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RENATA DA ROCHA CAMPOS FRANCO
E
NSAIO DE CONVERGÊNCIA ENTRE PROVAS DE
PERSONALIDADE
: ZULLIGER-SC E PFISTER.
ITATIBA
2009
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iii
RENATA DA ROCHA CAMPOS FRANCO
E
NSAIO DE CONVERGÊNCIA ENTRE PROVAS DE
PERSONALIDADE
: ZULLIGER-SC E PFISTER.
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco para obtenção do
título de Doutor
.
ORIENTADORA: ANNA ELISA DE VILLEMOR-AMARAL
ITATIBA
2009
ii
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São F
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São Francisco.
155.2 Franco, Renata da Rocha Campos.
F897e Ensaio de convergência entre provas de
personalidade: Zulliger-SC e Pfister / Renata
da Rocha Campos Franco. -- Itatiba, 2009.
219 p.
Tese
(doutorado) – Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco.
Orientação de: Anna Elisa de Villemor-Amaral.
1. Técnicas projetivas. 2. Evidências de validade.
3. Psicopatologia. 4. Sistema compreensivo de Exner.
5. Zulliger e Pfister. I. Villemor-Amaral, Anna Elisa de.
II. Título.
iv
UNIVERSIDADE SÃO FRANCISCO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM PSICOLOGIA
DOUTORADO
ENSAIO DE CONVERGÊNCIA ENTRE PROVAS DE
PERSONALIDADE
: ZULLIGER-SC E PFISTER.
Autora:
RENATA DA ROCHA CAMPOS FRANCO
Orientadora: ANNA ELISA DE VILLEMOR-AMARAL
Este exemplar corresponde à redação final da tese de doutorado
defendida por Renata da Rocha Campos Franco e aprovada pela
comissão examinadora.
Data:13/02/2009
COMISSÃO EXAMINADORA
___________________________________________________________
Anna Elisa de Villemor-Amaral
___________________________________________________________
Regina Sônia Gattas Nascimento
___________________________________________________________
Eda Marconi Custódio
____________________________________________________________
Cláudio Capitão
____________________________________________________________
Ricardo Primi
Itatiba
2009
v
Compreendo a importância de minha atuação diante da
Avaliação Psicológica e procuro corresponder contribuindo
para soluções que atendam e promovam o desenvolvimento
científico e social. Sei que faço apenas uma parte ao criar
condições para o diálogo em torno de temas tão importantes,
como a validação de técnicas projetivas e diagnósticos
psicopatológicos. Reconheço que o protagonismo da ação
cabe a cada um de nós que deseja viver em um mundo de
indivíduos conscientes de seu papel enquanto agentes
transformadores de uma realidade que permanentemente é
reinventada.
vi
Dedico este ensaio aos pesquisadores do LAPSaM e principalmente à Professora Doutora
Anna Elisa de Villemor-Amaral, que há nove anos me conduz na trajetória de pesquisas
com as técnicas projetivas.
vii
AGRADECIMENTOS
Para a realização deste estudo pude contar com a ajuda direta ou indireta de
inúmeras pessoas. De modo particular agradeço:
À Professora Anna Elisa, por suas orientações intensas, estimulantes e, acima de
tudo, desafiadoras;
Ao professor Michel Wawrzyniak, por ter acreditado, aceitado e participado das
intenções do meu trabalho, ensinando-me sobre a psicopatologia fenômeno-estrutural
durante o período que estive na França;
Ao professor Ricardo, por ter aflorado meu interesse pela psicometria e por ter me
incentivado, ao longo do trabalho, com seu profundo saber e paciência;
Ao Professor Fermino, por exigir de mim a busca constante do aperfeiçoamento
profissional e por compartilhar de maneira esplêndida seu vasto conhecimento;
A todos os Professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia
da Universidade São Francisco, por me conduzirem na trajetória da pesquisa e do
desenvolvimento da Avaliação Psicológica, ensinando- me, de maneiras diferentes, porém
complementares, a viver a experiência do não-saber e o despertar da criatividade;
Aos professores da banca examinadora, por aceitarem o convite de argüição e
contribuírem de forma competente para o desenvolvimento desse trabalho;
Aos meus amigos e parceiros Adriana, Monalisa, Lucila, Cida e Fabian, que
compartilham comigo a responsabilidade de multiplicar o conhecimento adquirido na
academia enquanto futuros educadores;
A toda minha família, pelo apoio incondicional na vida e no trabalho e por sempre
me encorajar a seguir com garra o caminho por mim escolhido;
viii
Ao meu companheiro, Carlos, pelas conversas profundas e longas que me fazem
crescer a cada instante;
Ao Grupo de Pífanos Flautins Matuá, por revigorar minhas forças provando que a
vida só oferece voz para quem tem coragem de cantar;
A CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), pela
concessão da bolsa de doutorado que ampara a presente pesquisa.
ix
RESUMO
Franco, R.R.C. (2009). Ensaio de convergência entre provas de personalidade: Zulliger-SC
e Pfister. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco, Itatiba.
No intuito de compreender a personalidade dos seres humanos, as técnicas projetivas têm sido
foco contínuo de estudos, pois auxiliam na compreensão dos diferentes estilos de
funcionamento psíquico, normal ou patológico. As informações coletadas pelas técnicas
projetivas ampliam as possibilidades de indicação e planejamento de diversos tipos de
intervenção e a diversidade de testes projetivos permite ao psicólogo escolher o instrumento
que melhor se adapte ao contexto desejado, respeitando tanto as características dos sujeitos, tais
como faixa etária, grau de escolaridade e possíveis comprometimentos motores, verbais e
visuais, quanto às vantagens e limitações do próprio instrumento evidenciadas pelos os estudos
de validade, precisão e normatização de acordo com as características sócio-culturais do país.
Entretanto, as dificuldades para validação das técnicas projetivas são demonstradas em diversos
trabalhos já publicados devido à complexidade de avaliar os fenômenos psíquicos envolvidos
na dinâmica de personalidade. É, portanto, interessante a utilização de estratégias diferentes de
validação que possam ampliar as possibilidades de compreensão das implicações, alcances e
limites das diversas metodologias empregadas em estudos com as técnicas projetivas. Desse
modo, o presente trabalho realizou três estudos de validade. O primeiro estudo foi de validade
de critério e buscou verificar a validade das Constelações do Sistema Compreensivo para o
Zuliger. O segundo estudo foi de validade convergente, que correlacionou os indicadores
afetivos e cognitivos dos Testes de Zulliger-SC e Pfister. Já o terceiro estudo verificou a
validade do raciocínio clínico, comparando a convergência ou divergência de protocolos de
mesmos indivíduos a partir de dois referenciais teóricos distintos. Os participantes dos três
estudos foram provenientes do banco de dados do Laboratório de Avaliação Psicológica em
Saúde Mental (LAPSaM) e foram subdividos em dois grupos, um composto por não-pacientes
psiquiátricos e o outro composto por pacientes subdivididos em seis categorias: esquizofrenia,
depressão, transtorno do pânico e transtorno obsessivo compulsivo, transtorno somatoforme e
transtorno alcoólico. Para o primeiro estudo, a comparação entre a média dos grupos foi
realizada pela prova estatística t student, a fim de verificar se os indicadores das Constelações
utilizadas no Sistema Compreensivo eram válidos para auxiliar no diagnóstico do Zulliger. Os
resultados foram positivos para as psicopatologias, esquizofrenia, depressão e transtorno de
pânico, com exceção do transtorno obsessivo compulsivo, que não apresentou diferença
significativa quando comparado com o grupo de não-pacientes. Para o segundo estudo, 36
hipóteses que expressam aspectos do funcionamento afetivo e cognitivo nas técnicas de
Zulliger e Pfister foram correlacionadas pela medida não paramétrica do
Qui quadrado e os
resultados não foram significativos do ponto de vista estatístico para nenhuma hipótese.
Entretanto, do ponto de vista qualitativo, as técnicas demonstraram validade complementar. Já
para o terceiro estudo, 40 protocolos foram sorteados aleatoriamente e interpretados segundo o
enfoque teórico da psicanálise. Posteriormente, os mesmos protocolos foram analisados
segundo o enfoque teórico da psicopatologia fenômeno-estutural. Para esse último estudo, foi
adotado o procedimento de análise a cegas e as convergências foram expressivas,
principalmente entre os pacientes somatoformes e esquizofrênicos
.
Palavras-chave: sistema compreensivo; estudo de validade; avaliação psicológica;
psicopatologias; técnicas projetivas; dinâmica afetiva e cognitiva.
x
ABSTRACT
Franco, R.R.C. (2009). Essay on the Convergence of Personality tests: Zulliger-CS and
Pfister. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco, Itatiba.
In order to understand the human being personality, projective techniques have been the focus
of many studies because they facilitate the comprehension of different psychological
functioning, normal or psychopathology. The information collected by projective techniques
enlarge the possibilities of indication and planning of several kinds of intervention and the
diversity of projective techniques allow the psychologist choose the best instrument to a
specific context, respecting both test taker characteristics such as aging, schooling and possible
motor, oral or seeing disorder and advantages and limitations of the instrument evidenced by
validity, precision and normatization studies according to the sociocultural characteristics of the
country. Notwithstanding, the difficulty to validate projective techniques have been
demonstrated in several published studies due to the complexity to assess psychic phenomena
involved in personality psychodynamics. Therefore, it is interesting to use different strategies
of validation that can enlarge the comprehension possibilities of implication, range and
limitations of diverse methodologies applied in studies with projective techniques. Thus, the
present study realized three validity studies. First, it was a criterion validity study where it was
sought the validity of Comprehensive System Constellations to Zulliger. Second, it was a
convergence validity study which correlated cognitive and affective aspects from Zulliger-CS
and Pfister tests. Then, the third study verified the clinical judgment, comparing the
convergence or divergence on the same individual protocols from two distinct theoretical
referential. The three study participants were from the Laboratory of Psychological Assessment
in Mental Health database and they were divided in two groups. One group composed of
healthy patients and another composed of patients subdivided in six categories: schizophrenia,
depression, panic disorder, obsessive-compulsive disorder, somatoform disorder and
alcoholism disorder. The first study compared the mean between groups by the t student test to
verify if Constellation indicators were valid to help in Zulliger diagnosis. The results were
positive to the following psychopathologies
schizophrenia, depression and panic disorder,
except to obsessive-compulsive disorder that did not show significant difference when
compared to the normative group. In the second study, 36 hypotheses which express aspects
from affective and cognitive functioning at Zulliger and Pfister were correlated by Chi square
nonparametric measure and the results were not statistically significant to any hypotheses. Even
so in a qualitative view the techniques showed complementary validity. Then for the third
study, forty protocols were randomly selected and interpreted according to the psychoanalysis
theory. Afterward, the same protocols were analyzed according to the phenomenon-structural
psychopathology theory. For this last study, it was adopted the blindness analysis procedure
and the convergence were expressive meanly to somatoform disorder and schizophrenic
patients.
Keywords: Pfister; Zulliger; Comprehensive System; Validity study ; psychological
assessment; psychopathologies; projective techniques; affective and cognitive aspects.
xi
RESUMÉ
Franco, R.R.C. (2009). Essai de convergence entre épreuves de personnalité: Zulliger-SC
et Pfister. Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco, Itatiba.
Afin de comprendre la personnalité des êtres humains, les techniques projectives sont souvent
des moyens d’études car elles contribuent à la compréhension de différents styles de
fonctionnement psychique, normal ou pathologique. Les informations recueillies par les
techniques projectives augmentent les possibilités d’indication et de planification de divers
types d’intervention. La diversité de tests projectifs permet au psychologue de choisir l’outil
qui s’adapte le mieux au contexte désiré en respectant les caractéristiques des sujets telles que
les tranches d’âge, le degré de scolarité et les possibles handicaps moteurs, verbaux et visuels,
mais aussi les avantages et inconvénients de l’outil lui-même mis en évidence à travers les
études de validation, précision et normalisation, selon les caractéristiques socioculturelles du
pays. Cependant, les difficultés concernant la validation des techniques projectives sont
présentées dans plusieurs travaux déjà publiés. Elles sont dues à la complexité d’évaluer les
phénomènes psychiques compris dans la structure de la personnalité. L ’utilisation de
différentes stratégies de validation qui puissent amplifier les possibilités de compréhension des
implications, des portées et des limitations de plusieurs méthodologies employées dans des
études avec des techniques projectives devient donc intéressante. Ainsi, ce travail a développé
trois études de validation. Le première étude de validation de critère a cherché à vérifier la
capacité prédictive au diagnostic de la dépression, de la schizophrénie, du trouble obsessif-
compulsif et du trouble de la panique, selon les critères du Système Compréhensif. La
deuxième étude a consisté dans l’étude de la validation convergente, qui établira des liens entre
les indicateurs affectifs et cognitifs du test de Zulliger et ceux du test de Pfister. La dernière
étude a porté sur la vérification du raisonnement clinique, en comparant la convergence ou les
divergences de protocoles des mêmes individus à partir de deux référentiels théoriques
distincts. Les participants sont tous issus de la banque de données du Laboratoire d’Évaluation
Psychologique en Santé Mentale (LAPSaM) de l’Université São Francisco et sont sous-divisés
en deux groupes: l’un composé de non-patients psychopathologiques et l’autre formé de
patients, lui-même sous-divisé selon le trouble en six catégories: la schizophrénie, la
dépression, le trouble de la panique, le trouble obsessif compulsif, le trouble somatique et le
trouble de alcoolisme. Pour la première étude, la comparaison a été réalisée par l’épreuve
statistique t student, afin de vérifier si les indicateurs des Constellations utilisées dans le
Système Compréhensif ont eté valables pour aider dans le diagnostic de Zulliger. Concernant la
deuxième étude, 36 hypothèses qui expriment les aspects communs du fonctionnement affectif
et cognitif des individus ont été mises en relation à travers la mesure nonparamétrique de
Test
Qui-Carré
Pour la troisième, quarante protocoles ont été tirés au sort de façon aléatoire et
interprétés à la lumière de la psychanalyse. Ultérieurement, les mêmes protocoles sont été
analysés d’après l’apport théorique de la psychopathologie phénoméno-structurale. La
démarche de l’analyse a été adoptée aveuglément et des convergences entre les informations
sont apparues, notamment pour le diagnostic du trouble somatique et de schizophrénie.
Mots-clés: tests projectifs, étude de validation, évaluation psychologique ; tests projectifs,
éthnopsychopathologies,
xii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................................. XIII
LISTA DE TABELAS ................................................................................................................................. XIV
LISTA DE ANEXOS ..................................................................................................................................... XV
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................... 17
INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................. 21
ESTUDO I: VALIDADE DE CRITÉRIO DAS CONSTELAÇÕES DO SISTEMA COMPREENSIVO
DO RORSCHACH APLICADAS NO ZSC ................................................................................................. 33
MÉTODO ........................................................................................................................................................ 41
PARTICIPANTES ............................................................................................................................................ 41
INSTRUMENTOS ............................................................................................................................................ 42
PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 43
DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA CADA CONSTELAÇÃO ................................................................................ 44
RESULTADOS ............................................................................................................................................... 48
DISCUSSÃO ................................................................................................................................................... 67
CONCLUSÃO ................................................................................................................................................ 71
VALIDADE CONCORRENTE ENTRE O ZSC E O TPC ........................................................................ 72
INSTRUMENTOS ............................................................................................................................................ 80
PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS ...................................................................................................... 82
DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA COMPARAR AS VARIÁVEIS ........................................................................ 84
RESULTADOS ............................................................................................................................................... 94
DISCUSSÃO ................................................................................................................................................. 131
CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 133
VALIDADE DO RACIOCÍNIO CLÍNICO POR MEIO DE DOIS REFERENCIAIS TEÓRICOS
DISTINTOS .................................................................................................................................................. 134
MÉTODO ...................................................................................................................................................... 150
INSTRUMENTOS .......................................................................................................................................... 150
CRITÉRIOS PARA CLASSIFICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DAS RESPOSTAS DO ZULLIGER SEGUNDO A PSICANÁLISE
E A PSICOPATOLOGIA FENÔMENO
-ESTRUTURAL .......................................................................................... 151
RESULTADOS ............................................................................................................................................. 157
DISCUSSÃO ................................................................................................................................................. 167
CONCLUSÃO .............................................................................................................................................. 171
CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................................... 172
REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................... 179
xiii
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: PROTOCOLO DO TPC DO CASO 1 ..................................................................................... 96
FIGURA 3: SUMÁRIO ESTRUTURAL DO ZSC DO CASO 1 ................................................................ 98
FIGURA 4: PROTOCOLO DO TPC DO CASO 2 ................................................................................... 105
FIGURA 5: FOLHA DE LOCALIZAÇÃO DO ZSC CASO 2 ................................................................. 106
FIGURA 6: SUMÁRIO ESTRUTURAL DO ZSC DO CASO 2 .............................................................. 107
FIGURA 7: PROTOCOLO DO TPC DO CASO 3 ................................................................................... 113
FIGURA 8: FOLHA DE LOCALIZAÇÃO DO ZSC DO CASO 3 .......................................................... 114
FIGURA 9: SUMÁRIO ESTRUTURAL DO ZSC DO CASO 3 .............................................................. 115
FIGURA 10: PROTOCOLO DO TPC DO CASO 4 ................................................................................ 121
FIGURA 11: FOLHA DE LOCALIZAÇÃO DO ZSC DO CASO 4 ........................................................ 122
FIGURA 12: SUMÁRIO ESTRUTURAL DO ZSC DO CASO 4 ............................................................ 123
xiv
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: INDICADORES QUE COMPÕEM A CONSTELAÇÃO DEPI. ......................................... 45
TABELA 2: INDICADORES QUE COMPÕEM A CONSTELAÇÃO PTI. ............................................ 46
TABELA 3: INDICADORES QUE COMPÕEM A CONSTELAÇÃO OBS. .......................................... 46
TABELA 4: INDICADORES QUE COMPÕEM A SUPOSTA CONSTELAÇÃO DO PARA O
PÂNICO. ......................................................................................................................................................... 47
TABELA 5: T STUDENT DO GRUPO DOS NÃO-PACIENTES E DEPRESSÃO ................................. 48
TABELA 6: T STUDENT DO GRUPO DOS O-PACIENTES E ESQUIZOFRENIA. ...................... 50
TABELA 7: T STUDENT DO GRUPO DOS NÃO-PACIENTES E TOC. ............................................... 52
TABELA 8: T STUDENT DO GRUPO DOS NÃO-PACIENTES E PÂNICO. ........................................ 53
TABELA 9: INDICADORES SIGNIFICATIVOS SEGUNDO A PROVA T-STUDENT DE UMA
ANÁLISE EXPLORATÓRIA PARA A DEPRESSÃO E NÃO-PACIENTES ......................................... 56
TABELA 10: INDICADORES SIGNIFICATIVOS SEGUNDO A PROVA T-STUDENT DE UMA
ANÁLISE EXPLORATÓRIA PARA A ESQUIZOFRENIA E NÃO-PACIENTES. .............................. 62
TABELA 11 – INDICADORES SIGNIFICATIVOS SEGUNDO A PROVA T-STUDENT DE UMA
ANÁLISE EXPLORATÓRIA PARA PACIENTES COM TRANSTORNO OBSESSIVO
COMPULSIVO E NÃO-PACIENTES. ........................................................................................................ 64
TABELA 12 – INDICADORES SIGNIFICATIVOS SEGUNDO A PROVA T-STUDENT DE UMA
ANÁLISE EXPLORATÓRIA PARA O TRANSTORNO DE PÂNICO E NÃO-PACIENTES. ............ 66
TABELA 13: CONVERGÊNCIA TOTAL DO RACIOCÍNIO CLÍNICO. ............................................ 157
TABELA 14: INDICADORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA PREDIZER OS QUADROS
SOMATOFORMES. .................................................................................................................................... 160
TABELA 15: INDICADORES QUE CONTRIBUÍRAM PARA PREDIZER A ESQUIZOFRENIA. 163
TABELA 16: CONVERGÊNCIA PARCIAL DO RACIOCÍNIO CLÍNICO. ........................................ 164
TABELA 17: CASOS DE CONVERGÊNCIA PARCIAL ....................................................................... 165
TABELA 18: DIVERGÊNCIA DO RACIOCÍNIO CLÍNICO. ............................................................... 166
xv
LISTA DE ANEXOS
ANEXO 1: LISTA DOS CÓDIGOS QUE FAZEM PARTE DO SISTEMA COMPREENSIVO ........ 190
ANEXO 2: CASOS DE PACIENTES COM TRANSTORNO SOMATOFORME ................................ 197
ANEXO 3: CASOS DE PACIENTES COM ESQUIZOFRENIA ............................................................ 210
ANEXO 4: EXEMPLO DE CASO SOBRE A VALIDADE PARCIAL .................................................. 217
17
APRESENTAÇÃO
A utilização de testes psicológicos percorreu um importante e longo caminho no que
diz respeito ao contexto da psicologia como ciência. Grande parte da história da Psicologia
coincide com a história dos testes psicológicos, vinculando a atividade profissional do
psicólogo ao ato de avaliar. Independentemente do contexto avaliado, os testes sempre
tiveram a função de fornecer informações com o objetivo de aprofundar a compreensão de
um sujeito ou de uma situação vivenciada por ele.
Na área clínica, a avaliação da dinâmica da personalidade sempre foi uma atividade
importante dos psicólogos, dentre a qual as técnicas projetivas foram uma das ferramentas
investigativas mais utilizadas. O ápice de seu emprego foi depois da Segunda Guerra
Mundial, pois nessa época diversos soldados voltavam do front com sérios problemas
emocionais, que precisavam ser compreendidos de forma detalhada. As investigações sobre
os aspectos afetivos e cognitivos tinham como finalidade localizar e compreender os
comprometimentos psíquicos do trauma pós-guerra (Fensterseifer & Werlang, 2008).
De fato, a popularidade das técnicas projetivas foi conseqüência de uma necessidade
social do século XX, mas até hoje continuam sendo muito utilizadas pelos profissionais que
necessitam avaliar pessoas em diversas situações. Não há dúvidas de que as técnicas
projetivas geram dados sobre a estrutura e dinâmica da personalidade, sinalizando com
detalhes a qualidade perceptiva do mundo interno e externo das pessoas (Weiner, 2000).
A característica mais útil das técnicas projetivas está no fato de as tarefas solicitadas
permitirem liberdade de respostas que abrem espaço para a fantasia, estimulando a projeção
de conflitos, angústias e ansiedades de conteúdos internos que estão encobertos, latentes
e/ou inconscientes (Anastasi & Urbina, 2000; Chabert, 2004).
18
A maior vantagem das técnicas projetivas é o fato de possibilitarem a compreensão
do funcionamento psíquico, único e singular, das pessoas, o que inclui compreender os
recursos internos e defensivos que são utilizados frente a situações de difícil resolução. As
técnicas projetivas apreendem sinais subjetivos e manifestações do inconsciente que não
são observáveis diretamente no comportamento, tornando o papel das teorias que estudam a
psicodinâmica indispensável durante o processo de interpretação dos dados. Tal argumento
é tão verdadeiro que o termo “testes projetivos” foi emprestado da psicanálise por Frank
(1965/1939). Embora esse termo tenha sido utilizado de modo claro e útil na época em que
foi introduzido, visto que expressava a ação de projetar conteúdos internos no mundo
externo, hoje em dia muitos pesquisadores o consideram equivocado, já que os processos
psicodinâmicos envolvidos vão além de uma compreensão centrada somente na projeção
como um mecanismo de defesa do ego tal como postulava a psicanálise (Anastasi &
Urbina, 2000; Bandeira, Trentini, Winck & Lieberknecht, 2006). Atualmente, os
pesquisadores que fazem uso dos testes projetivos sugerem o termo “métodos de auto-
expressão” como o mais adequado, uma vez que a palavra “teste” visa mensurar o quanto
uma pessoa ou grupo possui de determinado traço, estado ou fator, e a palavra método
evoca a idéia do processo ou meio utilizado para se gerar informações sobre a
personalidade (Villemor-Amaral, 2006). Da mesma forma, o termo “projeção” tende a ser
substituído pelo termo “auto-expressão”, já que as técnicas verbais, gráficas e pictóricas
envolvem modos de expressões distintos, os quais não contemplam necessariamente
fenômenos propriamente projetivos.
No método de Rorschach ou no Zulliger, por exemplo, os processos de percepção
do estímulo e formação de conceitos ou idéias são fenômenos explorados mais
19
enfaticamente do que os conteúdos projetivos (Weiner, 2000), sendo estes discutidos de
modo complementar em uma perspectiva mais qualitativa.
A preocupação com a atualização da nomenclatura não é somente um ato de
modernização; ela vem juntamente com a transformação e a solidificação de um amplo
processo de adaptação de critérios que visa aprimorar a qualidade dos métodos, ainda
usualmente chamados de “técnicas” ou “testes projetivos”. Entre todos os aspectos que
necessitam ser revisados, podem-se citar as propriedades psicométricas como as mais
discutidas, cujo status científico ainda é um dilema complexo.
O rigor exigido sobre a validade, precisão e normatização das técnicas projetivas é
um requisito indispensável para garantir sua cientificidade. No entanto, o impasse para
validá-las por meio de procedimentos psicométricos pode ser conferido em diversos
estudos que não conseguiram alcançar correlações significativas quando comparados com
outros instrumentos que avaliam o mesmo construto. Diversos argumentos justificam o
fracasso dessas tentativas de correlações. Entre eles está o fato de a personalidade ser
dinâmica e ter infinitas possibilidades de arranjos psíquicos, permitindo combinações
exclusivas e dificilmente observáveis em outras situações.
Por mais difícil que seja o desafio de se encontrar evidências de validade para as
técnicas projetivas, a insuficiência de resultados alcançados por meio da psicometria não
pressupõe o abandono das tentativas, mostrando que, apesar de lento, os avanços são
significativos (Costa & Villemor-Amaral, 2004; Farah & Villemor-Amaral, 2005;
Lamounier & Villemor-Amaral, 2006; Ramon & Villemor-Amaral, 2006; Villemor-
Amaral, Cardoso & Franco, 2005; Villemor-Amaral, Primi & Farah, 2004; Villemor-
Amaral, Primi & Silva, 2003).
20
Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009) recomendam explorar diferentes estratégias
para se alcançar evidências de validade eficazes, pois nem sempre um único procedimento
se mostra suficiente, sendo necessárias abordagens sob diversas perspectivas para se obter
resultados mais promissores. Além disso, os autores também afirmam que a validade de um
teste não pode ser relatada em termos gerais e abstratos, como alta ou baixa validade. Ela
precisa ser estabelecida com referência ao uso específico para o qual o teste está sendo
considerado.
Desse modo, a presente pesquisa propôs três estratégias diferentes para investigar a
validade do Zulliger no Sistema Compreensivo (ZSC). O primeiro estudo verificou a
validade das Constelações propostas pelo Sistema Compreensivo com o objetivo de
encontrar indicadores que possam discriminar pacientes psiquiátricos de não-pacientes. O
segundo estudo partiu da equivalência teórica dos testes de Pfister e Zulliger para observar
a convergência ou divergência das informações referentes à dinâmica afetiva e cognitiva de
um mesmo sujeito. E o terceiro estudo buscou compreender a dinâmica psíquica de
pacientes psiquiátricos a partir de dois referenciais teóricos distintos: a psicanálise e a
psicopatologia fenômeno-estrutural.
Esse trabalho está, portanto, dividido em seis partes: inicialmente apresenta-se uma
“Introdução” geral, que explica a origem do teste de Zulliger a partir do Método de
Rorschach e explica as vantagens de interpretá-lo segundo o Sistema Compreensivo de
Exner. Logo após, iniciam-se os “Estudos de Validade”, cada qual composto por sua
respectiva introdução, método, resultado, discussão e conclusão. Finalizado os estudos de
validade, apresenta-se o item “Considerações Finais”, mostrando os limites e alcances de
cada estudo no que diz respeito à validade do Zulliger para o Sistema Compreensivo, e por
fim apresentam-se as “Referências”.
21
INTRODUÇÃO
Herman Rorschach foi o primeiro a utilizar estímulos ambíguos para o estudo da
personalidade, mostrando que os processos perceptivos associados aos processos dinâmicos
poderiam revelar dados sobre a organização psíquica do indivíduo. A pessoa, ao olhar para
um estímulo neutro e aparentemente sem sentido algum, projetaria características subjetivas
de seu mundo interno, informando a qualidade de seu funcionamento cognitivo e emocional
(Traubenberg, 1970).
Rorschach (1921/1967), em seus estudos preliminares, considerava a percepção um
aspecto importante para apreender a organização mental das pessoas. Para o autor, os
indivíduos, ao tentarem estruturar as manchas de tinta, imagens aparentemente sem sentido,
estariam, via processos mentais, percebendo a semelhança formal de coisas já vistas e
armazenadas em sua memória. Todas as associações verbalizadas seriam criações mentais
derivadas de imagens percebidas no passado e que poderiam ser reconstituídas a partir da
intensidade, cor, tamanho, forma e textura, entre outras características observadas durante a
tarefa do Rorschach.
Tais estudos, inspirados tanto nas leis da Gestalt quanto nos processos conscientes e
inconscientes da psicanálise, estavam sendo aplicados no contexto clínico e muitas das
descobertas sobre a organização psíquica de pacientes psiquiátricos estavam sendo
investigadas através do método das manchas de tinta. Entretanto, antes de finalizar as
formulações teóricas sobre sua abordagem multidimensional, Herman Rorschach faleceu
repentinamente.
Logo após a morte de seu autor, o Método de Rorschach permaneceu restrito a um
pequeno círculo de amigos e discípulos, na Suíça. Aos poucos, entretanto, a técnica cruzou
fronteiras e começou a ser aplicada e investigada em outros países europeus: na França,
22
Inglaterra, Espanha, Itália e, posteriormente, nos Estados Unidos (Pereira, 1987).
Independentemente do país de origem, diversos pesquisadores acreditavam que o método
das formas fortuitas poderia ajudar nas deduções diagnósticas da personalidade e diversas
pesquisas passaram a ser realizadas em diferentes contextos e com os mais variados
propósitos (Beck, 1945 citado por Pereira, 1987; Exner, 1999; Helman, 1983; Hertz, 1944
citado por Peralta, 2002; Klopfer 1952 citado por Vaz, 1998; Minkowska, 1956; Piotrowski
1957 citado por Vaz, 1998; Rappaport, 1940 citado por Pereira, 1987; Silveira, 1985;
Zulliger & Salomon, 1970 citado por Vaz, 1998; entre outros).
Durante um período bastante longo, as pesquisas possibilitaram tanto a criação de
diversos sistemas de interpretação do Rorschach quanto o desdobramento de outros
métodos de investigação, que utilizavam outros tipos de borrões, denominados “Séries
Paralelas”. Pereira (1987) menciona alguns instrumentos, compostos por estímulos pouco
estruturados, que buscam informações sobre o modo através do qual as pessoas percebem a
realidade, considerando a qualidade de sua habilidade para expressar os sentimentos e
pensar sobre eles.
Dentre eles encontram-se o Behn-Rorschach (BERO), publicado em 1941 com
finalidade específica para o universo infantil; mais tarde, Hans Zulliger criou o Zulliger de
apenas três lâminas, padronizadas para serem aplicadas coletivamente. Também de
aplicação coletiva, o Harrower foi publicado em 1945 nos Estados Unidos; no Uruguai,
existe o Teste de Interpretação de Formas Ambíguas (TIFA), composto por 39 desenhos
ambíguos, desenvolvidos por Risso e Zanocchi, e, no Japão, Yasafumi Katagushi publicou
as pranchas do Ka-Ro (citados por Pereira, 1987).
No que se refere à interpretação do Método de Rorschach, cinco escolas americanas
estavam engajadas no processo da definição de critérios para codificar as respostas
23
verbalizadas diante das manchas de tinta. Cada sistema desenvolvia um método próprio e
fundamentado em pesquisas empíricas, mas todos os autores ainda se guiavam pelas
mesmas categorias de classificação (localização, determinante, qualidade formal, etc)
propostas por Herman Rorschach. As principais contribuições vieram de Bruno Klopfer,
Samuel Beck, Zigmunt Piotrowski, Marguerite Hertz e David Rappaport.
Para se compreender tais diversidades, observa-se que Klopfer (1952 citado por
Vaz, 1998), por exemplo, acrescentou em seu sistema uma nova especificação para o
determinante de sombreado, o bidimensional; depois incluiu as respostas de cor simbólica e
por fim especificou os possíveis tipos de recorte: detalhes raro (Dd), diminuto (dd), interno
(di) e externo (de). Para o sistema de Rappaport (1940 citado por Vaz, 1998) não se
classificam respostas de movimento inanimado (m) nem de cores acromáticas (FC’, C’F e
C’).
Beck (1945 citado por Yagizi & Gazire, 2002), por sua vez, criou o índice de
atividade organizativa (Z), que informa sobre a capacidade de raciocínio e reflexão. Nos
sistemas de Piotrowski (1957) e Hertz (1944 citado por Vaz, 1998) as percepções com
formas duvidosas não eram codificadas, sendo consideradas somente as formas do tipo
precisa (F+) ou vaga (Fv); também não se classificavam respostas que envolviam o
sombreado (Vaz, 1998).
Mesmo que pequenas as diferenciações entre os códigos, a ausência de uma
linguagem comum entre sua interpretação produzia confusões durante o processo de
comunicação dos dados. As divergências no modo de classificar as respostas causavam
confusões entre os pesquisadores e as diferenças com relação ao conceito reduziam ainda
mais a confiabilidade das interpretações.
24
Segundo Yazigi e Gazire (2002), um exemplo clássico diz respeito ao conceito de
introversão, que existe em todos os sistemas, sendo que estes usam as respostas de
movimento como base para sua interpretação. Entretanto, existe uma falta de consenso
entre os que utilizam estes sistemas: “A palavra introversão é a mesma nos cinco sistemas,
mas suas definições são nitidamente diferentes” (p.111). Assim, Beck concordando com
Rorschach, considerava a introversão como um processo de internalização; já Kopfer e
Hertz usavam a introversão de modo semelhante a Jung e Piotrowski dizia que a
introversão estava relacionada com comportamentos do inconsciente, cujas respostas de
movimento se assemelham ao processo de sonhar.
Disto decorria a necessidade de tornar as classificações mais objetivas e integradas a
uma concepção comum sobre os diversos aspectos da personalidade. Nessas circunstâncias,
um novo posicionamento frente ao uso do método foi introduzido por Exner, que publicou
o The Rorschach Systems (1969, citado por Yazigi & Gazire, 2002), alertando sobre a
importância de se encontrar o rigor metodológico do Método de Rorschach, pois afirmar
com segurança as deduções interpretativas se tornava cada vez mais arriscado.
Exner, após a criteriosa avaliação de mais de 1300 protocolos do Rorschach,
percebeu que modos de aplicação e codificações diferentes resultavam em tipos diferentes
de protocolos, prejudicando a qualidade exigida em um processo de avaliação psicológica.
A preocupação com a cientificidade do Método de Rorschach e com a sua posterior revisão
eram encontradas, inicialmente, entre os pesquisadores dos Estados Unidos; aos poucos,
porém, foram sendo incorporadas por outros profissionais que utilizavam o Rorschach.
Para esse grupo de pesquisadores, a validade das inferências psicológicas era
requisito fundamental para garantir a confiabilidade do processo de avaliação. Para isso,
regras de aplicação e critérios precisos para a classificação dos dados deveriam ser
25
respeitados por todos os profissionais que utilizavam o Rorschach. A partir daí, diversos
critérios para classificar as respostas começaram a ser revistos e padronizados por Exner
(1996a). Sua idéia nunca foi criar um novo sistema e sim estabelecer uma linguagem
comum entre os pesquisadores da época dentro do rigor necessário, integrando as principais
contribuições quantitativas e qualitativas dos cinco principais autores americanos, em um
só sistema. Também visava, com isso, reunir todas as importantes descobertas, garantindo
ao Método de Rorschach status e credibilidade por parte dos profissionais que o utilizavam
em suas práticas diárias (Nascimento & Güntert, 2000).
Paralelamente ao desenvolvimento do Sistema Compreensivo, outros pesquisadores,
entre eles Traubenberg (1970), continuavam preferindo compreender os fenômenos da
personalidade de forma mais qualitativa e fundamentada na teoria da psicodinâmica. Para
os representantes dessa vertente, o respaldo teórico da psicanálise, por si só, já era
suficiente para validar os conteúdos latentes emergidos em cada uma das pranchas, na
forma de respostas. Segundo Traubenberg (1970), “a utilização sistemática do Método de
Rorschach foi prejudicial à prática da avaliação psicológica, pois os profissionais menos
familiarizados com o Método de Rorschach, para evitar confusões, se preocupavam em
excesso com alguns signos identificados no teste, o que desencadeava verdadeiras receitas
psicológicas”.
Exner (1996 b) e seus colegas se opunham a tal crítica demonstrando que as regras
precisas de codificação eram importantes para garantir que diferentes avaliadores
classificassem as respostas de modo idêntico. Além disso, as deduções interpretativas,
quando compreendidas de forma dinâmica e integrada, eram eficazes e contribuíam com
inferências seguras, pois agregavam às codificações cargas projetivas de cada prancha, que
revelavam certas tendências do inconsciente. De fato, os conteúdos latentes, subjacentes às
26
respostas, nunca foram negados por Exner, que preferiu focar sua contribuição na validade
das interpretações provenientes de um sistema de codificação bastante preciso. Segundo
Weiner (2000) focar no que foi dito (conteúdo com cargas projetivas) é diferente de focar
no modo como foi dito (elementos estruturais da resposta) e essas perspectivas são
complementares e não excludentes.
As preocupações de Exner com relação às qualidades psicométricas do Método de
Rorschach foram importantes para conferir maior status científico à técnica. Suas
conquistas, nesse sentido, continuam em desenvolvimento de forma bastante dinâmica até
os dias de hoje (Nascimento & Güntert, 2000). Segundo Castro (2006), as produções
científicas com o Sistema Compreensivo de Exner (SC) estão sendo amplamente utilizadas
por diversos pesquisadores com o intuito de fundamentar e atualizar os dados de
interpretação, todos apoiados em extensas investigações com metodologias de pesquisa
atualizadas.
O estudo de Castro (2006) mostra que, atualmente, a linguagem psicométrica está
cada vez mais incorporada às práticas de pesquisa e poucos pesquisadores optam por
procedimentos puramente qualitativos, embora todos reconheçam o valor complementar
das análises simbólicas e metafóricas. Dessa forma, o Rorschach-SC possibilita duas
vertentes de interpretação: uma que privilegia os aspectos estruturais das respostas e
trabalha com dados quantitativos, de modo objetivo, e outra que privilegia a temática das
respostas e trabalha com dados qualitativos, de modo subjetivo.
Para Villemor-Amaral (2008), um dado extraído por meio de um teste projetivo
pode ser validado e considerado fidedigno a partir dos pressupostos psicométricos, mas se
não se apoiar numa compreensão integrada de todas as variáveis obtidas com o respaldo de
teorias da personalidade ou do desenvolvimento que ajudem a traduzir os símbolos e
27
metáforas apreendidos durante os exames, pouca importância terão as inferências sobre o
universo psíquico individual.
Dessa forma, o presente estudo parte do pressuposto de que ambas as abordagens,
quantitativa e qualitativa, são indispensáveis e complementares. Se, por um lado, o olhar
clínico estimula reflexões sobre o papel da psicodinâmica para se compreender a
personalidade, por outro lado, a psicometria minimiza os perigos de falta de consistência e
de conclusões precipitadas, pautadas na subjetividade do examinador.
O Sistema Compreensivo para o Zulliger
Na década de 40, Hans Zulliger foi convidado pelo exército suíço para selecionar os
oficiais que iriam participar da segunda grande Guerra Mundial e ele optou pela avaliação
que utiliza o método das manchas de tinta. No entanto, o fator tempo de aplicação passou a
ser a sua grande dificuldade, o que impedia a utilização das 10 pranchas propostas
originalmente por Rorschach. Assim, precisou criar um novo conjunto com um número
reduzido de figuras, que, além disso, pudessem ser aplicadas de forma coletiva para
favorecer uma avaliação mais rápida (Villemor-Amaral & Primi, 2009) Partindo das
mesmas características propostas pelo Rorschach, a técnica de Zulliger é composta por três
pranchas com manchas de tintas ambíguas e simétricas que têm como função a apreensão
de características gerais da personalidade, como a exploração de aspectos cognitivos e
afetivos. O fato de o Zulliger ser mais simples que o Rorschach facilita a aplicação e a
análise e isso é uma vantagem em relação a outros métodos projetivos, mas também
implica limitações quanto ao alcance das interpretações. Portanto, ele não equivale ao
Rorschach em termos de profundidade e abrangência dos dados que são obtidos sobre a
personalidade.
28
Hans Zulliger não tinha como objetivo substituir o Rorschach, mas sim encontrar
uma alternativa que propiciasse avaliações sucintas. Sendo assim, hoje, a escolha entre a
utilização de um método e outro deve levar em consideração o propósito e o contexto para
os quais se pretendem usar os resultados. Todo planejamento da avaliação deve respeitar
tanto as características dos sujeitos, tais como faixa etária, grau de escolaridade e possíveis
comprometimentos motores, verbais, visuais e mentais quanto às características do próprio
instrumento, como normatização, precisão e validade sobre os elementos da pauta da
investigação.
No Brasil, o Zulliger tem se desenvolvido de forma progressiva, porém poucos
autores se dedicaram à investigação desse instrumento na perspectiva do Sistema
Compreensivo. A maioria dos estudos está baseada no sistema desenvolvido por Bruno
Klopfer (1936, citado por Vaz, 1998) destacando os estudos de Freitas (1996) e Vaz (1998).
As vantagens de se adaptar o Zulliger para o Sistema Compreensivo (ZSC) vão
desde a riqueza desse sistema para investigações sobre a dinâmica da personalidade até a
possibilidade de unificar uma linguagem comum entre os sistemas de uso corrente. Além
do mais, pesquisas com o ZSC têm sido realizadas internacionalmente com sucessivos
estudos que vêm demonstrando sucesso (Boris, 1990; Brinkmann, 1998; Eble, Fernald, &
Graziano, 1963; Liz, Magro & Rossi, 1990; Mahmood, 1990; Mattlar, Sandahl, Lindberg,
Lehtinen, Carlsson & cols. 1990a; Mattlar, Birgerson & Sandahl, 1990b; Ruth, Obergi,
Mattlar, Sandahl, Oist & cols., 1990; Simon, 1973; Uhinki, Mattlar, Sandahl, Vesala &
Carlsson, 1990; (Villemor-Amaral & Primi, 2009) ; Zdunic, 1999;).
Entre os estudos de adaptação, segundo o Sistema Compreensivo, Mattlar, Sandahl,
Lindber e Colaboradores (1990a), adequaram os critérios de classificação proposto por
Exner para o Zulliger (Anexo 1). Os resultados indicaram semelhança entre a prancha I do
29
Zulliger com as pranchas I e IV do Rorschach, prancha II do Zulliger e pranchas VIII, IX e
X do Rorschach e prancha III do Zulliger e prancha III do Rorschach.
O número de ‘D’ e ‘S’ encontrados no Zulliger foi proporcional ao número
demonstrado por Exner, enquanto que o ‘Dd’ e ‘W’ obtiveram pontuações mais baixas para
o Zulliger. A média de respostas encontrada no Zulliger foi mais baixa quando comparada
com o Rorschach, mas isso já era esperado devido ao número reduzido de pranchas do
Zulliger, embora se esperasse a mesma proporção entre as respostas W, D, Dd e S. O
Zulliger evidenciou uma proporção de W= 29%; D= 49%; Dd= 10%; S= 13% (1:2:0:0)
enquanto a de Rorschach é de 1:2:1:1.
Assim como ele, Brinkmann (1998), Zdunic (1999) e Villemor-Amaral, Primi e
Colaboradores (2009) também se propuseram a analisar a semelhança estrutural entre o
Método de Rorschach e o Zulliger, para uma amostra do Chile, Argentina e Brasil
respectivamente. Os resultados, nos três estudos, mostraram que Sistema Compreensivo é
eficiente para investigar e compreender aspectos da personalidade. Entretanto, a atribuição
de valores numéricos, porcentagens e cálculos recomendados por Exner não podia ser
transposta de um método para o outro, pois, apesar das semelhanças já descritas, o número
de pranchas é reduzido e as figuras são diferentes, constituindo um conjunto de estímulos
distinto que requer estudos específicos antes que sejam repassadas as regras do Sistema
Compreensivo para a técnica de Zulliger.
Somente no estudo desenvolvido no Brasil é que se criou um atlas de localização e
uma lista de qualidade formal, adaptando as regras recomendadas por Exner (1994) ou
criando novas regrasque contemplassem as exceções que ocorriam com alta freqüência no
Zulliger. Além disso, foram feitas tabelas normativas com as tendências interpretativas para
a população do estado de São Paulo. O resultado desse procedimento foi positivo e originou
30
o manual do ZSC ((Villemor-Amaral & Primi, 2009) ), envolvendo dados empíricos sobre
validade e fidedignidade. Segundo os autores, o novo manual apresenta um conjunto de
evidências favoráveis às interpretações feitas a partir das respostas, mostrando adequação
no uso prático conforme as recomendações do CFP (2003).
No que tange aos estudos de precisão, Villemor-Amaral, Machado e Noronha (no
prelo) realizaram uma pesquisa de teste-reteste considerando 16 indicadores essenciais para
a investigação da personalidade. Os participantes eram alunos de teologia com mais de
vinte anos de idade e todos foram avaliados duas vezes, com um intervalo de cinco meses
entre uma aplicação e outra.
Os resultados, segundo o índice Kappa, revelaram que os indicadores R, S, Dd, C,
D, H e (Hd) obtiveram correlações acima de 0,80. Já as variáveis M, (H) e Hd alcançaram
correlação entre 0,60-0,80, indicando uma associação suficiente. Os indicadores
H:Hd+(H)+(Hd), W, Sum_SH e CF evidenciaram uma correlação moderada, entre 0,40-
0,60; a correlação do indicador FC foi baixa e com significância marginal de 0,063, e por
fim o indicador Tipo de Vivência (EB) foi o único que não apresentou correlação
significativa.
A fraca precisão do EB encontrada por Villemor-Amaral, Machado e Noronha (no
prelo) convergiu com os resultados de uma pesquisa anterior desenvolvida por Villemor-
Amaral e Lamounier (2006). Nesse estudo, as autoras verificaram a equivalência dos
resultados do EB de ambos os métodos com manchas de tinta. Em uma amostra composta
por 51 adultos com escolaridade e nível socioeconômico variado, o indicador EB, fator de
grande relevância na interpretação dessas técnicas, foi explorado e comparado. As variáveis
de Movimento Humano (H) e Soma de cores (WSumC), que compõem o indicador EB,
31
foram analisadas conjuntamente de acordo com mesmas fórmulas e proporções contidas no
Sumário Estrutural do Sistema Compreensivo do Rorschach.
Após a obtenção dos dados segundo a correlação de Pearson e o Qui-Quadrado,
verificou-se que três de quatro tipos de vivência apontaram para evidências estatisticamente
significativas (introversivo, extratensivo e evitativos). No entanto, com relação à categoria
ambigual, não se encontrou concordância entre as técnicas. Dos ambiguais identificados no
Zulliger, 30% foram considerados introversivos e 70% apontados como extratensivos no
Rorschach. Os autores concluem que, apesar das concordâncias entre as duas técnicas terem
sido na maioria significativas, ainda não é possível transpor com segurança as mesmas
fórmulas e proporções contidas no Sumário Estrutural do Rorschach para o Zulliger.
Os resultados desse estudo, somados ao de Mattlar, Sandahl, Lindberg e
Colaboradores (1990) demonstram a grande dificuldade de se transpor de modo direto os
pressupostos do Rorschach para o Zulliger, mostrando que os esforços para adaptar e
validar uma técnica projetiva é fruto de um conjunto dinâmico e inesgotável de
informações sobre como interpretar seus resultados. Para Villemor-Amaral, Primi e
Colaboradores (2009) um único estudo com resultados positivos não é suficiente para
legitimar as inferências interpretativas, sendo preciso um conjunto de evidências favoráveis
para cada um dos indicadores presentes no teste em consideração.
Nos vários contextos e propósitos em que o Zulliger é empregado, as áreas de
psicologia organizacional e clínica são as que mais acumulam evidências empíricas sobre a
validade e precisão do instrumento (Villemor-Amaral, Machado & Noronha, no prelo;
(Villemor-Amaral & Primi, 2009) ).
No que diz respeito à área organizacional, Ferreira e Villemor-Amaral (2005)
realizaram um estudo para verificar a capacidade preditiva do Zulliger no contexto
32
empresarial. Para tanto, 86 funcionários foram avaliados por seus chefes por meio de um
relatório de desempenho profissional que contemplava itens sobre relacionamento
interpessoal, presença de atuação interna e externa, tomada de decisões oportunas,
competência na especialização, busca por aprimoramento e inovação; absorção,
organização, registro e divulgação de conhecimento; organização; relacionamento com
pares e colegas; solução de problemas; orientação para o cliente.
Todos os itens do questionário foram correlacionados, por meio de uma análise
exploratória, com as variáveis do Zulliger e os resultados revelaram alguns indicadores
como preditores de sinais de bom desempenho profissional. A porcentagem de qualidade
formal positiva (X+%) relacionou-se positivamente com as questões de organização e
solução de problemas, mostrando que os indivíduos com maior ajustamento convencional
da realidade tendem a ser mais organizados e a perceber melhor as situações, identificando
problemas reais ou potenciais e soluções.
A variável Dd correlacionou-se inversamente com a capacidade para solucionar
problemas, revelando que os indivíduos com maior idiossincrasia são mais propensos a
lentidão para criar soluções. Ainda relacionado com a capacidade de solucionar problemas,
o aumento da variável SumY indicou pessoas com alto estresse situacional e sentimentos
mais depressivos, o que promove condutas mais desajustadas na solução de problemas.
Outros 16 indicadores do Zulliger apresentaram correlação com o questionário de
desempenho profissional e podem ser consultados com mais detalhes no artigo das autoras
(Ferreira & Villemor-Amaral, 2005), evidenciando que o Zulliger é indicado para o
contexto de seleção empresarial.
33
ESTUDO I: VALIDADE DE CRITÉRIO DAS CONSTELAÇÕES DO
SISTEMA COMPREENSIVO DO RORSCHACH APLICADAS NO ZSC
34
No caso da área clínica com foco na saúde mental, o Zulliger tende a apresentar
grande utilidade por ser um método simples e rápido, mas antes de ele ser introduzido no
campo da saúde mental, diversas pesquisas ainda precisam ser realizadas com o intuito de
legitimar as interpretações atribuídas aos dados do Zulliger.
No que se refere aos estudos de evidência de validade, Primi, Muniz e Villemor-
Amaral (2009) buscaram a validade preditiva do ZSC por meio da análise fatorial. Esse tipo
de análise baseou-se na idéia de que os quadros psicopatológicos são variantes extremadas
e disfuncionais de traços básicos de personalidade. Assim, se as variáveis do Zulliger
fossem capazes de identificar características psicológicas mais salientes nas patologias,
seria possível verificar diferenças psicológicas entre grupos patológicos e grupos de não-
pacientes.
A amostra foi constituída por 14 alcoolistas, 18 esquizofrênicos, 18 depressivos, 12
pacientes com transtorno de pânico, 10 pacientes com transtorno obsessivo compulsivo e
13 pacientes somatoformes, e estes foram comparados com 220 não-pacientes que
possuíam características sociodemográficas semelhantes ao grupo clínico.
Os resultados evidenciaram diferenças significativas para todos os grupos, porém
somente os grupos de esquizofrênicos e de transtorno obsessivo compulsivo revelaram
evidências bastante coerentes com os pressupostos teóricos de cada patologia.
No caso do grupo dos esquizofrênicos, foi observado aumento dos indicadores de
alterações nos processos ideativos e perceptivos, indicados por respostas vagas, códigos
especiais, imagens de humanos parciais (Hd) e a expressão da afetividade sem modulação
cognitiva (C). Já para o grupo dos pacientes com transtorno obsessivo compulsivo as
variáveis associadas aos afetos disfóricos, especialmente a ansiedade, foram as que mais
diferenciaram os grupos (DQv + ma + Cl + YF + C’F + Fi + Na + C’ + Y).
35
Outra análise interessante desse estudo foi a comparação entre os grupos dos não-
pacientes com a soma de todos os grupos patológicos. Os indicadores relacionados com a
qualidade do processamento cognitivo diferenciaram os grupos, revelando que os pacientes
psiquiátricos, independentemente de sua categoria nosográfica, apresentam um
processamento cognitivo mais simples, convencional, prático e econômico quando
comparado aos não-pacientes.
Essa característica pode ser um indicador mais genérico sobre a predição de
transtornos da saúde mental, refletindo uma tendência ao empobrecimento cognitivo nos
grupos clínicos. De forma geral, os resultados descritos por Primi, Muniz e Villemor-
Amaral (2009) mostraram que o ZSC apresenta evidências de validade que podem auxiliar
o psicólogo a compreender os diferentes modos de funcionamento da personalidade.
No entanto, poucas pesquisas investigam os componentes das Constelações
propostas por Exner, ou seja, conjuntos de variáveis que sugerem estilos de personalidade
mais desajustadas. Exner (1999), com intuito de definir conjuntos de variáveis capazes de
auxiliar em diagnósticos nosográficos, criou, por meio da inter-relação de variáveis, cinco
conjuntos significativos, do ponto de vista estatístico, para auxiliar a compreensão da
dinâmica psicopatológica: Constelação de Suicídio (S-CON); Índice de Esquizofrenia
(SCZI); Índice de Déficit Relacional (CDI); Índice de Hipervigilância (HVI); Índice de
Estilo Obsessivo (OBS) e, por fim, o Índice de Depressão (DEPI).
Essas Constelações passaram a ser verificadas em todos os protocolos do Rorschach
antes mesmo do início da interpretação dos resultados. A presença de uma ou mais
Constelações indica a possibilidade de distúrbios psicológicos graves, como é o caso, por
exemplo, do potencial suicida (S-CON) (Nascimento, 2006). O avaliador, ao detectar a
36
presença de uma Constelação, deve analisar detalhadamente a fonte das alterações ao longo
do protocolo.
A presença positiva de uma Constelação alerta o avaliador sobre quais aspectos
estão comprometidos na psicodinâmica, mas a compreensão detalhada do funcionamento
psíquico só será alcançada se o avaliador associar às outras variáveis do protocolo, de
forma integrada e complementar. Isso porque, além dos comportamentos, sentimentos e
preocupações, a personalidade deve ser avaliada pela qualidade das forças psicológicas que
estruturam e operam o dinamismo individual, o que possibilita compreensões multivariadas
de acordo com a subjetividade de cada um.
Conhecer o outro por meio de um agrupamento de variáveis que refletem
comportamentos desajustados - as Constelações - só tem utilidade quando os sintomas
servem de referência enquanto modelos de dinâmicas similares. Ou seja, os funcionamentos
psíquicos semelhantes tendem a ser compartilhados por indivíduos da mesma categoria
nosográfica, já que certos pensamentos, sentimentos e comportamentos se expressam de
forma previsível e estereotipada, até certo ponto, dentro daquele grupo.
Dessa forma, as Constelações foram criadas por Exner com o intuito de
compreender as especificidades de cada psicopatologia associada às características
comportamentais menos adaptadas do ponto de vista bio-psico-social. Para se atribuir a
presença positiva de uma Constelação, o Sistema Compreensivo oferece notas de corte
mínimas, que foram testadas empiricamente e podem ser conferidas no manual de
interpretação do Rorschach (Exner, 1999).
Os estudos das Constelações do SC ainda são tema de pesquisas e os resultados têm
sido satisfatórios, mostrando evidências de validade e precisão. Recentemente, Silva Neto
(2008) avaliou a estabilidade temporal de 59 variáveis do Sistema Compreensivo do
37
Rorschach por meio de teste-reteste. A fidedignidade das correlações foi de r = 0,61, o que
corresponde a um nível moderado de estabilidade temporal. No que diz respeito à
estabilidade das Constelações, o autor a considerou alta, com pelo menos 88% dos
participantes mantendo o mesmo status negativo ou positivo no teste e no reteste.
Nascimento vem, desde 2002, realizando um amplo e importante estudo normativo
das variáveis do Método de Rorschach-SC para o estado de São Paulo. Em um de seus
estudos, a autora comparou as expectativas normativas dos brasileiros com os índices
previstos pelas tabelas normativas dos Estados Unidos. Embora as diferenças culturais entre
os países sejam evidentes, a autora constatou que as expectativas normativas não foram tão
discrepantes.
Os principais indicadores que não se comportaram conforme as tabelas americanas
foram: a quantidade reduzida de R e de X+%, provando que os brasileiros do estado de São
Paulo tendem a emitir menos respostas e com menor acuidade perceptiva. A amostra
brasileira também apresentou aumento de alguns códigos especiais, mostrando que existem
peculiaridades culturais que devem ser interpretadas com cautela, uma vez que as nuances
da linguagem não podem ser consideradas inadequadas ou desajustadas.
Em outro estudo, Nascimento (2006) comparou as expectativas previstas pelas
Constelações do Rorschach em grupos aleatórios de não-pacientes da capital e do interior
de São Paulo. Os resultados atenderam às expectativas esperadas, indicando que os não-
pacientes não apresentam comprometimentos graves, por isso não sinalizam a presença de
patologias (Constelações negativas).
No entanto, as Constelações de DEPI e CDI se mostraram marginalmente mais
elevadas na população brasileira, principalmente na capital, indicando tendências de traços
depressivos, que devem ser justificáveis pela vida tensa e com maior nível de estresse
38
desencadeado pelas cobranças do dia-a-dia de uma grande metrópole. Se os resultados não
tivessem sido interpretados de acordo com a realidade sociocultural do país e tivessem sido
simplesmente comparados com as expectativas propostas por Exner, os dados indicariam
que os brasileiros apresentam um nível de DEPI elevado, o que contribuiria com a predição
de falsos positivos para a depressão.
Quanto à Constelação SCZI, que tinha como foco os casos de esquizofrênicos, o
próprio Exner, no final da década de 80, constatou um grande número de falsos positivos.
Nesse sentido, Nascimento (2006) afirma que “as conclusões errôneas da aplicabilidade
dessa Constelação, somada à complexidade do diagnóstico da esquizofrenia, trouxeram
problemas para a sua utilização” (p. 88).
Os indicadores detectados como problemáticos eram a qualidade formal negativa
(FQ-) e a porcentagem de qualidade formal positiva e ordinária. Exner (2003) resolveu
modificar esses indicadores transformando-os no XA% e no WDA%. O XA% refere-se à
soma das respostas de qualidade formal Xo + Xu + X+, onde todas são consideradas
adequadas aos contornos das manchas, independentemente de serem vistas nas localizações
globais (W), detalhes comuns (D) ou em detalhes pouco freqüentes (Dd). Já o WDA%
refere-se à adequação da qualidade formal das respostas com localizações exclusivas em
áreas W e D.
Esse processo de reavaliar e atualizar a validade da SCZI foi incorporado nas novas
edições do The Rosrchach Comprehensive System (Exner, 2003), que substitui a antiga
SCZI pela PTI, Perceptual-thinking index, ampliando as investigações sobre a qualidade da
percepção e do pensamento, o que inclui outros quadros nosográficos além da
esquizofrenia.
39
Villemor-Amaral, Primi e Colaboradores (2009) consideraram as reformulações da
SCZI importantes para melhor localizar o nível de distorção perceptiva. Para os autores, o
Dd foi excluído da fórmula WDA% por ser um recorte pouco frequênte, o que indica um
estilo de percepção atípico e peculiar, mas não indica necessariamente problemas de
acuidade perceptiva. O recorte inusual aumenta a probabilidade de FQ-, o que elevaria a
média do X-%. Ao retirar as localizações Dd da fórmula, as distorções sinalizadas nas áreas
D ou W dão mais segurança na predição de alterações perceptivas mais intensas.
A partir dos estudos citados, fica claro que as Constelações podem ser úteis para
predizer comportamentos desajustados, típicos em pacientes psicopatológicos. Entre todas
as Constelações oferecidas pelo Sistema Compreensivo, a psicodinâmica dos depressivos e
dos esquizofrênicos mantém um padrão de funcionamento mais definido, o que permite
afirmar com maior segurança o diagnóstico dessas patologias. No entanto, a Constelação
OBS não tem como intuito diagnosticar pacientes com transtorno obsessivo compulsivo
(TOC), mas como esse estudo parte da idéia de se fazer uma primeira sondagem das
Constelações do Rorschach-SC quando aplicadas no ZSC, a Constelação OBS será
analisada através dos pacientes com TOC. Da mesma forma, o leitor verá que a
Constelação criada para avaliar o pânico apresenta indicadores que também contemplam
outras Constelações.
No caso do presente estudo, que pretendeu verificar se as Constelações propostas
pelo Sistema Compreensivo do Rorschach são válidas para o Zulliger, houve o cuidado de
não utilizar as expectativas numéricas (nota de corte) do Rorschach para o Zulliger. Para
verificar se as Constelações diferenciam quadros psiquiátricos, o conjunto das variáveis foi
checado por meio do critério de ausência ou presença.
40
Desse modo, o objetivo nesse momento foi verificar a capacidade preditiva para o
diagnóstico da depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo compulsivo e transtorno de
pânico, utilizando a SCID-I como critério externo de diagnóstico e as Constelações do
Sistema Compreensivo do Rorschach como indicadores mais patológicos para o ZSC.
41
MÉTODO
Participantes
Participaram desse estudo 58 pacientes, subdivididos em quatro categorias
psicopatológicas: 18 eram depressivos, sendo 77% do sexo feminino e 23% do sexo
masculino, com escolaridade média de nove anos e idade média de 48 anos; 18 tinham o
diagnóstico de esquizofrênicos, 69% do sexo masculino e 31% do sexo feminino, com
média de escolaridade de sete anos e de idade 37 anos; 12 pacientes com transtorno do
pânico e predominância do sexo feminino em 75%, com escolaridade média de nove anos e
idade média de 47 anos, e dez pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC), com
predominância do sexo feminino em 63%, escolaridade média de oito anos e idade média
de 50 anos.
O critério de inclusão para o grupo clínico foi a necessidade de ajuda psiquiátrica
em decorrência de pelo menos um episódio sintomático derivado de transtorno mental. A
confirmação da patologia foi feita mediante a Entrevista Clínica Estruturada para o DSM-
IV- SCID-I.
O grupo dos não-pacientes foi composto por 95 indivíduos de baixo nível-
socioeconômico e escolaridade média de oito anos, e a faixa etária mínima foi de 18 anos e
a máxima de 60 anos. A definição em torno dessa faixa etária deve-se ao fato de que acima
de 60 anos a possibilidade de déficits cognitivos aumenta e isso poderia induzir a predição
de sinais de alterações no pensamento em função da idade e não da personalidade. Assim, a
variável idade foi controlada e considerada critério de exclusão, em alguns casos. Outro
critério de exclusão foi o relato de ajuda psicológica ou psiquiátrica.
42
Instrumentos
A SCID-I é o roteiro para uma entrevista semi-estruturada, que pode ser administrada
por um psiquiatra ou por um profissional da área da saúde mental, treinado e familiarizado
com a classificação e critérios do DSM-IV. A aplicação da SCID-I tem a duração de
aproximadamente 1 hora e possibilita a avaliação de aspectos ligados à identificação; à vida
escolar e profissional; ao início, evolução e história do tratamento da enfermidade; ao
contexto ambiental; aos problemas atuais e ao funcionamento social atual (Revisão Geral).
A escala é composta de módulos que avaliam patologias do Eixo I - transtornos clínicos
como depressão maior, transtorno somatoforme, esquizofrenia, transtorno obsessivo
compulsivo, transtorno de pânico e transtorno do uso do álcool. Cada módulo tamm pode
ser aplicado de forma isolada conforme o diagnóstico indicado nos prontuários de cada
paciente.
O Zulliger (2009) gera informações sobre a dinâmica psíquica de uma pessoa,
envolvendo investigações detalhadas sobre os aspectos cognitivos, afetivos e interpessoais.
O Zulliger pode ser aplicado de forma coletiva ou, como foi nesse estudo, de forma
individual. O material de aplicação consiste em três manchas impressas em cartões, sendo a
primeira (Pr. I) toda em preto e branco, a segunda (Pr. II) composta pelas cores vermelha
verde e marrom e a terceira (Pr. III) contendo as cores preta, branca e vermelha.
A aplicação ocorre em duas etapas: a primeira, chamada de associação livre, na qual
a pessoa deve ser totalmente espontânea na realização da tarefa, sem a interferência do
aplicador. Depois, na fase do inquérito, o aplicador deve verificar onde a pessoa enxergou o
que diz e o que na mancha fez com que parecesse aquilo que foi dito. Essas questões
permitirão codificar e interpretar adequadamente as respostas, envolvendo tanto conceitos
quantitativos da psicometria quanto conceitos mais qualitativos.
43
Procedimento de Coleta de Dados
O procedimento de coleta de dados foi feito com vistas a um estudo mais amplo,
que envolvia normatização e validação dos testes de Zulliger e Pfister. Tal estudo se iniciou
com o treinamento de cinco alunos do grupo de pesquisa do Laboratório de Avaliação
Psicologia em Saúde Mental (LAPSaM). Depois que o grupo simulou situações de
aplicação com os dois instrumentos projetivos e aprendeu a classificá-los conforme a
orientação descrita nos respectivos manuais deu-se início o processo de coleta de dados.
O primeiro passo foi definir as instituições de saúde mental nas quais se coletariam
os dados e entrar em contato com os respectivos diretores e coordenadores, momento em
que se esclareciam os objetivos e as características da pesquisa. Autorizado o estudo, os
pacientes diagnosticados com depressão, esquizofrenia, TOC, transtorno de pânico,
transtorno somatoforme e alcoolismo eram identificados e, em seguida, agendavam-se as
aplicações com os esses pacientes. A cada participante eram esclarecidos os objetivos e
procedimentos da pesquisa e ele era convidado, então, a assinar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (T.C.L.E.). Logo após, o paciente respondia ao módulo da SCID-I
específico da patologia identificada no prontuário, para confirmação diagnóstica segundo
os critérios do DSM-IV. Depois disso, realizava-se a aplicação dos dois instrumentos de
avaliação, que constituem o foco do conjunto desse trabalho: Pfister e Zulliger. O tempo de
aplicação dos instrumentos, no caso do grupo psicopatológico, durou aproximadamente
duas horas, sendo uma hora para a SCID-I, quarenta minutos para o Zulliger e vinte
minutos para o Pfister, que ocorria de forma individual.
Para o grupo dos não-pacientes, o critério de inclusão adotado foi, principalmente, a
equivalência dos dados de identificação em relação ao grupo clínico e o histórico
desconhecido de episódio sintomático derivado de transtorno mental. Algumas empresas da
44
região, que aceitaram colaborar com a pesquisa, liberaram os funcionários que
apresentavam equivalência com o grupo de pacientes psiquiátricos. A coleta dos dados foi
feita de forma individual, em uma única sessão, e se iniciava com a assinatura do T.C.L.E.
Os participantes respondiam a perguntas de identificação geral como: nome, idade,
escolaridade, profissão, estado civil, número de filhos, religião, necessidade de ajuda
psicológica ou psiquiátrica, tratamento para uso de álcool ou drogas. Em seguida, a técnica
de Zulliger era aplicada em quarenta minutos e a técnicas de Pfister em 15 minutos. O
tempo total foi de uma hora e cinco minutos, incluindo a ficha de identificação.
As instruções de aplicação das tarefas seguiram a padronização recomendada pelo
manual do Zulliger (Villemor-Amaral & Primi, 2009) e todos os protocolos foram
comparados com a tabela normativa deste manual; para verificar a precisão dos dados, 25%
dos protocolos foram reclassificados por mais dois juízes independentes.
Todos os indicadores foram interpretados a partir de três categorias: acima da
média, na média e abaixo da média. Tais atribuições tiveram o respaldo das tabelas
normativas de (Villemor-Amaral & Primi, 2009) respeitando idade, sexo, grau de
escolaridade e diagnóstico psicopatológico. O programa estatístico utilizado para analisar
os dados foi o SPSS 11.5.
Definição dos critérios para cada constelação
Como ainda não se conhecem as frequências esperadas para os indicadores que
compõem as Constelações de DEPI, PTI e OBS no Zulliger, optou-se, neste estudo, por
considerar os valores médios desses indicadores encontrados no grupo de pacientes
psiquiátricos, comparando-os com resultados do grupo de não-pacientes.
45
Tabela 1: Indicadores que compõem a Constelação DEPI.
1 Fv + vF + v e/ou FD para verificar as tendências à introspecção;
2 COP e/ou índice de isolamento (Bt + 2x Cl + Ge + Ls + 2x Na/R) para avaliar
maior ou menor grau de dificuldade nas relações interpessoais;
3 S para apreender sinais de hostilidade;
4 Soma de C’ para avaliar a internalização dos afetos;
5 Determinantes de sombreados (FV+ VF + V+ FY + YF + Y+ FT+ TF+T >
FM+m) sinalizando afetos perturbadores e sofrimento psíquico;
6 MOR e/ou (2x AB + ART + AY) para verificar a tendência a pensamentos
pessimistas e tentativas ideacionais para neutralizar o impacto das emoções;
7 Quociente afetivo (Afr) para sinalizar o desinteresse por situações afetivas;
8 Determinantes mistos de cor e sombreado para sinalizar ambivalências de
sentimentos positivos e negativos na mesma situação;
9 Índice de egocentrismo (3r + (2)/R) para verificar preocupação com o seu
próprio self e nível de interesse pelo mundo exterior;
10 Determinantes mistos para verificar o menor envolvimento emocional;
46
Tabela 2: Indicadores que compõem a Constelação PTI.
No caso do transtorno obsessivo compulsivo utilizou-se a Constelação OBS.
Embora essa Constelação não seja originalmente destinada a diagnosticar os pacientes com
TOC, será averiguada a sua possível relação com essa patologia.
Tabela 3: Indicadores que compõem a Constelação OBS.
1 Dd para avaliar a tendência a meticulosidade e ao perfeccionismo;
2 Respostas populares (P) para avaliar a preocupação em não falhar;
3 Atividade organizativa (Zf) para avaliar o temor da desorganização;
4 Qualidade formal positiva (FQ+) para avaliar a diminuição da capacidade para a
originalidade. Os estilos obsessivos tendem a ser menos criativos devido à
preocupação em agir corretamente.
1 XA% e WDA% para verificar o nível de adequação da realidade;
2 X-% para verificar problemas de acuidade perceptiva e distorção da realidade;
3 Códigos especiais para verificar a presença de verbalizações incomuns e deslizes
no curso do pensamento;
4 Movimento humano negativo (M-) ou movimento humano sem qualidade formal
(Mnone) para verificar a perda do contato com a realidade, devido a processos
ideacionais desajustados;
Os antigos indicadores da SCZI também foram checados no ZSC, com exceção dos
dois últimos indicadores, que foram acrescentados pela autora da Tese.
5 Espaço em branco negativo (S-) para verificar distorções da realidade em função
da raiva;
6 Qualidade formal negativa para verificar distorções perceptivas;
7 Atividade organizativa (Zf) para verificar se há integrações entre as imagens;
8 Cor pura (C) para verificar se há descontrole sobre os impulsos afetivos.
47
Tabela 4: Indicadores que compõem a suposta Constelação do para o pânico.
1 FM + m > M sinaliza a dificuldade cognitiva para controlar o incômodo interno.
Os pensamentos não deliberados por serem mais imaturos e fantasiosos decorrem
ou incrementam os pensamentos irreais;
2 Qualidade evolutiva vaga (DQv) > qualidade evolutiva ordinária (DQo),
indicando que os pensamentos não deliberados tendem a ser fantasiosos e com
prováveis integrações mentais vagas e confusas;
3 Textura (T), movimento passivo e conteúdo de alimento (fd) estão relacionados
com um funcionamento dependente, típicos desses pacientes;
4 Conteúdo anatômico (An) é sinalizador de preocupações ameaçadoras em relação
ao funcionamento fisiológico do corpo;
5 Os códigos especiais mórbidos (MOR) e perseveração (PSV) podem ser
indicadores de pensamentos negativos, que resultam na impregnação do medo;
6 Tolerância ao estresse (D ajustada) pode sugerir pressões da vida, o que os torna
indivíduos mais suscetíveis à síndrome do pânico.
48
RESULTADOS
Tabela 5: T student do grupo dos não-pacientes e depressão
Variáveis Grupos N Média DP T P
FV+V+VF
não-pac.
dep.
95
,04
,202 ,882 ,380
18 ,00 ,000
FD
não-pac.
95
,11
,425
-,055
,95
dep. 18 ,11 ,323
FC’+C’F+C’
não-pac.
95
,38
,622
-,369
,713
dep. 18 ,44 ,984
C’F
não-pac.
95
,08
,279
,408
,684
dep. 18 ,06 ,236
C’
não-pac.
95
,01
,103
,434
,665
dep. 18 ,00 ,000
FY+YF+Y
não-pac.
95
,20
,452
,795
,42
dep. 18 ,11 ,323
YF
não-pac.
95
,13
,334
,178
,85
dep. 18 ,11 ,323
Y
não-pac.
95
,01
,103
,434
,66
dep. 18 ,00 ,000
FT+TF+T
não-pac.
95
,04
,249
,715
,47
dep. 18 ,00 ,000
S
não-pac.
95
1,36
1,30 -,259 ,79
dep. 18 1,44 1,29
COP
não-pac.
95
,28
,559 ,446 ,656
dep. 18 ,22 ,428
MOR
não-pac.
95
,23
,535
,475
,636
dep. 18 ,17 ,514
Afr
não-pac.
95
,533
,266
-1,169
,245
dep. 18 ,614 ,261
49
(2) não-pac. 95 1,39 1,49 -,842 ,401
dep. 18 1,72 1,74
FR
não-pac.
95
,06
,285
,938
,350
dep. 18 ,00 ,000
GEO
não-pac.
95
,02
,144
,617
,539
dep. 18 ,00 ,000
NA
não-pac.
95
,07
,263
-,534
,595
dep. 18 ,11 ,323
LS
não-pac.
95
,14
,346
,955
,342
dep. 18 ,06 ,236
CL
não-pac.
95
,05
,224
,991
,324
dep. 18 ,00 ,000
BT
não-pac.
95
,79
,933
,754
,453
dep. 18 ,61 ,850
ART
não-pac.
95
,11
,341
,591
,556
dep. 18 ,06 ,236
AB
não-pac.
95
,04
,202
-2,469
,015
dep. 18 ,22 ,548
No que se refere aos pacientes com depressão, somente o indicador AB, que
compõe o índice de intelectualização (2x AB + ART + AY), mostrou-se significativo
(p=0,015) e teve a média aumentada para os depressivos, evidenciando tentativas
ideacionais para neutralizar o impacto das emoções.
A presença significativa de um único indicador, além de não ser suficiente para
predição da depressão, foi uma surpresa, pois Villemor-Amaral e Machado (2008), em um
estudo bastante semelhante a este, encontraram diferenças substanciais entre grupos de
depressivos e não-pacientes. Segundo as autoras, as variáveis FD+V, Sum-SH, índice-
egocentricidade, CF+C<FC, determinantes-mistos e intelectualização da Constelação DEPI
50
alcançaram valores significativos, evidenciando que o ZSC é um instrumento útil para o
diagnóstico da depressão.
Tabela 6: T student do grupo dos não-pacientes e esquizofrenia.
Variáveis Grupos N Média DP T P
WDA% não-pac. 95 68,17 21,69
,882 ,511
esquizo. 18 64,33 26,98
M-
não-pac. 95 ,09 ,294
-,055 ,409
esquizo. 18 ,17 ,514
DV_NEOLO
não-pac. 95 ,06 ,245
-,369 ,277
esquizo. 18 ,00 ,000
DV_RDUND
não-pac. 95 ,02 ,144
,408 ,059
esquizo. 18 ,11 ,323
DR_FRSIN
não-pac. 95 ,02 ,144
,434 ,539
esquizo. 18 ,00 ,000
DR_CRCUN
não-pac. 95 ,04 ,202
,795 ,380
esquizo. 18 ,00 ,000
INCOM
não-pac. 95 ,11 ,399
,178 ,287
esquizo. 18 ,22 ,548
FABCOM
não-pac. 95 ,03 ,176
,434
,617
esquizo. 18 ,06 ,236
CONTAM
não-pac. 95 ,00 ,000
,715 ,001
esquizo. 18 ,11 ,323
ALOG
não-pac. 95 ,01 ,103
-,259 ,015
esquizo. 18 ,11 ,323
PSV_MSM
não-pac. 95 ,02 ,205
,446 ,665
esquizo. 18 ,00 ,000
51
PSV_CONT
não-pac. 95 ,03 ,176
,475 ,617
esquizo. 18 ,06 ,236
PSV_MEC
não-pac. 95 ,02 ,205
-1,169 ,665
esquizo. 18 ,00 ,000
CONFAB
não-pac. 95 ,00 ,000
* *
esquizo. 18 ,00 ,000
FQX-
não-pac. 95 1,61 1,31
-,842 ,999
esquizo. 18 1,61 1,72
FQX+
não-pac. 95 ,00 ,000
* *
esquizo. 18 ,00 ,000
FQXo
não-pac. 95 3,63 1,92
,938 ,015
esquizo. 18 2,44 1,58
FQXu
não-pac. 95 1,67 1,33
,617
,113
esquizo. 18 1,11 1,56
S-
não-pac. 95 1,36 1,30
-,534
,804
esquizo. 18 1,28 ,895
FC: CF+ C
não-pac. 95 ,99 ,347
,955 ,665
esquizo. 18 ,95 ,178
FC: CF+C2
não-pac. 95 -,02 ,967
,991 ,511
esquizo. 18 -,50 1,04
SUMC
não-pac. 95 1,40 1,70
,754 ,409
esquizo. 18 1,94 2,18
XA%
não-pac. 95 5,30 2,34
,591 ,277
esquizo. 18 3,55 1,88
* Ausência de variabilidade: nenhum participante apresentou PSV e FQX+.
Em relação aos pacientes esquizofrênicos, três indicadores se mostraram
significativos. Entre eles está o FQXo% (p=0,015), indicando que os não-pacientes
apresentam uma melhor percepção da realidade. Os outros dois, CONTAM (p=0,001) e
52
ALOG (p= 0,015), mostraram-se aumentados nos esquizofrênicos e sinalizaram deslizes no
curso do pensamento.
A contaminação (CONTAM) envolve a condensação inadequada de
impressões ou idéias sobrepostas que violam a realidade. Isto ocorre quando duas imagens
distintas, como por exemplo, minhoca e borboleta, se fundem em uma única imagem e
resultam em um novo conceito, “borbonhoca”. Já as respostas de lógica inadequada
(ALOG) referem-se a imagens adequadas e reais, porém a justificativa utilizada pelo sujeito
é produto de um raciocínio forçado e não convencional, representando um estilo de
pensamento simplista e concreto.
Esses três indicadores atendem a alguns critérios da PTI, mas ainda são insuficientes
para assegurar que o ZSC é sensível para predizer a esquizofrenia.
Tabela 7: T student do grupo dos não-pacientes e TOC.
Variáveis Grupos N Média DP T P
Dd não-pac. 95 1,14 1,52
1,312 ,193
TOC
10 ,50 ,527
Popular não-pac. 95 1,61 1,31
1,204 ,231
TOC
10 1,10 ,73
Zf não-pac. 95 1,11 1,23
1,522 ,131
TOC
10 ,50 ,707
FQX+ não-pac. 95 ,00 ,000
* *
TOC
10 ,00 ,000
* Ausência de variabilidade: nenhum participante apresentou FQX+
No caso dos pacientes com transtorno obsessivo compulsivo (TOC), nenhuma
hipótese previamente selecionada mostrou-se significativa, evidenciando a ausência de
53
diferenças comportamentais entre os pacientes e seu respectivo grupo de controle. Esse
resultado pode ter sido influenciado tanto pelos aspectos subjetivos da dinâmica psíquica
dos examinandos quanto pela ausência de variabilidade de algumas variáveis, como foi o
caso da qualidade formal positiva (FQ+) na constelação OBS, que ao reduzir uma hipótese
também restringiu as comparações.
A ausência de variabilidade do FQ+ também foi constatada no estudo de validade de
Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009), que, depois de realizarem uma análise fatorial das
respostas do ZSC, notaram que de um total de 83 variáveis previstas para as análises, 13
variáveis tinham freqüência zero (FQx+, Cn, TF, FV, Ex, DV_rdund, Contam, Psv_msm,
Psv_cont, Psv_mec, Confab e CP) e foram eliminadas da matriz principal, resultando em
apenas 69 variáveis para a análise.
Tabela 8: T student do grupo dos não-pacientes e pânico.
Variáveis Grupos N Média DP T P
FM não-pac. 95 ,6737 ,961 1,80 ,074
pânico
12 ,1667 ,389
M não-pac. 95 ,1263 ,392 ,366 ,715
pânico
12 ,0833 ,288
DQv não-pac. 95 ,14 ,402 -3,35
,001
pânico
12 ,67 1,07
FT não-pac. 95 ,04 ,249 -,531
,597
pânico
12 ,08 ,289
TF não-pac. 95 ,00 ,000 * *
54
pânico
12 ,00 ,000
T não-pac. 95 ,00 ,000 * *
pânico
12 ,00 ,000
SumPassivo não-pac. 95 ,42 ,766 ,019
,985
pânico
12 ,42 ,515
Mp não-pac. 95 ,04 ,202 -,633
,528
pânico
12 ,08 ,289
Fd não-pac. 95 ,06 ,285 -,231
,818
pânico
12 ,08 ,289
NA não-pac. 95 ,65 ,809 -1,33
,184
pânico
12 1,00 1,12
MOR não-pac. 95 ,23 ,535 -,110
,912
pânico
12 ,25 ,622
Y não-pac. 95 ,01 ,103 ,354
,724
pânico
12 ,00 ,000
PSV_MSM não-pac. 95 ,02 ,205 -,943
,348
pânico
12 ,08 ,289
PSV_CONT não-pac. 95 ,03 ,176 ,620
,537
pânico
12 ,00 ,000
PSV_MEC não-pac. 95 ,02 ,205 ,354
,724
pânico
12 ,00 ,000
D AJUST não-pac. 95 ,136 ,428 ,420 ,675
pânico
12 ,083 ,288
FM: m não-pac. 95 ,800 1,07 1,743 ,084
pânico
12 ,250 ,453
55
* Ausência de variabilidade: nenhum participante apresentou TF e T.
No que tange aos pacientes com transtorno de pânico, o único indicador que se mostrou
significativo do ponto de vista estatístico (p=0,001) foi a qualidade evolutiva vaga (DQv),
informando que os pacientes com pânico tendem a apresentar mais pensamentos não
deliberados e com prováveis integrações mentais vagas e confusas do que os não-pacientes.
Os resultados não confirmaram as expectativas preditivas das Constelações,
mostrando que o agrupamento das variáveis selecionado do Sistema Compreensivo ainda
não pode ser utilizado diretamente para diagnóstico por meio do Zulliger, visto que poucas
variáveis das Constelações diferenciaram os grupos. Dessa forma, uma nova análise foi
realizada com o objetivo de investigar se há outros indicadores capazes de discriminar os
grupos clínicos do grupo dos não-pacientes.
A intenção de realizar uma nova análise parte da idéia de que quanto mais os dados
forem explorados, mais elementos podem ser cruzados e comparados, informando os
limites e alcances de cada estratégia empregada. De certa maneira, a realização de múltiplas
estratégias depende do número de pessoas que compõem a amostra, que no caso da
presente pesquisa é inferior a trinta, o que limita a utilização de provas psicométricas mais
complexas, como por exemplo, a análise fatorial exploratória, que é uma estratégia valiosa
para se compreender os diferentes estilos de respostas verbalizadas no ZSC.
Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009) realizaram a análise fatorial com o intuito
de encontrar agrupamentos de variáveis que pudessem ser representativos para diferentes
grupos nosográficos. A inter-relação das variáveis, tal como propõem as Constelações,
possibilitou a descoberta de nove valiosos fatores, os quais evidenciaram diferenças de
56
características psicológicas salientes e contribuíram com evidências de validade para o
diagnóstico diferencial do ZSC.
No caso da presente pesquisa, a estratégia empregada foi a análise exploratória.
Embora menos sofisticada que a análise fatorial, ela também foi utilizada com o intuito de
comparar estilos de personalidades diferentes e refinar a compreensão dos resultados das
análises anteriores. Independentemente de uma seleção pré-estabelecida dos indicadores,
como aconteceu com a análise das Constelações, essa nova estratégia visou comparar todos
os indicadores do ZSC, só que agora em grupos mais uniformes, isto é, os dados
demográficos de idade, sexo, escolaridade e nível sócio econômico foram equiparados.
Resultado da análise exploratória
No caso dos pacientes depressivos, nenhum indicador diferenciou os grupos,
conforme demonstra a Tabela 9. No entanto, após uma análise qualitativa dos resultados,
observou-se que o grupo dos não-pacientes também emitiu respostas de sombreado,
evidenciando presença de sentimentos disfóricos nos grupos comparados.
Tabela 9: Indicadores significativos segundo a prova t-student de uma análise exploratória
para a depressão e não-pacientes.
Variáveis Grupos N Média DP T P
R
dep. 12 6,75 2,09
-,601 ,551
não-pac. 37 7,27 2,74
W
dep. 12 1,08 1,31
-1,859 ,069
não-pac. 37 1,86 1,25
D dep. 12 4,83 2,25 ,309 ,759
57
não-pac. 37 4,59 2,35
Dd
dep. 12 ,83 1,19
,124 ,902
não-pac. 37 ,78 1,20
S
dep. 12 1,42 1,44
,678 ,501
não-pac. 37 1,16 1,01
DQ+
dep. 12 1,08 ,900
-,587 ,560
não-pac. 37 1,30 1,15
DQo
dep. 12 5,50 2,15
-,390 ,699
não-pac. 37 5,84 2,73
DQv
dep. 12 ,08 ,289
,024 ,981
não-pac. 37 ,08 ,277
DQv /+
dep. 12 ,08 ,289
,845 ,402
não-pac. 37 ,03 ,164
M
dep. 12 1,08 ,793
1,134 ,262
não-pac. 37 ,68 1,15
FM
dep. 12 ,750 1,05
,414 ,681
não-pac. 37 ,621 ,892
m
dep. 12 ,083 ,288
-,397 ,693
não-pac. 37 ,135 ,419
Mov.ativo
dep. 12 1,08 ,996
,272 ,786
não-pac. 37 ,97 1,28
Mov.passivo
dep. 12 ,83 ,937
1,307 ,198
não-pac. 37 ,46 ,836
FQXo
dep. 12 3,58 1,62
-,287 ,775
não-pac. 37 3,78 2,22
58
FQXu
dep. 12 1,17 ,718
-1,273 ,209
não-pac. 37 1,62 1,16
FQX- dep. 12 1,17 1,33
-,582 ,563 não-pac. 37 1,38 1,01
FD
dep. 12 ,17 ,389
1,774 ,083
não-pac. 37 ,03 ,164
(2)
dep. 12 1,42 1,37
-,090 ,929
não-pac. 37 1,46 1,44
Fr
dep. 12 ,00 ,000
-1,008 ,319
não-pac. 37 ,08 ,277
H
dep. 12 ,92 ,515
,798 ,429
não-pac. 37 ,70 ,878
(H)
dep. 12 ,75 ,866
1,947 ,058
não-pac. 37 ,32 ,580
Hd
dep. 12 ,33 ,492
-,236 ,814
não-pac. 37 ,41 1,01
(Hd)
dep. 12 ,00 ,000
-1,008 ,319
não-pac. 37 ,08 ,277
Hx
dep. 12 ,00 ,000
-1,493 ,142
não-pac. 37 ,16 ,374
A
dep. 12 2,75 1,96
-,792 ,432
não-pac. 37 3,27 1,98
(A)
dep. 12 ,08 ,289
,845 ,402
não-pac. 37 ,03 ,164
Ad dep. 12 ,25 ,622 -,609 ,564
59
não-pac. 37 ,38 ,639
An
dep. 12 ,92 1,24
-,007 ,994
não-pac. 37 ,92 ,862
Art
dep. 12 ,00 ,000 -1,008 ,319
não-pac. 37 ,08 ,277
Ay
dep. 12 ,25 ,452 1,214 ,231
não-pac. 37 ,11 ,315
Bl
dep. 12 ,17 ,389 ,528 ,600
não-pac. 37 ,11 ,315
Bt
dep. 12 ,33 ,651 -1,507 ,139
não-pac. 37 ,86 1,15
Cg
dep. 12 ,33 ,651 1,135 ,262
não-pac. 37 ,16 ,374
Fi
dep. 12 ,00 ,000 -,811 ,421
não-pac. 37 ,05 ,229
Fd
dep. 12 ,08 ,289 ,024 ,981
não-pac. 37 ,08 ,277
Geo
dep. 12 ,00 ,000 -,811 ,421
não-pac. 37 ,05 ,229
Hh
dep. 12 ,00 ,000 -,946 ,349
não-pac. 37 ,11 ,393
Ls
dep. 12 ,08 ,289 ,361 ,720
não-pac. 37 ,05 ,229
Na
dep. 12 ,17 ,389 ,840 ,405
não-pac. 37 ,08 ,277
60
Sc
dep. 12 ,17 ,389 1,77 ,083
não-pac. 37 ,03 ,164
Sx
dep. 12 ,00 ,000 -1,109 ,273
não-pac. 37 ,14 ,419
Xy
dep. 12 ,08 ,289
-,671 ,505
não-pac. 37 ,19 ,518
M-
dep. 12 ,17 ,389
,528 ,600
não-pac. 37 ,11 ,315
WDA
dep. 12 4,75 1,35
-,735 ,466
não-pac. 37 5,30 2,44
Afr
dep. 12 ,605 ,239
,557 ,581
não-pac. 37 ,556 ,270
WDA%
dep. 12 72,45 15,96
,021 ,983
não-pac. 37 72,32 19,38
W :M
dep. 12 1,41 ,792
-1,906 ,063
não-pac. 37 1,89 ,737
FC :CFC
dep. 12 1,16 ,389
1,744 ,088
não-pac. 37 ,977 ,304
FC :CFC2
dep. 12 ,416 ,668
1,591 ,118
não-pac. 37 -,0811 1,01
LAMBDA
dep. 12 2,28 2,11
,168 ,867
não-pac. 37 2,18 1,58
F%
dep. 12 58,14 30,94
-,474 ,637
não-pac. 37 62,04 22,54
INTELEC dep. 12 ,250 ,452 ,398 ,692
61
não-pac. 37 ,189 ,461
ISOLAMEN
dep. 12 ,583 ,668
-1,312 ,196
não-pac. 37 1,054 1,17
AUTOPERC
dep. 12 1,41 1,37
-,258 ,797
não-pac. 37 1,54 1,46
SUM6
dep. 12 1,16 1,33
-,329 ,744
não-pac. 37 1,32 1,47
SUMSH
dep. 12 ,750 1,42
-,531 ,598
não-pac. 37 ,973 1,21
SUMCOR dep. 12 ,916 1,37
-,847 ,401
não-pac. 37 1,43 1,95
Em relação aos pacientes esquizofrênicos, nove indicadores se mostraram
significativos: R (p=0,028); DQo (p=0,009); DQV(p<0,001); FQXo (p=0,010); C
(p=0,007); ART (p=0,036); WDA% (p=0,029); AFR (p<0,001) e FC: CF+ C (p=0,010).
Os indicadores número de resposta (R), qualidade evolutiva ordinária (DQo),
localização global e de detalhe usual (WDA%), conteúdo de arte (ART) e qualidade formal
ordinária (FQo) diferenciaram os pacientes esquizofrênicos do grupo de controle,
mostrando que os não-pacientes têm mais recursos adaptativos, que vão desde uma boa
performance cognitiva até uma percepção mais nítida e coerente da realidade. Já o
indicador qualidade evolutiva vaga (DQv) mostrou-se aumentado nos esquizofrênicos,
evidenciando dificuldades diante da acuidade da percepção.
62
O quociente afetivo (Afr) se mostrou significativo e aumentado nos pacientes,
indicando que os esquizofrênicos são reativos aos estímulos coloridos. Mas quando esse
indicador vem associado à cor pura (C), que também teve média aumentada, evidencia
tendência ao descontrole (CF+C), uma vez que os afetos tendem a ser expressos com pouco
controle cognitivo. Esses três últimos indicadores convergiram com os resultados
encontrados por Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009), o que favorece o acúmulo de
evidências de validade, colocando essas variáveis como possíveis indicadores
psicopatológicos para a esquizofrenia.
Tabela 10: Indicadores significativos segundo a prova t-student de uma análise exploratória
para a esquizofrenia e não-pacientes.
Variáveis Grupos N Média DP T P
R esquizo. 14 5,36 1,60 2,27 ,028
não-pac. 34 7,24 2,90
DQo esquizo. 14 4,00 2,11 -2,74 ,009
não-pac. 34 6,29 2,81
DQv esquizo. 14 ,57 ,65 4,57 ,000
não-pac. 34 ,03 ,17
FQXo esquizo. 14 2,36 1,65 -2,68 ,010
não-pac. 34 4,09 2,17
C esquizo.
não-pac.
14
34
,36
,06
,50
,24
2,82 ,007
Art esquizo. 14 ,03 ,17 2,16 ,036
não-pac. 34 ,21 ,43
63
WDA% esquizo. 14 3,79 1,97 -2,26 ,029
não-pac. 34 5,44 2,43
Afr esquizo. 14 ,88 ,50 3,41 ,001
não-pac. 34 ,49 ,28
FC: CF+ C2 esquizo. 14 -,64 1,15 -2,67 ,010
não-pac. 34 ,24 ,99
No caso dos pacientes com TOC, quatro novos indicadores se mostraram
significativos e aumentados para o grupo dos pacientes obsessivos. Entre eles pode-se
observar o determinante de sombreado difuso (p=0,37), indicando forte angústia interna, e
o conteúdo natureza (p=0,37), que evidencia preferência pelo isolamento social. Ambos os
indicadores estão relacionados com a presença de afetos disfóricos e convergiram com os
achados de Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009).
Além do YF e do Na, os indicadores lambda e determinante de forma também
apareceram aumentados para o grupo dos não-pacientes, indicando que os não-pacientes
apresentam abertura restrita para experiências da vida, preferindo ambientes pacatos e bem
estruturados. Essa interpretação soa destoante se pensarmos que a experiência restrita é
uma característica limitada e que sugere pouca desenvoltura para os enfrentamentos
desestruturados e típicos do dia-a-dia.
Assim, se essa variável fosse analisada de forma isolada, sem levar em consideração
o aumento do sombreado difuso, poderíamos dizer que os pacientes com TOC tendem a ser
mais flexíveis a experiências da vida quando comparados com o grupo de não-pacientes.
No entanto, essa interpretação não pode ser atribuída aos pacientes sem que haja uma
64
compreensão integrada do conjunto das variáveis do Zulliger. De fato, o aumento do
lambda e da forma nos não-pacientes é uma característica pouco eficiente, mas que ainda
está no terreno dos indicadores adaptados, enquanto que o aumento de determinantes de
tipo sombreado, frequente para o grupo de pacientes com TOC, indica comprometimentos
emocionais. Em outros termos, o aumento do sombreado significa ansiedade descontrolada,
que é mais grave e prejudicial do que uma atenção restrita frente aos eventos da vida,
evidenciados pelos aumentos de F.
Tabela 11 – Indicadores significativos segundo a prova t-student de uma análise
exploratória para pacientes com transtorno obsessivo compulsivo e não-pacientes.
Variáveis Grupos N Média DP T P
YF TOC
não-pac.
05
16
,60
,06
,89
,25
2,248 ,037
Na TOC
não-pac.
05
16
,60
,06
,89
,25
2,248 ,037
LAMBDA TOC
não-pac.
05
16
,08
2,53
,25
,75
-2,534 ,020
F TOC
não-pac.
05
16
36,67
68,94
24,72
12,41
-3,982 ,001
Em relação aos pacientes com pânico, os resultados da análise exploratória
apontaram o aumento do conteúdo de ciência (Sc) e do controle sobre os impulsos afetivos
65
(FC). Esses indicadores sinalizam a presença de recursos defensivos do ego que tentam
racionalizar e controlar os aspectos emocionais conflitantes.
O primeiro indicador, conteúdo Sc, pode ser interpretado como uma tentativa mais
imediatista do ego no intuito de afastar os estímulos sentidos como desagradáveis. Essa
manobra psíquica, de tentar evitar as situações conflitantes por meio da racionalização, nem
sempre é eficiente, podendo desencadear ansiedades intensas.
Já o segundo indicador, FC> CF+C, evidencia que as experiências afetivas estão
sendo filtradas por elementos cognitivos antes de serem expressas. Pensar antes de agir é
uma estratégia para modular os afetos de maneira mais cautelosa e estável. Enquanto o
primeiro indicador reflete um funcionamento mais imediatista e que evita os estímulos
afetivos, o outro evidencia um movimento mental mais sofisticado, pois a pessoa se permite
pensar sobre os afetos ao invés de simplesmente negá-los.
Os indicadores encontrados nesse estudo não convergiram com os resultados de
Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009). Segundo os autores, diversos indicadores
diferenciaram os grupos, mas nenhum se mostrou exclusivo para o transtorno de pânico. Os
indicadores W, DQo ou MOR apareceram tanto nos pacientes com TOC quanto nos
pacientes com pânico. Os indicadores An, Mp e PER mostraram um padrão interessante de
diferenciação para os somatoformes, esquizofrênicos e pacientes com pânico. Por fim, os
indicadores FY, FV, Fd e FC’ foram relativamente mais frequentes nos pacientes com
pânico e TOC.
A ausência de indicadores exclusivos para o transtorno de pânico revela que essa
patologia é bastante complexa e dificilmente apresentará um único padrão de organização
psíquica, isto é, cada paciente, mesmo que receba o mesmo diagnóstico, pode apresentar
um estilo de funcionamento psíquico único ou simplesmente diferente quando comparado
66
com outro paciente com pânico. Isso porque, normalmente, os pacientes que sofrem de
pânico apresentam múltiplos transtornos simultaneamente (DSM-IV, 1995). A
comorbidade é frequênte nessa patologia e dificulta a predição de diagnósticos precisos,
que podem até interferir durante o processo do tratamento, pois nem sempre é possível
determinar qual dos transtornos deve ser tratado primeiro.
Tabela 12 – Indicadores significativos segundo a prova t-student de uma análise
exploratória para o transtorno de pânico e não-pacientes.
Variáveis Grupos N Média DP T P
Sc pânico
não-pac.
8
26
0,25
0,00
0,46
0,00
2,856 ,007
FC: CF+ C pânico
não-pac.
8
26
1,13
0,93
0,35
0,17
2,158 ,039
67
DISCUSSÃO
Aplicar o Zulliger com o objetivo de se fazer uma afirmação categórica sobre um
diagnóstico não é a melhor maneira de se compreender a personalidade das pessoas e nem é
nesse sentido que o ZSC mais ajuda. Para esse fim existem outros métodos, como as
entrevistas do DSM-IV e SCID-I. O Zulliger, assim como outras técnicas projetivas,
dificilmente permite diagnósticos nosográficos com base na categoria nosográfica; ao
contrário, permite compreender dinâmicas que independem de determinados quadros – ou
que não correspondem propriamente a um quadro específico – ajudando a conhecer melhor
o funcionamento psíquico de uma pessoa.
Normalmente, as avaliações que visam à predição de diagnósticos diferenciais se
apóiam na observação de comportamentos extremados e que podem ser categorizados em
termos nosográficos. Isso só acontece quando os comportamentos dos indivíduos de
determinado grupo mantêm um padrão previsível e generalizável, como, por exemplo, o
humor deprimido, que é um sinal típico em pessoas diagnosticadas com depressão, ou
alterações nos processos ideativos e perceptivos, que são típicos nos diagnósticos de
esquizofrenia. Quando os mecanismos estruturais utilizados são similares é provável que a
manifestação da realidade ocorra de forma parecida e, por isso, torna-se possível realizar
um diagnóstico com base no comportamento sintomático. Nesses casos, os indicadores que
compõem as Constelações do Sistema Compreensivo tendem a ser úteis para sugerir um
determinado quadro nosográfico.
Entretanto, nem sempre os sinais de desequilíbrio estão em evidência, o que torna
necessário investigar de forma integrada os aspectos dinâmicos da personalidade. Isso
porque tanto os aspectos mais comprometidos quanto os mais adaptados caminham juntos e
68
estão inter-relacionados na dinâmica interna da pessoa. Todos os aspectos em desequilíbrio,
antes de se tornarem patológicos, tentam se auto-regular, e quando as defesas não
conseguem recuperar o equilíbrio interno, traços mais comprometidos tornam-se nítidos
através de expressões comportamentais desajustadas.
No entanto, identificar a presença de sintomas e ordená-los em níveis de intensidade
não é suficiente para compreender uma personalidade, pois além dos sintomas é preciso
compreender a qualidade das forças psicológicas que estruturam e operam o sistema
individual de cada um.
Portanto, alegar, com base nos resultados desse estudo, que as Constelações do
Rorschach-SC não são eficazes para avaliar quadros nosográficos do ZSC é precipitado e
dependerá dos resultados de outros estudos de mesmo delineamento metodológico. O único
dado que se pode asseverar é que o conjunto previsto pelas Constelações não confirmaram
os diagnósticos previstos pela SCID-I, mesmo que alguns indicadores, sinalizados pela
análise exploratória, tenham diferenciado os grupos clínicos e de não-pacientes.
Os resultados obtidos pela análise exploratória foram considerados positivos, pois
além de apresentarem coerência com a literatura a respeito das sintomatologias das
psicopatologias analisadas, demonstraram evidência de validade sobre um mesmo
indicador. Para Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009) as informações sobre a validade
de um teste vão se consolidando a medida que novos estudos são feitos e encontram
resultados parecidos. Entre os indicadores que apresentaram correspondência com os
resultados empíricos de Primi, Muniz e Villemor-Amaral (2009) encontram-se: as respostas
de cor pura (C) e a qualidade evolutiva vaga (DQv), para os esquizofrênicos; o
determinante de sombreado difuso e o conteúdo de natureza, para os pacientes com TOC.
69
No caso dos esquizofrênicos, o grande diferencial encontrado, na comparação com
os não-pacientes, foi a qualidade da organização do pensamento, sendo o funcionamento
dos esquizofrênicos pouco sofisticado resultado de um modo de organização simplista, sem
tantas exigências cognitivas. Já os não-pacientes conseguiram manter um encadeamento de
pensamentos continuamente coesos, contribuindo para a solução de problemas, tomada de
decisões e comunicação clara com as outras pessoas. Em relação aos pacientes com TOC, o
que ficou em evidência foi a presença de sofrimento interno, associado com tendências ao
isolamento social.
Para o grupo clínico da depressão, observou-se, qualitativamente, a presença de
sinais de índice de depressão do Sistema Compreensivo (DEPI), indicando a presença de
sentimentos incômodos no grupo controle. Tal resultado, embora não tenha sido
significativo do ponto de vista estatístico, convergiu com os achados de Nascimento (2006),
que verificou sinais do DEPI em uma amostra de não-pacientes da capital de São Paulo,
após serem submetidos ao exame do Rorschach. No entanto, esses sinais depressivos não
apareceram nos casos examinandos por Machado e Villemor-Amaral (2008), ao contrário,
os autores encontram diferenças substanciais entre grupos de depressivos e não-pacientes.
No que se refere ao grupo do pânico, tanto nesse estudo quanto no de Villemor-
Amaral, Primi e Colaboradores (2009), os indicadores que diferenciaram os grupos ainda
precisam ser melhor compreendidos do ponto de vista psicodinâmico. Os pacientes dessa
categoria não obedecem a um padrão similar de respostas e isso acontece porque, além do
pânico ser diagnosticado a partir de comportamentos sintomáticos, ele traz a comorbidade
como um elemento bastante frequênte, dificultando a identificação de categorias
nosográficas.
70
Em suma, os resultados apontam para a utilidade do ZSC diante de diagnósticos
psiquiátricos no contexto da saúde mental, mas também reforçam a importância de se
investigar detalhadamente a dinâmica psíquica desses pacientes.
71
CONCLUSÃO
De modo geral, as informações obtidas nesse estudo foram consideradas positivas,
mesmo que os resultados ainda sejam insuficientes para a predição dos quadros
nosográficos da depressão, esquizofrenia, TOC e pânico com base nas Constelações
propostas pelo Rorschach-SC. A expectativa para a realização de novos estudos é
promissora e traz indícios sobre a funcionalidade do ZSC no auxílio do diagnóstico de
casos clínicos no contexto da saúde mental.
72
VALIDADE CONCORRENTE ENTRE O ZSC E O TPC
73
Neste capítulo pretende-se discutir outro modo bastante utilizado pela psicometria
para validar instrumentos de avaliação psicológica. Trata-se de um procedimento de medida
chamado validade concorrente ou convergente-discriminante, que pressupõe que testes de
um mesmo construto devam se correlacionar significativamente entre si.
Ao comparar as variáveis de técnicas da mesma base teórica torna-se possível
verificar suas possíveis convergências e divergências, e caso haja convergência entre os
resultados uma técnica pode validar a outra. A idéia adotada pela psicometria sugere que,
independentemente do teste psicológico utilizado, todos os aspectos fundamentais da
personalidade revelam um mesmo estilo de funcionamento, que tende a se repetir em
circunstâncias variadas. Isto significa que a equivalência do comportamento da pessoa nos
dois testes comparados é o que garantirá correlações estatísticas positivas, contribuindo
com evidências de validade para o instrumento desejado.
Seguindo essa linha de pensamento, o Teste das Pirâmides Coloridas de TPC (TPC)
é considerado um instrumento válido para apreender características da personalidade e
espera-se que seus resultados apresentem convergência com os resultados do Zulliger no
Sistema Compreensivo (ZSC) naqueles pontos em que ambos propõem revelar aspectos
semelhantes da dinâmica psíquica. O princípio utilizado para correlacionar as variáveis do
TPC com o ZSC parte da equivalência interpretativa dos seus indicadores; então, se uma
pessoa apresenta indicadores de humor deprimido em um teste, pressupõe-se que ela
evidencie sinais do mesmo tipo de humor no outro. Isso porque se espera que a pessoa
reproduza, até certo ponto, um mesmo padrão ou estilo, mesmo em situações relativamente
diferentes.
Partindo dessa lógica, a validade concorrente com o TPC é uma estratégia possível
para validar o ZSC, uma vez que existem equivalências teóricas entre os indicadores.
74
Porém, se por um lado diversas hipóteses de correlação podem ser formuladas a fim de
demonstrar os aspectos comuns do funcionamento afetivo e cognitivo dos indivíduos, por
outro lado sabe-se de antemão que estímulos diferentes produzem reações que também
podem ser diferentes. Portanto, a idéia principal desse estudo é verificar em que medida os
indicadores que teoricamente avaliam o mesmo construto nesses dois métodos de avaliação
da personalidade se aproximam ou se distanciam.
É importante saber que a forma como a pessoa reage ao ZSC é diferente do modo
como reage ao TPC. A diferença começa pelo tipo de estímulo oferecido e pela tarefa
solicitada. No TPC, a pessoa precisa cobrir o esquema de três pirâmides com etiquetas
coloridas. O tipo de produção depende tanto do modo como o desenho foi percebido quanto
da maneira através da qual esta pessoa reage às cores. No caso do ZSC, o sujeito precisa
selecionar as partes da mancha que levará em conta, decidir com o que se assemelham e
considerar as características predominantes da imagem percebida. As duas tarefas, embora
exijam habilidades integradoras e discriminantes da percepção e do pensamento,
apresentam estímulos diferentes e propostas de execução também distintas. No Pfister, o
uso da linguagem oral é desnecessário, já no ZSC este é indispensável.
Husain-Zubair (1992), na sua tese de doutorado, buscou a convergência entre as
três provas projetivas de estímulos diferentes: Rorschach, T.A.T. e Wechsler. Os resultados
mostraram baixa correlação do ponto de vista estatístico e a autora atribuiu a pouca
convergência as diferenças dos estímulos oferecidos por cada teste, que propiciam modos
de expressões específicos. Em sua discussão, a autora argumenta que mais importante do
que a alta correlação positiva estatística seria a ausência de correlações negativas. Isso
porque a convergência positiva acumula informações semelhantes, enquanto o foco na
75
ausência de correlações negativas recai sobre o caráter holístico da personalidade, dando
espaço para as diferenças.
Do ponto de vista psicodinâmico, a utilização de vários testes é um procedimento
recomendado para se fazer avaliações da personalidade, pois a bateria de testes possibilita à
pessoa se expressar de formas diferentes, assegurando que a psicodinâmica está sendo
compreendida sobre várias perspectivas. Assim, se as informações apreendidas em um teste
não aparecerem em outro, é importante discriminar as sutilezas do funcionamento psíquico
que impediram a correspondência, ao invés de simplesmente afirmar que os testes não
avaliam o mesmo construto (Husain-Zubair, 1992).
De acordo com Anzieu (1978), a validação de testes projetivos não pode ser tomada
do mesmo modo que para os testes objetivos, pois os testes projetivos não exploram uma
variável única; ao contrário, descrevem um indivíduo em termos de um esquema dinâmico
de variáveis inter-correlacionadas, as quais oferecem uma gama ampla de dados
qualitativos que devem ser codificados em hipóteses a serem testadas. Nesse sentido, o
termo validade clínica, proposto por Tavares (2003), parece apropriado e importante de ser
considerado para a legitimação dos testes projetivos, uma vez que, segundo ele, a validade
clínica vai enfatizar o significado singular de um determinado indicador ou de um conjunto
de indicadores para um indivíduo em seu contexto específico de vida e no de avaliação.
A validade clínica é ainda mais eficiente quando as informações apreendidas pelos
instrumentos de avaliação psicológica são complementadas com outras informações
apreendidas durante o processo de psicoterapia, que busca compreender o conjunto de
elementos que formam um todo coerente, ligados por algo em comum.
Estudos de validade com o Teste das Pirâmides Coloridas de TPC (TPC)
76
Prioritariamente, o TPC avalia os aspectos emocionais, mas também permite boas
previsões a respeito do nível intelectual ou desenvolvimento cognitivo. A personalidade é
avaliada no TPC por meio das cores e o modo como elas são dispostas sobre o esquema de
três pirâmides. Essa combinação entre cor e forma indica a maneira como a pessoa se
coloca emocionalmente no ambiente, ou seja, como expressa suas emoções na relação com
os outros (Villemor-Amaral & Franco, 2008).
Após a construção das pirâmides, sua forma é interpretada e está atrelada à estrutura
da pirâmide, que se organiza de acordo com os recursos emocionais e cognitivos da
personalidade. Quanto mais estruturada for a pirâmide, maior o grau de maturidade
emocional; já o inverso, menor estruturação, indica menos maturidade emocional. Entre as
pirâmides estruturadas destacam-se as formações, que levam em conta uma organização
multidimensional e horizontal, e as estruturas, consideradas as mais sofisticadas devido ao
fato de levar em consideração o plano tridimensional da pirâmide. Assim a combinação de
forma e cor é fundamental para as interpretações, quando a forma é falha ou ausente
estamos nos referindo ao aspecto formal do tipo tapete. Nesse aspecto formal, a pessoa
ignora a forma de pirâmide e preenche o esquema de forma aleatória, sendo levado apenas
por sua atração pelas cores (Villemor-Amaral & Franco, 2008).
O TPC costuma ser muito apreciado pelos profissionais que o conhecem,
principalmente devido a sua fácil aceitação por parte dos examinandos, que geralmente o
executam com prazer. Dessa forma, os estudos publicados com o TPC são, em sua maioria,
voltados para a área clínica e desde sua criação o TPC é considerado confiável como
auxiliar nos processos psicodiagnósticos, pois oferece informações importantes sobre
aspectos psicodinâmicos das pessoas (Villemor-Amaral, 2005). A maioria dos trabalhos
publicados com o TPC busca verificar a relação existente entre dinamismos psíquicos,
77
comparando pessoas com determinados sintomas - grupo clínico - e sem sintomas - grupo
de não-pacientes.
Brauer (1990), por exemplo, avaliou garotos com problema renal e de crescimento
e verificou comprometimentos afetivos e cognitivos diante do aumento do aspecto formal
de tapete. Mac Fadden, Duarte e Nicola (1993), por sua vez, aplicaram a técnica de TPC em
30 pacientes com rinite alérgica e concluíram que esses pacientes apresentavam
insegurança, ansiedade e impulsividade, o que lhes impossibilitava a utilização de recursos
afetivos mais sofisticados para elaboração de seus conflitos.
Oliveira, Pasian e Jacquemin (2001) pesquisaram a vivência afetiva de idosas
asiladas e não asiladas e concluíram que as não asiladas fizeram 51% de suas pirâmides de
forma organizada e elaborada, sinalizando criatividade e controle racional sobre os afetos.
Já as asiladas fizeram 57% de tapetes, sinalizando comprometimento afetivo.
Güntert e Hesse (2002) avaliaram artistas plásticos com alto nível de escolaridade a
partir dos aspectos formais produzidos. Os resultados demonstraram que as pirâmides
organizadas em estruturas eram as mais frequentes e os tapetes se encontravam
completamente ausentes. Villemor-Amaral, Silva e Primi (2002), por sua vez, avaliaram a
validade preditiva do TPC para pacientes com transtorno obsessivo compulsivo e
concluíram que a cor marrom e o aspecto formal formação em manto são variáveis que
discriminam pacientes obsessivos de não pacientes. Em 2003, os mesmos autores avaliaram
a validade do TPC para pacientes alcoólicos e os resultados revelaram o aumento do
vermelho e a constância absoluta da cor violeta, associados eventualmente à execução de
tapetes.
Já no que se refere à validade concorrente, isto é, que utiliza outro instrumento de
um mesmo construto como critério de comparação, pode-se citar os estudos de Brant
78
Carvalho e Cunha (1960) e Bonilha (1968b), que estabeleceram correlações com o
psicodiagnóstico de Rorschach para avaliar o valor do conteúdo afetivo. Os resultados não
só consideraram válido o conteúdo afetivo como o psicodiagnóstico também foi altamente
recomendado em caso de necessidade de uma avaliação da dinâmica afetiva do indivíduo.
Costa e Villemor-Amaral (2004) compararam a técnica de TPC com a prova de raciocínio
BPR-5, a partir de grupos contrastantes (baixo e alto rendimento na BPR-5). Os resultados
mostraram que as configurações do tipo tapete são mais frequentes em indivíduos de baixo
rendimento, ao passo que as configurações do tipo estruturas predominam em indivíduos
com alto rendimento. Alguns jovens com alto desempenho na prova de raciocínio também
apresentaram tapetes, confirmando o fato de que um alto nível cognitivo não resulta
necessariamente em produções diferenciadas. Já os jovens com baixo desempenho na BRR-
5 não executaram estruturas, revelando que um baixo nível cognitivo impede uma produção
melhor elaborada.
Outro estudo importante foi realizado por Cardoso e Capitão (2007), que
compararam o desempenho cognitivo de crianças surdas com o de crianças ouvintes, por
meio do DFH e TPC. Os autores encontraram, entre os grupos, diferenças significativas
quanto ao aspecto formal. As crianças ouvintes apresentaram pirâmides mais elaboradas do
que as crianças surdas, contribuindo com a evidência de validade para o TPC no contexto
infantil.
Os estudos psicométricos acima citados bem demonstram, portanto, a qualidade
científica do TPC para se avaliar a dinâmica afetiva de indivíduos. Assim sendo, o TPC
será utilizado, nesse estudo, como critério para contribuir com evidências de validade para
o teste de ZSC.
79
Método
Participantes
Os participantes eram provenientes de dois bancos de dados do Laboratório de
Avaliação Psicológica em Saúde Mental (LAPSaM) da Universidade São Francisco: um se
referia ao Teste de ZSC e o outro ao Teste das Pirâmides Coloridas de TPC. Os bancos de
dados foram compostos somente com os indivíduos que cumpriram as duas tarefas
projetivas e tiveram seus protocolos válidos de acordo com as padronizações recomendadas
pelos manuais de TPC (Villemor-Amaral, 2005) e ZSC ((Villemor-Amaral & Primi, 2009)
).
Dessa forma, o banco de dados foi composto por 223 indivíduos, dos quais 75 eram
pacientes psiquiátricos e 148 não-pacientes. Entre eles, 42% (F=95) eram do sexo
masculino e 58% (F=128) do sexo feminino. A faixa etária variou de 19 a 83 anos e a
média foi de 38 anos. Em relação ao nível de escolaridade, o mínimo foi de zero, o máximo
de 16 anos e a média de 10 anos.
É importante esclarecer que esse estudo focava as correlações possíveis entre os
instrumentos e não a comparação ou diferenciação de estilos de personalidade; por isso, não
se controlou variáveis tais como idade, sexo, diagnóstico ou escolaridade. O interesse em
construir uma amostra composta por pacientes psiquiátricos e não-pacientes foi o de
aumentar a variabilidade de dados na tentativa de ampliar os possíveis arranjos entre as
variáveis dos testes.
80
Instrumentos
O ZSC avalia a estrutura e dinâmica da personalidade, indicando não só as
dificuldades e conflitos como também as habilidades que são parte constitutiva dos recursos
internos dos quais uma pessoa dispõe para lidar com os problemas. Ele pode ser aplicado
em qualquer pessoa, de qualquer nível sócio-econômico-cultural, desde que tenha
condições de se expressar verbalmente e que tenha suficiente acuidade visual.
A técnica de Zulliger é composta por um jogo de três cartões que contém uma
mancha de tinta simétrica e diferente para cada um deles. A aplicação do teste consiste em
mostrar uma lâmina de cada vez e pedir para que a pessoa diga ‘o que aquilo poderia ser’.
Após mostrar os três cartões e anotar as respostas dadas, estes são repassados, realizando-se
um inquérito a fim de verificar ‘onde foi que a pessoa viu’ e ‘o que na mancha fez com que
parecesse aquilo’ que foi dito.
As respostas são classificadas de acordo com os pressupostos do Sistema
Compreensivo de Exner, que contempla sete categorias de codificação. Dentre elas
encontram-se: a localização, que se refere à área da mancha que o sujeito destaca para dar a
resposta; a qualidade evolutiva (DQ), que revela o interesse da pessoa em relacionar duas
ou mais áreas da mancha; (3) os determinantes, que indicam quais características da figura
levaram a pessoa a dar sua resposta; (4) a qualidade formal (FQ), que evidencia a
frequência com que o conceito é percebido pela população normativa; as respostas pares
(2), que se referem à simetria das figuras usadas para identificar dois objetos iguais; os
conteúdos, que são os temas verbalizados nas respostas dos sujeitos; e os códigos especiais,
que são atribuídos para modos de verbalização ou características estranhas das respostas.
O Teste das Pirâmides Coloridas de TPC (TPC) avalia principalmente a dinâmica
afetiva-emocional, mas tamm permite, até certo ponto, verificar o desenvolvimento
81
cognitivo, possibilitando uma compreensão dinâmica e integrada do funcionamento
psíquico do indivíduo. Prioritariamente, o TPC avalia os aspectos emocionais, mas ele
também permite boas previsões a respeito do nível intelectual ou desenvolvimento
cognitivo.
A grande vantagem em se utilizar este instrumento reside no fato de ele ser uma
técnica não verbal, rápida e acessível a pessoas de todas as idades, incluindo aquelas com
dificuldades de fala, com limitações culturais ou com resistências a tarefas que envolvam
mais diretamente habilidades cognitivas.
O TPC propõe a execução de três pirâmides coloridas, de acordo com o gosto do
examinando. O material para a aplicação é composto por um jogo de três cartões em papel
pardo, nos quais se encontra desenhada uma pirâmide formada por camadas com cinco
quadrados na base, quatro, três e dois quadrados nas camadas seguintes, e um quadrado no
topo. Os esquemas da pirâmide vêm acompanhados por um jogo de quadrículos coloridos
compostos por 10 cores, subdivididas em 24 tonalidades. As cores que compõem o material
são: o azul, o verde e o vermelho em quatro tonalidades de cada; violeta em três
tonalidades: amarelo, laranja e marrom em duas tonalidades cada; preto; branco e cinza.
A pessoa é convidada a construir três pirâmides, cujas instruções são simples e
devem ser dadas de forma padronizada: “Aqui temos uma grande quantidade de
papeizinhos com cores e tonalidades diversas e o esquema de uma pirâmide. Cobrindo-se
os espaços da pirâmide, obtém-se uma pirâmide colorida. Você deve fazer uma pirâmide
usando as cores que quiser, pode trocar ou substituir à vontade, até que a pirâmide fique do
seu gosto, fique bonita para você” (pág.38).
Feita a primeira pirâmide, pede-se para o indivíduo construir outra; é preferível
avisá-lo de que há ainda uma terceira, e última, a ser construída. Assim que o sujeito se
82
declarar satisfeito com a pirâmide construída, deve-se ocultá-la, para que o indivíduo
construa a seguinte sem influência da anterior. Após o término das três pirâmides pergunta-
se qual das três pirâmides ele preferiu e por quê.
A interpretação dos dados leva em consideração o estilo da produção. O aspecto
formal da pirâmide é associado com as cores que foram selecionadas. A combinação forma
e cor é bastante ampla e revela a qualidade da dinâmica afetiva da pessoa e cada arranjo de
forma e cor recebe interpretações específicas.
Procedimentos de Coleta de Dados
O procedimento de coleta de dados se iniciou com o treinamento de cinco alunos do
grupo de pesquisa do LAPSaM. Depois que o grupo simulou situações de aplicação com os
dois instrumentos, ZSC e TPC, e aprendeu a classificá-los conforme a orientação descrita
nos respectivos manuais, deu-se início ao processo de coletas de dados.
Algumas instituições psiquiátricas do interior de São Paulo aceitaram colaborar e os
objetivos da pesquisa foram esclarecidos aos diretores e coordenadores, sendo a eles
solicitada autorização para a entrada do grupo de pesquisa e a liberação dos pacientes para
a aplicação dos instrumentos.
Autorizado o estudo, a coleta de dados foi feita de forma individual em uma única
sessão e se iniciava com a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(T.C.L.E). Depois, os pacientes psiquiátricos começavam respondendo às perguntas da
SCID-I, entrevista baseada no DSM-IV, correspondente ao módulo da psicopatologia que
constava em seu prontuário. Esse procedimento serviu para confirmar e uniformizar os
quadros nosográficos, e, em seguida, as técnicas de ZSC e TPC foram aplicadas com
duração de aproximadamente duas horas e meia, sendo uma hora para o ZSC, trinta
minutos para o TPC e uma hora para a SCID-I.
83
Paralelamente as aplicações do grupo psiquiátrico, realizaram-se as aplicações do
grupo de não-pacientes. O mesmo procedimento estabelecido nas instituições de saúde
mental foi aplicado em estabelecimentos comerciais, restaurantes e supermercados,
empresas de transportes, cooperativas de alimentos e instituições de ensino. Todos os
coordenadores e diretores foram informados sobre os objetivos da pesquisa, e quando o
estudo era autorizado agendavam-se horários com os voluntários, ajustando o melhor dia e
horário para cada participante.
A coleta de dados se iniciou com uma breve entrevista, que incluía perguntas sobre
idade, escolaridade, nível socioeconômico (profissão, estado civil, número de filhos,
religião), necessidade de ajuda psicológica ou psiquiátrica e tratamento para uso de álcool
ou drogas. Em seguida, as técnicas de ZSC e TPC foram aplicadas com duração de
aproximadamente uma hora, sendo reservados quarenta minutos para o ZSC e vinte
minutos para o TPC, incluindo a ficha de identificação.
Terminada a coleta de dados, os protocolos foram classificados conforme as
instruções recomendadas pelos manuais de TPC (Villemor-Amaral, 2005) e ZSC
((Villemor-Amaral & Primi, 2009) ). Os protocolos foram codificados e comparados
conforme as tabelas normativas de cada manual e, para verificar a precisão dos dados, 25%
dos protocolos foram reclassificados por mais dois juízes independentes.
Todos os indicadores foram interpretados a partir de três categorias e receberam
pontuações diferentes: (a) acima da média recebeu 3 pontos, (b) na média recebeu 2 pontos
e (c) abaixo da média recebeu 1 ponto. Os indicadores foram analisados de acordo com os
dados normativos das tabelas dos respectivos manuais, TPC (Villemor-Amaral, 2005) e
ZSC ((Villemor-Amaral & Primi, 2009) ), respeitando idade, sexo, grau de escolaridade e
84
diagnóstico psicopatológico, e o programa estatístico utilizado para analisar os dados foi o
SPSS 11.5.
Definição dos critérios para comparar as variáveis
O objetivo desse estudo foi verificar a validade concorrente entre o ZSC quando
comparado com os resultados do TPC. Para tanto, diversas hipóteses de correlação entre o
ZSC e o TPC foram formuladas, buscando-se indicadores que supostamente expressassem
aspectos comuns relativos ao funcionamento afetivo e cognitivo dos indivíduos.
Dada a extensão das hipóteses, compostas por 36 pares, somente as principais
variáveis foram explicadas de forma detalhada. Dentre elas, destacam-se no TPC a fórmula
cromática, o aspecto formal, a síndrome acromática ou síndrome incolor, a síndrome fria e
a síndrome de estímulo. Em relação às principais variáveis do ZSC destacam-se o tipo de
vivência (EB), o quociente afetivo (Afr), o lambda, o controle emocional (FC:CF+C), a
qualidade evolutiva (DQ), a qualidade formal (FQ) e os determinantes e códigos especiais.
A fórmula cromática do TPC sinaliza a capacidade e abertura da pessoa para receber
os estímulos externos. Essa fórmula é composta de quatro algarismos que vão indicar a
amplitude e estabilidade do uso das cores. Começando da esquerda para a direita, a
constância absoluta vai indicar a quantidade de cores que foi usada nas três pirâmides,
independentemente da tonalidade da cor. O segundo algarismo, a constância relativa, vai
indicar a quantidade de cores que foi utilizada em pelo menos duas pirâmides; o terceiro
algarismo, chamado de variabilidade, vai indicar a quantidade de cores que foi utilizada
somente em uma das pirâmides e o último número indica a quantidade de cores que não foi
utilizada em nenhuma pirâmide.
Essa fórmula define a amplitude de cores utilizadas na tarefa, que são classificadas
como: ampla, que indica boa abertura para os estímulos externos, ou seja, interesse para a
85
comunicação e trocas interpessoais; moderada, que indica interesse moderado em investir
seus afetos; e a restrita, que indica pouca disposição a trocas afetivas, podendo significar
até mesmo constrição emocional.
Definido o tipo da amplitude cromática, defini-se a estabilidade da pessoa quanto à
reatividade as cores, que pode ser do tipo: estável, flexível ou instável. Os arranjos
possíveis dessa fórmula recebem interpretações diferenciadas que normalmente devem ser
integradas às outras variáveis do teste. Por exemplo, uma pessoa com a fórmula cromática
ampla instável realiza suas pirâmides usando várias cores, mas estas se repetem muito
pouco na frequência das três pirâmides, o que evidência uma pessoa com ampla reatividade
às cores, mas com grande dificuldade para direcionar os estímulos de forma estável e
eficiente. Já outra pessoa do tipo fórmula cromática ampla estável também é reativa aos
estímulos, porém os direciona de forma canalizada e adaptada.
No ZSC, o indicador quociente afetivo (Afr) pode ser considerado equivalente às
amplitudes cromáticas, já que sinaliza o quanto que a pessoa é reativa às cores da prancha
II. Assim, a idéia de relacionar a fórmula cromática ampla, moderada ou restrita com o Afr
tem como pressuposto a relação de que quanto maior a amplitude das cores no Pfsiter,
maior será a quantidade de respostas verbalizadas na prancha II do ZSC.
A reatividade aos estímulos coloridos demonstra o interesse que a pessoa tem sobre
os aspectos afetivos da vida, mas a habilidade para canalizar e responder de forma
adequada a esse estímulo depende do controle sobre os impulsos afetivos. Dessa forma, o
modo como a pessoa vai expressar o afeto envolve, no TPC, a qualidade do controle de sua
expressão, que pode ser estável, flexível ou instável. No ZSC, o controle sobre os impulsos
afetivos é medido por meio da fórmula FC: CF+C, supondo-se que o FC seja equivalente
ao tipo estável no TPC, o CF ao flexível e o C ao instável.
86
Outra hipótese que tende a evidenciar a mesma inclinação interpretativa é o aspecto
formal das pirâmides com o controle emocional no ZSC. No TPC, a maneira como o
indivíduo dispõe os quadrículos sobre o esquema da pirâmide - aspecto formal - indica
maior ou menor nível de maturidade emocional e quais as defesas disponíveis e
compatíveis com essa maturidade. Com estímulos diferentes, porém, com o mesmo
princípio, tanto o ZSC quanto o TPC utilizam a combinação ‘forma e cor’ como
indicadores de maior ou menor contenção dos impulsos afetivos.
A ausência ou má percepção de formas no ZSC indica pouco controle sobre os
impulsos afetivos, o que pode sinalizar disposição interna ao descontrole dos impulsos e do
comportamento em função de uma dinâmica afetiva incapaz de tolerar um grau intenso de
estímulos provenientes das pressões externas e internas. Da mesma maneira, o aspecto
formal tapete no TPC não apresenta uma boa organização estrutural, refletindo uma
modulação afetiva emocional lábil. Em contrapartida, a produção de uma estrutura, aspecto
formal mais evoluído, traz uma disposição de cores simétrica, indicando melhor equilíbrio
emocional. Essa habilidade emocional também pode ser vista, no ZSC, por meio do FC
aumentado em relação à CF e à C.
A técnica de TPC, apesar de se basear fundamentalmente na cor como suporte para
projeção dos afetos, não está reduzida apenas à escolha de cores, dando ênfase, também, à
significação psicológica das formas. A tarefa proposta pelo TPC implica noções espaciais,
apreensão de informações, escolha e combinação de cores e tonalidades, a fim de unificar
partes e construir um todo. A pirâmide tem disposição espacial em camadas e colunas,
permitindo verificar a compreensão ou percepção que o indivíduo tem do conjunto visual,
demonstrando, com isso, sua capacidade de organização no espaço (Villemor-Amaral,
2005).
87
Já o ZSC considera a maneira como o sujeito soluciona a problemática envolvida na
verbalização daquilo que as manchas de tinta poderiam ser sob a sua percepção e
subjetividade. O indivíduo precisa selecionar as partes da mancha que levará em conta,
decidir com o que se assemelham e considerar as características dos estímulos que
envolvem a formação de suas impressões perceptivas, tais como seu formato, cor, etc, e
compará-las com as imagens já existentes na memória (Weiner, 2000).
Assim, os tipos de aspectos formais do TPC podem ser comparados com a
qualidade evolutiva do ZSC, cuja variável está diretamente relacionada com o nível de
desenvolvimento intelectual e com a capacidade de análise sobre o estímulo, a partir da
atribuição de um significado para a mancha. Alguns estudos vêm mostrando a relação entre
o aspecto formal e a esfera cognitiva (Brauer, 1998; Cardoso & Capitão, 2007; Costa &
Villemor-Amaral, 2004; Oliveira, Pasian & Jacquemin, 2001; Villemor-Amaral, Primi &
Silva, 2002;) e isso corrobora a expectativa desse estudo, que pretende correlacionar a
qualidade evolutiva do ZSC com os aspectos formais das pirâmides do TPC.
Se o DQ+ assinala a modalidade mais sofisticada de elaboração cognitiva, pois o
indivíduo realiza processos de análise e síntese bastante significativos entre os elementos
do estímulo, espera-se que haja correlação com o aspecto formal estrutura do TPC, já que
ambas as variáveis representam, nesse caso, pessoas intelectualmente mais brilhantes,
complexas e com esforço para integrar e organizar os fatos percebidos.
As respostas DQo refletem um funcionamento correto, sem grandes esforços
criativos, e um modo de processamento modesto e conservador, mas adaptado às exigências
da tarefa. Assim, o aspecto formal formação pode ser considerado equivalente às respostas
DQo, pois supõe uma atividade cognitiva que evita a complexidade, mas define
suficientemente o estímulo. Já as respostas DQv indicam uma forma de processamento
88
mais primitiva, imatura e pouco sofisticada - é comum em crianças pequenas e em
indivíduos com limitações intelectuais ou neurológicas. A sua frequência é muito escassa
em adultos e representa um modo de elaboração impreciso, no qual o indivíduo não se
esforça para definir os dados nem para estabelecer relações entre eles.
As respostas DQv/+ são as menos frequentes dentre os quatro tipos. Representam
uma tendência a assumir níveis mais sofisticados de elaborações cognitivas, mas de algum
modo essas elaborações encontram dificuldade de definição formal. O indivíduo realiza um
esforço muito maior do que para dar um DQv, porém com menor precisão e eficiência do
que o alcançado pelo DQ+. Neste caso, espera-se que o aspecto formal tapete se
correlacione com as respostas DQv/+ ou DQv, já que a principal característica dessas
variáveis é a pouca elaboração tanto para a construção das pirâmides quanto para a
verbalização das percepções nas manchas.
Outra variável que expressa características da organização afetiva é a síndrome
acromática no TPC, que pode ser considerada equivalente à soma das respostas acromáticas
(SumC’) no ZSC, pois a função primordial da síndrome acromática seria a de negar, diluir
ou reprimir o estímulo perante a excitação, provocada pelas cores, trazendo uma conotação
de perturbação e intensa angústia. Assim também acontece no ZSC quando a soma de cores
cromáticas (SumC) é baixa e o valor das cores acromáticas (SumC’) é maior. Isso indica o
quanto da experiência afetiva está sendo internalizada ao invés de ser expressa, o que pode
contribuir para disfunções psicofisiológicas.
Nesse sentido, o aumento das cores branco, cinza e preto, tanto no TPC quanto no
ZSC, sinaliza que os recursos internos estão sendo insuficientes para compreender e
elaborar situações vivenciadas na realidade. Isso ocorre em função do excesso de controle
exercido pelos mecanismos de defesa, os quais preferem negar a realidade afetiva ou
89
deslocar a carga emocional para o corpo de forma inconsciente e primitiva, ou seja,
somatizando ao invés de elaborar conscientemente.
Em oposição à síndrome incolor (cores acromáticas) encontram-se as síndromes
cromáticas, de estímulo ou fria, que estão relacionadas respectivamente a comportamentos
mais excitáveis e ativos ou a atitudes mais reservadas. Essa mesma forma de se
compreender os estilos de personalidade é investigada no teste de ZSC por meio do tipo de
vivência (EB), os quais podem ser subdivididos em quatro categorias: o tipo extratensivo,
que é típico em pessoas comunicativas e que preferem as vias afetivas para lidar com os
problemas da vida; o tipo intratensivo, que aparece em pessoas que preferem pensar
cuidadosamente sobre os eventos antes de agir; o tipo ambigual, que sinaliza labilidade sob
as condutas e dificuldade para tomar decisões, agindo de maneira alternada e imprevisível
mesmo diante de experiências já vivenciadas; e o tipo coartado, que por um excesso de
controle se nega a refletir sobre os acontecimentos mais perturbadores, preferindo sempre
um ambiente estruturado, pacato e habitual.
Dessa maneira, acredita-se que o estilo extratensivo esteja relacionado com a
síndrome de estímulo do TPC e que o tipo intratensivo com a síndrome fria do TPC. Foi
observado, na literatura, que as cores quentes e frias são bastante estudas no TPC (Tinker,
1938; Bjerstedt, 1960; Chougourian, 1967; Villemor Amaral, 1966; Schaie & Heiss, 1964
citados por Van Kolck, 1972); no entanto, somente o estudo de Van Kolck (1972) será
citado, pois, entre todos, foi o que mais se aproximou dos objetivos da presente pesquisa.
Van Kolck (1972) comparou 97 protocolos do TPC com os do Rorschach na expectativa de
validar os conceitos de introversão e extroversão. Os resultados inferidos por meio da
análise fatorial demonstraram que o total de respostas de movimento humano (M) se
correlacionou com a cor azul (r= 0,20); embora a correlação seja considerada baixa, o M
90
emana da esfera inconsciente e contém um dinamismo próprio, que representa o lado
introvertido da personalidade. A introversão, reflexão, auto-observação e introspecção se
coadunam bem com o significado do azul, no TPC. Pode-se, então, considerar promissora
a afirmação de Schaie e Heiss (1964, pág. 121): “na termologia psicanalítica, o azul
provavelmente representa a força do ego”.
Para o estilo ambigual espera-se a correlação com a síndrome de labilidade afetiva,
composta pelas cores verde aumentado + vermelho aumentado + marrom rebaixado,
sinalizando reações imprevistas e atitudes de insegurança, influenciabilidade e
instabilidade. Já para o estilo coartado, espera-se correlação com a síndrome de regulação
opressora, composta pelas cores azul aumentado + cinza aumentado + preto aumentado,
revelando um caráter de constrição acentuado.
A seguir aparecem enumeradas outras correlações possíveis, que também serão
investigadas com base nos pressupostos descritos acima. O critério adotado para pontuar as
variáveis foi de +1 para presença dependente (correlação convergente), 0 quando não
houver correlação e -1 para presença independente (correlação divergente), nas duplas de
hipóteses. As 36 hipóteses foram correlacionadas segundo a prova estatística de Crostabe e
por fim o grau de significância das correlações foi medido pela prova estatística do Qui
quadrado.
Hipóteses para os indicadores afetivos:
1. Fórmula cromática ampla no TPC com Afr aumentado no ZSC;
2. Fórmula cromática moderada no TPC com Afr na média no ZSC;
3. Fórmula cromática restrita no TPC com Afr rebaixado no ZSC;
4. Fórmula cromática estável no TPC com FC no ZSC;
5. Fórmula cromática flexível no TPC com CF no ZSC;
91
6. Fórmula cromática instável no TPC com C no ZSC;
7. Fórmula cromática ampla no TPC com lambda rebaixado no ZSC;
8. Fórmula cromática moderada no TPC com lambda na média no ZSC;
9. Fórmula cromática restrita no TPC com lambda aumentado no ZSC;
10. Fórmula cromática estável no TPC com EA aumentado no ZSC;
11. Fórmula cromática instável TPC com EA rebaixado no ZSC;
12. Aspecto formal estrutura ou formação no TPC com controle emocional (FC: CF +
C) no ZSC, sendo as respostas de forma aumentadas (FC aumentado);
13. Aspecto formal estrutura no TPC com controle emocional (FC: CF + C) no ZSC,
sendo as respostas de forma aumentadas (FC aumentado);
14. Aspecto formal formação no TPC com controle emocional (FC: CF + C) no ZSC,
sendo as respostas de cor forma aumentadas (CF aumentado);
15. Aspecto formal tapete no TPC com controle emocional (FC: CF + C) no ZSC,
sendo as respostas de cor pura aumentadas (C aumentado);
16. Aspecto formal tapete no TPC com respostas sem o uso da forma no ZSC (C, C’, Y,
T, V)
17. Aumento da cor azul ou formação em manto ou síndrome incolor no TPC com
controle emocional, sendo o lado esquerdo aumentado (FC) ou as respostas de cor
acromática (C’) aumentadas no ZSC.
18. Síndrome acromática no TPC com aumento das respostas acromáticas (C’> C) no
ZSC;
19. Síndrome de estímulo no TPC com aumento das respostas cromáticas (C’< C) no
ZSC;
92
20. Cores quentes (amarelo+ vermelho+ laranja) aumentadas no TPC com tipo de
vivência extratensivo no ZSC (M: C aumentado);
21. Cores frias (azul+ verde+ violeta) aumentadas no TPC com tipo de vivência
intratensivo no ZSC (M aumentado: C);
22. Síndrome de labilidade afetiva (verde aumentado + vermelho aumentado + marrom
rebaixado) com o tipo de vivência ambigual (M=C).
23. Síndrome de regulação opressora (azul aumentado + cinza aumentado + preto
aumentado) com o tipo de vivência coartado (M e C = 0).
24. Cores frias (azul+ verde+ violeta) ou cores de tonalidade mais clara (com mais
pigmentação branca) no TPC com conteúdo humano rebaixado ou índice de
isolamento aumentado no ZSC;
25. Cores quentes (vermelho+ amarelo+ laranja) ou cores de tonalidade mais escura
(com mais pigmentação preta) no TPC com conteúdo humano aumentado ou índice
de isolamento rebaixado no ZSC;
26. Síndrome incolor aumentado no TPC com código especial AG aumentado no ZSC;
27. O rebaixamento da cor verde no TPC e respostas de cooperação (COP) rebaixado e
H rebaixado no ZSC;
28. Aumento das cores acromáticas no TPC com aumento C’ aumentado ou Y
aumentado no ZSC.
Hipóteses para os indicadores cognitivos:
29. Aspecto formal estrutura no TPC com DQ+ no ZSC.
30. Aspecto formal formação no TPC com DQo no ZSC;
31. Aspecto formal formação no TPC XA% aumentado no ZSC;
32. Aspecto formal tapete no TPC com DQv ou DQv/+ no ZSC;
93
33. Aspecto formal tapete desequilibrado e furado no TPC com X-% aumentado no
ZSC;
34. Modo de colocação ascendente direta no TPC com XA% aumentado no ZSC;
35. Aspecto formal tapete no TPC com aumento de respostas [(H)+(Hd)+(A)+(Ad)] ou
aumento de códigos especiais no ZSC;
36. Aspecto formal estrutura no TPC e atividades organizativas (Zf aumentado) no ZSC
94
RESULTADOS
As correlações não apresentaram valores significativos do ponto de vista
estatístico, demonstrando que selecionar variáveis que presumem equivalência
psicodinâmica e correlacioná-las não implica, necessariamente, correlações psicométricas
lineares. No entanto, a ausência de correlações negativas foi considerada um resultado
psicométrico positivo, pois mostrou que os testes não se contradizem, avaliando, portanto,
o construto da personalidade. Assim como ocorreu no estudo de Husain-Zubair (1992), a
ausência de correlações negativas foi considerada um resultado satisfatório e a ausência de
convergências positivas implica em novos estudos que discriminem as sutilezas do
funcionamento psíquico que impediram a correspondência entre um teste e outro.
Os resultados psicométricos talvez fossem mais promissores se uma abordagem
ainda mais complexa, que envolvesse combinações alternativas, tivesse sido prevista para
todas as hipóteses. Um exemplo de combinações alternativas foi previsto, neste estudo, em
algumas hipóteses, como ocorreu, por exemplo, na hipótese 17, que considerou o aspecto
formal estrutura em manto, aumento da cor azul e a síndrome incolor do TPC como
indicadores de contenção ou esforço para controlar impulsos afetivos. Assim sendo,
qualquer um desses indicadores sugere a presença de mecanismos estabilizadores e
poderiam ser comparados com os indicadores de controle emocional (FC) ou respostas de
cor acromática (C’), no ZSC. De fato, a estrutura em manto é um indicador que tem
evidência de validade para o transtorno obsessivo compulsivo (Villemor-Amaral, Primi &
Silva, 2002), sendo considerada mais patológica que a síndrome incolor e o aumento da cor
azul. Da mesma forma, o C’ do ZSC tem evidência de validade para o transtorno
somatoforme ((Villemor-Amaral & Primi, 2009) ). No entanto, independentemente do
95
caráter mais ou menos patológico das variáveis, a presença de qualquer um dos indicadores
previstos pela hipótese 17 gera interpretações parecidas, que podem sugerir movimentos
psíquicos semelhantes, mas que são evidenciados de forma diferente.
Em outras palavras, combinações alternativas para todas as hipóteses poderiam
melhorar os resultados psicométricos, pois as possibilidades de arranjos entre as variáveis
são quase ilimitadas, sendo até mesmo possível encontrar combinações inusitadas e que
dificilmente serão reproduzidas por outras pessoas. Às vezes uma mesma informação pode
ser apreendida através de combinações diferentes e a direção da interpretação é
determinada por outras variáveis do teste.
O ZSC também foi comparado com o TPC de forma qualitativa, por meio de
análises de casos. Os resultados foram positivos, demonstrando que o funcionamento
psíquico das pessoas se manteve equivalente nas duas técnicas. Para a análise qualitativa
foram sorteados, aleatoriamente, quatro participantes, sendo todos, por acaso, constituintes
do grupo de não-pacientes. Em todas as análises só se discutiu sobre os indicadores que se
mostraram aumentados ou rebaixados em relação às expectativas propostas pelo manual do
TPC (Villemor-Amaral, 2005) e do ZSC (Villemor-Amaral & Primi, 2009). Todos os
indicadores que revelaram um papel preponderante na dinâmica do sujeito foram
sinalizados no protocolo do Pfister pelo seu aumento ()oupeloseurebaixamento().
Cada técnica foi analisada, em um primeiro momento, de forma isolada, com base
nos manuais do TPC (Villemor-Amaral, 2005) e do ZSC (Villemor-Amaral, Primi & cols.
2009), e, posteriormente, as análises foram realizadas de modo integrado, investigando-se a
correlação entre as hipóteses do ponto de vista psicodinâmico. Em caso de correlação
positiva, o número total de hipóteses era dividido pelo total de correlações positivas e
96
multiplicado por 100. A convergência foi considerada alta quando mais de 70% das
hipóteses se mostraram equivalentes a partir do ponto de vista da psicodinâmica.
Caso 1
Figura 1: Protocolo do TPC do caso 1
97
Figura 2: Folha de Localização do ZSC do caso 1
98
Figura 3: Sumário Estrutural do ZSC do caso 1
ocalizaçãoDeterminantes ConteúdosCódigosEspeciais
Z
f
=4
W =
Wv = 
D =5
W+D =5
Dd =2
S =
Blends Single
Mp;C’;mp M =1
Ma;Fr FM=2
Fma;C’m =
 FC=1
 CF=
 C=
 Cn=
 FC=
C’F=
FD= C’ =
FY= FT=
YF= TF=
Y = T =
(2)=4 FV=
rF = VF=
F = V =
H=3
(H) =
Hd =
(Hd) =
Hx =
A =1
(A) =1
Ad =1
An =1
Art =
Ay =1
Bl =
Bt =
Cg =
Cl =
Ex =
Fi =1
Food =
Geo =
Hh =
Ls =
Na =
Sc =
Sx =
Xy =
Id =1
DV = x1
INCOM = x2
DR = x3
FABCOM= x4
ALOG = x5
CONTAM= x7
AB =
AG =1
COP =
CP =
GHR =
PHR =
MOR =
PER =
PSV =

Qualidade
Desenv.

(FQ)
+ =
o = 4
v/+ = 3
v =

QualidadeFormal
FQxMQual
W+D
+ =
o =4
u =3
‐ =
none =
Razões,porcentagensederi
v
ações
RecursoseControleAfetoRelacionamento
R=7 F%=0
EB=7:0 EA=7
eb=5:2 es=7 D=0
Adjes=6 AdjD=1
FM=3 SumC’=2 SumT=
m=2 SumV = SumY =
FC:CF+C = 1:0
C =
SumC’:WSumC=2:0
Afr =0,4
S =
Blends:R =
3:7
CP =
COP =
AG =1
GHR:PHR =
a:p =5:7
Food =
SumT =
SumH =
PureH =
PER =
Isolamento =

IdeaçãoMediaçãoProcessamento Autoimagem
a:p=5:2
Ma:Mp=2:1
2AB+(Art+Ay)=1
MOR =
Sum6 =1
WSum6 =1
M‐ =
Mnone
XA% =100
WDA% =100
X‐% =
S‐ =
P =
X+% =57
Xu% =43
Z
f
=4
W:D:Dd=0:5:
2
W:M =0:2
PSV =
DQ+ =4
DQv =
3r+(2)/R=0,57
Fr+rF =1
SumV =
FD =
An+Xy =1
MOR =
H:(H)+Hd+(Hd)=3:0
99
Prancha I
1 – A cara de um animal, um cachorro uivando.
Devido aos olhos, essa boca aberta como se tivesse uivando e esses pelinhos do cachorro.
O que te dá a idéia de pelinhos?
Pela combinação, como se fosse desenhado, está parecendo o cavanhaque do animal.
Devido à boca estar próxima, esse rascunho parece pêlo.
2 – Um homem e uma mulher se beijando, aqui está o cabelo dela.
Aqui o cabelo, os olhos, a boca. O homem está de frente a ela em posição de beijo.
O que te deu a idéia de cabelo amarrado?
Devido que aqui parece uma cabeça e por ser preto.
Prancha II
3– Dois búfalos batendo cabeça, um com o outro para disputar espaço.
Eu vejo em toda a mancha, por causa da posição de ataque, batendo a cabeça.
4 – Aqui o pulmão.
Essa parte vermelha. Devido ao desenho, a forma de se destacar e esse vermelho escuro
tem dos dois lados.
Prancha III
5 – Dois meninos correndo.
Esses dois aqui, a cabeça, braço, perna e corpo.
6 – Um cara com reflexo no espelho, chutando uma bola, na verdade isso não é uma bola.
Esse aqui em posição de chutar uma bola, esse negócio não tem nada a ver com bola, pode
ser qualquer coisa.
Mas o que te deu a idéia de um cara?
A posição, cabeça, braço, perna e corpo.
100
E de reflexo?
Porque é igual.
7 – Dois dragões soltando fumaça, fumaça cinza.
A forma, por sair do nariz, a cor cinza.
De forma geral, o caso 1 mostrou interesse pelas atividades e as fez com bastante
concentração. No TPC, o modo de colocação foi ascendente direto, isto é, da base para o
topo, refletindo o princípio lógico da construção, o que sugere uma atitude estável e
madura. A construção das três pirâmides obedeceu a um sistema de elaboração uniforme e
ordenado, sugerindo que o examinando utiliza a organização em suas atividades cotidianas
e tende a um progressivo desenvolvimento intelectual.
As duas primeiras pirâmides apresentaram o aspecto formal do tipo formação,
indicando um nível intermediário de organização das cores. Entretanto, a tarefa foi
finalizada com o aspecto formal tapete decepado, que além de ser uma organização inferior,
pois as cores são usadas de forma aleatória, reflete um movimento de desestabilização,
descontrole e maior vulnerabilidade emocional. A presença do branco no topo da pirâmide
indica fragilidade estrutural e perturbações intensas, que foram se intensificando no
decorrer da tarefa.
A dupla de cores marrom com preto, que também compõe a dinâmica interna do
indivíduo, reflete uma tentativa pouco eficiente para superar as dificuldades vivenciadas. O
examinando tende a buscar a adaptação por meio de rituais compulsivos, que parece se
agravar diante do aumento da cor violeta, intensificando a presença de manifestações
patológicas. Outro indicador que reforça a presença de um possível adoecimento psíquico é
a dupla de cores azul e preto, que sinaliza a presença de pensamentos rígidos, pessimistas e
negativos, que bloqueiam um desenvolvimento emocional equilibrado. O azul4, mais
101
escuro, é típico em pessoas introvertidas, mas o aumento dessa tonalidade está relacionado
a sentimentos de inferioridade, de incapacidade, insatisfação e ambivalência; já a cor preta
está relacionada com a contenção dos afetos.
Outro dado que evidencia a presença de um conflito interno é o aumento da dupla
de cores azul e amarelo, revelando que forças ambivalentes se contrapõem. Esse indicador
é ainda mais significativo quando associado à segunda pirâmide do examinando, que é do
tipo camada multicromática. Essas variáveis associadas indicam que o examinando se
encontra em um momento de crise e tendência ao adoecimento psíquico. Essa tendência
também pode ser percebida pela fórmula cromática ampla instável (3: 3: 4: 0), indicando
que todas as cores foram utilizadas sem muito cuidado e sugerindo um foco de interesse
amplo, o que reflete a dificuldade de concentração em uma única atividade e aumenta o
nível de ansiedade e descontrole sobre as emoções.
No ZSC, o examinando apresentou um número de respostas suficientes e bom
contato com a realidade (XA% aumentado). O examinando tendeu a realizar processos de
análise e síntese bastante significativos entre os elementos do estímulo, o que deixou suas
respostas mais complexas e sofisticadas (DQ+ aumentado e Zf aumentado). O aumento de
respostas de movimento ativo sugeriu autonomia para tomadas de decisões e tendência a
assumir responsabilidades.
No que se refere às experiências afetivas (EA aumentado), o examinando
apresentou recursos acessíveis para formular decisões e para lidar com as questões
experimentadas. Ele conseguiu mobilizar recursos internos para atender às demandas,
preferindo usar a ideação para resolver problemas (EB introversivo). Observou-se a
presença de um estresse situacional, relativo às circunstancias atuais (D ajustada
aumentado), que tem atrapalhado o seu equilíbrio interno, o que o deixa mais vulnerável e
102
suscetível a pensamentos não deliberados e desagradáveis (m aumentado; es aumentado). A
presença de um conflito atual revelou que as atividades mentais estão fora do controle
consciente e a estimulação vivenciada estava mais intensa do que os recursos internos para
enfrentá-las. O rebaixamento do lambda e das respostas de localização W rebaixado
indicaram abertura excessiva à experiência, o que fez com que o indivíduo não conseguisse
discriminar informações importantes de acessórias, deixando-se invadir facilmente pela
estimulação emocional, isto é, não sendo capaz de evitá-la. Essa situação de intensa pressão
situacional estava gerando preocupações que podiam estimular reações mais agressivas
(AG aumentado). As verbalizações das respostas no ZSC também estavam marcadas por
tensões, como por exemplo, “cabelos amarrados”, “dragões soltando fogo”, “cachorro de
boca aberta” e “búfalos batendo a cabeça para disputar espaço”. Outro fator que acentuou o
momento de crise foi o aumento de respostas de cor acromática (C’aumentado), indicando
que os afetos estavam sendo internalizados ao invés de serem expressos - a constrição
afetiva acontece, geralmente, com intuito de preservar o sujeito diante de sentimentos
dolorosos e desagradáveis, tais como melancolia, tristeza, infelicidade e desamparo
psicológico.
De forma geral, o examinando apresenta uma estrutura psíquica adaptada e
equilibrada, mas que está ameaçada por um conflito situacional que tende a se agravar com
o desenvolvimento de uma crise psicopatológica. A queda da qualidade de seu
funcionamento psíquico pode ser vista no material dos dois exames por meio de diversos
indicadores, por exemplo, na terceira pirâmide construída no TPC com aumento da nota
Dajustado no ZSC; na fórmula cromática ampla instável no TPC e lambda rebaixado no
ZSC; na dupla de cor marrom com preto e azul com preto do TPC associadas com aumento
de C’ no ZSC e na dupla de cor amarelo com azul e ‘es’ no ZSC.
103
Dentre as hipóteses previstas pelo estudo, observa-se que a fórmula cromática
ampla não teve correlação positiva com o Afr do ZSC, mas a fórmula cromática ampla
instável convergiu com o lambda rebaixado, indicando que a pessoa tinha grande interesse
por experiências externas, mas não conseguia direcionar seu foco de forma eficiente. A
fórmula cromática instável não mostrou correlação positiva com o EA, pelo contrário, o EA
apareceu aumentado, evidenciando que os recursos internos tendiam a ser suficientes, mas
o período de instabilidade perturbou a performance adaptada do sujeito.
Já em relação ao aspecto formal formação verificou-se a convergência com o
controle emocional (CF+C) do ZSC. No entanto, o aspecto formal formação não teve
correlação com o CF aumentado.
Embora o tapete não tenha sido o aspecto formal predominante, pois só apareceu
em uma pirâmide, verificou-se a correlação positiva com ao aumento de C’puro,
evidenciando que a ausência da forma prejudica a adaptação do sujeito e dá espaço à
vulnerabilidade e à fragilidade psíquica.
O aumento da cor azul convergiu com as respostas de C’puro e controle
emocional FC, mostrando a presença de recursos internos que trabalham para estabilizar os
impulsos afetivos. Embora a síndrome incolor não tenha aparecido, a dupla de cores azul e
preto converge com a interpretação de que o aumento do C’ é sinal de internalização dos
afetos de forma não adaptada e com tendências à somatização. Outra hipótese que não foi
prevista, mas que apareceu nesse protocolo, foi a do tapete decepado com o aumento da
nota D ajustada, indicando que a pessoa está passando por um momento de ansiedade
intensificada.
Em relação ao tipo de vivência, observa-se que o aumento de cores frias
convergiu com o EB introversivo, demonstrando que o examinado prefere a via ideacional
104
em detrimento da via afetiva. No que se refere aos indicadores cognitivos, o aspecto formal
apresentou correlação positiva com a qualidade evolutiva DQo, evidenciando suficiente
percepção dos eventos externos. O aspecto formal formação também apresentou correlação
positiva com XA% aumentado, indicando uma atividade cognitiva adaptada, assim como o
modo de colocação ascendente direta também se correlacionou com XA% aumentado,
indicando organização lógica e convencional.
Conclui-se, portanto, que das 36 hipóteses previstas por esse estudo 12 hipóteses
apareceram no protocolo do caso 1, mas somente oito se correlacionaram positivamente, o
que equivale a 66%. No entanto, duas novas hipóteses que não haviam sido previstas por
esse estudo, tapete decepado com D ajustado e dupla de cores azul e preto com C’,
apresentaram coerência do ponto de vista interpretativo e se fossem incluídas na lista de
hipótese a porcentagem aumentaria para 83%. Desse modo, fica claro que há equivalência
entre os indicadores do TPC quando comparados com o ZSC; entretando é impossível
prever as possibilidades de arranjos entre as variáveis, pois as possibilidades de
combinação são quase infinitas, provando que a psicodinâmica é idiossincrática.
105
Caso 2
Figura 4: Protocolo do TPC do caso 2
106
Figura 5: Folha de Localização do ZSC caso 2
107
Figura 6: Sumário Estrutural do ZSC do caso 2
LocalizaçãoDeterminantes ConteúdosCódigosEspeciais
Z
f
=
W =1
Wv =
D =10
W+D =12
Dd =2
S =1
Blends Single
 M=
 FM=
 m=
 FC=
 CF=2
 C=
 Cn=
FC’=1
C’F=
FD=1 C’ =
FY= FT=
YF= TF=
Y = T =
(2)=1 FV=
rF = VF=
F =9 V =
H=
(H) =1
Hd =
(Hd) =
Hx =
A =4
(A) =1
Ad =2
An =2
Art =
Ay =
Bl =
Bt =3
Cg =1
Cl =
Ex =
Fi =
Food =
Geo =
Hh =
Ls =
Na =
Sc =
Sx =
Xy =
Id =
DV = x1
INCOM = x2
DR = x3
FABCOM= x4
ALOG = x5
CONTAM= x7
AB =
AG =
COP =
CP =
GHR =
PHR =
MOR =1
PER =2
PSV =

QualidadeDesenv. 
(FQ‐)
+ =
o =12
v/+ =
v =1

QualidadeFormal
FQxMQualW+D
+ =
o =5
u =8
‐ =
none =
Razões,porcentagensederivações
RecursoseControleAfetoRelacionamento
R=13 F%=2,25
EB=0:2 EA=2
eb=1:0es=1 D=1
Adjes=1 AdjD=1
FM= SumC’ =1 SumT =
m= SumV = SumY =
FC:CF+C = 0:2
C =
SumC’:WSumC=1:2
Afr =0,4
S =1
Blends:R =
CP =
COP =
AG =
GHR:PHR =
a:p =
Food =
SumT =
SumH =
PureH =
PER =2
Isolamento =

IdeaçãoMediaçãoProcessamento Autoimagem
a:p =
Ma:Mp =
2AB+(Art+Ay)=
MOR =1
Sum6 =3
WSum6 =3
M‐ =
Mnone =
XA% =100
WDA% =84
X‐% =
S‐ =
P =
X+% =38
Xu% =62
Z
f
=
W:D:Dd=1:10:2
W:M =1:0
PSV =
DQ+ =
DQv =1
3r+(2)/R=0,07
Fr+Rf=
SumV=
FD=1
An+Xy=1
MOR=1
H:(H)+Hd+(Hd)=0:1
108
Prancha I
1 – Vejo um... Ai, meu Deus, deixa eu ver bem. Parece um esqueleto. Mas juntando tudo
parece um besouro (resposta 2) ou um joaninha (resposta 3).
Um desenho macabro, eu já vi isso na biblioteca, da um pouco de medo, a cor. Parece que
jogaram tinta.
E o que te deu a idéia de besouro e joaninha?
Primeiro porque quando chove bastante você vê bastante no chão. Ah, também por causa da
minha sobrinha, ela tem um blusa com um monte de joaninhas.
E o besouro?
O contorno, o fato de aqui ser mais largo.
4 – Uma flor.
A parte mais escura. Foi por conta do formato, sabe aquela partinha da flor?!
5 – Um morcego.
Esse formato das asas.
6 – Aqui uma folha seca.
O formato também e está assim, meio faltando pedaço, meio comida, tem falhas.
Prancha II
7 – Um tórax.
Essa parte aqui. O formato é igual.
8 – Uma planta marinha. Como chama mesmo, aí esqueci nome, tem até comida com esse
nome. Frutos do mar, esqueci, não lembro.
Aqui, devido as partes, lembra um aquário, e a cor também.
9 – De cima olhando um gado.
Devido à cor e o formato da figura, as duas orelhas e o chifre.
109
10 – Um rosto.
O formato, nariz, boca.
Prancha III
11 – Uma borboleta.
O formato, parece ser simétrico.
12 – Um gnomo, duende, algo assim.
Por conta do chapéu que da a idéia.
13 – Uma cobra.
É o formato, aqui ó.
14 – Aqui também, olhando parece um dragão.
Olhando o formato do nariz, tipo o monstro que vi no filme animado. Ó a calda ó.
No caso 2 construiu as três pirâmides de um modo exageradamente desordenado,
sugerindo a mesma tendência para realizar as tarefas de seu cotidiano. O aumento da
síndrome de estímulo sinaliza a presença de reações mais impulsivas e explosivas, porém o
aumento da cor azul ameniza a tendência ao descontrole e indica a presença de recursos de
contenção. A labilidade de sua personalidade dificulta atuações ordenadas e controladas e a
disposição para conflitos internos é evidenciada pelo aumento da dupla de cores azul e
amarelo. Outros indicadores que reforçam a idéia da instabilidade interna referem-se ao
modo de colocação do tipo de descendente: aspectos formais tapete mutilado (primeira
pirâmide), formação em camada monocromática (segunda pirâmide) e formação simétrica
(terceira pirâmide). Todos esses indicadores evidenciam uma personalidade insegura e
frágil, com nível não satisfatório de amadurecido no trato com as emoções.
Em relação aos interesses interpessoais, o rebaixamento da cor verde reflete
insegurança, imaturidade e distanciamento frente a trocas interpessoais. A fórmula
110
cromática restrita também enfatiza pouco interesse por atividades diversas, preferindo
ambientes já conhecidos e sem tantas novidades.
No caso do ZSC, o examinando demonstrou grande interesse pela tarefa e
empenho em colaborar com o teste, o que indiretamente associa-se à energia e à boa
motivação (Nº de respostas aumentado). No entanto, as verbalizações se apresentaram de
modo bastante confuso, dificultando a comunicação com o examinador.
No processo de tomada de decisões, o examinando opta pelas vias afetivas e
geralmente guia-se pelos sentimentos e pela intuição (EB extratensivo). Diante de situações
bem estruturadas e simples (lambda aumentado), o sujeito é capaz de tolerar a frustração,
mantendo-se equilibrado (Nota D+; EA médio), e tende a ser convencional (DQo
aumentado e P aumentado), mas revela uma maneira individualista de ver o mundo e os
fatos ao seu redor (Dd aumentado), o que nem sempre repercute em resultados satisfatórios
(DQv aumentado).
Do ponto de vista intelectual, o examinando pode querer fazer mais do que suas
potencialidades permitem (W aumentado: M rebaixado) e sua produtividade não é das mais
brilhantes (X+% rebaixado, Zf rebaixado), mas suas percepções estão dentro do esperado
(W: D: Dd; XA% aumentado; DQo aumentado). Apresenta preocupações acentuadas com o
corpo (An aumentado), as quais geram forte desconforto emocional (MOR aumentado). Há
também uma necessidade maior do que o habitual de justificar defensivamente sua auto-
imagem (PER aumentado), o que indica insegurança, imaturidade e distanciamento frente a
relações interpessoais (COP rebaixado, H rebaixado).
O examinando tende a não modular suas descargas emocionais de forma adaptada
diante de situações desconhecidas, invocando reações mais impulsivas e explosivas (CF +
C aumentado). No que se refere aos conteúdos projetivos, observa-se que a verbalização da
111
primeira prancha evidencia uma personalidade insegura frente a situações desconhecidas:
“Ai, meu deus, deixa-me ver bem. Parece um esqueleto, mas juntando tudo parece um
besouro ou uma joaninha” (sic). Após o inquérito, o sujeito se decidiu pelo esqueleto,
atribuindo a ele um determinante FC’ devido a sua cor negra, que despertava medo,
deixando, portanto, o esqueleto macabro. E se decidiu pela joaninha devido a uma
lembrança que tinha de uma blusa de sua sobrinha.
Esse modo confuso de expressar suas idéias e percepções é evidenciado em todas
as pranchas. A indecisão (esqueleto, besouro ou joaninha) para se decidir entre um objeto
ou outro vai ao encontro de seu estilo extratensivo, que tende a tomar decisões por meio de
ensaio e erro, assim como as expressões utilizadas, ‘macabro’ e ‘joaninhas da minha
sobrinha’, reflete a preferência em se guiar pelos sentimentos e pela intuição.
A preferência por situações bem estruturadas e opções por soluções simples é
observada pela quantidade elevada de determinantes de forma pura (70%). O fato do sujeito
querer fazer mais do que suas potencialidades permitem (W aumentado: M rebaixado) pode
ser observado pelas várias tentativas para lembrar nomes de objetos, em vão: “Como chama
mesmo, ai, esqueci o nome, tem até comida com esse nome”, “Sabe aquela partinha da
flor?” e “Tem um filme que tem monstro assim” (sic).
As preocupações acentuadas com o corpo são nítidas nas respostas sobre o
esqueleto e o tórax, assim como a necessidade de justificar defensivamente sua auto-
imagem pelo excesso de respostas personalizadas (PER aumentado), que podem ser
observadas pelas verbalizações “eu já vi isso na biblioteca”, “igual na blusa da minha
sobrinha” e “monstro que vi no filme” (sic).
A dificuldade nos relacionamentos interpessoais é sinalizada por uma única
resposta, na qual os personagens principais são duendes e não se relacionam entre si,
112
evidenciando a dificuldade no trato com pessoas reais do seu dia a dia, sendo mais fácil
idealizá-las no campo da fantasia.
Dentre as hipóteses previstas pelo estudo, observa-se que a fórmula cromática
moderada não teve uma correlação positiva com o Afr, mas a amplitude da fórmula
cromática moderada foi restrita e isso teve convergência com lambda aumentado do ZSC,
sinalizando pouca abertura para as diversas experiências de vida. Em relação ao aspecto
formal formação, a correlação foi positiva com o determinante CF, mas o examinando
também apresentou uma pirâmide com o aspecto formal tapete, que não se correlacionou
com o aumento de C puro. No entanto, vale enfatizar que entre os tipos de tapete ele fez um
mutilado, e entre as formações ele fez uma monocromática e outra simétrica, caracterizando
uma personalidade com pouca maturidade emocional, interpretação esta também coerente
com o CF aumentado.
A síndrome do estímulo mostrou correlação positiva com as respostas cromáticas
(C aumentado), refletindo sensibilidade para perceber os sentimentos e lidar com os
eventos da vida de forma mais expansiva, comunicativa e afetiva. Essa correlação é
coerente com a hipótese que compara as cores quentes com o tipo de vivência extratensivo,
que também foi positiva. O rebaixamento da cor verde se correlacionou positivamente com
o rebaixamento de COP e conteúdo humano (H rebaixado).
No que se refere aos indicadores cognitivos, observa-se que o aumento de
formação teve correlação positiva com o aumento de DQo, assim como o aspecto formal
formação se correlacionou com o aumento de XA% aumentado, sugerindo uma percepção
adequada dos fatos.
Ao analisar a correlação das hipóteses levantadas, observa-se que de 36 hipóteses
previstas pelo estudo, dez apareceram no protocolo do caso 2, mas somente oito se
113
correlacionaram positivamente, perfazendo um total de 80% de equivalência em relação à
psicodinâmica do examinando.
Caso 3
Figura 7: Protocolo do TPC do caso 3
114
Figura 8: Folha de Localização do ZSC do caso 3
115
Figura 9: Sumário Estrutural do ZSC do caso 3
LocalizaçãoDeterminantes ConteúdosCódigosEspeciais
Z
f
=3
W =2
Wv =
D =5
W+D =
Dd =1
S =1
Blends Single
M =2
FM=1
 m=
 FC=
 CF=
 C=
 Cn=
 FC=
C’F=
FD= C’ =
FY= FT=
YF=1 TF=
Y = T =
(2)=1 FV=
rF = VF=
F =4 V =
H=
(H) =2
Hd =
(Hd) =1
Hx =
A =2
(A) =1
(Ad) =
An =1
Art =
Ay =
Bl =
Bt =
Cg =
Cl =
Ex =
Fi =
Food =
Geo =1
Hh =
Ls =
Na =
Sc =
Sx =
Xy =
Id =
DV = x1
INCOM = x2
DR = x3
FABCOM= x4
ALOG = x5
CONTAM=1 x7
AB =
AG =
COP =
CP =
GHR =
PHR =
MOR =
PER =
PSV =

QualidadeDesenv. 
(FQ)
+ =
o =8
v/+ =
v =

QualidadeFormal
FQxMQualW+D
+ =
o =2
u =4
‐ =2
none =
Razões,porcentagensederivações
RecursoseControleAfetoRelacionamento
R=8 F%=1
EB=3:0 EA=3
eb=1:1 es=2 D=1
Adjes=2 AdjD=1
FM=1 SumC’= SumT=
m= SumV= SumY=1
FC:CF+C =
C =
SumC’:WSumC=
Afr =
S =
Blends:R =
CP =
COP =
AG =
GHR:PHR =
a:p =2:1
Food =
SumT =
SumH =
PureH =
PER =
Isolamento =1

Ideação MediaçãoProcessamento Autoimagem
a:p=2:1
Ma:Mp=1:1
2AB+(Art+Ay)=
MOR =
Sum6 =1
WSum6 =7
M‐ =1
XA% =75
WDA% =62
X‐% =25
S‐ =1
P =1
X+% =25
Xu% =50
Z
f
=3
W:D:Dd=2:5:1
W:M =2:2
PSV =
DQ+ =
DQv =
3r+(2)/R=0,12
Fr+rF =
SumV =
FD =
An+Xy =1
MOR =
H:(H)+Hd+(Hd)=0:3
116
Prancha I
1 - Insetos.
Pelas garras, patas traseiras e dianteiras.
2 – Homem com asas.
Pelo rosto, olhos, pés e asas abertas.
Prancha II
3 – Órgãos humanos.
Porque tem estruturas internas e essa forma translúcida que da para ver coisas dentro. A
diferença das cores me deu a idéia de translúcida.
4 – Uma máscara de porco.
Pelos olhos, focinho e boca.
5 – Mapas geográficos.
Pelos contornos, parece uma ilha.
Prancha III
6 – Dois bichos correndo
Perna dianteira, perna traseira, braços, corpo, cabeça e orelha.
7 – Duendes dançando.
Pelos pés, um está para cima e o outro para baixo.
No caso 3 apresentou ampla receptividade aos estímulos externos. No entanto, o
examinando também teve dificuldade para canalizar a atenção de forma organizada em suas
atividades (fórmula cromática ampla instável; modo de execução desordenado nas três
pirâmides). A inconstância nas escolhas revela uma consequente instabilidade estrutural,
sendo menos arriscado retrair-se defensivamente do que enfrentar o contato com o mundo
exterior e real.
117
A necessidade vivenciada de refugiar-se em si mesmo e de negar ou anular
valores emocionais externos pode ser demonstrada pelo modo como o examinando constrói
suas pirâmides. Na primeira pirâmide, embora o aspecto formal seja do tipo estrutura
simétrica o uso das cores azul, preto e cinza indicam cautela frente a estímulos emocionais.
Na segunda pirâmide, a presença do aspecto formal estrutura em manto, nas quais as bordas
da pirâmide são de cor branca e o miolo vermelho, sinaliza dificuldade nas relações
afetivas. Na terceira pirâmide, o excesso da cor violeta reflete intensa ansiedade, que se
agrava diante do aspecto formal tapete. O movimento dinâmico da primeira pirâmide para a
terceira pirâmide é bastante significativo do ponto de vista interpretativo. A forma como
elas foram construídas resume a personalidade do examinando, demonstrando que as forças
internas são ativadas de imediato e lutam contra a fragilidade estrutural; mas, no decorrer
da tarefa, as forças internas tornam-se ineficazes, deixando espaço para a ansiedade e o
descontrole afetivo.
A presença de uma estrutura bastante frágil, com mais limitações do que recursos,
também é acentuada pela síndrome incolor, que é considerada a síndrome de desvio
cromática, cuja função primordial é de negar, atenuar ou reprimir estímulos. Seu aumento
indica fuga de situações afetivas ou estimulantes como tentativa de manutenção de um
equilíbrio bastante frágil. Essas características prejudicam a imagem do sujeito, já que o
excesso de cautela e a restrição aos contatos emocionais geram reações oposicionistas, que
podem resultar em atitudes de dissimulação, mentiras e intrigas, assim como indicam a
presença de sentimentos de raiva e ressentimento contra pessoas ou eventos considerados
injustos e que se oponham aos desejos e metas da pessoa - dupla de cor preto e cinza.
O cuidado diário em relação aos sentimentos, pensamentos e comportamentos é
extremamente necessário para o examinando; caso contrário, há grande possibilidade de
118
ruptura do equilíbrio psíquico, caso ele seja exposto a fortes pressões externas. O conflito
vivido fica evidente pelo aumento das cores branca, cinza e violeta, sinalizando carga
intensa de estresse emocional e dificuldade para a liberação de descargas emocionais - cor
vermelha rebaixada. O vazio interior, a fragilidade estrutural e a estabilidade precária são
evidenciadas pelo aumento excessivo da cor branca, que revela estados de ansiedade,
angústia, carência afetiva e medo do desamparo. O aumento desta cor sugere
vulnerabilidade ou mesmo perda do contato com a realidade.
A predisposição do examinando em vivenciar episódios que comprometem o seu
contato com a realidade também é observada no teste de ZSC. O aumento dos conteúdos
para-humanos e para- animais [(H)+(Hd)+(A)+ (Ad)] indica que a pessoa se identifica com
personagens fantasiosos com os quais ela não interage diariamente e isso pode provocar o
distanciamento do mundo real. Tal característica é reforçada pelo aumento dos códigos
especiais, que sinalizam deslizes no curso do pensamento. Mas a perda do contato com a
realidade torna-se ainda mais preocupante quando diante da presença de respostas de
movimento humano com a qualidade formal negativa (M-) associado com respostas de
espaço em branco com qualidade formal negativa (S-), evidenciando que o nível de
sofrimento está tão elevado que chega a distorcer a realidade.
Verifica-se, também, que examinando tem certa limitação para perceber as outras
pessoas por inteiro [aumento da soma de Hd+Ad+ (Hd)+(Ad)], sinalizando uma visão mais
parcial, cautelosa, reservada e desconfiada dos outros. O aumento do indicador ‘es’ indica
que a intensidade e a frequência da estimulação vivenciada estão muito maiores do que seus
recursos internos. Os pensamentos não deliberados invadem a mente do examinando e
impedem a tomada de decisões eficientes e adaptadas, deixando-o irritado e vulnerável à
impulsividade do pensamento e/ou comportamento. O conflito vivido fica evidente pelo
119
aumento das respostas de sombreado (Y aumentado), sinalizando carga intensa de estresse
emocional e dificuldade para a liberação de descargas emocionais (C’aumentado).
No que se refere aos aspectos projetivos do ZSC, pode-se observar que a maioria
das verbalizações revela atitudes defensivas, sendo os personagens dotados de garras, asas
abertas e posições de ataque, refletindo tentativas de proteção e defesa. Na prancha II, as
duas primeiras respostas são associadas à percepção de pessoas com máscaras, sinalizando
a existência de uma real perturbação desencadeada pelo estímulo colorido, evidenciando
que o examinando não conseguiria encarar os estímulos emocionais de forma aberta,
precisando de uma máscara. Ainda na prancha II, a preferência pela solidão, como tentativa
de negar a perturbação desencadeada pela cor, pode ser percebida pela resposta “mapa
geográfico”, enfatizando um forte desejo ao isolamento. Por fim, a terceira prancha
apresenta duas únicas respostas de movimento ativo, sinalizando a presença de recursos
internos que ambicionam reparar os danos desencadeados pelas emoções.
Dentre as variáveis que se correlacionaram diante da análise qualitativa, verifica-
se que a fórmula cromática ampla se correlacionou positivamente com o indicador Afr
indicando reatividade aos estímulos externos. Da mesma maneira, a fórmula cromática
ampla também se correlacionou com o lambda rebaixado, indicando que o examinando
apresenta alta receptividade aos estímulos externos. Em relação à estabilidade cromática,
observa-se que o aspecto instável se correlacionou com o EA rebaixado, evidenciando que
o examinando tem dificuldade para lidar com os aspectos afetivos que o atingem.
No que se refere ao aspecto formal, a formação em manto apresentou correlação
positiva com C’ puro, evidenciando que o examinando apresenta dificuldade para expressar
seus sentimentos, preferindo controlá-los rigorosamente. A síndrome incolor também se
correlacionou com o aumento de respostas C’ puro, enfatizando o forte incômodo em
120
integrar ou elaborar as emoções em suas atividades cotidianas, sendo mais fácil e menos
arriscado negá-las e internalizá-las, como precaução frente a um aparente equilíbrio
psíquico. O aumento da cor branca, preto e cinza se correlacionou tanto com o aumento do
C’ aumentado quanto com o Y aumentado, sinalizando a presença de angústia e sofrimento
psíquico.
Observou-se, também, a correlação entre a dupla de cor preto e cinza (aumentado)
do TPC com as respostas S (aumentado) no ZSC. Embora essa dupla não tenha sido
prevista nas listas de hipóteses, observou-se a correspondência teórica entre os testes,
evidenciando que o examinando apresenta tendência a reações oposicionistas com a
presença de sentimentos de raiva e ressentimento contra pessoas ou eventos que se opõem
aos seus desejos e metas.
No que se refere aos indicadores cognitivos, o aspecto formal estrutura não se
correlacionou com a qualidade evolutiva +, porém este aspecto mostrou correlação positiva
com o aumento de atividade organizativa (Zf), refletindo a presença de recursos cognitivos
ativos. Essa última hipótese não havia sido prevista pela lista de hipóteses, mas do ponto de
vista teórico elas são equivalentes.
Entres as 36 hipóteses listadas por esse estudo, nove delas foram averiguadas no
protocolo do caso 3, mas somente oito se correlacionaram, perfazendo um total de 88%. Se
as novas duplas, cor preto e cinza (aumentado) com as respostas S (aumentado) e atividade
organizativa com aspecto formal estrutura, fossem incluídas na lista de hipóteses a
porcentagem subiria para 90%.
121
Caso 4
Figura 10: Protocolo do TPC do caso 4
122
Figura 11: Folha de Localização do ZSC do caso 4
123
Figura 12: Sumário Estrutural do ZSC do caso 4
LocalizaçãoDeterminantes ConteúdosCódigosEspeciais
Z
f
=6
W =
Wv =
D =9
W+D =9
Dd =3
S =3
Blends Single
YF;ma M =2
FC;Y FM=
Ma;mp m =
 FC=1
 CF=
 C=
 Cn=
FC’=1
C’F=
FD= C’ =
FY=1 FT=
YF= TF=
Y = T =
(2)=3 FV=
rF = VF=
F =4 V =
H=3
(H) =
Hd =
(Hd) =
Hx =
A =4
(A) =
Ad =1
An =1
Art =
Ay =1
Bl =1
Bt =1
Cg =2
Cl =
Ex =
Fi =
Food =
Geo =
Hh =
Ls =
Na =2
Sc =
Sx =
Xy =
Id =
DV =1 x1
INCOM = x2
DR = x3
FABCOM= x4
ALOG = x5
CONTAM= x7
AB =
AG =
COP =
CP =
GHR =
PHR =
MOR =2
PER =
PSV =

QualidadeDesenv. 
(FQ)
+ =2
o =8
v/+ =2
v =

QualidadeFormal
FQxMQualW+D
+ =
o =5
u =4
‐ =3
none =
Razões,porcentagensederivações
RecursoseControleAfetoRelacionamento
R=12 F%=0,5
EB=5:2 EA=6
eb=2:4 es=6 D=0
Adjes=4 AdjD=2
FM= SumC’=1 SumT=
m= SumV= SumY=3
FC:CF+C = 2:0
C =
SumC’:WSumC=1:1
Afr =0,5
S =3
Blends:R =3
CP =
COP =
AG =
GHR:PHR =
a:p =4:1
Food =
SumT =
SumH =3
PureH =
PER =
Isolamento =0,33

Ideação MediaçãoProcessamento Autoimagem
a:p=4:1
Ma:Mp=3:0
2AB+(Art+Ay)=1
MOR =2
Sum6 =3
WSum6 =3
M‐ =
XA% =75
WDA% =58
X‐% =25
S‐ =3
P =2
X+% =42
Xu% =33
Z
f
=6
W:D:Dd=0:9:3
W:M =0:3
PSV =
DQ+ =2
DQv =
3r+(2)/R=0,25
Fr+rF =
SumV =
FD =
An+Xy =1
MOR =2
H:(H)+Hd+(Hd)=3:0
124
Prancha I
1 – Um morcego aberto no meio.
A cauda, a cabeça, aí cortando no meio fica assim, como se fosse grelhar.
Ainda não entendi o que te deu a idéia de morcego?
1
Por causa do formato dos olhos, da cor também, é assim meio assustador.
2 – Essa mancha preta não tem nada a ver, pode até ser natural, mas parece mais uma rosa,
uma folha de rosa.
Aqui no meio, a forma
3 – Um besouro.
Aqui os olhos e a garra. A feiúra e as garras e a cor. Essas cores misturadas, preto com
branco, não tem boniteza.
4 – Um monte de folha.
Essa parte aqui, como se o vento tivesse juntado várias folhas e chove então está saindo o
caldo, um líquido.
Ainda não entendi direito, você pode me explicar novamente?
São folhas do mesmo pé, mas quando molhou descoloriu. E o que te deu a idéia de líquido?
Parece uma coisa que escorreu, não tem forma, tá espalhado, a cor preta me fez lembrar.
5– Uma aranha.
Por causa das garras, o ferrão e essa parte, a aranha tem as anteninhas.
Prancha II
6 –Parece um pulmão estourado. É como se ele estivesse vazando, esse vermelho mais
claro é o sangue e isso como um todo lembra a forma de um pulmão.
1
Legenda: As falas sinalizadas em negrito referem-se à fase do inquérito que foi realizada pelo examinador;
já as falas sinalizadas em preto referem-se às respostas do examinando.
125
O que te deu a idéia de pulmão estourado?
O sangue é o vermelho e quando furado vai vazando, vai saindo mais claro, um pouco
rosado.
7 – Esses aqui são peixes sem cabeças e de raças diferentes.
São quatro, de raças diferentes, existem vários tipos.
O que te deu a idéia de peixes de raças diferentes?
As cores, o formato, mas parece sem cabeça.
8 – Aqui são duas pessoas se beijando, vestindo uma roupa grande com o vento do deserto
batendo.
Duas pessoas, duas cabeças, estão se beijando, estão inclinadas pra frente e o traseiro pra
trás, estão com roupão.
O que te deu a idéia de roupão?
Por causa da largura da figura. Se tem duas cabeças tem que ter dois corpos e esses corpos
estão cobertos.
O que te deu a idéia de vento?
A imagem está toda espalhada.
9 – Aqui é o cabo de uma espada de 200 anos atrás.
E por causa do formato, do modelo. Essa espada de bárbaro deve ter no mínimo 150
metros.
Prancha III
10 – Duas pessoas, um homem e uma mulher andando no gelo, um olhando para a cara do
outro, em alta velocidade. O homem é esse e a mulher é essa, o homem tem o queijo e o
narigão e a mulher é menor.
O que te deu a idéia de que eles estão andando no gelo em alta velocidade?
126
Porque andar no gelo vai muito rápido e não dá para ver direito, igual a figura, que é
espalhada.
11 – Uma borboleta.
Por causa do formato.
12 – Aqui são dois samuraizinhos de armaduras que pulam para dar um golpe.
São dois, mostrando uma arte marcial, pulando dando um golpe.
Iniciando a análise dos dados do caso 4, verifica-se que o aspecto formal se repete
nas três pirâmides, que são do tipo formação em camada monotonal. As formações são
relativamente comuns, mas as do tipo monotonais constituem um sinal mais grave de
retraimento das emoções. Além disso, sua fórmula cromática é do tipo restrita instável
(0:0:3:7), sinalizando pouca abertura afetiva para os estímulos externos, cuja percepção,
quando se dá, gera ansiedade, que é rapidamente freada por mecanismos inibitórios
restritivos da ação ou mesmo do campo de interesses, indicando rigorosa racionalização.
Se, por um lado, a pouca variação cromática e de matizes mostra a preocupação
que o examinado tem em controlar as emoções, inibindo e reprimindo seus sentimentos e
preferindo planejar suas metas antecipadamente, por outro lado, o controle excessivo
mantém a qualidade de seus objetivos profissionais, conforme é sinalizado em seu
protocolo pelo aumento das cores amarela, verde e marrom, que são fortes indicadores de
produtividade. O aumento da síndrome de dinamismo (verde + amarelo+ marrom)
representa a trilogia ação-realização-produtividade e costuma aparecer em pessoas
dinâmicas e realizadoras, com grande capacidade de produção em virtude de características
de perseverança e obstinação, receptividade e elaboração e contato adaptado e objetivo.
Muitas vezes essas atitudes recebem a conotação de imaturidade, insegurança, baixa
tolerância à frustração e irritabilidade (cores vermelha e laranja rebaixado), que podem
127
estar relacionadas com a presença de atividades mentais não deliberadas provocadas por
sentimentos de impotência, desesperança e falta de controle sobre as interferências
desagradáveis que eventos e pessoas têm sobre si.
No caso do ZSC, o examinando demonstrou motivação para realizar a tarefa, o
que significa interesse por atividades inéditas (Nº de respostas aumentado no ZSC).
Aparentemente, ele é hábil para lidar com os seus sentimentos e pensamentos, além de
apresentar uma boa relação com elementos da realidade (XA% aumentado). O examinando
reflete um funcionamento correto, sem grandes esforços criativos, um modo de
processamento modesto e conservador e seu pensamento é adaptado às exigências da tarefa
(DQo aumentado; respostas populares aumentada).
Ele prefere dirigir-se a aspectos mais insignificantes dos fatos que podem ser mais
facilmente processados (Dd aumentado e W rebaixado). O aumento da frequência de
atividade organizativa (Zf) sinaliza intenso esforço para integrar diferentes informações
numa mesma situação. No entanto, o aumento da qualidade evolutiva v/+ acentua a idéia de
uma tendência a assumir níveis mais sofisticados de elaboração cognitiva, mas que
encontra dificuldade para produzir um resultado sintetizado de forma precisa e eficiente.
Isto é, ele detém um bom desenvolvimento intelectual, mas sua aplicação prática não se
concretiza de modo preciso.
O examinando apresenta controle excessivo sobre as emoções, sendo mais fácil
para ele racionalizar os sentimentos latentes do que senti-los profundamente (EB
introversivo). Tal evidência é reforçada pelo indicador aumentado de intelectualização,
sugerindo um esforço cognitivo para neutralizar o impacto das experiências afetivas ou se
distanciar delas. Este indicador sugere ingenuidade e incapacidade de lidar com
sentimentos de maneira pura, direta e genuína.
128
Essas características permitem que o sujeito tenha autonomia para tomar decisões
e assumir responsabilidades (ativo aumentado: passivo rebaixado), o que alimenta sua auto-
estima e controla suas ações. Aparentemente o examinando é bem sucedido no âmbito
profissional, mas na esfera pessoal tende a apresentar dificuldades para se lançar em
relacionamentos com entregas afetivas mais diretas e profundas, preferindo se manter
distante de situações interpessoais (índice de isolamento). Quando as trocas interpessoais
escapam de seu controle e tornam-se inevitáveis, o sujeito tende a alimentá-las com
cuidado, pois o medo da perda de um relacionamento interpessoal é tão intenso que o
examinando prefere internalizar sentimentos de raiva ou ressentimento a resolver com o
outro as desavenças situacionais (S aumentado; Y aumentado).
O indicador de respostas mórbidas (MOR) aumentado indica um indivíduo
pessimista em relação ao futuro, o que faz com que ele se torne desconfiado e temeroso em
relação às intenções dos outros. Geralmente ele se convence que tudo dará errado,
independentemente de seus esforços para que o contrário se dê; essa característica vai de
encontro ao intenso medo da frustração observado nesse examinando.
Em relação aos conteúdos projetivos, as respostas manifestadas na prancha I são
bastante convencionais (Do), embora os principais determinantes sejam FC' e FY,
evidenciando angústias desencadeadas por tensões desagradáveis. Na prancha II, o impacto
sentido na presença das cores é logo notado. “Parece um pulmão estourado (D3). É como se
ele estivesse vazando, esse vermelho mais claro é o sangue e isso como um todo lembra a
forma de um pulmão” (sic). “Esses aqui (D1) são peixes sem cabeças e de raças diferentes”
(sic). “Aqui são duas pessoas se beijando, vestindo uma roupa grande com o vento do
deserto batendo e aqui é o cabo de uma espada de 200 anos atrás e deve ter no mínimo 1,50
metros (DdS99)” (sic).
129
As verbalizações da prancha II evidenciam a preocupação em tentar conter e
inibir as emoções, pois quando não reprimidas danificam o objeto (pulmão estourado e
peixes sem cabeça e vento que espalha). Ainda na prancha II, pode-se observar a labilidade
estrutural, na resposta 3. Em um primeiro momento, o examinando estabelece uma relação
positiva entre os personagens, dizendo que eles estão se beijando; mas logo a seguir projeta
o medo de se expor diante de relações que exigem trocas de sentimentos, referindo-se ao
deserto, cujo simbolismo nos remete ao vazio daquilo que não tem vida e é solitário. Mais
adiante, em sua última resposta da prancha II, ele diz: “é uma espada de 200 anos atrás e de
1,50 metros” (sic), indicando um esforço cognitivo bastante preciso para se distanciar das
experiências afetivas.
Na prancha III, ele diz: “aqui são duas pessoas andando no gelo em alta
velocidade (D3) e aqui são dois samuraizinhos de armaduras que pulam para dar um golpe”
(sic). Nesta prancha, o sujeito já se sente mais protegido pela ausência das cores, agregando
em uma única ação dois personagens, os quais estão em uma relação de parceria. No
entanto, a atribuição da qualidade 'alta velocidade' indica que a ansiedade ainda está
internalizada. Logo depois, o examinando aponta para seus recursos internos, mostrando
que sabe se defender e atribuindo aos samuraizinhos armaduras e firmeza para golpear o
inimigo, característica essa bastante enfatizada pela síndrome de dinamismo e aumento dos
movimentos ativos.
As verbalizações ofereceram, portanto, um valioso material projetivo,
complementando a avaliação realizada através dos indicadores do teste de TPC. Entre as
hipóteses analisadas, observa-se que a fórmula cromática restrita não apresentou correlação
positiva com o rebaixamento de Afr, assim como a sua estabilidade foi do tipo instável e
também não apresentou correlação positiva com o EA rebaixado.
130
O aspecto formal formação apresentou correspondência positiva com o de FC,
sugerindo que a forma é importante para a definição do conceito e que exerce a função de
controlar e direcionar as experiências afetivas por elementos cognitivos. No entanto, não
houve correlação com o aumento de CF, hipótese também prevista pelo presente estudo.
O aspecto formal formação apresentou correlação positiva com o DQo,
evidenciando um modo de funcionamento cognitivo ordinário. A formação também se
correlacionou com XA% aumentado, indicando a presença de recursos cognitivos
suficientes para perceber os elementos da realidade.
Outros arranjos que não haviam sido previstos pela lista de hipóteses apareceram
na análise qualitativa e se mostraram equivalentes do ponto de vista da teoria. Entre as
correlações positivas encontram-se: a camada monotonal com índice de intelectualização,
evidenciando que o examinando expressa sua afetividade com muita precaução e com
tendência a utilizar as vias racionais como principal estratégia de segurança, e a síndrome
de dinamismo, com o aumento de movimento humano ativo, sinalizando energia e alta
capacidade de produção.
Conclui-se, portanto, que da lista de 36 hipóteses, seis apareceram no protocolo
do caso 4, mas somente três se correlacionaram positivamente, o que equivale a 50%. No
entanto, se os dois novos arranjos fossem considerados, a porcentagem aumentaria para
62,5%.
131
DISCUSSÃO
As análises qualitativas revelaram resultados positivos e demonstraram
equivalência teórica na maioria dos pares analisados. Foi possível observar que as variáveis
permitiram tecer uma rede de informações coerentes com as teorias psicodinâmicas,
independentemente do modo de expressão utilizado, isto é, verbal e não verbal.
Os resultados obtidos por meio das análises caso a caso evidenciaram que além
dos 36 pares previstos como hipótese de equivalência teórica, seis novos pares foram
identificados nas análises qualitativas, conforme apresentado na lista abaixo, reforçando a
idéia de que as possibilidades de arranjos entre as variáveis é extremamente vasta
(Villemor-Amaral, 2006). Provavelmente, se mais protocolos tivessem sido analisados
qualitativamente, novos arranjos iriam revelar outras correlações ainda não previstas,
mostrando que a personalidade é dinâmica e subjetiva e que modos de expressões
diferenciados permitem análises sobre diferentes perspectivas, complementando e
aprofundando as compreensões sobre a psicodinâmica da pessoa (Exner, citado por Weiner,
2000).
Outro valioso resultado foi constatar que além
das informações se mostrarem
equivalentes em alguns aspectos,
elas foram complementares em outros, demonstrando que a
aplicação dos dois testes tende a ser útil e recomendada, pois garante que a psicodinâmica
seja verificada sobre várias perspectivas, tal como sugere Husain-Zubair (1992).
Lista de novos pares de indicadores equivalentes do ponto de vista teórico.
1. Aumento do D ajustado em relação à nota D no ZSC com tapete decepado no
TPC. Essa dupla indica intensa ansiedade situacional;
132
2. Aumento de respostas C’ no ZSC com a dupla de cores azul e preto no TPC,
indicando que angústias intensas estão sendo vividas, mas não estão sendo
externalizadas;
3. Aumento de respostas S no ZSC com a dupla de cores cinza e preto no TPC,
indicando tendência a reações oposicionistas, com a presença de sentimentos de
raiva e ressentimento contra pessoas ou eventos que se opõem a desejos e metas
da pessoa;
4. Aumento de atividade organizativa (Z) no ZSC com aspecto formal estrutura no
TPC, refletindo a presença de recursos cognitivos mais elaborados;
5. Índice de intelectualização no ZSC com camada monotonal no TPC, sinalizando
racionalização das emoções;
6. Aumento de movimento humano ativo (Ma) no ZSC com síndrome de dinamismo
(verde + marrom + amarelo) no TPC, o que indica boa energia para realizações;
Dessa forma, além de possibilitar a descoberta de novos pares de indicadores
equivalentes do ponto de vista teórico dos testes, a análise qualitativa dos dados
também produziu uma avaliação abrangente e coerente com os princípios que
fundamentam o construto da personalidade. Isso indica que o ZSC apresenta
correspondência com o TPC em diversos aspectos e complementaridade em outros, o
que constitui mais uma evidência de sua validade, tornando-o indicado para avaliar a
personalidade e por contribuir para esclarecer nuances da dinâmica psíquica das
pessoas.
133
CONCLUSÃO
Os resultados psicométricos não foram muito significativos do ponto de vista
estatístico; contudo, talvez eles tivessem sido mais promissores se tivéssemos adotado uma
abordagem ainda mais complexa, que envolvesse combinações alternativas. Porém, do
ponto de vista qualitativo, os resultados demonstraram diversas equivalências
interpretativas entre os testes de TPC e ZSC. A convergência positiva entre algumas das
variáveis previstas pelas hipóteses evidenciou-se em todos os casos analisados, revelando
características do funcionamento psíquico das pessoas que aparecem de modo constante em
formas variadas de expressão, reproduzindo, até certo ponto, um mesmo padrão ou estilo,
mesmo em situações relativamente diferentes.
Conclui-se, portanto, que o teste de TPC foi um critério de comparação que
contribuiu para a validade do ZSC. Mas certamente mais investimentos para a realização de
novos estudos precisam ser empreendidos com o intuito de ampliar as evidências de
validade do ZSC, segundo os procedimentos da psicometria.
134
VALIDADE DO RACIOCÍNIO CLÍNICO POR MEIO DE DOIS
REFERENCIAIS TEÓRICOS DISTINTOS
135
Neste capítulo, a personalidade é compreendida e definida por abordagens teóricas
distintas: de um lado, a psicanálise, que considera o simbolismo e a presença de forças
internas opostas responsáveis por orientar a vida consciente da pessoa; de outro, a
psicopatologia fenômeno-estrutural, que explora a experiência vivida a partir das noções de
tempo e espaço. As duas abordagens são confrontadas a fim de averiguar a validade do
raciocínio clínico a partir das respostas verbalizadas no Zulliger.
De acordo com os pressupostos psicanalíticos, a personalidade é uma estrutura
interna dinâmica que constantemente sofre influências externas. Algumas interferências são
sentidas pelo indivíduo como desagradáveis ou conflitantes, exigindo uma reorganização
interna frente ao novo estímulo ou situação. Às vezes, o indivíduo tenta mudar o meio
externo para não precisar se modificar, mas em outras situações o meio físico e social se
transforma e o sujeito é incentivado a se transformar internamente. Assim, se o indivíduo
resistir às transformações reestruturando-se ante as novas exigências pode-se dizer que a
saúde impera. Por outro lado, se o indivíduo não conseguir se reorganizar frente às novas
exigências externas ele se encontra em um momento de crise, ou seja, quando as estratégias
são ineficazes, o adoecimento psíquico se instala e a pessoa começa a apresentar
dificuldades nas relações interpessoais e a sua produtividade cai de forma significativa
(Augras, 1978).
Dessa forma, o princípio da saúde e da doença, segundo uma visão mais
psicanalítica, depende da maneira como a pessoa lida interna e externamente com seus
conflitos, isto é, a dinâmica psíquica da pessoa deve ser capaz de criar estratégias eficazes
para as soluções dos problemas. Segundo Anzieu (1978), o conflito acontece quando o
meio externo exige mudanças de conduta e o sujeito não está internamente preparado para
as mudanças.
136
Freud (1926/1988) explicou que esse movimento psíquico que almeja o equilíbrio
interno é influenciado diretamente pelos mecanismos de defesa, os quais existem para
proteger a saúde mental do indivíduo, diminuindo a ansiedade descontrolada que foi
desencadeada por um conflito interno. A origem de qualquer conflito é a briga entre as três
instâncias intrapsíquicas - id, ego e superego - que lutam para descarregar ou reprimir uma
tensão. Em diversos momentos da vida, o id tenta se expressar e o superego impede que o
id se manifeste livremente. Nesse momento, instaura-se um conflito, que gera ansiedades
intensas que por sua vez alertam o ego de que é necessário introduzir na trama intrapsíquica
um mecanismo de defesa.
Esse diálogo conflituoso faz parte de um processo mental natural que busca
soluções adaptativas do indivíduo frente às múltiplas situações da vida, podendo assumir
características patológicas ou não. Todos os indivíduos dispõem dos mesmos mecanismos
de defesa, mas as defesas utilizadas variam de acordo com a maneira como cada um lida
com a vida. Segundo Vaillant (1977 citado por Gabbard, 2006) os mecanismos de defesa de
uma pessoa são um bom barômetro de sua saúde psicológica.
Para Freud (1916/1996), o aparelho psíquico é um dispositivo destinado a dominar
as excitações que, se não fossem controladas, seriam sentidas como aflitivas ou teriam
efeitos patogênicos. O escoamento da libido é mediado pelo ego, cuja função é auxiliar a
descarga das excitações, seja elaborando aquelas que são incapazes de descarga, seja
proibindo aquelas indesejáveis. Quando o ego falha, o investimento da libido se torna algo
patológico, podendo se manifestar de modos bastante variados, o que configura os diversos
quadros psicopatológicos e suas especificidades quanto ao modo de organização dos
impulsos e defesas.
137
No que se refere às doenças mentais, Freud (1900/1996) foi o primeiro a perceber
que os fenômenos típicos do inconsciente, como os conteúdos dos sonhos e lapsos de
linguagem e atitudes, eram manifestações dos desejos latentes que lutavam por uma
expressão. Às vezes os desejos eram descarregados e outras vezes reprimidos, dependendo
do aparelho mental de cada pessoa e do mecanismo de defesa acionado.
Freud dedicou a maior parte de sua obra ao mecanismo de defesa da repressão, que
tem a finalidade de impedir que impulsos ou idéias inaceitáveis entrem na consciência.
Mais tarde, sua filha, Ana Freud (1949/1982), definiu nove outros mecanismos de defesa:
regressão, formação reativa, anulação, introjeção, identificação, projeção, expiação,
reversão e sublimação, que, além de expandir a teoria de Freud, definem uma escala
crescente, isto é, dos mecanismos mais imaturos aos mais maduros.
Ana Freud explicou que as operações defensivas do ego organizavam as condutas
expressas no ambiente, que podiam ser adaptadas ou não. De acordo com Gabbard (2006),
essa nova ênfase ofereceu para a psicanálise possibilidades inovadoras de compreensão da
doença mental.
Para ambos os autores, pai e filha, a origem dos sintomas patológicos estava na
infância. Embora Freud tenha, retrospectivamente, reconstruído o desenvolvimento infantil
a partir dos relatos de seus pacientes adultos, ele postulou que a criança passa por quatro
estágios psicossexuais até a maturidade e cada um desses estágios, oral, anal, fálico e
genital, está associado a uma zona do corpo em particular, onde estava concentrada a libido
ou a energia sexual da criança.
Caso a criança sofresse algum trauma causado pelo ambiente, por fatores
constitucionais ou por ambos, ela poderia ter seu desenvolvimento fixado em alguma fase
anterior à genital, resultando em uma fixação nessa até a vida adulta. Da mesma forma, sob
138
estresse, ela poderia ser levada a uma regressão para essa fase mais primitiva do
desenvolvimento, manifestando organizações mentais associadas à respectiva fase
(Gabbard, 2006).
A partir da reconstrução da fase infantil, Freud mencionou a influência do complexo
de Édipo e o medo da castração do menino como fatores importantes para explicar alguns
sintomas patológicos. Entretanto, em uma série de artigos (1905/1972), Freud encontrou
dificuldade para explicar o desenvolvimento edípico nas meninas, o que fomentava idéias
divergentes nos novos pesquisadores da Sociedade Psicanalista Britânica.
Para Melanie Klein, o objetivo da criança não era simplesmente descarregar uma
tensão que estava sob a pressão de um impulso interno, pois esse último surgia diante de
um contexto interpessoal, isto é, ao invés da criança almejar um objeto, ela almejava a
relação intrínseca presente nesse objeto. Por exemplo, o menino, quando deseja ser o objeto
de amor de sua mãe, não quer simplesmente gratificar um impulso sexual com ela, mas
quer eliminar o pai, pois tem consciência da existência de um rival e dos empecilhos que o
pai impõe para a sua idealizada relação com a mulher/mãe.
Do ponto de vista dessa autora, independentemente da criança ser menino ou
menina, os impulsos estão intimamente ligados a relações objetais especificas, sendo o
corpo apenas um veículo para expressar o interesse perante a relação interpessoal (Gabbard,
2006). A partir da construção teórica de Klein (1952/1969a) que tem como ponto de partida
os primeiros meses de vida da criança, outros elementos começaram a ser integrados para a
compreensão sobre o desenvolvimento da infância, que ganhou destaque fundamental para
a constituição da personalidade, seja ela saudável ou patológica.
Para essa autora, o bebê, ao nascer, sofre pela perda do estado intra-uterino, porém
esta perda é compensada quando a mãe proporciona a ele calor, apoio, carinho, conforto e
139
alimento materno. O bebê, quando com fome, chupa o seio e recebe o leite materno,
sentindo, assim, uma enorme gratificação, pois sua necessidade foi suprida. Através dessa
experiência de amamentação, o bebê estabelece uma relação objetal boa com o seio da mãe,
associada ao prazer e não só à exclusiva necessidade de se alimentar.
Ao mesmo tempo em que a mãe supre algumas necessidades do bebê, também deixa
de suprir outras, seja porque está ausente ou impossibilitada de atender ao filho, seja porque
não consegue compreender qual a necessidade a ser satisfeita naquele momento; nessa
circunstância, a mãe representada pelo seio é sentida como um objeto persecutório. Se a
frustração for muito grande, mesmo na presença do seio, o impulso destrutivo do bebê se
manifestará através de mordidas ou na recusa de algumas mamadas e ele se debaterá e
protestará aos gritos; aqui é estabelecida uma relação objetal ruim seio/ mãe.
Essas relações objetais, ora boas, ora ruins, são trazidas à mente da criança como
seio bom e seio mau e é a partir dessas relações extremamente polarizadas, parciais e
clivadas com o seio que Klein (1952/1969b) explica a formação da estrutura da
personalidade. Primeiramente, ela se refere à “posição esquizoparanóide”, que é uma
organização mental em que o bebê não percebe que o seio bom e o seio mau são derivados
da mesma fonte. Porém, à medida que o bebê reconhece que os aspectos amados (seio bom)
e odiados (seio mau) não estão totalmente separados, pode-se dizer que o bebê está na
“posição depressiva”.
Essa segunda posição faz com que o bebê sinta um medo extremo da perda do
objeto amado, resultando em um forte sentimento de culpa, pois ele reconhece que os
impulsos agressivos foram direcionados contra o objeto amado. Esse reconhecimento
emocional promove o desenvolvimento mental, pois é através de associações que o bebê se
140
percebe como um ser separado de sua mãe, ao mesmo tempo em que a vê como um objeto
integrado (seio bom e mau).
A posição depressiva é, portanto, fundamental para o desenvolvimento mental
saudável, pois é nessa posição que ocorre uma maior integração egóica, a clivagem entre
bom e mau se atenua e o objeto fica mais integrado. Porém, é o modo como a criança
enfrenta essas emoções e ansiedades, assim como as defesas que ela usa, que dão a
indicação sobre seu desenvolvimento em uma direção mais ou menos satisfatória.
É nos primeiros três ou quatro meses de vida que essas vivências ocorrem e põem
em marcha a estrutura da personalidade do bebê e, sendo assim, é também nessa época que
se formam as estruturas patológicas. Klein (1952/1969b) diz que a estrutura psicótica
decorre do fato de o bebê ser capaz de superar a posição esquizoparanóide, mas não de
desenvolver a posição depressiva. Se os medos persecutórios do bebê forem muito fortes,
ele não será capaz de direcionar a ansiedade como impulso destrutivo, não sentindo,
posteriormente, o medo da perda e o sentimento de culpa e não tendo que se redimir em
relação ao objeto amado, o que gera o não estabelecimento de uma relação de integração
com esse objeto.
É na posição depressiva que ocorrem as associações do pensamento e se o bebê não
conseguir um desenvolvimento mental integrado ocorrerá uma perturbação na percepção da
realidade. Dessa maneira, as concepções de posição esquizoparanóide e depressiva são
indispensáveis para a organização do universo vivencial da pessoa e podem ser
generalizáveis nas devidas proporções nas vivências do adulto.
Apesar da teoria de Klein apresentar diferenças substanciais em relação à teoria de
Freud, ambas consideram a presença de forças internas opostas responsáveis por orientar a
vida consciente da pessoa. Em ambas as teorias, as forças internas têm como função
141
defender o Eu de pressões que provêm do ambiente e atuam em benefício do equilíbrio
psíquico do sujeito.
Já a psicopatologia fenômeno-estrutural é uma abordagem teórica que explora a
experiência vivida a partir das noções de tempo e espaço. Minkowski, psiquiatra e discípulo
de Bleuler, se fixou na França no final da década de 1920 e encontrou na filosofia de
Husserl e Bergon interessantes conceitos sobre as psicopatologias. Segundo Amparo
(2002), a obra de Bergon intitulada de L’Essai sur les données immédiates de la conscience
foi importante para Minkowski (1927/1997) compreender a base de distúrbios psíquicos
como a esquizofrenia, que tem como principal característica a perda do contato vital com a
realidade.
La schizophrénie, primeira obra de Minkowski (1927 citado por Helman, 1983),
apresenta a perda do contato vital dos esquizofrênicos como consequência de um
descompasso entre o universo interno e externo. Para o autor, o princípio da saúde mental
se encontra na relação estabelecida entre o tempo e o espaço, que pode ser compreendida
em duas dimensões: a do tempo e espaço externo, denominada cronológica, e a do tempo e
espaço interno, chamada de experiência vivida. Essas duas noções coexistem e não podem
ser dissociadas uma da outra, pois é na relação existente entre elas que o contato vital com a
realidade é percebido e apreendido.
A idéia de que o mundo interno é o prolongamento do mundo externo foi traduzida
por Minkowski (1927/1997) a partir do termo ambience (atmosfera). Para o autor, o mundo
externo é marcado por objetos sólidos e imutáveis, que dão suporte para o mundo objetivo
ao qual se atribui a qualificação de real. Já o mundo interno é marcado por aspectos
subjetivos, que estão sob a total influência de um mundo comum e compartilhado. Dessa
forma, o termo atmosfera traz a idéia viva e modulante que liga o interno com o externo, e
142
é dentro desse aspecto dinâmico e instável que se estabelece a afetividade e a noção do
contato vital com a realidade.
Para Minkowski (1927/ 1997), o esquizofrênico interage somente com o seu mundo
interno e essa fixação egocêntrica de “buscar o ser” a todo instante implica no
desaparecimento de uma relação dinâmica com a realidade, além de acentuar a existência
do Eu em seu aspecto mais instintivo. Isto é, o esquizofrênico, ao rejeitar a perspectiva
dinâmica do mundo externo, se conecta com o seu mundo imaginário, que é livre da noção
de limite e de medida; ele confunde o tempo vivido com o tempo mensurável e o espaço
geométrico com o espaço vivido (Minkowski 1927/1997).
Segundo Minkowski (1927 citado por Augras, 1978), a esquizofrenia, entre todas as
psicopatologias, é a que mais revela o problema de a pessoa se deslocar no espaço,
começando pela própria dificuldade em reconhecer seu corpo como algo integrado. A
pouca percepção corporal (espaço físico), interfere no reconhecimento dos limites internos,
como, por exemplo, na capacidade de controlar os impulsos afetivos, que, desprovidos de
limite, são expressos de forma direta. O pouco reconhecimento das fronteiras internas faz
com que o deslocamento do corpo no espaço seja desajeitado e equivocado.
Em Le temps vecu, Minkowski (1933/1995) aprofunda o conceito sobre a
deformação do espaço-temporal, típica do funcionamento psíquico dos esquizofrênicos,
através do mecanismo psicopatológico Spaltung, que coloca em evidência a disjunção do
esquema espacial, seja ele interno ou externo, seja separando os objetos que por natureza
deveriam estar unidos, seja afastando os fatos desagradáveis da vida.
Nessa obra, Minkowski (1933/1995) demonstra que a desordem psíquica do
esquizofrênico é consequência de um descompasso espaço-temporal, que pode ser
apreendido a partir do modo como as pessoas se expressam verbalmente. Segundo o autor,
143
a linguagem oral torna o mundo interno palpável, isto é, as alterações do tempo e espaço
vivido podem ser capturadas pelo discurso falado.
Influenciada pelos estudos de seu marido, Minkowska (1938, citada por Helman,
1983), que nessa época trabalhava na equipe de Bleuler, teve a oportunidade de observar
pacientes epiléticos e descobriu características peculiares sobre a personalidade deles. O
mais curioso para ela foi constatar que o funcionamento psíquico dos epiléticos operava de
modo exatamente oposto ao funcionamento psíquico dos esquizofrênicos.
Essa descoberta passou a ser alvo de diversos estudos comparativos entre pacientes
esquizofrênicos e epiléticos e os resultados a estimularam a romper com os princípios
tradicionais propostos por Bleuler, que punham de um lado a neurose e do outro extremo a
psicose.
A maioria dos resultados que diferenciaram os epiléticos dos esquizofrênicos foram
adquiridos pelo Método de Rorschach, que, por apresentar uma padronização durante a
realização da tarefa, facilitava as investigações sobre o papel da linguagem como
ferramenta para compreender pacientes psiquiátricos. A principal diferença dos epiléticos
estava na afetividade viscosa (Helman, 1971), que era marcada pelo excesso de respostas
de movimento e cor, revelando um modo de operação psíquica mais sensorial e motor.
Wallon (1949 citado por Helman, 1983), interessado nas descobertas de
Minkowska, comparou exames de encefalogramas de pacientes epiléticos com os exames
de não-pacientes e o resultado mostrou que os epiléticos apresentavam aumento de
hipersincronização dos neurônios, o que expressava um contato mais apurado com a
realidade.
Segundo Helman (1983), o estudo experimental de Wallon ajudou Minkowska a
definir a tipologia epilepto-sensorial, caracterizada por um modo de funcionamente mais
144
concreto, viscoso, sensorial e motor. Para Minkowska (1938, citado por Helman, 1973), as
pessoas dessa tipologia estavam mais atentas aos aspectos sensoriais; tudo o que era visto,
ouvido e sentido era mais atraente e reverberava na dinâmica interna da pessoa, produzindo
trocas entre o sujeito e o objeto mais próximas da realidade.
Entre os diversos trabalhos realizados por Miskowska, pode-se destacar, como o
mais importante, o estudo que suscitou na obra Le Rorschach, la recher du mondel de
formes (1956). A autora descreveu a diferença entre os dois pólos de personalidade a partir
da visão em imagens do Rorschach. Segundo a autora, o epilético ao ver as imagens do
teste, sentia, por isso, ele era atraído pelas áreas de cor vermelha e via as formas em
movimento.
Helman (1983) reforça a idéia da sensorialidade e do motor dizendo que as pessoas
do pólo epilepto-sensorial tendiam a unir manchas separadas, e a forma como a imagem era
vista podia ser ilustrada como um filme em movimento. Do ponto de vista da linguagem, os
verbos tinham a função de qualificar uma ação concreta do que estava sendo percebido.
Já no pólo esquizo-racional, que tinha como base a inflexão psíquica, o
esquizofrênico, ao invés de ver a imagem, pensava sobre ela. Para Helman (1983), as
pessoas da tipologia esquizo-racional atravessavam aquilo que viam e substituíam o sentido
da imagem por aquilo que sabiam sobre ela.
Através de uma forma específica de ver e perceber as imagens, os esquizofrênicos
apresentavam muitas respostas simétricas, com tendências ao distanciamento temporal e
abstração geométrica, sendo o elemento racional mais autônomo, isto é, o ato de pensar era
substituído pelo sentir, assim como a forma substituía a cor.
A partir desses achados, Miskowska (1956) observou que as diferenças psíquicas
entre os dois grupos se davam na percepção da imagem, no comportamento, na relação
145
estabelecida com o examinador e na qualidade expressiva da linguagem. Enquanto o
epilético era atraído por aspectos sensoriais como olfato, visão, tato, paladar e audição, o
esquizofrênico era atraído pela precisão da forma, deixando as manifestações sensoriais
frequentemente no campo mental das alucinações. A autora afirma que os epiléticos são
mais atentos aos estímulos sensoriais, mostrando-se mais próximos da realidade, enquanto
que os esquizofrênicos são mais racionais e abstratos, mostrando-se mais distantes da
realidade.
Desse modo, o mecanismo essencial do epilepto-sensorial é a ligação, reforçando a
idéia da necessidade de um contato com o mundo externo mais concreto, ao passo que para
o pólo esquizo-racional o mecanismo essencial é o corte, o qual reforça a idéia do
distanciamento do mundo externo. Enquanto o tipo epileto-sensorial prioriza o mecanismo
que liga, integra, une e associa elementos internos e externos, o esquizo-racional prioriza o
mecanismo que corta, separa, rompe, fragmenta e isola os elementos internos e externos.
Em ambas as tipologias, os mecanismos de corte e ligação podem aparecer de forma
modulante. A oscilação de um mecanismo para o outro é fundamental para o equilíbrio da
personalidade, pois há momentos na vida em que é preciso fragmentar e outros em que é
preciso integrar. Independentemente do mecanismo empregado, a flexibilidade entre eles é
um fator importante para o sucesso da experiência vivida. Normalmente é o caráter
dinâmico entre os mecanismos de corte e ligação que possibilita um contato vital adaptado
entre os conteúdos interno e externo.
Os dois pólos constituem uma tipologia específica e podem revelar informações
sobre o funcionamento psíquico de pacientes psiquiátricos, ao mesmo tempo em que
representam etapas evolutivas que se alternam. Seja qual for a tipologia dominante em uma
pessoa, há momentos mais sensoriais e mais racionais (Villemor-Amaral, 2004). Por
146
exemplo, crianças entre três e seis anos apresentam predomínio da sensorialidade, mas
durante o processo de escolarização os mecanismos racionais começam a dominar. Esse
processo é espontâneo e fundamental para a aprendizagem, pois caso a criança não consiga
se afastar da sensorialidade, ela não terá condições de se manter sentada e pensando
(Vilemor-Amaral 2004).
Wawrzyniak (1982), em seu estudo sobre a adolescência, verificou características
que se aproximavam da psicose, mas que não prediziam a doença; ao contrário, apenas
registravam uma fase da vida marcada por conflitos e distanciamento do real, cujos
aspectos egocêntricos em busca do Eu eram fundamentais para a definição da identidade.
No que se refere aos estudos com pacientes psicopatológicos, diversos autores
buscam compreender quais patologias tendem mais a um pólo do que a outro. Nesses casos,
o foco da análise parte da predominância entre uma das duas tipologias, associado ao seu
mecanismo essencial. Segundo os autores adeptos da psicopatologia fenômeno-estrutural,
as psicopatologias provêm de variações entre os dois pólos de personalidade (esquizo-
racional e sensório-motor), podendo estar mais propícias a um dos extremos ou oscilar
entre os dois pólos (Amparo, 2002; Antúnez, 2004, 2006; Barthelemy, 1987, 1992,
Delaunay, 1977; Helman, 1983, 1984; Miskowska, 1956; Miskowski, 1995, 1997, 1999;
Ternoy, 1990; Villemor-Amaral 2004; Villemor-Amaral, Franco & Farah, 2008;
Wawrzyniak, 1982).
Barthelemy (1992) realizou um estudo com pacientes depressivos e verificou que o
mecanismo predominante na depressão era o de ligação. No entanto, a ligação em si não
necessariamente resultava em integrações bem sucedidas, podendo, ao contrário, originar
imagens sobrepostas, aglutinadas ou fundidas, de modo bastante bizarro e confuso.
147
Amparo (2002) estudou o processo de simbolização em quatro casos de pacientes
esquizofrênicos e verificou que a falha na construção simbólica apresenta raízes primárias
do Eu e do pensamento, organizada por uma linguagem expressiva e não prática. Ou seja, a
forma de simbolização foi permeada por uma lógica que misturava corpo e pensamento,
dificultando os saltos qualitativos entre sensação, percepção, imaginação e linguagem. Nos
quatro casos, o mecanismo do corte produziu um efeito dissociativo em vários níveis,
resultando na abolição do tempo e do espaço vivido, fragmentação do corpo e da imagem,
ambivalência afetiva com impulsividade diante do vermelho e angústia disfórica, discurso
descontínuo e perda do ato de referência.
Antúnez (2004) realizou um estudo com pacientes com transtorno obsessivo
compulsivo e verificou uma tendência para o funcionamento esquizo-racional, embora
ambos os pólos tenham se feito presentes nos pacientes. O mecanismo de corte indicou
desestabilização na tomada de contato com a realidade, distanciamento frente à percepção
de estímulos cromáticos, raciocínio mórbido e uma afetividade não vivida sendo descrita
somente de forma racional. Segundo o autor, a não padronização dos pacientes obsessivos
entre um dos dois pólos pode ter sido consequência de um número pequeno de participantes
ou devido à comorbidade de patologias.
Villemor-Amaral, Franco e Farah (2008) verificaram a ocorrência de mecanismos
ou dinâmicas típicas de pacientes com transtorno de pânico. Os resultados não
demonstraram um padrão de funcionamento psíquico nos pacientes, mas evidenciaram
queda de qualidade e deslizes de pensamento diante da oscilação entre os mecanismos de
corte e ligação. Quando o estilo predominante era o sensório-motor o fracasso da oscilação
se dava no mecanismo de corte, diferentemente do estilo esquizo-racional, que demonstrava
fracasso diante do mecanismo de ligação. As autoras concluem que uma avaliação de
148
personalidade, segundo a psicopatologia fenômeno-estrutural, precisa investigar tanto o
mecanismo de base e a qualidade de seu emprego quanto a flexibilidade e emprego do
mecanismo oposto.
Dessa forma, o método fenomenológico propõe caminhos para a compreensão da
organização mental, visando respeitar a complexidade do real e encontrar o sentido dentro
do próprio fenômeno psíquico. O psicodiagnóstico de Rorschach é um instrumento
adequado para entender a forma como se desenvolvem os princípios mais profundos de
ordem estrutural, pois as verbalizações tornam o mental algo físico e visível, permitindo
uma maior compreensão dos diferentes modelos de raciocínio mental.
Segundo Helman (1983), o Método de Rorschach apresenta a vantagem de ser
padronizado, o que reduz vieses metodológicos e possibilita a generalização de informações
e comparações de modos de funcionamento psíquico. A autora alerta sobre a importância
de anotar todas as verbalizações exatamente como foram pronunciadas, pois a presença de
artigos, verbos, adjetivos, substantivos, entre outros, utilizados de forma correta ou a
incorreta, pode revelar características essenciais sobre a personalidade. Já Minkowska
(1956) alerta para o fato de que mais importante do que anotar o que a pessoa diz é anotar a
forma como ela diz, assim como a maneira como ela vê é mais importante do que o que ela
vê.
Assim, o Método de Rorschach apresenta uma combinação perfeita, que une a
linguagem oral com o reconhecimento de imagens, possibilitando a investigação das noções
de espaço e tempo vivido, pois a forma de se comunicar revela a qualidade do
processamento mental e o ato de ver apreende a qualidade da percepção de imagens,
evidenciando o sentido comum entre contato vital e a realidade (Helman 1984).
149
Partindo das mesmas características propostas pela tarefa do Rorschach, o Teste de
Zulliger (Villemor-Amaral & Primi, 2009) também parece ser útil para esse tipo de análise,
pois a linguagem oral e a evolução das imagens também são contempladas na tarefa do
Zulliger. Acredita-se, portanto, que o Zulliger também possa revelar valiosas informações
sobre as manifestações internas, permitindo uma aproximação peculiar do sofrimento
vivido e possibilitando conhecer o modo como operam as perturbações mentais expressas
no ambiente.
O objetivo desse estudo é, portanto, verificar se a psicopatologia fenômeno-
estrutural é uma abordagem eficiente para compreender o mundo interno dos pacientes
psiquiátricos que foram submetidos ao ZSC. Além disso, o presente estudo também tem
como proposta investigar a convergência ou a divergência do raciocínio clínico a partir de
dois referenciais teóricos distintos, psicopatologia fenômenos-estrutural e psicanálise.
150
MÉTODO
Foram utilizados no estudo quarenta protocolos de pacientes psiquiátricos, os quais
foram sorteados aleatoriamente do banco de dados do Laboratório de Avaliação Psicológica
em Saúde Mental (LAPSaM). Todos os protocolos sorteados foram digitalizados e
traduzidos para o francês, pois parte das análises foram realizadas na França. O profissional
que realizou as traduções se manteve fiel ao modo como os pacientes se expressaram, já
que para a análise, segundo a psicopatologia fenômeno-estrutural, a linguagem oral reflete
o modo de funcionamento do pensamento da pessoa. Concluído o processo da tradução,
todos os protocolos foram revisados minuciosamente e comparados com os protocolos
redigidos na língua portuguesa.
A princípio, os participantes sorteados tiveram seu quadro nosográfico omitido dos
especialistas que realizaram as análises do Zulliger. Esse procedimento foi utilizado para
evitar desvios durante o processo de avaliação. Depois que as análises do estudo foram
concluídas, verificou-se que a amostra foi composta por 7 pacientes alcoólicos, 4
depressivos, 10 esquizofrênicos, 5 pânico, 9 somatoforme e 5 pacientes com TOC. Todos
os participantes haviam respondido à tarefa do Zulliger de forma individual e no tempo
médio de 1 hora e 30 minutos, incluindo aí a SCID-I que é uma entrevista semi-estruturada
que qualifica os sintomas patológicos de acordo com os critérios do DSM-IV.
Instrumentos
O Zulliger insere-se no grupo das técnicas com estímulos não estruturados e tem
como objetivo apreender informações sobre a personalidade. O Zulliger se assemelha ao
Método de Rorschach no que diz respeito ao estilo dos estímulos. As manchas de tinta são
simétricas e diferentes em cada cartão, sendo a primeira em preto e branco e de forma mais
151
compacta, a segunda colorida e a terceira em preto, branco e vermelho. As duas últimas
pranchas apresentam uma característica própria mais fragmentada.
O diapositivo I é considerado um estímulo que representa a capacidade de adaptação
inicial do sujeito diante de uma situação nova. O diapositivo II mobiliza sentimentos de
insegurança e o sistema afetivo emocional, por conter estímulos coloridos verdes, marrons
e tonalidades claras e fortes de vermelho com vários espaços em branco. E o diapositivo III,
semelhante ao cartão III do Rorschach, representa a capacidade de relacionamento
interpessoal, criatividade e empatia (Mattlar, Sandahl & cols., 1990; Vaz, 1998; (Villemor-
Amaral & Primi, 2009).
Critérios para classificação e interpretação das respostas do Zulliger segundo a
psicanálise e a psicopatologia fenômeno-estrutural
Todos os protocolos foram classificados conforme as instruções padronizadas no
manual do Zulliger segundo o Sistema Compreensivo de Exner (Villemor-Amaral & Primi,
2009). Concluído o processo de classificação das respostas, o Sumário Estrutural foi
preenchido com o intuito de localizar as variáveis extremadas, acima ou abaixo da média.
Nessa etapa, priorizaram-se os aspectos estruturais das respostas, ou seja, os aspectos
quantitativos das variáveis. Todas as variáveis seguiram um modo objetivo, ordenado e
sistemático, cuja interpretação foi produto de um trabalho gradual, no qual foram criadas
hipóteses sobre a organização psíquica do paciente.
Essa objetividade diante da codificação das respostas é importante para as duas
abordagens teóricas, mas para os adeptos da psicopatologia fenômeno-estrutural a
classificação não supera o que a análise da linguagem possa trazer de contribuição para a
compreensão do universo mental do indivíduo. Nesse sentido, para a psicopatologia
fenômeno-estrutural os códigos atribuídos às respostas são levados em consideração
152
principalmente por permitirem a identificação das características da percepção e da visão
em imagens, sendo raramente considerados por sua qualidade quantitativa.
As diferenças entre uma abordagem e outra são muitas, mas de forma geral a análise
de fundamentação psicanalítica interpreta o conteúdo temático das respostas considerando
os aspectos projetivos das verbalizações. Os conteúdos das respostas expressam interesses,
necessidades e preocupações dos indivíduos, indicando temas importantes da vida do
examinando. As manchas de tinta evocam a fantasia, revelando elementos do mundo
subjetivo e inconsciente da pessoa.
A psicanálise considera que os conteúdos projetivos das respostas estão ligados às
fases do desenvolvimento psíquico, incluindo os processos primários, que são modos de
funcionamento ligados ao prazer, e os processos secundários, que levam em conta os
princípios da realidade. Nos processos primários avalia-se a dinâmica da libido e a fixação
em uma das fases (oral, anal e genital). Por exemplo, se uma pessoa verbaliza temas ligados
à fase oral provavelmente haverá registros de respostas do tipo: seio, boca, alimento, entre
outras coisas ligadas à imago feminina (Weiner, 2000).
Para os processos secundários, o mundo imaginário, que é carregado de lembranças
afetivas, é confrontado com o mundo externo, que é repleto de limites impostos pela
realidade, e é a partir da flexibilidade com que são feitas as transições entre os mundos que
a personalidade pode ser compreendida. As análises qualitativas evidenciam, portanto,
aspectos da organização mental dos indivíduos, constituindo uma forma de projeção ou
expressão que permite captar sentimentos e representações mentais que perturbam o
equilíbrio interno das pessoas.
Por exemplo, um indivíduo, frente a uma situação do teste, pode regredir a estágios
mais infantis ou primários, no sentido Kleiniano do termo, revelando desejos latentes do
153
inconsciente. Certas respostas ou atitudes podem expressar as representações do seio
materno, seja por meio da imagem de uma mãe boa que cuida e alimenta seu filho, seja pela
percepção de um leite negro e envenenado que é visto em uma das pranchas do ZSC,
simbolizando as angústias vividas diante de uma mãe má.
A análise, segundo a psicanálise, tem mais a ver com as imagos internas e com os
climas de cada prancha. Cada estímulo apresenta características intrínsecas que provocam
percepções comuns e compartilhadas com mais frequência. A prancha I do Zulliger, por ser
compacta, acromática e com misturas de tonalidades escuras, costuma mobilizar situações
de angústias. O clima é pesado, difícil de ser processado e está associado com a situação de
adaptação frente à tarefa inusitada de dizer o que uma mancha de tinta poderia ser. Tudo o
que acontece na prancha I está marcado pelas facilidades ou dificuldades vivenciadas para
dar conta de realizar uma tarefa estranha.
Na prancha II, as cores vermelho, verde e marrom despertam reações em relação aos
aspectos afetivos, verificando o quanto o examinando é tocado pelas cores, o quanto ele
expressa e o modo como expressa os afetos. É uma prancha bastante estimulante, que põe a
prova o modo como a pessoa lida com os impulsos afetivos. A prancha III é facilmente
associada ao humano, que é considerado popular (D3). É uma prancha fácil, banal e avalia
o interesse pelas relações interpessoais. Nessa prancha, as pessoas tendem a se recuperar do
impacto negativo desencadeado pelas pranchas anteriores. Assim, as análises qualitativas
identificam tanto as dificuldades quanto os recursos internos, possibilitando compreensões
mais profundas sobre o inconsciente da pessoa.
Para a psicopatologia fenômeno- estrutural, o modo pelo qual a pessoa verbaliza a
resposta revela o valor da experiência, trazendo à tona a percepção subjetiva diante do
sofrimento existente. As experiências vividas são compreendidas no presente e o modo
154
como o funcionamento psíquico opera pode ser apreendido pelo esquema estrutural da frase
verbalizada. A maneira como a pessoa fala revela, por meio de elementos concretos e
visíveis, a qualidade de seu mundo interno. Por exemplo, para uma resposta do tipo ‘arma
pré-histórica’ a interpretação, segundo a psicanálise, parte do conteúdo agressivo e
primitivo contido na frase; já segundo a psicopatologia fenômeno-estrutural, a marca
principal está na ausência de aspectos sensoriais e o distanciamento no tempo, refletindo
um funcionamento do tipo esquizo-racional (Villemor-Amaral, 2004).
Assim, em todas as verbalizações os mecanismos de ligação e corte podem ser
percebidos e indicam tendências a uma tipologia de base. Mas para uma melhor
compreensão do modo como as análises foram feitas, iremos detalhar alguns signos que
ajudam o leitor menos familiarizado com essa abordagem a identificar os mecanismos de
corte e ligação frente às verbalizações do ZSC.
Para o mecanismo de corte, qualquer um dos seguintes indicadores revela o
distanciamento do tempo e as abstrações do pensamento, típicos da tipologia esquizo-
racional: respostas de conteúdos para-humanos ou para-animais [(A); (Ad); (H); (Hd)];
palavras com maior nível de abstração; poucos artigos; aumento de substantivos; respostas
globais; respostas de forma (F; FD; FC’; FC); respostas de conteúdo anatômico (An);
referência a objetos separados, partidos, cortados em dois ou simétricos, desde que a
adequação da forma esteja preservada; presença de espaço (S); referência ao passado;
substituição de uma imagem por um conceito teórico e percepção da imagem sem detalhes;
presença de verbalizações truncadas ou vagas; mecanismos de racionalização inadequados;
estabelecimento de relações entre elementos que naturalmente não costumam estar
relacionados; contradição em uma frase em que aparecem adjetivos ou substantivos com
sentidos opostos - por exemplo, o uso de um substantivo feminino agradável (borboleta) ao
155
lado de outro substantivo masculino desagradável (morcego), ou contradições mais
explícitas, como fogo e gelo; substituição ou instabilidade de imagens e referência a
elementos mutilados, desvitalizados, desintegrados, com ausência de volume, havendo
muitas vezes distorção significativa na percepção da forma.
Com relação ao mecanismo de ligação, o critério adotado foi a presença de qualquer
um dos seguintes indicadores: respostas de movimento; respostas que envolvem a cor;
respostas de conteúdos reais (A; Ad; H; Hd); palavras que indicam objetos concretos, por
exemplo, utilizar a palavra leão na prancha VIII, que se refere a um objeto concreto, em
oposição ao termo quadrúpede, na mesma prancha, com características mais abstratas e
racionais; aumento de verbos; estabelecimento de relações entre elementos naturalmente
distantes da mancha; respostas com reações afetivas a cor e tonalidades (C; Y; V; T);
verbos no gerúndio; utilização de metáfora ao invés de símbolos - a metáfora é a
substituição de um objeto concreto por outro que o represente, enquanto a simbolização
envolve um processo mais complexo de abstração; integrações de partes da macha sem
distorção da forma; aderência da imagem; elaboração da percepção feita de forma lenta,
detalhada e progressiva e ações expressas por mímicas e movimentos durante o exame;
presença de aglutinação e superposição de imagens; continuidade da idéia ou da imagem de
um estímulo para outro; verbalizações confusas.
Depois que o processo de análise qualitativa de dados foi finalizado, as teorias
foram confrontadas a fim de verificar a convergência ou divergência das informações e
todos os diagnósticos nosográficos foram revelados e incluídos durante a fase que
comparou os dados. As duas abordagens de fundamentação teórica distintas foram
confrontadas com o diagnóstico psiquiátrico dado previamente pela SCID-I.
156
Todos os protocolos receberam pontuações distintas; nos casos em que as
abordagens convergiram com a SCID-I a pontuação foi representada pelo valor 3. Quando a
convergência era parcial, ou seja, dava-se em pelo menos dois critérios, psicanálise e
psicopatologia fenômeno-estrutural, psicanálise e SCID-I, psicopatologia fenômeno-
estrutural e SCID-I, a pontuação era representada pelo valor 2. Nos casos em que as
abordagens divergiram da SCID-I a pontuação foi representada pelo valor 1. Todos os
resultados foram descritos por percentagens e discutidos em seguida.
157
RESULTADOS
A seleção de alguns trechos dos casos foi feita com a intenção de não sobrecarregar
o leitor com excesso de dados, mas todos os protocolos estão disponíveis no Anexo 2. Entre
os casos que apresentaram convergência nos três critérios de análise, psicanálise,
psicopatologia fenômeno-estrutural e SCID-I, observa-se, na Tabela 13, que a
psicopatologia somatoforme foi a que mais convergiu com os três critérios de comparação,
perfazendo um total de 77% dos casos. Logo após, com 60% de concordância clínica,
encontra-se o diagnóstico da esquizofrenia. Em relação ao total de convergências, observa-
se que 37,5% dos casos obtiveram concordância nos três critérios correlacionados.
Tabela 13: Convergência total do raciocínio clínico.
SCID-I Convergência Total
F %
7 pac. alcoo. 1 caso 14 %
4 pac. dep. 0 caso 0 %
10 pac. esquizo 6 casos 60 %
5 pac. TOC 1 caso 20 %
5 pac. pânico 0 casos 0 %
9 pac. somato. 7 casos 77%
40 pac. no total 15 casos 37,5%
Ao comparar os protocolos que receberam o diagnóstico do transtorno
somatoforme, observou-se alguns indicadores de cada abordagem que contribuíram para tal
predição. Entre eles destaca-se, segundo os pressupostos da psicopatologia fenômeno-
estrutural, a elevada frequência de respostas anatômicas, na prancha II, sem uso do
158
determinante de cor. Esse dado, conforme demonstra a Tabela 14, repetiu-se em 77% (F=7)
dos casos de somatoforme, revelando que os impulsos afetivos desses pacientes não estão
sendo expressos, apesar de serem percebidos.
Para ilustrar os indicadores que auxiliaram nas análises, algumas respostas foram
destacadas dos protocolos, que estão disponíveis na íntegra no Anexo 2. No estudo do caso
A, prancha II/ resposta 3, observa-se que as cores são mencionadas apenas para indicar ao
examinador o lugar em que a imagem foi vista. “A parte de cima representa uma chapa de
pulmão. Essa parte mais vermelha de dentro parece raios-x e esse branco parece as
costelinha” (sic).
O mesmo acontece no estudo do caso B, que faz referência à cor apenas para
localizar sua percepção - prancha II/ resposta 2: “Aquele vermelho ali tá parecendo um
estômago. O vazio do meio e as laterais que nem uma radiografia” (sic). No estudo do caso
C, a cor vermelha é vista de imediato, mas as percepções são associadas ao uso da forma e
não da cor - prancha II/ resposta 4: “No vermelho, quando se faz exame de estômago. É
como se fosse a parte do estômago. Essas manchas que tem aí no meio e quando você faz
exame vê no computador” (sic). No estudo do caso D, a cor é mencionada de forma
indireta, parecendo mais um comentário do que um aspecto de sua percepção - prancha II/
resposta 2: “Esqueleto, tá parecendo o esqueleto de uma espinha, né? Pelo jeito da
figura...pelo jeito do desenho, de ser colorido e ter esse desenho em branco aí” (sic). Em
todos os casos, o que se observa é a omissão da cor associada ao conteúdo anatômico,
revelando a dificuldade de expressão emocional e sua substituição por idéias ligadas às
experiências corporais, característica dos quadros somatizadores.
Nos casos seguintes, observa-se que os conteúdos anatômicos mencionados,
normalmente, estão atrelados às cores, mas o caso E não faz nenhuma referência ao
159
vermelho - prancha II/ resposta 3: “Útero, de repente aqui poderia ser o útero, mas não é
também, trompas, não sei, dá impressão pela localização, está um ao ladinho do outro.
Talvez o órgão sexual vaginal da mulher. O desenho aberto assim. É como se estivesse
aberta ela pra mostrar” (sic). Nem no caso F a cor entra como determinante de sua resposta
- prancha II/ resposta 6: “Uma costela, né? Tem uns rainhos assim do lado, parece o corpo
da gente” (sic). O caso G, por sua vez, além de negar a influência da cor branca, utiliza um
termo impreciso, “coisinhos”, para justificar sua percepção - prancha II/ resposta 2: “Aqui
em cima me lembra um pulmão. Parece aquela separação que tem no pulmão. Parece uma
costela. Esses coisinhos parecem costela e embaixo é o rim” (sic).
Em relação aos indicadores apreendidos pelo Sistema Compreensivo e interpretados
segundo os pressupostos da psicanálise, destacam-se o conteúdo de anatomia, C’ e Y. Esses
indicadores, conforme a Tabela 14 ilustra, apareceram em 77% dos casos, sendo as
respostas anatômicas associadas ora com o determinante C’, perfazendo um total de 44%
(F= 4) dos casos, ora associada com o determinante Y, perfazendo um total de 33% (F=3)
dos casos.
Os indicadores, apesar de serem relativamente diferentes do ponto de vista
interpretativo, são coerentes com a psicodinâmica dos pacientes somatoformes. O C’ revela
uma pessoa que não consegue expressar seus afetos e o Y revela a presença de angústia.
Enquanto o C’ indica que a pessoa vive sob efeito de uma paralisia afetiva, o Y sinaliza que
a pessoa está tão angustiada que não consegue reconhecer os afetos que a deixam agoniada.
Independentemente da ocorrência entre o indicador C’ ou Y, o fato é que os pacientes
somatoformes não expressam seus afetos de forma adequada. Os sentimentos são
substituídos ou deslocados para preocupações com o corpo.
160
Do ponto de vista qualitativo, as verbalizações emitidas pelos pacientes foram um
ponto de intersecção entre a psicopatologia fenômeno-estrutural e a psicanálise e embora as
interpretações recebam embasamento teórico distintos, alguns sinais foram destacados de
forma similar nos sete casos analisados. Observou-se, nas verbalizações dos pacientes,
reações de indecisão em quase todas as pranchas, como por exemplo, “nossa, o que é isso”,
“não tenho a menor idéia do que poderia ser”, “não gosto disso”, etc., mostrando que
independentemente da teoria, o impacto emocional sentido frente às pranchas evoca
manifestações reativas, que são compreendidas, segundo os pressupostos da psicanálise,
como uma defesa egóica de repressão ou negação contra os estímulos e, segundo a
psicopatologia fenômeno-estrutural, como uma tentativa de ganhar tempo contra o
surgimento da ansiedade.
Tabela 14: Indicadores que contribuíram para predizer os quadros somatoformes.
Indicadores F % Total Casos (ver anexo 2)
psicopatologia
fenômeno-
estrutural
respostas anatômicas na
prancha II sem uso do
determinante de cor.
7 77% 77% caso A, caso B, caso
C, caso D, caso E,
caso F, caso G.
verbalizações que
expressavam reações de
indecisão
7 77% 77% caso A, caso B, caso
C, caso D, caso E,
caso F, caso G.
psicanálise e
S.C.
resposta anatômica
associada com C’
4 44% 77% caso B, caso D,
caso E, caso F
resposta anatômica
associada com Y
3 33% caso A, caso C, caso
G
verbalizações que
expressavam reações de
indecisão
7 77% 77% caso A, caso B, caso
C, caso D, caso E,
caso F, caso G.
161
Em relação ao diagnóstico da esquizofrenia, o indicador que mais revelou a
dinâmica desses pacientes foi o discurso oral, conforme demonstra a Tabela 15. As
verbalizações revelaram perturbação do pensamento e da percepção da realidade. O
discurso foi pobre de associações e as idéias eram delirantes. As imagens estavam
relacionadas a objetos despedaçados, partidos ou cortados, resultando, portanto, em um
estilo de funcionamento psíquico marcado por fragmentações, segundo a psicanálise, ou
cortes, segundo a psicopatologia fenômeno-estrutural.
Para demonstrar que a organização do pensamento dos esquizofrênicos é marcada
por fragmentações e cortes, algumas respostas foram destacadas. No estudo do caso H, a
resposta anatômica - prancha II/ resposta 3: “Uma coisa do corpo humano isso aqui. Uma
boca...laringe. É isso!” - foi vista em uma área pouco frequente e o aspecto formal era
negativo, evidenciando que a percepção concomitante de boca e laringe é incongruente e
mistura o interno e o externo, e demonstrando que as fronteiras e os limites não estão bem
definidos.
No estudo do caso I, há a referência à interrupção do tempo, ao mecanismo de corte,
por meio da palavra “morte”, e a justificativa frente a sua percepção é vaga e imprecisa –
prancha II/ resposta 3: “Um cachorro morto. Os olhos dele aqui e essas coisas aqui. O jeito
do desenho, né? Essa mancha aqui (aponta circulando). O jeito dele ter essas coisas aqui.”
(sic)
No estudo do caso J, o que chama atenção, segundo a psicopatologia fenômeno-
estrutural, são as racionalizações inadequadas e a forma confusa das frases; já segundo a
psicanálise, o conteúdo sexual e referências a imago feminina são compreendidas como
preocupações subjetivas sobre o papel materno - prancha I/ resposta 1: “Vagina neste
escuro, e o ânus embaixo, e aqui o bumbum. Eu tô acostumada a limpar o bumbum de
162
neném, é parecido”. Prancha I/ resposta 2: “Aqui parece o formato de um coração. Uma
mulher tirou uma foto de uma flor, e ela tirou a foto e saiu um coração vermelho. Eu
lembrei que parece igual”. Prancha III/ resposta 5: “Um rosto de uma criança de desenho
(...) de desenho, não está formado o rosto dela ainda. Aqui parecem os olhos, a boca, o
queixo, aqui o cabelo. O desenho que a gente faz na escola, aqueles desenhos de trancinha”
(sic).
No estudo do caso L, o discurso é primitivo e as percepções são justificadas por
partes soltas - prancha II/ resposta 5: “Macaquinho. O que te deu a idéia de macaquinho?
Cabeça e pé”. Na prancha III/ resposta 6, “Barata preta. A boca vermelha e os lados da
barata”, embora a percepção seja a de um animal concreto, “barata”, e sua justificativa
tenha levado em conta as cores acromáticas e cromáticas, a integração da boca vermelha,
além de não ser adequada para esse animal, evidência dificuldades para reconhecer os
limites do objeto, limitando a adaptabilidade do examinando frente à realidade.
No estudo do caso M, observa-se que a imagem do humano, embora banal na
prancha III, vem associada à idéia da desintegração - prancha III/ resposta 6: “Parece
um...um resto de uma pessoa, parece uma cabeça assim aqui, aqui um braço, aqui uma
perna”. Essa resposta ilustra a presença do mecanismo de corte, segundo a psicopatologia
fenômeno-estrutural, mas segundo os pressupostos da psicanálise também ilustra a cisão
egóica.
Por último, o estudo do caso N ilustra o típico pensamento dos pacientes
esquizofrênicos. A forma como o discurso é organizado revela uma psicodinâmica
desintegrada, delirante e repleta de alucinações auditivas. Na prancha I/ resposta 1: “Um
pulmão espetado. Aqui nesse branco, quando o pulmão abre e fecha para respirar e
espetadinho de pau”. Na prancha I/ resposta 2: “Um drácula em metamorfose para vampiro.
163
Aqui a cabecinha, o olhinho parece o drácula”. Na prancha I/ resposta 3: “Uma flor. Eu vi
uma flor assim, parece a que eu plantei no jardim, ela é cor de rosa de verdade, mas aqui o
que lembra é o jeito dela”. Na prancha II/ resposta 4: “É a cabeça daquele desenho. O
ombro é do mesmo jeito. Você já tirou raios-X, o formato é o mesmo e o ouvido também”.
Na prancha II/ resposta 5: “Um homem que levou um tiro no ombro, parece que aqui do
lado sai um ouvido e aqui outro. É a continuação do outro, é a cabeça dele”. Na prancha III/
resposta 7: “A parte mais fácil de todas. Uma pessoa sendo torturada e com o tímpano
estourado. Olha a pessoa, a cabeça, o vermelho parece sangue, atiraram nele e pifou o
cérebro”. (sic)
Tabela 15: Indicadores que contribuíram para predizer a esquizofrenia.
Indicadores F % Casos (Anexo 3)
psicopatologia
fenômeno-
estrutural
mecanismo de corte;
distanciamento do tempo;
abstrações do pensamento; poucos
artigos; aumento de substantivos;
referência a objetos separados,
partidos, cortados; racionalização
inadequada; instabilidade de
imagens.
6 60% caso H, caso I
caso J, caso L,
caso M, caso N
psicanálise e
Sistema
Compreensivo
presença de verbalizações
truncadas e incoerentes; referência
a elementos mutilados,
desvitalizados, desintegrados,
havendo muitas vezes distorção
significativa na percepção da
forma.
6 60% caso H, caso I
caso J, caso L,
caso M, caso N
Ao comparar os casos que apresentaram convergência parcial em pelo menos dois
critérios de análise, psicanálise e psicopatologia fenômeno-estrutural ou psicanálise e
SCID-I ou psicopatologia fenômeno-estrutural e SCID-I, observa-se, na Tabela 16, que a
164
psicopatologia do TOC foi a que mais convergiu em pelo menos dois critérios de
comparação, perfazendo um total de 80% dos casos. Logo após, com 72% de concordância
parcial, encontra-se o diagnóstico do alcoolismo. Em relação ao total de convergências
parciais, observa-se que 37,5% dos casos obtiveram concordância em pelo menos dois
critérios de comparação.
Tabela 16: Convergência parcial do raciocínio clínico.
SCID-I Convergência Parcial
F %
7 pac. alcoo. 5 casos 72 %
4 pac. dep. 1 caso 25 %
10 pac. esquizo 3 casos 30 %
5 pac. TOC 4 casos 80 %
5 pac. pânico 1 casos 20 %
9 pac. somato. 1 casos 11,5%
40 pac. no total 15 casos 37,5%
Entre as duas abordagens teóricas, observa-se, na Tabela 17, que a psicopatologia
fenômeno-estrutural foi a que mais convergiu com os diagnósticos propostos pela SCID-I.
As interpretações oferecidas pela psicopatologia fenômeno-estrutural mostram
correspondência com a SCID-I em sete casos: caso O, caso P, caso K, caso Q, caso R, caso
JZ e caso S, perfazendo um de total 47% dos casos. Em relação à psicanálise, observa-se
que em 33% dos casos, caso T, caso U, caso V, caso T, caso X e caso S, houve
correspondência com os diagnósticos oferecidos pela SCID-I. No que se refere à
convergência entre psicanálise e psicopatologia fenômeno-estrutural, observa-se que 20%
165
dos casos, caso W, caso Y e caso Z, obtiveram compreensões semelhantes, porém
divergentes quando comparadas com o diagnóstico proposto pela SCID-I. Os argumentos
que justificam tais correspondências precisam ser averiguados de forma mais detalhada em
futuras investigações. No momento, o único dado oferecido pela Tabela 17 indica que a
avaliação do discurso oral, principal material de análise da psicopatologia fenômeno-
estrutural, é um procedimento que parece coincidir mais com os aspectos examinados pela
SCID-I.
Tabela 17: Casos de convergência parcial
Casos psicanálise psicopatologia
fenômeno-
estrutural
SCID –I Abordagens
convergentes
F %
caso O depressão TOC TOC
7 casos
47%
caso P Esquizofrenia alcoolismo Alcoolismo
caso K Esquizofrenia alcoolismo Alcoolismo
caso Q Alcoolismo esquizofrenia Esquizofrenia
caso R Alcoolismo esquizofrenia Esquizofrenia
caso JZ depressão TOC TOC
caso S TOC somatoforme Somatoforme
caso T alcoolismo esquizofrenia Alcoolismo
caso U alcoolismo esquizofrenia Alcoolismo 5 casos
33%
caso V esquizofrenia alcoolismo Esquizofrenia
166
caso X pânico alcoolismo Pânico
caso S depressão somatoforme Depressão
caso W somatoforme somatoforme TOC
3 casos
20%
caso Y pânico Pânico TOC
caso Z esquizofrenia esquizofrenia Alcoolismo
Entre os casos que apresentaram divergência nos critérios de análise, psicanálise,
psicopatologia fenômeno-estrutural e SCID-I, observa-se, na Tabela 18, que a
psicopatologia do pânico foi a que mais divergiu, perfazendo um total de 80% dos casos.
Logo após, com 75% de discordância, encontra-se o diagnóstico da depressão. Em relação
ao total de divergência, observa-se que somente 25% dos casos obtiveram discordância
entre os critérios de comparação.
Tabela 18: Divergência do raciocínio clínico.
SCID-I Divergência Total
F %
7 pac. alcoo. 1 casos 14 %
4 pac. dep. 3 casos 75 %
10 pac. Esquizo 1 casos 10 %
5 pac. TOC 0 casos 0 %
5 pac. pânico 4 casos 80 %
9 pac. somato. 1 casos 11,5 %
40 pac. no total 10 25%
167
DISCUSSÃO
De forma geral, os resultados foram considerados positivos, pois 37,5% dos casos
apresentaram correspondência nas perspectivas da psicopatologia fenômeno-estrutural e da
psicanálise com os diagnósticos estabelecidos pela SCID-I. Esse dado revela que ambas as
abordagens teóricas tendem a compreender o conflito e o sofrimento vivido pelas pessoas
de forma semelhante, embora o processo de investigação e apreensão dos dados não tenha
considerado outros dados clínicos a não ser as respostas dadas ao Zulliger.
Nas duas abordagens, a estrutura e os conteúdos das respostas expressaram
necessidades, interesses e preocupações dos pacientes. Tanto para a psicopatologia
fenômeno-estrutural quanto para a psicanálise, o modo como o discurso foi expresso
revelou informações sobre o modo como o pensamento foi organizado, fazendo da
linguagem oral uma extensão do mundo interno da pessoa. As duas abordagens, embora
fundamentadas de maneira diferente, não foram contraditórias ou incompatíveis; muitas
vezes foram sim complementares, e a análise qualitativa das respostas terminou por ser o
principal ponto de intersecção entre as abordagens.
Independentemente da abordagem teórica, as verbalizações auxiliaram tanto nas
compreensões nosográficas quanto nas idiossincráticas, mostrando que ambas as
abordagens são capazes de apreender fenômenos que podem ser compartilhados por mais
de uma pessoa ou que são tão individuais quanto uma impressão digital. Nos casos do
transtorno somatoforme, observou-se que as reações de indecisão verbalizadas frente às
cores estavam presentes em todos eles, mostrando uma tendência comum entre os pacientes
da mesma categoria nosográfica, enquanto outros aspectos mais idiossincráticos foram
apreendidos pelas duas abordagens teóricas, como ocorreu, por exemplo, no caso N, que foi
o único paciente esquizofrênico que apresentou alucinação auditiva.
168
Outro ponto comum notado nas duas abordagens foi em relação à percepção visual
das imagens. Cada abordagem, respeitando seus próprios pressupostos, chegou ao mesmo
diagnóstico nosográfico, como ocorreu, por exemplo, no estudo do caso M, que viu na
prancha III a imagem de um humano desintegrado: “Parece um resto de uma pessoa” (sic).
Do ponto de vista da linguagem, a idéia da desintegração é compreendida pelas duas
abordagens de forma similar e a palavra “resto” evoca tanto o mecanismo de corte quanto a
desintegração do ego por meio do objeto cindido, típico do funcionamento psicótico.
No entanto, do ponto de vista da evolução das imagens, cada abordagem seguiu um
caminho próprio para interpretar a resposta dada: enquanto a psicopatologia fenômeno-
estrutural considerou a ausência do clichê cinestésico da prancha III importante para indicar
que o contato com a realidade desse paciente é menos sensorial, portanto, menos próximo
da realidade (Minkowska, 1956), a psicanálise (Weiner, 2000) considerou o aspecto
simbólico associado à imagem de humano mais importante do que o aspecto formal da
imagem. Enquanto o conteúdo temático da resposta “resto de pessoa” expressa desinteresse
pelas relações interpessoais, segundo os pressupostos da psicanálise, a forma imprecisa da
imagem expressa a dificuldade do paciente para delimitar de forma nítida o contorno do
objeto, o que sinaliza uma perturbação perceptiva, segundo a psicopatologia fenômeno-
estrutural.
Em relação às convergências parciais, os resultados também foram considerados
positivos, uma vez que 37,5% dos casos apresentaram correlações em pelo menos dois
critérios de análise. Ao comparar os resultados, verificou-se que um mesmo indicador pode
ser aplicado a mais de um quadro nosográfico; por exemplo, as respostas anatômicas foram
frequentes tanto nos quadros somatoformes quanto nos quadros de pânico e TOC. A
decisão entre um diagnóstico e o outro dependeu da análise integrada entre todas as
169
variáveis do ZSC, identificando aspectos distintos do funcionamento de cada pessoa. No
caso JZ (Anexo 4), observou-se a presença de respostas anatômicas, mas que não foram
verbalizadas na prancha II, sendo essa característica, até então, exclusiva dos
somatoformes. No entanto, a presença de respostas anatômicas evidenciou preocupações
exageradas quanto ao funcionamento fisiológico do corpo, o que pode ser coerente com a
dinâmica tanto do pânico quanto do TOC. Se, por um lado, o caso JZ apresenta respostas
ambivalentes, típicas do funcionamento de pacientes com TOC, por outro lado, o aumento
de repostas mórbidas representa um funcionamento típico da depressão - prancha II/
resposta 6: “O vermelho uma fonte de vida e o marrom uma coisa ruim que não me causa
boa impressão” (....) “Se olhar só o marrom eu não gosto, mas se olhar no conjunto eu
gosto pois a terra é uma coisa boa, representa natureza”. Prancha III/ resposta 7: “Parece
dois fantasmas brigando por um pedaço de vida, vermelho, como se eles destroçassem uma
vida e jogassem pedaços para os lados. Como se o mal lutasse por um pedaço do bem que
pudesse nutri-los” (...) “Como se eles arrancassem pedaços de uma borboleta e jogassem
fora. Aqui uma borboleta, um símbolo da vida, apesar deles estarem destruindo.” (sic)
Assim, o diagnóstico de TOC atribuído pela psicopatologia fenômeno-estrutual se
guiou pelo estilo ambivalente das respostas, o que desestabiliza o contato com a realidade.
Já a psicanálise se guiou pela carga projetiva mórbida das respostas e sugeriu o diagnóstico
da depressão. Como no estudo do caso JZ, outros casos também geraram dúvidas sobre o
diagnóstico nosológico, o que limitou a convergência entre os três critérios de análise.
Em relação às divergências encontradas nas análises qualitativas, observou-se que
somente 25% dos casos não apresentaram correlação entre os critérios comparados. Os
motivos de tais divergências são variados e precisam ser investigados caso a caso. Ao
analisar tais divergências, observou-se que os protocolos evidenciavam um funcionamento
170
psíquico menos comprometido, podendo descrever qualquer quadro nosográfico em fase de
recuperação ou mesmo em não-pacientes. Em outros casos, observou-se que a economia de
energia desprendida para executar a avaliação dificultou a sugestão para um tipo de
diagnóstico. Em outras palavras, o dado mais importante sobre as divergências é que elas
foram minoria quando comparadas com as convergências, mostrando que a sensibilidade
clínica ainda é um procedimento eficiente e, talvez, indispensável durante os processos de
avaliação com o uso de técnicas projetivas.
171
CONCLUSÃO
O presente estudo revelou convergência entre as análises qualitativas. Os resultados
foram compreendidos de forma positiva, em primeiro lugar, porque as análises foram
realizadas às cegas e, em segundo lugar, porque as poucas respostas dadas às três pranchas
do Zulliger não constituem a realidade do trabalho clínico, que utiliza um espectro maior de
dados sobre um indivíduo para fazer seus diagnósticos e orientar tratamentos. Mesmo
diante de um recorte bastante reduzido, os resultados demonstraram que o papel do
psicólogo é fundamental para compreender a personalidade, provando que a sensibilidade
clínica, fruto da experiência prática, é um valioso recurso que sustenta a validade do
material apreendido pelo método de Zulliger.
172
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dentre as estratégias de avaliação, a utilização de instrumentos psicológicos se faz
necessária em diversas situações e a aplicação de métodos projetivos vem a ser um dos
recursos mais eficazes para gerar dados sobre a personalidade. Nesse contexto, o domínio
do psicólogo sobre as ferramentas é tão necessário quanto o seu conhecimento sobre as
teorias que estudam o psiquismo. A responsabilidade do profissional ao realizar avaliações
eficazes depende da familiaridade que tem com a técnica escolhida. A qualidade da
aplicação durante a coleta de dados é uma das fases mais importantes da avaliação, pois se
as instruções recomendadas pelos manuais não estiverem claras e padronizadas as
aplicações poderão ser executadas de forma subjetiva e variada, comprometendo o processo
de investigação.
Quando uma aplicação não segue as regras padronizadas, a confiabilidade quanto à
interpretação dos dados fica comprometida. Assim, o rigor científico exigido diante dos
métodos projetivos começa pela qualidade das informações contidas nos manuais. Cada
manual deve apresentar uma sessão que discuta a qualidade psicométrica do teste,
indicando os procedimentos empregados para atingir a validade e a estabilidade das
informações que o teste pretende avaliar. Geralmente, os estudos de validade são os mais
importantes, pois tratam dos fundamentos empíricos que dão legitimidade às interpretações
da personalidade. Todas as inferências sobre a personalidade precisam ser questionadas e
comprovadas por meio de pesquisas empíricas que utilizam métodos científicos adequados,
de modo a caracterizar a validade dos instrumentos.
No caso do Zulliger, o meio de se observar a manifestação de características
psicológicas se dá no momento em que a pessoa comenta o que percebe nas manchas de
173
tinta. Normalmente, a pessoa apreende as semelhanças estruturais do estímulo, tais como
intensidade, cor, tamanho, forma, textura etc. e diante dessas percepções se torna possível
inferir características psicológicas que levam em consideração os processos perceptivos
associados aos processos dinâmicos intrapsíquicos. A combinação do que a pessoa diz e a
forma como diz revelam a qualidade de seus aspectos cognitivos, afetivos e interpessoais.
O Zulliger tem se desenvolvido de forma progressiva entre os profissionais que o
conhecem e a maioria dos estudos conduzidos no Brasil vem sendo fundamentada a partir
do sistema de Bruno Klopfer (1936, citado por Vaz, 2002), com destaque também para os
estudos de Freitas (1996) e Vaz (1998). Porém poucos autores se dedicam à investigação
desse instrumento na perspectiva do Sistema Compreensivo de Exner, apesar de existirem
inúmeras vantagens em adaptar o Zulliger ao Sistema Compreensivo e os estudos
realizados há mais de 30 anos com o Método de Rorschach comprovarem a cientificidade e
utilidade do Sistema desenvolvido por Exner.
Desse modo, a presente tese apresentou três estudos de validade para a técnica de
Zulliger no Sistema Compreensivo. Foram realizados três procedimentos diferentes e cada
um deles despertou novos questionamentos que instigam a continuidade da pesquisa em
relação à validade desse método projetivo.
No primeiro estudo, intitulado de “validade preditiva das Constelações do Sistema
Compreensivo do Rorschach aplicadas no ZSC”, procurou-se verificar a capacidade
preditiva do Zulliger para o diagnóstico da depressão, esquizofrenia, transtorno obsessivo
compulsivo (TOC) e transtorno de pânico. Foi utilizado como critério externo de
diagnóstico a SCID-I e como indicadores para os quadros nosográficos as Constelações do
Sistema Compreensivo. Os resultados indicaram que as Constelações não confirmam os
diagnósticos previstos pela SCID-I; portanto, foi utilizado um segundo procedimento
174
estatístico, a análise exploratória, como alternativa para se compreender os motivos que não
possibilitaram que as mesmas Constelações do Rorschach no Sistema Compreensivo
fossem indicadores úteis para predizer os quadros nosográficos no Zulliger.
Os resultados da análise exploratória diferenciaram os grupos clínico e de não-
paciente, principalmente nos casos mais extremados, como a esquizofrenia e o TOC. Os
indicadores que mais expressaram os sinais de desequilíbrio afetivo e cognitivo dos
esquizofrênicos foram o determinante de cor pura e a qualidade evolutiva vaga (DQv). Já
para os pacientes com TOC, as respostas de sombreado difuso e o conteúdo de natureza
foram os indicadores mais significativos. Em relação ao grupo clínico da depressão,
observou-se mais qualitativamente as diferenças entre os grupos e verificou-se que o grupo
de não-pacientes também apresentava indicadores depressivos. No caso do pânico, houve
indicadores significativos do ponto de vista estatístico, mas esses ainda precisam ser melhor
compreendidos do ponto de vista psicodinâmico. Os resultados desse primeiro estudo
foram considerados relativamente positivos, uma vez que os mesmos indicadores
encontrados nesse estudo também foram encontrados por Villemor-Amaral e Primi (2009).
Em relação ao segundo estudo, intitulado de “validade concorrente entre o ZSC e o
TPC”, o objetivo foi verificar em que medida os indicadores que teoricamente avaliam o
mesmo construto nesses dois instrumentos se aproximam ou se distanciam. Para essa
análise 36 hipóteses de correlação entre o ZSC e o TPC foram formuladas, buscando-se
indicadores que supostamente expressassem aspectos comuns relativos ao funcionamento
afetivo e cognitivo dos indivíduos. Os resultados revelaram que selecionar variáveis que
presumem equivalência psicodinâmica e correlacioná-las não implica, necessariamente, em
correlações lineares e significativas do ponto de vista psicométrico; se tivéssemos adotado
uma abordagem ainda mais complexa, que envolvesse combinações alternativas, talvez os
175
resultados tivessem sido mais promissores. No entanto, também foi realizado um
procedimento mais qualitativo, que verificou as equivalências teóricas caso-a-caso entre os
testes. Os resultados qualitativos foram mais positivos e demonstraram equivalência teórica
na maioria dos pares analisados. Foi possível observar, também, que as variáveis
permitiram tecer uma rede de informações coerentes com as teorias psicodinâmicas,
independentemente do modo de expressão utilizado, isto é, verbal no Zulliger e não verbal
no Pfister.
Já no terceiro estudo, intitulado de “validade do raciocínio clínico por meio de dois
referenciais teóricos distintos”, o objetivo foi verificar se a psicopatologia fenômeno-
estrutural é uma abordagem eficiente para compreender o mundo interno dos pacientes
psiquiátricos que foram submetidos ao teste de Zulliger. A proposta do estudo era
investigar a convergência entre os diagnósticos; mas vale destacar que, para a prática
clínica, mais importante do que atribuir uma categoria nosográfica ao paciente foi
compreender as semelhanças do funcionamento psíquico, identificando os conflitos e o
sofrimento vivido pelos pacientes. Para essa etapa da pesquisa, dois especialistas
participaram desse estudo, analisando tanto os pressupostos da psicanálise quanto da
psicopatologia fenômeno-estrutural. As análises foram realizadas sem que se tivesse acesso
à categoria nosográfica dos pacientes, conhecendo-se apenas a quantidade de grupos
psiquiátricos ali representado; assim que era definido o suposto diagnóstico, assinalava-se
essa sugestão no próprio protocolo.
Percebe-se, ao longo do estudo, que são muitas as diferenças entre uma abordagem
e outra, mas de forma geral, a análise de fundamentação psicanalítica interpreta o conteúdo
temático das respostas e seu simbolismo, considerando os aspectos projetivos das
verbalizações, que indicam temas importantes da vida do examinando. Já para a
176
psicopatologia fenômeno-estrutural, o modo como a pessoa verbaliza a resposta revela o
valor da experiência, trazendo à tona a percepção subjetiva diante do sofrimento existente.
Os resultados demonstraram que o quadro nosológico que mais convergiu foi o
somatoforme. Logo após, encontrou-se o diagnóstico da esquizofrenia como a segunda
patologia que mais obteve convergência entre as abordagens teóricas. Em relação aos casos
que apresentaram divergência do raciocínio clínico, observou-se que psicopatologia do
pânico foi a que mais evidenciou disconcordância entre as abordagens, e em segundo lugar
encontrou-se o diagnóstico da depressão. De forma geral, os resultados desse terceiro
estudo foram considerados positivos, revelando que ambas as abordagens teóricas tendem a
compreender o conflito e o sofrimento vivido pelas pessoas de forma semelhante. Apesar
disso, o processo de investigação e apreensão dos dados foi realizado de forma diferente,
pois a psicopatologia fenômeno-estrutural apoiou-se exclusivamente no discurso oral para
analisar a personalidade, enquanto a psicanálise considerou tanto as variáveis oferecidas
pelo Sistema Compreensivo de Exner quanto os conteúdos temáticos das respostas. As duas
abordagens, embora fundamentadas de forma diferente, não foram contraditórias ou
incompatíveis; muitas vezes foram sim complementares, sendo a análise qualitativa das
respostas o ponto de intersecção entre as abordagens.
Após a realização e a finalização dos três estudos, o conjunto de informações
demonstrou ser bastante interessante, revelando que o Zulliger oferece uma compreensão
detalhada sobre alguns aspectos da personalidade. As diferenças observadas em relação ao
funcionamento normal e patológico indicaram, tanto no estudo da validade preditiva das
Constelações quanto no estudo da validade do raciocínio clínico, que a esquizofrenia foi a
patologia que mais convergiu com o critério externo da SCID-I, mostrando que a
psicodinâmica desses pacientes estava relacionada com uma desorganização interna e
177
subjetiva que atingia o ambiente por meio de comportamentos inadequados que variavam
de intensidade.
As verbalizações emitidas na tarefa do Zulliger puderam registrar a presença de
perturbações típicas da psicose, correspondendo de forma similar aos sintomas propostos
pela SCID-I. Em oposição ao quadro nosológico da esquizofrenia, os depressivos foram os
que menos demonstraram semelhança com a SCID-I, gerando necessidade de uma
investigação mais profunda sobre o modo como esses pacientes compreendem e interagem
com a realidade.
A expressão dos sentimentos e representações mentais que perturbam o equilíbrio
interno das pessoas nem sempre pode ser apreendida por um único método de avaliação,
sendo necessário acrescentar informações provindas do contexto clínico, que contemplem
as sutilezas do funcionamento psíquico do paciente. Mas, de fato, as informações clínicas
não foram incluídas nessa pesquisa, pois o contato com os pacientes ocorreu somente
durante o processo de coletas de dados. Ainda assim, o Zulliger foi considerado uma
ferramenta eficiente para apreender sinais mais patológicos.
As análises qualitativas realizadas nos estudos de validade concorrente entre o ZSC
e o TPC e a validade do raciocínio clínico revelaram valiosas informações sobre a
personalidade dos participantes, proporcionando, em vários casos clínicos e de não-
pacientes, compreensões detalhadas sobre a psicodinâmica dos indivíduos.
A realização de procedimentos psicométricos associados com procedimentos
clínicos proporcionou o encontro entre as análises quantitativas e qualitativas, provando
que cada procedimento apresenta vantagens e desvantagens, mas a união entre essas duas
perspectivas foi o que ofereceu solução para a validação das interpretações dadas às
respostas do Zulliger.
178
Considera-se, portanto, que os três estudos realizados nessa tese contribuíram com
as evidências de validade para o Zulliger segundo o Sistema Compreensivo; entretanto tais
resultados só foram possíveis porque os parâmetros da psicometria clássica foram
complementados com procedimentos que apreenderam os aspectos idiográficos da
personalidade. Conclui-se, assim, que aplicar estratégias variadas sobre um mesmo
fenômeno é uma forma de assegurar que a complexidade das manifestações mentais
normais ou patológicas está sendo compreendida sob várias perspectivas.
179
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190
ANEXOS
Anexo 1: Lista dos códigos que fazem parte do Sistema Compreensivo
Localização
W Global: a resposta envolve toda a mancha
WS Global incluindo o espaço branco
D Detalhe usual
DS Detalhe usual que inclui espaço branco
Dd Detalhe inusual
Dd99 Detalhe inusual que não consta no Atlas de Localização
DdS Detalhe inusual com espaço branco
Qualidade de desenvolvimento
DQ +
Resposta Sintetizada - dois ou mais objetos são vistos em relação, e pelo
menos um deles tem forma definida
DQ Resposta Ordinária – a resposta refere-se a um único objeto
DQ v/+
Resposta Sintetizada - dois ou mais objetos são vistos em relação, e
nenhum deles tem forma definida
DQ v Vaga – a resposta refere-se a um objeto sem forma definida
Determinantes
F Forma
M Movimento humano
FM Movimento animal
m Movimento inanimado
Ativo ou passivo para todo código de movimento – humano, animal ou inanimado – deve
191
se atribuir a qualidade passivo (p) ou ativo (a)
FC Objeto de forma definida associado com uma cor, mas a forma é
predominante
CF A cor é preponderante sobre a forma
C A resposta foi determinada exclusivamente pela cor
Cn A pessoa apenas nomeia as cores, sem definir algum objeto
FC’ Objeto com forma definida descrito como sendo preto, branco ou cinza
C’F A cor acromática é preponderante sobre a forma
C’ A resposta foi determinada exclusivamente pela cor acromática
FT O objeto de forma definida associado com a impressão de textura
TF A textura é mais importante que a forma
T A resposta foi determinada exclusivamente pela textura sem fazer
referência a nenhuma forma
FV A resposta envolve a noção de perspectiva ou profundidade em
decorrência do sombreado e a forma foi importante para a identificação
do conceito
VF Impressão de perspectiva e sombreado, cuja forma foi secundária
V Impressão de perspectiva e sombreado sem nenhuma forma envolvida
na resposta
FY
Impressão e referência às diferentes tonalidades em objeto com forma
definida
YF
Impressão e referência às diferentes tonalidades em objeto sem forma
definida
192
Y Impressão e referência às diferentes tonalidades em conceito sem forma
FD A resposta envolve a impressão de profundidade, distância ou dimensão
não relacionadas com o sombreado
Respostas Pares
(2) A simetria das figuras é usada para especificar dois objetos idênticos
Reflexos
Fr Reflexos com forma definida
rF Reflexos sem forma definida
Qualidade Formal
FQ +
Super-elaborada –o sujeito detalha a forma com mais precisão ao
formular sua resposta
FQ o
Ordinária – resposta, frequente, bem definida
FQ u
Incomum – resposta inusual, pouco freqüente, mas adequada aos
contornos da mancha, apesar de não ser muito bem definida
FQ -
Forma incomum e distorcida
Conteúdo
H
Humano inteiro
(H)
Para-humano inteiro
Hd
Detalhe humano
(Hd)
Detalhe para-humano
Hx
Experiência humana
A
Animal inteiro
(A)
Para-animal inteiro
193
Ad
Detalhe animal
(Ad)
Detalhe para-animal
An
Anatomia
Art
Arte
Ay
Antropologia
Bl
Sangue
Bt
Botânica
Cg
Vestuário
Cl
Nuvens
Ex
Explosão
Fi
Fogo
Fd
Comida ou ação de comer
Ge
Geografia
Hh
Utensílios domésticos
Ls
Paisagem
Na
Natureza
Sc
Ciência
Sx
Sexo
Xy
Raio-X
Id
Conteúdo idiossincrático
Respostas Populares
Pr I
Besouro em W e Folha em D1
Pr II
Não há conceito popular
194
Pr III
Humanos em D2 e em D3 e borboleta em D1
Atividade Organizativa
ZW
Toda resposta global que receba os códigos de qualidade de
desenvolvimento (DQ) o, + ou v/+.
ZA
2 ou mais objetos separados são vistos em relação e eles se encontram
em áreas adjacentes na mancha
ZD
2 ou mais objetos separados são vistos numa relação significativa e se
encontram em áreas distantes da mancha
ZS
Se o espaço branco é associado a qualquer resposta, seja ela W, D ou Dd
Códigos Especiais
DV
Verbalização desviante
DR
Resposta Desviante
INCOM
Combinação Incongruente
FABCOM
Combinação Fabulada
CONTAM
Contaminação
ALOG
Lógica Inadequada
PSV
Perseveração
AB
Conteúdo abstrato
AG
Movimento Agressivo
COP
Movimento Cooperativo
MOR
Conteúdo Mórbido
PER
Respostas Personalizadas
CP
Cor Projetada
195
Sumário Estrutural
R
Número total de respostas
EB
Tipo de vivência: extratensivo, introversivo, ambigual, coartado
EA
Experiência Efetiva, recursos disponível para lidar com estressores
eb
Experiência base (FM + m : SumC’ + SumT + SumV + SumY)
es
estimulação sentida (FM + m) + (C’ + T + V + Y)
Nota D
Grau de controle e tolerância ao estresse (EA- es)
Adj es
es ajustado (subtração de todas as ‘m’ e ‘y’ menos uma)
Adj D
D ajustado
FC : CF + C
Proporção entre determinantes de cor
SumC’:WSumC
Proporção entre a quantidade de C’ e C
Afr
Proporção entre a quantidade de R da Pr. II em relação as Pr. I e III
Isolamento
Soma da quantidade de Cl, Ge, Ls e Na
XA%
Soma de FQ+, FQo, FQu dividido por R e multiplicada por 100
WDA%
Soma de XA% em W e D, excluindo Dd
X+%
Soma da quantidade de FQ+ e FQo dividida por R
X-%
Soma da quantidade de FQ- dividida por R
Xu%
Soma da quantidade de FQu dividida por R
S-
Soma da quantidade de S com FQ-
W: D: Dd
Proporção entre a quantidade de W, D e Dd (soma simples)
W: M
Proporção entre a quantidade de W e M (soma simples)
2AB+(Art+Ay)
Índice de intelectualização
Sum6
Soma dos Códigos Especiais
196
M-
Quantidade de M associada à FQ-
M none
Respostas de movimento sem forma
3r+(2)/R
Índice de egocentrismo
Fr+rF
Índice de narcicismo
An+X
y
Preocupações como funcionamento fisiológico do corpo
H:(H)+Hd+(Hd) Proporção entre a quantidade de humanos reais para humanos
imaginários
197
Anexo 2: Casos de pacientes com transtorno somatoforme
Caso A
Prancha I
1 – Um bicho representa para mim. Que coisa feia. Um bicho muito feio que não conheço.
Deu mal impressão.
Aqui você disse um bicho muito feio. O que te deu a idéia de bicho?
Eu vejo uma coisa horrível o olho espanta, brilhante, e isso parece chifres.
O olho espanta?
Tá uma coisa preta, um olho branco que brilha e espanta a gente.
Prancha II
2 – Representa um bicho.
O que te deu a idéia de bicho?
Pra mim representa um bicho, a cabeça, mas não sei que tipo de bicho, estão querendo se
encontrar sei lá bater de frente (mostra com a mão).
Você pode me mostrar onde você está vendo?
Aqui.
3 – A parte de cima representa uma chapa de pulmão.
Aqui você disse chapa de pulmão?
Assim por exemplo representa um raio-x de pulmão que eu tenho feito.
O que deu a idéia de chapa de pulmão?
Essa parte mais vermelha de dentro, parece raio-x e esse branco parece as costelinha.
4 – Esse verde eu queria falar alguma coisa. Eu ia falar árvore, mas não é também, tá
representando um bicho.
Você falou bicho?
198
Mas não dá pra definir que bicho. Eu ia falar árvore, mas não é também.
O que te deu a idéia de bicho?
Tá representando um bicho querendo subir em algum lugar, tipo um carneiro.
Mas o que tem na mancha que te lembrou um bicho?
Aqui em baixo tem umas patas imitando umas pernas.
Prancha III
5 – Aqui representa uma borboleta.
Aqui você disse uma borboleta. Onde você está vendo a borboleta?
É no meio.
O que te fez pensar em borboleta?
O desenho representa uma borboleta.
6 – Aqui do lado representa um bigato tem outro nome, mas não lembro.
Você também disse um bigato.
É isso um bigato que vira borboleta.
O que te deu a idéia de bigato?
Na minha casa aparece uns bigatos eles tem tipo um chifrinho na cabecinha. Tem bigato
que vira borboleta.
7 – Representa um monstro uma coisa fora do normal. Uma coisa esquisita estranha.
Você também disse um monstro?
É.
O que te fez pensar em monstro?
Que também não dá para explicar, é cheia de mãos, dedos e pernas. Representa que tá de
máscara também, uma coisa feia. Tá uma foto escura que assusta.
Onde você está vendo?
199
Aqui tudo.
8- Esse vermelhinho representa um homem bem longe pequenininho de máscara.
Aqui você também disse um homem pequenininho de máscara?
Não sei como olhar parece uma pessoa de longe com máscara.
O que faz parecer que o homem está longe?
Porque tá pequeno.
Legenda: As falas sinalizadas em negrito referem-se à fase do inquérito que foi realizada
pelo examinador; já as falas sinalizadas em preto referem-se às respostas do examinando.
200
Caso B
Prancha I
1 - Tá parecendo mais um besouro.
O que te deu a idéia de besouro?
Essas duas pontas agudas aqui, é idêntico a um besouro. E da costinha preta porque o
besouro tem as costas pretas.
Prancha II
2 – Aquele vermelho ali tá parecendo um estômago.
O que te deu a idéia de estômago?
O vazio do meio e as laterais, que nem uma radiografia. Só isso.
3 – Agora o de baixo ali tá parecendo uma espécie de animal.
O que te deu a idéia de animal?
Do jeito que ele tá aqui, né, de 4 patas e a cabeça para baixo.
4 – Aquele verde tá parecendo um tipo de árvore.
O que te deu a idéia de árvore?
Tem um tronquinho em baixo. Uma árvore meio desengonçada que pegou muito sol e tá
tudo murcho.
Prancha III
5 – Tá parecendo dois bonequinhos em baixo de vermelho.
O que te deu a idéia de bonequinhos?
Eles tem uma perninha aqui, olha perninha ali e uma cabecinha.
6 – E dois homens de preto.
O que te deu a idéia de homens de preto?
Seria braço, cabeça, tronco e barriga, tá faltando uma perna neles, né?
201
Caso C
Prancha I
1 - Morcego.
O que te deu a idéia de morcego?
O formato dele assim....as asas dele.
2 – Mancha de sangue.
O que te deu a idéia de sangue?
Parece quando você machuca que fica um sangue seco assim, parecido com isso aqui, a
forma meio assim.
3 – Borboleta.
O que te deu a idéia de borboleta?
O formato dela voar, esse meio parece a cabeça dela, as asas.
Prancha II
4 – O vermelho, quando se faz exame de estômago.
O que te deu a idéia de estômago?
É como se fosse a parte do estômago, essas manchas que tem aí no meio e quando você faz
exame vê no computador.
5 – Arvorezinhas.
O que te deu a idéia de arvorezinhas?
A cor de folha de árvore, os galhos da árvore.
6 – Raízes de árvores.
O que te deu a idéia de raízes de árvores?
Parece com raízes, a cor delas e o formato das raízes.
Prancha III
202
7 – Parece manchas de sangue, o vermelho. Manchas de sangue recente, de quando você
machuca. Parece quando suja um local de sangue.
O que te deu a idéia de sangue?
A cor, a forma da figura, parece quando você suja um dedo e coloca assim, parece.
8 – Parece uma borboleta.
O que faz parecer uma borboleta?
O formato dela voar, as asas aqui, e essa parte do meio é o corpo dela.
9 – Parece tinta quando fica escorrida num local.
O que te deu a idéia de tinta?
Pelo motivo de ter esses pingos, esses traços... como se estivesse escorrendo tinta de um
local.
203
Caso D
Prancha I
1 – Morcego.
O que te deu a idéia de morcego?
No rabinho dele, nas asas... essas duas coisinhas aqui na frente, não sei como se chama isso.
Prancha II
2 – Esqueleto.
O que te deu a idéia de esqueleto?
Tá parecendo o esqueleto de uma espinha né, pelo jeito da figura...pelo jeito do desenho, de
ser colorido e ter esse desenho em branco aí.
3 – Isso aqui está parecendo dois bichos aqui em baixo. É que a gente vê aqueles filmes de
dinossauros brigando e tá parecendo dois dinossauros brigando.
O que te deu a idéia de dois dinossauros brigando?
Por causa das cores, uma cor diferente da outra, separa o esqueleto e o bicho. Pelo jeito que
tá a figura, um apontando para o outro. Pela distância que está um do outro...muito pouca
distância.
Prancha III
4– Uma borboleta.
O que te deu a idéia de borboleta?
Assim parece que tem duas asas, pelo corpinho, o corpo do desenho.
5 – Nuvens.
O que te deu a idéia de nuvens?
Porque está meio esparramada.... é quando a gente vê no céu que tem temporal nuvens
escuras, aí vê que é uma nuvem. Por ela ser escura mesmo, ser meio esparramada.
204
6 – Duas crianças correndo, sei lá, duas taturanas.
O que te deu a idéia de crianças correndo?
Pelo jeito parece que tem duas perninha, bracinho.
O que te deu a idéia de duas taturanas?
Não sei se é bem taturana ou lagarta, mas pelo jeito assim que é meio cumpridinho. O
corpo, pelo jeito, pelo cumprimento, parece que está cheio de pêlo.
O que te deu a idéia de pelo?
Essas coisinhas que tem aqui, tudo meio crespinho assim.
205
Caso E
Prancha I
1 – Nossa, parece um bicho...uma borboleta com cara de aranha.
O que te deu a idéia de borboleta com cara de aranha?
Aranha por causa desses dois olhinhos, esse aspecto aqui parece olhos, boca...por causa da
cor também, por causa do preto. Não gosto de preto.
E borboleta?
Borboleta só por fora, o aspecto aqui assim.
2 – Parece um órgão do corpo, mas eu não sei também dizer o quê.
Aqui você disse que parece um órgão do corpo humano?
Olhando assim parece algo meio interno, não sei dizer o que é... vamos supor é como se
fosse um coração, mas não é, é como se fossem veias cortadas... assim os vasos abertos,
não sei, parece um todo que foi aberto, cortado.
Prancha II
3 – útero.
O que te deu a idéia de útero?
De repente aqui poderia ser o útero, mas não é também. Acho que são as trompas... talvez
o órgão sexual vaginal da mulher.
O que te deu a idéia de trompas ou talvez de órgão sexual da mulher?
Não sei dá impressão pela localização, está um ao ladinho do outro. O desenho aberto
assim... é como se estivessem aberto ela pra mostrar.
Essa parte de baixo parece um bicho, mas não sei o que é...deixa pra lá.
Prancha III
206
4 – Eu sei que não é, mas parece uma pessoa aqui e uma pessoa daqui. Parece que estão
puxando alguma coisa, mas não sei o que é.
O que te deu a idéia de pessoas puxando alguma coisa?
Os braços, pé, mãos segurando alguma coisa que não sei o que é...
5 – Isso poderia ser fogo, ser sangue.
O que te deu a idéia de fogo?
Por ser vermelho.
E sangue?
O sangue caindo, pingando assim ou fogo, mas não é também, fogo é muito forte, não sei.
207
Caso F
Prancha I
1 – Um morcego.
O que deu a idéia de morcego?
O olho, a cabeça, a asa, tem dois pés.
2- Acho que é dedo.
O que deu a idéia de dedo?
Tem jeito de chifre ou se não, formato de um dedo.
3 – Parece um monstro, né?
O que deu a idéia de um monstro?
Parece que tem asa, parece que não tem, né? Tudo parece um monstro, o contorno do corpo
inteiro.
4 – Isso é uma pessoa porque tem barba.
O que deu a idéia de uma pessoa com barba?
Parece homem por causa da barba.
O que te fez lembrar a barba?
Parece porque é preta.
Prancha II
5 – Um cachorro.
O que deu a idéia de um cachorro?
Por causa das patinhas, o rabo.
6 – Uma costela, né?
O que te faz lembrar uma costela?
Tem uns rainhos assim do lado, parece o corpo da gente.
208
7 – Uma árvore?
O que te deu a idéia de uma árvore?
É verde, né?
Prancha III
8 – Um porquinho.
O que te faz lembrar um porquinho?
Porquinho preto, por causa do rabinho, da cabeça.
9 – Um monstro.
O que te deu a idéia de um monstro?
Tem muita perna, parece um monstro.
10 – Um avião
O que te deu a idéia de um avião?
Tem duas asas.
11 – Um boi.
O que te fez lembrar um boi?
O negócio que tem em cima, um cupim de boi.
209
Caso G
Prancha I
1 - É difícil... olhando assim tá parecendo um morcego.
O que te fez lembrar isso?
Essas arestas e o olhinho dele assim.
Temos muito tempo, as pessoas conseguem ver várias coisas, você pode tentar se
quiser.
Não, é só isso mesmo.
Prancha II
2 – Aqui em cima me lembra um pulmão.
O que te deu a idéia de um pulmão?
Parece aquela separação que tem no pulmão
Você poderia me explicar melhor, que seria essa separação?
Parece uma costela.
O que fez parecer costela?
Esses coisinhos parecem costela.
3 – Embaixo é o rim.
O que faz parecer um rim?
Pela cor.
Prancha III
4 – Parecem duas crianças brincando.
O que te deu a idéia de crianças brincando?
Parece o braço, parece que tá jogando alguma coisa, só tá faltando a perna.
210
Anexo 3: casos de pacientes com esquizofrenia
Caso H
Prancha I
1- Um desenho à mão... puxa....podia ser.
O que te deu a idéia de desenho feito à mão?
O jeito da figura. É só isso mesmo que eu vi.
Veja bem, tenho certeza de que o senhor vai encontrar mais alguma coisa.
Parece duas almas gêmeas. É, duas almas gêmeas, é isso.
O que de faz parecer duas almas gêmeas?
Aqui, um do lado do outro e são gêmeas.
Prancha II
2 – Uma coisa do corpo humano isso aqui.
O que isso poderia ser?
Uma boca...laringe. É isso.
O que te deu a idéia de boca e laringe?
A boca.
Prancha III
3 – Parece duas pessoas brincando no fogo.
O que faz parecer duas pessoas brincando no fogo?
É, é isso aí mesmo, duas pessoas brincando no fogo.
211
Caso I
Prancha I
1 - Um morcego.
O que te deu a idéia de morcego?
Os olhos dele aqui. Esse desenho aqui e ah, o sistema dele aqui, né? (aponta em espiral
fazendo voltas)
2 – Um espírito ruim.
O que faz parecer um espírito ruim?
Ah, acho que é o jeito dele ser aqui. Essas mancha aqui, essas mancha do lado dele.
Prancha II
3 – Um cachorro morto.
O que te deu a idéia de cachorro morto?
Os olhos dele aqui, essas coisas aqui. Que coisas?
Ah, o jeito do desenho, né? Essa mancha aqui (aponta circulando). O jeito dele ter essas
coisa aqui. Esse jeito aqui. E pelo...esse aqui, desceu mais, né?
4 – O peito de um burro
O que te deu a idéia de burro?
Porque é mais descida para baixo essa parte aqui.
Prancha III
5 – É um espírito ruim.
O que te deu a idéia de espírito ruim?
Por esse tom, assim dele. Ah, isso aqui mais preto, isso aqui mais branco, pé.
6 – É alguma alma perdida também.
O que faz parecer uma alma perdida?
212
Ah, isso aqui, isso aqui, isso aqui (aponta para pontas) mão.
Caso J
Prancha I
1 - Vagina.
Aqui você disse uma vagina?
A vagina neste escuro, e o ânus embaixo, e aqui o bumbum.
E o que te fez pensar nisto?
Eu tô acostumada a limpar o bumbum de neném, é parecido.
Prancha II
2 – Um coração.
Neste você disse um coração?
Aqui parece o formato de um coração.
No que é semelhante com o coração?
Uma mulher tirou uma foto de uma flor, e ela tirou a foto saiu um coração vermelho, eu
lembrei que parece igual.
3 – Órgãos do corpo.
Você falou órgãos do corpo?
Aqui parece o pulmão, essas duas partes aqui.
O que te deu a idéia de órgãos do corpo?
O formato lembra as fotos de pulmão.
4 – Ovários.
O que te deu a a idéia de ovário?
Aqui parece o ovário, é tudo.
O que te fez pensar em ovário?
213
Porque quando eu estudava ciências, eu estudava o corpo humano. Parece.
Prancha III
5 – Um rosto de uma criança de desenho.
Aqui você falou o rosto de uma criança de desenho?
De desenho, não está formado o rosto dela ainda.
Onde você está vendo?
Aqui, parece os olhos, a boca, o queixo, aqui o cabelo.
O que te fez ver um rosto de uma criança de desenho?
O desenho que a gente faz na escola, aqueles desenhos de trancinha.
214
Caso L
Prancha I
1 – Besouro
O que te deu a idéia de besouro?
Antena e garrinhas e olho.
Prancha II
2 – Casulo.
O que te deu a idéia de casulo?
Pela forma que parece.
3 – Bichos de ciência, da seda.
O que te deu a idéia de bicho da seda?
O jeito parece, tem pé.
4 – Abelha.
O que tem na mancha que faz parecer abelha?
Porque tá sugando a outra aqui, tá carregando.
5 – Macaquinho.
O que te deu a idéia de macaquinho?
Cabeça e pé.
Prancha III
6 – Barata preta.
Aqui você disse barata?
A boca vermelha e os lados da barata.
215
Caso M
Prancha I
1 – É umas nuvens, ela é cinzenta. Cinza claro, cinza escuro.
O que te deu a idéia de nuvens?
Porque eu vi, achei. É o desenho da nuvem. Esses dois lados aqui.
Não tenha pressa. Tenho certeza de que a senhora pode ver mais algumas coisas.
2 - É escuro, né? Preto. Parecem duas nuvens. Parecem dois olhos aqui.
O que te deu a idéia de olhos?
Eu achei. Duas partes que tá aqui junta.
Prancha II
3 - Parecem umas nuvem cumprida.
O que te deu a idéia de nuvem cumprida?
Branca, verde, vermelha, cor de rosa, marrom, preta.
4 - Parece também que isso aqui é um bicho.
O que faz parecer um bicho?
Parece um tipo de animal que tá aqui também. Parece um urso. Porque eu vi desenhado. Eu
achei que era. Parece uns cupim isso aqui. Porque tá parecendo o desenho.
Prancha III
5 – Parece um...um resto de uma pessoa.
O que te faz parecer um resto de pessoa?
O desenho de alguma pessoa. Só ela, vermelha, preta, cinza claro.
Ainda não entendi o que te deu a idéia de pessoa?
Parece porque tem, né? Parece uma cabeça assim aqui, aqui um braço, aqui uma perna.
Aqui tá vermelho.
216
Caso N
Prancha I
1 - Um pulmão espetado.
O que te deu a a idéia de pulmão espetado?
Aqui nesse branco, quando o pulmão abre e fecha para respirar e espetadinho de pau.
2 – Um Drácula em metamorfose para vampiro.
O que te deu a idéia de Drácula em metamorfose?
Aqui a cabecinha, o olhinho parece o drácula.
3 – Uma flor.
O que faz parecer uma flor?
Eu vi uma flor assim, parece a que eu plantei no jardim, ela é cor de rosa de verdade, mas
aqui o que lembra é o jeito dela.
Prancha II
4– É a cabeça daquele desenho.
O que te deu a idéia de cabeça daquele desenho?
O ombro é do mesmo jeito. Você já tirou raio X, o formato é o mesmo e o ouvido também.
5 – Um homem que levou um tiro no ombro, parece que aqui do lado sai um ouvido e aqui
outro.
Um homem que levou um tiro?
É a continuação do outro, é a cabeça dele.
Prancha III
6 – A parte mais fácil de todas. Uma pessoa sendo torturada e com o tímpano estourado.
O que te deu a idéia de uma pessoa sendo torturada e com o tímpano estourado?
Olha a pessoa, a cabeça, o vermelho parece sangue, atiraram nele e pifou o cérebro.
217
Anexo 4: Exemplo de caso sobre a validade Parcial
Caso J
Prancha I
1 - Corte no cérebro.
O que te deu a idéia de corte no cérebro?
Lembrei, era uma coisa que eu não gostava na medicina, causava uma sensação esquisita
aquele pedaço de massa na minha mão. Lembrou um corte de cérebro, a cor, não o preto,
mas o cinza. Essas manchinhas parecem circunvulsões cerebrais.
2 – Escorpião, besouro.
O que te deu a idéia de escorpião?
Aqui parece dois olhos. Não sei, uma figura traiçoeira, a traição me lembra escorpião. Uma
figura te pega pelas costas, como o TOC, são pensamentos que invadem pelas costas.
E o besouro?
Porque se juntar isso tudo parece uma carapaça, com as perninhas, a carinha dele,
anteninha.
3 – Folha.
O que te deu a idéia de folha?
Esse formato isolado do resto.
Ainda não entendi, você pode me explicar melhor?
Aqui, apesar de ser uma folha seca, se ela não é uma folha verde.
O que te deu a idéia de seca?
Seca é como se ela estivesse sem vida.
4 – Morcego.
O que te deu a idéia de morcego?
218
Também no mesmo lugar da folha, lembra uma cabecinha, uma mãozinha...como se ele
estivesse tentando correr para luz, como se ele tentasse alcançar a luz. Contraste luz na
escuridão...uma figura ruim, negra, busca luz do sol.
O que te deu a idéia de luz?
A luz está aqui (aponta para os buracos brancos) e todo o resto escuridão. O branco no meio
da cor cinzenta é como se fosse o sol no meio, e aqui os raiozinhos.
Prancha II
5– Aqui me lembra terra.
O que te deu a idéia de terra?
O marrom em baixo me lembra terra, o marrom e o fato de estar em baixo, no chão.
6 – O verde me lembra árvores.
O que te deu a idéia de árvores?
O verde.....o verde em cima da terra.
7 – E esse vermelho me lembra um templo de meditação japonês.
O que te deu a idéia de templo japonês?
Aqui... e aqui o toten chinês, aqui o telhado.
Ainda eu não entendi onde você está vendo o toten.
A parte branca como se fosse um toten, que significa paz.
8 – Por outro lado, esses dois verdes me parece dois olhos olhando uma figura...o vermelho
uma fonte de vida e o marrom uma coisa ruim que não me causa boa impressão.
O que faz parecer olhos olhando?
Olhando na lateral parece dois olhos, pupilas, branco do olho, íris...
E a fonte de vida?
219
Essa figura representa espiritualidade. Se olhar só o marrom eu não gosto, mas se olhar no
conjunto eu gosto, pois a terra é uma coisa boa, representa natureza.
Prancha III
9 – Parece dois fantasmas....brigando por um pedaço de vida, vermelho...como se eles
destroçassem uma vida e jogassem pedaços para os lados.
O que te deu a idéia de fantasmas que estão brigando por um pedaço de vida?
Só isso...como se o mal lutasse por um pedaço do bem que pudesse nutri-los. Como se eles
arrancassem pedaços de uma borboleta e jogassem fora.
Explique melhor, onde você está vendo os fantasmas?
Aqui seria um rosto, aqui a mão, outra mão, outro braço
E a borboleta?
Aqui uma borboleta, um símbolo da vida, apesar deles estarem destruindo.... A mão que
toca é branca e o cérebro que pensa é preto...Como tem uma mão e aqui outra, então é
como se eles arrancassem pedaços e jogassem fora.
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