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As demandas são diferentes porque as ortografias variam no tipo de mapeamento
da fala, por exemplo, há ortografias alfabéticas transparentes (e.g., espanhol, alemão,
italiano), que mapeiam a fala no nível fonêmico e cuja relação entre letras e sons é
bastante regular, ortografias alfabéticas opacas (e.g., inglês, francês), que também
mapeiam a fala no nível fonêmico, mas cuja relação entre letras e sons é muito irregular,
ortografias silábicas (e.g., o silabário japonês kana), que mapeiam a fala no nível
silábico. Por ultimo, há ortografias ideográficas (e.g., chinês), que mapeiam a fala no
nível morfêmico (palavras ou morfemas) (Capovilla & Capovilla, 2002). No caso da
língua portuguesa, tem como característica a ortografia alfabética razoavelmente
transparente, pois possuir maior número de irregularidades.
Como demonstrado anteriormente, as ortografias mapeiam a fala de diversas
formas e, portanto, demandam habilidades cognitivas específicas dos leitores, é
esperado que diferentes distúrbios estejam subjacentes aos problemas de leitura e escrita
em diferentes ortografias. Estudos realizados com ortografias alfabéticas de diferentes
graus de transparência revelam que, de fato, o tipo de ortografia influi na expressão do
funcionamento cognitivo (Capovilla & Capovilla, 2002). Por exemplo, crianças
disléxicas da língua inglesa, quando comparadas a crianças-controle de mesmo nível de
leitura, apresentaram dificuldades em rimas, aliterações e fonemas. Tais estudos não
apresentaram diferença significativa entre disléxicos e não-disléxicos em tarefas de
consciência silábica. Este padrão é previsível visto que, no inglês, a unidade mais
saliente é a rima (Swan & Goswami, 1997). Como apontado por Capovilla e Capovilla
(2002) para aprender o inglês escrito, a criança tende a associar as unidades fonológicas
no nível da rima com as unidades ortográficas correspondentes, e se a criança tiver
dificuldades no processamento fonológico no nível da rima, ela provavelmente terá
dificuldades na aquisição da linguagem escrita, por não conseguir segmentar a fala em
rimas e converter tais segmentos em conjuntos de letras.