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LESSANDRA
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ODRIGUES DE
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LMEIDA
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ALIDADE
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ATERIA
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NFORMATIZADA
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INGUAGEM
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RAL
(BILO)
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TATIBA
2008
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i
Alessandra Rodrigues de Almeida
E
STUDO DE
V
ALIDADE
D
A
B
ATERIA
I
NFORMATIZADA DE
L
INGUAGEM
O
RAL
(
BILO)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação
Stricto Sensu em Psicologia, da
Universidade São Francisco, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Mestre
.
O
RIENTADORA
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M.
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RADUAÇÃO
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ENSU
EM PSICOLOGIA
MESTRADO
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STUDO DE
V
ALIDADE
D
A
B
ATERIA
I
NFORMATIZADA DE
L
INGUAGEM
O
RAL
(BILO)
Autor(a): Alessandra Rodrigues de Almeida
Orientador(a):
Profª Drª Maria Cristina Rodrigues Azeve
do Joly.
Este exemplar corresponde à redação final da dissertação de mestrado
defendida por Alessandra Rodrigues de Almeida e aprovada pela
c
omissão
examinadora.
Data: 22 / 02 / 2008
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________________
_____________
Profa. Dra. Maria Cristina Rodrigues Azevedo Joly
___________________________________________________________
Profa. Dra. Melania Moroz
___________________________________________________________
Profa. Dra. Ana Paula Porto Noronha
I
TA
TIBA
2008
iii
Dedicatória
Aos meus
pais Dalva e José Antonio, e ao meu
esposo Rogerio.
iv
Agradecimentos
Primeiramente agradeço a Deus, pois acredito que tudo depende Dele.
Agradeço aos meus pais Dalva e José Antonio, pelo amor, carinho, atenção e
compreensão
que sempre me dedicaram, e por sempre me incentivarem em tudo que me
propus a fazer, e aos meus irmãos Marcos, Ricardo e Adriana, pelas freqüentes
manifestações de apoio e carinho.
Ao meu amado esposo Rogerio, pelo amor e companheirismo constantes, pelo
incentivo,
apoio, paciência e compreensão neste período de estudos, e também pela
participação ativa neste trabalho com os desenhos iniciais da BILO.
À minha professora orientadora Dra. Maria Cristina de Rodrigues de Azevedo
Joly,
por conduzir
-
me aos caminhos da pesquisa, e ensinar
-
me tanto.
Meus agradecimentos à Banca do Exame de Qualificação, composta pela
s
Professor
as Doutoras Ana Paula Porto Noronha e Melania Moroz, pelas
contribuições
para
a melhoria deste trabalho
.
Aos
professores do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia que
durante o curso contribuíram para minha formação.
À amiga Gerusa,
que
conheci
apenas ao ingressar no mestrado, mas que
rapidamente se tornou uma pessoa muito importante para mim, com quem partilhei muito
s
momentos difíceis e também
muitas alegrias.
Aos meus colegas do curso, pelos momentos de troca e aprendizagem.
Às amigas Eliete e Jussara, muito obrigada pelo apoio e incentivo em todos os
momentos que passamos juntas, mas, especi
almente durante todas as fases desta pesquisa.
v
Ao pessoal de iniciação científica do Núcleo de Avaliação Psicológica Educacional
da Universidade São Francisco, pelo auxílio na coleta de dados para a presente pesquisa.
E por fim, não poderia deixar de manif
esta
r meus sinceros agradecimentos ao
Diretor de Educação e à Secretária de Educação que permitiram a realização desta pesquisa
na rede municipal de ensino de suas cidades, às diretoras e às professoras das escolas
municipais focalizadas, pela confiança e
por
facilitarem todo o processo de coleta de dados
nas escolas
, e também às crianças que participaram desta pesquisa.
vi
R
ESUMO
Almeida, A. R. (2008). Estudo de validade da Bateria Informatizada de Linguagem Oral
(BILO).
Disserta
ção de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação
Stricto Sensu em
Psicologia, Universidade São Francisco, Itatiba.
O presente estudo teve como objetivo buscar evidências de validade, para uma
bateria de avaliação de compreensão em linguagem oral, com crianças de educação infantil
e séries iniciais do ensino fundamental. Participaram 109 alunos, de ambos os sexos, que
freqüentavam regularmente escolas públicas do interior de São Paulo. Foi utilizada a
Bateria Informatizada de Linguagem Oral (BILO) para avaliar a compreensão em
linguagem oral e o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP). Os instrumentos
foram aplicados coletivamente em duas sessões, e em horário regular de aula por
examinadores treinados para tal atividade. A análise de variância realizada por meio da
Anova identificou que a BILO apresenta validade quanto aos critérios de idade e série
escolar, possibilitando verificar a progressão do desempenho dos alunos, de acordo com a
idade e com a série escolar freqüentada. O teste de correlação de Sperman demonstrou a
existência de correlação entre a BILO e o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody
(TVIP); essa correlação foi de r=0,43 (p=0,000 para a=
0,01). De acordo com AERA, APA e
NCME (1999) foi verificada a existência de validade de critério con
vergente,
pois
ocorreu uma
correlação significativa entre as variáveis da Bateria Informatizada de Linguagem Oral e de um
determinado critério externo, que foi o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody.
Palavras
-chave: avaliação psicológica informatizada; ensino fundamental; compreensão;
linguagem receptiva
.
vii
A
BSTRACT
Almeida, A. R.(2008). Estudo de validade da Bateria Informatizada de Linguagem Oral
(BILO). Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-
Graduação
Stricto Sensu em
Psicologia, Universidade Sã
o Francisco, Itatiba.
The objective of this present study was to look for evidences of validate to a set
of evaluation of comprehension in oral language with children in the initial school. One
hundred nine students of both sexes from kindergarden and first classes of grade school
who attended regularly, in the country side of São Paulo, took part in this evaluation. It was
used a “BATERIA INFORMATIZADA DE LINGUAGEM ORAL - BILO”
(Computerized Set of Oral Language Tests) to evaluate the comprehension in oral
language and the vocabulary test through images
Peabody
(TVIP). The tests were applied
in group, in two sections by trained examiners in regular classroom hours. The analysis of
variance was done by Anova, it showed that BILO presents validity regarding through the
criteria of age and school year, allowing to verify the progression of the students
performance in accordance with age and school year attended. The correlate Sperman test
showed the existence of correlation between a BILO test and the vocabulary test by images
Peabody
(TVIP). This correlation was r = 0,43 (p=0,000 to a =0,01). According to AERA,
APA and NCME (1999), there is a validity of convergent criterion
. It occured a meaningful
cor
rela
tion among the variance of BILO and a determined external criterion that was the
vocabulary test by images Peabody.
Key words: computerized psychological assessment; fundamental teachings;
c
omprehension and receptive language.
viii
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS
.........................................................................................................
ix
APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................1
CAPÍTULO I
LINGUAGEM ORAL....
..........................................................................
.9
1.1.C
ONSIDERAÇÕES
G
ERAIS................................................................................................
9
1.2. F
ASES
DE DESENVOL
VIMENTO DA LINGUAGEM............................................................
.11
1.3.
LINGUAGEM EXPRESSIV
A E RECEPTIVA.........................................................................13
1.4. R
ELAÇÃO ENTRE A LINGU
AGEM ORAL E IMPRESSA......................................................
.24
1.5.
PESQ
UISAS SOBRE COMPREEN
SÃO DA LINGUAGEM ORA
L...
..........................................
.30
CAPÍTULO II
VOCABULÁRIO..................................................................................
.40
2.1. V
OCABULÁRIO E LINGUAG
EM ORAL...........
.................................................................
.40
CAPÍTULO III
MÉTODO..............................................................................................48
3.1. P
ARTICIPANTES...........................................................................................................
.48
3.2. I
NSTRUMENTOS.....
......................................................................................................
.49
3.3. P
ROCEDIMENTO....
.......................................................................................................
.65
CAPÍTULO
IV
– RESULTADOS E DISCUSSÃO..........................................................66
4.1. ANÁLISE DESCRITIVA E INFERENCIAL DE DESEMPENHO PARA COMPREENSÃO ORAL E
VOCABULÁRIO COM EVID
ÊNCIAS DE VALI
DADE DE CRITÉRIO PAR
A A BILO .........................66
4.2. EVIDÊNCIA DE VALIDADE CONVERGENTE PARA A B
ATERIA
INFORMATIZADA DE
L
INGUAGEM
ORAL
.............................................................................................................
.79
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................
.83
REFERÊNCIAS..................................................................................................................
87
ix
LISTA DE TAB
ELAS
Tabela 1. Estatísticas descritivas da média de idade dos participantes por série................. 48
Tabela 2. Estatísticas descritivas da média do desempenho na BILO por série e por subteste
.........................................................................................................................................66
Tabela 3. Estatísticas inferenciais da ANOVA sobre o efeito da série para o escore total e
em cada subteste da BILO...............................................................................................70
Tabela 4. Estatísticas inferenciais da ANOVA sobre o efeito da idade para o escore total e
para cada subteste da BILO.............................................................................................73
Tabe
la 5. Estatísticas descritivas da média do desempenho na BILO por subteste segundo o
gênero dos participantes..................................................................................................76
Tabela 6. Estatísticas descritivas da média do desempenho no Teste de Vocabulário por
Imagens
Peabody
em função da escolaridade.................................................................77
Tabela 7. Distribuição das séries escolares em relação ao vocabulário receptivo...
.............77
Tabela 8. Correlação entre a Bateria Informatizada de Linguagem Oral e o Teste de
Vocabulário
Peabody......................................................................................................80
1
APRESENTAÇÃO
A linguagem integra e constitui a cultura de diferentes comunidades. A língua tem
um papel essencial para a constituição de uma sociedade, e é consolidada tanto nas
interações orais quanto nas gráficas (Reily, 2004). Essa habilidade cognitiva é estudada sob
diferentes aspectos, em diversas áreas do conhecimento, por apresentar um caráter
interdisciplinar (Boone & Plante, 1994).
Estudiosos de Psicologia e de outras áreas do conhecimento têm pesquisado a
linguagem no que se refere à sua aquisição e desenvolvimento, tanto na modalidade oral
quanto escrita. São estudados também os fatores envolvidos na produção e compreensão da
linguagem como, a sintaxe, a semântica, vocabulário, habilidade de codificação e
decodificação, memória de trabalho, capacidade de monitoramento, inferências e
capacidade de integrar informações presentes em textos, dentre outros (Barrera & Maluf,
2003; Brandão & Spinillo, 2001; Cain & Oakill, 2007; Capovilla, Capovilla & Soares,
2004; Corrêa, 2005; Hagvet, 2003).
Especific
amente a linguagem oral, enquanto habilidade característica do
funcionamento cognitivo, é fundamental para a aquisição e bom desempenho em linguagem
escrita. Diversos autores têm estudado essa relação (Cain & Oakhill, 2007; França, Wolf,
Moojen, S. & Rotta, 2004; Hage, Joaquim, Carvalho, Padovani, & Guerreiro, 2004;
Hagvet, 2003; Salles & Parente, 2006) e enfatizado que a detecção precoce de problemas
em linguagem oral contribui para uma introdução de procedimentos de intervenção
permitindo assim, minimizar
problemas posteriores em leitura e produção escrita.
A leitura é um elemento importante na sociedade letrada. Santos, Primi, Taxa e
Vendramini (2002) destacam que a leitura é uma ferramenta essencial para a formação
2
social e cognitiva do indivíduo, qua
lificando
-o para inserção na sua cultura. Joly (1999)
salienta que leitura é um instrumento indispensável para o desenvolvimento individual e
social, e o homem que sabe ler e escrever tem melhores possibilidades de exercer seus
papéis na sociedade. Diante
da importância da leitura na formação do indivíduo, é essencial
que a escola ofereça condições favoráveis para que as crianças aprendam a ler no período
regular de escolarização
Segundo os objetivos dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portugues
a
(MEC, 2001), espera-se que o aluno do primeiro ciclo (1ª e séries) do Ensino
Fundamental seja capaz de compreender o sentido das mensagens orais e escritas. Isto
implica atribuição de significados, visando identificar elementos possivelmente relevante
s
da mensagem, segundo os propósitos do autor, ao escrevê-la. Concomitantemente, é
importante que o aluno leia os textos impressos, combinando estratégias de decifração com
as de seleção, antecipação, inferência e verificação. Diante do exposto, considera-
se
fundamental o diagnóstico das habilidades que antecedem à aquisição da leitura, de modo a
identificar possíveis dificuldades do aluno, para que sejam realizadas as intervenções
necessárias, com a finalidade de corrigi
-
las ou minimizá
-
las.
É necessário salientar que no Brasil dentre as dificuldades a serem enfrentadas ao
avaliar
-
se a compreensão da linguagem oral, destaca
-
se a escassez de testes que possuam as
características psicométricas adequadas, para que sejam avaliadas as habilidades específicas
a serem investigadas. É importante destacar que associações internacionais como American
Educational Research Association, American Psychological Association e National Council
on Measurement in Education (AERA, APA & NCME, 1999), a
Comissão Internacional de
Testes (ITC, 2001), e no Brasil, o Conselho Federal de Psicologia (CFP, 2001) propõem
diretrizes para a construção, utilização e revisão de testes psicológicos.
3
Constata
-se no Brasil a necessidade do desenvolvimento de instrumentos que
avaliem habilidades relacionadas à linguagem oral, possibilitando a identificação de
crianças com dificuldades nessas habilidades, e que venham apresentar problemas
posteriores na linguagem escrita. Dessa forma, esses instrumentos devem contribuir para
um trabalho de remediaç
ão ou até mesmo de prevenção.
Para construir um instrumento ou teste psicológico são necessárias quatro
condições: a elaboração e análise dos itens, estudos de validade, precisão e padronização.
Para a construção de testes é necessário respeitar uma seqüência de etapas, como a clareza
na definição dos objetivos do teste e dos aspectos a serem testados, a obtenção de um
contrato para o teste, a construção dos itens, a realização de um pré-teste ou estudo piloto e
sua respectiva análise, a realização da coleta para padronização e sua respectiva análise e a
preparação do teste com as instruções para a distribuição (Oakland, 1999).
No tocante especificamente à busca de evidências de validade, ressalta-se que esta é
considerada a etapa mais importante para a construção de instrumentos de avaliação, pois é
o processo de acúmulo de evidências que vai determinar a base científica para apoiar a
interpretação dos resultados do teste (Noronha, 2005). No presente trabalho, será utilizado
o padrão definido pela AERA, APA e NCME (1999) para análise das características
psicométricas do teste em estudo.
Segundo a AERA, APA e NCME (1999), a validade refere-
se à verificação do grau
de representação da evidência e do suporte teórico nos testes, possibilitando a descrição de
um comportamento, garantindo assim medir aquilo que se propõe com um determinado
instrumento. Existem diferentes formas de se buscar evidências de validade para os vários
usos, às quais os testes estejam relacionados, destacando-se os estudos e procedimento
s
relativos ao conteúdo do teste, ao processo de resposta, à estrutura interna, à relação com
outras variáveis e à conseqüência do teste.
4
A validade de conteúdo visa esclarecer o que o teste pretende medir e refere-se aos
temas abordados, ao formato dos itens, sendo necessário definir o domínio e representá-
lo
adequadamente no teste. A análise por juízes experientes da área e/ ou análise lógica e
empírica para adequação do conteúdo do instrumento ao domínio teórico investigado são
procedimentos freqüenteme
nte utilizados para este tipo de validade.
Evidências de validade baseadas na análise teórica e empírica do processo de
respo
sta podem contribuir para questionamentos sobre a diferença de média ou
interpretação dos escores do teste. Ressalta-se que a análise do momento de resposta,
estratégias de desempenho e tempo de reação podem ser aspectos de análise relevantes para
alguns construtos. Ao lado destes, inferências sobre o processo envolvido no desempenho
do respondente podem ser desenvolvidas por meio da análise dos testes ou da relação deles
com outras variáveis.
A análise interna do teste permite a verificação das relações entre os itens e a
hipótese teórica estruturada para sua construção, possibilitando identificar as relações entre
os itens do teste e os componentes do construto, que permitirão a interpretação dos
resultados obtidos. Para realização da análise interna é necessário considerar o
procedimento estatístico mais adequado à característica do teste, sendo a matriz multirasgo
-
multimétodo e a análise fatorial os mais utilizados (AERA, APA & NCME, 1999)
.
A busca de evidências baseadas na relação com outras variáveis permite verificar a
existência de consistência na relação entre o teste desenvolvido e variáveis propostas. Essa
relação pode ser verificada por meio da relação teste-critério e da evidência convergente-
discriminante (AERA, APA & NCME, 1999).
A evidência te
ste
-critério propõe a relação entre os resultados do teste e outros
critérios que devem ser uma medida do atributo psicológico em estudo, independente dos
escores do teste. A validade baseada no teste-critério pode ser realizada pelos métodos
5
preditivo e concorrente. A validade preditiva indica o que é possível esperar em termos de
habilidades ou comportamentos que o indivíduo possa desenvolver no futuro. A validade
concorrente indica em que é possível interferir no comportamento atual do indivíduo
(AERA, A
PA & NCME, 1999).
O procedimento que busca evidência convergente-discriminante verifica a relação
entre resultados do teste e outras medidas ou instrumentos que avaliem um construto
similar ou distinto. Quando os construtos são similares constitui
-
se valid
ade convergente, e,
quando são distintos, validade divergente.
No caso da validade convergente é esperado que correlações obtidas sejam altas e
significativas para justificar a similaridade entre ambas, na validade divergente espera-
se
que as correlações sejam significativas e baixas, de forma a indicar a distinção entre os
construtos. No presente trabalho serão utilizados os referenciais teóricos apresentados para
a busca de validade convergente de um instrumento informatizado, para avaliação da
compre
ensão da linguagem oral pela correlação com o Teste de Vocabulário por Imagens
Peabody
.
Assim como a construção de instrumentos de avaliação na versão tradicional (lápis
e papel) requer muitos cuidados, a elaboração de instrumentos informatizados deve
cons
iderar, além das diretrizes imprescindíveis para construção de testes psicológicos,
requisitos técnicos e tecnológicos que lhes garantam confiabilidade, segurança de
informações e boa interatividade com o testando (Joly & Noronha, 2006).
A International Test Comission (ITC, 2001) desenvolveu diretrizes que norteiam a
construção e a utilização de testes informatizados, e apresentam orientações relativas às
questões técnicas e tecnológicas sobre a qualidade de testes, aspectos referentes aos níveis
de controle, segurança e privacidade, tanto para a avaliação psicológica
on
-line quanto
off
-
line
. Existem diversos aspectos positivos quanto à utilização da informática na avaliação
6
psicológica, como a rapidez na coleta de dados, o armazenamento de grandes quantida
des
de informações, a economia, segurança quanto às respostas dadas, a logística para
aplicação, entre outros. Em contraposição, fatores, como a dificuldade ou
impossibilidade de acesso a computadores e à internet por parte da população, a falta de
fami
liaridade com os equipamentos, a segurança do instrumento e das informações e a
deficiência da qualidade técnica, mesmo quando o instrumento é validado, que exig
em
cautela e podem dificultar a utilização de testes informatizados (Bartram, 1998).
É importante salientar que para os profissionais envolvidos com o planejamento e
construção de instrumentos, a informática possibilita a criação de situações que utilizem
recursos visuais, sonoros, e multimídia que viabilizam a mensuração e testagem de
habilidades cognitivas de alto nível e de construtos teóricos que não são possíveis de serem
avaliados com testes tradicionais (Bennett, 2001; Wall, 2000).
Andriolla (2003) afirma que os Estados Unidos utilizam o computador na avaliação
psicológica desde 1950, com a função de calcular a somatória dos escores e efetivar a
padronização dos resultados do modo mais ágil e preciso, e desde então têm desenvolvido
uma variedade softwares para avaliar diversos aspectos psicológicos. No Brasil, a avaliação
psicológica informatiz
ada tem sido desenvolvida há menos tempo. Segundo Prado (2005), é
possível encontrar
softwares
produzidos na área de avaliação psicológica desde a década de
90, porém, em quantidade limitada quando comparada ao número de testes convencionais.
Segundo o autor, a produção experimental de testes informatizados também é maior do que
a quantidade de testes informatizados comercializados e disponíveis para uso.
Joly, Martins, Abreu e Cozza (2004) realizaram um estudo com o intuito de
analisar, quantificar a produção científica brasileira e internacional da avaliação
psicológica, informatizada, no período de 2000 a 2004. Os autores pesquisaram as bases de
dados
PsycINFO
e
BVS
-
Psi
e analisaram 2239 resumos de artigos de periódicos,
7
dissertações, teses e capítulos de
livros selecionados pelo unitermo avaliação psicológica. A
partir da análise do conteúdo dos resumos, foram encontrados 421 que se referiam à
Avaliação Psicológica (18,8% do total), 117 sobre Capítulos de Avaliação Psicológica em
Livros (5,23% do total). Ao todo, foram localizadas 559 publicações sobre Avaliação
Psicológica (24,97% do total). Entre estes, foram selecionados os que falavam sobre
Avaliação Psicológica Informatizada, 17 artigos (0,76% do total) e 04 capítulos de livros
(0,18% do total), totalizando aproximadamente 1,00% da publicação total. Os resultados
indicaram que a produção internacional e nacional em relação à avaliação psicológica
informatizada no período estudado foram equivalentes. Para os autores os resultados
sugerem que esta é uma
área promissora e com crescimento rápido.
Cabe ressaltar que o presente estudo, cujo objetivo é identificar evidências de
validade de um instrumento informatizado em compreensão da linguagem oral receptiva,
em alunos de Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental, contribui para
minimizar a escassez de testes válidos no Brasil, especialmente em relação a instrumentos
informatizados que são ainda mais raros no país. Instrumentos válidos e precisos para
avaliar a compreensão da linguagem oral em crianças na Educação Infantil e séries iniciais
do Ensino Fundamental permitem a identificação precoce de dificuldades nessa área e
podem contribuir para definição de ações eficazes para saná-las ou minimizá-
las,
diminuindo a po
ssibilidade problemas posteriores em leitura.
Serão apresentados no Capítulo I os aspectos teóricos referentes à compreensão da
linguagem oral, bem como pesquisas relacionadas a este tema. No Capítulo II, serão
abordadas considerações teóricas sobre vocabulário e sua relação com a compreensão da
linguagem, ratificada por pesquisas recentes. O método, descrito no Capítulo III,
apresentará considerações sobre os participantes e os instrumentos utilizados. Os resultados
8
e sua discussão, à luz da revisão teórica realizada, serão apresentados na seqüência. As
referências utilizadas estão listadas ao final do presente trabalho.
9
CAPITULO I
LINGUAGEM ORAL
1.1. Considerações Gerais
A linguagem está em toda parte, impregna os pensamentos do homem, intermedia
as relações entre os seres humanos, e transmite os conhecimentos construídos ao longo do
tempo (Reily, 2004). É um instrumento de comunicação e de pensamento. É formada por
um sistema estruturado de signos que exprimem idéias, das quais a fal
a é uma manifestação
(Gil, 2002).
Para Borges e Salomão (2003), a linguagem é considerada a primeira forma de
socialização da criança, pois a mesma está exposta a interações com a família que explicita
instruções, informa sobre atividades diárias, conta histórias, expressa valores, crenças e
regras. Miilher e Ávila (2006) concordam com essa afirmação ao declarar que desde que a
criança nasce, a linguagem oral começa a se desenvolver. Desde esse momento, ela está
exposta ao código oral e passa a familiarizar-se com os sons de sua língua, produzindo-
os
por meio da fala, e, posteriormente, entre os 5 e 7 anos, a criança é inserida no aprendizado
formal da língua escrita, tanto no aspecto da leitura quanto no da produção.
Na perspectiva de Paiva (2002), a criança, exceto em casos patológicos graves, é
capaz de falar e fazer uso da linguagem oral, independente do tipo de sociedade a que
pertença, pois esta é uma habilidade natural dos seres humanos, porém, o mesmo não
ocorre com a linguagem escrita. A autora salienta que apenas nas sociedades letradas as
crianças aprendem a ler e escrever, e que essas habilidades requerem instruções específicas
e sistemáticas, que pressupõem um maior esforço do indivíduo no seu processo de
aquisição e desenvolvimento.
10
Gil (2002) ressalta que o desenvolvimento da linguagem está estritamente ligado à
maturação cerebral ou mielinogênese, e ao meio sócio
-
familiar, sendo fundamental também
uma audição satisfatória, pois a criança constrói seus desempenhos fonológicos e fonéticos,
a partir dos estímulos audioverbais provenientes das pessoas com quem convive. Schirmer,
Fontoura e Nunes (2004) salientam que a linguagem é um exemplo de função cortical
superior, e que seu desenvolvimento se sustenta em duas bases: uma estrutura
anatomofunc
ional geneticamente determinada, e um estímulo verbal que depende do
ambiente.
Nesse sentido, Gil (2002) evidencia que a aquisição da linguagem depende de
alguns pré-requisitos biológicos, psicológicos e ambientais. Os pré-requisitos biológicos
estão relacionados às funções sensoriais, perceptuais, motoras e cognitivas adequadas,
destacando
-se para a linguagem oral a importância da audição preservada e da capacidade
de discriminação de sons e fonemas. Dentre os pré-requisitos ambientais enfatiza a
necessida
de de convivência com modelos de linguagem adequados. Quanto aos pré-
requisitos psicológicos, destaca o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais,
especialmente entre a criança e a mãe.
A linguagem é uma habilidade que deve ser compreendida como um sistema de
sinais de duas faces, significante e significado. O significante corresponde ao aspecto
formal da linguagem, sendo constituído pela junção hierárquica dos elementos, fonemas,
palavras, orações e discurso. O significado refere-se ao aspecto funcional da linguagem,
sendo considerado responsável pela comunicação no meio social (Borges & Salomão,
2003; Gil, 2002).
Segundo França e cols. (2004), a linguagem é um sistema finito de princípios e
regras que permitem ao falante codificar significados em sons e ao ouvinte decodificar os
sons em significados. Embora o sistema seja finito, o mesmo possui a propriedade de ser
11
infinitamente criativo, no que se refere à possibilidade de construção e entendimento de
sentenças gramaticais novas.
A linguagem possui seis propriedades que a caracterizam. A primeira é a
comunicativa que permite a comunicação entre pessoas que compartilham do mesmo
código lingüístico. A segunda propriedade é a de ser arbitrariamente simbólica no que se
refere à relação entre um símbolo e seu referente, quer seja uma idéia, um objeto, um
processo, uma relação ou uma descrição. A terceira é a de ser regularmente estruturada, ou
seja, um significado é dado a partir de organizações específicas de símbolos. A quarta
propriedade é a sua organização em níveis múltiplos, que significa sua análise em mais de
um nível (sons, palavras, frases) A quinta característica refere-se à capacidade de gerar
símbolos inéditos, considerando os limites de estrutura lingüística. A sexta e última está
relacionad
a ao dinamismo das linguagens que estão em constante evolução (Sternberg,
2000).
Outro aspecto importante para o estudo da linguagem, é o conhecimento sobre
como ocorre seu processo de aquisição pelo indivíduo. Assim sendo, a seguir serão
apresentadas as etapas de desenvolvimento da linguagem, segundo os estudos de Sternberg
(2000).
1.2. Fases de desenvolvimento da linguagem
As pessoas adquirem a linguagem seguindo certa seqüência organizada em
estágios, com características específicas que serão apresentadas a partir dos estudos de
Sternberg (2000), no que se refere ao seu aspecto expressivo, e de Costa, Azambuja e
Nunes (2002), com relação ao seu aspecto receptivo. Ressalta-se, porém, que apesar de a
linguagem se desenvolver a partir de uma relativa seqüência cronológica, podem existir
12
pequenos atrasos ou adiantamentos nessas etapas que são considerados normais (Pena-
Casanova, 1997).
No primeiro estágio, que se desenvolve do nascimento até por volta dos seis meses
de idade, o beapresenta comportamentos vocais limitados, produz o arrulhamento, que é
expressão oral que abrange todos os sons emitidos pelos humanos, e tem o choro como
característica mais significativa de expressão. Com relação ao aspecto receptivo da
linguagem, o bebê nesta fase aquieta-
se
ao som de voz, vira-se para a fonte da voz, e
observa com atenção objetos e fatos do ambiente.
O segundo estágio é o da balbuciação que inclui os diferentes fonemas que
caracterizam a linguagem primária da criança. O balbucio se caracteriza por seqüências de
consoantes, vogais, consoantes, vogais (CVCV). Nesta fase, a linguagem receptiva é
percebida por meio da resposta com tons emotivos à voz materna, e pelo entendimento de
pedidos simples com dicas gestuais, como “não” e “adeus”.
O estágio seguinte é quando a criança começa a dizer uma, depois duas e em
seguida mais algumas palavras. As crianças utilizam as elocuções de uma palavra,
denominadas helofrases, para comunicar intenções, desejos ou necessidades, geralmente
essas palavras expressam nomes de objetos conhecidos ou de algo que deseja. Nesta fase, a
criança compreende muitas palavras familiares e ordens simples associadas a gestos.
O quarto estágio, por volta do 1 ½ aos 2 ½ anos de idade, gradativamente a criança
inicia a combinação de duas palavras e falas telegráficas, e começa a ter uma compreensão
da sintaxe. Nesta fase, a criança tem uma ampliação do vocabulário, em torno de cem
palavras aos 18 meses, e de trezentas palavras por volta dos dois anos. Devido ao fato de
seu vocabulário ainda não poder abranger tudo o que quer dizer, a criança estende o
significado das palavras existentes em seu léxico para incluir objetos e idéias para os quais
falta uma nova palavra. Neste estágio, a criança conhece algumas partes do corpo, e é
13
capaz de pegar objetos quando solicitado e também desenvolve brincadeira simbólica com
miniaturas.
No quinto estágio, a partir dos quatro anos de idade, o vocabulário e os conceitos
continuam a expandir-se em função da compreensão e da fluência, a criança internaliza
re
gras de sintaxe, e as construções de frases se tornam mais complexas com a utilização de
artigos, plurais, preposições e verbos auxiliares. Em torno dos dez anos de idade, a
linguagem das crianças apresenta a estrutura de frases básicas dos adultos, com a
créscimos
na complexidade da estrutura e ampliação do vocabulário. Vale destacar a relevância para o
presente estudo dos aspectos relacionados à linguagem receptiva e expressiva.
1.3.
Linguagem expressiva e receptiva
A linguagem possui um pólo receptivo e outro expressivo. A linguagem receptiva
refere
-se às operações pelas quais o significado simbólico abstrato é dado a estímulos
falados, quando eles são ouvidos e a estímulos escritos quando eles são vistos. A linguagem
expressiva, ou expressão oral, pode ser definida como o uso de um sistema vocal arbitrário
para comunicar idéias e pensamentos a um ouvinte. Esta trata do aspecto de produção de
linguagem (Flanagan, Ortiz, Alfonso & Mascolo, 2002; Gil, 2002).
Issler (1996) salienta que a linguagem receptiva
não se expõe à análise, como ocorre
com a linguagem expressiva, sendo esta última possível de ser percebida quando a criança
chega aos dois anos de idade, aproximadamente. A produção da linguagem requer
diferentes habilidades de organização de idéias, planejamento e formulação do discurso,
com seleção de itens lexicais (vocabulário) e estruturas adequadas a situações de uso. A
compreensão da linguagem supõe a habilidades de segmentação e reconhecimento do sinal
14
acústico para linguagem oral, ou gráfico para linguagem escrita, reconhecimento de
palavras e identificação de referentes (Albuquerque, 2003).
Assim, pode-se considerar que a compreensão da linguagem esvoltada para o
significado do código lingüístico e a expressão oral está relacionada ao uso da li
nguagem.
(Sternberg, 2000; Gil, 2002). Ao lado disso, Flanagan e cols. (2002) afirmam que a
habilidade para se comunicar efetivamente, envolve, entre outras coisas, compreensão
adequada daquilo que se escuta e a habilidade de expressão oral e escrita pela
linguagem.
A compreensão da linguagem, que se constitui no aspecto fundamental do presente
trabalho, possui fundamentação teórica baseada nas concepções da Psicologia Cognitiva.
Essa concepção defende que muitas estruturas e processos utilizados na compreensão do
texto também são utilizados na compreensão da fala, o que permite supor que os indivíduos
que possuem boas habilidades de leitura deveriam apresentar boas habilidades para ouvir,
enquanto maus leitores tenderiam a ser maus ouvintes (Ellis, 1995; Ey
nsec & Keane, 1994).
Diante da existência dessa relação entre a compreensão da leitura e da fala, serão
apresentados os modelos teóricos que fundamentam o processamento da palavra ouvida e o
reconhecimento das palavras escritas, e também outros aspectos considerados importantes
para a compreensão de textos e da linguagem oral.
1.3.1. Modelos teóricos relativos à compreensão da linguagem oral e impressa
O reconhecimento das palavras orais e impressas é estudado pela Psicologia
Cognitiva a partir do modelo interativo defendido por Marslei-Wilson e Tyler (1980), com
base na suposição de que o sistema de processamento é estruturado de modo flexível.
Segundo este modelo, várias fontes de conhecimento como a lexical, a semântica e a
sintática interagem e se combinam de maneiras complexas para produzirem uma análise
eficiente da linguagem falada, e supõem que as diferentes atividades ocorridas no
15
reconhecimento e compreensão das palavras ouvidas, podem acontecer ao mesmo tempo
(Eynsec & Keane, 1994).
O modelo interativo de reconhecimento da palavra proposto por Marslei-Wilson e
Tyler (1980) baseia-se na hipótese de que o reconhecimento de palavras envolve
simultaneamente os processos
bottow
-up
e
top
-
dow.
Os processos
bottow
-up
se originam da
palavra articulada, nesse processo, a linguagem falada consiste em uma série de sons ou
fonemas que incorporam várias características como a consonantal, que se refere à presença
ou ausência de uma qualidade de consoante, o lugar da articulação e a sonoridade. Os
processos
top
-
dow
são baseados nas expectativas formadas pelo ouvinte a partir da
informação contextual.
A compreensão de textos e do discurso oral envolve inúmeros processos como o
reconhecimento das palavras. Nesse sentido, Eynsec e Keane (1994) salientam que
compreen
são da linguagem está diretamente relacionada aos processos
bottom
-
up,
ou
guiados por estímulos, e os
top
-
dow,
guiados pelo contexto, o que permite supor que a
sintaxe e o significado das frases são considerados durante todo o processo de
compreensão, não
havendo assim uma ordem no processamento destes componentes.
Segundo Eynsec e Keane (1994), os modelos interativos são eficientes porque
admitem que todas as fontes de informações relevantes são utilizadas ao mesmo tempo, a
fim de possibilitar uma rápida identificação da palavra. Os autores salientam que o
reconhecimento das palavras é apenas um aspecto da compreensão da frase, sendo
necessária ainda a realização de pesquisas que verifiquem o sucesso de sua aplicação em
unidades maiores do discurso.
Um aspecto importante da compreensão destacado por Sternberg (2000) é a
produção das estratégias metacognitivas pelas crianças de diferentes faixas-etárias. Essas
estratégias compreendem três processos:, o primeiro processo é entender indícios
16
relevantes, o segundo processo é entender como combinar esses indícios e o terceiro
processo é recorrer à informação anterior. O autor salienta que a capacidade das crianças
em compreensão da linguagem, tratamento da informação e fluência verbal, aumentam
eficientemente co
m a idade, em função de sua competência metacognitiva.
Para ler, o indivíduo precisa adquirir algumas habilidades cognitivas e perceptivo-
linguísticas como, focalizar a atenção, concentrar-se e seguir instruções, entender e
interpretar a língua falada no cotidiano, memória auditiva e ordenação, memória visual e
ordenação, decodificação de palavras, análise estrutural e contextual da língua, síntese
lógica e interpretação da língua, desenvolvimento e expansão do vocabulário, fluência na
leitura à primeira vi
sta e habilidades de referência (Vallet, 1989).
Especificamente com relação à linguagem escrita, Adams (1991) aborda o
reconhecimento da palavra escrita ou a decodificação das palavras na leitura, respeitando o
modelo conexionista de Seidenberg e McClelland (1989), que considera quatro
componentes denominados “processadores”, a partir dos quais se explica a compreensão.
Esses processadores são interligados entre si e realizam processos simultaneamente.
Segundo o modelo conexionista, o processador ortográfico recebe a informação
diretamente da página impressa, das letras, e as palavras de um texto constituem os dados
perceptuais básicos da leitura. Nesse processador, as letras são representadas por meio de
feixes de traços visuais interconectados e as palavras são seqüências de letras também
interconectadas, e formam uma rede de reconhecimento visual. Primeiramente, o
processador de contexto foca a construção de uma interpretação coerente, contínua do
texto, e é responsável por preparar e selecionar aspectos de significados das palavras que
são importantes na interpretação do texto. o processador semântico armazena o
significado das palavras familiares como grupos de elementos de significados
interassociados, e permite focalizar em um ou outro aspecto específico de uma palavra,
17
buscando o significado mais apropriado ao contexto. Além disso, permite a aquisição do
significado de palavras novas gradualmente encontradas num contexto. E por último, o
processador fonológico recebe informações do meio externo, a partir do estímulo auditivo
de qualquer palavra, sílaba, fonema ou conjunto interconectado dessas unidades.
1.3.2. Componentes essenciais à compreensão da linguagem oral e impressa
Cain e Oakill (2007) ressaltam que a compreensão é o objetivo último de quem
um texto ou escuta um discurso; ela permite a aquisição da informação, a experimentação
de mundos fictícios, o desenvolvimento da comunicação e o sucesso acadêmico. A meta do
indivíduo, ao ler um texto ou ouvir um discurso, normalmente é buscar uma in
terpretação
global do que leu ou ouviu, e não simplesmente recobrar os significados de orações de
palavras individuais. Segundo as autoras, as principais teorias que estudam a compreensão
da leitura, enfatizam que a compreensão envolve a construção de uma representação que
corresponde ao assunto descrito no texto, ou presente no discurso, e um modelo mental ou
um modelo de situação. Essa representação inclui relações causais entre os eventos, os
objetivos, os protagonistas e informações espaciais e temporais pertinentes ao enredo. A
compreensão do texto escrito abrange processos de linguagem em diferentes níveis, porém,
com exceção da tradução de símbolos escritos na página na forma oral, os processos
envolvidos na compreensão da linguagem oral e escrita são comuns. Para compreensão de
um texto ou discurso, o entendimento dos significados das palavras individuais e das
orações é insuficiente, por isso, faz-se necessário integrar a informação das diferentes
orações e estabelecer uma coerência, incorporando o conhecimento prévio recobrado da
memória de longo prazo, para buscar o sentido de detalhes que só são mencionados
implicitamente.
18
Os aspectos gramaticais e semânticos do texto ou do discurso, a memória, as
inferências e os esquemas são considerados componentes essenciais à compreensão. Assim
sendo, a contribuição desses aspectos para a compreensão de textos e/ou da linguagem oral
serão apresentados.
A gramática é o conjunto de regras que considera a regularidade e a produtividade
da língua, é estudada sob diferentes aspectos e determina a distinção entre a sintaxe,
fonologia e a semântica da língua. A sintaxe está relacionada às regras que determinam a
formação correta das palavras em termos proposicionais e estruturais. A fonologia aborda
as regras que controlam a passagem das orações que formam as frases para os sons
apropriados. A semântica está relacionada às regras que determinam como o significado é
atribuído às frases formadas corretamente (Eynsec & Keane, 1994; Sternberg, 2000).
Além dos aspectos apresentados, a morfologia e a pragmática são fatores
importantes da linguagem oral e escrita, tanto para as habilidades expressivas quanto para
as receptivas. A morfologia é o estudo de morfemas em palavras, em afixos, em diversos
tempos gramaticais e no plural, sendo que um morfema é a menor unidade de uma língua
que possui um sentido. A Pragmática é o estudo do uso da linguagem no contexto
diretamente relacionado ao vocabulário (Flanagan e cols., 2002).
Enfatizando a relevância do aspecto gramatical para linguagem, Corrêa (2005),
Guimarães (2005) e Queiroga, Lins e Pereira (2006) estudaram a importância do
conhecimento morfossintático para a aquisição da linguagem. Ressalta-se que o termo
morfossintaxe foi empregado recentemente na literatura e depreende-se dos conceitos de
morfologia e sintaxe. Esse conhecimento refere
-
se à possibilidade de manipulação dos fatos
morfológicos da língua advindos das relações presentes no enunciado (sintaxe), bem como
dos aspectos sintáticos da língua em suas implicações mor
fológicas (Corrêa, 2005).
19
Nesse sentido, Guimarães (2005) ressalta que a aprendizagem da leitura e da
escrita é influenciada tanto pela consciência fonológica, que possibilita a aquisição das
correspondências fonema-grafema, relacionada à codificação e decodificação, quanto pela
consciência morfossintática, que focaliza as palavras enquanto categorias gramaticais e sua
posição em frases, ampliando a capacidade de identificação e produção da linguagem
escrita. Peters (1997) enfatiza a relevância do aspecto morfossintático ao afirmar que é por
meio deste que a criança progride do léxico para uma verdadeira linguagem.
Considerando a importância da gramática para a compreensão da linguagem oral e
escrita serão apresentadas algumas pesquisas que investigaram aspectos gramaticais
específicos para avaliar a linguagem oral e escrita de crianças. Queiroga e colaboradores
(2006
) realizaram um estudo com o objetivo de investigar a relação entre consciência
morfossintática e desempenho ortográfico em crianças 2ª e 4ª sér
ies do ensino fundamental,
especificamente no tocante a questões ortográficas relacionadas a aspectos
morfossintáticos, em situações de ocorrência da representação fonológica do /s/ e do /z/ .
Participaram da pesquisa 60 alunos de escolas públicas e 60 de escolas particulares. Todos
os participantes realizaram tarefas de ditado de palavras e pseudopalavras, e também de
analogia de palavras.
As palavras utilizadas nas tarefas foram selecionadas a partir de duas fontes de
regularidades de contexto morfossintático, sendo primeiro Sufixo e Desinência Verbal e a
segunda, Radicais. Na tarefa de ditado de palavras e pseudopalavras, cujo objetivo era
avaliar a competência ortográfica e a capacidade de uso gerativo dos princípios
ortográficos, respectivamente, as palavras eram apresentadas em contexto de frases a serem
completadas. Na segunda tarefa, cuja finalidade era avaliar o conhecimento
morfossintático, os participantes deveriam indicar a existência ou não de similaridade entre
palavras apresentadas, e posterior
mente justificar suas respostas.
20
Os resultados indicaram que os alunos da série tiveram desempenho
significativamente superior aos de 2ª série na escrita de palavras e pseudopalavras, o que
indicou uma evolução na apropriação da ortografia, em função do avanço escolar. Nas
mesmas tarefas foi observado que houve melhor desempenho dos participantes na escrita de
palavras, do que nas pseudopalavras, o que sugere a influência de pistas mnemônicas na
escrita de grafias convencionais. Na tarefa de analogias de palavras, foi verificado que os
participantes, além de possuírem dificuldades em identificar segmentos comuns em
palavras que são os morfemas, também apresentaram problemas em justificar a ocorrência
desses segmentos. Ao comparar as respostas dos alunos das escolas públicas e das
particulares, verificaram-se diferenças significativas que indicam melhor desempenho dos
alunos da escola particular. Foi encontrado também um efeito preditor do conhecimento
morfossintático, explicitado nas justificativas sobre o desempenho ortográfico na escrita de
palavras, indicando que trabalhar para a aquisição desse conhecimento é um caminho
viável para promover avanços na apropriação da ortografia.
Guimarães (2005) com o intuito de investigar influência da variação lingüística e da
consciência morfossintática nas diferenças de desempenho de alunos de a séries do
ensino fundamental, realizou um estudo com 36 alunos de escolas públicas. Os
participantes foram organizados em dois grupos, um de alunos que apresentavam
difi
culdades de aprendizagem em leitura e escrita e outro de crianças sem dificuldades. Na
pesquisa foram utilizados diversos instrumentos. A decodificação foi avaliada a partir de
um subteste de leitura do TDE, Teste de Desempenho Escolar; a compreensão da le
itura foi
analisada após a aplicação de um texto lacunado, preparado a partir da técnica de
Cloze
;
para a tarefa de escrita foi utilizado o ditado da escala ADAPE, Avaliação de Dificuldades
na Aprendizagem da Escrita; para avaliar a variação lingüística foi utilizado um livro
infantil, que apresentava várias histórias compostas apenas por ilustrações, possibilitando às
21
crianças a construção oral de textos a partir das figuras. Para avaliar a consciência
morfológica e sintática foram aplicados três tipos de tarefas, tais como uso gerativo de
morfemas, analogias e correção às violações gramaticais contidas nas frases.
Na tarefa de uso gerativo de morfemas, as crianças flexionavam formas verbais
apresentadas no contexto de duas ou três sentenças. Nessa atividade, antes de completar a
sentença, a criança ouvia duas ou três frases que introduziam o verbo que deveriam
conjugar e, na seqüência a frase que deveriam completar. A tarefa de analogias seguiu o
esquema “A” está para “B” assim como “C”está para “D”,e essa atividade consistiu em
apresentar inicialmente os dois primeiros elementos. Em seguida, era apresentado o
elemento C” e os participantes deveriam produzir o elemento “D”. Na tarefa de correção
às violações gramaticais contidas nas frases, os participantes
deveriam corrigir uma série de
frases gramaticalmente incorretas, referentes à concordância verbal, emprego de pronomes,
flexões de substantivos e adjetivos, sendo que em cada frase havia apenas uma palavra
incorreta.
Os resultados indicaram que, em todas as tarefas, o desempenho dos alunos que
não apresentavam dificuldades de aprendizagem foi superior ao grupo de alunos que
apresentavam essa característica. As análises do desempenho revelaram que as diferenças
entre os grupos foram significativas nas tarefas de leitura (decodificação e compreensão),
escrita, variação lingüística e consciência morfossintática. Também foi confirmada a
hipótese de que os índices de variação lingüística se correlacionam negativa e
significativamente com o desempenho nas tarefas de decodificação, compreensão em
leitura e ditado, e que os escores de consciência morfossintática se correlacionam positiva e
significativamente com os desempenhos nas mesmas tarefas. Os resultados do estudo não
confirmaram a hipótese, que os indivíduos com menores índices de variação lingüística
apresentassem, inversamente, escores mais elevados nas tarefas que avaliavam a
22
consciência morfossintática. Os resultados demonstraram também que as diferenças em
leitura e escrita podem estar relacionadas com o desenvolvimento da consciência
morfossintática, e que existe a possibilidade dos falantes de variantes lingüísticas não-
padrão, desenvolverem a consciência morfossintática, e isso os permitirá se expressarem
adequadamente por meio da escrita.
Outro fato
r evidenciado como essencial para a compreensão é a memória. Segundo
Eynsec e Keane (1994), os resultados do processo de compreensão são freqüentemente
armazenados na memória de longo prazo, sendo assim, as informações do texto recordado
refletirá as maneiras pelas quais o texto foi interpretado. Salienta-se, porém, que a
recordação do texto é influenciada por processos que operam durante o período da
recordação, e também pelos processos de compreensão anteriores, assim sendo, nem
sempre fornece um reflexo
preciso da compreensão.
Paralelamente à memória, a compreensão exige o envolvimento ativo do indivíduo
para suprir as informações que não estão contidas explicitamente no texto ou na fala, dessa
forma, é necessário que se faça inferências sobre o que se está lendo ou ouvindo. Eynsec e
Keane (1994) salientam que as pessoas têm uma grande tendência para fazer inferências,
em diversas situações.
O leitor ou ouvinte faz inferências quando a frase parece não combinar com o
contexto, e também quando o sentido literal de uma frase parece apropriado ao contexto,
sendo, então, assumido como sentido pretendido. Entretanto, se o sentido literal parece não
ser apropriado, o ouvinte ou leitor vai além, fazendo inferências para descobrir o sentido da
conversa ou do texto. Além das situações apresentadas, é comum que o indivíduo faça
inferências quando uma frase não está dita de forma explícita, o que se denomina frase de
implicação pragmática. Essas inferências são comparadas à implicação lógica, na qual uma
informação ne
cessita ser deduzida (Eynsec & Keane, 1994).
23
Segundo Eynsec e Keane, (1994) há evidências de que as inferências são geralmente
feitas durante o processo de compreensão. Os autores ressaltam também que a habilidade
de fazer inferências exige conhecimento apropriado do mundo, o qual é armazenado e
organizado em “esquemas”, “roteiros” e “quadros”.
O termo “esquema” refere-se às partes bem integradas de conhecimentos, acerca do
mundo, de eventos, de pessoas e ações. Os roteiros e quadros são tipos específicos d
e
esquemas, sendo que os roteiros referem-
se ao conhecimento sobre eventos e seqüências de
eventos. Os quadros estão relacionados ao conhecimento de objetos e localizações (Eynsec
& Keane, 1994). Todos os esquemas apresentados têm como função primordial p
ermitir
aos indivíduos a formação de expectativas, uma vez que a maioria das expectativas dos
indivíduos é confirmada, os esquemas ajudam a tornar o mundo mais previsível.
Os esquemas apresentam características diversificadas, diferindo quanto ao tipo de
informação que contêm, e variando desde as simples, às mais complexas; são organizados
de maneira hierárquica; operam de maneira
top
-
dow,
ou guiada conceitualmente para
facilitar a interpretação do mundo sobre as pessoas., Estes processos
top
-
dow
podem
int
eragir de modo complexo com os processos
bottow
-up, ou guiados por estímulos do
ambiente que fornecem uma interpretação adequada do meio. Outra característica dos
esquemas é que eles possuem fendas, algumas com valores fixos, outras com valores
opcionais.
Geralmente, essas fendas têm valores ausentes, o que permite que um indivíduo
faça suposições plausíveis ou inferências quando a informação relevante não é fornecida de
maneira explícita nas frases escritas ou nas elocuções orais.
24
1.4. Relação entre a lin
guagem oral e impressa
O modelo teórico de Cattell-Horn-Carrol (CHC) sobre a inteligência é um dos
modelos que apresenta a leitura e a escrita como fatores amplos em sua teoria hierárquica.
A inteligência, nesta perspectiva, é organizada em três estratos compostos por fatores
específicos, fatores amplos e fator geral. A leitura e a escrita constituem-se em um dos
fatores amplos (GRW) que está organizado em diversos fatores específicos ou sub-
habilidades (decodificação, compreensão, cloze, soletração, velocidade de leitura, uso da
linguagem nativa, escrita e compreensão da linguagem oral) dos quais, para fins do
presente estudo, destaca-se a compreensão da linguagem oral (Flanagan e colaboradores,
2002).
A decodificação refere-se ao reconhecimento dos símbolos gráficos que compõem
uma palavra; a compreensão é conceituada como a habilidade que possibilita entender o
significado das palavras, frases e textos; o
cloze
é a capacidade de utilizar vocabulário
adequado para completar com sentido lacunas em um texto, pela omissão dos vocábulos
que nelas estavam; a soletração é a capacidade de verbalizar o nome das letras que
compõem um vocábulo; a velocidade de leitura é definida como o tempo mínimo para ler
silenciosamente uma passagem; o uso da linguagem da na
tiva diz respeito ao conhecimento
e utilização da ortografia e pontuação; a escrita se refere à capacidade de estruturar e
seqüenciar um texto com coerência e coesão e finalmente a compreensão da linguagem
verbal é a capacidade de entender o significado d
as palavras e sua utilização no contexto de
frases e parágrafos.
Ao abordar o processamento da linguagem, Santos e Navas (2002) enfatizam que a
linguagem escrita não começa a se desenvolver subitamente depois da linguagem oral. Para
as autoras existe uma interação dinâmica e recíproca entre elas, caracterizando um
25
continum
de desenvolvimento, evidenciando a transição de uma modalidade de linguagem
para outra.
Diversas pesquisas têm relacionado o desenvolvimento da linguagem oral com o
posterior desenvolvimento da linguagem escrita, salientando que as dificuldades de
aprendizagem observadas em alunos, a partir do ingresso no ensino formal, podem estar
associadas a comprometimento da linguagem oral (Cain & Oakhil, 2007; Capovilla,
Gütschow & Capovilla, 2004; Miilher & Ávila, 2006). Nesse sentido, Schimmer e cols.
(2004) ressaltam que os estudos acerca das alterações no processo de aprendizagem da
linguagem oral, freqüentemente remetem-se à ocorrência de posteriores dificuldades de
aprendizagem da leitura e escrita, da mesma forma que ao se investigar os fatores que
antecedem as dificuldades de leitura e escrita, surgem questionamentos sobre dificuldades
de aprendizado da linguagem. Concordando com esta afirmativa, Paiva (2002) salienta que
estudos psicolingüísticos sobre a fala mostraram a importância das representações
fonológicas, da aquisição e processamento da linguagem, do desenvolvimento
metalingüístico e da memória de trabalho para a aquisição da leitura.
Stackhouse (2004) salienta que as habilidades verbais influenciam no
desenvolvimento da alfabetização, e que a linguagem escrita depende claramente das
habilidades da linguagem falada, existindo uma relação complexa entre elas. Para o autor,
os problemas de linguagem afetam a compreensão e o desenvolvimento semântico, e
restringem a utilização que a criança pode fazer de pistas contextuais para o
desenvolvimento da habilidade da leitura. Ao lado disso, o autor enfatiza que o sucesso da
alfabetização depende da associação das habilidades de processamento fonológico, no
aspecto receptivo das informações, na representação e emissão com o conhecimento
alfabético adquirido por meio da experiência ortográfica.
26
Especificamente com relação à compreensão da linguagem, Goulandris (2004)
ressalta que crianças com problemas na compreensão da leitura possuem várias
dificuldades como problemas gerais de compreensão de linguagem oral, podendo exibir
déficits em vocabulário e compreensão auditiva. Também são freqüentes as dificuldades em
fazer inferências ao ler ou escutar, e por isso não conseguem formar uma representação
integrada do significado geral de uma passagem. Além disso, crianças com dificuldades de
compreensão têm apresentado habilidades metacognitivas também deficientes.
Um estudo realizado por Stothard e Hulme (citado por Goulandris, 2004),
investigou as habilidades de compreensão auditiva de crianças com dificuldade em
compreensão de leitura. Nesse estudo foram utilizados dois testes de compreensão de
linguagem, uma tarefa de compreensão auditiva e o TROG Test for Reception of
Grammar
(Bishop, 1983). O teste de compreensão auditiva era composto por quatro
histórias curtas que foram gravadas; as crianças ouviam as histórias e respondiam questões
feitas após a apresentação de cada uma delas. O TROG compreende uma série de 80 itens
com quatro questões. Para cada item eram mostradas às crianças quatro gravuras coloridas,
elas deveriam escolher a gravura que correspondesse a uma sentença lida em voz alta pelo
aplicador. Os resultados indicaram que as crianças com compreensão deficiente
apresentaram dificuldades marcantes nas duas tarefas de compreensão, tendo um
desempenho significativamente inferior ao do grupo-controle de mesma idade.
Com o intuito de analisar a relação entre a linguagem oral e escrita, França e
colaboradores (2004) realizaram um estudo com 236 crianças de 6 anos de idade que
estudavam na Educação Infantil. As crianças foram organizadas em dois grupos com base
nos resultados de uma avaliação de aquisição fonológica. Posteriormente, aos 9 anos d
e
idade, as crianças foram reavaliadas por meio de um ditado e uma produção textual. Ao
comparar os resultados dos dois grupos, os autores verificaram que houve diferença
27
significativa na quantidade de erros cometidos na avaliação escrita, indicando que a
aquisição da linguagem oral é um fator preditivo para o desenvolvimento da linguagem
escrita.
A fim de identificar as habilidades capazes de predizer o desempenho ulterior em
leitura e escrita, Capovilla e cols. (2004) conduziram um estudo com 54 crianças
da
educação infantil e série do ensino fundamental. Os participantes foram avaliados nas
habilidades de vocabulário consciência fonológica, seqüenciamento, memória fonológica,
memória visual, cópia de figuras, aritmética e qualidade da escrita; e, dez m
eses depois, em
leitura e escrita. Os instrumentos utilizados na avaliação foram o Teste de Competência
Silenciosa (TeCoLeSi), a Prova de Consciência Fonológica por Produção (PCFO), a Prova
de Consciência Fonológica por Figuras (PCFF), o Teste de Vocabulário por Imagens
Peabody (TVIP), o Teste de Vocabulário por Figuras USP (TVFUSP) e o Internacional
Dislexia Test (IDT). Para condução das análises foram incluídas no grupo de participantes
apenas as crianças que apresentaram percentil igual ou superior a 50 no Teste de
Inteligência Raven, de modo a uniformizar o nível intelectual das crianças, evitando que o
desempenho dos alunos nos diferentes instrumentos estivesse relacionado a variações de
inteligência.
As análises realizadas para verificar quais as habilidades que melhor predizem
leitura e escrita, identificaram que as habilidades de aritmética, memória fonológica,
vocabulário, consciência fonológica e seqüenciamento são boas preditoras. Os resultados
indicaram que não houve correlação significativa de leitura e escrita com habilidades de
processamento visual ou motor, exceto entre escrita e memória visual. O estudo corroborou
com a hipótese do déficit fonológico e forneceu validação preliminar de instrumentos e
diretrizes para detectar crianças em risc
o, o que possibilita intervenção precoce eficaz.
28
Considerando a linguagem oral como uma das habilidades neuropsicológicas
importantes para a aquisição da linguagem escrita, Salles e Parente (2006) conduziram um
estudo com o intuito de analisar o desempenho neuropsicológico de crianças de série
com dificuldades em leitura e escrita, nas habilidades perceptivo-motoras, linguagem oral,
velocidade de processamento, consciência fonológica, memória verbal e memória não-
verbal. O estudo comparou o desempenho em tarefas neuropsicológicas de crianças de
série com dificuldades de leitura e escrita com outros dois grupos, um contrastando em
competência de leitura e escrita, mas não em idade e outro contrastando em idade, mas não
em leitura e escrita. O primeiro grupo foi formado por alunos de série com dificuldades
de leitura e escrita que apresentaram desempenho abaixo da média total dos alunos da
classe escolar; o segundo grupo de alunos de 2ª série competente em leitura e escrita, foi
formado por crianças cujo desempenho nas mesmas tarefas foi superior à média dos alunos
da classe, e por fim, um terceiro grupo, formado por nove crianças de série, que foi
emparelhado por desempenho em leitura e escrita, no mesmo espectro de escores das
crianças do grupo
de 2ª série com dificuldades de leitura e escrita.
Para a avaliação das habilidades perceptivo-motoras foram utilizadas as tarefas de
batidas rítmicas e discriminação de sons, o escore foi dado pela porcentagem de respostas
corretas. A linguagem oral foi avaliada por meio da compreensão oral de história, sendo
que a criança deveria recontar a história após tê-la ouvido, os recontos foram enquadrados
em cinco categorias de compreensão oral de textos, com base em Brandão e Spinillo
(2001). A velocidade de processamento foi avaliada por meio da nomeação rápida de
figuras e de números, o escore foi dado em segundos. A avaliação em consciência
fonológica foi realizada a partir de tarefas de aliteração, rima, exclusão fonêmica e
subtração fonêmica, e para cada tarefa de consciência fonológica foi registrada a
porcentagem de acertos. Para avaliação da memória verbal foram solicitadas tarefas de
29
repetição de palavras, de pseudopalavras e repetição inversa de números; a pontuação
nestas atividades foi feita em porcentagem de seqüências repetidas corretamente e em
número de itens da maior lista repetida, também corretamente. A memória não-verbal foi
avaliada por meio das tarefas de desenho de formas, de memória e seqüência de formas; a
correção desta tarefa envolveu a
porcentagem total de linhas com a seqüência correta. Além
da pontuação individual em cada tarefa, foram criados escores únicos, na forma de escala,
para cada função neuropsicológica. Os escores finais foram obtidos com a média aritmética
dos escores (em fo
rma de escala) nas tarefas que integram cada função neuropsicológica.
Dentre os resultados encontrados, foi verificado que em consciência fonológica e
linguagem oral, o grupo de série competente em leitura e escrita apresentou escores
estatisticamente superiores aos do grupo de série com dificuldade em leitura e escrita e
ao grupo de série. O grupo de série com dificuldades de leitura e escrita apresentou
déficits também na tarefa de repetição de pseudopalavras, quando comparado ao grupo de
série competente em leitura e escrita. As diferenças entre estes dois grupos na tarefa de
reconto de história ouvida, indicam que as crianças do grupo de série com dificuldade de
leitura e escrita apresentam dificuldades mais gerais, não específicas à leitura e escrita, que
se estendem alguns processos de linguagem oral. As autoras afirmam que recontar histórias
ouvidas envolve, além de habilidades lingüísticas compreensivas, também habilidades de
memória, elaboração de inferências, conhecimento geral e produção de narrativa.
As
diferenças entre os grupos nesta tarefa podem também
estar relacionadas
a estas habilidades
subjacentes, e que é possível supor que o grupo de série com dificuldades de leitura e
escrita apresenta atraso de desenvolvimento das habilidades de consciência fonológica,
linguagem oral e memória fonológica.
Partindo do pressuposto que muitas das estruturas e processos utilizados na
compreensão de textos são utilizados na compreensão da linguagem oral, Ellis (1995)
30
afirma que muitas pesquisas realizadas sobre a compreensão de textos, utilizaram-se de
materiais orais e não escritos, e geralmente as conclusões acerca da compreensão da
linguagem oral aplicam-se igualmente à compreensão da linguagem escrita. Nesse sentido,
evidencia
-se que diversas pesquisas utilizam como instrumento ou mecanismo de
avaliação, o reconto oral de histórias, perguntas sobre histórias que devem ser respondidas
oralmente, tarefas de associação de palavras e figuras a partir de estímulos orais, entre
outros (Brandão & Spinillo, 1998; Fontes &
Cardoso
-Martins, 2004; Maluf & Barrera,
1997).
É importante salientar que os processos de compreensão de leitura não se constroem
apenas a partir do momento em que a criança ingressa no ensino obrigatório formal, ou
seja, no ensino fundamental. Segundo Brandão e Spinilllo (1998), essa é uma habilidade
que se desenvolve normalmente entre quatro e oito anos de idade quando a criança possui
contato informal ou formal com a linguagem escrita. Assim sendo, torna-se fundamental
conh
ecer as habilidades que podem predizer o desenvolvimento da compreensão de leitura
em crianças ainda em idade pré-escolar, considerando as sociedades letradas. Diante do
exposto, serão apresentadas algumas pesquisas que abordam a compreensão de textos com
crianças em idade pré-escolar e também de ensino fundamental, a partir de instrumentos ou
tarefas orais.
1.5. Pesquisas sobre compreensão da linguagem oral
Maluf e Barrrera (1997) realizaram um estudo com
um grupo de 55 pré
-
escolares de
4 a 6 anos com o objetivo de estudar a relação entre consciência fonológica e aquisição da
linguagem escrita, a partir de uma perspectiva psicogenética. A pesquisa utilizou um
instrumento elaborado pelas próprias pesquisadoras que era composto por 9 questões
31
propostas às crianças, com o objetivo de avaliar os níveis de consciência fonológica e de
aquisição da linguagem escrita. As primeiras cinco questões foram elaboradas para
avaliação da consciência fonológica. Nesta etapa, as crianças foram solicitadas a realizar
diversas
tarefas. Na primeira, a criança deveria associar cartões contendo nomes de animais
escritos em letras de forma, às respectivas figuras; na segunda, pares de palavras eram lidos
pela pesquisadora e apresentados escritos em cartões, dessa forma, a criança d
everia
identificar onde estava escrita cada palavra; na terceira, a criança deveria comparar pares
de palavras verbalizadas pela pesquisadora e dizer se as mesmas eram parecidas ou não; na
quarta, a criança era solicitada a dizer uma palavra parecida com a palavra-
estímulo
verbalizada pela pesquisadora; na quinta tarefa, a criança era solicitada a escolher entre 3
palavras, aquela que começava ou terminava igual a uma palavra-estímulo verbalizada pela
pesquisadora.
Nas questões sobre aquisição da linguagem escrita foram solicitadas a escrever o
próprio nome, uma outra palavra qualquer, e as palavras: GALO PINTINHO ONÇA
MOSQUITO, e a ler (ou dizer o que achava que estava escrito) em cartões contendo
gravuras e texto em letras de forma. Os resultados mostraram uma correlação positiva
bastante significativa entre os níveis de consciência fonológica e de aquisição da linguagem
escrita, sobretudo no que se refere às crianças de 5 e 6 anos. Esses níveis mostraram-
se
correlacionados positivamente à idade e independentes do sexo dos sujeitos. Segundo os
estudos, os níveis de consciência fonológica parecem preceder à aquisição da linguagem
escrita, o que sugere a importância da realização de atividades pedagógicas voltadas para o
desenvolvimento dessa capacidad
e em pré
-escolares.
Brandão e Spinillo (1998), ao investigarem aspectos gerais e específicos na
compreensão de textos por meio da compreensão da linguagem oral, realizaram uma
pesquisa com 40 crianças de classe média, alunas de uma mesma escola particular da
32
cidade do Recife, igualmente divididas em dois grupos de idade, 4 anos (média de 4a 6m),
e 6 anos (média de 6a 6m). Em uma sessão, apresentavam uma tarefa de memória verbal,
que foi realizada a partir de um teste elaborado por Jorm, Maclean e Mattews (
1984), a qual
consistia na repetição literal de 12 sentenças lidas pelo examinador. Na segunda sessão, a
criança ouvia uma história gravada, e após ouvi-la, deveria reproduzi-la oralmente e, logo
em seguida, responder perguntas sobre a mesma.
Para a análise dos dados, no teste de memória verbal, foi considerado um ponto
apenas para as frases reproduzidas literalmente, nas reproduções, considerou-se a
fidelidade ao texto ouvido e a integração dos enunciados, e as respostas às perguntas foram
analisadas em função do grau de precisão apresentado. Os resultados foram analisados
considerando
-
se as respostas obtidas nas atividades de reprodução da história e perguntas, o
teste de memória verbal foi desconsiderado, pois essa variável não mostrou ser fator de
co
ntribuição para a pesquisa. Os resultados indicaram que existe uma melhora na qualidade
das reproduções e também da compreensão, com a progressão da idade, sendo identificada
a existência de peculiaridades relativas a cada tarefa. Na reprodução, o desenvolvimento é
representado pela capacidade crescente em considerar a história original como um modelo a
ser reproduzido, em termos de informações e de estrutura, e em elaborar um texto que seja
provido de significados. Na tarefa de perguntas, o desenvolvimento
se expressa por meio da
precisão das respostas às questões, principalmente com relação às partes do texto
consideradas problemáticas, como a resolução e conseqüência.
Em outro estudo, Brandão e Spinillo (2001) investigaram a produção e a
compreensão de textos com o intuito de verificar as relações entre essas habilidades em
uma mesma amostra de participantes. Sessenta crianças de 4, 6 e 8 anos foram solicitadas a
elaborar oralmente uma história a partir de um tema dado (tarefa de produção), a repetir
uma sentença após ouvi-la, num total de doze sentenças (tarefa de memória verbal) e a
33
reproduzir uma história ouvida em gravador (tarefa de compreensão) que versava sobre o
mesmo tema apresentado na tarefa de produção. Os dados indicaram que na pesquisa
citada
, a memória verbal não representou uma variável determinante no desempenho da
produção oral e nem da compreensão, e, portanto os dados referentes a esse teste não foram
considerados para análise.
Quanto ao desempenho na tarefa de produção, os resultados indicaram que embora
os grupos tenham se diferenciado significativamente com relação à organização textual das
produções, o padrão de resultados dos participantes de 6 anos estava mais próximo do
padrão das crianças de 4 anos do que das de 8 anos. Os resul
tados da tarefa de compreensão
oral revelaram variações significativas entre os três grupos etários, as crianças de 4 anos
apresentaram níveis de compreensão mais elementares que as crianças de 6 e 8 anos. Foi
verificado também que apesar de ambas as habilidades se desenvolverem com a idade, não
foi detectada uma correlação entre produção e compreensão de textos, e que o
desenvolvimento em produção oral é marcante após a idade de 6 anos, enquanto que em
compreensão oral, o desenvolvimento é mais acentuado antes dos 6 anos, sugerindo que 6
anos é o momento crucial para o desenvolvimento dessas habilidades.
Hagvet (2003), com intuito de verificar as relações entre habilidades fonológica
sintáticas e semânticas da compreensão da linguagem oral e da leitura, e também a relação
entre decodificação e compreensão, conduziu um estudo longitudinal acompanhando 70
crianças dos 4 aos 9 anos de idade. O pesquisador organizou as crianças em grupos de
acordo com o grau em habilidades de decodificação, sendo formados grupos de bons,
médios e fracos decodificadores.
Para a avaliação da compreensão, o pesquisador utilizou duas técnicas, o reconto de
uma história e uma atividade de cloze, nas versões oral e escrita. Na tarefa de reconto, a
criança ouvia uma história e depois deveria recontar oralmente, na versão escrita, história
34
era lida pela criança, mas os procedimentos estavam em todos os outros cumprimentos,
igual para a versão oral. Na tarefa de
cloze
era solicitado que criança completasse palavras
omitidas em orações. Na versão escrita, a criança deveria ler as orações e preencher,
escrevendo ou oralmente, a palavra que estava faltando e que completaria a oração. Na
versão oral, a oração era lida duas vezes pelo aplicador, e na segunda vez deveria dizer as
palavras que com
pletariam as orações.
A consciência fonêmica foi avaliada por meio do teste de análise de fonema e
síntese de palavras, Olofsson e Lundberg (1983). O teste foi aplicado individualmente e
organizado como um jogo no qual a criança deveria adivinhar quadros de objetos. A
sintaxe complexa foi avaliada a partir de uma versão reduzida do teste de Rommetveit e
Rommetveit, (1980), que mediu a habilidade para compreender estruturas sintáticas
complexas. O instrumento WISC-R (Weehsler, 1974), foi utilizado para avaliar o
vocabulário e memória de curto prazo. Todas as avaliações foram realizadas com as
crianças aos nove anos de idade, com exceção do teste de consciência fonêmica, que foi
realizado quando as crianças tinham seis anos de idade, antes que as
mesma
s fosse
m
ensinadas a ler e escrever formalmente.
Dentre os resultados encontrados, verificou-se a existência de associação entre as
habilidades de decodificar e compreender, para todos os níveis, as análises mostraram alta
correlação entre todas as medidas de linguagem oral e escrita. Foi verificada também uma
relação entre vocabulário e as habilidades de linguagem oral e escrita para a tarefa do
reconto de histórias, e uma correlação entre consciência fonêmica e sintaxe nas tarefas de
cloze
oral e escrita.
Com o objetivo de analisar a compreensão de leitura textual de alunos do ensino
fundamental, Salles e Parente (2004) realizaram um estudo com 76 crianças de 2ª e 3ª séries
com média de idade de 8,1 anos. Cada criança lia a história, recontava-a e, posteriorment
e,
35
respondia a questões. Os recontos foram analisados segundo o Modelo de Compreensão
Textual de Kintsch e Van Dijk (1978) e Kintsch (1988, 1998) que consideram relevante que
o bom leitor compreende tanto as idéias gerais (macroproposições) quanto as espec
íficas
(microproposições) de um texto impresso. Dentre os resultados encontrados, foi verificado
que o relato dos participantes apresentou em média, 21,07% da estrutura proposicional da
história, sendo mais freqüente o relato de macro proposições. Alunos da terceira série
foram superiores aos da segunda série no relato de microproposições e também em
responderem a questões pontuais sobre a história. Foi encontrada uma correlação
significativa entre idade e o reconto da macroestrutura textual. Os resultados sugerem que
durante os primeiros anos de escolarização, ocorreu uma melhora da memorização de
detalhes, enquanto que a retenção das idéias essenciais foi influenciada pelas variações de
idade das crianças.
Fontes e Cardoso
-
Martins (2004) realizaram um es
tudo para investigar o impacto de
um programa de leitura de histórias no desenvolvimento de habilidades da linguagem oral e
escrita de crianças de baixo nível sócio
-
econômico. Participaram do estudo 38 crianças com
idade entre 4 e 6 anos que freqüentavam creches públicas. As crianças foram organizadas
em grupo experimental e grupo controle. Todas as crianças responderam o pré-teste que
consistia nas seguintes tarefas: nomeação de letras a partir da identificação das letras do
alfabeto, dispostas em cartões apresentados aleatoriamente; conhecimento dos sons das
letras, identificando as letras correspondentes a sons enunciados pelo examinador;
conhecimento de escrita, escrevendo a primeira letra das palavras pronunciada pelo
examinador, e leitura que foi avaliada partir de um teste com 15 palavras freqüentes em
histórias infantis, e estas eram apresentadas em letras maiúsculas, em cartões individuais e
as crianças deveriam reconhecê-las. Para avaliar o vocabulário, foi utilizado o subteste do
Teste de Inteligência para pré-escolares Wescheler (2002), a tarefa consistia em definir o
36
significado de palavras enunciadas pelo examinador. Para compreensão de histórias, foi
lida uma história e solicitado à criança que a recontasse em voz alta, e em seguida a mesma
deve
ria responder sete perguntas feitas sobre a mesma, das quais algumas eram literais e
outras deveriam ser respondidas a partir de inferências sobre o texto lido. As crianças do
grupo experimental foram submetidas a um programa interativo de leitura de histórias, que
consistiu na leitura e discussão de 16 livros de literatura infantil. As crianças do grupo
controle não foram submetidas a nenhum tratamento especial. Encerrado o programa de
treinamento, todas as crianças participaram do pós-teste que foi realizado a partir das
mesmas tarefas do pré-teste, acrescido de outros dois testes, o Teste de Vocabulário
Receptivo por Imagens Peabody (Dunn & Dunn, 1997) e um teste de compreensão de
história, que possuía um número maior de enunciados que o primeiro texto. Os resultados
mostraram que o desenvolvimento de programas interativos de leitura de histórias pode ter
um impacto positivo no desenvolvimento da linguagem oral das crianças. Embora os dois
grupos tenham apresentado níveis comparáveis de desenvolvimento da linguagem no início
do estudo, as crianças do grupo experimental revelaram melhor desempenho que as
crianças do grupo controle nas tarefas de compreensão de histórias e vocabulário,
administradas após o término do programa de treinamento.
Enfatizando a importância de se diagnosticar precocemente distúrbios ou problemas
em linguagem oral, Ferracini (2005) conduziu uma pesquisa com o intuito de analisar a
precisão e buscar evidências de validade para instrumentos que avaliam esse construto.
Participaram da pe
squisa 122 crianças com idade entre 3 a 5 anos, em diferentes provas.
Os instrumentos utilizados validados foram: Prova de Consciência Fonológica
por Produção Oral (PCFO), Prova de Consciência Sintática (PCS), Teste de Vocabulário
por Imagens
Peabody
(TVIP), e Lista de Avaliação de Vocabulário Receptivo (LAVE). Os
37
testes utilizados que não possuíam estudos de validação foram Teste de Repetição de
Palavras e Pseudopalavras, Teste de Nomeação e Teste de Discriminação Auditiva.
Os resultados dessa investigação indicaram altos índices de precisão para todos os
testes, exceto o coeficiente de Spearman Brown para a Prova de Consciência Fonológica
por Produção Oral (PCFO), Prova de Consciência Sintática (PCS) e Teste de Vocabulário
por Imagens
Peabody
(TVIP).
Os resultados demonstraram evidências de validade para os
escores gerais, em todos os instrumentos para o critério idade dos participantes, indicando
que todos os instrumentos são adequados para avaliar crianças na faixa etária estudada. Foi
verificado também que nenhuma das habilidades avaliadas esteve relacionadas
ao sexo dos
participantes, não existindo diferenças significativas entre o sexo masculino e feminino.
É importante evidenciar o uso da tecnologia no processo de avaliação da linguagem.
Nesse sen
tido,
Macedo, Firmo, Duduchi e Capovilla (2007) desenvolveram um estudo com
o objetivo de avaliar a linguagem receptiva em crianças pré-escolares, por meio do Teste
Token computadorizado, comparando as pontuações das crianças nas versões tradicional e
com
putadorizada desse teste, e derivar fórmulas de conversão para estimar a pontuação na
versão tradicional a partir da aplicação da computadorizada. Participaram da pesquisa 90
crianças de três séries do Ensino Infantil de uma escola particular do município de São
Paulo, com idade de 4 a 6 anos.
Nesse estudo foi utilizado o Teste Token nas versões tradicional e informatizada. O
teste possui 40 itens divido em 4 partes que apresentam um grau crescente de
complexidade. Após ouvirem um item, os sujeitos deveriam selecionar as figuras que
considerassem corretas. A versão tradicional foi aplicada individualmente e a
computadorizada foi aplicada coletivamente em laboratório de informática, com a
utilização de fones de ouvido para que cada criança ouvisse apenas as informações
direcionadas a si, não ouvindo as mensagens das demais crianças.
38
Dentre os resultados encontrados, verificou
-se que as crianças mais novas, de 4 anos
de idade acertaram menos que as mais velhas nas duas versões, e não houve diferença entre
as
crianças de 5 e 6 anos de idade, e que embora tenha sido observada discrepância na
pontuação entre as duas versões, não foram encontradas diferenças significativas com
relação ao sexo dos participantes. A análise de regressão do escore na versão tradicion
al
como função da pontuação na computadorizada revelou correlação positiva entre as duas
versões.
À guisa de síntese, os estudos apresentados anteriormente mostram diversos
aspectos relativos à compreensão da linguagem oral e a relação entre linguagem oral e
escrita, em pesquisas realizadas com crianças em idade pré-escolar e de séries iniciais do
ensino fundamental. Nessas pesquisas foram investigadas habilidades fonológicas,
sintáticas e semânticas e a importância destas para o desenvolvimento da linguagem oral e
escrita. A compreensão de textos orais e escritos; a produção oral e escrita; a relação entre
a produção e a compreensão de textos; a influência da leitura interativa de textos no
desenvolvimento das habilidades de linguagem oral; e a avaliação da linguagem, a partir de
diferentes testes, também foram pesquisados.
É possível perceber que a maioria dos estudos procura investigar a relação entre
pelo menos dois aspectos da linguagem, como a associação entre linguagem oral e escrita e
a compreensão e a produção. Salienta-se ainda, que a maior parte dos estudos apresentados
avalia a compreensão da linguagem oral e/ou escrita a partir do reconto ou reprodução de
histórias e de questões referente à história lida ou ouvida, exceção feita aos estudos de
Hagvet (2003) e Macedo e col. (2007) que avaliam a compreensão da linguagem por meio
de outros procedimentos.
É importante salientar que é possível encontrar algumas pesquisas nacionais sobre
aspectos relacionados à consciência metalingüística (Barrera & Maluf, 2003; Corrêa, 2005;
39
Guimarães, 2005; Capovilla, Capovilla & Soares, 2004; Queiroga, Lins & Pereira, 2006)
porém, estudos que abordem os fatores que antecedem o monitoramento intencional dos
aspectos lingüísticos e que enfatizem a avaliação dessas habilidades por meio de
instrumentos psicometricamente testados e, testes informatizados, são mais escassos, a
despeito da importância já constatada por estudos da compreensão da linguagem oral para a
aquisição da linguagem impressa (Ferracini, 2005; Macedo e
cols., 2007).
Cabe salientar que o desenvolvimento da linguagem escrita também sofre, desde o
início, a influência da vivência que a criança tem com a cultura escrita e literária no
convívio familiar. Contudo, algumas crianças que apresentam atrasos ou distúrbios nas
aquisições iniciais da língua. Estas alterações se manifestam nas diferentes esferas da
linguagem oral, cujos processamentos subjacentes, assim como os ficits dos próprios
elementos lingüísticos, tendem a manter-se quando do aprendizado da linguagem impressa
(Sternberg, 2000; Paiva, 2002; Schimmer e cols., 2004). Nesse sentido, cabe enfatizar que a
avaliação e a detecção precoces de distúrbios da linguagem oral permitem o
desenvolvimento de procedimentos de intervenção que podem diminuir não apenas os
distúrbios orais, mas também a incidência ou o agravamento de problemas relacionados à
alfabetização e à formação do leitor (Capovilla, Joly & Tonelotto, 2006).
Deve-se destaque ao fato de que a compreensão da linguagem está diretamente
relac
ionada aos processos de aquisição lexical (Leffa, 2000; Cardoso-Martins & col.,
2003), considerando que o foco da presente investigação que é buscar evidências de
validade convergente entre um instrumento que avalia a compreensão da linguagem oral, e
um teste de vocabulário receptivo, o próximo capítulo apresenta considerações sobre
vocabulário e pesquisas que indicam procedimentos de avaliação em crianças da faixa
etária estudada pela presente pesquisa.
40
CAPÍTULO II
VOCABULÁRIO
2.1. Vocabulário e lingua
gem oral
Aprender palavras e saber utilizá-las adequadamente é fundamental para o
desenvolvimento da linguagem. Os seres humanos possuem a capacidade de armazenar
informações na mente, assim, as palavras com que se tem contato ficam retidas na memória
para
poderem ser utilizadas em momento oportuno. Esse armazenamento ou a
representação das palavras na memória permanente é chamado de léxico interno ou
vocabulário (Albuquerque, 2003; Hage & Pereira, 2006).
Conhecer o significado das palavras é fundamental para a compreensão (Cain &
Oakhill, 2007; Santos & Navas, 2002). A semântica é o estudo das significações das
palavras, bem como de unidades maiores da linguagem como frases e orações (Stenrberg,
2000).
Stenrberg (2000) salienta que a compreensão da linguagem depende da utilização
léxica estrita e também do conhecimento implícito de palavras como insinuações
emocionais, pressuposições e significações não explícitas nos textos. Ao estudar a
significação exata das palavras, o autor apresenta as teorias que procuram explicar a relação
entre as palavras e seus significados, enfatizando as Teorias da Significação, a Teoria
Compenencial e a Teoria do Protótipo.
As teorias da significação das palavras contemplam três abordagens, a saber, a de
referência, a de imagem e a enciclopédica. Segundo a concepção da referência, as palavras
significam aquilo a que elas se referem. A teoria da imagem sustenta que a significação de
uma palavra é inerente à imagem que ela evoca. A concepção enciclopédica defende que
um conceito é tudo o que uma pessoa sabe sobre uma palavra. A teoria componencial
41
afirma que a significação pode ser compreendida pela desagregação das palavras em
componentes significativos, sendo que individualmente cada um deles é um elemento
essencial do conceito, e em conjunto, as propriedades definem unicamente um conceito. A
teoria do protótipo sustenta que a significação de uma palavra é derivada de aspectos
característicos que a descrevem, sugerindo que a compreensão do significado de uma
palavra baseia-se num protótipo, assim sendo, é possível inferir que um aspecto definidor é
possuído por todos os exemplos e um conceito, e um aspecto característico não necessita
-lo (Sternberg, 2000). Na perspectiva de Sternberg (2000), estudos atuais sobre a
significação das palavras apontam que uma síntese das teorias componencial e do protótipo
sustentam a melhor explicação sobre a conceituação das palavras.
Para Hage e Pereira (2006) a aquisição lexical está relacionada à capacidade de
compreender e produzir vários tipos de significados das palavras. As autoras enfatizam que
as palavras podem ser categorizadas em três tipos, a partir de seu significado. palavras
com significado lexical, outras com significado gramatical ou com significado figurado.
As
palavras com significado lexical são as utilizadas para designar classes de
objetos, pessoas, animais, ações e características; são os nomes, os verbos e os adjetivos.
Essa categoria é denominada também como palavras com significado aberto, pois a
adequada utilização delas depende da aquisição e da reorganização das características
semânticas que compõem o seu significado. As palavras com significado gramatical são as
preposições, conjunções, advérbios e pronomes, sendo que as preposições e as conjunções
expressam relações de significado particulares entre seres, objetos e eventos, possuindo
significado relacional abstrato. o significado dos pronomes e dos advérbios depende do
contexto ou da situação lingüística tendo pois, significado contextual. As palavras com
signifi
cado figurado vão além do sentido literal e envolvem habilidades metalingüísticas
42
relacionadas à capacidade de abstração. As gírias e as metáforas são bons exemplos dessa
categoria de palavras.
Albuquerque (2003) evidencia que o léxico interno possui informações associadas
às palavras, como pronúncia, soletração, relação com outros vocábulos e também
informações gerais ligadas às mesmas (informações pragmáticas). Essas informações
tornam
-se disponíveis para o uso quando o indivíduo seleciona as palavras que estão
associadas a elas na memória. O processo pelo qual essas informações são ativadas é
chamado acesso lexical.
Na perspectiva de Leffa (2000), a língua materna e especificamente o processo de
desenvolvimento lexical inicia-se pela aprendizagem incidental com predomínio do
input
oral, altamente contextualizado. O aprendiz não está preocupado em aprender palavras
novas, mas em construir um significado do que ouve. Posteriormente, com a escolarização,
inicia
-se o processo formal de aprendizagem intencional do léxico, com o esforço
deliberado e consciente em aprender palavras novas
.
É importante salientar, de acordo com estudos realizados por Santos e Navas
(2002), que o crescimento do vocabulário é contínuo na infância e passa por reestruturações
graduai
s, especialmente em função da similaridade e familiaridade sonora entre as palavras
adquiridas. Estimam que crianças com quatro anos possuam um vocabulário de 2500 a
3000 palavras, já com sete anos estas contam com 7 mil a 10 mil palavras, e com onze anos
já possuem aproximadamente 40 mil palavras.
Estudos sobre o desenvolvimento semântico, como argumentam Hage e Pereira
(2006), têm por objetivo entender como ocorre a aquisição do significado das palavras
pelas crianças. Consideram relevante também conhecer como as crianças em idade pré-
escolar ampliam seu vocabulário, com que velocidade o fazem e, quais os fenômenos que
caracterizam o uso das palavras durante o período de desenvolvimento lexical em crianças.
43
Eysenck e Keane (1994) afirmam que o vocabulário geralmente é aprendido de
modo rotineiro ao se aprender associar novas palavras às suas definições, no entanto, a
maioria do vocabulário é adquirida ao se utilizar informações contextuais para traçar
inferências plausíveis sobre o significado de uma palavra desconhecida. Nesse sentido, os
tipos de processamento ativo e de construção de inferências que caracterizam o
vocabulário, também são utilizados na compreensão da leitura, o que explica a estreita
relação entre o vocabulário e a habilidade em leitura. Os autores salientam também que a
ampliação de vocabulário possui um impacto muito maior na compreensão quando
possibilita o desenvolvimento de inferências sobre o contexto, do que quando o aprendiz se
pauta simplesmente pelo aprendizado do significado d
as palavras.
Diversos autores (Capovilla & Capovilla, 1997; Capovilla, Capovilla & Suiter,
2004; Capovilla & Prudêncio, 2006; Fontes &
Cardoso
-Martins, 2004) têm ressaltado a
importância do vocabulário para a compreensão da linguagem, em especial no que se
refere
à compreensão da leitura. Fontes e Cardoso-Martins (2004) afirmam, considerando
resultados de estudos realizados sobre o tema, que a compreensão da leitura está associada
à aquisição do vocabulário.
O vocabulário é tido como essencial para permitir a compreensão, pois à medida
que um aluno progride nas ries escolares, os textos, livros didáticos e demais fontes de
informação a que tem acesso, vão exigindo uma progressão do seu domínio lexical. Assim
sendo, grande parte do vocabulário que as crianças aprendem, decorre de palavras que se
encontram em textos. Ressalta
-
se, no entanto, que a leitura não é a única forma de expandir
vocabulário, é necessário também que as crianças prestem atenção ao sentido das novas
palavras que vão encontrando no texto
, busquem desenvolver a capacidade de compreender
e lembrar o sentido dessas novas palavras, tendo como referência o vocabulário
adquirido (Cardoso
-
Martins e cols., 2003).
44
Cardoso
-Martins e cols. (2003) salientam que o vocabulário é a base sobre a qual
repousa a compreensão, e enfatizam que as crianças aprendem vocabulário antes e depois
de aprenderem a ler, dentro e fora da escola. Os autores destacam que a amplitude do
vocabulário pode ser muito mais importante do que a idade ou nível geral de
desenvol
vimento, para permitir a discriminação de diferenças sutis entre as palavras.
Snow, Burns e Griffin (1998) ao realizarem uma pesquisa sobre indivíduos com
problemas de compreensão de leitura, identificaram que dentre as causas das dificuldades
estava o d
esconhecimento que o leitor tinha do vocabulário utilizado. Capovilla e Capovilla
(1997) ressaltam em seus estudos que ensinar vocabulário pode ser um meio eficaz para
melhorar a compreensão em leitura, enfatizando que o vocabulário auditivo-receptivo é um
requisito para a recepção e o processamento da informação auditiva, sendo então uma
importante medida de habilidade intelectual.
Austermuehle, Kautz e Sprenzel (2007) realizaram uma pesquisa-ação com
professores de escolas públicas da cidade Chicago (EUA) visando ensinar-lhes estratégias
para o desenvolvimento do vocabulário de seus alunos. Houve uma avaliação em
compreensão em leitura e vocabulário pré e pós intervenção na qual foram ensinadas as
estratégias para os alunos. Os resultados indicaram que o processo de intervenção teve
grande êxito e que os alunos revelaram preferências específicas quanto ao tipo de estratégia
utilizada para ampliar seu vocabulário.
Pode-se avaliar tanto o vocabulário expressivo quanto receptivo. A avaliação do
vocabulário
expressivo possibilita verificar quais e quantas palavras uma criança é capaz de
expressar, e do receptivo identificar quantas palavras consegue reconhecer o significado.
Estas habilidades podem ser avaliadas desde o momento em que a criança começa a fala
r.
O vocabulário expressivo demonstra estar relacionado à influência do meio ambiente, ou
seja, às situações de aprendizagem lingüística (Issler, 2006).
45
O vocabulário receptivo é condição necessária para a entrada e processamento da
informação, e sua extensão é uma das mais importantes medidas de habilidade intelectual
(Capovilla & Prudêncio, 2006). Este tipo de vocabulário precede e ultrapassa o expressivo,
e está relacionado diretamente ao desenvolvimento cognitivo (Issler, 1996). Segundo
Eysenck e Keane (1994), o vocabulário receptivo possui forte correlação com inteligência,
porque a utilização de informações do contexto de frases e textos é uma das principais
formas de se adquirir vocabulário.
Diante do exposto, são apresentadas algumas pesquisas que têm sido realizadas,
considerando o objetivo do presente estudo. Estas visam analisar a compreensão da
linguagem oral e escrita em crianças, vocabulário e a sua relação com o desempenho
escolar.
Capovilla e Capovilla (1997) realizaram uma pesquisa que teve como objetivos
realizar as traduções brasileiras do Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP) e da
Lista de Avaliação de Vocabulário Expressivo (LAVE) e normas preliminares, e também
analisar o desenvolvimento do vocabulário re
ceptivo
-expressivo em função da idade, nível
escolaridade, tipo de escola e a correlação entre os vocabulários expressivo e receptivo, por
meio dos testes citados. Participaram do estudo 238 crianças com idade entre 2 e 6 anos, de
escolas públicas municipais e particulares. Os estudos revelaram que os instrumentos são
úteis para avaliar o desenvolvimento lingüístico dos vocabulários receptivo e expressivo de
crianças brasileiras.
Capovilla, Capovilla e Suiter (2004), ao buscar identificar habilidades cognit
ivas
mais freqüentemente prejudicadas nas dificuldades de leitura, realizaram uma pesquisa com
90 crianças entre 5 e 9 anos, cursando da pré-escola a série do ensino fundamental de
escolas públicas e particulares da cidade de São Paulo. Os participantes
foram avaliados em
leitura, escrita, consciência fonológica, memória fonológica, vocabulário, aritmética,
46
processamento visual e seqüenciamento. Os instrumentos utilizados foram o “Teste de
Competência de Leitura Silenciosa” ou TeCoLeSi (Capovilla & Capovilla, 2004), a “Prova
de Consciência Fonológica por escolha de Figuras” ou PCFF (Capovilla & Capovilla, no
prelo), o “Teste de Vocabulário por Imagens Peabody” ou TVIP (Dunn & Dunn, 1981), o
“Internacional Dyslexia Test” ou IDT (Capovilla, Smythe, Capovilla & Everatt, 2001) e o
“Teste de Matrizes Progressivas de Raven” (Raven, 1988). Dentre os resultados
encontrados os autores evidenciam que as dificuldades dos maus leitores em comparação
com os bons leitores, estavam relacionadas principalmente ao processamento fonológico,
que inclui a consciência fonológica, o vocabulário receptivo auditivo, e a memória
fonológica, todas essas habilidades envolvem processamento da informação baseada na
estrutura fonológica da linguagem oral.
Mier, Martínez, Arteaga e Fernández (2003), com o intuito de avaliar a linguagem
receptiva, de crianças que apresentavam dificuldades de aprendizagem, realizaram uma
pesquisa utilizando a versão cubana da Prova de Vocabulário por Imagens Peabody.
Participaram do estudo 316 crianças com
idade entre 6 e 12 anos, de uma escola especial da
cidade de Havana, com diagnóstico de dificuldades de aprendizagem. Como parte do
diagnóstico prévio, os autores utilizaram o teste WISC-R (Wechsler, 1974). Dentre os
resultados encontrados, os autores verificaram que as crianças com diagnóstico de
dificuldade de aprendizagem obtiveram pontuações significativamente mais baixas que as
crianças do grupo controle em todos os grupos etários. As crianças com dificuldade de
aprendizagem apresentaram idade em vocabulário inferior à sua idade cronológica, com
diferença entre dois a três anos. Outro resultado evidenciado foi que à medida que aumenta
a idade cronológica das crianças com dificuldade de aprendizagem, um aumento da
diferença entre a idade de vocabulário e a idade cronológica. Segundo os autores, os
resultados da pesquisa se mostraram consistentes com a idéia de as crianças com
47
dificuldade de aprendizagem apresentaram um déficit no desenvolvimento em vocabulário,
o qual se torna mais defasado com o avanço da idade, apesar de programas especiais que
essas crianças recebem na escola em função de suas dificuldades.
A partir das considerações sobre o vocabulário como um importante fator que pode
predizer a habilidade em leitura, um dos instrumentos utilizados para sua avaliação é o
Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP), desenvolvido por Dun e Dun (1981),
que avalia o desenvolvimento lexical no domínio receptivo, ou as habilidades de
compreensão de vocabulário de crianças entre dois anos e seis meses até os dezoito anos de
idade. O teste permite uma avaliação objetiva, rápida e precisa do vocabulário receptivo
auditivo em uma ampla variedade de áreas. Desde a sua versão original em inglês, o teste
tem sido revisado e adaptado para outras línguas inclusive para o Brasil (Capovilla &
Capovilla, 1997). O TVIP correlaciona-se fortemente com a maior parte dos testes de
vocabulário e inteligência verbal.
Considerando que a linguagem oral receptiva é uma importante habilidade
cognitiva que contribui significativamente para o desenvolvimento da linguagem escrita, e
identificada a necessidade de construção de instrumentos de avaliação psicometricamente
testados para realização de diagnósticos confiáveis, o presente trabalho visou buscar
evidências de validade para a Bateria Informatizada Linguagem Oral (BILO), a partir da
investigação da compreensão da linguagem oral e sua correlação com o desempenho em
vocabulário. Ao lado disso, verificou
-
se a influência das variações de gênero, idade e série.
48
CAPITULO III
MÉTODO
3.1. Participantes
Participaram 106 alunos de ambos os sexos, sendo 45% do sexo feminino. Tinham
idade entre cinco e oito anos e estavam regularmente matriculados na última etapa da
educação infantil e primeiro ciclo do Ensino Fundamental. (1ª e séries) de duas escolas
públicas do interior do estado de São Paulo.
Tabela
1
. Estatísticas descritivas da média de idade dos participantes por série
Idade
Nível de
ensino
N
Mínima
Máxima
Média
DP
Ed. Infantil
42 5 6 5,57 0,50
33 7 9 7,12 0,42
34 7 10 8,12 0,73
A média de idade dos participantes está compatível com a série escolar freqüentada,
considerando os padrões educacionais vigentes (Tabela 1). A série foi a que apresentou
maior desvio padrão com relação
à idade dos alunos.
49
3.2. Instrumentos
3.2.1. Bateria Informatizada de Linguagem Oral - BILO (Joly, 2006 em
desenvolvimento).
A Bateria Informatizada de Linguagem Oral - BILO foi construída com base na
revisão da literatura (Ellis, 1995; Klein, 2004; National Institute for Literacy, 2004;
Tellez,2004; Van den Broek e col, 2005; Paris & Sthal, 2005; ASHA, 2007) e na análise de
testes equivalentes publicados no exterior (DRP, International Dyslexia Test). Tem por
objetivo avaliar a compreensão da linguagem oral em alunos da Educação Infantil à
segunda série do Ensino Fundamental (Ciclo I). Conta com sete provas referentes à
avaliação morfossintática, seqüência lógica e compreensão de frases, parágrafos e histórias.
As provas relativas à compreensão da linguagem, considerando sua estrutura em
frases, parágrafos e histórias foram elaboradas usando o Sistema Orientado de Cloze -
SOC
(Joly, 2006) que orienta a organização de um texto para avaliar compreensão em leitura, a
partir de critérios específicos relativos ao número de palavras, omissões de vocábulos,
tamanho de lacunas e opções de resposta, visando determinar veis de dificuldade de
compreensão diferenciados. Os critérios definidos para as provas do Teste de Linguagem
Oral foram omissões de um substantivo por frase e múltipla escolha com três itens para
resposta. Dentre essas opções, duas são substantivos, sendo uma a correta e a terceira opção
representada por outra classe gramatical. Especificamente, para a compreensão de histórias
uma prova usando o SOC (Completar História) e outra baseada em questões de
interpretação (Interpretação de histórias).
Em se tratando de uma avaliação voltada para a linguagem oral com respondentes
que não adquiriram o digo formal de leitura, optou-se por respostas apresentadas como
desenhos simples feitos apenas com linhas, sem detalhes. Estes foram selecionados
50
considerando
-se símbolos, significados e contextos familiares à criança. Todos os itens são
de múltipla escolha com três opções de resposta. Duas opções referem-se a conteúdos
pertencentes à mesma classe gramatical ou categoria, sendo um deles a resposta correta e
uma opção de outra classe gramatical ou categoria diferente da correta.
Cada prova possui seu conjunto de itens e instruções. sempre dois exemplos
de
itens que precedem os de avaliação. O primeiro é respondido pelo aplicador, a fim de
orientar os respondentes, quanto ao tipo de resposta esperada, e o outro exemplo é
respondido pelos respondentes com
feedback
posterior do aplicador. A aplicação é coletiva
e orientada por um aplicador e um auxiliar e deve ser realizada em um laboratório de
informática para grupos de 15 respondentes, no máximo. O tempo médio de aplicação é de
40 minutos.
Os critérios de correção são por item, por prova e geral. Serão atr
ibuídos dois pontos
para a opção correta, um ponto se a opção escolhida for da mesma classe da correta e zero
ponto para a incorreta. A somatória dos pontos por item será o escore por prova. A
somatória dos escores por prova, após ponderação em função das diferenças quanto ao
número de itens, resultará no escore total.
O
software
do teste de Linguagem Oral foi desenvolvido usando recursos de
multimídia e tem interface com banco de dados para armazenamento das respostas dadas.
As instruções gerais e específicas de cada prova e item são apresentados oralmente pelo
programa e estão também impressas usando letra bastão. um tutorial interativo
indicando quais os recursos de interface do computador são utilizados para responder à
BILO. Neste tutorial é solicit
ado que o respondente complete alguns itens visando exercitar
tais habilidades necessárias. As provas, Interpretação de História (prova 4), Completar
Parágrafos (prova 6) e Completar Histórias (prova 7), são precedidas por uma apresentação
de um vídeo com áudio e imagem sobre o tema e a seqüência das informações da história.
51
Cada tela tem apenas um item; após a escolha da opção, o respondente é solicitado a
confirmar sua resposta para continuar a prova. É registrada a opção de resposta, tempo de
reação para responder e para confirmar a resposta, bem como o tempo total por prova e
para a bateria. correção automática dos itens e emissão de relatório com escore por
prova e geral, por respondente e para cada um em relação a todo grupo de participantes
registr
ado no banco de dados.
Descrição das Provas
Prova 1:
Compreensão Morfossintática
(CM)
Tem por objetivo avaliar a relação entre um vocábulo e a sua representação
gráfica, revelando a compreensão do significado. É constituído por 12 itens, sendo os dois
primeiros de exemplo. Cada item é formado por duas orações com um termo integrante que
pode ser uma logomarca, substantivo, adjetivo, verbo ou advérbio, a ser compreendido pelo
respondente. Foram definidos dois itens por termo integrante. Assim, a tarefa d
o
respondente é escolher, dentre as três opções, a que melhor representa o conteúdo das
orações. As opções de resposta por item contam com uma alternativa com a mesma
classificação da resposta correta e a outra com uma palavra qualquer, desde que seja
clas
sificada como diferente das outras duas opções. Serão atribuídos dois pontos para a
resposta correta, um ponto para a resposta com mesma classificação da opção certa, e zero
ponto para a errada. O escore máximo é de 20 pontos.
Exemplo (CM1)
A COCA COLA
FOI INVENTADA NOS ESTADOS UNIDOS.
É UM REFRIGERANTE MUITO CONSUMIDO.
52
Para a análise das qualidades psicométricas da prova, inicialmente foi analisado o
ajuste dos dados das respostas à prova, ao modelo de três parâmetros considerando
-
se todos
os
10 itens, exceto os exemplos, por meio do software XCALIBRE. Os resultados da
análise realizada indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três parâmetros, com um
bom índice de fidedignidade (KR=0,78). Os índices de discriminação (a) médio igual a
1,12, índice de dificuldade (b
)
-0,92 e probabilidade de acerto ao acaso (c) igual a 0,21,
revelando validade de construto.
As questões mais fáceis são as de número um e quatro, apresentando índices de
dificuldade (b) -1,57 e -1,54, respectivamente, assim, mesmo com uma baixa habilidade, os
alunos têm uma probabilidade de acerto razoável. E, a questão que se apresentou como
sendo a mais difícil foi a de número dois, com índice (b) igual a 3,00, requerendo uma
maior habilidade para uma resposta correta. Porém, este índice foi superior ao valor crítico
aceitável de 2,95.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de mero dois e seis,
apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,21 e 1,26, respectivamente. Portanto,
os indivíduos com uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder
corretamente estes dois itens (2 e 6), do que aos itens 9 e 10, com índices de discriminação
igual a 0,99.
Prova 2: Seqüência Lógica (SL)
Visa identificar a organização lógica de estímulos visuais que compõem uma
história. É constituído por 12 itens, sendo os dois primeiros de exemplo. Cada item é
formado por uma série de cenas que, organizadas em uma seqüência com começo, meio e
fim, adquirem significado de uma história. As séries têm contextos específicos e diferentes
com temas familiares ao respondente. Cada cena da série é composta por uma ação que é
53
representada por desenhos em linha, preto e branco. três itens da prova com duas cenas,
outros três com três cenas, dois itens com quatro cenas e os últimos dois com cinco cenas.
A tarefa do respondente é organizar as cenas de cada série de modo que haja relação de
causa e efeito e contigüidade entre elas. Nesta atividade a criança deve orientar-
se
exclusivamente pelos estímulos visuais, pois este é o único subteste da bateria que não
agrega estímulos orais às imagens para sua execução. Serão atribuídos 2 pontos por série
seqüenciada corretamente e um ponto por série com, no mínimo, 50% das cenas
organizadas corretamente O escore máximo é de 20 po
ntos.
Exemplo (SL1) A PESCARIA
Para a análise das qualidades psicométricas da prova, os resultados da análise
realizada para os 10 itens pela Teoria de Resposta ao Item (TRI), indicaram que a prova se
ajustou ao modelo de três parâmetros, com um bom índice de fidedignidade (KR=0,90). Os
índices de discriminação (a) médio igual a 1,63, índice de dificuldade (b) 0,34 e
probabilidade de acerto ao acaso (
c
) igual a 0,14.
As questões mais fáceis são as de número um e dois, apresentando índices de
dificuld
ade (b)
-
0,41 e
-0,52. E, a questão que se apresentou como sendo a mais difícil foi a
de número sete, com índice (b) igual a 1,19, requerendo uma maior habilidade para uma
resposta correta.
54
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de nú
mero cinco e dez,
apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,84 e 1,87. Portanto, os indivíduos com
uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder corretamente estes dois
itens (5 e 10), do que ao item 7 e 8, com índice de discriminação igual a 1,47. Com relação
à probabilidade de acerto ao acaso (
c), o teste apresenta um valor igual a 0,14.
Prova 3: Organização lógico
-
verbal (OLV)
Avalia a compreensão receptiva do conteúdo de uma história apresentada por
completo em vídeo e oralmente, por meio de uma organização lógica de cenas que
representam este conteúdo. É constituído por 12 itens, sendo os dois primeiros de exemplo.
Cada item é composto por uma história e por uma série de cenas. Nesta tarefa o
respondente ouve a história e deve organizar as cenas de cada série, de acordo com a
seqüência lógica do conteúdo visual e da história ouvida. O número de itens por série varia.
três séries de duas cenas com três histórias diferentes contendo 10 palavras cada uma;
três séries de três cenas com três histórias contendo 15 palavras em cada uma; dois
itens para quatro cenas com duas histórias diferentes contendo 20 palavras cada; dois
itens para cinco cenas com duas histórias diferentes contendo 25 palavras em cada uma.
Serão atribuídos 2 pontos por série seqüenciada corretamente e um ponto por série com, no
mínimo, 50% das cenas organizadas corretamente O escore máximo é de 20 pontos.
Exemplo OLV1
O MENINO FEZ UMA PIPA DIFERENTE. ELE EMPINOU NO PARQUE.
55
Para a análise das qualidades psicométricas da prova pela TRI, os resultados da
análise realizada para os 10 itens indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três
parâmetros, com um bom índice de fidedignidade (KR=0,64). Os índices de discriminação
(a) médio igual a 1,02, índice de dificuldade (b
)
-0,12 e probabilidade de acerto ao acaso
(c
) igual a 0,21.
As questões mais fáceis são as de número um e dois, apresentando índices de
dificuldade (b)
-
1,43 e
-1,19. E, a questão que se apresentou como sendo a mais difícil foi a
de número cinco, com índice (b) igual a 3,00, requerendo uma maior habilidade para uma
resposta correta. Deve-se considerar que este índice foi superior ao valor crítico aceitável
de 2,95.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de número dois e
cinco, apresentando índices de discriminação (a) igual a 1,09. Portanto, os indivíduos com
uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder corretamente estes dois
itens (2 e 5), do que ao item 7, com índice de discriminação igual a 0,91. Com relação à
probabilidade de acerto ao acaso (
c
), o teste apresenta um valor igual a 0,21.
Uma consideração a ser feita é em relação a três itens que não houve a possibilidade
de estimar os parâmetros, a saber: 3, 6 e 8. Uma vez que os itens não tiveram uma
variabilidade das respostas, todos os alunos que compuseram a amostra tiveram a nota 1, o
que indica que todos acertaram parcialmente o item 8. E, todos erraram os itens 3 e 6.
Prova 4: Interpretação de história (IH)
Avalia a compreensão receptiva da história por meio de questões de múltipla
escolha. É composto por um exemplo e três descrições apropriadas à faixa etária dos
respondentes. A primeira história tem 25 palavras e dois itens, a segunda 50 palavras com
três itens e a terceira 100 palavras com cinco itens. Todos os itens são de compreensão
56
literal da história. A tarefa do respondente é assistir ao vídeo e ouvir a história que é
contada duas vezes, e escolher uma opção por item. Há três opções de resposta por item. As
opções contam com uma alternativa com a mesma classificação da resposta correta e a
outra com uma palavra qualquer, desde que seja classificada como diferente das outras duas
opções. Serão atribuídos dois pontos para a resposta correta, um ponto para a resposta com
mesma classificação da opção certa, e zero ponto para a errada. O escore máximo é de 20
pontos.
Exemplo: História 1 (IH1)
O GATO DE MARIANA
MIMI É MEU GATO.
MEU TIO TROUXE DE PRESENTE.
ELE ERA PEQUENO. AGORA JÁ CRESCEU.
ACHO QUE MIMI NÃO TEM DEFEITOS: É AMIGO E
BRINCALHÃO.
QUAL É O BICHO DE MARIANA?
QUEM DEU MIMI DE PRESENTE PARA MARIANA?
Para a análise das qualidades psicométricas da prova pela TRI, os resultados da
análise realizada para os 10 itens, indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três
parâmetros, com um bom índice de fidedignidade (KR=0,85). Os índices de discriminação
57
(a) médio igual a 1,43, índice de dificuldade (b) 0,12 e probabilidade de acerto ao acaso (c
)
igual a 0,14.
As questões mais fáceis são as de número um e dois, apresentando índices de
dificuldade (b)
-
1,45 e
-1,77. E, a questão que se apresentou como sendo a mais difícil foi a
de número dez, com índice (b) igual a 1,46, requerendo uma maior habilidade para uma
resposta correta.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de número quatro e
nove, apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,57 e 1,58. Portanto, os
indivíduos com uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder
corretamente estes dois itens (4 e 9), do que ao item 1, com índice de discriminação igual a
0,89. Com relação à probabilidade de acerto ao acaso (
c
), o teste apresenta um valor igual a
0,14.
Prova 5: Completar frases (CF)
Avalia a compreensão de palavras organizadas em frases, sendo que um dos
substanti
vos foi omitido. É constituída por doze itens, sendo dois de exemplo. A tarefa do
respondente é identificar qual dentre as alternativas, a que melhor sentido à frase. As
opções de resposta por item contam com uma alternativa com a mesma classificação
gr
amatical da resposta correta e a outra com uma palavra qualquer, desde que seja
classificada como diferente das outras duas opções. Cada item será apresentado duas vezes
ao respondente. Serão atribuídos dois pontos para a resposta correta, um ponto para a
resposta com mesma classificação da opção certo e zero ponto para a errada. O escore
máximo é de 20 pontos.
58
Exemplo (CF1)
O __________É O REI DOS ANIMAIS.
.
Para a análise das qualidades psicométricas da prova pela TRI, v
erificou
-
se
que os resultados indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três parâmetros, com um
bom índice de fidedignidade (KR=0,79). Os índices de discriminação (a) médio foi igual a
1,87, índice de dificuldade (
b
)
-
0,28 e pr
obabilidade de acerto ao acaso, (
c
) igual a 0,16.
A partir da análise realizada, confirma-se que as questões mais fáceis são as de
número dez e cinco, apresentando um índice de dificuldade (b) -1,56, assim, mesmo com
uma baixa habilidade, os alunos têm uma probabilidade de acerto razoável. E, as questões
que se apresentam como sendo as mais difíceis foram as de número três e oito, com índices
(b) iguais a 2,87, requerendo uma maior habilidade para uma resposta correta.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de número dois e sete,
apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,93. Portanto, os indivíduos com uma
mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder corretamente estes dois itens
(2 e 7), do que aos itens 5, 9 e 10, com índices de discriminação igual a 1,82, mesmo sendo
valores próximos. Com relação à probabilidade de acerto ao acaso (c), o teste apresenta um
valor igual a 0,16.
59
Prova 6 -
Completar Parágrafos (CP)
Avalia a compreensão de palavras organizadas em três frases que compõem um
parágrafo, sendo que o substantivo foi o critério de omissão. É constituída por cinco
parágrafos com temas diferentes, sendo um de exemplo. A prova conta com dez omissões
no total, sendo duas para cada um dos dois primeiros itens e três para os demais. Cada
omissão é considerada como um item. A tarefa do respondente é identificar qual dentre as
alternativas que melhor dá sentido à frase
. As opções de resposta por item são três e contam
com uma alternativa com a mesma classificação gramatical da resposta correta e a outra
com uma palavra qualquer, desde que seja classificada como diferente das outras duas
opções. Serão atribuídos dois pontos para a resposta correta, um ponto para a resposta com
mesma classificação da opção certa e zero ponto para a errada. O escore máximo é de 20
pontos.
Exemplo CP1
O VENTO
CP11
-
O VENTO LEVANTA A __________DE DONA SÔNIA.
CP12
- BATE A __________COM FORÇA.
60
CP13
-
SECA TODA __________ NO VARAL.
.
Para a análise das qualidades psicométricas da prova pela TRI, os resultados da
análise realizada para os 10 itens, indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três
parâmetros, com um bom índice de fidedignidade (KR=0,78). Os índices de discriminação
(a) médio, iguais a 1,16, índice de dificuldade (b
)
-1,25 e probabilidade de acerto ao acaso
(c
), igual a 0,19.
As questões mais fáceis são as de número um e oito, apresentando índices de
dificuldade (b) -2,54 e -2,29, respectivamente, assim, mesmo com uma baixa habilidade, os
alunos têm uma probabilidade de acerto razoável. E, a questão que se apresentou como
sendo a mais difícil foi a de número quatro, com índice (b) igual a 2,90, requerendo uma
maior habilidade para uma resposta corret
a.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de número quatro e
nove, apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,22 e 1,21, respectivamente.
Portanto, os indivíduos com uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de
respo
nder corretamente estes dois itens (4 e 9), do que aos itens 1 e 7, com índices de
discriminação iguais a 1,07 e 1,08. Com relação à probabilidade de acerto ao acaso (c), o
teste apresenta um valor igual a 0,19.
61
Cabe destacar ainda, que dois itens não foram estimados os parâmetros, os itens 5 e
6. Uma vez que estes itens não tiveram uma variabilidade em suas respostas, todos os
alunos que compuseram a amostra acertaram o item 5 e erraram o item 6.
Prova 7 - Completar Histórias (CH)
Avalia a compreensão oral de histórias. A primeira história tem 50 vocábulos e a
segunda, 100 vocábulos. Foi eliminado um substantivo a cada dez vocábulos. A história um
possui quatro omissões, e a história dois seis omissões. As opções de resposta por item
contam com uma alternativa que possuem a mesma classificação da resposta correta e a
outra com uma palavra qualquer, desde que seja classificada como diferente das outras duas
opções. Cada história completa é primeiro apresentada em forma de vídeo (imagens com
áudio), para ser apresentada em seguida, na tela na forma impressa, acompanhada do
respectivo áudio e com as opções de resposta (figuras) por item. A tarefa do respondente é
assistir ao vídeo,
e
ouvir a história que é contada duas vezes e escolher uma opção por item.
Serã
o atribuídos dois pontos para a resposta correta, um ponto para a resposta com mesma
classificação da opção certa e zero ponto para a errada. O escore máximo total é de vinte
pontos, sendo para a história um, de oito pontos e para a história dois, de doze
pontos.
Exemplo CH1:
O CIRCO
CH11
-
O CIRCO É MUITO DIVERTIDO. TEM AS BRINCADEIRAS E
CAMBALHOTAS DO __________.
62
CH12
- TEM O MÁGICO QUE FAZ TRUQUES COM AS CARTAS DE __________.
CH13
-
OS BICHOS SÃ
O AINDA MAIS ENGRAÇADOS. O __________ ENCHE A
TROMBA DE ÁGUA.
CH14
- COM UM JATO MOLHA A JUBA DO FEROZ __________. ELE FICA MUITO
BRAVO.
Para a análise das qualidades psicométricas da prova pela TRI, os resultados da
análise realizada para os 10 itens, indicaram que a prova se ajustou ao modelo de três
parâmetros, com um bom índice de fidedignidade (KR=0,97). Os índices de discriminação
(a) médio igual a 1,44, índice de dificuldade (b
)
-0,63 e probabilidade de acerto ao acaso
(c
) igual a 0,22.
A partir da análise realizada, as questões mais fáceis são as de número dois e doze,
apresentando índices de dificuldade (b) -1,24 e -1,33, respectivamente, assim, mesmo com
uma baixa habilidade, os alunos têm uma probabilidade de acerto razoável. E, a questão
63
que se apresentou como sendo a mais difícil foi a de número três, com índice (b) igual a
2,94, requerendo uma maior habilidade para uma resposta correta.
Pode-se perceber que os itens mais discriminativos foram os de número oito e nove,
apresentando índices de discriminação (a) iguais a 1,61 e 1,58, respectivamente. Portanto,
os indivíduos com uma mesma habilidade possuem maior probabilidade de responder
corretamente estes dois itens (8 e 9), do que aos itens 1 e 2, com índices de discriminação
igual a 1,25. Com relação à probabilidade de acerto ao acaso (
c), o teste apresenta um valor
igual a 0,22.
Contudo, deve-se destacar que apenas um item, o de número 5 não teve parâmetros
estimados. Uma vez que es
te item não teve uma variabilidade das respostas, todos os alunos
que compuseram a amostra tiveram a nota 1, o que indica que todos acertaram parcialmente
o item.
64
3.3.2. TESTE DE VOCABULÁRIO POR IMAGENS PEABODY TVIP (Dunn,
Dunn, Capovilla & Capov
illa, 2005)
O Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (TVIP) avalia o desenvolvimento
lexical no domínio receptivo. A criança deve apontar a figura que corresponde à palavra
que ouve e marcar um x. O critério de correção corresponde a um ponto para certo e zero
ponto para os erros. Quanto maior o número de pontos, melhor o desempenho da criança.
No presente estudo foi usada a versão hispano-americana de 125 itens, que pode ser
aplicada em crianças a partir de dois anos e seis meses (Dunn, Padilla, Lugo, &
Dunn,
1986a), adaptada, validada e normatizada no Brasil (Dunn, Dunn, Capovilla & Capovilla,
no prelo) para a faixa de dois a seis anos (Capovilla & Capovilla, 1997) e de seis a 14 anos
(Capovilla e col., 1997; Capovilla, Nunes, Nunes e col. 1997). Essa versão consiste em 125
pranchas de teste com quatro alternativas em cada uma, organizadas em ordem crescente de
dificuldade. O teste não requer que o examinando leia, escreva ou vocalize qualquer coisa.
A tarefa consiste simplesmente em selecionar, dentre as alternativas, a figura que melhor
representa a palavra falada pelo examinador. O escore máximo no TVIP é de 125 pontos. O
tempo de aplicação é de aproximadamente vinte minutos.
65
3.3. Procedimento
O presente projeto contou com autorização de Comi
tê de Ética em Pesquisa para sua
realização. Após autorização das escolas nas quais foram realizadas as aplicações, foram
encaminhados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aos responsáveis.
Participaram da pesquisa apenas os alunos que entregaram o TCLE assinado pelo seu
responsável.
A BILO foi aplicada na primeira sessão com grupos de dez alunos no laboratório de
informática. A aplicação foi conduzida por pesquisadores treinados, sendo que em cada
aplicação havia pelo menos três pesquisadores presentes. O tempo médio de aplicação foi
de 45 minutos.
O Teste de Vocabulário por Imagens Peabody (Dunn, Dunn, Capovilla & Capovilla,
2005) foi realizado na segunda sessão, na sala de aula dos alunos, coletivamente. Cada
criança recebeu um cadern
o com dezessetes folhas que continham oito figuras em cada uma
delas, quatro figuras por prancha, para que assinalassem com lápis a figura correspondente
à palavra falada pelo examinador. As dúvidas foram esclarecidas pelo aplicador e,
posteriormente a testagem teve início. Houve a participação de dois auxiliares de pesquisa
para atender individualmente aos participantes, quando necessário. A aplicação durou em
média 30 minutos.
66
CAPÍTULO IV
RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. Análise descritiva e inferencial de desempenho para compreensão
oral e vocabulário com evidências de validade de critério para a BILO
Os resultados do presente estudo foram analisados descritiva e inferencialmente.
Serão apresentadas considerações sobre o desempenho dos participantes em c
ompreensão
da linguagem oral e vocabulário, bem como a relação entre estas variáveis, considerando
-
se
também a influência do gênero, idade, e série. Nas tabelas serão encontradas diferenças no
número de respondentes por subteste, pois o software possibilitava ao participante
responder a prova seguinte, sem necessariamente ter concluído a anterior.
Tabela
2
. Estatísticas descritivas da média do desempenho na BILO por série e por subteste
Provas
Série
Estatística
Descritiva
CM
SL
OLV
IH
CF
CP
CH
BILO
total
N
42
41
39
42
42
41
37
34
Média
15,19
10,07
19,80
11,90
17,83
16,24
15,41
106,88
Pré
DP
3,20
4,10
3,60
2,40
1,50
1,30
3,00
14,10
N
33
32
33
32
33
33
31
29
Média
16,64
12,26
21,15
12,56
17,97
16,39
16,32
114,27
DP
2,9
5,4
4,0
1,9
1,6
1,1
2,9
15,3
N
34
32
32
30
32
32
27
24
Média
17,41
14,33
22,71
13,20
18,22
16,81
17,48
121,82
DP
1,5
4,6
3,8
1,2
1,3
0,8
1,2
10,9
A Tabela 2 apresenta a análise do escore total e dos subtestes da BILO em função
das séries escolares. Como pode ser observado, as médias de acertos no escore total da
BILO, e em cada um dos subtestes, aumentaram conforme a progressão nas séries. Nas três
séries analisadas, a Organização Lógico Verbal foi a habilidade que obteve maior
67
pontuação. Assim sendo, é possível inferir que os alunos revelaram compreender uma
informação complexa e contextualizada numa temática de história. Além disso, o
desempenho médio dos participantes indica que os mesmos são capazes de reproduzir a
organização lógica de histórias, seqüenciando as cartelas com as cenas referentes a cada
uma das partes da história.
A Seqüência Lógica e a Interpretação de Histórias foram, respectivamente, as
habilidades nas quais os alunos de pré-escola e série tiveram o menor desempenho. Na
segunda série, os dados revelam que os participantes obtiveram menor desempenho nessas
mesmas habilidades, sendo a interpretação de histórias a habilidade com menor pontuação.
A menor pontuação em seqüência lógica indica que os participantes demonstram ma
ior
dificuldade quando necessitam organizar as cenas, tendo como referência apenas estímulos
visuais. Cabe destacar que muita variabilidade do desempenho dos participantes nas
habilidades requeridas nessa prova, uma vez que apresenta o maior desvio padr
ão.
Os resultados do desempenho no subteste de Seqüência Lógica contrastam com o
desempenho na prova de Organização Lógico-Verbal que foi o que apresentou melhor
desempenho dos alunos em todas as séries. Assim sendo, é importante enfatizar que para
respond
er ao subteste de Seqüência Lógica, os participantes foram orientados pelo software
a organizar a seqüência de figuras formando histórias coerentes, ou seja, a organizar a
seqüência de cenas na ordem em que as ações deveriam ocorrer, de modo que cada histó
ria
tivesse começo, meio e fim, porém as histórias não eram oralizadas. Já na prova de
Organização Lógico-Verbal cada história foi oralizada pelo
software
e, após ouvi-las, os
participantes foram orientados a organizar a seqüência de cenas, na ordem em que ações
ocorreram, nesta tarefa o respondente baseava-
se nas ilustrações e também no estímulo oral
da história ouvida. O estímulo oral das histórias do subteste de Organização Lógico
-
Verbal
é o principal atributo que o diferencia da prova de Seqüência Lóg
ica, e que pode ser um dos
68
fatores que explica o menor desempenho dos alunos de pré-escola e de série, e o baixo
desempenho dos alunos de 2ª no subteste de Seqüência Lógica. Tal resultado pode indicar a
importância da instrução oral para a realização de
atividades nessa faixa
-
etária.
O subteste de Interpretação de Histórias foi que apresentou menor pontuação pelos
alunos de série, e o segundo de menor desempenho dos alunos de pré-escola e série..
Esse resultado difere do encontrado por Salles e Parente (2004) no qual os participantes
apresentaram desempenho elevado no procedimento de responder a questões sobre a
história.
Especificamente com relação aos resultados dos subtestes de Completar Histórias e
de Interpretação de Histórias, evidencia-se as diferenças verificadas nas médias de
desempenho dos participantes das diferentes séries escolares, pois as duas provas possuem
o objetivo de avaliar a compreensão receptiva de histórias orais, por meio de procedimentos
diferentes.
Na tarefa de Interpretação de Histórias, a criança deveria responder questões literais
acerca de uma história ouvida, indicando uma imagem que respondia a questão
apresentada. Este subteste apresenta informações muito específicas sobre o contexto e com
menor número pistas para o
respondente.
A tarefa de completar histórias foi elaborada a partir de uma adaptação da técnica
cloze
, que vem sendo aplicada em instrumentos utilizados para avaliação em compreensão
de leitura (Caparrotti, 2005; Joly & Nicolau, 2005; Santos e cols., 2002). Esta tarefa
consistiu na seleção de uma das figuras apresentadas para o preenchimento de lacunas em
que palavras foram omitidas em uma história ouvida. Este tipo de tarefa caracteriza
-
se pelo
fornecimento de maior número de dicas ao respondente.
Vale
destacar que, pelas pesquisas apresentadas no presente estudo (Brandão &
Spinillo, 1998; Fontes & Martins, 2004; Salles & Parente, 2004), e também pela análise de
69
informações presentes em diferentes livros didáticos da área de língua portuguesa utilizados
nas escolas, a compreensão da linguagem oral e escrita é tradicionalmente avaliada por
meio de respostas a questões sobre um texto lido ou ouvido. Dados precisos da BILO
indicam diferença significativa entre o desempenho nas duas tarefas, assim sendo salie
nta
-
se que é importante refletir sobre o tipo de tarefa utilizado para avaliar a compreensão da
linguagem, sendo relevante verificar se os testes que contém exclusivamente questões
acerca de uma história, constituem-se no melhor instrumento para avaliar esse construto.
Constata
-se, também que o
Cloze
, numa avaliação da compreensão oral como na BILO,
revela
-
se eficaz para aferir tal habilidade.
No que se refere às especificidades de avaliação de cada tarefa, ressalta-se que a
atividade de responder perguntas é pontual, pois as perguntas focalizam determinadas
informações e partes do texto, que podem não ser necessariamente, as partes mais
importantes (Brandão & Spinillo, 1998; Salles & Parente, 2004). A técnica
Cloze
favorece
a utilização da redundância semântica e conhecimentos prévios, e indica não apenas a boa
compreensão, mas também o uso de estratégias adequadas para responder corretamente a
questão (Joly & Nicolau, 2005). É importante destacar a existência de uma característica
comum entre os subtestes de Interpretação de Histórias e de Completar Histórias, que é a
necessidade de seleção de uma alternativa entre três opções de resposta, em ambas as
provas. Segundo Salles e Parente (2004), esse procedimento facilita a execução da tarefa,
pois ativa o processo de reconhecimento, que permite a detecção de informações
armazenadas, inibindo possíveis vieses como pode ocorrer em tarefas de evocação. A
especificidade da tarefa pode ser um dos fatores que explique a diferença de desempenho
dos participantes nos s
ubtestes citados.
70
Tabela
3. Estatísticas inferenciais da ANOVA sobre o efeito da série para o escore total e
em cada subteste da BILO
Prova
gl
F p
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
106
CM
Total
108
6,45 0,00
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
102
SL
Total
104
7,39 0,00
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
101
OLV
Total
103
5,07 0,00
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
101
IH
Total
103
3,71 0,02
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
104
CF
Total
106
0,59 0,56
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
103
CP
Total
105
2,22 0,11
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
92
CH
Total
94
5,07 0,00
Inter
-
grupos
2
Intra
-
grupos
84
Total
Total
86
8,41 0,00
De modo a verificar se havia diferença de desempenho na BILO em função da
escol
aridade,
foi aplicada a ANOVA por série (Tabela 3). Os resultados indicaram
71
diferença muito significativa no escore total da bateria. Em relação aos subtestes, foram
encontradas diferenças significativas para todas as provas, exceção feita à Compreensão de
Frases e Compreensão de Parágrafos. Tais resultados revelam evidências de validade de
critério para a BILO (AERA, APA & NCME, 1999).
Ressalta
-se que os subtestes de Completar Frases e Completar Parágrafos não
revelaram diferença significativa para o critério série escolar. Nesse sentido é importante
salientar que essas provas diferem entre si apenas com relação à quantidade de
informações. Dessa forma, talvez seja importante verificar, em estudos futuros, se ambas
não se constituem numa prova única. Ao lado disso, salienta-se que esses subtestes são
compostos por sentenças curtas em contextos reduzidos, e que os mesmos foram elaborados
a partir da técnica
cloze
, que possibilita a utilização da redundância semântica e de
conhecimentos prévios (Joly & Nicolau, 2005). Assim sendo, provavelmente, esses
subtestes não ofereçam as pistas necessárias para que as crianças consigam integrar as
informações presentes nas sentenças aos seus conhecimentos prévios, dificultando o
desempenho das mesmas e, conseqüentemente não permitindo identificar avanços, mesmo
com a progressão da escolaridade.
Especificamente em relação à diferença significativa no subteste de compreensão
morfossintática em função da série escolar, os resultados corroboram com os estudos de
Capovilla e cols. (2004), que encontraram diferença significativa no desempenho da Prova
de Consciência Sintática (PCS), verificando que os escores dos alunos de a séries do
ensino fundamental aumentaram significativamente, de acordo com o progresso na série
escol
ar. Queiroga e cols. (2006) também encontraram resultados semelhantes, ao avaliar o
desempenho de alunos de e séries em testes de conhecimento morfossintático. Esses
resultados indicam a influência da aprendizagem escolar para a ampliação do conhecim
ento
morfossintático.
72
A diferença altamente significativa de desempenho por série, indicada pela análise
do escore total da BILO corroboram os resultados dos estudos de Salles e Parente (2004,
2006) que encontraram diferenças estatisticamente significativas no desempenho, em
compreensão oral de histórias por crianças que freqüentam as diferentes séries da primeira
etapa do ensino fundamental, e também com estudos de Bandão e Spinillo (2001) que
encontram diferenças significativas no desempenho em linguagem oral de crianças de e
2ª séries do ensino fundamental.
Cabe salientar que a BILO propõe diversas situações nas quais os alunos utilizam
habilidades cognitivas e perceptivo-linguísticas como: seguir instruções, compreensão da
língua fala no cotidiano, ordenação, e vocabulário (Vallet, 1989). Segundo Salles e Parente
(2004), o melhor desempenho em tarefas de compreensão textual de crianças em séries
escolares mais avançadas pode decorrer do aumento das habilidades lingüísticas e
metalingüísticas e de processos cognitivos durante o desenvolvimento da idade. Ao lado
disso, as autoras salientam que com o decorrer da escolarização a criança é exposta a textos
cada vez mais longos , influenciando diretamente a compreensão.
73
Tabela
4. Estatísticas inferenciais da ANOVA sobre o efeito da idade para o escore total e
para cada subteste da BILO
Prova
gl
F p
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
103
CM
Total
108
6,65 0,02
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
99
SL
Total
104
3,39 0,00
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
98
OLV
Total
103
2,14 0,06
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
98
IH
Total
103
1,46 0,21
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
101
CF
Total
106
1,48 0,20
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
100
CP
Total
105
1,63 0,16
Inter
-g
rupos
5
Intra
-
grupos
89
CH
Total
94
2,26 0,05
Inter
-
grupos
5
Intra
-
grupos
81
Total
Total
86
3,76 0,00
A análise de variância realizada por meio da Anova, para verificar se havia
influência da idade dos participantes sobre o desempenho na BI
LO
(Tabela 4), revelou
diferença muito significativa no escore total da bateria e para o subteste Seqüência Lógica.
74
Foram encontradas diferenças significativas nos subtestes que avaliam a Compreensão
Morfossintática e Compreensão de Histórias. Estes resultados revelam evidências de
validade de critério para a BILO (AERA, APA & NCME, 1999).
Analisando
-se os resultados dos subtestes de Completar Histórias e de Interpretação
de Histórias, é possível verificar que, diferentemente do que ocorreu com o fator
esco
laridade, para o qual ambos os subtestes apresentaram diferenças significativas, para
critério idade, o subteste de Interpretação de Histórias não apresentou diferenças
significativas. Essa diferença pode ter acontecido em função da especificidade das tare
fas
propostas para cada prova. Nesse sentido, os resultados específicos do subteste de
Interpretação de Histórias, segundo a idade dos participantes, diferem das análises
apresentadas por Brandão e Spinillo (1998) que encontraram diferenças significativas
entre
idade e o tipo de respostas a questões sobre história em crianças com 4 e 6 anos de idade.
A divergência entre os resultados nos dois subtestes citados pode ser explicada pela
diferença do tipo de atividade realizada pelos participantes, pois para a tarefa de
Interpretação de Histórias o participante deveria selecionar entre três opções, a figura que
respondia a uma questão literal sobre uma história ouvida, para o teste de Completar
Histórias, o respondente deveria escolher entre três opções, a figura que completava cada
parte da história, de modo a dar sentido a mesma. Vale destacar que a prova de
Interpretação de Histórias foi elaborado a partir da técnica
Cloze
que favorece a utilização
da redundância semântica e conhecimentos prévios, e também oferece pistas contextuais
para que o participante execute a tarefa (Joly & Lomônaco, 200
3
).
No presente estudo, o subteste de Interpretação de Histórias utilizou-se de questões
literais sobre as histórias, sendo que os respondentes deveriam selecionar uma alternativa
entre três opções de resposta; na pesquisa desenvolvida por Brandão e Spinillo (1998) a
compreensão de histórias foi avaliada por meio de questões dissertativas de natureza
75
inferencial. Cabe destacar que os subtestes de Completar Frases e Completar Parágrafos
também não revelaram diferença significativa para o critério idade dos participantes,
confirmando assim, a necessidade de estudos futuros para verificar as necessidades de
possíveis reformulações.
A análise do escore total da bateria para o critério idade revela diferença muito
significativa no desempenho dos participantes, corroborando os estudos de Brandão e
Spinillo (2001) que encontraram diferenças significativas no desempenho de crianças com
4, 6 e 8 anos, em compreensão de histórias ouvidas, avaliadas por meio do reconto oral. Os
resultados confirmam ainda as investigações de Macedo e cols. (2007) que verificaram que
crianças mais novas tiveram menos acertos que as mais velhas em avaliação da linguagem
receptiva Esses resultados do presente estudo confirmam a afirmação de Sternberg (2000)
de que a compreensão da linguagem aumenta eficazmente com a progressão da idade.
76
Tabela
5
. Estatísticas descritivas da média do desempenho na BILO por subtest
e segundo o
gênero dos participantes
Prova
Gênero
N
Média
DP
gl
T P
Feminino
50 16,18 3,29 107
CM
Masculino
59 16,44 2,51 90,78
-0,469 0,640
Feminino
49 12,79 4,94 103
SL
Masculino
56 11,37 5,00 101,50
1,457 0,148
Feminino
47 21,86 4,02 102
OLV
Masculino
57 20,52 3,88 96,85
1,714 0,090
Feminino
49 12,24 2,02 102
IH
Masculino
55 12,69 2,08 101,27
-1,107 0,271
Feminino
49 18,06 1,56 105
CF
Masculino
58 17,93 1,48 100,18
0,441 0,660
Feminino
49 16,24 1,46 104
CP
Masculino
57 16,65 0,83 73,58
-1,775 0,079
Feminino
45 16,11 2,84 93
CH
Masculino
50 16,46 2,56 89,08
-0,630 0,530
Feminino
42 114,17 16,05 85
BILO
TOTAL
Masculino
45 112,80 13,80 81,12
0,426 0,671
A Tabela 5 apresenta os resultados do Teste t de
student
sobre o efeito do
gênero, no desempenho total e em cada um dos subtestes da BILO. Os resultados
encontrados indicam que não houve diferença significativa por grupo, revelando que
escores de meninos e meninas não diferem na presente amostra. Tal resultado corrobora os
estudos de Ferracini (2005) e de Macedo e colaboradores (2007) que não encontraram
diferença significativa entre meninas e meninos nos escores de testes de linguagem,
realizados com crianças de quatro a seis anos, e de três a cinco anos, respectivamen
te.
77
Tabela
6. Estatísticas descritivas da média do desempenho no Teste de Vocabulário por
Imagens Peabody em função da escolaridade
Série
N
Mínimo
Máximo
Média
DP
Pré
42 33 78 56,79 10,07
33 38 88 70,12 11,11
34 58 92 78,38 10,24
De acordo com dados da Tabela 6, verifica-se que o vocabulário receptivo avaliado
pelo TVIP aumentou progressivamente em função da escolaridade dos participantes. É
possível verificar que há uma pequena diferença entre o desempenho médio de 1ª
e 2ª série.
Cabe destacar também que a maior variação de desempenho foi encontrada na 1ª série.
Tabela
7
. Distribuição das séries escolares em relação ao vocabulário receptivo
Grupos
Série
N
1 2 3
Pré
42 56,78
33 70,12
34 78,38
A Anova separou os resultados do desempenho no TVIP em três grupos distintos,
considerando as séries escolares freqüentadas por haver diferença estatisticamente
significativa entre os grupos (Tabela 7). Assim, os alunos da pré-escola formaram o grupo
com a menor pontuação e os da série, o grupo com melhor desempenho. Os dados
revelam resultados desejáveis da amostra no TVIP, pois se espera que à medida que as
crianças avancem nas séries escolares, seu vocabulário receptivo seja ampliado
,
caracterizando uma evolução da aprendizagem. Estes resultados corroboram com as
investigações de Capovilla, Gutschow e Capovilla, (2004) e de Capovilla, Suiter e
78
Capovilla, (2004) que encontraram diferenças significativas de desempenho em vocabulário
ent
re crianças de pré
-
escola e 1ª série.
A partir desse resultado é possível enfatizar que o vocabulário é importante para
permitir a compreensão (Capovilla, Capovilla & Suiter, 2004; Capovilla & Prudêncio,
2006; Fontes &
Cardoso
-
Martins, 2004; Goulandris, 20
04; Mier e cols., 2003; Snow, Burns
& Griffin, 1998), e que, à medida que o aluno progride nas séries escolares, as exigências
de vocabulário vão aumentando (Cardoso-Martins e cols., 2003; Santos & Navas, 2002).
Ao lado disso, os resultados deste estudo confirmam a afirmação de Leffa (2000), de que
com o progresso na escolarização ocorre a aprendizagem de palavras novas por parte dos
estudantes.
A aquisição lexical está relacionada com a capacidade de compreender e produzir os
significados das palavras (Hage & Pereira, 2006), e o processamento ativo e de construção
de inferências para se conhecer o significado de uma palavra desconhecida, também são
utilizados para compreensão (Eysenck & Keane, 1994). Nesse sentido, se destacam os
resultados apresentados pelos participantes do presente estudo, nos escores totais da bateria
de compreensão da linguagem oral e no teste de vocabulário, que apresentaram diferença
significativa de desempenho em função da série escolar freqüentada.
Cabe salientar que vários estudos têm demonstrado a eficiência da utilização de
procedimentos que buscam melhorar a compreensão da linguagem, por meio da extensão
do vocabulário (Austermuehle, Kautz & Sprenzel, 2007; Capovilla & Capovilla, 1997;
Fontes &
Cardoso
-Martins, 2004). Ao lado disso, ressalta-se que vocabulário é uma
habilidade que melhor predizem o desempenho ulterior em leitura e escrita (Capovilla,
Gütschow & Capovilla, 2004).
79
4.2. Evidência de validade convergente para a Bateria Informatizada de
Linguagem Oral
De modo a buscar evidências de validade para a Bateria Informatizada de
Linguagem Oral (BILO) por meio da correlação com o Teste de Vocabulário por Imagens
Peabody, foram conduzidas análises por meio da correlação de Spearman (Tabela 8).
80
T
abela
8. Correlação entre a Bateria Informatizada de Linguagem Oral e o Teste de
Vocabulário Peabody
Provas
Correlação
Pearson
Peabody
r
0,353**
p
0,000
CM
N
109
r
0,394**
p
0,000
SL
N
105
r
0,400**
P
0,000
OLV
N
104
r
0,304**
P
0,002
IH
N
104
r
0,241**
P
0,012
CF
N
107
r
0,308**
P
0,001
CP
N
106
r
0,320**
P
0,002
CH
N
95
r
0,431**
P
0,000
TOTAL
N
87
** p
=0,001
O teste de correlação de Pearson foi aplicado para verificar a correlação dos escores
de cada subteste e do total da BILO com o escore do TVIP. Os resultados indicaram que o
subtestes de Compreensão Morfossintática se correlaciona positivamente com as demais
81
habilidades avaliadas e com o vocabulário receptivo, resultados semelhantes foram
encontrad
os nos estudos de Guimarães (2005) que constatou correlação positiva e
significativa entre os escores de consciência morfossintática e com desempenho em tarefas
de ditado, decodificação e compreensão em leitura em estudo feito com alunos de 2ª, 3ª e 4ª
sér
ies do ensino fundamental.
Os resultados encontrados a partir da correlação de Pearson aplicados ao subteste de
compreensão de história mostram que os escores desse teste se correlacionam
positivamente com as demais habilidades avaliadas e com o vocabulário receptivo. Como
no presente estudo, Hagtvet (2003) avaliou a compreensão de textos por meio do reconto de
histórias e de testes cloze, em atividades orais e escritas, e encontrou significativa
associação entre fonologia, semântica e sintaxe e a compreensão de textos orais e escritos.
Estes resultados apóiam a idéia de que as relações entre habilidades de compreensão da
linguagem oral e compreensão de leitura variam com demandas de tarefa, como também
podem variar nas comparações entre grupos.
Os resultados dos subtestes de Seqüência Lógica, Interpretação de Histórias,
Compreensão de Parágrafos indicaram correlação baixa e positiva com o escore total do
TVIP e diferenças muito significativas, o que indica que o vocabulário é necessário para o
desenvolvimento destas habilidades. O subteste de Organização Lógico-Verbal foi o que
apresentou maior correlação com o escore total do TVIP, evidenciando o vocabulário
receptivo como importante para a compreensão oral e organização cenas de uma história.
Os resultados indicaram correlação baixa e significativa entre o escore da prova de
Compreensão de Frases com o escore total do TVIP, porém o foi encontrada diferença
significativa. É relevante destacar que também não foram verificadas diferenças
significativas nos escores desse para os critérios idade e série escolar. Acredita-se que este
resultado pode ser decorrente da estrutura desse subteste cujos itens são formados por
82
sentenças curtas que talvez não ofereçam as pistas necessárias para que as crianças tenham
co
ndições de respondê
-
lo.
Os resultados relativos aos escores totais da BILO e do TVIP e também do escore
total do TVIP com cada um dos subtestes da bateria, revelando a existência de uma
validade convergente. A correlação observada é moderada e positiva indicando que a BILO
difere do TVIP enquanto instrumento de avaliação, apesar de contar com o vocabulário
como base estrutural para as instruções e conteúdo, como aponta a literatura especifíca da
área (Austermuehle, Kautz & Sprenzel, 2007; Capovilla & Capovilla, 1997; Capovilla,
Gütschow & Capovilla, 2004; Fontes & Cardoso-Martins, 2004). Tais resultados constatam
evidências de validade para a BILO e para cada um dos subtestes como instrumento
adequado para avaliar a compreensão da linguagem oral receptiva em alunos da Educação
Infantil à segunda série do Ensino Fundamental (Ciclo I), de acordo com os padrões da
AERA, APA e NCME (1999).
83
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão é o objetivo principal de quem lê um texto ou ouve um discurso, ela
permite a aquisição da informação, a experimentação de mundos fictícios, o
desenvolvimento da comunicação e o sucesso acadêmico (Cain & Oakill, 2007). As
crianças com dificuldades em compreensão da linguagem podem apresentar problemas
posteriores em linguagem escrit
a (Goulandris, 2004).
A avaliação do desempenho de crianças em idade pré-escolar e do início do ensino
fundamental em compreensão da linguagem oral é fundamental para diagnosticar
dificuldades e propiciar procedimentos de intervenção com o intuito de sanar ou minimizar
os problemas, diminuindo seus efeitos posteriores durante o processo de escolarização
(Capovilla e cols., 2006). Segundo Muter (2004), a identificação precoce permite o
estabelecimento de uma rede de apoio e comunicação para que as necessidades da criança
sejam satisfeitas com precisão e trabalhadas com sensibilidade. Nesse sentido é
fundamental
que a educação adote uma perspectiva preventiva das dificuldades escolares,
para que a aprendizagem das crianças seja otimizada desde início de sua e
scolarização.
O diagnóstico precoce de problemas em compreensão da linguagem permite
também a introdução de procedimentos pedagógicos eficazes que contribuam para que os
alunos avancem no processo de compreensão de textos orais e escritos. Nesse sentido,
d
estacam
-se os estudos de Dias (2000) e Fontes e Cardoso-Martins (2004) que enfatizam a
leitura interativa e a discussão de histórias como mecanismos eficazes para compreensão de
histórias e melhoria do vocabulário expressivo e receptivo das crianças, e também de
Goulandris (2004) que enfoca a importância de se enfatizar os processos gerais de
linguagem, a instrução de habilidades verbais e semânticas como o conhecimento do
vocabulário, habilidades auditivas e habilidades expressivas da linguagem, além de
84
es
tratégias cognitivas como habilidades de inferência e habilidades metacognitivas para
auxiliar na compreensão.
Os resultados do presente estudo atendem a estas orientações de pesquisadores
considerados referencia na área e amplia para além da consciência f
onológica,
conhecimento do alfabeto e vocabulário (Brandão & Spinillo, 1998; Capovilla &
Prudêncio, 2006; Cardoso-Martins e cols., 2003; Fontes & Martins, 2004; Goulandris,
2004; Hagvet, 2003; Leffa, 2000; Mier e cols., 2003; Snow e cols., 2006) as habilid
ades
consideradas como relevantes para aquisição da linguagem escrita. Verificou-se a
importância de avaliar-se precocemente as habilidades de compreensão morfossintática,
seqüência lógica de cenas, organização lógico-verbal, interpretação de histórias, co
mpletar
frases, completar parágrafos e completar histórias.
Considerando a importância dos aspectos apresentados em relação à necessidade de
avaliação precoce das crianças de educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental,
entende
-se que os testes são ferramentas úteis e necessárias. Porém, a partir de definições
de organizações internacionais e também estudos e resoluções do Conselho Federal
Psicologia, é fundamental que os instrumento de avaliação sejam disponibilizados para
utilização somente depois de passarem por rigoroso tratamento científico, como foi
apresentado neste trabalho.
O presente estudo teve como objetivos de verificar evidências de validade da
Bateria Informatizada de Linguagem Oral (BILO) para crianças educação infantil e série
s
iniciais do ensino fundamental, bem como de avaliar o desempenho dos participantes em
compreensão da linguagem oral e vocabulário considerando-se a influência das variáveis
idade, gênero e série escolar. O estudo identificou diferenças significativas de
desempenho
para os critérios idade e série para o escore total da bateria e para maior parte dos subtestes.
85
De acordo com Americam Educational Research Association (1999) verificou-
se
que uma validade de critério convergente sendo que ocorreu uma correl
ação
significativa entre as variáveis da Bateria Informatizada de Linguagem Oral (BILO) e de
um determinado critério externo que foi o Teste de Vocabulário por Imagens Peabody que
está relacionado a tal medida. Os resultados encontrados indicam que a Bateria
Informatizada de Linguagem Oral (BILO) é um instrumento que permite avaliar o
desempenho em compreensão da linguagem oral de alunos de educação infantil e séries
iniciais do ensino fundamental na faixa etária de 5 a 8 anos.
Assim acredita
-
se que a BI
LO apresenta viabilidade para ser utilizada como teste
de para avaliação de habilidades relacionadas à compreensão da linguagem oral,
psicometricamente analisada, atendendo a necessidade da avaliação psicoeducacional
brasileira por meio de testes válidos e precisos contribuindo para minimizar a escassez de
instrumentos que avaliem esse construto e ampliando os estudos sobre a utilização de
recursos informatizados em avaliação psicoeducacional. Desta forma espera-se que a BILO
possa contribuir para melhoria nos procedimentos de avaliação e conseqüentemente à
melhoria da qualidade do ensino.
A presente pesquisa apresenta várias limitações como o número reduzido de
participantes em função da quantidade de itens do instrumento utilizado, e a coleta de
informaçõe
s em apenas duas unidades escolares da rede pública, que a caracterizam como
um estudo exploratório. A despeito dos resultados encontrados pela presente investigação é
preciso que sejam realizadas
novas
investigações para ampliar a validade da Bateria
Info
rmatizada de Linguagem Oral (BILO) com outras variáveis como produção de textos
orais, consciência fonológica e também com instrumentos que avaliem outros aspectos da
linguagem, que possam contribuir para a ampliação dos conhecimentos na área e para
86
aprimo
rar os procedimentos técnicos empregados na avaliação psicológica e os próprios
instrumentos utilizados.
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