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um processo que historicamente vem trilhando seu percurso e que tem como intuito
menos uma homogeneização do que a integração de diferentes sociedades ao
sistema-mundo. A contradição apresentada é que almejando essa integração notam-
se mudanças nas relações sociais, o que fazem vir à tona questões étnicas e raciais
que criam e recriam as diversidades e identidades como desigualdades, gerando
preconceito, etnicismos e intolerâncias.
O século XX foi marcado por profundos confrontos étnicos em uma
perspectiva mundial. A luta de minorias por autonomia e independência demonstra
uma força no sentido contrário à tendência de formação de uma sociedade global. A
consciência étnica vem ascendendo como força política, afetando, desse modo,
nações nas quais existe uma grande diversidade étnica, como o Brasil. Tais lutas
são as expressões de tensões resultantes da difusão de uma forma de vida
ocidental, isto é, de um processo civilizatório que visa à disciplinarização do homem.
Um modo de vida que prima pelo aspecto econômico em detrimento do social e
cultural e que vem sendo, de certa forma, imposto a grupos que reagem a sua
maneira, multiplicando, nesse contexto,
As ressurgências de movimentos nacionais e de nacionalidades,
preconizando autonomia, independência, auto governos ou federalismo.
São ressurgências que envolvem aspectos não só históricos e geográficos,
mas também culturais, religiosos, lingüísticos, étnicos ou raciais, além das
implicações sociais e outras. São ressurgências nas quais manifestam-se
reivindicações e ressentimentos recentes e remotos, preconizando a
afirmação de identidades, territórios, línguas, religiões, história, tradições,
heróis, santos, monumentos e ruínas (Ianni, 1996: 209-210).
No Brasil, a resistência dos povos indígenas a esse processo se deu por
diversos meios. A partir da década de 1970, as comunidades indígenas que habitam
o território brasileiro unificaram-se com a formação de organizações indígenas e
contando com a colaboração de organizações não-governamentais que, por seu
turno, mediavam às discussões com a sociedade nacional. Dessa forma, os povos
indígenas intensificaram a luta pelo direito à diversidade étnica e cultural, em um
movimento de luta pela reconquista e oficialização de suas terras e preservação de
seus patrimônios culturais.
As diversas etnias indígenas puderam, desse modo, manter um contato
permanente e, intercomunicando-se, promoveram transformações que permitiram
maior envolvimento desses povos nos debates referentes às suas culturas. Nesse
âmbito, muitos jovens das sociedades tradicionais saem de suas aldeias para