Download PDF
ads:
L
UCAS DE
F
RANCISCO
C
ARVALHO
C
ONSTRUÇÃO E
V
ALIDAÇÃO DO
I
NVENTÁRIO
D
IMENSIONAL DOS
T
RANSTORNOS DA
P
ERSONALIDADE
I
TATIBA
2008
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
i
L
UCAS DE
F
RANCISCO
C
ARVALHO
C
ONSTRUÇÃO E
V
ALIDAÇÃO DO
I
NVENTÁRIO
D
IMENSIONAL DOS
T
RANSTORNOS DA
P
ERSONALIDADE
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu da Universidade São
Francisco para obtenção do título de Mestre
em Psicologia
.
O
RIENTADOR
: P
ROFESSOR
D
OUTOR
R
ICARDO
P
RIMI
I
TATIBA
2008
ads:
ii
Ficha catalográfica elaborada pelas Bibliotecárias do Setor de
Processamento Técnico da Universidade São F
Ficha catalográfica elaborada pelas bibliotecárias do Setor de Processamento Técnico da
Universidade São Francisco.
157.93 Carvalho, Lucas de Francisco.
C325c Construção e validação do Inventário Dimensional
dos Transtornos da Personalidade / Lucas de Francisco
Carvalho. -- Itatiba, 2008.
223 p.
Dissertação (mestrado) – Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Psicologia da Universidade São Francisco.
Orientação de: Ricardo Primi.
1. Testes psicológicos. 2. Transtornos da personalidade.
3. Construção de instrumento. I. Primi, Ricardo. II. Título.
iii
iv
U
NIVERSIDADE
S
ÃO
F
RANCISCO
P
ROGRAMA DE
P
ÓS
-G
RADUAÇÃO
S
TRICTO
S
ENSU EM PSICOLOGIA
M
ESTRADO
C
ONSTRUÇÃO E
V
ALIDAÇÃO DO
I
NVENTÁRIO
D
IMENSIONAL DOS
T
RANSTORNOS DA
P
ERSONALIDADE
Autor: Lucas de Francisco Carvalho
Orientador: Professor Doutor Ricardo Primi
Este exemplar corresponde à redação final da dissertação de mestrado
defendida por Lucas de Francisco Carvalho e aprovada pela comissão
examinadora.
Data: 15 /12 / 2008
COMISSÃO
EXAMINADORA
___________________________________________________________
Professor Doutor Ricardo Primi
___________________________________________________________
Professora Doutora Elisa Medici Pizão Yoshida
___________________________________________________________
Professor Doutor Carlos Henrique Sancineto da Silva Nunes
Itatiba
2008
v
Agradecimentos
É certo que existiram algumas dificuldades na realização deste estudo, e acabo de perceber
que escrever este tópico também não será das tarefas mais fáceis. Contudo, não ser fácil
está longe de ser equiparado a não ser prazeroso. É com muito honra e alegria que escrevo
estas linhas, na tentativa de demonstrar uma pequena fração de meu agradecimento para
algumas das pessoas que certamente foram fundamentais, de maneira mais ou menos direta,
para que este trabalho fosse iniciado, continuado e concluído. Demonstrando parte de
minhas características mais obsessivas, vou tentar me referir a maior parte dessas pessoas
em diferentes blocos. Desculpo-me desde pelos nomes que aqui não constarem, mas que
certamente foram também muito importantes nesta jornada. Enfim, sem mais delongas, aos
agradecimentos. Em primeiro lugar, e sem lugar para equívocos, agradeço aos meus pais,
Marcus e Sônia, pois sei que entre todos que conheço, foram eles os maiores
possibilitadores de meus pequenos, médios e grandes passos. Agradeço também à minha
namorada, Fê, que muitas vezes se deparou, como poucos devem ter se deparado, com as
conseqüências de se ter um namorado se dedicando ao mestrado (e, em algumas vezes, eu
sei, me dediquei menos ao namoro) mas é certo que o amor que nos une sempre me
fortaleceu nesse caminho. Pelos ensinamentos aos misteriosos e complexos meandros da
psicometria, agradeço ao Ricardo, orientador e um grande amigo, que acompanhou de perto
toda a trajetória de meu mestrado. Àquele que iniciou-me nas habilidades estatísticas
voltadas para as análises de dados em Psicologia, José Maurício, o Mau, agradeço, mas
com certeza não somente pelos seus ensinamentos, mas por ter se tornado um grande e
presente amigo. Agradeço pelas discussões, das mais científicas às mais... Chaves e Lost,
ao Fabiano, o Dr. Koich, que entre poucos, tornou-se um grande amigo e companheiro de
vi
aventuras. Agradeço também aos meus dois grandes amigos, Rodolfo e Giuliano, o Rod e o
Giu, pois entre brincadeiras e diversões (em nossa pequena república), me possibilitam ter
um dos mais agradáveis lares em minhas estadias semanais em Itatiba. É de coração que
também agradeço aos amigos do LabAPE, Carlos (o Tchê, cujas discussões em
personalidade muito me enriqueceram), Claudette (a Clau, com toda sua disponibilidade
para explicar estatística), Marjorie (apesar dos trancos e barrancos, uma pessoa muito
competente... e brava!), Daniel (o sonoplasta labapeano), Sanyo (o contador de piadas), e
Monalisa (a Mona, a “Magali labapeana”). Com igual sentimento, agradeço às professoras
Ana Paula e Acácia, que forneceram importante conhecimento para o meu crescimento e
realização no mestrado. Também agradeço ao professor Ari, que de maneira incondicional
abriu as portas de seu consultório para mim, e para além disso, muito ajudou-me com seus
conhecimentos em psiquiatria. Como não poderia deixar de ser, agradeço pelas
contribuições e sugestões inestimáveis dos professores Elisa e Carlos, que compuseram
minha banca de qualificação, bem como a banca de defesa. Finalizo aqui meus
agradecimentos, com algum pesar no coração por não poder citar e comentar a imensa lista
de pessoas, entre amigos e colegas, que certamente auxiliaram em minha jornada. Mas, é
com alegria que guardo todos vocês em minhas memórias, no coração, e agora, também
neste trabalho.
Resumo
Carvalho, L. de F. (2008). Construção e Validação do Inventário Dimensional dos
Transtornos da Personalidade. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba.
Os transtornos da personalidade podem ser definidos como estilos da personalidade que
exibem reações consistentemente inapropriadas, mal-adaptativas ou deficientes frente o
sistema social no qual o indivíduo está inserido. A proposta teórica de Millon se caracteriza
como uma abordagem que se propõe a explicar o desenvolvimento da personalidade e seus
transtornos, bem como a avaliação e diagnóstico desses construtos. O presente estudo teve
como objetivo a construção e validação de um instrumento para avaliação de transtornos da
personalidade a partir do modelo teórico de Millon. Para tanto, foram aplicados dois
instrumentos, o Inventário Dimensional dos Transtornos da Personalidade (IDTP),
desenvolvido neste trabalho, e o Millon Clinical Multiaxial Inventory III (MCMI-III), em
350 participantes, divididos em dois grupos: indivíduos sem diagnóstico psiquiátrico (GNP;
N = 276), e indivíduos com diagnóstico psiquiátrico (GPS; N = 74). Para verificar a
estrutura interna do IDTP, foram realizadas análises fatoriais exploratórias, bem como uma
análise fatorial de segunda ordem para os fatores primários do IDTP. Em seguida, visando a
verificar a fidedignidade dos fatores formados, foram calculados os coeficientes alfa de
Cronbach. Na seqüência, por meio da Teoria de Resposta ao Item (TRI), foram verificados
parâmetros tanto do instrumento quanto dos respondentes. Para verificar evidências de
validade baseadas nas relações com variáveis externas, realizou-se a análise de perfis por
medidas repetidas, o procedimento Curva ROC, e verificou-se possíveis correlações entre
os instrumentos aplicados, bem como correlações entre os diagnósticos psiquiátricos e os
dados obtidos com o IDTP. A análise fatorial exploratória, por componentes principais e
rotação varimax, apresentou uma estrutura primária de 12 fatores interpretáveis
relacionados aos transtornos da personalidade. Os fatores encontrados referenciavam-se às
seguintes escalas: Depressivo, Esquizóide, Borderline, Paranóide, Sádico, Compulsivo,
Masoquista, Anti-social, Dependente, Histriônico, Negativista, Esquizotípico. Apenas as
escalas Narcisista e Evitativo não foram encontradas, e, por isso, as escalas teóricas foram
utilizadas. A fidedignidade dos fatores foi superior a 0,70 em quase todos os casos, com
exceção a Escala Narcisista (alfa = 0,65). As análises com a Teoria de Resposta ao Item
(TRI) indicaram índices de ajuste satisfatórios para todas as escalas do IDTP, bem como
uma distribuição adequada dos itens no mapa de pessoas-itens. As análises de perfis por
medidas repetidas corroboraram com o esperado, sendo que os pacientes psiquiátricos
obtiveram escores mais altos que os participantes universitários em todas as escalas. As
correlações entre as escalas do IDTP e do MCMI-III foram teoricamente coerentes para
todas os casos evidenciados. Os resultados foram satisfatórios e os pesquisadores acreditam
que o IDTP pode ser útil para o uso clínico, assim como em pesquisas na área de
transtornos da personalidade.
Palavras-chave: análise fatorial; teoria de resposta ao item; MCMI-III.
viii
Abstract
Carvalho, L. de F. (2008). Construction and Validation of the Personality Disorders
Dimensional Inventory. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação Stricto
Sensu em Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba.
Personality disorders can be described as personality styles that exhibit consistently
inappropriate, non-adaptative or defective reactions related to the social system in which
the person is inserted. The Millon´s theoretical proposal is characterized as an approach that
attempt to explain the personality development and its disorders, as well as the assessment
and diagnostic of this constructs. The present study aimed on the construction and
validation of a personality disorders assessment instrument based on Millon´s theoretical
model. For that, two tests were applied, the newly constructed instrument, Personality
Disorders Dimensional Inventory (PDDI), developed in this work, and Millon Clinical
Multiaxial Inventory III (MCMI-III), in 350 respondents, divided in two groups: subjects
without psychiatric diagnostic (WOPD; N=248), and participants with psychiatric
diagnostic (WPD; N=74). To examine the PDDI internal structure, an exploratory factor
analysis was realized, as well as a second order factor analysis with the PDDI primary
factors. Then the Cronbach alpha coefficients were calculated to verify the reliability of the
factors that were found. Next, using Item Response Theory (IRT), the parameters of the
instrument and the respondents were calculated. To verify validity evidences based on the
relation with external variables, repeated measures were realized, along with ROC curve
procedure and possible correlations between the applied instruments were verified, as well
as correlations between the psychiatric diagnostics and the obtained data with the PDDI. An
explanatory factor analysis, by principal components and varimax rotation, showed a
primary structure with 12 interpretable factors related to personality disorders. The founded
factors was related to the following scales: Depressive, Schizoid, Borderline, Paranoid,
Sadic, Compulsive, Masochist, Anti-social, Dependent, Histrionic, Negativist, Schizotipic.
Only the Narcisist and Evitative Scales were not found, and theoretical items were used.
The reliability was superior to 0.70 in almost all cases, with exception of the Narcisist Scale
(alpha=0.65). Item Response Theory (IRT) analysis indicated satisfactory fit indexes to all
PDDI scales, as well as adequate distribution of the items in persons-items map. The
analysis of repeated measures corroborated the expected, the psychiatric pacients had
higher scores than undergraduated participants in all scales. The correlations of PDDI and
MCMI-III were theoretically coherent for all cases. The data was satisfactory and the
researchers believe that the PDDI can be useful to the clinic as well to research in the
personality disorders area.
Key-words: factorial analysis; item response theory; MCMI-III.
ix
Sumário
LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................................X
LISTA DE TABELAS ......................................................................................................XII
1. APRESENTAÇÃO................................................................................................................. 01
2. INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 03
2.1 Sobre a Personalidade.......................................................................................................... 03
2.2 O Continuum entre o Normal e o Patológico ...................................................................... 08
2.3 Os Modelos de Classificação e Diagnóstico para Transtornos da Personalidade............... 10
2.3.1
O M
ODELO
C
ATEGÓRICO
................................................................................................ 10
2.3.2 O M
ODELO
D
IMENSIONAL
............................................................................................... 15
2.3.3 O M
ODELO DE
P
ROTÓTIPOS
............................................................................................ 20
2.4 O Desenvolvimento da Personalidade e seus Transtornos na Teoria de Millon................. 22
2.4.1 B
IOPATOGÊNESE DO
D
ESENVOLVIMENTO
........................................................................ 24
2.4.2 H
ISTÓRIA
P
ATOGÊNICA DA
E
XPERIÊNCIA
I
NDIVIDUAL
..................................................... 25
2.4.3 F
ONTES DE
A
PRENDIZAGEM
P
ATOGÊNICA
....................................................................... 25
2.4.4 C
ONTINUIDADE DAS
A
PRENDIZAGENS
I
NICIAIS
............................................................... 29
2.4.5 I
NFLUÊNCIAS
S
ÓCIO
-C
ULTURAIS
..................................................................................... 33
2.5 A Teoria Integrativa e Evolutiva de Millon......................................................................... 34
2.6 O Funcionamento Patológico - Transtornos da Personalidade........................................... 39
2.7 Os Transtornos da Personalidade Derivados da Teoria de Millon..................................... 42
2.8 Avaliação da Personalidade e seus Transtornos na Teoria de Millon ................................ 53
2.9 Delimitação de Pesquisa e Objetivo..................................................................................... 66
3. MÉTODO............................................................................................................................... 68
3.1 Etapa I - Construção do Instrumento.................................................................................. 68
3.1.1 P
ROCEDIMENTOS
............................................................................................................. 68
x
3.2 Etapa II - Evidências de Validade Baseadas na Estrutura Interna; Fidedignidade das
Escalas do Instrumento; e, Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis
Externas ..................................................................................................................................... 74
3.2.1 P
ARTICIPANTES
............................................................................................................... 74
3.2.2 I
NSTRUMENTOS
............................................................................................................... 75
3.2.3 P
ROCEDIMENTOS
............................................................................................................. 77
3.2.4 A
NÁLISE DE
D
ADOS
........................................................................................................ 78
4. RESULTADOS ...................................................................................................................... 79
4.1 Evidências de Validade Baseadas na Estrutura Interna; Fidedignidade das Escalas do
Instrumento; e, Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis Externas ...... 79
4.1.1 E
STRUTURA
I
NTERNA E
F
IDEDIGNIDADE
......................................................................... 79
4.1.2 P
ARÂMETROS DO
IDTP
COM O
U
SO DA
T
RI
..................................................................... 90
4.1.2.1
Escala Depressivo
.......................................................................................................... 93
4.1.2.2
Escala Esquizóide
........................................................................................................... 98
4.1.2.3
Escala Borderline
......................................................................................................... 103
4.1.2.4
Escala Paranóide
......................................................................................................... 108
4.1.2.5
Escala Sádico
............................................................................................................... 113
4.1.2.6
Escala Compulsivo
....................................................................................................... 118
4.1.2.7
Escala Masoquista
........................................................................................................ 123
4.1.2.8
Escala Anti-Social
........................................................................................................ 128
4.1.2.9
Escala Dependente
....................................................................................................... 133
4.1.2.10
Escala Histriônico
...................................................................................................... 137
4.1.2.11
Escala Negativista
...................................................................................................... 143
4.1.2.12
Escala Esquizotípico
................................................................................................... 148
4.1.2.13
Escala Evitativo
.......................................................................................................... 153
4.1.2.14
Escala Narcisista
........................................................................................................ 158
4.1.2.15
Escalas para Avaliação dos Transtornos da Personalidade
.............................................. 163
xi
4.2 Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis Externas......................... 169
4.2.1 C
ORRELAÇÕES ENTRE AS
E
SCALAS DO
IDTP
E
MCMI-III.............................................. 170
4.2.2 A
NÁLISE DE
P
ERFIS POR
M
EDIDAS
R
EPETIDAS
-
GRUPO DE
P
ARTICIPANTES
................... 172
4.2.3 A
NÁLISE DE
P
ERFIS POR
M
EDIDAS
R
EPETIDAS
-
GRUPOS
D
IAGNÓSTICOS
....................... 174
4.2.4 A
NÁLISE DE
P
ERFIS POR
M
EDIDAS
R
EPETIDAS
- G
ÊNERO
.............................................. 177
4.2.5 C
URVAS
ROC - E
SCALS DO
IDTP.................................................................................. 179
4.2.6 C
URVAS
ROC - F
ATOR PARA
D
ISCRIMINAÇÃO ENTRE
GNP
E
GPS ................................ 181
5. DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 187
5.1 Sobre a Construção do Instrumento.................................................................................. 187
5.2 Sobre a Estrutura Interna e a Fidedignidade.................................................................... 188
5.3 Sobre os Parâmetros do IDTP com o Uso da TRI............................................................. 196
5.4 Sobre as Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis Externas.......... 201
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 207
7. REFERÊNCIAS................................................................................................................... 212
8. ANEXOS .............................................................................................................................. 221
LISTA DE FIGURAS
Figura 1-
Categorização do Desenvolvimento da Personalidade
.....................................................................23
Figura 2-
Scree Plot – Análise Fatorial Exploratória do IDTP
........................................................................80
Figura 3-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Depressivo
..... ....................................................95
Figura 4-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Depressivo
...................................................96
Figura 5-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Depressivo
....................................................................................97
Figura 6-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Esquizóide
......................................................100
Figura 7-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Esquizóide
.................................................101
Figura 8-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Esquizóide
..................................................................................102
Figura 9-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Borderline
.......................................................105
Figura 10-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Borderline
................................................106
Figura 11-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Borderline
.................................................................................107
Figura 12-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Paranóide
......................................................110
Figura 13-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Paranóide
.................................................111
Figura 14-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Paranóide
..................................................................................112
Figura 15-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Sádico
..........................................................115
Figura 16-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Sádico
.....................................................116
Figura 17-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Sádico
......................................................................................117
Figura 18-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Compulsivo
...................................................120
Figura 19-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Compulsivo
..............................................121
Figura 20-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Compulsivo
...............................................................................122
Figura 21-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Masoquista
....................................................125
Figura 22-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Masoquista
...............................................126
Figura 23-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Masoquista
................................................................................127
Figura 24-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Anti-Social
....................................................130
xiii
Figura 25-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Anti-Social
...............................................131
Figura 26-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Anti-social
................................................................................132
Figura 27-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Dependente
...................................................135
Figura 28-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Dependente
..............................................136
Figura 29-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Dependente
..............................................................................137
Figura 30-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Histriônico
....................................................140
Figura 31-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Histriônico
...............................................140
Figura 32-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Histriônico
................................................................................142
Figura 33-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Negativista
....................................................145
Figura 34-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Negativista
...............................................146
Figura 35-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Negativista
................................................................................147
Figura 36-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Esquizotípico
.................................................150
Figura 37-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Esquizotípico
............................................151
Figura 38-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Esquizotípico
.............................................................................152
Figura 39-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Evitativo
.......................................................155
Figura 40-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Evitativo
..................................................156
Figura 41-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Evitativo
...................................................................................157
Figura 42-
Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Narcisista
......................................................160
Figura 43-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Narcisista
.................................................161
Figura 44-
Mapa Pessoas-Itens da Escala Narcisista
..................................................................................162
Figura 45-
Curvas de Probabilidade das Categorias das Escalas de Transtornos da Personalidade
....................165
Figura 46-
Valores dos Limiares (thresholds) dos itens das Escalas de Transtornos da Personalidade
...............166
Figura 47-
Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “grupo”
...................................................174
Figura 48-
Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “diagnóstico”
...........................................176
Figura 49-
Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “gênero”
..................................................178
Figura 50-
Curvas das Escalas do IDTP
..................................................................................................180
Figura 51-
Curva ROC
..........................................................................................................................183
xiv
LISTA DE TABELAS
Tabela 1-
Pontuações nas cinco dimensões de pessoas com diagnósticos de transtornos da personalidade
............18
Tabela 2-
Matriz de acordo com as Fases Existência e Adaptação
..................................................................38
Tabela 3-
Transtornos da Personalidade e Funcionamento Global
... ...............................................................42
Tabela 4-
Domínios Funcionais e Estruturais da Personalidade
......................................................................55
Tabela 5-
Escalas do MCMI-III
.................................................................................................................60
Tabela 6-
Resultados das Análises Fatoriais de Segunda Ordem com o MCMI-III
............................................63
Tabela 7-
Definições utilizadas para a construção dos itens do instrumento
.....................................................69
Tabela 8-
Fatores obtidos na Análise Fatorial Exploratória, eigenvalues e coeficientes alfa
................................81
Tabela 9-
Coeficientes de Correlação de Pearson entre os fatores empíricos e os teóricos do IDTP
.....................83
Tabela 10-
Coeficientes de Correlação de Pearson entre os fatores empíricos interpretáveis e não
interpretáveis
..........................................................................................................................84
Tabela 11-
Itens e Coeficiente de Fidedignidade das Escalas do IDTP
............................................................86
Tabela 12-
Estatísticas Descritivas das escalas da versão final do instrumento
.................................................87
Tabela 13-
Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP
....................................................88
Tabela 14-
Cargas fatoriais da matriz rotada de segunda ordem e coeficiente alfa de Cronbach
..........................89
Tabela 15-
Correlações entre os fatores de segunda ordem
............................................................................90
Tabela 16-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Depressivo
...................................................................................................................93
Tabela 17-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Depressivo
.................94
Tabela 18-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Depressivo
....................................94
Tabela 19-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Esquizóide
...................................................................................................................98
Tabela 20-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Esquizóide
.................99
Tabela 21-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Esquizóide
......................................99
xv
Tabela 22-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Borderline
..................................................................................................................103
Tabela 23-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Borderline
................104
Tabela 24-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Borderline
....................................104
Tabela 25-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Paranóide
...................................................................................................................108
Tabela 26-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Paranóide
.................109
Tabela 27-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Paranóide
.....................................109
Tabela 28-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Sádico
.......................................................................................................................113
Tabela 29-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Sádico
.....................114
Tabela 30-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Sádico
..........................................114
Tabela 31-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Compulsivo
................................................................................................................118
Tabela 32-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Compulsivo
..............119
Tabela 33-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Compulsivo
..................................119
Tabela 34-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Masoquista
.................................................................................................................123
Tabela 35-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Masoquista
...............124
Tabela 36-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Masoquista
...................................124
Tabela 37-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Anti-Social
.................................................................................................................128
Tabela 38-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Anti-Social
...............129
Tabela 39-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Anti-Social
...................................129
Tabela 40-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Dependente
................................................................................................................133
Tabela 41-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Dependente
..............134
xvi
Tabela 42-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Dependente
..................................134
Tabela 43-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Histriônico
.................................................................................................................138
Tabela 44-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Histriônico
...............138
Tabela 45-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Histriônico
...................................139
Tabela 46-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Negativista
.................................................................................................................143
Tabela 47-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Negativista
...............144
Tabela 48-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Negativista
...................................144
Tabela 49-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Esquizotípico
..............................................................................................................148
Tabela 50-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Esquizotípico
............149
Tabela 51-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Esquizotípico
................................149
Tabela 52-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Evitativo
....................................................................................................................153
Tabela 53-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Evitativo
..................154
Tabela 54-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Evitativo
......................................154
Tabela 55-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Narcisista
...................................................................................................................158
Tabela 56-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Narcisista
................158
Tabela 57-
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Narcisista
.....................................159
Tabela 58-
Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo das
Escalas de Transtornos da Personalidade
..................................................................................163
Tabela 59-
Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens das Escalas de Transtornos da
Personalidade
.......................................................................................................................164
Tabela 60-
Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP e do MCMI-III
............................170
xvii
Tabela 61-
Resultados da ANOVA investigando o efeito de “grupo” no papel de características relacionadas
aos transtornos da personalidade e à Escala XV
.........................................................................173
Tabela 62-
Resultados da ANOVA investigando o efeito de “diagnóstico” no papel de características
relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV
.......................................................175
Tabela 63-
Resultados da ANOVA investigando o efeito de “gênero” no papel de características relacionadas
aos transtornos da personalidade e à Escala XV
.........................................................................178
Tabela 64-
Áreas abaixo da curva das Escalas do IDTP
..............................................................................181
Tabela 65-
Resultados Globais da Análise de Regressão Logística
...............................................................182
Tabela 66- Grupos observados em relação aos previstos pela equação de regressão..............................182
Tabela 67-
Coordenadas da Curva ROC
..................................................................................................184
Tabela 68-
Distribuições hipotetizada e encontrada dos itens da Escala Depressivo
........................................189
Tabela 69-
Coeficientes de fidedignidade do IDTP e do MCMI-III
..............................................................192
1
1. APRESENTAÇÃO
A personalidade é um dos construtos mais pesquisados na psicologia. As pesquisas
na área da personalidade refletem uma busca constante do homem para entender seu
próprio funcionamento, busca essa que é evidenciada ao longo da história da humanidade.
A personalidade pode ser compreendida como um padrão de características inter-
relacionadas, constantes, freqüentemente não-conscientes e quase automáticas que são
manifestadas nos ambientes típicos de um determinado organismo. Nesse sentido, o
funcionamento da personalidade pode ser mais ou menos funcional, isto é, as estratégias
utilizadas pelo indivíduo, para lidar com os obstáculos do cotidiano, podem ser mais
eficazes, manifestação saudável da personalidade, ou menos eficazes e trazer prejuízos
importantes, o que pode caracterizar uma manifestação patológica da personalidade.
Quando o funcionamento da personalidade de um indivíduo é tal que tem como
conseqüência prejuízos importantes para sua vida, entende-se que esse indivíduo apresenta
um transtorno da personalidade. Os transtornos da personalidade podem ser entendidos
como construtos teóricos empregados para representar diversos estilos ou padrões em que a
personalidade funciona de maneira mal-adaptada em relação ao seu ambiente. Apesar da
ocorrência e incidência dos transtornos da personalidade na clínica psicológica e
psiquiátrica, não foi encontrado na literatura nacional nenhum instrumento validado que
tivesse como objetivo avaliar os distintos transtornos da personalidade.
Ao lado disso, a teoria da personalidade de Millon configura-se como um relevante
e consistente modelo para o entendimento da personalidade e seus transtornos. Na teoria de
Millon, são propostos 14 estilos distintos da personalidade, sejam eles: esquizóide,
evitativo, depressivo, dependente, histriônico, narcisista, anti-social, dico, compulsivo,
negativista, masoquista, paranóide, esquizotípico e borderline. Cada um desses estilos
2
apresenta carcterísticas próprias, que possibilitam distinguí-los dos demais, bem como
características compartilhadas entre si.
Dada a escassez de instrumentos para avaliação dos transtornos da personalidade no
Brasil, bem como a solidez da teoria de Millon, o presente estudo teve como objetivo a
construção e validação de um instrumento para avaliação de transtornos da personalidade
baseado no modelo teórico de Millon. Os próximos parágrafos têm como proposta
apresentar a teoria de Millon, bem como temas intimamente relacionados ao estudo da
personalidade e dos transtornos da personalidade.
3
2. INTRODUÇÃO
2.1 Sobre a Personalidade
A psicologia, enquanto ciência que se propõe a estudar o comportamento do
homem, os diversos domínios que o integram e suas relações, freqüentemente se depara
com conceitos e construtos de difícil acesso ou mensuração. Um exemplo a se observar é a
personalidade, que oriunda do senso comum, tendo passado pela reflexão filosófica, se
configura como um amplo campo de estudo dentro da psicologia. De modo geral, a
personalidade pode ser considerada como o estudo de conjuntos de características mais
salientes e persistentes ao longo do tempo apresentadas por um indivíduo para lidar com as
situações do cotidiano (Cloninger, 1999; Clapier-Valladon, 1988; Hall, Lindzey &
Campbell, 2000). Em outras palavras, a personalidade é freqüentemente entendida como a
combinação de diferentes sistemas relacionados aos atributos psicológicos (Allport, 1937;
Mayer, 2005).
Tudo indica que o termo personalidade seja indiretamente derivado da palavra
etrusca phersu, que tinha a conotação de máscara e personagem (Poulsen, 2007). De
maneira mais direta, sabe-se que a palavra personalidade tem suas raízes no latim, com o
termo persona, que era usualmente utilizado no teatro greco-romano. Persona referia-se à
máscara de teatro, que era utilizada pelos atores tanto para dar aparência (caracterização) de
acordo com o personagem pretendido, quanto para amplificar a voz para a platéia (Clapier-
Valladon, 1988).
Nota-se que, ao longo dos anos, o sentido da palavra personalidade foi se
modificando. No passado sugeria uma aparência pretendida, que iria caracterizar um
personagem, e, atualmente, é melhor entendida como o próprio indivíduo, suas
características explícitas e implícitas, e a relação dessas características com o meio (Millon
4
& Davis, 1996; Smith, 1977). A despeito do significado subjacente ao termo, o estudo da
personalidade sempre refletiu uma busca do ser humano em entender a natureza do seu
próprio funcionamento (Oldham & Morris, 1995).
Como apontam Hall e cols. (2000), são diversas as definições para personalidade,
que podem tender para diferentes perspectivas. Apesar disso, esses autores alertam que
nenhuma definição isolada da personalidade é completa e, portanto, não deve ser
generalizada. A despeito da divergência sobre como pode ser melhor definida, há um
consenso geral de que a personalidade é uma inferência abstrata, um conceito ou um
construto, e não um fenômeno tangível com existência material (Millon, 1986a; 1993).
Segundo Oldham e Morris (1995), cada indivíduo possui um padrão próprio de
funcionamento, que engloba pensamentos, sentimentos, atitudes, comportamentos,
mecanismos de enfrentamento, entre outros atributos. O funcionamento de cada indivíduo
corresponde ao seu padrão de personalidade, que é um amalgama de diferentes estilos
separados e identificáveis.
Cada padrão de personalidade é único, como defendiam Allport e Allport (1921),
e por isso a personalidade pode ser compreendida como uma face, isto é, o possui
duplicatas, cada uma é uma mistura única de variados graus de diversos traços. Nesse
sentido, no que concerne ao funcionamento psicológico, a personalidade pode ser
considerada como o princípio organizador, aquilo que faz de cada indivíduo um ser singular
(Millon & Davis, 1996; Oldham & Morris, 1995; Smith, 1977).
Pode-se dizer que os diversos autores consideram, em geral, a personalidade como
o funcionamento de base e persistente ao longo do tempo no que respeita ao atributo
psicológico de cada indivíduo. É possível que o fato de referir-se ao funcionamento
psicológico, seja argumento suficiente, por si só, para o estudo desse construto. Ainda
assim, diferentes autores apontam para dimensões gerais que fazem do estudo da
5
personalidade algo imprescindível para o entendimento de cada indivíduo (Millon & Davis,
1996; Oldham & Morris, 1995).
Handler e Meyer (1997), para enfatizar a importância do estudo da personalidade,
chamam atenção para três atributos atrelados ao estudo desse construto. Em síntese, eles
apontam para a contribuição do estudo da personalidade na formulação de
psicodiagnósticos, no entendimento da dinâmica do funcionamento psíquico de um
indivíduo, e para o desenvolvimento do auto-conhecimento. Nesse sentido, a personalidade
é de importância tanto em processos psicoterapêuticos como na realização de pesquisas
científicas.
Apesar do consenso em relação à importância do estudo e avaliação da
personalidade, observa-se uma clara divergência quanto ao modelo teórico que mais
adequadamente seja capaz de definir este construto (Millon, 1993; Millon, 1986b; Widiger
& Simonsen, 2005). Embora diversidade e pluralismo científico sejam atributos úteis, a
acumulação sistematizada de dados a partir de diversas abordagens e a comunicação entre
pesquisadores são atributos difíceis de serem atingidos no meio de um grande número de
conceitos e propostas de avaliação, como se observa no campo de estudo da personalidade
(Srivastava, Gosling & Potter, 2003).
As diferentes abordagens contemporâneas concordam que a personalidade está
mais relacionada com o funcionamento psicológico como um todo, e não como uma
aparência pretendida (Millon, 1986b). A partir disso, entende-se que investigar as
características da personalidade não diz respeito à investigação de um funcionamento
simulado por um indivíduo, mas sim à investigação de um complexo padrão de reações.
Para Millon, o termo
personalidade
refere-se a um padrão de características inter-
relacionadas, constantes, freqüentemente não-conscientes e quase automáticas que são
6
manifestadas nos ambientes picos de um determinado organismo (Millon & Davis, 1996;
Millon, Millon, Meagher, Grossman, & Ramanath, 2004; Strack & Millon, 2007).
Millon (1986a) propõe que a personalidade deve ser compreendida como um
sistema equivalente ao sistema biológico humano. Essa proposta parte de uma visão de
homem integrado, e não mais da visão cartesiana
1
mente e corpo. Segundo Millon (1993), a
personalidade não é um potpourri de traços não relacionados ou uma miscelânea de
comportamentos, mas uma malha entrelaçada de estruturas estáveis (memórias
internalizadas e auto-imagens) e funções coordenadas (mecanismos inconscientes e
processos cognitivos). Refletindo a organização do corpo, o sistema psíquico é uma
configuração distinta de percepções integradas, sentimentos, pensamentos, e
comportamentos que fornecem uma base e disposição para manter a estabilidade e
viabilidade psíquica (Millon, 1986b; 1993). Nesse sentido, a personalidade pode ser
entendida como estilos mais ou menos adaptativos apresentados prelos indivíduos frente os
obstáculos do cotidiano (Millon e cols., 2004). Por estilos Millon compreende todo e
qualquer padrão de reações humanas que persiste ao longo do tempo, e por adaptação o
quão eficaz é o conjunto de reações do indivíduo frente a determinadas demandas em
diferentes momentos da vida (Millon & Davis, 1996).
Deve-se ter cautela para que a definição dada ao termo personalidade não seja
confundida com outras definições que também estão relacionadas ao funcionamento
psicológico, como o temperamento e o caráter (Millon & Davis, 1996). O temperamento se
refere ao potencial biológico subjacente aos comportamentos, observado principalmente em
1
No que se refere à problemática cartesiana, cabe ressaltar que, até meados do século XIX, imperava a crença
de que o homem era composto de duas partes essencialmente distintas: uma material ou física (res extensa) e
outra mental ou psíquica (res cogitans), vulgarmente denominado corpo ou organismo e alma ou espírito
(Mira y Lopez, 1944). No icio do século XX, com os avanços das pesquisas em psiquiatria e psicologia,
estudos acerca do funcionamento psicológico humano começaram a ser desenvolvidos de forma mais
sistemática, o que refletiu em uma reestruturação da visão dicotômica acerca do homem, bem como uma
mudança no entendimento acerca do entendimento da personalidade.
7
humores e reações emocionais. E, o termo caráter diz respeito à natureza animal civilizada,
que é observada, sobretudo, nos sistemas, costumes e maneiras de uma sociedade. Apesar
de serem três construtos distintos, o temperamento (também apontado como predisposição
genética) e o caráter (freqüentemente referido como influências culturais) influenciam
significativamente no desenvolvimento da personalidade (Millon e cols., 2004).
São diversos os fatores que contribuem para o desenvolvimento da personalidade,
que podem estar mais atrelados ao aparato psicológico, biológico ou cultural. Contudo,
como aponta Millon, no desenvolvimento da personalidade o mais importante é a interação
entre esses diversos fatores (Millon & Davis, 1996). Ainda que diferentes estilos da
personalidade se desenvolvam por meio das mais diversas experiências de vida, a depender
dos eventos experienciados por um indivíduo e a capacidade desse indivíduo para lidar com
esses eventos, a personalidade pode se desenvolver de maneira mais ou menos adaptativa
(Strack, 2005; Strack & Millon, 2007).
Por um lado, a personalidade pode se caracterizar por modos de funcionamento
bem sucedidos em lidar com obstáculos do cotidiano. Por outro, quando o funcionamento
psicológico de um indivíduo é mal-adaptativo, se caracterizando por deficiências,
descompassos e conflitos na capacidade de lidar com o ambiente, teóricos e clínicos
apontam para o desenvolvimento dos transtornos da personalidade (Millon e cols., 2004).
Essa noção de personalidade, tanto em seu desenvolvimento saudável quanto no patológico,
implica uma idéia da personalidade em um continuum.
2.2 O Continuum entre o Saudável e o Patológico
De modo amplo, as características de um indivíduo e os fatores que influenciam
no desenvolvimento e manutenção dessas características são atualmente compreendidas de
acordo com um modelo multiaxial. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
8
Mentais (DSM-IV-TR; APA, 2003) apresenta uma estrutura multiaxial, isto é, composta
por múltiplos eixos. Cada eixo compreende um tipo ou fonte de informação diferente: eixo
I (transtornos clínicos), eixo II (transtornos da personalidade e retardo mental); eixo III
(condições médicas gerais); eixo IV (problemas psicossociais e ambientais); e eixo V
(avaliação global do funcionamento). O modelo multiaxial é necessário que os diversos
sintomas e características da personalidade emergem conjuntamente formando um
retrato da pessoa. Por exemplo, um quadro depressivo (transtorno clínico, abarcado pelo
Eixo I do DSM-IV-TR) em um indivíduo com um funcionamento narcisista mais evidente
se manifesta e deve ser tratado de maneira diferente a um quadro depressivo evidenciado
em um indivíduo com um funcionamento dependente mais saliente. O modelo multiaxial
permite a compreensão das características da personalidade em integração com os outros
aspectos relacionados ao indivíduo (Millon e cols., 2004).
Nessa mesma direção, as perspectivas mais atuais que estudam a personalidade e
seus transtornos têm sugerido que os estilos saudáveis e patológicos desse construto são
melhor compreendidos como pontos arbitrários em um continuum, e, portanto, as
diferenças mais significativas entre o saudável e o patológico se dão mais no campo
quantitativo do que no qualitativo (Millon e cols., 2004; Widiger & Trull, 2007). Nesse
sentido, o que diferencia o saudável e o patológico diz respeito mais à intensidade e
freqüência de determinadas reações e o quão eficazes elas são, do que a distinções
categóricas, como ainda é proposto pelo modelo psiquiátrico vigente
2
(APA, 2003).
A proposta de um continuum entre o funcionamento adaptativo e desadaptativo da
personalidade implica uma compreensão mais abrangente das possibilidades de estilos de
personalidade. Isso significa que, partindo de um modelo que considera a personalidade e
2
O modelo referido é chamado de modelo categórico (APA, 2003).
9
seus transtornos como pontos arbitrários em um continuum de reações humanas possíveis, é
possível se estabelecer critérios diagnósticos mais precisos e abrangentes para os
transtornos da personalidade, bem como melhor compreender as diversas possibilidades de
estilos saudáveis da personalidade (Millon & Davis, 1996; Davis, 1999).
Por serem pontos arbitrários em um continuum, as distinções entre o que é
saudável e o que é patológico são difíceis de se determinar. Foram realizadas numerosas
tentativas para desenvolver critérios definitivos para distinguir funcionamentos mais
patológicos de funcionamentos mais saudáveis. Entretanto, essas tentativas tendem a
apontar mais para um desejo social e cultural de se determinar o que é patológico e o que é
saudável, e a sugerir que os transtornos da personalidade sejam entidades patológicas, do
que a acrescentar conhecimento científico na área (Millon & Davis, 1996).
De fato, o saudável e o patológico devem ser entendidos como conceitos relativos,
pontos arbitrários em um continuum, sem que haja uma linha divisória rígida entre as
diferentes manifestações. O funcionamento saudável está mais atrelado à autonomia, à
eficácia nas competências, à uma tendência a se ajustar efetiva e eficientemente ao meio
social, a um senso subjetivo de satisfação, e a uma habilidade de colocar em prática seus
potenciais (Strack, 1999). Diferentemente, a manifestação patológica da personalidade, os
transtornos da personalidade, é caracterizada por déficits nos pontos citados anteriormente
ou por características que ativamente prejudicam essas capacidades (Millon e cols., 2004).
2.3 Os Modelos de Classificação e Diagnóstico para Transtornos da Personalidade
A despeito do que é sugerido em alguns modelos para avaliação da personalidade,
de que a personalidade e seus transtornos devam ser compreendidos como pontos
arbitrários em um continuum, o sistema de classificação para os transtornos da
personalidade são descritos em categorias diagnósticas que seguem o modelo médico,
10
considerando esses transtornos em termos de condições com distinções qualitativas (Millon
& Davis, 1996). Para Widiger e Trull (2007), a questão sobre os transtornos da
personalidade serem ou não condições clínicas discretas é uma problemática persistente que
vem crescendo com o reconhecimento das diversas limitações do modelo categórico, que é
utilizado correntemente para a classificação destes transtornos. Na continuidade, serão
apresentados os diferentes modelos para classificação e diagnóstico dos transtornos da
personalidade, sejam eles, o modelo vigente (categórico), um modelo alternativo
freqüentemente apresentado na literatura (dimensional) e a proposta de Millon (protótipo).
2.3.1 O Modelo Categórico
Os sistemas categóricos representam os modelos tradicionalmente utilizados na
psiquiatria para classificação e diagstico dos transtornos mentais. As categorias
diagnósticas do DSM-IV-TR (APA, 2003) foram desenvolvidas a partir do modelo médico
que considera os transtornos mentais em termos de suas supostas distinções qualitativas
(Widiger & Trull, 2007). Um modelo categórico caracteriza-se por envolver uma
determinação do número de critérios (sintomas) para a classificação de um transtorno como
presente ou ausente (Widiger & Frances, 2002).
O sistema categórico para classificação de transtornos psiquiátricos e psicológicos
tem sua atenção voltada unicamente para as características mais salientes do paciente.
Nesse sistema, por exemplo, se um clínico evidencia uma ou duas características
relacionadas ao transtorno da personalidade narcisista em um paciente, esse clínico irá
buscar com mais acuidade outras características relacionadas ao transtorno da
personalidade narcisista. O foco em um determinado conjunto de características é adequado
na medida em que aumenta a probabilidade do clínico investigar características que devem
11
estar presentes em um paciente que apresenta um determinado quadro diagnóstico (Millon
& Davis, 1996).
O sistema de classificação categórico apresenta diferentes vantagens para
aplicação clínica. Para Millon (1993), a vantagem mais evidente dos modelos categóricos
encontra-se no fato de que consideram a persistência e recorrência de características que
distinguem os transtornos da personalidade de atributos transientes e circunscritos de outros
transtornos clínicos.
Nesse mesmo sentido, segundo Widiger e Frances (2002), a abordagem categórica é
vantajosa no que concerne à sua fácil conceitualização e comunicação entre profissionais,
na medida em que parece ser mais simples considerar um indivíduo como portador ou não
de um transtorno do que considerar os vários níveis em que uma pessoa pode apresentar um
determinado funcionamento. Uma vez que, em grande parte das vezes as decisões
clínicas são categóricas.(Widiger & Samuel, 2005, p. 500), o diagnóstico realizado por
meio do modelo categórico tende a ser preferido pelos clínicos, que requer uma decisão
apenas: se a pessoa tem ou não um transtorno em particular.
De maneira interessante e perspicaz, Frances e Widiger (1986) apresentam uma
analogia entre o modelo categórico e o sistema de classificação das cores. Os sistemas
categóricos não descrevem as características do funcionamento do paciente em termos de
graduação e intensidade em que aparecem, mas partem de estruturas estáticas pré-
estabelecidas, assim como na classificação das cores que utiliza nomenclaturas (como “azul
marinho”, “verde água” e “vermelho claro”) para diferenciar as diversas possibilidades e
misturas de cores.
Uma segunda vantagem apresentada pelo modelo categórico é a familiaridade dos
clínicos e pesquisadores com as nomenclaturas determinadas (Widiger & Frances, 2002).
Para muitos profissionais, o conceito de transtorno implica na presença de uma entidade
12
distinta que é, em muitos aspectos, qualitativamente diferente da “normalidade”. Contudo,
cabe ressaltar que, argumentar o uso do sistema categórico por ser um sistema corrente e
tradicional, pode significar o não avanço da ciência (Frances & Widiger, 1986).
Por último, uma terceira vantagem, destacada por Widiger e Frances (1986), tem a
ver com a consistência do modelo categórico com a decisão de clínicos. Em geral, a decisão
clínica tende a ser categórica, uma vez que a função do diagnóstico é sugerir um
tratamento, e decisões para tratamento não são usualmente dadas em graduação, isto é,
aplica-se uma determinada intervenção ou outra.
A despeito das vantagens subjacentes ao modelo categórico, a literatura apresenta
algumas limitações importantes desse modelo. Por um lado, o DSM-IV-TR (APA, 2003, p.
28) aponta que uma abordagem categórica (...) funciona melhor quando todos os
membros de uma classe diagnóstica são homogêneos, quando existem limites claros entre
as classes e quando as diferentes classes são mutuamente excludentes.”. Por outro,
diferentes autores concordam que os transtornos mentais, como os transtornos da
personalidade, não são encontrados de maneira “pura” nas pessoas, bem como não existem
limites claros estabelecidos entre os diferentes funcionamentos patológicos (Millon e cols.,
2004; Widiger & Trull, 2007). Nesse mesmo sentido, para Frances e Widiger (1986), os
sistemas de classificação categóricos representam modelos procustianos
3
, que tentam
adequar o indivíduo a critérios estabelecidos a priori.
De modo amplo, em relação às limitações do modelo categórico, uma taxonomia
desse tipo tipicamente utiliza critérios diagnósticos restritivos a fim de aumentar a
homogeneidade do grupo. Decorre disso a necessidade de que se complemente a
3
Procusto é um personagem da Mitologia Grega que costumava atrair viajantes solitários para sua pousada,
oferecendo-lhes abrigo para passar a noite. Acreditava-se que ele tinha dois leitos de ferro de tamanhos
diferentes, os quais escolhia dependendo da altura do viajante. Quando a tima adormecia, Procusto a
dominava e tratava de adequar o corpo às medidas exatas do leito.
13
classificação com um número extensivo e arbitrário de categorias, na tentativa de cobrir um
número amplo de pacientes que não preenchem os critérios restritos, que são impostos pelo
modelo (Frances & Widiger, 1986; Millon, 1993).
Mais especificamente, as principais limitações apontadas em relação ao modelo
categórico, são (Brown & Barlow, 2005; Widiger & Trull, 2007): um excessivo diagnóstico
de co-morbidade; uma cobertura inadequada dos transtornos da personalidade; uma
limitação arbitrária e instável com o funcionamento saudável; uma heterogeneidade entre
indivíduos que compartilham da mesma categoria diagnóstica; e, uma base científica
inadequada. Cada um desses pontos será apresentado na seqüência.
O diagnóstico de co-morbidades entre transtornos é tão freqüente, que alguns
autores sugerem que o termo “co-morbidade” deva ser abandonado a favor de outros
termos (como “co-ocorrência”) que contenham uma descrição simplificada (Widiger &
Trull, 2007). Infelizmente, como apontam Widiger e Samuel (2005, p. 495), o diagnóstico
de comorbidade é a norma mais do que a exceção”. Esta limitação do modelo decorre da
dificuldade em se estabelecer um diagnóstico diferencial por meio da classificação e
critérios propostos no DSM-IV-TR (APA, 2003). No que concerne à cobertura inadequada
dos transtornos, a dificuldade consiste no fato de que cada classe de transtornos mentais
(como os transtornos de humor, por exemplo) inclui um diagnóstico de “não especificado”.
Os clínicos fornecem o diagnóstico de “não especificado” quando determinam que o
paciente apresenta uma classe particular de transtornos mental mas os sintomas não são
adequadamente representados por nenhuma categoria diagnóstica individualmente. O
diagnóstico “não especificado”, a partir dos critérios do eixo II do DSM, é um dos mais
freqüentemente utilizados na clínica nos casos de transtornos da personalidade (Brown &
Barlow, 2005). Este dado sugere que os clínicos não estão encontrando as categorias
diagnósticas adequadas para cobrir a sintomatologia dos transtornos da personalidade.
14
Os limites dos transtornos da personalidade, encontrados no modelo categórico, são
arbitrários e não apresentam estabilidade com o funcionamento psicológico normal. Esta
característica reflete a escassez de uma estrutura teórica fortemente embasada que esteja
subjacente aos critérios propostos nas categorias diagnósticas. Ao lado disso, a
heterogeneidade encontrada entre indivíduos com um mesmo diagnóstico é tão extensa
que, por exemplo, dois pacientes diagnosticados com transtorno da personalidade
borderline podem não apresentar nenhuma característica diagnóstica em comum. Por fim,
no que se refere à base científica inadequada para os critérios diagnósticos dos transtornos
da personalidade, verifica-se uma ausência de estudos, ou ainda, dados contraditórios, para
muitos dos critérios estabelecidos no modelo categórico (Widiger & Trull, 2007).
Verifica-se, assim, que o modelo categórico, apresenta tanto vantagens quanto
limitações, inerentes às suas características. Possivelmente, uma das características mais
importantes na manutenção do modelo categórico como vigente seja a facilidade do
diagnóstico, embora limitado (Brown & Barlow, 2005). Contudo, a partir das dificuldades e
obstáculos enfrentados com o uso do modelo categórico, algumas medidas e concepções
emergiram na tentativa de adequar melhor o modelo de classificação e diagnóstico ao que é
encontrado na prática.
Como verificado, a despeito do que sugerem diversos autores (Millon & Davis,
1996; Widiger & Trull, 2007), de que a personalidade e seus transtornos devam ser
compreendidos como pontos arbitrários em um continuum, um uso corrente de um
sistema de classificação para os transtornos da personalidade que é descrito por meio de
categorias diagnósticas que seguem o modelo médico, considerando esses transtornos em
termos de condições com distinções qualitativas. Segundo Trull e Durrett (2005), a questão
sobre os transtornos da personalidade serem ou não condições clínicas discretas é uma
15
problemática persistente que vem crescendo com o reconhecimento das diversas limitações
do modelo categórico.
2.3.2 O Modelo Dimensional
O modelo dimensional emergiu oriundo das críticas atreladas ao modelo
tradicional de diagnóstico e classificação dos transtornos mentais, o modelo categórico
(Vincent, 1990). Basicamente, um sistema dimensional de classificação de transtornos
combina diversas características clínicas ou traços da personalidade em um único perfil.
Muitas informações acerca do paciente são consideradas, e a presença de uma determinada
característica não exclui a possibilidade de qualquer outra ser presente também (Millon &
Davis, 1996).
Millon (1993) aponta para algumas vantagens que são inerentes aos modelos
dimensionais. A mais importante delas, segundo o autor, é que um modelo dimensional
para transtornos da personalidade pode combinar diversas características relacionadas ao
continuum patológico da personalidade em um único perfil. Esse perfil, composto por um
conjunto de características, permite a inclusão de casos atípicos ou raros. Em contrapartida,
no modelo categórico, por não exibir tal flexibilidade, uma série de informações é perdida,
e os casos raros e atípicos são excluídos por não se adequarem às categorias propostas.
A flexibilidade que caracteriza os modelos dimensionais engloba, em si, o
pressuposto de que o saudável e o patológico não se distinguem prioritariamente por
aspectos qualitativos, mas sim por aspectos quantitativos, como a persistência e a
graduação das características do funcionamento da personalidade de um indivíduo. No
entanto, não uma linha divisória para as reações saudáveis e patológicas, esses são
conceitos que representam pontos arbitrários em um continuum (Millon, 1986a). Nas
palavras de Schroder, Wormworth e Livesley (1992, p.52), “(...) transtornos da
16
personalidade não são caracterizados por funcionamentos que diferem qualitativamente do
funcionamento normal; mais que isso, os transtornos da personalidade podem ser descritos
por traços ou dimensões que são descritores da personalidade, tanto patológica quanto
normal.”. A noção de continuum implica em uma compreensão mais abrangente das
possibilidades de funcionamento da personalidade (Millon & Davis, 1996).
Dada a diversidade e idiossincrasia das características de muitas possibilidades de
perfis clínicos da personalidade, um sistema dimensional encoraja a representação da
individualidade e singularidade, mais que forçar pacientes em categorias procustianas
(Millon, 1993; Frances & Widiger, 1986). Contudo, o modelo dimensional,
inevitavelmente, também seleciona um determinado número de traços e fatores para
classificação e diagnóstico, dada a impossibilidade de se considerar todo o universo de
atributos do funcionamento de um indivíduo (Millon & Davis, 1996). No entanto, em um
modelo categórico, uma tendência a dar primazia para apenas uma característica
singular. Como aponta Vincent (1990) a classificação da personalidade deve considerar
mais que um traço mestre, englobando uma diversidade de características que permeiam o
aparato psicológico.
Em geral, um modelo dimensional de classificação resolve grande parte das
limitações inerentes às categorias diagnósticas existentes (Widiger & Trull, 2007). Por
exemplo, uma das questões fundamentais que concernem à classificação e diagnóstico dos
transtornos é a heterogeneidade entre indivíduos. Esta questão é facilmente resolvida por
meio da provisão de descrições multifatoriais dos transtornos exibidos por um indivíduo.
Desse modo, a heterogeneidade é mantida e importantes dados clínicos são mantidos
(Widiger & Frances, 2002).
Um modelo dimensional também é capaz de cobrir uma grande amplitude do
funcionamento maladaptativo da personalidade, sem necessitar de categorias diagnósticas
17
adicionais, como as categorias de “não especificado”, mas sim considerando a sobreposição
de características entre diferentes transtornos, assim como estilos de personalidade
relativamente únicos e atípicos. A partir disso, o diagnóstico “não especificado” deve
decrescer substancialmente. A flexibilidade do modelo dimensional permite, ao clínico,
incluir diferentes pontos de corte (isto é, considerar ou não a relevância de uma disfunção)
para diferentes decisões e situações clínicas (Widiger & Trull, 2007).
Ao lado disso, no que diz respeito à base científica dos modelos dimensionais,
diversos estudos apontam para um sólido suporte empírico, por meio de evidências de
validade, uso da análise fatorial e por cluster, entre outras (Widiger & Frances, 2002). Por
exemplo, O´Connor e Dyce (1998) verificaram se as covariações entre os sintomas dos
transtornos da personalidade, de acordo com nove estudos publicados, poderiam ser
adequadamente explicadas por modelos dimensionais, em relação ao modelo categórico,
para o funcionamento da personalidade. Os resultados encontrados suportaram a idéia de
que os modelos dimensionais identificam de maneira mais adequada os transtornos da
personalidade, mais do que o modelo categórico.
Um dos modelos dimensionais, para transtornos da personalidade, mais citados na
literatura, é o Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Widiger & Trull, 2007). Basicamente,
esse modelo considera que a personalidade pode ser melhor compreendida por meio de
cinco dimensões que são usualmente referidas como Extroversão, Socialização (ou
Amabilidade), Realização (ou Conscienciosidade), Neuroticismo e Abertura à Experiência
(Costa Jr. & McCrae, 1992). A Tabela 1 sumariza alguns dos dados apresentados por
Widiger, Trull, Clarkin, Sanderson e Costa Jr. (2002) acerca das relações entre o modelo
categórico do DSM-IV-TR (APA, 2003) e o Modelo dos Cinco Grandes Fatores.
18
Tabela 1. Pontuações nas cinco dimensões de pessoas com diagnósticos de transtornos da personalidade
Transtornos da
Personalidade
Pontuações mais altas e mais baixas.
Esquizóide
Baixas pontuações em Extroversão.
Dependente
Altas pontuações em Neuroticismo, Extroversão e Socialização.
Baixas pontuações em Extroversão.
Esquiva
Altas pontuações em Neuroticismo.
Baixas pontuações em Extroversão.
Histriônico
Altas pontuações em Neuroticismo, Extroversão e Socialização.
Narcisista
Altas pontuações em Neuroticismo, Abertura e Realização.
Baixas pontuações em Socialização.
Obsessivo
Altas pontuações em Extroversão e Realização.
Baixas pontuações em Abertura e Socialização.
Anti-Social
Altas pontuações em Extroversão e Neuroticismo.
Baixas pontuações em Realização e Socialização.
Esquizotípico
Altas pontuações em Abertura à Experiência e Neuroticismo.
Baixas pontuações em Extroversão e Socialização.
Paranóide
Altas pontuações em Neuroticismo.
Baixas pontuações em Socialização.
Borderline
Altas pontuações em Neuroticismo.
Baixas pontuações em Socialização e Realização.
De maneira paradoxal às vantagens apresentadas pelo modelo dimensional, algumas
limitações importantes para esse modelo são observadas. A primeira limitação para
aplicação desse sistema concerne à escolha de qual das propostas deve ser empregada para
a classificação e diagnóstico dos transtornos da personalidade, que são verificadas na
literatura pelo menos dezoito propostas alternativas para estes modelos (Widiger & Trull,
2007).
Uma segunda problemática atrelada ao uso dos modelos dimensionais, e
provavelmente o mais forte argumento contra sua aplicação, está relacionada à utilidade
clínica desses modelos. A literatura ainda não é concordante o suficiente para que se
estabeleça uma relação suficientemente favorável em termos de benefícios em se substituir
todo o sistema de classificação corrente entre os profissionais em função de um modelo
dimensional (Widiger & Frances, 2002). Contudo, batendo de frente a esse argumento, em
19
um levantamento internacional, com psiquiatras e psicólogos, foi encontrado que o eixo de
transtornos da personalidade (eixo II) é o que apresenta maior insatisfação segundo este
profissionais, dado esse que aponta para possíveis benefícios com a substituição do atual
modelo de classificação (Maser, Kaelber & Weise, 1991).
Nesse mesmo sentido, um terceiro e importante obstáculo para a mudança do
modelo vigente para classificação dos transtornos da personalidade diz respeito à
familiaridade dos clínicos com as categorias impostas (por exemplo, borderline e narcisista)
(Widiger & Frances, 2002). O abandono das nomenclaturas empregadas poderia resultar
em maior dificuldade de diagnóstico do que a evidenciada atualmente.
Segundo Millon (1993), um dos pontos mais fortes do modelo dimensional, qual
seja, abranger uma ampla gama de características do funcionamento de um indivíduo e as
relações entre elas, é também um dos pontos problemáticos para a infusão deste modelo
para a prática clínica. Por um lado, o modelo dimensional abarca uma série de informações
e possibilita um grande número de possibilidades de estilos de personalidade, mas, por
outro lado, esse modelo pode produzir um perfil tão complexo de configurações intrínsecas
que outros recursos (como o uso da álgebra e estatística) são requeridos, dificultando sua
aplicação por profissionais não familiarizados com essas técnicas.
Um modelo dimensional utilizado para classificação dos transtornos da
personalidade, a despeito de suas contribuições em relação ao número de informações
consideradas para o diagnóstico e a sua amplitude de possibilidades diagnósticas, pode
apresentar uma tendência a fracionar a unidade intrínseca da personalidade em traços
separados e não-coordenados (Millon & Davis, 1996). Nesse sentido, o uso de
determinadas características presentes em um modelo categórico, como o agrupamento de
determinados transtornos e, portanto, alguns limites esperados, pode ser adequado para a
classificação dos transtornos.
20
2.3.3 O Modelo de Protótipos
Segundo Millon (1993), pode-se considerar que, do mesmo modo que o modelo
categórico apresenta debilidades importantes, o modelo dimensional também o faz, ainda
que esse segundo modelo permita a resolução de diversas problemáticas encontradas no
categórico. A partir disso, existe uma outra proposta, mais recente que as proposta
categórica e dimensional, para solucionar a questão de como as informações dos
transtornos da personalidade podem ser melhor organizadas. Millon propõe o modelo de
protótipos que, de modo geral, tem por objetivo combinar diversos atributos dos sistemas
categórico e dimensional (Millon & Davis, 1996). O modelo de protótipos representa a
composição de diversos elementos que compõem a personalidade em distintos níveis de
intensidade e graduação (modelo dimensional), assim como as características que
distinguem os transtornos da personalidade de outras formas de psicopatologia, como a
persistência e recorrência desses transtornos (modelo categórico) (Millon, 1993).
Segundo Horowitz, Post, French, Wallis e Sielgeman (1981), um protótipo consiste
nas características mais comuns e descreve um ideal teórico, ou padronizado, frente à
pessoa que realmente será avaliada. Por isso, todas as propriedades de um protótipo são
assumidas para caracterizar pelo menos alguns membros da categoria, mas nenhuma
propriedade é necessária ou suficiente para um membro da categoria. É evidente que a
abordagem de protótipos compartilha muitos dos atributos associados com a abordagem
dimensional, sobretudo no que concerne à diversidade dos traços correlacionados e
sintomas envolvidos, e a heterogeneidade encontrada em pacientes com diagnósticos
similares (Millon, 1986b; Millon, 1993).
O conceito de protótipos baseia-se no pressuposto de que um número limitado de
grupos compartilhados, ou seja, sinais e sintomas diagnósticos, que podem ser utilizados de
21
maneira clara para distinguir certos grupos de pacientes (Millon, 1986b). Ainda assim, não
nega o fato de que esses pacientes apresentam diferenças consideráveis entre si. Existe uma
lógica para se pressupor que determinados sinais e sintomas tendem a se agrupar, e não
apenas covariam de maneira aleatória, fazendo sentido como um grupo coerente e
organizado que compartilha determinadas características (Millon & Davis, 1996).
Entretanto, porque certos comportamentos, atitudes, mecanismos, e assim por
diante, tendem a covariar de maneira repetitiva e reconhecível mais do que exibirem-se de
maneira mais ou menos casual? Para Millon, existem basicamente dois importantes fatores
que respondem a essa questão: o temperamento e as experiências primárias, e a tendência
decorrente dessas predisposições iniciais. Primeiro, o temperamento e as experiências
primárias afetam simultaneamente o desenvolvimento e a natureza de diversas estruturas e
funções psicológicas emergentes, de modo que um amplo número de comportamentos,
afetos e mecanismos podem ser traçados de uma mesma origem, levando a covariância.
Segundo, uma vez que o indivíduo possua as características iniciais, uma tendência para
que uma série de experiências de vida derivadas se agrupem, moldando a aquisição de
novos atributos psicológicos causalmente relacionados às características que precederam-
nos na corrente seqüencial (Millon, 1986b; 1993).
A proposta de um modelo de protótipos sinaliza a possibilidade da existência mútua
de características dos modelos categórico e dimensional. Avaliações podem ser formuladas,
primeiro, para reconhecer distinções qualitativas (categóricas) considerando as reações
mais relevantes, e, segundo, para diferenciar essas reações quantitativamente (dimensional),
representando os relativos níveis de proeminência ou persistência clínica (Millon, 1986b).
Compreender o modelo de protótipos possibilita uma melhor compreensão do modelo
teórico proposto por Millon (Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004).
22
O modelo protótipo, além de considerar atributos dos modelos categórico e
dimensional, também apresenta como base a teoria de Millon. Nesse sentido, é um modelo
que abarca não somente o funcionamento da personalidade, mas também quais fatores são
importantes para o desenvolvimento das distintas possibilidades para o funcionamento da
personalidade. Os próximos parágrafos descrevem o desenvolvimento da personalidade e
seus transtornos segundo a teoria de Millon.
2.4 O Desenvolvimento da Personalidade e seus Transtornos na Teoria de Millon
Na teoria de Millon, um dos pilares no qual o desenvolvimento da personalidade
repousa encontra-se no campo do aprendizado biossocial. A idéia principal do aprendizado
biossocial é que as manifestações saudáveis e patológicas da personalidade se desenvolvem
como resultado do interjogo entre forças do organismo e ambientais (Millon & Davis,
1996). De fato, os muitos fatores que influenciam no desenvolvimento da personalidade
não devem ser compreendidos de maneira isolada, contudo, para propósitos pedagógicos,
esses fatores podem ser decompostos.
Nos parágrafos seguintes
4
, serão descritos, primeiramente, fatores relacionados a
biopatogênese do desenvolvimento; em seguida, fatores que se referem à história
patogênica da experiência individual; em um terceiro momento, serão abordadas as diversas
fontes de aprendizagem patogênica; na seqüência, será discutida a importância da
continuidade das aprendizagens iniciais; e, por fim, serão descritas algumas importantes
influências sócio-culturais para o desenvolvimento da personalidade. Para tanto, foram
utilizadas diversas referências (Millon, 1990, Millon & Davis, 1996, e Millon & cols.,
2004). A Figura 1, na qual é apresentada a categorização do desenvolvimento da
4
Em muitos momentos, procurou-se dar importância mais para os fatores mais relacionados ao
desenvolvimento dos transtornos da personalidade, já que é esse o construto em foco neste trabalho.
23
personalidade segundo a teoria de Millon (Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004),
deve funcionar como um guia para o leitor em relação aos tópicos que serão apresentados à
seguir.
Figura 1. Categorização do Desenvolvimento da Personalidade
24
2.4.1 Biopatogênese do Desenvolvimento
Numerosos determinantes biogênicos e psicogênicos covariam para modelar a
personalidade, e essa relativa influência varia de acordo com as circunstâncias. É a história
da experiência individual que estabelece delimitações para o desenvolvimento da
personalidade, a partir de atributos estabelecidos inicialmente, sobretudo, pelas
características biológicas do indivíduo. No que se refere à biopatogênese do
desenvolvimento, Millon aponta para a importância da hereditariedade, da individualidade
biofísica, e das disposições do temperamento, essa última que se subdivide em
aprendizagem adaptativa e reciprocidade interperssoal.
A hereditariedade refere-se ao papel disposicional de fatores genéticos na
modelagem do substrato morfológico e bioquímico de certas características da
personalidade. Contudo, a predisposição genética não é suficiente para o desenvolvimento
dos transtornos da personalidade, uma vez que pode ser moldada pela história de vida do
indivíduo.
Ao lado disso, os processos psicológicos como o pensamento, o comportamento, e
as emoções derivam de propriedades complexas da atividade cerebral, mas não devem ser
confundidos como estruturas cerebrais tangíveis. Contudo, diferentes alterações biológicas
na estrutura e funcionamento do cérebro podem aumentar a probabilidade do
desenvolvimento de determinados transtornos da personalidade. Tal característica refere-se
à individualidade biofísica que apresenta tanto aspectos singulares ao indivíduo como
aspectos que são esperados para todos da espécie.
Diferentemente, as disposições do temperamento referem-se aos diferentes
padrões presentes desde o nascimento da criança. As disposições parecem estar mais
atreladas, originalmente, a fatores biogênicos do que psicogênicos, e podem ser mais ou
menos potencializadas de acordo com as experiências de vida do indivíduo. Millon aponta
25
para dois importantes fatores relacionados às disposições do temperamento, a
aprendizagem adaptativa e a reciprocidade interpessoal.
A criança tende a se adaptar de acordo com seus limites biológicos, o que se
refere à aprendizagem adaptativa, que é um dos componentes das disposições do
temperamento. Ao lado disso, a reciprocidade interperssoal concerne as contra-reações
evocadas pelas reações iniciais da criança, que são influenciadas em grande parte pelos
aspectos temperamentais.
2.4.2 História Patogênica da Experiência Individual
Outro importante fator no desenvolvimento da personalidade saudável e patológica
é a história patogênica da experiência individual. Indivíduos com potenciais biológicos
similares emergem com diferentes estilos de personalidade dependendo das condições
ambientais a que são expostos. Tão importante quanto às condições a que os indivíduos são
expostos, são as interpretações realizadas e as estratégias utilizadas para lidar com essas
condições.
Em outras palavras, a história da experiência representa a interação entre fatores
biológicos e psicológicos, que não é unidirecional, o que dificulta se estabelecer com
exatidão que fatores (biológicos ou psicológicos) estiveram mais presentes no
desenvolvimento de um transtorno da personalidade. O estudo da história da experiência
dos indivíduos possibilita a compreensão de quais fatores são importantes para o
desenvolvimento da personalidade.
2.4.3 Fontes de Aprendizagem Patogênica
Ao lado da importância dos componentes biológicos na emergência dos diferentes
estilos de personalidade, as fontes de aprendizagem patogênica representam outro
26
importante grupo de fatores que influenciam no desenvolvimento desses estilos.
Basicamente, as fontes de aprendizagem podem ser divididas em experiências persistentes e
experiências traumáticas. As experiências persistentes referem-se a eventos, sentimentos e
modos de comunicação que se repetem no dia-a-dia de um indivíduo. Os próximos
parágrafos trarão algumas possibilidades dessas experiências.
As atitudes e sentimentos parentais são descritos como uma das mais importantes
fontes de experiências persistentes para o desenvolvimento de sentimentos de aceitação ou
rejeição pelos pais. No que se refere ao desenvolvimento de psicopatologias, esses
sentimentos e atitudes podem estar mais relacionados a: pais que encaram a criança como
um problema (a criança aprende a esperar isso dos outros; e, a criança desenvolve
estratégias que podem ser prejudiciais, como imitar os pais ou evitar os outros); atitudes
parentais como sedução, exploração e decepção que podem contribuir para um prejuízo no
funcionamento da personalidade da criança; e, sentimentos e atitudes parentais
ambivalentes que podem gerar ambivalência nos modos de agir e sentir da criança.
Diferentes pais utilizam procedimentos distintos para regular os comportamentos
da criança e seu aprendizado. Esses procedimentos são chamados de métodos de controle
de comportamento. Esses podem ser métodos punitivos, nos quais os pais intimidam e
ridicularizam a criança com punição e repressão; métodos por contingência aos ganhos,
nos quais a criança é pouco punida, mas somente obtém ganhos quando exibe determinados
comportamentos; métodos inconsistentes, representados por modos irregulares,
contraditórios e inconstantes de controle dos pais à criança; métodos protetivos, nos quais a
criança tem suas experiências restringidas pelos pais, o que pode prejudicar o aprendizado
de comportamentos básicos de autonomia; e, métodos indulgentes, nos quais os pais são
muito permissivos, negligentes, relaxados e indisciplinados, e permitem que a criança faça
o que quiser, o que pode resultar em um prejuízo no aprendizado de limites dessa criança.
27
Outra importante fonte de aprendizado por experiências repetidas são os estilos de
comunicação da família. Cada família constrói seu próprio estilo de comunicação, seu
próprio modelo de escuta e entendimento, e seu próprio modo de formular e conduzir
pensamentos aos outros. Os estilos de comunicação interpessoal aos quais a criança é
exposta servem de modelo para observação. A menos que essa estrutura para o aprendizado
de comunicação interperssoal seja racional e recíproca, a criança será incapaz de funcionar
de modo efetivo com os outros. Embora idéias ilógicas, reações irracionais, e verbalizações
irrelevantes freqüentemente apareçam frente a grande stress, suas raízes podem ser traçadas
usualmente na comunicação da família.
Um fator que também está relacionado às experiências iniciais persistentes
vivenciadas pela criança é o conteúdo dos ensinamentos, nos quais os pais transmitem uma
ampla gama de valores e atitudes por meio de atitudes mais ou menos intencionais. A
família funciona como um sistema primário de socialização tanto nas crenças como nos
comportamentos da criança. A partir desses ensinamentos, a criança aprende a pensar
sobre, preocupar-se com, e reagir a certos eventos e pessoas de maneiras específicas.
Basicamente, os ensinamentos que podem levar a aprendizagens de atitudes e
comportamentos patológicos podem ser descritos em: treino de ansiedade (pais que
preocupam-se exageradamente com a saúde, investigam qualquer sinal de indisposição da
criança, ou que são muito preocupadas com o insucesso); sentimentos de culpa e vergonha
(os pais deixam implícito para a criança que ela não atingiu as expectativas deles,
transgrediu alguma regra, ou fez com que eles tivessem que se sacrificar); e, visão de
mundo limitada (os pais colocam padrões e limites que são incomuns e arbitrários, o que
aumenta a probabilidade do surgimento de sentimentos de inferioridade na criança).
A estrutura familiar também emerge como um importante fator que diz respeito
ao aprendizado inicial e persistente da criança. As diferentes composições da família
28
freqüentemente influenciam o aprendizado patogênico de atitudes e relacionamentos. Essas
composições podem se caracterizar por modelos deficientes, nos quais a falta de figuras
adultas significantes na família pode privar a criança da oportunidade de adquirir, por
imitação, muitos dos complexos comportamentos requeridos na vida adulta; pela discórdia
familiar, ambiente no qual a criança é exposta com freqüência a influências perturbadoras
que podem resultar em comportamentos patológicos; pela rivalidade entre irmãos, que
pode ser permeada por competição, que a presença de mais de um filho na família
demanda a divisão da atenção e recursos dos pais aos filhos; e, pela posição ordinal, que se
refere às diferentes possibilidades ordinais de nascimento (primeiro filho, segundo filho,
etc.), que se caracterizam por diferentes obstáculos enfrentados pelos filhos (por exemplo, o
primeiro filho perde parte da atenção dos pais com o nascimento de um irmão).
Existem numerosos outros modelos de ambiente familiar, alguns mais
relacionados à estrutura da família, e outros mais voltados a questões específicas com um
ou outro membro da família. De outro modo, algumas experiências vivenciadas pela
criança podem ter menos a ver com repetição ao longo da infância, e mais com eventos
particularmente dolorosos que podem romper a equanimidade dos indivíduos e deixar
padrões de comportamento profundamente enraizados que não são rapidamente
extinguidos. Uma experiência ameaçadora prematura, abusiva ou não, ou um evento social
especialmente embaraçoso e humilhante ilustram condições que podem resultar em modos
de atuar específicos e persistente. Quando um evento experienciado resulta em reações
específicas e persistentes ao longo do tempo, elas são chamadas de experiências
traumáticas.
O impacto desses eventos pode ser particularmente severo para crianças porque
elas usualmente não estão preparadas para suportá-los. Se um evento traumático é a
29
primeira exposição do indivíduo a uma determinada classe de experiências, as atitudes dele
em relação a esse evento podem determinar todas reações subseqüentes a eventos similares.
Por isso, diz-se que eventos traumáticos persistem em seus efeitos na
aprendizagem por, essencialmente, duas razões. Primeiro, um alto vel de ativação neural
como resposta a situações marcadas por uma grande carga de ansiedade ou angústia. E,
segundo, durante uma grande exposição ao stress, freqüentemente os indivíduos
demonstram dificuldade em discriminar o ambiente, e assim, o indivíduo traumatizado
tende a generalizar suas reações emocionais para objetos e pessoas acidentalmente
associadas ao evento traumático.
2.4.4 Continuidade das Aprendizagens Iniciais
As aprendizagens iniciais podem ter um maior impacto no desenvolvimento de um
indivíduo, uma vez que a vida na infância pode ser compreendida como uma preparação
para a vida adulta. As primeiras experiências de vida fornecem uma oportunidade para o
indivíduo adquirir determinadas reações que permitem-no funcionar mais adequadamente
no ambiente.
Basicamente, são três os principais atributos relacionados à importância das
experiências iniciais: a freqüência, a primazia, e a sensibilidade biológica. A freqüência
refere-se ao número de vezes que determinadas experiências são vivenciadas pelo
indivíduo; a primazia diz respeito à relevância das experiências que ocorrem primeiramente
em relação às subseqüentes; e, a sensibilidade biológica concerne à vulnerabilidade do
organismo da criança (em relação à do adulto) e aos períodos de pico (nos quais
determinadas aprendizagens são fundamentais). Esses três fatores, operam conjuntamente
sem que seus efeitos singulares sejam diminuídos. O contexto no qual esses fatores ocorrem
30
é pré-simbólico e, assim, dificilmente serão recordados de maneira consistente e
desaprendidos com facilidade na vida adulta (Millon e cols., 2004).
Assim, apesar da importância do aprendizado de novos modos de agir que auxiliem
na adaptação do indivíduo, muito do repertório aprendido na infância é mantido. Os
processos que estão envolvidos nessa continuidade podem ser agrupados em três
categorias: resistência à extinção, reforçamento social, e auto-perpetuação.
A extinção de comportamentos, modos de agir e pensamentos, demandam que o
indivíduo se exponha a experiências similares às condições originais de aprendizagem, mas
que forneçam oportunidades de novas aprendizagens. As condições da infância dificilmente
serão replicadas na vida adulta, o que dificulta a possibilidade de que o indivíduo aprenda
novos modos de agir mais adaptativos do que determinados modos aprendidos na infância.
A resistência à extinção aponta para determinadas reações, aprendidas na infância, que
persistem ao longo da vida adulta, dadas variações ambientais e internas vivenciadas pelo
indivíduo na passagem entre esses dois períodos. Basicamente, a resistência à extinção de
algumas reações pode se dar por meio da aprendizagem pré-simbólica, aprendizagem
aleatória, e aprendizagem generalizada.
A primeira, aprendizagem pré-simbólica, refere-se à peculiaridade do que uma
criança experiencia, dadas suas limitações biológicas, de modo que dificilmente aqueles
eventos poderão ser re-experienciados em sua vida adulta, dificultando a existência de
contextos que permitam a extinção daquelas reações aprendidas.
A aprendizagem aleatória está relacionada à dificuldade das crianças em
discriminar relações lógicas entre elementos ambientais presentes no momento da
aprendizagem. Por isso, muitas vezes associam elementos que não apresentam relações
intrínsecas com a aprendizagem. Essas aprendizagens não podem ser duplicadas depois que
31
a criança adota a capacidade de pensar e perceber de maneira lógica, mas as conseqüências
da aprendizagem continuam, e dificilmente podem serem extintas.
Por último, a aprendizagem generalizada diz respeito à tendência da criança em
generalizar indiscriminadamente os aprendizados produzidos como conseqüência das
experiências iniciais. Entretanto, com o desenvolvimento do indivíduo, a discriminação
torna-se mais apurada, e as generalizações realizadas na infância não ocorrem mais, e
tornam-se difíceis de serem extintas.
Ao lado disso, o reforçamento social também se caracteriza como um dos pontos
mais relevantes na continuidade das aprendizagens iniciais de um indivíduo. As diversas
formas em que os relacionamentos estabelecidos por um indivíduo influenciam na
continuidade de seus aprendizados iniciais podem ser descritas como experiências
repetitivas, reforçamento recíproco, e estereótipo social.
As atividades realizadas por um indivíduo são freqüentemente repetitivas e restritas
à rotina do cotidiano. Essas atividades vivenciadas no dia-a-dia de um indivíduo podem ser
chamadas de experiências repetitivas. Os comportamentos aprendidos no início da vida
tendem a persistir ao longo do tempo, e não a mudar, uma vez que as mesmas experiências
que possibilitaram o aprendizado desses comportamentos persistem e influenciam por
muitos anos.
Diferentemente, o interjogo que se estabelece entre pais e filhos, isto é, as reações
exibidas pelos filhos serem mais ou menos reforçadas pelos pais, é um importante aspecto
para continuidade das aprendizagens iniciais, chamado de reforçamento recíproco. Nesse
sentido, modos de agir apresentados inicialmente pela criança muitas vezes são encorajados
pelos pais, e mantidos ao longo do tempo no reperrio do indivíduo.
Um indivíduo se comporta de determinada maneira, e, com o passar do tempo, as
pessoas esperam que esse indivíduo se comporte consistentemente ao longo do tempo.
32
Assim, as características mais prevalentes em um indivíduo são esperadas pelos outros.
Então, por serem mais reforçadas do que novas reações, as reações exibidas na infância por
uma criança, o estereótipo social, tendem a ser mantidas na vida adulta.
Outro importante processo relacionado à continuidade das aprendizagens iniciais é a
auto-perpetuação. As memórias e aprendizados da vida infantil fazem mais do que
contribuir passivamente às questões da vida adulta de um indivíduo. Pela precedência
temporal, essas memórias e aprendizados podem guiar, moldar e distorcer as reações do
indivíduo em relação aos eventos da vida atual. Os processos que se referem à auto-
perpetuação podem ser agrupados em: constrição protetiva, distorção perceptual e
cognitiva, generalização comportamental e compulsão à repetição.
Determinadas experiências podem reativar memórias reprimidas por um indivíduo,
e, muitas vezes, essas experiências são evitadas por meio de mecanismos de proteção
conscientes e inconscientes, que diminuem a probabilidade de ocorrência dessas
experiências. Esse processo é chamado de constrição protetiva. Como conseqüência, as
reações do indivíduo ficam limitadas, por exemplo, impossibilitando que ele aprenda
maneiras de lidar com situações que estejam de algum modo relacionadas a essas memórias
reprimidas. Assim, em muitos casos, essas memórias persistem ao longo do tempo e
influenciam as reações do indivíduo.
Ao lado disso, uma pessoa desenvolve modos de perceber e entender o mundo, e
reage de acordo com essas percepções. Essas distorções perceptuais e cognitivas realizadas
pelos indivíduos tendem a continuar com o passar dos anos, da infância para a vida adulta,
e aumentam a probabilidade do indivíduo reagir, na vida adulta, de maneira similar às
reações exibidas na infância, a partir de distorções similares.
A generalização comportamental diz respeito a um processo similar ao processo
descrito anteriormente, uma vez que descreve a tendência do individuo em reagir a novos
33
estímulos (na vida adulta) de maneira parecida à qual reagiu no passado (na infância).
Exibir esses antigos comportamentos em situações novas pode fazer com que o indivíduo
provoque reações, nos outros, que reforçam seus próprios comportamentos.
Por último, a compulsão à repetição concerne às fontes intrapsíquicas do indivíduo
que guiam-no a recriar situações vivenciadas no passado. Trata-se de um processo de
restabelecimento de condições, vivenciadas na infância, que forneceram algum tipo de
gratificação, e que o indivíduo almeja, na esperança de receber gratificações na vida adulta.
2.4.5 Influências Sócio-Culturais
A personalidade também é moldada por instituições, tradições, e valores que
englobam o contexto cultural da vida social. Essas forças culturais servem como uma
estrutura comum de influências formativas que estabelece diretrizes para os membros de
um grupo social. A seguir serão descritas três condições da vida contemporânea ocidental
que fornecem uma noção geral das influências culturais características do meio social atual.
São elas: promoção de esforço e competição; padrões sociais instáveis e contraditórios; e,
desintegração de crenças e objetivos regulatórios.
Atualmente, dá-se muita importância para os ganhos materiais conquistados por um
indivíduo, bem como para o crescimento e ascensão do indivíduo em termos de status
socioeconômico, o que pode ser chamado de promoção de esforço e competição. Contudo,
além de promover a ambição, a sociedade atual também espera que seus membros atinjam
determinadas expectativas, freqüentemente apontadas como alto status social”. Por um
lado, quando o indivíduo atinge o que é esperado, ele pode ter como conseqüência um
senso de bem-estar subjetivo. Por outro, quando o indivíduo não atinge as expectativas da
sociedade, muitas vezes as conseqüências podem ser desastrosas em termos de
funcionamento da personalidade.
34
Ao lado disso, uma das questões mais atuais é o ritmo de mudança social e o
aumento de padrões sociais instáveis e contraditórios nos quais os membros da sociedade
ocidental são expostos. Os padrões e valores tradicionais têm mudado radical e rapidamente
nos últimos tempos, o que pode demandar do funcionamento da personalidade dos
indivíduos um padrão instável, capaz de se adaptar a esse meio ambiente (Millon & cols.,
2004).
E, por último, a desintegração de crenças e objetivos regulatórios aponta para as
condições desfavoráveis nas quais muitos indivíduos vivem, sendo a própria sobrevivência
o dilema em questão. Esses indivíduos tendem a experienciar pouca expectativa para uma
mudança social, que possibilite, ao menos, suprir as necessidades básicas. Frente a isso, a
internalização de crenças e objetivos de vida, para além da sobrevivência, podem ficar em
segundo plano na vida desses indivíduos.
Em síntese, pode-se dizer que diversos fatores biológicos e sociais influenciam o
aprendizado dos indivíduos, e, por isso, na possibilidade do desenvolvimento saudável ou
patológico da personalidade. A teoria de Millon contempla esses fatores, que podem ser
considerados sob uma perspectiva ontogenética, isto é, da individualidade de cada pessoa.
E, na continuidade, Millon também buscou compreender a personalidade por meio da
perspectiva filogenética, isto é, da espécie, comum a todos seus integrantes.
2.5 A Teoria Integrativa e Evolutiva de Millon
Embora muitas teorias da personalidade coexistam atualmente, constata-se a
emergência de uma proposta que integre os distintos pontos, teóricos e filosóficos, das
várias abordagens, sistematizando, assim, os avanços da ciência psicológica. A teoria dos
estilos de personalidade de Theodore Millon, bem como os instrumentos para a avaliação
da personalidade e seus transtornos derivados dessa teoria, são um exemplo a ser
35
observado, cuja avaliação se encontra indicada aos aspectos saudáveis e patológicos da
personalidade (Alchieri, 2004; Millon & Davis, 1996).
A proposta teórica de Millon se caracteriza por ser um modelo integrativo, que
considera a personalidade em seus diversos domínios, o entrelaçamento entre eles, e sua
relação com o ambiente. Para Millon, uma teoria completa e madura da personalidade deve
ter, ao menos, cinco elementos explícitos (Davis, 1999; Millon e cols., 2004; Strack &
Millon, 2007):
1. Princípios científicos universais pautados nas leis naturais da teoria
evolutiva.
2. Modelos orientados para temas específicos, isto é, esquemas conceituais
para a expressão da natureza, nomeados de personologia e psicopatologia.
3. Classificação dos estilos de personalidade e seus transtornos, ou seja,
uma taxonomia nosológica logicamente derivada da teoria.
4. Avaliação clínica e instrumentos para avaliação da personalidade
integrados ferramentas empiricamente fundadas e quantitativamente
sensitivas.
5. Intervenções terapêuticas personalizadas estratégias elaboradas e
modalidades de tratamento de acordo com o caso específico.
De maneira resumida, uma teoria da personalidade deve ter como objetivo acessar,
avaliar, diagnosticar e intervir nos diferentes estilos de personalidade. Diferente dos
sistemas tradicionais utilizados para o diagnóstico da personalidade, que freqüentemente se
focam ou nos aspectos individuais, ou nos aspectos comuns entre os indivíduos, o modelo
de Millon considera ambos aspectos, o que é comum entre os indivíduos (perspectiva
nomotética) e o que é específico para um indivíduo (perspectiva idiográfica) (Millon &
Davis, 1996; Millon & cols., 2004).
36
Segundo Alchieri, Cervo e Núñes (2005), Millon buscou criar protótipos da
personalidade por meio de deduções formais e identificar possíveis covariações com
transtornos clínicos encontrados no Eixo I da quarta edição revisada do Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR; American Psychological
Association [APA], 2003). Entende-se que o desenvolvimento da personalidade e dos
transtornos da personalidade vêm do resultado do interjogo entre o organismo e forças
ambientais, sendo que esse interjogo tem início no momento da concepção e continua ao
longo da história de cada organismo (Davis, 1999).
Uma teoria da personalidade não deve ficar limitada ao estudo de suas dimensões e
suas relações entre si e com o ambiente (aprendizagem biossocial), mas deve ir além dos
componentes que integram a personalidade (Millon & Davis, 1996). A proposta de Millon,
na busca por um sólido pano de fundo que englobasse os diferentes domínios (processos
cognitivos, comportamentos observáveis, conteúdos inconscientes, reações neuroquímicas,
entre outros) que representam os estilos de personalidade, utiliza-se de três esferas que são
baseadas nos princípios evolutivos, nomeadas de fases evolutivas: Orientações para
Existência, Modos de Adaptação e Estratégias para Replicação (Millon & Davis, 1996;
Davis, 1999; Millon & cols., 2004; Alchieri, 2004; Strack & Millon, 2007).
A primeira fase evolutiva, Orientações para Existência (Existência), refere-se à
tendência do organismo adaptado a expressar mecanismos que favoreçam o aumento e
preservação da vida. Em outras palavras, respeita à transformação de estados menos
organizados em estados de grande organização com estruturas distintas. As polaridades
características dessa fase referem-se aos pólos prazer, no qual o indivíduo tende a procurar
estímulos que aumentem a probabilidade de sobrevivência, e dor, no qual um
decréscimo na qualidade de vida e aumento de riscos à própria existência.
37
Em decorrência dessa fase evolutiva, Millon propôs cinco possibilidades distintas
para que os indivíduos busquem prazer e evitem a dor, isto é, cinco maneiras de se
orientarem para a existência. São elas: dependente, caracterizada por indivíduos que
aprenderam que suas reações associadas ao prazer ou evitar a dor dependem mais dos
outros do que de si próprios; independente, caracterizada por indivíduos que apresentam
confiança em si próprios, pois aprenderam que a obtenção do prazer e evitação da dor
depende mais de si do que dos outros; ambivalente, que se caracteriza por indivíduos
incertos de qual caminho tomar (si próprio ou os outros), exibindo um conflito entre
depender de si e de ser reforçado pelos outros; desapego, caracterizado por indivíduos com
um déficit na capacidade de sentir prazer, podendo ser super-sensíveis à dor, e tendem a
não experienciar ganhos consigo nem com os outros; e, por fim, discordante, que é
caracterizado por indivíduos que substituem o prazer pela dor.
Na continuidade, uma vez que exista uma estrutura integrada (organismo), a
necessidade de manutenção da própria existência do organismo por meio de trocas de
energia e informação com o meio ambiente. A fase evolutiva seguinte, a Modos de
Adaptação (Adaptação), concerne ao processo homeostático aplicado para a sobrevivência
em sistemas ecológicos abertos, isto é, aos modos de se adaptar de um organismo que
tornam as trocas entre organismo e ambiente possíveis. Essas podem ser realizadas a partir
de uma orientação ativa, caracterizada por indivíduos que tendem a modificar o ambiente
ao redor, ou uma orientação passiva, caracterizada por indivíduos que tendem a acomodar-
se ao ambiente em que vivem, que expressam as polaridades dessa fase.
Em conseqüência da fase evolutiva Adaptação, Millon propôs três diferentes
modos para o organismo se adaptar ao ambiente. São eles: ativo, que é caracterizado por
indivíduos que tendem a modificar o ambiente ao redor; passivo, que é caracterizado por
38
indivíduos que tendem a acomodar-se ao ambiente em que vivem; e, passivo-ativo, que é
caracterizado por indivíduos ambivalentes entre modificar e acomodar-se ao ambiente.
E, por fim, ainda que o organismo que existe esteja adaptado, a existência é
limitada, e é por meio da terceira fase evolutiva, Estratégias de Replicação (Replicação),
que os organismos são capazes de ultrapassar essa limitação, desenvolvendo estratégias
para reprodução da prole, permitindo a continuidade dos genes na espécie. Por isso, a
Replicação refere-se a estratégias de reprodução que maximizam a diversificação e seleção
de atributos ecológicos efetivos. Essas estratégias variam entre uma tendência a visar o eu
(pólo eu), com foco na auto-perpetuação, ou uma tendência a visar o outro (pólo outro),
com foco na proteção e sustento da família.
Com base nas duas primeiras fases evolutivas, Existência e Adaptação, Millon
propôs uma matriz 5 x 3 (Millon & cols., 2004). A Tabela 2 sumariza a interação entre
essas fases evolutivas na matriz.
Tabela 2. Matriz de acordo com as Fases Existência e Adaptação
Matriz 5 x 3
Dependente Independente Ambivalente Desapego Discordante
Ativo Histriônico Anti-Social
Negativista
Evitativo Sádico
Passivo Dependente Narcisista Compulsivo Esquizóide Masoquista
Ativo-Passivo Hipomaníaco
5
Paranóide Pessimista Esquizotípico Depressivo
Ao lado das fases evolutivas, Millon refere-se aos estágios neuropsicológicos do
desenvolvimento que, em termos desenvolvimentais, são correspondentes às fases. Os
estágios têm início enquanto o bebê está no útero da mãe e se desenvolvem por toda a vida
do indivíduo (Millon & Davis, 1996). O que diferencia um estágio do outro são os períodos
de pico (ou críticos) do desenvolvimento, quando certos processos e tarefas são
5
É importante notar que o estilo hipomaníaco ainda não é discutido nas referências mais atuais na literatura,
uma vez que a teoria de Millon está em franco desenvolvimento, e, por isso, ainda não foram publicadas
evidências empíricas para a validade desse estilo.
39
proeminentes e centrais para o indivíduo. Os estágios são: Apego Sensório, Autonomia
Sensório-Motora, e Identidade Intracortical-Reprodutiva (Millon & cols., 2004).
O primeiro estágio, Apego Sensório, refere-se aos primeiros meses de vida, nos
quais o bebê depende em absoluto do outro, sendo dominado por processos sensitivos nos
quais a criança adquire as primeiras habilidades para desenvolver alguma organização em
relação aos estímulos experienciados, sobretudo, a distinção entre objetos prazerosos e
objetos dolorosos.
O estágio seguinte, Autonomia Sensório-Motora, caracteriza-se pelo
desenvolvimento de atividades musculares focadas, como brincar, sentar e falar, e não mais
movimentos não organizados. O foco desse estágio é na percepção da criança sobre sua
existência e competências, com um ambiente ao redor, e é um período em que o
estabelecimento de ligações afetivas é muito importante.
O terceiro e último estágio, Identidade Intracortical-Reprodutiva, se caracteriza
pela iniciação de atividades sexuais que são preparatórias para emergência de fortes
impulsos sexuais e características da autonomia adulta. É o período em que o processo de
desenvolvimento refina o indivíduo, antes difuso e com senso indiferenciado do eu, e os
resultados experienciados dos relacionamentos amorosos (reais ou fantasiosos) revisam e
definem sua identidade sexual.
2.6 O Funcionamento Patológico – Transtornos da Personalidade
No modelo teórico de Millon, o que diferencia o patológico e o saudável não está
relacionado a uma distinção categórica e qualitativa (patológico x saudável), mas refere-se
a um continuum onde são encontrados modos de funcionamento mais ou menos adaptados
(Millon & cols., 2004). Os mesmos fatores que estão presentes no desenvolvimento
saudável, também são encontrados no desenvolvimento de estilos patológicos da
40
personalidade, contudo, com freqüência e intensidade diferentes (Davis, 1999; Millon &
Davis, 1996; Strack, 1999).
Não é raro que os transtornos da personalidade sejam abordados como doenças,
decorrente da noção arcaica de que os transtornos mentais representam intrusões externas
ou processos internos de doenças (Millon, 1993). Essa visão reflete um desdobramento da
idéia pré-científica de que entidades, externas ao indivíduo, podem controlar o indivíduo.
Embora a visão científica não fale sobre tais entidades, muitas vezes os transtornos da
personalidade são compreendidos como invasores externos ou forças malevolentes que
invadem o status saudável do paciente – o que implica localizar e destruir o invasor (Millon
& Davis, 1996).
Contudo, do mesmo modo que problemas de saúde física não são uma simples
questão de um vírus intrusivo, mas refletem deficiências na capacidade do corpo em lidar
com ambientes físicos particulares, problemas de saúde psicológica não decorrem de mero
produto de stress psíquico apenas, mas representam deficiências na capacidade do sistema
personológico em lidar com ambientes psicossociais específicos (Millon, 1986a). Os
transtornos físicos emergem quando um desbalanço dos componentes internos do
sistema biológico, quando uma estrutura particular é traumatizada ou deteriorada, ou
quando entidades estranhas (como vírus e bactérias) entram e devastam a integridade do
sistema, assim como os transtornos da personalidade emergem a partir de falhas no modelo
de dinâmica do sistema psicológico de competências adaptativas (Millon, 1993).
Os transtornos físicos (biológicos) são classificados e agrupados a partir de
mudanças corpóreas em um modelo racional de sinais e sintomas coerentes em termos de
como as estruturas anatômicas e processos fisiológicos são alterados (e, portanto,
disfuncionais). Existem evidências a favor de que as psicopatologias também exibem uma
tendência para se agrupar a partir de determinadas características, o que justifica o
41
desenvolvimento de um sistema de classificação para as diferentes possibilidades de estilos
de transtornos da personalidade (Millon, 1993). Quando muitos traços da personalidade
típicos ocorrem em conjunto, constituindo aquilo que Millon aponta como protótipo ou
estilo da personalidade, verifica-se o desenvolvimento dos transtornos da personalidade
(Millon & cols., 2004).
Os transtornos da personalidade são compreendidos na teoria de Millon como
construtos teóricos empregados para representar diversos estilos ou padrões em que a
personalidade funciona de maneira mal-adaptada em relação ao seu ambiente (Millon &
cols., 2004). Diz-se clinicamente acerca dos funcionamentos patológicos da personalidade
quando estratégias alternativas empregadas para atingir objetivos, se relacionar com outros,
ou lidar com o stress são poucas e rígidas (inflexibilidade adaptativa); quando percepções
habituais, necessidades, e comportamentos perpetuam e intensificam dificuldades pré-
existentes (círculos viciosos); e quando a pessoa tende a uma baixa resiliência frente a
condições de stress (estabilidade tênue) (Millon & Davis, 1996).
Com base em seu modelo teórico integrativo e nos pressupostos evolucionistas,
assim como nos grupos propostos no eixo II do DSM-IV-TR (APA, 2003), Millon propôs
quatorze transtornos da personalidade (sumarizados na Tabela 3), que representam
protótipos nomotéticos, que se subdividem em diferentes subtipos idiográficos, conforme
proposto por Millon (Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004).
42
Tabela 3. Transtornos da Personalidade e Funcionamento Global
Transtornos da
Personalidade
Funcionamento Global
Esquizóide Ausência de necessidade de se relacionar.
Evitativo
Inibição social e sentimento de inadequação com sensibilidade exagerada à possibilidade
de críticas, desaprovação e humilhação.
Depressivo
Humor triste, com freqüentes auto-críticas, se culpabiliza, e se como inadequado e
inútil.
Dependente
Submissão e aderência ao outro, devido uma necessidade excessiva de proteção e
cuidados, de modo a se preocupar demasiadamente em errar e decepcionar os outros.
Histriônico
Sentimento de desamparo e necessidade de fazer dos outros o centro de suas vidas, de
modo a chamar excessivamente a atenção dos outros.
Narcisista
Superioridade, de modo a portar uma arrogância inviolável, grandiosidade, necessidade
por admiração e falta de empatia.
Antisocial
Inconseqüência, exibindo desconsideração e violação dos direitos alheios e de regras e leis
sociais.
Sádico
Busca causar sofrimento nos outros e obtém prazer a partir disso, portanto, um desejo
de causar dor psicológica e/ou física nos outros.
Compulsivo
Preocupação com organização, perfeccionismo e controle, de modo a evitar os menores
erros ou falhas, para que não haja culpa.
Negativista
Insegurança frente às mudanças não aceita controle externo e são contrários aos outros,
exibindo ambivalência constante, assim como teimosia, irritabilidade, e contrariedade.
Masoquista
Busca por obstáculos na própria vida, de modo a procurar por sofrimento e necessitando
falhar.
Paranóide
Questionamentos sobre tudo que é dito, com desconfiança e suspeitas, de modo que as
intenções dos outros são interpretadas como maldosas.
Esquizotípico
Excentricidade, estranheza e mistério, de modo a sentir um desconforto agudo em
relacionamentos íntimos, assim como exibe distorções cognitivas ou da percepção e
comportamentos excêntricos.
Borderline
Instabilidade e irritabilidade quando sozinho, bem como instabilidade e impulsividade nos
relacionamentos interpessoais, auto-imagem e afetos.
2.7 Os Transtornos da Personalidade Derivados da Teoria de Millon
Os transtornos da personalidade, bem como o espectro saudável da personalidade,
emergem por meio de distintos fatores, alguns deles citados anteriormente, que concernem
à dimensão ontogenética (aprendizagem biossocial) e filogenética dos indivíduos (esferas
43
evolutivas). Os próximos parágrafos têm como pretensão descrever os quatorze transtornos
da personalidade (estilos) propostos na teoria de Millon, bem como fatores específicos do
desenvolvimento de cada um desses transtornos. Para tanto, além do uso dos pressupostos
evidenciados no modelo de Millon, foram utilizadas outras referências, uma vez que essas
também contribuem para o entendimento desses transtornos (APA, 2003; Beck, Freeman &
Davis, 2005; Caballo, 2007; Carlat, 2006; Millon, 1986; Millon & cols., 1994; Millon &
Davis, 1996; Millon & cols., 2004; Oldham & Morris, 1995).
O primeiro estilo, esquizóide (desapego; passivo), refere-se a um padrão de reações
que, basicamente, podem ser entendidas como uma ausência de necessidade de se
relacionar. São indivíduos que não têm ganhos com os relacionamentos, e, por isso,
procuram passar desapercebidos entre as pessoas. Podem ser percebidos pelos outros como
desapegados emocionalmente, distantes, introvertidos, despreocupados e indiferentes,
freqüentemente apontados como pessoas que se guardam para si.
Algumas pessoas podem exibir características do estilo esquizóide sem que essa
manifestação seja patológica. A variação saudável desse estilo é chamada por Oldham e
Morris (1995) de estilo retirante, que se caracteriza por indivíduos que necessitam
minimamente receber ou dar afetos, pouco se envolvem emocionalmente com outros, e são
percebidos como pessoas calmas, plácidas, despreocupadas e indiferentes aos sentimentos
alheios.
A literatura sugere que a probabilidade do desenvolvimento de indivíduos com o
transtorno da personalidade esquizóide aumenta na medida em que os pais desses
indivíduos: falham em ensinar a importância das relações interpessoais; se relacionam de
maneira fria, ou exageradamente formal e intelectualizada; não reforçam o comportamento
de expressar emoções; e, a comunicação entre a família é vaga.
44
Muitas vezes, o estilo esquizóide pode ser confundido com o estilo esquizotípico
(desapego; passivo-ativo), já que ambos estilos são caracterizados pela ausência de vínculos
interpessoais. Contudo, se por um lado no estilo esquizóide a escassez de relacionamentos
está relacionada à pouca vontade de relacionar-se, no esquizotípico está mais relacionado a
um desconforto exibido ao se relacionar com outros. Amplamente, o estilo esquizotípico
caracteriza-se por excentricidade, estranheza e mistério, de modo a sentir um desconforto
agudo em relacionamentos íntimos, assim como a manifestação de distorções cognitivas, ou
da percepção, e comportamentos excêntricos.
Indivíduos que apresentam um funcionamento esquizotípico podem ser percebidos
como excêntricos, diferentes, estranhos, esquisitos e misteriosos. Essas pessoas se mostram
excessivamente ansiosas frente os outros, independente do grau de intimidade, e por isso,
mantêm-se isolados. Geralmente voltam-se para seu próprio mundo interno, o que pode
levar a uma ruminação de seus pensamentos, aumentando a probabilidade do
desenvolvimento de crenças “estranhas” acerca do mundo.
A variação saudável desse estilo é nomeada de estilo idiossincrático, que se refere a
pessoas nutridas por um sistema único e peculiar de crenças que contribuem para um modo
de vida não convencional e percebido como excêntrico pelas pessoas ao redor (Oldham &
Morris, 1995).
É possível que o desenvolvimento do estilo esquizotípico esteja altamente
relacionado a indivíduos que tiveram, na infância, pais que freqüentemente passavam
mensagens contraditórias e ilógicas, que eram fisicamente ausentes (mas de longe
mantinham o controle de alguma forma), e também pode estar relacionado com a
ocorrência de abuso físico ou sexual.
Outro funcionamento patológico da personalidade que também é caracterizado por
ausência de relacionamentos é o estilo evitativo (desapego; ativo). Esse estilo é
45
representado por inibição social e sentimento de inadequação, com sensibilidade exagerada
a possibilidade de críticas, desaprovação e humilhação. São pessoas extremamente
sensíveis à desaprovação social, e por isso engajam-se raramente em relações interpessoais,
freqüentemente apenas com os familiares. Contudo, essas pessoas desejam relações sociais,
e sofrem com a solidão e o isolamento.
Segundo Oldham e Morris (1995), o estilo hesitante caracteriza a variação saudável
desse transtorno da personalidade, e se refere a pessoas sensíveis à indiferença e rejeição
social, são inseguros de si, e, por isso, cautelosos nas relações interpessoais, especialmente
com estranhos. Essas pessoas antecipam possíveis dificuldades nas relações e temem se
embaraçar perante os outros. Assim, muitos preferem trabalhar sozinhos ou em pequenos
grupos, nos quais sabem que serão aceitos. Uma vez aceitos pelo grupo, mostram-se abertos
e cooperativos.
O desenvolvimento do funcionamento evitativo é mais comum em pessoas que
tiveram na infância pais com expectativas muito altas, que ficavam constantemente
desapontados ou embaraçados quando a criança não atingia suas expectativas. Esses pais
também poderiam se caracterizar por serem muito críticos, por temerem ser humilhados e
por serem superprotetores, de modo a não deixar a criança se expor aos meios sociais.
Ao lado disso, alguns estilos patológicos da personalidade apresentam
características que podem ser relacionadas a um alto grau de dependência para com os
outros. O estilo dependente (dependente; passivo) refere-se a um funcionamento de
submissão e aderência ao outro, devido uma necessidade excessiva de proteção e cuidados,
de modo a se preocupar demasiadamente em errar e decepcionar as pessoas ao redor.
Essas pessoas baseiam suas vidas numa busca constante por cuidado e direção
fornecidos pelo ambiente, e, portanto, o bem-estar do outro sempre vem em primeiro lugar.
São pessoas que vivem suas vidas por meio dos outros e para os outros, assumindo papéis
46
mais passivos nos relacionamentos, com submissão às opiniões e desejos alheios. É
importante ressaltar que a literatura aponta que a maior parte das pessoas que exibe
características do funcionamento dependente são mulheres (Millon & cols., 2004). Esse
dado pode ser explicado pelo reforçamento da sociedade a comportamentos mais submissos
da mulher em relação ao homem.
A variação saudável do estilo dependente é referida na literatura como estilo
concordante, caracterizado por pessoas cooperativas, amáveis, respeitosas e empáticas.
Esses indivíduos adaptam suas preferências para serem compatíveis aos que estão em sua
volta. São confiáveis, por serem agradáveis e respeitosos, reconciliam diferenças e
procuram tomar decisões para eliminar conflitos.
A probabilidade do desenvolvimento de característica do estilo dependente tende a
aumentar quando os pais da criança são superprotetores e controladores, desencorajam o
desenvolvimento da autonomia e comportamentos de curiosidade da criança, e não deixam
o filho agir de maneira independente. Esses pais podem agir assim por temerem perder o
filho, e por acreditarem que a liberdade da criança sempre irá resultar em alguma catástrofe.
Nessa mesma linha, o estilo histriônico (dependente; ativo) é caracterizado por
indivíduos que expressam um extremo sentimento de desamparo e necessidade de ser o
centro das atenções dos outros. Por isso, essas pessoas tendem a chamar atenção dos outros
de maneira exagerada, sendo tipicamente dramáticos e sedutores. Basicamente, são
indivíduos que fazem qualquer coisa para manterem a atenção dos outros neles próprios.
Usualmente, indivíduos diagnosticados com transtornos da personalidade histriônica são do
sexo feminino.
Vale a pena citar um estudo interessante, realizado por Apt e Hurlbert (1994), que
encontrou que mulheres com funcionamento histriônico são avaliadas como mais atraentes
do que mulheres com outros transtornos da personalidade ou sem diagnóstico. Entretanto,
47
esse estudo não possibilita a compreensão sobre o fato de ser atraente aumenta a
probabilidade do desenvolvimento de um funcionamento histriônico, ou se o
funcionamento histriônico aumenta a probabilidade da mulher ser atraente.
Algumas pessoas manifestam as características do estilo histriônico de uma maneira
menos acentuada, o que caracteriza o estilo sociável (Oldham & Morris, 1995). Trata-se de
indivíduos que se focam na socialização, e possuem grande confiança em sua influência e
charme. São usualmente descritos como calorosos, vigorosos, emocionantes, cheios de
energia e provocantes, e podem ser percebidos como alegres e otimistas. Muitos são abertos
para novas possibilidades e apreciam novas experiências.
A infância de indivíduos que apresentam um funcionamento histriônico pode ser
geralmente permeada por pais que raramente punem seus filhos, bem como exibem
reforçamento positivo intermitente e arbitrário aos comportamentos submissos dos filhos.
Diferentemente, indivíduos com um estilo narcisista (independente; passivo),
diferente daqueles estilos nos quais a dependência aos outros é fortemente evidenciada,
exibem superioridade, de modo a portarem uma arrogância inviolável, falta de empatia e
necessidade de que os outros os admirem. Essas pessoas tendem a se perder em suas
fantasias de “poder divino”, considerando-se gênios intelectuais ou celebridades
inigualáveis. Percebem-se melhores que os outros e julgam as pessoas com desprezo.
O estilo afirmativo, que refere-se à variação saudável do funcionamento narcisista, é
caracterizado por indivíduos competitivos e seguros de si, que podem manifestar um senso
de ousadia que vêm em decorrência de suas crenças de auto-segurança. Normalmente, são
pessoas ambiciosas, assumem o papel de líderes, são decididos, e esperam que os outros
reconheçam suas habilidades (Oldham & Morris, 1995).
As pessoas que desenvolvem um funcionamento narcisista freqüentemente têm suas
infâncias caracterizadas por pais que, por um lado, as supervalorizaram, mas por outro,
48
foram frios e negligentes. Esses pais tendem a apresentar expectativas exageradas de que os
filhos sejam especiais, não estabelecem limites e não demandam obrigações dos filhos, dão
grande importância a competições, e deixam a mensagem para o filho de que se ele não for
especial, eles não irão amá-lo.
Ao lado disso, também exibindo padrões independentes, o estilo paranóide
(independente; ativo-passivo) diz respeito a indivíduos que questionam toda e qualquer
mensagens que lhes é passada, com desconfiança e suspeitas, de modo a interpretar as
intenções alheias como maldosas. A desconfiança tem suas raízes no temor de que os
outros lhes tomem vantagem, temor esse que se manifesta na relação com pessoas
desconhecidas ou íntimas. Em síntese, o funcionamento paranóide considera tudo ao seu
redor comum um “cavalo de Tróia”.
No continuum do funcionamento patológico paranóide, encontra-se o estilo saudável
vigilante, que diz respeito a pessoas extremamente independentes, e que valorizam sua
liberdade. São cautelosas e reservadas nos diálogos e somente entram em relacionamentos
após cuidadosas considerações. Esses indivíduos prezam muito pela fidelidade e lealdade,
e, por isso, usualmente estabelecem comunicações claras e diretas.
Não é raro que, na infância, indivíduos com um funcionamento paranóide tenham
passado por algum tipo de abuso físico por pais sádicos e controladores. Ainda, os pais de
estilos paranóides exibem com freqüência um padrão perfeccionista para com os filhos, e
quando a criança não atinge as expectativas, a mensagem implícita dos pais é que ela não é
boa o suficiente e merece ser castigada. Nesse sentido, a criança pode falhar em
desenvolver um senso de confiança para com os outros.
O estilo anti-social (independente; ativo), refere-se a um padrão de reações que
envolvem inconseqüência, e especialmente desconsideração e violação dos direitos alheios.
Não é raro que pessoas com funcionamento anti-social cometam atos que violem as leis,
49
sem que haja culpa pelas conseqüências desses atos. Essas pessoas se vêem como altamente
independentes, e são interpretadas pelos outros como impulsivas, irresponsáveis,
depravadas e incontroláveis. Usualmente, indivíduos diagnosticados com transtornos da
personalidade anti-social são do sexo masculino.
A variação saudável do estilo anti-social é chamada de estilo discordante. Trata-se
de pessoas não convencionais, que agem sem considerar como serão julgadas pelos outros.
Algumas vezes podem utilizar os limites entre a legalidade e ilegalidade em busca de suprir
seus desejos e objetivos. Se vêem como independentes e criativos, e podem ser criticados
pela sua impulsividade e irresponsabilidade.
Muitas vezes os pais de pessoas que apresentam um funcionamento anti-social
demonstram um padrão de negligência, indiferença, hostilidade e agressividade para com
os filhos, padrão esse que pode estar intimamente relacionado ao abuso de substâncias.
Nesse sentido, esses pais tendem a ensinar os filhos por meio da punição e de disciplina
exageradamente severa.
Algumas vezes o estilo anti-social pode ser confundido com outro tipo de
funcionamento, o estilo sádico (discordante; ativo). Topograficamente, tanto o anti-social
quanto o sádico parecem não medir a conseqüência dos seus atos, provocando o sofrimento
das pessoas ao redor. Contudo, no funcionamento anti-social uma inconseqüência
generalizada dos atos, e no estilo sádico, o foco é na necessidade de causar sofrimento nos
outros. Por isso, o estilo sádico refere-se a pessoas que têm prazer em causar o sofrimento
alheio, seja físico ou psicológico.
Nesse mesmo sentido, o estilo controlador, que é a variação saudável do sádico, se
refere a pessoas que se satisfazem com a possibilidade de intimidar o outro, bem como
conquistar a obediência e respeito. São indivíduos rígidos e demonstram poucos
50
sentimentos, freqüentemente líderes eficazes, determinando tarefas e coagindo
performances e resultados de seus subordinados.
Normalmente, indivíduos que desenvolvem um funcionamento sádico, tiveram em
sua infância um ambiente familiar não acolhedor, com pais rejeitadores e hostis. Como
conseqüência, esses indivíduos muitas vezes aprendem a serem hostis (como os pais), bem
como denigrem os valores que eles não tiveram na infância.
Outro funcionamento da personalidade que também apresenta um padrão
discordante é o estilo depressivo (discordante; ativo-passivo). Basicamente, esses
indivíduos apresentam humor triste, auto-críticas exageradas, se culpabilizam
constantemente, e se percebem como inadequados e inúteis. Tendem a desejar que a vida
seja diferente, mas, ainda assim, não tomam qualquer tipo de iniciativa para mudanças, por
se sentirem fracos para “mudar seus destinos”. Não foram encontradas propostas de
variação saudável do estilo depressivo na literatura.
Os pais de indivíduos que apresentam um funcionamento depressivo tendem a
apresentar distanciamento, indiferença e desvalorização para com seus filhos, bem como
não propiciam experiências de cuidado e proximidade (física e emocional). Em geral,
nessas famílias há pouco apoio emocional.
O estilo masoquista (discordante; passivo), que também apresenta características
presentes dos estilos cuja Orientação para Existência é a discordante, refere-se a pessoas
que buscam por obstáculos e sofrimento em suas vidas, e necessitam falhar. Esses
indivíduos, quando experienciam momentos considerados como prazerosos pelas pessoas
em geral, reagem com confusão e até mesmo desprazer. Costumam se boicotar nos
objetivos de vida, mas, de maneira paradoxal, procuram ajudar os outros com seus
objetivos.
51
Segundo Oldham e Morris (1995), o estilo submisso é a variação saudável do
funcionamento masoquista. Trata-se de pessoas que, como os outros, possuem
determinadas habilidades, mas procuram passar despercebidos. Evitam mostrar seus reais
talentos e desempenhos, se colocando sob uma ótica inferior, na tentativa de evitar
competições. Podem, às vezes, encorajar os outros a tomarem vantagem de si próprio.
Os pais de indivíduos com um funcionamento masoquista expressam muitas vezes
as seguintes características: são frustradores e rejeitadores, mas também extremamente
cuidadores (pode chegar em casos de abuso infantil, sendo que a criança não relaciona a dor
com o abusador); os ganhos e comportamentos de autonomia da criança não são reforçados;
e, os pais reforçam a criança, com cuidados, prioritariamente quando ela está mal.
Diferentemente, o estilo negativista (ambivalente; ativo) agrupa pessoas que
experienciam insegurança frente às mudanças, não aceitam qualquer tipo de controle
externo, e são contrários aos outros. Exibem constantemente ambivalência em seus
comportamentos, teimosia e irritabilidade. Especificamente, a ambivalência nas reações
manifestas do funcionamento negativista tem origem na ambivalência entre ser dependente
dos outros ou se auto-afirmar. Essas pessoas caracterizam-se por sua teimosia, por não
serem cooperativos, por serem contrários aos outros, e por desencorajarem as pessoas ao
redor. Não foram encontradas propostas de variação saudável do estilo negativista na
literatura.
O desenvolvimento do funcionamento negativista, como ocorre em grande parte dos
casos de transtornos da personalidade, tem suas origens na infância. A probabilidade do
desenvolvimento desse funcionamento aumenta quando a criança é cuidada por pais que
utilizam métodos contraditórios e paradoxais de aprendizagem, esses pais apresentam um
padrão conflituoso nos relacionamentos, e uma evidente instabilidade parental entre
amor e ódio pela criança.
52
Ao lado disso, o estilo borderline (ambivalente; passivo-ativo) retrata indivíduos
instáveis e excessivamente irritáveis quando sozinhos, em relacionamentos, e com relação a
si próprios (auto-conceito). Também são pessoas freqüentemente impulsivas, que podem
exibir comportamentos auto-destrutivos (como mutilação, uso de drogas, tentativas de
suicídio, entre outros). Essas pessoas, quando deixadas sozinhas, sentem-se extremamente
solitárias e vazias, e costumam exibir um padrão “ama o outro quando está por perto, e
odeia quando está longe”.
A manifestação saudável do estilo borderline é referenciada como estilo inconstante
(Oldham & Morris, 1995). São pessoas que “vivem como em uma montanha-russa”, com
constantes descidas e subidas, sendo o apego aos outros o tema central de seus
relacionamentos. Desejam sempre estar envolvidos em romances, são mais emocionais que
lógicos, demonstram ser criativos e espontâneos, com mentes abertas para novas
experiências.
Os pais de indivíduos que apresentam um funcionamento borderline freqüentemente
temem a separação do filho, ameaçam abandonar o filho frente a comportamentos de
autonomia do mesmo, e reforçam a dependência e punem a independência do filho. O
histórico entre os pais e a criança também pode apresentar abandonos repetidos ou
traumáticos dos pais ao filho, bem como abuso sexual.
Por último, o estilo compulsivo (ambivalente; passivo) refere-se a pessoas
extremamente preocupadas com organização, perfeccionismo e controle, de modo a
evitarem os menores erros ou falhas, pois de outro modo, muita culpa. São indivíduos
muito eficientes, trabalhadores e organizados, que se esforçam para conter um conflito
interno entre obediência total e desacato exagerado. Qualquer erro ou falha fazem com que
experienciem intensa culpa. Os outros os percebem usualmente como extremamente
teimosos, rígidos e inflexíveis.
53
Esse estilo apresenta sua variação saudável no estilo conformista. Trata-se de
pessoas convencionais, que procuram seguir regras e padrões estabelecidos. São adequados,
obedientes, e procuram fazer as tarefas da melhor maneira possível, assim como respeitam
tradições e autoridades, seguindo intimamente os regulamentos. Podem apresentar padrões
rígidos e inflexíveis nos relacionamentos, e são vistos como hábeis e confiáveis.
Os pais de pessoas com um funcionamento compulsivo da personalidade podem
apresentar determinadas características, como: serem muito controladores; esperam pela
perfeição; punem a criança frente transgressões mínimas; não recompensam o filho por
ganhos (e não reforçam afetos); são frios e inflexíveis, exigindo da criança maior
desempenho do que ela é capaz.
2.8 Avaliação da Personalidade e seus Transtornos na Teoria de Millon
Entre as teorias da personalidade freqüentemente citadas na literatura, é provável
que o único modelo teórico que se propõe a integrar teoria, avaliação e intervenção dos
transtornos da personalidade seja o modelo proposto por Millon (Millon & Davis, 1996;
Strack & Millon, 2007). Pela contribuição teórica e prática de seu modelo, para o estudo,
avaliação e intervenção na área da personalidade e seus transtornos, em 2003, Millon
recebeu da American Psychological Association (APA) um prêmio intitulado Award for
Distinguished Professional Contributions to Applied Research”. A proposta teórica de
Millon se enquadra no que é compreendido atualmente como adequado em termos de uma
abordagem completa da personalidade e seus transtornos, isto é, que considere a
personalidade em seus diferentes níveis e dimensões (Loureiro, 2000).
A avaliação do funcionamento da personalidade, patológico ou não, possibilita ao
clínico compreender a função das reações do paciente em interação com o ambiente, bem
como a dinâmica que está subjacente aos comportamentos manifestos do paciente.
54
Especialmente em casos de funcionamento desadaptativo da personalidade, o que pode
caracterizar um transtorno da personalidade, a avaliação desse construto permite que o
clínico explore os conflitos intrapsíquicos do paciente, possibilitando um tratamento mais
adequado para o processo psicoterapêutico (Handler & Meyer, 1997).
Uma avaliação adequada do funcionamento da personalidade deve abranger um
amplo conjunto de variáveis. Avaliar tais variáveis implica estimar o nível de suas
magnitudes por meio de observações e entrevistas, escalas de auto-relato, checklists,
inventários, técnicas projetivas ou testes psicológicos (Urquijo, 2000). As escalas de auto-
relato têm sido um dos meios mais utilizados para avaliação da personalidade, por serem
práticos e rápidos para a aplicação (Millon e cols., 2004; Urbina, 2007). Contudo,
instrumentos de auto-relato que tenham como objetivo a avaliação de transtornos da
personalidade são escassos na literatura nacional (Morana, 2003).
Segundo Millon e cols (1994), desenvolver um instrumento que tenha o objetivo
de desvelar o funcionamento da personalidade, portanto, elementos do passado e presente
de um indivíduo, não é uma tarefa fácil. Para facilitá-la, e até mesmo torná-la possível, é
necessário que se foco para determinadas reações que se manifestam de maneira mais
saliente. Esse delicado processo de redução demanda uma série de decisões com relação a
que informações são mais relevantes para se atingir o objetivo do instrumento. Portanto,
deve ser escolhido um núcleo de fatores que satisfaça critérios mínimos, que possibilitem a
distinção dos elementos característicos de cada transtorno.
Baseado em sua teoria, Millon e colegas desenvolveram um instrumento para
avaliação dos transtornos da personalidade, que é amplamente utilizado no contexto de
pesquisa e clínica no âmbito internacional (Millon & cols., 1994; Millon & cols., 2004). O
instrumento foi chamado inicialmente de Millon-Illinois Self-Report Inventory (MI-SRI) e
começou a ser desenvolvido em 1971 (Retzlaff, 1996). Somente em 1977 após diversas
55
reformulações e adequações, decorrentes do lançamento do DSM-III, o instrumento passou
a ser chamado de Millon Clinical Multiaxial Inventory (MCMI).
Para o desenvolvimento da primeira versão do MCMI (MCMI-I), Millon utilizou a
metodologia de Loevinger, baseada em três estágios de construção e validação de testes
(Craig, 1999; Craig, 2008; Groth-Marnat, 2003; Millon & Davis, 1996). Os três estágios
são: teórico-substantivo (refere-se ao estágio de desenvolvimento dos itens), interno-
estrutural (refere-se ao estágio de verificação da estrutura interna do instrumento), e
externo-critério (refere-se ao estágio de verificação de evidências de validade baseadas em
critérios externos para as escalas do instrumento). No primeiro estágio, teórico-substantivo,
1100 itens foram construídos de acordo com a proposta teórica de Millon e o DSM-III, de
modo que a distribuição desses itens em escalas (de transtornos da personalidade) e as
relações entre si (overlapping) foram teoricamente especificadas. Esses itens deveriam
acessar diferentes domínios estruturais e funcionais dos transtornos da personalidade,
especificados pela teoria de Millon (Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004). A Tabela
4 apresenta os distintos domínios de acordo com os transtornos da personalidade.
Tabela 4. Domínios Funcionais e Estruturais da Personalidade*
* Tabela elaborada de acordo com Millon e Davis (1996)
Categoria Comportamental Categoria Fenomenológica Categoria Intrapsíquica Categoria Biofísica
Transtornos da
Personalidade
Comportamentos
Expressivos
Conduta
interpessoal
Estilos
Cognitivos
Auto-
Imagem
Representações
Objetais
Mecanismos
Regulatórios
Organização
Morfológica
Humor-
Temperamento
Esquizóide
Apático Descompromissado
Empobrecido Complacente Escassa Intelectualização Indiferenciada
Indiferente
Evitativo
Ansioso Aversivo Distraído Alienado Atormentado Fantasia Frágil Angustiado
Depressivo
Inconsolável Indefeso Pessimista Inútil Abandonado Ascese/Abnegado
Esgotada Melancólico
Dependente
Incompetente Submisso Ingênuo Incapacitado Imaturo Introjeção Incipiente Pacífico
Histriônico
Dramático Busca por atenção Frívolo Sociável Superficial Dissociação Desarticulado
Instável
Narcisista
Arrogante Explorador Expansivo Admirável Artificial Racionalização Falsificado Despreocupado
Anti-Social
Impulsivo Irresponsável Depravado Autônomo Humilhado Acting out Incontrolável gido
Sádico
Precipitado Abrasivo Dogmático Combativo Prejudicial Isolação Eruptivo Hostil
Compulsivo
Disciplinado Respeitoso Constringido Consciencioso
Oculto
Formação
Reativa
Repartido Sério
Negativista
Ressentido Contrariado Cético Descontente Vacilante Deslocamento Divergente Irritável
Masoquista
Abstinente Respeitador Hesitante
Não
merecedor
Desgraçado Exagero Invertido Disfórico
Esquizotípico
Excêntrico Escondido Autístico Alienado
Caótico/
Incompatível
Destruição Fragmentado
Confuso ou
Inanimado
Borderline
Irregular Paradóxico Volúvel Incerto Incompatível Regressão Dividido Instável
Paranóide
Defensivo Implicante Suspeitoso Inviolável Inalterável Projeção Inflexível irritável
56
Na seqüência, no estágio 2, interno-estrutural, esses itens foram divididos em duas
metades equivalentes e ambas as formas foram aplicadas em 200 pacientes. Um conjunto
de 289 itens foi mantido de acordo com os índices de intercorrelação e freqüência de
endosso por parte dos pacientes. Os itens com os maiores índices de intercorrelação foram
mantidos, e itens que obtiveram freqüência maior que 85% de endosso ou inferior a 15%
foram eliminados.
Finalmente, no terceiro estágio, externo-critério, o conjunto de 289 itens
(derivados do segundo estágio) foi entregue a 167 clínicos que, em um primeiro momento,
tiveram que agrupar os itens nas diferentes escalas do instrumento, de modo a investigar se
o agrupamento realizado estava de acordo com o esperado. Em seguida, os clínicos
avaliaram 682 pacientes por meio desse conjunto de itens, distribuídos em 20 escalas
distintas. Novamente, de acordo com as intercorrelações das escalas e a freqüência de
endosso dos itens, alguns itens foram eliminados, e o conjunto ficou composto por 154
itens. Alguns refinamentos em relação às escalas do MCMI-I foram realizados e a versão
final do instrumento ficou composta por 175 itens distribuídos em 20 diferentes escalas. Os
dados obtidos no processo de validação do MCMI-I foram utilizados para estabelecer
pontos de corte para as escalas do instrumento, e, porteriormente, para obter dados de um
grupo comparativo (população saudável), o instrumento foi aplicado em 297 sujeitos não-
clínicos.
Além da metodologia de três estágios utilizada para desenvolver o MCMI-I, outro
atributo que caracteriza todas as versões do MCMI é o uso da pontuação Base Rate (BR;
índices de base). O BR é, essencialmente, similar ao familiar escore padronizado T, um
modo de transformação de pontuações brutas em pontuações padronizadas, com maior
capacidade de significado e interpretação. Contudo, diferente dos escores T, o BR é
derivado de porcentagens da população que são diagnosticadas com transtornos particulares
57
(o escore T assume uma distribuição da população “normal”). Por isso, os pontos de corte
para transtornos com maior incidência são mais altos do que os pontos de corte para
transtornos com menores incidências.
Por exemplo, se a incidência de um dado transtorno da personalidade é igual a 7%
na população clínica, então, o ponto de corte estabelecido será no percentil 93% para esse
transtorno. Diferentemente, para um outro transtorno cuja incidência é de 12% na
população clínica, o ponto de corte estabelecido será no percentil 88%. Como a incidência
dos transtornos da personalidade é diferente, a transformação entre as escalas que
mensuram esses transtornos, para os escores BR, é não-linear. Um escore BR igual ou
superior a 85 indica a presença de transtorno; um escore BR igual ou superior a 75 indica
que algumas características patológicas estão presentes; e, um escore de 60 representa a
média para populações psiquiátricas.
No desenvolvimento da segunda versão do MCMI (MCMI-II), foi utilizado o
mesmo procedimento de três estágios (teórico-substantivo, interno-estrutural, e externo-
critério), a partir de uma versão experimental do instrumento, composta por 368 itens. Para
essa nova versão, foram adicionadas duas novas escalas de transtornos (Sádico e
Masoquista) e quatro escalas de validade, bem como um novo sistema de peso para os itens
(de até 2 pontos). O conjunto de itens foram aplicados em 184 pacientes que foram
diagnosticados por meio dos critérios diagsticos do DSM-III-R. os itens foram mantidos
ou excluídos de acordo com a capacidade de diferenciar os pacientes de diferentes grupos.
A versão final do MCMI-II foi composta por 175 itens distribuídas em 26 diferentes
escalas. Em uma tentativa de diminuir a intercorrelação entre as escalas, diferentes itens
receberam pesos distintos, variando entre 1 e 3 pontos, de acordo com a relevância nos
fatores. Os escores BR foram reajustados de acordo com os dados obtidos em 1292
pacientes.
58
Na versão mais atual do MCMI, o MCMI-III, mais de 50% dos itens foram
modificados, as escalas foram diminuídas, e foram adicionadas duas novas escalas de
transtornos (Depressivo e Transtorno de Estresse Pós-Traumático) de acordo com a teoria
de Millon e a última versão do DSM, o DSM-IV-TR (APA, 2003). A versão final do
MCMI-III ficou composta por 175 itens, distribuídos em 28 escalas distintas, e os pesos
dados aos itens passaram de 1 a 3 para 1 ou 2. Os itens com peso igual a 2 são chamados de
itens prototípicos, isto é, mais centrais para aquela escala (transtorno da personalidade), e
os itens com peso igual a 1 são itens mais periféricos, possivelmente encontrados em mais
de uma escala. Mais uma vez foram realizados ajustes nos escores BR por meio dos dados
obtidos por meio de 1079 pacientes clínicos.
Segundo Craig (1999), o MCMI-III tornou-se um importante instrumento de
avaliação, comumente usado por psicólogos clínicos, em diversos países. Trata-se de um
instrumento de auto-relato, cujo objetivo é avaliação e diagnóstico de transtornos da
personalidade (Eixo II do DSM) e possíveis relações com transtornos clínicos do Eixo I do
DSM (Teplin, O'Connell, Daiter & Varenbut, 2004). Atualmente, alguns estudos apontam
também para a eficácia deste instrumento em detectar dissimulação, por meio das escalas
de validade e adaptação, de pacientes ao responder o teste (Schoenberg, Dorr, Morgan e
Burke, 2004). É um inventário auto-aplicável, estruturado a partir de critérios psicométricos
de validade e fidedignidade, composto por 175 itens, e formulado com base no modelo de
Millon, bem como nos critérios diagnósticos do DSM-III, DSM-III-R e DSM-IV-TR
(Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004; Rossi, van den Brande, Tobac, Sloore &
Hauben, 2003).
Os 175 itens do inventário estão distribuídos em 28 escalas (Choca, 2004; Millon,
& cols., 1994). Em um primeiro momento estas escalas podem ser divididas em três grupos
distintos (ver Tabela 4): 24 escalas clínicas, 3 escalas de adaptação, e 1 escala de validade.
59
Em um segundo momento, os três grupos podem ser divididos nas seguintes categorias: 11
escalas de transtornos moderados da personalidade, 3 escalas de transtornos severos da
personalidade, 7 escalas de transtornos clínicos moderados, 3 escalas de transtornos
clínicos severos, 3 escalas de adaptação, e 1 escala de validade. Portanto, pode-se observar
que o MCMI-III é um instrumento para avaliação dos transtornos descritos no Eixo II do
DSM, e também para os transtornos descritos no Eixo I.
As escalas de transtornos moderados e severos da personalidade se referem aos
quatorze protótipos de transtornos da personalidade propostos por Millon; as escalas de
transtornos clínicos moderados e severos se referem aos transtornos descritos no Eixo I do
DSM; as escalas de adaptação são utilizadas como indicativo de tendências nas respostas
dos sujeitos para expressar mais ou menos patologia em relação ao seu verdadeiro
funcionamento; e, a escala de validade visa a verificar se o indivíduo demonstrou mais
dificuldade do que o esperado e/ou pouca motivação e atenção para responder o
instrumento (Millon & cols., 1994).
60
Tabela 5. Escalas do MCMI-III
Escalas Nome
Escalas
Nome
Escalas de Transtornos
Moderados da Personalidade
A Ansiedade
1 Esquizóide H Somatoforme
2
A
Evitativo N Bipolar – Mania
2B Depressivo D Distimia
3 Dependente B Dependência de Álcool
4 Histriônico T Dependência de Drogas
5 Narcisista R Transtorno de Stress Pós-Traumático
6A Anti-Social
Escalas de Transtornos
Clínicos Severos
6B Sádico SS Transtorno do Pensamento
7 Compulsivo CC Depressão Maior
8A Negativista PP Transtorno Delirante
8B Masoquista Escalas de Adaptação
Escalas de Transtornos
Severos da Personalidade
X Manifestação
S Esquizotípico Y Vantagem
C Borderline Z Humilhação
P Paranóide Escala de Validade
Escalas de Transtornos
Clínicos Moderados
V Validade
Na construção e desenvolvimento do MCMI-III, um dos principais objetivos era
manter o número total de itens do instrumento pequeno o bastante para encorajar seu uso no
diagnóstico e avaliação nas diferentes áreas da psicologia e psiquiatria. Ainda assim, o
instrumento deveria estender-se o suficiente para garantir o acesso de uma ampla gama de
comportamentos clinicamente relevantes (Millon &cols., 2004).
Observa-se que as versões do MCMI são instrumentos relativamente breves,
sobretudo quando comparados a instrumentos similares, como o MMPI-2 (Graham, 1993)
que contém 567 itens no total, e possui terminologia adequada para a oitava série (nos
EUA). Como resultado do número relativamente pequeno de itens e a facilidade para sua
61
leitura, muitas pessoas costumam responde-lo em até 35 minutos, o que contribui para a
aderência de profissionais da área clínica para este instrumento (Millon & cols., 1994).
O MCMI-III pode ser utilizado em diversos campos de atuação por psicólogos e
psiquiatras, como em ambulatórios, postos de saúde, centros de saúde mental, programas de
clínica-escola, hospitais gerais e psiquiátricos, tribunais, consultórios particulares, entre
outros. Ainda no que se refere à amplitude de aplicação do MCMI-III, por um lado, ele foi
desenvolvido para avaliação de amostras clínicas, por outro, de acordo com a teoria de
Millon e evidências empíricas acerca do continuum entre o saudável e o patológico na
personalidade, pode-se considerá-lo um instrumento adequado para avaliação da
personalidade em amostras não-clínicas (Choca, 2004; Millon & cols., 1994; Millon &
cols., 2004).
Para a escolha adequada de instrumentos de avaliação psicológica, é essencial que o
profissional atente para os parâmetros psicométricos do instrumento em questão. No que
diz respeito às propriedades psicométricas do MCMI-III, os dados apontam, em geral, para
adequação de suas escalas a partir de estudos de validade e fidedignidade, apesar de
algumas dificuldades do instrumento serem apontadas na literatura (Craig & Olson, 2001;
Haddy, Strack & Choca, 2005; Millon
&
cols., 1994; Mullins-Sweatt & Widiger, 2007).
O manual do MCMI-III (Millon
&
cols., 1994) apresenta alguns estudos que
sugerem uma alta concordância entre as escalas do instrumento e sua versão anterior, o
MCMI-II. O estudo de fidedignidade, também apresentado no manual, realizado com 368
pacientes, verificou a consistência interna (coeficiente alfa) das escalas clínicas do
instrumento, que excedeu 0,80 em pelo menos 20 escalas do teste. Especificamente no que
concerne às escalas de avaliação dos transtornos da personalidade, observou-se que as
escalas Narcisista e Compulsivo apresentaram coeficientes inferiores a 0,70. No mesmo
62
estudo, também foi verificada a fidedignidade por meio do teste-reteste, com 87 pacientes,
cuja re-aplicação do instrumento variou entre 5 e 14 dias. As correlações variaram entre
0,82 e 0,96.
Em um estudo realizado por Mullins-Sweatt e Widiger (2007), verificou-se, entre
outros dados, possíveis relações do MCMI-III e o Millon Inventory Personality Styles
(MIPS) e o NEO Personality Inventory-Revised (NEO PI-R). Os resultados apontam para
possíveis inadequações do instrumento uma vez que grande parte das correlações esperadas
entre os instrumentos não foram encontradas.
Estudos acerca da estrutura fatorial por meio dos itens do MCMI-III são escassos
na literatura. Talvez estudos com essa proposta não sejam freqüentes na literatura uma vez
que a própria construção do MCMI não utiliza o raciocínio da análise fatorial (Craig, 1999).
Foi encontrado um estudo, realizado por Grossman e Del Rio (2005), que teve como
objetivo identificar os domínios da personalidade propostos por Millon (vide Tabela 4),
que, entre outros recursos psicométricos, utilizou-se da análise fatorial. Contudo, o estudo
mencionado realizou diferentes análises fatoriais para cada uma das escalas do MCMI-III
separadas, e não para o instrumento como um todo.
De fato, para a construção das diferentes versões do MCMI (como descritas
anteriormente) o raciocínio subjacente baseou-se na possibilidade de discriminação de
diferentes conjuntos de itens para cada um dos transtornos da personalidade, estabelecidos
de acordo com o quão capazes de prever um dado transtorno era aquele conjunto de itens
(Craig, 1999; Groth-Marnat, 2003; Millon & Davis, 1996). Portanto, o aspecto central na
construção desse instrumento foram as evidências de validade baseadas nas relações com
variáveis externas (como o diagnóstico realizado por clínicos).
Foram encontrados estudos das soluções fatoriais a partir das escalas de
transtornos da personalidade do MCMI-III, cujos principais resultados estão
63
disponibilizados na Tabela 6. Exemplo disso é o estudo realizado por Rossi, Ark e Sloore
(2007), que utilizaram a versão alemã do MCMI-III. Foram participantes desse estudo 1210
pacientes, sendo 61% do sexo masculino. Primeiramente, após a aplicação do instrumento,
foram calculados os índices de fidedignidade (alfa de Cronbach) das escalas da versão
alemã do MCMI-III para a amostra do estudo, que variaram entre 0,88 (Depressivo) e 0,67
(Narcisista) para as escalas de transtornos da personalidade. Na seqüência, os dados da
análise fatorial, com rotação oblimin e análise por fator principal, apontaram para a
retenção de quatro fatores distintos (tanto por meio da análise paralela quanto pelo scree
plot ou somente considerando fatores com eigenvalue igual/superior a 1). O primeiro fator
reuniu as escalas Depressivo, Dependente, Negativista, Masoquista, Esquizotípico e
Borderline; o segundo fator reuniu as escalas Anti-social, Sádico e Compulsivo (carga
negativa); o terceiro fator reuniu a escala Paranóide; e o quarto e último fator as escalas
Histriônico, Narcisista, Esquizóide (carga negativa) e Evitativo (carga negativa). Apesar
dos dados encontrados serem consistentes com resultados encontrados previamente (Millon
& cols. 1994), esses achados não apresentam consistência de acordo com a proposta teórica
de Millon.
Tabela 6. Resultados das Análises Fatoriais de Segunda Ordem com o MCMI-III
Estudos Número de Fatores Distribuição
1- Depressivo, Dependente, Negativista, Masoquista,
Esquizotípico e Borderline
2- Anti-social, Sádico e Compulsivo (carga negativa)
Rossi, Ark e Sloore
(2007)
Três fatores
3- Histriônico, Narcisista, Esquizóide (carga negativa) e
Evitativo (carga negativa)
1- Evitativo, Depressivo, Dependente, Negativista,
Masoquista, Esquizotípico e Borderline
2- Narcisista, Anti-social, Sádico e Paranóide
3- Esquizóide e Histriônico (-)
Dyce, O´Connor, Parkins
e Janzen (1997)
Quatro Fatores
4- Compulsivo
1- Esquizóide, Evitativo, Depressivo, Dependente,
Histriônico (carga negativa), Narcisista (carga negativa),
Compulsivo (carga negativa), Masoquista e Borderline
2- Negativista, Esquizotípico e Paranóide
Craig e Bivens (1998) Três Fatores
3- Anti-social, Sádico, Compulsivo (carga negativa) e
Borderline
64
Em outro estudo, Rossi, Brande, Tobac, Sloore e Hauben (2003), também utilizando
a versão alemã do MCMI-III, entre outros objetivos, buscaram a validade empírica do
instrumento por meio da correlação entre suas escalas. O instrumento foi aplicado em 477
participantes, pacientes psiquiátricos e presidiários. Primeiramente, foi verificado o
coeficiente de fidedignidade (alfa de Cronbach) das escalas para avaliação de transtornos da
personalidade, que variou entre 0,87 (Depressivo) e 0,55 (Narcisista). As correlações
significativas esperadas entre as escalas foram encontradas, contudo, devido ao overlapping
dos itens entre escalas
6
, correlações não esperadas entre algumas escalas foram produzidas
artificialmente. Por um lado, Millon e cols. (1994) argumentam que o overlapping dos itens
reflete reais comorbidades e sintomas compartilhados entre os transtornos da personalidade,
por outro, os autores do estudo questionam a especificidade do MCMI-III. Ainda, os
autores desse estudo ressaltam que a escala compulsiva apresentou as correlações mais
baixas com as outras escalas, o que pode ser conseqüência das características funcionais
(para o cotidiano atual) desse transtorno, como a busca por realizações e perfeccionismo.
Ao lado disso, Dyce, O´Connor, Parkins e Janzen (1997) buscaram verificar a
estrutura correlacional do MCMI-III. Participaram desse 614 universitários, que
responderam as escalas do MCMI-III para avaliação dos transtornos da personalidade. Foi
utilizada a análise fatorial, com rotação varimax, e analisadas soluções de 2, 3 e 4 fatores.
Os resultados encontrados apontam para uma complexidade na manifestação dos
transtornos da personalidade, sendo que a solução de 4 fatores pareceu ser a mais adequada
de acordo com a teoria. O primeiro fator foi formado pelas escalas Evitativo, Depressivo,
Dependente, Negativista, Masoquista, Esquizotípico e Borderline; o segundo fator pelas
escalas Narcisista, Anti-social, Sádico e Paranóide; o terceiro fator pelas escalas Esquizóide
6
O overlapping dos itens significa que alguns itens são considerados em mais de uma escala.
65
e Histriônico (carga negativa); e, o quarto fator pela escala Compulsivo. Por um lado, os
dados apontam para uma persistência da estrutura fatorial encontrada nas diferentes
soluções (2, 3 e 4), por outro, ressalta-se mais uma vez a incompatibilidade dos dados
encontrados com a proposta teórica de Millon. Cabe ressaltar que algumas escalas tenderam
a ser redundantes (correlação significativa e alta) – depressivo, dependente e masoquista.
Também visando verificar a estrutura do MCMI-III, Craig e Bivens (1998)
aplicaram o instrumento em 440 norte-americanos afro-descentes. A análise fatorial das
escalas foi realizada, com rotação varimax, e o scree plot indicou uma solução de 3 fatores
para as 24 escalas do instrumento. No que concerne especificamente às escalas para
avaliação dos transtornos da personalidade, o primeiro fator agrupou as escalas esquizóide,
evitativo, depressivo, dependente, histriônico (carga negativa), narcisista (carga negativa),
compulsivo (carga negativa), masoquista e borderline; o segundo fator consistiu nas escalas
negativista, esquizotípico e paranóide; e, o terceiro e último fator agrupou as escalas anti-
social, sádico, compulsivo (carga negativa) e borderline. Os autores ressaltam o resultado
recorrente de um fator que agrupe escalas com itens caracterizados por traços anti-sociais,
de grandiosidade e impulsividade.
Por um lado, a literatura aponta para propriedades psicométricas adequadas do
MCMI-III, tanto para fidedignidade quanto em relação às evidências de validade. Por outro,
algumas inadequações também são apontadas, como por exemplo, a persistência de baixos
índices de fidedignidade da escala Narcisista, baixa sensibilidade do instrumento para
diferenciar diferentes diagnósticos de transtornos da personalidade, ausência de estudos
verificando a estrutura fatorial do instrumento, e inconsistências correlacionais entre o
MCMI-III e outros instrumentos. É possível que algumas das inadequações do instrumento
reflitam a complexidade da avaliação dos transtornos da personalidade, bem como a
complexidade da teoria de Millon (Craig, 1999; Strack & Millon, 2007).
66
2.9 Delimitação da Pesquisa e Objetivo
O uso e desenvolvimento de testes com propriedades psicométricas adequadas e, de
um modo geral, a avaliação psicológica no Brasil, quando comparada com outros países,
mostra-se pouco animadora (Noronha, Primi & Alchieri, 2005). No que se refere
especificamente a avaliação psicológica de transtornos da personalidade, estudos realizados
no país são escassos (Morana, 2003), incluindo estudos para elaboração e validação de
instrumentos com base em teorias que tenham sua legitimidade científica comprovada
empiricamente.
A elaboração de um instrumento que avalie as diversas possibilidades de
funcionamento patológico da personalidade possibilita uma avaliação adequada dos
transtornos da personalidade e um planejamento mais efetivo para intervenções
psicológicas (Loureiro, 2000). Del Porto (1999, p. 11), em uma revisão acerca do conceito
e diagnóstico da depressão frente a outros transtornos psiquiátricos, ressalta que “A
distinção entre um transtorno psiquiátrico propriamente dito (eixo I do DSM-IV) frente aos
transtornos da personalidade (eixo II) reveste-se da maior importância, por suas
conseqüências práticas e teóricas”.
No Brasil são encontrados distintos instrumentos, validados para avaliação de
transtornos do Eixo I descritos no DSM-IV-TR (APA, 2003). Exemplos de instrumentos
para avaliação de transtornos do Eixo I comumente utilizados em pesquisa e na clínica são
os Inventários de Depressão e de Ansiedade de Beck (BDI e BAI, respectivamente)
(Cunha, 2001). Contudo, em uma revisão da literatura nacional, foi encontrado apenas um
instrumento, o Psychopathy Checklist Revised (PCL-R) (Morana, 2003), validado para
população brasileira, que tem como objetivo avaliar um dos transtornos da personalidade
descritos no DSM-IV-TR (APA, 2003), o transtorno anti-social da personalidade. Esse
67
instrumento é um exemplo relevante para se observar a importância dos resultados que
podem ser obtidos com instrumentos para avaliação dos transtornos da personalidade, uma
vez que o PCL-R possibilita a predição e prevenção da reincidência criminal.
A proposta teórica de Millon configura-se como um dos modelos para avaliação dos
transtornos da personalidade mais empiricamente testados e citados na literatura (Craig,
1999; Davis, 1999). Os dados que conferem legitimidade para a teoria de transtornos da
personalidade de Millon derivam do MCMI-III, que apesar de serem satisfatórios em
muitos estudos, também apresentam algumas limitações que não devem ser descartadas
(citadas anteriormente). Dada a importância da avaliação dos transtornos da personalidade,
e a escassez de instrumentos construídos para população brasileira, que se proponham
avaliar esses transtornos, o presente estudo teve como objetivo a construção e validação de
um instrumento, com base na teoria de Millon, para avaliação de transtornos da
personalidade. Cabe ressaltar que optou-se pelo desenvolvimento de um instrumento, e não
pela tradução e adaptação cultural do MCMI-III, de acordo com as seguintes considerações:
limitações evidenciadas na literatura em relação aos dados encontrados com o uso desse
instrumento (Mullins-Sweatt & Widiger, 2007; Strack & Millon, 2007); a abrangência do
MCMI-III, seja ela, avaliação dos transtornos do Eixo I e II do DSM; e, apesar de ser um
instrumento breve em relação a outros encontrados na literatura, trata-se de um instrumento
relativamente longo para aplicações no âmbito clínico.
68
3. MÉTODO
Visando facilitar a leitura do texto, este tópico será subdividido em duas etapas
distintas. São elas: Etapa I, construção do instrumento para avaliação dos transtornos da
personalidade; e, Etapa II, busca por evidências de validade baseadas na estrutura interna,
assim como a fidedignidade das escalas do instrumento, e evidências de validade baseadas
nas relações com variáveis externas.
3.1 Etapa I – Construção do Instrumento
3.1.1 Procedimentos
Na etapa inicial, o objetivo foi desenvolver um instrumento capaz de acessar os
quatorze protótipos de transtornos da personalidade propostos por Millon (Millon & cols.,
2004). Segundo Günther (1999), para o desenvolvimento de instrumentos psicológicos, os
construtos teóricos (abstratos) devem viabilizar a passagem do termo abstrato para o
concreto, por meio de definições operacionais, resultando na obtenção dos itens do
instrumento.
Por isso, primeiramente, definiu-se claramente os construtos a serem mensurados,
sejam eles, os transtornos da personalidade esquizóide, evitativo, depressivo, dependente,
histriônico, narcisista, anti-social, sádico, compulsivo, negativista, masoquista, paranóide,
esquizotípico e borderline. Na Tabela 7 são encontradas as definições utilizadas para o
desenvolvimento dos itens do instrumento. Cabe ressaltar que também objetivou-se o
desenvolvimento de itens para uma escala de validade e desejabilidade social, cujo objetivo
é verificar se os respondentes do teste estão minimamente motivados à respondê-lo, bem
como verificar níveis de desejabilidade social elevados. Segundo Ribas Jr., Moura e Hutz
69
(2004, p. 84), a desejabilidade social é compreendida como “uma propensão por parte de
participantes de pesquisas psicológicas a responderem de forma tendenciosa a perguntas
apresentadas”. E, segundo Millon e cols. (1994), os itens de uma escala de validade devem
testar a motivação e interesse do respondente para responder o instrumento.
Tabela 7. Definições utilizadas para a construção dos itens do instrumento
Construto Escala Definição
Transtorno da personalidade
esquizóide
Escala Esquizóide
Ausência de necessidade de se relacionar; não têm ganhos
com os relacionamentos; passam desapercebidos; são vistos
como emocionalmente desapegados, distantes, introvertidos,
despreocupados e indiferentes; são caracterizados como
indivíduos que se guardam para si.
Transtorno da personalidade
evitativo
Escala Evitativo
Inibição social e sentimento de inadequação com
sensibilidade exagerada à possibilidade de críticas,
desaprovação e humilhação; são sensíveis à humilhação e
desaprovação social; engajam-se em pouquíssimas relações
interpessoais; têm poucos amigos íntimos; freqüentemente
estabelecem vínculos apenas com familiares; desejam as
relações sociais, e sofrem com a solidão e isolamento; se
perceberem como vulneráveis a humilhações sociais, assim
como incompetentes e estúpidos perante os outros.
Transtorno da personalidade
depressivo
Escala Depressivo
Humor triste, com freqüentes auto-críticas, se culpabiliza, e
se vê como inadequado e inútil; sentem-se tristes e culpados;
submergem em auto-críticas pelos menores defeitos e
tendem a se culpar quando as coisas não dão certo;
freqüentemente desejam que a vida seja diferente, ainda
assim, não tomam qualquer tipo de iniciativa para
mudanças; se repreendem por perderem oportunidades;
sentem-se fracos para mudar o destino.
Transtorno da personalidade
dependente
Escala Dependente
Submissão e aderência ao outro, devido a uma necessidade
excessiva de proteção e cuidados, de modo a se preocupar
demasiadamente em errar e decepcionar os outros;
preocupam-se em assegurar suprimentos de cuidado
constante do ambiente; o bem-estar do outro sempre vem
primeiro; vivem suas vidas por meio dos e para os outros;
70
possuem um papel mais passivo nos relacionamentos,
submetendo-se à opinião e desejos daqueles que amam.
Transtorno da personalidade
histriônico
Escala Histriônico
Sentimento de desamparo e necessidade de fazer dos outros
o centro de suas vidas, de modo a chamar excessivamente a
atenção dos outros; são tipicamente dramáticos e
freqüentemente sedutores; são constantemente exagerados e
atuantes; extremamente influenciáveis, sobretudo visando a
interação com aqueles que almejam.
Transtorno da personalidade
narcisista
Escala Narcisista
Superioridade, de modo a portar uma arrogância inviolável,
grandiosidade, necessidade por admiração e falta de
empatia; indivíduos que se vêem como superiores,
portadores de uma arrogância inviolável; se perdem em suas
fantasias auto-fabricadas de poder divino, riquezas
inacabáveis, gênio intelectual, ou inigualável celebridade;
percebem-se como melhores que os outros e julgam as
pessoas com desprezo e superioridade.
Transtorno da personalidade
anti-social
Escala Anti-Social
Inconseqüência, exibindo desconsideração e violação dos
direitos alheios e de regras e leis sociais; podem cometer
atos que violam as leis; têm pouca consciência da magnitude
de seus atos; se vêem como independentes; é visto como
impulsivo, irresponsável, depravado e incontrolável.
Transtorno da personalidade
sádico
Escala Sádico
Busca causar sofrimento nos outros e obtém prazer a partir
disso, portanto, um desejo de causar dor psicológica e/ou
física nos outros; são indivíduos que provocam sofrimentos
gratuitos nas pessoas ao redor.
Transtorno da personalidade
compulsivo
Escala Compulsivo
Preocupação com organização, perfeccionismo e controle,
de modo a evitar os menores erros ou falhas, para que não
haja culpa; são muito eficientes, trabalhadores, organizados
e ordenados, e se esforçam para conter o conflito entre
obediência e desacato; tentam fazer tudo com perfeição para
evitar os menores erros ou falhas, que podem deixá-los
intensamente culpados; colocam padrões altos e irrealistas
para si e para os outros; são vistos como extremamente
teimosos, rígidos e inflexíveis.
Transtorno da personalidade
Negativista
Escala Negativista
Insegurança frente às mudanças o aceita controle externo
e são contrários aos outros, exibindo ambivalência
constante, assim como teimosia, irritabilidade, e
contrariedade; sentem-se inseguros para qualquer tipo de
mudança em suas vidas; são ambivalentes, vacilam entre
sentimentos desconfortáveis de dependência e um
71
sentimentos desconfortáveis de dependência e um
igualmente desconfortável desejo de auto-afirmação;
caracterizam-se pela teimosia, por não serem cooperativos,
por serem contrários aos outros, minuciosos, aborrecidos e
pessimistas; tendem a desencorajar as pessoas ao redor.
Transtorno da personalidade
masoquista
Escala Masoquista
Busca por obstáculos na própria vida, de modo a procurar
por sofrimento e necessitando falhar; possuem um senso de
auto-destruição, e freqüentemente clamam por dificuldades
em suas vidas, assim como por perdas, frustrações e
tristezas; quando experienciam bons momentos, reagem com
confusão e até mesmo desprazer; paradoxalmente, podem
ajudar outros com seus ganhos e, então, subitamente arruinar
seus próprios objetivos.
Transtorno da personalidade
Paranóide
Escala Paranóide
Questionamentos sobre tudo que é dito, com desconfiança e
suspeitas, de modo que as intenções dos outros são
interpretadas como maldosas; temem que os outros lhe
tomem vantagem, e não hesitam em demonstrar esse temor.–
desconfiam até mesmo de suas famílias e pessoas íntimas;
consideram tudo como um “cavalo de Tróia”; procuram por
informações que corroborem suas suspeitas.
Transtorno da personalidade
esquizotípico
Escala
Esquizotípico
Excentricidade, estranheza e mistério, de modo a sentir um
desconforto agudo em relacionamentos íntimos, assim como
exibe distorções cognitivas ou da percepção e
comportamentos excêntricos; são excessivamente ansiosos
frente os outros, se mantêm separados e isolados, mesmo de
quem os conhece há mais tempo; são sugados por estímulos
de seu próprio mundo interno; podem ter crenças esquisitas
não comprovadas cientificamente.
Transtorno da personalidade
Borderline
Escala Borderline
Instabilidade e irritabilidade quando sozinhos, bem como
instabilidade e impulsividade nos relacionamentos
interpessoais, auto-imagem e afetos; vivem baixos e altos
emocionais; apresentam intensa necessidade interpessoal;
quando deixados sozinhos, sentem-se extremamente
solitários e vazios; seus relacionamentos amorosos o
tipicamente tempestuosos e intensos; apresentam
comportamentos auto-destrutivos (mutilação, drogas,
suicídio, etc.).
72
Para elaboração dos itens recorreu-se, basicamente, aos conceitos dos transtornos
da personalidade descritos no DSM-IV-TR, à literatura específica da proposta teórica de
Millon, e a outras referências que contribuíram para o entendimento dos transtornos da
personalidade (APA, 2003; Beck, Freeman & Davis, 2005; Caballo, 2007; Carlat, 2006;
Millon, 1986a; Millon & cols. 1994; Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004).
Ressalta-se que, especificamente em relação à formulação dos itens, alguns critérios
foram seguidos (Pasquali, 1998; 1999): critério comportamental (item deve expressar um
comportamento), critério de desejabilidade (item deve abordar comportamentos
característicos para cada construto), critério da simplicidade (item deve expressar uma
única idéia), critério da clareza (item deve ser inteligível para a população-alvo), critério da
relevância (item deve ser consistente com o traço definido), critério da tipicidade (item
deve condizer com o atributo), e critério da credibilidade (item deve ser formulado de
maneira apropriada para a população-alvo).
Ao lado disso, dois critérios guiaram a construção do instrumento como um todo
(Pasquali, 1998; 1999): critério do equilíbrio, que aponta para a importância do conjunto de
itens cobrir proporcionalmente todos os seguimentos do contínuo; e, o critério de
amplitude, que diz respeito à importância do conjunto de itens em cobrir toda a extensão de
magnitude do continuum do construto pretendido.
Em um primeiro momento, foram desenvolvidos 196 itens para avaliar os quatroze
transtornos da personalidade de acordo com a teoria de Millon e os conceitos
operacionalizados (Tabela 7). Foram selecionados 42 itens (3 itens para avaliação de cada
transtorno) entendidos como aqueles mais representativos do funcionamento-chave de cada
transtorno da personalidade . Na seqüência, foram selecionados mais 2 itens para cada uma
das 14 escalas, que deveriam acessar características menos centrais dos transtornos,
73
portanto mais periféricas, possivelmente mais passíveis de overlapping entre escalas,
resultando em um total de 70 itens.
Alguns refinamentos e revisões, por parte dos pesquisadores, foram realizados ao
instrumento e sua versão final ficou composta por 92 itens para avaliação dos transtornos
da personalidade mais 8 itens que representavam a Escala de Validade e Desejabilidade
Social (Escala XV). Vale a pena ressaltar que os itens da Escala XV são provenientes de
uma seleção de 14 itens elaborados para representar essa escala. Os 100 itens foram
distribuídos nas 15 escalas da seguinte maneira: Escala Esquizóide (7 itens), Escala
Evitativo (7 itens), Escala Depressivo (7 itens), Escala Dependente (6 itens), Escala
Histriônico (6 itens), Escala Narcisista (6 itens), Escala Anti-social (6 itens), Escala Sádico
(6 itens), Escala Compulsivo (6 itens), Escala Negativista (7 itens), Escala Masoquista (7
itens), Escala Paranóide (7 itens), Escala Esquizotípico (7 itens), Escala Borderline (7
itens), e Escala de Validade e Desejabilidade Social/ Escala XV (8 itens).
Os 100 itens foram ordenados de forma randômica para a versão final do
instrumento, contudo, tomou-se o cuidado de que os primeiros itens a serem respondidos
não fossem aqueles itens cuja avaliação dos respondentes poderia ser comprometida de
alguma maneira (como “Já pensei em me suicidar.” ou “Em situações ruins eu me feri
propositalmente.”). Assim, para os itens iniciais, foram selecionados aqueles avaliados
pelos pesquisadores como “neutros” ou “positivos”, como “Gosto de usar roupas que
chamam atenção.” e “Eu me considero uma pessoa muito especial.”.
As respostas aos itens do instrumento, nomeado de Inventário Dimensional de
Transtornos da Personalidade (IDTP), foram disponibilizadas em uma escala Likert de 4
pontos, variando entre Não me descreve” (1) e Me descreve extremamente ou
totalmente” (4). No cabeçalho do instrumento são requeridas as seguintes informações do
respondente: inicias do nome, data de nascimento, e-mail, sexo, a realização de tratamentos
74
psiquiátrico e psicológico, bem como o tempo de realização, e uso e tempo de medicação
psiquiátrica. Entre o cabeçalho e os itens do IDTP, foram redigidas as instruções para
responder o instrumento, juntamente com um exemplo de como o respondente deve
proceder ao responder os itens do instrumento.
Por último, para investigação de possíveis erros na digitação ou gramaticais e
sintáticas dos itens, cabeçalho e instruções do IDTP, o instrumento foi aplicado em 30
participantes, todos com idade superior a 18 anos e graduandos do curso de Psicologia de
uma universidade da cidade de São Paulo. Instruiu-se os participantes para que, além de
responderem o instrumento, buscassem e apontassem possíveis dificuldades no processo de
resposta e entendimento acerca do IDTP. Nenhum dos participantes relatou dificuldades
para responder o instrumento. Por isso, finalizada esta etapa, deu-se início para a Etapa II
da pesquisa.
3.2 Etapa II - Evidências de Validade Baseadas na Estrutura Interna; Fidedignidade
das Escalas do Instrumento; e, Evidências de Validade Baseadas nas Relações com
Variáveis Externas
3.2.1 Participantes
Para esta etapa do estudo utilizou-se uma amostra de conveniência, de modo que
foram recrutados 350 participantes, cujas idades variaram entre 18 e 67 anos (M=27,02;
DP=10,13), sendo 71,7% (N=251) do sexo feminino. Dos 350 participantes, 290 eram
universitários dos cursos de Psicologia (N=158), Arquitetura (N=68), e Administração
(N=64) de uma cidade do interior de São Paulo. Os outros 60 participantes eram pacientes
psiquiátricos de uma clínica de uma cidade do interior de São Paulo. Os participantes foram
divididos em dois grupos: Grupo Não Psiquiátrico (GNP) e Grupo Psiquiátrico (GPS), de
75
acordo com a análise das variáveis “fazer tratamento psiquiátrico” e tomar remédio
psiquiátrico”. Os participantes que responderam afirmativamente para ambas as variáveis,
isto é, responderam estar em atendimento psiquiátrico atualmente e usar algum tipo de
medicação psiquiátrica, foram colocados no GPS (N = 74). Diferentemente, os participantes
que responderam não estar em atendimento psiquiátrico ou não fazer uso de remédio
psiquiátrico quando participaram da pesquisa, foram colocados no GNP (N = 276).
Dos 74 participantes que compuseram o GPS, 56 tiveram o diagnóstico psiquiátrico
conhecido, fornecido pelo psiquiatra, de acordo com a CID-10 (OMS, 2003). Uma vez que
os instrumentos utilizados neste estudo tomam por base as nomenclaturas de acordo com o
DSM-IV-TR (APA, 2003), os códigos da CID-10 foram transformados para as
classificações propostas pelo DSM-IV-TR. Os pacientes com diagnóstico psiquiátrico
foram agrupados da seguinte maneira (de acordo com os diagnósticos estabelecidos; Anexo
A): grupo com diagnóstico de transtornos do espectro depressivo (16 participantes), grupo
com diagnóstico de transtornos do espectro ansioso (9 participantes), grupo com
diagnóstico de transtornos do espectro esquizo (19 participantes), e grupo com outros
diagnósticos (16 participantes). Optou-se por esse agrupamento uma vez que o número de
pacientes por diagnóstico isolado foi muito pequeno.
3.2.2 Instrumentos
De acordo com os objetivos deste estudo, foram aplicados dois instrumentos
distintos: o Inventário Dimensional dos Transtornos da Personalidade (IDTP), desenvolvido
na Etapa I, e uma versão traduzida e adaptada culturalmente do Millon Clinical Multiaxial
Inventory III (Boucinhas, Cysneiros, Rocha & Alchieri, 2006). O IDTP foi o instrumento
alvo deste estudo, por isso sua versão final foi previamente descrita.
76
O IDTP é um instrumento para avaliação dos transtornos da personalidade de
acordo com a teoria de Millon. Trata-se de um inventário composto por 100 itens,
distribuídos em 15 escalas distintas: Escala Esquizóide, Escala Evitativo, Escala
Depressivo, Escala Dependente, Escala Histriônico, Escala Narcisista, Escala Anti-social,
Escala Sádico, Escala Compulsivo, Escala Negativista, Escala Masoquista, Escala
Paranóide, Escala Esquizotípico, Escala Borderline, e Escala de Validade e Desejabilidade
Social/ Escala XV. O tempo estimado para sua aplicação é de aproximadamente 20
minutos.
O MCMI-III foi desenvolvido por Millon e cols. (1994) e adaptado para o Brasil por
Boucinhas e cols. (2006), e é um inventário de auto-relato e fácil administração. Trata-se de
um instrumento para avaliação dos transtornos da personalidade, baseado no modelo
teórico de Millon. É composto por 175 itens distribuídos em 28 escalas, sendo 24 escalas
clínicas, 3 escalas de adaptação, e 1 escala de validade. As 24 escalas clínicas se referem
aos quatorze protótipos de transtornos da personalidade propostos por Millon e aos
transtornos do Eixo I. As escalas de adaptação são utilizadas como indicativo de tendências
nas respostas dos sujeitos para expressar mais ou menos patologia em relação ao seu
verdadeiro funcionamento. E, por fim, a escala de validade visa a verificar se o indivíduo
demonstrou mais dificuldade do que o esperado e/ou pouca motivação e atenção para
responder o instrumento.
No que diz respeito às propriedades psicométricas do MCMI-III, os dados apontam
para evidências satisfatórias de validade e fidedignidade de suas escalas (Craig, 2001;
Haddy, Strack & Choca, 2005; Millon & cols., 1994). O manual do MCMI-III (Millon &
cols.) apresenta alguns estudos com o instrumento, que sugerem uma alta concordância
entre as escalas deste instrumento e sua versão anterior, o MCMI-II. O estudo de
fidedignidade, também apresentado no manual do instrumento, realizado com 368
77
pacientes, verificou a consistência interna (coeficiente alfa) das escalas clínicas do
instrumento, que excedeu 0,80 em pelo menos 20 escalas do teste. Do mesmo modo, foi
verificada a fidedignidade a partir do teste-reteste, com 87 pacientes, para todas as escalas,
cuja re-aplicação do instrumento variou entre 5 e 14 dias. As correlações variaram de 0,82 à
0,96, com média 0,91.
Observa-se que o MCMI-III é um instrumento breve (175 itens) quando comparado
com instrumentos similares, como o MMPI-2 que contém 567 itens no total. Como
resultado do número relativamente pequeno de itens e a facilidade para sua leitura, muitas
pessoas costumam respondê-lo em menos de 30 minutos, o que contribui para a aderência
dos profissionais para este instrumento (Millon & cols., 2004).
3.2.3 Procedimentos
Os instrumentos foram aplicados em ambos grupos de participantes, Grupo Não
Psiquiátrico (GNP) e Grupo Psiquiátrico (GPS). Para todos os participantes da pesquisa foi
entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE; Anexo B), que
apresentava o objetivo principal deste estudo, bem como informava os participantes acerca
da divulgação dos resultados, de acordo com as normas éticas. Assim, somente após
concordar e assinar o TCLE, os participantes foram habilitados a participar deste estudo.
No momento da aplicação dos instrumentos cuidou-se para que o pesquisador
sempre estivesse presente, possibilitando que possíveis vidas dos participantes fossem
esclarecidas. Os participantes foram convidados a participar da pesquisa em salas de aula
de uma universidade particular e em uma clínica psiquiátrica, ambas de uma cidade do
interior de São Paulo. As aplicações se deram nas salas de aula de diferentes cursos
78
universitários e na sala de espera da clínica psiquiátrica, e em ambos os casos a aplicação
foi coletiva.
Por um lado, não foram encontrados maiores obstáculos na aplicação da pesquisa
em universitários, de modo que a aplicação foi coletiva e as instruções contidas no
instrumento pareceram ser suficientes para o entendimento dos respondentes. Por outro
lado, o mesmo não pode ser dito em relação à aplicação dos instrumentos nos pacientes
psiquiátricos, uma vez que esses apresentaram dificuldades importantes na leitura das
instruções do instrumento, bem como de seus itens. Dada essas dificuldades, a aplicação
dos instrumentos nos pacientes psiquiátricos foi mais lenta e dificultosa (aplicação
assistida), demandando do pesquisador maior disponibilidade aos respondentes.
3.2.4 Análise dos Dados
Primeiramente, para verificar a estrutura interna do IDTP, foram realizadas análises
fatoriais exploratórias, análise fatorial de segunda ordem para os fatores primários
encontrados, e foram investigadas as correlações entre as escalas do instrumento. Foram
calculados os coeficientes alfa de Cronbach, visando verificar a fidedignidade dos fatores
formados. Na seqüência, por meio da Teoria de Resposta ao Item (TRI), foram verificados
parâmetros tanto do instrumento quanto dos respondentes. Então, para verificar evidências
de validade baseadas nas relações com variáveis externas, realizou-se correlações entre as
escalas dos instrumentos aplicados, análises de perfis por medidas repetidas para diferentes
variáveis; e o procedimento Curva ROC.
79
4. RESULTADOS
A seguir são descritos os resultados encontrados de acordo com as análises
realizadas. Os resultados estão dispostos na seguinte seqüência: análises referentes a
evidências de validade baseadas na estrutura interna, fidedignidade das escalas do
instrumento, e evidências de validade baseadas nas relações com variáveis externas. Em um
primeiro momento, foram realizadas análises fatoriais com os itens do instrumento, e, uma
vez encontrada a solução fatorial mais adequada, foram verificadas possíveis correlações
entre as escalas do IDTP. Na seqüência, verificou-se a formação de fatores de segunda
ordem, por meio das escalas do instrumento. Também foram realizadas análises estatísticas
à luz da Teoria de Resposta ao Item (TRI), tanto para cada escala do IDTP como para o
instrumento como um todo. Visando a verificar evidências de validade baseadas nas
relações com variáveis externas, foram realizadas correlações entre as escalas do IDTP e do
MCMI-III, bem como análises de perfis por medidas repetidas (com as variáveis “grupos de
participantes”, “grupos diagsticos”, e “gênero”) e a análise da curva ROC.
4.1 Evidências de Validade Baseadas na Estrutura Interna; Fidedignidade das
Escalas do Instrumento; e, Evidências de Validade Baseadas nas Relações com
Variáveis Externas
4.1.1 Estrutura Interna e Fidedignidade
Com o objetivo de identificar os fatores do IDTP, em 92 dos 100 itens (já que os 8
itens da Escala XV não foram inclusos nessa análise
7
), as pontuações dos participantes
foram submetidas a uma análise fatorial exploratória. Para verificação da adequação da
80
amostra à análise fatorial, foi empregada a medida de adequação da amostra de Kaiser-
Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esfericidade de Bartllet. O KMO foi de 0,89, indicando
uma boa adequação dos dados à análise fatorial, e o teste de esfericidade de Bartlett foi
significativo ao nível de 0,001 (χ
2
= 15500,986; gl= 4095), mostrando que houve
correlações suficientes entre as variáveis para o emprego da análise fatorial.
Em seguida, foi realizada uma análise fatorial exploratória, com extração dos fatores
por análise dos componentes principais e rotação varimax
8
. Foram incluídos apenas itens
que apresentaram carga fatorial igual ou superior a 0,3. Com base nesses resultados foram
calculadas as pontuações dos participantes nos fatores obtidos e as estatísticas descritivas
de cada fator.
Figura 2. Scree Plot – Análise Fatorial Exploratória do IDTP
Observa-se, por meio da Figura 2, que a solução fatorial mais adequada parece ser a
composta por 5 fatores. Como pode ser verificado na Tabela 8, foram obtidos 23 fatores
7
Os itens da Escala XV não foram inclusos na análise fatorial uma vez que esses itens não compartilham do
embasamento teórico dos outros itens do instrumento.
81
com eigenvalues acima de 1, capazes de explicar 66,08% da variância total, sendo que o
primeiro fator explicou 22,6% da variância total. Na mesma tabela também são
apresentadas as cargas fatoriais e os índices de fidedignidade (coeficiente alfa de Cronbach)
de cada fator.
Tabela 8. Fatores obtidos na Análise Fatorial Exploratória, eigenvalues e coeficientes alfa
Itens 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
49(DPS) ,725
18(DPS) ,666 ,312
80(DPS) ,655 ,356
06(DPS) ,635
46(BDL) ,574
99(EQT) ,549
73(MSQ) ,508
34(DPS) ,442 ,415
92(BDL) ,420 ,350 ,328
89(MSQ) ,407 ,354
15(BDL) ,401 ,333
16(EQZ) ,704
01(EQZ) ,627
62(EQZ) ,620
31(EQZ) ,619
76(EQT) ,565 ,321
93(EQZ) ,551
63(EVT) ,521 -,328
95(DPS) ,380 ,460 ,304
78(EQZ) ,395 ,333
05(EVT) ,326
79(EVT) ,320
51(HST) ,654
61(BDL) ,611
48(EVT) ,596
37(NCS) ,569
52(NCS) ,497
17(EVT) ,436
77(BDL) ,426
59(PRN) ,673
28(PRN) ,634
43(PRN) ,593
90(PRN) ,564
13(PRN) ,468 ,432
26(NGT) ,382 ,324 ,325 ,358
09(SDC) ,755
54(SDC) ,743
70(SDC) ,609
67(HST) ,496 ,339
21(NCS) ,311 ,383
25(CPS) ,792
04(CPS) ,713
71(CPS) ,687
56(CPS) ,674
40(CPS) ,591
97(MSQ) ,675
96(NGT) ,596
32(EVT) ,335 ,492 ,300
98(PRN) ,351 ,492
81(DPT) ,435
38(ATS) ,802
84(ATS) ,802
69(ATS) ,401 ,428
85(SDC) ,404
83(NCS) ,377 ,336
07(DPT) ,687
19(DPT) ,569
35(DPT) ,401 ,566
50(DPT) ,382 ,472
47(EQZ)
82(HST) ,728
8
Foram verificadas se as correlações entre os fatores justificavam o uso de uma rotação oblíqua. Contudo, as
correlações foram baixas, por isso, procedeu-se à rotação varimax (ortogonal).
82
02(HST) ,691
68(NCS) ,519
64(DPS) ,652
88(NGT) ,349 ,566
57(NGT) ,351 ,370
94(EVT) ,336
45(EQT) ,715
29(EQT) ,324 ,525
14(EQT) ,662
60(EQT) ,433 ,441
91(EQT) ,339 ,421 ,362
72(NGT) ,324 ,395
20(HST) ,781
36(HST) -,410 ,512
03(NCS) ,323 ,421 ,392
58(MSQ) ,667
41(NGT) ,445
27(MSQ) ,328 ,329
10(NGT) ,645
24(SDC) ,432 ,530
08(ATS) ,724
23(ATS) ,395 ,484
39(SDC) ,649
100(BDL) ,728
30(BDL) ,332 ,425
42(MSQ) ,795
86(CPS) ,759
12(MSQ) ,566
74(PRN) ,360 -,417
53(ATS) ,435 ,448
Eigenvalue
20,63
5,68 3,74 3,05 2,17
2,05 1,96 1,69 1,67 1,62 1,58
1,43 1,33 1,30 1,27 1,24 1,17
1,13 1,12 1,11 1,06 1,04 1,00
Coeficiente
Alfa
0,89 0,86 0,79 0,77 0,76 0,77 0,80 0,73 0,68 0,69 0,73 0,71 0,69 0,60 0,54 0,54 0,43 0,35 0,62 0,45 0,41 0,02 0,39
Por meio da Tabela 8, pode-se observar que a carga fatorial dos itens variou entre
0,802 e 0,300 entre o primeiro e o vigésimo terceiro fator, o eigenvalue entre 20,63
(primeiro fator) e 1,0 (vigésimo terceiro fator), e o coeficiente alfa entre 0,89 (primeiro
fator) e 0,02 (vigésimo segundo fator). Na seqüência, foi realizada a análise de conteúdo
dos itens de cada um dos 23 fatores, e investigou-se se os fatores eram interpretáveis, isto é,
se recuperavam as escalas teoricamente esperadas.
Dos 23 fatores obtidos na análise fatorial, verificou-se que os 15 primeiros fatores
foram interpretáveis. Esses fatores se referem aos seguintes estilos da personalidade:
depressivo (fator 1); esquizóide (fator 2); borderline (fator 3); paranóide (fator 4); sádico
(fator 5); compulsivo (fator 6); masoquista (fator 7); anti-social (fator 8); dependente (fator
9); histriônico (fator 10); negativista (fator 11); esquizotípico (fator 12); esquizotípico
(fator 13); histriônico (fator 14); e, masoquista (fator 15).
Na seqüência, para a versão final do instrumento, tentando sempre manter a
estrutura fatorial encontrada empiricamente, foram realizados ajustes de acordo com
83
critérios que serão citados na seqüência. São eles: correlações entre os 15 primeiros fatores
encontrados na análise fatorial com os 14 fatores esperados teoricamente (para tanto, foram
calculados tanto os fatores encontrados empiricamente quanto os teóricos); correlações
entre os 15 fatores encontrados empiricamente; alterações nos índices de fidedignidade dos
fatores por meio da exclusão de itens; alterações nos índices de fidedignidade de fatores
com pouca representabilidade (baixo número de itens) com a inserção de itens teoricamente
coerentes no fator. A Tabela 9 apresenta as correlações entre os 15 primeiros fatores
empíricos encontrados com os 14 fatores teóricos esperados.
Tabela 9. Coeficientes de Correlação de Pearson entre os fatores empíricos e os teóricos do IDTP
Fatores
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7 F8 F9 F10 F11 F12 F13 F14 F15
Esquizóide 0,669(**)
0,922(**)
0,347(**)
0,522(**)
0,330(**)
0,218(**)
0,587(**)
0,236(**)
0,389(**)
0,295(**)
0,577(**)
0,415(**)
0,456(**)
-0,145(**) 0,481(**)
Evitativo 0,704(**)
0,815(**)
0,694(**)
0,525(**)
0,297(**)
0,232(**)
0,756(**)
0,210(**)
0,581(**)
0,334(**)
0,686(**)
0,497(**)
0,478(**)
-0,185(**) 0,581(**)
Depressivo
0,932(**)
0,766(**)
0,450(**)
0,555(**)
0,332(**)
0,181(**)
0,657(**)
0,210(**)
0,471(**)
0,292(**)
0,733(**)
0,421(**)
0,470(**)
-0,171(**) 0,541(**)
Dependente 0,580(**)
0,526(**)
0,516(**)
0,368(**)
0,308(**)
0,040 0,653(**)
0,205(**)
0,937(**)
0,270(**)
0,473(**)
0,409(**)
0,394(**)
-0,061 0,485(**)
Histriônico 0,067 -0,050 0,478(**)
0,149(**)
0,420(**)
0,210(**)
0,129(*) 0,468(**)
0,148(**)
0,678(**)
0,105 0,241(**)
0,294(**)
0,719(**)
0,097
Narcisista 0,221(**)
0,213(**)
0,678(**)
0,380(**)
0,568(**)
0,343(**)
0,242(**)
0,646(**)
0,196(**)
0,682(**)
0,305(**)
0,370(**)
0,450(**)
0,614(**) 0,252(**)
Anti-social 0,385(**)
0,312(**)
0,380(**)
0,371(**)
0,529(**)
0,083 0,310(**)
0,881(**)
0,269(**)
0,473(**)
0,309(**)
0,470(**)
0,470(**)
0,262(**) 0,348(**)
Sádico 0,459(**)
0,384(**)
0,394(**)
0,467(**)
0,871(**)
0,155(**)
0,425(**)
0,606(**)
0,243(**)
0,515(**)
0,404(**)
0,397(**)
0,795(**)
0,179(**) 0,423(**)
Compulsivo 0,159(**)
0,271(**)
0,338(**)
0,333(**)
0,084
0,939(**)
0,219(**)
0,180(**)
0,055 0,210(**)
0,236(**)
0,091 0,169(**)
0,239(**) 0,060
Negativista 0,686(**)
0,643(**)
0,614(**)
0,620(**)
0,508(**)
0,254(**)
0,722(**)
0,412(**)
0,467(**)
0,579(**)
0,844(**)
0,472(**)
0,606(**)
0,059 0,605(**)
Masoquista
0,775(**)
0,644(**)
0,440(**)
0,473(**)
0,421(**)
0,104 0,751(**)
0,261(**)
0,501(**)
0,288(**)
0,632(**)
0,520(**)
0,518(**)
-0,097 0,723(**)
Paranóide 0,557(**)
0,554(**)
0,492(**)
0,941(**)
0,410(**)
0,416(**)
0,629(**)
0,372(**)
0,322(**)
0,407(**)
0,630(**)
0,457(**)
0,527(**)
0,057 0,412(**)
Esquizotípico
0,690(**)
0,636(**)
0,494(**)
0,499(**)
0,421(**)
0,153(**)
0,624(**)
0,422(**)
0,446(**)
0,390(**)
0,535(**)
0,900(**)
0,835(**)
0,059(**) 0,489(**)
Borderline 0,750(**)
0,566(**)
0,759(**)
0,501(**)
0,450(**)
0,184(**)
0,649(**)
0,420(**)
0,575(**)
0,412(**)
0,576(**)
0,581(**)
0,562(**)
0,063 0,497(**)
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Nota. As correlações mais altas foram marcadas em negrito.
Pode-se observar que grande parte das correlações encontradas foram significativas
ao nível de 0,01, com exceção da correlação entre o fator 7 empírico e o fator teórico
histriônico (significativa ao nível de 0,05), as correlações entre os fatores 6 e 14 com o fator
dependente, os fatores 1, 2, 11 e 15 com o fator histriônico, fator 6 com o fator anti-social,
fatores 5, 9, 12 e 15 com o fator compulsivo, fator 14 com o fator negativista, fatores 6 e 14
com o fator masoquista, fator 14 com os fatores paranóide, esquizotípico e borderline.
84
Verifica-se, ainda, que alguns fatores com itens referentes a um mesmo construto
(transtorno da personalidade) apresentaram altas correlações com os fatores teóricos
esperados: fatores 7 e 15 com masoquista; fatores 10 e 14 com histriônico; e, fatores 12 e
13 com esquizotípico. Por isso, as correlações entre esses fatores foram calculadas: 7 x 15, r
= 0,53, p<0,001; 10 x 14, r = 0,28, p<0,001; 12 x 13, r = 0,68, p<0,001). Os fatores 7 e 15 e
os fatores 12 e 13 apresentaram correlações moderadas e significativas entre si, bem como
altos índices de fidedignidade (itens dos fatores 7 e 15, alfa = 0,81; itens dos fatores 12 e
13, alfa = 0,76) e maior representabilidade do construto com a união dos itens desses
fatores. Com base na coerência teórica e relações estatísticas apresentadas, os itens dos
fatores 7 e 15 (fator masoquista), assim como dos fatores 12 e 13 (fator esquizotípico),
foram unidos. Na continuidade, na Tabela 10 são apresentadas as correlações entre os
primeiros 15 fatores empíricos encontrados, que foram interpretáveis, com os oito fatores
empíricos não interpretáveis (16 ao 23).
Tabela 10. Coeficientes de Correlação de Pearson entre os fatores empíricos interpretáveis e não
interpretáveis
Fatores
F16 F17 F18 F19 F20 F21 F22 F23
F1
0,268(**)
0,399(**)
0,486(**)
0,377(**)
0,444(**)
0,334(**)
0,462(**)
0,099
F2
0,263(**)
0,315(**)
0,396(**)
0,308(**)
0,369(**)
0,513(**)
0,420(**)
0,035
F3
0,385(**)
0,184(**)
0,413(**)
0,544(**)
0,272(**)
0,296(**)
0,440(**)
0,322(**)
F4
0,330(**)
0,280(**)
0,548(**)
0,333(**)
0,525(**)
0,337(**)
0,445(**)
0,173(**)
F5
0,644(**)
0,287(**)
0,417(**)
0,337(**)
0,290(**)
0,213(**)
0,336(**)
0,403(**)
F6
0,171(**)
0,041 0,127(*) 0,208(**)
0,042 0,318(**)
0,214(**)
0,128(*)
F7
0,289(**)
0,330(**)
0,424(**)
0,442(**)
0,381(**)
0,327(**)
0,499(**)
0,132(*)
F8
0,423(**)
0,329(**)
0,331(**)
0,311(**)
0,192(**)
0,268(**)
0,242(**)
0,666(**)
F9
0,183(**)
0,224(**)
0,370(**)
0,364(**)
0,276(**)
0,145(**)
0,300(**)
0,120(*)
F10
0,475(**)
0,214(**)
0,358(**)
0,336(**)
0,229(**)
0,283(**)
0,380(**)
0,457(**)
F11
0,280(**)
0,334(**)
0,539(**)
0,321(**)
0,551(**)
0,331(**)
0,488(**)
0,052
F12
0,304(**)
0,346(**)
0,289(**)
0,383(**)
0,239(**)
0,217(**)
0,383(**)
0,283(**)
F13
0,345(**)
0,382(**)
0,360(**)
0,377(**)
0,295(**)
0,309(**)
0,384(**)
0,305(**)
F14
0,180(**)
0,060 0,021 0,106(*) -0,038 0,153(**)
0,033 0,570(**)
F15
0,264(**)
0,318(**)
0,431(**)
0,298(**)
0,414(**)
0,248(**)
0,373(**)
0,163(**)
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Como pode ser observado, com exceção das correlações entre os fatores 6 e 17, 14 e
17, 6 e 18, 14 e 18, 14 e 19, 6 e 20, 14 e 20, 14 e 22, 1 e 23, 2 e 23, 6 e 23, 7 e 23, 9 e 23 e
85
11 e 23, as correlações foram significativas ao nível de 0,01. Foram calculados os
coeficientes de fidedignidade entre os fatores que apresentaram correlação de pelo menos
0,50 (fator 2 com fator 21, fator 3 com fator 19, fator 4 com fatores 18 e 20, fator 5 com
fator 16, fator 8 com fator 23, fator 11 com os fatores 18 e 20, e fator 14 com fator 23).
Entre as correlações iguais ou superiores a 0,50, foram calculados os coeficientes de
fidedignidade caso os fatores fossem unidos. Apenas a correlação entre o fator 3 e fator 19
aumentou o coeficiente de fidedignidade do conjunto de itens (de 0,79 para 0,82),
potencializando também a representabilidade do construto. Uma vez que houve coerência
teórica na união desses fatores, os itens “i100” e “i30” (fator 19) foram incluídos no fator 3.
Na seqüência, verificou-se se a exclusão ou inserção de itens em determinados
fatores aumentariam o coeficiente de fidedignidade, a potencial capacidade de
discriminação (por exclusão de itens que apresentaram overlapping) e a representabilidade
(pela inserção de itens) dos fatores. Por isso, com base nesses critérios e pautado na
pertinência teórica das mudanças dos itens nos fatores, procedeu-se às seguintes alterações:
os itens 89 e 15 foram excluídos do fator 1; os itens 1, 5 e 78 foram excluídos do fator 2; os
itens 66 e 81 foram excluídos do fator 9; o item 67 foi incluído no fator 10; o item 41 foi
inserido no fator 11; e, o item 72 foi excluído dos fatores 12 e 13 (que foram unidos, como
descrito anteriormente). Por fim, como não foram obtidos fatores acerca dos transtornos da
personalidade evitativo e narcisista, foram utilizados os conjuntos de itens hipotetizados
teoricamente par ambos os construtos.
Como resultado das mudanças previamente citadas, isto é, a união de alguns fatores
e a inclusão e exclusão de alguns itens, foi obtida a versão final do IDTP. As 15 escalas do
IDTP, 14 para avaliação dos transtornos da personalidade e 1 para validade e desejabilidade
social do instrumento, são apresentadas na Tabela 11.
86
Tabela 11. Itens e Coeficiente de Fidedignidade das Escalas do IDTP
Escalas Itens
Coeficiente
Alfa
Porcentagem de Itens
Esperados Teoricamente
Depressivo (Escala I) 49, 18, 80, 6, 46, 99, 73, 34, 92 0,89 55,5%
Esquizóide (Escala II) 16, 62, 31, 76, 93, 95, 79, 63 0,86 50%
Borderline (Escala III) 51, 61, 48, 37, 52, 17, 77, 21 0,79 25%
Paranóide (Escala IV) 59, 28, 43, 90, 13, 26 0,77 83,3%
Sádico (Escala V) 9, 54, 70, 67, 21, 24 0,76 66,6%
Compulsivo (Escala VI) 13, 25, 4, 71, 56, 40 0,77 83,3%
Masoquista (Escala VII) 97, 96, 32, 98, 81, 58, 41, 27 0,81 37,5%
Anti-social (Escala VIII) 38, 84, 69, 85, 83, 53 0,73 66,6%
Dependente (Escala IX) 7, 19, 35, 50, 66, 81 0,77 100%
Histriônico (Escala X) 82, 2, 68, 72, 67 0,71 60%
Negativista (Escala XI) 26, 64, 88, 57, 94, 41 0,74 66,6%
Esquizotípico (Escala XII) 45, 29, 60, 14, 91, 72 0,76 83,3%
Evitativo (Escala XIII) 63, 5, 79, 48, 17, 32, 94 0,81 100%
Narcisista (Escala XIV) 37, 52, 21, 83, 3, 68 0,65 100%
Validade e Desejabilidade
Social (Escala XV)
11, 22, 33, 44, 55, 65, 75, 87
A versão final do instrumento ficou composta por 83 itens, sendo que alguns itens
são computados em mais de uma escala (por exemplo, o item 48 corresponde às escalas
Borderline e Evitativo). A escala com menor número de itens (5 itens) foi a Escala
Histriônico, e com o maior número de itens foi a Escala Depressivo (9 itens). Os
coeficientes alfa variaram entre 0,65 e 0,89, sendo que a Escala Narcisista foi a única que
apresentou índice de fidedignidade abaixo de 0,71. Na última coluna da Tabela 11 estão
apresentadas as porcentagens de itens que eram esperados teoricamente em cada fator.
Verifica-se que a maior parte das escalas apresenta porcentagem superior a 50%, com
exceção das escalas Borderline e Masoquista. Na continuidade, a Tabela 12 apresenta as
estatísticas descritivas dos fatores que compõem a versão final do instrumento.
87
Tabela 12. Estatísticas Descritivas das escalas da versão final do instrumento
Fatores N Mínimo Máximo Média
Desvio Padrão
Depressivo (Escala I) 347 1,0 4,0 1,54 0,64
Esquizóide (Escala II) 345 1,0 4,0 1,55 0,53
Borderline (Escala III) 345 1,14 4,0 2,46 0,61
Paranóide (Escala IV) 346 1,0 4,0 1,84 0,57
Sádico (Escala V) 347 1,0 4,0 1,52 0,50
Compulsivo (Escala VI) 348 1,0 4,0 2,76 0,67
Masoquista (Escala VII) 347 1,0 3,6 1,59 0,56
Anti-social (Escala VIII) 346 1,0 4,0 1,72 0,55
Dependente (Escala IX) 347 1,0 3,5 1,56 0,53
Histriônico (Escala X) 346 1,0 4,0 1,73 0,59
Negativista (Escala XI) 345 1,0 3,33 1,46 0,46
Esquizotípico (Escala XII) 342 1,0 4,0 1,79 0,67
Evitativo (Escala XIII) 347 1,0 4,0 1,79 0,60
Narcisista (Escala XIV) 346 1,13 3,9 2,18 0,54
Validade e Desejabilidade social (Escala XV) 345 1,0 3,25 1,79 0,32
Verifica-se, por meio da Tabela 12, que a Escala Esquizotípico apresentou o menor
número de respostas válidas (N= 342), e a Escala Compulsivo o maior (N= 348). Em geral,
houve respostas, às escalas, que contemplaram o mínimo (1) e o máximo (4) na escala
Likert, com exceção às escalas Borderline, Masoquista, Dependente, Negativista, Narcisista
e Escala XV. A média das respostas na maioria dos fatores foi abaixo do ponto central
(2,5), sendo a mais baixa 1,52 (Escala Sádico) e a mais alta 2,76 (Escala Compulsivo). E, o
desvio padrão pode ser considerado baixo em todos os fatores, variando entre 0,32 (Escala
VX) e 0,67 (escalas Compulsivo e Esquizotípico). Na continuidade, foram verificadas as
correlações entre as escalas do IDTP, que estão apresentadas na Tabela 13.
88
Tabela 13. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP
Escalas Depressivo Esquizóide Borderline Paranóide Sádico Compulsivo Masoquista Anti-social Dependente
Depressivo 1
0,746(**)
0,486(**) 0,545(**) 0,374(**) 0,138(**)
0,711(**)
0,262(**) 0,566(**)
Esquizóide 1 0,449(**) 0,538(**) 0,330(**) 0,217(**)
0,704(**)
0,234(**) 0,533(**)
Borderline 1 0,443(**) 0,437(**) 0,314(**) 0,540(**) 0,392(**) 0,516(**)
Paranóide 1 0,392(**) 0,412(**) 0,553(**) 0,368(**) 0,368(**)
Sádico 1 0,076 0,418(**) 0,538(**) 0,308(**)
Compulsivo 1 0,166(**) 0,178(**) 0,040
Masoquista 1 0,269(**)
0,672(**)
Anti-social 1 0,205(**)
Dependente 1
Histriônico
Negativista
Esquizotípico
Evitativo
Narcisista
XV
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Nota. As correlações marcadas em negritos são r 0,60.
Continuação da Tabela 13. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP
Escalas Histriônico Negativista Esquizotípico Evitativo Narcisista XV
Depressivo 0,296(**)
0,707(**)
0,584(**)
0,692(**)
0,208(**) 0,122(*)
Esquizóide 0,267(**)
0,661(**)
0,551(**)
0,811(**)
0,190(**) 0,166(**)
Borderline 0,519(**) 0,513(**) 0,520(**)
0,694(**) 0,678(**)
0,329(**)
Paranóide 0,363(**)
0,635(**)
0,501(**) 0,525(**) 0,380(**) 0,251(**)
Sádico
0,625(**)
0,371(**) 0,466(**) 0,297(**) 0,568(**) 0,250(**)
Compulsivo 0,189(**) 0,193(**) 0,181(**) 0,232(**) 0,343(**) 0,442(**)
Masoquista 0,377(**)
0,711(**) 0,606(**) 0,785(**)
0,272(**) 0,121(*)
Anti-social 0,595(**) 0,283(**) 0,484(**) 0,210(**)
0,646(**)
0,347(**)
Dependente 0,302(**) 0,500(**) 0,450(**)
0,632(**)
0,199(**) 0,126(*)
Histriônico 1 0,353(**) 0,522(**) 0,320(**)
0,707(**)
0,397(**)
Negativista 1 0,514(**)
0,705(**)
0,317(**) 0,211(**)
Esquizotípico 1 0,547(**) 0,458(**) 0,217(**)
Evitativo 1 0,278(**) 0,160(**)
Narcisista 1 0,437(**)
XV 1
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Nota. As correlações marcadas em negritos são r 0,60.
Como pode ser observado, todas as correlações foram positivas e praticamente todas
foram significativas, com exceção das correlações entre as escalas Compulsivo e
Dependente. De todas as correlações verificadas, dezenove apresentaram magnitude igual
89
ou superior a 0,60 (r 0,60). Por último, no que respeita às análises realizadas para
investigar a estrutura interna do IDTP por meio da Teoria Clássica dos Testes, visando à
verificação da possibilidade de reagrupamento dos quatorze fatores primários (somente as
escalas de transtornos da personalidade) em fatores de segunda ordem, procedeu-se a uma
análise fatorial de segunda ordem (por componentes principais e rotação oblíqua directed
oblimin). Foram obtidos três fatores com eigenvalue acima de 1,0, capazes de explicar
71,9% da variância total. As cargas fatoriais da matriz rotada são apresentadas na Tabela
14.
Tabela 14. Cargas fatoriais da matriz rotada de segunda ordem e coeficiente alfa de Cronbach
Fatores FSO1
FSO2
FSO3
Evitativo (Escala XIII) 0,916
Depressivo (Escala I) 0,882
Masoquista (Escala VII) 0,866
Esquizóide (Escala II) 0,810
Negativista (Escala XI) 0,791
Dependente (Escala IX) 0,682
Paranóide (Escala IV)
0,531
Esquizotípico (Escala XII)
0,523 0,378
Borderline (Escala III)
0,449 0,301 0,338
Narcisista (Escala XIV)
0,932
Histriônico (Escala X)
0,836
Anti-social (Escala VIII)
0,828
Sádico (Escala V)
0,750
Compulsivo (Escala VI)
0,921
Coeficiente Alfa
0,92 0,86 0,77
9
Pode-se notar que, as escalas Evitativo, Depressivo, Masoquista, Esquizóide,
Negativista, Dependente, Paranóide e Esquizotípico se agruparam prioritariamente no
primeiro fator de segunda ordem (FSO1). No segundo fator (FSO2) foram agrupadas as
9
Uma vez que o fator FSO3 foi composto por apenas uma variável, o cálculo do coeficiente alfa foi baseado
nos itens que compõem a escala Compulsivo.
90
escalas Narcisista, Histriônico, Anti-social e Sádico. E, o último fator, fator 3 (FSO3), é
representado prioritariamente pela Escala Compulsivo. A Escala Borderline apresentou
cargas similares nos três fatores, contudo, prioritariamente no fator FSO1. Ainda, no que se
refere à fidedignidade desses fatores, os coeficientes variaram entre 0,77 e 0,92. A Tabela 15
apresenta as correlações entre os três fatores de segunda ordem apresentados.
Tabela 15. Correlações entre os fatores de segunda ordem
Fatores
FSO1
FSO2
FSO3
FSO1 1,0
0,440
0,176
FSO2 0,440
1,0
0,208
FSO3 0,176
0,208
1,0
Observa-se que os fatores FSO1 e FSO2 foram os mais correlacionados (r = 0,44) e a
correlação obtida entre os fatores FSO1 e FSO3 foi a mais baixa (r = 0,17). Essas correlações
observadas sugerem que as escalas do fator FSO1 apresentam maior relação com as escalas
do fator FSO2 do que com o fator FSO3.
4.1.2 Parâmetros do IDTP com o uso da TRI
Na seqüência serão apresentados os dados obtidos por meio das análises das escalas do
IDTP com o uso da Teoria de Resposta ao Item (TRI). Em ntese, a TRI pode ser
compreendida como uma família de modelos matemáticos que relacionam traços latentes ou
hipotéticos (não-observáveis) a variáveis observáveis (como as respostas dadas aos itens de
um teste) (Pasquali & Primi, 2003; Smith Jr., 2004). A principal diferença em relação ao
modelo clássico é que a unidade básica de análise passa a ser o item e não o escore total
composto pela soma de itens, como a Teoria do Escore Verdadeiro trata. Na TRI, a relação é
estabelecida entre o nível de habilidade da pessoa e a probabilidade de escolha de uma opção
91
de resposta ao item. São diversos os modelos logísticos que têm como base a TRI (Pasquali,
2007), e, para o presente estudo, foi utilizado o modelo de Rasch.
O modelo de Rasch é um modelo logístico de 1 parâmetro, uma vez que a probabilidade
de que o respondente j responda corretamente a um item i” de um teste (P (Xij=1))
depende da diferença entre o nível de habilidade do respondente, ou theta (
θ
j), e o parâmetro
de dificuldade do item (bi). Quanto maior for a diferença entre
θ
j – bi, maior será a
probabilidade de que o respondente acerte o item.
Segundo Reise e Henson (2003), no caso de instrumentos que não são para avaliação do
desempenho, como é o caso de instrumentos para avaliação do funcionamento da
personalidade, o raciocínio empregado é o mesmo: quanto mais característico um
determinado traço latente (
θ
j) for no respondente, maior é a probabilidade de ele responder
afirmativamente a um dado item que mensure esse traço.
A despeito da aplicabilidade da TRI para instrumentos que avaliem a personalidade (e
outros construtos que não se refiram à alguma forma de desempenho), o campo da avaliação
da personalidade tem sido pouco explorado sob a ótica da TRI (Reise & Henson, 2003).
Exemplos dessa aplicabilidade são, por exemplo: a verificação do quão ajustados os dados
encontrados foram aos dados esperados, a identificação de lacunas na avaliação do
continuum, e a adequação das escalas de resposta utilizadas (Elliot, Fox, Beltyukova, Stone,
Gunderson & Zhang, 2006).
Na aplicação da TRI para escalas tipo likert, dois modelos freqüentemente usados
foram desenvolvidos a partir dos modelos de Rasch (Wright & Stone, 1979): resposta
gradual (Rating Scale Model) e créditos parciais (Wright & Masters, 1982). Esses modelos
concebem a relação entre as respostas dadas à escala likert com o theta, dimensão
subjacente inobservável que os itens pretendem estimar, assumindo que cada valor
92
crescente da escala indique um passo cumulativo em direção a valores mais altos na
variável latente. A diferença básica entre os dois modelos é que para escalas graduadas
presume-se que os avanços nas pontuações likert são constantes e iguais para todos os itens
e no modelo de créditos parciais essa condição é relaxada podendo-se configurar diferentes
distâncias entre as pontuações likert, dependendo do item a ser considerado.
A seguir será explicado brevemente o modelo de Rasch utilizado, de acordo com
Wright e Mok (2004). Para instrumentos de avaliação nos quais os resultados podem ser
dados em graduações (como discordar totalmente, discordar, concordar e concordar
totalmente), e não somente uma escala dicotômica (como discordo/concordo), são
necessários modelos que considerem os diversos níveis de respostas possíveis para uma
dada questão. Entre os modelos Rasch, o modelo de resposta gradual (Rating Scale Model)
é o mais adequado para esse tipo de avaliação. Para esse modelo é indiferente o número de
categorias inclusas na escala de resposta, uma vez que a decisão de resposta e a
interpretação são sempre realizadas entre as categorias adjacentes. O ponto no qual a
probabilidade de escolha de uma categoria é igual à da categoria anterior é chamado de
threshold (limiar), ou seja, é o ponto no qual duas curvas de categoria se encontram.
Por meio do modelo de resposta gradual, para as 14 escalas de avaliação dos
transtornos da personalidade do IDTP, foram examinadas as seguintes estatísticas:
estatísticas descritivas de theta; estatísticas descritivas dos itens; índices de ajuste ao
modelo; correlações item-total; índices de fidedignidade; curvas de probabilidade das
categorias; valores dos limiares dos itens; e, análise qualitativa da divisão dos itens e das
pessoas (mapa pessoas-itens).
93
4.1.2.1 Escala Depressivo
Na Tabela 16, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 9 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 5 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,52, isto é, um logit e meio abaixo das médias dos
itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser mais difíceis. O desvio
padrão de 1,30 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 16. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Depressivo
Número de itens Theta Erro Padrão
Infit Outfit
Média 9 -1,52 0,62 0,99 1,00
Desvio Padrão 0,3 1,30 0,23 0,51 0,61
Máximo 9 3,00 1,03 3,15 4,40
Mínimo 5 -3,22 0,37 0,24 0,26
Ainda na Tabela 16, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit, que
avaliam a correspondência entre os valores esperados e observados das estimativas thetas
para os respondentes, mostraram-se adequados, conforme os parâmetros sugeridos por
Linacre e Wright (1994), qual seja, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit
e outfit foram 3,15 e 4,40 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,71 (índice real) e 0,74 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Depressivo é igual a 9, o que pode ser considerado um número moderado, o que
pode levar a uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Essa situação poderia ser
comparada à aplicação de um teste contendo nove itens para a avaliação de um determinado
sujeito. Mesmo assim, o coeficiente de fidedignidade obtido indica um índice satisfatório
94
para esta escala. Na Tabela 17 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos
itens da escala.
Tabela 17. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Depressivo
N B Erro Padrão Infit Outfit
Média 275,2 0 0,10 1,05 1
Desvio Padrão 0,4 0,46 0,01 0,26 0,24
Máximo 276 1,02 0,12 1,39 1,24
Mínimo 275 -0,72 0,08 0,73 0,61
O valor de N mostra que, em média, 275,2 participantes responderam os itens da
Escala Depressivo. A média de b obtida foi igual a zero
10
e desvio padrão 0,40, o que indica
que os itens dessa escala são difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,52). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
adequados, sendo o máximo 1,39 (infit) e 1,24 (outfit). Os valores máximos de infit e outfit,
nesse caso, podem ser interpretados como a presença de alguma incongruência entre o
esperado e o observado no modelo. A Tabela 18 apresenta os valores médios de b para cada
item, indicando o índice médio de dificuldade correspondente. Cada item possui um valor
médio de b porque o modelo Rasch de resposta gradual identifica valores dos limiares
(thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da transição de uma nota para outra,
como, por exemplo, da nota 1 para nota 2.
Tabela 18. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Depressivo
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
73 1,02 0,12 1,16 1,10 0,57
34 0,24 0,10 1,35 1,22 0,62
49 0,20 0,10 1,39 1,21 0,62
92 -0,09 0,09 1,17 1,24 0,65
99 -0,21 0,09 1,27 1,23 0,66
18 0,02 0,10 0,76 0,70 0,73
80 -0,01 0,10 0,73 0,61 0,75
6 -0,44 0,09 0,75 0,83 0,75
46 -0,72 0,08 0,83 0,81 0,77
10
De fato, para realizar as análises de TRI neste estudo, as escalas foram ancoradas nos itens, portanto, a
média de dificuldade dos itens sempre correspondeu a zero.
95
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
46, ao passo que o mais difícil foi o de número 73. Com relação ao ajuste, por um lado
pode-se notar que os itens 34, 49, 92 e 99 apresentam índices limítrofes, portanto,
ligeiramente acima de 1,20. Por outro lado, os itens 73, 18, 80, 6 e 46 apresentaram índices
de infit e outfit adequados. No que respeita à correlação entre os itens e a escala como um
todo, pode-se notar que os coeficientes de correlação item-total mostraram-se moderados e
altos, sendo aqueles que melhor se correlacionaram com todos os demais, ou seja, que
demonstraram maior concordância, os itens 46, 6, 80 e 18. A Figura 3 representa as
categorias de pontuação (de 1 a 4) da Escala Depressivo
11
.
Figura 3. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Depressivo
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento depressivo. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
11
As categorias de pontuação, de 1 (“não me descreve”) a 4 (“me descreve extremamente ou totalmente”), da
Escala Depressivo é a mesma para todo o instrumento.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
|1 4444|
| 1111 444 |
.8 + 111 444 +
| 11 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 4 |
.5 + 1 4 +
| 1*22222222 44 |
.4 + 222 1 222 4 +
| 222 11 2*33**333 |
| 222 11 333 2* 3333 |
| 22 1*33 44 22 333 |
.2 + 2222 333 11 44 22 3333 +
| 2222 333 4*1 222 3333 |
|2 333 444 111 222 33333|
| 3333333 44444 11111 2222222 |
.0 +***********4444444444 1111111111111********+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-
3
-
2
-
1 0
1 2 3
96
2 equivale ao valor –0,99 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,35 e da nota 3 para
a 4 equivale a 0,63.
A partir da Figura 3, verifica-se que uma clara representação das categorias 1, 2 e 4,
mas a categoria 3 mostra-se pouco representativa. A não-sobreposição dos picos das curvas,
isto é, a separação destas em regiões distintas (categoria 1, 2 e 4) mostra o uso adequado
dos critérios de avaliação dos níveis de concordância dos itens. O uso inadequado,
representado pela categoria 3, é evidenciado pela sobreposição de picos, ou seja, a ausência
de uma região clara e distinta na escala de theta para as diferentes pontuações do teste. A
Figura 4 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de modo a ilustrar os
valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
Figura 4. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Depressivo
Os itens, na Figura 4, são listados dos mais difíceis de se concordar (topo da figura)
até os mais fáceis (margem inferior). A figura apresenta as categorias de respostas
estimadas para cada item, baseada na posição dos respondentes (theta, em uma escala de –4
a 4). O item 73 apresentou o limiar mais alto de transição entre todas as categorias (1 e 2, 2
e 3, e 3 e 4), ao passo que o item 46 mostrou o limiar mais baixo. Esse fato indica que o
item 73 é mais difícil de ser endossado e o item 46 é mais fácil.
Ainda na Figura 4, pode-se observar que os participantes tendem a responder que os
itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que o
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 73 73(MSQ)Parece que faço de tudo para me dar mal.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 34 34(DPS)Sempre tive muita dificuldade para me alegrar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 49 49(DPS)Já pensei em me suicidar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 18 18(DPS)Desde jovem (...) e triste a maior parte do tempo.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 80 80(DPS)Faz tempo que me (...) e não consigo me animar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 92 92(BDL)Sinto que não tenho (...) s
ei para onde vou na vida.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 99 99(EQT)Continuo tendo (...) gostaria de não ter.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 6 06(DPS)Sempre tive pensamentos tristes.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 46 46(BDL)Sinto-me vazio com freqüência.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
7 5 3 3 2 2 21 1 1
2 4 1 3 5 1 0 34 83206364611232 32 2 1 1 1 PS
S M S T
97
nível médio de theta foi igual a –1,52 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero (o que vale para todas as escalas). A Figura 5 representa um mapa no qual
são dispostas as localizações dos respondentes da escala em relação aos itens.
Figura 5. Mapa Pessoas-Itens da Escala Depressivo
Do lado esquerdo da Figura 5 encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de 4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 6 respondentes. Do lado direito
<more>|<rare>
4 . +
|
|
|
|
|
|
3 . +
|
|
|
|
. |
|
2 +
. |
|
. |
. |
|
. T|
1 . + 73(MSQ)Parece que faço de tudo para me dar mal.
. |T
. |
. |
# |S
. | 34(DPS)Sempre tive muita dificuldade para me alegrar.
# | 49(DPS)Já pensei em me suicidar.
0 . +M 18(DPS)Desde jovem tenho estado deprimido e triste a maior p
arte do tempo.
80(DPS)Faz tempo que me sinto triste e depressivo e não consigo me animar.
# | 92(BDL)Sinto que não tenho planos e não sei para onde vou na vida.
99(EQT)Contin
uo tendo pensamentos estranhos que gostaria de não ter.
.# S|
. |S 06(DPS)Sempre tive pensamentos tristes
.
.## |
.# | 46(BDL)Sinto
-
me vazio com freqüência.
|T
-
1 .## +
.### |
|
.### |
M|
.### |
|
-
2 .##### +
|
|
.##### |
|
|
S|
-
3 +
|
######### |
|
|
|
|
-
4 .############ +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 6 respondentes
98
estão os itens, do item mais endossado (primeiro da margem inferior) até o item mais difícil
de ser endossado (último item do topo). Verifica-se que, de um modo geral, os itens são
difíceis para concordar, isto é, o nível dio de theta dos respondentes tende a ser menor
que o nível médio de b dos itens. Ainda, a análise dessa figura possibilita a investigação de
áreas do construto que está sendo mensurado (funcionamento depressivo, no caso) em que
existem lacunas na mensuração. Na Escala Depressivo, observa-se uma lacuna para itens
que se refiram ao funcionamento depressivo mais saudável, o que corresponde a itens “mais
fáceis” para uma população não-patológica.
4.1.2.2 Escala Esquizóide
Na Tabela 19, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 8 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 4 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,69, isto é, menos de um logit e meio abaixo das
médias dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser mais
difíceis. O desvio padrão de 1,13 indica uma variação moderada nos thetas dos
respondentes.
Tabela 19. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Esquizóide
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 8 -1,69 0,67 0,98 1,01
Desvio Padrão 0,3 1,13 0,22 0,65 0,88
Máximo 8 2,93 1,03 3,89 7,72
Mínimo 4 -3,12 0,40 0,13 0,13
Ainda na Tabela 19, verifica-se que os índices médios de ajuste
infit
e
outfit
,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de
infit
e
99
outfit
foram 3,89 e 7,72 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,56 (índice real) e 0,62 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Esquizóide é igual a 8, o que pode ser considerado um número moderado, podendo
levar a uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Dado o baixo número de itens, o
coeficiente de fidedignidade obtido pode ser considerado moderado para esta escala. Na
Tabela 20 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 20. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Esquizóide
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 280,8 0 0,10 1,07 1
Desvio Padrão 0,7 0,63 0,02 0,12 0,18
Máximo 281 1,07 0,14 1,27 1,41
Mínimo 279 -1,33 0,08 0,84 0,81
O valor de N mostra que, em média, 280,8 participantes responderam os itens da
Escala Esquizóide. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,63, o que indica que os itens
dessa escala são difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram média de
theta igual a –1,69). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se um pouco
acima dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,27 (
infit
) e 1,41 (
outfit
). Os valores
máximos de
infit
e
outfit
, nesse caso, podem ser interpretados como uma ligeira
incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 21
apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (
thresholds
), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
100
Tabela 21. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Esquizóide
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
62 1,07 0,14 1,18 0,81 0,60
31 0,14 0,10 1,27 1,41 0,60
16 0,36 0,11 1,03 1,00 0,64
93 0,21 0,10 1,11 1,05 0,64
95 -0,06 0,10 1,06 0,89 0,68
63 -0,14 0,09 1,05 0,90 0,68
76 -0,26 0,09 0,84 0,88 0,69
79 -1,33 0,08 0,97 1,11 0,71
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
79, ao passo que o mais difícil foi o de número 62. Com relação ao ajuste, por um lado
pode-se notar que o item 31 apresentou índice fora do esperado, ou seja, acima de 1,20. Por
outro lado, os outros itens dessa escala apresentaram índices de
infit
e
outfit
adequados. No
que respeita à correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os
coeficientes de correlação item-total mostraram-se moderados e altos, sendo aqueles que
melhor se correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior
concordância, os itens 79, 76, 63 e 95. A Figura 6 representa as categorias de pontuação da
Escala Esquizóide.
Figura 6. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Esquizóide
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
|11 4444|
| 1111 444 |
.8 + 11 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 1 4 |
.5 + 11 44 +
| 1 22222 4 |
.4 + 222*1 2222 44 +
| 222 11 2*333*3333 |
| 222 1 333 224 3333 |
| 22 1*3 44222 333 |
.2 + 2222 333 11 44 22 3333 +
| 2222 333 4*1 22 3333 |
|22 3333 444 111 2222 33333|
| 3333333 44444 11111 222222 |
.0 +**********44444444444 111111111111*********+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
101
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento esquizóide. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (
threshold
) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor –0,88 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,26 e da nota 3 para
a 4 equivale a 0,63. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2 e 4,
mas a categoria 3 mostra-se pouco representativa. A Figura 7 apresenta os valores dos
limiares (
thresholds
) para cada item, de modo a ilustrar os valores de theta que representam
a transição de uma nota para a outra.
Figura 7. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Esquizóide
De acordo com a Figura 7, pode-se observar que o item 62 apresentou o limiar mais
alto de transição entre todas as categorias (1 e 2, 2 e 3, e 3 e 4), ao passo que o item 79
mostrou o limiar mais baixo. Esse fato indica que o item 62 é mais difícil de ser endossado
e o item 79 é mais fácil.
Ainda na Figura 7, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que os
itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que o
nível médio de theta foi igual a –1,69 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 62 62(EQZ)Durante minha vida (...) de fazer amigos.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 16 16(EQZ)Tenho pouca vontade de estar com outras pessoas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 93 93(EQZ)Com exceção (...) não tenho amizades íntimas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 31 31(EQZ)Normalmente não (...) relacionar com as pessoas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 95 95(DPS)Poucas coisas na vida me dão prazer.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 63 63(EVT)Tenho vontade de (...) pessoas, mas não consigo.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 76 76(EQT)Sinto-me diferente (...) às outras pessoas.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 79 79(EVT)Em reuniões (...) percebo que estou tenso.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
6 5 4 4 3 1 11 1
4 9 6 3 8 9 61 288323 1121 5 3 1 1 3 PS
S M S T
102
centrada em zero. A Figura 8 representa um mapa no qual são dispostas as localizações dos
respondentes da escala em relação aos itens.
Figura 8. Mapa Pessoas-Itens da Escala Esquizóide
Do lado esquerdo da Figura 8 encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 5 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens são difíceis para concordar, isto é, o nível médio de theta (traço latente)
<more>|<rare>
3 . +
. |
|
|
|
|
|
|
2 +
. |
|
|
. |
|
|T
# | 62(EQZ)Durante minha vida, quase nunca tive vontade de fazer
1 +
. |
. |
T|S
. |
. | 16(EQZ)Tenho pouca vontade de estar com outras
. | 93(EQZ)Com exceção da minha família, não tenho amizades
. | 31(
EQZ)Normalmente não tenho vontade de me relacionar com as
pessoas.
0 . +M 95(DPS)Poucas coisas na vida me dão
. | 63(EVT)Tenho vontade de me relacionar com as pessoas, mas não
.# | 76
(EQT)Sinto
-
me diferente e esquisito em relação às outras
pessoas.
|
.# |
.## S|S
|
.## |
1 .### +
|
.### |T
| 79(EVT)Em reuniões sociais, quase sempre percebo que estou
.####### |
. |
M|
.######## |
+
|
|
.######### |
|
|
|
S|
3 +
.######
##### |
|
|
|
|
|
|
4 ############# T+
<less>|<frequ>
EACH '#' IS 5
.
Cada # equivale a 5 respondentes
103
dos respondentes tende a ser menor que o nível médio de b (dificuldade) dos itens. Para
essa escala, observa-se uma lacuna para itens que se refiram ao funcionamento esquizóide
mais saudável.
4.1.2.3 Escala Borderline
Na Tabela 22, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 8 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –0,21, isto é, próximo a médias dos itens. Isso indica
que os itens, para esses respondentes, tendem a ser moderados. O desvio padrão de 1,16
indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 22. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Borderline
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 8 -0,21 0,51 1 1
Desvio Padrão 0,3 1,16 0,06 0,66 0,72
Máximo 8 3,65 1,06 4,39 5,41
Mínimo 3 -3,80 0,47 0,13 0,14
Ainda na Tabela 22, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 4,39 e 5,41 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,75 (índice real) e 0,80 ndice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Borderline é igual a 8, o que pode ser considerado um número moderado, podendo
levar a uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
104
fidedignidade obtido pode ser considerado como satisfatório para esta escala. Na Tabela 23
encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 23. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Borderline
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 345 0 0,08 1 1
Desvio Padrão 0,7 0 ,85 0 0,10 0,10
Máximo 346 1,07 0,08 1,18 1,16
Mínimo 344 -1,31 0,07 0,86 0,88
O valor de N mostra que, em média, 345 participantes responderam os itens da
Escala Borderline. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,85, o que indica que os itens
dessa escala são moderados para os participantes deste estudo (que apresentaram média de
theta igual a –0,21). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se dentro
dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,18 (infit) e 1,16 (outfit). Os valores
máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como uma ausência de
incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 24
apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
Tabela 24. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Borderline
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
21 1,01 0,08 1,18 0,16 0,56
37 -1,31 0,08 1,04 0,07 0,57
51 -1,31 0,08 0,86 0,90 0,58
77 1,07 0,08 1,13 0,13 0,60
17 -0,09 0,07 0,95 0,98 0,64
52 0,24 0,07 0,91 0,88 0,69
48 0,35 0,07 1,03 0,99 0,70
61 0,04 0,07 ,94 0,92 0,70
Pode-se notar que os itens mais fáceis, endossados pelos participantes, foram os de
número 37 e 51, ao passo que o mais difícil foi o de mero 21. Com relação ao ajuste,
105
pode-se notar que todos os itens da Escala Borderline apresentaram índices de infit e outfit
adequados. No que respeita à correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se
notar que os coeficientes de correlação item-total mostraram-se moderados e altos, sendo
aqueles que melhor se correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram
maior concordância, os itens 61, 48, 52 e 17. A Figura 9 representa as categorias de
pontuação.
Figura 9. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Borderline
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento borderline. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Assim, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a 2
equivale ao valor -1,49 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,14 e da nota 3 para a
4 equivale a 1,35. Verifica-se, também, uma clara representação de todas as quatro
categorias. A Figura 10 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de
modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
| 4|
.8 +111 444 +
| 11 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 44 |
.5 + 11 22222222222 44 +
| 2** 222 33333333333* |
.4 + 222 1 3** 44 333 +
| 22 11 33 22 44 33 |
| 222 11 33 22 4 333 |
| 222 1133 ** 333 |
.2 +222 33311 44 22 333 +
| 333 111 444 222 33|
| 3333 *** 2222 |
| 3333333 444444 111111 2222222 |
.0 +*******4444444444444444 11111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
106
Figura 10. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Borderline
De acordo com Figura 10, pode-se observar que os itens 77 e 21 apresentaram os
limiares mais altos de transição nas categorias 1 e 2, e 3 e 4, e o item 77 apresentou o limiar
mais alto de transição na categoria 2 e 3. Ao lado disso, os itens 37 e 51 mostraram os
limiares mais baixos em todas transições. Esse fato indica que os itens 77 e 21 são mais
difíceis de serem endossados e os itens 77 e 21 são mais fácil.
Ainda na Figura 10, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens os descrevem muito (categoria 3) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez
que o nível médio de theta foi igual a –0,21 nesta escala e a média de dificuldade dos itens
(b) é centrada em zero. A Figura 11 representa um mapa no qual são dispostas as
localizações dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
5
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 77 77(BDL)Me sinto (...) perdido quando sou deixado sozinho.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 21 21(NCS)Os outros devem satisfazer meus desejos e vontades.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 48 48(EVT)É horrível não ser aprovado pelos outros.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 52 52(NCS)Me irrito (...) não reconhecem minhas qualidades.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 61 61
(BDL)Não há nada pior que do que ser deixado pelas pessoas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 17 17(EVT)Me sinto muito mal quando sou criticado.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 51 51(HST)Não há nada (...) dar e receber atenção das pessoas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 37 37(NCS)Não há nada melhor do que ser elogiado pelas pessoas.
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
1 1 1 11 23 232 211 11 1
2 4 1 2 5 97110 477 497 39 39 8 3 113 PS
T S M S T
107
Figura 11. Mapa Pessoas-Itens da Escala Borderline
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 3 respondentes. Verifica-se que
os itens da Escala Borderline estão distribuídos ao longo do continuum theta-dificuldade,
isto é, o nível médio de theta (traço latente) dos respondentes tende a ser próximo do nível
médio de b (dificuldade) dos itens. Ainda assim, são observadas lacunas sem itens para
<more>|<rare>
4 .# +
|
. |
|
|
|
|
3 +
|
|
|
# |
|
T|
2 .## +
|
### |T
. |
#### |
|
.###### | 77(BDL)Me sinto totalmente pe
rdido quando sou deixado sozinho.
1 S+ 21(NCS)Os outros devem satisfazer meus desejos e vontades.
.#### |S
.##### |
|
.###### |
######## |
48(EVT)* horrível não ser aprovado pelos outros.
52(NCS)Me irrito quando as pessoas não reconhecem minhas qualidades.
|
0 ######### +M 61(BDL)Não há nada pior que do que ser deixado pela
s pessoas.
############ M| 17(EVT)Me sinto muito mal quando sou criticado.
. |
######## |
########## |
|
####### |S
-
1 . +
.##### |
| 37(NCS)Não há nada melhor do que ser elogiado pelas pessoas.
51(HST)Não há nada melhor do que dar e receber atenção das pessoas.
.
###### S|
|
##### |T
|
-
2 #### +
|
|
.### |
T|
|
|
-
3 .# +
|
|
|
|
|
. |
-
4 +
<less>|<f
requ>
Cada # equivale a 3 respondentes
108
representação do funcionamento borderline, tanto para o funcionamento mais saudável
quanto para o funcionamento mais patológico.
4.1.2.4 Escala Paranóide
Na Tabela 25, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 4 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,43, isto é, praticamente um logit e meio abaixo da
médias dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,42 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 25. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Paranóide
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -1,43 0,73 0,95 1
Desvio Padrão 0,1 1,42 0,17 0,80 1,06
Máximo 6 3,53 1,17 4,50 9,90
Mínimo 4 -3,95 0,56 0,12 0,09
Ainda na Tabela 25, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 4,50 e 9,90 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,67 ndice real) e 0,73 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Paranóide é igual a 6, o que pode ser considerado um número pequeno, acarretando
uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Assim, o coeficiente de fidedignidade
109
obtido pode ser considerado como satisfatório para esta escala. Na Tabela 26 encontram-se
as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 26. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Paranóide
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 335,3 0 0,09 1,04 1,01
Desvio Padrão 0,5 1,21 0,01 0,22 0,28
Máximo 36 1,18 0,11 1,31 1,47
Mínimo 35 -2,54 0,08 0,70 0,67
O valor de N mostra que, em média, 335,3 participantes responderam os itens da
Escala Paranóide. O desvio padrão médio de b foi igual a 1,21, o que indica que os itens
dessa escala são difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram média de
theta igual a –1,43). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se fora dos
limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,31 (infit) e 1,47 (outfit). Os valores máximos de
infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a existência de incongruência entre
o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 27 apresenta os valores
médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade correspondente. Cada
item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta gradual identifica
valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da transição de uma
nota para outra.
Tabela 27. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Paranóide
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
26 1,18 0,11 1,31 1,20 0,56
13 -2,54 0,08 1,10 1,47 0,63
90 0,64 0,10 1,15 0,99 0,65
43 0,41 0,09 1,17 1,07 0,66
59 0,55 0,09 0,79 0,68 0,73
28 -0,24 0,08 0,70 0,67 0,76
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
13, ao passo que o mais difícil foi o de número 26. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que praticamente todos os itens da Escala Paranóide apresentaram índices de infit e outfit
110
adequados, com ressalvas para o outfit igual a 1,47 para o item 13. No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
correlação item-total mostraram-se moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 28 e 59. A Figura 12 representa as categorias de pontuação.
Figura 12. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Paranóide
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento paranóide. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,58 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,17 e da nota 3 para
a 4 equivale a 1,41. Verifica-se, também, uma clara representação de todas as quatro
categorias. A Figura 13 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de
modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
| |
.8 +11 444+
| 11 444 |
| 111 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 1 22222 4 |
.5 + 11 2222 2222 44 +
| 2** 22 33333333333*4 |
.4 + 222 11 **2 4 333 +
| 22 1 333 22 44 333 |
| 222 11 33 22 44 333 |
| 222 11 33 4*2 333 |
.2 +22 33*11 44 22 333 +
| 333 11 44 222 3|
| 3333 1***4 222 |
| 3333333 444444 111111 2222222 |
.0 +*******4444444444444444 11111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
111
Figura 13. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Paranóide
De acordo com a Figura 13, pode-se observar que o item 26 apresentou o limiar
mais alto de transição em todas as categorias, e o item 13 apresentou o limiar mais baixo de
transição para todos os casos. Esse fato indica que o item 26 é mais difícil de ser endossado
e o item 13 mais fácil.
Ainda na Figura 13, pode-se observar que os respondentes, com exceção ao item 13
(no qual os participantes tendem a responder que os descreve muito), tendem a responder
que os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez
que o nível médio de theta foi igual a –1,43 nesta escala e a média de dificuldade dos itens
(b) é centrada em zero. A Figura 14 representa um mapa no qual são dispostas as
localizações dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
6
-
5
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 44 26(NGT)A maioria das pessoas (...)sorte ou são desonestas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 90(PRN)Desde criança preciso (...) que tentam me enganar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 59(PRN)Desconfio de todos ao meu redor.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 43(PRN)Os outros (...) enganar, mas estou sempre alerta.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 28(PRN)Normalmente as pessoas não são confiáveis.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 13(PRN)É necessário (...) para saber em quem confiar.
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
-6 -5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
1 2 4 4 4 4 2 2 3 1
11 7 8 5 3 4 911 2 416 6 6 3 5 2 1 1 1 2 PS
T S M S T
112
Figura 14. Mapa Pessoas-Itens da Escala Paranóide
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de 5 a 4, sendo que cada # é equivalente a 4 respondentes. Verifica-se que
quase todos os itens da Escala Paranóide são difíceis para os participantes deste estudo,
com exceção do item 13. Assim, pode-se dizer que, em geral, essa escala apresenta uma
dificuldade média dos itens alta em relação ao nível médio de theta. Por isso, são
<more>|<rare>
4 . +
|
|
. |
|
|
3 . +
|
. |
|T
|
. |
2 +
.# |
|
. |
T|
.# |S 26(NGT)A maioria das pessoas que se deram bem na vida, ou foi por sorte ou são desonestas.
1 +
.# |
| 90(PRN)Desde criança preciso ter cuidado com as pessoas que tentam me e
nganar.
.# | 59(PRN)Desconfio de todos ao meu redor.
. | 43(PRN)Os outros sempre ten
tam me prejudicar, explorar ou enganar, mas estou sempre alerta.
.### |
0 S+M
########
| 28(PRN)Normalmente as pessoas não são confiáveis.
|
.##### |
. |
.####### |
-
1 +
|S
########### |
M|
.#########
# |
|
-
2 +
|
.########### |
|T 13(PRN)* necessário conhecer bastante as pessoas para saber em quem confiar.
|
S|
-
3 ############ +
|
|
|
|
|
-
4 .###### +
|
T|
|
|
|
-
5 ### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 4 respondentes
113
observadas lacunas sem itens para representação do funcionamento paranóide para o
funcionamento mais saudável.
4.1.2.5 Escala Sádico
Na tabela 28, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de 1,81, isto é, praticamente dois logits abaixo da
médias dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,17 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 28. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Sádico
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -1,81 0,75 0,97 0,93
Desvio Padrão 0,3 1,17 0,19 0,73 0,77
Máximo 6 3,13 1,08 4,68 5,35
Mínimo 3 -3,36 0,52 0,18 0,17
Ainda na Tabela 28, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 4,68 e 5,35 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,49 ndice real) e 0,56 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Sádico é igual a 6, o que pode ser considerado um número pequeno, acarretando
uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Assim, o coeficiente de fidedignidade
114
obtido pode ser considerado como moderado para esta escala. Na Tabela 29 encontram-se
as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 29. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Sádico
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 280,8 0 0,10 1,09 0,93
Desvio Padrão 0,9 0,81 0,02 0,15 0,14
Máximo 282 0,94 0,13 1,35 1,13
Mínimo 280 -1,15 0,08 0,93 0,73
O valor de N mostra que, em média, 280,8 participantes responderam os itens da
Escala Sádico. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,81, o que indica que os itens dessa
escala são difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram média de theta igual
a –1,81). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se ligeiramente fora
dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,35 (infit) e 1,13 (outfit). Os valores
máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a existência mínima de
incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 30
apresenta os valores dios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
Tabela 30. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Sádico
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
67 0,26 0,11 1,35 1,13 0,59
54 0,94 0,13 1,08 0,73 0,60
9 0,74 0,12 0,95 0,78 0,61
24 0,22 0,10 1,20 0,98 0,61
21 -1,15 0,08 1,01 1,01 0,70
70 -1,02 0,09 0,93 0,94 0,72
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
21, ao passo que o mais difícil foi o de número 54. Com relação ao ajuste, pode-se notar
115
que praticamente todos os itens da Escala Sádico apresentaram índices de infit e outfit
adequados, com ressalvas para o infit igual a 1,35 para o item 67. No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
correlação item-total mostraram-se moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 21 e 70. A Figura 15 representa as categorias de pontuação.
Figura 15. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Sádico
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento sádico. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,42 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,32 e da nota 3 para
a 4 equivale a 1,10. Verifica-se, também, uma representação de todas as quatro categorias,
apesar da categoria 3 ser mais discreta, isto é, mais provável em uma faixa muito restrita. A
Figura 16 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de modo a ilustrar
os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
| 444|
.8 +111 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 44 |
.5 + 11 222222222222 4 +
| 22* 222 44 |
.4 + 22 11 2*3333333*33 +
| 222 11 333 22 44 333 |
| 22 11 33 2*4 333 |
| 222 11333 4 22 333 |
.2 + 222 3311 44 22 3333 +
|2 333 111 444 222 3333|
| 3333 44*11 222 |
| 3333333 444444 111111 2222222 |
.0 +*********4444444444444 1111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
116
Figura 16. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Sádico
De acordo com a Figura 16, pode-se observar que o item 54 apresentou o limiar
mais alto de transição em todas as categorias, e o item 13 apresentou o limiar mais baixo de
transição para todos os casos. Esse fato indica que o item 26 é mais difícil de ser endossado
e o item 13 mais fácil.
Ainda na Figura 16, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,81 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 17 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 54(SDC)Muitas vezes (...) e/ou deixar as pessoas tristes.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 09(SDC)Não sei por que (...) para fazer os outros sofrerem.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 67(HST)Não me importo (...) para chamar atenção dos outros.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 24(SDC)Gosto de intimidar e dominar os outros.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 70(SDC)Muitas vezes magôo os outros com as coisas que digo.
11 : 2 : 3 : 4 4 21(NCS)Os outros devem satisfazer meus desejos e vontades.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
6 5 5 4 3 2 2 1
7 8 7 4 2 8 0 11 87 5 4 4 2 1 1 PS
S M S T
117
Figura 17. Mapa Pessoas-Itens da Escala Sádico
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 6 respondentes. Verifica-se que
quase todos os itens da Escala dico são difíceis para os participantes deste estudo, com
exceção dos itens 70 e 21, que podem ser considerados moderados. Assim, pode-se dizer
que, em geral, essa escala apresenta uma dificuldade alta e média dos itens alta em relação
ao nível médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do
funcionamento sádico mais saudável.
<more>|<rare>
4 . +
|
|
|
|
|
. |
3 +
|
|
|
|
|
|
2 +
|
|
|T
|
|
. |
1 + 54(SDC
)Muitas vezes faço coisas para irritar e/ou deixar as pessoas tristes.
. |S
| 09(SDC)Não sei por que, mas às vezes digo coisas cruéis só para fazer os outros sofr
erem.
. T|
|
. | 24(SDC)Gosto de intimidar e dominar os outros.
67(HST)Não me importo em exagerar para chamar atenção dos outros.
|
0 .#
+M
.# |
|
.# |
. S|
|
.### |S
-
1 + 70(SDC)Muitas vezes magôo os outros com as coisas que digo.
.#### | 21(NC
S)Os outros devem satisfazer meus desejos e vontades.
|
.##### |
|T
|
M|
-
2 .####### +
|
|
.#######
## |
|
|
|
-
3 S+
|
|
.#######
## |
|
|
|
-
4 .########### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 6 respondentes
118
4.1.2.6 Escala Compulsivo
Na Tabela 31, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de 0,57, isto é, aproximadamente meio logit acima da
média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser de fácil a
moderados. O desvio padrão de 1,27 indica uma variação moderada nos thetas dos
respondentes.
Tabela 31. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Compulsivo
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 0,57 0,62 1,01 1,02
Desvio Padrão 0,2 1,27 0,12 0,72 0,74
Máximo 6 3,40 1,07 4,46 4,52
Mínimo 3 -3,49 0,55 0,07 0,07
Ainda na Tabela 31, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 4,46 e 4,52 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,69 ndice real) e 0,75 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Compulsivo é igual a 6, o que pode ser considerado um número pequeno,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Nesse sentido, o coeficiente
de fidedignidade obtido pode ser considerado como satisfatório para esta escala. Na Tabela
32 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
119
Tabela 32. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Compulsivo
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 334 0 0,08 0,99 1,02
Desvio Padrão 1 0,38 0 0,14 0,16
Máximo 335 0,70 0,08 1,25 1,36
Mínimo 333 -0,39 0,08 0,88 0,86
O valor de N mostra que, em média, 334 participantes responderam os itens da
Escala Compulsivo. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,38, o que indica que os itens
dessa escala são fáceis e moderados para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a 0,57). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
ligeiramente fora dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,25 (infit) e 1,36 (outfit).
Os valores máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a existência
mínima de incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a
Tabela 33 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de
dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch
de resposta gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente
em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 33.
Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Compulsivo
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
13 -0,32 0,08 1,25 1,36 0,57
4 -0,39 0,08 0,89 0,96 0,64
40 -0,22 0,08 1,06 1,03 0,68
71 0,22 0,08 0,88 0,88 0,70
56 0,70 0,08 0,99 1,01 0,71
25 0,01 0,08 0,88 0,86 0,72
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
4, ao passo que o mais difícil foi o de número 56. Com relação ao ajuste, pode-se notar que
praticamente todos os itens da Escala Compulsivo apresentaram índices de infit e outfit
adequados, com ressalvas para o outfit igual a 1,36 para o item 13. No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
correlação item-total mostraram-se moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
120
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 21 e 70. A Figura 18 representa as categorias de pontuação.
Figura 18. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Compulsivo
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento compulsivo. A intersecção
entre duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado
das duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1
para a 2 equivale ao valor -1,78 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,13 e da nota
3 para a 4 equivale a 1,65. Verifica-se, também, uma clara representação de todas as quatro
categorias. A Figura 19 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de
modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
| |
.8 + 4+
|111 444 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 222222222 4 |
.5 + 1 2222 222 3333333333 44 +
| 2*1 222333 3** |
.4 + 222 11 33322 44 333 +
| 22 11 33 22 4 333 |
| 222 11 33 22 44 33 |
|222 11 33 2*4 333 |
.2 + 33*1 44 22 33+
| 333 111 444 222 |
| 3333 111*444 2222 |
| 3333333 444444 111111 2222222 |
.0 +******444444444444444444 1111111111111111111*****+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
121
Figura 19. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Compulsivo
De acordo com a Figura 19, pode-se observar que o item 56 apresentou o limiar
mais alto de transição em todas as categorias, e o item 13 apresentou o limiar mais baixo de
transição das categorias 1 e 2, e 2 e 3, e o item 4 o limiar mais baixo de transição das
categorias 3 e 4. Esse fato indica que o item 26 é mais difícil de ser endossado e os itens 13
e 4 os mais fáceis.
Ainda na Figura 19, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens os descrevem muito (categoria 3) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez
que o nível médio de theta foi igual a –0,57 nesta escala e a média de dificuldade dos itens
(b) é centrada em zero. A Figura 20 representa um mapa no qual são dispostas as
localizações dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 56(CPS)Tudo deve estar sempre organizado e em ordem.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 71(CPS)As tarefas devem (...) realizadas com perfeição.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 25(CPS)Sempre gosto de (...) trabalho antes de descansar.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 40(CPS)A responsabilidade (...) que vir em primeiro lugar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 13(PRN)É necessário (...) para saber em quem confiar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 04(CPS)Sempre me certifico (...) bem planejado e organizado.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
2 2 3 3 3 3 4 2 2 1 2 1 1
1 3 1 5 4 7 4 8 0 1 1 4 1 21 1 6 2 4 4 PS
T S M S T
122
Figura 20. Mapa Pessoas-Itens da Escala Compulsivo
Do lado esquerdo da Figura 20 encontram-se os respondentes da escala, dispostos
na escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 4 respondentes. Verifica-se
que todos os itens da Escala Compulsivo são moderados para os participantes deste estudo,
de modo que os itens 4, 40 e 13 estão abaixo da média do theta dos participantes, o item 25
apresenta b igual ao theta dos participantes, e os itens 71 e 56 valores de b mais altos que a
média de theta dos participantes. Assim, pode-se dizer que, em geral, essa escala apresenta
uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível médio de theta. Por isso, observa-
<more>|<rare>
4 .### +
|
|
|
.### |
|
T|
3 +
|
|
.##### |
|
|
|
2 #### +
S|
.##### |
|
. |
.##### |
|
1 .########## +
|
.######## |T 56(CPS)Tudo deve estar sempre organizado e em
ordem.
M|
|S
.####### | 71(CPS)As tarefas d
evem ser sempre realizadas com perfeição.
|
0 .####### +M 25(CPS)Sempre gosto de estar seguro de ter terminado meu trabalho antes de
descansar.
|
.####### | 13(PRN)* necessário conhecer bastante as pessoas para saber em quem
co
nfiar.
40(CPS)A responsabilidade e as obrigações sempre têm que vir em primeiro
lugar.
|S 04(CPS)Sempre me certifico
de que o meu trabalho esteja bem planejado e organizado.
####### |
S|T
###### |
-
1 +
|
.# |
|
|
# |
|
-
2 T+
.# |
|
|
|
. |
|
-
3 +
|
|
. |
|
|
|
-
4 . +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 4 respondentes
123
se uma lacuna sem itens para representação do funcionamento compulsivo mais saudável,
bem como para o funcionamento patológico mais grave.
4.1.2.7 Escala Masoquista
Na Tabela 34, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 8 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 4 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a dia obtida foi de –1,69, isto é, pouco mais de um logit e meio abaixo
da média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis.
O desvio padrão de 1,17 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 34. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Masoquista
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 8 -1,69 0,65 0,97 0,99
Desvio Padrão 0,3 1,17 0,21 0,53 0,67
Máximo 8 1,71 1,05 3,39 4,60
Mínimo 4 -3,37 0,42 0,17 0,18
Ainda na Tabela 34, verifica-se que os índices médios de ajuste
infit
e
outfit
,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de
infit
e
outfit
foram 3,39 e 4,60 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,62 (índice real) e 0,66 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Masoquista é igual a 8, o que pode ser considerado um mero moderado de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Nesse sentido, o coeficiente
de fidedignidade obtido pode ser considerado como marginalmente satisfatório para esta
124
escala. Na Tabela 35 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da
escala.
Tabela 35. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Masoquista
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 305,1 0 0,10 1,05 0,98
Desvio Padrão 0,3 0,76 0,02 0,17 0,17
Máximo 306 1,52 0,14 1,37 1,37
Mínimo 305 -0,95 0,08 0,80 0,80
O valor de N mostra que, em média, 305,1 participantes responderam os itens da
Escala Masoquista. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,76, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,69). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
um pouco acima dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,37 (
infit
) e 1,37 (
outfit
).
Os valores máximos de
infit
e
outfit
, nesse caso, podem ser interpretados como a existência
de uma pequena incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a
Tabela 36 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de
dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch
de resposta gradual identifica valores dos limiares (
thresholds
), ou seja, o valor equivalente
em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 36. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Masoquista
Itens B Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
58 1,52 0,14 1,37 0,89 0,41
41 0,71 0,11 1,22 1,37 0,44
27 0,26 0,10 1,09 1,01 0,58
98 -0,79 0,08 1,06 1,10 0,63
81 -0,22 0,09 1,05 0,97 0,64
32 -0,24 0,09 0,88 0,89 0,66
97 -0,30 0,09 0,93 0,80 0,69
96 -0,95 0,08 0,80 0,82 0,73
125
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
96, ao passo que o mais difícil foi o de número 58. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que praticamente todos os itens da Escala Masoquista apresentaram índices de
infit
e
outfit
adequados, com ressalvas para o
infit
do item 58 (1,37) e outfit do item 41 (1,37). No que
respeita à correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os
coeficientes de correlação item-total variaram entre baixo (0,41) e alto (0,73), sendo
aqueles que melhor se correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram
maior concordância, os itens 96, 97 e 32. A Figura 21 representa as categorias de
pontuação.
Figura 21. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Masoquista
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento masoquista. A intersecção
entre duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (
threshold
) estimado
das duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1
para a 2 equivale ao valor -1,15 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,40 e da nota
3 para a 4 equivale a 0,74. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 444|
|111 444 |
.8 + 111 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 1 4 |
.5 + 11 2222222 44 +
| **2 222 4 |
.4 + 222 1 22 4 +
| 222 11 **33**3333 |
| 22 11 333 2* 333 |
| 222 11333 44 22 3333 |
.2 + 222 33311 44 22 333 +
|2222 333 1*4 222 3333 |
| 3333 444 111 222 3333|
| 3333333 44444 111111 2222222 |
.0 +**********444444444444 11111111111111*******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
1
26
e 4, sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar quase a inexistência de uma região
distinta na escala de theta. A Figura 22 apresenta os valores dos limiares (
thresholds
) para
cada item, de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota
para a outra.
Figura 22. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Masoquista
De acordo com a Figura 22, pode-se observar que o item 58 apresentou o limiar
mais alto de transição em todas as categorias, e o item 96 apresentou o limiar mais baixo de
transição também em todas as categorias. Esse fato indica que o item 58 é mais difícil de
ser endossado e o item 96 o mais fácil.
Ainda na Figura 22, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,69 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 23 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 58 58(MSQ)Muitas vezes mereço que os outros me rebaixem.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 41 41(NGT)É irritante (...) melhor que eu na vida.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 27 27(MSQ)Parece que (...) outras pessoas me tratam mal.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 81 81(DPT)Freqüentemente deixo (...) medo de não fazê-
las bem.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 32 32(EVT)Sempre acho que as pessoas vão me rejeitar.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 97 97(MSQ)Quase sempre me sinto culpado, e não sei a razão.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 98 98(PRN)Sempre que alguém (...) o verdadeiro motivo.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 96 96(NGT)Mesmo quando (...) comecem a dar mal.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
4 5 4 4 3 2 2 111
3 3 3 1 7 4 11950 7764 7 2 42 2 1 1 PS
S M S T
127
Figura 23. Mapa Pessoas-Itens da Escala Masoquista
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 5 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens da Escala Masoquista são difíceis para os participantes deste estudo, de
modo que o item 58 se mostra particularmente mais afastado da faixa na qual predominam
os respondentes, indicando ser um item muito difícil para se concordar. Assim, pode-se
dizer que essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível
<more>|<rare>
4 . +
|
|
|
|
|
|
3 +
|
|
|
|
|
|
2 +
|
. |
|T 58(MSQ)Muitas vezes mereço que os outros me rebaixem.
. |
|
. |
1 . +
|
. T|S 41(NGT)* irritante estar entre pessoas que se deram melhor que eu na vida.
|
.#
|
| 27(MSQ)Parece que eu mesmo provoco situações nas quais outras pessoas me tratam mal.
. |
0 .# +M
.# |
.# | 32(EVT)Sempre acho que as pessoas vão me rejeitar
.
81(DPT)Freqüentemente deixo de fazer as coisas por ter medo de não fazê
-
las bem.
97(MSQ)Quase sempre me sinto culpado, e não sei a razão.
|
## S|
### |
S
.### | 98(PRN)Sempre que alguém me trata muito bem, me pergunto qual será o verdadeiro motivo.
-
1 . + 96(NGT)Mesmo quando as coisas andam bem, fico com medo que comecem a dar mal.
.#### |
|
.#### |
|T
.####### M|
|
-
2 +
.######## |
|
|
.######## |
|
S|
-
3 +
|
|
.########## |
|
|
|
-
4 .######## T+
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 5 respondentes
128
médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do
funcionamento masoquista mais saudável.
4.1.2.8 Escala Anti-social
Na Tabela 37, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,21, isto é, pouco mais de um logit abaixo da
média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,13 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 37. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Anti-Social
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -1,21 0,67 1,01 0,98
Desvio Padrão 0,2 1,13 0,20 0,63 0,72
Máximo 6 2,67 1,06 4,04 6,21
Mínimo 3 -2,95 0,47 0,10 0,11
Ainda na Tabela 37, verifica-se que os índices médios de ajuste
infit
e
outfit
,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores ximos de
infit
e
outfit
foram 4,04 e 6,21 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,55 (índice real) e 0,62 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Anti-social é igual a 6, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Nesse sentido, o coeficiente
129
de fidedignidade obtido pode ser considerado como moderado para esta escala. Na Tabela
38 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 38. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Anti-Social
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 322 0 0,08 1,02 0,99
Desvio Padrão 0 0,51 0,01 0,16 0,22
Máximo 322 0,72 0,10 1,20 1,27
Mínimo 322 -0,76 0,07 0,77 0,62
O valor de N mostra que, em média, 322 participantes responderam os itens da
Escala Anti-social. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,51, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,21). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
marginalmente dentro dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,20 (
infit
) e 1,27
(
outfit
). Os valores máximos de
infit
e
outfit
, nesse caso, podem ser interpretados como a
quase inexistência de incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na
seqüência, a Tabela 39 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice
médio de dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o
modelo Rasch de resposta gradual identifica valores dos limiares (
thresholds
), ou seja, o
valor equivalente em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 39. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Anti-Social
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
69 0,72 0,10 1,10 1,04 0,57
85 -0,19 0,08 1,14 1,19 0,59
83 -0,76 0,07 1,20 1,27 0,59
53 -0,16 0,08 1,10 1,00 0,63
84 0,59 0,09 0,77 0,62 0,68
38 -0,20 0,08 0,81 0,80 0,69
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
83, ao passo que o mais difícil foi o de número 69. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que praticamente todos os itens da Escala Anti-social apresentaram índices de
infit
e
outfit
130
adequados, com ressalvas para o
outfit
do item 93 (1,27). No que respeita à correlação entre
os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de correlação item-total
foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se correlacionaram com todos os
demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os itens 38, 84, 53. A Figura 24
representa as categorias de pontuação.
Figura 24. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Anti-Social
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento anti-social. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (
threshold
) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,16 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,49 e da nota 3 para
a 4 equivale a 0,67. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2 e 4,
sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar quase a inexistência de uma região distinta na
escala de theta. A Figura 25 apresenta os valores dos limiares (
thresholds
) para cada item,
de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 444|
|111 4444 |
.8 + 111 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 4 |
.6 + 11 44 +
| 1 44 |
.5 + 11 22222222 4 +
| 2**2 222 4 |
.4 + 22 1 22 44 +
| 222 11 2*3*333 |
| 22 11 33334* 3333 |
| 222 11 333 4 22 3333 |
.2 + 222 33*1 44 22 333 +
|2222 333 1*4 222 3333 |
| 3333 444 111 222 33333|
| 3333333 444444 111111 2222222 |
.0 +***********4444444444 11111111111111*******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
131
Figura 25. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Anti-Social
De acordo com a Figura 25, pode-se observar que o item 69 apresentou o limiar
mais alto de transição em todas as categorias, e o item 83 apresentou o limiar mais baixo de
transição também em todas as categorias. Esse fato indica que o item 69 é mais difícil de
ser endossado e o item 83 o mais fácil.
Ainda na Figura 25, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,21 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 26 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 44 69 69(ATS)Não me arrependo (...) mesmo que alguém
saia prejudicado.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 84 84(ATS)Vale a pena desrespeitar (...)
conseguir o que quero.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 53 53(ATS)Sou muito bom (...) quando me envolvo em problemas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 85 85(SDC)Tive que ser muito duro (...) para mantê-
las na linha.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 38 38(ATS)Quando se tem um bom motivo (...)
as regras ou leis.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 83 83(NCS)Sou uma pessoa especial (...)
o que os outros pensam.
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3
2 5 3 4 4 3 3 2 1 1
5 4 7 1 21 2 5 3 3 76 7 3 4 4 1 2 1 1 PS
S M S T
132
Figura 26. Mapa Pessoas-Itens da Escala Anti-social
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –3 a 3, sendo que cada # é equivalente a 5 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens da Escala Anti-social são difíceis para os participantes deste estudo, de
modo que os itens 69 e 84 foram os mais afastados da faixa na qual predominam os
respondentes, indicando serem os mais difíceis para se concordar. Assim, pode-se dizer que
essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível médio de
<more>|<rare>
3 . +
|
|
. |
|
|
|
|
|
|
2 . +
|
|
|
. |
|
|
. |
|
|
1 . T+T
|
. |
| 69(ATS)Não me arrependo das coisas que faço, mesmo que alguém saia
prejudicado.
| 84(ATS)Vale a pena desrespeitar certas regras/leis para
conse
guir o que quero.
.# |S
|
.# |
. |
.### |
0 +M
.## S|
| 38(ATS)Quando se tem um bom motivo, vale a pena desrespeitar as regras ou
leis.
53(ATS)Sou muito bom para inventar desculpas quando me envolvo em
problemas.
85(SDC)Tive que ser muito d
uro com algumas pessoas para mantê
-
las na linha.
|
.#### |
|S
####### |
|
| 83(NCS)Sou uma pessoa especial, por isso não me importa o que os
ou
tros pensam.
.
###### |
-
1 +T
. |
.######## M|
|
|
|
.######## |
|
|
|
-
2 +
.####### |
|
S|
|
|
|
|
|
.########## |
-
3 ##### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 5 respondentes
133
theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do funcionamento anti-
social mais saudável.
4.1.2.9 Escala Dependente
Na Tabela 40, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,55, isto é, praticamente um logit e meio abaixo da
média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,20 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 40. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Dependente
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -1,55 0,73 0,98 0,97
Desvio Padrão 0,2 1,20 0,21 0,71 0,80
Máximo 6 1,70 1,14 4,33 5,43
Mínimo 3 -3,21 0,48 0,13 0,13
Ainda na Tabela 40, verifica-se que os índices médios de ajuste
infit
e
outfit
,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores ximos de
infit
e
outfit
foram 4,33 e 5,43 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,53 (índice real) e 0,60 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Dependente é igual a 6, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Nesse sentido, o coeficiente
134
de fidedignidade obtido pode ser considerado como moderado para esta escala. Na Tabela
41 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 41. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Dependente
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 282,3 0 0,10 1,05 0,97
Desvio Padrão 0,5 0,54 0,01 0,13 0,11
Máximo 283 0,62 0,11 1,23 1,13
Mínimo 282 -1,00 0,08 0,83 0,82
O valor de N mostra que, em média, 282,3 participantes responderam os itens da
Escala Dependente. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,54, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,55). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
marginalmente dentro dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,23 (
infit
) e 1,13
(
outfit
). Os valores máximos de
infit
e
outfit
, nesse caso, podem ser interpretados como a
quase inexistência de incongruência entre o esperado e o observado no modelo. Na
seqüência, a Tabela 42 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice
médio de dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o
modelo Rasch de resposta gradual identifica valores dos limiares (
thresholds
), ou seja, o
valor equivalente em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 42. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Dependente
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
35 0,62 0,11 1,10 0,98 0,58
19 0,53 0,11 1,13 0,96 0,60
81 -0,15 0,09 1,23 0,13 0,64
50 -1,00 0,08 1,04 0,08 0,68
66 -0,14 0,09 0,94 0,86 0,68
7 0,13 0,10 0,83 0,82 0,68
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
50, ao passo que o mais difícil foi o de número 35. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que praticamente todos os itens da Escala Dependente apresentaram índices de
infit
e
outfit
135
adequados, com ressalvas para o
infit
do item 81 (1,23). No que respeita à correlação entre
os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de correlação item-total
foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se correlacionaram com todos os
demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os itens 7, 66, 50. A Figura 27
representa as categorias de pontuação.
Figura 27. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Dependente
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento dependente. A intersecção
entre duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (
threshold
) estimado
das duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1
para a 2 equivale ao valor -1,44 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,67 e da nota
3 para a 4 equivale a 0,76. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2
e 4, sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar praticamente a inexistência de uma região
distinta na escala de theta. A Figura 28 apresenta os valores dos limiares (
thresholds
) para
cada item, de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota
para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 44|
| 4444 |
.8 +111 44 +
| 111 444 |
| 11 44 |
| 11 4 |
.6 + 11 44 +
| 11 222222222 4 |
.5 + 112222 222 44 +
| 2211 22 4 |
.4 + 22 1 22 44 +
| 222 11 *3*33 |
| 22 11 33334*2 33333 |
| 222 11 333 4 22 3333 |
.2 + 222 1**3 44 22 333 +
|2 3333 11 44 22 3333 |
| 3333 44*111 2222 3333|
| 3333333 444444 111111 222222 |
.0 +***********44444444444 111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
136
Figura 28. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Dependente
De acordo com a Figura 28, pode-se observar que, por um lado, os itens 35 e 19
apresentaram os limiares mais altos de transição entre as categorias 1 e 2, e 2 e 3, e o item
69 apresentou o limiar mais alto de transição entre as categorias 3 e 4. Por outro, o item 50
apresentou os limiares mais baixos de transição entre todas as categorias. Esse fato indica
que os itens 35 e 19 são mais difíceis de serem endossados (e, especialmente o 35 para a
transição entre as categorias 3 e 4) e o item 50 o mais fácil.
Ainda na Figura 28, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,55 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 29 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 44 35 35(DPT)É melhor seguir (...) seguir com meu pensamento.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 19 19(DPT)Me sinto bem quando (...) decidem
as coisas por mim.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 7 07(DPT)É comum que eu (...) decisões importantes por mim.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 66 66(DPT)As pessoas podem (...) eu pensava estar decidido.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 81 81(DPT)Freqüentemente deixo (...) medo de não fazê-
las bem.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 50 50(DPT)Me sinto mal (...) sem ter a opinião dos outros.
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3
6 6 4 3 3 3 2 1 1
6 0 1 0 1 7 6 3 3 711 9 2 1 2 5 3 2 PS
S M S T
137
Figura 29. Mapa Pessoas-Itens da Escala Dependente
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 2, sendo que cada # é equivalente a 6 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens da Escala Dependente são difíceis para os participantes deste estudo.
Assim, pode-se dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em
relação ao nível médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para
representação do funcionamento dependente mais saudável.
4.1.2.10 Escala Histriônico
Na Tabela 43, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
<more>|<rare>
2 +
|
. |
|
|
. |
|
. |T
1 +
. T|
|
. | 35(DPT)* melhor seguir a sugestão dos
outros do que seguir com meu pensamento.
|S 19(DPT)Me sinto bem quando as pessoas decidem as coisas por mim.
. |
|
.# | 07(DPT)* comum que eu permita que outr
os tomem decisões importantes por mim.
0 +M
.# | 66(DPT)As pessoas podem me fazer mudar de idéia facilmente, mesmo quando eu pensava estar decidido.
81(DPT)Freqüentemente deixo de fa
zer as coisas por ter medo de não fa
-
las bem.
. |
.## S|
|S
.### |
|
|
-
1 .##### + 50(DPT)
Me sinto mal em fazer algo sozinho, sem ter a opinião dos outros.
|T
|
###### |
M|
|
.###### |
|
-
2 +
. |
|
.###### |
|
|
S|
|
-
3 +
|
########## |
|
|
|
|
|
-
4 .########### T+
<less>|<frequ>
C
ada # equivale a 6 respondentes
138
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 5 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 2 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,21, isto é, pouco mais de um logit abaixo da
média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,08 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 43. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Histriônico
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 5 -1,21 0,72 0,99 1
Desvio Padrão 0,2 1,08 0,17 0,74 0,85
Máximo 5 2,69 1,08 3,87 5,41
Mínimo 2 -2,92 0,53 0,04 0,04
Ainda na Tabela 43, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 3,87 e 5,41 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,44 (índice real) e 0,53 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Histriônico é igual a 5, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
fidedignidade obtido pode ser considerado como baixo para esta escala. Na Tabela 44
encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 44. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Histriônico
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 302 0 0,09 1,03 1
Desvio Padrão 0 0,53 0,01 0,18 0,13
Máximo 302 0,94 0,10 1,38 1,23
Mínimo 302 -0,57 0,08 0,87 0,86
139
O valor de N mostra que, em média, 302 participantes responderam os itens da
Escala Histriônico. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,53, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,21). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
um pouco fora dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,38 (infit) e 1,23 (outfit). Os
valores máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a presença de
pequenas incongruências entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a
Tabela 45 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de
dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch
de resposta gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente
em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 45. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Histriônico
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
67 0,94 0,10 1,38 1,23 0,54
68 0,05 0,09 0,95 0,95 0,64
72 -0,40 0,08 1,03 1,05 0,65
2 -0,02 0,09 0,87 0,86 0,68
82 -0,57 0,08 0,91 0,90 0,72
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
82, ao passo que o mais difícil foi o de número 67. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que praticamente todos os itens da Escala Histriônico apresentaram índices de infit e outfit
adequados, com ressalvas para o infit (1,38) e outfit (1,23) do item 67. No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
correlação item-total foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 82 e 2. A Figura 30 representa as categorias de pontuação.
140
Figura 30. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Histriônico
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento histriônico. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,36 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,46 e da nota 3 para
a 4 equivale a 0,91. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2 e 4,
sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar praticamente a inexistência de uma região
distinta na escala de theta. A Figura 31 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para
cada item, de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota
para a outra.
Figura 31. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Histriônico
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 4|
|1 4444 |
.8 + 111 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 4 +
| 11 222 44 |
.5 + 1 22222 2222 4 +
| 2** 22 44 |
.4 + 222 11 22 4 +
| 22 11 33**33**33333 |
| 222 1 333 2* 333 |
| 22 11 33 44 22 333 |
.2 + 2222 3**1 44 22 3333 +
|2 333 11 44 222 3333 |
| 3333 44*111 222 33|
| 3333333 444444 11111 2222222 |
.0 +**********444444444444 1111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 67(HST)Não me importo (...) chamar atenção dos outros.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 68(NCS)As pessoas invejam minhas habilidades.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 02(HST)Gosto de usar roupas que chamam atenção.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 72(NGT)Fico extremamente (...) recebo ordem dos outros.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 82(HST)Me sinto bem quando (...) nas roupas que uso.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
4 4 5 4 5 3 2 2 1
3 3 1 0 9 2 3 1 318 0 7 1 3 1 1 3 PS
S M S T
141
De acordo com a Figura 31, pode-se observar que, por um lado, o item 67
apresentou os limiares mais altos de transição entre todas as categorias, e, por outro, o item
82 apresentou o limiar mais baixo de transição também entre todas as categorias. Esse fato
indica que o item 67 é mais difícil de ser endossado e o item 82 o mais fácil.
Ainda na Figura 31, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,21 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 32 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
142
Figura 32. Mapa Pessoas-Itens da Escala Histriônico
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –3 a 3, sendo que cada # é equivalente a 6 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens da Escala Histriônico são difíceis para os participantes deste estudo, e
particularmente o item 67, que é o item mais afastado da área onde está localizado o maior
número de participantes. Assim, pode-se dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade
<more>|<rare>
3 . +
|
|
. |
|
|
|
|
|
|
2 . +
|
|
|
|
. |
|
|
|
. |T
1
T+
|
67(HST)Não me importo em exagerar para chamar atenção dos outros.
.# |
|
|
.## |S
|
|
## |
. |
0 +M 02(HST)Gosto de usar roupas que chamam atenção.
68(NCS)As pessoas invejam minhas habilidades.
.##### S|
|
|
.##### | 72(NGT)Fico extremamente irritado quando recebo ordem dos outros.
|S
| 82(HST)Me sinto bem quando as pessoas reparam nas roupas que uso.
.######## |
|
|
-
1 . +
.############ |T
M|
|
|
.############ |
|
|
|
|
-
2
+
.############ |
|
S|
|
|
|
|
|
.########## |
-
3 ########### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 6 respondentes
143
média dos itens alta em relação ao nível médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna
sem itens para representação do funcionamento histriônico mais saudável.
4.1.2.11 Escala Negativista
Na Tabela 46, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,85, isto é, quase dois logits abaixo da média dos
itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O desvio
padrão de 1,08 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 46. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Negativista
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -1,85 0,77 0,96 0,96
Desvio Padrão 0,2 1,08 0,20 0,60 0,70
Máximo 6 1,73 1,13 3,55 4,50
Mínimo 3 -3,19 0,49 0,22 0,23
Ainda na Tabela 46, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 3,55 e 4,50 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,37 (índice real) e 0,46 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Negativista é igual a 6, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
144
fidedignidade obtido pode ser considerado como baixo para esta escala. Na Tabela 47
encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 47. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Negativista
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 247,2 0 0,11 1,07 0,96
Desvio Padrão 0,4 0,74 0,02 0,13 0,13
Máximo 248 1,26 0,16 1,18 1,14
Mínimo 247 -1,23 0,09 0,80 0,81
O valor de N mostra que, em média, 247,2 participantes responderam os itens da
Escala Negativista. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,75, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,85). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
dentro dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,18 (infit) e 1,14 (outfit). Os valores
máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a ausência de
incongruências entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 48
apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
Tabela 48. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Negativista
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
64 1,26 0,16 1,07 0,81 0,50
41 0,24 0,12 1,17 1,14 0,54
94 0,23 0,12 1,14 0,97 0,60
26 -0,20 0,10 1,18 1,10 0,60
88 -0,29 0,10 1,05 0,90 0,66
57 -1,23 0,09 0,80 0,81 0,77
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
57, ao passo que o mais difícil foi o de número 64. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que todos os itens da Escala Negativista apresentaram índices de infit e outfit adequados.
145
No que respeita à correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os
coeficientes de correlação item-total foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 57 e 88. A Figura 33 representa as categorias de pontuação.
Figura 33. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Negativista
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento negativista. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,31 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,61 e da nota 3 para
a 4 equivale a 0,70. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2 e 4,
sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar a inexistência de uma região distinta na escala
de theta. A Figura 34 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de
modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 444|
|11 444 |
.8 + 111 444 +
| 11 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 22222 4 |
.5 + 11 2222 2222 4 +
| 22*1 22 44 |
.4 + 22 1 22 4 +
| 222 11 2***3 |
| 22 11 3333342 33333 |
| 222 11 333 44 22 3333 |
.2 + 222 3** 44 22 3333 +
|22 333 11*4 222 3333 |
| 3333 444 111 222 3333|
| 3333333 44444 111111 2222222 |
.0 +***********44444444444 111111111111111******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
146
Figura 34. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Negativista
De acordo com a Figura 34, pode-se observar que, por um lado, o item 64
apresentou os limiares mais altos de transição entre todas as categorias, e, por outro, o item
57 apresentou o limiar mais baixo de transição também entre todas as categorias. Esse fato
indica que o item 64 é mais difícil de ser endossado e o item 57 o mais fácil.
Ainda na Figura 34, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –1,85 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 35 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 64(DPS)Eu não posso fazer nada para melhorar minha vida.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 41(NGT)É irritante estar (...) melhor que eu na vida.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 94(EVT)Sinto que a maioria (...) que tenho pouco valor.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 26(NGT)A maioria das pessoas (...) sorte ou são desonestas.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 88(NGT)Na vida, não tive a sorte que os outros tiveram.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 57(NGT)As pessoas não (...) e não dão o valor que mereço.
|------+------+------+------+------+------+------+------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
1
0 5 6 4 2 2 1
1 6 1 15 1 2 4 0 6 6 26 4 2 2 1 PS
M S T
147
Figura 35. Mapa Pessoas-Itens da Escala Negativista
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 2, sendo que cada # é equivalente a 8 respondentes. Verifica-se que,
em geral, os itens da Escala Negativista são difíceis para os participantes deste estudo. Por
um lado, o item 64 é o item mais afastado da área onde está localizado o maior número de
participantes, por outro, o item 57 é o que apresenta um índice b mais próximo do theta
médio dos participantes. Assim, pode-se dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade
média dos itens alta em relação ao nível médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna
sem itens para representação do funcionamento negativista mais saudável.
<more>|<rare>
2 +
|
. |
|
|T
|
| 64(DPS)Eu não posso fazer nada p
ara melhorar minha vida.
. |
1 +
. |
|S
. |
|
. |
T| 41(NGT)* irritante estar entre pessoas que se
deram melhor que eu na vida.
94(EVT)Sinto que a maioria das pessoas pensa que
tenho pouco valor.
. |
0 +M
. |
| 26(NGT)A maioria das pessoas que se dera
m bem na vida, ou foi por sorte ou são desonestas.
88(NG
T)Na vida, não tive a sorte que os outros tiveram.
. |
|
.# |
S|S
|
-
1 ### +
|
| 57(NGT)As pessoas não me compreendem e não dão o valor que mereço.
.## |
|T
|
.##### |
M|
-
2 +
|
|
.######## |
|
|
. |
S|
-
3 +
####### |
|
|
|
|
|
|
-
4 .############ T+
Cada # equivale a 8 respondentes
148
4.1.2.12 Escala Esquizotípico
Na Tabela 49, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 2 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –0,94, isto é, praticamente um logit abaixo da média
dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O desvio
padrão de 1,15 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 49. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Esquizotípico
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -0,94 0,63 0,99 0,99
Desvio Padrão 0,3 1,15 0,18 0,64 0,67
Máximo 6 2,69 1,05 3,60 4,13
Mínimo 2 -2,90 0,47 0,06 0,05
Ainda na Tabela 49, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 3,60 e 4,13 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,62 (índice real) e 0,68 ndice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Esquizotípico é igual a 6, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
fidedignidade obtido pode ser considerado como marginalmente satisfatório para esta
escala. Na Tabela 50 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da
escala.
149
Tabela 50. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Esquizotípico
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 324,5 0 0,08 1,02 0,99
Desvio Padrão 1,1 0,48 0,01 0,25 0,26
Máximo 325 0,64 0,09 1,51 1,42
Mínimo 322 -0,69 0,07 0,78 0,71
O valor de N mostra que, em média, 324,5 participantes responderam os itens da
Escala Esquizotípico. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,48, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –0,94). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
fora dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,51 (infit) e 1,42 (outfit). Os valores
máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a presença de
incongruências entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 51
apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
Tabela 51. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Esquizotípico
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
72 -0,08 0,08 1,14 1,20 0,56
14 0,25 0,08 1,51 1,42 0,56
45 -0,69 0,07 1,03 1,03 0,67
91 0,64 0,09 0,78 0,71 0,68
60 0,41 0,08 0,83 0,71 0,69
29 -0,53 0,07 0,85 0,85 0,71
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
45, ao passo que o mais difícil foi o de número 91. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que a maioria dos itens da Escala Esquizotípico apresentaram índices de infit e outfit
adequados, com exceção do item 14 (infit = 1,51 e outfit = 1,42). No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
150
correlação item-total foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 29 e 60. A Figura 36 representa as categorias de pontuação.
Figura 36. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Esquizotípico
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento esquizotípico. A intersecção
entre duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado
das duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1
para a 2 equivale ao valor -1,10 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,35 e da nota
3 para a 4 equivale a 0,75. Verifica-se, também, uma clara representação das categorias 1, 2
e 4, sendo que, na categoria 3, pode-se visualizar a inexistência de uma região distinta na
escala de theta. A Figura 37 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item,
de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| 444|
|1111 444 |
.8 + 111 444 +
| 11 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 4 |
.5 + 1 22 44 +
| 1*2222 2222 4 |
.4 + 222 11 222 44 +
| 222 1 3**33*33333 |
| 222 11 333 ** 333 |
| 222 1133 4 22 3333 |
.2 + 222 33311 44 22 333 +
|2222 333 1*4 22 3333 |
| 3333 444 111 2222 3333|
| 3333333 444444 111111 222222 |
.0 +**********44444444444 1111111111111********+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
151
Figura 37. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Esquizotípico
De acordo com a Figura 37, pode-se observar que, por um lado, o item 91
apresentou os limiares mais altos de transição entre todas as categorias, e, por outro, o item
45 apresentou o limiar mais baixo de transição também entre todas as categorias. Esse fato
indica que o item 91 é mais difícil de ser endossado e o item 45 o mais fácil.
Ainda na Figura 37, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens não os descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que
o nível médio de theta foi igual a –0,94 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é
centrada em zero. A Figura 38 representa um mapa no qual são dispostas as localizações
dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 44 91(EQT)Sei que as (...) que faço coisas estranhas às vezes.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 60(EQT)As pessoas pensam (...) coisas estranhas e diferentes.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 14(EQT)Com freqüência (...) de alguém que não se pode ver.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 72(NGT)Fico extremamente (...) recebo ordem dos outros.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 29(EQT)Às vezes tenho pensamentos estranhos sobre o mundo.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 45(EQT)Freqüentemente me perco (...) aconte
cendo à minha volta.
|-------+-------+-------+-------+-------+-------+-------| NUM I
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3
2 3 3 4 4 2 3 2 1 21 1
21 4 5 14 2 910 3 1134 2 5 5 7 4 3 1 2 PS
T S M S T
152
Figura 38. Mapa Pessoas-Itens da Escala Esquizotípico
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –3 a 3, sendo que cada # é equivalente a 4 respondentes. Assim, pode-se
dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível
médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do
funcionamento esquizotípico mais saudável.
<more>|<rare>
3 . +
|
|
. |
|
|
|
|
|
|
2 . +
. |
|
|
# |
|
T|
.# |
|
|
1 .# +T
|
|
.# |
| 91(EQT)Sei que as pessoas acham que faço coisas estranhas às
vezes.
### |S
| 60(EQT)As pessoas pensa
m que eu, algumas vezes, falo d
e coisas estranhas e diferentes.
.### |
S| 14(EQT)Com freqüência, quando estou só, sinto a presença forte de alguém que não se pode
ver.
.##### |
0 . +M
| 72(NGT)Fico extremamente irritado quando recebo ordem dos
outros.
.## |
|
.##### |
|S 29(EQT)+s vezes tenho pensamentos estranhos sobre o
mundo.
.######
# |
| 45(EQT)Freqüentemente me perco em meus pensamentos e esqueço do que está acontecendo à minha
volta.
. |
.####### M|
-
1 +T
|
.########## |
. |
|
|
########### |
|
. |
|
-
2 +
.######## S|
|
|
|
|
|
|
|
.######## |
-
3
.##### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 4 respondentes
153
4.1.2.13 Escala Evitativo
Na Tabela 52, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 7 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 2 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1,38, isto é, próximo a um logit e meio abaixo da
média dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O
desvio padrão de 1,27 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 52. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Evitativo
Número de itens
Theta Erro Padrão Infit Outfit
Média 7 -1,38 0,64 0,98 1,01
Desvio Padrão 0,3 1,27 0,16 0,65 0,94
Máximo 7 2,14 1,16 3,49 9,46
Mínimo 2 -3,54 0,49 0,04 0,07
Ainda na Tabela 52, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 3,49 e 9,46 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,68 (índice real) e 0,73 ndice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Evitativo é igual a 7, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
fidedignidade obtido pode ser considerado como satisfatório para esta escala. Na Tabela 53
encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
154
Tabela 53. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Evitativo
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 327,6 0 0,09 1,07 1,01
Desvio Padrão 0,9 0,97 0,01 0,20 0,16
Máximo 329 1,34 0,12 1,37 1,28
Mínimo 327 -1,48 0,07 0,80 0,84
O valor de N mostra que, em média, 327,6 participantes responderam os itens da
Escala Evitativo. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,97, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –1,38). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
fora dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,37 (infit) e 1,28 (outfit). Os valores
máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a presença de
incongruências entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a Tabela 54
apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de dificuldade
correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch de resposta
gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente em theta da
transição de uma nota para outra.
Tabela 54. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Evitativo
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
94 1,34 0,12 1,32 1,28 0,55
5 0,77 0,10 1,19 1,20 0,59
63 0,65 0,10 1,37 1,09 0,61
32 0,35 0,09 0,91 0,84 0,69
79 -0,61 0,08 0,96 0,91 0,70
48 -1,03 0,08 0,97 0,91 0,72
17 -1,48 0,07 0,80 0,84 0,72
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
17, ao passo que o mais difícil foi o de número 94. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que a maioria dos itens da Escala Evitativo apresentaram índices de infit e outfit adequados,
com exceção dos itens 94 (infit = 1,32 e outfit = 1,28) e 63 (infit = 1,37). No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
155
correlação item-total foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 29 e 60. A Figura 39 representa as categorias de pontuação.
Figura 39. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Evitativo
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele vel de funcionamento evitativo. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,29 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,20 e da nota 3 para
a 4 equivale a 1,08. Verifica-se, também, uma clara representação em todas as categorias,
apesar da categoria 3 apresentar uma pequena área distinta das outras na escala de theta. A
Figura 40 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de modo a ilustrar
os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
|11 444|
.8 + 111 444 +
| 11 444 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 4 +
| 11 44 |
.5 + 11 2222222 44 +
| 2*22 222 4 |
.4 + 22 11 22*3333333**33 +
| 222 11 333 22 4 333 |
| 222 1 33 2244 333 |
| 222 1133 4422 333 |
.2 + 222 333111 44 22 3333 +
|22 333 11 44 222 3333|
| 333 44*11 222 |
| 33333333 444444 111111 2222222 |
.0 +********44444444444444 111111111111111*******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
156
Figura 40. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Evitativo
De acordo com a Figura 40, pode-se observar que, por um lado, o item 94
apresentou os limiares mais altos de transição entre todas as categorias, e, por outro, o item
17 apresentou o limiar mais baixo de transição também entre todas as categorias. Esse fato
indica que o item 94 é mais difícil de ser endossado e o item 17 o mais fácil.
Ainda na Figura 40, pode-se observar que os respondentes, com exceção ao item 17
(tendem a responder que o item os descreve muito), tendem a responder que os itens não os
descrevem (categoria 1) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez que o nível médio
de theta foi igual a –1,38 nesta escala e a média de dificuldade dos itens (b) é centrada em
zero. A Figura 41 representa um mapa no qual são dispostas as localizações dos
respondentes da escala em relação aos itens.
-
5
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 44 94 94(EVT)Sinto que (...) pessoas pensa que tenho pouco valor.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 5 05(EVT)Evito participar (...) porque posso ser criticado.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 63 63(EVT)Tenho vontade (...) com as pessoas, mas não consigo.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 32 32(EVT)Sempre acho que as pessoas vão me rejeitar.
| |
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 79 79(EVT)Em reuniões sociais (...) percebo que estou tenso.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 48 48(EVT)É horrível não ser aprovado pelos outros.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 17 17(EVT)Me sinto muito mal quando sou criticado.
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
1 2 4 4 4 3 2 2 21 1
9 6 2 2 1 8 418 25 086 53 5 216 4 2 PS
T S M S T
157
Figura 41. Mapa Pessoas-Itens da Escala Evitativo
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 3, sendo que cada # é equivalente a 4 respondentes. Assim, pode-se
dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível
médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do
funcionamento evitativo mais saudável.
<more>|<rare>
3 . +
|
|
|
|
|
|
# |
2 +
|T
.# |
|
. |
| 94(EVT)Sinto que a maioria das pessoas pensa que tenho pouco
valor.
|
.# T|
1 +S
. |
| 05(EVT)Evito participar de atividades em grupo, porque posso ser
criticado.
.# | 63(EVT)Tenho vontade de me relacionar com as pessoas, mas não
consigo.
|
.# | 32(EVT)Sempre acho que as pessoas vão me rej
eitar.
|
## |
0 +M
.## S|
|
.### |
|
.##### | 79(EVT)Em r
euniões sociais, q
uase sempre percebo que estou tenso.
|
####### |
-
1 . +S 48(EVT)* horrível não ser aprovado pelos outros.
###### |
|
.######### M|
| 17(EVT)Me sinto muito mal quando sou criticado.
|
.########## |
|T
-
2 +
.########## |
|
|
|
S|
.########## |
|
-
3 +
|
|
|
.######
|
|
|
T|
-
4 .#### +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 4 respondentes
158
4.1.2.14 Escala Narcisista
Na Tabela 55, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 6 itens (número máximo de itens),
sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 3 itens. No que concerne ao nível de
traço latente (
θ
), a média obtida foi de –0,38, isto é, próximo a meio logit abaixo da média
dos itens. Isso indica que os itens, para esses respondentes, tendem a ser difíceis. O desvio
padrão de 1,10 indica uma variação moderada nos thetas dos respondentes.
Tabela 55. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo da
Escala Narcisista
Número de itens
Teta Erro Padrão Infit Outfit
Média 6 -0,38 0,59 1 0,99
Desvio Padrão 0,2 1,10 0,09 0,77 0,77
Máximo 6 3,30 1,08 4,77 5,22
Mínimo 3 3,43 0,54 0,09 0,10
Ainda na Tabela 55, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
outfit foram 4,77 e 5,22 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,62 ndice real) e 0,71 (índice dos escores modelados). O número de itens da
Escala Narcisista é igual a 6, o que pode ser considerado um número baixo de itens,
acarretando uma diminuição no coeficiente de fidedignidade. Ainda assim, o coeficiente de
fidedignidade obtido pode ser considerado como marginalmente satisfatório para esta
escala. Na Tabela 56 encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da
escala.
159
Tabela 56. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens da Escala Narcisista
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 348,3 0 0,08 1,01 0,99
Desvio Padrão 0,5 0,89 0 0,11 0,12
Máximo 349 1,16 0,08 1,22 1,23
Mínimo 348 -1,46 0,07 0,91 0,88
O valor de N mostra que, em média, 348,3 participantes responderam os itens da
Escala Narcisista. O desvio padrão médio de b foi igual a 0,89, o que indica que os itens
dessa escala tendem a ser difíceis para os participantes deste estudo (que apresentaram
média de theta igual a –0,38). Os índices que avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se
ligeiramente fora dos limites esperados (1,20), sendo o máximo 1,22 (infit) e 1,23 (outfit).
Os valores máximos de infit e outfit, nesse caso, podem ser interpretados como a quase
inexistência de incongruências entre o esperado e o observado no modelo. Na seqüência, a
Tabela 57 apresenta os valores médios de b para cada item, indicando o índice médio de
dificuldade correspondente. Cada item possui um valor médio de b porque o modelo Rasch
de resposta gradual identifica valores dos limiares (thresholds), ou seja, o valor equivalente
em theta da transição de uma nota para outra.
Tabela 57. Índices de dificuldade, ajuste e correlação item-total da Escala Narcisista
Itens b Erro Padrão
Infit Outfit
Correlação Item-Total
83 0,32 0,07 1,22 1,23 0,57
21 0,75 0,08 1,04 1,00 0,58
3 -0,80 0,07 0,93 0,96 0,59
68 1,16 0,08 0,99 0,88 0,60
37 -1,46 0,08 0,91 0,89 0,62
52 0,02 0,07 0,94 0,95 0,66
Pode-se notar que o item mais fácil, endossado pelos participantes, foi o de número
37, ao passo que o mais difícil foi o de número 68. Com relação ao ajuste, pode-se notar
que a maioria dos itens da Escala Narcisista apresentaram índices de infit e outfit
adequados, com exceção do item 83 (infit = 1,22 e outfit = 1,23). No que respeita à
correlação entre os itens e a escala como um todo, pode-se notar que os coeficientes de
160
correlação item-total foram moderados e altos, sendo aqueles que melhor se
correlacionaram com todos os demais, ou seja, que demonstraram maior concordância, os
itens 52 e 37. A Figura 42 representa as categorias de pontuação.
Figura 42. Curvas de Probabilidade das Categorias da Escala Narcisista
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade de endosso a
uma determinada categoria naquele nível de funcionamento narcisista. A intersecção entre
duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold) estimado das
duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da nota 1 para a
2 equivale ao valor -1,41 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,14 e da nota 3 para
a 4 equivale a 1,27. Verifica-se, também, uma clara representação em todas as categorias na
escala de theta. A Figura 43 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item,
de modo a ilustrar os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
1.0 + +
| |
| |
| 44|
.8 +111 444 +
| 111 44 |
| 11 44 |
| 11 44 |
.6 + 11 44 +
| 11 44 |
.5 + 11 222222222 4 +
| 2*2 222 33333333344 |
.4 + 222 11 2**3 43333 +
| 22 11 333 22 44 333 |
| 222 1 33 22 44 33 |
| 222 1133 4*2 333 |
.2 + 222 333111 44 22 3333 +
|2 333 11 44 222 33|
| 333 4***1 2222 |
| 3333333 44444 111111 222222 |
.0 +********444444444444444 111111111111111*******+
++---------+---------+---------+---------+---------+---------++
-3 -2 -1 0 1 2 3
161
Figura 43. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens da Escala Narcisista
De acordo com a Figura 43, pode-se observar que, por um lado, o item 68
apresentou os limiares mais altos de transição entre todas as categorias, e, por outro, o item
37 apresentou o limiar mais baixo de transição também entre todas as categorias. Esse fato
indica que o item 68 é mais difícil de ser endossado e o item 37 o mais fácil.
Ainda na Figura 43, pode-se observar que os respondentes tendem a responder que
os itens os descrevem muito (categoria 3) ou os descrevem pouco (categoria 2), uma vez
que o nível médio de theta foi igual a 0,38 nesta escala e a média de dificuldade dos itens
(b) é centrada em zero. A Figura 44 representa um mapa no qual são dispostas as
localizações dos respondentes da escala em relação aos itens.
-
5
-
4
-
3
-
2
-
1 0 1 2 3 4
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
1 1 : 2 : 3 : 4 4 68 68(NCS)As pessoas invejam minhas habilidades.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 21 21(NCS)Os outros (...) meus desejos e vontades.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 83 83(NCS)Sou uma pessoa (...) o que os outros pensam.
1 1 : 2 : 3 : 4 4 52 52(NCS)Me irrito quando (...) reconhecem minhas qualidades.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 3 03(NCS)Eu me considero uma pessoa muito especial.
| |
1 1 : 2 : 3 : 4 4 37 37(NCS)Não há nada melhor (...) elogiado pelas pessoas.
|-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----+-----| NUM I
-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4
1 1 3 2 3 5 33 3 21 1
6 2 2 0 8 6 0 92 1 77 1 91 3 4 2 PS
T S M S T
162
Figura 44. Mapa Pessoas-Itens da Escala Narcisista
Do lado esquerdo da figura encontram-se os respondentes da escala, dispostos na
escala de theta de –4 a 4, sendo que cada # é equivalente a 4 respondentes. Assim, pode-se
dizer que, essa escala apresenta uma dificuldade média dos itens alta em relação ao nível
médio de theta. Por isso, observa-se uma lacuna sem itens para representação do
funcionamento evitativo mais saudável. A despeito dessa distribuição dos itens na escala de
theta, também pode-se constatar que um pequeno grupo de participantes (pouco mais de 20)
apresentaram um nível de theta mais alto que os bs de todos itens da Escala Narcisista, o
<more>|<rare>
4 . +
|
|
|
|
. |
|
3 +
|
|
# |
|
|
|
2 . +
T|
|T
.## |
|
.## |
| 68(NCS)As pessoas invejam minhas habi
lidades.
1 +
.#### |S
S| 21(NCS)Os outros devem satisfazer meus desejos e
vontades.
.###### |
|
.####### | 83(NCS)Sou uma pessoa especial, por isso não me importa o que os outros
pensam.
|
0 ######## +M 52(NCS)Me irrito quando as pessoas não reconhecem minhas
qualidades.
|
.######### |
M|
.############ |
|
######### |S 03(NCS)Eu me considero uma pessoa muito especial.
-
1 +
####### |
|
S| 37(
NCS)Não há nada m
elhor do que ser elogiado pelas pessoas.
.####### |
|T
|
-
2 ### +
|
|
|
### T|
|
|
-
3 +
|
|
.# |
|
|
|
-
4 +
<less>|<frequ>
Cada # equivale a 4 respondentes
163
que pode sugerir uma lacuna também de itens mais patológicos em relação ao
funcionamento narcisista.
4.1.2.15 Escalas para Avaliação dos Transtornos da Personalidade
A seguir serão apresentados alguns dados, segundo o modelo de Rasch, das quatorze
escalas do IDTP para avaliação dos transtornos da personalidade. Uma vez que os dados
descritivos de cada uma das escalas foram apresentados, na seqüência serão apresentadas
somente propriedades que acrescentem na compreensão acerca da adequação do IDTP. A
análise conjunta das quatorze escalas do instrumento é possível uma vez que entende-se
que há uma dimensão comum de desajustamento da personalidade subjacente à essas
escalas, o que pode ser evidenciado pelas altas correlações entre as escalas do IDTP.
Na Tabela 58, podem ser verificadas as estatísticas descritivas sumarizadas com
relação aos níveis de traço latente dos respondentes, bem como seus respectivos índices de
ajuste. Observa-se que foram respondidos, em média, 91,6 itens (praticamente o número
máximo de itens), sendo que todos respondentes assinalaram pelo menos 26 itens. No que
concerne ao nível de traço latente (
θ
), a média obtida foi de –1, isto é, um logit abaixo da
média dos itens. Isso indica que os itens, para os respondentes do instrumento, tendem a ser
difíceis. O desvio padrão de 0,65 indica uma variação baixa nos thetas dos respondentes.
Tabela 58. Estatísticas descritivas dos valores de theta dos respondentes e índices de ajuste do modelo das
Escalas de Transtornos da Personalidade
Número de itens Theta Erro Padrão
Infit Outfit
Média 91,6 -1 0,14 1 1,02
Desvio Padrão 4,4 0,65 0,03 0,42 0,53
Máximo 92 1,28 0,34 2,77 3,55
Mínimo 26 -3,27 0,12 0,35 0,35
Ainda na Tabela 58, verifica-se que os índices médios de ajuste infit e outfit,
mostraram-se adequados, isto é, inferiores a 1,20. Contudo, os valores máximos de infit e
164
outfit foram 2,77 e 3,55 respectivamente, indicando que a pontuação de alguns
respondentes não se ajustou adequadamente ao que é esperado pelo modelo.
A fidedignidade das estimativas de theta dos respondentes calculada pelo modelo de
Rasch foi 0,94 (índice real) e 0,95 ndice dos escores modelados). O coeficiente de
fidedignidade obtido pode ser considerado como ótimo para o instrumento. Na Tabela 59
encontram-se as estatísticas descritivas sumarizadas dos itens da escala.
Tabela 59. Estatísticas descritivas dos índices de dificuldade e ajuste dos itens das Escalas de Transtornos da
Personalidade
N b Erro Padrão Infit Outfit
Média 348,4 0 0,08 1,07 1,02
Desvio Padrão 1 0,79 0,02 0,19 0,21
Máximo 350 2,00 0,16 1,66 2,09
Mínimo 244 -1,75 0,06 0,73 0,69
O valor de N mostra que, em média, 348,4 participantes responderam os itens da
escalas para avaliação dos transtornos da personalidade. O desvio padrão médio de b foi
igual a 0,79, o que indica que os itens dessa escala tendem a ser difíceis para os
participantes deste estudo (que apresentaram média de theta igual a –1). Os índices que
avaliam o ajuste geral dos itens mostraram-se fora dos limites esperados (1,20), sendo o
máximo 1,66 (infit) e 2,09 (outfit). Os valores máximos de infit e outfit, nesse caso, podem
ser interpretados como a existência de incongruências entre o esperado e o observado no
modelo. Na continuidade, a Figura 45 representa as categorias de pontuação.
165
Figura 45. Curvas de Probabilidade das Categorias das Escalas de Transtornos da Personalidade
A probabilidade da categoria, nesta escala, refere-se à probabilidade média de
endosso a uma determinada categoria nos níveis de funcionamento da personalidade. A
intersecção entre duas categorias pode ser compreendida como o valor do limiar (threshold)
estimado das duas categorias. Nesse sentido, pode-se perceber que o limiar de transição da
nota 1 para a 2 equivale ao valor –0,63 de theta, da nota 2 para a 3 equivale ao theta 0,17 e
da nota 3 para a 4 equivale a 0,46. Verifica-se, também, uma clara representação das
categorias 1, 2 e 4, e praticamente a não distinção da categoria 3 na escala de theta. A
Figura 46 apresenta os valores dos limiares (thresholds) para cada item, de modo a ilustrar
os valores de theta que representam a transição de uma nota para a outra.
++--------------+--------------+--------------+--------------++
1.0 + +
| |
| |
| |
.8 +1 44+
| 111 4444 |
| 111 444 |
| 111 44 |
.6 + 11 44 +
| 111 444 |
.5 + 11 44 +
| 11 44 |
.4 + 2**222222 44 +
| 222222 111 22222 33**3333 |
| 2222 11 333****4 3333333 |
| 22222 3**3 44 222 33333 |
.2 +222 3333 11*44 222 33333 +
| 3333 444 111 2222 3|
| 333333 4444 1111 222222 |
| 3333333333 44444444 11111111 222222222|
.0 +*44444444444444 111111111111111+
++--------------+--------------+--------------+--------------++
-2 -1 0 1 2
166
Figura 46. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens das Escalas de Transtornos da Personalidade
167
Continuação da Figura 46. Valores dos Limiares (thresholds) dos itens das Escalas de Transtornos da Personalidade
Visando a investigar possíveis agrupamentos de pessoas e de itens para o IDTP,
procedeu-se à análise da Figura 46 de acordo com os procedimentos utilizados por Elliot e
cols. (2006). No mapa, os itens são apresentados dos mais severos (em termos de
características dos transtornos da personalidade), no topo do mapa, até os menos severos,
na margem inferior. No corpo do mapa são apresentadas as categorias de resposta (de 1 a 4)
para cada item, baseadas na posição dos respondentes. Na margem inferior do mapa é
apresentada a distribuição dos respondentes, freqüências dadas por meio de números
168
posicionados verticalmente (M = média; S = 1 desvio padrão da média; T = 2 desvios
padrões da média).
Em geral, os respondentes apresentam um nível de funcionamento patológico da
personalidade médio ou baixo, com uma maior concentração de pessoas entre 1 desvio
padrão abaixo da média e 1 desvio padrão acima da média. No que concerne aos índices de
separação, que se referem-se ao número de níveis de distinções estatísticos de severidade na
amostra incluída na análise (Myford & Wolfe, 2004), foram 4,06 (das pessoas) e 9,29 (dos
itens), demonstrando um alto nível de distinção entre as pessoas e os itens ao longo das
variáveis mensuradas. O índice de separação 4,06 (das pessoas) é transformado em 5,74
strata
12
estatisticamente distintos, enquanto o índice de separação 9,29 (dos itens) é
transformado em 12,72 strata distintos. Portanto, pode-se dizer que os 92 itens do IDTP são
capazes de distinguir 5 grupos estatisticamente distintos de pessoas, bem como discriminar
pelo menos 12 níveis distintos de itens (em termos de dificuldade). Vale a pena ressaltar
que o strata aponta para diferenças significativas entre as dificuldades de diferentes
conjuntos de itens, mas não quer dizer necessariamente que diferença psicológica
significativa entre esses conjuntos de itens.
Acerca do strata obtido para as pessoas, a distinção de 5 grupos de pessoas indica
que o IDTP é provavelmente capaz de discriminar entre grupos óbvios de participantes,
como não-clínicos, clínicos com funcionamento patológico baixo, moderado, alto e
extremo. Ao lado disso, no que respeita ao strata encontrado para os itens, a partir de uma
análise qualitativa dos itens os itens foram divididos em subgrupos. No trabalho realizado
por Elliot e cols. (2006), no qual foi realizada também a análise de divisão de pessoas e
12
O strata, cuja fórmula para o cálculo é (4G + 1)/3, é utilizado para determinar o mero de veis de
distinções estatísticas (separados por pelo menos 3 erros de mensuração) da habilidade das pessoas que os
itens distinguiram (Smith Jr., 2004).
169
itens por meio do strata, os subgrupos de itens foram logicamente divididos pelos
pesquisadores de acordo com o nível de severidade dos itens, já que o instrumento em pauta
naquela pesquisa (o SCL-90, um checklist de sintomas) pressupunha um construto cujos
itens deveriam se distribuir ao longo do continuum de acordo com o vel de patologia
descrito nos itens (quanto mais patologia, mais difícil o item). Presentemente, não tal
pressuposição, de que os itens de um determinado transtorno da personalidade sejam mais
difíceis de se endossar do que os itens de outro transtorno, diferentemente, espera-se que as
escalas dos diferentes transtornos estejam equilibradas em relação ao nível de dificuldade
(e, de fato, de acordo com os dados já discutidos, parecem estar, com exceção da Escala
Compulsivo). Por isso, as subdivisões dos 92 itens correspondentes às 14 escalas para
avaliação dos transtornos da personalidade, visualizadas na Figura 46, foram realizadas
primordialmente com base nos limiares (thresholds) entre as categorias 2 e 3, isto é, de “me
descreve pouco” para “me descreve muito” (já que cada uma dessas categorias representa
um pólo “pouco” e “muito”). As subdivisões dos itens podem ser visualizadas na Figura
46 por meio de traços em vermelho, de modo que cada grupo de itens é destacado por um
número que varia entre 1 e 12. Nesse sentido, o grupo 1 de itens é mais fácil de ser
endossado pelos participantes do que o grupo 2; o grupo 2 é mais fácil de ser endossado do
que o 3; e assim por diante.
4.2 Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis Externas
Na seqüência, são apresentadas análises que buscam verificar evidências de
validade do IDTP baseadas nas relações com variáveis externas. Primeiramente, verificou-
se possíveis correlações das escalas do IDTP e as escalas do MCMI-III, por meio da
correlação de Pearson; em um segundo momento, buscou-se possíveis diferenças e
interações, nas escalas do IDTP, entre grupos de participantes (Grupo Não Psiquiátrico
170
(GNP) Grupo Psiquiátrico (GPS)), grupos diagnósticos (indivíduos do GPS), e gênero por
meio da análise de perfis de medidas repetidas; e, por último, foi realizada a análise da
curva ROC (Receiver Operation Curve), buscando índices de sensibilidade e especificidade
do IDTP.
4.2.1 Correlações entre as Escalas do IDTP e MCMI-III
Para o cálculo das correlações entre as escalas dos instrumentos, IDTP e MCMI-III,
foram utilizadas as escalas da versão final do IDTP (tal qual apresentadas anteriormente) e
as escalas teóricas do MCMI-III (de acordo com a versão original do instrumento). A
Tabela 60 apresentam as correlações entre as escalas do IDTP.
Tabela 60. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP e do MCMI-III
Fatores
IDTP
Depressivo
IDTP
Esquizóide
IDTP
Borderline
IDTP
Paranóide
IDTP
Sádico
IDTP
Compulsivo
IDTP
Masoquista
IDTP
Anti-social
MCMI
Depressivo
0,880(**)
0,770(**) 0,499(**) 0,556(**) 0,368(**) 0,163(**) 0,818(**) 0,235(**)
MCMI
Esquizoide
0,595(**)
0,743(**)
0,376(**) 0,576(**) 0,360(**) 0,260(**) 0,629(**) 0,331(**)
MCMI
Evitativo
0,724(**) 0,783(**) 0,519(**) 0,586(**) 0,317(**) 0,257(**) 0,824(**) 0,245(**)
MCMI
Dependente
0,556(**) 0,444(**) 0,459(**) 0,320(**) 0,320(**) 0,109(*) 0,580(**) 0,291(**)
MCMI
Histriônico
0,001 -0,185(**) 0,216(**) 0,049 0,333(**) 0,073 0,061 0,421(**)
MCMI
Narcisista
0,256(**) 0,171(**) 0,436(**) 0,359(**) 0,531(**) 0,210(**) 0,316(**) 0,657(**)
MCMI
Anti-social
0,413(**) 0,329(**) 0,342(**) 0,318(**) 0,523(**) 0,008 0,339(**)
0,592(**)
MCMI
Sadico
0,474(**) 0,446(**) 0,399(**) 0,395(**)
0,642(**)
0,113(*) 0,477(**) 0,352(**)
MCMI
Compulsivo
0,274(**) 0,308(**) 0,314(**) 0,352(**) 0,100
0,572(**)
0,305(**) 0,169(**)
MCMI
Negativista
0,600(**) 0,546(**) 0,417(**) 0,461(**) 0,504(**) 0,178(**) 0,573(**) 0,356(**)
MCMI
Masoquista
0,762(**) 0,756(**) 0,481(**) 0,562(**) 0,379(**) 0,176(**)
0,853(**)
0,247(**)
MCMI
Esquizot.
0,767(**) 0,756(**) 0,514(**) 0,594(**) 0,426(**) 0,184(**) 0,769(**) 0,331(**)
MCMI
Paranóide
0,441(**) 0,511(**) 0,417(**)
0,568(**)
0,419(**) 0,249(**) 0,552(**) 0,480(**)
MCMI
Borderline
0,777(**)
0,669(**) 0,517(**) 0,509(**) 0,506(**) 0,134(*) 0,717(**) 0,374(**)
MCMI
Validade
-0,011 -0,025 0,048 0,024 0,122(*) 0,009 -0,049 0,158(**)
MCMI
Desejab.
0,050 -0,058 0,259(**) 0,152(**) 0,205(**) 0,420(**) 0,095 0,319(**)
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Nota. As correlações mais altas foram marcadas em negrito.
171
Continuação da Tabela 60. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as escalas do IDTP e do MCMI-III
Fatores
IDTP
Dependente
IDTP
Narcisista
IDTP
Evitativo
IDTP
Esquizotípico
IDTP
Negativista
IDTP
Histriônico
IDTP
Escala XV
MCMI
Depressivo
0,636(**) 0,193(**) 0,758(**) 0,601(**) 0,733(**) 0,308(**) 0,085
MCMI
Esquizoide
0,433(**) 0,312(**) 0,618(**) 0,544(**) 0,587(**) 0,341(**) 0,155(**)
MCMI
Evitativo
0,614(**) 0,226(**)
0,817(**)
0,580(**) 0,699(**) 0,301(**) 0,122(**)
MCMI
Dependente
0,650(**)
0,288(**) 0,503(**) 0,585(**) 0,417(**) 0,412(**) 0,133(**)
MCMI
Histriônico
0,059
0,455(**)
-0,097 0,222(**) 0,032
0,464(**)
0,352(**)
MCMI
Narcisista
0,222(**)
0,699(**)
0,207(**) 0,476(**) 0,337(**) 0,683(**) 0,408(**)
MCMI
Anti-social
0,270(**) 0,406(**) 0,266(**) 0,499(**) 0,312(**) 0,497(**) 0,142(**)
MCMI
Sadico
0,340(**) 0,371(**) 0,426(**) 0,448(**) 0,426(**) 0,422(**) 0,115(**)
MCMI
Compulsivo
0,207(**) 0,281(**) 0,360(**) 0,163(**) 0,225(**) 0,136(*) 0,115(**)
MCMI
Negativista
0,364(**) 0,339(**) 0,481(**) 0,544(**)
0,499(**)
0,478(**) 0,096
MCMI
Masoquista
0,654(**) 0,228(**) 0,751(**) 0,595(**) 0,697(**) 0,350(**) 0,096
MCMI
Esquizot.
0,573(**) 0,316(**) 0,723(**)
0,739(**)
0,692(**) 0,406(**) 0,115(**)
MCMI
Paranóide
0,372(**) 0,460(**) 0,465(**) 0,526(**) 0,532(**) 0,482(**) 0,115(**)
MCMI
Borderline
0,591(**) 0,343(**) 0,641(**) 0,669(**) 0,653(**) 0,486(**) 0,119(**)
MCMI
Validade
-0,098 0,114(*) -0,025 0,033 -0,052
0,199(**)
0,145(**)
MCMI
Desejab.
0,050
0,420(**)
0,037 0,124(*) 0,041 0,304(**) 0,405(**)
(*) Estatisticamente significativos ao nível de 0,05 (bi-caudal)
(**) Estatisticamente significativos ao nível de 0,01 (bi-caudal)
Nota. As correlações mais altas foram marcadas em negrito.
Pode-se observar, nas tabelas, que as correlações esperadas entre as escalas, isto é,
as escalas do IDTP se correlacionarem positiva e estatisticamente com as escalas
correspondentes do IDTP, foram obtidas. Contudo, nota-se também que praticamente todas
as correlações entre as escalas foram positivas e significativas, ainda que, na maior parte dos
casos, as maiores correlações foram entre as escalas esperadas. As únicas escalas que
apresentaram maiores correlações com outras que não as correspondentes foram as escalas
Histriônico do IDTP, que apresentou maior correlação com a Escala Narcisista do MCMI-III,
e Borderline do IDTP, que apresentou maior correlação com a Escala Depressivo do MCMI-
III. Ainda, a Escala XV apresentou maiores correlações com a Escala de Desejabilidade,
Escala Narcisista e Escala Histriônico do MCMI-III.
172
4.2.2 Análise de Perfis por Medidas Repetidas – Grupos de participantes
Para investigar as possíveis diferenças e interações entre os grupos de participantes
GNP e GPS, foi adotado um procedimento específico da análise de variância com medidas
repetidas, denominada Análise de Perfis por Medidas Repetidas
13
(Tabachinick & Fidell,
1996). Essa análise verifica se o perfil de médias de um conjunto de medidas (parte intra-
sujeito do delineamento) é diferente para grupos distintos (parte entre-sujeitos do
delineamento) (Primi & cols., 2000).
Pode-se conceber que os itens de um determinado fator propõem características
relacionadas a um construto específico (transtornos da personalidade) e requerem uma
resposta do participantes, que pode concordar mais ou menos. Portanto, a variável
dependente que está sendo medida neste caso, é a concordância do participante com relação
às características dos diferentes transtornos da personalidade. Os escores de um participante
nos fatores representam seu perfil em relação às características relacionadas aos transtornos
da personalidade. A análise de perfil busca investigar se os perfis de subgrupos de
participantes, de acordo com o grupo (GNP ou GPS), são distintos.
Foram considerados dois grupos em função da presença ou ausência de diagnóstico
psiquiátrico e uma variável independente (concordância do respondente de acordo com a
escala likert de 1 a 4) com quinze níveis (transtornos da personalidade e Escala XV).
Portanto, empregou-se uma ANOVA 2 x 1, cujos resultados auxiliaram na verificação do
efeito que a variável “grupo”, independentemente ou em interação, produziram no perfil de
escores relacionados aos construtos mensurados pelo IDTP. Os resultados são apresentados
na Tabela 61.
13
É importante ressaltar que optou-se pela análise de perfis por medidas repetidas para verificar possíveis
diferenças entre os distintos grupos uma vez que outros procedimentos, como o Teste T de Student, que
necessitam que se proceda diversas vezes a mesma análise para um mesmo grupo de participantes, aumentam
a probabilidade da ocorrência do erro Tipo I, o que é apontado na literatura como familywise error (Howell,
2002).
173
Tabela 61. Resultados da ANOVA investigando o efeito de “grupono papel de características relacionadas
aos transtornos da personalidade e à Escala XV
Fonte de
variância
SQ GL* MQ F P Eta
2
Intra-sujeitos
IDTP 2273,75 8,28 274,43 132,46 0,001 0,29
IDTP*GNP&GPS
185,06 8,28 22,33 10,78 0,001 0,03
Erro 5492,94 2651,25 2,07
Entre-grupos
GNP&GPS 454,60 1 454,60 35,39 0,001 0,10
Erro 4110,29 320 12,84
Nota. *Valores corrigidos pela fórmula de Greenhouse-Geiner para compensar a violação do postulado de
simetria composta (Howell, 2002).
Os resultados indicaram que houve diferença significativa no perfil intra-sujeitos,
em relação à pontuação nos quinze fatores, e na interação dos perfis dos dois grupos, nas
características relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV. Ao lado disso,
verifica-se que também houve diferença significativa nos perfis entre-grupos, quais sejam,
GNP e GPS. A Figura 47 mostra o perfil das médias intra-grupos nas características
relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV.
174
Figura 47. Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “grupo
A análise da Figura 47 mostra que para todas as escalas, o grupo GPS sempre
obteve pontuações mais altas que o grupo GNP. Pode-se notar, também, que as maiores
diferenças entre os grupos encontram-se nas escalas Depressivo, Esquizóide, Borderline,
Paranóide, Sádico, Masoquista, Dependente, Negativista, Esquizotípico e Evitativo. De
modo que, nas escalas Compulsivo, Anti-social, Histriônico, Narcisista e XV parece não
haver diferenças significativas entre os grupos. Ao lado disso, as médias mais elevadas,
para ambos os grupos, ocorreram nas escalas Compulsivo, Borderline e Narcisista
(construtos cujos participantes mais demonstraram concordar com as características).
Diferentemente, as médias mais baixas, para o GNP, foram nas escalas Negativista, Sádico
e Depressivo; e, para o GPS, nas escalas Sádico, Negativista e Dependente.
4.2.3 Análise de Perfis por Medidas Repetidas – Grupos Diagnósticos
Na seqüência, investigou-se também possíveis diferenças e interações entre os
grupos de pacientes com diagnóstico psiquiátrico conhecido (N = 60), o que incluiu o grupo
GNP, também por meio da Análise de Perfis por Medidas Repetidas. Foram considerados 5
175
grupos em função de seus diagnósticos psiquiátricos (grupo com diagstico de transtornos
do espectro depressivo (N = 16), grupo com diagnóstico de transtornos do espectro ansioso
(N = 9), grupo com diagnóstico de transtornos do espectro esquizo (N = 19), grupo com
outros diagnósticos (N = 16)), e GNP e uma variável independente (concordância do
respondente de acordo com a escala likert de 1 a 4) com quinze níveis (transtornos da
personalidade e Escala XV). Portanto, empregou-se uma ANOVA 5 x 1, cujos resultados
auxiliaram na verificação do efeito que a variável “diagstico”, independentemente ou em
interação, produziram no perfil de escores relacionados aos construtos mensurados pelo
IDTP. Os resultados são apresentados na Tabela 62.
Tabela 62. Resultados da ANOVA investigando o efeito de “diagnóstico” no papel de características
relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV
Fonte de variância
SQ GL* MQ F P Eta
2
Intra-sujeitos
IDTP 121,293 7,963 15,233 46,249 0,001 0,132
IDTP*Diagnóstico
39,912 31,851 1,253 3,805 0,001 0,048
Erro 799,890 2428,607 0,329
Entre-grupos
Diagnóstico 55,600 4 13,900 7,180 0,001 0,086
Erro 590,486’ 305 1,936
Nota. *Valores corrigidos pela fórmula de Greenhouse-Geiner para compensar a violação do postulado de
simetria composta (Howell, 2002).
Os resultados indicaram que houve diferença significativa no perfil intra-sujeitos,
em relação à pontuação nos quinze fatores, bem como na interação dos perfis dos cinco
grupos, nas características relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV. Ao
lado disso, verifica-se que também houve diferença significativa nos perfis entre-grupos,
quais sejam, Espectro Depressivo, Espectro Ansioso, Espectro Esquizo e GNP. A Figura 48
176
mostra o perfil das médias intra-grupos nas características relacionadas aos transtornos da
personalidade e à Escala XV.
Figura 48. Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “diagnóstico”
A análise da Figura 48 mostra que, no geral, os perfis entre os cinco grupos diferem,
contudo, para as escalas Borderline, Sádico, Compulsivo e XV, as médias são similares. No
que se refere aos grupos psiquiátricos, as médias mais elevadas ocorreram nas escalas
Compulsivo e Borderline (construtos cujos participantes mais demonstraram concordar
com as características). Diferentemente, as médias mais baixas, em geral para os quatro
grupos psiquiátricos, foram nas escalas Sádico e XV. Pode-se observar que o grupo
diagnosticado com transtornos do espectro depressivo apresentou média de pontuações
mais elevada do que os outros grupos na Escala Narcisista. O grupo diagnosticado com
transtornos do espectro ansioso apresentou média de pontuações mais baixa do que os
outros grupos nas escalas Depressivo, Esquizóide, Borderline, Sádico, Negativista,
177
Esquizotípico e XV. O grupo diagnosticado com transtornos do espectro esquizo
apresentou média de pontuações mais elevada do que os outros grupos na Escala
Dependente e mais baixa na Escala Anti-social. E, o grupo diagnosticado com outros
transtornos apresentou média de pontuações mais elevada do que os outros grupos nas
escalas Depressivo, Esquizóide, Paranóide, Sádico, Compulsivo, Masoquista, Anti-social,
Histriônico, Esquizotípico e Evitativo.
4.2.4 Análise de Perfis por Medidas Repetidas – Gênero
Na seqüência, investigou-se também possíveis diferenças e interações entre os
gêneros, também por meio da Análise de Perfis por Medidas Repetidas. Foram
considerados dois grupos em função do gênero (masculino e feminino) e uma variável
independente (concordância do respondente de acordo com a escala likert de 1 a 4) com
quinze níveis (transtornos da personalidade e Escala XV). Portanto, empregou-se uma
ANOVA 2 x 1, cujos resultados auxiliaram na verificação do efeito que a variável
“gênero”, independentemente ou em interação, produziram no perfil de escores
relacionados aos construtos mensurados pelo IDTP. Os resultados são apresentados na
Tabela 63.
178
Tabela 63. Resultados da ANOVA investigando o efeito de “gênero” no papel de características relacionadas
aos transtornos da personalidade e à Escala XV
Fonte de
variância
SQ GL* MQ F P Eta
2
Intra-sujeitos
IDTP 3102,03 7,93 390,89 176,26 0,001 0,33
IDTP*Gênero
25,03 7,93 3,15 1,42 0,182 0,01
Erro 6124,41 2761,61 2,21
Entre-grupos
Gênero 29,04 1 29,04 2,04 0,153 0,01
Erro 4934,89 348 14,18
Nota. *Valores corrigidos pela fórmula de Greenhouse-Geiner para compensar a violação do postulado de
simetria composta (Howell, 2002).
Os resultados indicaram que houve diferença significativa no perfil intra-sujeitos,
em relação à pontuação nos quinze fatores, mas não na interação dos perfis de ambos os
grupos, nas características relacionadas aos transtornos da personalidade e à Escala XV. Ao
lado disso, verifica-se que também não houve diferença significativa nos perfis entre-
grupos. A Figura 49 mostra o perfil das médias intra-grupos nas características relacionadas
aos transtornos da personalidade e à Escala XV.
Figura 49. Perfil das pontuações nas escalas do IDTP na variável “gênero
179
Por meio da análise da Figura 49 verifica-se que os homens apresentaram as
pontuações mais altas na maioria das escalas, com exceção da Escala Compulsivo. Apesar
dos índices não apontarem para diferenças entre os grupos nas pontuações das escalas
pode-se observar claras diferenças nas pontuações entre os grupos nas escalas Esquizóide,
Anti-Social e Negativista. As médias mais elevadas, para ambos os grupos, ocorreram nas
escalas Compulsivo, Borderline e Narcisista (construtos cujos participantes mais
demonstraram concordar com as características). Diferentemente, as médias mais baixas
foram nas escalas Negativista e Sádico para ambos grupos, e Depressivo para o grupo
feminino e Dependente para o grupo masculino.
4.2.5 Curvas ROC – Escalas do IDTP
A seguir, foram investigados os índices de sensibilidade e especificidade das escalas
do IDTP, e, para tanto, efetuou-se a análise da curva ROC (Receiver Operation Curve). Na
construção dessa curva calcula-se, para cada probabilidade obtida da equação de regressão,
a sensibilidade, indicando quantos participantes foram corretamente identificados como
pacientes psiquiátricos e não psiquiátricos. Ao lado disso, também calcula-se o índice de
especificidade, que indica a proporção de falsos positivos (Braga, 2000). Um bom
instrumento diagnóstico possui alta sensibilidade e alta especificidade; entretanto, muitas
vezes o aumento da sensibilidade compromete a especificidade, e vice-versa. Por meio da
análise da curva ROC, obtém-se as áreas abaixo da curva para cada uma das variáveis
consideradas. Entende-se que quanto maior a área abaixo da curva, maior deve ser a
sensibilidade daquela variável e menor a especificidade. A Figura 50 representa as curvas
para cada uma das escalas do IDTP.
180
Figura 50. Curvas das Escalas do IDTP
Observa-se na figura acima que, de um modo geral, as curvas das quinze escalas
mantiveram-se acima da linha que divide a área em duas metades iguais. Contudo, as
curvas das escalas Narcisista, Histriônico, Borderline, Paranóide e Compulsivo apresentam
uma pequena área abaixo da linha divisória. A Tabela 64 representa as áreas abaixo da
curva (AAC) para cada uma das escalas do IDTP.
181
Tabela 64. Áreas abaixo da curva das Escalas do IDTP
Fatores Áreas
Depressivo 0,788
Esquizóide 0,729
Borderline 0,613
Paranóide 0,631
Sádico 0,590
Compulsivo 0,555
Masoquista 0,700
Anti-Social 0,529
Dependente 0,666
Histriônico 0,536
Negativista 0,711
Esquizotípico 0,603
Evitativo 0,673
Narcisista 0,529
Escala XV 0,550
A análise da Tabela 64 indica que algumas escalas apresentaram uma área
satisfatória de AAC (Depressivo, Esquizóide, Masoquista, Negativista), outras escalas
apresentaram índices razoáveis e baixos (Borderline, Paranóide, Masoquista, Dependente,
Negativista e Evitativo). As outras escalas apresentaram áreas abaixo da curva, e, portanto,
foram consideradas insatisfatórias (Braga, 2000). Na continuidade, na tentativa de melhor
predizer a presença ou ausência do funcionamento patológico da personalidade, procedeu-
se à análise da curva ROC em um conjunto de variáveis extraídas da análise de regressão.
Os passos para a extração das variáveis são descritos a seguir.
4.2.6 Curvas ROC – Fator para Discriminação entre GNP e GPS
Na seqüência, buscou-se verificar os índices de sensibilidade e especificidade, do
IDTP, para os grupos GNP (grupo não psiquiátrico) e GPS (grupos psiquiátrico), isto é, a
182
capacidade de discriminação do instrumento para ambos os grupos. Para tanto, foi
realizada, inicialmente, a análise de regressão logística
14
, visando a obter o melhor conjunto
de itens para previsão da variável “grupo de participantes” (referente aos grupos GNP e
GPS). A regressão logística estima a probabilidade de um sujeito pertencer ao grupo
experimental independente. Para cada coeficiente, a regressão logística apresenta a
estatística de Wald indicando se o coeficiente é estatisticamente diferente de zero
(Tabachinick & Fidell, 1996). Na análise foram considerados, como variáveis
independentes, os escores theta das quinze escalas do IDTP. Para essa análise foi utilizado
o método Forward para inserção ou não das variáveis na equação de regressão. Na Tabela
65 são apresentados os resultados da regressão logística com os parâmetros B da equação
de regressão para três variáveis que obtiveram coeficientes significativos utilizando-se o
critério p <0,15. Na seqüência, na Tabela 66 encontra-se a comparação entre os grupos
previamente formados (GNP e GPS) e o agrupamento realizado pelo IDTP.
Tabela 65. Resultados Globais da Análise de Regressão Logística
Nota. * O R2 corresponde ao R2 de Nagelkerke, cuja escala varia de 0 a 1 (Harris, 2005).
Tabela 66. Grupos observados em relação aos previstos pela equação de regressão
GNP GPS Total Proporção de previsões corretas
GNP 206 70 276 71,4%
Grupos
GPS 18 56 74 74,6%
Total 224 126 350 74,9%
Como pode ser observado, das 15 variáveis independentes que poderiam entrar na
equação, três foram mantidas, sendo elas os escores de theta das escalas Depressivo,
Negativista e Esquizotípico. Pode-se observar que 74,6% (56 casos classificados
14
Optou-se pela análise de regressão logística uma vez que a variável dependente utilizada era dicotômica.
Variáveis Independentes B Erro Padrão Wald Gl Sig. R
2
* Exp (B)
Theta Depressivo 0,778 0,144 29,174 1 0,001 0,275 2,178
Theta Negativista 0,266 0,131 4,101 1 0,043 0,016 1,305
Theta Esquizotípico -0,374 0,150 6,195 1 0,013 0,016 0,688
Constante 0,173 0,267 0,423 1 0,515
183
corretamente dentre os 74 pacientes do grupo psiquiátrico) e 71,4% (206 casos dentre 276
pessoas classificados corretamente como pertencentes ao grupo não psiquiátrico). Na
seqüência, para o cálculo da curva ROC foi utilizada uma variável gerada na análise de
regressão logística, que prediz a probabilidade de cada caso ser de um ou outro grupo. Por
meio da análise da curva ROC, obtém-se as áreas abaixo da curva para cada uma das
variáveis consideradas. Entende-se que quanto maior a área abaixo da curva, maior deve ser
a sensibilidade e menor a especificidade daquela variável (Braga, 2000; Lopes & cols,
2007; Metz, 1978). A Figura 51 representa a curva correspondente à variável utilizada para
a análise.
Figura 51. Curva ROC
Observa-se na figura acima que a curva manteve-se acima da linha que divide a área
em duas metades iguais. A AAC foi de 0,80 o que pode ser considerado como adequado
(Braga, 2000). A Tabela 67 apresenta as coordenadas da curva ROC para diversos pontos
de corte passíveis de serem utilizados.
184
Tabela 67. Coordenadas da Curva ROC
Positivo se igual
ou maior a
Sensibilidade
(Verdadeiros
positivos)
1-Especificidade
(Falsos
positivos)
Positivo se igual
ou maior a
Sensibilidade
(Verdadeiros
positivos)
1-Especificidade
(Falsos positivos)
.0000000
1.000
1.000
.0563380
.932
.696
.0103375
1.000
.996
.0576779
.932
.692
.0122352
1.000
.989
.0593642
.932
.688
.0133594
.986
.989
.0606381
.932
.678
.0145822
.986
.982
.0613063
.932
.674
.0162552
.986
.978
.0618804
.932
.670
.0175436
.986
.975
.0622170
.932
.663
.0187462
.986
.967
.0654416
.932
.656
.0196841
.986
.964
.0692445
.932
.652
.0198013
.973
.946
.0701592
.932
.645
.0207492
.973
.942
.0708488
.932
.638
.0220206
.973
.938
.0748399
.932
.634
.0230644
.973
.935
.0788820
.932
.623
.0239333
.973
.928
.0794442
.919
.620
.0242069
.959
.928
.0816091
.919
.609
.0243987
.959
.924
.0850002
.919
.598
.0257815
.959
.920
.0862938
.905
.598
.0273784
.959
.917
.0863652
.905
.594
.0278009
.959
.913
.0866498
.905
.591
.0283815
.946
.902
.0872104
.905
.580
.0295947
.946
.899
.0881010
.905
.576
.0310232
.946
.895
.0912913
.905
.572
.0321811
.932
.848
.0943975
.905
.569
.0330660
.932
.841
.0965093
.905
.562
.0342369
.932
.833
.0987364
.905
.558
.0353542
.932
.826
.1011347
.905
.554
.0373390
.932
.819
.1031057
.905
.543
.0389954
.932
.815
.1044325
.905
.529
.0392184
.932
.808
.1056289
.905
.525
.0405548
.932
.804
.1059374
.905
.522
.0429027
.932
.801
.1078612
.892
.514
.0443253
.932
.786
.1113861
.878
.514
.0446832
.932
.783
.1144830
.878
.511
.0448935
.932
.779
.1165509
.878
.507
.0450241
.932
.775
.1183448
.878
.500
.0470204
.932
.772
.1194550
.878
.496
.0495211
.932
.768
.1199216
.878
.489
.0501209
.932
.764
.1205148
.878
.478
.0503323
.932
.717
.1215328
.878
.475
.0514795
.932
.714
.1231446
.878
.464
.0295947
.946
.899
.1242632
.878
.460
.0526668
.932
.710
.1267293
.878
.453
.0533869
.932
.707
.1297158
.878
.438
.0546082
.932
.703
.1314293
.878
.435
.0555349
.932
.699
.1242632
.878
.460
185
Continuação da Tabela 67. Coordenadas da Curva ROC
Positivo se igual
ou maior a
Sensibilidade
(Verdadeiros
positivos)
1-Especificidade
(Falsos
positivos)
Positivo se igual
ou maior a
Sensibilidade
(Verdadeiros
positivos)
1-Especificidade
(Falsos positivos)
.1327829
.878
.431
.2467987
.743
.228
.1334839
.865
.431
.2495276
.730
.228
.1338300
.865
.424
.2531700
.730
.225
.1340223
.851
.424
.2548425
.730
.217
.1377243
.851
.420
.2550593
.730
.214
.1413889
.851
.417
.2593017
.730
.210
.1427405
.851
.413
.2637638
.716
.210
.1446998
.851
.409
.2656710
.716
.207
.1456217
.851
.406
.2683333
.716
.203
.1461475
.851
.399
.2714514
.716
.199
.1482306
.851
.395
.2736868
.703
.196
.1520399
.851
.391
.2743251
.703
.192
.1556662
.851
.388
.2766721
.703
.188
.1578420
.851
.384
.2795567
.689
.188
.1585197
.851
.380
.2807156
.676
.188
.1607164
.851
.373
.2817764
.662
.188
.1632358
.851
.366
.2840625
.662
.185
.1644000
.851
.362
.2858069
.662
.181
.1660968
.851
.359
.2870418
.649
.181
.1677978
.851
.355
.2894086
.649
.178
.1690117
.851
.351
.2913211
.635
.167
.1721699
.838
.351
.2921491
.622
.167
.1778256
.838
.344
.2942769
.622
.163
.1807609
.838
.337
.2982003
.622
.159
.1810279
.838
.330
.3017550
.622
.156
.1814284
.838
.326
.3047291
.608
.156
.1815722
.838
.322
.3070039
.595
.156
.1840246
.838
.319
.3079262
.595
.152
.1875943
.824
.319
.3088034
.595
.149
.1896829
.824
.315
.3108720
.581
.149
.1908966
.824
.312
.3123920
.581
.141
.1908966
.824
.312
.3127766
.581
.138
.1919219
.824
.308
.3134880
.581
.134
.1947042
.824
.304
.3154912
.581
.130
.1969708
.824
.301
.3171913
.568
.130
.1972537
.811
.301
.3183982
.568
.127
.1987678
.811
.297
.3201883
.568
.123
.2011652
.811
.293
.3209718
.568
.120
.2032096
.811
.290
.3237808
.554
.120
.2086101
.811
.286
.3301334
.554
.116
.2135023
.811
.283
.3357445
.541
.116
.2143785
.811
.279
.3383780
.541
.112
.2146955
.811
.275
.3395201
.541
.109
.2152696
.811
.272
.3404576
.527
.109
.2161566
.811
.268
.3430253
.514
.109
.2186329
.811
.264
.3471279
.514
.105
.2225538
.797
.261
.3516448
.514
.101
.2256532
.770
.261
.3545842
.514
.098
.2273024
.757
.261
.3610654
.500
.098
.2305093
.757
.254
.3688062
.486
.098
.2350031
.757
.250
.3713892
.473
.098
.2378542
.757
.246
.3745057
.459
.098
.2391690
.757
.239
.3777941
.459
.094
.2409084
.743
.239
.3809245
.432
.094
.2425756
.743
.236
.3872230
.432
.091
.2444179
.743
.232
.3915447
.419
.091
.2225538
.797
.261
.3930049
.405
.091
186
A análise da Tabela 67 indica que, dentre os possíveis pontos de corte, um ponto
que parece ser adequado corresponderia à probabilidade de 0,1969, sendo que nesse ponto a
sensibilidade é igual a 82,4%, e a especificidade a 30,1%.
187
5. DISCUSSÃO
Os parágrafos seguintes tratam da discussão acerca dos dados apresentados
anteriormente. Por isso, a mesma seqüência utilizada no tópico anterior, Resultados, é
preservada aqui.
5.1 Sobre a Construção do Instrumento
A versão do IDTP, obtida na primeira etapa deste estudo, e utilizada na fase de
aplicação da pesquisa, foi composta por 100 itens, distribuídos entre 15 escalas distintas.
Quando comparado com outros instrumentos com objetivos similares, como o MCMI-III e
o MMPI-2, que contêm, respectivamente, 175 itens e 567 itens, o IDTP pode ser
considerado um instrumento breve. Entretanto, ao menos duas distinções entre o IDTP e os
instrumentos já existentes devem ser apontadas.
A primeira delas, concerne ao fato de que a avaliação de transtornos da
personalidade, realizada pelo IDTP, tem fins de triagem, e não de diagnóstico, como o
MCMI-III e o MMPI-2. E, a segunda, respeita à abrangência desses instrumentos. Por um
lado, o IDTP busca uma avaliação dos transtornos da personalidade, tais quais descritos na
teoria de Millon (Millon & cols., 2004), portanto, refere-se à uma avaliação de 14
diferentes construtos. Por outro lado, tanto o MCMI-III quanto o MMPI-2 buscam, além da
avaliação de diversos transtornos da personalidade, também a avaliação dos transtornos
descritos no Eixo I do DSM-IV-TR (APA, 2003). Ambas considerações resultam
diretamente em uma diminuição do número de itens do instrumento presentemente
desenvolvido, o que é desejado para aplicações no âmbito da clínica (Millon & Davis,
1996).
188
Por isso, diferente dos instrumentos que são propostos para avaliação e diagnóstico
de transtornos da personalidade, que devem conter um número suficiente que abranja todas
possibilidades diagnósticas desses transtornos com a maior riqueza possível, o IDTP é um
instrumento para avaliação e triagem dos transtornos da personalidade, o que implica
utilizá-lo como parte do processo de avaliação e diagnóstico, e não como uma ferramenta
única. De fato, a literatura sugere que uma avaliação psicológica adequada, e mais
especificamente, da personalidade, como um instrumento isolado não é possível com as
ferramentas e tecnologias atuais, sobretudo em casos de decisões delicadas, como, por
exemplo, as áreas clínica e forense (Handler & Meyer, 1997; Urbina, 2007).
5.2 Sobre a Estrutura Interna e a Fidedignidade
No presente estudo procedeu-se tanto à análise fatorial exploratória, cujos itens não
são fixados em fatores previamente esperados, quanto à análise fatorial de segunda ordem,
que tem como objetivo agrupar fatores (grupos de itens) encontrados anteriormente. No que
concerne à análise fatorial exploratória, esperava-se que fossem encontrados quatorze
fatores distintos que correspondessem aos transtornos da personalidade considerados na
teoria de Millon. Contudo, dos 15 fatores interpretáveis (de 23 fatores obtidos com a análise
fatorial exploratória), puderam ser identificados somente 12 fatores correspondentes aos
construtos esperados: depressivo (fator 1); esquizóide (fator 2); borderline (fator 3);
paranóide (fator 4); sádico (fator 5); compulsivo (fator 6); masoquista (fatores 7 e 15);
anti-social (fator 8); dependente (fator 9); histriônico (fatores 10 e 14); negativista (fator
11); e esquizotípico (fatores 12 e 13). Por isso, foram utilizadas, para a versão final do
instrumento, duas escalas teoricamente esperadas: Evitativo e Narcisista.
Os itens que compuseram cada um dos fatores nem sempre foram aqueles itens
hipotetizados inicialmente. Contudo, a análise do conteúdo de cada um dos itens dos 15
189
primeiros fatores da análise fatorial exploratória, possibilitou uma interpretabilidade desses
fatores (como descrito), e, portanto, uma discriminação de qual construto cada fator
estaria medindo predominantemente. Ressalta-se que, para todas as escalas, entendeu-se
que seria importante que a maior parte dos itens de cada fator refletisse um mesmo
construto, hipotetizado previamente. A título de exemplo, pode-se visualizar na Tabela 68 o
conjunto de itens que era esperado para a Escala Depressivo e o conjunto de itens que
representa essa escala de acordo com a análise fatorial e refinamentos até que se chegasse à
distribuição final dos itens do IDTP neste trabalho.
Tabela 68. Distribuições hipotetizada e encontrada dos itens da Escala Depressivo
Distribuição Hipotetizada para os Itens Distribuição Encontrada para os Itens
Sempre tive pensamentos tristes. 06. Sempre tive pensamentos tristes.
Desde jovem tenho estado deprimido e triste a maior
parte do tempo.
18. Desde jovem tenho estado deprimido e triste a
maior parte do tempo.
Sempre tive muita dificuldade para me alegrar. 34. Sempre tive muita dificuldade para me alegrar.
Já pensei em me suicidar. 49. Já pensei em me suicidar.
Faz tempo que me sinto triste e depressivo e não
consigo me animar.
80. Faz tempo que me sinto triste e depressivo e não
consigo me animar.
Poucas coisas na vida me dão prazer. --
Eu não posso fazer nada para melhorar minha vida. --
-- 46. Sinto-me vazio com freqüência. (hipotetizado
para a Escala Borderline)
-- 92. Sinto que não tenho planos e não sei para onde
vou na vida. (hipotetizado para a Escala Borderline)
-- 73. Parece que faço de tudo para me dar mal.
(hipotetizado para a Escala Masoquista)
-- 99. Continuo tendo pensamentos estranhos que
gostaria de não ter. (hipotetizado para a Escala
Esquizotípico)
Como pode ser verificado, dos sete itens que teoricamente deveriam compor a
Escala Depressivo, cinco de fato apareceram nesse fator e, além disso, mais quatro itens
teoricamente pertencentes a outros transtornos da personalidade também se uniram a essa
190
escala. É importante notar que a maior parte dos itens dessa escala de fato refletem o que
era esperado teoricamente, isto é, a Escala Depressivo é formada principalmente por itens
que teoricamente deveriam aparecer nessa escala. Contudo, itens das escalas Borderline,
Masoquista e Esquizotípico também se fizeram presentes nesse conjunto de itens.
A decisão do julgamento do quão adequado os itens não hipotetizados aparecerem
em um fator foi baseada na teoria e nos dados estatísticos. A sobreposição de características
da personalidade entre os estilos depressivo e borderline é apontada na teoria de Millon,
sobretudo, no que respeita às ideações suicidas (Millon & cols., 2004). De modo
semelhante, também é considerada a possibilidade de sobreposição entre características dos
estilos depressivo e masoquista, principalmente em relação à desesperança, característica
usualmente presente em ambos estilos da personalidade (Millon & Davis, 1996).
Diferentemente, a literatura não apresenta dados significativos acerca da sobreposição entre
as características do estilo depressivo e do estilo esquizotípico. Contudo, como apontam
Pasquali (1998; 1999) e Günther (1999), dependendo do modo com que um determinado
item é construído, ele pode refletir idéias que não as hipotetizadas inicialmente.
No caso do item “Continuo tendo pensamentos estranhos que gostaria de não ter.”,
que teoricamente deveria aparecer na Escala Esquizotípico, esse item pode estar refletindo
mais características atreladas ao estilo depressivo do que ao estilo esquizotípico, uma vez
que esse item apareceu na Escala Depressivo, mas não na Escala Esquizotípico. É possível
que os respondentes tenham dado foco mais ao fato de que algo que eles não gostariam que
acontecesse está acontecendo (idéia contida no item) do que à questão da presença de
“pensamentos estranhos” (característica típica do estilo esquizotípico). Em relação às outras
escalas, pode-se verificar por meio da Tabela 11 que quase todas as escalas são compostas
por, pelo menos, 50% de itens esperados teoricamente, o que pode ser considerado como
191
satisfatório para o instrumento, como uma evidência de validade baseada na estrutura
interna.
De maneira mais ampla, por um lado, era esperado que fossem encontrados
empiricamente os quatorze construtos referentes aos transtornos da personalidade propostos
por Millon, por outro, é explícita na literatura a dificuldade em se corroborar o empírico e o
teórico em todos os seus meandros, sobretudo no que concerne a modelos complexos como
o de Millon (Millon & Davis, 1996). Millon argumenta que dificilmente sua teoria pode ser
evidenciada como um todo por meio de procedimentos como a análise fatorial, por se tratar
de um modelo complexo para o entendimento e avaliação da personalidade e seus
transtornos (Strack & Millon, 2007).
Especificamente, no que respeita à Escala Narcisista, estudos anteriores apontam
para baixos índices de fidedignidade para essa escala, variando entre 0,55 e 0,67 (Millon e
cols., 1994; Millon & Davis, 1996; Rossi, Ark & Sloore, 2007; Rossi, Brande, Tobac,
Sloore & Hauben, 2003). Esses dados, semelhantes ao dado presentemente evidenciado (α
= 0,65), sugerem dificuldades na avaliação do transtorno da personalidade narcisista, seja
por inadequações do instrumento, ou por dificuldades inerentes ao próprio construto
(Millon & cols., 2004).
Diferentes teóricos propõem que as dificuldades na avaliação de alguns transtornos
da personalidade, como o Narcisista e o Compulsivo, ocorrem devido à diferenciação das
características dos itens formulados para esses transtornos em relação aos outros, que são
freqüentemente itens com características mais positivas (Strack & Millon, 2007; Choca,
2004).
A versão final do IDTP ficou composta de 83 itens distribuídos em 15 escalas,
sendo 14 escalas para avaliação dos transtornos da personalidade e 1 escala para verificação
da desejabilidade social e validade das respostas ao instrumento. Os coeficientes de
192
fidedignidade (alfa de Cronbach) do instrumento variaram entre 0,89 (Escala Depressivo) e
0,65 (Escala Narcisista), sendo que quase todas as escalas obtiveram índice igual ou
superior a 0,71, com exceção da Escala Narcisista. A Tabela 69 apresenta uma comparação
entre os índices de fidedignidade presentemente encontrados, com o IDTP, e os dados
encontrados em estudos anteriores com o MCMI-III.
Tabela 69. Coeficientes de fidedignidade do IDTP e do MCMI-III
Escalas Presente estudo Millon e cols., 1994
Rossi, Ark e Sloore,
2007
Rossi, Brande, Tobac,
Sloore e Hauben, 2003
Depressivo 0,89 0,89 0,88 0,87
Esquizóide 0,86 0,81 0,72 0,82
Borderline 0,79 0,85 0,82 0,80
Paranóide 0,77 0,84 0,80 0,76
Sádico 0,76 0,79 0,76 0,65
Compulsivo 0,77 0,66 0,68 0,70
Masoquista 0,81 0,87 0,84 0,75
Anti-social 0,73 0,77 0,72 0,69
Dependente 0,77 0,85 0,82 0,81
Histriônico 0,71 0,81 0,80 0,70
Negativista 0,74 0,83 0,78 0,72
Esquizotípico 0,76 0,85 0,84 0,80
Evitativo 0,81 0,89 0,86 0,82
Narcisista 0,65 0,67 0,67 0,55
Como pode ser observado na Tabela apresentada, os índices de fidedignidade das
escalas para avaliação de transtornos da personalidade do IDTP e das escalas do MCMI-III
(em diferentes estudos) são similares. Ressalta-se que o MCMI-III é um instrumento
composto por 175 itens, quase o dobro de itens do IDTP, o que implica um número maior
de itens por escalas do MCMI-III em relação ao número de itens por escala do IDTP, o que
se potencializa ainda mais quando se considera um número importante de overlapping de
itens nas escalas. Por exemplo, a Escala Narcisista do MCMI-III é composta por 24 itens,
14 itens com carga positiva e 10 com carga negativa. Ao lado disso, deve-se atentar
também que a amostra do presente estudo foi, em grande parte, composta por estudantes
universitários e não pacientes psiquiátricos, o que pode ser considerado como uma
limitação deste estudo. Essas informações, acerca do número de itens por escala e dos
193
participantes, em relação ao IDTP e ao MCMI-III, são atributos que podem influenciar de
maneira importante no cálculo do coeficiente alfa de Cronbach, e não devem ser
descartadas.
Por isso, dadas essas considerações, os índices de fidedignidade do IDTP podem ser
considerados como satisfatórios, não somente por atingirem o critério estabelecido em
âmbito nacional pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) (coeficiente alfa igual ou
superior a 0,60), ou internacionalmente (coeficiente alfa igual ou superior a 0,70
15
), mas
também em comparação com os dados encontrados previamente com o MCMI-III.
No que diz respeito à análise fatorial de segunda ordem, realizada a partir dos
fatores utilizados para a versão final do IDTP, foram encontrados 3 fatores distintos. O
primeiro fator agrupou as escalas Evitativo, Depressivo, Masoquista, Esquizóide,
Negativista, Dependente, Paranóide, Esquizotípico e Borderline; o segundo fator agrupou
as escalas Borderline, Narcisista, Histriônico, Anti-social e Sádico; e o terceiro fator
somente a Escala Compulsivo. Em um estudo realizado por Dyce, O´Connor, Parkins e
Janzen (1997), foram encontrados resultados similares com as 14 escalas de transtornos da
personalidade do MCMI-III. Entre outros resultados, foi encontrada uma solução fatorial de
3 fatores. O fator 1 foi composto pelas escalas Esquizóide, Evitativo, Depressivo,
Dependente, Histriônico, Negativista, Masoquista, Esquizotípico e Borderline; o fator 2
pelas escalas Narcisista, Anti-social, Sádico e Paranóide; e o fator 3 pela Escala
Compulsivo.
Como pode ser observado, os dados presentemente encontrados apresentam muitas
similaridades com a solução fatorial de três fatores verificada por Dyce e cols. (1997).
Basicamente, as diferenças encontradas são: o fator 1 deste estudo engloba a Escala
15
Somente a Escala Narcisista não atingiu esse critério.
194
Paranóide; o fator 1 do estudo de Dyce e cols. engloba a Escala Histriônico; o fator 2 deste
estudo engloba as escalas Histriônico e Borderline; e, o fator 2 do estudo de Dyce e cols.
engloba a Escala Paranóide. Esses dados sustentam a consistência da estrutura fatorial
presentemente encontrada.
Craig e Bivens (1998) também encontram uma solução fatorial de 3 fatores para
as 14 escalas do MCMI-III. O primeiro fator encontrado nesse estudo agrupou as escalas
Esquizóide, Evitativo, Depressivo, Dependente, Histriônico (carga negativa), Narcisista
(carga negativa), Compulsivo (carga negativa), Masoquista e Borderline; o segundo fator
consistiu das escalas Negativista, Esquizotípico e Paranóide; e, o terceiro e último fator
agrupou as escalas Anti-social, Sádico, Compulsivo (carga negativa) e Borderline.
Diferente do estudo apresentado anteriormente, não são tantas as similaridades entre os
resultados encontrados neste estudo e no estudo de Craig e Bivens. Ainda assim, o primeiro
fator encontrado no presente estudo e por esses autores compartilham 6 escalas
(Esquizóide, Evitativo, Depressivo, Dependente, Masoquista e Borderline). Cabe apontar
que a Escala Compulsivo, que no presente estudo compôs um fator isolado, obteve carga
negativa em dois fatores (1 e 3) no estudo de Craig e Bivens o que parece ser mais uma
evidência de dificuldades na avaliação de escalas de transtornos da personalidade que
contenham atributos positivos ou socialmente desejados.
Em síntese, no que se refere às estruturas fatoriais encontradas, neste estudo e em
estudos anteriores, como apontam Dyce e cols. (1997) e Strack e Millon (2007), não é
esperado que as complexidades da teoria de Millon sejam completamente encontradas e
validadas por meio da análise fatorial. Contudo, é importante que as soluções fatoriais
evidenciadas nos diferentes estudos apresentem dados persistentes ao longo do tempo. Os
dados encontrados apontam, por um lado, para uma persistência de uma estrutura fatorial
similar, mas, por outro, para diferenciações importantes.
195
Ao lado disso, também foram investigadas as correlações entre as escalas da
versão final do IDTP (vide Tabela 13). Praticamente todas as correlações encontradas
foram significativas, e todas foram positivas. Esse dado se explica por uma produção
artificial de correlação entre as escalas, decorrentes de overlapping dos itens entre as
escalas. O overllaping de itens entre as escalas, segundo Millon e cols. (1994), reflete co-
morbidades reais e sintomas compartilhados entre os transtornos da personalidade. Por
exemplo, o item de número 67, “Não me importo em exagerar para chamar atenção dos
outros.”, é computado para as escalas Histriônico e Sádico, o que é teoricamente coerente,
por um lado, para o estilo Histriônico, o atributo importante desse item está relacionado
com “chamar atenção dos outros” e, por outro, para o estilo Sádico, está relacionado com a
desconsideração/desrespeito ao outro (“não me importo”).
No estudo realizado por Rossi, Brande, Tobac, Sloore e Hauben (2003), dados
similares foram encontrados, nos quais praticamente todas as correlações entre as escalas
de avaliação de transtornos da personalidade do MCMI-III apresentaram correlação
significativa e moderada ou alta. Contudo, os dados obtidos com o MCMI-III apresentaram
mais correlações acima de 0,60 entre as escalas (33 correlações), do que as evidenciadas
presentemente entre as escalas do IDTP, o que se explica pelo número elevado de
overlapping entre os itens das escalas do MCMI-III.
Algumas escalas também apresentaram correlações significativas entre si, sem que
houvessem itens compartilhados por elas. Exemplo disso foi a correlação encontrada entre
as escalas Narcisista e Histriônico. A relação entre os itens dessas escalas pode estar mais
atrelada a uma similaridade entre os funcionamentos Narcisista e Histriônico que, segundo
o modelo de Millon, dizem respeito a uma necessidade de ser percebido pelo outro (Millon
& cols., 2004). No caso do funcionamento Narcisista, essa necessidade está mais
196
relacionada à necessidade de ser considerado especial pelos outros, e no funcionamento
Histriônico, a uma necessidade de ter atenção dos outros.
Tanto nos estudos com o MCMI-III quanto no presente estudo (IDTP), exceção
aos resultados evidenciados são observados em relação à escala para avaliação do
transtorno da personalidade compulsivo, que apresentou as correlações mais baixas. Tal
fato se apresenta como mais uma evidência das implicações dos atributos funcionais dessa
escala, como a busca por ganhos (Rossi, Brande, Tobac, Sloore & Hauben, 2003).
5.3 Sobre os Parâmetros do IDTP com o Uso da TRI
Na continuidade da investigação acerca da estrutura interna do IDTP, procedeu-se
também a análises estatísticas por meio do modelo de Rasch de Resposta Gradual, um dos
modelos da TRI mais utilizados para análises de testes compostos por itens politômicos
(Wright & Mok, 2004). Os dados encontrados, apresentados anteriormente, serão discutidos
a seguir.
A média dos índices de ajuste, infit e outfit, dos respondentes do IDTP, para todas as
escalas de avaliação de transtornos da personalidade mostrou-se adequada, contudo,
também para todas as escalas, verificou-se que alguns respondentes não responderam da
maneira que era esperada pelo modelo (o que é evidenciado por altos incides de infit e
outfit). Esse dado sugere que alguns respondentes podem não ter compreendido alguns itens
do instrumento, poderiam estar desmotivados a responder o teste, poderiam não se conhecer
(auto-conhecimento) o suficiente para responder de maneira adequada determinados itens,
ou ainda, podem ter tentado burlar as questões do instrumento.
De maneira similar, as médias de todas as escalas dos índices de ajuste dos itens
encontraram-se dentro de um nível satisfatório (até 1,20). Contudo, para quase todas as
escalas houve pelo menos um item que apresentou índices (
infit, outfit ou ambos)
197
inadequados, com exceção das escalas Borderline e Negativista. Ao lado disso, os
coeficientes de correlação item-total mostraram-se altos para quase todos os conjuntos de
itens das quatorze escalas, com exceção da Escala Masoquista, que, em relação às outras
escalas, apresentou coeficientes ligeiramente mais baixos.
Também foram verificadas as curvas de probabilidade das quatorze escalas. Como
apontam Elliot e cols. (2006), a curva de probabilidade das categorias possibilita identificar
se os respondentes estão utilizando a escala proposta (no caso, de 4 pontos) da maneira que
era esperada pelos pesquisadores. Em geral, a única curva que apresentou inadequação, isto
é, a ausência de uma região clara e distinta na escala de theta, foi a curva 3 (“me descreve
muito”) para as escalas Depressivo, Esquizóide, Masoquista, Anti-social, Dependente,
Histriônico, Negativista e Esquizotípico. Esse dado pode sugerir que a categoria 3 apresenta
dificuldades em definir um ponto distinto no continuum das variáveis mensuradas por essas
escalas. Por exemplo, na Escala Depressivo, não se pode assegurar que existam diferenças
entre respondentes que optaram mais pela categoria 3 do que pela 4 nos itens dessa escala.
É possível que os respondentes não tenham discriminado diferenças significativas entre
“me descreve muito” (categoria 3) e “me descreve extremamente ou totalmente” (categoria
4).
Ainda, também na Figura que corresponde às curvas de probabilidade das categorias
para todos os itens das 14 escalas (Figura 45) pode-se verificar, que a categoria 3 não
apresenta uma região distinta na escala de theta. Mais uma vez, sugere-se que os
respondentes não tenham distinguido diferenças significativas entre as categorias 3 e 4.
Verificou-se também possíveis lacunas para as quatorze escalas do IDTP. Foram
identificadas lacunas em praticamente todas as escalas nos limiares mais baixos de theta,
isto é, na localização do continuum da personalidade que pode ser considerada como
saudável uma vez que, para Millon (Millon & Davis, 1996; Strack & Millon, 2007), o
198
saudável e o patológico são extremos distribuídos em um mesmo continuum. Esses
resultados sugerem que os itens do IDTP tendem a avaliar mais o funcionamento
patológico da personalidade (itens mais difíceis de se endossar) do que o funcionamento
saudável. Tal achado pode ser considerado como uma evidência de validade baseada na
estrutura interna para o IDTP (não por meio de covariância entre grupos de itens, mas sim
por grupos hierárquicos de acordo com a dificuldade dos itens), que o objetivo do
instrumento é, principalmente, a avaliação de aspectos do funcionamento patológico da
personalidade.
Exceção a esse dado é a Escala Compulsivo, na qual a lacuna encontrada encontra-
se no limiar superior da escala theta, sugerindo que são necessários itens mais patológicos
(condizentes com níveis mais altos de theta) em relação ao funcionamento compulsivo da
personalidade. Entretanto, como apontado neste estudo, escalas para avaliação do
transtorno da personalidade compulsivo freqüentemente apresentam dificuldades por serem
compostas de itens com atributos positivos e socialmente desejados (Strack & Millon,
2007). Nesse sentido, é importante que seja considerada a possibilidade dos itens dessa
escala serem mais fáceis de se endossar não em razão de maiores níveis de theta dos
respondentes, mas sim por conta de uma necessidade social de apresentarem determinadas
características. A Tabela 13 pode ser útil para nos fornecer algumas pistas em relação a
isso. Verifica-se nessa Tabela que a Escala Compulsivo foi a que apresentou maior
correlação com a Escala XV, essa última que apresenta itens referentes a desejabilidade
social. Portanto, talvez mais importante do que a formulação de novos itens, que reflitam
um funcionamento mais patológico do que os itens que presentemente compõem essa
escala, seja o olhar do profissional no momento da interpretação dos dados (Choca, 2004),
considerando também altas pontuações na Escala XV.
199
As informações apresentadas anteriormente são corroboradas pelos dados
encontrados em relação às médias de theta obtidas nas escalas. Em geral, a média de theta
dos respondentes nas escalas ficou abaixou da média de dificuldade dos itens. Para a escala
como um todo, a média de theta obtida foi de –1, sugerindo que o IDTP é um instrumento
difícil de ser endossado para a média da amostra na qual ele foi aplicado. Uma vez que
grande parte da amostra foi composta de universitários que não possuem nenhum
diagnóstico psiquiátrico, era esperado que o instrumento, de fato, apresentasse uma dia
de dificuldade maior do que a média de theta dos respondentes. Entretanto, a média dos
respondentes para a Escala Compulsivo foi mais alta do que a média de dificuldade dos
itens dessa escala. Como explicitado, é possível que tal fato ocorra em decorrência das
características socialmente desejadas e funcionais atreladas a esse transtorno (Strack &
Millon, 2007).
Ao lado disso, duas escalas apresentaram médias de theta, ainda que inferiores,
próximas à média de dificuldade de suas respectivas escalas: as escalas Narcisista e
Borderline. Em relação à Escala Narcisista, segundo Strack e Millon (2007), do mesmo
modo que ocorre com a Escala Compulsivo, alguns atributos mais funcionais relacionados
à Escala Narcisista (como uma auto-estima elevada) podem contribuir para que os
respondentes apresentem uma tendência a endossar os itens. no que concerne à Escala
Borderline, Millon e cols. (2004) relatam um aumento, nas últimas décadas, do diagnóstico
do funcionamento borderline na clínica psicológica e psiquiátrica, possivelmente devido a
padrões típicos da sociedade contemporânea. Nesse sentido, o endosso dos respondentes
aos itens da Escala Borderline pode estar atrelado, de fato, ao amplo desenvolvimento de
características desse funcionamento na população geral, ainda que não necessariamente
indivíduos que apresentem um quadro e transtorno da personalidade.
200
Diferentemente, os respondentes exibiram as médias de theta mais baixas nas
escalas Negativista, dico, Masoquista e Esquizóide. Não foram encontrados estudos que
discutissem esses dados, até porque não foram encontradas pesquisas que utilizassem o
modelo de Millon sob a ótica da TRI. Por isso, não serão realizadas considerações teóricas
acerca desses dados, mas entende-se que os itens construídos para essas escalas
provavelmente foram os itens que se localizaram nos limiares patológicos mais altos do
continuum estabelecido entre o saudável e o patológico da personalidade.
Por último, no que respeita à estrutura interna do instrumento, foram analisados os
valores dos limiares (thresholds) dos itens das 14 escalas para avaliação de transtornos da
personalidade do IDTP. Em relação ao número de subgrupos de pessoas (5), os dados
encontrados sugerem uma adequação do instrumento para os propósitos de avaliação do
mesmo.
Tal qual considerado no trabalho de Elliot e cols. (2006), a subdivisão dos itens foi
realizada por meio de critérios que podem ser entendidos como arbitrários, e, por isso, em
pesquisas futuras, outros critérios podem ser adotados. Os dados encontrados apontam para
uma prevalência mais alta de itens das escalas Compulsivo e Narcisista no limite inferior da
Figura 46, bem como uma alta prevalência de itens das escalas Masoquista e Sádico na
margem superior da mesma figura. Em geral, os itens encontrados na margem inferior
referem-se a atributos da personalidade como perfeccionismo, necessidade de atenção e
necessidade de reconhecimento dos outros. E, de outro modo, os itens da margem superior
dizem respeito a características da personalidade como humor triste, auto-desvalorização, e
desconsideração e desrespeito aos outros.
Os dados encontrados corroboram outros resultados presentemente apresentados,
que apontam uma maior concordância dos respondentes a escalas cujos itens se refiram a
aspectos mais “positivos”, como as escalas Compulsivo e Narcisista (Strack & Millon,
201
2007). Ao lado disso, era esperado que os itens das escalas Masoquista e Sádico estivessem
entre os itens mais difíceis de serem endossados pelos respondentes, que essas são duas
das escalas cujos participantes exibiram médias de theta mais baixas. Portanto, corrobora-se
o que é esperado pela literatura, que escalas com itens que apresentam características mais
saudáveis sobre o respondente sejam mais endossados pelos participantes, e escalas com
itens com conteúdo mais patológico sejam menos endossados pelos participantes (Choca,
2004).
5.4 Sobre as Evidências de Validade Baseadas nas Relações com Variáveis
Externas
Também foram investigadas possíveis evidências de validade para o IDTP com base
na relação desse instrumento com diferentes variáveis externas. No que respeita às
correlações entre o IDTP e o MCMI-III, uma vez que todas as correlações esperadas entre
as escalas do IDTP e do MCMI-III foram encontradas e, em geral, foram as mais altas (em
relação às outras correlações evidenciadas), pode-se considerar os dados apresentados na
Tabela 60 como evidências de validade para o IDTP.
Verifica-se também uma certa similaridade entre as correlações das escalas do IDTP
e as correlações das escalas do IDTP com as escalas do MCMI-III. Esse dado pode sugerir
uma certa congruência entre o funcionamento de ambos instrumentos no que respeita à
discriminação de suas escalas para os diferentes transtornos da personalidade, o que pode
estar associado ao uso de itens sobrepostos para diferentes escalas. Como citado
anteriormente, uma discussão na literatura sobre a adequação ou não do uso do
overlapping em instrumentos para avaliação da personalidade, já que, por um lado, o uso de
um mesmo item em diferentes escalas pode refletir os fenômenos observados no dia-a-dia,
mas por outro, pode significar uma diminuição importante na capacidade de discriminação
202
do instrumento (Rossi, Brande, Tobac, Sloore & Hauben, 2003; Millon e cols., 1994).
Portanto, especula-se que as mesmas dificuldades apresentadas pelo MCMI-III em relação
ao seu poder discriminativo (Strack & Millon, 2007), possam também ser encontradas no
IDTP.
No que respeita às escalas Compulsivo e Narcisista, observa-se que essas foram as
escalas que apresentaram as correlações mais altas com a escala de Desejabilidade social do
MCMI-III. Esse dado pode ser considerado como mais uma evidência de que características
não-patológicas, e até mesmo esperadas pela sociedade, estão relacionadas a ambos estilos
da personalidade, como evidenciado em outros estudos (Strack & Millon, 2007; Choca,
2004). Também a Escala XV, representada por itens de desejabilidade social e itens de
validade, apresentou correlação significativa e moderada com a escala de Desejabilidade
social do MCMI-III, o que sugere que os itens da Escala XV do IDTP estão mais atrelados
a desejabilidade social do que à questão da validade. Por último, de maneira similar ao que
foi evidenciado nas correlações entre as escalas do IDTP, verifica-se também na Tabela 60
que a Escala Compulsivo foi a que apresentou o menor número de correlações com as
escalas do MCMI-III. Esse dado corrobora resultados encontrados em outros estudos (Dyce
& cols., 1997), e possivelmente também está atrelado à questão dos atributos socialmente
esperados que estão relacionados à Escala Compulsivo.
Na seqüência foram apresentados os dados referentes à análise de perfis por
medidas repetidas com as variáveis “grupo de participantes”, “grupos diagsticos” e
“gênero”. Em geral, para as três análises, as escalas Compulsivo, Narcisista e Borderline
apresentaram as médias mais altas, para ambos os grupos (GPS e GNP) e para as três
variáveis dependentes. Como já discutido anteriormente, por um lado, a alta pontuação para
os itens relacionados aos funcionamentos Compulsivo e Narcisista está provavelmente
ligada aos atributos saudáveis desses estilos da personalidade (Choca, 2004; Strack &
203
Millon, 2007). Por outro lado, a alta pontuação na Escala Borderline pode estar relacionada
com um aumento, constatado na clínica psicológica e psiquiátrica, de pacientes com
funcionamento borderline, possivelmente em decorrência aos padrões típicos da sociedade
contemporânea (Millon & cols., 2004).
Também se evidenciou que as pontuações mais baixas (para ambos os grupos nas
três variáveis dependentes) ocorreram comumente para as escalas Sádico e Negativista.
Segundo Millon e Davis (1996), esses dois estilos da personalidade estão relacionados a
características como oposição aos outros e não-cooperação, atributos esses que podem se
manifestar no momento da aplicação do instrumento de avaliação da personalidade. Nesse
sentido, a baixa pontuação nessas escalas pode estar relacionada, entre outros fatores (como
uma baixa prevalência de indivíduos com características desses estilos na amostra deste
estudo) a uma dificuldade na avaliação direta desses estilos da personalidade.
Especificamente em relação à análise realizada com a variável grupo de
participantes”, foram encontradas diferenças significativas intra-sujeitos e entre-grupos, e
também se observou que as médias das pontuações foram sempre mais altas para o grupo
GPS. Ambos os dados podem ser considerados como evidências de validade para o IDTP,
uma vez que, por um lado, eram esperadas diferenças significativas entre participantes com
diagnósticos psiquiátricos e participantes sem diagnósticos psiquiátricos, o que sugere que
o instrumento discrimina respostas de sujeitos nesses dois grupos. E, por outro lado,
esperava-se também que participantes com traços psicopatológicos constatados (no caso,
por meio do diagnóstico psiquiátrico) obtivessem pontuações mais altas no instrumento do
que participantes sem diagnósticos psiquiátrico, sugerindo que o IDTP de fato mensura
funcionamentos patológicos da personalidade.
Ao lado disso, referente aos resultados específicos encontrados na análise de perfis
por medidas repetidas com a variável diagnósticos”,
foram encontradas diferenças
204
estatisticamente significativas quando a variável de interação “diagnósticos” foi
considerada. Contudo, observa-se que, para muitas escalas, os diferentes grupos
psiquiátricos tendem a pontuar de maneira similar. Esse dado pode vir em decorrência do
número muito reduzido de participantes na realização da análise com a variável em questão.
Por último, em relação à análise de perfis por medidas repetidas, no que concerne à
variável “gênero”, evidenciou-se diferenças significativas no perfil intra-sujeitos, mas não
na interação dos perfis de ambos os grupos e nos perfis entre-grupos. Esse dado sugere que
os participantes tendem a não apresentar médias significativamente distintas em relação à
presença ou ausência das características de personalidade. Por um lado, esse dado vai
contra o que a literatura aponta de que há uma tendência para homens apresentarem
características do transtorno da personalidade anti-social, e, de outro modo, as mulheres
apresentam maior tendência do que os homens a apresentarem características do transtorno
da personalidade histriônico (Millon & Davis, 1996; Millon & cols., 2004). Contudo, cabe
ressaltar que o presente estudo não teve como objetivo estudar transtornos da personalidade
específicos, por isso, não se tem dados suficientes em relação à amostra que permitam
afirmar a ocorrência desses estilos da personalidade (Anti-social e Histriônico) nos
participantes.
As últimas análises realizadas respeitam à investigação da sensibilidade e
especificidade das escalas do IDTP, por meio da curva ROC. Os dados apresentados na
Figura 50 e na Tabela 64 podem ser considerados como satisfatórios para algumas escalas
(Áreas Abaixo da Curva (AAC) entre 0,78 e 0,70) e razoáveis e baixos para outras (AAC
inferior a 0,70), apesar de não haver consenso entre a divisão dos índices AAC (Braga,
2000).
Em geral, um teste de diagnóstico tende a ser avaliado por duas medidas,
sensibilidade e especificidade. Segundo Metz (1978), sensibilidade é a probabilidade de
205
decidir se o transtorno em questão está presente quando de fato está presente, e
especificidade como sendo a probabilidade de decidir se o transtorno está ausente quando,
de fato, está ausente. Em termos de diagnóstico, a sensibilidade pode ser compreendida
como a capacidade que um teste tem para detectar o transtorno no indivíduo, e a
especificidade como a capacidade que o teste tem para excluir os indivíduos isentos do
transtorno. Nesse sentido, um caminho possível para testar os índices de sensibilidade e
especificidade de um instrumento é verificar quais variáveis, obtidas a partir da aplicação
desse instrumento, são capazes de melhor identificar verdadeiros positivos.
Pensando em tais questões, procedeu-se, na continuidade, a uma segunda análise da
curva ROC. Para essa segunda análise procurou-se verificar o melhor grupo de variáveis
que pudessem prever a presença do funcionamento patológico da personalidade nos
participantes. Para tanto, inicialmente procedeu-se a análise de regressão logística, que
apontou para um conjunto de 3 variáveis, sendo elas os escores de theta das escalas
Depressivo, Negativista e Esquizotípico. Cabe ressaltar que, por meio dessas variáveis, o
instrumento é capaz de classificar corretamente a maior parte dos casos distribuídos entre
GNP e GPS, isto é, agrupar os participantes de acordo com o agrupamento prévio. Foi
computada uma variável, por meio da regressão logística, que englobou probabilidades
relacionadas a cada uma das 3 variáveis e, então, utilizou-se essa variável para a realização
da análise da Curva ROC.
No que concerne a AAC encontrada para esse conjunto de variáveis, pode-se
considerar um resultado satisfatório (0,80). Contudo, apesar de não haver dúvidas sobre o
modelo ideal ser aquele que a AAC seja igual a 1 (Metz, 1978), deve-se ressaltar que não
um consenso entre os autores em relação à categorização dos índices obtidos na AAC.
Por exemplo, segundo Lopes e cols. (2007, p. 176), “um modelo é considerado como tendo
muito boa capacidade de classificação se a área sob a curva ROC é superior a 0,8”.
206
Diferentemente, segundo Jurkowski, Cwiklinska, Doniec e Szaflarska-Poplawska (2005),
áreas sob a curva entre 1 e 0,6 podem ser consideradas satisfatórias.
Ao lado disso, o ponto de corte considerado como mais adequado para a variável
utilizada corresponde à probabilidade de 0,1969. Neste ponto a sensibilidade é igual a
82,4%, e a especificidade a 30,1%. Esses números indicam que há uma probabilidade de
82,4% das variáveis identificarem corretamente indivíduos com funcionamentos
patológicos da personalidade, e, de outro modo, 30,1% de probabilidade de identificarem
indivíduos sem funcionamento patológicos da personalidade como se apresentassem tal
funcionamento (falsos positivos) (Braga, 2000).
207
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo teve como objetivo construir e validar um instrumento para
avaliação de transtornos da personalidade com base na teoria de Millon. Para além desse
objetivo, uma proposta mais implícita a este trabalho foi o de apresentar e discutir um
importante modelo teórico da personalidade e seus transtornos que é pouco divulgado no
Brasil, seja ele, o modelo da personalidade proposto por Millon.
Em geral, os dados obtidos, tanto no que se refere à construção do instrumento
quanto às evidências empíricas de validade e fidedignidade, foram satisfatórios. Em um
primeiro momento, o levantamento na literatura acerca da teoria utilizada como base para
construção do instrumento, bem como outros materiais importantes na área de construção
de instrumentos psicológicos e na área de transtornos da personalidade, permitiu que fosse
desenvolvido um conjunto de itens teoricamente representativo para cada um dos
transtornos da personalidade.
A aplicação e análise dos dados obtidos por meio desse conjunto de itens, isto é, do
Inventário Dimensional dos Transtornos da Personalidade, o IDTP, apontou para
propriedades psicométricas adequadas do instrumento. No que concerne à estrutura interna
do IDTP, a partir da análise fatorial e análises subseqüentes, lapidou-se um instrumento
para avaliação dos transtornos da personalidade composto por 83 itens, distribuídos em 15
escalas (14 para avaliação dos transtornos e 1 para validade e desejabilidade social), que
devem ser respondidos em uma escala Likert de 4 pontos. O coeficiente de fidedignidade
dos 14 fatores para avaliação dos transtornos da personalidade variou entre 0,65 e 0,89, de
modo que apenas uma escala (Narcisista) obteve coeficiente inferior a 0,71. Também as
208
correlações entre as escalas do instrumento corroboraram com dados encontrados
previamente em outros estudos.
Complementando os dados obtidos por meio das análises estatísticas da Teoria
Clássica dos Testes (TCT), as análises com base na Teoria de Resposta ao Item (TRI)
contribuíram para evidenciar propriedades do instrumento e da amostra, não verificadas
pelas análises da TCT. Especificamente, as análises da TRI permitiram verificar os índices
de ajuste do instrumento e também da amostra, possibilitando a investigação de itens ou
respondentes que, por motivos subjacentes, não apresentam o padrão esperado pelo modelo
estatístico. Ao lado disso, a TRI também forneceu índices de dificuldade do instrumento (b)
e de traço latente (
θ
) dos respondentes, o que permite verificar o quão ajustado, em termos
de endossamento, é o instrumento para a amostra aplicada. Por último, mas não menos
importante, os dados obtidos por meio da TRI permitem que se interprete com maior
acurácia o que significa uma determinada pontuação em uma escala (na TRI, a pontuação é
fornecida em theta). Neste estudo, verificou-se que os itens do instrumento tenderam, de
maneira geral, a não serem endossados pelos respondentes, isto é, a média de theta tendeu a
ser menor que a média de b dos itens do instrumento. Por um lado, é aconselhável que haja
variabilidade na amostra, em termos de theta, por outro, uma vez que grande parte da
amostra deste estudo foi representada por estudantes universitários sem diagnóstico
psiquiátrico, pareceu ser bastante coerente que o instrumento fosse difícil de se endossar.
Complementando este dado, por meio da análise de perfis por medidas repetidas com a
variável dependente “grupo de participantes”, observou-se que os respondentes do grupo
psiquiátrico (GPS) obtiveram médias mais altas em todas as escalas de avaliação de
transtornos da personalidade do IDTP.
Ainda no que respeita aos dados obtidos nas análises da TRI, verificou-se que o uso
de uma escala Likert de 4 pontos algumas vezes pareceu ser adequado, mas para algumas
209
escalas, sugeriu que uma escala de 3 pontos seria suficiente para responder o instrumento.
Na continuidade, as figuras com os valores de thresholds e os mapas de pessoas-itens,
contribuíram para o entendimento da distribuição dos itens de cada uma das escalas, bem
como da distribuição dos respondentes nas escalas.
No que diz respeito às relações do IDTP com variáveis externas, os dados obtidos
também podem ser considerados adequados. As correlações entre as escalas do IDTP e
MCMI-III corroboraram os dados fornecidos por estudos prévios com o MCMI-III. Ao lado
disso, as análises de perfis por medidas repetidas, no geral, contribuíram para identificação
de perfis dos diferentes grupos em relação às escalas do IDTP. Também os dados
evidenciados nessas análises forneceram importantes dados a favor da validade do
instrumento. E, por último, as análises das curvas ROC evidenciaram dados satisfatórios,
para o IDTP, na investigação de um conjunto de variáveis que seja capaz de predizer traços
patológicos da personalidade que podem ser importantes e salientes na vida de um
indivíduo.
Apesar das adequações psicométricas evidenciadas para o instrumento, algumas
limitações devem ser apontadas neste estudo. A primeira delas refere-se a uma limitação
freqüente nos estudos na área de psicologia, que é a não aleatoriedade e representatividade
amostral dos participantes do estudo, isto é, a amostra do presente estudo não foi aleatória e
randomizada, mas optou-se pela amostra por conveniência. Ainda sobre a amostra, e
configurando uma segunda limitação deste estudo, dado o objetivo de avaliação do
instrumento construído, seria importante que a amostra de pacientes psiquiátricos tivesse
sido mais representativa, isto é, com maior variabilidade de transtornos (e, especificamente,
de pacientes diagnosticados com transtornos de personalidade). Também, uma terceira
limitação, refere-se a não investigação do funcionamento de uma das escalas do IDTP, a
Escala XV, de Validade e Desejabilidade Social. E, por último, uma quarta importante
210
limitação refere-se à ausência de um critério externo estruturado e validado para os dados
encontrados com o IDTP, por exemplo, a entrevista diagnóstica estruturada para o Eixo II
(SCID-II). As limitações apontadas são algumas das mais relevantes deste estudo, contudo,
de maneira alguma diminuem a importância dos dados encontrados.
Ao lado disso, também podem ser apontadas sugestões para futuros estudos que
tenham como pretensão dar continuidade para os achados com o IDTP. De maneira mais
global, propõe-se que este estudo seja replicado, de maneira a verificar se a estrutura
fatorial presentemente evidenciada se repete em outras amostras. No que concerne as
análises com a TRI, futuros estudos podem investigar a adequação dos parâmetros do
instrumento por meio de outros modelos, como os modelos de 2 e 3 parâmetros e o ideal
point model. Em uma tentativa de expandir os limites de avaliação do IDTP, futuros
estudos também podem ter como objetivo a construção de itens mais facilmente
endossáveis pelos participantes, preenchendo as lacunas inferiores evidenciadas nos mapas
de itens apresentados neste estudo.
De maneira mais específica, seria interessante que novos itens para as escalas
Evitativo e Narcisista fossem construídos, de modo que essas escalas fossem evidenciadas
empiricamente nas amostras. Ao lado disso, seria importante que futuras pesquisas
desenvolvessem itens mais difíceis de endosso para a Escala Compulsivo, ou ainda, itens
para essa escala que tenham menor relação com desejabilidade social. No que se refere à
Escala XV, pouco explorada neste estudo, futuras pesquisas poderiam verificar coerências
teóricas subjacentes às correlações desta escala com as escalas de transtornos da
personalidade, bem como verificar o quão capaz essa escala é de predizer não-validade das
respostas dadas ao IDTP.
Ainda como sugestão para futuros estudos, é de extrema importância que seja
verificada a utilidade clínica do IDTP. Por isso, futuros trabalhos devem verificar se a
211
dificuldade em discriminar os diferentes transtornos da personalidade, evidenciada em
outros instrumentos para avaliação dos transtornos da personalidade, como o MCMI-III,
também se faz presente no instrumento desenvolvido neste estudo. Também deve ser
investigado o quão adequado, para o uso clínico, é o conjunto de 14 variáveis para predição
de um funcionamento patológico da personalidade, encontrados neste estudo.
Por fim, vale a pena ressaltar que a importância dos instrumentos para avaliação de
diferentes transtornos psicológicos e psiquiátricos se confirma quando essas ferramentas
demonstram sua utilidade clínica, isto é, quando o instrumento se configura como um
recurso de auxílio e facilitação para o profissional da área clínica. Nesse sentido, se por um
lado é com preocupação que evidenciamos em pleno século XXI lacunas importantes no
campo da avaliação psicológica no Brasil (como a ausência de um instrumento clínico que
seja de fácil manejo para avaliação dos diferentes transtornos da personalidade), por outro,
é com otimismo que devemos encarar os obstáculos ainda presentes no campo da ciência, e
especificamente do estado da ciência psicológica no país, na intenção de prover ferramentas
úteis na construção do saber e no auxílio à sociedade.
212
7. REFERÊNCIAS
Alchieri, J. C. (2004). Modelo dos Estilos de Personalidade de Millon: Adaptação do
Inventário Millon de Estilos de Personalidade. Tese de doutorado não publicada,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul.
Alchieri, J. C., Cervo, C. S. & Núñez, J. C. (2005). Avaliação de estilos de personalidade
segundo a proposta de Theodore Millon. PSICO, 36 (2), 175-179.
Allport, F. H, e Allport, G. W. (1921). Personality Traits: Their Classification and
Measurement, Journal of Abnormal and Social Psychology, 16, 6-40.
Allport, G. W. (1937). Personality: A psychological interpretation. New York: Holt.
American Psychological Association. (2003). Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais DSM-IV-TR (4ª ed.). Porto Alegre: Artmed.
Apt, C., & Hurlbert, F. (1994). The sexual attitudes, behavior, and relationships of women
with histrionic personality disorder. Journal of Sex and Marital Therapy, 20, 125-13.Beck,
A. T.; Freeman, A.; & Davis, D. D. (2005). Terapia Cognitiva dos Transtornos da
personalidade. 2
a
edição. Porto Alegre: Artmed.
Boucinhas, A. M. S., Cysneiros, A. B., Rocha, H. R. R. P. & Alchieri, J. C. (2006).
Tradução e análise semântica do Millon Clinical Multiaxial Inventory (MCMI-III) para o
Brasil. Anais do II Congresso Brasileiro Psicologia: Ciência e Profissão. Recuperado em 31
Março, 2007, de http://www.cienciaeprofissao.com.br/anais/detalhe.cfm?idTrabalho=946.
Braga, A. C. S. (2000). Curvas ROC: aspectos funcionais e aplicações. Dissertação de
mestrado não publicada, Universidade do Minho, Braga.
213
Brown, T. A., & Barlow, D. H. (2005). Dimensional versus categorical classification of
mental disorders in fifth edition of the diagnostic and statistical manual of mental disorders
and beyond, Journal of Abnormal Psychology, 114, 551-556.
Caballo. V. E. (2007). Manual de Transtornos de Personalidade. São Paulo: Santos.
Carlat, D. J. (2006). Entrevista Psiquiátrica. 2
a
edição. Porto Alegre: Artmed.
Choca, J. P. (2004). Interpretative Guide for the Millon Clinical Multiaxial Inventory III.
Washington, DC: American Psychological Association.
Clapier-Valladon, S. (1988). As Teorias da Personalidade. São Paulo: Martins Fontes.
Cloninger, S. C. (1999). Teorias da Personalidade. São Paulo: Martins Fontes.
Costa, P.T., & McCrae, R.R. (1992). NEO PI-R. Professional manual. Odessa, FL:
Psychological Assessment Resources, Inc.
Craig, R. J. (1999). Overview and current status of the Millon Clinical Multiaxial
Inventory. Journal of Personality Assessment, 72 (3), 390-406.
Craig, R. J. (2008). Millon Clinical Multiaxial Inventory-III. In: Strack, S. Essentials of
Millon Inventories Assessment. 3ª edição. New York: John Wiley & Sons.
Craig, R. J. (1999). Overview and Corrent Status of the Millon Clinical Multiaxial
Inventory. Journal of Personality Assessment, 72 (3), 390-406.
Craig, R. J., & Bivens, A. (1998). Factor structure of the MCMI-III. Journal of Personality
Assessment, 70, 190–196.
Craig, R. J., & Olson, R. E. (2001). Adjectival Descriptions of Personality Disorders: A
Convergent Validity Study of the MCMI-III. Journal of Personality Assessment, 77 (2),
259-271.
Cunha, J. A. (2001). Manual da versão em português das Escalas Beck. São Paulo: Casa do
Psicólogo.
214
Davis, R. D. (1999). Millon: Essentials of his science, theory, classification, assessment,
and therapy. Journal of Personality Assessment, 72 (3), 330-352.
Del Porto, J. A. (1999). Conceito e diagnóstico. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21, 6-11.
Dyce, J. A., O'Connor, B. P., Parkins, S., & Janzen, H. (1997). Correlational structure of
the MCMI-III personality disorder scales and comparison with other data sets. Journal of
Personality Assessment, 69, (3), 568-582.
Elliott, R., Fox, C.M., Beltyukova, S.A., Stone, G.E., Gunderson, J., & Zhang, Xi. (2006).
Deconstructing therapy outcome measurement with Rasch analysis: The SCL-90-R.
Psychological Assessment, 18, 359-372.
Frances, A, & Widiger, T. A. (1986). Methodological Issues in Personality Disorder
Diagnosis. In: Millon, T., & Klerman, G.L. (eds.), Contemporary Directions in
Psychopathology: Toward the DSM-IV. Nova York: Guildford.
Graham, J. R. (1993). MMPI-2: Assessing Personality and Psychopathology. New York:
Oxford.
Groth-Marnat, G. (2003). Handbook of psychological assessment (4th ed.). New York:
John Wiley & Sons.
Grossman, S. D., & del Rio, C. (2005). The MCMI-III Facet Subscales. In: Craig, R. J. New
Directions in Interpreting the Millon Clinical Multiaxial Inventory-III (MCMI-III). New
York: John Wiley & Sons.
Günther, H. (1999). Como elaborar um questionário. Em: L. Pasquali, (Org), Instrumentos
psicológicos: manual prático de elaboração (pp. 231-258) Brasília: LabPAM/IBAPP.
Haddy, C., Strack, S. & Choca, J. P. (2005). Linking Personality Disorders and Clinical
Syndromes on the MCMI-III. Journal of Personality Assessment, 84 (2), 193-204.
Hall, C. S.; Lindzey, G.; & Campbell, J. B. (2000) Teorias da Personalidade, 4ª ed., Porto
Alegre: Artmed.
215
Handler, L. & Meyer, G. J. (1997). The importance of teaching and learning personality
assessment. In: Handler, L., & Hilsenroth, M. (eds), Teaching and learning personality
assessment (pp. 3-30) New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates.
Hair, J.F., Anderson, R.E., Tatham, R.L., & Black, W. (2005). Análise multivariada de
dados. Porto Alegre, Bookman.
Horowitz, L. M., Post, D. L., French, R. de S., Wallis, K. D., & Siegelman, E. Y. (1981).
The prototype as a construct in abnormal psychology: Clarifying disagreement in
psychiatric judgments. Journal of Abnormal Psychology, 90, 575-585.
Howell, D. Statistical Methods for Psychology 5. ed. Pacific Grove (CA): Duxbury: 2002.
Howell, D. (1997). Statistical methods for psychology (4ª Ed.). Belmont, CA: Duxbury
Press.
Jurkowski, P., Cwiklinska, M., Doniec, Z, & Szaflarska-Poplawska (2005). Receiver
Operating Characteristic (ROC) and other curves measuring discriminability of classifiers
ensemble for ashtma diagnosis, ceiver operating characteristic (ROC) and other curves
measuring discriminability, Roczniki Akademii Medycznej w Bialymstoku, 50, (2), 65-67.
Lopes, C. B., Ribeiro, R. L. F., Carvalho, M. G., Franco, G. C., Loschi, R. H., & Braga, M.
M. (2007). Identificação das características associadas com a aprovação de candidatos de
escolas públicas e privadas, vestibular-2004, UFMG, Educação em Revista, 46, 167-94.
Loureiro, S. R. (2000). Transtornos de Personalidade e avaliação psicodiagnóstica. Em: F.
F. Sisto, E. T. B. Sbardelini, & R. Primi, (Orgs), Contextos e questões da avaliação
psicológica (pp. 51-61) São Paulo: Casa do Psicólogo.
Maser JD, Kaelber C, Weise RE. International use and attitudes toward DSM-III and DSM-
III-R: growing consensus in psychiatric classification. J Abnorm Psychol, 100 (3):271-9,
1991.Mayer, J. D. A Tale of Two Visions: can a new view of personality help integrate
psychology?
American Psychologist, 60, (4), 294-307.
216
Metz, C. E. “Basic Principles of ROC Analysis,” Seminars in Nuclear Medicine, VIII
(4):283–298 (1978).
Mira y Lopez, E. (1944). Manual de Psiquiatria. Rio de Janeiro, Científica.
Millon, T. (1986a). A Theoretical Derivation of Pathological Personalities. In: Millon, T.,
& Klerman, G.L. (eds.), Contemporary Directions in Psychopathology: Toward the DSM-
IV. Nova York: Guildford.
Millon, T. (1986b). Personality Prototypes and Their Diagnostic Criteria. In.: Millon, T., &
Klerman, G. L. Contemporary Directions in Psychopathology: Toward the DSM-IV. Nova
York: Guildford.
Millon, T. (1993). Personality Disorders: conceptual distinctions and classification issues.
In: Costa, P. T., & Widiger, T. A. Personality Disorders and the Five-Factor Model of
Personality, Washington, APA.
Millon, T. & Davis, R. D. (1996). Disorders of Personality DSM-IV and Beyond. New
Jersey: Wiley.
Millon, T., Millon, C. M. & R. D., Davis. (1994). MCMI-III Manual. Minneapolis:
Dicandrien.
Millon, T. Millon, C. M., Meagher, S. Grossman, S. & Ramanath, R. (2004). Personality
Disorders in Modern Life. New Jersey: Wiley, 2004.
Morana, H. C. P. (2003). Identificação do ponto de corte para a escala PCL-R
(Psychopathy Checklist Revised) em população forense brasileira: caracterização de dois
subtipos da personalidade; transtorno global e parcial. Tese de doutorado não publicada,
Universidade de São Paulo, São Paulo.
Mullins-Sweatt, S. N., & Widiger, T. A. (2007). Millon's dimensional model of personality
disorders: a comparative study, J Personal Disord, 21, (1), 52-57.
217
Myford, C., & Wolfe, E. (2004). Detecting and Measuring Rater Effects Using Many-Facet
Rasch Measurement. In: Smith, Jr., E. V., & Smith, R. M. (2004). Introduction to Rasch
Measurement: theory, models, and applications, JAM Press.
Noronha, A. P. P., Primi, R. & Alchieri, J. C. (2005). Instrumentos de avaliação mais
conhecidos/utilizados por Psicólogos e estudantes de Psicologia. Psicologia: Reflexão e
Crítica, 18 (3), 73-77.
Oldham, J. M.; & Morris, L. B. (1995). The New Personality Self-Portrait: Why you think,
work, love, and act the way you do. New York :Bantam Books.
Organização Mundial da Saúde. (2003). Classificação estatística internacional de doenças
e problemas relacionados à saúde. 10
a
revisão. São Paulo: USP.
Pasquali, L. (1998). Princípios de elaboração de escalas psicológicas. Revista de
Psiquiatria Clínica, 25 (3), 206-213.
Pasquali, L. (2003). Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na educação. Petrópolis:
Vozes.
Pasquali, L. (1999). Testes Referentes a Construto: Teoria e Modelo de Construção. Em: L.
Pasquali (Org), Instrumentos psicológicos: manual prático de elaboração (pp. 37-72).
Brasília: LabPAM/IBAPP.
Pasquali, L., & Primi, R. (2003). Fundamentos da teoria da resposta ao item: TRI,
Avaliação Psicológica, (2), (2), 99-110.
Primi, R., Munhoz, A. M. H., Bighetti, C. A., Nucci, E. P., Pelegrini, M. C. K., & Moggi,
M. A. (2000). Desenvolvimento de um Inventário de Levantamento das Dificuldades da
Decisão Profissional, Psicologia. Reflexão e Crítica, 13, (3), 451-463.
Poulsen, F. (1922). Etruscan Tomb Paintings - Their Subjects And Significance. Oxford,
Clarendon Press.
218
Reise, S. P., & Henson, J. M. (2003). A Discussion of Modern Versus Traditional
Psychometrics as Applied to Personality Assessment Scales, Journal of Personality
Assessment, 81, (2), 93-103.
Retzlaff, P. (1996). MCMI-III diagnostic validity: bad test or bad validity study?, Journal
of Personality Assessment, 66, (2), 431-37.
Ribas Jr., R. C., Moura. M. L. S., & Hutz, C. S. (2004). Adaptação Brasileira da Escala de
Desejabilidade Social de Marlowe-Crowne, Avaliação Psicológica, 3, (2), 83-92.
Rossi, G., Van der Ark, L. A., & Sloore, H. (2007). Factor analysis of the Dutch-language
version of the MCMI-III. Journal of Personality Assessment, 88, 144-157.
Rossi, G., Brande, I. V., Tobac, A., Sloore, H. & Hauben, C. (2003). Convergent validity of
the MCMI-III personality disorder scales and the MMPI-2 scales. Journal of Personality
Disorders, 17 (4), 330-340.
Schoenberg, M. R., Dorr, D. A., Morgan, C. D., & Burke, M. (2004). A comparison of the
MCMI-III personality disorder and modifier indices with the MMPI-2 clinical and validity
scales. Journal of Personality Assessment, 82, (3), 273-80.
Schroeder, M. L., Wormworth, J. A., & Livesley, W. J. (1992). Dimensions of personality
disorder and their relationships to the Big Five dimensions of personality, Psychological
Assessment, 4, (1), 47-53.
Smith, H. C. (1977). Desenvolvimento da Personalidade. McGraw-Hill, São Paulo.
Smith Jr, E. V. (2004). Evidence of the Reliability of Measures and Validity of Measure
Interpretation: A Rasch Measurement Perspective. In: Smith, Jr., E. V., & Smith, R. M.
(2004). Introduction to Rasch Measurement: theory, models, and applications, JAM Press.
Srivastava, S., John, O. P., Gosling, S. D., & Potter, J. (2003). Development of personality
in early and middle adulthood: Set like plaster or persistent change? Journal of Personality
and Social Psychology, 84,
1041-1053.
219
Strack, S. (1999). Millon´s normal personality styles and dimensions. Journal of
Personality Assessment, 72 (3), 426-436.
Strack, S., & Millon, T. (2007). Contributions to the dimensional assessment of personality
disorders using Millon's model and the Millon Clinical Multiaxial Inventory (MCMI9-III).
Journal of Personality Assessment, 89 (1), 56-69.
Strack, S. (2005). Handbook of Personology and Psychopathology. Wiley, New Jersey.
Tabachinick, B. G., & Fidell, L. S. (1996). Using multivariate statistics. New York:
HarperCollins.
Teplin, D., O´Conell, T., Jeff, D., & Varenbut, M. (2004). A psychometric study of DSM-
IV personality disorders among Office-based methadone maintenance patients. The
American Journal of Drug and Alcohol Abuse, 30, (3), 515-24.
Urbina, S. (2007). Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed.
Urquijo, S. (2000) Modelos circumplexos da personalidade - o MCMCI-II como
instrumento de avaliação clínica. Em: F. F. Sisto, E. T. B. Sbardelini, & R. Primi (Orgs),
Contextos e questões da avaliação psicológica (pp. 31-50) São Paulo: Casa do Psicólogo.
Vincent, K. R. (1990). The relationship between personality disorders, normality and
healthy personality: personality on a continuum. Social Behaviour and Personality, 18 (2),
245-250.
Widiger, T.A., & Simonsen, E. (2005). The American Psychiatric Association’s research
agenda for DSM-V. Journal of Personality Disorders, 19, 103-109.
Widiger, T. A., & Trull, T. J. (2007). Place Tectonics in the Classification of Personality
Disorder: shifting to a dimensional model. American Psychologist, 62, 2, 71-83.
Widiger, T. A. & Frances, A. J. (2002). Toward a dimensional model for the personality
disorders. Em P. T. Costa & T. A. Widiger (Orgs.). Personality disorders and the Five-
220
Factor Model of Personality (2ª ed., pp. 23-44). Washington, DC: American Psychological
Association.
Widiger, T.A., & Samuel, D.B. (2005). Diagnostic categories or dimensions: A question for
DSM-V. Journal of Abnormal Psychology, 114, 494-504
Widiger, T. A., Trull, T. J., Clarkin, J. F., Sanderson, C., & Costa, P. T. (2002). A
description of the DSM-IV personality disorders with the five-factor model of personality.
In P. T. Costa & T. A. Widiger (Eds.), Personality disorders and the Five-Factor Model of
Personality (2nd ed., pp. 89-102). Washington, DC: American Psychological Association.
Wright, B. D. & Masters, G. N. (1982). Rating scale analysis. Chicago: MESA.
Wright, B. D., & Mok, M C. (2004). An Overview of the Family of Rasch Measurement
Models. In: Smith, Jr., E. V., & Smith, R. M. (2004). Introduction to Rasch Measurement:
theory, models, and applications, JAM Press.
Wright, B. D. & Stone, M. H. (1979). Best Test Design. Chicago: MESA.
221
8. ANEXOS
222
Anexo A – Agrupamento dos Pacientes com Diagnóstico Psiquiátrico Conhecido
Diagnósticos dos pacientes do grupo com Transtornos do Espectro Depressivo
- Transtorno depressivo maior
- Transtorno bipolar
- Transtorno distímico
Diagnósticos dos pacientes do grupo com Transtornos do Espectro Ansioso
- Transtorno de ansiedade generalizada
- Fobia específica
- Outro transtorno ansioso
Diagnósticos dos pacientes do grupo com Transtornos do Espectro Esquizóide
- Esquizofrenia
- Psicose puerperal
- Transtorno esquizoafetivo
- Transtorno psicótico por uso de substância
Diagnósticos dos pacientes do grupo com Outros Diagnósticos
- Transtorno misto ansioso e depressivo
- Reação aguda ao stress
- Transtorno misto da personalidade
- Transtorno dissociativo misto
- Epilepsia
- Distúrbio do sono
- Transtorno somatoforme
- Retardo mental leve
223
Anexo B – TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Unidade Acadêmica das Áreas de Ciências Jurídicas, Humanas e Sociais
Comitê de Ética - Universidade São Francisco
Projeto: Construção e Validação de um Instrumento para Avaliação de Transtornos da
Personalidade a partir do Modelo de Millon
Prezados senhores (as),
Estamos realizando uma pesquisa chamada “Construção e Validação de um Instrumento
para Avaliação de Transtornos da Personalidade a partir do Modelo de Millon” com o
objetivo de avaliar o funcionamento da personalidade do indivíduo. Caso concorde em
participar como voluntário(a) da pesquisa, sob responsabilidade de Lucas de Francisco
Carvalho, aluno do Programa de Mestrado em Psicologia da Universidade São Francisco,
sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo Primi, assine o termo de consentimento.
Assinando o termo de consentimento, estou ciente de que:
- Durante o estudo serão aplicados dois testes que têm por finalidade avaliar a
personalidade.
- Meus dados pessoais serão mantidos em sigilo e os resultados gerais obtidos por meio
da pesquisa serão utilizados apenas para alcançar os objetivos do trabalho acima
exposto, cujos dados poderão ser publicados em períodos científicos;
- Os procedimentos aplicados não oferecem riscos a sua integridade moral, física, mental
ou efeitos colaterais;
- Não é esperado que esse projeto cause algum constrangimento para o sujeito;
- A participação na pesquisa poderá ser interrompida a hora que o responsável ou o
menor desejarem;
- Poderei entrar em contato com o responsável pelo estudo Lucas de Francisco
Carvalho, sempre que julgar necessário, pelo email: [email protected], ou pelo
telefone (11) 4534-8040;
- Para contatar o Comitê de Ética da Universidade São Francisco, entrar em contato pelo
telefone: (11) 4534-8023;
- Obtive todas as informações necessárias para poder decidir conscientemente sobre
minha participação nessa pesquisa;
- Este termo de consentimento é feito em duas vias sendo que uma delas ficará em meu
poder e a outra com o pesquisador responsável.
Eu, ______________________________________, dou o consentimento livre e
esclarecido para participar desta pesquisa.
________________, ____ de _____________ de _______.
_________________________ ________________________
Assinatura do Responsável Assinatura do Pesquisador
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo