IX
RESUMO
Em mamíferos, a secção de nervo periférico ocasiona alterações na
junção neuromuscular, a qual se caracteriza por redução na atividade da
enzima acetilcolinesterase (AChE) dessa região. Em pintos neonatos, esta
condição resulta em diminuição na expressão desta enzima na medula espinal.
Todavia, ainda é desconhecido o efeito da lesão axonal sobre a atividade e/ou
expressão da AChE na medula espinal de mamíferos, bem como os efeitos
desta lesão na medula e junção neuromuscular de anfíbios, os primeiros
vertebrados terrestres. Com intuito de fornecer uma análise comparativa sobre
a atividade e expressão da AChE após secção do nervo ciático, este trabalho
teve como objetivo determinar, em medula espinal lombossacral e em
músculos gastrocnêmio e tibial posticus de rã, e gastrocnêmio e sóleo de rato,
se há diferença interespecífica na atividade e expressão da AChE nestes
tecidos. Além disso, verificar se o tipo de fibra muscular e o tempo de
desnervação influenciam estes parâmetros.
Para isso, foram utilizados rãs Rana catesbeiana e ratos Wistar,
adultos, machos, divididos em dois grupos: animais desnervados (nervo ciático
seccionado) e sham (nervo ciático isolado, mas não seccionado). Três ou dez
dias após este procedimento, os animais foram mortos para a obtenção da
medula espinal lombossacral e dos músculos gastrocnêmio e sóleo de rato e
gastrocnêmio e tibial posticus de rã. Após, os tecidos foram homogeneizados,
centrifugados e as proteínas quantificadas. A atividade da AChE foi avaliada
pelo método de Ellman e cols. (1961), modificado por Lassiter e cols. (2003), e
a expressão da proteína AChE foi determinada pela técnica de Western blot.
A secção do nervo ciático em rãs e ratos aumentou a atividade da
AChE, porém não alterou sua expressão na medula espinal lombossacral
destes animais. Na comparação entre as duas espécies, as rãs mostraram o
dobro da atividade neste tecido antes e após a desnervação em relação aos
ratos. A secção nervosa provocou ainda diminuição na atividade da AChE no
músculo sóleo de rato, enquanto que no músculo tibial posticus de rã esta
atividade não foi alterada, embora ambos sejam músculos compostos por fibras
do tipo lentas. Em relação à expressão da AChE nos músculos lentos, esta não
foi alterada pelo procedimento experimental em ambas as espécies. Quando
comparamos a atividade da AChE nos músculos lentos de rãs e ratos, o
músculo sóleo apresentou maior atividade que o músculo tibial posticus, antes
e após a desnervação. No músculo gastrocnêmio de rã e rato, tanto na
atividade como na expressão da AChE, não houve diferença significativa após
a lesão axonal periférica, nem entre as espécies.
Conclui-se, a partir destes resultados que há uma importante diferença
interespecífica na atividade da AChE após a secção do nervo ciático, tanto na
medula espinal como no músculo esquelético de fibra lenta, mas estes
parâmetros não foram influenciados pelo tempo de desnervação. Portanto, uma
abordagem funcional mais detalhada é necessária para melhor entendimento e
compreensão destas diferenças.