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SILVANA ALBA SCORTEGAGNA
MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO EM
VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL
ITATIBA
2008
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SILVANA ALBA SCORTEGAGNA
MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO EM
VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu da Universidade São
Francisco para obtenção do título de Doutor
em Psicologia.
Orientador(a): Anna Elisa de Villemor-Amaral
I
TATIBA
2008
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Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São F
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São Francisco.
157.932.11 Scortegagna, Silvana Alba.
S437m Método de Rorschach e a autopercepção
em vítimas de abuso sexual / Silvana Alba
Scortegagna. -- Itatiba, 2008.
201 p.
Tese
(doutorado) – Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Psicologia da
Universidade São Francisco.
Orientação de: Anna Elisa de Villemor Amaral.
1. Avaliação psicológica. 2. Psicodiagnóstico.
3. Sistema compreensivo. 4. Evidência de validade.
5. Crianças e adolescentes. Saúde Pública. I. Amaral,
Anna Elisa de Villemor. II. Título.
DOUTORADO EM PSICOLOGIA
M
ÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO EM
VÍTIMAS DE ABUSO SEXUAL
AUTOR(A): SILVANA ALBA SCORTEGAGNA
O
RIENTADOR(A): PRO D. ANNA ELISA DE VILLEMOR-AMARAL
Este exemplar corresponde à redação final da Tese de Doutorado defendida por
Silvana Alba Scortegagna e aprovada pela banca examinadora.
Data: 17 / 12 / 2008.
C
OMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________________________
Prof
a
Dr
a
Anna Elisa de Villemor-Amaral
__________________________________________________________
Prof Dr Andrés Eduardo Aguirre Antúnez
_________________________________________________________
Prof
a
Dr
a
Sonia Regina Gattas Fernandes do Nascimento
_________________________________________________________
Prof Drª Ana Paula Porto Noronha
_________________________________________________________
Prof
a
Dr
Claudio Garcia Capitão
ITATIBA
2008
4
DEDICATÓRIA
Ao Eduardo, com quem tenho construído uma vida de muitas conquistas, pelo seu caráter
incentivador, com amor, gratidão e admiração.
Aos meus filhos Eduardo e Felipe que me motivam a buscar ser melhor, e por me fazerem
acreditar que tem coisas que são para sempre.
Aos meus pais Marilda e Ludvino, e avós Helga e Arthur, que mesmo na ausência, estão
sempre presentes.
5
A
GRADECIMENTOS
Esta tese é o resultado de um investimento pessoal, mas que só foi possível,
mediante o esforço de muitas pessoas que merecem ser reconhecidas. A elas os meus
agradecimentos!
À Professora Doutora Anna Elisa de Villemor-Amaral não somente pela presença
permanente indispensável na realização deste estudo, mas por ter contribuído para toda
minha formação acadêmica/profissional.
Ao Professor Dr. Fermino Fernandes Sisto pela sua integridade profissional e humana, por
seu auxílio para que eu pudesse desenvolver parte de meus estudos na Espanha, na
Universidade de Salamanca.
Ao Professor Dr. Fernando Gimenez Gomez, da Universidade de Salamanca USAL, pelas
orientações, pelas discussões e pela possibilidade de desenvolvermos trabalhos com o
Método de Rorschach e as Lâminas Projectivas.
Ao Professor Dr. Rui Soares, Reitor da Universidade de Passo Fundo/UPF, aos Vice-
Reitores Professor Dr. Hugo Tourinho Filho, Professora Dra. Eliane Colussi, Professor Ms.
Nelson Beck, Professora Ms. Cléa Nunes pelo apoio e incentivo.
Ao Professor Dr. Carlos Alberto Forcelini, Vice-Reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da
UPF (2002/2006) por suas orientações que foram essenciais para que eu pudesse
desenvolver um programa strictu sensu.
Às Professoras Ms. Neusa Maria Henriques Rocha, Diretora do Instituto de Filosofia e
Ciências Humanas e Dra. Maria Salete Sandini Linden, Diretora da Faculdade de
Odontologia da UPF, pelo caráter sério e motivador de crescimento.
Aos Professores Dra. Acácia Aparecida Angeli dos Santos, Dra. Alessandra Copovilla, Dr.
Claudio Capitão, Dra. Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly, Dr. Makilim Nunes
Baptista, Dr. Ricardo Primi, da USF, pelo crescimento que obtive nestes anos de convívio
que me auxiliaram a ser uma professora pesquisadora.
Á Professora Dra. Ana Paula Porto Noronha, Dr. Claudio Garcia Capitão, Dr. Andrés
Eduardo Aguirre Antúnez, Dra. Sonia Regina Gattas Fernandes do Nascimento pelas
importantes contribuições na Banca de Qualificação deste estudo.
À Dra. Sonia Liane Rovinsky, por realizar as codificações dos protocolos desta pesquisa
como juiz e, sobretudo, por estar sempre disponível para nossos encontros de estudos e
discussões.
6
Às Professoras Ms. Carla Ventura Tarasconi e Ms. Suraia Estacia Ambrós, do Curso de
Psicologia da UPF, pelo apoio e amizade de todos estes anos.
À Professora Denise Sperry por sua dedicação nos estudos de língua estrangeira para que
pudéssemos realizar a compreensão dos textos relacionados neste trabalho.
À Doutoranda Débora Cecílio Fernandes pelas inúmeras horas de pesquisas realizadas na
biblioteca da USAL, pelos encontros que somaram para o enriquecimento de minha
formação.
Às colegas, Regiane Aquino, Renata Franco, Lilia Maisa, Fabián Rueda, Gleiber Couto,
Lucas Carvalho, pelo tempo vivido, pelas discussões, pelos trabalhos realizados e pelo
apoio recebido.
À Sra. Laura Eliza da Rocha Bordignon, Presidente da SAMI; Sra. Nair Angélica,
Psicóloga da Secretaria Municipal de Assistência Social de Carazinho, Serviço Sentinela; e
ao Centro de Estudos, Prevenção e Atendimento à Violência CEPAVI, da Universidade de
Passo Fundo, pela participação efetiva para que esse estudo atingisse os seus objetivos.
À Professora Edra Saremba, Diretora do Instituto Educacional Cecy Leite Costa; à
Professora Helena Ribeiro Smaniotto, Supervisora Escolar e a Srta. Aline Maciel
Mallmann, Estudante e Presidente de turma da 6ª série, da Escola Estadual de Ensino
Médio Protásio Alves, pela disponibilidade indispensável para a realização deste estudo.
À Sra. Roseli Polecci, ex-secretária do Programa de Pós-Graduação da Universidade São
Francisco USF, pela presteza e pela incomensurável dedicação nas orientações quanto ao
funcionamento e aos procedimentos burocráticos da instituição.
À Universidade São Francisco e a todos seus integrantes pelo acolhimento, o que
possibilitou a conquista de um espaço como “filha” desta casa.
Aos familiares e responsáveis legais pelos adolescentes, que consentiram a participação dos
grupos, abrindo uma possibilidade para que esse estudo pudesse ser realizado.
Finalmente, agradeço aos adolescentes participantes desta pesquisa que aceitaram a difícil
tarefa de oferecer algo de si, a uma pessoa desconhecida, sem nada diretamente receber.
A vida é a arte do encontro, embora haja
tanto desencontro pela vida.
(Vinícius de Moraes)
RESUMO
Scortegagna, S.A. (2008). Método de Rorschach e a autopercepção em vítimas de
abuso sexual.
Tese de Doutorado, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu,
Universidade São Francisco. Itatiba/SP.
O presente estudo teve como objetivo verificar em que medida o Método de
Rorschach contribui para identificar crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual,
diferenciando-os dos indivíduos livres dessa vivência. Neste contexto de violência, a
avaliação psicológica desempenha uma importante função social e ética, e necessita ser
respaldada em evidências científicas. Participaram 76 indivíduos, de ambos os sexos, com
idades entre 10 e 14 anos, entre o primeiro ano do ensino fundamental e o primeiro ano do
ensino médio, de escolas estaduais, de nível socioeconômico médio-baixo, que foram
divididos em dois grupos distintos, um grupo de vítimas e um grupo de não-vítimas. O
primeiro grupo foi composto de 36 vítimas de abuso sexual intrafamiliar que residiam com
seus familiares ou que estavam em instituições destinadas a acolher crianças e adolescentes,
como medida de proteção em situações de vulnerabilidade social ou pessoal. O segundo
grupo foi constituído por 40 indivíduos, estudantes do ensino fundamental e do ensino
médio, que não possuíam história documentada de abuso sexual ou qualquer tipo de maus-
tratos, não estavam em tratamento psicoterápico e não apresentavam queixas específicas
relacionadas à aprendizagem e comportamento. Como instrumentos, foram utilizados uma
ficha sociodemográfica e o Método de Rorschach. Informações sobre a idade, o gênero, a
escolaridade, o status da custódia e a caracterização da situação do abuso foram obtidas por
meio da ficha sociodemográfica. O Método de Rorschach foi utilizado, seguindo os
critérios do Sistema Compreensivo, focalizando as variáveis relacionadas à autopercepção,
relacionamento e percepção interpessoal; percepção da realidade e estresse situacional.
Entre os resultados obtidos com o teste de MANOVA que revelou diferenças significativas
entre os indicadores Rorschach nos dois grupos destacam-se: as respostas de movimento
inanimado m, e as respostas de conteúdo sangue Bl. Observa-se que as respostas de
conteúdo anatômico An, conteúdo mórbido MOR, conteúdo sexual Sx, e qualidade formal
FQ- demonstraram pontuações mais altas no grupo de vítimas em comparação às não
vítimas. Assim, a presença de uma autopercepção distorcida e de uma auto-estima
rebaixada nas vítimas pode ser decorrente do processo de vitimização como foi revelado
nas variáveis Rorschach. Esses resultados são consistentes com estudos anteriores e
continuam a apoiar a validade do uso do Rorschach na avaliação psicológica de crianças
abusadas sexualmente.
Palavras-chave: psicodiagnóstico; avaliação psicológica; sistema compreensivo; evidência
de validade; crianças e adolescentes; saúde pública.
RÉSUMÉE
Scortegagna, S.A. (2008). Méthode de Rorschach et l’autoperception en victimes d’abus
sexuel. Thèse de Doctorat. Programa de Pós-graduação Stricto Sensu, Universidade São
Francisco, Itatiba/SP.
Cet étude a eu comme objectif vérifier dans quelle mesure la Méthode de Rorschach a
contribué pour identifier des enfants et des adolescents victimes de l’abus sexuel, et les
différencier des individus libres de cette expérience. Dans ce contexte de violence,
l’évaluation psychologique a eu une importante function sociale et éthique, et il a besoin
d’être mise en evidences scientifiques. Ils ont participé 76 individus, des deux sexes, âges
de 10 à 14 ans, entre le premier an de l’école primaire et le premier an de l’école secundaire
des écoles publiques, de niveau socioéconomique moyen-bas, qui ont étés divisés en deux
différents groupes : un groupe des victimes et un groupe de non-victimes. Le premier
groupe a été composé de 36 victimes de l’abus sexuel intra-famillier qui habitent avec
leurs familliers ou qui étaient dans des intitutions destinées à accueillir des enfants et des
adolescents como mesure de protection en situations de vulnerabilité sociale ou personnel.
Le deuxième groupe a été constitué par 40 individus, des étudiants de l’école secondaire et
de l’école primaire, que n’avaient pas d’histoire documentée d’abus sexuel ou quelque
d’autre sorte de mauvais traitements, ils n’étaient pas en traitement psycothérapique et ils
n’avaient pas de plaintes spécifiques par rapport à l’aprentissage et au comportement.
Comme instruments, ils ont été utilisés une fiche sociodémographique et la Méthode de
Rorschach. Ils ont été obtenus par cette fiche des informations sur l’âge, le genre, la
scolarité, le statuts de la responsabilité légale et la caractérisation de la situation de l’abus.
La Méthode de Rorschach a été utilisé, selon des critères du Système Compréhensif, et en
mettant au point des variables par rapport à l’autoperception, des relations et des
perceptions interpersonnelles ; la peception de la réalité et le stress situationnel. Entre les
résultats obtenus avec le test de MANOVA qui a montré des différences significatives
parmi les indicateurs inanimé m, et les réponses de contenu sang B1. Il est posible
remarquer que les réponses de contenu anatomique An, de contenu morbide MOR, de
contenu sexuel Sx, et qualité formelle FQ- ont demontré des pontuactions plus hautes dans
le groupe de victimes par rapport au groupe de non-victimes. De cette façon, la présence
d’une autoperception distordue et d’une autoestime basse des victimes peut être
conséquence du processus de victimisation comme il a été révélé dans les variables
Rorschach. Ces résultats ils sont fiables par rapport à des études faits auparavant et ils
continnuent à soutenir la validité de l’usage de Rorschach dans l’évaluation psychologique
des enfants abusés sexuellement.
Mots-clés : psychodiagnostique ; évaluation psycologique ; système compréhensif;
évidence de validité;
enfant et adolescent ; santé publique.
ABSTRACT
Scortegagna, S.A. (2008). Rorschach Method and the self-perception in victims of sexual
abuse. Doctorate Thesis, Post Graduation Program Strictu Sensu, Universidade São
Francisco, Itatiba/SP.
This study aimed at investigating how much the Rorschach Method contributes to
identify children and adolescents who were victims of sexual abuse in contrast to those
subjects who are free from this experience. In this context of violence the psychological
assessment plays an important social and ethical role and needs to be based on scientific
evidences. The subjects of this study were 76 children and adolescents of both genres and
ranging between 10 and 14 years of age, and between the first grade of primary school and
the first grade of secondary school, all students of state schools, within a medium-low
socio-economical level and they were divided into two groups: victims and non-victims.
The first group comprehended 36 victims of intra-familiar sexual abuse who lived either
with their families or in special institutions which host children and adolescents as
protection housing in social or personal vulnerability situations. The second group
comprehended 40 subjects, students from elementary and high school who did not have any
reported histories of sexual abuse or any kind of maltreat, who were not undergoing
psychological treatment and who were not reported as having any learning or behavioural
complaints. A socio-demographic form and the Rorschach Method were used as
instruments. Information about age, genre, schooling, the custody status and the
characteristics of the abuse situation were obtained through a socio-demographic form. The
Rorschach Method was used, following the Comprehensive System criteria, focusing the
variables related to self-perception, relationships and interpersonal perception; reality
perception and situational stress. Among the results obtained with the MANOVA test
which revealed significant differences between the Rorschach indexes in both groups, it can
be highlighted: the answers in movement m and the blood content answers Bl. It was
observed that the answers anatomical content An, morbid content MOR, sexual content Sx,
and formal quality FQ- showed higher rates in the victims group compared to the non-
victims. Thus, the presence of a distorted self-perception and low self-esteem in the victims
may be a consequence of the victimization process as revealed by the Rorschach variables.
These results are consistent with previous studies and keep supporting the validity of the
Rorschach use in the psychological assessment of sexually abused children.
Key words: psychodiagnosis; psychological assessment; comprehensive system; validity
evidence; children and teenagers; public health
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... ix
LISTA DE TABELAS .......................................................................................................... x
APRESENTAÇÃO .............................................................................................................. 15
I – INTRODUÇÃO ......................................................................................................... ....19
1. Capítulo 1 - Abuso sexual ............................................................................................... 19
1.1 Histórico, definições e classificações ........................................................................ 19
1.2 Contexto e dinâmica do Abuso sexual Intrafamiliar ................................................. 25
1.3 Constituição Psíquica e Autopercepção de Adolescente Vítimas de Abuso
Sexual ........................................................................................................................ 38
1.3.1. A Constituição Psíquica e a Autopercepção ............................................................. 39
1.3. 2. Estudos sobre o Abuso Sexual...................................................................................49
1.3. 3 O Método de Rorschach na Investigação do Abuso Sexual ....................................56
2. Capítulo 2 - O Método de Rorschach ............................................................................... 74
2.1 Sistema Compreensivo - SC .......................................................................................... 77
2.2 A validade do Rorschach: uma abordagem configuracional ....................................... 87
2.2.1 Estudos de validade do Rorschach no âmbito internacional ...................................... 88
2.2.2. Estudos de validade do Rorschach no âmbito nacional ............................................. 95
II - MÉTODO .................................................................................................................... 102
2.1 Participantes ................................................................................................................ 102
2.2 Instrumentos ................................................................................................................ 107
2.2.1 Ficha sociodemográfica ............................................................................... 107
2.2.2 O Método de Rorschach ............................................................................... 107
12
2.3 Procedimentos .............................................................................................................. 115
III – RESULTADOS ......................................................................................................... 121
IV - DISCUSSÃO ............................................................................................................. 133
V – CONCLUSÃO ............................................................................................................ 161
VI – REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 163
VII – ANEXOS ................................................................................................................. 192
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável Bl. ................ 130
Figura 2 – Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável Sx ................. 131
Figura 3 – Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável FQ-............... 132
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Descrição dos Participantes vítimas de abuso sexual ...................................... 105
Tabela 2 – Descrição dos Participantes não vítimas de abuso sexual ............................... 106
Tabela 3 – Estatísticas Descritivas da idade e anos de escolaridade para o grupo de vítimas
e não vítimas. ..................................................................................................................... 121
Tabela 4 – Coeficiente Kappa das variáveis do Rorschach ............................................... 123
Tabela 5 – Estatísticas Descritivas das variáveis de autopercepção para o grupo de vítimas e
não vítimas ......................................................................................................................... 126
Tabela 6 – Estatísticas Descritivas das variáveis de relacionamento interpessoal para o
grupo de vítimas e não vítimas .......................................................................................... 127
Tabela 7 – Estatísticas descritivas das variáveis de indicadores de estresse para o grupo de
vítimas e não vítimas ..........................................................................................................128
Tabela 8 – Estatísticas descritivas das variáveis relacionadas à autopercepção, aos
indicadores de estresse, ao ajustamento perceptivo e ao relacionamento interpessoal para o
grupo de vítimas e não vítimas, com valores categorizados.............................................. 129
Tabela 9 – Estatísticas Descritivas das variáveis Rorschach entre os grupos de vítimas e não
vítimas com a variável grupo ............................................................................................ 202
Tabela 10 – Respostas do grupo de vítimas com conteúdo de anatomia An..................... 141
Tabela 11 – Respostas do grupo de vítimas com conteúdo mórbido MOR ...................... 145
Tabela 12 – Respostas do grupo de vítimas com conteúdo Sexual Sx .............................. 150
Tabela 13 – Respostas do grupo de vítimas de movimento inanimado m ........................ 154
Tabela 14 – Respostas do grupo de vítimas com conteúdo Sangue Bl ............................. 155
15
APRESENTAÇÃO
No exercício profissional do psicólogo, a avaliação psicológica vem sendo
solicitada a contribuir de modo significativo em casos judiciais para oferecer apoio aos
processos de tomada de decisões. Apesar das decisões serem norteadas por processos
idealmente lógicos e cientificamente sustentados, podem ser suscetíveis de enviesamentos.
No caso das provas psicológicas, os enviesamentos podem decorrer, da falta de adequação
das suas características técnicas e psicométricas; da falta de instrumentos válidos para
responder as demandas do contexto forense; ou ainda do uso inadequado de instrumentos, o
que também evidencia uma deficiências na formação do profissional.
Diante desta premissa, este trabalho buscou contribuir com estudos que visem à
melhor utilização dos instrumentos de avaliação psicológica e dos procedimentos
metodológicos mais adequados para a avaliação de vítimas de abuso sexual. Esta escolha
deu-se por dois motivos. O primeiro, refere-se ao caráter imperativo ético profissional que
visa desenvolver instrumentos e contribuir com os já existentes para que o exercício
profissional e especificamente, da avaliação psicológica, seja respaldado em evidências
científicas. O segundo, alia-se ao compromisso social da psicologia em prestar sua
contribuição a um problema considerado de saúde pública que envolve a violência contra
crianças e adolescentes.
Com esse propósito e para melhor organização e compreensão deste estudo, a
estrutura deste texto foi desenvolvida por meio de sete capítulos. A sessão introdutória é
sub-dividida em dois grandes capítulos. Primeiramente, são abordados os componentes
históricos, os conceitos e a classificação do abuso sexual infantil. Algumas considerações
históricas nacionais e internacionais sobre esta problemática, a origem do conceito e o seu
16
desenvolvimento, são abordados procurando demonstrar desde a sua descoberta, procedente
da psicanálise, até as discussões que ainda prevalecem quanto à sua classificação, bem
como, algumas ações governamentais para o enfrentamento do problema.
A seguir, dados de incidência e prevalência são apontados na tentativa de situar o
problema e oferecer melhor entendimento sobre o tema no contexto atual. As possíveis
causas e os fatores interagentes desde uma perspectiva ecológica até a dinâmica do abuso
sexual intrafamiliar e incestuoso, em uma leitura psicanalítica, são necessários para que se
possa conhecer como se processam os fenômenos intersubjetivos e intrapsíquicos dos
protagonistas. Presumivelmente, estes aportes teóricos irão contribuir na compreensão da
autopercepção, pelas vítimas, deste infortúnio. Os processos da autopercepção de
adolescentes que sofreram abuso sexual são relatados por meio da constituição do aparelho
psíquico freudiano. Além disso, as conseqüências desse infortúnio e um panorama dos
estudos relatados na literatura sobre as investigações do abuso sexual e a utilização de
técnicas projetivas, especialmente o Rorschach são intensamente discorridos.
A trajetória do conceito, os objetivos do Método de Roschach, o desenvolvimento
do Sistema Compreensivo e a caracterização de seus indicadores, ganham destaque no
capítulo seguinte. Diante da necessidade de melhor atender aos objetivos deste trabalho, a
apresentação de estudos de validade desenvolvidos com este instrumento no âmbito
nacional e internacional são necessários para que se possa ter uma visão do horizonte das
dificuldades e dos atributos concedidos, pela utilização desta técnica, na realização de
pesquisas e diagnósticos clínicos.
Ao segundo capítulo, foi concedido um espaço importante para a descrição da
metodologia utilizada neste estudo. Deste modo, nesta sessão, são relatadas a caracterização
detalhada dos participantes, dos instrumentos e das variáveis Rorschach elencadas que
17
podem permitir o acesso aos processos da autopercepção, do relacionamento e da
percepção interpessoal, do ajustamento perceptivo e da adequação à realidade e dos
indicadores de estresse das vítimas de abuso sexual. Concomitantemente, diante da
problemática do estudo, são apresentadas algumas hipóteses que serão analisadas
juntamente com a literatura bem como os procedimentos empregados na realização deste
trabalho.
No terceiro capítulo, são apresentados os resultados obtidos e as estatísticas
realizadas com os dados coletados no presente estudo. O capítulo inicia com a apresentação
dos resultados da ficha sociodemográfica, segue com a descrição dos índices de
confiabilidade das variáveis do Rorschach entre os codificadores por meio dos valores de
kappa e apresenta as estatísticas descritivas das variáveis do Rorschach elencadas para este
estudo para cada grupo de participantes. As análises MANOVA e o Qui-Quadrado para os
grupos de vítimas e não vítimas de acordo com as variáveis “grupo” também são
apresentadas.
Com base nesses resultados, o capítulo quatro foi destinado à discussão dos
resultados. Procurou-se examinar, interpretar e debater as informações coletadas nos dados
proveniente dos resultados. Buscou-se, igualmente, relacionar em que medida esses dados
refutavam ou estavam em conformidade com os achados da literatura. A partir de então
pode-se verificar qual a validade do Método de Rorschach na avaliação psicológica no
contexto do abuso sexual infantil, resultante deste estudo, e considerar algumas implicações
desse fato para o desenvolvimento da personalidade dos participantes.
18
Por fim, o capítulo cinco, propõe-se em resumir os pontos essenciais deste trabalho
fortalecer suas principais contribuições bem como apresentar suas limitações. Após a
conclusão são apresentadas no capítulo seis, as referências bibliográficas citadas neste
estudo, e na sessão de anexos, capítulo sete, são acrescentados os documentos que foram
transcritos na metodologia deste estudo e a tabela da estatística descritiva das variáveis
Rorschach, que oferecem melhor esclarecimento para a sua compreensão.
I – INTRODUÇÃO
1. CAPÍTULO 1 - ABUSO SEXUAL
1.1 Histórico, definições e classificações
Embora o abuso sexual exista desde o início da humanidade, apenas a partir da
década de 60 tem sido objeto de preocupação social. Um dos primeiros a reconhecer que os
abusos sexuais eram freqüentes e que poderiam ter graves conseqüências negativas foi
Freud, relacionando-os especialmente com a origem da histeria. Em "Estudos sobre
Histeria", Freud (1893-1895/1974a) refere o caso de Katharina que, aos quatorze anos,
sofrera várias investidas sexuais por parte de um tio, o qual revela posteriormente que a
moça não era sobrinha, mas filha do agressor. Embora o tempo dos abusos já estivesse
passado, Katharina continuava sofrendo de sintomas conversivos como falta de ar, o que
levou Freud a relacionar as experiências eróticas precoces a vivências traumáticas.
Nesse momento introdutório, Freud (1893-1895/1974a), considerava que os
sintomas histéricos eram causados por abusos sexuais ocorridos na primeira infância, os
quais teriam sido perpetrados por adultos, mais freqüentemente, o pai. Ele entendia que as
recordações de cenas reais ou fantasmática de sedução entre uma criança e um adulto seria
preditora das psiconeuroses. Porém, em sua correspondência com Fliess, na carta 69, Freud
(1897/1977b) revela não acreditar mais em sua teoria das neuroses, especialmente pela
observação dos fenômenos inconscientes relatados por seus pacientes e pela descoberta do
complexo de Édipo, que motiva fantasias e impulsos com características marcadamente
sexuais e/ou agressivas dirigidas aos primeiros objetos de amor. Tal constatação
20
representou uma ruptura na compreensão da sexualidade humana, ao demonstrar a criança
como um sujeito ativo do desejo e não um ser passivo diante dos adultos. Ao manifestar
essa problemática acabou justificando que, na maior parte dos casos, esses acontecimentos
não eram reais e, sim, produto da fantasia das crianças (López, Hernández & Carpintero,
1995).
Por volta da década de 1950, Kinsey, em suas investigações descobriu informações
valiosas sobre os abusos sexuais. O achado mais significativo foi que aproximadamente
24% das mulheres haviam sofrido abusos sexuais na infância. Entretanto, Kinsey e seus
investigadores parecem não ter atribuído a importância necessária às conseqüências dos
abusos sexuais, dizendo que era difícil compreender, salvo pelas questões culturais, por que
uma criança poderia sofrer danos se fosse tocada em seus órgãos genitais (Kinsey,
Pomeroy, Martin & Gabbard,1953).
No início da década de 1960, o número freqüente de crianças que chegavam aos
serviços pediátricos com lesões não acidentais, fez com que Kemple e seus colaboradores
organizassem um simpósio sobre abuso infantil. O encontro da American Academy
Pediatrics resultou na publicação de um artigo em que foi utilizado, pela primeira vez, o
termo “síndrome da criança maltratada”, tendo como objetivo chamar a atenção sobre a
gravidade do problema (Duarte & Arboleda, 1997). Além disso, os avanços científicos
desta década permitiram o reconhecimento da incidência e de sua importância social e
clínica (Finkelhor & Browne, 1986; Finkelhor,1994a). Assim, até a década de 1970,
pensava-se que os abusos sexuais eram pouco freqüentes, afetavam quase somente as
mulheres, eram cometidos fora da família, por um agressor desconhecido e as vítimas eram
consideradas sedutoras ou provocadoras da agressão (Gordon, 1990).
21
No Brasil, a violência sexual contra crianças e adolescentes teve sua expressão
social na década de 1990. Neste período, a Constituição Federal brasileira, no Estatuto da
Criança e do Adolescente (1994) – lei nº 8.069/90 e na Convenção Internacional dos
Direitos da Criança, passou a integrar os fenômenos entendidos como fruto das
desigualdades sociais, de gênero, de raça e etnia, como questões relacionadas à luta pelos
direitos humanos de crianças e de adolescentes. Este momento foi marcado por um forte
processo de articulação e mobilização que fortaleceram a sociedade civil para assumir a
denúncia como forma de enfrentamento da violência sexual, o que significou um marco
histórico na luta dos direitos da criança e do adolescente (BRASIL, 2002).
Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA (1994) já havia
modificado a posição da criança e do adolescente de objeto do poder paterno para uma
posição mais ativa, a de protagonistas do seu próprio processo educacional. A lei
determina ainda um controle ostensivo dos pais, que muitas vezes agem maltratando seus
filhos por meio de punições severas, castigos corporais, e de educadores em geral,
reprimindo não só atos ilícitos, mas também o abuso de direito.
O abuso sexual tem sido compreendido como um dos tipos de maltrato infantil. A
inclusão do abuso sexual na categoria de maus-tratos deve-se ao fato de que os primeiros
estudos sobre violência contra crianças e adolescentes foram realizados a partir do
atendimento a vítimas de maus-tratos físicos (Faleiros & Campos, 2000). A violência é
entendida aqui, como todo ato e omissão cometidos por pais ou pessoas próximas, capazes
de causar danos físico e psicológico à vítima. Segundo Minayo (2001) implica de um lado,
uma transgressão no dever de proteção do adulto e da sociedade; de outro, uma coisificação
da infância, uma negação do direito das crianças e adolescentes de serem tratados como
22
sujeitos em situações especiais de crescimento e desenvolvimento. Assim, conforme as
autoras a ocorrência de abuso sexual infringe maus-tratos às vítimas e deve ser entendida
como uma situação de ultrapassagem de limites, de poder, de papéis, de regras sociais,
familiares e de tabus, e finalmente, do nível de desenvolvimento da vítima, do que esta sabe
e compreende, do que ela pode consentir e viver.
Por outro lado, o Ministério da Saúde (2002) tem difundido que o uso da expressão
“maus-tratos” é inadequado, uma vez que conduz apenas, a uma conotação moral. A
violência contra esta população é um grave problema social, subjacente aos valores
culturais de que esses seres em formação seriam propriedade de seus pais e que, para
educá-los, seria preciso puni-los quando erram ou se insubordinam. Uma definição mais
precisa consiste em entender o abuso sexual como todo ato ou jogo sexual, uma relação
heterossexual ou homossexual cujo agressor está em estágio de desenvolvimento
psicossexual mais avançado que a vítima. Tem por intenção estimulá-la sexualmente ou
utilizá-la para obter satisfação sexual. Apresenta-se sob a forma de práticas eróticas e
sexuais impostas à criança e ao adolescente pela violência física, ameaças ou indução de
sua vontade. Esse fenômeno pode variar desde atos em que não ocorre o contato sexual
como no voyeurismo, exibicionismo, até ações que incluem contato sexual sem ou com
penetração. Engloba ainda a exploração sexual, que visa lucros, como a prostituição e a
pornografia.
Para entender melhor os comportamentos e circunstâncias que devem ser
considerados ou não abusivos Watson (1994) salientou que devem ser observados três
fatores diferenciais: o poder, o conhecimento e a gratificação. O poder diferencial implica
em que uma das partes exerce controle sobre a outra e que a relação não é mutuamente
23
concebida e compreendida. O conhecimento diferencial ocorre em razão da idade
cronológica mais avançada do agressor, de uma inteligência superior à da vítima, e,
finalmente, uma gratificação diferencial, reconhece que o propósito da relação é a
satisfação do agressor.
De forma semelhante, estudos demonstram que, nesse tipo de relação, existe um
adulto em posição de autoridade e uma criança que, em virtude da fase precoce de
desenvolvimento em que se encontra, é incapaz de compreender, em sua totalidade, a
natureza do contato sexual e não está apta a concordar com a situação (Blanchard, 1996;
Finkelhor, 1979; Fonseca & Capitão, 2005; Sosa & Capafons, 1996). Assim, há muitos
conceitos na literatura sobre o abuso sexual de crianças e adolescentes, que enfatizam as
limitações do seu estágio de desenvolvimento e as relações de poder entre agressor e vítima
(Beraldo, Capitão & Oliveira, 2006).
As diferenças de idade e os elementos de coerção, assim como o tipo de
comportamento envolvido, são argumentos incluídos nas definições de abuso de Finkelhor
e Hotaling (1984). Os autores recomendam que, deve haver uma diferença de idade de
cinco anos ou mais, quando a vítima é menor de 12 anos, e uma diferença de dez anos ou
mais, quando a criança tiver entre 13 e 16 anos. Entretanto, segundo estes autores, o uso de
força, de ameaça ou de exploração da autoridade, independentemente das diferenças de
idade, sempre deveria ser considerado um comportamento abusivo. Por isso, podem dar-se
também, abusos sexuais entre crianças de idades semelhantes.
A maior parte dos autores adota como critério de idade máxima da vítima entre os
15 e 17 anos. Acima desta idade, as mesmas condutas não deveriam ser consideradas abuso
24
sexual infantil e, sim, violação sexual (López & cols., 1995). Para os autores, só deveria ser
definido como abuso sexual quando o agressor tivesse mais de 15 anos de idade. Observa-
se que, para alguns autores, os abusos sexuais são definidos a partir dos grandes conceitos
de coerção e assimetria da idade.
De outra maneira, segundo Friedman (1990), os estatutos que tratam do abuso
sexual da criança deveriam abordar, como principal fator em sua definição, a habilidade de
consentir livremente para participar de um determinado comportamento. Dessa forma, seria
eliminada a ênfase em uma variável particular, como idade, nível cognitivo, força,
habilidades sociais, maturidade física, e haveria uma análise completa da situação por parte
do promotor na decisão da acusação e do juiz ou do júri na decisão de culpa ou inocência.
Além da importância da contextualização e das definições que envolvem o abuso
sexual, faz-se necessário entender as suas categorias. A maioria dos estados americanos faz
uma distinção entre abuso sexual e estupro. Considera-se abuso sexual quando os atos são
cometidos por uma pessoa responsável pelo cuidado da criança. Já o estupro é usualmente
definido quando os atos sexuais são cometidos por uma pessoa que não é responsável pelo
cuidado da criança (DePanfilis & Salus, 1992) e caracteriza-se por uma agressão sexual que
inclui relação sexual indesejada (Coons, Cole, Pellow & Milstein, 1990).
O contato sexual entre pessoas que tenham um grau de parentesco, incluindo
padrastos, tutores ou qualquer pessoa que assuma a função dos pais pode ser entendida
como incesto (Flores & Caminha, 1994; Kaplan & Sadock, 1990). O incesto é um dos
abusos sexuais mais freqüentes e que apresenta conseqüências mais danosas às vítimas.
25
No presente estudo foram considerados os conceitos de abuso sexual descritos por
Browne & Finkelhor (1986) no qual o (s) perpetrador (es), um membro da família, envolve
uma criança ou adolescente para sua própria satisfação por meio de atos como tocar, beijar,
acariciar as zonas genitais, se masturbar, com ou não penetração digital ou com o órgão
genital na vagina e/ou no ânus. Considerando o tema principal deste estudo que é investigar
a autopercepção de vitimados de abuso sexual intrafamiliar faz-se necessário abordar os
mecanismos psicológicos envolvidos neste processo.
1.2 Contexto e dinâmica do Abuso sexual Intrafamiliar
O abuso sexual intrafamiliar constitui uma violação ao direito a uma convivência
familiar protetora e uma ultrapassagem dos limites estabelecidos pelas regras sociais,
culturais e familiares. Nesse contexto, o envolvimento de crianças e adolescentes em
atividades sexuais para as quais ainda não compreende e são imaturos pode ser encoberta
por atitudes de intimidade e de carinho (Furniss, 1993). As estimativas de prevalência e
incidência do processo de vitimização, e o quanto freqüentemente estão presentes são
alarmantes, e fundamentais para o desenvolvimento de políticas de prevenção e de
abordagem desse fenômeno complexo.
Nos Estados Unidos uma criança é sexualmente abusada a cada quatro segundos;
90% das vítimas são abusadas por pessoas que elas conhecem, amam e confiam. Somente
uma em quatro garotas, e um em cada 100 garotos, tem o abuso sofrido denunciado; 50%
das vítimas se tornam abusadores; e um pedófilo abusa em média, durante uma vida, de 260
adolescentes ou crianças (ABRAPIA, 2002). Um estudo realizado, entre 2002 e 2003, sobre
26
a vitimização, em idades entre dois e dezessete anos, sugeriu que uma a cada doze crianças
ou adolescentes foram vítimas de alguma forma de violência sexual (Finkelhor, Ormrod,
Turner & Hamby, 2005).
No Brasil, os dados não diferem das sociedades ocidentais e estimam que 165
crianças ou adolescentes sofram de abuso sexual por dia, ou sete abusos a cada hora. A
partir de 1997 o Departamento da Criança e do Adolescente do Ministério da Justiça criou
o Sistema Nacional de Denúncias pelo 0800-990500 e constatou que em cada 100
denúncias de maus-tratos contra crianças e adolescentes nove eram de abuso sexual; 80%
das vítimas eram do sexo feminino, 49% tinham entre dois e cinco anos e 33% entre seis e
dez anos de idade (ABRAPIA, 2002).
No período de 1997 a janeiro de 2003 constatou-se que num universo de 50.412
denúncias, 4.076 foram de abuso e exploração sexual. O maior número de denúncias
realizadas foi da região sudeste do Brasil com 23%, seguido da região nordeste com 17%,
região sul com 11%; região centro-oeste com 8% e região norte com 6%. Entre os estados,
o Rio de Janeiro liderou o ranking com 26% das denúncias; seguido do estado de São
Paulo, com 14,5% e o estado do Ceará, com 8%. É importante destacar que em dezembro
de 2002, o disque denúncia só operou por três dias. Associado a isso, o maior número de
denúncias em alguns estados, não significa o maior número de casos de vitimização. Pelo
contrário, o baixo número de denúncias em certas regiões é que constitui fato ainda mais
preocupante e pode mascarar as estatísticas.
No Rio Grande do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre, foram estudados
1.754 registros, de zero a 14 anos, que sofreram algum tipo de violência, entre 1997 e 1998.
Nesta pesquisa, foram consultadas 75 instituições de atendimento a crianças e adolescentes,
27
tais como, conselhos tutelares, abrigos institucionais, hospitais e órgãos do Ministério
Público. Os números apontaram que 80% das vítimas de abusos sexuais são meninas e 20%
são meninos. Também foi constatado que 65,7% dos abusos sexuais ocorreram na
residência da vítima, 22,2% na rua, 9,7% na residência de terceiros e 2,4% em instituições
públicas (Kristensen, Oliveira & Flores, 1999).
Outro levantamento, realizado no Ambulatório de Maus-tratos de Caxias do Sul/RS,
entre 1998 e 1999, revelou que 59% haviam sofrido abuso sexual e que 77% eram do sexo
feminino. A maioria dos abusos, 35% ocorreu com crianças entre seis e nove anos de idade,
em 33% dos casos o pai foi o responsável pelas agressões (De Lorenzi & cols., 2001).
Outro estudo, realizado em São Paulo, já havia observado uma incidência maior entre a
figura paterna, revelando o pai como abusador em 41,6% dos casos, seguido pelo padrasto
em 20,6%, o tio em 13,8%, o primo em 10,9% e o irmão em 3,7% (Cohen, 1993).
Estes dados estão em consonância com a análise realizada em 71 processos jurídicos
do Ministério Público do Rio Grande do Sul, no período entre 1992 e 1998, por violência
sexual (Habigzang, Azevedo, Koller & Machado, 2005). Esta análise apontou que a maioria
das vítimas 80,9% foi do gênero feminino e tinha entre cinco e dez anos quando submetidas
pela primeira vez à violência sexual. Além disso, o principal contexto onde ocorreu a
violência sexual foi em 66,7% na própria casa da vítima e o agressor era um membro da
família ou alguém de confiança desta.
Recentemente foi realizado um levantamento, nos meses de fevereiro e março de
2008, nos registros dos prontuários de crianças vítimas de abuso, atendidas no Serviço de
Atendimento às Mulheres Vítimas de Violência Sexual (SAMVVIS) entre 2004 a 2007, em
Teresina/PI (Monteiro & cols., 2008). Foram verificados que em 229 registros a idade das
crianças variou de um ano a 12 anos com maior prevalência à medida que se aproxima a
28
adolescência. Este resultado acompanha os dados divulgados quanto à média de idade das
crianças do sexo feminino que são abusadas sexualmente que é de 9,2 anos (SEABRA,
2008). Em relação à escolaridade 42 crianças (21,88%) freqüentavam o ensino primário e
107 (55,72%) não haviam concluído o ensino fundamental, 17 crianças (8,85%) não
estudavam ou não estavam em idade de ingresso escolar. Com relação ao grau de
parentesco do agressor em 15,8% dos casos o agressor era uma pessoa conhecida da vítima,
em sua maior parte o vizinho em 29,7%, seguidos pelo padrasto em 11,4%, pai em 9,4% e
tio em 8,4%. Quanto ao local de agressão, 47% dos casos ocorreram no ambiente familiar e
22,3% na residência do agressor.
Entretanto, os dados apresentados revelam apenas parcialmente o problema, uma
vez que a maioria dos casos de abuso sexual envolvendo crianças e adolescentes é praticada
por parentes ou pessoas próximas e conhecidas, tornando maior a dificuldade da denúncia
(Wolak & Finkelhor, 1998). A violência sexual, segundo Williams (2002), é o delito menos
denunciado na sociedade brasileira devido a sentimentos de culpa, vergonha e o medo de
represálias e ameaça. Quando o agressor é um membro da família, verifica-se o silêncio
cúmplice que envolve as vitimizações sexuais e o temor da dissolução da família com a
revelação, uma vez que, este poderá ser afastado se denunciado, trazendo implicações de
ordem emocional, e muitas vezes econômica, à vítima e sua família. Além disso, a
relutância de alguns profissionais da saúde em reconhecer e relatar o abuso, e a insistência
de tribunais por regras estritas de evidência, contribui para esta condição (Furniss, 1993;
Zavaschi, Telelbom, Gazal & Shansis, 1991).
Nos Estados Unidos, as denúncias de abuso junto às autoridades legais apresentam
taxas de 16 a 32%, com cerca de 300 a 350 mil pessoas com idade de 12 anos ou mais
vitimizadas anualmente (Rennison, 1999), e igual número de vítimas com idade inferior a
29
12 anos (Sediak & Broadhurst, 1996). No Brasil, inexistem dados globais a respeito do
fenômeno, estimando-se que menos de 10% dos casos chegam às delegacias (Faúndes,
Andalaf, Freitas, 1998).
De toda maneira, mesmo que ainda não se consiga obter dados de denúncia mais
consistentes, pode-se observar que o abuso intrafamiliar tem se mantido como o de maior
incidência entre as populações. Sendo assim, estudos têm demonstrado que famílias
incestuosas são bastante disfuncionais e que a dificuldade de prover proteção e cuidado é
perpetuada durante as gerações.
Flores e Caminha (1994) relataram características comuns do funcionamento destas
famílias. Entre os genitores destaca-se a presença de violência doméstica; a dificuldade de
funcionamento sexual adequado; os conflitos entre famílias com a presença de padrasto ou
madrasta; pais com história de abuso e negligência na infância; pais alcoolistas e psicóticos;
pais excessivamente moralistas ou autoritários; pais que acariciam seus filhos ou exigem
carícias que violam a privacidade sexual; mães ausentes ou excessivamente passivas. Na
formação dos filhos, observaram as disfunções no desempenho de papéis, como filhas que
exercem o papel de mãe; comportamentos promíscuos ou autodestrutivos, presença de
crianças retraídas e isoladas ou ainda crianças com comportamento sexual inadequado para
sua etapa de desenvolvimento.
Ao analisar estes preceitos, percebe-se que as relações familiares em que ocorre o
incesto são confusas e a divisão de fronteiras é caótica (Flores & Caminha, 1994; Kaplan &
Sadock, 1990; Watson, 1994; Wright & Scalora, 1996). Furniss (1993) também enfatiza
que esta forma de funcionamento familiar, dificulta a revelação do abuso e origina
situações de desordem para a criança. Tanto o incesto como o abuso sexual infantil,
30
vincula-se a sistemas familiares que promovem e reforçam estilos de conduta marcados por
um deficiente controle de impulsos, nos quais ocorre a presença de atitudes autopunitivas e
a ausência de condutas protetivas (OPS/OMS, 2003).
Dessa maneira, Belsky (1980), com base na teoria do desenvolvimento humano de
Bronfenbrenner (1979), propõe o modelo ecológico para avaliar o abuso sexual enquanto
fenômeno multifacetado. O modelo ecológico considera a influência de quatro sistemas
inter-relacionados que contribuem, de maneira conjunta, para a aparição de condutas
abusivas nos pais, o nível ontogenético (individual), o microsistema (relacional), o
exosistema (comunitário) e o macrosistema (social).
O nível ontogenético avalia as características psicológicas da pessoa que maltrata,
sua história de vida, seu nível funcionamento e sua estrutura psíquica. Assim sendo, deve-
se levar em consideração histórias de negligência, abuso físico e sexual na infância de
ambos os pais, o desenvolvimento de sua socialização, a prática com a paternidade, o
conhecimento do timing do desenvolvimento, bem como as mudanças radicais
experienciadas em suas vidas. Pais abusadores, freqüentemente, apresentam experiência de
abuso sexual ou físico, ou sofreram negligência na infância (Belsky, 1980; Cohen, &
Gobbetti, 2003).
A estrutura da família e a forma de interação entre seus membros são verificados
pelo estudo do microsistema familiar. Neste sistema, busca-se conhecer não apenas o
funcionamento do subsistema conjugal, mas também, o subsistema pais-filhos. As
características comportamentais das crianças, seu nível de compreensão e maturidade e os
problemas de conduta que possam refletir sua participação no abuso, sem que seja
31
responsável por este, são investigados (Belsky, 1980; Furniss, 1993). Esta análise torna-se
importante para o entendimento dinâmico destes sistemas e sua relação com o abuso sexual,
especialmente no que diz respeito à síndrome de segredo e adição.
A “Síndrome Conectora de Segredo e Adição” (Furniss, 1993) ocorre quando o
filho, que é estruturalmente dependente, procura o pai ou a mãe em busca de apoio
emocional e em resposta, o pai se utiliza da criança para satisfazer o seu desejo sexual.
Nesta circunstância, a criança é seduzida e recebe ameaças constantes para impedir que
revele a situação; as famílias têm, geralmente, dificuldades em “escutar” as tentativas da
criança em comunicar o abuso e pode-se perceber o uso do mecanismo de negação. Em
famílias muito caóticas, a situação é ainda mais séria porque a criança é intimada a manter
o ato abusivo como um segredo de família (Watson, 1994).
Wright e Scalora (1996) afirmam que quanto maior a confusão de papéis na família
disfuncional mais se perpetua o segredo do comportamento abusivo. Segundo os autores,
entre os fatores que incidem no silêncio por parte da criança estão: as ameaças que recebe
do perpetrador; a introjeção da culpa que faz se sentir responsável pelo que ocorre e faz
temer a revelação; e a fragilidade de seu ego que dificulta entender a experiência. Os efeitos
do silêncio podem tanto contribuir para o isolamento da vítima como agravar as
conseqüências traumáticas do abuso porque favorece a síndrome da adição e que os atos
abusivos se reproduzam (Gauthier, 1994).
A síndrome de adição, por sua vez, envolve a crescente intensidade das diferentes
formas de abuso sexual, inicialmente mais leves, como carícias no corpo da criança, até
chegar ao abuso sexual com intercurso completo. Portanto, o abuso sexual envolve
32
atividades que objetivam a gratificação das demandas e desejos sexuais do abusador, de
modo a incluir o elemento intencional e repetitivo (Furniss, 1993).
Para auxiliar a romper com os processos que envolvem os segredos e a vitimização
sexual é também essencial conhecer as condições de vida dos membros da família fora do
microsistema familiar, mas com incidência nele. No exosistema, devem ser observadas as
relações da família com outros familiares, com vizinhos ou companheiros de trabalho, as
redes de apoio social, a influência do trabalho dos pais e do grupo social de que a família
faz parte. Em relação ao trabalho, a dificuldade em manter uma atividade regular e não
esporádica, parece ser um dos maiores fatores de risco em comportamentos abusivos, assim
como o desemprego (Belsky, 1980). Quanto às relações com a vizinhança, as famílias
abusadoras de crianças são isoladas de sistemas de apoio, em crises de stress apelam para
atos abusivos para com seus filhos (Belsky, 1980; Wright & Scalora, 1996).
Por último, em nível mais externo, o macrosistema, situa-se as crenças sociais e os
valores culturais prevalentes na sociedade em que está imersa a família; representações
sociais sobre as crianças, nível geral de violência que há na sociedade, atitude diante das
formas de violência. Um fator de risco seria o alto nível de violência nas populações e a
atitude de controlar o comportamento das crianças pela punição física (Belsky, 1980).
A vantagem do modelo ecológico na avaliação do abuso sexual está na
compreensão dos elementos envolvidos como algo multideterminado, em que todos os
sistemas se influenciam mutuamente. Outra forma de compreensão desse infortúnio se
apóia na teoria psicanalítica.
33
Segundo Freud (1923/1976c) a proibição do incesto tem um efeito estruturante na
personalidade, a repressão dos impulsos incestuosos diferenciam as instâncias psíquicas id,
ego e superego, o que possibilita a estruturação da identidade familiar e social. Nos casos
de abuso sexual incestuoso o conflito original não resolvido e os processos de separação e
individuação inexistentes, favorecem que a diferença entre seus membros e entre as
gerações não se estabeleça adequadamente. Assim sendo, a família por sua própria
dinâmica, pode estimular inconscientemente as situações incestuosas.
Nessa perspectiva, os desejos inconscientes permeiam as relações entre o casal e
entre pais e filhos. A função materna, fundamental na estruturação do sujeito psíquico, pode
contribuir para o abuso sexual ou para o incesto (Bollas, 1992). Segundo o autor, os papéis
parentais podem circular na tríade pai-mãe-criança, o que revela que nem a mãe e nem o
pai conseguem ocupar suas funções no processo de interdição. Assim, para a psicanálise, o
incesto refere-se à impossibilidade da criança se constituir como um ser independente ao
desejo da mãe. É a dificuldade de discriminar-se, resultante da impossibilidade de
instauração da função-pai constituir o limite, e determinar os parâmetros entre o eu e o
outro, que propicia a relação incestuosa (Forward & Buck, 1989). .
O abuso sexual entre pai/filha antecede o período edípico, evoca relações pré-
genitais da criança com a mãe, sua cuidadora, responsável pela constituição da experiência
erógena do corpo da criança. Nesse sentido, o pai invade o corpo da criança por intermédio
do corpo materno, uma vez que esta, desde o início, teve mais acesso ao corpo da criança, a
higienizou, a ninou, a amamentou (Bollas, 1992). Segundo o autor, é como se a mãe tivesse
autorizado o ato incestuoso do pai que, ao explorar as primeiras relações mãe-bebê,
apresenta-se à filha revestido da pele psíquica materna. A menina é muitas vezes oferecida
34
ao pai, por sua mãe, numa tentativa escamoteada de realizar seu próprio desejo edípico.
Portanto, ao sofrer o abuso sexual do pai, a menina encontra-se submetida não somente a
este, mas também ao desejo incestuoso da mãe, que aprisionada em seu próprio Édipo,
torna-se inconscientemente, parceira dessa violação.
Dessa forma, ocorre a re-atualização de uma cadeia transgeracional. O desejo
materno, capturado inconscientemente pela criança, vai ao encontro do próprio desejo
incestuoso de fusão com a mãe. Quando a mãe não exerce a função de protetora do uso do
corpo da criança pelo pai, deixa de ocupar o lugar de interditor da criança, e passa a
denunciar sua parcela junto ao perpetrador. Esta situação deve ser compreendida como uma
psicopatologia relacional por ser o resultado de uma disfunção no sistema transacional da
tríade pai-mãe-criança (Forward & Buck, 1989; Furnis, 1993).
Para os autores, (Fígaro-Garcia, 2004; Forward & Buck, 1989) o incesto seria
resultante da falta de proteção da mãe para com a filha, da utilização da negação e de sua
incapacidade afetiva para com o marido e a filha. Além disso, estas mães podem apresentar
um desejo em livrar-se de suas funções, o que faz com que abdique de seu papel materno e
conjugal delegando-o para a filha. Pode-se também perceber a existência de mães, que
promovem um envolvimento mais ativo na relação incestuosa pai/filha, propiciando desde
estímulos sutis até o contato sexual efetivo. Essas mulheres mostram-se dependentes dos
maridos e das filhas que acabam por ocupar os afazeres domésticos, despertando-lhes
ressentimentos por apoderarem-se indevidamente de seu lugar. À medida que o
ressentimento cresce, aparece a hostilidade, o ódio e o desejo de que a filha seja punida e
humilhada. Nestas situações, observam-se mais claramente sentimentos de ambivalência
habitualmente presentes na relação incestuosa.
35
Quando em sua história de origem as mães sofreram abuso sexual e utilizam da
negação no incesto com suas filhas, a repetição do ato incestuoso parece acender um alívio
inconsciente, mantendo-as na posição de filhas amadas pelo pai, projetado na figura do
marido (Fígaro-Garcia, 2004). Assim, segundo a autora, pode-se entender a dificuldade da
mãe em dar credibilidade e apoio à filha, sua posição em permanecer ao lado do parceiro e
o uso que faz da negação para defender-se contra o reviver de sua própria situação dolorosa
Bollas (1992).
O pai é parte de outra cadeia transgeracional que eventualmente o faz viver, em
caráter regressivo, uma relação incestuosa com a mãe. Não se reconhece capaz de exercer a
função paterna e por vezes, não pode efetivamente exercê-la, conhece as leis e a proibição,
mas não se submete a elas. O abuso sexual pode ser então, resultante da configuração da
tríade familiar. A mãe não se encontra ausente nas situações de abuso sexual, como se
acredita, mas se faz presente nos bastidores dessa vivência, algumas vezes, inclusive,
promovendo-a, o que caracteriza um conluio perverso com o pai. Na relação com os filhos,
os pais revelam suas primeiras relações objetais. É dessa forma que a criança é convocada a
ocupar o lugar de uma falta.
A criança por sua vez, em seu desejo de ser amada, pode seduzir a mãe, na tentativa
de convencê-la de que é aquilo que lhe falta; porém, nem a criança pode completar a mãe,
nem esta pode completá-la. O incesto é resultado dessa falta de discriminação entre o eu e o
outro, em que ficam escamoteados os limites. A compreensão dos casos de abuso sexual e
de incesto exige o resgate de algumas relações geralmente negligenciadas: a compreensão
das relações entre Jocasta e Édipo; a dinâmica ambivalente de amor e ódio entre mãe e filha
nos casos de abuso sexual. A análise dessas relações revelou o papel do ódio e a
36
ambivalência presente nas relações esquecidas entre a mãe e a criança que são
dinamicamente revividas por meio dos mecanismos de projeção e introjeção.
A introjeção é necessária para que a criança possa criar uma representação do
mundo externo em seu aparelho psíquico, organizar seu caos pulsional e dialetizar os
desejos do outro – a mãe. Nas situações de abuso sexual, a criança introjeta o desejo
incestuoso da mãe, aceita o lugar imposto por ela; e também pode utilizar essa situação
como vingança, ao apropriar-se daquilo que deveria ser objeto de desejo sexual desta mãe –
o pai.
A partir da noção de narcisismo, segundo Capitão (2001), pode-se perceber que os
bebês são investidos da projeção do narcisismo dos pais e, se o narcisismo caracteriza-se
pelo regresso, pelo investimento da libido no próprio eu, a criança violentada representa a
projeção das marcas do eu re-atualizadas. O que significa que pode estar representando uma
reedição do que poderia ter se passado exclusivamente na fantasia. Observa-se, segundo o
autor, o peso do determinismo psíquico, já que os eventos psíquicos são determinados por
outros que os antecederam, e com eles mantêm alguma relação na sua expressão atual.
Assim sendo, a realidade das experiências vividas é constituída junto com o outro,
num interjogo de introjeção e projeção. Especialmente, no caso da criança, o abuso sexual
confronta o sujeito com o excesso, remetendo-o a um estado traumático, de desamparo,
marca de suas experiências mais primitivas.
Para “Além do Principio do Prazer”, Freud (1920/1976a) enfatiza que um trauma
psíquico decorre da impossibilidade de simbolizar uma vivência. Neste texto, a situação
traumática aparece descrita como um excesso de excitação provocada pelo evento externo
que invade o psiquismo e não possibilita a emergência de representações mentais do
acontecimento. Este excesso de energia não vinculada e a incapacidade de dar escoamento
37
à mesma propiciam a instalação do trauma. Portanto, pode-se entender que um efeito
patológico pode derivar de uma experiência que remete o sujeito a um desamparo que o
aprisiona e o imobiliza, e que impossibilita a reorganização psíquica. No caso das crianças
que sofrem abuso sexual, além da experiência psíquica traumática observa-se a experiência
da dor relacionada ao corpo anatômico.
Como afirma Volich (1998) toda dor remete o indivíduo a suas experiências
primitivas de desamparo. A compreensão das distinções entre incesto e abuso sexual exige,
portanto, compreender o caráter indissociável das relações entre o corpo anatômico e
fisiológico e o corpo imaginário que a ele corresponde. É também necessário considerar o
contexto cultural do sujeito. Historicamente, o pai da horda primitiva possuía todas as
mulheres do clã, incluindo suas filhas. A instituição totêmica organizou as relações sociais,
regulamentou o acesso às mulheres e às relações entre as gerações. A regulamentação
dessas relações instaurou as leis e os preceitos. O homem passou de uma condição
instintual, para uma condição social, cultural. Essas regulamentações determinaram o que é
permitido e o que é considerado abusivo ou obsceno (Freud, 1912-1913/1974b).
Nesta perspectiva, diante do contexto cultural atual em que a incidência das
transgressões como o incesto e o abuso sexual são crescentes, vale questionar: Quais as
implicações psíquicas do abuso sexual intrafamiliar para crianças e adolescentes? A fim de
verificar este questionamento, torna-se necessário discorrer sobre a autopercepção deste
maltrato para as vítimas e sobre a importância de se utilizar um método adequado para
avaliar isto.
38
1.3 Constituição Psíquica e Autopercepção de Adolescente Vítimas de Abuso Sexual
A autopercepção de crianças e adolescentes, vítimas de abuso sexual, é descrita neste
capítulo, com base no desenvolvimento do aparelho mental freudiano. Para melhor
compreensão deste processo, também são apresentadas as conseqüências da vitimizaçâo
sexual e os estudos com Método de Rorschach relacionados ao tema.
1.3.1. A Constituição Psíquica e a Autopercepção
Na compreensão sobre a constituição do aparelho psíquico encontram-se algumas
respostas nos textos de Freud (1985/1977b) do “Projeto de uma psicologia científica”; na
“Carta 52” (Freud, 1892-1899/1977a); em “A interpretação dos sonhos” (Freud,
1900/1992a); nos artigos metapsicológicos de 1915 e em “O ego e o id” (1923/1976c). Na
obra de Freud, observa-se que duas propostas são relatadas sobre a formação do aparelho
mental, a primeira e a segunda tópica. A primeira tópica, descrita entre 1900 e 1920, o
aparelho anímico é composto de consciente, pré-consciente e inconsciente; a segunda
tópica, descrita entre 1920 e 1938, as instâncias psíquicas são denominadas de id, ego e
superego.
No “Projeto de uma psicologia científica”, Freud (1895/1977b) descreve a existência
de uma carga de excitação vinda desde o exterior, que se transforma em uma qualidade
psíquica, que resulta em registros mnêmicos: as representações fundantes do eu psíquico.
Desde o início, o aparelho mental é concebido como uma estrutura dinâmica, aberta, o que
entra no pólo perceptivo entra como excitação, como estímulo, havendo nesse interior um
trabalho de ordenamento e de qualificação pelas vias colaterais de ligação e pelas
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barreiras de contato. A amamentação, nesse sentido, é uma experiência sexual geradora de
prazer para a criança, que suga, e para a mãe, que amamenta. Estas são descobertas
psicanalíticas importantes que referem que a sexualidade se constrói, não é determinada
pela biologia, e que o sexual é além da sexualidade genital, o que inclui as experiências
sensuais da criança vividas em relação ao seu próprio corpo ou em contato com o corpo da
mãe.
Nos “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade” (Freud, 1905/1972b) a expressão de
um bebê satisfeito, amamentado, é observada como algo semelhante ao gozo do orgasmo.
Assim sendo, quando a mãe toca o corpo do bebê, o amamenta e realiza os cuidados
autoconservativos, ela introduz o pulsional e inaugura o sexual. Bleichmar (1993) define a
entrada dessa excitação como traumática, como um excesso, que está relacionado com o
que é oferecido ao bebê e a sua capacidade de absorver, o que estaria também relacionado
com a sua própria necessidade. Essa diferença, esse excesso de excitação, requer um
trabalho psíquico constante, de re-ordenamento, que é realizado com o apoio dos cuidados
maternos. Nesse sentido, Freud (1892-1899/1977a), na “Carta 52” faz menção à
importância do auxílio alheio como aquele outro pré-histórico inesquecível, nunca igualado
a outra pessoa.
Então, o que entra como excitação e se transforma numa qualidade psíquica vai
marcar, pela ação do contra-investimento, espaços nesse interior. A idéia da primeira tópica
da formação do aparelho mental freudiano é a de que um espaço, um lugar que se forma. O
inconsciente é originário enquanto psíquico, mas forma-se por um trabalho de repetição e
de re-ordenamento. Os espaços que vão ser marcados no interior do aparelho dependem da
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repetição, da maneira de vivenciar o ingresso da excitação no interior, da vivência de
satisfação, e do que vem desde o exterior.
A repetição e o re-ordenamento que ocorrem no interior do aparelho vão formando
vias colaterais de ligação, o que diminui o desprazer ocasionado pelo excesso. Freud
(1905/1972b) diz que as ações da mãe ao cuidar o bebê proporcionam vias colaterais de
ligação, pois o desprazer sofrido pelo excesso que ingressa num aparelho que não está
constituído vai sendo ligado também com base nesses cuidados. Assim, a ação específica,
que se relaciona à autoconservação, gera a experiência de satisfação, que dá origem ao
desejo e à sexualidade, conforme o modelo do capítulo VII deA interpretação dos
sonhos” (Freud, 1900/1972a).
Também no “Projeto de uma psicologia científica, Freud (1985/1977b) ao referir o
desamparo original do bebê e a sua necessidade de auxílio para suprimir a tensão resultante
do afluxo das excitações endógenas, salienta a importância da presença de um agente
propiciador da ação específica. Então, o efeito da ação específica será a vivência de
satisfação nesse interior que define lugares, cria marcas, registros, começando a formar um
intramado psíquico capaz de suportar os estímulos. Para Laplanche e Pontalis (1983) a ão
específica é designada como um conjunto do processo necessário à resolução da tensão
interna criada pela necessidade.
O encontro com o objeto real propicia a vivência de satisfação, disso decorrendo a
incorporação do alimento. Com a incorporação, o leite desaparece. O que fica? Freud diz
fica o registro de um conjunto de atributos do cuidador, por introjeção. Já na seção sete e
oito do “Projeto de uma psicologia científica” Freud (1895/1977b) refere que não só são
percebidas quantidades do mundo exterior, mas também qualidades. Portanto, a repetição
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da vivência de satisfação será enriquecida com tais atributos que vão gerar as
representações.
Assim sendo, a mãe que cumpre a ação específica contribui para uma especificidade
do aparelho, ou seja, a criança passa a estabelecer fixações que proporcionam a distinção
tópica, esperada na normalidade. Para isso é necessário diminuir o desprazer e priorizar o
prazer, o conforto, a satisfação. É necessário decodificar, traduzir, o que implica a
transformação de quantidades em qualidades, de erogeneidade em sensorialidade. Isto é o
que se espera, que a constância do sistema se mantenha, priorizando, assim, a
autoconservação.
Entretanto, pode ser diferente. Pode ser que a mãe, como representante externo, seja
incapaz de dar-se suficientemente à criança para que esta possa se organizar. Não
percebendo a demanda da criança, responde por uma ação inespecífica, de forma invasora
ou ausente. Conseqüentemente, esse aparelho psíquico desorganizado vai ter outra
qualidade, pois o que fica no interior é um transbordamento de angústia, uma vivência
tóxica, comum nas psicoses, nos quadros psicossomáticos graves, nas depressões, na
drogadição.
No transbordamento de angústia, por exemplo, o sujeito pode fazer um delírio para
dar conta do que o aparelho não consegue suportar, há uma falha na simbolização, na
capacidade de pensar. Assim, os prejuízos estão nas representações que vão para o pré-
consciente, tornando frágil o aparelho psíquico pela sua incapacidade de operar, de dar
conta do equilíbrio entre prazer-desprazer. Fica sempre invadido por algo que não consegue
metabolizar.
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A definição dos espaços psíquicos postulada por Freud (1915/1974d) em seus artigos
sobre metapsicologia ocorre pelo recalcamento primário ou originário, cujo mecanismo
central é o contra-investimento. São esses recursos primitivos criados no interior do
aparelho que lutam, para fazer frente às pressões vindas do pólo perceptivo, do exterior.
Assim, o contra-investimento é um mecanismo do recalcamento que fica disponível para o
trabalho psíquico que se está organizando; que vai dando condições para que se formem
espaços com características diferentes. Há coisas que vão ficar marcadas no inconsciente e
que não vão passar para o pré-consciente porque esse acesso lhes é negado; por isso, jamais
chegarão à consciência.
Então, na primeira tópica, o aparelho psíquico constitui-se a partir de algo que
ingressa, que se modifica com o trabalho psíquico e que resulta na representação. A ênfase
está colocada no impacto do meio sobre o organismo e na relação do organismo com o
meio. Além dos estímulos externos, há os endógenos, mas que se restringem às ações
defensivas; as forças internas, nesse momento, são reações secundárias às externas.
Quando Freud começa a repensar a dualidade pulsional no artigo “Luto e melancolia”
(1915/1974 d) e, em 1920, quando escreve “Além do princípio de prazer”, passa a entender
que as pulsões seriam divididas em pulsões de vida e de morte. Nesse modelo, o aparelho
psíquico é estruturado pelo id, ego e superego. O id, a matriz pulsional, nasce com a
criança, diferentemente da primeira tópica, em que o pulsional se instala a partir do
encontro da criança com a mãe. O ego, o responsável por organizar, por sintetizar as
pulsões de vida e de morte, teria uma parte voltada para atender às demandas do id, e outra
ligada às representações da realidade. E, o superego a instância que proíbe para manter o
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predomínio da pulsão de vida - de Eros, uma instância de organização do aparelho com a
proposta de manter a satisfação, responsável pela saúde desse aparelho.
A partir de então, a teoria psicanalítica explica a gênese do ego em dois registros, pela
sua diferenciação do id em contato com a realidade exterior, e como um produto de
identificações (Laplanche & Pontalis, 1983), um dos aspectos fundamentais da segunda
tópica. Nos primórdios da vida, como o grau de dependência é absoluto, as identificações
primárias são, em um nível descritivo, passivas. Torna-se evidente que, se a identificação é
a conformação do ego de acordo com o modelo, a criança é identificada primariamente por
seus pais, em especial por sua mãe (Mayer, 1989).
Aulagnier (1985) descreve que, durante a primeira fase da existência do Eu, a criança
deixa ao porta-voz, sua mãe, a tarefa de formular as aspirações identificatórias. Assim, é a
mãe quem conta à criança quem ela é, como ela é, o que ela será. Na evolução
psicossexual, a identificação primária é a forma original e primitiva de vinculação afetiva
com um objeto; é, portanto, uma união simbiótica anterior a qualquer diferenciação entre
sujeito e objeto correspondendo a etapa do narcisismo (Freud, 1921).
Em seu percurso, a identificação desempenha um papel importante na história
primitiva do complexo de Édipo. Freud (1900), em “A interpretação dos sonhos”, descreve
o complexo de Édipo como um conjunto de colorações afetivo-sexuais das crianças em
relação a seus pais. Já o estudo do complexo de Édipo em sua evolução, nos textos de 1921
a 1931, menciona um oráculo que proferiria uma sentença a uma criança antes do seu
nascimento: ela assassinaria seu pai e se casaria com sua mãe. Essa idéia esboça o
complexo de Édipo como uma estrutura, um conjunto de reações anteriormente dado, uma
espécie de roteiro prévio que os personagens - pai, mãe, filho - vão desempenhar na
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travessia edípica, quando a criança em desenvolvimento passa a aprender a ser um homem
ou uma mulher.
O complexo de Édipo é, portanto, uma estrutura por meio da qual o ser humano
define-se como um ser sexuado. O Édipo tem um caráter constitutivo, ou seja, constitui
pessoas segundo modelos parentais ou por quem quer que venha a ocupar essa função. O
superego seria o herdeiro do complexo de Édipo, quando os pais deixam de ser objeto de
investimento libidinal e passam a ser figuras de identificação introjetadas. O superego da
criança não se desenvolve simplesmente à imagem dos pais, mas sobretudo à imagem dos
superego deles, dos representante da tradição, dos juízos e valores que subsistem por meio
de gerações (Laplanche & Pontalis, 1983).
Deste modo, as identificações são processos inconscientes, não basta ensinar aos
pais como devem proceder diante de seus filhos para que a passagem pelo Édipo seja bem-
sucedida; é necessário, fundamentalmente que a travessia edípica dos próprios pais tenha
sido bem-sucedida, pois suas antigas relações estarão de alguma maneira, presentes de
modo inconsciente delineando essa passagem. Os desejos edipianos dos pais ou as defesas
que criam contra eles influenciam suas atitudes em relação ao corpo e à sexualidade de seus
filhos. A angústia e a culpa edipianas projetadas sobre o jovem ou as atitudes de sedução ou
de inveja, igualmente inaceitáveis, comprometem a integração do corpo sexuado do
adolescente. Os pais revivem, por meio do filho, as dificuldades de sua adolescência
(Capitão, 2007). Observa-se que o crescimento e a maturação do corpo, os sinais
emergentes de um real pulsional, colocam em jogo o lugar do adulto como também o lugar
do próprio sujeito.
Na adolescência o corpo familiar da primeira infância é perdido e em seu lugar
aparece um mal-estar em relação a um corpo desconhecido, fonte de inquietude e, na
45
medida em que remete à sexualidade, interpela e questiona o sujeito (Tubert, 1999). Os
impasses em relação a esse novo corpo, pouco familiar, o declínio dos ideais e a separação
dos pais, conduz o jovem a uma perda de referência de si-mesmo, sustentada, até então,
pelo ego dos pais. Sua necessidade de diferenciação impele ao abandono do apoio do ego
parental, o que lhe gera fragilidade e angústia (Blos, 1996). Tal angústia remete ao temor da
perda de amor, ao medo de que a nova imagem possa não agradar, denotando uma crise de
natureza narcísica. A fase do espelho parece esclarecer esta crise em relação à imagem do
corpo e à perda do amor.
Lacan (1949/1998) salienta que, o que sustenta a relação da criança com esse corpo
primeiro é o olhar e a voz do Outro, elementos que permitem a apropriação da imagem do
corpo. Se, primeiramente, o esquema corporal é o mesmo para todos os indivíduos, a
imagem do corpo, pelo contrário, é própria de cada um, está ligada ao sujeito e sua história
como uma síntese de suas experiências vividas (Dolto, 2001).
Na comparação com as figuras parentais, destituídas do lugar ideal, o sujeito
enfrenta a morte da imagem, fundante de um corpo, sustentada no narcisismo parental, sua
majestade o bebê, que é acompanhada pela perda do olhar da mãe, o que remete à
necessidade da passagem de uma imagem do corpo a outra. O adolescente se confronta com
a perda de ser o falo e necessita passar do ser para tê-lo. Esta passagem provoca um mal-
estar em sua relação com o outro semelhante, estabelecida na base de um novo olhar, e em
relação ao próprio corpo, onde se opera um deslocamento do campo pulsional que
viabilizará uma posição sexuada. Quando essa imagem narcisista não serve mais de
revestimento para o corpo, ao se deparar com a emergência do real pulsional que afeta o
corpo, ocorre o atravessamento de uma crise narcisista onde a tarefa central é dar conta da
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problemática de como sustentar esse desejo (Tubert, 1999). Nesses casos, a maneira como o
os pais se posicionam pode precipitar nos jovens diversas condutas.
Pode ocorrer nesse período de crise, que o adolescente fique sem amparo por parte
do par parental que, muitas vezes, se licencia de suas funções simbólicas, invertendo a
relação, colocando-se como personagens em conflito. A omissão diante da angústia do
adolescente pode conduzir a uma situação onde a emergência do pulsional, ao afetar as
formas do corpo, torna-o um fardo para o seu portador (Hamad, 1999). A ferida narcisista,
o mal-estar em relação ao corpo, pode aparecer numa dialética da aparência, que se mostra
no culto à imagem, tanto no cuidado excessivo com o corpo como no desmazelo, nos ritos
de limpeza e na obsessão, e na gravidez precoce. Portanto, se o Outro, não vier em auxílio,
isso pode levar tanto à depressão como a exaltações maníacas, nas quais o sujeito retorna à
ilusória liberdade infantil, onde era e podia tudo (Rassial, 1997).
O desfalecimento da função paterna pode ainda obstacularizar ou impedir a criança
de sair do espelho com o sentimento de pertencer a um ou outro sexo, e ter acesso a uma
identidade sexual (Dias, 2000). Para a autora, se o sujeito entra mal no Édipo, a
impossibilidade de sair do espelho provoca, ao lado de impulsões e transgressões, atos que
colocam em risco a integridade física, como forma de resolução do impasse. Tal impasse
ocorre porque o corpo fica preso ao real do espelho esférico, num transitivismo entre o eu e
o eu ideal, como falo da mãe, dialética do tudo ou nada, cuja saída se dá pelo
despedaçamento. A inoperância da paternidade deixa o corpo do adolescente cativo do real.
A tensão ou o aumento da libido, o real pulsional, afeta o sujeito e exige uma nova
posição sexuada, que depende da realização do luto em relação ao corpo da primeira
infância, corpo do narcisismo parental (Blos, 1996). Quando este luto não pode seguir seu
caminho, o corpo ganha o sinal de estranho. O estranhamento e a impossibilidade de fugir
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desse novo corpo pulsional, produz sentimentos de desesperança e inadequação. Isto
decorre da impossibilidade de realizar o luto da imagem infantil perdida e do impedimento
de ocupar uma nova posição subjetiva. O sofrimento destes adolescentes, revelador do mal-
estar subjetivo, pode ser observado em suas condutas de risco onde o alívio do
aprisionamento ocorre por meio de atos impulsivos que provocam dano ao próprio corpo ou
ao corpo do outro (Capitão, 2007).
Assim sendo, as relações familiares de acolhimento na infância são de vital
importância na constituição do ego da criança. No entanto pode ocorrer que frente à própria
história de desamparo, o adulto atribua ao outro a fraqueza que deseja eliminar de si mesmo
com vistas à re-assegurar o seu próprio narcisismo. Nesses casos, o adulto pode transgredir
os limites de subjetivação da criança, invadindo-a com a sua sexualidade e submetendo-a
em objeto de gozo, oportunizando vivências traumáticas difíceis de serem simbolizadas
(Pereira, 2000) como ocorre nas vítimas de abuso sexual.
Portanto, o grupo familiar pode contribuir ou não com a possibilidade de saúde dos
seus membros (Costa, 1999; Ortigues & Ortigues, 1988). O grau de cuidados insuficientes
ou inadequados e a fase do desenvolvimento infantil em que ocorreram determinam a
gravidade dos prejuízos decorrentes (Bowlby, 1989; Spitz, 1988). Quanto mais cedo
ocorrer o trauma, mais devastadores serão seus efeitos (Shengold, 1999).
As experiências abusivas têm um poder aniquilador sobre o outro, pois destroem a
sua individualidade, suprimem a capacidade do indivíduo de usar a sua mente, a sua
capacidade de pensar e de testar a realidade (Shengold, 1999). Diante destas vivencias,
operações defensivas maciças são ativadas com o objetivo de proteger a psiquê: a negação
maciça, a repressão, a dissociação, a identificação com o agressor e a agressão voltada
contra o self. O uso recorrente dessas defesas pode produzir alterações profundas na
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constituição da personalidade da criança, elas podem apresentar amnésia com relação a
estes eventos como podem também não se lembrar de fases da infância (Knopp & Benson,
1996). Assim, o terrível passa a não ser sentido, nem registrado na consciência, e os
sentimentos permanecem isolados e negados.
Outro recurso que pode ser utilizado pela criança é a idealização. A necessidade de
ter com quem se identificar e de ter a quem recorrer em momentos de angústia, pode fazer
com que a criança mantenha a idealização do progenitor agressor, o que aumenta a negação
da realidade (Shengold, 1999). Nestas circunstâncias, os mecanismos de divisão e
isolamento, em que as imagens fragmentadas boas e más do self e dos pais nunca são
fundidas, podem comprometer o desenvolvimento afetivo e cognitivo da criança. A
inibição do ego para lidar com o que não é compreendido resulta numa vulnerabilidade que
instala o estado de viver como se a criança se tornasse um autômato, mecânico e obediente.
Como pode ser observado, os efeitos negativos das privações na infância perpassam
o desenvolvimento da cognição, da linguagem e dos aspectos socioemocionais (Barnett,
1997). A falta de investimento parental adequado gera dificuldades para que o eu infantil
perceba o seu corpo, invista nos seus pensamentos e nos outros (Violante, 1995).
Dentre os prejuízos ocasionados pelas situações de vitimização na infância, a
obstaculização do pensamento decorre da incapacidade da criança para suportar a
percepção da sua dura realidade e o sofrimento dela advindo. Como conseqüência, a
capacidade de pensar, de investigar, de simbolizar, torna-se precária e a personalidade se
configura de forma inábil para compreender e ajustar-se ao mundo. São freqüentes os danos
no desenvolvimento do pensamento e na aprendizagem, que não estão relacionados a uma
deficiência nas estruturas cognitivas, mas a uma inibição sintomática como tentativa de
remover uma situação de perigo geradora de ansiedade para o ego, que é conhecer a própria
49
história (Freud, 1926/1976e; Lajonquiére, 1989). Como se verá a seguir, diversos estudos
sobre o abuso sexual e suas conseqüências foram realizados na tentativa de melhor avaliar,
compreender e atender às vítimas deste infortúnio.
1.3.2. Estudos sobre o Abuso Sexual
Alguns estudos foram desenvolvidos com a preocupação de dimensionar o grau de
severidade dos efeitos do abuso sexual (Furniss, 1993; Kendall-Tackett, Williams &
Finkelhor, 1993; Knutson, 1995). Os indicadores relacionados causadores de maior impacto
maléfico foram: a idade precoce da criança no inicio do abuso; o maior tempo de duração
do abuso; o uso de força pelo perpetrador; a diferença significativa de idade entre o
perpetrador e a vítima; o maior grau de parentesco entre a vítima e o agressor; a ausência de
figuras parentais protetoras e de apoio social; o grau de ameaças do abusador contra a
criança para manter o abuso em segredo.
Wright e Scalora (1996) acrescentam que a saúde emocional prévia das crianças
tende a contribuir para diminuir os efeitos negativos do abuso. Além disso, formas de abuso
mais intrusivas, como a penetração, resultam em conseqüências mais negativas, o que
também é salientado por Kendall-Tackett e cols. (1993). Os autores verificaram também
prejuízos maiores da vitimização sexual quando a família responsabiliza a criança pelo
infortúnio; quando há maior grau de disfuncionalidade na família e quando ocorre a
dissolução da mesma depois da revelação do abuso.
Apesar da complexidade e da quantidade de variáveis envolvidas nas conseqüências
do abuso sexual, alguns sintomas normalmente são evidenciados nas vítimas. Kendall-
Tackett e cols. (1993) dividiram as conseqüências da vitimização sexual de acordo com as
50
idades, pré-escolar, até seis anos; escolar, de sete a 12 anos; e adolescência, de 13 a 18
anos. Os sintomas mais comuns em pré-escolares são ansiedade, distúrbios do sono,
pesadelos, transtorno de stress pós-traumático e comportamento sexual inapropriado. Para
as crianças em idade escolar, os sintomas incluem o medo, o comportamento agressivo,
hiperatividade e comportamento regressivo, distúrbios do sono, pesadelos e problemas
escolares. Na adolescência, os sintomas típicos são depressão, isolamento, comportamento
suicida, auto-agressão, atos ilegais, fugas, abuso de substâncias, queixas somáticas e
comportamento sexual inadequado.
A presença ou não de determinados sintomas nas vítimas parece depender de sua
idade ou período evolutivo, de maneira que alguns efeitos podem apresentar-se durante
toda infância e outros são específicos de determinada etapa, o que resulta na necessidade de
adotar uma perspectiva evolutiva na compreensão do impacto da vitimização sexual
(Finkelhor, 1995; Feiring, Taska & Lewis, 1998a; 1998b). Assim, o sentimento de
culpabilidade é menos provável que se apresente em pré-escolares e que aumente a
probabilidade de aparecer conforme o desenvolvimento maturativo das vítimas.
Conforme Feiring e cols. (1998a), adolescentes vítimas de abuso sexual podem
apresentar níveis superiores de sintomas depressivos e uma menor auto-estima, a relação
entre vitimização e sintomatologia é mediada por sentimentos de vergonha e culpabilidade.
Morrow (1991) descreveu que os adolescentes vítimas de incesto que atribuíam a si
mesmos os motivos do abuso encontravam-se significativamente mais deprimidos e
tendiam a uma menor auto-estima que as outras vítimas que realizavam atribuições externas
para as causas do abuso.
Nesse sentido, as conseqüências da vitimização sexual podem colocar em risco as
tarefas evolutivas da adolescência, o processo de revelação do abuso, as atribuições destes
51
acontecimentos associado à etapa da adolescência pode tornar as vítimas vulneráveis a
problemas relacionados à regulação do afeto e a auto-estima (Feiring, Taska, Lewis, 1999).
Diante da percepção do abuso, as vítimas podem utilizar-se da esquiva como mecanismo de
enfrentamento, o que em geral, interfere negativamente nas atividades cotidianas pela carga
de energia emocional empenhada na aquisição de lembranças e sentimentos relacionados
ao abuso (Johnson & Kenkel, 1991; Leitenberg, Greenwald & Cado, 1992; Spaccarelli &
Fuchs, 1997).
Com o objetivo de verificar os sentimentos de crianças abusadas, Mannarino e
Cohen (1996a, 1996b) investigaram 77 meninas entre sete e doze anos de idade com
história de abuso sexual. Como instrumento foi utilizado a Children’s Attributions and
Perceptions Scale que avaliou a percepção de se sentir diferente dos demais; sentimentos
de auto-recriminação; e confiança interpessoal. O instrumento foi aplicado em três
momentos distintos, no momento da revelação do abuso, seis meses depois do abuso, e
após doze meses ao abuso. Nestes três momentos, os escores das escalas revelaram que as
adolescentes abusadas se sentiam com escassa confiança nos outros, sintomas depressivos e
problemas de auto-estima, e auto-recriminação. Os autores concluíram que a relação entre
atribuições pessoais ou auto-recriminação e o estresse interno pode estar refletindo a
percepção das vítimas de que poderiam ter feito alguma coisa para deter o abuso ou, ainda,
que devessem tê-lo revelado antes, ou ambas as coisas (Duarte & Arboleda, 2003).
Feiring e cols. (1998b) pesquisaram como os dois componentes básicos de
estigmatização, sentimentos de vergonha e de auto-recriminação, podem mediar a relação
entre a experiência de abuso sexual e de estresse psicológico das vítimas. Os participantes
foram 60 adolescentes de 12 a 15 anos de idade, 49 meninas e 11 meninos, vítimas de
52
abuso sexual; e 82 crianças entre oito e 11 anos de idade, 59 meninas e 23 meninos não
vítimas. A amostra foi avaliada durante as oito semanas seguintes da revelação do abuso e
antes de receberem algum tipo de tratamento. Os resultados mostraram que estar
vivenciando a etapa da adolescência e ter experimentado um maior número de incidentes
abusivos relacionava-se com uma maior depressão e menor auto-estima.
Resultados semelhantes da vitimização sexual que podem auxiliar na sua
identificação já haviam sido encontrados na revisão da literatura, em amostras femininas,
de Browne e Finkelhor (1986). Os autores dividiram as conseqüências em efeitos em curto
prazo e efeitos em longo prazo e observaram que as principais reações iniciais das vítimas
são medo ou temores de violência; depressão clínica manifestada em alterações de apetite,
distúrbio do sono e choro sem motivo aparente, comportamento autodestrutivo ou idéias
suicidas; elevada ansiedade e hipervigilância relacionadas à antecipação de novos ataques;
raiva e hostilidade generalizadas ou dirigidas ao agressor, no ambiente familiar e no
ambiente escolar.
Sentimentos de culpa são um dos mais graves efeitos emocionais resultantes da
interação abusiva, especialmente se esta foi incestuosa e durou por muito tempo. O senso
de responsabilidade da criança adquiridos em fases iniciais do desenvolvimento parecem
interceder nos sentimentos de culpa pelo abuso e pelos acontecimentos posteriores à
revelação. A este sentimento soma-se o dano secundário de estigmatização, em virtude da
acusação freqüente por parte dos pais e da família (Furniss, 1993).
O comportamento social das vítimas, tanto em curto como em longo prazo,
sobretudo no abuso incestuoso, também sofre conseqüências, sendo um efeito muito
53
comum a perda de confiança e a dificuldade em confiarem-nos outros (Hay, Berg &
Safnuk, 1995; López & cols., 1995; Watson, 1994). Esta pode ser especialmente conflitiva
quando existem relações familiares entre o agressor e a vítima. Se o agressor é uma das
figuras de apego, ele deixa de exercer sua função protetora e a vítima aprende que quem
deveria oferecer-lhe proteção incondicional, explora-a e manipula-a (López & cols., 1995).
De forma semelhante, Flores e Caminha (1994) apresentam um estudo segundo o
qual as crianças abusadas possuem menos comportamento pró-social, compartilham menos,
ajudam menos e associam-se menos a outras crianças, quando comparadas com crianças
não abusadas. O retraimento e as relações superficiais também foram descritos como
características nas relações interpessoais das vítimas por outros autores (Boer, Hart, Kropp
& Webster, 1997; Hanson & Bussiere, 1996; Romans, Martin & Mullen, 1997; Wright &
Scalora, 1996). Os resultados destas pesquisas mostraram que crianças vítimas de abuso
sexual incestuoso são desencorajadas a realizar movimentos de separação individuação, o
que interfere no estabelecimento de novas relações interpessoais e amizades apropriadas
para a idade.
As conseqüências no comportamento sexual em curto prazo na infância, e em longo
prazo, na adolescência e idade adulta, são descritas por Wright e Scalora (1996). Os autores
apontam para atividades sexuais inadequadas em criança como brincadeiras sexuais
persistentes e masturbação contínua, introdução de objetos no ânus ou na vagina em si
mesmo ou em outras crianças, comportamento sedutor e conhecimento sobre sexo
inapropriado à idade. Em adolescentes pode ocorrer confusão a respeito da identidade
sexual para àqueles que sofreram abuso homossexual, especialmente vítimas do sexo
masculino. Na idade adulta, são comuns as dificuldades no ajustamento sexual que muitas
54
vezes se manifestam na ansiedade e na evitação ou no desejo compulsivo por sexo. Parte
desses efeitos também foi sustentado por Browne e Finkelhor (1993).
Em curto prazo, uma conseqüência da vitimização sexual comumente apontada é o
transtorno de estresse pós-traumático TEPT (Browne & Finkelhor, 1986; Flores &
Caminha, 1994; Gabbard, 1992; Kaplan & Sadock, 1990; Kendall-Tackett & cols., 1993).
Algumas situações de perdas são de tal magnitude e intensidade que os indivíduos não
conseguem enfrentá-las e, portanto, eles continuam revivendo-as pela síndrome do estresse
pós-traumático, como se por meio de tentativas repetidas (Freud, 1923/1976c) eles
pudessem elaborar o trauma vivido. Entre as ocorrências de eventos traumáticas estão o
incesto, a participação forçada em rituais satânicos, estar envolvido ou presenciar crimes
violentos ou acidentes e, formas de abandono real ou percebido. Talvez um dos aspectos
mais dolorosos da experiência traumática seja o impacto sobre o ego, a perda de um senso
de si mesmo (Cerney, 1990).
As manifestações sintomáticas do TEPT, de acordo com Flores e Caminha (1994) e
Gabbard (1992), são divididas em três grupos: a) re-experimentação dos fenômenos
vivenciados em lembranças intrusivas, sonhos traumáticos, jogos repetitivos; b) evitação
psicológica por meio de fuga de sentimentos, pensamentos, locais e situações, interesse
reduzido em atividades habituais, transtorno de memória; c) estado de excitação aumentada
ocorrendo transtorno do sono, irritabilidade, raiva, dificuldade de concentração,
hipervigilância, resposta exagerada de sobressalto e resposta autônoma a lembranças
traumáticas. Este quadro psicopatológico tem sido destacado como o mais associado ao
abuso sexual (Runyon & Kenny, 2002). Alguns autores enfatizam as falhas no
processamento da memória traumática (Alexander & cols., 2005; Ehlers & Clark, 2000) e
55
os prejuízos nas funções executivas, da aprendizagem verbal, da memória e da atenção
(Stein, Kennedy & Twamley, 2002; Vasterling & Cols., 2002; Yehuda, Golier, Halligan &
Harvey, 2004).
Estudos recentes têm igualmente relacionado o abuso sexual a severas
conseqüências para o desenvolvimento cognitivo, afetivo, comportamental e social de
crianças e adolescentes (Briere & Elliot, 2003; Paolucci, Genuis & Violato, 2001; Tyler,
2002). Conseqüências emocionais, como medo, depressão, ansiedade, sentimento de culpa
(Paolucci & cols., 2001; Tyler, 2002) e alterações comportamentais, como isolamento,
comportamento sexual inapropriado, dificuldade de confiar no outro e estabelecer relações
interpessoais têm sido comumente citadas na literatura (Amazarray & Koller, 1998). Além
disso, uma variedade de transtornos psicopatológicos, como transtorno alimentares,
transtornos psicossomáticos, comportamento delinqüente e abuso de substâncias
dissociação, depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) tem sido
destacados (Cicchetti & Toth, 2005; Collin-Vézina & Hébert, 2005).
As conseqüências do abuso sexual são múltiplas. Pesquisas internacionais têm
demonstrado a validade de medidas que possam responder a avaliação psicológica deste
construto. A fim de verificar a inserção dos testes projetivos e especialmente, do Método de
Rorschach, neste contexto, serão apresentados a seguir alguns estudos reportados na
literatura.
56
1.3.3 O Método de Rorschach na Investigação do Abuso Sexual
As crianças que sofrem abuso sexual têm sido relatadas como reservadas e
defensivas e com menor disponibilidade para falar sobre suas dores internas aos outros. Tal
defensividade pode justificar seus baixos escores em medidas de auto-relato de estresse
durante a infância. Os testes projetivos parecem responder como uma das medidas que
podem tocar estes aspectos do funcionamento que não são facilmente acessíveis a
observação comportamental, e que os sujeitos não estão dispostos ou não são capazes de
relatar (Blatt, 1975; Klopfer, Ainsworth, Klopfer, & Holt, 1954; Schaefer, 1954).
Estudos de meta-análise e o Método de Rorschach têm investigado a eficácia de
instrumentos projetivos para a avaliação psicológica de vítimas de abuso sexual. A meta-
análise preocupa-se com as inferências sobre uma área de pesquisa a partir dos resultados
de diferentes estudos. Ela foi associada com um conjunto de técnicas diversas em grande
parte devido a um estudo realizado por Glass (1976), que categorizou três níveis de análise:
a) a análise primária onde a análise original dos dados é realizada a partir de uma pesquisa
de estudo; b) a análise secundária onde ocorre a re-análise dos dados de uma pesquisa de
estudo; e c) a meta-análise onde ocorre a análise estatística dos resultados a partir de um
número grande de estudos de pesquisas individuais com o objetivo de integrar seus
achados. Vários pesquisadores tem se utilizado desta estratégia na busca de indicativos para
discriminar crianças sexualmente abusadas de crianças que não tiveram essa experiência
(Cohen, 1988; Howell, 1992; Hunter & Schmidt, 1990; West, 1998).
West (1998) realizou um estudo de meta-análise com uma
amostra do banco de
dados de 16 pesquisas sendo que 12 destas usaram testes projetivos para avaliar crianças
57
abusadas sexualmente e quatro usaram testes projetivos com crianças abusadas fisicamente.
Todos os estudos incluíram dois ou mais grupos e foram publicados entre 1986 e 1996.
Foram empregados nove instrumentos projetivos, entre eles, o Rorschach, o teste da Mão, o
TAT, os desenhos de família, Desenhos de Figura Humana, Desenho do Dia Favorito,
Casa-Árvore-Pessoa. Os resultados desta análise indicaram que instrumentos projetivos
podem discriminar indivíduos estressados dos não estressadas. Nos estudos que incluíam
um grupo clinico de crianças estressadas que não foram sexualmente abusadas, os
instrumentos foram menos capazes de discriminar o tipo de estresse. Esta meta-análise
evidencia que as técnicas projetivas têm a habilidade de discriminar entre crianças que
foram abusadas sexualmente, daquelas que não sofreram abuso.
Outros estudos meta-analíticos e o Rorschach têm oferecido apoio para a validação
desta técnica de mensuração (Atkinson, 1986; Parker, Hanson, & Hunsley, 1988). O teste
tem sido utilizado em investigações de variáveis relacionadas ao grau de disfunção em
amostras de pessoas abusadas sexualmente. Zivney, Nash e Hulsey, (1988) buscaram
identificar características de abuso sexual infantil associadas com o desenvolvimento de
danos mais sérios em 102 casos de abuso sexual entre cinco e 16 anos de idade. Os
resultados foram obtidos pelas análises dos relatórios psiquiátricos e pelas respostas ao teste
Rorschach (Exner, 1974,1986,1993). Uma medida geral de psicopatologia foi derivada a
partir do Resumo Estrutural usando seis variáveis do Rorschach explicitamente
identificadas por Exner (1974,1986, 1993) como sendo sensíveis aos danos psicológicos:
a) O número de respostas de movimento humano de qualidade pobre (M-altos
escores associados com percepção/cognição perturbada);
58
b) O número de escores especiais (WSum6, escores altos sinalizando pensamento
idiossincrático desorganizado);
c) O número de respostas Mórbidas (escores MOR altos sinalizam estruturas do ego
danificadas);
d) O número de respostas usando qualidades acromáticas da mancha (escores SumC
altos sinalizam características depressivas);
e) o número de respostas usando sombreado difuso (escores SumY altos sinalizam
retraimento);
f) o percentual de respostas forma precisa (baixos escores X+% sinalizam dano
cognitivo).
Os autores concluíram que o abuso durante a primeira infância estava relacionada as
variáveis do Rorschach que mensuravam os danos caracterizados por cognição perturbada e
senso de si mesmo danificado. As características de abuso significantemente associadas
com distúrbios psicológicos mais graves foram: mais do que um perpetrador, pouca idade
na ocorrência do abuso - antes dos sete ou oito anos de idade - e período de intensos e
freqüentes episódios de abuso, mais do que três ou quatro vezes por mês. O que aumentou a
capacidade da criança de se recuperar foi a presença de uma família relativamente estável
(Zivney & cols., 1988).
Apoiados no estudo de Zivney e cols. (1988), Shapiro, Leifer e Kassem, (1990)
tiveram como objetivo mensurar a depressão em 53 crianças, com idades entre cinco e 16
anos, que foram sexualmente abusadas. Na busca de informações sobre diferentes
fenômenos relacionados à depressão, os autores utilizaram três métodos. Um de auto-relato,
o Inventário Depressão para Crianças CDI (Kovacs & Beck, 1977) para medir o nível de
59
depressão que uma criança deseja mostrar aos outros; o relatório parental, com o uso do
Checklist de Comportamento para Crianças CBCL (Achenbach & Edlebrock, 1993) para
obter as percepções de um dos cuidadores do comportamento relacionado à depressão e; o
Rorschach (Exner, 1986) para investigar os efeitos da depressão sobre respostas projetivas
a estímulos ambíguos.
Os sujeitos abusados tiveram altos escores nas escalas de observação de
comportamento e no Rorschach e resultados negativos foram obtidos com o instrumento de
auto-relato. Shapiro e cols. (1990) sugerem que os baixos escores nas medidas de auto-
relato de estresse produzido por crianças sexualmente abusadas possa ser o resultado de
reserva ou defensiva e não de um baixo nível de disforia nessa população. Não houve
relações significantes entre as características de abuso e os escores das medidas de
depressão. Os escores das medidas do Rorschach de atividade organizativa (Zf) e os
recursos de enfrentamento disponíveis (EA) estavam em geral positivamente relacionados à
depressão no grupo de abuso e negativamente relacionados à depressão no grupo de não
abusados.
Alguns estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo de diferenciar as respostas
Rorschach de meninas vítimas de abuso sexual. Com essa preocupação, Einbender e
Friedrich (1989) incluíram em sua amostra dois grupos de participantes. O primeiro grupo
foi composto de 46 meninas entre seis e 14 anos com história de abuso sexual, nos últimos
quatro anos, e o segundo grupo foram participantes 46 meninas não vítimas de abuso. Para
inclusão do grupo de vítimas foram adotados os seguintes critérios: a) presença de contato
sexual físico entre perpetrador e a criança; b) o perpetrador era no mínimo cinco anos mais
60
velho que a criança; c) o abuso foi comprovado por uma agencia governamental e d) a
criança não estava vivendo no momento na mesma residência do perpetrador.
As meninas abusadas sexualmente foram obtidas por meio de referência de
terapeutas e agências governamentais e as não abusadas foram recrutadas em escolas
(Einbender & Friedrich, 1989). As variáveis do Rorschach foram combinadas com outras
variáveis não projetivas para criar os escores compostos. Foram obtidos quatro escores
compostos que abrangeram tanto índices objetivos quanto projetivos, que incluiu as
variáveis do Rorschach como Movimento Humano. Estes escores avaliaram o
funcionamento cognitivo, funcionamento emocional, funcionamento social e preocupação
sexual. Dos quatro escores compostos, três diferiram entre os grupos: o funcionamento
cognitivo e social, e a preocupação sexual. Os relatos das garotas abusadas sexualmente
resultaram em um elevado índice de conteúdo mórbido, sexual e de respostas incomuns.
Valendo-se deste estudo (Einbender & Friedrich, 1989), Friedrich, Einbender e
Carty (1999), realizaram uma pesquisa com objetivo de avaliar garotas abusadas
sexualmente e suas respostas Rorschach utilizando-se dos dados pré-existentes. Os autores
reexaminando e recodificando os 46 protocolos do Rorschach de meninas vítimas de abuso
sexual e não vítimas, entre seis a 14 anos, usando o método de Exner (1993) e seis
variáveis-chave foram calculadas.
As crianças abusadas sexualmente exibiram significantemente mais dificuldades de
enfrentamento bem como respostas de conteúdo não usual e incomum, como por exemplo,
sexo e sangue. Para os autores (Friedrich & cols., 1999), o foco sexual refletido no elevado
número de respostas está de acordo com Kendall-Tackett & cols. (1993) que descreveram
este marcador como sendo o mais robusto do abuso sexual. Além disto, a menção de
61
sangue pode refletir um senso de ter sido violada ou machucada. No que diz respeito à
presença de mais déficits de enfrentamento, este indicador, pode sugerir que um fator chave
do tratamento seja a apreciação de que crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual são
mais sobrecarregadas pelos estressores diários.
Observa-se que o Rorschach tem sido utilizado para examinar os efeitos da
exposição a ambientes na fase inicial do desenvolvimento (Cerney, 1990; Clinton &
Jenkins-Moore, 1994; Leifer, Shapiro, Martone & Kassem, 1991; Saunders, 1991; Zivney
& cols., 1988). O propósito da investigação de Cerney (1990) foi testar se os pacientes em
um ambiente hospitalar que relataram perdas traumáticas TEPT tinham uma configuração
de respostas de conteúdo agressivo e/ou de cor diferente dos pacientes que não tiveram tal
perda relatada. A perda traumática nesse artigo foi definida como qualquer experiência que
envolva um choque no senso de integridade do ego. Essas perdas podiam incluir: morte ou
ferimento sério dos pais, irmãos, parentes e/ou amigos; incesto, estupro, tortura e abuso
físico e/ou verbal; testemunhar atos de violência praticada contra outra pessoa. Esse estudo
usando a amostragem de pacientes mulheres internado de 19 a 27 anos de idade, examinou
protocolos Rorschach de indivíduos que tiveram experiências de perda traumática na
infância e no início da adolescência e os comparou com um grupo controle de indivíduos
que pareciam não ter tal história.
Dois diferentes conjuntos de respostas emergiram na investigação de Cerney (1990).
No segundo grupo houve uso mínimo de cor e de algum conteúdo de uma natureza
agressiva ou hostil. Contrariamente, no grupo de trauma, ocorreram abundantes respostas
de cor e de conteúdo agressivo primitivo. Por exemplo, no cartão II “parece dois porcos
lutando ou dois rinocerontes atacando um ao outro sangrando na parte de baixo, o sangue
saindo dos seus narizes, provavelmente morrendo, sangrando todo”. No cartão III “parecem
62
duas pessoas que são metade homem e metade mulher se separando; seus crânios, puxando
isso pra fora do seu crânio; uma borboleta sangrando que eles puxaram para fora do seu
crânio”.
Além disso, um dos protocolos Rorschach de paciente interno, continha algumas das
respostas mais brutais da amostra: “um monstro gigante pregado num poste bem no meio
com dois animais rastejando na área dos seus braços, comendo-o”; “dois anjos tentando
puxar uma pessoa e parti-la ao meio e ela está gritando tanto que um monte de poeira esta
subindo. Ela está sangrando por todo o lado”. Esta paciente não apenas tinha sofrido abuso
sexual na infância, mas também havia participado de um culto satânico, aos 12 anos de
idade. A paciente começou a recobrar estas memórias depois de cinco anos de tratamento
com repetidas hospitalizações. Embora se tenham confirmado as hipóteses de que vítimas
de traumas precoces têm um perfil Roschach diferente (Cerney, 1990).
Com o objetivo de mensurar o funcionamento psicológico Leifer e cols. (1991),
compararam as respostas aos testes de 79 meninas negras, entre cinco e 16 anos de idade,
com história de abuso sexual com um grupo de meninas sem história de abuso. As
características de abuso incluíram várias dimensões, sendo que 73% das crianças foram
acometidas de penetração vaginal, oral ou anal. Além disso, as crianças haviam sido
molestadas por pessoas conhecidas e próximas, sendo o perpetrador no mínimo cinco anos
mais velho do que a vítima.
Além do Sistema Compreensivo de Exner (1986) foram usadas a Escala de Teste de
Conteúdo Rorschach RCT, de Elizur (1949), a Mutualidade da Escala de Autonomia MOA
(Urist, 1977; Urist & Shill, 1982) e as Escalas de Barreira e Penetração (Fischer &
Cleveland, 1968). Eles descobriram que as respostas das vítimas diferiam no que se refere a
qualidade formal (X-%), número de detalhes na mancha (respostas D), uso de
63
características de sombreado das manchas, índice de Depressão, a soma das características
especiais das respostas tais como comentários e conteúdos incomuns, WSum6; conteúdo
hostil, e número total de respostas (R).
Usando outro índice de avaliação Leifer e cols. (1991) perceberam uma diferença
entre respostas com conteúdos de objetos penetrando outros entre os grupos. Assim sendo,
as meninas abusadas sexualmente demonstraram maior pensamento perturbado, um nível
mais elevado de estresse relativo às suas habilidades adaptativas; descreveram os
relacionamentos humanos de forma mais negativa e demonstraram mais preocupação com a
sexualidade do que o grupo comparativo.
Ornduff e cols. (1999) ao relacionarem os estudos de abuso sexual que examinaram
a utilidade do Rorschach na avaliação de vitimas de abuso sexual (Cerney, 1990; Clinton &
Jenkins-Moore, 1994; Leifer & cols., 1991; Saunders, 1991; Zivney & cols., 1988)
apontaram que os resultados dessas investigações sugerem que crianças e adultos com
histórias de abuso sexual sofrem de dificuldades no âmbito interpessoal. Entretanto,
enfatizam que há necessidade de mais estudos nessa área pelas limitações metodológicas de
algumas destas investigações. Por exemplo, alguns destes estudos falharam em incluir
amostras de controle apropriadas (Cerney, 1990), o que não deixa claro se as respostas
Rorschach de amostras sexualmente abusadas estão especificamente relacionadas a
experiências de abuso ou refletem maior estresse em geral. Outros estudos contaram com as
variáveis Rorschach com propriedades psicométricas desconhecidas (Saunders, 1991), o
que é potencialmente problemático porque replica estudos que são relativamente raros
nessa literatura. Além disso, muitos desses estudos parecem exploratórios, com pouco
embasamento em teoria.
64
Embora as vítimas adultas estejam geralmente muito distantes dos eventos de abuso,
para alguns autores há evidências de que suas experiências de abuso possam influenciar no
teste Rorschach. Em estudo anterior Brooker (1990) havia relatado por meio de amostras de
160 adultos universitários, de ambos os sexos, e de variáveis do Rorschach (Exner, 1976,
1978) a partir de categorias de conteúdo sexuais, por exemplo, vistos nos cartões de
manchas de tinta. Foram encontradas diferenças significantes em muitas das variantes
dependentes para vítimas auto-relatadas de abuso sexual na infância, quando comparadas as
vítimas de apenas abuso físico e sujeitos não abusados. Os resultados mostraram que 80%
das vítimas de abuso sexual tinham conteúdo sexual explícito em seus protocolos enquanto
25% expressaram idéias de abuso sexual. As respostas de movimento humano (M),
respostas de movimento humano de qualidade formal pobre (M-) e respostas complexas
(Blends) foram mais freqüentes em vítimas de abuso sexual do que em outras, enquanto as
respostas com qualidade formal foram relativamente menos freqüentes (Lambda mais
baixo). Os dados de Brooker (1990) sugeriram que imagens relacionadas ao abuso eram
consciente ou inconsciente, percebidas no Rorschach. Associações similares entre aspectos
das respostas Rorschach e trauma por abuso sexual em adultos problemáticos foram
relatadas também por Cerney (1990) e Sauders (1991) como anteriormente descrito.
Considerando-se os achados, foi previsto em um estudo exploratório de Respostas
Rorschach de Indicadores de abuso sexual (Billingsley, 1995) que crianças sexualmente
abusadas produziriam conteúdos sexuais mais freqüentes nas respostas Rorschach, tanto
explícitas quanto simbólicas se comparadas ao grupo de não abusadas. Os dados foram
obtidos a partir de dois grupos: 20 crianças abusadas sexualmente (11 masculinos, nove
femininos); e 18 crianças para o grupo de comparação ou sem história de abuso sexual (10
masculinos, oito femininos). Os sujeitos variavam de 6 a 11 anos, com uma idade média
65
para o grupo de abuso 7.8 (SD=1.4) e para o grupo de comparação de 8.3 (SD=1.4).
Variáveis dependentes incluíam respostas com conteúdo sexual declarado, símbolos sexuais
e conteúdos quase-sexuais.
Estas variáveis foram assim consideradas: a) para conteúdo sexual explícito foram
analisadas descrições de anatomia sexual ou genital, atos e ações sexuais, nudez,
comportamento entre os sexos descrito dessa forma; b) para conteúdos sexuais simbólicos
foram incluídas respostas da genitália masculina como cobra, minhoca, parafuso, furadeira,
longas pernas, longos bicos, narizes, espinhos, torres, bem como, outros símbolos sexuais
ou sexualmente relacionados como lábios, línguas para fora, roupa íntima, movimentos ou
fluxos de água, lama, baba/gosma, tinta, dois sexos de humanos ou animais, manteiga,
cupidos, corações e; c) para símbolos de ações sexualmente relacionadas foram
considerados atos excretórios, toque dos conteúdos simbólicos citados, atos com a boca
fazendo outras coisas que não falar e comer, o derramar de líquidos sobre o corpo, a
abertura das roupas, a penetração de objetos, atos de comportamento de mímicas sexuais
tais como por cima, subindo, dentro e fora.
Algumas das variáveis Rorschach baseadas em Exner, usadas por Brooker (1990) e
por alguns dos estudos prévios de crianças, também foram utilizadas por Billingsley,
(1995). O número total de respostas (R), respostas populares (P), respostas de movimento
humano (M), respostas usando Blends (BL), e a proporção (L, ou Lambda) das respostas
baseadas em forma para respostas baseadas em cor foram utilizadas. Foi utilizado também
um questionário de observação do comportamento das crianças a ser respondido pelos pais.
Os resultados sugeriram que as variáveis dependentes em combinação poderiam diferenciar
as crianças abusadas sexualmente de outras não abusadas. Outros índices Rorschach de
acordo com o Sistema Compreensivo Exner (1974) não foram discriminatórios. Em relação
66
aos índices de comportamento completados por um dos pais, indicaram que, para sujeitos
do sexo masculino maiores índices de problemas comportamentais estavam associados com
o abuso sexual. Os achados foram interpretados em termos de um modelo de resposta da
vítima a eventos de abuso, embora a utilidade clínica tenha sido questionada.
Tradicionalmente, as características evidenciadas no interesse sexual inadequado e o
comportamento dissociativo e a presença de genitais no desenho da figura humana em
crianças sexualmente abusadas (Friedrich, Jaworski, Huxsahl & Bengtson, 1997). Esses
achados foram consistentes com estudos anteriores de Einbender e Friedrich (1989) que
reportaram um componente dissociativo no Rorschach no elevado índice de respostas de
conteúdo mórbido e sexual e no aumento do índice de respostas incomuns nessa população.
Investigações posteriores também apoiaram estes achados (Nash,
Hulsey, Sexton, Harralson & Lambert, 1993) ao observarem que as respostas Rorschach de
pacientes com história de abuso sexual eram caracterizadas pela dissociação, o que indicava
uma maior vulnerabilidade destes indivíduos a apresentarem distúrbios envolvendo o soma
e o self. Estes discursos apresentam uma falta de conexão, uma ausência de cadeias
associativas localizáveis e uma prevalência de um pensamento fragmentado, comumente
percebido na esquizofrenia. Exemplos de respostas dissociativas (na prancha IX) incluem:
isto me faz pensar na doença... um adolescente se decompondo... não é somente um dos
pontos, é toda sua pessoa... não há mais nenhum laço entre as diferentes partes do seu
corpo, tudo funciona absolutamente só. Não há mais solidariedade... o fígado precisa do
estômago, cada um funciona em seu cantinho sozinho”; “um mundo cortado em dois...
entre dois hemisférios do cérebro” (Chabert, 1993).
Quando se busca demonstrar no Rorschach o aspecto da angústia dissociativa e de
fragmentação corporal, particularmente, as últimas pranchas com coloridos pastel, são de
67
fundamental importância (Chagnon, 2008). Em recente exposição, o autor chamou a
atenção para as características de protocolos dissociativos e com indicadores de um
prejuízo primário na construção da identidade, onde insurgem relatos de conteúdos mal-
diferenciados e pouco integrados.
De maneira recorrente, são comuns nestes protocolos, as dificuldades em diferenciar
formas precisas, que aparecem freqüentemente interpenetradas; além de ocorrer
verbalizações quanto ao interior do corpo, utilizando-se como recurso as imagens
anatômicas e uterinas, o que remete a uma fragilidade das fronteiras dentro-fora ou interno-
externo. É interessante observar, que as imagens evocadas, podem estar testemunhando o
dano corporal e psíquico sofrido pelo sujeito, o que corresponde a um sentido de não ser,
como um self desmantelado (Meltzer, 1984), ou ainda, de não ser diferenciado.
Outro aspecto marcante da vulnerabilidade das vítimas de abuso sexual é a
consistência e a predominância de representações malevolentes no material de sua narrativa
(Ornduff, 1997). Isso levou alguns pesquisadores a propor que a malevolência seja um
componente central das experiências de maltrato e uma característica que distingue vitimas
de abuso das não vítimas. O construto da malevolência foi caracterizada por uma tendência
conceitual-afetiva de perceber e esperar que as relações interpessoais sejam ameaçadoras e
destrutivas. Para testar a validade deste construto foi utilizada duas variáveis Rorschach
(Rorschach, 1974) no Sistema Compreensivo (Exner, 1993) o Movimento Agressivo (AG)
e o Movimento Cooperativo (COP).
Na avaliação da malevolência de crianças sexualmente abusadas realizada por
Ornduff e cols. (1999), foram comparadas 21 meninas com história de abuso sexual e 14
sem história de abuso com variáveis do Rorschach de Movimento Cooperativo COP e
Movimento Agressivo AG. Embora nenhuma dessas variáveis seja isoladamente uma
68
medida precisa de malevolência para o Sistema Compreensivo, em combinação, segundo os
autores, elas podem oferecer um novo índice desse construto. Esse índice, chamado
COP/AG, é avaliado por respostas nas quais a interação cooperativa e mútua entre dois ou
mais objetos animados é violenta ou agressiva em sua natureza. Exemplos deste tipo de
respostas incluem: “duas aranhas segurando fogo em suas mãos e queimando o palácio”;
dois monstros tentando rasgar algo”; e “dois monstros colocando um esqueleto no fogo”.
É somente quando atos agressivos ocorrem num contexto relacional que o COP/AG
é medido. Os autores relataram que os escores das meninas sexualmente abusadas foi
significantemente mais alto no COP/AG do que nas meninas não abusadas, com nenhuma
diferença emergindo isoladamente nem para COP nem para AG. O estudo conclui que essa
descoberta oferece suporte empírico para ênfase da malevolência nas percepções
interpessoais e nas perspectivas da vítima de abuso sexual na infância.
Conteúdos de agressão são freqüentemente vistos no Rorschach em vítimas de
trauma (Kamphuis, Kugeares & Finn, 2000). Gacono e Meloy (1994) têm proposto novos
índices de agressão além do AG de Exner (1993). Um destes, o passado agressivo AgP, é
referido para respostas nas quais o objeto é percebido com um ato agressivo que já
aconteceu. Já para a avaliação de eventos traumáticos Armstrong e Loewenstein’s (1990)
descreveram um índice do Conteúdo Traumático TC/R que inclui o somatório do número
de conteúdos de agressão, anatomia, mórbido, sangue e sexual dividido pelo número de
respostas do protocolo.
O estudo de Kamphuis e cols. (2000) comparou relatos de três grupos de pacientes,
com histórias de abuso sexual, suspeita de abuso sexual, e sem história de abuso sexual,
com temas de agressão verbalizados no Rorschach. A hipótese era que as respostas com
AgP (Gacono & Meloy, 1994) fossem mais freqüentes em protocolos Rorschach de
69
indivíduos com história de abuso sexual, por estes se identificarem com o papel da vítima
como resultado do trauma vivido. Também foi previsto que indivíduos com abuso sexual
marcariam significativamente mais alto no índice de conteúdo traumático TC/R de
Armstrong e Loewenstein’s (1990). Assim sendo, TC/R e AgP estariam associados com
história de abuso sexual. Como teste de validade discriminante foi hipotetizado que as
respostas personalizadas PER e conteúdo ciência Sc não estariam relacionadas ao abuso
sexual.
Como era previsto, indivíduos com abuso sexual definido marcaram
significantemente mais alto do que aqueles que não foram abusados sexualmente, de acordo
com o índice de conteúdo traumático TC/R de Armstrong e Loewenstein’s (1990). Embora
TC/R estivesse fortemente associado com a presença e severidade do abuso sexual, não
pôde discriminar indivíduos que foram abusados sexualmente daqueles não abusados.
Quanto as respostas de passado agressivo AgP (Gacono & Meloy, 1994) não houve
diferenças significantes na freqüência dos escores. Os escores de AgP, no entanto,
correlacionaram-se positivamente com abuso sexual que foi violento ou sádico. O teste de
validade discriminante confirmou, neste estudo, que as variáveis do Rorschach Respostas
Personalizadas PER e o conteúdo Ciência Sc não se relacionam ao abuso sexual.
A textura no Rorschach tem sido relacionada com as experiências de contato
desenvolvidas a partir da proximidade com os cuidadores na fase inicial do
desenvolvimento (Klopfer & cols., 1954). A internalização da experiência tátil positiva é
considerada como capaz de produzir sensibilidade aumentada às sensações táteis
(Ainsworth & Keuthe, 1959). No desenvolvimento da criança em ambientes responsivos as
necessidades, elas gradualmente internalizam o imaginário tátil e as experiências de contato
como parte das suas necessidades de segurança satisfeitas (Masten & Coatsworth, 1998).
70
Diferentemente, indivíduos expostos a ambientes adversos são considerados como
não capazes de internalizar a sensibilidade tátil. Dentro da abordagem desenvolvimental de
Exner (1978) o fracasso em internalizar as experiências táteis está intimamente ligada a
severas formas de empobrecimento interpessoal na qual o sujeito desiste de lutar por
relações significativas com outros. A necessidade afetiva torna-se enfraquecida ou
suprimida (Klopfer & cols., 1954).
Um estudo realizado por Leavitt (2000) partiu do pressuposto de que a sensibilidade
a textura estava relacionada com o período do acontecimento traumático. As respostas
textura poderiam ser um marcador para definir o início do trauma, enquanto a resposta de
textura declinava após um trauma sofrido na infância, em alguns casos, ela aumentava após
um trauma sofrido na idade adulta. A amostra foi composta de 108 mulheres hospitalizadas
referidas a partir de duas unidades psiquiátricas e uma unidade de desordens dissociativas.
Para a inclusão elas deveriam ter no mínimo 18 anos, estar em psicoterapia por um período
mínimo de seis meses anterior a hospitalização e livres de desordens orgânicas ou
psicóticas.
A produção de textura no Rorschach foi verificada por Leavitt (2000) na
comparação de quatro grupos: 27 pacientes com memória recoberta de abuso sexual, 27
pacientes com memória contínua de trauma sexual na infância, 27 pacientes com estresse
pós-trauma sexual na idade adulta e 27 pacientes não abusados. A inclusão dos critérios
para TEPT foram: a) uma história de estupro depois da idade de 18 anos, b) nenhuma
história de trauma sexual anterior aos 12 anos, c) um diagnóstico da manifestação da
desordem de estresse pós-traumática e, d) uma vez que o estudo lidava com os efeitos da
preocupação sexual, uma história de memórias intrusivas recorrentes e flaschbacks de
traumas de incesto por no mínimo seis meses anterior a hospitalização e ativo na época do
71
exame. O autor observa uma deficiência de textura em pacientes que recobriram a memória
do abuso sexual ocorrido na infância. Esse pressuposto corrobora com o estudo de Leavitt e
Labbott (1996) que verificaram que Respostas Rorschach sem-T foram produzidas em 73%
da amostra por pacientes com história de abuso sexual na infância.
O emprego do Rorschach na Argentina em situações de abuso sexual também tem
sido reportado com a preocupação de verificar em que medida estas experiências
comprometem o desenvolvimento infantil. Entre os diversos delineamentos, destaca-se a
utilização do psicodiagnóstico na busca de elementos que podem levar ao diagnóstico e a
determinação de dano mental e do trauma. No entendimento do que seja um trauma
convêm recorrer aos estudos de Ferenczi (1932/1988). Para ele, um trauma pode ser
compreendido como uma comoção, uma reação à excitação interior ou exterior que
modifica o ego, decompondo-o ou fragmentando-o.
Para Gravenhorst (2002) os atos abusivos são altamente agressivos e intrusivos para
o corpo de uma criança e pode gerar um choque traumático comprometendo o
desenvolvimento psíquico não apenas em efeitos imediatos, mas também a curto, médio e
longo prazo, constituindo-se “uma bomba do tempo” (p.77). A autora analisou, segundo a
Escola Argentina de Rorschach, 90 protocolos de crianças e adolescentes entre quatro e 16
anos de idade, de ambos os sexos, vítimas de abuso sexual por familiares ou pessoas
conhecidas. Entre os protocolos foram destacados quatro psicodiagnósticos, três de meninas
e um de menino. Os elementos relevantes e mais significantes na detecção do abuso foram
os seguintes:
1- O baixo número de respostas que não invalidam o diagnóstico e que estão
associados com uma restrição resultada da experiência traumática de dano;
72
2- F% e F% estendida dentro do âmbito esperado, indicando esforços do ego em ser
objetivo e lógico;
3- F+% e F+% estendida, muito diminuídos para funcionamento do ego não operativo
com falha na função de conhecimento e adaptação a realidade;
4- IR (índice de realidade): 0 ou diminuído, um indicador de patologia severa
associado especialmente com o item anterior;
5- DM (determinantes múltiplos) aumentados, como um indicador de crise;
6- IC (índice de conflito) aumentado, indicando não apenas crise, mas intensa carga
conflitiva com a possibilidade de desequilíbrio;
7- F o psicograma pode apresentar apenas respostas de forma indicando rigidez
defensiva, dissociação e super adaptação;
8- Respostas que são referidas situações que os sujeitos dizem ter suportado;
9- No cartão VI a presença de respostas que se referem a experiências traumáticas de
danos associados com a sexualidade;
10- Conteúdo de esqueleto, como elemento melancólico. Por exemplo, na prancha VI:
parece um rato que foi morto; o formato das pernas e cabeça; está morto porque eu
vejo que ele foi esmagado assim, esmagado, suas partes de dentro foram comidas,
está todo aberto!
11- Presença de conteúdo de sangue perturbador, que podem aparecer em pessoas que
passaram por outras situações traumáticas tais como acidentes ou guerra;
12- Respostas sexuais diretas pelo mecanismo de falha de repressão;
13- Figuras masculinas perseguidoras, agressivas e violentas
14- Presença dos seguintes Fenômenos Especiais: a) ação de tolerância no presente ou
no passado como um indicador de ter tolerado passivamente uma ação violenta; b)
73
presença de respostas MOR para identificação de objetos danificados, destruídos,
quebrados, mortos; c) respostas de complexo oral sádico associado com
sexualidade; d) anulação da Consciência de Interpretação com Auto-referências
negativas na mesma resposta, indicando dano psicológico severo, perda de limites e
julgamento da realidade e; e) busca de uma relação de segurança com o
entrevistador.
No Brasil, entre as pesquisas de abuso sexual na infância, destaca-se um estudo de
validade de instrumentos projetivos de Fonseca e Capitão (2005). O estudo contou com 30
crianças de ambos os sexos, com idades entre seis e 10 anos em dois grupos distintos. Um
grupo de 15 crianças com histórico de violência sexual e outro grupo constituído por
crianças sem histórico de abuso sexual, que não estavam em tratamento psicoterápico,
apresentavam boa sociabilidade e tinham um bom desempenho escolar. Foram avaliados os
aspectos cognitivos e emocionais das crianças, por meio do DFH segundo Koppitz (1976) e
os resultados desta avaliação foram comparados entre os grupos. Da mesma maneira, foram
comparadas as respostas das crianças dos dois grupos às pranchas do CAT-A. Os resultados
apontaram diferenças entre os dois grupos quanto aos aspectos cognitivo e emocional por
meio dos instrumentos utilizados.
Diante dos estudos apresentados, observa-se a escassez de estudos com o Método de
Rorschach e o abuso sexual especialmente na população infantil e adolescente brasileira. A
seguir, este estudo se propõe a apresentar alguns dados históricos sobre o Método de
Rorschach, assim como, a descrição e a caracterização do Sistema Compreensivo (Exner,
1993) e o resultado de estudos de validade no meio internacional e no Brasil.
74
2. CAPÍTULO 2 - O MÉTODO DE RORSCHACH
O Método de Rorschach foi criado pelo médico suíço Hermann Rorschach, que se
especializou em Psiquiatria na cidade de Zurique. Ele defendeu sua tese em 1912 e, em
1918, elaborou as pranchas do teste; até 1920 continuou trabalhando nas aplicações e na
elaboração teórica do instrumento. Apesar de tê-lo concluído neste ano, só foi publicado em
1921, sob o título de Psychodiagnostik, sendo considerado a grande obra de Rorschach, que
faleceu em 1922, sem poder aprofundar muito os estudos do seu instrumento (Anzieu,
1981).
Com a morte de Hermann Rorschach, sua técnica permaneceu até 1929 numa fase de
pouca divulgação. Neste ano, Margarida Loosli-Usteri, publicou um dos primeiros
trabalhos de pesquisa Le test de Rorschach appliqué à differents groupes d’enfants de 10 a
13 ans. A partir desta publicação, o Rorschach ultrapassou as barreiras da língua alemã,
expandindo-se pela França, Espanha, Inglaterra e outros países europeus, como na Suíça,
com as respostas claro-escuro, de Hans Binder. Em 1952 foi fundada a Sociedade
Internacional de Rorschach, que tem promovido congressos internacionais sobre o
Rorschach e as técnicas projetivas (Vaz, 1997).
Deve-se a Samuel Beck e Emil Oberholzer, em 1933, a introdução do Rorschach na
América do Norte. Daí por diante muitos estudos evoluíram com o uso desta técnica.
Segundo Vaz (1997) em 1936, surgiu as primeiras publicações da revista Rorschach
Research Exchange, fundada por Bruno Klopfer, que mais tarde passou a ser chamada
75
Journal of Personality Assessment, órgão oficial da Society for Personality Assessment. Em
1939, foi criado o Rorschach Institute, para congregar pesquisadores e dar continuidade aos
estudos com Rorschach.
Para Weiner (2000), o Método de Rorschach é um instrumento objetivo e subjetivo.
Objetivo, porque é formado por uma tarefa de solução de problemas que permite uma
exploração objetiva do estilo de estruturação cognitiva que abrange estímulos uniformes,
aplicação padronizada, codificação formal e diretrizes interpretativas específicas. Embora
as respostas deste instrumento não possam ser classificadas como certas ou erradas, podem
ser codificadas de maneira precisa e objetiva, conforme pesquisas de precisão e validade do
instrumento (Exner & Sendín, 1999; Weiner, 2000). Para Weiner (2000), o instrumento
pode ser considerado subjetivo porque a tarefa poderá servir como um estímulo à fantasia.
Dessa forma, as produções de fantasia fornecerão informações importantes e relevantes do
ponto de vista pessoal, independentemente de qualquer aspecto objetivo do estímulo, do
modo de aplicação ou do estilo de estruturação cognitiva do indivíduo.
Do mesmo modo que este instrumento permite uma avaliação objetiva e subjetiva das
informações coletadas, é possível investigar tanto a estrutura como a dinâmica da
personalidade. Essa distinção está pautada na diferenciação entre os processos perceptivos e
associativos, uma vez que os teóricos que consideravam o Rorschach como sendo uma
medida da percepção tendiam a considerá-lo, sobretudo, como um meio de identificar
estados e traços, que, por sua vez, são elementos da estrutura da personalidade. Por outro
lado, àqueles que se debruçavam para as associações na interpretação das respostas tendiam
a considerar o instrumento, principalmente, como um meio de identificar as necessidades,
atitudes, conflitos e preocupações subjacentes do sujeito, ou seja, os aspectos
76
psicodinâmicos da personalidade (Anzieu, 1981; Exner & Sendin, 1999; Rorschach, 1974;
Weiner, 2000).
Segundo Yazigi e Villemor-Amaral (2006), Herman Rorschach partiu da concepção
de que por meio do processo perceptivo visual é possível reconhecer como a pessoa
apreende a realidade, se de forma objetiva ou distorcida; como ela processa os dados
apreendidos, se de modo indutivo ou dedutivo; como ela se comporta perante o ambiente,
se de modo distante ou participante; qual a qualidade de sua produção, reprodutiva ou
criativa; que recursos internos afetivos emocionais e cognitivos se fazem presentes,
conscientes ou inconscientes. A apreensão das manchas de tinta informa também sobre o
modo do indivíduo se relacionar com o mundo, se expansivo e sensorial ou reflexivo e
intelectual; inibido e formal ou, ainda, indefinido, e como maneja as demandas internas em
face das exigências externas.
O Rorschach é um instrumento que, por vezes, é considerado como um teste e, em
outras, como método (Weiner, 2000). Como método de exame, pode encontrar aplicações
num tempo curto na avaliação da estrutura de personalidade de um indivíduo. Como teste
entende-se a avaliação do grau em que determinados fenômenos estão presentes, como, por
exemplo, os testes de inteligência permitem aos examinadores dizer em quão inteligente
uma pessoa é; ou os testes de depressão permitem indicar quão deprimida uma pessoa está.
Nesse sentido, o Rorschach inclui diversas escalas e índices que funcionam como testes e
medem várias características da personalidade, entretanto, em virtude da possibilidade de
avaliação subjetiva, o Rorschach implica mais do que avaliações quantitativas.
As características das respostas idiográficas que não puderam ser codificadas e os
aspectos do comportamento do sujeito durante a aplicação fornecem importantes
informações qualitativas acerca do funcionamento da personalidade do indivíduo (Exner &
77
Sendín, 1999). Desse modo, em conjunto com outros instrumentos complexos e
multifacetados que investigam a personalidade, o Rorschach funciona não só como um
teste, mas como um método de gerar dados que identificam diversos aspectos distintos do
funcionamento da personalidade (Weiner, 2000). Embora exista essa distinção, o autor
citado alerta para as implicações de se determinar uma ou outra nomenclatura, alegando
que o profissional que o faz deve observar a teoria que adota, uma vez que para o
Rorschach não existe uma única teoria.
Nesse sentido, o Rorschach pode ser interpretado e analisado de diferentes maneiras,
conforme a abordagem teórica de que o avaliador faz uso, porém todas devem convergir
para um mesmo resultado. Como se verá a seguir adotar-se-á o Sistema Compreensivo para
a codificação e para interpretação e análise dos resultados.
2.1 Sistema Compreensivo - SC
O Sistema Compreensivo de Rorschach foi desenvolvido por John Exner (1974) na
década de setenta, nos Estados Unidos da América, que reuniu os cinco grandes sistemas,
Beck; Hertz; Piotrowski; Rapaport/Shafer e Klopfer; incorporando seus aspectos positivos e
procurando descartar os pontos obscuros. A proposta de Exner foi estabelecer uma maior
homogeneidade e objetividade de aplicação, codificação e interpretação, determinando
linguagem e compreensão comuns, possibilitando um maior diálogo entre os pesquisadores
que trabalham com o Método de Rorschach.
Exner e Sendín (1999) mostraram que protocolos com menos de 14 respostas não
são considerados válidos por perderem a consistência temporal e pela conseqüente
diminuição da confiabilidade. Diante de um protocolo válido, cada resposta recebe uma
série de códigos que permitem a análise dos resultados.
78
A Localização refere-se à parte da mancha em que a resposta foi visualizada. Os
códigos utilizados são W, para resposta Global; D, para resposta de Detalhe Comum; Dd,
para resposta de detalhe incomum, e S, para resposta de espaço. A Qualidade Evolutiva
(DQ) compreende símbolos e critérios. São eles: DQ+, que representa resposta sintetizada;
DQo, que indica resposta ordinária; DQv/+, que se refere à resposta sintetizada, e DQv,
que representa resposta vaga. A Qualidade Evolutiva diferencia a qualidade do
processamento envolvido ao formular respostas (Exner, 1999).
Os Determinantes referem-se às características na mancha que levam a que o
sujeito atribua à prancha uma determinada resposta. Os Determinantes dividem-se em sete
categorias e refletem aspectos do processo cognitivo e afetivo envolvido na resposta (Exner
e Sendín, 1999). O determinante Forma (F) refere-se às respostas baseadas apenas nas
características formais da mancha. O de Movimento refere-se às respostas em que os
conteúdos estão em movimento, sejam ativos ou passivos, como, por exemplo, um menino
jogando bola. Os códigos de Movimento subdividem-se em três categorias (M,FM,m),
englobando movimento humano (M), com por exemplo, duas pessoas se cumprimentando,
movimento animal (FM), como por exemplo, cachorro latindo, ou movimento inanimado
(m), como por exemplo, pedra caindo.
A categoria Cor Cromática também se subdivide em quatro categorias (C, CF, FC,
Cn), utilizadas quando nas respostas há a inclusão da cor e, no caso, a escolha depende do
predomínio ou não da forma. Já a categoria Cor Acromática é utilizada quando a resposta
se baseia nas características de cinza, preto e branco, identificadas na resposta, e também
depende do envolvimento da forma na resposta. É dividida em três subcategorias, e os
códigos são C’, C’F, FC’.
79
Os determinantes de sombreado podem ser de três tipos. A Textura é empregada
quando, nas respostas, os sombreados são traduzidos de forma a representar um fenômeno
tátil e seus códigos são: T, TF, FT. O determinante Perspectiva e o Profundidade abrangem
os códigos V, VF e FV. As respostas são classificadas utilizando-se esses códigos quando as
respostas caracterizadas pelo sombreado são interpretadas como tendo profundidade ou
dimensionalidade. Já o Sombreado Difuso é usado para respostas baseadas nas
características de claro-escuro da mancha, que não envolvem referência à textura, nem à
dimensão, tendo como códigos: Y, YF e FY. As respostas que são codificadas pelo
determinante Forma Dimensão (FD) abrangem o aspecto dimensional da prancha baseada
na forma, ou seja, utilizam-se para as respostas em que a impressão de dimensionalidade é
baseada no tamanho ou no contorno da mancha na prancha; não envolvem o uso do
sombreado para criar essa impressão (Exner, 1999).
Uma outra categoria é a Pares e Reflexos: Par (2) é utilizado para respostas em que
são referidos dois objetos idênticos, baseando-se na simetria da prancha. rF e Fr são
códigos relacionados a reflexos, as respostas se referem a um reflexo como sendo uma
imagem em espelho. O primeiro código não requer forma específica, ao passo que o
segundo a requer.
Blend, ou Determinantes Mistos, apresentam codificações que envolvem vários
determinantes combinados, estão presentes quando uma resposta oferece mais de um
determinante. Os Determinantes Mistos devem ser codificados na seqüência em que os
determinantes foram aparecendo na resposta.
A Qualidade Formal (FQ) fornece informações importantes sobre o grau de ajuste
perceptivo do indivíduo, ou seja, pode indicar quanta percepção incomum ou inadequada
pode ocorrer, sem que isso esteja diretamente relacionado à disrupção do ajustamento da
80
pessoa. A qualidade formal é utilizada para atribuir qualidade ao percepto; assim, sempre
que, direta ou indiretamente, a forma for utilizada, um código de qualidade formal será
empregado (Weiner, 2000). Para tanto, faz-se uso de quatro códigos para essa codificação.
Dois deles indicam respostas boas em ajuste formal: + (Superior) e o (ordinária). A
diferença entre eles consiste no detalhamento da forma que é dado na resposta; assim, a
qualidade formal + sugere mais detalhe. Já o código u é utilizado nas respostas em que o
uso da forma é realizado adequadamente, no entanto o conteúdo utilizado para aquela área
refere-se a uma freqüência baixa mencionada pelos sujeitos da pesquisa. Finalmente, o
código é usado nas respostas nas quais o uso da forma é inadequado ou distorcido,
havendo uma desconsideração dos contornos da área usada.
A codificação do conteúdo das respostas representa uma tarefa simples, objetiva e
menos complexa, consistindo em algumas abreviações em inglês para a categoria à qual o
objeto em questão pertence. Desse modo, o código H representa o conteúdo humano,
respostas relacionadas à figura humana inteira; (H) indica figura para-humana, de conto de
fadas ou mitológica, como anões, bruxas e palhaços; Hd é usado quando o conteúdo se
refere a partes da figura humana, assim, cabeça de pessoa seria codificado com Hd; do
mesmo modo o (Hd) é utilizado para figuras para- humanas incompletas. Ainda relacionado
aos conteúdos humanos, o Hx é empregado quando a resposta se refere a experiências
humanas como alegria e tristeza. Os conteúdos animais seguem a mesma lógica adotada
acima, respeitando a seqüência A; (A); Ad e (Ad). O código An envolve respostas nas quais
o conteúdo anatômico é mencionado e diferencia-se do Sx no sentido de que o primeiro faz
menção à parte interna do organismo, seja humano ou animal, por exemplo, útero, e o
segundo, à parte externa, como seios. Quanto ao código Xy, que se refere a conteúdos de
Raios-X, uma observação deve ser feita: uma resposta que tenha conteúdo anatômico não
81
pode receber o código Na; se houver menção a conteúdos de Raios-X, como, por exemplo,
a radiografia de um pulmão, apenas o Xy é o código aceito. Bl é empregado para perceptos
de sangue, ao passo que Cg o é para artigos de vestimenta e Fd, para comida
Para as respostas que usam perceptos de pintura, desenho ou ilustrações, o código
Art é utilizado. Já o código Ay é utilizado quando as respostas trouxerem uma conotação
cultural ou histórica, como cocar de índio ou capacete romano. Quanto a respostas cujos
conteúdos se relacionam à natureza ou topografia, têm-se os códigos Bt para conteúdos de
vida vegetal, como árvores, folhas e plantas. Esses diferem de Na, que, por sua vez,
relacionam-se a uma grande diversidade de conteúdos e fenômenos do meio ambiente,
como água, mar e sol.
Ainda relacionado aos aspectos naturais, existe o código para paisagem (Ls), que
também é diferente dos dois últimos mencionados. Este envolve cenas naturais como
recifes de corais ou pântano. O conteúdo nuvens (Cl) destaca-se como tendo um código
apenas para ele; em razão da alta freqüência de respostas, suas derivações, como neblina
devem ser codificadas como Na. As respostas que envolvem perceptos de mapa ou
relacionadas à geografia têm o símbolo Ge como código.
Para as respostas de fogo ou fumaça, usa-se Fi e, para explosão, Ex. Já as respostas
que envolvem perceptos associados direta ou indiretamente à ciência e à ficção recebem o
código Sc. No entanto, embora sejam muitas as possíveis codificações para os conteúdos
das respostas, por vezes, e não muito raro, aparecem respostas cujo conteúdo é singular,
idiossincrático. Nestes casos o código utilizado é o Id.
As respostas populares dizem respeito a respostas que são freqüentemente utilizadas
pela maioria dos grupos de pessoas, ou seja, são aqueles conteúdos que possuem uma alta
freqüência estatística. Levam o código P e devem ser verificadas no Manual de Codificação
82
conforme a prancha e a localização em que são mencionadas. A maneira como o indivíduo
organiza o estímulo recebe um valor numérico chamado Nota Z: o ZW é atribuído para as
respostas globais com qualidade evolutiva +, o ou v/+; o ZA para as respostas em que há
dois ou mais objetos separados, percebidos em áreas de detalhes adjacentes da mancha, que
são referidos em uma relação significativa; ZD quando as respostas envolvem dois ou mais
objetos separados, percebidos em áreas não adjacentes da mancha são referidos em uma
ação significativa; e ZS na resposta em que o espaço em branco é integrado com outras
áreas da mancha na formação da resposta.
A última parte da codificação refere-se aos Códigos Especiais (CE), que vão indicar a
presença de características incomuns nas respostas. Os CE são compostos por quatorze
códigos, divididos em Verbalizações Inusuais, Combinações Inadequadas, Perseveração e
Falha na Integração, Características Especiais de Conteúdo, Respostas Personalizadas,
Fenômeno Especial de Cor e Códigos Especiais Múltiplos.
Inicialmente, as Verbalizações Inusuais vão fornecer informações quanto aos
aspectos cognitivos do sujeito, mais precisamente, das suas dificuldades cognitivas. Dessa
forma, a desorganização cognitiva manifesta-se verbalmente e pode ser evidenciada neste
teste de três formas, as Verbalizações Desviantes (DV), que se destacam pelo uso de
neologismos e redundâncias, além de usos de frases inadequadas e de respostas
circunstanciais que incluem divagações.
As Combinações Inadequadas envolvem a utilização de forma inadequada de
impressões e/ou idéias que vão contra os princípios de realidade, como, por exemplo, uma
rã com quatro testículos. Para essas combinações existe uma subdivisão, a Combinação
Incongruente (INCOM), que envolve a condensação de detalhes da mancha que são
combinados inadequadamente num único objeto. A Combinação Fabulada (FABCOM)
83
envolve uma relação implausível entre dois ou mais objetos identificados na mancha e,
como último código de Combinações Inadequadas, tem-se a Contaminação (CONTAM),
que consiste na representação de duas ou mais impressões que foram fusionadas numa
única resposta de forma a violar abruptamente a realidade, causando prejuízo à adequação
de cada uma das impressões. Outro CE é o referente ao emprego espontâneo do raciocínio
forçado para justificar uma resposta, é o ALOG.
Nos casos em que as respostas são redundantes ou excessivamente generalizadas,
partindo de um detalhe da mancha e abrangendo toda ela, isso pode constituir uma forma de
disfunção cognitiva ou uma sinalização de preocupação psicológica, conseqüentemente
CEs são atribuídos. Quando ocorre a Perseveração (PSV), deve-se verificar se esta ocorre
num mesmo cartão, ou se é mecânica, ou seja, em cartões seguidos a mesma resposta é
fornecida; ou, mesmo, se há a perseveração do conteúdo, em que a pessoa faz menção a um
conteúdo que é o mesmo já percebido anteriormente, não necessariamente na mesma
prancha, referindo-se como se fosse o mesmo.
Em alguns protocolos, características especiais são atribuídas aos conteúdos das
respostas; assim, quando o conteúdo se refere a experiências humanas (Hx) ou quando o
indivíduo articula uma representação simbólica clara e específica, pode refletir
características cognitivas específicas ou até mesmo características projetadas do Self.
Assim, o CE adotado será o de Conteúdo Abstrato (AB). No mesmo sentido, o Movimento
Agressivo (AG) é empregado quando a agressão está ocorrendo; da mesma forma, o
Movimento Cooperativo é assinalado quando nas respostas de movimento houver uma
interação entre dois ou mais objetos e estes estiverem em uma ação positiva ou cooperativa.
Ainda relacionado aos protocolos com características especiais atribuídas aos conteúdos, o
código Mórbido (MOR) é utilizado para as respostas em que o objeto é identificado como
84
morto, destruído, em ruínas, estragado, danificado, ferido ou quebrado, assim como quando
ocorrer atribuição de uma característica ou sentimento disfórico em relação a um objeto.
Nas respostas em que o examinando faz menção a experiências de sua vida, seja
presente ou passado, ou quando utiliza de pronomes pessoais como sendo parte da base
para justificar e/ou esclarecer a resposta, emprega-se código PER. Outro fenômeno que
pode ocorrer diz respeito à identificação por parte do sujeito de determinadas partes da
mancha como sendo cromáticas, quando, na realidade, são acromáticas; na ocorrência
disso, o código CP será usado.
Para produzir respostas de representação humana HRV, o respondente deverá
conceitualizar, visualizar e descrever pessoas, intenções humanas e experiências humanas.
A representação humana HRV consiste de duas variáveis: representação humana boa GHR
e representação humana pobre PHR. As respostas GHR são percepções ou representações
do esquema positivo de si mesmo, do outro, e as relações manifestadas em respostas
humanas precisas, realistas, lógicas, intactas e interações boas ou cooperativas. PHR são
percepções negativas ou problemáticas ou representações como aquelas manifestadas em
representações ou percepções distorcidas, irrealistas, danificadas, confusas, ilógicas,
agressivas, ou más. Associado a essas dimensões amplas e heterogêneas, a HRV resume as
qualidades gerais das percepções e representações humanas e interpessoais, isto é, a
compreensão implícita das pessoas e dos relacionamentos (Viglione, Perry, Jansak, Meyer
& Exner, 2003).
Ainda sobre os Códigos Especiais, considera-se relevante mencionar que pode haver
a necessidade de mais de um CE para uma mesma resposta, o que seria chamado de
códigos especiais múltiplos; no entanto, entre os quatorze CEs, oito (PSV, AB, AG, COP,
MOR, PER, CP) são independentes uns dos outros, sendo codificados sempre que se fizer
85
necessário. Os demais podem ou não ter inter-relação com outros CE. Assim, é importante
atenção nessa parte da codificação.
Na interpretação dos dados o Sistema Compreensivo do Rorschach fornece dados
cognitivos e emocionais do funcionamento da personalidade do indivíduo. Com relação à
esfera cognitiva, distingue dados relativos ao processamento dos estímulos com base na
atenção e memória e a ideação do raciocínio culminando com a formulação de conceitos.
Quanto à esfera emocional compreende o manejo tanto das demandas internas e externas
como dos afetos, a construção da identidade e as trocas relacionais (Yazigi & Villemor
Amaral, 2006).
Para reproduzir os respectivos aspectos da personalidade, Exner (1974/1986, 1993)
propôs uma orientação seqüencial lógico-racional em que agrupa aspectos formais do
método, o que resultou numa organização das informações em sessões de agrupamentos
conforme o tipo vivencial, estilo pessoal e controles; afeto, relações interpessoais e
autopercepção; tríade cognitiva, ou seja, processamento, mediação e ideação. Portanto, as
estratégias interpretativas dos achados variam de acordo com o tipo de produção do
indivíduo. A ordenação dos agrupamentos ou constelações está relacionada com a estrutura
da personalidade, as relações dinâmicas entre os vários aspectos, permitindo a compreensão
de um funcionamento mental singular, contribuindo para o esclarecimento de dúvidas
diagnósticas, podendo, ainda, indicar a presença ou não de patologias específicas (Yazigi &
Villemor Amaral, 2006).
Tendo em vista a grande quantidade de categorias e códigos utilizados no SC, foram
selecionados para este estudo variáveis do Sumário Estrutural que se referem
principalmente ao agrupamento da Autopercepção: índice de Egocentricidade, respostas de
Anatomia – An -, e respostas de conteúdo Mórbido – MOR -; em seguida, percepção da
86
realidade: Xo% Xu% e X-%; formação de uma noção de identidade estável [H:
(H)+Hd+(Hd)]; indicadores de estresse, m, SumT e Sum C’; COP e AG; e GHR:PHR
(Viglione & cols., 2003), que, por hipótese, estariam comprometidos nos casos de vítimas
de abuso sexual.
Com base nos indicadores mencionados, seus significados e possíveis interpretações,
e em pesquisas científicas, acredita-se que o Rorschach possa ser um instrumento útil na
investigação de indivíduos com história de abuso sexual, como será observado.
87
2.2 A validade do Rorschach: uma abordagem configuracional
Um grande desafio na avaliação psicológica é demonstrar a validade de
instrumentos e procedimentos diagnósticos para a obtenção de resultados, tanto em estudos
nomotéticos como ideográficos, confiáveis, fidedignos e relevantes, amparados em
metodologias científicas atuais. Descobertas nomotéticas parece ser o ponto de partida no
processo de avaliação (Striker & Gold, 1999) e podem, muitas vezes, serem suficientes em
processos diagnósticos e na tomada de decisões clínicas (Wiggins, 1973). Os instrumentos
nomotéticos permitem comparações quantitativas de forma que se possa avaliar traços,
sintomas, déficits ou deterioração mental. A abordagem idiográfica possibilita uma
compreensão singular de cada sujeito (Trierweiler & Stricker, 1998; Wiggins, 1973). A
natureza, o valor e as limitações dos dados que informam os métodos nomotéticos são
preocupações que se aplicam ao Rorschach e a qualquer outra medida de personalidade.
Assim, o propósito deste capítulo é verificar o cenário atual dos estudos de validade
do Rorschach. Inicialmente, será apresentado um panorama internacional de estudos sobre
esta temática, bem como, alguns estudos realizados no cenário brasileiro, embora ainda
sejam escassos. É importante ressaltar que os esforços internacionais para a garantia de que
instrumentos bons e confiáveis sejam construídos e utilizados, devem ser aplicados em
contexto nacional (Noronha
& Vendramini, 2003). Segundo as autoras espera-se, ainda, que
padrões nacionais de construção sejam estabelecidos, de forma que as necessidades do país
e a diversidade cultural possam ser contempladas.
88
2.2.1 Estudos de validade do Rorschach no âmbito internacional
A validade de constructo do Rorschach tem sido discutida por muitos autores
americanos. Especialmente, a avaliação de estruturas de personalidade e a dinâmica do
funcionamento mental, e sua falta de correspondência com medidas de auto-relato, tem sido
questionada na tarefa de estabelecer parâmetros de validade do construto para esse
instrumento. Estudos de Meyer (1996,1997), salientaram as dificuldades inerentes na
validação de um método no qual os fenômenos focados são construtos de personalidade que
existem em vários níveis de consciência e com vários graus de expressão comportamental.
A falta de equivalência de significado dos escores Rorschach individuais, a falta de
conexão óbvia das respostas individuais e dos escores para significados auto-evidentes e os
construtos subjacentes também foram observados como preocupações com a validação.
Além disso, foram relacionados os problemas quanto à administração, a codificação e a
interpretação dos dados (Striker & Gold, 1999).
Estudiosos desse problema salientam a falta de relevância para a validação do
Rorschach em estudos correlacionados para fazer uma discriminação nosológica. Esse tipo
de pesquisa está predestinado ao fracasso porque o critério é inapropriado para o método
Rorschach, e sua sensibilidade única e validação, são obscurecidas pelo método de pesquisa
(Widiger & Schiling, 1980). Stricker (1997) observou que a escolha dos critérios
teoricamente não adequados produz dados em variância com a experiência clínica e leva a
conclusões falsas e desnecessárias sobre a incomensurabilidade da ciência e da prática.
Os estudos de Meehl (1959) na avaliação do progresso da validação do construto
podem ainda ser bem aplicados nessa compreensão. Tais estudos advertiram sobre a
abordagem teórica para a validação do construto de medidas tais como o Rorschach e o
89
Teste de Apercepção Temática, nos quais a validação incremental do instrumento era o
foco central. Sua argumentação baseou-se no fator limitante mais importante na validação
de um instrumento que é o estado da teoria a partir da qual este é derivado, assim, quanto
mais pobremente elaborada a teoria menor o ganho a partir da avaliação.
Assuntos sobre validação do construto também foram discutidos por Blatt (1975),
que apontou a necessidade de estabelecer-se uma metodologia de validação que abordasse a
sofisticação da avaliação clínica real e que fosse uma metodologia na qual os critérios de
resultado fossem conceitualmente consistentes com os limites e sensibilidade da medida.
Blatt (1975) igualmente observou que a validação de uma medida como o Rorschach não
pode ser avaliada separadamente do treinamento e habilidade da pessoa que administrou,
codificou e interpretou o teste.
Widiger e Schiling (1980) diante da necessidade de estudos de validação do
construto, para o Rorschach, ofereceram algumas diretrizes para o desenvolvimento de
pesquisas. Os autores destacaram: a) a importância da explicação da “rede nomológica”,
isto é, de uma clara afirmação da teoria e das inferências derivadas que pressupõe-se que o
instrumento exploraria, b) a determinação de características observáveis que refletem os
construtos inferidos, o que pode refletir um problema porque as características observáveis
podem na maioria serem derivadas do construto sob consideração; c) a construção de um
projeto de pesquisa que assegure efetivamente a validação do papel do instrumento dentro
de uma estrutura conceitual de trabalho em rede nomatológica.
Weiner (1995), ao referir-se à validação do construto, observou que o Rorschach
não é uma única escala e que esta tarefa encontra melhores resultados quando realizada de
forma mutidimensional. Ele argumentou que o Rorschach não é um teste que tem por
objetivo quantificar comportamentos, mas é uma medida indireta de tendências e estruturas
90
implícitas de personalidade. Assim, deve-se tomar cuidado nas escolhas das populações
representativas para assegurar a administração, a codificação padronizada e para a seleção
de índices e critérios Rorschach associados que sejam relevantes. Weiner (1977) indicou
que grande parte da literatura falhou em atender estes padrões e, conseqüentemente, não
obteve a evidência de validação do Rorschach.
Sendo assim, as conclusões de Meehl (1959) parecem ainda válidas. O Rorschach
somente pode ser tão válido quanto à teoria que organiza seu uso e isto, por sua vez, é
inseparável das habilidades cognitivas das pessoas que o empregam e dos seus níveis de
conhecimento e de experiência em relação a, o que, o instrumento vai focar (Meyer, 1996).
Portanto, a validação do construto teoricamente informado do Rorschach deve avançar a
partir de uma teoria clara, bem articulada, e em conformidade com as especificações
oferecidas por Widiger e Schiling (1980).
Meyer (1997) sugeriu critérios para aprimorar os métodos de pesquisa na busca de
validade de construto do Rorschach. Ele identificou três importantes dimensões das
variáveis de critério “padrão ouro”: 1) a relevância e fidedignidade do construto – o
pesquisador deve encontrar formas de assegurar a correspondência entre o critério e os
construtos de predição-; 2) a importância de se oferecer definições operacionais claras e
confiáveis; e 3) a qualidade dos dados. Os critérios podem ser otimizados pela
minimalização das fontes tendenciosas, dependentes da situação e dependentes da
perspectiva, numa série de formas. Estas incluem a melhoria dos critérios de validação
dependentes de julgamento e a codificação dos dados a partir de diferentes fontes. Meyer
(1997) defendeu o uso da avaliação longitudinal especializada dos procedimentos de dados
e sugeriu “a obtenção de dados criteriosos que cheguem o mais próximo possível da
realidade clínica” (p.611).
91
Nessa abordagem, tem se utilizado de julgamentos agregados que oferecem o
benefício de distribuir e assim minimizar a parcialidade entre os avaliadores. De toda
maneira, quaisquer destas abordagens requerem uma ferramenta de avaliação que garanta
que os dados refletem precisamente os construtos que foram escolhidos para o estudo.
Nesse sentido, Exner (1969) apresentou dados que confirmaram e indicaram que todas as
variáveis codificadas no sistema compreensivo SC podem apresentar uma substancial
concordância interavaliadores. Observaram-se bons coeficientes de estabilidade para Z, FC,
R, CF+C, P, entre outras variáveis inclusas no estudo (Exner & Weiner, 1995).
Com a finalidade de avaliar o rigor psicométrico do Rorschach, Exner (1997)
desenvolveu um estudo com cinqüenta adultos não-pacientes, tendo como objetivo verificar
a fidedignidade do instrumento por meio do teste-reteste. Algumas variáveis do Sumário
Estrutural que apresentaram bons coeficientes de estabilidade foram respostas de conteúdo
Agressivo, Xu%, respostas de conteúdo Mórbido e de determinantes Mistos.
Outros pesquisadores referiram que o Rorschach pode ser uma ferramenta clínica
importante na indicação ao paciente para uma forma adequada de psicoterapia (Meyer &
Handler, 1997). Eles descreveram às vantagens de se conceber o Rorschach mais como um
método do que como apenas como um teste. A idéia de que métodos servem para gerar
dados, e testes para medir alguma coisa foi útil para marcar diferenças significativas entre
os instrumentos de avaliação, e esclarecer que não se pode esperar que os meios para
validação sejam os mesmos em ambas as situações (Weiner, 2000; Villemor-Amaral,
2008).
Nesse contexto, a abordagem clínica em relação ao uso do instrumento e de
qualquer dado parece recair sobre o alcance que o avaliador necessita obter com o processo
de avaliação. É suficiente identificar o diagnóstico, a habilidade intelectual ou é necessário
92
mais? Observa-se que quando as variáveis de personalidade encontram-se relacionadas ao
grupo de referência do paciente, a validade incremental da avaliação torna-se aumentada e
assim, não é preciso abandonar a perspectiva nomotética. Mesmo se as relações sobre as
variáveis não forem ainda estabelecidas, uma base empírica e acadêmica torna-se crucial
nos processos clínicos de geração de inferências e hipóteses (Trierweiler & Stricker, 1998).
Desta forma a relação entre abordagens nomotéticas e ideográficas para avaliação é
complexa. O grau no qual o clinico vai além do nomotético depende da tarefa e das
necessidades e propósitos da avaliação. Estas fundamentações podem ser usadas para
responder questões de encaminhamento que tem a ver com comparações normativas de
comportamentos, traços ou características de personalidade de pacientes. A necessidade
clinica, freqüentemente, requer um movimento além do estritamente empírico em direção a
inferência baseada na teoria que enfoca a interação dos processos psicológicos. Este
processo tipifica o modelo configuracional no qual a compreensão do ideográfico é o
objetivo final. Estas interações dos processos e estruturas psíquicas do paciente são críticas
para certos tipos de avaliação, mas podem ser inferidos apenas a partir de dados
nomotéticos.
A identificação, por meio de uma comparação normativa de uma desordem de
ansiedade, por exemplo, pode ser suficiente para quem adota uma postura unitária
etiológica e terapêutica em relação às desordens. Entretanto, as decisões com base nos
sinais e similaridades dos quadros psicopatológicos podem dificultar o acesso aos aspectos
mais relevantes do paciente (Stricker, 1992). De outra maneira, uma avaliação sofisticada,
baseada no pressuposto de que há muitas fontes de ansiedade e terapias possíveis, e que
utiliza múltiplos métodos, de forma individualizada, pode chegar a uma comparação com as
normas. Freqüentemente, os resultados de tal avaliação multi-método, pode desviar-se ou
93
contradizer os achados de um único método. Esta discordância não deve ser entendida
como uma indicação de falta de validade e valor científico seja, da abordagem indireta mais
orientada na profundidade, tais como o Rorschach, ou dos achados baseados em auto-
relato. Cada um deles pode ser útil, mas respondem a questões diferentes.
Para Villemor-Amaral (2008) quando se busca demonstrar a validade de métodos
projetivos, nem sempre os modelos psicométricos colaboram com a tarefa, já que muitos
fenômenos investigados por essas técnicas são absolutamente singulares, o que inviabiliza a
possibilidade de repetição em grupos de sujeitos. Isso aumenta o desafio de validar o
instrumento por meio de estatística, mas nem por isso tal propósito deve ser negligenciado,
principalmente considerando-se que diversos estudos têm alcançado progressos nesse
sentido.
Diante destes pressupostos, estudiosos (Aronow, Reznikoff & Moreland, 1994)
sugeriram que o Rorschach deve ser usado apenas de uma maneira idiográfica, enquanto
que apenas as medidas de auto-relato podem ser consideradas como sendo representativas
de uma abordagem nomotética. Entretanto, Exner (1993) demonstrou com o Sistema
Compreensivo, que o Rorschach pode ser usado para estudar as relações entre muitas
variáveis de personalidade. Como a literatura aponta, existe uma fundamentação
nomotética substancial para o uso do Rorschach na avaliação de uma variedade de
processos inconscientes, incluindo motivos implícitos, tendências e representações de si
mesmo e dos outros.
Outro aspecto crítico da ciência da avaliação psicológica é a investigação de valores
de referência normativos para o Método de Rorschach. A adequação dos valores de
referência do SC de adultos e crianças (Exner, 2003) tem sido discutida na literatura na
última década tanto no que diz respeito às amostras dos Estados Unidos (Meyer, 2001;
94
Shaffer, Erdberg & Haroian, 1999; Wood, Nezworski, Garb & Lilienfeld, 2001a, 2001b)
como de outros países (Andronikof-Sanglade, 2000; Mattlar, 2004).
Um estudo que demonstrou preocupação com os valores de referência SC foi o de
Shaffer e cols., (1999) realizado com 123 adultos de Fresno, na Califórnia. Os autores
relataram muitos registros mais curtos do que as normas SC. Contudo, tanto a amostra de
Fresno quanto as normas tradicionais SC foram obtidas a partir de não pacientes nos EU, e
qualquer disparidade entre elas seria evidente. Além disso, os participantes do estudo foram
testados por alunos de graduação, o que foi questionado por Weiner (2001) como tendo um
nível pouco adequado de treinamento e experiência para ser considerada uma amostra de
referência.
Recentemente Meyer, Erdberg e Shaffer (2007), realizaram um estudo reunindo
descobertas de pesquisadores que se dedicaram à investigação de dados normativos em
vários países para o Sistema Compreensivo (Exner, 2003). Foram utilizadas 21 amostras de
dados de adultos de 17 países e 31 amostras de dados de crianças e adolescentes de cinco
países. Os números ilustraram como os escores em cada amostra estão distribuídos e como
eles se distribuem entre oito variáveis do Sistema Compreensivo (Exner, 2003). As
amostras de adultos do mundo inteiro apresentaram-se semelhantes e assim, os clínicos
podem ser encorajados a integrarem os valores de referência internacionais em suas
interpretações de protocolos.
No entanto, o mesmo estudo revelou que as amostras de 31 crianças e adolescentes
de cinco países produziram valores instáveis e, freqüentemente, extremos em muitos
escores o que resultou no alerta de que as inferências sobre patologias, nessa população,
devem ser feitas de forma cautelosa. Dentre os indicadores, foram destacados os que se
referem ao Lambda, os escores (EA, es, M, WSumC) e a qualidade da forma. Assim sendo,
95
os dados apresentados são menos abrangentes e completos para crianças e adolescentes do
que para adultos e uma cobertura mais sistemática é necessária para adequadamente
remeter-se a questões sobre a influência relativa de fatores culturais, desenvolvimentais,
examinador, administração ou codificação.
2.2.2. Estudos de validade do Rorschach no âmbito nacional
Existem tantos coeficientes de validade quantos propósitos para o qual o teste é
usado. O Rorschach pode demonstrar sua utilidade para diversas propostas e qualquer
comparação com outros testes deve ser feita com base em critério por critério, com
conclusões globais pouco prováveis. Tendo essa precaução, entre os estudos brasileiros que
tem contribuído com os indicadores de validade do Rorschach destacam-se Semer (1999),
Antunez (1998), Güntert, Yazigi e Behlau (2000), Nascimento
(2001a,b/2002a,b/2004a,b/2007), Villemor-Amaral, Silva Neto e Nascimento (2003), Silva
Neto (2004), Passos (2005), Duarte, Bordin, Yazigi e Mooney (2005), Lamounier e
Villemor-Amaral (2006)
e Antúnez, Yazigi e Del Porto (2006).
Güntert e cols. (2000) estudaram a personalidade de crianças com nódulo vocal e
sem nódulo vocal e encontraram diferenças significativas entre os grupos e as variáveis
Rorschach selecionadas. Os resultados no grupo com nódulo vocal revelaram aumento do
CDI, indicando dificuldades no relacionamento interpessoal; Sum T rebaixado, denotando
dificuldades em reconhecer as necessidades de contato; Hd e A aumentados, revelando
acentuada imaturidade quanto à autopercepção e a percepção do outro; Lambda aumentado,
indicando um empobrecimento psicológico; DQ+ rebaixado, significando diminuição da
capacidade de pensar de modo mais elaborado e X% rebaixado, indicando uma percepção
96
mais subjetiva da realidade. Diante das diferenças estatisticamente significativas, que
possibilitou a discriminação dos grupos, os resultados contribuíram para a validade dos
índices citados do Rorschach para essa população.
Semer (1999) selecionou variáveis do Método de Rorschach que medem aspectos
da personalidade descritos na literatura como presentes em crianças enuréticas. A autora
encontrou diferenças estatisticamente significativas, entre o grupo de crianças com enurese
e o grupo de crianças sem enurese, quanto ao índice de egocentricidade. Neste índice, os
valores apresentaram-se significativamente baixos no grupo de crianças com enurese. O
estudo contribui para a validade do índice de egocentricidade como medida de atenção
voltada para o próprio indivíduo, sugerindo baixa auto-estima.
Em estudos com adultos, Duarte e cols. (2005) verificaram a validade das variáveis
associados à afetividade, relações interpessoais e estresse do Rorschach. As autoras
compararam as características de personalidade de mães de crianças autistas e de mães de
crianças livres de enfermidades encontrando diferenças estatisticamente significativas na
Nota D, entre os grupos, com maior prevalência de estresse e dificuldades de controle nas
mães de crianças autistas. Em conclusão, o estudo forneceu evidência de validade para a
Nota D e para o uso do Rorschach, com tais objetivos, nessa população.
Quanto a estudos de validação clinica do Rorschach destacam-se os trabalhos de
Antunez (1999) e Passos (2005). Na investigação das características de personalidade e
aspectos psicossomáticos de pacientes com glossodínia por meio de correlações clínicas e
teóricas com o Método de Rorschach, Antunez (1999) concluiu que esses pacientes
possuem uma elevada inibição nos processos intelectuais; possibilidades limitadas de
elaboração; atitude formal e distante no contato interpessoal; excessivo subjetivismo;
apreensão dos dados de forma aleatória, desprovido de críticas; dificuldades de controle;
97
prejuízo da lógica na observação das regras sociais; elevada tensão emocional no contato e
pensamento concreto.
A psicodinâmica de estados depressivos em obesas com Transtorno de Compulsão
Alimentar Periódica foi realizado por Passos (2005). O estudo foi desenvolvido por meio da
análise dos resultados do índice de depressão do Método de Rorschach e sua relação com
os dados da entrevista psiquiátrica estruturada – Mini-plus, e do inventário de depressão de
Beck. Os resultados denotaram que a depressão, como quadro clínico manifesto e atual não
caracterizou o grupo estudado, embora tenha sido observados a presença de sobrecarga
interna de estados desagradáveis e ligados à depressão; tendência a estados internos de
sobrecarga caracterizados por sentimentos de falta e insuficiência, expressos no Rorschach,
por exemplo, pelo uso dos espaços em branco, e não por sentimentos de tristeza e perda.
Em outro estudo, Antúnez e cols. (2006) com a finalidade de compreender a
afetividade no Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC, por meio de caso controle e de
casos, selecionaram as variáveis Rorschach tipo de vivência, quociente afetivo, modulação
afetiva e constrição afetiva. Os autores não encontraram diferenças estatisticamente
significativas entre as variáveis, mas a análise qualitativa das respostas de cor indicou a
presença de tons mais desagradáveis, na presença constante das verbalizações “não gostei”,
e ansiedade no grupo de pacientes, os quais revelaram dificuldades no manejo do afeto,
com distanciamento e isolamento dos componentes da afetividade, que não é sentida, mas
racionalizada.
Com o objetivo de contribuir com a validade do Rorschach no contexto do trânsito,
Lamounier e Villemor-Amaral (2006) compararam os indicadores de controle de impulsos,
afetividade e agressividade e adequação as normas do Método de Rorschach em grupos de
motoristas infratores e não infratores. Os resultados demostraram diferenças
98
estatisticamente significativas entre os indicadores Nota AdjD, Xu%, AG e FC:CF+C. No
caso das Notas AdjD, AG e FC:CF+C foi verificado que o grupo de infratores apresentou
maiores pontuações, enquanto que a nota Xu% a pontuação deste grupo foi menor que a do
grupo de não infratores. Estes dados confirmaram que o Método de Rorschach é sensível
para identificar algumas características psicológicas de indivíduos infratores.
Estudos brasileiros com a finalidade de verificar a precisão entre avaliadores
corroboram com os achados de Exner e Weiner (1995). Silva Neto (1999) estudou vinte
protocolos de sujeitos jogadores patológicos, todos codificados pelo pesquisador e
recodificados por outro psicólogo treinado no SC. O resultado indicou que a maioria das
variáveis apresentou valores de kappa que indicam precisão substancial ou excelente. Nesse
sentido, Duarte e cols. (2005), Santoantonio, Yazigi e Sato (2006) também desenvolveram
pesquisas, em parte, com o mesmo objetivo e tiveram resultados que confirmam os estudos
anteriores.
Entre os estudos com o Rorschach que investigaram as existências relacionadas à
precisão, destaca-se a pesquisa de Santoantonio e cols. (2006) que realizaram um estudo
comparativo entre um grupo de adolescentes com diagnóstico de lúpus eritematoso
sistêmico e um grupo sem o diagnóstico, observando o estilo preferencial de organização
do afeto, da emoção e da ideação na resolução de problemas; a proporção de constrição
afetiva; a capacidade estrutural de tolerância ao estresse e à influência dos elementos
situacionais; os aspectos associados à auto-estima, à autopercepção, e ao relacionamento
interpessoal e os recursos para enfrentar as demandas do ambiente. Como resultado os dois
grupos apresentaram déficit relacional, uma tendência a utilizar os processos de
pensamento na resolução de problemas e maior constrição afetiva no grupo de pacientes, o
99
que denota maior dificuldade na utilização de recursos afetivos que poderiam facilitar a
adaptação ao meio.
Os estudos de adaptação e validação do Rorschach no SC para a população
brasileira segundo Villemor-Amaral e Pasqualini (2006) têm sido organizados e conduzidos
por Nascimento (2004a,b/2007), com destaque para Resultados de estudo normativo para o
Sistema Compreensivo do Rorschach: um estudo para a cidade de São Paulo (Nascimento,
2001a) e Método de Rorschach no Sistema Compreensivo: notas sobre estudos brasileiros
(Villemor-Amaral, Silva Neto & Nascimento, 2003). A partir deste projeto, estudos
considerando indicadores de controle e tolerância ao estresse (Nascimento, 2001b);
diferenças socioeconômicas (Nascimento, 2002a) e diferenças educacionais em amostras de
não-pacientes (Nascimento, 2004a/2007) com o confronto dos resultados de uma amostra
de paulistanos não-pacientes com os da amostra atualizada de Exner para norte-americanos,
tem sido realizados (Silva Neto, 2004).
Outros dois estudos normativos estão sendo desenvolvidos no Brasil. Um deles é
mais direcionado ao levantamento dos resultados de 200 adultos, não-pacientes de diversas
cidades do estado de São Paulo para cotejo com os já obtidos para a mesma localidade.
Dependentemente dos resultados e, em caso de serem compatíveis, os dados serão
agregados em uma tabela normativa de 400 adultos não-pacientes para a população do
estado de São Paulo (Nascimento, 2004b).
O outro se refere à normatização do Rorschach no Sistema Compreensivo em
crianças do Mato Grosso e visa à construção de tabelas normativas para a população
infantil (Ribeiro, Yazigi & Semer, 2008). Foram avaliadas 211 crianças, distribuídas em
quatro grupos de idade, 7, 8, 9 e 10 anos, de ambos os sexos, de escolas públicas e privadas
de Cuiabá. Como instrumentos foram utilizados: a) a CBCL Child Behavior Checklist
100
dirigida aos pais a fim de avaliar a competência social e identificar problemas de
comportamento nas crianças; b) o teste das Matrizes Progressivas de Raven aplicado nas
crianças selecionadas pelo CBCL a fim de se excluir crianças com baixo rendimento
intelectual; c) o Rorschach. Os dados estão sendo discutidos tendo em vista a comparação
com estudos normativos no Sistema Compreensivo em outros países.
A crescente busca pelas pesquisas com o Método de Rorschach, como pôde ser
observado, confere a este instrumento importância na realização de pesquisas e
diagnósticos clínicos. Sendo assim, com base na literatura, a análise do Rorschach deste
estudo considerou as seguintes hipóteses: a) autopercepção distorcida e baixa auto-estima
estariam presentes em maior freqüência nas vítimas em comparação às não-vítimas; b)
relacionamento e percepção interpessoal prejudicados estariam presentes em maior
freqüência nas vítimas em comparação às não-vítimas; c) dificuldades no ajustamento
perceptivo e na adequação a realidade estariam presentes em maior freqüência nas vítimas
em comparação às não-vítimas; d) estresse situacional, presença de sentimentos de
desamparo e impotência estariam presentes em maior freqüência nas vítimas em
comparação às não-vítimas.
Embora o objetivo deste trabalho seja contribuir com estudos de evidência de
validade do Rorschach na identificação de características de indivíduos vítimas de abuso
sexual e não vítimas em relação aos indicadores da autopercepção, para melhor contribuir
no entendimento desta proposta foram também investigadas outras variáveis do Rorschach,
vinculadas aos objetivos deste estudo, relacionadas à percepção interpessoal; ajustamento
perceptivo e adequação a realidade e indicadores de estresse. Os indicadores destas
variáveis também estariam denotando prejuízos no funcionamento psicológico de crianças
101
vitimizadas em comparação com as não vítimas. Para melhor compreensão destes aportes, a
seguir será apresentada a metodologia deste estudo.
II - MÉTODO
Participantes
Participaram do estudo 76 adolescentes, com idades entre 10 (23%), 11(19,7%), 12
(22,4%), 13 (21,1%), e 14 (13,2%) anos, média 11,80 (dp=1.36), de ambos os sexos, sendo
64 (84.2%) meninas e 12 (15.8%) meninos, que estavam cursando entre a primeira série do
ensino fundamental a primeira série do ensino médio, com nível socioeconômico médio-
baixo. A amostra foi dividida em dois grupos distintos, um grupo de vítimas de abuso
sexual e outro grupo de não-vítimas.
O grupo de vítimas foi composto de 36 (47.4%) indivíduos que sofreram abuso
sexual intrafamiliar que residiam com a família, ou que estavam em instituições destinadas
a acolher crianças e adolescentes, como medida de proteção, em situações de
vulnerabilidade, e que freqüentavam uma das três instituições de estudo e amparo à infância
e adolescência, participantes deste estudo, em uma das duas cidades localizadas no norte do
estado do Rio Grande do Sul. Para a inclusão e exclusão dos participantes foram adotados
os seguintes critérios: a) incidentes de abuso sexual nos quais o (s) perpetrador (es)
envolveu uma criança ou adolescente para sua própria satisfação por meio de atos como
tocar, beijar, acariciar as zonas genitais, se masturbar, com ou não penetração digital ou
com o órgão genital na vagina e/ou no ânus; b) o perpetrador era cinco anos ou mais velho
que a criança; c) quando da coleta do dado, a criança não estava vivendo na mesma
residência do perpetrador; d) o abuso foi comprovado e sustentado pela documentação dos
serviços nos quais estava contido o arquivo clínico de cada paciente (Browne & Finkelhor,
1986). Além disso, os dados foram confirmados pelos responsáveis legais dos adolescentes.
103
O grupo de não vítimas foi constituído por 40 (52,6%) indivíduos, 33 meninas e 07
meninos que freqüentavam escolas estaduais de ensino fundamental e médio localizadas no
interior do norte do estado do Rio Grande do Sul. Este grupo foi obtido por meio de
referência dos professores e foram ao encontro dos seguintes critérios: a) não haverem
história documentada de abuso sexual; b) não estarem em tratamento psicoterápico; c) não
apresentarem queixas específicas relacionadas à aprendizagem e comportamento.
Dos 36 participantes abusados sexualmente, 30 (80%) eram meninas, 06 (20%)
eram meninos, 08 (22%) faziam dupla com um irmão (sujeitos 15,16,17,18,33,34,35,36) e
28 (78%) foram abusados em suas residências. Quando da realização deste estudo, 11
(30,5%) vitimas encontravam-se abrigadas em instituições destinadas a acolher crianças e
adolescentes, como medida de proteção, em situações de vulnerabilidade social ou pessoal
(negligência, maus-tratos, abandono, abusos, mendicância, etc.) passando a ter o abrigo
como lar até que sua situação jurídica fosse definida e que pudessem retornar aos seus lares
de origem (sujeitos 01,04,05,06,08,19,24,25,30,31,32). Todos os participantes tiveram
história de abuso corrente sendo que a confirmação do abuso com mais de um perpetrador
ocorreu em 04 casos (sujeitos 02,04,06,12). Além disso, 25 (70%) vítimas permaneceram
em casa ou foram morar com familiares.
Os perpetradores foram todos homens, mais freqüentemente, o padrasto em 19 casos
(52,7%), seguido do pai, com 09 casos (25%), o tio em 05 casos (13,8%), o avô em 02
casos (5,5%). Em relação à atividade profissional, 21 (58%) não tinham uma profissão
definida, desenvolviam serviços gerais, o que demonstra a existência de uma ocupação
esporádica, ou estavam aposentados.
104
Para melhor visualização das características da amostra, na Tabela 1 constam dados
do grupo de adolescentes abusados referentes à idade, gênero, anos de escolaridade, local
em que vivia no momento em que foi avaliada para o estudo, se estava abrigada ou não,
vínculo do perpetrador com a vítima e profissão do mesmo. No grupo de não abusados, os
dados referem-se à idade, gênero, anos de escolaridade e profissão do pai, do padrasto, da
mãe ou do responsável pelo participante encontram-se descritos na Tabela 2.
105
Tabela 1 – Descrição dos Participantes Vítimas de Abuso Sexual
Vítimas
Idade Gênero Anos de
Escolaridade
Abrigados Perpetrador Profissão do
perpetrador
1
12 F 06 Sim Pai Eletricista
2
10 F 05 Não Pai e irmão Pedreiro
3
13 F 07 Não Pai Agricultor
4
11 F 04
Sim
Padrasto e filho Serviços gerais
5
12 F 05 Sim Padrasto Serviços gerais
6
10 M 04 Sim Pad
r
asto e Vizinho Pedreiro
7
11 F 05 Não Pai Pedreiro
8
10 F 04 Sim Padrasto Agricultor
9
12 M 06 Não Avô Aposentado
10
10 F 01 Não Pai Serviços geais
11
12 F 06 Não Padrasto Serviços gerais
12
11 F 04 Não Pai/Padr Aposentado
13
14 F 06 Não Padrasto Comerciante
14
10 F 04 Não Padrasto Serviços gerais
15
11 F 05 Não Padrasto Vigilante
16
13 F 08 Não Padrasto Vigilante
17
12 F 06 Não Padrasto Chapeador
18
13 F 07 Não Padrasto Chapeador
19
10 M 01 São Padrasto Serviços gerais
20
12 F 04 Não Padrasto Camioneiro
21
12 F 06 Não Padrasto Serviços gerais
22
14 F 07 Não Pai Protético
23
14 M 05 Não Tio Serviços gerais
24
13 F 07 Sim Padrasto Operário
25
12 F 02 Sim Padrasto Aposentado
26
10 F 05 Não Pai Pedreiro
27
10 F 03 Não Padrasto Mecânico
28
13 F 07 Não Pai Comerciante
29
11 F 04 Não Padrasto Chapeador
30
13 M 06 Sim Avô Aposentado
31
11 F 03 Sim Tio Serviços gerais
32
13 F 06 Sim Tio Comerciante
33
11 F 06 Não Tio Agricultor
34
14 F 07 Não Padrasto Pedreiro
35
13 F 07 Não Pai Pedreiro
36
10 M 03 Não Tio Agricultor
106
Tabela 2 – Descrição dos Participantes Não-Vítimas de Abuso Sexual
Não Vítimas
Idade Gênero Anos de
Escolaridade
Profissão do pai ou
responsável
1
14 F 09 Profissional Liberal
2
13 M 06 Mecânico
3
13 F 07 Comerciante
4
12 F 06 Comerciante
5
11 F 06 Comerciante
6
10 F 04 Barbeiro
7
10 F 04 Bancário
8
11 F 06 Protético
9
12 F 06 Comerciante
10
13 F 08 Comerciante
11
12 M 06 Operário
12
11 F 05 Comerciante
13
11 F 05 Marceneiro
14
13 F 07 Comerciante
15
13 M 07 Comerciante
16
14 F 09 Comerciante
17
12 M 06 Comerciante
18
12 F 06 Comerciante
19
13 F 08 Vendedor
20
13 F 07 Pedreiro
21
12 F 06 Serviços gerais
22
12 F 06 Comerciante
23
12 M 06 Comerciante
24
14 F 09 Agricultor
25
11 M 05 Pintor
26
12 F 06 Profissional Liberal
27
13 F 08 Bombeiro
28
11 F 06 Aposentado
29
14 F 09 Motorista
30
11 F 06 Profissional Liberal
31
14 F 09 Comerciante
32
14 F 09 Brigadiano
33
10 F 04 Serviços Gerais
34
10 F 04 Serviços Gerais
35
10 F 04 Mecânico
36
10 M 04 Motorista
37
10 F 04 Serviços Gerais
38
11 F 05 Vendedor
39
10 F 04 Técnico de Enfermagem
40
10 F 04 Profissional Liberal
107
Como pode ser observado nas Tabelas 1 e 2, procurou-se formar uma amostra
homogênea em relação aos dois grupos. No que se refere ao gênero, 84,2% eram meninas e
15.8% eram meninos; 47.4% foram vítimas de abuso sexual e 52.6% estavam livres dessa
vivência.
Instrumentos
Ficha sociodemográfica
Constituiu-se num protocolo com informações sociodemográficas como idade,
gênero, escolaridade, status atual da custódia e caracterização da situação do abuso sexual
com base nos estudos de Walrath, Ybarra, Sheeham, Holden & Burns (2006). (Anexo 1).
O Método de Rorschach
O Rorschach é um método de exame de avaliação da personalidade, baseado na
análise de respostas a estímulos pouco estruturados que serve de base para a observação dos
fenômenos psíquicos complexos relacionados com os processos de percepção, associação,
projeção e também da comunicação e expressão verbal (Villemor-Amaral, 2004). O teste
constitui-se por dez pranchas compostas por manchas de tinta cromáticas e acromáticas
sobre um fundo branco. As pranchas possuem uma morfologia ambígua e pouco
estruturada que impõe ao sujeito a tarefa de estruturação cognitiva na busca de lago com
que se assemelhe, a tomada de decisão e análise lógica ou crítica, ao mesmo tempo em que
convida a entrar num campo metafórico. Isso permite a investigação tanto da estrutura
108
quanto da dinâmica da personalidade, a compreensão da maneira pela qual ele estabelece
contato com os outros, com a realidade e com seu mundo vivencial (Weiner, 2000).
Para o Sistema Compreensivo, a aplicação do método caracteriza-se por mostrar as
figuras uma a uma e perguntar “com que isso se parece?” ou “o que isso poderia ser?” Pode
ser realizada num tempo médio de 60 minutos, em duas fases: a fase de resposta, quando
ocorre a expressão do examinando sobre o que percebeu nas pranchas, e a fase do inquérito,
quando o examinador, numa postura mais ativa, identifica com o examinando o conteúdo
que foi verbalizado, o que levou o examinando a dar a resposta (Exner & Sendin, 1999).
Em meio à grande quantidade de indicadores e hipóteses interpretativas que a
codificação das respostas permite gerar, selecionaram-se as variáveis relativas à
autopercepção e àquelas mais vinculadas às hipóteses desse estudo que perfazem o
relacionamento e percepção interpessoal; o ajustamento perceptivo e a adequação a
realidade e os indicadores de estresse. Entre elas, o índice de Egocentricidade, as respostas
de Anatomia (An) e de conteúdo Mórbido (MOR), a formação de uma noção de identidade
estável [H: (H)+Hd+(Hd)]; Xo% Xu% e X-%; SumT, SumC’,m e SumY; COP e AG e os
índices GHR e PHR (Exner, 2003).
Variáveis do Rorschach Analisadas
Autopercepção
O agrupamento da autopercepção é composto por variáveis que sinalizam o modo
como o sujeito percebe a si mesmo, sua auto-estima, a estabilidade de sua identidade e sua
capacidade de introspecção. Assim, na avaliação deste construto foram considerados os
seguintes indicadores: o EgoIndex (níveis do autocentramento ou da auto-estima); as
109
repostas de reflexo, Fr+rF (traços narcisistas); as respostas Vista, V (aspectos da auto-
imagem e disponibilidade para introspecção); os conteúdos MOR (projeções de conotação
negativa e de auto desvalia); as respostas de Anatomia (An) e de Raio-X (Xy).
O Índice de Egocentrismo é um indicador do nível de auto-estima do indivíduo; é
uma medida de atenção voltada para si mesmo, que indica a extensão em que a pessoa
atende a si mesma em oposição à atitude em se preocupar com os outros. Um Índice de
Egocentrismo alto [3r+(2)/R>0,44] significa atenção voltada para si mesmo,
caracterizando excessivo autocentramento. Nesse sentido, o excessivo autocentramento
associado a indicadores de autocrítica negativa [3r+(2)/R>0,44, V>0 ou FD>2] indica
intensos conflitos de auto-imagem e elevado nível de insatisfação consigo mesmo (Exner,
1993, p.506).
Contrariamente, o rebaixamento do valor deste índice [3r+(2)/R<0,32] sinaliza falta
de foco em si-mesmo, dificuldade ou incapacidade em manter uma auto-estima adequada
ou uma desvalorização e uma baixa auto-estima. Casos em que, o índice de egocentrismo
baixo aparece associado à presença de respostas reflexo envolvem importantes conflitos de
auto-imagem e auto-estima, com flutuações do humor e apresentação de comportamentos
disfuncionais. No entanto, segundo Belter e cols. (1989), um baixo índice de egocentrismo
poderia sugerir uma manobra defensiva para evitar o confronto com aspectos negativos de
si-mesmo.
As variáveis Vista (V) e Mórbido (MOR) monitoram aspectos da auto-imagem e
devem ser articuladas com Reflexo e com o Índice de Egocentrismo, que avaliam a auto-
estima (Weiner, 2000, p.152). Atitudes negativas ou desfavoráveis especialmente voltadas
para o corpo e suas funções são indicadas por MOR >2, que é um código especial atribuído
110
a respostas que envolvem objetos danificados ou sentimentos disfóricos (Exner, 1999,
p.79). Esse índice sugere dificuldades significativas de manter um nível adaptativo de auto-
imagem, em que o corpo é percebido como danificado ou com prejuízo de suas funções,
denotando uma auto-imagem desvalorizada (Weiner, 2000).
Outros indicadores que revelam preocupação em torno do corpo e atitudes com
relação a si próprio, informando sobre alterações da auto-imagem, são as respostas de
Anatomia (An) juntamente com as de Raios-X (Xy). Segundo Exner (1993), a presença de
uma ou duas respostas desse tipo em um protocolo representa um indicativo de
preocupação do indivíduo maior do que o habitual com seu funcionamento corporal. Uma
freqüência maior do que três respostas por protocolo e a excessiva preocupação com o
corpo que não venha coincidir com problemas físicos reais revelam uma distorção da auto-
imagem, com a presença freqüente de transtornos psicossomáticos ou de componentes
hipocondríacos. Assinala que, se não houve um problema orgânico, é mais provável que
essas respostas de Anatomia (An) e Raios-X (Xy) sejam decorrentes de aspectos
relacionados a dificuldades na constituição do self.
Os conteúdos associados a (An) foram igualmente apontados por Chabert (1993)
como um indicador de vulnerabilidade na auto-imagem na avaliação de pacientes com
dificuldades na estruturação do ego. A autora percebeu a impossibilidade destes indivíduos
de figurar os pensamentos por meio de representações e pelo recurso às imagens corporais
fragmentadas, semelhantes à organização do aparelho psíquico. Portanto, na avaliação deste
construto espera-se que vítimas de abuso sexual apresentem pontuações mais elevadas em
(An) em comparação com as não vitimas evidenciando comprometimento na auto-imagem
e na constituição de si-mesmo em decorrência da experiência traumática.
111
Nesse panorama de indicadores ainda, indivíduos vítimas de abuso sexual estariam
com distorção na autopercepção, com baixa auto-estima, com excessivo auto-centramento,
podendo apresentar um índice, por exemplo, de [3r+(2)/R>0,44, V>0 ou FD>2] que pode
denotar conflitos de auto-imagem, autocrítica negativa e sentimentos de culpa por ter sido
vitima de abuso sexual.
Relacionamento e percepção interpessoal
A avaliação do relacionamento e da percepção interpessoal foi realizada a partir dos
indicadores: relações entre figuras humanas completas, H e figuras humanas parciais, Hd e
pára-humanas, (H) e (Hd) (noção da identidade subjetiva e interesses interpessoais
fantasiosos); respostas de movimento agressivo AG; respostas de movimento cooperativo
COP; e a proporção de GHR Good Human Representation e PHR Poor Human
Representation (aspectos disfuncionais nas relações objetais).
As representações que o indivíduo tem sobre si e sobre o outro são indicadas no
Rorschach pelo Índice de Interesse Pessoal. Este envolve respostas com perceptos de forma
humanas inteiras [H] ou incompletas [Hd] ou de formas para-humanas inteiras [(H)] ou
incompletas [(Hd)]. O predomínio de respostas de perceptos humanos inteiros sobre outros
conteúdos humanos constitui um indicador de estabilidade da identidade. Uma noção de
identidade estável [H: (H)+Hd+(Hd)] favorece o bom ajustamento psicológico, fornecendo
ao indivíduo uma impressão clara e coerente sobre si mesmo (Weiner, 2000, p.155). O
predomínio dos outros conteúdos humanos em relação à percepção de figuras humanas
inteiras [H< (H)+Hd+(Hd)] indica que o indivíduo está construindo sua imagem e
percepção do outro fundamentalmente sobre fantasias e visões parciais, denotando uma
visão mais distorcida de si mesmo e dos demais, característica de pessoas imaturas. Assim,
112
espera-se encontrar o predomínio de outros conteúdos humanos com maior freqüência em
protocolos Rorschach de indivíduos com história de abuso sexual.
As qualidades gerais das percepções e representações humanas e interpessoais são
atribuídas no Rorschach pelas respostas GHR e PHR. As respostas GHR são percepções ou
representações de si mesmo, do outro, e as relações manifestadas em respostas humanas
precisas, realistas, lógicas, intactas e interações boas ou cooperativas. As respostas PHR são
percepções negativas ou problemáticas como aquelas manifestadas em representações ou
percepções distorcidas, irrealistas, danificadas, confusas, ilógicas, agressivas, ou más
(Viglione & cols., 2003). Em decorrência da experiência de abuso sexual, espera-se na
análise destes protocolos escores altos nas respostas PHR e baixos nas GHR,
comparativamente ao grupo de adolescentes que não abusados sexualmente que deverão
apresentar os resultados de forma inversa.
Da mesma maneira, estima-se que o grupo de adolescentes vítimas de abuso sexual
apresentem escores altos nas respostas de movimento agressivo AG, em relação as
respostas de movimento cooperativo (COP), o que identifica atitudes e expectativas
negativas em relação ao mundo real e uma percepção do meio impregnada de hostilidade e
agressividade.
Ajustamento Perceptivo e Adequação a Realidade
Na avaliação do ajustamento perceptivo e da adequação a realidade foram
considerados as seguintes variáveis Rorschach: respostas incomuns sem distorções
perceptivas, Xu% (percepções idiossincráticas); respostas que transgridem a realidade, X-%
(percepção distorcida das ações e intenções alheias); total de repostas de qualidades formal
positiva, X+% (percepções convencionais) .
113
Uma medida utilizada na avaliação do ajustamento perceptivo e da adequação a
realidade são as respostas de forma distorcida X-% (Exner & Weiner, 1995; Gacomo &
Evans, 2008). Segundo os autores uma percepção realista significa que o indivíduo é capaz
de formar impressões precisas de si e do ambiente que o cerca. As respostas de forma
distorcida X-% representam a proporção de respostas inusuais que traduzem um uso
inadequado dos contornos das manchas. Para Exner e Weiner (1995), são respostas difíceis
para o examinador reconhecer ou localizar na prancha, pois contrariam o princípio da
realidade. O predomínio de tais respostas indica um distanciamento da realidade e a
presença de fantasias; fracasso defensivo da repressão e a emergência do processo primário
com a conseqüente desorganização das funções sintéticas do ego (Vargas da Silva, 1987).
Por vezes, as respostas de qualidade formal FQ- podem concentrar-se em algum tipo
de conteúdo ou determinante relacionado com a problemática específica, não sendo,
necessariamente, produto da distorção. Assim, por exemplo, pacientes com excessivas
preocupações corporais podem dar FQ- em respostas de anatomia; pacientes com
dificuldade de controle afetivo podem apresentar respostas de cor com FQ- e protocolos
com respostas de figuras humanas [H] acompanhadas por FQ- podem indicar dificuldades
no processo de identificação. Desse modo, se espera encontrar escores elevados destes
indicadores em crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual, e escores baixos nos
indivíduos livres desta vivência.
Indicadores de estresse
As variáveis Rorschach, m e Y são as que melhor refletem a presença de
experiências de desconforto psicológico associado a circunstâncias de estresse situacional.
As duas variáveis estão comumente correlacionadas com vivências de intenso desconforto,
mas o aumento de qualquer uma delas pode revelar a vivência de desamparo provocada por
114
um agente estressante significativo (Exner & Sendin, 1999, p.187). As interpretações de
Klopfer e cols. (1953), Campo (1980), Vargas da Silva (1987) e Weiner (2000) é que m é
um reflexo da percepção de forças fora de controle do indivíduo, que ameaçam a
organização da personalidade e a auto-imagem. Para os autores, é um sinal de alerta, uma
manifestação da ansiedade primária e traumática.
As respostas de movimento mostram como o sujeito vivenciou suas experiências e
formulou sua história de vida, revelam como o mundo externo foi percebido internamente.
Shachtel (1966) enfatiza que a atitude do sujeito frente às forças externas a ele, descritas
nas respostas m, é fundamentalmente, de um expectador impotente. Para ele, a identificação
com os objetos inanimados é menor do que com figuras humanas por isso a ação percebida
é dissociada, o sujeito não pode se responsabilizar por ela; é frágil diante da sua ameaça e é
incapaz de impedi-la. Disto resulta a ansiedade de ser vítima de um perigo iminente. Os
autores parecem convergir que tais vivências representam uma intensa situação de
ansiedade persecutória (Campo, 1980).
A possível especificidade dessa sobrecarga situacional costuma ser determinada
pelos valores m, Y e T, de modo que, diante de um protocolo que atinja T>1, pode-se
pensar que parte do estresse se origina de uma experiência de perda de um vínculo
significativo real, fantasiado ou simplesmente temido (Exner & Sendín, 1999; Weiner,
2000). Um escore maior que T=0, por exemplo, nos indivíduos abusados sexualmente
poderá significar que a vivência do abuso e a conseqüente perda de confiança em seus
cuidadores contribuem para uma sobrecarga de estresse e para uma grande reserva no
relacionamento interpessoal.
O impacto do ego diante da percepção de uma perda pode também ser revelado por
meio da ansiedade e da depressão. A preponderância das respostas acromáticas pode
115
revelar a presença de emoções antecipatórias para ir ao encontro de situações emocionais
geradoras de angústia. A estimativa de um resultado C’ >2 pode representar, além da
angústia, sentimentos de dor e luto. Para Vargas da Silva (1987) o luto consiste em resistir
à percepção da perda do objeto como também em resistir ao abandono do investimento
libidinal neste. A subtração da libido é realizada, paulatinamente, de forma dolorosa. Assim
sendo, no presente estudo, estima-se que em protocolos de vítimas de abuso sexual as
respostas m e SumY, e SumC’ tenham escores mais elevados do que nos protocolos de não
vítimas.
Procedimentos
Depois de estabelecido contato com a direção das três instituições participantes que
oferecem serviços de proteção a infância e a adolescência, apresentar os objetivos da
pesquisa, e obter a carta de autorização assinada pelos responsáveis para a realização do
trabalho (Anexo 2), este estudo foi submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade de Passo Fundo e aprovado em 11 de abril de 2007 sob o registro nº.
066/2007. Mediante esta aprovação iniciou-se um levantamento inicial, com a equipe de
psicólogos das instituições, por meio dos prontuários dos adolescentes vítimas de abuso
sexual intrafamiliar, para selecionar os que preenchiam os critérios de inclusão da pesquisa.
A partir de então, foi agendado um horário com os pais ou responsáveis legais, nas
dependências das instituições, para obter a autorização para a participação das vítimas ao
estudo.
O contato com os responsáveis pelos adolescentes foi feito individualmente, na
116
instituição, quando foram apresentados os objetivos da pesquisa e solicitado o
consentimento necessário para a participação das vítimas ao estudo. Este documento foi
assinado em duas vias, sendo uma para a pesquisadora e outra para o responsável. Além
disso, os representantes legais responderam a ficha sociodemográfica. Em segmento, foi
agendado um horário, com cada adolescente, que, após ter sido informado sobre os
objetivos do trabalho, foi consultado quanto ao seu desejo de participar ou não do mesmo; e
em caso afirmativo, este assinou um termo de consentimento livre e esclarecido também em
duas vias (Anexo 3).
A aplicação individual do teste Rorschach, foi realizada pela autora do trabalho, em
uma das salas das instituições. O tempo de aplicação do instrumento variou de 45’ há duas
horas. Os procedimentos de aplicação do instrumento seguiram as recomendações de Exner
(2003). Na fase de associação livre foi entregue ao sujeito o primeiro cartão perguntando-
se:
“O que isto poderia ser?” (Exner, 2003, p.51).
As respostas foram transcritas com a preocupação de registrar exatamente o que foi
verbalizado. No inquérito, após apresentação das dez pranchas, as instruções foram às
seguintes:
“Agora vamos voltar aos cartões novamente. Não vai demorar muito
tempo. Eu quero ver o que você disse que viu e ter certeza de que
estou vendo do mesmo modo que você. Vamos ver uma resposta de
cada vez. Eu vou ler o que você disse e então eu quero que você me
mostre onde está e o que tem na mancha que faz com que pareça isso,
117
para que eu possa ver também, tal como você viu. Entendeu?”
(Exner, 2003, p. 59).
Concomitantemente, foi realizado contato com as escolas de ensino médio e de
ensino fundamental e agendado um horário com a direção e professores para apresentar os
objetivos da pesquisa e solicitar dois documentos: uma autorização para a realização do
trabalho e o termo de consentimento dos pais ou responsáveis (Anexo 4) para a participação
dos alunos na pesquisa. Os professores foram ainda solicitados a indicarem os alunos com
perfil condizente aos critérios estabelecidos para a participação neste trabalho.
Com a indicação dos professores, os pais ou responsáveis dos alunos da escola
foram convidados a participar de uma reunião com a pesquisadora por meio de uma carta
nos seguintes termos: Seu filho (a) está entre os estudantes que foram sorteados que
apresentam bom desempenho escolar e bom relacionamento com os colegas, sendo
convidado (a) a participar de uma pesquisa. Maiores informações serão oferecidas no dia
____ das______ às ______ horas no salão de atos da escola. Atenciosamente, conto com a
sua presença!
A carta endereçada aos pais foi distribuída aos alunos na semana anterior a data da
reunião juntamente com o termo de consentimento livre e esclarecido, em duas vias. Em
decorrência dos pais não terem comparecido no dia e horário pré-estabelecidos para a
reunião em que seria contextualizada a problemática do abuso sexual e apresentados os
objetivos da pesquisa, foram recrutados para a pesquisa os adolescentes que trouxeram o
termo de consentimento assinado pelos pais e que consentiram sua participação ao estudo.
118
Este procedimento foi também adotado para a coleta dos dados na escola de ensino
fundamental.
A aplicação do teste Rorschach foi realizada nas dependências da escola em uma
das salas de aula ou na sala da supervisora escolar, e teve a duração aproximada de uma
hora. A metodologia de aplicação do Rorschach foi a mesma estabelecida com o grupo de
vítimas de abuso sexual. Os procedimentos de coleta de dados foram realizados em um ano
e três meses, no período de maio de 2008 a agosto de 2009.
Para verificar a autopercepção dos participantes pelo Método de Rorschach, foram
selecionadas algumas variáveis que denotam o relacionamento e percepção interpessoal; o
ajustamento perceptivo e da adequação a realidade; o estresse situacional e a presença de
sentimentos de desamparo e impotência. Para o levantamento dessas características foi
empregada a técnica de análise dos indicadores agrupados, conforme proposto por Exner
(2003).
Com o objetivo de gerar dados e resultados mais confiáveis e contribuir com a
validade deste trabalho foi realizado um estudo de concordância entre codificadores.
Weiner (1977) sugere que em situações de pesquisa se faça o teste de confiabilidade das
codificações, embora os examinadores treinados no Sistema Compreensivo
costumem
classificar as respostas do Rorschach de modo semelhante. Assim, foram sorteados
aleatoriamente 15 protocolos (25%) para serem recodificados por um juiz independente
para estudo de precisão. O juiz independente não teve conhecimento do grupo de vítimas e
não vítimas ao qual pertencia o protocolo codificado. Esse procedimento, fundamental para
a realização de pesquisas com métodos projetivos, contribui para minimizar julgamentos
idiossincráticos e subjetivos.
119
Nesse sentido, para que as análises das variáveis do Rorschach pudessem ser
desenvolvidas com maior confiabilidade, os protocolos foram, primeiramente, codificados
pela pesquisadora e revisados pela orientadora. Posteriormente, os protocolos foram
recodificados por um juiz independente com um nível semelhante de conhecimento e de
atuação profissional com o Rorschach no Sistema Compreensivo ao da orientadora. Nos
casos onde não se encontrou concordância, a melhor codificação foi discutida entre os
codificadores com base nas diretrizes mais completas e detalhadas de codificação do
Rorschach Coding Solutions (Viglione, 2002).
Diante deste procedimento, os 15 protocolos foram transcritos pela autora da
pesquisa no programa SPSS 12.0 e analisados pelo Kappa que apresenta os seguintes
índices de confiabilidade: (a) pobre, para valores menores de 0,20; (b) suficiente, para
valores entre 0,21 e 0,40; (c) moderada, para valores entre 0,41 e 0,60; (d) boa, para valores
entre 0,61 e 0,80; e (e) excelente, para valores entre 0,81 e 1,00 (Landis & Koch, 1977). O
índice Kappa pode ser utilizado em variáveis categóricas, ou seja, aquelas que assumem
valores de 0 ou 1.
Posteriormente a análise do índice de kappa para todas as variáveis do Rorschach e
sendo esta acima de 0,61 (boa), deu-se início a organização dos dados. As codificações das
respostas ao teste foram inseridas no programa RIAP
TM
5 para compor o Sumário Estrutural
(Exner, 2003; Exner & Sendin 1999) que contém os indicadores selecionados para esta
pesquisa. Com o objetivo de verificar as características relacionadas a indivíduos vítimas de
abuso sexual foram analisados os indicadores de autopercepção; relacionamento e
percepção interpessoal; ajustamento perceptivo e adequação a realidade e indicadores de
120
estresse. Os resultados das análises realizadas com os dados coletados no presente estudo
serão apresentados no próximo capítulo.
III - RESULTADOS
Neste capítulo serão apresentadas as análises realizadas com os dados coletados. Em
um primeiro momento serão apresentados os resultados da caracterização
sociodemográfica, contendo a média de idade e os anos de escolaridade dos grupos de
vítimas e não-vítimas. Na seqüência apresentam-se os valores de kappa para verificação da
concordância entre codificadores sobre as variáveis do Rorschach que foram analisadas
neste estudo e as estatísticas descritivas do agrupamento das variáveis do Rorschach para
cada grupo de participantes. Por fim, serão apresentadas as análises MANOVA e o Qui-
Quadrado para os grupos de vítimas e não vítimas.
Resultados da ficha sociodemográfica
Para verificar as possíveis diferenças sociodemográficas em relação à idade e aos
anos de escolaridade em cada um dos grupos e de forma comparativa, serão apresentadas as
tabelas com as estatísticas descritivas dos dois grupos estudados - vítimas e não vítimas. Na
Tabela 3 podem ser visualizadas as estatísticas descritivas do grupo de vítimas e não
vítimas quanto à idade e aos anos de escolaridade.
Tabela 3. Estatísticas Descritivas da idade e anos de escolaridade para o Grupo de Vítimas e Não
Vítimas.
Grupos
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Vítimas
Idade 36 10 14 11,7 1,3
Escolaridade 36 1 8 5,1 1,8
Não Vítimas
Idade 40 10 14 11,8 1,4
Escolaridade 40 4 9 6,1 1,7
122
Quanto à variável idade, conforme a Tabela 3, a média do grupo de vítimas foi de
11,7 (dp=1,3) e dos anos de escolaridade foi de 5,1 (dp=1,8). No grupo de não-vítimas a
média de idade foi de 11,8 (dp=1,4) e dos anos de escolaridade foi 6,1 (dp=1,7). Na
comparação entre os grupos de vítimas e não vítimas verifica-se que a média da idade não
apresenta diferenças estatísticas significativas. Diferentemente, a média da variável anos de
escolaridade é mais baixa para o grupo de vítimas.
Estudo de Precisão das variáveis Roschach
Para que as análises das variáveis do Rorschach pudessem ser desenvolvidas com
maior confiabilidade, os protocolos foram codificados pela autora do trabalho e revistos
pela orientadora e, em seguida, sortearam-se quinze protocolos que foram recodificados por
uma avaliadora externa para realização do estudo de precisão por meio do coeficiente de
Kappa.
No que se refere ao coeficiente Kappa, este pode ser utilizado em variáveis
categóricas, ou seja, aquelas que assumem valores de 0 ou 1. Assim, na Tabela 4 podem ser
verificados os coeficientes kappas das variáveis utilizadas neste estudo.
123
Tabela 4. Coeficientes Kappas das variáveis do Rorschach.
Variável
K P
W Resposta Global
0,97 0,001
D Respostas de Detalhe Comum
0,98 0,001
Dd Resposta de Detalhe Incomum
0,93 0,001
S Resposta de Espaço
0,61 0,001
DQ+ Resposta Sintetizada
0,91 0,001
Dqo Resposta Ordinário
0,87 0,001
DQv/+ Resposta Vaga Sintetizada
1,0 0,001
DQv Resposta Vaga
0,78 0,001
F Resposta de Forma
0,89 0,001
M Resposta de Movimento Humano
0,93 0,001
FM Resposta de Movimento Animal
0,95 0,001
m Resposta de Movimento Inanimado
0,76 0,001
a Resposta de Movimento Ativo
0,84 0,001
p Resposta de Movimento Passivo
0,66 0,001
COR Respostas Cromáticas
0,95 0,001
ACRO Respostas Acromáticas
0,95 0,001
T Respostas Sombreado Textura
0,90 0,001
V Respostas Sombreado Vista
* 0,001
Y Respostas Sombreado Difuso
0,66 0,001
FD Resposta Dimensional Baseada na Forma
0,47 0,001
Fr Respostas de Forma-Reflexo
0,56 0,001
FQ+ Qualidade Formal Superior
* 0,001
FQo Qualidade Formal Ordinária
0,82 0,001
FQu Qualidade Formal Inusual
0,70 0,001
FQ- Qualidade Formal Menos
0,80 0,001
Par Respostas Par
0,91 0,001
H Respostas de Figura Humana Inteiras
0,92 0,001
(H) Respostas de Figura Pára-Humana Inteiras
1,0 0,001
Hd Respostas de Detalhe Humano
0,80 0,001
(Hd) Respostas de Detalhe Pára-Humano
0,66 0,001
Hx Respostas de Experiência Humana
0,49 0,001
A Respostas de Figura Animal Inteira
0,96 0,001
(A) Respostas de Figura Pára-Animal Inteira
0,90 0,001
Ad Respostas de Detalhe Animal
0,95 0,001
124
(Ad) Respostas de Detalhe Pára-Animal
* 0,001
An Respostas de Anatomia
0,89 0,001
Art Respostas de Arte
0,82 0,001
Ay Respostas de Antropologia
1,0 0,001
Bl Respostas de Sangue
0,81 0,001
Bt Respostas de Botânica
0,85 0,001
Cg Respostas de Vestuário
0,81 0,001
Cl Respostas de Nuvem
* 0,001
Ex Respostas de Explosão
* 0,001
Fi Respostas de Fogo
1,0 0,001
Fd Respostas de Comida
0,65 0,001
Ge Respostas de Geografia
* 0,001
Hh Respostas de Utensílios Domésticos
0,79 0,001
Ls Respostas de Paisagem
0,85 0,001
Na Respostas de Natureza
0,82 0,001
Sc Respostas de Ciência
0,74 0,001
Sx Respostas de Sexo
0,95 0,001
Xy Respostas Raio-x
* 0,001
Id Respostas Idiossincrático
0,74 0,001
P Respostas Populares
0,77 0,001
Z Atividade Organizativa
0,82 0,001
DV Verbalizações Desviantes
1,0 0,001
DR Resposta Desviante
0,53 0,001
INC Combinações Incongruentes
0,81 0,001
FAB Combinações Fabuladas
0,57 0,001
CONTAM Combinações Contaminadas
* 0,001
ALOG Lógica Inadequada
0,66 0,001
AB Conteúdo Abstrato
* 0,001
PSV Perseveração
1,0 0,001
MOR Conteúdo Mórbido
0,63 0,001
AG Movimento Agressivo
0,94 0,001
COP Movimento Cooperativo
0,66 0,001
* O coeficiente da variável não foi calculado, pois a variável é constante.
Como pode ser observado, grande parte das variáveis apresentou coeficiente kappa
considerado como bom e excelente. O padrão moderado foi encontrado como resultado das
125
codificações de respostas reflexo Fr, FD, DR, FAB e Hx. No que diz respeito ao Fr,
observou-se que em apenas dois protocolos dos participantes não-vítimas foi encontrado
respostas desta natureza. A divergência ocorreu em uma das codificações, onde ouve
inversão de Fr e rF. Nesse caso, tomou-se como correta a codificação de um terceiro
especialista, e com base neste dado foram realizadas as estatísticas descritivas de
comparação entre os grupos.
O procedimento de apelar para a opção de um terceiro juiz foi adotado para as
outras variáveis com valores moderados de Kappa, em toda a amostra, garantindo maior
precisão aos dados das análises comparativas. Verifica-se que nenhuma das variáveis
apresentou coeficiente kappa baixo. Na seqüência podem ser observados os resultados das
estatísticas descritivas das variáveis Rorschach referentes às hipóteses deste estudo.
Variáveis Rorschach referentes às hipóteses do estudo
Na escolha das variáveis Rorschach foram consideradas àquelas mais vinculadas às
hipóteses desse estudo. Nesse sentido, serão apresentadas as estatísticas descritivas das
variáveis relativas à autopercepção; relacionamento e percepção interpessoal; indicadores
de estresse; ajustamento perceptivo e adequação a realidade para os grupos de vítimas e não
vítimas. A Tabela 5 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis que evidenciam a
autopercepção para o grupo de vítimas e não vítimas.
126
Tabela 5. Estatísticas descritivas das variáveis de autopercepção para o grupo de vítimas e não vítimas.
variáveis Grupos
N Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio Padrão
Fr+rF
Vítimas 36 0 3 0,19 0 0 0,62
Não-vítimas 40 0 1 0,1 0 0 0,3
Sum V
Vítimas 36 0 0 0 0 0 0
Não-vítimas 40 0 0 0 0 0 0
MOR
Vítimas 36 0 9 1,66 0 1 2,2
Não-vítimas 40 0 4 0,85 0 0,5 1,09
An
Vítimas 36 0 13 1,58 0 1 2,55
Não-vítimas 40 0 6 0,9 0 0 1,3
Xy
Vítimas 36 0 1 0,05 0 0 0,23
Não-vítimas 40 0 1 0,02 0 0 0,15
Na Tabela 5, pode-se observar que o grupo de vítimas obteve uma média alta An
1,58 (dp=2,55), maior que o grupo de não vítimas que apresentou uma média de 0,9
(dp=1,3). Considerando os parâmetros norte-americanos para a variável An 0,73 em
crianças de 11 anos, observa-se que o grupo de vítimas revela um aumento dessa variável
mais acentuado que as não-vítimas. É importante ressaltar que ocorreram desvios padrão
maiores que a média para o grupo de vítimas em relação ao grupo de não vítimas na
variável de conteúdo anatômico, An, o que indica que há uma variação grande na
freqüência desse indicador nas crianças, dentro de cada grupo. Nesse caso, os valores da
moda e da mediana evidenciam heterogeneidade entre os participantes de cada grupo com
relação à associação com esse conteúdo de respostas.
Vale salientar que a variável conteúdo mórbido - MOR - apresentou média alta para
ambos os grupos. O grupo de vítimas obteve em MOR uma média de 1,66 (dp=2,2) e o
grupo de não vítimas atingiu a média de 0,85 (dp=1,09). Assim, obteve-se uma diferença
entre as médias nos dois grupos apontando valores mais elevados para o grupo de vítimas.
Parâmetros norte-americanos para as variáveis de conteúdo Mórbido em crianças de 11
anos de idade indicam uma freqüência de 0.72. Verifica-se que ocorreram desvios padrão
maiores que a média para o grupo de vítimas em relação ao grupo de não vítimas na
127
variável de conteúdo mórbido, MOR, o que indica que há uma variação grande na
freqüência desse indicador nas crianças, dentro de cada grupo. Nesse caso, os valores da
moda e da mediana evidenciam heterogeneidade entre os participantes de cada grupo com
relação à associação com esse conteúdo de respostas. A Tabela 6 apresenta as estatísticas
descritivas das variáveis relacionadas ao Relacionamento Interpessoal para o grupo de
vítimas e não vítimas.
Tabela 6. Estatísticas descritivas das variáveis de relacionamento interpessoal para o grupo de vítimas e não
vítimas.
variáveis Grupos
N Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio Padrão
AG
Vítimas 36
0 5
0,7 0 0 1,2
Não-vítimas 40 0 1
0,1 0 0 0,36
COP
Vítimas 36
0 2
0,3 0 0 0,52
Não-vítimas 40 0 2
0,1 0 0 0,4
Verifica-se, por meio da Tabela 6, que todas as médias das variáveis relacionadas ao
Relacionamento Interpessoal no grupo de vítimas e não vítimas, quando comparadas aos
parâmetros norte-americanos para crianças de 11 anos, não evidenciaram valores
contrastantes extremos. A Tabela 7 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis do
Rorschach relacionadas aos indicadores de estresse.
128
Tabela 7. Estatísticas descritivas das variáveis de indicadores de estresse para o grupo de vítimas e não
vítimas
variáveis Grupos
N Mínimo Máximo Média Moda Mediana Desvio Padrão
m
Vítimas 36 0
7 2 0 1 2
Não-vítimas 40 0 4 1,6 1 1,5 1,2
Sum Y
Vítimas 36 0 0 0 0 0 0
Não-vítimas 40 0 0 0 0 0 0
Sum C
Vítimas 36
0 0
0 0,2 2 0
Não-vítimas 40 0 1
0,02 0,3 0,26 0,15
Verifica-se na Tabela 7, que todas as médias das variáveis relacionadas aos
Indicadores de estresse no grupo de vítimas e não vítimas não evidenciaram valores
contrastantes, exceto a variável movimento inanimado m. Observa-se que o grupo de
vítimas obteve uma média elevada em m 2 (dp=2), enquanto o grupo de não vítimas
manteve-se nos parâmetros da média esperada de 1,6 (dp=1,2). Os dados norte-americanos
normativos para crianças de 11 anos de idade para a variável m indicam uma média de 1.00
(dp=0,89). A Tabela 8 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis relacionadas à
autopercepção, aos indicadores de estresse, ao ajustamento perceptivo e ao relacionamento
interpessoal para o grupo de vítimas e não vítimas, com valores categorizados em acima da
média, abaixo ou na média, sendo essa média apenas um parâmetro de referência extraído
das tabelas norteamericanas para crianças.
.
129
Tabela 8. Estatísticas descritivas das variáveis relacionadas à autopercepção, aos indicadores de estresse, ao
ajustamento perceptivo e ao relacionamento interpessoal para o grupo de vítimas e não vítimas, com valores
categorizados
variáveis Grupos
% Abaixo (1) % Média (2) % Acima (3) X
2
Sig.
3r+ (2) /R
Vítimas 64 33,3 3
3,606 0,165
Não-vítimas 80 15 5
SumT
Vítimas 58,3 22,2 19,4
1,693 0,429
Não-vítimas 72,5 15 12,5
X-%
Vítimas 2,8 2,8 94,4
6,442 0,04
Não-vítimas 15 12,5 72,5
X+%
Vítimas
97,2 0 2,8
4,817 0,09
Não-vítimas 90 10 0
GHR:PHR
Vítimas 39 19,4 41,7
1,748 0,417
Não-vítimas 30 32,5 37,5
H:
(H)+Hd+(Hd)
Vítimas 30,6 33,3 36,1
0,487 0,784
Não-vítimas 37,5 27,5 35
P<0,05
Na Tabela 8, observa-se que todas as médias das variáveis com valores
categorizados no grupo de vítimas e não vítimas não evidenciaram valores contrastantes
extremos. No entanto, pode-se notar que na qualidade formal X-% houve diferença
estatística significativa em que o grupo de vítimas obteve um resultado acima da média
mais elevado em X-% (94,4%) em comparação ao grupo de não vítimas (72,5%). No grupo
de vitimas ocorre diferenças importantes nos valores de X-% abaixo e na média (2,8%) em
comparação ao grupo de não vítimas em X-% abaixo (15%) e na média (12,5%).
Após a apresentação das estatísticas descritivas das variáveis do Rorschach
selecionadas para este estudo, serão apresentados os resultados das análises de todas as
variáveis Rorschach entre os dois grupos. Na Tabela 9 são evidenciados os dados referentes
à MANOVA realizada para comparação entre os participantes vítimas e não vítimas, de
acordo com a variável “grupo” (Anexo 5).
O teste de MANOVA revelou diferenças significativas das variáveis dependentes
sangue Bl, sexo Sx, e qualidade formal FQ- em relação aos grupos de vítimas e não
130
vítimas. Foram considerados dois grupos de participantes, um grupo de vítimas e outro de
não vítimas de abuso sexual e sessenta e oito variáveis dependentes. Para verificar a direção
das diferenças significativas encontradas na Tabela 9 (Anexo 5), são apresentadas, na
seqüência, as figuras das respectivas variáveis. A Figura 1 apresenta as diferenças entre os
grupos para a variável sangue Bl.
Figura 1. Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável Bl.
Por meio da Figura 1, observa-se que o grupo de vítimas apresentou média de
aproximada de 0,8 e o grupo de não vítimas 0,2 na variável sangue Bl. Estes resultados
evidenciaram valores contrastantes extremos entre os dois grupos. Observa-se que o grupo
de vítimas obteve uma média alta na variável sangue Bl enquanto que o grupo de não
vítimas obteve uma média baixa. Os dados norte-americanos normativos para essa variável
indicam uma média de 0,44. A Figura 2 apresenta as diferenças entre os grupos para a
variável sexo Sx.
131
Figura 2. Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável Sx.
Por meio da Figura 2, observa-se que o grupo de vítimas apresentou média de
aproximada de 0,4 e o grupo de não vítimas 0,1 na variável sexo Sx. Os resultados revelam
que o grupo de vítimas obteve uma média de pontuação mais alta na variável sexo Sx em
comparação com o grupo de não vítimas. Os dados norte-americanos normativos não
apresentam médias de respostas de conteúdo sexual declarado até a idade de 12 anos. A
Figura 3 apresenta a diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas para a variável
qualidade formal FQ-.
132
Figura 3. Diferença entre os grupos de vítimas e não vítimas na variável FQ-.
Verifica-se na Figura 3, que o grupo de vítimas apresentou média aproximada de
7,60 e o grupo de não vítimas 5,60 na variável qualidade formal FQ-. Os resultados
apresentados revelam que o grupo de vítimas obteve média de pontuação mais alta que o
grupo de não vítimas na variável qualidade formal FQ-. Os dados norte-americanos
normativos para essa variável indicam uma média de 2,20 (dp=1,87).
A seguir, será apresentado o capítulo discussão do presente estudo comentando os
resultados em relação aos objetivos propostos e verificando em que medida eles
corroboram, contradizem ou complementam os aportes da literatura. Além disso, pretende-
se examinar quais as implicações dos achados deste estudo para o auxílio de projetos de
prevenção e atenção às vítimas de abuso sexual e para o desenvolvimento de novas
pesquisas.
IV – DISCUSSÃO
O abuso sexual intrafamiliar, como já foi mencionado, constitui uma violação ao
direito a uma convivência familiar protetora e uma ultrapassagem dos limites estabelecidos
pelas regras sociais, culturais e familiares. Nesse contexto, o envolvimento de crianças e
adolescentes em atividades sexuais as quais ainda não compreendem e para quais são
imaturos (Furniss, 1993) contribui para falhas no desenvolvimento psíquico causando
danos à saúde mental. Para entender como se processam estes danos nas vítimas, e as
implicações dos achados deste estudo, inicialmente serão discutidos os dados relacionados
à ficha sociodemográfica e na seqüência serão apresentadas as discussões dos resultados
obtidos com o Método de Rorschach.
Entre os prejuízos ocasionados pelas situações de vitimização na infância, destaca-
se a obstaculização do pensamento decorrente da incapacidade da criança para suportar a
percepção e o sofrimento de sua realidade. Como conseqüência, a capacidade para a
investigação torna-se precária e o desenvolvimento de características de personalidade que
possibilitem a percepção e a compreensão adequada do meio e de si-mesmo tornam-se
fragilizadas, resultando em deficiências na função simbólica. São freqüentes os casos em
que ocorre um prejuízo no desenvolvimento da aprendizagem, que pode ser decorrente de
uma inibição sintomática como uma tentativa de responder a situações de perigo, geradoras
de angústia para o ego, que é conhecer a própria história (Freud, 1926/1976e; Lajonquiére,
1989).
No transbordamento de angústia, por exemplo, o sujeito pode produzir uma inibição
ou um sintoma para dar conta do que o aparelho psíquico não consegue suportar, havendo
uma falha na capacidade de pensar, de simbolizar. Os prejuízos estão nas representações
134
que vão para o pré-consciente e que tornam o aparelho psíquico frágil, incapaz de operar,
de alcançar o equilíbrio entre prazer-desprazer. Sendo assim, a re-experimentação dos
fenômenos traumáticos vivenciados no abuso pelas lembranças intrusivas podem levar à
fuga de sentimentos e pensamentos, ao interesse reduzido em atividades habituais, e à perda
de habilidades já adquiridas. Diante disto, as vítimas de abuso sexual podem rejeitar
atividades que possam aumentar a angústia e manifestar comportamentos depressivos
observados nas dificuldades da linguagem e da escrita, nos problemas de atenção e
concentração com prejuízos nas habilidades da memória, no rebaixamento da auto-estima e
no baixo rendimento escolar.
As características sociodemográficas do presente estudo apontaram diferenças
importantes no desenvolvimento escolar com relação às variáveis idade e anos de
escolaridade entre os grupos. Ao relacionar estas variáveis, o grupo de não-vítimas obteve
média melhor de idade com 11,8 anos para 6,1 anos de escolaridade, enquanto o grupo de
vítimas com 11,7 anos para 5,1 anos de escolaridade. Quanto aos anos de escolaridades
alcançados, de um a nove anos, o grupo de não vítimas atingiu um mínimo de quatro anos
de escolaridade e um máximo de nove anos, enquanto que o grupo de vítimas atingiu um
mínimo de um ano e um máximo de oito anos de escolaridade. Esses resultados parecem
ser compatíveis com os dados da literatura e de estudos de investigação que associam a
vitimização sexual precoce com as dificuldades nos processos de ensino-aprendizagem,
corroborando os dados da literatura de que as inibições e os sintomas, decorrentes do
sistema defensivo que visa proteger as vítimas de um alto nível de sofrimento, podem
prejudicar seu desenvolvimento escolar (Stein & cols., 2002; Vasterling & cols., 2002;
Yehuda & cols., 2004).
135
Outros dados que apóiam os achados dos estudos de De Lorenzi e cols. (2001);
Habigzang e cols. (2005); Kristensen e cols. (1999) dizem respeito ao gênero e a idade da
vítima, grau de parentesco com o abusador, gênero e ocupação do mesmo. Esses autores
afirmaram que a maior parte dos abusos sexuais ocorre com o gênero feminino, no contexto
da casa da vítima, tendo como perpetrador um membro da família. Nesse estudo, dos 36
participantes que sofreram abuso, 84,2% foram meninas e 15.8% foram meninos, com uma
média de idade de 11,7. Em 78% dos abusos ocorreram na residência da vítima. Os
perpetradores foram todos homens, mais freqüentemente o padrasto em 52,7% dos casos,
seguido do pai em 25% dos casos. O fato de 58% dos abusadores não ter uma profissão
definida, fazer serviços gerais ou “biscates” também apóia a teoria de Belsky (1980) que
coloca o desemprego como um dos maiores fatores de risco em comportamentos abusivos.
É importante ressaltar que quando se busca demonstrar dados de incidência e de
prevalência do abuso sexual infantil deve-se considerar que estes resultados revelam apenas
parcialmente o problema, uma vez que a maioria dos casos tem como protagonistas pais,
parentes e pessoas conhecidas, o que torna ainda mais difícil a denúncia (Wolak &
Finkelhor, 1998). De toda maneira, como já mencionado, mesmo que ainda não se consiga
obter dados de denúncia mais consistentes, o abuso intrafamiliar tem se mantido como o de
maior incidência entre as populações.
Sendo assim, estudos têm demonstrado que famílias incestuosas são bastante
disfuncionais e que a dificuldade de prover proteção e cuidado é perpetuada durante as
gerações. Flores e Caminha (1994) relataram características comuns no funcionamento dos
membros destas famílias. Entre os genitores, destaca-se a presença de conflitos em famílias
136
com a presença de padrasto ou madrasta; pais que acariciam seus filhos ou exigem carícias
que violam a privacidade sexual; mães ausentes ou excessivamente passivas.
No presente estudo, os dados sociodemográficos que buscaram caracterizar a
situação abusiva revelaram que, seguido ao abuso, 30% das crianças foram removidas de
seus lares e abrigadas em instituições de proteção em situações de vulnerabilidade, e 70%
permaneceram em casa ou foram morar com familiares. Ora, em um primeiro momento
estes dados parecem alentadores porque podem sugerir que algumas medidas de proteção às
vítimas foram tomadas. Entretanto, convém lembrar que apenas 30% dos perpetradores
foram encarcerados e que 78% dos abusos ocorreram na residência da vítima. Isso revela
pelo menos dois grandes problemas, primeiro o de que os serviços públicos de promoção à
saúde ainda estão muito deficitários e segundo que as crianças vitimizadas estão vivendo
em ambientes familiares altamente disfuncionais, que promovem a re-vitimização,
perpetuando uma história transgeracional.
Esta última questão remete, em parte, ao que este trabalho tem procurado esboçar
que é também chamar a atenção para a dinâmica do abuso sexual intrafamiliar. Nas díades
conjugais e nas relações pais-filhas abusivas a criança é intimada a manter o ato abusivo
como um “segredo” de família (Furnis, 1993; Watson, 1994), seu sofrimento é
negligenciado, especialmente por sua mãe, que pelo mecanismo de negação, se apresenta
com limitações para “escutar” a criança (Furnis, 1993). Desse modo, questiona-se: que
perturbações psíquicas estariam agindo contra esta denúncia?
Nas relações familiares os modelos identificatórios adquirem singular relevância,
pois são responsáveis pela transmissão das representações familiares. Esses modelos
137
identificatórios correspondem a lugares e funções precisas, - o lugar da mãe, o lugar do pai
e o lugar do filho -. Mas pode haver substituições desses lugares e não haver espaços
claramente definidos, o que se traduz na emergência de transtornos.
Em famílias vítimas de abuso sexual como já observado, a mãe, numa tentativa
escamoteada de realizar seu próprio desejo edípico, pode oferecer a filha ao pai/padrasto
(Bollas, 1992). Nesse interjogo, o pai invade o corpo da menina por intermédio do corpo
materno, uma vez que esta teve mais acesso ao corpo da criança em decorrência de seu
desamparo constitutivo no nascimento, o que foi sabiamente observado por Freud
(1885/1977b) em o Projeto. É como se a mãe tivesse autorizado o ato incestuoso do pai
que, ao explorar as primeiras relações mãe-bebê, apresenta-se à filha, revestido da pele
psíquica materna. Portanto, ao sofrer o abuso sexual do pai, a menina encontra-se
submetida não somente a este, mas também aos desejos incestuosos da mãe, que
aprisionada em seu próprio Édipo, torna-se inconscientemente, parceira dessa violação
(Capitão, 2001).
Decorre daí, a re-atualização de uma cadeia transgeracional. O desejo materno,
capturado inconscientemente pela criança, vai ao encontro do próprio desejo incestuoso de
fusão com a mãe. Quando a mãe não exerce a função de protetora do uso do corpo da
criança pelo pai, deixa de ocupar o lugar de interditor da criança, e passa a denunciar sua
parcela junto ao perpetrador. Esta situação deve ser compreendida como uma
psicopatologia relacional por ser o resultado de uma disfunção no sistema transacional da
tríade pai-mãe-criança (Cicchetti & Barnett, 1991). Deste modo, a filha aprisionada na lei
narcísica parental é chamada a garantir a continuidade dos pais no contexto transgeracional.
138
Como se pode então “escutar” a denúncia de abuso sexual e perceber as seqüelas deste
aprisionamento?
Como já mencionado, os efeitos malévolos da vitimização sexual e das falhas das
figuras protetivas para prover o desamparo constitutivo do bebê não resultam somente em
seqüelas em seu desenvolvimento cognitivo, na linguagem, na memória (Amazarray &
Koller, 1998; Finkelhor & Tackett, 1997), mas também incidem no desenvolvimento da
personalidade. Aulagnier (1985) descreve que, durante a primeira fase da existência do Eu,
é a mãe quem conta à criança quem ela é, como ela é, e o que ela será. A mãe é o primeiro
agente identificante do recém-nascido. Essa ação identificante, que se reflete no olhar
materno, que opera como um primeiro espelho funda a imagem da criança (Mayer, 1989).
Assim sendo, o núcleo da experiência de ser, da existência de um Eu, da
apropriação da imagem do corpo, constitui-se na dependência do auxilio alheio ou de uma
mãe sensível e que seja capaz de prover amparo diante de fragilidade e vulnerabilidade
infantil. Se, primeiramente, o esquema corporal é o mesmo para todos os indivíduos, a
imagem do corpo, pelo contrário, é própria de cada um, está ligada ao sujeito e sua história
como uma síntese de suas experiências vividas (Dolto, 2001). A falta de investimento
parental adequado gera dificuldades na constituição de um Eu, de forma que possa perceber
o seu corpo e investir nos seus pensamentos e nos outros (Violante, 1995).
A representação do corpo, as características de auto-imagem e as atitudes com
relação a si-mesmo, são obtidas, entre outras variáveis Rorschach, nas respostas de
conteúdo anatômico (Exner, 1993). A presença de respostas de An, neste estudo, apontou
resultados interessantes. Entre as demais variáveis relacionadas à autopercepção, pode-se
observar que as vítimas de abuso sexual, contrariamente às não vítimas, apresentaram uma
139
média elevada para esta variável. Isto pode ser um indicativo de que a preocupação com o
corpo em protocolos de vítimas de abuso sexual pode estar refletindo uma distorção da
auto-imagem decorrente de aspectos relacionados às dificuldades de constituição do self .
Os conteúdos associados às respostas de anatomia, no presente estudo, sugerem
fragilidade, vulnerabilidade na auto-imagem, sentimentos de experiências sensoriais vividas
em um o corpo anatômico que, segundo Chabert (1993) é tomado como metáfora para a
manifestação do espaço psíquico. A autora traz contribuições quando analisa protocolos de
pacientes que apresentam dificuldades na estruturação do ego, percebendo a
impossibilidade destes pacientes de figurar os pensamentos por meio de representações
mentalizadas e pelo recurso às imagens corporais fragmentadas e desconectadas,
semelhantes à organização do aparelho psíquico, igualmente fragmentado em pacientes
mais perturbados. Essa configuração corporal sugere a hipótese da falta de um continente
psíquico capaz de permitir ao pensamento desenvolver-se e constituir-se como tal.
Evidências de fragilidade estrutural são apreensíveis nas respostas das vítimas -
"garganta inflamada, quando a gente ta tossindo ou vai vomitar", “pedaço de corpo”. A
percepção de um corpo morto e fragmentado, em respostas de anatomia, também mesclam
o interior com o exterior do corpo, evidenciando uma dificuldade de integração do self. Tais
respostas podem também revelar a falta de diferenciação da imagem do corpo
correspondente a uma falta de diferenciação do aparelho mental – “aqui o corpo da gente e
o rato dentro da gente caminhando e a pessoa morta e o rato dentro”, “uma coluna... tem a
veia que ta passando por cima... o sangue que passa pela veia”, coração porque os porcos
quando matam.... a gente vê o coração... não sei se é de pessoa ou o que é”-. Estas respostas
podem denotar indícios das dificuldades de diferenciação entre dentro e fora, entre sujeito e
140
objeto. A presença de respostas de anatomia onde são citadas estruturas básicas de
sustentação como – “os ossos que a gente tem... tipo a coluna da gente -.
A falta de integração da representação do corpo nas respostas humanas
fragmentadas e a predominância das respostas anatômicas demonstram fragilidade, a quase-
inexistência de um continente que contivesse em conjunto as diferentes partes do corpo, tal
qual um self desmantelado (Meltzer, 1984), um aparelho mental “caído aos pedaços”, como
no exemplo: “osso da costela da gente... o osso que tão caído, quebrado”. É este mesmo
continente que falta para garantir os limites entre dentro e fora, onde se desenvolveriam as
operações mentais capazes de costurar laços entre pensamentos a fim de assegurar uma
coesão interna (Chabert, 1993). As respostas apresentadas na Tabela 10, obtidas na fase do
inquérito da aplicação do Rorschach, sugerem que esta variável pode estar presente em
razão do trauma sofrido, pois muitas das respostas anatomia revelam em uma análise
qualitativa indícios de sentimentos de fragmentação.
141
Tabela 10 - Respostas do grupo de vítimas com conteúdo de anatomia An.
Protocolo Idade Gênero Prancha Respostas An em Vítimas
25 12 F I
- uma costela, o ossinho da gente, a barriga, onde
fica o pescoço, a goela, não vejo mais nada!
Costela... é igualzinha uma costela e aqui parece à
goela de uma mulher e aí onde fica a cabeça. Não
gosto de ficar olhando porque de noite eu sonho com
esses bichos e caio da cama.
25 12 F II
- coração porque os porcos quando matam.... a gente
vê o coração... não sei se é de pessoa ou o que é.... o
formato
08 10 F III
- os ossos que a gente tem tipo a coluna da gente
08 10 F IV
- garganta inflamada, quando a gente ta tossindo ou
vai vomitar
- a coluna da gente, coluna porque é parecido com os
ossos da gente da coluna
25 12 F IV
- osso da costela da gente (P) aqui ó, o osso que tão
caído, quebrado
08 10 F VI
- Parece bem uma coluna que vai pra barriga
08 10 F VIII
- aqui o corpo da gente e o rato dentro da gente
caminhando e a pessoa morta e o rato dentro, o
formato. Quando o corpo da gente ta tipo sujo, isso.
08 10 F IX
- o pulmão da gente
25 12 F X
- parecem duas coisas verdes.... parece carne de
pessoa querendo engatar no outro, no osso da teta....
pelo jeito do desenho, do formato
23 14 M X
- a forma do osso do corpo, o corpo ta jogado e os
bichos tão comendo..como esse daqui que parece
uma aranha, aqui um passarinho com as asas
fechadas, uma águia e aqui um siri
34 14 F X
- parece o corpo de um bicho por dentro... de um
lobo ou de um urso, as costelas, uma outra coisa, um
outro pedaço de corpo...
Outro aspecto importante foi que vítimas de abuso sexual demonstraram um
aumento de respostas forma e de má qualidade FQ-. Para Vargas da Silva (1987) quando o
ego, em situações de angústia, responde de maneira organizada, com respostas de forma
boa, mostra que possui mecanismos de defesa que operam adequadamente. Em
contrapartida, quando responde de forma inadequada, revela o predomínio da angústia e da
142
desorganização. Nesse caso, ocorre o a falta de integração do que é percebido, o que mostra
uma dissociação do ego e uma falha nos processos de repressão.
Sendo assim, pode-se pensar que diante do fracasso da repressão, ocorreu a
emergência do processo primário de pensamento e o distanciamento da realidade o que fez
com que estas crianças tivessem dificuldades em diferenciar o mundo interno e externo. O
processo de vitimização sexual parece contribuir para dificuldades afetivas e cognitivas que
podem estar sendo expressas no ajustamento perceptivo distorcido.
As experiências abusivas têm um poder aniquilador sobre o outro, suprimem a
capacidade do indivíduo de pensar e de testar a realidade (Shengold, 1999). Diante destas
vivencias, operações defensivas maciças são ativadas com o objetivo de proteger a psique:
a negação maciça, a repressão, a dissociação. Chagnon, (2008) chamou a atenção para as
características destes protocolos e de indicadores de um prejuízo primário onde insurgem
relatos de conteúdos mal-diferenciados e pouco integrados. De maneira recorrente, são
comuns as dificuldades em diferenciar formas precisas, que aparecem freqüentemente
interpenetradas; além de ocorrer verbalizações quanto ao interior do corpo, utilizando-se
como recurso as imagens anatômicas.
A freqüência elevada de formas inadequadamente percebidas FQ- e o baixo
desempenho escolar das vítimas parece ser decorrentes das perturbações psíquicas da
situação de vitimização. O sofrimento intenso e as falhas nos mecanismos de defesa reflete
a presença de FQ- onde as condutas estranhas, inapropriadas ou desajustes em relação às
exigências reais pela compreensão distorcida do significado dos eventos e das avaliações
incorretas das intenções das pessoas podem estar evidentes. As respostas FQ- representam
uma falha do funcionamento adaptativo, são as que mais claramente incluem elementos
projetivos e a análise de seu conteúdo.
143
Estes achados confirmam as hipóteses iniciais deste estudo em que a produção de
An e FQ- seria maior em vítimas de abuso sexual do que em não vítimas, por apresentarem
uma autopercepção distorcida e uma auto-estima rebaixada. Outros autores, já citados como
Zivney e cols. (1988), também confirmaram em seus estudos que o abuso sexual na
infância estava relacionado às variáveis Rorschach que mensuravam danos caracterizados
por cognição perturbada, e senso de si mesmo danificado. Os achados também corroboram
com o estudo de Leifer e cols. (1991), ao descrever que meninas abusadas sexualmente
mostraram maior pensamento perturbado, e experienciam um nível mais elevado de
estresse relativo às suas habilidades adaptativas.
A percepção de um corpo danificado, um senso de si fragmentado ou com prejuízos,
em vítimas de abuso sexual, em comparação com as não vítimas, foram apoiados
igualmente, pelas diferenças de respostas de código especial mórbido - MOR. As
implicações desse aumento, segundo Weiner (2000), podem se referir à percepção do
individuo de um corpo que funciona mal, com características indesejáveis, o que leva a se
identificar com um objeto danificado, dilacerado, vítima de uma agressão. Além disso, o
autor aponta que as respostas MOR podem indicar uma identificação com o agressor.
Neste estudo, as expressões de conteúdo mórbido parecem inclinar-se para uma
identificação do sujeito com um corpo sofrido e fragmentado, em que os atos abusivos
foram vivenciados como altamente intrusivos, capazes de comprometer o desenvolvimento
de um sentido de si-mesmo. As freqüentes verbalizações do conteúdo “foi esmagado!”
podem estar expressando indícios da falta de interdição, de um ambiente adverso; e de uma
violência sofrida passivamente (Gravenhorst, 2002). As imagens evocadas “barata
esmagada”, “sapo esmagado”, “um rato esmagado”, “um morcego esmagado”, “lesma
pisada”, “uma borboleta esmagada”, “fígado sangrando” testemunham o dano corporal e
144
psíquico, um corpo morto e aniquilado. Respostas de código MOR, encontram-se com
freqüência associadas a vivências de perdas recentes, e posteriormente a situações
traumáticas (Passalacqua & Gravenhorst, 1998).
Nas respostas das crianças vítimas de abuso sexual, as figuras animais aparecem
constituídas como agredidas, o que pode denotar uma identificação claramente consumada,
uma auto-imagem frágil (Vargas Silva, 1987). Dessa maneira, os escores MOR altos, nos
achados deste estudo, são compatíveis com as os estudos de Nash e cols. (1988) que
evidenciaram a presença deste conteúdo em adolescentes que sofreram abuso sexual, bem
como a existência de estruturas de ego danificadas. Talvez, um dos aspectos mais dolorosos
da experiência traumática como já referido, seja o impacto sobre o ego ou a perda de um
senso de si-mesmo (Cerney, 1990).
De outra maneira, a eleição de animais pequenos e pouco poderosos (Weiner,
2000), pode estar também associada a uma auto-imagem depreciativa nas vítimas de abuso
sexual. A dinâmica da percepção do tamanho e da força dos objetos pode ser de acordo
com a identificação do sujeito com o objeto percebido. As respostas MOR, apresentadas na
Tabela 11, obtidas na fase do inquérito da aplicação do Rorschach em vítimas de abuso
sexual podem explicitar melhor esses aportes.
145
Tabela 11 – Respostas do grupo de vítimas com conteúdo mórbido MOR
Protocolo Idade Gênero Prancha Respostas conteúdo mórbido em Vítimas
36 09 M II
- barata esmagada porque ela é um pouco preta e um
pouco marrom... parece um pouco gordinha e pelo
sangue. Tem um escorpião esmagado... é gordo e
quando ele fica quebrado dos lados como esse daqui,
ele foi pegar a barata e o carro veio e pegou os dois..
34 14 F II
- dois bichos mortos... parece um cachorro
atropelado porque tem as manchas vermelhas...
sangue, uma parte da cabeça e a outra.. aqui um
cachorro e aqui outro.
36 09 M III
-sapo esmagado pelo carro... a cabeça dele e as
patas e um pedaço do corpo, não dá para ver tudo
porque o carro passou e pegou ele, da pra ver o
sangue dele. Aqui tem o olho do sapo, cortou o olho
do sapo e saiu aguinha... porque ficou assim cheio
de curvinha.
36 09 M IV
- um rato esmagado... a cabeça do rato, as patas e o
pedaço do corpo. Parece que atorou o rabo dele e foi
pros lados (P) ele ta largo, ta grande, ta pros lados,
engordou, por isso parece rato, eu conheço rato! Foi
esmagado!
36 09 M V
- um morcego esmagado... as patas de trás e as asas
como eu disse no outro... as asas são cheia de
curvinha, a cabeça esmagada (P) ficou dois palitinho
e as patas de trás onde ele fica de ponta-cabeça... de
trás porque eu vejo no globo repórter!
13 14 F VI
- lesma pisada... porque parece toda espatifada, essa
forma da cabeça, ta parecida com lesma
36 09 M VII -uma borboleta esmagada... aqui o meio dela e aqui
as asas(P) porque tem o risquinho no meio e tem a
cabeça... o corpo ó... tem as asas... porque borboleta
é assim tem as asas cheia de curvinhas.
- um sapo esmagado... ta parecido tem o formato de
sapo tem duas pernas de sapo esmagadas... porque os
pés tão reto, tipo era pra ta mais redondo e não ta, ta
mais reto porque o carro passou por cima!
19 10 M VII
- Uma borboleta, arrancaram a cabeça, as pernas, o
corpo dela, só deixaram a asa.
- Parece um cachorro, as pernas, dois cachorros que
se atoraram o pescoço no meio, e botaram junto e as
pernas em cima deles.
146
Embora as hipóteses deste estudo de que as respostas MOR ocorreriam
predominantemente no grupo de vítimas tenham sido confirmadas, elas também foram
freqüentes no grupo de não vítimas, em níveis mais elevados do que os esperados em
crianças norte americanas. Pode-se supor que as dificuldades socioeconômicas e familiares
sejam fatores contribuintes para este resultado. Nas características sociodemográficas do
grupo de não vítimas evidenciou-se a presença de famílias monoparentais, situações de
abandono e de desconhecimento de um dos pais; presença de novas configurações
familiares e dificuldades econômicas.
Estas considerações também podem amparar as justificativas de porque vítimas de
abuso sexual e não vítimas apresentaram índices de egocentrismo baixo, o que pode sugerir
dificuldades em manter uma auto-estima adequada. Belter e cols. (1989), conforme visto
anteriormente, afirmam que indivíduos que tem um baixo índice de egocentrismo podem
representar uma falta de foco em si-mesmo relacionada a uma desvalorização e uma baixa
auto-estima.
No entanto, um baixo índice de egocentrismo poderia sugerir uma propensão
aumentada a uma manobra defensiva para evitar o confronto com aspectos negativos de si-
mesmo. Assim, segundo os referidos autores, o índice de egocentrismo e sua relação com a
auto-estima deveria ser melhor investigado, uma vez que, a avaliação do individuo de seu
autovalor pode não estar garantida com base nesse escore.
Na avaliação do relacionamento e da percepção interpessoal observa-se que as
vítimas de abuso produziram escores de conteúdos sexuais mais altos nas respostas do
Rorschach. Nos dados normativos de Exner (1999), o conteúdo sexual declarado não é
evidente em nenhum dos sujeitos até a idade de 12 anos, e permanece dos 12 em diante,
uma resposta muito infreqüente.
147
Os conteúdos sexuais recebem essa codificação no Sistema Compreensivo (Exner &
Sendin, 1999) quando ocorrem verbalizações diretas, ou relacionadas a órgãos ou funções
pertinentes a sexualidade ou verbalizações indiretas que evidenciam a percepção de zonas
corporais como pelve, peito, ventre. Segundo os autores, além de representar um aumento
da preocupação pelos temas sexuais, dependendo das variáveis que acompanham este tipo
de conteúdo, sua elevação poderia oferecer matizes de problemas sexuais do indivíduo.
Neste estudo, os resultados demonstraram que as crianças não vítimas praticamente
não deram respostas de conteúdo sexual, enquanto que as vítimas de abuso responderam
marcadamente com o aumento de produções, o que pode ser um indicativo de uma reação
concreta aos eventos de abuso sexual. As verbalizações – “ta saindo sangue da vagina”,
“esse vermelho parece sangue e é parecido com teta”, “parece a pelve”, “pessoa que foi
vitima de abuso sexual”, “aqui tem os seios dela”, "a bunda aqui embaixo”, “um pênis com
uma camisinha toda estourada”, “pegando nos peitos dela”, “teta arrebentada”, “transa de
mulher e homem”-, são representativas de elementos sexuais explícitos manifestados por
vítimas, de forma geral, em descrições de anatomia sexual ou genital e em atos e ações
sexuais. As respostas sexuais diretas, no presente estudo, podem enunciar uma falha na
repressão como também já foi observado no estudo com vítimas de abuso sexual de
Gravenhorst (2002).
Como já mencionado, as falhas no desenvolvimento psíquico de vitimas de abuso
sexual remetem às dificuldades de organização de um aparelho com espaços diferenciados,
e que remetem as experiências traumáticas do sujeito com seus objetos primários, com seu
corpo, com os outros e a cultura. Segundo Freud (1915/1974d), o contra-investimento é um
mecanismo do recalcamento que fica disponível para o trabalho psíquico; que vai dando
148
condições para que se formem espaços com características diferenciadas. Há coisas que vão
ficar marcadas no inconsciente e que não vão passar para o pré-consciente porque este
acesso lhes é negado; por isso, jamais chegarão à consciência. Vê-se ainda que, as
preocupações corporais nas vítimas podem ser um reflexo da sexualização precoce, descrita
por Browne e Finkelhor (1993), como centro da dinâmica traumática do abuso sexual.
Os dados do presente estudo, quando associados a outros achados, podem oferecer
indicadores Rorschach de abuso sexual. Estes achados são compatíveis com os resultados
de um estudo exploratório de respostas Rorschach de indicadores de abuso sexual de
Billingsley (1995) em que as crianças sexualmente abusadas produziram conteúdos sexuais,
tanto explícitas quanto simbólicas, mais freqüentes. O interesse sexual inadequado também
foi constatado em um estudo americano (Friedrich & cols., 1997) e em um estudo brasileiro
(Fonseca & Capitão, 2005) que evidenciaram a presença de conteúdos sexuais no desenho
da figura humana em crianças sexualmente abusadas.
Igualmente foram observados nos estudos de Leifer e cols. (1991) conteúdos
sexuais em meninas abusadas que demonstraram significantemente mais preocupação com
sexualidade e com preocupações corporais que incluíram referência ao corpo como
quebrado ou machucado. Esses achados são consistentes com estudos que indicam que,
embora as crianças abusadas sexualmente mostrem uma psicopatologia diversa, um dos
marcadores importantes no distintivo para o abuso sexual parece ser o comportamento
sexual inadequado (Galé & cols., 1988; Mannarino & Cohen, 1986).
Outros estudos descobriram associações similares entre aspectos das respostas
Rorschach e abuso sexual na infância, relatados por adultos, descritos anteriormente. Os
dados de Brooker, (1990) sugeriram que imagens relacionadas a abuso eram consciente ou
inconscientemente percebidas no Rorschach por adultos universitários, os protocolos
149
mostravam respostas de conteúdo sexual explícito como também idéias de abuso sexual.
Cerney (1990) e Sauders, (1991) encontraram associações similares entre respostas
Rorschach e abuso sexual em adultos problemáticos. Einbender e Friedrich (1989) em
estudo de meninas abusadas sexualmente relataram um elevado índice de respostas de
conteúdo mórbido e sexual, e um aumento do índice de respostas incomuns. Exemplos das
verbalizações de conteúdo sexual das vítimas de abuso, obtidas na fase do inquérito da
aplicação do Rorschach, são apresentadas na Tabela 12.
150
Tabela 12 - Respostas do grupo de vítimas com conteúdo sexual Sx
Protocolo Idade Gênero Prancha Respostas de conteúdo sexual em vítimas
08 10 F II
- sangue... sangue porque ta descendo e porque é
vermelho. Essas coisas pretas, nesse lado e nesse
outro lado são bem assim como vagina... porque é
preto e tem vermelho e ta saindo sangue da vagina
25 12 F III
- parece uma teta de mulher, tem duas mulheres tão
brigando por causa das tetas, querem as tetas para
elas... esse vermelho parece sangue e é parecido com
teta
11 12 F III
- vou dizer besteira de novo, que parece que é uma
mulher que ta deitada de perna aberta, só!... Uma
mulher, acho que ela ta em pé com os braços
estendidos e aqui a sombra dela do outro lado, e aqui
atrás sem esses pretos, mais escuros, parece a pelve.
Nesse mais fraco, parece ser as pernas de uma
mulher, mas não parece por inteiro, tão cortadas.
24 13 F IV
- parece ser o resto do corpo de uma pessoa que foi
vitima de abuso sexual, só sobrou resto, falta um
resto de rosto, a parte da cabeça, foi forçada até a
morte... ta desenhado
11 12 F V
- um morcego voando, só!... porque uma vez meu tio
tinha um morcego na árvore e ele deu com o cabo de
vassoura e ele saiu voando. Aqui ele _a com a mulher
no poder dele, como se ele tivesse pegado a mulher,
aqui tem os seios dela, o nariz e as pernas.
25 12 F VI
- a bunda aqui embaixo... bunda porque é redonda
11 12 F VI
- olha eu não tenho certeza, igual ao que eu tinha te
falado, é um pênis com a camisinha toda estourada,
só!... porque vi em livros como eu te falei, ta
totalmente estourada.
11 12 F VIII
- parece ser uma mulher deitada, os peitos dela, a
cabeça dela com os braços abertos e uma pessoa
pegando nos peitos dela, só!
25 12 F X
- teta arrebentada... isso dá idéia, não ta bem
desenhada.
11 12 F X
- parece tipo uma transa de mulher e homem, quando
dá vontade pra eles de ter nenê, aquela coisinha
entrando, os espermatozóides...os espermatozóides,
os verdes, azuis e os laranja dos, e amarelos, são
mais grandes, médios e pequenos... é que eu assisti
muito o fantástico sabe...
151
Nos indicadores de estresse foi previsto que vítimas de abuso sexual produziriam
médias mais altas do que não vítimas na variável de movimento inanimado m, e isto foi
confirmado. A média desta variável para o grupo de vítimas foi elevada, enquanto que o
grupo de não vítimas manteve-se na média esperada. As variáveis do Rorschach, m e Y são
as que melhor refletem a presença de experiências de desconforto psicológico associado a
circunstâncias de estresse situacional. Parece evidente que qualquer destas variáveis revela
a vivência de desamparo e impotência provocada pelo estresse e ambas são o melhor
indicador a respeito (Exner & Sendin, 1999). Embora não tenham sido evidenciadas
diferenças estatisticamente significativas em Y, a presença de m pode, neste estudo,
informar sobre como as vítimas se vêem (Weiner, 2000) e como elas percebem os objetos.
Um dos aspectos centrais das respostas de movimento é dar significado a como o sujeito
vivenciou suas experiências de vida, como elas estão representadas em seu psiquismo e
como elas passaram a constituir o seu mundo interno (Vargas da Silva, 1987).
Sendo assim, as respostas m podem estar expressando aspectos relacionados ao
processo de identificação. Entre as imagens referidas pelas crianças vitimizadas, destacam-
se – “ta caindo uns pinguinhos de sangue”, “ta caindo sangue”, “escorrendo sangue”,
“ninho...ta se quebrando, se desfazendo”, “muito sangue caindo nas pessoas”-. Observa-se
que as respostas m estão associadas a conteúdos de sangue e a conteúdos sexuais
simbólicos e podem denotar um ego frágil, ameaçado pela invasão de forças alheias ao seu
controle (Campo, 1980). A autora acrescenta que a vivência desta situação de perigo
interna desperta sensações de conflito que podem manifestar-se por meio da irritabilidade,
angústia ou depressão.
No presente estudo vítimas e não vítimas de abuso sexual tiveram escores acima da
média no somatório de cores acromáticas, caminhando no mesmo sentido em relação a esta
152
variável do Rorschach com índices mais elevados para o grupo de vítimas. Como
explicitado anteriormente, parece que a experiência de abuso sexual, bem como o contexto
e os eventos acerca de tais ocorrências, provocam sentimentos de disforia para muitas
crianças (Browne & Finkelhor, 1986; Feiring & cols., 1999; Furnis & cols., 1998a;
Mannarino & Cohen, 1996a, 1996b; Morrow, 1991). Entretanto pode também ocorrer, que
diante de um ego frágil, quando a criança ainda não está apta a lidar com situações de dor,
mecanismos de fuga da região ameaçadora, ou de inibição do impulso perigoso, ou a
obediência à voz da consciência, podem ser medidas de saída.
Em o Projeto, Freud (1895/1977b) já afirmava que a tendência humana é evitar o
desprazer e buscar o prazer, o equilíbrio psíquico, minimizando o estado de tensão interna
proveniente das excitações do corpo. Neste contexto, sabe-se que o silêncio imposto à
criança pelo abusador é mais uma atitude de ameaça e perseguição para manter sua
conduta-crime, do que propriamente uma tentativa de acobertar a sua própria culpa. Como
resultado, o medo das vítimas de serem retaliadas e do que pode vir a acontecer às suas
vidas e de seus familiares pode então tornar-se uma importante ameaça. Disto depreende-
se, que possivelmente, muitas crianças aprendam a inibir a expressão de estresse e/ou
defender-se contra sentimentos de disforia, o que pode ter acontecido com as vítimas
participantes deste estudo.
Outra questão já observada refere-se ao fato de que o abuso sexual implica uma
perda devastadora para a criança do senso de si-mesma, e de sua capacidade de ter
confiança naqueles que deveriam ser seus cuidadores. Quando as vítimas tentam relatar o
abuso não são facilmente escutadas e isso contribui para agravar ainda mais o temor de não
terem mais em quem confiar, o que os pais, irmãos, tios e avós, freqüentemente cometem.
A continuidade e a freqüência dos eventos de trauma precoce podem então enfraquecer as
153
bases do pensamento e a percepção de si-mesma, o que dificulta a diferenciação do que é
real e do que não é real, e faz pensar que as fantasias assustadoras podem tornar-se eventos
reais.
A associação do m à cor acromática e ao sombreado difuso no Rorschach, por
exemplo, pode estar representando a vivência de sentimentos persecutórios à vitimização, a
ansiedade invasora, alheia ao seu controle, pode estar sendo percebida como fruto do
destino, de sua história pessoal. Entre as verbalizações das vítimas deste estudo destacam-
se, “duas nuvens pretas se encontrando”, “um navio negro vindo, “o fígado de uma pessoa
sangrando.. porque ta tipo uma cor mais escura e uma mais clara”. Percebe-se que as
respostas movimento verbalizadas pelas crianças que sofreram abuso sexual partem de uma
sensação cinestésica presente, como algo que está sendo vivenciado, o que pode denotar
uma relação mais direta com o processo da experiência traumática. As respostas m em
vítimas de abuso sexual, na fase do inquérito, podem ser visualizadas na Tabela 13.
154
Tabela 13 - Respostas do grupo de vítimas com movimento inanimado m
Protocolo Idade Gênero Prancha Respostas de movimento inanimado em Vítimas
26 10 F I
- passarinho com as asas abertas em cima de um
galho com o bico fechado e com as pernas de trás
segurando na árvore... ele tava machucado e se
segurou na árvore para não cair e tava com o
biquinho fechado (P) aqui tipo caindo uns pinguinhos
de sangue... como um filme que eu vi
24 13 F I
- duas pessoas elas estão com a mão levantada uma
em direção a outra; elas estão se agredindo e ta
caindo sangue...
23 14 M II
- dois cachorros brigando... porque eles tão com dois
patos brigando e aqui ta saindo sangue, nessas coisas
vermelhas, porque eles se machucaram...
34 14 F II
- duas nuvens pretas se encontrando... fica assim
quanto ta prá chover... quando dá temporal
01 12 F IV
- um navio negro vindo.. por causa do formato dele..
ta nublado ao redor... tem umas
p
artes mais claras.
06 10 M VI
- acho que é um peixe aberto escorrendo sangue, só!
Tem umas partes que são parecidas com peixes... vejo
muito peixe no jornal e fico olhando essas partes...
mais parecido com sangue porque fica igual quando
escorre.
11 12 F VIII
- esse aqui já é mais colorido né? Esses dois aqui
parecem ser urso só que de boca aberta e esses dois
aqui não sei dizer o que é!... Parecem ser duas aves,
mas o ninho delas ta se quebrando, se desfazendo....
dois ursos e os dois mais gordos tão sentados e
parece que queriam comer os passarinhos porque o
ninho estava se desfazendo e as aves estavam caindo.
06 10 M IX
- essa ta difícil! Um monte de copo derramando suco,
só! Tem dois bichos tentando tomar o suco... mais o
formato de copo e de suco derramando e mais o
formato do rosto e do rabinho de bicho.
36 09 M IX
- fígado de uma pessoa sangrando... porque é grande,
porque é vermelho e é preto... porque o sangue é
vermelho e meio preto e a carne é preta.... porque ta
tipo uma cor mais escura e mais clara
24 13 F X
- pessoas que só brigam que moram com o mal
dentro de si, violência misturada com alegria, com
flores. Vejo manchas de sangue, muito mal, aí, muito
sangue caindo nas pessoas. Vejo as flores
representando a alegria e as pessoas e a mancha de
sangue representando o mal então eu vejo o mal
misturado com a alegria. Parecem animais
misturados com seres humanos ... ta no desenho
155
De forma interessante, entre as demais variáveis do Rorschach verificou-se
diferenças estatisticamente significativas para as respostas de conteúdo Bl (sangue). Neste
conteúdo, o grupo de vítimas de abuso sexual obteve média de pontuação alta enquanto o
grupo não vítimas obteve uma pontuação baixa nesta variável. A menção de sangue pode
refletir um sentimento de ter sido violada. Esses resultados são compatíveis com o estudo
de Friedrich e cols. (1999) que revela que meninas sexualmente abusadas entre 06 a 14
anos de idade exibiram mais conteúdo não usual, incomum, significantemente, como sexo e
sangue. As respostas do grupo de vítimas de abuso sexual, na fase do inquérito, de
respostas de conteúdo sangue podem ser visualizadas na Tabela 14.
Tabela 14 - Respostas do grupo de vítimas com conteúdo sangue Bl
Protocolo Idade Gênero Prancha Respostas de conteúdo sangue em Vítimas
24 13 F II
- parece ser parte de duas pessoas que foram
violentadas, falta parte do corpo. Falta um pedaço da
cabeça, mancha de sangue, ta toda suja de vermelho.
...ta faltando um pedaço da cabeça, ta suja de sangue
18 14 F II
- um lençol manchado, lençol manchado (P) tem a
cor de sangue e eu achei que fosse assim
- sangue misturado com sujeira... parece por causa
das manchas
25 12 F II
- sangue da garganta... por causa da garganta do
bicho feio, não gosto de ver sangue, bicho feio,
fantasma... não posso ver sangue, quando sai sangue
do meu nariz fico assustada.
19 10 M III
- Um sapo. O olho o nariz, o peito, a perna, a boca.
Se machucou... deram duas pedradas nele, ta saindo
sangue, ficou uma bola de sangue, ficou roxo... tem o
vermelho e o preto.
24 13 F III
- dois bichinhos mortos... tem a forma de bichinho
(P) morto (P) da forma como ta aqui. Sangue
espalhado.... os bichinhos estavam morto e aí eu vi
san
g
ue
156
Embora as respostas de conteúdo agressivo AG possam denotar uma tendência do
individuo a perceber o ambiente de forma geralmente negativa e hostil, os grupos
participantes deste estudo, obtiveram percentuais abaixo da média e na média e não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas. Exemplos destas respostas no
grupo de vítimas incluíram “duas pessoas brigando pela mesma coisa”(34), “parece dois
touros brigando” (29), “um lagarto e uma lagarta atacando a árvore querendo comer as
folhas da árvore, arrebentando a arvorezinha” (25), “bicho horroroso... ta brigando,
puxando o corpo da pessoa (25). Pode-se pensar, diante de outros estudos, que a inibição da
agressão pode estar incidindo neste grupo como um fator de proteção.
O estudo de Ornduff e cols. (1999), como já mencionado, ao descrever o suporte
empírico para as variáveis do Rorschach de Movimento Cooperativo COP e Movimento
Agressivo AG nas meninas abusadas, consideraram a ausência de COP/AG como um fator
de proteção ou de resistência para as vítimas. Igualmente importante é considerar, que a
ligação entre respostas agressivas aos estímulos Rorschach e comportamento agressivo real
tem sido questionada. No estudo de Gacono e Meloy (1994) os adultos não pacientes
produziram mais respostas AG do que psicopatas. Os autores interpretaram esses achados
como uma manifestação egossintônica da agressão entre homens anti-sociais e pediram
cautela quanto a inferências entre respostas AG e comportamento do mundo real.
No entanto pode-se perceber que os resultados deste estudo evidenciaram que o
grupo de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual intrafamiliar demonstraram
diferenças quando comparadas ao grupo de não vítimas. Entre os indicadores do Rorschach
que mostraram valores contrastantes em relação aos grupos destacam-se: as respostas de
movimento inanimado m e as respostas de conteúdo sangue Bl. Observa-se que as
variáveis, respostas de conteúdo anatômico An, conteúdo mórbido MOR, conteúdo sexual
157
Sx, e qualidade formal FQ- demonstraram pontuações mais altas no grupo de vítimas em
comparação às não vítimas. Assim, a presença de uma autopercepção distorcida e de uma
auto-estima rebaixada nas vítimas, pode ser decorrente do processo de vitimização o que
traz dificuldades na constituição do self, como foram reveladas nas variáveis do Rorschach.
Esses resultados, como já referido, são consistentes com estudos anteriores e continuam a
apoiar a validade do uso do Rorschach na avaliação psicológica de crianças abusadas
sexualmente.
Com relação aos indicadores do Rorschach para os quais supunha-se uma diferença
entre os grupos mas que os resultados não foram significativos, destacam-se: a)
autopercepção - Índice de Egocentrismo, SumV, Xy; b) relacionamento e percepção
interpessoal – interesse interpessoal, AG, COP, GHR:PHR; c) indicadores de estresse –
SumT, SumC’ e SumY. Como explicitado, neste capítulo, outros estudos também não
encontraram diferenças entre muitas destas variáveis do Rorschach e o abuso sexual como,
por exemplo, o estudo de Ornduff e cols. (1999) para os indicadores AG e COP.
Alguns aspectos importantes ligados a esses dados mostraram que as crianças que
sofreram abuso não mostraram prejuízos maiores nestes indicadores. Na proporção
H:(H)+Hd+(Hd), por exemplo, ambos os grupos apresentaram índices maiores de respostas
de conteúdo humano H. Em relação às respostas GHR:PHR, ambos os grupos apresentaram
a mesma proporção, isto é, foi encontrado tanto respostas GHR que incorporavam
características precisas, convencionais, benevolentes, intactas, realísticas e lógicas como
respostas PHR que revelavam características distorcidas, malevolentes, agressivas,
danificadas, confusas e ilógicas nos dois grupos.
158
Quanto a variável SumY que poderia estar associado tanto com ansiedade
traço/estado quanto passividade, e Sum C’ que poderia evidenciar características
depressivas, ambos os grupos apresentaram escores inferiores à média. Estes indicadores
não confirmaram os resultados do estudo de Nash e cols. (1988) que, conforme relatado,
identificaram a presença destas variáveis associadas aos distúrbios psicológicos mais graves
em vítimas de abuso sexual.
É importante destacar que o contexto dos participantes deste estudo, mostrou que
algumas condições sociodemográficas aproximaram os grupos, como por exemplo,
situações de conflito e dissolução da família, e nível socioeconômico baixo. Estes dados
podem ter dificultado a discriminação dos indicadores do Rorschach em que as hipóteses
não foram comprovadas, revelando que alguns problemas psicológicos decorrentes de
situações familiares conflituosas se manifestaram nos dois grupos.
Outra particularidade que pode ter interferido no problema de discriminação das
variáveis Rorschach, previamente hipotetizadas, foi à impossibilidade de separar o grau da
severidade do abuso sexual e realizar uma correlação com as variáveis Rorschach. Observa-
se que isto foi decorrente da complexidade e da quantidade de variáveis implicadas no
processo do abuso sexual intrafamiliar.
Como já mencionado, estudiosos (Furniss, 1993; Kendall-Tackett & cols., 1993;
Knutson, 1995) reportaram que os indicadores causadores de maior impacto maléfico são a
idade precoce da criança no inicio do abuso; o maior tempo de duração do abuso; o uso de
força pelo perpetrador; a diferença significativa de idade entre o perpetrador e a vítima; o
maior grau de parentesco entre a vítima e o agressor; a ausência de figuras parentais
159
protetoras e de apoio social; o grau de ameaças do abusador contra a criança para manter o
abuso em segredo.
Corroborando com estes achados, o estudo de Nash e cols. (1988) já havia
verificado que as características de abuso significantemente associadas com distúrbios
psicológicos mais graves era a pouca idade na ocorrência do abuso - antes dos sete ou oito
anos de idade -. Os autores também demonstraram que outras influências como: a
existência de mais de um perpetrador e de períodos de intensos e freqüentes episódios de
abuso - mais do que três ou quatro vezes por mês – estavam associados a maiores efeitos da
vitimização.
Outros autores acrescentaram que a saúde emocional prévia das crianças tende a
diminuir os efeitos negativos do abuso (Wright & Scalora, 1996) e a existência de uma
família relativamente estável, aumentava a capacidade de recuperação da criança (Nash &
cols., 1988). Fatores de maiores prejuízos na vitimização sexual que envolvem a criança, o
perpetrador e o contexto familiar também foram reportados como sendo, as formas de
abuso mais intrusivas, como a penetração; o maior grau de disfuncionalidade na família,
que freqüentemente responsabiliza a criança pelo infortúnio, e a dissolução da família após
a revelação do abuso (Kendall-Tackett & cols., 1993).
Outras considerações gerais devem ser feitas. A primeira reflete as características do
próprio Método que oportuniza ao indivíduo, diante do estímulo proposto, a produção de
resultados com qualidades variáveis em cada caso. A segunda diz respeito ao próprio
sujeito. Crianças e adolescentes vitimizados respondem de diferentes maneiras e podem
evocar mecanismos de inibição e de defesa como medida de proteção diante de
160
circunstâncias que lhes causam sofrimento e desamparo. Entende-se ainda, que este estudo
foi desenvolvido com crianças e adolescentes predominantemente do gênero feminino. Isto
traz uma implicação aos seus resultados, no sentido de que sejam considerados
predominantemente, como um perfil das características de meninas abusadas sexualmente.
Por fim, embora não tenha sido o foco principal deste estudo, verifica-se que os
achados podem refletir os aportes da literatura no que diz respeito à existência de uma
grave disfunção parental, na falha no processo de interdição, que pode afetar o
desenvolvimento das tarefas evolutivas da criança e do adolescente vitimizado. Assim
sendo, uma consciência crescente de que os efeitos do abuso sexual não são monolíticos e
uma maior atenção às necessidades dessa população, no contexto em que elas se inserem,
pode contribuir para melhorar a atenção pública para este problema e auxiliar no
desenvolvimento de diretrizes e ações de prevenção e intervenção terapêutica mais eficazes.
Cumpre acrescentar ainda que os resultados obtidos neste estudo foram
cuidadosamente orientados na comparação entre dois grupos distintos, controlando a
variável idade e nível sócio-cultural, como forma de gerar dados mais fidedignos e válidos
para o contexto brasileiro. Embora as discussões apresentadas tenham buscado suporte em
estudos de outras culturas, isso se deve à escassez de estudos relacionados à temática do
abuso sexual no Brasil e à predominância de estudos estrangeiros. Desta forma, está clara,
que a área da avaliação psicológica, neste contexto, necessita de estudos adicionais que
examinem as características do desenvolvimento da população brasileira infantil e
adolescente expressos no Rorschach, e que mais estudos nacionais sobre essa temática
sejam desenvolvidos.
V - CONCLUSÃO
É consenso entre muitos autores, que há um severo impacto da vitimização por
abuso sexual em todo o desenvolvimento cognitivo e sócio-afetivo da criança. A vivência
traumática sobrevém em um período de construção psíquica e de grande vulnerabilidade. A
imagem que a criança tem de si-mesma fica distorcida, assim como sua visão de mundo e a
compreensão de suas capacidades. São comuns as vivências depressivas, o bloqueio ou
queda no rendimento escolar, a evitação de contato, além de comportamentos sexuais
desadaptativos. No entanto, dados sugerem que as vítimas reagem de diferentes maneiras e
graus; enquanto algumas parecem sofrer conseqüências menores, outras sofrem graves
problemas sociais e psiquiátricos, portanto não se pode esperar um perfil extremamente
característico, pois isto poderia ser um confundidor do processo diagnóstico.
Cumpre também acrescentar que os métodos de avaliação psicológica que
propiciam a auto-expressão, mais do que fenômenos projetivos, visam a identificar
elementos nas produções do examinando; assim representam tanto os mecanismos que
regem a estrutura como a dinâmica psíquica (Villemor-Amaral, 2008). Assim sendo, não se
trata de fenômenos facilmente identificáveis, até porque o que interessa não é
necessariamente verificar somente o que está manifesto. Neste contexto, a escassa literatura
Rorschach tem destacado duas áreas críticas na pesquisa sobre abuso sexual, uma se há
diferenças entre crianças abusadas e não abusadas, no que ser refere às variáveis
psicológicas que não são puramente comportamentais, e outra se há procedimentos de
162
avaliação que possam auxiliar mais a elucidação da percentagem de crianças menos
sintomáticas com história de abuso sexual.
Diante destas premissas, o que pode ser destacado, neste estudo, é que as variáveis
do Rorschach que monitoram aspectos da autopercepção responderam significativamente, o
que possibilitou a discriminação entre os grupos. O
s resultados apresentados constituem
dados expressivos para as variáveis An, MOR, Sx, m, FQ-, Bl, por contribuírem para a
evidência de validade do uso de Rorschach em crianças e adolescentes vítimas e abuso sexual.
Elas revelam que
os atos abusivos são altamente agressivos e intrusivos para o corpo de uma
criança, e comprometem como já foi relatado, o desenvolvimento de um sentido de si-
mesmo, de uma subjetivação.
O seguimento de novas pesquisas dirigidas a elucidar os prejuízos causados pelo
abuso sexual para o desenvolvimento das vítimas bem como a identificação e a
compreensão da dinâmica dos fatores de risco e de proteção, são de especial importância
para a ampliação de medidas de promoção e intervenção dirigidas a essa população e as
estruturas que retroalimentam a produção da re-vitimização e a emergência de novos casos.
Por fim, justifica-se a necessidade de seguimento de estudos de validade e confiabilidade
do Rorschach em situações de vitimização sexual pela importância deste Método para
responder as especificidades deste fenômeno e pela escassez de estudos brasileiros com esta
temática, como também a continuidade de estudos normativos em nossa cultura.
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Wolak, J. & Finkelhor, D. (1998). Children exposed to partner violence. In J.L. Jasink
& L. M. Willieams. Partner violence: a comprehensive review of 20 years of research
(pp.73-112). Thousand Oaks: Sage Publications.
Wright, G. F. & Scalora, M. J. (1996). Child Maltreatment. Manuscrito não publicado.
Lincoln: University of Nebraska, Center on Children, Families and the Law.
Yama, M., Tovey, S. & Fogas, B. (1993). Childhood family environment and sexual
abuse as predictors of anxiety and depression in adult women. Am J Orthopsychiatry; 36,
136-141.
Yazigi, L. & Villemor-Amaral, A. E. (2006). Psicodiagnóstico e dependência. Em
Silveira, D.X., Moreira, F.G. Panorama atual de drogas e dependência. Atheneu: São
Paulo.
Yehuda, R., Golier, J. A., Halligan, S. L. & Harvey, P. D. (2004). Learning and
memory in holocaust survivors with posttraumatic stress disorder. Biological Psychiatry,
55(3), 291-295.
191
Zavaschi, M. L. S., Telelbom, M., Gazal, C. H. & Shansis, F. M. (1991). Abuso sexual
na infância: Um desafio terapêutico. Revista de Psiquiatria, RS, 13(3), 136-145.
Zivney, O. A., Nash, M. R. & Hulsey, T. L. (1988). Sexual abuse in early versus late
childhood: Differing patterns of pathology as revealed on the Rorschach. Psychotherapy:
Theory, Research, and Practice, 25, 99–106.
VII - ANEXOS
Anexo 1 – Ficha sociodemográfica
Nº_____
I- Dados sociodemográficos da vítima (adolescente)
1.1 Idade _______
1.2 Data de nascimento: ____/_____/______
1.3 Gênero: ( )M ( )F
1.4 Origem: ( )cidade/local ( ) interior
1.5 Grau de escolaridade: ( ) Iº incompl ( ) Iº compl ( )IIº incompl ( )IIº compl
1.6 Status atual da custódia do participante:
( ) um ou ambos os pais biológicos
( ) um ou ambos os pais adotivos
( ) parentes ou outro (padrasto/madrasta)
( ) institucionalizado
1.7 Idade da vítima quando do início do abuso ___________
1.8 Tempo de revelação do abuso: ( )> 1 ano ( )< 1ano ( ) > 2 anos
1.9 Tempo de atendimento na instituição: ( )> 1 ano ( )< 1ano ( ) > 2 anos
II - Dados do agressor
( ) Pai ( ) Mãe ( ) Padrasto ( ) Madrasta ( ) Irmão (a) ( ) Tio (a) ( ) Avô (a)
2.1 Idade: ( ) <20 ( )21-30 ( )31-40 ( )41-50 ( )>50
2.2 Profissão:_______________
2.3 Estado civil: ( ) solteiro ( )casado ( ) amigado ( )separado ( )outro
2.4 Grau de escolaridade: ( ) Iº incompl ( ) Iº compl
( ) IIº incompl ( ) IIº compl ( )outro
2.5 Renda mensal: ( ) 1-2 sal. mín ( ) 3-4 min.( ) 5-6 min. ( ) 7-10 min ( ) +10min
194
Anexo 2 – Carta de Autorização
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE MENORES
SEXUALMENTE ABUSADOS
(1ª via)
Pelo presente instrumento, venho manifestar meu consentimento para que a
pesquisa “Método de Rorschach e a autopercepção de vítimas de abuso sexual” sob a
responsabilidade da pesquisadora Profª. Ms. Silvana Alba Scortegagna do Programa de
Doutorado em Psicologia, da Universidade São Francisco, São Paulo, sob a orientação da
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral seja realizada na (o)
_________________________________________________________________________
_____________________________________________.
A proposta específica desse estudo é verificar se o Rorschach no Sistema
Compreensivo é um instrumento sensível para identificar características de indivíduos
vítimas de abuso sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
Durante a realização desse estudo os adolescentes responderão ao teste Rorschach
contendo 10 pranchas e seus pais ou representantes legais responderão a uma ficha
sociodemográfica. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais aos participantes.
Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação da instituição na referida pesquisa, estando livre para interrompê-la a qualquer
momento. Quaisquer dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados obtidos por
meio da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, exposto
acima, incluída sua publicação na literatura cientifica especializada.
Poderei contatar a pesquisadora responsável pelo estudo, Profª. Ms. Silvana Alba
Scortegagna pelo telefone (54) 91763784 assim como, poderei entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo para apresentar recursos ou
reclamações em relação à pesquisa pelo telefone (54) 3316- 8100, sempre que julgar
necessário.
Esta Carta de Autorização é feita em duas vias, sendo que uma permanecerá em meu
poder e outra com a pesquisadora responsável.
Assinatura do (a) _________________________________________________
Diretor (a)
_______________________________
Profª Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora responsável
195
Anexo 2 – Carta de Autorização
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE MENORES
SEXUALMENTE ABUSADOS
(2ª via)
Pelo presente instrumento, venho manifestar meu consentimento para que a
pesquisa “ Método de Rorschach e a autopercepção de vítimas de abuso sexual” sob a
responsabilidade da pesquisadora Profª. Ms. Silvana Alba Scortegagna do Programa de
Doutorado em Psicologia, da Universidade São Francisco, São Paulo, sob a orientação da
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral seja realizada na (o)
_________________________________________________________________________
_____________________________________________.
A proposta específica desse estudo é verificar se o Rorschach no Sistema
Compreensivo é um instrumento sensível para identificar características de indivíduos
vítimas de abuso sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
Durante a realização desse estudo os adolescentes responderão ao teste Rorschach
contendo 10 pranchas e seus pais ou representantes legais responderão a uma ficha
sociodemográfica. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais aos participantes.
Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre a
participação da instituição na referida pesquisa, estando livre para interrompê-la a qualquer
momento. Quaisquer dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados obtidos por
meio da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho, exposto
acima, incluída sua publicação na literatura cientifica especializada.
Poderei contatar a pesquisadora responsável pelo estudo, Profª. Ms. Silvana Alba
Scortegagna pelo telefone (54) 91763784 assim como, poderei entrar em contato com o
Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo Fundo para apresentar recursos ou
reclamações em relação à pesquisa pelo telefone (54) 3316- 8100, sempre que julgar
necessário.
Esta Carta de Autorização é feita em duas vias, sendo que uma permanecerá em
meu poder e outra com a pesquisadora responsável.
Assinatura do (a) _________________________________________________
Diretor (a)
_______________________________
Profª Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora responsável
196
Anexo 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE VÍTIMAS
DE ABUSO SEXUAL
nº: __________(1ª via)
Prezados Pais,
Estamos realizando uma pesquisa com o objetivo de verificar se o Rorschach no
Sistema Compreensivo é um instrumento sensível para identificar características de
indivíduos vítimas de abuso sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
A qualquer momento você pode retirar seu consentimento, sendo sua recusa não trará
nenhum prejuízo nem para você nem para o seu filho (a) em sua relação com o pesquisador
ou com a instituição.
Sua participação será responder a uma ficha com os dados sociodemográficos. A
participação de seu filho (a) ou responsável será responder ao teste de Rorschach que
consta de 10 pranchas. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais aos participantes.
As informações obtidas por meio dessa pesquisa serão confidenciais e será mantido
sigilo sobre a participação dos adolescentes. Os dados não serão divulgados de modo que
permitam a sua identificação.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da
pesquisadora responsável, podendo tirar suas dúvidas sempre que julgar necessário.
____________________________________
Profª. Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora Responsável
End: Rua Teixeira Soares 777/505
Tel: 54-91763784 ou 54-3311-3522
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral
Orientadora do Projeto
Tel: 11- 4534-8000
Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UPF
Universidade de Passo Fundo
Tel: 54- 3316-8100
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação de meu filho (a) na
pesquisa e concordo em sua participação.
_________________________________________
Assinatura do Responsável legal pelo participante
197
Anexo 3 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE VÍTIMAS
DE ABUSO SEXUAL
nº: __________(2ª via)
Prezados Pais,
Estamos realizando uma pesquisa com o objetivo de verificar se o Rorschach no
Sistema Compreensivo é um instrumento sensível para identificar características de
indivíduos vítimas de abuso sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
A qualquer momento você pode retirar seu consentimento, sendo sua recusa não trará
nenhum prejuízo nem para você nem para o seu filho (a) em sua relação com o pesquisador
ou com a instituição.
Sua participação será responder a uma ficha com os dados sociodemográficos. A
participação de seu filho (a) ou responsável será responder ao teste de Rorschach que
consta de 10 pranchas. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais aos participantes.
As informações obtidas por meio dessa pesquisa serão confidenciais e será mantido
sigilo sobre a participação dos adolescentes. Os dados não serão divulgados de modo que
permitam a sua identificação.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da
pesquisadora responsável, podendo tirar suas dúvidas sempre que julgar necessário.
____________________________________
Profª. Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora Responsável
End: Rua Teixeira Soares 777/505
Tel: 54-91763784 ou 54-3311-3522
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral
Orientadora do Projeto
Tel: 11- 4534-8000
Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UPF
Universidade de Passo Fundo
Tel: 54- 3316-8100
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação de meu filho (a) na
pesquisa e concordo em sua participação.
_________________________________________
Assinatura do Responsável legal pelo participante
198
Anexo 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE VÍTIMAS
DE ABUSO SEXUAL
: __________(1ª via)
Prezado (a) Aluno (a),
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “Método de Rorschach e a
autopercepção de vítimas de abuso sexual” e sua participação não é obrigatória. A qualquer
momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento, sendo que sua recusa
não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.
O objetivo dessa pesquisa é verificar se o Rorschach no Sistema Compreensivo é
um instrumento sensível para identificar características de indivíduos vítimas de abuso
sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
Sua participação será responder ao teste de Rorschach que consta de 10 pranchas. A
participação de seus pais ou responsável legal será responder a uma ficha com os dados
sociodemográficos. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a sua integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais.
As informações obtidas por meio dessa pesquisa serão confidenciais e será mantido
sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de modo que permitam a sua
identificação.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da
pesquisadora responsável, podendo tirar suas dúvidas sempre que julgar necessário.
____________________________________
Profª. Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora Responsável
End: Rua Teixeira Soares 777/505
Tel: 54-91763784 ou 54-3311-3522
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral
Orientadora do Projeto
Tel: 11- 4534-8000
Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UPF
Universidade de Passo Fundo
Tel: 54- 3316-8100
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e
concordo em participar.
_________________________________________
Sujeito da pesquisa
199
Anexo 4 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Projeto: MÉTODO DE RORSCHACH E A AUTOPERCEPÇÃO DE VÍTIMAS DE
ABUSO SEXUAL
nº: __________(2ª via)
Prezado (a) Aluno (a),
Você está sendo convidado (a) a participar da pesquisa “Método de Rorschach e a
autopercepção de vítimas de abuso sexual” e sua participação não é obrigatória. A qualquer
momento você pode desistir de participar e retirar seu consentimento, sendo que sua recusa
não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador ou com a instituição.
O objetivo dessa pesquisa é verificar se o Rorschach no Sistema Compreensivo é
um instrumento sensível para identificar características de indivíduos vítimas de abuso
sexual que os diferenciem de indivíduos livres dessa vivência.
Sua participação será responder ao teste de Rorschach que consta de 10 pranchas. A
participação de seus pais ou responsável legal será responder a uma ficha com os dados
sociodemográficos. Tal procedimento terá a duração aproximada de duas horas. Os
procedimentos não oferecem riscos conhecidos a sua integridade moral, física, mental ou
efeitos colaterais.
As informações obtidas por meio dessa pesquisa serão confidenciais e será mantido
sigilo sobre sua participação. Os dados não serão divulgados de modo que permitam a sua
identificação.
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da
pesquisadora responsável, podendo tirar suas dúvidas sempre que julgar necessário.
____________________________________
Silvana Alba Scortegagna
Pesquisadora Responsável
End: Rua Teixeira Soares 777/505
Tel: 54-91763784 ou 54-3311-3522
Profª. Dra. Anna Elisa de Villemor-Amaral
Orientadora do Projeto
Tel: 11- 4534-8000
Comitê de Ética em Pesquisa CEP/UPF
Universidade de Passo Fundo
Tel: 54- 3316-8100
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e
concordo em participar.
_________________________________________
Sujeito da pesquisa
200
Anexo 5 – Estatística descritiva das variáveis Rorschach
Tabela 9. Estatística descritiva das variáveis Rorschach entre os grupos de vítimas e não-vítimas com a
variável “grupo”.
Fonte de variância SQ GL* MQ F P Eta
2
Variáveis
R 149,433
1
149,433 8,721 0,04 0,105
W 2,509
1
2,509 0,306 0,582 0,004
D 95,212
1
95,212 4,477 0,038 0,057
Dd 0,779
1
0,779 0,130 0,720 0,002
ZSum 185,362
1
185,362 1,098 0,298 0,015
Zf 20,123
1
20,123 1,710 0,195 0,023
Zd 5,559
1
5,559 0,339 0,562 0,005
DQv 2,865
1
2,865 1,716 0,194 0,023
DQv/+ 0,107
1
0,107 0,276 0,601 0,004
DQo 31,340
1
31,340 1,124 0,292 0,015
DQ+ 21,222
1
21,222 2,653 0,108 0,035
M 1,900
1
1,900 0,709 0,403 0,009
FM 30,267
1
30,267 4,519 0,037 0,058
m 0,599
1
0,599 0,741 0,392 0,010
FQ+ 0,000
1
0,000 . . .
FQo 2,433
1
2,433 0,371 0,545 0,005
FQu 18,947
1
18,947 4,643 0,034 0,059
FQ- 88.264
1
88,264 7,243 0,009 0,089
FQ none 0,001
1
0,001 0,013 0,910 0
Fr+rF 0,169
1
0,169 0,725 0,397 0,010
FD 0,270
1
0,270 0,228 0,634 0,003
F 35,246
1
35,246 1,822 0,181 0,024
Par 50,033
1
50,033 5,719 0,019 0,072
a (ativo) 32,433
1
32,433 6,962 0,010 0,086
p (passivo) 4,896
1
4,896 0,915 0,342 0,012
Ma 2,509
1
2,509 1,990 0,162 0,026
Mp 0,001
1
0,001 0,001 0,976 0
Blends
0,844
1
0,844 0,219 0,641 0,003
Popular 1,551
1
1,551 0,730 0,396 0,010
H 2,744
1
2,744 0,817 0,369 0,011
(H) 2,433
1
2,433 4,003 0,049 0,051
Hd 0,380
1
0,380 0,223 0,638 0,003
(Hd) 0,058
1
0,058 0,252 0,617 0,003
A 117,633
1
117,633 8,842 0,004 0,107
(A) 2,547
1
2,547 8,323 0,005 0,101
Ad 6,884
1
6,884 1,977 0,164 0,026
(Ad) 0,042
1
0,042 0,544 0,463 0,007
An 8,847
1
8,847 2,239 0,139 0,029
Sx 1,612
1
1,612 1,281 0,261 0,017
201
Xy 0,018
1
0,018 0,457 0,501 0,006
Bl 7,012
1
7,012 8,111 0,006 0,099
DV1 1,211
1
1,211 7,345 0,008 0,090
DV2 0,000
1
0,000 . . .
DR1 0,983
1
0,983 3,804 0,055 0,049
DR2 0,015
1
0,015 1,113 0,295 0,015
INC1 0,234
1
0,234 0,212 0,647 0,003
INC2 0,047
1
0,047 1,845 0,179 0,024
FAB1 0,323
1
0,323 1,116 0,294 0,015
FAB2 0,071
1
0,071 0,389 0,535 0,005
Sum6 3,743
1
3,743 1,449 0,233 0,019
Lvl2 0,029
1
0,029 0,082 0,776 0,001
WSum6 25,667
1
25,667 0,722 0,398 0,010
AG 6,821
1
6,821 9,373 0,003 0,112
COP 0,801
1
0,801 3,888 0,052 0,050
GHR:PHR 0,042
1
0,042 0,056 0,813 0,001
MOR 12,637
1
12,637 4,347 0,041 0,055
SumC’ 2,825
1
2,825 0,919 0,341 0,012
SumT 0,844
1
0,844 1,482 0,227 0,020
Sum V 1,184
1
1,184 2,261 0,137 0,030
SumY 0,047
1
0,047 0,021 0,885 0,000
3r+ (2) /R
0,365
1
0,365 1,226 0,272 0,016
Lambda 0,897
1
0,897 0,199 0,657 0,003
Intelect 0,000
1
0,000 0,000 1 0,000
Afr 0,124
1
0,124 3,292 0,074 0,043
X+% 0,037
1
0,037 0,370 0,545 0,005
X-% 2,212
1
2,212 6,171 0,015 0,077
Xu% 0,013
1
0,013 1,061 0,306 0,014
Isolate/R 0,008
1
0,008 0,282 0,597 0,004
H:(H) +Hd+ (Hd) 0,123
1
0,123 0,172 0,679 0,002
P<0,05
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