODOS
3.1
Amostra
A amostra foi composta por 12 sujeitos do sexo masculino, saudáveis, sem
histórico de lesões graves ou crônicas nos membros inferiores e com idade entre 18
e 27 anos. Todos praticavam treinamento resistido com uma freqüência mínima de
três vezes por semana pelo menos um ano sem interrupções superiores a seis
semanas nos últimos doze meses de treino. A familiaridade com os exercícios
utilizados no protocolo experimental foi outro critério de inclusão. As informações
sobre o tempo de treinamento, freqüências semanal de treino, experiência com os
exercícios propostos e histórico de lesão foram relatados pelos participantes e
registradas no formulário de experimento (Anexo I).
Para ingressar no estudo os voluntários assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido que descrevia detalhadamente o experimento, seus
riscos e benefícios. O termo, assim como os materiais e métodos utilizados no
estudo, foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências da
Saúde da Universidade de Brasília – FS/UnB (Anexos II e III). Os testes foram
realizados no Laboratório de Processamento de Sinais Biológicos da Faculdade de
Educação Física da Universidade de Brasília (FEF/UnB).
Antes de iniciar os testes os sujeitos também foram submetidos ao
Questionário de Prontidão para Atividade Física (Physical Activity Readiness
Questionnaire PAR-Q) da Sociedade Canadense de Fisiologia do Exercício (Anexo
IV). O objetivo deste questionário é identificar grupos para os quais os exercícios
físicos podem significar risco à saúde. Para pessoas que respondem afirmativamente
alguma das questões do PAR-Q sugere-se uma avaliação dica antes do ingresso
em programas de treinamento. Para os voluntários, respostas afirmativas excluíam a
participação na pesquisa.
30
3.2
– Exercícios
Os exercícios propostos para avaliação da pré-exaustão foram o leg press 45º
e a extensão de joelhos. Esses exercícios o extremamente utilizados no
treinamento físico de todos os níveis, sendo praticados tanto por iniciantes quanto
por atletas de alto rendimento.
O leg press 45º trata-se de um movimento multi-articular que envolve a
extensão de tornozelo, joelho, quadril. Nesse exercício o indivíduo permanece
deitado em um encosto com inclinação aproximada de 45 graus em relação à
horizontal e pés posicionados numa plataforma com pesos (figura 13-A).
A extensão de joelhos, por sua vez, é realizada em um equipamento no qual o
sujeito permanece sentado e um braço de resistência posicionado à altura do
tornozelo impõe sobrecarga ao movimento de extensão de joelhos (figura 13-B). Um
leg press 4 da empresa Vitally e uma cadeira extensora da marca Gervasport
Fitness Equipment foram os equipamentos utilizados na pesquisa.
Figura 13
- (A) Exercício leg press 45
º,
exercício multi-articular; (B) extensão de
joelhos, exercício mono-articular (modificado - Delavier, 2001).
31
3.3
Verificação das cargas de trabalho (Testes de 1-RM)
As cargas do protocolo experimental foram definidas com base em testes de 1
RM realizados unilateralmente no membro inferior dominante. O objetivo desse teste
foi determinar o peso máximo suportado na execução de um único movimento
correto (Kraemer e Fry, 1995). Quarenta e oito horas antes do inicio dos testes os
sujeitos foram orientados a suspender qualquer tipo de treinamento resistido e
permanecer sem praticar exercícios de força até o término da pesquisa.
No leg press 45° os sujeitos iniciavam o exercício com o joelho em completa
extensão e desciam a plataforma até que a articulação atingisse 80 graus de flexão.
Esse ângulo articular era inicialmente definido com o uso de um goniômetro (T.K.K
1216) e uma fita elástica indicava a amplitude de movimento durante os testes. A fita
era sustentada acima do participante por duas hastes posicionadas na lateral do
aparelho (figura 14). O executante era instruído a flexionar o joelho até que sua coxa
tocasse a fita e, em seguida, retornar à posição inicial.
Figura 14 - Fita elástica delimitando a amplitude articular para a execução do
leg press
45°.
Escala em
centímetros
calibrar a posição
do trigger
Fita elástica
Ângulo final do movimento igual a 80 graus.
32
Na extensão de joelho o sujeito começava o movimento com o joelho
flexionado a 80 graus, realizava uma extensão completa e retomava a angulação
inicial (figura 15).
Um sorteio definia a ordem de execução dos testes que começavam sempre
com a realização de um aquecimento de cinco minutos em bicicleta ergométrica
(Ergo Cycle 167, da marca Ergo-Fit). A intensidade desse aquecimento era definida
pelo próprio participante que tinha a orientação de manter uma cadência confortável.
Ao sair do ergômetro, os sujeitos complementavam a preparação para o teste com
uma série de oito repetições no primeiro exercício sorteado. A sobrecarga dessa
série correspondia a 10% do peso relatado pelo indivíduo para a execução bilateral
do exercício em sua rotina de treino.
Concluídos os procedimentos de aquecimento, os voluntários repousavam por
um minuto e, a carga do equipamento era incrementada para a determinação de 1
RM. Caso o sujeito não conseguisse completar uma repetição correta ou suportasse
a execução de duas repetições na primeira tentativa, a sobrecarga era ajustada e
Figura 15 - Amplitude
inicial e final da extensão de joelho determinada pelo braço de
resistência do aparelho.
Ângulo inicial do movimento igual a 80 graus.
33
uma nova oportunidade era concedida após cinco minutos de descanso. Em um
único dia eram permitidas até cinco tentativas para cada exercício.
Após um intervalo de vinte minutos o sujeito realizava uma nova série de
preparação para a realização do teste no segundo aparelho. Assim como no primeiro
exercício, essa série consistia na execução de oito repetições com a intensidade de
10% da carga bilateral reportada pelo voluntário. Novamente o sujeito repousava por
um minuto e a carga era incrementada para a mensuração de 1 RM.
Uma segunda bateria de testes de força foi realizada para a confirmação das
cargas estabelecidas no primeiro dia. Para tanto, foi respeitado um período mínimo
de 48 e máximo de 72 horas entre as sessões. Nessa segunda ocasião a ordem de
execução dos exercícios foi a inversa da avaliação anterior. Um erro de até 500 g foi
tolerado na medida de 1 RM, pois as anilhas utilizadas não permitiam graduações
mais apuradas da carga aplicada. Caso fossem observadas discrepâncias nos
resultados obtidos nos dois dias de testes, o maior valor era considerado para a
realização do experimento.
Um treinamento para o controle da velocidade do movimento também foi
efetuado nos dias dos testes de carga. Determinados os valores de 1 RM para
ambos os exercícios, os voluntários realizavam uma série de dez repetições em cada
aparelho na cadência de dois segundos para fase concêntrica e dois segundos para
fase excêntrica do movimento. Um metrônomo digital, modelo D20-440 da marca
Seiko, com ritmo de trinta batimentos por minuto ditava a velocidade de contração.
Os sujeitos deveriam sincronizar o sinal sonoro do metrônomo com o início e fim de
cada fase. Essas séries tinham carga equivalente a 60% do peso obtido no teste de
carga e o intervalo entre elas foi em média de sete minutos.
34
3.4
Procedimento experimental
Uma análise dos estudos sobre eletromiografia e pré-exaustão revelou
algumas limitações metodológicas nos procedimentos adotados nas pesquisas
anteriores. A primeira delas refere-se à tecnologia bipolar dos eletrodos utilizados
que não permitiu a identificação de regiões de boa captação do sinal. Além da
limitação instrumental, as variações do comprimento muscular em contrações
dinâmicas, que interferem na qualidade do sinal eletromiográfico, também não foram
consideradas (Merletti e Parker, 2004). Outro aspecto ponderado foi o decréscimo
significativo do número de repetições realizadas no exercício multi-articular após a
pré-exaustão. Esse fato impôs às pesquisas anteriores a comparação de sinais de
tamanhos muito diferentes, o que, em tese, pode ter comprometido a robustez do
tratamento estatístico realizado.
As restrições identificadas foram contornadas com o emprego de arranjos
lineares de eletrodos, técnicas de mapeamento muscular e delimitações da avaliação
do sinal em ângulos articulares específicos. Também optou-se pelo uso de cargas
um pouco inferiores às tradicionalmente implementadas no método da pré-exaustão.
A realização de séries com menor sobrecarga teve como objetivo a obtenção de um
número de repetições mais equânime entre as condições experimentais propostas.
Outra vantagem do uso de intensidades menores é a possibilidade de um controle
mais apurado da técnica de movimento e velocidade de contração. Esses fatores têm
reflexo direto na característica do sinal eletromiográfico e podem distorcer as
informações obtidas, caso não sejam monitorados (Masuda et al., 2001; Mottram et
al., 2004).
Diante do exposto, o procedimento experimental delineado consistiu na
execução do exercício leg press 45° precedido da pré-exaustão em dois níveis de
sobrecarga. A pré-exaustão de alta intensidade (P60) foi composta de uma série de
quinze extensões de joelho com carga de 60% de 1 RM, seguida de uma série de
quinze repetições de leg press 45° também com 60% de 1 RM. Na pré-exaustão de
baixa intensidade (P30), a série do leg press 45° manteve-se constante, porém as
35
quinze repetições do exercício extensão de joelho foram realizadas com carga de
30% de 1 RM. Uma rie simples de leg press 45° também foi realizada e serviu
como exercício controle do experimento (C). A intensidade de 60% foi definida para a
atenuação das restrições mencionadas e por ser o mínimo sugerido para ganhos de
força e hipertrofia (McDonagh et al., 1984; Kraemer et al., 2002; Fleck e Kraemer,
2004). O valor de 30% de 1 RM foi adotado para a pré-exaustão de baixa intensidade
por estar associado ao uso prioritário de fibras tipo I (Fleck e Kraemer, 2004) e
produzir concentrações de lactato relativamente baixas (Lagally et al., 2002), o que,
em tese, levaria a menor ação dos mecanismos inibitórios da ação muscular. O
delineamento da pesquisa é descrito de forma resumida na tabela 1. A ordem de
execução das ries foi contrabalançada entre os sujeitos para garantir a
aleatoriedade na realização do experimento e as séries foram realizadas em dias
diferentes com intervalo de 48 a 96 horas entre elas.
Tabela 1
– Resumo do delineamento experimental.
Série
Extensão de joelho
(15 repetições)
Leg press 45°
(15 repetições)
Pré-exaustão de baixa
intensidade (P30)
30% de 1 RM 60% de 1 RM
Pré-exaustão de alta
intensidade (P60)
60% de 1 RM 60% de 1 RM
Exercício controle (C) - 60% de 1 RM
O procedimento de aquecimento, a amplitude articular delimitada e a
execução dos exercícios foram os mesmos descritos para os testes de 1 RM. O ritmo
estabelecido anteriormente também foi respeitado. Durante o experimento dois
avaliadores com experiência em treinamento resistido fiscalizavam a obediência a
esses critérios. A violação de algum aspecto estabelecido no protocolo de teste
determinava a interrupção do experimento. Nas ries de pré-exaustão, o tempo de
transição entre a extensão de joelho e o leg press 45° não excedeu quarenta
segundos para nenhum dos sujeitos analisados.
36
3.5
Posicionamento de eletrodos e registro dos sinais eletromiográficos
Os sinais eletromiográficos foram registrados no músculo vasto lateral por um
eletromiógrafo EMG-16 desenvolvido no Centro de Bioengenharia LISiN Ot
Bioelettronica (figura 16). Esse equipamento possui ganho de até 50.000 V/V, ruído
de 1µV (com referência à entrada), filtragem analógica passa-faixa de 10 Hz a 500
Hz e razão de rejeição do modo comum de 96 dB. A taxa de amostragem adotada foi
de 2048 Hz e o ganho (amplificação do sinal) foi regulado para 2.000 vezes. O
eletromiógrafo foi conectado a um microcomputador portátil, Toshiba Satellite A105-
S4114, por meio de uma placa conversora analógica-digital PCMCIA de 12 bits,
modelo DAQ6045E da National Instruments. Devido à necessidade do
posicionamento de eletrodo muito específico para cada movimento e a limitações
operacionais como o tamanho de cabos e disposição dos aparelhos no laboratório, o
sinal eletromiográfico foi captado durante a execução do leg press 45º.
Apesar de o protocolo experimental abordar contrações dinâmicas, mudanças
na posição articular são indesejáveis durante o mapeamento do músculo, pois as
regiões de baixa propagação deslocam-se sob a pele e geram sinais de
qualidade (Martin e Maclsaac, 2005). Deste modo, as zonas de boa condutividade
foram localizadas em contrações isométricas de dez segundos com o joelho
flexionado num ângulo de 100 graus, amplitude na qual foram obtidos sinais de boa
Figura 16 - Eletromiógrafo EMG-16 (LISiN – Ot Bioelettronica – Torino , Itália).
37
qualidade em todos os sujeitos. A angulação foi aferida com um goniômetro (T.K.K
1216) e os sujeitos sustentavam uma carga de 11,56 kg, referente à massa da
plataforma sem a sobrecarga adicional de anilhas. Essa carga correspondeu a
aproximadamente 15% de 1-RM para a maioria dos sujeitos e foi suficiente para
produzir sinais de boa qualidade, sem, contudo, provocar fadiga nos participantes
que repetiam o procedimento com o arranjo fixado em diferentes posições até que
fosse definida sua localização ideal. Esse processo de tentativa e erro é
recomendado pelos fabricantes do eletromiógrafo e também é descrito por outros
autores que empregaram arranjos lineares em suas pesquisas (Saitou, 2000; Farina,
2004c; Veneziano, 2006). As zonas de inervação e regiões tendinosas do músculo
foram localizadas com o uso de um arranjo linear rígido de 16 canais com barras de
prata clorada de 1 mm de largura por 5 mm de comprimento e distância de 5 mm
entre os eletrodos (figura 2). As áreas de contato dos eletrodos foram umidificadas
com água para melhorar a captação do sinal na pele e o arranjo linear foi fixado no
vasto lateral com esparadrapo após a remoção de pêlos e assepsia da coxa com um
algodão embebido em álcool. Um eletrodo de referência também foi umedecido com
água e posicionado sobre o tendão patelar do sujeito. Para evitar puxões nos cabos
e conectores, somente depois que o sujeito estava acomodado no leg press 4 os
eletrodos eram acoplados ao eletromiógrafo e os equipamentos ligados. Durante a
coleta de dados a aparelhagem permanecia isolada da rede elétrica com o intuito de
atenuar os ruídos oriundos da corrente elétrica do ambiente. Para tanto um no-break
de 600 V.A. (SMS) foi utilizado.
Para a aquisição dos sinais foi utilizado o software EmgAcq (LISiN – Ot
Bioelettronica Torino). Os sinais coletados foram submetidos a avaliações
qualitativas e quantitativas para a ratificação do posicionamento dos eletrodos. A
avaliação qualitativa consistiu em uma inspeção visual do sinal pelos pesquisadores
para a identificação de padrões de propagação do sinal, conforme ilustrado na figura
17.
38
A análise quantitativa foi feita por meio de três estimadores matemáticos. O
primeiro deles foi o coeficiente de correlação cruzada entre os sinais. Valores de
correlação acima de 70% foram aceitos no mapeamento. O segundo indicador
verificado foi a própria velocidade de condução. Estimativas fora do padrão fisiológico
(entre 2 e 7 m/s) foram recusadas. Essas duas variáveis foram calculadas e exibidas
automaticamente pelo programa de aquisição (figura 18).
Figura 17
- Visualização do sinal captado pelo software EmgAcq (LISiN Ot
Bioelettronica – Torino, Itália).
Em destaque, as regiões de boa propagação do potencial de ação. Uma zona de
inervação é indicada pela seta. Essa zona é caracterizada pela inversão da fase
do sinal.
39
Figura 18 - Tela de apresentação dos parâmetros analisados no mapeamento
(EmgAcq / LISiN – Ot Bioelettronica – Torino, Itália).
Em destaque gráfico da velocidade de condução (CV) e do coeficiente de
correlação cruzada (CC) (gráfico na parte superior e inferior, respectivamente) e
seus valores numéricos (retângulo esquerdo para velocidade de condução e
direito para correlação).
O terceiro parâmetro considerado foi o espectro de freqüência. O espectro de
freqüência de um sinal mostra a quantidade de potência de um sinal em cada
componente, ou banda de freqüência. Esse processamento é útil para detectar a
presença de ruídos de 60 Hz e outros de natureza não estocástica (figura 19). O
espectro de freqüência foi calculado por meio do algoritmo de Transformada Rápida
de Fourier do software Matlab 6.5 (Mathworks, Natick).
40
O mapeamento muscular foi realizado apenas no primeiro dia de teste. Uma
marca na coxa do voluntário feita com uma caneta de alta fixação (Pilot 2.0 mm Az)
garantiu o mesmo posicionamento nos testes subseqüentes (figura 20).
Figura 20 - Marcação da região de boa propagação no músculo vasto lateral para
a fixação do arranjo de eletrodos flexível.
Figura 19 - (A) Ilustração de um espectro de freqüência sem ruídos e (B) outro
contaminado por ruído de 60 Hz e freqüências harmônicas.
41
Na área demarcada era colocado um arranjo linear flexível de oito eletrodos
(LISiN Ot Bioelettronica). Esse arranjo possui as mesmas dimensões que o
eletrodo rígido, porém é preso à pele por uma espuma bi-adesiva e contém orifícios
para a inserção de gel condutor, o que o torna menos sensível ao artefato de
movimento (figura 21). Trinta micro-litros de gel foram depositados em cada fenda
por uma micropipeta (HTL).
Um trigger, desenvolvido no Laboratório de Processamento de Sinais
Biológicos da FEF/UnB, foi adaptado ao leg press 45º para sinalizar o ângulo de 100
graus do joelho, amplitude em torno da qual foram realizadas as análises do sinal. O
trigger é formado por chave magnética e uma caixa de controle que contém os
circuitos e a bateria do aparelho (figura 22).
Extraído do Manual do usuário do Eletromiógrafo EMG-16 – LISiN – Ot Bioelettronica).
Figura 21
- Arranjo linear flexível de oito eletrodos e diagramação de seu
posicionamento e preenchimento com gel condutor.
42
Uma escala em centímetros foi colocada na barra de aço sobre a qual a
plataforma de pesos do leg press 45º desliza (figura 14). Nessa escala foi registrado
o ponto em que o deslocamento linear da plataforma correspondia ao ângulo articular
desejado. Durante as contrações dinâmicas a chave magnética era acoplada nesse
ponto e um ímã fixado na plataforma. Toda vez que a superfície magnetizada do ímã
passava pela chave, um pulso elétrico de aproximadamente 1,5 V era gerado pelo
aparelho. Um cabo coaxial conduzia o pulso até o eletromiógrafo que o digitalizava
em sincronia com o sinal do eletrodo.
3.6
Processamento dos sinais
Dos sinais obtidos em cada série (P30, P60 e C) foi selecionado um par de
canais diferenciais para o cálculo da velocidade de condução. Esses sinais foram
selecionados com base nos mesmos critérios aplicados no mapeamento muscular
(ruídos de magnitude insignificante, coeficiente de correlação cruzada acima de 70%
Figura 22 - Trigger utilizado para sincronizar o ângulo articular com o sinal
eletromiográfico. Equipamento desenvolvido no Laboratório de Processamento de
Sinais Digitais (FEF – UnB).
43
e velocidade de condução entre 2 e 7 m/s). A fim de garantir a confiabilidade do
experimento, somente os sujeitos que apresentaram qualidade do mesmo par de
canais nas três ocasiões foram incluídos na análise.
Janelas retangulares de 512 amostras (250 ms) foram recortadas em torno
dos pulsos gerados pelos triggers que indicavam a fase concêntrica de cada
repetição do leg press 45º (figura 23). Como o início e o final das séries foram os
períodos mais susceptíveis a erros de execução do exercício e à violação da
cadência, as janelas do primeiro e último movimento concêntrico de todas as séries
foram descartadas das análises. Os recortes e todos os demais processamentos dos
sinais foram feitos por rotinas específicas desenvolvidas no software Matlab 6.5
(Mathworks, Natick).
Para cada janela foi calculada a velocidade de condução pelo método da
máxima verossimilhança (MMV) proposto inicialmente por Farina e Merletti (2001) e
modificado por Salomoni et al. (2007). O primeiro passo para o cálculo foi a utilização
de um filtro passa-altas diferencial descrito por McGill e Dorfman (1984), cujo objetivo
é realçar os picos do sinal e eliminar parte do ruído de alta freqüência. O filtro é
modelado pela equação:
h[n] =
ߜ
[
n +1] –
ߜ
[n – 1]
(1)
Figura 23 - Representação do janelamento em torno do pulso elétrico gerado pelo
trigger no ângulo de 100 graus de flexão do joelho.
Recorte de 512 amostras (250 ms).
44
onde h[n] é a resposta impulsional do filtro e δ[n] é a função impulso de Dirac.
Supondo uma situação ideal de aquisição, os sinais captados por diferentes
eletrodos do arranjo correspondem ao mesmo conjunto de potenciais de ação e
conseqüentemente apresentam as mesmas características, exceto pelo atraso
temporal (delay). Admitindo a velocidade de condução constante e conhecendo a
distância entre os eletrodos, a estimativa do atraso torna-se a estimativa da própria
velocidade de condução. Para determinar o estimador do MMV, é necessária uma
aproximação do sinal s(t) a partir do sinal captado por K eletrodos. Na forma discreta,
tem-se:
onde
[
]
ns
)
é a estimativa da forma de onda básica, K é o número total de
eletrodos utilizados na estimativa, x
i
[n] é o sinal do i-ésimo eletrodo e θ é o delay.
Pode-se definir estimador do MMV como o valor que reduz o erro quadrático
médio de alinhamento temporal
de todos os sinais com relação ao sinal base s(t),
que representa a média dos demais sinais sincronizados. O erro quadrático médio é
dado pela soma individual dos erros quadráticos individuais:
onde:
onde N representa o número de amostras da janela considerada.
Minimizar o erro quadrático médio no domínio do tempo limita a precisão do
MMV ao período de amostragem, o que gera a necessidade de uma interpolação
=
=
K
k
kMMV
ee
1
22
(3)
[ ]
( )
[ ]
=
+
=
K
i
i
inx
K
ns
1
1
1
1
θ
)
(2)
[ ]
( )
[ ]
2
1 ,1
2
1
1
= =
+
=
N
n
K
kii
ikk
kinx
K
nxe
θ
(4)
45
para maior exatidão. No domínio da freqüência o delay
θ
torna-se uma variável
contínua e não existe nenhum limite de exatidão. Para contornar este problema
transporta-se a equação para o domínio da freqüência (McGill e Dorfman, 1984).
Neste domínio a equação se torna:
Onde X[α] é a transformada de Fourier x[α].
Para determinar o valor de
θ
que corresponde ao valor mínimo esta função
erro, pode-se encontrar o valor de
θ
para qual a derivada de primeira ordem se torna
zero. Por meio desse valor de
θ
e a distância entre os eletrodos, a velocidade de
condução é calculada.
O sinal de maior amplitude do par de canais escolhido foi utilizado para o
cálculo do valor RMS, conforme a equação 6. O valor RMS de janelas móveis
recortadas em cada rie de exercício foi normalizado em função do valor médio
retificado das janelas da série de controle (C).
onde x são os valores do sinal eletromiográfico.
A partir da velocidade de condução e do valor RMS estimados nas janelas de
cada repetição foram calculadas regressões lineares para verificar o comportamento
dessas variáveis ao longo da execução do leg press 45° em P30, P60 e C. As
inclinações das retas de regressão (coeficiente angular da equação calculada) foram
normalizadas por seus valores iniciais (coeficiente linear da equação), isto é, foram
divididas pelos valores das retas no instante em que elas interceptam o eixo das
ordenadas. As inclinações normalizadas foram expressas em termos percentuais
para facilitar a comparação entre as situações experimentais.
=
=
n
i
i
x
N
RMS
1
2
1
(6)
[ ] [ ]
= =
=
2/
1
2
,1
)(.2
2
1
11
N
n
k
K
kii
N
kinj
ik
XeX
KN
e
αα
θπ
(5)
46
3.7
Análise estatística
A reprodutibilidade dos testes de 1RM foi verificada por meio do teste t-student
pareado aplicado às cargas do leg press 45º e da extensão de joelho mensuradas no
primeiro e segundo dias.
Como nem todos os sujeitos conseguiram completar as quinze repetições
inicialmente propostas para os exercícios avaliados, uma ANOVA one way de
medidas repetidas e o teste post hoc Least Significant Difference (LSD) foram
empregados para verificar se houve diferenças no número de repetições executadas
no leg press 45º em P30, P60 e C. A comparação entre número de repetições das
extensões de joelho de P30 e P60 foi feita por meio do teste t-student pareado.
As inclinações normalizadas das retas de regressão de P30, P60 e C também
foram comparadas por meio da ANOVA one way de medidas repetidas. Em caso de
diferenças significativas, o teste post hoc Least Significant Difference (LSD) foi
novamente aplicado para indicar os valores divergentes.
Antes da utilização do teste t-student pareado e da ANOVA one way de
medidas repetidas, a normalidade dos dados foi verificada por meio do teste
Kolmogorov-Smirnov.
Em todas as análises foi adotado um nível de significância de p<0,05. O
tratamento estatístico foi realizado pelo software Statiscal Package for the Social
Sciences (SPSS 13.0 - LEAD Technologies).
47
CAPÍTULO 4 – RESULTADOS
Durante o experimento, 51 coletas foram necessárias para que fossem
aproveitados os dados de nove sujeitos. Das 36 avaliações inicialmente realizadas (3
situações de estudo X 12 sujeitos), 20 foram perdidas pela não contemplação dos
critérios estabelecidos para a análise dos sinais. Tamanha perda ocasionou uma
mortalidade de 75% da amostra, pois somente três, dos doze sujeitos recrutados,
apresentaram sinais de boa qualidade nas três situações experimentais (P30, P60 e
C). Para a reversão desse quadro foi solicitado aos participantes que repetissem,
após um período que variou entre 48 e 96 horas, as séries nas quais não foram
detectados sinais eletromiográficos satisfatórios. As informações sobre os sujeitos
que efetivamente compuseram a amostra estão descritas na tabela 2.
Tabela 2
– Descrição dos participantes cujos dados foram analisados.
Variável média ± desvio padrão
n 9
Idade (anos) 23,33 ±3,46
Peso (kg) 75,68 ±8,10
Estatura (cm) 176,56 ±6,60
Índice de massa corporal (kg/m²) 24,47 ±2,19
Tempo de treinamento (meses) 33,33 ±26,47
Freqüência semanal de treino 3,89 ±0,93
Maior período de interrupção no último ano (semanas) 3,67 ±1,80
As cargas de 1 RM, mensuradas em duas oportunidades (seção 3.3), não
apresentaram diferença significativa no exercício leg press 45° (p=0,81) e na
extensão de joelho (p=0,25). Esse resultado denota boa fidedignidade dos
procedimentos adotados. As cargas de 1 RM registradas no primeiro e segundo dias
de testes podem ser observadas na tabela 3.
48
Tabela 3 – Média ±desvio padrão das cargas obtidas nos testes de 1 RM.
Exercício Teste (kg) Teste (kg)
Leg press 45°
120,67 ±29,80 120,00 ±27,85
Extensão de joelho 87,31 ±10,50 90,00 ±10,97
Na tabela 4 são apresentados os resultados do número de repetições
realizadas nos exercícios. Após a pré-exaustão de alta intensidade (P60), a
quantidade de repetições executadas no leg press 45º foi significativamente inferior à
registrada na série de controle (C) (p=0,007). Em relação ao exercício mono-articular,
os voluntários suportaram um maior número de extensões de joelho em P30 que em
P60 (p=0,01). Somente um sujeito não realizou as 15 extensões de joelho propostas
para a pré-exaustão de baixa intensidade.
Tabela 4
Média ±desvio padrão do número de repetições executadas nos
exercícios leg press 45º e extensão de joelhos.
Leg press 45°
(n°. de repetições)
Extensão de joelho
(n°. de repetições)
P30 13,89 ±1,45 14,89 ±0,33†
P60 12,33 ±1,94* 12,89 ±1,83†
C 14,89 ±0,33* -
P30 = pré-exaustão de baixa intensidade; P60 = pré-exaustão de alta intensidade;
C = série controle; *diferença significativa entre P60 e C (p<0,05); †diferença
significativa entre P30 e P60 (p<0,05).
As retas de regressão dos valores de RMS foram traçadas a partir do valor
RMS mensurado ao longo das repetições de leg press 45°. As inclinações dessas
retas foram normalizadas por seus valores iniciais, conforme descrição anterior
(seção 3.6), e são apresentadas na tabela 5. Os valores das inclinações
normalizadas de C foram significativamente inferiores aos de P30 (p=0,049) e aos de
P60 (p=0,04), o que sugere um recrutamento de unidades motoras mais efetivo nas
séries com pré-exaustão. A figura 24 ilustra as retas normalizadas dos valores de
49
RMS das séries estudadas. Os resultados dos testes de normalidade das inclinações
referentes aos valores RMS são apresentadas na tabela 6.
Tabela 5
Valores médios ±desvio padrão das inclinações normalizadas dos valores
de RMS – variação percentual a cada repetição.
P30 = pré-exaustão de baixa intensidade; P60 = pré-exaustão de alta intensidade;
C = série controle; * diferença significativa em relação a C (p<0,05).
Inclinações normalizadas dos valores
de RMS (valores percentuais - %)
P30 4,49 ±3,44*
P60 3,96 ±2,60*
C 1,84 ±1,31
Figura 24 Retas de regressão dos valores de RMS no exercício leg press 45 -
variação percentual média em quinze repetições.
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
70,00
80,00
90,00
100,00
Variação Percentual
P30
P60
C
50
Tabela 6: Probabilidade (p) referente aos testes de normalidade Kolmogorov-Smirnov
aplicados às inclinações normalizadas das retas de regressão dos valores RMS.
P30 = pré-exaustão de baixa intensidade; P60 = pré-exaustão de alta intensidade;
C = série controle; * distribuição normal.
As inclinações das retas de regressão da velocidade de condução, calculadas
e normalizadas de forma análoga às inclinações dos valores RMS, são apresentadas
na tabela 7. Não foram observadas diferenças significativas entre as inclinações da
velocidade de condução de P30, P60 e C (p=0,95). O comportamento da velocidade
de condução nas três situações experimentais pode ser visualizado na figura 25 que
ilustra as retas de regressão dessa variável. Os resultados dos testes de normalidade
das inclinações da velocidade de condução estão descritos na tabela 8.
Tabela 7
Valores médios ±desvio padrão das inclinações normalizadas da
velocidade de condução – variação percentual a cada repetição.
P30 = pré-exaustão de baixa intensidade; P60 = pré-exaustão de alta intensidade;
C = série controle.
Probabilidade (p) do teste Kolmogorov-Smirnov
aplicado às inclinações dos valores RMS
P30
0,051*
P60
0,20*
C
0,20*
Inclinações normalizadas da velocidade
de condução (valores percentuais - %)
P30 -1,15 ±1,02
P60 -1,22 ±0,68
C -1,13 ±0,40
51
Tabela 8
: Probabilidade (p) referente aos testes de normalidade Kolmogorov-Smirnov
aplicados às inclinações normalizadas das retas de regressão da velocidade de
condução.
P30 = pré-exaustão de baixa intensidade; P60 = pré-exaustão de alta intensidade;
C = série controle; * distribuição normal.
Probabilidade (p) do teste Kolmogorov-Smirnov
aplicado às inclinações da velocidade de condução
P30
0,20*
P60
0,20*
C
0,12*
Figura 25 – Retas de regressão da velocidade de condução no exercício leg press
45
- variação percentual média em quinze repetições.
-30,00
-25,00
-20,00
-15,00
-10,00
-5,00
0,00
Variação Percentual
P30
P60
C
52
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO
Para iniciar as discussões cabe relembrar o propósito do trabalho e mencionar
as hipóteses inicialmente levantadas. O objetivo do presente estudo foi verificar se a
pré-exaustão realizada por exercício mono-articular de membro inferior com baixa
intensidade é um estímulo eficiente para aumentar o número de unidades motoras
recrutadas na execução de um exercício multi-articular. A maior ativação muscular
seria confirmada pelo aumento mais acentuado do valor RMS da série P30. Outra
característica esperada na pré-exaustão de baixa intensidade seria um menor índice
de fadiga em relação à pré-exaustão de alta intensidade, o que denotaria menor
atuação dos mecanismos de inibição da atividade muscular e, conseqüentemente,
manutenção da capacidade contrátil das unidades motoras ativas por um período
mais dilatado. A menor instauração de fadiga poderia ser constatada por um
decréscimo menos expressivo na velocidade de condução de P30 em relação à P60.
Decréscimos semelhantes na velocidade de condução de P30 e C eram aguardados.
A análise da variação de parâmetros eletromiográficos por meio de retas de
inclinação normalizadas é um procedimento comumente descrito na literatura (Farina
et al., 2004c; Falla e Farina, 2005). O registro de sinais e o processamento de dados
utilizados no presente estudo apresentam grandes semelhanças com os empregados
por Veneziano (2006). Ainda que peculiaridades como a musculatura analisada e a
cadência de movimento não permitam comparações diretas entre as inclinações
observadas nesta pesquisa e nas descritas por Veneziano (2006), uma apreciação
minuciosa dos relatos desse autor aponta uma grande coerência dos resultados
obtidos no presente estudo.
Os valores positivos nas retas de inclinação do valor RMS indicam o aumento
progressivo no número de unidades motoras recrutadas no exercício multi-articular
em todas as séries. Como mencionado anteriormente, a provável causa dessa
solicitação adicional foi a compensação na perda de potencial contrátil das fibras
inicialmente solicitadas (Moritani et al., 1986; Bilodeau et al., 2003). As maiores
inclinações do valor RMS de P30 e P60 em relação às de C, demonstram que uma
53
repetição de leg press 45º, após a pré-exaustão nas intensidades avaliadas neste
estudo, passa a recrutar mais fibras musculares que uma repetição desse mesmo
exercício em uma série simples. Embora haja uma tendência de maior recrutamento
com a aplicação da pré-exaustão de menor intensidade, a diferença não significativa
entre P30 e P60 demonstrou igual eficiência do exercício mono-articular realizado
com 30 e 60% de 1 RM na ativação do músculo vasto lateral no exercício multi-
articular subseqüente.
Ao confrontarmos os resultados do presente estudo com os descritos por
Augustsson et al. (2003), que utilizaram a mesma combinação de exercícios em sua
pesquisa, verificamos diferenças entres os padrões de amplitude encontrados. Esses
pesquisadores relataram um menor valor do RMS no músculo vasto lateral após a
realização da pré-exaustão, comportamento oposto ao observado nesta investigação.
Uma comparação entre as metodologias adotadas para a execução dos exercícios
ressalta a sobrecarga aplicada como fator preponderante para a incompatibilidade
entre os padrões de amplitude observados nestas investigações. Como 30 e 60% de
1 RM representam intensidades significativamente inferiores que a carga de 10 RM
para os exercícios avaliados (Hoeger et al., 1990), possivelmente Augustsson et al.
(2003) alcançaram maiores índices de fadiga no exercício mono-articular e,
conseqüentemente, provocaram a intervenção dos mecanismos inibitórios do vasto
lateral no exercício multi-articular.
Todavia, duas ressalvas devem ser feitas ao interpretarmos os resultados de
Augustsson et al. (2003). A primeira delas é a não-aleatoriedade na execução das
séries. Van der Hoeven et al. (1993) constataram que a amplitude do sinal
eletromiográfico aumenta após quatro minutos de recuperação de um esforço intenso
e permanece acima dos valores normais por um período superior a uma hora. Como
no protocolo de Augustsson et al. (2003) todos os sujeitos realizavam primeiramente
a série de pré-exaustão (exercício mono-articular seguido exercício de multi-
articular), repousavam por vinte minutos e então executavam o exercício multi-
articular isolado, a amplitude registrada nessa rie simples, possivelmente, foi
superestimada desde a primeira repetição.
54
A segunda ponderação recai sobre a ausência de controle da cadência de
movimento. Masuda et al. (2001) relataram, em seu estudo sobre extensões
isocinéticas de joelho, uma alta correlação entre velocidade de contração e amplitude
do sinal eletromiográfico. Visto que Augustsson et al. (2003) não realizou um controle
efetivo do ritmo de execução, é possível que essa variável também tenha contribuído
para o eventual decréscimo no valor de RMS após a pré-exaustão.
A despeito das limitações de Augustsson et al. (2003), a pré-exaustão com as
sobrecargas de 30 e 60% de 1 RM também se mostrou mais efetiva que a pré-
exaustão aplicada da forma tradicional por Gentil et al. (2007). Nesse estudo as
limitações na aleatoriedade do experimento e no controle de cadência foram
contornadas e, embora o tenha ocorrido o decréscimo na ativação da musculatura
pré-fadigada, a pré-exaustão com 10 RM não apresentou vantagem em termos de
recrutamento de fibras quando comparada a uma rie simples de exercício multi-
articular. Um aspecto relevante observado por esses autores foi o aumento
significativo no valor do RMS em grupamentos musculares que não foram exauridos
no exercício mono-articular. Ainda que a menor intensidade aplicada no presente
estudo possa não ter demandado maior participação de músculos acessórios, a
avaliação de apenas um dos extensores do joelho inviabiliza conclusões a esse
respeito.
A literatura investigada não faz menção à velocidade de condução do músculo
vasto lateral no exercício leg press 45º. Tampouco foram encontrados indicadores
dessa variável em contrações isotônicas com carga de 30 ou 60% de 1 RM.
Entretanto, é plausível aceitar a consistência dos resultados obtidos já que os valores
observados em P30, P60 e C situam-se entre 4,76 e 7,53 m/s - intervalo descrito por
Masuda et al. (2001) para a velocidade de condução do vasto lateral em extensões
isométricas máximas de joelho. Farina et al. (2004c) submeteram doze sujeitos
adultos a um teste de ciclo ergômetro com velocidade angular de 120 rotações por
minuto e carga correspondente ao limiar anaeróbio. A velocidade de condução,
determinada por esses autores também se aproxima bastante das velocidades
mensuradas no presente estudo (~5 m/s).
55
Para analisar o comportamento da velocidade de condução nas situações
experimentais do presente estudo podemos mencionar duas pesquisas que
avaliaram a produção de lactato em séries de exercícios resistidos. Na primeira,
Robertson et al. (2003) constataram que uma série de doze flexões de cotovelo com
carga equivalente a 65% de 1 RM implicou um aumento de aproximadamente 6,82
vezes no lactato sanguíneo. Como na presente investigação todas as ries de leg
press 45º possuíam sobrecargas de 60% de 1 RM e quinze repetições, que são
valores de intensidade e volume próximos aos aplicados por Robertson et al. (2003),
é razoável inferir que o decréscimo no pH das fibras musculares foi a principal causa
da queda na velocidade de condução.
No segundo estudo, Lagally et al. (2002) também avaliaram séries de doze
flexões de cotovelo, porém utilizaram em sua análise cargas de 30% de 1 RM. Esses
autores reportam concentrações de lactato muito inferiores às observadas por
Robertson et al. (2003) (~2,53 vezes a concentração de repouso). Considerando a
grande diferença dos metabólicos produzidos por séries de 30 e 65% de 1 RM,
podemos deduzir que as extensões de joelho de P60 produziram níveis de fadiga
mais elevados que as de P30. Essa suposição pode ser ratificada pela diferença
estatística entre o número de extensões de joelho realizadas em P30 (14,89 ±0,33) e
em P60 (12,89 ±1,83). Contudo, a fadiga mais exacerbada em P60 não se traduziu
em decréscimos mais expressivos na velocidade de condução durante a realização
do leg press 45º. Observa-se que mesmo as inclinações de C, cujos níveis de lactato
sanguíneo no início do exercício foram supostamente os de repouso, não
apresentaram diferenças significativas em relação às inclinações de P30 e P60.
A diferença não significativa entre as inclinações observadas pode ser
justificada por mecanismos alheios ao desenvolvimento da fadiga que podem ter
influenciado o comportamento da velocidade de condução no exercício leg press 45°.
Van der Hoeven et al. (1993) e Van der Hoeven e Lange (1994) fazem referência a
dois fatores que podem ter suavizado as inclinações da velocidade de condução de
P30 e, principalmente, de P60, quais sejam: a temperatura do músculo avaliado e o
inchaço muscular.
56
Em relação à temperatura muscular, Bigland-Ritchie et al. (1981) afirmam que
o calor produzido pela contração dos músculos durante exercícios físicos pode
compensar o declínio na velocidade de condução. Esses autores, assim como
Pretrofsky e Lind (1980) e Mucke e Heuer (1989), observaram em seus estudos uma
correlação positiva entre temperatura e velocidade de condução.
Analisando os relatos das referidas pesquisas e partindo da premissa que a
temperatura do vasto lateral aumenta de forma diretamente proporcional a
intensidade do exercício (Edwards et al., 1975), podemos supor que a maior
temperatura suscitada pelas extensões de joelho em P60 pode ter contrabalançado o
decréscimo da velocidade de condução durante a realização do leg press 45° e
contribuído para diferença não significativa entre as inclinações dessa série e das
demais situações estudadas. Embora em menor proporção, as inclinações de P30
provavelmente sofreram influência desse mesmo mecanismo e também não
apresentaram diferenças significativas em relação a C.
A relação direta entre inchaço muscular e velocidade de condução também é
postulada na literatura (Van der Hoeven et al.,1993; Van der Hoeven e Lange, 1994).
O inchaço muscular durante os exercícios físicos extenuantes é usualmente
associado ao influxo de água no sarcoplasma (Sjogaard et al., 1985; Peeze Binkhorst
et al., 1989). O aumento no diâmetro das fibras musculares, ocasionado por essa
elevação na quantidade de água do meio intracelular, pode diminuir a resistência
interna à passagem do potencial de ação e, deste modo, provocar o aumento da
velocidade de condução (Van der Hoeven et al.,1993). No presente estudo é
provável que as fibras musculares do vasto lateral tenham sofrido maiores dilatações
em função das intensas extensões de joelho que, em P60, precederam a realização
do exercício leg press 45°. Assim como a temperatura, essas dilatações po dem ter
atenuado o declínio na velocidade de condução em P60. De maneira menos
marcante, o inchaço muscular também pode ter suavizado as inclinações de P30.
A definição inicial do mesmo número de execuções para todos os exercícios
teve o objetivo de tornar robusta a análise dos sinais e o tratamento estatístico que,
nos estudos anteriores sobre a pré-exaustão (Augustsson et al., 2003; Gentil et al.,
57
2007), podem ter sido prejudicados devido à grande redução no número de
repetições do exercício multi-articular. Apesar de alguns sujeitos não terem
suportado o esforço previsto e os testes estatísticos apontarem menor número de
repetições de P60 em relação à C, entende-se que o fato não invalida os resultados
da pesquisa, visto que a diferença média foi menor que três repetições. Mesmo tendo
a finalidade básica de melhorar a validade interna do estudo, o controle do número
de repetições traz consigo um caráter pragmático de extrema importância para a
prescrição das séries de pré-exaustão. Pouca vantagem haveria na execução de um
exercício mono-articular que, independente da intensidade, provocasse uma
diminuição absurda no volume de treino do segundo exercício. Portanto, novas
pesquisas são necessárias para a determinação da relação ideal entre intensidade e
volume a ser empregada na pré-exaustão. Outras formas de determinação do
volume de treino - como o tempo sob tensão e o trabalho total (carga x repetições x
séries) - devem ser exploradas.
Kukulka e Clamann (1981) e Masakado (1994) relatam que pequenos
músculos são capazes de recrutar a grande maioria de suas unidades motoras em
intensidades de 50% da máxima contração voluntária isométrica e, a partir daí,
modulam a produção de força pela freqüência de disparo dos potenciais de ação. No
entanto, em grandes grupos musculares o principal dispositivo para a variação da
tensão é o recrutamento de unidades motoras. Somente com cargas superiores a
90% da xima contração voluntária isométrica (Masakado, 1994) é observado o
recrutamento da maior parte das fibras de grandes músculos como os dos membros
inferiores. Desta forma, é possível que uma quantidade considerável de fibras do
músculo vasto lateral, por exemplo, o sofra estímulo algum durante a execução de
um exercício como o leg press 45º, ainda que nesse movimento sejam empregadas
cargas relativamente altas. Como somente as fibras que são recrutadas no
treinamento é que estão sujeitas às adaptações fisiológicas (Fleck e Kraemer, 2004),
a implementação de estratégias como a pré-exaustão com cargas de 30 e 60% de 1
RM podem tornar os exercícios multi-articulares mais proveitosos, pois uma maior
quantidade de unidades motoras passa a ser estimulada com a aplicação dessa
metodologia. A intensidade de 30% de 1 RM no exercício mono-articular ainda é
58
preferível por acarretar menores prejuízos no volume de treino do exercício multi-
articular. A menor probabilidade de lesão e melhor controle de execução dos
exercícios mono e multi-articulares também justificam o emprego de sobrecargas
reduzidas no primeiro exercício (Stone et al., 1996). Acredita-se ainda que,
aumentando o número de sujeitos, as vantagens de P30 em relação à P60 e C sejam
evidenciadas.
59
CAPÍTULO 6 – CONCLUSÕES
Os valores de RMS apresentaram crescimento mais acentuado nas séries de
pré-exaustão (P30 e P60) que na rie de controle (C). Portanto, realização de um
exercício mono-articular com cargas de 30 e 60% de 1 RM foi uma forma eficiente de
aumentar o número de unidades motoras recrutadas no exercício multi-articular
subseqüente.
A fadiga mais acentuada na pré-exaustão de alta intensidade (P60),
constatada pelo menor mero de repetições da extensão de joelho (em relação à
P30) e do leg press 45° (em relação à C) não se traduziu em decréscimos mais
acentuados da velocidade de condução. Tampouco foram observadas diferenças no
comportamento dessa variável entre a rie de pré-exaustão de baixa intensidade
(P30) e a série controle (C). Fatores como a temperatura e o inchaço muscular
podem ter atenuado as inclinações das retas de regressão da velocidade de
condução nas séries de pré-exaustão de baixa e, principalmente, de alta intensidade.
A realização da pré-exaustão com 30% de 1 RM no exercício mono-articular é
mais recomendada, pois é tão eficiente quanto a carga de 60% de 1 RM para
aumentar a quantidade de unidades motoras recrutadas no exercício multi-articular, e
permite melhor controle do volume (número de repetições) nesse exercício.
Benefícios como o menor risco de lesões e melhor controle da cnica de movimento
ratificam a recomendação para o emprego de menores cargas no exercício mono-
articular. São sugeridos novos estudos para a identificação da relação de volume e
intensidade mais proveitosa para a pré-exaustão.
60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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68
LISTA DE ANEXOS
ANEXO I – Formulário de experimento ................................................................................ 69
ANEXO II – Termo de consentimento livre esclarecido ..................................................... 71
ANEXO III – Carta de aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Ciências da
Saúde da Universidade de Brasília – FS/UnB ..................................................................... 74
ANEXO IV – Questionário de Prontidão para Atividade Física (Physical Activity
Readiness Questionnaire – PAR-Q) ...................................................................................... 75
69
ANEXO I – Formulário de experimento
70
71
ANEXO II – Termo de consentimento livre esclarecido
U
NIVERSIDADE DE
B
RASÍLIA
U
N
B
F
ACULDADE DE
E
DUCAÇÃO
F
ÍSICA
FEF
L
ABORATÓRIO DE PROCESSAMENTO DE SINAIS BIOLÓGICOS
Pesquisa: "R
ESPOSTAS NEUROMUSCULARES DO MÚSCULO VASTO LATERAL AO MÉTODO
DA PRÉ
-
EXAUSTÃO ADAPTADO
Pesquisador Responsável: Valdinar de Araújo Rocha Júnior
Telefones para contato: (61) 8400-6700 / (61) 3311-8874 / (61) 3355-1261
Endereço para contato: QND 59 casa 34
Taguatinga – DF CEP: 72120-590
Orientador: Prof. Dr Jake Carvalho do Carmo
Telefone: (61) 3307-2251 (ramal 228)
T
ERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O Senhor _______________________________________________ está sendo
convidado a participar da pesquisa intitulada “Efeitos da pré-exaustão em variáveis
eletromiográficas durante o treinamento resistido”. A eletromiografia é um registro da
eletricidade emanada do músculo durante uma contração. O objetivo do estudo é avaliar
a intensidade dessa atividade elétrica após uma combinação de dois exercícios de
musculação bastante comuns no treinamento em academias. Essa combinação consiste
na realização consecutiva de extensões de joelho (cadeira extensora) e pressão de pernas
(leg press). A intensidade dos exercícios será definida por um teste de carga
denominado teste de uma repetição máxima (1-RM). Nesse teste será mensurado o peso
máximo suportado em uma única repetição do exercício. Percentuais de 30 e 60% das
cargas de 1-RM serão utilizados na realização da cadeira extensora, ao passo que no leg
press somente será utilizada a intensidade de 60%. Em todos os exercícios, o sujeito
será orientado a realizar quinze repetições. Os testes serão realizados no Laboratório de
Processamento de Sinais Biológicos da Faculdade de Educação Física da Universidade
de Brasília, durante uma semana. Quatro encontros de aproximadamente 2 horas serão
necessários para a execução dos testes de 1-RM e das ries combinadas. O intervalo
entre os procedimentos experimentais (testes de cargas e combinações de exercícios)
será de no mínimo 24 e no máximo 48 horas.
72
Antes de participar da pesquisa, será avaliado o histórico de saúde dos sujeitos
com o questionário padrão “PAR-Q”. Esse questionário é validado pela Sociedade
Canadense para Fisiologia do Exercício e tem por objetivo identificar situações críticas
nas quais há necessidade de uma avaliação médica detalhada antes do início de uma
atividade física. Isso reduz a possibilidade de ocorrerem disfunções cardiovasculares,
inerentes à prática de qualquer atividade sica. O experimento também será
acompanhado por um profissional de educação física treinado em primeiros socorros e
um carro estasempre disponível para transporte do sujeito ao hospital universitário
em caso de imprevistos. O transporte do sujeito até o hospital universitário não levará
mais do que dez minutos. Os equipamentos utilizados para a eletromiografia são
desenvolvidos no laboratório Lisin do Politécnico di Torino, homologados pelas
autoridades competentes da união Européia e aprovados pela Anvisa, o que garante a
confiabilidade do equipamento. A aparelhagem possui circuitos isoladores, o que
garante que os sujeitos não sejam submetidos a descargas elétricas. O gel condutor
usado para melhorar a captação do sinal elétrico muscular é de material inerte e não
oferece risco à saúde dos sujeitos. No entanto, uma porcentagem muito pequena de
pessoas pode possuir alergia a seus componentes e apresentar uma pequena irritação
passageira na pele. Caso isso seja constatado, a experiência é interrompida e os
cuidados são tomados. Os testes envolverão esforços de alta intensidade, o que pode
resultar em lesão muscular ou articular. Para reduzir esse risco, será realizado um
aquecimento em bicicleta ergométrica antes de qualquer atividade. Também existe a
possibilidade da pressão arterial e a freqüência cardíaca aumentarem de forma atípica
durante o exercício e caírem abruptamente após a atividade. Problemas dessa natureza
serão evitados pelo monitoramento constante desses parâmetros. Detectada qualquer
anormalidade, os procedimentos experimentais serão interrompidos imediatamente.
Durante os testes, não ocorrerão coleta de sangue nem eletro-estimulação. A
eletromiografia será realizada por meio de eletrodos de superfície, portanto o
procedimento não seinvasivo. Os eletrodos serão fixados na pele após a tricotomia
(raspagem) da coxa e assepsia do local com álcool.
A identidade e outros dados fornecidos pelos voluntários serão mantidos em
sigilo absoluto. Ao voluntário, será reservado o direito de se recusar a participar ou de
retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer tipo de
penalidade ou prejuízo à sua pessoa. Os dados serão armazenados pelos pesquisadores.
Os voluntários poderão ter acesso e solicitar a exclusão de seus dados a qualquer
momento. O objetivo do estudo é coletar informações para a elaboração da dissertação
do mestrado do pesquisador responsável e para a publicação de artigos científicos e/ou
trabalhos em congressos. Os participantes poderão ter acesso a esses documentos por
intermédio do pesquisador responsável ou por meio de bases de dados digitais que
contenham os periódicos escolhidos para a apresentação. Independentemente de se obter
os resultados esperados, os dados serão publicados e divulgados, sendo resguardada a
identidade dos participantes. Os dados também poderão ser utilizados em análises e
pesquisas futuras. Como a musculação atualmente atende a propósitos estéticos,
atléticos e de saúde, os participantes da pesquisa e todos os praticantes de treinamento
resistidos serão beneficiados por este e qualquer outro estudo que investigue a
prescrição de exercícios de força, suas conseqüências e ganhos fisiológicos.
73
Qualquer dúvida que porventura venha a surgir antes ou durante a pesquisa será
esclarecida pelo pesquisador responsável que se coloca a inteira disposição para contato
no endereço e números telefônicos supracitados.
Brasília, _____ de __________ de ______.
Pesquisador responsável: Valdinar de Araújo Rocha Júnior
RG.: 1721119
Assinatura: ______________________________________________
Voluntário:___________________________________________
R.G.: ______________________________________
Assinatura: ______________________________________________
74
ANEXO III Carta de aprovação do Comitê de Ética da Faculdade de Ciências
da Saúde da Universidade de Brasília – FS/UnB
75
ANEXO IV Questionário de Prontidão para Atividade Física (Physical Activity
Readiness Questionnaire – PAR-Q)
PAR-Q & VOCÊ
Questionário Sobre Atividade Física
PAR-Q (revisado em 2002) [traduzido do documento original PAR-Q & YOU também anexado neste documento]
(Um questionário para pessoas entre 15 e 69 anos)
Atividade física regular é saudável e divertido, mais e mais pessoas estão se tornando
fisicamente ativas todos os dias. Se tornar mais ativo é bastante seguro para a maioria das
pessoas. No entanto algumas pessoas devem consultar um médico antes de se tornarem
fisicamente mais ativas.
Se você está pensando em se tornar fisicamente mais ativo que você é agora, comece
respondendo as sete perguntas na caixa abaixo. Se você tem entre 15 e 69 anos o teste PAR-
Q dirá se você deve consultar um médico antes de começar com as novas atividades. Se você
tem mais de 69 anos de idade, e não está acostumado a ser fisicamente ativo, consulte seu
médico.
Senso comum é o melhor guia para responder estas perguntas. Por favor, leia o questionário
com cuidado e responda cada questão honestamente com SIM ou NÃO.
1. Algum médico lhe disse que você sofre de alguma condição cardíaca e que somente deverá realizar
atividade física recomendada por um médico?
2. Você sente dor no tórax quando realiza alguma atividade física?
3. No último mês você teve dor no tórax quando não estava realizando atividade física?
4. Você já perdeu o equilíbrio devido a alguma vertigem ou você já perdeu a consciência alguma vez?
5. Votem algum problema ósseo ou articular, que poderia se agravar com alguma mudança em seu
ritmo de atividade física? (por exemplo, coluna, joelho ou quadril)
6. Você está tomando algum medicamento para a pressão arterial ou para alguma condição cardíaca por
recomendação médica?
7. Você conhece alguma outra razão para não realizar atividade física?
Se você respondeu SIM para uma ou mais perguntas
Fale com seu médico por telefone ou pessoalmente antes de começar a realizar atividade física ou antes de fazer uma
avaliação física em uma academia. Fale com seu médico sobre o teste PAR-Q e quais questões respondeu SIM.
Você deve ser capaz de realizar qualquer atividade física que deseje contanto que comece devagar e melhore
gradualmente. Ou você talvez tenha que restringir suas atividades físicas para aquelas que sejam seguras para você.
Fale com seu médico a respeito dos tipos de atividade física que você deseja praticar e siga seu conselho.
• Descubra que tipos de programas de exercício são seguros para você.
SUSPENDA SUAS ATIVIDADES FÍSICAS:
Se você não estiver se sentindo bem devido a alguma doença temporária como resfriado ou febre espere até se
sentir melhor; ou
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• Se você estiver ou suspeitar estar grávida – fale com seu médico antes de iniciar atividades físicas.
Se você respondeu NÃO para todas as perguntas
Se você respondeu honestamente não a todas as perguntas do questionário PAR-Q, você pode ficar razoavelmente
seguro que você pode:
Começar a realizar atividades físicas com segurança começando de vagar e incrementar as atividades
gradualmente. Esta é a forma mais simples e segura de seguir.
Realizar uma avaliação física Esta é uma forma excelente de determinar seu condicionamento físico atual assim
podendo decidir qual a melhor maneira de viver fisicamente ativo. Também é recomendado que você verifique sua
pressão sanguínea, se ela estiver alta você deve falar com seu médico antes de iniciar atividades físicas.
ATENÇÃO: Se sua saúde mudar de forma que alguma das respostas as questões do PAR-Q se torne SIM fale com
seu professor ou médico a respeito de seu estado de saúde. Pergunte se deve mudar alguma atividade que esteja
realizando.
"Eu li, compreendi, e preenchi este questionário. Qualquer dúvida que eu porventura tive me foi
esclarecida de forma plenamente satisfatória."
Nome _______________________________________________________________________________
Assinatura_________________________________________________
Data________/________/________
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