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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
BÁRBARA DE LAVRA PINTO
AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM CRIANÇAS COM
SÍNDROME DE DOWN
Porto Alegre
2009
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BÁRBARA DE LAVRA PINTO
AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA EM CRIANÇAS
COM SÍNDROME DE DOWN
Dissertação apresentada como requisito para
obtenção do grau de Mestre, pelo Programa de
Pós-graduação em Letras da Faculdade de Letras
da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul.
Aprovada em 14 de janeiro de 2009.
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________
Orientador: Prof. Dr. Regina Ritter Lamprecht
___________________________________________
Prof. Dr. Helena Bolli Mota - UFSM
___________________________________________
Prof. Dr. Claus Dieter Stobaüs - PUCRS
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AGRADECIMENTOS
À professora Regina Ritter Lamprecht por ter orientado este trabalho com
muito empenho, pelos saberes transmitidos e, sobretudo, por ter sido uma
verdadeira amiga durante essse período.
Aos meus pais por terem me dado a oportunidade de fazer escolhas, tanto no
âmbito profissional quanto pessoal. Obrigada por todos os ensinamentos, pelo amor,
por tanta dedicação e pelo apoio sempre que precisei. À minha irmã Sabrina, que
acompanhou mais de perto a construção deste trabalho, pela compreensão. A eles
dedico meus mais profundos agradecimentos.
Ao Pedro pelo carinho, escuta, incentivo para o ingresso no Mestrado e pelos
conhecimentos na área da medicina que em muito contribuíram para a elaboração
deste estudo.
À minhã irmã Nicole e ao Rafael pelo apoio e pela oportunidade que me
deram de pôr em prática os conhecimentos adquiridos durante o percurso de minha
formação como fonoaudióloga. À Natália e à Manuela por terem me proporcionado
momentos de muita alegria.
À Ana Paula, minha irmã de coração, por ser uma pessoa especial e por estar
em todos os momentos sempre tão disposta a ajudar.
À fonoaudióloga e amiga Marlene Canarim Danesi e ao neurologista
Flemming Salvador Pedroso, pessoas pelas quais tenho profunda admiração.
Agradeço os conhecimentos transmitidos, a confiança em mim depositada desde a
faculdade e por me auxiliarem nos diferentes momentos da minha formação
profissional.
Às fonoaudiólogas Ângela Esther González e Zulema Garcia Yañez por terem
viabilizado a realização desta pesquisa. Obrigada por me receberem de braços
abertos no Centro Lydia Coriat (POA-RS), pelo incentivo, pelo tempo disponibilizado
e pelas importantes contribuições.
4
À professora Cleci Seibt agradeço o apoio recebido, a disponibilidade para a
discussão de cada um dos casos e por ter possibilitado a realização desta pesquisa
na Escola Visconde de Pelotas (POA-RS).
Ao Dr. Luís Henrique Campos da Motta pela realização de avaliações
otorrinolaringológicas e pelo carinho dispensado às crianças desta pesquisa. À
fonoaudióloga Sílvia M. Soares por ter se disponibilizado a realizar as avaliações
auditivas nos locais da pesquisa, e à fonoaudióloga Kátia Weiss por ter auxiliado na
análise dos dados dessas avaliações. À Ceres Oliveira pelo empenho no tratamento
estatístico dos dados deste estudo.
À amiga Deisi G. M. Vidor pelas aulas de Lingüística durante o período que
antecedeu a realização da prova do curso de Mestrado, e à Dr. Gabriela C. M. de
Freitas pela disposição em ajudar na análise de dados deste estudo, além da
colaboração com material para a revisão de literatura.
Às colegas e amigas Ângela, Vanessa, Aline, Melissa, Marivone, Ana Paula,
Gabriele, Gracielle, Tarsila, Norma, Clarice, Cristiane e Julieane pelos ótimos
momentos que passamos juntas, pelo apoio nos momentos difíceis e, acima de tudo,
pela alegria dividida nos momentos de conquistas. À amiga Carolina B. Menezes
pelas excelentes aulas de inglês e pelos conhecimentos compartilhados.
À Mara e à Isabel pelo eficiente trabalho que realizam junto à secretaria do
Programa de Pós-Gradução em Letras da PUCRS.
Aos pais das crianças avaliadas pelo envolvimento com a pesquisa e pelas
indispensáveis contribuições.
Em especial, às crianças que participaram desta pesquisa com quem
compartilhei verdadeiros momentos de aprendizado, afeto, ansiedade frente ao
novo, superação e alegria. De cada uma delas guardo momentos especiais.
Por fim, ao Bruno S. de Araújo, a quem dedico este trabalho por ter
despertado em mim o desejo de estudar e pesquisar o tema desta dissertação.
RESUMO
Este estudo teve como objetivo geral investigar a consciência fonológica de
crianças com síndrome de Down falantes do português brasileiro. Foram traçados
seis objetivos específicos. O primeiro foi verificar se sujeitos com síndrome de Down,
adequados aos critérios de inclusão desta pesquisa, apresentam níveis mensuráveis
de consciência fonológica por meio da aplicação do CONFIAS – Consciência
fonológica: instrumento de avaliação seqüencial (MOOJEN et al., 2003). O segundo
foi identificar quais tarefas de consciência fonológica são mais fáceis e quais são
mais difíceis para os indivíduos deste estudo. O terceiro foi investigar se a seqüência
(grau de dificuldade) das tarefas do nível da sílaba do CONFIAS é diferente para as
crianças com síndrome de Down avaliadas. Analisar a relação existente entre as
diferentes hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) dos participantes
e os resultados da avaliação de consciência fonológica constituiu o quarto objetivo.
O quinto foi comparar o desempenho das crianças com síndrome de Down na
avaliação da consciência fonológica aos resultados esperados, de acordo com o
CONFIAS, para crianças com desenvolvimento típico. O critério de pareamento entre
esses dois grupos foi a hipótese de escrita. O sexto e último objetivo foi verificar se a
memória de trabalho auditiva, o tempo de letramento escolar e a inteligibilidade de
fala influenciam o desempenho de sujeitos com síndrome de Down na avaliação da
consciência fonológica.
A amostra foi constituída de onze crianças portadoras da síndrome (idade
cronológica média: 9 anos e 10 meses), as quais foram avaliadas quanto à
consciência fonológica, nível de escrita, memória de trabalho auditiva e
inteligibilidade de fala. O instrumento utilizado neste estudo para avaliar a
consciência fonológica apresenta tarefas divididas em nível da sílaba e nível do
fonema, a seqüência das mesmas segue o grau de dificuldade de crianças com
desenvolvimento típico. O tempo de letramento escolar das crianças, referente ao
tempo de contato com o ensino da língua escrita em contexto formal, foi obtido
através de um questionário aplicado aos pais ou responsáveis e de contato com as
escolas dos integrantes.
Os resultados mostraram que os sujeitos deste estudo apresentaram níveis
mensuráveis de consciência fonológica através da aplicação do CONFIAS. Os
participantes apresentaram maior facilidade na resolução de tarefas que exigiam
consciência silábica. Tarefas que requerem manipulação de constituintes
fonológicos, tanto no nível silábico quanto fonêmico, foram difíceis para os sujeitos
desta pesquisa. A seqüência (grau de dificuldade) das tarefas do nível da sílaba do
CONFIAS foi diferente para as crianças com síndrome de Down avaliadas. Os
indivíduos deste estudo apresentaram diferentes hipóteses de escrita, as quais
apresentaram associação positiva significativa com os escores da avaliação da
consciência fonológica. O desempenho dos sujeitos com síndrome de Down na
avaliação da consciência fonológica foi significativamente inferior ao de crianças com
desenvolvimento típico, apesar de mesma hipótese de escrita. Os escores da
avaliação da consciência fonológica apresentaram uma correlação positiva
significativa com as medidas de memória de trabalho auditiva. A inteligibilidade de
fala também mostrou, ao contrário do tempo de letramento escolar, associação
significativa com a consciência fonológica. Pode-se dizer, então, que, para os
participantes deste estudo, o aprendizado da escrita, o segmento a ser analisado, a
6
memória de trabalho auditiva e a inteligibilidade de fala influenciaram o desempenho
dos participantes na avaliação da consciência fonológica.
A partir de resultados deste estudo foi possível concluir que a consciência
silábica pode aprimorar-se com a alfabetização em sujeitos com síndrome de Down.
Já a consciência fonêmica parece surgir como resultado do aprendizado da escrita.
Palavras-chave: Síndrome de Down; Consciência fonológica; Habilidade de escrita.
ABSTRACT
The purpose of this study was to investigate the phonological awareness of
Brazilian Portuguese speaking children with Down syndrome. Six objectives have
been outlined. The first was verifying whether subjects with Down syndrome,
according to inclusion criteria, presented measurable levels of phonological
awareness through the CONFIAS - Phonological awareness: sequence assessment
instrument (MOOJEN et al., 2003) - application. The second was identifying which
tasks of phonological awareness are easier and which are more difficult to the
subjects in present study. The third investigated if the sequence (degree of difficulty)
of the syllable level task of CONFIAS is different among children with Down
syndrome assessed. The fourth objective was to analyze the relationship between
the different writing hypothesis (in the sense of FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) of
participants and the results of the phonological awareness assessment. The fifth was
to compare the performance of children with Down syndrome on the phonological
awareness assessment with the expected results according to CONFIAS to children
with typical development. The writing hypothesis was the criteria used for matching
these two groups. The sixth and last objective was to verify if hearing working
memory, time of scholar literacy and speech intelligibility influence the performance
of children with Down syndrome on the phonological awareness assessment.
The sample comprised eleven children with Down syndrome (average
chronological age: 9 years and 10 months), who were assessed on phonological
awareness, writing level, hearing working memory and speech intelligibility. The
instrument used to assess phonological awareness presents three tasks divided in
syllable and phonemic level, whose sequence follows the degree of difficulty of
typical developing children. The children’s time of scholar literacy, meaning the
period of contact with reading and writing in a formal context, was obtained through a
questionnaire applied to parents or someone responsible and from the contact with
the children’s school.
The results showed that subjects presented measurable levels of
phonological awareness through the CONFIAS application. The participants
presented greater facility on the resolution of tasks which demanded syllable
awareness. Tasks which require manipulation of phonological constituents, both in
the syllable and phonemic level, were difficult to the subjects in this research. The
sequence (degree of difficulty) of the syllable level tasks of CONFIAS was different to
children with Down syndrome assessed. The subjects presented different writing
hypothesis, which had a positive association with the scores from the phonological
awareness assessment. The performance of children with Down syndrome on the
assessment of phonological awareness was significantly inferior to the typical
developing children, despite having the same writing level. The scores of the
phonological awareness assessment had a positive significant correlation with
measures of hearing working memory. Speech intelligibility also showed, in contrast
to the time of scholar literacy, a significant association with phonological awareness.
It is possible to say, then, that for children in this study, the acquisition of writing
skills, the segment analyzed (syllable or phoneme), the hearing working memory and
the speech intelligibility influence the performance of participants on the phonological
awareness assessment.
8
In light of the results from the present study, it has been concluded that
syllable awareness can improve with the writing acquisition of the children with Down
syndrome. Concerning the phonemic awareness, it seems to arise as a result of the
writing acquisition.
Keywords: Down syndrome; Phonological awareness; Writing skill.
LISTA DE ABREVIATURAS
a: anos
DP: Desvio padrão
DT: Desenvolvimento típico
m: meses
Máx: Máximo
Mín: Mínimo
MTA: Memória de trabalho auditiva
NF: Nível do fonema
NS: Nível da sílaba
OM: Otite média
QI: Quociente de inteligência
S: sujeito
SD: Síndrome de Down
WISC: Escala de Inteligência Wechsler para Crianças
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1: Critérios de pontuação do CONFIAS modificado pela autora
para a aplicação em crianças com síndrome de Down...............
85
Figura 1: Comparação entre os grupos de crianças pré-silábicas e
alfabéticas quanto ao desempenho na avaliação da
consciência fonológica.................................................................
105
Figura 2: Comparação do desempenho das crianças com síndrome de
Down (SD) aos resultados esperados para indivíduos com
desenvolvimento típico (DT) conforme o CONFIAS.....................
110
Figura 3: Associação entre memória de trabalho auditiva e consciência
fonológica.....................................................................................
123
Figura 4: Associação entre o número de seqüências repetidas
corretamente na avaliação da memória de trabalho auditiva e a
consciência fonológica.................................................................
124
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Caracterização sociodemográfica da amostra........................... 74
Tabela 2: Caracterização clínica da amostra............................................. 75
Tabela 3: Escores obtidos por crianças com DT na validação do
CONFIAS...................................................................................
87
Tabela 4: Escores mínimo e máximo obtidos por crianças com DT em
cada nível do CONFIAS.............................................................
88
Tabela 5: Caracterização da amostra de acordo com as hipóteses de
escrita........................................................................................
98
Tabela 6: Desempenho da amostra na avaliação da consciência
fonológica - CONFIAS (n=11)....................................................
101
Tabela 7: Comparação do desempenho de sujeitos com diferentes
hipóteses de escrita na avaliação da consciência fonológica
(n=10).........................................................................................
104
Tabela 8: Comparação do desempenho de sujeitos com hipóteses de
escrita pré-silábica e alfabética nas diferentes tarefas de
consciência fonológica do CONFIAS.........................................
106
Tabela 9: Comparação entre as crianças com SD e com DT quanto à
consciência fonológica, conforme as hipóteses de escrita
(n=10).........................................................................................
109
Tabela 10: Sujeitos com hipótese de escrita pré-silábica: escores
esperados para crianças com DT; escores brutos dos
participantes com SD no CONFIAS, idade cronológica e
tempo de letramento escolar.....................................................
111
Tabela 11: Sujeitos com hipótese de escrita alfabética: escores
esperados para crianças com DT; escores brutos dos
participantes com SD no CONFIAS, idade cronológica e
tempo de letramento escolar.....................................................
111
Tabela 12: Desempenho da amostra na avaliação da MTA (n=11)........... 115
Tabela 13: Comparação do desempenho de sujeitos com diferentes
hipóteses de escrita na avaliação da MTA (n=10)....................
117
Tabela 14: Associações, através do coeficiente de correlação de
Spearman (r
s
), entre a MTA, o tempo de letramento e a idade
cronológica com os escores de consciência fonológica (n=11)
119
Tabela 15: Avaliação da consciência fonológica nos grupos com
inteligibilidadede de fala adequada e alterada (n=11)...............
121
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................14
1 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................18
1.1 COGNIÇÃO E LINGUAGEM ....................................................................18
1.2 METACOGNIÇÃO, METALINGUAGEM E METAFONOLOGIA ..............21
1.2.1 Consciência fonológica .............................................................................22
1.2.1.1 Consciência fonológica: nível da sílaba ....................................................26
1.2.1.2 Consciência fonológica: nível do fonema ..................................................28
1.3 APRENDIZADO DA ESCRITA.................................................................31
1.3.1 Hipótese de escrita pré-silábica ................................................................33
1.3.2 Hipótese de escrita silábica.......................................................................34
1.3.3 Hipótese de escrita silábico-alfabética ......................................................35
1.3.4 Hipótese de escrita alfabética ...................................................................35
1.4 RELAÇÃO ENTRE A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
E O APRENDIZADO DA ESCRITA..........................................................36
1.5 SÍNDROME DE DOWN.............................................................................39
1.5.1 Definição, aspectos genéticos e características clínicas...........................39
1.5.2 Características cognitivas .........................................................................46
1.5.2.1 Memória de trabalho e memória de curto prazo........................................47
1.5.3 Desenvolvimento da linguagem ................................................................51
1.5.4 Aprendizado da leitura e da escrita...........................................................56
1.5.5 Consciência fonológica .............................................................................59
2 MÉTODO ..................................................................................................72
2.1 TIPO DE PESQUISA ................................................................................72
2.2 POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM.............................................................72
2.3 AMOSTRA................................................................................................73
2.4 AVALIAÇÕES REALIZADAS E INSTRUMENTOS..................................76
2.4.1 Questionário preenchido pelos pais ou responsáveis (apêndice 2) ..........77
2.4.2 Questionário preenchido pelo(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da
criança (apêndice 3)..................................................................................78
2.4.3 Avaliação da consciência fonológica.........................................................79
2.4.3.1 Critérios de pontuação ..............................................................................84
2.4.3.2 Resultados esperados de acordo com o CONFIAS para crianças com
desenvolvimento típico .............................................................................87
2.4.4 Avaliação da escrita ..................................................................................88
2.4.5 Avaliação da memória de trabalho auditiva ..............................................89
2.4.6 Avaliações otorrinolaringológica e auditiva ...............................................91
2.5 COLETA E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS .............................................94
2.6 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS..........................................95
13
3 RESULTADOS..........................................................................................97
3.1 AVALIAÇÃO DA ESCRITA......................................................................97
3.2 AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA..................................100
3.2.1 Consciência fonológica e hipóteses de escrita........................................104
3.2.2 Comparação do desempenho das crianças com síndrome de Down aos
resultados esperados para indivíduos com desenvolvimento típico........109
3.2.3 Associações entre a memória de trabalho auditiva, o tempo de letramento
escolar e a inteligibilidade de fala com os escores de consciência
fonológica................................................................................................115
3.2.3.1 Memória de trabalho auditiva .................................................................115
3.2.3.2 Tempo de letramento escolar e consciência fonológica..........................119
3.2.3.3 Inteligibilidade de fala e consciência fonológica......................................121
3.2.4.4 Conclusão relacionada à hipótese 6 desta pesquisa ..............................123
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.........................................................125
CONCLUSÕES.......................................................................................................147
REFERÊNCIAS.......................................................................................................149
APÊNDICES ...........................................................................................................167
ANEXO.................................................................................................................... 174
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa investiga habilidades de reflexão fonológica em crianças com
síndrome de Down falantes do português brasileiro. Essas habilidades, juntamente
com a capacidade de operação com sílabas, rimas e fonemas, constituem a
consciência fonológica (MOOJEN et al., 2003).
Há mais de três décadas, estudos têm sido realizados com o objetivo de
investigar a relação existente entre a consciência fonológica e a alfabetização
(LIBERMAN et al., 1974; BRADLEY & BRYANT, 1983; GOSWAMI & BRYANT, 1990;
MORAIS et al., 1998; CIELO, 1996, 2001). Não restam dúvidas sobre a existência de
uma forte associação entre essas variáveis em crianças com desenvolvimento
típico.
1
Entretanto, o entendimento sobre a natureza dessa relação é, ainda, motivo
de discussão entre os estudiosos, principalmente quando estudada em crianças com
prejuízo intelectual.
Pesquisas sobre a consciência fonológica de crianças com síndrome de
Down iniciaram na década de noventa com as publicações de Cossu & Marshall
(1990) e Cossu et al. (1993). Esses autores defendem que sujeitos portadores da
síndrome podem aprender a ler sem habilidades de consciência fonológica. As
conclusões apresentadas por Cossu et al. (1993) impulsionaram pesquisadores de
diferentes países a investigarem níveis mensuráveis de consciência fonológica em
indivíduos com síndrome de Down e a relação com suas habilidades de leitura
(CUPLES & IACONO, 2000; KAY-RAINING BIRD et al., 2000; FLETCHER &
BUCKLEY, 2002; GOMBERT, 2002; SNOWLING et al., 2002; BOUDREAU, 2002;
KENNEDY & FLYNN, 2003a; LAWS & GUNN, 2002; VERUCCI et al., 2006). O
número de pesquisas realizadas com crianças brasileiras é bastante reduzido.
Destacam-se os estudos de Cardoso-Martins & Frith (1999, 2001), Cardoso-Martins
et al. (2002) e Lara et al. (2007).
O presente trabalho visa contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos
científicos relacionados à consciência fonológica de crianças com síndrome de
Down. Para tanto, procurou-se realizar uma investigação detalhada sobre as
1
A expressão “desenvolvimento típico” será empregada neste estudo para fazer referência às
crianças com desenvolvimento dentro de padrões da normalidade. Deu-se preferência ao termo
“típico” pelo fato de as palavras “normal” ou “anormal” serem, freqüentemente, consideradas como
tendo um sentido pejorativo ou preconceituoso.
15
habilidades metafonológicas dos participantes através da aplicação de dezesseis
tarefas de consciência fonológica que abrangem diferentes níveis lingüísticos. Além
disso, verificou-se a associação existente entre o desempenho em tarefas de
consciência fonológica e os níveis de escrita dos sujeitos da amostra. Devido ao
prejuízo intelectual,
2
ao déficit na memória de trabalho auditiva e às alterações de
fala e linguagem, indivíduos com síndrome de Down são considerados de risco para
dificuldades na alfabetização e na resolução de tarefas que exigem consciência
fonológica (KENNEDY & FLYNN, 2003a).
Acredita-se que este estudo possa alertar profissionais, tais como
fonoaudiólogos, professores e psicopedagogos, sobre a importância de estimular
reflexões sobre a estrutura sonora das palavras em crianças com síndrome de
Down, tanto em fases anteriores como durante o ensino formal da leitura e da
escrita.
São sujeitos deste estudo onze crianças com síndrome de Down em
processo de alfabetização ou já alfabetizadas. Para a avaliação da consciência
fonológica foi utilizado o CONFIAS – Consciência fonológica: instrumento de
avaliação seqüencial (MOOJEN et al., 2003). Esse instrumento é constituído de
tarefas divididas em dois níveis: o nível da sílaba e o nível do fonema. Os dados de
escrita foram observados com base na proposta de Ferreiro & Teberosky (1999).
Os objetivos do presente estudo foram traçados a partir da revisão de
estudos prévios e de questões surgidas na prática clínica da pesquisadora com
crianças portadoras da síndrome. O objetivo geral é investigar a consciência
fonológica de crianças com síndrome de Down falantes do português brasileiro. Os
objetivos específicos são:
1. Verificar se crianças com síndrome de Down, adequadas aos critérios de
inclusão desta pesquisa, apresentam níveis mensuráveis de consciência fonológica
por meio da aplicação do CONFIAS;
2. Identificar quais tarefas de consciência fonológica são mais fáceis e quais
são mais difíceis para os sujeitos com síndrome de Down avaliados;
3. Investigar se a seqüência (grau de dificuldade) das tarefas do nível da
sílaba do CONFIAS é diferente para as crianças com síndrome de Down;
2
Termos como “prejuízo intelectual”, “prejuízo cognitivo”, “déficit intelectual”, “déficit cognitivo” ou
“deficiência mental” serão empregados neste trabalho como sinônimos.
16
4. Analisar a relação existente entre as diferentes hipóteses de escrita
(FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) dos indivíduos com síndrome de Down e os
resultados da avaliação de consciência fonológica;
5. Comparar o desempenho das crianças com síndrome de Down na
avaliação da consciência fonológica aos resultados esperados, de acordo com o
CONFIAS, para crianças com desenvolvimento típico, utilizando as hipóteses de
escrita como critério de emparelhamento;
6. Verificar se a memória de trabalho auditiva, o tempo de letramento escolar
e a inteligibilidade de fala influenciam o desempenho de sujeitos com síndrome de
Down na avaliação da consciência fonológica.
Com base na revisão de literatura realizada, foram elaboradas hipóteses que
correspondem aos objetivos desta pesquisa:
1. As crianças com síndrome de Down apresentam níveis mensuráveis de
consciência fonológica por meio da aplicação do CONFIAS;
2. As tarefas de nível silábico são mais fáceis do que as de nível fonêmico e,
em ambos os níveis, tarefas que exigem manipulação de constituintes fonológicos
são difíceis para as crianças com síndrome de Down;
3. A seqüência (grau de dificuldade) das tarefas do nível da sílaba do
CONFIAS é diferente para as crianças com síndrome de Down;
4. Existe associação positiva entre as diferentes hipóteses de escrita dos
indivíduos com síndrome de Down e os escores da avaliação de consciência
fonológica;
5. O desempenho das crianças com síndrome de Down na avaliação da
consciência fonológica é inferior ao esperado para indivíduos com desenvolvimento
típico, apesar de apresentarem mesma hipótese de escrita;
6. A memória de trabalho auditiva, o tempo de letramento escolar e a
inteligibilidade de fala influenciam o desempenho dos sujeitos com síndrome de
Down na avaliação da consciência fonológica.
Cabe salientar que a terceira hipótese foi formulada a partir da constatação
de que crianças com síndrome de Down freqüentemente apresentam uma
dificuldade específica para resolver tarefas que envolvem consciência de rima
17
(CUPLES & IACONO, 2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002; SNOWLING et al.,
2002; KENNEDY & FLYNN, 2003ab; VERUCCI et al., 2006). Sendo assim, a ordem
das tarefas do nível silábico do CONFIAS, as quais aparecem em uma gradação de
dificuldade crescente considerando-se crianças com desenvolvimento típico, poderia
não ser a mesma para as crianças com a síndrome, já que no nível da sílaba do
instrumento existem duas tarefas que envolvem consciência de rima.
Dados de estudos internacionais levaram à formulação da sexta hipótese.
Ressalta-se que não foram encontrados estudos envolvendo crianças com síndrome
de Down brasileiras com o objetivo de avaliar a correlação existente entre a
consiência fonológica e a memória de trabalho auditiva
3
, o tempo de letramento
escolar e a inteligibilidade de fala. Entende-se por tempo de letramento escolar,
neste trabalho, o tempo de contato com o ensino da língua escrita em contexto
formal.
O conteúdo desta dissertação está dividido em seis capítulos. No capítulo um,
primeiramente, são discutidas diferentes perspectivas teóricas sobre a relação entre
a linguagem e o desenvolvimento cognitivo, seguidas dos conceitos de
metacognição, metalinguagem e metafonologia adotados neste estudo. Logo após,
são abordados conceitos gerais sobre a consciência fonológica, o aprendizado da
escrita e a relação entre essas variáveis. Por último, são apresentados os aspectos
genéticos e clínicos da síndrome de Down, particularidades do desenvolvimento
cognitivo e lingüístico, características do aprendizado da leitura e da escrita, além de
estudos sobre a consciência fonológica de crianças com a síndrome. No segundo
capítulo, detalha-se a metodologia aplicada. O terceiro capítulo apresenta os
resultados e a avaliação das hipóteses da pesquisa. A discussão dos resultados
encontra-se no quarto capítulo. No quinto, são abordadas as conclusões deste
estudo. Por último, aparecem as referências, seguidas dos apêndices e de um
anexo. Os dados levantados nesta pesquisa receberam tratamento estatístico.
3
O instrumento utilizado para a avaliação da memória de trabalho auditiva dos participantes desta
pesquisa foi elaborado pela pesquisadora com base nos procedimentos utilizados por Broadley &
MacDonald (1993) e Broadley et al. (1995). Como esses autores utilizam o termo memória de
trabalho auditiva para fazer referência à memória de trabalho fonológica ou verbal, no presente
estudo procurou-se manter o termo utilizado pelos autores citados.
1 REVISÃO DA LITERATURA
1.1 COGNIÇÃO E LINGUAGEM
Pelo fato de este estudo envolver sujeitos com déficits intelectuais e
lingüísticos, considerou-se importante iniciar a revisão de literatura apresentando
diferentes perspectivas teóricas que tratam do desenvolvimento da cognição e da
linguagem.
A perspectiva inatista é representada pelo lingüista norte-americano Noam
Chomsky, o qual propõe que certos aspectos do conhecimento da linguagem são
inatos e dão suporte para a aquisição da língua materna. Ele postula a existência de
um módulo de linguagem, atribuindo um grau de autonomia ao desenvolvimento
lingüístico em face aos demais aspectos da cognição. Chomsky defende que a
habilidade de aprender a se comunicar pela linguagem é independente da
inteligência (CHOMSKY, 1986). O fato de as crianças pequenas, mesmo aquelas
com dificuldades adversas, adquirirem habilidades complexas de linguagem em um
curto espaço de tempo sem necessitar de um ensino formal, sustenta, em grande
parte, suas propostas (CATTEL, 2000). A visão chomskiana não descarta,
entretanto, a relação entre a inteligência e o desenvolvimento posterior do uso da
linguagem.
Dentre os expoentes de linhas conhecidas como construtivistas e
interacionistas, destacam-se Piaget e Vygotsky, respectivamente. O psicólogo suíço
Jean Piaget entende a cognição humana como uma forma de adaptação biológica
do organismo ao meio ambiente (FLAVELL et al., 1999). Piaget propõe que a
aquisição da linguagem é derivada do desenvolvimento do raciocínio, o que
contraria a autonomia de capacidades lingüísticas inatas. A abordagem piagetiana
entende a aquisição da linguagem como dependente da inteligência da criança.
Piaget postula que o conhecimento, dentre eles a aquisição da linguagem, é
resultado de interações entre o sujeito e o meio ambiente (PIAGET, 1959). Através
das percepções e, essencialmente, por meio das ações, a indiferenciação entre os
sujeitos e os objetos do mundo, presente no primeiro estágio do desenvolvimento,
vai dando espaço para um sujeito consciente de si próprio, de alguns de seus
19
conhecimentos e dos objetos do mundo como algo desconectado de si mesmo. Esse
processo de conscientização faz parte do desenvolvimento cognitivo e acontece por
meio de uma sucessão de diferentes estágios (PIAGET, 2002).
No final do estágio sensório-motor ocorre a descentralização das ações em
relação ao próprio corpo, a coordenação gradual de ações e a aquisição da noção
de permanência dos objetos, mesmo quando esses não estão presentes no espaço
perceptual da criança. Essas conquistas cognitivas, de acordo com a visão
piagetiana, ocorrem com a superação da inteligência sensório-motora e possibilitam
o desenvolvimento da função simbólica ou representativa, que culmina com o
aparecimento da linguagem por volta dos dezoito meses. Nessa fase, a criança
encontra-se no primeiro nível do pensamento pré-operatório, e somente no período
correspondente ao início da vida escolar a criança atinge o primeiro nível do estágio
das operações concretas. Até essa idade, Piaget considera que o egocentrismo é a
característica dominante do comportamento infantil. Para esse autor, só depois dos
sete ou oito anos o pensamento e a fala tornam-se socializados, ocorrendo,
concomitantemente, o desaparecimento das características egocêntricas. Piaget
acredita que a fala considerada egocêntrica não cumpre um papel importante no
desenvolvimento infantil e somente acompanha suas atividades.
As críticas à concepção de Piaget baseiam-se na interpretação de que existe
uma subestimação da influência do aspecto social, da interação com outras pessoas
no desenvolvimento infantil (SCARPA, 2001). Essas críticas foram feitas por
Vygotsky, que desenvolveu um trabalho sistemático em psicologia entre as décadas
de vinte e trinta. O psicólogo soviético tem um entendimento diferente de Piaget no
que se refere às origens do pensamento. Para Vygotsky, o desenvolvimento do
pensamento e da linguagem tem origem no social, ou seja, nas trocas comunicativas
entre a criança e o adulto. Em seu entendimento, a fala é socializada desde os
primórdios e, em certa idade, divide-se em fala egocêntrica e comunicativa. A fala
egocêntrica emerge quando a criança transfere formas sociais e cooperativas de
comportamento para a esfera das funções psíquicas interiores, com o objetivo de
organizar suas ações. Ela é vista como um elo na transição entre a fala oral como
instrumento de pensamento e a fala interior, chamada de pensamento verbal
(VYGOTSKY, 2005).
20
Vygotsky entende o processo de internalização da ação e do diálogo como
uma reconstrução interna de uma operação que, inicialmente, representa uma
atividade externa (SCARPA, 2001). Esse processo ocorre por intermédio de um
outro. Dentro dessa perspectiva, as funções de desenvolvimento aparecem primeiro
no nível social e depois no individual. É nesse ponto, como aponta Scarpa (2001),
que as idéias de Piaget e Vygotsky se diferenciam. Para Vygotsky, o
desenvolvimento das funções cognitivas superiores, como a formação de conceitos,
a memória e as reflexões conscientes, originam-se da interação da criança com as
pessoas que a rodeiam (SCARPA, 2001). Assim, a transformação de processos
interpessoais em intrapessoais é entendida como resultado das relações entre as
pessoas.
Neste trabalho não se pretende discutir questões relacionadas à aquisição
inicial da linguagem e, sim, aspectos do desenvolvimento posterior. No presente
estudo, as habilidades lingüísticas da criança são vistas como intimamente ligadas
aos processos cognitivos. Deve ficar claro que isso não significa desconsiderar a
importância da relação com os adultos. Acredita-se, como afirma Zorzi (2002), que a
construção do conhecimento, que se caracteriza pela elaboração gradual de
operações mentais, está estreitamente ligada às relações interpessoais. De acordo
com o autor, as interações com os outros, as informações recebidas, os conflitos
gerados nessas trocas comunicativas e as possibilidades individuais de assimilação
contribuem para descentralização típica do comportamento infantil, o que permite os
progressos do pensamento na direção da diferenciação de pontos de vista, de
conseguir situar-se na posição do outro e, assim, avançar na socialização e na
linguagem.
O desenvolvimento cognitivo é entendido, então, no sentido da construção
de novos conhecimentos por meio da elaboração contínua de novas estruturas
mentais que, ao mesmo tempo, possibilitam o desenvolvimento de habilidades
lingüísticas. Dentre essas habilidades é possível situar a capacidade de refletir
conscientemente sobre os sons da língua materna.
O processo de tornar algo consciente, ou seja, a possibilidade de refletir ou
fazer julgamentos sobre determinado assunto ou objeto é visto como um continuum,
que tem origem na estruturação da criança como um sujeito. Nesse sentido, antes
de conscientizar-se sobre aspectos da língua falada, existe um longo caminho a ser
21
percorrido que inicia com o processo de conscientização da criança como um sujeito
diferente de sua mãe e dos objetos do mundo.
Assim, pode-se afirmar que toda conduta, por mais ou menos evoluída que
seja, tem uma filiação, uma história que remonta à própria organização psíquica e
biológica do indivíduo (ZORZI, 2002).
Em relação à capacidade de fazer da língua um objeto do pensamento,
Roazzi & Dowker (1989) fazem referência a crianças que, desde muito cedo, são
capazes de brincar com os sons das palavras sem ainda estarem conscientes do
que estão fazendo. Essa sensibilidade fonológica inicial é, de acordo com Poersch
(1998), um mero dar-se conta da existência da linguagem, entretanto essa não
constitui, ainda, um alvo de declaração. Para o autor, atividades lingüísticas que
denotam sensibilidade aos aspectos fonológicos da língua fazem parte do continuum
da conscientização e são anteriores à consciência plena, ou seja, o conhecimento
explícito. A seguir serão apresentados conceitos relacionados aos processos de
conscientização adotados neste estudo.
1.2 METACOGNIÇÃO, METALINGUAGEM E METAFONOLOGIA
Este trabalho está de acordo com autores que consideram as capacidades
metalingüísticas como pertencentes ao domínio da metacognição (HAKES, 1980;
FLAVELL,1978). Falar em metacognição ou metalinguagem pressupõe falar sobre
consciência, as expressões consciência metacognitiva ou metalingüística são
consideradas redundantes. A psicologia cognitiva conceitua consciência como o
conhecimento que um indivíduo tem de seus próprios estados psíquicos, percepções
e ações (POERSCH, 1998).
A metacognição é o conhecimento de um sujeito sobre seus próprios
processos e produtos cognitivos (FLAVELL,1978), em outras palavras, envolve a
cognição sobre a cognição (YAVAS, 1988). De acordo com Gombert (1992), o
campo da metacognição é limitado ao processo de reflexão, não se estendendo à
totalidade dos processos cognitivos envolvidos no processamento de informações.
22
Cielo (1998) propõe um paralelo entre o aspecto introspectivo da
metacognição e o pensamento operacional de Piaget, o qual é caracterizado pela
habilidade de reflexão de um indivíduo a partir de seus conhecimentos com o
objetivo de solucionar um determinado problema. À medida que a criança progride
do estágio pré-operatório para o estágio das operações concretas, ela torna-se
capaz de descentramento, ganhando cada vez mais consciência de seus processos
cognitivos e produtos desses, o que possibilita o surgimento das habilidades
metalingüísticas (YAVAS & HAASE, 1988). Isso indica, como aponta Cielo (1998),
que ambas as habilidades – metacognitivas e metalingüísticas – são frutos do
desenvolvimento cognitivo, da maturação do indivíduo.
As habilidades metalingüísticas são definidas como a capacidade de
reflexão e manipulação da linguagem em seus diferentes níveis: fonológico,
sintático, léxico, semântico, textual e pragmático (GOMBERT, 1992). Barrera & Maluf
(2003) acrescentam que a consciência lingüística é um termo genérico que envolve
diferentes tipos de habilidades, tais como: segmentar e manipular a fala em suas
diversas unidades (palavras, sílabas e fonemas); separar as palavras de seus
referentes, ou seja, estabelecer diferenças entre significados e significantes;
perceber semelhanças sonoras entre as palavras; julgar a coerência semântica e
sintática de enunciados. A habilidade metalingüística relacionada à consciência do
aspecto segmental da linguagem oral em seus diversos níveis (palavras, sílabas e
fonemas) é denominada metafonologia ou consciência fonológica.
1.2.1 Consciência fonológica
Consciência fonológica constitui a capacidade de reflexão sobre o aspecto
fonológico da linguagem, que diz respeito à forma como os sons da língua se
organizam e se combinam para formar unidades lingüísticas maiores (sílabas,
morfemas, palavras e frases). Pode-se dizer que o aspecto fonológico está
relacionado à representação mental do sistema de sons que caracterizam uma
determinada língua. Esses sons são os fonemas, as menores unidades fonológicas
que podem ser produzidas isoladamente por um falante, os quais distinguem
23
significados em uma língua e se combinam para formar as unidades fonológicas
maiores (MATZENAUER, 2005).
A consciência fonológica pode ser entendida como a capacidade de analisar
e manipular a fala em seus componentes fonológicos a despeito do conteúdo da
mensagem (CARDOSO-MARTINS, 1991; GOUGH et al., 1996; CUPLES & IACONO,
2000). Dessa forma, refletir sobre os aspectos fonológicos da linguagem oral implica
percepção das palavras enquanto signos verbais. O indivíduo deverá ser capaz de
dissociar a realização fonética da palavra (signo semiológico) de seu referente para,
então, analisar, julgar ou manipular seus constituintes fonológicos (CIELO, 2001).
Morais (1991) defende que a consciência fonológica é um tipo especial de
conhecimento fonológico. De acordo com o autor, ele é diferente do conhecimento
fonológico utilizado na compreensão e produção da linguagem pelo fato de estar
relacionado a representações conscientes das propriedades fonológicas e das
unidades constituintes da fala.
Cardoso-Martins (1996), de forma sucinta, afirma que a consciência
fonológica é a consciência dos sons que formam as palavras que falamos e
ouvimos.
Ávila (2004) ressalta que o termo consciência fonológica tem sido utilizado
na literatura de forma genérica para se referir a diferentes possibilidades de
realização de julgamentos, manipulações de fonemas ou de unidades supra-
segmentais da fala, como sílabas e rimas. Entretanto, percebe-se, na literatura, o
uso de diferentes termos para distinguir os comportamentos lingüísticos realmente
controlados conscientemente daqueles que não exigem consciência explícita.
Cazden (1976) distinguiu o nível implícito de consciência fonológica do nível
explícito. O primeiro, segundo o autor, envolve os jogos espontâneos com os sons
das palavras produzidos pelas crianças durante o processo da aquisição do sistema
fonológico. O segundo pressupõe a habilidade de analisar conscientemente os sons
que formam as palavras. Dentro dessa visão, a identificação de rimas por crianças
pequenas não alfabetizadas, por exemplo, pode indicar a existência de consciência
fonológica implícita, ao passo que julgamentos mais refinados, como o isolamento
de fonemas de uma palavra, requerem consciência fonológica explícita.
Considerando o fato de as crianças pequenas não estarem realmente
conscientes do que estão fazendo ao brincarem com os sons das palavras (ROAZZI
& DOWKER, 1989), usar o termo consciência, mesmo considerando-a implícita, não
24
parece ser o mais adequado. Entende-se que o termo sensibilidade fonológica
parece caracterizar melhor esse tipo de comportamento observado durante a fase de
aquisição da linguagem (CARDOSO-MARTINS, 1995; POERSCH, 1998; CIELO,
1998, HERRERO & WERTZNER, 2001).
Para designar esses comportamentos semelhantes ao metalingüístico, mas
que não são conscientemente controlados pela criança, Gombert (1992) propôs a
utilização do termo epilingüístico. Esse autor entende que o desenvolvimento de
habilidades metalingüísticas consiste da transição do conhecimento implícito
(epilingüístico), presente no reconhecimento de rimas, para o conhecimento explícito
(metalingüístico).
Morais (1991) diferencia as formas mais globais de consciência fonológica
daquelas que exigem capacidade de análise. As primeiras são denominadas por ele
como consciência fonológica holística, que compreende a capacidade de julgar
conscientemente propriedades supra-segmentais de um enunciado, tais como
comprimento fonológico, qualidade vocal e estrutura prosódica. Esse tipo de
consciência, de acordo com o autor, pode ser suficiente para realizar tarefas com
base em similaridades gerais, como a identificação de rimas. Já a consciência
fonológica denominada analítica inclui a capacidade de isolar as partes constituintes
de um enunciado. O autor refere que isolar constituintes silábicos requer menos
esforço analítico do que unidades menores, tais como o fonema.
Scliar-Cabral (2003) entende que os processos automáticos perceptuais
implicados na extração de traços fonéticos, os quais resultam na diferenciação de
determinadas unidades de outras, sejam quais forem, não devem ser considerados
como habilidade metalingüística. A autora ressalta que o processo de detectar
automaticamente diferenças entre qualidades vocais ou padrões entoacionais
desenvolve-se precocemente e é de natureza distinta da consciência fonológica.
Para a autora, o exercício de consciência fonológica pressupõe, no mínimo,
processos de atenção, intencionalidade e certo domínio da linguagem, assim o
recorte consciente da cadeia de fala torna-se possível.
A partir do exposto, percebe-se que, de uma atividade inconsciente e
desprovida de intenção, a capacidade de percepção dirigida aos segmentos das
palavras evolui para uma capacidade de reflexão intencional e atenção dirigida
(ÁVILA, 2004). A mesma autora afirma que, desde os quatro anos de idade, em
função da estruturação do sistema fonológico e da possibilidade de produzir
25
corretamente a maioria dos sons da fala, as crianças começam a demonstrar
eficiência na realização de algumas tarefas de consciência fonológica, as quais
evidenciam suas capacidades cognitivas, sejam de reflexão ou de operação, ainda
que elementares, sobre a estrutura sonora das palavras.
O desenvolvimento da consciência dos sons da fala, apresentado dessa
forma, parece ocorrer naturalmente de acordo como o desenvolvimento lingüístico e
cognitivo da criança. Entretanto, a consciência fonológica também é afetada pelo
meio em que a criança vive. É comum crianças que pertencem a classes menos
favorecidas social e culturalmente terem menores oportunidades de reflexão
lingüística (YAVAS & HAASE, 1988; PEDRAS et al., 2006). O contato com o ensino
formal da língua escrita também influencia o desenvolvimento das habilidades
metafonológicas (FREITAS, 2004).
O fato de a consciência fonológica apresentar um curso evolutivo faz com
que ela não possa ser entendida como um construto unitário e organizado, e sim,
como uma habilidade cognitiva geral composta de uma combinação complexa de
diferentes habilidades, cada uma com suas peculiaridades (MOOJEN et al., 2003). É
nesse sentido que as mesmas autoras afirmam que
a consciência fonológica envolve o reconhecimento pelo indivíduo de que as
palavras são formadas por diferentes sons que podem ser manipulados,
abrangendo não só a capacidade de reflexão (constatar e comparar), mas
também a de operação com fonemas, sílabas, rimas e aliterações (contar,
segmentar, unir, adicionar, suprimir, substituir e transpor) (MOOJEN et al.,
2003, p. 11).
Não se pode pensar, então, como relatado por Gough et al. (1996) e Freitas
(2004), em consciência fonológica como algo que as crianças possuem ou não
possuem, mas como habilidades heterogêneas apresentadas em maior ou menor
grau, que se desenvolvem em tempos diferentes e que podem ser testadas por
diferentes tarefas.
Ressalta-se que Gough et al. (1996) argumentam a favor da descrição da
consciência fonológica em termos de uma estrutura hierárquica, que procede através
de estágios, surgindo primeiro a consciência de unidades fonológicas mais globais,
seguidas da consciência dos segmentos fonêmicos. Dentro dessa perspectiva
destacam-se, no Brasil, os trabalhos de Cielo (2001) e Moojen et al. (2003), os quais
envolvem crianças com desenvolvimento típico. O primeiro apresenta o surgimento
26
de habilidades em consciência fonológica de acordo com a idade cronológica dos
participantes, o segundo propõe uma escala de habilidades em consciência
fonológica ordenada em grau crescente de dificuldade. Essa foi a pesquisa que
resultou na elaboração do CONFIAS, instrumento utilizado para a avaliação da
consciência fonológica dos sujeitos do presente estudo.
Assim como em Moojen et al. (2003), as habilidades de consciência
fonológica neste trabalho serão analisadas em dois níveis diferentes: o nível da
sílaba e o nível do fonema. A seguir serão explicitados cada um desses níveis.
1.2.1.1 Consciência fonológica: nível da sílaba
Atualmente observa-se um consenso entre os pesquisadores em adotar a
noção de níveis de consciência fonológica, concebendo o desenvolvimento das
habilidades metafonológicas como um continuum (SIGNORINI, 1998). Liberman et
al. (1974) consideram a consciência fonológica de nível silábico a mais simples de
ser adquirida. Yavas (1988) defende que a consciência no nível das palavras é a
primeira a se desenvolver, seguida da consciência ao nível das sílabas, que, por sua
vez, se desenvolve antes da consciência fonêmica. Muitas pesquisas, as quais
envolvem crianças com desenvolvimento típico, demonstraram que tarefas de
consciência silábica são mais simples do que aquelas que exigem consciência do
fonema (CARDOSO-MARTINS, 1995; MENEZES, 1999, CAPOVILLA &
CAPOVILLA, 1997; CIELO, 2001; FREITAS, 2004; MENESES et al., 2004; PAES &
PESSOA, 2005; PEDRAS, 2006; BRITTO et al., 2006).
Gombert (1992) explica a maior facilidade para identificar a sílaba, em
detrimento do fonema, pelo fato de a sílaba constituir uma unidade natural de
segmentação da fala, enquanto que a unidade fonêmica exige um maior esforço de
análise lingüística. Outra justificativa está relacionada à concentração de energia
acústica no núcleo da sílaba, fazendo com que ela seja mais facilmente percebida
(GATHERCOLE & BADDELEY, 1993).
A consciência silábica pode ser avaliada através de diferentes tarefas que
envolvem distintas habilidades cognitivas, tais como: síntese; segmentação;
identificação de sílaba inicial (aliteração), medial e final; exclusão; substituição;
27
transposição e contagem de sílabas (REGO, 1995; CAPOVILLA et al., 1998; CIELO,
2001; COSTA, 2003; MOOJEN et al., 2003; A. MORAIS, 2004; SANTAMARIA et al.,
2004; VERUCCI et al., 2006).
Tarefas que envolvem consciência da rima da palavra, ou seja, a igualdade
entre os sons desde a vogal ou ditongo tônico até o último fonema na palavra
(CARDOSO-MARTINS, 1995), podem envolver unidades do tamanho da sílaba
(coração - injeção); unidades intra-silábicas menores que a sílaba e maiores que o
fonema (flor - dor) ou constituídas de um só fonema (café - boné); além de unidades
maiores que a sílaba (aranha – montanha, castelo – martelo). As palavras que
rimam apresentando unidades intra-silábicas iguais apresentam, também, de acordo
com a teoria da Sílaba (SELKIRK, 1982), a mesma Rima
4
da sílaba. De acordo com
essa teoria, a sílaba é dividida em Onset e Rima, a qual pode ser constituída de dois
elementos, o núcleo e a coda. Em português, o núcleo é sempre ocupado por uma
vogal (MATZENAUER, 2004).
O estudo de Moojen et al. (2003) identificou a seqüência de tarefas de
consciência fonológica no nível da sílaba e do fonema, segundo o grau de
dificuldade apresentado por crianças com desenvolvimento típico alfabetizadas ou
em processo de alfabetização falantes do português brasileiro. Nessa pesquisa, as
habilidades que envolvem a consciência de rima, identificação e produção,
aparecem entre as tarefas de consciência silábica, sendo algumas tarefas de
consciência da sílaba mais fáceis e outras mais difíceis do que as de rima. Por esse
motivo, e pelo fato de que nem todas as palavras que rimam apresentam igualdade
exclusiva da unidade intra-silábica (Rima da sílaba), optou-se por não considerar as
tarefas de rima separadas, dentro do nível denominado intra-silábico, como proposto
por Goswami & Bryant (1990) e Rueda (1995).
Apesar de as crianças poderem apresentar sensibilidade à rima desde muito
cedo, como verificado por Bradley & Bryant (1983), Cardoso-Martins (1995) e Cielo
(2001), as tarefas que envolviam consciência de rima não foram, de fato, as mais
fáceis no estudo de Moojen et al. (2003). Isso pode ser explicado de diferentes
maneiras.
4
No português, para diferenciar a rima da palavra da rima da sílaba, convencionou-se utilizar o termo
rima, com a primeira letra minúscula, para a primeira, e o termo Rima, com a primeira letra
maiúscula, para a segunda. Em inglês, existem duas palavras diferentes para distingui-las, utiliza-se
rhyme para a rima da palavra e rime para a Rima da sílaba.
28
Primeiro cabe ressaltar que as crianças percebem desde cedo não só rimas,
mas também aliterações (DOWKER, 1989). Um das explicações é que, no
português, diferentemente do inglês, é observada uma maior facilidade por parte das
crianças para resolver tarefas de identificação de sons iniciais (aliteração) do que
aquelas envolvendo a identificação de sons finais (rimas). Isso foi verificado por
Cardoso-Martins (1994), Freitas (2003), Santos (2003) e Meneses et al. (2004). A
segunda explicação está relacionada ao nível de aprendizado da língua escrita.
Crianças em nível pré-silábico e silábico mostram ter mais facilidade em tarefas de
identificação de rimas do que as que estão em nível silábico-alfabético ou alfabético
(SANTOS, 2003; FREITAS, 2004).
A capacidade das crianças pequenas em identificar rimas, de acordo com
Cardoso-Martins (1995) e Morais (1991), parece estar baseada em uma
sensibilidade às similaridades globais da palavra. Com a alfabetização, de acordo
com os autores, é possível que as crianças passem a prestar uma maior atenção
nas estruturas silábicas e fonêmicas, deixando de analisar as palavras com base em
similaridades mais globais.
A resolução de tarefas, envolvendo síntese e segmentação silábicas, não
traz dificuldades para as crianças em processo de alfabetização ou já alfabetizadas.
Estudos sobre a consciência fonológica de crianças brasileiras com desenvolvimento
típico corroboram essa afirmação (CAPOVILLA & CAPOVILLA, 1997; MENEZES,
1999; FREITAS, 2004; MENESES et al., 2004; PAULA et al., 2005; PEDRAS et al.,
2006). Já no nível do fonema, como pode ser observado em Moojen et al. (2003),
essas tarefas estão entre as mais difíceis. Esse achado sustenta a afirmação de que
a unidade de segmentação natural do português é a sílaba e não o fonema
(GOMBERT, 1992; CARDOSO-MARTINS, 1995).
1.2.1.2 Consciência fonológica: nível do fonema
A consciência fonológica no nível do fonema é denominada consciência
fonêmica. Esse nível representa o conhecimento da palavra como uma seqüência de
fonemas, ou seja, a menor unidade sonora existente (RUEDA, 1995; RIGATTI-
29
SCHERER, 2008). Morais (1991) sugere o termo consciência segmental para
designar a consciência fonêmica.
O desenvolvimento da consciência fonológica nem sempre se desenvolve na
ordem: sensibilidade ou consciência da rima e aliteração > consciência silábica >
consciência das estruturas intra-silábicas > consciência fonêmica, como sugerido por
Rueda (1995). Entretanto, considerar a consciência fonêmica como o último nível a
emergir parece ser consenso entre a maioria dos pesquisadores que estudam a
consciência fonológica de crianças com desenvolvimento típico. Assim, de acordo
com Freitas (2004), a consciência fonêmica deve ser encarada como o nível mais
complexo de consciência fonológica. A falta de consenso entre os pesquisadores em
relação à emergência das habilidades de consciência fonológica mais iniciais pode
ser explicada, em parte, pela influência da língua na resolução de tarefas de
consciência fonológica. Outro fator em questão são as diferentes tarefas utilizadas
nas pesquisas sobre consciência fonológica, o que pode levar a interpretações
diferentes (YOOP, 1988).
Morais (1991) aponta que a tarefa de extrair intencionalmente a sílaba de
uma palavra requer menos esforço analítico porque a sílaba corresponde, a grosso
modo, aos atos articulatórios. Em contraste, o mesmo autor ressalta que extrair
intencionalmente segmentos fonéticos ou fonêmicos exige um alto nível de análise,
devido ao fato de o fonema apresentar-se aglutinado às sílabas da palavra.
Gombert (1992) também afirma que o fonema é menos transparente que a
sílaba. O autor explica que, para perceber a palavra em unidades fonêmicas, é
necessário decompor a unidade natural de segmentação, a sílaba. Além disso, de
acordo com Hulme et al. (2002), um bom desempenho em tarefas de consciência
fonêmica depende, em grande parte, de a criança ter representações fonológicas
bem estruturadas.
É sabido que algumas tarefas de consciência fonêmica podem ser resolvidas
por crianças ou adultos não alfabetizados (MORAIS et al., 1987; MOOJEN et al.,
2003; FREITAS, 2004). No entanto, para desenvolver, de fato, a consciência
fonêmica em um sistema alfabético é necessário o engajamento no ensino formal da
leitura e da escrita (YAVAS & HAASE, 1988; RUEDA, 1995; RIGATTI-SCHERER,
2008). Scliar-Cabral (2003) afirma que “os princípios do sistema alfabético do
português do Brasil são complexos e se constituirão, uma vez incorporados, na
30
principal ferramenta para recortar, de forma consciente, a cadeia da fala em
unidades menores que a sílaba” (SCLIAR-CABRAL, 2003, p. 61).
A consciência fonêmica pode ser avaliada através de diferentes tarefas com
níveis distintos de dificuldade. São elas: produção de palavra com determinado
fonema; identificação de fonema inicial (aliteração) medial ou final; exclusão;
substituição; síntese; segmentação; transposição e contagem de fonemas (COSSU
et al., 1993; REGO, 1995; CAPOVILLA et al., 1998; CARDOSO-MARTINS & FRITH,
2001; CIELO, 2001; COSTA, 2003; MOOJEN et al., 2003; A. MORAIS, 2004;
SANTAMARIA et al., 2004). De acordo com Cardoso-Martins & Frith (2001), as
tarefas que exigem a habilidade de manipular ou operar com representações
fonológicas, como as tarefas de exclusão ou transposição, são mais difíceis de
serem realizadas do que, por exemplo, tarefas de aliteração, as quais não requerem
a manipulação dos constituintes fonológicos.
De acordo com Ávila (2004), os fatores que determinam o grau de
dificuldade das tarefas de consciência fonológica são: a habilidade cognitiva exigida
(síntese, segmentação, julgamento ou identificação, produção, subtração,
transposição), o tipo de segmento envolvido (sílaba, rima ou fonema) e a posição
que ele ocupa na estrutura de palavra (início, meio ou fim). O conjunto desses
fatores, de acordo com a autora, permite ao examinador fazer apreciações sobre o
nível cognitivo e metacognitivo da criança, a qualidade de seu sistema fonológico, o
comprometimento dos processos subjacentes à própria capacidade metafonológica
(memória de trabalho e capacidade de acesso lexical), além de estabelecer relações
com o aprendizado da língua escrita.
Cabe salientar que a importância dos estudos sobre a consciência
fonológica está diretamente relacionada às evidências de uma correlação positiva
com o aprendizado da leitura e da escrita em um sistema alfabético. Como um dos
objetivos deste estudo é verificar a associação existente entre as habilidades
metafonológicas e as hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) dos
sujeitos da amostra, será apresentada, a seguir, uma descrição do processo de
aprendizado da escrita. Após, será discutida a relação entre a consciência
fonológica e esse aprendizado.
31
1.3 APRENDIZADO DA ESCRITA
A escrita é uma forma de mediação lingüística que foi criada pelo homem de
acordo com necessidades socioculturais. Ela foi concebida muito tempo depois de o
homem ter desenvolvido a habilidade de comunicação oral. Cabe ressaltar que nem
todos os povos desenvolveram a língua escrita, porém todos se tornaram utentes da
comunicação oral. O objetivo da escrita não é somente o registro da fala, mas
transmitir mensagens que se perpetuam no tempo e no espaço, transcedendo a
memória e a mortalidade humanas (NAVAS & SANTOS, 2002).
Apesar de a linguagem escrita estar relacionada com a linguagem oral,
existem diferenças fundamentais entre esses dois sistemas lingüísticos. Quando a
criança inicia o processo de alfabetização, usualmente ela já domina a linguagem
oral com função comunicativa. Essa habilidade é adquirida naturalmente durante o
processo de socialização, implicando domínio de uma série de regras gramaticais,
internalizadas e utilizadas inconscientemente, que orientam seu desempenho
lingüístico (BARRERA & MALUF, 2003). Em contraste à aquisição da fala, para o
aprendizado da escrita a exposição e o contato com materiais escritos não são
suficientes, sendo necessário o ensino formal (escolar) ou informal. Gombert (1992)
assinala a exigência de um nível de abstração mais alto para o tratamento da
linguagem escrita, visto que ela requer reflexão consciente.
Existem três sistemas de escrita: o logográfico, o silábico e o alfabético. A
diferença entre eles reside na unidade lingüística representada. O primeiro, utilizado
pelos chineses, também chamado de ideográfico, faz a notação da palavra, ou, mais
precisamente, dos morfemas. No segundo, ainda presente no Japão, são utilizados
caracteres que representam a unidade silábica. O terceiro é a forma utilizada para
representar, por exemplo, a língua portuguesa, em que a unidade representada é o
fonema. Os dois últimos sistemas comentados são denominados fonográficos.
Uma escrita alfabética é considerada transparente ou rasa, como é o caso
do português, quando existe semelhança entre o número de grafemas e fonemas.
Em contrapartida, quando o número de grafemas é consideravelmente superior ao
número de fonemas, como é o caso de muitas palavras do inglês, a escrita é
considerada opaca ou profunda (NAVAS & SANTOS, 2002).
32
As mesmas autoras afirmam que nenhum sistema é completamente
logográfico ou fonográfico. Todos eles são mistos, ou seja, assim como no sistema
logográfico são observadas algumas representações silábicas ou, até mesmo,
fonêmicas, nos sistemas fonográficos também são utilizados logogramas. De
qualquer modo, entende-se que todos, em maior ou menor grau, realizam um recorte
no continuum da fala, o que exige atividade metalingüística.
A complexidade do sistema alfabético está na exigência de uma reflexão
consciente no nível do fonema, ou seja, a criança deverá desmembrar o continuum
da cadeia da fala em seus constituintes mínimos e relacioná-los aos grafemas
(SCLIAR-CABRAL, 2003). Ao atingir esse conhecimento, pode-se dizer que a
criança compreendeu o princípio alfabético. A complexidade desse aprendizado faz
com que muitos pesquisadores, como sublinhado por A. Morais (2005), entendam a
escrita alfabética como um código, algo que deve ser descoberto pela criança.
Em uma perspectiva distinta, a teoria da Psicogênese da Escrita
desenvolvida por Ferreiro & Teberosky (1999) defende que a escrita alfabética é um
sistema notacional, cuja apropriação constitui para a criança um trabalho conceitual
e não apenas de memória e percepção.
A. Morais (2005) ressalta a diferença entre um código e um sistema
notacional. O autor aponta que um código representa os símbolos de um sistema
notacional como, por exemplo, o código Braile utilizado por deficientes visuais. Para
aprender a ler e escrever em Braile, o indivíduo deverá compreender anteriormente
o sistema de notação alfabética, ou seja, o princípio alfabético. Um código não
requer, como a notação, a preservação de propriedades do objeto representado. No
caso da escrita logográfica, a propriedade preservada é o significado da palavra, em
um sistema alfabético é a característica de segmentação dos significantes verbais.
No presente estudo, de acordo com a teoria da Psicogênese da Escrita,
parte-se do princípio de que o aprendizado da notação escrita apresenta uma
seqüência evolutiva, que está relacionada às hipóteses que a criança faz sobre o
que é escrever. Acredita-se que a aprendizagem da escrita tenha início na vida da
criança muito antes de qualquer tentativa de ensino ser proposta. Postula-se,
também, que as fases do aprendizado da escrita exercem um papel fundamental no
desenvolvimento das habilidades de reflexão fonológicas.
Ferreiro (2003) aponta que, durante o percurso de apropriação do sistema
de notação alfabética, a criança compreende as relações entre a língua oral e escrita
33
e começa a elaborar representações mentais para as unidades lingüísticas. Nesse
sentido, Zorzi (2000) sublinha que as crianças não iniciam o aprendizado da escrita
partindo do conhecimento das estreitas relações entre as letras e os sons, elas são
conseqüências de um longo processo e não uma condição de partida. Esse
processo, de acordo com Ferreiro & Teberosky (1999), está relacionado à seqüência
psicogenética de construção da escrita, caracterizada por níveis ou hipóteses de
escrita que são denominadas: hipótese de escrita pré-silábica, silábica, silábico-
alfabética e alfabética. A seguir será caracterizada cada uma delas. Exemplos com a
escrita de participantes deste estudo aparecem no anexo 1.
1.3.1 Hipótese de escrita pré-silábica
A hipótese pré-silábica é dividida em dois níveis. No primeiro, escrever, para
a criança, “é reproduzir os traços típicos que ela identifica como sendo a forma
básica da escrita” (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999, p. 193). Podem aparecer
grafismos separados entre si, compostos de linhas curvas ou retas ou, ainda,
grafismos ligados entre si por uma linha de base ondulada. Esse tipo de escrita é
denominada icônica e somente a própria criança que escreveu é capaz de
interpretá-la. Nessa fase, pode-se observar a presença do realismo nominal, ou seja,
a intenção de representar características do objeto através da escrita, a qual pode
apresentar-se com uma proporção relacionada ao tamanho do objeto.
Nesse primeiro momento, apesar de a característica comum a todas as
crianças estar relacionada à falta de consciência de que a escrita nota aspectos da
fala, elas apresentam variações qualitativas no comportamento frente à atividade da
escrita. Enquanto algumas crianças ainda têm dificuldades para diferenciar os atos
de desenhar e escrever, outras já apresentam o entendimento de um dos princípios
da escrita alfabética, a linearidade. Algumas dessas crianças apresentam grafias
variadas com uma quantidade constante, outras apresentam variação na quantidade
de caracteres utilizados. Entretanto, quando presente, essa variação tem relação
com o tamanho do objeto e não com o tamanho da palavra. Pode-se dizer que,
nessa fase, algumas crianças já operam com as hipóteses de variedade de
34
grafismos e de que é necessário um determinado número de caracteres para
escrever (no mínimo três).
Em um segundo momento da hipótese pré-silábica (nível 2), a criança
parece entender que, para poder ler coisas diferentes, há uma diferença objetiva nos
materiais escritos. Nessa fase, denominada não-icônica, a forma dos grafismos é
mais definida e mais próxima das letras. A criança segue com as hipóteses de
variedade e de quantidade mínima de grafismos para escrever algo. Porém, para
poder representar significados diferentes, a criança passa a utilizar permutas na
ordem linear dos grafismos utilizados. A variação de posição dos caracteres com o
objetivo de expressar diferenças de significado constitui uma importante aquisição
cognitiva. É nesse período, também, que aparecem formas fixas de escrita, como
por exemplo, a do nome próprio. Em alguns casos, percebe-se que as crianças
usam, para escrever diferentes palavras, somente as letras do próprio nome, mas
com variação na posição das mesmas.
Exemplos: GATO AUT
FANTASMA UAT
1.3.2 Hipótese de escrita silábica
A hipótese silábica é caracterizada pela intenção de dar um valor sonoro a
cada um dos caracteres que compõem a escrita. A relevância dessa fase é que cada
grafia vale por uma sílaba. Evidencia-se, aqui, um tipo de habilidade metafonológica,
pois a criança percebeu que a escrita representa partes das palavras faladas,
passando a utilizar grafias para representar a unidade silábica. A hipótese de escrita
silábica pode ser considerada, então, como uma evidência de que existe relação
entre o desenvolvimento de habilidades metafonológicas e o aprendizado da escrita
em um sistema alfabético. A correspondência global entre a forma escrita e a
expressão oral presente na fase pré-silábica é superada e, pela primeira vez, a
criança passa a trabalhar com a hipótese de que a escrita representa partes da fala.
Na hipótese silábica ainda podem aparecer grafismos diferentes de letras, mas que
35
correspondem ao número de sílabas. Quando são utilizadas letras, elas podem ou
não notar um valor sonoro existente na palavra.
Exemplos: GATO UE; AF; AT; GT; AO
FANTASMA TEM; FAA; FTA
1.3.3 Hipótese de escrita silábico-alfabética
A fase da hipótese silábico-alfabética é caracterizada por uma análise da
palavra que vai além da sílaba, aparecendo conflitos entre a hipótese silábica e a
quantidade mínima de grafemas. A criança também evidencia uma contradição entre
a hipótese silábica e as formas fixas de escrita, para as quais a criança tem uma
imagem visual estável. O conhecimento do valor sonoro das letras também entra em
choque com a hipótese silábica. Ao mesmo tempo em que a criança começa a
perceber que escrever é representar unidades menores que a sílaba, ela mostra-se
resistente em abandonar a hipótese silábica e a idéia de que faz falta uma
quantidade mínima de letras para escrever. As contradições presentes nessa fase
parecem abrir as portas para as habilidades de reflexão fonêmicas. Observam-se,
nesse nível, oscilações entre a escrita silábica e alfabética.
Exemplos: GATO ATU; GTO
FANTASMA FTMA; FNTAMA; FATAMA
1.3.4 Hipótese de escrita alfabética
A hipótese alfabética é atingida quando a criança entende que cada um dos
caracteres da escrita corresponde a valores sonoros menores que a sílaba. Ela
realiza, então, uma análise sonora dos fonemas que formam as palavras que
pretende escrever. Nessa fase, a criança começa a encontrar dificuldades
relacionadas à ortografia da língua.
36
Exemplos: GATO GATU
FANTASMA FAMTAZMA; FAMTASMA; FANTASMA
Estudos realizados no Brasil, envolvendo crianças com desenvolvimento
típico, como os de Costa (2002); Moojen et al. (2003); Freitas (2004) e A. Morais
(2004), sustentam a hipótese de que, quanto mais avançado o nível de escrita,
melhor o desempenho em tarefas de consciência fonológica.
A maioria das pesquisas internacionais realizadas tem focado a relação da
consciência fonológica com as habilidades em leitura, classificando as crianças, por
exemplo, como leitoras ou não leitoras. Essas pesquisas, de acordo com A. Morais
(2004), deixam de estabelecer relações entre o processo de apropriação da escrita e
as habilidades de reflexão fonológica.
No presente estudo, como pretende-se averiguar a associação existente
entre a consciência fonológica e as hipóteses de escrita dos participantes, é
importante explicitar os diferentes entendimentos sobre a natureza da relação entre
as habilidades metafonológicas e a alfabetização encontrados na literatura.
1.4 RELAÇÃO ENTRE A CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E O APRENDIZADO DA
ESCRITA
Não está em discussão que o desempenho em tarefas de consciência
fonológica está positivamente relacionado com o aprendizado da leitura e da escrita.
No entanto, o entendimento sobre a natureza dessa associação em crianças com
desenvolvimento típico provocou consideráveis argumentações (COSSU et al.,
1993). Quatro visões podem ser distinguidas.
Bradley & Bryant (1983) acreditam que a consciência fonológica funcione
como um fator causal para o aprendizado da leitura. Dentro dessa perspectiva,
autores propõem que, quanto mais desenvolvida a consciência fonológica, melhor
será a compreensão da relação entre fonemas e grafemas (CARDOSO-MARTINS,
1995; TREIMAN et al., 1994). Estudiosos adeptos dessa concepção acreditam que o
processo de aprendizado da escrita pressupõe habilidades de atenção dirigida às
estruturas fonológicas da fala (CIELO, 1996; CARDOSO-MARTINS, 1996).
37
Por outro lado, estudiosos como Morais et al. (1979), Read et al. (1986) e
Goswami & Bryant (1990) defendem que a consciência fonológica é conseqüência
do aprendizado da leitura e da escrita. De acordo com os autores, é a instrução
formal de um sistema alfabético o fator primordial para a consciência fonológica.
Liberman et al. (1977) criticam o entendimento de uma relação causal direta,
alegando que a associação entre consciência fonológica e alfabetização possa ser
uma manifestação de algum tipo de maturação intelectual.
Acredita-se que algumas habilidades metafonológicas já podem estar
presentes antes da alfabetização, o que servirá de suporte para o aprendizado.
Entretanto, o aprimoramento dessas habilidades e o surgimento de outras podem
ser considerados frutos tanto do aprendizado da leitura quanto do desenvolvimento
cognitivo. Pode-se dizer, então, que as três visões apresentadas não são
incompatíveis. Atualmente, a existência de uma relação de reciprocidade entre
consciência fonológica e alfabetização, como defendido por Morais et al. (1986,
1987), tem alcançado grande consenso entre os pesquisadores. Dentro dessa
concepção, as habilidades de reflexão fonológica presentes no início do ensino
formal da leitura e da escrita contribuem para a aprendizagem, assim como a
alfabetização desenvolve a consciência fonológica.
Como a consciência fonêmica é mais complexa, algumas habilidades que
exigem consciência do fonema desenvolvem-se em conjunto com o ensino formal da
escrita. Nesse sentido, os pesquisadores da Universidade de Bruxelas são
categóricos: “Acreditamos em que a relação entre a aquisição da consciência sobre
o fonema e a aquisição do letramento alfabético é o de causa recíproca” (MORAIS,
MOUSTY & KOLINSKY, 1998, p. 127).
Dentro dessa visão, os pesquisadores admitem a existência de habilidades
de reflexão fonológica anteriores à alfabetização. Signorini (1998) aponta que,
quando se levam em conta a noção multifatorial e a visão de níveis de consciência
fonológica, é razoável concluir que algumas habilidades fonológicas podem preceder
o ensino da leitura e da escrita em muitas crianças. Nessa categoria, de acordo com
a autora, encontram-se, por exemplo, a sensibilidade a rimas, que implica um nível
mais global ou menos analítico de consciência fonológica. No outro lado do
continuum, as habilidades de manipular fonemas (exclusão, transposição) parecem
requerer o ensino da escrita.
38
No Brasil, existem importantes pesquisadores adeptos da concepção de
reciprocidade entre habilidades de consciência fonológica e alfabetização
(CARRAHER, 1987; MENEZES, 1999; COSTA, 2002; FREITAS, 2004; A. MORAIS,
2004; SANTAMARIA et al., 2004; PESTUN, 2005; BRITO et al., 2006; BARRERA &
MALUF, 2006; RIGATTI-SCHERER, 2008). Nesses estudos, assim como na
presente pesquisa, investiga-se a relação existente entre as fases do aprendizado
da escrita, conforme sugerido por Ferreiro & Teberosky (1999), e a consciência
fonológica. As pesquisas realizadas indicam que as habilidades de reflexão sobre o
nível fonológico da linguagem desenvolvem-se durante o percurso da apropriação
do sistema de notação alfabético. O contato com o ensino formal desenvolve
habilidades já existentes e promove a emergência de outras mais complexas.
Contudo, A. Morais (2004) ressalta que mais pequisas são necessárias para que se
possam especificar quais habilidades metafonológicas se desenvolvem durante o
aprendizado da escrita e quais são conseqüência da alfabetização.
Recentemente, pesquisas envolvendo a consciência fonológica de crianças
com síndrome de Down fizeram voltar à tona os debates sobre a natureza da relação
entre a consciência fonológica e a alfabetização (COSSU et al., 1993; FOWLER et
al., 1995; CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES & IACONO, 2000; KAY-
RAINING BIRD et al., 2000; CARDOSO-MARTINS & FRITH, 2001; FLETCHER &
BUCKLEY, 2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002; GOMBERT, 2002; SNOWLING
et al., 2002; BOUDREAU, 2002; CUPPLES & IACONO, 2002; KENNEDY & FLYNN,
2003a; KENNEDY & FLYNN, 2003b; LAWS & GUNN, 2002; VERUCCI et al., 2006;
ROCH & JARROLD, 2008). Em todos esses estudos são investigadas as relações
entre a consciência fonológica e as habilidades de leitura de sujeitos com síndrome
de Down. Não foram encontrados trabalhos com o foco na relação entre a
consciência fonológica e as fases do aprendizado da escrita nessa população.
As crianças acometidas pela síndrome, dentro de um ritmo próprio, passam
pelos mesmos processos de apropriação da escrita (RANGEL, 2007), o que permite,
diferentemente das pesquisas já realizadas, a análise do desempenho em tarefas de
consciência fonológica nos diferentes níveis do aprendizado da escrita. Uma
caracterização geral sobre a síndrome de Down será descrita a seguir, seguida de
apontamentos sobre características cognitivas e lingüísticas, aprendizado da língua
escrita e habilidades metafonológicas.
39
1.5 SÍNDROME DE DOWN
1.5.1 Definição, aspectos genéticos e características clínicas
A síndrome de Down foi a primeira condição clínica acompanhada por graus
variáveis de deficiência mental identificada como tendo por causa primária uma
anormalidade cromossômica (SCHWARTZMAN, 1999). Essa síndrome é, portanto,
uma cromossomopatia cujo quadro clínico global deve ser explicado por um
desequilíbrio na constituição cromossômica celular. O comprometimento intelectual e
de linguagem são as conseqüências mais deletérias (MUSTACHI, 2000; CHAPMAN
& HESKETH, 2001). A incidência da síndrome de Down é de 1 em cada 750
nascidos vivos (ROPER & REEVES, 2006). Esses valores são mais ou menos
constantes em todos os países do mundo e não são afetados por classe social, raça,
credo ou clima (SCHWARTZMAN, 1999).
A maioria das autoridades mundiais credita a John Langdon Down (1866) a
primeira descrição fenotípica da síndrome, a qual foi denominada por ele como
idiotia mongolóide ou mongolismo. Atualmente, em homenagem ao médico inglês, e
pelo fato de o termo mongolismo ser considerado pejorativo, utiliza-se a designação
síndrome de Down. O trabalho de Langdon Down ajudou a difundir as características
da síndrome como uma entidade clínica particular e diferente do hipotireoidismo
congênito ou cretinismo, outra causa de deficiência mental.
No ano de 1959, quase que simultaneamente, Jerome Lejeune et al. e
Patrícia A. Jacob et al. correlacionaram o fenótipo da síndrome de Down com a
presença de um cromossomo extra. Foi estabelecido, então, seu cariótipo mais
freqüente: a trissomia do cromossomo 21. Entende-se por cariótipo o lote
cromossômico básico de uma espécie, caracterizado pelo número, forma e tamanho
dos cromossomos (MUSTACHI & PERES, 2000). Os cromossomos são corpos
celulares microscópicos que contêm os genes, os quais fornecem instruções para o
crescimento e desenvolvimento dos seres vivos (KOZMA, 2007a). O cromossomo
21, seqüenciado recentemente, é um dos menores cromossomos humanos, contém
de 200 a 400 genes (GARDINER & DAVISSON, 2000; ROPER & REEVES, 2006).
40
Nos seres humanos com desenvolvimento típico, todas as células do corpo,
com exceção das células germinativas, contêm 46 cromossomos combinados em 23
pares. Essas células se reproduzem por meio de um processo denominado mitose.
As células germinativas primordiais também apresentam 46 cromossomos, porém,
por meio de um processo de divisão celular denominado meiose, seu número de
cromossomos é reduzido a 23. Durante as divisões meióticas das células
germinativas, pode ocorrer a não-disjunção de um dos pares de cromossomos (não-
disjunção pré-zigótica), originando óvulos ou espermatozóides com 24
cromossomos, ao invés de 23. Essas células, na ocasião da fertilização, originarão
um zigoto com 47 cromossomos, 24 oriundos de um dos progenitores e 23 do outro
(KOZMA, 2007a).
A não-disjunção pré-zigótica do cromossomo 21 em um dos progenitores é a
causa da trissomia simples ou regular desse cromossomo na criança, resultando em
um cariótipo de 47 cromossomos. Esse é o tipo de síndrome de Down mais
freqüente, ocorrendo em 96% dos casos. Uma divisão celular imperfeita logo após a
fertilização, ou seja, uma não-disjunção pós-zigótica (durante a gestação) por mitose
do próprio zigoto, caracteriza uma trissomia em mosaico ou mosaicismo, com
algumas células apresentando 47 cromossomos e outras 46. Esse tipo de síndrome
de Down é responsável por 2% dos casos. Os outros 2% ocorrem devido a um
distúrbio genético denominado translocação cromossômica, a mais comum é a
denominada translocação robertsoniana não balanceada ou desequilibrada. Nesses
casos, a trissomia não é completa, ocorrendo excesso de material genético do
cromossomo 21 conectado a outro cromossomo, geralmente o 14 ou 15, resultando
em um cariótipo de 46 cromossomos (MUSTACHI, 2000; MUSTACHI & PERES,
2000).
Na presente pesquisa, dez dos sujeitos avaliados apresentavam trissomia
simples e um deles trissomia em mosaico. A distribuição da amostra por dois tipos
possíveis justifica a descrição aqui realizada. Caracterizar de forma clara os
diferentes tipos de síndrome de Down enriquece o presente estudo, além de
possibilitar reflexões sobre a afirmação de Kozma (2007a) de que sujeitos com
trissomia em mosaico podem ter uma maior capacidade cognitiva.
A trissomia simples, de acordo com Antonorakis et al. (1991), é de origem
materna em 95% dos casos, sendo, portanto, somente 5% de origem paterna.
Kozma (2007a) aponta uma porcentagem de origem paterna mais alta, afirmando
41
que a não-disjunção pode provir do pai em cerca de 10 a 15% dos bebês com esse
tipo de síndrome de Down. São esses os casos relacionados à idade dos
progenitores, principalmente à idade da mãe (SOARES & SOUZA, 2008). Já que a
trissomia simples é um acidente que ocorre na formação dos gametas, o mais
provável é que não se repita em outros filhos do mesmo casal, sendo o risco de
recorrência calculado em função da idade materna. Para mães acima de 45 anos a
chance de ter outro filho com trissomia simples é de 4,5% (MUSTACHI, 2000).
Os casos de mosaicismo por não-disjunção pós-zigótica não apresentam
relação com a idade da mãe. Tratando-se de um acidente na gravidez, o risco de
recorrência é desprezível, por volta de 1% (HASSOLD & SHERMAN, 2000). No
entanto, Pangalos et al. (1994) demonstraram que nem todos os mosaicos se devem
a erros mitóticos após a fecundação, esses autores evidenciaram que algumas
trissomias do tipo mosaico podem ter origem meiótica. Eles sugerem, então, que o
risco de recorrência seja calculado em função da idade da mãe, como nos casos de
trissomia simples. Considerando que nem todas as células do corpo apresentam o
cromossomo extra, as crianças com síndrome de Down do tipo mosaico podem ter
menos características fenotípicas, bem como maior capacidade intelectual. A forma
pela qual a criança é afetada depende mais da região do corpo em que essas
células se localizam do que do número de células afetadas (KOZMA, 2007a).
Nos casos de translocação, mesmo não ocorrendo uma trissomia completa
(translocação robertsoniana), o excesso do braço longo do cromossomo 21 ligado à
outro cromossomo é suficiente para caracterizar a síndrome com as mesmas
características da trissomia simples. Nesses casos, dois cromossomos, o 21 e o 14
ou o 21 e o 15, perdem os braços curtos e forma-se um cromossomo único com os
dois braços longos dos cromossomos originários, o que caracteriza um excesso de
material genético do cromossomo 21. As translocações podem ocorrer
espontaneamente durante a fertilização, acidentalmente durante a gametogênese de
um dos genitores ou quando um deles é portador de translocação equilibrada. A
síndrome de Down por translocação é o único tipo que pode ocorrer por herança
genética de um dos progenitores. Quando isso acontece, o genitor portador tem o
cromossomo 14 ou o 15 com um segmento sobreposto que é material do
cromossomo 21, mas ele não é afetado, pois não há excesso, nem perda de material
genético, ocorrendo translocação balanceada. Quando nasce um bebê com
síndrome de Down por translocação, o cariótipo dos pais deve, então, ser
42
investigado. Nos casos em que a translocação é de origem materna, o risco de
recorrência é de 20 a 25%, quando o cariótipo do pai apresenta translocação, a
chance de recorrência é de 5% (MUSTACHI, 2000; KOZMA, 2007a).
As características clínicas da síndrome de Down encontradas na literatura
podem estar presentes na criança, independente do tipo da síndrome. A hipotonia
generalizada, o défict cognitivo e as alterações lingüísticas são as característcas
clínicas que ocorrem em todas as crianças portadoras, entretanto o grau de
acomentimento é variável (KORENBERG et al., 1994; MUSTACHI, 2000; SILVA &
KLEINHANS, 2006; CHAPMAN & HESKETH, 2001). As outras características
presentes freqüentemente são: alterações cardiovasculares; endocrinológicas
(hipotireoidismo); respiratórias e pulmonares; auditivas; oftalmológicas;
gastrointestinais; imunológicas; cutâneas; esqueléticas; distúrbios do sono (apnéia);
envelhecimento precoce; alterações no sistema nervoso central e probabilidade
aumentada de desenvolver doença de Alzheimer (SCHWARTZMAN, 1999). De
acordo com o mesmo autor, os tratamentos médicos atuais das cardiopatias, dos
quadros infecciosos e das doenças pulmonares contribuíram significativamente para
aumentar a sobrevida e, conseqüentemente, a prevalência de indivíduos acometidos
pela síndrome de Down (número de sujeitos portadores por número de habitantes).
Em função de apresentarem relações como o desenvolvimento da linguagem e da
fala e pelo fato de ocorrerem em sujeitos deste estudo, algumas das alterações
clínicas citadas serão ressaltadas.
As alterações cardiovasculares, bem como as deficiências na função
tireoidiana (hipotireoidismo), quando presentes, podem contribuir para o atraso geral
do desenvolvimento da criança. Oliveira et al. (2002) asseguram que a associação
da deficiência de hormônios da glândula tireóide pode agravar as alterações
neurológicas observadas nos portadores da síndrome de Down e, assim, trazer
conseqüências deletérias para o desenvolvimento cognitivo e lingüístico.
Indivíduos com síndrome de Down apresentam uma maior tendência à
infecção do trato respiratório e à obstrução das vias aéreas superiores. Essa
obstrução à passagem do ar pode ser causada por diversos aspectos: hipertrofia de
tonsilas palatinas e faríngea, hipotonia da musculatura faríngea, redução da
dimensão da traquéia e presença aumentada de secreções (RONDAL, 2002). Esses
fatores desencadeiam a respiração oral que altera o crescimento, a postura e o
tônus das estruturas orofaciais, podendo causar, ainda, inadequações na realização
43
das funções de mastigação, deglutição e fala. Em relação à cavidade oral,
observam-se: diminuição da maxila e da mandíbula, língua protrusa, maloclusões,
atraso na erupção dos dentes decíduos e permanentes e alteração de sensibilidade
(SCHWARTZMAN, 1999). A projeção anterior da língua ocorre pela diminuição do
tônus muscular desse órgão e pela redução do espaço intra-oral, dando uma falsa
idéia de macroglossia (FAULKS et al., 2002).
As condições patológicas da orelha média de crianças com síndrome de
Down são as principais causas de déficit auditivo condutivo nesses indivíduos
(MARCELL, 1995; MELLO & JUNQUEIRA, 2002; MELLO et al., 2005). Alterações
auditivas podem funcionar como um catalisador das dificuldades de aprendizagem e
linguagem nas crianças portadoras da síndrome, podendo levar a falsos
diagnósticos em relação ao grau da deficiência mental (SCHWARTZMAN, 1999). O
mesmo autor sugere que crianças com síndrome de Down em período escolar
realizem avaliações otorrinolaringológicas e auditivas anuais. A estenose do meato
auditivo externo facilita a impactação de cerúmen, podendo causar défict auditivo
condutivo.
Para garantir um desenvolvimento global dentro das possibilidades da
criança, é necessário um olhar para todas as possíveis alterações clínicas. Assim, a
avaliação oftalmológica também é importante, já que é alta a incidência de
problemas de refração: miopia, hipermetropia e astigmatismo (SCHWARTZMAN,
1999).
A hipotonia, caracterizada por uma condição de tônus diminuído de causa
neurológica, afeta tanto a musculatura esquelética quanto a musculatura lisa dos
indivíduos com a síndrome (MUSTACHI, 2000). O tônus muscular é o estado natural
de contração dos músculos; na musculatura esquelética auxilia na manutenção da
postura corporal e no retorno do sangue o coração (DUARTE et al., 2007). A
diminuição do tônus dessa musculatura afeta o desenvolvimento neuropsicomotor,
prejudicando o desenvolvimento de habilidades como fixar o olhar, rolar, sentar,
levantar e caminhar (SILVA & KLEINHANS, 2006; KOZMA, 2007a). A última autora
ressalta a hipofuncionalidade da musculatura orofacial. Sabe-se que a estimulação
precoce e a intervenção fonoaudiológica, fundamentada em técnicas de terapia
miofuncional orofacial, podem propiciar condições para um desenvolvimento mais
harmonioso (KOZMA, 2007a; SCHWARTZMAN, 1999; MUSTACHI, 2000; LAVRA-
PINTO et al., 2008). A fonoterapia, além de estimular aspectos lingüísticos, deve
44
objetivar um maior equilíbrio muscular orofacial, o que possibilita um desempenho
mais eficaz na realização das funções do sistema sensório motor oral: respiração,
fala, deglutição e mastigação (LAVRA-PINTO et al., 2008). Alterações na pressão
pulmonar e nas condições da orelha média apresentam relação com o baixo tônus
da musculatura lisa. A redução do tônus dos músculos tensor do véu palatino e
tensor do tímpano ocasiona um mau funcionamento da tuba auditiva e,
conseqüentemente, um desequilíbrio na pressão da orelha média, o que propicia o
desenvolvimento de otites médias (ZEMLIN, 2000; MELLO et al., 2005).
O sistema nervoso de crianças com síndrome de Down apresenta
anormalidades estruturais e funcionais (SILVA & KLEINHANS, 2006). Em relação ao
aspecto estrutural o que chama a atenção é a redução do peso da massa encefálica.
Schapiro et al. (1989) relatam que, em neonatos com síndrome de Down, o peso das
estruturas encefálicas é praticamente normal; entretanto, durante a infância, esse
peso somente atinge três quartos do esperado para crianças com desenvolvimento
típico. Isso indica, de acordo com Mustachi (2000), plasticidade ou velocidade de
maturação neuronal diminuída nessas crianças.
Schwartzman (1999), ao realizar uma revisão de literatura sobre o sistema
nervoso na síndrome de Down, relata redução dos lobos frontal, occipital, temporal,
do tronco encefálico e do cerebelo, além de anormalidades hipotalâmicas e nas
formações do hipocampo. O mesmo autor aponta que o dado referente ao peso
reduzido do cerebelo é particularmente interessante, não somente por essa estrutura
estar envolvida na gênese da hipotonia, mas também devido ao fato de o cerebelo,
de acordo com estudos recentes, apresentar relação com processos cognitivos
complexos. Assim, é sugerido pelo autor que as alterações cerebelares podem estar
relacionadas à causa da deficiência cognitiva presente na síndrome de Down. Sens
& Almeida (2007), em um trabalho de revisão sobre a participação do cerebelo no
processamento auditivo, encontraram evidências da participação dessa estrutura
encefálica como um modulador de informações em importantes funções cognitivas,
tais como localização sonora, discriminação de informações sensoriais, memória e
atenção auditiva, processamento da linguagem e raciocínio abstrato. Highstein &
Thatch (2002) sugerem que o cerebelo possa estar envolvido com a memória de
trabalho, atenção, organização temporal, além do controle de atos impulsivos.
Os neurônios das crianças com síndrome de Down apresentam-se em
número reduzido e são afetados na maneira como se organizam em diversas áreas
45
do sistema nervoso central. Observa-se uma limitação na transmissão e
comunicação em muitos sistemas neuronais. São cada vez mais conhecidas as
deficiências das ramificações dendríticas e a precoce redução dos neurôniois
responsáveis pela conduta associativa e pela comunicação entre as áreas cerebrais
(TRONCOSO & CERRO, 2004; SILVA & KLEINHANS, 2006). A diminuição do
número de neurônios é mais evidente em algumas regiões do cérebro. Algumas
crianças, por exemplo, apresentam considerável redução na região frontal
(SCHWARTZMAN, 1999), o que ocasiona diminuição na capacidade de
reconhecimento, concentração, memorização e abstração (SILVA & KLEINHANS,
2006). Berger-Sweeney (2003) mostraram que o mau funcionamento dos neurônios
colinérgicos, responsáveis por sintetizar e liberar a acetilcolina, pode ser uma das
causas das dificuldades cognitivas de crianças com síndrome de Down. Como se
pode perceber, os estudos sobre a gênese da deficiência mental são bastante
recentes e procuram estabelecer relações com a estrutura e o funcionamento do
sistema nervoso. Nessas pesquisas se percebe um consenso sobre a influência do
meio nas alterações apresentadas. Uma estimulação adequada pode provocar
modificações nas redes neuronais e avanços cognitivos.
Após a descrição das principais características clínicas, cabe salientar que a
presença delas, ou o grau de acometimento, varia muito entre os indivíduos
portadores da síndrome, os quais podem apresentar muitas dessas características
ou somente algumas (KOZMA, 2007b). O que se quer ressaltar com essa afirmação
é que não existe um estereótipo para a síndrome de Down. Deve-se destacar,
também, que, acima de tudo, existem importantes diferenças individuais entre os
sujeitos com síndrome de Down. Essas diferenças são determinadas, como afirma
Schwartzman (1999), pelas próprias características genéticas somadas aos
aspectos raciais, culturais, familiares e de personalidade. Acredita-se que a
cromossomopatia por si só não determina o desenvolvimento da criança. A
qualidade das interações interpessoais nos diversos ambientes em que ela circula é
fundamental para o seu desabrochar, tanto no âmbito cognitivo quanto lingüístico e
emocional. Possíveis influências de diferenças individuais nos resultados deste
estudo serão comentadas nos capítulos 3 e 4. Algumas características cognitivas e
do desenvolvimento da linguagem de sujeitos com síndrome de Down serão
abordadas a seguir.
46
1.5.2 Características cognitivas
O espectro do comprometimento cognitivo é muito amplo entre as crianças
com síndrome de Down. Alguns autores, como Kay-Raining Bird et al. (2000) e Laws
& Bishop (2003), afirmam que o grau de retardo mental varia de moderado a severo.
Outros, entretanto, asseguram que dados atuais permitem constatar que a maioria
das crianças com síndrome de Down apresenta deficiência mental variando entre os
níveis leve e moderado (MOREIRA et al., 2000; TRONCOSO & CERRO, 2004;
ROBERTS et al., 2005; McCONNAUGHEY & QUINN, 2007). Em um grande número
de estudos publicados, as crianças com síndrome de Down obtêm, em testes
formais, pontuações que evidenciam um quociente de inteligência (QI) entre 20 e 85.
Esses dados mostram que algumas crianças podem alcançar os limites inferiores
dos QIs considerados normais (70-130, média de 100) e outras apresentam uma
deficiência bastante significativa (CARR, 1995; SCHWARTZMAN, 1999).
Considera-se, de acordo com Schwartzman (1999), que as medidas de
inteligência de crianças com síndrome de Down que levam em consideração
somente o QI são bastante incompletas. Elas fornecem poucas informações
referentes aos possíveis progressos na vida da criança em geral. Gombert (2002)
mostrou que sujeitos com síndrome de Down podem apresentar habilidades de
leitura em um mesmo nível de crianças com desenvolvimento típico, apesar de
menor QI, medido pela escala WISC. O QI é somente uma dentre as medidas de
inteligência, não é algo invariável ao longo da vida do indivíduo com síndrome de
Down e, assim como os aspectos da vida diária e da aprendizagem escolar, sofre
forte influência do ambiente (CORIAT et al., 1968).
Atualmente, se sabe que o déficit cognitivo na síndrome de Down não é
homogêneo, havendo prejuízos particularmente evidentes em algumas áreas, tal
como a linguagem expressiva e a memória de trabalho auditiva (BYRNE et al., 1995;
CHAPMAN, 1997; SEUNG & CHAPMAN, 2000; CHAPMAN & HESKETH, 2001;
JARROLD et al., 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003ab; VERUCCI et al., 2006).
A avaliação da memória de trabalho auditiva é amplamente utilizada como
uma medida de cognição em estudos que envolvem crianças com síndrome de
Down (KAY-RAINING BIRD et al., 2000). Deve-se salientar que, na maioria desses
estudos, não há uma diferenciação entre memória de trabalho e memória de curto
47
prazo. No presente trabalho, será adotada a distinção proposta por Izquierdo (2002)
que será apresentada abaixo. Nessa mesma subseção serão abordadas
peculiaridades da memória de trabalho auditiva de crianças com síndrome de Down.
Logo após, apresentar-se-ão as principais características do desenvolvimento da
linguagem.
1.5.2.1 Memória de trabalho e memória de curto prazo
Os tipos de memória podem ser classificados de acordo com a função, com
o tempo que duram e com o seu conteúdo (IZQUIERDO, 2002). Levando em
consideração as duas primeiras formas de classificação, pode-se distinguir três
tipos: a memória de trabalho, a memória de curta duração e a de longa duração.
Para este estudo é importante diferenciar a memória de trabalho dos outros
dois tipos. De acordo com Izquierdo (2002), a função da memória de trabalho é
diferente das demais porque não produz arquivos. É uma memória breve e fugaz,
que serve para gerenciar a realidade. De um modo geral, seu papel é o de analisar
as informações que chegam constantemente ao cérebro e determinar se elas são
novas e úteis. Essas explorações são realizadas por meio de conexões do córtex
pré-frontal com as outras áreas do sistema nervoso central envolvidas com a
memória em geral, dentre elas o hipocampo. Se for necessário criar um novo
arquivo, as informações serão conservadas na memória de curta duração, também
chamada de curto prazo, por algumas horas, até que o arquivo definitivo seja criado.
Esse útlimo constitui a memória definitiva ou de longo prazo. A memória de trabalho
precede, portanto, a de curto e a de longo prazo, as duas últimas formam-se
paralelamente. Essa diferenciação é sustentada pela existência de diferentes
mecanismos neurológicos envolvidos durante o processamento de cada um dos
tipos de memória (IZQUIERDO et al., 1999). A memória de trabalho apresenta uma
bioquímica particular e é processada fundamentalmente pela atividade elétrica de
neurônios que apresentam conexões com regiões do cérebro vinculadas às
emoções, ao estado de ânimo e ao nível de consciência do indivíduo.
De acordo com Izquierdo (2002), a memória utilizada nas situações em que
é necessário conservar uma informação somente por alguns segundos ou, no
48
máximo, poucos minutos (1-3), é denominada memória de trabalho. Para
exemplificar, é a memória utilizada quando guardamos o número de um telefone
antes de fazermos uma ligação. Utiliza-se, também, em uma conversa ou durante a
leitura de um texto, quando armazenamos, por poucos segundos, uma palavra
ouvida ou lida anteriormente, que serve para o entendimento do contexto e do
significado do que vem a seguir. Dessa forma, a memória utilizada para a resolução
de tarefas de consciência fonológica, em que é necessário memorizar algumas
palavras para, por exemplo, compará-las com outras, é também a memória de
trabalho.
Os pesquisadores que não utilizam uma distinção entre memória de trabalho
e de curto prazo baseiam-se no modelo de memória de trabalho desenvolvido por
Baddeley (1986 apud GATHERCOLE & BADDELEY, 1993). Nesse modelo, o termo
memória de curto prazo é utilizado para designar um dos dois componentes da
memória de trabalho fonológica ou circuito fonológico (phonological loop): o
armazenamento de curto prazo fonológico (phonological short-term store), onde a
informação verbal fica estocada por um curto período de tempo. O outro
componente, de acordo com esse modelo, é o processo de ensaio articulatório
(subvocal rehearsal), que auxilia na manutenção dos itens na memória de curto
prazo.
No presente trabalho, diferentemente de algumas pesquisas citadas neste
estudo, o termo “memória de curto prazo” não será utilizado como sinônimo ou como
parte integrante da memória de trabalho, já que essa, de acordo com Izquierdo
(2002), é considerada um tipo de memória diferente das demais, principalmente por
não produzir novos arquivos. A utilização dos termos como sinônimos aparece
freqüentemente nos estudos que envolvem crianças com síndrome de Down. Apesar
de esses estudos fazerem referência à memória de curto prazo (FLETCHER &
BUCKLEY, 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003b), a habilidade avaliada, de acordo
com os conceitos apresentados no presente estudo, é a memória de trabalho, o que
possibilita a discussão com os achados desta pesquisa.
Para medir a memória de trabalho auditiva pode-se utilizar atividades que
requerem memória imediata, como a lembrança de seqüências de dígitos (digit
span) (FOWLER et al., 1995; BYRNE et al., 1995; CUPLES & IACONO, 2000;
FLETCHER & BUCKLEY, 2002), repetição de pseudopalavras (LAWS, 1998;
BRODACZ, 1998; KESSLER, 1997) ou de seqüências de palavras reais
49
(BROADLEY & MACDONALD, 1993; KENNEDY & FLYNN, 2003b; CONNERS et al.,
2006). Quando as informações são apresentadas verbalmente, está sendo avaliada
a memória de trabalho auditiva, também chamada de memória de trabalho
fonológica (GATHERCOLE & BADDELEY, 1993; RATNER et al., 1999; LAWS &
GUNN, 2004; ÁVILA, 2004) ou memória de trabalho verbal (CONNERS et al., 2006).
Na presente pesquisa, a memória de trabalho auditiva dos participantes foi avaliada
através da repetição de seqüências de palavras reais.
Existem evidências significativas apontando para um déficit específico na
memória de trabalho auditiva em crianças acometidas pela síndrome de Down
(BYRNE et al., 1995; CHAPMAN & HESKETH, 2001; JARROLD & BADDELEY,
2001; JARROLD et al., 2002; SEUNG & CHAPMAN, 2000; CHAPMAN, 2006;
BADDELEY & JARROLD, 2007). Os pesquisadores que utilizam o modelo da
memória de trabalho desenvolvido por Baddeley em 1986, modificado recentemente
pelo autor, entendem que há uma dificuldade específica no circuito fonológico
(phonological loop).
De acordo com estudos realizados, o déficit na memória de trabalho auditiva
não é explicado por dificuldades de audição ou de articulação da fala (JARROLD &
BADDELEY, 2001; JARROLD et al., 2002; BROCK & JARROLD, 2005; SEUNG &
CHAPMAN, 2000). O prejuízo na memória de trabalho auditiva de crianças com
síndrome de Down parece, também, não ocorrer em consonância com o nível
intelectual global. Em atividades envolvendo memória de trabalho visual ou espacial,
indivíduos com a síndrome tendem a apresentar melhor desempenho, o que
evidencia um maior prejuízo na memória de trabalho auditiva (KAY-RAINING BIRD &
CHAPMAN, 1994; HICK et al., 2005).
Kay-Raining Bird & Chapman (1994) verificaram que a capacidade de
memória de trabalho auditiva de indivíduos com síndrome de Down apresenta
variações e tende a ser menor do que o esperado, considerando-se outras
habilidades individuais. Nesse estudo também foi observada uma maior dificuldade
de memória de trabalho auditiva entre sujeitos portadores da síndrome do que entre
indivíduos com desenvolvimento típico, ou com outros tipos de deficiência mental,
todos pareados pela idade mental. Indivíduos com síndrome de Down com idades
cronológicas entre cinco e vinte anos que participaram dessa pesquisa
apresentaram, na avaliação do span de dígitos, uma média de 3.5 dígitos, com uma
variação de 2 a 6. O span mais comum foi 4, e somente um dos 47 indivíduos com
50
síndrome de Down alcançou um span de 6 dígitos. Os sujeitos com desenvolvimento
típico apresentaram um span variando entre 3 a 6 dígitos, sendo 5 o span mais
comum. No estudo de Fletcher & Buckley (2002), o span médio de sujeitos com
síndrome de Down foi de 3 dígitos, entretanto os escores brutos mostram uma ampla
variação nas respostas dos participantes nessa avaliação.
Chi (1976) verificou que, entre crianças com desenvolviento típico, o span
aumenta de 3 dígitos aos três anos de idade para 7 ou 8 aos dezesseis anos. Em
um estudo longitudinal realizado recentemente, Laws & Gunn (2004) não
encontraram aumentos significativos no span de dígitos de crianças com síndrome
de Down em um período de cinco anos.
Em avaliações que utilizam palavras reais (span de palavras), o
comprimento dessas tem um efeito na memória de trabalho auditiva. Baddeley et al.
(1975) verificaram uma maior dificuldade na repetição de seqüências com palavras
polissilábicas do que nas compostas por monossílabos. Estudos mais recentes,
envolvendo crianças com síndrome de Down, também identificaram um significativo
efeito do comprimento da palavra na avaliação da memória de trabalho auditiva
(BROADLEY et al., 1995; KANNO & IKEDA, 2002).
É preciso ressaltar que diversas pesquisas mostram uma correlação positiva
entre a memória de trabalho auditiva e a consciência fonológica, tanto em crianças
com desenvolvimento típico quanto em indivíduos com síndrome de Down
(BROADLEY et al., 1995; FLETCHER & BUCKLEY, 2002; BOUDREAU, 2002;
KENNEDY & FLYNN, 2003b; GINDRI et al., 2007). Essa correlação pode ser
explicada devido ao fato de a memória de trabalho auditiva ser considerada como
um dos mecanismos que subjazem ao processamento fonológico e à consciência
dos sons que formam as palavras (RATNER et al., 1999; ÁVILA, 2004).
Purser & Jarrold (2005) defendem que a memória de trabalho auditiva
desempenha um papel importante na aquisição de vocabulário, na compreensão da
linguagem e no aprendizado da leitura de crianças com síndrome de Down. De
acordo com Chapman & Hesketh (2001), o déficit na memória de trabalho auditiva
nessas crianças é de magnitude similar ao atraso na linguagem expressiva. Os
mesmos autores apontam que a memória de trabalho pode ser um preditor do
desenvolvimento da linguagem oral.
Crianças com síndrome de Down apresentam particularidades na aquisição
e no desenvolvimento da linguagem que serão apresentadas a seguir.
51
1.5.3 Desenvolvimento da linguagem
Traçar um perfil do desenvolvimento cognitivo e lingüístico de crianças com
síndrome de Down tem sido foco de estudo de muitos pesquisadores. A maioria
desses trabalhos vem de autores que apresentam um enfoque essencialmente
cognitivista. Dentro dessa perspectiva, destacam-se os estudos realizados por
Chapman (1997), Chapman & Hesketh (2000, 2001), Chapman (2006) e Rondal
(2006). Esses autores defendem que, mesmo havendo diferenças interindividuais
importantes entre os sujeitos com síndrome de Down, é possível especificar
características do desenvolvimento lingüístico e cognitivo que se mantêm válidas e
verdadeiras.
Nesse sentido, Limongi (2004) aponta a existência de unanimidade entre os
estudiosos em afirmar que aspectos do desenvolvimento cognitivo são superiores ao
da linguagem, que a compreensão dessa é mais efetiva que a expressão oral em
qualquer faixa etária, que a linguagem não-verbal exerce uma função importante na
comunicação, que as habilidades motoras orais contribuem até certo ponto para a
inteligibilidade da fala, que os déficits de memória de trabalho e processamento
auditivo relacionam-se com as outras dificuldades, e que as condições de
desenvolvimento global e ambiental sempre devem ser consideradas (CHAPMAN,
1997; SCHWARTZMAN, 1999; CHAPMAN & HESKETH, 2001; RONDAL, 2002;
RONDAL, 2006; BADDELEY & JARROLD, 2007).
Chapman & Hesketh (2001) colocam que as habilidades cognitivas não-
verbais de crianças com síndrome de Down são superiores às de linguagem
expressiva e memória de trabalho auditiva. Esses pesquisadores descreveram
características fenotípicas do desenvolvimento lingüístico e cognitivo da síndrome de
Down da primeira infância à adolescência, as quais serão descritas a seguir.
De acordo com os autores, na primeira infância, são observados:
compreensão da linguagem no mesmo nível da cognição não-verbal, atrasos na
transição do balbucio para a fala, inteligibilidade prejudicada na emergência dessa,
surgimento das primeiras palavras e combinações de duas palavras em estágios
cognitivos esperados, seguido de um atraso no desenvolvimento do vocabulário
cumulativo e da sintaxe expressiva. A memória visual e a comunicação gestual são
pontos fortes dessa fase do desenvolvimento.
52
No período pré-escolar, os déficits específicos de memória de trabalho
auditiva, comparados à idade mental, tornam-se aparentes. O desenvolvimento da
fala inclui um longo período de erros fonológicos e inteligibilidade prejudicada. O
atraso na linguagem expressiva em relação à compreensão e à cognição continua
sendo observado. Nessa fase, observam-se sentenças com omissão de verbos e de
palavras com funções gramaticais. A compreensão da linguagem continua em um
mesmo nível da cognição não-verbal.
Na adolescência, evidenciam-se déficits na memória de trabalho tanto em
funções executivas verbais quanto visuais. Observam-se estruturas de sentenças
menos desenvolvidas que os vocabulários de compreensão e expressão. Atrasos na
compreensão sintática, levando-se em consideração a idade mental, também são
percebidos. O vocabulário de compreensão pode exceder a cognição não-verbal
com a experiência. A fala torna-se mais inteligível e grande parte dos adolescentes
consegue aprender a ler e escrever. De acordo com Chapman & Hesketh (2001), a
linguagem continua se desenvolvendo durante a adolescência e a vida adulta,
contrariando a idéia da existência de um platô no aprendizado da linguagem na
síndrome de Down.
Outros estudos caracterizam o desenvolvimento lingüístico de crianças
portadoras da síndrome abordando as principais áreas da linguagem: pragmática,
semântica, sintaxe, morfologia, léxico, fonologia e fonética (RONDAL, 2002;
CHAPMAN et al., 2002; LIMONGI, 2004; RONDAL, 2006). Na presente pesquisa,
pretende-se ressaltar, acima de tudo, características da articulação da fala e do
desenvolvimento fonológico.
Pesquisas atuais apontam para uma assincronia entre diferentes domínios
da linguagem, como, por exemplo, desenvolvimento lexical versus habilidades
morfossintáticas, compreensão versus produção (RONDAL, 2006; CHAPMAN,
2006).
A sintaxe expressiva é considerada uma área de particular dificuldade para
indivíduos com síndrome de Down (LAWS & BISHOP, 2003; CHAPMAN, 2006).
Rondal (2006) menciona limitações e prolongada instabilidade no que se refere à
morfossintaxe, com dificuldades na utilização de palavras funcionais; na produção de
inflexões de número, pessoa e tempo verbal; na integração de frases em parágrafos;
na produção dos diversos tipos pragmáticos de frases de acordo com as regras da
linguagem e na compreensão de estruturas passivas. Chapman (2003) assinala um
53
declínio da compreensão sintática com aumento da idade cronológica, enquanto a
produção sintática continua se desenvolvendo.
Em relação ao desenvolvimento lexical, o estudo de Miller (1996) sugere que
crianças com síndrome de Down, após a idade mental de dezessete meses,
mostram atrasos na aquisição do vocabulário em comparação a indivíduos com
desenvolvimento típico, apesar de mesmo nível cognitivo e socioeconômico.
Entretanto, os sujeitos com a síndrome parecem apresentar os mesmos
mecanismos de aquisição de vocabulário, com um aumento significativo e constante
do número de palavras a partir dos vinte e três meses de idade mental. Fabretti et al.
(1997) asseguram que crianças e adolescentes com síndrome de Down podem
apresentar repertório lexical semelhante ao de sujeitos com desenvolvimento típico,
comparando-se o nível intelectual. Segundo os autores, são as alterações
fonológicas, sintáticas e de habilidades pragmáticas que impedem os indivíduos com
a síndrome de utilizar o vocabulário adquirido de forma apropriada e consistente nos
diferentes contextos. O vocabulário de compreensão geralmente supera a
capacidade de produção (CHAPMAN, 2006; RONDAL; 2006). Em comparação a
crianças com distúrbio específico de linguagem, adolescentes com síndrome de
Down, pareados pela cognição não-verbal, mostram uma tendência a um maior
vocabulário expressivo e compreensivo, o que pode ser atribuído à idade
cronológica mais avançada (LAWS & BISHOP, 2003).
A inteligibilidade da fala, ou seja, o grau de clareza com que cada emissão é
compreendida pela maioria dos ouvintes (NICOLOSI et al., 1989), é freqüentemente
prejudicada em sujeitos com síndrome de Down (HORTSMEIER, 1995; CHAPMAN
& HESCKETH, 2001; KENNEDY & FLYNN, 2003ab; ROBERTS, 2005). Rondal
(2006) aponta como fatores que dificultam a fala: a cavidade oral demasiadamente
pequena para acomodar a língua; a hipotonia da musculatura orofacial; a protrusão
da língua; as deformidades ou a disposição anômala dos dentes; os déficits na
coordenação motora oral; os problemas auditivos; o posicionamento mais alto da
laringe e as alterações na voz, principalmente no que se refere à ressonância vocal.
O tônus muscular diminuído da língua, e não o tamanho, parece estar mais
envolvido com as dificuldades articulatórias (PARSONS et al., 1987). A produção
das fricativas alveopalatais é bastante prejudicada por solicitar a elevação e a
posteriorização da língua. Além disso, Rondal (2006) assinala que a indiferenciação
54
de sons como / / e / s / pode ser resultado de uma dificuldade na formação de
sulcos na língua.
Sabe-se, contudo, que as alterações nas estruturas orofaciais, que dificultam
a execução do ato articulatório, não são totalmente responsáveis pelas alterações
na inteligibilidade da fala de indivíduos com síndrome de Down (LIMONGI, 2004).
Autores citados por Rondal (2002) argumentam a favor da existência de
perturbações no planejamento do ato motor, o que contribui, juntamente com o
prejuízo na articulação, para o desenvolvimento de alterações fonológicas. Crianças
com desordens de fala e/ou linguagem são consideradas de risco para o
desenvolvimento de alterações na representação fonológica dos sons
(SUTHERLAND & GILLON, 2005).
Os indivíduos com síndrome de Down geralmente utilizam padrões
fonológicos imaturos por mais tempo que os sujeitos com desenvolvimento típico
(CHAPMAN & HESCKETH, 2001). Rondal (2006) afirma que, apesar de o
desenvolvimento fonológico ser mais lento, a seqüência de aquisição global parece
ser paralela ao desenvolvimento das demais crianças. De acordo com o autor, as
vogais, semivogais, consoantes nasais e plosivas são adquiridas e dominadas em
primeiro lugar, já as fricativas requerem mais tempo para a aquisição e domínio.
Roberts et al. (2005) relatam estudos que evidenciam dificuldades na
produção fricativas, africadas e líquidas. Os mesmos autores estudaram as
habilidades fonológicas de crianças com síndrome de Down, de indivíduos
portadores da síndrome do X-Frágil e de sujeitos com desenvolvimento típico
pareados pela idade mental não-verbal. Os pesquisadores encontraram maior
percentual de ocorrência de alterações fonológicas e menor porcentagem de
produção de consoantes corretas na fala dos participantes com síndrome de Down.
Os processos fonológicos mais freqüentes apresentados por eles foram: redução de
onset complexo, anteriorização de consoantes velares e palatais, apagamento de
consoante final e substituição de líquidas e fricativas. Van Borsel (1988) verificou
que processos fonológicos, tais como apagamento de coda, redução de onset
complexo e anteriorização, podem persistir até a adolescência e início da vida
adulta. Outros autores, citados por Rondal (2002) e Roberts et al. (2005) relatam,
ainda, a ocorrência freqüente de processos de plosivização, semivocalização,
assimilações e substituições envolvendo consoantes vozeadas e desvozeadas.
55
Ressalta-se, contudo, que o grau de acometimento da inteligibilidade pode variar
entre as crianças com síndrome de Down.
Yavas & Lamprecht (1990) referem que os tipos de processos, a
coocorrência deles, a porcentagem de palavras prejudicadas e a criação de
homonímias interferem, em maior ou menor grau, na inteligibilidade da fala. A
porcentagem de consoantes corretas (SHRIBERG & KWIATKOWSKI, 1982) na fala
da criança é um índice que mede o grau de severidade do desvio fonológico e,
indiretamente, avalia a inteligibilidade da fala. Uma forma direta e comumente
utilizada para medir a inteligibilidade é a avaliação perceptual de ouvintes
(CASELLA, 2002; DONICHT, 2007). Esta foi a forma utilizada para avaliar a
inteligibilidade de fala dos sujeitos que participaram desta pesquisa.
Sutherland & Gillon (2005) avaliaram o desempenho de crianças com e sem
inteligibilidade de fala prejudicada em tarefas que avaliavam a representação
fonológica. Os participantes apresentavam desenvolvimento geral típico. A
correlação entre medidas de produção de fala e consciência fonológica também foi
verificada. As crianças com inteligibilidade prejudicada apresentaram desempenho
significativamente pior nas tarefas que avaliavam as representações fonológicas.
Apesar de moderada, foi encontrada correlação positiva entre as medidas de
produção de fala e o desempenho em tarefas de consciência fonológica. Os
resultados desse estudo, de acordo com os autores, sugerem que crianças com
alterações na inteligibilidade são mais propensas a ter dificuldades para formar
novas representações fonológicas e para refletir conscientemente sobre os
constituintes fonológicos da fala. Essa afirmação sustenta a hipótese de uma
associação entre a inteligibilidade da fala prejudicada e consciência fonológica, a
qual foi avaliada com os participantes da presente pesquisa. Não foram
encontrados, na literatura pesquisada, estudos buscando verificar a associação
entre a inteligibilidade de fala de crianças com síndrome de Down medida por
avaliação perceptual e o desempenho em tarefas de consciência fonológica.
Apesar das alterações cognitivas e lingüísticas relatadas, muitos sujeitos
com síndrome de Down, como dito anteriormente, aprendem a ler e escrever
(FOWLER et al., 1995; GOMBERT, 2002; BOUDREAU, 2002; TRONCOSO &
CERRO, 2004). Isso mostra que, mesmo tendo deficiência mental, algumas crianças
portadoras da síndrome conseguem se alfabetizar. A seguir serão comentados
56
aspectos do aprendizado da leitura e da escrita em indivíduos acometidos pela
síndrome de Down.
1.5.4 Aprendizado da leitura e da escrita
Um sistema de processamento fonológico desorganizado, decorrente de
alterações de fala e linguagem, e o conseqüente prejuízo em habilidades de
consciência fonológica colocam as crianças com síndrome de Down em risco para
dificuldades no aprendizado da leitura e da escrita (KENNEDY & FLYNN, 2003a).
Deficiências nos sistemas de audição e memória também podem dificultar o
processo de alfabetização dessas crianças (KENNEDY & FLYNN, 2003b). Entre
aquelas que se alfabetizam, os níveis alcançados variam consideravelmente
(FOWLER et al., 1995; LAWS & GUNN, 2002; BOUDREAU, 2002; FLETCHER &
BUCKLEY, 2002).
Fowler et al. (1995) mostraram que a leitura pode ser introduzida também na
adolescência e na vida adulta de indivíduos com a síndrome. De acordo com esses
pesquisadores, o vocabulário receptivo, a consciência fonológica, o acesso lexical e
a memória de trabalho auditiva são os fatores relacionados à ampla variação das
habilidades de leitura e escrita encontradas em sujeitos portadores da síndrome de
Down. Outros autores consideram, também, o conhecimento do nome das letras
como um fator influente (BOUDREAU, 2002; LAWS & GUNN, 2002, CARDOSO-
MARTINS et al., 2006).
Em relação aos níveis atingidos, Rondal (2006) menciona que alguns
indivíduos não conseguem aprender a ler ou escrever independentemente, outros,
entretanto, atingem níveis funcionais de alfabetização, equivalentes a idades de
leitura
5
de oito anos ou mais. O nível funcional permite a utilização da escrita como
ferramenta de comunicação e, até mesmo, a inserção no mercado de trabalho com
funções diferenciadas. Boudreau (2002) refere que alguns indivíduos atingem níveis
de leitura mais avançados do que medidas gerais de inteligência poderiam predizer.
5
Termo utilizado em estudos que utilizam testes de leitura padronizados, os quais fornecem uma
idade relacionada ao nível de leitura da criança (GOMBERT, 2002; FLETCHER & BUCKLEY, 2002;
SNOWLING et al., 2002; LAWS & GUNN, 2002).
57
A maioria dos estudos sobre a alfabetização de crianças com síndrome de
Down utiliza medidas de leitura (BUCKLEY, 1985; COSSU et al., 1993; FOWLER et
al., 1995; BYRNE et al., 1995; BOUDREAU, 2002; LAWS & GUNN, 2002). O modelo
comumente utilizado para explicar as habilidades de leitura dessa população é o
proposto por Frith (1985). Para essa autora, o processo de aprender a ler
compreende três estágios: o logográfico, o alfabético e o ortográfico. Na primeira
etapa, as crianças reconhecem palavras pela memória visual, o que requer
exposição à forma da escrita de determinadas palavras cujo significado normalmente
é conhecido pela criança. Nesse estágio, não há indícios de associação entre os
sons e a grafia das palavras. Na etapa alfabética, a criança inicia o processo de
associação entre fonemas e grafemas e passa a decodificar palavras novas, o que
exige a conscientização de que a escrita representa unidades da fala. Nessa fase, a
criança enfrenta os obstáculos relacionados às escritas irregulares. A superação
dessas dificuldades leva ao estágio ortográfico. Nesse período, a criança começa a
ler com mais fluência e passa a reconhecer visualmente algumas palavras de um
texto.
Buckley (1985) sugere que sujeitos com síndrome de Down baseiam-se
somente em habilidades visuais e espaciais para identificar palavras; essa autora
não observou habilidades de decodificação alfabética entre indivíduos com síndrome
de Down. Entretanto, estudos posteriores encontraram níveis de leitura mais
avançados em indivíduos com a síndrome. Alguns mostraram, até mesmo,
habilidades complexas de decodificação, como a exigida na leitura de não-palavras
(COSSU et al., 1993; FOWLER et al., 1995; CARDOSO-MARTINS et al., 2002).
Rondal (2006) defende que o aprendizado da leitura de sujeitos com
síndrome de Down não é diferente dos demais indivíduos com desenvolvimento
típico. No entanto, as crianças com a síndrome, de acordo com o autor, tendem a
utilizar a estratégia logográfica por mais tempo e, posteriormente, passam a utilizar
estratégias alfabéticas para ler e escrever. Sujeitos com síndrome de Down, quando
comparados a crianças com desenvolvimento típico, tendem a mostrar uma
capacidade inferior na leitura de não-palavras, entretanto, o número de identificação
de palavras reais pode ser superior entre os indivíduos portadores da síndrome
(ROCH & JARROLD, 2008). De acordo com esses autores, isso pode refletir uma
maior eficiência no emprego da abordagem visual para a leitura de palavras entre os
sujeitos com síndrome de Down.
58
Cardoso-Martins et al. (2006) questionaram a hipótese de que indivíduos
com síndrome de Down têm uma maior facilidade para aprender a ler visualmente do
que através do processamento das relações entre letras e sons. As autoras
investigaram as estratégias utilizadas por indivíduos com síndrome de Down para
aprender a ler palavras no início do aprendizado da leitura. Sujeitos que conheciam
ou não o nome das letras foram estimulados a ler dois tipos de grafias simplificadas:
grafias fonéticas, com algumas letras correspondendo a sons da palavra (ex.: BTRA
para beterraba), e grafias visuais, em que as letras ou caracteres não representavam
os sons das palavras (ex.: U
Q
L
G
para detetive). Foi verificado que os sujeitos que
conheciam o nome das letras apresentaram um desempenho significativamente
superior na leitura de grafias fonéticas. Esses achados, segundo as pesquisadoras,
dão suporte à hipótese de que o conhecimento do nome das letras incita os
indivíduos a aprender a ler através do processamento de relações letra-som desde
as fases iniciais do aprendizado. A capacidade dos sujeitos com síndrome de Down
para ler grafias fonéticas pode ser comparada à habilidade de escrever utilizando a
hipótese de escrita silábica, ou seja, quando as crianças começam a representar na
escrita partes sonoras da fala (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999).
Existe um número reduzido de estudos que utilizam a teoria da Psicogênese
da Escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) para explicar o aprendizado do
princípio alfabético por crianças com síndrome de Down. Entretanto, as pesquisas
encontradas corroboram a hipótese de que essas crianças começam a reconhecer
que as palavras grafadas representam estruturas da fala em fases anteriores à
alfabética. A teoria da Psicogênese da Escrita, diferentemente da proposta por Frith
(1985), considera os importantes acontecimentos que levam à passagem de um
nível do aprendizado da língua escrita para outro. Além disso, como apontam Navas
& Santos (2004), dificilmente ocorre um estágio puramente logográfico, em que não
há nenhuma conexão entre sons e letras. Ferreiro e Teberosky (1999) asseguram
que formas fixas de leitura e escrita aprendidas globalmente, como a do nome
próprio, podem coexistir com escritas silábicas, em que os caracteres representam
as sílabas e podem ter ou não valor sonoro estável. As autoras afirmam que essa
coexistência gera conflitos importantes que contribuem para a transição do estágio
silábico para o alfabético.
Salinas & Santana (2003), Vargas (2004), Gândara (2005) e Lara et al.
(2007) analisaram a escrita de crianças com síndrome de Down a partir da teoria
59
proposta por Ferreiro & Teberosky (1999). Essas autoras demonstraram que os
sujeitos com a síndrome passam pelos mesmos processos de aprendizagem
observados em crianças com desenvolvimento típico. Salinas & Santana (2003)
avaliaram as noções de escrita de dezessete indivíduos com síndrome de Down.
Nesse estudo foram encontrados treze sujeitos com hipótese de escrita pré-silábica,
um com hipótese silábica, dois fazendo parte do grupo de sujeitos com hipótese de
escrita silábico-alfabética e somente um com hipótese de escrita alfabética. De
acordo com as autoras, os indivíduos com síndrome de Down apresentam um
processo de aprendizagem similar ao de qualquer criança. Entretanto, o tempo de
aprendizagem das crianças com a síndrome pode ser mais longo devido a
dificuldades de atenção, memória de trabalho, análise e síntese de informações e de
pensamento abstrato (SALINAS & SANTANA, 2003). Rangel (2007) observou níveis
de escrita variáveis entre adolescentes com síndrome de Down, desde a utilização
das hipóteses mais elementares até escritas de nível ortográfico. Lara et al. (2007)
também encontraram diferentes níveis de escrita em sujeitos com a síndrome.
No estudo de Gândara (2004), observam-se claramente detalhes da
apropriação da escrita por uma criança com síndrome de Down, desde os primeiros
indícios de que ela estava fazendo da escrita um objeto do pensamento até o
despertar da consciência dos sons das letras e de sua relação com a escrita. Para a
autora, as situações de escrita do próprio nome foram fundamentais para a geração
dos conflitos que levaram ao entendimento por parte da criança de que a escrita
registra estruturas da fala. Essa pesquisadora considera que a consciência
fonológica pode desempenhar um papel fundamental no processo de compreensão
do princípio alfabético.
A seguir serão apresentados importantes estudos realizados sobre a
consciência fonológica de sujeitos com síndrome de Down.
1.5.5 Consciência fonológica
Os primeiros pesquisadores que olharam mais especificamente para as
habilidades metafonológicas na síndrome de Down foram Cossu & Marshall (1990).
Nessa publicação, os autores relataram o estudo de caso de um menino italiano com
60
síndrome de Down, idade cronológica de oito anos e onze meses e capacidade para
ler palavras e não-palavras. Já o desempenho em tarefas de consciência fonológica
foi considerado bastante pobre. De acordo com os autores, rima e síntese fonêmica
foram inacessíveis a ele. O desempenho em tarefas de segmentação e exclusão
fonêmicas foram inferiores ao esperado pelo nível de leitura. Cossu & Marshal
(1990) sugeriram que a consciência fonológica poderia não ser um pré-requisito para
o aprendizado da leitura.
Com o objetivo de corroborar essa hipótese, Cossu et al. (1993) realizaram
um estudo envolvendo dez crianças italianas com síndrome de Down e dez sujeitos
com desenvolvimento típico, pareados por habilidades de leitura de palavras e não-
palavras. Os autores avaliaram a consciência fonêmica dos participantes por meio
de quatro tarefas: segmentação (reconhecer o número de fonemas em uma palavra),
subtração, soletração (soletração oral da seqüência de sons das palavras) e síntese.
Apesar do mesmo nível de leitura, as crianças com síndrome de Down apresentaram
um desempenho significativamente
6
inferior aos sujeitos com desenvolvimento
típico. Esse achado levou os autores a concluir que formas avançadas de leitura
podem ser encontradas em crianças sem habilidades de consciência fonológica.
Cossu et al. (1993) passaram a rejeitar qualquer hipótese de relação causal e
necessária entre o aprendizado da leitura e a consciência fonológica. Afirmaram,
ainda, que essa pode não desempenhar papel algum na alfabetização. Evans
(1994), ao avaliar seis crianças com síndrome de Down, utilizando tarefas similares
às de Cossu et al. (1993), encontrou habilidades de leitura logográficas na ausência
de consciência fonológica.
Fowler et al. (1995) apontaram que, embora tenham encontrado sujeitos
com síndrome de Down não leitores sem evidências de consciência fonêmica, não
houve um único indivíduo que apresentasse habilidades de leitura sem habilidades
de consciência fonêmica. Contrariamente às conclusões de Cossu et al. (1993),
Fowler et al. (1995) sugerem que habilidades de consciência fonêmica podem ser
necessárias, mas não suficientes para o aprendizado da leitura alfabética.
6
Neste trabalho as expressões “significativamente” ou “significativo(a)” pressupõem significância
estatística. Quando o termo “estatisticamente significativo(a)” foi utilizado, o objetivo foi o de reforçar a
informação.
61
Esses estudos impulsionaram estudiosos de vários países a investigar a
consciência fonológica na síndrome de Down e a relação com as habilidades de
leitura dessa população.
O estudo de Cossu et al. (1993) foi criticado por importantes pesquisadores
(BERTELSON, 1993; BYRNE, 1993; MORTON & FRITH, 1993; CARDOSO-
MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES & IACONO, 1999), os quais sugeriram
interpretações alternativas aos resultados encontrados. Bertelson (1993) refere que
tarefas mais simples, como as que exigem consciência no nível da sílaba, poderiam
ter sido desempenhadas com maior facilidade pelos sujeitos avaliados. Esse autor
discorda da afirmação de Cossu et al. (1993) de que falhar no entendimento da
natureza da tarefa é falhar em ser capaz de desempenhá-la, sugerindo que o fraco
desempenho das crianças com síndrome de Down pode ter sido influenciado por
dificuldades no entendimento das instruções para resolver a tarefa, o que pode ter
ocorrido em função de prejuízos cognitivos. Morton & Frith (1993) apontam que
Cossu et al. (1993) confundiram competência com desempenho. Byrne (1993)
discute a alegação referente à ausência de consciência fonêmica, já que nehuma
criança que participou daquele estudo obteve escore zero em todas as tarefas. Uma
delas chegou a alcançar um escore alto de 13/21 na tarefa de segmentação
fonêmica. O autor salienta que escores diferentes de zero não podem indicar zero de
consciência fonológica.
Cardoso-Martins & Frith (1999) chamam a atenção para o fato de que, no
estudo de Cossu et al. (1993), só foram utilizadas tarefas que pressupõem
habilidades de manipulação e segmentação de constituintes fonêmicos. Sendo
assim, de acordo com as autoras, seria possível que os resultados do estudo de
Cossu et al. (1993) não se generalizassem para outras habilidades de consciência
fonológica, como por exemplo, as envolvidas em tarefas de aliteração e rima. As
pesquisadoras testaram essa hipótese aplicando três tarefas de consciência
fonológica (detecção de rima e de fonemas iniciais e subtração fonêmica) em trinta e
três indivíduos brasileiros com síndrome de Down e trinta e três com
desenvolvimento típico. Os participantes foram emparelhados em função da
habilidade de ler palavras e pseudopalavras. Os indivíduos com síndrome de Down
tiveram um desempenho significativamente inferior ao das crianças com
desenvolvimento típico nas tarefas de subtração fonêmica e detecção de rimas.
Entretanto, na tarefa de detecção de fonemas iniciais, não foi encontrada diferença
62
estatisticamente significativa entre os grupos. Esses resultados corroboram
parcialmente a hipótese das pesquisadoras, já que as crianças não alcançaram bom
desempenho na tarefa de detecção de rimas. As autoras sugerem duas possíveis
explicações para esse achado: a diferença nos procedimentos utilizados para avaliar
a detecção de rimas e de fonemas e o fato de muitos indivíduos com síndrome de
Down serem alfabetizados pelo método fônico, o que pode tê-los tornado mais
sensíveis a unidades menores.
Os resultados do estudo relatado acima indicam que indivíduos com
síndrome de Down que aprenderam a ler possuem habilidades, ainda que
rudimentares, para prestar atenção consciente aos constituintes fonêmicos da fala
(CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999). Nessa pesquisa, o fato de o desempenho
na tarefa de subtração fonêmica apresentar correlação positiva significativa com
habilidades de leitura em ambos os grupos evidencia a presença de associação
entre consciência fonológica e alfabetização na síndrome de Down.
Cuples & Iacono (2000) apontam que a análise dos dados de Cossu et al.
(1993) foi insuficiente para afirmar que a consciência fonológica pode não
desempenhar papel algum na alfabetização. Em um estudo longitudinal, as autoras
avaliaram as habilidades de leitura e consciência fonológica de vinte e duas crianças
com síndrome de Down falantes da língua inglesa. As tarefas de consciência
fonológica utilizadas foram: julgamento de rimas, julgamento de aliterações
fonêmicas, síntese, segmentação e contagem de fonemas de palavras reais e não-
palavras. Após uma média de 8,9 meses, as crianças foram reavaliadas. Tanto no
primeiro momento de avaliação quanto no segundo, as crianças apresentaram níveis
variados de leitura e tiveram um melhor desempenho nas tarefas de aliteração e
síntese fonêmicas, sendo que o desempenho mais baixo ocorreu na tarefa de
segmentação fonêmica. Entretanto, essa tarefa foi positivamente correlacionada com
as medidas de leitura e foi um forte preditor das habilidades de leitura no segundo
momento de avaliação. Esses dados levaram à conclusão de que a consciência
fonológica desempenha um papel central no aprendizado da leitura. As tarefas
utilizadas nesse estudo foram delineadas levando-se em consideração dificuldades
específicas de crianças com síndrome de Down, como a memória de trabalho
auditiva e a linguagem expressiva.
Kay-Raining Bird et al. (2000) investigaram fatores que pudessem predizer o
aprendizado da leitura em sujeitos portadores da síndrome de Down. Um grupo de
63
doze crianças com idades cronológicas entre seis e onze anos foi acompanhado
longitudinalmente. Dados de três períodos durante 4,5 anos foram analisados. As
crianças foram avaliadas quanto à linguagem oral, vocabulário compreensivo,
habilidades de leitura de palavras e não-palavras, memória de trabalho auditiva,
idade mental e consciência fonológica (segmentação de não-palavras em sílabas e
fonemas, produção de rimas e exclusão fonêmica de palavras reais). Os objetivos
desse estudo foram: identificar como a leitura e a consciência fonológica se
modificam ao longo do tempo, verificar quais fatores do primeiro período predizem
as habilidades de leitura finais, e identificar quais padrões de desenvolvimento se
modificam com o passar tempo. Os resultados mostraram que as crianças
apresentaram ganhos significativos nas duas medidas de leitura durante o período
do estudo. A capacidade de segmentação silábica já estava bastante desenvolvida
inicialmente em todos os participantes. Em contraste, a habilidade de segmentação
fonêmica apresentou variação considerável entre as crianças avaliadas, sendo o
desempenho médio baixo em todas as avaliações. Já a habilidade de produção de
rimas apresentou avanços significativos ao longo do tempo. A consciência fonêmica
presente na fase inicial do processo de alfabetização foi considerada preditora das
habilidades de leitura finais. A memória de trabalho auditiva apresentou correlação
positiva significativa com a capacidade de decodificação, medida pela leitura de não-
palavras. A idade mental dos participantes não apresentou correlação significativa
com as habilidades de leitura de não-palavras.
Cardoso-Martins & Frith (2001) demonstraram que sujeitos com síndrome de
Down podem apresentar melhor desempenho em tarefas que não pressupõem a
habilidade de operar ou manipular representações fonológicas. O desempenho dos
participantes em uma tarefa de detecção de fonemas foi comparável ao de crianças
com desenvolvimento típico e mesmo nível de leitura. Já na tarefa de exclusão,
como no estudo de Cossu et al. (1993), foram encontradas diferenças
estatisticamente significativas entre os grupos. Em um segundo momento desse
estudo, as autoras testaram se a habilidade para detectar fonemas distingue leitores
e não-leitores com síndrome de Down. Como predito pelas autoras, os leitores
desempenharam significativamente melhor na tarefa de detecção de fonemas do
que os não-leitores. Isso aconteceu mesmo quando variáveis como idade
cronológica, conhecimento de letras e nível de inteligência foram controlados. As
autoras sugerem que as habilidades para prestar atenção consciente nos
64
constituintes fonêmicos, apesar das limitações intelectuais, podem ter dado suporte
para o aprendizado da leitura das crianças avaliadas.
Fletcher & Buckley (2002) avaliaram habilidades de leitura e escrita
7
de
palavras e não-palavras, memória de trabalho auditiva (span de dígitos), habilidades
não-verbais e consciência fonológica (identificação de rimas, aliteração, síntese e
segmentação fonêmicas) de dezessete indivíduos leitores com síndrome de Down.
Este foi o único estudo encontrado em que habilidades de escrita de sujeitos com
síndrome de Down foram avaliadas e correlacionadas com o desempenho em
tarefas de consciência fonológica, porém o foco do estudo eram as habilidades de
leitura. A tarefa de síntese fonêmica apresentou correlação positiva significativa com
as habilidades de leitura e escrita avaliadas, com exceção da leitura de não-
palavras. As habilidades de rima e aliteração correlacionaram-se significativamente
de forma positiva somente com algumas das medidas de leitura utilizadas. A tarefa
mais difícil para os participantes foi a de segmentação fonêmica, seguida da de
identificação de rima e das tarefas de aliteração e síntese fonêmica. Nesse estudo,
as crianças apresentaram variação considerável nos escores de memória de
trabalho auditiva. Os sujeitos com span de dígitos superior a quatro apresentaram
maiores escores de consciência fonológica do que aquelas com span menor que
quatro. Esses dados sugerem a existência de uma correlação positiva entre a
memória de trabalho auditiva e a consciência fonológica de crianças com síndrome
de Down.
O estudo de Cardoso-Martins et al. (2002) investigou a sensibilidade a rimas
e aos fonemas de sujeitos leitores e não-leitores com síndrome de Down e com
desenvolvimento típico. As tarefas administradas foram: detecção de rima, detecção
de fonema inicial (aliteração) e detecção de fonema medial. Nesse estudo,
diferentemente do procedimento utilizado em Cardoso & Frith (1999), o segmento-
alvo foi explicitado em todas as tarefas. Entre as crianças com desenvolvimento
típico, os resultados replicaram estudos prévios (BRYANT et al., 1990; CIELO,
2001), sugerindo que a habilidade para detectar rimas é anterior à habilidade para
detectar fonemas. Entre os indivíduos não-leitores com síndrome de Down foram
observadas dificuldades em todas as tarefas. Já entre os leitores com a síndrome, a
7
O termo “escrita” foi utilizado como tradução do termo “spelling” do inglês, uma vez que a habilidade
avaliada era a capacidade de estabelecer conexões entre fonemas e grafemas na escrita de
palavras e não-palavras.
65
tarefa de detecção de rima foi significativamente mais difícil do que ambas as tarefas
de detecção de fonemas. As autoras concluíram que a sensibilidade à rima não é
necessariamente um precursor da habilidade de prestar atenção nos constituintes
fonêmicos da fala. É o contato com o ensino da leitura, de acordo com as
pesquisadoras, que possibilita o desenvolvimento da consciência fonêmica.
Os resultados de Cardoso-Martins et al. (2002) são corroborados pelos
achados de Gombert (2002). Nesse estudo, embora o desempenho metafonológico
tenha sido mais baixo entre as crianças com síndrome de Down do que entre
controles com desenvolvimento típico e mesmo nível de leitura, consciência
fonológica e leitura foram significativamente correlacionadas em ambos os grupos.
Entretanto, crianças com síndrome de Down permaneceram deficientes em
habilidades de rima. Para explicar os resultados encontrados, o autor utiliza a teoria
proposta em Gombert (1992), em que habilidades metalingüísticas são vistas como
resultado da transição do conhecimento implícito (epilingüístico) para o
conhecimento explícito (metalingüístico). Gombert (2002) sugere que o déficit em
habilidades meta-representacionais presente em crianças com síndrome de Down
prejudica o conhecimento lingüístico implícito, tal como o entendimento de rimas.
Isso compromete, mas não impede o desenvolvimento do conhecimento explícito e o
aprendizado da associação entre fonemas e grafemas. As habilidades de
consciência fonêmicas testadas se desenvolvem, de acordo com o autor, na
interação com o aprendizado da leitura.
O trabalho de Snowling et al. (2002) também investigou a consciência de
rimas na síndrome de Down. Os autores apresentam três estudos. No primeiro, o
objetivo foi verificar a consciência de unidades de diferentes tamanhos. Foram
aplicadas tarefas de consciência no nível silábico (segmentação), intra-silábico
(detecção de Rimas) e fonêmico (detecção de fonema inicial) em indivíduos com
síndrome de Down e com desenvolvimento típico que não diferiam quanto às
habilidades de leitura. As crianças com síndrome de Down apresentaram
desempenho significativamente inferior aos controles em todas as tarefas, sendo a
tarefa de identificação de rimas a mais difícil para as crianças com a síndrome.
Entretanto, quando a idade mental verbal foi controlada, a diferença entre os grupos
deixou de ser significativa nas tarefas de segmentação silábica e detecção de
fonemas. Somente na tarefa de detecção de rimas os grupos permaneceram com
diferença estatisticamente significativa. Esse achado evidencia um prejuízo na
66
detecção de rimas por parte das crianças com síndrome de Down. Os resultados do
segundo estudo, no qual foram utilizadas estratégias para facilitar a detecção de
rimas pelas crianças com síndrome de Down, confirmam a conclusão do primeiro.
Observou-se que, no segundo estudo, as crianças com síndrome de Down
apresentaram a mesma dificuldade para identificar rimas e fonemas em posição final
e um desempenho significativamente superior na tarefa de identificação de fonemas
iniciais, o que indica uma influência da posição do segmento a ser identificado. As
autoras sugerem que o déficit na detecção de rimas indica uma diferença qualitativa
no desenvolvimento da consciência fonológica entre crianças com síndrome de
Down e com desenvolvimento típico. Contudo, como verificado no terceiro estudo, a
consciência fonológica é preditora de habilidades de leitura em ambos os grupos.
Boudreau (2002) avaliou dois grupos de vinte e dois integrantes pareados
pela cognição não-verbal, um constituído de crianças com síndrome de Down e
outro de sujeitos com desenvolvimento típico. Esse estudo examinou as relações
existentes entre as habilidades relacionadas à leitura que se desenvolvem
anteriormente à alfabetização, consciência fonológica e habilidades de leitura
convencionais. Entre os indivíduos com síndrome de Down foi encontrada uma
grande variabilidade no desempenho em medidas de leitura. Nos dois grupos, o
conhecimento do nome das letras e a identificação dessas apresentaram correlação
positiva significativa com a leitura de palavras. Entretanto, como no estudo de
Snowling et al. (2002), o conhecimento dos sons das letras foi correlacionado
positivamente de forma significativa com habilidades de leitura somente entre as
crianças com desenvolvimento típico. Assim como no estudo de Cuples & Iacono
(2000), a tarefa de consciência fonológica que apresentou correlação positiva
significativa com a leitura de palavras foi a de síntese fonêmica.
Cupples & Iacono (2002) realizaram um estudo de intervenção para
investigar se crianças com síndrome de Down apresentam benefícios com uma
instrução analítica de leitura, envolvendo treinamento explícito em consciência
fonológica. Participaram da intervenção, que durou seis semanas, sete crianças com
síndrome de Down falantes do inglês australiano que não apresentavam habilidades
de leitura de não-palavras no início da pesquisa. Três crianças receberam instrução
analítica de leitura e quatro, instrução baseada na palavra inteira, relacionada aos
métodos globais de alfabetização. A leitura das crianças foi testada pré e pós-
intervenção por meio de uma lista de palavras que também foi utilizada durante a
67
intervenção e de outra que não fez parte do treinamento. Crianças de ambos os
grupos mostraram avanços significativos na leitura das palavras treinadas.
Entretanto, somente crianças do grupo que recebeu treinamento analítico
apresentaram um aumento significativo do número de palavras não treinadas lidas
corretamente, demonstrando ter havido generalização do aprendizado. Esses
achados são consistentes com os resultados de estudos, como o de Cuples &
Iacono (2000), que encontraram relações positivas significativas entre a consciência
fonológica e a leitura de palavras não freqüentes ou não-palavras. Em contraste, são
inconsistentes com a afirmação de Cossu et al. (1993) de que a instrução em
consciência fonológica é irrelevante para o desenvolvimento da leitura em crianças
com síndrome de Down. Conners et al. (2006) também contrariam essa afirmação,
mostrando que crianças com deficiência mental se beneficiam do treinamento em
consciência fonológica para o aprendizado da leitura, o que confirma os achados de
Cupples & Iacono (2000, 2002).
Gillon (2000) defende o uso da consciência fonológica em programas de
intervenção para crianças com prejuízos na fala. Kennedy & Flynn (2003a)
examinaram os efeitos do treinamento em consciência fonológica na fala, na
habilidade de estabelecer conexões entre fonemas e grafemas e na capacidade de
generalização para outras habilidades de consciência fonológica em três crianças
com síndrome de Down. As tarefas utilizadas na intervenção envolviam consciência
fonêmica e identificação de rimas. Foram observados aumentos, embora não
significativos, no número de consoantes corretas na fala de dois dos participantes, o
que sugere uma relação entre produção da fala e consciência fonológica. Todos os
participantes mostraram avanços na resolução das tarefas de consciência fonêmica
utilizadas na intervenção, mas nenhum deles apresentou generalização para a tarefa
de segmentação fonêmica. No momento anterior à intervenção, nenhum participante
demonstrou conhecimento de rimas; após o treinamento, somente dois
apresentaram avanços nessa habilidade. As três crianças apresentaram níveis mais
avançados no estabelecimento de conexões entre fonemas e grafemas no final da
intervenção, o que demonstra o benefício do treinamento em consciência fonológica.
Esses resultados são consistentes com os achados de Cupples & Iacono (2002) e
Conners et al. (2006).
Kennedy & Flynn (2003b) examinaram a consciência fonológica (detecção
de rimas e aliterações fonêmicas, isolamento de fonema inicial e síntese fonêmica),
68
a audição, a produção de fala (porcentagem de consoantes corretas), a linguagem
expressiva (comprimento médio de enunciados), a capacidade de estabelecer
conexão entre fonemas e grafemas (soletração de palavras regulares com o uso de
letras) e as habilidades de leitura (conhecimento do nome e som das letras e leitura
de palavras e não-palavras) de nove crianças com síndrome de Down e idades
cronológicas entre cinco e oito anos. É importante ressaltar que, nesse estudo,
houve correlação positiva significativa entre todas as medidas de leitura e tarefas de
consciência fonológica. A tarefa de aliteração foi a que apresentou a maior
correlação com a leitura de palavras reais. A alta incidência de alteração no exame
de timpanometria não apresentou correlação significativa com as medidas de
consciência fonológica. A medida de memória de trabalho audiovisual, que envolvia
figuras de palavras com uma, duas e três sílabas, correlacionou-se positivamente de
forma significativa com a tarefa de aliteração, com as medidas de leitura e com o
tempo de escolaridade. O tempo de escolaridade também apresentou correlação
positiva significativa com a idade cronológica, com medidas de leitura e com a tarefa
de aliteração. Isso justifica a hipótese de que o tempo de escolaridade ou tempo de
letramento escolar, como denominado no presente estudo, pode influenciar o
desempenho de crianças com síndrome de Down em tarefas de consciência
fonológica.
Trinta crianças e adolescentes com síndrome de Down que haviam sido
avaliadas quanto à linguagem compreensiva e expressiva, habilidades de leitura e
memória de trabalho auditiva (LAWS, 1998), foram reavaliadas quatro anos mais
tarde (LAWS & GUNNS, 2002). Na reavaliação também foram investigadas
habilidades de consciência fonológica (identificação de onset e Rima). No primeiro
estudo, as medidas de leitura e memória de trabalho auditiva foram
significativamente correlacionadas. No segundo, entretanto, inesperadamente a
memória de trabalho auditiva não foi preditora das habilidades de leitura das
crianças que se tornaram leitoras na segunda avaliação. O principal preditor das
habilidades de leitura encontrado neste estudo foi a medida de cognição não-verbal.
Os outros preditores foram a nomeação de letras e medidas de linguagem
compreensiva. Na segunda avaliação, foram verificadas fortes correlações positivas
entre a consciência fonológica e medidas de memória de trabalho auditiva, de
linguagem compreensiva e expressiva, de leitura de palavras reais e de
69
compreensão leitora. Entre os leitores, foi verificada uma maior facilidade na
identificação de onsets do que Rimas.
Verucci et al. (2006) utilizaram uma tarefa de detecção de rimas e tarefas de
nível silábico (síntese, segmentação, aliteração e exclusão da primeira sílaba) para
avaliar a consciência fonológica de crianças com síndrome de Down e com
desenvolvimento típico, emparelhadas pela acurácia em leitura de palavras
regulares, irregulares e de pequenas passagens textuais. Os dois grupos
apresentaram diferenças estatisticamente significativas em relação à leitura de não-
palavras, compreensão leitora, detecção de rimas, segmentação e exclusão silábica.
Entre as crianças com desenvolvimento típico, a tarefa de segmentação silábica
apresentou correlação positiva significativa com a leitura de palavras e não-palavras.
Já entre as crianças com síndrome de Down, a tarefa correlacionada positivamente
de maneira significativa com a leitura de palavras foi a de exclusão; a de detecção
de rimas apresentou uma correlação inversa com medidas de leitura. É importante
ressaltar que as dificuldades apresentadas pelas crianças com síndrome de Down
persistiram mesmo quando as diferenças de idade mental foram levadas em
consideração.
Roch & Jarrold (2008), assim como Verucci et al. (2006), consideram que a
dificuldade apresentada por crianças com síndrome de Down na leitura de não-
palavras, quando comparadas a controles com mesmo nível de leitura de palavras
reais, pode ser atribuída ao desempenho inferior em consciência fonológica.
Boudreau (2002) atribui essas dificuldades ao déficit na memória de trabalho
auditiva. Jarrold et al. (2008) encontraram prejuízos na memória de trabalho auditiva
em adolescentes e adultos jovens com síndrome de Down relacionados com o
aprendizado da leitura de palavras novas.
Lara et al. (2007) testaram a consciência fonológica de quarenta crianças
brasileiras com síndrome de Down. O instrumento utilizado foi uma parte do
CONFIAS – Consciência fonológica: instrumento de avaliação seqüencial (MOOJEN
et al., 2003), o mesmo utilizado no presente estudo. As pesquisadoras aplicaram as
tarefas de nível silábico como propostas originalmente em um grupo de vinte
crianças. As mesmas provas adaptadas com figuras de apoio para todas as palavras
do instrumento foram aplicadas no outro grupo. As autoras concluíram que o apoio
visual é importante para diminuir a interferência da memória de trabalho auditiva, o
que mostra a existência de relação entre as variáveis. Na literatura pesquisada, esse
70
foi o único estudo encontrado sobre a consciência fonológica de crianças com
síndrome de Down em que as hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY,
1999) dos participantes foram avaliadas. É possível observar, nessa pesquisa, que
as crianças com níveis de escrita mais avançados apresentaram, em ambos os
grupos, melhor desempenho nas tarefas de consciência fonológica do nível silábico
do CONFIAS.
A partir do exposto, considera-se importante salientar pontos em comum das
diferentes pesquisas apresentadas. Sujeitos com síndrome de Down apresentam,
em algumas tarefas de consciência fonológica, um desempenho inferior a controles
com desenvolvimento típico, apesar de mesmo nível de leitura (COSSU et al. 1993,
CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999, 2001; CARDOSO-MARTINS et al., 2002;
GOMBERT, 2002; SNOWLING et al., 2002). A tarefa de segmentação fonêmica é de
difícil resolução para indivíduos com síndrome de Down, até mesmo entre os leitores
(CUPLES & IACONO, 2000; FLETCHER & BUCKLEY, 2002; KENNEDY & FLYNN,
2003a). Tarefas de detecção e produção de rimas também são difíceis para as
crianças com a síndrome (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES &
IACONO, 2000; FLETCHER & BUCKLEY, 2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002;
GOMBERT, 2002; SNOWLING et al., 2002; BOUDREAU, 2002). Já algumas tarefas
que exigem consciência da sílaba, como segmentação ou síntese silábica, não
trazem maiores dificuldades para crianças com síndrome de Down alfabetizadas ou
em processo de alfabetização (KAY-RAINING BIRD et al., 2000; BOUDREAU, 2002;
VERUCCI et al. 2006; LARA et al., 2007).
Apesar de os estudos apresentados mostrarem diferentes tarefas de
consciência fonológica correlacionadas com medidas de leitura, é possível observar,
a partir dos achados da maioria deles, que habilidades metafonológicas e de leitura
em crianças com síndrome de Down apresentam relações significativas (CARDOSO-
MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES & IACONO, 2000; FLETCHER & BUCKLEY,
2002; SNOWLING et al., 2002; BOUDREAU, 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003b;
VERUCCI et al., 2006). Entretanto, o entendimento da natureza da relação entre a
consciência fonológica e a alfabetização revela divergências entre os estudiosos.
Ao contrário de Cossu et al. (1993), alguns autores consideram que a
consciência fonológica tem um papel preditivo para a alfabetização em crianças com
síndrome de Down (FOWLER et al., 1995; CUPLES & IACONO, 2000; KAY-
RAINING BIRD et al., 2000). Fletcher & Buckley (2002) defendem que somente
71
estudos longitudinais podem esclarecer a natureza dessa relação. Laws & Gunn
(2002) apontam que a consciência fonológica de crianças com síndrome de Down
parece se desenvolver como resultado da alfabetização. Outros pesquisadores
argumentam a favor da relação de reciprocidade, com algumas habilidades de
consciência fonológica dando suporte para o aprendizado da língua escrita e outras,
principalmente as de consciência fonêmica, se desenvolvendo em conjunto com o
processo da alfabetização (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999, 2001; GOMBERT,
2002; LARA et al., 2007).
Ressalta-se, ainda, que os estudos apresentados utilizam tarefas diferentes
para avaliar a consciência fonológica de crianças com síndrome de Down. Além
disso, a maioria deles avalia somente as habilidades de detecção de rimas e/ou
consciência no nível do fonema (COSSU et al., 1993; FOWLER, 1995; BROADLEY
et al., 1995; CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999, 2001; CUPPLES & IACONO,
2000, 2002; GOMBERT, 2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002; FLETCHER &
BUCKLEY, 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003ab; ROCH & JARROLD, 2008). Os
únicos trabalhos encontrados em que são relatadas avaliações no nível da sílaba
foram: Evans (1994), Kay-Raining Bird et al. (2000), Snowling et al. (2002),
Boudreau (2002), Verucci et al. (2006) e Lara (2007). Sendo assim, são necessários
estudos que avaliem a consciência fonológica de crianças com síndrome de Down
de forma mais abrangente. Na presente pesquisa, diferentes habilidades, tanto no
nível da sílaba quanto no nível do fonema, foram avaliadas. A relação entre as
hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999) dos participantes e a
consciência fonológica nos dois níveis também foi investigada.
2 MÉTODO
2.1 TIPO DE PESQUISA
Este estudo é resultado de uma pesquisa de campo observacional do tipo
transversal, que avaliou a consciência fonológica de sujeitos com síndrome de
Down.
2.2 POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM
A população estudada refere-se a crianças portadoras da síndrome de
Down. O processo de amostragem foi realizado por acessibilidade e de acordo com
os critérios abaixo.
Critérios de inclusão:
1. Estar alfabetizado ou em processo de alfabetização;
2. Freqüentar escola regular, em classe especial ou em inclusão no ensino
fundamental;
3. Ser falante monolíngüe do português brasileiro;
4. Estar autorizado pelos pais ou responsáveis a participar da pesquisa por
meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido
(apêndice 1).
Critérios de exclusão:
1. Apresentar perda auditiva neurossensorial ou mista não corrigida
(relatada pelos pais ou responsáveis ou detectada em audiometria tonal
realizada durante o período da coleta de dados);
2. Apresentar alteração visual não corrigida (relatada pelos pais);
3. Possuir comorbidades associadas do tipo:
73
Comprometimentos neurológicos, além dos causados pela própria
síndrome de Down;
Alterações emocionais que podem prejudicar o desempenho da
criança diagnosticadas por psicólogo(a) ou psiquiatra, ou observadas
pelo(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da criança;
Diagnóstico de autismo ou psicose associado à síndrome de Down.
2.3 AMOSTRA
A amostra desta pesquisa foi constituída por onze crianças com síndrome de
Down, seis do sexo masculino e cinco do sexo feminino, com idades cronológicas
entre 7 anos e 14 anos e 2 meses, média de 9 anos e 10 meses e desvio padrão
(DP) de 2 anos e 3 meses. É importante ressaltar que o número reduzido de sujeitos
limita a generalização dos resultados para toda a população de crianças com
síndrome de Down.
Na cidade de Porto Alegre (RS), cinco crianças foram selecionadas e
avaliadas no Centro Lydia Coriat e quatro, na Escola Estadual de Ensino
Fundamental Visconde de Pelotas. Duas crianças foram selecionadas e avaliadas
em suas residências na cidade de Novo Hamburgo (RS). No que se refere ao tipo de
ensino, três crianças estavam freqüentando classe especial em escola regular e oito
sujeitos estavam em processo de inclusão no ensino regular fundamental. Os dados
relatados constituíram a caracterização sociodemográfica da amostra apresentada
na tabela 1. Esses dados foram coletados por meio de um questionário aplicado aos
pais ou responsáveis que será comentado na sessão 2.4.
Todas as crianças da amostra receberam estimulação precoce e, no
momento da coleta de dados, dez dos onze sujeitos estavam em atendimento
terapêutico em instituições particulares. Os indivíduos que participaram da pesquisa
pertencem a famílias de classe média ou média alta e convivem em um ambiente
familiar que estimula o contato com práticas de letramento, seja por meio da leitura
de hitórias infantis, de jornais ou revistas na presença da criança, da utilização de
materiais educativos em momentos de interação, ou por meio do auxílio nas tarefas
da escola.
74
Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica da amostra
Características n=11
Idade cronológica – Média ± DP
9a e 10m ± 2a e 3m
Sexo n (%)
Masculino 6 (54,5)
Feminino 5 (45,5)
Série escolar
Classe Especial 3 (27,3)
Jardim B (currículo de 8 anos) 1 (9,1)
1º ano (currículo de 9 anos) 3 (27,3)
1ª série (currículo de 8 anos) 1 (9,1)
2ª série (currículo de 8 anos) 1 (9,1)
3ª série (currículo de 8 anos) 1 (9,1)
3º ano (currículo de 9 anos) 1 (9,1)
Tipo de ensino
Especial 3 (27,3)
Regular 8 (72,7)
Tipo de escola
Estadual 6 (54,5)
Particular 5 (45,5)
DP: Desvio Padrão; a: anos; m: meses
Fonte: O autor (2008)
No item série escolar da tabela acima, pode-se verificar que algumas
crianças da amostra estavam incluídas no antigo currículo de oito anos do ensino
fundamental, enquanto outras faziam parte do novo currículo de nove anos. Isso
aconteceu porque, a partir do ano de 2006, entrou em vigor, no Brasil, uma nova
legislação referente ao currículo do ensino fundamental, o qual passou a ter nove
anos ao invés de oito. O currículo do Jardim B passou a constituir o primeiro ano do
ensino fundamental. O prazo para as escolas se adequarem à mudança é até o ano
de 2010. Como a coleta de dados desta pesquisa foi realizada no início do ano de
2008, as escolas encontravam-se em um período de transição no que se refere à
mudança curricular.
Em relação ao tipo de síndrome de Down, constatou-se que dez crianças
(90,9%) apresentavam trissomia simples do cromossomo 21 e apenas uma era
portadora do tipo mosaicismo (9,1%). O tipo da síndrome, juntamente com outras
75
características, tais como alterações clínicas que aparecem na literatura como
freqüentemente associadas à síndrome (SCHWARTZMAN, 1999; MUSTACHI,
2000), episódios prévios de otite média e os resultados do exame de timpanometria
e da avaliação da inteligibilidade de fala, formaram a caracterização clínica da
amostra. Essa caracterização pode ser visualizada na tabela 2. Os dados referentes
ao tipo de síndrome de Down, alterações clínicas e episódios prévios de otite média
também foram coletados através do questionário aplicado aos pais ou responsáveis,
que será abordado na subseção 2.4.1 deste capítulo.
Tabela 2 Caracterização clínica da amostra
Características n=11
n (%)
Tipo de SD
Trissomia simples do cromossomo 21 10 (90,9)
Mosaicismo 1 (9,1)
Alterações clínicas relatadas pelos pais*
Endocrinológica (hipotireoidismo) 1 (9,1)
Cardiovascular 2 (18,2)
Oftalmológica (corrigida) 4 (36,4)
Gastrointestinal 1 (9,1)
Imunológica 2 (18,2)
Respiratória 2 (18,2)
Renal 1 (9,1)
Nenhuma 4 (36,4)
Episódios prévios de OM
Sim 4 (36,4)
Não 7 (63,6)
Timpanometria
Alterada 2 (18,2)
Normal 9 (81,8)
Inteligibilidade de fala
Alterada 6 (54,5)
Adequada 5 (45,5)
* questão de múltipla resposta
SD: Síndrome de Down; OM: Otite média
Fonte: O autor (2008)
76
Para a verificação das condições da orelha média das crianças, todos os
participantes foram submetidos ao exame de timpanometria durante o período da
coleta dos dados. A avaliação da inteligibilidade de fala foi realizada com base em
procedimentos que serão explicitados na subseção 2.4.2 do presente capítulo.
Ressalta-se que quatro crianças da amostra (36,4%), como observado na
tabela 2, apresentavam histórico de otite média. Duas dessas crianças (18,2%)
apresentaram alterações de orelha média, medidas pelo exame de timpanometria.
Das seis crianças que apresentaram inteligibilidade de fala alterada (54%), quatro
são as que também apresentaram histórico de otites médias.
O tipo ou a quantidade de características clínicas associadas à síndrome de
Down podem influenciar o desenvolvimento geral e cognitivo das crianças
acometidas pela síndrome (KOZMA, 2007b). A influência da inteligibilidade de fala
no desempenho das crianças com síndrome de Down na avaliação de consciência
fonológica será avaliada no capítulo 3 deste estudo e discutida no capítulo 4.
2.4 AVALIAÇÕES REALIZADAS E INSTRUMENTOS
Todas as crianças foram avaliadas quanto aos níveis de consciência
fonológica, escrita, memória de trabalho auditiva e inteligibilidade de fala. Cabe
ressaltar que as hipóteses de escrita dos participantes e os resultados da avaliação
da memória de trabalho auditiva foram as medidas de cognição utilizadas neste
estudo. Os sujeitos desta pesquisa não foram submetidos a testagens que avaliam o
quociente de inteligência.
Todos os integrantes foram encaminhados para consulta com médico
otorrinolaringologista. O objetivo dessa consulta era a realização do exame de
otoscopia, e para que as crianças recebessem o encaminhamento médico para uma
avaliação audiológica básica completa (audiometria tonal condicionada e
imitanciometria) em clínicas especializadas, indicadas pelo médico ou pela
pesquisadora. Se a criança havia sido submetida à audiometria tonal dentro do
último ano, ela somente recebeu encaminhamento para a realização da
imitanciometria. Os indivíduos que não compareceram à avaliação
otorrinolaringológica e não realizaram avaliação audiológica completa foram
77
submetidos somente às medidas de imitância acústica (imitanciometria) no ambiente
escolar ou clínico.
Além do questionário aplicado aos pais ou responsáveis, também foi
utilizado para a coleta de dados um questionário direcionado ao fonoaudiólogo(a) ou
professor(a) das crianças. A seguir serão comentados todas as avaliações
realizadas e instrumentos utilizados neste estudo.
2.4.1 Questionário preenchido pelos pais ou responsáveis (apêndice 2)
Como já referido, por meio do questionário preenchido pelos pais ou
responsáveis, elaborado pela pesquisadora, foram coletados os dados utilizados
para as caracterizações sociodemográfica e clínica da amostra (tabelas 1 e 2). Para
a caracterização sociodemográfica foram selecionados dados relacionados à idade
cronológica, sexo e história escolar atual dos participantes. Para a caracterização
clínica selecionaram-se informações referentes ao tipo de síndrome de Down e
alterações clínicas associadas.
Desse questionário também foram extraídos os dados referentes ao tempo
de letramento dos participantes em ambiente escolar. Para as crianças que estavam
em processo de inclusão no ensino regular, foi considerado tempo de letramento os
meses de contato com o ensino da língua escrita no ambiente escolar a partir do
ingresso no Jardim B. Para os indivíduos da classe especial que freqüentaram o
Jardim B antes do ingresso na mesma, foi considerado tempo de letramento escolar
os meses de inclusão no nível B, somados aos meses de permanência na classe
especial. Foram considerados somente os meses letivos. O objetivo da classe
especial da Escola Visconde de Pelotas da cidade de Porto Alegre, onde três das
crianças da amostra estavam inseridas, é a alfabetização de indivíduos com
necessidades educacionais especiais. Quando a criança está alfabetizada, ela é
encaminhada para o ensino regular na mesma instituição. No caso de a criança ter
freqüentado somente o ensino especial, os meses letivos de permanência nesse tipo
de ensino foi computado como tempo de letramento escolar. Para a obtenção desse
dado, além das informações relatadas pelos pais ou responsáveis, foi realizado
contato com os professores das crianças.
78
Entende-se como letramento escolar, neste estudo, as diferentes práticas de
uso da língua escrita na escola (SOUZA et al., 2006), tais como: identificar e nomear
letras; escrever o próprio nome; identificar o nome dos colegas; escrever e ler
palavras, frases, ou textos sobre determinado assunto; copiar escritos do quadro;
responder a questões de provas e interpretar textos escritos. Sendo assim, o
letramento escolar é visto como um continuum entre um ponto muito rudimentar de
domínio da escrita até usos bastante desenvolvidos. O ponto mais baixo pode, até
mesmo, não ser acompanhado da capacidade de ler ou escrever (MARCUSCHI,
2005).
2.4.2 Questionário preenchido pelo(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da
criança (apêndice 3)
Esse questionário foi elaborado pela pesquisadora para ser respondido
pelo(a) fonoaudiólogo(a) da criança. Nos casos em que a criança não estava em
atendimento fonoaudiológico, foram consideradas as respostas do seu(sua)
professor(a). A partir desse instrumento, foram levantadas informações referentes à
expressão e compreensão da linguagem oral, ao aprendizado da leitura e da escrita
e dados sobre estimulação em consciência fonológica. Foram abordadas questões
sobre o nível de contextualização da linguagem expressiva e compreensão de
ordens (ZORZI & HAGE, 2004, p. 86); aspectos da sintaxe produtiva (capacidade de
produzir sentenças de três ou mais palavras); inteligibilidade de fala; habilidade para
identificar e nomear letras e capacidade para escrever palavras, frases ou pequenos
textos. Dados relacionados a essas questões aparecem na seção 3.1 e na subseção
3.2.2 do capítulo 3.
Para avaliar a inteligibilidade de fala utilizou-se o julgamento de dois juízes.
Levou-se em consideração as avaliações perceptuais do(a) fonoaudiólogo(a) ou
professor(a) da criança e da pesquisadora. Na questão sobre a inteligibilidade de
fala do questionário em questão, o(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da criança
deveria optar pela alternativa inteligibilidade de fala adequada, se a fala da criança
era facilmente compreendida pela maioria das pessoas com as quais ela
conversava. Caso contrário, ele(a) deveria marcar a opção inteligibilidade de fala
79
alterada. Amostras de fala dos participantes foram obtidas por meio da gravação de
todos os encontros, para tanto utilizou-se um gravador digital. Esse procedimento
facilitou a avaliação perceptual da inteligibilidade de fala por parte da pesquisadora,
que é graduada em Fonoaudiologia. A inteligibilidade foi considerada adequada
quando tanto a pesquisadora quanto o(a) fonoaudiólogo(a) responsável pelo
atendimento clínico da criança ou seu(sua) professor(a) concordaram que sua fala
era compreendida com facilidade. Considerou-se inteligibilidade alterada, quando os
profissionais envolvidos concordaram que a fala da criança era de difícil
compreensão. É necessário ressaltar que a fala dessas crianças tornava-se, muitas
vezes, ininteligível em momentos de fala encadeada. Como as respostas aos
instrumentos utilizados neste estudo não requeriam respostas com fala encadeada,
a comunicação com esses sujeitos não foi prejudicada durante as avaliações.
Os dados resultantes da avaliação da inteligibilidade de fala foram utilizados
para complementar a caracterização clínica da amostra (tabela 2) e para a avaliação
de parte da quinta hipótese desta pesquisa, apresentada na introdução deste
trabalho.
2.4.3 Avaliação da consciência fonológica
Para a avaliação da consciência fonológica utilizou-se o CONFIAS –
Consciência fonológica: instrumento de avaliação seqüencial (MOOJEN et al., 2003).
Esse instrumento foi desenvolvido por um grupo constituído de psicopedagogas,
fonoaudiólogas, lingüistas e uma psicóloga. O objetivo das autoras era desenvolver
um material para avaliar a consciência fonológica de forma abrangente e seqüencial,
levando-se em consideração as características do português brasileiro e palavras
adequadas ao vocabulário infantil. As autoras procuraram, também, estabelecer uma
relação entre a consciência fonológica e as habilidades de escrita, já que a maioria
das pesquisas em consciência fonológica busca a relação com habilidades de leitura
(MOOJEN et al., 2003).
A validação do instrumento ocorreu em duas etapas. A primeira foi realizada
com 101 crianças que freqüentavam Jardim B ou primeira série em uma escola
particular de nível socioeconômico médio e médio alto. Verificou-se que a variável
80
hipótese de escrita em que as crianças se encontravam era mais significativa que a
variável série. A segunda validação, que originou a versão final, aconteceu em cinco
escolas de nível socioeconômico médio e médio alto, em que 25 crianças em cada
hipótese de escrita foram testadas, totalizando 100 crianças.
A utilização desse instrumento possibilita, então, a investigação das
habilidades metafonológicas, considerando a relação com as hipóteses de escrita
(FERREIRO & TEBEROSKY, 1999). A possibilidade de investigar a consciência
fonológica em relação aos níveis de escrita das crianças foi um dos fatores
determinantes para a escolha desse instrumento para esta pesquisa. O fato de a
amostra para a validação do CONFIAS ter sido formada por crianças de nível
socioeconômico médio e médio alto, que estavam em processo de alfabetização ou
recentemente alfabetizadas, também foi considerado na seleção do teste. Isso
possibilita a comparação dos resultados esperados pelo CONFIAS para crianças
com desenvolvimento típico ao desempenho das crianças com síndrome de Down
deste estudo, considerando a hipótese de escrita como critério de emparelhamento.
A avaliação da consciência fonológica por meio do CONFIAS é indicada
para indivíduos não alfabetizados a partir dos 4 anos, para crianças em processo de
alfabetização e para sujeitos com dificuldades ou transtornos de aprendizagem
(MOOJEN et al., 2003). Em algumas tarefas do instrumento utilizam-se figuras; em
outras, fichas para apoio visual que representam o número de sílabas ou de
fonemas das palavras envolvidas, diminuindo, assim, a interferência da memória de
trabalho auditiva durante a avaliação. Esses também foram fatores que contribuíram
para a seleção do instrumento com o objetivo de avaliar a consciência fonológica de
crianças com síndrome de Down.
As tarefas de consciência fonológica do CONFIAS estão divididas em nível
da sílaba e nível do fonema e se apresentam em uma gradação de dificuldade
crescente, considerando crianças com desenvolvimento típico. É sugerido pelas
autoras que o teste seja aplicado em duas etapas: primeiro aplica-se a parte
referente à sílaba, que contém nove tarefas e, em outro momento, procede-se à
aplicação relativa à consciência do nível fonêmico, constituída por sete tarefas. Em
todas as tarefas são propostos dois itens de treinamento (exemplos). Nesses itens,
permite-se fornecer à criança, caso seja necessário, a resposta correta e
explicações adicionais. Os itens de treinamento nunca contam como pontuação.
81
Cada tarefa do nível da sílaba (NS) é composta por quatro itens de
avaliação, com exceção da tarefa de exclusão, que é formada por oito itens. A
seqüência das tarefas do NS e uma descrição sucinta das mesmas serão
apresentadas a seguir.
S1 - Síntese: o aplicador pronuncia a palavra-alvo com um breve intervalo
entre cada sílaba. A criança deve realizar a síntese silábica, dizendo qual palavra foi
dita. Os itens de avaliação dessa tarefa são compostos por uma palavra dissilábica,
duas trissilábicas e uma polissilábica (4 sílabas).
S2 - Segmentação: o aplicador solicita que a criança separe a palavra-alvo
em pedaços (sílabas). Os itens de avaliação dessa tarefa são constituídos de uma
palavra dissilábica, duas trissilábicas e uma polissilábica (4 sílabas).
S3 - Identificação de sílaba inicial: o aplicador mostra à criança o desenho
da palavra-alvo e pergunta: “Que desenho é este?” A palavra-alvo é dita tanto pela
criança quanto pelo aplicador. Em seguida, são apresentadas três palavras
(alternativas) verbalmente à criança e ela deve identificar qual das três inicia com a
mesma sílaba da palavra-alvo. Exemplo – palavra-alvo: faca, alternativas: fada -
vaso - lata. Essa tarefa contém palavras dissilábicas no primeiro item de avaliação e
palavras trissilábicas nos outros três itens de avaliação.
S4 - Identificação de rima: o aplicador mostra à criança o desenho da
palavra-alvo e solicita que ela a nomeie, em seguida o aplicador também diz a
palavra-alvo. É requerido, então, que a criança escolha, dentre três alternativas
apresentadas verbalmente, qual palavra termina como (ou rima com) a palavra-alvo.
Exemplo – palavra-alvo: flor, alternativas: pão, dor, trem. O primeiro item de
avaliação dessa tarefa é formado por monossílabos, os outros três, por palavras
trissilábicas.
S5 - Produção de palavra com a sílaba dada: o aplicador solicita que a
criança produza palavras que iniciam com as sílabas-alvo.
S6 - Identificação de sílaba medial: o aplicador mostra para o participante o
desenho da palavra-alvo e solicita que ele a nomeie. Em seguida, o aplicador
também nomeia a palavra e pergunta: “Qual é o pedaço (ou sílaba) do meio dessa
palavra?” Logo após, três alternativas são apresentadas verbalmente à criança e ela
deve identificar qual palavra tem o pedaço do meio igual ao da palavra-alvo.
Exemplo - palavra-alvo: tomate, alternativas: fumaça, lanterna, espeto. Os itens de
82
avaliação são constituídos somente de palavras trissilábicas. É permitido, nessa
tarefa, o uso de fichas que representam o número de sílabas para apoio visual.
S7 - Produção de rima: o aplicador mostra o desenho da palavra-alvo, a
criança deve nomear e produzir outra palavra que termina igual à palavra-alvo, a
qual também é nomeada pelo aplicador. Nessa tarefa existem somente palavras
dissilábicas nos itens de avaliação.
S8 - Exclusão: o aplicador solicita que a criança tire um pedaço da palavra-
alvo e identifique qual palavra nova se forma. Exemplo: “Se eu tirar o ci de cipó
fica?” (). Essa tarefa permite o uso de fichas que representam as sílabas da
palavra-alvo.
S9 - Transposição: o aplicador deve fornecer a seguinte ordem: “Eu vou
dizer uma palavra que não existe. Essa palavra tem dois pedaços (ou sílabas) e
você vai trocar os pedaços de lugar: diga primeiro o pedaço do fim e depois o
pedaço do começo. Você vai descobrir uma palavra que existe. A palavra que não
existe é: darró (a palavra é pronunciada ao mesmo tempo em que o aplicador
aponta para as fichas que representam as sílabas). Se você falar primeiro este
pedaço (aponta para o pedaço do fim) e depois este (aponta para o do começo), que
palavra forma-se?” (roda). Os pedaços podem ser movidos. Essa tarefa envolve
somente palavras dissilábicas.
Cada tarefa do nível do fonema (NF) é constituída de quatro itens de
avaliação, com exceção da tarefa de exclusão, que é composta por seis itens. A
ordenação das tarefas do NF, além de uma descrição concisa das mesmas, será
apresentada abaixo.
F1 - Produção de palavra que inicia com o som dado: a criança deve
produzir palavras que iniciam com os sons-alvo.
F2 - Identificação de fonema inicial: o aplicador mostra o desenho da
palavra-alvo para a criança nomear. Logo após, também nomeia a palavra e solicita
que a criança escolha, entre três palavras apresentadas verbalmente, qual delas
começa com o mesmo som da palavra-alvo. Exemplo – palavra-alvo: urso,
alternativas: ovo, bolo, unha. Essa tarefa contém três itens de avaliação com
palavras dissilábicas e um com palavras trissilábicas.
F3 - Identificação de fonema final: o desenho da palavra-alvo é mostrado à
criança para que ela o nomeie. Após a nomeação pelo aplicador, a criança deve
83
selecionar, entre três alternativas de respostas fornecidas verbalmente, qual delas
termina com o mesmo som da palavra-alvo. Exemplo - palavra-alvo: lápis,
alternativas: pedra, garfo, férias. Essa tarefa é formada por dois itens de avaliação
constituídos de palavras dissilábicas e dois de palavras trissilábicas.
F4 - Exclusão: o aplicador solicita que a criança tire um som (fonema) da
palavra-alvo e identifique que palavra se forma. Exemplo: “Se eu tirar o [ ɾ ] de mar
fica?” ().
F5 - Síntese: Os sons (fonemas) das palavras-alvo são pronunciados pelo
aplicador com um breve intervalo entre eles. A criança deve realizar a síntese
fonêmica dos sons e dizer que palavra eles formam. Os itens de avaliação dessa
tarefa são constituídos de uma palavra monossilábica com dois fonemas (já), duas
palavras dissilábicas com três fonemas (uva, asa) e uma dissilábica com quatro
fonemas (mala). Nessa tarefa é permitido o uso de fichas representando o número
de fonemas. Ressalta-se que são os sons dos fonemas que são apresentados à
criança e não o nome das letras.
F6 - Segmentação: o aplicador deve solicitar que a criança segmente a
palavra-alvo em sons. Exemplo: vó - [ v ] [ ɔ ]. Nos casos em que a criança segmenta
dizendo o nome das letras, a resposta não é considerada correta. A tarefa é
composta por uma palavra monossilábica com dois fonemas (chá), uma dissilábica
com três fonemas (osso) e duas dissilábicas com quatro fonemas (lixo, mola). Nessa
tarefa também são utilizadas as fichas de apoio visual.
F7 - Transposição: a complexidade dessa tarefa pode gerar dificuldades
tanto na aplicação quanto no entendimento por parte da criança. São usadas fichas
durante toda a avaliação. Primeiramente, o aplicador deve dizer a palavra-alvo
(palavra inventada) deslizando o dedo sobre as fichas que representam os fonemas
da palavra. Logo após, pronuncia os sons isoladamente, apontando uma ficha por
vez. Em seguida, é solicitado que a criança diga os sons de trás para diante,
juntando-os para formar uma palavra que existe. Exemplo: alé (ela).
84
2.4.3.1 Critérios de pontuação
Para a aplicação do CONFIAS em crianças com síndrome de Down, foram
realizadas modificações nos critérios de pontuação do instrumento (MOOJEN et al.,
2003, p. 31-2). Essas alterações foram realizadas pela autora deste trabalho.
Observou-se, durante a coleta piloto desta pesquisa, que a primeira resposta
das crianças com síndrome de Down era, na maioria das vezes, inadequada devido
à desatenção, à incompreensão da ordem da tarefa ou pela interferência da
memória de trabalho auditiva. Verucci et al. (2006) relatam que a compreensão
incompleta da tarefa pode levar as crianças com síndrome de Down a responderem
aleatoriamente. Quando se repetia a ordem e eram fornecidas explicações
adicionais à criança, as respostas mostraram-se mais consistentes e confiáveis. Foi
permitida, então, uma segunda oportunidade de resposta aos sujeitos deste estudo.
Também foi observado que a repetição das alternativas, nas tarefas de identificação
de segmentos sonoros, serviu de auxílio à criança na memorização das palavras
envolvidas. Para fins de pontuação, nos casos em que a criança necessitou uma
segunda oportunidade de resposta, essa foi a resposta considerada. Quando o
participante necessitou de mais de duas oportunidades, a resposta foi
desconsiderada. Em alguns casos, quando a criança não obteve pontuação em duas
tarefas inteiras, tanto no NS quanto no NF, demonstrando dificuldade na
compreensão das ordens ou incapacidade para responder, a avaliação foi
interrompida.
No quadro 1, a seguir, estão descritos os critérios de pontuação utilizados
nesta pesquisa. Na versão proposta para o presente estudo alguns critérios originais
mantiveram-se inalterados e outros receberam informações adicionais, além disso,
novos critérios foram incluídos. Somente um dos critérios de pontuação originais foi
substiuído por outro: o critério “solicita mais de uma repetição” da versão original foi
substituído por “necessita mais de duas oportunidades de resposta”. Todas as
modificações e acréscimos realizados aparecem sublinhados no quadro 1.
85
Pontos
Tarefas
0 1
Síntese e segmentação
(S1, S2, F5, F6)
Não responde ou diz que
não sabe.
Necessita mais de duas
oportunidades de
resposta.
Sintetiza ou segmenta
parcialmente ou
inadequadamente.
Ex.: (S1) má – gico
Responde de forma
ininteligível ou fala
palavras diferentes das
palavras-alvo.
Diz o nome da letra e não
o som (F6).
Item não realizado.
Sintetiza e segmenta
corretamente na primeira ou
na segunda oportunidade de
resposta.
Sintetiza e segmenta
corretamente, apesar da
interferência de alterações
fonéticas e/ou fonológicas na
fala.
Ex.: escova - [se-‘ko-va]
(fonológica)
cachorro - [ka’soxu]
(fonética por
protusão da língua).
Identificação
(S3, S4, S6, F2, F3)
Não responde ou diz que
não sabe.
Necessita mais de duas
oportunidades de
resposta.
Escolhe a palavra
incorreta.
Responde de maneira
ininteligível ou fala uma
palavra que não pertence
às alternativas.
Escore 0 para a tarefa:
responde a última
alternativa nas duas
oportunidades de
respostas em todos os
itens da tarefa.
Item não realizado.
Identifica a palavra correta
na primeira ou na segunda
oportunidade de resposta.
Produção (S5, S7, F1)
Não produz ou diz que
não sabe.
Necessita mais de duas
oportunidades de
resposta.
S5: produz palavra que
não inicia com a sílaba
dada, palavra ininteligível
ou inexistente.
S7: produz uma palavra
que não rima com a
palavra-alvo.
S7: produz a rima
alterando a consoante.
Ex.: bola – hora
F1: produz uma palavra
que não inicia com o som
do fonema dado.
S5: produz uma palavra que
inicia com a mesma sílaba
na primeira ou na segunda
oportunidade de resposta.
S5: produz uma palavra com
a sílaba dada acrescida de
um elemento (coda)
.
Ex.: ca - casca.
S7: produz uma palavra que
rima com a palavra-alvo na
primeira ou na segunda
oportunidade de resposta.
S7: produz uma palavra
inventada que rima com a
palavra-alvo.
Ex.: bola - totóla
F1: produz uma palavra que
inicia com o fonema dado na
primeira ou na segunda
oportunidade de resposta.
86
Produção (S5, S7, F1)
F1: produz uma palavra
com interferência de
alterações fonéticas e/ou
fonológicas.
Ex.: diga uma palavra que
inicie com [ s ]: [‘sika
ɾa]
[‘seb
ɾa].
Item não realizado.
F1: produz uma palavra que
inicia com o fonema dado,
apesar de pronunciar com
outro som devido às
alterações fonéticas e/ou
fonológicas.
Ex: [ ] - [‘sika
ɾa]
Exclusão (S8, F4)
Não responde ou diz que
não sabe.
Necessita mais de duas
oportunidades de
resposta.
Produz palavra
ininteligível, inexistente ou
inadequada.
Não exclui ou exclui
parcialmente.
Exclui elementos a mais
do que o solicitado.
Item não realizado.
Exclui os elementos
solicitados de forma na
primeira ou na segunda
oportunidade de resposta.
Exclui os elementos
solicitados, embora não
identifique a palavra
resultante alterando a
tonicidade.
Ex.: boneca - bone
Exclui os elementos
solicitados corretamente e
produz a palavra resultante
segmentada.
Ex.: gaveta - ga-ta.
Transposição (S10, F7)
Não responde ou diz que
não sabe.
Necessita mais de duas
oportunidades de
resposta.
Não realiza transposição.
Produz palavra
ininteligível, inexistente ou
inadequada.
Realiza transposição de
forma incorreta.
Realiza transposição, mas
altera um elemento.
Ex.: valu – liva
ôla – ali
Item não realizado.
Realiza transposição
corretamente na primeira ou
na segunda oportunidade de
resposta.
Realiza transposição
corretamente e produz a
palavra resultante
segmentada.
Ex.: tapór – por-ta
Quadro 1 – Critérios de pontuação do CONFIAS modificado pela autora para a aplicação em crianças
com síndrome de Down.
Fonte: O autor (2008) com base nos critérios estabelecidos por Moojen et al. (2003, p. 31-2)
Nas tarefas de identificação (S3, S4, S6, F2, F3), se a criança respondeu a
última alternativa, quando essa era a resposta correta, e o item não foi repetido, o
escore foi considerado zero, caso, em todos os outros itens, ela tenha respondido,
nas duas oportunidades de resposta, também a última alternativa. Esse
procedimento foi adotado em função do fato de que algumas crianças, em
momentos de dificuldade, freqüentemente escolhiam a útima alternativa como
resposta.
87
A marcação da pontuação foi realizada no protocolo de respostas fornecido
pelo instrumento. No nível da sílaba, o máximo de pontuação é 40, no nível do
fonema 30, totalizando 70 pontos, o que corresponde a 100% de acertos. Durante a
aplicação do instrumento, quando a criança errou nos itens de avaliação, não foram
fornecidas as respostas corretas. Cabe salientar que o instrumento não é apropriado
somente para análise quantitativa, ele também fornece dados para análises
qualitativas.
2.4.3.2 Resultados esperados de acordo com o CONFIAS para crianças com
desenvolvimento típico
Na tabela 3 são apresentados os escores médios obtidos por crianças com
desenvolvimento típico (DT), dentro de cada hipótese de escrita (FERREIRO &
TEBEROSKY, 1999), durante a validação do instrumento. Esses foram os valores
utilizados para a comparação entre os escores obtidos pelas crianças com síndrome
de Down deste estudo e os esperados para crianças com DT, pareadas pela
hipótese de escrita.
Tabela 3 – Escores obtidos por crianças com DT na validação do CONFIAS
Níveis do teste
Hipóteses de escrita
Sílaba
Fonema
Total
Média DP Média DP
Média DP
Pré – silábica
23,52 5,51
8,28 2,21 31,8 6,52
Silábica
27,56 4,55
9,28 3,21 36,84 6,48
Silábico-alfabética
31,8 4,58
15,2 3,25 47 5,66
Alfabética
35,8 4,41
20,6 5,32 56,4 8,96
DP: Desvio Padrão
Fonte: Moojen et al. (2003, p. 35)
88
A tabela 4 fornece os escores mínimo e máximo alcançados por crianças com
DT nas diferentes hipóteses de escrita e nos dois níveis do CONFIAS. Essa tabela
foi utilizada para análises individuais comentadas no capítulo 3 referente à
apresentação dos resultados.
Tabela 4 – Escores mínimo e máximo obtidos por crianças com DT em cada nível do
CONFIAS
Níveis do teste
Hipóteses de escrita
Mínimo
Sílaba Fonema
Máximo
Sílaba Fonema
Pré – silábica
18 6
29 10
Silábica
23 6
32 12
Silábico-alfabética
27 12
36 18
Alfabética
31 15
40 26
Fonte: Moojen et al. (2003, p. 35)
2.4.4 Avaliação da escrita
A coleta de dados de escrita dos participantes foi realizada por meio da
utilização do livro de história infantil: A Casa Mal-Assombrada (PIENKOWSKI, 2005).
Enquanto a criança olhava as gravuras do livro, foi solicitado que ela escrevesse,
além do próprio nome, três palavras (gato, castelo e esqueleto) e uma frase (O
fantasma abriu a porta). Procurou-se selecionar, dentre as gravuras que
despertavam o interesse das crianças, uma palavra dissilábica, uma trissilábica e
uma polissilábica. A palavra trissilábica (castelo), a polissilábica (esqueleto) e a frase
(O fantasma abriu a porta) foram as mesmas utilizadas no levantamento de dados
de escrita das crianças que foram avaliadas na validação do CONFIAS (MOOJEN et
al., 2003, p. 33). Um procedimento semelhante também foi utilizado por Freitas
(2004) para avaliar a escrita de crianças com desenvolvimento típico. No presente
estudo, em dois casos, foi solicitado às crianças que escrevessem outras palavras
além das propostas. Isso ocorreu para a confirmação de suas hipóteses de escrita.
Dentre as palavras envolvidas na avaliação, a palavra esqueleto provavelmente
89
nunca havia sido escrita pelas crianças. Esse fato foi observado durante a avaliação,
as crianças mostraram estranheza quando a escrita dessa palavra era solicitada.
Sendo assim, ela não poderia estar sendo escrita através da memorização de sua
forma visual.
Os dados de escrita dos sujeitos com síndrome de Down desta pesquisa
foram analisados de acordo com a concepção do processo de apropriação da língua
escrita de Ferreiro & Teberosky (1979), consultada em Ferreiro & Teberosky (1999).
Essa concepção permite a classificação das crianças em níveis gerais durante o
processo do aprendizado da escrita denominados pelas autoras de hipótese de
escrita pré-silábica, hipótese silábica, hipótese silábico-alfabética e hipótese
alfabética. A caracterização da amostra de acordo com as hipóteses de escrita
encontra-se no capítulo 3.
Deve-se ressaltar que, após a produção escrita de cada palavra e da frase,
era solicitada a leitura por parte das crianças. Algumas delas corrigiam o que havia
sido escrito após a leitura. A capacidade dos sujeitos com síndrome de Down de ler
ou escrever pseudopalavras, a qual envolve exclusivamente o conhecimento da
relação entre fonemas e grafemas, não foi investigada nesta pesquisa, como em
muitos estudos que procuram esclarecer a relação entre as habilidades de leitura e a
consciência fonológica desses indivíduos (COSSU et al., 1993; EVANS, 1994;
CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES & IACONO, 2000; KAY-RAINING-
BIRD et al., 2000; CARDOSO-MARTINS & FRITH, 2001; FLETCHER & BUCLEY,
2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002; GOMBERT, 2002; BOUDREAU, 2002;
SNOWLING et al., 2002; CUPLES & IACONO, 2002; VERUCCI et al., 2006; ROCH
& JARROLD, 2008). No presente estudo, uma criança foi considerada como tendo
habilidades alfabéticas, quando apresentou hipótese de escrita em um nível
alfabético de acordo com a proposta de Ferreiro & Teberosky (1999).
2.4.5 Avaliação da memória de trabalho auditiva
O instrumento utilizado para a avaliação da memória de trabalho auditiva
(MTA) dos participantes deste estudo foi elaborado pela pesquisadora (apêndice 4).
Os procedimentos utilizados por Broadley & MacDonald (1993) e Broadley et al.
90
(1995) para avaliar o span de palavras de crianças com síndrome de Down serviram
como base para a elaboração desse instrumento. As palavras foram apresentadas
verbalmente. Optou-se pela repetição de seqüências de palavras dissilábicas e
trissilábicas, ao invés da repetição de seqüências de dígitos (digit span) ou de
pseudopalavras comumente utilizadas (LAWS, 1998; KAY-RAINING-BIRD et al.,
2000; CUPLES & IACONO, 2000; FLETCHER & BUCKLEY, 2002), porque um dos
objetivos dessa avaliação era verificar quantas palavras dissilábicas ou trissilábicas
cada criança era capaz de repetir. Conhecer o número máximo de palavras com
duas ou três sílabas que os sujeitos, participantes deste estudo, conseguem
armazenar é importante para avaliar a interferência da MTA no desempenho em
consciência fonológica medido pelo CONFIAS. Esse instrumento requer, nas tarefas
de identificação, a memorização de seqüências de três palavras, a maioria delas
dissilábicas ou trissilábicas.
O instrumento utilizado neste estudo para avaliar a MTA é composto por
quatorze seqüências de palavras que não possuem relação semântica. As duas
primeiras seqüências são formadas por duas palavras dissilábicas; a terceira e a
quarta, por duas palavras trissilábicas. A quinta e a sexta seqüências são
constituídas de três palavras dissilábicas; a sétima, a oitava e a nona seqüências
agrupam três palavras trissilábicas cada. As seqüências de número dez e onze são
formadas por quatro palavras dissilábicas; as três últimas seqüências, por cinco
palavras dissilábicas cada. O instrumento contém um total de 46 palavras.
A avaliação foi realizada da seguinte forma: primeiramente, eram colocados
na frente da criança cartões contendo as gravuras das palavras que formavam a
seqüência, viradas para baixo. Dentre esses cartões havia um ou dois que não
continham gravuras relacionadas às palavras da seqüência. Logo após a
organização dos cartões, a seqüência era apresentada verbalmente, e solicitado à
criança repetir as palavras que lembrava. O avaliador requeria, então, que o
participante virasse o número de cartões correspondente ao número de palavras
repetidas. As figuras que correspondiam às palavras memorizadas ficavam de posse
da criança.
Foi considerado escore total o número de palavras repetidas corretamente
durante a avaliação. O número de seqüências repetidas corretamente também
constituiu uma medida de MTA. O número máximo de palavras dissilábicas e
trissilábicas repetidas corretamente em uma seqüência também foi observado.
91
2.4.6 Avaliações otorrinolaringológica e auditiva
Os dados do questionário respondido pelos pais das crianças revelaram que
somente uma das crianças da amostra havia realizado avaliação auditiva no último
ano. O resultado da audiometria tonal dessa criança revelou valores dentro dos
padrões da normalidade para crianças, ou seja, limiares tonais acima de 15 dB
(NORTHERN & DOWNS, 1984). Essa foi uma das crianças que, durante a coleta
dos dados, somente realizou a imitanciometria.
Seis crianças compareceram à avaliação otorrinolaringológica e receberam
encaminhamento médico para a avaliação audiológica básica completa (audiometria
tonal condicionada e imitanciomentria). Dentre essas seis crianças, quatro
realizaram a avaliação audiológica completa e apresentaram limiares auditivos
tonais dentro dos padrões da normalidade e timpanometria sem alterações.
Para a avaliação auditiva dos sete sujeitos que não realizaram avaliação
audiológica completa, optou-se pela realização da imitanciometria
8
no ambiente
escolar ou clínico da criança, por meio da utilização do imitanciômetro automático
AT235 da marca Interacoustics. Ressalta-se que as duas crianças que foram
avaliadas em suas residências encontram-se entre aquelas que realizaram avaliação
audiológica completa em clínicas sugeridas pelo médico ou pela pesquisadora.
Como indivíduos com síndrome de Down freqüentemente apresentam
condições patológicas de orelha média (MELLO et al., 2005) e a imitanciometria é o
exame objetivo capaz de detectar essas alterações, esse foi o procedimento
escolhido para investigar aspectos relacionados à audição das crianças que não
realizaram a avaliação completa. Além disso, diversos estudos demonstraram a
superioridade das medidas de imitância acústica em relação à audiometria tonal na
detecção de alterações da tuba auditiva e da cavidade timpânica (RUSSO, 1985;
IORIO, 1985; PEREIRA, 1985; RIBEIRO, 1987). Os problemas de orelha média são
responsáveis por um grande número de perdas auditivas do tipo condutiva em
crianças pré-escolares e em seu primeiro ano escolar; entretanto, em fase inicial, os
limiares auditivos tonais podem ainda não estar prejudicados mesmo na presença
dessas alterações (RUSSO & SANTOS, 1994).
8
Esse exame foi realizado por uma fonoaudióloga com especialização em Audiologia Clínica
convidada pela pesquisadora.
92
Dentre as medidas de imitância acústica – timpanometria, complacência ou
admitância estática e pesquisa dos reflexos estapedianos – foram considerados,
para esta pesquisa, somente os resultados da timpanometria devido a sua maior
aplicabilidade prática. Esse exame é uma medida dinâmica que revela o grau de
mobilidade ou a complacência do sistema tímpano-ossicular em resposta a graduais
variações de pressão no meato auditivo externo (RUSSO & SANTOS, 1994).
A pesquisa dos reflexos estapedianos, utilizada no diagnóstico diferencial
das perdas auditivas (FRAZZA et al., 2000), não foi considerada devido a fatores
comportamentais como a não cooperação por parte dos sujeitos da pesquisa
durante a avaliação. A realização desse exame causou desconforto nas crianças,
fazendo com que elas se movimentassem, o que pode gerar resultados
inconsistentes. Além disso, crianças com síndrome de Down, freqüentemente,
apresentam ausência de reflexos estapedianos mesmo na presença de
timpanometria sem alterações. Isso ocorre devido à fraqueza dos músculos da tuba
auditiva e à presença de anormalidades da cadeia ossicular da orelha média
(MAURIZI et al., 1985).
Considera-se timpanometria sem alterações, sugerindo funcionamento
normal da orelha média, a curva timpanométrica do tipo A (JERGER, 1970). Em
crianças, a curva timpanométrica tipo As, que sugere aumento de rigidez no sistema
tímpano-ossicular (CARVALHO, 2004), pode ser considerada normal devido a
fatores anatômicos da orelha média na infância. Em sujeitos com síndrome de Down
o fator anatômico que pode ocasionar esse achado é a estenose do meato auditivo
externo (SCHWARTZ & SCHWARTZ, 1978).
Dentre os sete sujeitos que realizaram somente a imitanciometria, dois
apresentaram timpanometria com alteração, curvas timpanométricas tipo B, as quais
são indicativas de presença de líquido na orelha média que pode ocorrer por
conseqüência de uma otite média serosa. Esse tipo de otite é normalmente
ocasionado pelo mau funcionamento da tuba auditiva, responsável por equilibrar a
pressão da orelha média (FRAZZA et al., 2000; LOPES-FILHO, 1994). Esse quadro
pode ser assintomático, ou seja, a criança não apresenta dor ou febre
(SCHWARTZMAN, 1999). De um modo geral, mais de 50% dos casos de otite média
serosa resolvem-se espontaneamente dentro de um período de oito semanas;
porém, em 5% dos casos, instala-se uma perda auditiva que pode persistir por mais
tempo. Na síndrome de Down, quando existe perda auditiva, os graus do déficit são
93
variáveis, podendo ocorrer perdas do tipo condutiva, que é a mais freqüente,
neurossensorial ou mista (DE MELKER, 1993; ROIZEN et al., 1993).
Era esperado pela pesquisadora encontrar, no presente estudo, algumas
crianças com timpanometria alterada. A decisão de excluir ou não essas crianças foi
baseada no desempenho durante a avaliação da consciência fonológica em relação
aos seus pares. As duas crianças que apresentaram alteração no exame de
timpanometria não foram excluídas da amostra desta pesquisa devido ao fato de
elas terem apresentado bom desempenho na avaliação da consciência fonológica
em relação às outras crianças com mesma hipótese de escrita. Uma delas, com
hipótese de escrita pré-silábica, atingiu um escore total superior à média do escore
total de seu grupo, com somente dois pontos a menos do que o sujeito que mais
pontuou no grupo pré-silábico. A outra criança também apresentou escore total
superior à média do escore total do grupo do qual fazia parte, o grupo das crianças
com hipótese de escrita alfabética. Essa foi a criança que mais pontuou nesse
grupo, alcançando, inclusive, escores dentro do esperado para crianças com
desenvolvimento típico, tanto no nível da sílaba quanto no nível do fonema.
É possível que as alterações encontradas nessas crianças não estavam,
ainda, prejudicando seus limiares auditivos tonais. O déficit auditivo condutivo, se
presente, pode não ter influenciado o desempenho delas na resolução das tarefas
de consciência fonológica. Kennedy & Flynn (2003a) não encontraram correlações
significativas entre medidas de consciência fonológica e o limiar auditivo de crianças
com síndrome de Down e timpanometria alterada.
Apesar dos achados encontrados neste estudo no que se refere aos
resultados da timpanometria e o desempenho na avaliação da consciência
fonológica, considera-se relevante a investigação de alterações auditivas em
pesquisas que analisam a consciência fonológica de crianças com síndrome de
Down. A audição dentro dos padrões de normalidade desempenha um papel
importante para que as crianças possam prestar atenção de maneira adequada aos
constituintes fonológicos da fala. Da mesma maneira, a audição é fundamental na
diferenciação e produção correta de fonemas com similaridades fonéticas e
acústicas.
94
2.5 COLETA E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS
A coleta de dados deste estudo foi iniciada após a aprovação do projeto de
pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul - PUCRS. Esta pesquisa foi aprovada sob o protocolo nº
08/04114.
Os dados foram coletados durante os meses de março, abril e maio do ano
de 2008. Primeiramente, foi realizada uma coleta-piloto com duas crianças
portadoras da síndrome de Down, utilizando-se todos os instrumentos citados na
seção 2.4 deste capítulo. A primeira criança avaliada na coleta-piloto, selecionada
no Centro Lydia Coriat em Porto Alegre (RS), apresentava hipótese de escrita
alfabética. A outra criança, com hipótese de escrita pré-silábica, foi selecionada na
cidade de Novo Hamburgo e avaliada em sua residência.
Os instrumentos da pesquisa foram, então, ajustados conforme as
necessidades constatadas na coleta-piloto. O principal ajuste refere-se à adaptação
realizada nos critérios de pontuação do CONFIAS, já mencionada na subseção
2.4.3.1.
Após a coleta-piloto, iniciou-se o processo de avaliação com as onze crianças
que constituíram a amostra desta pesquisa. Todas as crianças foram avaliadas
exclusivamente pela pesquisadora. Em Porto Alegre, tanto no Centro Lydia Coriat
quanto na Escola Estadual de Ensino Fundamental Visconde de Pelotas, as
avaliações foram realizadas individualmente em salas com pouco ruído ambiental.
As avaliações iniciaram após a autorização dos responsáveis pelas instituições e
dos pais dos sujeitos envolvidos. Na cidade de Novo Hamburgo, as crianças foram
avaliadas individualmente em suas residências, após a autorização dos pais.
No primeiro encontro com cada criança, foram coletados os dados de
escrita, e, antes do início da avaliação da consciência fonológica, foi solicitado à
criança nomear as figuras do CONFIAS. Essa atividade não é prevista pelas etapas
de aplicação do instrumento, mas foi considerada importante para que os
participantes pudessem se familiarizar com as palavras que seriam utilizadas
durante a avaliação. Em seguida, iniciava-se a avaliação da consciência fonológica
de acordo com as etapas previstas pelo CONFIAS. No segundo encontro, a etapa da
sílaba era finalizada, dando-se início à avaliação da consciência no nível do fonema.
95
No terceiro encontro, finalizava-se a avaliação da consciência fonêmica. Com
algumas crianças, a avaliação da MTA foi realizada no terceiro encontro; com outras,
em um quarto encontro. Nos momentos em que foram observados sinais de fadiga
por parte da criança durante a avaliação, essa era interrompida e retomada após um
pequeno intervalo. Todos os encontros foram gravados em áudio por meio de um
gravador digital para posterior análise pela pesquisadora.
Após a coleta, realizou-se a tabulação dos dados e organização dos
mesmos em um banco de dados no programa Excel.
2.6 TRATAMENTO ESTATÍSTICO DOS DADOS
A análise dos dados foi realizada utilizando-se o software SPSS (Statistical
Package for the Social Sciences) versão 13.0.
Os dados quantitativos foram descritos através da média e desvio padrão
(distribuição simétrica) ou mediana e amplitude de variação (distribuição
assimétrica). Os dados categóricos foram descritos através de freqüências absoluta
e relativa.
Para as análises em que se considerou o grupo como um todo (objetivos 1,
2, 3 e 6) foi utilizado n=11. Para as análises em que o grupo foi avaliado dentro das
hipóteses de escrita (objetivos 4 e 5) utilizou-se um n=10. Isso ocorreu porque as
crianças da amostra, com exceção de uma, dividiram-se em dois grandes grupos, o
grupo das crianças com hipóteses de escrita pré-silábica (6 sujeitos) e o grupo dos
sujeitos com hipótese de escrita alfabética (4 sujeitos). A criança que não se
enquadrou em nenhum desses grupos apresentava hipótese de escrita silábica.
Para fins de comparação, ela não poderia sozinha formar um grupo, sendo, então,
excluída das análises que levaram em consideração o grupo dentro de suas
hipóteses de escrita.
Os escores da avaliação da consciência fonológica, quando analisados no
grupo todo (n=11), apresentaram distribuição assimétrica devido à grande
variabilidade dos dados. Quando analisados dentro das hipóteses de escrita (n=10),
a variabilidade diminuiu consideravelmente e a distribuição tornou-se simétrica.
96
Dessa forma, a decisão do tipo de teste (paramétrico ou não-paramétrico) foi
realizada em função da análise pretendida.
A comparação dos escores de consciência fonológica (NS, NF e escore
total) entre as hipóteses de escrita foi realizada aplicando-se o teste t de Student
para amostras independentes. Para comparar o desempenho de crianças com
síndrome de Down ao de crianças com desenvovilmento típico, conforme suas
hipótese de escrita, foi aplicado o teste t de Student para uma amostra.
Para avaliar a associação entre variáveis contínuas (escores de consciência
fonológica, medidas de MTA e tempo de letramento escolar) foi aplicado o teste da
correlação de Spearman. Na comparação entre os escores de consciência
fonológica em relação à inteligibilidade da fala, o teste de Mann-Whitney foi utilizado.
Também foi realizada uma comparação entre os grupos de sujeitos com
síndrome de Down alfabetizados (com hipótese de escrita alfabética) e não
alfabetizados (com hipótese de escrita pré-silábica) em relação ao desempenho nas
diferentes tarefas de consciência fonológica. Essa comparação não estava prevista
nos objetivos, mas foi considerada importante no decorrer da pesquisa. Para essa
análise foi utilizado o teste t de Student. Os valores dos escores em cada tarefa
apresentaram grande variabilidade, o que determinou o uso da mediana e amplitude
de variação (escores mínimo e máximo), a variabilidade diminuiu nos escores totais
de cada nível e no escore total da avaliação da consciência fonológica, o que
permitiu o uso dos valores da média e desvio padrão.
O nível de significância estatística considerado foi de 5% (p 0,05).
3 RESULTADOS
Neste capítulo, em primeiro lugar, serão apresentados os resultados
referentes à avaliação dos dados de escrita dos sujeitos deste estudo. Em seguida,
será realizada a descrição dos demais resultados juntamente com as avaliações das
hipóteses desta pesquisa propostas na introdução deste trabalho.
3.1 AVALIAÇÃO DA ESCRITA
Apesar de a avaliação da escrita não constituir por si só um dos objetivos
deste trabalho, ela foi necessária para analisar a relação existente entre as
diferentes hipóteses de escrita dos participantes e os resultados da avaliação da
consciência fonológica, referente ao quarto objetivo. Devido ao fato de existir um
número muito reduzido de estudos que avaliam o aprendizado da escrita de crianças
com síndrome de Down conforme a teoria proposta por Ferreiro & Teberosky (1999),
decidiu-se por apresentar os dados da avaliação da escrita como um dos resultados
desta pesquisa. Dados dessa avaliação mostram que crianças com síndrome de
Down podem passar pelos mesmos estágios observados em crianças com
desenvolvimento típico durante o aprendizado da escrita.
Após a análise dos dados, as crianças foram divididas em grupos levando-se
em consideração suas hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999).
Seis crianças (54,5%) constituíram o grupo dos sujeitos com hipótese de escrita pré-
silábica. Quatro participantes (36,4 %) formaram o grupo das crianças com hipótese
de escrita alfabética. Somente uma criança (9,1%) apresentou hipótese de escrita
silábica e nenhuma escreveu com base na hipótese de escrita silábico-alfabética.
Esses dados constituíram a caracterização da amostra de acordo com as hipóteses
de escrita e estão organizados na tabela 5. Nessa tabela também aparecem os
valores médios referentes à idade cronológica e ao tempo de letramento escolar dos
participantes nas diferentes hipóteses de escrita. Ressalta-se que o tempo de
letramento escolar refere-se, neste estudo, aos meses letivos de contato com o
ensino da língua escrita no ambiente escolar.
98
Tabela 5 – Caracterização da amostra de acordo com as hipóteses de escrita
Hipótese de escrita
n=11
n (%)
Tempo de letramento
escolar (meses letivos)
Média ± DP
Idade cronológica
(anos)
Média ± DP
Pré-silábica 6 (54,5) 27 ± 13,5 8,47 ± 1,42
Silábica 1 (9,1) 52 ± 0,0 10,0 ± 0,0
Silábico-alfabética 0 (0,0) - -
Alfabética 4 (36,4) 66,0 ± 27,7 11,8 ± 2,25
DP: Desvio Padrão
Fonte: O autor (2008)
O único sujeito com hipótese de escrita silábica estava freqüentando classe
especial e foi também o único com síndrome de Down do tipo mosaicismo. Essa
criança utilizou a hipótese de escrita silábica para escrever a maioria das palavras
solicitadas. Como mencionado na seção 2.6, esse sujeito foi excluído das análises
que levaram em consideração as hipóteses de escrita das crianças por não poder
formar, sozinho, um grupo para fins de comparação. Assim, para as análises que
consideraram os indivíduos de acordo com suas hipóteses de escrita, é possível
dizer que os participantes formaram dois grandes grupos: o grupo das crianças pré-
silábicas e o grupo dos sujeitos alfabéticos.
Dentre as crianças com hipótese de escrita pré-silábica, duas encontravam-
se, no momento da coleta dos dados, em classe especial. Uma havia concluído o
Jardim B em escola regular e três estavam iniciando o primeiro ano do ensino
fundamental com currículo de nove anos. Dentre as crianças do grupo alfabético,
duas estavam inseridas no currículo de 8 anos, uma na segunda série e a outra na
terceira série do ensino fundamental. Somente uma criança com hipótese de escrita
alfabética estava freqüentando o terceiro ano do currículo de 9 anos.
Pode-se observar, ainda na tabela 5, que o tempo médio de letramento
escolar dos sujeitos pré-silábicos é bastante inferior ao tempo médio dos sujeitos
com hipótese de escrita alfabética. Em análise realizada, encontrou-se diferença
estatisticamente significativa (t=-3,015; gl=8; p=0,016) entre o tempo de letramento
escolar dos dois grupos. Esse achado sugere que o tempo de letramento escolar é
um fator importante para a alfabetização de crianças com síndrome de Down em um
sistema alfabético.
De acordo com os dados obtidos por meio do questionário aplicado ao
fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da criança (apêndice 3), nenhum dos indivíduos do
99
grupo pré-silábico era capaz de ler ou escrever palavras, além do próprio nome.
Entretanto, duas dessas crianças eram capazes de identificar e nomear todas as
letras do alfabeto; as outras quatro somente reconheciam e nomeavam algumas
letras.
Todas as crianças do grupo alfabético, de acordo com seu(sua)
fonoaudiólogo(a) ou professor(a), eram capazes de ler e escrever palavras
alfabeticamente, duas delas escreviam frases e somente uma era capaz de escrever
pequenos parágrafos sobre um determinado assunto. Dois sujeitos do grupo com
hipótese de escrita alfabética mostraram habilidade de escrita ortográfica ao
escrever corretamente a palavra “esqueleto”. As outras duas crianças desse grupo
escreveram “esqeleto”, demonstrando habilidades de escrita em nível alfabético.
Ressalta-se que não foram coletados dados de maneira formal sobre os
métodos de alfabetização utilizados com as crianças deste estudo. Entretanto, em
conversas com os professores, foi observado que o método fônico, comumente
utilizado na alfabetização de crianças com dificuldades mais severas de
aprendizagem (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999), não estava sendo aplicado
com nenhuma das crianças da amostra. Contudo, independente do método, todos
os professores mostraram ter uma preocupação em ensinar as crianças com
síndrome de Down através de atividades lúdicas que envolviam explicitação do
princípio alfabético, fazendo com que elas prestassem atenção em unidades
fonológicas, como a sílaba e o fonema.
Observou-se, ainda, a partir de dados coletados através do questionário
aplicado ao fonoaudiólogo(a) ou professor(a), que a maioria dos sujeitos da
pesquisa apresentava linguagem expressiva que ia além da situação imediata,
fazendo referência a eventos mais distantes no tempo, ou seja, eram capazes de
evocar situações passadas e antecipar eventos futuros (ZORZI & HAGE, 2004).
Crianças que conseguem desvincular-se da situação imediata e concreta podem
encontrar menos dificuldades na resolução de tarefas de consciência fonológica, as
quais exigem reflexões sobre os segmentos sonoros das palavras faladas. Nove das
onze crianças da amostra eram capazes de emitir enunciados com três ou mais
palavras.
Em relação ao item sobre a compreensão verbal de ordens (ZORZI & HAGE,
2004), ressalta-se que, de acordo com o(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a), três
crianças do nível pré-silábico não eram capazes de compreender e executar ordens
100
com três ou mais ações, solicitações ou comentários. A dificuldade na compreensão
de ordens com mais de uma solicitação pode influenciar o desempenho da criança
em algumas tarefas de consciência fonológica que exigem maior demanda cognitiva,
como as tarefas de identificação de sílaba medial e as de exclusão e transposição,
tanto do nível silábico quanto fonêmico.
No que se refere à estimulação em consciência fonológica, também
abordada no questionário direcionado ao fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da
criança, constatou-se que três crianças do grupo pré-silábico e quatro do grupo
alfabético já haviam recebido alguma estimulação em consciência fonológica no
ambiente escolar ou clínico. Todavia, ressalta-se que nenhum sujeito deste estudo
recebeu treinamento sistemático em consciência fonológica.
3.2 AVALIAÇÃO DA CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA
Na tabela 6 é possível observar os escores obtidos pelas onze crianças da
amostra na avaliação da consciência fonológica realizada por meio do instrumento
CONFIAS. São eles: escore total no nível da sílaba (NS), escore em cada tarefa do
nível silábico, escore total no nível do fonema (NF), escores nas diferentes tarefas
do nível fonêmico e escore total na avaliação. Os valores aparecem em termos de
variação possível dos escores estabelecida pelo instrumento, média e desvio
padrão, mediana e escores mínimos e máximos obtidos pelos participantes.
Os resultados apresentados na tabela 6 possibilitam responder ao primeiro,
ao segundo e ao terceiro objetivos deste estudo e avaliar as hipóteses 1, 2 e 3. Para
tanto, deve-se levar em consideração os resultados referentes à mediana e aos
valores mínimo e máximo obtidos, já que escores da consciência fonológica, quando
avaliados no grupo todo (n=11), apresentaram distribuição assimétrica devido à
grande variabilidade dos dados.
101
Tabela 6 – Desempenho da amostra na avaliação da consciência fonológica – CONFIAS
(n=11)
Escores Variação
possível
Média DP Mediana Mínimo Máximo
NS – Total
0-40 18,8 9,76 16,0 6,00 34,0
S1- Síntese 0-4 3,09 1,47 4,00 0,00 4,00
S2- Segmentação 0-4 3,36 1,03 4,00 1,00 4,00
S3- Identificação de sílaba
inicial
0-4 1,82 1,47 2,00 0,00 4,00
S4- Identificação de rima 0-4 2,45 1,37 3,00 0,00 4,00
S5- Produção de palavra
com a sílaba dada
0-4 2,82 1,40 3,00 0,00 4,00
S6- Identificação de sílaba
medial
0-4 1,55 1,81 0,00 0,00 4,00
S7- Produção de rima 0-4 0,27 0,47 0,00 0,00 1,00
S8- Exclusão 0-8 2,00 2,28 1,00 0,00 6,00
S9- Transposição 0-4 1,45 1,57 1,00 0,00 4,00
NF – Total
0-30 7,91 6,02 5,00 1,00 18,0
F1- Produção de palavra
que inicia com o som dado
0-4 2,36 1,12 2,00 1,00 4,00
F2- Identificação de fonema
inicial
0-4 1,55 1,51 1,00 0,00 4,00
F3- Identificação de fonema
final
0-4 1,36 1,63 1,00 0,00 4,00
F4- Exclusão 0-6 1,27 1,35 1,00 0,00 4,00
F5- Síntese 0-4 1,18 1,17 1,00 0,00 3,00
F6- Segmentação 0-4 0,18 0,60 0,00 0,00 2,00
F7- Transposição 0-4 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Escore total
0-70 26,7 15,6 19,0 9,00 52,0
NS: Nível da sílaba, NF: Nível do fonema, DP: Desvio padrão
Fonte: O autor (2008)
O valor da mediana referente ao escore total no NS foi de 16 pontos.
Observou-se, nesse nível, uma grande variação nos escores mínimo (6 pontos) e
máximo (34 pontos) obtidos pela amostra. No NF, a mediana encontrada foi de 5
pontos. O escore mínimo foi 1 ponto, já o máximo foi 18 pontos. A mediana referente
ao escore total do grupo na avaliação da consciência fonológica medida pelo
CONFIAS foi de 19 pontos, a pontuação total mínima foi de 9 pontos e a máxima foi
102
de 52 pontos. A variação possível da pontuação total do instrumento é de 0 a 70
pontos, isso mostra que a criança que atingiu 52 pontos apresentou um ótimo
desempenho na avaliação da consciência fonológica. A grande variabilidade
encontrada no que se refere aos escores máximo e mínimo, tanto no NS quanto no
NF e no escore total, ocorreu, em grande parte, em função de essa análise ter sido
realizada no grupo como um todo, e não em relação às suas hipóteses de escrita.
Os resultados apresentados mostram que as crianças com síndrome de Down
avaliadas neste estudo apresentam níveis mensuráveis de consciência fonológica
utilizando-se o CONFIAS (MOOJEN et al., 2003). Esses achados corroboram a
hipótese 1 desta pesquisa.
Pode-se observar ainda, a partir dos dados da tabela 6, que as crianças da
amostra atingiram escores mais elevados no NS (mediana: 16; Min: 6; Máx: 34) do
que no NF (mediana: 5; Min: 1; Máx: 18). É possível afirmar, então, que é mais fácil
para as crianças com síndrome de Down avaliadas resolverem tarefas que exigem
consciência da sílaba, fato que está de acordo com a primeira afirmação da segunda
hipótese deste estudo.
A tarefa que se mostrou mais fácil no NS foi a de segmentação (S2), seguida
da de síntese silábica (S1). No NF a tarefa de maior facilidade foi a de produção de
palavra com que inicia com o som dado (F1). As mais difíceis do NS, começando
pela de maior dificuldade, foram: produção de rima (S7), identificação de sílaba
medial (S6), transposição (S9) e exclusão (S8). No NF as tarefas de maior
dificuldade foram: transposição (F7) e segmentação fonêmica (F6). No NS, para o
grupo como um todo, tanto a tarefa de exclusão (S8) quanto a de transposição (S9),
as quais exigem manipulação de constituintes fonológicos, estão entre as mais
difíceis. No NF, constatou-se que a tarefa de transposição (F7) foi a de maior
dificuldade, uma vez que nenhum participante deste estudo obteve pontuação.
Esses achados corroboram a segunda parte da hipótese 2, na qual se afirmou que
tarefas que exigem manipulação de constituintes fonológicos nos dois níveis são
difíceis para crianças com síndrome de Down.
A hipótese 3 desta pesquisa foi formulada a partir de dados encontrados na
literatura, os quais mostram que crianças com síndrome de Down apresentam uma
dificuldade considerável para resolver tarefas que envolvem consciência de rima
(CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES & IACONO, 2000, 2002;
CARDOSO-MARTINS et al., 2002; SNOWLING et al., 2002; KENNEDY & FLYNN,
103
2003ab; VERUCCI et al., 2006). Como entre as tarefas do NS do CONFIAS, o qual
foi organizado de acordo com dificuldades de crianças com desenvolvimento típico,
existem duas que exigem consciência da rima; a ordem das tarefas de consciência
silábica poderia ser diferente para os sujeitos com síndrome de Down. As duas
tarefas do NS que envlovem consciência de rimas são: identificação de rima (S4) e
produção de rima (S7).
Para avaliar a hipótese 3, procurou-se estabelecer, com base nos resultados
referentes à mediana, valores mínimo e máximo, a seqüência das tarefas do NS
para as crianças com síndrome de Down. Para tanto, levou-se em consideração o
grau de dificuldade encontrado pelos participantes na resolução das diferentes
tarefas do NS. Quanto maior o escore (mediana) obtido em determinada tarefa, mais
fácil ela foi considerada. Nos casos em que as tarefas apresentaram valores de
mediana iguais, utilizou-se, quando possível, os escores mínimo e máximo obtidos
como critério de desempate.
Os resultados da tabela 6 mostram que a seqüência das tarefas do NS do
CONFIAS, de acordo com o grau de dificuldade das crianças com síndrome de
Down avaliadas, foi: segmentação (S2), síntese (S1), produção de palavra com a
sílaba dada (S5) e identificação de rima (S4), identificação de sílaba inicial (S3),
transposição (S9), exclusão (S8), identificação de sílaba medial (S6) e produção de
rima (S7). As tarefas de identificação de rima (S4) e produção de palavra com a
sílaba dada (S5) apresentaram o mesmo grau de dificuldade, considerando-se a
mediana e escores mínimos e máximos alcançados nessas tarefas. Apesar de o
grau de dificuldade das tarefas de transposição (S9) e exclusão (S8) ter sido
bastante próximo, observou-se que a de exclusão foi ainda mais difícil. Ressalta-se,
entretanto, que a tarefa do NS de maior dificuldade para as crianças com síndrome
de Down deste estudo foi a de produção de rima.
Esses resultados corroboram a hipótese 3 desta pesquisa. Observou-se que
a seqüência (grau de dificuldade) das tarefas do nível silábico do CONFIAS é
diferente para as crianças com síndrome de Down avaliadas, quando comparada
àquela encontrada para indivíduos com desenvolvimento típico alfabetizados ou em
processo de alfabetização. No NF, a seqüência das tarefas do CONFIAS não se
modificou para as crianças com síndrome de Down da amostra deste trabalho.
104
A seguir será apresentada a comparação entre os sujeitos portadores da
síndrome de Down com hipóteses de escrita pré-silábica e alfabética na avaliação da
consciência fonológica.
3.2.1 Consciência fonológica e hipóteses de escrita
A tabela 7 apresenta o número médio de acertos nas tarefas do NS, do NF e
do escore total do CONFIAS, separadamente para os grupos de crianças com
síndrome de Dowm pré-silábicas e alfabéticas. A análise estatística realizada
mostrou que os sujeitos com hipótese de escrita alfabética alcançaram escores
significativamente superiores às crianças pré-silábicas nas tarefas do CONFIAS,
tanto no NS (p<0,001) quanto no NF (p<0,001) e no escore total (p<0,001). Para
essa análise é possível usar o valor da média, pois a variabilidade dos escores em
consciência fonológica, quando avaliada nos grupos com diferentes hipóteses de
escrita, diminui consideravelmente, tornando a distribuição simétrica.
Tabela 7 – Comparação do desempenho de sujeitos com diferentes hipóteses de
escrita na avaliação da consciência fonológica (n=10)
Hipóteses de escrita (n=10)
Escores
Pré-silábica
(n=6)
Alfabética
(n=4)
p*
Consciência Fonológica – Média ± DP
Nível da Sílaba – Total 11,1 ± 3,19
30,3 ± 2,99
<0,001
Nível do Fonema – Total 3,00 ± 1,41
14,8 ± 2,36
<0,001
Escore Total 14,2 ± 3,60
45,0 ± 5,03
<0,001
DP: Desvio Padrão, * teste t de Student
Fonte : O autor (2008)
Os resultados da tabela 7 mostram que os escores médios de consciência
fonológica são maiores para crianças com hipótese de escrita mais avançada. Esse
achado está de acordo com a hipótese 4 desta pesquisa. Observou-se uma
associação positiva significativa entre as hipóteses de escrita dos indivíduos com
síndrome de Down da amostra e os resultados da avaliação da consciência
fonológica, ou seja, quanto mais avançado o nível de escrita melhor o desempenho
105
na avaliação da consciência fonológica. Os resultados encontrados indicam que as
habilidades de consciência fonológica podem se aprimorar com a alfabetização em
crianças com síndrome de Down. Esse fato sugere que a relação entre a
consciência fonológica e a alfabetização das crianças com a síndrome é,
provavelmente, recíproca, com desenvolvimento de uma das variáveis dando
suporte para o crescimento da outra (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999;
FREITAS, 2004).
A figura 1 apresenta a comparação entre os grupos com hipóteses de escrita
pré-silábica e alfabética quanto ao desempenho na avaliação da consciência
fonológica por meio do intervalo com 95% de confiança.
AlfabéticaPré-silábica
Hipótese de escrita
60
50
40
30
20
10
IC95% para o escore total médio de Consciência
Fonológica
Figura 1 – Comparação entre os grupos de crianças pré-silábicas e alfabéticas quanto ao
desempenho na avaliação da consciência fonológica
Esse gráfico mostra que a probabilidade de crianças com síndrome de Down
pré-silábicas, que se enquadram aos critérios de inclusão deste estudo,
apresentarem desempenho médio em consciência fonológica dentro dos limites do
intervalo para a hipótese pré-silábica é de 95%. O mesmo pode ser dito para as
crianças com hipótese de escrita alfabética. É importante observar que o valor
máximo do escore de consciência fonológica das crianças pré-silábicas não alcança
106
o valor mínimo dos escores dos sujeitos alfabéticos, isso demonstra que o
desempenho dos grupos é realmente diferente.
Após a realização das análises apresentadas, apesar de não estar previsto
nos objetivos deste estudo, foi considerado importante investigar quais são as
possíveis habilidades que se aprimoram com a alfabetização em crianças com
síndrome de Down. Realizou-se, para tanto, uma comparação entre os grupos de
sujeitos com hipótese de escrita pré-silábica e alfabética em relação ao desempenho
nas diferentes tarefas do instrumento de avaliação da consciência fonológica. Os
resultados dessa análise aparecem na tabela 8.
Tabela 8 – Comparação do desempenho de sujeitos com hipóteses de escrita pré-silábica e
alfabética nas diferentes tarefas de consciência fonológica do CONFIAS
Hipóteses de escrita - n=10
Escores
Variação
possível
Pré-silábica
n=6
Alfabética
n=4
p
Tarefas de consciência fonológica
Nível da Sílaba – Total #
0-40 11,1 ± 3,19 30,3 ± 2,99
<0,001*
S1- Síntese
0-4 2,5 (0-4) 4 (4-4) 0,114**
S2- Segmentação
0-4 3 (1-4) 4 (4-4) 0,114**
S3- Identificação de sílaba inicial
0-4 0,5 (0-2) 3,5 (2-4)
0,019**
S4- Identificação de rima
0-4 1,5 (0-3) 3,5 (3-4)
0,019**
S5- Produção de palavra com a sílaba
dada
0-4 2,5 (0-4) 4 (4-4)
0,038**
S6- Identificação de sílaba medial
0-4 0 (0-0) 3,5 (3-4)
0,010**
S7- Produção de rima
0-4 0 (0-1) 0,5 (0-1) 0,476**
S8- Exclusão
0-8 0 (0-3) 4,5 (3-6)
0,010**
S9- Transposição
0-4 0,5 (0-2) 3,5 (1-4)
0,038**
Nível do fonema – Total #
0-30 3,00 ± 1,41 14,8 ± 2,36
<0,001*
F1- Produção de palavra que inicia
com o som dado
0-4 1,5 (1-3) 3,5 (3-4)
0,019**
F2- Identificação de fonema inicial
0-4 0 (0-1) 3 (2-4)
0,010**
F3- Identificação de fonema final
0-4 0 (0-1) 3,5 (2-4)
0,010**
F4- Exclusão
0-6 0 (0-1) 2,5 (1-4)
0,019**
F5- Síntese
0-4 0,5 (0-1) 2,5 (0-3) 0,114**
F6- Segmentação
0-4 0 (0-0) 0 (0-2) 0,610**
F7- Transposição
0-4 0 (0-0) 0 (0-0) 1,000**
# média ± desvio padrão para os escores totais do NS e NF, mediana (mínimo-máximo) para cada
uma das tarefas, * teste t de Student, ** teste de Mann-Whitney
Fonte: O autor (2008)
107
No que se refere às diferentes habilidades testadas no NS, pode-se
observar, na tabela 8, diferença estatisticamente significativa entre os grupos de
crianças pré-silábicas e alfabéticas nas seguintes tarefas: identificação de sílaba
inicial (S3), identificação de rima (S4), produção de palavra com a sílaba dada (S5),
identificação de sílaba medial (S6), exclusão (S8) e transposição (S9). Essas são as
tarefas do nível silábico que parecem aprimorar-se com o aprendizado da língua
escrita. No NS, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas
entre o desempenho dos dois grupos nas tarefas de síntese (S1) e segmentação
silábica (S2), as quais foram de fácil resolução para sujeitos de ambos os grupos.
Como a tarefa de produção de rima foi difícil para todas as crianças da
amostra, independente da hipótese de escrita, também não foi detectada diferença
estatisticamente significativa entre os grupos nessa tarefa. Apesar de ter sido
observado um bom desempenho na tarefa de identificação de rima, principalmente
entre as crianças alfabéticas, a dificuldade encontrada na habilidade de produção de
rima em ambos os grupos confirma os achados de outros estudos que também
observaram prejuízos no desempenho de crianças com síndrome de Down em
tarefas envolvendo consciência de rima (CARDOSO-MARTINS et al., 2002;
SNOWLING et al., 2002; CUPLES & IACONO, 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003ab;
VERUCCI et al., 2006).
No NF, o desempenho das crianças pré-silábicas e alfabéticas foi diferente
com relevância estatística nas seguintes tarefas: produção de palavra que inicia com
o som dado (F1), identificação de fonema final (F2) e exclusão (F4). As habilidades
de consciência fonêmica envolvidas nessas tarefas parecem se desenvolver como
resultado do aprendizado da leitura e da escrita em crianças com síndrome de
Down, já que os escores da maioria das crianças pré-silábicas nessas tarefas foram
bastante reduzidos.
A partir dos resultados apresentados na tabela 8, pode-se observar que os
escores de algumas tarefas que exigem manipulação de constituintes fonológicos
(exclusão silábica - S8, transposição silábica - S9 e exclusão fonêmica - F4)
aumentaram entre os sujeitos alfabéticos. Isso ocorreu tanto em relação às crianças
pré-silábicas como em comparação aos resultados do grupo como um todo (n=11 -
tabela 6). Entretanto, foi observado que, com exceção da tarefa transposição
silábica, as tarefas de exclusão nos dois níveis permaneceram entre as mais difíceis.
A tarefa de transposição fonêmica (F7) continuou inacessível entre as crianças com
108
hipótese de escrita alfabética. Devido a esse fato não houve diferença
estatisticamente significativa entre os dois grupos nessa tarefa. No NF, as outras
duas tarefas nas quais os sujeitos com diferentes hipóteses de escrita não
apresentaram desempenho significativamente diferente foram as de síntese (F5) e
segmentação (F6).
Esses resultados sugerem que as habilidades exigidas nas tarefas de
síntese, segmentação e transposição fonêmicas são secundárias para o
aprendizado da leitura e da escrita. Entretanto, é possível que algumas dessas
habilidades possam se desenvolver com progressos durante a alfabetização. Apesar
de não ter sido encontrada diferença estatisticamente significativa nos resultados
dessas tarefas entre os grupos, a maioria das crianças alfabéticas deste estudo
mostrou uma tendência a um melhor desempenho na tarefa de síntese fonêmica.
Uma dessas crianças apresentou um escore de 3/4 nessa tarefa, e de 2/4 na tarefa
de segmentação fonêmica.
Em suma, enquanto algumas habilidades de consciência silábica aprimoram-
se com a alfabetização, a consciência fonêmica parece emergir como resultado da
experiência de aprender a ler e escrever em sujeitos com síndrome de Down.
Pode-se dizer ainda, a partir dos resultados encontrados, que são
habilidades de consciência silábica (síntese, segmentação) que estão mais
fortemente presentes no início do aprendizado formal da escrita. É possível que
essas habilidades, juntamente com a genuína sensibilidade fonêmica presente
nessa fase, como verificado através do desempenho das crianças pré-silábicas na
tarefa de produção de palavra com o fonema dado, possam servir de apoio para o
início do aprendizado da leitura e da escrita. Sabe-se que a memória de trabalho
auditiva também tem um papel importante na alfabetização (FOWLER et al., 1995;
KAY-RAINING BIRD et al., 2000; LAWS, 1998). O desempenho estatisticamente
superior nas tarefas de identificação (S3, S4, S6, F2, F3) pelos sujeitos com hipótese
de escrita alfabética, tanto no NS quanto no NF, sugere uma maior capacidade de
memória de trabalho auditiva nessas crianças, já que as tarefas de identificação do
CONFIAS requerem a memorização de três palavras para a sua resolução. A
hipótese de um nível mais avançado de memória de trabalho auditiva nas crianças
com escrita alfabética foi avaliada e os resultados encontram-se na subseção 3.2.3.1
deste capítulo.
109
A seguir serão apresentados resultados comparando os escores dos sujeitos
com síndrome de Down avaliados neste estudo aos resultados esperados para
crianças com desenvolvimento típico de acordo com o CONFIAS.
3.2.2 Comparação do desempenho das crianças com síndrome de Down aos
resultados esperados para indivíduos com desenvolvimento típico
Os resultados obtidos pelas crianças com síndrome de Down (SD) na
avaliação da consciência fonológica foram comparados aos esperados para crianças
com desenvolvimento típico (DT) conforme o CONFIAS. O critério de pareamento
utilizado foi a hipótese de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999).
A tabela 9 expõe o número médio de acertos dos sujeitos com SD e das
crianças com DT na avaliação da consciência fonológica (NS, NF e escore total) nos
dois grupos (pré-silábicos e alfabéticos).
Tabela 9 – Comparação entre as crianças com SD e com DT quanto à
consciência fonológica, conforme as hipóteses de escrita (n=10)
Crianças
SD
DT**
Consciência Fonológica
Média ± DP Média ± DP
p*
Hipótese de escrita Pré-silábica
Nível da sílaba – Total 11,1 ± 3,19 23,5 ± 5,51
<0,001
Nível do fonema – Total 3,00 ± 1,41 8,28 ± 2,21
<0,001
Escore Total 14,2 ± 3,60 31,8 ± 6,52
<0,001
Hipótese de escrita Alfabética
Nível da sílaba – Total
30,3 ± 2,99 35,8 ± 4,41
0,034
Nível do fonema – Total
14,8 ± 2,36 20,6 ± 5,32
0,016
Escore Total
45,0 ± 5,03 56,4 ± 8,96
0,020
SD: Síndrome de Down, DT: Desenvolvimento típico, DP: Desvio Padrão
* teste t de Student, ** de acordo com o estudo de Moojen et al. (2003, p.35)
Fonte: O autor (2008)
Houve diferença estatisticamente significativa entre as crianças com SD e DT
com escrita pré-silábica no NS (p<0,001), no NF (p<0,001) e no escore total
110
(p<0,001) da avaliação de consciência fonológica. Entre os grupos de crianças com
SD e DT, ambos com hipótese de escrita alfabética, também foi encontrada uma
diferença estatisticamente significativa em relação aos escores de consciência
fonológica, tanto no NS (p=0,034) quanto no NF (p=0,016) e na pontuação total
(p=0,020).
Os resultados da tabela 9 mostram que, apesar de as crianças com SD
apresentarem valores mensuráveis de consciência fonológica, o desempenho médio
delas é significativamente inferior ao de crianças com DT, mesmo quando a hipótese
de escrita, que é uma medida de cognição, é tida como critério de emparelhamento.
Esses resultados corroboram a hipótese 5 deste estudo. Cardoso-Martins & Frith
(2001) sugerem que a divergência encontrada entre sujeitos com SD e crianças com
DT em tarefas de consciência fonológica pode ser explicada, em parte, pelo
desempenho inferior das crianças com a síndrome nas tarefas que exigem
manipulação de constituintes fonológicos. De acordo com as autoras, a demanda
cognitiva para a resolução dessas tarefas é maior, prejudicando o acesso à
consciência fonológica.
A figura 2 possibilita a visualização do desempenho das crianças com SD
nos dois grupos, pré-silábico e alfabético, em comparação aos indivíduos com DT e
mesma hipótese de escrita na avaliação da consciência fonológica (escore total
médio). Os traços sobre as colunas representam o desvio padrão.
0
10
20
30
40
50
60
70
Pré-silábica Alfabética
Hipótese de Escrita
SD
DT
Escore total médio da
Consciência Fonológica
Figura 2 – Comparação do desempenho das crianças com síndrome de Down (SD)
aos resultados esperados para indivíduos com desenvolvimento
típico (DT) conforme o CONFIAS
111
Apesar de existir diferença estatisticamente significativa entre as crianças
com SD e DT nos dois grupos, como verificado na tabela 9, foi observado que
algumas crianças com SD deste estudo atingiram resultados bastante próximos,
iguais ou superiores ao mínimo esperado para crianças com DT. A comparação
entre os escores brutos individuais das crianças com SD e o número de acertos
(máximo e mínimo) esperado para crianças com DT pode ser visualizada nas
tabelas 10 e 11. Nessas tabelas também aparecem o tempo de letramento e a idade
cronológica dos sujeitos da pesquisa agrupados em função da hipótese de escrita.
Tabela 10 – Sujeitos com hipótese de escrita pré-silábica: escores esperados para crianças
com DT; escores brutos dos sujeitos com SD no CONFIAS, idade cronológica e
tempo de letramento escolar
Variação
possível
Escores
esperados DT*
Mín/Máx
S 1 S 2 S 3 S 4 S 5 S 6
NS
0-40 18 / 29 11 6 11 12 16 11
NF
0-30 6 / 10 2 3 1 5 3 4
Escore
Total
0-70 24 / 39 13 9 12 17 19 15
IC
- - 8:9 10:9 7:10 9:5 7 7:3
Tempo
Let.
- - 28 52 26 26 15 15
NS: Nível da sílaba, NF: Nível do fonema, IC: Idade cronológica (anos: meses),
Tempo Let.: Tempo de letramento escolar (meses letivos), DT: Desenvolvimento típico,
Mín: Mínimo, Máx: Máximo, S: Sujeitos com SD, * conforme estudo de Moojen et al. (2003, p. 35)
Fonte: O autor (2008)
Tabela 11 – Sujeitos com hipótese de escrita alfabética: escores esperados para crianças
com DT; escores brutos dos sujeitos com SD no CONFIAS, idade cronológica e
tempo de letramento escolar
NS: Nível da sílaba, NF: Nível do fonema, IC: Idade cronológica (anos: meses),
Tempo Let.: Tempo de letramento escolar (meses letivos), DT: Desenvolvimento típico,
Mín: Mínimo, Máx: Máximo, S: Sujeitos com SD, * conforme estudo de Moojen et al. (2003, p. 35)
Fonte: O autor (2008)
Variação
possível
Escores esperados DT*
Mín/Máx
S 8 S 9 S 10 S 11
NS
0-40 31 / 40 29 31 34 27
NF
0-30 15 / 26 15 13 18 13
Escore Total
0-70 46 / 66 44 44 52 40
IC
- - 10:1 14:2 13:4 9:8
Tempo Let.
- - 50 100 76 38
112
O sujeito 7 não aparece nas tabelas 10 e 11 porque foi o único que utilizou a
hipótese de escrita silábica, sendo, portanto, eliminado das análises que levaram em
consideração os grupos com diferentes hipóteses de escrita.
Pode-se observar, nas tabelas apresentadas, que o sujeito 5 do grupo pré-
silábico apresentou, no NS, um escore próximo (dois pontos a menos) ao mínimo
esperado para crianças com DT e mesmo nível de escrita. Nesse mesmo grupo, no
NF, verifica-se que os sujeitos 4 e 6 também alcançaram pontuações próximas ao
esperado para crianças com DT e mesma hipótese de escrita (um e dois pontos a
menos, consecutivamente). No grupo das crianças com SD alfabéticas, foi
observado que o sujeito 8 atingiu, no NS, um escore próximo aos valores esperados
para sujeitos com DT (dois pontos a menos). No NF, o sujeito 8 atingiu o escore
mínimo esperado para crianças com DT. Outras duas crianças do grupo alfabético
destacaram-se: o sujeito 9 por ter atingido escore igual ao mínimo esperado para
crianças com DT no NS, e um escore próximo no NF (dois pontos a menos); e o
sujeito 10, por ter ultrapassado o valor mínimo esperado para crianças com DT em
três pontos, tanto no NS quanto no NF.
Entretanto, nenhuma delas atingiu o máximo esperado para indivíduos com
DT, considerando os dois níveis da avaliação da consciência fonológica, o NS e o
NF. Isso foi, possivelmente, um dos fatores que determinou a diferença
estatisticamente significativa em relação à consciência fonológica encontrada entre
as crianças com SD e DT, quando avaliadas dentro das hipóteses de escrita. Os
outros fatores que podem ter levado a essa diferença foram as dificuldades
encontradas pelas crianças com SD na tarefa de produção de rima (S7) e naquelas
que envolviam manipulação de constituintes silábicos (S8-exclusão, S9-
transposição) e fonêmicos (F6-segmentação, F7-transposição).
Apesar de não constituir um dos objetivos desta pesquisa, cabe salientar
algumas diferenças individuais entre as crianças com SD avaliadas, as quais podem
ter influenciado os resultados da avaliação da consciência fonológica. As três
crianças que se destacaram no grupo dos indivíduos pré-silábicos apresentam
algumas particularidades. Através das respostas dos pais ao questionário aplicado,
constatou-se que o sujeito 4 apresenta mais de uma alteração clínica (oftalmológica,
imunológica, gástrica, renal, episódios de otites de repetição); no entanto, é uma
criança bastante estimulada e que tem se desenvolvido de forma satisfatória. No que
se refere à linguagem, foi observado que possui capacidade de desvincular-se da
113
situação imediata e concreta, produz sentenças de três ou mais palavras para se
comunicar e tem uma boa compreensão da linguagem oral. Essa criança reconhece
e nomeia todas as letras do alfabeto e é bastante interessada no aprendizado da
língua escrita. Em muitos momentos, durante a avaliação da consciência fonológica,
fazia uso do conhecimento do nome das letras na tentativa de responder às tarefas.
Os dados referentes ao desenvolvimento da linguagem e ao aprendizado da leitura e
da escrita foram obtidos através do questionário aplicado ao fonoaudiólogo(a) ou
professor(a) da criança.
A linguagem expressiva e compreensiva do sujeito 5 também é bem
desenvolvida e, de acordo com o relato dos pais, essa criança não apresenta
alterações clínicas importantes. O sujeito 5 reconhece e nomeia somente algumas
letras do alfabeto e apresentou o melhor desempenho na avaliação da memória de
trabalho auditiva em relação às outras crianças do grupo com hipótese de escrita
pré-silábica. O sujeito 6, apesar de ter passado por uma cirurgia cardíaca, apresenta
um bom desenvolvimento global. Essa criança tem uma ótima inteligibilidade de fala
e uma compreensão satisfatória da linguagem oral. Reconhece e nomeia todas as
letras e também obteve um bom desempenho na avaliação da memória de trabalho
auditiva.
Os sujeitos 1, 2 e 3, que utilizavam a hipótese de escrita pré-silábica,
obtiveram os escores mais baixos na avaliação da consciência fonológica. Foi
observado que essas crianças apresentam dificuldades no desenvolvimento
lingüístico. De acordo com dados coletados a partir do questionário aplicado ao
fonoaudiólogo(a) ou professor(a), nenhuma delas compreende ordens com três ou
mais ações, solicitações ou comentários. Os sujeitos 1 e 2 utilizam, com maior
freqüência, palavras isoladas para se comunicarem e têm dificuldades para falar de
situações não ligadas ao contexto imediato. O sujeito 3 produz sentenças de três ou
mais palavras e, em alguns momentos, sua linguagem vai além da situação
momentânea, referindo-se a aspectos mais distantes no tempo. No entanto,
apresenta inteligibilidade de fala bastante prejudicada, é agitado, se distrai com
facilidade e apresenta comportamento de fuga frente a um novo desafio. Essa
criança passou por uma cirurgia cardíaca e tem história de otites de repetição.
Dentre as crianças do grupo com hipótese de escrita alfabética, ressalta-se
que o sujeito 10, o qual teve o melhor desempenho na avaliação da consciência
fonológica, também alcançou os escores mais elevados na avaliação da memória de
114
trabalho auditiva. O sujeito 7, que tinha hipótese de escrita silábica e SD do tipo
mosaicismo, apresentou desempenho bastante similar ao sujeito 10 na avaliação da
memória de trabalho auditiva. Deve-se destacar, ainda, que os sujeitos 9 e 10, de
acordo com seus(suas) professores(as), eram capazes de ler e compreender
pequenos textos lidos, o que indica uma capacidade intelectual mais desenvolvida.
O sujeito 10 é a criança com capacidade para escrever pequenos parágrafos sobre
um determinado assunto, fato já comentado na seção 3.1.
Foi observado, durante a aplicação do CONFIAS, que as crianças utilizavam
o conhecimento que tinham sobre a escrita na tentativa de resolver as tarefas de
consciência fonológica. Algumas delas, assim como ocorre entre crianças com
desenvolvimento típico (RIGATTI-SCHERER, 2008), utilizavam o conhecimento do
nome das letras na tentativa de responder às questões.
Outros fatos que se repetiram durante a avaliação com os sujeitos desta
pesquisa, independentemente da hipótese de escrita, porém com mais freqüência
entre os indivíduos pré-silábicos, foram: repetição imediata das alternativas,
palavras, sílabas ou sons-alvo; escolha de palavra que mantém relação de
significado e não de som nos itens de produção; e opção pela última alternativa nas
tarefas de identificação. A escolha pela última alternativa ocorreu, principalmente, na
primeira oportunidade de resposta. Isso pode ser entendido como uma
conseqüência de um prejuízo na memória de trabalho auditiva, ou ainda, como uma
dificuldade para resolver tarefas de maior complexidade, como a tarefa de
identificação de sílaba medial, a qual foi difícil para as crianças com síndrome de
Down deste estudo. Em momentos nos quais as crianças mostravam fadiga, foi
observada perseveração em respostas anteriores, quando isso ocorria, a avaliação
era interrompida e retomada após um pequeno intervalo. Comportamentos
semelhantes durante a avaliação da consciência fonológica são relatados no estudo
de Evans (1994).
115
3.2.3 Associações entre a memória de trabalho auditiva, o tempo de
letramento escolar e a inteligibilidade de fala com os escores de
consciência fonológica
Nesta subseção serão apresentadas as análises realizadas com o objetivo
de identificar as associações existentes entre as variáveis: memória de trabalho
auditiva e consciência fonológica, tempo de letramento escolar e consciência
fonológica, e inteligibilidade de fala e consciência fonológica. Ao final desta
subseção, será apresentada a conclusão referente à hipótese 6 desta pesquisa com
base nas análises realizadas entre as variáveis citadas acima. Na elaboração da
hipótese 6, foi afirmado, previamente, que a memória de trabalho auditiva, o tempo
de letramento escolar e a inteligibilidade de fala influenciam o desempenho de
crianças com síndrome de Down na avaliação da consciência fonológica.
3.2.3.1 Memória de trabalho auditiva
A memória de trabalho auditiva (MTA) foi, primeiramente, analisada no grupo
todo (n=11). Os resultados dessa análise aparecem na tabela 12. Devido à grande
variabilidade de dados, devem ser considerados os resultados referentes à mediana
e aos valores máximo e mínimo.
Tabela 12 – Desempenho da amostra na avaliação da MTA (n=11)
Escores Variação
possível
Média DP Mediana Mínimo Máximo
MTA (Escore Total)
0-46 28,1 10,9 33,0 9,0 39,0
Nº de seqüências
repetidas corretamente
0-14 5,36 3,75 7,00 0,00 10,0
Nº máximo de dissílabas
repetidas corretamente
em uma seqüência
0-5 2,73 1,19 3,00 1,00 4,00
Nº máximo de trissílabas
repetidas corretamente
em uma seqüência
0-3 2,36 0,92 3,00 1,00 3,00
MTA: Memória de trabalho auditiva, DP: Desvio Padrão
Fonte: O autor (2008)
116
Pode-se observar, na tabela acima, que o escore total do grupo, referente à
mediana, foi de 33 palavras repetidas corretamente durante a avaliação da MTA
(apêndice 4). Esse teste, elaborado pela pesquisadora, é composto de 46 palavras
apresentadas verbalmente distribuídas em 14 seqüências de vocábulos dissilábicos
ou trissilábicos, conforme explicitado na subseção 2.4.5 deste trabalho. Cabe
ressaltar que a maioria das palavras de conteúdo do português, principalmente as
encontradas em livros infantis, é formada de duas ou três sílabas (PINHEIRO &
KEY, 1987 apud CARDOSO-MARTINS, 1995).
O escore total mínimo obtido foi de 9 palavras repetidas corretamente
durante toda a avaliação, essa foi a pontuação de somente um dos sujeitos da
amostra. O escore total máximo alcançado por outra criança foi de 39 vocábulos
repetidos corretamente durante a avaliação da MTA. O escore total do grupo
referente ao número de seqüências inteiras repetidas corretamente foi 7 (mediana).
Três sujeitos não conseguiram repetir nenhuma seqüência inteira corretamente.
Devido a esse fato, o escore mínimo obtido foi zero, enquanto que o escore máximo
foi de 10 seqüências repetidas corretamente. Esses dados mostram que, apesar de
ser considerado que indivíduos com síndrome de Down apresentam um déficit
específico relacionado à memória de trabalho auditiva (CHAPMAN & HESKETH,
2000; CHAPMAN & HESKETH, 2001; BADDELEY & JARROLD, 2007), a
capacidade de memorização pode apresentar variabilidade entre esses sujeitos.
As diferenças encontradas na capacidade de memorização auditiva entre as
crianças avaliadas nesta pesquisa podem explicar, em parte, a variabilidade dos
resultados encontrados na avaliação da consciência fonológica. Deve-se levar em
consideração que o instrumento utilizado nesta pesquisa para avaliar as habilidades
metafonológicas requer, nas tarefas de identificação, a memorização de seqüências
de três palavras dissilábicas ou trissilábicas. No CONFIAS, somente para a
apresentação das palavras-alvo utilizam-se figuras.
Com o objetivo de avaliar a interferência da memória de trabalho auditiva na
avaliação da consciência fonológica, considerou-se importante verificar a quantidade
máxima de palavras dissilábicas e trissilábicas apresentadas verbalmente que os
sujeitos da amostra eram capazes de memorizar. Ainda na tabela 12, no que se
refere ao número máximo de dissílabos repetidos corretamente em uma seqüência,
o valor mínimo obtido foi 1 palavra; o máximo, 4 palavras dissilábicas. A quantidade
mínima de palavras trissilábicas repetidas corretamente em uma seqüência foi 1
117
palavra, o valor máximo foi de 3 vocábulos. Isso significa que, para os sujeitos com
capacidade de memorizar até 3 dissílabos ou trissílabos, a interferência da MTA foi
menor do que para os sujeitos com capacidade de armazenar menos de 3 palavras.
A tabela 13 apresenta os resultados da comparação entre os sujeitos com
diferentes hipóteses de escrita quanto à MTA. Essa análise foi realizada para avaliar
a hipótese de que os sujeitos alfabéticos poderiam apresentar MTA mais
desenvolvida, levantada a partir da análise dos dados da tabela 8 no item 3.2.1
deste capítulo.
Na avaliação da MTA, a variabilidade entre os dados permaneceu mesmo
entre os sujeitos que formavam um grupo em relação à hipótese de escrita. Isso
ocorreu, principalmente, no grupo dos sujeitos pré-silábicos. Devido a esse fato,
utilizaram-se, para essa análise, os valores da mediana e o número máximo e
mínimo de respostas corretas em cada grupo. Através da aplicação do teste de
Mann-Whitney, encontrou-se diferença estatisticamente significativa entre o grupo de
crianças pré-silábicas e alfabéticas no que se refere ao escore total na avaliação da
MTA (p=0,019) e ao número de seqüências repetidas corretamente (p=0,010). Os
resultados apresentados mostram que os sujeitos com hipótese de escrita alfabética
apresentaram desempenho significativamente superior em medidas de MTA. Esse
fato evidencia que as crianças alfabéticas com síndrome de Down deste estudo têm
uma maior capacidade de MTA, o que corrobora a hipótese levantada anteriormente.
Tabela 13 – Comparação do desempenho de sujeitos com diferentes hipóteses de
escrita na avaliação da MTA (n=10)
Hipóteses de escrita (n=10)
Escores
Pré-silábica
(n=6)
Alfabética
(n=4)
p*
MTA – Mediana (Mín-Máx)
MTA (Escore Total)
20 (9-35) 36 (33-39)
0,019
Nº máximo de dissílabas repetidas
corretamente em uma seqüência
2 (1-3) 3,5 (3-4) 0,067
Nº máximo de trissílabas repetidas
corretamente em uma seqüência
1,5 (1-3) 3 (3-3) 0,114
Nº de seqüências repetidas corretamente 2,5 (0-7) 8,5 (8-10)
0,010
MTA: Memória de trabalho auditiva, Mín: Mínimo, Máx: Máximo,
* teste de Mann-Whitney
Fonte: O autor (2008)
118
O número máximo de dissílabos e trissílabos não se mostrou
estatisticamente diferente entre os grupos de sujeitos com hipóteses de escrita pré-
silábica e alfabética. Apesar de a mediana ter ficado abaixo de 3 para as crianças
pré-silábicas, tanto indivíduos do grupo pré-silábico quanto do alfabético foram
capazes de memorizar até 3 palavras dissilábicas ou trissilábicas.
O fato de as crianças com síndrome de Down do grupo com hipótese de
escrita alfabética apresentarem um desempenho significativamente superior em
medidas de MTA pode ser interpretado de duas maneiras diferentes. Primeira, a
MTA mais desenvolvida em algumas crianças pode ter facilitado a alfabetização.
Segunda, a alfabetização pode ter aprimorado as habilidades de memória de
trabalho auditiva. Para a confirmação dessas hipóteses são necessários outros
estudos, preferencialmente longitudinais, envolvendo crianças com síndrome de
Down em processo de alfabetização.
Para verificar a correlação existente entre as medidas de MTA e os escores
de consciência fonológica foi utilizado o teste de correlação de Spearman (r
s
). Essa
análise foi realizada no grupo como um todo (n=11). Encontrou-se correlação
positiva estatisticamente significativa entre o escore total da consciência fonológica e
o escore total na MTA dos sujeitos com SD (r
s
=0,823, p<0,001). O escore total da
MTA também apresentou correlação positiva estatisticamente significativa com os
escores dos participantes no NS (r
s
=0,831, p=0,002) e no NF (r
s
=0,685, p=0,020). O
número máximo de seqüências inteiras repetidas corretamente também apresentou
correlação positiva estatisticamente significativa com os dois níveis da avaliação da
consciência fonológica (r
s
=0,895, p<0,001 para o NS; r
s
=0,794, p<0,001 para o NF)
e com o escore total (r
s
=0,889, p<0,001). Os números máximos de dissílabos e
trissílabos repetidos corretamente em uma seqüência apresentaram correlação
positiva estatisticamente significativa somente com o nível da sílaba (r
s
=0,668,
p=0,025 para os dissílabos; r
s
=0,710, p=0,014 para os trissílabos ) e com o escore
total (r
s
=0,663, p=0,026 para os dissílabos; r
s
=0,662, p=0,026 para os trissílabos).
Esses dados podem ser observados na tabela 14 a seguir.
119
Tabela 14 – Associações, através do coeficiente de correlação de Spearman (r
s
), entre
MTA, tempo de letramento escolar e idade cronológica com os escores de
consciência fonológica (n=11)
Consciência Fonológica
Nível da
sílaba
Nível do
fonema
Escore Total
Variáveis
r
s
p r
s
p r
s
p
MTA (Escore Total)
0,831 0,002 0,685 0,020 0,823 <0,001
Nº de seqüências repetidas
corretamente
0,895 <0,001 0,794 <0,001 0,889 <0,001
Nº máximo de dissílabas repetidas
corretamente em uma seqüência
0,668 0,025
0,587 0,058
0,663 0,026
Nº máximo de trissílabas repetidas
corretamente em uma seqüência
0,710 0,014
0,460 0,154
0,662 0,026
Tempo de Letramento
0,550 0,080 0,598 0,052 0,509 0,110
Idade Cronológica
0,543 0,085
0,659 0,027
0,514 0,106
MTA: Memória de trabalho auditiva
Fonte: O autor (2008)
Resumidamente, pode ser observado na tabela 14 que as correlações mais
fortes entre a MTA e a consciência fonológica ocorreram entre os escores totais das
duas avaliações e entre o número de seqüências inteiras repetidas corretamente na
avaliação da MTA e os escores da consciência fonológica (NS, NF e escore total).
3.2.3.2 Tempo de letramento escolar e consciência fonológica
Os escores da avaliação da consciência fonológica também foram
correlacionados com o tempo de letramento escolar e com a idade cronológica dos
participantes. Esses resultados aparecem na tabela 14 apresentada anteriormente.
Entre o tempo de letramento escolar e os escores da consciência fonológica do
grupo como um todo (n=11) não foram encontradas correlações estatisticamente
significativas (NS: r
s
=0,050, p=0,080; NF: r
s
=0,598, p=0,052; Escore Total: r
s
=0,509;
p=0,110). Apesar disso, foi observado que a maioria das crianças deste estudo com
maior tempo de letramento escolar atingiu os escores mais elevados na avaliação da
consciência fonológica. Esses dados podem ser observados nas tabelas 10 e 11.
120
Esse fato leva a crer que há uma conexão entre essas variáveis. A existência de
uma correlação positiva estatisticamente significativa entre a idade cronológica dos
participantes e o desempenho em tarefas de consciência fonêmica (r
s
=0,659,
p=0,027) reforça a crença nessa hipótese. Com exceção de um indivíduo com
hipótese de escrita pré-silábica, os sujeitos com idades mais avançadas
apresentaram maior tempo de letramento escolar e maior facilidade na resolução de
tarefas de consciência fonológica.
Outro aspecto que aponta para a existência de uma associação entre o tempo
de letramento escolar e a consciência fonológica é o fato de ter existido diferença
estatisticamente significativa entre o tempo de letramento dos grupos com diferentes
hipóteses de escrita, dado comentado na primeira seção deste capítulo. Se algumas
habilidades de consciência fonológica somente se desenvolvem em estágios mais
avançados do aprendizado da escrita, com o verificado no presente estudo e em
Freitas (2004), é possível que exista uma correlação entre o tempo de exposição ao
ensino da leitura e da escrita no ambiente escolar e o desempenho em tarefas de
consciência fonológica. No entanto, os resultados desta pesquisa não dão suporte a
essa hipótese. Uma possível explicação para esse resultado pode ser o número
reduzido de sujeitos que fizeram parte deste estudo.
Uma outra explicação pode ser o fato de o tempo de letramento escolar
influenciar as habilidades de reflexão fonológica somente de algumas crianças,
aquelas com maior capacidade cognitiva. Essa interpretação foi levantada
considerando o tempo de letramento escolar e o desempenho na avaliação da
consciência fonológica dos sujeitos 2 (52 meses letivos) e 8 (50 meses). Apesar de
os sujeitos 2 e 8 apresentarem tempo de letramento escolar muito próximos, o
desempenho do sujeito 8 na avaliação da consciência fonológica (44 pontos) foi
bastante superior ao do sujeito 2 (9 pontos). Sugere-se que as dificuldades do
sujeito 2 possam estar relacionados a uma reduzida capacidade intelectual. Essa
criança, como já comentado, apresenta linguagem oral rudimentar, freqüenta classe
especial há quatro anos e ainda não aprendeu a ler e escrever palavras além do
próprio nome. Outra característica que reforça a crença em uma reduzida
capacidade cognitiva é a presença de hipotireoidismo associado à síndrome de
Down, o tratamento para o hipotireodismo iniciou há dois anos.
121
Ressalta-se que as considerações relacionadas ao tempo de letramento
escolar devem ser observadas com uma certa cautela, já que essa variável depende
de como o ensino da leitura e da escrita é realizado nas diferentes escolas.
3.2.3.3 Inteligibilidade de fala e consciência fonológica
Os sujeitos deste estudo foram divididos em dois grupos conforme a
avaliação da inteligibilidade da fala, realizada de acordo com os critérios
estabelecidos na subseção 2.4.2. Cinco, das onze crianças que formaram a amostra,
foram consideradas como tendo inteligibilidade de fala alterada (45,5%). Seis
crianças apresentaram inteligibilidade de fala adequada (54,5%), ou seja, a fala
delas era passível de compreensão para a maioria das pessoas com quem elas
interagiam.
Os escores da avaliação da consciência fonológica foram analisados nos
dois grupos através do teste de Mann-Whitney. Devido à considerável variabilidade
dos dados de consciência fonológica em ambos os grupos, foram considerados os
escores referentes à mediana e valores mínimo e máximo dessa variável.
Tabela 15 - Avaliação da consciência fonológica nos grupos com inteligibilidade de
fala adequada e alterada (n=11)
Inteligibilidade da fala
Adequada
(n=5)
Alterada
(n=6)
Consciência Fonológica
Mediana (Mín-Máx) Mediana (Mín-Máx)
p*
Nível da sílaba – Total 29 (11-34) 11,5 (6-19) 0,052
Nível do fonema – Total 13 (4-18) 3 (1-10)
0,017
Escore Total 44 (15-52) 15 (9-29)
0,030
Mín: Mínimo, Máx: Máximo, *teste de Mann-Whitney
Fonte : O autor (2008)
De acordo com os resultados da tabela 15, houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos de crianças com inteligibilidade de fala alterada e
adequada no que se refere ao escore total das tarefas do nível do fonema (p=0,017)
e ao escore total do CONFIAS (p=0,030). Esse dado mostra a existência de uma
122
associação significativa entre a consciência fonológica, principalmente a consciência
de constituintes fonêmicos, e a inteligibilidade de fala dos sujeitos com síndrome de
Down avaliados neste estudo.
O fato de a inteligibilidade da fala da criança ser considerada alterada está
relacionada a alterações fonéticas e/ou fonológicas na fala, o que dificulta a
compreensão do que a criança fala pelo ouvinte. Foi observado que a maioria das
crianças com inteligibilidade de fala considerada alterada (4/6) apresentou, também,
interferência de alterações fonológicas nas respostas dadas às tarefas de
consciência fonológica. Exemplos:
Sujeito 3 - na tarefa de identificação de sílaba inicial, a palavra-alvo era
pipoca. A criança deveria escolher entre as alternativas de resposta qual iniciava
com a mesma sílaba da palavra-alvo. As alternativas eram: sapato, piscina e bigode.
A criança optou por bigode, pronunciando [ pi’kɔdʒi ].
Sujeito 4 - na tarefa de identificação de fonema inicial, a palavra-alvo, que
era macaco, foi pronunciada pela criança [ pa’kaku ]. As três alternativas de resposta
eram: menino, presente, salada. Ao invés de optar pela palavra “menino”, ele optou
por “presente”, a qual iniciava como o mesmo som da forma como ele pronunciou a
palavra “macaco”: [ pa’kaku ].
Sujeito 5 - na tarefa de produção de palavra com o fonema dado, quando foi
solicitado que a criança dissesse uma palavra com o som [ ], ela respondeu
dizendo a palavra girafa com a seguinte pronúncia: [ iɾafa ].
Sujeito 7 - na mesma tarefa, o sujeito 7, ao ser requerido a dizer uma
palavra com o som [ s ], disse “zebra”, pronunciando [ sebɾa ].
Esses dados demonstram que alterações fonológicas podem influenciar as
respostas das crianças em tarefas de consciência fonológica. Optou-se pela
avaliação da inteligibilidade de fala dos participantes, ao invés de uma avaliação
mais abrangente, como a avaliação fonológica, devido ao reduzido tempo para a
coleta de dados desta pesquisa. Além disso, como comentado na introdução deste
trabalho, existem estudos internacionais que investigaram a relação entre a
inteligibilidade de fala e a consciência fonológica em crianças com síndrome de
Down (KENNEDY & FLYNN, 2003ab). Entretanto, não foram encontrados estudos
brasileiros correlacionando essas variáveis em crianças com síndrome de Down.
123
3.2.3.4 Conclusão relacionada à hipótese 6 desta pesquisa
As análises anteriormente apresentadas possibilitaram concluir que existe
associação significativa entre a MTA e a consciência fonológica das crianças com
síndrome de Down avaliadas, assim como entre a inteligibilidade de fala dos
participantes e o desempenho em tarefas de consciência fonológica. O tempo de
letramento escolar não se mostrou significativo para a resolução das tarefas de
consciência fonológica pelas crianças com síndrome de Down deste estudo.
Pode-se dizer, então, que a MTA e a inteligibilidade de fala influenciaram o
desempenho das crianças com síndrome de Down desta pesquisa. Esse fato
corrobora, em parte, a hipótese 6, já que a variável tempo de letramento escolar não
se mostrou como um fator de influência no desempenho das crianças deste estudo
em tarefas de consciência fonológica. As fortes correlações observadas entre os
escores do teste da MTA e os escores da avaliação da consciência fonológica,
medidos pelo CONFIAS, podem ser observadas através dos diagramas de dispersão
apresentados nas figuras 3 e 4.
40302010
Memória de Trabalho Auditiva (Escore total)
60
50
40
30
20
10
0
Consciência Fonológica (Escore total)
Figura 3 – Associação entre memória de trabalho auditiva e consciência fonológica
124
1086420
Nº de seqüências repetidas corretamente
60
50
40
30
20
10
0
Consciência Fonológica (Escore total)
Figura 4 – Associação entre o número de seqüências repetidas corretamente na
avaliação da memória de trabalho auditiva e a consciência fonológica
Essas figuras mostram que as correlações entre MTA e consciência fonológica
das crianças com síndrome de Down avaliadas nesta pesquisa são positivas, ou
seja, quanto mais desenvolvida a MTA, melhor o desempenho nas tarefas de
consciência fonológica.
4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Este capítulo é importante por apresentar uma análise dos resultados
comparando-os com achados de pesquisas prévias. Como no capítulo anterior,
primeiramente serão comentados os resultados referentes à avaliação da escrita dos
participantes. Logo após, serão discutidos os achados relacionados à consciência
fonológica.
As crianças com síndrome de Down que participaram deste estudo
apresentaram diferentes hipóteses de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999).
Foi observado que alguns dos sujeitos avaliados tinham níveis de escrita alfabética
comparáveis aos de indivíduos com desenvolvimento típico que se encontram nos
primeiros anos do ensino formal da língua escrita. Achados similares foram relatados
por Salinas & Santana (2003), Vargas (2004), Lara et al. (2007) e Rangel (2007).
Os resultados relacionados à avaliação da escrita desta pesquisa estão de
acordo com a hipótese de que o processo de aprendizagem da escrita pelos sujeitos
com síndrome de Down é similar ao de qualquer criança, apesar de eles
necessitarem de um maior período de tempo para atingirem a hipótese de escrita
alfabética (SALINAS & SANTANA, 2003).
Os sujeitos com síndrome de Down pré-silábicos e alfabéticos deste estudo
diferiram significativamente em relação ao tempo de letramento escolar e à idade
cronológica. Esses dados sugerem que as habilidades de escrita de indivíduos com
a síndrome podem aprimorar-se em idades mais avançadas e com um maior tempo
de contato com o ensino formal da escrita. Chapman & Hesketh (2001) defendem
que a idade cronológica é um fator importante no desenvolvimento de sujeitos com
síndrome de Down. Kay-Raining Bird et al. (2000), Laws & Gunn (2002) e Kennedy &
Flynn (2003b) mostraram que as habilidades de leitura de sujeitos com síndrome de
Down aprimoram-se com um maior tempo de escolaridade. Cupples & Iacono (2000)
encontraram correlações positivas significativas entre a idade cronológica e
habilidades de leitura. Cardoso-Martins & Frith (2001) encontraram entre indivíduos
com síndrome de Down leitores e não-leitores uma diferença significativa em relação
à idade cronológica. Kennedy & Flynn (2003b), entretanto, mostraram que as
habilidades de leitura em sujeitos com a síndrome podem apresentar maior
correlação com o tempo de escolaridade do que com a idade cronológica.
126
Considera-se, contudo, que, para essas crianças poderem avançar nas
habilidades de leitura e escrita, de acordo com Kay-Raining Bird (2000), os esforços
da família, da escola e dos terapeutas envolvidos são fundamentais.
Os indivíduos com síndrome de Down deste estudo, independente do nível
de escrita, apresentaram níveis mensuráveis de consciência fonológica, o que
corroborou a primeira hipótese da presente pesquisa. Esse resultado desafia os
achados de Cossu et al. (1993) e Evans (1994) e está em consonância com outros
estudos que também observaram habilidades metafonológicas em sujeitos com
síndrome de Down (FOWLER et al., 1995; CUPLES & IACONO, 2000; KAY-
RAINING BIRD et al., 2000; CARDOSO-MARTINS & FRITH, 2001; CARDOSO-
MARTINS et al., 2002; SNOWLING et al., 2002; LAWS & GUNN, 2002; GOMBERT,
2002; FLETCHER & BUCKLEY, 2002; KENNEDY & FLYNN, 2003a; VERUCCI et al.,
2006; LARA et al., 2007). Acredita-se que em pesquisas prévias, nas quais não
foram encontrados níveis de consciência fonológica em indivíduos com a síndrome
(COSSU et al., 1993; EVANS, 1994), foram utilizadas medidas insensíveis. Nesses
casos, a consciência fonológica pode ter sido mascarada por outras habilidades
cognitivas deficientes.
Os participantes deste estudo, quando avaliados no grupo como um todo
(n=11), apresentaram maiores pontuações nas tarefas do nível da sílaba do
CONFIAS (MOOJEN et al., 2003). O mesmo ocorreu quando os participantes foram
avaliados dentro das hipóteses de escrita (n=10). Para os sujeitos alfabéticos o valor
da mediana foi o escore máximo em três das nove tarefas de consciência silábica, já
no nível do fonema, isso não ocorreu em nenhuma das tarefas testadas. Esses
resultados deram suporte à primeira afirmação da hipótese 2 deste estudo,
mostrando que, para as crianças com síndrome de Down avaliadas, as tarefas de
nível silábico foram mais fáceis do que as de nível fonêmico.
Kay-Raining Bird et al. (2000) encontraram resultados que podem ser
comparados aos da presente pesquisa. Esses autores avaliaram longitudinalmente
doze crianças com síndrome de Down falantes do inglês, sendo que a maioria delas
já apresentava habilidades de leitura desde a primeira avaliação. Os sujeitos desse
estudo apresentaram escores mais elevados na tarefa de segmentação silábica do
que na de segmentação fonêmica nas três avaliações realizadas durante o período
da pesquisa. Como apontam os pesquisadores, a habilidade de segmentação
silábica já estava presente na maioria dos participantes desde a primeira avaliação.
127
Na segunda, enquanto todos os doze participantes obtiveram pontuação na tarefa
de segmentação silábica, somente cinco pontuaram na de segmentação fonêmica.
Assim como no estudo de Kay-Raining Bird et al. (2000), a tarefa de
consciência fonológica de maior facilidade para os sujeitos avaliados na presente
pesquisa (n=11) foi a de segmentação silábica. Todos os participantes desta
pesquisa pontuaram na tarefa de segmetação do nível da sílaba do CONFIAS.
Snowling (2002) e Boudreau (2002) encontraram escore médio de sujeitos com
síndrome de Down na tarefa de segmentação silábica superior ao de tarefas de
detecção de fonemas e rimas. Outra tarefa que não trouxe dificuldade para a maioria
das crianças avaliadas neste estudo foi a de síntese silábica. Lara et al. (2007), ao
avaliarem a consciência fonológica de crianças brasileiras com a síndrome por meio
das tarefas do nível da sílaba do CONFIAS, como propostas originalmente, também
observaram maior facilidade na resolução das tarefas de segmentação e síntese
silábica. Verucci et al. (2006), ao aplicarem tarefas de consciência silábica em
dezesseis crianças italianas com síndrome de Down, verificaram habilidade de
síntese silábica preservada, sendo que nesse estudo essa foi a tarefa de maior
facilidade. O fato de a sílaba ser a unidade de segmetação natural da fala
(CARDOSO-MARTINS, 1995) torna as tarefas de análise e síntese silábicas mais
fáceis. Além disso, essas tarefas não requerem habilidades de manipulação, as
quais geram dificuldades na resolução de tarefas de consciência fonológica
(CARDOSO-MARTINS & FRITH, 2001). Achados deste estudo corroboram essa
afirmação.
Ainda para o grupo como um todo (n=11), as tarefas consideradas mais
difíceis no nível da sílaba neste trabalho (produção de rima, identificação de sílaba
medial, transposição e exclusão) também aparecem entre as mais difíceis no estudo
de Lara (2007), quando o CONFIAS foi aplicado da forma original. Na presente
pesquisa, a tarefa mais difícil no nível do fonema foi a de transposição. Não foram
encontrados estudos que utlizaram tarefa de transposição no nível do fonema para
avaliar a consciência fonológica de sujeitos com síndrome de Down. De acordo com
Moojen et al. (2003), essa tarefa é de difícil resolução mesmo para crianças com
desenvolvimento típico alfabetizadas. Como predito ainda na hipótese 2, resultados
deste estudo mostraram que tarefas que exigem manipulação de constituintes
fonológicos, exclusão e transposição, foram difíceis para as crianças com síndrome
de Down, tanto no nível silábico quanto fonêmico. Esses resultados estão de acordo
128
com os achados de Cossu et al. (1993) e Cardoso-Martins & Frith (2001). Esses
estudos demonstraram que indivíduos com síndrome de Down podem apresentar
desempenho pobre em tarefas que requerem manipulação explícita de segmentos
sonoros. Discorda-se de Cossu et al. (1993), a partir do momento em que esses
autores concluem que sujeitos com a síndrome podem alfabetizar-se na ausência de
consciência fonológica. Como apontam Cardoso-Martins & Frith (2001), no estudo
de Cossu et al. (1993) somente foram utilizadas tarefas que exigiam operação ou
manipulação de constituintes fonêmicos, o que, possivelmente, dificultou o acesso à
consciência fonológica pela maioria dos participantes.
No estudo de Cardoso-Martins & Frith (2001), crianças com síndrome de
Down não diferiram significativamente de sujeitos com desenvolvimento típico e
mesmo nível de leitura em uma tarefa de identificação de fonema inicial (aliteração).
Entretanto, tiveram dificuldades para resolver uma tarefa que exigia manipulação
fonêmica (exclusão), apresentando diferença estatisticamente significativa em
relação aos controles nessa tarefa. De acordo com as autoras, tarefas que envolvem
manipulação de constituintes fonêmicos são mais difíceis por requererem uma
grande demanda cognitiva e certo nível de maturidade intelectual. Para que uma
criança consiga resolver tarefas de transposição, por exemplo, é necessário que ela
já tenha atingido o conceito de reversibilidade, o qual denota o início do estágio das
operações concretas (PIAGET, 2005).
Foi observado neste estudo que a seqüência das tarefas do nível da sílaba
do CONFIAS, a qual foi delineada de acordo com o grau de dificuldade de crianças
com desenvolvimento típico, é diferente para os sujeitos com síndrome de Down
avaliados. Esse achado corroborou a hipótese 3 desta pesquisa. Foram encontradas
semelhanças entre a seqüência do nível da sílaba do CONFIAS encontrada neste
trabalho e a observada no estudo de Lara et al. (2007), quando as tarefas do nível
silábico do CONFIAS foram aplicadas em crianças com síndrome de Down como
propostas originalmente.
Pode-se dizer que, na presente pesquisa, foram as dificuldades encontradas
pelas crianças nas tarefas de produção de rima e identificação de sílaba medial que
determinaram as principais diferenças relacionadas à seqüência das tarefas do nível
da sílaba CONFIAS, já que essas foram as tarefas que ocuparam as últimas
posições no nível silábico para os sujeitos deste estudo. Dificuldades na
identificação de segmentos mediais em crianças com síndrome de Down foram
129
relatadas em estudos prévios (CARDOSO-MARTINS et al., 2002; LARA et al., 2007)
Outro fator que contribuiu para a diferença na seqüência das tarefas do CONFIAS foi
o fato de as crianças com síndrome de Down desta pesquisa terem apresentado
melhor desempenho na tarefa de identificação de rima do que na de identificação de
sílaba inicial. Esse achado foi inesperado, já que, em grande parte das pesquisas,
sujeitos com a síndrome apresentam melhor desempenho em tarefas que envolvem
detecção de segmentos sonoros iniciais do que em identificação de rimas
(CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; SNOWLING, 2002 - estudo 2; CARDOSO-
MARTINS et al., 2002; VERUCCI et al., 2006; ROCH & JARROLD, 2008). Ressalta-
se que todos os participantes dos trabalhos apontados já eram capazer de ler, ao
menos, palavras reais.
Neste estudo, para que a seqüência das tarefas do nível da sílaba
encontrada pudesse ser comparada à do CONFIAS, a análise dos dados da
avaliação da consciência fonológica foi realizada no grupo como um todo (n=11), ou
seja, existiam crianças não alfabetizadas, com hipótese de escrita pré-silábica e
silábica, e sujeitos alfabetizados, com hipótese de escrita alfabética. Em estudos
com amostras compostas por sujeitos com síndrome de Down leitores e não leitores
foi encontrado, como no presente estudo, um desempenho superior em tarefas de
identificação de rimas quando comparadas às de identificação de segmentos
sonoros iniciais (CUPPLES & IACONO, 2000; BOUDREAU, 2002). No estudo de
Lara et al. (2007) também se observa melhor desempenho na tarefa de identificação
de rimas do que na de identificação de sílabas iniciais em sujeitos pré-silábicos com
síndrome de Down avaliados pelo CONFIAS da forma original. Santos (2003)
encontrou, entre sujeitos pré-silábicos com desenvolvimento típico, maior facilidade
na tarefa de identificação de rimas do CONFIAS do que na de identificação de sílaba
inicial. O fato de a amostra do presente estudo ser composta, em grande parte, por
sujeitos em processo de alfabetização e com hipótese de escrita pré-silábica pode
ter sido o que levou aos resultados em questão. As crianças pré-silábicas deste
trabalho apresentaram, de fato, melhor desempenho na tarefa de identificação de
rima do que na de identificação de sílabas iniciais.
Nesta pesquisa foi a tarefa de produção de rima que se mostrou mais difícil
do que as de identificação de sílabas ou de fonemas iniciais. Com exceção da tarefa
de transposição fonêmica, na qual nenhum participante pontuou, a de produção de
rima, quando analisada no grupo como um todo, foi a tarefa mais difícil do
130
instrumento. Somente três das onze crianças conseguiram alcançar a pontuação
mínima (1 ponto) nessa tarefa. Pode-se dizer, então, que esses resultados
confirmam a dificuldade de crianças com síndrome de Down em tarefas que
envolvem consciência de rima (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; CUPLES &
IACONO, 2000; KAY-RAINING BIRD et al., 2000; CARDOSO-MARTINS et al., 2002;
SNOWLING et al., 2002; BOUDREAU, 2002; CUPLES & IACONO, 2002; KENNEDY
& FLYNN, 2003ab; VERUCCI et al., 2006). No estudo de Boudreau (2002), dentre as
tarefas de consciênica fonológica aplicadas, a de produção de rimas apresentou o
escore médio mais baixo, sendo inferior ao da tarefa de aliteração fonêmica.
Autores propõem diferentes explicações para as dificuldades de indivíduos
com síndrome de Down em tarefas que envolvem consciência de rima. Cardoso-
Martins & Frith (1999) sugerem uma explicação ligada ao método de alfabetização
utilizado com crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. De acordo
com as autoras, é comum o uso do método fônico com esses indivíduos, o que pode
levá-los a focalizar a atenção nas correspondências entre fonemas e grafemas,
permanecendo com dificuldades para lidar com unidades fonológicas mais amplas.
Cardoso-Martins et al. (2002) referem que essas dificuldades podem ser um reflexo
de uma menor exposição a jogos lingüísticos envolvendo rimas, comumente
utilizados na pré-escola de crianças com desenvolvimento típico. As autoras
apontam que, com os indivíduos que apresentam retardo mental, há, durante a fase
da pré-escola, uma maior preocupação em proporcionar atividades que
desenvolvam habilidades que possam levar a uma maior autonomia na vida diária.
Gombert (2002) defende que o conhecimento implícito envolvido na
identificação de rimas permanece prejudicado devido ao fato de ele não se
desenvolver como resultado da alfabetização. Segundo o autor, são as habilidades
de lidar explicitamente com os fonemas que surgem com a experiência do
aprendizado da leitura e da escrita. Snowling (2002) sugere explicações ligadas à
posição do segmento a ser analisado. Kennedy & Flynn (2003b) acreditam que
habilidades de rima não apresentam relação direta com a alfabetização. Cardoso-
Martins et al. (2002) demonstraram que a sensibilidade a rimas não é
necessariamente um precursor da habilidade de prestar atenção em unidades
menores, como o fonema, em sujeitos com síndrome de Down.
Como apontam Roch & Jarrold (2008), as explicações para as dificuldades
com rimas na síndrome de Down não são ainda totalmente claras. Entretanto,
131
acredita-se que as explicações aqui apresentadas não são excludentes, sendo que a
soma das mesmas pode justificar as dificuldades de indivíduos com síndrome de
Down na resolução de tarefas que envolvem consciência de rima. Considera-se
importante ressaltar que, durante o ensino formal da leitura e da escrita, as crianças
ficam mais expostas a atividades que requerem a habilidade de prestar atenção
explicitamente em estruturas sonoras como a sílaba e o fonema. Essas atividades
são fundamentais para que a criança aprenda a correspondência entre fonemas e
grafemas. Por outro lado, é possível que o uso de rimas em sala de aula aconteça
de forma menos explícita, como, por exemplo, durante leituras de histórias ou em
atividades com música que envolvem palavras que rimam. Dessa forma, as crianças
são menos expostas explicitamente à rima, o que pode fazer com que elas, como
afirmam Cardoso-Martins et al. (2002), permaneçam com dificuldades para lidar com
essa estrutura sonora. Acredita-se que sujeitos com síndrome de Down possam
aprender com mais facilidade tudo aquilo que é ensinado de forma mais explícita
(CUPPLES & IACONO, 2002), pois atividades implícitas requerem, para o
aprendizado, maiores capacidades de generalização e abstração, habilidades
difíceis para crianças com deficiência mental (LURIA, 1987).
Além de investigar a existência de níveis mensuráveis de consciência
fonológica, de identificar tarefas mais fáceis e mais difíceis e da verificação da
seqüência das tarefas do nível da sílaba do CONFIAS para sujeitos com síndrome
de Down, também foi objetivo deste estudo analisar a relação entre os níveis de
escrita dos participantes e os resultados da avaliação de consciência fonológica.
Observou-se que os indivíduos com hipótese de escrita alfabética apresentaram um
desempenho significativamente superior em relação às crianças com hipótese de
escrita pré-silábica, tanto no nível da sílaba quanto no nível do fonema e no escore
total do CONFIAS.
Pesquisas anteriores, contrariamente aos estudos de Cossu et al. (1993) e
Evans (1994), já tinham demonstrado a existência de correlações positivas
significativas entre as habilidades de leitura e a consciência fonológica de sujeitos
com síndrome de Down (FOWLER et al., 1995; CARDOSO-MARTINS & FRITH,
1999; CUPLES & IACONO, 2000, 2002; FLETCHER & BUCLEY, 2002; GOMBERT,
2002; BOUDREAU, 2002; VERUCCI et al., 2006; ROCH & JARROLD, 2008). Na
presente pesquisa, não foi possível aplicar um teste de correlação entre os escores
de consciência fonológica e os dados da avaliação da escrita, já que esses foram
132
coletados de forma qualitativa. Entretanto, o fato de os participantes com hipóteses
de escrita mais avançadas terem apresentado escores significatimante mais
elevados em consciência fonológica mostra a existência de uma associação positiva
significativa também entre as habilidades metafonológicas e de escrita em indivíduos
com síndrome de Down. Esse achado confirmou a quarta hipótese deste estudo.
Cardoso-Maritins & Frith (2001) e Laws & Gunn (2002) compararam o
desempenho de sujeitos com síndrome de Down leitores e não leitores em tarefas
de consciência fonológica. Os sujeitos leitores tiveram um desempenho
significativamente superior nas tarefas testadas em ambos os estudos. Fletcher &
Buckley (2002) verificaram que crianças portadoras da síndrome de Down com
habilidades de leitura mais desenvolvidas alcançaram escores mais altos em todas
as medidas de consciência fonológica utilizadas, com diferença estatisticamente
significativa na tarefa de síntese fonêmica. Esses resultados podem ser comparados
aos achados deste trabalho, indicando que habilidades de consciência fonológica
podem aprimorar-se com a alfabetização. Como muitos autores têm argumentado, a
relação entre a consciência fonológica e a alfabetização é provavelmente recíproca
(MORAIS et al., 1987, 1998; FREITAS, 2004), com progressos em uma servindo de
suporte para o desenvolvimento da outra. Cardoso-Martins & Frith (1999, 2001)
sugeriram que a relação de reciprocidade entre a consciência fonológica e a
alfabetização pode ser verdadeira também para crianças portadoras da síndrome de
Down. Lara et al. (2007) e Gombert (2002) também defendem essa possibilidade. O
último autor argumenta que a consciência fonológica dessas crianças se desenvolve
na interação com o aprendizado da leitura em sistemas alfabéticos. Os resultados da
presente pesquisa dão suporte, como sugerido pelos autores citados, à possibilidade
de uma relação de reciprocidade entre a consciência fonológica e a alfabetização
em indivíduos com síndrome de Down. Entretanto, como neste estudo existe um
número reduzido de participantes e devido ao fato de não terem sido analisados
dados longitudinalmente, outras pesquisas devem ser realizadas para que a relação
de reciprocidade em sujeitos com síndrome de Down possa ser confirmada.
Com o objetivo de investigar quais as possíveis habilidades que se
desenvolvem com a alfabetização em sujeitos com síndrome de Down, realizou-se
uma análise comparando os escores das crianças com hipótese de escrita pré-
silábica e alfabética nas diferentes tarefas do CONFIAS. Os indivíduos com hipótese
de escrita alfabética mostraram habilidades significativamente mais desenvolvidadas
133
em seis das nove tarefas de consciência fonológica do nível da sílaba: identificação
de sílaba inicial (S3), identificação de rima (S4), produção de palavra com a sílaba
dada (S5), identificação de sílaba medial (S6), exclusão (S8) e transposição (S9).
Essas são, portanto, habilidades de consciência silábica que podem aprimorar-se
com a alfabetização em crianças com síndrome de Down. No estudo de Verucci et
al. (2006), sujeitos com síndrome de Down que apresentavam habilidades de leitura
tiveram um ótimo desempenho em uma tarefa de identificação de sílaba inicial.
Cardoso-Martins et al. (2002) também relataram resultados comparáveis aos da
presente pesquisa. As autoras verificaram que o desempenho de leitores com a
síndrome foi significativamente superior ao de não leitores em tarefas de
identificação de rimas e de segmentos mediais. Laws & Gunn (2002) também
observaram melhor desempenho em uma tarefa de identificação de rima entre
indivíduos com síndrome de Down que já tinham começado a ler.
Algumas habilidades envolvidas em tarefas de consciência silábica já
podem, no entanto, estar bem desenvolvidas em fases anteriores à alfabetização em
sujeitos com síndrome de Down (KAY-RAINING BIRD et al., 2000). Na presente
pesquisa, crianças de ambos os grupos apresentaram bom desempenho nas tarefas
de síntese (S1) e segmentação silábica (S2); devido a esse fato a diferença entre os
grupos nessas tarefas não foi significativa. Verucci et al. (2006) verificaram escores
próximos ao máximo na tarefa de síntese silábica em indivíduos com síndrome de
Down. O mesmo ocorreu no estudo de Kay-Raining Bird et al. (2000) no que se
refere à tarefa de segmentação silábica. Treiman & Zukowski (1996) afirmam que a
sensibilidade a sílabas pode se desenvolver independente do conhecimento da
escrita.
No trabalho em questão, a tarefa de produção de rima foi bastante difícil
tanto para as crianças com hipótese de escrita pré-silábica quanto para os sujeitos
com hipótese de escrita alfabética. Não foi encontrada diferença estatisticamente
significativa entre os grupos nessa tarefa. Esse resultado pode ser comparado ao
encontrado por Lara et al. (2007). Nesse estudo, observou-se um grupo de crianças
portadoras da síndrome de Down com nível de escrita pré-silábico e outro com nível
alfabético. Sujeitos de ambos os grupos apresentaram escores médios muito baixos
na tarefa de produção de rima do CONFIAS, quando aplicada como na presente
pesquisa. Os dados apresentados sugerem que habilidades de produção de rima
são menos importantes para o aprendizado da escrita em sujeitos com síndrome de
134
Down do que outras habilidades metafonológicas. Cardoso-Martins & Frith (2001)
sugerem que a habilidade de prestar atenção em constituintes fonêmicos, como a
exigida em tarefas de identificação de sons iniciais ou de produção de palavras com
determinado som, pode capacitar sujeitos com síndrome de Down a aprender a ler
em sistemas alfabéticos, apesar de suas limitações intelectuais.
As crianças pré-silábicas deste estudo apresentaram desempenho muito
pobre na maioria das tarefas do nível fonêmico, o valor da mediana foi zero para a
maioria das tarefas desse nível. Já entre os sujeitos alfabéticos, os escores foram
altos em grande parte das tarefas. Houve diferença estatisticamente significativa em
relação aos pré-silábicos nas tarefas de produção de palavra que inicia com o som
dado (F1), identificação de fonema inicial (F2), identificação de fonema final (F3) e
exclusão (F4). Apesar de ter sido encontrada diferença significativa em relação à
tarefa de produção de palavra que inicia com o som dado (F1), pode-se observar
que todos os sujeitos pré-silábicos obtiveram pontuação nessa tarefa. Isso indica
que certa sensibilidade ao fonema já pode estar presente antes da alfabetização.
Treiman & Zukowski (1996) referem que a instrução formal da leitura não é
necessária para a emergência da sensibilidade fonêmica. As autoras comentam que
o aprendizado informal sobre letras e seus sons pode ser importante. A instrução
formal da leitura e da escrita parace ser, entretanto, a chave para o desenvolvimento
de algumas habilidades, tal como a de produção de palavras com determinado som,
e para o surgimento de outras, como a exclusão fonêmica e a identificação de
fonemas iniciais e finais. Isso mostra que a consciência fonêmica resulta, pelo
menos em parte, do conhecimento da língua escrita (TREIMAN & ZUKOWSKI,
1996).
Existem estudos que também mostram habilidades de consciência fonêmica
mais desenvolvidas em sujeitos com síndrome de Down já alfabetizados. Em
Cardoso-Martins & Frith (2001) e Cardoso-Martins et al. (2002), observa-se que
leitores com síndrome de Down apresentaram desempenho significativamente
melhor que não leitores em uma tarefa de identificação de fonemas iniciais. Kennedy
& Flynn (2003b) e Laws & Gunn (2002) encontraram desempenho superior em
tarefas de identificação de fonemas iniciais entre sujeitos portadores da síndrome de
Down com habilidades de leitura mais desenvolvidas. A tarefa de exclusão fonêmica
foi resolvida com maior facilidade por leitores com a síndrome nos estudos de Fowler
et al. (1995), Cardoso-Martins & Frith (1999) e Kennedy & Flynn (2003b).
135
As tarefas de síntese (F5), segmentação (F6) e transposição (F7) do nível do
fonema foram difíceis para crianças de ambos os grupos deste estudo. Não houve
diferença significativa nessas tarefas entre os participantes com diferentes hipóteses
de escrita. Assim como a habilidade de produção de rima, as habilidades exigidas
nessas tarefas parecem não desempenhar um papel importante para que as
crianças com síndrome de Down aprendam a língua escrita. Isso não implica,
entretanto, que algumas dessas habilidades não possam se desenvolver nessas
crianças. É possível, como verificado em alguns estudos, que progressos na
alfabetização em indivíduos com síndrome de Down possibilitem a resolução de pelo
menos algumas dessas tarefas.
Kay-Raining Bird et al. (2000) relataram, por exemplo, melhoras
significativas na produção de rimas em crianças com a síndrome avaliadas
longitudinalmente, que também progrediram em habilidades de leitura durante o
período do estudo. Kennedy & Flynn (2003b) verificaram bom desempenho em
síntese fonêmica entre os participantes que apresentaram habilidades de leitura
mais desenvolvidas. No estudo de Cupples e Iacono (2002), sujeitos que receberam
instrução analítica de leitura melhoraram a capacidade de estabelecer conexões
entre fonemas e grafemas e o desempenho em uma tarefa de síntese fonêmica. No
estudo de Fletcher & Buclkey (2002), a tarefa de síntese fonêmica apresentou
correlações estatisticamente significativas com medidas de leitura e escrita de
palavras e não-palavras. Boudreau (2002) também encontrou correlação positiva
significativa entre habilidades de leitura e de síntese fonêmica em sujeitos com
síndrome de Down.
A observação de resultados individuais nas diferentes tarefas do CONFIAS
revelou uma tendência a um melhor desempenho na tarefa de síntese fonêmica
entre os sujeitos com hipótese de escrita alfabética, quando comparados às crianças
com hipótese de escrita pré-silábica. Esse fato mostra, como apontam Fletcher &
Buckley (2002), que a habilidade envolvida nessa tarefa parece emergir somente
com o aprendizado da língua escrita em sujeitos acometidos pela síndrome de
Down.
Em relação à tarefa de segmentação fonêmica, os resultados individuais
mostraram que uma única criança do grupo alfabético obteve escore nessa tarefa.
Assim como na presente pesquisa, sujeitos com síndrome de Down avaliados por
Fletcher & Buckley (2002), até mesmo os alfabetizados, encontraram dificuldades na
136
resolução de uma tarefa de segmentação fonêmica. No estudo de Kennedy & Flynn
(2003a), apesar de as crianças com síndrome de Down terem recebido treinamento
em habilidades de consciência fonêmica, nenhum participante apresentou
generalização para a tarefa de segmentação no nível do fonema. Cupples & Iacono
(2000) verificaram que, entre as tarefas de consciência fonológica utilizadas, o
desempenho mais baixo ocorreu na de segmentação fonêmica. Esses autores,
entretanto, encontraram correlação entre essa tarefa e medidas de leitura; a
segmentação fonêmica foi, nesse estudo, considerada preditora das habilidades de
decodificação dos sujeitos com síndrome de Down.
Como já apontado, enquanto algumas habilidades aprimoram-se com o
aprendizado da língua escrita em crianças com síndrome de Down, outras surgem
como resultado da alfabetização. A experiência de aprender a ler e escrever parece
ser responsável pela emergência da maioria das habilidades de consciência
fonêmica em sujeitos com a síndrome (CUPPLES & IACONO, 2000; KAY-RAINING
BIRD et al., 2000; BOUDREAU, 2002; CARDOSO-MARTINS et al., 2002). Neste
estudo, verificou-se que algumas habilidades de consciência silábica (segmentação
e síntese) e uma certa sensibilidade fonêmica, observada pelo desempenho na
tarefa de produção de palavra com o som dado, já podem estar presentes em
sujeitos que ainda não se alfabetizaram. Acredita-se que essas habilidades possam
dar o suporte para o início do aprendizado da leitura e da escrita em crianças
portadoras da síndrome de Down.
Neste estudo, os escores alcançados pelos sujeitos com síndrome de Down
na avaliação da consciência fonológica foram comparados aos resultados esperados
para indivíduos com desenvolvimento típico, de acordo com o CONFIAS (MOOJEN
et al., 2003). O critério de emparelhamento, como já mencionado nos capítulos
anteriores, foi a hipótese de escrita (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999). Os
resultados dessa comparação mostraram que o desempenho dos sujeitos com
síndrome de Down foi significativamente inferior ao de crianças com
desenvolvimento típico, apesar de mesma hipótese de escrita. Esse achado
corroborou a hipótese 5 desta pesquisa. Resultados deste trabalho podem ser
comparados aos de estudos que verificaram diferenças significativas entre grupos de
crianças com síndrome de Down e desenvolvimento típico, ambos com mesmo nível
de leitura, em tarefas de consciência fonológica (COSSU et al., 1993; CARDOSO-
137
MARTINS & FRITH, 1999, 2001; CARDOSO-MARTINS et al., 2002; SNOWLING et
al., 2002; VERUCCI et al., 2006; ROCH & JARROLD, 2008).
No estudo de Cossu et al. (1993), crianças com síndrome de Down que
apresentavam habilidades de decodificação fonológica tiveram desempenho
significativamente inferior a controles com mesmo nível de leitura nas quatro tarefas
testadas: segmentação e contagem de fonemas, exclusão fonêmica, soletração oral
e síntese fonêmica. Cardoso-Martins & Frith (1999) verificaram que, apesar de níveis
semelhantes de habilidades de leitura, grupos de crianças com síndrome de Down e
com desenvolvimeto típico diferiram significativamente em tarefas de consciêncica
fonológica (detecção de rimas e fonemas iniciais e exclusão fonêmica). Entretanto,
dados do presente estudo e de Cardoso-Martins & Frith (1999), ao contrário de
Cossu et al. (1993), mostraram que crianças com síndrome de Down apresentam
habilidades de reflexão fonológica que podem ser medidas. Cardoso-Martins & Frith
(1999) observaram que as crianças com síndrome de Down foram relativamente
bem sucedidas nas tarefas testadas, sobretudo na de detecção de fonemas iniciais.
Nesse estudo, através da análise dos escores individuais, utilizando-se o teste
binomial, a diferença entre os sujeitos dos dois grupos deixou de existir na tarefa de
detecção de fonemas iniciais.
Cardoso-Martins & Frith (2001) observaram que o desempenho de crianças
com síndrome de Down e desenvolvimento típico foi significativamente diferente
somente na tarefa de exclusão fonêmica. As autoras observaram que crianças de
ambos os grupos, nesse estudo, também apresentaram desempenho semelhante na
tarefa de detecção de fonema inicial. Esses resultados levaram as pesquisadoras a
concluir que a diferença entre crianças com síndrome de Down e com
desenvolvimento típico pode ser explicada pelo desempenho inferior das crianças
com a síndrome em tarefas que exigem manipulação de constituintes fonológicos,
como a de exclusão fonêmica.
Gombert (2002) ressalta que, apesar de a performance de crianças com
síndrome de Down ser mais baixa do que em controles com desenvolvimento típico
pareados pelas habilidades de leitura, consciência fonológica e medidas de leitura
são correlacionadas positivamente em ambos os grupos. Verucci et al. (2006)
verificaram que divergências entre esses dois grupos de crianças, no que se refere
ao desempenho em tarefas de consciência fonológica, podem permanecer mesmo
quando diferenças de idade mental são levadas em consideração. De acordo com
138
os autores, esses achados sugerem que as dificuldades em tarefas de consciência
fonológica podem não ser diretamente dependentes do reduzido nível cognitivo
global dos sujeitos com síndrome de Down.
Snowling et al. (2002) também observaram que crianças com síndrome de
Down têm desempenho significativamente inferior em relação a controles com
desenvolvimento típico e mesmo nível de leitura em tarefas de consciência
fonológica (segmentação silábica, detecção de rimas e detecção de fonemas
iniciais). Entretanto, nesse estudo, quando os grupos foram equiparados quanto à
idade mental verbal, os grupos de sujeitos continuaram a apresentar diferença
estatisticamente significativa somente na tarefa de detecção de rimas. Esses autores
sugerem, então, que as divergências entre crianças com síndrome de Down e
desenvolvimento típico, no que se refere à consciência silábica e fonêmica, podem
estar relacionadas a diferenças na habilidade verbal, medida pelo vocabulário
receptivo. No estudo de Roch & Jarrold (2008), crianças com síndrome de Down e
desenvolvimento típico com mesmo nível de leitura e vocabulário receptivo
apresentaram diferenças significativas nas tarefas de detecção de rimas e exclusão
fonêmica, a qual exige a manipulação de constituintes fonêmicos. No entanto, como
no estudo de Snowling (2002), não diferiram significativamente em relação à tarefa
de detecção de fonema inicial.
Esses resultados sugerem que, tanto a habilidade para manipular fonemas
quanto a idade mental verbal, relacionada ao vocabulário receptivo, podem explicar
diferenças em relação à consciência fonológica entre sujeitos com síndrome de
Down e desenvolvimento típico que apresentam níveis de leitura semelhantes. Cabe
destacar que o fato de as crianças com síndrome de Down e desenvolvimento típico,
apesar de um mesmo nível de leitura, apresentarem diferença siginificativa em
detecção de rimas e não em detecção de fonemas iniciais (CARDOSO-MARTINS &
FRITH, 2001), evidenciam o déficit na resolução de tarefas que envolvem
consciência de rima. Outro fator que reforça essa afirmação é a permanência da
diferença estatisticamente significativa nessa tarefa entre crianças com síndrome de
Down e desenvolvimento típico, mesmo quando diferenças na idade mental verbal
são levadas em consideração (SNOWLING et al., 2002; ROCH & JARROLD, 2008).
Algumas diferenças individuais entre as crianças avaliadas neste estudo
sugerem que determinadas características podem ter inflenciado o desempenho na
avaliação da consciência fonológica. Foi observado que as crianças com linguagem
139
expressiva e compreensiva mais desenvolvidas, assim como com uma maior
capacidade de memória de trabalho auditiva, foram as que obtiveram melhor
desempenho na avaliação da consciência fonológica. Já os sujeitos com dificuldades
lingüísticas mais visíveis apresentaram desempenho pobre nessa avaliação.
Acredita-se que quanto mais desenvolvida for a linguagem da criança, maior será a
sua capacidade de refletir sobre a estrututura sonora das palavras faladas. Buckley
& Bird (1994 apud BISSOTO, 2005) apontam que as alterações lingüísticas podem
afetar o desenvolvimento de outras habilidades cognitivas, pois há uma maior
dificuldade para usar os recursos da linguagem para pensar, raciocinar e lembrar
informações.
Para verificar a veracidade da sexta e última hipótese deste estudo, foi
investigada a existência de correlação entre os escores em memória de trabalho
auditiva e consciência fonológica dos sujeitos com síndrome de Down avaliados.
Também foi analisada a correlação entre o tempo de letramento escolar e a
consciência fonológica, além da associação entre a inteligibilidade de fala e a
consciência fonológica dos participantes.
O escore total e a pontuação nas tarefas do nível da sílaba do CONFIAS
apresentaram correlação positiva estatisticamente significativa com todas as
medidas de memória de trabalho auditiva utilizadas neste estudo. O escore das
tarefas de consciência fonêmica do CONFIAS correlacionou-se positivamente com
relevância estatística somente com o escore total da avaliação da memória de
trabalho auditiva e com o número de seqüências de palavras repetidas
corretamente. Esses resultados mostram, como afirmado na hipótese 6 desta
pesquisa, que a memória de trabalho auditiva influencia o desempenho dos sujeitos
com síndrome de Down em tarefas de consciência fonológica.
Conforme explicitado nos capítulos anteriores, a avaliação da memória de
trabalho auditiva deste estudo continha um total de 46 palavras distribuídas em 14
seqüências formadas por vocábulos de duas ou três sílabas. Ressalta-se que os
sujeitos deste estudo apresentaram extensa variabilidade nos escores da avaliação
da memória de trabalho auditiva. Os resultados encontrados no presente estudo são
consistentes com os achados de Fletcher & Buckley (2002). Esses autores também
observaram variação considerável nos escores de crianças com síndrome de Down
na avaliação da memória de trabalho auditiva utilizada (span de dígitos). Nesse
estudo, os sujeitos com escores mais altos em memória de dígitos apresentaram
140
escores mais elevados em todas as medidas de consciência fonológica (detecção de
rimas, aliteração, síntese e segmentação fonêmica). No entanto, a correlação
alcançou significância estatística somente com a tarefa de aliteração fonêmica. Isso
pode ter ocorrido, segundo os autores, em função de a amostra ser reduzida e pela
alta variabilidade dos resultados encontrados. No estudo de Kennedy & Flynn
(2003b), a memória de trabalho audiovisual de crianças com síndrome de Down foi
avaliada utilizando-se figuras de palavras com uma, duas e três sílabas. Com esse
procedimento, foram encontradas diferenças mínimas entre os participantes no que
se refere à memória de trabalho. Nesse estudo, a tarefa que se correlacionou
significativamente com a medida de memória de trabalho foi também foi a de
aliteração fonêmica. Lara et al. (2007) mostraram que o uso de figuras na avaliação
da consciência fonológica diminui a interferência da memória de trabalho auditiva em
crianças com síndrome de Down.
Broadley et al. (1995) utilizaram a repetição de seqüências de palavras reais
apresentadas verbalmente como uma das medidas de memória de trabalho auditiva.
As palavras que formavam as seqüências, assim como na presente pesquisa,
variavam quanto ao número de sílabas. A tarefa de consciência fonológica utilizada
no estudo de Broadley et al. (1995), julgamento de rimas, apresentou correlação
positiva significativa com a repetição de palavras de uma sílaba e com o span de
dígitos. Boudreau (2002) também verificou correlação positiva significativa entre
medidas de memória de trabalho auditiva e tarefas de consciência fonológica.
Os resultados dos estudos apresentados confirmam a influência da memória
de trabalho auditiva no desempenho de sujeitos com síndrome de Down em tarefas
que avaliam a consciência fonológica. Como afirmam Fletcher & Buckley (2002),
habilidades metafonológicas dependem, em alguma medida, de habilidades
cognitivas, como a memória de trabalho auditiva. Kennedy & Flynn (2003b) apontam
que a alfabetização de crianças com síndrome de Down também é afetada por
prejuízos subjacentes nos sistemas de memória.
No presente estudo foi verificada diferença estatisticamente significativa em
relação a medidas de memória de trabalho auditiva entre os grupos de crianças com
níveis de escrita pré-silábico e alfabético. Esse achado corrobora a hipótese
levantada no capítulo da apresentação dos resultados, subseção 3.2.1, mostrando
que os sujeitos alfabéticos deste estudo apresentaram memória de trabalho auditiva
mais desenvolvida. Observou-se diferença estatisticamente significativa entre os
141
dois grupos no escore total da avaliação da memória de trabalho auditiva e no
número de seqüências repetidas corretamente. Isso mostra uma associação positiva
significativa entre a memória de trabalho auditiva e os níveis de escrita dos sujeitos
com síndrome de Down avaliados. Entretanto, dados da presente pesquisa não
permitem responder se a memória de trabalho auditiva facilitou a alfabetização ou se
ela se desenvolveu com o aprendizado da escrita entre os sujeitos com síndrome de
Down do grupo alfabético.
Nos estudos de Fowler et al. (1995) e Kay-Raining-Bird et al. (2000), a
medida de memória de trabalho auditiva utlizada (span de dígitos) apresentou
correlação positiva significativa com as medidas de leitura dos sujeitos com
síndrome de Down avaliados. Em ambos os estudos, a memória de trabalho auditiva
contribuiu significativamente para a variação nos escores de leitura de não-palavras.
Fowler et al. (1995) sugerem que a memória de trabalho auditiva pode funcionar
como um preditor do sucesso na alfabetização. Boudreau (2002) também acredita
no papel preditor da memória de trabalho auditiva em relação à alfabetização de
crianças com síndrome de Down. De acordo com Fowler et al. (1995), um span de
dígitos alto não garante o sucesso na alfabetização, mas um span baixo pode, até
mesmo, impedir o aprendizado da leitura e da escrita. No estudo de Cupples &
Iacono (2002), no entanto, é possível observar que as dificuldades envolvendo
memória de trabalho auditiva não impediram que sujeitos com síndrome de Down
progredissem em habilidades de decodificação quando a abordagem de ensino da
leitura utilizada foi a analítica.
Kay-Raining Bird et al. (2000) ressaltam que a memória de trabalho auditiva
pode mediar a relação entre a consciência fonológica e as habilidades de
decodificação. Segundo esses autores, crianças com habilidades de memória de
trabalho auditiva mais desenvolvida parecem ter um melhor prognóstico, tanto para o
desenvolvimento da consciência fonológica quanto para o aprendizado da língua
escrita. Kay-Raining Bird et al. (2000) apontam ainda que, para escrever, a criança
deve analisar a palavra ouvida em unidades e relacioná-las com os grafemas
correspondentes. Nesse processo, além da memória de trabalho auditiva, também
está envolvida a memória de trabalho visual. De acordo com Salles (2008), a
memória de trabalho pode ser estimulada; no entanto, ensinar especificamente
memorização de dígitos ou palavras parece não trazer benefícios para a criança
(KAY-RAINING BIRD et al., 2000).
142
Laws & Gunn (2002) avaliaram a memória de trabalho auditiva de sujeitos
com síndrome de Down através da repetição de não-palavras. Esses autores
procuraram estabelecer, por meio de um estudo longitudinal, quais eram as
diferenças, no tempo um, entre os sujeitos que tinham começado a ler no tempo dois
e aqueles que permanceram não leitores. Nesse estudo, a memória de trabalho
auditiva não foi um preditor significativo das habilidades de leitura no tempo dois,
entretanto, continuou apresentando correlação positiva significativa com a
compreensão em leitura. De acordo com as autoras, a falta de relação preditiva foi
surpreendente dadas as diferenças entre os escores médios de leitores e não
leitores na avaliação da memória de trabalho auditiva utilizada.
Como se podem observar alguns resultados divergentes em estudos
apresentados, novas pesquisas devem ser realizadas com o intuito de investigar a
existência ou não de uma relação de predição entre o aprendizado da língua escrita
e as habilidades de memória de trabalho auditiva em sujeitos com síndrome de
Down. Em um trabalho recente, apesar de não ter sido esclarecida a questão sobre
o valor preditivo da memória de trabalho auditiva, os autores chamam a atenção
para o papel dessa habilidade no aprendizado da leitura de novas palavras, tanto em
sujeitos com desenvolvimento típico como em indivíduos portadores da síndrome de
Down (JARROLD et al., 2008).
Ressalta-se que, durante a aplicação da avaliação da memória de trabalho
auditiva deste estudo, foi observado que crianças, tanto as do nível pré-silábico
como as do alfabético, apresentaram uma tendência a repetir com maior facilidade
as seqüências com palavras dissilábicas. Isso mostra uma influência do
comprimento da palavra na memória de trabalho auditiva. Esses achados estão de
acordo com resultados encontrados por Broadley et al. (1995). Nesse estudo
verificou-se um efeito significativo em relação ao comprimento dos vocábulos, o
span médio de palavras decaiu com o aumento do tamanho dos itens.
Neste estudo, as correlações entre o tempo de letramento escolar e os
escores da avaliação da consciência fonológica (escore total, escore das tarefas do
nível da sílaba e do nível do fonema) não alcançaram significância estatística. No
entanto, a idade cronológica dos sujeitos da amostra apresentou correlação positiva
estatisticamente significativa com o escore das tarefas do nível do fonema (r
s
=0,659,
p=0,027). Esse resultado mostra que os sujeitos com idades mais avançadas
tiveram um melhor desempenho nas tarefas que exigiam consciência fonêmica. De
143
acordo com Chapman & Hesketh (2000, 2001), a idade cronológica de sujeitos com
síndrome de Down tem um papel importante na aquisição de algumas habilidades
cognitivas. Na presente pesquisa, foi observado que a maioria dos indivíduos com
idades mais avançadas apresentou, também, nível de escrita mais desenvolvido.
Boudreau (2002) verificou correlação positiva significativa entre a idade cronológica
de indivíduos com síndrome de Down e habilidades de leitura. Estudos longitudinais
confirmam que habilidades de leitura em sujeitos com síndrome de Down podem
progredir com o passar do tempo e, conseqüentemente, com o aumento da idade
cronológica (KAY-RAINING BIRD et al., 2000; LAWS & GUNN, 2002).
É possível que, como aponta Boudreau (2002), crianças mais velhas e com
habilidades de leitura mais desenvolvidas apresentem maior tempo de contato com o
ensino formal da língua escrita. Kennedy & Flynn (2003b) corroboraram essa
hipótese; nesse estudo, o tempo de escolaridade de crianças com síndrome de
Down correlacionou-se significativamente com a idade cronológica. Na presente
pesquisa, o tempo de letramento escolar da maioria das crianças com idades mais
avançadas, as quais apresentaram maior facilidade na resolução de tarefas de
consciência fonêmica, foi superior ao das demais crianças. No estudo de Kennedy &
Flynn (2003b), o tempo de escolaridade apresentou correlações positivas, também,
com o desempenho em tarefas de consciência fonológica (aliteração fonêmica,
isolamento de fonemas iniciais e síntese fonêmica). Entretanto, a correlação foi
estatisticamente significativa somente com a tarefa de aliteração fonêmica. Esses
resultados levam a crer que o tempo de letramento escolar pode ter influência
somente no desempenho de algumas tarefas de consciência fonológica. Na
presente pesquisa, as correlações entre o tempo de letramento escolar e o
desempenho nas diferentes tarefas do CONFIAS não foram investigadas.
Ressalta-se, ainda, que os sujeitos com hipótese de escrita pré-silábica e
alfabética deste estudo apresentaram diferença significativa em relação ao tempo de
letramento escolar. No estudo de Kennedy & Flynn (2003b), o tempo de
escolaridade de crianças com síndrome de Down apresentou, ainda, correlação
estatisticamente significativa com as habilidades de leitura dos participantes. Pode-
se pensar que, se habilidades de leitura progridem com um maior tempo de
escolaridade, e a relação entre a alfabetização e consciência fonológica dessas
crianças é de reciprocidade (CARDOSO-MARTINS & FRITH, 1999; 2001;
GOMBERT, 2002; LARA et al., 2007), um maior tempo de contato com o ensino
144
formal da leitura e da escrita pode resultar em um melhor desempenho em tarefas
de consciência fonológica. Boudreau (2002) refere que a alfabetização e habilidades
relacionadas continuam se desenvolvendo com o aumento da idade cronológica e
com uma maior experiência. Cabe ressaltar que a influência do tempo de letramento
escolar para a alfabetização e o conseqüente aprimoramento da consciência
fonológica pode depender também da capacidade cognitiva da criança.
Apesar do exposto acima, os dados do presente estudo não corroboraram
estatisticamente a hipótese da existência de uma correlação significativa entre o
tempo de letramento escolar e a consciência fonológica. Isso pode ter ocorrido em
função do número reduzido de sujeitos avaliados neste estudo (n=11). A amostra do
estudo de Kennedy & Flynn (2003b), no qual se verificou correlação significativa
entre o tempo de escolaridade de sujeitos com síndrome de Down e o desempenho
em uma tarefa de consciência fonológica, também foi formada por um número
limitado de crianças. Portanto, para a verificação da real influência do tempo de
letramento escolar no desempenho de sujeitos com síndrome de Down em tarefas
de consciência fonológica, sugere-se que sejam realizadas novas pesquisas com um
número mais expressivo de participantes. Outros aspectos a serem analisados são
as correlações entre o tempo de letramento escolar, os níveis de alfabetização e a
capacide intelectual de sujeitos com síndrome de Down.
A associação entre a inteligibilidade de fala e a consciência fonológica dos
participantes foi o último aspecto analisado neste estudo. Chapman & Hesketh
(2001) relatam que crianças com síndrome de Down podem enfrentar um longo
período de erros fonológicos, assim como inteligibilidade de fala prejudicada.
Hortsmeier (1995) refere que sujeitos com a síndrome podem ser capazes de emitir
a maioria dos sons da língua materna, mas, quando combinados em palavras longas
ou frases, esses sons são freqüentemente omitidos, resultando em vocábulos
reduzidos e com substituições fonêmicas. Foi observado neste estudo que as
crianças com inteligibilidade alterada e adequada diferiram significativamente em
relação ao escore total das tarefas do nível do fonema e ao escore total do
CONFIAS. Ressalta-se que a inteligibilidade está relacionada a alterações fonéticas
e/ou fonológicas na fala da criança, o que pode dificultar, em maior ou menor grau, a
compreensão do interlocutor.
Como relatado no primeiro capítulo, na literatura pesquisada, não foram
encontrados estudos que tinham como objetivo analisar a relação entre a
145
inteligibilidade de fala, medida por julgamento perceptual, e a consciência fonológica
de sujeitos com síndrome de Down. No estudo de Kennedy & Flynn (2003b), a
inteligibilidade de fala de nove crianças acometidas pela síndrome, medida pelo
percentual de consoantes corretas, não apresentou correlação significativa com
medidas de consciência fonológica. Kennedy & Flynn (2003a) verificaram melhoras
na inteligibilidade de fala em duas das três crianças com síndrome de Down
avaliadas nesse estudo, as quais receberam treinamento em consciência fonológica.
Após o treino, essas crianças mostraram maior percentual de consoantes corretas,
porém esse aumento não foi estatisticamente significativo. De acordo com os
autores, isso pode ter ocorrido em função do curto espaço de tempo da intervenção,
constituído de somente quatro horas distribuídas em quatro semanas.
Estudos envolvendo crianças com desenvolvimento típico e com um maior
número de participantes apontam, entretanto, para uma forte associação entre a
consciência fonológica e a inteligibilidade da fala. Rvachew et al. (2003) verificaram
que crianças com inteligibilidade prejudicada, em função de alterações no nível
fonológico da linguagem, apresentaram desempenho significativamente inferior em
tarefas de consciência fonológica. Os resultados do estudo de Rvachew & Grawburg
(2006) levam à conclusão de que crianças com alterações na inteligibilidade da fala
são de risco para dificuldades em consciência fonológica. Esses autores alertam que
o risco pode aumentar consideravelmente se as habilidades de percepção de fala e
de compreensão de vocabulário também estão prejudicadas. De acordo com
Sutherland & Gillon (2002), crianças com inteligibilidade de fala alterada devem ser
consideradas de risco para a capacidade de refletir conscientemente sobre os sons
da fala devido ao fato de elas serem mais suscetíveis a ter dificuldades para formar
representações fonológicas adequadas.
Foi observado que alterações fonológicas presentes na fala de crianças
avaliadas neste estudo, as quais apresentavam inteligibilidade prejudicada,
influenciaram suas opções de respostas em alguns momentos durante avaliação da
consciência fonológica. Esse achado está de acordo com os resultados de
Gonçalves et al. (2004). Nesse estudo foram relatados quatro casos de crianças com
desvios fonológicos, nos quais foram observadas interferências dos desvios nas
respostas a tarefas de consciência fonológica. Essas autoras propõem que as
crianças estão sendo coerentes em suas escolhas ao aplicarem a lógica do sistema
fonológico desviante em suas respostas.
146
Chapman & Hesketh (2001) referem que a inteligibilidade da fala de
indivíduos com síndrome de Down pode melhorar com o aumento da idade
cronológica e com assistêcia terapêutica fonoaudiológica continuada. De acordo
com os autores, os adolescentes com síndrome de Down normalmente têm a fala
mais inteligível do que as crianças. Dados do presente estudo são consistentes com
essa afirmação; observou-se que a maioria das crianças com idades mais
avançadas fazia parte do grupo dos sujeitos com inteligibilidade de fala adequada.
A partir de resultados desta pesquisa, pode-se afirmar que a inteligibilidade
de fala, assim como a memória de trabalho auditiva inflenciaram o desempenho dos
participantes na avaliação da consciência fonológica. Como o tempo de letramento
escolar não se mostrou significativo para o desempenho em tarefas de consciência
fonológica, a hipótese 6 deste estudo foi parcialmente corroborada.
É preciso salientar que a amostra desta pesquisa foi constituída por crianças
alfabetizadas e em processo de alfabetização, que todas elas receberam
estimulação precoce e, com exceção de uma, todas estavam em atendimento
fonoaudiológico há um tempo considerável. A única criança que não estava em
atendimento fonoaudiológico freqüentava sessões de psicopedagogia. As
características da amostra deste estudo e o número reduzido de participantes
limitam a generalização dos achados para a população de sujeitos portadores da
síndrome de Down em geral. Entretanto, os resultados encontrados são importantes
por mostrarem que algumas crianças com síndrome de Down, quando bem
assistidas por suas famílias, terapeutas e professores, podem ter acesso à
consciência fonológica e ao aprendizado da escrita em sistemas alfabéticos.
É importante lembr ar, como aponta Bissoto (2005), que o desenvolvimento
do indivíduo portador da síndrome de Down é, assim como o das demais crianças,
resultante de influências sociais, culturais e genéticas. Além disso, também é
influenciado pelas expectativas existentes em relação às suas potencialidades e
capacidades. Deve-se ressaltar, então, que a genética e a presença das alterações
clínicas interferem no desenvolvimento global da criança, entretanto, o meio em que
a criança vive, ou seja, a estimulação recebida tem um papel fundamental para que
a criança possa se desenvolver de forma satisfatória. Jackson-Cook (1996 apud
BISSOTO, 2005) alerta que as crianças com síndrome de Down também possuem
outros 22 pares de cromossomos capazes de lhe conferir uma gama de
diversidades.
CONCLUSÕES
As cinco primeiras hipóteses desta pesquisa foram corroboradas. Os
participantes deste estudo apresentaram níveis mensuráveis de consciência
fonológica por meio da aplicação do CONFIAS (MOOJEN et al., 2003). Para as
crianças com síndrome de Down deste estudo, as tarefas do nível da sílaba do
instrumento utilizado foram, de um modo geral, mais fáceis do que as do nível do
fonema. Em relação a capacidades específicas, observou-se que os participantes
mostraram habilidades de segmentação e síntese silábicas bem desenvolvidas.
Entretanto, encontraram dificuldades na resolução de tarefas que exigiam
manipulação de constituintes fonológicos, tais como exclusão e transposição. Essas
dificuldades ocorreram nos dois níveis de avaliação da consciência fonológica. As
outras tarefas que foram difíceis para a maioria dos sujeitos desta pesquisa foram:
produção de rima, identificação de sílaba medial, síntese e segmentação fonêmicas.
Observou-se, a partir de resultados encontrados, que a seqüência (grau de
dificuldade) das tarefas do nível da sílaba do CONFIAS é diferente para as crianças
com síndrome de Down avaliadas. Essa diferença ocorreu principalmente em função
das dificuldades das crianças nas tarefas de produção de rima e identificação de
sílaba medial.
Na presente pesquisa, constatou-se que o desempenho dos sujeitos com
hipótese de escrita alfabética em tarefas de consciência fonológica foi
significativamente superior ao das crianças com hipótese de escrita pré-silábica.
Esse achado mostra uma associação positiva significativa entre a consciência
fonológica e o aprendizado da escrita em indivíduos com síndrome de Down.
Verificou-se, a partir de dados deste trabalho, que habilidades de consciência
silábica podem aprimorar-se com a alfabetização em crianças com a síndrome;
entretanto, a consciência fonêmica parece surgir como resultado do aprendizado da
língua escrita. Observou-se, ainda, que progressos na alfabetização resultam em
níveis mais avançados de consciência fonológica. Esses dados sugerem que a
relação de reciprocidade entre alfabetização e consciência fonológica pode ser
verdadeira também para sujeitos com síndrome de Down.
O desempenho médio das crianças com a síndrome na avaliação da
consciência fonológica foi significativamente inferior ao esperado para indivíduos
148
com desenvolvimento típico e mesma hipótese de escrita. Isso ocorreu tanto para as
tarefas de consciência silábica quanto para as de consciência fonêmica.
A sexta hipótese deste estudo foi parcialmente corroborada. Medidas de
memória de trabalho auditiva correlacionaram-se positivamente e de forma
significativa com os resultados da avaliação da consciência fonológica. A
inteligibilidade de fala também apresentou associação positiva significativa com os
escores de consciência fonológica. Já o tempo de letramento escolar não
apresentou correlação significativa com o desempenho em consciência fonológica.
Dados da presente pesquisa permitem afirmar, então, que o aprendizado da
língua escrita, o segmento a ser analisado, a habilidade envolvida na tarefa, a
memória de trabalho auditiva e a inteligibilidade de fala influenciam o desempenho
de sujeitos com síndrome de Down na avaliação da consciência fonológica.
Por fim, cabe ressaltar que a estimulação de habilidades de reflexão
fonológica pode facilitar o aprendizado da língua escrita pelas crianças com
síndrome de Down. Em sala de aula, o uso de atividades de consciência fonológica
deve funcionar como uma ferramenta aliada ao método utilizado para o ensino da
língua escrita.
É importante salientar, ainda, que as dificuldades das crianças com
síndrome de Down não devem ser vistas como impedimentos. Enxergar e estimular
o potencial de cada uma delas é um importante desafio para os pais e profissionais
envolvidos no tratamento dessas crianças. Esses profissionais devem atuar de forma
interdisciplinar para que a mera justaposição de práticas diferentes seja evitada. De
acordo com Jerusalinsky (1999), o trabalho com as crianças acometidas pela
síndrome de Down é uma paciente e demorada jornada que envolve decifrar e tomar
em cada caso os detalhes de suas diferenças, as limitações de seus corpos e o
entendimento de seus desejos. Assim, os conhecimentos dos diferentes
profissionais poderão colocar-se a serviço de um sujeito que, embora portador de
uma síndrome, demanda ser alguém.
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APÊNDICES
APÊNDICE 1
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Título da pesquisa: Avaliação da consciência fonológica em crianças com síndrome de Down
Caro(a) senhor(a):
Este projeto de pesquisa resultará em uma dissertação de Mestrado do Programa de Pós-
Graduação em Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Insere-se
na área do conhecimento em Lingüística Aplicada e está integrado à linha de pesquisa em Aquisição
e Desenvolvimento da Linguagem, coordenada pela Prof. Dr. Regina Ritter Lamprecht, orientadora da
pesquisa.
O objetivo do trabalho é investigar o desempenho de crianças com síndrome de Down em
tarefas de consciência fonológica, durante o processo da alfabetização. A consciência fonológica é a
capacidade de refletir conscientemente sobre os sons da fala. A hipótese de que essa habilidade
facilita a aprendizagem da leitura e escrita é defendida por muitos pesquisadores.
O(a) seu(sua) filho(a) está sendo convidado(a) a participar desta pesquisa, que visa contribuir
com os estudos sobre a consciência fonológica e a aprendizagem da escrita de crianças com
síndrome de Down. A participação voluntária consistirá em submeter seu(sua) filho(a) a avaliações
dos níveis de consciência fonológica, memória de trabalho auditiva e nível de escrita. A memória de
trabalho auditiva é a memória que utilizamos para manter, durante alguns segundos ou minutos,
informações recebidas pela via auditiva. Esse tipo de memória, de acordo com a literatura, apresenta
relações com as habilidades de consciência fonológica e com a alfabetização.
Para a avaliação da consciência fonológica, será utilizado o CONFIAS – Consciência
fonológica: instrumento de avaliação seqüencial (MOOJEN et al., 2003). Esse instrumento consiste
em dezesseis tarefas sobre consciência fonológica. A criança deverá responder verbalmente a
questões sobre os sons das palavras, suas respostas serão pontuadas de acordo com critérios
estabelecidos pelo instrumento e pela pesquisadora. Para a avaliação da memória de trabalho
auditiva, a criança deverá repetir seqüências de palavras apresentadas verbalmente. Suas repostas
serão pontuadas de acordo com o número de palavras e seqüências repetidas corretamente. A coleta
de dados de escrita será realizada mediante a utilização de um livro de história infantil, será solicitado
que a criança escreva algumas palavras correspondentes a ilustrações do livro. Serão necessários
três ou quatro encontros de quarenta e cinco minutos com a criança, dependendo de seu
desempenho. As avaliações serão realizadas pela pesquisadora e mestranda Bárbara de Lavra Pinto
no Centro Lydia Coriat, na Escola Estadual Visconde de Pelotas ou na residência da criança. As
sessões serão gravadas em áudio e usadas somente pela pesquisadora e sua orientadora. As
crianças que não realizaram avaliação auditiva no período de um ano serão encaminhadas para
avaliação otorrinolaringológica e audiológica.
Após o encerramento da pesquisa, os dados serão armazenados no Centro de Estudos sobre
Aquisição e Aprendizagem da Linguagem (CEAAL), localizado no quarto andar do prédio 8 da
PUCRS, sala 425, coordenado pela orientadora desta pesquisa. Os dados deste estudo poderão ser
utilizados futuramente por outros pesquisadores, mestrandos ou doutorandos do programa de Pós-
Graduação em Letras, mediante autorização da coordenadora do Centro de Estudos sobre Aquisição
e Aprendizagem da Linguagem (CEAAL).
A identidade das crianças que participarem da pesquisa será sempre preservada, mediante o
uso de algarismos (Sujeito 1, Sujeito 2) ou letras (Sujeito A, Sujeito B). Os métodos utilizados para
avaliação não oferecem nenhum risco para o(a) seu(sua) filho(a) e não existirão despesas ou
compensações pessoais para o(a) participante em qualquer fase do estudo. Também não há
compensação financeira relacionada à participação do(a) seu(sua) filho(a). Se existir qualquer
despesa adicional, ela será absorvida pelo orçamento da pesquisa.
Os dados obtidos durante a pesquisa serão conhecidos pelos pais, incluindo uma devolutiva
no término da mesma. Os benefícios aos participantes serão indiretos através de avanços científicos
envolvendo questões relacionadas à consciência fonológica de crianças com síndrome de Down.
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido:
Concordo, voluntariamente, em permitir a participação do(a) meu(minha) filho(a) neste
estudo, sendo que poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o
mesmo, sem qualquer penalidade ou prejuízo à criança. Declaro que fui informado(a) dos objetivos e
justificativas desta pesquisa de forma clara e detalhada. Caso tiver novas perguntas sobre este
estudo, posso contatar as pesquisadoras Bárbara de Lavra Pinto ou Regina Ritter Lamprecht
(pesquisadora responsável) pelos telefones (51) 32766836 ou (51) 33203676, respectivamente. Para
qualquer pergunta sobre os direitos do(a) meu(minha) filho(a) como participante desta pesquisa ou se
penso que ele(a) foi prejudicado(a) pela participação, posso entrar em contato com o Comitê de Ética
em Pesquisa da PUCRS pelo telefone (51) 33203345. Declaro que recebi cópia do presente Termo
de Consentimento.
__________________________________ _________________________ ____/_____/____
Assinatura do responsável pela criança Nome Data
Nome da criança a que se refere esse Termo de Consentimento___________________________
_________________________________ _____/_____/_____
Bárbara de Lavra Pinto Data
Fonoaudióloga – CRFa 8591
_________________________________ _____/_____/_____
Prof. Dr. Regina Ritter Lamprecht Data
Pesquisadora Responsável e Orientadora - Coordenadora do CEAAL
Este formulário foi lido para ............................................................................. em ........./........./.........por
............................................. enquanto eu estava presente.
_________________________ __________________ _____/_____/_____
Assinatura de testemunha Nome Data
APÊNDICE 2
QUESTIONÁRIO PREENCHIDO PELOS PAIS OU RESPONSÁVEIS
Nome da criança: __________________________________________________________________
Idade cronológica: ____anos DN: ____/ ____/ _____
Sexo: F M
Endereço Residencial:_______________________________________________________________
Telefones: ________________________________________________________________________
Nome da Mãe: ____________________________________________________________________
Idade: ____ anos
Escolaridade da mãe:
Ensino Fundamental incompleto
Ensino Fundamental completo
Ensino Médio incompleto
Ensino Médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Profissão: _________________________________________________________________________
Nome do Pai: _____________________________________________________________________
Idade: ____ anos
Escolaridade do pai:
Ensino Fundamental incompleto
Ensino Fundamental completo
Ensino Médio incompleto
Ensino Médio completo
Superior incompleto
Superior completo
Pós-graduação
Profissão: _________________________________________________________________________
As pessoas que convivem com a criança em casa costumam:
Ler histórias para a criança sim Com que freqüência?____________________________ não
Ler jornal, livros ou revistas na presença da criança sim Com que freqüência?_________ não
Promover momentos de interação com a criança por meio da utilização de materiais educativos, como
jogos, filmes, DVDs, músicas sim Com que freqüência?___________________________ não
Outros tipos de atividades realizadas com a criança_______________________________________
Algum familiar apresenta (escrever ao lado o grau de parentesco):
Síndrome de Down________________________________________________________________
deficiência mental por outras causas _________________________________________________
dificuldades na linguagem__________________________________________________________
dificuldades de leitura e escrita ______________________________________________________
Educação e história escolar
A criança recebeu estimulação precoce? sim não
Durante quanto tempo e onde?________________________________________________________
Com que idade começou a freqüentar a pré-escola: ____ anos
Idade e local onde iniciou o contato com a alfabetização (Jardim B):___________________________
Série atual: ______________
Nome e telefone da escola atual: ______________________________________________________
Tipo da escola atual: particular estadual municipal
Está em classe especial dentro da escola regular? sim não Desde que idade ______________
Já repetiu algum ano? Quais e quantas vezes?___________________________________________
Participa de atividades de apoio aos conteúdos na escola? sim não
Quais? ___________________________________________________________________________
Tem aulas com professor particular? sim não
Realiza outras atividades, tais como: esportes, computação, aulas de música, etc.? sim não
Quais? ___________________________________________________________________________
Procedimentos médicos e terapêuticos
Realização de cariótipo ao nascimento sim o
Tipo de síndrome de Down (casos em que o cariótipo foi realizado)
Trissomia do cromossomo 21
Translocação
Mosaicismo
Acompanhamento médico: sim não. Especialidades: __________________________________
Faz uso de medicações: sim não. Quais: ___________________________________________
Quando iniciou o uso?_______________________________________________________________
Já realizou alguma cirurgia? sim não. Qual? (amígdalas, adenóides, cardíaca, etc.)__________
_________________________________________________________________________________
Internações hospitalares freqüentes: sim não Motivo: __________________________________
Outros tratamentos: sim não
Qual?
Fonoaudiológico – tempo de tratamento _______________________________________________
Psicológico – tempo de tratamento___________________________________________________
Psiquiátrico – tempo de tratamento___________________________________________________
Psicomotricidade – tempo de tratamento_______________________________________________
Outro ___________________ tempo de tratamento______________________________________
Alterações clínicas associadas
oftalmológica (visual) – Qual:_____________ corrigida (usa óculos, ou lentes)
não corrigida (não está usando óculos, ou lentes)
auditiva – Qual________________________ corrigida (usa aparelho auditivo)
não corrigida (não está usando aparelho auditivo)
respiratória – Qual:_____________________
cardiovascular
hipotireoidismo imunológicas outras: ___________________________________________
Teve otites de repetição? sim não Continua tendo? sim não
Já realizou avaliação auditiva (audiometria) sim não
Em caso positivo, quando foi a mais recente e qual o resultado_______________________________
Dados da gestação
Condição de saúde da mãe: sem intercorrência com intercorrência – Quais:________________
Parto a termo prematuro – quantas semanas:______ pós-termo – quantas semanas:______
Evolução neuropsicomotora:
Idade em que caminhou: ____ anos
Idade em que começou a falar as primeiras palavras: ___ anos
______________________________________ _________________________________
Nome de quem preencheu Assinatura
Data ____/_____/___
APÊNDICE 3
QUESTIONÁRIO PREENCHIDO PELO(A) FONOAUDIÓLOGO(A) OU
PROFESSOR(A)
Nome da criança: __________________________________________________________________
Nível de contextualização da linguagem expressiva (ZORZI & HAGE, 2004, p. 86) - assinale 1
das alternativas:
Linguagem refere-se somente à situação imediata e concreta ( )
Linguagem descreve a ação que está sendo realizada e faz referências ao passado e/ou ao futuro
imediato, sem ultrapassar o contexto imediato ( )
Linguagem vai além da situação imediata, referindo-se a eventos mais distantes no tempo - evoca
situações passadas e antecipa situações futuras ( )
Aspectos da sintaxe produtiva
A criança produz sentenças de 3 ou mais palavras?
( ) sim ( ) não
Inteligibilidade de fala
A fala da criança é compreendida facilmente pela maioria das pessoas com quem interage?
( ) sim – inteligibilidade de fala adequada
( ) não – inteligibilidade de fala alterada
Compreensão verbal de ordens (ZORZI & HAGE, 2004 p. 86) – assinale 1 das alternativas:
Compreende ordens situacionais com uma ação, acompanhadas de gestos ( )
Compreende ordens situacionais com uma ação, não acompanhadas de gestos ( )
Compreende duas ordens não relacionadas ( )
Compreende ordens com 3 ou mais ações, solicitações ou comentários ( )
A criança identifica letras? sim, algumas sim, todas não
Nomeia letras? sim, algumas sim, todas não
Lê? sim não
Se sim: palavras frases pequenos textos
Escreve? sim não
Se sim: palavras frases pequenos textos
Dificuldades observadas na escrita __________________________________________________
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
A criança já recebeu algum tipo de estimulação em consciência fonológica?
sim não
Nível silábico sim não
Nível intra-silábico (rima) sim não
Nível fonêmico sim não
Há quanto tempo tem recebido a estimulação em consciência fonológica?______________________
__________________________________________________ _______________________
Nome do(a) fonoaudiólogo(a) ou professor(a) da criança Assinatura
Data ____/_____/___.
APÊNDICE 4
AVALIAÇÃO DA MEMÓRIA DE TRABALHO AUDITIVA (MTA)
Dissilábicas (2 palavras)
1. UVA - CAMA
2. BOLO - LIXO
Trissilábicas (2 palavras)
3. CADEIRA - PIPOCA
4. PANELA - BANANA
Dissilábicas (3 palavras)
5. MAÇÃ - FOGÃO - ROUPA
6. PEIXE - LOUÇA - VASO
Trissilábicos (3 palavras)
7. TOALHA - MORANGO - RELÓGIO
8. LARANJA - CACHORRO - SECADOR
9. CADEIRA - ABELHA - BATATA
Dissilábicas (4 palavras)
10. GATO - BANCO - CAFÉ - LÁPIS
11. CARRO - ZEBRA - NUVEM - CASA
Dissilábicas (5 palavras)
12. VELA - DENTE - COBRA - FOGO - CHAPÉU
13. NARIZ - TIGRE - SINO - CHAVE - SOFÁ
14. GATO - CARRO - MAÇÃ - FOGÃO - ROUPA
Pontuação:
Número de palavras repetidas corretamente nas 14 seqüências (escore total):___________________
Número de seqüências repetidas corretamente durante a avaliação:___________________________
Número de máximo de palavras dissílabicas repetidas em uma seqüência:______________________
Número máximo de palavras trissílabas repetidas em uma seqüência:_______________________
ANEXO
ANEXO 1
DADOS DA AVALIAÇÃO DA ESCRITA DE PARTICIPANTES DESTE ESTUDO
NAS DIFERENTES HIPÓTESES DE ESCRITA (FERREIRO & TEBEROSKY, 1999)
Hipótese de escrita pré-silábica – Nível 1
- Sujeito que participou somente da coleta-piloto:
1. GATO 2. FANTASMA 3. CASTELO 4. ESQUELETO
5. O FANTASMA ABRIU A PORTA
Hipótese de escrita pré-silábica – Nível 2
- Sujeito 1:
1. NOME PRÓPRIO 2. GATO 3. CASTELO 4. ESQUELETO
5. O FANTASMA ABRIU A PORTA
- Sujeito 3:
1. NOME PRÓPRIO 2. GATO 3. CASTELO 4. ESQUELETO
5. O FANTASMA ABRIU A PORTA
Hipótese de escrita silábica
Sujeito 7:
1. GATO 2. CASTELO 3. ESQUELETO
4. BÁRBARA 5. ÁRVORE 6. CAMA 7. PANELA 8. MILHO
Hipótese de escrita silábico-alfabética
- Nenhuma criança deste estudo escreveu utilizando esta hipótese de escrita.
Hipótese de escrita alfabética
- Sujeito 9:
1. GATO 2. CASTELO 3. ESQUELETO 4. O FANTASMA ABRIU A PORTA
4
- Sujeito 10:
1. GATO 2. CASTELO 3. ESQUELETO 4. O FANTASMA ABRIU A PORTA
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